Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1 INTRODUÇÃO
Descrições de diferenças culturais, raciais e físicas que denotam “Outremização”,
mas permanecem imunes às categorias de valos ou status são difíceis de encontrar.
Muitas, se não a maioria, das descrições textuais/literárias de raça oscilam entre
dissimuladas, nuanças pseudocientificamente “provadas”. E todas elas possuem
justificativas e pretensões de certeza destinada a sustentar a dominação. (Toni
Morrison, A origem dos outros).
Barros (2005, p. 13) afirma que uma das categorias mais importantes para a História
Social é a
1 DE DECCA, Edgar. O silêncio dos vencidos. São Paulo: Editora brasiliense, 1988.
14
Portanto, usar da História Social, como ponte para fomentar esta pesquisa, traz
inúmeras possibilidades com relação ao que pudemos utilizar como fontes, para a estruturação
dos debates apresentados. Hobsbawm (2013, p. 111) destaca que “a história social nunca pode
ser mais uma especialização, como a história econômica ou outras histórias hifenizadas,
porque seu tema não pode ser isolado.”. Isso acontece porque dentro dessa dimensão
historiográfica existem inúmeras possibilidades de objeto de estudo, além de variadas
definições e delimitações dentro do campo da interdisciplinaridade.
pessoas que detêm poderes superiores aos desses quilombolas, e que põem em risco a retirada
de suas propriedades. Por consequência, não é possível mudar o quilombo de um lugar para
outro, pois o quilombo é muito mais que as pessoas que vivem nessas comunidades e o
sentido de pertencer àquele lugar.
Diante disso, para o desenvolvimento desta pesquisa é necessário que se mobilize dois
conceitos essenciais que movimentam e constroem as relações da construção do
reconhecimento como uma comunidade remanescente de quilombo. Assim, adotamos os
conceitos de identidade e o de resistência, que estruturam todo o desenvolvimento das
narrativas desta pesquisa. Assumimos as colocações dos autores que se propõem a discutir
esses conceitos a partir das formações de comunidades quilombola, estas que surgem de
diversos acontecimentos. Tal adesão tem como principal objetivo estabelecer uma base
econômica e uma estrutura social própria, pois como bem ressaltam as autoras,
[...] A identidade quilombola, até então um corpo estranho para estas comunidades
rurais negras, passa a significar uma complexa arma nesta batalha desigual pela
sobrevivência material e simbólica. Estamos, portanto, diante da incorporação de
identidades que, em decorrência de eventos históricos, introduzem novas relações de
diferença, as quais passam a ser fundamentais na luta dessas populações negras pelo
direito de continuar ocupando e transmitindo às gerações vindouras o território
conformado por diversas gerações de seus antepassados. (TURATTI; MANZOLI;
CARVALHO, 2002, p. 5).
cerca de 130 anos, referente, portanto, ao período em que ainda não existia o estado do
Tocantins, mas sim o estado de Goiás, podendo então fazer parte das diversas rupturas
geopolíticas que a região passou até se tornar uma nova unidade federativa brasileira.
Além disso, dentro desse capítulo falaremos sobre os diversos processos de formação
das comunidades quilombolas em geral, abordando como os quilombos se formavam, sendo
quase sempre a partir de escravos fugidos, porém, nem sempre aconteciam dessa forma, tendo
em vista que muitas dessas formações se deu por doações de terras, sendo o caso do
Remanescente de Quilombo da Ilha de São Vicente. Trabalhar essa questão é importante para
que não se generalize os processos de formação de cada quilombo. Em vista disso, destaco a
participação indígena no desenvolvimento das comunidades quilombolas enfatizando a
importância das diversas formações, pois o processo de formação do quilombo Ilha de São
Vicente perpassa entre essas duas matrizes, tanto a indígena, quanto a africana. Dessa forma,
podemos compreender que cada comunidade quilombola se constituirá de uma maneira,
mostrando-nos que não existe apenas um processo para a sua formação.
Dessa maneira, outra questão que se torna relevante dentro desses diversos processos
de formações quilombolas é que inúmeras nomenclaturas foram associadas a essas
comunidades, que hoje em dia são reconhecidas como Remanescentes de Quilombos. É
importante que haja essa reformulação da definição de quilombo, para que esse povo não viva
eternamente associado ao passado ou sendo até mesmo comparados como restos da história.
Diante disso, surge então uma nova categoria que estabelecerá o reconhecimento dessas
comunidades, sendo ela a categoria de “Remanescente de quilombo”, surgida por conta dos
movimentos sociais iniciados pelo Movimento Negro Unificado (MNU). Trazer todas essas
contextualizações é necessário para ressaltar que as comunidades quilombolas não surgem do
nada e que elas, desde suas formações, lutam por seu espaço dentro da nossa sociedade em
busca de seus direitos.
história de luta, como é o caso do Quilombo Ilha de São Vicente, que diante do processo de
resistência por seu território passara a se reconhecer enquanto remanescente de quilombo.
Com isso, percebe-se que desde a escravidão até as formações dos quilombos, sempre esteve
em vigência o resistir e é partindo disso que se tem o autorreconhecimento identitário
enquanto quilombolas. É mediante isso que, nesse capítulo, atento-me a abordar desde o
primeiro conflito territorial, entre os quilombolas e o fazendeiro, até o ato de despejo, e como
durante esse processo esses, até então descendentes de escravos, tiveram o seu primeiro
contato com a identidade quilombola.
Portanto, ao destacar as ações que levaram ao ato de despejo, podemos entender como
esse processo aconteceu e quais os motivos que intencionou o fazendeiro a entrar com uma
ação judicial contra os quilombolas, ressaltando que esse conflito se iniciara nos anos 2000,
mas sendo a partir de 2010 o nosso período focalizado, pois foi quando de fato ocorreu o
despejo. É importante destacar os conflitos que antecederam a ação de despejo, que aconteceu
em 2010, pois servem para que possamos entender que foram diversas questões e que não
surgiram do nada, mas que ao longo de todo esse tempo foram se alterando até chegar ao seu
ápice - o despejo.
Tal fato ocorreu de forma violenta, não em questões físicas, mas simbólica e
psicológica, o que o torna ainda pior, ficando nítido dentro das falas destacadas neste trabalho.
É partindo desse acontecimento que os quilombolas se reuniram em prol de reaver suas terras,
e que se iniciou o processo de se reconhecerem a partir da identidade quilombola e dentro
desse movimento que a resistência ganha força, pois é a partir dela que vão se afirmar
enquanto remanescentes.
Portanto, é diante das questões que são abordadas nos primeiro e no segundo capítulos
que compreendemos como a construção da identidade na comunidade quilombola Ilha de São
Vicente, apesar de ter sido em meio a situação desagradável, desenvolveu-se de forma natural,
e como a resistência desse povo se fez importante em meio ao movimento.
Ainda assim, é necessário situarmos como aconteceu à vinda desses escravos para
essa região que ainda não havia passado pelo processo de separação, sendo as terras