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1 INTRODUÇÃO
Descrições de diferenças culturais, raciais e físicas que denotam “Outremização”,
mas permanecem imunes às categorias de valos ou status são difíceis de encontrar.
Muitas, se não a maioria, das descrições textuais/literárias de raça oscilam entre
dissimuladas, nuanças pseudocientificamente “provadas”. E todas elas possuem
justificativas e pretensões de certeza destinada a sustentar a dominação. (Toni
Morrison, A origem dos outros).

Nos últimos 20 anos, a historiografia brasileira vem se transformando profundamente,


as políticas de cotas raciais e sociais que mudaram as universidades, também atingiram a
História e seu fazer. Pensar o outro, a história vista de baixo, como propôs Edgar De Decca1,
mudou. Nesse aspecto, as pesquisas sobre quilombos, quilombolas e suas comunidades
ganharam força e apresentaram um outro viés de estudo e análise da História. Nesse sentido, o
trabalho que apresentamos pretende problematizar a formação da Comunidade Remanescente
de Quilombo Ilha de São Vicente, localizada em Araguatins, no Norte do estado do Tocantins,
na região do Bico do Papagaio, além do processo de construção da identidade quilombola ao
resistirem na luta pelo reconhecimento enquanto remanescentes, a partir das vozes desses
personagens.

Considerando as especificidades do objeto de estudo, destacamos que o recorte-


temporal deste trabalho é entre os anos de 2010 e 2019. Período no qual ocorrera o despejo da
comunidade de suas terras e no qual analisaremos a construção da identidade quilombola no
processo de resistência por suas terras, em benefício do reconhecimento enquanto
remanescentes de quilombo.

Portanto, esta pesquisa se enquadra dentro da corrente historiográfica da História


Social que, segundo Barros (2005), é o ramo da história que se propõe a examinar a dimensão
social de uma sociedade, buscando entender os processos de transformações da sociedade na
qual se encaixam os movimentos sociais que estão expostos às diferenças e às desigualdades
sociais. Este trabalho tem por objetivo discutir o processo de formação da comunidade,
visibilizar as trajetórias desses sujeitos em torno do reconhecimento do território e analisar a
formação da identidade em meio ao movimento de resistência. Com isso, Barros (2005, p. 18)
destaca que os movimentos sociais dificilmente podem ser trabalhados fora de uma conexão
entre os campos social e o político, e que possivelmente incluirá ainda o econômico.

Barros (2005, p. 13) afirma que uma das categorias mais importantes para a História
Social é a

1 DE DECCA, Edgar. O silêncio dos vencidos. São Paulo: Editora brasiliense, 1988.
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[...] Dos “processos” (industrialização, modernização, colonização, ou quaisquer


outros, inclusive as revoluções, que aparecem incluídas na rubrica ‘movimentos
sociais’). É muito importante indicar que a História Social também estuda estes
‘processos’, e não apenas modos de organização ou estruturas, pois caso contrário a
História Social poderia ser vista como uma História estática, e não dinâmica.
Voltemos por ora aos objetos da História Social que coincidem com subconjuntos da
sociedade (grupos e classes sociais, categorias de excluídos, células familiares).
Quando o historiador volta-se para o exame destes grupos humanos específicos no
interior de uma sociedade, ou então para as relações conflituosas e interativas entre
alguns destes grupos, seu interesse poderá se voltar tanto para a elaboração de um
retrato sintetizado destes grupos sociais e de suas relações, como para a incidência
de questões transversais nestes grupos.

Desse modo, diante da colocação de Barros, compreendemos que dentro do campo da


História Social ela pode dirigir a sua atenção para uma classe social, para uma minoria ou um
grupo profissional, por exemplo, que se associa a um subconjunto específico da sociedade.
Com isso, o autor ainda destaca que, com a História Social voltada para a ideia de uma
totalidade de aspectos, ela pode ser aplicada dentro do estudo de uma sociedade inteira ou
para o estudo de comunidades que são tomadas como referências, sendo elas comunidades
rurais e urbanas que passam a ser objetos de estudos para os historiadores que são associados
à História Regional. No entanto, mediante a um caso ou outro, é importante salientarmos que
a História Social não apresenta objetos específicos dentro da História, já que o seu interesse
agora está voltado à sociedade como um todo.

Portanto, usar da História Social, como ponte para fomentar esta pesquisa, traz
inúmeras possibilidades com relação ao que pudemos utilizar como fontes, para a estruturação
dos debates apresentados. Hobsbawm (2013, p. 111) destaca que “a história social nunca pode
ser mais uma especialização, como a história econômica ou outras histórias hifenizadas,
porque seu tema não pode ser isolado.”. Isso acontece porque dentro dessa dimensão
historiográfica existem inúmeras possibilidades de objeto de estudo, além de variadas
definições e delimitações dentro do campo da interdisciplinaridade.

Deste modo, o desenvolvimento desta pesquisa se torna relevante para a contribuição


da valorização da história regional do Tocantins ao visibilizar o processo de resistência da
comunidade em questão. É perceptível que a história dos quilombolas da ilha, desde sua
ocupação à disputa pelo seu território, não há tanta notoriedade, tornando-se assim necessário
que esses acontecimentos ganhem mais espaços, visto que essa comunidade teve seu território
tomado por vias judiciais e de forma violenta, tornando-se então resistente no processo para
reaver seu território, tomando conta também da sua identificação de pertencimento ao
território.
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O estudo que realizamos nesta pesquisa é de suma importância, pois buscamos


compreender e identificar o sentido no processo de resistência dos quilombolas da Ilha de São
Vicente na disputa pela terra e em defesa do seu autorreconhecimento identitário. Logo, esta
pesquisa corrobora para uma maior visibilidade na história deste povo, uma vez que ajuda a
manter viva a memória desta comunidade e de seus antepassados. E como todos esses
processos foram essenciais para a identificação da comunidade enquanto remanescente de
quilombo.

Dessa maneira, o desenvolvimento desta pesquisa se divide em alguns momentos.


Partindo do uso da metodologia de analise documental, portanto, a priori, tem-se as análises
documentais e as revisões bibliográficas sobre a temática que estamos abordando, com o
intuito de tomar conhecimento das problematizações e discussões que já foram levantadas.
Assim, compreendemos que neste trabalho temos a fonte documental como principal base
para construção da pesquisa. Além do mais, é a partir das análises documentais que os
problemas serão levantados e questionados em direção a uma discussão teórica.

Em vista disso, surgem alguns questionamentos que nos guiaram na construção da


discussão pautada nesta pesquisa, sendo eles: Qual o significado da palavra Quilombo? Qual
o sentimento que esta palavra carrega? Afinal, o que é ser quilombola? Na minha concepção,
procurar entender esses pontos me ajudaria a compreender as questões que os levam a lutar,
resistir e afirmarem sua identidade quilombola. Sendo assim, analisando alguns artigos e
dicionários que se propõem a discutir e conceitualizar a palavra quilombo, percebi que
algumas colocações, principalmente nos dicionários analisados, há uma delimitação no
sentido desta palavra e entorno das formações das comunidades quilombolas, ao denominá-las
apenas como “local onde vivem os escravos fugidos”.

No entanto, como afirma Nascimento (2020, p. 289-290), “quilombo não significa


escravo fugido. Quilombo quer dizer reunião fraterna e livre, solidariedade, convivência,
comunhão existencial.”. De tal forma, o autor nos mostra que a discussão vai muito além da
denominação “escravo fugido” e que se estabelece na construção da identidade individual e
coletiva desses escravos.

Isso posto, entende-se que todas as questões pontuadas estão relacionadas ao


pertencimento à terra, pois o quilombo está ligado à terra, território onde os quilombolas
mantêm o sentido e o vínculo que eles criam com o espaço. Com isso, faz-nos compreender
os motivos que se constroem a resistência na luta pela terra quando se sentem ameaçados por
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pessoas que detêm poderes superiores aos desses quilombolas, e que põem em risco a retirada
de suas propriedades. Por consequência, não é possível mudar o quilombo de um lugar para
outro, pois o quilombo é muito mais que as pessoas que vivem nessas comunidades e o
sentido de pertencer àquele lugar.

Por consequência, assentamos nas reflexões de Alessandra Schmitt, Maria Cecília


Turatt e Maria Celina Carvalho (2002), que afirmam que a identidade dos povos quilombolas
se constroem a partir do momento em que se tem a necessidade de lutar por sua terra ou até
mesmo por seu espaço na sociedade. Então, para se construir uma identidade, seja coletiva,
seja pessoal, é necessário resistir. Desse modo, a partir desse momento a resistência se torna
necessária para a construção da identidade quilombola.

Diante disso, para o desenvolvimento desta pesquisa é necessário que se mobilize dois
conceitos essenciais que movimentam e constroem as relações da construção do
reconhecimento como uma comunidade remanescente de quilombo. Assim, adotamos os
conceitos de identidade e o de resistência, que estruturam todo o desenvolvimento das
narrativas desta pesquisa. Assumimos as colocações dos autores que se propõem a discutir
esses conceitos a partir das formações de comunidades quilombola, estas que surgem de
diversos acontecimentos. Tal adesão tem como principal objetivo estabelecer uma base
econômica e uma estrutura social própria, pois como bem ressaltam as autoras,

[...] Os grupos que hoje são considerados remanescentes de comunidades de


quilombos se constituíram a partir de uma grande diversidade de processos, que
incluem as fugas com ocupação de terras livres e geralmente isoladas, mas também
as heranças, doações, recebimento de terras como pagamento de serviços prestados
ao Estado, a simples permanência nas terras que ocupavam e cultivavam no interior
das grandes propriedades, bem como a compra de terras, tanto durante a vigência do
sistema escravocrata quanto após a sua extinção (TURATTI; MANZOLI;
CARVALHO, 2002, p. 3).

Portanto, para os autores Schwartz (2001); Turatti, Manzoli e Carvalho (2002); e


Nascimento (2020), os conceitos de identidade e resistência, dentro da discussão sobre as
comunidades quilombolas, conversam entre si, pois, como podemos ver, é dentro do processo
de resistência pelos seus territórios que os sujeitos essas comunidades passam a entender-se
enquanto quilombolas, assumindo assim a sua identidade e afirmando-se a partir dela. Além
disso, devemos ressaltar também que a identidade quilombola está vinculada com o
sentimento de pertença ao grupo e à terra, por isso devemos evidenciar os pontos destacados
nos conceitos abordados para que, assim, possamos compreender os sentidos por trás da luta e
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quais os sentimentos que nutrem e fomentam a construção e identificação quilombola e,


consequentemente, o se reconhecer enquanto remanescente. Como destacam as autoras,

[...] A identidade quilombola, até então um corpo estranho para estas comunidades
rurais negras, passa a significar uma complexa arma nesta batalha desigual pela
sobrevivência material e simbólica. Estamos, portanto, diante da incorporação de
identidades que, em decorrência de eventos históricos, introduzem novas relações de
diferença, as quais passam a ser fundamentais na luta dessas populações negras pelo
direito de continuar ocupando e transmitindo às gerações vindouras o território
conformado por diversas gerações de seus antepassados. (TURATTI; MANZOLI;
CARVALHO, 2002, p. 5).

A partir da colocação das autoras, podemos compreender que quando as comunidades


negras, rurais e urbanas, passam a entender a importância da identidade quilombola e
assumem esta nova identificação, estão atribuindo a si mesmas os subsídios de pertencimento,
que fazem com que façam parte de sua comunidade, e que ao longo do tempo transmitem seus
saberes às gerações futuras, mostrando-lhes o quão é importante se assumirem enquanto
quilombolas.

Em vista disso, a escrita da monografia se divide em dois capítulos. A minha principal


fonte documental para que o desenvolvimento desta pesquisa fosse possível foi a tese de
doutorado intitulada "Identidade e territorialidade na Comunidade Remanescente de
Quilombo Ilha de São Vicente na Região do Bico do Papagaio -Tocantins”, de Rita de Cássia
Domingues Lopes (2019), que foi desenvolvida dentro da Comunidade Quilombola Ilha de
São Vicente, na qual buscou destacar todos os aspectos culturais e sociais da comunidade por
meio de sua pesquisa. Consequentemente busco interpretar os dados que são levantados
adjunto desta analise documental a partir da História Social ramo da História que se propõe a
examinar a dimensão social de uma sociedade, que busca entender os processos de
transformações da sociedade na qual se encaixam os movimentos sociais, que estão expostos
às diferenças e às desigualdades sociais. Contudo, a autora produziu um Relatório
Antropológico de Reconhecimento e Delimitação do Território da comunidade, que foi
utilizado para obtenção do reconhecimento enquanto remanescente de quilombo e que
também foi muito importante durante a tramitação da titularização do território.

Sendo assim, no primeiro capítulo intitulado “A criação da comunidade quilombola


ilha de São Vicente: sua trajetória de luta”, discutiremos sobre o processo de formação da
comunidade, que acontecera logo após a assinatura da Lei Áurea, em 1888, com a chegada
desses ex-escravos à Ilha, no período pós-escravidão, no qual esses escravos obtiveram a sua
liberdade. Desse modo, a história da comunidade, com base nas informações obtidas, tem
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cerca de 130 anos, referente, portanto, ao período em que ainda não existia o estado do
Tocantins, mas sim o estado de Goiás, podendo então fazer parte das diversas rupturas
geopolíticas que a região passou até se tornar uma nova unidade federativa brasileira.

Além disso, dentro desse capítulo falaremos sobre os diversos processos de formação
das comunidades quilombolas em geral, abordando como os quilombos se formavam, sendo
quase sempre a partir de escravos fugidos, porém, nem sempre aconteciam dessa forma, tendo
em vista que muitas dessas formações se deu por doações de terras, sendo o caso do
Remanescente de Quilombo da Ilha de São Vicente. Trabalhar essa questão é importante para
que não se generalize os processos de formação de cada quilombo. Em vista disso, destaco a
participação indígena no desenvolvimento das comunidades quilombolas enfatizando a
importância das diversas formações, pois o processo de formação do quilombo Ilha de São
Vicente perpassa entre essas duas matrizes, tanto a indígena, quanto a africana. Dessa forma,
podemos compreender que cada comunidade quilombola se constituirá de uma maneira,
mostrando-nos que não existe apenas um processo para a sua formação.

Dessa maneira, outra questão que se torna relevante dentro desses diversos processos
de formações quilombolas é que inúmeras nomenclaturas foram associadas a essas
comunidades, que hoje em dia são reconhecidas como Remanescentes de Quilombos. É
importante que haja essa reformulação da definição de quilombo, para que esse povo não viva
eternamente associado ao passado ou sendo até mesmo comparados como restos da história.
Diante disso, surge então uma nova categoria que estabelecerá o reconhecimento dessas
comunidades, sendo ela a categoria de “Remanescente de quilombo”, surgida por conta dos
movimentos sociais iniciados pelo Movimento Negro Unificado (MNU). Trazer todas essas
contextualizações é necessário para ressaltar que as comunidades quilombolas não surgem do
nada e que elas, desde suas formações, lutam por seu espaço dentro da nossa sociedade em
busca de seus direitos.

No segundo capítulo desta monografia, nomeado de “Um quilombo em resistência na


luta pelo reconhecimento da sua identidade a partir de sua construção identitária.”, tem-se as
discussões divididas em dois momentos para que haja uma melhor compreensão dos fatos. A
princípio, destaco que é durante os séculos XX/XXI que o movimento de resistências tomara
grandes proporções e, na medida em que o fim da escravidão chegara, houve uma necessidade
de reconfiguração na luta desse povo. No entanto, o objetivo ainda era o mesmo - ter a sua
liberdade. Sendo assim, as comunidades quilombolas definem a si mesma a partir de sua
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história de luta, como é o caso do Quilombo Ilha de São Vicente, que diante do processo de
resistência por seu território passara a se reconhecer enquanto remanescente de quilombo.
Com isso, percebe-se que desde a escravidão até as formações dos quilombos, sempre esteve
em vigência o resistir e é partindo disso que se tem o autorreconhecimento identitário
enquanto quilombolas. É mediante isso que, nesse capítulo, atento-me a abordar desde o
primeiro conflito territorial, entre os quilombolas e o fazendeiro, até o ato de despejo, e como
durante esse processo esses, até então descendentes de escravos, tiveram o seu primeiro
contato com a identidade quilombola.

Portanto, ao destacar as ações que levaram ao ato de despejo, podemos entender como
esse processo aconteceu e quais os motivos que intencionou o fazendeiro a entrar com uma
ação judicial contra os quilombolas, ressaltando que esse conflito se iniciara nos anos 2000,
mas sendo a partir de 2010 o nosso período focalizado, pois foi quando de fato ocorreu o
despejo. É importante destacar os conflitos que antecederam a ação de despejo, que aconteceu
em 2010, pois servem para que possamos entender que foram diversas questões e que não
surgiram do nada, mas que ao longo de todo esse tempo foram se alterando até chegar ao seu
ápice - o despejo.

Tal fato ocorreu de forma violenta, não em questões físicas, mas simbólica e
psicológica, o que o torna ainda pior, ficando nítido dentro das falas destacadas neste trabalho.
É partindo desse acontecimento que os quilombolas se reuniram em prol de reaver suas terras,
e que se iniciou o processo de se reconhecerem a partir da identidade quilombola e dentro
desse movimento que a resistência ganha força, pois é a partir dela que vão se afirmar
enquanto remanescentes.

No segundo momento desse capítulo, abordaremos sobre o retorno dos quilombolas à


comunidade, que aconteceu depois de montarem a associação e assinarem um documento que
afirmava sua descendência como escravos, fazendo com que a Fundação Cultural Palmares
emitisse o reconhecimento, conferindo-lhes o retorno às suas terras, apesar desse retorno não
garantiu o encerramento da ação judicial que, aliás, ainda estava em tramitação. No entanto,
eles puderam voltar às suas terras e continuar os procedimentos necessários.

Destacamos que o retorno só foi possível, além do reconhecimento, enquanto


remanescentes, pela Fundação Cultural Palmares, pelo fato de que as comunidades
quilombolas são asseguradas por pelo artigo 68 da Constituição Federal, embora ela sozinha
não garanta a permanência desses quilombolas. Por isso, é necessário que seja feito um
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Relatório Técnico de Identificação e Delimitação, pois é só a partir dele que os quilombolas


poderão entrar com um processo no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(INCRA), para a aquisição da titularização de suas terras. Sendo assim, deixamos de forma
clara, dentro do capítulo, todos os procedimentos que foram realizados pela comunidade,
como se deu os acontecimentos e quais foram as impressões ao se depararem diante de uma
nova identidade e o que eles sentiram ao assumir essa nova identificação.

Portanto, é diante das questões que são abordadas nos primeiro e no segundo capítulos
que compreendemos como a construção da identidade na comunidade quilombola Ilha de São
Vicente, apesar de ter sido em meio a situação desagradável, desenvolveu-se de forma natural,
e como a resistência desse povo se fez importante em meio ao movimento.

2 CAPÍTULO 1: A CRIAÇÃO DA COMUNIDADE QUILOMBOLA ILHA DE SÃO


VICENTE: SUA TRAJETÓRIA DE LUTA
A Comunidade Remanescente de Quilombo Ilha de São Vicente, está situada na
cidade de Araguatins, na Ilha, cujo nome é o mesmo da comunidade e fica na margem direita
do rio Araguaia, onde faz fronteira com o Estado do Pará. O município de Araguatins se
localiza no extremo norte do Tocantins, na região do Bico do Papagaio, conforme mostra o
Anexo I. A partir das informações coletadas da pesquisa de Lopes (2019), a Ilha de São
Vicente tem uma extensão de 2.502,0437 hectares (dois mil quinhentos e dois hectares, quatro
ares e trinta e sete centiares). Segundo a autora, atualmente a Comunidade quilombola ocupa
somente 1,3% do território da Ilha que corresponde a 32.574 hectares. No que diz respeito a
esse 1,3% da Ilha de São Vicente, passou-se então a se organizar da seguinte forma:
dividindo-se em 34 lotes individuais e familiares, mais três lotes de uso coletivo - sendo um
lote uma reserva ambiental; outro lote que foi destinado à igreja da Assembleia de Deus, que
só funcionou até 2015; e um lote onde fica o barracão da Associação da Comunidade
Quilombola, onde acontece as reuniões e encontros. Decorrente disso, Lopes (2014) diz que
essa foi a maneira que eles encontraram para que pudessem ocupar toda a área, portanto, os
lotes foram distribuídos entre os membros das famílias Barros e Noronha. À vista disso, o
Quilombo foi formado com cerca de 48 famílias que são descendentes de ex-escravos, no
entanto, atualmente apenas 10 famílias residem no território diariamente, isso devido às
questões de educação, trabalho e renda familiar.

Ainda assim, é necessário situarmos como aconteceu à vinda desses escravos para
essa região que ainda não havia passado pelo processo de separação, sendo as terras

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