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Introdução
que perpassam a questão das identidades e também de novos mecanismos políticos e canais
de negociação entre as comunidades organizadas e o poder público. A regularização de
territórios quilombolas, executada pelo INCRA, remete-nos a um processo de reforma
agrária acionado desde uma linguagem da diversidade étnica, ou seja, à tentativa de
democratizar o acesso à terra usando um caminho diferente daquele usualmente trilhado
pelos movimentos sociais rurais no Brasil.
Metodologia
No entanto, o presente textotem como objetivo fazer uma reflexão geral sobre os
processos de emergência social e política das comunidades quilombolas no Brasil nos
últimos 25 anos, desde um olhar territorial.A leitura crítica e sistematização de pesquisas e
trabalhos que discutem o fenômeno de insurgência sócio-política quilombola, tanto desde
Geografia como desde outras ciências humanas, é o principal instrumento metodológico
para a produção do texto. A experiência localizada em Acauã, a troca, as conversas, as
viagens, as trilhas, a participação em reuniões, etc. toda essa singularidade tão rica e
valiosa, apesar de não ser especificada ou relatada nesse artigo é, indiretamente, um insumo
para sua elaboração.
Não levar em consideração essas relações desiguais de poder é deixar por fora um
aspecto fundamental das identidades,no entanto, tampouco buscamos reproduzir uma visão
maniqueísta que coloca o poder e as subjetividades como polos mutuamente excludentes. O
fato das identidades serem constituídas em meio de relações de poder não exclui que sejam
também constituídas pelo afeto, pelo carinho entre as pessoas, a família, os laços solidários,
o querer ficar junto, uma trajetória e um projeto de vida em comum (comunidade).
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Entre 2004 e 2013, um total de 2.007 comunidades foram certificadas como comunidades remanescentes
de quilombo pela Fundação Cultural Palmares, no entanto, outras pesquisas estimam em mais de 5.000 o
total de quilombos no Brasil (http://www.palmares.gov.br/quilombola/).
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é sob este prisma que se pode asseverar que a Constituição de 1988 estabelece uma
clivagem na história dos movimentos sociais, sobretudo daqueles baseados em
fatores étnicos (ALMEIDA, 2008:44).
Os territórios de quilombo, para além de seus aspectos físicos, vão ganhando assim
novos contornos, sendo constituídos através de uma rede de relações sociais complexas,
sempre sendo uma criação dos sujeitos históricos que através deles buscam se afirmar. Não
existe território sem sociedade ou sociedade sem território. Um dos aspectos mais
importantes dessas territorialidades quilombolas refere-se às formas de uso comum dos
recursos naturais, que pressupõem cooperação simples no processo produtivo da vida
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cotidiana e íntimos vínculos de parentesco e aliança. Esse regime de uso comum tem sido
fundamental na consolidação dos territórios étnicos quilombolas (MALCHER, 2009).
As novas definições enfatizam que o quilombo não é algo do passado, mas referente
à situação presente dos segmentos negros em diferentes regiões e contextos do Brasil.
Aliás, as comunidades quilombolas contemporâneas não necessariamente tem sua origem
em movimentos de fuga de pessoas escravizadas, como nas definições clássicas2. O aspecto
mais importante, distintivo das comunidades quilombolas, é o de serem “grupos que
desenvolveram práticas cotidianas de resistência na manutenção e reprodução de seus
modos de vida característicos e na consolidação de um território próprio” (O´DWYER,
2010: p. 43). Os processos que deram origem às comunidades quilombolas de hoje
respondem a uma multiplicidade de situações, como é analisado pela CONAQ (2010) e por
Almeida (2002).
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“Toda habitação de negros fugidos, que passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham
ranchos levantados e nem se achem pilões nele”, conceito formulado como resposta ao Rei de Portugal em
virtude de uma consulta feita ao Conselho Ultramarino em 1740 (ALMEIDA, 2002, p. 47).
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Bibliografia
ALMEIDA, A.W.B. Os quilombos e as novas etnias. In: O´DWYER, Eliane Cantarino (Org.).
Quilombos: identidade étnica e territorialidade. Rio de Janeiro: Editora FGV. 2002, pp. 43-81.
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berto de. Terras de quilombo, terras indígenas, “babaçuais livres”,
“castanhais do povo”, faxinais e fundos de pastos: Terras tradicionalmente ocupadas. -2ª edição-.
Manaus: PGSCA-UFAM, 2008.
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