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DIREITO BRASILEIRO: mecanismo fundamental para a ampliação da participação do


indígena na sociedade, e a História como agente impulsionador1

Isabelle Cristina dos Santos Silva2


Lucas Leandro Salomão de Brito3
Ruan Didier Bruzaca Almeida Vilela 4

RESUMO
Palavras-chave:

1 INTRODUÇÃO

Devido ao processo imperialista majoritariamente europeu que a América Latina


sofreu, diversas culturas e etnias foram marginalizadas. Nesse sentido, a população indígena,
que a princípio já habitava o Brasil, foi violentada de diversas formas por seus colonizadores,
através da exploração e tentativa de aculturação. Isto posto, em razão dessa construção
histórica, ainda hoje, os indígenas possuem poucos mecanismos que ampliam o seu
protagonismo na sociedade. Portanto, é fundamental o papel do Direito brasileiro para dar voz
a esse grupo social.
Ademais, acredita-se que a amplificação do protagonismo indígena é uma forma de
reparação histórica. Nessa perspectiva, cabe também à sociedade, não um estudo
contemplativo da História, mas sim um olhar crítico desta para que aqueles que foram
deixados à margem sejam rememorados (LÖWY, 2005). Além disso, é importante destacar
que Wolkmer (2007) define o Direito como objeto interdisciplinar, e relaciona o ambiente
jurídico com a necessidade de uma visão histórica crítica.
Em vista disso, questiona-se como a legislação em união com a percepção crítica da
História, podem auxiliar na difusão do reconhecimento do indígena enquanto grupo social
primordial e integrante da sociedade brasileira?
Dessa forma, entende-se que os dispositivos legais podem auxiliar para a ampliação do

1
2° check do paper apresentado à disciplina de História do Direito do Centro Universitário de Ensino Superior
Dom Bosco – UNDB.
2
Aluna do 2° período do Curso de Direito da UNDB.
3
Aluno do 2° período do Curso de Direito da UNDB.
4
Professor, Doutor, Orientador.
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protagonismo indígena; assim, são dispostos o Art. 1 da Constituição Federal de 1988


afirmando que são assegurados os direitos à cidadania e à dignidade da pessoa humana
(BRASIL, 1988) e o Art. 231 da Constituição Federal de 1988 salvaguardando os direitos à
diversidade étnica e cultural dos povos indígenas, assim como as terras ocupadas
tradicionalmente (BRASIL, 1988).
Contudo, para além da legislação brasileira como instrumento de reparação, faz-se
mister união à uma base teórica que fundamente e construa fundamentos de forma a consolidar
tais ideias. Dessa forma, para Michael Löwy (2005) a rememoração quando possui caráter
crítico, além de ocasionar uma reparação histórica e social, pode ressignificar a atuação de um
povo em uma determinada situação.
Destarte, da perspectiva científica é importante salientar como a análise da construção
histórica do Brasil se torna relevante para ser compreendido a participação do indígena na
sociedade. Assim, através deste estudo, busca-se possibilitar um olhar crítico que seja capaz de
instigar a modificação da realidade.
Sob o ponto de vista social, visa-se despertar uma visão humanitária ao leitor sobre a
questão indígena no cenário atual, reafirmando estes como cidadãos brasileiros, tendo em vista
que os mesmos não possuem uma consolidada representação política, e não desfrutam de
direitos já garantidos, como no caso da demarcação de terras, o que corrobora com o
distanciamento desses povos com o mundo jurídico.
Além disso, essa pesquisa caracteriza-se por ser de cunho descritivo e exploratório. A
origem bibliográfica é baseada tanto em livros, quanto na própria legislação vigente. Além
disso, o recorte temático é diversificado devido à origem e continuidade do problema
abordado, ocasionando um estudo de obras escritas a partir dos anos 90 até o momento atual.
Posto isso, objetivou-se um olhar investigador acerca da História do Brasil, podendo
este se tornar um instrumento de ampliação do protagonismo indígena, bem como debater os
fatores que contribuem para que esta comunidade tenha o seu papel na sociedade reduzido.
Além de analisar os dispositivos legais que auxiliam na garantia dos direitos e da participação
do indígena no Brasil.
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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Como um olhar investigador acerca da História do Brasil pode ser instrumento de
ampliação do protagonismo indígena
Em virtude do processo imperialista que o Brasil passou, a comunidade indígena é
comumente deixada à margem. Tal realidade é possível devido à uma percepção da história
ocidentalizada que acentua o preconceito contra essa minoria, impossibilitando que ela mesma
conte sua narrativa e excluindo sua participação social. Desta forma, é necessário que ocorra
não somente uma visão contemplativa da história, mas sim uma que busque analisar de forma
crítica, rememorando os grupos sociais que foram inferiorizados (BENJAMIN, 2020).
Outrossim, ainda em razão dos colonialismos, além de marginalização do indígena,
buscou-se também ofuscar/apagar as crenças, costumes e hábitos desse grupo social, visto que
esses eram considerados inferiores ou até mesmo inexistentes, na tentativa de impor a cultura
europeia, o que gerou aculturação.
Destarte, Franz Boas revolucionou os métodos da Antropologia utilizados para
compreender o outro, pois ele entendia que “um costume só tem só tem significação se for
relacionado com o contexto particular no qual se inscreve” (LAPLANTINE, 2003). Nessa
perspectiva, a ampliação do protagonismo indígena pode ter como agente não somente a
legislação brasileira, mas também uma ótica crítica da História que vise entender como se dão
os processos culturais destes que, por vezes, foram desconsiderados no estudo dessa ciência
no Brasil.

Em conformidade, é acrescentado o pensamento de Carlos Wolkmer (2007) no qual


é acreditado que “para atingir uma condição histórico-crítica sobre determinado tipo
de sociedade e suas instituições jurídicas, impõe-se, obrigatoriamente, visualizar o
Direito como reflexo de uma estrutura pulverizada não só por certo modo de
produção da riqueza e por relações de forças societárias, mas, sobretudo, por suas
representações ideológicas, práticas discursivas hegemônicas, manifestações
organizadas de poder e conflitos entre múltiplos atores sociais”.

Desse modo, é entendido que para haver maior participação dos indígenas e também de
outras minorias na sociedade brasileira, é necessário que sejam analisadas as estruturas que a
moldam, da mesma forma que as instâncias jurídicas, uma vez que ambas tendem a ser
controladas pelas classes dominantes.
Em continuidade, para Ioris (2019) a construção da historicidade brasileira se deu
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de forma a distanciar e reduzir a participação dos indígenas, de tal modo a evidenciar os


ideais da colonizadora, sendo pautado em um pensamento evolucionista. Nessa perspectiva, é
compreendido que em vista desse “apagamento”, esse grupo social tem o seu papel
minimizado até os dias atuais e por isso se faz mister uma modificação desse estudo
histórico, para que ele possa ser convertido em um instrumento que possa ser utilizado a
favor desta comunidade.

2.2 Fatores que contribuem para que a comunidade indígena tenha o seu papel na
sociedade reduzido
Primeiramente, é preciso entender que o principal fator contribuinte para a questão da
problemática indígena é o preconceito, pois trata-se de um grupo étnico desrespeitado desde o
primeiro contato com o europeu, até os tempos atuais. Nessa perspectiva, um exemplo disso, é
a inexistência de um ato reflexivo, o qual aborda o imensurável absurdo da situação dessa
etnia, o que acarreta na falta de um olhar humano ao caso. Assim, essa abordagem segundo
Silvio Almeida (2018) estrutura o racismo na sociedade, o que torna esse conceito algo
vinculado ao pensamento do consciente e do inconsciente, produzindo um funcionamento
normal de uma ideia extremamente negativa e prejudicial no cotidiano.
A partir disso, é possível afirmar que a existência de um olhar reflexivo em uma
abordagem com essa característica, ocasionaria uma ressignificação da atuação de um povo, o
que por consequência cria uma reparação histórica (LÖWY, 2005). Nesse sentido, a sociedade
brasileira possui um preconceito fundamentado, especialmente, na ausência desse conceito
reparativo, o que produz um olhar de “primitivo” a esses povos.
Além disso, outro fator de destaque é a impossibilidade desses povos em exercer uma
voz verdadeiramente ativa na sociedade, um exemplo disso, é a falta de representatividade
legislativa na política, e a incompleta aproximação entre o indígena e a educação, pois ambas
impedem que seus pensamentos sejam expostos socialmente, visto que, esses meios possuem
condições de melhorar uma situação problemática, tanto pela lei, quanto pelo reconhecimento
e finalidade dos trabalhos acadêmicos.
Sob esse viés, Wolkmer (2007) argumenta que o ambiente jurídico possui capacidade
de transformar e superar os velhos paradigmas, por meio da formação de juristas
comprometidos com uma reconstrução crítica. Dessa forma, é possível entender que a
possibilidade de transformação jurídica deve cumprir uma perspectiva legislativa, e uma
perspectiva educacional, a qual é relacionada ao entendimento de uma visão histórica,
acadêmica e crítica.
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Ademais, é válido ressaltar também o fator do descumprimento dos direitos já


garantidos por esses povos. Nesse ponto de vista, a Constituição Federal (BRASIL, 1988)
estabelece em seu artigo duzentos e trinta um, o reconhecimento de diversos direitos que
possibilitam o papel do indígena na sociedade. Entretanto, esse direito é constantemente
violado, por exemplo, a tomada das terras pertencentes aos povos originários por grandes
latifundiários impossibilita e dificulta essa função.

2.3 Dispositivos legais que auxiliam na garantia dos direitos e da participação do


indígena no Brasil
Para além dos mecanismos históricos, a legislação brasileira também exerce um
importante papel no que tange a maximização das vozes dos indígenas, apesar de nem sempre
ser eficaz. Desse modo, o Art. 1 da Constituição Federal afirma que são assegurados os
direitos à cidadania e à dignidade da pessoa humana (BRASIL, 1988). No entanto, ao ser
analisada o contexto do Brasil, percebe-se que esse artigo não contempla todos os cidadãos,
porque minorias não gozam de tal direito e, consequentemente, os indígenas. Portanto, para
que a legislação possa ser utilizada como meio de democratização dos direitos dessas
minorias, é necessário que ocorra fiscalização da aplicabilidade.
Destarte, é previsto como sendo crime de acordo Art. 58 , inciso I, do Estatuto do Índio
(Brasil, 1973) tratar com zombaria as práticas referentes à cultura indígena, ou ainda tentar
humilhar ou atrapalhar tais atividades. Dessa forma, em virtude dos comportamentos das
pessoas tenderem a ser xenofóbicos, é afirmado que tal dispositivo, se aplicado de forma
ampla, poderia ser meio para redução da intolerância para com esta comunidade.
Ademais, ao ser respeitado e difundido a cultura indígena, é compreendido que além
de possibilitar maior inclusão da comunidade na sociedade, garantindo seu protagonismo,
também se tornam eficazes alguns direitos. A exemplo do que foi exposto, tem se o inciso VI,
posto no Art. 2. na lei 6.001, que dispõe: “respeitar, no processo de integração do índio à
comunhão nacional, a coesão das comunidades indígenas, os seus valores culturais, tradições,
usos e costumes” (BRASIL, 1973).
Ainda nessa lógica, a Constituição Federal (BRASIL, 1988) estabelece: no Art. 129,
inciso V, o Ministério Público como o responsável em defender os direitos e interesses das
populações indígenas; no Art. 109, inciso XI, a competência dos juízes federais em julgar as
disputas sobre direitos desses povos e o Art. 231 define o reconhecimento das práticas desses
povos, e salvaguarda os direitos indígenas em relação à terra e aos costumes e tradições. Dessa
forma, é observável que a própria constituição também determina medidas com intuito de
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garantir o papel dos povos originários na sociedade.


A partir dessa análise, conforme o pensamento de Daniel Munduruku (2012), a
existência das legislações que possuem o intuito de garantir os direitos do índio no cenário
brasileiro contém características ainda superficiais, tendo em vista que na prática existe uma
dificuldade em relacionar as tribos ao ambiente jurídico. Entretanto, Daniel Munduruku (2012)
ressalta também a importância de já existir leis que abordam esse assunto, pois o conflito da
prática é devido um processo de empenho da fiscalização, e não uma abordagem formativa da
lei. Portanto, é evidente o papel indiscutível da norma para melhorar a condição dos povos
originários, os quais sempre tiveram seus interesses diminuídos pelas classes dominantes.

3 DISCUSSÃO DO TEMA

4 CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Sílvio Luiz de. Racismo Estrutural. Feminismo plurais coordenação Djamila
Ribeiro. São Paulo: Pólen, 2018.

BENJAMIN, Walter. Sobre o Conceito de História. [S.L.]: Alameda Editorial, 2020.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,


DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

BRASIL. Lei no 6.001, de 19 de dezembro de 1973. Dispõe sobre o Estatuto do Índio.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6001.htm. Acesso em: 24 abr. 2021.

IORIS; Edviges Marta. Chamado do Pajé: regimes de memória, apagamentos e protagonismo


indígena no baixo tapajós. Revista Ciências da Sociedade, [S.L.], v. 3, n. 5, p. 39-60, jun.
2019. Semestral. Disponível em:
http://www.ufopa.edu.br/portaldeperiodicos/index.php/revistacienciasdasociedade/issue/view/
31. Acesso em: 24 abr. 2021.

LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: editora brasiliense, 2003.

MUNDURUKU, Daniel. Um dia na aldeia: Uma História Munduruku. Rio de Janeiro:


Melhoramentos, 2012.

LÖWY, Michel. Walter Benjamin: aviso de incêndio: uma leitura das teses “Sobre o conceito
de história”. São Paulo: Boitempo, 2005.

WOLKMER, Antônio Carlos. História do direito no Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 2007.
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................1

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA……………………………………………...3

2.1 Como um olhar investigador acerca da História Do Brasil pode ser instrumento de
ampliação do protagonismo indígena…………………………………………..3

2.2 Fatores que contribuem para que a comunidade indígena tenha seu papel na
sociedade reduzido………………………………………………………………..4

2.3 Dispositivos legais que auxiliam na garantia dos direitos e da participação do


indígena no Brasil…………………………………………………………………5

3 DISCUSSÃO DO TEMA……………………………………………………….6

4 CONCLUSÃO…………………………………………………………………..6

5 REFERÊNCIAS………………………………………………………………...6

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