Os conflitos étnicos-raciais Colaboração para a wikipédia
Para compreender o cenário onde as questões dos conflitos étnico-raciais são
travadas, pode-se partir da compreensão do conceito de cidadania como sendo o direito legítimo de diferenciação, ou seja, ser cidadão deve ser compreendido também como ser portador do direito à diferença. O Estado cria os seus textos normativos, ou seja, as suas constituições, e nelas se expressam os conflitos ideológicos que afetam a convivência social. Vale ressaltar que no que se refere às tensões presentes na relação existente entre o Estado, que é responsável por gerir a cidadania, e as diversas identidades étnicas, o que também podemos chamar de etnicidade, há uma disputa acerca do direito à livre determinação dos povos. Considerando que o Estado exercerá o regime de tutela dessas etnias, a partir de suas agências, ele buscará escolher, definir e controlar o que são as coletividades sobre as quais incidirá, havendo uma possibilidade que determinados discursos sobre a diversidade cultural sejam apagados, tornando algumas vozes dissonantes. Esse apagamento das marcas étnicas, no caso brasileiro, é feito no intuito de se criar uma cultura marcada pelo branqueamento e minimização dos conflitos como seu ethos central, o que desvalida os movimentos sociais em torno das questões étnico-raciais. Essa manipulação da identidade que é dada pelo Estado abarca uma inclusão e exclusão dos indivíduos determinando assim sua interação e seu comportamento na sociedade, fazendo com que se crie uma espécie de não-lugar dentro desta sociedade, onde estes indivíduos e grupos étnico-raciais acabam vivendo numa espécie de “limbo social”. Isso acaba gerando conflitos que se caracterizam pela tentativa destes grupos de reivindicarem sua existência perante as instituições estatais, buscando o reconhecimento e garantia de seus direitos de cidadãos plenos. Este reconhecimento do Estado sobre a identidade e os direitos destes grupos faz com que os indivíduos conflitam entre si na tentativa de determinarem quem realmente faz parte do grupo, tendo percepções divergentes quanto à identificação racial ou étnica, baseando seus critérios muitas vezes em aspectos físicos como a cor de pele, formando assim conflitos identitários.
No que diz respeito às identidades étnicas, existem principalmente duas abordagens
teóricas para explicar as suas construções: A abordagem primordialista ou essencialista ( formulada na antropologia por Clifford Geertz) que entende etnicidade como natural e inabalável, sendo uma característica da estrutura social, e, a abordagem instrumentalista ou situacionista ( formulada por Fredrik Barth) que interpreta as identidades como socialmente construídas, sendo assim, um aspecto da organização social. Fato é que identidade, sempre é relacional. Uma vez relacional, ela é classificatória e uma vez classificatória é significante. Por exemplo: as “descobertas” coloniais propiciaram contato entre brancos e negros, essa relação que possibilitou a categorização que existem pessoas de pele clara e pessoas de pele escura, e, através das terias eugenistas os europeus agregaram significado a diferença: ser branco é bom, ser negro é ruim. Um exemplo de conflitos étnicos entre pessoas da mesma cor, mas não da mesma etnia é o caso dos Hutus e Tutsis e o Genocídio em Ruanda.