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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

MERCADORIA, CONCORRÊNCIA E
FORMAÇÃO DE PREÇOS
(Uma introdução ao estudo da economia)

BENEDITO RODRIGUES DE MORAES NETO

SÃO CARLOS
2021
Í N D I C E

CAPÍTULO 1: ATIVIDADE ECONÔMICA, ECONOMIA POLÍTICA,


MERCADORIA E CAPITAL 1

1.1 - Economia Política e Atividade Econômi-


ca • • • • • • . • • . . . . . • . . . • . • • • • . . . . . • . . . • • . 1
1.2 - Da Mercadoria ao Capital 6

CAPÍTULO 2: A "RADIOGRAFIA" DO PREÇO DA PRODUÇÃO CAPITA-


LISTA: O CUSTO E O LUCRO 23

2.1 -A Composição do Preço da Produção Capi


talista: Preço e RelaçÕes Sociais . . . . . 23
2.2 - Capital Circulante e Capital Fixo esua
Transformação em Custos........... 25
2.3 - Depreciação como Custo, Margem de Lu-
cro e Taxa de Lucro 30
2.4 - Custos Diretos e Indiretos - Visão Am-
pliada
2.5- Calculo do Retorno do Investimento .... 37

CAPÍTULO 3: PREÇO E PADRÃO DE CONCORRÊNCIA 44

3.1 - Capacidade Produtiva e Custos . . . . . . . . . 44


3.2- O Custo Unitário ao Longo do Tempo .... 55
3.3 - Concorrênc~a Intercapitalista: Uma Pri
meira Aproximação 57
3.4- Preço, Custo e Demanda . . . . . . . . . . . . . . . 61
3.5 - Concorrência e Elasticidade-Preço da
Demanda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 4
3.6 -ConsideraçÕes sobre a Concorrência Pe~
feita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
3.7 - Monop6lio e Concorrência Potencial: A
Rigidez de Preços . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
3.8 - A Teoria da Concorrência Imperfeita e
a Maximização do Lucro 77
3.9 - Críticas ã Regra de Maximização do Lu-
cro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
3.10 - Preço e Grau de Monopólio 86
:::.- -~ '"
__ ,~-..~.v._ _ _ ......._,.:....,.~;:._,_~,,

-""-'-~-~-----..c._
3.11 ~A Capacidade Ociosa 92
3.12 - Capacidade Ociosa e Formaçao de Pr~
ços . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . 101
3.13 -Diferenciais de Custo e Formaçao de
Preços 103
CAPÍTULO 1 - ATIVIDADE ECONÔMICA, ECONOMIA POLÍTICA, MERCA
DORIA E CAPITAL

1.1 - ECONOMIA POLÍTICA E ATIVIDADE ECONÔMICA

Verifiquemos inicialmente qual o sentido da


palavra "economia" nas duas frases abaixo:

1. A economia brasileira não va~ bem;

2. Estou fazendo um curso de Economia.

Na primeira frase, a palavra economia tem o


sentido de atividade econorn~ca: está englobando questÕes c~
mo ritmo de produção industrial, nível de emprego, endivi-
damento externo, dívida p~blica, taxa de inflação, etc.
Na segunda frase, a palavra Economia tem o
sentido de um ramo do conhecimento humano - Economia Polí-
tica - que, obviamente, tem as questoes acima - a ativida-
de econômica - como seu tema de estudo.
Esquematicamente temos:

Economia Economia

(atividade econômica) (Economia Política - ciência)

OBJETO

Vejamos agora o que vem a ser atividade eco


nom~ca: trata-se do processo de reprodução material da so-
ciedade. O ser humano apresenta, para sua reprodução corno
ser vivente, (reprodução significa a capacidade de v~ver
hoje, amanhã, depois de amanhã, etc), urna s~rie de neces-
sidades materiais que precisam ser satisfeitas inexoravel-
mente (alimentação, vestuário, habitação, etc). Evidente -
mente, as necessidades são dinâmicas e as formas de satis-
fação igualmente. Pois bem; se todas essas necessidades
pudessem ser satisfeitas sem trabalho, como e o caso, por
- 2 -

exemplo, da necessidade de respiraçao, nao haveria produção


e, por conseqUência, nao haveria atividade econom~ca. Mas
isto e um raciocínio por absurdo, pols, para a satisfação
das necessidades, e preciso trabalho, ou seja, produção, g~

ração de produtos.
o que e portanto trabalho? É o processo de
intervenção do homem na natureza, com o objetivo de trans
formar os elementos naturais em coisas Úteis:
"Antes de tudo, o trabalho e um processo en-
tre o homem e a Natureza, um processo em que o homem, por
sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo
com a Natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural
como uma força natural. Ele pÕe em movimento as forças nat~
rals pertencentes a sua corporalidade, braços e pernas, ca-
beça e mao, a fim d~ apropriar-se da matéria natural numa
forma útil para sua prÓpria vida. Ao atuar, por meio desse
movimento, sobre a Natureza externa a ele e ao modifica-la,
ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza" (1)
PortantÓ,

HOMEM + NATUREZA ~ PRODUTOS

O processo de geraçao de produtos, ou seja,


o processo de produção e, sempre, um processo social. O ln-
divíduo isolado e uma ficção; o homem sempre produz em so-
ciedade, a partir de uma certa divisão social do trabalho.
Depois de produzir os bens de que necessita,
a sociedade precisa repartÍ-los; a isto chama-se de distri-
buição. Portanto, por atividade econômica entendemos os pro
cessos de produção e distribuição dos meios materiais neces
sãrios ã vida.
Observa-se claramente que atividade economi-
ca e algo inerente ã natureza humana, algo que sempre exis-
tiu e sempre existira; ou seja, sempre haverá necessidade
humana de se reproduzir materialmente

(l) Karl Marx. O Capital. vol.I, Os Pensadores, Abril Cul-


ral,São Paulo, 1983, p. 149.
- 3 -

Vejamos agora a Economia Política. Segundo


John Stuart Mill (autor do final do S~c. XVIII, início do
Sec. XIX), "a Economia Política nos informa acerca das leis
que regulam a produção, distribuição e consumo da riqueza"
( 2) .
Verifiquemos a discussão que f a z S tu a r t Mi 11
em torno dos conceitos de rlqueza e produção:

a) Riqueza

Em contraposição ao pensamento mercantilis-


ta, que coloca a riqueza como quantidade de ouro (saldo co
mercial), Mill, como toda Economia Política, coloca a ri-
queza como sendo igual a ''todos os objetos Úteis ou conve-
nientes à humanidade, com exceção daqueles que podem ser
obtidos em quantidade indefinida sem trabalho" (3). Portan
to, riqueza = produtos = capacidade produtiva;

b) Produção

Pode-se enfocar a produção segundo suas de-


terminaçÕes materiais e segundo suas determinações soc1a1s.
Se produção é transformação de elementos naturais em col-
sas Úteis (exemplo: petróleo em gasolina), nela estão en-
volvidos processos de transformação da matéri~ que sao ob-
jeto de estudo das clenclas fÍsicas e naturais (Física,Qui
mlca, Biologia). A produção se tornou, com o advento do ca
~italismo, objeto de conhecimento em suas determinaçÕes ma
teriais; a produção tornou-se uma aplicação tecnológica da
ciência. A produção, sob esta Ótica, e objeto da Engenha -
r1a. Mas a Economia Política não é tecnologia. Qual é, en-
tao, o enfoque dado pela Economia PolÍtica à produção? O
enfoque não ~material, mas sim social (jã vlmos que a pr~
dução e, desde logo, algo realizado em sociedade). Daí a a
firmação de Stuart Mill: "Economia PolÍtica e a ciência
que trata da produção e distribuição da rlqueza na medida

(2) John Stuart Mill . Da Definição de Economia PolÍtica e


do M~todo de Investigação Próprio a Ela. Os Pensado
res, Abril Cultural, São Paulo, 1979, p.299
(3) John Stuart Mill . op. cit. p. 300
- 4 -

em que elas dependem das leis da natureza humana" (4). O


que quer dizer isso? Quer dizer que a preocupaçao da E~ono

mia Política ê com a forma pela qual a sociedade se organi


za para a produção e, por conseqüência, para a distribui -
çao.
Chegamos entao ao conceito de Economia Polí
tica:

. ECONOMIA POLÍTICA ciência das leis que regulam a prod~


çao e a distribuição da riqueza em
sua dimensão social.

Portanto, a produção (em sua dimensão social)


e a distribuição (em seu caráter imediatamente social),po~
suem leis, cuja descoberta ê objeto da Economia Política
Que devemos entender por leis? são leis científicas, que
nao dependem da vontade das pessoas, ou de instituiç;es
mas sim brotam cia natureza do sistema econômico.
Vejamos agora a seguinte questao: Vl.mOS

que atividade economica sempre existiu, e sempre existirá.


Ocorre o mesiDo com a Economia Política? Ou seja, sempre e-
xistiram pessoas refletindo de forma sistemática (científi
ca) sobre a atividade econômica? Resposta: não. Ao contrá
r1.0 da ativiciade economlca, que e a-histÓrica, posto que
nao surg1.u em um determinado momento da História, e' em
sua acepção geral, não caracteriza nenhuma fase particular
da História, a Economia PolÍtica não existiu sempre; ela e
fruto do capitalismo.
Ilustremos, a partir das fases da História:

Comunismo I Escravismo I Feudalismo I Capitalismo I Socialismo


A T I v I D A D E E c o N ô M I c A

primitivo
! I /I J
~ ECONOMIA POLÍTICA
FIGURA 1

(4) John Stuart Mill. op. ci~. p. 304


- 5

o que estamos querendo dizer e que o pensa-


mento humano somente toma a forma de Economia PolÍtica com
o advento do capitalismo (século XVIII e XIX). Não existem
portanto, uma Economia PolÍtica para o comunismo primitivo,
uma Economia Política para o escravismo, uma Economia PolÍ
tica para o feudalismo, uma Economia PolÍtica para o capi-
talismo, uma Economia Política para o socialismo. O que e-
xiste e: a Economia PolÍtica estuda o capitalismo.
Vejamos sobre ~sso algumas citaçÕes interes
santes de Luiz Gonzaga Belluzzo:
"O nascimento da Economia Política,como dis
ciplina autônoma, estã amplamente comprometido comas trans
formaçÕes ocorridas na Europa Ocidental, que culminaram com
a Revolução Industrial, na Inglaterra, e a Revolução Fran-
cesa, no continente
O nascimento da Economia Política, no
final do século XVIII, responde, quer ãs modificaçÕes ococ
ridas no impessoal sub-solo da história, -
quer as transfor-
maçÕes operadas na consc~enc~a dos povos. Surge como uma
tentativa de explicação de um mundo abarrotado de mercado-
r~as, onde os homens trocavam seus produtos nao para consu
m~r, senao para trocar de novo amanhã". (5)
Observamos, das colocaçÕes de Belluzzo, que
a Economia Política tem seu nascimento ligado ao seguinte
fato essencial: as determinaçÕes da economia capitalista
nao são perceptíveis a olho nú; -e -
necessar~o
. c~enc~a para
desvendá-las. Isto porque, "se aparência e essenc~a se con
fundissem, não haveria necessidade da ciência".

(5) Luiz Gonzaga de M. Belluzzo . Prefácio ã edição brasi-


leira de: Isaak Rubin. A Teoria Marxista do Valor.
Brasiliense, São Paulo, 1980, p.q.
- 6 -

1.2.- DA MERCADORIA AO CAPITAL

Vejamos, de início, o que devemos entender


por bens e produtos. Um bem ~ tudo aquilo que satisfai uma
necessidade humana, ou seja, tudo que tem utilidade. Já um
produto e tudo aquilo que satisfaz uma necessidade humana
e ~ fruto do trabalho. Ilustrando:

nao sao fruto do trabalho

FIGURA 2

Quanto as mercadorias, elas possuem, a de-


mais de uma utilidade (valor de uso), um valor de troca.
Mercadoria, portanto, e tudo aquilo que possui valor de u-
so e valor de troca.
Podemos claramente observar que o produto
do trabalho humano, enquanto valor de uso, possul uma de-
terminação a-histórica: sempre existiram e sempre existi-
rão produtos do trabalho. Já o produto enquanto mercadoria
(tem valor de uso e valor de troca) r~ssui uma determina-
çao social, histórica: caracteriza uma forma assumida pe-
los produtos do trabalho em uma determinada época da Histó
rla.
Vejamos melhor o que e mercadoria; inicial-
mente, salientemos que, se alg~em produz para auto-consumo,
não produz mercadoria, produz apenas valores de uso. Da
mesma forma, se uma comunidade produz para si prÓpria (uma
tribo indÍgena, por exemplo), não produz mercadoria. Canse
qlientemente, para ser mercadoria, o produto do trabalho tem
que passar da mão de quem o produz para a mão de quem o
\
- 7

consome. Todavia, o trigo que o servo produzia para o se-


nhor na sociedade feudal passava de mãos mas não era mer-
cadoria. Essa passagem tem que se dar por meio de um ato
de troca:

TROCA

2R01uTOR CONSUMIDOR

FIGURA 3
Verifiquemos as pré-condiçÕes para que o
produto do trabalho humano se transforme em mercadoria. I
nicialmente, e necessário que exista divisão social
-------------------------
do
trabalho. Como ja vimos, se cada um produzisse tudo que
necessitasse, não haveria produção de mercadorias; e pre-
c~so, portanto, que o trabalho esteja socialmente dividi-
do. Todavia, divisão social do trabalho sempre existiu
mesmo em uma comunidade primitiva existe uma divisão so-
cial do trabalho por sexo, idade, mas não ha produção de
mercadoria. Trata-se, portanto, de condição necessaria,p~
rem nao suficiente. Vejamos com ma1s detalhes o caso de u
ma comunidade primitiva, uma tribo indÍgena, por exemplo.
-
Por que o Índio, apos realizar a pesca, nao monta uma pe-
quena banca em sua tribo e vende o peixe que pescou com
seu trabalho? A resposta e a seguinte: porque nao existe,
nesse tipo de sociedade, a instituição da propriedade pri
vada. Se o pescador não vê os instrumentos de trabalho co
mo propriedade privada sua, e por conseqtlencia também nao
ve dessa forma o produto do seu trabalho, como poderá pe~

sar em vendê-lo? Também os demais membros da comunidade


nao enxergam o peixe como propriedade do pescador, não ha
vendo sentido algum em compra-lo; tal idéia nem se coloca
para eles. Nesse caso, todo o produto do trabalho e enca-
rado como propriedade coletiva. Descobrimos, portanto, a
segunda condição para o surgimento da mercadoria: a
priedade privada.
Essa instituição da propriedade privada sur
- 8

ge inicialmente nao dentro das comunidades, mas entre co-


munidades. É possível, por exemplo, que a comunidade A pr~
duza um excedente do alimento X, e a comunidade B produza
um excedente do produto Y.

A B

X
y

X y

FIGURA 4

A partir desse fato, pode-se estabelecer u-


ma troca entre as duas comunidades (desde que A quelra Y e
B queira X, como e Óbvio). Essa troca, todavia, possul um
caráter fortuito, ocasional, assistemático, ou seJa, ocor-
reu hoje (por causa dos excedentes), mas poderá não oco r-
rer amanhã. Não se trata, portanto, de uma sociedade mer
cantil.
o que e sociedade mercantil? É uma socieda-
de na qual a troca nao e fortuita, nao e ocasional,mas Slm
sistemática; caracteriza a forma mesmo de organização da
sociedade. Nessa sociedade, o produto e produzido pensando
de antemão na troca, ou seja, produz-se para vender. Um p~
queno produtor de calçados, por exemplo, nao produz para
seu consumo e de sua família e, se ocorrer um excedente,l~
vará ao mercado. Desde o instante em que pensa em produzir
o sapato, já o faz pensando em produzir para vender.
Vejamos as caracterÍsticas fundamentais de
uma sociedade mercantii, para marcar o seguinte fato funda
mental: a necessidade da troca. A esse respeito, Isaak Ru
bin e esclarecedor:
"A c a r a c t e r Í s t i c a d i s t in t i v a d a e c o no m l a me r
- 9

cantil e a de os administradores e organizadores da prod~

çao serem produtores independentes de mercadorias (peque-


nos proprietários ou grandes empresários). Toda empresa i:_
solada privada e autonoma, isto e' - seu proprietário e- ln-
dependente, está preocupado apenas com seus proprlos inte
resses e decide o tipo e a quantidade de bens que produzi:_
ra. Sobre a base da propriedade privada, ele tem à sua dis
poslçao os equipamentos produtivos e as matérias-primas n~
cessarias e, como proprietário legalmente competente, dis
p~e dos produtos de seu neg~cio. A produç~o e administra-
da diretamente pelos produtores de mercadorias isolados e
não pela sociedade. A sociedade não regula diretamente a
,,
atividade do trabalho de seus membros, na o detersína
que val ser produzido nem c;uanto". (6)
Comentemos esse trecho. ~ossa sociedade ~Lr

cantil e composta, portanto, por diversos produtores inde


pendentes. Qual o sentido de independente? Não e- ' obvia -
mente, que cada produtor está isolado do mundo (inúmeros
Robinson Crusoés) . . . O sentido e o seguinte: considerando
a existência da propriedade privada como instituiçao so-
cial, e com ~bvio amparo legal, o produtor e proprietá -
rlo dos melos de produção, e, por conseq~encía, propriet~

rlo do produto. Sendo assim, ele possuí autonomia para d~

cidir sobre a utilização de coisas que lhe pertencem. In-


dependência tem aqui o sentido de unidade autonoma de de-
cisao. Decisão sobre o que? Ora, sobre as questoes econo-
mlcas fundamentais, ou seja:
O que produzir?

Quanto produzir?

Como produzir?

Lembremo-nos do nosso pequeno produtor de


sapatos. Podemos ate imagina-lo sozinho, em sua oficina
pensando sobre: produzir botas de cano longo ou sapatos co
muns? Que quantidade? Com qual técnica, a tradicional ou

(6) Isaak Rubin, op. cit. p. 21


- 10 -

uma nova que Vlu em algum lugar? Perguntamos: se ele deci-


dir produzir botas de cano longo (em pleno verão), em uma
quantidade bastante grande, e com uma técnica que se usava
ha 300 anos,alguem tem alguma coisa com isto? Se nao der
certo, problema meu, dira o sapateiro. Afirmamos ja para
aprofundamento posterior: existira alguma instituição (um
orgao central de planificação, por exemplo), que informe ao
nosso produtor (por meio de um computador) o que ele tem
que produzir (a partir de necessidades sociais objetivas
ja pesquisadas), quanto e como produzir? Não, evidentemen-
te. Isto seria a completa negação do princÍpio basilar da
liberdade do proprietário privado. Tratar-se-ia de uma com
pleta negação dos fundamentos sobre os quais se assenta a
sociedade capitalista.
Vejamos agora um aspecto essencial: lembre-
mos do nosso produtor de sapatos decidindo: tal decisão o-
corre no que chamamos esfera privada. Mas todos os produt~

res independentes, nao sao, como ja afirmamos, isolados; e


les estão compondo (e têm que de alguma forma compor) uma
economia social. Em outras palavras: produtores que de c i-
dem privadamente têm que conformar uma economla social (que
se reproduza socialmente).

produtor
t-----.. economla social
independente

FIGURA 5

.
Qual a forma necessarla -
para que isto se dê?
Em outras palavras: qual a ponte que levara da esfera prl-
vada para a esfera social? Resposta: a troca!
ll

I
~
IA TROCA

FIGURA 6

Vejamos outro trecho de Rubin:


"Por outro lado, todo produtor mercantil e-
labora mercadorias, ou seJa, produtos que nao se destinam
a seu uso pessoal, e sim ao mercado, ã sociedade. A di vi-
sao social do trabalho vincula todos os produtores de mer-
cadorias em um sistema unificado que e denominado economla
nacional, em um organismo produtivo CUJaS partes se rela -
~

cionam e se condicionam mutuamente. Como se cr1a esse v1n-


cu lo? Através da troca, através do mercado, onde as merca
dorias de cada produtor isolado aparecem de forma despers~

nalizada, como exemplares isolados de um determinado tipo


de mercadoria, a despeito de quem as produziu, ou onde, ou
sob que condiçÕes específicas" (7)

Dessa forma, as relaçÕes entre os produto


res (relaçÕes sociais) se dão através das co1sas (produtos
do trabalho): "a interaçao e a influência mútua da at i vida-
de de trabalho dos produtores individuais de mercadorias o
corre exclusivamente através das co1sas, atrav6s dos produ
tos de seu trabalho que aparecem no mercado" (8) Voltemos
ao nosso produtor de sapatos (produtor A); apos sua deci-
sao de produzir, leva, digamos, 10.000 pares ao mercado. O
produtor B, que nao alterou em nada suas decisÕes de prod~
çao, será inevitavelmente afetado pelas decisÕes de A; por
exemplo, uma super-produção setorial pode levar a uma que-
Tl • -..
da de 30% no preço do sapato. A 1nteraçao e influência mú
tua" entre A e B ocorreu através do sapato (produto do tra
balho). Imaginemos uma indústria fazendo "dumping" contra
sua concorrente, o que significa reduzir o preço e traba
lhar eventualmente com prejuízo para destruir a concorren- -

(7) Isaak Rubin. op. cit. p. 21


(8) Isaak Rubin. op. cit. p. 22
- 12

c~a. O proprietário da indÚstria concorrente pode ser le-


vado a loucura, sem nenhuma ação direta (emocional ou fÍ-
sica) do primeiro. A ação se deu indiretamente, pela v~a

do produto.
Marquemos agora uma conseq~ência crucial
do que vimos atê aqui: sendo a economia capitalista a eco
úomia mercantil por excelência, seu caráter mercantil e
responsável pelo seguinte fato: a economia capitalista e
inerentemente anárquica. Por mais que a grande empresa e
o Estado possam planejar o futuro, nao podem negar as ba-
ses sob as quals se assenta a economia capitalista, naop~

dem transforma-la em uma economia planificada; nao podem


negar o caráter mercantil/anárquico da produção; nao po-
dem, por conseguinte, evitar a imprevisibilidade, a insta
bilidade da economia capitalista. Essa instabilidade está
alicerçada no caráter mercantil da sociedade, no fato de
que as esferas privadas sao as esferas de decisão.
É justamente para marcar esse fato, o fato
de que a economia capitalista está lastreada na produção
mercantil, ê que se constrói o artifício teórico da econo-
mia mercantil simples - trata-se de um alicerce sobre o
qual se assenta a economia capitalista.
Vejamos o que vem a ser essa economia mer -
cantil simples. Trata-se de uma sociedade na qual os pro
dutores independentes de mercadorias são proprietários dos
meios de produção (matérias-primas e instrumentos de tra-
balho) e por conseq~ência, sao proprietários do produto do
seu trabalho. Nessa sociedade, os trabalhadores/produto -
res vendem mercadorias enquanto Drodutos do seu trabalho.

pequeno produtor - proprietário


dos meios de produção - proprie
târio do produto - vende produ=
tos do trabalho (há uma união
entre trabalho e propriedade)

Sociedade Mercantil Simples


FIGURA 7
- 13

Vejamos a açao de um produtor independente


de mercadorias (por exemplo, produtor A, produtor de sap~

tos) nessa econom1a mercantil simples. ApÓs produzir os


sapatos, o produtor leva-os ao mercado para vendê-los, ou
seja, trocá-los por dinheiro. Com o dinheiro nas maos,co~

pra uma outra mercadoria, da qual necessita, por exemplo,


arroz. A circulação fica assim:

SAPATO DINHEIRO ARROZ

M D M

(mercadoria) (dinheiro) (mercadoria)

. .
O processo tem seu 1n1c1o -
em uma mercadoria
(sapato) e termina em outra mercadoria (arroz); evidente-
mente, há, entre esses dois pÓlos, uma diferença qualita-
tiva, posto que nao faz nenhum sentido vender sapato para
comprar sapato.
Perguntamos: qual o objetivo dessa forma de
circulação? Vejamos uma resposta possível: o lucro. Ora
suponhamos que o par de sapato tenha um valor de CzSSIJO,iJO,
que o produtor consiga realizar esse valor no mercado: e
'
finalmente, que ele compre 25 kg de arroz que valem exata
mente Cz$ 500,00. Ao final temos:

1 par de sapatos D 25 kg de arroz

Cz$ 500,00 Cz$ 500,00 ... Cz$ 500,00

Ainda que tenhamos aqu1 apenas uma noçao 1n


tuitiva de valor, observamos que nosso produtor de sapato
nao enriqueceu em 1 centavo sequer depois de fechado ocir
cuito; em outras palavras, nao teve lucro. No entanto,nem
por isso está furioso, deblaterando a sua ma- sorte, mas
s1m satisfeito, com seu objetivo realizado. Por que? Por-
que seu objetivo nao era o enriquecimento, a obtenção de
lucro, mas s1m a satisfação de necessidades (o valor de u
so) .
M - D - M objetivo: satisfação de necess1
dades.
- 14 -

Nesse caso, qual o papel do dinheiro? Inicialmente, o di-


nheiro reflete o valor de todas as mercadorias, ~ equiva-
lente geral; todas as mercadorias espelham seu valor no
dinheiro. Com esta capacidade, o dinheiro permite que as
mercadorias circulem: ~meio de circulação. Em nosso cir-
cuito M - D - M, o dinheiro funciona apenas como um inter
mediaria. O dinheiro não ~. nesse caso, desejado por si,
mas apenas como instrumento para a circulação de mercado-
rias, para a satisfação das necessidades.
Para nós, que vivemos em uma economia capi-
talista, e fácil perceber que essa função ~ apenas uma das
funçÕes do dinheiro. Por exemplo:

a) recebo meu ordenado e faço uma compra no supermercado.


Esse dinheiro está servindo como equivalente geral e
me~o de circulação;

b) ganho Cz$ 1.000,00 no bicho e levo minha família -


a
churrascaria.

Mas, e se eu pensar no seguinte: ganhei na


loto Cz$ 60 milhÕes~ O que -
sao esses 60 milhÕes? Que f a-
zer com ele? Qual a primeira coisa que nos vem a mente
quando se tem essa fabulosa quantia nas mãos? Resposta: a
plicar, ou seja, transformar dinheiro em ma~s dinheiro;
manter a riqueza presente e ampliá-la. A mudança quantit~

tiva (dos Cz$ 1.000,00 para Cz$ 60 milhÕes) implicou em


urna mudança qualitativa; estou percebendo um novo cara -
ter do dinheiro: o dinheiro corno capital.
Qual ~ essa nova forma de circulação? É:

DINHEIRO MERCADORIA - DINHEIRO + 6DINHEIRO

D M D + 6 D

Como dinheiro só se diferencia de dinheiro


sob o aspecto quantitativo, não faz nenhum sentido que o
início e o fim do processo representem uma mesma magnitu-
de de dinheiro; nesse caso o objetivo do movimento ~ a aro
- 15

pliaçio do montante de dinheiro (o lucro). Agora, a merca


doria e que e intermediaria para a consecução do objetivo:
o enriquecimento. Nesse caso, o dinheiro se transforma em
capital, passa a circular como capital, como valor que bus
ca sua auto-valorização.
Vejamos algumas formas antigas de transfor-
mar dinheiro em mais dinheiro:

a) Capital usurário: forma antiga do capl


tal a juros:

D D + liD

Nesse caso, a ampliação do dinheiro ocorre


da forma direta, sem intermediários; trata-se, por isso,
de forma absurda e inintelegível do capital, como se, por
circunstâncias favoráveis de calor, umidade, etc., houves
se a geraçao espontânea do dinheiro (filho) do dinheiro
(mãe). Vejamos isso melhor.
-
. típico do fim do f eu
Pensemos em um usurarlo
dalismo, relacionando-se com a nobreza decadente; o nobre
decadente precisa de dinheiro para manter seu fausto (mó-
vels e utensílios, vestuário, carruagem, criadagem, etc).
Evidentemente, em se tratando de nobre decadente, e, por
definição, carente do dinheiro necessarlo. Empresta-o do
usurário, que pretende receber depois de algum tempo o
principal mais um acréscimo a tÍtulo de juros. Pergunta
mos: de onde ele vai tirar esse liD? Resposta: da riqueza
que possui (por exemplo: terras) Fica, portanto, claro o
caráter parasitário do usurário; ele enriquece às custas
do empobrecimento de outros, nao auxilia em nada na cria-
çao de riqueza; antes pelo contrario, aprofunda a decadê~
cia do sistema do qual suga sua riqueza crescente. Não e
por outra razao que, no período feudal, foram tao fortes
as condenaçÕes à usura (Igreja, Lutero)

b) A forma mercantil

Quando se coloca o enriquecimento sob a for


ma Dinheiro-Mercadoria-Dinheiro, a primeira colsa que nos
- i6

vem ã mente é a atividade de comércio, ou seja, comprar


uma merc~doria usual (qualquer) por um preço e vendê-la
por um preço maior. Esta é i ~ei do comércio: comprar ba-
rato e vender caro Vamos agora lmaglnar que todos os tra
balhadores/produtores vendem produtos do seu trabalho. Pa
-
. e neces-
ra que alguém ganhe dinheiro através do comer c lo
sário se interpor entre a produção e a venda, pagando po~
co ao produtor e cobrando caro do comprador. Será que es-
ta ação pode sustentar uma economia capitalista? Ora, a
classe capitalista não pode ser constituída a partir do
engano recíproco. Isto porque a forma mercantil do capi -
tal é, caracteristicamente, um roubo, uma mudança de mãos
de uma riqueza já criada; nao contribui em nada para a
crlaçao da nova riqueza. E foi esta a forma hegemônica no
período imediatamente anterior ã constituiçao do capita -
lismo: século XVI e XVII.
Vejamos rapidamente como se dá essa forma
mercantil: imaginemos inicialmente uma regiao - Europa
na qual a circulação de mercadorias esteja bastante dese~
volvida, e os agentes economicos possuam uma noçao bastan
te boa de mercados e preços; pensemos agora em uma reglao
- Índia, por exemplo que vive em um estágio de economla
pré-capitalista, com a produção organizada em aldeias au-
to- suficientes, que produzem para auto-consumo, nao pro-
duzindo, portanto, mercadorias; obviamente, os produtores
nessa sociedade nao têm noçao de mercados, custos e pre-
ços. Imaginemos agora o relacirinamento entre as duas re-
gioes: evidentemente, os comerciantes europeus têm noçao
exata do preço que podem alcançar pela seda (produzida na
segunda região) nos mercados da Europa. Como os produto
res de seda desconhecem completamente o comercio, podem
trocar a seda por qualquer mercadoria de baixo valor. Na
verdade, os comerciantes acercavam-se da região produtora,
transformavam-na em um mercado cativo, e carregavam a mer
cadoria para mercados consumidores. Isto e exatamente l-
gual ao saque, ao roubo; ou seJa, uma simples mudança de
maos da riqueza (aliás, no caminho para a Índia, poder-se
-la, de passagem, saquear um navlo inimigo).
- 17

Jra, esta nao é a forma capitalista de ex-


trair mals dinheiro do dinheiro; tanto é verdade que na-
çoes (ou cidades/Estado) que se especializaram com gran-
de sucesso nessa forma mercantil não descobriram a forma
capitalista e foram passadas para tr~s (Holanda e Veneza,
sao os melhores exemplos). A forma capitalista por exce-
lência est~ ligada a uma nova forma de organizar a prod~
çao. O capitalismo inaugura uma nova forma de organiza -
ção da produção. O capitalista ê capitalista industrial;
ê capitalista produtivo.
O c a p i t a l i s t a ·o r g a n l z a a p r o d u ç ã o , e o r g a-
hif~dor da produção: Não ê parasita da sociedade decaden
te, e nem transfere riqueza para suas mãos pela via do
comerclo. Ele auxilia, ele crla (no sentido de gerar as
condiçÕes para) rlqueza nova (novos produtos). A produ-
çao e uma decisão do empresarlo; ao trabalhador cabe ap~
nas decidir, quando possível, a não-produção. E por que?
Simplesmente porque o processo de produção e um processo
no qual todos os elementos sao de propriedade do capita-
lista. Vejamos melhor esse ponto:
Todo processo de produçao e, ínexoravelmen
te, um processo composto dos elementos simples

TRABALHO (atividade adequada a um fim)

OBJETO DE TRABALHO (matéria-prima)

- MEIOS DE TRABALHO (instrumentos de trabalho)

Ora, as matérias-primas são mercadorias,têm


que ser compradas; da mesma forma as m~quinas são mercado
rias, têm que ser compradas. A produção capitalista nao
e setorial, e generalizada; todos os melos de produção são
produtos de empresas capitalistas, produzidos para vender,
e com lucro. Nesse sentido, observa-se que a propriedade
capitalista é propriedade de um fundo livre de mercadori-
as, no sentido de que essas mercadorias estao disponíveis
para quem tiver dinheiro para comprar. Nao est~ escrito
em uma m~quina que ela se destina a ser propriedade de f~
.
lano ou sicrano. As m~quinas de uma mesma especle sao mer -
- 18 -

cadorias expostas ao gosto dos que puderem levá-las. Di-


fere, portanto, da propriedade pré-capitalista, que e um
pressuposto da produção (que antecede a produção), um leg~
do da tradição por laços de sangue.
Então, os elementos OBJETIVOS têm que ser
comprados:

Elementos OBJETIVOS
compradas
- matérias-primas ~ sao mercadorias

- .
maqu1.nas
compradas
~ sao mercadorias
I ?
- trabalho ~ ?

E o que acontece com o elemento subjetivo,


o trabalho humano? Não se pode dizer que se compra e ven-
de trabalho, posto que o trabalho é homem em açao, confun
de-se com a corporéidade humana; se se vende trabalho,ve~

de-se a si mesmo, transformando-se em escravo; nesse caso,


o homem é mercadoria. O que acontece é que se vende e se
compra força de trabalho, entendida como capacidade de tra
balhar, potencial de trabalho Em outras palavras, a for-
ça de trabalho transforma-se em mercadoria.
Ao dizer que a força-de-trabalho é mercado-
rl.a, dizemos que ela tem utilidade (valor de uso) e valor
de troca. A utilidade de uma mercadoria é algo a respeito
da qual devemos consultar seu consumidor. Qual a utilida-
de da força-de-trabalho para seu consumidor, o capitalis-
ta? Como ele a consome? Fazendo-a trabalhar portanto, o
valor-de-uso da mercadoria Força de Trabalho é o trabalho
mesmo. Vamos pensar, por exemplo, que eu na qualidade de
empresarlo, contratei um determinado operário. Percebo
dias depois que o trabalhador sistematicamente não trabalha
(falta, enrola, conversa, etc.). Que faço? Mando-o embo -
ra! E é coisa justa, pois afinal firmamos contrato;
nha parte era pagar, a parte dele trabalhar. Comprei uma
mercadoria que se mostrou posteriormente de má qualidade!
Quanto ao valor-de-troca, possuí sua expre~
19 -

sao monetária no salário que se paga (por dia ou mês) aos


trabalhadores para que possam reproduzir-se como trabalha
dores.
Vejamos rapidamente a seguinte questão:exi~
tiram sempre pessoas interessadas em vender força-~-tra­

balho? Lembremo-nos de nosso produtor independente de sa-


patos em uma economia mercantil simples. o que e que e-
le vendia? Vendia sapatos, produtos de seu trabalho,e não
sua força de trabalho. Por que? Porque ele era proprietá-
rlo dos produtos do seu trabalho. Ocorre nesse caso uma
uniãoentre trabalho epropriedade . É necessária, portan-
to, uma cisão entre trabalho e propriedade para que al-
guns vendam e outros comprem força de trabalho:

UNIÃO
TRABALHO
Ex. artesao, campones
e
vendem produtos
PROPRIEDADE
do trabalho

CISÃO

Vendem força de trabalho

Proprietários dos meios de produção,


PROPRIEDADE compradores de força-de-trabalho.

FIGURA 8

Em outras palavras, -
.
e necessar1o que os pr~

dutores sejam expropriados de meios de produção, achem-se


despojados dos elementos materiais necessários ã produção.
Ademais disto, e necessário que o indivÍduo
seja trabalhador livre, no sentido de que vende sua força
-de-trabalho para quem quiser, e sempre por tempo não i l i
mitado (qualquer uma das partes contratantes pode resc1n
dir o contrato a qualquer tempo) caso contrário, seria
escravo ou servo, e nao trabalhador assalariado.
Todavia, nao basta que existam pessoas des-
possuídas, interessadas em vender sua força de trabalho
em troca de um salário, como ~nica forma de prover sua sub
- 20

sistência; e necessário que existam pessoas interessadas


em comprá-las; em outras palavras, em empregá-las, juntá-
las no sentido de produzir, ou seja, organizar a produção
como negócio lucrativo. O próprio termo proletariado tem
origem na Roma antiga; o proletariado romano era tão des-
possuÍdo de meios de produção quanto o proletariado mode~
no, posto que nao tinha a propriedade por excelência que
era a propriedade da terra; todavia, em pleno escravismo,
como iria surgir um empreendedor que tivesse a idéia de
empregá-los de alguma forma para a produção, para o tra-
balho? O trabalho era um oprobio! As preocupaçoes eram
bem outras: como manter as conquistas, dominar revoltas
controlar escravos, etc.
Portanto, -
.
e necessar1.o:

OFERTA DE FORÇA DE ~DEMANDA DE FORÇA DE


TRABALHO (criação~TRABALHO (empresá-
do proletariado) rio industrial)

FIGURA 9

Concluindo, ao mesmo tempo em que Objetos


de trabalho e Meios de Trabalho tomam a forma de mercado-
rias de propriedade do capitalista, o trabalho toma a for
ma de trabalho assalariado.

PROCESSO DE PRODUÇÃO EM GERAL PROCESSO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA

- Trabalho _ _ _ _ _ _ _ Trabalho Assalariado - Capital


Circulante
Objetos de Trabalho _ _ _ _ Mercadorias - Capital Circulante
- Meios de Trabalho _ _ _ _ _ Mercadorias - Capital fixo

Como fica agora o circuito do capital?

D D + 6D
21-

Objetos de Trabalho

D Meios de Trabalho - n~oduto - D + An

Força de Trabalho

Diferentemente das duas formas anteriormen-


te mencionadas, a forma capitalista de transformar o di-
nheiro em ma~s dinheiro passa pela organização da produção;
evidentemente, a possibilidade do lucro (~emuneração do ca
pital) esta lastreada na forma capitalista de organização
da produção, ou seJa, ~ base do trabalho assalariado. Os
elementos materiais (matérias-primas e instrumentos de tra
balho) não podem, por s~ so, serem fonte de lucro, po~s,

se ass~m fosse, tal coisa ocorreria em qualquer sociedade,


pois sao eternos e imprescindíveis. Os valores das matéri-
as-pr~mas e das maquinas sao transferidos aos produtos e
recuperados. Os primeiros se transferem integralmente a ca
da período de produção, perÍodo que vai da entrada da maté
ria prima ate a saÍda do produto, pois perdem integralmen-
te sua forma original metamorfoseando-se em produto. Por
1sso sao parte do capital circulante, que tem que ser re-
posto a cada período de produção. Ja as maquinas e instala
çÕes atravessam vários períodos de produção, de forma que
seu valor e recuperado na mesma medida em que se perde,aos
poucos, gradativamente.
A expansão do valor inicialmente adjudicado
a produção, a transformação de D em D + 6D, ou seja, a
transformação do processo de trabalho em um processo de va
lorização do capital esta determinada pela forma social de
organizaçao da produção. Em outras palavras, organizando
se a produção capitalisticamente, com proprietários do ca-
pital e proprietários de força de trabalho (trabalhadores
assalariados), estao postas as condiçÕes para o surgimento
do lucro. Em uma sociedade CuJa produção se organiza desta
maneira, o lucro do capitalista aparece como desdobramento
natural da produção, como co1sa normal (anormal é produzir
sem lucro). Evidentemente, esse conceito de natural deve
- 22 -

ser entendido como histórico-natural, pols, como procuramos


sempre realçar, o lucro (ou seja, o capital) é uma catego -
ria especÍfica e característica da economia capitalista,fo~
ma historicamente determinada de organizaçao social da pro-
dução. Não se trata, como querem alguns, de algo prÓprio da
naturalidade humana abstrata, mas sim da naturalidade con-
ereta da sociedade capitalista. Esse entendimento do lucro
como coisa natural e, obviamente, amplamente disseminado p~

la sociedade capitalista, de tal forma que todos o tomam co


mo um dado, sem refletir sobre sua natureza. Também do pon-
to de vista da Economia como clencla, as questoes estarao
colocadas a partir da constituição da sociedade capitalista,
ou seJa, a partir da existência das condiçÕes para o apare-
cimento do lucro. Por lsso, o estudo que se faz é, fundamen
talmente, sobre a magnitude da taxa de lucro, os efeitos das
flutuações desta sobre o investimento, do investimento so-
bre o lucro, etc. Ou seja, parte-se da existência do lucro
para o entendimento do funcionamento da economia capitalis-
ta. Nos capítulos que se seguem, tomaremos o preço das mer-
cadorias como o "fio condutor" de nosso estudo sobre o fun-
cionamento da economia capitalista. Esperamos que a leitura
esclareça, por si so, as razÕes da escolha deste caminho.
- 23

CAPÍTULO 2 - A "RADIOGRAFIA" DO PREÇO DA PRODUÇÃO CAPITA-


LISTA: O CUSTO E O LUCRO

2.1 -A COMPOSIÇÃO DOS PREÇOS DA PRODUÇÃO CAPITALISTA:PRE


ÇO E RELAÇÕES SOCIAIS

Antes de iniciarmos o estudo da determin2


çao dos preços, e necessário verificar sua composição; em
ou t r a s p a 1 a v r a s , r ea 1i zar um a r a di ogr a f i a do pr eço , det ec-
tando suas partes componentes. Nesse caso, o que pretende-
mos enfatizar e que "os preços traduzem relaçÕes sociais".
Em outras palavras, através dos componentes do preço pode-
mos observar como está organizada a sociedade para a prod~
çao.
Imaginemos o caso do artesao; no preço da
sua mercadoria encontramos uma parte formada pelos custos
de produção (matérias-prima, matérias auxiliares, energla,
etc.), e um remanescente a título de remuneração do traba-
lho. Quando a mercadoria passa a ser produto do capital, e
la evidentemente incorpora em seu preço novos elementos,de
terminados pelas relaçÕes capitalistas de produção. Já vl-
mos que o empresário, organizador da produção, preclsa com
prar os elementos necessários à produção, gerando asslm a
estrutura de custos da produção capitalista:

ELEMENTOS GERAIS DO PROCESSO CUSTOS DA PRODUÇÃO CAPITA-


DE PRODUÇÃO r 1 STA

Trabalho _ _ _ _ _ _ Salários

Objetos de trabalho _ _ _ _Custos de lnsumos industriais

Instrumentos de trabalho _ _ _ _ Custo de maquinas, equipamen-


tos e instalaçÕes + custo de
manutençao

Sobre a parcela do custo representada pelos


salários, a seguinte citação e esclarecedora:
- 24 -

"Atrás do custo de produção de uma mercado-


rla está toda uma complexa malha de relaçÕes sociais, en-
tre capitalistas e trabalhadores e entre diferentes grupos
de capitalistas. A relação entre capitalistas e trabalhad~
res se apresenta no custo de produção como salário. Para
que haja salário e preciso que a produção esteja organiza-
da de acordo com um sistema sócio-econômico específico, em
que uma parcela da sociedade detenha a propriedade dos mei
os de produção e a restante disponha apenas de sua própria
força de trabalho. Para operar seus meios de produção, os
capitalistas precisam pagar os trabalhadores; para obterem
recursos para sua sobrevivência, estes Últimos necessitam,
trabalhar. O pagamento dos trabalhadores, o salário, cor -
responde portanto a uma relação de troca entre os capita -
listas e os trabalhadores, em que estes vendem aos prlmel-
ros sua força de trabalho e deles compram os bens e servl-
ços de que necessitam. Se os meios de produção estivessem
distribuÍdos entre todos os membros da sociedade,como por
exemplo num sistema de produtores autônomos, uns nao prec~
sariam comprar força de trabalho e os demais nao necessita
riam vendê-la, e, portanto, não haveria salário. Assim, o
salário, que entra no custo de produção, nao e um - - compone~

1
te natural-t do preço, mas um componente histórico, pro-
prio de um regime de produção especÍfico, historicamente
determinado" (9)
Outra observação no sentido de ilustrar o
fato de que "os preços traduzem relaçÕes sociais" será feita
quanto ãs chamadas relaçÕes inter-industriais. Trata-se
do conjunto das relaçÕes de compra e venda de mercadorias
realizadas entre as empresas, ou seJa, de compra e venda
de insumos industriais (matérias-primas, materiais de emba
lagem, combustíveis, lubrificantes, etc.) e de máquinas e
equipamentos. Essas relaçÕes inter-industriais ocorrem, na
maioria das vezes, sem grandes fricç~es, passando desperc~

(9) J. Miglioli, L.G. Belluzzo & S. Silva. O funcionamento


da economia capitalista (uma introdução ao estudo
da Economia) Cap.l,"Produção e Preços" UNICAMP,p.40-l
- 25 -

bidas do grande pÚblico. Recentemente no Brasil, apos a e-


merg~ncia do Plano Cruzado, as fricç;es foram muito gran -
des a esse nível, e essas relaç;es passaram a ganhar gran-
de destaque. A questão é simples: como as mercadorias ven-
didas antes de 28 de fevereiro de 1986 para pagamento pos-
terior (faturada) embutiam uma expectativa de inflação fu-
tura, e como a inflação prevista deixou de ocorrer, no mo-
mento do pagamento (90 dias, por exemplo) deveria ser efe-
tuada uma deflação. A discussão entre vendedores e compra-
dores era em torno da taxa segundo a qual seria efetuada a
deflação, calculo fundamental para a rentabilidade de am-
bos.

2.2 - CAPITAL CIRCULANTE E CAPITAL FIXO E SUA TRANSFORMA-


ÇÃO EM CUSTOS

Tomemos conjuntamente os custos de força de


trabalho (salários) e os custos dos elementos materiais ne
cessarias ã produção, ou seja, matérias-primas, combustí
ve~s, lubrificantes, maquinas, equipamentos, instalações
etc. Façamos agora o "gráfico do custo de produção de uma
empresa industrial no tempo". Imaginemos que, em 1987, a
empresa se instala; nesse momento, -e -
necessar~o
. um grande
disp~ndio de dinheiro na construção das instalaçÕes (no ca
so de prédio prÓprio), na compra de maquinas e equ~pamen­
tos, alem de ter que dispender recursos na compra de mate-
rias-primas (e/ou componentes), e outros elementos mate-
r~a~s (combustíveis, lubrificantes, etc.) e força de traba
lho. Todavia, a empresa somente ~ra adquirir novas
nas e equipamentos daqui a dez anos, em 1997. Vejamos en-
tão um possível gráfico do custo total em relação ao tem -
po:
- 26 -

CUSTO
TOTAL

1987 1997 TEMPO

GRÁFICO 1

Mas~ se PREÇO = CUSTO UNITÁRIO +LUCRO UNI-


TÁRIO, entao o preço deve ser elevadíssimo em 1986, dado
o elevadíssimo custo unitário (custo total/quantidade pro-
duzida). Observa-se claramente que se trata de um completo
absurdo. Evidentemente, todo custo faz parte do preço, no
sentido de que ele tem que ser recuperado através do pre-
~· Mas somente se pode recuperar o que se perde. As maté-
rias-primas, por exemplo, são inteiramente perdidas enqua~
to forma material cada vez que se produz, e, portanto, tu-
do o que se gastou na aquisiçao entra imediatamente no pr~

ço do produto. Esse e o caso de todos os elementos do capi


tal que têm que ser repostos a cada período de reprodução,
ou seja, a cada período de tempo que vai do início da pro-
dução ate a geração dos produtos (força de trabalho e lnsu
mos industriais, ou seJa, matérias-primas, componentes,co~

bustíveis, lubrificantes, energia elétrica, material de em


balagem, etc.). o capital investido nesses elementos e cha
mado capital circulante; trata-se do capital necessário p~
ra fazer uma empresa já instalada continuar normalmente
sua produção. Observe-se que o capital e apenas investido
no início do funcionamento da empresa (para um dado nÍvel
- 27

de produção), pols a recuperaçao imediata desse custo atra


ves dos preços faz com o capital circulante volte para o
capitalista cada vez que a produção e vendida.
Façamos uma ilustração para auxiliar o en-
tendimento do conceito de capital circulante:

perÍodo de produção

lucro

outros custos
produto

força de tra custos


balho e ln- custos de for
sumos indus- ça de traba -
triais lho e insumos
industriais

FIGURA lO

Já as máquinas, equipamentos e instalaçÕes


----------~------~--~~----------------
nao se perdem num Único perÍodo de produção, e sim atraves
sam vários períodos de produção, sendo por isso o capital
investido nesses elementos denominado capital fixo. O cap~

tal fixo (daqui para frente chamado apenas de máquina, para


efeito de simplificação) nao se gasta de uma vez, mas slm
gradativamente; dessa forma, sua transformação em custo
também se dá aos poucos, gradativamente, e -e .
asslm que o
capitalista recupera no preço do produto o dispêndio
cial. Como o dispêndio efetivo f oi feito de uma so vez- no
início, e será refeito após os lO anos, entao o capital fi
xo nao se transforma em custo de produção através de dis
pêndio efetivo, mas Slm através da criação de uma reserva
(ou fundo) de depreciação. Este fundo e gerado no sentido
de sustentar a reposiçao da máquina após esgotado o seu pe
rÍodo de vida Útil, quando se faz necessário um novo dis-
- 28 -

péndio efetivo.
Como já vimos, a máquina se desgasta paula-
tinamente, e o perÍodo em que permanece em atividade e de-
nominado vida Útil. Esta vida Útil, na economia capitalis-
ta, apresenta duas determinaçÕes:

a) de natureza física: trata-se do desgaste


material inexorável que a máquina sofre em operação; esse
desgaste pode ser previsto com boa margem de segurança,pois
os engenheiros, baseados em dados estritamente técnicos,p~

dem prever a vida Útil de uma máquina, obviamente respeit~


das as boas normas de utilização e manutenção.

b) de natureza econômica: ainda que em boas


condições de operação do ponto de vista material, pode o-
correr que uma máquina deixe de ser viável.do ponto de v~s

ta econômico; em outras palavras, máquinas ma~s avançadas


podem torná-la tecnologicamente obsoleta. Esta e uma de-
terminação econômica porque está vinculada a - concorrenc~a
.
intercapitalista, e o tempo de vida útil de uma máquina já
não pode ser determinado tecnicamente, trazendo um compo -
nente de incerteza.
Façamos uma ilustração da forma correta se-
gundo a qual o capital fixo se transforma em custo de pro-
dução, supondo que a depreciação é linear, ou seja, supon-
do um desgaste uniforme do capital fixo ao longo de seus a
nos de vida Útil (pela sua facilidade, essa é a forma mais
usual do cálculo da depreciação):
- 2 9 -

VALOR DO CAPI-
TAL FIXO A
AMORTIZAR

1987 1997 2007


VIDA ÚTIL TEMPO

GRÁFICO 2

Façamos agora uma observação importante so-


bre a questao da depreciação; como nao se trata de um dis-
p~ndio efetivo, a reserva de depreciação acaba parecendoum
artifício contábil, como dá a entender o seguinte trecho:
" para efeito de contabilidade de custo anual das empr~

sas, adota-se a suposição de que o capital fixo se desgas-


ta paulatinamente ao longo de seu período de vida. A esse
desgaste paulatino dá-se o nome de depreciação" (10) E vi-
cientemente não se trata de uma "suposição"; o desgaste pa~
latino do capital fixo e um fato técnico e econômico lnexo-
rável; ocorre que a manifestação desse fato ao nível contá
bil, em virtude de não estar ocorrendo disp~ndio efetivo e
de existir grande incerteza quanto ao perÍodo de vida do
bem de capital (obsolesc~ncia tecnológica), permite uma
grande dose de arbitrariedade. Não -e - que o
por outra razao
perÍodo, e consequentemente a taxa de depreciação, acaba
sendo determinado legalmente. E há sempre interesse dos em
presários em que o perÍodo de depreciaçao determinado le-
galmente seja o menor possível, pois os recursos colocados
sob a rubrica depreciação estão isentos do imposto de ren-

(10) J. Miglioli, L.G.Belluzzo e S. Silva, op.cit. Cap.lp.lO


- 30 -

da. Recentemente o governo brasileiro diminuiu de 10 para


5 anos o perÍodo para cálculo da depreciação; dessa forma
pretendeu-se estimular a inovação tecnológica na indÚs -
tria. Outro fato importante é que, apos sua integral amo~
tização, um bem de capital pode estar em perfeitas condi-
çÕes de operação, podendo ser vendido, e daí começa um no
VD periodo para cálculo de depreciação. Ao invés de uma
venda, pode ocorrer a transferência da máquina da matriz
para uma subsidiária; isto dá margem a artifícios contá -
beis que permitem esconder lucro sob a rubrica de depre -
ciaçao, para escapar do imposto de renda.

2.3 - DEPRECIAÇÃO COMO CUSTO, MARGEM DE LUCRO E TAXA DE


LUCRO

Como custo direto entende-se aquele custo


necessário a produção corrente, e representando dispêndios
efetivos: custos de materiais (matérias-primas, componen -
tes, energla, etc.) e mão-de-obra (trabalhadores diretamen
te envolvidos na produção). Já vimos que o capital fixo
transforma-se em custo de produção de uma forma particular,
na forma de depreciação; este custo nao representa um dis-
pêndio efetivo, e não é necessário ã manutenção da produ -
ção corrente, tratando-se de um custo indireto.
A partir do que já vimos, e dado que o Va-
lor Total da Produção de uma empresa é constituído da soma
do Custo Total e do Lucro Total, temos:

a) Custo Total
a ) Custo Direto
1
Salários
Insumos Industriais

a ) Custo Indireto
2
Depreciação

b) Lucro Total

c) Valor Total da Produção (= a + b).


- 31 -

Vejamos agora alguns conceitos importantes:


a) O Lucro Total colocado acima e chamado Lucro LÍquido de
Depreciação. Se não for retirada do Valor Total de Pro-
dução a reserva de depreciação, então o lucro será cha-
ma do de Lucro Bruto.
b) A participação relativa do Lucro Total no Valor Total
da Produção e chamada Margem de Lucro:

Lucro Total
Margem de Lucro
Valor Total da Produção

Como o Lucro Unitário e igual a divisão do


Lucro Total pela quantidade produzida (Lucro Total/Q), e o
preço e igual ao Valor Total da Produção dividido também
pela quantidade produzida (Valor Total da Produção/Q, te-
mos:

Lucro Total/Q
Margem de Lucro
Valor Total da Produção/Q

Lucro Unitário
Preço

A margem de lucro nos dá, portanto, a parti


cipação relativa do lucro no preço do produto, ou, em ou-
tras palavras, quanto (proporcionalmente) do preço e cons-
tituído de lucro. É claro que a margem de lucro sera bruta
ou lÍquida de depreciação caso seja incluÍdo ou na o no lu- --------
cro a montante equivalente a reserva de depreciação.
c) A relação entre o Lucro Total e o Capital Total investi
do, composto de Capital Fixo e Capital Circulante, cons
titui a Taxa de Lucro:

Lucro Total
Taxa de Lucro
Capital Total

A taxa de lucro desempenha um papel funda -


mental na economia capitalista; ela fornece uma informação
- 32 -

extremamente importante para os empresários~ qual seja, a


proporção segundo a qual seu capital se valoriza, ou, o
que é a mesma coisa, o período de tempo que o capital 1n1
cialmente investido na produção levará para retornar aos
seus proprietários. É importante fixar essa idéia de re-
torno do capital: imaginemos um capital inicial, na forma
de capital-dinheiro, de Cz x milhÕes; este capital e apli
cado numa atividade cuja taxa de lucro (constante) e de
10% ao ano; nesse caso, após 10 anos, o empresário terá
de volta às suas mãos o montante inicialmente aplicado,ou
seja Cz x milhÕes (na forma lÍquida, ou seja, capital-di-
nheiro). Alem de ter de volta o capital inicial, o empre-
sário terá ainda a empresa em funcionamento, cujo valor
só o mercado dirá. Isto porque valor de uma empresa nao
depende apenas do valor do capital empregado, retirando -
se o desgaste do capital fixo, dado que a rentabilidade
prevista joga um papel crucial na determinação desse va-
lor; dois empresários podem ter investido rigorosamente o
mesmo montante em duas empresas diferentes; se uma delas
apresenta uma rentabilidade futura prevista muito maior
que a outra, entao terá um valor bem mais elevado; por
isto é que, quando ocorre uma cr1se economica, o capital
global (de todos os capitalistas em conjunto) se desvalo-
riza, dada a queda da rentabilidade prospectiva de todos
os capitais.
Sobre a importância da taxa de lucro, vale
citar o seguinte trecho: " ... (a taxa de lucro) -
e' tanto
do ponto de vista do empresário como na análise do desen-
volvimento capitalista, a questão central, dado que e, p~
ra o empresário, elemento fundamental para as suas deci -
soes de investimento, e, para o conjunto da economia, de-
terminante do crescimento da capacidade produtiva e, con-
seqllentemente, da acumulação de capital" (11)
Entendido o conceito de taxa de lucro e
sua importância, façamos a seguinte indagação:a taxa de lu

(11) J. Miglioli, L.G.Belluzzo e S. Silva, op.cit. Cap.l,


p. 21.
.
3 3 -

era relevantepara oernpresarlo e a taxa de lucrolíquida ou a taxa de


lucro bruta? Ã primeira vista, a resposta parece bastante
simples: sendo a parcela do custo representada pela depr~

ciação destinada ã montagem de um fundo, para fazer face


às necessidades f~turas de reposição, entao esses recur -
sos estão comprometidos, não devendo ser considerados co-
rno recursos que retornam às mãos dos capitalistas. O capi
tal que retorna deve estar livre, disponível para qual-
quer tipo de aplicação de interesse de seu proprietário
Todavia, na mencionada apostila de Miglioli, Belluzzo e S.
Silva, vemos:

Lucro bruto total


l'axa de Lucro --------------------------------(12)
capital fixo + capital circulante

Numa apostila preparada pelo Prof. J.C.Hopp,


da EAESP/FGV, a partir do livro Managerial Finance, de Wes
ton G. Brigharn, lemos também: "os retornos futuros sao de-
finidos, em todos os caso~ como os recebimentos líquidos
antes da depreciação, porem após o imposto de renda que r~
sultam de um projeto. Em outras palavras, retornos sao Sl-
nônimos de fluxo de caixa dos investimentos" (13). A lÓgi-
ca que preside este procedimento e a seguinte: a nível da
administração financeira de urna empresa, a reserva de de-
preclaçao representa um fluxo de fundos, que não está " a-
marrado" ã reposiçao futura; quando da necessidade de ln-
vestimenta de reposição, os recursos necessarlos poderão
sair dos lucros retidos ou dos empréstimos bancários.

2.4 - CUSTOS DIRETOS E INDIRETOS - VISÃO AMPLIADA

Já conceituamos os custos diretos e vlmos a


depreciação corno custo mdireto. Vamos agora ampliar nossa
visualização dos custos indiretos, comentando com mais de-
talhe alguns deles, de grande significação econômica. Como
conceito geral, os custos indiretos não sao necessarlas -
a

(12) J. Miglioli, L.G.Belluzzo e S.Silva, op. cit. Cap.l,


p. 20.
(13) J.C.Hoop, "Técnicas de investimento de capital"EAESP/FGV,s/d,p.ll
- 3 4 -

produçao "strictu sensu", como os custos diretos, mas sim


estão ligados à geração de reserva de depreciação, à alta
administração da empresa ("over-heads"), à circulação das
mercadorias (transporte), e a outras necessidades deriva -
das da forma capitalista ássumida pelo processo produtivo
(por exemplo, publicidade, seguros, aluguéis e juros).
Em termos economlcos, ê importante salien
tar o seguinte: dada uma determinada quantidade produzida e
o nível de custo direto correspondente a esta quantidade,a
empresa obtêm um determinado lucro bruto. O raciocínio que
será desenvolvido mais ã frente em termos de concorrência,
redução de custo e ampliação das margens de lucro estará,
em grande medida, centrado no movimento do custo unitário
direto; e sobre este custo que se pode fazer generaliza
çÕes importantes. A partir da geração desse lucro bruto,
retira-se o montante devido aos custos indiretos, e chega-
se ao lucro líquido (não s6 lÍquido .de depreciação, mas de
todos os custos indiretos).
Comentemos separadamente alguns custos indi
retos relevantes.
Inicialmente, vejamos os dispêndios com pu-
blicidade. Como será visto mais a frente, a forma da con -
correncla capitalista mudou da concorrência em preços (ca-
pitalismo concorrencial) para a concorrencia em produtos
(oligop6lio diferenciado). Este fato fez com que aumentas-
se intensamente a importância econômica dos gastos em pu-
blicidade, basicamente nos veículos de eomunicação de mas-
sa de nossa época (referimo-nos principalmente a televisão).
Observa-se portanto que a concorrência inter-capitalista
impoe esse custo indireto como necessário para a realiza
çao do pr6prio lucro; ou seja, sem esses gastos, que aba-
tem o lucro lÍquido, esse lucro lÍquido simplesmente seria
inviabilizado.
No caso dos aluguéis, sua grande importân -
Cla na hist6ria do capitalismo sempre esteve ligada ao alu
guel pago pelo uso da terra pelo capital agrícola, ou se-
ja, a conhecida Renda da Terra, estudada pelos economistas
clássicos, como por exemplo Adam Smith e David Ricardo.
Sua origem esta no fato de que o proprietário de um peda-
ço de terra e um monopolista (dado que esse pedaço de ter
ra e unico, e algo não reprodutível), e cobra por sua utili
zaçao um preço de monopÕlio. Para dizer de forma rápida,~
ma terra mais prÕxima do centro consumidor e mals fértil
permitira a geração de um lucro maior, e por lsso o seu
proprietário cobrara do arrendatário um aluguel (uma ren-
da) mais alto. Esta claro portanto que o aluguel signifi
ca uma subtração do lucro gerado pela atividade produtiva
(atividade agrícola, por exemplo) em benefício do proprl~
tario de um recurso necessário e não reprodutível (proprie-
tário da terra, por exemplo).
Verifiquemos agora a natureza de uma varla
vel economlca de grande significação: os juros. Na econo-
mla capitalista, o dinheiro ganha uma utilidade especial;
alem de permitir a compra de qualsquer mercadorias (utili
dade enquanto meio de circulação), o dinheiro permite a
geraçao de mais dinheiro (utilidade enquanto capital) .Ne~

sa economia, todo dinheiro e potencialmente mais dinheiro,


no sentido de que todo dinheiro poderá ser introduzido no
circuito da circulação do capital. Se alguém tem uma "boa
idéia" para obtenção de lucros, através da crlaçao de um
dado empreendimento industrial, mas nao tem o dinheiro (ou
seJa, o capital) necessarlo, e se outra pessoa qualquer
tem o dinheiro e nao se interessa por qualquer empreendi-
menta produtivo, entao o segundo pode emprestar ao prlme~

ro, viabilizando assim o surgimento do lucro industrial


nada mais natural e justo que o segundo seJa remunerado,
que receba um juro pela cessão do valor do uso do dinhei-
ro. Se lembrarmos do capital usurário, o mesmo era moral-
mente condenado por ser um parasita; agora, o capital a
juros tem outra natureza, uma natureza tipicamente capit~

lista, e nao e mais passível de condenação moral. o moder


no sistema de credito tem como função prover os capitali~
tas produtivos de recursos, seja para utilização como ln-
vestimento (aquisição de bens de capital), seJa para co-
brir as necessidades correntes (capital de giro). E a re-
- 36 -

muneraçao dos capitalistas proprietários de dinheiro (ca-


pital bancário) se dá através do juro, que e - uma parte
do lucro gerado nas atividades produtivas.
Fica esclarecido que o aparente mistério
da forma capital a juros, onde o dinheiro é valorizado de
forma direta, sem intermediários, é novamente desvendado.
.
Na forma de capital usurar:to, - o juro representa uma tran~

ferência de riqueza pré-existente para as mãos do usurá -


r:to; na forma moderna de capital a juros, o juro signifi-
ca a distribuição, ao capital bancário, de uma parte do
lucro bruto gerado nas atividades produtivas:

bD (lucro industrial)
D---- M D + bD
1

,...;
Cll
p..
·~
()
(juros)
ç::
·G I
p..~
__VI
D <t:------ --------
D + bD
2
FIGURA 11

Através dos juros, podemos ilustrar ma:ts u-


ma vez a idéia de que "o s preço s traduz em r e 1 açÕes sociais ;•
nesse caso, trata-se das relaçÕes entre capitalistas prod~
tivos, pagadores de juros e banqueiros, recebedores de Ju-
ros" (14). Nas economias capitalistas onde os capitais ban

(14) Trata-se evidentemente, de uma simplificação. Na ver-


dade, salvo o caso da parcela dos depósitos ã vista (nãore
munerados) que os bancos utilizam para oferta de emprésti-
mos, os banqueiros recebem a diferença entre os Juros que
pagam na captação e o que recebem na aplicação; a essa di-
ferença dá-se o nome de "over-head". Também é necessário
frisar que todos os capitais, independentemente de sua fo~

ma básica (agrícola, industrial ou comercial) também podem


receber juros; basta que apliquem seus recursos no setor
financeiro.
- 3 7 -

cários e industriais têm proprietários nitidamente separa-


dos, existe um conflito latente entre os interesses dessas
duas formas de capital, que, em determinados momentos, po-
de transformar-se em conflito aberto. Numa época de crise,
quando as taxas de lucro caem, se, por razoes que podem e~

tar ligadas ã política economlca, as taxas de juros sobem,


como ocorreu no Brasil na la. metade da década atual, e no
19 semestre deste ano de 1987, abre-se um conflito entre
os interesses de banqueiros e industriais.
.
ApÕs termos ampliado nossa Vlsao acerca dos
-
custos indiretos, vejamos a composiçio do Valor Total da
Produçio de uma empresa qualquer, ou do preço de uma merca
doria qualquer, se pensarmos em termos unitários.

a) Custo Total
a ) Custo Direto
1
Salários
Insumos industriais
a ) Custo Indireto
2
Depreciaçio
Publicidade
Aluguéis
Juros
Ordenados ( "over-heads ")

Etc.

b) Lucro Total

c) Valor Total da Produção (= a + b).

2.5 - CÁLCULO DO RETORNO DO INVESTIMENTO

Já Vlmos o método para o cálculo do retorno


de um investimento baseado no "número de anos necessários
para o retorno do investimento original" (15) Todavia,
este método denominado 'pay-back' contem importantes
limitaçÕes. Vejamos quais. as limitaç;es do meto-

(15) J.C.Hoop, op. cit., p. 11.


- 38 -

do, utilizando as argumentaçoes contidas no já mencionado


trabalho do Prof. J. C. Koop, da FGV:
"Suponha que estao sendo considerados dois
projetos por uma firma. Cada um exige um investimento de
Cz$ 1.000. Os fluxos lÍquidos de caixa dos investimentos
sao mostrados abaixo:
Fluxos lÍquidos de calxa (lucros lÍquidos
depois do imposto de renda mais depreciação)

ANO A B

1 Cz$ 500 Cz$ 100


2 400 200
3 300 300
4 100 400
5 500
6 600

1
O período de payback' e o numero de anos
que leva para uma firma receber o seu investimento origi -
nal. O período de 'payback' e 2 1/3 anos para o projeto A
e 4 anos para o projeto B.
Embora o período de 'payback 1 seja bastante
fácil de ser calculado, ele pode nos levar a decisÕes erra
das. Conforme e mostrado no exemplo, ele ignora o lucro a-
1
pÓs o período de payback'. Se o projeto dará os melhores
resultados nos Últimos anos, o uso do período de 'payback'
pode nos levar a decidir pelo investimento menos vantajo~o.
1
Os projetos com perÍodos de 'payback mals longos sao ca-
racteristicamente aqueles que envolvem planejamento a lon-
go prazo - desenvolvimento de um novo produto ou a entrada
em um novo mercado. Estas são exatamente as decisÕes estra
tegicas que determinam a posição fundamental da empresa,
mas também envolvem investimentos que não darão os seus
maiores retornos por um certo número de anos. Isto signifi
ca que o método de 'payback' pode ser parcial com relação
ao investimento que e o mais importante para o sucesso da
firma a longo prazo.
Uma outra limitação do uso de meto do de
- 3 9 -

'payback' para classificar as propostas de investimento e


a de nào considerar o fator juros. Para exemplificar, va-
mos considerar dois ativos, X e Y, cada um custando
Cz$ 300,00 com os seguintes fluxos de caixa:

ANO X y

1 200 100
2 100 200
3 100 100

Cada projeto tem um' payback' de dois anos;


portanto, ambos parecem ser vantajosos. Entretanto, nos sa
bemos que um cruzado hoje vale ma~s que um cruzado no pro- -
ximo ano, e ass~m o projeto X, com um fluxo de caixa ma~s

rápido e certamente mais vantajoso" (16)


Observe-se que o autor refere-se ao fato de
que "um cruzado hoje vale ma~s que um cruzado no próximo a
no" tendo em conta apenas o fator juros, sem considerar a
questão da evolução do nível geral de preços, ou seJa, da
inflação. Trata-se, simplesmente, do seguinte: .
como Ja - v~-

mos, todo dinheiro, na economia capitalista, e potencial -


mente mais dinheiro, e essa transformação de D em D + ~D e
feita no tempo, obviamente. A cessão do valor de uso do di
nheiro enquanto capital tem como contrapartida o recebimen
to de juros. Por isso, todo dinheiro e potencialmente rec~
bedor de juros ao longo do tempo. Se, para usar o exemplo
hipotético do autor, eu tiver que escolher entre o projeto
X ou o Y, devo considerar que os Cz$ 200,00 recebidos atr~

ves do projeto X no ano 1 poderão ser aplicados ã taxa de


juros de mercado (i) ' transformando-se em 200 (1 + i) no a
no 2 . No caso do projeto X, o montante a ser aplicado ser a
Cz$ 100,00, que se transforma em 100 (1 + i) no ano 2.0ra,
200 (1 + i) + 100 -e ma~or do que 100 (1 + i) +
e' POE_200,
tanto, o projeto X e mais vantajoso. Esta mesma conclusão
pode ser obtida calculando-se o Valor Atual dos Fluxos de
Rendimentos dos projetos X e Y ã taxa de juros de mercado

(16) J. C. Hopp, op.cit., p. 12-13


40 -

(i); sabemos que no projeto X o fluxo futuro de rendimen-


tos (R) e:

Rl 200 (rendimento ao final do 19 ano)

R2 100 (rendimento ao final do 29 ano)

R3 100 (rendimento ao final do 39 ano)

Se a taxa de Juros anual e -


en ta o os 200
(i) '
que serao obtidos ao final do 19 ano valem hoje ( conceito
de ValoY Atual ou Valor Presente) 200/(l+i). Isto porque 200/(l+i)apli
-
cados à taxa 1. transformar-se-ão em 200 em um ano. Os 100 que ser ao
2
obtidos ao final do 29 ano valem hoje 100/(l + i) , pois
essa quantia, que podemos chamar de Z, se aplic<'!da ã taxa
de juros anual transformar-se-á em Z (1 +i) (1 +i), ou seja,
2
Z(l + i) , que e igual a 100. Segundo o mesmo raciocínio
os 100 que serao obtidos ao final do 39 ano valem hoje 100
3
/(1 + i) . Portanto, o Valor Atual do Fluxo de Rendimentos
esperados para o caso do projeto X (VAX) e:

200 100 100


+ +
(1 + i)

Ja o mesmo Valor Atual para o caso do proj~

100 200 100


+ +
2 3
(1 + i) (1 + i) (1 + i)

Como VAX > VAY, o projeto X revela-se ma1.s


vantajoso.
Em virtude dos defeitos apontados para o me
todo 'payback', foram desenvolvidas as técnicas de fluxo
de caixa descontado. O primeiro método que veremos e o cha
mado Método do Valor Presente LÍquido, ou simplesmente Me-
todo do Valor Presente. Por este método, determina-se o Va
lor presente dos fluxos lÍquidos de caixa previstos de um
investimento, descontado ao custo do capital (taxa de Ju-
ros de mercado i) e subtrai-se o custo de investimento do
- 41

projeto:

Rl R2 R
n
VPL ----- + + + c
(l + i) (1 + i)2 (l + i)n

n R
t
I - c
t=l (l + i)t

R fluxo lÍquido de calxa no ano t


t
i custo de capital (taxa de JUros de me r
cado)
c custo de investimento do projeto
n vida prevista do projeto

Se o VPL for negativo, isto significa que o


Valor Presente do Fluxo de Rendimentos Previstos e inferi-
or ao Custo de Investimento do Projeto. Evidentemente, tra
tando-se de um projeto com rentabilidade prevista menor que
a taxa de juros de mercado, o mesmo deverá ser rejeitado
sumariamente. Tratando-se de projetos alternativos com VPL
positivos, deverá ser escolhido, e claro, aquele com VPL
mais elevado.
Se considerarmos, na fórmula do VPL, que es
te e igual a zero (VPL = O), e que a taxa de desconto e (r),
te mos:

R
n t
o 2:
t
- c
t=l (l +r)

R
n t
C = I
t
t=l (l + r)

Esta fÓrmula dá orlgem ao chamado Método da


Taxa de Retorno Interno. Esta taxa (r) e definida como a
taxa d e d e s c o n-t o q u e i gu a 1 a o va 1or a t ua 1 do s r e t o r no s p r~
vistos ao custo do investimento. Evidentemente, quant0
- 42 -

maior (r) ma1s interessante ~ o projeto, po1s sLgnLrLca u-


ma maior relação entre os retornos previstos e o custo do
investimento, ou seja, maior taxa de lucro prevista. Uma
coisa importante a considerar ~ que se a taxa interna de
retorno (r) for menor que a taxa de juros de mercado (j)
tem-se o mesmo caso visto anteriormente quando VPL < O, ou
seja:

n
valor atual do fluxo de rendi
t=l (1 + i) t
mentos futuros descontado a
taxa de juros de mercado(VA.)
1

R
n t
2: valor atual do fluxo de rendi
t
t=l
a-
(1 + r)
mentos futuros descontado
taxa interna de retorno (VA ) ,
r
sendo VA = C.
r

Se r < i, entao VA. < VA , ou VA. < C. Na


1 r 1
formula VPL, teremos:

VPL = VA. - C~ VPL < O.


1

Da mesma forma que quando VPL < O, se r < i


o projeto deve ser rejeitado.
Observamos através das técnicas de fluxo de
caixa descontado um papel econômico essencial da taxa de
juros. Esta taxa, dada a natureza do mercado financeiro (o
ferta e demanda de crédito), é conhecida por todos. Além
de ser conhecida, trata-se de uma rentabilidade que qual-
quer capital-dinheiro pode conseguir. Assim sendo, a taxa de
juros corrente passa a se constituir num patamar m1n1mO
ra a remuneração de todos os capitais. Em outras palavras,
nenhum capitalista investe em qualquer atividade produtiva
se nao tiver expectativa de conseguir uma rentabilidade su
perior a taxa de juros corrente.
.
Outra consideração necessar1a e a
- - seguinte:
salientamos anteriormente a importância da taxa de lucro
para a açao empresarial, e para a teoria econômica, e ilus
- 43

tramas apenas com o método do 'payback'. Tendo visto outros


métodos, a importância da taxa de lucro se mantem, pols o e
lemento fundamental -e sempre a relação entre os retornos pr.::_
vistos e o total do capital investido.
Finalizando, lembramos o seguinte: e- muito
. -
.
simples o racloclnlo sobre a decisão de investimento (a paE_
tir de projetos alternativos) dado o fluxo lÍquido de caixa
previsto. A questão economlca essencial no caso e a seguln-
te: como prever os retornos futuros? Esta previsão -e feita
necessariamente sob incerteza, e isto fornece uma grande in~

tabilidade ao investimento privado e conseqUentemente ã ec~


nomia capitalista. O aprofundamento dessa questão caracteri
zou a grande contribuição de Keynes ao pensamento economlco.
- 44 -

CAPÍTULO 3 - PREÇO E PADRÃO DE CONCORRÊNCIA

3.1 - CAPACIDADE PRODUTIVA E CUSTOS

Para a determinação do preço, existe um ele


mento básico que deve ser conhecido pelo empresário,o qual
estabelece um limite mínimo para esse preço: o custo unitá
rio de produção, ou custo médio. A consideração de que o
~ .
custo unitário de produção estabelece um limite m~n~mo pa-
ra o preço baseia-se no fato bastante evidente de que, se
preço < custo unitário de produção, entao a empresa ope-
ra com prejuízo. Todavia, é bom lembrar que, como já vimos,
a taxa de juro corrente estabelece um p~so para a remunera
çao de todas as formas de capital; não basta ao empresar~o

ter algum lucro; é necessário obter uma taxa de lucro que


supere a taxa de Juro, pois, caso contrário, seria ma~s

vantajoso aplic&r o capital a juros ao invés de aplica--lo


produtivamente. Alem disso, existe um outro elementode com
paraçao para todos os capitalistas produtivos (não exclusi
vamente financeiros), qual seja, a taxa media de lucro da
econom~a. Essa taxa, enquanto magnitude, nao está disponí-
vel para o conhecimento dos empresários como a taxa de ju-
ro; trata-se, porem, de algo que está sempre presente como
preocupaçao. Podemos ilustrar a questão da seguinte manei-
ra: imaginemos que uma empresa industrial qualquer ofereça
uma taxa de lucro (superior à taxa de juro) de 10% a.a.(em
termos reais), enquanto a taxa media de lucro da economia
é de 20% a.a.; deverá o proprietário da empresa sentir-se
satisfeito? A conclusão desses comentários é que o limite
mÍnimo do preço não é algo tão simples como colocamos aci-
ma; todavia, é evidente a necessidade de que o custo unit~

r~o de produção seja conhecido, para que o preço possa ser


determinado de forma a se obter algum lucro (são até co-
muns os casos de empresas industriais de pequeno e médio
porte no Brasil que, em virtude de grande ineficiência or-
ganizacional, desconhecem os reais custos de seus produtos,
- 45

e estabelecem preços que podem nao alcançar os prÓprios cus


tos) .
Esclarecida a importância do conhecimento do
custo unitário de produção, vamos agora conhecer seu compo~
tamento; - .
para isto e necessarlo -
fixar o conceito de capaci-
dade produtiva:
"A capacidade produtiva de uma empresa e de-
terminada pelo montante de instrumentos de produção de que
ela dispÕe. Mas a capacidade produtiva se mede pela quanti-
~

dade de bens ou servlços que pode ser gerada num dado perl~

do de tempo - digamos, num dia normal de trabalho. Acontece,


porem, que o dia normal de trabalho pode ter diferentes di-
mensÕes de tempo, de acordo com as caracteristicas t~cnicas
das empresas. Para muitos ramos de atividade, o dia normal
' .
de trabalho corresponde a um unlCO -
turno de oito horas du-
rante cinco ou sels dias da semana; para outros, equivale a
dois turnos de oito horas, e ainda, para outros ramos, cor-
responde a três turnos de oito horas durante todos os dias
da semana, como acontece, por exemplo, nas siderúrgicas, on
de os altos fornos têm que funcionar ininterruptamente. As-
sim sendo, para medir a capacidade produtiva de uma empresa
devemos tamb~m levar em conta suas características t~cnicas;
não podemos dizer, por exemplo, que duas empresas têm ames
ma capacidade produtiva simplesmente porque dispÕem de um
mesmo volume de capital fixo" (17)
"A capacidade" de uma indústria ~ nele defi-
nida (num estudo do Brookings Institution de 1934) como a
produção que esta poderia apresentar durante um dia de tra-
balho, com o número de turnos usualmente requerido na indús
tria, e com um padrão adequado de manutenção
(isto e ' consl -
derando as paralisaçÕes necessarlas para reparos, etc.)'~lS)

(17) J. Kiglioli, S.Silva, L.G.M.Belluzzo: O funcionamento


da economia capitalista. Cap. 5: Preço e Lucro,UNICAMP,
mimeo, p. 20-1.
(18) Jós~ph Steindl: Maturidade e Estagnação no Capitalismo
Americano - Os Economistas - Abril Cultural, 1983, p.
16.
- 46 -

Dada a capacidade produtiva de uma empresa,


quando se utiliza menos que essa capacidade, ocorre a cap~

cidade ociosa, cuja significação econômica será esclareci-


da mais à frente.
Verifiquemos agora o comportamento do custo
unitário de produção quando a produção varia; em outras p~
lavras, o que acontece com o custo unitário quando varia o
grau de utilização da capacidade de uma dada empresa (esta
capacidade ~ considerada um dado). Chegaremos então a esta
belecer a curva do custo em função dos diferentes niveisde
produção de uma planta dada; para tanto, ~ necessário divi
dir o Custo Total em dois componentes: o Custo Fixo e o
Custo Variável:

Custo Fixo: É aquele que nao se altera com o volume de


produção (exemplo: aluguel, empregados admi-
nistrativos).
Custo Variável: É aquele que varla de modo diretamente
proporcional ao volume de produção (exemplo:
mat~rias-primas, energia el~trica, força de
trabalho empregada diretamente na produção).

Essa divisão comporta algumas "regiÕes de


sombra", ou seJa, existem alguns custos que não ficam de
forma inequívoca do lado dos custos fixos ou dos .- .
varlavels;
um bom exemplo é o dos supervisores, pois haverá um numero
mínimo de supervisores, independentemente da quantidade pr~

duzida (esse número mínimo pode ser 1), e uma variaçao a


partir daÍ, dependendo da produção. Para essas casos, foi
criado o conceito de custos semi-variáveis.
Vejamos, a título de ilustração, como foram
divididos os custos para o caso de uma fábrica de celulose,
num trabalho prático efetuado pelos Professores L.E.G.Bar-
richelo, C.E.B.Foelkel e R.Berger, da ESALQ-USP:

1. Cus tos Fixos


1.1. Mão-de-Obra indireta
1. 2. Seguro
1. 3. Manutenção
1. 4. Honorários de diretoria
- 4 7 -

1.5. Juros sobre financiamento a longo


prazo
1.6. Despesas administrativas
1.7. Depreciação do investimento fixo.

2. Custos Variáveis
2.1. Matéria-prima
2.2. Materiais secundários
2.3. Energia elétrica
2.4. Lubrificantes
2.5. Material de embalagens
2.6. Mão-de-obra direta
2. 7. Combustíveis
2. 8. Serviços bancários
2.9. Juros sobre o capital circulante.

Podemos verificar que, a exceçao dos servl-


ços bancários edos juros sobre o capital circulante, o Cus
to Variável coincide com o Custo Direto, e que o Custo Fi-
XO e sempre Custo Indireto.
Coloquemos agora de forma gráfica a varla-
çao dos Custos Fixos e Variáveis de acordo com a quantida-
de produzida. Iniciemos com os Custos Fixos. O gráfico do
Custo Fixo Total e, obviamente, o seguinte:

CFT

Quantidade (Q)

GRÁFICO 3
- 48 -

O Custo Fixo Unitário, ou seja,

Custo Fixo Total


Quantidade Produzida

terá o seguinte gráfico, pois trata-se de uma função do ti

a
po: y = X

CFU

Q
GRÁFICO 4

Em termos economicos, temos que o Custo Fi-


xo Total vaL sendo rateado por uma quantidade crescente de
produtos, daí o sentido decrescente da curva do Custo Fixo
Unitário; sua forma hiperb6lica significa q~e, quando apr~
dução aproxima-se de zero, o Custo Fixo Unitário assume um
valor extremamente elevado; aumentos na quantidade produzi
da irão gerar reduçÕes proporcionalmente elevadas no CFU;
todavia, quando a produção ja estiver num nível elevado,a~
mentos subseqUentes irão gerar reduçÕes cada vez menores
(em termos proporcionais) no CFU.
Para o caso do Custo Variável, sua varLaçao
em relação ao volume de produção foi motivo de estudos em-
pÍricos que conformaram a hip6tese de Michal Kalecky de
- 49

que a sua varlaçao ê linear: "Foram realizados lnumeros es


tudos sobre custos, com base em dados sobre custos de em-
presas ind~viduais durante vários anos, indicando a rela-
ção entre custo e produção. O resultado desses estudos, de
maneira geral, mostra que em todos os níveis de produção v~
rificados nas firmas estudadas o custo total e uma função
linear da produção. (19)
Em uma apostila elaborada pelo Prof. J. C.
Hopp, da EAESP/FGV, lemos: " não há, praticamente, qual
quer dÚvida a respeito da hipÓtese de que os custos variá-
veis mudam de uma quantidade constante por unidade produzi
da" (20)
Graficamente temos: para o Custo Variável
Total (CVT)

CVT

Q
GRÁFICO 5

(19) J. Steindl, op. cit., p. 18-9.


(20) "Conceitos da análise do ponto de equilíbrio - conta-
dores versus economistas"- EAESP/FGV,mimeo,s/d,p.2.
50-

É Óbvio que a Curva do Custo Variável Unitá


r1o (CVU) -
sera:

Q
GRÁFICO 6

sendo~ igual ã inclinação da reta do CVT (a.= tga).


Podemos agora chegar às curvas do Custo To-
tal e do Custo Unitário Total. Para desenhar a curva do
Custo Total, e necessário somar as curvas do Custo Fixo Fi
nal e do Custo Variável Total (Custo Total = Custo Fixo To
tal + Custo Variável Total):
- 51 -

CFT

CVT

CT

- - - - -- --- -- ----- -----

Q
GRÁFICO 7

Da mesma forma. a curva do Custo Unitário


Tota~ (CUT) e obtida a partir da soma das curvas do Custo
Fixo Unitário e do Custo Variável Unitário (CUT = CFU +

+ CVU) .
- 52 -

CFU

cvu

CUT

Q
GRÁFICO 8
- 53

Observamos que a curva do CUT e assintótica


a um eixo horizontal representado pelo Custo Variável Uni-
tário. Podemos esclarecer, a partir da curva desenhada, o
papel dos custos fixos e variáveis na determinação do cus-
to unitário. Quando a quantidade produzida é muito pequena,
o Custo Fixo Unitário é muito elevado, e possui papel pre-
ponderante na determinação do Custo Unitário Total. À medi
da que aumenta a quantidade produzida, o Custo Fixo Unitá-
rio vai se reduzindo, e o peso relativo do Custo Variável
Unitário vai aumentando na determinação do CUT.A partir de
uma dada produção, o CFU tende a se estabilizar numa magni
tude pequena, e o CUT passa a se constituir fundamentalmen
te de Custo Variável.
Verifiquemos melhor, todavia, a forma dacur
va do Custo Unitário Total. Em primeiro lugar, a extremida
de esquerda da curva é desenhada de_forma assintótica ao
eixo, posto que, com uma quantidade próxima de zero, o Cus
to Fixo Unitário e imenso (trata-se, na verdade, de algo i
nimaginável - imaginemos o Custo Fixo Unitário de uma side
rúrgica produzindo 1 tonelada de aço ao ano). Quanto à ex-
tremidade direta da curva, e preciso adicionar o seguinte:
o Custo Unitário Total vai caindo (rapidamente no começo e
depois de forma cada vez mais lenta) ate que se chega ao
ponto em que a empresa utiliza plenamente sua capacidade
instalada. Em princípio, a produção não poderia continuar
aumentando. "Acontece, entretanto, que a capacidade produ-
tiva de uma empresa nao e uma magnitude assim tão rígida
Embora o existente equipamento de capital imponha determi-
nados limites ao volume máximo de produção, e sempre possi
vel esticar um pouco esses limites (diz-se, nestes casos
que as empresas estão operando com superutilização de sua
capacidade produtiva). Mas ê provável também que, ultrapa~
sado o que poderíamos chamar de limite 'normal' da capaci-
dade produtiva, os custos unitários da produção comecem a
crescer (portanto, a curva torna-se ascendente). Isto se-
ria assim porque, por exemplo, com a superutilização do e-
quipamento, aumentam os gastos de manutenção, e, tendo de
- 54 -

trabalhar horas extras, os empregados recebem adicionais


de salário superiores a seus· salários normais" (21)
Chegamos entao, finalmente, à conhecida cur
va em U do Custo Unitário Total.

CUT

Q
GRÁFICO 9

Finalizamos esse texto com a seguinte obser-


vaçao de Kalecki: "Consideremos urna firma com um dado capi-
tal fixo. SupÕe-se que a oferta seja elástica, isto e, que
a firma opere com capacidade ociosa e que os custos diretos
(custos de materiais e salários - os ordenados se incluem
nos custos indiretos) por unidade produzida sejam estáveis
para a amplitude relevante da produç~o''. (Em nota de rodap~
o -autor afirma: "na verdade, os custos diretos unitários ca-
em um pouco, em muitos casos, à medida em que a produç~o au
menta. Fizemos abstraç~o dessa complicaç~o, que nao e de
grande impor t â n c i a no caso ") ( 2 2")

( 21) J. M iglioli S. Silva e L. G. Belluzzo, op. cit. Cap.S,


p. 28.
(22) M. Kalecki - Teoria da Dinâmica Econômica. Os Pensado-
res, Abril Cultural, 1976, p. 62.
- 55 -

Essa observação sera importante no estudo


da determinação do preço em Kalecki, para quem a divisão
fundamental dos custos e entre custos diretos e indiretos.
A importância reside no fato de que, como Ja vlmos, com o
crescimento da produção para uma dada planta industrial, o
custo unitário passa a ser quase somente composto de custo
variável unitário; como já Vlmos, . .
esse racloclnlo-pode ta~

bem ser aplicado para o caso dos custos diretos e indire -


tos • Adicionando o conceito de "ramo relevante da produção','
ou seja, aquele que, por razÕes históricas, entra como po2
sibilidade no cálculo capitalista, teremos o seguinte grá-
fico:

CUSTO
UNITÁRIO
DIRETO

ramo relevante Q
da produção

GRÁFICO lO

3.2 - O CUSTO UNITÁRIO AO LONGO DO TEMPO

Já Vlmos que o custo unitário pode ser visto


como-o limite inferior do preço. Quanto à-L -- .
tendencla do cus-
to unitário direto ao longo do tempo, vale reproduzir o tre
cho abaixo:
"Para ampliar suas vendas (e conseqUentemen-
- 56 -

te seus lucros) uma empresa prec~sa conquistar uma parcela


do mercado suprido por outras empresas. Esta competiçãopor
mercado ê, na realidade, a competiçao pelos lucros, em que
o aumento dos lucros de umas empresas pode significar a di
minuição dos lucros das outras empresas. E nesta competi -
çao por mercados a redução de custo constitui uma arma de
extrema importância , visto possibilitar um rebaixamento de
preços e, assim, uma elevação do volume de vendas e de lu-
cro.
Evidentemente, todas as empresas (falandoem
geral) procuram reduzir seus custos, de um modo ou de ou-
tro, porque isto permite-lhes aumentar seus lucros. Se,por
hipótese, o preço de seus produtos não se altera, entao u-
ma diminuição de custos implica automaticamente um acrêsci
mo de lucros. Se, por outro lado, uma redução de custos pe~
mite uma baixa de preços e daí uma ampliação do volume de
vendas, os lucros também devem crescer. Assim, e uma carac
terística das empresas que elas procurem diminuir seus cus
tos, como uma forma de ampliar seus lucros.
A redução do s cus to s faz parte da pró p r ia l ó
gica de funcionamento do sistema capitalista, visto ser um
dos mecanismos utilizados pelas empresas para ampliar seus
lucros.
Sendo a redução de custos um elemento funda
mental na lÓgica de funcionamento das economias capitalis-
tas, e de esperar-se que tal redução venha efetivamente o-
correndo ao longo da história destas economias. E isto o-
corre de fato. A competição dos capitalistas entre si pela
apropriação de ma~ores parcelas do lucro total e a competi
ção entre capitalistas e trabalhadores na divisão da renda
total em lucros e salários constituem os principais gerad~
res do progresso técnico no processo de produção, progres-
so este que, por sua vez, se traduz na constante diminui -
ção dos custos ao longo do tempo. Assim, a produção (medi-
.
da em horas de trabalho necessar~as -
para efetuá-la) e hoje,
em todos os setores da economia, realizada a custos mais
baixos do que em qualquer outro momento da história"(23)

(23) J.Miglioli, S.Silva e L.G.M.Belluzzo- op.cit. Cap.S


p. 7 - 8
- 57 -

Como podemos observar ao final da citação a


c~ma, o custo que inequivocamente se reduz por efeito da
concorrencia é o custo unitário direto. - dese
Podemos entao
nhar o seguinte gráfico:

CUSTO
UNITÁRIO
DIRETO

Tempo
GRÁFICO 11

Vejamos a segu~r o mecan~smo crucial da con


correnc~a intercapitalista, determinante do fenômeno da re
dução dos custos diretos; nessa primeira aprox~maçao a- con
correncia entre os capitais, iremos nos referir à forma de
concorrenc~a típica da fase conhecida como capitalismo con
correncial.

3.3. CONCORRfNCIA INTERCAPITALISTA: UMA PRIMEIRA APROXIMA-


ÇÃO

Procuramos neste Ítem esclarecer o caráter,


a natureza da concorrenc~a intercapitalista. Para nosso ra
ciocínio, e importante supor o seguinte: estamos no século
XIX, época conhecida como fase do capitalismo concorren -
cial; nesse caso, o numero de empresas concorrentesno mer
cado é grande, o tamanho das empresas é reduzido (pequena
escala de produção), o produto apresenta reduzido grau de
- 58 -

diferenciação, e os agentes economicos (empresas e consumi


dores) possuem informaçÕes sobre a situação do mercado,fu~
damentalmente sobre os preços cobrados pelos diferentes pr~

dutores.
Pois bem, dados os pressupostos ac~ma, pod~

mos ~mag~nar a seguinte situação da indÚstria (conjunto de


firmas que concorrem entre si) no perÍodo t todas as em-
o
presas trabalham com a mesma técnica de produção, possuin-
do a mesma estrutura de custos (obviamente estamos nos refe
rindo aos custos diretos); também todas cobram o mesmo pr~

ço, e têm, em conseqUência, o mesmo lucro unitário. Ilus


tremes essa situaçao:

o
·r-<
)-I
\{1j
.w
·H
>:: l 2 i

o
(.)'\
Q)
H~--------i
o
.....
)-I )-I
p., \ {1j
.w
·r-<
>::
;:J

o
.w
' (fJ - - - - - --'-------l
:::l
u
FIGURA 12

Passemos agora para o momento t ; ocorre a


1
seguinte mudança: o capitalista l introduziu progresso tec
nologico- ao nível do processo produtivo: trata-se do co-
.
nhecido empresar~o -
inovador de Schumpeter. Essa nova téc-
n~ca, digamos, uma nova máquina, ma~s eficiente, permite,a
um só tempo, aumento de produtividade do trabalho e redu-
ção do custo unitário (é importante ter em conta que a ~n­
trodução de progresso técnico, ao nível de processo, reduz
inequivocamente o custo unitário direto - materiais e mao-
- 59 -

de-obra; nada se pode afirmar sobre os custos indiretos)


Para dar conta de vender sua produção incrementada, o em -
- .
presarlo 1 reduz seu preço, forma tÍpica de concorrencla
na fase capitalista concorrencial. Dessa maneira, puxa p~

ra si compradores de seus concorrentes, supondo, como -e


plausível, dados os pressupostos com os quais trabalhamos,
que sua produção cresça mais rápido que o mercado da ln-
dústria.
Quanto aos concorrentes, têm eles duas al-
ternativas imediatas, ambas rulns: vender ao preço ante
rior e perder compradores, ou reduzir o preço e perder o
lucro; se entrarem em uma competição em preços,na situação
em que se encontram, poderão chegar rapidamente na faixa
de prejuízo.
Ilustremos o momento t :
1

2 i
1
oo{
:....·,..{
C,) :....

,.....
f;K o
cr
;:l\Cil
,...:i.W

oj
(})
"ü (})

:....

l~~
o
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"l
(})
:....
o.. rJJ 1-<
;:l\Cil
U·r-{ u.w
u
' § ~
·,..{
~
;:l -----
FIGURA 13

Notamos pela ilustração que o capitalista 1


pode reduzir o seu preço e ainda aumentar sua margem de
lucro; basta para tanto que o custo unitário diminuía mals
rapidamente que o preço.
Observemos que a açao do empresarlo 1 está
tendo efeitos importantes no mer~ado e, enquanto ele ti-
ver o monopÕlio da nova técnica, abocanhará um lucro ex-
traordinário, que deixará de existir quando a nova técni-
ca for amplamente difundida, o que explica seu interesse
em manter esse monopôlio. Qual a saÍda para os concorreu
tes?
-60

Introduzir a nova técnica, de forma a per-


manecer no mercado; fatalmente, aquele que nao fizer lsso
será expulso do mercado; chegará um dia em que tera que
fechar por absoluta falta de competitividade.
Ent~o, chegaremos a um momento t
, onde tu
2
do se equilibra, com nova técnica difundida, menos empre-
sas no mercado, menores custos e preços mals baixos. Essa
nova situaçao permanece por algum tempo (noç~o de equilí-
brio) ate que seJa superada novamente por alguma outra i-
novaç~o? A resposta e nao, . .
pols a concorrencla e um pro
-
cesso dinâmico; ao invés de se chegar a um novo equilíbri
o, o que se tem é um permanente desequilíbrio. Vejamos: o
empresário 2 pode, ao invés de procurar alcançar o l, pr~
curar supera-lo, reduzindo ainda mals seu custo unitário;
já o empresário 1, por ter saído na frente, possui vanta-
gens em relaç~o aos demais; acumulou recursos a título de
lucros extraordinários durante algum tempo, e tem conheci
mento mais desenvolvido da técnica mals avançada. Pcrtan-
to, pode ir ã frente, antes que se difunda a técnica ante
.
rior. É bom salientar que essa vantagem e lnequlvoca -
ape- -
nas no caso em exame, em que as escalas de produção sao
pequenas, e s~o reduzidas as massas de capital investidas
em capital fixo, tanto em termos absolutos quanto em rela
çao ao capital total. Isso permite maior facilidade na mu
dança técnica quando alguma inovaç~o importante nos pro
cessos aparece em cena. Caso contrario, se o montante in-
vestido em capital fixo for muito vultoso, o .-
empresarlo
que introduz a inovação fica "preso" ã técnica lncorpora-
da, pois a lncorporaçao de nova tecnologia, logo após, lm
plicaria em desvalorizaç~o de um montante bastante grande
de capital.
Vale a pena menclonar que, no caso do cap~

talismo concorrencial que estamos examinando, os proces


sos de incorporação e difus~o do progresso técnico, com
incremento da produtividade social do trabalho,levam a um
movimento contínuo de redução do preço. Existe, portanto,
um paralelismo entre os movimentos de elevação da produti
vidade e redução no preço, o que permite que os benefí -
- 61 -

cios do aumento da produtividade sejam difundidos pela e-


conom~a (não seJam "represados" pelas empresas).
Depois de um certo tempo, relativamente lon
go, de acordo com o que estamos mostrando, podem ter saído
var~as empresas do mercado, e as que ficaram têm uma esca-
la de produção bastante grande. A concorrência intercapit~
lista levou, portanto, -
a conc~ntraçao de capitais.
'Fixemo-nos agora em um aspecto essencial da
concorrenc~a intercapitalista: sua beligerância. O famoso
economista polonês Michel Kalecki afirmou com brilhantismo:
!tos capitalistas fazem muitas co~sas como classe, mas, se-
guramente, nao investem como classeft. O que ~sso quer di-
zer? Quer dizer que, em vários casos, como por exemplo na
luta contra a pressão dos sindicatos, contra algumas polí-
ticas do Estado, os empresários agem enquanto classe, po-
rem, na hora de investir, o fazem enquanto concorrentes.
No nosso exemplo hipotético, imaginemos que
o capitalista 3, que nao aguentou a luta da concorrenc~a e
fechou sua fábrica, fosse entrevistado; que e que ele di-
ria? Provavelmente lançaria, ao longo do discurso, alguns
impropérios contra o capitalista 1, que encetou a guerra
de preços que fulminou. Diria que a intenção do concorren-
te era essa mesmo: tomar seus mercados, obrigá-lo a fechar.
Ao longo do processo de concorrência, poderiam ate se en-
contrar em uma reun~ao do sindicato patronal e trata-se cor
dialmente; todavia, na verdade, viam-se mutuamente como ad
-
versar~os.
.

3.4. PREÇO, CUSTO E DEMANDA

Se colocarmos os preços como seguidores dos


custos, caracterÍstica do capitalismo concorrencial, como
j á menciona mo s , e n ta o , "se o s preço s v a o se a 1 te r ando ao
longo do tempo, o mesmo acontece com os preços onde estes
custos se incluem" (24)

(24) J. Miglioli, S.Silva e L.G.M.Belluzzo- op.cit. Cap.S.


p. 8.
I
- 62 -

Preço e
custo u
nitário
direto

Preço

Custo unitário
direto

t Tempo
o
GRÁFICO 12

Todavia, quando - da fixa


se trata da questao
çao do preço por parte do empresário, trabalha-se num de-
terminado momento do tempo (t ) · assim sendo, o custo unl-
o '
tário constitui-se numa grandeza dada: "no momento em que
o preço é fixado, os custos têm uma grandeza específica e
podem, assim, neste momento, ser considerados como constan
tes; os capitalistas devem estar cientes dos custos de pr~

dução neste mesmo momento" (25)


Ora, se preço custo unitário + lucro unl-
târio, e o custo de produção e um dado, entao "o problema
da determinação do preço é fundamentalmente um problema de
determinação do lucro" (26)

(25) J. Miglioli, S. Silva e L.G.M. Belluzzo- op.cit. Cap.


5. p. 9.
(26) J.Miglioli,S.Silva e L.G.M.Belluzzo-op.cit.Cap.5,p.9.
- 63 -

Preço ----->• Limite superior do preço

Preço) custo uni târio lucro

custo unitãri~~-- ~ Limite mlnlmo do preço

Preço< custo unitário


. ~

preJUlZO

FIGURA 14

Sabendo que, quanto malor a distância entre


preço e custo, malor o lucro, o que explica o fato do pre-
ço ser x e nao um outro qualquer superior a x? Em outras
palavras, o que determina o limite superlor ao preço? Este
limite e dado pelo mercado, ou seja, a concorrência inter-
capitalista (que, como veremos, pode ser encarada tanto em
termos efetivos quanto em termos potenciais) impoe que o
preço não deva ser superlor a x. O que estudaremos a se-
guir e justamente a questão do mercado como determinante da
formação dos preços. Tentaremos esclarecer a seguinte que~
tao: como a concorrencia intercapitalista manifesta-se na
demanda pelos produtos de uma dada empresa?
Inicialmente, vejamos o que vem a ser a cur
va de demanda de um produto: trata-se de uma representaçao
gráfica da relação entre preço (p) e quantidade demandada
(ou procurada) (q) de um produto. Esta relação e lnversa,o
que pode ser explicado rapidamente pelo fato de que o au-
mento do preço de uma mercadoria qualquer, "ceteris parl -
bus" (tudo o mais constante), diminui a renda real dos
consumidores, ou seja, seu poder de compra, e -
induz a subs
- 64 -

tituiçao dessa mercadoria por uma outra, refletindo-se es-


ses movimentos numa queda na demanda. Temos então a segui~

te curva de demanda:

q
GRÃFICO 13

3.5. CONCORRENCIA E ~LASTICIDADE - PREÇ~ DA DEMANDA

Imaginemos as curvas de d~manda abaixo, pa-

ra os produtos A e B:

Produto A Produto B

p p

I
-t---
I
I
I
I

q q

GRÃFICO 14
- 65 -

Imaginemos que, num momento t , os preços


o
de A e B sejam iguais a p ; imaginemos em seguida que os
o
preços tanto de A quanto de B subam numa mesma proporção,
passando de p para p . Observamos que, no caso do produ-
0 1
to A, cuja curva de demanda possui baixa inclinação, o au
menta do preço teve um efeito bastante grande na procura;
a redução na demanda foi bastante pronunciada. Já no caso
do,produto B, cuja curva de demanda possui forte inclína-
çao, o efeito do aumento do preço sobre a procura foi ba~

tante pequeno. Verifica-se, portanto, uma maior sensibili


dade da demanda de A em relação ã variação no preço; esta
sensibilidade da demanda ãs variaçoes no preço e denomin~
da elasticidade-preço da demanda, e e medida pelo coefi -
ciente de elasticidade-preço da demanda (e):

variaçao relativa da demanda


e = variaçao relativa do preço

e = 6~ Q/Q
p/p

Como as variaçoes no preço e na quantidade


sao inversas, convencionou-se que o coeficiente de elasti-
cidade-renda da procura deve ser considerado em termos de
modulo:

6 Q/Q
e =I 6 p/p

Vejamos agora as características de mercado


que levam as diferentes magnitudes de e·
No caso do produto A, a elevada elasticida-
de-preço da demanda reflete o fato de que a empresa produ-
tora de A encontra-se num mercado bastante competitivo,com
um grande número de empresas de tamanho bastante homogêneo,
com pequena diferenciação de produtos, ou seja, alto grau
de substituibilidade.
Vale a pena aprofundar a questao da diferen
ciaçao de produtos. Vejamos algumas citaçÕes interessantes:
- 66 -

" nao existem mercadorias exatamente 1.-

guais produzidas por firmas diferentes. Embora qualitativa


mente estas mercadorias possam ser bastante parecidas ou
mesmo iguais (este e o caso principalmente de muitos gêne-
ros alimentícios) existem características externas que as
diferenciam. Estas características podem ser as mais dive~

sas: simples aparencia (em termos de formato, cor, etc.)


embalagem, a marca da empresa produtora, qualidades fictí-
cias atribuÍdas pelos compradores sob a influência da pro-
paganda, e muitas outras" (27)
"(quando o produto e vendido por diversas
empresas) embora existam muitas firmas vendedoras, ca-
da empresa mantém um relativo controle sobre sua parcela da
venda total do produto, porque este - conforme explicamos
anteriormente- apresenta alguma diferenciação de acordo com
a firma vendedora: aparencia _, ~mbalagem, marca de fabri-
cação, hábito de compra dos consumidores, etc. Assim sendo,
cada empresa pode cobrar um preço diferente por seu produ-
to. - pode ser muito acentuada,
Mas a diferença de preço nao
porque embora os produtos das diversas firmas sejam um tan
to diferenciados, eles constituem essencialmente um mesmo
tipo de produto. Se uma firma eleva o preço de seu produto
muito acima da média, ela perderá seus compradores, ou se-
ja, muitos de seus fregueses, mesmo que continuem preferi~

do qualitativamente (pelas razÕes de aparência, embalagem,


etc., mencionadas acima) o produto da firma, passarao a ad
quirir os produtos de outras empresas cujos preços sao
mais baixos. Quantp menos diferenciados forem os produtos
das diversas empresas, mais facilmente uns podem ser subs-
tituídos pelos outros nas preferências dos compradores. É
o que acontece principalmente com os produtos agrícolas.
E neste caso, embora possa haver diferença
entre os preços cobrados pelas diversas empresas, esta di-
ferença tende a ser bastante pequena. Em outras' palavras
podemos dizer que quanto menos diferenciados forem os pro-
dutos das diversas empresas (e, portanto, quando mais fa-

(27) J.Miglioli, S.Silva e L.G.M.Belluzzo -op.cit.,p.ll-12


- 67 -

cilmente uns possam ser substituÍdos pelos outros), malor


ser~ a variaç~o na demanda (compra) do produto de uma de-
terminada empresa em resposta a uma alteraç~o de seu pre-
ço. (Muitos economistas diriam isto numa linguagem mals
sofisticada: a uma menor diferenciaç~o do produto corres -
ponde uma mais alta elasticidade-preço de sua demanda). Ou
seja, no caso de um produto pouco diferenciado, um pequeno
aumento de preço cobrado por uma firma vendedora pode pro-
vocar uma grande queda no volume de suas vendas, assim como uma
pequena baixa no preço pode causar uma consider~vel eleva-
ç~o no volume de vendas. Agora, se cada empresa quisesse
através de reduç~o de seu preço, conquistar o mercado das
demais firmas, isto levaria a uma guerra de preços que po-
deria ser ruinosa para muitas das empresas concorrentes.P~

ra evitar isto, cada firma procura fixar seu preço próximo


do preço médio do produto" (28)
O caso do produto A, de um mercado altamen-
te competitivo, a despeito de refletir a realidade de di-
versos mercados na atualidade, ajusta-se bastante bem as
características do capitalismo concorrencial do século XIX,
como explicitamos anteriormente. O caso limite de um merca
do altamente competitivo ocorre no caso da chamada concor-
r~ncia perfeita, quando a curva de demanda de uma empresa
e horizontal, ou seja, quando a demanda e infinitamente e-
l~stica, como veremos mais ã frente.
Verifiquemos agora o caso do produto B, que
apresenta balxa elasticidade-preço da demanda. Caracteriza
-se agora o fato de que a empresa fabrica um produto alta-
mente diferenciado, dificilmente substituível. Tanto pelas
qualidades inerentes ao produto como pela açao da propaga~

da e pela força de uma determinada marca, crla-se uma de-


manda quase cativa, ou seja, crla-se um contingente de com
pradores fieis cuja disposiç~o ã compra do produto n~o e
sensível ã mudança no preço. Este e o caso de empresas
grande~, com grande controle sobre os mercados; conseqHen-
temente, a consideraç~o de uma baixa elasticidade-preço da

(28) J .Migliolli S. Silva e L.G.M.Belluzzo -op.cit. p. 14-16


- 68 -

demanda ~ da ma1or importincia para a compreensào do pro-


cesso de formação dos preços no capitalismo moderno, ca-
racteristicamente capitalismo com hegemonia da grande em-
presa.
Para entender a mencionada importincia da
baixa elasticidade, façamos uma interrogação inicial:se a
demanda ~ bastante inelástica, qual a vantagem para a em-
presa de uma redução no preço? Segundo Steindl os indus
triais das grandes empresas" estao convencidos de que
a elasticidade-preço da demanda em relação a seus produ -
tos, ~ muito pequena, e que qualquer redução nos preços a
carretaria apenas um pequeno acr~scimo ã quantidade vendi
da. Os empresários, sempre que têm oportunidade de 'admi-
nistrar' os preços, parecem supor que a elasticidade-pre-
ço da demanda ~ baixa. A redução de preços, na tentativa
de aumentar o volume, parece-lhes muitas vezes, quandomui
to, uma aventura arriscada, numa epoca em que os r1SCOS

devem ser evitados" (29)


Vemos então que, se a elasticidade-preço
da demanda ~ baixa para o produto de uma grande empresa
controladora do mercado (administradora de seu preço), en
tão uma redução no preço levaria a um acréscimo menos que
proporcional na procura (coeficiente de elasticidade-pre-
ço da demanda menor que 1), o que ocasionaria uma redução
na Receita Total e consequentemente no Lucro Total. Para
uma empresa com estas características, a redução de pre-
ço deixa de ser ucia arma interessante para aumento dos 1~

cros, e somente sera utilizada em circunstâncias especi-


ais, quando, através de redução sensível no preço, procu-
rar-se deliberadamente a destruição de concorrentes e a
tomada de mercados (polÍtica de "dumping").
Através do raciocínio acima, entendemos poE
que, no capitalismo de grandes empresas, os preços apre -
sentam uma rigidez para baixo.
Da mesma forma como v1mos a concorrencia
perfeita como caso limite de mercados altamente competiti

(29) Joseph Steindl - op.cit. p. 31 .


- 69 -

vos, temos o monopólio puro como caso limite de mercados


bastante concentrados (dominados por uma empresa lÍder)
No caso limite do monopÓlio puro (não encontrado na prãti
ca com essa pureza), temos a seguinte curva de demanda, a
qual possui elasticidade-preço igual a zero:

p D

Q
GRÁFICO 15

3.6. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONCORRÊNCIA PERFEITA

Procurando sempre compará-lo com o esquema


que traçamos para a concorrencia intercapitalista, veja-
mos agora o chamado modelo de concorrência perfeita.
As principais características do mercado de
concorrenc~a perfeita sao as seguintes:

a) produto homogêneo. Observe que, quando montamos o esqu~


ma para entendimento do chamado capitalismo concorren -
cial, fizemos a suposição de que o grau de diferencia -
ção dos produtos era reduzido; no caso da concorrência
perfeita, radicaliza-se essa supos~çao; trata-se de per
feita homogeneidade entre os produtos, o que torna abso
lutamente indiferente para os compradores adquirir de
qualquer produtor.
70-

b) Grande numero de empresas e consumidores, de tal modo


que nenhuma empresa ou nenhum consumidor pode,sozinho,
determinar ou influenciar o preço da mercadoria.Esta
característica fundamental será comentada com mais de-
talhes ã frente.

c) Perfeita informação. Também em nosso esquema anterior,


fizemos a suposição de que "os agentes econômicos (em-
presas e consumidores) possuem informaçÕes sobre a si-
tuaçao do mercado, fundamentalmente sobre os preços
cobrados pelos diferentes produtores". Todavia, o que
se supÕe no modelo de concorrência perfeita é que a ~n
formação é plena, ou seja, cada alteração, por menor
que·sejay no preço cobrado por qualquer produtor, sera
instantaneamente percebida por todos os agentes envol-
vidos no mercado do produto em questao.

Vejamos o funcionamento do mercado de con-


correncia perfeita, enfatizando seu aspecto crucial, qual
seja, que "nenhuma empresa tem poder para influenciar o
preço da mercadoria". Observe-se que nao se esta dizendo
que nenhuma empresa tem poder para administrar ou determi
nar o preço, mas sim influenciar. O que isto quer dizer ?
Quer dizer que, para todas as empresas, o preço de seu
produto· e um dado, determinado pela oferta e procura gl~

bais. Ilustremos esse fato:


Curvas de oferta e demanda da mercadoria X

Preço
Oferta global
da mercadoria X

Procura global
da mercadoria X

Quantidade procurada
GRÁFICO 16
- 71 -

Sendo:

mx
= preço de mercado da mercadoria x (va-
P
le a pena observar que podemos trabalhar com o conceito de
preço de mercado em virtude da suposiçao de homogeneidade
do produto).
Para que P
seja tomado como um dado por
mx
todas as empresas produtoras, é necessário supor que o nu- -
mero de empresas concorrentes seja extremamente grande ~en

da ao infinito) e, ao mesmo tempo, que cada empresa


infinitamente pequena, de tal forma que, qualquer que seJa
sua açao, (por exemplo, multiplicar a produção por 10, por
100, por n) nao consegue nunca influenciar o mercado. Por-
tanto, para cada empresa individual, a curva de demanda e
a seguinte:

D
Preço de

mercado

L----------------------------------------Q
GRÁFICO 17

Não há, portanto, nenhum estímulo ao produ-


tor para baixar o preço de seu produto, pois ele vende a
quantidade que produzir ao preço de mercado. Se, porventu-
ra, um produtor vender por um preço ligeiramente superlor
ao preço de mercado, ficara sem nenhum comprador, em virtu
de do pressuposto de perfeita informação; o produtor tem
que vender sempre ao preço de mercado.
:lustremos o funcionamento da concorrencla
perfeita imaginando a existência de duas empresas produzi~
do em concorrência perfeita, sendo as empresas bastante pr~
- 72 -

ximas uma da outra. Vejamos a situação das empresas A e B


no momento t
o

Momento
- - - - - - ____
A
,.--.---__:_
t
o
B

o
·..-!
O H
-1-JICI)
rJl -1-J
;:l ·..-!
c.J >::
;:l

"~<'IGURA 15

Observamos que a empresa A está em melhor


situaçao que a empresa B. Através da introdução de progre~
so tecnológico e/ou mudanças organizacionais, conseguiu re-
duzir sensivelmente seu custo unitário, de tal forma que
consegue uma margem de lucro bem maior ao preço p ; ainda
o
que tenha margem de lucro mais baixa, a indústria B ainda
consegue manter-se em funcionamento. Suponhamos agora que,
por uma razão qualquer, caia o preço de mercado < p ) .
o
Vejamos a nova situaçao (momento t
).
1
Notamos que, ao novo preço de mercado
(p ),
1
a empresa A, por ter realizado melhorias técnicas e/ou or-
ganizacionais redutoras de custo, ainda consegue alguma mar
gem de lucro, ainda que tenha se reduzido; todavia, a em-
presa B, que continuou com a estrutura de custos anterior,
nao consegue sequer cobrir os custos ao novo preço de mer-
cado p ; se este se mantiver por algum tempo, a empresa B
1
tera que sair do mercado.
- 73

- B-~- { --~Prejuízo
UIC\i
por
.3 .'j / 1----------j unidade
c;:l
o o
J.J·.-i o
(fJ i-< J.J
;:lle\i (fJ
u J.J ;:l
·.-i u
c;:l

FIGURA 16

ApÓs essa ilustração, façamos uma pergunta:


o que a concorrência perfeita elimina? Em comparação com
nosso esquema anterior, será que poderíamos concluir que a
concorrência perfeita elimina o estímu'lo ao progresso téc-
nico? Não, pols, como Vlmos em nosso exemplo hipotético, o
empresário que introduziu progresso técnico não so canse
guiu margem de lucro malor no momento t , como consegulu
o
se defender da queda do preço de mercado, mantendo-se em
atividade. A resposta correta e a seguinte: o modelo de con
correncla perfeita elimina a beligerância imanente ã con-
correncla intercapitalista.
Vimos, no primeiro tratamento dado a concor
rencla, que existe um empresário que sal a- frente e, atra-
. . a guerra de
vés de redução de seus custos, dá lnlClO - pre-
ços, procurando, com a diminuição de seu preço, atrair pa-
ra si a parcela de mercado dos demais. Ora, a açao desse
empresário sera respondida pelo concorrente, que claramen-
te o identifica como aquele que iniciou a pugna.
Já na concorrencla perfeita, nao existe qua~

quer conflito intercapitalista. O preço de mercado é deter


minado em uma esfera distante, longínqua, sobre a qual ne-
- 74 -

nhum produtor individual tem qualquer interferência, e, de


pois de fixado, os produtores tomam o preço, comparam seus
custos e verificam seu estado. A açao de qualquer produtor
nunca influencia outro produtor. Não há conflito. Ao invés
de um rio turbulento, a concorrencLa se transforma em um
manso lago. Esta e a grande insuficiência do modelo de con
corrência perfeita.

3.7. MONOPÓLIO E CONCORRÊNCIA POTENCIAL:


A RIGIDEZ DE PREÇOS

Já vLmos que, em mercados altamente concen-


trados, existe uma rigidez dos preços para baixo. Necessi-
tamos agora estudar, para o caso de uma empresa que contr~

la fortemente o mercado, qual o limite superior do preço


Para radicalizar o argumento, consideremos o caso de uma
empresa monopolista e perguntemos o seguinte: se a empresa
possui um grau de controle tão elevado sobre o mercado, e
sendo a elasticidade-preço da demanda tão baixa, entao por
que o preço cobrado e px e não um preço qualquer pi' tal
que p. > p ?
L X
Uma resposta possível a esta questao funda-
menta-se na substituibilidade, ainda que precária e distan
te, de qualquer produto, como vemos através da seguinte CL
taçao:
"O fato de um bem ou serviço ser produzido
por uma Única firma não implica, de modo algum, que este
bem ou serviço seja insubstituível. Não existe produto ab-
solutamente insubstituível, por mais diferente que ele se-
ja. Quando um produto não tiver um similar que satisfaça a
mesma necessidade ou dê a mesma satisfação, ele poderá ser
substituído por um outro tipo de bem que atende a uma ou-
tra necessidade ou dá uma satisfação semelhante. Por exem-
plo, uma lâmina de barbear, uma navalha e um barbeador ele
trico são produtos diferentes que, entretanto, podem ser
facilmente substituÍdos entre si, visto que todos os tres
servem ao mesmo objetivo. Um aparelho de televisão não co~
ta com um produto similar, mas pode ser substituÍdo por um
- 75

rádio, um toca-fitas ou um toca-discos, apesar de estes


três Últimos aparelhos nao servirem ao mesmo objetivo da
televisão" (30)
11
imaginemos agora que a gasolina seja
vendida por uma firma so, a qual detem assim o monopÓlio
deste combustível. Esta firma poderá cobrar um preço bas
tante alto, porque a gasolina, enquanto combustível para
automóveis e outros veículos, e um produto de difícil subs
tituição. Não se pode simplesmente substituí-la por um ou-
tro qualquer combustível, porque os motores dos carros e
outros motores foram feitos para consumi-la (lembremos que
este texto foi escrito em meados dos anos 70). Somente se
seu preço for fixado a um nível muito alto, sua venda deve
ra ca1.r, porque os possuidores de automóveis, por exemplo,
tenderão a diminuir suas viagens e/ou a procurar outras al
ternativas de transporte, e, num período de tempo mais lon
go, se o preço da gasolina continuar muito alto, haverá
também a tendência de utilizar motores que façam uso de ou
tro tipo de combustível que seja mais barato" (31)
Ao explicar a questao da substituibilidad~,

Steindl enfatiza a questao temporal, como vemos no tre-


cho seguinte:
"Como explicar, entao, o fato dos empresa
rios dessas indÚstrias (administradoras de preços) nao au-
mentarem realmente os preços? Uma explicação natural se o-
ferece quando, ma1.s uma vez, introduzimos o fator tempo.P~

de-se argumentar que, a curto prazo, a demanda para os pr~

dutos de uma indústria ã bastante inelãstica, porque as


possibilidades de substituição por outros produtos sao li-
mitadas. (Observação: lembrar que, sendo o conceito de l.n-
dústria o conjunto das empresas que concorrem num mesmomer
cado, entao quando a situação ê de monopÓlio, a empresa mo
nopolista confunde-se com a prÓpria indústria; exem~lifi

cando, se no Brasil existisse uma Única empresa produzindo

(30) J.Miglioli,S.Silva e L.G.M.Belluzzo-op.cit.Cap. S.p.l7


(31) J.Miglioli,S.Silva e L.B.M.Belluzzo-op.cit.Cap. 5.
p. 18-19
- 76 -

automóveis, entao a indÚstria automobilística do Brasil se


ria representada por essa única empresa). Os consumidores
estão vinculados ao produto de determinada indústria em um
grau muito mais elevado do que ao de uma empresa. Toda uma
série de tradiçÕes e preconceitos tem de ser modificada, a
te que possa ocorrer um deslocamento considerável na deman
da; muitas vezes e requerida uma propaganda contínua duran
te longo tempo. No caso dos bens de produção, função seme-
lhante será desempenhada pelas tradiçÕes técnicas e pela L
nercLa, alem de dificuldades técnicas bastante objetivas
que tornam a substituição outra vez dependente do fator
tempo. A substituição pode exigir modificações nas despe -
sas gerais e nos equipamentos que não podem ser efetuadas
de repente, e que devem ser decididas em caráter permane~

te. Como no caso das firmas individuais, o crescimento do


mercado de uma indústria, portanto, depende do tempo" (32)
Todavia, Steindl não considera a questão da
variaçao da elasticidade-preço da demanda ao longo do tem-
po como o elemento mais importante para explicar o limite
superior do preço em mercados fortemente concentrados; sua
atenção volta-se, isto sim, para a concorrencLa potenciab
ou seja, para a possibilidade de entrada de novos concor -
rentes a partir do estabelecimento de preços excessivamen-
te elevados:
"Concluímos qu·e, a curto prazo, a demanda
de produtos de uma indústria e, na maioria dos casos, bas-
tante inelãstica, ao passo que, a longo prazo, isso prova-
velmente não deve ocorrer. O fato de que, a longo prazo, a
concorrencia de outras indústrias deve ser levada em consL
deração é, entretanto, apenas um fator que impede o líder
de preços, o cartel ou os monopolistas de fixar seus pre-
ços em um nível mais alto do que o corrente. No caso do a-
ço, mesmo a elasticidade da demanda a longo prazo e prova-
velmente baixa, de modo que, em termos apenas de elastici-
dade, poderíamos prever que a indústria fixasse seus pre-
ços em um nível mais alto que o verificado. Outro fator im
portante e o risco de ingresso de novos concorrentes.A res

(32) J.Steindl- op. cit., p. 30


77 -

triçao ao ingresso em uma indÚstria - salvo o caso de res-


triçÕes como patentes - e um fator relativo, que depende,
em grande parte, da taxa de lucro obtida pela indÚstria.Se
os preços, e por conseguinte os lucros, forem suficiente -
mente altos, o lngresso de novos concorrentes em uma indús
tria se torna viável, mesmo quando as exigencias de capl-
tal sao grandes. O preço nas indústrias oligopolistas e'
pois, fixado em um nível tal que mantem afastados os con-
correntes em potencial, ou, em outros casos, pode ser fixa
do em um nível suficiente para excluir alguns concorrentes
já existentes, cujos mercados os líderes de preços preten-
dem conquistar.
E bem provável que, mesmo a longo prazo, em
muitos casos, a elasticidade da demanda seja pequena de-
mals para ser relevante, na prática, para a determinaç~o de
preços. O que impede as indústrias oligopolistas de cobrar
preços mais elevados do que realmente cobram e, talvez, o
temor de novos lngressos na indústria, e nao qualquer con-
sideraç~o referente ã elasticidade da demanda" (33)
A partir das consideraçÕes feitas ate aqul,
foi possível identificar os determinantes da rigidez de
preços, característica do capitalismo moderno, ao nível de
uma empresa monopolista ou lÍder de preços, bem como o pr~

ço mêdio no caso de um oligopÓlio formado por poucas egra~


des empresas. Como um necessário reforço ã explicaç~o da
rigidez de preços, veremos mals ã frente as razoes pelas
quals o preço se rigidifica para cada uma das empresas pa~

ticipantes de um oligopÓlio.

3.8. A TEORIA DA CONCORRÊNCIA IMPERFEITA E A MAXIMIZAÇÃO


DO LUCRO

Faremos a segulr uma exposlçao sucinta da


chamada Teoria da Concorrência Imperfeita. Esta teoria foi
desenvolvida como uma tentativa de superar as "amarras" da
teoria econômica convencional, presa ao pressuposto de con

(33) J.Steindl op.cit. p. 30-31


- 78

correnc~a perfeita (34). Ao invés de uma curva de demanda


da firma horizontal, como e o caso sob concorr~ncia per -
feita, a referida curva de demanda é desenhada de forma
.
inclinada, como Ja
- .
v~mos.

Coloquemos agora em um Único gráfico as


curvas de demanda (D) e de custo unitário (CUT).

p. CUT

p.
~

CUT
c.
~

Q.~ Q

GRÃFICO 17

Observamos inicialmente que a distância ve~


tical entre a curva de demanda e a curva de custo unitário
total (para uma quantidade produzida= demanda Q., essa
~

distância e igual ao preço p.


~
menos o custo unitário c.)for
~

nece o lucro unitário. Todavia, a idéia consistente de que


o empresário procura o máximo lucro nio se refere ao Lucro
Unitário e s~m ao Lucro Total. Sendo o Lucro Total igual
ao lucro unitário multiplicado ~ela quantidade produzida

(34) Confira: Joan Robinson - "ContribuiçÕes ã Economia Mo


derna - Rio, Zahar Editores, 1979 e Chamberlein, E.
Teoria de la Compet~ncia Monopólica". México, Fondo
de Cultura Económica.
- 79

entao o empres~rio dever~ procurar max1m1zar a area hachu-


riada (= 1 Q).

p. Cl'T

CUT

Q
GRÁFICO 18

Essa max1m1zaçao, segundo a Teoria da Conco~

rência Imperfeita, e obtida através da regra marginalista,


como explicaremos a segu1r:
Jã vimos que, sob concorrenc1a imperfeita, a
curva de demanda da firma e a seguinte:

(,____..-

I
Q
J
GRÁFICO 19
80 -

Esta curva, negativamente inclinada, repre-


senta a seguinte função

Q = f(p)

Q = a - b p

Esta funçid demanda gera a seguinte função


para a Receita Total:

RT = p . Q

RT
a
(- Q Q
- -)
b b

a 1 2
RT = b • Q - b . Q

A Receita Total tem, portanto, a seguinte


forma:

RT

GRÃFICO 20

Sabendo o formato da curva de Custo Total,


colqquemos as duas curvas num mesmo gráfico:
- 81

RT,CT
CT

Q.1. Q

GRÁFICO 21

.
A quantidade produzida que torna max1.ma - a
distância entre as curvas RT e CT e aquela que, obviamente,
max1.m1.za o Lucro Total.
Como se chega a esta quantidade maximizado-
ra do Lucro Total? A teoria neo-clássica nos ens1.na que es
te eo ponto no qual a Receita Marginal iguala o Custo Margi
nal. Vejamos esses conceitos e suas respectivas curvas
a) Receita Marginal - trata-se do acréscimo ã Receita To-
tal quando S'eproduz um incremento de uma unidade na pro-
dução (l'.Q) Ora, se a curv~ de demanda e negativamente
inclinada, entao qualquer unidade adicional na produção
somente será vendida a um preço ma1.s baixo que o atual.
Consequentemente, a Receita Marginal e decrescente em
relação ã quantidade produzida:
- 82

RMg

Wg

Q
GRÁFICO 22

b) Custo Marginal - da mesma forma, o custo marginal repr~

senta o acréscimo ao Custo Total quando se produz uma u


nidade adicional. Considerando o rateio do Custo Fixo e
a proporcionalidade entre Custo Variável e quantidade,o
Custo Unitário Total, como já sabemos, e decrescente a-
tê um determinado ponto (ponto de capacidade Ótima, se-
gundo Steindl).

Ora, o mesmo raciocínio aplica-se ao Custo


Marginal, que decresce até um determinado ponto. Ademais
disso, é necessário ter em conta que o Custo Marginal deve
estar abaixo do Custo M.édio sempre que este for decrescen-
te. Vejamos com Steindl o que ocorre com o Custo Marginal
ao se atingir o ponto de capacidade prática: "a fim de for
necer um motivo pelo qual o custo marginal deveria elevar-
se, precisamos alegar circunstâncias excepcionais, tais
como o prolongamento da jornada de trabalho para a mão-de-
obra empregada. de modo a tornar necessário o pagamento de
horas extras; a redução na vida Útil dos equipamentos, de-
vido à não realização de reparos e manutenção, como conse-
qliência de funcionamento contínuo sem paralizaçÕes tempor~
- 83 -

r1as: desperdicio de mat~ria-prima, trabalho defeituoso e


danos causados às maquinas devido à aceleração do seu fun
cionamento, ultrapassando os limites que garantem a coor-
denação regular do processo de produção. Aparentemente
)

tais fatores começam a funcionar somente ao nivel da cap~

cidade prática, que e definida como a produção obtida pe-


la duração normal das horas de trabalho, com interrupçÕes
suficientes para reparos e manutenção e sem interferênci-
as no funcionamento regular do processo de produção. Dev~
mos esperar, portanto, que o custo marginal não aumente ~
t~ que a capacidade prática seja atingida, mas que, a pa~
tir dai, seu crescimento seja vertiginoso. O ponto de cus
to m~dio
~ .
m1n1mo, ou, ou capacidade Ótima, acha-se entao
próximo da capacidade prática" (35)
Coloquemos graficamente o Custo Marginal e
o Custo M~dio (ou Custo Unitário).

CM , CM
g e

CM
g

CM
e

I
I I

capacidade
/ ~
capacidade
Q

prática ótima

GRÁFICO 23

(35) Joseph Steindl - op.cit. p. 19-20


- 84 -

Vemos que, quando CM < CM entao o CM e


g e' e
decrescente e quando CM g > CM e , o CM -e crescente.
e
~ evidente que, enquanto RM for superior ao
g
CM , vale a pena aumentar a produção,nois isto implicará nu
g
ma elevação do Lucro Total. A partir do momento em que a
RM se torna inferior ao CM cada aumento de produção lm-
g g
plicara numa diminuição do Lucro Total. O ponto de máximo
Lucro Total e, portanto, aquele que iguala RM g e CM g . Vej~
mos isto graficamente:

CT ,RT
CT

LUCRO
TOTAL

Q
Lt

RM , CM CH
g g g

\
RM
g
Q

GRÁFICO 24
- 85

3.9) CRÍTICAS À REGRA DE MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO

Se a questao da determinação do preço fosse


resolvida da forma proposta pela Teoria da Concorrência I~

perfeita, teríamos que admitir duas situaçÕes posslvels:


a) O empresário atua, na determinação do pr~
ço de seu produto, na forma de "tentativa e erro"; em ou-
tras palavras, val aumentando a produção e baixando os pr~
ços e acompanhando o comportamento do Lucro Total; enquan-
to este Lucro for crescendo, continua a aumentar a produ -
çao e baixar os preços. Todavia, quando observa pela pri
melra vez uma redução no Lucro'Total, volta atrás, diminu-
indo a produçã6 e elevando preços, at~ chegar ao lucro má-
xlmo. Ê fácil observar que esse "modelo de comportamento"
e amplamente irrealista.
b) O empresarlo possui, ademais de informa-
çoes preclsas sobre sua curva de custo unitário ·total (coi
sa complicada pelo fato de não ser possível experimentarna
prática todas as quantidades de produção possíveis, princi
palmente aquelas que caem fora no ''ramo relevante da prod~

ção"), um cálculo econom~trico bastante acurado de sua cur


va de demanda. Neste caso,o preço que maximiza o Lucro To-
tal poderia ser conhecido "a priori", sem necessidade de
experimentação.
Vejamos agora as críticas de Kalecki e
Steindl a Teoria da Concorrência Imperfeita, admitindo a
situação (b).
Ao estabelecer sua teoria do "grau de mono-
pÓlio", que veremos mals à frente, afirma Kalecki: "diante
das incertezas com que se defronta o processo de fixaçãode
preços, nao lremos supor que a firma recorra a alguma medi
da em particular na procura de maxlmlzar seus lucros" (36)
Em Steindl, lemos: "o conceito de incerteza dificilmente
desempenha função essencial na teoria existente (o autor
refere-se à Teoria da Concorrência Imperfeita). Isto e sur
preendente, pols deveríamos esperar que os empresarlos, ca

(36) M.Kalecki- op.cit., p. 62.


- 86 -

so fizessem cálculos sobre elasticidade, se mostrassem bas


tante inseguros acerca dela. Além disso, as condiçÕes rel~
vantes de mercado (curvas de demanda) devem, em muitos ca-
sos, referir-se ao futuro e, desse modo, constituir-se em
estimativas incertas feitas pelos empresários" (37)
Resumindo, a teoria da formação dos preços
segundo a regra marginalista de maximização do lucro (cus-
to marginal = receita marginal) não consegue explicar o co~
plexo fenômeno da determinação dos preços pelos empresários.
Esta teoria trabalha com o pressuposto de um mundo sem lu-
certeza, o que significa desconsiderar uma das característi
cas mais marcantes da economia capitalista. Lembremos o que
vimos inicialmente, com relação às características de uma e
conomia mercantil: se as decisÕes econômicas (o que, quanto
e como produzir) são tomadas a nível da esfera privada, em
unidades produtivas autônomas em termos de tomada de deci -
sao, então a incerteza é um componente inerente a toda eco-
nomia mercantil. Ora, se a economia capitalista e a forma
mais desenvolvida da economia mercantil, na qual as unida -
des de produção não sao apenas autônomas, mas sim concorreu
tes, entao a importante decisão empresarial da fixação do
preço de sua mercadoria (decisão da qual depende sua taxa
de lucro) e tomada, necessariamente, num ambiente de 1ncer-
teza. Assim sendo, torna-se necessário um novo enfoque para
a formação dos preços, que forneça ênfase à açao das gran -
des empresas (administradoras de preços); e isso que vere-
mos a segu1r.

3.10) PREÇO E GRAU DE MONOPÓLIO

Vejamos inicialmente o vem a ser "grau de m~

nopÓlio", base da teoria da formação de preços de M.Kalecki;


imaginemos uma situação de mercado no qual, "para a produ -
ção de cada tipo de bem e serviço há um variado número de
empresas de diferentes tamanhos (isto é, com diferentes ca-
pacidades produtivas) que competem entre si com maior ou me

(37) J.Steindl- op. cit., p. 14


- 87

nor intensidade. Embora cada empresa detenha uma certa pa~

cela do mercado total deste tipo de bem ou serviço, esta


parcela e ma~s ou menos fluida, e por isto mesmo as empre-
sas lutam entre si para ampliar ou simplesmente manter sua
participação no mercado. Evidentemente, certas empresas tem
ma~or controle de seu prÓprio mercado do que outras, por
serem ma~s poderosas (em termos de capacidade produtiva e
financeira), pelo fato de seu produto gozar de maior pres-
tÍgio, por operarem com custos mais baixos, etc. A este
controle de mercado usa-se dar o nome de grau de monopÓlio:
quanto mais uma empresa domina o mercado de seu produto,
ma~or sera seu grau de monopÓlio. E este se expressa no
preço do produto. (38)
Vejamos entao como o grau de monopólio se
expressa no preço do produto. Sabemos que os elementos que
a empresa toma como referência no processo de fixação do
preço sao o Custo Unitário e a Demanda. "Mas e prec~so con
siderar o seguinte: num ramo de atividade onde operam di-
versas firmas concorrentes, o volume de demanda pelo prod~

to de uma empresa qualquer e, por sua vez, dependente do


preço cobrado pelas outras firmas que competem no mercado
do mencionado produto" (39)
Consideremos uma mercadoria qualquer (M), e
respondamos a seguinte questao: de que fatores depende a
demanda total por esta mercadoria (demanda da mercadoria M,
produzida por todas as empresas concorrentes, ou seja, de-
manda da indÚstria, como Ja v~mos anteriormente)? Como
existem diversas empresas concorrentes, e cada uma cobra um
preço diferente, a curva de demanda de M vai colocar a de-
manda total em função do preço médio de M (p). Observe-se
que, nesse caso, nao faz sentido falar-se em preço de mer-
cado de M; este conceito apenas faz sentido no caso de pr~

dutos homogêneos, geralmente cotados em Bolsa. A curva de

(38) J.Migliolí, S.Silva e L.G.M.Belluzzo op.cit. Cap.5,


p. 50-51.
(39) J.Miglioli, S.Silva e L.G.M.Belluzzo op.cit. Cap.5.
p. 51.
- 88 -

demanda total de M (DM) seria entao (observação: Ja comen-


tamos anteriormente a questão da baixa elasticidade--preço
da demanda de uma indústria) a seguinte:

Preço médio de
M: p

GRÁFICO 25

Quanto aos fatores que intervêm para o esta-


belecimento do formato da curva de demanda total de M, te-
mos que considerar:
a) magnitude da população e seu nível de renda;
b) padrão de consumo (se M for um bem de consumo) ou padrão
tecnológico e de crescimento (se M for um bem de produ -
ção);
c) grau de substituibilidade.

Se, por exemplo, ocorrer uma elevação na


renda (evidentemente na renda real, ou seja, na capacidade
aquisitiva) ou uma variação no padrão de consumo (sendo M,
por exemplo, um bem de consumo) da população que induza a
um aumento da procura, ocorrera um deslocamento da curvade
demanda para a direita (de DM paYa D~):

,_,.
•Ir
- 89 -

D'
M

GRÁFICO 26

Já uma varlaçao no grau de substituibilida-


de, por exemplo, a partir do surgimento de um novo produto
que substitua mais facilmente o produto M, então ocorrerá
uma variação na inclinação da curva DM' da seguinte forma:

p p

D'
M

GRÂFI CO 27
- 90 -

Vejamos agora o comportamento de demanda p~

lo produto M fabricado por uma firma específica, que chama


remos de firma A.
I

'!/

PMAfl

GRÃFICO 28

Essa curva de demanda coloca a quantidade


procurada em função do preço cobrado pela empresa A para
sua mercadoria M:

Se formos olhar ma~s fundo, todavia, verifi


caremos que existe uma outra relação de dependência, ou seja,
que a relação entre QMA e PMA possui, por tras, uma outra
relação: entre DMA e o preço cobrado pelas empresas concor
rentes de A:

g (PMB

Na verdade, D depende de PM enquanto com


MA A -
parado com os preços dos concorrentes, co~sa que Ja v1mos
antes, quando discutimos a inclinação da curva de demanda
- 91 -

e a elasticidade-preço da demanda. Em outras palavras, a


demanda da mercadoria M da empresa A depende da compara -
ção entre o preço de M cobrado por A e o preço mêdio do
produto. Assim, podemos dizer que o preço fixado pela em-
presa para o produto (p.) depende de dois elementos:o cus
l.
to unitário direto (U) e o preço mêdio do produto no mer-
cado (p):

p.
l.
f ( u' p)

Façamos agora o seguinte questionamento:em


todo o raciocínio desenvolvido atê aqui, sempre colocamos
que o preço fixado pela empresa para o produto dependia do
custo de produção e da demanda; agora dizemos que ele de-
pende do custo de produção e do preço mêdio do produto no
mercado. Isto representa alguma mudança? Não. Simplesmen-
te~ trata-se de uma forma diferente de representar a l.n-
fluência da demanda, colocando-a como função da relação en
tre
A forma final da função que vincula U e p a
p. e a seguinte:
l.

p.---= m U + n p
l.

"Os coeficientes m e n em conjunto, ser-


vem para medir o grau de monopÓlio de uma empresa: quanto
maiores forem estes coeficientes, mais alto o grau de mo-
nopÓlio. Quanto maior~, maior a diferença (ou a relação)
entre o preço cobrado e o custo de produção; quanto maior
~' maior a diferença (ou a relação) entre o preço cobrado
pela empresa e o preço mêdio do produto no mercado.

Em ambos os casos, isto significa que a em-


presa tem um grande controle do mercado (um elevado grau
de monopÓlio), o qual lhe permite fixar para seu produto
um preço bem ac1.ma de seu custo de produção e do preço me--
di o vigente no mercado. Se a firma em questao tivesse ap.::_
-.
ela ver-se-l.a obriga-
nas um pequeno controle do mercado,
da a vender seu produto por um preço igual, ou mesmo infe
-92-

rior, ao pre&~ m~dio, e para poder ampliar suas vendas te


ria de reduz~~ ainda mais seu preço, o qual, assim, se a-
proximaria do~pr6prio custo de produç~o; ou seja,neste ca
so os coeficientes ~e~ seriam pequenos". (40)
Finalizando, e importante salientar que o
conceito de grau de monop6lio e Útil para a compreens~odo
mecanismo de formaç~o de preços em mercados nos quais e-
xista forte liderança (existência de "empresa lÍder") e
significativa diferenciaç~o de produtos. Uma grande empr~
sa lÍder, com produto altamente diferenciado (qualidade ~
fetivamente superior somada ao esforço de propaganda), p~

de cobrar um preço mais alto pelo seu produto, e uma ou-


tra empresa so poderá participar de alguma forma no merca
do cobrando preços mais baixos. No caso de produtos com e
levado grau de homogeneidade, nenhuma empresa pode cobrar
mais caro pelo seu produto; nesse caso, as empresas lÍde-
res, por contarem com custos mais baixos, fornecem o pre-
ço mínimo, que deverá ser seguido pelas firmas menores
Também no caso de um oligopÓlio com empresas igualmente p~
derosas (ou quase), a teoria do grau de monopolio n~o e
muito Útil para o entendimento da formação dos preços; e
este o caso que veremos mais i frente.

3.11 -A CAPACIDADE OCIOSA

Urna das críticas rna~s importantes feitas


por Steindl à Teoria da Concorrência Imperfeita diz res-
peito ã quest~o da capacidade ociosa ou capacidaae exce-
dente (sabemos que capacidade oc1osa e aquela porção não
utilizada da capacidade instalada de produção). Afirma
Steindl que, embora o conceito de incerteza jã estivesse
incorporado de forma importante à teoria econBmica, espe-
cialmente no caso da teoria da moeda, " ... parece que nin-
guém cogitou em aplicar id~ias semelhantes à manutenç~o
da capacidade excedente". (41)

(40) J.Miglioli, S. Silva e L.G.M.Beluzzo- op. cit.,cap.S,p.53


(41) J. Steindl- op. cit., p. 14
-'-- 93 -

Respondamos entao a seguinte questao essen-


cial: é de interesse da empresa trabalhar sempre no ponto
de plena utilizaçào da capacidade instalada?
Inicialmente, daremos a resposta segundo a
Teoria da Concorrência Perfeita: nao, porque o ponto de
max~mo Lucro Total n~o ~ necessariamente o ponto de ple-
na utilizaç~o da capacidade. O objetivo da empresa n~o e
. . .
utilizar plenamente sua capacidade, mas s~m max~m~zar seu
Lucro Total~ portanto, pode ser de interesse da empresa tra
balhar com algum grau de capacidade oc~osa. Este caso es-
tá ilustrado no gráfico abaixo:

p. CUT

p.
~

CUT

GRÁFICO 29

Sendo Q a quantidade produzida que utiliza


m
plenamente a capacidade instalada da empresa, e sendo
(p., Q.) o ponto de máximo Lucro Total (onde Custo Margi-
~ ~

nal = Receita Marginal), ent~o é racional, sob a 6tica do


empresário, trabalhar com uma capacidade ociosa equivalen
te a (Q - Q.). A questao
- que se coloca é a seguinte: de
m ~

quem e, em Última instância, a responsabilidade pela exi~


tência da capacidade ociosa (Q- Q.)? A resposta é: da
m ~

demanda. Isto porque, se a curva da demanda estivesse mais


à direita, então a capacidade ociosa seria menor. Observe
mos isto graficamente, supondo um deslocamento da curva de
- 94 -

demanda para a direita (de D para D'), devido aos fatores


já apontados (elevação na renda, mudanças de hábitos de
consumo, etc.):

p. CUT

p~
l
p. CUT
l

Q.l o!l o'm Q

GRÁFICO 30

Não nos interessa aqul discutir o que ocor-


rerla com o preço a partir do deslocamento da curva de de
manda, pois isto depende do formato das curvas; o que e
inequivoco ~que, com o deslocamento D- D', o ponto de
produção maximizadora de lucro desloca-se para a direita
(de Q. para Q~), aproximando-se de Q, diminuindo a capa-
l l m
cidade ociosa de (Qm - Qi) para (Qm - Qi). Concluimos en-
tao que a capacidade oclosa, para a Teoria da Concorrên -
cla Imperfeita, deve-se exclusivamente a uma demanda re-
traida, tendendo a ser eliminada com uma continua expan -
são do mercado. Caracteriza-se então uma capacidade ocio-
sa involuntária, ou seja, não desejada, não planejada pe-
los empresários, mas sim devida às vicissitudes do nivel
de atividade econômica; explicando melhor: quando houver
crescimento econômico, a curva de demanda deslocar-se - á
para a direita, e a capacidade ociosa se reduzirá gradati
vamente, at~ deixar de existir; quando houver uma reces -
sao, a curva de demanda deslocar-se-á para a esquerda, g~

rando então capacidade ociosa não desejada. Esta ~ a Úni-


- 95 -

ca razao para o surgimento de capacidade oclosa segundo a


Teoria da Concorrência Imperfeita; como afirma Steindl,"a
capacidade excedente apareceria (no caso da Teoria da Con
corrência Imperfeita) somente se a curva de demanda esti-
vesse, por acaso, em uma poslçao onde a maximizaçao dos
lucros implicasse capacidade excedente. Em um mercado em
expansao, contudo, a curva de demanda se deslocaria para
a direita, e a capacidade excedente tenderia a desapare -
cer" (42).
Todavia, as pesquisas realizadas pela Broo-
kings Institution sobre capacidade ociosa nos anos 20 nos
Estados Unidos causaram a necessidade de uma revisao a
respeito da questão da capacidade oclosa, revlsao esta
realizada por Steindl. Coloquemos alguns trechos interes-
santes .deste autor:
"Todas as evidências existentes sugerem um
predomínio geral da capacidade excedente mesmo nos perí~
dos de prosperidade, inclusive para as indÚstrias oligop~
listas em expansao .. É interessante acompanhar a mudan-
ça verificada no grau de utilização nos anos anteriores a
1929. Vemos que havia várias indÚstrias em expansao naqu~

la época e nas quais o grau de utilização da capacidadee~


tava diminuindo durante essa expansão ate 1929: a capac~
dade aumentou antes da demanda. Em algumas delas, a capa-
. ~ .
cidade continuou aumentando em 1930, apos o lnlclo da crl-
se, e com o aço, a expansao da capacidade prossegulu ate
1932. Aparentemente a expansao da capacidade nao foi oca-
sionada pelo ingresso de novas concorrentes, mas pelas fir
mas Ja existentes" (43).
Vejamos graficamente o relato de Steindl p~

ra o caso de
- .
varlas indÚstrias americanas.

(42) J. Steindl- op. cit. p. 15

(43) J. Steindl - op. cit. p. 16


- 9.6 -

Produto Capacidade
capacidade . /1 rrodutiva
,"" I
/ I
// i
/ 1produto
/'' I
/ I
/
/
/
/
/
I
I

1929 Tempo
GRÁFICO 31

Para o caso do aço, temos:

Produto
capacidade

/
/ "'·
/
/
/
/
/
/ Droduto
/
I
/
/
I
I

1929 1932 Tempo

GRÁFICO 32
- 97 -

Em seguida, Steindl procura explicar essa


capacidade ociosa mantida mesmo em época de intenso cres-
cimento pelas grandes empresas,nao mals portando uma cap~

cidade ociosa involuntária, mas Slm uma capacidade ociosa


planejada. Antes de esclarecer as razÕes apontadas por
Steindl, e Útil explicitar o aspecto negativo da capacid~
de ociosa; sabemos que a variável fundamental no cálculo
economico capitalista e a taxa de lucro::

Lucro Total
Taxa de Lucro
Capital Total

ou seja:

Lucro Total
Taxa de Lucro
Capital Fixo + Capital Circulante

A exist~ncia de capacidade oclosa signifi


ca que a produção efetuada e menor do que a permitida pe-
lo capital fixo existente; portanto, o Lucro Total apre -
sentara uma tend~ncia à redução, a qual só poderá ser con
trarrestada por uma elevação compensatória no preço e po~
tanto na margem de lucro (lenbremos que margem de lucro =
=lucro unitário/preço), coisa que passou a ocorrer no ca-
pitalismo de grandes empresas. A tend~ncia a redução no
Lucro Total levaria a uma previsível redução da Taxa de
Lucro, pols, embora uma parte menor do Capital Fixo este-
ja operando (contribuindo para a geração de lucros), todo
o Capital Fixo entra na composição do denominador; a re-
dução do Capital Circulante, com efeito positivo sobre o
Lucro Total, dificilmente poderia compensar o efeito neg~

tivo da ociosidade do Capital Fixo, principalmente se le-


varmos em consideração o movim~nto de elevação da propor-
ção do Capital Fixo sobre o Capital Total em virtude do
progresso técnico. Concluímos que a exist~ncia de capaci
dade ociosa tende a abater o Lucro Total, podendo ser com
pensada (ate certo ponto, evidentemente) por uma elevação
nos preços. Dado esse lado negativo da capacidade ociosa,
como se pode entender a exist~ncia dessa capacidade manti
- 98 -

da deliberadamente pelos empresários?


A primeira razao para esta capacidade oclo-
sa planejada fica clara a partir da referência ao seguin-
te relato do vice-presidente executivo de uma companhiade
cerâmica decorativa (transcrito do livro "Managerial Fi -
nance" de Weston & Brigham, 3rd edition, Wolt, Rinehart &
Winston, New York, 1969): "Sua firma tentava trabalhar a
um nível de quase capacidade máxima durante quase todo o
tempo. Durante os Últimos 4 anos ocorreram aumentos inter
mitentes na demanda de seu produto; quando ocorreram, a
firma adicionou uma maior capacidade, alugando um edifí -
cio para comprar e instalar o equipamento necessário. Le-
vou aproximadamente 7 meses para ter a capacidade adicio -
nal pronta para operar. Nesta data, a companhia verifica
que não há demanda para o seu aumento de produção; outras
já haviam expandido as suas operaçÕes e absorveram uma
ma1or faixa de mercado, resultando que a demanda para a
firma havia se estabilizado. Se a firma tivesse previsto
adequadamente a demanda e tivesse planejado o aumento de
sua capacidade 6 ou 12 meses antes, teria sido possível
manter a sua faixa de mercad~ - na verdade, obter urna
maior faixa de mercado" (44).
Do relato do caso real acima, poder-se - 1a
pensar num conselho ao empresário de cerâmica decorativa:
manter sempre uma certa capacidade ociosa para dar conta
de aumentos imprevistos na demanda, não dando "brechas"
para concorrentes (efetivos ou potenciais). Ao trabalhar
sempre no ponto de plena capacidade, a empresa, quando o-
correram aumentos na demanda, teve que "rejeitar pedidos";
esse e o aspecto crucial, po1s, ao rejeitar pedidos, a-
briu "brechas" aos concorrentes, que se aproveitaram am-
pliando sua capacidade de produção. Caracteriza-se entao
a necessidade de uma reserva de capac'idade mantida como
arma na concorrência inter-capitalista, dada a incerteza
advinda dessa concorrência. Como afirma Steindl, trata -se
de "uma reserva mantida (deliberadamente) em decorrên -
ela de alguma incerteza existente esse motivo se

( 4 4) Apud H .Giacometti & Hopp. J. C., EAESP /FGV, mimeo, s/d.


- 99 -

apresenta facilmente, pela existência de flutuaçÕes na de


manda: o produtor deseja ser o primeiro a participar da
fase de prosperidade, não deixando as vendas para novos
concorrentes, que pressionarão o mercado quando o período
favorável se encerrar" (45)
Para Steindl, todavia, esse nao e o motivo
rnals relevante; sua ênfase recai sobre aquela reserva de
capacidade "mantida (deliberadamente) em decorrência da
previsão de eventos futuros" (46). É a seguinte sua expli_
cação para este motivo "mais profundo e geral": "qualquer
produtor que constrói urna nova planta sabe que, durante
um perÍodo inicial (que não devemos imaginar seja curto
demais), ele poderá conquistar apenas um mercado restri-
to, devido a fidelidade dos consumidores e a toda urna sé-
rle de fatores bem conhecidos. Não obstante, ele dirnensio
nara a sua ca~acidade de modo a deixar bastante campo pa-
ra urna produção maior, pols espera ser capaz de expandir
suas vendas mais tarde. Essa esperança é fundamentada na
experlencia comprovada de que o crescimento do rnercado(ou
de sua' clientela') e urna função do tempo. Durante um pe-
ríodo restrito poderá lançar mão de publicidade, redução
de preços ou de qualquer outro método, mas -
nao .
consegulra-
elevar suas vendas além de determinado nível,enquanto,corn
o passar do tempo, a simples existência da firma provoca-
ra urna ampliação gradativa da clientela e a publicidade e
outros métodos de estÍTiulo as vendas trarão resultados,a
penas gradativos. Essa 'lei de acumulação da clientela e
fundamental para nossa explicação. Ninguém negara que se-
Ja plausível". (47).
Poder-se-ia, todavia, perguntar o seguinte:
se o empresário tem antecipada consciência de que a deman
da por seu produto (no caso do investimento em um novo pr~

duto ou em um novo mercado) demorará algum tempo para Sl-


tuar-se num patamar relativamente elevado, entao por que
ele não val ajustando gradativamente a capacidade produti_

(45) J. Steindl, op. cit. p. 23


(46) J. Steindl, op. cit. p. 23
(47) J. Steindl, op. cit. p. 23
-100-

va à elevação da demanda? Esse procedimento poderia ser i


lustrado através de uma empresa de confecçÕes que traba
lhasse exclusivamente com a unidade máquina de costura/cos
tureira; à medida em que a demanda fosse crescendo ser~am
adicionadas, de forma gradativa, mais máquinas e operá
rias. Nesse caso, não surgiria capacidade ociosa. Ocorre
que essa divisibilidade técnica s6 existe em alguns ra-
mos; na verdade, a característica mais comum e a chamada
indivisibilidade técnica, gerada pelo ajuste da técnica
às escalas mínimas de produção crescentes. Explicando me-
lhor: dada a relação direta entre escala de produção e
custo unitário direto (ou seja: quanto maior a escala me-
nor o custo), existem escalas mínimas de produção em ter-
mos de competitividade. Ao se investir numa siderúrgica
por exemplo, não se pode construir inicialmente uma pequ~
na planta e depois ir crescendo aos poucos; a escala míni
ma já se tornou tão grande que a planta tem que ser, des-
de logo,bastante grande, antes de existir demanda para t~

da essa capacidade instalada. Explica-se assim a famosa


frase de Steindl, qual seja: "a capacidade cresce à fren-
te da demanda". E essa característica de indivisibilidade
técnica que ilustramos para a siderurgia vale para a mai~

ria dos ramos industriais, por exemplo:


...
qu~m~ca,
. farmacêu
tica, petroquímica, automobilística, alguns sub-ramos da
mecanica, têxtil·=principalmente ap6s o fio sintético
etc. Graficamente, podemos ilustrar a capacidade ociosa
pelo motivo da "acumulação de clientela" de Steindl da se
guinte mane~ra: (Página seguinte)
Ate o momento t , a capacidade instalada em
1
t encontra-se amplamente sub-utilizada; apos t , a capa-
0 1
cidade ociosa planejada (no caso da planta já instalada )
refere-se à incerteza.
Depois das explicaçÕes de Steindl,podemose~
tender a aparentemente enigmática situaçao constatada nos
anos 20 e 30 nos EUA; no caso dos anos 20, epoca de gran-
de crescimento, a política de investimento das grandes em
presas levou a que a capacidade produtiva crescesse an-
tes da demanda, ampliando as margens da capacidade ociosa;
-101-

Demanda, capacidade

capacidade
r-----------------------------------------------------produtiva

demanda

t tempo
o

GRÁFICO 33

apos a crise lmensa e abrupta que sobreveio em 1929, al


guns ramos portadores de grandes escalas minimas (e por -
tanto grande indivisibilidade técnica), nos quals o lnves
timento possui longo prazo de maturaçao (tempo entre o i-
nício da construção da planta e sua primeira produção) ,c~
mo é tipico para o aço, . a
foram pegos de surpresa em melo -
maturação de seus investimentos. Entre a perda certa re-
presentada pela interrupção radical das obras e a perda
incerta representada pela sua continuação, ainda que mals
lenta (pois nao se podia prever a intensidade e a dura -
çao da crise), a opção pela segunda causou um aumento de
capacidade em um momento de forte redução na demanda.

3.12 -CAPACIDADE OCIOSA E FORMAÇÃO DE PREÇOS

A constataçao de que o moderno capitalismo


industrial trabalha tipicamente com um grau relativamente
elevado de capacidade ociosa e crucial na moderna teoria
dos preços. Lembremo-nos da citação de Kalecki a respeito
dos preços industriais: "a produção de bens acabados é e-
lástica devido à existência de reservas de capacidade pr~
-102-

dutiva. Quando a demanda aumenta, o acréscimo e atendido


principalmente por uma elevação do volume de produção, en
quanto os preços tendem a permanecer estáveis. As altera-
çÕes dos preços que porventura se verificarem resultarão,
principalmente,de modificaçÕes do custo de produção"(48).
Tambem em Steindl, lemos: "Como outros tipos de reservas,
(por exemplo, os estoques), ela responde pela elasticida-
de apresentada pelo sistema, em tempos normais, em face
das rápidas mudanças na demanda geral. Essa elasticidade
decorrente da existência de uma ampla margem de reservas
de mão-de-obra, de matérias-primas, de equipamentos, e de
estoques, e uma das características mais notáveis do cap~
talismo (pelo menos na epoca moderna), exceto em períodos
de guerra e pós-guerra." (49).
SÓ agora estamos em condiçÕes de entender
a elasticidade da oferta industrial em relação às flutua-
çÕes da demanda, o que diferencia a formação dos preços
industriais d3 formação dos preços dos produtos primários,
cuja oferta e inelástica A reserva de c a-
pacidade ociosa funciona como um "colchão amortecedor" da
ação da demanda sobre a oferta; em outras palavras, um au
mento repentino na demanda e satisfeito por uma elevação
na produção, não ocorrendo aumento de preços. No caso dos
produtos primários, dada a inexistência desse "colchão a-
mortecedor", a açao da demanda dirige-se diretamente para
o preço (daí a necessidade de estoque reguladores ofi-
ciais para atuarem como "colchão amortecedor"). Esse ra-
ciocínio retira, para o caso dos preços industriais,a for
ça explicativa que a relação oferta x procura tem para o
caso da formação dos preços dos produtos primários. É im-
portante frisar, que, se por acaso a capacidade
.
OCl.OSa
.
l.n

dustrial chegar a nÍveis muito baixos, entao se elimina o


"colchão amortecedor", e a pr~ssao da demanda sobre a o-
ferta ocasiona elevação de preços, de forma análoga ao
que ocorre tipicamente para os produtos primários. A 1.n-

(48) M. Kalecki- op. cit., p. 61.


(49) J. Steindl- op. cit., p. 24.
-103-

ternalização, por parte do setor industrial, de urna lÓgi-


ca de forrnaçã? de preços tipica da agricultura e da rnlne-
raçao completa -se com o advento da especulação com prod~
.tos industriais, sejam eles intermediários ou finais, de
consumo ou de produção. Concluirnos que a politica de lU-
vestimenta das empresas, adernais de sua evidente irnportân
c1a para o crescimento econorn1co, também possui efeitos so
bre a formação dos preços.

3.13 -DIFERENCIAIS DE CUSTO E FORMAÇÃO DE PREÇOS

Para Steindl, "a existência de consideráveis


diferenciais de custo e crucial em importância para a an~
lise teórica da formação dos preços" (50). Os diferenciais
de custo, ou seja, de custos unitários diretos,ocorrern en
tre empresas de diferentes .-
tamanhos e lllVelS tecnológicos;
os custos crescem à medida que caminhamos das grandes pa-
ra as pequenas empresas de urna mesma indústria.
Imaginemos, inicialrnen~e, o caso de urna ln-
dÚstria na qual concorrem empresas de tamanhos diferentes,
sendo significativa a participação dos pequenos produto-
res. Trata-se de um mercado bastante competitivo e, se
considerarmos um produto bastante homogêneo, teremos um
mesmo preço cobrado por todas as firmas; graficamente, te
mos:

A B C -------------I
Çl

o o
.W•r<
Cll H
:::l\ttl I
(.) .w
·ri
c I I

'--------~~-- --LJ
:::l

FIGURA 17

(50) J. Steindl- op. cit., p. 33


-104-

A empresa I, representativa das pequenas em


presas da indústria, caracteriza o chamado produtor marg~
nal, no duplo sentido de que representa o produtor de
malor custo (menos eficiente) e de lucro lÍquido igual a
zero (produtor de lucro normal.) Expliquemos a idéia de
lucro zero: significa que o empresário recebe uma remune-
raçao equivalente ã que receberia caso trabalhasse em ou-
tra empresa; nesse caso, a remuneraçao do seu capital se-
rla nula. A situação de produtor marginal depende, -
e ela-
ro, do preço do produto; uma queda no preço fará com que
o produtor I seja eliminado do ~ercado, enquanto um prod~

toyque antes obtinha lucro passa a ser produtor marginal.


Sobre a questão da eliminação, observa-se que a fragilid~
de da empresa marginal coloca-a numa situação de fácil e-
liminação do mercado.
Vejamos a importância dos diferenciais de
custo para a formação do preço. Sendo a empresa A a de me
nor custo unitário direto (mais eficiente)., entao nenhu
ma empresa poderá cobrar um preço menor (lembrar a homog~
neidade do produto). Essa empresa possul portanto, no pr~

ço, uma arma eficiente para a eliminaÇão de concorrentes,


quando julgar necessário (numa época de recessão, por e-
xemplo). Da mesma forma, em epocas de crescimento do mer-
cado, quando não houver interesse ou mesmo condiçÕes para
eliminação dos COncorrentes de maior CUStO, e bastante lU
teressante para as empresas mals eficientes "seguir" o
preço ditado pelo custo mais alto das menos eficientes
pols dessa forma sua margem de lucro torna-se bastante e-
levada.
Vejamos, dinamicamente,o padrão de concor
rencla para o caso de uma indústria com as característi
cas apontadas de grande heterogeneidade a nível das em-
presas. Chamemos as empresas maiores e mais eficientes de
empresas progressistas (empresas do tipo A) e as menores
e menos eficientes de empresas marginais (empresas do ti-
po R) e, seguindo Steindl, coloquemos os seguintes press~

postos:
"SupÕe-se, em primeiro lugar, que as firmas
-105-

invistam apenas em sua prÓpria indÚstria. A rigidez total


dessa hipótese não será mantida ate o fim, mas sera sus -
tentado, do princÍpio ao fim, que os empresarlos conside-
ram em prlmelro lugar o investimento em sua prÓpria indú~
tria, e so se afastam dessa prática por motivos muito for
tes. Em segundo lugar, supoe-se que o aumento do capital
empresarial de uma firma - ou seJa, a parcela relativa ao
capital mals as reservas no caso de uma sociedade de cap~

tal por açoes, ou de capital privado dos empresários no


caso de uma firma particular - seja um importante incenti
vo ao investimento do empresário. O aumento desse capital
empresarial ocorre, em geral, retendo-se uma parte dos l~

cros sob a forma de poupança. processo que denominaremos


acumulação interna. Em terceiro lugar, supomos que a taxa
de crescimento do mercado seja dada para a indústria como
um todo" (51)
Dadas as características das empresas margi
nais, com obtenção de lucros apenas normals, considera-se
que elas "provavelmente nada acumularão como grupo" (52).
Consideremos agora as diferentes possibili-
dades dinâmicas:

a) A taxa de crescimento das empresas progressistas (LA/A)


e igual ã taxa de crescimento do mercado (LM /M ) Su
e e
ponhamos que o mercado inicial (M ) divida-se da se-
e
guinte forma: 50% para as empresas A e 50% para as em
presas B (pequenas) Ilustremos a situação em que:

L M
1:!. A e
A
= M
e

M I:!.M
e e

A B A

50%

50% 50% B

50%

FIGURA 18

(51) J. Steindl- op. cit., p. 61-62


(52) J. Steindl- op. cit., p. 62
-106-

Nesse caso, a participação relativa das em-


presas A e B no mercado não se alterará, pois ambas parti
c~parao com a mesma proporçao anterior no mercado acresci
do (M ) . É interessante observar que, se as empresas marginais,como
e
grupo,nao realizam acumulação interna, entao seu aumen -
to, no sentido de participar da expansão do mercado,só p~
de se dar em termos quantitativos, ou seja, atraves do au
mento do número de pequenas empresas. O caso em questao e
representativo dos perÍodos de grande expansao no mercado,
quando são abertas novas possibilidades para o ingressode
pequenas empresas. Se o mercado crescer muito, pode até
ocorrer que a participação das firmas pequenas aumente
para isto e necessar~o
- . que:

>
M A
e

Por exemplo:

M 6M
e e

A B A
30%

50% 50% 70%

FIGURA 19

b) A taxa de crescimento das empresas progressistas e- su-


per~or a taxa de crescimento do mercado:

6 M
6 A e
>
A M
e

Nesse caso haverá um aumento da participação relativa


das empresas de tipo A no mercado. Por exemplo.
-107-

M D.M
e e

A B A

70%

B
50% 50% 30%

FIGURA 20

Coloca Steindl que, nesse caso, sera neces-


- .
sar1o um esforço especial de vendas pelas empresas pro
gressistas: "Se, contudo, a taxa de acumulação interna das
firmas bem situadas, determinada por sua vantagem diferen
cial, for de tal ordem que empurre a sua expansao além da
taxa de expansão da indÚstria como um todo, elas terãode
garantir uma participação relativa maior no mercado. Para
1SSO,
-
sera- necessar1o
. que se lancem em uma campanha de
vendas especial, pois, se venderem ao mesmo preço das de-
mais firmas, fornecendo produtos da mesma qualidade, com
uma campanha publicitária semelhante, é provável que nao
conquistem mais que uma parcela proporcional do mercadoem
expansao. Portanto, ou venderão a preços mais baixos do
que as firmas marginais, ou se empenharão em uma competi-
çao de qualidade, ou seja, produzirão melhores produtos
de custos provavelmente maiores, e os venderão ao mesmo
preço das firmas marginais. Ou, entao, lançarão campanhas
publicitárias ou farão outras despesas de vendas em esca-
la mais elevada do que as firmas marginais, o que implica
rá, provavelmente, que suas despesas de venda por unidade
serao ma1ores do que as firmas marginais" (53).
O aumento da participação relativa das em-
presas maiores no mercado caracteriza um aumento no grau
de concentração do mercado em termos relativos. Essa con-

(53) J. Steindl- op. cit. p. 72.


-108-

centraçao relativa apresenta um-limite caracterizado pela


seguinte situação:

6A l'lH
e

Se lSSo ocorrer, entao as empresas de tipo


-
A captarao para si todo o incremento do mercado; nesse ca
so o nÚmero de empresas do tipo B não se altera:

M H
e e

A B A

50% 50% 100%

FIGURA 21

A partir desse ponto limite, teremos a se-


guinte situação:

LA > l'lM
e

Nesse caso, as empresas maiores nao so cap-


tarao para Sl todo o incremento do mercado, mas também to
marao uma parte do mercado anteriormente servido pelas em
presas pequenas. Quando o crescimento absoluto das empre-
sas mals eficientes supera o crescimento absoluto do mer-
cado, ocorre eliminação de empresas marginais, caracteri-
zando um aumento no grau de concentração do mercado em
termos absolutos. Por exemplo:

M 6M
e e

A B A

50% 40%

11 ~% 100%

FIGURA 22
-109-

Vejamos um trecho de Steindl sobre a elimi-


naçao de empresas menos eficientes:
"Devemos considerar, agora, o caso especial
que ocorrerá se a acumulação interna das grandes firmas ul
trapassar certo nível crítico. A causa desse aumento na
acumulação interna seria a adoção de novos métodos técni-
cos, que reduziriam os custos e aumentariam as margens de
lucro dessas grandes firmas, porque eles não podem ser a-
dotados por todas as firmas, principalmente pelas peque -
nas. O nível crítico de que falamos e a taxa máxima de ex
pansao das grandes firmas que, dada a taxa de expansão da
indústria, é consistente com uma participaçao absoluta
constante das outras firmas. Se as grandes firmas se ex-
pandirem a uma taxa mais rápida do que o indicado por es-
se nível, a participação absoluta das outras firmas deve-
ra, necessariamente, diminuir. Ocorrerá, entao, uma con -
centraçao absoluta, ou seja, a eliminação de determinado
numero de firmas existentes. Como se dará essa eliminação ?
Ela so poderá ocorrer se a intensidade da campanha de ven
das das grandes firmas ocasionar perda de vendas para ou-
tras firmas, vendo-se estas, portanto, forçadas a reduzir
os preços ou a aumentar o custo por meio da competição de
qualidade e de uma publicidade mais intensa. As firmas de
custo mais elevado ou com menor flexibilidade financeira,
aspectos que em geral sao mais encontrados entre as pequ~

nas firmas, nao serao capazes de suportar a tensao, sendo


forçadas a abandonar o mercado" (54).
O tratamento dinimico ac1ma explicitado e
de grande utilidade para marcar o fato de que a política
de preço de uma grande empresa (alem da política de prod~
to e publicidade) depende da relação entre sua taxa de
crescimento (bem como da taxa de crescimento das outras
firmas progressistas) e a taxa de crescimento do mercado.
rependendo da comparação entre essas taxas, a políticada
~rande empresa será mais apática (6A/A ~ 6Me/Me) ou ma1s
agress1va (6A/A > 6M /M ) . E essa agressividade sera tan-
e e

(54) J. Steindl - op. cit. p. 63


-110-

to ma1.or quanto ·maio-ra distância entre tc.A/A e tc.M /M As pequ~


e e
nas empresas possuem um comportamento tipicamente passivo,
aguardando o resultado da comparação das taxas acima ex-
plicitadas.
Verifiquemos agora um caso de grande rele-
vancia no capitalismo moderno; 1.mag1.nemos que, num deter-
minado mercado, concorrem apenas 4 (quatro) empresas, sen
do a seguinte a estrutura preço-custo:

A B c D
---- - ,.------r
o o
)...< ·.-4
C) )...<
::l\CIJ
.--< .w
·.-4
c
::l

o
o ·.-4
.w )...<
CJ)\CIJ
::l .1-J
C) ·.-4
c
::l

FIGURA 23

Nesse caso, a Empresa D e a empresa margi-


nal apenas no sentido de que possuí o maior custo uníta -
r1.o direto, ou seja, e a menos eficiente, po1.s, mesmo as-
Slm, apresenta lucro lÍquido positivo (o qual pode ser a-
te bastante elevado). Conclui-se que o diferencial de cus
to 4 empresas nao e significativo para a explic~
entre as
.
ção do lucro das empresas, pOlS e necessar1.o explicar o - -
lucro da empresa D. Afinal, se a empresa menos eficien-
te apresenta um lucro (que, como já dissemos, pode ser bas
tante elevado), por que outras empresas ainda menos efici
entes nao entram no mercado abocanhando lucros? A respos-
ta a essa questao esta nas chamadas barreiras -a entrada,
ou seja, nas dificuldades encontradas pelos capitais para
ingressar na indÚstria; estas barreiras sao devidas -
a te c
nologia, ã escala de produção e ã diferenciação do produ-
to. Fica claro portanto, que, no caso em estudo, a empre-
sa marginal e- uma grande empresa. Tendo isso em conta, fi
ca fácil perceber a dificuldade para a eliminação de em -
presas do mercado. Imaginemos que a empresa A procure, a-
traves da redução de seu preço de p para p para elimi
0 1
-111-

nar do mercado a empresa D:

prejUlZO

c ·r<
.w c
)...<
[
tll\ctl
::::; .w
u . ...,
c
::J

FIGURA 24

A empresa marginal, nesse caso, poderá rea-


glr baixando também o seu preço para p , o que anulara o
1
esforço de vendas da empresa A. Haveria necessidade de
baixar ainda mais o preço, no sentido de anular o lucro
"anormal" da empresa D (preço teria que baixar para p ).
2
Como a empresa reage baixando também seu preço para p ,fi
2
caria apenas com lucros "normais", o que nao garantiria a
sua eliminação; -
.
seria necessarlo, por parte de A, baixar
ainda mais seu preço, de modo a induzir a empresa D ao
prejuízo (preço cal para p ). Pergunta-se: estaria asslm
3
garantida, depois desse lmenso esforço de redução de pre-
ço e de lucro da empresa A, a eliminação da empresa D?Ain
da nao, pols sendo D uma grande empresa, pode ter condi
çoes financeiras para permanecer por algum tempo com pre-
juízo. Como afirma Steindl, "como as firmas marglnals nes
se caso nao sao pequenas, elas muitas vezes têm certa fle
xibilidade financeira e, com isso, um poder maior de per-
manencla do que teriam as firmas pequenas. O esforço de
vendas. necessário seria, pols, considerável e, a menos
que as reduçÕes de custo efetuadas pelas firmas progres
sistas sejam muito grandes, o processo de eliminação en-
volveria uma considerável redução nas margens de lucro e
-112-

taxas de lucro na indÚstria" (55).


É importante frisar que um grande diferen -
cial de custos, que torne atraente a concorrencia em pre-
ços para eliminação do produtor de maior custo, difícil
mente ocorre em mercados deste tipo, ou seja, urna indÚs
tria oligopolista, dominada por poucas e grandes ernpr~as.

Alem disso, existe um componente adicional, que auxilia


na falta de motivação para a "guerra de preços", qual se-
ja, o desconhecimento que cada urna das empresas partici
pantes do oligopÓlio tem da realidade dos custos das suas
concorrentes; isto torna a "guerra de preços" urna emprei-
tada extremamente arriscada. Sendo assim, concluímos que
o preço deixa de ser urna arma de concorrência inter-capi-
talista, sendo melhor para as empresas do oligopólio urna
"administração conjunta" dos preços, passando a concorreu
cla para o lado dos produtos, incluindo aí a luta da pro-
paganda, para o caso dos oligopólios diferenciados (onde
é possível urna grande diferenciação de produtos).
Para o caso de urna empresa participante do
oligopÓlio, a teoria econornica criou urna interessante"cur-
va de demanda quebrada", com o seguinte formato (56).

Q
GRÁFICO 34

(55) J. Steindl- op. cit. p. 72.


(56) Esta curva foi desenvolvida sirnultânearnente por Paul
Sweesy nos EUA e por Hall e Hitch na Inglaterra.
-113-

Seu significado -e o seguinte: imaginemos


que, para uma empresa oligopolista, o preço do produto e-
p ; abaixo desse preço a demanda e bastante inelástica,
0
ou seja, a empresa acredita que, baixando seu preço, as
concorrentes a segu1rao, baixando tamb~m os seus, o que
geraria um acr~scimo muito pequeno na demanda do seu pro-
duto; Ja para uma subida do preço, a situação e inversa,
~ols a empresa imagina que suas concorrentes nao a segul-
rao, o que ocasionará forte queda de demanda de seu prod~
to (nesse caso a curva de demanda ~ elástica). A conclu -
sao e Óbvia: melhor permanecer cobrando o preço p •
0
Se já vlmos anteriormente as razoes da r1g~
dez de preços para o caso do monopólio e de uma indGstria
oligopolista (em termos de preço médio), v1mos agora as
razoes da rigidez de preço para o caso de uma empresa paE
ticipante do oligopólio (o que, obviamente, reforça o ar-
gumento da rigidez do preço medio).
Ê importante ter em conta que, no caso do o
ligopÓlio, dependendo do tamanho das "barreiras à entra
da", o que diminuirá a importância da concorrência poten-
cial, surge um importante grau de liberdade (ou, dizendo
melhor, de arbitrariedade) por parte das empresas para d~

terminação dos seus preços, po1s deixa de existir uma con


corrência fortemente indutora da redução de preços. Veri-
ficamos entao que, no caso do capitalismo de grandes em-
presas, diferentemente do que se verificava no capitalis-
mo concorrencial do século XIX, os benefícios do aumento
de produtividade, que se reflete na redução dos custos u-
nitários diretos, nao são difundidos através dos preçosp~
ra toda a economia, mas sim "represados" pelas empresas,
gerando ass1m vultosas massas de lucro.
Da consideração da capacidade da grande em-
presa de administrar seu preço surge o conceito de "mark-
up", que significa a porcentagem colocada em cima do cus-
to unitário direto para se chegar ao preço. A magnitude
desse "mark-up" encontra-se determinada, por um lado, pe-
lo prÓprio grau de monopÓlio e pela' segurança que as em-
presas oligopolistas possuem com respeito a concorrenc1a
potencial, (barreiras à entrada de natureza econom1ca,
-114-

mals interferência na polÍtica do Estado) e, por outro~or


fatores estruturais como por exemplo a taxa de salário
vigente na economia.
Lembrando do Gráfico 11 (custo unitário di-
reto), teremos entao o seguinte esquema gráfico para o
preço administrado (em função da quantidade produzida)

preço

a
---------..----------
b

c
Q
GRÁFICO 35

sendo:
cd ramo relevante da produção
bc custo unitário direto
ab "mark-up"
ac preço

. .
A partir desse raClOClnlO, - podemos entender
os esquemas encontrados em qualquer texto da área de Fi-
nanças das Empresas, referente ã relação entre Custo, Vo-
lume e Lucro.

Iniciemos com o gráfico da Receita Total em


função da quantidade produzida:
-115-

RT

GRÁFICO 36

Sabemos que RT = p.Q Vimos anteriormente


que, sendo a curva de demanda negativamente inclinada,
significando que, para se vender mais ~ necess~rio baixar
o preço, a curva da Receita Total e uma par~bola. (Gráfi-
co 20'. Para que essa curva passe a ser retilínea, e ne-
cess~rio um pressuposto fundamental, qual seja,de que nao
é necess~rio baixar o preço para vender mais; por tudo que
j~ vimos, esse e o caso típico da grande empresa. Se con-
siderarmos então o preço rígido ("fix-price", na termino-
logia de John Hicks) e o multiplicarmos pela quantidade
chegaremos à reta da Receita Total.
Colocando em seguida as funçÕes Receita To-
tal Custo Total num mesmo gr~fico, temos:

RT, CT

RT

CT

Q
GRÁFICO 37
-116-

produçà.o Q. e aquela que equilibra


A custo
l
. ~

e receita; abaixo dela existe preJUlZO (CT > RT) ; aclma


dela existe lucro (RT > CT) . Observe-se que, nesse grafi-
co, nao existe um Lucro Total Máximo claramente determina
do, como era o caso no esquema da concorrência imperfeita
(ver Gráfico 21); quanto maior a produção, malor o lucro.
A decisão da quantidade a ser produzida (atenção: a deci-
sao sobre o preço a ser cobrado ja foi feita; ela antece-
de o gráfico da Receita Total) dependera da política da
empresa a respeito do grau de capacidade ociosa que consl
dera desejável.
Finalizamos com uma observação: nao e neces
sario estudar uma coisa nas disciplinas de Teoria Econômi
ca e outra coisa nas disciplinas praticas, ligadas a a-
çao empresarial (por exemplo: Finanças das Empresas, Mar-
keting, etc.). Em outras palavras, nao vale dizer que "na
pratica a teoria e outra"; o problema e saber distinguir
entre uma ma e uma boa teoria.

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