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AS CLASSES

SOCIAIS
NO
CAPITALISMO
DE HOJE
Nicos POULANTZAS
E

a
E

CLASSES SOCIAIS
NO CAPITALISMO
DE HOJE

Tradução de

ZAHAR EDIT ORES


Título original:
Les classes sociales dans le capitalisme aujourd'hui

Traduzido da primeira edição, publicada em 1974


Por EDITIONS DU SEUIL, de Paris, França

Copyright O by Editions du Seuil, 1974

capa de
ÉRICO

Edição para o Brasil

Lodo

Direitos brasileiros adquiridos por


ZAHAR EDITORES
Caixa Postal 207, ZC-00, Rio
que se reservam a propriedade desta versão

Impresso no Brasil
ÍNDICE
Pilmende Cs cc a

INTRODUÇÃO
RS CrASSES SOCIAIS E SUA REPRODUÇÃO AMPLIADA o 1t

A INTERNACIONALIZAÇÃO
DAS RELAÇÕES CAPITALISTAS
E O ESTADO-NAÇÃO

A FASE ATUAL DO IMPERIALISMO E A DomiNAçÃo DOS


EstaDOs UNIDOS ......RE a oe sp A O RO A 45
É. A. Periodização -....:Mic da 45.
2. Os Sinais da Dominação do Capital Americano .... 54
3. A Socialização Internacional dos Processos do Tra-
balho e a Internacionalização do Capital ...... 62
4. A Divisão Social Imperialista do Trabalho e a
Acumulação. do Capital Li vn 66
5. “As Formas da Dependência Européia ..........., 70
LE. O ESTADO, NACIONAL cee RR ONE ADO Sah ai 75
1. O Estado e a Questão da Burguesia Nacional ... 75
2 O Estado e aiNacio dr UM 83
35 :A Internacionalização e o Papel Econômico do Estado 86
4. O Estado na Reprodução Internacional das Classes
MOCIAIS CA ML o nn ao a 89
DU ConcLusão: A ETAPA ATUAL E SUAS PERSPECTIVAS Sud 91

7” AS BURGUESIAS:
pes CONTRADIÇÕES E SUAS RELAÇÕES
COM O ESTADO

4 POSIÇÃO; ATUAL DO; PROBLEMA. Limi o a 97


FE. As CONTRADIÇÕES ATUAIS DA BURGUESIA ..... Seo 116
1 O: Caprial, Mononolisia dt 116
2. As Fases do Capitalismo Monopolista e as Modifi-
cações das Relações de Produção 1... c..,....1,
As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

3. As Contradições no Seio do Capital Monopolista 139


4. As Contradições entre Capital Monopolista e Capi-
tal Não-Monopolista 148
5. O Capita l Não-M onopo lista e a Peque na-Bu rgue-
sia Tradicional 163
6. As Contradições no Seio do Capital Não-Monopolista 166
169
= Jr. O Esrado ATUAL E AS BURGUESIAS
169
1. O Debate
178
2. Sobre o Papel Atual do Estado
189
EVA OBSERVAÇÕES SOBRE O (CONTINGENTE BURGUÊS
189
1. A Questão dos Empresários
198
2. Os “Vértices” do Aparelho de Estado
u

A PEQUENA-BURGUESIA TRADICIONAL
E A NOVA PEQUENA-BURGUESIA

CA ci. 209
O PROBLEMA NA SUA ATUALIDADE TEÓRICA E PRATI
209
1. Observações Gerais
Peque-
2. A Pequena-Burguesia Tradicional e a Nova
na-Burguesia
24
IVO: Nova
IH. TraBALHO PRODUTIVO E TRABALHO NÃO-PRODUT
227
PEQUENA-BURGUESIA E CLASSE OPERÁRIA
DA DETERMI-
JII. Os COMPONENTES PoríTICOS E IDEOLÓGICOS 243
A
NAÇÃO DE CLASSE DA NOVA PEQUENA-BURGUESI
244
1. O Trabalho de Direção e de Supervisão
Intelectual: os
2. A Divisão Trabalho Manual/Trabalho 249
Engenheiros e Técnicos da Prod ução
/'TRABALHO
Iv. O PapeL DA Divisão TRABALHO INTELECTUAL
ENA-BURGUESIA 272
MANUAL PARA O CONJUNTO DA Nova PEQU
IZAÇÃO DO
A Nova PEQUENA-BURGUESIA E A BUROCRAT 295
TRABALHO INTELECTUAL
ÃO DE SEUS
VI. A Nova PEQUENA-BURGUESIA E A DISTRIBUIÇ
307
AGENTES
RGUESIA
Val. A DETERMINAÇÃO DE CLASSE DA PEQUENA-BU
AL 311
“TRADICION
A Po-
VIII. O SuBcoNIUNTO IDEOLÓGICO PEqUENO-BURGUÊS E
313
siçÃO POLÍTICA DA PEQUENA-BURGUESIA
DE CLASSE
IX, A SITUAÇÃO ATUAL E A QUESTÃO DAS FRAÇÕES 328
DA Nova PEQUENA-BURGUESIA
328
1. As Transformações Atuais 344
rguesia ..
2. As Frações de Classe da Nova Pequena-Bu
TRADICIONAL 359
A SiruaçÃO ATUAL DA PEQUENA-BURGUESIA
XI. CONCLUSÃO: AS PERSPECTIVAS POLÍTICAS
ADVERTÊNCIA

mas infor-
AO APRESENTAR ESTE TEXTO aos leitores, devo-lhes algu
mações preliminares.
principal-
1. Trata-se de uma série de ensaios que se refere
elhos de
mente às classes sociais, e em segundo lugar aos apar
a-imperialista.
Estado, na fase atual do capitalismo monopolist
es impe-
Estes ensaios dizem respeito essencialmente às metrópol
E
rialistas e sobretudo à Europa.
a sistemática
a) Estes ensaios não constituem, pois, uma teori
limites são im-
dessas formações sociais em sua fase atual. Seus
a um pesqui-
postos por razões objetivas: não se poderia recorrer
uisadores ou
sador ou militante, ou mesmo a um “grupo” de pesq
o produto
militantes, para elaborar tal teoria. Esta só pode ser
ria.
das organizações de luta de classe da classe operá
metrópoles
b) Se estes ensaios têm por objetivo principal as
s, é que estas
imperialistas, e principalmente as formações européia
amentar desde
constituem um campo específico: é o que tento fund
o primeiro ensaio.
objeti-
2. O caráter parcial destes ensaios surge através dos
vos mais particulares aos quais se referem:
fase
a) Eles tentam envolver as características gerais desta
(primeiro
e seus efeitos sobre as formações sociais em questão
(segundo
ensaio), as análises mais precisas relativas à burguesia
cional e
ensaio) e à pequena-burguesia, pequena-burguesia tradi
médias”
nova pequena-burguesia — denominada “novas camadas
sobretudo
— (terceiro ensaio): enfim, estas análises referem-se
ao inimigo e aos aliados potenciais da classe operária.
ria; no
Estes ensaios não tratam diretamente da classe operá
formas:
entanto ela está neles constantemente presente, sob duas
8 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

1) pelo fato de que as análises referentes à burguesia, suas con-


tradições internas e sua relação atual com o Estado refletem a
permanência da contradição principal, isto é, a relação da bur-
guesia com a classe operária; 2) pelo fato de que as análises sobre
.a pequena-burguesia, a nova pequena-burguesia principalmente,
referem-se a traços que, ao mesmo tempo, a aproximam e a dis-
tinguem da classe operária, com referência, portanto, às caracte-
rísticas próprias da classe operária.
b) Estes ensaios, apoiando-se nas formas concretas da luta
de classe que se delineia atualmente, não se configuram como um
inventário ou exposição sistemática. Voltei-me mais para as de-
terminações objetivas dessas lutas, determinações estas que são fre-
“quentemente negligenciadas.

3. Deste caráter dos ensaios que se seguem decorrem outras


particularidades do texto:
Estes ensaios, sendo articulados entre si, apresentam, cada
um, uma unidade própria. Isso dá lugar a certas repetições inevi-
táveis. Certos conceitos e análises teóricas, presentes em um dos
ensaios, são por vezes lembrados, por vezes retomados e aprofun-
dados nos outros: trata-se principalmente do casoda relação entre
o primeiro e o segundo ensaio; conceitos e análises concernentes,
por exemplo, à periodização do capitalismo e às modificações das
relações de produção acentuando seus estádios e fases, lá presentes
no primeiro, são retomados e sustentados no segundo.
Antes de sua inserção neste volume, somente uma parte da.
Introdução (As Classes Sociais e sua Reprodução Ampliada) e o
primeiro ensaio (A Internacionalização das Relações Capitalistas
e o Estado-Nação) foram publicados. Esta parte da introdução.
me foi solicitada originalmente pela crpT, publicada pelo Bureau
de pesquisas e Estudos Econômicos (BRAEC) da crept (documento
mimeografado) e reproduzido em seguida em "Homme et la So-
ciété (n.º 24-25, abril-setembro de 1973); o primeiro ensaio surgiu
em Les Temps Modernes (fevereiro de 1973). Entretanto, esses
dois textos foram consideravelmente modificados a partir das ob-
servações e críticas que então me foram feitas, e em consideração
ao conjunto deste volume.
4. Estes ensaios comportam ao mesmo tempo análises teó-
ricas e análises concretas. Optei por um plano, que me parece o
único certo, e que consiste em ligar estreitamente os dois na apre-
sentação. Não fiz apresentação preliminar de proposições teóri-
9
ADVERTÊNCIA

uzi
seriam ilustrações, mas introd
cas cujas análises concretas só lises concretas.
ivo) das aná
as primeiras no ritmo(gradat

à fase atual do imperialismo
5. As análises concernentes cer ta-
mas mais gerais referem-se
que tratam também de proble n-
aos paí ses do mi na do s € dep endentes. Mas, O objetivo pri
ment e ular
ões imperialistas, e em partic
cipal do texto sendo as formaç ial-
erial empírico refere-se essenc
as formações européias, O mat i um
te caso, à França recebe aqu
mente a tais formações. Nes o
que suas diferenças em relaçã
tratamento privilegiado, se bem
stão sejam marcantes. Não
às cutras formações sociais em que
s sob todos os seus aspectos,
significa que ela seria, pelo meno
, porque é aqui que se situa
um caso exemplar: é, simplesmente
o, é também evidente que
minha experiência pessoal. Entretant
certas particularidades, ao
as análises que faço referem-se, em
aspectos, ao conjunto da
conjunto destas formações e, sob certos
corrente imperialista.
xidade e atualidade
6. Por um lado, em virtude da comple
o, das razões que coman-
dos problemas de que trato e, por outr
“dam o caráter não-sistemático e parcial desta obra, as análises
proposições apresenta-
aqui expostas são finalmente, a meu ver,
possuem nada de “defi-
das para discussão é retificação. Elas não um texto
não se trata de
nitivo”, entre outras coisas, porque
ica.
acabado, mas de análises abertas à crít
ico, às vezes mesmo
Isso explica igualmente o caráter crít
m - minhas próprias aná-
“polêmico”, que frequentemente assume
renças e ocultar a coloca-
lises. Em vez de me calar sobre as dife
stir nelas, na medida em
ção de problemas essenciais, preferi insi
ia marxista. Isso significa
que somente a crítica faz avançar a teor
precisos, a certos autores não
que as críticas que faço, em pontos
que fazem em outros pon-
tiram, a meu ver, o valor das análises
am.
tos, análises estas que muito me ajudar
sendo muito vasta a
Enfim, para não prolongar o' texto, e
tratados, voluntariamente
literatura marxista sobre os assuntos
nte necessário.
limitei minhas referências ao estritame
teóricas aqui apresenta-
7. Numerosos conceitos é análises
e diretamente concentrados
dos de maneira relativamente simples
am às minhas duas obras
em torno de problemas atuais, remont
sociales (Maspero, 1968)
anteriores: Pouvoir politique et Classes
0), onde eles são funda-
e Fascisme et Dictature (Maspero, 197
que devesse retomar O CON-
mentados e explicitados. Não acreditei
10 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE
HOJE

junto da demonstração, contentando-me em


recomendá-las ao lei-
tor. Mas certas análises e formulações
que nelas figuram, em par
ticular na primeira, foram retificadas e
ajustadas no presente tex-
to: o leitor encontrará todos os desenvol
vimentos teóricos neces
sários, na obra e na ação das análises conc
retas.
ASCLASSESSOCIAIS —
E SUAREPRODUÇÃO AMPLIADA
ESTAS OBSERVAÇÕES introdutórias não têm por objetivo constituir
a exposição de uma teoria marxista sistemática das classes sociais
preliminar às análises concretas empreendidas nos ensaios que se
seguem: segundo a linha de exposição seguida neste texto, as aná-
lises teóricas serão intimamente articuladas às análises concretas,
sendo expostas no ritmo destas. Estas observações visam colocar
alguns alinhamentos e pontos de referência muito gerais que fa-
cilitarão a leitura dos ensaios que se seguem, onde serão retoma-
dos e aprofundados. 1 a

O que significam as classes sociais na teoria marxista?


E no . Sino
As classes sociais são conjuntos de agentes sociais deter-
NR
=2.N 1.
minados principalmente, mas não exclusivamente, por seu lugar

1 Desenvolvo e preciso aqui análises principalmente sobra Pouvoir


politique et Classes sociales, trazendo as retificações já iniciadas em Fas-
“cisme et Dictature. Entretanto, mantenho ao mesmo tempo o quadro
teórico e as análises essenciais. De fato, ainda que alguns de nossos tex-
tos tenham sido notados e funcionado amplamente, como dependendo
de uma “problemática” idêntica, desde o início existiam diferenças essen-
ciais entre alguns desses textos. Assim, no domínio do materialismo his-
tórico, diferenças essenciais já existiam entre Pouvoir politique de um lado
(e igualmente nos textos de Bettelheim, mas falo aqui somente em meu
nome), é por outro lado, no texto, marcado pelo economismo e pelo es-
truturalismo, de Balibar: “Les concepts fondamentaux du matérialisme
historique”, em Lire le Capital (1966). As diferenças são agora bem
mais nítidas, tendo feito Balibar sua própria crítica, justa em alguns
pontos (“Sur la dialectique historique”, em la Pensée, agosto de 1973).
Se o leitor a ela se referir perceberá facilmente que um grande número
de pontos sobre os quais se refere essa “autocrítica” de Balibar (a ques-
tão da luta das classes, o conceito de modo de produção, sua relação
com aquele de formação social, o conceito de conjuntura, a questão das
instâncias etc.) concerne precisamente às questões sobre as quais já ex's-
Tiam diferenças essenciais entre nossos respectivos textos. O que significa
que mantenho quanto a mim, com certas modificações, as análises essen-
ciais de m'nhas obras precedentes.
14 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

- no processo de produção, isto é, na esfera econômica. De fato,


não seria preciso concluir sobre o papel principal do lugar eco-
nômico sendo este suficiente para a determinação das classes so-
ciais. Para o marxismo, o econômico assume o papel determinante
em um modo de produção e numa formação social: mas o político
e o ideológico, enfim a superestrutura, desempenham igualmente
E
E
um papel muito importante. De fato, todas as vezes que Marx,
Engels, Lênin e Mao procedem a uma análise das classes sociais,
não se limitam somente ao critério econômico, mas se referem
explicitamente a critérios políticos e ideológicos.
2. As classes sociais significam para o marxismo, em um é
mesmo movimento, contradições e luta das classes: as classes so-
- Ciais não existem a priori, como tais, para entrar em seguida na
luta de classe, o que deixa supor que existiriam classes sem luta
É das classes. As classes sociais“abrangem
mas práticas de classe, isto
: é, a luta das classes, e só podem”ser colocadas em sua oposição.
é 32 A determinação das classes, abrangendo práticas — luta
— das classesese estendendoàsrelações políticas e ideológicas,
designa os lugaresobjetivos ocupados pelos agentes na divisão so-
cial dotrabalho: lugares que são independentes da vontade desses
agentes.
o Pode-se dizer, assim, que uma classe social define-se pelo seu
a,eseslugar no conjunto das práticas sociais, isto é, pelo seu lugar no
E Sastaçe nd
conjunto da divisão social do trabalho, que compreende as rela-
ções políticas e as relações ideológicas. A classe social é, neste
sentido, um conceito que designa o efeito de estrutura na divisão
“social do trabalho (as relações sociais e as práticas sociais). Este
lugar abrange assim o que chamo de determinação estrutural de
* classe, isto é, a própria existência da determinação da estrutura —
rag relações de produção lugaressde dominação-subordinação política
EO ane ideológica — nas práticas de classe: as classes só existem na
po luta das classes.
4. Esta determinação estrutural das classes, que só existe
então como luta das classes, deve, entretanto, ser distinguida da
posição declasse na conjuntura: conjuntura que constitui o lugar
onde se concentra a individualidade histórica sempre singular de
uma formação social, e enfim, a situação concreta da luta das.
classes. De fato, insistir na importância das relações políticas e
ideológicas na determinação das classes, e no fato de queas classes
sociais só existem como luta (práticas) das classes, não seria redu-
zir, de forma “voluntária”, a determinação das classes à posição
gs o .
do QTRES
“e CheatsDr RO pala

dETROnUÇAdE As Crasses Soculs E E


Te

das classes: isso assume grande importância nos casos em que se


constata umadistância entre a determinação estrutural das classes
e as posições declasse na conjuntura. A fim de tornar isso mais
claro, proponho desde já um esquema dd que será explici-
tado em oi : E

neia DASCLASSES
DETERMINAÇÃO ESTRUTUR;
a“DAS

.2
5

Conceitos de estratégia: forças sociais,


:
O

1
a
o
Ra

bloco no poder, “povo”


RE
É So
8
sa
q
Q

g E asepa
Ã
Í
o de xplora
e

queeconômica
o

a) Uma adosocial “ou nidaçãoou pa de classe,


pode não ter uma posição” declasse correspondente a seus inte-
resses, eles próprios. circunscritospela sua determinação de classe
como horizonte desua luta. Oexemplo típico é aquele da aristo-
cracia operária, que temprecisamente, nas conjunturas, posições
de classe burguesas. Issonão significa contudo querela se torne,
em tais casos, parte da burguesia: ela permanece, pelo fato de
sua determinação estrutural declasse, parte daclasse operária,
constituindo uma “camada”da classe operária deacordo com os
próprios termos de Lênin. Por outro lado, sua den de
classe não se reduz à sua posição de classe.
16 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

Mas tomemos igualmente o caso inverso: classes ou" frações


e camadas de outras classes além da classe operária, principal-
mente a pequena-burguesia, podem ter, em conjunturas concretas,
posições proletárias de classe ou que se aproximem da classe ope-
rária. Isso não quer dizer, contudo, que se tornem então parte da
classe operária. Para citar um simples exemplo: os técnicos da
produção têm por vezes posições proletárias de classe, tomando
eventualmente, em greves por exemplo, o partido da classe operá-
ria. Isso não significa que façam parte da classe operária, não
sendo sua determinação estrutural de classe redutível à sua posi-
ção de classe. Mais ainda: em razão de sua própria determinação
de classe, esse conjunto toma por vezes o partido da classe ope-
rária, por vezes o partido da burguesia (posições burguesas de
classe): mesmo que não se coloquem como parte da classe ope-
rária cada vez que tomam o partido desta, os técnicos não se
colocam como parte da burguesia cada vez que detêm posições
burguesas de classe. Reduzir a determinação estrutural de classe
à posição de classe é abandonar a determinação objetiva -
gares das classes
R e sociais por uma ideologia “relacional” de “mo-
vimentos sociais”.

die
b) Pode-se bem observar que as relações ideológicas e polí-
ticas, isto é, os lugares de dominação-subordinação política e ideo-
lógica já se referem a uma determinação estrutural de classe; não
se trata, pois, de um lugar objetivo que só diria respeito ao lugar
econômico nas relações de produção, só se encontrando os ele-
mentos políticos e ideológicos nas posições de classe. Não se trata,
segundo um antigo equívoco, de uma “estrutura” econômica que
designa, sozinha, de um lado os lugares, e de outro uma luta de
classes que se estende ao domínio político e ideológico: tal equi-
voco toma atualmente com frequência a forma de uma distinção
entre “situação (econômica) de classe” de um lado, e posições
político-ideológicas de classe por outro lado. A determinaçãoes-
trutural de classe refere-se desde já à luta econômica, política
e ideológica de classe, expressando-se todas essas lutas pelas po-
sições de classe na conjuntura.
Isso significa igualmente que as análises aqui apresentadas
não têm nada que ver também com o esquema hegeliano, o da
classe em si (situação econômica de classe, determinação objetiva
de classe unicamente pelo processo de produção), e o da classe
para si (classe dotada de uma “consciência de classe” própria e
de uma organização política autônoma = luta das classes), ao
/

INTRODUÇÃO: As CLASSES SOCIAIS 17

qual Lukács, na tradição marxista, ligou seu nome. Isso implica


por sua vez: :
a) quetodo lugar objetivo de classe no processo de produção
rne a esta
se traduz necessariamente por efeitos, no que conce
isto é,
classe, sobre o conjunto de sua determinação estrutural,
polí- .
igualmente por um lúgar específico desta classe nas relações
- |
ticas e ideológicas da divisão social do trabalho. Dizer, por exem
plo, que existe uma classe operária nas relações econômicas impli-
ca necessariamente um lugar específico desta classe nas relações
ideológicas e políticas, mesmo que esta classe possa, em certos
países e em certos períodos históricos, não ter uma “consciência
de classe” própria ou uma organização política autônoma. Isso
significa que, em tais casos, mesmo que ela esteja fortemente con-
taminada pela ideologia burguesa, sua existência econômica tra-
duz-se por práticas político-ideológicas mdteriais específicasque
“se-manifestam sob seu “discurso” burguês: é o que Lênin desig-
nava, aliás descritivamente, por instinto de classe. É certo que,
para compreender isso, é necessário romper principalmente com
toda uma concepção da ideologia como “sistema de idéias” ou
“discurso” coerente, e concebê-la como um conjunto de práticas
materiais. Tudo isso, que se configura erroneamente contra a
série de ideologias da “integração” da classe operária, quer final-
mente dizer uma coisa: que não é absolutamente necessário uma
“consciência de classe” própria e uma. organização política autô-
.em
noma das classes em luta para que-a-luta-de-classes-tenha lugar
todos os domínios da realidade social;
b) O quese entende por “consciência de classe” própria e
por organização política autônoma, isto é, do lado da classe ope-
rária, uma ideologia proletária revolucionária e um partid tô-
nomo de luta e. tem como campo de aplicação aqueledas
posições de classe e da conjuntura, constituindo as condições de
intervenção das classes como forças sociais.
5. O aspecto principal de uma análise das classes sociais é
bem aquele de seus lugares na luta dasclasses: não é o dos agen-
tes que as compõem. As classes sociais não são grupos empíricos
de indivíduos — grupos sociais — compostos” pela adição desses
indivíduos. As relações desses agentes entre si não são, pois, Te-
lações interindividuais. O pertencimento de classe dos diversos
agentes depende dos lugares de classe que ocupam: é por outro
lado distinto da origem de classe — da origem social — desses
agentes. A importância destas questões aparecerá nitidamente no
18 “AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

problema da reprodução das classes sociais e de seus agentes. As-


sinalemos no momento:
a) que a questão pertinente que deve ser colocada na relação:
das classes sociais e de seus agentes não é aquela da classe a que
pertence este ou aquele indivíduo determinado (o que importa são:
os conjuntos sociais), nem aquela das fronteiras empíricas estatís-
ticas e rígidas dos “grupos sociais” (o que importa são as classes.
na luta das classes):
b) que a questão primeira, neste sentido, não é a das “desi-
gualdades sociais” entre grupos ou indivíduos: estas desigualdades
sociais só são o efeito, sobre os agentes, das classes sociais, isto é,
dos lugares objetivos que ocupam, não podendo desaparecer a não:
ser pela abolição da divisão da sociedade emclasses. Para com-
cons

pletar, não se trata, em uma sociedade de classe, de uma desigual-


dade de oportunidades dos “indivíduos”, o que deixa entrever se-
guramente que oportunidades existem e que elas dependem (ou
quase) somente deles, no sentido de que os mais capazes e os me- |
lhores poderiam sempre ultrapassar o seu “meio social”.
6. O lugar nas relações econômicas detém, entretanto, o
papel principal na determinação insano sociais. O que se en-
tende na teoria marxista por(“econômico”7)
Rogess Aesfera (ou espaço) econômicaédeterminada pelo processo
| EsSs «Rs de produção, eo lugar dos agentes, sua distribuição em classes
Ra e sociais, pelas relações de produção.
psba est Naturalmente, o econômico não compreende somente a pro-
Suse" dução, mas também o conjunto do ciclo produção-consumo-repar-
tição do produto social, “momentos” que surgem, na sua unidade,
como aqueles do processo de produção. No modode produção
capitalista, trata-se do ciclo global de reprodução do capital social:
capital produtivo — capital mercadorias — capital dinheiro. Mas,
nesta unidade, é a produção que detém o papel determinante. |
A distinção, neste nível, das classes sociais, não é, por exemplo,
uma distinção baseada na grandeza das rendas, uma distinção
entre “ricos” e “pobres”, como acreditava toda uma tradição pré-
marxista, ou ainda hoje toda uma série de sociólogos. A distinção,
real, na grandeza das rendas, é somente uma consegiiência das
relações de produção.
Que significam o processo de produção e as relações de pro-
dução que o constituem?
. No processo de produção, encontra-se primeiramente o pro-
cesso de trabalho, que designa, em geral, a relação do homem
ra
INTRODUÇÃO: AS CLASSES SOCIAIS

com a natureza. Mas este processo de trabalho apresenta-se sem-


pre sob uma forma social historicamente determinada. Ele só é
constituído na sua unidade com as relações de produção.
As relações de produção são constituídas, numa sociedade
dividida em classes, por uma dupla relação que engloba as rela-
ções dos homens côm a natureza na produção material. As duas
relações são relações dos agentes da produção com o objeto e com
os meios de trabalho (as forças produtivas) e, assim, por tal dis-
torção, as relações dos homens entre si, as relações de classe.
Estas duas relações referem-se então:
a) à relação do não-trabalhador (proprietário) com o obje-
to e com os meios de trabalho;
b) à relação do produtor imediato (ou do trabalhador di-
reto) com objeto e com os meios de trabalho.

Estas duas relações comportam dois aspectos:


a) a propriedade econômica: significa o controle econômi-
co real dos meios de produção, isto é, o poder de afetar os meios
de produção para determinadas utilizações e dispor assim dos pro-
dutos obtidos;
b) a posse: significa a capacidade de dinamizar os meios
de produção, isto é, o domínio do processo de trabalho.
' 6.1. Em toda sociedade dividida em classes, a primeira rela- Es nem
ção (proprietários/meios de produção) destaca sempre o primeiro.
aspecto: são os proprietários que detêm o controle real dos meios |
de produção e, assim, exploram os trabalhadores diretos extor-
quindo-lhes, sob várias formas, o sobretrabalho.
Mas esta propriedade designa a propriedade econômica real,
o controle real dos meios de produção, e sedistingue da proprie-
dade jurídica, tal como é consagrada pelo Direito, que é uma su-
perestrutura. Evidentemente, o Direito ratifica em geral a pro-
priedade econômica: mas é possível que as formas de propriedades
jurídicas não coincidam com a propriedade econômica real. Neste
caso, é esta última que permanece determinante para a delimita-
ção do lugar das classes sociais, ou seja, para aquela da classe
dominante-exploradora.
6.2. A segunda relação, a dos produtores diretos — dos
trabalhadores — com os meios e com o objeto do trabalho, cons-
titui a relação que determina,'“no seio das relações de produção;
a classe explorada. RR
E
20 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HoJ

ndo os diferen-
Esta relação pode assumir várias formas, segu
tes modos de produção.
utores di-
Nos modos de produção “pré-capitalistas”, os prod
iramente “separados”
retos — os trabalhadores — não estavam inte
do modo de
dos meios e do objeto do trabalho. Tomemos o caso
mesmo tempo-
produção feudal: se bem que O senhor detivesse ao
terra, o ser-
a propriedade jurídica e a propriedade econômica da
va-se protegido:
vo tinha a posse de seu pedaço de terra; encontra
e simples-
pelos costumes, e o senhor não podia despojá-lo pura
necessário, na
mente de seus bens: para que isso se fizesse, foi
o das enclo-
Inglaterra, por exemplo, todo um processo sangrent
que Marx
sures na transição do feudalismo para o capitalismo,
desses modos
chamou de acumulação primitiva do capital. No caso
extração dire-
de produção, a exploração dominante se fazia pela
éia ou de tri-
ta do sobretrabalho, sob forma por exemplo de corv
ica e a posse
buto natural. Isso significa que a propriedade econôm
iam da mesma
se distinguiam naquilo em que ambas não depend
relação proprietários /meios de produção.
a, os pro-
Em contrapartida, no modo de produção capitalist
te desprovidos
dutores diretos — a classe operária — são totalmen
ao capital. É esta
de seus meios de trabalho, cuja posse pertence
de seus meios de
forma consumada de separação dos trabalhadores
x chama de
produção o que condiciona a aparição do que Mar
trabalho, que
“trabalhador nu”. O operário só possui sua força de
lugar dos
vende (força-trabalho). É esta modificação decisiva do
produtoresdiretosnasrelaçõesde pro duçãoquefazcomqueo
é, que -determina
própriótrabalho se torne uma mercadoria, isto
a gencralização daforma-comercialénãoo inverso:/ o trabalho
ai
£ rezo
eira das
como mercadoria nãoé o efeito da generalização prim o é
etrabalh
famosas “relações comerciais”.A extração do sobr
mente, por meio:
“então feita aqui nãodiretamente, mas indireta
é, pela criação e
do trabalho incorporado na mercadoria, isto
açambarcamento da mais-valia.
7. Pode-se então observar:
devem ser
7.1. De um lado, que às relações de produção
constituem, e na
apreendidas na articulação das relações que as
o que circunscreve a
sua unidade com o processo de trabalho: é
iza um modo de
relação de exploração dominante que caracter
ndo tal relação
produção e que determina a classe explorada segu
relação de pro-
dominante. Não poderíamos somente nos ater à
e, como clas-
priedade, designando, de alguma forma negativament
INTRODUÇÃO: AS CLASSES SOCIAIS - Db

se explorada segundo esta relação dominante, todos aqueles que


não detêm propriedade econômica, isto é, o conjunto dos não-
proprietários. A classe explorada segundoesta relação (a classe
explorada fundamental: classe operária no modo de produção ca-
pitalista) é aquela que efetiva o trabalho produtivo deste modo
de produção: assim, no modo de produção capitalista, nem todos
os não-proprietários são operários.
7.2. Por outro lado, o processo de produção não é defini-
do por dados “tecnológicos”, mas pelas relações dos agentes com
os meiós de trabalho e, assim, entre eles, portanto, pela unidade
do processo de trabalho das “forças produtivas” e das relações
de produção. Os processos de trabalho e as forças produtivas, in-
clusive a “tecnologia”, não existem em si, mas sempre na sua
relação constitutiva com as relações de produção. Não se pode
então falar, em sociedades divididas em classe, de trabalho “pro-
dutivo” neutro e em si. É trabalho produtivo, em cada modo de
produção dividido em classes, o trabalho que corresponde às rela-.
ções de produção deste modo,isto é, aquele que dá lugar à forma.
específica e dominante de exploração. Produção, nestas socieda-
des, significa ao mesmo tempo, e num mesmo movimento, divi-
são de classes, exploração e luta de classes.
8. Segue-se que, sobre o plano econômico, não é o salário
que define a classe operária: o salário é uma forma de distribui-
“cão do produto social,abrangendo as relações de mercadoeas.
O. Se-
formas do “contrato” de compra e venda da força-trabalho.
todo operário é assalariado, todo assalariado não é forçosamente:
um operário, pois todo assalariado não é forçosamente um tra-.
balhador produtivo. Se as classes sociais não são definidas no-
plano econômico por uma divisão na escala das “rendas” — ricos/
pobres — não o são também pela situação de seus agentes na
hierarquia de salários. Esta situação assume, certamente, o valor:
de um indício importante da determinação de classe, sendo dela
somente o efeito, como é aliás o caso do que geralmente se desig-.
na como desigualdades sociais: a “divisão dos benefícios”, a dis-
tribuição das rendas, a fiscalização etc. Assim como outras desi-.
gualdades sociais, a hierarquia de salários não constitui também
uma escala ou escada unilinear, contínua e homogênea, em pirá-
mide ou degraus onde se situariam indivíduos ou grupos, grupos.
“superiores” aos grupos “inferiores”: ela constitui o efeito das,
barreiras de classe;
CAPITALISMO DE HOJE
22, As CLASSES SOCIAIS NO

seg uid a, é pre cis o sub lin har que estas barreiras de
8.1. Em aldades
e sua re pr od uç ão am pl ia da têm como efeito desigu
classe de agen-
s esp ecí fic as e co nc en tr adas em certos conjuntos
sociai tribuídos:
sses em cujo seio estão dis
tes, segundo as diversas cla não nos estendermos ain-
os jov ens € Os vel hos , pa ra
em especial, muito mais com-
a outra natureza e
da mais sobre o caso, de um se trata
as mul her es. É po rq ue , no caso das mulheres, não
plexa,
adetermina dos sobre elas da divisão
simplesmente de efeitos supr a arti-
m, mais precisamente, de um
da sociedade em classes, poré social do trabalho, da di-
da divisão
culação particular, no seio
isão geral.
visão em classes e da div
do
é pois composto da unidade
9. O processo de produção sei o
de tra bal ho e das rel açõ es de produção. Mas, no
processo
dad e, nã o é o pro ces so de trabalho — incluindo a tecno-
desta uni
o pro ces so téc nic o — que detém o papel principal: são
logia é
es de pr od uç ão qu e do mi na m sempre o processo de tra-
as relaçõ
as for ças pro dut iva s, imp rim indo-lhes seu traçado e seu
balho e pro-
de pro ced er. É est a me sm a dominação das relações de
modo ão a
o sob re as for ças pro dut ivas que dá à sua articulaç
duçã
dução e reprodução.
forma de um processo de pro
das relações de produção
9.1. É deste papel dominante e
processo de trabalho que decorr
sobre as forças produtivas e o
el con sti tut ivo das rel açõ es políticas e das relações ideoló-
o pap
na det erm ina ção est rut ura l das classes sociais. As relações
gicas i-
compõem (propriedade econôm
de produção é aquelas que as s daí decorrentes,
de podere
ca/posse) traduzem-se sob a forma mo Tais,esses poderes estão
co
em suma, pelos poderes de classe: políticas € ideológicas que
ações
“constitutivamente ligados às rel repõem
. Essas relações não se sob
os consagram e Os legitimam stentes”, mas estão
dução “já exi
simplesmente às relações de pro
sen tes , sob fo rm a esp ecí fic a em cada modo de produção, na
pre
dução. O processo de produção
constituição das relações de pro
po, processo de reprodução das
e exploração é, ao mesmo tem
ção políticas e ideológicas.
relações de dominação subordina
s
e que, nos lugares das classe
9.2. Isso implica finalment so-
ações de produção, é a divisão
sociais no próprio seio das rel a das
expressa pela presença específic
cial do trabalho, tal como se ão,
açõ es pol íti cas e ide oló gic as no seio do processo de produç
rel
trabalho: as consegiiências serão
que domina a divisão técnica do ão &
palmente na questão da “direç
amplamente observadas, princi
INTRODUÇÃO: AS CLASSES SOCIAIS 23
à,
eo

ém naquela da de-
supervisão” do! processo de trabalho, mas tamb Assi-
cos da produção.
terminação de classe dos engenheirose técni
essas proposições
nalemos simplesmente que, considerando-se
o papel decisivo
marxistas fundamentais, é que se pode apreender
ectual” na determina-
da divisão “trabalho manual-trabalho intel
ção das classes sociais.
o fundamental '
10. Eis o momento de lembrar a distinçã o
social: só farei no moment
entre modo de produção € formação uma di-
distinção tem
algumas observações sumárias, pois esta
dedicar amplamente nos
mensão teórica sobre a qual vou me
ensaios seguintes.
dução que é um
10.1. Quando falamos de um modo de pro
em um nível geral é
objeto abstrato-formal, situamo-nos ainda
de modo de produção já
abstrato, se bem que o próprio conceito
relações de produção,
abranja, como tal, ao mesmo tempo, as
cas: por exemplo, os |
as relações políticas e as relações ideológi
capitalista etc. Mas estes
modos de produção escravista, feudal,
roduzem em formações
modos de produção só existem e se rep ha, a
França, a Aleman
sociais historicamente determinadas: a órico,
do processo hist
Inglaterra etc., neste ou naquele momento
s porque objetos reais
tiveram formações sociais sempre originai
— concretos esingulares.
vários modos —
Portanto, uma formação social comporta
uma articulação espe-
mas também formas — de produção, em
européias do prin-
cífica. Por exemplo, as sociedades capitalistas
elementos do modo de
cípio do século XX estavam compostas de
comercial simples e da
produção feudai, da forma de produção
mo para o capita- |
manufatura — forma de transição do feudalis
sob suas formas com-
lismo —, do modo de produção capitalista
is eram bem as
petitiva emonopolista. Mas essas formaçõessocia
este modo capita-
formações capitalistas: isso significa que era -se
mação social constata
lista que dominava. De fato, em toda for
o este que produz
o domínio de um modo de produção, domíni
e os outros mo-
efeitos complexos de dissolução-conservação sobr
s formações sociais
dos e formas de produção e que confere a essa
à-exceção dos pe-
suas características (feudais, capitalistas etc.):
izados precisamente
tíodos de transição no sentido estrito, caracter
os e formas de
por um “equilíbrio” particular dos diversos mod
produção.
unicamente
Voltemos às classes sociais. Se nos dedicarmos
classes, já pre-
aos modos de produção, cada um comporta duas
MO DE HoJE
E 24 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALIS
e
no con jun to de sua det erminação econômica, política
sentes do-
ra, política e ideologicamente
ideológica: a classe explorado domi-
ca e ideologicamente
minante, e a classe explorada, políti
de produção escravista), senho-
nada: senhores e escravos (modo
dal), burgueses é operários
res e servos (modo de produção feu
(modo de produção capitalista).
formação social, compor-
Mas uma sociedade concreta, uma ta vários
em que ela compor
ta mais de duas classes, na medida
o não existe formação social
modos e formas de produção. De fat
]

que é exato é que as duas


4

que comporte apenas duas classes. O


ão social, por onde passa a
classes fundamentais de toda formaç ]
modo de produção domi-
contradição principal, são aquelas do |
a classe operária nas for-
nante nesta formação: a burguesia e
mações sociais capitalistas.
contudo, a simples !
10.2. As formações sociais não são,
modos e formas de produção
concretização ou espacialização dos
são o produto de seu
existentes em sua forma “pura”: não
sociais, onde atua à luta de
“acúmulo” espacial. As formações ução dos
existência e de reprod
classes, são os lugares efetivos de se Te-
modos e formas de produç ão. Um modo de produção não
pode também ser historica-
produz e não existe como tal, e não
luta de classes nas formações
mente periodizado como tal. É a
processo histórico tem como
sociais que é o motor da história: o
.
lugar de existência essas formações
em da análise das classes
Consequências consideráveis decorr
social não poderiam ser “de-
sociais: as classes de uma formação
uma análise abstrata dos mo-
duzidas”, em sua luta concreta, de
encontram presentes, pois não
dos e formas de produção que se
quais. Por um lado elas são
se encontram na formação social fais
pela luta concreta que se
afetadas, na sua própria existência,
al: é principalmente aqui que
desenvolve no seio da formação soci
das outras classes e frações de
reside o fenômeno de polarização
damentais, a burguesia e à
| classe em torno das duas classes fun
stas, o que provoca efeitos
E classe operária nas sociedades capitali
e essas outras classes, mas tam-
ÉÉ » decisivos é muito complexos sobr
ais. Por outro lado, as classes
| bém sobre as duas classes fundament
nas relações desta formação
É o > de uma formação social só existem
e portanto nas relações das classes
| “x - com outras formações sociais,
ras formações. A isto se cha-
desta formação com aquelas das out
corrente imperialista: im-
| 5& º mou o problema do imperialismo e da
per ial ism o que , pre cis ame nte , como reprodução ampliada do capi-
f
Ro.
IAIS o
INTRODUÇÃO: AS CLASSES SOC
não
co mo lug ar de exi stê nci a as formações sociais €
talismo, tem tal.
capitalista enquanto
o modo de produção
igual-
teo ria ma rx is ta da s classes sociais distingue
fi TA as classes,
aç õe s € ca ma da s de classe, segundo as divers
mente fr do parti-
de di fe re nc ia çõ es no econômico e no papel, to
a par tir teoria distingue
da s re la çõ es pol íti cas e ideológicas. Esta seu
cul ar,
s, delimita das principalmente pelo
também categorias sociai gic as: é o caso para à buro-
la çõ es pol íti cas e ide oló
lugar nas re hos
Es ta do , de li mi ta da pe la sua relação com os aparel
cracia de ela-
do , e pa ra OS int ele ctu ais , definidos pelo seu papel de
de Es ta es, para
ra çã o e de re al iz aç ão da ideologia. Essas diferenciaçõ
bo gicas é
as relações políticas e ideoló
as quais a referência com de importância, pois estas
sp en sá ve l, te m um a gr an
sempre indi
ca ma da s € ca te go ri as po de m frequentemente, segundo as
frações, rela-
un tu ra s co nc re ta s, as su mi r um papel de sociais
conj
tivamente autônomas.
contudo, de “grupos sociais”
Isso não significa que se trate, ações
das classes. As frações são fr
exteriores, ao lado ou acima ão da
ial, por exemplo, é uma fraç
de classe: a burguesia comerc da
cia operária é uma camada
burguesia; também a aristocra ten ci-
categorias sociais têm um per
classe operária. As próprias
cla sse : se us ag en te s de pe ndem em geral de várias clas-
mento de
ses sociais. tre
os essenciais de diferença en
Encontra-se aí um dos pont ão soc ial,
ria ma rx is ta e as div ers as ideologias da estratificaç
a teo o estas, as clas-
ideologias dominant es na sociologia atual: segund ncia
iai s — to do s os so ci ól og os atuais admitem sua existê
ses soc al (referen-
só se ri am um a da s cla ssificações, parcial e region
— esira-
, ao nível econômico) de uma
tes, sobretudo € unicamente relações
ratificação daria lugar, nas
tificação-mais geral. Tal est s paralelos & exteriores às
ide oló gic as, a gr up os soc iai
políticas e -
os qu ai s a ela s se su pe rp oriam. Max Weber já demons
classes, das
o ca mi nh o, e só res ta ass inalar as diversas correntes
trara
“elites” políticas.
as
ação estrutural de classe e
12. A articulação da determin exis-
uma formação social, lugar de
posições de classe no seio de se
das con jun tur as, tTe que r conceitos particulares. Trata-
tência ngendo
o qu e ch am ar ei de con ceitos de estratégia, abra
daquil
polarização e de alianças de
principalmente os fenômenos de nação de classe,
ao lado da domi
classes. É entre outros o caso,
, designando uma aliança êspe-
do conceito de “bloco no poder”
ES
As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HoJE

ds a
26

cífica das classes e frações de classe dominantes; é também o


caso, ao lado das classes dominantes, do conceito de “povo”, de-
signando uma aliança específica destas. conceitos não tém:
o mesmo estatuto que aqueles fora at
mt r a t d o s éaqui: uma

à ioid on
classe, fração ou camada pode ou não, segundo as formações
sociais, seus estádios e fases e suas conjunturas, fazer parte do
bloco no poder, e pode ou não fazer parte do povo. Mas isso
indica também que essas classes, frações ou camadas, fazendo
parte das alianças; não perdem absolutamente, neste caso, sua
determinação de classe dissolvendo-se num amontoado indistinto
“de alianças-fusões. Para citar somente o exemplo do povo, as
classes e frações que dele fazem parte mantêm sua própria deter-
minação de classe: quando a burguesia nacional faz parte do
povo, permanece entretanto burguesia (contradições no seio do
povo); estas classes e frações aí não se dissolvem, como deixaria
entrever certo emprego idealista do termo “massas populares”,
ou o próprio termo “classe dos assalariados”.

13. Pode-se agora colocar a questão dos aparelhos, princi-


palmente dos ramos e aparelhos de Estado, e a de sua relação
com as classes sociais. Só indicarei aqui certos papéis dos apare-
lhos de Estado na existência e reprodução das classes sociais.
13.1. Os aparelhos de Estado têm como principal papel a
manutenção da unidade e a coesão de uma formação social que
concentra e consagra a dominação de classe, e a reprodução,
assim, das relações sociais, isto é, das relações de classe. As rela-
“Ições políticas e as relações ideológicas se materializam €seen-
aí tcarnam, como práticas materiais, nos aparelhos de Estado. Esses
“aparelhos compreendem de um lado o aparelho repressivo de
' Estado no sentido estrito e seus ramos: exército, polícia, prisões,
magistratura, administração; de outro lado, os aparelhos ideoló-
gicos de Estado: o aparelho escolar, o aparelho religioso — as
Igrejas —, o aparelho de informação — rádio, televisão, impren-.
sa —, o aparelho cultural — cinema, teatro, edição —, o apa-
relho sindical de colaboração de classe e os partidos políticos
É
a burgueses e pequeno-burgueses etc., e enfim, sob certo aspecto,
E e pelo menos no modo de produção capitalista, a família. Mas,
É além dos aparelhos de Estado, encontra-se também o aparelho
| econômico no sentido mais estrito, “a empresa”, ou a “fábrica”,
3
INTRODUÇÃO: As CLASSES SOCIAIS 27
ê £ RR
que, como centro de apropriação da natureza, materializa e en-
carna as relações econômicas em sua articulação com as relações
político-ideológicas.
13.2. Na medida em que a determinação das classes apela
para as relações políticas e ideológicas, e só existem materializa-
das nos aparelhos, uma análise das classes sociais (lutas das clas:
ses) só pode ser realizada em suas relações com os aparelhos, e
principalmente com os aparelhos de Estado. As classes sociais
e sua reprodução só existem pela relação classes sociais/apare-
lhos de Estado e aparelhos econômicos: tais aparelhos não se
“sobrepõem” simplesmente, como apêndices, à luta des classes,
mas detêm um papel constitutivo. Todas as vezes, principalmen-
te, em que se procede à análise das relações político-ideológicas,
da divisão trabalho manual-trabalho intelectual para a burocra-
tização de certos processos de trabalho e para o despotismo de
fábrica, estará presente o exame concretodos aparelhos.
13.3. Issoinão significa — observação que é decisiva em
razão das ambigiiidades atuais de numerosas análises em torno
dessas questões — que, na relação complexa luta de classes /apa-
relhos, é a luta das classes que detém o primeiro e fundamental
papel. Os aparelhos são apenas a materialização e condensação
das relações de classe; de alguma forma, eles as “pressupõem”,
Aitando evidente que não se trata de uma relação de causalidade
cronológica (a galinha ou o ovo). Com efeito, segundo uma cons-
tante da ideologia burguesa das “Ciências Sociais”, e que se pode
designar descritivamente como a corrente “institucionalista-fun-
cionalista”, são os aparelhos-instituições que determinam os gru-
pos sociais (as classes), as relações de classe decorrentes da situa-
ção dos agentes nas relações institucionais. É essa corrente, que
testemunha sob formas específicas o binômio idealismo-empiris-
mo, encoberto por aquele de Ahumanismo-economismo, próprios
da ideologia burguesa. Encontramos este caso principalmente em
Max Weber: são as relações de “poder” que têm como conse-
quência as relações de classe, relações de “poder” que possueém
como campo e primeiro lugar de constituição as relações no inte-
rior de instituições-associações de tipo “autoritário” (Herrschafts-
verbinde). Esta linhagem ideológica (aprofundando um pouco
mais, é sempre Hegel que encontramos) tem repercussões con-
sideráveis, até nas questões mais concretas, estando sempre pre-
sente no conjunto da Sociologia acadêmica sob a forma atual.
mente dominante da “teoria das organizações”; isso nãose refere
As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HoJE
sempre

4 28

a
ao próprio apa-
É somente aos aparelhos de Estado, mas também
f
relho econômico (a questão da “empresa”).
distinção, entre
! 13.4. Pode-se assim delimitar a relação, e a
aparelhos de Estado
poder de Estado e aparelhos de Estado. Os
e concentram
, não possuem “poder” próprio, mas materializam
pelo conceito
relações de classe, relações abrangidas precisamente
em essência instru-
de “poder”. O Estado não é uma “entidade”
ente a con-
mental intrínseca, mas uma relação, mais precisam
| densação de uma relação de classe. Isso significa que: s)
ideológica
a) as diversas funções (econômicas, políticas,
reproduç ão das rela-
preenchidas pelos aparelhos de Estado na
si, existindo primei-
ções sociais não são funções “neutras” em
“destorcidas” ou
ramente como tais para serem simplesmente de-
es: tais funções
«desviadas” em seguida pelas classes dominant
própria estrutura de seus
pendem do poder de Estado inscrito na ter-
e que ocupam o
aparelhos, isto é, classes e frações de class
reno da dominação política;
ência e funciona-
- b) esta dominaçãoé solidária com a exist
mento dos aparelhos de Estado.
ação radical das relações
13.5. Segue-se que uma transform
ança do poder de Estado,
sociais não pode limitar-se a uma mud À
aparelhos de Estado.
mas deve “revolucionarizar” os próprios da revolução
, no processo
classe operária não pode contentar-se
sia ao nível do poder de
socialista, em tomar o poder da burgue
ormar de forma radical (“que-
Estado, mas deve igualmente transf
e substituí-los por apare-
brar”) os aparelhos de Estado burguês
lhos de Estado proletários.
ado, diretamente
13.6. Mas, ainda aqui, é O poder de Est -
ermina o papel e o funcio
articulado à luta das classes, que det
namento dos aparelhos de Estado.
a da revolucionarização
a) Isso se exprime, do ponto de vist
de que à classe operária e
dos aparelhos de Estado, pelo fato
as massas populares só podem “quebrar” os aparelhos de Estado
amparando-se no poder de Estado;
junto do funcionamento
b) Isso se exprime também no con |4
toda formação social. Se
concreto dos aparelhos de Estado em ]

uzem ao poder de Estado, não |


os aparelhos de Estado não se red |
a do terreno da domina-
significa que seja a configuração precis se ou
pe

(bloco no poder, clas


ção de classe, do poder de Estado
fração hegemônica reinante etc., mas também alianças de classe
determine ao mesmo
e classe-apoio) que, em última análise,
INTRODUÇÃO? As CLASSES SOCIAIS a
aa
na
tempo o papel deste ou daquele aparelho ou ramo do Estadc
reprodução das relações sociais, a articulação em cada aparelho
gi-
ou ramo do Estado das funções econômicas, políticas e ideoló
do
cas e o agenciamento concreto dos diversos aparelhos e ramos
aparelho ou
Estado. Em outras palavras, o papel deste ou daquele
na coesão da
ramo de Estado (escola, exército, partidos etc.)
classe e da
formação social, da representação dos interesses de
natureza
reprodução das relações sociais, não se prende à sua
a
intrínseca, mas depende do poder de Estado.
13.7. De forma mais geral, toda análise de uma formação
-
social deve levar em consideração, ao mesmo tempo diretamen-.
te, as relações de luta de classe, as relações de poder e os apa-
relhos de Estado que materializam, concentram e refletem essas
relações. Mas, na relação luta das classes /aparelhos, é a luta das
classes que detém o papel fundamental. Não são as formas e as
modificações “institucionais” que têm por consequência os “mo-
atual
vimentos sociais”, como o desejaria por exemplo a ideologia
da “sociedade bloqueada”: é a luta das classes que determina
as formas e as modificações dos aparelhos.
14. Estas últimas observações serão mais claras, ao se co-
locar, desta feita, o ponto de vista da reprodução ampliada das
classes sociais. De fato, as classes sociais só existem na luta das
classes, em dimensão histórica e dinâmica. A constituição e mes-
mo a delimitação das classes, das frações, das camadas, das ca-
histó-
tegorias, só pode ser feita considerando-se esta perspectiva
rica da luta das classes: o que coloca de uma só vez a questão
de sua reprodução.
s
14.1. Um modo de produção só existe em formações sociai
e, a
quando se reproduzem. Esta reprodução é, em última anális
reprodução ampliada de suas relações sociais: é a lutá de classe
que é o motor da história. Marx dirá então que, finalmente, o
aria-
capitalismo não produz nada “além da burguesia e do prolet
do: o capitalismo só produz sua própria reprodução.
14.2. O lugar do processo de reprodução não é assim, como
deixaria crer uma leitura superficial do segundo livro do Capital,
o único “espaço econômico”, e não consiste em um automatismo
auto-regulador da acumulação do capital social. A reprodução,
apreendida precisamente como reprodução ampliada das classes
sociais, significa, em um e mesmo movimento, a reprodução de
relações políticas e ideológicas da determinação de classe.
PITALISMO DE HOJE
ER. AS CLASSES SOCIAIS NO CA
principalmente OS apare-
E “14.3. Os aparelhos de Estado, e papel decisivo na
, detêm, pois, um
lhos ideológicos de Estado ideológicos
uç ão das cla sse s soc iai s: papel dos aparelhos
reprod xistas. Meu
a atenção das análises mar
que ultimamente chamou ta questão, a que
or o conjunto des
propósito não será aqui exp será mais uma tentativa de
s no s ens aio s seg uin tes :
voltaremo como
lar ece r alg uns pr ob le ma s preliminares já escolhendo
esc observa-
do aparelho escolar. Essas
exemplo privilegiado o papel osições feitas acima, €
irã o ass im ilu str ar às pr op
ções permit tange ao papel dos
entares no que
avançar alguns passos suplem
aparelhos na reprodução das classes sociais.

HI

escola
do, entre Os quais está à
15. Os aparelhos de Esta a divisão em classes, mas
ho ide oló gic o, nã o cr ia m
como aparel ia-
bu em pa ra ta l div isã o e, ass im, para sua reprodução ampl
; contri ações da
É nec ess ári o ai nd a de sembaraçar todas as implic
da. odução que
somente às relações de pr
proposição acima: não são de
in am os apa rel hos , ma s ta mbém não são os aparelhos
determ s, em
qu e 'pr esi dem à lut a das classes: é a luta das classe
o
mando aos aparelhos.
todos os níveis, que dá co
nt e, é nec ess ári o atr ibu ir a maior importância ao pa-
Real me ações
pre cis o do s apa rel hos ide ológicos na reprodução das rel
pel domina o
de produção, pois é a que
sociais, inclusive as relações força
ncipalmente à reprodução da
conjunto da reprodução, pri
bal ho e dos me io s de tra bal ho. Isso é uma consequênc do ia
de tra stitu-
o de qu e são as rel açõ es de produção, em sua relação con
fat e ideo-
nação / subordinação política
tiva com as relações de domi so
so de trabalho no seio do proces
* lógica, que dominam o proces
de produção.
Est a rep rod uçã o amp lia da das classes sociais (das re-
15.1. sua
ões soc iai s) co mp or ta doi s aspectos que só existem em
laç
unidade:
lugares que ocupam os agen-
Ê — A reprodução ampliada dos inação estrutural
foi visto, marcam a determ
tes. Tais lugares, já a es-
E
cla sse s, ist o é, o mo do de existência da determinação pel
E das políti-
ão, dominação/subordinação
trutura — relações de produç
classe.
ca é ideológica — nas práticas de tais
À rep rod uçã o-d ist rib uiç ão dos próprios agenies entre
— E
lugares.
3

IAIS 3t
INTRODUÇÃO: AS CLASSES SOC
e coloca a
Es te se gu nd o as pe cto da reprodução, qu
15.2. este ou aquele
qu em , co mo , em que momento, ocupa
questão: rguês, campo-
é ou se to rn a bu rg uê s, proletário, pequeno-bu ução
lugar, pr imeiro, isto é, à reprod
est á su bo rd in ad o ao
nês pobre etc. plo, ao fato de
sses sociais: por exem
dos próprios lugares das cla a bur-
ca pi ta li sm o, em su a re pr odução ampliada, reproduz
que o rma na
, O pr ol et ar ia do , à pe qu ena-burguesia sob nova fo
guesia a etc.; ou ainda que elimin
a.
o monopolist
fase atual do capitalism s for-
me nt e cer tas cla sse s é fr ações de classe no seio da
tendencial os cam-
iai s on de oc or re su a reprodução ampliada —
mações soc etc. Por outro
s pa rc ei ro s, a pe qu en a-burguesia tradicional uzi-
ponese ag entes devam ser reprod
e qu e OS pr óp ri os
lado, se é verdad para ocupar certos lugare
s,
if ic ad os -s ub me ti do s” —
dos — «“qual semente
sig nif ica qu e tal di st ribuição dos agentes não
isso não
as ou aspirações , mas, além disso, que
não se prenda a suas escolh ares. Isso
a re gu la me nt ad a pe la pr ópria reprodução desses lug
sej
to de qu e o as pe ct o pr in ci pal da determinação das
se prende ao fa o O dos agentes que ocup
am
ares, e nã
classes é aquele de seus lug
esses lugares. escola
elhos de Estado, inclusive da
Portanto, o papel dos apar estes dois as-
não é o mesmo quanto a
como aparelho ideológico,
pectos da reprodução.
o
tam ent e, a de te rm in aç ão estrutural das classes nã
15.3. Jus
a lug are s so me nt e no pro cesso de produção — a uma
se limitando si — mas se estendendo a
todas
ec on ôm ic a das cla sse s em
situação intervêm,
ma da s da div isã o soc ial do trabalho, tais aparelhos
as ca gicas e polí-
alização das relações ideoló
como encarnação € materi -
rm in aç ão das cla sse s. Tai s aparelhos, e principalmen
ticas, na de te seu pa-
rel hos ide oló gic os de Est ado, intervêm então, pelo
te os apa ológicas, na reprodu-
es políticas € ide
pel na reprodução das relaçõ s sociais.
m as classe
ção dos lugares que define tu-
me no s qu e se pe rc am , nu ma visão idealista e “insti
Mas, à sses
a”, as rel açõ es soc iai s, vis ão esta que apresenta as cla ]
cionalist , é pre-
s e a lut a das cla sse s co mo O produto dos aparelhos ]
sociai ão ultrapassa Os apa-
o da reproduç
ciso observar que esse aspect limi-
te, determinando-lhes os seus
relhos e lhes escapa amplamen ra — de uma
uma reprodução primei
tes. Pode-se, de fato, falar de a das
uç ão fu nd am en ta l — das classes sociais na e pela lut
repr od ura,
a reprodução ampliada da estrut
“classes, onde se desempenha -
produção, e que preside ao fun
aí compreendidas as relações de
hos. Para citar um exemplo es-
cionamento e ao papel dos aparel rmando proletá-
a de uma escola fo
quemático: não é a existênci
e

B2 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

e a
rios é novos pequeno-burgueses que determina a existência
reprodução — extensão, diminuição, certas formas de categori-
zação etc. — da classe operária e da nova pequena-burguesia. É,
ao contrário, o processo de produção em sua articulação com as
relações políticas e ideológicas e, então, a luta — econômica, po-
lítica, ideológica — das classes que tem por efeito esta escola.
nte dos
Isso explica por que a reprodução que se serve indiretame
an-
aparelhos não ocorre sem lutas, contradições e choques const
tes em seu interior. Finalmente, dessa forma é que se pode com-
-preender o outro lado da questão: como a reprodução ampliada
i-
das relações sociais depende da luta das classes, sua revolucionar
zação depende igualmente dessa luta.
15.4. Essa reprodução fundamental das classes sociais não
Não se
se refere somente aos lugares nas relações de produção.
de uma
trata de “auto-reprodução econômica” das classes em face
nte ape-
reprodução ideológica e política que se serve indiretame
primei-
nas dos aparelhos. Trata-se realmente de uma reprodução
ão so-
ra na e pela luta das classes em todas as camadas da divis
ural, essa
cial do trabalho. Assim como sua determinação estrut
ões po-
reprodução das classes sociais refere-se igualmente às relaç
que,
líticas e às relações ideológicas da divisão social do trabalho
ção,
emsua relação (relation) com as relações (rapporis) de produ
ão social
assumem um papel decisivo. Isso porque a própria divis
políticas
do trabalho não se refere somente às relações (rapports)
ção, no
e ideológicas, mas também às relações (rapports) de produ
o que
seio das quais ela domina a “divisão técnica” do trabalho:
de pro-
é uma consegiiência da dominação das relações (rapports)
ção.
dução sobre o processo do trabalho no seio do processode produ
-
Y Dizer que essa reprodução primeira das classes sociais depen
etas
ide da luta de classes é dizer também que suas formas concr
repro-
dependem da história da formação social. Esta ou aquela
si-
dução da burguesia e da classe operária, das classes do campe
nato, da antiga e da nova pequena-burguesia, dependem da luta
espe-
das classes nessa formação: por exemplo, a forma e o ritmo
tradicio-
“cíficos de reprodução, na França, da pequena-burguesia
se a
nal e do campesinato parceiro, sob o capitalismo, prendendo-
com a
formas específicas de sua aliança, durante muito tempo,
burguesia. O papel dos aparelhos nessa reprodução só pode por-
tanto situar-se em relação a essa luta: o papel particular, a esse
respeito, da escola na França só se situa principalmente com rela-
ção à aliança burguesia/pequena-burguesia que durante muito
tempo marcou a formação social francesa.
ore se a reprodução ampliada dj
s das classes sociais “apela”, principalmente no campo ideo
co-político, para os aparelhos ideológicos de Estado, ela não
“limita somente aisto. | :
divisã
16.1. Mencionemos agora, neste sentido, o caso da
ão, pr
entre trabalho manual e trabalho intelectual. Esta divis
lho; nê
para a determinação dos lugares na divisão social do traba
econôm
se limita de forma alguma unicamente ao domínio
, pa
onde, digamo-lo de passagem, nãotem, intrinsecamente
r produ
“próprio quanto à divisão das classes: o trabalhado
modo algui
“aquele que produz mais-valia, não é o que cobre de
rabal
apenas o trabalho manual. A divisão trabalho manual/t
rel
“intelectual só pode ser apreendida em sua extensão com as
o:
ções políticas e com as relações ideológicas, ao mesmo temp
queexistem na divisão social do trabalho no puro seio do. pr
arelho econôm ico
"cesso de produção, o que recorre ao próprioap
ao tr
"eà “empresa”: autoridade edireção do trabalho ligadas
existem no c
alho intelectual e ao segredo do saber; e b) que
ideológi
junto da divisão social do trabalho: relações políticas e
es soc:
cas que intervém na determinação dos lugares das class
ideoló;
Mas é evidente que não é a escola, ou outros aparelhos
iros e exau:
“cos, que criam esta divisão, ou que são fatores prime mo
produ.
tivos de sua reprodução, se bem que intervenham nesta
alista, “cor
“surgindo ao mesmo tempo, sob sua forma capit
luta das class
efeito desta divisão e de sua reprodução na e pela
rio seio a
a '* Por outro lado, se a escola reproduz em seu próp
aescol
"sãoentre trabalho manual e trabalho intelectual, é que
- já está, pela própria natureza capitalista, situada globalmente «
—ui
Fipiação a io reproduzida como aparelho em função de
a|
divisão trabalho manual/trabalho intelectual que ultrapassa
cola, indicando-lhe seu papel: separação da escola e daprodu
me
ligada à separação e à espoliação do produtor direto dos
E :
de produção.
fal:
16.2. Mas ainda é necessário observar, pois estamos
“do de aparelhos ideológicos, que esses aparelhos, mesmo que|
exau
criem a ideologia, também não são fatores primeiros ou
bordi nação id
vos de reprodução das relações de dominação/su
inculcar (
lógica. Os aparelhos ideológicos só fazem elaborar e
t:
terializar) a ideologia dominante: não é a Igreja, como susten
re
Max Weber, que cria e perpetua a religião, mas sim a
HoJE
34 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE
às relações ideológicas capi-
que cria e perpetua à Igreja. Quanto mercado-
ao fetichismo da
talistas, as análises de Marx referentes
so de valorização do capi-
ria, que se refere precisamente ao proces
rodução da ideolo-
tal, oferecem um excelente exemplo de uma rep
o que Marx aliás ob-
gia dominante que ultrapassa os aparelhos:
correspondência”,
servava, quando falava frequentemente de uma
das “formas de
que implica uma distinção, das “instituições” e
a e do político
consciência social”. Em suma, o papel da ideologi
sociais abrange
na reprodução ampliada dos. lugares das classes
a os apa-
aqui diretamente a luta das classes sociais, que comand
se operária,
relhos. Aqui se situa principalmente, do lado da clas
como não são os
o instinto de classe que foi mencionado acima:
logia dominante,
aparelhos ideológicos do Estado que criam a ideo
ido — da
não são também os aparelhos revolucionários — o part
eles a elaboram
classe operária que criam a ideologia proletária:
onária.
e a sistematizam, produzindo a teoria revoluci
de dominação
16.3. A reprodução dos lugares nas relações
aparelhos, recorre
ideológica e política, por mais que recorra aos
elhos ideológicos de
igualmente a outros aparelhos além dos apar
econômico. Uma
Estado, principalmente ao próprio aparelho
sua forma capita-
“empresa”, enquanto unidade de produção sob
em que repro-
lista, constitui igualmente um aparelho, no sentido
seio — organização
duz, pela divisão social do trabalho em seu
ideológicas rete-
despótica do trabalho —, as relações políticas e
lado, a reprodu-
rentes aos lugares das classes sociais. Por outro
l capital, não é
ção das relações ideológicas, que detém um pape
s, como se tudo O
simplesmente a função dos aparelhos ideológico
ao “econômico” e
que se passasse na “produção” só se referisse
o monopólio de
como se aos aparelhos ideológicos se reservasse
reprodução das relações de dominação ideológica.
socia's
16.4. Enfim, esta reprodução dos lugares das classes
de Estado e ao
“recorre não somente aos aparelhos ideológicos
aparelho re-
aparelho econômico, como também aos ramos do
as pelo seu
pressivo de Estado no sentido estrito. E isso não apen
oso de força
papel direto de repressão, entendido no sentido rigor
física organizada. Essa repressão é absolutamente necessária nas
em
relações de exploração e de dominação de classe, e não está
ões
geral no capitalismo, diretamente presente como tal nas relaç
-
de produção, só intervindo em geral sob a forma de uma manu
tenção das “condições” de exploração (o exército não está dire-

o Rn Ear aosno
4

35
INTRODUÇÃO: As CLASSES SOCIAIS
eren-
. Encontra-se aqui uma das dif
tamente presente nas fábricas) produção
capitalista e os modos de
ças entre o modo de produção
como Marx explica muito bem,
“pré-capitalistas”: nestes últimos,
dut or, não est and o tot alm ent e separado de seus meios de
o pro r-
se —, havia necessidade da inte
trabalho — ele detinhasua pos
tra-econômica” para que produ-
venção direta de uma força “ex
do proprietário (o senhor, por
zisse o sobretrabalho para o lucro
ho repressivo -do Estado capita-
exemplo). Se os ramos do aparel é
dos lugares das classes sociais,
lista intervêm na reprodução gue
pal a repressão, o que os distin
porque, tendo por papel princi tam-
não se limitam: eles possuem
dos aparelhos ideológicos, aí os
geral secundário, assim como
bém um papel ideológico, em em
rel hos ide oló gic os pos sue m igualmente um papel repressivo,
apa sões
rcito, à magistratura e as pri
geral secundário. Assim, o exé alização
têm pelo seu papel na materi
(a “justiça” burguesa) etc., burguesa),
e na reprodução das rel ações ideológicas (a ideologia
ais.
pap el emi nen te na rep rod uçã o dos lugares das classes soci
um
o para O segundo aspecto
17. Voltemos agora nossa atençã o englo-
dos agentes. Esta reproduçã
da reprodução, a reprodução -
mo mo me nt os de um me sm o processo, à qualificação-sujei
ba, co
age nte s de tal man eir a que possam ocupar Os lugares, e à
ção dos
re tais lugares.
distribuição dos agentes ent
de forma exata a articulação
É principalmente apreendendo o
doi s asp ect os da rep rod uçã o, sob a dominância da reproduçã
dos tili-
lug are s das cla sse s soc iai s, que se pode compreender a inu
dos -
pro ble mát ica bur gue sa, da mobilidade social, que será am
dade da blemá-
men te dis cut ida nos ens aio s seguintes. Dc fato, esta pro
pla
da mob ili dad e soc ial dos “gr upos” e dos “indivíduos” supõe:
tic a
tratificação social”, e mesmo
a) que a questão principal da “es s entre
ão-mobilidade” dos indivíduo
sua causa, é a da “circulaç suposição
to é evidente que, mesmo na
esses estratos: enquan a
O outro (ou de uma geração par
absurda de que, de um dia para ios
passem os lugares dos operár
a outra), todos os burgueses ocu
e-v ers a, nad a de ess enc ial mud aria no capitalismo, pois have-
e vic
e de proletariado, o que é o aspec-
ria sempre lugares de burguesia
relações capitalistas;
to principal de reprodução das
deplora é simplesmente devi-
b) que a “rigidez social” que se
às fam osa s des igu ald ade s soc iai s dos “indivíduos” e dos “meios”,
da so-
toda desigualdade, em uma
e

redutíveis, como o é na essência


oportunidades”.
ciedade capitalista de igualdade de

caos
ho si de ol ó ico ! e Es tado, e principalment
1. Os aparel ão dos agentes, sua qualific
a-
tê m, na re pr o uç
iparelho escolar, pa pel decisivo e todo part
icular.
su a di st ri bu iç ão , um
-sujeição e ações:
:
põ em -s e al gu ma s ob se rv
Aqui im
sa.
re pr od uç ão do s ag en te s, principalmente à famo
17.2. A ria produção, não se re
fere a. a
o” do s ag en te s da pr óp
ualificaçã téc-
le s “d iv is ão té cn ic a” do trabalho — uma formação
na simp o que se es-
s co ns ti tu i um a ef et iva qualificação-sujeiçã
ca — ma
pol íti cas € id eo ló gi ca s: esta reprodução amplia-
nde às relações as pe cto da reprodução das T
ela
ab ra ng e aq ui um
da dos agentes aç ado à reprodução da fo
rça de:
qu e im pr im e se u tr
ções sociais :
rabalho. . pe l pa rt ic ul ar com relação à escola,
a um pa
Mas, se isso implic qu al ificação-sujeição ocorra.
de vis ta qu e es ta
jãose pode perder fo rm aç ão técnica “no local de
o ap en as co mo
como tal — e nã o do próprio aparelho econ
ômico,
ma s ta mb ém no sei
rabalho” — odução.|
ti tu in do a em pr es a nu ma simples unidade de pr
o se cons aparelho,
s o pr óp ri o pa pel da empresa, como
mpli ca al iá
bu iç ão do s ag en te s no seu seio. Esse papel.
isamente, na dist ri ha-.
ôm ic o é me sm o do mi nante quanto aos trabal
aparelho econ so me nte a eles. Esquecer esse
ma s nã o se re fe re
res imigrados, re sentar OS agentes como
desde |
ec on ôm ic o e ap
pel do apar el ho
os na es co la — an te s do aparelho eco- |
distribu íd
i
no me sm o ti po de explicação regressiva €
MOO. seria cair s co mo desde já exaustivamente
er a ess es ag en te
ívoca que consid da es cola. Como não são ca
stas
fa mí li a — an te s
distribuídos na sse s capitalistas não são ta
mbém |
he ra nç a, as cla
de origem ou de es sa explicação regressiva nã
o vale
s. Co mo , en fi m,
astas escolare
co la , na me di da em que à família conti-
ara à relação família-es à es co la , ela não vale para a rela
-
ão du ra nt e
ua a exercer sua aç co nt in uando a escola a ex
ercer
ec on ôm ic o,
ão escola-aparelho ôm ic a dos agentes: isso se ch
ama
à at iv id ad e ec on
ua ação durante te. Assinalo enfim,
a partir do
fo rm aç ão pe rm an en
jodestamente pel, nessa
so br e o ap ar el ho re pr essivo de Estado, o pa
e foi dito
e de ce rt os ra mo s de ste: é principalmente
produção dos agentes pa rt ic ul ar na distribuição dos
cu jo pa pe l em
> caso do exército, ança.
tempo importante na Fr
entes foi durante muito l-
s é pr ec is o ir ma is al ém, a fim de afastar os ma
0173. Ma cionalista”, que sem-
tendidos da tradiç ão «funcionalista-institu uição dos
do pa pe l da s “i ns ti tu iç ões” na formação-distrib
re falou de socializ
du os ”, pr in ci pa lm en te sob o termo “processo
diví
da repr
É pre cis o obs erv ar, de um lado, que esse aspecto
ção ”.
olu vel men te lig ado ao primeito, estando a ele
dução está ind iss ução
o: é por que , e na me
"m ed ida em que, existe reprod
subordin ad ribui-
da de lug are s qu e há est a ou aquela reprodução-dist
amplia outro lado,
do s age nte s ent re ele s. É necessário lembrar, por
çã o
de te rm in an te qu an to à distribuição dos agentes no
que o papel a ao mercado de trabalho.
fo rm aç ão soc ial ret orn
conjunto da odu
es sã o da re pr od uç ão am pliada das relações de pr
como expr cado,
iss o, me sm o qu e nã o se trate de um mercadounifi
ção: e
o de trabal ho exerça sua demanda
ou seja, mesmo que O mercad o, em razão entre outras
da
em um ca mpo já compartimentalizad é um
ideológicos do Estado (não
própria ação dos aparelhos o lugar vazio de um 058 *).
.
se mp re ga do que . oc up ar á
estudante de lmente de distribuição, uma
exi ste , sob o asp ect o ig ua
É porque es de
con sti tut iva ent re apa rel hos distribuidores e relaçõ
relação dos
lho ; rel açã o que , en tr e out ras, impõe os limites da ação
“traba rcado de
lho s ide oló gic os nes sa compartimentalização do me
“ap are
é po r ex em pl o a esc ola qu e faz com que os lugares
“trabalho. Não upados principalmente po
r
de ope rár ios se ja m oc
suplementares seja, à eliminação dos lug
ares
es . É O êx od o rur al, ou
campones sse ope
mp os ac om pa nh an do à reprodução ampliada da cla
nos ca tido, da escola.
neste sen
rária, que determina O papel,
ução.
que este aspecto da reprod
17.4. Enfim, na medida em am-
e que se trata de reprodução
está subordinado ao primeiro, prios
ever OS efeitos diretos dos pró
pliada, é necessário circunscr senão encontrar aqui o pri-.
os age nte s, o qu e nã o é
— lugares sobre aparelhos. Não se trata, prO
- |
lut a das cla sse s sob re os
| mado da escolarmente)
ame nte , de age nte s ori ginalmente (pré ou extra-
o pri ndo as
do” entre esses lugares segu
“livres” e “móveis”, “circulan o ideo-
gicos e segundo a inculcaçã
injunções dos aparelhos ideoló verdade que as classes do.
fo rm aç ão qu e re ce be m. É
lógica ou a são
po
pr od uç ão e de um a fo rm ação social capitalistas não
= modode ina-.

, qu e a or ig em dos age nte s não os liga a lugares determ
* castas
, e qu e O pró pri o pap el de dis tribuidores de escola e de outros
dos ortante. |
apa rel hos dos age nte s ent re esses lugares é muito imp
" se ma
que esses efeitos de distribuição
Mas não é menos verdade dos aparelhos ideológicos, são
pel o fat o de que , no me io
“nifestem — e Seus filhos que
que permanecem
precisamente os burgueses
, operário que,
rie r spé cia lis é — trabalhador não-qualificado re-
gem, executa trabalhos que
sa * os: ouv
a aprendiza
sem ter feito uma verdadeir (N. do T.)
o querem certa formação profissional.
oJE
SO CI AI S N O CA PITALISMO DE H
38 As CLASSES
s que
rg ue se s, e qu e são OS proletário
çamente bu mente pro-
se tornam — maci us filhos que se tornam — maciça em ex-
permanecem —
e se
qu e nã o é n e m principalmente, n essa
nstra me
à distribuição assu e 05
letários. Isso demo o da es co la , qu e
clusivamente em
razã
ei to s do s pr óp ri os lugares sobr
zão de ef e aliás a própria
forma, mas em ra apassam a escola,
estes que ultr caso, como faze
m crer
- agentes, efeitos is am en te , ne st e
ata prec mília-escola na
OT-
família. Não se tr al te rn at iv a fa
atuais, de uma m “binômio” famí
-
certas discussões at a m e s m o de u
e: não se tr efeitos de distribu
ição.
dem de casualidad nd ad or de ss es
imeiro fu es entre aparelho
s que
Jia-escola como pr ri e de re la çõ
outras palavras,
m, de uma sé
“Trata-se, isto si s cl as se s. E m
raízes na luta da tes ligada à Tepr
o-
mergulham suas im ei ra do s ag en
stribuição pr é ela que determin
a
trata-se de uma di s cl as se s so ci ai s:
lugares da re eles,
dução primeira de à es ta ou àquela série dent
aparelho, ou próprio
a este ou aquele fa se s da fo rm aç ão social, O papel
as € as
e seguindo as etap me m na distribuição do
s agentes.
qu e as su
e respectivo
dascl
A NOYA FASE DOIMPERIALISMO € à emergência da luta de q
ópoles imperialistas fizeram surgir uma série
nas metr
s são as
haves para aestratégia revolucionária: quai
formaçõessociais imperialista Estad
tos nos aparelhos de
tado nacional nas metró;
ais sá Jesses Estados coma
“docapital”“firmas mult ina
a
institucionais supra-estatais t
Estadosnacionais ou, ainda, qua
fados que imitempreencher as nov
l?
pela reprodução ampliada do capital no plano internaciona
Essasquestõesrevestiram-se,comoésabido,deuma
Comum), |
de particular com o problema da CEE * (Mercado
cia dec
“futuro político” da Europa. Elas são de importân
atégi
pois é evidente que o Estado atual, núcleo de uma estr
volucionária, só pode ser estudado em relação à fase atua
e
imperialismo e a seus efeitos no próprio seio da zona dasm
deram m
“poles. Mas, sabe-se também que essas “questões pren
serefer
a atenção das pesquisas marxistas do que aquelas que
ações so
de um lado, às relações entre as metrópoles e form
ções polít
* dependentes e, de outro lado, estas últimas: as posi
o
e a ideologia “do Terceiro Mundo” não são causas men
Assim, quando se começa a ver claramente os efeitos da dc
i
nação imperialista atual no seio das formações sociais dom
ópoles
e dependentes, estes efeitos no próprio seio das metr
rialistas sãoA bem men. os estudados. na
É possível, todavia, esquematizando, revelar as posições
2

: |
“to a esta última questão, em duas tendências principais
aut
1. A primeira, à qual se ligam, sob diversos títulos,
represen
como Sweezy, Magdoff, M. Nicolaus, P. Jalée etc.,
ôm
* Communauté Economique Européenne — Comunidade Econ
opéia. (N. do T.) E da u
ÀA

1
HOJE
CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE
42 As
“su-
co mo a at ua l ve rsão da esquerda do
gnar de terem,
que se poderia desi no 1. Es se s autores, apesar
evidenciar O papel
ka ut sk ia
perimperialismo” gr an de me nt e pa ra
ribuído í-
por um lado, cont Es ta do s Un id os no conjunto dos pa
nte do s as ba-
atualmente domina am as co nt ra di ções interimperialist
st im mo única linha
ses capitalistas, sube sigual e só retêm, co
mento de
seadas no desenvolvi co rr en te imperialista,a.a uela
que sepa-
rentes às
ação no se io da anális es re fe
E demarc i
ES a dominadas. Às
iron
ole
me tróp € formações do prin-
ra imperialistas entre si dependem plo-
relações das metrópoles € integração sob a dominação e ex
ca çã o
cípio de uma pacifi am er ic an o. Es ta dominação é con-
capital
ração incontestes do do an ál og o qu e à relação entre
metró-
smo mo ela se
cebida sobre o me
pa ís es do mi na do s € dependentes:
e imagem
poles imperialistas po de “p ne ocolonização”, cuja
ao ti
assemelharia assim a aq ue la da s re la ções Estados Uni-
plar, seri poderíamos assistir
a
limite, porém exem po nt o de vi st a,
o esse dos
dos-Canadá. Segund lvez a um quase-
desaparecimento,
, ou ta tas, seja
uma perda rápida ai s da s me trópoles imperialis
on
poderes dos Esta
dos na ci
o am er ic an o, se ja sob a dominação
ad
superest
sob a dominação do ou “i nt er na ci on al ”, liberadodos “en-
ericano,
do grande capital am E
traves” dos Es ta do s >.
co nt ra pa rt id a, encontram-se duas
, em
2. Por outro lado en te di ve rg em, mas que, do me
nos
freq ue nt em
teses cujas análises a base comum. Po
de-se assim,
dependem de um aproximá-las
sobre esta questão, al gamá-las depois,

fi
in te nç ão de am
E. sem nenhuma
, B.
“aqui. s co mo Ma nd el , Kidron, D. Warren
re trair
De um lado, auto o se corre O risco de
na França 3, Nã
Rowthorn, J. Valier qu e, pa ra eles, à fase atual do
impe-
di ze nd o
seus pensamentos, gu ma ma rcada por uma muda
nça da
de fo rm a al
rialismo não é
nume-
Le Ca pi ta li sm e mo nopoliste, 1970, e Os impé-
1 Sweezy e Baran, y Review; Magdoff,
L'Age de L'
zy na Monthl diction”?,
rosos artigos de Swee , “U . S. A, The Universal Contra
rialisme, 1970; M.
Níco la us Tiers-Monde
1.º 59, 197 0; E: Jalée, Le Piliage du
ew,
em New Left Revi
is me en 1970. Nation-State”,
et L'Impé ri al
ter nat ion ali zat ion of Capital and the
2 RR. Murray, “In E
w Le ft Re vi ew , n.º 67, 1971. au Géf i américain,
em Ne te, La Ré po nse socialiste
ial men en,
3 E. Mandel, essenc
er n Ca pi ta li sm Si nc e the War, 1968; B. Warr
1970; M. Kidron, West l?? , em Ne w Left Review, n.º 68,
1971; B.
Cap ita d., n.º 69,
“How International is e Sev ent ies : Unity or Rivalry”, ibi
sm in th ”, em Criti-
Rowthorn, “Imperiali sm e et Ré volution Permanente
mp ér ia li
1971; J. Valier, “I
itique, n.º 45 1971,
ques de Péconomie pol
E
43
INTRODUÇÃO: As CLASSES SociaIs

s imperialistas entre si. Aqui


estrutura das relações das metrópole
linha de delimitação estrutural
também, admite-se somente como
que existem metrópoles e for-
da corrente imperialista aquela em
imitação apreendida de maneira
mações dominadas, sendo esta del
imperialismo. As contradições
uniforme ao longo da história do
da zona das metrópoles se Te-
interimperialistas no próprio seio - |
tir iam atu alm ent e do me sm o sentido que no passado: tais con
ves sias
diç ões se sit uar iam em um contexto de Estados e de burgue
tra -
na luta pela hegemonia. Tratar
“autônomas” e “independentes” ionais”
nacionais” é de “Estados nac
se-ia, assim, de “burguesias er-
as, afetando a tendência à int
em relações simplesmente extern
no limi te, uni cam ent e as relações do mercado. O
nacionalização, é
dos Est ado s Uni dos sob re as metrópoles imperialistas
domínio o da
did o, ess enc ial men te, da mesma forma analógica que
apreen ente, a
-Br eta nha no pas sad o. Assistiríamos mesmo, atualm
Grã a-
nia pela emergência de “contr
yum retorno radical a essa hegemo o
o aqueles da Europa do Mercad
imperialismos” equivalentes, com
e do Jap ão. À CEE amp lia da é principalmente considera-
Comum ca-
com o um a “co ope raç ão” e uma “internacionalização” dos
da
ranacional europeu para à elimi-
pitais europeus a um Estado sup va-
l americano: tese, aliás, relati
nação da supremacia do capita tados nacionais autô-
ela dos “Es
mente contraditória como aqu
nomos”.

PC ocidentais, em particular do
Do outro lado, as análises dos
açõ es atu ais das met róp ole s entre si estão inclinadas
pcr + As rel
ear nã o em mod ifi caç ões da corrente imperialista, mas em.
a se bas mos
caç ões do mo do de pr od uç ão capitalista em “capitalis
modifi os; 0
opo lis tas de Est ado ” nac ionais, justapostos € adicionad
mon ngir,
o só está aqui inclinado a ati
processo de internacionalizaçã essas
s produtivas”. Por outro lado,
no limite, as famosas “força
ent ão apr een did as, ess enc ialmente, como “pressões”
relações são s
ext ern as ent re bur gue sia s e Estados nacionais autônomo
mútuas das
epe nde nte s. A CEE € à “F ur opa unida” são bem considera
e ind l ame-
mo man ife sta ção de um a dominação acrescida do capita
co
Herzog, Poli-
me monopoliste dºEtat; ph.
4 O tratado: Le Capitalis uve aux développe-
ation, 1971, e seu artigo “No
tique économique et planific ie et Pol'tique,
ion du capital”, em Econom
ments de Vinternationalisat arti go: “Interna-
Les Monopoles, 1970, e seu
n.º 198, 1971: J.-P. Delilez, n.º 21 24900
em Economie et Politique,
tionalisation de la production?, nto às sua s po-
stem certas divergências, qua
Notar, entretanto, que exi
re os PO ocidentais.
sições em relação à CEE, ent
44 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

ricano: mas esta dominação é concebida de algum modo sob for-


ma de “transplantes” de corpos estrangeiros cosmopolitas sobre
os capitalismos monopolistas de Estado europeus nacionais, e O
papel dos Estados nacionais com lucro do capital americano ou |

cosmopolita sob forma de funções “sobrepostas” às funções “na-

aastd,
cionais” desses Estados.
Terei ocasião de voltar de forma mais precisa às posições des-
tas correntes e suas implicações políticas. Digo logo que não con-
seguiram apreender as modificações atuais da corrente imperia-
lista e seus efeitos nas relações entre metrópoles, e em particular
nos Estados nacionais. Vou me límitar aqui ao caso das metró-
poles européias, ao mesmo tempo em razão de sua importância
política para nós aqui e agora, e em razão de certas e importan-
tes particularidades que apresenta o caso do Japão: particulari-
dades que, no entanto, não aparecem absolutamente de forma
tendencial, como exceção à regra.
Para bem encaminhar esta análise da fase atual do imperia-
lismo, será necessário, no estado atua] das pesquisas, estudar os
problemas desde suas raízes.


1. A FASE ATUAL DO IMPERIALISMO
E A DOMINAÇÃO DOS ESTADOS so

AE H

reprodução o por uma


E onde SRe E
ção noseio de uma formação
belece sua dominância, e sua extensão no exterior desta f
ção, agindo ao mesmo tempo os dois aspectos desta tendênc
"O Mec só pode existir, por razões que veremos, ampliando s
relações de produção, E fazendo assim recuar seus limites. Sel
s ela
-sume uma importância particular
estádio, que acentua a tendência para, a baixa da taxa deJucro
caracterizado pela PR na
fPC,
cadorias.5:
próprio fundamento da concepção leninista doEat
defato, isso não significa absolutamente que à tendênci
"exportação das mercadorias e para a ampliação do mer
" dial “se submeta” ao estádio imperialista, bem aocontrário
“significa que a exportação de capitais é a tendência €
determinante do imperialismo. Enfim, o estádio imper
respondente ao capitalismo monopolista, está marcado pelo |
“camento da dominância, ao mesmo tempo na formação soc
Corent
imperialista,
na do econômico ao político (o Estado)
A própria corrente imperialista é marcada pel
“mento desigual; esta corrente reflete-se em cada.um
numa especificidade de cada formação social.
depende das formas de que se reveste o domínnão«oM
internacional sobre os outros modos € formas de produção
MO DE HoJE
46 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALIS

a reprodução do MPC na sua


de cada formação social. Com efeito, o
dupla tendência testemunha que 0 MPC só pode existir submetend
€ apropriando-se dos ele-
os outros modos e formas de produção, É a articulação,
trabalho).
mentos (força de trabalho, meios de
os e formas de produção em
na sua reprodução, do MPC e dos mod
imento desigual.
formações sociais que produz o desenvolv
xos de dissolução-
Esta dominância do mpc tem efeitos comple
classes) sobre os outros
conservação (pois trata-se de uma luta de
ina! A forma diferen-
modos e formas de produção que ele dom
escala internacional marca
cial de que se revestem esses efeitos na
respondem, pois, a formas
as fases do estádio imperialista: elas cor
mo à formas precisas de
precisas de acumulação do capital, e mes
são internacional impe-
relações de produção mundiais e de divi
rialista do trabalho.
delimitação fun-
Desde os primórdios do imperialismo, uma separa, de
: aquela que
damental marcou a corrente imperialista
rmações
um lado, as-metrópolesimperialistas e, de outro, asfo a na pró-
igi i dependentes. Essa delimitação, basead
re radicalmente da re-
“pria estrutura da corrente imperialista, dife
tipo colonial e, depois,
lação, nos primórdios do capitalismo, do
te pela via indireta da
do tipo capitalista-comercial principalmen
exportação de mercadorias,
constituição do mercado mundial e da impe-
istir no estádio
se bem que tais relações continuem a coex
e último, e sob sua
rialista, com as características próprias dest relações
ais de
“dominância. Não se trata mais de formações soci
relativamente externas. domino ação dep ndén-
moreprodução,
cia imperialista aparece de agora em diantec
'noseioso ciaisdominadasesob formas€S-
ipecíficas para cada uma dela s, da relação dedominação quea-
liga às metrópoles imperialistas.
ação, o que interessa
FPodese então tentar precisar esta situ
mação social é do-
principalmente ao nosso propósito. Uma for
sua própria estru-
minada e dependente quando a articulação de
e relações constitu-
econômica,política e ideológica exprim
mações sociais que
tivas é assimétricas, com uma ou várias for
de poder 2. A orga-
CICS

ocupam, em relação à primeira, uma situação


de Estado na for-
nização das relações de classe e dos aparelhos
seio a estrutura
mação dominada e dependente reproduz em seu
e de maneira específica
da relação de dominação e, assim, exprim
o

1970; Bettelheim, Remarques


1 Poulantzas, Fascisme et Dictature,
Inégal deste último, 1971.
amore messenger

théoriques à A. Emmanuel, em PEchange


62 sq.
2 M. Castells, La Question urbaine, 1972, pp.
a
a

A FASE ATUAL DO IMPERIALISMO 47

a (ou as) classe no


as formas de dominação que caracterizam
nante. Esta dominação
poder na tou nas) formação social domi retas
ao mesmo tempo indi
corresponde a formas de exploração
nada na corrente imperialista) e di-
(pelo lugar da formação domi
massas populares das for-
retas (pelos investimentos diretos) das dominan-
das formações
mações dominadas pelas classes no poder
em por parte de suas
tes: exploração conjugada àquela que sofr
imperialismo está marcada
próprias classes no poder. Cada fase do
nação e dependência.
por formas diferentes de realização desta domi
emos chegar à periodização
Considerando tais elementos, pod
Preciso então, imediatamente,
do estádio imperialista em fases.
ção no sentido de uma “suces-
que não se trata de uma periodiza
a de “etapismo cronológico”
são” necessária a partir de um esquem en-
eender nos traços fundam
linear. Essas fases, que tentarei apr ico
tais da reprodução amplia da do capitalismo, são o efeito histór
da luta das classes.
ma suplementar colocado
Evoco, por outro lado, um proble
é um estádio particular do
pela periodização do imperialismo que
ente situado na reprodu-
capitalismo. O imperialismo está justam
ão capitalista): mas a pe-
ção ampliada do MPC (modo de produç
a ser diluída em uma perio-
riodização do imperialismo não poderi
xa de atenuar as próprias
dização geral do MPC como tal, e dei
smo como estádio na Tepro-
delimitações produzidas pelo imperiali
adiante, para as concepções
dução do MPC (é o caso, veremos mais
dios imperialistas” ou de
atuais de um Mpc “desde seus primór
mo” e “neo-imperialismo”).
uma distinção entre “árqueo-imperialis
erialismo é legítima, na
A periodização em fases do próprio imp
ticularidade, com respeito
medida em que o MPC apresenta esta par
inalado, em sua relação
aos modos “pré-capitalistas”, de ser ass
formas de produção que
precisamente com os outros modos e
rodução ampliada, por
domina em formações sociais na sua rep
iculação distinta de sua
dois estádios diferenciados por uma art
ização do imperialismo
estrutura. Mas isso indica que à period
alismo (capitalismo mo-
deve ser apreendida nas-relações do imperi ão
os e formas de produç
nopolista) ao mesmo tempo com OS mod
O estádio “pré-imperialista” do capitalis-
“pré-capitalistas” e com
dade, “capitalismo-com-
mo, que denominarei, por simples comodi fato com
ádio coexistem de
petitivo”: as características desse est
ínio, ao mesmo tempo
aquelas do estádio imperialista sob seu dom
em cada formação social (relações capitalismo monopolista/capi
x
l/imperialis
“marcadas
ularmente importante para a anális
da fase atual do imperialismo. :
* Podem-se então distinguir as seguintes fases do imperialismo
| fase de transição, do estádio capitalista competitivo ao está-
o imperialista que se estende do fim do século XIX até o pe-
odo de entre as duas guerras: compreende, nas metrópoles do
perialismo, o período de equilíbrio instável entre o capitalismo
etitivo e o capitalismo monopolista na extensão do MPC para
) “exterior” e o estabelecimento da corrente imperialista, abran-
endo esta fase um equilíbrio relativo entre a forma de domina-
jão capitalista-comercial-exportação de mercadorias das formações
minadas, e a dominação pela exportação dos capitais. Durant
ste período, as metrópoles imperialistas e as relações metrópo

1ações. Mas, nos efeitos contraditórios de dissolução-conservação |


O capitalismo monopolista impõe quer sobre as formas pré-
pitalistas (forma de produção comercial. simples, pequena-bur-.
esia tradicional etc.), quer sobre o capitalismo competitivo (ca-.
ital não-monopolista), são os efeitos de conservação que predo-.
amainda sobre os efeitos de dissolução. Na corrente imperia-
ista, é a exportação dos capitais que predomina sobre a exporta-
o das mercadorias, e é o político que prevalece nas relações
rópoles-formações dominadas e dependentes. ne
O quese torna, no entanto, necessário observar é que, du-
ante estas fases, e em graus desiguais, o MPC, que caracteriza a
orrente imperialista, domina as formações dependentes, princi-
almente por sua inserção nesta corrente. A divisão social impe-
rialista do trabalho metrópoles-formações dominadas é essencial-
mente aquela existente entre cidades (indústria) — campos (agri-
- À FASE ATUAL DO IMPERIALISMO. 49
(
cultura). O que permite precisamente uma” dominação do MPC
“sobre formações no interior das quais podem fregiientemente pre-
dominar outros modos de produção além do mpc: é sob esta pre-
dominância (por exemplo, feudal: dominação de grandes pro-
prietários de terras “feudais”) que intervém a reprodução na for-
mação dependente da relação de dominação que a liga às me-
trópoles.
Quanto à relação, durante estas fases, das metrópoles impe-
rialistas entre si, trata-se de contradições interimperialistas que
dão lugar, muitas vezes, a uma predominância alternada de uma
metrópole sobre as outras: Grã-Bretanha, Alemanha, E.U.A. Mas
esta predominância é essencialmente fundamentada no tipo de
dominação e de exploração que essa metrópole impõe a seu “im-
pério” de formações dominadas, e ao ritmo de. desenvolvimento
do capitalismo em seu próprio seio. A única linha de demarcação
* polarizada dependente da estrutura da corrente imperialista é aque-
la que separa metrópoles e formações dominadas.
A fase atual do imperialismo, estabelecida progressivamente
após o fim da Segunda Guerra Mundial, é marcada por diversas
etapas de luta das classes. No seio das metrópoles imperialistas, é
durante esta fase, em graus certamente desiguais, por efeitos de
,
dissolução que predominam sobre os de conservação, que a do-
minação do capitalismo monopolista é exercida sobre as formas
pré-capitalistas e sobre o capitalismo competitivo: o que não sig-
nifica, entretanto, que o MPC, sob sua forma monopolista, tenda.
a se tornar “exclusivo” nas metrópoles. As formas em questão
continuam a existir, mas de agora em diante sob forma de “ele-
mentos” (pequena-burguesia tradicional, campesinato parceiro, ca-
pital médio) reestruturados e diretamente submetidos (“subsumi-
dos”, segundo o termo de Marx) à reprodução do capitalismo
monopolista.
Esta fase corresponde a modificações da relação metronoi
formações dominadas. O mpc domina de agora em diante essas
formações não simplesmente do “exterior” e pela reprodução da,
| relação de dependência, mas estabelece sua dominância direta em
seu próprio seio: o modo de produção das metrópoles se reproduz,ns
sob forma específica, no interior das formações dominadas e de-,
| pendentes. Isso não impede que, em graus desiguais, e ao contrá- |
i rio do que se passa nas metrópoles, os efeitos de conservação
“possam predominar aqui sobre os efeitos de dissolução na dupla
tendência que impõe a dominação interna do MPC sobre os outros
modos e formas de produção dessas formações. O que mais ca-
/
/
CAPITALISMO DE HOJE
50 AS CLASSES SOCIAIS NO

é qu e est a re pr od uç ão induzida do MPC no seio


racteriza esta fase ma ne ira decisiva, ao domíni
o de
se es te nd e, de
dessas formaçõe s gicas. Enfim,
de suas formas ideoló em que re-
r e l h o s Estado e
seu apa orizada € induzida, na
medida
esta reprodução interi igualmente
da corr ente imperialista, tem
monta a modificações in ve rs a das formações depend
en-
um a di re çã o
efeitos que seguem ma ni fe st a no caso da força-tr
aba-
es : iss o se
tes para as metrópol
trabalho-imigrado.
lho pelo papel atual do de pe ndência, e mesmo
o “desenvolvi-
at ua is de st a os
As formas
to ”, a in du st ri al ização periférica e
imen
mento do subdesenvolv sa rt ic ul aç ão interna das relações
SsO-
, à de dadas à.
bloqueios da economia úl ti mo s an os , amplamente estu
ne st es es da cor-
ciais etc., foram, at en çã o foram as modificaçõ
a
O. que menos cham
ou
da s me tr óp ol es entre si. Com efei-
s relaçõ es l
rente imperialista na ão do cap ita l e de divisão internaciona
ulaç ca-
to, as formas de acum ba se de st a re pr odução ampliada do
o na
do trabalho, que estã óp ol es -f or ma çõ es dominadas,
introdu-
me tr
pitalismo na relaçã o
di fi ca çã o cap ita l: mesmo que a linha
uma mo s
zem aqui, nesta fase, mi ta çã o en tr e me trópoles é formaçõe
de li
de demarcação é de ro fu nd e, ass ist e-se ao estabeleciment
o
é se ap
dominadas se acentue
de de ma rc ação, nó camp metrópoles do impe- oSE metrópoles, en-
deum a li nh a-
de umlado, as outras
tre os Estados Unidos Eu ro pa , do ou tr o. A estrutura de do-
particular, à
rialismo é, emGene im pe ri alista organiza as
te
Cla

ênci a da co rr en
minaçãoe de depend tr óp ol es do im pe rialismo. Com efeito
,
ções das me la de
próprias rela U
os ni do s nã o é nem análoga àque
i aE st ad
esta hegemon as na s fases precedentes, € nã
o difere
br e as ou tr
uma metrópole so
po nt o de vi st a “q ua ntitativo”: ela passa
les
tampouco de um simp
açõesde prod uçãoque caracterizam
pelo estabelecimento “dasrmeel
ricano e sua-
.
nação no próprio
-

elareprodução emseu
taa
o capital monopolis am bé m “p
me tr óp ol es ,e .t
interiordas outras
Co
pendência. É esta reprod
ução indu-
o-dede
seio desta. nova relaçã a am er ic an o no seio das outras me-
no po li st
sida do capitalismo mo se us mo do s e formas de produção
s so br e
trópoles e seus efeito om pe ti ti vo s) que caracteriza a
fase
pi ta li st as -c
(pré-capitalistas, ca p r o d ução ampliada, em se
u seio,
nter e
senvolvimentodo. im-
atual: claimp li cai gua lme
lógicas desse de
das condições políticas e ideo RR
perialismo americano.
à Féchelle mondiale,
Entre outros, S. Amin, L'Accumulation A. Quijano, E.
s Fal etto, Th. dos Santos,
as obr as de E. particular,
1970, e as divers Ma ur o Marini etc. Ver, em
Wef for t, R. de la dépendance,
Torres Rivas, F. ai actuel des études
s sur: Vét
E H. Cardoso, Note
sto de 1972
mimeografado, ago
o, sempre de um.
as rata-se, no entant êne
rc ação. Esta nova depend
nétrico daslinhas dedema
que caracteriz
dentifica com aquela
nãopode ab
mações dominadas, € ec isamente em que es
sas me
a, na me di da pr
“neira análoga à est s próprios de acumul
ação
tituir centro
les continuam à cons r as formações de
pendentes
la do , e a do mi na
“capital de um he stima deste último
elemento
pa lm en te à
outro. É prin ci
p e r Sd...de fato, o im
as snc
asco u epp çõe es r i m se er
caracti riza ri al is mo essas me
im pe
lismo.“americano eo de ss as formações. Precisamos
a
ex pl or aç ão
gamà dominaçãoe de qu e um a das contradições
att
o fa to
nas mencionar aqui do s Un idos e a CEE refere-se
à que
en tr e os Es ta
nais importantes
di ve rs os “a co rd os preferenciais” con rtânc
odos
er ce ir o Mu nd o: isso demonstra a impo
E
s para as relações
formações dependente

d
im pe ri al is mo es tá marcada, em função
sta fase atual do uma€
ís ti ca s, € at ra vé s de vários caminhos, por
ct er o nas fo:
pulares, do mesmo temp
1 daslutas das massas po lmer
les imperialistas, principa
periféricas e nasmetrópo s queconfere, em conj
um ul aç ão de ss as lu ta
uropa. É a ac coniunt
te rm in ad as de st a fa se , O caráter de crise do
de
fe it o, é ne ce ss ár io ev itar atribuir ao te m
jalismo. Com “e :
mpo economista e bastan
um sentido ao mesmo te
as si m, ao co nj un to de umafase: i
do -o ,
mu ni st à
In te rn ac io na l Co
dasanálises da ” que:as ca acterizou,
tastrofismo. economista gene
tádio de “crise
pri “imperialismo como.es je, sob outras for
nda ho
mo”, mas observa-se. ai
x da do “capitalis ta is e sua caracterização
geral di
ál is es do sP C oc id en
mas, nas an tado” como. “crise do
imperiali
mo mo no po li st a de . Es
“capitalis pitalism
e se nt id o, po de rí am os também dizer que o ca
mo”. Nest
se ”. De fa to , ta is an ál ises implicam, na sua
“sempre esteve em “cri ta de cl as se às quais, somente
tu ra s de lu
“subestima das conjun e O im pe rialismo ou O capitalis
o “c ri se ”, qu
E podeaplicar-se o term er. maneira por si mesm
o, em vi
sm or on ar ia de qu al qu
mo se de
as “c on tr ad iç õe s ec on ômicas”. Então, como é
“tudede suas própri co nj un tu ras determinadas do car
qu e a
à tr ib ui às
“aluta de classes u de crise, os caminhos qi
im pe ri al is mo o e
lismo e do
rção eventual, depei
sta crisesegue, inclusive sua reabso
- a
essa luta. ? o
vez uma série de
Esta periodização colocaassim de umaçãosó, ao mesmo tempo.
iodiza
“pressupostos epistemológicos. Esta per
mações sociais, ou seia, nas
em estádios e fases, se situa nas for
dução, capitalista na cir= o"
formas de existência de um modo de pro ncias” próprias ao.
sas “tendê
“cunstância; não decorre de preten tal.
i a um objeto abstrato — como
Com efeito, somentepodem ser periodizadas as formaçõessociais,
produção só exis-
s é aí que age a luta de classes: um modo de .
“te em condições — eco nômicas, políticas, ideológicas — precisas
sua reprodução. Em outras.
que determinam sua constituição e
ação) de um modo de produção
palavras, a reprodução (periodiz
te modo de produção como
ão tem como lugar um “processo” des ifi- .
e ao mesmo tempo à mod
tal: osestádios e as fases referem-s
i a existência deste modo de
çÕE Isso implica precisamente uma |
iculadas deste modo com
periodização em função das relações art tutiva:
ão, articulação consti
utros modos e formas de produç
uaexistência e de sua reprodução.
ões sociais não são sim-
Isso implica, também, que as formaç stiria,
produção que exi
““concretizações” de um modo de
a diferenciação entre.
iamente”, em sentido forte, noabstrato: ares de
sociais não designa lug
modo de produção e formações
logia topográfica. As for-
cistência diferentes, segundo uma ana os de pro-.
alização de mod
ações sociais não são assim a espaci
os” uns sobre os outros.
ão existentes como tais € “empilhad cesso de re-
os lugares do pro
As formações sociais são realmente
envolvimento desigual nas rela-
produção enquanto núcleos do des a das classes.
no seio da lut
ões dos modos e formas de produção
reprodução do MPC (modo |
sso quer dizer, então, que O lugar de
smoé a corrente imperialis- |
de produção capitalista) em imperiali
periodização designam assim |.
ta e seus elos. Os estádios e fases da à condição de.
ução, mas com
odificações do processo de reprod
ões não são mensuráveis em re- |
precisar bem que essas modificaç
“lação a um modelo ideal — o modo de produção não é um mo-
preexistiria: trata-se de mo-.
“delo, mas um conceito — que lhes
mo existiu em determina-
dificações do modo de produção tal co
“das condições.

tes, em razão das |


Esses esclarecimentos parecem-me importan tes:
discussões atuais sobre este assunto € das confusões decorren
ho nc
So Qo E O
or um lado, alguns autores* situam como local da r
ção do MPC um pretenso “processo” deste modo como ta
no abstrato — só observando nas formações sociais uma con
tização e espacialização dos “momentos” deste processo, de o:
emerge a luta de classes. Esta posição assume fregientemente,n
quadro de suas análises da fase atual do imperialismo, a forma
Eaa uma concepção de um “modo de produção capitalista mundi
Ioná formações sociais só seriam momentos espacializados. Iss
|
f
/ conduz diretamente à ideologia da “mundialização”, ou seia, aqu
' "E A
À la de um processo abstrato cujo desenvolvimento desigual só co
a tituiria “as escórias” da concretização em formações sociais. Or
l o desenvolvimento desigual não constitui um “resíduo” ou um
“impureza” devidos à “combinação” concreta de modos de pr
dução reproduzidos no abstrato: ele é a forma constitutiva de re.
- produção do MPC no estádio imperialista nas suas relações com
outros modos de produção em formações sociais. De fato, a inter-
* nacionalização das relações capitalistas só pode ser apreendida em
- seu próprio local, ou seja, na existência da reprodução do MP
“em formações sociais (corrente imperialista). É precisamente em
tal sentido que esta internacionalização não é a simples “integra:
ção” das diversas formações sociais, ou seja, o produto de 1
Mpc mundial prévio e de um processo em si concretizado simpl
mente em formações-“momentos”, o que conduz a ocultar a
- rente imperialista: ela consiste realmente na reprodução induzida
do mpc das Metrópoles no seio das formações dependentes e do-.
“minadas, ou seja, nas novas condições históricas de sua reproduçã

“Em contrapartida, em autores como Ph. Herzog >, encontra-se


atualmente a antiga concepção empirista de uma identificação-
entre modo de produção e formações sociais, sendo o MPC, segu!
do os próprios termos de Herzog, somente a “síntese das diversas
“formaçõeseconômicas e sociais capitalistas”, e até ao limite um
noção extraída pela acumulação comparativa de “traços” dest
formações. Esta posição empirista é assim expressamente solid

4 Principalmente C. Palloix, Les Firmes multinationales et le procê


d'internationalisation, 1973, pp. 100 sq. Minhas observações críticas a
Palloix não tiram aliás a importância de seus textos, indispensáveis à
com--
preensão do imperialismo atual. Essa tendência do autor é entretanto
sig
nificativa, na medida em que suas análises se apóiam no texto profun-
damente estruturalista e economista de Balibar em Lire le Capital.
5 Politique économique, op. cit., pp. 27 sq. e sua contribuição ao c
lóquio do cerM, “Mode de production et formation économique et so
ciale”, número especial de La Pensée, outubro de 1971.
;
LISMO DE HOJE
54 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITA

imperialista composto de
ria com a concepção de um conjunto
tas e adicionadas. Ora,
formações sociais simplesmente justapos elo-processo
não seja um mod
a corrente imperialista, ainda que
senão a concretização, não
abstrato do MPC cujos elos não seriam imperialista
es. A corrente
é também a simples soma de suas part sob condi-
rodução do MPC nas formações sociais
não passa da rep
cas determinadas, e os elos
ções econômicas, políticas e ideológi locais
é que constituem os
desta corrente — formações sociais —
de existência deste processo.

Americano
2. Os Sinais da Dominação do Capital
vém, primeiramente, antes
É sob este ponto de vista que con os traços que à
de analisar mai s a fundo esta situação, expor
caracterizam.

e é o crescimento propor-
1. O primeiro fato surpreendent
rra Mundial, no volume glo-
cional regular, após a Segunda Gue tal ame-
O exterior, do capi
bal de investimentos de capitais para ados Unidos
“icano. Em 196 0, os investimentos externos dos Est
ao passo que, em 1930, só se
já somavam 60% do total mundial,
ritmo menos espetacular essa
elevavam a 35%. Se bem que num
hiato que separa os Estados
tendência tenha sido confirmada, e o
ha aprofundado ainda mais,
Unidos das outras metrópoles se ten
qual existem elementos es-
no período 1960-1968, período para O
absolutos, em 1960, o valor
tatísticos comparativos *. Em números
controlados pelas firmas
contábil real dos investimentos diretos
s de dólares. Em 1972, o
americanas no mundo era de 30 bilhõe de
estimado em mais
valor desses investimentos americanos foi
s subestimada.
20 bilhões de dólares, cifra aliás devera
cterísticas novas
Mas o que importa ainda mais sãocertas cara
desses investimentos:
ões periféricas, mas
2. Doravante, não são mais as formaç eira
que se tornam, de man
as metrópoles imperialistas européias
iado de investimento do
maciçamente crescente, O local privileg imentos dire-
ano. Em números absolutos, os invest
capital americ

in the Twentieth Century”, em


6 J.-Duaning, “Capital Movements
coletiva; G.-Y. Berlin, L'nvestisse-
International Investment, 1972, obra des
sq Les Investissements directs
ent international L9I2, pp. 26 Tosa .
mentation française, pp.
Etats-Unis dans le monde”, La Docu
55
A Fasé ATUAL DO IMPERIALISMO

odo 1957-67 na Eu-


tos americanos quadruplicaram durante O perí as
no Canadá, e apen
ropa, enquanto não dobraram absolutamente
orcional da Europa
aumentaram na América Latina. A parte prop
% em 1955, deu um salto |
nesses investimentos, que era de 15,6
em 1960, 28% em 1965,
que não se interrompeu depois: 20,5%
armente marcante para
cerca de 31% em 1970. O caso foi particul
na cEE ultrapassou aquele
a cer; desde 1963, o capital americano
onde sempre foi considerável;
que foi investido na Grã-Bretanha,
diretos na CEE recuperaram
e, em 1970, apenas os investimentos
da Europa (Grã-Bretanha
aqueles que foram realizados no resto
à tendência geral de os capi-
inclusive) 7. Isso, aliás, corresponde própria
tais das metrópoles serem investidos no interior de sua
zona.

ram paralelamente quan-


3. Diferenças consideráveis se instau
capitais. Trata-se da predomi-
to às formas de investimento desses
diretos sobre os investimentos
'nância crescente dos investimentos
seia de fato relativa, ela
em carteira. Ainda que tal distinção
s corresponde diretamente
assume uma importância de indício, poi
ão. Entendem-se por inves-
às modificações nas relações de produç
estimentos em capital
timentos diretos ao mesmo tempo Os inv
, a curto ou longo prazo,
fixo e aqueles que provocam, ou tendem que as
empresas. ainda
a uma tomada de controle das firmas e
icas e as diversas institui-
percentagens variem segundo as estatíst
estimentos diretos aque-
ções, consideram-se em geral como inv
a sociedade. Os investi-
les que ultrapassam 25% das ações de um
pra de obrigação ou
mentos em carteira referem-se à simples com
zo. Atualmente, os in-
operações bursáteis e financeiras a curto pra
75% das exportações dos
vestimentos diretos constituem cerca de
striais, contra somen-
capitais privados dos principais países indu
te 10% antes de 19148.
imentos globais
Ora, mesmo que o conjunto do fluxo de invest
aproximadamente O
da Europa para os Estados Unidos equilibre
o privilegiado de Man-
dos Estados Unidos para a Europa (argument
imentos americanos
del, Rowthorn etc.), cerca de 70% dos invest
tra apenas um terço
na Europa são investimentos diretos, con
dos?. O que indica
dos investimentos europeus nos Estados Uni
é deduzido de fato
também que o capital americano na Europa
pp. 24 sq.
7 Goux e Landeau, Le Péril américain, 1971,
prise , obra coletiva, 1971.
s Dunning, The Multinational Enter
indust rielle de VEur ope intégrée, ed.
9 PB. Balassa, em La Politique
por M. Byé, 1968.
nvestimento no lugar do
lo seu valor acumulado e pelo rei
que se passa com as formações
cros. De fato, ao “contrário do
eriféricas, uma parte considerável (cerca de 40%) desses lucros
da mesma zona.
“aqui reinvestida no lugar ou no seio

investimentos estrangeiros dos


4, Uma parte crescente dos
indústrias de transformação |
naíses desenvolvidos pertence às as extrativas
o às indústri
rodutos manufaturados) em relaçã
”, comércio etc. Isso E
atérias-primas) e aos setores “serviços
ricano. Levando-se em
articularmente claro para o capital ame
o, o aumento proporcional do
conta as indústrias de transformaçã
ação à exportação global do
apital americano na Europa em rel
surpreendente: enquan-
tal americano neste setor é ainda mais
do capital americano neste
»m 1950 a Europa só recebia 24,3% a-
setor, em 1966 recebia 40,3%. Paralelamente, enquanto a esm
tos americanos na Europa |
gadora maioria dos investimentos dire
tanto o capital dire-
e refere às indústrias de transformação, por
rca de um terço) dos
nente produtivo, uma pequena parte (ce
ados Unidos refere-se
estimentos diretos europeus para OS Est
or parte para o setor
ital diretamente produtivo, indo a mai
ços”, seguros etc. “º a

Europa estão ligados |


- Essesinvestimentos americanos na dos ramos.
tal. Provêm
oncentração e à centralização do capi
s Unidos !!. Dirigem-se na n
stores mais concentrados nos Estado
concentração, contri-
pa para os setores e ramos com forte
de concentração: as filiais
uindo aliás para precipitar o ritmo
situam, para à maioria
européias das sociedades americanas se
dos, onde a filial ocupa com
dos casos, em ramos muito concentra e
mais frequência uma posiçã o dominante "2. Enfim, os setores
hecem a expansão mais Tá-
mos investidos são aqueles que con
da, ou seja, a mais.
da e apresentam a tecnologia mais avança
erísticas dominantes de
ta produtividade do trabalho é as caract dr
pela alta da composição
ma exploração inténsiva do trabalho no domí-
ntos americanos
gânica do capital: 85% dos investime
m-se à metalurgia e às
io das indústrias de transformação refere

Balassa, op. cit. :


“10 Documentação francesa, op. cit.,
N

of Multinational Cor-.
11 St-Hymer, “The Efficiency Contradictions State, obra cole-
and the Nation
“porations”?, em The Multi-Corporation 1969.
plurinationale,
tiva, 1972; CA, Michalet, L'Entreprise
an Inve stme nt in British Manufacturing In-
12. J. Dunning, Americ |
str. a
ALISMO 57:
A FASE' ATUAL DO IMPERI

à in-
a e aos produtos sintéticos,
indústrias mecânicas, à químic mo de expansão e de cres-
dústria elétrica, à eletrônica etc. O rit
ent o des ses cap ita is se sit ua ent re 9 e 12% ao ano, isto é, cerca
cim € mais ainda do que
do dobro do crescimento do PNB europeu,
americano: o crescimento desses
o dobro do crescimento do PNB
estimado por uma parte conside-
capitais americanos na Europa é B
e dos ritmos de aumento dos PN
rável das taxas de crescimento
us, qu e pa re ce m imp res sio nar tanto certos “futurólogos”
europe n-
s. Enf im, qu an do se ex am in am as direções de desenvolvime
“atuai nã
a-se claramente que parecem,
to desses investimentos, observ -
concessão das licenças € permis
maioria dos casos, reservar-se à
preendendo a exploração direta
sões das firmas européias, em
dessas vantagens tecnológicas.
hegemonia do capital ame-
6. A exportação dos capitais e a o do capital-
almente à centralizaçã
ricano referem-se, aliás, igu finan-
e aos holdings propriamente
dinheiro, aos grandes bancos anos na Europa,
bancos americ
ceiros. O número das filiais dos
1950 a 1960, passou de 19 para 59
que aumentou de 15 a 19 entre
a 196 7. As “so cie dad es ass oci adas” bancárias americanas
de 1960 8.
na m no mu nd o pas sar am, entre 1960 é 1967, de 15 a 52
que domi
sit uaç ão de con jun to, dec orr e, aliás, o papel desempenhada
Detal -
e mui to tem po, no dom íni o monetário, pelo dólar, e O qual
durant
tuí do, atu alm ent e, pel o mer cado do Eurodólar. Nota-se,
é substi
s, que ess a ten dên cia ass ume proporções consideráveis com
ademai
rad a da Grã -Br eta nha na CEE , sendo que Londres é o lugar
a ent
eir o pri vil egi ado das fili ais ban cárias americanas na Euro-
financ
50 % dos Eur odó lar es era m, em 1970, detidos por Londres,
pa:
imentos bancários americanos 14,
na maior parte pelos estabelec
” do capital industrial e do
Ora, a tendência para a “fusão
eiro no “estádio do capitalismo.
capital bancário em capital financ
erença, no ciclo de reprodução
monopolista não considera a dif
centração do capital produtivo
ampliada do capital, entre a con
eiro. A acumulação do capital
e a centralização do capital-dinh o
conjunto são determinadas pel
e a taxa de lucro neste ciclo de ao
ele que produz a mais-valia,
ciclo do capital produtivo, aqu
rio de um a con cep ção bas tan te difundida e que identifica
contrá
l “fi nan cei ro” e cap ita l ban cár io, concluindo daí um domí-
capita

No plano mundial, as filiais de


13 Magdoff, op. cit., pp. 73 sq.
em 1965, para 1.009, em 1972.
bancos americanos passaram de 303,
Le Péril américain; pp. 106 sa.
d4 Chr. Goux e J.-F. Landeau,
HoJE
NO CAPITALISMO DE
58 As CLASSES SOCIAIS
sta.
es tá di o im pe ri al is ta-capitalista monopoli
nio dos bancos no nã o é, pa ra em pr egarmos à lingua-
nancei ro
De fato, o capital fi ca pi ta l co mo Os outros, mas designa
ação do
gem própria, uma fr e o modo de funcio
namento dessas fra-
usão”
o processo de sua “f
ções reunidas. questõe Sã.
am en te , no en sa io seguinte, a essas
Voltarei am pl ção
fa to de qu e, em bo ra à internacionaliza
no
no momento, insisto di da ao nível do processo de
repro-
a Se r ap re en pital-
do capital só poss so ci al (capital produtivo, ca
to do ca pi ta l
dução do conjun ca pital-mercadorias),
o capital como
ua lm en te , ali ás, to é
dinheiro, e ig ci cl o do capital produtivo. Is
se ad o no
relação social está ba pr op os iç ão marxista fundamen
tal,
pr es sã o da
precisamente à ex e as relações de produção
— no MPC
sã o a pr od uç ão
segundo à qual que determi-
od uç ão e de ex tr aç ão da mais-valia — mo-
relações de pr e as re la çõ es de circulação, as fa
ma is -v al ia
nam a realização da 4
Sa be -s e que Lênin encontra
ra um
mé rc io ”.
sas “relações de co po lêmica com Rosa Lu
xemburgo:
qu es tã o na su a
aspecto desta pel da exporta-
ni ni st a do im pe ri al ismo, e mesmo o pa o do
a teoria le
ba se ad a no pa pe l determinante do cicl
ção dos capitais, é o lugar privilegiado qu
e se lhe
que explica
capital produtivo. É o çõ es da fase atual do imperi
alismo.
is e da s mo di fi ca
dedica na anál dadas .certas
in út il as si na la r então este problema,
Não fo i
do im pe ri al is mo , de G. Frank e A. Emma-
interpretações atuais e P.-P. Rey, todas ba
seadas,
x, G. Dhoquois
“nuel até Chr. Palloi s de siguais, na concepção
pré-mar-
a qu e em gr au
finalmente, ai nd ão sobre aquele
é do espaço de circulaç
clo
xista do primado do ci co lo ca nd o radicalmente em causa
uç ão 1º. Re
das relações de prod r um la do a uma impossibilidad
e
co nd uz em po
o leninismo, elas C em estádios sob a form
a, com
aç ão ri go ro sa do MP
| de periodiz rialistas”
de um “c ap it al is mo desde Os primórdios impe
'G. Frank,
oq uo is -R ey , de um a distinção entre “árqueo-
e, com Palloix-Dh li sm o” ; po r outro lado, a uma im-
“n eo -i mp er ia
imperialismo” e do pr
Z
óp rio imperialismo em fas
es.
pe ri od iz aç ão
possibilidade de
dida,
mo di fi ca çõ es re pe rc utem, numa certa me
Enfim, essas exterior mundial no
que se
at ua l do co mé rc io
na organização
lises con-
ui pa ra O fat o de que certas aná
15 Chamo atençã o aq geral, serão
qu e co lo ca um quadro referencial
,
ceptuais deste ensaio seguinte.
a detalhada no ensaio , 1968,
retomadas de maneir
Le Dé ve lo pp em en t du sous-dévelopnement
16 A. Gunder Fr an k, , 1969; A. Emma-
pe me nt en Amérique Latine
e Capitalisme et So us -D év él op Dhoquois, Pour
iné gal , 197 0; Ch r. Palloix, op. cit.; G.
nuel, L'Echange Rey, Les Alliances de
classe, 1973.
PHistoire, 1972. P.-Ph.
X
RIALISMO 59
A FASE ATUAL DO IMPE

rc ad or ia s: te nd ên ci a inerente do capi-
s me
refere à exportação da ad o e qu e, se bem que dominada no
me rc
talismo à extensão do rt aç ão do s capitais, não se subm
ete,
pe la ex po interno
estádio imperialista mé rc io mu ndial, do comércio
rt e, no co do comér-
entretanto. A pa cr es ce em relação à parte
de se nv ol vi do s” as
entre “países
pa ís es e os da pe ri fe ria. A parte das troc
cio entre estes últimos 46 % do co mércio mundial em 19
50
ss ou de
internas do centro pa do be m mais rapidamente do
que O
, au me nt an
para 62% em 1965 17,5% em 1969). A
essa evolução
erista (+
comércio centro-perif cente, no comércio
mundial, dos
ali ás, a pa rt e cr es a de
corresponde, entam, em 1969, cerc
produtos manu faturados: eles repres 1963 7.
co mé rc io mu nd ia l co nt ra menos de 50%antes de
66% do es imperialistas, assiste-
se à
Dito isso, é certo que, nos país
ci on al na ex po rt aç ão de mercadorias por parte
um aumento propor in ci pa lmente da Europa, em Te-
im pe ri al is ta s, pr
de outros países . Encontra-se aí o argu
mento
do s Es ta do s Un id os
lação àquele rto
te nd ên ci a Ma nd el , no que concerne ao fim a cu
principal da lavras
su pr em ac ia do ca pi ta l americano. Direi duas pa
prazo da podemos
e a si gn if ic aç ão de st e fe nômeno na conclusão, mas
sobr
observar desde logo: ação
imperialismo cabe à export
a) que o papel decisivo no
dos capitais; de um lado, não levam em
as aná lis es de Ma nd el ,
b) que pa
aç ão as me rc ad or ia s pr od uzidas diretamente na Euro
consider são “subs-
rm as sob con tro le am er icano, mercadorias que
pelas fi lado, que
as” ass im pel as ex po rt aç ões americanas; de outro
tituíd rtações de fir-
ações “européias” as expo
elas contam como export
tro le am er ic an o no s paí ses da Europa. Isto assume
mas sob con nta o fato de que os inves-
rt ân ci a se le va rm os em co
grande impo
am er ic an os na Eu ro pa Se fazem maciçamente em seto-
timentos ta-
ad os na exp ort açã o, inc lus ive sob a forma de “reimpor
res ba se tados
o” so b eti que ta de ma rc a européia para Os próprios Es
çã mento das
im, que um terço do cresci
Unidos. Dunning estima, ass entre:
dutos de tecnologia avançada
exportações européias em pro troladas pelo capital ame-
4 pro vin ha de emp res as con
1955 e 196 orta-
e que , em 198 0, cer ca de um quarto de todas as exp
ricano, ra
bri tân ica s pro vir iam des sas empresas. Aliás, uma brochu
ções im-
ncesa chamava atenção para à
editada em 1970 pela DATAR fra OS
na França: ela assinalava que
plantação do capital americano
particularmente bem-vindos, se,
projetos de investimentos seriam

é igualmente Magdoff.
17 S. Amin, op. cit., pp. 85 sq.,

an
LISMO DE HOJE
60 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITA

exportar, ajudando-nos, assim,


entre outros aspectos, “permitissem
França”.
a equilibrar a balança comercial da

dos capitais americanos:


Voltemos à questão da exportação
importância como sinais das
os fatos acima só demonstram sua o do capital social,
e, no cicl
modificações que afetam atualment
capital — relações de produção
a concentração internacional do
do trabalho no plano mundial —
— ea divisão social imperialista ima-
ângulo que podem ser est
o processo de trabalho. É sob este
dos no séu valor justo.
tamente reduzir-se à famosa
Sua significação não pode absolu ntos dire-
questão da “nercenta gem” do montante dos investime
em relação ao montante glo-
tos americanos nos países europeus
dos inv est ime nto s — inc lus ive os autóctones — nesses países,
bal os
de Mandel e também aos divers
argumentação cara à tendência
Se essa percentagem é um in-
especialistas burgueses da questão. ente, longe
europeus não são certam
dício do fato de que os países indi-
o, sim ple s “co lôn ias ” dos Est ados Unidos, não é também
diss for considerada de
endência se
cativa do novo processo de dep
la assim por um instante: essa
maneira isolada. Mas consideremo-
estatísticas oficiais, relativamente
percentagem parece, segundo as
a média. de 6,5% para a Euro-
fraca, situando-se em torno de um
mas que aumentaram considera-
pa (cifras comparativas de 1964, O
existem razões para pensar que
velmente depois). No entanto, -
de bastante para um sentido limi
estabelecimento desses dados ten
tativo.
— isto depende dos países —,
Primeiramente, com frequência
s americanos provenientes seja
só levamos em conta investimento de reinvesti-
Estados Unidos, seja
do fluxo de novos capitais dos opa,
mentos pelo autofinanciamen to das filiais americanas na Eur
lig enc ian do o rec urs o do cap ita l americano ao mercado euro-
neg
o-obrigações — e ao mercado
peu de capitais — emissão de Eur s “terços do
re atualmente os doi
do Eurodólar, recurso que cob se-
ricanos reais na Europa. Em
ECT

montante dos investimentos ame s di-


em geral como investimento
guida, embora só consideremos com
Ê
25% dos ativos de uma firma,
retos aqueles que ultrapassam concen-
no contexto atual de
frequência bem menos suficientes, para
ção do processo de trabalho,
tração do capital e de socializa
o capital americano. Mas ainda:
assim assegurar o controle pel da
estimentos diretos no conjunto
essas cifras referem-se aos inv
sidera o único setor industrial
economia, e quando então se con
percentagem é consideravelmente
— o capital produtivo —, a
levam em .
elevada. Enfim esobretudo: tais cifras nãoopa
em na Eur sob a co
investimentos americanos que se faz
mas sob control
tura de firmas juridicamente “européias”,
cipalmente o caso |
“propriedade econômica americana. É prin a.
entos nos países da cEE.Damo-nos cont
* Suíça e seus investim
ideramos o fato de que, .
" importância da questão quando cons
imentos americanos entre.
1961 a 1967, a proporção dos invest
França era de 30%, mas
investimentos estrangeiros diretos na
da Comissão da CEE, adicio
da Suíça de 29%; F. Braun, diretor
de investimentos dire
na os dois para chegar à cifra de 59%
fenômeno assume propoi
“americanos !8, Sabe-se, aliás, que esse CEE.
etanha na
ções consideráveis com à entrada da Grã-Br
desses investimentos
SG seguirmos agora o traçado concreto semr ;
ericanos na CEE ampliada, a lista de premiados cabe
-Bretanha: as característica
em 1970, em volume absoluto, à Grã traç:
juga precisamente os
daeconomia desta formação, que con
le um poder econômico de primeiro planoe estreitamente ,
conhecidas. Elas fo
endente do capital americano, são bem rada da
que uma ent
revigoradas por aqueles que esperam
ia. A Grã-Breta
Bretanha na cEE a libertaria desta dependênc a, a França 1
o pela Bélgica e pela Holand
é seguida de pert
uperando rapidament ss
com a Itália na última posição, mas rec
manha Ocidental que os inve
atraso neste sentido. Mas é na Ale
dência de crescimento r
“timentos americanos apresentam à ten r, y
“rápida e mais maciça, parecendo a Alemanha suplanta nes!
to de dizer, com Cc6
tido, a Grã-Bretanha. Sem chegar ao pon
tornar, em 1980, o “Canadá d.
que a Alemanha está prestes a se à relaçã
e ser assinalado, num momento em que
Europa”, isto dev
tre as “posições alemãs”
estreita que se constata atualmenteen buída sej
te atri
as “posições americanas” é mais frequentemenpara os Estados U
mente à importância das exportações alemãs americanas na Ál
forças
dos, seja unicamente à presença das
de fato que essa presença
manha: tudo isso parece demonstrar oe
“funcionacada vez mai s como simples pára-vento à penetraçã
observar em um m
nômica. Isso é ainda mais interessante de ica da Alem
econôm
mento em que, precisamente, a dominação
r e em que a Alemanha :
ha no seio da cEE está para se afirma
européia”.
“apresenta como à campeã da “integração

trielle. .., OP. cito


E Ee Braun, em La Politique indus
62 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HoJE

Mas a questão é mais do que uma questão de percentagem.


É necessário, assim, nos atermos às modificações atuais na cons-
tituição internacional do capital e na divisão social imperialista
do trabalho. É a ação das novas formas das relações de produção
mundiais nos processos do trabalho que marca atualmente as mu-
danças na corrente imperialista e nas relações Estados Unidos-
Europa.

3. A Socialização Internacional dos Processos do Trabalho e a


Internacionalização do Capital

1. As novas formas de divisão internacional imperialista do


trabalho (socialização das forças produtivas) correspondem à di-
reção que a concentração atual do capital (relações de produção):
imprime aos processos de trabalho e às forças produtivas em es-
cala mundial. A concentração do capital em escala internacional
e a construção de impérios financeiros datam de fato dos pri-
mórdios da era imperialista. Elas implicavam, como era o caso
para o processo de concentração no interior de uma formação
social, uma distinção entre propriedade jurídica formal e pro-
priedade econômica real (sociedades por ações), que foi tomada
como figura ideológica de “uma separação da propriedade priva-
“da e do controle”. Essa distinção é hoje sempre válida: as modi-
ficações importantes predominam sobre a articulação atual da
propriedade econômica e da posse, ou seja, sobre as formas das
próprias relações de produção.
De fato, a forma de concentração que prevalecia com a ex-
tinção progressiva do “capitalista empreendedor” era ou aquela
de cartéis e holdings financeiros internacionais, ou aquela de um
capital que disponha em um país exterior de uma unidade de
produção (centro de apropriação da natureza) determinada ou.
de diversas unidades de produção “separadas” em diversos países.
A forma dominante implicava então uma distinção e descentrali-
zação relativas entre as relações de posse (domínio e direção de
um processo de trabalho determinado) e de propriedade econômi-
ca (poder de afetação dos meios de produção e de alocação dos
recursos e lucros para esta ou aquela utilização): esta proprie-
dade concentrava sob único controle as diversas unidades de pro-
dução (eposses) separadas. O que, em contrapartida, caracteriza
a fase atual do imperialismo é a constituição, sob propriedade
63
A FASE ATUAL DO IMPERIALISMO

complexas "
econômica única, de efetivas unidades de produção
integrados —
a processos de trabalho estreitamente articulados e
s se distri-
produção integrada — cujos diversos estabelecimento
bem
buem em vários países: produção integrada que não impede,
se
ao contrário, a diversificação de produtos finais, e que não
os.
limita a um único ramo. As próprias trocas entre esses divers
s do mer-
estabelecimentos não são estabelecidas na base dos preço
des (preço
cado, mas constituem trocas “internas” a estas unida
nova for--
de transferência). Por outro lado, constata-se, sob uma
e econômi-
ma, uma reabsorção do afastamento entre propriedad
a plu-
“ca e posse: o que não impede novos distanciamentos entre
exerci-
ralidade dos poderes que comportam estas relações e seu
cio por diversos portadores e agentes.
A reabsorção de tal afastamento deve ser apreendida na
s,
escala do processo de conjunto: ramos, indústrias, inter-ramo
mas também a montante — matérias-primas — e a jusan te —
um
comercialização — da produção. Essa reabsorção tem, por
o faz.
lado, como consegiência geral, o recuo, e por vezes mesm
-
ultrapassar os limites tradicionais das “empresas” no plano inter
itui-
nacional; por outro lado, como um efeito particular, a const
ção das firmas multinacionais industriais (um estudo recente do
GaTT sublinha que 30% do comércio internacional assumiriam a
forma de trocas no seio dessas firmas): isso só é um efeito, pois
essas firmas só recobrem parcialmente a unificação das unidades.
de produção complexas por ramos é indústrias. Mas tais firmas.
constituem um excelente exemplo da integração atual dos pro-
cessos de trabalho. É a essas modificações que corresponde prin-
cipalmente a preeminência dos investimentos diretos sobre os in--
vestimentos em carteira.
A integração dos processos de trabalho no interior de uma.
firma em escala internacional pode assumir várias formas. Pode-
se tratar de uma integração vertical, cadafilial em um país sendo:
encarregada de um estádio de produção ou de uma série de com-
ponentes e partes de um produto ou grupo de produtos: caso
clássico da 1BM. Pode-se tratar, igualmente, de uma integração
horizontal, cada estabelecimento ou filial especializando-se, de
um objetivo a outro, na produção de produtos que elas trocam
“entre si: caso da Ford. Esta produção integrada é, aliás, com
frequência parcialmente realizada através de vários ramos nas
formas atuais de conglomerado. Seja o que for, estas formas de
de
19 Sobre este assunto, Bettelheim, Calcul économique et Formes
propriété, 1971.
DE HoJE
164 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO

, mesmo se elas não cons-


socialização dos processos de trabalho
concentração internacional
tituem ainda a forma dominante da
o a tendência mais marcan-
do capital, constituem em todo cas
cesso bem mais amplo
te 2: cias fazem, de fato, parte de um pro
de socialização do trabalho.

internacional não
2. Esta socialização dotrabalho em escala
em “técnica” — a “re-
é devida principalmente a fatores de ord
o signo de modificações
volução tecnológica” — mas se opera sob
iais. Ela só pode ser
importantes das relações de produção mund
de divisão social impe-
tomada então, em toda a sua amplitude
internacionalização do
rialista do trabalho, por formas atuais de em razão
r bastante atento
capital. Ainda que seja necessário esta
torno das interpretações
das diversas ideologias que gravitam em
os traços particulares dessa
das firmas multinacionais. Quais são um
s firmas são somente
internacionalização na fase atual, cuja
dos efeitos?
exploração de um capi-
a) O desenvolvimento das bases da
vários capitais, nas várias
tal particular, ou de uma reunião de se constitui
e esse capital
nações, a saber, a extensão do local ond
como relação social;
ião, sob propriedade
b) A tendência marcada pará a reun
ientes de vários países dife-
econômica única, de capitais proven
não remonta a um pro-
rentes: esta questão de “proveniência” uma coisa),
não é
blema de nacionalidade do capital (o capital
relações sociais originárias
“mas ao lugar ondese estabelecem as
tal. Com efeito, os ca-
e/ou dominantes que constituemesse capi
e dominante, como relações
sos de capitais que não possuem bas
muito raros.
sociais, em um determinado país, são
logo que essa internacio-
Seria ainda necessário acrescentar
oria dos casos, onde se en-
nalização se faz, na esmagadora mai
€ econômica de capitais de
contra esta participação jurídica
isiva do capital proveniente
várias nações, sob a dominação dec tra em suas
capital que concen
de um determinado país: é este
ca. Como prova O fato de que
mãos a propriedade econômica úni
unidas — que se supõe repre-
as “joint ventures” — empresas
propriedade dos capitais de
sentam uma “fusão igualitária” da

exposta por R. Vernon,


22 É a conclusão da pesquisa de Harvard, e?,
rnational Trade in the Product-Cycl
“International Investment and Inte tiva , Rose nber g,
l Change, obra cole
o puts Economics of Technologica
aparências jurídicas, excep
rsos países permanecem, sob suas a-Gevaer!
jonais. (ex: Royal Dutsch-Shell, É Dunlop-Pirelli, Agf

relações de produção
Isso se prende à própria natureza das
no processo de concentração
“capitalistas, tal como se exprimem mas uma
s) uma “coisa”,
“atual, não sendo o capital (repetimo
unscrito pelas relações de
relação de produção: é o lugar circ
determina os diversos po-
“propriedade econômica e de posse que
te lugar por diversos capi
deres daí decorrentes. A ocupação des
po no interior e no ext
tais, que se reproduzemao mesmo tem
tem nada de amigável, po
“rior de uma formação social, não
tradições e a concorrên
epende de uma relação de força: as con trado
i tes de um capital concen
eita que se estabelec
inda mais que a correspondência estr
posse, e que é oe
atualmente entre propriedade econômica e
ção internacional, trabalh:
“valente do processo atual de concentra tra
ado e uma instância cen
recisamente para um controle unific ,
erminado;
dirigente, sob um capital det
i
Fo Essa internacionalização do cap
nação decisivadocapité “americano.
vos das firmas multi
dustrial produtivo, em 1968, 550%dos ati
pertenciam ao cap
“cionais no exterior de seus países de origem
co”, e o resto distribuíd
tal americano, 20% ao capital “britâni
. Constata-se, aliás, que Cera
entre capitais europeus e japoneses
onais são americana
“de 40 dentre as 50 maiores firmas multinaci
Isso acompanha, ao contrário
rap scapitais
a tendência maciça de uma fusão ext
“aumafusãodesses
peus com o capital americano, de
essa tendência. De 196:
“capitais entre si: a CEESófazac uar
na CEE, 109 absorções
a 1968, principalmente, registraram-se, geiros pe
sa capitais estran
“fusões, cuja metade colocava em cau
tomadas de participação.
tencentes a “países terceiros”; 1.180
iros; 625 criações de fi
dentre as quais 800 por capitais estrange
cado Comum, mas 1.12:
liais comuns a duas empresas do Mer
ma do Mercado Comum
criações de filiais comuns entre uma fir tais estrangei
"* e uma fir ma de “países terceiros”. Ora, esses capi
agadora maioria dos casos, de
ros e “terceiros países” são, na esm
anos ?!. No caso do capi
maneira direta ou cammuflada, americ a as chama
nítidas: par
produtivo, as coisas são ainda mais CEE, enu
ão estabelecidas em 1967 e 1968 na
filiais de produç
em La Documentation fr:
“21 «“[Europe des communautés” (1972), É
gaise.
66 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

ravam-se 202 devidas a capitais do conjunto dos países da CEE,


e 216 de capital americano. Deve-se somente mencionar o fato
surpreendente de que os investimentos britânicos na França, que
se aceleraram maciçamente com a entrada da Grã-Bretanha na
CEE, só se referem, essencialmente, aos circuitos de distribuição
e ao imobiliário. Enfim, para dar ainda uma idéia dessas propor-
ções, assinalemos que na França, para o primeiro semestre de
1967 e apenas para o fluxo de investimentos, o montante dos
capitais estrangeiros investidos era da ordem de 167 milhões de
francos provenientes da comunidade e de 442 provenientes de
“países terceiros”, entre os quais 316 de origem americana direta
e declarada 2: mas vimos aquilo que, frequentemente, se esconde
por trás dos investimentos formalmente “terceiros” distintos dos:
americanos, ou mesmo provenientes da “Comunidade”.
Finalmente e sobretudo: mesmo quando se trata de uma re-
união de capitais europeus entre si, trata-se raramente de uma fu-
são, mais raramente ainda de uma produção integrada, porém mais
frequentemente de “acordos” diversos (exemplo: Fiat-Citroên), .
de associações limitadas e de operações de carteira, enquanto a si-
tuação é exatamente o inverso quando se trata de concentrações
sob a égide do capital americano 23. Neste último caso, consta-
ta-se mais amiúde um deslocamento efetivo do conjunto de po-
deres da propriedade econômica e da posse para o capital ame-
ricano, em consegiiência das relações de força entre o capital
americano e os capitais europeus: isto não se explica, natural-
mente, como sustenta um bom número de analistas, pelas “obri-
gações jurídicas” que a legislação americana “impõe” a seu ca-
pital (principalmente pelo fato de que uma simples participação
desse capital em uma empresa estrangeira pode fazê-lo cair sob
o golpe da lei “antitruste”, quando então as filiais que se encon-
tram sob a propriedade jurídica única desse capital a ela esca-
pam).

4. A Divisão Social Imperialista do Trabalho e a Acumulação


do Capital

São essas modificações que marcam as novas formas de divi-


são social imperialista do trabalho e as relações das metrópoles
22 y. Morvan, La Concentration de Vindustrie en France, 1972,
D. 997:
23 Dunning, em The Multinational Enterprise, op. cit, pp. 19,
297 sa.
A FASE ATUAL DO IMPERIALISMO 67

imperialistas entre si: elas correspondem a novas formas de


acumulação do capital em escala mundial. Com efeito, coman-
dando o desdobramento da linha de demarcação metrópoles /for-
mações dominadas pela nova linha de demarcação que atravessa
as próprias metrópoles do imperialismo, e deslocando as bases de
exploração e de acumulação para a zona das metrópoles, estas
modificações devem ser apreendidas como estratégia do capital
em face das condições atuais da baixa tendencial da taxa de lu-
cro. Ao passo que as exportações dos capitais apareciam antes
principalmente ligadas ao controle das matérias-primas e à ex-
tensão dos mercados, elas. respondem atualmente, no essencial,
à necessidade de valorização do capital monopolista imperialista
tirando partido de toda vantagem relativa na exploração direta
do trabalho (isso não quer dizer então que a necessidade de ex-
tensão dos mercados, no caso, por exemplo, doinvestimento do
- capital americano na Europa, esteja ausente). As modificações
que foram aqui questionadas, implicando a dominação do capi-
tal americano sobre as outras metrópoles, tendem essencialmente
para um objetivo: a alta da taxa de exploração a fim de contra-
riar a tendência à baixa da taxa de lucro?t. É aí que reside,
principalmente, a razão profunda da interiorização da reprodu-
ção do capital dominante no próprio seio das bases de explora-
ção “exteriores” e das novas formas de articulação propriedade
econômica /posse, correspondendo às formas atuais de dominação
do capitalismo monopolista sobre os outros modos e formas de
produção em escala internacional, isto é, nas formas atuais de
exploração.
De fato, esta alta da taxa de exploração é a resultante, ao
mesmo tempo, do nível dos salários e da produtividade do traba-
lho -— compreendendo o grau de desenvolvimento das forças
produtivas etc. O nível dos salários e a produtividade do trabalho
são, « longo prazo, ligados. Em outras palavras, a taxa de explo-
ração e de mais-valia não é simplesmente mensurável ao nível
dos salários, mas também ao nível da exploração intensivo do
trabalho: novos procedimentos técnicos, diversificação dos produ-

24 Sendo entendido que isso não deve ser compreendido como tá-
tica a curto prazo concernente às únicas taxas de lucro, mas como es-
tratégia a longo prazo da fração dominante do capital internacional ten-
dente a se assegurar um domínio social do processo produtivo mundial.
Sobre este assunto o artigo digno de nota ce Chr. Leucate: “Les con-
trad 'cti ns inte:-impérial'stes aujourd'hui”, em Critiques d'économie pos
litique, outubro-dezembro de 1973. Ver igualmente A. Granou: “La nou-
velle crise du capitalisme”, em Les Temps Modernes, dezembro de 1973.
levado, em valor nominal e real, pode corresponder, segundo o
esenvolvimento das forças produtivas, a uma proporção mais.
aca do valor produzido e, assim, a umaexploração acrescida |
em relação a um salário mais baixo no contexto de u
1 ma menor
rodutividade do trabalho.
“Sabe-se, pois, que, se ossalários da zona dominada são mais:
baixos do que aqueles dos países imperialistas, a produtividade: |
o trabalho é consideravelmente mais elevada nas metrópoles.
as isso não leva ainda em conta o deslocamento das bases de:
exploração do capital para as metrópoles, que só pode ser ex-
plicado pelo deslocamento, na fase atual do imperialismo e ao
ível da acumulação mundial, do peso da exploração para a ex-
ploração intensiva do trabalho. Este deslocamento é ele próprio :
inção do caráter principal da concentração monopolista: a alta
de - composição orgânica do capital, isto é, o aumento do capital
istante em relação ao capital variável (custos salariais), e a.
jinuição do trabalho vivo em relação ao “trabalho morto”
ê porado nos meios de trabalho). Esta alta da composição:
ica do. capital sendo inversamente proporcional à taxa de
é onde se inscreve a tendência atual paraasinovações
ógicas. Mas o trabalho permanece sempre a base da mais-.
“o que explica a tendência atual para um aumento da
de exploração pelo desvio principal de uma exploração in
a dotrabalho, diretamente ligada à produtividade do tra-
alho (mais-valia relativa).

“Asnovas formas de relações de produção mundiais e de s


alização internacional do processo de trabalho, que concorrem.
precisamente para esta exploração intensiva do trabalho no plano.
mundial, concentram-se então nas novas formas da divisão social
mperialista do trabalho. Esta divisão, na ordem da exploração,
o passa mais somente pela linha tradicional de demarcação |
“cidades-indústrias-metrópoles /. campos-agricultura-formações do-
jinadas”. Ela se duplica com uma divisão no próprio seio do
setor industrial do capital produtivo, sem esquecermos, por outro E
lado, o processo de “industrialização” da agricultura no plano |
internacional: é aí que se inscreve o deslocamento das exporta-
ções de capitais para os investimentos diretos e para as indústrias
de transformação, assim como a importância, no comércio ea
rior, dos produtos manufaturados.
a nova divisão Re imperialista do trabalho releio
efato, igualmente às relações metrópoles-formações dominada
Elacorresponde ao “desenvolvimento do subdesenvolvimento”
produz deslocamentos e deformações de novo tipo nas formaçõ
dependentes: acantonamento geral dessas formações em invest

inferior, manutenção da fraca qualificação da força de trabalh


isto é, exploração do trabalho através principalmente da utili
ção indireta de baixos salários, mas também existência de “seto
: TES ” isolados em altas concentrações do capital e prpedadi
do trabalho. Mas ela se refere principalmente à nova demarc
ção entre os Estados Unidos de um lado, e as outras metrópo
nperialistas do outro. Ela tem efeitos importantes sobreas.
dades dos salários entre essas formações, as disparidades
ários entre Estados Unidos e Europa desempenhando aqui
próprio; sobre o nível de qualificação e sobre as dispar
noprocesso qualificação- desqualificação do trabalho no s
formações; sobre as disparidades no leque das hierar
iais nessas formações, sendo o leque muito mais “abert:

nO
as disparidades tecnológicas; sobre as disparidades entre as.
mas de desemprego, o desemprego europeu correspondendo atu
mente, em grande parte, à. prodigiosa “reestruturação” em qu
tão nas economias européias; sobre o papel do trabalho imigra.
do etc.

“A novadivisão do trabalho e o deslocamento da dominant


em direção à exploração intensiva do trabalho exprimem-se assim,
sob formas diferentes de exploração, segundo as duas linhas d
demarcação. Enquanto a exploração das massas populares da:
formações dominadas pelas classes dominantes das metrópole:
se faz principalmente de maneira indireta, isto é, pelo lugar des.
sas formações na corrente imperialista e sua polarização, E secu
dariamente de maneira direta, isto é, pelo capital estrangeir
retamente investido em seu seio, a exploração pelo capital am
cano das massas populares na Europa se faz principalmente
taneira direta, e secundariamente de maneira indireta.
DE HoJE
70 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO

5. As Formas da Dependência Européia


os diversos
Meu objetivo não é aqui, no entanto, analisar
das metrópoles
aspectos desta divisão do trabalho no próprio seio
implicam. Le-
imperialistas, mas ilustrar a dependência que elas
do trabalho, pode-
vando-se em conta precisamente a nova divisão
o não pode ser
se observar que a dominação do capital american
produção que ele
avaliada segundo a percentagem dos meios de
européia, nem tam-
controla formalmente no seio de cada nação
is sob controle
pouco segundo o papel das firmas multinaciona
os do processo
americano. Essas firmas são somente um dos efeit
dominação. Pode-
atual e só refletem muito, parcialmente esta
vos:
mos contentar-nos com alguns exemplos indicati
icanos na Eu-
Primeiramente, os investimentos diretos amer
rso quando se consi-
ropa assumem um sentido inteiramente dive
os ramos, € quando
dera a concentração internacional segundo
cipalmente calca-
é levado em conta o fato de que eles são prin
de controle maciço 2.
dos em certos ramos em que há tendências
el pela importân-
Mas esse controle não é simplesmente mensuráv
s, não se redu-
cia das firmas americanas na Europa nesses ramo
instaurada “no
zindo a nova divisão do trabalho àquela que foi ntos
estabelecime
interior” das firmas multinacionais e de seus
são em geral aqueles
nos diversos países. De fato, esses ramos
e a concentração
em que o processo de socialização do trabalho
e contexto, as-
internacional do capital são mais avançados. Ness
indústrias me-
siste-se frequentemente, como no caso patente das
o dos pro-
cânicas e elétricas principalmente, a uma “padronizaçã
ui aliás suas
dutos de base” no plano mundial, o que não excl
padronização,
variações e diversificações em produtos finais. Esta
ades técnicas,
que está longe de corresponder a simples necessid
nante nes-
é quase sempre imposta pela indústria americana domi
competir nesse
ses ramos. Uma firma “européia” que pretenda
processos de
domínio deve “reestruturar” sua produção e seus
e na interna-
trabalho com vistas a esta padronização e basear-s
te, encontra-se
cionalização do ramo. Mas, muito frequentemen
ndência,
aí a engrenagem de sua inserção no processo de depe
face do
“conduzindo-a a múltiplas formas de subcontratação em
firma
capital americano, mesmo que não seja absorvida por uma
nde ao
americana. Neste mesmo contexto, a dependência se este
icano
fato de que, nesses ramos e setores onde o capital amer
les..., Op.
| ?8 Sobre o que se segue, cf. C. Palloix, Firmes multinationa :
«it, O primeiro capítulo, e as numerosas pesquisas do IREP.
A FASE ATUAL DO IMPERIALISMO 7a

imprime seu trajeto no conjunto do processo de trabalho, o ca-


pital europeu passa pela compra de concessões e licenças cuida-
dosamente triadas pelo capital americano.
Isso assume maior importância se for levado em conta que
a socialização atual dos processos de trabalho e a concentração
do capital não são simplesmente mensuráveis no seio de um mes-
mo ramo, mas se estendem aos diversos ramos industriais, sendo
bem sucedido o capital americano em estabelecer sua dominação
sobre diversos ramos através, indiretamente, de sua dominância
em um só. O caso é patente no domínio da indústria eletrônica.
E. Janco demonstrou ultimamente que o emprego, na escala atual,
de computadores pela indústria européia, domínio no qual a pre-
“eminência do capital americano é conhecida, está longe de cor-
responder a necessidades técnicas: seu emprego se revela de fato
frequentemente supérfluo ou mesmo antieconômico 2%, Esse em-
prego corresponde à direção pelo capital americano de certos
processos de trabalho, que só fazem acentuar tal dominação e
que não se limita apenas ao domínio dos computadores, mas se
estende, por essa via indireta (emprego de software americano
etc.) a certos setores onde esses computadores são maciçamente
empregados.
A divisão internacional imperialista do trabalho remontando
assim, antes de tudo, à divisão e à organização sociais do con-
junto dos processos de trabalho27, vê-se comoa divisão atual em
proveito do capital americano não sé limita a uma divisão “no
seio” das firmas multinacionais americanas. Temos, com efeito,
todas as razões para pensar que, em alguns de seus aspectos, as
novas formas de divisão social que se estendem atualmente a se-
tores e ramos da indústria européia, notadamente a reprodução
sob novas formas da divisão trabalho intelectual-trabalho manual,
as formas de qualificação-desqualificação do trabalho e o lugar |
dos engenheiros e técnicos em relação a uma certa aplicação da
“tecnologia”, as novas formas de “autoridade” e de divisão das
tarefas de decisão e de execução. nas principais empresas euro-
péias (o famoso problema de sua “modernização”), correspon-
dem a um processo objetivo que reforça o domínio do conjunto
dos processos de trabalho pelo capital americano.

26 E. Janco e D. Furjot, Informatique et Capitalisme, 1972.


Br A. Gorz, “Technique, techniciens et lutte de classes”, Les Temps
Modernes, agosto-setembro de 1971; “Le despotisme d'usine
et ses lende-
mains?, Les Temps Modernes, setembro-outubro
de 1972.
.
To AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

suficiente
Enfim, no âmbito da concentração do capital, é
omecânica por
assinalar que, em certos ramos e setores, à eletr
al produtivo se
exemplo, a internacionalização do ciclo do capit
ocapital produ-
exprime pelo processo — e suas formas — que
impõe à
tivo americano (Westinghouse, General Electric etc.)
o de rees-.
concentração do capital produtivo europeu: moviment
a repro-
truturação “interna” do capital europeu de acordo com
a termo:
“dução ampliada do capital americano, o que deve levar
das conside-
de aí incluí-lo. Isso mostra, aliás, o caráter ilusório
acrescida
rações segundo as quais uma concentração “interior”
seria o me-
de um país europeu, ou mesmo de capitais europeus,
precipi-
lhor meio de resistir à penetração americana: essa fuga
capital ame-
tada só faz lançá-los frequentemente nos braços do
ricano.

o da
Não há provavelmente exemplo mais notável do que
um
França: veremos no ensaio seguinte que a França acumulou
rni-
atraso característico na concentração do capital e na “mode
sua ex-
zação” industrial. Isso encontrou, durante certo tempo,
ia
pressão na política gaullista de “nacionalismo”, que correspond
aos interesses de uma burguesia retardatária no processo de in-
ternacionalização: sabe-se que a própria constituição do Mercado
da
Comum encontrara resistências por parte de certas frações
entou,
burguesia francesa. Mas a concentração do capital apres
com
estes últimos anos, uma aceleração perfeitamente correlata
a penetração do capital estrangeiro, principalmente americano *.
Essa correlação tomou a forma seja de uma concentração à ins-
tização direta desse capital, seja de uma concentração que teve
|
|
como efeito a dependência de certos ramos e setores em relação |
]
ao capital americano.
|
Mas há ainda mais, conforme se pode ver nitidamente com
e
o atual 6.º Plano: a) tal plano apresenta-se não só como aquel
também
da concentração acelerada da economia francesa, mas
rial” e da
como aquele precisamente da “reestruturação indust
à política de
“modernização da produção”; b) ele corresponde
CEE) e a uma
“abertura européia” (entrada da Grã-Bretanha na
acional
política de ajuda calcada na expansão financeira intern
e capital já
do grande capital francês: uma parte desse grand
tendo sua in-
adquiriu a envergadura de firmas multinacionais,
ternacionalização sido acelerada desde 1969.
es Y. Morvan, La Concentration de Pindustrie en France, 1972,
DD: 271 sq.
“A FASE ATUAL DO IMPERIALISMO a

É preciso, pois, notar ao mesmo tempo à mudança de polí-


a entre
tica com respeito aos investimentos americanos na Franç
o5ºecoé6.º Planos. Para o 5.º Plano: “Não se pode considerar
es-
- como satisfatória a situação atual na qual os investimentos
trangeiros na França aumentam de ano para ano. É indispensá-
vel que no decorrer dos próximos anos essa evolução seja condu-
zida no sentido de uma limitação de investimentos diretos do
exterior, de maneira a salvaguardar, a longo prazo, Os interesses
fundamentais da economia francesa.” Em contrapartida, para o
6.º Plano, cinco anos mais tarde: “No que se refere aos inves-
timentos diretos dos não-residentes, as previsões elaboradas pelo
Comitê supõem a manutenção, e mesmo o desenvolvimento, de
uma atitude muito aberta dos poderes públicos com respeito aos
. investimentos estrangeiros na França. Nessas condições, os inves-
timentos diretos dos Estados Unidos poderiam duplicar no período
1964-1967, tomado como base de referência, até 1975.”

Os exemplos poderiam ser multiplicados: a dependência


energética da Europa principalmente em relação às firmas pe-
trolíferas americanas. É, aliás, evidente que esses desenvolvimen-
tos só podem aparecer, em toda a sua amplitude, levando-se
igualmente em conta a centralização internacional do capital-di-
nheiro e o papel dos grandes bancos americanos. Mas podemos
resumir, dizendo que, além dos deslocamentos, acobertados pela
manutenção de uma propriedade jurídica européia “autônoma”,
pela relação de propriedade econômica para o capital americano
— “controle minoritário” —, assiste-se com frequência atual-
mente:
a) a um deslocamento, acobertado pela manutenção de
uma propriedade européia “autônoma”, dos, ou de alguns, pode-
res decorrentes da propriedade econômica para o capital ameri-
cano — caso das múltiplas e complexas “subempreitadas”: isso
por vezes pode até encobrir efetivas expropriações de fato que
não são ainda visíveis e cujos efeitos só se farão sentir progressi-
vamente;
b) a um deslocamento, mesmo nos casos de uma proprie-
dade econômica européia “autônoma”, dos, ou de alguns, poderes:
decorrentes da relação de posse — domínio e direção do pro-
cesso de trabalho — para o capital americano: isso, dada a atual
tendência de uma reabsorção do afastamento entre propriedade
econômica e posse, conduz, a longo prazo, a um deslocamento:
da propriedade econômica para o capital americano.
N

74 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

Esse processo só pode ser então apreendido levando-se em


conta o recuo, ou mesmo o estouro, das fronteiras tradicionais
entre firmas e empresas no plano internacional.

Mas essas coordenadas, que se referem à reprodução am-


pliada do imperialismo dominante no próprio seio das outras me-
trópoles imperialistas, não concernem somente às relações de
produção: elas implicam a extensão das condições ideológicas
desta reprodução no interior dessas metrópoles. Para compreen-
der isso, é necessário observar que a ideologia não se refere às
“idéias” — os conjuntos ideológicos articulados — mas se encar-
na concretamente em toda uma série de práticas, de habilidades,
de modos, de rituais igualmente referentes ao domínio econô-
mico ?º,
Essa observação é duplamente importante, pois se refere
igualmente às diferenças entre a dependência ideológica das for-
mações dominadas com respeito às metrópoles, de um lado, €
aquela das metrópoles com respeito aos Estados Unidos, de outro.
No caso das formações dominadas, em razão de sua dependên-
cia original com respeito às metrópoles e da subdeterminação
ideológica de suas próprias burguesias, a extensão das formas
ideológicas das metrópoles em seu próprio seio provoca uma de-
sarticulação profunda do conjunto dos setores ideológicos, que foi
apreendida através de uma imagem falsa de uma “sociedade
dualista”.
No caso da relação das metrópoles imperialistas com os Es-
tados Unidos, esta extensão refere-se principalmente às práticas,
aos rituais e à habilidade articulados sobre a produção. Só devem
ser mencionados os famosos problemas do “know-how” — habi-
lidade (savoir-faire): não se poderia dizer melhor! —, do mana-
gement, das técnicas da “organização”, do conjunto dos rituais
que gravitam em torno da informática: a lista seria longa. Essas
práticas não correspondem de fato a uma racionalidade tecnoló-
gica qualquer. Trata-se frequentemente, em seus efeitos mencio-
nados sobre a divisão social do trabalho, de formas ideológicas
que encobrem a dependência complexa das metrópoles em rela-
ção ao imperialismo dominante.

2º LT. Althusser, “Idéologie et appareils idéologiques d'Etat”, em


La Pensée, junho de 1970.
T. O ESTADO NACIONAL

Podemos agora, depois dessas observações, voltar à questão


do Estado nacional nas metrópoles imperialistas, e ver onde são
errôneas as diversas posições sobre esse assunto, assinaladas no
princípio deste artigo.

1. O Estado e a Questão da Burguesia Nacional

É necessário ainda uma vez denunciar aqui os mitos que


custam a desaparecer, mesmo no âmbito de análises marxistas:
as próprias formulações usuais do problema do tipo “O que pode
— ou não pode — O Estado em face das grandes firmas multi-
nacionais?” “Qual é o grau (ou a forma) de perda desses pode-
res em face das possibilidades dos gigantes internacionais?” (fór-.
mulas do agrado de Servan-Schreiber) etc. são fundamentalmente /
falsas, e tanto isso é verdade que as instituições ou os aparelhos.
não “possuem poder” próprio e só exprimem e cristalizam os po-
deres de classe. A questão então se desloca: ela se torna, em
primeiro lugar, aquela das relações dasburguesias européias €
do capital americano. De que burguesias-se trata exatamente?
Sabemos que se coloca aí a questão da burguesia nacional.

A burguesia nacional distingue-se da burguesia compradora


(que definiremos adiante), não somente no plano econômico:
não podemos delimitar a burguesia nacional sem nos referirmos
aos critérios políticos e ideológicos de sua determinaçãoestru-
tural de classe. A burguesia nacional não pode simplesmente ser
apreendida como um capital “autóctone” radicalmente distinto
do capital imperialista “estrangeiro” e em referência às únicas
76 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

q contradições econômicas que o separam dele. O estádio imperia-


é lista apresenta com efeito, desde seus primórdios,
tendência"a
Ro interpenetração internacional doscapitais
A-distinção-burguesia
nacional é compradora não destaca também, como se considera
a frequentemente, a distinção capital industrial/capital comercial
É Além disso, a burguesia nacional não pode ser simplesmente
apreendida, pela referência dos critérios do mercado, como a bur-
guesia autóctone que age sobre o mercado nacional “interior”:
podemos, ao mesmo tempo, descobrir setores da burguesia indus-
trial e dessa burguesia comercial inteiramente enfeudados no ca-
— pital estrangeiro, como podemos descobrir, como se tem mani-
> festado em certos países da América Latina, burguesias latifun-
* diárias exportadoras de produtos de monocultura (café, por exem-
; plo). que apresentam, no entanto, as características de burgue-
; sias nacionais. Finalmente, e isto é ainda mais significativo, a
distinção burguesia compradora/burguesia nacional não destaca
EK também a distinção capital monopolista (grande capital[
) capital
a não-monopolista (capital médio): podemos encontrar grandes”
* monopólios funcionando como burguesias nacionais, e setores de
capital médio inteiramente eufeudados nocapital estrangeiro.
Essas observações não significam que as contradições econô-
“micas entre capital estrangeiro e capital autóctone não desempe-
nhem um papel determinantena delimitação da burguesia nacio-
«nal, mas que isto não é suficiente. De fato, entende-se por bur-
| guesia nacional a fração autóctonéda burguesia que, a partir
'de certo tipo e grau de contradições com o capital imperialista
Festrangeiro, ocupa, na estrutura ideológica e política, um lugar
| relativamente autônomo, apresentando assim uma unidade pró-
| pria. Esse lugar, referindo-se à determinação estrutural de classe,
| nãosereduz à sua posição de classe, mas tem efeitos sobre ela:
ae

a burguesia nacional é susceptível, em conjunturas determinadas


deluta antiimperialista e de Hberação Nacional, de adotar posi-
ções de classe que a incluem no “povo”, e é então passível de
certotipo de -liança com as massas populares:
Em contrapartida, entende-se tradicionalmente por Sora
E Eaasbase 7qe

”do“capitalpeido estrangeiro— — é porisso


que às vezesassimilamos esta.burguesiaa “burguesiabida
tica” —e queéassim, dotriplo ponto dev
tico e ideológico, inteiramen
sissndpeiss teenfeudada nc
“O Esrano NACIONAL 77

Assim, podemos ver claramente que esses dois conceitos não


permitem analisar as burguesias das metrópoles imperialistas em
face do capital americano, na fase atual do imperialismo. Pren-
der-se neste caso a esta única distinção conduz fatalmente à sua
redução economista e a conclusões falsas:
a) constatam-se contradições de interesses econômicos en-
tre setores da burguesia autóctone e o capital imperialista estran-
geiro, pelo fato, sobretudo, de que esta burguesia autóctone apre-
senta uma camada industrial e bases de acumulação próprias do
capital, ao mesmo tempo no seio e no exterior da formação,
concluindo-se então que se trata de verdadeiras burguesias nacio-
nais (é o caso, veremos, para a corrente Mandel-pc);
b) ao contrário, constata-se que essas burguesias são aque-
las que não podem mais adotar posições de classe que as levem
a fazer parte do povo. Mas conclui-se então, diretamente, que só
se pode tratar de burguesias “compradoras”, no sentido de que
elas só seriamsimples intermediárias entre a economia nacional
e o capital estrangeiro (é o caso. para a corrente do “superimpe-
rialismo”) .

Seria então necessário introduzir um conceito novo que per-


mita analisar a situação concreta ao menos das burguesias das
metrópoles imperialistas em suas relações com o capital ameri-
cano: é o que designo, provisoriamente e na falta de melhor, pelo
termo burguesia interior. Esta burguesia, que coexiste com seto-
es proscomPrIOres, não possui mais, em graus certa-
mente desiguais nas diversas formações imperialistas, as caracte-
rísticas estruturais da burguesia nacional. Em razão da reprodu-
ção do capital americano no próprio seio dessas formações, é ela
por um lado imbricada por múltiplos elos de dependência aos
processos de divisão internacional do trabalho e de concentração
internacional do capital sob a dominação do capital americano:
o que pode até tomar a forma de uma transferência de uma parte
da mais-valia para o lucro desse capital; por outro lado, além
disso, em razão da reprodução induzida das condições políticas e
ideológicas desta dependência, ela é afetada por efeitos de disso-
lução de sua autonomia político-ideológica em face do. capital
americano.
No entanto, por outro lado, não se trata de uma simples
burguesia compradora: ela possui um fundamento econômico &
uma basedeacumulação próprios ao mesmo tempo no interior de
"suaformação social, não afetando a dominaçãodocapitalame-
o as economias das outras metrópoles da mesma:Forma. q
uelas das formações periféricas, e no exterior. Mesmo no níve
lítico-ideológico, ela continua a apresentar especialidades pró
s,prendendo-se tanto à sua situação presente e ao seu pas-
) de capital imperialista “autocentrado”, o que a distingue
Is burguesias das formações periféricas. Mas pela “industriali-
ão periférica”, núcleos de burguesia interior podem igualmen-
aparecer nas formações periféricas: se essas burguesiasnão
onstituem de modo algum as burguesias nacionais das fases pre-
dentes ao imperialismo, elas não se reduzem forçosamente ao.
e G. Frank designa como Lumpen-burguesias. Contradições
portantes existem então entre a burguesia interiorFe0capit
E al
semasranas
! Vá vante a adotar posições
deefetiva autonomia ou independência em face deste capital,
rovocam,entretanto, efeitos sobre os aparelhos de Estado deu
Tc ro nas suas relações com o Estado americano.

É precisamente levando-se em contaformas atuais de aliança


inclusive contradições — entre as burguesias imperialistas e
pital americano, sob sua hegemonia, que se pode colocar a |
o dos dor nacionais. “A internacionalizaçãoatual do
É os
a naciona is, nem no
o de uma. integração pacífica dos diversos capitais *“por
* dos Estados — todo processo de internacionalização ope-
o-se sob o domínio do capital de um país determinado —,
| no sentido de sua extinção sob o super-Estado americano,
o se o capital americano digerisse pura e simplesmente as.
tras burguesias eg Mas esta internacionalização, por
tro lado, afeta ca política e-as formas institu- .
nais desses Eidos pela sua inclusão em um sistema de inter-
nexões, que não se limita de forma alguma a um jogo de pres-
es“exteriores” e “mútuas” entre Estados e capitais justapostos.
ses Estados encarregam-se eles| próprios dosinteressesdocapo
al.imperialista dominante no “seu

ncias institucionais supranacionais e supra-estatais efetivas, o


queseria o caso se se tratasse de uma internacionalização em um
ontexto de Estados justapostos de relações externas (contexto
que teria sido necessário ultrapassar), mas que é, primeiramente,
fundado sobre uma reprodução induzida da forma do poder im-
O Estado NACIONAL 79”

perialista dominante em cada formação nacional e seu próprio-


Estado.
Esses Estados se Oaregarm dos interesses do capital domi--
nante, antes de tudo, de forma direta: apoio ao capital ameri-
cano, com fregiência do mesmo tipo (subvenções públicas, dis--
pensas fiscais etc.) daquele que é concedido ao capital autóctone,
mas, igualmente, apoio necessário ao capital americano em sua.
extensão ulterior, em cadeia, ao exterior desta formação, servin-
do-lhe assim de reserva. Tal apoio pode ir até o ponto de ajudar
o capital americano a circundar o próprio Estado americano (a.
legislação antitruste, por exemplo). A reprodução internacional
do capital sob a dominação do capital americano apóia-se sobre:
os vetores que são os Estados nacionais, tentando cada Estado:
fixar sobre ele um momento deste processo.
Esse apoio ao capital dominante lhe é também dado de for-
maindireta: política industrial de cada Estado com respeito ao:
seu capital autóctone, visando à concentração e à expansão inter-
nacional deste capital.
+

Certamente, contradições importantes existem, em toda uma


série de pontos, entre as burguesias interiores das metrópoles im-
perialistas e o capital americano, contradições assumidas por cada:
Estado nacional quando concede seu apoio, como é mais freqiuen-
temente o caso, à sua burguesia interior (este, aliás, um dos as-
pectos da CEE) q Mas é ainda necessário ir mais além e observar
que esses antagonismos não constituem atualmente a contradição
principal no seio das classes dominantes imperialistas. A forma
atualmente dominante das “contradições interimperialistas” não
é aquela que existe entre o “capital internacional” e o “capital
nacional”, ou entre as burguesias imperialistas apreendidas como:
entidades justapostas.
Com efeito, a dependência do capital autóctone em relação
ao capital americano atravessa as diversas frações do capitalau-
“tóctone: donde, precisamente, sua desarticulação interna, consti-
“tuindo as contradições entre capitalamericano e burguesias inte-
rioresfrequentemente a forma complexa da reprodução, no seio
“das burguesias interiores, das contradições próprias ao capitalame-
“Ticano. Por outro lado, as contradições do capital autóctone são,

1 Uma das formas deste apoio do Estado nacional à sua burgues


ia
interior
"consiste atualmente no setor nacionalizado. Mas seria falsoa
cre-
ditar -que este setor funcione como capital nacional efetiv
o:—de-—fato
ele
e parte tomada do processo e internacionalização.
80 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

por mediações complexas, extrapoladas em função do capital ame-


ricano, estando a burguesia interior atualmente composta de ele-
mentos heterogêneos e conjunturais. A distinção burguesia inte-
rior/burguesia compradora não abrange, menos ainda hoje em
dia do que no passado, no caso da burguesia nacional, nem a dis-
tinção entre grande capital monopolista e capital não-monopolista,
nem aquela entre capital produtivo (industrial) e capital bancá-
rio, nem enfim aquela entre uma burguesia limitada ao “merca-
do interior” (podendo setores desta burguesia ser inteiramente
enfeudados no capital americano e constituir sua ponta de lança
neste mercado) e uma burguesia de estratégia expansionista
internacional (setores desta, e até mesmo “firmas multinacionais”
com predomínio francês — Renault, Michelin etc. —, holandês,
mesmo britânico, podendo elas mesmas apresentar uma autono-
mia característica, em relação ao, e contradições importantes com,
o capital americano): ela as atravessa numa direção quedepende
| da conjuntura, como provamasperipécias. dapolítica “gaullista”.
; oconceito de “burguesia interior remonta ao processo de interna-
“auma burguesia “fechada” em um espaço

O Estado nacional intervém assim, em seu papel de organi-


E zação da hegemonia, em um campo interior já atravessado pelas
: contradições interimperialistas e onde as. contradições
frações dominantes noseio de sua ormação socialjá estã
nacionalizadas. A intervenção do Estado em favor de certos gran-
des monopólios autóctones contra outros, em favor de grandes
monopólios ou setores do capital médio autóctone contra outros,
em favor enfim de certas frações do capital europeu contra outros,
só são frequentemente intervenções indiretas em favor de certas
frações ou setores do capital americano centra outros deste mes-
mo capital, de que dependem as diversas frações e setores do
; capital autóctone e do capital europeu. A contradição principal
nas burguesias imperialistas se passa então, conjuntura, -
seio
nodas -do-capital
imperialista
contradições dominante e da
internacionalização que ele impõe, ouainda no próprio seio da
burguesia inferior e de suas lutas internas, deslocando-se porém,
raramente, entre a burguesia interior como.tale ocapital
o ame-
ano
É esta desarticulação e heterogeneidade da Dnróuasa interior
que explica a fraca resistência, com seus diversos desníveis, dos
Estados europeus em face do capital americano. Os novos meios
reais de pressão das firmas multinacionais americanas sobre os
O EsraDo NACIONAL 81

Estados europeus — evasões fiscais, especulação sobre as moedas,


os
afastamento dos obstáculos aduaneiros — somente são element
e
secundários do negócio, ao contrário do que sustenta a corrent
ideológica dominante, que coloca o problema “Estado nacional
versus firmas multinacionais”.
É a partir dessas análises que pode. ser colocado o pro-
blema da configuração atual declasse do bloco no poder, aliança
f
específica das classes e frações de classe politicamente dominan-
tes, nas metrópoles imperialistas. De um.lado,esteblocono poder
não pode quase ser apreendido doravante sobre um plano pura-
egam não sim-
nacional: os Estados imperialistas se encarr igual-
mas
plesmente dos interesses de suas burguesias interiores,
é daqueles
mente dos interesses do capital imperialista dominante
ação no seio do
dos outros capitais imperialistas, em sua articul
, E a
processo de internacionalização. Por outro lado, no entanto
capitais “estrangeiros” não fazem diretamente parte, como tais,,
de cada bloco.
isto é, como forças sociais relativamente autônomas,
, a! e
no poder em questão: a burguesia americana e suas frações A
presentes
burguesia alemã e suas frações, não estão diretamente
o (e vice-
como tais no bloco no poder na França, por exempl
no seio
versa), mesmo que elas ajam pelos diferentes desvios
no-bloco no
dos aparelhos de Estado na França. Sua “presença”
da burguesia
poder na França é assegurada por certas frações
afeta estas, e,
francesa e pelo estado de internacionalização que
seio da
enfim, pela sua interiorização e representação no próprio
capital impe-
burguesia francesa e pela reprodução induzida do
É o que explica
rialista dominante nas metrópoles imperialistas.
hegemonia nesses
toda uma série de defasagens sobre o plano da
no poder nes-
bloces no poder: as frações hegemônicas dos blocos
aquelas que
sas metrópoles imperialistas não são necessariamente
que isso queira
têm mais vínculos com o capital americano, sem
presente nesses
dizer, no entanto, nestes casos, que este não esteja
blocos no poder.

Podemos levar em conta então a distância que nos separa,


e das
ao mesmo tempo, das concepções do “superimperialismo”,
to
concepções da corrente de Mandel e dos pc ocidentais. Quan
que
aos dois componentes desta última corrente, podemos dizer
uma
eles aceitam, todos dois, a existência, nos países europeus, de
forma:
burguesia nacional, porém não a delimitam da mesma
para cada um, é óbvio, sua burguesia nacional!
Para Mandel, essa burguesia nacional é produto dosgran
' monopólios “europeus” ao contrário do que se passa com
édio capital europeu: “Hoje não se ultrapassou ainda nas ações
estádio do grande capital “nacional”... O desejo de fazer frente
oncorrência americana que se afirma não somente em um “ca--
pitalismo de Estado autônomo”, mas que exprime também o dese-
jo fundamental das maiores sociedades européias, age no mesmo.
ntido que a consolidação da CEE e que o reforço dos órgãos
supranacionais em seu seio... As sociedades menos sólidas, sobre- |
do nos ramosda mais fraca expansão, assim como as empresas.
miliares que não chegam a ultrapassar as dimensões médias, vão .
ferir com fregiência a solução mais fácil, que consiste em se
deixar comprar ou absorver pelas grandes sociedades americanas.
Emcontrapartida, as empresas européias mais ricas e mais diná- .
micas escolherão, em sua maioria, o caminho da cooperação euro-.
a e da interpenetração européia dos capitais +." +
“Tudo está dito: não é surpreendente que, depois destas afir-
des desmentidas pelos fatos, Mandel reúna toda a propaganda
uesa atual sobre a “Europa unida”. O que não o impede,
de constatar duas páginas adiante aquilo que denomina um
adoxo”: “Emvirtude da falta de coordenação — sic! — dos.
istas europeus, são paradoxalmente as sociedades america-
que tiram as maiores vantagensda cEE.” Mas notemos, para
osjustos, que Mandel não está só no seu caso. Não vimos,
a recentemente, dois jovens “futurólogos” franceses? que
istentavam — porém com reservas — adofim Intineimrável
iminente da hegemonia americana emfacedo de
recorrerem,
”, para explicar o mesmo “paradoxo”,aos seguin-
es Taios: “Os obstáculos linguísti (entreburguesiaseuropéias)
ão reais. Mas os mais importantes são os de ordem institucional:
ão existe ainda estatuto jurídico para as empresas européias. .
sic!)! ;
De fato, se aplicarmos no plano europeu as análises feitas
acima, veremos que não se trata absolutamente de um “paradoxo”
devido a incompetências técnicas, insuficiências jurídicas ou in-
compatibilidades de humor. Se as burguesias européias não ÉCo-
eram”e.não.ses“coordenam” “em face do capital americano, é

2 Mandel, op. cit., pp. 66 e 69.


SA. Faire e J.-P. Sebord, Le Nouvequ Retuanre mondial, 197318
O Estado NacIONAL 83
À

burguesias entre si são relações descentralizadas, isto é, elaspas- |


sam pela distorção da interiorização do capital americano. em”|

rega dos interesses das outras burguesias européias, bem como


de sua concorrência com sua burguesia interior, assumindo assim
seu estado de dependência em relação ao capital americano.
— Em contrapartida, as análises dos PC europeus, e princi-
palmente aquelas do pcr e de seus pesquisadores, insistem (elas
têm este mérito importante) na interpenetração dos grandes mono-
pólios e na dominação do capital americano. Como diz Ph. Her-
zog: “Essas observações demonstram que nósnos precavemos bem
ao caracterizar a nova etapa como uma luta do capital “nacional?
«contra o capital trans ou multinacional... Atualmente os grandes
monopólios nacionais têm interesses comuns com os capitais es-
trangeiros, e a “resistência? — bem como a “concorrência” — per-
de seu caráter “nacional. São grupos de interesses parcialmente
' ligados, ou em vias de se tornar cosmopolitas, que se defron-
tam +.” Mas, de fato, o problema está mais longe: o PC temreal-
mente sua burguesia nacional, é o capital não-monopolista ou |
«capital médio. Não é aqui o lugar de entrar em detalhes, mas |
isso aparece nitidamente nas análises do Pc, que consideram ser
"a única fração dominante atual aquela dos grandes monopólios,
globalmente “cosmopolitas”, à exclusão do médio capital, que é
incluído no “pequeno capital” nacional (ver a pequena-burguesia),.
médio capital em que se procura a aliança — “democratas e pa-
triotas sinceros” — para a instauração de uma “democracia avan-
cada” que enfrentaria o capital americano º. O que, entre outros,
ignora os efeitos da socialização do processo de trabalho e da
concentração sobre a dependência atual do médio capital em
relação ao grande,

2. O Estado e a Nação

|
/ “Se o Estado atual das metrópoles imperialistas se modifica
| conservando sua ional,é igualmente
| Estado simples ferramenta ou
aofato deÉ que
| devido
o j N :
|instrumento, manipulável à vontade, dasclassesdominantes,pro-
|vocandoautomaticamente toda etapa deinternacionalizaçãodo|
4 Artigo citado, p. 148.
5 Posição que se destaca do conjunto das análises do Traité já ci-
tado: ver o ensaio seguinte.
84 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE.

que |||
| capital uma “supranacionalização” dos Estados. O Estado,
| mantém a unidade é a coesão de uma formação social dividida |
'em classes, concentra e resume as contradições de classe do con-
junto da formação social, consagrando e legitimando os interesses
das classes e frações dominantes em face das outras classes desta
formação, ao tempo em que assume contradições mundiais de
classes. O problema que nos ocupa não se reduz então também
a uma contradição simples, de aspecto mecanista, entre a base
(internacionalização da produção) e um rótulo superestrutural (o
Estado nacional) que não lhe “corresponderia” mais. As transfor-
mações superestruturais dependem das formas assumidas pela luta:
de classe em uma corrente imperialista marcada pelo desenvol-
vimento de seus elos.
Acabamos de ver, primeiramente, que a internacionalização
do capital não dá lugar a uma efetiva “fusão transnacional” dos
capitais. Mas isto é somente umdos aspectos do problema. O que
se passa do lado das classes operárias, dos países europeus? De
fato, mesmo quando as lutas das massas populares se desenvol-
vem mais do que nunca sobre uma base mundial determinando
as conjunturas concretas, e mesmo quando a instauração de re-
lações de produção mundiais e a socialização do trabalho refor-.
«cam objetivamente a solidariedade internacional dos trabalhado-
erpeemreen

res, é a/forma) nacional queprevalece em sua luta, esta sendo, em


suaçessências internacional. Isso se prende, de um lado, aodesen-
volvimento desigualeàsespecificidades concretas de cada. forma-!
ção social, e há então traços da própria natureza do capitalismo,
ao encontró do que sustentam as diversas ideologias da “mundia-
lização”; mas, nas particularidades que estas formas assumem
“atualmente, isso se prende às organizações — partidos, sindicatos
— que têm a preponderância nas classes operárias européias.
Finalmente, é necessário também levar muito em considera-
ção, de um lado, a pequena-burguesia — pequena-burguesia que
se reproduz atualmentesob novasformas — e as classes docam-
“pesinato, cujos Estados procuram O apoio indispensável e cuja:
situação de classe tem como efeito um nacionalismotodoparti-
| cular; por outro lado, categorias sociais dosaparelhos deEstado
| (burocracias administrativas,integrantes de partidos políticosetc.)
| para as quais o Estado permanece uma fontede privilégios.
Chegamos então ao problema da permanência da nação pelos
efeitos que ela produz sobre as “formas nacionais” das lutas de
O Estado NACIONAL 85

,
classe. Acontece que o problema da relação entre Estado e nação
resolvido.
colocado pelo Estado nacional, não está, no entanto,
à existência
Com efeito, se a nação está constitutivamente ligada
, o
do capitalismo, sem deixar de lado o seu estádio imperialista
; ele
marxismo-leninismo não confundiujamais Estado e Nação
do “Esta-
somente sustentou, neste sentido, a tese da emergência
do nacional” e da “formação social nacional” sob o capitalismo.
O problemaé então reapresentado sob um outroângulo:ainter=
nacionalização atual da produção e as relações de produção mun-:
diais, se não eliminam certamente a entidade nacional, não modi--
ficam o espaço da formação social, o que quer dizer, a configura-
ção dos locais do processo de reprodução, ao ponto de fazer ex-
m os vínculos, A
plodir a formação social nacional e romper assi
Em outras palavras,|
entre Estado e nação (Estado supranacionaO l)? aço
; sr
os:|
os locaisondesedesenvolvem a reprodução ampliada do MPC€
núcleosdodesenvolvimento desigual são aindaas formações sociais.|
nacionais? Questão que remonta diretamente ao problemadas
condições políticas e ideológicas da reprodução no campo da luta:
das classes.
De fato, os vínculos entre Estado e nação não estão rompi- |
| dos, e os locais essenciais da reprodução e do desenvolvimento |
| desigual continuam a ser aindaformaçõesnacionais, na. |
| medida em que nem a nação nem arelaçãoEstadoenação se:

Eaa
| reduzemàsimplesvínculoseconômicos. A nação, em todaa
| complexidadede sua determinação —unidade econômica, terri-
| torial, lingiística, simbólico-ideológica ligada à “tradição” —, con-.
serva sua entidade própria quanto às “formas nacionais” da luta
das classes,permanecendoarelação Estado e nação,por esse
meandro,mantida. As modificações atuais .só afetam, pelo menos
nas metrópoles imperialistas, certos elementos desta determina--
ção (e isto de forma desigual): elas se cristalizam então como
“modificações de um Estado que continua sendo, em seu núcleo: /
rígido, onacional. Mas essas modificações permanecem, |.
contudo, consideráveis,elas colocam em causa a conceptuali-|
zação jurídica da soberania nacional: papel que assumo cada Es-|
| tado na repressão da luta s no plano internacional (OTAN
de cada
etc.); extraterritorialidade das funções e das intervenções
se de-
Estado, estendendo-se estas nas formações exteriores onde
senvolve seu capital autóctone; modificações dos próprios siste-
mas jurídicos internos de cada Estado de maneira a cobrir a in-
ternacionalização de suas intervenções; modificações político-ideo-
as daqueles aparelhos de Estado baseados por
tura do Estado nacional, principalmen
. excelência
te o Exército $ etc.
Sendo assim, certas distorções manifesta
m-se atu
almente no
caso das metrópoles imperialistas de que
nos ocupamos, entre o
Estado e a nação, mas não no sen
tido geralmente entendido
mo supranacionalização do Estado. Não
seemergência
de umra nov o Estado acima das nações, mas ant
re es às rupturas da
dadenacionalsubtendendoosEs
tadosnacionaise: istente e E

o fenômeno atual — de grande imp


ortância — do re ionalismo,
ue se exprime pelas ressurgência
s de nacionalidades (Bretanha
ís Basco, Oci tânia etc.), o que demonstra que
a internaciona-.

os capitais europeus co
pita! i ;
eà reprodução ampliada do cap
ital internacional sob a domina-
“do capital americano no própri
o seio dos países europeus,
- dependência: o que suscita um
a tendência
erna das formaçõe sociais européias e de
economias (acentuação dos “pó
los de desenvolvimento”) po-
do chegar até a fenômenos reais de colonizaç
i ão interior sob
mento ordenado do território 7.
Oque cria raízes i ã
1capitalista. No

id Internacionalização e o Pap
el Econômico do Estado
A internacionalização atual do
capital e a emergência de.
igantes multinacionais” nas sua
s relações com o Estado não
dem então se colocar em-termos de duas ent
o “poder” que o redistribuem idades “possuidoras”
a si próprias: sustentar princi
nente gue, quanto mais o “poder econômico pal-
entra, mais ele tira poder ” aumenta e se con-
ao Estadoé desconhecer não somente
ue o Estado nãopossui pod
er próprio, mas tambémque
-ete-ir- :
é Alain Joxe, “La crise gén
érale de la stratégie”, em
.º 9, setembro de 1973, Frontiêres, .
pp. 71 sq.
7 M. Rocard e outros, Le no
Marché commun contre PEu
em torno desse rope, 1972
livro em Critique socialiste,
outubro-novem:
“Negaema

capitalistamonopolista.
Esse domínio do Estado
corresponde ao crescimento
derável de suas funç consiz
ões econômicas, absolutamente
à reprodução ampliada do gran indispensável
de capital. Mas isto só responde
uma parte do problema, e não a
explica, principalmente, por que
suas intervenções econômicas
continuam a ter como portador
essencialmente os Estados nacionais. Não es
essas intervenções econômicas, per
se poderia admitir que
man ecendo essenciais, troquem
de portador e que o Estado naci
onal Seja atualmente desprovido
de uma larga parte dessas interven
ções em favor de instituições
supra-estatais ou de um embrião de
Estado supranacional?
Não há dúvida que formas de “coo
rdenação” das políticas
econômicas dos diversos Estados
se revelam atualmente necessá- |
rias (diversas instituições internaciona
is, cEE). Mas essas formas
institucionais não constituem, de fato
, aparelhos que suplantam
os Estados nacionais ou a eles se superpõem. E
isso por
uma razão
suplementar àquelas que já assinalamos:
essas intervenções econô-
micas do Estado não são, como deixaria
crer uma tradição soli-
damente estabelecida, funções técnicas
e neutras, impostas pelas
necessidades de uma “produção” consider
ada ela própria de ma-
neira neutra. Essas funções econômicas
do Estado são de fato ex-
pressões de seu papel político total na
exploração e dominação
de classe: elas se articulam constitutivamente
ao seu papelrepres-
sivo e ideológicono-campoda Tuta declasse de
social, o que nos traz de volta prec uma formação
isamente às observações pre-
cedentes.Não podemos separar as dive
rsas intervenções, e seus
aspectos, do Estado, visando à possibilidade de uma
efetiva das “funções econômicas” aos transferência
aparelhos supranacionais ou
supra-estatais, o Estado nacional só man
tendo um papel repressi-
vo ou ideológico: quando muito, trata
-se, por vezes, de delegação
no exercício destas funções.
De fato, olhando nessa direção, perdem
os de vista as tendên-
ciasreais: q saber, as transform
ações interiorizadas do próprio
Estado nacional em vista de se encarr
egarda internacionalização
das funçõespúbli cas com respeito aocapital.
linha de defesa de seu “próprio” Estadonac Atinge-se assim uma
tituições cosmopolitas”. De fato,
ional contra as-“ins-
essas formas institucionais in-
ternacionais não se “superpõem” tam
bém (expressão querida do
PcF) 8 a esses Estados nacionais, mas
são precisamente a expressão
mi
8 Delilez, artigo citado, p.
69.
e suas transformações interiorizadas. Essas transformações nã
e referem somente às intervenções econômicas do Estado nacio-.
nal, mas igualmente aos aspectos repressivo e ideológico pelos. |
quais essas intervenções se realizam. :

Aliás, esta concepção das “funções econômicas” neutras e


técnicas do Estado atual é aquela dos pc ocidentais, e principal- |
mente do pcr (o “Estado fator orgânico da produção”, o “Esta-
o fazendo parte da base”) ? na teorização do “Capitalismo mo-
opolista de Estado”. Supõe-se que essas funções em si neutras
ejam “destorcidas”, atualmente, em proveito dos únicos grandes
“monopólios e poderiam ser utilizadas, por uma simples mudança do
poder de Estado e sem que seja quebrada a máquina de Estado
em proveito das massas populares. Essas análises, diríamos, deve-
lam ter conduzido o pcr a adotar a concepção do Estado supra-
acional no contexto de uma internacionalização da produção: se
tal não for (pelo menos ainda) o caso, é porque se situam numa
ncepção da corrente imperialista como justaposição e adição
e cME nacionais. Insiste-se, assim, sobre o fato de que o “capital
nacional” se insere em cada formação social nacional, “jun- |
-se edobrando-se às especificidades de seu cME, quando em
ade éa própria estrutura de cada formação socialque é.
ganizada em relação à internacionalização do capital. Consi-
se que as funções do próprio Estado nacional com respeito |
internacionalização do capital, na versão do Pcr, não transfor- |
am e modificam profundamente esse Estado, mas simplesmente
e sobrepõem àssuas funções “nacionais”: segue-se então que po-
eriam, por uma defesa do Estado nacional apoiada na “burgue-
| nacional — médio capital” contra o capital “cosmopolita”, ser
tilizadas para uma efetiva *cooperação internacional” ida
pelas necessidades da “produção”, sem quebrar o aparelho do
stado.
E

Voltando ao nosso problema, o capital.queultrapassa-seus N


limites nacionais tem realmente recursosnos Estados nacionais,
Pane

não somenteno seu próprioEstado«de «origem, m tambémnos La


outros Estados. Issoproduzuma distribuição complexa do papel |
do Estados na: reprodução internacional do capital sob a domi-
“nação do capital americano, podendo ter como efeitos descentra- ,

º Em particular, Herzog, seu livro citado folic économique,


“pp. SS, 65,139 sq. Mer o próximo ensaio.
O EstaDO NACIONAL 89

lizações e deslocamentos no exercício dessas funções entre seus


portadores, estes continuando a ser, no essencial, os Estados na-
cionais. Se juntura, pode acontecer que incumba a
este ou àquele Estadonacional das metrópolesa tarefa de:uma ou
mm
outra. intervenção de alcance internacional, concernentes a esta=
reprodução, Ea“manutençãodosistemanoseuconjunto..

4. O Estado na Reprodução Internacional das Classes Sociais

As diversas funções do Estado que foram objeto de estudo


até agora concentram-se todas na reprodução ampliada do Mec:
o momento determinante desta reprodução refere-se à reprodução
ampliada das classes sociais e relações sociais. Mas o Estado tem
aqui um papel próprio e específico, intervindo, por um lado, na
reprodução dos lugares das classes sociais e, por outro lado, na
“qualificação-sujeição” dos agentes, de tal forma que possam
ocupar esses lugares, bem como na distribuição dos agentes entre
esses lugares.
Se, portanto, é ao Estado nacional que atualmente sempre
retorna esse papel, se esse papel depende ainda da especificidade
da formação social e de suas lutas de classe, isso não significa
que esteja atualmente colocado cada vez mais sob o signo da
divisão social imperialista do trabalho, e de uma reprodução ca-
pitalista das classes sociais no plano mundial. O papel dos Esta-
dos nacionais europeus, no que tange a aparelho escolar, forma-
ção permanente etc., consiste, entre outros aspectos, em reprodu-
zir as novas formas de divisão do trabalho instauradas entre os
Estados Unidos e a Europa. As formas, por exemplo, derepro-
dução ampliada da classe operária, de sua qualificação e de sua
composição (trabalhadores braçais, os etc.), as formas e os
ritmos de reprodução da nova pequena-burguesia (técnicos, en-
genheiros etc.), do êxodo rural ou do trabalho imigrado na Eu-
ropa, e o papel dos Estados nacionais europeus nesse sentido de-
pendem estritamente desta divisão do trabalho Estados Unidos/
Europa: afastamentos tecnológicos; afastamentos de níveis e hie-
rarquias de salários; formas enfim de socialização do trabalho na
produção integrada, o aspecto de desqualificação do trabalho, que
acompanha atualmente seu aspecto de alta qualificação, tendendo
a localizar-se no exterior dos Estados Unidos, restringindo-se por
outro lado a Europa a formas relativamente inferiores de tec-
nologia. E
o ando Teaada“inchação do terciário” nos Esddo
dos, e sobre o qual muito se escreveu: é evidente que os rit
s e as formas“desse desenvolvimento, de fato bem diferentes
EstadosUnidos e na Europa, são devidos ao lugar que os
tados Unidos detêm atualmente como centro administrativo
ndial,e não a um simples “atraso” da Europa num caminho
americano — que ela recuperaria inelutavelmente. Isso quer
er que, por um exame das classes sociais e dos aparelhos de
ado nos países imperialistas, não poderíamos limitar-nos ao
dosEstados Unidose tratar esta formação da mesma forma.
plar gue Marx ofazia, em seu tempo, para a Grã-Bretanha:
[ rópoles imperialistas, e principalmente a Europa, :
em umcampoe um ne específicos.
4
, ume aspecto. As modificações do papel dos Es.
nacionais europeus como objetivo de ocupar-se da repro
internacional do capital sob a dominaçãodo capital am
ano, e das condições políticas e ideológicas dessa reprodução
ocam Cen“institucionais d isivas des

* (autoritário-policial) H cujo esta


ento assistimos,Rad ou pouco, por todaa Europa e por.
ado, a acumulação das condições de p
ascistização, são a expressão ao mesmo tempodaluta de classes
ssas formações e de seu lugar na nova. estrutura de dependência.
HI. CONCLUSÃO:
A ETAPA ATUAL E SUAS PERSPECTIVAS

Algumas observações finais são necessárias 1:

Il. A primeira observação refere-se às etapas da fase atual


do imperialismo, e mais particularmente à sua etapa presente. É
necessário, antes de tudo, voltar ao estabelecimento Aistórico dessa
hegemonia americana, e às formas por ela assumidas. Datando do
fim da Segunda Guerra Mundial, ela adotou as características
concretas do período. Segue-se, então, que a hegemonia america-
na, instaurada em um período de destruição das economias euro-
péias, apresentou certos traços particulares em via de eliminação
(por exemplo, o papel do dólar). Depois, e progressivamente, as
economias européias foram “reconstruídas” e adquiriram um po-
der que não tinham antes. Nesse contexto, é evidente que a hege-
monia americana está atualmente em “decadência” em relação
às formas excepcionais que assumiram durante a etapa anterior
.
Por outro lado, fatores de ordem política se revestem aqui
de uma importância decisiva, na medida precisamente em que
o
papel do político é inteiramente particular sob o imperialismo.
O
pungente fracasso dos Estados Unidos no Vietnã, a emergê
ncia
das lutas de liberação nacional nas formações dominadas,
contri-
buíram grandemente para a retração atual de certas
formas da
hegemonia americana.

1 O presente ensaio, inclusive a conclusão


que se segue, apareceu
de fato no Les Temps Modernes, em
fevereiro de 1973, isto é, ainda em
plena “crise do dólar” e antes da “cris
e do petróleo”. Os acontecimentos
posteriores confirmaram plenamente
as análises.
do ainda nos fundamentos dessa hegemonia
na Europa.
“De fato, a retração atual dessa hegemo
nia só existe, nes se
plano, em relação à etapa excepcional
da destruição relativa, com
us efeitos, das economias européias. Mas tais
etapas devem ser
ecisamente consideradas na periodização da fase
atual, e de seus.
aços principais. Em outras palavras:
essa retração deve ser sem-
Dre apreendida nocontexto de uma fase
de hegemonia americana.
pode ser absolutamente apreendida como
reveladora de uma
tendência uniforme que, observada de
forma “exponencial: ver
diversos ensaios “futurológicos” atuais —
significaria, desde já,
imples da hegemonia americana, ou seja,
seu fim

sob esse ponto de vista, mais do que se Pas

consolidar: melhor
do, ela acompanhou a reconstrução das
economias européias.
e já é, certamente, um fator de reativação
das contradições
mperialistas, contradições estas que pareciam
relativamente
mas” anteriormente. Mas essa rea

ções interimperialistas e com uma


das metrópoles imperialistas sob essa hegemoni
a, dei-

* Seria necessário, enfim, situar esse


s traços no conjunto do
ntexto mundial; assinalarei soment
e um elemento de impor-
ncia considerável: os prodigiosos acordo
s econômicos recente-
mente concluídos entre os E.U.A. e
a URSS.s., indício desse for. .
ConcLUSÃO: A ETAPA ATUAL E SUAS PERSPECTIVAS
93

talecimento da hegemonia americana em relação à Europa, que,


durante muito tempo, deteve o monopólio das trocas econô
micas
com o Leste.

Não vou deter-me muito na refutação das diver


sas análises
“futurológicas” atuais referentes à “força” ou à “fra
queza” relativa
das “economias” americana e européias, análises
que colocam a |
questão das contradições interimperialistas em term
os de “compe-
titividade” e de: “concorrência” das “economias
nacionais”. Elas
só retêm, em geral, “critérios econômicos”
que, considerados em
si,não significam grande coisa (taxa de crescime
nto, ritmos de
acréscim o dos PNB etc.) e os extrapolam de maneira
perfeitamente
arbitrária, precisamente na medida em
que elas ignoram a luta
das classes. Chego assim à questão da crise
atual do
o que está atualmente em crise/não é diretamente imperialismo:
amreri a hegemonia
à emergência do “podereconôi ico” das outr
a
-metrópoles, emergência quease igiriaautomaticamenteem
A

tra-imperial “con-|
ismos equivalentes” —A “Europa-Terceira força”
—,
mas o conjunto do imperialismo sob oefeito das lutas
mundiais que desd de classes |
ejáatingiram a própria zonadas m ,
| Na fase atual de internacionalização das relações
capitalistas, essa
crise não coloca nem automaticamente nem inel
utavelmente em
causa a própria hegemonia do imperialismo
americano-sobre-as
-Outras metrópoles, mas-atinge-o conjunto-dos
-países-imperialistas,
e manifesta-seassim aomesmo-tempo à sua
frente e na acen tua-
ção das contradições interimperialistas. Em
outros termos, não é
a hegemonia do imperialismo americano que está
em crise, mas
o conjunto do imperialismo sob essa hegemonia.
Segue-se que não podéria haver solução em face
dessa Crise.
e as burguesias européias se dão conta perfeita
mente, através da
via indireta de uma recolocação, por seu lado,
da hegemonia do
capital americano. A questão para elas, em
face da emergência
da luta das massas populares na própria Euro
pa, é simplesmente
remanejar essa hegemonia que elas reconhec
em, tendo em conta
a reativação e a acentuação das contradições
interimperialistas:
sobre o que se transplanta, naturalmente,
a questão da divisão do
bolo. As peripéciasdaCEEO demonstraram, aind
a ultimamente,
de forma perfeita. Assiste-se há dois anos
, especialmente com a
crise do dólar, a um processo que, todos
os observadores são unâ-
nimes, bem Parece uma série de recuos suce
ssivos da cEE diante
das “exigências” americanas; é inútil
expô-las minuciosamente (po-
lítica monetária, atitudes em face da “cris
e do petróleo” etc.).
:

para trás, por parte da CEE, não significa nada mais


Eco 2

do que
ejamentos trazidos a essa hegemonia no contexto
atual de
ensificação dascontradições interimperialistas. Irei mes
mo mais
ustentando que o que ocorre atualmente, longe de signi
ficar
tentativa do capital americano em “restabelecer”
sua hege-
a, significa umaofensiva por ele feita para recolocar
em.
ão o próprio lugar de imperialismo secundário que a
Euro
para comêxito sob sua hegemonia.
so leva-nos diretamentea uma outra constatação: o próprio
que essa crise seguirá, pois há crises que duram muito, .
da luta das massas populares. No interior dessa luta,
imperialismo e na: presente conjuntura, aquela
jassas populares na Europa contra suas próprias burgue
riores e contra seus próprios Estados tem um pape
iental. Ra nl Cu
nse ale as burguesias européias, só P de
lisadas no contexto da internacionalização das rela
da
fase-a
odecorrer tual-d smo. Ele não
imperialio
dessas metrópole
s burguesias interiores
fequeas s, mesmose
extrapoladas em relação ao capital americano, apresentem,
uas relações com o Estado, um campo próprio de contradi
internas. É a esse aspecto que vamos dedicar-nos agora, O
permitirá esclarecer e aprofundar uma série de questões sim
" mente colocadas no capítulo precedente. Tais questões serãoa
“examinadassob o aspecto da faseatual docapitalismo monopo:
ta, que não é outra coisa senãoafase “atual do imperialism
“próprioseio de cada formação socialedeseu. campoàconis
içõesespecíficas.
Esses dois aspectos da questão, a saber, as ESCADA das b
guesias interiores e do capitalamericano, de um lado, e as con
tradições próprias às burguesias interiores, do outro, levam «
“conta somente a realidade de uma formação social em sua
“jugação e articulação concreta. No entanto, a exposição rela
mente distinta desses dois aspectos é legítima: as característi
fundamentais da fase atual do imperialismo não são a simp
transposição, no plano da internacionalização das relações ca
talistas, das características próprias da fase atual do capitalis
monopolista em cada metrópole imperialista, nem a simples ra
“dução dessa internacionalização. : ;

ET

No estádio do “capitalismo competitivo”, o ciclo de rep:


o ampliada do. capital social compreendia a diferenc
ução capitalistas nesse estádio. :
O que importa assinalar, no momento, são as contradições e
s lutas entre essas diversas frações da burguesia nas formações.
pitalistas marcadas pelo domínio, no seu seio, do estádio com-

dução nas formações sociais capitalistas, o que se manif


esta pelo:
fato de que os efeitos de conservaçãoainda predominam sobre
os.
itos de dissolução que o MPC impõe a esses modos e
formas.
es grandes proprietários de terras podem ser classificados,
em
eral, sob duasformas: a) seja comoclasse distinta da
burguesia,
ndendo do modo de produçãofeudal coexistente nessas for-
s (caso clássico da Prússia oriental e da Itália meridional);
Ja quando os efeitos de dissolução estão, pelo processo de in- .
ção do capitalismo na agricultura, bastante avançados como:
'ão distinta da burguesia (caso inglês) 1.

“Primeiramente, isso tem consegiiências no plano da domina-.


O econômica de classe.:É verdade que a partir do domíniodo
MPC sobre os outros modos e formas de produção em uma
forma-
o capitalista, éo “Ciclodocapitalprodutivo-industrial,aquele
gu produza mais-valia e em cujo seio se estabelece
m asrelações
produção, que determina o traçado doconjunto da reprodução:
o capital rmação:é o próprio sentido dos esquemas de
eprodução de MarxnoCapital. Mas isso não impede quelugar
inaçã ômica possa ser, segundo as
, ocupado, & frequentemente de maneira alternante,por

1 Certo número de pessoas e eu chamamos a atenção (Cahiers mar-.


“Xistes-léninistes, 1967: Pouvoir politique et Classes sociales,
1968, pp. iss
250) para o fato de que os grandes proprietários de terras,
os quais E
Marx assinalou abusivamente no último capítulo do Capital como uma
lasse autônoma e distinta que releva do Mpc, na realidade a
ela não .
rguesia a própri burgues
trial, a burguesia comer. ial ou a burguesia bancária. É dessa
minação quedependerão o caminhoconcreto, marcha eo ritn
“que rá o desenvolvimento do capitalismo nessa formação
Quanto ao terreno da dominação política, este encontra
igualmente ocupado não por uma só classe ou fração de cl
"mas por várias classes é frações de classe dominantes. Essas cl
ses e frações constituem, nesse terreno, uma aliança específica
: o-bloco no poder, funcionando em regra geral sob a direção d
uma
das
clas e ou frações dominantes, a classe ou fração heg
E mônica. Essa classe ou fração, que pode aliás não se identific
| “com aquela que detém a preponderância na dominação econômi
ca, é também variável segundo as etapas: pode ser a burguesi
E industrial, a burguesia comercial ou a burguesia bancária. Isso de
pende das voltas e das etapas concretas da luta das classes.

ea
Seria necessário fazer aqui uma primeira observação, refe
rente a certas interpretações atuais da periodização do MPC €
E sua reprodução ampliada 2: essa periodizaçãose basearia no pa,
determinante, no ciclo de reprodução do capital social, do c
comercial primeiramente, do capital industrial em seguida e,
fim, do capital bancário-financeiro. Isso conduz segurament
— uma Concepção de “fases” marcadas pela dominação e hegemon
— necessárias e sucessivas da burguesia comercial primeiramente,
“burguesia industrial em seguida e, enfim, da burguesia bancári
“caucionando neste último caso um antigo equívoco, que cons
em identificar capitalismo monopolista, de um lado, é domina
e hegemonia dos “bancos”, deoutro. Além dessa interpreta
- - ocultar finalmente o imperialismo comoestádio específico do c
- pitalismo?, ela leva a admitir a possibilidade de uma determin
ção do ciclo total de reprodução ampliada do capital social pe
circulação do capital-mercadorias, a saber, durante umcerto “pi
ríodo” dessa reprodução ampliada, pelo ciclo do capital come
“cial: o que significa recolocar em pauta, de forma radical,
análises de Marx sobre o papel determinante da produção. Co
feito, essa interpretação pera se prende a uma caracterist

2 Entre outros, Chr. Palloix, L'Economie. capitaliste e Firmes mi


nationales et procês d'internationalization, op. cit. Ver igualmente, al;
Dhoauois, P.-P Rev etc.
a O exemplo mais característico é aquele de G. Frank e
do.
o à extensão das “relações comerciais” desde os primór
dios
ismo : E : :
a maisSEA saconcepções: noDa privilegiado(e
rincipal) que, ao contrário de Marx, atribuem à dO É.
as conduz,
no-capitalismomonopolista,
privile-
ciclo
do.e
Oproblema é de importância decisiva, e Sbavés nele nos de-
termos. De fato, é verdade que o processo devalorização do ca-
pital não pode ser apreendido, como Marx o demonstra no se-
“gundo livro do Capital, no processo de produção “imediato”, o
que daria lugar ao “produtivismo” que Marx critica, principal-
mente nas suas observações referentes aos fisiocratas. Esse pro-
cesso só pode ser apreendido na reprodução do conjunto do ca-
pital social que faz aparecer, Pela mediação do mercado, nasdi-
versas frações do capital como “momentos” desse processo de re-
produção. O capital como relação social não pode ser apreendido
em um processo de produção considerado de maneira isolada do:
processo de circulação: conversão do capital produtivo em capital-
heiro e conversão do capital-dinheiro em capital produtivo
a mediação do capital-mercadorias.
Ditoisso, não é menos verdade que o conjunto da reprodu-
do capital social seja baseado, para Marx, no papel determi-
da “produção”, entendida como articulação das relações de
luçãosobre o processo do trabalho, designando o lugar das
asses sociais e da luta das classes. As classes sociais, tais como
arecem, à primeira vista, na circulação e na realização (algu-.
s frases deMarx sobre as classes sociais no Capital, classes colo-.
cadas em relação com renda, lucro e salário) estão baseadas, em.
sua determinação estrutural, nas relações de produção. Em outras .
palavras, a exploração capitalista pela produção da mais-valia, que
assa através da via indireta da mercadoria e da constituição da
própria força-trabalho em mercadoria, está fundamentada nas re-
lações de produção específicas do capitalismo: é aí mesmo que o
“lugar dessas classes, sua reprodução e a luta dasclasses são legíveis
e decifráveis.
O papel determinante do capital produtivo no processo de.
reprodução do conjunto do capital social — como veremos am-.
plamente no ensaio seguinte — tem incidências decisivas na de-
“terminação das classes. Com efeito, é na interpretação desse pa-
pel que se podem compreender as análises de Marx sobre a classe
operária, que não está circunscrita pelo assalariado (compra e
venda da força-trabalho, isto é, a “classe assalariada', mas pelo:
trabalho produtivo, isto é. sob o capitalismo, Eur. aquele que pro-
A Posição ATUAL DO PROBLEMA 10%

duz diretamente a mais-valia. É assim que, segundo Marx, só fa-


zem parte da classe operária os assalariados que dependem do.
capital produtivo, pois é o único que produz a mais-valia. Os:
assalariados que dependem da esfera da circulação e da realiza-
ção da mais-valia, isto é, do capital comercial e do capital ban-
cário, não fazem parte da classe operária, pois seus capitais e o
trabalho de que dependem não produzem a mais-valia.
Em compensação, os autores que sustentam o papel principal
da circulação na reprodução do capital social (C. Palloix, P.-Ph.
Rey etc., que se ligam a A. Emmanuel e A. Gunder Frank) são
forçosamente levados à conclusão de que as relações de classe só
surgem finalmente, como tais, na circulação do capital, nas re-
lações do mercado (compra e venda da força-trabalho) *. É evi-
dente que essa conclusão conduz, entre outras, à concepção pre-
cisamente da “classe salarial”, isto é, a incluir na classe operária:
o conjunto dos assalariados não-produtivos. :

Retomemos nosso problema. O papel determinante do capital


produtivo prende-se, para Marx, ao fato de ser o único que pro-
duz a mais-valia. Sabe-se que aí está o resultado de um procedi-
mento muito complexo em Marx, pelo qual ele se separa da es-
fera “superficial” das relações comerciais e de toda a economia
política pré-marxista baseada no “espaço da circulação”. Marx
fala sobre esse assunto no Capital: “A primeira concepção teórica
do modo de produção moderno — o mercantilismo — parte ne-
cessariamente dos fenômenos superficiais do processo de circula-
ção, tais como se manifestam de forma autônoma no movimento
do capital comercial, não levando então em conta esses fenôme-.
nos. Em parte, porque o capital comercial é em geral a primeira
manifestação autônoma do capital. Em parte por causa da in-
fluência preponderante que esse capital exerce no primeiro pe-
ríodo de transformação da produção feudal, no período de for-
mação da produção moderna. Mas a verdadeira ciência da eco-

4 Chr. Palloix, Firmes multinationales..., op. cit, pp.


146, sg., seguindo nisso P.-Ph. Rey: “O segredo último 112 SG
produç
da relaçã o de
ão capitalista é estar incorporado como um simple
s momento de um
subconjunto do processo de circulação”, “Sur
Particulation des modes de
Produc
tion”, em Problêmes de Planification, n.ºs 13-14, p.
como efeito, em Rey, sua fixação exclusiva, 95, o que tem
na periodização do capi-
talismo, sobre a forma-salário. Sabe-se,
aliás, que essas confusões têm
repercussões bem maiores: ver, por exemplo, as
diversas críticas atuais
à sociedade dita de consumo, críticas centradas
em torno da forma-mer-
cadoria (principalmente, na França, as análises
de Baudrillard).
102 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

nomia moderna só começa no momento em que o tratamento


teórico passa do processo de circulação ao processo de produção.”
E ainda: “O capital industrial é o único modo de existência do
capital onde sua função não consiste somente em apropriação,
mas igualmente em criação de mais-valia, em outras palavras, de
subproduto. Eis por que ele condiciona o caráter capitalista da
produção; sua forma de existência inclui aquela da oposição de
classe dos capitalistas e dos trabalhadores assalariados... (grifado
por mim, NP). Quanto ao capital-dinheiro e ao capital-mercado- ]
ria, quanto mais aparecem com suas funções ao lado do capital
|

industrial como suportes de ramos de negócios especiais, só Te-


presentam modos de existência de diferentes formas funcionais
que o capital industrial toma e rejeita alternativamente na esfera
da circulação, modos de existência promovidos à independência e
desenvolvidos à parte, em razão da divisão social do trabalho”. >
Eu poderia ainda, facilmente, multiplicar as citações, mas as
coisas estão perfeitamente claras: contudo, notemos o papel par-
ticular que Marx atribui ao ciclo do capital comercial (capital-
mercadorias) na fase de transição do feudalismo ao capitalismo,
o que, aliás, Marx designa como período da manufatura. Mas,
precisamente, durante essa fase, não há reprodução ampliada do
capital; esta só intervém de algum modo nos dias seguintes da
transição, sendo contemporânea e co-substancial ao estabeleci-
de
mento do domínio do Mpc sobre os outros modos e formas
produção, à passagem da subsunção (submissão) formal à subsun-
e
ção (submissão) real das forças e meios de trabalho ao capital,
ao domínio pelo capital das condições políticase ideológicas de sua
reprodução. Essa reprodução ampliada, que inaugura o primeiro
estádio do capitalismo, o capitalismo competitivo distinto da fase
do
transitória manufatureira, conota, como tal, a determinação
ciclo total do capital por aquele do capital produtivo.
Mas o papel determinante do capital produtivo na reprodu-
l
ção ampliada do capital e na valorização do conjunto do capita
so-
sccial não impede que, no estádio competitivo de formações
na
"ciais onde o MPC estabeleceu seu domínio, a preponderância
| dominação econômica e a hegemonia política possam ser detidas
pela burguesia comercial. Durante esse mesmo estádio, esse papel
' pode igualmente voltar ao capital industrial no sentido estrito.
ou ao capital bancário. Marx o demonstrou em suas obras polí-
ticas e principalmente naquelas referentes à própria França (La

5 Le Capital, Editions Sociales. t. IV, p. 53.


= eulão medir a distância que separa estas anális
uais, que acabo de assinalar. Não é por acaso. que
luzem a uma recolocação radical do leninismo, express
madm da pRccnaO leninista do ai mo

lo uma pretensa “volta” a Marx. Certamente, estou tem c


ciente ao simplificar aqui problemas de grande complexidade
relações ambíguas de Lênin com Hilferding, suas relações
as análises de Rosa Luxemburgo, e também os problemas do
prio Marx. São problemas que, sob numerosos aspectos, per
necem ainda em aberto, mas sobre os quais, no âmbito des
texto, não convém insistir. Dessas precauções, que não são
plesmente verbais, manterei, no entanto, o que me parece es
cial. As análises de Lênin, ao contrário das de RosaLuxem
go, que enfatizam acirculaçãoe o capital-mercadorias, ao
trário igualmente, apesar de suas ambigiiidades, das de Hilferd
que enfatizamo capital bancário, identificando-o ao capital
nanceiro, são fundamentadas no papel determinante do ca
produtivo. Lênin fez progredir aqui a teoria marxista, é me:

“mercado” e das relações comerciais”, que ainda perman


N o vezes ambígua em Marx.
Mas ainda há mais: é conferindo essa importância de;
às relações de produção e à divisão socialdotrabalho
implicam, que se pode colocar o problema fundamenta
produçãodo capital não é simplesmente o ciclo global do ce
social (o famoso *“espaço econômico”), masi gualmente àr
duçãodas condições políticas e ideológicas sobas quais e:
produção tem lugar. Fazer acrítica de uma.concepçãotecn
das forças produtivas não. quereria dizer restaurar um p
gualguerda circulação e recair nas concepções pré-marxist
isso quer dizerrestaurar o primado das relações de produção q
remontam diretamente às condições políticas eideológicas de
reprodução. Emoutras palavras, a reprodução do capitalco
relação social nãoestá simplesmente situada nos “momen
ciclo capital produtivo — capital-mercadorias — capital-din
mas na reproduçãodas classes sociais e da luta nes classes, e
toda a Ra de sua determinação.
Coloquemos agora a primeira questão importante concernen- |
e ao estádio capitalista já no estádio capitalista competitivo, e.
ob sua forma mais simples. Em face de um terreno de domina-
ão política ocupado por diversas classes e frações de classe e
atravessado por contradições internas, o Estado capitalista, em-
ora representando de forma predominante os interesses da classe a
ou fração hegemônica — ela própria variável —, assume uma |
autonomia relativa com respeito a essa classe e fração e com res-
peito às outras classes e frações do bloco no poder. É, de um!
“lado, porque ele assegura O interesse político geral do conjunto
do bloco no poder, “organizando o equilíbrio instável de com-
promisso” (Gramsci) entre seus componentes sob a direção da |
classe ou fração hegemônica; de outro lado, porque ele organizá-
ssa hegemonia com respeito ao conjunto da formação social, e
então igualmente com respeito às classesdominadas,segundo as
'ormas específicas que suas lutas assumem sob o capitalismo.
ssa autonomia relativa, que está inscrita na própria estrutura
lo Estado capitalista pela *“separação” relativa do político e do
onômicopróprio ao. capitalismo, e que não se prende de forma
algumaànaturezaintrínseca“da instância estatal ou política”
mo tal, mas está relacionada com a separação e a despossessão
os produtores diretos de seus meios de produção que especifi- .
cam o capitalismo, sendo somente, sob esse aspecto, a condição
necessária aopapel do Estado capitalista na representaçãode
classe e na organização política da hegemonia.
“A correspondência entre o Estado, que assegura a coesão da
formação social, ao manter as lutas que aí se desenvolvem nos
imites do modo de produção e ao reproduzir suas relações so-
ciais, e os interesses da classe ou fração hegemônica nãose esta-
belece em termos simples de identificação ou de redução do Es-
tado a essa fração. O Estado não é uma entidade instrumental
intrínseca, não é uma coisa, mas a condensação de uma relação
de forças. Essaco respondência “seestabeleceem termos deorga-
nizaçãoe“derepr ção:“a classe ou fração hegemônica,além
de seus interesses econômicos imediatos, de momento e a curto
prazo, deve assumir o interesse político do conjunto das classes
e frações que compõem o bloco no poder, e portantoseu próprio
interesse político a longo prazo; ela deve se “unificar” e “unifi-
ir” o bloco no poder sob sua direção, Segundo uma intuição
profunda de Gramsci, o Estado capitalista, no conjunto de seus.
E Ê Ê : o
lhos (e não somente ospartidos políticos burgueses), ass
* um papel de “partido”, em relação ao bloco nopoder, am
“aquele do partido da classe operária com relação à alian
popular, ao “povo”.
“de
E e
podernoseiodobloco no poder se crista
rticulação concreta dosramos do aparelho r
doedos aparelhos leológicos deEstado, n:
ueentretém comasdiversasc lasses e
ções nantes. Dessa articulação dependem, entre outras,fr
.
formas de que se reveste o Estado capitalista: essas form
as d
pendem então, sob esse aspecto, das relações precisas
no : ]
classes e frações dominantes, também elas efeitos da
contradiçã
principal: burguesia/classe operária.

- Mas à questão rincipal)já está então


colocada. Têm essas
características do bloco no. poder e do
Estado capitalista, e :
análises dos clássicos domarxismo a esse
respeito, como únic:
camp ode validade o capitalismo competitivo? Porta
nto,se
que modificações consideráveisintervenham
no estádio capitalis
ta monopolis ta, mais particularmente na fase atual,
tal não
caso. É o que tentarei demonstrar examin
O —e— ando mais de pe
“as modificações atuais.

Com efeito, quanto ao papel geral do Esta


importantes têm lugar, no estádio do capita do, modificaçõ
lismo monopolis
aqueledo imperialismo, quetratam daquilo que se
designa c
“funçõeseconômicas”>do Estado, a saber,
seu papel na reprodu
ção das próprias relações de produção.
Para um exame mais acurado dessas a
transformações, é n
cessário esclarecer primeiramente alg
umas questõesprévias:
1. Ao contrário de uma concepção
simplista do papel «
Estado, que baseia a distinção entre
aparelho repressivo de E
do e aparelhos ideológicos de Estado
no fato de que o Estado
só teria “papel” repressivo — exercíci
o da violência política
OU ideológi co — inculcação da ideologia domina
de maneira predominante pelo apar nte e CROPCIA
elho repressivo e pelos a
relhos ideológicos, é necessário
observar que o Estado
“Setém umpapel econômicodireto na rep rodução dasrelações
- Produção: papel econômico direto
já que não se limita, nes
caso, àssimples incidências da repr
essão e da inculcação ideo
106 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

gica sobre o econômico. Mas esse papel econômico não é uma


função técnica ou neutra do Estado: esse papel é comandado
pela dominação políticade classe. É nesse sentido queele se exer-
ce sempre sob o aspecto principal da repressão política ou da
inculcação ideológica, pelo desvio do aparelho repressivo ou dos
aparelhos ideológicos, e é precisamente nesse sentido que se pode
manter, nesse caso, a distinçãoentre esses aparelhos. Falar, então,
de aparelho repressivo e de aparelhos ideológicos de Estado não
quer absolutamente dizer que o Estado tem somente papel re-
pressivo ou' ideológico: é nesse sentido que podemos também
juntar a esses aparelhos um“aparelhoeconômico” de Estadodis-
tinto dos outros — por exemplo;0O
Plano,atualmente —,o que
deveria ser o caso, a fim de colocarmos em alguma parte as
funções econômicas do Estado quando consideramos que o apa-
relho repressivo não tem senão um papel repressivo, e os apare-
lhos ideológicos um papel de inculcação ideológica. Isso condu-
ziria precisamente a acreditar que há de um lado funções polí-
ticas repressivo-ideológicas do Estado e, de outro lado, funções
econômicas técnicas e neutras do Estado: concepção tão falsa
como a que considera que o Estado só possui o papel repressivo |
ou ideológico.
2. O Estado capitalista correspondente ao estádio docapi-
talismo competitivo — oEstado liberal — deteve sempre um
papel econômico: a imagem de um Estado liberal, simples Es-
tado guarda ou vigilante de um capitalismo onde a economia
“anda completamente só”, foi sempre um mito. Tal mito parti-
cipa do erro, dando lugar a uma leitura economista dos textos
de Marx sobre a reprodução no segundo livro do Capital, e se-
gundo a qual a reprodução do capitalismo se limitaria ao “espaço
econômico”, que funciona de algum modo “sozinho”, pela sim-
ples auto-regulação. Da fiscalidade à legislação das fábricas, da
proteção alfandegária à construção da infra-estrutura econômic
— estradas de ferro etc. —, o Estado liberal sempre deteve funções
econômicas importantes, certamente em graus desiguais segundo
as diversas formações sociais capitalistas: esse papel foi mais im-
portante na Alemanha e na França do que na Grã-Bretanha, por
exemplo. O próprio Marx observa bem, no Capital, a presença
oca das intervenções do Estado liberal no econômico.
Ora, se podemos falar, a propósito desse Estado, de uma
não-intervenção específica no econômico, é de fato para marcar
a distância com o papel do Estado no estádio do capitalismo
Caia

monopolista, o “Estado intervencionista” que Lênin já tinha em


A Posição ATUAL DO PROBLEMA 107

vista em suas análises sobre o imperialismo. A diferença aqui,


com o Estado do capitalismo competitivo, não está, voltaremos
a isso, numa simples diferença quantitativa. O Estado, no estádio
;capitalista monopolista, intervém de forma decisiva na economia PA
já que seu papel não se limita, essencialmente, à reprodução do +)
ue Engels designa como “condições gerais” da produção da
mais-valia, mas se estende ao próprio ciclo de reprodução am-
| pliada do capital como relação social. ]

Mas ainda há mais: a partir do momento em quese admite


que a reprodução das relações capitalistas não se limita ao espaço
econômico, é a própria noção de “condições” da produção que
deve ser colocada em questão. Essa noção corre o risco de deixar
supor, sob o capitalismo, uma estagnação e exterioridade princi-
pais entre as relações político-ideológicas (as condições: o Es-
tado) e o espaço econômico (as relações de produção) 8. Defato,
essa noção deve estar situada no contexto das análises de Marx
que colocam, como especificidade do modo de produção capita-
lista (mpc) em relação aos modos de produção “pré-capitalistas”
(feudal, especialmente), a “separação” característica do político
e do econômico, enquanto estes se apresentavam como “estrei- |
tamente imbricados” nos modos pré-capitalistas. Mas essa sepa- |
| ração não designa de maneira alguma uma exterioridade de cons- |
tituição, sob o capitalismo, inclusive seu estádio competitivo, do. , f
político e da ideologia (condições) em relação ao econômico | E
(relações de produção). Essa separação é apenas a forma neces-.
sária e específica, na reprodução do capitalismo sob todos os seus,
estádios, da presença do político e da ideologia nas relações de |
produção. |
Essa própria relação de “separação” é modificada, mas não |
abolida, no estádio monopolista, estádio que implica deslocamen- |
tos dos limites entre o político e a ideologia, de um lado, e
o |
espaço econômico, de outro: a reprodução ampliada do capita- |
lismo transforma os próprios locais de seu processo. Em
outras |
palavras, essas modificações afetam a configuração e a constitui-
|
ção próprias dos campos emquestão,respectivamente
aqueles do espaço econômico-e-de-suas“condições”.Umasérie

E 6 Com efeito, o termo exato empregado por Engels


é “condições ge-
oi exteriores” (die allgemeine Gussere Bedingunge
n) da produção:
Anti-D
ihring, MEW, t. XX, p. 260. Sobre este assunt
o ver também JT.
E Hirsch e altri: Probleme einer materialistisc
hen Staatstheo-
Cs A
domínios e de funções que, noestádio competitivo, dependiam
s “condições” da produção (sem que isso queira dizer que fos-.
em realmente exteriores), dependem doravante diretamente da
lorização do capital e de sua reprodução ampliada. As inter-
nçõesatuais do Estado com respeito às diversas “condições de
da” fora do trabalho, por exemplo, constituem, nesse sentido,
tras tantas intervenções econômicas diretas do Estado na re-
odução das relações de produção. Se assistimos atualmen-
“uma extensão característica dos domínios do político e das
rvenções do Estado, é na exata medida em que recobrem a
(tensão do espaço de valorização do capital”.

“Isso tem precisamente como efeito a modificação do papel


o Estado, modificação que marca, do ponto de vista da estrutura
do mec, sua periodização em estádios, e o corte entre o capita-
smo competitivo e o capitalismo monopolista. Eu havia chama-
| atenção para esse problema quando frisei que o capitalismo
mopolista é marcado pelo deslocamento do domínio, no seio do .
c, do próprio econômico ao político, ao Estado, enquanto o
dio competitivo era marcado pelo fato de que o econômico,
m do
Ra papel determinante, detinha igualmente o papel domi-

claro, no entanto, que esse deslocamento do domínio deve


“apreendido em relação à própria estrutura do MPC, pois é em
ua própria reprodução que ele surge marcando sua distinção em
dios. Esse deslocamento não pode ser situado da mesma
rma analógica que a diferenciação entre determinação e domí-
no seio de outros modos de produção, como, por exemplo,
eudal, onde o econômico é determinante, ao tempo em que
nina a região religiosa da ideologia. Essedeslocamento não
imina principalmente a separação, característica do MPC, entre |
político e o econômico, aocontrário de certas análises dos de-.
nsores do capitalismo monopolista do Estado (“O Estado atual.
faz parte da base”) e cujas implicações veremos em seguida ?.
4

Z Ver adiante, pp. I812 . E j


"8 Pouvoir politique et Classes sociales, pp. 51 sq. Ver igualmente
Bettelheim: Préfaces au Capitalisme monopoliste, de Sweezy e Baran; e
marques théoriques”, em L'Echange inégal, de A. Emmanuel, op.
É, p. 340. a : E
9? É por isso, aliás, que se pode manter o termo intervenções do.
Estado no econômico, mas desde que esse termo não seja apreendido
Levando-se em conta aestrutura específica do Mp ea
ações de produção que a caracterizam, o papel dominanteé
“nalado em função dareprodução ampliada do capital social
de sua valorização: é a intervenção decisiva do Estadonesse ci
que lhe confere o papel dominante. Em outras palavras: é o p
prio funcionamento das relações econômicas do mpc — rep:
dução ampliada do capital — e de suas contradições próprias
q
determina, no estádio do capitalismo monopolista, o deslocam
to do domínio para o Estado. Isso significa que esse
deslocam
to e o “papel econômico” do Estado nocapitalismo monopoliste
estão em relação: a
a) com as modificações das relações de produção capit
al
tas que marcam o capitalismo monopolista e suas fases
;
b) com o tipo e as formas de dominação inten
siva que
MPc, no estádio do capitalismo monopolista e segundo
suas fases
* deve exercer sobre os outros modos e formas
de produção-
inclusive aquele do capitalismo competitivo —, ao mesm
o tem:
em cada" formação social e em escala internacional, a
fim de
“ultrapassar suas contradições e de assegurar sua
reprodução,
É estudando essas coordenadas que o pape
l dominante
Estado no sentido do capitalismo monopolista poderá ser
fun
mentado e elucidado.
o

NI

Essas transformações do papel do Estado são assi


m artic:
las às modificações que sobrevêm, no estádio capi
talista mo
polista, no seio da burguesia. Essas transformaçõ
es, ao cont
de uma tendência muito difundida, não podem
ser estud
através de um relacionamento “direto” do Esta
do com o “siste
econômico”, mas somente pela elucidação
das modificações
lasse. E, nesse sentido, pode-se propor uma
questões: quais são as novas formas de cont séri
radições e de f
namentos que surgem no seio dessas burguesias,
e em que med
las colocam em causa as frações da burguesia
noestádio do
Pitalismo competitivo? Podemos falar
sempre, no estádio mo
polista, maisparticularmente em sua fase atual, de
um bloco.
“Poder composto de diversas frações
burguesas, ocupando o t
eno.da dominação política? Podemos,
em consegiiência, |
mpre de uma autonomia relativa do Estado
atual em fac,

a
fração hegemônica, Estado que assegura, sob formas no:
eress
as,
e político geral dessa aliança no poder?
Ro
Ointeresse político dessas questões é fundamen
tal. Nesse.
ido,levaremos em conta, passando sucintamente
em revista.
que certamente implica sua esquematizaç
ão) as teses atuais,
PCocidentais, e principalmente do Pcr, sobr
e o capitalismo.
opolista de Estado 9: teses que servem de base
à estratégia
1 da “aliança antimonopolista” e da “democra
cia avançada”. .
análises, consideradas desta vez sob o ponto de vista da bur-
ia interior e sua relação com o Estado participam
do mes-
ipo de erros que aquelas que encontramos,
no ensaioante-
que dizem respeito à internacionalização das relações capi
-
as. No entanto, esses erros surgem aqui de forma bem
mais |
tida, sendo o momento de insistir sobre o assunto. Apre
sentam
ases principais:
) As transformações atuais, e mesmo a “fusão” docapita
l
dominação maciça do grande capital monopolista,
fariam
que não se falasse mais atualmente de um bloco no poder.
reno da. dominação política só seria ocupado atua
lmente.
ica fração do grande capital monopolista, com a excl
usão .
ante da burguesia que, por esse mesmo motivo,
se veria
ida do lado das classes dominadas. Comefei
to, essas aná-
ase que só falamda fração hegemônica, o gran
de capital
polista, ocultando, praticamente, as outras fraçõ
es burgue-
dominantes. Não distinguindoassim entre fraçã
o hegemônica

te ocupado unicamente pelo


rações burguesas, especialment
e ú
ital não-monopolista, sejam daí por diante
excluídas. o
ertamente, as coisas não são em geral apre
sentadas de for- |
brusca: não são entretanto menos nítidas,
como se pode |
nstatar no recente Traité marxiste d'éc
onomie politique 1. To-
'S Vezes que surge a questão de dominaçã
o política, mencio-
e somente os grandes monopólios. Em
compensação, sem

: Só levarei em consider
ação as análises do Pcr. Mas essa
Se encontram, com ligeiras variantes. s aná-.
nos textos publicados na RDA
r Theorie des staatsmonopnolistischen
Kapitalismus, Berlim, 1967), na
a pelo PCI etc.
1 Essas concepções foram assinala e ao
das em meu artigo, “Les classes.
les” em L Homme et la Société
(n.os 24-25, 1972): ver também,
desse tratado, J. Lojkine, “Pouvoir .
politique et lutte de classes”,
q Pensée, n.º 166, deze mbro de 1972 etc.
: Ro
pre que surgea questão de um out
ro capital que não o “granc
capital”, a questão refere-se apenas
e sobretudo ao “pequeno c
-pital”, cuja aliança se procura. No
entanto, é preciso compreer
- der os termos. Entendendo-se
por “pequeno capital” a Pequena-
* burguesia artesanal, manufatureir
a e comercial, a busca dess
aliança é justa, pois, com efeito,
essa pequena-burguesia não pei
tence ao “capital”, isto é, às fra
ções da burguesia: nesse sentid
o termo “pequenocapital” é int
eiramente falso enquanto se refe.
rir a ela. Entretanto, o uso doter
mo “pequeno capital” assum:
aqui uma outra função: ao fal
armos apenas de “srandes mono
pólios” e de “pequeno capital”,
- do capital não-monopolista quente escamoteação
ou “capital médio”, mostramos
“tudo que não pertencesse aos “sr que
andes monopólios”, única fração
“dominante, faria automaticamente
parte do “pequeno capital”
suscetível de aliança com a cla
sse operária, e o médio capita
“seria incluído no “pequeno !
capital”, sendo assim assimilad
pequena-burguesia. Nas Poucas o é
vezes em que esse Traité fala
médio capital, situa-o do o
tradição considerada comum ao ue o peq uen o, na sua co
“grande,capital 12”, Ra
Percebemos perfeitamente as
"quanto à estratégia da “al implicações dessas análise
iança antimonopolista”, alianç
que se estende a todas as fra a est
ções da burguesia, salvo aquela
“grandes monopólios”, que se «
supõe ocupar, sozinha, o ter
de dominação polític

ladas;

b) Essas análises se conjugam com aqu


ao Estado do capitalismo monopolis elas que se refer
ta de Estado. Dá-se ênfase |
que é certo) aopapel decisivo de que se reveste no
o Estado. Mas o que está aqui mome: to
em causa é a própria concep
do “proce sso de produção”, no seio do
Supõe-se que o processo de pro qual o Estado:intervém.
dução seja composto, de um lad
por duas instâncias separadas, o,
as forças produtivas é
de produção e, do ou

2 Traite dt I pp.
économigue et Planification,223 sq. etc. Igualmente Ph. Herzog, Politique
op. cit, pp. 66 sq.
E “Na ação recíproca ent ne É
re forças produtivas e rel
são, as forças produtiva ações de produ
s desempenham no fina
l
um “nível” de a dás forças produtivas ne
“autônoma. A intervenção do Estado é amplamente apreendida
como uma função técnica e neutra, indispensável como tal ao
“desenvolvimento das forças produtivas”. O Estado é assim con-
cebido, sob esse aspecto, como “fazendo parte da base” e como.
fator orgânico do processo de produção social” — ver as aná-.
ses do Traité em questão sobre o Plano. Justamente, sempre é
questão da relação do Estado e dos interesses dos “grandes mo-.
opólios”, mas tal relação é simplesmente apreendida como uma :
torção de funções econômicas, em si neutras, do Estado para |
proveito dos grandes monopólios. As intervenções do Estado
apresentariam de algum modo, no momento, dois lados: . o bom,
correspondendo à famosa “socialização das forças produtivas”,
oda “socialização” — qual? — só podendo ser, como tal, boa; .
o mau, correspondendo àapropriação privada dos meios de pro-
ução. Os dois lados são aqui dissociáveis, pois correspondem a
ois níveis considerados como distintos1º.

“Mas só se trataria aí de uma simples fórmula verbal: com efeito,


unidade só pode ser baseada no processo de produção, processo que
ecisamente a figura da dominação das relações de produção sobre as
ças produtivas. Em outras palavras, atribuindo o primado às forças
rodutivas, é, ao mesmo “tempo, e necessariamente, a própria unidade
as relações de produção e das forças produtivas que desaparece.
14 Ph. Herzog, op. cit.. pp. 35 sq., pp. 45 sq. Essas posições remon-
am ainda a outros erros teóricos. Convém então lembrar: a, que quase
não se pode apreender um espaço econômico em si possuindo limites in-
rínsecos e imutáveis através dos diversos modos de produção, mas que
sses limites são variáveis segundo esses modos de produção e os pró-
prios estádios do modo de produção capitalista; b, que, ao contrário da
são economista de uma “auto-reprodução” do econômico, o Estado ca- .
alista sempre interveio no econômico; c, que a forma particular e de-.
iva dessas intervenções atuais não impede a reprodução da “separa-.
ão” relativa do Estado e do econômico no estádio e na fase atuais, com
condição de precisar que não se trata de uma exterioridade real dos|
ois. Em compensação, as teses relativas ao capitalismo monopol!sta de
Estado implicam: a, que 0 capitalismo só pode funcionar “normalmente”,
de alguma forma, sem “intervenções” do Estado (auto-regulação do
econômico) como se admite para o estádio competitivo: as intervenções
decisivas do Estado no estádio monopolista seriam nada mais do que o
“indício de uma “crise estrutural” necessária do capitalismo; b, que essas
intervenções suprimem a separação relativa do Estado capitalista e do
“econômico (o Estado “fator orgânico da produção” e “parte da base”).
“Ora, essas posições são contraditórias, pois, baseadas em pressupostos errô-
“neos. implicam, de um lado, que as intervenções atuais do Estado sejam
(o indício de uma “crise estrutural” necessária do capitalismo, mas que
de outro lado, o Estado tenha sucesso em dominar e em organizar-pla-
nificar a reprodução capitalista: com efeito, considerando que essas in-
Não seria necessário esconder as consegiiências políticas par-
ticularmente graves dessa posição, ligada à concepção “econo-.
CodeEi do processo de produção e das “forças produti-.
vas”. Ela implica, em suma, que a passagem para o socialismo
ERA a conservação do Estado atual no seu lado bom e suas
intervenções econômicas neutras no “desenvolvimento do proces-
so de produção social”, depurando simplesmente o seu lado mau,
e excluindo a distorção dessas intervenções em proveito dos m
nopólios por uma simples mudança do poder do Estado. A tese.
leninista da necessidade de quebrar o aparelho de Estado capita-
lista está balanceada por cima e vivamente atribuída aos “desvios
esquerdistas”. E, como se sabe, a experiência do Chile mais uma
vez demonstrou, recentemente, que não se trata de quesd de
escola;
c) Enfim, e por menos paradoxal que isso pareça à primei-
ra vista, o Estado é paralelamente concebido como uma simples
ferramenta ou instrumento, manipulável à vontade pela única
fração dos grandes monopólios, fração considerada como “inte-
grada” e à qual se imputa uma “unidade de vontade”. Encon-
tra-se aí a tese da conferência dos 81 partidos, mal aceita em
sua forma exagerada pelo próprio pcr, da “fusão do Estado e do,
monopólios em um mecanismo único 15”. Na medida em que,
atualmente, não se poderia falar de um bloco no poder, mas d
uma única fração dominante, os grandes monopólios, consider
dos como umaentidade metafísica e abstratamente unificada pela
“fusão” das frações do capital, nenhuma autonomia relativa é |
reconhecida ao aparelho de Estado como unificador político, ao
mesmo tempo da fração monopolista e do conjunto do bloco no
poder. Vê-se claramente aqui o duplo aspecto das incidência:
políticas da concepção instrumentalista do Estado necessariamen
te ligada a uma concepção idealista/economista: uma ferrament
ou instrumento possui ao mesmo tempo uma utilidade técnica e

tervenções suprimem a separação relativa do Estado e do econômico, não.


se podem apreender os limites dessas intervenções, as formulações dos
autores do capitalismo monopolista de Estado aproximando-se muito, como
veremos, daquelas dos defensores do “capitalismo organizado” (para cer-
tos aspectos dessas questões, ver igualmente M. Wirth, “Zur Kritik der
Theorie des staatsmonopolistischen Kapitalismus”, em Probleme des Klas-
senkampfs, n.º 3, 1973).
15 Artigo de Fr. Lazard, no cológuio de Choisy-le-Roy, reprodu-
zido por Economie et Politigque, números especiais 143-144 e 145-146, 1966,
sobre “Le Capitalisme monopoliste d'Etat”.
114 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJ
E

neutra, e pode ser, como tal, manipulad


o à vontade por seu
detentor.
Ora, essa tese não somente conduz a
análises contestáveis
sobre o aparelho de Estado atual, mas
implica igualmente que,
uma vez expulso do poder o punhado
de “usurpadores” que são
os grandes monopólios, esse Estado
poderia, quando utilizado de
ouiro modo, servir da mesma forma
aos interesses do socialismo.

IV

Percebe-se bem, em face dessas inte


rpretações, que a ques-
tão decisiva concerne atualmente-à anál
ise das relações de classe
no próprio seio das burguesias no está
dio do capitalismo mono-
polista, e mais particularmente na sua
fase atual. Quais são as
formas atuais das contradições e dos fra
cionamentos no seio des-
sas burguesias? É dessa questão que depende dir
etamente a aná-
lise da autonomia relativa atual dos Estados capi
talistas.
Essa questão remonta diretamente ao problema da
constitui-.
ção, no estádio do capitalismo monopolista, do
capital financeiro,
produto do processo de “fusão” entre capital
industrial e capital
bancário principalmente, fusão a que se subordin
a o capital co-
mercial, e que faz nascer os monopólios.
Essa questão apresenta
de fato vários aspectos:
1) Esta “fusão” do capital industrial e do
capital bancário
constitui uma unificação efetiva dessas frações,
ou reproduz, sob
outra forma, suas contradições, fazendo-as
parecer novas? Qual
é o estatuto exato do conceito de capital
financeiro e de capital
monopolista?
dn

2) Qual é o estatuto e à dimensão da


diferenciação entre
capital monopolista e capital não-monopoli
sta, que são frequen-
temente, de um modo mais descritivo,
designados como grande
capital, de um lado, médio e pequeno
capital, do outro? Quais
são as relações desses capitais entre si?
São essas perguntas que analisarei nas
páginas seguintes, ten-
de iadn

tando delimitá-las em seu lugar próprio, e ord


enar uma série de
problemas teóricos de que depende a resp
osta a essas perguntas.
Mas faço uma observação prévia, que
deve ser levada em consi-
deração nas análises que se seguem:
as formas de contradições
no seio das classes e frações dominante
s dependem, de fato, sem-
: as da contradiçãoprincipal, a sat
“burguesia, no seu conjunto, da
classe operária.
ramente, às próprias formas constit

baixa tendencial da taxa de


é a figura da resistência (da luta)
da classe o
ploração. Do ponto de vista hist
órico, o pr
ção, “resposta” a essa baixa, é “
lutas populares, sobre o plano
ao
' dial. Em outras palavras, o
con

principal. na
Isso se refere, pois
cesso h

* dições secundárias, a config


uração concreta d
“e ahegemonia desta ou daquel
a fração sobre
“dem, em definitivo, das for
r
formaçapa Ja

e :
16' Trata-se sempre aqui de um
processo dialético. Esses fracio
mentos no seio da burguesia
, efe n
Por sua vez efeitos de fracio itos da contradição principal, poden
namento no seio da classe operár
Por exemplo, as diferenciaçõ es, important ia:
na classe operária, conformeel es principalmente na Fra
a dependa do. capital monopo
centrado) ou do capital não-mo lista te
nopolista. Sobre tal assunto, M.
Fr. Godard, Grandes Entrepris Castel
es, appareils d'Etat et proces
sation, 1974, a sus d'url C
:
!
EN

RaAS CONTRADIÇÕES ATUAIS DA.


nu

“O Capital Monopolista

Iniciatmente, tratarei da primeira dessas questões, que pro-


retamente oproblema das relações e das contradições n
eio do o financeiro ou capital monopolista.

mamento: eE estes se dia de fato, sob E


forma, no próprio seio do capital monopolista. De um lado
financeiro não é uma Rino capital da mesma or

LO. o: que nicopor outro lado, que o al financeir


como deixa acreditar uma confusão de terminologia,
ital bancário: a fusão do capital. industrial e do capital ban-
ário em capital financeiro não designa, em si, uma absorçã.
Ca pelos bancos e uma dominação do setor bancá

1 Um dos primeiros a assinalar esses problemas, em estudos notá.


s sobre a história do capitalismo na França, foi, como se sabe,
ouvier; ver então seu artigo: “Rapports entre systômes bancaires e
ntreprises industrielles dans la croissance européenne au XIXº siêcle”
m Studi Storici, outubro-dezembro de 1970, e sobretudo Un siêcle.
nque ane, 1973, pp. 116 sg. é
Digamos, por enquanto, que o processo designado pelo term
implica e reproduz, sob forma específica, a-distinçã
“entre capital produtivo e capital-dinheiro, estabelecida por Marx.
no Capital, como forma de reprodução ampliada inerente ao ca-
pital social no capitalismo. É um aspecto sobre o qual Lênin,
falando de “fusão”, e em razão precisamente do papel determi-
nante que ele atribui, seguindo nisso Marx, ao capital produtivo,
“insiste no Imperialisme, stade suprême du capitalisme ?; chega a
dizer: “É próprio do capitalismo, em regra geral, estabelecer uma.
" separação entre a propriedade do capital e sua aplicação nain--
“dústria, entre o capital-dinheiro e o capital industrial e produ-
tivo, entre o capitalista que vive exclusivamente da renda que
tira do capital-dinheiro e o industrial, assim como todos aqueles
que participam diretamente da gestão dos capitais. O imperialis-
mo, ou a dominação do capital financeiro, é esse grau supremo.
do capitalismo quando essa separação atinge proporções formi-
dáveis: E

De fato, o termo"“fusão” designa um processo desdobrado,


que apresenta dois aspectos, unidos, mas relativamente distintos

a) O processo de concentração do capital produtivo-indus--


trial, de um lado, o processo de centralização do capital-dinheiro:
— do capital bancário — de outro;
b) As formas de interpenetração e de relações entre esses:
dois aspectos.

As “fusões” no seio do capital produtivo — concentração —


é no seiô do capital-dinheiro — centralização —, na constituição
do capital monopolista, já são processos “de"fusão” no sentido.
E

em que a centralização já intervém na concentração, e a concen


tração na centralização. Mas trata-se aqui do ciclo contraditóri
de reprodução conjunta do capital social, no qual se encontram
diferenciações entre o capital produtivo e o capital-dinheiro
a

Pode-se falar assim, com todo o rigor, de um ciclo de reprodu-


E

ção dominante da concentração do capital produtivo, e de um:


- ciclo de reprodução dominante da centralização do capital-dinhei-
E ro. Observação importante, pois essa diferenciação será encon-
] trada sob forma de contradições entre capital monopolista domi-
nante industrial e capital monopolista dominante bancário, o que
designarei, com o fim de simplificar, es termos de monopó--

2 (Euvres choiaiza ed. de Moscou, t. I, p. 847.


jonopólios bancários. Eniim, o pa
» nesse processo de fusão retorna à concentração do capit
unta do cap:
trial-produtivo: ocorre que a reprodução conj
ssc
está determinada pelo ciclo do capital produtivo. Masi
capitalismo.
“significa, contudo, e muito menos no caso do
feito so
mpetitivo, que esse processo de fusão não possa ser
tal
gide econômica e soba hegemonia política seja do capi
Re
icário, seja do próprio capital industrial.

“A concentração do capital industrial refere-se ao capital pro-


ivo propriamente dito, o único que produz o valor: ele cons
a base real de acumulação capitalista e de extração da mais-
3. Esse capital monopolista resulta principalmente da con-.
ração do capital industrial, principalmente da reunião de.
a
as unidades de produção ecapitais produtivos, referentes
“vários ramos da produção social, propriedade
nica. É verdade que o capital que constitui esses mono-
é, pelavia indireta dassocied ades por ações, um capital
deintervém a centralização do capital-dinheiro reagru- |
=

to .
para funcionar como capital produtivo único. Mas O aspec
incipal quanto à reprodução do capital produtivo cabe à con
s das
ração do capital: a saber, ao traçado que as novas forma
lho e a
ções de produção imprimem aos processos de traba
o social do trabalho. É aa Mc
a famosaÊ quest ão dos “crité rios”
sso propõe odiretamentendo E a enemies:
ntraçã
ncentração, ou da medida do “orau” dessa conce
d y

“encobre .
o que nos interessa em primeiro lugar, pois ela
-
mente aquela da posição dos limites) entre capital mono
adiçõ es
a e capital não-monopolista, e aquela de suas contr
questão não pode ser resolvida por uma simples acum s
de critérios técnicos e isolados: ela só pode ser resolvida
relação com o pri
o plano dasrelações de produção na sua
aparecem de fa
so de trabalho. Esses diversos “critérios”

que examino a seguir, em Te-


| 8 Sobre certos aspectos das questões
lugares, Ph. Herzog, Politique
ção às críticas que formulo em outros P.
Deliler, Les Monopoles;
"onomique et planification, op. cit; J-P. ique, 1973; €]
e polit
lama e J. Valier, Une introduction à Péconomi e Firmes multinational
alloix, L'Economie mondiale capitalist e, 1971
procês d'internationalisation, op. cit. é
o tantos indícios e efeitos das transformações atuais
elações de produção.
- Eis por que essas transformações correspondem. dita
à baixa tendencial da taxa média de lucro, característica do
“ pitalismo monopolista, e à sua contratendência principal, a al
da taxa de exploração. O capital monopolista éé de fato caract
rizado pela alta da composição orgânica do capital. A propor-
ção, na composição orgânica do capital, do capital consta
(capital fixo: equipamentos, e capital constante em rotação) e
relação ao capital variável (custos salariais) é sensivelmente mais
elevada para o capital monopolista, o que indica uma diminuição
relativa do trabalho vivo em relação ao trabalho passado — o
morto. Mas a alta da composição orgânica do capital é inversa-
mente proporcional à taxa de lucro. Isso implica a necessidade,
para o capital monopolista, de um lado de aumentar a taxa de
“exploração através principalmente da via indireta do nível dos
salários, mas da exploração intensiva do trabalho, incluindo |
aumento da produtividade dotrabalho, e de outro lado a nece
- sidade de valorizar o capital, tirando toda vantagem da desi
"dade das taxas de lucro entre ramos e setores da produção soci
É a isso que correspondem essencialmente as transformações n
relações de PRadÇÃO eas novas formas de divisão sei do
' trabalho. A RR

Retornemos à divido dos indíciosda. concentração do capi-


tal e do capital monopolista, começando pelo mais visível, ot
manho da empresa, expresso na “empresa gigante” ou “grande
firma industrial”. Essa concentração pode assumir várias forma
Na forma de concentraçãovertical, ela abrange a reunião, so
“controle unificado, das diversas fases daprodução material, «
extensão da unidade de produção por baixo e por cima dosd
versos processos de trabalho que dependem até aqui de unidad:
de produção separadas. Essa extensão refere-se, mais amiúde,
igualmente ao ciclo da circulação do capital, o que implica
subordinação do capital comercial ao capital industrial: os m
nopólios industriais, visando ao controle monopolístico do me
cado, possuem suas próprias redes de comercialização. Enfin
essa extensão refere-se a domínios reservados até aqui ao co
junto de produção, e aque dependiam de um controle econômi
distinto, principalmente os recursos naturais e as matérias-prima
e da pesquisa. Mas a concentração industrial apresenta-se també
com forma “horizontal quando se refere à extensão de u
AsCLASSESSOCIAIS NO CAPITALISMO.

idade de produção aos diversos processos de trabalho de uma


sma fase produtiva.
Esses traços já remontam à articulação das relações de pro-
dução — propriedade econômica e posse — e dos processos de
abalho em seus efeitos sobre as fronteiras das unidades de pro-
dução. Eles não podem ser diretamente apreendidos por critér
ios
empíricos quantificáveis. que só assumem um papel bastante re-
lativo de indícios. É sobretudo o caso do critério do. porte da
empresa avaliado segundo o número dos trabalhadores emprega-
dos, critério que enfatiza as distinções estatísticas entre “orandes”,
“médias” e “pequenas” empresas. Com efeito, esse critério deixa
de lado a questão da produtividade do trabalho, correlato à alta da
composição orgânica do capital, segundo os diversos ramos da pro-
dução: uma empresa petroquímica e uma empresa têxtil que empre-
guem o mesmo número de operários podem depender uma do
capital monopolista, outra do capital não-monopolista. Tanto mais
que o capital monopolista é caracterizado tendencialmente por
na diminuição proporcional do trabalho vivo em relação ae
abalho morto.

- Mas não podemos mais basear-nos principalmente sobre uma


edida do grau de concentração segundo os ramos da produção
cial, isto é, referir-nos à parte 'proporcional que cabe a certas
mas na produção por ramos. Dada a socialização dos processos
e trabalho, de um lado, e, de outro, as necessidades para ocapi-
tal monopolista de tirar vantagem das taxas desiguais de lucro
por ramos, o capital monopolista se estende mais fregiientemente
sobre vários ramos: a Pechiney, por exemplo, que produz ao mes-
mo tempoalumínio e produtos químicos. Limitando-nos a uma a
ão por ramos, somos forçosamente levados a subestimar o grau E]

de concentração e a perder as fronteiras entre capital monopo-.


lista e capital não-monopolista. Mesma observação no que se re-
ere à medida da concentração segundoa parte que pertence
às
firmas nos diversos produtos: uma das características da grande
firma industrial sendo precisamente a diversificação constante
dos produtos acabados que ela propõe ao mercado. Podemos
ir
ainda mais longe: o critério concernente à percentagem na produ
-
são global de uma economia nacional detido por uma ou
certas
irmas é igualmente um indício muito aproximativo.
pois não
somente, desta vez, ele omite inteiramente a difer
enciação por
ramos, mas ainda negligencia o processo de internacio
nalização:
do capital; aquele da percentagem dos ativos detidos
por firmas
“confunde, e, pronto jurídica e pro
econômica. prie
Qual é então, agora, o critério
proveniente da posição d
capital monopolista em relação ao mercado? A
capitalismo monopolista não se situa teoria marxista do
sobre O terreno das relações
dos capitais sobre o mercado: as
coordenadas do mercado e da
circulação do capital são somente
um efeito da reprodução am-
da produção. A existência de
ominante no mercado não eli-
“mina a concorrência comercial, e
só faz reproduzi-la em uma.
“escala diferente. As objeções à teori
a do cap
italismo monopolista
que se colocam do ponto de vista do
mercado, e que sustentam
que não se trata, de fato, de mo nop
ólios mas de “oligopólios”,
que não se trata de uma abolição da con
corrência mas de uma
“concorrência imperfeita”, situam-se
ao mesmo tempo sobre um
terreno diferente da teoria marxista e lhe atribu
lhe são estranhas.
em análi

tal, indício que d eve


ser manuseado com muitas pre
cauções.
“Enfim:a capacidade de realizar sobrel
capitalmonopoli sta em razão, ent ucros que é aquela d
re outras, de seu lugar domi
o, e a necessidade de invest
imentos seletivos nos
ramos e domíni os mais rentáveis
, se refletem na utilização do.
lucro. O capital monopolista aprese
i nta possibilidades, realmente
dignas de nota, ú ç

Antes de chegarmos à análise


das relações de produção, é |
necessário nos atermos ao pap el que
pital social, à centralizaçãodo capita cabe, na reprodução do ca-
l-dinheiro. Tal centralização
só pode ser apreendida na suare
lação com a concentração do .
capital produtivo, que contin
ua sendo o momento determ
do processo de reprodução. As inante.
possibilidades de autofinanciamen
to, isto é, a acumulação e a ren -
tabilização dos resultados obtido
s
tamente na produção, apresentam limites em razão das desi-
aldades entre os fluxos de lucro e a extensão do capital pro-
vo*: o fluxo de lucro pode revelar-se insuficiente para olan-
amento de novos negócios; em outros casos, o fluxo de lucro
“permite a constituição de “reservas” que devem, entretanto, con-
ntrar o lucro até que sirvam à extensão da empresa; de qual-
er forma, mesmo que a constituição, pela concentração, de.
omplexas unidades de produçãotransforme o próprio sentido de
as entre as unidades de produção que as compõem, desde que
is não constituam mais trocas “externas” entre unidades sob
ntrole separado, mas “internas” no seio da unidade complexa,
s trocas continuam a existir, apresentando irregularidades liga-
as aos desníveis do investimento; finalmente, as desigualdades en-
ramos e setores, na tendência à perequação das taxas delucro,
gem transferências rápidas dos capitais de um ramo ou setor
outros, a fim de maximizar o lucro.
É aqui precisamente que intervém o papel do crédito, isto é,
apital-dinheiro ou bancário, como intermediário de financia-
to: a centralização docapital-dinheiro, que dá lugar aocapi-
onopolista bancário — aos “grandes bancos” —, está direta-
te ligada à concentração do capital produtivo. Mas, no pro-
histórico concreto e segundo as formas da contradição prin-
, essa centralização pode, em seu ritmo, preceder, acompa-
ou seguir à concentração, segundo a égide sob a qual se
tua — capital industrial, capital bancário — nos diversos países,
onstituição do capital monopolista. Podem-se, segundo as for-
ações concretas e suas etapas, constatar andamentos e graus
ferentes da concentração industrial e da centralização bancá-
a, à saber, avanços ou atrasos de uma em relação à outra: na
rança, principalmente, a centralização bancária tem em geral pre-
dido, em cada etapa, a concentração industrial. Enfim, na cons-.
uição do capital monopolista bancário, intervêm, além do apelo
cupança pública por exemplo, os lucros diretamente realizados
pelo capital produtivo. E ;
- Já se podever, então, que o capital financeiro, que é o modo
de funcionamento, na reprodução do capital social, da reunião
ou “fusão” entre capital industrial e capital-dinheiro, realiza-se
cb uma primeira forma: sob a forma de intervenção da centra-
iai

| º Por exemplo, a taxa de autofinanciamento dos investimentos in-


dustriais na França situa-se entre 65 e 70%; nos Estados Unidos, depois
e um crescimento espetacular, caiu, entre 1965 e 1970,
a 75%.
ização do capital-dinheiro na constituição dos monopólios in
triais, e sob a forma de intervenção da concentração do capit
produtivo na constituição dos monopólios bancários. Esse proce
s
de fusão não pára, no entanto, aí: estende-se à interdependênc:
crescente do capital monopolista industrial e do capital
monop
lista bancário, o que dá lugar à emergência daquilo que se desis
na em geral pelo termo de “grandes impérios financ
eiros”. Est
apresentam um momento superior de fusão entre
grandes firm
industriais e grandes bancos. Essa etapa de fusão,
que representa
a reunião, sobpropriedade econômica é controle
únicos, das gra
des firmas industriais e dos grandes banco
s, pode apresentar-se
sob a forma de uma dominante seja do capital indust
rial i
ou controla seus próprios bancos,
seja do capital bancário, qu
cria ou controla suas próprias firmas industriais.
esse momento de fusão pode, segun Aqui também
do os países, preceder, aco
panhar ou seguir o ritmo próprio
à concentração e à centralizaçi
Em outras palavras, o processo de fusão
designado pelo capital
nanceiro abrange ao mesmo tempo as relações dos
entram em combinação, e, por tal elementos
fato, esses próprios elemento:
mas não implica contudo numa
extinção pura e simples dess
elementos pela sua “integração”
em uma “entidade” — o cap
financeiro — metafísica. Essas
observações são muito importan
para apreender as contradições
que atravessam, em todo momento
de sua reprodução, o capital monop
olista, e, em suma, para re
lar as fissuras desse processo de
fusão.
Mas, ao mesmo tem

cia; c) açõ e capital monopolista e capita


polista, em suma, as relações e l não-moni
contradições atuais no seio da bur
guesia, só podem ser compreend .
idas através do exame da aç
das relações de produção sobre
os processos de trabalho.
Esse exame das relações de
produção, e de suas transform
ções atuais, é o aspecto princi a
pal do problema, dado o pri
das relações de produção sob mad :
re as forças produtivas: é me
muito exatamente, a ação des sm o,
sas relações transformadas nos
pro

mágica que ocupa um lugar produtivas, verdadeira fórmu


Xistas atuais, não é, de
de exp lic açã o nas numerosas análises mar.
fato, uma tendência j man
balho como tais: exprime o ente aos processos de tr.
; pro ces so que lhe s imp rimem as relações de p
, insi o, primeiramente, sobro o impacto das
ções atuais das relações d produção no
trans
próprio seio do
monopolista. :

As Fases do Capitalismo Mon opolis


ta e as Modificações das .
' Relações de Produção

Il

Se a reprodução ampliada do capitalis


mo produz transforma-
ões desse modo apreendidas enquanto
estádios e fases, existe um
núcAleo invAarianteOidd das relações de produção que
ô caracterizam,
e que faz com que essas transformaçõ
es sejam somente as “for-.
nas transformadas”
Ny 4

a força de trabalho, que também


se torna uma mercadoria, o
e dá lugar à exiração específica do
sobretrabalho sob forma de
is-valia,
a
“1. Isso coloca um primeiro problema: os está
dios compe- |
vo e monopolista, situados na reproduçã
o “ampliada” do ca-
alismo, se distinguem do que Marx desi
gna como o período
a manufatura ou da forma comercial simp
les: eis por que duran-
o trabalho ao ca-

Assim, a relação entre esses dois est


ádios do capitalismo, com-
etitivo e monopolista, não é absolu
tamente a mesma relação que
xiste entre estes de um lado, e o períod
o manufatureiro de outro:
e isso ao contrário, desta vez, das aná
lises dos pesquisadores do |
F que, baseados princi palmente na “socialização” das
forças
constitui a transição no sen PES

tre o feudalismo e oc apitalism tid o estrito, en


o, referindo-se os dois est
questão à reprodução ampl ádios e
iada do capitalismo.

As modificações refere
m-
da mais-valia: elas não
trocam a expropriação e
dos trabalhadores direto o despojam
s de seus meios de prod
lugar dos trabalhadores ução, isto é, |
nas relações de produção
diferenciais (“formas tran . Essas form
sformadas”) referem-se à rmas

CET Delilez, Les Mon


Politique économique..., opoles..., Op. cit., pp.
117 sq.; Ph. Herzo;
Capitalisme monopolis
OD. cif., pp. 49 sq.; P. Boc
ted'Etat...
cara, Etudes sur
1973, pp. 21 sq.
plo, que assume atualmente uma importância
particular, será
ciente: essas transformações visam principalmen
te permitir ao
tal monopolista contrariar a tendência à baix
a tendencial da.
NG
a de lucro, na relação — não somente aum
entando a taxa
v
xploração, mas também desvalorizando uma
parte do capital
stante (c). O que precisamente pode serfeito
, nas relações
Capitais entre si, pela via indireta das tran
sformações das
ões de produção que constataremos: tran
sformações que vi-
então, igualmente, permitir ao capital, e
a seus diversos
ponentes, o funcionamento nas novas cond
ições de estabele-
nto, sob o capitalismo monopolista, da taxa
média de lucro.
s essa rede complexa de fatores e as tran
sformações que lhe |
espondem referem-se, em última análise,
à contradição capi-
abalho, isto é, à exploração. :

sas transformações da articulação da propried


ade econô-.
da posseno seiodo lugardo capital:
rimem-se pelas relações concretas entre os
s que elas comportam:
diversos .
o ni
) dão lugar a graus diferentes de propried
ade econômica
posse das diversas frações do capital, segundo os
estádios a
s docapitalismo. a
Essas transformações repercutem entã
o diretamente:
a) em transformações da propriedade jurídica;
a
b) em modificações dos limites das unidades de
es SOS produção. (as |
E E :
c) em diferenciações entre os agentes que, ocupando
o lugar |
capital ou diretamente dependente dele, exercem
a Pluralidade
“poderes das relações que circunscrevem esse
lugar.

EI

As transformações atuais podem ser melhor apreendi


das se
s referimos à figura típica dessas relações no estád
io do “capi-
ismo competitivo”. Esse estádio é caracterizado por
um enco-
tmento dos limites das relações entrepropriedadeeconômica
encobrimento, que corresponde a um
grau de socialização cap:
talista de processos de trabalho sep
arados entre si, dava lugar
imagem clássica da unidade de pro
dução como “empresa indivi-.
dual”. Tal encobrimento estendia-se,
aliás, à propriedade jurí
ca “individual”, detida pelo capi
talista privado. O próprio exercí
cio da pluralidade dos poderes -
da propriedade econômica e da

ão, uma das modificações mai


longo do estádio do capitalis s evidentes aos
mo monopolista, consiste na “di
ciação relativaentre propriedade econ sso-
dica, introduzida pelasociedad ôm ic ae pro priedade jur
eporações. a
A sociedadeporações,forma de er
corresponde à concentração pro pri eda de jur ídica que
e à centralização do capital,
é

dutivo — fusão e absorção


das firmas industriais — e
tralização do capital-dinheir da ce
o; de outro lado, na interd
crescente entre esses dois ependên
movimentos, isto é, ent
industriais e monopó re monopólio
lios bancários. Os mono
criando fregiientemente seu pólios industriais
próprio complexo de banc
dentes e de sociedades de os depen.
empregos financeiros (holdi
Parte do capital dos grupos ngs), fazem
bancários: eles detêm de fato
carte

a sociedade por ações implic


a, como forma de proprieda
rídica, uma socialização — de ju
“privada” — desta última nos
“da classe capitalista. limites
E ;
Trata-se, pois, de uma dissoc
iação relativa

equivalente ou proporcional de
propriedade econômica e de cor
trole real. Essa propriedade é
detida na totalidade por algun
grandes acionistas, não forços
amente majoritários, que, atr
“de vários meios indiretos, sufici avé
entemente estudados, concentra
Os poderes que daí decorrem.
f
- a) que os processos de concentra
ção e de centralização, e
sua interdependência, se realizam sob
formas fregiientemente dis-

>

ú , E
Em suma, levar em : MN :
conta essas diss ociações é proporcio nar-
e o meio de exame das contradiç
ões“noseiodaburg uesia no
estádio capitalista monopolista.
Cs
Isso se refere primeiramente ao pró
prio processo de fusão
ciclos do capi tal produtivo e do capital-dinh
cesso pode de fato realizar-se, em eiro. Esse pro-
diversos graus, sob a forma
de uma autonomia jurídica das empres
as referidas: a tomada do
i ? jurídica,
“é tão-somente uma das formas ou res
ultados possíveis desse pro- a
“cesso. Encontra-se aqui, frequentemente, toda uma

o E pi EE Rr atoa
distinta: a participação mino ritária, a
en
)
e umaparte minoritária das ações
de uma firma por outra.
o controle econômico rea
l, no
trole minoritário) é apenas u
essa tomada de Participação
não é mesmo necessária: um
de empresa industrial pode, a gran
indiretamente, por. interméd
múltiplas subcontratações, io das
apoderar-se de uma unidad
dução separada, seja apropr e de pro
iando-se de alguns dos pode
res decor-
ES

tm

a
w
a

igualmente nas formas de


O

rue
tw

o
=

=
O
tw

wa
D

e
»
je)
Es
o
tw

5
inter-.
E

entrea concentração do capital


“ralizaçãocapital-dinheiro.Afim

» esse grupo im
po
a destinação dos meio
s de produção
empresa. Isso serefere
tanto às gra
do em vista seus
a
e
E E
EG

Os
Es
E 5
w
2 tw

ms

E
é
g
o
P
tw

Saoê
8 tw

+. Uma grande firma


industrial » Um grande ba
olding financeiro — nco, um grande
pode muitas vezes esconder, sob a fach
de elementos “abs ada
orvidos”, seja propri
edades econômicas relati-
dao
industrial
ade por contradições interisas entre os capitais Que o compõe
: que, no entanto, aparecem como juridicamente “integrados”.
“Mas essa dissociação dos poderes decorrentes da propriedade
conômica é apenas elemento pendente da tendência à concen-
ração e à centralização do capital sob propriedade única. Ela não
ignifica uma distribuição qualquer igualitária ou proporcional do-
poder e da propriedade econômica entre os capitais concentrados:
ssa dissociação abrange as contradições entre esses capitais e as
“lutas entre as frações do capital, e deve ser apreendida de fato
como um meio de perda de certos poderes, e de degradação da
propriedade econômica de certos capitais, em proveito de outros,
“que concentram esses poderes e esses graus de propriedade. Esse |
processo contraditório de dissociação-concentração abrange de.
to toda a gama de expropriações relativas na reprodução am
pliada do capital monopolista em direção à reunião doscapitais
[ propriedade única, e designa assim, igualmente, as resistên-
À rocesso: o processo de fusão dos Ea não tem nada
uma associação ou cooperativa.

TI

; Mas nda há mais: sob.a fachada de umarelativa permanên-


cia das formas de propriedadejurídica ao longo do processo do:
róprias relaç
roduçãosemodificam. Essas modificações constituem outras.
tas novasformasdas relações de produção capitalistas, cor
respondentes ao capitalismo monopolista: referem-se em parti
cular ao processo de dissociação-concentração da propriedade
econômica emsuas relações (rapports) com a relação(relation) de
posse nos processos de trabalho. Essas modificações têm então,
“como lugar central, o próprio ciclo do capital produtivo, e ma-
nifestam-se por mudanças importantes na divisão social do tra-
balho e na conformação das empresas.
"* Seguirei, aqui, a linha de delimitação do capitalismo mono-
p ista em fases, a qual foi ao no ensaio anterior como pe-
, competitivo ao capitalismo monopolista; b) se
dação do capitalismo monopolista; c) sua fase atual. Vou
me às modificações das relações de produção “internas”nas|
trópoles segundo essas fases, o que me permitirá precisar as an
lises anteriores.
e

fo
atA a de posse; estreitamente articulada ao processo
“trabalho, designa-a” ossibilidade de realização dos meios de t
balho em um centrode apropriação da natureza, e remonta assi)
“aos graus de domínio de um processo (ou de uma série de pr
cessos) de trabalho determinados e de condições de sua reprod
ção. A relação de posse comporta uma série de poderes particul
res, distintos daqueles da relação de propriedade, e que têm c
racterísticas, principalmente, na“direção e naorganização inte
nas dos processosdetrabalho na
adivisãosocialdo trabalho. |
“Uma
unidadede produção — uma “empresa” —, form
articulação das relações de produção sobre o processo de di
lho, antesde mais nadaestá situada em relação à posse. O
caracteriza, desse ponto de vista, a coesãoprópria de umaunid
de produção em relação às outras ca interdependência est
dos ia de trabalho que aí se Gge que determ

dependa e processos de RiNE não têm mo


própria não tem aliás nada que ver com a proximidade “fí
dos diversos estabelecimentos: processos de trabalho praticame.
inextricáveis podem muito bem ser efetuados em diversos es
lecimentos geograficamenteseparados. Cadaprocessode trab
podendo sercentralizado em um estabelecimentodistinto, inte:
em uma transformação determinada pela interdependência desse
processos. Assim, os produtos que circulam entre esses process
não constituem trocas “externas”, não são, propriamente,“
didos” e “comprados”, mas constituem trocas internas (pre
transferência) na unidade de produção, seguindo um fluxo
tínuo. Aunidade.de.Produçãosupõe assim,na relaçãode poss

“Nomodode produção ei a relação de posse pertenc


ao lugar do capital que igualmente contenta ao propricdais ec
nômica. Uma unidade de produção — uma “empresa” — capit:
lista supõe igualmente uma propriedade econômica dos meio
produção utilizados nessa unidade. Quando o processo de pr
ASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HoJE

o implica interdependências entre processos de trab


alho que se
aplicam a meios de trabalho pertencentes a proprietário
s diferen-
tes, deparamos com relações entre unidades de
produção distintas. |
' Em outras palavras, uma unidade de produção
capitalista é a con- |
figuração concreta darelação entre uma prop
riedade econômica |
e uma posse pertencentes, todas duas, ao capital.
- à
"Dessa análise da unidade de produção, que supõ
e uma ruptu-
“ra radical com todas as concepções “institucion
alistas” da empre-
sa, podemos desde já destacar duas linhas prin
cipais: a) dada a
“socialização crescente dos processos de trabalho correspo
ndentes
ao processo de concentração do capital sob o capitali
smo mono-
polista, torna-se evidente que ospróprios limites das unid
ades de
produção se deslocam; b) esse deslocamento dos limites, em re-
Jação a essa socialização, é comandado pelo traçado que a con-
centração do capital imprime a essa socialização e, portanto, à
divisão social do trabalho. Ele não é devido a uma necessidade |
técnica qualquer de um processo de trabalho em si. O processode
trabalho só existe nas condições sociais sob as quais ele é exercido.
"Ora, a articulação precisa da propriedade econômica e da
“posse assume formas diferentes segundo as fases do capitalismo
monopolista 8.
- Durante as fases de transição e de consolidação, o capitalis-.
"mo monopolista toma pé e estabelece sua dominação nas forma-
ções sociais das metrópoles, em particular nas formas do capita
-
“Jlismo competitivo (capital não-monopolista). Essas fases
corres-
" pondem a formas determinadas de extensão do capitalismo
mo-
nopolista, em face das resistências muito fortes do capita
l não-
* monopolista e da pequena produçãodependente da forma
de pro-
“dução comercial simples (pequena-burguesia comercial
e artesa-
nal). Nos efeitos contraditórios de dissolução-conservação
que a
dominação do capitalismo monopolista impõe a essas
formas, são
Os efeitos de-conservação que predominam: o capita
lismo mono-
polista não chega ainda a submeter (Csubsumir”, segun
do o termo
“de Marx) inteiramente essas formas. Isso tem
consegiiências na
Teproducão própria do capitalismo monopolista:
na alta da taxa |
“de exploração, que tende a contrariar a baixa
da taxa
lucro, não se constata ainda um claro deslocamento média de
à
em direção
dominante exploração intensiva do trabalho.
A organização dos
processos de trabalho e a divisão social
do trabalho não passa-
am ainda, enquanto processos
de conjunto, sob a direção do
ital monopolista. ca-.

E Vo O quadro das pp.


142-143,
outros, e que se enco
ntra aqui, sob forma
entre os dois estádios específica, na relaçã
do capitalismo. De fa o.
ção da propriedade econôm to, será a concentra-
ica, refletindo-se nas cond
da produção e da Tepr
odução, que, no caso pr
ições sociais
“com defasagens necess esente, imprimirá,
árias, seu traçado e seu. ritm
ão do processo de trabalho. o à socializa-

ti 0107ao
Io

aquela-de-umapropriedade-s
ido Pe relações depo
co
nde
sserelativa-
se aqui a forma típica
do $rupo-holding
opriaçãoreal — em graus diversos — em proveito do capital
onopolista, tornou-se possível pela dissociação, durante essas fa-
es, entre propriedade econômica e posse. O capital monopolista
e associa a alguns poderes da propriedade econômica de um outro.
apital, permanecendo alguns outros poderes, nesse processo de
uta e de resistência, neste último capital, na medida em que a
forma predominante da concentração não quebre ainda os limi-
tes das unidades de produção e se estenda sobre posses separadas;
o) capitalista que se vê espoliado de alguns de seus poderes de
propriedade pode reter ainda poderes importantes de posse. Com |
“efeito, todo grau de propriedade econômica só pode, sob o capi-
alismo, comportar poderes de posse, ficando o lugar do capital.
circunscrito precisamente. por essas duas relações: a dissociação
ntre propriedade econômica e posse, que implica a concentração
“de posses separadas sob propriedade única, não implica, em com-
pensação, a possibilidade de um grau de propriedade, ou de alguns
poderes de propriedade, sem poderes de Pose:

SSsnes
o assRES IV

“impõe sua direção ao conjunto dosprocessos“detrabalho e in


õe uma divisãosocial do trabalhonoconjuntoda formação social.

pela socialização. maciça, e toda característica, dos processos


abalho: ela corresponde ao deslocamento da. dominante em +
reção à exploração intensiva do trabalho (mais-valia relativa)º
- Nessas condições, a forma dominante de concentração d
capital produtivo durante a faseatual é aquela já assinalada da
produção integrada: ela significa uma reestruturação dos proces- |
sos detrabalho, no sentido de uma socialização e de uma divisão
social conforme à concentração da propriedade econômica. O

9 Mas igualmente à relação de força entre capitais no processo de


desvalorização constante de uma parte do capital, desvalorização qu
contribui paralelamente o contrariar a baixa tendencial da taxa mé-
ia de lucro.
processos detrabalho que se desenvolvem no seio das diversas1
dades de produção sob propriedade concentrada e única articul 1
“se estreitamente. O que tem como efeito parcial a constitu
das unidades de produção complexas, cujas diversas subunidades
que a compõem, as unidades de produção elementares, aparec m
como os elementos orgânicos: assiste-se assim à emergência das
grandes firmas. industriais ou empresas gigantes. É o caso clássi
da petroquímica, onde as inovações tecnológicas no tratamen
dos derivados do petróleo dão lugar, no próprio seio de uma me
ma propriedade econômica, à articulação estreita dos processos «
trabalho das unidades de produção, dependentes originalmen
daqueles dois ramos (petróleoe química). Os limites tradicionais d
unidades de produção recuam até o ponto de recobrir os con
nos da propriedade econômica: é o famoso problema da “reestr
turação” ou da “modernização” das empresas. Essa integração «
processos de trabalho e o recuo dos limites das unidades de pr
dução referem-se, em diversos graus, tanto à concentração n«
seio de um ramo quanto à concentração inter-ramos: é que, p
ralelamente, os próprios limites dos ramos da produção soci
atenuam. As trocas entre unidades de produção elementares.
uma unidade de produção complexa tornam-se trocas “interna
a esta última. Observa-se, pois, que essaintegração dos proce;
de trabalho não impede nem a diversificação dos domínios de
vestimentos, nem a diversificação constante dos produtos
oferecidos pela firma gigante. a
Essa direção atual da concentração do il implica, assi
uma tendência à reabsorção do afastamento e da dissociação q
caracterizava, nas fases precedentes do capitalismo monopo
a propriedade e a posse: ocapitalismo.monopolista completa
subsunção real ampliada dos meios e forçasdetrabalhopela di
“soluçãom ciça desuas relações sob outras formas. Asdiversa
“posses submetidas a uma.“propriedadeconcentrada se dissolve
de forma concomitante ao recuo dos limites das unidades de pr
dução, em uma posse única: as unidades de produção complex
implicam uma instância dirigente central, que comanda a i
gração dos processos de trabalho e regulamenta o fluxo contínuc
entre as unidades de produção elementares. Os poderes decorre:
tes dessa posse única se concentram na propriedade econômi
da firma gigante. Essa concentração dos poderes da posse se re
liza aliás de várias maneiras: entre outras, pela dominação
uma unidade de produção elementar sobre as outras no seio
unidade de produção complexa, quando principalmente esta
de fornece produtos de base comuns às outras unidades, que
r sua vez os diversificam.

Mas essa tendência à reabsorção do afastamento entre pro-


priedade econômica e posse tem efeitos sobre a própria proprie-
ade econômica. Ao mesmo tempo em que cresce a interdepen-
“dência entre processos de trabalho e capitais, ela só faz, por esse
meio indireto, e é o que nos interessa, reproduzir, dé maneira
mais intensa, as contradições entre as diversas frações do capital.
Essa reabsorção conduz a uma reabsorção necessária da dissocia-
ção entre os diversos poderes decorrentes da propriedade econô-
mica e a uma concentração aumentada dos “graus” de proprie-
dade econômica distribuídos nas diversas unidades de produção.
“A ausência de uma produção integrada permitia toda uma série
de expropriações relativas, pelas quais um monopólio industrial
se associava de fato a uma unidade de produção enquanto aban-
donava alguns poderes de propriedade (alguns, dos múltiplos casos .
e subcontratação) a capitais distintos, no contexto de uma re-
sistência dos limites da posse e das unidades de produção nos
processos de trabalho. “Mas a socialização e a integração aumen-
adas dos processos de trabalho, a concentração da direção e do
domínio desses processos, conduzem necessariamente a uma luta
intensa paraa concentração dos poderes de propriedade sob pro-
priedade única.

Isso não se refere somente às relações entre capital monopo-


Iista é capital não-monopolista — voltaremos ao assunto —, mas
tambémàs relações no próprio seio do capital monopolista. Como
prova temos não somente o repetido fracasso das empresas unidas,
das filisis comuns a vários grupos monopolistas, mas também a
luta intensa entre monopólios para o controle exclusivo e único
de firmase setores inteiros. Isso se refere, enfim, às relações no
próprio seio de um capital concentrado ou de um grupo monopo-
ista: as diversas “alianças” que davam lugar, frequentemente, a
raus diversos de propriedade econômica, distribuídos entre diver-
sos capitais assim reunidos sob a dominação de um dentre eles,
têm cada vez mais tendência a situar-se na concentração exclusi- |
a do conjunto de poderes de propriedade nas mãos de um só.
Em suma, essa tendência, acrescida à fusão dos capitais, en-
tendida, na fase atual, como tendência à reabsorção das dissocia-
s entre propriedade econômica e posse, de um lado, entre os
ersos poderes e graus da propriedade econômica, de outro, só
As CONTRADIÇÕES ATUAIS DA BURGUESIA e 3

faz aumentar as contradições e as lutas entre as frações do capital:


eis aí a primeira conclusão que nos interessa diretamente.

Terei ocasião de voltar a essas análises no exame da relação


entre: capital monopolista e capital não-monopolista na fase atual:
veremos principalmente que as modificações atuais das relações
de produção monopolistas ultrapassam de longe a simples cons-
tituição das unidades de produção complexas, que não passa de
um efeito muito parcial dessas modificações. Insisto no momen-
to em três observações importantes:

1. As fases do capitalismo monopolista analisadas acima não


devem absolutamente ser apreendidas segundo o esquema de um
etapismo unilinear de sucessão cronológica. Segundo as formações
sociais concretas, e em graus diversos, as relações capitalistas mo-
nopolistas da fase de consolidação coexistem, de maneira muito
particular, com aquelas da fase atual. Na medida em aque se trata
aqui de um estádio (capitalismo monopolista) do capitalismo, é
necessário apreender bem a significação da frase de Lênin, se-
gundo a qual esse estádio não é outra coisa senão a “superestru-
tura” ou o “rótulo” do “antigo capitalismo”: o capitalismo com-
petitivo (o capital não-monopolista) reproduz-se de fato constan-
temente, se bem que de forma dependente, sob o capitalismo mo-
nopolista e suas diversas fases. Isso quer dizer que, mesmo na sua
fase atual, o capitalismo monopolista apresenta ao mesmo tempo
os caracteres das relações de produção que comandam sua “exten-
são” sobre o capital não-monopolista que ressurge constantemente.
Além disso, dada a desigualdade das taxas de lucro por ramos e
setores, e a necessidade para o capital. monopolista de maximizar
seus sobrelucros, a tendência de uma concentração dotipo holding,
sem integração efetiva dos processos de trabalho e absorção do.
afastamento entre propriedade econômica e posse, é uma tendên-
cia permanente à reprodução ampliada do capital monopolista.
Não é menos verdade queessa forma de extensão assume na
fase atual características específicas, pois ela se realiza precisa-
mente segundo as novas coordenadas desta fase: a concentração
em holding assume atualmente a forma principal do conglomera-
do. Ora, mesmo que esses conglomerados incluam “processos de
trabalho extremamente diversificados, sem efetiva integração en-
“eles, énecessário todavia notar, como o €

os conglomerados não são


faz Y. Morvan 1º, que .
gruposholding, no
sentido tradicional
o termo: com efeito, na maior
parte do tempo, os grupos tra-
dicionais se contentam em deter
uma parte mais ou menos im- .

“forma efetiva, essas filiais; em outras


palavras, apresentam-se como
verdadeiras firmas industriais”,
o
Em suma, a periodização em estádios
do capitalismo e os efei-
tosde dissolução-conservação que o
capitalismo monopolista im-
põe ao capitalismo competitivo não pod
em ser apreendidos da mes-
ma forma que as relações entre modo de
produção capitalista, de
um lado, e os outros modos e formas
de produção, de outro. A
dois estádios é específica, na medidaem que o
pitalismo monopolista constitui a rep
rodução ampliada do con-
to do modo de produção capitalista, e
reproduz, assim, sob.
uma nova forma, as contradições de con
junto do ciclo de repro-
ução. Isso vale ainda mais para a period
ização em fases do pró-
rio capitalismo monopolista: as caract
erísticas das fases “prece-
entes” do capitalismo monopolista não est
ão simplesmente con-
servadas na fase atual, que possui características esp
ecíficas, mas
são nelas reproduzidas constantemente sob nova
forma. Tudo isso
fazcom que as formasque segue o processo
de “fusão” no ciclo
deconc entração do capital produtivo e no ciclo*
de centralização
“do capital-dinheiro, assim como em sua
s interdependências e in-
ter-relações, sejam extraordinariament com
e plexas. Elas só podem
ser elucidadas pela análise concreta da art
iculação das diversas
fases em uma formação social concreta:
o caso é patente princi-
palmente para a França, em virtude do
seu atraso, até os últimos
anos, no processo de concentração do capi
tal;
2. A periodização estabelecida no Plan
o mundial de inter- |
nacionalização das relações capitalistas não destaca
exatamente,
do ponto de vista cronológico, a periodização
das diversas metró-
poles capitalistas: não se pode esquecer
aqui que a corrente im-
perialista não é a simples soma das part
es que a compõem, e que
9desenvolvimento dos elos dessa corrente
é desigual. As defasa-
—————
o Y. Morvan, La Concentration
de Vindustrie en France, 1972,
gens cronológicas podem assim se apresentar ao mesmo
tempoen
tre a fase da corrente imperialista e a fase interna
“correspon-
dente” de uma metrópole imperialista, e
entre as fases concretas
que atravessam em um momento determinado as
diversas metr ó-
poles. Mas isso indica igualmente que, no caso
de um “atraso”
de uma metrópole em relação à fase do conjunto
mundial da cor.
rente imperialista, é essa corrente que impõe
a essa metrópole a
passagem, do ponto de vista interno, para
a fase correspondente
o caso é ainda aqui patente para a França,
com seu atraso carac :
terístico; a França só passou para a fase atual do
capitalismo mo-
nopolista de forma recente (5.º e 6.º Planos),
sob o impulso, pre-
cisamente, da internacionalização das relaç
ões capitalistas;
3. A análise feita aqui das relações de
produção segundo :
as fases do capitalismo monopolista, das
comparações entre rela.
ções de propriedade econômica e de
posse e entre os poderes que
daí decorrem, refere-se ao lugar do capi
tal de suas frações. Bem di- .
verso é o problema dos agentes que exercem esses
poderes, a sa-
ber, aqueles que ocupam esse lugar ou que
dependem dele dire-
tamente. É evidente que as modificações
dessas relações têm como.
efeito a diversificação das categorias dos
agentes que exercem
esses poderes: as famosas questões dos
empresários ou da tecnoes-
truíura só são um dos aspectos do prob
lema. Essas modificações
têm então efeitos sobre a organização
institucional da “firma”.
o que se manifesta como tendência de cent
ralização-descentrali-
zação da “tomada de decisão” nas firmas
gigantes, como buro
cratização das empresas modernas etc.
Não há dúvida que essas
questões são importantes: mas são, no
final das contas, secundá:
rias, pois só são um efeito das modificações
das relações de pro
dução. Era necessário frisá-lo, em razão da
nalista atualmente dominante, que consiste tendência institucio-
em centralizar o pro-
blema em torno das modificações da
estrutura organizacional da
“firma”.
4 o

3. As Contradições no Seio do Capita


l Monopolista

Essas análises enfatizam o seguinte


fato: sob sua fachada uni-
: ficada, o capital financeiro reprod
uz de forma ampliada, sob for-.
O «ma nova, as contradições inerentes
ao processo de reprodução do
q capita l. A “fusão” dos capitais, a qual pro
E
duz o cap
ital financei-
- To, é, sob as aparências jurídicas,
um processo divergente e con-
Ê traditório: o capital financeiro não
abrange um capital integrado,
s designa o modo de funcionamento e de relações, nesse pro-.
sso, das frações do capital em sua interdependência crescente.
Em outras palavras, o conceito de capital financeiro designa o
processo contraditório de constituição do capital monopolista.
São essas contradições e fracionamentos do capital monopo-
“lista, componente da burguesia interior das metrópoles ana
listas, que analisarei primeiramente.

Essas contradições referem-se em primeiro lugar às relações


entre os monopólios industriais, de um lado, os monopólios ban:
“cários, de outro, nos quais dominam respectivamente a concentra-
ção do capital produtivo e a centralização do capital-dinheiro. Já
produzidos, cada um deles, pelo processo de fusão do capital in- |
dustrial e do capital bancário, reproduzem, ao mesmo tempo, as
tradições entre capital produtivo e capital.“dinheiro. O capital
nanceiro apresenta, assim, em seu próprioseio as contradições
stitutivas da classe burguesa. Poder-se-ia empregar, nesse sen-
o termo interiorização das contradições no seio do capital
nceiro, mas com a condição de precisar que não se trata nem.
uma totalidade integrada, o capital financeiro, nem de simples
tradições dos “grupos financeiros” entre si, cada um já cons-
ituindo uma totalidade integrada: trata-se realmente de contra-
ões dos próprios elementos que entram no processo do capi-
financeiro — capital industrial, capital bancário —, elementos
ue já estão modificados no, e pelo, seu processamento.

Com efeito, o termo capital financeiro não abrange, como se


credita com fregiiência, o capital bancário. De fato, encontra-se
í o sentido que ele assume, de maneira mais clara, em Hilferding:
mas o próprio Lênin, ao cometer por vezes deslizes a tal respeito
em seu texto sobre o Imperialismo evita caucionar essa confusão.
is por que ele mantém sempre, contra Hilferding, o papel de-.
terminante do capital produtivo !!, e a reprodução, sob o impe-

É 11 Não tenho aqui a intenção de proceder à análise e-austiva desta


“questão; vou me limitar a um único exemplo, mas altamente sign'fica-
“tivo, tirado do Impérialisme, stade suprême... (op. cit, p. 823). O pró-
prio Lênin cita Hilferding, parecendo retomar a definição que este último
-dá ao Capital financeiro, identificando-o ao capital bancário: “Hilferding
escreve”, diz Lênin, «.. “O capital bancário — isto é, esse capital-dinhei-
alismo, da distinçãoentre este e o capital-dinheiro, seguindo n
arx. Ainda se torna necessário aqui redobrar a cautela, pois«
“sentido do capital financeiro em Lênin é diferente daquele q
“Marx atribui ao termo capital financeiro: em Marx, este term
permanece descritivo em relação ao emprego que dele faz Lênin
e serve para designar uma série de práticas dependentes tanto do
capital comercial como do capital bancário "2.

Assim, o capital financeiro, ao designar o processo de fusã


entre capital industrial e capital bancário, e ao conotar um papel.
novo e muito importante do capital bancário e do ciclo do capi-.
tal-dinheiro, não implica, absolutamente, enquanto tal, que essa
fusão se faça forçosamente sob a égide do capital bancário e pel
dominação do banco sobre a indústria, o que seria o caso, se o
capital financeiro se identificasse com o capital bancário. Ess
confusão é bastante grave e conduz a dois resultados:
a) Os detratores da teoria leninista do imperialismo suste
tam que essa teoria não se verificou, pois, através indiretament
do autofinanciamento, a indústria escaparia “doravante” ao con
trole dos bancos !3. Não somente atribui-se de certa maneira
Lênin, pela confusão entre capital financeiro e capital banc
uma concepção do processo monopolista realizado sob a égide i
lutável dos bancos, mas ainda se subestima o papel ativo e de
sivo do capital bancário no processo de fusão, mesmo quando e
é realizado sob a égide do capital industrial: o que se torna no
entanto evidente, quando se concebe o capital financeiro co:
o modo de funcionamento “global” do capital industrial e
capital bancário;

ro — que se transforma então em capital-industrial, eu lhe chamo c


pital-financeiro. ..”. Ora, acrescenta imediatamente Lênin: “Essa defin
ção é incompleta na medida em que om'te um fato da mais altaim
portância, a saber, a concentração aumentada da produção e do capita
no ponto em que proporciona e já proporcionou o surgimento do moni
pólio... Concentração da produção com, como consegiiência, os mon
pólios, fusão ou interpretação dos bancos e da indústria, e eis então
história da formação do capital financeiro e o conteúdo dessa noção (gr
fado por mim, NP).” j
12 Sobre esse assunto, Suzanne de Brunhof, La Politique monétair
1973... np. 113 sa: é
13 Entre outros, J. Meynaud, L'Europe des affaires, 1967, pp. 111
Mas, de fato, encontra-se aí a posiçãoda totalidade dos autores bur-
gueses.
Te Equilíbrio | instável
entre o mpc e os ia
econômica:“capital É Mamu-
modos de prod. Posse. trabalhadores diretos $ fatura
“pré-capitalistas”
— (feudal)
2. Forma de produ-
ção comercial sim-
Spies

REPRODUÇÃO. 1. Estabelecimento do CARACTERÍSTICA |EROPRIEDADE ECON


AMPLIADA.
domínio do mec DORAVANTE ÔMICA
*POSSE = LUGAR DO
DO CAiPITALISMO 2. Ffeitos de conser- CONSTANTE CAPITAL
vação ainda fre
quentemente domi- Relações:
nantes sobre os ou-
tros modos de pro- a! Propriedade econômica- f identi
dução, sobretudo so- b. Posse À ficação
bre a forma de
produção comercial
simples Graus, de propr. econômica
e de
Posse: não há dissociação
Pódires decorrentes: não há
dissociação

1. Surgimento e ex CONCENTRAÇÃO /CENTRALIZAÇÃO.


tensão do capitalis- DO CAPFFAL
mo monopolista Relações: dissociação ne
2. Equilíbrio instável + ap +
entre o capitalismo Posse 1. Posse 2. Posse 3. etc.
monopolista e o ca-
-* Pitalismo “competi-
y + 4
— tivo
Graus: dissociação
a Efeitos dominantes
de dissolução do ca-
Propr. econ. concentrada
- pitalismo sobre os. Posse cone.
outros modos de A dn e Ba Susy.
produção Pr.Ec. 1 Pr Fe 2 PrELS O
Posl Pos. 2 Pos. 3
Efeitos equilibrados
de dissolução/con- x
Poder es - f Precon. ; P Pod. Posse > Poderes
É “Servação do capita- o dissocia- > Pod. |» Poderes.
“lismo sobre a for- lo concent. e Pod.
concentr. E Poderes
“ma comercial sim-
ue

l Domínio do capita-
lismo monopolista,
masaspecto ainda

“dominante de sua
extensão .
2. Efeitos de dO :
“ção dominantes na
forma comercial
simples a
3. Efeitos de conser-
“vação - dominantes
no c; pitalismo com-
petit o

1. Exploração intensi- TENDÊNCIA “À REAB


SORÇÃO DOS | Arasra
- va dominant do ca- SOB NOVA FORMA.
eamos
pitalismo monopol. = " 4
sobre as outras for-
“mas de prod. e sub- dRedações: re
missão real amplia-
da de seus elemen- Prop. econômica concentrada
tos no capitalismo
monopolista 4 FER 1
-2. Efeitos dedissolu- Posse 1, Posse 2. Posse 3.
- São maciços sobre Graus:
a forma comercial É
simples Prop. | econ.
3. Efeitos de is concentrada
ção dominantes so- ? 2
Preci1 Prec2 Prec3
bre a forma capi-
talista competitiva
Poderes: |
Prop. econ. < Poderes
Posse |
Proprietários e trab
* diretos S

CARACT. DORAVANTE CONSTAN-


É XE: PODERES DECORRENTES DO BR Determina
mínio detidos
lugar DO CAPITAL “econômico”.
a exploração ir Unidades de produção simples -
- Poderes concentrados e exer- Estado liberal
trabalho: primeiros * e “separadas” —
* cidos pelo capitalista empre-
“cooperação e da sário individual/detentor das
iali ação : (maquinismo e
relações a

forço da xploração intensiva : Concentração das unidades de


1. Dissociação dos agentes
do trabalho produção simples, unidades con-
centradas dotadas ainda de
capitalistas detento, res das
altos relações RR
graus de propr. econ. e de pos-.
. se e de poderes correspondentes
2. Primeira dissociação dos |
agentes que exercem
Ctrustes). E ; os
' poderes
“Propr. econ. concentrada E (Questão dos empresários)
+ Wee 4
DO UPS UpsZ, — UPS3.
“Cues: un. de pr. simples)

PROD! ção INTEGRADA É o Concentração dos dete


nto-. 1. Papel novo do Es.
res das relações
Unidade de Prod. Complexa DE
2 Reprodução da dissocia
tado ra
de qr: Ma ção
COREIA uprD) UPE 3.
dos agentes que exercem
os poderes . ] É 2. Nova forma do Es io)
Cure: unidades de produção | (Questão do “centralismo/ tado intervencienis: É
descentralização” dar
elementares) o tapa É
“grande firma”)
Unidades de Prod, Complica
s '
rol. UPD2, UPD3

É &
- (UPD: unidades de produção
—dependentes)
b) Mas essa confusão teve igualmente consegiiências para o:
utores marxistas: eles foram levados a propor uma periodizaçã
do modo de produção capitalista segundo o capital que detivesse
omínio na reprodução do conjunto do capital social, conforme
diversas fases: primeiramente, o capital comercial, o capital
idustrial em seguida, e finalmente o capital bancário, identificado
alguma forma com o capital financeiro. Além das observa-
ões já feitas antes sobre esse assunto, de um lado essa concep-
ção leva a atenuar a periodização do capitalismo em estádios: é
ui que surgem a falsa discussão “foi o 'capitalismo, desde os
s primórdios, imperialista?” e a distinção entre “árqueo--impe-
alismo” e “neo-imperialismo”; por outro lado, e é o que nos
interessa sobretudo aqui, ela conduz forçosamente a atribuir, no
rocesso de fusão do capitalismo monopolista, o papel dominante .
capital bancário 14.
Ora, ao longo do ciclo da reprodução ampliada do capitalis-.
“inclusive o estádio imperialista, a reprodução conjunta do
ital social é determinada pelo ciclo do capital produtivo, o
co que produz a mais-valia. Mas isso não designa diretamente,
nenhum dos estádios e em nenhuma das fases, a fração do
ital que, em uma formação social concreta, detém o papel
minantena economia e, segundo as conjunturas, a hegemonia

* Essas observações valem exatamente para o estádio imperia-


sta, e principalmente para o capital monopolista industrial e
“capital monopolista bancário. Segundo as formações concretas,
fases e as conjunturas, o processo de fusão e seu funcionamen-
“na reprodução podem fazer-se sob a égide e a direção econô-
ica, seja do próprio capital industrial (caso dos Estados Unidos),
ja do capital bancário (caso clássico da Alemanha) em sua luta
ela repartição da mais-valia.

“14 “O imperialismo, com seus traços específicos tais como a eypor-


tação do capital, a divisão do mundo, concta-se então com a interna
nalização do capital, no papel específico desempenhado pelo. capi-
tal-dinheiro. Daí o domínio do capital financeiro internacional de hoje, .
o domínio dos bancos, do mercado financeiro...” Chr. Palloix, Interna
ionalisation du capital et Stratégie des firmes ultinationales, doc. poi.,
1973, p. 19. Cf. igualmente do mesmo autor L'économie mondiale va-
italiste, op. cit., os diversos artigos de G. Dhoqguois etc. Acrescento no.
entanto que, em outras análises, o próprio Palloix reconhece o sentido
“do capital financeiro como processo de reunião do capital industrial e dos
apital bancário.
vamente estanques), e por um avanço, confirmado após
a crise
de 1929, da centralização bancária sobre a concentraç
ão “indus
trial 15, Ainda hoje encontram-se três grandes banco
s francese
entre os 10 maiores bancos mundiais não-americanos
(BNP en
4.º lugar, Crédit Lyonnais em 5.º lugar e Société Génér
ale em
10.º lugar), ao passo que, entre as maiores firmas industriai
s não-
americanas, a primeira firma francesa, a Renault, só se
classifi-
ca em 18.º lugar, a segunda, a Rhône-Poulenc, em 27.º e a terce
a) ra, La Compagnie Française des Pétroles, em 32.º lugar.
Assiste-se, pois, nestes últimos anos, a uma aceleração
processo de fusão, o grau de concentração da indústria frances
permanecendo entretanto mais fraco do queaquele, na cEE, das
indústrias britânica, alemã, holandesa, e mesmo belga.Essa ace
leraçãoé feita, desta vez, sob a égide do capital monopolist
a
dustrial (ver o 5.º é sobretudo o 6.º Plano), em uma econom
onde o capital monopolista bancário ainda retém, apesar da evo
lução de grupos como Suez ou o Banque de Paris et des Pays-
B
um caráter especulativo marcante:

15 J Houssiaux, Le Pouvoir du monopole,


essai sur les structures in-
dustrielles du capitalisme contemporain, 1958;
B. Gille, La Concentration
économique, em La France et les Français,
La Pléiade, 1972 etc.
cipação entre gruposde ndmuito
emainda muito importantesa

Estas emaERénei conduzem, segundo as forma-


es concretas e os momentos do processo, a lutas intensas entre
capital monopolista industrial e o capital monopolista bancário,
utas centradas em torno da hegemonia política: é sobretudo evi-
ente que o gaullismo e as evoluções do regime na França, in-
ive sob Pompidou, não podem ser explicados sem uma refe-
ncia tanto ao capital monopolista como à sua hegemonia, à luta
ensa, no seio da hegemonia política, entre essas frações do ca-
1 monopolista.
As observações acima valem pois, igualmente, para a fase
al do imperialismo e do capitalismo monopolista: mesmo que
estádio capitalista não implique necessariamente uma dominân- |
ja e hegemonia do capital monopolista bancário, a fase atual não
plica necessariamenteuma dominância e hegemonia do capital
opolista industrial. As transformações que se constataram, a
sito dessa fase, nas relações de produção e na divisão social
ibalho, não circunscrevem absolutamente uma diferenciação,
sentido, dessa fase em relação às precedentes, diferenciação
jue consistiria na permutação necessária da dominância e
egemonia em direção ao capital monopolista industrial.

Finalmente: as contradições para a repartição da mais-valia


seio do capital monopolista fazem igualmente entrar em jogo
pital comercial. Se bem que este capital apresente uma ten-
ência marcante a ser subordinado aos monopólios industriais,
que frequentemente têm seus próprios canais de distribuição,
de-se igualmente observar que ele é afetado por um ciclo pró-
io de concentração (monopólios de distribuição, cadeias de.
gr ndes magazines etc.): ciclo que reproduz, no seio do capital
anceiro, as contradições entre capital industrial, capital ban-
io e capital comercial. Pode-se, no entanto, no caso deste úl-.
mo, adiantar uma proposição geral concernente ao estádio im-
perialista e, em particular, sua fase atual: a lei da baixa tenden-
ial da taxa de lucro que afeta o conjunto do capital social, e a
autonomização do capital industrial em relação aocapital comer- .
cial, dado o lugar monopolista do primeiro sobre o mercado,

— 18 Y. Morvan, op. cit., p. 269, e sobretudo J. Bouvier, Un siêcle de


anque jrançaise, op. cit. : :
vém, assim, nas contradições intermonopolistas,
ele não
"* deter nem a égide econômica, nem a hege
monia política
quase só deteve esse papel emcertoscasos de trans
ição p
<apitalismo, mais raramente ainda em certos
casos e momer
do capitalismo competitivo.

H a
As contradições intermonopolistas no
seio da burguesia 1
nopolista referem-se - igualmente:
a) às contradições dos monopólios indu
striais entre si
remontam primeiramente à concorrência para
a conquist:
controle dos mercados, na medida em que
o monopolism
suprime a concorrência comercial, e não
se trata jamais d
divisão monopolista perfeita do mercado. Mas
essas contradi
assumem igualmente outras formas: luta
s pelos financiameni
Oo públicos e pelo sustento do Estado; pela
absorção do médio
É tal e aassociação de “Capitais individuais;
pelos investim
nos setores e ramos mais rentáveis;
pelo acesso às inovaç
tecnológicas etc.; :

pelo controle do mercado financeiro, pela


rotação mai
pida e mais rentável do capital-dinheiro que
eles detê ,
EE

obtenção da maior parte do bolo na especula


ção financeira e 1
netária etc.; o
c) enfim, às contradições que atravessamos diversos
tais reunidos e concentrados sob diversas formas, form
as que
Plicam, frequentemente, diversos graus de propried
ade econô
desigualmente repartidos entre si, e diversos poderes
relativam
te dissociados sob direção única. Em outras
palavras — nú
insistiremos bastante sobre isso —, as cont
radições do ca
“monopolista não se manifestam somente como
contradições
“termonopolistas”, isto é, como contradições
dos monopólios, ap
“ endidos como entidades integradas, entre si, mas
atray
: 'gualmente cada monopólio. Isso é particul
armente nítido no.
dos grupos financeiros propriamente ditos,
que, constituindo
nto adiantado de “reunião” do capital industrial e do
“bancário, reproduzem ao mesmo tempo, em seu próprio seio,
contradições dos capitais assim reunidos. ;

“Observa-se então, nitidamente, por essas análises, que o ca-


ital monopolista, forma de existência “autônoma” do capital no
processo do capital financeiro, não é uma fração da burgue
sia
“mesma qualidade do que aquelas do capital industrial no sen.

jrença decisiva que aqui nos importa é, principalmente, que se


trata de uma fração da classe capitalista(capital monopolista)
ravessada por contradições e fissuras muito mais graves do
que
aquelas que atravessam cada. uma dessas outras frações,
na me-
da precisamente em que o capital monopolista reproduz
em seu
prio seio as contradições dessas frações entre si: conclusão
que
da maior importância para o exame do papel atual do Estado
.
“Tanto mais que essas próprias contradições só podem ser
apreendidas levando-se em conta a dependência complexa da
bur-
a interior em relação ao capital imperialista dominante e a
uçãoinduzida de suas contradições em seu seio. A inter-
alização das relações capitalistas dá lugar a toda uma série
oposições estratégicas no seio da burguesia interior das metró-
s, que aliás não destacam forçosamente os graus de depen-
cia de seus componentes em relação ao capital imperialista
inante: principalmente a oposição entre capital monopolista.
estratégia de expansão internacional e capital monopolista na
ratégia de expansão limitada no campo da economia nacio-
oposição que adquiriu sob o gaullismo uma importância de- .
isiva. Acontece, ainda, e é o que nos interessa aqui,o
ital monopolista na estratégia de expansão internacional pode
requentemente ser aquele cujas contradições com o capital im-
rialista dominante são as mais intensas. |

“As Contradições entre Capital Monopolista e Capital


'* Não-Monopolista

Essas contradições no próprio seio do capital monopolista se


untam, no estádio do capitalismo monopolista, e segundo suas |
ses, às contradições, no seio da burguesia enquanto classe, en-
"e capital monopolista, de um lado, e capital não-monopolista,
ia, e empregamos o termo camadas não-monopolistas incluindo
aí, em uma linha de continuidade, o “médio capital” — o resto
da burguesia — e o “pequeno capital” — a pequena-burgue-
ia —, e deixando entender que tudo o que não é “grande ca-
pital? não pertence mais à burguesia. Supomos, assim, que o
“médio capital tenha, em face do grande, o mesmo tipo de con-.
radições que a pequena-burguesia em face da burguesia; ele
apresentaria então as mesmas possibilidades de aliança com a
classe operária do que a pequena-burguesia: teremos reconheci-
“do, então, a atual linha política do pcr quanto à aliança antimo-
1opolista. Mas encontramos essa confusão teórica também em
outros autores, como A. Granou, por exemplo, que não hesitam |
“em separar expressamente a “média burguesia” da burguesia como
“tal, em expressões como: “A burguesia deve ser garantida pelo
“sustento sem reserva do conjunto das camadas da pequena e mé-
dia burguesia Wº etc. Acredita-se, assim, no mito de uma unidade |
s “pequenas e médias empresas” (PME) que só é de fato um
io pelo qual o capital não-monopolista se subordina à peque-
“burguesia apoiando-se sobre ela em sua luta contra o capital
onopolista, e criando-lhe a ilusão de uma comunidade de inte-
sses: E lembraremos aqui que o “sindicato” das PME reúne na
ança “empresas” que possuem entre O e 300 assalariados18,
"Em suma, o emprego de termos que dizem respeito a uma
cala graduada e uniforme pode tanto disfarçar a delimitação,
o seio da burguesia, entre capital monopolista e capital não-mo-
nopolista, como apagar a barreira declasse entre capital como.
tal e pequena-burguesia, com referência ao termo pequen
apital.
- Isso pode, na mesma linha teórica, ir ainda mais alema: dei
xa-se entender que as contradições, no próprio seio da burguesia
de um lado e de outro da linha de demarcação entre capital mo:
nopolista e capital não-monopolista, destacam conjuntos definido:
a ordem relativa de sua grandeza e de seu porte. Nada impe
iria de fato, neste sentido, delimitar contradições entre grande:

17 Les Temps modernes, janeiro de 1973, p. 1.215. :


18 P. Bleton, Le capitalisme française, 1966, p. 84. Vê-se bem aqu
que a identificação capital não-monopolista /pequena-burguesia (PME), que
no caso da “estratégia antimonopolista”, dá lugar a um oportunismo de |
direita, pode também dar lugar a um oportunismo de esquerda: essa
identificação pode levar a considerar, sob o termo pequeno capital, a
“Pequena-burguesia como fazendo parte do capital não-monopolista (bur
guesia) e excluir, assim, a priori, as possibilidades de aliança com
ças populares que, Reno as conjunturas, ela pode FR
e pequenos monopólios ou, no seio do capi
tal não-monopoli
“entre empresas definidas segundo seus
portes e grandezas respec-
tivas.

4
Quanto à distinção entre capital mon
opolista e capital não
monopo .
lista:

1. O movimento de concentração e de
centralização do ca
pital implica um processo constante. Seg
ue-se que os limites entre-
capital monopolista e capital não-monopoli
sta são variáveis e re
lativos. Dependem da fase do capitalismo
monopolista: e de sua
formas concretas — por ramos, por seto
res etc. — em uma for.
mação social. Com efeito, o capital não
-monopolista depende do.
estádio do capitalismo competitivo,
mas de tal forma que ele
continue a funcionar em uma formação
dominada pelo capitalis-
mo monopolista: esse funcionamento
é ele próprio transformado,
em função precisamente da dominação
do capitalismo monopo.
lista. Não se trata de uma simples
“coabitação” de dois setores
estanques. Os critérios de delimitação
do capital não-monopolist
situam-se sempre em relação ao capi
tal monopolista e às sua

pitalismo competitivo ta
como pôde funcionar antes do dom
ínio do capitalismo mono-
polista.
equentemente limitadas a um só ramo. Mas isso
não é geral,
is essa socialização atinge com freqiiência esse próp
rio capital,
“pode estender-se por vezes sobre.vários ramos.
Enfim: o ca-
pital não-monopolista não apresenta o tipo de
reunião do capital
ndustrial e do capital-dinheiro característico do
capital monopo-
ista. Pode ainda suceder que o capital industrial
não se apresente
de forma estanque, com a forma jurídica da socie
dade por ações
se estendendo principalmente ao próprio capital não-
monopolista.
2. A base da diferenciação entre capital mono
polista e ca-
I tal não-monopolista reside nas relações de prod
ução específicas.
que, em sua articulação ao processo de trab
alho, caracterizam
sses dois conjuntos do capital. No campo, mais
particularmente, |
O capital produtivo, mesmo enquanto cresça, no
conjunto da
ormação social, a interdependência dos processo
s de trabalho, o |
apital não-monopolista não chega a estender sua inte
gração sob
ma mesma propriedade econômica, limitando-se
sua unidade de
rodução, em geral, a um processo de trabalho
determinado, ou
ima série de processos circunscritos. As -Telações de
proprieda-
“econômica e de posse não apresentam o tipo de
dissociações.
prio do capital monopolista: propriedade econômic
a e posse
brem-se estreitamente. A própria propriedade jurí
dica enco-
mais frequentemente, a propriedade econômica.
Esses traços
ornam-se pertinentes, quando considerados em
relação aos tra-
“distintivos do capital monopolista: não devem ser
apreendi-
dos a partir da imagem do empresário individual
do período do
pitalismo competitivo.

* As relações e as contradições entre capital monopolista e


apital não-monopolista dependem assim das fases que o capita-
mo monopolista atravessa, nas suas formas concre
tas no seio
as formações sociais: estão estreitamente solidárias com
as for- .
“Ora, a dominância dos efeitos de dissolução na. fas au
não significa a eliminação radical do capital não-monopolista
sua absorção e assimilação pura e

riação formal do capital não-monopolista. Pode-se formular i


dizendo que esses efeitos de dissolução são perieliamente comp
“tíveis, não somente com a “manutenção” de um setor
transfor
mado” do capital não-monopolista — efeitos secundários
de e
servação — mas também com uma reprodução,
sob nova form
desse setor. A superacumulação global do
capital pelo ca
monopolista, e seu papel dominante
na valorização do capit
“mantêm uma margem de acumulação própria ao
capital não-m
nopolista. Isso se exprime, aliás, entre

iguald
antemente entre essas empresas
O tempo, sejam muito mais marcantes
do que no caso do capit
monopolista 1º,

Isso se prende, primeiramente,


a uma série de razões
micas que demonstram a

dades na tendência à perequ


ação das taxas de lucro;
2) o capital monopolista deixa fre
não-monopolista a possibilidad gientemente ao capit
e de explorar novos setores de
dução; ele só intervém mi pi
nimizando os riscos: foi,
medida, o caso para a ele numa c
trônica e a informática
Unidos e no Japão;

originam-se de fato do cap


ital
este capital não pode colo
as c
29 1 Parent, Lo Concentra
tion industrielle; 1970,
pp. 172 sq.
“concessões, ao capital monopo
lista. O caso clássico é aqu
United Steel, gigante que do ele
mina a metalurgia nos Est
Jnidos, que quase não produz ados
iu inovações nesse ramo, m
veitou as inovações das as apro-
pequenas firmas;
j D o capital não-monopolista
é i
“das disparidades do m
tividade de trabalho,
pera, numa primeira
S pouco qualificados provenien
tes do êxodo
ização da pequena-burguesia
» O capital não-monopolista tradicional. Nes-
funciona como reserva no
cesso de submissão das forças pro-
de trabalho ao capital monopo
5) o capital não- monopolist lista.
a é útil, finalmente, e em
par-

" Esses exemplos satisfazem amp


lamente. Seria necessário, no
ntanto, lembrar que, afora
os casos em que a manutenç
capital não-monopolista é van ão do

as
tajosa para o capital monopolis
“a persistência daquele se pre ta,
nde igualmente ao fato de que
Pitalismo competitivo se reprod o ca-
uz constantemente sob a domina
ão deste: assiste-se a um -

à dissolução permanente dositais não-monopolistas, paralelamente


antigos. Trata-se de dois está
capitalismo competitivo, capitalismo dios —
mo modo de pro
mon opo lis ta —d e um imes-
dução —» capitalista, Os efeitos
stádios sobre o outro não se de dissoluçãode
" modo que numa periodização man ifestam do mesmo
de modos de produção diferentes:
esse capital não-monopolista
não é uma simples forma
Ou conservada, como no caso mantida
das formas feudais no seio do
ca-.
Se Ny

inadas, tenha fregientemente um rit


mo elevado de expans
a França, a borracha e as matérias plástica
s, a constr
ução
trica etc. Para completar, nada mai
s falso do que a análise qu
“a exemplo da falsa imagem da *
dependentes, é com fregiiência feit
cesa, aquela dos “dois setores”: um
setor “atrasado”, “r
do”, “tradicional” etc. (PME), de
um lado, um setor “moderno
e de “vanguarda”,
últimos pertencem

Não é 'verdade que essas razões


não bastem absolutamente,
a elas somente, para explicar ne
m a persistência atual do capi
não-monopolista, nem o fato de

monopolista e capital não


tas, constata-
populares e
este último foi
levado, para evitar fissu as
graves no bloco no poder em
face das classes dominadas, a
estratégia seletiva de um:
não-monopolista: estr

as formas de absorção e liq


uidação “selvagem” do capita
monopolista, características l não
sobretudo da primeira fase
do ca;

ea
e
20 Le Capitalisme monopoliste,
op. cit, p. 62.
x
fe

ente de corresponder à sua apresentação ideológica, é.

“Todavia, é necessário entender a dimensão principal desses


npromissosestratégicos que não devem ser apreendidos abstrata-
te, e de modo estático, mas precisamente no contexto geral
concentração do capital. Assim, eles não significam, é claro,
m “paradas bruscas” ou “retrocessos” efetivos no processo de
o do capital, nem, no sentido corrente e estático, medidas
ivas “em favor” do capital não-monopolista: não represen-
mmedidas reais de preservação da autonomia econômico-polí-
ca do capital não-monopolista, em face do capital monopolista.
ferem-se, essencialmente, ao ritmo (acelerações, diminuições de
ensidade, “pausas” provisórias) e às formas, e em síntese ao
rte doprocesso de concentração 2!, tendo igualmente efeitos
re a repartição da mais-valia global — a distribuição do bolo
entre capital monopolista e capital não-monopolista. Por
emplo, mais do que eliminações ou absorções puras e simples,
ritmo mais lento e mais regulado do processo de concentra-
das formas de dependência, sc eles não são “positivos” no
lo estrito para o capital não-monopolista (pois não podem
edidos no abstrato e a concentração tem sempre lugar),
nstituem no entanto, frequentemente, concessões do capital
polista ao capital não-monopolista. Eles são positivos no
exto da relação de força, no sentido em que o processo de
centração não é, para o capital não-monopolista, tão nega-
o, como teriam sido com tais compromissos.
“Encontra-se um exemplo característico dessa estratégia, esta-
da por intermédio do Estado como fator decisivo de organi-
da hegemonia, nas discussões preparatórias ao estabeleci-
nto do 6.º Plano. O grande capital monopolista “modernista”
cNpPF *, que domina a Comissão produtora do 6.º Plano, pre-
izara um ritmo de expansão e de crescimento à “japonesa”,
torno de 7,5 a 8% por ano. Uma das consegiiências disso,
mo justamente sublinha M. Bosquet, foi o “fechamento de mi-
hares de empresas pequenas e médias”, correspondendo essas
oposições, por outro lado, a uma ofensiva do capital monopo-.
ta contra o capital não-monopolista. Ora, o Estadosó manteve

21 Lembro que a concentração e a centralização do capital


não
podem absolutamente ser apreendidas, na realidade históri
ca, como um
Processo gradual, unilinear e homogêneo. Esse processo
pode mesmo, du-
nte períodos em geral breves, apresentar recuos
relativos.
- * enpr: Comité National des Patronats Français (Comitê Nacio-
1 dos Patronatos Franceses). (N. do T.)
E ;
“ritmo decrescimento de cerca de 6% ao ano: a razão di
não foi somente um temor das reações da classe operária,
face dos efeitos negativos que o ritmo preconizado lhe teria P
vocado; ela deve ser igualmente procurada em um comprom
relativo às pequenas e médias empresas, relativo, em suma, a
capital não-monopolista. Sabe-se que o debate foi particularm:
te vivo, nesse sentido, entre o CNPF € as PME 2, Mas isso
n
significa absolutamente que a desintegração do capital não-m
- nopolista tenha sido “detida” pelo 6.º Plano, bem ao
contrário
Essas observações são essenciais para apreender o traça
concreto do processo de concentração segundo as fases
do c
talismo monopolista e as formações sociais concretas,
e, assi
as relações precisas entre as diversas frações da burguesia.
É prin
cipalmente falso que todas as formas de persistência e de manu
tenção do capital não-monopolista sejam exclusivamente
expli
veis pelo fato de que elas se enquadrariam perfeitamente
no
interesses econômicos momentâneos do capital monopol
ista, o
“queelas só existiriam na medida exata em que elas seriam
e
nomicamente úteis ao capital monopolista: isso equival
eria .
diretamente no sentido dos economistas burgueses,
que levamé
conta essa persistência. referindo-se aos “limites técnico-eco
ôm
4 cos” intrínsecos ao processo de concentração. Não s

polista, assegurando-lhe a hegemonia política sobre o conju


da burguesia, e mantendo a coesão política do bloco no
pod
em face da classe operária. É, entre outros aspectos,
essa rela
q
E que explica igualmente as defasagens, da ordem do “avanço”
do “atraso” do processo de concentração, nas diversas forma
çõ
“sociais. O atraso da França, durante muito tempo, nesse
sentid
não pode ser inteiramente explicado pelas fraquezas “econ
ômic:
É estruturais” do capitalismo francês: ou, melhor, o que
é apreen
dido como “fraqueza” do capital monopolista franc
ês não é u
seu caráter intrínseco, mas situa-se precisamente em
uma relaç
de força. Essa fraqueza remonta ao tipo particular
de compr
misso que o capital monopolista francês foi obrig
ado a pass
prendendo-se, por razões políticas, à luta da classe operá
ria c
22 M. Bosquet, Critique du capitalisme quotidien, 1973,
pp. 12
capital não-monopolista, mas também, até estes últimos anos,
m a pequena-burguesia.
Essas observações nos conduzem a aprofundar a questão das
relações entre capital monopolista e capital não-monopolista na
fase atual, onde os efeitos de dissolução sobre este último pre-
dominam sobre os efeitos de conservação. Esses efeitos de disso-
lução realizam-se atualmente, em essência, e sempre paralela-
mente às formas de absorção jurídica pela expropriação formal
falências — pelas formas indiretas e múltiplas de dependência
do capital não-monopolista em relação ao capital monopolista.
Sob a forma, frequentemente, de uma manutenção da proprie-
dade jurídica autônoma do capital não-monopolista, são os, ou
alguns dos, poderes dependentes de sua propriedade econômica
que são açambarcados pelo capital monopolista: é principalmente
o caso de numerosas subcontratações, o capital não-monopolista
não detendo aí poucos poderes próprios quanto ao emprego dos
meios de trabalho e à destinação dos recursos de sua empresa.
Isso vai ainda mais além, quando levamos em conta a socia-
ão dos próprios processos de trabalho e a direção e o domí-
do conjunto desses processos pelo capital monopolista na
e atual: um dos efeitos dessa situação consiste, como vimos,
rodução integrada e na constituição de unidades de produção
plexas sob a propriedade e posse do grande capital. Mas as no-
formas de divisão social do trabalho não se limitam de nenhu-
a forma ao interior das fronteiras dessas unidades. De fato, além
quese passa com a propriedade econômica, constata-se atual-
ente que a direção e o próprio domínio do processo de traba-
ho que se desenvolve numa “empresa” de capital não-monopo-
ta escapa. progressivamente, a este último, em proveito do ca-
tal monopolista. Assiste-se a um deslocamento dos poderes, ou
le alguns dentre eles, decorrentes da posse, em direção ao capi-.
1 monopolista. Isso segue vários caminhos: padronização dos
produtos de base e das normas da organização do trabalho im- |
postas ao conjunto dos processos de trabalhopelo capital mono-
olista; dependência tecnológica (patentes e licenças) do capital
não-monopolista em relação ao capital monopolista; submissão do
apital não-monopolista a uma divisão social do trabalho que o
sola, em uma boa parte, nos setores de fraca produtividade e
ecnologia inferior etc. Inútil, aliás, insistir no fato de que as
fracas margens de autofinanciamento do capital não-monopolista
) tornem, no contexto geral de uma necessária rotação rápida
o capital, particularmente dependente do capital-dinheiro e de
sua centralização, pelos controles leoninos que os grandes banco
lhe impõem a fim de conceder seus créditos.
Esses desenvolvimentos só podem ser apreendidos, em tod
a sua amplitude, levando-se em conta a tendência atual à reab-
sorção das dissociações entre propriedade econômica eposse, d
um lado, e os poderes decorrentes da propriedade econômica, de
outro. A despossessão atual do capital não-monopolista do domí-
nio e da direção de seus processos de trabalho conduz diretamen-
te à concentração da propriedade econômica nas mãos do capital
monopolista. De tal maneira que, por detrás da fachada jurídica
ou da fachada da manutenção de propriedades econômicas autô-
nomas do capital não-monopolista, as próprias fronteiras de suas
“empresas”, de suas unidades de produção, são progressivamente
dissolvidas. Pode-se, de fato, no caso de numerosas empresas de
capital não-monopolista, falar de unidades de produção depen-
dentes: se elas se distinguem, certamente, das unidades de pro
dução elementares que fazem parte de uma unidade de produção
complexa, elas constituem doravante apenas unidades autônoma:
do empresário individual, do estádio competitivo tal como ele
funcionava ainda nas fases precedentes do capital monopolista 2:

HI

Quando precisamente levamos em conta esses dois aspecto:


do processo, ao mesmo tempo da dependência característica do.
capital não-monopolista em relação ao capital monopolista, e a .
estratégia deste (que consiste em evitar a eliminação brutal do
primeiro). é que podemos destacar suas relações na fase atual
do capitalismo monopolista. Esta fase reproduz, em uma escala |
ampliada, as contradições entre capital monopolista e capital
não-monopolista: o que mais nos interessa, porém, é apreender.
as formas atuais dessas contradições. a
Com efeito, durante as fases de transição e de consolidação:
do capitalismo monopolista, essas contradições assumiram formas
particularmente agudas, que se expressaram, na cena política, por.
fissuras profundas no bloco no poder, e por graves crises políti-
cas. O capital não-monopolista, servindo-se indiretamente de seus
partidos políticos e das formas de Estado e de regime de então,
funcionou amiúde como força social autônoma, disputando pass

23 Ver o quadro das pp. ig.


160 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

a passo a dominação econômica, às formas abruptas e selvagens,


do capital monopolista. O capital não-monopolista detinha ainda
posições de força apreciáveis no domínio econômico, e ocupava
então, com fregiiência, servindo-se indiretamente de suas organi-
zações políticas, o proscênio político; ele constituía a fração-rei-
nante (foi o caso na França até os primeiros anos do gaullismo),
quando então o capital monopolista já havia conquistado a hege-
monia política real2t No contexto dessa luta intensa, capital
monopolista e capital não-monopolista procuraram sempre o apoio
das classes populares a fim de contrariar os planos dos adver-
sários.
Mas as coisas não se apresentam mais da mesma forma. 4
subordinação e dependência complexa do capital não-monopolista
em relação ao capital monopolista é, atualmente, largam
ente cum-
prida nas metrópoles imperialistas. À própria reprod
ução de suas
contradições situa-se doravante no interior dessa relação de
su-
bordinação, pelo desenvolvimento é pela consolidação de múlti-
plas redes de dependência. Não somentea produção e os proces-
sos de trabalho do capital não-monopolista se acham estreitamen-
te imbricados na produção monopolística, como também a grande
empresa se apresenta cada vez mais, para o capital não-monopolist
a,
como a última saída de socorro e de desencalhe. A passage
m,
para o capital monopolista, da estratégia de eliminação
à estra-
tégia de dependência do capital não-monopolista indica
pre-
Ccisamente que, se este último retém uma parte progressivamen
te
limitada da mais-valia total (transferências de mais-valia
em dire-
ção ao capital monopolista), e se suas margens de
acumulação
se limitam em face da superacumulação monopolista,
então ele
-capitulou diante do capital monopolista, no sentido de
que, daí
em diante, só intenta um combate para sua sobrevivência
e tenta,
“assim, ajustar sua dependência para com o capital
monopolista.
'O próprio fato de que toda crise maior do capitalismo
monopo-
lista se reflete, doravante, direta e principalmente
na “zona de
segurança” que o capital monopolista soube criar a
seu redor pela
manutenção de um setor de capital não-monopolista
torna ainda
B+ Para os conceitos de bloco no poder
e de hegemonia, ver p. 99.
Por classe ou fração reinante, entendo a class
e ou fração cujos membros
são em geral originários do contingente
político e dos “vértices” dos
aparelhos de Estado e que, servindo-se indiretame
nte de suas organiza-
ções próprias, ocupa o proscênio político. A class
e ou fração reinante,
como o demonstrou Marx, pode ser diferente da classe ou
fração hege-
mônica, aquela cujo Estado serve por excelência aos
interesses. Analisei
tais questões em Pouvoir politique et
Classes sociales.
mais forte tal solidariedade de classe entre eles. Em suma,
lando de capital monopolista e de capital não-monopolist:
“fase atual, é necessário considerá-los em suas novas relações d
interdependência orgânica. Isso não quer dizer, evidentement
que as contradições entre capital monopolista e capital não-m
“nopolista estejam atualmente “ultrapassadas”, bem ao contrário
Isso quer dizer, simplesmente, que não se pode acreditar nu:
expressão política dessas contradições sob forma de ruptura,
lado de um capital não-monopolista — força social, da frent
política de classe.

Para entendermos bem essa solidariedade de classe que ma


ca atualmente, mais do que nunca, as relaçõescontraditóri
entre capital monopolista e capital não-monopolista, devemosle
var em consideração a forma atual assumida pela contradição
principal, entre a burguesia no seu conjunto, de um lado, e, d
“outro, a classe operária e as massas populares: uma das caract
rísticas principais da fase atual consiste na emergência das lu
operárias e populares nas próprias metrópoles imperialistas. 1
inteiramente observável, nesse sentido, que as lutas operárias s(
ERR

refletem com freqiiência mais duramente sobre o capital não-m


nopolista, por causa das suas fracas margens de acumulação e
manobras no âmbito de sua dependência em relação ao capita
monopolista. De fato, quando consideramos a situação destes 1
timos anos, sobretudo na França, constatamos claramente q
o capital não-monopolista apresentou resistências mais fortes.
concessões “arrancadas da grande luta” pela classe operária, d
que o capital monopolista: só mencionaremos as transações di
restabelecimento dosmiG * durante e após os acordos de Grenelle
O capital monopolista tem a possibilidade de fazer repercuti
diretamente os aumentossalariais sobre os preços, que ele.
k de maneira monopolística, de compensá-los pelo aumento da pr
dução do trabalho etc., possibilidade quenem sempre possui, ne
no mesmo grau, o capital não-monopolista. Mais ainda: sabem:
perfeitamente que o grande patronato se abriga com frequên
em nome da solidariedade de classe, atrás das “dificuldades das
médias e pequenas empresas” em sua luta contra a classe operá-
| ria, o que, sob os disfarces ideológicos, corresponde a fatos
reai
Não é um dos menores méritos da estratégia do capital monop
lista ter chegado a unir estreitamente a ele o capital não-mon

* sig: Salaire Minimum Interprofessionnel Garanti — Garant


de Salário Mínimo Interprofissional. (NS da To) i
Ç
polista, empregando-o, pelo seu recuo na “zona de segurança”
como uma tela de proteção e um amparo em sualuta contra a clas
* se operária, e fazendo repercutirdiretamente sobre essecapital os.
efeitos das lutas da classe operária contra ele próprio, efeitos.
que se encontram no coração das lutas atuais. o
Isso não impede o capital monopolista, na sua contradição:
com o capital não-monopolista, de jogar de alguma forma, em
conjunturas determinadas, a classe operária contra o capital não-
monopolista: uma das razões de certas concessões à classe ope-
rária para as quais o capital monopolista se mostra “compreen-
sivo” reside no fato de que precipitam a desintegração do capital
não-monopolista, não tendo este os mesmos meios de suportá-las
como teria o capital monopolista. Isso foi observado recentemen-
te na França, com a atitude da tendência “modernista e social”
do grande patronato do cnpr * (Ambroise Roux, Martin etc e
mesmo a política de Chaban-Delmas e de seus “conselheiros” so-
ciais) que contrasta com aquela dos PME %.

Todas essas análises demonstram assim um fato decisivo: a


ependência acrescida do capital não-monopolista em relação ao.
apital monopolista, e a transferência de uma parte crescente da
ais-valia global do primeiro ao segundo,não significam, abso-
tamente, que o capital não-monopolista seja “explorado” pelo
apital monopolista, assim como já o deixavam entrever G. Mury
M. Bouvier-Ajam na época em que se afirmava a estratégia da |
ança antimonopolista do pcr 2º: “Toda uma parte da burgue- |
a é rejeitada, diminuída, e mesmo explorada pela outra.” Sus-
tentar isso é de fato reproduzir, na escala de uma formulação
- social nacional, os erros de análise do tipo daquela de A. Em-
“manuel na escala internacional: análises que situam arelação
de exploração mundial entre “nações ricas” e “nações proletá-
rias”, o que implicaria que as burguesias dos países dependentes
fossem exploradas pelas burguesias das metrópoles imperialistas.
Essas duas análises conduzem ao mesmo resultado político: aqui,
“em uma pretensa solidariedade de classe das massas populares |
“dos países dependentes com suas burguesias — “nações explora- |

* cnpr: Comité National des Patronats Français — Comitê Na-


cional dos Patronatos Franceses. (N.ido T.)
25 G. Martinet, Le Systôme Pompidou, 1973. ;
26 Les Classes sociales en France, 1963, t. L, p. 96 (Editions So-.
“Ciales). Esse livro, que não é encontrado atualmente, contém excelentes
análises.
das” — contra as burguesias imperialistas, e lá, em uma preten
“solidariedade de classe das massas populares dos países imperi
“listas com suas burguesias não-monopolistas — “burguesias exp!
radas” — contra o capital monopolista. Enquanto a exploração
só caracteriza, de fato, a relação do conjunto da burguesia co
a classe operária e as massas populares.

5. O Capital Não-Monopolista e a Pequena-Burguesia


Tradicional E
x

Podemos assim ver bem que essas análises negam aquelas dos
Pc ocidentais que, sob os termos “camadas não-monopolista
s” ou
“pequeno capital”, excluem o capital não-monopolista da
burgue-
sia e da dominação econômico-política, identificando-o pratic
a-
mente à pequena-burguesia manufatureira, artesanal e comer
cial

plora 10 operários não é da mesma ordem daquela que exist


entre ele e um patrão que explora 20: existe aí uma barreira d
classe que não se poderia configurar como uma diferença de
“grandeza”. Ignorá-la é cair em cheio no mito das “pequenas
médias empresas” ,

E. mente na fase atual, os efeitos de dissolução impo


stos pelo capital
monopolista à pequena-burguesia tradicional dife
rem de manei
nítida dos efeitos impostos ao capital não-monopoli
sta: no caso
da pequena-burguesia tradicional, esses efeitos assu
mem as for
mas de um processo acelerado de liquidação €
de eliminação.

— Assim, as estatísticas francesas, em geral baseadas no


núme
ro de operários empregados por uma “empresa”, esta
belecemuma

ategoriageral de empresas que vão de 0 a 5 assalariados, aquela
que nos interessa em particular, e não fazem distinções mais pre-
cisas noseio dessa categoria. Através de diversas verificações,
podemos dizer, no entanto, que é aí que se situa a pequena-bur-
guesia no sentido próprio, não sendo empregado nenhum assala- ;
riado, ou trabalho assalariado de forma especial, sendo ainda colo- .
cada em uma situação transitória entre formas artesanais e for-
mas semi-artesanais. É precisamente essa categoria que, de maneira |
muito mais importante e significativa do que as outras, é afetada |
por efeitos de liquidação: para as empresas artesanais, de 1954 a
1966, 127.500 dentre elas empregando menos de o assalariados,
fecharam suas portas, ao passo que aumentava de 73.000 unida-
des o número daquelas que empregavam entre 6 e 9 assalaria-
dos 27. Isso se manifesta pela diminuição característica do núme-
ro. absoluto das “pequenas empresas” dependentes da pequena-
burguesia em relação a essa diminuição no caso do capital não-
monopolista: estatísticas por “setores” indicam que aquele que é |
ignado como reagrupando as atividades manufatureiras apre-
1 uma diminuição em números absolutos: entre 1962 e 1967,
França, em torno de uma“média anual de 9.000, enquanto nos |
ros setores imediatamente seguintes se situam em torno de
1 1.000 parao têxtil, madeira e móveis. Uma análise da per-
tagem do total da população ativa empregada por estabeleci- |
ntos (o que difere relativamente do cálculo por empresas) in-
que, entre 1954 e 1966, essa percentagem caiu de 6% para
So para os estabelecimentos de O assalariado, de 13% a 10%
para os estabelecimentos de 1 a 4 assalariados, permaneceu está-
vel ( em torno de 6%) para aqueles que empregam entro 5 e 95
assalariados, € aumentou para o restante 2. Enfim, no setor “co-
mércio e serviços”, constata-se, entre 1954 e 1968, uma diminuição
de 90.000 dirigentes de empresas (trata-se essencialmente de em-
presas que não empregam nenhum assalariado).
- Defato, pode-se falar atualmente, a propósito dessa pequena-
burguesia, de um processo maciço de pauperização e de assalariza-
ção, enquanto as formas de dominação do capital monopolista
sobre o capital não-monopolista estão longe de assumir formas
semelhantes. Mas, mesmo no caso da pequena-burguesia, o ritmo
“e as formas de sua paço ao capital monopolista dependem

2]. Chatain, “Concentration dans le secteur dês métiers”, em Eco-


nomie et Politique, outubro de 1970.
Morvan, op. cit., pp. 228 e 249.
“do papel preciso do Estado na realização do“equilíbrioins
“dos compromissos”: a recente lei Royer na França é exemplo dissc
Ainda mais, quanto às relações entre capital monopolista
capital não-monopolista, isto é, no próprio seio da burguesia.
imagem esquemática de uma polarização interna radical en
alguns gigantes monopolistas, de um lado, e uma massa de |
quenas empresas, do outro, não corresponde nem à realidad:
todas as metrópoles imperialistas, nem mesmo à realidade c
formação social francesa que, por razões históricas, comporta n
entanto um número apreciável de pequenas empresas. O capit
não-monopolista cobre de fato, segundo os ramos e setores, um
gama dispersa que compreende um bom número de empresas d
porte médio, igualmente afetadas também pelo processo de su
dependência em relação ao capital monopolista. Finalmente, a
imagem de uma burguesia não-monopolista maciçamente polari--
zada por baixo está longe de corresponder à realidade.
E Mas, também aqui, verifica-se o caráter falacioso do empre
E go de termos que evocam uma ordem de grandeza: no caso, pri
cipalmente, da burguesia não-monopolista, a objeção às análise
do capitalismo monopolista de Estado não pode limitar-se a res
tringir simplesmente a parte da burguesia que deveria ser consi
derada como efetivamente pauperizada. Não se pode deixar
dizer que, por exemplo, em lugar de considerar o conjunto
capital não-monopolista como fazendo parte das classes domin
É das, só seria necessário considerar então a parte “menor” da bur
guesia e incluir na classe dominante o “médio capital”. O conjun.
to do capital não-monopolista situa-se do lado burguês da barreir
de classe: nada prova, aliás, que a intensidade das contradiçõe
“do capital. não-monopolista com o capital monopolista destac
exatamente, no seio do capital não-monopolista, delimitações se
gundo uma ordem de grandeza. Uma “pequena empresa” cap
lista não tem, forçosamente, com o capital monopolista, ma
“contradições do que uma “média empresa” capitalista. O proces
“de liquidação e de eliminação não vigia somente o pequeno c
talista, mesmo que a taxa de mortalidade pareça mais importar
para as pequenas do que para as médias empresas capitalistas. D
fato, é essencialmente o pequeno comerciante e o pequeno artesã
que nisso são afetados, e a barreira significativa a tal respeito
todos os elementos empíricos o demonstram — passa aqui
o pequeno capitalista (o burguês), “de um lado, e o pequeno b
£guês, do uma, :
6. AsContradições no Seio do Capital Não-Monopolista
As contradições atuais no seio do bloco no poder não se refe-
rem somente àquelas que existem no seio do capital monopolista,
ou àquelas do capital monopolista e do capital não-monopolista:
elas se estendem igualmente às contradições no próprio seio do
capital não-monopolista: por exemplo, contradições dos capitais
não-monopolistas industrial, bancário ou comercial, entre si.
Observa-se nesse contexto um fenômeno análogo, se bem que
numa outra dimensão, àquele que se pode descobrir nas relações
“entre o capital imperialista dominante e as burguesias interiores,
e que releva da própria estrutura de dependência: as contradi-
ções- no seio do capital não-monopolista tendem, cada vez mais,
“a reproduzir e repercutir em seu próprio local as contradições no
próprio seio do capital monopolista. Em outras palavras, as con-
tradições no seio do setor dependente, reproduzem, de forma es-
pecífica, as contradições do setor dominante. Partes do capital
não-monopolista, que não são absorvidas pelo capital monopolista,
ão entretanto dependentes, muito frequentemente, desta ou da-
quela firma monopolista, pelas subcontratações obrigatórias e,
frequentemente, pelo seu próprio processo de trabalho. As con-
dições dessas firmas monopolistas entre si repercutem-se então,
iretamente, pelas contradições entre firmas não-monopolistas de- .
endentes desta ou daquela firma monopolista, que se tornam
assim contradições induzidas e sobredeterminadas.
Isso produz frequentemente efeitos contraditórios, que resul-
“tam em uma extrapolação do capital não-monopolista em relação
“ao capital monopolista, centro diretor da acumulação do capital,
“a uma ruptura da homogeneidade do capital não-monopolista, em
face do capital monopolista e, enfim, a um recuo de sua resistên-
“Cia unitária em face deste. A contradição do capital monopolista
e do capital não-monopolista remonta diretamente a essa repro-
dução induzida das contradições próprias ao capital monopolista
no seio do capital não-monopolista. Umafirma não-monopolista
é ao mesmo tempo solidária do capital não-monopolista em sua
“contradição em face do capital monopolista, e do monopólio de
que ela depende nas contradições deste com os outros (de que |
dependem outras firmas não-monopolistas). Os efeitos de disso-
lução sobre o capital não-monopolista se manifestam finalmente |
aqui por uma dissolução de sua unidade política na sua resistên-
Cia em face docapital monopolista, o que o impede precisamente
funcionar, doravante, como força social efetiva. o
tal monopolista com predomínio industrial,
c
com predomínio bancário), este ou aquele
setor do capital mon
polista tem, com Trequência, estratégias e táti
cas dife
rentes c
respeito ao capital não-monopolista. Essas
estratégias e tátic
diferentes prendem-se, em grande parte, às
contradições que atr:
vessam o capital monopolista, e às relações
de força entre se
diversos componentes. Na França principa
lmente

ciliatória com respeito ao capital não-monopoli


sta, contentando-se
em controlá-lo de forma indireta pela via
indireta da outorgado
créditos, enquanto o capital monopolista indu
strial, pela via indi-
reta das transformações atuais das relações
de produção (“indu
* trialização”, “modernização” etc.) apresent
ou uma atitude mai
* agressiva a seu respeito. Isso permitiu freq
uentemente que o capi

“em face das reivindicações operárias


e em face dos “apetites”
tendência modernista (capital monopolis
ta industrial) do |
patronato francês. Este último tem
tentado, em con ;
uma política de compromissos com resp
eito à classe operária, e

Estas últimas análises já conduzem a uma


são política: mesmo que não possam
primeira conc
os considerar ocapital nã.
monopolista, sob a denominação de
“camadas antimonopolist
como excluído atualmente da domina
ção econômico-política
do bloco nopoder, não podemos con
siderá-lo como uma fraçã
burguesa susceptível de fazer, em
u
rnacionalização das relações nus — que o Cpnida não
opolista está longe de representar a burguesia nacional em
de um capital monopolista globalmente comprador, e que
linhas de delimitação entre a burguesia interior e o capital im-
alista dominante atravessam de fato o capital o e
apital não-monopolista.
o que não quer dizer, tursmento, nem que, em casos ise-
s, “pequenos capitalistas” não possam oscilar do lado da clas-
operária, nem tampouco que a estratégia das massas populares
transição para o socialismo deva colocar no mesmo saco e
r da mesma forma o capital monopolista, que é o alvo prin-
eo capital não-monopolista, em suma, o conjunto da bur-
uesia interior. Está bem claro que, segundo os processos ge
, e segundo suas etapas, formas e graus de *“compromisso” com
ital Raioda se revelarão necessários por parte da

o que isso tem muito pouco a ver com a| “aliança anti-


a
Wl. O ESTADO ATUAL E AS BURGUES
O Debate

É com relação aessas análises, referentes precisament


formas atuais das contradições no seio da burguesia, que é
“cessário situar o papel do Estado no capitalismo monopo!
sobretudo em sua fase atual: mas as observações quese
e que situam o papel do Estado em relação à burguesia int
devem ser consideradas no contexto do papel do Estado, nc
bito da internacionalização das relações capitalistas. Enfim,
exame do Estado só pode ser feito exaustivamente se consic
mos a luta de classes em seu conjunto, aí incluídas, portant
classes dominadas: o Estado, consagrando e legitimando a
nação de classe, constitui o fator de coesão do conjunto da
mação social e, reproduzindo as relações sociais dessa form
constitui a-condensação do conjunto de suas contradições.

x
Podemos logo dizer que as análises dos clássicos do marxisr
sobre o Estadocapitalista não se limitam, como se diz freque
mente, ao papel do Estado no estádio do “capitalismo compe
vo”, ou ao século XIX. Encontra-se aí a crítica fundamental
sob várias formas, foi feita às minhas análises dePouvoir pol
et Classes sociales e Fascisme et Dictature pelos autores do.
de [. Perceval ec 3. Lojkne, até: Bh. Herzog, M. e R. Weyl,
Gisselbrecht etc. +,

1 L. Perceval, suas duas longas críticas de meus livros, em


nomie et Politique, n.º 190, de maio de 1970 e n.º 20455, julho-agos
1971; J. Lojkine, Pouvoir politique et Lutte des. classes, art. cita

cata
AM o 9
am.
Vu
úcleo das divergências. Se
“que haja, entre esses autores, diferenças notáveis que des-
m claramente as contradições de difícil resposta, podemos re-
ir suas críticas: vou apoiar-me nas análises de Marx, Engels,
e Gramsci que, permanecendo exatas para a realidade con-
a que tinham em vista, não podem mais se .aplicar ao Estado
capitalismo monopolista de Estado, Estado este que apresen-
segundo o PcF, as características assinaladas no pr.ncípio
€ ensaio. É o j
Tais críticas não me parecem fundamentadas: e isso não
ue a forma de Estado do capitalismo monopolista, e prin-
ipalmente de sua fase atual, não apresentaria traços específicos.
"que as análises dos clássicos do marxismo sobre o Estado
lista não somente se aplicam a todas as suas formas, inclu-
a forma atual, mas são também as únicas que permitem
ender as modificações que têm lugar atualmente,

“ Para começar pelo ponto essencial: as análises referen-


Jusão doEstado e dos monopólios em um mecanismo único

e atual (Capitalismo monopolista de Estado), que implicam,
ado,que a única fração dominante seja aqueladocapital
ista e o capital não-monopolista seja excluído do terreno.
minação econômico-política, implicam, por outro lado, que o
a
il monopolista seja uma fração abstratamente “unificada”
seus próprios meios, são inexatas. Atualmente, o Estado
sem-
témo papel de unificador político do bloco no poder
e de
anizador político da hegemonia do capital monop
olista no
do bloco no poder, composto de várias frações de classe
guesas e atravessado por contradições internas. A relaç
ão Es-
monopólios não se coloca mais, atualmente, como no passa-
o caso de uma hegemonia de outras frações do capital,
em
s de identificação ou de. fusão. O Estado se encarrega,
por
lência, dos interesses da fração hegemônica do capital
mono-
a, na medida em que tal fração detém a direção
do bloco:
er, e em que seus interesses se configuram em interesse
ico do conjunto do capital em facedas classes dominadas.

a Pensée; Ph. Herzog, Politique économigue...,


op. cit: M. e R. Weyl,
logie juridique et Lutte des classes”, Cahiers
du cERM; A. Gissel
t,“Le Fascisme. hitlérien”, Recherches internatio
nales à la lumiêre
marxisme, 1973 etc.
E
O EstADO ATUAL E AS BURGUESIAS 171

Acabamos de ver, com efeito, que o capital monopolista, pro-


duto do capital financeiro, não constitui uma fração unifi
cada
ou “integrada”: é atravessado de contradições intensas
já anali-
sadas por nós. No âmbito da relação Estado-capital monopolist
a,
o Estado se encarrega dos interesses doconjunto do capit
al mo-
nopclista: ele não se identifica concretamente com nenh
um de
seus componentes, nem com este ou aquele monopólio
em parti-
cular, na medida em que trabalha, pela via indire
ta de suas di-
versas intervenções, em favor da organização
e da coesão polí-
tica do capital monopolista, e na medida
em que tais interven-
ções se impõem de alguma maneira a
este ou aquele componente
desse capital. A não ser que admitamos,
o que é inteiramente fal-
so, que o capital monopolista constitua
um conjunto “integrado
de fusão” e que Possua, extraordinariamente,
capacidades próprias
de organização econômico-política,
e que concluamos assim, ne-
cessariamente, por um “enfraqueciment
o” global do Estado atual
em face do “poder dos monopólios”
(Estado e monopólios sendo
concebidos como entidades que
intercambiam “poder”), é neces-
sário convir que
o Estado atual não é, mais do que
uma simples ferramenta ou instrument pelo passado,
o manipulável à vontade
por uma “vontade” única e coerente.
É nesse sentido que podemos sempr
e falar de uma autonomia
relativa do Estado atual em face do capita
mia relativa inscrita ao mesmo tempo l monopolista: autono-
(burguesia-classe
na contradição principal
operária) e (o que importa
contradições no próprio seio desse aqui) nas lutas e
capital; autonomia relativa que
é somente a manifestação do papel
do Estado bara a coesão polí-
tica e a organização da hegem
onia do capital monopolista.
tando entendido que essa auton Es-
omia relativa não deve precisa-
mente ser apreendida como: papel de um “Estado-árbitro”
tradições intermonopolistas, das con-
nem comolugar de uma políti
Tente e racional “exterior” ca coe-
ao capital monopolista. Impug
análises de uma “fusão do nar as
Estado e dos monopólios
canismo único” não leva em um me-
absolutamente à sustentar
uma “independência” do a posição de
Estado em face dos monopólios
plica negar uma problemática , mas im-
que, seja sob o termo “fusão
sob o termo “independência”, ”, seja
coloca as relações Estado-fra
hegemônica como relações ção
de entidades, uma diante
dendo o Estado “possuir” da outra, po-
o “poder” próprio, e de
“absorve” a outra —. retira que uma ou
-lhe seu “poder”: fusão
siste” — independência —. ou lhe “re.
ou arbitragem. Além disso,
que existe atualmente sustentando
fusão, deixa-se seguramente
entender que
averia, aníes, independência ou arbitragem do Estado, o que é
mbém falso. O Estado não possui “poder” próprio: mas, por
tro lado, constitui o lugar contraditório de condensação de
lações de força que atravessam igualmente a classe dominante,
- principalmente a própria fração hegemônica — o capital mo-
opolista 2, - : :
- É necessário, aliás, assinalar as contradições próprias aos pes-
uisadores do pcr: indicam os impasses a que conduz a tese oficial
a fusão — ou da “reunião” — e do mecanismo único, expressa
la conferência dos 81 partidos, pelo Colóquio do pcr de Choisy-
Je-Roi, e pelo Tratado do Capitalismo Monopolista de Estado. Se
essa tese se encontra exatamente como em certas críticas que
Perceval e J. Lojkine me puderam dirigir, percebemos, às ve-
, entre outros autores, outras opiniões. Assim, por exemplo,
- Herzog, depois de ter expressado a meu respeito as críticas
ravante rituais, pode, entretanto, escrever, sem recuar diante
incoerências: “Não é possível conceber o Estado dos Mono-
ios como uma fusãoentre os dois termos... As intervenções
licas, já dissemos, refletem e consolidam uma relação de for-
para nós, indiscutivelmente, elas refletem atualmente a título
ipal, e na sua dinâmica, os interesses da oligarquia financei-
Mas, como vimos, a relação de forças opõe também os mono-
s: se o Estado tende a ser sua coisa comum, ele não pertence
enhum... 4 ausência de fusão entre o Estado e os monopólios
responde a uma tripla realidade: ...de um lado a outro das
utas internas da oligarquia, a necessária procura de coerência
relativa na intervenção doEstado resulta emuma ação que, em
geral, não reflete diretamente os interesses deste ou daquele gru-
o, € que, então, numa certa medida, se impõe a cada um” 8. Mas
odemos, nesse caso, formular questões sobre o próprio conceito
| 2 É interessante notar que essa mesma concepção errônea da re-
ção Estado-grupossociais encontra-se frequentemente em toda uma série
* autores que colocam o problema em termos instrumentalistas de en-
dades exteriores em que uma (grupos sociais) influenciaria a outra (Es-
ado), submetendo-a e reatando, por esse intermédio, com uma antiga
radição empirista burguesa. Já foi o caso para o conjunto das con-.
cepções dos “grupos de pressão” versus Estado na “decision making pro-
2ss”, ver principalmente R. Dahl, Who Governs. Encontra-se atualmente,
na corrente progressista, em G. McConnel, Private Power and Ameri-
can Democracy, N. Y., 1966; W. Domhoff, Who Rules America, N. o
971; J. Lowi, The End of Liberalism, N. Y., 1969: finalmente, em J.
Galbraith, Le Nouvel Etat industriel. Existemaí pontos que foram per-
eitamente esclarecidos por CI Offe, Strukturprobleme des Kapitalistis-
hen Staates, 1972, pp. 66 sq. :
“o Ibid, D. 68,
do capitalismo monopolista de Estado; com efeito, o próprio.
* Claude, eminente teórico do pcr, não afirmou recentemente qu
dado o papei importante do Estado desde os primórdios do imp
rialismo, o único elemento novo que pode legitimar o conc:
de capitalismo monopolista de Estado consiste de forma muito
exata na fusão do Estado e dos monopólios privados que Cla
“considera como terminada *? E Ê

2. O segundoaspecto da questão remonta


essa fraçãomonopolista, assimdividida, não é
dominante: é a burguesia no seu conjuntoqu
te. O capital não-monopolista, também ele profundamente fr:
cionado, participa em bloco no poder, constituindo, o capital m
nopolista, a fração hegemônica *. O que não quer dizer, entr
tanto, que essa participação do capital não-monopolista na d
minação burguesa de classe corresponda, mais do que no pas
do, a uma divisão efetiva do poder entre frações dominantesn
hegemônicas e fração hegemônica: como no passado, o Estad
serve, de forma maciçamente dominante, aos interesses da fraç
hegemônica. Mas isso indica que se trata, em última análise,
interesse político a longo prazo do capital monopolista. O«
implica, vimos precisamente, uma estratégia de compromisso c
respeito ao capital não-monopolista, e um papel próprio do.
do nesse sentido: ficando entendido que não se trata de uma
tratégia explícita, coerente e “racional”, mas de uma resultant
da relação de forças. | s Ca
Assim, as diversas intervenções do Estado, que correspond
aos interesses do capital monopolista, visam ao mesmo tempo
reprodução ampliada do capital, isto é, do conjunto do capi
social. Dizer, partindo desse ponto de vista, que o Estado está
serviço “exclusivo” dos “grandes monopólios”, à exclusão en
“das outras frações burguesas, já é falso. Mas é preciso ir |
além: as intervenções econômicas do Estado em favor do capi
monopolista não são simples intervenções “técnicas” decorren
das necessidades da “produção monopolista”, mas, como toda
tervenção econômica do Estado, intervenções políticas: elas.
vam em consideração, em geral, nas suas formas e modalidac
1

4 MH. Claude, “Le Capitalisme monopoliste dºEtat”, Cahiers du cE


ALSO MO/D Do 2d. ae :
o Mas aí também, já foi visto
174 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

concretas, o capital: não-monopolista e a necessidade da coesão


do bloco no poder, manifestando-se o capital não-monopolista,
então, por efeitos pertinentes no próprio âmbito da “política eco-
nômica” monopolista do Estado 8. Enfim, lembremos que podem
ser citados muitos exemplos de intervenções, certamente limita-
das,-do Estado “em favor” do capital não-monopolista, até e in-
clusive no domínio do crédito e dos financiamentos públicos, o
domínio fiscal etc.: e não se trata aí, naturalmente, de medidas
efetivas do Estado que contribuem para a sobrevivência ou re-
sistência do capital não-monopolista em face do capital monopo-
lista, mas de uma resultante da resistência do capital não-mo
no-
polista em face da sua absorção pura e simples pelo capital
mo-
nopolista. Se o Estado não é aqui também o árbitro entre o
capi-
tal monopolista e o capital não-monopolista, não é menos verda-
de que-representa a condensação de sua relação contraditória:
o
que, aliás, é uma das razões das contradições internas na
“polí-
tica econômica” do Estado.
É igualmente nesse contexto que se inscrevem os limites
atuais
da autonomia relativa do Estado em face do capital monopol
ista
e do bloco no poder em seu conjunto: ela designa aqui
o papel
próprio do Estado e de seus diversos aparelhos na
elaboração da
estratégia política do capital monopolista, a organiz
ação de sua
hegemonia no âmbito de sew “equilíbrio instável
de compromisso”
(Gramsci) em face do capital não-monopolista, e a
coesão política
da aliança de classe no poder. Autonomia relativa cuja
dimensão
é apreendida quando a comparamos, negativamente, com
a tese da
fusão e do mecanismo único: assim como, para parafrascar
Herzog,
o Estado não pertence a-.este ou aquele grupo monopolista,
não
tende a ser sua “coisa comum”, pois o Estado não
é uma coisa,
mas uma relação, mais exatamente a condensação
de uma
relação de força. A autonomia relativa do Estado deve ser enten-
dida aqui como relação entre Estado, de um lado, capital
mo-
nopolista e conjunto da burguesia, de outro, relação que se
coloca
sempre em termos de representação e de organização política
de
classe 7.

8 Entendo por efeitos pertinentes a expressão partic


ular, ao nível
político, de uma classe ou fração de classe que
existe de forma própria,
sem no entanto constituir uma força total.
(Pouvoir politique, op. cit.,
PP. 80
sq.)
)
| 7 Conceber assim o Estado como uma relação (mais
| como a condensação de uma relaçãodê exatamente
forças) é evitar o falso dilema-
| da discussão atual sobre o Estado, entre um Estado apreendido como
| Coisa, e um Estado apreendido como sujeito.
| 2 Como coisa: a concepção
Í
Tentei demonstrar isso concretamente, noâmbito do capit
“mo monopolista, a propósito do fascismo. Direi duas palav
quanto às contradições próprias dos pesquisadores do Pcr em su
críticas: parecem-me particularmente interessantes, pois o conju
to desses pesquisadores considera o fascismo — porém mais «
pecialmente o nazismo alemão — como um caso “prefigurado
mas típico, do capitalismo monopolista de Estado. Críticos con
M. e R. Weyl, L. Perceval, J. Lojkine etc. censuraram-me abu
dantemente por não ter visto a relação “exclusiva” do Estad

mas concretos do fascismo, e após as críticas habituais de


min
análises, constata entretanto: “Seria de fatocontraditório
co
| teoria marxista do Estado apresentar o poder fasci
sta como
“minação “direta”, como “criatura” dos monopólios,
seu órgão
execução. O Estado é, bem antes, o “comitê de gestã
o”
lista, o que dá lugar não só a contradições entr
e os grupos
a compõem, mas também a um certo papel
ativo dos órgãos
decisão estatal º.” Gisselbrecht irá mesmo mais alé
m, ao a
mar que “a idéia ingênua de um Estadofascista eman
ação, ag
te puramente passivo dos monopólios... é estranha à pesq
u
marxista 1º”. Não há necessidade que ele o diga. É evidente
, ei
vale muito exatamente para a tese da fusão e do mecanismo úni

instrumentalista do Estado, instrumento passivo


nas mãos de uma cla
ou fração; como sujeito: a autonomia do Estado,
que é considerada n
caso como absoluta, é trazida, voltaremos a isso, à
sua vontade pró
sob a forma de instância racionalizante da “soci
edade civil”. Nos d
* casos, a relação Estado-classes é apreendida como relaçã
E o de exteri
dade. Ora, a autonomia relativa do Estado, voltaremos
a isso igualmen
está inscrita na sua própria estrutura (o Estado é
uma relação), +
quanto resultante da luta e das contradições de classe
da forma c
se exprimem e se concentram, de forma específica
Estado: é o que, precisamente,
próprio da burocracia.
8 Lojkine, ibid., p. 152.
9 bd; p. 17; nota 53.
10 Thido, pat.
Finalmente, o próprio Lojkine, quando empreende, por outro
lado, uma análise do papel do Estado no capitalismo monopolista,
não hesita em se contradizer afirmando principalmente 4: “O Es-
doburguês, organização política a serviço da burguesia (não é
mais simplesmente o capital monopolista), tem uma dupla fun-
ção: 1) manter a coesão do conjunto da formação social; 2) fa-.
«ser prevalecer diretamente a dominação da burguesia. Ora, a pri-
meira função implica a segunda, na medida em que a dominação
«da classe capitalista supõe a existência de um organismo indepen-
dente da sociedade (grifo de Lojkine), capaz de “regulamentar”,
de “normalizar” a luta das classes”. Assiste-se de fato aqui a uma
eviravolta completa, notável e significativa das posições de Loj-
kine: o guardião rígido da tese da fusão e do mecanismo único .
ão teme arvorar-se em defensor de um antigo equívoco, que se
prende às análises do jovem Marx, de um Estado “independente”.
«da sociedade, contra o que, no entanto, me precavera, em minhas
inálises sobre a autonomia relativa doEstado e seu papel enquan-
to fator de coesão do conjunto da formação social.
“Sendo assim, nãose trata aí de incoerências próprias a um
pesquisador, nem mesmo, de fato, de contradições efetivas pró-
prias à tese da fusão e do mecanismo único: as contradições aqui
o somente aparentes. A concepção instrumentalista-idealista do
stado que subtende essa tese, legitima de fato, perfeitamente, e
aomesmo tempo, a tese de uma independência real do Estado
mface das classes sociais. Um “instrumento” é ao mesmo tempo .
talmente manipulável por seu detentor (o capital monopolista)
inteiramente independente dele, no sentido em que pode ser |
utilizado, tal qual, por um detentor diferente (a classe operária). .
únem-se por esse meio as outras análises iá
j assinaladas por Her-
og sobre o Estado-neutro “fator orgânico da produção”, e suas
consegiências inevitáveis quanto à transição para osocialismo,
considerada como possível, sem destruição dos aparelhos de
stado. o

3. A relação complexa entre o Estado e o bloco no poder


na faseatual tem efeitos importantes no próprio seio dos apare-
lhos de Estado das metrópoles imperialistas. É preciso observar
bem, nesse sentido, de um lado, que a tese da fusão do Estado .
*e dos monopólios em um mecanismo único, supondo a existência

“MN Lojkine, “Contribution às une théorie marxiste de Purborisatia


apitaliste”, em Cahiers internationaux de sociologie, janeiro-junho d
OD p tl.
de uma única fração dominante, ela própria abstratamente unif
cada, bloqueia toda análise das contradições internas do Estado
atual; por outro lado, que, em geral,
tese instrumentalista im:
plica que as contradições das frações no poder só se manifestam
como assediamentos externos (influência) das peças do Estado-
instrumento, entidade metafísica, tirando de cada uma dessas fra-
ções “a cobertura”. De fato, essas contradições estão inscritas na,
própria estrutura dos aparelhos de Estado capitalistas. As relações
contraditórias entre frações do bloco no poder sob á hegemonia
docapital monopolista existem nas relações entre ramos do apa-
relho repressivo de Estado, entre aparelhos ideológicos de Estad
e nas relações enlaçadas no próprio seio de cada um deles. As re-
lações de força no seio do bloco no poder exprimem-se, enquanto
É precisamente relações de poder, pelas relações contraditórias n
| próprioseio do Estado e de seus aparelhos, sedes privilegiadas desta
"ou daquela fração do bloco no poder, e se manifestam igualment
como contradições internas entre as diversas intervenções do Es
tado atual. A autonomia relativa do Estado não significa também
assim, uma vontade coerente e racional dos ae do Estado-
entidade intrínseca: ela existe concretamente como “jogo” con
traditório no seio dos aparelhos de Estado, e mesmo como resul
tante da relação de forças de que o Estado constitui a cc
densação. : ga
Assim, por exemplo, as relações contraditórias atuais no s
(e entre eles) do aparelho político — partidos, parlamento, se
nado etc. -—, do aparelho governamental, do aparelho municip:
e comunal, o exército, dos diversos aparelhos ideológicos — es
É colar, cultural, de informação etc. — não são o simples efeit
É da luta das classes dominadas, mas exprimem igualmente as con
, tradições do bloco no poder. No caso deste último, e ao contrá
| rio do que se passa com os efeitos da luta dasclasses dominadi
' sobre os aparelhos de Estado, -asrelações entre frações burguesa:
) se exprimem com fregiiência como sedes ebaluartesde po eres
E | contraditórios
osno
no seiodesses aparelhos,
é Mas
é preciso repetir aqui que não se
setrata,entretanto,
“peças separadas””doEstado, e de umadivisão efetiva do poder
'de Estado entre as frações que compõem o bloco no poder.
Estado capitalista é, atualmente como no passado, caracteriza:
por uma unidade interna própria ce seus ao
mein geo quase
178 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

Mas essa unidade do poder de Estado, condensada como unida-


de institucional dos aparelhos-de-Estado, não se estabelece de
forma simples, seja por uma unidade qualquer da vontade dos
monopólios, ou porque os monopólios 'operassem um embargo fí-
sico sobre o conjunto de um Estado-instrumento, de unidade ins-
trumental intrínseca. Ela se estabelece de fato, seguindo as con-
tradições de classe, de forma complexa, e por toda uma cadeia.
[desubordinaçõesde certos aparelhos a outros que condensam por
| excelência o poder da fração hegemônica; porsuúbdetermirações,
| abreviações e duplicações de tertos-aparelhos por outros; por des-
'locamentos de “funções” entre aparelhos e defasagens entre poder
real e poder formal; por deslizamentos respectivos de aparelhos:
do campo dos aparelhos ideológicos para o campo do aparelho:
repressivo é vice-versa; finalmente, pelas delimitações importan-
tes no próprio seio de cada aparelho !2,

2. Sobre o Papel Atual do Estado

I E

Todas essas observações e precisões não excluem, naturalmen-


te, que modificações importantes intervenham não só na forma

12 No domínio de estudos das instituições políticas, ao qual me li--


mitarei, dispõe-se atualmente de um número apreciável e crescente de aná-
lises concretas que atuam nesse sentido. Mas é necessário assinalar que:
estas estão, freguentemente e de forma direta, imbricadas às análises e
lutas políticas, e não surgem sempre sob a forma de “livros” ou de arti-
gos de revista. De forma indicativa, menciono simplesmente aqui: para
a França, além dos trabalhos de M. Castells, Fr. Godard, D. Vidal, J. M.
Vincent etc., que cito neste texto, aqueles de M. Amiot sobre a política
cultural e. os aparelhos ideológicos, de J. Ion sobre a política urbana,
da equipe cERAT-IEP de Grenoble sobre as instituições comunais etc. No
plano internacional, e ainda de forma indicativa, primeiramente, os tra-
balhos acessíveis em francês: aqueles de M. Van Schendel, C. Saint
Pierre, G. Bourques e N. Frenette em Québec; aqueles da revista Con-
tradictions (principalmente de A. Corten) ma Bélgica: aqueles de Bandiera
Roja (recentemente publicados no Temps Modernes) na Espanha. Entre
os trabalhos não traduzidos para o francês, aqueles de G. Therborn, na
Suécia, aqueles de certos colaboradores da New Left Review na Grã-Bre-
tanha, e da revista Kursbuch na Alemanha: numerosas pesquisas na Itália,
entre as quais principalmente aquelas da equipe da revista Inquiesta,
e na Grécia; os trabalhos de J. Solé-Tura na Espanha; de E. de Ipola
na Argentina; de E. Villa no México; de Fr.Weffort no Brasil; de
A. Quijano no Peru etc. Enfim, aqueles de numerosos companheiros:
nossos no Chile, notadamente em torno da (ex-) Escola Latino-America-
na de Ciências Sociais de Santiago.
italismo compe itivo,mas igualmente noseio do Estado
vencionista segundo as fases do capitalismo monopolista. A:
“racterísticas próprias a essas fases — de transição, de consolid
ção, e a fase atual —, as modificações, portanto, das relações de
produção capitalistas, seus efeitos sobre os outros modose fc
mas de produção, os graus de internacionalização que marca
essas fases e que se traduzem em relações particulares nos
do bloco no poder, têm efeitos sobre as “funções econômica:
do Estado, o deslocamento da dominância em direção ao Estad
e a relação do Estado com a hegemonia de classe, segundo
fases do capitalismo monopolista des
“Não há dúvida, pois, de que se assiste, na fase atual do in
perialismo, à emergência, no seio das metrópoles imperialistas
de modificações importantes do Estado intervencionista, que
podem ser apreendidas levando-se em conta o conjunto das, luta

eta
dominaeem direção aao Estado1tãopront

capitale prende-se,finalmente, nafaseatual,ao


«
mo tempo, às suasfunçõ

exteriorPENp p' eEe naeprodição das nova

is Com efeito, tão-somente para o processo Ge, concentração


papel intervencionista do Estado não se reduz a um prócesso “grad
-unilinear e homogêneo: no âmbito do estabelecimento do papel.
nante do Estado, algumas de suas funções econômicas marcam .
rações, desacelerações, por vezes até “retraimentos” relativos. Com
assinala justamente S. de Brunhof: “O poder econômico do Estado n
está inscrito em um processo irreversível de crescimento... Longe d
estender de forma contínua, o poder do capitalismo. de Estado p
sofrer regressões...” (Capitalisme financier public; influence économ
de PEtat en France 1948-1958, 1965,.pp. 202 sg.). J. Bouvier m
principalmente que o papel financeiro do Estado-banqueiro se encontr
reduzido na França da IV.2 até a V.2 República e ele precisa justamei
“Significa sublinhar o peso do qualitativo, isto é, do político, ni
tória do intervencionismo estatal, da “planificação”, e organismos bai
rios e financeiros públicos” (Un siécle de banque française, op.
p. 153): : ss o Nino
idas no ensaio precedente;

2) nas formas atuais de reabsorção do afastamento entre pro-


* priedade econômica e posse, correspondendo à extensão da explo-
“ração monopolista e às formas dominantes da exploração inten-.
“siva do trabalho: é aí que reside, entre outros aspectos, o papel
“atual do Estado na centralização financeira, mas também na .
concentração pela “reestruturação” ou pela “modernização indus-
trial”, papel particularmente claro na França com o 6.º Plano; sob
certo aspecto, seu papel nos comandos públicos, inclusive as des- .
“pesas militares etc.;

» nos efeitos atualmente dominantes de dissolução das outras.


“formas de produção pelo capitalismo monopolista: papel do Es-.
“fado na eliminação da pequena-burguesia tradicional, na domi-
“nação do capital monopolista sobre o capital não-monopolista, na
“penetração e extensão do capitalismo monopolista no seio da agri- .
“cultura e o êxodo rural etc.: é aqui principalmente que se en-
ntra O papel do financiamento público;

4 inliitue na realização direta das contratendências prin-


cipais à baixa tendencialda taxa de lucro, a saber:
a. nas próprias formas atuais de exploração intensiva do
“trabalho pela via indireta da intervenção do Estado na produti-
'vidade do trabalho e na extração da mais-valia relativa: papel do .
Estado na pesquisa científica e nas inovações tecnológicas, na:
reprodução da força de trabalhopela via indireta de sua “qualifi-
“Cação”? escolar (escola, educação permanente etc.), da urbaniza-
“ção, dos transportes, do domínio “saúde”, dos equipamentos
“coletivos no E
b. na desvalorização paralela de certas partes do capital
constante, nas novas condições de estabelecimento da taxa média
“de lucro: encontra-se aí um dosaspectos da “modernização in-
dustrial”, dos investimentos públicos etc.

Em suma, trata-se aí de um conjunto de modificações que


indicam o papel e o lugar do Estado e marcam as formas atuais

14 M. Castells, Néo-Capitalisme, consommation collective et con-


tradictions urbaines, Ronéo, Centre d'étude des mouvements sociaux, 1973.
de reprodução ampliada do capital. Mas não se trata, nas ob:
* vações acima, de fazer a lista limitativa das intervenções a
do Estado. A questão é estabelecer as modificações estrutura
principais que comandam suas intervenções, e não operar u
enumeração descritiva ou um recenseamento destas. Poderíamo:
de fato, mencionar toda uma série de outras intervenções muito
importantes do Estado, desde aquelas sobre o mercado de trab
lho (a “política das rendas”) até aquelas nos domínios da distr
buição, do “consumo coletivo” etc. 15: mas todas dependem e
em; zError

decorrem finalmente das modificações que acabo de assinalar.

Isso me conduz a outra observação: as novas intervenções


do Estado que são aqui questionadas não se manifestam sempre,
diretamente e em seu conjunto, como “intervenções econômicas”,
no sentido estreito que esse termo podia assumir no estádio d
capitalismo competitivo: intervenções sobre o “mercado” e na
construção da “infra-estrutura econômica” — estradas de ferro,
| por exemplo. Isso levou a numerosas análises segundo as quais
| tratar-se-ia, atualmente, de um retraimento das “intervenções
econômicas” do Estado, de que se encarregariam diretamente os
monopólios privados (organização do mercado, construção das
estradas etc.), e de um crescimento de suas intervenções “sociais”
e “políticas” 18, a
Isso me parece falso no sentido precisamente em que se apli-
cam, nessas análises, termos extraídos como que de um campo.
de aplicação que é aquele do capitalismo competitivo '”. Nesse
Ts

estádio, marcadopeladominânciaeconômicoeda exploração


extensiva dotrabalho, podia-se aindaestabelecer umadistinção
relativa entre asintervençõ a dução ampliad.
das condições daprodução,deum lado, eas inte econô
micasdiretas do Estado, de outro: sem que isso queira r qu
essas intervenções fossem, nesse estádio, neutras e dissociadas da:
intervenções políticô-sociais do Estado. Mas, no estádio atual «
sobretudo nafaseatual, marcados pelo papel dominante
epelo deslocamento da dominância emdireção à ex

15 A. Granou, Capitalisme et Mode de vie, 1973; P. Mattick,


Ma
et Keynes, 1972.
16 Entre outros, o relatório geral de E. Maire no último congresso
da cFDT, pp. 26-27 (junho de 1973)
7 Ver acima, pp. 107 sa:
a o. As próprias
icas€ 1 ecológicas da produção tervém diretamente no.
constituem as suas.
; de reprodução ampliada do capital: elas
Ro E
óprias formas de existência.
político,
” Em outras palavras, trata-se de uma nova relação do
io campo
| ideologia e do econômico, que transforma o própr
produção
onteúdo desses termos, no sentido em que o espaço da
ideológicas
reorganiza “em unção” das condições políticas e
do Estado, a
reprodução, já se configurandoas intervenções
e respeito, como intervenções econômicas !$.
papel domi-
É então incontestável que, na medida em que o
formações, e em
jante do Estado marca de forma crescente essas
do capital ,
e a dominação econômica e a hegemonia política
atual tende
onopolista se afirmam de forma maciça, O Estado a
autonomi
vez “mais a refletir essa situação: o jogo “de sua
monopolista, sg
lativa em face da fração hegemônica, o capital
passado. Do
Teve em limites muito mais restritos do que no
s limites só é,
ode vista do bloco no poder, a restrição desse
te consu-
o efeito, entre outros, da dependência largamen
tal monopo-
o capital não-monopolista em relação ao capi
já cessou, salvo
a, pelo fato deque o capital não-monopolista
ras prec isas, de assumir o papeldsde uma força
aras conjuntu
g Ra
podes de
E ' ii 1

Dn
mM j

p y na pr 4
l entreo Estado
“Éassim, situando exatamente a relação atua lver uma
campo dascontradições de classe, que podemos reso
atual papel do Es-
- de problemas adjacentes colocados pelo

pa el do
1. De um lado, torna-se evidente que esse atual
no sentido de um
tado não pode absolutamente ser apreendido
À

, trata-se exatamente de
18 Mas, assim como eu havia assinalado de uma
limites entre o Estado e O econômico, e não
raçãorelativaprópri aaocapitalismo. Issoi mplica,
do Estado atual n odem trars-
enções econômicas
limites cujo índice |
» certos limites co-substanciais ao capitalismo:
ceira “permanente
mais evidente é,pt ncipalmente,a crise fiscale finan Fiscal Crisis of f
Estado atual (sobre este assunto, J. O'Connor, “The
ie State, 1973). RR a
“capitalismo organizado” que, pela via dio de uma “instá;
Tacionalizante”, teria ultrapassado as contradições próprias ao
é em geral designado como “anarquia da produção”, e que não
finalmente, outra coisa senãoa cristalização das contradições
classe. O Estado preenche certamente o papel geral de fato:
“coesão da formação social, isto é, um papel geral de “organizaç
e de “regulação”, mas esse papel não é distinto de suas funçõ
em relação à luta das classes: é a expressão concentrada da he
-monia de classe. O que volta a contradizer toda uma série
concepções (que já foram aquelas de Keynes) referentes pri
palmente à planificação capitalista — ver o Planejamento .
“França — apreendida como política “racional” e “coerente” :
um aparelho parcialmente “técnico” e “neutro”, tendo chegado
neutralizar ou a conciliar as contradições capitalistas. Essas co
cepções, que tiveram repercussão no movimento operário p
toda a corrente da “revolução do alto”, isto é, pela crençae
uma passagem para o socialismo pela via indireta unicamente
Estado (Estado-providência, e mesmo socialismo de: Estad
dem apresentar-se sob várias formas. É
Não é suficiente, a tal propósito, lembrar, contra as aná!
tecnocratas atuais do tipo Galbraith, queaconcorrênciacap
lista sereproduz constantemente sobocapitalismo monop
e que oaparelhoaadministrativo de Estado (o corpoburocrátic
não poderia ser concebido como dotado de uma vontad e
um poder próprios, impondo sua política ao conjunto da sociedaç
É necessário ir mais além e enfatizar, contra a própria conce
do capitalismo monopolista de Estado:

a) as contradições no seio do bloco no poder, efeitos d


tradição principal, que interditam precisamente a apreen:
terreno de dominação declasse comoocupado por uma únic:
ção, os grandes monopólios, ela mesma abstratamente uni
e integrada, que cristaliza, pelo Estado-instrumento, uma polí
coerente unívoca; x

b) o fato de nãose poder falar de nenhum *“núcleo racio!


da planificação capitalista enquanto tal, correspondente a
vel qualquer das forças produtivas em si, que as contradiçõ
classe viriam simplesmente sobredeterminar, pervertendo .
aspecto racional intrínseco. A plani
de um domínio efetivo das contradições dareprodução capit
“ta, é convenientemente Mas (mito no capitalismo
ASSES SOCIAIS NO CAPITALISMODE HOJE

) 4º; o que leva, no entanto, ao risco de conduzir as análi-


s do capitalismo monopolista de Estado, mesmo que essa con-
usão seja expressamente combatida por seus autores. De fato,
epetimos, o papel atual do Estado e suas intervenções são o con-
densamento contraditório de uma relação de forças, ao contrário
la antiga mas prodigiosamente persistente, concepção idealista
burguesa que, de Hegel a Weber e a Keynes, vê no Estado o
núcleo racional da “sociedade civil”. Para trazer, aliás, um exem-
plo conexo ao apoio dessas análises, contentar-me-ei em assinalar
1
o funcionamento atual, perfeitamente capitalista, do setor nacio- !
1
nalizado-estatizado ?º. O que não quer certamente dizer que a l
Ê|
'Planificação seja uma ilusão: ela corresponde ao mesmo tempoà
Ógica dução monopolista,eàquela dapolítica atual do i

"Estado como aparelho político precisamente.

2. Mas, por outro lado, e em parte como reação às teses do


apitalismo monopolista de Estado, encontra-se uma série de aná-
lises atuais da esquerda, às quais já fiz alusão, e que colocam pura
e simplesmente em discussão o papel atualmente decisivo do Es-
o. O Estado seria esvaziado de seu “poder” em face do “poder
oncentrado” dos monopólios. Não se pode ocultar que isso arris-
a conduzir a uma posição política muito contestável, parcial-
mente ocultada pelo debateatual da “autogestão”, termo que
mpreende numerosos aspectos políticos positivos: o objetivo
rincipal da luta política nãoseria mais atualmente o Estado, do-
avante o invólucro vazio do capitalismo, mas oúnico poder do
capital nas empresas. E não quero com. isso dizer que as teses so-
bre a autogestão destacam necessariamente essas posições: a ên-
fase reside, no entanto, em constatar que as posições sobre a
“au-
estão” e aquelas sobre o “retraimento atual” do papel do Es-
o, seguem, por vezes, lado a lado.
— 1 Ver igualmente entre outros: E. Altvater, Zu einigen
Problemen
des Staatsinterventionismus, em Janicke: Herrschaft
und Crise; 1. Hirsch,
nktionsverinderungen der Staatsverwaltung in spitkap
italistischen In-
ustriegesellschaften, em Bláiter fiir deutsche u. intern.
Politik, fevereiro
le 1969; Muller-Neusiiss, Die Sozialstaatsillusion. -.
em Sozialitische Po-
itik, 1970; U. Jaegei, Kapital und Arbeit in der Bundesrepubl
ik, 1973;
- O'Connor, “Scientific and Ideological Elements in the Econom
ic Theo-
of Governmental Policy”, em 4 Critique of Economic Theory, org.
E. Hunt e G. Schwartz, 1972; Flatow-Huisken, Zum Proble
m der
eitung des biirgerlichen Staates, em Probleme des Klassenkampf
s, n.º 7,
lo de 1973; Braunmiihl e altri: Probleme einer materialistischem
aistheorie, Op. cit., em particular a contribuição
de J. Hirsch.
20 Ph. Brachet, L'Etat-patron, théories et réalités
, 1973.
HI

Esses elementos, conjugados às formas atuais da contradiç


principal (burguesia-classe operária) e à emergência da luta da
massas populares na Europa, podem igualmente explicar uma sé
“rie de fenômenos importantes que aí se desenvolvem:
a) Primeiramente, a crise hegemônica latente que atualmen
te afeta as burguesias européias. Com efeito, no plano da luta da

junturais
“o que já é um fator importante de instabilidade hegemônica, na.
interiorização das contradições do capital imperialista no próp:
seio de cada bloco no poder “nacional” europeu. Paralelamen:
as contradições internas nesses blocos no poder só fazem acen-
tuar-se, em um período precisamente onde o papel do Estado
cada vez mais importante e onde a restrição de sua autonom
relativa se torna, para o capital monopolista, uma necessidad
periosa. Então, se não é verdade que o Estado atual se transfo
|-em simples instrumento dos monopólios, não é menosverdade q
"é cadavez menosapto, nesse contexto, a desempenhar eficazm
te seu papel de organizador da hegemonia. A política estatal
"torna frequentemente a uma série de medidas contraditórias
pontuais que, se testemunham a lógica do capital monopolista, ni
revelam menos as fissuras e desarticulações dos aparelhos de E,
tado, reproduzindo as contradições do bloco no poder, em fac
“do enfraquecimento das capacidades hegemônicas do capital m
| nopolista. No momento em que o papel do Estado é mais do q
nunca decisivo, o Estado parece afetado por uma crise de repr
sentatividade deseus diversos aparelhos (inclusive os partidos.
liticos) em suas relações com as frações inclusive do bloco mn
poder: encontra-se aí uma das razões das controvérsias, na forma
que pelo menos elas possam assumir no próprio seio da burguesi
em relação ao “dirigismo estatal”, à “regionalização”, à “desc
tralização” etc.

“ b) A isso se acrescenta um fenômeno. suplementar, qu


prende à nova articulação estreita que se estabelece entre o
nômico, o Estado, ea ideologia. Se o Estado atual parece ter c
gado a “regularizar”, em certa medida, o aspecto “selvagem” «
crises econômicas do capitalismo (o que nada tem a ver co
mito do “capitalismo organizado”) foi seguindo um caminho
sas crises econômicas são doravante diretamente extrapoladas
crises das superestruturas — do Estado, inclusive de seus apa-
lhos ideológicos. É, entre outros aspectos, porque o Estado, en-
regando-se diretamente da reprodução ampliada do capital e
egularizando as “crises econômicas”, assume doravante certas
nções preenchidas por essas “crises”: desvalorização de certas
artes do capital, inflação e desemprego diretamente gerenciados
velo Estado (inflação estrutural ou rasteira etc.) 2.
O Estado-tampão ou válvula de segurança das crises econô-
micas transforma-se, assim, emum Estado-caixa de ressonância das
rises da reprodução das relações sociais. Com efeito, a própria
elação da luta econômica e da luta política de classe encontra-se
tualmente transformada: toda luta econômica choca-se objeti-
vamente, na fase atual, e de forma mais ou menos direta, com
funções e aparelhos, ramos e sub-ramos do Estado. Além disso,
extensão do processo de valorização do capital e das intervenções
Estado em todo um conjunto de domínios (“condições e modo
vida”) dependendo doravante diretamente da reprodução am-
liada do capital, conduz a uma politização notável das diversas
s pela qualidade da vida: lutas tanto mais importantes quanto
o recolocam em discussão as “condições” da produção mas, de
ma cada vez mais direta, a reprodução das próprias relaçõesde
ei Com efeito, é impossível considerar, como o faz toda a ideolo-
| burguesa, as “crises econômicas” do capitalismo comomomentos “dis-
uncionais” do “sistema”. econômico, que o Estado, instância racionali-
», teria como simples objetivo *“evitar”. As crises econômicas do ca-
ismo são momentos orgânicos da reprodução do capital social: essas
es, apresentando possibilidades de expressão ao nível político emcri-
políticas e situações revolucionárias, isto é, possibilidades de revira-
do capitalismo, apresentam-se, ao mesmo tempo, como concentra-

o maciça dos capitais, destruição das forças produtivas etc): essas


crises econômicas” desempenham então igualmente o papel de “expur-
go” do capitalismo e se apresentam como as próprias condições de sua
yrodução ampliada e de sua perpetuação. O que é suficiente para de-
nunciar os erros economistas, que vêem nas crises econômicas um fator.
mecânico de diluição do capitalismo. Mas o que é importante aqui é o
apel atual do Estado nesse sentido: o Estado, regularizando muma certa
ida as crises econômicas “selvagens” do capitalismo, deve, então, ao
mesmo tempo, se encarregar diretamente das funções orgânicas dessas
crises na reprodução ampliada do capital. Não se trata, pois, de forma
alguma, de um Estado que tenha conseguido “evitar” as crises, mas de
ma gerência por sobre as crises do capitalismo pelo próprio Estado, que
simplesmente regulamentar seu aspecto “selvagem?. O que se re-
diretamente em crise interna “dos PRde Estado e em con-
. O EstADO ATUAL E AS BURGUESIAS 187

produção 22, Assim, um certo consenso político fundamentado em


um Estado-garantia da “expansão”, particularmente expresso por
toda a ideologia keynesiana, não funciona mais daqui por diante.
A submissão do Estado à lógica da reprodução monopolista, pois .
o que é vivido como “sua” incapacidade de responder às necessi-
dades das massas nunca foi tão flagrante como num momento em,
que intervém em todos os domínios onde essas necessidades se
manifestam. É inteiramente sintomático que a burguesia se veja,
pela primeira vez, obrigada a apresentar um verdadeiro programa
em um momento em que, menos do que nunca, ela não pode
realizá-lo.
Diante dessa situação, o Estado atual parece bem caracteri-
zado pela instabilidade de uma gestão permanente da crise he-
gemônica latente da burguesia.
c) A estratégia da burguesia frente a esse estado de coisas
consiste em proceder, custe o que custar, e em conjunto com um
recrudescimento da repressão, a reajustamentos dos processos de
legitimação, no que tange à relação entre as formas atuais da
ideologia dominante e a reorganização dos aparelhos de Estado,?.
Não é meu propósito aprofundar aqui este assunto. Indicarei sim-
plesmente que esses reajustes de legitimação, que certamente não
se reduzem a uma simples readaptação das relações parlamento-
executivo, mas também não se identificam com um processo de
fascistização no sentido estrito, remontam a transformações consi-
deráveis da legitimidade burguesa conforme foi apresentada até |
| aqui: aquilo que está lado a lado com a crise ideológica que afeta:
e

atualmente essas formações. Todas essas transformações compor-


tam uma gama, que vai de um deslocamento da legitimidade da
soberania popular em direção a uma legitimidade da-administra-
ção burocrática do Estado, até a modificação do papel dos par-
tidos políticos e dos aparelhos ideológicos, e a alterações bruscas
dos limites jurídico-ideológicos entre “privado” e “público” (sub-
versão do próprio domínio das liberdades fundamentais, por exem-
plo). Parece, assim, que não somente a forma tradicional da de- |
mocracia parlamentar, mas mesmo uma certa forma de democra-
cia política pura e simplesmente, tenha vivido desde já sob as trans-

22 Ver pp, 107: sq.


23 Sobre este assunto, cf. J. Habermas, Legitimationsprobleme im
Spátkapitalismus, 1973; Cl. Offe, Strukturprobleme des Kapitalistischen
Staates, op. cit.; I. Balbus, Politics as sports: an interpretation of the
political ascendency of the sports metaphor in America, Ronéo, 1973;
M. Duverger, Sociologie de la Politique, 1973.
irais do capitalismo atual. Seja o que for, essas
«
rmações “de legitimação têm um objetivo principal: ocultar, sa

lhos das massas populares, o papel atual do Estado e a na-


reza do poder político que ele cristaliza, sob o disfarce de uma
stância técnica e neutra, o tecnocratismo atual suplantando a
minância, no seio da ideologia burguesa, da região jurídico-
lítica da ideologia. A ideologia do Estado“pluralista”, “árbitro” |.
ntre os interesses dos “grupos sociais” e portador da Ena
tgeral” dos “indivíduos-cidadãos” é suplantada por aquela do Es-
tado-instância “técnica” em face das “necessidades” intrínsecas da
Ê
“produção”, da “industrialização” e do *“progresso técnico”.
Não há dúvida de que o Estado atual consiga ter sucesso, |
em certa medida (mas por quanto tempo ainda?), nessa operação
ideológica de reprodução da privação dos“indivíduos” no próprio
seio do novo domínio do “público”. Com efeito, se a luta eco-
nômica das massas populares se choca doravante diretamente com
oEstado, é necessário ver bem oslimites atuais dessapolitização
jetiva. A contestação violenta doEstadoque“seobserva
sê atual;
mu eanda muitas vezes em companhia de uma “confiança,
por parte dos próprios contestadores, na direita que detém os le-
n nn de comando: sabe-se Re ena França, podem-se

ebrar os do CRS;“votando ao mesmo. tempono UDR. * fes signi-


ica que aideologia
atual-do-teenocratismoaree é dominante e que |
oaidResobforma deoposição,
ição, as lutas |

anatureza
O a Pts possa mesmo se apresentar como dâniinta
“desses movimentos, desencaminhando-os, Servan-Schreiber está aí
ara no-lo lembrar.

Compagnie Républicaine de Sécurité — do Rentim


blicana de Segurança. upR: Union Démocratique Républicaine — União
Democrática Republicana. ENE do T9) +
24 Encontram-se aí, de fato, os efeitos parciais dessa operação ideo-
Tógica, ao contrário de numerosas análises atuais sobre a “tecnocracia”,
sob uma forma (H. Schelsky, “L'Etat technique”, em Auf der Suche
nach Wirklichkeit, 1965), ou sob outra (H. Marcuse, L'Homme undi-.
ensionnel, 1967), que consideram que as “transformações tecnológicas”
atuais conduzem a uma efetiva despolitização (suveração da luta de
c » € mesmo a uma “alienação tecnológica” (“manipulação”) dos
ndivíduos. É preciso, aliás, observar que, apesar de suas conclusões
aparentemente opostas, esses autores têm pressupostos bastante seme-
antes àqueles dos defensores da “revolução científica e técnica”, que
rão amplamente discutidos no terceiro ensaio.
IV. OBSERVAÇÕES SOBRE O CONTINGEN
BURGUÊS

A Questão dos Empresários

As análises precedentes foramenfocadas sob o ponto de vi


rincipal da teoria marxista das classes sociais, aquele dos luga
es a essas classes na divisão social do trabalho, lug
esses já designados, na introdução, pelo termo determinação e,
trutural de classe. No que se refere ao capital, insisti nasforr
que assume a articulação das duas relações (propriedade ec
mica, posse) que circunscrevem de forma determinante seu lu
(pois este se estende igualmente às relaçõespolíticas e ideológic
e os diversos poderes daí decorrentes. Examinarei agora a
tão dos agentes, que ocupam esse lugar, questão ao mesmo te
unida à primeira e relativamente distinta dela. Comefeito, a
racterização de certos agentes como burgueses não represent
simples adjetivo que lhes possa ser adicionado como qualid
intrínseca — principalmente sua origem de classe —, mas dep
de do lugar que esses agentes ocupam: de sua situação relat
“relações quecircunscrevem o lugar do capital, e mesmoe
ção aos poderes que eles exercem e que decorrem constitu
mente dessas relações.

O problema alcança toda a sua importância quando


sidera uma série de análises de sociólogos e de econom
“dernos que, em seu estudo da “sociedade atual”, separam, aí
mo tempo, radicalmente, as relações em questão e os podere.
-190 “AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

decorrentes de fato, e cercam a problemática das classes sociais.


essencialmente em termos de agentes (as classes sociais seriam a
soma dos indivíduos-agentes que as compõem).
Essas concepções apresentam-se sob várias formas: aquela
que mais nos interessa está centralizada em torno do tema empre-
sários. Ela fez correr muita tinta nos anos que se seguiram à
Segunda Guerra Mundial, e se renova constantemente, sendo sua
última variante aquela da tecnoestrutura de Galbraith.
A base do assunto é atacar a concepção marxista das classes
sociais que, eterna discussão, seria exata para o século XIX, mas
não corresponderia mais à sociedade moderna, “pós-industrial”,
“tecnoburocrática” etc. Essa concepção está baseada em vários
pressupostos: a big corporation — a grande empresa — atual es-
taria baseada em uma separação radical entre a “propriedade”
dos meios de produção e os “poderes de decisão”: estes seriam
exercidos por agentes-empresários (tecnoestrutura) radicalmente
distintos dos proprietários, empresários entendidos freguentemen-
te como a nova “classe” dominante. Isso teria consegiiências im-
portantes no que tange às motivações de conduta dos empresários,
motivações diferentes daquelas dos proprietários: a mentalidade
empresarial não mudaria, como foi o caso dos proprietários, pelo
lucro, mas pelo poderio e expansão da firma, nãoestando mais a
sociedade atual fundamentada na lógica do lucro.

- Se é essa, em linhas muito gerais, a problemática dos empre-


sários-tecnoestrutura, seu duplo pressuposto epistemológico, quer
dizer, a ruptura entre as relações-relações (relations-rapports) de
produção e os poderes, de um lado, e, de outro, a problemática
das classes fundamentada nos agentes, encontra-se em toda uma
série de concepções aparentadas:
a) aquela de R. Dahrendorf ! cujas fontes remontam 'a Max
Weber, e cuja crítica fiz em outro lugar: a constituição das clas-
ses ou, antes, dos “grupos sociais” decorria primeira e fundamen-
talmente de “relações de poder”, definidas essencialmente como
relações de “comando” e de “obediência” nas instituições do tipo
“autoritário”, sendo somente a propriedade uma das consegiiên-
cias possíveis dessas relações de poder. O que significa, no final

1 Atualmente em tradução francesa, Classes et Conflits de classe


dans la société industrielle, 1973; a propósito de uma crítica marxista de
Max Weber, os artigos fundamentais de J.-M. Vincent em Fétichisme et
Société, 1973. Ver igualmente M. Lowy, Dialectique et Révolution, 1973.
Resge
as contas, a objeção tradicional àà concepção marxista das class

SE:“pelo menos em alguns de seus aspectos, a mesma corren


que realça em definitivo as análises de Touraine 2, se bem que
tenha sido um dos primeiros a assinalar que o principal perig g
ideológico atual reside nas diversas “teorias da organização”,
que suas análises sejam incontestavelmente de um teor difere
daquelas de Dahrendorf. Não é aqui o lugar de entrar em um
crítica exaustiva das concepções pessoais de Touraine: indico si:
-plesmente que essa corrente assume nele a forma conceptual de:
uma divisão em classes da “sociedade pós-industrial” entre ag
E les que comandam e decidem (detentores do “saber” distintos do
proprietários) e aqueles que executam.
b) aquela de um exame da classe dominante atual em termos
de grupos deagentes, a saber, de elites no poder. Encontram
essa concepção principalmente em Wright Mills, J. Meynaud etc.,
para quem, “paralelamente” aos proprietários constituindo um
dos grupos-elites, encontraríamos um grupo-elite distinto e equ
valente ao primeiro, os empresários: concepção que foi retomad
á atualmente, em certa medida, pelo próprio R. Miliband 8. Enco
tramo-la, exatamente (o que não é de admirar, dado seu webe:
mo impenitente), em P. Bourdieu, que se dedicou ultimament
questão da classe dominante: e isso, apesar do fato de emprega
no lugar do termo elites, o termo frações declasse (o marxi
obriga), essas frações “recobrindo.. as categorias socioprofi
nais” do INsEE*! Com efeito, Bourdieu nos ensinaque“asdiferen-
tes frações da classe dirigente” são: “1) Osprofessores; 2) Os exe-
cutivos dos setores públicos; 3) As profissões liberais; 4) Os en,
nheiros; 5) Os executivos do setor privado; 6) Os patrões da ir
dústria; 7) Os patrões do comércio.” Os empresários, identific
dos além dos “executivos”, são aqui visualizados como fraçãod
“classe dirigente”4.

2 Les Classes dans une société post-industrielle, 1971. E


8 LEtat dans la société capitaliste, 1973. Sobre este assunto, c
minha controvérsia com Miliband em Politique Rigaa, março di
1970. ne Fa
* INSEE: Institut National de Statistique et des Eidos Econom
ques — Instituto Nacional de Estatística e de Estudos Econômic S
(N: do 1)
4 P. Bourdieu: “Reproduction Cuiaie et reproduction soci
em Informations sur les sciences sociales, UNESCO, abril de 1971, pri
palmente p. 59. O que não impede Bourdieu de falar, cinco páginas l
(p. 64), da “fração dominante das classes dominantes: burgu
ssas concepções, SpoinnDe em certastransformações pr
jas ao capitalismo monopolista, já mencionadas por Marx no
imbito de suas observações sobre as sociedades Po ações, esta
selecem numerosas confusões.
A primeira' confusão que surge aqui é aquela da identificação
“entre propriedade jurídica e propriedade econômica, sendo, esta
última; à verdadeira relação de produção. Ora, se é evidente que
.se constata sob o capitalismo monopolista uma dissociação relati-
va entre essas duas propriedades, sendo que cada “ação” não com-
porta uma parte equivalente de propriedade econômica, não é ds
menos verdade que a propriedade econômica real pertença ao
lugar do capital.
Masisso não é ainda uma resposta à problemática dos em-
“presários: quais são exatamente esses empresários, e qual é sua
“determinação estrutural ou pertencimento de classe? Fazem eles
“ou não parte da classe capitalista, a que título e por quê? Se fa-.
zem, constituem dela uma fração distinta, e qual seria a base
dessa distinção? Isso equivale a colocar o problema da relação
entre os lugares das classes sociais e os agentes que os ocupam.
“Dispomos, nesse sentido, de algumas respostas à problemáti-
a dosempresários, baseadas no material empírico, mas que, de .
fato, não esgotam a questão. A primeira demonstra que, em sua.
grande maioria, os agentes-portadores dos poderes decorrentes das
relações de propriedade e de posse (os empresários, os chefes exe-
cutivos, os altos executivos e diretores das empresas) se identifi-
-cam praticamente com os agentes da propriedade econômica. E
isso não simplesmente porque todos se banhariam no mesmo |
see
meio social” ou porque dividiram entre si o mesmo “capital
cultural”, segundo a fórmula cara a Bourdieu, mas porque detêm,
m geral, um númeroapreciável de ações, dotadas de um alto ín-
“de propriedade econômica. O pertencimento dos empresários
lasse capitalista seria então baseado, diretamente, no fato de
ue eles seriam os portadores imediatos das relações de proprie-
dica e econômica 5.

os negócios”. Isso já me leva a-assinalar um preblema que será encon-


trado em seguida, e que se refere à característica arbitrária da classifi-
cação do INSEE em -categorias socioprofissionais (csp) segundo o critério
da profissão”: os empresários principalmente, e os “vértices” dos apare-
lhos de Estado que serão questionados, não abrangem Er os di.
versos “executivos superiores” do INSEE.
5 Ver principalmente o artigo muito interessante, sobre esse assunto,
de R. Blackburn, “The New Capitalism”, em Ideology in Social Science,
Blackbura, 1972.
agentes-sujeitos, sendo as apARs sociais consideradas precisam
te como o conjunto dos indivíduos que as compõem: nessa pr
blemática, clara sobretudo em Miliband, e inclusive em Sweez
Baran, o critério de pertencimento de classe residiria finalmente
nas motivações de conduta dos agentes. Esforça-se, assim, por «
monstrar que os próprios empresários obedecem realmente à
gica do lucro, “imposta” pelo “sistema”: daí toda uma série
análises muito sábias, que se dedicam, até à exaustão, a demon
trar a evidência, a saber, que as empresas dirigidas pelos emp
sários são tão calcadas no lucro quanto aquelas dirigidas atua
mente pelos membros das “famílias” que detêm a propriedade. O
empresários, transformados pela “apatia do ganho”, tanto quanto
os proprietários, pertenceriam, nesse sentido, à classe dominante.
Mas suas motivações e sua mentalidade apresentando mesmo
assim particularidades em relação àquelas dos proprietários, eles
constituiriam diante deles uma elite — fração — distinta da classe
dominante.
Essas duas respostas revelam-se igualmente RR
primeira, ao esclarecer as relações dos empresários-agentes com
a propriedade, deixa de lado, entretanto, a distinção certa que
existe atualmente, em numerosos casos, entre os agentes por
dores das relações de propriedade e de posse, de um lado, e, d
outro, aqueles que exercem os poderes daí decorrentes. Se nã
há sombra de dúvida que os empresários “fazemnegócios”, el
não são sempre física e pessoalmente identificáveis com os agen
tes que concentram em suas mãos a propriedade econômica real
das empresas que dirigem.
Quanto à segunda, ela deixa de lado o fato de que o critéri
de pertencimento de classe não é fundamentado em motivaçõ
de conduta: o próprio Max Weber reconhecera que o critério
pertencimento à classe capitalista não é a “apatia do ganho”.
lucro não é uma motivação de conduta, mas uma categoria obje
tiva que esconde uma forma de realização da mais-valia.
Mas é preciso, neste último caso, ir ainda mais além. Fu
damentada numa problemática dos agentes, essa concepção pro
“põe forçosamente o duplo problema de pertencimento declass
e das diferenciações no seio da classe dominante, em termos
$rupos sociais e de indivíduos que a compõem: em lugar de um
diferenciação da classe dominante em termos de rações doc:
Pital, encontramos aqui uma diferenciação em termos de elite
Brupos Ho poder. Atingimos, então, a base dos critérios dit
194 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

“sociológicos”, quando consideramos os empresários como uma


o

elite (fração) distinta da classe dominante, cujos proprietários —


indiferenciados — só representariam uma outra fração, parale-
lamente, aliás, a toda uma série de outros grupamentos de agen-
tes. A unidade desses grupos-elites como classe dominante é fi-
Ê nalmente deduzida de um conjunto de critérios tais como sua
Ê
E

participação comum no processo de “tomada de decisões” —


divisões entre aqueles que decidem e aqueles que executam — sua:
“cultura” comum, suas relações interindividuais etc.

IH

Marx já havia assinalado que as modificações corresponden-


tes à sociedade por ações provocam diferenciações entre os agen-
tes que são os portadores das relações de propriedade e de posse,
e os agentes que exercem os poderes que aí estão diretamente a
gados. Com efeito, enquanto no modo de produção capitalista “
trabalho de direção... torna-se a função do capital” (o pah
função segundo o termo exato de Marx), “a produção capitalista
atingiu o estádio em que o trabalho de alta direção, inteiramente
separado da propriedade do capital, passou a ser comum. Tor-
nou-se, pois, inútil ser o trabalho de direção exercido pelo pró-
prio capitalista. Um regente de orquestra não tem necessidade de
ser. o proprietário dos instrumentos... Afirmar a necessidade
desse trabalho como trabalho capitalista e função des capitalis-
tas não significa outra coisa senão a incapacidade do vulgar —
a grande massa dos economistas políticos — de se representar
as formas desenvolvidas no seio da produção capitalista... º”. As
análises de Marx são claras: enquanto os diversos poderes da. pro.
priedade e da posse pertencem ao lugar do capital — são “fun-
ções” do capital — eles não são necessariamente preenchidos pe-
"* Tos próprios agentes proprietários —, eles não são “funções” dos
capitalistas proprietários.

Seria necessário desenvolver as análises nesse sentido: é o


lugar do capital, definido como articulação de relações compor-
tando poderes, que determina o pertencimento de classe dos agen-
tes que preenchem essas “funções”. O que remonta a dois aspec-
tos, ligados, do problema:

6 Le Capital, Ed. sociales, t. II, p. 23; t. VII, pp. 51-52.


a) os poderes referentes seja à utilização dos recurso
alocação"dosmeiosde produção a tal ou qual utilização etc.,
à direção do processo de trabalho, estão ligados às relaçõe
propriedade econômica e de posse, é essas relações delimitam
único e mesmo lugar, aquele do capital;
a) os agentes dirigentes que exercem diretamente esses
deres e que preenchem as “funções do capital” ocupam o l
do capital, e possuem, assim, um pertencimento de classe.
guês, mesmo que não detenham a propriedade jurídica form
Osempresários fazem pois, em todos os casos, parte integrai
da classe burguesa. Duvidamos que não setrate aqui de delimi
de forma estatístico-empírica as fronteiras “numéricas” do “g
po” de empresários, ou mesmo decidir a que “categoria sociop
fissional” pertencem esses agentes dirigentes, ou ainda dizer qu
exatamente exerce, neste ou naquele casopreciso, essas funçõ
Ao falar precisamente dessas funções ligadas ao lugar do.
pital, e dos poderes daí decorrentes, vemos perfeitamente que
lugar se define a partir do/Conjunto) da divisão social do tr
lho: ele não se limita às relações de produção, mas estend

plicam, e que são, assim, um fator constitutivo da determin


* estrutural de classe. O papel dirigente dos empresários — o.
de preencherem funções docapital e de exercerem diretam
os poderes — está ligado à sua situação na autoridade hierárg
da organização despótica do trabalho na fábrica, à sua situa
igualmente, em relação ao “segredo do saber” e ao “segredo bur
crático” na divisão entre trabalho intelectual e trabalho manu
ficando essas situações, pelas formas precisas que assumem
seu caso, como determinações de classe burguesas. Esse lugar o
“tivo dos empresários nas relações políticas e ideológicas não
reduz asimples traços de “cultura” ou de um“meio social”:
se concretiza na ideologia específica desses agentes que, sob
forma de “racionalidade econômica”, de “eficiência de ren
to”, de “expansão” etc., em suma, sob a forma do tecnocrat
é a variante atualmente dominante daideologia burguesa.

Issonos permite ainda concluir: os empresários, por pert


cerem à classe capitalista em razão do lugar do capital
ocupam, não poderiam constituir uma fração distinta destacl
principalmente uma fração distinta dos proprietários. Com ef
de um lado, os empresários não dispõem de um lugar — d
— AS CLASSES SOCUIS NO CAPITA
LISMO DE Hojsr.

as dissociações que principalmen


te foram:
s relações de propriedade econômica
e de posse
direção do processo de trabalho —
não significam absoluta-
mente que esta última, exercida pelos emp
resários, se separaria
P o lugar do capital. Por outro lado, qua
ndo se constata uma dis.
sociação entre os diversos “agentes” portadores das
capital e aqueles que exercem seu relações do»
s poderes, nãose trata também,
abs olutamente, de uma separação qualqu
er entre o lugar do ca-.
pital e seus poderes (capitalistas
contra empresários) ou, mais
“precisamente, de uma separação
qualquer entre as relações de:
* propriedade econômica e de pos
se, de um lado, e os poderes daí
“decorrentes, de outro. Este ou
aquele empresário, ou conjunto
empresários, pertence à fração de
do capital cujo lugar ele ocupa:
capital industrial, capital bancário,
capital comercial etc. Em ou-
tras palavras, os próprios empresári
os não possuem uma unidade.
própria de fração de classe, ao contrário do que
mente numerosos analistas, pri sustentam atual-
ncipalmente na França, e que
fundam uma “unidade sociológi apro-
ca” dos empresários ou “tecno-
burocratas” mais fregientemente
a partir de sua formação escola
“e de sua comunidade cultural r
, a saber, sua passagem pelas
des escolas, Politécnica, ENA *, gra n-
Central etc.
Mas este último tipo de análise tem
repercussões ainda mais
longínquas: não se lê um Pouco
por toda parte que, para favo-
recer a implantação do capital
estrangeiro, principalmente ame
Ticano, em um país europeu, -
seria necessário saber se os pos
de direção da filial estão ou não tos
confiados a executivos “autóc-
tones”? Supõe-se, por isso, que
a origem nacional desses emp
i a à sua “autonomia de decisão”, re-
poderia ter efei-
ncionamento desse capital em
nacional: não é inútil mencionar favor da economia
aqui que a política dos “diri-
gentes autóctones” é uma caract
erística particular da tristemen
famosa rrr! Na mesma ord te
em de idéias, não se atribuiu
vezes a política eco muitas
nômica do gaullismo à “escol
dos egressos da ENA? ha industrial”
De fato, as diversas fases do
capitalismo monopolista, as
mas diferenciais de articulação for-
das rel açõ es pro pri eda de eco
mica-posse e dos poderes nô-
daí decorrentes, traduzem-se,
Sssas fases, em formas car seg undo
acterísticas de dissociação
“Portadores dessas relações dos agentes-
e que exercem esses podere
ue é geralmente estudado s. Processo
pelos sociólogos e econom
e istas atuais sob
= ENA: Ecole Nationale :
dºAdministration —
E

ministração. (N. do Escola Nacional de


E:
OBSERVAÇÕES SOBRE O CONT
INGENTE BURGuÊs | 197.
o tema de “centralização-des
centralização” ou de “burocrat
desburocratização” da grande ização-
firma, como “modelo de org
zação”, ou forma do “processo ani-
de tomada de decisão” na gra
nde:

a saber,
ópria da empresa-instit
uição que:

? e aque--
ão e de:

ações:
isos, do processo de fu-
198 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

pre uma política direta de intervenção e de investimento na in-


dústria, enquanto o capital bancário na França se reveste ainda
hoje de um caráter altamente especulativo (bolsista ou investido
maciçamente em operações imobiliárias) .

2. Os “Vértices” do Aparelho de Estado

Hi I
Essa mesma problemática dos agentes-sujeitos encontra-se
atualmente em uma série de análises concernentes desta vez às
relações atuais entre a classe dominante e o aparelho de Estado:
vão de algumas análises do PcF referentes ao capitalismo mono-
»polista de Estado àquelas de R. Miliband e de J. K. Galbraith
sobre o Novo Estado Industrial. Essas análises visam principal-
mente a demonstrar a relação entre a fração hegemônica do ca-
pital monopolista e o aparelho de Estado pela identidade física,
pela identidade de origem de classe ou pelas relações interpes-
soais entre os agentes da fração monopolista do capital e os vér-
tices — os altos funcionários, os membros dos gabinetes ministe-
riais, o pessoal político em sentido lato — doaparelho de Esta-
do. Para o Pcr, principalmente, a prova da fusão do Estadoe
dos monopólios em um “mecanismo único” encontra-se na iden-
eg en

tificação física dos “indivíduos” que os dirigem. O modelo típico


dessas análises é aquele de “Pompidou-banqueiro” ”.
Ora, esse aspecto da questão é aleatório e secundário. Com
E efeito, a fração hegemônica, foi frequentemente, e o é ainda, se-
: gundo as formações sociais, distinta da classe ou fração reinante,
: no interior da qual se recrutam — origem de classeou qual,
por vezes, pertencem os membros superiores e o pessoal político
dos aparelhos de Estado. Esse fenômeno não tem, no entanto,
em nenhum lugar, impedido a correspondência objetiva da polí-
tica estatal e dos interesses da fração hegemônica. Procurar a
todo preço essa correspondência em umaftntidade suposta entre
-a fração hegemônica e a classe ou fração reinante leva, nos casos
em que existe um distanciamento claro entre as duas, a conside-
rar a classe reinante como detendo a hegemonia: eis aí o que
o
constituiu a base dos erros das análises socialdemocráticas refe-
rentes ao fascismo, considerado como “ditadura da pequena-bur-

F Ultimamente, H. Claude, Le Pouvoir et L'Argent, 1972, livro que


contém apreciações notáveis. =
sume uma esridão ia pode também condià e
tação da hegemonia de classe. Sabe-se que, atualmente, sob
guns governos socialdemocratas europeus (Alemanha, Áust
Suécia, Grã-Bretanha de Wilson), a hegemonia do capital mon
polista se realiza pela utilização indireta de um contingente po!
tico em grandepartesaído dasfileiras não somente docapital nã
TEC

monopolista, mas também da pequena-burguesia, e mesmo, fr


gientemente, da aristocracia operária pelo canal sindicato-partid
socialdemocrata ou trabalhista. É isso que os apologistas desses
governos apresentam como prova de ausência, sob seu regime,. d:
“hegemonia do capital monopolista 8.

| Entretanto:

a) tudo isso não quer dizer que membros da classe ou fr


ção hegemônica não tenham diretamente participado dos a:
lhos de Estadocapitalistas (governo, alto pessoal dos pa
políticos, vértices da administração de Estado): foi sempre
para toda forma de Estado capitalista, tanto no passado como
presente. Pode-se mesmo certamente dizer que tal fenômeno
no aparelho de Estado da fase atual, mais marcado doque
ao mesmo tempo, em razão do papel decisivo da intervenção e
nômica do Estado atual, da ampliação do setor econômico |
cionalizado em cuja direção o capital monopolista intervé
"dependência particular do capital não-monopolista em rela ão
* <apital monopolista e, enfim, em razão das transformações in
* tucionais do Estado. Mas tal fenômeno, assumindo aqui tamb
o valor de indicador, permanece secundário e não pode, detod
forma, ser interpretado como um “embargo-físico” dos “mo
polizadores” sobre um Estado que, antes, conservava ainda u
“pureza” virginal de “arbitragem” por “honestos funcionários”
b) acrescentarei uma palavra sobre o caso francês: o fem
meno assinalado, nesta última década, pela presença direta
membros da fração monopolista no seio dos aparelhos de Estado
foi sobretudo apreender por comparação com um passado pa
cular da França, End à tradição “jacobina” da terceira ou:
imo “Naturalmente, só se trata aí de um aspecto secundário do.
bien dos governos socialdemocratas, problema que não tenho inten
de abordar aqui em profundidade. E
x
a Quarta República. É, além disso, igualmente verdade que,
al respeito, não somente a Quinta República recuperou o atra-
o, mas também ultrapassou alguns outros Estados das metrópo-
es, apresentando uma tendência real de colonização do Estado
los membros diretos da fração monopolista. No entanto, isso
stá ligado às particularidades do regime gaullista — e mesmo
o caráter do movimento-partido gaullista e às instituições da |
Quinta República — de modo que funcionou em um país onde
aintervenção econômica do Estado é particularmente importan-
e (o aparelho do Plano foi o verdadeiro serralho de colonização
do Estado pelos membros do capital monopolista) e o setor na-
cionalizado do Estado particularmente extenso;
“C) não se poderia esquecer que esse fenômeno está contra-
balançado, na própria França, pelo sistema da função pública e
* das grandes escolas, que fornecem um pessoal político saído ain-
da, em proporção apreciável, das fileiras do capital não-monopo-
lista, das profissões liberais e mesmo da pequena-burguesia ?,
Pode-se dar ainda que esse elemento, que nega a identificação:
dos membros da fração monopolista e dos aparelhos de Estado
ela origem de classe, seja recuperado, por outros meios indire-
tos pela corrente ideológica das elites e dos empresários. Insistire-
mos, neste caso, sobre a comunidade de formação e de “cultura”
dos egressos da ENA, dos normalistas, dos centralistas, dos politécni-
cos que se orientam para a direção dos negócios e aparelhos de Es-
tado, e que apresentam um alto grau de intertrocas e de mobili-
dade de funções através da via indireta do setor econômico na-
cionalizado e dos canais de “simulação”. Naturalmente, tudo |
aquilo que examinamos sobre o assunto é simplesmente a
hege-
monia do capital monopolista, que está sendo. substituído
pela
“casta”, “elite” ou “classe” tecnoburocrática todo-poderosa e
in-
vasora, que se supõe deter os lemes de comandoreais da economia
do Estado.

Hl

Enfim, as análises que se baseiam na pretensa identificação:


física dos membros dafração monopolista e da classe capita
lista
com os membros do aparelho de Estado, ou na sua reduç
ão me-
cânica a um denominador comum relativo à sua orige
————
m ou mes-
É
| * Segundo uma pesquisa do INSEE (Etudes et Conjoncture,
eiro de 1967). feve-
:
Ooblema importante: a Eu e o Praciano parei
da categoria social dos membros do aparelho de Estado, em suma,
" “aquele da burocracia de Estado. Os iuncionários de Estado cons-|
- fituem uma categoria social: sua determinação depende precis:
“mente da relação de seus membros com os aparelhos de Estad
e do fato de que eles realizam as funções objetivas pertencentes
ao Estado.
Qualé o fato essencial a tal respeito, que as análises da fu-
são do Estado e dos monopólios em ummecanismo único ocul-
tam? É precisamente que o funcionamento dessa categoria social ||
não se reduz à origem (ou mesmo ao pertencimento) de classe de||
seus membros: se esse fosse o caso, o problema da burocracia,
tão importante então para Marx, Engels, Lênin e Gramsci, não
seria sequer proposto.
Essa categoria social, cujos membros são em geral de origem
e de pertencimento de classe diferentes, apresenta, amiúde, ape-
sar dessa diversidade, uma unidade interna específica, que é
apenas o efeito sobre os agentes da unidade do poder de Estado
e da unidade institucional dos aparelhos de Estado (principalmen-
te seu “centralismo”). Essa categoria social pode primeiramente .
servir, enquanto conjunto, aos interesses de outras classes ou fra-.
“ções que não aquelas às quais pertencem sobretudo seus “vérti
ces”. ou de que são originários. O caso clássico analisado por
Marx foi o inglês, que era o de uma burocracia de Estado cujos
“vértices” pertenciam à nobreza da terra e que funcionava a ser-
viço da burguesia; o caso analisado por Lênin foi o dos “especiz
listas burgueses”, de origem de classe burguesa, a serviço do
Estado soviético. No entanto, só precisamos lembrar igualmente
o caso da burocracia fascista a serviço do capital monopolista, ou
ainda aquele do pessoal técnico de origem de classe pequeno-b
guesa na França sob a Terceira República, com sua tradição
cobina, a serviço da burguesia.
Além disso, essa categoria social pode, em conjunturas deter-
V'minadas, funcionár
y como força social efetiva. Nesse caso, ela ii
'tervém no campo político é ga de classe com um peso espe
“cífico: ela não está pura e simplesmente “no rastro” nem da cla
se ou fração hegemônica, nem da classe ou fração da qual ela
é originária ou à qual pertence.
ascreenegege

Observa-se bem, então, que a categoria social dos agentes d


aparelhode Estado, a burocracia no sentidolato, assume um pap
202 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

próprio que é desempenhado precisamente nos limites da autono-


mia relativa do Estado capitalista 1º. Mas ainda é preciso dizer
! duas palavras sobre o pertencimento de classe dos agentes dessa
categoria social: com efeito, a questão de classe dessa categoria
social não se reduz, simplesmente, àquela da origem de classe de
seus agentes. Uma categoria social, como também uma camada
cu uma fração, não é um “grupo” ao lado, por fora ou acima
das classes. Seus agentes não têm simplesmente uma origem de
classe, como se, a partir do momento em que pertencessem à
burocracia do Estado, cessassem de fazer parte das classes sociais.
É tanto mais necessário enfatizar isso que as análises atuais do
PCF, por menos paradoxais que pareçam à primeira vista, consi-
deram esses agentes do Estado como “grupo” que escapa ao per-
tencimento de classe. Teríamos de alguma forma, nos aparelhos
de Estado, de um lado, a presença maciça e direta dos próprios
“monopolizadores”, e de outro, radicalmente distintos dos primei-
ros, os “funcionários” que, enquanto conjunto intrínseco, esca-
pariam às determinações declasse, constituindo uma das famosas
“camadas antimonopolistas 1”: supõe-se que estas — voltaremos
ao assunto —— estão situadas à margem e fora das classes.
De fato, o funcionamento dos agentes do Estado em catego-
ria social não poderia, a menos que abandonasse a teoria marxista
das classes sociais por uma concepção qualquer da “estratifica-
Das suprimir ou ocultar .a questão da determinação de classe
dessa categoria, e de seus agentes. Estes dependem, de fato, de
classes diversas: em geral, da burguesia para os “vértices” dos
aparelhos de Estado, da pequena-burguesia para os escalões inter-
mediários e subalternos. Vamo-nos deter, no momento, no caso
dos “vértices” desses aparelhos. Esses “vértices” são, em geral, de
pertencimento de classe burguês, não em razãode suas relações
interpessoais com os membros do capital, mas principalmente por-
que, em um Estado capitalista, preenchem a gde das funções
do Estado a serviço do capital.

10 Segundo seu próprio pape!, a burocracia intervém assim na au-


“tonomia relativa do Estado capitalista: mas esse papel não é nem a
causa nem o fator principal dessa autonomia como o apresenta o con-
junto das concepções idealistas, que apreendem o Estado como sujeito
e)

e que levam sua “autonomia” à sua “vontade racionalizante” cuja buro-


cracia seria a encarnação (Hegel, Weber etc.). É, ao inverso, a autono-
mia re'ativa do Estado, inscrita em sua própria estrutura (ver acima),
que Tora possivel esse papel específico da burocracia.
HPratrér Le capitalisme monopoliste dEtat, já citado, t. E,
Pp 233 sa: a
Mas essa determinação de classe dos vértices d
de Estado, na medida principalmente em que está ligadaa
papel como categoria social, não é nem direta, nem imediata
se serve indiretamente do aparelho de Estado que os con: tit
paralelamente em categoria social. Segue-se que, se não pode
entender esses “vértices” como uma fração (elite) distinta
não
burguesa há ,lugar também para nos perguntarmo:
qual fração da classe capitalista eles pertencem. Aocontrário «
próprios empresários que ocupam o lugar do capital e se ach
assim diretamente submetidos aos seus fracionamentos, o perte
cimento burguês de classe dos vértices do aparelho de Estado
refratado e mediatizado pelo papel do Estado na coesão e mn
reprodução das relações sociais dê uma formação capitalista. Seria
mais exato dizer que os fracionamentos da burguesia se reflete:
indiretamente no seio dos “vértices” do aparelho de Estado, que
dizer, através da viaindireta das diferenciações e defasagens é
tre os diversos ramos e aparelhos de Estado que (no interior da
unidade do poder de Estado) reproduzem as contradições do bl
no poder 12, Ra
“Assim, mais ainda do que no caso dos empresários, pois |
trata aqui dE uma categoria social, a situação desses agentes na
relações políticas e ideológicas deseinpenhapapel
Ja. sua determinação estrutural de classe. Esses agentes estão
retamente ligados aosaparelhos de Estado, comandando a “re
zação” do papel do Estado na reprodução da divisão social

12 É a partir desses princípios diretores que podemos analisar co


tamente a situação atual. Com cfeito, na medida em que o papel a
do Estado E um cosem das. funções de representação-org
nização dos partidos políticos em direção à administração de Estado,
contradições atuais do bloco poder se manifestam por excelênc
no próprio seio do aparelho de Estado, no sentido estrito: elas assum
de um lado a forma de contradições internas entre seus diversos rar
e instituições (os diversos “ministérios” e “administrações”, o apare
central e o aparelho comunal etc.), e, de outro lado,a forma de
tradições entre as diversas intervenções do Estado. Daí o fenô
atualmente característico, das permutações incessantes das diversas |
ções do Estado de um aparelho ou ramo a outros, e a recuperação c
“tante de suas “esferas de competência”. Esse deslocamento do pa
"Estado na organização da hegemonia em direção ao corpo adm
tivo tem consegiiências contraditórias: a) uma politização crescent:
vértices administrativos dos aparelhos de Estado (sobre esse ass
J.-P. Chevênement, em Chevênement e Motchane: Clefs pour le ss
lisme, 1973): b) tendências centrífugas de uma “autonomização” da
nistração. deEstado no interior dos limites estreitos, que a fase
- impõe à autonomia relativa do Estado: isso dá lugar. às reivindicaç
“da própria ias contra o “centralismo-dirigismo estatal.a
rabalho, mais particula te na reprodução das relações de do-
minação-subordinação Sollica e ideológica. Ora, o Estado, assu- .
mindo esse papel de reprodução da divisão social do trabalho na
“formação social, concentra e representa ao mesmo tempo, em e
- por seus próprios aparelhos, esta divisão social: o Estado, diziam
Engels e Lênin, resume em seu próprio seio as contradições so-
ciais. Em outras palavras, esses agentes exercem o papel do Es-
tado próprio a essa divisão social, ficando, enquanto membros de
seus aparelhos, situados nessa divisão que é institucionalizada pelo
Estado: situação desses agentes na repressão física organizada, o |
exercício da autoridade legítima, a institucionalização da divisão
'- entre trabalho intelectual e trabalho manual e entre as tarefas
de “decisão” e as tarefas de “execução” etc. Isso tem efeitos de-
cisivos sobre a ideologia particular desses agentes: para que tal
ideologia se distinga eventualmente, sob “sua forma de serviço
de interesse geral” e “da autoridade do Estado acima dos inte-
resses particulares” etc., daquela dos empresários, não constitui
menos por isso uma forma de ideologia burguesa 13.

Masessa determinação estrutural de classe burguesa dos


“vértices” do aparelho de Estado se distingue do caso, todo par-
ticular, d a qual pode de fato constituir
“uma classe ou fração de classe distinta. Podemos falar de umã |
burguesia de Estado nos casos em que assistimos a uma radical
nacionalização e estatização do setor econômico sem que, para
tanto, os trabalhadores tenham o controle real da produção, per-
" manecendo o Estado uma instituição distinta e “separada” das
“massas populares. Nesses casos, os “vértices” do aparelho de Es-
“tado ocupam, pela via indireta do Estado, o próprio lugar de uma
“propriedade — estatizada — e de uma posse dos meios de pro-
dução “separados” dos trabalhadores, exercendo os poderes daí
decorrentes: a exploração e o açambarcamento da mais-valia se
deslocam em direção aos “vértices” do aparelho de Estado. En-
contra-se aí o processo do capitalismo de Estado propriamente
dito.

Voltemos à importante questão do pertencimento de classe


dos membros do aparelho de Estado, pois tal pertencimento in-

13 Ver as contribuições de A. Cottereau, J.-M. Vincent, J. Sallois


etc. no volume Administration, sob a direção de J. Sallois, que surgirá
brevemente na coleção “Les Sciences de Vaction”.
q no funcionamento político da burocracia. Ofat
a categoria social possa funcionar em conjunturas dete;
s, de forma “unitária”, apresentando defasagens caractei
emrelação às classes sociais de que os membros são originá
mas também em relação àquelas a que eles pertencem, não qu
“dizer, por isso, que esse pertencimento declasse seja sem efei
Esses efeitos manifestam-se por cortes característicos no pr
seio do corpo burocrático do Estado, e por defasagens ent
tices burgueses, de um lado, e escalões subalternose inferi
pegueno-burgueses, do outro. Cortes e defasagens que assu
toda a sua itinea dennos
o casos particulares e crise polí
L O PROBLEMA NA SUA ATUALIDAD
TEÓRICA E PRÁTICA
1. Observações Gerais

A QUESTÃO DA PEQUENA-BURGUESIA está atualmente no centro d


debates sobre a estrutura de classe das metrópoles imperialistas
mas também, assim como demonstram as análises centralizad
em torno do problema da marginalidade, sobreaqueladas fo:
ções dominadas e dependentes da“periferia”. A questão da
quena-burguesia apresenta certamente um ponto crucial na te
marxista das classes sociais. Ela assume uma importânci:
siva, ao mesmo tempo nas formações imperialistas e nas fi
ções dominadas: sabe-se principalmente que foi essa q
" entre outras, a causa do fracasso do processosocialista do

Antes de abordar o exame desse problema, seria convenie


expor algumas concepções atuais a fim de precisar-lhe os d
“Essas concepções estão baseadas em um fato real cuja dim
são exata vamos apreciar mais adiante: o aumento considerávi
"ao longo do capitalismo monopolista e de suas fases, do núm
de assalariados não-produtivos, de conjuntos tais como os em
* gados do comércio e dos bancos, os empregados dos escritó
e serviços etc., em suma, a quem se costuma chamar emprega
de “colarinho branco” “terciários”. A partir daí se esboça u
primeira corrente: é id solidária a uma tentativa
refutação da teoria marxista das classes sociais, e mesmo da
É ria da luta das classes. Essa corrente está emEd baseada
210 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

ou manchada pela, concepção geral de uma dissolução das fron-


teiras de classe, e da luta das classes, na sociedade atual, que:
seria marcada por um “aburguesamento” generalizado ou, em
poucas palavras, pela “integração”.
Mas é particularmente interessante notar as diversas formas:
que essa corrente assume, pois elas empalidecem frequentemente
as análises marxistas atuais da questão. Direi lapidarmente que
essas análises ligam-se sobretudo para refutar uma das formas
assumidas por essa corrente, aquela da “classe média — terceira
força”, sem perceber que essa corrente pode muito bem se ma-
nifestar sob outras formas, que vou expor primeiramente:

1. Essa corrente, sob uma primeira forma, nega a especifi-


cidade de classe desses novos conjuntos salariais, diluindo-os na
burguesia e na classe operária. Considera-se então que a esma-
gadora maioria desses conjuntos salariais faz parte ou da burgue-
sia, ou da classe operária, a menos que ela não sirva de árbitro:
entre agentes pertencentes à burguesia e agentes pertencentes à
classe operária. Insisto então no fato, muito significativo, de que,
sob essa forma, a posição teórica comum a essas concepções pro--
'vém precisamente disto: esses conjuntos não teriam determinação:
de classe própria em face da burguesia e da classe operária, estan-
do submetidos à determinação de uma ou de outra. Não é por
acaso que se supõe que os critérios de determinação de classe,
na maioria dessas concepções, segundo uma antiga tradição bur-
guesa, estão baseados nas relações de “poder”, de “hierarquia”, de
“autoridade” etc. das quais a “situaçãoeconômica” dos agentes.
só seria o efeito.
a) O primeiro aspecto dessa corrente consiste aqui em sus-
tentar, a exemplo de Renner, de Croner!, de Bendix e outros,
que a esmagadora maioria desses novos conjuntos salariais per-
tence à burguesia: encontra-se aí uma das variantes das concep-:
ções do “aburguesamento” da sociedade industrial adiantada. A
burguesia é aqui definida independentemente das relações de pro--
dução, mas em referência às “funções de empreendedor” e às.
funções de exercício de “autoridade” hierárquica no seio da socie-
dade. Explicaremos assim que as “funções” — no sentido expres-
samente funcionalista do termo — asseguradas atualmente por

1 K. Renner, Wandlungen der modernen Gesellschaft, 1953; F. Cro-


ner, Soziologie der Angestellten, 1962 etc.
ema decompo
“fase dospapéis do “empreendedor”, dos “funci
tório” e serviços, outrora assumidos diretamente pela
dirigente: esses conjuntos pertenceriam atualmente à b
por intermédio de um processo de delegação dessas. fun
autoridadeque aela se liga.
bj) O segundo aspecto dessa corrente consiste em
que, na sua maioria, esses conjuntos assalariados pertence
classe” operária, e isto: 1) seja admitindo, segundo uma
tradição socialdemocrata, que o critério de determinação da
se operária se encontra no modo de retribuição, osalário e,
oposição àburguesia, na ausência de propriedade dos meio:

diversos paraa definição da classe operária, “a modéstiadas


das”» à ausênciade “estatuto” burguês, a ausência de ExXETCIC
autoridade monopolizada pelas elites no poder etc.: insistir
assim, a exemplo de Th.Geiger, Wright Mills? e outros, sc
a semelhança, nesse sentido, das “condições” da classe ope
e desses conjuntos assalariados a fim de concluir por sua
na classe operária. ; ao
c) Sob um terceiro aspecto, representado principal
por R. Dahrendorf2, essa corrente tentará dividira pêra ao.
sustentando que uma parte desses novos conjuntos assals
pertencemà burguesia, e a outra à classe operária. O critéri
terminante reside aqui precisamente no lugar desses con
em relação ao exercício do “poder” e da “autoridade”, nosenti
weberiano dos termos. Assim, segundo Dahrendorf, a linha
dem que atravessa esses conjuntos se situaria, no i
das “organizações” sociais atuais distribuidoras das relaçõe
autoridade “legítima” — Herrschaftsverbinde = entre. a
que decidem — burguesia — e aqueles que executam —
operária.

A operição: ideológica dessas concepções é clara e d


Finalmente, aquela da corrente da *“classe média — te
e

2h Cieiger Die Reside Schichtung des deuirolta Volke


Mills, Les Cols blancs, 1969. : :
3 “The Service Class”, em Industrial Man,o por T. Bu
se bem que essas concepções se apresentem explicitamente
o críticas desta última.
Com efeito, negando a especificidade de classe desses con-
untos assalariados, e diluindo-os na burguesia e no proletariado,
sto é, prendendo-nos à imagem “dualista” da sociedade que com
equência, erroneamente, associamos ao marxismo, chegamos
precisamente a uma dissolução dos conceitos de burguesia e de
asse operária, e a uma negação daluta dasclasses. Ninguém
melhor do que Dahrendorf oexpressou:“Segue-se de nossa aná-
ise que a emergência dos empregados assalariados significa prin-
ipalmente uma extensão das antigas classes da burguesia e do
roletariado. Os burocratas pertencem à burguesia, os trabalha-
dores “de colarinho branco” ao proletariado. Essas duas classes
tornaram-se, em razão de sua extensão, e além de sua decompo-
sição, altamente complexas e heterogêneas. Ganhando novos ele-
mentos, sua unidade tornou-se bastante precária. Os trabalhado-
res de “colarinhos brancos”, bem como os trabalhadores indus-
-triais, não possuem nem propriedade nem autoridade, mas apre-
sentam, entretanto, características sociais que os distinguem da.
antiga classe operária. Os burocratas diferem igualmente da anti-
ga classe dirigente, apesar de sua participação no exercício da
utoridade. Esses fatos tornam o conceito de classe inaplicável
aos grupos conflituais da sociedade “pós-capitalista”. De qualquer
forma, os participantes, os objetivos e os modelos do conflito mu-
“daram, e a simplicidade agradável da concepção marxista da so-
“ciedade tornou-se uma construção absurda.”
Mas essa operação ideológica pode apresentar-se igualmente
ob outros aspectos: principalmente, aceitando a realidade da luta
as classes, sob o aspecto da recolocação em questão do papel .
hegemônico e dirigente da classe operária no seio da aliança po-
pular, em proveito, entre outros, dos diversos grupos afetados
pelos “conflitos institucionais”. Quando juntamos a isso a con-
cepção das instituições como fundamento das relações sociais,
Chegamos diretamente à conclusão de que a luta principal atual-
mente se referiria não à exploração mas às “instituições” (lutas
antiinstitucionais): reconhecemos aí as análises,muito em voga
tualmente, de um Ivan Ilitch.

2. A segunda forma dessa corrente é, com variantes diver-


está ligada a uma antiga concepção da teor
gica tradicional, aquela da “terceir
ia política e socioló
a força”, diretamente substi
tuída pela tradição socialdemocrata na
estratégia da terceira via
(entre capitalismo e socialismo). Dian
te do antagonismo entre.
a burg uesia e a classe operária, a “classe méd
ia” é percebida com

O problema essencial aqui não é, por


tanto, diretamente aque-
le da pertinência de análise desses
conj untos salariais como “u
classe, mas sim a concepção teóric ma” |
E
o-política que a comanda, e.
que rege a própria análise que
essa corrente faz da “classe méd
E Esta última é considera da como um “grupo h
ia”.
em geral a partir .docritério das
ren
"e das motivações psicológicas
. E etc. Ela seria o produto de um
dissolução progressieva, nas err
soc
iedades capitalistas atuais, da
. . .
guesia e do proletariado em bur-
um cadinho comum:

dissolução de seus antagoni


smos

Digo convenientemente gr
uPo, pois efetivamente, tratan
de um conjunto quedissolv do-se é
e a 1 uta das classes, o própri
do termo classe torna-se o em
prego
perfeitamente inútil: o
contexto, do termo “cl emprego, nesse.
asse média” quer dizer,
E te, que as classes não existem
mais. É
Tamente, prolongando essas
| análises,
referem à famosa ques
tão do terciário e da
sociedade atual. Sabe-se “terciarização” da
qu e, baseada na distinção
“agricultura”, e o resto. «-! “indústria”,
e acoplada à ideologia das
e das “categorias sociop “profissões” .
rofissionais”
das estatísticas burguesa
s —
damente neste “terciári
o”
tas do comércio, dos
banc
MO DE HoJE
214 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALIS

cionários (do Presidente


tórios” e “serviços”, O conjunto dos fun m gra-
da Repúbl ica ao carteiro) etc. Confessaremos assim de bo
s terciários, desse
“do, com R. Fossaert e M. Praderie +, que esse
se, e poderemos mes-
modo delimitados, não constituem uma clas
concepção
mo dizer claramente que, se nos prendermos à antiga
s terciários
“tradicional” — marxista — das classes sociais, esse
as ses:
deveriam ser considerados como pertencentes a divers clas
própria exis-
burguesia, pequena-burguesia, classe operária. Mas a
do que as classes
tência dos “terciários” — terceira força — provan
prio emprego
sociais é a luta das classes não existem mais, O pró
«do termo classe torna-se supérfluo.

II

efeito,
Insistir nesta última concepção não foi inútil. Com
lema, pro-
podemos retornar agora a uma das soluções do prob
talismo mono-
posta atualmente pelo pcr, e suas análises do Capi
te no Traité
polista de Estado. Essas análises, expostas claramen
da corrente
já assinalado, se expressam como crítica explícita
entanto, toda uma
“classe média-terceira força”: elas revelam, no
em no seu bojo,
“série de confusões e de princípios falsos, que traz
antimonopolista”.
“por outro lado, a estratégia política da “aliança
a dissolu-
Essas análises, ao mesmo tempo em que refutam
ria, negam no en-
ção desses conjuntos salariais na classe operá
vinculação de
tanto sua especificidade de classe, e mesmo sua
o, entendidos
“classe simplesmente. Esses conjuntos são, com efeit
ariadas”*:
com a denominação de “camadas intermediárias assal
várias classes
“Ag camadas intermediárias não constituem uma ou
e média, mas um
“sociais no sentido estrito do termo. Não há class
situam numa
conjunto de camadas sociais diferenciadas que se
está em
posição intermediária.” Mas a base teórica do assunto
a classe. De
supor-se cue essas camadas não pertençam a nenhum
e inti-
fato, em um capítulo do Traité em questão, expressament
tulado “Pertencimento de classe das camadas intermediárias assa-
ponto
lariadas”, só se encontram formulações do gênero: “De um
do-
de vista de classe, empregados, técnicos, engenheiros, pesquisa
xi-
res etc. encontram-se numa posição intermediária que os apro

a Fossaert, L'Avenir du capitalisme, 1961; Praderie, Les Tertiaires,

5 “Le Traité, já citado, t. I, p. 204.


ma cada vez mais da classe operária com a qual eles
não pode
entretanto... confundir-se atualmente 8”. Mas em nenhuma Pp
se responde à questão: de qual classe esses conjuntos são cam
dasou, por outro lado, qual é o pertencimento de class
e “dessas
camadas?
o
É preciso nos determos aqui, pois trata-se de um probl
em
muito importante para a teoria marxista das classes socia
is e.
luta das classes. Omarxismo admite, com efeito, a existê
ncia c
frações, de camadas, e mesmo de categoriassociais (“burocraci
de Estado”, “intelectuais”). Mas ta absolutament
de conjuntos co lado, à margem
às classes. As frações sã : :
éuma fração da burguesia; as camadas são camadas de
cla
a aristocrácia operária é uma camada da clas
prias categorias sociais, como acabamos declas eobsery
operária. Aspró:
ar com
aburo
cracia de Estado, tem um pertencimento de class
e. no
" Encontra-se aí um ponto fundamental
de distinção entre

uma estratificação mais geral que dá lugar igua


lmente a ou
* grupos, paralelos e exteriores às classes: já
foi o caso para M
“ber (classes e grupos estatutários), e atua
lmente isso se pr
ga sob várias formas (principalmente sob
a forma de classes socia
“e elites políticas). É verdade que, em tais
subdivisões, essas co
tes sociológicas, numa sociedade, atribuem
em geral aos outr
Srupos um papel mais importante do que
às classes sociais. Or

pelomenos em um corte “sincrônico”


de uma formação social,
É * outrosgrupos paralelos e exteriores às
classes. A divisão da soc:
E “dade em classessignifica precisamente, do pon
to de vista ao m
E Mo tempo teórico-metodológico e da real
idade social, que o co
ceito de classe social é pertinente a
todos os níveis de aná
ddi
visão em classes constitui o quadro referenc
ial de todo escal
namento das diversificações sociais.
é à

6 Op et. p: 236. E
Mas é ainda necessário ir mais além, pois, mesmoquando se
admite o que foi dito acima, pode-se, não tendo esclarecido certos
aspectos teóricos da questão, legitimar ainda a concepção de
certos conjuntos sociais exteriores às classes7.
1. As classes sociais são um conceito que designa precisa-
mente o conjunto dos efeitos da estrutura no campo das relações.
sociais, e até mesmo na divisão social do trabalho. Mas seria in-
“teiramente falso conceber as classes sociais como um “modelo”:
“concebendo-as assim, aceita-se precisamente a possibilidade de
existência, na realidade de uma formação social, de certos conjun-
tos exteriores às classes, que seriam o efeito de uma “riqueza”
“do“real-concreto” que ultrapassa seu “modelo abstrato”. Asclas-
ses sociais só seriam assim uma esquematização do real, seu “es-
queleto” de alguma forma extraído do real por uma simples ope-
ração de abstração, sendo os conjuntos exteriores às classes pre-
cisamente a riqueza de determinação do concreto que escapa
“à sua “rede” de inteligibilidade. Sabemos tratar-se aí de uma an-
tiga concepção nominalista das classes sociais, que se destaca, fi-
nalmente, de uma concepção empirista do conhecimento e das
relações abstrato-concreto.
2. Uma formação social é o local de existência de uma ar-
ticulação de vários modos e formas de produção. Isso se manifes- .
ta: a) pela existência, em uma formação social, de mais de duas
“classes, ao lado das duas classes que dependem do modo de pro-
dução dominante, classes que dependem dos outros modos e for-
mas de produçãopresentes nessa formação; b) por efeitos de de-
composição e de reestruturação de classe, de fracionamento e de
“reagrupamento de classe, de sobredeterminação e de subdetermi-
nação de classe: em síntese, por efeitos da articulação desses mo-
dos e formas de produção sobre as classes que daí se destacam
em uma formação social.
É Mas os efeitos dessa articulação não poderiam consistir na
emergência de conjuntos sociais exteriores às classes, de alguma
forma “atípicas” ou “anômicas”. Isso seria voltar à concepção em-
pirista dos “resíduos” ou das “impurezas” de um real-concreto,
concebido como simples cadinho de empilhamento de modos e
E Fou
T Ver, a propósito do panorama conceptual geral das observações |
que seguem, a introdução, pp. 13 sg. deste livro.

s de produção “abstratos”; esses conjuntoss riam,en
resíduos do empilhamento. Encontra-se aqui, no âmbit des:
vez, das relações entre modos de produção e formações oci
“aconcepção errônea do “modelo abstrato” aplicado agora
nos
“dos de produção. As formações sociais não são, de fato, a conc
tização espacializada de modos de produção que existem em :
pureza abstrata, mas realmente a forma de existência e de repi
dução dos modos de produção. As classes de uma formação so
não são a concretização dasclasses dos diversos modos de pro:
“ção, podendo dar lugar, nessa concretização, a recaídas concre
que lhes escapam, sendo então a forma de existência e de rep
dução das classes dos diversos modos de produção (a luta
classes) E

3. Chegamos, assim, ao último aspecto da questão. A lu


das classes, em uma formação social, situa-se no âmbito fund:
mental de uma polarização das diversas classes sociais em relaçã
às duas classes fundamentais, que são aquelas do modo de p
dução dominante, e cujas relações constituem a contradição pri
cipal dessa formação. Não poderíamos admitir quer a dissoluçã
de classes antigas em conjuntos sociais “exteriores” às classe
“quer a emergência de novos conjuntos semelhantes, como€ eito
da luta das classes e da polarização em questão? Conjuntos q
então, seriam situados em relação às duas classes fundamentai
sem possuir um pertencimento próprio de classe, seu vínculo “r
lacional” a essas duas classes, na luta de classe, tendo pre
mente por efeito a ausência — ou a eliminação — de um lu
próprio de classe que eles ocupariam? É por vezes, sob esse as;
to, que se apresenta a concepção do pcF relativa às “camadasii
termediárias”8, a
Essa polarização desempenha de fato um papel muito impo:
tante não somente quanto à posição de classe, mas também q ar
to à determinação estrutural de classe. Entretanto, a concep
acima é insustentável: ela supõe, de fato, que as classes exist
primeiramente como tais, em lugares isolados, entrando em seg
da nas relações de luta, luta de classe que então, por sua pola:
zação, teria tido como efeito, mesmo sem subversão das relaç
de produção, a dissolução de algumas dessas classes em conjun
sociais sem pertencimento de classe. É preciso, pois, observar
a) que as classes sociais só existem de qualquer maneira

- SK Lojkine, “Pouvoir politique et luttes des classes”, em La


sée, dezembro de 1972. !
sse, os lugares das classes sociais encobrindo as práticas
classe (as relações sociais); b) mas que a dete
rminação das
asses na luta de classe não significa, por isso,
que estas
(ou al-
uns conjuntos sociais) só existiriam sob à form
a “relacional”,
sentido de que elas permutariam de “situaçã
o” segundo a “luta
classe”, concebida aqui de acordo com o
modelo de Touraine
| “movimentos sociais”. Isso seria, de fato,
reintroduzir indire-

>

burguesia ou da classe operária, não os poderia situar


como cama-
dasprivadas de lugar — de determinação — de
classe.
“Em suma, a luta das classes e a polarização não
podem cir-
unscrever conjuntos ao lado ouà margem das classes,
sem per- .
tencimento declasse, pela simples razão de que tal pertencimento
le classe não é outra coisa senão a luta das classes, e que
essa |
ta só existe pela existência de lugares das classes sociais:
sus-
tar que existem “grupos sociais” exteriores às classes, mas na
ta das classes, não tem estritamente sentido algum. E, natural-
ente, bem diverso éo problemadaeliminaçãoreal de algumas
sses Ou frações no desenvolvimento ampliado do capitalismo
equena-burguesia tradicional, pequeno campesinato parceiro):
ssescasos, não assistimos absolutamente a um processo de reab-
rção dessas classes em conjuntos sem pertencimento de classe
“camadas intermediárias não-assalariadas” — mas a um pro-
essode eliminação progressiva dessaspróprias classes (o resta
nte
onstituindo classes).

"Essas questões sãobastante importantes para justificar


algu-
s observações suplementares: confusões manifestaram-se
igual-
teem algumas análises atuais referentes às formações perifé
s, articuladas em torno da problemáticamarginalidad ri-
Ssas marginais”
e (as |
). O que é designado por este termo é,
odo, o fenômeno, nas formações periféricas, grosso.
de uma “massa de
1
indivíduos”, produto do êxodo maciçodos campos, indivíduo
centrados no espaço urbano, onde vivem de empregos “ditos p
sitários”. Essa concepção está estreitamente solidária com aquel
da sociedade dualista, a saber, aquela de uma formação social co
posta de “dois” setores heterogêneos, um setor agrário-tradício:
e um setor industrial-modernista, de estruturas de classe própria
com a marginalidade abrangendo os conjuntos sociais sem perten
mento de classe, que se supõe estejam situados no espaço en
(à margem de) esses dois setores. e
É evidente que tal concepção faz a economia de uma anál
rigorosa dosefeitos, na fase atual do imperialismo, da reprodu
induzida das relações capitalistas monopolistas das metrópoles
próprio seio das formações periféricas, principalmente
formas de
“transição da força de trabalho em direção àsua subsun
ção a e
ida; a
dessa força de trabalho, do desemprego camuflado etc. Ê
O que
“mais interessante é notar quais foram as objeções dos autores,
m
xistas aessa concepção da marginalidade. Elas têm consist
ido,
quentemente, em demonstrar os erros da problemáticada
socied.
dualista (não se trata de dois setores separados), insisti
ndo nofa
por um lado, de que essa emergência de conjuntos sociais
se
tencimento de classe é um efeito estrutural e co-substancial
da
minação das relações monopolistas sobre os outros
modos e
mas de produção nas formações periféricas e, por outro
lado, q
esses conjuntos ou grupos “atípicos” não são margina
is, já qu
assumem um papel político eminente º. Objeções
justas, mas ond
falta ainda um ponto essencial, pois também
economizam u
análise declasseconjuntos. O efeito estrutural da f
atual do imperialismo nas formações dominadas e dependen
não poderia consistir na emergência de “grupos
sociais” ao de
das classesou exteriores a elas: ao sustentar isso,
permanecem.
sempre na problemática dos grupos à margem
das classes socia
e ocultamos o verdadeiro problema, ou seja,
o processo, certam:
te de uma extraordinária complexidade,
de. decomposição e«
Teorganização, de sobredeterminação e de
subdeterminação, d
classessociais nas formações periféricas.
Rc
O que engloba finalmente, ao mesmo tempo,
as análises «
marginalidade e as objeções mencionadas
teórico, a conce

o a Principalmente
R. Stavenhagen, Sep
t Thêses erronées sur
rigue latine, PA;
1973. - : j
ada às classes sociais coloca-se do ponto de vista não dos lu-
sares na divisão social do trabalho, mas dos indivíduos concretos
ue delas fazem parte. Essa questão torna-se assim: a que classe
pertence este ou aquele indivíduo, ou “massa” de indivíduos, es-
ndo entendido que a dificuldade eventual da resposta é aqui
traduzível em uma desqualificação desses “indivíduos” do ponto
de vista de classe, indivíduos catalogados sob forma de “conjun-
tos” à margem das classes, enquanto é a própria questão que está
mal colocada. A estreita conivência epistemológica entre a con-
cepção nominalista-idealista das classes sociais — as classes como
“modelo abstrato” — e essa concepção empirista é patente, sendo
que todas duas chegam aos mesmos resultados: lá, conjuntos so-
ciais que saem da rede-modelo das classes, e aqui, panda-con-
“juntos que não entram na composição das classes — “somas de
“indivíduos”.
Além disso, essa problemática impede que se proponha uma
questão perfeitamente legítima, aquela dos agentes que ocupam
os lugares das classes sociais, mais particularmente ligada àquela
da reprodução das classes sociais. Com efeito, essa questão dos
gentes sedistingue daquela dos “indivíduos” cuja soma comporia
as classes sociais, na medida em que ela está colocada em uma
problemática diferente. Esses agentes, especialmente, não são “in-
Idivíduos” que dão origem a, por reagrupamento, diversos “con-
|juntos”, as classes constituindo apenas um desses grupamentos
: possíveis, mas são reproduzidos segundo a reprodução dos luga-
tres das classes sociais na luta das classes.
Todas as observações que fizemos acima referem-se ao aspec-
to principal das classes sociais, aquele de seus lugares, e da re-
produção desses lugares na divisão social do trabalho: é nessa
medida que fomos levados a excluir a possibilidade de existência
de conjuntos sociais ao lado ou fora das classes, que seriam, en-
“tretanto, pertinentes no campo da luta das classes. Esse problema
“é, no entanto, relativamente distinto daquele da reprodução (qua-.
ficação-sujeição-repartição) dos agentes entre esses lugares: é
evidente que, nesse processo de reprodução dos agentes, podemos
“circunscrever toda uma gama de fenômenos que vão de situações
“transitórias « pertencimentos contraditórios de classe, e mesmo
a efetivas “desclassificações” de agentes. Mas com a diferença ca-
“ pital de que uma soma de “agentes desclassificados” não faz nun- .
ca um conjunto social pertinente no campo da luta dasclasses:
encontra-se aí, aliás, todo o sentido das análises de Marx sobre
o Lumpenproletariat. De qualquer forma, é evidente que a que
tão dos novos conjuntos assalariados não pode ser tratada
* plano de uma reunião de agentes desclassificados.

- Voltemos às análises atuais do pcF sobre o capitalismo mo


nopolista de Estado e as “camadas intermediárias assalariadas”
Essas análises abrangem, de fato, uma estratégia política be:
precisa, aquela da “aliança antimonopolista” que se revela ser, por
isso, uma aliança sem princípios. De fato, toda aliança de clas
“no contexto das massas populares — do “novo” — implica uma
série de contradições reais entre os interesses das diversasclasses
aliadas, contradições que devem ser seriamente levadas em con
deração e resolvidas corretamente: estão aí as “contradições n
seio do povo”. Mas não há dúvida (voltaremos a isso) de qt
atualmente alguns desses conjuntos salariais façam parte do poy
e o reconhecimento de seu pertencimento de classe, que os dis
gue da classe operária, é essencial para o estabelecimento de
base justa da aliança popular, sob a direção e hegemonia da cl
operária. Em contrapartida, negando expressamente o pert
mento de classe desses conjuntos, omite-se ao mesmo tempos
divergências de classe com a classe operária, ou seja, a possi
dade de interesses de classe relativamente distintos daqueles da
classe operária. A identidade suputada e o amálgama opera
essesinteresses e aqueles da classe operária se fazem, co
por acaso, pervertendo, a longo prazo, os interesses próprios
classe operária, única classe revolucionária até o fim, de forma q
se possam confundir com aqueles conjuntos, enquanto todo o p
blema reside precisamente em trazer esses conjuntos ao perten
mento declasse específico sobre posições da classe operária. As an
lises do capitalismo monopolista de Estado insistiram em vão :
fato de que essas camadas oscilantes aclassistas não pertenc
à classe operária, elas se reaproximam, ao ponto de enganar-s:
seus resultados políticos, daquelas, socialdemocratas, da c
salarial.

2. A Pequena-Burguesia Tradicional e a Nova Pequena-Burgues

É precisamente a questão desses novos conjuntos salar


que constituirá o objeto principal das seguintes análises: eu

MO DE HOJE
202 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALIS

a, pois mostrarei que


reservarei o termo de nova pequena-burguesi
nal (pequena produ-
dependem, com a pequena-burguesia tradicio
mesma classe,
ção e propriedade, artesãos e comerciantes), de uma
falar da
a pequena-burguesia. Serei levado então, igualmente, a
lemas
pequena-burguesia tradicional e a propor uma série de prob
:
teóricos mais gerais, problemas que assinalo agora
a) Qual é a natureza exata da pequena-burguesia em sua de-
terminação estrutural de-classe, isto é, em seu lugar no interior
-
da divisão social do trabalho, que abrange as relações de produ
cas e
ção e também as relações de dominação-subordinação políti
du-
ideológicas? Qual é sua situação exata no processo de repro
ção das classes sociais? Tornar-se-á de fato claro que a pequena-
burguesia não pode ser, entre outros aspectos em virtude de sua
-
polarização, colocada no mesmo plano que as duas classes funda
.
mentais de uma formação capitalista, a burguesia e O proletariado
funda-
O que levanta uma outra questão: como, e em que bases,
mentar o pertencimento de conjurítos sociais, que detém aparen”
temente lugares diferenciados nas relações econômicas, em uma
mesma classe, a pequena-burguesia?
b) Quais são os princípios que devem reger uma análise da
pequera-burguesia em frações de classe? Essas frações da peque-
na-burguesia assumem o mesmo sentido que os fracionamentos
! As
“das duas classes fundamentais, a burguesia e o proletariado
únicas relações econômicas são suficientes para circunscrever as.
n-
frações de classe da pequena-burguesia? E, ao lado da difere
-
ciação decisiva entre pequena-burguesia tradicional e nova peque
na-burguesia, quais são as frações de classe no próprio seio da
nova pequena-burguesia?
c) Quais são as posições políticas que atravessam a pequena-
burguesia? A pequena-burguesia pode ter uma posição de classe
própria e autônoma a longo prazo? As diversas posições políticas
-
que a atravessam, destacam, e em que medida, as frações peque
u-
no-burguesas circunscritas a partir de sua determinação estrut
ral de classe, e qual é o papel, a esse respeito, da conjuntura?

Para começar com a primeira questão, retomo aqui uma tese


que já havia defendido, e que concerne mais particularmente ao
pertencimento a uma mesma classe, a pequena-burguesia, da pe-
“quena-burguesia tradicional e da nova pequena-burguesia: mas
princípios que regem essa tese têm,de fato, repercussões bem mai
- res. Se podemos considerar como pertencimento a uma mesma
classe conjuntos que, à primeira vista, ocupam lugares diferentes
nas relações econômicas, é porque esses lugares, diferentes, têm.
no plano político e ideológico, os mesmos efeitos. Essa tese deve-
ria agora, no entanto, ser aprofundadae retifi
Ela só pode sê-lo principalmentecom referência ao fenôm
no da polarização. A polarização de classe, embora não possa,
certamente, determinar conjuntos sociais sem pertencimento d
classe, assume, no entanto, uma importância considerável na pró-
pria determinação das classes: a polarização significa que a luta
das classes, em uma formaçãocapitalista, está calcada em tornc
de duas classes fundamentais dessa formação — contradição prin:
cipal —, a burguesia e a classe operária.
A polarização de classe tem, primeiramente, como campo
aplicação, a própria determinação estrutural de classe da peque
burguesia, a saber, o lugar que esses conjuntos ocupam na divisão
social do trabalho. De fato, se é verdade que nãoseria preciso
confundir a posição de classe em uma conjuntura e na determi
ção de classe, não é menos verdade que mesmo esta abrange
ticas de classe, as classes sociais existindo exclusivamente na lu
das classes. Em outras palavras, o fenômeno de polarização nãc
significa que os diversos conjuntos pequeno-burgueses, já determ
nados em si, tenham simplesmente posições de classe' que os apro
ximem seja da burguesia, seja da classe operária (polarizaçãodas
posições de classe), mas que sua própria determinação estrutura
de classe só possa ser apreendida em sua relação, no seio da d
são social do trabalho, com a burguesia e com a classe operári
(polarização da determinação de classe). :
* Tssoserefereagoraàsrelaçõeseconômicas dessa determin
ção de classe, relações econômicas que, como é o caso para toda
classe social, detêm aqui o papel principal. De fato, segundo essi
ponto de vista, o pontocomum.para a pequena-burguesia tra
cional (pequena produção épropriedade) e para a nova pequen,
burguesia (trabalhadores assalariados não-produtivos), é que ela
não pertencem nem à burguesia, nemà classe.operária, ou sej
e
um critério comuminteirament negativo na aparência. Mas far
mos de fato uma estimativa de todo diferente desse elemento se
“a considerarmos “em si”, isto é, como circunscrevendo lugare
“isolados” da pequena-burguesia, e se o considerarmos, como (
justo farélo: no contexto da polarização de classe, caso em
poremos a| anestdo dos: efeitos desse critério negativo. A pe-
uena produção e a pequena propriedade, de um lado, e, do outro,
- trabalhoassalariado não-produtivo só adquirem sentido emre-
lação ao que se passa, nesse sentido, com a burguesia e com a
classe operária. Certamente, esse critério comum negativo não
poderia ser transformado, pela sua consideração no âmbito refe-
rencial da polarização, em um critério positivo nosentido estrito:
ofato de esses conjuntos não fazerem, do ponto de vista das
relações econômicas, parte nem da burguesia, nem do proletariado,
não poderia ser suficiente para determinar um lugar comum des-
ses conjuntos nas relações econômicas, isto é, uma determinação
por simples extrapolação. Mas, por outro lado, se nos colocarmos
precisamente do ponto de vista da polarização, veremos que esse
* critério negativo não tem mais um simples papel de exclusão: ele
produz “semelhanças” econômicas que terão uma comunidade de
efeitos políticos e ideológicos. Em outras palavras, se a exclusão .
“desses conjuntos de alguns lugares (burguesia, proletariado) não
“é suficiente para situar seu próprio lugar, esta exclusão desobstrui,
entretanto, agora nas relações econômicas, os contornos de seus
Jugares, que serão afirmados nas relações políticas e ideológicas. .

' Esse fenômeno de polarização não se refere somente às rela


«ções econômicas, mas também às relações ideológicas e políticas.
da determinação estrutural de classe desses conjuntos: as caracte-.
rísticas comuns desses conjuntos, no plano dessas relações, devem.
ser compreendidas em referência às relações políticase.ideológi-
asque especificamos lugares, na divisãosocial do trabalho, da
burguesia e da classe operária. O que assume principalmente toda
a sua importância quanto aos traços específicos do subconjunto.
resido pequeno-burguês.
mos, no entanto, aqui problemas particulares:
a) A referência às relações políticas e ideológicas é absolu-
“tamente indispensável para circunscrever olugar da pequena-bur-.
guesia na determinação estrutural de classe: não somente par: :
fundamentar o pertencimento da pequena-burguesia tradicional e
“da nova pequena-burguesia a uma mesma classe, mas também e
sobretudo a fim de entender esse lugar da nova pequena-burguesia
a E à classe operária, as oa dessa nova pequiena-tia
ais, a burguesia e a classe operária, as relações de produçãodi
terminariam exaustivamente seu lugarna divisão social do trab
lho: a determinação estrutural detoda classe social, qualquer que
seja, abrange seu lugar ao mesmo tempo nas relações de produ-
ção, nas relações ideológicas e nas relações políticas. Mas a ques-
tão assume uma dimensão toda particular, para as classes que não.
sejam as duas classes fundamentais, principalmente para a pequ
na-burguesia: esta, não estando no âmagodas relações de explo-
ração dominantes de extração direta da mais-valia, sofre a pola-
rização que produz distorções-adaptações muito complexas nasr
lações político-ideológicas em cujo seio .se situa. A atenção par
ticular, que requer em seu caso o exame das relações políticas
e ideológicas, não se prende a que essas relações só assumam i í
portância para ela (e não para a burguesia e a classe operária),
e não é também o sinal de uma dificuldade da ordem do conhec
mento, a saber, pelo fato deque os critérios marxistas de determ
nação econômica de classe “não seriam tão seguros”, no seu caso.
e queseria necessário dar “um pequeno empurrão” pela “fuga”n
critérios políticos e ideológicos: se é necessário insistir, nose
caso, sobre essas' relações, isso se prende a sua situação meln
luta da classes de uma formaçãocapitalista.
b) Essas relações políticas e ideológicas referem-se aqui à.
terminação estrutural de classe da pequena-burguesia, que de
ser diferenciada de suas posições de classe. Referir-se a essas rel
ções não significa reduzir a determinação de classe à posição d
classe. Essas relações (lugar na divisão trabalho manual/traba
intelectual, nas relações de poder e de autoridadeetc.) têm cert
mente efeitos, principalmente, nas posições de classe da n
pequena-burguesia. Mas, se a referência ao político e à ideologj
se reduzisse à posição de classe na conjuntura, isso querer
dizer, no final das contas, que todas as vezes que conjuntos p
queno-burgueses adotam posições da classe burguesa, eles perter
cem à burguesia, e que todas as vezes que adotam posições d
classe operária, pertencem a esta última. Isso seria recolocarey
questão a determinação objetiva das classes sociais. Não se rep
tirá nunca suficientemente que a distinção entre determina
estrutural de classe e posição de classe não recorta uma distinç
entre o econômico (determinação) e o político-ideológico (p
minação de classe abrange tanto os lugares polí
ideoldniis objetivos, como as posições de classe das conjuntu
de luta econômica. A distinção está aqui circunscrita pelo espa:
juntura (posição de classe) 1º, Reencontraremos esse pro-
ja quando do exame dos efeitos da polarização sobre
as po-.
'0es de classe, desta vez, da pequena-burguesia.

HI

"Enfim, nessa análise da pequena-burguesia, leva


remos igual-
ente em conta, comofoi o caso Para a burguesia, sua
reprodu-
ão, mais particularmente na fase atual do capitalismo
monopo-
sta: simultaneamente com a reproduçãodeseulugar, aspecto
rincipal da reprodução, e com a reprodução de seus
agentes.
necessário somente notar aqui que aquestão dessa reproduç
assume uma importância específica para a pequena-
ão
burguesia:
a) do ponto de vista da reprodução de seu lugar
, em razão da.
liminação acelerada, na fase atual, da pequena-burg
uesia tradi-
cional, e em razão da extensão acelerada, nessa fase,
da nova
uena-burguesia; b) do ponto de vista da reprodução dos
agen-
em razão das condições, todas particulares no caso da nova
Juena-burguesia, da qualificação-sujeição de seus agentes e de
a distribuição. :
I. TRABALHO PRODUTIVO
E TRABALHO NÃO-PRODUTIVO:
NOVA PEQUENA-BURGUESIA E
CLASSE OPERÁRIA |
Voltemos agora ao exame dos novos conjuntos salar
i
serão designados pelo termo nova “pequena-bur
guesia: n
sentido de que não está absoluta
destinada a perigar, 1
modo de produção capital
capitalismo monc
“desenvolvimen:
mpliação. Examinaremos aqui o conjunto dos
compí
de sua determinação estrutural de classe, a
fim de chegarmos
efeitos dessa determinação no plano da práti
ca política:
é necessário fazermos referência ao lugar
desses conjuntos
somente nas relações econômicas, mas
no conjunto da d
social do trabalho. :
Vamos deter-nos, no entanto, em primeiro
lugar, na quest
do lugar desses conjuntos nas relaç
ões econômicas, lugar
detém o papel principal na sua determinaçãoclass
mos, primeiramente, que esses conjuntos e: obser
não pertencem à burgu
sia, na medida em que não têm nem propr
iedade econômica, n
posse dos meios de produção. Por
outro lado, trata-se, no.
caso, de um trabalho assalariado, isto
é, remunerado sob fo
“de salário. Aquestão fundamental que se propõe
de sua relação com a classe operária, aqui é aqu
questão que pode ser for
ria a cada modo de Pibdiição — com os meios e o objeto o
trabalho e, por tal caminho indireto, com seus proprietários.
Ora, na expressão de Marx, para o capitalismo, todoagente
que pertence à classe operária é um assalariado,ne nemtodoassa-
" lariado pertence forçosamente à classe operária. A classe operá-
“riaédelimitada não por um simples critério negativo “em si”
sua exclusão das relações de propriedade —, mas pelo balho
produtivo: “Todo trabalhador produtivo é trabalhadorassalaria-
Rr o que não significa que todo trabalhador Rea seja um
trabalhador produtivo 1.”
— A determinação, em Marx, do trabalho produtivo em sua dis-
tinção do trabalho improdutivo é uma questão particularmente
- difícil: essa questão, que ele projetava tratar no livro IV do Ca-
pital, nunca foi exposta de forma sistemática. Encontram-se aná-
lises esparsas no Capital, masdesenvolvidas sobretudo em textos .
“que o próprio Marx não editou: principalmente na Histoire des
doctrines économiques (assinalo aqui os títulos em edições fran-
cesas), Fondements de la critique de [économie politique, os tex-
“tos do Sixiême Chapitre inédit du Capital. É evidente que a re-
“constituição da coerência de todas essas análises só pode ser le-
vada a termo situando-as no conjunto da obra de Marx, e de
“suas etapas: toda uma série de pesquisadores a ela se dedicou,
permanecendo abertas, aliás, a pesquisa e a discussão sobre esse
- assunto. De minha parte, vou limitar-me simplesmente aqui a in-
dicar algumas linhas gerais dessas análises de Marx *:

- O trabalho produtivo designa sempre um trabalho efetuado


sob condições sociais determinadas, e remete assim diretamente
às relações sociais de exploração de um dado modo de produção.
mm,

1 Marx, Sixiême Chapitre inédit du Capital, em “Karl Marx, CEuvres”


Pléiade, t. II, pp. 387 sq.
2 Assinalo igualmente, sobre esse assunto, o notável artigo de E.
Terray, “Prolétaire, salarié, travailleur productif”, em Contradictions,
; julho-setembro de 1972; M. Freyssenet, Les rapports de production:
travail productif-travail improductif, maio de 1971, documento mimeo-
grafado do Centro de Sociologia Urbana; o n.º 10: “Travail et Emploi”,
—* de Critiques d'économie politique, em particular os artigos de P. Salama
“e de C. Colliot-Thélêne; M. Mauke, Die Klassentheorie von Marx und
Engels, 1970; M. Tronti, Operai e capitale, STA |
Nova PEQUENA-BURGUESIA E CLASSE OPERÁRIA . 229

O caráter produtivo ou não do trabalho não depende nem de |


características intrínsecas de um trabalho “em si”, nem de sua:
utilidade. É nesse sentido que é preciso entender as análises de
Marx, segundo as quais, para estabelecer o caráter produtivo ou.
E não do trabalho, “não nos apoiamos, pois, em resultados mate-
riais do trabalho, nem na natureza do produto, nem no rendi-
mento do trabalho enquanto trabalho concreto, mas nas formas:
sociais determinadas, as condições sociais da produção onde [esse
trabalho] se realiza”. Ou ainda: “Deduz-se que o trabalho pro--
dutivo não implica absolutamente a posse de um conteúdo preci--
| so, uma utilidade particular, um valor de uso determinado no qual
se materializa. É o que explica que um trabalho de mesmo con-
teúdo possa ser produtivo ou improdutivo 4.” .
É, portanto, trabalho produtivo, em um modo de produção
determinado, o trabalho que dá lugar à relação de exploração|
dominante deste modo: o que é trabalho produtivo para um modo:
de produção pode não o ser para outro. Assim, no mododepro--
dução capitalista, é trabalho produtivoaquele que produzdire-.
tamente a mais-valia, que valoriza o capital e que é trocadopelo |
capital: “O resultado do processo de produção capitalista não”.
é nem um simples produto (valor de uso), nem uma mercadoria;.
isto é, um valor de uso que possui um valor de troca determinado:
É a criação da mais-valia para o capital... Com efeito, o que o
capital, enquanto capitalista, quer produzir, não é nem o valor
de uso diretamente destinado ao consumo pessoal, nem a mer-
cadoria destinada a ser transformada primeiro em dinheiro e mais
tarde em valor de uso. Seu objetivo é o enriquecimento, a produ-
ção da mais-valia, o aumento do valor, isto é, a conservação do
antigo valor e a criação da mais-valia. Esse produtoespecífico,
o processo de produçãocapitalista sóorealiza pela troca docapi-
tal pelo trabalho que, poressa razão, se denomina trabalho pro-
dutivo 5.” Co e
Não tardaremos a ver que essa determinação do trabalho pro-.
dutivo (capitalista) não é a única em Marx, o que coloca proble-
mas importantes: digamos simplesmente, por enquanto, que é su-
ficiente para Marx traçar de imediato as fronteiras essenciais da
classe operária. Assim, por exemplo, não é trabalhoprodutivo
aquele que depende da esfera de circulação do capital ou que con-

3 Histoire des doctrines économiques, ed. Costes, t. II, pp. 12-13 sq:
4 Sixiême Chapitre..., ibid. :
5 Histoire des Doctrines..., ibid., p. 199. Ver tambémLe Capital
Ed. Sociales, t. II, pp. 183-184.
230 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

tribui para a realização da mais-valia: os assalariados do comér-


cio, da publicidade, do marketing, da contabilidade, do banco,
dos seguros etc. não produzem a mais-valia e não fazem parte
da classe operária (trabalho produtivo). É que somente o capital
produtivo produz a mais-valia. Principalmente: “O capital comer-
cial é apenas o capital que funciona no interior da esfera de
circulação. O processo de circulação é uma fase do conjunto do
processo de reprodução. Mas nenhum valor, por conseguinte ne-.
nhuma mais-valia, é produzido no decorrer do processo de circula-
ção.” Assim: “Como o comerciante, enquanto simples agente de
circulação, não produz nem valor, nem mais-valia, é impossível
que os-trabalhadores de comércio que ele emprega nas mesmas
funções que ele produzam de forma imediata mais-valia 8.”
Do ponto de vista do capitalista individual, esses trabalhado- |
res assalariados aparecem, para ele, como fonte de lucro. Mas
do ponto de vista do capital social e de sua reprodução, o lucro
do capital comercial e bancário não resulta de um pr ce
criação do valor, mas de uma transferência da mais-valia
pelo capital produtivo: esses trabalhadoresassalariados contri-
buem simplesmente para à repartição da massa da mais-valia entre
as frações do capital, segundo a taxa média de lúcro. Certamente,
esses trabalhadores assalariados são também explorados, e seu
salário corresponde à reprodução de sua força de trabalho: eles
“contribuem para diminuir os custos de realização da mais-valia,
realizando em parte trabalho não-pago”; percebem então que são .
extorquidos do sobretrabalho, mas não são explorados diretamen-
te segundo a relação de exploração capitalista dominante, a cria-
ção de mais-valia. Seu trabalho é apenas trocado pelo capital va-
riável no interesse do capitalista individual, ao passo que, do pon-
to de vista do ciclo de conjunto do capital social e de sua repro-
dução, essa retribuição constitui uma despesa improdutiva do
capital e faz parte dos custos falsos da produção capitalista 7.
É necessário insistir energicamente no fato de que essa dis-
tinção entre processo de produção do valor e processo de circula-
ção não engloba, aqui, uma distinção qualquer entre “secundário”
e “terciário”, ou uma distinção institucionalista entre o tipo de
“empresas” — industriais, comerciais — nas quais esses trabalhos
têm lugar. Trabalhos provenientes do processo de circulação —
venda, publicidade, comercialização — podem estar a cargo das
40
9 Le Capital, t: VI, Pp. 292 e 903: t Eyi po tg;
7 Le Capital, t. VI, pp. 303 sq.
as | ust ontinuam a ser, er
balhos improdutivos, e seus agentes,assalariados improd
Em compensação, certos tipos de trabalhos parecemdepende.
processo de circulação, e podem estar a cargo de empresas c
merciais, enquanto de fato aumentam o valor de troca como m
cadoria na base de seu valor de uso capitalista, e são então pr
“dutores de mais-valia, seus agentes fazendo assim parte da class
operária. “É necessário considerar como processo de produç
prolongado no interior do processo de circulação, a indústria «
transportes, a guarda de mercadorias e sua distribuição de form
consumível [embalagem, estocagem, manutenção etc.]*”, E.
último aspecto da questão é particularmente importante na
atual do capitalismo monopolista: basta mencionar os traba
“dores produtivos dos diversos “serviços depois da venda” (rep:
Tações etc.). au a
: Voc.
São enfim considerados como trabalhos improdutiv:
les que tomam a forma de serviços, cujos produtos ou ai 2
são consumidos diretamente comovalores de uso € que não
ar capital mas pela renda:“Todasvezesque se co:
pra o trabalho, não para colocá-lo como fator vivo no lugar
valor do capital variável e incorporá-lo ao processo: de pro
capitalista, mas para consumi-lo comovalor de uso, como
viço, o trabalho não é trabalho produtivo e o trabalhador a
riado não é um trabalhador produtivo «.. O-capitalista
enfrenta enquanto capitalista, enquanto representante doc
é sua renda que, sob forma de dinheiro, é por ele trocad
“trabalho, não seu canitalº.” a
+ Esses serviços, desde os do cabeleireiro aos doadvogads
médico, do professor, continuamsertrabalhos impr
- Frias á >
buam para a reprodução da força de trabalho: “A utilidade É

ticular desse serviço não. modifica em nada a relação econôm


não é uma relação na qual transformo o dinheiro em capital
Pela qual o autor do serviço, o professor, me transforma em
pitalista, seu batrão. Para definir o caráter econômico
d
» Telação, não importa absolutamente que o médico me cure,
q
no do professor seja eficaz, que o advogado me ganh
e
sso. O que pago é o serviço como tal... 10” Aliás
, as f
Le Capital, ibid., p. 280. :
teme Chapitre inédit, Op. cit. PD.
E
389:
síoire des doctrines, ibid.
ere: ibuição dos serviços nada mudam na natureza da re-
lação econômica: “A relação geral não determina se o prestador
serviço recebe umsoldo, uma diária, um honorário, se figura-
na lista civil ou se sua categoria é superior ou inferior âque-
la do pagador !1.” O conjunto dos agentes prestadores deservi-
ços, inclusive os assalariados desse setor, não E assim à
classe operária.
É enfim, essencialmente, sob essa problemática de serviços
que Marx considera toda uma série de trabalhos que, no entanto,
contribuem eminentemente para a reprodução das relações sociais
capitalistas, principalmente aquelas dos agentes dos aparelhos de .
Estado, dos funcionários em sentido lato: evidentemente é neces-
" sário excluir aqui os trabalhos diretamente produtivos que têm
“lugar no seio do Estado, principalmente as empresas industriais
““nacionalizadas” — como, por exemplo, a Renault —, os transpor-
tes “públicos” — sNcF * —, os agentes operáriosdos diversos *“ser-
viços públicos” etc. Marx “dirá então: “Assim como as mercado-
rias compradas pelo capitalista para seu consumo privado, os ser-
viços que compra voluntária ou involuntariamente ao Estado...
emvirtude de seu valor de uso, não se tornam fatores do capital.
Em consegiiência, não são trabalhos produtivos e seus agentes.
“nãosão trabalhadores produtivos.” Trata-se essencialmente dos
trabalhos efetuados pelos agentes dos aparelhos de Estado eque
são pagos pelo imposto, imposto que permanece uma troca na
base da renda: “Alguns trabalhos improdutivos podem-se ligar in-
cidentalmente ao processo de produção; seu preço pode mesmo
ntrar no preço da mercadoria, de forma que o dinheiro que eles
custaram forme uma parte do capitaladiantado. Esses trabalhos
podem então dar a impressão de serem trocados não pela renda,
mas pelo capital. Tomemos logo o último caso, os impostos, os
“preços dos serviços públicosetc. Mas trata-se aí dos falsos custos
da produção... Se por exemplo todosos impostos indiretos fossem
transformados em impostos diretos, não seriam por isso menos |
pagos que antes, ainda que não constituíssem mais um adianta-
mento sobre o capital, mas uma despesa de renda 12.”
Sabe-se que esses trabalhos efetuados pelos agentes dos apa-
relhos de Estado são essenciais para a reprodução ampliada das
“relações sociais capitalistas: isso não significa, no entanto, que

E.Ran Eden de la critique de Véconomie politique, ed. Anthropos,


p. 433
=. “Service National des Chemins de Fer.” (N. do T.)
e Sixiême Chapitre inédit, ibid., pp. 391 sq.
sses trabalhos sejam diretamente produtivos, como também nã
“o são os trabalhos efetuados no processo de circulação, se b m
“que eles sejam também necessários para a reprodução do ciclo
"* de conjunto do capital social.

Mas os agentes prestadores de serviços são também explora-


dos? Em princípio, a troca de valores de uso pela renda é uma
troca de equivalentes que não pode dar lugar, como tal, a uma
relação de exploração. É necessário, contudo, fazer intervir aqui
o elemento essencial da extensão do salariado em todos os seto-
res de uma formaçãosocial onde o modo de produção capitalista
é dominante, e onde o capital tende a submeter (“subsumir”) toda
força de trabalho: extensão do salariado particularmente maciça
sob o capitalismo monopolista e sua fase atual. De fato, a troc
de equivalentes supõe um vendedor e um comprador que, no pla-
no das relações econômicas, permanecem formalmente indepen-
dentes um do outro: ora, a relação salarial e a intervenção direta
“do capital tendem a apoderar-se do conjunto dos serviços. Dos
ramos da medicina aos das diversas profissões liberais (advoga
dos, arquitetos etc.), passando por aqueles dos espetáculos, da in-
formação etc., os agentes prestadores de serviços tornam-se, ma-
"* ciçamente, assalariados do capital que se apodera dessas ativida
des. Esses agentes assalariados não se tornam, no entanto, traba.
lhadores produtivos. Mas vendem, também eles, sua força de
trabalho ao capital, seu salário corresponde à reprodução dessa
* força de trabalho e fornecem uma parte do trabalho não-pago:
“eles vêem que são extorquidos do sobretrabalho, que permite
ao.
capital economizar sobre suas rendas para aumentar a mais-valia
acumulada em relação à mais-valia consumida ou despendida
em |
* custos falsos 18, De fato, esses agentes intervém aqui
na repartição
- da mais-valia no seio do capital, dando lugar a transferências
da
mais-valia, saída do capital produtivo, em favor do
capital que
se apropria de sua força de trabalho: sua exploração
se asseme-
lha assim àquela que sofrem os assalariados da esfera
de circula-
»ção do capital. '
O caso é relativamente mais complexo para os agentes
aparelhos de Estado e os prestadores de
dos
serviços “públicos” ?
inclusive os professoresda escola pública, o
pessoal médicoda
assistênciapública etc.: aqui, o capital não intervém
diretamente
Para subsumir a força de trabalho. O capitalista
está presente
en E 2 Deo

18 Terray, op. cit, pp. 143-146.


234 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

não como capitalista, mas como comprador de serviços. Esses


agentes fornecem também sobretrabalho, que lhes é extorquido,
mas não intervêm em uma transferência da mais-valia em favor
do “Estado-patrão”. Sua exploração pela extorsão do sobretra-
E balho prende-se essencialmente à situação de desigualdade nos
termos da troca entre eles e o capital, que tem uma posição
- dominante sobre o mercado: capital que, servindo-se indiretamen-
te do Estado, submete esses agentes ao salariado e ao seu con-
É trole, a fim de realizar economias de rendas e aumentar dessa
forma a mais-valia acumulada. Sendo assim, nos casos precísos
ligados às intervenções econômicas atuais do Estado — qualifi-
cação da força de trabalho principalmente — esses assalariados
podem igualmente intervir, usando o Estado como meio indireto,
E em transferências de mais-valia entre as frações do capital, segun-
E do a-taxa média de lucro e o papel do Estado na perequação das
os “taxas de lucro.
Um último problema surge, todavia, quanto à situação dos
prestadores de serviços: não somente não são, apesar de assalaria-
dos, trabalhadores produtivos, como ainda não são todos forçosa-
mente, enquanto assalariados, explorados. Da mesma forma que o
salariado não abrange otrabalho“produtivo,ele não)abrange exa-
tamente a exploração, isto é, a extorsão. do'sobretrabalho: um
grandeadvogado*“assalariado” de uma empresa que emprega seus
serviços não vê que é extorquido do sobretrabalho. Neste caso,
a forma salarial dissimula uma simples troca de equivalentes, mas,
na direção inversa, desta vez, um agente que vende seus serviços
sem ser um assalariado pode, em virtude da posição dominante
do capital sobre o mercado, ver o sobretrabalho lhe ser extorqui-
do pela desigualdade nos termos da troca. O exame desses casos
depende da própria análise do sobretrabalho em relação ao “tem-
po de trabalho socialmente necessário”.

Acabo de expor as análises de Marx sobre o trabalho produ-


tivo capitalista, sob sua forma mais simples. Mas permanecem
alguns pontos a propósito dos quais os desenvolvimentos de Marx,
E não-sistematizados, apresentam ambigúidades que só podem ser
resolvidas recolocando esses desenvolvimentos na problemática ge-
ral de sua obra. Isso é indispensável para o esclarecimento de
alguns casos particularmente litigiosos de pertencimentode classe.
Adianto assim a proposição principal e os problemas que
“coloca: as análises de Marx sobre o trabalho produtivo capital
“devem ser completadas sobre um ponto decisivo, que apare
como co-substancial à definição do trabalho produtivo capitali
“Pode-se dizer então que é trabalho produtivo,no modode pr
dução capitalista, aquele que produzamais-valiaao reprodu:
diretamente os elementos materiais que servem de substrato à r
lação de exploração: aquele, pois, que intervém diretamente 1
produção material produzindo valores de uso que aumentam
riquezas materiais. É:
- Mas isso já coloca um problema: qual é o estatuto teóric
exato desse “complemento” de definição? Trata-se de um verda-
deiro “complemento”, ou seja, de um elemento realmente ausente
dessas análises de Marx? Comoé possível que não o tenham
visto intervir explicitamente nessas análises, e em que sentido
deveríamos fazê-lo “desempenhar” agora? |
- A ambigiidade fundamental provém aqui do fato de que nã
somente esse elemento parece ausente das análises de Marx con
cernentes ao trabalho produtivo capitalista, mas chega atéa di
explicitamente que o conteúdo concreto dotrabalho eo valo
uso são perfeitamente indiferentes para esse trabalho prod
Quais são as razões ao mesmo tempodessa ausência aparen
dessas afirmações de Marx, e o que isso significa realmente?
Com efeito, Marx dá por outro lado uma definição geral.
trabalho produtivo !*: “No processo de trabalho, a atividade
"* homem efetua, pois, com a ajuda dos meios de trabalho u:
modificação desejada de seu objeto. O processo se extingue n
produto, isto é, num valor de uso, uma matéria natural assimila
às necessidades humanas por uma mudança de forma. Quan

balho como trabalho produtivo.” E ainda:“Qualquer eleme


n
“dariqueza material não fornecido pelanatureza sempre dever
sua existência a um trabalho produtivo especial que tem por ob:
- Jetivo apropriar-se de matérias naturais para necessidades hum
nas.” Encontra-se aí o processo de trabalho considerado “sob. |
aspecto mais simples, comum a todas as suas formas histór
i a
como ato que se passa entre o homem e a natureza.”
Dito isso, deveríamos ver aí quer uma “contradição”
Marx entre essa definição geral do trabalho produtivo
eme
e aque
14 Le Capital, t. 1, pp. 61 s9, 183 59. d
“AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE.

jo trabalho produtivo capitalista, quer, como pensam atualmente


umerosos pesquisadores, que Marx abandona pura e simples-
mente a primeira quando tenta definir o trabalho produtivo capi-
talista, sendo que esses pesquisadores só retêm como pertinente
a definição que Marx dá de um trabalho produtivo sob condições
sociais determinadas (capitalista) 57 Ou ainda, deveríamos dizer,
como E. Terray principalmente, que se trata aí de duas defini-
ções igualmente pertinentes em Marx, mas que existem nele de |
forma “separada”, e que se trataria de tentar articulá-las “caso
por caso”? ;
Vejamos de mais perto. Será necessário ainda insistir que .
não podemos falar rigorosamente de processos de produção e de
" trabalho produtivo “em si”, no sentido de que eles só existem sob
condições sociais determinadas. São exatamente essas condições
sociais que determinam suas possibilidades de existência, o que
“formulamos ao insistir sobre o papel constitutivo e dominante
das relações de produção sobre o processo de trabalho, e da di-
* visão social sobre a divisão técnica do trabalho. Mas é claro que
“isso não nos impede de poderfalar sobre algumas características
gerais do processo de trabalho, cujas determinações sociais são
precisamente as condições de existência: isso nos impede simples-
“mente de cometer oerro fundamental que consiste em considerar
o processo de trabalho e as “forças produtivas”, e portanto opró-
- prio processo de produção, como instância neutra e em si, cujas
“combinações” abstratas e “elementos” produziriam as “formas
“sociais” sob as quais ele se “manifestaria”. É nesse sentido que
seria necessário entender esta frase de Marx, quanto ao trabalho
“produtivo: “O processo do trabalho capitalista não suprime as
determinações válidas para toda forma de trabalho...”
De onde vem então o fato de que Marx, em suas análises
do trabalho produtivo capitalista, parece por vezes esquecer pura
“e simplesmente o caráter geral de um valor de uso diretamente
implicado na produção material (ainda que tenhamos visto este
último despontar no exame que Marx faz dos transportes, e da
guarda das mercadorias)? Há uma primeira razão precisa para
isso, quese prende aos textos em que Marx fala desse trabalho |
produtivo capitalista, e que são essencialmente textos de críticas
onde ele combate concepções errôneas: o que Marx quer evitar
a todo preço é a confusão do trabalho produtivo com o trabalho
útil, a utilidade em geral do trabalho e do produto. O caráter do.
valor de uso diretamente implicado na produção material não po-
POE É CohotThébie op di
deria ser consundido com a noção de “utilidade”: os produtos
juxo ou aqueies das industrias de armamentos correspondem
trabanos prouutivos. Mas eretivamente as coniusões continua
ainda nUúje, como provam bweezy e Baran, que consideram os
trabasivs 40 armamento como trabalhos improdutivos e portanto
o
“inúiess”.
Mas, de fato, a definição geral que Marx dá do trabalhopro
dutivo nao está absolutamente “ausente” de suas análises do tr
“balho produtivo capitalista. E isso em dois sentidos:

A) Em um primeiro sentido, ela surge aí explicitamente, ot


talvez de alguma forma destorcida, o que coloca alguns proble
mas: essa distorção é a mercadoria. É por aí que Marx “encontra”
explicitamente o que de fato jamais deixou, a saber, o valor d
uso como substrato ou suporte material do valor de troca, a cr
ção da mais-valia (trabalho produtivo) supondo o valor de troc
mercadoria, o que já remete a umtrabalho efetuado sob condiçõe
sociais determinadas. Assim: “Pelo fato de produzir mercador.
o trabalho permanece produtivo: materializa-se em mercado
que são ao mesmo tempo valores de uso e valores de troca
Também só é produtivo o trabalho que se exterioriza em me
dorias 16...” Ou ainda: “Considerando o caráter essencial da p:
dução capitalista, podemos então supor que todo o mundo
mercadórias, todas as esferas da produção material, da produçi
das riquezas materiais, são submetidos, em teoria ou de fato,
modo de produção capitalista... Podemos então dizer que a ca
racterística dos operários produtivos, isto é, dos operários gu
geram capital, é que seu trabalho se realiza em mercadorias, em
" riquezas materiais. E já encontramos assim, para o trabalho p:
dutivo, um segundo carátér secundário distinto de sua caracte
tica determinante e absolutamente independente do conteúdo d
trabalho 17.” : y
Mas essa distorção da mercadoria, pela qual Marx encont
explicitamente o caráter geral do trabalho produtivo como tr
talho que intervém diretamente na reproduçãodos elementos m
teriais da produção, sob as formas sociais sobretudo do capi
lismo, coloca no entanto um problema: é que se, como Marx
observa por outro lado, todo trabalho que intervém diretamt
na produção material tende, sob o capitalismo, a tomar a fo
de mercadoria e a ser subsumido (submetido) ao capital, e

16 Sixiême Chapitre inédit..., p. 387.


1 Histoire des doctrines..., Costes, t. II, p. 210.
238 “AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HoJsE

* contrapartida, na generalização da forma mercadoria sob o capi-


talismo, trabalhos podem tomar a forma mercadoria sem por
isso produzir mais-valia para ocapital. É principalmente o caso
para o trabalho de pintores, artistas, escritores, concretizado em -
uma obra de arte ou livro, isto é, sob forma mercadoria,
quando, de fato, se trata aí de serviços trocados pela renda: Marx
assinala com efeito que produtos podem tomar a “forma preço”
e a “forma mercadoria” sem por isso terem valor. Em outras
palavras, se todo trabalho produtivo capitalista assume a forma
mercadoria, nem toda mercadoria corresponde a um trabalho
produtivo 18,
B) Se está aí a forma destorcida, consegiientemente lacunar,
pela qual Marx opera explicitamente a junção da definição geral
do trabalho produtivo (trabalho diretamente implicado na
pro-
- dução material) e da definição do trabalho produtivo capita
lista,
irei mais além para afirmar que de fato a primeira foi sempre
implicitamente incluída na segunda, o que faz precisamente com
que ela não tenha sido obrigada a intervir como tal. Afastar-me
-ei
então aqui de Terray, o qual, principalmente, ao manter (justa
-
mente) a pertinência da definição geral do trabalho produtivo
para o trabalho produtivo capitalista, verá aí duas definições real-
mente distintas em Marx: o que o levará a tentar vencer a difi-
culdade que surge, “classificando” tipos de trabalhos que seriam
produtivos segundo a determinação geral do trabalho produtivo,
de um lado, e, de outro, aqueles que seriam produtivos segundo
a determinação propriamente capitalista do trabalho, pronto a
ten-
tar restabelecer a articulação “caso por caso”, segundo as situa-
ções contraditórias nas quais se encontrariam, segundo esse ponto
de vista, os diversos agentes. Para só dar um exemplo, aquele
dos
assalariados da circulação: Terray será levado a excluí-los dos
trabalhadores produtivos porque não completariam trabalho pro-
dutivo no sentido da definição geral (não fazem parte do proce
s-
so de produção material), enguanto seriam trabalhadores produ
-
tivos segundo a definição capitalista do trabalho (“pois que
pro-
duzem mais-valia para um capitalista, seja guais forem as origens
dessa mais-valia e o papel desse capitalista 19).
Penso que se trata de um caminho errado. Não somente não
vemos a co-substancialidade da definição geral do trabalho
pro-
dutivo nas análises de Marx sobre o trabalho produ
tivo capita-

18 Le Capital, t. E po tio
O Lerray, ibid. p. 133.
Nova PEQUENA-BURGUESIA E CLASSE (OPERÁRIA 239º

lista, mas, além disso, caímos no mal-entendido que acabo de


assinalar: conceber a determinação geral do trabalho produtivo
como primeira, isto é, válida “em si”, ao lado das formas sociais
que desempenhariam o papel de “suplemento”, enquanto elas cons-
tituem as suas condições efetivas de existência. De fato, a deter--
minação geral do trabalho produtivo não teve a princípio de in-
tervir, como tal, nas análises de Marx sobre os trabalhos improdu-
“tivos capitalistas. Para retomar o exemplo dos assalariados da
circulação, não tivemos de fazer intervir, como tal, a definição:
geral do trabalho produtivo (a saber, o fato de não dependerem
diretamente de um processo de produção material): se estes não:
são produtivos, é porque, segundo a determinação capitalista do:
trabalho produtivo e conforme o ponto de vista do capital social,
não criam mais-valia. Vale dizer que isso é “insuficiente” e que:
seria necessário lhes “adicionar” a determinação geral do trabalho.
produtivo, que iMarx teria esquecido no caminho, ao falar do-
trabalho produtivo capitalista?

Não se trata disso: apesar das formulações ambíguas de Marx,


sua determinação capitalista do trabalho produtivo (criador di-
reto de mais-valia) já inclui a determinação geral, tal qual existe
no modo de produção capitalista. Em outras palavras, se essa de-
terminação geral não interveio, é porque já se encontrava pre-
sente em essência. Marx nos dá, nas Teorias da mais-valia, a ra--
zão disso, ao referir-se à reprodução ampliada docapitalismo: é
que, nessa reprodução, todo trabalho que intervém diretamente
na produção material tende, estando realmente subsumido (sub--
metido) ao capital, a se tornar produtor direto de mais-valia: “A
medida que caminha a submissão do conjunto da produção ao
capital... é claro que os trabalhadores improdutivos, cujos servi-
gos são trocados diretamente pela renda, não realizam mais, para.
a maior parte dentre eles, do que serviços pessoais e não produ-
zem mais do que uma ínfima porção dos valores de uso mate--
riais... Por isso, somente uma parte inteiramente insignificante
desses trabalhadores improdutivos pode, no modo de produção
capitalista desenvolvido, estar imediatamente engajada na pro-
dução material 20,”
Em outras palavras, falar de trabalho produtor de mais-valia.
é falar do processo de produção material na sua existência e re-

20 Histoire des Doctrines..., t. IL, pp. 210 sq.


ligne,
odução capitalista. A subsunção (submissão) real do processo
| trabalho ao capital, isto é, sua reprodução ampliada (que há.
ue distinguir de sua subsunção formal, contém, e reúne dire- .
amente, a definição geral do trabalho produtivo, pois ela nada
mais é do que a forma desta última na reprodução capitalista
do trabalho.

HI

Estas últimas observações assumem sua importância, na me-


“dida precisamente em que a discussão marxista em torno do tra-
“balho produtivo foi amiúde exclusivamente calcada no valor de
“troca, negligenciando o processo de produção material. Assina-
Jemos agora uma consegiiência prática, que concerne principal-
“mente ao exame do papel da “ciência” e de seus diversos “por-
tadores” no processo de produção material, e na criação da
mais-valia. :
Com efeito, se o relacionamento do trabalho produtivo e do
rocesso de produção material, que de fato está implicado no |
exame de todo trabalho produtivo, deve ser feito explicitamente |
o caso da “ciência” e com uma insistência particular, isso se |
deve à expansão que tiveram atualmente as diversas ideologias
referentes ao papel da “ciência” no processo de produçãoatual:
supõe-se que esta intervenha cada vez mais “diretamente” como
tal, no processo de produção — “a revoluçãocientífica e técnica”
“supondo-se que o conjunto dos “portadores da ciência”, em
m sentido amplo, faça parte dos trabalhadores produtivos e
pertença, então, à classe operária. É principalmente o caso 'de
Radovan Richta, para quem, “no decorrer das alterações bruscas
atuais da produção, a ciência se torna a força produtiva central
a sociedade e praticamente o fator decisivo do crescimento das
forças produtiva . :
Voltaremos aos pressupostos dessas concepções, principal- .
mente aquele da ciência como força neutra nas suas relações com .
as forças produtivas, concebidas de forma puramente tecnicista.
“Mas as análises acima, referentes ao trabalho produtivo, já per
item, antes de qualquer outra consideração, limpar o terreno.
Elas implicam desde já a necessidade de uma distinção importan-

21 Richta, La Civilisation au carrefour, 1969, p. 17. Ver a crítica


essas concepções no Cahiers du cinéma, n.º 2423, janeiro de 197
A PEQUENA-BURGUESIA E CLASSE OPERÁRIA

te entre os “portadores da ciência”: aquela que existe entre


“pesquisa” e a “produção e difusão de informações” (a “info
mática”) e seus agentes, de um lado, os engenheiros e técnico,
que intervêm diretamente em um processo detrabalho materic
“por meio, indiretamente, do trabalhador coletivo produtivo, d
outro. O caso destes últimos apresenta certas particularidade:
Mas as análisesanteriores são suficientes para excluir claramei
te o trabalho dos primeiros do trabalho produtivo capitalist
Com efeito, mesmo que o capital submeta de fato a suas exigên
cias o conjunto do trabalhocientífico, alistando, na expressão d
Marx, a ciência “para o seu serviço” (não há, nesse sentido, ciên
cia “neutra”), e mesmo que o papel das inovações técnicas as:
ma atualmente uma função mais importante do que no passad
(exploração “intensiva do trabalho), isso não é suficiente par
transformar o trabalho dos primeiros em trabalho produtivo. Se
trabalho, atualmente não mais do que no passado, não intervé
diretamente no processo de produção material. A ciência, noci
pitalismo, permanece separada dos trabalhadores diretos (“ciên-
cia independente... do trabalho”), e intervém nesse proce
não como tel, mas, como diz Marx, pelas suas “aplicações tec
lógicas”; incorporando-se a um ou outro dos fatores do proce
de trabalho material, força de trabalho ou meios de produção
Esse trabalho de pesquisa ou de produção de informaç:
não é assim um trabalho que produz mais-valia. Não são a
os agentes desse trabalho que produzem, no sentido própri
ciência: esta, não sendo localizável em umprocesso delimitad.
no tempo e no espaço, envia finalmente ao trabalho e à experiê:
cia inumeráveis trabalhadores diretos, engajados, estes sim, n
processos de trabalho materiais mais diversos, mas separados
“pesquisa”. Esse trabalho permanece improdutivo mesmo queset
produtos assumam a forma-mercadoria (patentes, licenças) e
nham um “preço”, pois, tanto como uma obra de arte, nãopri
duzem, como tais, valor: esses “produtos” científicos não são r
produzíveis como tais 28. Isso não impede que esses agentes po
sam trazer a mais-valia a um capitalista individual, quando p'
cipalmente, como é a tendência notada atualmente, este inve
diretamente nesse domínio, transformando tais agentes em a:
Jariados (sociedades de software e de engineering, por exemph
ao ponto de vista do capital social, só se trata aqui de tra

22 Le Capital, t. II, pp. 49 sq., 58 sq.


23 Ver igualmente, neste sentido, Janco e Furjot, Informatique
Capitalisme, 1972, pp. 72 sq. e a nota de Bettelheim.
e
ias de mais-valia. Enfim, o fundo do problema permanec
ável quando esse trabalho e as atividades que lhe são liga-
as têm lugar no seiodas próprias empresas industriais, o que
e dá com freqiiência na fase atual de concentração (cerca de
França
dois terços do pessoal científico trabalham atualmente na
as
no seio das empresas), da mesma forma que as atividades ligad
das
à circulação e à realização da mais-valia nãosãotransforma
em trabalho produtivo quando têm lugar no seio do quadro ins-
titucional de uma empresa industrial. pa
HL OS COMPONENTES POLÍTICOS E.
IDEOLÓGICOS DA PEa

Acabamos de ver aso propriamente e


cas de classe da nova pequena-burguesia em relação ao 1

marcam as fronteiras que a separam da classe operária.


Masa determinação estrutural de classe estende-se ig
te às relações políticas e ideológicas que cercam seu luga:
conjunto da divisão social do trabalho. A. referência a ess
“ lações é aqui, com nc duplamente importante:
Lo us relações econômicas da ordemda distinção entre
balho produtivo e trabalho improdutivo sãoinsuficientes p
“delimitar as próprias fronteiras de classe entre, de um lad
classe operária e, de outro, certas imprecisões dessa nova
na-burguesia, imprecisões essas que estão diretamente implic
“em um processo de produção material: é o caso dos superv
“do processo de trabalho e dos engenheiros e técnicos.
2. Essas relações políticas e ideológicas são.d
igualmente, para os conjuntos já analisados da nova pequen
guesia cujas. relações econômicas e a distinção trabalho pr
dnunida no entanto, ai clarament

no seu.pertencimento comum de o (nova pequena-


sia), em suas relações com a pequena-burguesia tradiciona:
fim no fracionamento da nova pequena-burguesia em funç
É poleranção que a die ;
ho de Direção e de Supervisão
questão da.
* Comecemos pelo primeiro ponto, que remete à
limi-
anização do próprio processo do trabalho produtivo: vou
ar-me, primeiramente, à questão do pertencimento de classe de
, ao
ertos agentes, tais como, por exemplo, os “contramestres”
de dire-
m de apresentar o problema teórico geral do “trabalho
mais
ão e de supervisão”, que tem de fato uma dimensão bem
ulação
pla. Encontra-se aqui, diretamente, O problema da artic
a
ntre as relações de produção e o processo de trabalho sob
manufaturei-
orma da relação entre divisão técnica — “divisão
do traba-
a” é o termo preciso de Marx — e a. divisão social
tão da arti-
ho, que é somente a forma em, que se coloca a ques
lho produtivo
ação entre trabalho produtivo em geral e traba
lho. Po-
italista na própria organização do processo de traba
tais que.
lemos ainda uma vez resumir as proposições fundamen
a :
egeram o conjunto de nossasanálises: |
l au-
“1. O processo de trabalho não existe em si como níve ais
sempre sob formas soci
rm culado a relações de produção
produção sobre o
terminadas: é a dominação das relações de
a forma de
ocesso de trabalho que confere à sua articulação
processo de produção.
alho, é a di-
2. Na própria organização do processo de trab
relações de
osocial do trabalho, diretamente dependente das
odução, que domina a divisão técnica. .
nte às con- |
3. A divisãosocial do trabalho remete diretame ais
lasses soci
s políticas e ideológicas de determinação dasc
social do traba-
de sua reprodução. Sob sua, forma de divisão
ela remete direta-
ho no próprio seio do processo de produção,
tais como exis-
ente a essas “condições” políticas e ideológicas
-
tem neste processo.
pam OS lu-
4. Se nos reportamos agoraaos agentes que ocu
social do tra-
res das classes sociais, diremos que é a divisão
seu lugar na
balho no seio do processo de produção que domina
divisão técnica do trabalho. A

s
Essas observações são, pois, particularmente importante
pro-
ara a análise de certos trabalhos diretamente implicados no
so de produção material e de criação de mais-valia. Elas per-
esclarecer as análises de Marx, principalmente sob
abalho de direção e de supervisão no processo de produçã
Afirmo desde já que essas análises apresentam determinadas am
“bigiiidades, na medida principalmente em que Marx examin:
“separadamente” o aspecto de divisão técnica e o aspecto de
visão social, não mostrando sempre como a primeira se articul
com a dominação da segunda. Inútil iludirmo-nos sobre o fa >».
de que essa ambigiiidade, prendendo-se em larga escala à ordem
da exposição de Marx, prende-se igualmente a escórias “econo:
mistas-tecnicistas” presentes em sua obra, encontradas em toda
uma série de problemas, e sobre as quais aqui não insistiremos:
mas o marxismo não é um dogma estereotipado, e sabemos, pri
cipalmente, que a revolução cultural proletária na China perm
tiu, a tal respeito, avançar de forma decisiva.

No entanto, convém reter as análises de Marx sobre a “dupl


a
natureza” do trabalho dedireção e supervisão (de um lado... «
outro lado...) e a importância queatribui à divisão social
do tra-
balho:
: o
“O trabalho de supervisão e de direção aparece,
necess
mente, todas as vezes que o processo de produção imedi
ato t
a forma de um processo socialmente combinado e
que não é
trabalho isolado de produtores independentes. Mas
possui u
dupla natureza. a
“De um lado, em todos os trabalhos para
os quais mui
indivíduos cooperam, a conexão geral e a unid
ade do process
exprimem-se necessariamente em uma vo
1

cesso de produção é
de consumo da força
e
ecto, ele corresponde aos “falsos custo
italista .
Recologuemos essas análises no contexto das relações de pro
ução capitalistas. O lugar do capital é aí caracterizado, de for
a específica em relação aos outros modos de produção, pelo
to de acumular ao mesmo tempo a propriedade econômica
dos meios de produção e sua posse: os trabalhadores diretos —
.os operários — são inteiramente separados, e mesmo despossuí
os, de seus meios € objeto de trabalho. Na divisão social capi-
talista do trabalho, Marx nos dirá que a direção do processo de
-abalho tende a se tornar “função do capital”, e que o capital,
“submete inteiramente. Isso não é produzido pelo acaso: é que,
ob as relações de produçãocapitalistas (propriedade e posse de-
ndendo do capital), a organização do conjunto do processo
c
e-trabalho é dobrada às exigências do capital. A separação
espossessão dos trabalhadores dos meios de produção, figura de
ua exploração capitalista, significa que não existe divisão e co
denação das tarefas. correspondendo a necessidades puramente
cnicas” da “produção”, e existindo como tais. O trabalho de
ão e de supervisão capitalista não é uma tarefa mais técnica
que a divisão do trabalho no próprio seio da classe operária,
incipalmente o trabalho parceiro, não é o efeito do “maqui-
mo” e da “grande indústria” como tais, mas O efeito de sua
istência capitalista.
É desta dominação da divisão social do trabalho sobre a di-
o técnica que depende a organização particular do trabalho
“Se,
pitalista, que Marx designa como despotismo da fábrica:
rtanto, a direçãocapitalista, no que tange ao seu conteúdo
m uma dupla face, porque O próprio objeto daquilo que se
ata de dirigir é, de um lado, processo de produção cooperativo
de outro lado, processo de produção de mais-valia, a forma
dessa direção torna-se necessariamente despótica. As formas par
iculares desse despotismo desenvolvem-se na medida em ques
desenvolve a cooperação 2.” Aqui também, Marx parece fazer
mesma coisa — de um lado... de outro — nesse despotismo
para a socialização das “forças produtivas” e nara a extração d
“mais-valia (nas relações de produção). Na última frase, ele pa
rece mesmo atribuir uma importância decisiva ao primeiroele
mento, insistindo na relação entre o desenvolvimento do despo
tismo e aquele da cooperação. De fato, não se trata disso, €
o que pode ser notado na citação precedente sobre a direção e.
2 Le Capital, t. II, p. 24.
“atinge seu máximo no sistem:
”, onde a “socialização das forças produtivas” é, nc
entanto, bem menos desenvolvida do que no capitalismo.
Em suma, o despotismo da fábrica constitui precisamente
figura da dominação da divisão social do trabalho sobre a divi
“são técnica, tal qual existe no capitalismo. Esse trabalho de di
: reção e de supervisão capitalista é a reprodução direta, no pró
jo seio do processo de produção, das relações políticas entr
Jassecapitalista e a classe operária. É

O que é então a determinação de classe dos agentes cu


função essencial traz o selo desse trabalho de direção e de su
pervisão, tais como os contramestres e outros “suboficiais da pro-
dução”? Apresentar essa determinação sob a forma de um duplo
- pertencimento de classe, referindo-se à “dupla natureza” de se
trabalho, e dizer que fazem parte da classe operária (traball
produtivo) na medida em que efetuam o trabalho necessário.
todo processo cooperativo de um lado, e, deoutro, quenão faze
parte na medida em que realizam as relações políticas de expl
ração, é falso na medida em que são se apreende, e
seu lugar, a articulação da divisão técnica e da divisãosocial do
trabalho sob a dominação desta última. Essaanálise não ser
menos falsa se a aplicássemos aos próprios capitalistas, pois
dirá igualmente: “Sabendo-se que ele representa o capital pr:
““dutivo engajado no processo de valorização, o capitalista pree:
che uma função produtiva, que consiste em explorar o trabalr
produtivo... Comodirigente do processo de trabalho, o capi
“lista pode efetuar o trabalho produtivo, no sentido em que
“trabalho, sendo integrado no processo de trabalho total, se.
carna no produto.” Mesmo que não possamos falar, no entan
de um duplo pertencimento de classe para os próprios capitali

3 Marx dirá assim, a propósito da “grande indústria (reproduç


ampliada do capital): “Em todos esses casos, os produtores perdem su
autonomia, tendo a instauração do modo de produção especificament
“capitalista por resultado um regime de dominação e de subordinação
seio do processo de produção” (grifo de Marx), Chapitre inédit, trad
cão francesa de Dangeville, p. 207. Trata-se então “aí de relações pol
ticas, mas de relações políticas tal como existem e se reproduzem
Processo de produção: estas não se identificam áâguelas, que se estabe
lecem em torno e no seio do Estado e de seus aparelhos, local princi,
das relações políticas. :
“tas (operário e capitalista), não o podemos fazer para esses
ER
De fato, esses agentes não pertencem à classe operária, pois
sua determinação estrutural de classe, e o lugar que ocupam na.
divisão social do trabalho, estão marcados pela dominância das
relações políticas que realizam sobre o aspecto trabalho produtivo
“na divisão do trabalho. Sua função principal consiste em extrair
a mais-valia aos operários — para “coletá-la”. Eles exercem po-
deres que decorrem do lugar do capital, capital que açambarca
a“função de direção” do processo de trabalho, poderes que não.
são forçosamente exercidos pelos próprios capitalistas: “O capi-
talista começa por dispensar o trabalho manual. Depois, quan |
o seu capital cresce, e com ele a força coletiva por ele explorada,
- demite-se de sua função de supervisão imediata e assídua dos
d operários e dos grupos de operários e a transfere para uma espé
“cie particular de assalariados 4.”

“Mas, de outro” lado, é preciso distinguir esses executantes dos


“empresários”. No desenvolvimento do capitalismo monopolista,
“esses “empresários” podem exercer os poderes decorrentes das
relações de posse — domínioe direção de um processo de trabalho
— mas igualmente alguns daqueles que decorrem da relação de.
* propriedade econômica, exercendo, aliás, diretamente esses pode
res no vértice: eles ocupam então o próprio lugar do capital,
pertencendo como tais à burguesia. Emcompensação, os agentes.
de que se trata aqui são dominados pelo capital, não passando.
de executantes subalternos. Esses agentes subalternos são igual-.
mente, em face do capital, explorados: eles também fornecem
o sobretrabalho, isto é, o trabalho em parte não-pago (falsos
os. e vendem sua força de trabalho, enquanto a remunera-
ção dos empresários depende, essencialmente, do lucro da em
= presa. à
Essa questão de barreira de classe entre os agentes que pre-
enchem tarefas de direção e de supervisão do processo de traba-
lho é indiretamente marcada pelos próprios termos de Marx
“trabalho de direção e de supervisão”. Esses termos conjugados|
não poderiam remontar a uma distinção clara entre tipos de.
trabalho, pois todo trabalho de direção é ao mesmo tempo um.
“trabalho de supervisão e vice-versa (daí a conjunção), porém
remetem implicitamente a uma diferenciação na divisão social.

É Ee Capitol, t Hp. 24:


BURGUESIA 249
DETERMINAÇÃO DE CLASSE DA Nova PEQUENA-

instâncias subalternas
“do trabalho, entre instâncias dirigentes e são”).
” e “supervi
(daí a dualidade dos termos “direção radical-
Lembremos enfim, se necessário for, o que separa
institucionalista-fun-
mente essas análises daquelas da corrente
de autoridade. As rela-
cionalista e de seus conceitos de poder e nte
ções (rapporis) políticas em questão são aqui analisadas some
diversos
como lugares na divisão social do trabalho, ficando os
dos às relações
poderes daí decorrentes constitutivamente liga
. O despotismo de
(relations) nas relações (rapporis) de produção
ticas na repro-
fábrica constitui a configuração das relações polí
dução ampliada das classes sociais, no próprio seio do lugar em
oração: os
que se estabelecem as relações de produção e de expl
poderes daí decorrentes não dependem em nenhum sentido das
relações “organizacionais” no seio de uma “empresa” enquanto
articula-
“instituição”. A empresa capitalista nada mais é que à
ção das relações de produção, das relações políticas e das rela-
ções ideológicas no seio de uma unidade de produção como cen-
tro de apropriação da natureza e de exploração.

2. A Divisão Trabalho Manual/Trabalho Intelectual: os


Engenheiros e Técnicos da Produção

I ,

Chegamos assim à questão das relações ideológicas na divi-


são social do trabalho no seio da-produção material, e de sua
articulação nas relações políticas: significa engajar o problema
da divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual, que va-
mos examinar, primeiramente, na determinação estrutural de
classe dos engenheiros e técnicos diretamente implicados na pro-
dução material. Mas a divisão trabalho manual e trabalho inte-
lectual ultrapassa de longe seu único caso, e refere-se de fato
ao conjunto da nova pequena-burguesia em suas relações .com
a classe operária.
De fato, a teoriaimarxista manifestou durante muito tempo
um certo “mal-estar” com respeito à questão da divisão entre
trabalho manual e trabalho intelectual. De um lado, os clássicos
do marxismo sempre enfatizaram quer (Marx, Engels) o papel
decisivo dessa divisão na “aparição histórica” da divisão das clas-
ses, quer (Léitin, Mao) a relação estreita entre a abolição da
divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual e a supres-
são da exploração de classe, e mesmo a divisão da sociedade em
É
É
HoJE
|
250 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE
E
E
divisão entre trabalho
classes. De um outro lado, entretanto, essa
e ocultada todas as
intelectual e trabalho manual é aparentement
classe em uma
vezes que se trata de definir a determinação de
estamos
formação social, principalmente capitalista. É claro que
novamente
diante de um problema muito importante, que foi
rmos em conta
proposto na revolução cultural chinesa: se leva
trabalho ma-
agora a importância decisiva do avanço da divisão
nos podemos
nual/trabalho intelectual no caminho socialista, não
r a questão
doravante contentar com simples afirmações, e evita
das classes
do papel exato dessa divisão na própria determinação
de uma formação capitalista. É
vem
Direi sucintamente que a própria base desse “mal-estar”
são tra-
primeiramente do fato de que, para O marxismo, a divi
luta ment e a
balho manual/trabalho intelectual não destaca abso
no modo de
divisão trabalho produtivo/trabalho não-produtivo
de Marx
produção capitalista. As mumerosas análises esparsas
dor coletivo
parecem claras nesse sentido: referem-se ao trabalha
capitalista:
produtivo no próprio desenvolvimento da produção
o real do tra-
“Dada a medida em que se desenvolve a subsunçã
cificamente
“balhosob o capital, isto é, o modo de produção espe
cada vez
capitalista, não é mais O trabalhador individual porém,
a que se
mais, uma capacidade de trabalho socialmente combinad
e que
torna o funcionário real do processo de trabalho coletivo;
à for-
“as diferentes capacidades de trabalho que concorrem para
, de
mação da máquina produtiva no seu conjunto participam
das
maneira muito diferente, no processo imediato de produção
pre-
mercadorias. .., um de preferência com sua mão, o outro de
, téc-
ferência com sua cabeça, um como empresário, engenheiro
al
nico, o outro como supervisor, o terceiro como operário manu
direto..., um número crescente de funções das capac idade s de
-
trabalho arruma-se sob o conceito imediato do trabalho produ
tivo e seus portadores sob o conceito do trabalhador produtivo,
sso
diretamente explorado pelo capital e subordinado a seu proce
de valorização e de produção º.” Para definir então o trabalha-
a
dor produtivo capitalista “é totalmente indiferente saber se
do
função do trabalhador individual, que é somente um membro
trabalhador coletivo, está mais afastada ou mais próxima do tra-
balho manual imediato”... “para ser produtivo, não é mais ne-
cessário colocar individualmente sua própria mão no trabalho,
é suficiente ser um órgão do trabalhador coletivo 8...”

5 Sixiôême Chapitre inédit..., ed. Pléiade, op. cif., PP. 388 sq.
Bo Le Cópital, ti IE polos.
DETERMINAÇÃO DE CLASSE DA NOVA PEQUENA-BURGUESIA 251

Essas análises de Marx foram diretamente empregadas pelos


fim de es-
defensores da “nova revolução científica e técnica”, a
tender as fronteiras da classe operária aos novos conjuntos de.
engenheiros, técnicos etc. Isso nem sempre foi feito da mesma
forma, mas a base permanece a mesma: de Richta ao “novo
bloco histórico” de Garaudy, passando pela “nova classe operá-
ria” de Mallet, às teses atuais do PcF sobre o capitalismo mo-
nopolista de Estado. Estas últimas teses apresentam-se de um
modo muito mais matizado, mas introduzindo uma distinção de
fato inexistente em Marx: aquela entre trabalhador coletivo &
trabalhador produtivo”. Supõe-se que esses agentes façam parte
do trabalhador coletivo sem fazerem — ainda não nos foi pre-
cisado — parte do trabalhador produtivo: surgem, enquanto
quase-operários, como uma dessas famosas camadas antimonopo-
listas de que o pcr detém o segredo. Inútil repetir, outros já o
mostraram suficientemente, que são com fregiiência, de fato, na
prática do pcF e da cor, assimilados à classe operária.
Ora, por muito tempo o debate ficou centralizado em torno
da questão de saber se, sim ou não, esses agentes cumpriam “tec-
nicamente” o trabalho produtivo. Os pressupostos ' desse debate
eram aqueles: a) de uma redução economista-tecnicista do pró-
prio conceito do processo de produção como processo neutro, €
em si; b) da ciência e da tecnologia como forças neutras corta-
das de suas condições políticas e ideológicas; c) de uma redução
economista da determinação de classe desses agentes, como se o
caráter de seu trabalho como trabalho produtivo capitalista bas-
tasse, independentemente de suas determinações políticas e ideo-
lógicas, para que pertencessem à classe operária.
Desses pressupostos decorre a conclusão a que infalivelmen-
te se chega: a aparição do trabalhador coletivo produtivo, fazen-
do “portadores da ciência” dos operários (trabalho' produtivo),
conduziria a um avanço, pela famosa “socialização” do trabalho,
da divisão trabalho intelectual-trabalho manual. É aqui que se
implanta precisamente toda a verborréia atual sobre a automa-
ção como avanço dessa divisão.

Essas análises são inteiramente falsas. Se nos referirmos,


com efeito, aos numerosos textos de Marx sobre esse assunto,
perceberemos perfeitamente que, apesar de certas ambigiúidades,
———e

T Traité... le capitalisme monopoliste d'Etat, op. cit., t. I, pp. 211 sq.


1) éa socialização (cooperação ampliada) dos processos de
4
"abalho.sob o capitalismoqquefazemergir o trabalhador coletivo

é essa mesma socializaçãoque, ao mesmo.tempo, apro-


fundaa divisão trabalho intelectual/trabalho manual.
Trata-se, pois, sempreem1 Marx da Fouia Renda do

e

ição alemã. Essa passagem é diga de nota, pois mostra como
Marx Cana emum e mesmo movimento da exposição, os dois

o processo do trabalho foi até aqui considerado abstrata-


sob sua forma mais simples.. - como processo entre. o

trabalho capitalista. “Vamos examinarisso maisdeperto.


“Tanto tempo“quanto o processo de trabalho seja puramente
ividual, ele próprioreúne funções que, em seguida, se sepa
am... como em um sistema natural a cabeça e a mão estão.
1s, O processo de trabalho reúne o trabalho manual e o tra:
alho intelectual. Mais tarde, estes se separam em uma contra:
ção aniagônica (feindliche Gegensatz). O produto se transfor
a de um produto imediato dos produtores individuais em um
produto social e comum do trabalhador coletivo, isto é, de um
“contingente de trabalho combinado cujos membros participam
e perto ou de longe, do manuseio da matéria. Com o caráte:
“cooperativo do processo de trabalho, o conceito dotrabalho pro-
dutivo e de seus portadores necessariamente se amplia É
“alguém seja produtivo não émaisnecessário metera p priamã
ja obra: basta serumirmãodotrabalhadorcoletivo*o

o “MEW, t. 23; pp. “So, Assinalo que |esse Ro da Saias ori-


al difere daquele da tradução francesa por J. Roy (t. II, p. 183,
. Sociales) em umponto decisivo: é que a frase: grifada por mi
tarde, estes se separam em uma contradição antagônica” foi pur
DETERMINAÇÃO DE CLASSE DA NOVA PEQUENA-BURGUESIA 253

Esse texto é digno de nota, pois, em um único e mesmo mo-


vimento de exposição, e em um único é mesmo parágrafo, Marx
assinala: a) que os portadores do trabalho intelectual têm ten-
dência a fazer parte do trabalhador coletivo produtivo, mas b)
que, ao mesmo tempo, também pelas mesmas razões (socializa-
ção capitalista), o trabalho intelectual se separa em uma “con-
tradição antagônica” do trabalho manual. Como entender essa
“contradição” entre portadores desses trabalhos (intelectuais/ma-
nuais) separados no próprio seio do trabalho produtivo? Eis aí
toda a questão.

É necessário, assim, examinarmos mais de perto a divisão


trabalho manual/trabalho intelectual, pois ela está de fato no
centro do problema. Adianto desde já a tese principal a esse res-
peito: essa divisão trabalho intelectual /trabalho manual não so-
mente se limita a uma divisão técnica do trabalho, mas constitui
de fato, em todo modo de produção dividido em classes, aex-
pressão concentrada da correspondência das. relações políticas e
ideológicas (pdlítico-ideológicas nessesentido) na sua articulação
com as relações de produção: isto é, tais como existem e se re-
produzem, sob a configuração precisamente de sua correspondên-
cia (político-ideológicas), no próprio seio do processo de produ-
ção e, mais além, no conjunto da formação social. Essa divisão
trabalho intelectual/trabalho manual assume formas específicas
no modo de produção capitalista, caracterizado pela “separação”
toda particular dos dois.

Isso exclui, antes de tudo, qualquer tentativa de apreender


a divisão trabalho manual/trabalho intelectual, e o próprio con-
teúdo desses termos, por critérios gerais que se tornam forçosa-
mente, nesse caso, critérios empíricos inadequados: principal-
mente critérios descritivos de ordem biofisiológica — “gestos na-

ER
e simplesmente 'pulada no texto francês. O que dá precisamente a im-
pressão de que a aparição do “trabalhador coletivo produtivo” signifi-
caria o avanço, em um “momento” da produção capitalista, da separação
trabalho manual/trabalho intelectual. Incompetência de J. Roy ou sinal
das ambigiiidades do próprio texto de Marx, que' revisou pessoalmente
a tradução francesa?
HoJE
254 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE

alho das “mãos”,


turais” e “pensamento” — ou do gênero: trab
as”, aqueles
e trabalho da “cabeça”, “mãos sujas” e “mãos limp
cam etc.
que colocam a “mão na massa” e aqueles que nãoa colo
O que permite aqui tirar todas as conclusões da proposição:
l
segundo a qual a divisão trabalho manual/trabalho intelectua
não destaca a distinção trabalho produtivo/trabalho não-produti-
esta-
vo. Se ela não a destaca é que ela não depende do mesmo
tuto: não é suficiente dizer, como para a distinção trabalho pro-
s |
dutivo/trabalho não-produtivo, que ela só existe sob condiçõe
políticas e ideológicas determinadas — tais ou quais —, pois ela
é apenas a configuração concentrada dessas condições. De fato,
embora encontremos em Marx uma definição geral de trabalho
produtivo e improdutivo, cujo estatuto examinamos, não encon-
al e
tramos nenhuma, da mesma ordem, para o trabalho manu
to-
intelectual, mas simples frases descritivas. Bem ao contrário,
das as vezes em que Marx dá a própria definição geral do tra-
balho produtivo como trabalho que intervém diretamente no pro-
ela
cesso de produção material, toma o cuidado de precisar que
mos,
não se identifica ao trabalho manual, de que não encontra
por oposição, nenhuma definição geral (aliás, o trabalho inte-
lectual não se reduz absolutamente, em Marx, ao que ele desig-
de
na como produção imaterial). Mais ainda: quando Marx fala
-.
um trabalho produtivo determinado, é ainda sempre para acen
tuar que ele não destaca o trabalho manual, seja porque, nos
va
modos de produção pré-capitalistas, o trabalho intelectual esta
diretamente presente no trabalho manual — não estava por isso.
ls
“separado”, mas sabemos por outros textos de Marx e Enge
que a divisão trabalho manual/trabalho intelectual existia aí real
smo, |
mente —, seja porque o trabalho intelectual, sob o capitali
do
pode fazer parte do trabalhador coletivo. Ora, se, vista ao lado
definição
processo de produção e do processo de trabalho, tal
sso;
geral não existe, é precisamente porque, quanto a esse proce
nte a con
a divisão trabalho manualtrabalho intelectual é some
figuração das condições políticas e ideológicas desse processo
nesse mesmo processo. ;
equências:
Retenhamos por enquanto essas análises cujas cons
ão tra
aparecerão claramente em seguida: a reprodução da divis
considera-
balho manual/trabalho intelectual cobre um domínio
velmente mais extenso do que aquele que é apreendido descri-
tivamente pelas expressões “mãos sujas” e “mãos limpas”, €
assume formas muito mais complexas.
próp:
A divisão trabalho manual/trabalho intelectual, e seu
produção determ
conteúdo, dependem então de um modo de
“do. Que dizer do modo de produção capitalista, ecomo a.
seral que acabamos de adiantar se verifica, em particular
o
caso dos engenheiros e técnicos?
As principais análises de Marx referentes à divisão ca;
am-se
lista do trabalho manual e do trabalho intelectual situ
aq
contexto da análise da socialização capitalista do trabalho,
do maguinismo e da grande indústria, e estão diretamente
das à famosa questão do trabalho parceiro (trabalho sim
trabalho complexo). Sabe-se que essas questões foram com
quência consideradas como ligadas a uma necessidade puram
técnica da “grande indústria” como tal, enquanto estão lig
à sua forma capitalista: o próprio Lênin nãoé, aliás,
"ambigiúidades graves nesse sentido, principalmente em suas
ciações referentes aos aspectos técnicos “positivos” do tay
mo, aspectos aplicáveis, segundo ele, na “empresa” socialista.
fato, o maquinismo e a grande indústria constituem para
depois do estádio da manufatura, que é aforma de tran
feudalismo para o capitalismo (subsunção — submissã
mal do trabalho ao capital), a forma precisa da reproduçã
pliada das relações de produção capitalistas (subsunção
missão — real do trabalho ao capital). A divisão capit:
trabalho manual/trabalho intelectual está assim diretament
gada à especificidade dessas relações, principalmente à ser
ção e despossessão do produtor direto de seus meios de pr
ção, tal qual sé reproduz pela subsunção real do trabalh
capital: “As forças intelectuais da produção desenvolvem-se
único lado porque desaparecem de todos os outros. O que os
rários parceiros produzem concentra-se diante deles no ca
A divisão manufatureira lhes opõe as forças intelectuais da
dução como a propriedade de outrem e como poder que os
mina. Essa cisão... completa-se... na grande indústria que
da ciência uma força produtiva independente do trabalho
alista a serviço do capitalº.” Para acentuar a forma pa
mente importante que assume assim essa divisão capitalista,M.
chegará adizer: “É próprio do modo de produção capit
parar os diferentes trabalhos, e portanto também os tra
manuais e intelectuais...” . fu
9 Le Capital, t IL p. 50:
Nessas análises, Marx começa por colocar inicialmente em
ção o trabalho intelectual e a ciência, ambos estando “sepa-
s” do trabalhador direto e opostos a ele. Como podemos
contrar por esse meio, na determinação de classe dos enge-
iros e técnicos, as relações políticas E Rena

l.
assunto é muito vasto e ndaque“entremos” aqui
o fundo do problema. Digamos simplesmente que a. “ciência”
mquestão, apropriada pelo capital, não é encontrada jamais
de forma pura ou neut “sobsua forma de apro-
riação pelaclasse dominante, istoé, sobformade saberestrei-
e imbricado na “ideologia dominante. É o mesmo caso que
“designa como “pesquisa fundamental”: é a ciência como tal
que está submetida às condições sociais, políticas E ideológicas
sua constituição, e não somente suas “aplicações tecnológi-
as”; tanto mais que não existe separação essencial, ao menos |
epois da revolução industrial (maquinismo e grande indústria),
ntre ciência e técnica. Mas as coisas vão, no entanto, mais além,
no caso dos engenheiros e técnicos, trata-se precisamente
aplicações tecnológicas” dos conhecimentos científicos ao
esso de produção material, é o desenvolvimento maciço desse
ecto que condiciona atualmente a extensão desse. conjunto de |
gentes. Essas aplicações tecnológicas da ciência estão a serviço
reto da produção capitalista, no sentido em que servem ao de-
volvimento das forças produtivas capitalistas, pois as forças
utivas só existem dominadas pelas relações de produção.
ssas aplicações estão assim imbricadas nas práticas ideológicas
rrespondentes à ideologia dominante: a própria ideologia do-
xante não existe somente nas “idéias”, nos conjuntos ideoló-
os articulados, mas se encarna e se realiza em toda uma série
práticas materiais, rituais, de habilidades etc., que existem
ualmente no seio do processo de produção. As aplicações tecno-
ógicas da ciência estão imediatamente presentes. aqui c
« omo: ma-
rializaçãoda ideologia dominante.
' Disso podemos tirar uma primeira conclusão quanto à ques-
tão dos ensenheiros e técnicos. Seu trabalho de aplicação tecno-
Ógica da ciência encontra-se situado sob o selo da ideologia do-
inante que eles materializam em seu próprio trabalho “cientt-
co”: eles são assim os portadores da reprodução das relações.
ológicas no próprio seio do processo de produção material
papel nessa reprodução, através da via indireta das aplica
'jes tecnológicas da ciência, a precisamente a conf gura:
“capitalista de uma divisão entre trabalho intelectual e trabal
“manual, que manifesta as condições ideológicas do processo de
produção. capitalista. e
"* De fato, não há nenhuma razão “técnica” intrínseca da
“produção” para que essas aplicações assumam a forma de un
“divisão trabalho intelectual/trabalho manual, enquanto sabemos
de forma pertinente que a ciência é em última análise o: resul.
tado da experiência acumulada dos próprios trabalhadores dir
tos. Certamente, o processo científico não é somente isso: com-
porta um trabalho próprio de sistematização (o “trabalho gera
segundoa fórmula de Marx) e de experimentação científicas i
redutível à “experiência imediata”. Mas é somente sob a form
capitalista que esse trabalho próprio existe na divisão trabalho
“manual/ trabalho intelectual. Essa divisão está assim diretame
ólio do saber, forma deapropriação sed ta

Zogi
“subordinado: daq eles quenãosabem,
berem
Trata-se aí de um aspecto da questão que. Gramscipercebe
muito bem, ao caracterizar esses engenheiros-técnicoscomo int
lectuais mede Lembremos, por enquanto, que, para Grams
“esses engenheiros e técnicos são intelectuais, istoé, “funcionári
da ideologia” segundo seu próprio termo, na medida em que:
uma relação particular com o saber e com a ciência no mc
de produção capitalista, e em queparticipam da divisão capitalis
trabalho manual/trabalho intelectual. Gramsci irá mesmo mi
longe ao considerar a grande maioria dentre eles como intelectu.
orgânicos da burguesia ne q

2. Essas análises conduzem diretamente a uma segunda obse:


vação, que se refere ao próprio conteúdodo trabalho intelectu
capitalista no seio do processo de produção, e que reúne as an
lises precedentes. Se a aplicação tecnológica da ciência está lig
da, sob suas formas ideológicas capitalistas, ao trabalho intel
tual, daí não se segue absolutamente, entretanto, que todotrab
lho intelectual capitalista na produção vá abranger aplicações
melhantes. A divisão capitalista trabalhoVoRRqa

+ - MO: Gramsci, li aellectial e Porganizzazione della cultura, E a


di, 1966, pp. 5 sq. Ver pp. 273 sq. :
: a t o se

ual não é o produto de uma separação ciência-trabalhadores


da se-
tos: essa própria separação só é um dos efeitos parciais
que.
-ão das trabalhadores diretos de seus meios de trabalho,
intelectual e|
condiciona diretamente a relação entre O trabalho
de um.
a reprodução das relações ideológicas capitalistas. Ora,
ciência:
lado, não encontramos nunca aplicações tecnológicas da
da ideo-
comotais, mas constitutivamente ligadas à materialização
logia dominante sob forma das diversas habilidades; por outro
uma |
lado, encontramos igualmente do lado do trabalho intelectual
série de práticas que nada têm que ver com essas aplicações;
dos diversos rituais do “know-how” às “técnicas do empresariado”,
empresa
passando pelas diversas práticas “psicossociotécnicas” da
o
a lista seria longa.
Já se observa o surgimento da questão da articulação das rela
ões políticas e das relações ideológicas na figura dotrabalho inte-
úl
lectual; chamemos a atenção, no entanto, somente para estes
tecno
mos: se essas práticas não têm nada a ver com as aplicações
se
ógicas —mesmo “ideologizadas” — da ciência, elas no entanto
um sabs
egitimam, o que não é por acaso, enquanto investidas de
qui
ue os trabalhadores não possuem. Poderíamos assim dizer
di
ai “para o lado” do trabalho intelectual no próprio processo
rodução capitalista, e de fora de toda apreciação empírico-natu
de
alista de seu “conteúdo”, todo trabalho que toma à forma
porqu
imsaber cujos trabalhadores diretos estão excluídos, seja
acaso),
am fazê-lo mas não o fazem de fato (e ainda não por
mantidos
eja porque não saibam efetivamente fazê-lo (pois são
tematicamente a distância), seja porque não haja aí simplesmen-
à
nada para saber fazer.

* Essa relação entre ideologia dominante e saber, que se ma-


do tra-
nifesta como legitimação do trabalho intelectual, separado
cular ao
balho manual e detendo esse saber, é inteiramente parti
se pren-
modo de produção capitalista e à ideologia burguesa: ela
lucio-
de, essencialmente, à necessidade para a burguesia de “revo
e que Marx
“nar” constantemente os meios de produção, necessidad
os domínios
“analisa no Capital. Essa relação se exprime em todos
icativo:
“da ideologia burguesa. Para só citar um exemplo signif

seio da ideologia burguesa, da região ideológica jurídico


sta — a política, o direito — legitimou-se explicitamente, de M
DETERMINAÇÃO DE CLASSE DA NOVA PEQUENA-BURGUESIA 259

quiavel e Thomas More até em suas conceptualizações ulteriores


(Montesquieu, B. Constant etc.) no modo de técnica científica,
isto é, enquanto fundamentada no modelo das epistemes apodíti-
cas. Ao contrário de um saber legitimado sobre o modo “natural”
ou “sagrado”, este saber é aqui legitimado sob a forma de “práti-
ca científica racional”, e se constitui, no âmbito da própria ideo-
logia jurídico-política, por oposição ao que ele designa como
“utopia”. Isso manifestou-se diretamente pelos efeitos da ideolo-
gia jurídico-política na constituição do corpo dos funcionários e
da “burocracia” centralizada do Estado burguês. A separação toda -
particular trabalho intelectual/trabalho manual que implicava a
constituição do Estado burguês (separação do “público” e do “pri-
vado”) e de seus agentes como corpo “separado” da sociedade,
foi fundamentada no investimento do saber na ideologia jurídico-
política sob a forma de “ciência”.
Mas essa relação entre ideologia burguesa e saber se refor-
ça consideravelmente, ao assumir formas particulares, no estádio
do capitalismo monopolista, marcado pelo deslocamento da domi-
nância, na ideologia burguesa, em direção à região econômica des-
sa ideologia: encontram-se aqui as diversas formas do “tecnocra-
tismo”. Essa relação reforçada encontra-se, de forma invertida,
em certos aspectos de revolta contra essa ideologia, revolta vivida
sobre o modo exatamente oposicional (e sob forma moral), por-
tanto ainda dominada pela ideologia burguesa: o que leva às di-
versas formas de “anticientificismo” naturalista, de retorno “eco-
lógico” às fontes da “natureza” etc.

IV

Mas aí só temos um dos aspectos da questão dos engenheiros


e técnicos, por enquanto apenas concernente às relações ideoló-
gicas. De fato, esses engenheiros e técnicos, inserindo-se, pelas
aplicações tecnológicas da ciência, no processo de produção ca-
pitalista, estão, por isso mesmo, implicados, ao menos na sua
grande maioria, nas relações políticas de direção e de supervisão
do processo de trabalho. :
O que se faz primeiramente de forma indireta, pelas próprias
aplicações tecnológicas, na medida em queelas são precisamente
aplicáveis em um processo capitalista do trabalho que já compor-
ta em si essas relações: uma “aplicação tecnológica” feita para-
ser incorporada no trabalho da cadeia capitalista, já materialista,
poderes implicados pelo trabalho de direção e de supervisão
o seio dessa combinação (capitalista) o trabalho serve a um
ontade e a uma inteligência estranhas: são elas que o dirigem.
A unidade que anima o trabalho existe fora dele. Está subordi-.
nado à unidade material que existe entre as máquinas, está sub-
“metido ao capital fixo. Este é o monstro vivificado que materiali-
“za o pensamento científico e domina praticamente todo o proces-:
“solt...” Masisso se faz igualmente de forma direta: esses enge-
“nheiros e técnicos estão freqientemente encarregados do traba-.
“lho de direção e de supervisão: controlam diretamente a “eficá-
“cia” do trabalho operário, o cumprimento das normas de rendi-
“mento etc. 12
Além disso, cumprem esse trabalho de direção e de super-
“visão na medida em que se encontram investidos de funções em.
“relação ao saber. Seu trabalho intelectual, separado do trabalh
" manual, representa o exercício das relações políticas no despotis-
moda fábrica legitimadas pelo, e articuladas ao, monopólio
segredo do saber, isto é, à reprodução das relações de dominação
» subordinação ideológicas. É essa articulação estreita que carac
riza o trabalho intelectual dividido com o trabalho manual n
ocesso de produção capitalista. As relações políticas são de fat:
sempre legitimadas e investidas de ideologia dominante, e é ess:
rma de ideologia — relação ao “saber” — que prevalece na
“relações capitalistas no seio do processo de produção. É no
mento, mais do que nunca, o caso na medida em quea legitima:
ão dos poderes na fábrica se desloca de um “saber natura 2d
modelo de direito divino para uma legitimidade técnica.
Se a relação com o saber “separado” dos produtores diretos
comporta então tarefas de direção e de supervisão na fábrica, a
inverso, as tarefas de direção ede supervisão se legitimam pel
a relação com o saber. É certo que podemos sempre evocar O
antigos legionários que controlam militarmente as cadeias da Ci
“troén. Mas não são os casos mais correntes: e não é por acas
“que os agentes das diversas categorias de contramestres, que, n
entanto, têm uma tarefa direta de supervisão, se apresentam, ele,
tembém, como portadores de um saber particular em relação

11 Marx, Grundrisse, t. IL, p. 292 (trad. francesa de Dangeville


col. 10/18).
12 Sobre esse assunto, A. Gorz, “Technique, techniciens et lutte |
“des classes”, em Les Temps modernes, agosto-setembro de 1971, e os tex
; e Ee e apresentados por Gorz, Critique de la division du ;tra
;
* vail, :
ários que controlam. É nessa medida exata que esse traba
“dedireção e de controle, necessário a todo “processo cooperativo
se situa, na divisão social capitalista do trabalho, ao lado do tr
balho intelectual: “A grande indústria mecânica termina enfi
“a separação entre otrabalho manual e as forças intelectuais
produção que ela transforma em poder do capital sobre o trabalho.
A habilidade do operário parece frágil diante da ciência prodig:
sa, das enormes forças naturais, da grandeza do trabalho social,
incorporadas ao sistema mecânico que constituem a força do Pa--
“trão... A subordinação do operário cria uma disciplina de ca
“serna perfeitamente elaborada no regime de fábrica. Aí, o pr
tenso trabalho de supervisão... é empurrado ao seu últim
grau 18," ; E

* que seja exato que, pelas aplicações tecnológicas da


ciência
processo de produção na fase atual do capitalismo
monopoli
“(dominante da mais-valia relativa), tendem cada vez
mais a faze
rte, nas relações econômicas, do trabalho produtivo
capitalist
(trabalhador coletivo produtivo).

dutivas capitalistas, mas a uma destruição dess


as forças produ
vas existentes, principalmente sob a forma capitalist
a de “sul
titu
ição” e de “modernização” dos meios de trab
alho e dos be;
de equipamentos existentes. Isso depende da
luta da burgue

por um lado, e principalmente, em a


mentar a taxa de exploração pela exploraç
ão intensiva do trab
lho (produtividade do trabalho: papel das
aplicações da ciênc
plicações Ja ciência, pois a Hendá, para Se de fazer
do trabalho sai capitalista funciona sempre, ainda.

produtivas iniciadas a ado de produção ie e mais


icularmente, uma parte apreciável dos conhecimentos, das
ompetências e da pesquisa científica e técnica só é “produtiva”
uncional em relação às orientações e às prioridades particula-
| do crescimento monopolista. Uma boa parte desse pessoal
tífico e técnico e uma boa parte dessas pesquisas seriam de.
ca ou nenhuma utilidade em uma sociedade onde a tarefa prio-
ária fosse satisfazer as necessidades sociais e culturais das
1ssas 14”. Seria então cair na definição errônea do trabalho pro-
vobaseado na utilidade (poderíamos dizer a mesma coisa para
operários das indústrias de luxo ou de armamentos). E
Então, esses técnicos e engenheiros têm tendência a fazer.
do trabalho produtivo capitalista, pois valorizam diretamen
pital na produção da mais-valia. Se nãopertencem, em seu

Certamente, podemos fazer diferenciações entre esses enge-


heiros e técnicos, principalmente segundo a sua situação nos
amos ou indústrias em cujo interior dirigem e comandam operá-.
ios manuais, ou em ramos em que eles próprios constituem ».
rincipal mão-de-obra, e onde, portanto, não exerceriam tarefas.
e direção e de supervisão sobre outros trabalhadores. Aliás, as
nálises do próprio S. Mallet a propósito dessa “nova classe ope
ária” (engenheiros e técnicos) estavam fundamentadas na hipó-
ese de Touraine das “três fases” (A, B, C) do processo de trab
“capitalista, hipótese que se situa numa perspectiva tecnicista do
RE Gorz son eim pIS.
“processo do trabalho. A fase A corresponderia
ao “trab:
qualificado polivalente” (manufatura); a fase B ao maquinis;
e"à grande indústria estudada por Marx, a saber, ao
“trabal
parceiro” com forte maioria de 0s*; a fase C à intro
dução «
automação, à dominância maciça dos engenheiro
s e técnicos q
controlam máquinas automáticas e que teriam uma visão
do
glot
processo de trabalho, e ao desaparecimento
tendencial do tr
balho parceiro e dos os (do “trabalho manual”).
De tal form
que esses engenheiros e técnicos seriam a principal,
senão a úni
força de trabalho. Daí decorrem algumas análises de
Friedm
segundo as quais o estádio C da automação teria
suprimido a
visão trabalho intelectual/trabalho man
ual no processo de pr
dução 15, 1

É sabido que essas análises dos anos 50-6


É 0 se revelaramfa
E sas. Elas não levavam em conta, de
É: fato, o duplo processo
“qua lificação-desqualificação do trabalho sob
o capitalismo moi
polista, colocando um “processo tecnológico”
em si, fora das.
laçõ es de produção capitalistas. Isso não quer dize
r que difer
ças importantes não existam na fase atual do
capitalismo monop;
lista: mas as novas transformações do proc
esso de trabalhoe
aumento importante dos engenheiros e técnicos
não correspo;
ram a uma diminuição dos os, bem ao cont
rário, antes
estagnação e diminuição dos operários qual
ificados (op). Ce
mente, isso deve ser entendido no plano inte
rnacional, não
representativa a situação dos Estados Unidos, que
expulsam o
pecto “desqualificação” do trabalho princi
palmente nos países eu.
“ ropeus. Mas, se tomarmos esses países eur
opeus, e em partic:
a França, constataremos, através das simp
les estatísticas desc
SU

outras, em suas contribuições à Sociolog


ie du Travail, em dois volu nu
ed. por Friedman e Navil le, 1967. Aliás, só citarei aqui, quan
sições do pcr sobre a “revolução cien to às p
tífica e técnica”, algumas linhas
Traité mencionado Gl p 189 e
sem qualquer comentário: “Soci
dos trabalhadores, o socialismo dará nece
EE
ssariame
nte um impulso e co
teúdos novos a essa mudança prof
unda das forças produtivas. A int
dução em larga escala da automatizaçã
o comp
lexa, acompanhada g
desenvolvimento das redes de info
rmação, de novos progressos na ai
plitude das possibilidades dos sistemas
fundará a divisão social do trabalho e i o
sociais satisfeitas, ao mesmo tempo em
tas a separação entre o trabalho intel É
ectual e o trabalho manual
desaparecendo sob sua forma parceira
.” ei :
x
2

nuição dos os quer no conjunto da formação social francesa, quer,


com algumas exceções mais próximas, nos ramos e indústrias onde.
essa “reestruturação” teve lugar.

1954 1962 1968


“”

op 2.837.442 2.345.080 2.506.180


“os 1.815.265 2.465.080 2.650.380
' Operários braçais 1125.3258 1.405.140 1.489.140
* (Mão-de-obra bruta) ;
Técnicos (21931 200 343.986 533.940
a E (Setor privado) ;
irmastres ng 141.480 306.142 360.120 E
“(Capatazes) ana (Setor privado) ç
1

Engenheiros 81.140 138.061 190.440


a (Setor privado) É

NTE: Recenseamentos do INSEE.

Vamos mencionar mais abaixo o caso particular da categori


engenheiros” do INSEE, cuja grande maioria pertence de fato à
rguesia, pois ocupa o lugar dos agentes dirigentes do capital
s concentremo-nos nas relações entre técnicos e classe operári
Jbservemos primeiramente que a categoria operários qualificado:
op) está amplamente sobreclassificada nessas estatísticas, isto é
a compreendecada vez mais agentes que, de fato, em seguida à
desqualificação do trabalho, cumprem simples tarefas de os. Em
seguida, que a diminuição rápida dos operários braçais depois de
1968 corresponde para uma certa parte não a uma mudança de
suas tarefas, mas a um deslocamento na escala, depois dos aconte-
“cimentos de maio, obtendo essa mão-de-obra bruta maciçamente
“aqualificação de os. Mas vamos mais além assinalando que:
a) a proporção de os é consideravelmente mais importa
nas empresas concentradas, passando de 17,6% do conjunto
à
é . x:
perários nas empresas com menos de 10 assalariados, a 40,
nas empresas com mais de 500 assalariados: em virtude do atr
da França nesse sentido e da tendência maciça atual para a co!
centração “reestruturada”, é principalmente o número de os qu
vem aumentando ainda, consideravelmente;
b) a famosa introdução da “automação” está longe de pr
vocar um aumento necessário dos técnicos e uma diminuição dc
- os. Segundo uma pesquisa do cNRS *, foi somente em 36% dos e
tabelecimentos que a automação provocou um aumento dos téc.
nicos e engenheiros “6: P, Naville frisa que “o pessoal que trab:
“lha com instrumental automático compreende cerca de 80% di
não-qualificados”. Na Renault, por exemplo, entre 1965 e 196:
a percentagem dos técnicos aumentou cerca de 60%, masa pe
centagem de os também aumentou 60% 17, e isso a expensas s
bretudo dos operários qualificados. Mesmo em certos ramos ex
cepcionais e privilegiados, como a petroquímica por exemplo, q
parece, em razão da própria natureza do processo de trabalh
tuado, já haver atingido agora um alto grau de automação,
engenheiros-técnicos somam em 1968 cerca da décima part
“assalariados empregados — química — ou um quarto — petróle
Em suma, apesar das imprecisões e das diversas confusô
estatísticas nesse sentido, observa-se bem que as transformações
na fase atual do capitalismo monopolista, fazem-se sob o sig
não de um processo técnico qualquer em si, mas sob o signo
di
exploração e de um deslocamento da dominante para a exploraç
intensiva do trabalho (mais-valia relativa). O que, se
bem c
acompanhado de um aumento do número dos técnicos,
man
ta-se principalmente, nos seus efeitos sobre a classe operária
uma desqualificação maciça do trabalho.
a À
=
y
* cnRs:
ESA
Centre National de Recherches Sociales —
nal de Pesquisas Sociais. ENS do T) Centro Naci
: e :
16 “L'automatisme, les travailleurs et les syndi
cumentation frança cats”, em La D
ise. E É :
17 P. Naville, L'Etat entrepreneur, 1971, pp. 182
sq., 195 sq. Obse
* Yar que Naville foi um dos raros “sociólogos do traba
nos diversos
lho” que não c:
mitos da “nova classe operária”.
18 Ph. d'Hugues e M. Peslier, Les Professions en France,
ed. INF
1969; e também G. Rerat e Cl. Vimont, “Lºincidence du prog rês tech:
que sur la qualification professionnelle”, em Population
, janeiro-feve
ro de 1967. Sobre esses assuntos, ver igualmente:
C. Berger, “Non
—* révisionnisme sénile”, em Cahiers du CERES,
janeiro de 1972; G. Pott
“Elec
tronique: quelle nouvelle classe ouvriBre?”, em Politique aujou
Sutubro-novembro de 1972. rc
É
266 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE
É
Assim, enquanto conjunto, os engenheiros e técnicos encon-
tram-se sempre em uma situação em que comandam e controlam
o trabalho dos produtores diretos. A isso seria necessário acres-
centar que o relacionamento, por Marx, da divisão trabalho inte-
lectual/trabalho manual capitalista com o trabalho parceiro do
maquinismo, não deve ser considerado no sentido tecnicista destes
últimos termos. Refiro-me a isso em razão do debate atual, e das
experiências. a propósito da “recomposição das tarefas” do tra-
balho dos os. Essa “recomposição” não poderia, no âmbito das
relações de produção capitalistas, questionar a divisão trabalho
intelectual/trabalho manual e o lugar dos engenheiros e técnicos
a tal respeito, pois essa divisão se reproduz, no âmbito dessas re-
lações, constantemente sob novas formas.

VII

Essa barreira de classe entre engenheiros, técnicos, de um


lado, e classe operária, de outro, verifica-se enfim em toda uma
série de pontos particulares.

1. Retomemos a divisão trabalho manual/trabalho intelec-


tual. De fato, essa divisão fundamental tende a se reproduzir, de
forma específica, “de um lado” e “de outro” da barreira de divi-
são: ela tende a se reproduzir, sob formas específicas, no próprio
interior do “campo” do trabalho intelectual, e sob formas especí-
ficas igualmente, no próprio interior “do campo” do trabalho ma-
nual. O trabalho intelectual e o trabalho manual tendem a inte-
riorizar e a desacelerar em seu seio a barreira que os divide. No
que se refere ao trabalho manual, aquele da classe operária, é
claro que sua organização capitalista em “qualificações” não é
uma simples divisão técnica, mas sim que as qualificações OP, Os,
mão-de-obra bruta etc. estão marcadas por uma reprodução da
divisão trabalho intelectual/trabalho manual (esbarra-se aqui, in-
diretamente, na questão da aristocracia operária). A reprodução
induzida dessa divisão é aqui, sob esse aspecto, apenas a confi-
guração dos efeitos das relações ideológico-políticas capitalistas no
próprio seio da classe operária, é mesmo no próprio seio do pro-
cesso de trabalho capitalista.
Entretanto, a barreira de classe dessa divisão existe: os OP não
exercem absolutamente sobre os os, nem estes sobre a mão-de-
obra bruta, a direção e a supervisão acopladas à legitimação do .
DETERMINAÇÃO DE CLASSE DA NOVA PEQUENA-BURGUESIA 261

segredo do saber € de seu monopólio, que os engenheiros e técni-


contrá-
cos exercem sobre o conjunto da classe operária. E isso ao
nalis-
rio precisamente de toda a tendência institucionalista-funcio
ta de análise da “empresa” (a empresa-burocracia), e que vê
nela uma “instituição” caracterizada prioritariamente pelas rela-
ções de “poder” no sentido quase psicossociológico do termo, po-
der-autoridade circulando por escalões contínuos de delegação “hie-
rárquica” do vértice até a base: empresários-executivos médios-
técnicos-contramestres-operários qualificados-os-mão-de-obra bruta.

2. A existência dessa barreira de classe verifica-se igual-


mente em uma série de indícios significativos: aquele do montan-
te dos salários em primeiro lugar. Certamente, diferenciações sa-
lariais existem igualmente no seio da classe operária. Mas obser-
va-se precisamente um salto muito importante, que contrasta com
as gradações da escala dos salários no seio da classe operária,
entre os operários qualificados “melhor pagos”, de um lado, os
técnicos “menos pagos” desse conjunto, do outro. De fato, quan-
do há referência aos salários líquidos médios anuais em francos,
para os assalariados em tempo integral no setor privado e semi-
público, em 1969, constatam-se as seguintes cifras: mão-de-obra
bruta: 8.854; os: 10.467; operários qualificados: 13.116; porém:
contramestres: 20.667; técnicos: 22.272; quanto aos engenheiros:
ás 1960.
Sabe-se que se os salários correspondem, de forma “abstrata”
e na escala do conjunto do trabalho social, ao custo de repro-
dução e de manutenção da força-trabalho, isso não significa abso-
lutamente, porém, que toda diferenciação concreta da hierar-
quia dos salários corresponda, ao menos em sua totalidade, a di-
ferenciações reais desses custos: componentes políticos estão sem-
pre presentes na hierarquia dos salários. É também ocaso para a
hierarquia salarial no próprio seio da classe operária, o leque con-
creto dos salários correspondendo aqui, para uma parte impor-
tante, a uma política da burguesia para fins de divisão da classe
operária. É claro assim que a distância significativa entre os salá-
rios dos operários e os salários dos engenheiros e técnicos não cor-
responde, a não ser para uma parte somente, às diferenças reais

19 Essas informações, assim como aquelas que se seguem, sobre os


salários, têm por fontes: “Les salaires dans Pindustrie, le commerce et
les services en 1969”, por N. Chabanas e S. Volkoff, em Les Collections
de L'INsEE, M. 20, janeiro de 1973. Ver também: P. Ranval, Hiérarchies
des salaires et luttes des classes, 1972.
s custos de formação e de reprodução de suas forças de tra-
ho respectivas: uma parte importante corresponde aos “faisos
ustos” do capital para a reprodução das condições ideológicas.
da extração da mais-valia e para as tarefas de direção e de super-
isão do processo de trabalho, ocultando por esse meio a barrei-
ra de classe.

3. A existência dessa barreira verifica-se enfim igualmente


do ponto de vista da reprodução dos agentes que ocupam respec-
tivamente os lugares da classe operária e aquele dos engenheiros
e técnicos, o que pode ser compreendido pela distribuição e cir-
culação dos agentes entre esses lugares: embora esse aspecto da
reprodução sejasecundário em relação à reprodução dos próprios
lugares, ele assume aqui, no entanto, o valor de um indicador
portante. .
Do ponto de vista do deslocamento unigeração, “isto é, agen-
s que trocam de lugar no decorrer de sua vida profissional, o
se constata? No próprio seio da classe operária, há uma certa
lação entre operários braçais que passama Os, OS que passam
erários qualificados (op), ainda que seja necessário insistir
ligeiramente na rigidez“da distribuição dos agentes no próprio
da classe operária. Masessa percentagem cai de forma apre
le perfeitamente significativa quando se trata, para um agen-
de passar de operário qualificado a técnico, o que indica a
istência de um obstáculo praticamente intransponível, que em
ma análise é o efeito sobre os agentes da barreira de classe
proporção entre homens de mão-de-obra bruta que (no decor
' de sua vida profissional) se deslocam, e aqueles que se tor-.
m os é de 48,5%: entre os homens os que se deslocam e
eles que se tornam operários qualificados é de 43,7%; ao passo
e,entre os OP que se deslocam e aqueles que se tornam técni.
s, a proporção só é de cerca de 10 a 14% 2º. A grande maioria
esses raros agentes operários que, no decorrer de sua vida pro-
issional, deixam o lugar da classe operária (uma média de 4 a 5
perários em cada 100 por período de 5 anos; uma vez operário,
sempre operário) desloca-se do lado dos assalariados da distri-
uição, dos serviços, e sobretudo em direção ao setor artesanal |
— “independentes”. É ínfima a parte daqueles que, permanecen-
o na produção, se deslocam em direção a um domínio no senti-.

20 Insisto no fato de que essas percentagens não se referem ao


conjunto da mão-de-obra bruta, os e OP, mas somente âqueles dentre
es que se deslocam. :
o amplo: cerca de 1 op em 100 por período de 5 anos, o c
endo praticamente inexistente para os OS e para os de mão-de-ob;
“bruta e, logicamente, para as mulheres, tudo isso ao contr
daquilo que afirma a ideologia burguesa da “mobilidade socia
As coisas se modificam um pouco no deslocamento intergeraçõe:
(os filhos desses agentes), permanecendo, no entanto, a mesma
a tendência inicial 2º.

VIII

Mas a determinação de classe desses agentes (engenheiros


técnicos) depende igualmente de seu lugar em relação ao capita
Fazendo parte, cada vez mais, do trabalhador coletivo produ!
capitalista, e servindo cada vez mais à valorização do capita
pela produção da mais-valia, eles são também explorados pelo«
pital, sendo uma grande parte do seu trabalho trocada pelo ca
tal. Sua situação em face do capital depende igualmentedas re
ções políticas e ideológicas nas quais estão inseridos. De fato, .
como a empresa como aparelho não se constitui em uma pir
de hierárquica por escalões contínuos, do vértice à base, atéo
terior da classe operária, ela nãoconsiste em uma hierarquia
melhante para todos os agentes exteriores à classe operári
“contrário do que sustentam as famosas ideologias da “tecnoestr
tura”, os agentes “não-operários” não se situam todos da mesm
forma com respeito ao capital. É por essa razão (voltaremos
esse ponto) que é necessário estar muito atento no emprego
termo Aierarquia que, em numerosos autores, supõe uma cor
nuidadelinear entre esses agentes e oculta as barreiras de classe
Assim, nas relações políticas de direção e de supervisão
processo de trabalho, esses agentes representam as instâncias :
balternas desse trabalho, enquanto as diversas categorias de “e:
presários” que ocupando diretamente o lugar docapital ee
cendo diretamente os poderes daí decorrentes representam asi

21 Baseei-me, no reagrupamento desses dados e na reorganiza


dessas cifras, nas pesquisas do INSEE concernentes à qualificação de 19
de 1970, às quais dou referências mais precisas abaixo. Essas pesqui
participando de fato (o que é claro na sua apresentação) da ideolo
da mobilidade, fui levado a recorrer às “cifras brutas” e a operar s
reorganização. A
Ver as justas observações sobre esse assunto de C. Gajdos, “€

22
ture et impasse de la technique: les cadres de Pindustrie”, em Cahii
intern. de sociologie, supl. 1972,e minhas observações abaixo, pp. 301
f ' ; E
270 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO-DE HOJE

tâncias dirigentes. Em relação a estas, os engenheirôs e técnicos


da produção estão em umasituação de subordinação (são domina-
dos pelo capital), e se vêem impor as finalidades da produção
monopolista.

Mas é ainda mais interessante notar a situação desses agentes


na articulação das relações políticas e das relações ideológicas,
isto é, no próprio seio do trabalho intelectual. Assim como a
divisão trabalho intelectual/trabalho manual tende a se reprodu-
zir sob formas específicas, no seio do campo do trabalho manual,
ela tende a se reproduzir, sob formas específicas, no próprio seio
do trabalho intelectual. Pode-se mesmo dizer que, do lado do tra-
balho intelectual em seu conjunto, essa reprodução é muito mais
intensa do que no seio do campo do trabalho manual, encontran-
do de alguma forma aqui os canais fantasmáticos do segredo do
saber, seu terreno de eleição. Esses técnicos estão submetidos di-.
retamente ao segredo e ao monopólio do saber detidos pelas ins-
tâncias dirigentes. Seu próprio trabalho intelectual tende a apre-
sentar os caracteres de parcialização próprios ao trabalho manual,
até assumir às vezes o porte de um verdadeiro trabalho intelectual
em cadeia. O que se traduz diretamente na diferenciação das fi-
- leiras de formação: são as grandes escolas, de um lado (X, Cen-
trale, Mines, Ponts et Chausées etc.), diversas subescolas especia-
lizadas (Arts et Métiers), do outro lado. As primeiras preparam
para um trabalho considerado como “polivalente”, que exige uma
“visão de conjunto” da economia; seus agentes, tendo recebido a
“qualificação” de “engenheiros”, são empregados na produção
apenas numa frágil percentagem, e ocupam em geral rapidamente
postos de direção e de administração de empresas: pertencem, emn-
tão, com frequência às instâncias dirigentes do capital (burguês),
enquanto os outros permanecem em geral diretamente calcados
na produção. E

O que nos conduz a algumas observações suplementares:


a) Em virtude da imprecisão e confusão das estatísticas ofi-
ciais do INSEE por “profissões” e, no caso dos “engenheiros”, sua
caracterização em “categoria socioprofissional” pela sua qualifi-
cação escolar, alguns agentes designados nas estatísticas como “en-
genheiros” fazem de fato parte, em suas funções reais, dos em-
presários e instâncias dirigentes do capital e pertencem assim à
burguesia;
DETERMINAÇÃO DE CLASSE DA NOVA PEQUENA-BURGUESIA 271T'

b) A reprodução da divisão trabalho intelectual/trabalho ma-


nual no seio do trabalho intelectual refere-se de fato ao próprio.
conjunto pequeno-burguês “engenheiros-técnicos” e se manifesta
aqui como fracionamento desse conjunto em frações pequeno-bur-
y
guesas, principalmente ao lado dos técnicos e de certos casos de
engenheiros subalternos (desenhistas, técnicos químicos, agentes
técnicos de construção etc., ou ainda engenheiros mecânicos, en-
genheiros de transportes etc.) cujo próprio trabalho é constante-
mente desqualificado-parcializado em relação àquele da fração
superior. Fracionamento cujos efeitos se encontram na hierarquia
salarial no seio desse conjunto.
Encontra-se nesse caso, nas estatísticas oficiais do INSEE, um
erro simétrico e exatamente contrário ao precedente. Certos “téc-
nicos” e “engenheiros inferiores”, classificados como tais a partir
de sua formação profissional-escolar e de sua qualificação formal,
ocupam de fato postos de operários e devem ser assim considera-
dos como pertencentes à classe operária, não se servindo indireta-
mente do famoso operário coletivo-produtivo, mas simplesmente
porque, de fato, não ocupam absolutamente um lugar de engenhei-
ro-técnico (de “domínio” ou de “camisas brancas”).

“Resumindo: os engenheiros e técnicos não pertencem à classe


operária, se bem que tenham cada vez mais a tendência de fazer
parte do trabalhador coletivo-produtivo, em razão do aspecto do-
minante das relações políticas e ideológicas de que são portadores.
Essas relações referem-se à sua determinação estrutural de classe
na divisão social do trabalho (trabalho intelectual/trabalho ma--
nual) e não se identificam em sua posição de classe na conjuntu-
ra. De fato, em razão da polarização de sua determinação relati--
vamente à classe operária e ao capital, esse conjunto adota, segun-
do suas próprias frações, por vezes, posições de classe da burgue-
sia, por vezes também posições da classe operária. Mas, neste:
último caso, esses agentes não se tornam, contudo, operários: di-
vergências continuam a marcá-los, nessas próprias posições de
classe, em relação à classe operária e só mencionaremos aqui,
além de numerosos casos em maio de 1968, o recente exemplo das
lutas empreendidas pelos trabalhadores da Lip.
IV. O PAPEL DA DIVISÃO
TRABALHO INTELECTUAL/TRABALHO
MANUAL PARA O CONJUNTO DA
NOVA PEQUENA-BURGUESIA

IJ

certas características co-


Acabamos de constatar, até aqui,
conjuntos da nova pequena-
“muns da determinação de classe dos
que, não pertencendo à clas-
burguesia: trabalhadores assalariados
o capital, seja porque ven-
se operária, são também explorados pel do capi-
a posição dominante
dem sua força de trabalho, seja pel
Trata-se de uma determinação
tal nos termos da troca (serviços). s (trabalho
es econômica
«decorrente, principalmente, das relaçõ
nômica comum nãoé cla-
não-produtivo). Mas essa situação eco
siderar esses diversos con-
ramente suficiente para nos fazer con a-
classe, a nova pequen
juntos como pertencendo a uma mesma seu lugar nas
. É preciso nos referirmos igualmente ao
burguesia
isão social do trabalho, lu-
relações políticas e ideológicas da div
determinações comuns
gar que revelará de fato a extensão das
desses conjuntos.
isores do processo
Ora, a propósito dos conjuntos dos superv
vimos a importância do
de trabalho e dos engenheiros e técnicos,
balho manual. Esse papel
papel da divisão trabalho intelectual/tra
isão social sobre a di-
pareceu decisivo, pois, pela primazia da div
conjuntos da classe ope-
visão técnica do trabalho, excluiu esses que
capitalista” de
rária, apesar do aspecto “trabalho produtivo
isão trabalho inte-
são igualmente portadores. Mas o papel da div
ortante para os
Tectual/trabalho manual é igualmente muito imp
relações eco-
outros conjuntos da nova pequena-burguesia, que as
-pro-
nômicas excluem desde já da classe operária (trabalho não
s-.
dutivo da esfera de circulação do capital e de realização da mai
valia, dos funcionários de Estado etc.). Direi, com efeito, «
divisão trabalho intelectual[trabalho manual marca o conjunt
nova pequena-burguesia que sesitua nessa divisão, e em rel
à classe operária, “do lado” ou no “campo” do trabalho intel
tual, seja de forma direta, seja de forma indireta. Essa nova pi
quena-burguesia, produto da própria reprodução ampliada do
pitalismo monopolista, está situada em relação à divisão amplia
trabalho intelectual/trabalho manual que caracteriza o mod
de produção capitalista. Isso significa que está situada de formi
muito particular na reprodução das relações político-ideológie
capitalistas.

E dar origem, podendo. parecer, à primeira vista, prado A


para compreender bem o aspecto “intelectual” de trabalhos co!
aqueles dos empregados de contabilidade, de bancos, de publi:
de, do marketing, dos seguros, do setor comercial no sentido
plo, bem como aqueles da grande maioria dos funcionário
Estado, dos agentes dos diversos “servicos” (saúde, hospitais,
Jariados dos estudos das profissões “liberais”), e dos agentes
diversos escritórios (secretárias, datilógrafas), dos “funcioná
de escritório” em geral, em relação àquele da classe operár
Essas observações permitirão sistematizar as análises precedent
Vou apoiar-me aqui em certas análises do único marxista ocid
tal que aprofundou a questão, Gramsci1.

1. Se digo que esses diversos trabalhos se situam, em re


ção âquele da classe operária, do lado do trabalho intelectua
são, de forma direta ou indireta, impregnados por ele, isso n
quer dizer que seus neRqies sejam todos “intelectuais”.
A questão dos “intelectuais” é muito vasta, e não a exar
“narei aqui. Direi simplesmente que é preciso reservar o termo
telectuais como categoria social a um coniunto determinado
ses agentes, que preenchem funções sociais específicas em rela.
à elaboração das ideologias de classe. Esses agentes, sendo “f
sa

1 Asreferências a Gramsci que se seguem são tiradas de: Gli


“ellectuali epraiae della cultura, Einaudi, 1966.
274 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

cionários da ideologia” (termo de Gramsci), não formam um:


“grupo social” acima, ao lado ou à margem das classes sociais, mas:
têm um pertencimento de classe, dependendo de sua relação com-
plexa com as diversas ideologias de classe (“intelectuais orgânicos”
das classes sociais, segundo o termo de Gramsci). Nesse sentido,
Gramsci tem um duplo mérito: a) ter baseado suas análises rela--
tivas aos intelectuais em uma divisão historicamente determinada
— trabalho intelectual/trabalho manual, em que suas análises se:
distinguem daquelas, célebres, de Kautsky; b) ter assim baseado:
a extensão do conceito de “intelectuais” no papel social que esses.
agentes desempenham nas diversas formações sociais. Gramsci foi
justamente levado a estender o conceito de intelectuais sob o ca--
pitalismo (“intelectuais modernos”) a uma série de agentes, cujo
papel social no funcionamento das ideologias de classe não tinha
sido até então claramente percebido: é o caso principalmente para:
os engenheiros e técnicos.
Mas é claro que esse conceito de intelectuais, mesmo. assim:
extenso, não pode abranger o conjunto dos agentes da nova pe-
quena-burguesia: o que não quer dizer, entretanto, que esses agen-
tes se situem em graus muito diferentes, do lado do trabalho in--
telectual. Não são somente os intelectuais, como categoria social,
que cumprem o trabalho intelectual, ou, antes, que se situam do:
lado do trabalho intelectual: os intelectuais como categoria social .
específica são somente um produto da divisão trabalho intelectual/
trabalho manual que os ultrapassa de longe.

2. A divisão capitalista trabalho intelectual/trabalho ma-


nual, baseada na especificidade das relações de produção capita-
listas (separação dos trabalhadores diretos de seus meios de pro-
dução), tem de fato tendência a se reproduzir no conjunto das
relações de uma formação social capitalista, e extravasa os locais
onde se estabelecem as próprias relações de produção (a fábrica),
como é aliás o caso para a “forma salarial”.
a) É preciso repetir que o conteúdo dessa divisão e de seus
termos não pode absolutamente ser reduzido a critérios empíricos
do gênero “aqueles que trabalham com as mãos” e “aqueles que
trabalham com a cabeça”, aqueles que estão em contato direto
com as “máquinas” e aqueles que não o estão etc.: essa divisão
remonta às relações ideológicas e políticas que marcam os lu-
gares ocupados pelos agentes. Com efeito, quando nos prendemos
a critérios semelhantes, pode parecer estranho poder classificar
do lado do trabalho intelectual uma série de agentes não-produti-
PAPEL DA DIVISÃO DO TRABALHO 275

vos que trabalham também com as “mãos”, por exemplo os agen-


tes que estão submetidos ao desenvolvimento do “maquinismo” no
trabalho não-produtivo, ou ainda os vendedores e vendedoras de
grandes lojas. Mas, além do fato de Marx nunca ter reduzido o
trabalho intelectual à “produção imaterial”, poderíamos negligen-
-ciar assim a dimensão exata, e considerável, da reprodução com-
plexa, nas relações político-ideológicas dessa divisão.
Certamente, somos assim levados a uma extensão do concei-
to de trabalho intelectual. Gramsci já havia encontrado esse pro-
blema, quanto à questão, diferente, desta feita dos “intelectuais”,
quando assinala: “Essa posição do problema conduz a uma ex-
tensão muito grande do conceito de intelectuais, mas é somente
assim que se pode operar uma aproximação concreta da realida-
de 2.” Direi, quanto à questão do trabalho intelectual, que é so-
mente compreendendo a própria constituição do conceito de tra-
balho intelectual na reprodução de sua divisão complexa de seu
trabalho manual, que podemos aproximar-nos da realidade.
b) Isso vale também, e muito exatamente, do lado do tra-
balho manual, isto é, do lado da classe operária: a divisão político-
ideológica trabalho intelectual/trabalho manual não deve em caso
algum fazer crer que a classe operária — trabalho manual — só
trabalha com as “mãos” e que esses “infelizes” operários não
fazem trabalhar sua “cabeça”, “bestificados” que estão pelo tra-
balho parcelado. Gramsci assinala então: “Pode-se encontrar um
critério único para caracterizar da mesma forma as diversas é dis-
paratadas atividades intelectuais e para distingui-las ao mesmo
tempo e de forma essencial das atividades dos outros conjuntos
sociais? O erro metodológico mais difundido parece-me ser ter
procurado esse critério de distinção intrinsecamente nas ativida-
des intelectuais e não, em contrapartida, no conjunto do sistema
das relações onde estas (e os conjuntos que as personificam) se
situam num complexo geral das relações sociais. De fato, o pro-
letário também não é especificamente caracterizado pelo traba-
lho manual ou instrumental mas por esse trabalho em condições
determinadas e em relações sociais determinadas... Qualquer que
seja o trabalho físico, mesmo o mais mecânico é degradante, exis-
te sempre um mínimo de atividade intelectual criadora... não
existe atividade humana em que se possa excluir toda intervenção
intelectual e separar o homo faber do homo sapiens.” E Gramsci
foi levado a dizer lapidarmente: “Todos os homens são intelec-
mn

e id; pi 9.
276 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

tuais, mas nem todos os homens têm, na sociedade, a função de


intelectual é.” Direi, quanto a mim, que todos os trabalhos com-
portam “atividades intelectuais”; mas nem todos os trabalhos sé
situam, na divisão político-ideológica trabalho manual/trabalho
intelectual, do lado do trabalho intelectual.

3. A divisão trabalho intelectualtrabalho manual não po-


deria ser reduzida a uma identificação entre portadores do tra-:
balho intelectual e detentores da “ciência”. A relação trabalho
intelectual-ciência “separados” do trabalhador direto só é um dos:
efeitos da divisão capitalista trabalho intelectual/trabalho manual,
e a forma principal que ela assume nopróprio processo de pro.
dução.
a) Isso explica que se possa considerar do lado dotrabalho:
intelectual toda uma série de trabalhos que não têm nada de:
científico. Não são somente os engenheiros e técnicos que fazem
trabalho intelectual. O que não quer absolutamente dizer que os.
trabalhos de dimensão científica se identifiquem com outros tra-
balhos que se situam do lado do trabalho intelectual, na mesma
medida em que tendem a fazer parte do trabalho produtivo.
b) Retornemos agora à classe operária, ao próprio trabalho
manual: a divisão trabalho intelectual/trabalho manual não sig-
nifica absolutamente que o trabalho manual comporte elementos
científicos. Já a propósito da diferenciação engenheiros-técnicos.
e classe operária, vimos, por um lado, que o assunto efetivo
da
ciência é em última análise o próprio trabalho manual, remon
-
tando a ciência finalmente à experiência acumulada pelo trabal
ho:
manual; e, por outro lado, que essa diferenciação não destaca
uma fronteira real e intrínseca entre aqueles que “sabem” e aque-
les que “ignoram” (a classe operária). Trata-se de um investi-
mento ideológico da ciência em toda uma série de rituais do sa-
ber ou do que se supõe ser o saber, de que se acha excluída a &
classe operária, e é nesse sentido que funciona aqui a divisão
trabalho intelectual/trabalho manual.
c) Estendamos a observação precedente: de fato, a própria
classe operária (trabalho manual), e não somente os únicos ope-
rários qualificados ou profissionais para quem isso é evidente, é
muito mais portadora de elementos de “ciência” do que a esma-
gadora maioria dos assalariados questionados aqui. Sua diferen-

e Ibid; D. 56.
ciação com a classe operária no sentido da divisão trabalho in
lectual/trabalho manual prende-se essencialmente às relações po
lítico-ideológicas: seu trabalho está legitimado em relaçãoaos
ber que se supõe intrinsecamente deter (trabalho intelectus
encontrando-se valorizado em relação ao trabalho da classe ope
rária, cujo saber efetivo participa na desvalorização, por opo
ção, do trabalho manual.

4. Esses conjuntos de agentes, estando situados do lado d


trabalho intelectual na sua separação do trabalho manual, não
mantêm todos a mesma relação com o trabalho intelectual: é qu
“a divisão trabalho intelectual/trabalho manual se reproduz, so
formas específicas, e tendencialmente, de um lado e de outrod
fronteira fundamental de divisão, principalmente no próprio sei
do trabalho intelectual.
É um ponto essencial em que falharam totalmente algu
estudos atuais, provenientes sobretudo de sociólogos “progressis
tas” britânicos, especialmente os trabalhos de D. Lockwood, di
J. Goldthorpe, de W. Runciman *. Esses trabalhos são interessa
tes em dois sentidos: a) porque esses autores combateram exp
“citamente as ideologias, que causavam polêmica nos anos
50, de
uma identificação e assimilação dos assalariados não-pro
dutivos
coma classe operária, seja no sentido de um “aburguesamen

lho não-manual” naquilo que designam como a “sit


uação no tr 4
balho” — work situation — desses agentes. Mas, além da ign
rância do problema do trabalho produtivo que esses trabalho
s tes-
temunham, essa divisão é concebida sobre o modo
tecnicista e
empírico como separação das “mãos sujas” e das “mãos limpa
s”.
ca e “todos os outros”: daí precisamente o termo “trabalho
não-
manual”, que tenta contornar as incongruências de
uma defin
ção empirista dos trabalhos segundo seu conteúdo intrí
nseco. O

4 Goldthorpe, Lockwood et. al., L'Ouvrier de Pabondance,


1972;
Lockwood, The Blackcoated Worker, 1958; W. Runciman, Relati
ve D
privation and Social Justice, 1966 etc. : : ,
5 Les Employés de bureau, op. Cit PD Ho:
x
278 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HoJE

que, por um lado, não permite cercar de forma rigorosa a fron-


teira entre a classe operária e a nova pequena-burguesia, e leva
a incluir nesta uma série de agentes que, de fato, pertencem à
classe operária; por outro lado, não permite precisamente com-
preender as delimitações e diferenças, do ponto de vista da divi-
são trabalho intelectual/trabalho manual, no próprio seio do tra-
balho assalariado não-produtivo.

Vou precisar então minha proposição fundamental:


a) a divisão trabalho intelectual/trabalho manual é uma
divisão reproduzida tendencialmente, no sentido de que não se
trata de uma “classificação” tipológica de casos rígidos para este
ou aquele agente preciso, e de que aquilo que nos importa aqui
é seu funcionamento social na existência e na reprodução das
classes sociais;

b) o aspecto trabalho intelectual não afeta absolutamente


da mesma forma o conjunto da nova pequena-burguesia: algu-
mas de suas partes são então afetadas diretamente; outras, sub-
metidas à reprodução da divisão trabalho intelectual/trabalho
manual no seio do trabalho intelectual, só são afetadas indireta-
mente: enquanto essas partes sofrem a hierarquização, nesse sen-
tido, no seio do trabalho intelectual, elas permanecem entretanto
afetadas pelos efeitos da divisão fundamental.
É um ponto sobre o qual Gramsci insistiu, a propósito, prin-
-cipalmente, da questão dos agentes dos aparelhos de Estado, dos
funcionários. Só vamos nos ater à questão teórica que acabo de
- propor: “É verdade que essa mesma função organizadora de he-
gemonia social e de dominação estatal dá lugar a uma divisão
do trabalho e assim a toda uma gradação de qualificações, algu-
mas dentre elas não apresentando nenhuma atribuição de dire-
ção e de organização: no aparelho de direção social e estatal
existe toda uma série de tarefas de caráter manual é instrumen-
tal (de ordem e não de concepção, de agente e não de oficial
ou de funcionário etc.): evidentemente, é necessário fazer dis-
tinções. De fato, a atividade intelectual deve ser distinguida em
graus, graus que em momentos de oposição extrema dão lugar
a uma verdadeira e adequada diferença qualitativa, do grau mais
alto aos mais humildes “administradores” º...”

8 Ibid., p. 9.
O que os permite acrescentar:
a o lugar diferencial dos agentes da nova pequena-b
guesia na reprodução da divisão trabalho intelectual/trabal
manualno próprio seio do trabalho intelectual (portanto nas
lações ideológico-políticas) aparecerá assim como um fator im
portante na diferenciação da nova pequena-burguesia em fraçõ
de classe. Mas veremos que esse lugar diferencial não dest
pura e simplesmente as diferenciações dos conjuntos da
pequena-burguesia nas relações econômicas: agentes dos servi
por exemplo, podem ocupar, segundo esse ponto de vista, luga
res que os aproximem dosagentes da circulação e da realiza
da mais-valia, de forma muito mais significativa do que podi
aqueles agentes do conjunto do setor “serviços” entre si,
aqueles do conjunto da esfera de circulação entre si;
b) a propósito das transformações atuais do setor do t
balho assalariado não-produtivo no seu conjunto: essas transf
mações têm como efeito principal acentuar o fracionamento
a polarização interna da nova pequena-burguesia. Ao acenti
a reprodução da divisão trabalho intelectual/trabalho manua
seio do trabalho intelectual, elas aproximam certas frações
nova pequena-burguesia da barreira que as separa do trab
manual e da classe operária. Mas essas transformações não r
'* lJocam em questão a barreira fundamental da divisão traba
“intelectual/trabalho manual, pois, ao mesmo tempo, a rep
" duzem sob nova forma. É por isso que insistiremos sobre es
transformações no caso do exame das frações da nova peq
“burguesia, cercando primeiro aqui seu lugar comum na divisã
“fundamental trabalho intelectual/trabalho manual.

HI

É levando-se em conta essas observaçõesque se pode in


o aspecto “trabalho intelectual” de trabalhos como aqueles |
empregados da contabilidade, da publicidade, do marketing.
comercialização, dos bancos, dos seguros, dos diversos “serviço:
dos “escritórios”, da grande maioria dos funcionários de Es
do cic.. : :
De fato, esse trabalho intelectual está investido de toda
série de rituais, de habilidades, de elementos “culturais”, ql
e pule da classe operária, istoé, do trabalho
SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE |
ivo no seio do processo de trabalho material. Se esses sím-
olos ideológicos só têm então pouco a ver com uma diferencia-
ção real na ordem dos elementos de ciência, eles legitimam essa
distinção como se ela se baseasse sobre si mesma. Essa simboli-
zação cultural é bastante conhecida para que lhe dediquemos
mais atenção: ela vai da valorização clássica do “trabalho de
escrita”, dos “funcionários de escritório” em geral (saber escre-
ver e expor as “idéias”) até aquela de um certo uso da “pala-
“vra” (é preciso saber “falar bem” — falar bonito — para bem
vender e comercializar os produtos — a “arte da venda”) etc.,
e destaca, finalmente, as diferenciações ideológicas entre a cul-
tura geral e o traquejo nobre de um lado, e o saber técnico.
“(trabalho manual) do outro. Todas as coisas que, certamente,
“demandam uma certa aprendizagem: aprender a escrever de certa
forma, a falar de certa forma, a vestir-se de certa forma no pró-
prio trabalho, a inserir-se nos usos e costumes de certa forma.
Esta “certa forma” é sempre a outra forma, em relação oposicio-
nal àquela da classe operária: estaforma se dá, além disso, como .
rópria de um certo “traquejo” particular, apreciado positiva-
mente poroposição àquele da classe operária. Sabemos sempre,
ui, O que os outros (a classe operária) não sabem ou não po-
riam, por defeito de origem, saber, e o que sabemos é o “saber
e conta”, o “saber nobre”, o “verdadeiro saber”: somos os in-
electuais dos outros (da classe operária). De fato, a principal
coisa que sabemos é como nos “intelectualizarmos” em relação
à classe operária: sabemos em nossas práticas que somos mais.
“inteligentes”, que temos mais “personalidade” do que a classe
erária, a qual sabe apenas ser “hábil” 7. E temos, realmente, o
monopólio e o segredo desse “saber”. Ra
—. Essa divisão trabalho intelectual /trabalho manual e suas im-
Plicações ideológicas atingem, em um grau desigual e sob formas.
muito complexas, o conjunto da nova pequena-burguesia em suas |
relações com a classe operária. Essa divisão tem repercussões
ideológicas diretas e consideráveis, que não se podem mais de-
monstrar, na: percepção que têm de seu próprio trabalho e do
trabalho dos “outros” os agentes respectivos da nova pequena- .

* Tanto melhor o sabemos porque é o que mostram os lúgubres


“testes” psicológicos de “inteligência” (os q!: quociente de inteligência),
que são atualmente uma das formas principais da seleção escolar: tes-
es moldados sob medida e inteiramente calcados na legitimação da di-
isão trabalho manual/trabalho intelectual. De fato, as estatísticas
basea-
das nos “testes de inteligência” mostram o decréscimo constant
e dos QE
los mais altos executivos aos trabalhadores braçais. Realment
e!...
281
PAPEL DA DIVISÃO DO TRABALHO

o o discurso (o que é sem-


burguesia € da classe operária. Em tod
cio importante) dos agentes
pre apenas um indício, mas um indí
recorrente e principal que
da nova pequena-burguesia, o traço
caracterizar sua relação
sobressai, quando se trata para eles de inção de seu traba-
com a classe operária, é aquele de uma dist
”, aquele que está
lho em relação ao “simples trabalho manual úl-
rial. Este
diretamente situado no processo de produção mate
um trabalho mais
timo não é simplesmente considerado como va-
na ordem de sua
penoso, mas como um trabalho que requer,
cimentos”, menos
lorização do trabalho intelectual, menos “conhe
” que faz
“aptidões”, um trabalho ao qual falta o “não sei quê
-
a “qualidade” e a “superioridade intelectual”, em suma a “res
s,
peitabilidade” de seu próprio trabalho contra o qual podem, aliá
ria
muito bem se insurgir. Mas a classe operária, na sua próp
percepção do “mundo dos empregados e dos funcionários”, in-
o a-.
troduz, ela também, como elemento principal, a distinçã trab
e últi-
lho intelectual/trabalho manual com uma valorização dest
são
mo. Tudo concorre de fato para demonstrar que essa divi
trabalho intelectual/trabalho manual continua a ter um papel
uesia e
próprio na barreira de classe entre a nova pequena-burg
cas
a classe operária: dependendo ela própria das relações ideológi
capitalistas, e de uma política precisa da burguesia, tem por sua
se da
vez efeitos consideráveis na formação da ideologia de clas
nova pequena-burguesia.

IV

ão
O lugar particular dessa nova pequena-burguesia na divis
e na
trabalho intelectual/trabalho manual reflete-se diretament
es no
“formação-qualificação” da força de trabalho de seus agent
seio do aparelho escolar: aparelho que “desempenha um papel
próprio na reprodução dessa divisão e na distribuição dos agen-
lista,
tes nos diversos lugares das classes sociais. A escola capita
situada em relação à, e reproduzida como aparelho em função
da divisão trabalho intelectual /trabalho manual que a transcende
e lhe determina o papel (separação da escola e da produção, li-
gada à separação eà despossessão dos trabalhadores diretos de
seus meios de produção), desempenha um papel próprio na qua-
lificação do trabalho intelectual, papel particularmente caracie-
rístico, e inteiramente específico, no caso da nova pequena-bur-
guesia. É que essa escola, situada em relação ao trabalhointe-
282 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

lectual, reproduz em seu seio, sob formas específicas, a divisão


trabalho intelectual /trabalho manual, e é ela própria dividida.
Fui assim levado a falar do livro de Baudelot e Establet,
L'Ecole capitaliste en France8, o que constitui um passo decisivo
no esclarecimento dessa questão. Esses autores insistiram prin-
cipalmente no fato de que a escola está dividida em duas redes
essenciais, uma se situando ao lado do trabalho intelectual,
a
outra ao lado do trabalho manual. Isso me parece fundamental-
mente justo, mas com a condição de bem precisar que se trata
aí de uma divisão “bipolar” tendencial, que se exprime de forma
específica no que concerne às diversas classes sociais.
Pois é aí que as análises desses autores parecem não dar
uma volta completa. Sua conclusão conduz diretamente a ocultar
O lugar específico da nova pequena-burguesia no aparelho esco-

PERES
lar. Isso adquire, em Baudelot e Establet, a forma de uma afir-
mação de que não existe “terceira rede” escolar específica para
a nova pequena-burguesia º, que as duas redes se compõem de
uma rede específica para a burguesia e de uma rede específica
para a classe operária e para as massas populares: a nova
pe-
quena-burguesia é diluída em um aparelho que, no seu seio,
pro-
duz quer agentes das “classes superiores”, quer agentes
de “clas-
ses inferiores”. Essa conclusão, que me parece errada,
apóia-se
em premissas contestáveis às quais se subordina o tratamen
to do
material empírico:

1. Ela se apóia primeiramente de forma parcial em um


exame institucionalista do aparelho escolar, a saber sobre uma
identificação das duas redes com um número dado de ramos ou
sub-ramos escolares (o PP: primário/profissional — e o ss: se-
cundário/superior): o que não permite precisamente que se
apreendam as formas de reprodução da divisão trabalho intelec-
tual/trabalho manual no próprio seio dos diversos aparelhos es-
colares, situados como tais de um lado e de outro da linha de
divisão da escola (para aceitar a terminologia dos autores, no
próprio seio do pp e do ss). E, bem evidente, não se trata aqui
de simples matizes na medida em que minhas observações se
referem à reprodução das classes sociais e principalmente àquela
da pequena-burguesia. Deslocando globalmente o terreno da ins-

8 Maspero, 1971.
E Jbid' pp 81-82.
tituiçãoescolar para as classes sociais, observamos claram
E quanto à pequena-burguesia:
a) que é verdade que não. existe “rede” escolar especi
mente pequeno-burguesa, sob a única condição de não identi cê
redes e aparelhos institucionais, mas apreender as redes com
“tendencialidade bipolar de reprodução da divisão trabalho “inte
“ lectual/trabalho manual no seio da escola; nd o
b) que a nova pequena-burguesia é maciçamente escolari
da sob formas que ou pendem para o lado do “trabalho intel
tual” da divisão escolar, ou são fortemente impregnadas por e
e isso, inclusive e sobretudo, no caso em que ela é escolariza
“na rede dita “primária-profissional”. Em outra

escolarizados em aparelhos que aparecem formalmente com


destinados maciçamente à classe operária, suas formas
d
escolarização se distinguem radicalmente das formas
de
última; ; se

burguesa.

2. O encobrimento desses problemas prende-se igualment


em Baudelot e Establet, a uma interpretação contestável
do
terial empírico fornecido pelas estatísticas oficiais. Principalm
te, a dissolução do lugar específico da nova pequena-burguesia
aparelho escolar prende-se, em grande parte, ao reagrupam
n
que esses autores fazem das diferentes cs (categorias
sociop.
fissionais) das estatísticas francesas em classes sociais,
chegando
assim esses autores a um reagrupamento em “classes
superiores”
(burguesia) e “classes inferiores” (classes populares).
3. O material empírico sobre o qual essas análises e
fundamentadas refere-se exclusivamente à origem socia
l dos al
nos nas duas “redes” (o pertencimento de class
e do pai). A 1
cuna consiste aqui no fato de que nem sequer uma
vez é levad,
em consideração uma análise das formas da esco
larização qu
Os agentes seguiram segundo os lugares reais que
eles próprio
ocupam nas relações de produção, isto é, uma vez
egressos d
escola (relações entre “escolarização” e “qualifica
ção”). A idéi
subjacente é que o aparelho escolar constitui o princ
“Oúnico, aparelho de “distribuição.dos agen
ipal,
senã
tes nos lugares «
classes sociais, tudo sendo desempenhado na escol
a. Então q
“se considera este último elemento, as diferenças entre classe.
perária e nova pequena-burguesia aparecem de forma perfeita- .
gente clara. -

Essa escolarização inteiramente específica da nova pequena-


burguesia do lado do trabalho intelectual na divisão escolar pode
ser apreendidaatravés de toda uma série de indicadores.
" Primeiramente, a nova pequena-burguesia tem, no seu con-
junto, e para retomar aqui o próprio critério de Baudelot e Esta-
blet, consideravelmente mais possibilidades de ser escolarizada
o ss do que a classe operária.
Com efeito, os próprios autores estabelecem 1º que um filho
de operário tem 54 possibilidades em 100 de ser escolarizado no
p e somente 14 de o ser no ss, enquanto um filho de “burguês”
— segundo os próprios termos dos autores — tem54 possibilida-
es em 100 de ser escolarizado no ss e somente 14 de o ser
O PP. :
“Ora, tendo em mente a probabilidade para os filhos de ope-
os, observa-se comnitidez a distinção relativamente aos fi-
s dos que são somente “empregados”: estes últimos têm mes:
o assim 33% de possibilidades de ser escolarizados no ss, e 27%
o serem no pp. Em outras palavras, considerando somente |
sempregados, como o fazem esses autores, seus filhos têm mais
ossibilidades de ser escolarizados no ss do que noPP, O que,
o é absolutamente o caso para a classe operária. e
“Noentanto ainda há mais: quando esses autores estabele
em tais probabilidades, classificam na burguesia, e isso em co
dição com o que haviam declarado no princípio de sua obra,
ão somente os diversos “executivos superiores” do INSEE, mas
gualmente, e na sua totalidade, os “executivos médios” !!, Da
a

O Ibid. pp. 19 sq. :


11 Com efeito, os autores declara m na página 67, nota 9, ond
estabelecem sua posição em relação à esp: “Grosso modo, as profissõe:
liberais, executivos superiores, grandes industriais, grandes comerciante
aquele:
“correspondem aproximadamente à clesse burguesa, isto é, a todos
“que, por sua ideologia e seu modo de vida, estão objetivamente asso
o seg
ciados à classe capitalista.” O que não os impede, em- todo
de consider ar os “executi vos médios” como fazend:
mento de seu texto,
parte da burguesia: “As classes médias não têm escolaridade específica
“para os empregados, a probabilidade da rede ss é intermediária entr
aquela das profissões liberais, executivos superiores, executivos médios
aquela dos operários (p. 81).” Essa é, aliás, igualmente, a posição di
de;
Grignon (e da escola Bourdieu .em geral); cf. Grignon, L'Ordre
choses, 1972. : : ? ; sur E
PAPEL DA DIVISÃO DO TRABALHO 285.

remos conta da arbitrariedade do procedimento sc iembrarmos


«que, para O INSEE, são considerados como fazendo parte dos “exe-
cutivos médios”, entre outros, o conjunto dos professores primá-
rios, dos enfermeiros diplomados, dos assistentes sociais etc. (que
fornecem o grosso do efetivo dos “executivos médios”). Isso sig-
nifica, muito claramente, que, para esses autores, são classifica-
dos como “filhos de burgueses” os filhos do simples professor
primário ou da assistente social: o que, evidentemente, leva a
ocultar o critério de classe.
O desacordo é grande. De fato, como veremos, a grande
maioria dos “executivos médios” pertence à nova pequena-bur-
guesia. Se os considerarmos assim, constataremos: a) de um lado,
que os filhos dos burgueses efetivos têm muito mais possibilida-
des de ascender ao ss do que dizem esses autores, pois sabemos
de fato que os filhos dos “executivos médios”, incluídos por eles
ma burguesia, têm bem menos possibilidades de ascender ao ss
do que os filhos dos “executivos superiores”; b) mas, por outro
lado, que os filhos dos pequeno-burgueses (“executivos médios”,
incluídos desta vez) têm ainda mais possibilidades do que a classe
operária de ascender ao ss, o que não aparece na classificação
desses autores, que só incluem na pequena-burguesia os empre-
gados: sabemos, com efeito, que os filhos dos “executivos mé-
dios” têm mais possibilidades de aí ascender do que os dos em-
pregados (ainda que haja diferenças importantes nesse sentido
no seio dos empregados segundo a fração de classe de que depen-
dem). Digamos, grosso modo, que se as probabilidades de acesso
das crianças da classe operária ao ss são exatamente aquelas es-
tabelecidas por Baudelot e Establet, em compensação, a proba-
bilidade para os filhos dos pequeno-burgueses é consideravelmen-
te superior âquela que eles indicam: cerca de 40 possibilidades
em 100 de serem escolarizados no ss e 20 de serem escolarizados
no PRÉ

12 As probabilidades estabelecidas por Baudelot e Establet de


acesso ao SS e ao PP somente para os empregados estão na base de sua
afirmação a propósito das duas únicas “redes”: “Constata-se por outro
lado que as probabilidades de escolarização das crianças das classes ditas
médias (empregados, patrões de indústria e de comércio) no ss e PP são
bastante próximas: 0,33 e 0,27 para os empregados e 0,27 e 0,35 para
os patrões (pequenos e grandes). O que demonstra claramente que não
existe escolaridade específica, própria às classes médias” (p. 81). -Obser-
vemos incidentalmente que, para as necessidades da causa, Baudelot e
Establet incluem aqui nas “classes médias” os patrões;. pequenos e gran-
des, da indústria e do comércio, isto é, uma grande parte da burguesia
simplesmente! Mas o aspecto principal da questão refere-se de um lado
286 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

Mas vamos mais além: um indicador que se pode enfatizar


aqui quanto à natureza de escolarização da classe operária e da
nova pequena-burguesia consiste na diferença entre o ensino ge-
ral e o ensino técnico (ou “profissional”). Se bem que essa dis-
tinção não designe absolutamente duas “fileiras” de escolarização:
distintas, pois uma parte do técnico depende da rede superior,
uma outra da rede primária, sendo a mesma coisa para o ensino
geral, ela é significativa: é que o ensino geral exprime a repro-
dução complexa, de um lado e de outro, da linha principal de
demarcação da divisão escolar, do trabalho intelectual — cultura
geral — em sua distinção do trabalho manual — ensino das “ha-
bilidades técnicas”. o
Segundo tal ponto de vista, as diferenças entre a nova pe-
quena-burguesia e a classe operária aparecem claramente: quan-
E do se consideram unicamente os “empregados”, somente 18,5%
j " de filhos de empregados seguem um ensino técnico-profissional,
enquanto 48% dos filhos de operários seguem um ensino seme-
lhante 33.

Retomemos agora o caso que Baudelot e Establet denomi-


nam Pp, considerando-o de forma “unificada” para o conjunto
das “classes populares”. Só me refiro aqui à distinção entre o
BEPC, diploma de ensino geral que se pode obter aos 15 anos,
e o cap, diploma de ensino técnico que não se pode obter antes
de 17 anos no mínimo: em 1962, em 100 titulares do cap, 70
filhos de operários e de camponeses, e somente 30 crianças da
nova pequena-burguesia. Em compensação para o BEPC (ou. títu-
lo superior), em 100 titulares: 72 crianças da nova pequena-bur-
guesia, e 14 somente da classe operária e do campesinato.
Isso se exprime igualmente em diferenças essenciais dos esta-
belecimentos pertencentes ao PP. As pesquisas de Grignon 1£
mostram de fato que esses próprios estabelecimentos destacam
diferenças fundamentais e de classe. Sobre as diferenças entre a
classe operária e a nova pequena-burguesia: para os alunos de

a a que essas probabilidades não são consideradas em relação àquelas da


E classe operária; por outro lado, que as probabilidades que indico, quanto
a mim, feita a correção, não estabelecem, a meu ver, uma terceira
“rede” escolar para a pequena-burguesia mas, tendó em vista as obser-
vações que fiz sobre esse assunto, sobre a escolarização da nova pe-
quena-burguesia do lado do trabalho intelectual, e a existência de uma
forma de escolarização específica desta.
18 M. Praderie, op. cit., p. 94.
4 L'Ordre des choses, op. cit., pp. 35, 45.
“um cer (colégio de ensino técnico), 48,5% são filhos de ope
rios é cerca de 32% da nova pequena-burguesia, enquanto pa
um ceG (colégio de ensino geral), cerca de 60% têm pais per
tencentes à nova pequena-burguesia, e somente 22% à class
operária.
Em outras palavras, as divisões no próprio seio do PPnã
somente não constituem “matizes”, como sustentam Baudelot
Establet, mas se mostram decisivas como barreiras de classe. Ma
ainda há mais: essas barreiras aparecem aqui, onde se desempe:
nham as diferenças decisivas entre a classe operária e a nov
pequena-burguesia, de forma bem mais clara quando não surgem
no aparelho secundário e superior propriamente dito, onde s:
desempenham as diferenciações entre nova pequena-burguesia e
burguesia: e isso ao contrário do que sustentam Baudelot e Es
tablet, que só vêem esses “matizes” no secundário-superior. A
razão é simples: o objetivo do primário-profissional é, entre ou
tros, dividir e separar as classes populares, principalmente a clas
se operária e a nova pequena-burguesia, enquanto aquele dc
secundário-superior é, distinguindo a nova pequena-burguesia d
burguesia (grandes escolas por exemplo), reunir estreitame
sua aliança, permitindo uma penetração muito mais importante
das instituições destinadas ao pessoal burguês por parte das cria
ças de certos conjuntos pequeno-burgueses (executivos médios po
exemplo).
Além disso, diferenças claras surgem entre os tipos de ensi
seguidos no seio de um mesmo aparelho. aparentemente técnico
principalmente o: ceT, e os diplomas obtidos, principalmente.
cap, entre os agentes que se destinam à nova pequena-burguesi
e aqueles que se destinam à classe operária, diferenciações muit:
mais importantes, de fato, do que aquelas que separam, por ex
plo, os bacharelados clássico e técnico. As formas de escolariz
ção no próprio CET, e os CAP aos quais elas dão lugar (cer que
faz por excelência, e justamente, parte do pp para Baudelot |
Establet), diferem radicalmente, conforme essa escolarização sej:
aquela de agentes destinados à pequena-burguesia, ou ainda a
agentes que se destinam à classe operária: o fato de que os diver-
sos ensinos que são aí dispensados aos “empregos de escritório
“contabilidade” etc. (existem ceT “comerciais”, “contábeis” etc
pendem para o lado do trabalho intelectual, enquanto aqueles qr
são dispensados a um Cap de operário torneiro do lado do trab
lho manual, é demasiado evidente para que seja necessário ins
tir. Mas isso vai ainda mais além: e dou a palavra a Grignon,
$ “ 1 a

“assinala: “Os ofícios que a maioria das moças desejam apren


er quando de sua entrada no CET e Os ofícios que lhes são efeti
ofí-
amente ensinados têm em comum não serem precisamente
jos “técnicos”: os ofícios da moda e da decoração (vendedora,
“cabeleireira, esteticista, desenhista de moda, vitrinista...) e os
ofícios do vestuário ou os ofícios comerciais que lhes são efeti-
vamente ensinados, apelam para seu “gosto”, sua “sensibilidade”
seu “discernimento”... mais do que para conhecimentos técnicos
particulares; para as secretárias aprendizes, a “tecnologia” se reduz,
em uma boa parte, à aquisição de conhecimentos de ortografia,
de vocabulário e de gramática. É a mesma coisa para os ofício:
ociais, parapedagógicos ou paramédicos... ofícios que não são
emverdade nem “manuais” nem “técnicos”. Enquanto o sucesso
«dos gestos profissionais de um operário depende da estrita apli-
cação de receitas ou de regras técnicas... (esses ofícios) podem
epender em larga medida da maneira como são realizados... A
rática profissional (desses agentes) lhes dá oportunidade de ad-
uirir competências urbanas, senão mundanas, que faltam à j
emoperária sujeita a tarefas puramente manuais 15,”

perária. Com efeito, só Se PI


oga e aproximativa que a escola “forma
m lado, e trabalho manual (formação técnica), do outro. Num
sos estudos têm amplamente demonstrado que a escola capit
do trab
ta não pode, globalmente situada como está do lado
l. A form
ho intelectual, formar o essencial do trabalho manua
o profissional operária e essencialmente o “saber técnico” o
a ca:
rário nãose ensinam (não podem ser “ensinados”) na escol
o téc:
italista, nem mesmo em suas fileiras eaparelhos de ensin
operária é.
“nico. O que se ensina principalmente para a classe
lh
disciplina, o respeito daautoridade, a veneração de um traba

de Grignon perm
8 Tbid., po 97. Certamente, essas observações
fato, é que essas diferenças nã
"necem descritivas: o que ele não vê, de
al cultur al” difere nte (recei tas téc
são devidas finalmente a um “capit
as versus “maneira”) masàs diferenciações. entre - trabalhos diretamer
plicados no processo de produção material e Os outros.
x
“intelectual que se encontra
“Sabe-se que um dos aspectos d
os agentes da class
ção entre a formação que, segundo se supõe,
ão” formal pela formaçã
“operária recebem da escola (“qualificaç
s ocupam nos po
profissional — escolar), e o lugar real que ele
tância da “esc
tos de trabalho na produção: encontra-se aí a dis e ensõe
ent dim
ta” para a “fábrica”, distância que ganha atualm
É
«consideráveis 18.
a form
As coisas não se apresentam absolutamente da mesm
do sua
para a nova pequena-burguesia e o trabalho intelectual, sen
n'
força de trabalho, no seu lado trabalho intelectual, efetivame
;
formada pela escola.
ctua
“A escola reproduz em seu seio a divisão trabalho intele
ção
trabalho manual ao formar o trabalho intelectual: a “forma
o e
do trabalho intelectual consiste essencialmente, em seu sei
ão interioriza
excluí-lo do trabalho intelectual, sendo essa exclus
ão.
do trabalho manual (seu encasernamento) a própria condiç
pal
formação do trabalho intelectual pela escola. O papel princi
escola capitalista não é “qualificar” diferentemente O trabal
icar
manual e o trabalho intelectual, é, bem mais, desqualif
ho
trabalho manual (sujeitá-lo) qualificando apenas o trabal i
telectual. O papel do aparelho escolar na formação da nova
erável,
quena-burguesia é, conforme esse ponto de vista, consid
nar
mesmo bastante típico emseu caso: só precisamos mencio
papel dos diversos diplomas e pergaminhos no seu merca
e
trabalho. Isso representa uma tendência marcante atualment
onde o “aprendizado no local de trabalho” é, para uma gran
parte dessa pequena-burguesia, substituídopela formação escol
“Já se pode ver isso no nível mais baixo do próprio aparel
escolar: em 1964, para os agentes nascidos em é após 1918, a pr
porção de operários sem nenhum diploma (nem mesmo o CEP:
certificado de estudos primários) se elevava a cerca de 40%,
urgue
quanto ela era somente de 10% para a nova pequena-b
(executivos médios não-incluídos, ou a diferença. seria ainda m
s
considerável). Mas ainda: 27% dos operários “qualificado n
possuíam nenhum diploma, contra somente 3% dos emprega
de escritório “qualificados” (executivos médios também nã
cluídos) *. Ê

16 Ver principalmente: o número especial do Temps, moder


E agosto-setembro de 1971, sobre L'Usine et VEcole. RO
e a
E "17 Fontes: INSEE, a pesquisa de 1964 sobre “a. formação
] lificação: dos frances es”, resultad os .na -Econo mie et Statisti que,
290 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

Enfim: o papel desses graus escolares é muito mais impor-


tante do que no caso da classe operária, na ventilação interna da
nova pequena-burguesia, na “promoção” de seus agentes, sua.
“carreira” etc. Assinalo simplesmente que em 1968, entre os agen-
tes masculinos que tinham entre 25 e 34 anos (portanto em uma
época em que se supunha uma “democratização” escolar avan-
E
cada), somente cerca de 44,6% dos operários qualificados (e 19%
É dos os) possuíam um diploma superior no CEP, inclusive os exa-
y

k EÉ
o mes de final de aprendizado que são de fato exteriores ao apa-
relho escolar e realizados “no local de trabalho”; em contrapar-
tida, tal foi o caso para 53,3% de simples empregados e para cer-
ca de 90% dos diversos executivos médios, sendo as disparidades,
como se sabe, ainda mais importantes na população feminina 1s.
Se aprofundarmos a análise, combinando principalmente as diver-
sas categorias de agentes, as quotas de salários às quais eles per-.
tencem (relação “qualificação” e “hierarquia salarial”) e os tipos.
e graus de diplomas escolares, veremos, de forma extremamente
clara, o papel totalmente específico do aparelho escolar na ven-
tilação e nas relações internas dos agentes pequeno-burgueses 1º.
Convém notar, enfim, que os elementos que aqui utilizo em apoio
à minha tese não se referem absolutamente à famosa questão da.
duração dos estudos nas diversas classes sociais, critério que,
como Baudelot e Establet demonstraram perfeitamente, supondo
uma escola unida e uniforme em “degrau”, é inteiramente fala-
cioso.

Poderíamos, no entanto, objetar que a inadequação entre a


formação escolar e o mercado de trabalho, entre outros os postos .
realmente ocupados pelos agentes dessa pequena-burguesia, encon-

1970. Esses resultados são corroborados pela nova pesquisa semelhante,


de 1970, cujos resultados, ainda não publicados, se encontram no INSEE
à disposição do público.
18 Fontes: INSEE, “Résultats du recensement général de 1968”, tomo
Formation, 1971, pp. 52 sq., 116 sq.
19 Assinalo incidentalmente o papel todo diferente que assume, para
a nova pequena-burguesia e para a classe operária, a formação perma-
nente atual: é para a nova pequena-burguesia que ela funciona de modo
relativamente importante, no próprio seio dos lugares e aparelhos esco-
lares, situada diretamente sob o signo da promoção. Para a classe ope-
rária, ela é ao mesmo tempo importante e, pela “reciclagem” que ela |
abrange, opera essencialmente como uma simples redistribuição da força |
de trabalho na “reestruturação” industrial atual (os operários, em massa,
não “ascenderão” mais pela formação permanente e eles o sabem). Ver
sobre esses assuntos INED, Travaux et Documents, caderno n.º 50.
Oaados diplomas no mercado de trabalho intelectual,o«
atualmente uma das formas dessa inadequação. Ora, se não
“dúvida que o processo qualificação-desqualificação da força de
trabalho se reproduz atualmente, e maciçamente, no próprio se
do trabalho intelectual (o que desempenha um papel no fraciona-
mento interno e nas posições de classe da nova pequena-burgue-
sia), tal processo assume aqui formas específicas. Ele se traduz
como para a classe operária, pela parcelização do saber ed
“tarefas que afetam certos processos de trabalho intelectual, m
não assume diretamente a figura de uma inadequação do apare-
lho escolar e do processo de trabalho intelectual, comoaquela
que traduz a “separação” da escola e da produção.
Com efeito, essa “inadequação” remontaaqui a uma image
que só pode ser analógica, pela simples razão de que a formação
do trabalho intelectual não corresponde, essencialmente, a dif
renciações reais entre os “conhecimentos” efetivos, requeridos
para ocupar este ou aquele posto “especializado”. A formação d
trabalho intelectual corresponde essencialmente, e em grau d
versos, à inculcação de uma série de rituais, de segredos e «
simbolizações da ordem, entre outras, da “cultura geral”, cu;
principal objetivo consiste em distingui-la do trabalho manu
Assim diferençado,esse trabalho intelectual é, numa grande parti
universalizável, pois está situado na ordem douniversal: com
provam as tentativas feitas para estabelecer uma “escala de qual
ficação” — escalões do trabalho intelectual do funcionalismo, do
escritórios e dos serviços —, que se desejaria objetiva, isto é, co:
respondente a conhecimentos precisos adquiridos na formaçã
desse trabalho, e cujo aspecto fantasmático aparece clarament
estando essa escala de qualificação diretamente fundamentada n
relação com o segredo do saber 2º, Dizer assim atualmente.qu
um diploma universitário de Ciências Sociais, de Letras, de D
reito, um bacharelado qualquer etc. não oferece saídas correspon
“dentes à “qualificação” que ele representa, é relativamente fals
no sentido em que ele não tem por objetivo principal sanciona
esta ou aquela especialização de conhecimento, mas situar se
portador no campo do trabalho intelectual em geral e nasu:
própria hierarquia, isto é, reproduzir a divisão trabalho intelec
tual/trabalho manual. :

20 - Entre outros, sobre 1um dos aspectos dessa questão, Benguigui


Monjardet, “La mesure de qualification du travail des cadres”, e
ciologie du, Travail, n2.24 1998. :
292 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

E se insisto aqui, é para dizer que essa reprodução obtém


resultados numa certa medida, isto é, que a escola é verdadeira-
mente adequada ao seu fim e, nesse sentido, formadora, através
das “inadequações” da formação escolar do trabalho intelectual
e dos postos ocupados realmente pelos seus portadores. Para só
citar um exemplo: o fato, atualmente ponderável, de portadores
de altos diplomas escolares serem colocados em lugares subalter-
nos da nova pequena-burguesia, se testemunha o aspecto de des-
qualificação do trabalho intelectual e tem efeitos sobre as posi-
ções de classe desses portadores, reproduz ao mesmo tempo a di-
visão trabalho intelectual/trabalho manual entre esses lugares e
a classe operária. Esses próprios lugares subalternos são assim in-
E vestidos de um quociente “trabalho intelectual” que os afasta ain-
E da mais, sob certo aspecto, da classe operária. Se uma secretária-
E datilógrafa bacharelada se sente frustrada em suas esperanças,
E isso não evidencia que ela se aproximará automaticamente da
, classe operária: é também muito possível que sua “proximidade”
da classe operária, articulada à sua qualificação escolar, reforce,
nela, suas práticas de distinção da classe operária.
O papel do aparelho escolar é assim inteiramente caracterís-
tico para a nova pequena-burguesia, cujo próprio lugar na forma-
ção social ele contribui diretamente para reproduzir. Isso se re-
E

flete diretamente no papel que esse aparelho desempenha na dis


tribuição dos agentes entre os lugares das classes sociais, sendo
esse papel muito importante para a nova pequena-burguesia, ao
passo que permanece secundário para a burguesia e para a classe
operária. Os agentes dessas duas classes fundamentais, eles pró- .
. prios ou seus filhos, não são distribuídos no sentido literal pela
É escola ou, mais ainda, eles permanecem no lugar, passando-setudo
como se fossem ligados a esses lugares, a escola consagrando e
legitimando essa ligação. Em contrapartida, os agentes pequeno-
burgueses apresentam, como veremos, um deslocamento digno de
nota, que se liga diretamente ao aparelho escolar. Trata-se de
Ê processos reais, que têm repercussões consideráveis sobre a ideo-
E logia da nova pequena-burguesia, ideologia diretamente ligada à
F sua relação particular com o “saber”, “instrução”, “cultura”, e
aparelho escolar.
Essas observações levam-me assim a formular uma proposição |
teórica suplementar. Com efeito, a partir de suas premissas, e se-
guindo suas análises concretas, Baudelot e Establet foram leva-
dos a adiantar a proposição de que o aparelho escolar constitui
o aparelho ideológico de Estado dominante, do ponto de vista da
yrodução-distribuição-qualificação dos agentes, no modo de
ção capitalista, suplantando nisso o papel da Igreja no mo
de produção feudal. Essa proposição me parece, em sua pró
* generalidade, errônea, não somente pelas razões assinaladas :
introdução, mas principalmente porque o aparelho (ou os apare
lhos) dominantes dependem da luta das classes nas formaçõe:
sociais concretas, e ainda também por uma razão suplementar
o aparelho dominante nesse sentido pode, em uma mesma forma
ção social, variar segundo as diversas classes sociais dessa form
ção. As análises acima tendem a mostrar que, se o aparelho esco
lar está em ordem, na França, o aparelho dominante para a pe
quena-burguesia (o que remonta ao apoio específico que durant
muito tempo trouxe a pequena-burguesia à burguesia francesa)
não oestá mais, na França como também em outros países capi--
“ talistas, para a classe operária: parece então que, para esta, esse
papel dominante retorna de fato diretamente ao próprio aparel
econômico, à “empresa”. e

2 do

plexas, o monopólio e segredo do saber dos quais a classe op:


rária está excluída. F o
Mas, em relação ao capital e aos agentes que lhe ocupam
diretamente o lugar, essa pequena-burguesia ocupaela própri
na ordem do trabalho intelectual, um lugar dominado-subordina-
do. O segredo e o monopólio do saber, que se tornam “funçõ
do capita açampor sua vez linhas de dominação-subordinaçã
no próprio seio do trabalho intelectual onde eles se reproduzem.
Essas linhas escondem aqui a divisão fundamental exploradore
explorados, sendo os agentes assalariados não-produtivos, tambér
* na sua grande maioria, exploradospelo capital. Essa dominação
“subordinação de classe assume a forma de uma diferenciação en
tre as funções dirigentes e seus portadores (o pessoal burguês
agentes empresariais, dirigentes do setor público e privado),
um lado, e, deoutro, funções subalternas, o que é particularmen
1 te claro no aparelho escolar. Este, reproduzindo globalmente
des ao mesmo tempo, por canais é file i
na França), a se
íficas(casotípico das grandes escolas
pequena-burguesia.
çã dos lugares da burguesia e da nova
/trabalho manual, re-
infim, essadivisão trabalho intelectual
rio seio do trabalho in-
duzida, sob forma específica, no próp
rnas para a nova
al, traça por esse meio delimitaçõesinte
mitações hierárquicas
n: bur uesia, que são nesse sentido deli
do saber e padr
delimitações de dominação: parcelização
ual que afetam certos e-
ação das tarefas do trabalho intelect
à “racionalização” capitalista, proce
escalões submetidos à
no trabalho intelectua
e qualificação-desqualificação |interna
nternasna orde
delimitações remontam a diferenciaçõesi
pequena-burguesia n
ploração sofrida: os agentes da nova
grau. É o que.
msua totalidade, explorados no mesmo
seesa
eenderá com maior clareza Fe análises ad
V. A NOVA PEQUENA-BURGUESIA
E A BUROCRATIZAÇÃO DO
TRABALHO INTELECTUAL

O que é preciso observar agora, nesse trabalho intelectual


dos assalariados não-produtivos, é a articulação entre essas rela-
ções ideológicas e as relações políticas que determinam igualmen-
te seu lugar, ficando somente o trabalho intelectual como a confi-
guração da articulação estreita dos dois.

Ora, excetuando-se os assalariados diretamente ramificados


no processo de produção e no processo de trabalho capitalista
em sentido estrito, como os diretores e supervisores do processo
de trabalho, os engenheiros e técnicos da produção, a nova pe-
quena-burguesia não exerce, ao menos diretamente, funções de
dominação política sobre a própria classe operária. A articulação
de relações ideológicas e de relações políticas, situando esses assa-
lariados no seio da divisão social do trabalho, segue desvios muito
particulares.
Antes de examiná-los, assinalemos, no entanto, o caso de
assalariados não-produtivos que, não fazendo parte nem dos su-
pervisores do processo de trabalho nem dos engenheiros e técni-
cos — do domínio lato sensu —, estão, entretanto, situados no
próprio seio das empresas industriais: o que é o caso para 32%
dos “empregados de escritório” e para 13% dos “empregados
de
comércio” ?. Sabe-se que esse fenômeno assume atualmente im-
portância, em razão do processo de concentração do capital, e

2 M. Praderie, Les Tertiaires, 1968, p.


46.
296 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE
agentes
tem como efeito a extensão do aparelho da empresa aos
e abai-
que preenchem atividades (acima da produção: pesquisa,
modi-
xo: comercialização) em que ela se anexa. Se esse fato não
ele tem
fica em nada o caráter não-produtivo de seu trabalho,
e operária:
efeitos sobre as relações desses assalariados com a class
rdinação e
esses agentes, estando então submetidos a uma subo
e à direção da
dependência aumentadas pela relação ao capital
tempo, e em
empresa, encontram-se frequentemente ao mesmo
o dos poderes
relação à classe operária, associados à legitimaçã
que essa direção exerce sobre os operários.
s de nu-
Dou a palavra a D. Lockwood, que descreve, depoi
último as-
merosas pesquisas, e certamente em seus termos, este
“auxiliares de
pecto da situação?: “A situação de trabalho dos
empregados de
escritório” forma um contexto social no qual os
ser estreitamente
escritório (no seio das empresas)... tendem a
direção e de
identificados, como indivíduos, com os executivos de
entre a di-
supervisão da indústria... O resultado da cooperação
social entre
reção (management) e esses empregados é o isolamento
separação
o empregado de escritório e o trabalhador manual. 4
mente a
completa desses dois grupos de trabalhadores é provavel
trial. Em razão
característica mais marcante da organização indus
não é exa-
da divisão rígida entre “os escritórios” e “a produção”,
manual, o 'mana-
gerado dizer que, do ponto de vista do operário
do do “auxiliar de
gement' da empresa elimina o grau menos eleva
está associado à
escritório” de rotina. O assalariado de escritório
geralmente
autoridade empresarial, se bem que ele não se situe
sendo as or-
numa relação autoritária com O operário manual,
as da dire-
dens que governam o processo de trabalho transmitid
por meio do
çãoantes por intermédio dos contramestres do que
tiva do em-
staff (os empregados)... Essa separação administra
ada primordial-
pregado de escritório e do operário... está base
do trabalho
mente na concepção do caráter secreto e confidencial
de escritório...”
s que
Conhece-se a propensão desses agentes, nas lutas atuai
enciados pelo
ocorrem nas fábricas, a serem particularmente influ
os ca-
“domínio” em sentido amplo e a se “identificarem” com
de en-
misas brancas. Podemos sempre apostar, sem muito risco
“pessoal”
gano, que uma grande parte dos “não-grevistas” entre O
os.
de uma empresa em greve refere-se no seu seio a esses empregad
for-
Se, agora, nos referirmos às relações políticas no seio da
r o lu-
mação social no seu conjunto, podemos também apreende
2 The Blackcoated Worker, op. cit., p. 81.
BUROCRATIZAÇÃO DO TRABALHO INTELECTUAL 297

gar particular, nesse sentido, do corpo dos “funcionários” e dos


agentes do aparelho de Estado. Não há necessidade de nos referir-
mos ao caso bem patente do pessoal intermediário e subalterno
dos ramos do aparelho repressivo, para entendermos o papel des-
ses agentes na realização e materialização das relações de domi-
nação/subordinação política que a classe dominante exerce sobre
o conjunto das classes dominadas por intermédio do Estado. Poi
certos aspectos de suas funções, uma grande parte dos agentes dos
aparelhos repressivos e ideológicos de Estado (professores, jorna-
listas, assistentes sociais etc.) participam, somente como simples
executantes (o que os distingue dos “vértices” burgueses dos apa-
relhos aos quais eles próprios estão submetidos e subordinados),
das tarefas de inculcação ideológica e de repressão política sobre
as classes dominadas, e principalmente sobre a vítima principal,
a própria classe operária, mesmo que esses agentes não comandem
sempre diretamente a classe operária: um funcionário dos impos-
tos não tem diretamente, em seu serviço administrativo, operários.
sob suas ordens. y

o
Mas, para entendermos o lugar preciso dos assalariados não-
produtivos nas relações políticas da divisão social do trabalho, em
relação ao trabalho intelectual “separado” do trabalho manual,
nos casos em que eles não exercem forte dominação sobre a classe
operária, é necessário irmos mais além. De fato, o aspecto princi-
pal dessa questão depende da interiorização e da reprodução in-
duzida, no próprio seio dessa nova pequena-burguesia, das relações
políticas dominantes de uma formação social capitalista. O lugar
da nova pequena-burguesia é, essencialmente, caracterizado por
essa reprodução induzida, exercendo seus agentes sobre si próprios,
isto é, uns sobre os outros, relações políticas à semelhança (des-
figurada) das relações de dominação preponderantes em uma for-
mação social. A nova pequena-burguesia faz, sob esse aspecto,
parte de uma classe “intermediária”, não porque ela seja direta-
mente o intermediário efetivo (um “elo” ou uma “reserva”) da
relação de dominação da burguesia sobre a classe operária, sobre-
“tudo porque ela constitui um tubo de ensaio, e um exemplo me-
tafórico do funcionamento interiorizado (portanto específico)
dessa relação em seu próprio seio: seu lugar não legitima tanto a
ominação ou a subordinação; legitima, sim, a relação dominação/
subordinação capitalista, realizando o concentrado desfigurado º.
É aí que se inscreve, de fato, a tendência marcante, e sobre
a qual insistiram numerosos autores, para uma burocratização
pronunciada que afeta a organização do trabalho da grande massa
dos assalariados não-produtivos. O problema é muito vasto, e não
vou tratá-lo aqui profundamente. Não vou tentar tampouco re-
futar toda uma série de concepções da “burocracia” que, decor- |
rendo de uma problemática “institucionalista” da “organização”
sm geral, vêem o fenômeno principal das “sociedades industriali-
zadas”, associando-lhe a organização das próprias unidades de
rodução (a “burocratização das empresas”). Lembrarei simples-
mente * que a burocratização não abrange uma simples organiza-
ção técnica do trabalho, que corresponde a uma “racionalidade”
“ou “irracionalidade” qualquer intrínseca ao capitalismo. Somente
nosentido rigoroso, essa burocratização é o efeito, na divisão so-
“cial do trabalho no plano institucional, de uma conjunção da
deologia burguesa e do subconjunto ideológico pequeno-burguês
elações ideológicas), e de uma reprodução metafórica e desfi-
urada das relações políticas burguesas de dominação/ subordina-
ão. Suas características, estudadas entre outros por Marx, Engels,
Lênin, mas também por M. Weber, consistem na axiomatização
le umsistema de regras e de normas que distribui os domínios.
e atividade e de competência; o caráter “impessoal” das diversas
unções; o modo de sua retribuição em tratamentos fixos; o re-
“crutamento por designação a partir do vértice sobre concurso ou
“sobre a base de “diplomas”; as formas particulares de ocultar o
saber no seio da organização pelo “segredo” burocrático; as for-
mas particulares de funcionamento da “hierarquia”, por delega-
ção em cascatas sucessivas da “autoridade” (voltaremos a esses
ermos); o centralismo pelo qual todo escalão “comunica” com,
os outros através, indiretamente, do escalão superior, o que dá
“lugar a um isolamento específico dos agentes etc.
- Mas o que está em questão aqui é realmente a burocratiza-
“ção, como tendência materializante dos efeitos ideológico-políticos
“sobre o trabalho não-produtivo, e não a “burocracia” no sentido
de uma “organização” com relações principalmente contínuas e
uniformes do “vértice” até a “base”, como o entende a esmaga:

8 Ver adiante, pp. 316-7. . ÇA


Ee Tratei amplament e essa questão em Pouvoir politique et Classes
sociales, t. II, último capítulo.
dora maioria dos sociólogos que falam desse fenômeno5: dis
ção entre burocratização e burocracia cujos efeitos práticos ve
remos. E

Essa burocratização não se limita mais, atualmente, apenas.


ao setor público do aparelho de Estado no sentido estrito, mas
marca precisamente, em graus certamente desiguais, os lugares
“privados” onde se localiza uma grande maioria dos assalariado
“não-produtivos: bancos, seguros, empresas de publicidade e di
marketing (os “empregados de escritório”), as empresas come
ciais, o setor “serviços” (hospitais, laboratórios de pesquisa etc.).
A extensão atual da burocratização é devida, essencialmente, a
“processo de concentração e de centralização do capital, às novas
“formas de divisão social do trabalho que ele impõe, e à generali-
zação e extensão do sistema salarial no setor dominado pelo tra-.
balho intelectual. Essa burocratização tem efeitos consideráveis
se bem que contraditórios, sobre os agentes que lhe são submetidos.
'* Quando nos referimós principalmente às características esse:
ciais do “segredo do saber” (segredo burocrático) e à delegação
da autoridade, percebemos perfeitamente que esses agentes, estan-
do submetidos em seu conjunto aos “vértices” e à direção, repr
duzem, em suas próprias relações internas, essas características.
Os diversos pequeno-burgueses detêm, em relação àqueles qu
"lhes são subordinados, uma parcela desse segredo fantasmático do
“saber que legitima a parcela de autoridade delegada que eles exe:
cem. Encontra-se aí todo o sentido da hierarquia. Toda instância
burocratizada subordina e se subordina: somos sempre, ao mesmo
tempo, o “superior” e o “inferior” de alguém. Mas não devemos
considerar essa burocratização como um “modelo de organiza-
ção”, e identificá-la assim a um certo tipo ideal de “burocracia”
* principalmente como aquele dos aparelhos de Estado ou mesmo
“aquele, tradicional, do aparelho de Estado napoleônico ou bis-
marckiano. As formas de burocratização são complexas e subm -
tidas, também, a transformações. Podemos mesmo dizer que uma

— & É principalmente o caso, além das análises bem conhecidas de


Parsons, e aquelas de Dahrendorf, para P. Blau, Bureaucracy in Modern
Society, 1956: A, Gouldner, Patterns of Industrial Bureaucracy, 1964; .
Etzioni, Modern Organization, 1965; e enfim M. Crozier, Le Phénomêne
bureaucratique, 1963. Chamo a atenção, no entanto, para as numerosas
discussões que tiveram lugar na França, em torno desse assunto, a part
- dos anos 50, as excelentes observações críticas a essas correntes por
Ea (reproduzidas atualmente em Critique de la bureaucra-
í
300 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

certa forma de burocratização, calcada em um tipo centralizador-


militar, viveu no passado e a ele pertence. O que não impede que
os traços essenciais da burocratização se reproduzam atualmente.

É inútil prosseguirmos na descrição de fatos bem conhecidos.


Mas podemos dizer que, pela articulação das relações ideológicas
-— segredo e monopolização interiorizada do saber — e das re-
lações políticas, a burocratização aparece de fato, essencialmente
como a materialização específica, na divisão social do trabalho,
de um trabalho intelectual “separado”, no sentido capitalista, do
trabalho manual.
Com efeito, essa burocratização se distingue do despotismo
de fábrica que é próprio da organização social do trabalho ma-
nual, e isso ao contrário do que sustenta a maioria dos “sociólo-
gos do trabalho” (a burocratização da “empresa”), ao seguir, nisso,
o próprio M. Weber. Nesse despotismo de fábrica baseado na
extração da mais-valia, isto é, na relação de exploração domi-
nante, a burguesia domina e oprime a classe operária: mas a
classe operária não reproduz absolutamente em seu próprio seio
essas relações de dominação/subordinação. Mesmonocaso de uma
tendência à reprodução da divisão trabalho intelectual/trabalho
manual no seio do trabalho manual, essa reprodução não assume
absolutamente as mesmas formas queno seio do trabalho intelec-
tual. Em suas relações internas, as diversas camadas de operá-
“Trios (operários qualificados — profissionais, os, mão-de-obra bru-
ta e os diversos escalões dessas camadas — 05 1,2,3 — 0P 1,2,3
etc.) não exercem sobre as outras (as camadas “inferiores”) a
monopolização do saber e as relações de autoridade, e certamen-
te não da mesma forma como ocorre nas relações internas da
pequena-burguesia burocratizada. Desse ponto de vista, isto é, na
própria organização do trabalho da fábrica no seio da classe ope-
rária, aqueles que exercem de fato poderes são os executivos de
supervisão e de direção, a saber, os contramestres, os técnicos etc.
Ao passo que, para a nova pequena-burguesia burocratizada, e se-
gundo a própria interiorização das relações ideológico-políticas
que a caracterizam na própria organização de seu trabalho, todo
agente tem tendência a exercer relações induzidas de autoridade
e de segredo do saber sobre os agentes subalternos.
Certamente, a política da burguesia consiste precisamente em
fazer interiorizar esse tipo de relações no seio da classe operária:
mas ela se choca aqui contra o núcleo irredutível da socialização
do processo de trabalho produtivo, que conduz constantemente a
BUROCRATIZAÇÃO DO TRABALHO INTELECTUAL 301

classe operária à subversão dessas relações, e encontra-se precisa-


mente aí o sentido próprio das reivindicações anti-hierárquicas da
classe operária e que se distinguem em geral, em seu conteúdo,
daquelas da nova pequena-burguesia. Não é por acaso que a bur-
guesia deve passar, para introduzir essas relações político-ideoló-
gicas no seio da classe operária, pelo caminho todo particular da
“aristocracia operária” e das “burocracias sindicais de colabora-
ção de classe” (Lênin). Essas coordenadas permanecem, natural-
mente, co-substanciais à dominação da burguesia sobre a classe
operária, mas elas são constantemente subvertidas pelas relações
de trabalho no seio da classe operária (o “instinto de classe”), ao
passo que a interiorização dessas relações no seio da nova peque-
na-burguesia burocratizada decorre da reprodução de seu próprio
lugar na divisão social do trabalho. De fato, nesse sentido, a re-
produção burocrática só funciona na empresa, para as relações in-
ternas dos empregados no seu seio.
- Vemos, assim, como essas relações estabelecidas na organiza-
ção burocrática do trabalho são somente a reprodução induzida
e, além disso, a reprodução desfigurada, das relações político-ideo-
lógicas de dominação/subordinação de classe. Todo agente pe-
queno-burguês não exerce sobre seus subordinados uma domina-
ção idêntica (isto é, uma dominação de classe) àquela do capital,
e dos agentes que ocupam seu lugar, no conjunto da pequena-
- burguesia. Os pequeno-burgueses não exercem, uns sobre os ou-
tros, efetivos poderes (o poder escondendo as relações de classe),
mas autoridade (a autoridade designando precisamente a repro-
dução induzida desses poderes). Com efeito, esse capital existe
sempre, sua existência determinando efetivamente essa organiza-
ção social do trabalho, não sendo a dominação de classe absoluta-
mente substituída por uma dominação/subordinação uniforme,
que decorreria da “própria” natureza da “organização”. Contudo,
há mais, pois essa dominação — o exercício do poder — da bur-
guesia sobre a parte burocratizada da pequena-burguesia assume,
no processo de trabalho, formas completamente diferentes da do-
minação — o exercício do poder — que ela exerce sobre a classe
operária pelo despotismo de fábrica na extração da mais-valia.

Podemos assim esclarecer agora certas questões relativas aos


aparelhos:

1. As diversas “empresas” nas quais se organiza o trabalho


desses assalariados constituem realmente aparelhos: elas materia-
4

302 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

lizam e encarnam as relações ideológico-políticas articuladas à ex-


ploração específica que sofrem esses agentes. Esses aparelhos, ex-
ceção feita aos aparelhos de Estado, dependem dos aparelhos
econômicos. De fato havíamos visto que o conceito de aparelhos
não poderia ser reservado somente aos aparelhos de Estado (apa-
relho repressivo e aparelhos ideológicos de Estado).
2. Vemos perfeitamente que, ao contrário das análises ins-
titucionalistas da “teoria das organizações”, os diversos aparelhos
não são definidos pela sua estrutura organizacionol intrínseca, mas
segundo suas funções sociais. Principalmente, a materialização
das relações político-ideológicas burguesas (“aparelhos capitalis-
tas”) não se faz aí da mesma forma: a própria estrutura interna
dos aparelhos depende das classes que estão aí presentes, portanto
da luta das classes que neles se situa. Um aparelho no qual a
classe operária está maciça e principalmente presente se distingue
sempre dos outros. Isso vale não somente para o aparelho econô-
mico — unidade de produção —, mas também para os aparelhos
ideológicos de Estado por excelência destinados àclasse operária.
Mesmo um partido de tipo socialdemocrata ou um sindicato
“operário” de colaboração de classe, que no entanto materializam
de forma muito particular a dominação da ideologia burguesa e
pegueno-burguesa sobre a classe operária, não são jamais assimi-
láveis aos outros: a presença da classe operária manifesta-se aí
sempre por efeitos específicos, situando-se então efetivamente aí
o centro das análises de Lênin sobre os “partidos operários” so-
cialdemocratas.
3. Esses pressupostos conduzem à distinção radical das aná-
lises marxistas e das diversas concepções institucionalistas do
“poder”, da “autoridade”, da “hierarquia”, em relação aos apa-
relhos. Os conceitos de dominação e de poder só podem de fato:
ter como campo de aplicação, dentro e fora dos aparelhos, as
relações de luta de classe, isto é, das classes entre si (da burguesia
“sobre a pequena-burguesia, da burguesia sobre a classe operária).
Os termos autoridade e hierarquia designam de fato a re-
produção induzida dessas relações — dominantes — no próprio
interior de cada classe, e de forma específica para cada uma delas:
principalmente no próprio seio da pequena-burguesia situada nos
aparelhos. Os aparelhos são o efeito da dominação e dos poderes.
de classe, mas materializam e encarnam, ao mesmo tempo, essa.
reprodução induzida. e
4. Vemos então assim que os próprios aparelhos estão
MidIdOs: Ê - a
a) primeiramente segundo as barreiras de classe: não som
te cada empresa está verticalmente dividida pelos lugares de bu
gueses, os lugares de pequeno-burgueses e os lugares de oper
rios, mas ela própria é frequente e horizontalmente cindida; um
«“empresa-unidade de produção” complexa é de fato dividida ey
dois. aparelhos, a fábrica e seu despotismo (classe operária),
“aparelho “administrativo”, escritórios etc. pequenirfuraday
b) segundo os fracionamentos internos das diversas classe
que aí estão situadas em seguida, o que é por excelência, e de:
forma muito específica, o caso para a pequena-burguesia. Ao en
tender precisamente a autoridade e a hierarquia como reprodu
ção induzida dos poderes de classe, vemos perfeitamente quese
próprio campo de aplicação, isto é, essa reprodução induzida no»
seio da pequena-burguesia, não tem também uma configuração:
linear e unívoca em “degrau”.

HI

A interiorização, toda particular para os setores burocra


dos da nova pequena-burguesia, das relações político--ideológi
de dominação/subordinação abrange efeitos ainda mais longin
quos para os agentes que ocupam esselugar. Ela corresponde mui
to concretamente ao fato de que esses agentes pequeno-burguese
fazem carreira. Um agente pequeno-burguês semelhante pode con
'* freqiiência esperar razoavelmente, no decorrer de sua vida prof
sional, “galgar os escalões” e aumentar, aos cingienta anos, d
15, 20 ou 50%o salário que ganhava aos vinte anos. Certamente
isso não é um fenômenogeral e, de fato, a arma estratégica dess
carreira está relativamente limitada para uma grande parte do
escalões subalternos, afetados pela parcelização das tarefas n
próprio seio do trabalho intelectual. Mas as simples estatística
mostram, entretanto, a diferença com a classe operária. A esma
* gadora maioria dos operários atinge o máximo deseu salário entr
vinte e trinta anos, salário este que decresce em seguida. Daí as
“diferenças no que se refere à aposentadoria (e à base de seu cál
culo) para os agentes da nova pequena-burguesia e para aque
da classe operária, mesmo quando estes adquiriram esse “direito”
e quando não morrem durante o período de trabalho: sabe-se qu
as possibilidades de vida são muito mais importantes para o cc
RES

MO DE HoJE
304 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALIS

para a classe operária.


junto da nova pequena-burguesia do que
co significativa da classe
Contudo, é somente uma camada pou
, consagração de toda
operária que é atualmente “mensalista”
o caso da grande maioria
uma vida passada no trabalho, e que é
desses assalariados.
reira” e a “promo-
A importância que assumem aqui a “car
primeiramente no des-
ção” em relação à classe operária é nítida,
vida profissional (intra-
locamento dos agentes no decorrer de sua
mudam de lugar, não
geracional). Entre os operários homens que
que se tornam técnicos,
há senão 14% dos operários qualificados
a para os OS e a mão-
sendo essa percentagem praticamente nul
e aqui, é o processo de
de-obra bruta; o que, além disso, prevalec
operários qualificados
desqualificação maciça: cerca de 34% dos
-obra bruta. Em con-
deslocam-se então, tornando-se OS ou mão-de
escritório que se des-
trapartida, entre Os simples empregados de
, 48% dos homens tor-
locam no decorrer de sua vida profissional
tornam-se operários),
“nam-se executivos médios e superiores (25%
ios e superiores (69%
57% das mulheres tornam-se executivos méd
regados de comércio
tornam-se operárias); entre os homens emp
icos especializados (28%
que se deslocam, 29% tornam-se técn
interno ascendente dos
tornam-se operários). O deslocamento bur-
da nova pequena-
agentes pequeno-burgueses no próprio seio
ento das gerações:
guesia é igualmente observado pelo seguim
a de 23% dos filhos
para citar somente o caso dos homens, cerc
ao passo que para
de empregados tornam-se executivos médios,
de cerca de 10%*.
os filhos de operários a percentagem é somente
urgueses afetados pela
Enfim: no caso de agentes pequeno-b
leque da hierarquia sala-
burocratização (privada ou pública), o da
rto do que no seio
“rial interna é muito mais elevado e abe se referir ainda
classe operária e de suas camadas. Para somente

ification professionnelle de 1964,


6 Fontes, INSEE: Enquête sur la qual
1964. Os resultados foram apresen-
referindo-se aos ativos entre 1959 e Etudes
decorrer da vida profissional em
tados para os deslocamentos no ento s inte rger ações
, e para os deslocam
et conjonctures, outubro de 1966 este últi mo caso,
reiro de 1967. Para
em Etudes et conjonctures, feve os “L'h éré-
de D. Bertaux: entre outr
dispomos: dos trabalhos exemplares o de 1970 ;
nomie et Statistique, fevereir
dité sociale en France” em Eco em Qual ity
lité sociale en France”,
“Nouvelles perspectives sur la mobi
1971 etc. Esses dados são confirmados
and Quantity, vol. V, junho de , e cujos resultados não
em 1970
essencialmente pela nova pesquisa feita
foram ainda publicados. E
Se

anuais
ossetores privado e semipúblico, os salários líquidos , são
e operária
dios em francos, em 1969, que, para a class
os OS € 13.116
8.854 para a mão-de-obra bruta, 10.467 para
12.344; emprega
os OP, são aqui: empregados de comércio:
ração médios: 27.958
de escritório: 13.350; executivos de administ
superiores qu
(não são levados em consideração os executivos
a). Observa
mais frequentemente, pertencem de fato à burguesi
“execu
que a distância que separa esses assalariados de base dos
e of
vos médios” é ainda maior do que aquela que separa à class
a pouco si
rária dos técnicos. Certamente, taiscifras são aind
do se comparar
ficativas. As coisas tornam-se mais claras quan
atividade eco
essas cifras para a distribuição dos assalariados por
armo
nômica e por quota de salário líquido anual médio. Se tom
aqt
de um lado as “atividades econômicas” que nos interessam
, higient
(comércios diversos, serviços, bancos, seguros, agências
idad:
serviços administrativos privados) e, de outro lado, as “ativ
“econômicas” industriais, constatamos nítidas diferenças: enquar
to a esmagadora maioria dos operários atinge rapidamente o tet
desigua
de uma quota, os outros assalariados apresentam, com
librada
dades que veremos em seguida, uma distribuição mais equi
em um grande leque de quotas de salários”. O caso é ainda ma!
patente para os funcionários. E
De qualquer forma, oque é preciso notar aqui é que o se
tido da hierarquia é profundamente diferente na classe operé
1 pas
e na carreira pequeno-burguesa, mesmo quando um os
para os 2, 3 ou 4, ou um OP 1 para op 2 etc., o que não te
c
absolutamente o mesmo sentido para ele, nas relações ideológi
políticas de autoridade e de segredo do saber, que tem para u
pequeno-burguês que, mesmo sem se mostrar mais elevado (pa
a maior parte deles, só há uma ventilação, mesmo inter
para a pequena-burguesia, bastante limitada), exerce sobre
“agentes imediatamente subalternos uma autoridade específic:
- Disso resultam efeitos consideráveis sobre a ideologia, m
particular, da promoção social desses agentes: efeitos articula
“sobre o isolamento competitivo desses agentes entre si nas
ções ideológico-políticas “burocratizadas”, isolamento que co
trasta com a solidariedade de classe no seio da classe operár
o que tem rtpercussões na luta de classe, constatando-se dia
mente, de forma particular, nas dificuldades e particularidades «
racterísticas dos movimentos de greve dessa nova pequena-b
guesia.

7 Op. cit., em Collections do INSEE, p. 58.


E
306 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJ

IV

não-produ-
Essa burocratização do trabalho dos assalariados
a marcante, não:
tivos, se bem que seja atualmente uma tendênci
e, além disso,
afeta, como veremos, o conjunto desses assalariados,
reende.
não os afeta da mesma forma. Seja como for, já se comp
e encarna-
que esse elemento de burocratização, materialização
sen-
ção das relações político-ideológicas e as diferenciações nesse
importante
tido no seio da nova pequena-burguesia são um fator
de clas-
de fracionamento da nova pequena-burguesia em frações
ena-
se. Essas diferenciações, e os fracionamentos da nova pequ
nas Te-
burguesia, não destacam forçosamente suas diferenciações
apare-
“lações econômicas — assalariados da circulação, serviços,
versal-
lhos de Estado —, estendendo-se essa burocratização trans
mente entre esses diferentes conjuntos.
Eis por que essa mesma burocratização apresenta efeitos con-
os
traditórios no seio da nova pequena-burguesia. De fato, muit
autores, entre os quais Wright Mills, D. Lockwood etc., susten-
lho
taram que essa burocratização aproxima as condições de traba
desses assalariados daquelas da classe operária: impessoalidade
das funções, relações autoritárias — hierárquicas etc. Essas afir-
mações, aplicadas ao conjunto da pequena-burguesia burocratiza-
da, são falsas, na medida em que assimilam essa burocratização
no despotismo de fábrica. O problema é outro: essa mesma buro-
cratização contribui, no seio dos setores da nova pequena-bur-
guesia que lhe são submetidos, para novas delimitações internas
entre a massa de agentes subalternos, progressivamente despos-
suídos do “saber” (funcionamento interno do “segredo” burocrá-
tico) e do exercício de autoridade, e dos agentes intermediários.
O que, sempre articulado às diferenciações internas na ordem de
exploração sofrida, tem efeitos importantes (voltaremos a esse
asunto) sobre as posições de classe dessa fração subalterna da
pequena-burguesia. x
q
VI A NOVA PEQUENA-BURGUESIA |
"E A DISTRIBUIÇÃO DE SEUS AGENTES

Enfim, um último elemento que diz respeito à - distribuiç


“dos agentes na nova pequena-burguesia e a sua reprodução e n
“relação a seu lugar: trata-se, desta feita, não mais da ventilaç
desses agentes no próprio seio da pequena-burguesia, mas |
formas de seu deslocamento para outras classes sociais. Se be
que as estatísticas oficiais do INSEE sejam, aqui também, cons.
ravelmente desordenadas em razão das classificações que elas
liam — as famosas “categorias socioprofissionais” —, poder
entretanto, delas tirar certos elementos E o
Os agentes da nova pequena-burguesia parecem apresent
bem — embora de forma desigual segundo os diversos conju
tos —, nas formações capitalistas atuais, ao mesmo tempo
decorrer da vida profissional dos agentes e das gerações que
sucedem (seus filhos), um indício inteiramente particular de
locamento em direção a outras classes sociais: concomitantem
te pela importância e pelas formas específicas dessedeslocame
to. De fato, constatamos: PR
7 a) a proporção de deslocamentos desses assalariado:
“decorrer de sua vida profissional, em direção a outras “categ
socioprofissionais” que indicam uma mutação de classe, é con
deravelmente mais elevada do que para a burguesia ou a class
operária; : ú
b) nas gerações seguintes, a proporção de crianças des
agentes pequeno-burgueses que pertencem à mesma classe de se
pais é consideravelmente menos elevada do que para a burgu
sia e a classe operária: mais de 70% dos filhos de operário
3 Fontescitadas acima.
308 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

também se tornam operários, e mais de 45% dos filhos de bur-


gueses igualmente se tornam burgueses, enquanto somente cerca
de 27% das crianças do conjunto dos agentes da nova pequena-
burguesia continuam a pertencer a essa classe Rs

Contudo:

- 1 Enquanto o próprio lugar dessa pequena-burguesia se es-


tende na fase atual do capitalismo monopolista, seus agentes
ção
apresentam uma instabilidade característica quanto à ocupa
desse lugar. Instabilidade característica porque, de um lado, ela
ope-
diferencia esses agentes dos agentes da burguesia e da classe
rária, pois, por outro lado, ela é diferente daquela, formalmente
semelhante, das classes pobres do campesinato e da pequena-bur-
guesia tradicional: nestes últimos casos, Os deslocamentos maci-
ços de agentes que constatamos são devidos à própria eliminação
º.
de seu lugar no desenvolvimento do capitalismo monopolista
2) Uma parte importante desses agentes que se deslocam
“cai” na classe operária: é principalmente o caso dos “emprega-
dos”. Entre os empregados homens que, no decorrer de sua vida
profissional, se deslocam, 20% de. empregados de comércio e
25% de empregados de escritório caem na classe operária. Nas
gerações seguintes, 40% dos filhos e 17% das filhas dos empre-
gados tornam-se operários e operárias.
3) Em contrapartida, a proporção dosagentes pequeno-bur-
gueses que se deslocam para o lugar da burguesia é sem medida
comum, isto é, consideravelmente mais elevada, do que para a
classe operária, se bem que este transbordamento burguês só se
2 Obtém-se essa percentagem considerando as crianças (de ambos
os sexos) ao mesmo tempo dos executivos médios e dos diversos em-
Fun-
pregados que se tornam quer executivos médios, quer empregados.
damentei-me para esses reagrupamentos nas cifras “brutas” da pesquisa
citada do INSEE, reagrupamento que, em virtude da ideologia da “mo-
bilidade” que dirige essas pesquisas nunca foi aí analisado. Para as criaf-
ças da burguesia que se tornam elas próprias burguesas, observa-se que
a cifra de 43% é enganadora: de fato, a pesquisa só se refere aos agen-
tes quando muito com 45 anos no momento da pesquisa (nascidos em e
de
após 1919, pesquisa de 1964). Ora, um número apreciável de filhos
burgueses não teve ainda tempo, no moment o da pesquisa , de herdar
(não no sentido da herança cultural de Bourdieu, mas em moeda so-
nante) e de se tornar assim diretamente burgueses, isto é, de se recolocar
em seu lugar: encontra-se aí o fenômeno da “contramobilidade” que as.
RSTRRE= EU S re

pesquisas de Girod na Suíça esclareceram.


8 Sobre esse assunto, ver os artigos citados de D. Bertaux.
sampeeromço
gd
DISTRIBUIÇÃO DOS AGENTES “309

refira de fato a uma minoria de mutantes pequeno-burgueses e


que, considerado em si, seja muito fraco. Não há quase operá-
rios que, no decorrer de sua vida profissional, se deslocam para
a burguesia, caso que ocorre para cerca de 10% entre os mutan-
tes empregados homens (que se tornam executivos superiores),
sendo a proporção ainda maior para os executivos médios. Nas
gerações seguintes, cerca de 10,5% dos filhos da burguesia trans-
bordam para a burguesia, enquanto, no caso dos filhos de ope-
rários, a proporção é de cerca de 1%.

É sobre este último aspecto da questão que precisamos nos


deter. Vamos insistir primeiramente sobre a inutilidade da pro-
blemática burguesa da mobilidade social, lembrando simplésmen-
te que o aspecto fundamental da reprodução das relações sociais
— das classes sociais — não é o dos “agentes”, mas aquele da
reprodução dos lugares dessas classes. Aventando uma hipótese
perfeitamente absurda de que, se nas gerações seguintes os bur-
gueses se tornassem os proletários e os proletários os burgueses,
os burgueses os pequeno-burgueses e vice-versa, ou os pequeno-
burgueses os proletários e vice-versa, a estrutura de classe da
formação capitalista não mudaria em nada de essencial, pois ha-
veria sempre lugares do capital, da classe operária, da pequena-
burguesia etc.
Mas essa hipótese é, naturalmente, absurda, pois embora as
classes sociais de uma formação capitalista não sejam “castas” ou
“ordens” fechadas, a reprodução dos lugares e a reprodução dos
agentes que os ocupam só são de fato dois aspectos, ligados,
da reprodução das relações sociais.
Essa ligação é inteiramente particular no caso da nova pe-
quena-burguesia. Esses agentes têm efetivamente muito mais “pos-
sibilidades”, se assim podemos dizer, de ascender ao lugar da
burguesia, o que não é o caso para os agentes da classe operária.
E o aparelho essencial de passagem é ainda o aparelho escolar
que, sob esse ângulo, pela formação-qualificação do trabalho in-
telectual, funciona igualmente como distribuidor de certos agen-
tes da nova pequena-burguesia para a burguesia.
Pode-se dizer, certamente, abreviando a complexidade dos
fenômenos, que se trata de uma política precisa da burguesia,
particularmente clara nas formações em que ela teve necessidade
de se assegurar um apoio da pequena-burguesia diante da classe
operária, principalmente na França: apoio esse que foi durante
muito tempo selado pela natureza e pelo papel particularmente
portante da escola capitalista na França. (sistema particular dos
concursos”, por exemplo). Pois, efetivamente, esse estado de |
oisas tem efeitos ideológicos consideráveis sobre a nova peque-
burguesia: ideologia da “promoção social” e da “ascensão”
para a burguesia, substituta do papel atribuído nesse sentido à
nstrução” etc. Esses aspectos ideológicos correspondem a um.
ubstrato real, mesmo que esse substrato esteja longe de ser aque-
feito de imagens ilusórias pela pequena-burguesia: considera-
os em si e para o conjunto dessa classe, essas passagens são
e fato muito limitadas, mas continuam a nutrir as ilusões e as
speranças desses agentes, para si próprios e sobretudo paraseus
filhos.
Mas este último fenômeno também não afeta, da mesm
forma e no mesmo grau, o conjunto da nova pequena-burguesia
stem no seu seio diferenciações apreciáveis, diferenciações qu
tervêm igualmente, como veremos, na sua divisão interna e
ões de classe. -
vm A DETERMINAÇÃO DE CLASSE
DA PEQUENA TRADICION

" Antes de abordar a questão da ideologia pequeno-burgu


seria necessário determo-nos sobre a determinação de classe.
pequena-burguesia tradicional. Serei aqui bem mais sucinto: e
determinação de classe, que sobretudo Marx, Engels e mes
“Lênin tinham emvista, cria menos problemas do que aquela
nova pequena-burguesia.
Limitando-nos ao lugar da eaae tradieiga
" relações de produção, podemos dizer que esta Comp
pequena produção e a pequena propriedade. ;
a) Pequena produção: trata-se essencialmente de forma
"artesanato ou mesmo de pequenas empresas familiais, «
"mesmo agente é simultaneamente proprietário/possuidor
meios de produção e trabalhador direto. Não encontramos a
ploração econômica propriamente dita, na medida em que e
formas de produção não empregam, ou só o fazem mu
sionalmente, operários assalariados. O trabalho é fornecido
cipalmente pelo proprietário real ou pelos membros de s
mília, que” não recebem retribuição sob forma de salário
pequena produção retira lucro da venda de suas mercadori:
através da distribuição total da mais-valia, mas não exto
diretamente o sobretrabalho..
b) Pequena propriedade: trata-se neiialmente do peq
no comércio da esfera da circulação, onde o proprietário de
de comércio, ajudado por sua família, fornece o trabalho, em
gando apenas ocasionalmente trabalho assalariado.
"O lugar comum desses dois conjuntos da pequena-burs
tradicional nas relações de produção reside no fato de «
+
pende do modo de produção capitalista, mas da forma de pro.
ução comercial simples, que foi, historicamente, a forma de
ransição do modo de produção feudal para o MPC. A existência
ual dessa pequena-burguesia nas formações capitalistas desen-
idas depende então da permanência desta forma na repro-
ão ampliada do capitalismo, e das formas políticas que essa
odução assumiu. Marx e Engels já haviam enfatizado a ten-
cia dessa pequena-burguesia a periclitar em virtude do esta-
ecimento da dominância do modo de produção capitalista e
ua reprodução, ;
VII O SUBCONJUNTO IDEOLÓGICO
PEQUENO-BURGUÊS
E A POSIÇÃO POLÍTICA
DA PEQUENA-BURGUESIA

A determinação estrutural da nova pequ


ena-burguesia na
divisão social do trabalho se concentra por efei
tos na ideologia
de seus agentes, o que influi diretamente nas suas
posições polí-
ticas de classe. Podemos logo dizer que esse
s efeitos divergem
segundo as frações da nova pequena-burguesi
a, frações que essa
determinação permite delimitar segundo suas transformações
atuais: isso não nos impede de poder reti
rar um bem comum
desses efeitos ideológicos, característica do
conjunto da nova
pequena-burguesia. Enfim, esses efeitos
ideológicos na nova pe-
quena-burguesia apresentam um parentesco
digno de nota com
aqueles que a própria determinação de clas
se da pequena-burgue-
sia tradicional tem sobre esta última, just
ificando assim por esse
meio seu pertencimento a uma mesma
classe, a pequena-bur-
guesia.

É necessário expor primeiramente alguma


s linhas diretrizes
no exame da ideologia pequeno-burguesa
. De fato, a pequena-
burguesia, pelo lugar que ocupa na det
erminação de classe de
uma formação capitalista, não tem posi
ção política de classe
autônoma a longo prazo. As duas clas
ses fundamentais são a
burguesia e o proletariado: existem
então somente, no sentido
forte de ideologias de classe, aquelas
duas classes fundamentais
314 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

politicamente opostas até o fim. Vale dizer, então, que somente


existem, como conjuntos de coerência própria e de sistemática
relativa, a ideologia burguesa dominante e a ideologia ligada à
classe operária. ;
É por isso que só se pode falar, quanto à pequena-burgue-
sia, de um subconjunto ideológico pequeno-burguês. No contexto
da luta ideológica de classe (as diversas ideologias não existindo
“em si” num campofechado da “ideologia em geral”) esse sub-
conjunto é constituído pelos efeitos da ideologia burguesa (domi-
nante) sobre as aspirações próprias dos agentes pequeno-burgue-
ses relativamente à sua determinação específica de classe. Certa-
mente, os efeitos da ideologia burguesa (ela não seria dominante
sem isso) exercem-se igualmente na classe operária. Mas aí, cho-
cando-se com as práticas da classe que está no cerne da explo-
ração capitalista, eles assumem outras formas que não assumem
no caso da pequena-burguesia: sob os próprios efeitos da ideolo-
gia burguesa na classe operária, surge sempre o que Lênin de-
signava como “instinto de classe” e que nada mais é do que a
ressurgência constante, nas práticas, de uma determinação de
classe que suporta, na fábrica e na produção material, a extra-
ção da mais-valia ?.
Nessa torção-adaptação da ideologia burguesa às aspirações
próprias da pequena-burguesia, esta insere “elementos” ideológi-
cos específicos que dependem de sua própria determinação de
classe: classe também explorada e dominada pelo capital, mas
de forma completamente distinta da exploração e dominação so-
fridas pela classe operária.
Contudo: em uma formação capitalista, existe ao mesmo
tempo uma ideologia ligada à classe operária. Como assinalava
Lênin, a própria ideologia dominante (a “cultura”. de uma for-
mação capitalista) comporta em seu discurso “elementos” depen-
dentes dessa ideologia: isso pode até tomar as formas, indicadas
por Marx no Manifesto, de um “socialismo burguês” ou mesmo,
nos primórdios do capitalismo, e para a classe dos grandes pro-
prietários de terra “feudais”, de um “socialismo feudal”. No caso

1 Esse papel particular da ideologia burguesa na constituição do


subconjunto ideológico pequeno-burguês permite compreender um fato de-
cisivo, que assume atualmente toda a sua importância: toda crise ideo-
lógica da burguesia repercute diretamente no seio da pequena-burguesia e
influi, assim, diretamente sobre suas posições de classe.
IDEOLOGIA PEQUENO-BURGUESA A Bs

da pequena-burguesia, tal situação ê, naturalmente, diversa:


também ela classe explorada e dominada, exprimindo-se essa si-
tuação para ela pelo fato de que sua ideologia comporta, em
articulação estreita com os elementos próprios dessa exploração
e dominação particulares, elementos próprios da ideologia operá-
ria, estando esta presente efetivamente no subconjunto ideológi-
co pequeno-burguês de forma muito mais direta e importante do
que no caso da ideologia dominante. Essa presença da ideologia
operária no subconjunto ideológico pequeno-burguês preenche
funções particulares, pois ela corresponde à efetiva polarização
da pequena-burguesia.

O que indica duas coisas:

1. De um lado, queesta presença da ideologia operária no |


subconjunto ideológico pequeno-burguês sempre teve tendência a
ser dominada ao mesmo tempo por elementos ideológicos espe-
cificamente pequeno-burgueses, e pela ideologia burguesa consti-
tutivamente presente, também ela, no subconjunto ideológico
pequeno-burguês. Em outras palavras, o subconjunto ideológico
peqgueno-burguês é um terreno de luta e um campo de batalha
particular entre a ideologia burguesa e a ideologia operária, mas
com a intervenção própria dos elementos especificamente peque-
no-burgueses. Esse terreno de luta não é um terreno vago: é um
terreno desde já circunscrito pela ideologia burguesa e pelos ele-
mentos ideológicos pequeno-burgueses. Prosseguindo na metáfora
militar, as conquistas e avanços da ideologia operária, em uma
formação capitalista, nesse terreno, para que tenham uma im-
portância decisiva, não são menos investidas constantemente por
esses elementos ideológicos pequeno-burgueses. Simplificando,
mesmo quando setores pequeno-burgueses adotam posições da
classe operária, eles o fazem com fregiiência investindo-se de
suas próprias práticas ideológicas. Mas isso se faz de forma desi-
gual pois, embora esse terreno seja um terreno vago, ele não é
um terreno uniforme, em razão dos fracionamentos/polarização
que atravessam a pequena-burguesia em sua determinação de
classe: o que não exclui, pois, que porções inteiras da pequena-
burguesia não somente adotem posições de classe da classe ope-
rária, mas, além disso, possam colocar-se no próprio terreno
da ideologia operária. Encontra-se aí um dos papéis das organi-
zações revolucionárias da classe operária.
316 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

2. Mas tudo isso indica, por outro lado, que os elementos


ideológicos específicos da pequena-burguesia podem, também
eles, ter efeitos sobre a ideologia da classe operária, e
isso em
razão da determinação própria de classe da pequena-burguesia,
de forma particular, em relação aos efeitos específicos da ideo-
logia burguesa. Está então, aí, o principal perigo que esprei
ta
permanentemente a classe operária: ele pode tomar a forma
de
uma convergência amalgamada desses elementos e
da ideologia
operária, principalmente sob a configuração do social
ismo peque-
no-burguês noseio da classe operária, mas sabe-s
e que ele havia
assumido igualmente, no passado, a forma
do anarco-sindicalis-
mo e do sindicalismo revolucionário.

Convém assim ter essas observações em vista nasanáli


ses que
se seguirão. De fato, elas dependem de pressupostos
importantes:
as diversas ideologias e subconjuntos ideológicos
só existem cons-
titutivamente numa luta ideológica de classe,
e devem ser prin-
cipalmente considerados não sob a forma
de conjuntos concep-
tuais constituídos, mas em sua materialização
em práticas de
classe2. É a partir desses princípios que se deve
considerar a
questão dos efeitos de uma sobre a outra.
Não se trata de con-
juntos pré-constituídos que agiriam “em seguida”s
obre os “outros”
como intermediários- reservas, segundo a imagem simplista de
uma
série de elos ideológicos “veiculando” em dire
ção aos outros suas
- interações, em suma, de uma cadeia de
“infl
uências”. A própria
concepção de “veículos-reservas” (Cde influ
ências recíprocas”) na
constituição do campo ideológico é fund
amentalmente falsa: a
luta ideológica está presente como tal na
constituição de toda
ideologia de classe, isto é, em seu próprio
seio. Isso é singular-
mente o caso para o subconjunto ideológico
pequeno-burguês, que
não é nem uma “reserva” nem uma correia de
transmissão para
a “influência” da ideologia burguesa sobre a
classe operária. Se ele
intervém nesses cfeitos, é nisso que ele é o
próprio lugar de uma
co-presença particular da ideologia burguesa
, da ideologia operá-
ria e dos elementos ideológicos pequeno-burg
ueses.

2 L. Althusser, “Idéologie et appareils


idéologiques dºEtat”, em La
Pensée, 1970. Encontra-se aí, como se sabe,
o erro de base das diversas
“pesquisas sociológicas” que tentam apreende
r a “consciíncia” das di-
versas classes sociais ou frações de class
e a partir de “perguntas” e de
“respostas” de seus agentes, e cujos exem
plos abundam. Ver sobre esse
assunto as observações certas de D, Vidal, Essai sur Vidéo
logie, 1971.
IDEOLOGIA PEQUENO-BURGUESA 317

Il

Levando-se em conta assim a determinação de classe da nova


pequena-burguesia, encontram-se nela os seguintes traços ideoló-
gicos principais:
a) Um aspecto ideológico anticapitalista, mas que se inclina
fortemente em direção às ilusões reformistas. A exploração dessa
nova pequena-burguesia é principalmente vivida sob a forma do
salário, enquanto a estrutura do modo de produção capitalista
e o papel, na exploração, da propriedade, também da posse e dos
meios de produção, permanecem com freqgiiência ocultos (salaria-
do não-produtivo). As reivindicações estão essenciálmente ligadas
à questão das rendas, concentrando-se com fregiiência sobre uma
redistribuição de rendas pela via indireta de uma “justiça social”
e de uma política “igualitária” da fiscalidade, base constantemen-
te recorrente do socialismo pequeno-burguês. Se bem que hostis à
“grande riqueza”, os agentes pequeno-burgueses estão, por outro
lado, fregientemente ligados à manutenção de hierarquias sala-
riais, insistindo na necessidade de uma “racionalização” mais jus-
ta. Encontra-se aqui o medo permanenteda proletarização, medo
que se exprime em resistências no sentido de uma transformação
revolucionária da sociedade, em razão da insegurança vivida ao
nível dos salários, e sob a forma do fetichismo monetário. Isso,
acoplado ao próprio isolamento desses agentes na concorrência do
mercado de trabalho capitalista e nas suas próprias condições de
trabalho, não desempenha para eles a socialização do processo
de trabalho (e então a solidariedade de classe), própria à classe
operária engajada diretamente na produção, o que dá lugar às
formas corporativistas particulares da luta sindical: esse isolamen-
to competitivo está na base de um processo ideológico complexo
que assume a configuração do individualismo pequeno-burguês.
b) Um aspecto de contestação das relações políticas e ideo-
lógicas às quais esses agentes estão submetidos, que se inclina
fortemente não em direção à subversão dessas relações, mas em
direção a seu remanejamento pela “participação”. Reivindicações,
em relação ao capital, para assumir uma parte maior de “respon-
sabilidade” nos “poderes de decisão” e para uma “requalificação”,
em seu “justo valor”, do seu trabalho intelectual: o que não vai
em geral até o questionamento da própria divisão trabalho inte-
lectual/trabalho manual nas suas relações com a classe operária.
Bem ao contrário, isso se exprime frequentemente por reivindica-
318 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

ções de uma “racionalização” da sociedade, que deixaria o “tra-


balho intelectual” se expandir plenamente sem os “entraves” do
lucro e, em suma, sob a forma de um “tecnocratismo de esquer-
da”. Conhece-se principalmente a forma ambígua, para só citar
um exemplo, que assumem as reivindicações da “autogestão” em
certos conjuntos pequeno-burgueses (técnicos, por exemplo), rei-
vindicações quesignificam para eles tomar, sob uma forma nova,
o lugar da burguesia, enquanto elas recobrem, para a classe ope-
rária, o controle operário. Reivindicações que tomam então a
forma de uma fixaçãosobre as formas de “organização”, de exi-
gências de “descentralização” do processo de decisão, de remane-
jamento do quadro “autoritário” do trabalho etc., mas sem se apro-
fundar. A luta antiautocrática que se desenvolve aqui, sob a for-
ma de revoltas contra a burocratização e a parcelização do tra-
balho intelectual, está longe de atingir a dimensão e o conteúdo
da luta anti-hierárquica operária. Os agentes pequeno-burgueses
são, por outro lado, fortemente ligados a uma hierarquia, certa-
mente “remanejada”, ao mesmo tempo em suas relações internas
e em suas relações com a classe operária.
Inútil assinalar, finalmente, que esse aspecto não é geral, nem
constante para o conjunto da nova pequena-burguesia. O aspecto
paralelo de uma submissãoe interiorização dos “valores morais”,
da ordem, da “disciplina”, da “autoridade”, da “hierarquia legí-
tima”? da direção etc., pode, com fregiiência, estar presente em
conjuntos submetidos à divisão social do trabalho que se assinalou,
e que, contestando suas condições de existência e oferecendo bases
de apoio apreciáveis a Governos socialdemocratas, fornecem ao
mesmo tempo uma base, também apreciável, à famosa maioria
silenciosa.
c) um aspecto ideológico de uma transformação de sua con-
dição, ligada não à mudança revolucionária da sociedade, mas ao
mito da passarela. Temerosa de cair na proletarização, seduzida
por ascender à burguesia, a nova pequena-burguesia aspira com
frequência à “promoção”, à “carreira”, à “ascensão social”, em
suma, a se tornar burguesia (ver os aspectos ideológicos do mi-
metismo. burguês) pela passagem “individual”, rumo ao alto, dos
“melhores” e dos “mais capazes”: encontra-se ainda o individua-
lismo pequeno-burguês. Para essa nova pequena-burguesia, isso se
concentra em particular no aparelho escolar, dado o papel que
ele desempenha nesse sentido. Crença, portanto, na “cultura neu-
tra” e no aparelho escolar como escala de passagem e corredor
de circulação para promoção e ascensão dos “melhores” à con-
IDEOLOGIA PEQUENO-BURGUESA 319

dição burguesa, ou, em todo caso, a uma condição superior na.


própria hierarquia do trabalho intelectual. Reivindicações, pois,
de uma “democratização” dos aparelhos, para que eles ofereçam:
uma “igualdade de oportunidades” aos “indivíduos” mais aptos:
para participar da “renovação das elites”, sem colocar em questão»
a própria estrutura do poder político: a concepção elitista da
sociedade, sob a forma da “meritocracia”, está intimamentearti-
culada às aspirações de justiça social da pequena-burguesia. Essa:
atitude não se limita apenas ao aparelho escolar: ela pode esten-
der-se, em graus desiguais, segundo as formações sociais, ao con-
junto dos aparelhos de Estado (o que é por vezes o caso para o
próprio exército) concebidos como escalas de promoção de seus
agentes subalternos e intermediários, frequentemente saídos do:
seio da pequena-burguesia. Pode-se traduzir essa atitude da peque-
na-burguesia dizendo que, para ela, não se quebram as “escadas”
pelas quais ela imagina poder elevar-se.
d) Um aspecto ideológico desse “fetichismo do poder” de
que falava Lênin, e que se refere desta vez à atitude com respei-
to ao poder político do Estado. Em virtude da situação dessa:
pequena-burguesia como classe intermediária, polarizada entre a:
burguesia e a classe operária, em virtude também do isolamento
de seus agentes (individualismo pequeno-burguês), ela tem uma
forte tendência a considerar o Estado como uma força neutra em
si, cujo papel seria operar uma arbitragem entre as classes sociais
;
presentes. A dominação de classe que ela sofre pela via indireta:
do Estado, por parte da burguesia, é frequentemente percebida.
como uma deformação “técnica” do Estado, remanejável por uma.
“democratização” que o tornaria conforme a sua verdadeira na-
tureza: reivindicações fixadas na “humanização” e na “racionali-
zação” da “administração” contra o “centralismo tecnocrático”
“do Estado etc., que não revelam a própria natureza do poder
político. :

Mas, além disso: é preciso levar em consideração, de um


lado, essa situação intermediária e o individualismo peque
no-bur-
guês, que condicionam a impossibilidade para a pequena-burgue-
sia de se organizar, a longo prazo, em um partido político próprio
e autônomo; por outro lado:
a) a situação da pequena-burguesia em relação ao trabalho
intelectual e o fato de que o próprio aparelho de Estado, consa-
320 AS CLASSES- SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

grando a divisão trabalho intelectual/trabalho manual, esteja si-


tuado ao lado do trabalho intelectual;
b) o fato de a organização estatal apresentar a consagração
da hierarquia e autoridade burocratizada à qual está submetida
uma grande parte dos agentes pequeno-burgueses;
c) enfim, o papel dos aparelhos de Estado na distribuição-
qualificação dos agentes pequeno-burgueses.
Esses fatos determinam com fregiiência uma atitude com-
plexa de identificação da pequena-burguesia com um Estado que
ela considera como sendo de direito seu Estado e seu representan-
te e organizador político legítimo. Sabe-se que isso foi expresso
durante muito tempo, na França, pelo jacobinismo republicano de
esquerda, que está longe de ter desaparecido. O papel do Estado
como aparelho de dominação de classe foi vivido como “perver-
são” de um Estado onde seria necessário “restaurar a autoridade”,
“democratizando-o”, isto é, abrindo-o para a pequena-burguesia,
fazendo-o respeitar “o interesse geral”, ficando entendido que o
“interesse geral” corresponde ao seu comoclasse intermediária, me-
diadora entre a burguesia e o proletariado: é aqui que se encon-
tra uma tendência à concepção do “Estado corporativo”, forma
degradante do famoso socialismo de Estado. Seria então preciso
acrescentar que esse aspecto ideológico é particularmente surpre-
endente nos escalões pequeno-burgueses de funcionários, eles pró-
prios submetidos diretamente a essa ideologia interna que marca
o Estado como aparelho: o aspecto ideológico do Estado neutro e
representante do interesse geral desempenha, mais particularmen-
te aqui, seu papel enquanto elemento essencial da ideologia inter-
na dos aparelhos de Estado.
Sabe-se que esses aspectos ideológicos assumem frequente-
mente a forma de reivindicações de um “socialismo” pela via in-
direta do “Estado do bem-estar” (o “Estado social”), regulador
e corretor das “desigualdades sociais”. Mas sabe-se também que
elas podem articular-se, paralelamente, a certos aspectos do “Es-
tado forte”, sob a forma de “cesarismo social”: isso foi expresso,
no passado, na relação específica entre os diversos fascismos é
bonapartismos e nos grandes setores dessa nova pequena-bur-
guesia.
e) Mas esses aspectos se conjugam também às formas parti-
culares da revolta desses agentes pequeno-burgueses contra suas
condições de existência, formas essas também ligadas a suas de-
terminações de classe: a questão é vasta e junta-se ao problema
posições de classe: indicarei somente que as expl es
Jentas de revolta assumem, por vezes, com eles, formas de *
“queries * pequeno-burguesas”, ligadas ao individualismo pequi
burguês: culto da violência “como tal, aliada ao BE

“cando diretamente as formas do


etc. Revoltas características de situações onde esses agentes, p
vados de projeto político autônomo a longo prazo e não ten
incorporado as posições da classe operária, agem de forma si
tricamente oposta às atitudes que os determinavam anteriorm
te, através, portanto, de uma revolta ainda determinada, por opc
'sição, pe ideologia burguesa. Encontra-se aí, comose sab
centro do *“ultra-esquerdismo pec.

HI

“Voltemos agora à pequena-burguesiatradicional. Esta, sebi


que ocupando um lugar diferente daquele da nova pequena-b
guesia nas relações econômicas, é no entanto caracterizada,
“ nível ideológico, e apesar de certas diferenças, por traços anál
gos aquela. Isso porque asrelações econômicas que são própria:
ao lugar da pequena-burguesia tradicional a situam, tamb
por traços específicos, numa polarização em relação à bu
e à classe operária. Essa comunidade de efeitos ideológicos
traduz em analogias dasposições desses dois conjuntos, afetad
pela polarização de classe ||
Podemos mesmo sustentar que essesdois conjuntos do d
da mesma classe, a pequena-burguesia. Mas, com a condição.
esclarecer imediatamente que a pequena-burguesia não é ur
“classe como as duas classes fundamentais da formação so:
capitalista — a burguesia e o proletariado —, não apres
tando principalmente a unidade que caracteriza aquelas. A pe
quena-burguesia tradicional (pequenos comerciantes, artesã
não é assimilável à nova pequena-burguesia da mesma forma, po:
exemplo, que o capital bancário o é ao capital industrial, noc
da burguesia. As heterogeneidades nas relações econômicas |
conjuntos pequeno-burgueses permanecem. Se podemos co
rar a pequena-burguesia tradicional e a nova pequena-burgue

e
: “Jacqueries”: nome dado a era de camponeses tos Jacques)
A mais célebre eclodiu em1358, na E (N. do Ro) j
822 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

como dependentes de uma mesma classe, isso significa que as


classes sociais só podem ser determinadas na luta das classes, e
que esses conjuntos estão polarizados precisamente em relação
à burguesia e ao proletariado 3.
Esses efeitos ideológicos, no caso da pequena-burguesia tra-
dicional, que dependem essencialmente da formade produção co-:
mercial simples, foram amplamente estudados por Marx, Engels
e Lênin. Eles se prendem neste caso ao fato de que, no nível.
econômico, a pequena produção e a pequena propriedade: 1)
distinguem-se ao mesmo tempo da burguesia (elas não fazem
parte do capital e são progressivamente esmagadas por ele) e dá
classe operária (seus agentes são proprietários dos meios de pro-
dução e dos bens de comércio e, se bem que trabalhadores diretos,
não cumprem, o que é importante para o artesanato, o trabalho-
produtivo capitalista — mais-valia); 2) aproximando-se ao
mesmo tempo da burguesia (propriedade à qual se ligam feroz-
mente) e da classe operária (eles próprios são os trabalhadores
diretos) *. Essa polarização tem com frequência, ao nível ideoló-
gico, os seguintes efeitos: .
a) Um aspecto ideológico anticapitalista de “status quo”:
contra a “grande riqueza” e as “grandes fortunas”, mas temor,

3 É principalmente a tese que- eu havia defendido e tentado de-


monstrar em Fascisme et Dictature, embora provavelmente de forma muito
abrupta, pois ela não fazia parte do objeto essencial de minhas aná-
lises. Ela me parece, no entanto, fundamentalmente certa. Assinalo que,
depois, a mesma tese foi defendida, embora indiretamente, por Baudelot
e Establet: “A pequena-burguesia... é composta de camadas sociais he-
terogêneas herdadas de modos de produção anteriores... e de camadas
novas produzidas pelo desenvolvimento do modo de produção capita-
lista... A unidade dessas diferentes camadas ao nível da instância eco-
nômica é feita de negações (nem burgueses, nem proletários); essa uni-
dade não é somente aquela de um resíduo que a teoria teria dificuldade
em integrar: ela repousa sobre as contradições objetivas nas condições
materiais de existência de cada pegueno-burguês. O cimento de sua uni-
dade se situa no nível ideológico e se exprime em formações constan-
temente renovadas, mas idênticas em sua estrutura, entre a ideologia
burguesa e a ideologia proletária”. (L'Ecole capitaliste en France, p. 169,
nota 28.) .
4 Observemos aqui, ainda, incidentalmente, que o papel da divisão
trabalho intelectual/trabalho manual é secundário para a determi-
nação de classe desses agentes, pois, precisamente, dependendo da
forma de produção comercial simples, não estão diretamente submeti-
“dos, em suas relações com a burguesia e com a classe operária, a essa
divisão sob sua forma especificamente capitalista (caso patente para o
artesão).
IDEOLOGIA PEQUENO-BURGUESA 323

muitas vezes, de uma transformação revolucionária da sociedade,


pois esse conjunto prende-se ferozmente à sua (pequena) proprie-
dade e teme sua proletarização. Reivindicações fortes contra os
monopólios, sendo essa pequena-burguesia progressivamente es-
. magada e eliminada pelo capitalismo monopolista, mas com fre-
quência sob a forma de uma regressão para a “igualdade de opor-
tunidade” de uma “justa concorrência”, tais como aquelas que
a fantasmagoria dessa pequena-burguesia se representa em seu
passado no estádio do capitalismo competitivo. Essa pequena-bur-
guesia deseja freglentemente mudanças sem que o sistema mude:
nisso se revela também a aspiração a uma “participação” na “dis-
tribuição” do poder político, sob a forma de um Estado corpo-
rativo, e nas resistências características quanto à transformação
radical desse poder.
b) Um aspecto ideológico fortemente ligado não à transfor-
mação radical da sociedade mas ao mito da passarela: este se
articula no isolamento econômico desses agentes pequeno-burgue-
ses no domínio da concorrência, o que dá também lugar ao indi-
vidualismo peqgueno-burguês. Medo de cair na proletarização,
atração em ascender à burguesia: esses agentes pequeno-burgue-
ses também aspiram a se tornar burgueses, ascendendo “indivi-
dualmente” (tornando-se pequenos empresários) os “melhores” e
os “mais capazes”. Esse aspecto toma com frequência, aqui tam-
bém, formas elitistas, de uma renovação das “elites”, de uma
substituição da burguesia “que não cumpre o seu papel” pela
pequena-burguesia, e isso indiretamente por uma “democratiza-
ção” da sociedade capitalista.
c) Um aspectoideológico do fetichismo do poder. Por causa
de seu isolamento econômico (individualismo pequeno-burguês),
e de sua distinção da burguesia e da classe operária, uma crença
no Estado neutro acima das classes: essa pequena-burguesia es-
pera que esse Estado, devidamente “democratizado”, traga-lhe
por “cima” a influência e o poder, em suma, suste seu declínio,
o que não exclui as pressões virulentas contra o Estado. Contu-
do: o isolamento pequeno-burguês, conjugadoà incapacidade ge-
ral dessa pequena-burguesia de se organizar em um partido pró-
prio e autônomo, o fato de que ela considere também os apare-
lhos de Estado (a administração, o exército, a polícia etc.) como
passarelas de ascensão, dão fregiientemente lugar a uma idolatria “e ais

de status. Essa peguena-burguesia também se identifica nesses


casos com o Estado, cuja neutralidade reuniria a sua, conceben-
324 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

do-se como classe neutra entre a burguesia e o proletariado, ba-


luarte portanto de um Estado que seria “seu” Estado: ela aspira
“sempre à “arbitragem” social. Esse Estado aparece então como
o “organizador” político direto dessa pequena-burguesia, através
indiretamente dos ramos e aparelhos. Essa pequena-burguesia, que
foi frequentemente um dos baluartes da ordem “democrático-re-
publicana” e também uma peça essencial de um “jacobinismo” de
esquerda, e mesmo de um socialismo pequeno-burguês, tem tam-
bém trazido um apoio de massa aos diversos fascismos e bona-
partismos.
d) Essa atitude complexa da pequena-burguesia tradicional
em relação ao Estado prende-se aliás igualmente à ideologia que
lhe é inculcada pelos aparelhos ideológicos de Estado: o papel
principal nesse sentido retorna aqui não tanto ao aparelho esco-
lar (trabalho intelectual), mas a este aparelho específico que é
a família: o que se prende ao papel da exploração familiar na
forma de existência econômica desses agentes. Encontra-se aí,
para essa pequena-burguesia, um dos locais mais seguros de in-
culcação da ideologia burguesa, em razão do papel decisivo de
resistência a uma transformação radical das relações sociais que
a família desempenha, mas que é particularmente eficaz para
esses agentes, que reúnem então a nova pequena-burguesia no
binômio família-escola. É
e) Enfim, um último elemento, que é bastante conhecido
e sobre o qual não insistiremos: as formas de revolta violenta
que, em conjunturas determinadas, caracterizam essa pequena-
burguesia são, privada que está de uma posiçãopolítica autôno-
ma de classe a longo prazo, e quando não adotou posições de
classe operária, fregientementeaquelas das “jacqueries pequeno-
burguesas”, marcadas pelo “anarquismo” próprio do individua-
lismo pequeno-burguês.

IV

Essa comunidade de efeitos ideológicos para o conjunto da


pequena-burguesia se traduz no plano das posições de classe.
Com efeito, a pequena-burguesia não tem posição política de
classe própria e autônoma a longo prazo. Isso significa, simples-
mente, que só há, em uma formação social capitalista, o cami-
nho burguês e o caminho proletário (o caminho socialista): não
E
existe “terceiro caminho”, ao contrário das.
“da “classe média”. As duas classes fundament Li 5 rg
e a classe operária: não pode existir, principalmente, “mod
produção pequeno-burguês”. O que faz, entre outras coisas,
que a pequena-burguesia não tenha sido jamais, em lugar
nhum, a classe dominante politicamente. O que por vezes.
apresenta é: E
1) que ela tenha, em conjunturas e regimes determina
detido o simples lugar de classe reinante, recobrindo a domin:
ção política e a hegemonia da burguesia. Foi principalmente
caso para o primeiro período dos fascismos, mas também, aind.
atualmente, em certas ditadurás militares e bonapartismos de pai
ses dependentes, seja sob a forma“progressista”, recobrindo entã:
a dominação política de certos setores da burguesia com veleida
des “nacionais” (Peru, por exemplo, ou, no passado, o populism
peronista): seja sob a forma “reacionária”, ocultando então
dominação política da burguesia compradora. Mas o caso se apre
sentou também, sob outras formas, nos países europeus: menci
“naremos somente a forma dos primórdios da Terceira Repúb
na França ou, ainda atualmente, certos regimes socialde
“cratas;
"

2) que ela tenha conseguido, servindo-se indiretamente |


certos regimes e crises particulares, desalojar uma grande part
da antiga burguesia e tomar, por processos econômico-polít
“complexos, seu lugar (caso do Egito de Nasser, por exemp
ou mesmosubstituir, sob a forma principalmente de burgue,
de Estado, a burguesia colonialista estrangeira (é o casop:
certos países africanos): mas, nesses casos, ela é classe politic
mente dominante enquanto burguesia precisamente (burgue
cujo valor ela ocupou), e mais que tudo enquanto pequena
* guesia. . q
326 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

junturas determinadas, e a curto prazo, na cena política como


autêntica força social, com um peso próprio e de uma forma
relativamente autônoma: elemento essencial que tem fregiente-
mente escapado à análise marxista e à prática dos partidos co-
munistas no tempo da Terceira Internacional. Mas, mesmo nesses
casos bastante raros (pois implicam o fato excepcional de uma
organização da pequena-burguesia em um partido pequeno-bur-
guês específico) essa posição conjuntural relativamente autôno-
maatua, ela também, situada na perspectiva histórica num prazo-
mais longo, seja para a burguesia, seja para a classe operária.
Essa complexidade é também devida ao fato de que, frequente-
mente, quando as posições pequeno-burguesas reúnem as posições
de uma ou de outra classe fundamental, isso se realiza de forma
indireta: éantes de tudo o caso quando essas posições reúnem
a posição de classe burguesa. O processo só toma raramente a
forma de uma aliança direta, explícita e declarada burguesia-pe-
quena-burguesia, porque tal aliança é de fato extremamente con-
traditória e explosiva, realizando-se pelo artifício de um apoio
particular oferecido pela pequena-burguesia ao Estado, que ela
considera como “seu” Estado. Enfim, é igualmente o caso, sob
uma forma diferente, quando essas posições reúnem a posição de
classe proletária: elas o fazem continuando a ser marcadas pelos
aspectos ideológicos pequeno-burgueses.
Essa polarização da posição de classe da pequena-burguesia,
devida à sua polarização intermediária), se traduzpelo fato co-
nhecido de sua instabilidade política, e de sua “oscilação” ou “ba-
lanceamento” de uma posição de classe burguesa numa posição
de classe proletária. Esses conjuntos pequeno-burgueses podem
com fregiência “oscilar”, segundo as conjunturas, e por vezes.
em períodos de tempo muito curtos, de uma posição de classe
proletária a uma posição de classe burguesa, e vice-versa (lem-
bramos aqui o processo recente, na França, em maio e julho de
1968). Estando bem entendido que este termo “oscilação” não
deve ser tomadono sentido de um traço de natureza ou de essên-
cia da pecuena-burguesia, mas remonta à sua situação na luta
das classes. Essa oscilação não é uma queda livre, mas depende
dos limites colocados pelos estádios e fases do capitalismo e das
-conjunturas que os marcam.

Ora, essa polarização das posições de classe atravessa, de lado


a lado, e seguindo linhas complexas, a- peguena-burguesia no seu
conjunto, ao mesmo tempo a pequena-burguesia tradicional e a
| ad
Tra

IDEOLOGIA PEQUENO-BURGUESA 327


nova pequena-burguesia. O que se traduz pelo fato de que, na,
esmagadora maioria das conjunturas de uma formação capitalis-
ta, em particular na sua fase atual, existem “partes” da pequena-
burguesia que adotam a posição de classe burguesa, e “partes
que adotam a posição de classe proletária.
-O que remonta assim diretamente a uma outra série de ques-
tões que se rerere em primeiro lugar, dada sua importância atual,
à nova pequena-burguesia:
1) Em que medida sua polarização de posição de classe para
a classe operária encobre transformações atuais que afetam suas
condições de existência?
2) Em que medida a polarização diferencial das posições
de classe no próprio seio da nova pequena-burguesia (“partes”
desta que adotam posições de classe burguesa, e outras, posições
de classe proletária) destaca diferenciações em frações de classe?
E, em tal caso, como delimitar essas frações?
3) Qual é a situação atual, nesse sentido, da pequena-bur-
guesia tradicional?
| IX. A SITUAÇÃO ATUAL
E A QUESTÃO DAS FRAÇÕES DE CLASSE
DA NOVA PEQUENA-BURGUESIA
“As Transformações Atuais

Tratarei, pois, primeiramente do problema que se refere à


va pequena-burguesia. Considerando que se encontra aí de fato
problema principal, não prolongarei a famosa questão do au-
ento atual dessa pequena-burguesia em relação à classe operária
países capitalistas desenvolvidos, RoRpnestao apenas com
lgumas observações muito sucintas. |
As diversas concepções da doraimzação” do mundo, que já
aviam aparecido entre as duas guerras e que se multiplicaram
epois de 1945, fundamentavam-se de fato principalmente em:
“uma concepção tecnicista dos *“progressos tecnológicos” (au-.
mação etc.), supondo uma “revolução técnica e científica” que,
envolvida independentemente das relações de produção, impli-.
ia, como tal e por si, uma diminuição radical da classe ope-
ia; b) uma prodigiosa manipulação das estatísticas, cujo exem-
o ideológico mais patente é aquele da distinção entre setores.
primário”, “secundário” e “terciário”, em face da qual mesmo
“categorias socioprofissionais” do INSEE aparecem como um
xemplo de rigor, o que não é pouco; c) o caso dos Estados Uni-
os como exemplo prefigurado do caminho unívoco que as outras |
trópoles imperialistas seguiram inelutavelmente, principal. |
mente a Europa, mas também os “países subdesenvolvidos”.
A falácia dos dois primeiros pressupostos é muito evidente
ara aí insistirmos. Mas, aproveito a ocasião oferecida pelo últ
-
FRAÇÕES DE CLASSE DA NOVA PEQUENA-BURGUESIA 329

mo ponto para dizer primeiramente que, na fase atual da inter-


nacionalização das relações capitalistas, o aumento absoluto e
relativo da classe operária deve ser em primeiro lugar apreendido
no conjunto da corrente imperialista, e não unicamente na zona
das metrópoles, nesta ou naquela metrópole. E, indo mais além,
é claro que a situação dos Estados Unidos sobre esse assunto não
poderia ser considerada como exemplar para a Europa. A dimi-
nuição importante, absoluta e relativa, da classe operária ame-
ricana em relação ao aumento dos assalariados não-produtivos nos
Estados Unidos, expressa especialmente depois da Segunda Guer-
ra Mundial, é devida essencialmente, ao mesmo tempo, à impor-
tância da exportação do capital americano e ao fato de que
os
Estados Unidos tornaram-se de alguma forma o centro adminis-
trativo mundial (caminho que não poderia prefigurar aquele da
Europa). Trarei aqui apenas um argumento a contrario: à
situa-
ção da Grã-Bretanha, onde o número de assalariados não-prod
u-
tivos, que acusara um aumento considerável, sofreu uma: régres-
são característica a partir do momento em que esse país
cessou
de desempenhar o papel de uma força imperialista de primeira
ordem.
Isso não significa que o aumento rápido dos assalariados
não-
produtivos permaneça umfato real e importante nos
principais
países capitalistas desenvolvidos. Não me arriscando
a adiantar
cifras precisas (o que demandaria um trabalho rigoroso
e con-
siderável que ao meu ver não foi ainda bem
tratado 1), direi o
seguinte para a França: a classe operária, que está
em aumento
absoluto e relativo, cresceu, de 1954 a 1968, cerca
de + 5-6%
(situando-se atualmente entre 41 e 42% da populaçã
o ativa),
tendo os assalariados não-produtivos apresentado
um ritmo de
aumento mais importante, cerca de + 10%.
Ainda que seja ne-
cessário ter sempre em vista as cifras absolutas
às quais se apli-
cam tais proporções: o - 5-6% da classe
operária representa
uma cifra absoluta de indivíduos consideravelment
e superior ao
+ 10% dos assalariados não-produtivos.

Seja o que for, as principais razões desse fenô


meno, efetua-
da a “abstração” das particularidades de
cada formação social,
BE

1 Assinalo aqui os artigos muito inter


E reservas feitas com respeito às essantes, tendo-se em conta
concepções do Capitalisme monopoli
Etat, de CI. Quia e Ch. Lucas ste
em Economie et Politique, junho
de 1973.
330 - AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE Hojsr:

polista, princi-
são devidas às características do capitalismo mono
palmente em sua fase atual:
oração da classe
a) o deslocamento da dominante, na expl
alho (que incluí a
operária, para a exploração intensiva do trab
transformações tecno-
questão da produtividade do trabalho é das
parte proporcional do
lógicas), e que conota uma diminuição da
o;
trabalho vivo em relação ao trabalho mort
o (subsunção) radi-
b) a extensão do salariado pela submissã
utivos ao capital mo-
cal da força de trabalho dos setores não-prod
ão atual, pelo capitalis-
nopolista, acoplada aos efeitos de dissoluç
ução (diminuição dos
mo monopolista, das outras formas de prod
diversos “independentes”);
ordinado, das atividades
c) o aumentoconsiderável, mas sub
ização dos produtos e de
que possuem característica de comercial
ficação dos produtos acaba-
circulação das mercadorias (diversi
tal (capital-dinheiro, ban-
dos), mas também de realização do capi
cos, seguros etc):
, do número dos
d) o aumento, igualmente considerável ra
iços públicos), que ent
funcionários de Estado (inclusive serv
do salariado não-produtivo,
em grande parte no aumento geral
ervenção acrescidas pelo Estado
e que se prende às funções de int
principalmente em sua fase
próprias ao capitalismo monopolista e
atual.
as diversas ideologias
Mas assinalo que, uma vez afastadas
ecto do problema não é
da “terciarização do mundo”, esse asp
O papel hegemônico da
o mais importante: de um lado, porque
em uma base estatística
classe operária não poderia ser apreciado
stão essencial, hoje mais
de cifras: de outro lado, porque a que
da classe operária.
do que nunca, é aquela das alianças

da nova peque-
Volto assim à questão das frações de classe
comuns, e seus efeitos
na-burguesia. Defato, as coordenadas
da nova pequena-burguesia
ideológicos, da determinação de classe
já é muito importante)
demonstram simplesmente (mas o que
da classe operária: eles
que esta, e seus conjuntos, se distinguem
rizados para a burguê-
podem assim, de um lado, ser sempre pola
rizados para a classe
sia e, de outro lado, mesmo quando são pola
FRAÇÕES DE CLASSE DA NOVA PEQUENA-BURGUESIA 331

, em suas posi-
operária, permanecem frequentemente marcados se.
rios à sua clas
ções, pelos efeitos ideológicos próp
ação de classe
Mas já havíamos observado que essa determin
da exploração, na
na divisão social do trabalho, seja na ordem
balho manual, na ordem
ordem da divisão trabalho intelectual /tra
alho (relações ideoló-
da burocratização de seu processo de trab
agentes, se bem
gico-políticas), e na ordem de reprodução dos
unto da nova pe-
que delimitando um lugar comum para o conj
, no seu conjunto,
quena-burguesia, não o marcava, de um lado
outro, ao mesmo
exatamente da mesma forma, e introduzia, por
burguesia.
tempo, delimitações no seio da nova pequena-
intro-
É sobre essas delimitações que vamos agora insistir,
à situação
duzindo alguns elementos particulares que se reférem
atual. Mas não convém perder de vista:
a) que, se insistimos agora sobre esses elementos, é para
o ao per-
sublinhar precisamente que não mudam em nada quant
rguesia,
tencimento de classe dos conjuntos da nova pequena-bu
cial para
permanecendo, estes, pequeno-burgueses (o que é essen
a questão das alianças);
b) que esses elementos não surgem pela primeira vez na
ua-
fase atual do capitalismo monopolista, sendo somente a acent
een-
ção de tendências já em realização durante o período compr
ão do
dido entre as duas guerras, aquele da fase de consolidaç
capitalismo monopolista: o que é uma resposta indireta aos que
sustentam que os elementos “atuais” conduziriam inelutavelmen-
te a transformações automáticas das posições de classe desses
agentes em relação a posições de classe “anteriores”.

Isso não significa que essas transformações atuais sejam


muito importantes: elas se articulam às delimitações traçadas no
seio da nova pequena-burguesia por sua determinação de classe,
e acusam essas delimitações. Essas delimitações já esboçam os
contornos de frações da nova pequena-burguesia, apresentando
algumas condições objetivas, atualmente nítidas, para a adoção
de posições de classe proletárias. É de fato a recuperaçãoparcial
dessas delimitações desdobradas que marca as condições objetivas
particulares de uma aliança dessas frações com a classe operá-
ria: essas transformações, no sentido principalmente de uma “de-
gradação das condições de vida” dessa pequena-burguesia, con-
centram-se precisamente, e não por acaso, em certas frações desta
última, já referenciadas em sua determinação estrutural de classe.
Ess “desdobramento indica precisamente que não se trata, nessas
ormações atuais, nem de elementos conjunturais, nem de ele-
mentos que marcam indistintamente, como se sustenta com fre-
giiência, o conjunto da nova pequena-burguesia. Se essas trans-
rmações não significam assim a polarização objetiva do conjun-
to da nova pequena-burguesia para a classe operária, eles só fa-
zem reforçar mais ainda, visto que se concentram maciçamente
sobreelas, a polarização de certas frações dessa pequena-burguesia.
Essas transformações se traduzem assim por formas diferen-
ais do subconjunto ideológico pequeno-burguês, fundamental-
mente comum ao conjunto da pequena-burguesia, nessas frações. .
Com efeito, a articulação da ideologia burguesa e daideologia
pica aos elementos ideológicos pequeno-burgueses não se
manifesta da mesma forma no conjuntoda nova pequena-burgue-
sia: as transformações atuais reforçam os elementos proletários
ue, já pelo fato de sua determinação estrutural de classe, são
mais fortes nessas frações.
— Insistir, pois, nesse fracionamento é duplamente. importante,
fencionaremos somente as análises do pcF no contexto geral do
pitalismo monopolista de Estado?. Com efeito, essas análises,
lém doque já foi dito, não introduzem praticamente nenhuma
iferenciação, nesse sentido, no seio das famosas “camadas mé-
ias assalariadas”. A diferenciação dessas camadas entre si está
aseada em critérios empíricos (comércio, serviços, função pú-
blica etc.), e as delimitações introduzidas pela polarização obje-
iva no próprio seio da nova pequena-burguesia são quase total-
ente ausentes. Supõe-se que o conjunto dessas camadas sejam,
eseus vértices até seus escalões subalternos, igualmente atingi-
“dos, e da mesma forma, pela polarização objetiva do lado da
lasse operária, do engenheiro até a vendedora de grandes orga-
izações comerciais, do professor titular de universidade ao pro-
essor primário eventual, do executivo ao simples empregado
(camadas médias — camadas antimonopolistas). Análises que
êmefeitos inversos âqueles que assinalamos até aqui: não situan-
do a diferença de classe entre a nova pequena-burguesia e a classe
operária, deixando entender que o conjunto dessas “camadas mé-
dias” errantes “caem” do lado da classe operária, somos forço-
samente levados a subestimar, ao mesmo tempo, as delimitações
que aí se intercalam, e aperder então, procurando a maior das
— 2 Os fatos são extremamente claros no Traité já mencionado, t. 1,
pp. 226-5].
FRAÇÕES DE CLASSE DA NOVA PEQUENA-BURGUESIA 333

nça nova entre a classe


alianças, as possibilidades reais de alia
a.
operária e certas frações dessa pequena-burguesi

Entretanto, insistir sobre esse fracionamento da nova peque-


Sabe-se
na-burguesia é também importante por uma outra razão.
-
que a própria classe operária não constitui um conjunto “homo
exist em,
gêneo”, e que diferenciações com fregiência importantes
rios qua-
para só citar um exemplo característico, entre os operá
certas condições
lificados franceses e os OS imigrados. Portanto,
se degradam em
de existência de certas frações pequeno-burguesas
não deve
relação àquelas de certas camadas operárias. Mas isso
grande loja e um
disfarçar o fato de que entre uma vendedora de
se bem que
operário qualificado existe uma diferença decisiva,
ente), ser con-
este possa, sob certos aspectos (salário principalm
: uma diferença
siderado como “privilegiado” em relação àquela
rguesa, o que
de classe, um sendo operário e a outra pequeno-bu
adoção efeti-
tem efeitos consideráveis sobre as possibilidades de
para mostrar
va de posições de classe proletárias. E, se insisto, é
de esquerda que,
os erros de toda uma série de concepções atuais
“povo” ou
por um certo emprego inteiramente idealista do termo
, e segun-
“massas populares”, ocultam as delimitações de classe
etarizados”
do as quais certos agentes pequeno-burgueses “prol
s”
apresentariam atualmente mais possibilidades “revolucionária
ncendo
do que certos agentes operários, considerados como perte
não
globalmente à aristocracia operária (o que não é pertinente,
sendo a aristocracia operária determinada pelos únicos critérios
Os
econômicos da importância dos salários etc.: se fosse o caso,
trabalhadores da Lip deveriam ser considerados como fazendo
parte, por excelência, da “aristocracia operária”!).

HI

As mais importantes transformações atuais no setor do tra-


balho assalariado não-produtivo são:

1. A feminização pronunciada do trabalho assalariado não-


produtivo, ligada a vários fatores, entre os quais o aumento con-
siderável dos assalariados não-produtivos e a entrada maciça das
mulheres na “vida ativa” submetida à exploração do trabalho ca-
pitalista. Na França, de 1946 a 1968, a percentagem de mulheres
permaneceu quase constante na classe operária, enquanto aumen-,
E
334 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJ
“terciário”. Dada a imprecisão
tou cerca de 40% no setor dito
podemos levar a proporção a
prodigiosa desse setor “terciário”,
s às categorias socioprofissio-
dimensões mais certas referindo-no as, 486 de-
1.000 mulheres ativ
nais, assinalando que em 1954, em 563
pendiam de uma categoria do salariado não-produtivo, para
196 2. Fei tas tod as as cor reç ões , € considerando desta vez o
em -
mulheres inclusive), esse fenôme
conjunto dos ativos (homens e s
mais modesta: entretanto, estamo
no aparece sob uma dimensão
clara º.
diante de uma tendência muito
em vias de se fazer, de ma-
Mas isso não foi feito, nem está
ra uni for me. Ess a pen etr açã o das mulheres teve lugar, e isso
nei
us desiguais, para O conjunto dos
continua sendo verdade, em gra os
os dos assalariados não-produtiv
países capitalistas, nos empreg de
(os “empregados” de comércio,
que são os menos qualificados
o, de ser viç os, enq uan to à proporção das mulheres entre
escritóri a-
“ex ecu tiv os méd ios ” per man ece, aproximadamente, pratic
os os
lugares relativamente subaltern
mente estável), situando-se nos
oridade (e isso, em graus ainda
nas relações hierárquicas de aut
os de atividade dos assalariados
desiguais, no conjunto dos ram
tiv os) , e enf im são os men os pagos na ordem da hierar-
não-produ
rial . Se não é dir eta men te a penetração das mulheres
quia sala teó-
primeira, como o sustentam os
nesse trabalho que é a causa
uto” social, de uma desqualifica-
ricos do “prestígio” e do “estat ão desse
al, de uma burocratizaç
ção social do trabalho intelectu
trabalho e dá diminuição atual das diferenças relativas dos salá-
s des ses tra bal had ore s em rel ação àqueles da classe operária,
rio
as mulheres que são as suas
não é menos verdade que: a) são
lmente, não se-dá por acaso;
principais vítimas, e isso. natura
heres nesses setores tem acen-
b) que a penetração maciça das mul s, em virtude
vez, essas tendência
tuado consideravelmente, por sua -
exp lor açã o, dom ina ção e opr essão particulares que caracteri
da são
tal, e que somente são a expres
zam o trabalho feminino como
m mais ampla.
de uma divisão sexual do trabalho be
ncipais vítimas da repro-
Não somente as mulheres são as pri
no próprio seio do trabalho
dução da divisão social do trabalho
isso se soma, em seu caso, às di-
assalariado não-produtivo, mas
seu próprio trabalho, nas
versas formas de repressão sexual em
ção político-ideológicas. Ele-
relações de exploração e de domina
prio, bastando apenas men-
mento que desempenha um papel pró
ulação do INSEE de 1954, 1962 e
3 Fontes, Recenscamentos da pop
isme et patriarcat”, em Critiques
1968. Ver também R. Leparce, “Capital
de Véconomie politique, n.ºs 11-12, pp. 154-59.
A-BURGUESIA 33
FRAÇÕES DE CLASSE DA Nova PEQUEN
os.
fe nô me no , aná log o, do ra cismo de que são vítimas ,
cionar o
dos.
trabalhadores imigra zação maciçã do salariado não-
Mas a questão dessa femini complexidade de seus:
pode ser tratada, em toda a
produtivo só -
m rel açã o à est rut ura do aparelho familiar, e principal
efeitos, co , de
e co m rel açã o à cla sse , ma s também à fração de classe
ment a ou
mulheres que pertencem à est
que dependem Os maridos das exem-
a-burguesia. Conhece-se- por
àquela fração da nova pequen .
pode assumir, para as lutas das
plo a importância negativa que derem ser con -
o de seus salários po
mulheres nesses setores, O fat ”.
como salários de ajuda do “casal
siderados, no aparelho familiar, texto da emer-
o no con
Seja o que for, esse elemento, situad
tamente repercussões con-
gência das lutas das mulheres, terá cer aqueles, recentes,
os como
sideráveis em futuro próximo: exempl
eries em Thionville, dos
na França, das greves das Nouvelles Gal
nça Social, são sinais evi-
Centros de cheques postais e da Segura
dentes disso.
ente entre os salários
2. A relação que se estabelece atualm
operários) e os salários
dos trabalhadores produtivos (os salários
é geralmente entendido por
dos trabalhadores não-produtivos. Isso
a redução dos afastamen-
numerosos autores como tendência para
os salários “médios” do
tos entre os salários “médios” operários e
riais”, em relação à
terciário, e como perda dos “privilégios sala
Mas sabe-se de forma
classe operária, do conjunto do “terciário”.
famosos “salários mé-
pertinente que essas comparações entre os
dios” não querem dizer grande coisa.
geral para a redu-
Certamente, trata-se aí de uma tendência
alho não-produtivo e
ção dos afastamentos entre salários do trab
nto ampliado do |
aqueles do trabalho produtivo no desenvolvime
álho não-produti-
capitalismo, e para a baixa dos salários do trab
particular para
vo, sobre a qual Marx já chamara a atenção, em
em ser generali-
o setor da circulação (mas suas observações pod
dito pertence à
zadas): “O trabalhador comercial propriamente
rio médio se
categoria dos assalariados mais bem pagos, cujo salá
com o progresso
encontra acima do trabalho médio. Entretanto,
abaixar mes-
do modo de produção capitalista, seu salário tende a
eiramente à
mo em relação ao trabalho médio. Isso se deve prim
seu:
divisão do trabalho no interior do escritório... Em seguida,
issional,
salário tende a abaixar pelo fato de que a formação prof
de
os conhecimentos comerciais e linguísticos etc. se difundem
or
forma sempre mais rápida, mais fácil, mais geral, em melh
336 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

conta. Isso aumenta a afluência e, consegientemente, a concor-


rência, desvalorizando... à medida que a produção capitalista se
desenvolve, a força de trabalho desses empregados de comércio +.”
Poderíamos acrescentar outros fatores que acentuam essa tendên-
cia, prendendo-se às formas atuais de extensão da exploração do
capitalismo monopolista, às formas atuais de distribuição da mais-
valia entre as diversas frações do capital e da perequação das
taxas de lucro etc.

Mas essa tendência geral, levando-se em conta também fato-


res políticos que entram em jogo na hierarquia dos salários, não
se realiza absolutamente da mesma forma para o conjunto da nova
pequena-burguesia. Essa tendência à redução dos afastamentos en-
tre salários “médios” operários e salários “médios” pequeno-bur-
gueses, já iniciada, com altos e baixos, após a Primeira Guerra
Mundial e entre as duas guerras, e que, após um período de re-
gressão da tendência na França entre 1945 e 19505, afirma-se
atualmente, e se realiza sobretudo por uma redução importante
dos afastamentos entre os agentes que ocupam certos lugares des-
qualificados e subalternos da pequena-burguesia (empregados in-
feriores de comércio, dos serviços, dos escritórios, pequenos fun-
cionários) e certas camadas da classe operária.
Defato, trata-se bem da forma principal de realização dessa
tendência, e cujos caminhos concretos dependem dos fatores po-
líticos que intervêm na hierarquia dos salários. É a forma prin-
cipal de realização dessa tendência, mesmo nos países capitalistas
(Grã-Bretanha, Alemanha etc.) onde ela se exprime também por
uma fraca redução das armas estratégicas da hierarquia salarial
no seio do conjunto da nova pequena-burguesia, indicando assim
uma redução relativa do afastamento do conjunto desses salários
em relação aos salários operários (o que não inclui pois, natural-
mente, as formas de remuneração dos empresários e dos agentes
dirigentes do capital). Mas as coisas se apresentam de modo di-
verso na França, o que é demonstrado claramente pela interven-
ção dos fatores políticos. Com efeito, como indica a história re-
cente da evolução dos salários até 1968, são os diversos executivos

4 Le Capital, t. VI, p. 309.


5 MH. Mercillon, La Rémunération des employés, 1954. Ver igual-
mente a série de artigos consagrados aos empregados no n.º 228, julho
de 1973, de Economie et Politique..
6 D. Lockwood, op. cit., pp. 43 sq.; R. Hamilton, Einkommen und
Klassenstruktur in BRD, in Der “neue” Arbeiter, hgb. K. Hôring, 1971.
“médios que têm, no seio da nova pequena-burguesia, sido bene:
ciados, entre 1952 e 1968, com aumentos relativos dos salários.
bem mais que os outros conjuntos pequeno-burgueses (“os em
pregados”) e que a classe operária 7. Isso faz que, na França,
classe operária seja menos bem paga do que em outros países
europeus (principalmente a Alemanha e a Grã-Bretanha), ma
- que os escalões superiores da nova pequena-burguesia (diver
" executivos médios, mas também o conjunto engenheiros-técnicos)
sejam mais bem pagos *: em outras palavras, o afastamento entr
os salários operários e os salários desses escalões tem de fato, du
rante estes últimos anos, aumentado na França. O que se cons

na França, do leque do conjunto dos salários operários e peque-


no-burgueses é devido a esse aumento relativo particular dossa-.
lários dos “executivos médios”, pois, entre 1962 e 1968, o salário.
nominal anual médio aumentou, para os operários, 52% 8 para.
É os empregados, somente 49,6%.
É É preciso observar então, essencialmente, um traço da polí
tica geral da burguesia francesa e que à marcou ao longo de.
história: aquele de umaprocura muito particular de um “apoio”
da pequena-burguesia em face da combatividade e da luta da
classe operária. Essa estratégia já fora aquela da burguesia fran-
cesa com respeito à pequena-burguesia tradicional após a Revo-
lução de 1789, pela via indireta do *“jacobinismo-radicalismo”: :
o que se manifestou por muito tempo através de um ritmo con:
sideravelmente mais lento de eliminação dessa pequena-burguesia
em relação aos outros países mencionados. Essa política prolon-
gou-se em relação à nova pequena-burguesia: ela teve como p
meiro efeito o ritmo de diminuição dos afastamentos dos salári
entre os próprios escalões subalternos da nova pequena-burgu
e a classe operária, ritmo muito mais lento do que para outr
países capitalistas. Mas nestes últimos anos, essa política assu
uma forma diferente: ela se concentra sobre os escalões supe
res dessa nova pequena-burguesia (“executivos médios”). Dada a
exploração necessariamente acrescida do capital monopolista sobre

7 Fontes, INSEE, “Données statistiques sur Pévolution des rém


rationa salariales de 1938 à 1964”, Etudes et Conjonctures, agosto de 1965;
“Salaires, prestations sociales et pouvoir d'achat depuis 1968”, coleçõ
do INsEE, M 9, abril de 1971; “Les salaires dans Pindustrie, le commerce
et les services en 1969”, Coleções do INSEE, M 20, janeiro de 1973.
8 Le Monde, dossiê e documentos: “T"inégalité des revenus.
France”, maio de 1973.
9 Pouvoir politique et Classes sociales, op. cit.
e
338 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

a pequena-burguesia, essa política assume formas particularmente


seletivas, mas acentua por isso mesmo as delimitações no seio da
nova pequena-burguesia, aumentando aí as armas estratégicas da
hierarquia salarial: em contrapartida, pesquisas tendem a demons-
trar que, durante o mesmo período de tempo, essas armas estra-
tégicas da hierarquia salarial diminuíram no seio da classe ope-
rária, em particular depois do aumento do smiG quando dos acor-
- dos de Grenelle em 1968.
Seia o que for, observa-se perfeitamente a importância da .
diminuição dos afastamentos relativos entre os salários de certas
frações da nova pequena-burguesia e aqueles da classe operária:
um — ou melhor, uma — empregado de comércio, de escritó-
rio. de serviços, dos escalões subalternos da função pública, tem
frequentemente, sobretudo nos princípios de sua vida profissional,
um salário base inferior âquele de muitos operários qualificados
(ainda que a duração de trabalho seja 2,4 horas inferior em mé-
dia para os empregados em confronto com a dos operários). O
aspecto mais importante da questão não é aqui simplesmente o
processo de pauperização relativa (relações salários/lucros) que
sofrem essas frações (pois a classe operária é por isso também
afetada), mas o que designarei como processo de pauperização
relacional (em relação à classe operária).

Mas. indo ainda mais longe e reunindo então a questão da


feminização dos assalariados não-produtivos, percebe-se claramen-
te essa estratégia seletiva da burguesia no próprio seio das frações
de polarização objetiva proletária da nova pequena-burguesia, e
seus efeitos, o que é necessário levar muito em consideração. Se
é exato por exemplo que uma assalariada de comércio, de escri-
tório etc., recebe, sobretudo no início, um salário inferior âquele
de muitos operários homens, isso não significa que ela receba em
geral um salário consideravelmente superior âquele de uma ope-
rária mulher, isto é, aquele que ela obteria se estivesse na pro-
dução. Enquanto os afastamentos entre os salários médios dos
operários e aqueles dos empregados são de cerca de 8 a 10%, .
eles são de cerca de 20% entre as empregadas e as operárias. Em
outras palavras, essa pauperização relacional afeta muito menos
as mulheres assalariadas não-produtivas comparadas às operárias
t
mulheres, com todos os efeitos que isso pode ter sobre essas assa-
lariadas. Para falar de forma descritiva, é bem possível que, nas
posições de classe de uma empregada, o fato de ganhar menos do
FRAÇÕES DE CLASSE DA NOVA PEQUENA-BURGUESIA 339

que um operário conte menos do que o fato de ganhar bem mais


do que uma operária.

3. A reprodução da divisão trabalho intelectual/trabalho


manual no próprio seio do trabalho intelectual que assinalei. É uma
transformação que marca delimitações no próprio seio da nova
pequena-burguesia: parcialização do saber e padrenização das ta-
refas em alguns de seus setores e escalões, divisões internas da
pequena-burguesia burocratizada entre escalões de decisão e es-
calões de execução, processo. de qualificação-desqualificação in-
terna no trabalho intelectual ligado à “racionalização” de seu
trabalho etc.
De fato, essas delimitações são devidas somente, por um lado,
à introdução direta do maguinismo no trabalho desses assalariados,
e assim a uma mecanização de seu trabalho (trabalho parceiro).
Já em 1930, sustentava-se que tal mecanização “consumava a pro-
letarização técnica” do trabalho desses assalariados. Ora, essa me-
canização assume, de um lado, formas específicas no caso do tra-
balho intelectual e, de outro, está longe de apresentar a extensão
que se lhe atribui fregiientemente: as máquinas são aqui, em ge-
ral, “auxiliares” do trabalho (calculadoras, máquinas de escrever,
máquinas contábeis, etc.). Os casos de uma mecanização do tra-
balho onde o trabalhador se torna, como diz Marx, “o apêndice
de carne da máquina”, são bastante raros (certos casos de em-
prego de computadores por exemplo).
Segundo Lockwood 1º. esse maquinismo que introduz um tra-
balho em cadeia no sentido próprio (cadências ligadas a um ritmo
“autonomizado” da máquina) só se referia, na Inglaterra, em 1952,
a 3,5% do número total dos empregados. Certamente, esse fenô-
meno estendeu-se depois, ficando claro que não poderia ser com-
parado, mesmo de longe, com o que se passa com o trabalho
operário: a introdução no trabalho operário do “progresso técnico”,
e a “revolucionarização” constante dos meios de produção, são -es-
treitamente ligadas à-produção e à extração da mais-valia (mais-
valia relativa). Mas conhecem-se, mesmo aqui, os obstáculos sociais
— relações capitalistas — com que se chocam os progressos técnicos
que estão de fato sempre submetidos às condições sociais da pro-
dução. Não há nenhuma razão para pensar que, nas condições
sociais atuais do trabalho dos assalariados não-produtivos (divisão
social trabalho intelectual/manual, com abaixa dos salários desses

10 The Blackcoated Worker, op. cit, pp. 87 sq.


CIAIS NOCAPITALISMO DE HOJE
npregados permitindo a bom termo sua exploração
pelo nível dos
lários, abundância crescente dessa mão-de-o
bra etc.), essa ten-
ência de transformações tecnológicas tome jamai
s proporções
onsideráveis. O elemento principal da questão
é, aqui também,
“taxa de exploração e a taxa de lucro: a produtivid
ade do traba-
Onão assume aqui o mesmo sentido que na
produção da mais-

>

ois efetivamente,
orma indireta, a parcelização das tarefas
e do saber, e a desqua-
lificação do trabalho intelectual.
"Entretanto, mesmo fora desses
casos, o mesmo fenômeno se
produz, embora sob formas diferentes,
principalmente no âmbito
da burocratização. Ao contrário de
certas análises que opõem
burocratização e mecanização, e que
só admitem desqualificação
o trabalho intelectual para esta última, é necessár
io observar que
burocratização, que em tal caso só é o efeito
abalho intelectual /trabalho manual, rep da “separação”
roduz no seu seio essa
visão:é aqui que se articula a “racionalização”
atual desse tra-
lho, que tende a aumentar sua produtiv
idade. .
Essa desqualificação do trabalho inte
lectual manifesta-se en- |
m, de forma maciça, pelo emprego
desses agentes em postos de
balho desqualificados, na ordem do
trabalho intelectual, em
lação à sua formação, levando-se em cont
a, no enta nto, obser-
ções que foram feitas sobre a qualific
ação do trabalho intelec-
al pelo aparelho escolar. Essa for
m
nte: ela se refere principalmente aos jove
ns e interessa a certos
njuntos da nova pequena-burguesia (em
pregados de comércio
deescritório e escalões subalternos
desta), pela via indireta
s agentes que nela se inserem e que esperara
m, pela sua “qua-
ificação escolar”, encontrar um trabalho “sup
erior”. Constatam-
e aqui fenômenos significativos: na distribu
ição dos diplomas
s ativos de menos de 25 anos por categoria soci
oprofissional em
62 e 1968 na França, observa-se que a prop
orção, entre os em-
regados, daqueles que possuíam o bacharelado,
passou de 10,5
ara 21,6% (para os operários, de 3,5 para 6,2
%), daqueles que
ssuíam um diploma superior ao bacharelado de 4,8
para 8,1%
para os operários, de 2,5 para 4%). Quando se
levam em conta
outros elementos da pesquisa, observa-se claramen
te que mesmo.
m jovem titular de diploma universitário tem
muito menos pos-
bilidades em 1968 de ser executivo superior, ou
mesmo execut
vo médio, do que em 1962 4. Essa depreciação dos diplomas, Ii
gada de fato à desqualificação do trabalho intelectual, contribui
também para limitar as possibilidades na promoção interna desses
agentes.

4. Uma coordenada suplementar refere-se às condições


atuais de desemprego no trabalho intelectual. Não possuímos ain-.
da, sobre isso, informações suficientes: esse fenômeno constitui,
em suas formas e importância maciça, um fenômeno relativamen-
te novo, surgido nestes últimos anos na maioria dos países capita-
listas. De fato, o fenômeno de desemprego dos assalariados não-
produtivos começou a assumir proporções importantes após a cri-
se de 1930, tendo entrado então nas condições de existência desses
agentes no mercado de trabalho 2. Mas esse fenômeno em ne-
nhum lugar assumiu, no passado, e de longe, a importânciaque.
tem na classe operária como exército de reserva industrial.
Ora, tudo se passa como se assistíssemos, nestes últimos anos,
e para a maioria dos países capitalistas desenvolvidos, à constituição
de um exército efetivo de reserva intelectual que ultrapassa os
simples fenômenosconjunturais: o que não surpreenderia, dado
o investimento maciço dos setores do trabalho não-produtivo pelo
capital monopolista. Na França, segundo uma pesquisa sobre
emprego em 1972, a percentagem de desempregados era de 2,1%
para os operários, de 2,3% para os empregados, de 1,4% para os.
executivos. Em 1971 e 1972, essa proporção era estável para os
operários, mas passava de 2,0 a 2,3% para os empregados, e de |
1,1 a 1,4%para os executivos médios 18,
Mas a extensão recente desse desemprego faz com que ele
se manifeste principalmente, sob suas novas formas, nos jovens
particularmente destinados, pela sua formação escolar, ao salaria
do do trabalho intelectual. Certamente, não podemos perder de .
vista que esse desempregodos jovens (os de menos de 25 anos,
além daqueles que entraram recentemente na vida ativa), mais.
importante do que paraos adultos, surpreende ao mesmo tempo.
operários e as frações da nova pequena-burguesia. Entretanto, já

11 CI. Delcourt, “Les jeunes dans la vie active”, em Economie et


Siatistiques, INSEE, n.º 18, dezembro de 1970, pp. 10 sq.
É
12 R. Ledrut, La Sociologie du chômage, 1966. E
18 Coleções o INSEEL, “Démographie et Emploi”, n.º 19, pp. 76
e 87. Naturalmente, dada a prodigiosa manipulação oficial das cifras sobre .
o desemprego, estas só devem ser gua-dadas como simples indicadoras =
tendência. :
342 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

ao nível do desemprego puro e simples, constatamos fenômenos


significativos. Na pesquisa do INSEE, entre o conjunto dos jovens
desempregados de menos de 25 anos em 1972, a proporção por
exemplo dos titulares do cap era 17,6%, a dos titulares de bachare-
lado 3%, a dos diplomados do ensino superior 0,6%. Em 1968, a
proporção, no conjunto da população ativa (inclusive os desempre-
gados) de menos de 24 anos, de titulares do cap era 19%, a dos
titulares de bacharelado 3,3%e a dos diplomados do ensino supe-
rior 0,8% !*. Certamente, seria necessário levar em conta a de-
fasagem das datas dessas duas séries comparadas, mas destaca-se,
no entanto, como tendência, que os titulares do bacharelado e
de diplomas do ensino superior estão super-representados entre
os jovens desempregados, em relação aos titulares do cap. O que
constitui uma modificação digna de nota em relação ao passado
ainda recente.
Mas, o que interessa ainda mais são as diversas e múltiplas
formas de desemprego camuflado que prevalecem entre os jo-
vens: diversos tipos de subtrabalho, de trabalho clandestino, de
trabalho temporário e “eventual” etc. Inútil insistir sobre o fenô-
meno, considerável atualmente, de jovens que escapam a todo
complexo estatístico, cujo númeroestá avaliado, na França, entre
300 e 500.000, vivendo de diversos expedientes artesanais ou de
diversos serviços menores, que são de bom grado apresentados
pelos diversos ideólogos como “marginais” (drop-outs) e que re-.
jeitam, por convicção íntima, o “trabalho alienado” atual.

5. Enfim, transformações importantes surgem- nas condi-


ções de vida desses empregados assalariados fora de suas relações
de trabalho *º. O capital investe atualmente, de forma direta, no
conjunto dos setores “fora” das relações econômicas de trabalho
no sentido estrito, referente seja à reprodução da força de tra-
balho (urbanização, habitação, transportes etc.), seja ao domínio
do não-trabalho (lazeres, “tempo livre” etc.). Além disso, dada
a subordinação atual, no processo de concentração do capital, da
esfera de circulação ao capital financeiro, este impõe modos de
consumo coletivo dos produtos-mercadorias. Portanto, é necessá-
rio levar em conta, de um lado, que a submissão direta dessas
relações ao capital se faz sob a dominação das relações ideoló-

14 Economie et Statistiques, n.º 18, op. cit.


15 Entre outros, Fr. Godard, “De la notion de besoin au concept
de pratique de classe”, em La Pensée, n.º 116, dezembro de 1972; M.
Castells, Luttes urbaines, 1973.
FRAÇÕES DE CLASSE DA NOVA PEQUENA-BURGUESIA 343

gico-políticas, pelas quais o capital reproduz as divisões no seio


das classes exploradas e dominadas (na urbanização, na habita-
ção. nos lazeres etc., tendo o capital como objetivo político a
separação dessa nova pequena-burguesia da classe operária); mas,
por outro lado: a) que certas frações da nova pequena-burguesia
perdem maciçamente, e de forma acelerada, seus privilégios sala-
riais em relação à classe operária; b) que a nova pequena-bur-
guesia é particularmente sensível, na medida em que vive suas
próprias relações no trabalho fora da produção, nas condições
questionadas aqui: conhecemos principalmente a importância dos
modelos de consumo para a nova pequena-burguesia; c) que as
mulheres apresentam uma particularidade nesse sentido, na me-
dida em que sua exploração no trabalho é dobrada pela acumu-
lação das “tarefas domésticas” no aparelho familiar.
Temos então todas as razões para pensar, e análises mais
precisas tendem a demonstrá-lo, que a articulação dessas coorde-
nadas reforça atualmente as delimitações, no seio da nova peque-
na-burguesia, em outros setores que suas relações de trabalho,
agindo no sentido de uma polarização objetiva reforçada por cer-
tas frações desta em direção à classe operária: as condições de
vida — a “qualidade da vida” — são progressivamente degrada-
das, sempre de forma relativa, isto é, relacional, para essas fra-
ções. Constatamos assim que as lutas de classe nesses setores, e
em torno dos objetivos referentes (lutas urbanas, por exemplo,
estando a nova pequena-burguesia maciçamente concentrada,
como a classe operária, em aglomerações urbanas), materializam
frequentemente, e de forma particularmente clara hoje em dia,
alianças de classe entre essas frações e a classe operária.
Entretanto, por mais importante que seja, não entrarei no
exame desse aspecto da questão: se é evidente que essas coorde-
nadas só existem em unidade com as relações de produção e as
relações do processo de trabalho, unidade esta que reside não
simplesmente na reprodução da força de trabalho, mas no pro-
cesso de reprodução do conjunto das relações sociais (relações de
classe), não é menos verdade que o papel determinante retorne
às relações de produção. 18
16 Enfim, não entrarei, aqui também, no exame dos elemen
tos da
conjuntura que afetam atualmente a nova pequena-burguesia. Mas
as aná-
lises acima, que situam sua determinacão de classe e as transf
ormações
atuais no conjunto da divisão social do trabalho, permitem precis
amente
apreender a importância dos diversos elementos da conjun
tura nesse sen-
tido. Um dos elementos decisivos, dado o lugar específico da nova pe-
quena-burguesia nas relações político-ideológicas e nas particu'aridad
es do
344 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

2. As Frações de Classe da Nova Pequena-Burguesia

Levando-se então em conta, ao mesmo tempo, delimitações


induzidas no seio da nova pequena-burguesia por sua própria
determinação de classe, e essas transformações atuais (as duas
se encobrindo mais frequentemente), é possível delimitar as fra-
ções da nova pequena-burguesia.
A nova pequena-burguesia estando precisamente polarizada,
na luta das classes, entre a burguesia e a classe operária, é em
relação a essa polarização que é preciso apreender seu fraciona-
mento: vou ocupar-me, pois, somente em apreender as frações
da nova pequena-burguesia que estão claramente polarizadas, em
suas determinações de classe e as transformações atuais que as
afetam, em relação à classe operária, limitando-me, para as ou-
tras frações, às análises acima. O que não significa, portanto,
que as outras frações pequeno-burguesas façam, por esse motivo,
parte da burguesia, nem tampouco que as frações que serão aqui
questionadas se tornem, por isso, parte da classe operária; isso,
pois, não quer absolutamente dizer que as outras frações devam
ser consideradas como consagradas, uma vez por todas, às trevas
exteriores.
As frações que serão questionadas são, pois, aquelas que apre-
sentam as condições objetivas mais favoráveis para uma aliança
inteiramente particular com a classe operária e sob sua direção,
aliança que é atualmente de importância decisiva. Suas determi-
nações de classe as inciuem no campo pequeno-burguês objetiva-
mente polarizado e, de forma clara, em direção à classe operá-
ria. Mas esse campo pequeno-burguês de polarização proletária
não é ele próprio unificado; ele é precisamente fracionado: ele
próprio se polariza em direção à classe operária, em razão da
heterogeneidade das condições de vida e de trabalho dos agentes
pequeno-burgueses, freglentemente por reivindicações específicas
e por aspectos particulares. É nesse sentido que seria necessário
falarmos de frações de polarização proletária da nova pequena-
burguesia, esboçadas pelo conjunto de suas determinações de
classe, e não pura e simplesmente, como o fazemos por vezes,
da parte de polarização proletária desta, mesmo que essas frações
subconjunto ideológico pequeno-burguês, consiste na crise ideológica que
afeta atualmente a burguesia, crise esta que se repercute diretamente
nessa pequena-burguesia (e que tem efeitos próprios em suas posições de -
classe). Mas essa crise ideológica não afeta também o conjunto da nova
peguena-burguesia de maneira uniforme: seus efeitos seguem as delimi-
tações internas de sua determinação de classe.

E
FRAÇÕES DE CLASSE DA NOVA PEQUENA-BURGUESIA * 345

apresentem, em seu conjunto, uma delimitação principal com as


outras frações pequeno-burguesas, na medida em que elas se si-
tuam no campo de polarização proletária. Essa situação se expri-
me ao nível das posições de classe na conjuntura: essa “parte”
“da nova pequena-burguesia não poderia ter unidade política pró-
pria na conjuntura; contudo, só pode ser unificada unindo-se à
classe operária sob a hegemonia e a direção desta.
É precisamente nesse sentido que se torna necessário enten-
dermos essas frações-delimitações no campo de polarização pro-
letária da nova pequena-burguesia, isto é, no sentido de caminhos
específicos dessa polarização. De fato, não se trata também, como
se faz por vezes atualmente, de empreender uma classificação
tipológica, onde se procurariam essas diferenças por uma “me-
dida” ou “grau”, no sentido estrito de sua polarização objetiva
proletária. Não que não existam “desigualdades” entre essas fra-
ções: mas a questão se regula diretamente pela luta de classe
em conjunturas determinadas, não podendo as posições de classe
efetivas dessas frações ser reduzidas a essas desigualdades, pois
essas frações já estão situadas no campo de polarização objetiva
proletária. Em suma: se é verdade que um pequeno professor pri-
mário e uma vendedora de grande loja, fazendo parte do mesmo
campo, pertençam entretanto (e é importante) a frações dife-
rentes deste, e sejam polarizados por caminhos específicos para
a classe operária, é entretanto inútil disso deduzir, mecanicamen-
te, “mais possibilidades” para um do que para o outro de obte-
rem posições proletárias seguindo as desigualdades na sua pola-
rização objetiva.
O que me leva a lembrar que nem a delimitação principal
no seio da nova pequena-burguesia entre as frações de polariza-
ção proletária e as outras, nem sobretudo os contornos das pri-
meiras, destacam pura e simplesmente as relações econômicas nas
quais seus agentes se situam ”. Um executivo médio comercial
da esfera da circulação, remunerado sobre falsos custos do capi-
tal, está separado pela delimitação principal de uma vendedora
de grande loja, fazendo ela também parte da esfera de circula-
ção, dependente do mesmo capital (comercial) e remunerada so-
bre esses falsos custos, enquanto ele não está separado por essa
mesma delimitação de um outro executivo, dos serviços por exem-
Plo, remunerado, no entanto, pela renda. Mais ainda: se uma
vendedora de grande loja não depende da mesma fração que um
tado Ao contrário do que sustenta, por exemplo, P. Salama, em Cri-
tiques de Véconomie politique, op. cit.
346 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

pequeno professor primário, isso não ocorre porque ela é remu-


nerada sobre falsos custos e ele, no sentido estrito, pela renda-
sm

impostos. Enfim: uma mesma fração da nova pequena-burguesia


Di

de polarização objetiva proletária pode abranger assalariados


que dependem da circulação comercial, da realização bancária
e dos serviços.
De fato, são as coordenadas do conjunto da divisão social:
do trabalho que esboçam essas frações: certamente, o que elas
têm em comum, do ponto de vista das relações econômicas, entre
“si e em relação às outras frações pequeno-burguesas, é que elas
sofrem uma exploração particularmente intensa. Todavia, seria
completamente errôneo:
a) de um lado, tentar determinar seus contornos simples-
mente pelas formas econômicas de exploração (circulação do ca-
pital, serviços, funções públicas do Estado etc.), que elas sofrem.
Não há, deste ponto de vista, senão uma única diferença deci-
siva, aquela que separa esta exploração daquela que sofre a classe
operária na extração da mais-valia, o que remonta às nossas aná-
lises do trabalho produtivo e do trabalho não-produtivo;
b) de outro lado, limitar-se a uma medida estrita do grau
de exploração que elas sofrem: um pequeno funcionário, uma
vendedora e uma secretária podem ser explorados no mesmo
grau, sem que isso queira dizer que não existam“delimitações
entre eles. Y
:

Enfim, essas frações pequeno-burguesas devem ser conside-


radas no sentido de certas tendencialidades esboçadas pela deter-
minação de classe e pelas transformações atuais, e não como
fronteiras empíricas e rígidas, principalmente no sentido de uma
classificação “estatística”. Observemos em particular que as esta-
tísticas do INSEE, com as suas diversas “categorias socioprofissio-
nais”, se já são consideravelmente enganadoras quanto à fron-.
teira de classe, são ainda mais inoperantes no caso que nos in-
teressa: elas englobam mais freguentemente, nas categorias “pe-.
queno-burguesas”, conjuntos de agentes que, de fato, dependem
de fracionamentos muitodiversos.

A primeira fração de assalariados não-produtivos compreen-


de a grande maioria dos assalariados de base do setor comercial
FRAÇÕES DE CLASSE DA NOVA PEQUENA-BURGUESIA 347
“e
— os “empregados de comércio” —, submetidos principalmente
à concentração do setor comercial — por exemplo, grandes áreas;
os assalariados mobilizados, no próprio seio do setor não-pro-
dutivo, pela introdução do maquinismo e que são afetados de
forma intensa pela mecanização do trabalho (que pertencem à
esfera de circulação e de realização do capital, ao setor serviços,
ou ao contingente dos aparelhos de Estado); enfim, os empre-
gados de certos setores de serviços — empregados de restauran-
tes, cafés, cinemas, teatros, assalariados de base do setor saúde
(auxiliar de enfermagem dos grandes hospitais) etc. Com efeito:
a) Na divisão social trabalho intelectual/trabalho manual.
esses assalariados não-produtivos são aqueles que mais se apro-
ximam da barreira que separa a nova pequena-burguesia da
classe operária, na ordem do saber e doritual simbólico-ideológico
em que ele é investido. Quanto aosassalariados submetidos direta-
mente à introduçãodireta do maquinismo no trabalhonão-produti-
vo, são afetados de forma toda particular pela reprodução da divi-
são trabalho intelectual/trabalho manual nopróprio seio do traba-
lho intelectual (parcelização das tarefas). O conjunto desses agen-
tes é nitidamente polarizado em direçãoao trabalho manual, o que
se manifesta diretamente no processo de escolarização: se bem
queessa escolarização difira daquela à qual a classe operária está
submetida, esse processo é, para a massa desses agentes, relati-
vamente diferente do que para as outras frações pequeno-burgue-
sas. O caso é particularmente nítido para as mulheres: para
aquelas nascidas em e após 1918, 21% de empregadas de comér-
cio em 1964 não possuíam nem mesmo o cEP, contra 8% somente
para as empregadas de escritório; cerca de 20% das empregadas
de comércio possuíam um diploma superior ao CEP, contra mais
de 55% para as empregadas de escritório, pendendo estas muito
mais fortemente para o ensino geral. Para os homens, a situação
não é tão marcante, cerca de 39% dos empregados de comércio
possuindo um diploma superior ao cEP, contra ainda cerca de
55% para os empregados de escritório!8. É que os lugares de
enquadramento (executivos médios) são, nos casos do setor co-
mercial, praticamente monopolizados pelos homens;

b) Esses agentes são, em relação às outras frações pequeno-


burguesas, os menos afetados pela tendência à burocratização do
trabalho não-produtivo: isso se prende ao fato de eles se apro-

ao Pesquisa já citada do INSEE, em Economie et Statistique, n.º 9,


fevereiro de 1970, p. 55.
348 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

ximarem mais da barreira do trabalho manual. No caso dos agen-


tes diretamente submetidos à introdução do maquinismo, o fraco
indicador de burocratização que os afeta é devido à reprodução
da divisão trabalho intelectual/trabalho manual no campo do
trabalho intelectual. Poderíamos dizer, de forma descritiva, que
mesmo quando esses agentes dependem de setores de forte buro-
cratização, eles se situam relativamente à margem da hierarquia
burocrática privada e pública e de seus “escalões”: o que só pode
ser compreendido com o rompimento de uma concepção institu-
cionalista da burocratização-burocracia como “teoria das organi-
zações”. Uma grande loja ou um grande hospital, por exemplo,
“apresentam a tendência à burocratização, enquanto as vendedo-
ras e enfermeiras escapam relativamente à própria hierarquia, à
qual pertencem outros agentes presentes, que são no entanto
afetados pelos efeitos dessa burocratização e da reprodução da
divisão do trabalhointelectual/trabalho manual: observou-se fre-
quentemente o isolamento particular dos vendedores/vendedoras
de uma grande loja, através indiretamente, entre outras, da re-
produção fantasmática das distinções/isolamentos dos diversos
raios na ordem da “nobreza” dos produtos que vendem (as ven-
dedoras de produtos de “luxo” fazendo figura de “intelectuais”),
as diferenciações entre as apresentadoras e as manuais etc. Assim,
é nesse conjunto que o enquadramento do processo de trabalho
assume as formas mais abertamente repressivas.

c) O problema de “carreira” e de “promoção” apresenta-se


de forma relativamente diferente do que para os outros conjuntos
pequeno-burgueses, se bem que a situação permaneça sempre dis-
tinta daquela da classe operária. As possibilidades reais dessa “car-
reira” são limitadas, em virtude da organização do trabalho e
de sua parcelização, mas também em virtude da instabilidade
do emprego, característica desse setor. O leque salarial e hierár-
quico permanece, mais particularmente, quanto aos empregados
de comércio, relativamente comprimido, isto é, marginalizado em
relação à hierarquia burocrática !º. As percentagens de agentes
que, no decorrer de sua vida profissional, ascendem ao próprio
seio de sua classe (tornam-se “executivos médios”, por exemplo),
é mais limitada para os empregados de comércio do que para
aqueles que são catalogados, nas estatísticas, como “empregados

19 Elementos fornecidos por pesquisas do crpr Serviços, em In-


form” action. Ver também J. Chatain, “L'évolution de Pappareil commer-
cial”, em Economie et Politique, julho de 1973.
“de escritório”, e mais limitada também, do que paraos
nários.
Primeiramente, isso sobressai de certos destaques estatísti
referentes aos salários: a) na distribuição percentual dos
riados por atividade econômica e por quota de salário líquid
anual (em 1968), aqueles que dependem dos diversos comérc
e da higiene apresentam a distribuição menos importante. enti
as quotas de salários e a fração máxima e maciça de uma certa
“quota; b) quando nos referimos a esses mesmossalários por id
" de, observamos que ossalários desses assalariados atingem o
ximo, em sua massa, em torno de 45-50 anos, enquanto esta met
é mais tardia para as outras frações da pequena-burguesia (5
a 60 anos). Conclui-se, igualmente, que os empregados de comé:
cio se deslocam para os “executivos médios” numa proporçã
consideravelmente menor (28,7% dos mutantes tornando-se ex:
cutivos, 28% tornando-se operários) que, por exemplo, os “em
pregados de escritório” (47,7% dos mutantes tornando-se execut
vos, 25% tornando-se operários), por exemplo. Enfim: enquant
os salários líquidos anuais médios são, em seu conjunto, menc
elevados para os empregados de comércio (12.344) do que p
os “empregados de escritório” (13.350), os salários por s
apresentam uma imagem inversa: os salários masculinos dos “
“pregados de comércio” são mais elevados (16.071) do que
salários masculinos dos “empregados de escritório” (15.028)
diferença total é produzida pelos salários femininos, onde é c
siderável: para as “empregadas do comércio” (9. 283),“par:
“empregadas de escritório” (12.336). Isso confirma que os en
* pregos de executivos são, nos assalariados de comércio, pratic
mente monopolizados pelos homens 2º.
Retomando a questão da reprodução dos agentes dessa ,
ção, constatamos, guardadas todas as proporções, um fenômer
“análogo com os filhos desses agentes na ventilação intergeraçõe
Ao que se junta o papel menos importante do aparelho escol
e da escolarização, ao mesmo temposobre o mercado de trab
lho desses agentes e na sua ventilação no seio de sua classe.
Isso se exprime no caso dos deslocamentos que conotamu
transbordamento de classe, tanto durante a vida profissional de
ses agentes quanto nas gerações seguintes. Os transbordament
para a burguesia são mais limitados do que para os outros co
juntos pequeno-burgueses depolarização objetiva proletária.

20 Nas coleções do INSEE, op. cit., pp. 52, 54, 56, sa.
x
350 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

Ao contrário, é interessante notar as formas consideráveis


de grupamento distributivo desses agentes com a classe operária,
o que tem um duplo sentido:

- 1) a proporção desses agentes e de seus filhos que caem da


pequena-burguesia na classe operária é mais importante do que
para as outras frações pequeno-burguesas;
2) é precisamente em direção a essa fração que parecem
dirigir-se maciçamente as frações dos operários que, no decorrer
de sua vida profissional, se deslocam para a nova pequena-bur-
guesia. De fato, é sobretudo com as mulheres que se manifesta
este fenômeno maior: os operários homens que deixam a produ-
ção vão, principalmente, para o setor “independentes”, enquanto
as operárias que deixam a produção dirigem-se sobretudo para
aqui (empregadas de comércio e, também, dos diversos serviços).
Enfim, é aqui que se encontram, em sua maioria, as mulheres
de operários que ocupam lugares da nova pequena-burguesia.
Certamente não podemos perder de vista nem a rigidez que
caracteriza a classe operária em seu conjunto, nem o fato de que
a grande maioria das mulheres ativas (cerca de 80%) perten-
cem à mesma classe que seus maridos: o que não impede, no
nosso caso, que umgrande número seja de empregadas de co-
mércio casadas com operários (cerca de 40% das empregadas
casadas e que, em 1968, tinham menos de 55 anos). Em suma:
é principalmente de forma indireta, pelo trabalho feminino, que
essa aproximação característica ocorre com a classe operária.
Elemento que começa a ter efeitos nas formas de luta nesse con-
junto, efeitos que só podem acentuar-se no futuro.
d) A essas coordenadas de determinação polarizada de
classe juntam-se a redução dos afastamentos, e também a dimi-
nuição absoluta dos salários em relação à classe operária: é fre-
guentemente nessa fração que se encontram os mais baixos salá-
rios no conjunto da pequena-burguesia de polarização objetiva
proletária. Mas isso não é sempre verdade no conjunto: desco-
bre-se, ao mesmo tempo, uma tendência à igualização, por baixo,
dos salários das outras frações semelhantes à pequena-burguesia,
principalmente pequenos funcionários, com aqueles dessa fração.
Mais importantes são, aqui, as diversas formas de salários no
rendimento, pelos diversos prêmios que os acompanham, mesmo
que o antigo sistema de “comissões” seja substituído atualmente
pelos prêmios diretamente integrados ao salário: ainda que a si-
FRAÇÕES DE CLASSE DA NOVA PEQUENA-BURGUESIA 35F

tuação difira sempre, segundo esse ponto de vista, daquela da.


classe operária, da qual uma pequena parte é atualmente “men-.
salista”. Em contrapartida, esse setor comercial é provavelmente.
o único hoje em dia, nas formações capitalistas desenvolvidas,
onde a duração real do tempo de trabalho tem tendência a au-
mentar (serviço noturno, domingo etc., “para se colocar à dispo-
sição do consumidor”).
Quanto à feminização dessa fração, ela é particularmente.
nítida entre os agentes submetidos à introdução da mecanização:
do trabalho não-produtivo: na estatística assinalada, enquanto a.
percentagem para o conjunto da nova pequena-burguesia, na Grã-
Bretanha, diretamente submetida a tal mecanização, era, em:
1952, de cerca de 3,5%, elevou-se para 9,5% para a população-
feminina dessa pequena-burguesia.

Mas poderíamos também, segundo o que foi dito, circuns-


crever nessa fração camadas particulares: o que é importante
aqui é a distinção entre os setores fortemente concentrados (gran-
des lojas), de um lado, e aqueles que são submetidos a uma:
concentração muito fraca, do outro (empregados do pequeno co--
mércio, cuja proporção permanece sempre apreciável: cerca de:
40% dos empregados de comércio dependem de uma empresa
com de O a 5 assalariados). Estes últimos, se bem que submeti-
dos também a uma exploração tão considerável quanto os pri-
meiros, tendem entretanto a se identificar com seus patrões; são:
igualmente submetidos a um clientelismo personalizado, próprio».
da ideologia pequeno-burguesa tal qual ela caracterizava os an-
tigos empregados de comércio. Sabemos que o setor dos empre-
gados do pequeno comércio é aquele em que as lutas são menos:
io: :
desenvolvidas, e onde a sindicalização é, por assim dizer, ausen-.
Chamou-nos a atenção, até aqui, essa distinção que foi sobre-
tudo calcada em torno da emergência das lutas, entre as duas
guerras, nas grandes lojas: lutas coroadas, na França, pela parti-
cipação ativa de seus agentes nas grandes greves de 193622. Há,
porém, uma diferença ainda mais importante do que a primeira,
diferença essa que ainda não chamou suficientemente a atenção,
e que foi recentemente analisada pelos militantes da Fédération-

21 P. Delon, Les Employés (Ed. sociales).


2 Fr. Parent, Les Demoiselles de magasin, 1970.
BS2 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

: diferen-
Services da crpT 2. Com efeito, observam-se atualmente
ntrado,
ciações efetuadas no próprio seio do setor comercial conce
entre, de um lado, as grandes lojas tradicionais e, de outro, os
supermercados e hipermercados (diversos auto-serviços, lojas po-
pulares, Euromercados, galerias comerciais etc.). É esse tipo de
concentração que prevalece nas tendências que se esboçam: em
1972, assistia-se à abertura de cerca de 62 hipermercados (30
em 1971) e de 265 supermercados (253 em 1971), enquanto o
número das grandes lojas aumentava num ritmo menos rápido,
algumas delas preparando, aliás, sua transformação em super-
mercados.
Esses super e hipermercados modificam o serviço dos empre-
gados de comércio de forma significativa. Com o sistema de
“auto-serviço”, a maior parte desses empregados foi levada a rea-
lizar simples tarefas de manutenção, de embalagem, de armaze-
namento das mercadorias (a “distribuição de uma certa tonela-
gem de artigos num mínimo de tempo”, que substituem aqui a
“arte da venda”): tarefas que, como vimos na análise do tra-
balho produtivo, pertencem, segundo o mais rigoroso ponto de
vista marxista, ao trabalho produtivo de mais-valia no sentido
estrito. Seus agentes tendem então a fazer parte da classe ope-
rária. Observa-se aqui o único setor da nova pequena-burguesia
no qual se encontra uma proletarização efetiva, no sentido rigo-
roso do termo, em seu próprio trabalho. A desqualificação das
tarefas que aí se manifestam maciçamente dá uma conotação de
pertencimento desses agentes ao trabalho manual. Esses agentes
escapam ao famoso contato direto com a clientela, responsável
em muito pelo mimetismo burguês, combinado com o fetichismo
do objeto-mercadoria, característico do aspecto “recepcionista”
“das vendedoras de grandes lojas tradicionais (“arte” de se vestir,
de falar, o “gosto” etc.). As próprias vendedoras que ainda sub-
sistem são, cada vez mais, simples demonstradoras, sem nenhuma
“garantia de salário e de segurança de emprego. Finalmente, co
nhece-se o trabalho repetitivo e parcelizado das caixas, que re-
presentam, nesse setor, a verdadeira ponta de lança da luta **.

23 Entre outras, as brochuras Inform” action e M. Appert, Situation


Professionnelle des vendeuses de grands magasins et magasins popu-
laires. .., 1967. :
24 Observar, no entanto, que esse próprio tipo de concentração
provoca modificações consideráveis na estrutura do emprego do salariado
comercial: os empregos e efetivos: proletarizados (encarregados da manu-
tenção etc.) diminuem fortemente, enquanto aumenta o pessoal adminis.
trativo.
FRAÇÕES DE CLASSE DA NOVA PEQUENA-BURGUESIA 353

É ainda muito cedo para fazer previsões sobre a evolução


dessa tendência, mas trata-se dos setores mais efervescentes da
luta nestes quatro últimos anos no setor comercial, que foi rela-
tivamente calmo, em seu conjunto, durante as greves de 1968:
esse tipo de grandes áreas desdobrou-se nos últimos anos, sendo
os empregados desse setor, em sua maioria, muito jovens.

A segunda fração da nova pequena-burguesia de polarização


objetiva proletária compreende os agentes subalternos dos setores
burocratizados públicos e privados: é aqui que se encontram, entre
outros, os diversos “empregados de escritório”. E isso porque esses
agentes dependem da esfera de circulação do capital e do capital
comercial (escritórios de venda, de publicidade, de marketing etc.),
da esfera de realização do capital e do capital bancário e finan-
ceiro (bancos, companhias de seguros etc.), do setor serviços (di-
versos setores de pesquisa ou de produção de informações), ou
dos aparelhos de Estado (serviços públicos, pequenos funcioná-
TIOS etc).
Essa fração distingue-se da precedente. Podemos encontrar
nela uma imitação mais nítida no aspecto “intelectual” do traba-
lho desses agentes em relação ao trabalho manual, e conseqiên-
cias importantes, nas relações a que estão submetidos, da buro-
cratização. Essa fração é bastante atingida pela “promoção” e
pela “carreira”, desempenhando a qualificação escolar, para ela,
um papel mais importante: papel dos diplomas e dos graus esco-
lares, sendo aqui a promoção por antiguidade, além disso, mais
importante do que no caso dos empregados de comércio. Pode-
mos observar também tendências relativamente mais importantes
- na ventilação e nos deslocamentos desses agentes, ao mesmo tem-
po no curso de sua vida profissional e nas gerações seguintes, no
seio de sua classe e em direção à burguesia. Enfim, as diversas
fórmulas de “participação”, de “participação nos lucros”, de “gra-
tificações”, assumem aqui um papel particular.
Observa-se, pois, que a delimitação principal, no sentido da
polarização objetiva proletária, atravessa, também aqui, os setores
onde se localizam esses agentes. Constata-se diretamente que, de
fato, nada mais falso do que distinguir (a exemplo de Dahren-
dorf), na nova pequena-burguesia em geral, o conjunto daqueles:
que, de cima para baixo, dependem das burocracias públicas e
privadas (e que fariam, segundo Dahrendorf, parte da burgues'
354 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HÓJE

de um lado, e, do outro, o conjunto dos que dela não dependeriam


(e que fariam, sempre segundoesse autor, parte da classe operária).
De fato, a polarização objetiva proletária desse setor segue
caminhos específicos. Ela passa, no conjunto das determinações
de classe, pelos plágios, no próprio seio da nova pequena-burgue-
sia, entre os escalões subalternos e a massa dos agentes dela de-
pendentes, ocupando os escalões pequeno-burgueses um lugar hie-
Fe rárquico mais elevado. Além disso, a “burocracia” não constitui
i uma cascata piramidal, contínua e uniforme, entre os vértices
burgueses e os escalões pequeno-burgueses (onde passa uma de-
! limitação real de classe, imediata e claramente perceptível), além
o de não constituir uma “organização” semelhante para os próprios:
escalões pequeno-burgueses (que são atravessados pela linha de
polarização objetiva).

Essa fração objetivamente polarizada para a classe operária:


é afetada, mas de forma particular em relação à precedente, pela.
reprodução da divisão trabalho intelectual/trabalho manual, no:
seio do trabalho intelectual, tendência co-substancial de fato à
própria burocratização, e que se manifesta atualmente de forma
pronunciada: parcelização e padronização das tarefas da grande
massa dos agentes subalternos, dissimulação particular do saber
(segredo do saber) que afeta essa massa, tarefas repetitivas de
execução que desqualificam seu trabalho (exemplo clássico dos.
“pools” de datilógrafas), com o corolário de uma acentuação das.
relações autoritárias-hierárquicas que essa massa sofre no enqua-
dramento de seu processo de trabalho. Nos bancos e companhias
de seguros, por exemplo (para não dizer nada do setor cheques
postais que recentemente chamou a atenção), o tratamento do:
processos pelos agentes subalternos consiste, cada vez mais, em
preencher pura e simplesmente os casos estereotipados com cruzes,
observando-se aqui o efeito indireto do emprego das “técnicas”
da informática: a tal ponto que esses agentes podem ser chamados
de os da papelada.
Ao mesmo tempo que ocorrem a expansão do salariado entre
esses agentes e o crescimento de seus efetivos, as possibilidades
ú de “carreira” e de “promoção” são restringidas: é a partir de um
E limiar que sé pode ascender, mas esse limiar (diversas categorias
: de executivos médios) é cada vez mais raramente atingido pela
grande massa desses agentes. Esse limiar do leque de ventilação
desloca-se ele próprio para o alto. Podemos observar um indício
atinente no fato de que o aumento, nestes últimos anos, dos diver-
FRAÇÕES DE CLASSE DA NOVA PEQUENA-BURGUESIA 355.

sos quadros do setor privado foi bem menor do que aquele dos
empregados de base. Se os empregados de escritório se distinguem,
quanto à ventilaçãohierárquica interna em sua classe e ao trans-
bordamento burguês, ao mesmo tempo no curso de sua vida pro-
fissional é nas gerações seguintes, dos empregados de comércio
uma delimitação muito importante os separa das diversas catego-
rias dos executivos médios.
É aqui, enfim, onde mais se encontra a desvalorização atual
dos diplomas e graus escolares, dada a importância que desem-
penham no mercado de trabalho e na promoção dos agentes dessa
fração: o que se manifesta pela ocupação, maciça atualmente,
dos postos subalternos por agentes cuja qualificação escolar lhes
permitiria outras esperanças. De fato, é para essa fração que se
dirigem maciçamente os jovens titulares de diplomas superiores
desvalorizados. O que se traduz pelas formas de desemprego ca-
muflado que grassam nessa fração: diversas formas de trabalho
clandestino, trabalho eventual, interino eauxiliar, que atingem o
conjunto das frações de polarização objetiva proletária, mas que
são aqui particularmente pronunciadas. É essa fração que apre-
senta também, nestes últimos anos, a tendência mais marcada é
acelerada à feminização (bancos, companhias de seguros: admi-
nistração): encontra-se, pois, a questão da ênfase consideráve!
das delimitações hierárquicas entre os escalões subalternos maci-
çamente feminizados e seu enquadramento.
É preciso também observar que o fenômeno de uma degra-
dação geral da situação desses empregados nos países capitalistas
avançados, após a Segunda Guerra Mundial, não se manifestou
uniformemente para esses agentes, e sobretudo para aqueles que
já estavam engajados na vida ativa nessa época: uma grande
parte dentre eles, em razão do crescimento desse setor e de sua
Teminização, passou para tarefas de enquadramento, enquanto.
essa degradação afetou principalmente as mulheres, acentuando
as delimitações internas. Estas, atualmente, pela acumulação das
diversas coordenadas, atingem esse setor e, principalmente. os jo-
vens e as mulheres.

É necessário todavia precisar os seguintes pontos:


1) as delimitações concretas que atravessam esses setores de
trabalho da nova pequena-burguesia, ao demarcarem essa fração
de polarização objetiva proletária, dependem da própria divisão
social do trabalho por ramos, setores etc. É dessa divisão que de-
pende a fronteira concreta de tal delimitação: um funcionário,
lmente”
plo, que, considerado abstratamente, é “forma
e não a um sim-.
| ilável a um “executivo médio” dos bancos,
“empregado” dos bancos, pode, entretanto, como este último,
que caracte-
ender, em virtude da divisão social do trabalho
ão de po-
“o aparelho de Estado ao qual ele pertence, da fraç
o” dos
ação objetiva proletária, enquanto o “executivo médi
a) o ar-
ancos disso não depende. Com efeito, é preciso lembrar:
conhecido dos sindi-
trário todo particular e característico, bem
stas, das “redes” e “qualificações” no seio do trabalho inte-
ações total-
al que, de umsetor a outro, podem cobrir situ
oculta um”
te diferentes, ao passo que a qualificação operária
da classificação
gica” capitalista da produção; b) o arbitrário
ais, as fra-
INSEE por “profissões” e categorias socioprofission
do INSEE
“aqui questionadas não recobrindo as classificações
r: precisa-
ue só podemser utilizadas como um simples indicado
é consi-.
s somente lembrar que um simples professor primário os”
vos médi
rado pelo INSEE como fazendo parte dos “executi
vo médio”, en-
mesma.forma que um “executivo administrati
o docente,
o primeiro está abaixo da hierarquia do corp
iado em re-
utro, em compensação, ocupa um lugar privileg
esso de traba-
“aos simples empregados, dependendo do proc
médios” do
que pertence. Enfim, os diversos “executivos
uma real
“estão longe de exercer, todos e no mesmo grau,
:
ão de enquadramento;
linhas
2 a fração, podemos ainda, seguindo as mesmas
cipalmente o
trizes, circunscrever camadas particulares. É prin
e de seus
para a pesquisa e o ensino. No caso da pesquisa
do trabalho
tes que não estão diretamente presentes no seio
caracterís-
utivo, descobrimos atualmente, além da extensão
nunciadas
desse setor, sua assalarização e burocratização pro
rádico, |
novas formas de desemprego acentuado (trabalho espo
am-
exemplo): situação dos laboratórios de pesquisa, que foi
lter nos .
ente estudada nestesúltimos anos %. Os agentes suba
a são
1 setor que antes gozava de reais privilégios de cast
intelec-
tados pela desqualificaçãoe parcelização do trabalho
adeira
“que assume formas particulares, entre as quais a verd
riores (os
pilhagem intelectual de seu trabalho pelos escalões supe
s objetivos
iversos “patrões”), e sua submissão agravada pelo
a
retos da produção monopolista. O que se combina com a baix
-
onsiderável dos salários dos escalões subalternos e com à limi
25 IM. Lévy-Leblond e A. Jaubert, (Auto)critique de la science,
que reúne toda uma série de análises sobre esse assunto.
FRAÇÕES DE CLASSE DA NovA PEQUENA-BURGUESIA 35%

tação atual de suas possibilidades de promoção: é nesse verdadei- .


ro exército de reserva intelectual que a contestação do trabalho
intelectual capitalista assume provavelmente as formas mais avan-
çadas. É sabido que fenômenos análogos surgem no próprio seio
do corpo docente do lado de seus escalões subalternos (agentes
contratuais e auxiliares), com a desqualificação e a parcelização
do trabalho intelectual, que acentua suas delimitações com os es-
calões superiores (diversos professores concursados e outros pro=
fessores). Enfim, além dessas coordenadas, é necessário atribuir
a maior importância ao papel que desempenha para esses agentes,
dadas suas funções sociais, a crise ideológica atual da burguesia;
3) uma menção especial deve ser feita aos pequenos funcio-
nários, agentes subalternos da função pública. É que fazem parte
da categoria social dos agentes dos aparelhos de Estado; têm, com
os escalões intermediários, um pertencimento de classe pequeno-
burguês, enquanto os “vértices” desses aparelhos têm um perten-
cimento de classe burguês. Enquanto membros dessa categoria so-
cial, os agentes subalternos da função pública estão particular-
mente submetidos à ideologia interna própria desses aparelhos.
No entanto, a degradação da situação dos escalões subalter-
nos pequeno-burgueses dessa categoria social é clara. Os salários
foram igualados relativamente aos outros conjuntos pequeno-
burgueses de polarização objetiva proletária, dada a compressão
- geral dos salários do setor público em relação àqueles do setor pri-
vado, e foram afetados pela diminuição do afastamento entre eles
e aqueles da classe operária. A renda fiscal anual média por. ca-
sal, segundo a categoria socioprofissional do “chefe da casa”, era,
em 1962, de 15.637 para os executivos médios da função pública
(categoria B), mas de 23.210 para executivos administrativos mé- -
dios do setor privado; de 10.588 para os empregados da função
pública (categorias C e D), mas de 11.755 para os empregados do
setor privado 8. Após 1968, o atraso dos salários do setor público
em relação aos salários do setor privado aumentou consideravel-
mente. Paralelamente, os “privilégios” tradicionais da função
pública, que contribuífam para o caráter de casta do famoso
“Beamtentum”, acham-se em retração, e isso num duplo
sentido:
de um lado, certas vantagens da segurança de emprego,
da apo-
sentadoria etc., foram relativamente estendidos às
outras cama-
das e frações pequeno-burguesas; por outro
lado, permanecendo,
o

Le 26 Quadro apresentado por Cl. Seibel e JP. Ruault, em Darras:


Partage des bénéfices, 1966, p. 91.
BU Ee Monde de 31 de maio de 1973.
358 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

apesar de tudo, ainda característicos da função pública, foram re-


«questionados em seu próprio seio para seus escalões subalternos.
Encontra-se também a multiplicação do trabalho auxiliar e con-
tratual (ausência de títulos), paralela ao crescimento considerá-
vel dos efetivos, prendendo-se à extensão das funções intervencio-
nistas do Estado em todos os setores da vida pública (o que vai
dos agentes subalternos de diversos serviços públicos, aos “anima-
dores de bairro” +, assistentes sociais, integrantes de associações
- juvenis e culturais, agentes da segurança social etc.).

HI

A última fração da nova pequena-burguesia de polarização


objetiva proletária é aquela, acima examinada, dos técnicos e en-
genheiros subalternos, diretamente implicados no trabalho produ-
tivo, na produção da mais-valia. Essa fração teve sempre um per-
tencimento de classe pequeno-burguês, mas as delimitações que
esboçam seus contornos atravessam o próprio conjunto dos famo-
sos ITC (Engenheiros-Técnicos-Executivos). Seu caso é, no entan-
to, particular em relação às outras frações pequeno-burguesas de
polarização objetiva proletária: estando diretamente implicada na
produção da mais-valia, e apresentando assim certas condições
objetivas para uma tomada de consciência dos mecanismos essen-
ciais da exploração capitalista, ela permanece entretanto marcada
pelo seu lugar nas relações político-ideológicas da empresa como .
aparelho. As formas de luta dessa fração, nestes últimos anos,
mostraram ao mesmo tempo sua distinção dos diversos conjuntos
de engenheiros e executivos intermediários, mas também a ambi-
guidade de suas relações (enquanto “domínio” e “camisas bran-
cas”) com a classe operária. Não vou insistir daqui em diante em
aspectos bastante conhecidos: observarei, simplesmente, que uma
das razões, além daquelas que assinalei (verborréia sobre “a auto-
mação” e o “desaparecimento dos os”), que contribuíram para
designar a essa fração um papel inteiramente desproporcionado
nas lutas dos anos 60 (a nova classe operária) consistia nas pos-
sibilidades particulares que, segundo as diversas concepções tec-
nicistas, nós lhes atribuíamos no bloqueio da produção. Soubemos,
depois, que as novas possibilidades de luta (greves-paralisações
ou
greves-tromboses) oferecidas pela organização capitalista do tra-
balho na realidade existem, mas do lado precisamente
dos os.

* “Animateurs de quartiers”. (N. do T.)

dk
X. A SITUAÇÃO ATUAL
DA PEQUENA-BURGUESIA TRADICIONAL

Finalmente, seria necessário lembrar o processo atual de li


mitação progressiva da pequena-burguesia tradicional. Essa limi-
tação prende-se ao domínio dos efeitos de dissolução que o capi-
talismo monopolista, na sua fase atual, impõe às formas comer-
ciais simples.
De fato, entre 1954 e 1968, constata-se, na França, um ritmo
característico de diminuição dessa pequena-burguesia 1:

1954 1962 1968

Artesãos 734.280 637.897 619.808

(% sobre o conjunto da
população ativa) (33) (3,0)

Pequenos comerciantes 1.268.740 1.133.965 1.026.216


(% sobre o conjunto da .
população ativa) (5,9) (5,0) =

O que provoca algumas observações:

1. Esse processo, se está atualmente marcado por uma ace. .


leração particular, não é de fato novo: já apareceu, e se afirmou,
em todos os países capitalistas adiantados, inclusive na França,
entre as duas guerras, isto é, já durante as fases de transição e

1 Fontes: Recenseamentos do INSEE.


360 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

de consolidação do capitalismo monopolista. Mas, na França, ele


se apresentou de forma mais lenta e padronizada, dado o apoio
característico da burguesia francesa a essa pequena-burguesia,
diante da classe operária;
2. Esse processo de limitação atual, se assume certamente
proporções importantes, está, mesmo assim, longe de atingir, para
essa pequena-burguesia, as proporções e as formas de efetiva eli-
minação que atinge principalmente para o campesinato pobre (a
parte do conjunto dos agricultores na população ativa tendo pas-
sado de cerca de 19% em 1954 para cerca de 11% atualmente);
3. Uma parte dos agentes, relativamente fraca é verdade,
expulsa dessa pequena-burguesia, não está pura e simplesmente
proletarizada, mas passa dessa pequena-burguesia ao capital não-
monopolista, dada a constante ressurgência deste sobre o capita-
lismo monopolista. Se, entre 1954 e 1966, no setor das “empresas
artesanais” principalmente, o número daquelas que empregam de
O a 5 assalariados diminuiu de 127.500, o número daquelas em-
pregando de 6 a 9 assalariados foi acrescido de 73.000, provindo
uma parte desse crescimento da passagem de pequeno-burgueses
ao estatuto de pequenos capitalistas;
4. Mas essas constatações devem ser ponderadas por uma
outra: a passagem de certo número de operários, na maior parte
jovens, para essa pequena-burguesia. Entre 1959 e 1964 princi-
palmente, 40.000 operários qualificados e 20.000 os se definiram
“por sua própria conta” como artesãos (um terço dentre eles sen-
do filhos de artesãos), um número mais fraco como pequenos co-
merciantes e no setor serviços (sendo este igualmente o caso,
mas para um número bem menor, no que concerne aos pequenos
- camponeses que se evadem da terra). Quando se toma isso em
consideração, observa-se que o ritmo de expulsão desses agentes
pequeno-burgueses é mais importante do que o ritmo de restrição
do lugar dessa pequena-burguesia, tal como aparece nas estatísti-
cas de recenseamento geral: essas entradas de- novos agentes na
pequena-burguesia tradicional disfarçam outras tantas saídas de
agentes antigamente pequeno-burgueses, que caem em sua grande
maioria na classe operária, e que se encaminham, em menor pro-
porção, em direção aos empregados. Assim, a duração de vida das
“empresas” que dependem da pequena-burguesia tradicional é bem
mais curta do que no passado, o que tem efeitos importantes pela
insegurança característica que atinge esses agentes em suas con-
dições de existência.
al ea
SITUAÇÃO ATUAL DA PEQUENA-BURGUESIA 361

Mas a questão da limitação da pequena-burguesia tradicional


não é a única. É necessário levar em consideração suas condi-
ções de vida, que se degradam regularmente, principalmente pela .
transferência crescente do lucro, nesse setor, para o capital mo-
nopolista: o que está claro nas relações entre o pequeno comércio
e as grandes áreas do capital comercial concentrado. Mas essa
degradação deve sempre ser considerada em relação às condições
de vida da classe operária, e mesmo àquelas das frações da nova
pequena-burguesia, já questionadas anteriormente (os emprega-
dos principalmente). Dada a pobreza das estatísticas francesas so-
bre a questão das rendas não-assalariadas principalmente, não se
podem adiantar cifras precisas. Observemos, no entanto, a polí-
tica, muito clara atualmente, da burguesia francesa sobre a ques-
tão do fisco, que dá privilégios consideráveis a essa pequena-bur-
guesia e, em particular, ao pequeno comércio, em relação à classe
operária e às frações em questão da nova pequena-burguesia, fa-
zendo estas últimas pagarem o preço das tentativas desesperadas
de manutenção do apoio da pequena-burguesia tradicional: entre
outros aspectos, pelas comportas da fraude fiscal, nos últimos tem-
pos grandemente abertas a esta, pela abolição dos corretivos que
existiam anteriormente, em favor das rendas salariais não-dissi-
muláveis da classe operária e das frações da nova pequena-burgue-
sia. Não deveríamos esquecer também os mecanismos políticos da
inflação e o aumento dos preços pelos quais a burguesia, recupe-
rando as vantagens salariais arrancadas da alta luta pelas massas
populares assalariadas, cede migalhas ao pequeno comércio sobre
as costas dessas massas.

Podemos finalmente estabelecer, também aqui, diferenciações


em frações de classe dessa pequena-burguesia: sabemos especial-
mente que os artesãos, por parte da própria natureza de seu tra-
balho e da permeabilidade particular do artesanato aos agentes
da classe operária, sempre apresentaram uma polarização objetiva
proletária muito mais definida do que o pequeno comércio: o ar-
tesanato foi o berço do sindicalismo revolucionário e as tradições
de luta encontram-se nele particularmente vivas.
Quanto ao pequeno comércio, sabemos sobretudo que a pre-
cariedade de sua situação traduziu-se ultimamente por lutas mui-
to vivas (cm-Unati, movimento de G. Nicoud etc.) que parecem,
provavelmente, pela primeira vez depois de 1920 na história desses
movimentos na França, romper com o apoio tradicional à bur-
guesia, manifestado, entre outros aspectos, pelo artifício da
362 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

recuperação burguesa “interclasses” do tipo PME (pequenas e mé-


dias empresas). Mas é necessário observar bem: a) de um lado
que, dadas as modificações atuais da situação desse setor, seria
certamente falso identificar esses movimentos ao “poujadisme” *
tradicional, e deixar pesar a priori sobre eles a suspeita, justifica-
da pelo passado, de movimentos que trazem consigo germens de
fascistização, assim como a nuvem traria a tempestade; b) mas,
por outro lado, que essas modificações “atuais” não se traduzem
automaticamente, longe disso, por posições de classe que aproxi-
mam esse setor da classe operária. É evidente que as dificuldades
características dessa pequena-burguesia comercial não são intei-
ramente novas; já pesavam consideravelmente sobre elas quando
dos movimentos fascistizantes desta na Europa, e eram mesmo, mui-
to exatamente, uma de suas causas: foi também o caso na Fran-
ça para o movimento “poujadista”. Certamente as bases objetivas
À de um apoio dessa pequena-burguesia à burguesia tornam-se, ape-
sar de sobressaltos tais como a recente “Lei Royer”, cada vez
mais fracas: mas isso seria ignorar que, também nos casos de fas-
cismos, tal apoio da pequena-burguesia à burguesia não foi mar-
cado por concessões reais desta àquela, ficando a pequena-bur-
guesia (com o campesinato pobre) como a principal vítima eco-
nômica do fascismo: os fatores ideológicos e políticos assumem
aqui um peso decisivo.
Com efeito, é preciso lembrar, dada a nene atual do
problema, que não se trata aqui do capital não-monopolista e
outros “pequenos patrões”, mas dos agentes que não exploram, ao
menos principalmente, o trabalho assalariado, e que não se pode
identificar essa pequena-burguesia com o capital puro e simples,
considerando-a como uma burguesia “menor” do que as outras
(diferenciações que são de fato omitidaspelas estatísticas oficiais 2).
Seria cometer o erro exatamente inverso àquele do PC que consi-
dera, praticamente, o capital não-monopolista comofazendoparte
dessa pequena-burguesia. Sob o signo do amálgama do tipo PME,
e sob o termo “pequeno capital”, somos conduzidos aqui a uma
extensão das alianças da classe operária com o capital não-mono-
polista (a certas partes da burguesia), incluindo esse capital na
pequena-burguesia: aí, numa restrição a priori das alianças, in-
cluindo essa pequena-burguesia no capital, e negligenciando -suas
possibilidades, uno as conjunturas, de aliança com a classe

* “Poujadisme” refere-se ao movimento político eriado por Pierre


Poujade (1920- ), em 1956. (N. do T) Paso a Amei Go SUa
2 Ver acima, pp. 163 sq. Ce A
) é Us | . e,
guesia (pequeno c mércio emparticular),
reçam certamente maislimitadas do queno ca
polarização objetiva proletária da nova pequena bu
“salariado não-produtivo: e isso não somente porraz
micas (pequena propriedade), mas igualmente por razô
ideológicas que se prendem, entre outras, à tradição
lutas de classe na França. o
XI. CONCLUSÃO:
AS PERSPECTIVAS POLÍTICAS

Podemos assim tentar tirar certas conclusões. Começarei pelo


primeiro ponto importante: é necessário constatar que, até aqui
e nos países europeus, para só nos referirmos a eles, a polarização
das posições de classe dessas frações pequeno-burguesas não escon-
de a polarização objetiva que, conjugada às transformações atuais,
marca sua determinação de classe. Em outras palavras, não se
constata ainda materialização de uma aliança de partes impor-
tantes dessas frações com a classe operária em objetivos precisos
de uma revolução socialista: o que é claro, já que não se confun-
dem o processo revolucionário e os diversos Governos social-
democratas.
A questão é decisiva, principalmente na França, e refere-se
de fato, basicamente, à nova pequena-burguesia. Em vão repeti-
mos de forma fantasiosa os dogmas da aliança “privilegiada”
operários-camponeses; os fatos existem, e é necessário enfrentá-
los: de um lado, trata-se de setores que ainda estão destinados a
aumentar consideravelmente nos países capitalistas desenvolvidos,
e a ter um papel muito importante na reprodução das relações
sociais, e também, pois, em sua revolucionarização; por outro
lado, as classes populares rurais, em particular o pequeno cam-
pesinato parceiro, estão inelutavelmente condenados, no conjun-
to dos países europeus adiantados, e em graus certamente desi-
guais, a uma diminuição rápida ao mesmo tempo de seu peso
social e de seus agentes: a França forneceu nestes últimos anos
o exemplo prodigiosamente precipitado dessa diminuição.
Poderei mesmo afirmar, livrando-me de ser tachado de he-
rege, que se trata aí de uma possibilidade histórica de revolução
socialista, particularmente na França. De fato, é necessário ainda
lembrar o fenômeno evidente, que marcou a história das lutas de
' ConcLUSÃO: As PERSPECTIVAS POLÍTICAS 365

classes na França: o campesinato francês, inclusive o pequeno


campesinato parceiro, foi um dos principais baluartes da ordem
burguesa, e um dos principais obstáculos para a revolução socia-
lista em um país marcado pela combatividade excepcional e exem-
plar da classe operária. O mérito histórico (para ela) da bur-
guesia francesa foi ter sabido, por uma série de compromissos
importantes, apoiar-se na pequena propriedade campesina, cujo:
apoio, nas voltas decisivas da luta das classes, quase nunca lhe fez
falta. Dos dois Bonapartes, até à Comuna, à crise após a Primei-
ra Guerra Mundial, à Frente Popular e ao “gaullismo”, a lista.
seria longa. Por outro lado, o fracasso histórico das direções da
classe operária foi por não ter podido, ou sabido, forjar e cimen-
tar uma aliança revolucionária operário-camponesa na França,
exceção feita, provavelmente, para uma parte do pequeno cam-
pesinato, durante a Segunda Guerra Mundial e a Resistência. Não
se trata aqui, em nenhum caso, de definir responsabilidades, mas
de constatar os fatos. O pequeno campesinato francês pagou pe-
sado, e ainda não acabou de pagar, seu apoio à burguesia contra
a classe operária: mas a classe operária pagou também. Há certa-
mente razões para se pensar que o que resta desse pequeno cam-
pesinato chegará a ter consciência de seus verdadeiros interesses
de classe, ainda que sua atitude, precisamente ao longo do pro-
cesso de sua eliminaçãoprecipitada nestes últimos anos, demons-
tre que o peso do passado, com algumas recentes exceções, pesa
ainda muito sobre ele. Mas, embora essa aliança permaneça sem-
pre muito importante, pode-se dizer que, de qualquer maneira, os
jogos estão desde já, de alguma forma, armados. A perspectiva
nesse sentido não envolve mais tanto o próprio campesinato par-
ceiro como classe rural, mas os filhos dos camponeses que, ex-
pulsos da terra, trabalham nas fábricas e nascidades, como “cam-
"poneses trabalhadores”:

Assim, o desenvolvimento maciço do salariado das cidades


e da nova pequena-burguesia, articulado à polarização objetiva
proletária de suas frações, que englobam a grande maioria desses
assalariados, constitui a nova possibilidade histórica da revolução
socialista na França. Não que a burguesia francesa não tenha
tentado e não tenha chegado, durante muito tempo, a se apoiar
também na pequena-burguesia das cidades: o fenômeno, entre ou-
tros, do jacobinismo-radicalismo é disso testemunha. Mas essas
tentativas foram coroadas de sucesso sobretudo no quese refere
à pequena-burguesia tradicional, o que participa do fenômeno
366 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE
HOJE
geral do apoio,durante muito tempo, da
a pequenaprodução e a Pequena pro burguesia francesa sobre
se assegurou ao
priedade. O apoio que ela
lado da nova Pequena-burguesia,
e que foi sem-

nova pequena-burguesia france


sa sido quase atingida por mov
mentos de massa fascistas, co i-
mo foi o caso de certos paises
talistas avançados. cap i-.

burguesia, frações que aprese


ntam precisamente um desenv
mento importante. Encontra- olvi-
se aí uma causa fundamental
se hegemônica latente que afe da cri-
ta atualmente a burguesia fra
(e, aliás, não somente a ela ncesa
) e que pode ter efeitos dec
Ela pode traduzir-se por uma alianç isivos.
essas frações da nova Pequena-b a da classe operária com
urguesia num processo prolon
do, isto é, ininterrupto e Por ga-
etapas, de revolução socialista:
quer dizer claramente que ela isso
não terá necessariamente esses
tos. É préciso abandonar de um efei-
a vez por todas as ilusões que
têm

riamente a termo uma polari


zação das posições de classe.
Chegamos assim ao segundo asp
ecto da questão: essa polari-
zação da nova Ppequena-burgue
sia em direção a posições de
proletárias depende, em um classe
sentido, da relação de força
burguesia e a classe operária. ent re a
Uma das características da “os
ção” própria da Pequena-burg cil a-
uesia é que ela é polarizada,
na re-

sas da classe operária co


m as outras classes, e fra
Populares, e portanto na me ções de classe,
dida da sedimentação do
tra a burguesia, “povo” con-
:
tela pequeno burguesa
(mas também operária
que representam, de ), ou seja, partidos
forma predominante,
interesses burgueses
assegurar-se o apoio da Pe
quena-burguesia.

letárias depende da repres


entação, e não simplesmen
da de encargo” —, Como te da “toma-
uma obrigação penosa —,
burguesia pelas da pequena-
368 AS CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE

rária a seus aliados tomados tais como são, mas pelo estabeleici-
mento de objetivos que, nas lutas ininterruptas e por etapas
, sob
sua direção, as podem transformar, levando-se em conta sua
pró-
pria determinação de classe e sua polarização específica que são
por elas caracterizadas.
Tenho consciência do caráter indicativo e lapidar dessas ob-
servações; mas elas visam somente a acentuar o verdad
eiro pro-
blema, sem contudo pretenderem responder à pergun
ta: então,
que e como fazer? Com efeito, não me cabe forne
cer a resposta
a essa questão que está no centro do debate atual sobre
a estraté-
gia revolucionária, o que também não foi o objetivo
deste texto.
De fato, teria sido necessário, entre outras coisas
, empreender
um estudo, sob esse aspecto, da história e das
experiências do
movimento operário e revolucionário internaciona
l, de suas or-
ganizações, das concepções e de suas voltas sobre
as questões do
processo revolucionário, da organização “(partido-si
ndicatos), das
alianças etc., enfim, cercar de mais perto
o sentido e os funda-
mentos da ideologia e das correntes socialdemocratas.
Meu obje-
tivo, neste texto, foi contribuir para o conhecimen
to mais preciso
desses aliados, de suas determinações objetivas
e das lutas que se
travam atualmente, tentando, na medida do
possível, aproveitar

ESa
Os ensinamentos e me precaver contra certas
concepções teórico-
políticas atuais. É porque estou convencido
de que ainda há tem-
po para aprofundar-me ainda mais nesses
conhecimentos e pes-
quisas precisas, por mais árduo que seja
o caminho. Sem esses
conhecimentos, as diversas estratégias elabo
radas arriscam-se, na
melhor das hipóteses, a permanecer morta
s; e, na pior, a conduzir
a graves derrotas.
A ESTRUTURA DE CLASSES|
DAS SOCIEDADES AVANÇADAS
ANTHONY GIDDENS

da Universidade de Cambridge

Está a teoria sociológica em condições de responder à própria


questão central da Sociologia, que é a das classes sociais e dos
conflitos de classe? Ou será necessária a elaboração de uma nova:
teoria social que possibilite à Sociologia dar resposta adequada.
àqueles problemas? A ruptura dos padrões de consenso político .
nas sociedades capitalistas, o aumento de nível das tensões sociais |
nessas mesmas sociedades, refletido no crescimento do número.
de greves operárias e nos movimentos estudantis de protesto, e.
os conflitos que irromperam no mundo socialista, fizeram a Teoria
Social adernar num “momento de transição”, e a Sociologia de-.
sembocar numa crise, que impede a justa explicação doquino
eventos. . ;
ANTHONY GIDDENS procede ao exame das principais téorias
de classe, como as de MARX, WEBER, DAHRENDORF, ARON, e OS- .
sOWSKI. Submete a implacável crítica os críticos de MARX, para,
em seguida, deter-se em outros problemas como o das classes e
da divisão do trabalho, da gênese de conflito de classes, dasformas
que assumem as relações de classe, da consciência de classe, e
o das elites e o poder. A análise do desenvolvimento capitalista
leva GIDDENS a abordar a questão do aparecimento das novas
classes, média e operária, do trabalho produtivo e improdutivo,
do mercado, da empresa e o seu gerenciamento e do crescimento |
da intelligentsia. Do seu espectro analítico fazem parte ainda os
problemas da tensão e da mudança sociais, e o do futuro da
sociedade de classes. A redução da classe operária e o cresci-.
"mento da classe média nas sociedades capitalistas avançadas é
uma das características da estruturação social contemporânea, des-
tinada a mudar a perspectiva da teoria da luta de classes, fa- .
zendo com que a mediação institucional de poder, separando o.
“político” e o “econômico”, represente o maior desafio ao atual |
pensamento socialista e às formas de organização política que
ultrapassam esta ideologia.
A riqueza de idéias de A Estrutura de Classes das Sociedades
“Avançadas constitui uma das mais importantes contribuições já
oferecidas ao desenvolvimento da cultura sociológica brasileira.
ANTHONY GIDDENS, professor de Sociologia na Universidade de
Cambridge, é um dos nomes mais conhecidos e respeitados do
moderno pensamento social europeu.

ZAHAR

A cultura a serviço do progresso social

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