Você está na página 1de 238

INTRODUÇÃO À ECONOMIA I

UMA INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA

Pedro Cezar Johnson Rodrigues de Britto *


Rio de Janeiro, 20 de agosto de 2020.

*Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Nota do autor:

Este material consiste no meu caderno digital do curso Introdução à Economia I


(FCE02-04565), ofertado pelo Departamento de Análise Quantitativa (DAQ) da
Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ, que realizei no primeiro semestre de 2012
ministrado por Honorio Kume. Inclui um mix de notas de aulas, informações contidas
em slides apresentados em sala de aula, pesquisas sobre temas específicos através dos
materiais bibliográficos sugeridos ao longo do curso; bem como exercícios para cada
tema, e soluções/desenvolvimento dos exercícios propostos na parte final do caderno.

Caderno originalmente escrito em 2012.

Última revisão/edição: 20 de agosto de 2020.


2

SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4

1.1 – Pensando como economista............................................................................... 8

1.2 – Interdependência e ganhos de comércio ........................................................ 11

2 – ALOCAÇÃO DE RECURSOS ............................................................................. 19

2.1 – O sistema de preços: oferta, demanda e equilíbrio de mercado .................. 19

2.1.1 - Demanda ..................................................................................................... 19

2.1.2 – Oferta .......................................................................................................... 26

2.1.3 – Equilíbrio de mercado ................................................................................ 31

2.2 – Elasticidade e aplicações ................................................................................. 40

2.2.1 – Elasticidade-preço da demanda ................................................................. 41

2.2.2 – Elasticidade-preço cruzada ........................................................................ 50

2.2.3 – Elasticidade-renda da demanda ................................................................. 51

2.2.4 – Elasticidade-preço da oferta ...................................................................... 52

2.3 – Intervenções governamentais: controle de preços e impostos ..................... 54

3 – MERCADO E ECONOMIA DO BEM-ESTAR .................................................. 63

3.1 – Excedentes do consumidor e do produtor e eficiência de mercado ............ 63

3.2 – Tributação e bem-estar ................................................................................... 70

3.3 – Impacto do comércio internacional sobre o bem-estar ................................ 74

3.4 - Externalidades .................................................................................................. 84

3.5 – Tipos de bens, bens públicos e recursos comuns........................................... 94

4 – SISTEMA TRIBUTÁRIO ................................................................................... 100

4.1 – Imposto e eficiência ....................................................................................... 101

4.2 – Imposto e equidade ........................................................................................ 102

4.3 – Impostos e carga tributária no Brasil .......................................................... 105

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
3

5 – ESTRUTURA DE MERCADO ........................................................................... 109

5.1 – Custos de produção ....................................................................................... 109

5.2 – Concorrência perfeita.................................................................................... 120

5.3 – Monopólio ....................................................................................................... 136

5.3.1 – Discriminação de preços .......................................................................... 143

5.4 – Concorrência monopolística ......................................................................... 152

5.4.1 – Efeito da propaganda/marketing na competição ..................................... 161

5.5 – Oligopólio ....................................................................................................... 163

5.5.1 – Introdução à Teoria dos Jogos ................................................................. 168

6 – INTRODUÇÃO À TEORIA DO CONSUMIDOR RACIONAL ..................... 176

7 – INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS DE INFORMAÇÃO ASSIMÉTRICA E


ESCOLHA PÚBLICA................................................................................................ 189

7.1 – Informação assimétrica, risco moral e seleção adversa ............................. 189

7.2 – Teoria da escolha pública (paradoxo eleitoral e teorema do eleitor


mediado) .................................................................................................................. 191

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 199

SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS................................................ 200

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
4

1 – INTRODUÇÃO

Economia, de uma forma simples, consiste no estudo de como a sociedade


administra (ou decide) seus recursos (que são escassos1).

As decisões econômicas ocorrem desde dentro do âmbito familiar quanto no


âmbito de uma sociedade. Dentro de uma pequena família, podem surgir questões que
envolvem decisões, tais como (a) quais das pessoas da família devem trabalhar fora, (b)
quem será encarregado de preparar as refeições, ou ainda (c) como será gasto a renda da
família. Estas decisões são importantes devido a questão da escassez de recursos, que no
caso são o tempo e a renda.

Dentro do âmbito da sociedade, inúmeras questões podem ser colocadas, como


por exemplo, quem produzirá alimentos, ou quem produzirá calçados, etc. Dentro dos
meios produtivos, há uma alocação de pessoas, máquinas, construções e terras. Outra
questão seria de como será distribuído a produção entre os membros da sociedade. A
escassez neste caso se refere a natureza limitada dos recursos da sociedade.

Existem alguns princípios fundamentais que são estilizados nas Ciências


Econômicas em geral, que envolvem como as pessoas tomam decisões, como as pessoas
interagem e como a economia funciona.

O processo decisório de um indivíduo é baseado nos seguintes princípios:

➢ As decisões envolvem custos (“tradeoffs”)2. Isto refere-se ao ditado popular


“não há nada de graça”; ou nas palavras de Friedman (economista ganhador
do Prêmio Nobel de Economia em 1976), “não há almoço grátis”. Como
exemplo de tradeoff, podemos citar a escolha de uma pessoa em um
determinado momento, entre fazer uma graduação em Ciências Econômicas ou
em Direito. Como exemplos de tradeoffs clássicos de uma sociedade, podemos
citar entre poluição ambiental versus renda; ou ainda entre eficiência versus
igualdade.

1
Entende-se que os recursos da natureza e de uma sociedade não são infinitos; o que implica que para
cada tipo de recurso, existe um nível de escassez a ser observado.
2
Trade-off ou tradeoff é uma expressão em inglês que significa o ato de escolher uma coisa em
detrimento de outra.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
5

o Eficiência significa que a sociedade consegue obter a maior


produção com os seus recursos escassos.

o Igualdade significa que todos os membros da sociedade recebem


uniformemente os benefícios desta produção.

➢ O custo é medido pelo custo de oportunidade; que em linhas gerais,


significa o que se deixa de fazer para realizar alguma atividade. Assim, o custo
econômico se difere do custo contábil. Por exemplo, imagine uma pessoa que
decida fazer um curso de nível superior em Administração em uma
universidade privada. O custo contábil corresponderia ao valor da mensalidade
paga pelo estudante, e os custos de materiais e transporte. Já o custo
oportunidade implica no que esta pessoa deixa de fazer para realizar tal
atividade, que poderia ser realizar um curso superior em Ciências Econômicas.
O custo oportunidade pode ser também mensurado de forma contábil, como
por exemplo, a renda ou salário que esta pessoa teria se estivesse realizando
alguma atividade no mercado de trabalho, mas que impossibilitada devido ao
tempo escasso para realização do curso de nível superior.

➢ As decisões são baseadas em valores marginais (adicionais). Apesar de


algumas decisões serem do tipo “tudo ou nada”, como por exemplo, decidir
fazer um curso de graduação, ou ainda escolher qual curso; a maioria das
decisões envolve “um pouco mais”, ou “um pouco menos”. Por exemplo,
podemos citar de exemplo questões como “o que fazer na próxima hora”, ou
ainda “estudar mais, ou dormir mais um pouco”. Assim, no processo decisório,

o vale a pena fazer uma determinada atividade se o benefício


marginal é maior do que o custo marginal. No exemplo de “estudar
mais” ou “dormir um pouco mais”, a decisão deve ser baseada no
que gera um benefício maior do que o custo, e sempre observando
a margem. Estudar mais pode implicar no benefício de aprender
mais, com o custo do tempo, ou o custo oportunidade de dormir
mais. Já dormir mais pode implicar no benefício de descansar o
corpo e a mente, com o custo do tempo gasto dormindo.
Dependendo do estado em determinado momento de uma pessoa, o

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
6

benefício marginal pode ser maior do que o custo marginal para as


opções diferentes.

o Benefício marginal, de uma forma geral, equivale a quantia


máxima que um indivíduo está disposto a gastar para fazer alguma
atividade.

o Já o custo marginal corresponde ao custo de oportunidade.

Em economia, é comum usarmos gráficos para representarmos as


relações entre custos e benefícios marginais. A Figura 1 nos ilustra um tipo de
gráfico padrão que usamos em Economia.

Figura 1 Ilustração de gráfico genérico em economia.

Fonte: KUME.

➢ Incentivos afetam as decisões; logo os incentivos afetam o benefício


marginal ou o custo marginal. As pessoas reagem aos incentivos, e os
incentivos influenciam as decisões.

Já a interação entre indivíduos é vista pelos seguintes princípios.

➢ O comércio (trocas) pode ser bom para todos os indivíduos. As pessoas


ganham ao se especializarem e comercializarem uns com os outros; e da
mesma forma países ganham ao se especializarem e comercializarem uns com
os outros.

➢ O sistema de mercado é um bom mecanismo para organizar a atividade


econômica. A coordenação da atividade produtiva é importante para a decisão
sobre o que é importante produzir; e pode ser feita via planejamento central (do
governo, por exemplo, quando o governo decide gastar em pesquisa contra
câncer de mama, ou em segurança pública), ou via economia de mercado (a
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
7

chamada mão invisível, quando envolve consumidores, empresas e governo;


por exemplo, quando a Apple decide produzir mais um iPhone ou um
MacBook).

É interessante que todos os dias ajudamos a decidir o que será produzido, o que
ocorre até mesmo quando decidimos comprar entre um café ou Coca-Cola, ou ainda
entre um sanduíche ou um salgado. Se os indivíduos valorizam muito um bem, seu
preço tenderá a ser alto – pois preço elevado, implicando em maior lucro para firmas
produtoras, estimula a produção.

➢ Em alguns casos, o governo pode melhorar os resultados dos mercados. Um


governo com boas instituições, pode assegurar o direito de propriedade, o
cumprimento de contratos, etc.; pode corrigir falhas de mercado, como
problemas de externalidades (no meio ambiente, por exemplo), e poder de
compra (quando há pouca competição); e entre outras coisas, como distribuição
de renda mais equitativa.

➢ A produtividade define o nível de renda do país, e ela pode ser expressa


entre a razão da produção com o seu número de trabalhadores. Em forma de
equação matemática, temos que

𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢çã𝑜
𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = .
𝑡𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙ℎ𝑎𝑑𝑜𝑟𝑒𝑠

A produtividade pode ser determinada pelo conjunto de tecnologia, de capital


físico, de capital humano e de recursos naturais empregados.

Sobre como uma economia funciona, um economista em formação descobrirá


diversos padrões; e será citado a efeito de exemplificação dois princípios.

➢ Um aumento generalizado de preços (inflação) normalmente decorre do


aumento da quantidade de moeda no país.

➢ No curto prazo, ocorre um “tradeoff” entre inflação e desemprego (nível de


atividade).

Podemos analisar o isto da seguinte forma. O aumento da moeda consiste num


bom estímulo para o consumo; e o maior consumo estimula as empresas a contratar
mais trabalhadores (para produzir mais). Uma contratação de trabalhadores significa
menor desemprego. Por sua vez, o menor desemprego pode provocar maiores estímulos

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
8

e pressões por aumento nos salários. Maiores salários elevam os preços, gerando
inflação. Assim, no final (longo prazo), o aumento da moeda provoca inflação. No
entanto, até se atingir o longo prazo, os governos podem explorar o tradeoff entre
inflação e desemprego (no curto prazo).

1.1 – Pensando como economista

Economia treina você a pensar em termos alternativos; avaliar o custo de


escolhas individuais e sociais; e a examinar e entender como certos eventos e questões
estão relacionados.

O economista como um cientista deve desenvolver o raciocínio econômico, que


é analítico e objetivo, utiliza o raciocínio abstrato – ou seja, deve-se sempre destacar
entre diversos fatores os mais relevantes, e determinar relações de causalidade – e
utiliza o método científico.

No método científico, modelos abstratos ajudam a entender como um mundo


real opera, levando em consideração que o mundo real é complexo e que economistas
não podem fazer experimentos, assim a história oferece experimentos naturais.

Um modelo em economia consiste em uma representação simplificada da


realidade – geralmente apresentada por relações matemáticas entre as variáveis
econômicas.

As hipóteses são fundamentais para modelos a fim de entender como o mundo


funciona na realidade. A arte no pensamento científico é decidir quais hipóteses
devemos usar – e assim podemos usar hipóteses diferentes para responder questões
diferentes. Através da coleta e análise de dados, podemos avaliar e inclusive definir
teorias, sempre com base nos dados, validando ou eliminando hipóteses.

Verificaremos agora dois modelos básicos em economia.

De uma forma geral, no mundo real, existe um conjunto de relações entre


pessoas/famílias com mercados de bens e serviços e mercado de fatores de produção,
que por sua vez, mantêm relações com as firmas. A Figura 2 nos ilustra um modelo de
diagrama do fluxo circular da renda.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
9

Figura 2 Diagrama do fluxo circular da renda.

Fonte: KUME.

Na economia real no Brasil, existem milhões de pessoas envolvidas em diversas


atividades; e uma pergunta pode ser como funciona esta economia. O diagrama do fluxo
circular da renda nos mostra um modelo visual da economia, de como os reais circulam
pelos mercados entre as famílias e empresas (firmas).

Um segundo exemplo, consiste em modelo de fronteira de possibilidade de


produção. Na economia real, milhares de bens e serviços são produzidos. No modelo,
podemos estabelecer apenas dois bens, como carro e computador. Assim, a fronteira de
possibilidade de produção mostra a combinação de dois bens que uma economia pode
produzir, dadas a dotação de fatores de produção e a tecnologia disponível. A Figura 3
nos ilustra um exemplo deste modelo.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
10

Figura 3 Modelo gráfico de fronteira de possibilidade de produção.

Fonte: KUME.

Neste exemplo, verificamos que uma economia específica pode produzir três mil
computadores e nenhum carro; como também pode produzir mil carros, mas nenhum
computador. Da mesma forma, pode produzir 2200 computadores e 600 carros, 2000
computadores e 700 carros, ou ainda 1700 computadores e 800 carros. A escolha ótima
de produção vai variar de acordo com às diferenças de preços entre carros e
computadores que produz.

Assim, na fronteira de possibilidade de produção aplicam-se conceitos como


eficiência, tradeoff, custo de oportunidade e crescimento econômico.

A Microeconomia analisa as partes individuais da economia; ou seja, como as


famílias e as firmas tomam decisões e como eles interagem em mercados específicos.

A Macroeconomia analisa a economia como um todo; ou seja, os agregados


econômicos, tais como inflação, desemprego, e crescimento econômico.

Quando os economistas procuram explicar o mundo, são cientistas; e quando


procuram alterar o mundo, são consultores de política. Assim podemos definir os
conceitos de economia positiva e economia normativa.

Uma análise positiva procura descrever o mundo como é; e assim é denominada


como uma análise descritiva.

Já uma análise normativa consiste em afirmações de como o mundo poderia ou


deveria ser; e assim é denominada como uma análise prescritiva.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
11

Por exemplo, “um aumento no salário mínimo provocará uma elevação na taxa
de desemprego da mão-de-obra não qualificada” ou ainda “um aumento no déficit
público provocará uma elevação na taxa de juros” consistem em frases de análise
positiva, pois descreve, afirma relações que podem ser provadas.

Já por outro lado, por exemplo, “o impacto decorrente de um aumento no


salário-mínimo é mais importante do que uma eventual redução no emprego” consiste
em uma frase de análise normativa, pois implica em uma opinião ou ainda uma
sugestão.

É comum muitas vezes economistas discordarem, tanto sobre a validade das


teorias positivas sobre como o mundo funciona, quanto por terem juízos de valores
diferentes, e, portanto, visões normativas diferentes.

Exercício 1. Hillary precisa comprar o livro de Microeconomia indicado para a


disciplina Economia no curso de Relações Internacionais do IBMEC. O preço na
livraria Saraiva, localizada no térreo do IBMEC, é de R$ 120. Ela pode comprar no site
Submarino.com.br por R$ 100, mais o custo da remessa do livro de R$ 10 cujo tempo
de entrega é de 7 dias úteis. (a) Qual é o benefício marginal e o custo de oportunidade
marginal de comprar no Submarino.com.br? (b) qual é a condição para Hillary comprar
no Submarino.com.br?

Exercício 2. A água é necessária para a vida. O benefício marginal de um copo d’água


é grande ou pequeno? Vide soluções na seção final do caderno Soluções dos exercícios
propostos.

1.2 – Interdependência e ganhos de comércio

Como economistas, devemos entender que todos podem se beneficiar com o


comércio (compras e vendas); aprender o significado de vantagem absoluta e vantagem
comparativa; reconhecer que a vantagem comparativa é a base para que a especialização
e o comércio beneficiem ambos os parceiros; e sermos capazes de aplicar o conceito de
vantagem comparativa em um contexto real.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
12

Através da interdependência, obtemos ganhos com as trocas. Será apresentado


um modelo simples, com apenas dois bens, carne e batatas; e apenas dois indivíduos,
um agricultor e um pecuarista; e a hipótese consiste que ambos gostam tanto de carne
quanto de batatas.

Suponha que o agricultor produza somente batatas, e o pecuarista produza


somente carne. E se questiona se eles ganham com a troca/comércio de bens. A resposta
é sim, pois com as trocas, ambos podem consumir uma maior variedade de bens.

Suponha agora que o agricultor produz batatas e carne, mas é melhor na


produção de batatas; e o pecuarista produz batas e carne, mas é melhor na produção de
carne. Desta forma, eles ganham com a troca e comércio de bens, onde cada um se
especializa na atividade com melhor desempenho.

Suponha agora novamente que tanto o agricultor quanto o pecuarista são capazes
de produzir carne e batata; no entanto, que o agricultor gaste 60 minutos por dia para a
produção de 1kg de carne por mês, e 15 minutos por dia na produção de 1kg de batatas
por mês; e o pecuarista gaste 20 minutos por dia na produção de 1kg de carne por mês, e
10 minutos na produção de 1kg de batatas por mês. A Tabela 1 nos ilustra a produção
de bens por dia (com oito horas de trabalho) do agricultor e do pecuarista, caso cada um
queira produzir somente carne, ou somente batatas.

Tabela 1 Produção de bens por mês (com oito horas de trabalho por dia).

Indivíduo/produtor Carne (kg) Batatas (kg)


Agricultor 8 32
Pecuarista 24 48
Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Podemos traçar um gráfico de fronteira de possibilidade de produção (FPP)


tanto pro agricultor quanto para o pecuarista, conforme ilustrado na Figura 4.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
13

Figura 4 Fronteira de possibilidade de produção do agricultor e do pecuarista.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Há três formas de se deslocar a FFP. Para exemplificarmos, consideraremos o


caso do agricultor. Caso ele aumente a sua produtividade na produção de carne, de 8kg
de carne produzida por dia para, por exemplo, 15kg, a FFP se desloca para a direita com
o ponto fixo na produção de batatas em 32kg/dia. Caso ele aumente a sua produtividade
na produção de batatas, de 32kg de batas produzida por dia para, por exemplo, 38kg, a
FFP se desloca também para a direita, com o ponto fixo na produção de carne em
8kg/dia. Estes dois casos são ilustrados na Figura 5.

Figura 5 Deslocamento da fronteira de possibilidade de produção


do agricultor por aumento na produtividade.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Outra forma consiste no aumento nas horas de trabalho, como por exemplo, de
oito para dez horas por dia. Assim, o agricultor pode produzir 10 kg de carne ou 40 kg
de batatas. Neste caso, a reta da FPP se desloca para a direita, conforme ilustrado na
Figura 6.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
14

Figura 6 Deslocamento da fronteira de possibilidade de produção


do agricultor por aumento nas horas de trabalho.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

A FPP nos indica o tradeoff, ou seja, um deslocamento ao longo da FFP indica


que produzir mais de um bem implica em reduzir a produção de outro bem.

No caso do agricultor, em sua FPP original – como a linha é uma função linear,
podemos aplicar a regra de três. Sendo a produção de batatas em 8 horas por dia de
32kg, a produção por hora por dia é de 32𝑘𝑔⁄8ℎ = 4𝑘𝑔. Assim a produção de 1kg de
batatas ocorre em 60𝑚𝑖𝑛⁄4𝑘𝑔 = 15𝑚𝑖𝑛 por dia. Por outro lado, a produção de carne é
8kg por 8 horas de trabalho diárias, e assim é de 1kg/h. Verificamos já que a produção
de 1kg de batata se realiza em 15 minutos; e podemos verificar o quanto se dá de
produção de carne neste mesmo tempo. Como a produção de carne é dada em 1kg/h de
trabalho, em 15 minutos a produção de carne é de 1⁄4 = 0,25𝑘𝑔. Assim verificamos
que o custo de oportunidade de produzir um kg adicional de batatas é de 250 gramas de
carne, conforme ilustrado na Figura 7.

Figura 7 Custo oportunidade do agricultor.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
15

Sem a troca, a FPP é igual a fronteira de possibilidade de consumo (FPC) do


agricultor. Em uma média aritmética, o agricultor pode escolher produzir e consumir
16kg de batatas e 4kg de carne. Da mesma forma, sem troca e em uma média aritmética
de preferência, conforme exposto na Figura 4b, o pecuarista pode escolher em produzir
e consumir 12kg de carne e 24kg de batatas. Assim, surge a questão: o comércio (troca)
entre o agricultor e o pecuarista pode beneficiar ambos?

Suponha que o pecuarista proponha ao agricultor que se especialize na produção


de batatas, e para isto oferece 5kg de carne por 15kg de batatas. Caso o agricultor aceite
a proposto, ele irá produzir 32kg de batatas, e nada de carne. No entanto, pagando os
15kg de batatas, ele ainda terá 17kg de batatas mais 5kg de carne que receberá da troca.
Assim, fica claro que o agricultor ganha com o comércio (a troca), pois ele obtém um
consumo maior do que o permitido em sua FPP sem troca, conforme ilustrado na Figura
8.

Figura 8 Consumo do agricultor com o comércio.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Vejamos o que acontece neste caso com o consumo do pecuarista. Da Tabela 1,


verificamos que ele consegue produzir 24kg de carne através do trabalho de 8 horas por
dia; e assim ele consegue produzir 3kg de carne por hora diária trabalhada. Ele também
consegue produzir 48kg de batatas através do trabalho de 8 horas por dia; e assim ele
consegue produzir 6kg de batatas por hora diária trabalhada.

Desta forma, ele pode escolher trabalhar seis horas por dia na produção de carne,
e assim obter a produção de 18kg de carne por mês. Nas duas horas restantes de
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
16

trabalho por dia na produção de batatas, ele consegue produzir 12kg de batatas por mês.
Fazendo a troca, ele paga 5kg de carne ao agricultor, sobrando então 13kg de carne para
o seu consumo no mês; e recebendo 15kg de batatas do agricultor, somando com sua
produção de 12kg, ele obtém então 27kg de batatas para o seu consumo mensal,
conforme ilustrado na Figura 9.

Figura 8 Consumo do pecuarista com o comércio.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Assim verificamos que o pecuarista também ganha uma possibilidade de


consumo superior com a existência do comércio. Neste modelo simples verificamos que
ambos podem ganhar com a troca. Mesmo o pecuarista sendo mais produtivo (tendo
vantagem absoluta) na produção de batatas e carnes; quando há trocas, e um se
concentra (ou se intensifica) na atividade em que a produção relativa é maior (vantagem
comparativa), ambos ganham. Nota-se que o ganho do comércio ocorre sem uma
melhora na tecnologia ou nas horas trabalhadas. Daremos agora uma definição a estes
termos.

A vantagem absoluta é observada através da comparação das horas necessárias


para produzir uma unidade de um produto, ou das produtividades (quantidade de
produto por hora de trabalho) em cada atividade. No exemplo do modelo simples, é
verificado através da Tabela 1 que o pecuarista possui vantagem absoluta tanto na
produção de carne quanto de batatas em relação ao agricultor.

Já a vantagem comparativa é observada através da comparação dos custos de


oportunidade ou das produtividades relativas. No caso do agricultor do modelo simples,

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
17

verificamos que o custo oportunidade na produção de 1kg de batatas é de 0,25kg de


carne; e da mesma forma o custo oportunidade na produção de 1kg de carne é de 4kg de
batatas. Já para o pecuarista, o custo oportunidade na produção de 1kg de carne é de 2kg
de batatas, e da mesma forma, o custo oportunidade na produção de 1kg de batatas é de
0,5kg de carne. A Tabela 2 mostra estes diferentes custos oportunidade na produção de
carne e batatas pelo agricultor e pelo pecuarista.

Tabela 2 Comparação dos custos de oportunidades no modelo simples.

Indivíduo/produtor Carne/batatas (kg) Batatas/carne (kg)


Agricultor 4 0,25
Pecuarista 2 0,5
Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Na produção de batatas, verificamos que o agricultor tem menor custo


oportunidade (1kg de batatas produzidas, equivale a deixar de produzir 0,25kg de carne;
enquanto para o pecuarista, 1kg de produção de batatas implica em deixar de produzir
0,5kg de carne), ou seja, o agricultor tem vantagem comparativa na produção de batatas.

Já na produção de carne, verificamos que o pecuarista tem menor custo


oportunidade (1kg de carne produzida equivale deixar de produzir 2kg de batatas;
enquanto para o agricultor, 1kg na produção de carne equivale a deixar de produzir 4kg
de batatas), ou seja, o pecuarista tem vantagem comparativa na produção de carne.

Ambos ganham com o comércio (troca) porque ele é determinado pela vantagem
comparativa. Isto aplica-se para cada indivíduo (ou país) que se especializar na
produção do bem que tem vantagem comparativa, isto é, no produto com maior
produtividade relativa.

Um indivíduo ou país pode ter vantagem absoluta (produtividade absoluta) nos


dois bens; mas um indivíduo ou país só pode ter vantagem comparativa (produtividade
relativa) em apenas um bem.

Como fatores que determinam a vantagem comparativa, podemos citar o talento


e habilidades, inatas e adquiridas (educação, treinamento e experiência) quando
tratamos de indivíduos. Já para países, podemos citar os recursos naturais, a dotação de
fatores (quantidade e qualidade), a tecnologia, e instituições.

No exemplo dado, as trocas beneficiam a ambos porque o preço é bom, ou seja,


menor do que o custo para cada um. A troca proposta pelo pecuarista consiste em 5kg
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
18

de carne por 15kg de batatas, ou seja, o preço de 1kg de carne é 3kg de batatas. Como o
custo oportunidade da produção de 1kg carne pelo agricultor é de 4kg de batatas, logo
este preço é menor do que seu custo. Esta mesma troca implica que 1kg de batatas custe
0,33kg de carne para o pecuarista. Como seu custo oportunidade de produzir 1kg de
batatas é de 0,5kg de carne, assim este preço também é bom para o pecuarista, pois é
menor do que seu custo. Assim, ambos se beneficiam.

Exercício 3. Considere uma pequena ilha isolada no Atlântico Sul. Seus habitantes
cultivam batatas e pescam. A Tabela E3 mostra as combinações máximas de batata e
peixe que essa economia pode produzir. Assim, (a) desenhe a fronteira de possibilidade
de produção (coloque a quantidade de batatas no eixo horizontal) e mostre as escolhas A
e F; (b) desenhe o ponto que representa a combinação de 500 quilos de peixe e 800
quilos de batata. Essa economia pode produzir nesse ponto? Por que? (c) Calcule o
custo de oportunidade de aumentar a produção de batatas de 600 para 800 quilos; (d)
calcule o custo de oportunidade de aumentar a produção de batatas de 200 para 400
quilos; e (e) explique por que as respostas dos itens c) e d) não são iguais.

Tabela E3 Informações para desenvolvimento do Exercício 3.

Fonte: KUME.

Vide soluções na seção final do caderno Soluções dos exercícios propostos.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
19

2 – ALOCAÇÃO DE RECURSOS

2.1 – O sistema de preços: oferta, demanda e equilíbrio de mercado

Um mercado pode ser classificado conforme o seu grau de competição.

Em um mercado competitivo em concorrência perfeita, há um número grande de


vendedores e compradores, e assim cada um é tomador de preço, ou seja, pessoas e
firmas não influenciam o preço (devido ao grande número de agentes no mercado). Em
concorrência perfeita, o bem é considerado homogêneo, e há livre entrada e saída de
firmas. Um exemplo que poderia fazer parte de concorrência perfeita seria o mercado de
produtos agrícolas.

Já em um monopólio, há somente um vendedor; isto ocorre por exemplo na


produção e distribuição de energia elétrica, ou da água de uma cidade. Um monopsônio
ocorre quando há somente um comprador.

Um oligopólio ocorre quando há um pequeno número de vendedores, como por


exemplo no mercado de automóveis e TV a cabo.

Por sua vez, a concorrência monopolística ocorre quando há grande número de


vendedores com produtos diferenciados. De uma forma geral, a determinação do
equilíbrio de um mercado competitivo se dá através da oferta e da demanda.

2.1.1 - Demanda

A demanda, ou quantidade demandada de um bem ou serviço corresponde a


quantidade desse bem que os compradores desejam e podem adquirir. Como principal
fator determinante da demanda, podemos citar o preço (𝑃). Segundo a Lei da Demanda,
tudo o mais constante (ceteris paribus), a relação entre preço e a quantidade demandada
(𝑄𝐷 ) é inversa ou negativa.

Suponha um mercado de um 𝐵𝑒𝑚 𝑋, que seja composto apenas dois indivíduos,


chamados 𝐼𝑛𝑑𝑖𝑣í𝑑𝑢𝑜 𝐴 e 𝐼𝑛𝑑𝑖𝑣í𝑑𝑢𝑜 𝐵, onde cada um destes indivíduos demanda uma

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
20

quantidade deste bem de acordo com o preço em que ele é ofertado, conforme
apresentado na Tabela 3.

Tabela 3 Demanda do Bem 𝑋.

Preço (R$) 𝑄𝐴 𝑄𝐵 𝑄𝐴+𝐵


0,00 12 6 18
0,50 10 5 15
1,00 8 4 12
1,50 6 3 9
2,00 4 2 6
2,50 2 1 3
3,00 0 0 0
Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Verifica-se que a quantidade demandada do 𝐵𝑒𝑚 𝑋 está em função do preço do


bem para cada indivíduo. Apesar de ser um exemplo abstrato, pode-se pensar que este
bem seja algum gênero alimentício, e que de graça, pelo preço de R$0,00, o Indivíduo A
só se interesse em obter 12 unidades, enquanto o 𝐼𝑛𝑑𝑖𝑣í𝑑𝑢𝑜 𝐵 por 10 unidades – caso
adquiram respectivamente mais do que isto, o produto poderia vir a estragar – cada um
dos indivíduos se diferenciariam pela quantidade que estariam apta para consumir em
um determinado período de tempo que poderia ser alguma validade do alimento. O
𝐵𝑒𝑚 𝑋 também poderia ser um barril de petróleo cru, e mesmo que ao preço de R$0,00,
cada um dos indivíduos poderia adquirir tais determinadas quantidades (pelo espaço e
local adequado para estoque destes barris que cada indivíduo teria).

Podemos escrever o preço em função da quantidade que é demandada por cada


indivíduo, de forma que

𝑄𝐴 𝑄𝐵
𝑃 = 3− , 𝑃 = 3− .
4 2

Esta forma matemática escrita é chamada de função da demanda inversa. De


uma forma geral, quando a quantidade demandada é uma função linear, ela é escrita de
forma que 𝑃 = 𝑎 − 𝑏𝑄𝐷 . A demanda de mercado pode ser obtida somando as duas
demandas individuais, e neste exemplo, 𝑄𝐷 = 𝑄𝐴 + 𝑄𝐵 . Temos que

𝑄𝐴 = −4𝑃 + 12, 𝑄𝐵 = −2𝑃 + 6;


𝑄𝐷 = 𝑄𝐴 + 𝑄𝐵 = −6𝑃 + 18.

E assim a função da demanda inversa de mercado será

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
21

𝑄𝐷
𝑃 =3− .
6

A curva de demanda consiste numa representação gráfica da escala de demanda,


e indica quanto do bem um indivíduo está disposto a comprar a cada nível de preço. No
nosso exemplo, as curvas de demanda do 𝐼𝑛𝑑𝑖𝑣í𝑑𝑢𝑜 𝐴, do 𝐼𝑛𝑑𝑖𝑣í𝑑𝑢𝑜 𝐵 e a de mercado
estão ilustradas na Figura 9.

Figura 9 Curvas de demanda.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Verificamos que o preço faz a quantidade demandada se deslocar ao longo da


curva de demanda. No entanto, há outros fatores que podem fazer a curva de demanda
se deslocar de posição, tanto para a direita quanto para a esquerda.

A renda (𝑅) seria um destes fatores. Para um bem normal, um aumento na renda
dos indivíduos, pode fazer com que a quantidade demandada aumente, deslocando
assim a curva da demanda para a direita; e caso a renda diminuía, o mesmo efeito
oposto. Esta representa uma relação positiva.

Já para um bem inferior3 (algo de qualidade inferior e que tenha preços menores,
e que haja produtos substitutos com melhor qualidade, a um preço maior), a relação da
quantidade demandada com a renda é negativa – pois neste caso, um aumento na renda
poderia diminuir a quantidade demandada por este bem, deslocando a curva para a
esquerda; e caso a renda diminua, o mesmo efeito inverso. A Figura 10 nos ilustra o
efeito da variação de renda sobre a curva de demanda de um bem normal.

3
Esta noção de bem inferior pode variar, e é relativo de indivíduo para indivíduo.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
22

Figura 10 Deslocamento da curva de demanda de um bem normal pela variação da renda.

Fonte: KUME.

Como um segundo fator de relevância que pode deslocar a curva de demanda,


pode-se citar a variação de preço de outros bens (𝑃𝑂 ), que sejam substitutos4 ou
complementares do bem de referência analisado. Como bens substitutos, podemos citar
como exemplo dois refrigerantes, a Coca Cola e a Pepsi Cola. Já para exemplificação de
bens complementares, podemos citar uma pizza caseira de mussarela, que leva dois bens
em sua composição, uma massa de pizza, e o queijo mussarela – e neste caso, estes dois
bens são complementares.

Para bens substitutos, caso o preço do outro bem aumente, a sua quantidade
demandada aumenta, e caso o preço do outro bem diminua, a sua quantidade
demandada cai. Ocorre uma relação positiva. Suponha um indivíduo que goste de
refrigerante de cola, e que tenha certa preferência por Coca-Cola. Seja o preço de uma
garrafa de Coca-Cola de R$10,00, e o preço de uma garrafa de mesmo tamanho de
Pepsi Cola seja de R$6,00. Ele provavelmente irá adquirir mais Coca-Cola do que Pepsi
Cola. Agora caso o preço da Pepsi Cola (o bem substituto) aumente para R$10,00, ele
provavelmente irá demandar só por Coca Cola. Caso o preço da Pepsi Cola diminua,
para por exemplo, R$3,00; é provável, de acordo com sua preferência, que ele diminua
o seu consumo por Coca Cola e passe a demandar mais quantidade de Pepsi Cola.

O deslocamento da curva de demanda pela variação do bem substituto é


ilustrada na Figura 11.

4
A substituibilidade entre os bens são relativas de pessoa para pessoa.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
23

Figura 11 Deslocamento da curva de demanda pela variação de preços de seu bem substituto.

Fonte: KUME.

Para bens complementares, um aumento do preço do outro bem pode fazer com
que a quantidade demandada pelo bem de referência diminua; e uma queda do preço do
outro bem fazer com que a quantidade demandada pelo bem de referência aumente. Ou
seja, a relação é negativa. Suponha que um indivíduo goste de fazer pizza caseira de
mussarela, e assim ele compra massa de pizza que custe R$3,00. Suponha que o preço
da mussarela necessário para que ele faça a pizza seja de R$2,00. Caso o preço da
mussarela suba para R$4,00, provavelmente ele irá adquirir menos massa de pizza. Caso
o preço da mussarela (o bem complementar) diminua para R$0,50, provavelmente ele
irá adquirir mais massa de pizza.

Um terceiro fator relevante que desloca a curva de demanda consiste na


preferência ou gosto (𝐺), e tem relação positiva. Uma maior preferência gera um
aumento na quantidade demandada, e uma menor preferência, gera uma diminuição na
quantidade demandada. A preferência ou gosto é uma questão individual, no entanto,
pessoas podem ter ausência de preferência por determinado bem que nem ao menos
conheça. Assim, campanhas de marketing podem alterar às preferências individuais por
determinados bens ou serviços.

A Figura 12 nos ilustra o deslocamento da curva de demanda pelas mudanças na


preferência.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
24

Figura 12 Deslocamento da curva de demanda pela mudança na preferência.

Fonte: KUME.

Um quarto fator importante que pode deslocar a curva de demanda consiste nas
expectativas (𝐸𝑃 ). Por exemplo, suponha que haja expectativas de que o preço de
determinado bem vá aumentar num futuro próximo, assim, é racional que haja um
aumento na demanda presente deste bem. Da mesma forma ao contrário, caso haja
expectativas de que o preço por determinado bem diminua num futuro próximo, é
racional que a quantidade demandada por este bem diminua no presente. Em ambos os
casos ocorre um deslocamento na curva da demanda, conforme ilustrado na Figura 13.

Figura 13 Deslocamento da curva de demanda presente por mudanças


na expectativa do preço futuro de determinado bem.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
25

O mesmo ocorre quando há uma mudança nas expectativas sobre a renda das
pessoas. Caso haja uma expectativa de que a renda futura aumente, a quantidade
demandada também aumenta; e caso haja uma expectativa de que a renda futura
diminua, a quantidade demandada também diminui. A Figura 14 nos ilustra os
deslocamentos da curva demanda com relação às expectativas de variações na renda.

Figura 14 Deslocamento da curva de demanda presente por mudanças


na expectativa da renda futura.

Fonte: KUME.

Como um quinto fator relevante para a determinação da curva de demanda,


pode-se cita o número de consumidores (𝑁𝐶), ou tamanho de mercado. Caso haja um
aumento no número de consumidores, é natural que a quantidade demandada aumente; e
da mesma forma ao contrário, caso se diminua o número de consumidores, a quantidade
demandada diminui. A Figura 15 nos ilustra este caso.

Figura 15 Deslocamento da curva de demanda pela variação no número de consumidores.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
26

Verificamos assim que o preço do próprio bem gera um movimento ao longo da


curva de demanda, enquanto os fatores renda, preços de bens relacionados, preferências,
expectativas e número de consumidores impactam em um deslocamento da curva da
demanda, conforme ilustrado na Figura 16.

Figura 16 Deslocamento ao longo da curva de demanda versus deslocamento da curva de demanda.

Fonte: KUME.

De uma forma geral, a curva de demanda em função destes fatores mencionados,


pode ser escrita na forma matemática como

𝑄𝐷 = 𝑓(𝑃, 𝑅, 𝑃𝑜 , 𝐸𝑃 , 𝐺, 𝑁𝐶).

2.1.2 – Oferta

A quantidade ofertada de um bem ou serviço corresponde a quantidade que os


ofertantes querem e podem vender. Pela Lei da Oferta, tudo o mais constante (ceteris
paribus), a relação entre o preço (𝑃) e a quantidade ofertada (𝑄𝑂 ) é positiva. Isto
significa que se o preço aumenta, a quantidade ofertada também aumenta; e se o preço
diminui, a quantidade ofertada também diminui.

Suponha que em determinado mercado de bem ou serviço, existem apenas duas


firmas, chamadas 𝐹𝑖𝑟𝑚𝑎 𝑋 e 𝐹𝑖𝑟𝑚𝑎 𝑌, que têm capacidade de produzir e ofertar um
determinado 𝐵𝑒𝑚 𝑋. A Tabela 4 nos mostra a escala de oferta de ambas as firmas, ou
seja, o quanto elas podem ofertar em cada nível de preço do bem.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
27

Tabela 4 Escala de oferta das firmas X e Y.

Preço (R$) 𝑄𝑋 𝑄𝑌 𝑄𝑋+𝑌


0,00 0 0 0
0,50 0 0 0
1,00 1 1 2
1,50 2 2 4
2,00 3 3 6
2,50 4 4 8
3,00 5 5 10
Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

A oferta de mercado é dada pela soma das ofertas da firma 𝑋 e 𝑌, e assim 𝑄𝑂 =


𝑄𝑋 + 𝑄𝑌 . A Figura 17 nos ilustra estas curvas de oferta.

Figura 17 Curvas de oferta das firmas 𝑋 e 𝑌.

Fonte: KUME.

Verificamos que as ofertas são idênticas para ambas as firmas neste exemplo, e
podem ser expressas pelas equações

1 1
𝑃 = 0,5 + ( ) 𝑄𝑋 , 𝑃 = 0,5 + ( ) 𝑄𝑌 .
2 2

Somando as duas equações, temos que

1
2𝑃 = 1 + ( ) (𝑄𝑋 + 𝑄𝑌 ),
2
1 1
𝑃 = + ( ) (𝑄𝑋 + 𝑄𝑌 ).
2 4

Como a oferta do mercado é definida por 𝑄𝑂 = 𝑄𝑋 + 𝑄𝑌 , substituindo na equação


temos que

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
28

𝑄𝑂
𝑃 = 0,5 + .
4

Como primeiro fator relevante que desloca a curva de oferta, temos o preço dos
insumos (𝑃𝐼 ), que modifica o custo de produção. Caso o preço dos insumos aumente, a
quantidade ofertada diminui; e caso o preço dos insumos diminua, a quantidade ofertada
aumenta. A Figura 18 ilustra este efeito da variação de preços dos insumos em relação a
curva de oferta.

Figura 18 Deslocamento da curva de oferta pela variação de preço dos insumos.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Neste exemplo, pela curva de oferta 𝑂1 , caso o preço seja de 9, a quantidade


ofertada é de 5. Com uma queda no preço dos insumos, mantendo a oferta em 5
unidades, o preço pode cair para 7. No entanto, mantendo o preço em 9, a oferta pode
subir para 8 unidades. Agora caso o preço dos insumos aumente, mantendo o preço em
9, a oferta cai para 3 unidades. Podemos levar em consideração que o preço seja dado
pelo mercado, como em concorrência perfeita.

Um segundo fator relevante que altera o custo de produção deslocando a curva


de oferta consiste na tecnologia (𝑇). Uma melhor tecnologia gera menor custo, e logo a
curva da oferta se desloca para a direita. Da mesma forma, uma piora da tecnologia gera
um maior custo, e a curva da oferta se desloca para esquerda, conforme ilustrado na
Figura 19.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
29

Figura 19 Deslocamento da curva de oferta pela variação de tecnologia.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Um terceiro fator relevante que desloca a curva da oferta consiste na expectativa


do preço futuro (𝐸𝑃 ). Caso se espere que o preço de um bem aumente num futuro
próximo, a quantidade ofertada no presente diminui; e caso se espere que o preço deste
bem diminua no futuro, a quantidade ofertada no presente aumenta, conforme ilustrado
pela Figura 20.

Figura 20 Deslocamento da curva de oferta pela expectativa do preço futuro.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Um quarto fator que desloca a curva de oferta consiste na variação do número de


firmas ofertantes (𝑁𝐹). Um aumento no número de firmas aumenta a quantidade
ofertada, e uma diminuição no número de firmas ofertantes, diminui a quantidade
ofertada, conforme ilustrado na Figura 21.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
30

Figura 21 Deslocamento da curva de oferta pela variação no número de firmas.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Um quinto fator relevante constitui na variação de preço de um substituto da


produção (𝑃𝑆 ). Ou seja, se uma firma pode produzir um outro bem substituto que varia
de preço, esta variação pode causar um deslocamento na curva de oferta do bem que
manteve seu preço constante. Caso o preço do bem substituto de produção aumente, é
natural de uma firma ofertar menor quantidade do bem de referência (e passe a ofertar
maior quantidade do bem substituto que está com um preço de mercado maior); e da
mesma forma ao contrário, conforme ilustrado na Figura 22.

Figura 22 Deslocamento da curva de oferta pela variação no preço do bem substituto de produção.

Fonte: KUME.

Verificamos assim, que da mesma forma que na demanda, o preço gera um


movimento ao longo da curva de oferta; e o preço dos insumos, a tecnologia, o número
de firmas, as expectativas e o preço de bens substitutos na produção deslocam a curva
da oferta, conforme ilustrado na Figura 23.
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
31

Figura 23 Deslocamento ao longo da curva de oferta versus deslocamento da curva de oferta.

Fonte: KUME.

A oferta pode ser então expressa em termos matemáticos pela função

𝑄𝑂 = 𝑓(𝑃, 𝑃𝐼 , 𝑇, 𝑁𝐹, 𝐸𝑃 , 𝑃𝑆 ),

onde cada termo indica uma variável explicativa conforme os exemplos dados.

2.1.3 – Equilíbrio de mercado

O mercado de um bem está em equilíbrio quando, a um dado preço, a quantidade


que os consumidores desejam e podem comprar (𝑄𝐷 ) é igual à quantidade que as firmas
querem e podem vender (𝑄𝑂 ). Ou seja, o mercado de um bem está em equilíbrio
quando 𝑄𝐷 = 𝑄𝑂 = 𝑄 ∗.

Consideremos o 𝐵𝑒𝑚 𝑋 utilizado para exemplo da Demanda e da Oferta, e os


dados apresentados na Tabela 3 e na Tabela 4.

A Tabela 5 nos mostra a oferta e demanda de mercado do 𝐵𝑒𝑚 𝑋, ou seja, a


soma das demandas dos indivíduos 𝐴 e 𝐵, e a soma das ofertas das firmas 𝑋 e 𝑌.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
32

Tabela 5 Oferta e demanda de mercado do 𝐵𝑒𝑚 𝑋.

Preço (R$) 𝑄𝐷 𝑄𝑂
0,00 18 0
0,50 15 0
1,00 12 2
1,50 9 4
2,00 6 6
2,50 3 8
3,00 0 10
Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Verificamos que a quantidade da demanda se iguala a quantidade da oferta no


preço de R$2,00, e assim a quantidade 6 é a quantidade de equilíbrio de mercado, assim
como o preço de R$2,00 é o preço de equilíbrio de mercado. A Figura 24 nos ilustra
estas curvas de oferta e demanda, e o ponto de equilíbrio de mercado do 𝐵𝑒𝑚 𝑋.

Figura 24 Equilíbrio de mercado do 𝐵𝑒𝑚 𝑋.

Fonte: KUME.

No entanto, não é necessário se consultar uma tabela para se determinar o ponto


de equilíbrio de mercado, para isto uma simples álgebra basta. Verificamos que a
demanda do 𝐵𝑒𝑚 𝑋 é dada por 𝑃 = 3 − 𝑄𝐷 ⁄6, e a oferta é dada por 𝑃 = 0,5 + 𝑄𝑂 ⁄4;
como em equilíbrio 𝑄𝑂 = 𝑄𝐷 = 𝑄 ∗ , para determinarmos 𝑄 ∗ e 𝑃∗ 5, basta então
substituirmos algum 𝑃 das equações, e assim obtemos

𝑄∗ 𝑄∗
3− = 0,5 + ;
6 4

5
Utilizamos aqui a nomenclatura sobrescrita asterisco para indicar situações ótimas ou de equilíbrio.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
33

𝑄∗ 𝑄∗
3 − 0,5 = + ;
6 4
∗ ∗
4𝑄 + 6𝑄 10𝑄 ∗ 5𝑄 ∗
2,5 = = = ;
24 24 12
30 = 5𝑄 ∗ ;
30
𝑄∗ = = 6.
5

Obtendo a quantidade de equilíbrio, basta agora substituirmos em alguma das


equações, como por exemplo, na da demanda, e assim obtemos que

6
𝑃∗ = 3 − = 3 − 1 = 𝑅$2,00.
6

Consideremos agora que o preço do 𝐵𝑒𝑚 𝑋 esteja em R$2,50. Nesta situação, o


mercado está em desequilíbrio. Resolvendo as equações de oferta e demanda, ou
observando a Tabela 5, verificamos que a quantidade de oferta neste preço é 8 unidades,
e a de demanda é de 3 unidades; ou seja, a quantidade de oferta é superior a de
demanda, conforme ilustrado na Figura 25.

Figura 25 Excesso de oferta do 𝐵𝑒𝑚 𝑋.

Fonte: KUME.

Neste caso de excesso de oferta, a força do mercado faz o preço cair para
R$2,00, para que assim se atinja o equilíbrio.

Consideremos agora que o preço do 𝐵𝑒𝑚 𝑋 esteja em R$1,50. Neste caso, a


quantidade de oferta é 4 unidades, e a de demanda é 9 unidades, e assim a quantidade

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
34

demandada é superior a quantidade de oferta. Ocorre um excesso de demanda, como


ilustrado na Figura 26.

Figura 26 Excesso de demanda do 𝐵𝑒𝑚 𝑋.

Fonte: KUME.

Neste caso agora, a Lei da oferta e da demanda pressiona para que o preço
aumente para R$2,00, para que assim o mercado atinja o equilíbrio.

Tanto em micro quanto em macroeconomia, o estudo de comparação entre dois


pontos de equilíbrio é chamado de estática comparativa. Verificamos já que diversos
fatores podem deslocar tanto a curva de oferta quanto a curva de demanda tanto para a
direita quanto para a esquerda. Veremos agora como isto pode afetar o equilíbrio de
mercado.

Considere agora o impacto de aumento na renda. Como já vimos, o aumento na


renda faz a curva de demanda se deslocar para direita, conforme ilustrado agora na
Figura 27.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
35

Figura 27 Impacto de aumento na renda.

Fonte: KUME.

Este aumento na renda, faz com que haja um excesso temporário de demanda –
pois no mesmo preço e com a curva de demanda deslocada para direita, a demanda se
torna superior a quantidade ofertada. Assim, pela Lei da Oferta e da Demanda, o
mercado pressiona o preço a subir, fazendo com que o ponto se desloque agora ao longo
da nova curva de demanda, até que seja atinja um equilíbrio, conforme ilustrado na
Figura 28.

Figura 28 Estática comparativa de aumento na renda.

Fonte: KUME.

Assim, a estática comparativa analisa as mudanças do ponto de equilíbrio devido


a qualquer fenômeno. Nesta análise, é importante observar se é a curva de demanda que

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
36

se desloca, ou se é a curva de oferta, ou se ambas que se deslocam. É necessário


verificar se o fenômeno faz cada uma das curvas se deslocar para direita ou para
esquerda; e assim determinar o novo ponto de equilíbrio e verificar as alterações no
preço e quantidade de equilíbrio.

Consideremos agora o impacto de um aumento no preço do insumo. Conforme


visto na Seção 2.1.2, o aumento no preço do insumo faz com que a curva de oferta se
desloque para a esquerda, criando assim um excesso de demanda para o nível dado de
preço. Assim, este excesso de demanda provoca o mercado deste bem a aumentar o seu
preço, para que assim se atinja um novo equilíbrio, conforme ilustrado na Figura 29.

Figura 29 Estática comparativa do aumento do preço de insumo.

Fonte: KUME.

Seja considerado agora o impacto do aumento na renda e no preço do insumo.


Como já vimos, o aumente na renda desloca a curva de demanda para a direita, e o
aumento no preço do insumo desloca a curva de oferta para a esquerda. Nos dois casos,
a força de mercado impulsiona uma elevação do preço do bem para um novo ponto de
equilíbrio. No entanto, a nova quantidade de equilíbrio poderá ser superior ou inferior a
quantidade de equilíbrio antes destes impactos, e vai depender das forças relativas entre
o aumento da renda e o aumento do preço do insumo. Como já visto, o aumento da
renda impulsiona a uma quantidade maior no equilíbrio, e o aumento do preço do
insumo impulsiona a uma quantidade menor no equilíbrio. A Figura 30 nos ilustra a

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
37

estática comparativa deste caso, com quantidade de equilíbrio final maior, e com
quantidade de equilíbrio final menor.

Figura 30 Estática comparativa do aumento da renda e do preço de insumo.

Fonte: KUME.

Apesar destes exemplos serem abstratos, eles podem ser ilustrados. Uma queda
do preço de um insumo, pode corresponder a queda do preço do petróleo e seu efeito no
mercado de combustível, como da gasolina. Um aumento no preço de insumo, pode
corresponder a um aumento no preço do trigo e seu impacto no mercado de massas
alimentícias, como por exemplo, do macarrão. Estes casos fazem os respectivos
mercados terem suas curvas de oferta deslocadas para direita e para esquerda
respectivamente.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
38

Apesar de no último exemplo, de aumento no preço do insumo e na renda dos


consumidores, a quantidade final de equilíbrio depender das forças de aumento nos
preços; há casos em que dependendo do formato das curvas, a quantidade final em
equilíbrio seja superior ou inferior a inicial independente das forças de aumento nos
preços.

Considere um aumento na renda da população consumidora de arroz; e que a


oferta em determinado momento da safra de arroz seja fixa. Este aumento de renda só
impulsionará então um aumento no preço do arroz para que o mercado entre em
equilíbrio, mas a quantidade permanecerá a mesma. Considere agora que além do
aumento na renda, ocorra uma quebra de safra do arroz. Neste caso agora, além do
preço aumentar, a quantidade de equilíbrio também diminui, conforme ilustrado na
Figura 31.

Figura 31 Estática comparativa do aumento da renda dos consumidores


de arroz e quebra de safra no mercado de arroz.

Fonte: KUME.

Exercício 4. Suponha que a Tabela E4A mostre as quantidades demandadas e


ofertadas de lagostas a cada preço no Brasil.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
39

Tabela E4A Mercado de lagostas do Brasil.

Fonte: KUME.

(a) desenhe as curvas de demanda e de oferta. Qual é o preço e a quantidade de


equilíbrio no mercado brasileiro de lagostas? (b) Suponha agora que os produtores de
lagosta descobrem que podem vender no mercado norte-americano. A Tabela E4B
mostra a demanda pelas lagostas brasileiras no mercado dos EUA.

Tabela E4B Demanda de lagostas do Brasil nos EUA.

Fonte: KUME.

Calcule a demanda total das lagostas brasileiras. (c) Desenhe novamente as curvas de
demanda e de oferta. Quais serão o preço e a quantidade de equilíbrio no mercado de
lagostas? (d) O que acontecerá com o preço pago pelos consumidores brasileiros? E
com a quantidade?

Exercício 5. Suponha que você seja o economista de uma empresa que vende
lubrificantes industriais em um mercado competitivo, e tem as seguintes informações
sobre a oferta e demanda:

𝑄𝐷 = 45 − 2𝑃; 𝑄𝑂 = −15 + 𝑃,

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
40

onde 𝑃 representa o preço em reais, e 𝑄 a quantidade em mil latas de um litro.


Determine o preço e a quantidade de equilíbrio neste mercado, e faça o gráfico.

Exercício 6. Considere o mercado de um bem dado por

𝑄𝐷 = 100 − 2𝑃 + 𝑅; 𝑄𝑂 = 40 + 4𝑃,

onde 𝑃 representa o preço em reais, 𝑅 a renda em reais, e 𝑄 a quantidade em toneladas.


(a) Calcule o preço e a quantidade de equilíbrio quando a renda é igual a 60 reais.
Desenhe as curvas de oferta e de demanda e indique o ponto de equilíbrio. (b) Calcule o
preço e a quantidade de equilíbrio quando a renda é igual a 90 reais. No gráfico anterior,
desenhe a nova curva de demanda e indique o novo ponto de equilíbrio. Vide soluções
na seção final do caderno Soluções dos exercícios propostos.

2.2 – Elasticidade e aplicações

Considere o seguinte problema. Um governo preocupado com a saúde pública


devido ao consumo de uma nova droga 𝑋 ilegal extremamente viciante, efetuou uma
investigação e apreendeu uma parte significativa desta droga dos traficantes. Em nosso
modelo de oferta e demanda, o resultado econômico desta apreensão das drogas
constitui em uma diminuição da oferta; ou seja, a curva de oferta é deslocada para a
esquerda. No entanto, será que o consumo desta droga 𝑋 diminuiu significativamente?
O resultado gráfico é expresso na Figura 32.

Figura 32 Equilíbrio de mercado da droga 𝑋.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
41

Neste caso, verificamos que a quantidade de equilíbrio não diminui


significativamente, apesar do aumento significativo do preço. Isto pode ser explicado
pelo caráter altamente viciante da droga 𝑋, assim seus consumidores podem se
demonstrar pouco sensíveis a variação do preço.

Em uma função 𝑌 = 𝑓(𝑋), onde 𝑌 pode ser a quantidade de demanda ou


quantidade de oferta, e 𝑋 o preço; o tema elasticidade se refere a quanto 𝑌 é sensível a
variações de 𝑋.

Assim, elasticidade consiste em uma medida de sensibilidade de uma variável


em relação a outra.

2.2.1 – Elasticidade-preço da demanda

Verificamos que uma forma de representar a quantidade de demanda consiste em


coloca-la em função de principais variáveis explicativas, de forma que 𝑄𝐷 =
𝑓(𝑃, 𝑃𝑂 , 𝑅, 𝐺, 𝑁𝐶, 𝑃𝐸 ). Variando 𝑃, e mantendo todas as demais variáveis constantes,
podemos verificar a elasticidade-preço da demanda. Assim,

𝛥𝑄𝐷
𝑄 %
𝜀𝑃𝐷 = − 𝐷 ⇒ |𝜀𝑃𝐷 |.
𝛥𝑃
𝑃 %

A Figura 33 nos ilustra a elasticidade-preço da demanda.

Figura 33 Elasticidade-preço da demanda.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
42

A elasticidade-preço da demanda se difere pelo caminho a ser analisado, como


por exemplo do movimento de um equilíbrio 𝐸1 para 𝐸2 , ou de 𝐸2 para 𝐸1 , conforme
exemplificado na Figura 34.

Figura 34 Elasticidade-preço da demanda em dois pontos de equilíbrio.

Fonte: KUME.

No entanto, podemos calcular a elasticidade-preço da demanda no ponto médio,


de forma que

𝛥𝑄
(𝑄 + 𝑄2 )⁄2
𝜀𝑃𝐷 = − 1 .
𝛥𝑃
(𝑃1 + 𝑃2 )⁄2

No exemplo ilustrado pela Figura 34, a elasticidade-preço da demanda medida é


definida como

2 2
(12 + 14) ⁄2 2,5
𝜀𝑃𝐷 = − = − 13 = − ≅ −0,3846.
0,5 0,5 6,5
(1 + 1,5)⁄2 1,25

No caso em que 𝜀𝑃𝐷 = −0,5 = |−0,5| = 0,5, a elasticidade-preço da demanda


pode ser interpretada de forma que se o preço cai 1%, a quantidade demandada aumenta
em 0,5%; e da mesma forma, se o preço cai em 10%, a quantidade demandada aumenta
em 5%.

Observa-se que a elasticidade é um número puro, ou seja, não depende das


unidades de medida (necessita-se apenas que as unidades de medida sejam a mesma

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
43

durante o cálculo da elasticidade). Podemos citar uma lista dos principais fatores
determinantes da 𝜀𝑃𝐷 .

• Existência de bens substitutos: quanto maior o número de substitutos,


maior é a elasticidade-preço da demanda.
o Por exemplo, é racional inferirmos que haja mais bens substitutos de
biscoito Maizena do que de sal; assim 𝜀𝑃𝐷 do sal <
𝜀𝑃𝐷 𝑑o biscoito Maizena.
• Bens de primeira necessidade têm elasticidade-preço da demanda menor
do que os bens supérfluos.
o Por exemplo, podemos inferior que o feijão seja um bem de primeira
necessidade, enquanto a cerveja seja um bem supérfluo. Assim,
𝜀𝑃𝐷 do feijão < 𝜀𝑃𝐷 da cerveja.
• Bens de um mercado amplo têm elasticidade-preço da demanda menor
do que um mercado restrito a um bem.
o Por exemplo, consideremos a variedade no número de refrigerantes,
como Coca-Cola, Pepsi Cola, Guaraná, soda de limonada, etc. Assim,
𝜀𝑃𝐷 da Coca Cola (marca específica) > 𝜀𝑃𝐷 de refrigerantes.
• O período de tempo também interfere na elasticidade-preço de demanda.
Mudanças que simplesmente não são possíveis de serem realizadas em
um curto espaço de tempo, podem ser realizáveis em um período de
tempo maior.
o Por exemplo, consideremos que o preço da gasolina aumente em 10%.
É racional pensarmos que a quantidade de gasolina que diminui em 1
ano seja menor em 1 ano do que em 5 anos (consumidores de carro
poderão optar no futuro por carros que utilizem outro tipo de
combustível). Assim, 𝜀𝑃𝐷 da gasolina em 1 ano <
𝜀𝑃𝐷 da gasolina em 5 anos.

A elasticidade-preço da demanda pode ser classificada como elástica,


perfeitamente elástica, inelástica, perfeitamente inelástica, ou unitária.

Quando a variação percentual na quantidade é menor do que a variação


percentual no preço, isto significa que a demanda é pouco sensível ao preço, e assim a
chamamos de inelástica. Isto ocorre quando 0 < |𝜀𝑃𝐷 | < 1.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
44

Por outro lado, caso a variação percentual na quantidade seja maior do que a
variação percentual na quantidade, isto significa que a demanda é muito sensível ao
preço, e assim a chamamos de elástica. Isto ocorre quando |𝜀𝑃𝐷 | > 1.

Caso a variação percentual a quantidade seja igual a variação percentual no


preço, chamamos esta demanda de unitária. Isto ocorre quando |𝜀𝑃𝐷 | = 1.

Em um caso extremo, caso a variação percentual na quantidade seja muito maior


do que a variação percentual no preço, dizemos que a demanda é extremamente sensível
ao preço, ou seja, que é perfeitamente elástica. Isto ocorre quando |𝜀𝑃𝐷 | → ∞.

Em outro caso extremo, quando a variação percentual a quantidade é nula diante


de uma variação percentual no preço, dizemos que a demanda não apresenta qualquer
sensibilidade ao preço, assim chamamos de perfeitamente inelástica. Isto ocorre quando
𝜀𝑃𝐷 = 0.

A Figura 35 nos esquematiza estas classificações da elasticidade-preço da


demanda.

Figura 35 Classificação da elasticidade-preço da demanda.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Nas Figuras 36, 37, 38, 39 e 40 serão ilustrados gráficos exemplificativos


respectivamente de demanda ou trajetória entre pontos na curva da demanda que seja
perfeitamente inelástica, elástica, unitária, inelástica e perfeitamente elástica.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
45

Figura 36 Elasticidade-preço da demanda perfeitamente inelástica.

Fonte: KUME.

Figura 37 Elasticidade-preço da demanda elástica.

Fonte: KUME.

Figura 38 Elasticidade-preço da demanda unitária.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
46

Figura 39 Elasticidade-preço da demanda inelástica.

Fonte: KUME.

Figura 40 Elasticidade-preço da demanda perfeitamente elástica.

Fonte: KUME.

A Tabela 6, com dados de um estudo publicado em Cambridge em 1970, nos


ilustra a elasticidade-preço da demanda observada no mercado de determinados
bens/serviços. A interpretação pode ser feita pelo leitor.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
47

Tabela 6 Elasticidade-preço da demanda em alguns mercados.

Bem/serviço Elasticidade-preço da demanda


Demanda inelástica
Ovos 0,1
Carne 0,4
Artigos de papelaria 0,5
Gasolina 0,5
Demanda elástica
Habitação 1,1
Refeições em restaurante 2,3
Viagem aérea 2,4
Viagem no exterior 4,1
Fonte: KRUGMAN e WELLS, 2006. Adaptado pelo autor.

Como a receita total (RT) de vendas de algum produto é determinado pela


relação preço e quantidade, ou seja, 𝑅𝑇 = 𝑃𝑄; assim, de acordo com a demanda,
quando o preço aumenta, o preço cai; e a receita total varia de acordo com a
elasticidade.

Se a elasticidade-preço da demanda é inelástica, ocorre ganho na receita total


com um aumento no preço, conforme ilustrado na Figura 41.

Figura 41 Receita total e demanda inelástica (|𝜀𝑃𝐷 | < 1).

Fonte: KUME.

Se a elasticidade-preço da demanda é elástica, ocorre perda na receita total com


um aumento do preço, conforme ilustrado na Figura 42.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
48

Figura 42 Receita total e demanda elástica (|𝜀𝑃𝐷 | > 1).

Fonte: KUME.

Já para o caso de uma elasticidade-preço da demanda unitária, a receita total não


varia com mudanças no preço, conforme ilustrado na Figura 43.

Figura 43 Receita total e demanda unitária (|𝜀𝑃𝐷 | = 1).

Fonte: KUME.

A Tabela 7 nos esquematiza bem o impacto na receita total conforme variações


de preços nos diferentes tipos de demanda.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
49

Tabela 7 Receita total e elasticidade-preço da demanda.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Veremos agora como a elasticidade-preço da demanda varia em uma curva de


demanda linear. Sabemos que 𝜀𝑃𝐷 = (𝛥𝑄 ⁄𝑄 )⁄(𝛥𝑃 ⁄𝑃), que pode ser reescrito como
𝜀𝑃𝐷 = (𝛥𝑄 ⁄𝛥𝑃)(𝑃⁄𝑄 ). Chamemos de 𝑎 o ângulo entre uma curva de demanda e uma
reta paralela ao eixo horizontal; o valor de 𝑎 será constante para uma curva de demanda
linear. Assim, 𝛥𝑄 ⁄𝛥𝑃 = 1⁄𝑎 ; logo 𝜀𝑃𝐷 = (1⁄𝑎)(𝑃⁄𝑄 ). A Figura 44 nos dá uma
ilustração.

Figura 44 Exemplo de elasticidade-preço demanda em função linear.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
50

Uma curva de demanda linear pode ser expressa pela equação 𝑃 = 𝑎 − 𝑏𝑄,
onde 𝑎 é o coeficiente linear, e 𝑏 é o coeficiente angular. Assim, quando 𝑄 = 0, 𝑃 = 𝑎;
e quando 𝑃 = 0, 𝑄 = 𝑎/𝑏. Assim, a elasticidade-preço da demanda pode ser expressa
como 𝜀𝑃𝐷 = (1⁄𝑏)(𝑃⁄𝑄 ). Um ponto médio pode ser definido quando 𝑃 = 𝑎/2 e 𝑄 =
𝑎/2𝑏, e a elasticidade-preço de demanda neste ponto médio é obtida como
𝑎
1 2 = 1 2𝑏𝑎 = 𝑏 = 1.
𝜀𝑃𝐷 = 𝑎
𝑏 𝑏 2𝑎 𝑏
2𝑏

Assim, neste ponto médio de uma curva de demanda linear, a elasticidade-preço


da demanda será unitária; e a esquerda deste ponto, será elástica; e a direita deste ponto,
inelástica – conforme ilustração da Figura 45.

Figura 44 Elasticidade-preço da demanda em função linear.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

A 𝜀𝑃𝐷 pode ser constante em todos os pontos da curva de demanda caso ela tenha
formato de uma hipérbole equilátera.

2.2.2 – Elasticidade-preço cruzada

Na análise da demanda, é importante também a análise da elasticidade-preço


cruzada. Diferente da análise que mantém todas variáveis constantes, e varia-se só os
preços; a elasticidade-preço cruzada indica variações da demanda conforme variações
do preço de outros bens relacionados (chamado de 𝑃𝑂 ), mantendo-se todos demais
fatores constantes. Assim, a elasticidade-preço cruzada da demanda é definida por

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
51

𝛥𝑄𝐷
𝑄 variação % na quantidade
𝐷
𝜀𝑃𝐶 = 𝐷 = .
𝛥𝑃𝑂 variação % no preço do outro bem
𝑃𝑂

Há três tipos básicos de classificação da elasticidade-preço cruzada da demanda.


𝐷
1. Quando 𝛥𝑄 > 0, então 𝜀𝑃𝐶 > 0, e isto indica que os bens são substitutos.
𝐷
2. Quando 𝛥𝑄 = 0, então 𝜀𝑃𝐶 = 0, e isto indica que os bens são
independentes.
𝐷
3. Quando 𝛥𝑄 < 0, então 𝜀𝑃𝐶 < 0, e isto indica que os bens são
complementares.

Desta forma, a elasticidade-preço cruzada da demanda é importante para os


gerentes de empresas; porque permite mensurar se outros produtos vendidos por outras
empresas são ou não substitutos próximos para os seus produtos. A Tabela 8 nos ilustra
alguns exemplos de elasticidade-preço cruzada da demanda.

Tabela 8 Elasticidade-preço cruzada da demanda em alguns mercados.

Elasticidade-preço
Bem/serviço
cruzada da demanda
Margarina e preço da manteiga 1,53
Pepsi Cola e preço da Coca-Cola 0,80
Coca-Cola e preço da Pepsi Cola 0,61
Energia elétrica e preço do gás 0,20
Entretenimento e preço do alimento -0,72
Fonte: HALL e LIEBERMAN, 2003. Adaptado pelo autor.

2.2.3 – Elasticidade-renda da demanda

Um terceiro ponto importante consiste na elasticidade-renda da demanda. Esta é


obtida através de variações do componente renda na função de demanda, mantendo
todos demais fatores constantes, de forma que

𝛥𝑄𝐷
𝑄 variação % na quantidade
𝜀𝑅𝐷 = = .
𝛥𝑅 variação % na renda
𝑅

Há três classificações básicas para a elasticidade-renda da demanda.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
52

1. Se 𝛥𝑄 > 0, então 𝜀𝑅𝐷 > 0, e o bem é normal.


2. Se 𝛥𝑄 = 0, então 𝜀𝑅𝐷 = 0, e o bem é independente.
3. Se 𝛥𝑄 < 0, então 𝜀𝑅𝐷 < 0, e o bem é inferior.

Para os bens de luxo, a 𝜀𝑅𝐷 é elevada; e para bens de primeira necessidade, a 𝜀𝑅𝐷 é
baixa. A Tabela 9 nos ilustra alguns exemplos de elasticidade-renda da demanda.

Tabela 9 Elasticidade-renda da demanda em alguns mercados.

Bem/serviço Elasticidade-renda da demanda


Frutas frescas 1,99
Computadores 1,71
Viagens aéreas transatlânticas 1,40
Frango 0,42
Carne de porco 0,34
Legumes frescos 0,26
Carne para hamburguer -0,20
Pão -0,42
Batatas -0,81
Fonte: HALL e LIEBERMAN, 2003. Adaptado pelo autor.

2.2.4 – Elasticidade-preço da oferta

Verificamos que a função da oferta pode ser definida como 𝑄𝑂 =


𝑓(𝑃, 𝑃𝐼 , 𝑇, 𝑁𝐹, 𝐸𝑃 , 𝑃𝑆 ). Assim, variando 𝑃, e mantendo todos os demais fatores
constantes, obtemos a elasticidade-preço da oferta, de forma que

𝛥𝑄𝑂
𝑄 variação % na quantidade ofertada
𝜀𝑃𝑂 = 𝑂 = .
𝛥𝑃 variação % no preço
𝑃

As curvas de oferta podem assumir diferentes formatos, e como dois principais


fatores que determinam a 𝜀𝑃𝑂 , podemos citar a flexibilidade para aumentar a produção,
ou seja, da capacidade dos produtores de alterar a sua produção (ou ainda da capacidade
máxima de produção, a elasticidade da oferta cai quando os produtores se aproximam de
sua capacidade máxima, e vice-versa – normalmente a 𝜀𝑃𝑂 de produtos agrícolas é menor
do que a de produtos industrializados); e o período de tempo ou horizonte temporal (no

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
53

longo prazo, os produtores podem investir para aumentar a sua capacidade, assim, a 𝜀𝑃𝑂
geralmente é mais alta no período mais longo).

A elasticidade-preço da oferta pode ser classificada de forma análoga com a


elasticidade-preço da demanda, ou seja, como perfeitamente elástica, elástica, unitária,
inelástica e perfeitamente inelástica. E também varia ao longo da curva da oferta,
conforme ilustrado na Figura 45.

Figura 45 Elasticidade-preço da oferta ao longo da curva.

Fonte: KUME.

Exercício 7. A empresa Livro.com.br vende livros on-line e deseja aumentar a receita


total. Atualmente o preço de cada livro é de R$ 10,50. O departamento de marketing
sugere uma redução do preço livro para R$ 9,50, o que corresponde a uma redução de
10% (calculado no ponto médio). A firma sabe que seus clientes podem ser divididos
em dois grupos. A Tabela E7 mostra a possível reação dos dois grupos diante do
desconto.

Tabela E7 Informações do Exercício 7.

Fonte: KUME.

(a) Usando o método do ponto médio, calcule a elasticidade-preço da demanda de cada


grupo; (b) explique com base no item anterior como o desconto afetará a receita total
obtida de cada grupo; (c) suponha que a empresa saiba a qual grupo pertence cada
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
54

cliente (não há comunicação entre eles) e pode decidir on-line se oferece ou não o
desconto. Se o objetivo for aumentar a receita total de cada grupo, deve oferecer o
desconto para o grupo A ou para o grupo B ou para ambos?

Exercício 8. Suponha que a curva de demanda de um produto seja 𝑄 = 60/𝑃, onde Q


representa a quantidade e P o preço em reais. (a) Calcule a quantidade demandada aos
seguintes preços: 1, 2, 3, 4, 5 e 6; (b) desenhe a curva de demanda; c) use o método do
ponto médio e calcule as elasticidades preço da demanda quando o preço aumenta de R$
1 para R$ 2 e entre R$ 5 e R$ 6; d) de que forma essa curva de demanda se compara à
curva de demanda linear? Vide soluções na seção final do caderno Soluções dos
exercícios propostos.

2.3 – Intervenções governamentais: controle de preços e impostos

Considere que o mercado imobiliário de um município 𝑋 seja controlado por seu


governo local, e por hipótese, que as residências ofertadas neste município para locação
sejam idênticas. Os proprietários destas residências podem simplesmente decidir aluga-
las, ou vende-las para um fundo imobiliário especulativo (caso o valor do aluguel esteja
abaixo de suas expectativas). Suponha que o preço do aluguel neste mercado em
equilíbrio seja de R$500,00, e a quantidade de residências para locação seja de 2.200.

Isto implica que a preços maiores de R$500,00, os proprietários deixariam um


número superior a 2.200 imóveis disponíveis para locação; e a preços inferior a
R$500,00, alguns proprietários irão preferir vender seus imóveis para estes fundos
imobiliários, e assim a quantidade disponível de imóveis para locação seria inferior a
2.200.

Verifiquemos agora o que acontece, caso o legislador deste município estabeleça


preços máximos de aluguel, de R$600,00, ou de R$400,00; conforme ilustrado na
Figura 46.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
55

Figura 46 Fixação de preço máximo no aluguel.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Assim, verificamos que caso o legislador deste município imponha uma lei de
fixação de preço máximo de aluguel de R$600,00, nada muda, pois em equilíbrio, o
preço de aluguel de R$500,00 é inferior ao preço máximo imposto, e assim o mercado
poderá atingir o seu ponto de equilíbrio em 2.200 habitações ao preço de R$500,00 o
aluguel de cada.

Caso o valor do aluguel máximo seja de R$400,00, teríamos um excesso de


demanda. Neste preço, haveria 2.600 famílias dispostas a alugar tais habitações. No
entanto, neste preço, somente haveriam 2.000 residências com proprietários dispostos a
aluga-las. Verificamos assim que neste caso, haveriam 600 famílias com disposição a
pagar neste valor, mas que não conseguiriam estes apartamentos.

Desta forma, podemos verificar que o tabelamento do aluguel seria bom somente
para os inquilinos que conseguissem os apartamentos. Estes que conseguiriam os
apartamentos, poderia ser por diversos critérios, como por exemplo, por filas (quem
chegasse primeiro), de forma aleatória (para quem tiver sorte), ou ainda por outros
critérios de avaliação, que poderiam ser considerados inclusive como preconceituosos,
como por exemplo, por raça, gênero, idade, etc.

Podemos dizer que um critério de distribuição de apartamentos é eficiente


quando os apartamentos são distribuídos para aqueles com maior disposição a pagar; e
ineficiente quando os apartamentos não são distribuídos desta forma.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
56

Neste caso exemplificado, verificamos que como resultado da intervenção do


governo, a distribuição de apartamentos não é eficiente, e além do mais, há perda de
eficiência adicional devido ao maior tempo gasto na busca de apartamento.

Verifiquemos agora o caso quando um governo cobra um imposto na compra de


um bem. Quem paga o imposto?

Suponha determinado mercado de um 𝐵𝑒𝑚 𝑌, em que o preço e quantidade de


equilíbrio sejam respectivamente de R$10,00 e 20 unidades. Suponha agora uma
fixação de imposto de R$2,00 a ser recolhido pelo vendedor. Isto faz com que a curva
de oferta se desloque verticalmente por este valor do imposto, conforme ilustrado na
Figura 47.

Figura 47 Imposto de R$2,00 para o 𝐵𝑒𝑚 𝑌 recolhido pelo vendedor.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Verificamos assim, que apesar do preço do imposto ser recolhido pelo vendedor,
devido a elasticidade-preço da curva de demanda, parte dele acaba sendo pago pelo
consumidor, e parte pelo vendedor. O deslocamento da curva da oferta gera um novo
ponto de equilíbrio, com 17 unidades do bem, onde os vendedores estão dispostos a
receber R$9,20 por unidade do bem, e onde há consumidores com disposição a pagar
por R$11,20 pela unidade do bem. Este é o novo ponto de equilíbrio.

Verifiquemos agora um caso análogo, mas que desta vez o imposto de R$2,00
seja recolhido pelo consumidor. Neste caso, a curva de demanda se desloca para a
esquerda, verticalmente por este valor do imposto, conforme ilustrado na Figura 48.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
57

Figura 48 Imposto de R$2,00 para o 𝐵𝑒𝑚 𝑌 recolhido pelo consumidor.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Podemos concluir assim que a incidência legal do imposto não define o ônus
efetivo; ou seja, quem recolhe o imposto não necessariamente paga pelo imposto. O que
determina quem paga efetivamente o imposto é o mercado.

Consideremos agora um caso de imposto de R$2,00 recolhido pelo vendedor


com demanda pelo bem perfeitamente inelástica, conforme ilustrado pela Figura 49.

Figura 49 Imposto de R$2,00 para o 𝐵𝑒𝑚 𝑌 recolhido pelo


vendedor, com demanda perfeitamente inelástica.

Fonte: KUME.

Com uma demanda perfeitamente inelástica, a incidência econômica do imposto


acaba sendo absorvida inteiramente pelo consumidor. Neste caso, a quantidade de
equilíbrio se mantém constante.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
58

Consideremos agora um caso de imposto de R$2,00 recolhido pelo vendedor,


com demanda perfeitamente elástica, conforme ilustrado na Figura 50.

Figura 50 Imposto de R$2,00 para o 𝐵𝑒𝑚 𝑌 recolhido pelo


vendedor, com demanda perfeitamente elástica.

Fonte: KUME.

Neste caso agora, a incidência do imposto acaba onerando unicamente ao


vendedor, e a quantidade de equilíbrio se reduz.

Assim, concluímos que o ônus efetivo do imposto depende das elasticidades de


oferta e de demanda; ou seja, a incidência econômica é determinada pelas elasticidades
de oferta e demanda; e a incidência legal é apenas determinada pela legislação.

Consideremos agora um 𝐵𝑒𝑚 𝑍, e que a Tabela 10 informe a cada nível de


preço, as respectivas quantidades de disposição para consumo e disposição para oferta.

Tabela 10 Disposição para consumo e oferta do 𝐵𝑒𝑚 𝑍.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
59

A Figura 51 nos ilustra as curvas de oferta e demanda deste 𝐵𝑒𝑚 𝑍.

Figura 51 Curvas de oferta e demanda do 𝐵𝑒𝑚 𝑍.

Fonte: KUME.

Algebricamente, estas curvas de oferta e demanda podem ser expressas por


𝑄𝑂 = −2 + 2𝑃 e 𝑄𝐷 = 10 − 2𝑃; e assim suas funções inversas serão respectivamente
𝑃 = 1 + 𝑄𝑂 /2 e 𝑃 = 5 − 𝑄𝐷 /2. Como sabemos, em equilíbrio 𝑄𝑂 = 𝑄𝐷 = 𝑄 ∗, assim
para 𝑄 ∗ , temos que

−2 + 2𝑃 = 10 − 2𝑃;
4𝑃 = 12;
12
𝑃= = 3.
4

E a quantidade de equilíbrio pode ser calculada como

𝑄 ∗ = −2 + 2(3) = 4 = 10 − 2(3).

Verificaremos agora dois exemplos de impostos.

O imposto ad-valorem consiste numa alíquota percentual sobre o valor do


produto. Algebricamente, pode ser representado como 𝑃𝑇 = 𝑃(1 + 𝑡), onde 𝑃𝑇
corresponde ao preço pago, seja diretamente pelo produtor ou ainda um importador, 𝑃
ao preço sem imposto, e 𝑡 a alíquota do imposto.

Um imposto específico corresponde ao valor fixo em unidades monetárias por


unidade do produto, como verificamos no exemplo do 𝐵𝑒𝑚 𝑌. Ele pode ser
representado algebricamente como 𝑃𝑇 = 𝑃 + 𝑇, onde 𝑇 corresponde a tarifa específica
(nos exemplos anteriores, foi de R$2,00).
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
60

Consideremos agora o caso apresentado do 𝐵𝑒𝑚 𝑍. Suponha que haja um


imposto específico, onde 𝑇 = 𝑅$1,00, e que incide legalmente através das firmas.
Chamemos de 𝑃𝑃 de preço do produtor, e 𝑃𝐶 de preço do consumidor. Como o imposto
é pago pelo produtor, então temos que 𝑃𝑃 = 𝑃𝐶 − 1. Verificamos algebricamente que
𝑄𝑂 = −2 + 2𝑃𝑃 e 𝑄𝐷 = 10 − 2𝑃𝐶 . Fazendo a substituição de 𝑃𝑃 por 𝑃𝐶 − 1 em 𝑄𝑂 ,
temos que 𝑄𝑂 = −2 + 2(𝑃𝐶 − 1). Igualando 𝑄𝐷 = 𝑄𝑂 = 𝑄 ∗ , obtemos que o preço de
equilíbrio seja de

−2 + 2(𝑃𝐶 − 1) = 10 − 2𝑃𝐶 ;
−2 + 2𝑃𝐶 − 2 = 10 − 2𝑃𝐶 ;
4𝑃𝐶 = 10 + 2 + 2 = 14;
14
𝑃𝐶∗ = = 𝑅$3,50.
4

Assim, 𝑃𝑃 = 𝑃𝐶 − 1 = 3,50 − 1 = 𝑅$2,50. E a quantidade de equilíbrio será

𝑄 ∗ = 𝑄𝑂 = 𝑄𝐷 = 10 − 2𝑃𝐶∗ = 10 − 2(3,50) = 10 − 7 = 3.

Apesar da incidência legal do imposto seja para o produtor, verificamos que o


preço pago pelo consumidor é de R$3,50, e o preço recolhido pelo produtor é de
R$2,50. Como o preço sem imposto é de R$3,00, verificamos neste caso que a
incidência econômica do imposto onera efetivamente 𝑅$0,50 tanto para o produtor
quanto para o consumidor.

Consideremos agora que a incidência legal do imposto seja sobre o consumidor.


Assim, temos que 𝑃𝐶 = 𝑃𝑃 + 1; e rearranjando os termos temos que 𝑃𝑃 = 𝑃𝐶 − 1.
Assim verificamos que a incidência econômica do imposto ocorre da mesma forma,
independentemente da incidência legal.

Suponha agora que a função demanda ao invés de 𝑄𝐷 = 10 − 2𝑃𝐶 , seja de


𝑄𝐷2 = 10 − 4𝑃𝐶 . Sem imposto, o preço de equilíbrio desta nova demanda será obtido a
partir de 𝑄𝐷 2 = 𝑄𝑂 = 𝑄 ∗ , e assim

10 − 4𝑃 = −2 + 2𝑃;
6𝑃 = 10 + 2 = 12;
12
𝑃∗ = = 2.
6

E a quantidade de equilíbrio será obtida por 10 − 4𝑃∗ = −2 + 2𝑃∗ = 2.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
61

Consideremos agora o imposto específico em que 𝑇 = 1 com incidência legal para o


consumidor. Desta forma, 𝑃𝐶 = 𝑃𝑃 + 1. Substituindo na função demanda, temos que
𝑄𝐷2 = 10 − 4(𝑃𝑃 + 1), e igualando com 𝑄𝑂 , temos que o preço de equilíbrio do
produtor será de

10 − 4(𝑃𝑃 + 1) = 10 − 4𝑃𝑃 − 4 = −2 + 2𝑃𝑃 ;


6𝑃𝑃 = 8;
8
𝑃𝑃 = ≅ 𝑅$1,33.
6

A quantidade de equilíbrio será de

8 16
𝑄 ∗ = −2 + 2 ( ) = −2 + ≅ 0,67.
6 6

Como 𝑃𝐶 = 𝑃𝑃 + 1 ≅ 𝑅$2,33. O preço sem imposto é de R$2,00; e assim verificamos


que com esta nova função demanda, a incidência passa a ser de 𝑅$0,33 para o
consumidor, e de 𝑅$2,00 − 𝑅$1,33 = 𝑅$0,67 para o produtor.

Verificamos que com a demanda expressa por 𝑄𝐷 = 10 − 2𝑃, sem imposto a


quantidade de equilíbrio é de 4 unidades, e o preço de equilíbrio é de R$3,00. Com o
imposto de R$1,00, a quantidade de equilíbrio passa a ser de 3 unidades e o preço de
equilíbrio do consumidor é de R$3,50 – onde a incidência deste imposto é de R$0,50
para o consumidor. A elasticidade-preço da demanda pode ser expressa como

𝛥𝑄
𝑄1 + 𝑄2 1 1
| | −4 + 3 −7 −6,5
𝐷
|𝜀𝑃 | = 2 =| |=| |=| | ≅ 1,86.
| 𝛥𝑃 | 0,50 0,50 3,5
𝑃1 + 𝑃2 3 + 3,5 6,5
2

Já para a demanda expressa por 𝑄𝐷2 = 10 − 4𝑃, sem imposto a quantidade de


equilíbrio é de 2 unidades, e o preço de equilíbrio é de R$2,00. Com o imposto fixo em
R$1,00, a quantidade de equilíbrio passa a ser de 0,67 unidades, e o preço de equilíbrio
do consumidor passa a ser de R$2,33. A incidência do imposto para o consumidor neste
caso é menor do que no caso anterior. A elasticidade-preço desta demanda pode ser
expressa como

1,33
− 2,67 5,7589
𝐷
|𝜀𝑃 2 | =| | = |− | ≅ 6,54.
0,33 0,8811
4,33
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
62

Verificamos que neste segundo caso, a demanda é mais elástica que a primeira; e
diante disto, a incidência econômica do imposto acaba sendo menor para o consumidor
do que no primeiro caso. Como a demanda do primeiro caso é relativamente mais
inelástica do que no segundo caso, no primeiro caso há maior capacidade de transferir o
ônus do imposto ao consumidor.

Exercício 9. Considere as curvas de demanda e de oferta de milho mostradas na


Figura E9.

Figura E9 Curvas de oferta e demanda de milho do Exercício 9.

Fonte: KUME.

(a) O governo estabelece um preço mínimo de R$5 por tonelada e assume o


compromisso de comprar qualquer quantidade não vendida no mercado. Quantas
toneladas de milho serão produzidas? Quantas toneladas serão adquiridas pelos
consumidores? E pelo governo? Qual será a despesa do governo? Qual será a receita dos
produtores de milho? (b) Se o governo garante um preço mínimo de R$5 até o limite de
1.000 toneladas. Se o preço for menor do que R$5, ele pagará a diferença entre esse
valor e o preço de mercado. Quantas toneladas de milho serão produzidas? Quantas
toneladas serão adquiridas pelos consumidores? E pelo governo? Qual será a despesa do
governo? Qual será a receita dos produtores de milho? (c) Se os consumidores de milho
pudessem escolher a política governamental, qual das duas acima seria escolhida? Em
qual delas, o governo tem menor gasto?

Exercício 10. Em cada um dos casos descritos a seguir analise: i) se a incidência do


imposto recai mais fortemente sobre os consumidores ou sobre os produtores; e ii) qual

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
63

é a receita do governo. (a) O governo impõe um imposto sobre a venda de todos os


livros-texto. Antes do imposto, eram vendidos um milhão de livros a cada ano ao preço
de R$50. Depois de criado o imposto, são vendidos 600.000 livros por ano; os
estudantes pagam R$55 por livro, dos quais as editoras recebem R$30 líquidos de
impostos. (b) O governo impõe um imposto sobre a venda de passagens aéreas. Antes
do imposto se vendiam três milhões de passagens aéreas por ano ao preço de R$500. A
partir da cobrança do imposto, vendem-se cinco milhões de passagens aéreas; os
passageiros pagam R$550 por passagem, dos quais as companhias aéreas recebem
R$450 líquidos de impostos. (c) O governo impõe um imposto sobre a venda de escovas
de dente. Antes do imposto se vendiam dois milhões de escovas de dente por ano ao
preço de R$1,50. A partir da cobrança do imposto, vendem-se 800.000 escovas de dente
por ano; os consumidores pagam R$2 por cada escova de dente passagem, dos quais as
companhias aéreas recebem R$1,25 líquido de impostos. Vide soluções na seção final
do caderno Soluções dos exercícios propostos.

3 – MERCADO E ECONOMIA DO BEM-ESTAR

O equilíbrio em um mercado competitivo indica que recursos (escassos) estão


sendo utilizados (ou alocados) na produção de um determinado bem.

Assim, o sistema de mercado proporciona uma determinada alocação de recursos


para produzir determinado bem. Diante disto, podemos questionar sobre quais são os
benefícios (bem-estar) dos compradores e dos vendedores; como maximizar esses
benefícios; e sobre qual é o impacto das intervenções do governo sobre o bem-estar.

Verificaremos agora como medir os benefícios.

3.1 – Excedentes do consumidor e do produtor e eficiência de


mercado

O excedente do consumidor (𝐸𝐶) se refere a óptica do consumidor, ou seja,


consiste na diferença entre a valoração subjetiva de um bem ou serviço pelo consumidor

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
64

(ou seja, de sua disposição a pagar) e o valor efetivamente pago (ou seja, o preço do
bem/serviço).

A Figura 52 nos ilustra graficamente o excedente do consumidor em uma função


de demanda contínua de um 𝐵𝑒𝑚 𝑊.

Figura 52 Excedente do consumidor em uma função de demanda contínua.

Fonte: KUME.

Neste mercado ilustrado, verificamos que a quantidade de equilíbrio é de 2.500


com o preço de equilíbrio de 40 unidades monetárias. No entanto, podemos observar
que há consumidores que estariam dispostos a pagar preços entre 40 e 100 por este bem;
mas que acabam pagando por apenas 40 (considerando que não há uma discriminação
de preços para os consumidores com maiores disposição a pagar). Este triângulo
colorido indica o excedente do consumidor (𝐸𝐶), que pode ser calculado por
((100 − 40)2500)⁄2 = 75.000.

Uma mudança no preço gera variação no excedente do consumidor. Suponha


que o preço do bem exemplificado diminuía de 40 para 30 unidades monetárias. Assim,
há um aumento na quantidade demandada, digamos que de 2500 unidades para 3200
unidades. Neste caso, o triangulo deste novo excedente do consumidor pode ser
calculado por

70 × 3200
𝐸𝐶2 = = 112.000.
2

Verificamos então que esta diminuição do preço faz com que o excedente do
consumidor aumente de 75 mil unidades monetárias para 112 mil. Este novo excedente

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
65

do consumidor pode ser composto pelo EC antigo, somado ao excedente do consumidor


adicional dos consumidores que já compravam, e do excedente do consumidor dos
novos compradores, conforme ilustrado na Figura 53.

Figura 53 Mudança de preço e variação do excedente do consumidor.

Fonte: KUME.

O excedente do consumidor pode ser considerado como uma medida de bem-


estar do consumidor, pois reflete suas preferências.

Por outro lado, o excedente do produtor (𝐸𝑃) reflete a óptica do


vendedor/produtor, e é dado pela diferença entre o preço e o custo de produção de um
bem/serviço. Lembremos que o custo econômico de produção é medido pelo custo de
oportunidade, e não só pelo custo contábil (medido pelo valor da despesa efetivamente
realizada).

Diferentes vendedores e produtores normalmente têm custos econômicos


diferentes. Assim, a decisão de venda será positiva para preços iguais ou superiores a
seus custos econômicos, e negativa caso o preço seja inferior. No caso em que o custo
econômico seja igual ao preço de venda, o vendedor será indiferente, e este preço será
chamado de valor mínimo, ou preço mínimo de venda, ou ainda disposição a vender.

Suponha que em uma região, haja 7 produtos idênticos distribuídos


unitariamente entre sete pessoas (que podem ser vendedores em potencial). Apesar da
abstração ser importante para estudar e trabalhar em conceitos de microeconomia, para
ilustração, suponha que este produto seja uma moeda rara e específica de R$1,00 da

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
66

Copa. Cada uma destas sete pessoas tem disposição a vender sua moeda por preços
diferentes, conforme apresentado na Tabela 11.

Tabela 11 Disposição a vender.

Fonte: KUME.

Unindo a disposição a venda de cada vendedor podemos traçar uma curva de


oferta. Suponha que o preço de mercado deste bem seja de R$40,00. A Figura 54 nos
ilustra esta curva de oferta e o excedente dos produtores.

Figura 54 Curva de oferta e excedente do produtor.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Verificamos neste caso que cada vendedor tem um excedente do produtor


diferente, e ao preço de R$40,00, este mercado disponibiliza 4 unidades do bem, sendo
o total do excedente do produtor de R$60,00.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
67

Suponha agora um caso análogo do 𝐵𝑒𝑚 𝑊, onde há uma curva de oferta


contínua, e ao preço de 40 unidades monetárias, os produtores/vendedores
disponibilizam 2500 unidades deste bem, conforme ilustrado na Figura 55.

Figura 55 Excedente do produtor em curva de oferta continua.

Fonte: KUME.

Verificamos no gráfico que o excedente do produtor (𝐸𝑃) corresponde à área


localizada acima da curva de oferta e abaixo da linha do preço. Suponha que o preço de
mercado do 𝐵𝑒𝑚 𝑊 suba para 50 unidades monetárias; e assim a oferta aumenta para
3.200 unidades. A Figura 56 nos ilustra a variação no excedente do produtor.

Figura 56 Mudança de preço e variação no excedente do produtor em curva de oferta contínua.

Fonte: KUME.

O bem-estar (𝑊) – ou welfare – consiste numa medida de benefício líquido


máximo, e assim, em um mercado em equilíbrio trata-se da soma do excedente do

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
68

consumidor e do excedente do produtor, de forma que 𝑊 = 𝐸𝐶 + 𝐸𝑃; conforme


ilustrado no gráfico da Figura 57.

Figura 57 Excedente do produtor e do consumidor.

Fonte: KUME.

Verificamos que a curva de oferta indica o custo para os vendedores, enquanto a


curva da demanda indica o valor para os consumidores. E no mercado em equilíbrio, os
consumidores com disposição a pagar acima do preço de mercado conseguem os bens, e
os produtores que conseguem produzir com menor custo do preço de mercado
conseguem vender.

Podemos inferior que os mercados falham quando o mercado não consegue


maximizar o excedente total, ou bem-estar. Isto pode ocorrer por diversos motivos, mas
para finalidade de ilustração, podemos citar o caso do monopólio na venda.

Caso uma firma seja monopolista, ela poderá decidir o preço de mercado de seu
bem, fixando assim o seu preço num valor superior do que ao de seu custo marginal.
Assim, ela passa a vender somente para consumidores com maiores disposições a pagar;
ou seja, ela vende uma menor quantidade para quem está apto ou disposto a pagar pelo
valor maior. Como neste caso o preço é maior do que seu custo marginal, ela acaba se
apropriando de um excedente do produtor maior. Este exemplo pode ser ilustrado pela
Figura 58.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
69

Figura 58 Falha de mercado através do monopólio.

Fonte: KUME.

Na ilustração, fica nítido que o EC se torna bem menor do que o obtido em


concorrência, que seria delimitado pelo triângulo 𝐵𝑃𝐶 𝐸. Podemos também verificar que
o bem-estar ou excedente total gerado em monopólio é menor do que em concorrência.
Isto pode ser observado pois o excedente total em concorrência seria delimitado pelo
triângulo 𝐴𝐵𝐸, e no monopólio, este excedente total é delimitado pelo trapézio 𝐴𝐵𝐷𝐶,
que é inscrito dentro da área do triângulo 𝐴𝐵𝐸, ou seja, tem um valor menor este
excedente total obtido pelo monopólio.

Por outro lado, podemos verificar o que ocorre com o excedente do produtor.
Em concorrência, o EP equivale a área do triângulo 𝐴𝑃𝐶 𝐸. Já no caso do monopólio, o
EP perde a área do triângulo 𝐹𝐶𝐸, mas em compensação ganha com a área do retângulo
𝑃𝑀 𝑃𝐶 𝐷𝐹. Como a área deste retângulo é maior do que o triângulo, há ganhos no
excedente do produtor para o monopolista. A decisão do monopolista será de maximizar
o lucro, assim neste exemplo, sua escolha de preços será a que captura maior parte do
excedente do consumidor com este formato retangular, e que ao mesmo tempo gere
menor perda relativa possível do EP no triângulo 𝐹𝐶𝐸.

Em outras palavras, a diferença entre o retângulo (capturado do excedente do


consumidor em concorrência) com o triângulo (da perda de excedente do produtor por
parte dos consumidores que não têm disposição a pagar a preços mais elevados) deverá
ter o maior valor possível para o monopolista. De qualquer forma, esta consiste em uma
falha de mercado, pois há perda do excedente total. Uma possível solução seria de
intervenção governamental, como políticas de concorrência e legislação antitruste.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
70

Exercício 11. Determine o excedente do consumidor em cada uma das seguintes


situações. (a) Paul vai à loja comprar uma camiseta nova pela qual está disposto a pagar
até R$10. Ele encontra uma que lhe agrada com o preço de R$10. No entanto, no
momento da compra, a camiseta é colocada em liquidação pela metade do preço. (b)
Robin sai de casa para comprar um CD “Os maiores sucessos dos Eagles” na esperança
de encontrar por até R$10. Ele encontra uma loja que está vendendo por R$10. (c)
Depois de fazer exercícios, Phil está disposto a pagar R$2 por uma garrafa de água
mineral. Os vendedores disponíveis estão vendendo por R$2,50 a garrafa.

Exercício 12. Determine o excedente do produtor em cada uma das seguintes situações:
(a) Bob registra seu velho trenzinho elétrico de brinquedo no eBay para vender. Ele fixa
um preço mínimo aceitável, conhecido como seu preço de reserva, de R$ 75. Depois de
cinco dias recebendo ofertas, a última oferta mais alta foi de exatamente R$ 75. (b)
Jenny coloca um anúncio de venda do seu carro no jornal por R$15.000,00, mas ela está
disposta a vender o carro por qualquer preço acima de R$ 13.000,00. A melhor oferta
que obteve foi de R$ 12.000,00. (c) Sanjay gosta tanto do seu trabalho que estaria
disposto a trabalhar de graça. Contudo seu salário mensal é de R$ 3.000,00. Vide
soluções na seção final do caderno Soluções dos exercícios propostos.

3.2 – Tributação e bem -estar

Um imposto gera um custo social, pois reduz os excedentes do consumidor e do


produtor, e assim impacta sobre o bem-estar. Verificamos já que a oneração do imposto
se efetiva conforme as leis do mercado, independentemente de sua incidência legal.

Agora o interesse é verificar como um imposto pode alterar os excedentes tanto


do consumidor quanto do produtor, e também no desenvolvimento de conceitos como
receita tributária e peso morto.

Considere que antes de um imposto, o preço de equilíbrio em determinado


mercado seja dado por 𝑃1 . Após a aplicação de um imposto específico 𝑇, a oneração se
dá tanto para o produtor quanto para o consumidor, sendo 𝑃2 = 𝑃𝐶 o preço pago pelo
consumidor, e 𝑃0 = 𝑃𝑃 o preço recebido pelo produtor líquido do imposto. A Figura 59
nos ilustra o impacto deste imposto sobre o bem-estar.
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
71

Figura 59 Impacto de um imposto no bem-estar.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Na ilustração, verificamos a perda de bem-estar, tanto do EC quanto do EP após


a aplicação do imposto. No entanto, parte da perda de bem-estar, representada pelo
retângulo 𝑃𝐶 𝐶𝐷𝑃𝑃 é alocada para o governo, sobre forma de receita tributária, que por
sua vez, pode ser transferida para um segmento de pessoas, tanto para consumidores
quanto produtores, de forma direta ou indireta, através de investimentos que beneficiem
a ambos, ou através de uma correção de alguma falha de mercado.

No entanto, há uma perda de bem-estar que não é recuperada, a correspondente


ao triângulo 𝐶𝐷𝐸1 , que é chamado na literatura econômica de peso morto, e que
corresponde ao valor do consumidor e do produtor que não é realizado, ou seja, do
ganho de comércio não realizado (da mesma forma que no caso verificado do
monopólio, onde ocorre peso morto).

O peso morto também é verificado no caso de controle dos preços, como no que
vimos da fixação de preço máximo do aluguel.

A magnitude do peso morto pode ser determinada pelas elasticidades tanto da


oferta quanto da demanda. Quanto mais elásticas forem as ofertas e demandas, mais
peso morto poderá ser gerado, conforme pode ser visualizado na Figura 60.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
72

Figura 60 Peso morto e elasticidade.

Fonte: KUME.

Como peso morto por definição consiste em perda de bem-estar, ou seja, em


perda de excedente do consumidor e perda de excedente do produtor; para uma outra
ilustração mais irreverente, podemos dizer que pode haver peso morto quando se dá ou
recebe presentes. Suponha que perto de seu aniversário, uma firma através de seu
programa de relacionamento lhe informa que irá te presentear em R$50,00. No entanto,
quando chega seu aniversário, suponha que você receba uma caixa de bombons
(Kopenhagen) que esta firma normalmente comercializa por R$50,00. Suponha que
você goste de tais bombons, mas que valoriza esta caixa de bombons em R$40,00 (que
seria o valor máximo que você pagaria por ela; e que uma loja Kopenhagen ao lado de
sua casa também a venda por R$40,00). Neste contexto, o presente gera peso morto de
R$10,00.

Retomando ao tema do imposto, uma questão importante consiste se o governo


pode sempre aumentar a receita elevando o imposto. A Figura 61 nos ilustra a receita
tributária e peso morto gerados em três grandezas de impostos.

Figura 60 Receita tributária e peso morto.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
73

Verificamos assim que quanto maior for a tarifa de um imposto específico,


maior será o peso morto gerado, pois o imposto tem o efeito de diminuir o tamanho do
mercado. O gráfico apresentado na Figura 61 nos ilustra a relação entre o tamanho de
um imposto e o peso morto gerado.

Figura 61 Relação entre peso morto e valor do imposto.

Fonte: KUME.

Sobre o efeito na arrecadação tributária, para um imposto pequeno, é plausível


que a receita tributária seja pequena, e assim quando o tamanho do imposto cresce, a
receita tributária pode aumentar. No entanto, há um certo limite. Quando um imposto
continua a crescer, a receita tributária diminui porque o maior valor do imposto reduz o
tamanho do mercado. Isto pode ser ilustrado por uma Curva de Laffer6, conforme
apresentado na Figura 62.

Figura 62 Curva de Laffer.

Fonte: KUME.

6
Desenvolvida pelo economista Arthur Laffer, a curva de Laffer determina um ponto ótimo da
arrecadação de impostos.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
74

Exercício 13. Um quarto de hotel em Pequenópolis custa R$100. Em dias normais,


1.000 quartos são ocupados. (a) Para aumentar a receita, o prefeito decide cobrar uma
taxa de R$10 por quarto ocupado. Depois que a taxa é imposta, o preço sobe para
R$108 e o total ocupado cai para 900. Calcule a receita tributária e o peso morto. (b) O
prefeito decide dobrar o imposto para R$20. O preço aumenta para R$116 e o número
de quartos ocupados cai para 800. O que acontece com a receita tributária?

Exercício 14. Suponha que um mercado seja descrito pelas seguintes equações de
oferta e de demanda 𝑄𝑂 = 2𝑃 e 𝑄𝐷 = 300 − 𝑃. (a) Calcule o preço e a quantidade de
equilíbrio. (b) Um imposto específico de R$T por unidade é cobrado dos consumidores.
Calcule os preços do produtor e do consumidor e a quantidade de equilíbrio. (c) Calcule
a receita tributária em função de T. Desenhe um gráfico desta relação com T variando
entre 0 e 300. Coloque a receita tributária no eixo vertical. (d) Indique graficamente o
peso morto e mostre sua relação com T. Faça um gráfico do peso morto em função de T
para valores entre 0 e 300. (e) O governo fixa o imposto em R$200 por unidade. É uma
boa política? Há uma política melhor? Vide soluções na seção final do caderno
Soluções dos exercícios propostos.

3.3 – Impacto do comércio internacional sobre o bem -estar

Em uma economia fechada, onde não há importações nem exportações, o preço


e quantidade de equilíbrio de um mercado serão definidos pelas curvas de oferta e
demanda locais.

Já para uma economia aberta, consideremos a hipótese de um país pequeno.


Esta hipótese implica que um país pequeno oferta e consome uma quantidade
relativamente desprezível de bens em relação ao resto do mundo, e assim não tem
capacidade de influenciar o preço internacional, que será chamado7 de 𝑃𝑊 .

Desta forma, ao nível de 𝑃𝑊 , um país pequeno pode exportar ou importar


qualquer quantidade de bens que deseje, pois enfrenta uma curva de demanda e de
oferta mundial perfeitamente elástica em 𝑃𝑊 . Isto é intuitivo porque a quantidade

7
O “w” subscrito indica “world” – mundo.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
75

máxima que este país consegue consumir ou produzir de um bem é relativamente


desprezível com a quantidade ofertada e consumida deste bem com o resto do mundo
nesta hipótese. Isto é ilustrado na Figura 63.

Figura 63 Hipótese de país pequeno.

Fonte: KUME.

Assim, se o preço sem comércio (somente da economia interna) for menor do


que o preço mundial, o produto é exportado. Analogamente, se o preço sem comércio é
maior do que o preço mundial, o produto é importado, conforme ilustrado na Figura 64.

Figura 64 Preço sem comércio de um país pequeno maior e menor do que o preço mundial.

Fonte: KUME.

Na Figura 64, as curvas 𝑂1 e 𝐷1 representam as ofertas e demandas locais de um


país pequeno (caso não houvesse comércio internacional). Podemos verifica que
ocorrem perdas e ganhos tanto com a exportação quanto com a importação.

No caso do país que exporta, quando o preço internacional é maior do que o


preço local, verificamos que há um ganho no excedente do produtor local, que passa

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
76

também a produzir uma maior quantidade do que na ausência do comércio


internacional, e vendendo a um preço mais elevado. No entanto, a quantidade da
demanda local diminui, por conta do maior preço. Assim, há perda no excedente do
consumidor local. De forma resumida, a exportação impacta de forma que
consumidores locais perdem, produtores locais ganham; e o país como um todo ganha8,
porque a perda dos consumidores é menor do que o ganho dos produtores, e assim o
benefício total é maior. Este efeito é bem ilustrado na Figura 65.

Figura 65 Impacto da exportação num país pequeno.

Fonte: KUME.

Ao nível de 𝑃𝑊 , a quantidade ofertada é 𝑄𝑂 , e este excesso de oferta para o


mercado local é desviado para o mercado externo. O excedente total passa a incorporar
a área do triângulo representado pela letra 𝐹.

Já para o caso do país que importa, ou seja, quando o preço internacional é


menor do que o preço de equilibro local (sem comércio), verificamos que a presença do
comércio internacional gera um efeito análogo inverso do caso do país que exporta.
Assim, há ganho no excedente do consumidor local, que passa a obter preço menor
(𝑃𝑊 ), e neste nível de preço, a quantidade de demanda é maior – ao nível de 𝑃𝑊 , há
mais pessoas com disposição a pagar. Este efeito é melhor ilustrado na Figura 66.

8
Este ganho é puramente econômico, relativo à eficiência alocativa de mercado. Esta análise não aborda
questões sociais ou de bens estratégicos para uma nação.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
77

Figura 66 Impacto da importação num país pequeno.

Fonte: KUME.

No entanto, a quantidade da oferta local diminui, por conta do menor preço.


Assim, há perda no excedente do produtor local. De forma resumida, a importação
impacta de forma que consumidores locais ganham, produtores locais perdem; e o país
como um todo ganha, porque o ganho dos consumidores é maior do que a perda dos
produtores, e assim o benefício total é maior.

Ao nível de 𝑃𝑊 , a quantidade demandada é 𝑄𝑂 , e este excesso de demanda em


face da oferta local é suprida pelo mercado externo. O excedente total passa a
incorporar a área do triângulo representado pela letra 𝐷.

De uma forma geral, o comércio internacional implica num ganho para o país
como um todo, mas gera também além de ganhadores, perdedores. Assim, haverá
ganhadores que serão a favor, e perdedores que serão contra.

Verificaremos agora o impacto de uma tarifa aduaneira, ou seja do imposto de


importação – que é cobrado exclusivamente sobre o produto importado.

Da mesma forma que caracterizamos os tributos, a tarifa aduaneira será


caracterizada em dois tipos. A primeira consiste em tarifa específica (𝑇), e assim 𝑃𝐷 =
𝑃𝑊 + 𝑇, ou seja, o preço doméstico corresponderá ao preço internacional acrescido da
parcela da tarifa aduaneira. Por exemplo, se o preço internacional 𝑃𝑊 = 𝑅$40 e 𝑇 =
𝑅$10, então o preço doméstico será 𝑃𝐷 = 𝑅$50. O segundo tipo consiste na tarifa ad-
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
78

valorem (𝑡), de forma que 𝑃𝐷 = 𝑃𝑊 (1 + 𝑡). Por exemplo, se 𝑃𝑊 = 𝑅$40 e 𝑡 = 25% =


0,25; 𝑃𝐷 = 𝑅$40 + (1 + 0,25) = 𝑅$50.

A Figura 67 nos ilustra o impacto econômico de uma tarifa aduaneira de


importação.

Figura 67 Impacto econômico de uma tarifa aduaneira.

Fonte: KUME.

A hipótese implícita é de que o preço internacional seja menor do que o preço de


equilíbrio doméstico – caso contrário, não haveria importação. Caso não houvesse tarifa
aduaneira, o preço seria 𝑃𝑊 , a demanda seria 𝑄𝐷1 e a oferta doméstica 𝑄𝑂1. Já com a
tarifa aduaneira, temos o efeito preço, que passa a ser 𝑃𝑊 (1 + 𝑡), o efeito consumo,
reduzindo a demanda para 𝑄𝐷2, e o efeito produto, aumentando a oferta doméstica para
𝑄𝑂2. A diferença entre a demanda 𝑄𝐷2 e a produção doméstica 𝑄𝑂2 será a quantidade
importada, que multiplicada pela diferença de preços, correspondente a 𝑡𝑃𝑊 , gerará
receita tributária.

Caso a tarifa aduaneira fosse elevada o suficiente, que causasse um preço


𝑃𝑊 (1 + 𝑡) maior do que o preço de equilíbrio doméstico, não haveria importação. Caso
gerasse um preço próximo ao preço de equilíbrio doméstico, a receita tributária seria
pequena. De qualquer forma, verificamos que a tarifa aduaneira ajuda no incentivo a
produção/oferta doméstica.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
79

É necessária uma análise da tarifa aduaneira referente ao impacto no bem-estar,


conforme ilustrado na Figura 68.

Figura 68 Impacto de uma tarifa aduaneira no bem-estar.

Fonte: KUME.

Através da ilustração, fica fácil visualizar que a tarifa aduaneira faz com que o
excedente do produtor se aproprie de parte do excedente do consumidor quando não há
tarifa, o corresponde a região 𝐶. Da mesma forma, o governo (ou país como um todo)
também se apropria de parte do excedente do consumidor quando não há tarifa, da área
correspondente a região 𝐷 que agora faz parte da receita tributária.

A tarifa aduaneira também gera peso morto. Do lado da produção, verificamos


que a região 𝐹 corresponde a parte do custo de produção que é superior ao valor da
produção no mercado global. Do lado do consumo, verificamos a região 𝐺 como perda
do excedente do consumidor em um ambiente com ausência de tarifa.

Desta forma podemos concluir que a tarifa gera quatro impactos, e que
sintetizando, consumidores perdem, produtores ganham, governo ganha, e o país como
um todo perde (pois os ganhos dos produtores e do governo são menores do que a perda
dos consumidores).

Já sobre o comércio internacional em geral, podemos citar uma lista de uma


série de outros benefícios, tais como:

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
80

▪ Maior variedade de produtos – os consumidores podem escolher um bem


entre diversos disponíveis. Por exemplo, entre um queijo nacional (e suas
diversas marcas) e queijo importado (com diferentes países e marcas).
▪ O mercado se amplia (além do mercado interno, incorpora-se o mercado
externo), e o custo pode cair devido a maior produção.
▪ Há maior competição, e assim tanto firmas nacionais quanto estrangeiras
competem para conquistar os consumidores – podendo resultar em menor
preço e melhor qualidade.
▪ Absorção de tecnologia estrangeira incorporada nos bens importados.

No entanto, há também argumentos contra o comércio internacional, ou


relacionados a imposição de altas tarifas aduaneiras, ou de tarifas baixas; e serão
listados os mais relevantes.

O primeiro consiste no que se refere a proteção ao emprego doméstico. Em um


típico setor industrial manufatureiro doméstico, como por exemplo, da indústria têxtil e
de calçados, a tarifa aumenta sua proteção, de forma que eleva o preço e o emprego.
Este mesmo efeito ocorre com uma indústria de alimentos; no entanto, o maior preço,
significa menos renda disponível das pessoas para comprar alimentos (e uma redução da
demanda), o que pode ainda reduzir o emprego. Comparando as duas indústrias, o efeito
no emprego total pode também não se alterar.

O segundo argumento consiste na questão de setores estratégicos. Por exemplo,


o setor petroquímico pode gerar um insumo que seja considerado importante; e pode ser
pensado que se os países exportadores deixarem de vender, a falta do produto afetaria
diversos setores de uma economia local. Neste caso, uma opção seria adotar uma tarifa
aduaneira baixa para facilitar a importação. No entanto, caso uma economia local queira
incentivar sua própria produção, poderia ser adotado o oposto, que consiste na próxima
questão.

O terceiro argumento consiste na proteção a indústria nascente. Normalmente, os


custos de firmas iniciantes são maiores, devido suas menores escalas de produção,
gastos com criação de mercadoria, falta de mão-de-obra especializada (e que implica em
gastos com treinamento), adaptação da tecnologia, ganhos com aprendizagem, etc.

Assim, é interessante como proposta uma proteção temporária de um governo de


uma economia local para uma indústria nascente, até que o custo de produção alcance

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
81

ao nível internacional. No entanto, políticas de restrição a importação com este objetivo


devem ser elaboradas de forma bem cuidadosa. Deve-se tomar cuidado pois não há
garantia de que no futuro esta indústria se torne competitiva internacionalmente, e há
possibilidade de acomodação por parte da indústria, e pressões políticas para que esta
proteção se torne permanente. Uma crítica a tal política consiste pela própria solução do
mecanismo de mercado, ou seja, se no futuro será competitivo, pode-se pensar que
haverá sempre investidores.

De uma forma geral, uma nova indústria pode ganhar em determinado período
de tempo economias de escala, e se tornar mais competitiva, o que justifica a política de
proteção a indústria nascente. A vantagem comparativa potencial de uma indústria
nascente é ilustrada na Figura 69.

Figura 69 Vantagem comparativa potencial de uma indústria nascente.

Fonte: KUME.

Um quarto argumento se refere no que pode ser chamado de concorrência


desleal, ou seja, quando se fornecem subsídios a exportação. Suponha que o preço
internacional de determinado bem com tarifa de importação seja 𝑃∗ . E suponha que um
governo incentive a exportação de sua indústria local através de um subsídio de
exportação, tal que ela possa exportar seus produtos por 𝑃𝑆 , sendo 𝑃𝑆 < 𝑃∗ .

Este efeito é ilustrado na Figura 70.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
82

Figura 70 Concorrência desleal.

Fonte: KUME.

Com o preço da exportação subsidiada, o produtor local se apropria de um


excedente maior; mas como tal subsídio é exclusivo para a exportação, os consumidores
locais não ganham da mesma forma, pois têm de pagar pelo preço 𝑃∗ .

Um quinto argumento se refere ao poder de negociação para acesso a mercados,


ou ainda a proteção como instrumento de negociação. Uma proteção pode ser utilizada,
por exemplo, para pressionar parceiros comerciais a reduzirem as barreiras às
importações. Caso os parceiros não reduzam as barreiras, o bem-estar cai.

Exercício 15. A Tabela E15 mostra a demanda e a oferta de ameixas no País A.


Suponha que o País A seja um “país pequeno”, e o preço internacional no mercado de
ameixa seja de R$0,30 por quilo.

Tabela E15 Preço, oferta e demanda de ameixas no País A.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
83

(a) Desenhe as curvas de oferta e demanda de ameixa do País A. (b) Se a importação é


livre (regime de livre-comércio), quantos quilos de ameixa o País A vai importar ou
exportar? (c) O governo do País A fixa uma tarifa aduaneira de R$0,20 por quilo de
ameixa. Quantos quilos de ameixa o País A vai importar ou exportar? (d) mostre no
gráfico o ganho ou perda para a economia do País A devido à introdução dessa tarifa.

Exercício 16. Malta é um país pequeno, produtor e consumidor de arroz. Suponha que
o preço mundial de arroz seja de 𝑈𝑆$1 por quilo, e que a oferta e demanda internas de
Malta sejam representadas pelas equações 𝑄𝑂 = 𝑃 e 𝑄𝐷 = 8 − 𝑃, onde 𝑃 é o valor em
dólares por quilo, e 𝑄 a quantidade em quilos. (a) Suponha inicialmente que o governo
de Malta não permite o comércio internacional. Faça o gráfico e mostre o preço, a
quantidade e o ponto de equilíbrio. Calcule os excedentes do consumidor, do produtor e
o total. (b) Agora, o comércio internacional é permitido. Faça o gráfico e mostre o
preço, a quantidade e o ponto de equilíbrio. Calcule os excedentes do consumidor, do
produtor e o total. (c) Suponha que o governo de Malta diante das pressões dos
produtores de arroz fixa um imposto de importação de U$1 por quilo. Mostre
graficamente o impacto desta tarifa. Calcule o preço, a quantidade consumida, a
quantidade produzida e quantidade importada. Calcule também os excedentes do
consumidor e do produtor, a receita do governo e o excedente total. Calcule o custo
social (peso morto) deste imposto.

Exercício 17. Uruguai é um país pequeno, produtor e consumidor de arroz. Suponha


que o preço mundial de arroz seja de 𝑈𝑆$6 por quilo, e a oferta e demanda de arroz
internas do Uruguai sejam representadas pelas equações 𝑄𝑂 = 𝑃 e 𝑄𝐷 = 8 − 𝑃, onde 𝑃
é o valor em dólares por quilo, e 𝑄 a quantidade em quilos. (a) Suponha inicialmente
que o governo uruguaio não permite o comércio internacional. Faça o gráfico e mostre o
preço, a quantidade e o ponto de equilíbrio. Calcule os excedentes do consumidor, do
produtor e o total. (b) Agora, o comércio internacional é permitido. Faça o gráfico e
mostre o preço, a quantidade e o ponto de equilíbrio. Calcule os excedentes do
consumidor, do produtor e o total. (c) Suponha que o governo uruguaio diante das
pressões dos consumidores de arroz fixa um imposto de exportação de U$1 por quilo.
Mostre graficamente o impacto desta tarifa. Calcule o preço, a quantidade consumida, a
quantidade produzida e quantidade exportada. Calcule também os excedentes do
consumidor e do produtor, a receita do governo e o excedente total. Calcule o custo

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
84

social (peso morto) deste imposto. Vide soluções na seção final do caderno Soluções
dos exercícios propostos.

3.4 - Externalidades

É estilizado que a emissão de CO2 contribui para o efeito estufa, prejudicando


assim o meio ambiente de nosso planeta Terra. Segundo relatório da Clean Air-Cool
Planet, A Consumer's Guide to Retail Carbon Offset Providers, publicado em 2006,
uma tonelada de CO2 é emitida quando se viaja 2 mil milhas de avião, ou quando se
dirige 1.900 milhas em um carro de médio porte, ou quando se deixa um computador
ligado por 10.600 horas, ou ainda quando se cria uma vaca leiteira por 8 meses.

Seja dada a seguinte questão: vale a pena ir diariamente ao trabalho ou a


universidade de carro?

Pelo processo decisório individual, a resposta será sim, se o benefício marginal


for maior do que o custo marginal; e não, caso for o contrário. O benefício marginal de
se locomover de carro corresponde ao ganho marginal (adicional) em comparação com
outras formas de transporte, como por exemplo, o menor tempo de viagem, e questões
de preferências individuais, como o maior conforto, ou até mesmo preferência por
dirigir. Isto vale ao valor máximo que uma pessoa estaria disposta a pagar para se
locomover em seu próprio carro.

Já em relação ao custo marginal, este se refere as despesas marginais de se


locomover em carro próprio, como por exemplo, gastos com combustível, manutenção
do carro, preços de estacionamento, tempo para encontrar estacionamento, fadiga ou
disposição para dirigir, etc. No entanto, os impactos causados pela emissão de dióxido
de carbono normalmente não são inclusos no processo decisório individual.

Assim, externalidades podem ser definidas como sendo benefícios não


capturados e custos não assumidos nas transações de mercado.

Externalidades podem ser localizadas e pequenas, como por exemplo, quando


alguém ouve uma música com som elevado, prejudicando os vizinhos; ou ainda quando
o cachorro de um vizinho late a noite prejudicando o seu sono. Estes são exemplos de
externalidades negativas, que afetam de forma local poucas pessoas.
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
85

No entanto, externalidades também podem ser de grande escala, como por


exemplo, as que causam aquecimento global ou chuva ácida.

Como vimos em mercado, através das curvas de oferta e demanda, uma alocação
eficiente de recursos consiste quando se atinge o benefício líquido máximo, ou seja,
quando a soma do excedente do consumidor com o excedente do produtor é a máxima
possível.

Em um mercado eficiente, todos os benefícios são apropriados, e todos os custos


são pagos. No entanto, a presença de externalidades ocorre quando uma parte dos
benefícios não é ganha pelos compradores, ou ainda quando uma parte dos custos não é
assumida pelos vendedores.

Na produção de bens, um exemplo de externalidade positiva pode ser o


desenvolvimento de um novo método gerencial não sujeito à patente. Assim, uma nova
técnica desenvolvida pode ser externalizada para o resto do mundo. Por sua vez, um
exemplo de externalidade negativa pode ser na produção de um bem que tem como
subproduto a poluição do ar nas adjacências, ou ainda de resíduos jogados no rio.
Assim, este efeito negativo é externalizado no meio ambiente e a pessoas que não
estejam ligadas na produção ou consumo destes bens.

Já para no consumo de bens, podemos citar como exemplo de externalidade


positiva a restauração de um edifício histórico. Este consumo em obras gera uma
externalidade da própria paisagem para todas as pessoas que visitarem ou tirarem fotos
de tal edifício. Já como exemplo de externalidade negativa, podemos citar o consumo
de cigarro, que externaliza os males através da criação do fumante passivo, ou seja, do
indivíduo que não fuma, mas fica exposto à fumaça de cigarros de parentes, amigos ou
colegas de trabalho.

Faremos agora uma análise econômica das externalidades. Suponha que para o
mercado do 𝐵𝑒𝑚 𝑇, a solução de mercado que iguala um ponto da curva de demanda e
da curva de oferta (do custo marginal privado) seja ao preço 𝑃 = 30 unidades
monetárias e quantidade 𝑄 = 15 toneladas. Suponha que a produção deste 𝐵𝑒𝑚 𝑇 gera
uma externalidade negativa, e assim desta forma, além do custo marginal privado, há
também o custo marginal social, que também pode ser expresso em preço pela
quantidade produzida. Estas curvas de custo marginal privado (curva de oferta), custo

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
86

marginal social, e de demanda, assim como o custo da externalidade, são representadas


na Figura 71.

Figura 71 Mercado do 𝐵𝑒𝑚 𝑇 com externalidade negativa.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Verificamos assim que a solução de mercado na presença de externalidades é


ineficiente, pois gera perdas para a sociedade – de forma que a decisão não considera as
externalidades.

Um aumento de preço leva a redução da quantidade demandada, devido ao valor


atribuído pelos consumidores. No entanto, podemos observar o custo social de
produção, conforme apresentado na Figura 72.

Figura 72 Perda na presença de externalidade.

Fonte: KUME.

Assim, na presença de externalidades, a solução eficiente requer que os


benefícios não recebidos e os custos não assumidos sejam considerados no processo
decisório. Isto significa internalização destes benefícios e custos.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
87

As questões econômicas consistem em como, ou através de quais meios, se pode


internalizar tais benefícios e custos gerados por externalidades. Seria possível uma
solução sem interferência governamental? Ou ainda, o mecanismo de mercado oferece
uma solução?

Continuando com uma análise de externalidade negativa na produção; suponha


que exista uma fábrica de celulose localizada à margem de um rio, onde ao entorno
deste rio, habita uma colônia de pescadores. Suponha que esta fábrica despeje resíduos
poluentes neste rio, conforme ilustrado na Figura 73.

Figura 73 Externalidade negativa da produção (fábrica de celulose e colônia de pescadores).

Fonte: KUME.

Suponha que a produção atual da fábrica de celulose seja de 20 toneladas, e que


o preço por tonelada seja de 𝑅$5.000. Suponha que os pescadores trabalhem por um
determinado tempo fixo que seja chamado de período de pesca, e ao longo do tempo,
antes da instalação da fábrica, eles percebiam uma quantidade fixa de peixes que
conseguiam pescar. Após o início das operações desta fábrica, os pescadores foram
percebendo que a quantidade de peixes obtidas durante o período de pesca foram
diminuindo, devido aos resíduos poluentes despejados no rio. Por simplificação, e pelo
caráter introdutório deste caderno, será considerado somente a externalidade da perda de
produção na pesca. As demais e inúmeras externalidades causadas por resíduos
poluentes despejados num rio não serão aqui considerados.

Suponha que os pescadores tenham percebido que a cada tonelada de celulose


que a fábrica produz, resulta num prejuízo de R$1.000 no período de pesca.

Suponha que os direitos de propriedade sejam dos pescadores, e assim eles


solicitam uma indenização correspondente a perda na pesca, equivalente a R$1.000 por

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
88

tonelada produzida pela fábrica de celulose. Assim, a fábrica tem duas alternativas, se
mudar, ou pagar a indenização. A Figura 74 nos ilustra este caso.

Figura 74 Solução eficiente com pagamento de indenização.

Fonte: KUME.

Um custo de indenização fixo apenas vinculado a quantidade produzida,


significa um deslocamento da curva de oferta para a esquerda. Assim, a fábrica reduz
sua produção para 18 toneladas, e passa a atender a demanda que paga pelo preço de
R$5.600; e paga o custo de indenização de R$18.000 para os pescadores – que passam a
obter valores totais pela atividade da pesca iguais a antes da operação de tal fábrica.
Desta forma, a externalidade negativa da produção da celulosa captada pelos
pescadores, é devidamente paga a eles como um aumento de custo para a fábrica.

Suponha agora que o direito de propriedade do rio seja da fábrica de celulose, e


assim, os pescadores não têm direito à indenização. No entanto, eles podem ofertar a
fábrica de celulose uma quantia de R$1.000 por tonelada não produzida (o equivalente a
perda). Assim, a fábrica tem a opção de aceitar e deixar de produzir, ou não aceitar e
continuar a produzir – e neste caso, deixa de ganhar R$1.000 por tonelada, o que agora
gera um custo de oportunidade adicional.

Este custo de oportunidade adicional pode ser refletido como um deslocamento


da curva de oferta para a esquerda, conforme ilustrado na Figura 75.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
89

Figura 75 Solução eficiente com proposta de indenização.

Fonte: KUME.

Verificamos assim que a solução eficiente não depende de quem tem o direito de
propriedade, pois a quantidade e preço de equilíbrio são os mesmos nas duas formas. O
que importa então é que os direitos de propriedade sejam bem definidos – através do
papel do governo e suas instituições. A diferença, consiste que no primeiro caso, as
externalidades são definidamente pagas aos pescadores (onerando a firma). Neste
segundo caso, a oneração das externalidades fica por conta dos pescadores.

Uma solução eficiente é viável quando pelo menos quatro requisitos são
atendidos.

1. Quando não há custos significativos para a negociação (ou quando os


custos de transação são baixos). Estes custos podem se dar por conta de
custos de contratos, como por exemplo, despesas com advogados, com
cartórios, etc.; custos de comunicação, como por exemplo, quando há um
elevado número de participantes e distribuição espacial; e o custo de
tempo para se alcançar o acordo.
2. Quando há possibilidade de imputar (ou mensurar) as perdas – pois pode
haver outros fatores.
3. Não pode haver “holdout”, ou seja, pessoa que se recusa a assinar um
compromisso comum na expectativa de obter ganhos maiores.
4. Ausência de “free-rider” (carona9).

9
Em economia, free-rider ou carona, consiste na pessoa que extrai uma externalidade positiva das ações
de terceiros, ou seja, que adquire um benefício pelo qual não pagou.
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
90

Estes requisitos devem ser atendidos também para uma solução eficiente quando
determinada produção gera externalidades positivas. Considere por exemplo, o caso de
produtores de mel por apicultores, e a produção de macieiras. As macieiras precisam ser
polinizadas por abelhas para darem frutos. Uma solução privada, consiste quando
produtores com pomares alugam colmeias para polinizarem suas árvores. Contratos de
polinização costumam incluir estipulações sobre o número e a força das colônias de
abelhas, da taxa de aluguel, sobre o período, etc. Assim, muitos apicultores viajam de
um estado para outro, alugando suas abelhas a produtores de amêndoas, cerejas, peras e
maçãs.

No entanto, se não há solução via mecanismo de mercado, há então a falha de


mercado, exigindo assim a intervenção governamental. Isto pode ser realizado através
da tributação de um Imposto Pigou10, que consiste em uma taxa tributária que tem como
objetivo principal a erradicação de externalidades negativas, ou seja, a eliminação de
consequências desfavoráveis surgidas através da produção e/ou consumo de bens e
serviços.

Na presença de externalidades positivas na produção, a lógica similar sugere a


criação de um Subsídio Pigoviano para fazer usufrutuários de tais externalidades pagar
pelo benefício extra e estimular mais a produção. Um exemplo é subsídio para a
provisão de vacina para gripe.

Consideremos primeiro o caso já visto, de externalidade negativa na produção. A


solução eficiente consiste no imposto Pigou equivalente ao valor da externalidade – e
assim, uma firma pode pagar a sociedade os efeitos negativos de sua produção. Isto
pode ser ilustrado graficamente conforme Figura 76.

10
Esta taxa recebe este nome porque em 1920, o economista Britânico Arthur C. Pigou escreveu The
Economics of Welfare. No livro, Pigou argumenta que industriais buscam seu interesse privado marginal
próprio. Quando o interesse social marginal diverge do interesse marginal privado, o industrial não possui
incentivo para internalizar o custo marginal social. Por outro lado, Pigou argumenta, se uma indústria
produz benefício marginal social, os indivíduos que recebem o benefício não possuem incentivo para
pagar por este serviço. Pigou se refere a estas situações como desserviços incidentais não cobrados e
serviços incidentais não cobrados, respectivamente.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
91

Figura 76 Imposto Pigou e externalidade negativa na produção.

Fonte: KUME.

Neste exemplo, a quantidade de 10 toneladas é a que se dá em equilíbrio com a


demanda a preço de 40 – ou seja, esta quantidade corresponde ao equilíbrio entre o que
é socialmente aceito através dos custos sociais marginais deste produto e a
necessidades/demanda da sociedade por este bem, e assim o imposto Pigou faz o
mercado como um todo pagar por esta externalidade sobre a fora de receita tributária.

Para o caso de externalidade positiva na produção, uma solução eficiente


consiste num subsídio Pigou equivalente ao valor do benefício. Assim, a sociedade se
apropria dos benefícios externalizados, e paga o equivalente por tais benefícios,
conforme ilustrado graficamente na Figura 77.

Figura 77 Subsídio Pigou e externalidade positiva na produção.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
92

O caso de externalidades no consumo é análogo. Assim, para externalidade


positiva no consumo, a solução eficiente consiste no subsídio Pigou equivalente ao
valor do benefício; e para externalidade negativa no consumo, a solução eficiente
consiste no imposto Pigou equivalente ao valor do dano, conforme ilustrações gráficas
apresentadas na Figura 78.

Figura 78 Imposto e subsídio Pigou em externalidades no consumo.

Fonte: KUME.

Outras formas de intervenção governamental consistem em regulamentações. De


uma forma geral, para um controle de externalidades, encontramos diversos tipos de
regulamentações nas mais diversas áreas. Por exemplo, as leis de trânsitos, como limite
de velocidade, proibição de ultrapassagem, ruas de mão única, etc., ajudam no controle
de externalidade de acidentes. Em questões urbanas, existem leis de zoneamento
urbano, como por exemplo gabarito para alturas de prédios, divisão entre áreas
residenciais e comerciais; tudo isto para minimizar as externalidades negativas e
maximizar as externalidades positivas.

Para melhor exemplificação de regulamentações, podemos citar a exigência de


um número máximo de emissão de poluentes por determinada produção; o uso
obrigatório do catalisador em automóveis; a aprovação do IBAMA para a instalação de
um fábrica; e de uma forma geral, as licenças ambientais (impondo limites de poluição).

Sobre licenças ambientais, um fato interessante consiste que, caso não haja
restrições legais, estas licenças podem ser negociadas.

Suponha que um governo conceda uma licença para produção de 250 toneladas
de CO2 para cada firma de um determinado setor considerado estratégico. Suponha

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
93

duas fábricas, e que antes do governo regulamentar a emissão máxima de CO2, estas
duas fábricas gerassem 500 toneladas de CO2. Agora cada uma destas duas fábricas
precisa reduzir 250 toneladas em sua geração de CO2. No entanto, a Fábrica 1 tem custo
de redução de CO2 de R$1.000 por tonelada, e a Fábrica 2 tem custo de redução de
R$1.200 por tonelada. Considere que este investimento para redução na emissão de
CO2 seja de forma linear, de forma caso o governo adotasse uma política mais rígida,
restringindo o nível de emissão de CO2 desta indústria a zero; isto poderia ser possível
através dos investimentos/custos informados.

De uma forma geral, o custo para a Fábrica 1 reduzir sua emissão de CO2 em
250 toneladas seria de R$250.000, e para a Fábrica 2, seria de R$300.000.

No entanto, a Fábrica 1 poderia vender sua licença para emissão de 250


toneladas de CO2 para a Fábrica 2 por R$280.000. Assim, ela gastaria R$250.000
adicional para redução da emissão de CO2 a zero, e teria um ganho líquido de
R$30.000.

Por outro lado, a Fábrica 2 que teria de gastar R$300.000 para reduzir 250
toneladas de emissão de CO2, acaba por comprar esta licença adicional por R$280.000,
e assim obtém de ganho líquido R$20.000.

Verificamos assim que caso haja um mercado para a venda e compra de licenças
ambientais, os que tem maiores custos serão compradores, e os de menores custos serão
vendedores. Como resultado, a quantidade de poluentes permanece reduzida da mesma
forma que no caso de ausência de negociações, no entanto, as firmas terão menor custo.

Exercício 18. Tomar vacina contra gripe reduz a chance de um indivíduo ficar gripado
e também diminui a possibilidade de passar gripe para outros indivíduos. O custo de
cada vacina é constante e a demanda de vacinas diminui com o preço, conforme pode
ser visto no gráfico apresentado na Figura E18. (a) Indique de forma genérica no gráfico
o benefício social proporcionado pela vacinação, e também indique a proporção de
pessoas vacinadas socialmente ótima. Essa proporção é maior do que 𝑄1? (b) Indique no
diagrama, como o governo poderia fazer com que a proporção de pessoas vacinadas
fosse socialmente ótima. Qual seria esse instrumento? (c) A proporção das pessoas
vacinadas do ponto de vista social deveria ser sempre 100%?

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
94

Figura E18 Oferta e demanda por vacinação.

Fonte: KUME.

Vide solução na seção final do caderno Soluções dos exercícios propostos.

3.5 – Tipos de bens, b ens públicos e recursos comuns

Verificamos já que em uma alocação eficiente de mercado, o preço e a


quantidade de determinado bem/serviço transacionado correspondem ao ponto de
interseção entre as curvas de oferta e demanda.

Para ilustração, consideremos determinado mercado local de pão de queijo, onde


o preço e quantidade em equilíbrio são de respectivamente R$1,50 e 10.000 unidades,
conforme ilustrado pelas curvas de oferta e demanda na Figura 79.

Figura 79 Mercado de pão de queijo.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
95

Verificamos pela curva de demanda e pelo equilíbrio de mercado, que há


consumidores que não são atendidos, ou seja, que são excluídos. Isto ocorre pela
característica do bem ser privado.

Os bens privados têm duas características básicas. Eles são:

1. Bens exclusíveis – no sentido em que os fornecedores podem impedir o


seu consumo, caso as pessoas não paguem.
2. Bens rivais – no sentido em que a mesma unidade de um bem não pode
ser consumida por mais de uma pessoa ao mesmo tempo.

No entanto, nem todos os bens têm estas características. Há bens que podem não
ter uma destas características, ou ainda que não tenham ambas estas características (o
caso dos bens públicos).

No caso dos bens privados, como o pão de queijo exemplificado, ou ainda como
uma peça de roupa por exemplo, estas duas características estão sempre presentes. Os
bens são rivais, ou seja, duas pessoas não podem utilizar/consumir do mesmo bem ao
mesmo tempo, e são exclusíveis, ou seja, caso uma pessoa não possa pagar pelo bem, o
fornecedor pode não permitir que ele seja consumido.

Considere agora um canal de TV a cabo, ou um aplicativo de celular. Neste caso,


estes bens não são rivais, pois diversas pessoas podem assistir ao canal ou acessar a um
aplicativo de celular ao mesmo tempo. No entanto, estes bens são exclusíveis, pois os
fornecedores podem impedir o seu consumo através de preços. No caso de um canal de
TV a cabo, é só imaginar deixar de pagar a conta da operadora. Este tipo de bem que é
excludente, mas não é rival é chamado de monopólios naturais, ou ainda de
artificialmente escasso.

Considere agora os peixes disponíveis para a pesca num oceano, ou ainda o ar


limpo que podemos respirar. Estes bens não são excludentes, pois independente de
disposições a pagar, pescadores podem se aventurar em oceanos e pescar, e pessoas que
estejam num local com ar limpo, são livres para respirar. No entanto, tais bens são
rivais, pois um mesmo peixe a ser pescado por um pescador, não poderá ser pescado por
outro; e as mesmas partículas do ar respiradas por uma pessoa, não poderão ser
respiradas por outra (pois já foram consumidas). A estes tipos de bens é dado o nome de
recursos comuns.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
96

Considere agora a segurança pública como um bem, ou ainda um grande parque


público aberto em uma pequena cidade. Independente das disposições a pagar
individuais por ter segurança pública ou acessar ao parque, estes bens não são
excludentes, pois por direito e pelo caráter público, estes bens, via de regra, são
disponibilizados a todos. Além disto, estes bens também não são rivais, pois diversas
pessoas podem usufruir tanto da segurança pública quanto do parque público ao mesmo
tempo. Bens com estas características são chamados de bens públicos.

Assim, através destas duas características, de bens serem excludentes ou não


excludentes, e rivais ou não rivais, podemos montar uma matriz com os quatro tipos de
bens, conforme apresentado na Tabela 12.

Tabela 12 Matriz de tipos de bens.

Rival?

Sim Não
Excludente?

Monopólios naturais
Sim Bens privados
(artificialmente escasso)

Recursos
Não Bens públicos
comuns

Elaboração do autor.

Verificamos assim que os bens públicos não são rivais no consumo e não são
excluíveis, como por exemplo, a segurança de uma rua através de um policiamento.
Todas pessoas que circularem nesta rua usufruem de tal serviço. Ele pode ser ofertado
por uma iniciativa privada, como exemplo, por alguma firma que tenha sede nesta rua,
ou associação de moradores, e que contrata um segurança; ou ainda pelo governo, como
por uma decisão estratégica de manter uma cabine policial nesta rua. O grande problema
na questão da oferta de tal serviço, consiste na forma de financiamento; ou em outras
palavras, como evitar o free-rider.

Considere a oferta de forma privada, como por exemplo, a decisão de uma


associação de moradores por contratar um segurança para rua. Como este bem não é
excluível, a grande questão é como cobrar. O pagamento pode ser voluntário? A
questão de como evitar o free-rider é essencial. Suponha que uma associação de
moradores decide por investir na segurança contratando uma equipe de segurança 24

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
97

horas para a rua; seja por meio de uma votação, ou pesquisa, e que resulte em 100% de
interesse por parte de todos moradores. Após a decisão, alguns moradores podem
decidir que não querem pagar/contribuir; logo os demais serão mais onerados, mas
todos obterão o benefício do serviço que se torna um bem público. Já o financiamento
via governo se dá através da receita de impostos e despesa com gastos em segurança.

Podemos seguramente que vale a pena o governo ofertar bens públicos se o


benefício marginal é maior do que o custo marginal; no entanto há certa dificuldade em
calcular o benefício, e a própria definição de bens públicos pode depender das
circunstâncias.

No caso de bens privados, os consumidores revelam em número transacionado o


valor do benefício através do preço que estão dispostos a pagar; já para bens públicos,
não há esta informação, pois o bem estará disponível gratuitamente.

Por sua vez, como já vimos, os recursos comuns são rivais de consumo, mas não
são excluíveis. O problema deste tipo de bem consiste no impacto das externalidades
negativas relacionadas ao seu consumo. Considere o mar como um recurso comum, e o
caso dos pescadores. A pesca de um Indivíduo A gera uma externalidade negativa para
o Indivíduo B, pois ele terá menos peixes disponíveis para pescar, conforme ilustrado
no diagrama da Figura 80.

Figura 80 Diagrama do problema do recurso comum no caso da pesca.

Fonte: KUME.

Segundo relatório11 da Organização das Nações Unidas (ONU), a pesca


excessiva ameaça 30% das populações de peixes. A grande questão consiste em como

11
Segundo reportagem do Globo Natureza, em São Paulo, publicado em 10 de julho de 2012. Disponível
online em: http://g1.globo.com/natureza/noticia/2012/07/pesca-excessiva-ameaca-30-das-populacoes-de-
peixes-afirma-onu.html. Acesso em 07 de agosto de 2020.
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
98

internalizar esse custo social. Podemos pensar em diversas alternativas para isto, como
por exemplo, a cobrança de um imposto por peixe capturado ou uma regulamentação da
pesca; um sistema de licenças comercializáveis para o direito de pesca; ou ainda tornar
esta atividade excluível, atribuindo o direito de propriedade.

Na literatura das Ciências Econômicas, um problema conhecido consiste na


chamada tragédia dos comuns.

A tragédia dos comuns (também denominada tragédia dos bens comuns) é uma
situação em que indivíduos agindo de forma independente e racionalmente de acordo
com seus próprios interesses comportam-se em contrariedade aos melhores interesses de
uma comunidade, esgotando algum recurso comum. A hipótese levantada pela
"tragédia dos comuns" declara que o livre acesso e a demanda irrestrita de um recurso
finito terminam por condenar estruturalmente o recurso por conta de sua
superexploração.

Para ilustração, considere uma pequena comunidade onde viva algumas famílias;
e que esta área seja cercada por uma comuna local (área coletiva de pastagem) que
tenha ovelhas. Suponha que as rendas familiares sejam obtidas pela produção de lã.
Caso não haja uma coordenação, e cada família extrair o máximo de lã possível, poderá
haver uma perda nas ovelhas, de forma que uma comunidade que poderia ser
anteriormente rica, tornar-se pobre, conforme ilustrado no diagrama da Figura 81.

Figura 81 Diagrama de um problema da tragédia dos comuns.

Fonte: KUME.

Para evitar a tragédia, o governo pode fixar um regulamento limitando o número


de ovelhas por família – no total compatível com a manutenção da área de pastagem.
Uma outra forma seria a delimitação do direito de propriedade – assim, a área de

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
99

pastagem pode ser dividida igualmente para cada família. Desta forma, cada família terá
interesse em manter apenas o número apropriado de ovelhas.

O que é comum a muitos é o que recebe menos cuidados, porque todos têm
maior preocupação com o que é seu do que com aquilo que possuem em
conjunto com outros (Aristóteles, filósofo da Grécia Antiga).

Sobre os bens artificialmente escassos (monopólios naturais), como vimos, estes


são os que não são rivais no consumo, mas são excluíveis. Como um exemplo
específico, podemos citar um filme para televisão. Existe um custo para produção do
filme, no entanto, o custo marginal para um consumidor quando o filme está sendo
projetado é zero. O problema deste tipo de bem consiste na determinação do preço,
quando o custo marginal é zero.

Se o preço for igual ao custo marginal, ou seja, igual a zero, não haverá
produção, o que gera um peso morto igual ao total do excedente do consumidor. Assim,
a solução é a determinação de um preço de monopólio, ou seja, um preço positivo que
implique menor peso morto do que na ausência da produção, conforme ilustrado na
Figura 82.

Figura 82 Preço em bem artificialmente escasso (monopólio natural).

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Exercício 19. Suponha um museu que cobre R$10,00 por entrada, sendo que em
algumas horas ao longo do dia, a quantidade de visitantes é praticamente nula; e em
outras horas do dia, ele atinge o seu nível máximo de ocupação, de forma que potenciais
visitantes não podem entrar no museu. Um economista dá o seguinte conselho ao diretor
de um museu. “Você deveria cobrar um preço alto no horário de pico, e nos outros
horários, a entrada deveria ser livre”. (a) No horário quando o museu está com poucos

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
100

visitantes, é rival ou não-rival no consumo? É excluível ou não-excluível? Que tipo de


bem é o museu nesse horário? Qual seria o preço eficiente para cobrar nesse horário?
(b) No horário quando o museu está com muitos visitantes, é rival ou não-rival no
consumo? É excluível ou não-excluível? Que tipo de bem é o museu nesse horário?
Qual seria o preço eficiente para cobrar nesse horário?

Exercício 20. O Jardim Botânico no Rio de Janeiro é bastante conhecido pelas suas
plantas e pela exposição de orquídeas. O espaço para o público é tão grande que pode
receber muito mais visitantes do que recebe usualmente. Suponha que exista um
consenso de que atingir uma ocupação máxima no Jardim Botânico seja algo
inimaginável, e que a entrada é de R$10. A esse preço 1.000 pessoas por dia frequentam
o Jardim Botânico. Se a entrada fosse gratuita, o público visitante seria de 2.000
pessoas. Se o preço for R$20, o público seria nulo. (a) As visitas ao Jardim Botânico são
rivais? São excluíveis? Qual é o tipo de bem? (b) Mostre graficamente a demanda e
indique o número de visitantes com os preços dados na questão. (c) Explique se a
cobrança de R$10 é ineficiente, e (d) calcule o peso morto devido à cobrança do
ingresso de R$10. Vide soluções na seção final do caderno Soluções dos exercícios
propostos.

4 – SISTEMA TRIBUTÁRIO

Para estudos econômicos, devemos entender o conceito de eficiência do sistema


tributário e o critério de equidade do sistema tributário, e reconhecer o tradeoff entre
eficiência e equidade na implementação de um sistema tributário.

Se há um governo, consequentemente, haverá despesas. Logo, uma receita


tributária é necessária para cobrir esses gastos. Esta receita tributária pode ser obtida
através de um sistema tributário, que envolve a cobrança de impostos.

É desejável que um imposto seja eficiente, ou seja, que minimize o peso morto e
o custo administrativo. Também é desejável que um imposto atenda critérios de
equidade, através do princípio dos benefícios e do princípio da capacidade de
pagamento. O diagrama apresentado na Figura 83 nos ilustra estas características.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
101

Figura 83 Características desejáveis num imposto.

Fonte: KUME.

Para entendermos a lógica do tradeoff, analisaremos cada um destes parâmetros.

4.1 – Imposto e eficiência

O primeiro problema de eficiência num imposto consiste por conta do peso


morto que ele gera, conforme já estudado. De uma forma geral, um imposto distorce
incentivos, fazendo com que a quantidade resultante seja ineficiente, conforme ilustrado
na Figura 84, onde 𝑃2 representa ao preço com imposto, e 𝑃1 ao preço sem imposto.

Figura 84 Características desejáveis num imposto.

Fonte: KUME.

Assim, a tarefa de um estudo econômico será de identificar meios de se


minimizar o peso morto, de forma que um imposto seja eficiente.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
102

Sobre o custo administrativo, é necessário se analisar (a) o custo de se pagar o


imposto, como por exemplo, para pessoas físicas, o tempo gasto no registro e na guarda
dos comprovantes, bem como do formulário do imposto de renda; e ainda para pessoas
jurídicas, como os gatos com pessoal para atender as exigências tributárias (custo de
contadores), e (b) o custo do órgão de arrecadação, como por exemplo, o custo como
salário dos fiscais.

O custo social do imposto implica então o peso morto e o custo administrativo.


Assim, como objetivo de um governo, dada a meta de arrecadação tributária, deve-se
escolher um sistema tributário que minimize o custo social.

É possível um imposto com peso morto zero, o chamado imposto de valor fixo
ou “lump sum tax”. Um imposto que cobre uma quantia fixa por pessoa, independente
das características pessoais, não afeta a decisão marginal, por isto o peso morto é nulo.
No entanto, este tipo de imposto não atende ao critério de equidade.

4.2 – Imposto e equidade

Sobre equidade, um imposto deve levar em consideração o princípio do


benefício e da capacidade de pagamento.

O princípio do benefício se refere a condição onde cada indivíduo paga um


imposto proporcional aos serviços/bens públicos que usufrui do que é ofertado pelo
governo. Por exemplo, para o caso de rodovias financiadas via impostos, o imposto
pode ser pago por seus usuários através de um pedágio ou imposto sobre a gasolina; já
para aeroportos e controle a aéreo, por uma taxa de embarque. Já sobre a segurança
pública, podemos pensar que ela favorece mais a pessoas mais ricas do que a pessoas
mais pobres, logo, poderíamos pensar que pessoas mais ricas deveriam pagar mais. No
entanto, há uma maior dificuldade em cobrar mais de quem usufrui mais de um bem
público desta escala.

O princípio da capacidade de pagamento se refere a condição onde cada


indivíduo paga o imposto proporcional a sua capacidade de pagamento. Isto define a
equidade vertical, onde quem tem maior capacidade de contribuição, paga mais

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
103

imposto. Por outro lado, equidade horizontal implica que todos os que tem a mesma
capacidade de contribuição, devem pagar o mesmo valor do imposto.

Em equidade vertical, um imposto pode ser proporcional, como uma alíquota 𝑡


que incida sobre a renda 𝑅 das pessoas. Assim, por exemplo, se 𝑡 = 0,2 = 20%, uma
pessoa que tenha renda 𝑅1 = 𝑅$100, irá pagar de imposto 𝑡𝑅 = 0,2 × 𝑅$100 = 𝑅$20.
Caso uma pessoa tenha o dobro de renda, como 𝑅2 = 𝑅$200, ela irá pagar de imposto
0,2 × 𝑅$200 = 𝑅$40. Esta é a característica de um imposto proporcional, caso a renda
duplique, o imposto também duplica, conforme ilustrado na Figura 85.

Figura 85 Imposto de renda proporcional.

Fonte: KUME.

Um imposto de renda pode ser também progressivo, caso 𝑡 seja crescente.


Suponha que na faixa de 𝑅1 , 𝑡1 = 0,2, e na faixa de 𝑅2 , 𝑡2 = 0,3. Assim, para 𝑅1 =
𝑅$100, o imposto será de 𝑇 = 0,2 × 𝑅$100 = 𝑅$20; e para 𝑅2 = 𝑅$200, o imposto
será de 𝑇 = 0,3 × 𝑅$200 = 𝑅$60. Neste caso verificamos que se a renda duplica, o
imposto triplica.

Um imposto de renda também pode ser regressivo, no caso de 𝑡 ser decrescente.


No mesmo exemplo, suponha que para a faixa de 𝑅1 = 𝑅$100, 𝑡1 = 0,2, e para a faixa
de 𝑅2 = 𝑅$200, 𝑡2 = 0,15. Assim, para quem tem renda de 𝑅1 , pagará de imposto 𝑇 =
0,2 × 𝑅$100 = 𝑅$20, e para quem tem renda de 𝑅2 , pagará de imposto 𝑇 =
0,15 × 𝑅$200 = 𝑅$30. Neste caso, se a renda duplica (aumenta em 100%), o imposto
aumenta em 50%.

Ambos exemplos são ilustrados na Figura 86.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
104

Figura 86 Imposto de renda progressivo e regressivo.

Fonte: KUME.

Em equidade horizontal, também com objetivo de que o imposto seja


proporcional à capacidade de contribuição, o desafio consiste em como medir a
capacidade de contribuição de cada pessoa e quais considerações se levar em conta,
como por exemplo, se considera o número de filhos que a pessoa tenha, se há pessoas
doentes, etc. A capacidade de contribuição pode ser medida através da renda tributável,
ou seja, através de faixas de renda onde incidam diferentes alíquotas de imposto de
renda marginal. A Tabela 13 nos ilustra a tabela do imposto de renda no Brasil, com
vigência a partir de abril de 2015.

Tabela 13 Tabela de incidência mensal do imposto de renda no Brasil.

Fonte: Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil.

Neste exemplo, se uma pessoa tem renda de R$5.000, ela pagará 27,5% de sua
renda de imposto deduzido por R$869,36. Assim, como a alíquota 𝑡4 = 0,275, o
imposto que ela pagará será de 𝑇 = 0,275 × 𝑅$5.000 − 𝑅$869,36 = 𝑅$1.375 −

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
105

𝑅$869,36 = 𝑅$505,64. Desta forma, uma pessoa com renda de R$5.000 paga de
imposto uma alíquota média de 𝑡 = 𝑅$505,64⁄𝑅$5.000 ≅ 0,1011 = 10,11%.

Um importante debate consiste se um imposto deve incidir sobre a renda ou


sobre o consumo. Como já vimos brevemente, um imposto pode distorcer incentivos. O
imposto de renda distorce, por exemplo, os incentivos entre poupar e consumir.
Suponha por exemplo, um indivíduo que receba R$5.000; e que a alíquota do imposto
de renda seja de 𝑡 = 30%, e a taxa de juros do mercado de 𝑖 = 10%. Assim, ele pode
decidir poupar R$2.500 para ganhar de juros R$250. Como ele deverá pagar 30% do
ganho como imposto de renda, ou seja, 𝑅$75, ele terá de ganho líquido 𝑅$175 caso
resolva poupar R$2.500. Na prática, o imposto de renda faz com que a taxa efetiva de
juros recebido por investimento seja menor do que a taxa de juros de mercado, e com
juros menores, um indivíduo poupa menos (distorce o incentivo a poupar). Por outro
lado, um imposto com a mesma alíquota sobre o consumo de todos os bens não teria
este efeito.

4.3 – Impostos e ca rga tributária no Brasil

A Figura 87 nos ilustra a evolução do total da receita tributária do Brasil em


função percentual do PIB de cada ano entre 1990 e 2018.

Figura 87 Receita tributária em função % do PIB no Brasil entre 1990 e 2018.

Fonte de dados: RFB/MF. Elaboração do autor.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
106

As receitas tributárias no Brasil são divididas entre as competências de


arrecadação, que são as das esferas federais (ou da União), estaduais e municipais, e
também receitas de tributos com destinação parafiscal (que são tributos brasileiros
incluídos na espécie tributária chamada contribuição especial no interesse de categorias
econômicas ou profissionais, e que têm como arrecadação às contribuições para o FGTS
e para o Sistema S12). A Figura 88 nos ilustra a evolução da carga tributária em cada
esfera em relação percentual ao PIB de cada ano entre 1990 e 2018.

Figura 87 Receita tributária por competência de arrecadação


em função % do PIB no Brasil entre 1990 e 2018.

Fonte de dados: RFB/MF. Elaboração do autor.

A arrecadação na esfera do Governo Federal se realiza principalmente através


das seguintes origens.

1. Orçamento fiscal.
a. Imposto de renda (pessoas físicas, jurídicas, e retido na fonte).
b. Imposto sobre produtos industrializados.
c. Imposto sobre operações financeiras.
d. Impostos sobre o comércio exterior.
2. Orçamento seguridade-social.
a. Contribuição para a Previdência Social.
b. Cofins.
c. Contribuição social sobre o lucro líquido.
d. Contribuição para o PIS/Pasep.

12
Sistema S é o nome pelo qual ficou convencionado de se chamar o conjunto de nove instituições de
interesse de categorias profissionais, estabelecidas pela Constituição brasileira, que são o SENAR,
SENAC, SESC, SESCOOP, SENAI, SESI, SEST, SENAT e SEBRAE.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
107

e. CPSS.
f. CPMF/IPMF.

A Tabela 14 nos mostra o impacto percentual em cada origem de arrecadação


para a receita tributária da União, para os anos de 1998, 2008 e 2018.

Tabela 14 Origem da receita tributária da União nos anos de 1998, 2008 e 2018.

Fonte de dados: RFB/MF. Elaboração do autor.

Já a composição da carga tributária dos estados é dada basicamente pelo ICMS,


IPVA, ITDC, e Contribuições de Regime Próprio Previdenciário Estadual. A Tabela 15
nos mostra em número percentual a composição da receita dos estados através de seus
principais impostos, verificados nos anos de 1998, 2008 e 2018.

Tabela 15 Origem da receita tributária estadual nos anos de 1998, 2008 e 2018.

Fonte de dados: RFB/MF. Elaboração do autor.

A composição da carga tributária dos municípios é dada basicamente pelo ISS,


IPTU, ITBI e Contribuições de Regime Próprio Previdenciário Municipal. A

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
108

distribuição de tais impostos sobre a arrecadação total dos governos municipais é


apresentada na Tabela 16, para os anos de 1998, 2008 e 2018.

Tabela 16 Origem da receita tributária municipal nos anos de 1998, 2008 e 2018.

Fonte de dados: RFB/MF. Elaboração do autor.

Estas demonstrações referem-se ao somatório dos tributos de todos estados e de


todos os municípios; no entanto, as composições variam de estado para estado e de
município para município.

Para finalizar esta seção, é interessante uma verificação comparativa da carga


tributária em relação percentual do PIB entre diferentes países, conforme apresentado na
Figura 88.

Figura 88 Carga tributária do Brasil e países da OCDE


em relação a participação (%) do PIB em 2009 e 2016.

Fonte: Relatório de acompanhamento fiscal, IFI/Senado Federal (2018).

Exercício 21. Considere duas propostas de impostos para o financiamento da defesa


nacional. Em ambas as propostas a base tributária é a renda individual. Na Proposta A,
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
109

todos os cidadãos pagam exatamente o mesmo montante de imposto, independente da


sua renda. Na Proposta B, os indivíduos com renda mais alta pagam uma proporção
mais alta da sua renda em impostos. (a) O imposto da Proposta A é progressivo,
proporcional ou regressivo? E o da proposta B? Explique as respostas. (b) O imposto na
proposta A se baseia no princípio da capacidade de pagamento ou no princípio dos
benefícios? E o da proposta B? Explique as respostas.

Exercício 22. Avalie cada um dos impostos listados abaixo em termos do princípio dos
benefícios e do princípio da capacidade de pagar. (a) Um imposto federal de R$ 500 por
cada carro novo comprado que financia programas de segurança nas rodovias. (b) Um
imposto municipal de 10% sobre as diárias cobradas nos hotéis da cidade que financia
os gastos públicos do município. Vide soluções na seção final do caderno Soluções dos
exercícios propostos.

5 – ESTRUTURA DE MERCADO

Como já vimos de relance, mercados podem ser estruturados em concorrência


perfeita, monopólio, oligopólio e concorrência monopolística. Antes de partirmos para
uma análise mais abrangente para cada um destes tipos de mercado, é necessário
fazermos uma análise sobre custos de produção.

5.1 – Custos de produção

Considere que Samara seja proprietária de uma empresa de biscoitos. Assim, o


produto de sua empresa consiste nos biscoitos. Sejam os insumos de sua empresa os
trabalhadores, os ingredientes (farinha, açúcar, chocolate, fermento, etc.), o capital
(forno, batedeiras, dinheiro, etc.), e a loja própria.

O objetivo da empresa de Samara é maximizar o lucro, que chamaremos de 𝜋, e


que consiste na diferença entre a receita total (𝑅𝑇) e o custo total (𝐶𝑇), de forma que

𝜋 = 𝑅𝑇 − 𝐶𝑇.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
110

A receita total corresponde ao preço (𝑝) multiplicado pela quantidade total de


biscoitos vendidos (𝑞), de forma que 𝑅𝑇 = 𝑝𝑞.

Como já vimos, o custo econômico é medido pelo custo de oportunidade, ou


seja, dos custos explícitos (através de despesas realizadas), e dos custos implícitos (de
despesas não realizadas); diferente do custo contábil, que é medido pelo valor da
despesa efetivamente realizada, ou seja, dos custos explícitos. Assim, o custo total que
nos interessa corresponde ao custo oportunidade.

A Tabela 17 nos ilustra o custo econômico e custo contábil da empresa de


Carolina.

Tabela 17 Custo econômico versus custo contábil da empresa de biscoitos.

Fonte: KUME.

A remuneração da proprietária se refere a quanto ela poderia estar recebendo de


salário caso estive empregada em alguma outra firma, e não tivesse tocando sua
empresa. Este valor também representa a quanto ela gostaria de receber para se manter
disposta com o negócio de sua empresa de biscoitos. A loja própria representa a um
outro custo de oportunidade, e o valor de R$500 corresponderia ao valor de mercado do
aluguel de sua loja, caso ela não tivesse a empresa e simplesmente alugasse a loja para
uma outra firma. O capital corresponde ao dinheiro investido no negócio, que pode
corresponder a um custo afundado (que já gastou, e não teria como recuperar), mas que
também pode corresponder a um custo que poderia ser recuperado (através da venda de
todos seus equipamentos). Supondo que a economia ofereça investimentos financeiros
que gerem retorno a uma taxa de juros de 2% por mês, manter o capital de R$5.000 para
a empresa de biscoitos representa ao custo de oportunidade de obter R$100 de juros
mensais. Quanto a depreciação, o valor de R$50 pode corresponder ao percebido por

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
111

Samara para manutenção de seus equipamentos; no entanto, se difere do custo contábil,


pois este relaciona-se a parâmetros legislativos contábeis vigentes.

De uma forma geral, o lucro da empresa de biscoito é visto de forma diferente


entre a visão de um economista e de um contator, conforme ilustrado pelo diagrama da
Figura 89.

Figura 89 Lucro sob a óptica de um economista versus contador.

Fonte: KUME.

O processo de fabricação de biscoitos de Samara pode ter uma representação


simplificada, caso adotemos algumas hipóteses. Consideremos então por primeira
hipótese que o período de análise é de curto prazo, e o tamanho da fábrica é fixo. Como
segunda hipótese, a quantidade de biscoitos possíveis de serem produzidos depende
apenas do número de trabalhadores. Consideremos que o custo de cada trabalhador
corresponda a 10 unidades monetárias, e o custo fixo da fábrica corresponda a 30
unidades monetárias. A Tabela 18 nos mostra a quantidade de biscoitos possíveis de
serem produzidas em função da quantidade de trabalhadores, além dos custos.

Tabela 18 Quantidade de oferta de biscoitos em função do número de trabalhadores.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
112

Nesta tabela, verificamos que caso não haja nenhum trabalhador, o custo total de
Samara será de 30 unidades monetárias, ou seja, daquilo que ela já investiu comprando
um local para a fabricação de biscoitos e equipamentos necessários, e a quantidade
produzida será zero. Com um trabalhador, ela passa a ter um custo adicional variável de
10 unidades monetárias (o correspondente ao salário), e assim seu custo total passa ser
de 40 unidades monetárias – no entanto, a quantidade de biscoitos produzida passa a ser
de 50. O custo médio por unidade de biscoito é então de 40⁄50 = 0,8 unidades
monetárias. A produção marginal em relação a não ter nenhum trabalhador é então de
50 biscoitos. Assim a produção média é de 50 biscoitos por trabalhador.

Caso ela contrate um segundo trabalhador, ela terá um custo adicional de mais
10 unidades monetárias, tendo um custo total de 50 unidades monetárias. A produção
marginal do segundo trabalhador é de 40 biscoitos, e assim sua produção total passa a
ser de 90 biscoitos. Agora o custo médio por unidade de biscoito passa a ser agora de
50⁄90 ≅ 0,55 unidades monetárias. A produção média passa a ser de 45 biscoitos por
trabalhador.

Caso ela contrate um terceiro trabalhador, o seu custo total passará a ser de 60
unidades monetárias. A produção marginal do terceiro trabalhador é de 30 biscoitos, e
assim sua produção total passa a ser de 120 biscoitos. Agora o custo médio por unidade
de biscoito produzida passa a ser de 60⁄120 = 0,5 unidades monetárias. No entanto, a
produção média passa a ser de 40 biscoitos por trabalhador.

Verificamos que quanto mais trabalhadores, menor será a produção marginal por
trabalhador, e assim menor a produção média. Isto pode ser explicado pelo tamanho da
fábrica ser fixo – assim, quanto mais trabalhadores ocupando um mesmo espaço físico e
com mesmo número de equipamentos, a produtividade diminui. É racional se pensar
que um número demasiadamente grande de trabalhadores poderia inclusive diminuir a
produção total, pois muita gente ocupando um mesmo espaço, e sem ter equipamentos
adicionais para trabalhar, poderia acabar atrapalhando a produção. Isto porque é dado
por hipótese de que o investimento no tamanho da fábrica é zero no curto prazo, ou seja,
o tamanho da fábrica/capital (que inclui espaço físico da fábrica e seus equipamentos) é
constante independentemente do número de trabalhadores. Para melhorar esta narrativa,
suponha que Samara não deseja comprar nenhum equipamento adicional nos próximos
meses, no entanto, ela pode só contratar novos trabalhadores temporários.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
113

Com os dados da Tabela 18, podemos definir graficamente uma função de


produção de biscoitos de Samara, em que relaciona a quantidade de biscoitos
produzidas em função do número de trabalhadores, conforme apresentado na Figura 90.

Figura 90 Função de produção de biscoitos de Samara.

Fonte: KUME.

Chamemos13 a quantidade de capital de 𝐾, a quantidade de trabalhadores de 𝐿, e


a quantidade produzida por 𝑄, podemos estabelecer a função produção como 𝑄 =
̅ , esta função pode ser
𝑓(𝐾, 𝐿). Como a quantidade de capital é constante e igual a 𝐾
̅ , 𝐿). A produção média por trabalhador (𝑃𝑀𝐸 𝐿) será então
representada como 𝑄 = 𝑓(𝐾
definida por

𝑄
𝑃𝑀𝐸 𝐿 = .
𝐿

A produção marginal por trabalhador (𝑃𝑀𝑔 𝐿) é dada pelas relações entre


variação de quantidade por variação de trabalhadores, ou seja

𝛥𝑄
𝑃𝑀𝑔 𝐿 = .
𝛥𝐿

Não temos como fracionar o número de trabalhadores, mas caso desejemos


utilizar de cálculo contínuo, uma função que se aproximaria bastante a produção de
biscoitos de Samara pelo número de trabalhadores seria 𝑄 = 0,6 + 53,75𝐿 − 4,7𝐿2 .
Assim, a produção marginal por trabalhador pode ser obtida pela derivada 𝑑𝑄 ⁄𝑑𝐿 =
53,75 − 9,4𝐿. A derivada segunda 𝑑 2 𝑄 ⁄𝑑𝐿2 = −9,4 < 0, o que se interpreta que há

13
A letra 𝐾 é usualmente utilizada para representar capital, por ser lido como “kapital” (caso se utilizasse
a letra 𝐶, poderia ser confuso, pois esta é usualmente já utilizada já para custo em uma função de
produção). A letra 𝐿 é usualmente utilizada para representar trabalho, por conta de sua palavra
correspondente em inglês, “labour”.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
114

uma quantidade máxima de trabalhadores que maximiza a produção, de forma que um


trabalhador adicional além desta quantidade máxima reduzirá a produção total.

Resolvendo a condição de primeira ordem para 𝐿, obtemos o número máximo de


trabalhadores que maximiza a produção, de forma que

53,75 − 9,4𝐿 = 0;
9,4𝐿 = 53,75
53,75
𝐿∗ = = 5,71.
9,4

Como não se pode contratar 0,71 trabalhador, a quantidade máxima de


trabalhadores que maximiza a produção é então a de seis (no entanto, isto não quer dizer
que seja a quantidade ideal). A Figura 91 nos ilustra como esta função é bem próxima
ao gráfico obtido através dos dados da Tabela 18.

Figura 90 Função contínua de produção de biscoitos de Samara.

Elaboração do autor.

Verificamos assim que a produção marginal do trabalho é decrescente, pois


quanto mais trabalhadores, menor será a produção marginal/incremental de biscoitos.
Verificamos isto através das linhas entre cada ponto de produção da função discreta de
produção, pois o ângulo de tangência com relação a paralela do eixo de trabalhadores é
cada vez menos inclinado. Esta interpretação geométrica indica a produção marginal do
trabalho decrescente.

Como vimos, a firma de biscoitos de Samara possui um custo fixo (𝐶𝐹) de 30


unidades monetárias (que independe da quantidade de biscoitos produzidos), e um custo

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
115

variável (𝐶𝑉) de 10 unidades monetárias (referente a quantidade de trabalhadores


contratados).

Definimos então o custo total (𝐶𝑇) como sendo a soma do custo fixo com o
custo variável, de forma que 𝐶𝑇 = 𝐶𝐹 + 𝐶𝑉. No caso de Samara, a curva de custo total
pode ser colocada em função da quantidade de biscoitos produzidos, conforme ilustrado
na Figura 91.

Figura 91 Curva de custo total na produção de biscoitos de Samara.

Fonte: KUME.

Verificamos assim que a principal característica do custo fixo é de que não varia
com a produção, e a do custo variável é de que varia de acordo com a produção. Existe
também o chamado custo quase fixo, que implica num custo que não varia com a
produção, mas é zero se a produção for nula. De uma forma geral, o custo médio (𝐶𝑀𝐸 )
é dado pela relação entre o custo total e a quantidade, de forma que

𝐶𝑇
𝐶𝑀𝐸 = .
𝑄

E o custo marginal (𝐶𝑀𝑔 ) é definido como a relação entre variações do custo


total e suas respectivas variações na quantidade, de forma que

𝛥𝐶𝑇 𝑑𝐶𝑇
𝐶𝑀𝑔 = = .
𝛥𝑄 𝑑𝑄

Através das informações da Tabela 18, podemos calcular o custo marginal, o


custo fixo médio, o custo variável médio e o custo total médio, conforme apresentado
agora na Tabela 19.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
116

Tabela 19 Custos da fábrica de biscoito da Samara.

Fonte: KUME.

Através destas informações já calculadas, podemos traçar um gráfico para cada


curva de custo em função ao número de trabalhadores, conforme ilustrado na Figura 92.

Figura 92 Curvas de custo da produção de biscoitos de Samara.

Fonte: KUME.

Verificamos assim que o custo fixo médio é decrescente, no entanto, quanto


maior o número de trabalhadores, ele aproxima-se ao limite de uma assíntota horizontal
próxima ao ponto 𝑦 = 0,2. O custo variável médio se comporta de forma crescente
linear. Por outro lado, o custo marginal apresenta um crescimento exponencial.

Já o custo total médio apresenta um for formato quadrático, com concavidade


voltada para cima, o que implica que ele tem um ponto mínimo. Verificamos que o
custo total médio se iguala ao custo marginal quando há quatro trabalhadores, ao preço
de custo de 0,50 unidades monetárias por biscoito.

Em geral, no meio produtivo, as curvas de custo total médio ou custo médio


possuem este formato com concavidade voltada para cima. O custo médio corresponde

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
117

a soma do custo variável médio com o custo fixo médio. A Figura 93 nos ilustra um
formato padrão de curvas de custo em função da quantidade produzida.

Figura 93 Curvas de custo.

Fonte: KUME.

Observa-se que no Ponto 1 o custo variável médio (𝐶𝑉𝑀𝐸 ) iguala-se ao custo


marginal 𝐶𝑀𝑔 , e este é um ponto de mínimo na curva de custo variável de custo médio.
Isto pode ser mostrado matematicamente, mas é necessário que o leitor já tenha noções
sobre conceitos básicos de derivada e de regras de derivação. Este conteúdo está
disponível no caderno de Cálculo Diferencial e Integral I. O custo variável médio
corresponde entre a relação do custo variável total com a quantidade, ou seja, 𝐶𝑉𝑀𝐸 =
𝐶𝑉𝑇/𝑄. Assim, derivando o custo variável médio, temos que

𝑑𝐶𝑉𝑇 𝑑𝑄
𝑑𝐶𝑉𝑀𝐸 𝑄 − 𝐶𝑉𝑇
𝑑𝑄 𝑑𝑄
= 2
.
𝑑𝑄 𝑄

Dividindo o numerador e denominador por 𝑄, temos então que

𝑑𝐶𝑉𝑇 𝐶𝑉𝑇
𝑑𝐶𝑉𝑀𝐸 − 𝑄
𝑑𝑄
= .
𝑑𝑄 𝑄

Como 𝑑𝐶𝑉𝑇⁄𝑑𝑄 = 𝐶𝑀𝑔 , e 𝐶𝑉𝑇⁄𝑄 = 𝐶𝑉𝑀𝐸 , temos então que

𝑑𝐶𝑉𝑀𝐸 𝐶𝑀𝑔 − 𝐶𝑉𝑀𝐸


= .
𝑑𝑄 𝑄

Assim, caso o custo marginal seja maior do que o custo variável médio,
𝑑𝐶𝑉𝑀𝐸 ⁄𝑑𝑄 > 0, e isto implica que o custo variável médio seja crescente. Caso o custo
marginal seja menor do que o custo variável médio, 𝑑𝐶𝑉𝑀𝐸 ⁄𝑑𝑄 < 0, o que implica que

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
118

o custo variável médio seja decrescente. Caso o custo marginal seja igual ao custo
variável médio, então 𝑑𝐶𝑉𝑀𝐸 ⁄𝑑𝑄 = 0.

Já o Ponto 2 indica quando o custo marginal se iguala ao custo médio total; este
é um ponto mínimo na curva de custo médio, e representa a quantidade ótima de
produção em termos de minimização de custos.

Na hipótese de curto prazo, definimos que o volume de capital é fixo. No


entanto, na prática industrial, podem haver investimentos de capital de curto prazo que
modifiquem a planta, e assim alterar-se a curva de custo médio. Consideremos um
número pequeno de plantas, 𝑘 = 3; a Figura 94 nos ilustra diferentes curvas de custo
médio.

Figura 94 Curvas de custo médio em três plantas.

Fonte: KUME.

Verificamos assim que para cada nível de produção desejada, há uma planta que
reduz o custo médio. Para uma produção a nível de 𝑦1 , a planta 𝑘1 gera menor custo
médio. Já para o nível de produção 𝑦3 , a planta 𝑘2 gera o menor custo médio. Para 𝑦4 , o
custo de produção é indiferente entre as plantas 𝑘2 e 𝑘3 , no entanto para uma produção
acima de 𝑦4 , a planta 𝑘3 será a mais eficiente. Considerando um número infinito de
plantas, podemos traçar uma curva de custo médio de longo prazo, conforme ilustrado
na Figura 95.

Figura 95 Curvas de custo médio com número infinito de plantas.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
119

As curvas de custo total médio são importantes para identificarmos economias


de escala (quando o custo médio de produção diminui com uma maior quantidade
produzida), retornos constantes de escala (quando o médio custo de produção não varia
com a quantidade produzida), e deseconomias de escala (quando o custo de produção
aumenta com um aumento na quantidade produção). A Figura 96 nos ilustra estes três
casos.

Figura 96 Economias e deseconomias de escala.

Fonte: KUME.

Exercício 23. Suponha que um professor que ganha R$60 mil por ano resolve pedir
demissão e abrir uma livraria. Para esta nova atividade, ele precisou retirar R$100.000
da sua caderneta de poupança que lhe rendia R$6 mil por ano. Após um ano, a livraria
lhe proporcionou um lucro contábil de R$70 mil. Qual foi o lucro econômico?

Exercício 24. Uma empresa tem o custo 𝑐(𝑠) = 2𝑠 2 + 100, onde 𝑐 representa o custo e
𝑠 a quantidade de serviços. Determine (a) o custo médio, (b) o custo variável médio, (c)
o custo marginal; e (d) faça o gráfico da curva de oferta. (e) Se o preço de mercado é de
R$20, qual é a quantidade ofertada? (f) E se o preço for de R$40? (g) Mostre no gráfico
com preço igual a R$40 o custo total, a receita total, e o lucro. Vide soluções na seção
final do caderno Soluções dos exercícios propostos.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
120

5.2 – Concorrência perfeita

Firmas em geral se relacionam com seu ambiente, composto pelos fornecedores


de insumos, proprietários, governo e consumidores, e ocorre um fluxo de trocas entre as
firmas e cada um destes ambientes. Isto é bem ilustrado no diagrama da Figura 97.

Figura 97 Firmas e seu ambiente.

Fonte: KUME.

Nesta seção será estudada a concorrência perfeita, no entanto, é interessante


expormos as principais características das estruturas de mercado de uma forma
resumida, como apresentado na Tabela 20.

Tabela 20 Estruturas de mercado.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
121

A concorrência perfeita (pura) ou mercado competitivo possui três


características básicas.

1. Há muitos compradores e vendedores.


2. O bem é aproximadamente homogêneo.
3. Livre entrada e saída de firmas.

Suponha que em determinado setor que seja estruturado em concorrência


perfeita, hajam 1.000 firmas, e que a produção total do setor seja de 1.000.000 unidades.
Considere que uma Firma A produz 1.000 unidades. Assim, a participação da Firma A
no total do setor corresponde a (1.000⁄1.000.000) = 0,001 = 0,1%. Dizemos então
que a Firma A é uma firma pequena, e sua quantidade vendida não afeta de forma
significativa a quantidade total do setor.

A Firma A produzindo implica numa produção setorial de 1.000.000 unidades; e


a Firma A não produzindo, implica então numa produção setorial de 999.000 unidades.
Desta forma, a decisão da Firma A não afeta significativamente a produção setorial.

No entanto, é importante observar-se que a produção total pode variar de forma


significativa, no caso se todas as firmas reduzirem ou aumentarem a produção.

Uma pequena firma competitiva dentro de um setor em concorrência perfeita


percebe o mercado através da oferta de todas as firmas e a demanda de todos os
consumidores, conforme ilustrado na Figura 98.

Figura 98 Percepção do mercado por uma firma competitiva.

Fonte: KUME.

Considerando que uma firma competitiva em concorrência perfeita possui uma


participação de mercado insignificante, como no caso da Firma A, de sua quantidade
corresponder a apenas a 0,01% do setor; em seu processo decisório ela observa uma
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
122

demanda perfeitamente elástica ao preço de mercado de equilíbrio com todas as firmas,


como no exemplo da Figura 98, ao preço de 10 unidades monetárias. Assim, seu
processo decisório individual é verificado conforme ilustração da Figura 99.

Figura 99 Processo decisório de uma firma competitiva.

Fonte: KUME.

Verificamos assim, que a um preço acima de 10 ela terá venda nula. A um preço
inferior de 10, ela consegue vender a mesma quantidade que ao preço de 10. Assim, sua
quantidade de produção deverá corresponder a quantidade que iguala o seu custo
marginal a 10.

Uma firma por si só não consegue alterar o preço de mercado; mas, no entanto,
se todas as firmas decidem aumentar a quantidade ofertada, a demanda só aceitará a
maior quantidade ofertada a um preço menor, conforme ilustrado na Figura 100.

Figura 100 Demanda de um setor.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
123

Como já vimos, a receita total é dada por 𝑅𝑇 = 𝑃 × 𝑄; assim, a receita média é


definida por

𝑅𝑇 𝑃𝑄
𝑅𝑀𝐸 = = = 𝑃.
𝑄 𝑄

Definimos receita marginal (𝑅𝑚𝑔) como um aumento em 𝑅𝑇 ao vender uma


unidade adicional, e assim

𝛥𝑅𝑇
𝑅𝑚𝑔 = .
𝛥𝑄

Desta forma, para uma firma competitiva em um setor de mercado em


concorrência perfeita, como o preço é fixo, sua receita marginal será igual ao preço. Em
nosso exemplo da Firma A, ela pode vender 1,2,3, … 1000 unidades ao preço de 10
unidades monetárias. Assim, se ela vende 1 unidade, sua receita total será de 10
unidades monetárias. Caso venda 2 unidades, sua receita total será de 20 unidades
monetárias. Caso venda 3 unidades, sua receita total será de 30 unidades monetárias, e
assim por diante. Verificamos que caso ela decida alterar sua venda de 1 unidade para 2
unidades, sua receita total subirá de 10 para 20 unidades monetárias. Houve uma
variação de 1 quantidade e de 10 unidades monetárias em sua receita total. Assim sua
receita marginal é 𝑅𝑚𝑔 = 𝛥𝑅𝑇⁄𝛥𝑄 = 10⁄1 = 10 = 𝑃. O mesmo cálculo pode ser
feito caso ela decida alterar a sua venda de 1 unidade para 3 unidades, sua receita total
aumentará de 10 para 30 unidades monetárias. Assim, sua receita marginal será 𝑅𝑚𝑔 =
𝛥𝑅𝑇⁄𝛥𝑄 = (30 − 10)⁄(3 − 1) = 20⁄2 = 10 = 𝑃. A Tabela 21 nos ilustra este caso.

Tabela 21 Receita média e receita marginal da Firma A competitiva.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
124

Esta condição onde a receita marginal se iguala ao preço (𝑅𝑀𝑔 = 𝑃) é válida


somente para firmas competitivas em mercados competitivos. Assim, a firma
competitiva pode aumentar a sua produção 𝑄 e vender esta quantidade adicional sem
afetar o preço de mercado – e a cada unidade produzida, o aumento em sua receita
corresponde ao valor equivalente ao preço.

Uma firma competitiva deve decidir que vale a pena produzir a primeira unidade
no caso em que a receita marginal (adicional) seja maior do que o custo marginal. Caso
contrário, ela deverá decidir por não produzir. As questões que se seguem referem-se
até que quantidade uma firma competitiva deve produzir, e qual seria a quantidade
ótima que deve produzir.

A solução nesta estrutura de mercado corresponde em produzir até que a receita


marginal seja igual ao custo marginal, ou seja, 𝑅𝑀𝑔 = 𝐶𝑀𝑔.

A decisão ótima de uma firma competitiva corresponde ao nível de produção


que maximiza o lucro; assim, a firma faz o melhor que pode diante das circunstâncias
(como o preço dado pelo mercado). Neste caso, o “melhor” significa maior lucro
possível.

Na questão da escolha da quantidade 𝑄 que maximiza o lucro, devemos sempre


pensar na margem. Se 𝑄 aumenta em uma unidade, a receita total aumenta pela 𝑅𝑀𝑔,
mas o custo também aumenta pelo 𝐶𝑀𝑔. Se 𝑅𝑀𝑔 > 𝐶𝑀𝑔, então aumentar 𝑄 eleva o
lucro; mas já no caso se 𝑅𝑀𝑔 < 𝐶𝑀𝑔, aumentar 𝑄 diminui o lucro.

Suponha que uma Firma Y competitiva, com preço estabelecido pelo mercado
em concorrência perfeita de 𝑃 = 10, tenha a seguinte estrutura de custos conforme
apresentado na Tabela 22.

Tabela 22 Maximização do lucro da Firma Y.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
125

Neste exemplo, verificamos que a Firma Y pode ser indiferente entre produzir
três ou quatro unidades, pois ela maximiza o lucro nestes níveis de produção.

De uma forma geral, a maximização do lucro, que chamaremos14 de 𝜋 é obtida


pela função

max 𝜋 = 𝑅𝑇 − 𝐶𝑇 = 𝑃𝑄 − 𝐶𝑇.
Q

Assim, derivando a função lucro 𝜋 em relação a quantidade 𝑄, e utilizando a


condição de primeira ordem para obtermos o ponto de maximização (igualando a
derivada a zero) temos que

𝑑𝜋 𝑑𝐶𝑇
=𝑃− = 𝑃 − 𝐶𝑀𝑔 = 0;
𝑑𝑄 𝑑𝑄
𝑃∗ = 𝐶𝑀𝑔,

Lembremos que 𝐶𝑀𝑔 = 𝑑𝐶𝑇/𝑑𝑄 quando fazemos a substituição.

Consideremos agora o caso de nosso exemplo introdutório, da pequena firma


competitiva Firma A. Como ela produz 1.000 unidades, implicitamente podemos
entender que o seu custo marginal se iguala ao preço de 10 neste nível de produção. A
escolha ótima da firma competitiva é ilustrada na Figura 101.

Figura 101 Escolha ótima de uma firma competitiva.

Fonte: KUME.

14
Usualmente, denotamos lucro pela letra grega 𝜋. Isto porque a palavra lucro correspondente em inglês é
“profit”. No entanto, como já utilizamos a letra 𝑝 para denotar preço, o uso da letra grega que se lê “pi” é
mais apropriada para lucro/ “profit”.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
126

Verificamos assim que a Firma A tem incentivo em manter sua capacidade


produtiva em 1.000 unidades, pois nesta quantidade ótima ela consegue obter o máximo
de lucro.

Na Figura 93 verificamos um modelo de curvas de custo padrão, e agora


apresentaremos em formato gráfico os lucros de uma firma competitiva diante de um
preço tomado por um mercado em concorrência perfeita, conforme ilustrado na Figura
102.

Figura 102 Ganhos de uma firma competitiva e curvas de custo.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Verificamos assim que caso a firma opte por produzir a quantidade 𝑄1, seu
ganho será zero. Caso opte por produzir a quantidade 𝑄2 , o seu ganho será o
correspondente a área amarela do desenho. Caso opte por produzir a quantidade 𝑄3 , o
seu ganho corresponderá as áreas coloridas de amarelo e vermelho no desenho. Já para
uma produção no nível de 𝑄4 , onde o preço se iguala ao custo marginal, este é o nível
de produção ótima, onde ela maximiza o lucro, que passa a ter o ganho composto pelas
áreas coloridas amarela, vermelha e azul no desenho.

Caso haja um aumento de preços no setor, como por exemplo, de 𝑃1 para 𝑃2 ,


sendo 𝑃2 > 𝑃1 , então uma firma competitiva pode aumentar sua produção de 𝑄1 para
𝑄2 , conforme a sua curva de custo marginal passa a se igualar a 𝑃2 .

Desta forma, a curva de custo marginal 𝐶𝑀𝑔 consiste na curva de oferta para
uma firma 𝑖 competitiva em um setor de mercado em concorrência perfeita. Isto é
ilustrado pela Figura 103.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
127

Figura 103 Curva de custo marginal e curva de oferta de uma firma competitiva.

Fonte: KUME.

Uma observação interessante consiste em que o custo fixo (𝐶𝐹) não importa no
processo decisório, quando este já foi gasto. Chamamos de custo afundado, ou pela
expressão “sunk cost” ao custo que já foi realizado ou comprometido, e que assim não
pode ser recuperado. Por isto, o custo afundado é irrelevante no processo decisório de
produção, pois ele deve ser pago (ou já foi pago) independente da decisão entre produzir
ou não produzir. Por isto o custo fixo pode ser considerado como um custo afundado,
pois a firma deve pagar o custo fixo independente de qual for a sua produção.

Uma firma pode estar sujeita a prejuízos devido às condições de mercado, e


assim ela pode acabar escolhendo uma produção zero ou até o seu fechamento. No curto
prazo, caso uma firma decida temporariamente não produzir devido às condições de
mercado, ela ainda deverá pagar o custo fixo no curto prazo. Já para uma decisão de
longo prazo de fechar a firma, a longo prazo o custo passa a ser zero. No entanto, será
que uma decisão de produção zero seria eficiente?

No curto prazo, se uma firma não produz, logo sua receita será zero; e seu custo
total será igual ao custo fixo, ou seja 𝐶𝑇 = 𝐶𝐹. O custo fixo poderia ser o aluguel de um
estabelecimento, em que a firma deve continuar pagando mesmo sem produzir. Assim o
lucro negativo será 𝜋 = 𝑅𝑇 − 𝐶𝐹 = 0 − 𝐶𝐹 = −𝐶𝐹, ou seja, a firma tem um prejuízo
sem produção correspondente ao custo fixo.

Caso a firma resolva a produzir, ela terá de receita total 𝑅𝑇 = 𝑃𝑄, e de custo
total 𝐶𝑇 = 𝐶𝐹 + 𝐶𝑉. Assim, o prejuízo (ou lucro negativo) com produção será de 𝜋 =
𝑅𝑇 − 𝐶𝐹 − 𝐶𝑉 = 𝑃𝑄 − 𝐶𝐹 − 𝐶𝑉.

Valerá a pena produzir no curto prazo se 𝑅𝑇 − 𝐶𝐹 − 𝐶𝑉 < −𝐶𝐹. Isto ocorre se


a receita total for maior que o custo variável, 𝑅𝑇 = 𝑃𝑄 > 𝐶𝑉. Dividindo os dois lados
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
128

da inequação por 𝑄, temos que 𝑃 > 𝐶𝑉𝑀𝐸 . Em outras palavras, vale a pena produzir
caso o preço seja superior ao custo variável médio. Isto é ilustrado na Figura 104.

Figura 104 Curva de oferta de uma firma no curto prazo.

Fonte: KUME.

Uma firma pode decidir fechar no longo prazo. O custo para fechar a firma
implica na receita perdida, ou seja, de 𝑅𝑇. No entanto, o benefício de fechar consiste em
poupar o custo total, obtendo custo fixo igual a zero no longo prazo. A decisão de uma
firma fechar no longo prazo consiste caso a receita total seja menor do que o custo total
(prejuízo), representado por 𝑅𝑇 = 𝑃𝑄 < 𝐶𝑇. Dividindo ambos lados da inequação por
𝑄, a decisão de uma firma fechar ocorre no caso quando 𝑃 < 𝐶𝑀𝐸 . Observe a firma
ilustrada na Figura 102 – ela provavelmente a longo prazo irá fechar caso o preço de
mercado não aumente, pois ela só consegue minimizar o prejuízo, pois o preço é menor
do que o seu custo médio.

Analogamente, a decisão de uma nova firma entrar no mercado no longo prazo


será dada caso o mercado for lucrativo, ou seja, que 𝑅𝑇 > 𝐶𝑇. Da mesma forma,
dividindo ambos os lados da inequação por 𝑄, uma firma decidirá por entrar se 𝑃 >
𝐶𝑀𝐸 . Assim, a curva de oferta a longo prazo de uma firma consiste na parte da curva de
custo marginal acima do custo médio de longo prazo, conforme ilustrado na Figura 105.

Figura 105 Curva de oferta de uma firma no longo prazo.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
129

O lucro de uma firma corresponde então ao produto da diferença entre o preço


de mercado e de seu custo total médio com a quantidade produzida, conforme ilustrado
graficamente na Figura 106.

Figura 106 Lucro de uma firma competitiva.

Fonte: KUME.

Analogamente, o prejuízo de uma firma competitiva corresponderá ao produto


da diferença entre o preço de mercado e o seu custo total médio com a sua quantidade
produzida, conforme ilustrado na Figura 107.

Figura 107 Prejuízo de uma firma competitiva.

Fonte: KUME.

Sobre a oferta de mercado em concorrência perfeita, são dadas três hipóteses.

1. Todas as firmas que estão no mercado e as que podem entrar (potenciais)


têm custos idênticos.
2. Os custos da firma não se alteram quando outras firmas entram ou saem
do mercado.
3. O número de firmas no mercado é
a. fixo no curto prazo (devido aos custos fixos); e
b. variável no longo prazo (devido a livre entrada e saída de firmas).

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
130

Lembremos que para cada preço, a quantidade ofertada pelo mercado é a soma
das quantidades ofertadas por todas as firmas. Se 𝑃 ≥ 𝐶𝑉𝑀𝐸 , cada firma produzirá a
quantidade que máxima o lucro, onde 𝑃 = 𝑅𝑀𝑔 = 𝐶𝑀𝑔, e a soma de todas as
quantidades produzidas pelas diversas firmas será a curva de oferta de curto prazo do
mercado.

Considere mil firmas idênticas, e assim a cada 𝑃, a quantidade de oferta (𝑄𝑂 ) de


mercado corresponderá a 1000 × (𝑄𝑂 de cada firma), conforme ilustrado na Figura
108.

Figura 108 Curva de oferta de curto prazo do mercado.

Fonte: KUME.

Como já vimos, a decisão de produção da firma no longo-prazo é realizada


quando a receita total é maior do que o custo total. Desta forma, se a receita total é
maior do que o custo total, ocorre a entrada de firmas. Isto significa que esta
determinada atividade tem uma rentabilidade maior do que em outras atividades – e a
entrada de firmas ocorre até que a receita total seja igual ao custo total, quando então se
obtém o lucro econômico zero.

Nota-se que o custo total é medido pelo custo de oportunidade, o que implica
que o ganho em outras atividades é o custo de oportunidade dos recursos produtivos em
determina atividade. Assim, lucro econômico zero não implica em prejuízo, mas sim em
um equilíbrio econômico.

Em geral, em uma indústria competitiva, o montante de lucro econômico ganho


por uma firma maximizadora de lucro é o lucro zero. Quando os lucros são calculados
corretamente, as firmas em uma indústria competitiva devem obter lucros zero. Isto
ocorre, porque se os lucros fossem positivos, outras firmas entrariam na indústria,
aumentariam a quantidade ofertada e derrubariam os preços. Este processo (entrada de

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
131

novas firmas) continuará até que o lucro tenha caído para zero. No entanto, isto não
deve ser confundindo com ausência de ganhos.

Em geral, as firmas ganham lucro zero, enquanto os indivíduos ganham "rents".


Os lucros são iguais a receita menos os custos. Como os custo a serem considerados são
tanto os explícitos (salários, aluguel do equipamento e outros) quanto os implícitos
("rents" pagos pelas firmas para os seus proprietários pelo uso de suas habilidades
especiais). Assim, para uma firma que tem lucro econômico igual a zero, o "rent" deve
ser suficiente para induzir os proprietários a não vender suas habilidades para outros e,
então, deve ser igual ao montante que alguém estaria disposto a pagar. Em outras
palavras, os salários dos proprietários de uma firma estão inclusos nos custos totais.

Verifiquemos agora o impacto da entrada e da saída de firmas em um setor,


conforme ilustrado pela Figura 109.

Figura 109 Impacto de entrada e saída de firmas num setor.

Fonte: KUME.

Este exemplo pode corresponder ao setor da Firma A de nosso exemplo inicial,


que produzia mil unidades, ao preço de 10; e onde haviam mil firmas idênticas neste
setor.

A saída de firmas no longo prazo ocorre quando a receita total é menor do que o
custo total. Isto significa que esta atividade tem rentabilidade menor do que em outras
atividades. Assim, a retira de firmas ocorre até que a receita total seja igual ao custo
total, ou seja, quando o lucro econômico desta atividade for zero.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
132

Caso a receita total seja igual ao custo total, não ocorre entrada nem saída de
firmas. Isto significa que esta atividade tem uma rentabilidade equivalente a obtida em
outras atividades (com lucro econômico zero).

Assim, o lucro econômico zero implica em um equilíbrio de longo prazo, pois o


processo de entrada e saída de firmas termina; e as firmas que permanecem obtém o
lucro econômico zero. Ele ocorre quando o preço se iguala ao custo total médio, ou seja,
quando 𝑃 = 𝐶𝑀𝐸 . Lembremos que as firmas produzem quando 𝑃 = 𝑅𝑀𝑔 = 𝐶𝑀𝑔, logo
incluindo a condição de lucro zero, as firmas produzem quando 𝑃 = 𝐶𝑀𝑔 = 𝐶𝑀𝐸 .
Como a curva de custo marginal intercepta a curva de custo médio no seu ponto
mínimo, no longo prazo 𝑃 = min 𝐶𝑀𝐸 .

A Figura 110 nos ilustra a curva de oferta de mercado no longo prazo.

Figura 110 Curva de oferta de mercado no longo prazo.

Fonte: KUME.

Consideremos uma indústria com custos constantes, de forma que seu equilíbrio
possa ser apresentado por uma firma representativa. Esta indústria pode ser ilustrada
pela Figura 111.

Figura 111 Indústria de custos constantes em equilíbrio.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
133

Suponha agora um choque positivo na demanda, de forma que sua curva seja
deslocada para a direita. Assim, em curto prazo, a indústria oferecerá uma maior
quantidade a um preço maior, conforme ilustrado pela Figura 112.

Figura 112 Choque na demanda em uma indústria de custos constantes.

Fonte: KUME.

Agora a firma representativa passa a obter lucro positivo, expressado no gráfico


pela área entre a quantidade total produzida e a diferença entre 𝑃2 e o seu custo médio
neste novo ponto de quantidade produzida. Isto gera um incentivo para novas firmas
entrarem neste setor, de forma que a curva de oferta de mercado também se desloca para
a direita, conforme apresentado na Figura 113.

Figura 113 Firmas entrantes após choque na demanda em uma indústria de custos constantes.

Fonte: KUME.

No novo equilíbrio de mercado, com mais firmas nesta indústria com custos
constantes, a quantidade produzida passa a atender a demanda ao nível de preço 𝑃1 .

Assim, a firma representativa retorna ao lucro econômico zero, produzindo a


quantidade inferior onde o seu custo marginal se iguala a seu custo médio, no valor de
𝑃1 . A quantidade total de mercado produzida e necessária para atender esta nova
demanda passa a ser composto pela produção das novas firmas entrantes.
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
134

Verificamos então que no longo prazo, o lucro econômico é zero, e a curva de


oferta de mercado é perfeitamente elástica ao nível de preço que igual o custo marginal
ao custo médio de cada firma, devido a possibilidade e hipótese de que não há barreiras
de entrada, ou seja, sempre novas firmas com custos constantes poderão entrar neste
mercado para suprir um eventual aumento de demanda (que em curto prazo faz este
setor obter lucro econômico positivo). Isto é ilustrado na Figura 114.

Figura 114 Equilíbrio de longo prazo em uma indústria de custos constantes.

Fonte: KUME.

Devemos levar em consideração que a oferta de longo prazo no mercado é


horizontal somente se as hipóteses forem atendidas; ou seja, todas as firmas devem ter
custos idênticos, e os custos não mudam quando firmas entram ou saem do mercado.
Caso uma destas hipóteses não for atendida, a curva de oferta de longo prazo tem
inclinação positiva.

No caso de firmas terem custos diferentes, quando 𝑃 aumenta, as firmas com


custos maiores (que antes não eram lucrativas), passam a entrar no mercado. Assim a
curva de oferta de longo prazo do mercado passa a ter inclinação positiva, pois a um
dado 𝑃, para a firma marginal (a última firma a entrar no mercado), esta terá o seu custo
médio igual a 𝑃, e assim lucro zero. Já para as firmas com custos menores, terão lucro
positivo.

Existe também o caso onde os custos aumentam quando novas firmas entram no
mercado. Em alguns setores, a oferta de um insumo importante pode ser limitada, como
por exemplo, no caso da agricultura, a quantidade de terra disponível pode ser fixa.
Assim, a entrada de novas firmas aumenta a demanda pelo insumo, e consequentemente
eleva o seu preço. Isto provoca um aumento nos custos de todas as firmas; e assim, o

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
135

preço deve ser maior para que a quantidade ofertada aumenta. Neste caso, a curva de
oferta de longo prazo do mercado também é inclinada positivamente.

Podemos concluir que a eficiência do mercado competitivo se dá pela


maximização do lucro, onde 𝐶𝑀𝑔 = 𝑅𝑀𝑔, e com competição perfeita, 𝑃 = 𝑅𝑀𝑔, e
assim a quantidade escolhida corresponde a que 𝑃 = 𝐶𝑀𝑔. Lembremos que o custo
marginal (𝐶𝑀𝑔) é o custo de produzir uma unidade adicional; e 𝑃 é o valor atribuído
pelos compradores a unidade adicional. Desta forma, a quantidade escolhida em
mercado competitivo é eficiente, e maximiza o excedente total.

Exercício 25. A Tabela E25 informa o custo total de curto prazo de uma firma
perfeitamente competitiva, e a demanda de mercado pelo produto da firma.

Tabela E25 Custo total de curto prazo de uma firma perfeitamente competitiva,
e demanda de mercado pelo produto da firma.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

(a) Calcule o custo fixo total desta firma. (b) Calcule o custo marginal dessa firma para
todos os níveis de produção exceto zero, bem como seu custo variável médio e seu
custo total médio. (c) Suponha que há 100 firmas nessa indústria, todas com custos
idênticos aos dessa firma. Desenhe a curva de oferta da indústria no curto prazo. No
mesmo diagrama, trace a curva de demanda de mercado. (d) Qual é o preço de
mercado? (e) Calcule o lucro que terá cada firma. Vide solução na seção final do
caderno Soluções dos exercícios propostos.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
136

5.3 – Monopólio

Como já vimos, um equilíbrio competitivo consiste num ponto de preço e


quantidade onde a curva de oferta de todas as firmas se intercepta com a curva de
demanda de todos os consumidores. No exemplo da Seção 5.2, estudamos o equilíbrio
competitivo de uma Firma A que pertence a uma indústria com mil firmas. Agora
considere que uma Firma Z compre todas as mil firmas desta indústria (incluindo a
Firma A), e assim a Firma Z se torna o único produtor. Neste caso, a Firma Z se torna
monopolista.

No caso de concorrência perfeita, verificamos que cada firma enxerga uma


demanda perfeitamente elástica, onde preço é igual a receita marginal que é constante,
ou seja, a firma competitiva pode vender qualquer quantidade sem afetar o preço.

Já para um monopolista que controla a oferta, mas que não faça discriminação
de preço (ou seja, o preço escolhido é o mesmo que atenderá todos consumidores,
mesmo os com disposição a pagar maior); para cada unidade adicional vendida pelo
monopolista a um preço menor para atender maior demanda, afeta também o preço de
todas as unidades anteriores.

Assim, um monopolista pode aumentar o preço, produzir uma menor quantidade


(já que vendendo a um preço maior, a demanda será menor), e assim aumentar15 sua
receita total. Dentro deste conceito estabelecemos a definição de receita marginal, que
designa a variação da receita total (𝑅𝑇) provocada pela variação em uma unidade na
produção de determinado bem (𝑄). Em termos algébricos, 𝑅𝑚𝑔 = 𝛥𝑅𝑇/𝛥𝑄. Assim,
um formato padrão de uma curva de receita marginal será negativamente inclinado.

Para um monopolista, sua decisão de quantidade ótima de produção será quando


o seu custo marginal se iguala a receita marginal, e assim ele pode vender pelo preço de
monopólio, ou seja, o preço que os consumidores estão dispostos a pagar por esta
quantidade de produção reduzida. Desta forma, a diferença entre o preço de monopólio
e o custo marginal que é igual a receita marginal, corresponde ao lucro ou poder de
monopólio, chamado de “mark-up”. A Figura 115 nos ilustra esta definição.

15
Isto vai depender conforme a elasticidade-preço da demanda do mercado.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
137

Figura 115 Processo decisório do monopolista.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

A solução algébrica do monopolista consiste em

max 𝜋 = 𝑅𝑇 − 𝐶𝑇 = 𝑃𝑄 − 𝐶𝑇(𝑄).
𝑄

Esta solução algébrica é idêntica à que vimos em concorrência perfeita na Seção


5.2, no entanto como o preço era fixo (dado pelo mercado), derivamos a expressão
𝑃𝑄 − 𝐶𝑇(𝑄); agora, podemos derivar utilizando a primeira expressão, e assim temos
como condição de primeira ordem que

𝑑𝜋 𝑑𝑅𝑇 𝑑𝐶𝑇
= − = 0.
𝑑𝑄 𝑑𝑄 𝑑𝑄

Como 𝑑𝑅𝑇⁄𝑑𝑄 = 𝑅𝑚𝑔, e 𝑑𝐶𝑇⁄𝑑𝑄 = 𝐶𝑀𝑔, a condição de primeira ordem nos


diz que 𝑅𝑚𝑔 = 𝐶𝑀𝑔. A condição de segunda ordem deve atender ao critério de que

𝑑2 𝜋 𝑑𝑅𝑚𝑔 𝑑𝐶𝑀𝑔
= − < 0,
𝑑2 𝑄 𝑑𝑄 𝑑𝑄

ou seja, 𝑑𝑅𝑚𝑔⁄𝑑𝑄 < 𝑑𝐶𝑀𝑔⁄𝑑𝑄. Isto implica que a inclinação da 𝑅𝑚𝑔 deve ser
menor do que a inclinação do 𝐶𝑀𝑔.

Em outras palavras, a condição de segunda ordem requer que a curva de custo


marginal deve cruzar a curva de receita marginal vindo de baixo – ou seja, para menores
quantidades, o custo marginal deve ser inferior a receita marginal. Caso contrário,
valerá a pena aumentar a quantidade produzida. Isto é ilustrado na Figura 116.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
138

Figura 116 Condição de segunda ordem do monopolista.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

A diferença entre a produção em concorrência perfeita e a produção por um


monopolista é ilustrada graficamente na Figura 117.

Figura 117 Concorrência perfeita versus monopólio.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Há certos limites ao poder de monopólio, e que podemos citar como os mais


relevantes os seguintes enumerados.

1. O monopolista fixa o preço, no entanto, os consumidores escolhem a


quantidade desejada.
2. O monopolista fixa a quantidade ofertada, no entanto, os consumidores
determinam o preço que estão dispostos a pagar.
3. Consequentemente, o monopolista não pode escolher simultaneamente o
preço e a quantidade.

O custo social do monopólio corresponde ao peso morto. Ou seja, a indústria é


capaz de produzir maior quantidade e atender a mais consumidores por preços menores

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
139

do que ao preço de monopólio, mas que deixa de fazer pelo ganho de mark-up (o que
não ocorre em concorrência perfeita pura, onde todos consumidores são atendidos de
acordo com o preço da capacidade real de produção de cada indústria). A Figura 118
nos ilustra este peso morto.

Figura 118 Custo social do monopólio, o peso morto.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

A origem do monopólio pode se dar por diferentes fatores. Podemos citar a


propriedade de recursos, como no caso de uma empresa comprar todas as firmas de um
setor. Assim, um maior poder de monopólio ocorre se não houver substitutos próximos.
Além disto, mesmo havendo substitutos próximos, pode-se utilizar da propaganda para
se diferenciar um produto (ou pelo menos criar uma crença ao consumidor que
determinado produto seja único).

Existe também os monopólios criados pelo governo. Pode haver uma


determinação do governo, como por exemplo, uma decisão que somente uma empresa
deva ofertar certo produto; além de questões administradas como patentes e direitos
autorais.

Um terceiro caso consiste no monopólio natural. Isto pode ocorrer pelas próprias
características específicas de tamanho de planta e infraestrutura necessária para oferta
de determinados bens e serviços. De maneira geral, um monopólio natural é

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
140

caracterizado por curvas de custo médio decrescentes e também quando um mercado é


pequeno16. É o caso que vimos de bens do tipo artificialmente escassos.

Para evitar abusos por parte de monopólio, pode ser interessante a atuação de
governos; no entanto alguns cuidados devem ser observados.

Suponha que uma indústria monopolista tenha curvas de custo médio e de custo
marginal que não se interceptam, e que a curva de custo médio esteja acima da curva de
custo marginal. Isto ocorre se a curva de custo marginal for negativamente inclinada – e
que pode ocorrer caso a quantidade de produção for pequena (no caso de um mercado
pequeno). O monopolista irá escolher a quantidade de produção de forma que a receita
marginal se intercepte com o custo marginal; e assim sem controle do governo, o
monopolista obterá lucro de monopólio, conforme ilustrado na Figura 119.

Figura 119 Monopólio sem controle do governo.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Suponha que agora o governo intervenha, e obrigue ao monopolista a atuar como


uma firma competitiva, de forma que produza a quantidade que corresponda ao preço
que iguala a curva de demanda a curva de custo marginal. Como a curva de custo médio

16
Mesmo para uma indústria em que a sua curva de custo médio não seja decrescente, mas que tenha um
ponto de inflexão; caso uma firma esteja já operando numa quantidade de ponto mínimo de sua curva de
custo médio, e que assim atenda todo o mercado; será difícil uma nova firma entrar neste mercado, já que
de início terá custos médios altos, e assim será difícil conquistar novos consumidores para este mercado.
A firma monopolista poderá temporariamente reduzir o seu preço de monopólio de forma que impeça a
entrada de uma nova firma. Por isto é importante ser estudado políticas de concorrência. Para este tema é
indicado o livro Política de Concorrência: teoria e prática e sua aplicação no Brasil, de Lucia Helena
Salgado. Ele é disponível online em: https://sites.google.com/view/politica-de-concorrencia.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
141

desta firma é acima da curva de custo marginal, com esta política este monopolista terá
prejuízo, conforme ilustrado pela Figura 120.

Figura 120 Monopólio em prejuízo com controle do governo.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

A própria estrutura deste mercado pode corresponder a um monopólio natural, e


o tamanho do mercado de consumidores seja relativamente pequeno ao tamanho
necessário para que esta indústria possa atingir um nível de produção que iguale o custo
marginal ao custo médio. Assim, esta política governamental simplesmente poderia
retirar a viabilidade de oferta deste bem no mercado.

No entanto, o governo pode também intervir com uma política que fixa o preço
ao custo médio, e que a oferta seja igual a demanda, conforme ilustrado na Figura 121.

Figura 121 Solução de governo em monopólio.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
142

Nesta solução, a firma monopolista não tem prejuízo, mas obtém o lucro
econômico zero, da mesma forma que em mercados de concorrência perfeita, e assim
pode permanecer no mercado produzindo bem-estar, equivalente ao excedente do
consumidor.

A grande dificuldade para um governo em adotar tal política seria mensurar a


curva de demanda e obter os dados corretos para identificar a curva de custo médio de
da empresa. Isto implicaria em custos para o governo, como por exemplo, a contratação
de uma auditoria da firma.

Existem algumas formas para evitar a formação de monopólios. No Brasil,


temos o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), que tem a finalidade
de orientar, fiscalizar, prevenir e apurar abusos de poder econômico, exercendo papel
tutelador da prevenção e da repressão a tais abusos. Suas atribuições também são
previstas na Lei nº 8.884/94.

Uma outra forma consiste em transformar um monopólio privado em monopólio


público, no entanto isto pode se tornar ineficiente, pois haverá menos incentivos de
redução de custos e aumento dos lucros pelo caráter público.

Um governo também pode simplesmente não fazer nada para evitar monopólios.
Esta decisão pode ser tomada caso o custo da intervenção do governo seja maior do que
o custo do monopólio (o peso morto) – neste caso, a intervenção seria ineficiente.

Retomando ao tema da decisão do monopolista maximizador de lucro,


verificamos que ele gera peso morto, e além disto, obtém um excedente do produtor
superior do que em condições de concorrência perfeita; e assim o excedente do
consumidor é bem reduzido, conforme ilustrado na Figura 122.

Figura 122 Monopólio e bem-estar.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
143

É possível de um monopolista obter melhores resultados, capturando o


excedente do consumidor, e inclusive capturando o peso morto; e todo o bem-estar
convertido em excedente do produtor. Isto é viável caso o monopolista consiga pratica
uma discriminação de preços perfeitas.

5.3.1 – Discriminação de preços

Suponha que um indivíduo Tom, esteja disposto a pagar R$32 por uma unidade
do bem de uma firma monopolista. Já um indivíduo Hanks esteja disposto a pagar R$30
por uma unidade deste bem. Suponha que haja um grupo grande de pessoas tipo Tom e
Hanks, que estejam dispostos a pagar por uma quantidade de bens nestes preços, e
diversos outros grupos que tenham disposição a pagar em todas demais faixas de preços
por este bem.

Caso o monopolista consiga realizar uma oferta exclusiva para cada tipo de
grupo (cada um com diferentes disposições a pagar) com preços iguais às disposições a
pagar individuais de cada um; assim o monopolista consegue cobrar de cada
consumidor o valor máximo que cada um está disposto a pagar, e assim extrai todo
excedente do consumidor. Isto é ilustrado na Figura 123.

Figura 123 Discriminação de preços perfeita.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor

Verificamos neste caso que a quantidade de equilíbrio de mercado se iguala à de


concorrência perfeita, da mesma forma que o bem-estar total, embora o excedente do

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
144

consumidor tenha sido totalmente absorvido pelo produtor. No entanto, seria muito
difícil, ou até mesmo impossível, uma firma praticar uma discriminação de preços
perfeita.

Na prática, a discriminação de preços pode ocorrer segundo a quantidade


comprada, e isto pode ser visto inclusive nos supermercados. Suponha que um pacote
com uma unidade um produto custe R$5; e da mesma forma, seja vendido um pacote
com quatro unidades deste mesmo produto por R$16. Assim, o preço por unidade neste
pacote é de 𝑅$16⁄4 = 𝑅$4, menor do que o preço do pacote contendo apenas uma
unidade do bem por R$5. O impacto desta forma de discriminação de preços pode ser
um tanto ambíguo. Suponha que um indivíduo tenha disposição a pagar R$20 por
quatro unidades deste bem – no entanto, com esta segunda opção, ele acaba pagando por
R$16, e obtendo R$4 de excedente do consumidor. Considere agora um outro indivíduo
que tenha disposição a pagar R$4,50 por unidade deste bem, de forma que compraria
tanto uma, quanto quatro unidades deste bem por este preço. Assim, sua disposição a
pagar por 4 unidades é de R$18. Caso não tivesse a segunda opção, ele não compraria
nenhuma unidade. Com a opção do pacote com quatro unidades por R$16, ele compra e
obtém de excedente do consumidor R$2. Agora considere um indivíduo que tenha
disposição a pagar R$4,50, mas apenas por duas quantidades deste bem. Neste caso ele
não compra. No entanto, no geral, este tipo de discriminação de preços ajuda ao
vendedor obter maior excedente. Suponha o caso de um indivíduo que esteja disposto a
pagar R$5 por este produto, mas apenas duas unidades. Assim, ele comprará as duas
unidades em pacotes separados, e terá de excedente do consumidor zero. E assim, o
produtor também consegue vender para quem tem disposição a pagar de R$4, mas que
também esteja disposto a consumir mais unidades. Caso ele fixasse o preço único de
R$4, ele perderia parte do excedente para quem tem disposição a comprar por R$5
(mesmo que menos unidades).

Uma outra forma de discriminação de preços consiste em separar os


consumidores em dois grupos; um grupo de menor preço (com consumidores com
menor disposição a pagar), e um grupo de maior preço (com consumidores com maior
disposição a pagar), conforme é ilustrado no diagrama da Figura 124.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
145

Figura 124 Discriminação de preços em dois grupos de consumidores.

Fonte: KUME.

Na prática, isto ocorre através de descontos ofertados por firmas, como por
exemplo, desconto em farmácia para aposentados, ou desconto para quem faz cadastro
em loja; ou ainda através da disponibilizada de cupons de desconto; ou ainda pizzaria
com entrega grátis. É racional de se pensar que um indivíduo com alta disposição a
pagar, do Grupo 2, poderia não se dar ao trabalho de procurar ou guardar algum cupom
de desconto, ou na hora de pedir uma pizza, não levar em conta às condições de entrega
no momento de escolha da pizzaria. Também devemos levar em consideração que uma
pessoa procurando alimentos num aplicativo de Smartphone, ela pode procurar pizzarias
com menores preços, assim uma oferta de frete grátis soa mais atraente. No caso de
desconto para aposentados, podemos pensar que pessoas aposentadas poderiam ter mais
tempo para pesquisar preço em outras farmácias, do que pessoas que estejam
trabalhando, e assim com tempo livre mais escasso. Pessoas do Grupo 1, que poderiam
deixar de consumir aos preços normais estabelecidos, elas podem então consumir caso
seu preço reserva seja pelo menos igual aos preços com cupom de desconto, ou ainda de
uma pizza com frete grátis.

Como um outro exemplo de discriminação de preços, podemos citar as


companhias áreas, que segundo Hubbard e O’Brien (2015), são as rainhas da
discriminação de preços.

Podemos considerar que assentos de avião são produtos perecíveis, pois depois
que um avião decola, por exemplo, de Chicago para Los Angeles, qualquer assento que
não tenha sido vendido naquele voo específico nunca será vendido. Além disso, o custo

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
146

marginal de voar com um passageiro adicional é baixo. Como resultado, as companhias


aéreas têm um forte incentivo para administrar os preços para ocupar o maior número
possível de assentos em cada voo.

As companhias aéreas também costumam dividir seus clientes em duas


categorias principais, os viajantes a negócios e os viajantes a lazer. Os viajantes a
negócios costumam ter horários inflexíveis, não podem se comprometer até o último
minuto com a viagem em um determinado dia e, o mais importante, não são muito
sensíveis às mudanças de preço. O oposto é verdadeiro para viajantes a lazer: eles são
flexíveis sobre quando viajam, estão dispostos a comprar suas passagens com bastante
antecedência e são sensíveis a mudanças no preço. Assim, as companhias aéreas podem
maximizar os lucros cobrando passagens mais altas aos viajantes a negócios do que aos
viajantes a lazer, mas elas precisam determinar quem são os viajantes a negócios e
quem são os viajantes a lazer.

Algumas companhias aéreas fazem isso exigindo que as pessoas que desejam
comprar uma passagem pelo preço de lazer comprem com 14 dias de antecedência e
permaneçam no destino durante a noite de sábado (no caso da compra do pacote ida e
volta). Qualquer pessoa incapaz de atender a esses requisitos deve pagar um preço
muito mais alto. Os viajantes a negócios acabam pagando o preço do bilhete mais alto
porque muitas vezes não podem fazer seus planos com 14 dias de antecedência do voo e
não querem ficar no fim de semana. A diferença entre as tarifas de lazer e as tarifas de
negócios costumam ser substancial.

Desde o final da década de 1990, sites de agências de viagens têm ajudado as


companhias aéreas a implementar o gerenciamento de rendimento. Nas plataformas
digitais online, os compradores podem se comprometer a pagar um preço de sua escolha
por uma passagem em um determinado dia e horário específico. Isso dá às companhias
aéreas a oportunidade de gerenciar assentos que, de outra forma, ficariam vazios,
principalmente em voos noturnos ou de madrugada, cobrando preços de “última hora”
inclusive em tarifas abaixo da normal de lazer. Assim, a chance de uma pessoa pagar
pela passagem aérea o mesmo preço que outra pessoa sentada ao seu lado pagou se
torna muito pequena. A Figura 125 ilustra a diferenciação de preços de um voo real da
United Air Lines de Chicago para Los Angeles em 1997. Os 33 passageiros do voo que
estavam fazendo somente este trajeto, pagaram 27 preços diferentes por suas passagens,
incluindo um passageiro que usou milhas de passageiro frequente para obter uma
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
147

passagem grátis. Os números em US$ correspondem aos preços pagos pela passagem, e
os dias referem-se ao período de antecedência em que as passagens foram compradas.

Figura 125 Discriminação de preços passagem aérea: 33 clientes e 27 preços diferentes.

Fonte: Hubbard e O’Brien (2015).

Um outro bom exemplo de discriminação de preços consiste na praticada pelas


operadoras de telefonia e internet móvel. Se as companhias aéreas são as rainhas da
discriminação de preços, podemos dizer que estas firmas são as princesas da
discriminação de preços. A própria infraestrutura tecnológica necessária para oferta de
tais serviços, faz com que eles se assemelhem ao tipo de bens artificialmente escassos,
ou monopólios naturais.

Uma forma que tais companhias dividem seus consumidores em grupos é através
da oferta de planos pós pagos e pré-pagos.

A internet e telefonia móvel são atualmente serviços que podem ser


caracterizados inclusive como serviços de necessidade básica. Um bom exemplo que
pode ratificar esta afirmação, consiste na necessidade da utilização do aplicativo Caixa
Tem para movimentação do Auxílio Emergencial para trabalhadores informais e
desempregados, implementado pelo governo durante a pandemia do Sars-CoV-2 (vírus
causador da COVID-19) em 2020.

É racional pensar que indivíduos com mais alta disposição a pagar estarão mais
dispostos a adquirirem estes serviços na modalidade pós-paga. Isto pode acontecer por
conta do boom em internet móvel ser recente, e no passado, a aquisição de linhas de
telefonia móvel era feita nas próprias lojas das operadoras, mediante assinatura de
contratos (e não em qualquer esquina em uma banca de jornal como na atualidade,
através da aquisição de um simples chip). Pessoas que já tiveram este hábito,
provavelmente caso queiram mudar de plano, provavelmente irão nas próprias lojas
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
148

físicas para negociar tais mudanças. No entanto, vendedores não costumam ofertar
todos os tipos de planos pós pagos e pré-pagos em forma de cardápio para os
consumidores escolherem, mas tentam induzir a venda de um plano pós-pago que gere
mais benefícios (ou receita) para a companhia. Este tipo de comportamento de
vendedores pode ser interpretado com a premissa de que os clientes que estão na loja
são os que têm maior disposição a pagar, e somente quando o cliente não aceita
determinado plano, os vendedores acabam por oferecer planos mais econômicos, até
chegar num que identifica a real disposição a pagar do consumidor. Uma outra forma
que tais companhias utilizam para segmentar seus consumidores em relação às suas
disposições a pagar, consiste na oferta de planos e serviços via ofertas em ligações de
telemarketing – criando grupos selecionados para diferentes ofertas.

Já para indivíduos com menores disposição a pagar, quando necessitam de tais


serviços, é natural que eles simplesmente comprem um cartão SIM avulso em uma
banca de jornal e façam uma recarga para atender à necessidade imediata, utilizando
então o serviço de forma pré-paga. Após a aquisição, ele pode receber as ofertas dos
planos pré-pagos (e inclusive ligações com ofertas pós-pagas). No entanto, um
consumidor racional minimizador de custos pode pesquisar todos os tipos de ofertas de
todas operadoras previamente, e assim escolher o tipo de plano que atenda suas
necessidades a um menor preço. Normalmente as tarifas destes planos são apresentadas
nos próprios sites das operadoras. Vejamos o caso da Oi, conforme ilustrado na Figura
126.

Figura 126 Planos pós-pagos e pré-pagos ofertados pela Oi no Rio de Janeiro em 2020.

Fonte: Site oficial da Oi. Elaboração do autor.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
149

Verificamos que neste plano pós pago da Oi, o consumidor paga R$44,99 por
mês, e tem de benefício ligações ilimitadas em todo Brasil, franquia de dados de internet
de 6GB e internet ilimitada para uso de dados nos aplicativos WhatsApp e Messenger
do Facebook. Já no plano pré-pago, no mesmo período de um mês, o consumidor tem
também todos estes benefícios, além de 2GB adicionais em sua franquia de dados de
internet; no entanto ele paga R$25 por mês. Assim, podemos observar que de fato a
operadora consegue praticar discriminação de preços entre seus grupos de
consumidores, caso contrário, ela não conseguiria vender este plano pós-pago. Vejamos
agora um caso similar da Vivo, conforme ilustrado na Figura 127.

Figura 127 Planos pós-pagos e pré-pagos ofertados pela Vivo no Rio de Janeiro em 2020.

Fonte: Site oficial da Vivo. Elaboração do autor.

No caso da oferta pré-paga da Vivo, o consumidor desta oferta válida por 15 dias
com renovação automática paga por mês R$29,98, e obtém de benefícios ligações e
envio de SMS ilimitados para todos números nacionais, franquia de dados de internet de
6GB, e dados ilimitados para uso no WhatsApp (tanto para mensagens, áudios, fotos e
vídeos), além de alguns serviços digitais. Já no modelo pós-pago, no plano Pós-
Individual, o consumidor paga R$129,99 pelo período de um mês (um adicional de
R$100,01 em relação a oferta pré), e obtém o mesmo benefício de ligações e envio de

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
150

SMS ilimitados, no entanto obtém 4GB de franquia adicional de internet, além do uso
de dados de outros aplicativos sem consumir a franquia contratada. Por outro lado, na
oferta do Plano Controle, o consumidor paga R$44,99 por mês (um preço adicional de
R$15,01 em relação a oferta pré), e obtém também os mesmos benefícios de ligações e
envio de torpedos ilimitados para todos números em território nacional, além do
benefício do uso de dados em alguns aplicativos sem consumir a franquia contratada.
No entanto, neste plano o consumidor se compromete a fidelização de um ano, e tem
uma franquia de internet de 1,5GB inferior do que a do plano pré-pago. Estes casos são
importantes para uma reflexão sobre a discriminação de preços para consumidores.
Como o custo marginal neste segmento de mercado é baixo, as operadoras podem
aumentar a receita total oferecendo menores preços e captando novos consumidores
com menores disposição a pagar.

Exercício 26. Considere uma indústria com uma curva de demanda (𝐷) e uma curva de
custo marginal (𝐶𝑀𝑔) conforme mostrado no diagrama da Figura E26.

Figura E26 Curvas de custo marginal, receita marginal e demanda da indústria do Exercício 26.

Fonte: KUME.

O custo fixo é zero. Se a indústria fosse um monopólio de preço único, a curva de


receita marginal do monopolista seria 𝑅𝑚𝑔. Responda as seguintes questões indicando
os pontos (letras) ou áreas adequadas (por exemplo, formado por três letras, se for um
triângulo). (a) Se fosse uma indústria perfeitamente competitiva, qual seria a quantidade
total produzida? A que preço? (b) Que área reflete o excedente do consumidor em
competição perfeita? (c) Se a indústria fosse um monopolista de preço único, que

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
151

quantidade ele produziria? Que preço ele cobraria? (d) Que área reflete o lucro do
monopolista de preço único? (e) Que área reflete o excedente do consumidor quando se
trata de um monopolista de preço único? (f) Que área reflete a perda por peso morto
para a sociedade por causa do monopolista de preço único? (g) Se o monopolista
pudesse praticar uma discriminação de preços perfeita, que quantidade produzirá este
monopolista?

Exercício 27. Suponha que a Firma D seja um monopolista de preço único no mercado
de diamantes. A Firma D tem cinco clientes potenciais: Raquel, Jaqueline, Joana, Mia e
Sofia. Cada uma dessas clientes potenciais comprará no máximo um diamante e
somente se o preço for igual ou inferior à sua disposição a pagar. A disposição a pagar
de Raquel é de R$400; a de Jaqueline é R$300; a de Joana, R$200; a de Mia, R$100; e a
de Sofia, R$0. O custo fixo é zero. O custo marginal por diamante para a Firma D é
R$100. (a) Calcule a receita total da Firma D e sua receita marginal. A partir deste
cálculo, trace as curvas de demanda e de receita marginal. Para facilitar, considere que
as curvas são contínuas e que a receita marginal corta o eixo horizontal, quando a
quantidade é igual a 2,5. (b) Explique por que a Firma D se defronta com uma curva de
demanda negativamente inclinada. (c) Explique por que a receita marginal da venda de
um diamante adicional é inferior ao preço do diamante. (d) Suponha que a Firma D
atualmente cobre R$200 por diamante. Se baixasse o preço para R$100, de que tamanho
seria o efeito preço? E o efeito quantidade? (e) Desenhe a curva de custo marginal no
seu diagrama e determine a quantidade que maximiza o lucro da Firma D e qual o preço
que ela vai cobrar. (f) Se a Firma D cobra o preço de monopólio, calcule o excedente do
consumidor individual que cada comprador experimenta, calcule o excedente total dos
consumidores, e calcule o excedente do produtor.

Agora, suponha que novos produtores russos e asiáticos entram no mercado com os
mesmos custos e que ele se torna perfeitamente competitivo. (g) Qual é o preço de
competição perfeita? Que quantidade seria vendida no mercado perfeitamente
competitivo? (h) Considerando o preço e a quantidade de concorrência perfeita, calcule
o excedente do consumidor individual que cada comprador experimenta, calcule o
excedente total dos consumidores e calcule o excedente do produtor. (i) Calcule a
variação nos excedentes totais do consumidor e da Firma D nos casos de concorrência
perfeita e monopólio, e calcule o peso morto. (j) Quando a Firma D era monopolista, e
caso aplicasse uma discriminação perfeita de preços, a quais consumidores ela venderia
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
152

os diamantes e a que preço? (l) Com discriminação perfeita, calcule o excedente do


consumidor de cada comprador, calcule o excedente total dos consumidores, e calcule o
excedente total do produtor. Vide soluções na seção final do caderno Soluções dos
exercícios propostos.

5.4 – Concorrência monopolística

Em estruturas de mercado, verificamos já que em concorrência perfeita, o bem é


considerado homogêneo, há um grande número de firmas, e 𝑃 = 𝐶𝑀𝑔. Já em
monopólio, há somente uma firma, e o bem é considerado único (onde não há
substituto), e assim o preço de monopólio é maior do que o custo marginal (𝑃𝑀 >
𝐶𝑀𝑔). Por sua vez, um mercado se caracteriza como concorrência monopolística
quando há uma quantidade significativa de bens substitutos e um grande número de
firmas. O preço em concorrência monopolística é maior que o custo marginal (𝑃𝐶𝑀 >
𝐶𝑀𝑔), no entanto, 𝑃𝐶𝑀 < 𝑃𝑀 . Podemos resumir concorrência monopolística em três
características básicas.

1. Presença de muitas firmas/vendedores – e assim há várias empresas


concorrendo entre si.
2. O produto é diferenciado, de forma que cada firma é monopolista do seu
produto, mas a elasticidade-preço cruzada é elevada (por isso é
caracterizado por ter um número significativo de bens substitutos). Como
exemplo, podemos citar diferentes firmas dentro da indústria de calçados,
vestuários, livros, biscoitos, restaurantes em geral, etc.
3. Há livre entrada e saída de firmas, ou seja, não há impedimentos à
entrada de novas firmas.

A diferenciação pode ser vista pelo consumidor através do tipo de produto. A


Figura 128 nos ilustra um esquema de diferenciação por tipo de produtos alimentícios,
ou seja, tipos e combinações diferentes de alimentos são vistos como produtos
diferenciados (ou refeições diferenciadas). Este é um tipo de diferenciação horizontal.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
153

Figura 128 Esquema de diferenciação por tipo de produto.

Fonte: KUME.

Uma outra forma de diferenciação consiste na qualidade do produto, chamada


diferenciação vertical. Em nosso exemplo, primeiro um consumidor pode decidir pela
diferenciação horizontal, como por exemplo, comer um prato de arroz, feijão e carne
bovina. No entanto, depois ele pode escolher pela qualidade do prato, seja escolhendo
algum restaurante em que ele conheça que tenha qualidade boa, ou decidindo que a
qualidade melhor será dele mesmo cozinhando. Esta relação de diferenciação entre
tipo/modelo de produto (horizontal) e diferenciação por qualidade (vertical) pode ser
expressa em gráfico, o que normalmente é útil também em gestão e planejamento de
marketing, quando uma firma deseja identificar a posição de seu produto no mercado.
Este modelo é ilustrado na Figura 129.

Figura 129 Apresentação gráfica de diferenciação horizontal e vertical.

Fonte: KUME.

Uma terceira forma de diferenciação que também relevante consiste na


diferenciação por localização. Consumidores podem ter preferência em consumir
produtos/serviços que estejam localizados mais próximos a ele. Considere por exemplo,

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
154

um indivíduo que está em casa, e deseja apenas abastecer seu carro, e suponha que
existam quatro postos de gasolina próximos. Ele provavelmente irá optar por ir
abastecer no posto de gasolina que está localizado o mais próximo possível de sua casa,
conforme ilustrado no diagrama da Figura 130.

Figura 130 Exemplo de diferenciação por localização.

Fonte: KUME.

Sobre a demanda, como já vimos para o caso de uma firma competitiva, ela é
perfeitamente elástica, e para o caso de uma firma monopolista, ela costuma ser
inelástica um pouco elástica – e assim se o preço aumenta, a quantidade diminui, mas
não tanto porque o consumidor não tem substituto próximo. Já para o caso de uma firma
em concorrência monopolística, a curva da demanda é bastante elástica, e assim, se o
preço aumenta, a quantidade diminui muito, pois o consumidor pode encontrar muitos
bens substitutos próximos para troca. Estes três tipos de demanda são ilustrados na
Figura 131.

Figura 131 Demanda de uma firma competitiva, monopolista, e em concorrência monopolística.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
155

Neste esquemático sintetizamos a elasticidade-preço da demanda nas três


diferentes estruturas de mercado. Em concorrência perfeita, uma firma competitiva se
deparada com uma demanda perfeitamente elástica, e ao preço dado de 10 unidades
monetárias, ela consegue vender quantas quantidades ela quiser, e se aumentar o preço,
não vende mais nada. Já uma firma monopolista se depara com uma demanda pouco
elástica, unitária e inelástica17, e assim ao preço de 12, ela vende 10 unidades; caso ela
aumente o seu preço para 15, ela irá vender 8 unidades (aumento de três unidades
monetárias, e redução de duas unidades de quantidade); e caso ela aumente o seu preço
para 18, ela ainda venderá a quantidade de 6 unidades do bem (novamente através de
um aumento de preço de três unidades monetárias, a redução na demanda corresponde a
duas unidades do bem).

Já uma firma em concorrência monopolística se depara com uma demanda bem


elástica. Graficamente verificamos que a 𝑃 = 11, 𝑄 = 10. Caso a firma eleve o preço
em apenas uma unidade monetária, a 𝑃 = 12, 𝑄 = 5, ou seja, ela perde metade da
demanda. Podemos calcular esta elasticidade-preço da demanda pelo ponto médio, de
forma que

𝛥𝑄 10 − 5
( ) ( ) 5
𝑄1 + 𝑄2 10 + 5 ( )
( ) ( ) (7,5) 57,5
𝐷
𝜀𝑃 = 2 = 2 = = ≅ 7,67.
𝛥𝑃 11 − 10 1 7,5
( ) ( ) ( )
𝑃 +𝑃 11 + 12 (11,5)
( 1 2 2) ( 2 )

Assim verificamos que a demanda enfrentada pela firma em concorrência monopolística


é bem elástica.

Em geral, uma firma em concorrência monopolística pode em curto prazo, tanto


maximizar o seu lucro econômico quanto minimizar o seu prejuízo econômico; de
forma a produzir a quantidade em que sua receita marginal se iguala a seu custo
marginal. Caso o preço da demanda nesta quantidade esteja superior ao seu custo
médio, a firma obterá lucro; mas caso o preço da demanda nesta quantidade esteja
inferior ao seu custo médio, a firma então terá perda. Isto é ilustrado na Figura 132.

17
Neste exemplo gráfico da Figura 131, quando o monopolista varia o preço entre 12 a 15, ele se depara
com uma elasticidade-preço da demanda unitária, pois a quantidade varia entre 10 a 8 unidades.
Calculando a elasticidade-preço da demanda pelo ponto médio, obtemos que 𝜀𝑃𝐷 =
(𝛥𝑄 ⁄(𝑄1 + 𝑄2 ⁄2))⁄(𝛥𝑃 ⁄(𝑃1 + 𝑃2 ⁄2)) = (2⁄(10 + 8⁄2))⁄(3⁄(12 + 15⁄2)) = (2⁄9)⁄(3⁄13,5) =
27⁄27 = 1. Já variando o preço entre 15 a 18, a firma monopolista se deparada com uma elasticidade-
preço da demanda elástica.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
156

Figura 132 Equilíbrio da firma em concorrência monopolística no curto prazo.

Fonte: KUME.

No caso em que o preço é maior do que o custo médio, a receita total será maior
do que o custo total, o que implica em lucro econômico positivo. Assim, a longo-prazo,
haverá entrada de novas firmas. A tendência será do preço cair e se aproximar do custo
médio; assim, a entra de firmas ocorre até que o preço se iguale ao custo médio,
implicando então no lucro econômico zero.

Verifiquemos o efeito da entrada de novas firmas sobre a curva de demanda da


firma em concorrência monopolística, conforme ilustrado na Figura 133.

Figura 133 Efeito da entrada de novas firmas sobre a curva de


demanda de uma firma em concorrência monopolística.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Verificamos que a curva de demanda se desloca para a esquerda, e também se


torna mais elástica, devido ao maior número de bens substitutos.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
157

Veremos agora graficamente como a entrada de novas empresas afeta os lucros


das empresas existentes, conforme ilustrado na Figura 134.

Figura 134 Entrada de novas empresas elimina o lucro.

Fonte: Hubbard e O’Brien (2015). Adaptado pelo autor.

Uma questão inevitável que agora podemos nos indagar consiste se é inevitável
que o lucro econômico atinja a zero no longo prazo em concorrência monopolística.

De uma maneira geral, o lucro de uma empresa será eliminado no longo prazo se
ela ficar parada, no sentido de não encontrar maneiras de diferenciar seus produtos, ou
de diminuir o custo de produzi-los.

É possível então sim, uma firma em concorrência monopolística, manter o lucro


econômico em longo prazo. Um bom exemplo, segundo Hubbard e O’Brien (2010),
consiste na L’Oréal, que na atualidade, com sede em Clichy, no subúrbio de Paris, é o
maior vendedor mundial de perfumes, cosméticos e produtos para cuidados com cabelo.

Como a maioria das outras grandes empresas, a L’Oréal foi fundada por um
empreendedor com uma ideia. Eugène Schueller era um químico francês que fazia
experiências à noite tentando encontrar uma tintura de cabelo segura e confiável
para mulheres. Em 1907, ele fundou a empresa que se tornou a L’Oréal e começou
a vender seus preparados para tingir cabelos para os salões de cabelereiros de
Paris. Schueller conseguiu tirar vantagem de mudanças na moda. No começo do
século XX, as mulheres começaram a cortar seus cabelos muito mais curtos do que
o estilo típico do século XIX e tornou-se socialmente aceitável gastar tempo e
dinheiro para cuidar do seu estilo. A quantidade de cabelereiros na Europa e nos
Estados Unidos aumentou rapidamente. Nas décadas de 20 e 30, a popularidade
internacional dos filmes de Hollywood, muitos dos quais estrelando “bombas
loiras platinadas” como Jean Harlow, lançou a moda feminina de tingir os cabelos.
No final da década de 20, a L’Oréal estava vendendo seus produtos por toda a
Europa, Estados Unidos e Japão (HUBBARD e O’BRIEN, 2010).

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
158

É racional pensarmos que perfumes, cosméticos e tinturas para o cabelo são


produtos que poderiam ser fáceis para empresas rivais copiarem, e assim entrassem no
mercado competindo com a L’Oréal. Assim, poderíamos esperar que o nível de lucros
econômicos que a L’Oréal havia ganho em seus primeiros anos fosse a longo prazo
reduzindo até atingir a um valor próximo a zero, por conta da entrada de novas firmas.
No entanto, segundo Hubbard e O’Brien (2010), a L’Oréal permaneceu lucrativa ao
longo das décadas, ao seguir uma estratégia de desenvolver novos produtos, melhorar os
existentes e expandir para novos mercados.

Quando os trabalhadores franceses receberam férias remuneradas pela primeira


vez durante a década de 30, a L’Oréal se movimentou rapidamente pra dominar o
novo mercado de loção de bronzeamento solar. [...] Quando a L’Oréal lançou uma
nova linha de produtos para cuidados da pele masculina, incluindo creme de
barbear, um analista observou que na L’Oréal “marcas não ficam em casa
atendendo à mesma clientela antiga. Elas se arrumam, recebem um novo conjunto
de roupas de viagem e são mandadas para o exterior para atender a novos
clientes”. A L’Oréal tem mantido sua capacidade de inovar ao gastar mais em
pesquisa e desenvolvimento do que as empresas concorrentes. A empresa tem um
quadro de mais de 1.000 funcionários na área de pesquisa (HUBBARD e
O’BRIEN, 2010).

Através da história da L’Oréal, podemos verificar que é possível uma empresa


permanecer um passo à frente da concorrência, e manter seu lucro econômico positivo
em longo prazo. No entanto, segundo Hubbard e O’Brien (2010), para isto é necessário
que a alta gerência se comprometa com o espírito empreendedor de estar sempre
desenvolvendo novos produtos.

Agora, caso isto não ocorra, e o preço do bem de uma firma em concorrência
monopolística se torne menor do que o seu custo médio, sua receita total será menor do
que o seu custo total, ou seja, ela terá prejuízo, e isto a longo-prazo gera a saída de
firmas.

Com a saída de firmas, o preço aumenta e se aproxima do custo médio para


outras firmas (que provavelmente estariam tendo prejuízo a curto prazo antes da saída
efetiva das firmas menos eficientes). Assim, a saída de firmas ocorre até que o preço se
iguale ao custo médio das firmas remanescentes deste mercado, que obterão o lucro
econômico zero.

O efeito da saída de firmas sobre a curva de demanda de uma firma em


concorrência monopolística é análogo de forma oposta ao efeito que verificamos com a
entrada de novas firmas, e é ilustrado graficamente na Figura 135.
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
159

Figura 135 Efeito da saída de antigas firmas sobre a curva de


demanda de uma firma em concorrência monopolística.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Verificamos que a curva de demanda se desloca para a direita, e também se torna


menos elástica – devido ao menor número de bens substitutos agora disponíveis no
mercado.

A Figura 136 nos faz um comparativo do equilíbrio de longo prazo, entre firmas
em concorrência monopolística e firmas em concorrência perfeita.

Figura 136 Equilíbrio no longo prazo entre concorrência monopolística versus concorrência perfeita.

Fonte: KUME.

Assim, a escolha da quantidade pela firma em concorrência monopolística será a


que iguala o seu custo marginal à sua receita marginal. Não haveria sentido em produzir
uma quantidade inferior a esta, pois num ponto inferior, a sua receita marginal será
maior do que o seu custo marginal, o que significa que nesta quantidade inferior, ela
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
160

pode obter receita adicional produzindo uma quantidade incremental, e com um custo
adicional menor do que esta receita adicional. Assim ela maximiza o lucro produzindo o
tanto de quantidades que for necessário até que a receita marginal se iguale ao custo
marginal.

Produzir uma quantidade superior a que iguala a receita marginal ao custo


marginal também não é interessante para uma firma em concorrência monopolística,
pois assim, ela estaria produzindo quantidades que geram receitas adicionais inferiores
aos custos adicionais; e desta forma não estaria maximizando o lucro. A Figura 137 nos
ilustra este esquema de escolha da quantidade pela firma em concorrência
monopolística.

Figura 137 Escolha da quantidade pela firma em concorrência monopolística.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Verificamos que nesta escolha de quantidade da firma em concorrência


monopolística, ela pode cobrar um preço maior do que o seu custo marginal para
atender esta quantidade de demanda. A diferença entre este preço que ela cobra (que
captura todo excedente do consumidor marginal nesta quantidade) e o seu custo
marginal é chamada de poder de monopólio18.

O poder de monopólio gera um custo social. Uma outra forma de se


interpretar/compreender este custo social, é pelo simples fato de que a disposição a

18
Devemos observar que o poder de monopólio de uma firma em concorrência monopolística será menor
do que o poder de monopólio de uma firma monopolista.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
161

pagar do consumidor marginal é maior do que o custo marginal da oferta do


produto/serviço. Em outras palavras, o valor marginal do bem é superior ao seu custo de
oferta marginal, e isto gera o peso morto – pois se o valor marginal é superior ao custo
marginal, seria favorável a sociedade que se produzisse mais, até que o valor marginal
se igualasse ao custo marginal de produção. Assim, o custo social da estrutura de
mercado em concorrência monopolística é o peso morto. A Figura 138 nos ilustra este
custo social.

Figura 138 Custo social da concorrência monopolística.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Observamos então que a quantidade ofertada em concorrência monopolística é


inferior a quantidade socialmente ótima, tendo então este peso morto. Apesar desta
desvantagem econômica nesta estrutura de mercado (pelo preço ser maior do que o
custo marginal), a concorrência monopolística é vantajosa por conta da variedade de
produtos que oferece. Em outras palavras, cada produtor é monopolista das
diferenciações a serem incorporadas em seus produtos, e assim concorrem entre si
gerando maior variedade para a sociedade.

5.4.1 – Efeito da propaganda/marketing na competição

Um aspecto que é interessante ressaltar sobre produtos diferenciados e produtos


homogêneos se refere aos incentivos à propaganda. Podemos assumir que para bens
homogêneos, os incentivos à propaganda são baixos, devido ao efeito externalidade. Se

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
162

uma firma investe e arca com a propaganda de um bem homogêneo (que outras
empresas vendem), ela beneficia todas as empresas produtoras deste bem (e assim seu
investimento privado se dissipa de forma coletiva no mercado).

Já para bens diferenciados, há forte incentivo para propaganda, e cada firma faz
propaganda de seu produto. A propaganda em si é vantajosa pois fornece informação; e
consumidores com mais informações, de uma forma geral, favorece a competição. No
entanto, a propaganda também gera um efeito captura dos consumidores para o seu
produto, e uma vez tendo os consumidores capturados, diminui-se as forças da
competição, no sentido que agora será explicado.

Suponha que uma Firma X faça propaganda de um Bem X que ela venda, e
assim consegue capturar os consumidores. Este bem pode ser desde uma marca
específica de arroz ou feijão, como uma marca de celular ou notebook. Esta captura é
realizada quando os consumidores percebem o diferencial da qualidade do produto da
marca que consomem, e estão satisfeitos pelo preço que pagam por ela. Suponha agora
que uma outra firma lance um produto similar ao Bem X, de forma que pela
diferenciação horizontal, os produtos possam ser até considerados idênticos em tipo, e o
que irá diferenciar estes produtos será somente a qualidade.

Suponha que o preço do Bem X, e do novo bem ofertado no mercado seja o


mesmo. Como resultado, é racional pensar-se que os consumidores continuarão
consumindo o Bem X, mesmo que a qualidade do novo bem produzido e vendido ao
mesmo preço seja superior. Para que esta nova empresa consiga vender ao mesmo preço
do Bem X, ela provavelmente deverá ter de investir bastante em propaganda para
informar aos consumidores que a qualidade de seu produto é melhor. E mesmo assim
será difícil, devido ao efeito captura da propaganda anterior do Bem X, e pelo fato dos
consumidores já estarem satisfeitos com a qualidade deste bem, ou seja, da marca
específica que consomem (e de ter o mesmo preço que do novo produto). Este efeito
captura pode se relacionar inclusive com um viés da percepção dos consumidores – de
forma que os consumidores capturados de uma determinada marca podem erroneamente
ter a sensação que esta marca sempre irá produzir o bem de maior qualidade do
mercado; e assim, as forças competitivas do mercado acabam sofrendo desvios.

Em geral, a propaganda gera eficiência para a concorrência, pois ela pode ser
um forte indicativo de qualidade. Assim, os consumidores são informados da qualidade

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
163

do produto, e as empresas devem investir em qualidade para manter a reputação de sua


marca.

De uma outra forma, os gastos em publicidade podem ser proporcionais com a


qualidade dos produtos; mas devemos ter em mente que nem sempre gastos em
publicidade mais elevados significam maior qualidade do produto. Um outro aspecto
consiste quando consumidores são influenciados para verem diferenças que na realidade
não existem, o que pode ser debatido.

Exercício 28. Considere a seguinte afirmação: “No longo prazo, não há diferença entre
competição monopolística e competição perfeita”. Discuta esta afirmação (se é
verdadeira, falsa ou ambígua) para os seguintes itens. (a) O preço cobrado dos
consumidores. (b) O custo total médio da produção. (c) A eficiência do resultado de
mercado. (d) O lucro da firma típica no longo prazo. Vide solução na seção final do
caderno Soluções dos exercícios propostos.

5.5 – Oligopólio

Verificamos já a relação entre o número de firmas e relação entre preço e custo


marginal nas estruturas de mercado em concorrência perfeita, monopólio e concorrência
monopolística. Em oligopólio, em geral há poucas firmas, e o preço é maior que o custo
marginal. Estas relações entre diferentes tipos de mercados são ilustradas no diagrama
da Figura 139.

Figura 139 Número de firmas e preços entre diferentes estruturas de mercado.

Fonte: KUME.

Em relação ao processo decisório de produção de uma firma, no monopólio, a


decisão não depende das decisões de firmas concorrentes (pois, por definição, não há

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
164

concorrentes); e em concorrência perfeita a decisão de produção também não depende


das decisões das firmas concorrentes (pois a firma competitiva seria muito pequena no
mercado para influenciar ou receber influências de outras firmas).

Já em oligopólio, a decisão depende das decisões das firmas concorrentes.


Consideremos um oligopólio com apenas duas firmas (chamado de duopólio), de uma
Firma A e uma Firma B. Assim, a quantidade disponível do bem/serviço no mercado
em que somente as duas firmas produzem será a soma da produção das duas firmas
individuais. Em outras palavras, a curva de oferta do mercado corresponderá a
quantidade produzida pela Firma A (𝑄𝐴 ) e a quantidade produzida pela Firma B (𝑄𝐵 ),
conforme ilustrado na Figura 140.

Figura 140 Curva de oferta em duopólio.

Fonte: KUME.

Como sabemos, o preço de mercado (que intercede às curvas de oferta e


demanda) depende da quantidade ofertada. Assim, em um duopólio, o preço de mercado
será estabelecido pelas decisões individuais da Firma A e da Firma B, que estabelecerão
o quanto do bem será ofertado.

O lucro (𝜋) de cada firma pode ser expresso como

𝜋𝐴 = 𝑃 × 𝑄𝐴 − 𝐶𝑇𝐴 ; 𝜋𝐵 = 𝑃 × 𝑄𝐵 − 𝐶𝑇𝐵 ,

de forma que a Firma A deve escolher 𝑄𝐴 supondo qual será a 𝑄𝐵 , e da mesma forma ao
contrário, a Firma B escolher 𝑄𝐵 supondo qual será a escolha de 𝑄𝐴 . Isto porque o preço
(𝑃) de mercado dependerá tanto de 𝑄𝐴 quanto de 𝑄𝐵 . Assim, verificamos que ocorre
uma interdependência nas decisões da Firma A e da Firma B.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
165

Para simplificação, suponha que os custos marginais e fixos das duas firmas em
duopólio seja zero, e a quantidade demandada em função do preço seja expressa
conforme dados da Tabela 23.

Tabela 23 Demanda e receitas totais de firmas em duopólio.

Fonte: KUME.

Verificamos que o lucro máximo19 é obtido quando o preço é 60, atendendo a


demanda por 60 unidades. Assim, a receita total é a maior possível, de 3.600. Caso as
duas firmas atuem como um monopólio, ou seja, dividindo igualmente o mercado, cada
firma produzirá 30 unidades (para haver 60 unidades totais no mercado), e ao preço de
equilíbrio de 60, cada firma terá lucro de 1.800 (maximizando o lucro em conjunto).

Suponha que a Firma B, na expectativa de que a Firma A produza a quantidade


que maximize o lucro conjunto, produza a quantidade 𝑄𝐵 = 30; mas que, no entanto, a
Firma A produza 𝑄𝐴 = 40. Assim, a quantidade total no mercado será de 𝑄𝑇 = 70, e o
preço será 𝑃 = 50. Assim, a Firma 𝐴 obtém 𝜋𝐴 = 𝑃𝑄𝐴 = 2.000 de lucro, e a Firma B
obtém 𝜋𝐵 = 𝑃𝑄𝐵 = 1.500 de lucro; logo 𝜋𝐴 > 𝜋𝐵 .

Suponha que a Firma B perceba que a Firma A irá produzir 40 unidades, e assim
decide também produzir 40 unidades. Assim, a quantidade total deste bem no mercado
será de 80 unidades ao preço de 40 por unidades. Desta forma, o lucro da Firma A será
igual ao lucro da Firma B, de forma que 𝜋𝐴 = 𝜋𝐵 = 1.600.

Suponha que a Firma A saiba que a Firma B irá estimar que a produção da Firma
A seja de 40 unidades, e assim acredita-se que a Firma B irá produzir 40 unidades.

19
Neste exemplo, o lucro é igual a receita total – devido a hipótese de que os custos fixos e marginais das
firmas sejam iguais a zero.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
166

Será que a Firma A teria incentivo para produzir mais do que 40 unidades?

Caso a Firma A decida produzir 50 unidades, enquanto a Firma B produz 40


unidades, a quantidade total de mercado será de 90 unidades, ao preço de 30. Assim, o
lucro da Firma B é de 𝜋𝐵 = 1.200 e o lucro da Firma A será de 𝜋𝐴 = 1.500. Assim, a
Firma A obteria um lucro menor do que produzindo 40 unidades. Esta quantidade 𝑄𝐴 =
𝑄𝐵 = 40 é definida como equilíbrio de Nash.

Em equilíbrio de mercado, quando cada firma está fazendo o melhor que pode
para maximizar o lucro, dada a quantidade produzida pela firma concorrente, dizemos
que este é um equilíbrio de Nash – quando nenhuma das firmas tem incentivo em
desviar o seu nível de produção.

Neste caso, se uma firma está produzindo 40 unidades, a outra firma só


maximizará o lucro produzindo também 40 unidades, pois qualquer quantidade positiva
ou negativa incremental neste nível, reduzirá o seu lucro total. Isto é comprovado neste
exemplo, pois se a Firma B produz 40 unidades, a Firma A obtém 1.600 de lucro
produzindo também 40 unidades. Caso a Firma A produzisse 50 unidades, ela obteria
um lucro de 1.500, ou seja, menor. Caso a Firma A produzisse 30 unidades, ela obteria
de lucro também 1.500, ou seja, menor do que produzindo 40 unidades. Desta forma,
verificamos que a Firma A não possui incentivos em desviar sua produção de 40
unidades (quando obtém de lucro 1.600).

É claro que este não é o caso onde as duas firmas maximizam o lucro conjunto,
ou seja, quando cada uma produz apenas 30 unidades, gerando para o mercado 60
unidades que serão vendidas ao preço de 60. Este caso seria o lucro de monopólio, onde
cada firma teria lucro de 𝜋𝐴 = 𝜋𝐵 = 1.800. Apesar de ser interessante este nível
produtivo para as duas firmas, pois gera lucro maior, também gera peso morto maior, ou
seja, atende menos consumidores. E também caso uma firma produza neste nível de 30
unidades, a outra firma terá forte incentivo de desviar, pois como vimos, quando uma
produz 30 unidades, e outra se desvia produzindo 40 unidades, esta outra obtém lucro
maior, e a que permaneceu produzindo 30 unidades obtém um lucro menor.

Como o lucro de monopólio é maior, ambas as firmas podem sofrer a tentação


de formar um cartel, ou seja, de um acordo entre as firmas para atuarem como um
monopólio, e assim dividirem seus lucros maiores.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
167

No entanto, para a sociedade e economia em geral, um cartel não é interessante,


devido ao custo econômico do peso morto maior. Aqui no Brasil, a formação de cartéis
é inclusive proibida por lei; e fiscalizada/suprimida pelo Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (CADE), que julga e fixa penalidades, pela Secretaria do Direito
Econômico (SDE) e Ministério da Justiça, que instruem o processo, e pela Secretaria de
Acompanhamento Econômico (SEAE) do Ministério a Fazenda, que elabora o parecer
técnico contra cartéis.

Na prática, podem ocorrer diversos tipos de formação de cartéis, como por


exemplo, na indústria de suco de laranja (quando maiores firmas exportadoras efetuam
um acordo de preço na cobrança de laranja de pequenos produtores), na indústria de
frigoríferos de carne bovina (quando fazem acordos para fixar preços), na indústria de
gases hospitalares (quando fazem um acordo de divisão de mercado, e assim acabam
por prejudicar o Ministério da Saúde, estados, municípios e hospitais particulares), ou
ainda como um último exemplo, na indústria de combustíveis (quando diferentes postos
de combustíveis entre diferentes cidades combinam e fixam os preços da gasolina e do
álcool).

A legislação anti-competição também pune práticas que impedem ou dificultam


a entrada de novas firmas.

Já um problema técnico na formação de cartéis (deixando de lado as questões


legislativas), consiste no que vimos de incentivo para não cumprir o acordo. No
exemplo que vimos, caso a Firma A e a Firma B façam um cartel fixando a quantidade
produzida de 30 por empresa, as duas obtém maiores lucros em conjunto. No entanto,
cada uma das firmas terá incentivo a desviar do acordo, e a curto prazo obter lucro
maior. Em nosso exemplo, se uma firma mantém sua parte no acordo e produz 30
unidades, a outra firma pode ser incentivada a desviar e produzir 40 unidades, de forma
a obter um lucro superior neste momento (e a outra firma que manteve sua parte no
acordo obtém um lucro menor, de valor inferior inclusive no caso dela se desviar
também – assim, a outra firma também tem incentivo a se desviar).

Por ser ilegal, num cartel não há contratos assinados que possam ser defendidos
pela Justiça; e assim, se as duas firmas sabem que não cumprir o acordo pode ser mais
vantajoso, elas também sabem que quem não cumprir primeiro tem vantagem sobre isto
– logo, há um forte incentivo para não se cumprir o acordo.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
168

Em economia, o estudo do comportamento estratégico pode ser feito através da


chamada Teoria dos Jogos.

5.5.1 – Introdução à Teoria dos Jogos

Em Teoria dos Jogos, pensar estrategicamente consiste na arte de superar um


adversário, sabendo que ele está tentando fazer a mesma coisa em relação a você.
Assim, é interessante para todos nós saber pensar estrategicamente tanto no trabalho
quanto em casa.

O pensamento estratégico pode ser dar, por exemplo, quando um aluno estuda
para uma prova e tem pouco tempo disponível, e assim pensa estrategicamente ao
escolher os capítulos do livro para estudar tentando adivinhar as questões que o
professor escolherá (e assim maximizar sua nota).

Um dos principais exemplos em Teoria dos Jogos consiste no Dilema dos


Prisioneiros. Neste dilema, supõem-se que haja um Indivíduo A e um Indivíduo B que
estejam presos, como por exemplo, sob a acusação de roubo com agravante de
violência. Pressupõem-se (a Polícia sabe) que ambos participaram do crime; mas que no
entanto, não hajam evidências irrefutáveis para um Tribunal condena-los; e assim, os
dois indivíduos são colocados em salas separadas, de forma que não tenham qualquer
contato entre si, e são interrogados.

Suponha que a promotoria não tem provas suficientes para condená-los por
roubo, mas que tem provas para condena-los por um delito menor, como por exemplo, a
posse da arma (que poderia gerar, por exemplo, um ano de prisão). Assim, a promotoria
faz uma proposta para ambos indivíduos, oferecidos separadamente, de forma que caso
o Indivíduo A confesse o furto, e se prontifique a testemunhar contra outro, ele ganha
imunidade para si, e o outro (o companheiro, Indivíduo B) ganha 6 anos de prisão. Caso
o Indivíduo A não confesse, mas o outro sim, então o Indivíduo A que ganha 6 anos de
prisão. Se ambos confessarem, a promotoria oferecerá atenuantes, e cada um terá 3 anos
de prisão. Nota-se que se ambos não confessarem, ambos serão acusados, mas por falta
de provas sobre o furto, serão condenados apenas pela posse de arma, onde cada um
recebe uma pena de 1 ano.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
169

Este dilema dos prisioneiros pode ser ilustrado através de uma matriz de
resultados (neste caso, de anos de cadeia), representando cada um dos quatro resultados
possíveis a serem obtidos, através das duas possíveis opções de cada um dos dois
indivíduos, conforme ilustrado na Tabela 24.

Tabela 24 Matriz de resultados no dilema do prisioneiro.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Neste tipo de matriz, as estratégias do Indivíduo A são representadas nas linhas


horizontais, e as estratégias do Indivíduo B nas colunas verticais. Em cada campo da
matriz há um conjunto de dois valores, que representam respectivamente os anos de
prisão do Indivíduo A e do Indivíduo B; ou seja, o primeiro valor refere-se ao resultado
para o indivíduo com suas estratégias expostas nas linhas horizontais, e o segundo valor
refere-se ao resultado obtido pelo indivíduo com suas estratégias expostas nas colunas
verticais.

Supondo que o Indivíduo B confesse, caso o Indivíduo A não confesse, ele terá 6
anos de prisão, mas caso ele confesse, ele terá 3 anos de prisão. Assim, o benefício é
maior no caso dele confessando. Supondo agora que o Indivíduo B não confesse, caso o
Indivíduo A não confesse, ele terá 1 ano de prisão, e caso ele confesse, ele sairá livre.
Assim, o benefício também é maior no caso dele confessando. Como
comparativamente, analisando os dois casos do outro indivíduo confessando e não
confessando, o benefício do Indivíduo A é maior nestas duas opções confessando,
dizemos que esta é uma estratégia dominante para o Indivíduo A.

O análogo é também verdadeiro na análise do Indivíduo B sobre os possíveis


resultados obtidos através das diferentes escolhas que o Indivíduo A faça; assim,
confessar também é uma estratégia dominante para o Indivíduo B. Assim, ambos têm as
mesmas estratégias dominantes, de confessar, e este é um equilíbrio de Nash.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
170

Consideremos agora o caso da Firma A e da Firma B, e no acordo de produção


de 30 unidades por cada empresa. Como vimos, ambas as firmas têm incentivo de
desviar, produzindo 40 unidades, e obtendo um lucro maior (caso a outra não desvie).
Os resultados para ambas firmas entre desviar ou não desviar do acordo podem ser
ilustrados em formato de matriz, parecido com a do dilema dos prisioneiros, conforme
apresentado na Tabela 25.

Tabela 24 Matriz de resultados de acordo entre as firmas em duopólio.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Assim, verificamos que caso a Firma A assuma que a Firma B vá cumprir o


acordo, caso ela não cumpra, obterá 2.000 de lucro, e caso cumpra, obterá 1.800 de
lucro; da mesma forma, assumindo que a Firma B não vá cumprir o acordo, caso ela não
cumpra, obterá de lucro 1.600, e caso cumpra, obterá 1.500 de lucro. Nesta análise, nos
dois cenários de escolha da Firma B, não cumprir o acordo é uma estratégia dominante
para a Firma A, pois obtém maior lucro nos dois casos individuais. Como os números
são iguais, a Firma B também tem estratégia dominante de não cumprir o acordo; e
assim, a estratégia dominante neste jogo é de as duas firmas não cumprirem o acordo e
produzirem uma quantidade de nível 40.

Há também casos de jogos em que apenas um participante tem estratégia


dominante. Suponha que em determinado, haja apenas uma firma atuante, a GOL. No
entanto, considere que haja uma segunda firma, que será chamada AZUL, que pretende
entrar no mercado. Havendo esta concorrência, os lucros da GOL irão diminuir. No
entanto, a firma GOL pode adotar uma estratégia de praticar preços abaixo do normal,
para atender uma demanda maior do que sua nova concorrente. Da mesma forma, a
companhia Azul pode entrar no mercado com preços normais ou com preços baixos. A
Tabela 25 nos ilustra a matriz de ganhos das duas firmas, diante das escolhas entre
praticar preços normais, ou preços baixos.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
171

Tabela 25 Matriz de resultados/lucros das firmas fictícias GOL e AZUL.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Verificamos que caso a AZUL assuma que a GOL praticará preços baixos, caso
ela também pratique preço baixo, ela obterá de lucro 15, e caso ela pratique o preço
normal, ela obterá de lucro 10 (ela obtém o lucro maior fixando preços baixos). Agora,
caso a AZUL assuma que a GOL praticará preços normais, caso ela pratique preço
baixo, ela obterá de lucro 25, e caso pratique preço normal, ela obterá de lucro 20
(assim, ela também obtém o lucro maior fixando preços baixos). Dessa forma,
verificamos que praticar preços baixos é uma estratégia dominante para a GOL.

Consideremos agora a perspectiva da GOL. Caso ela assuma que a Azul irá
praticar preços baixos, caso ela pratique também preços baixos, ela obterá de lucro 25, e
caso ela pratique preço normal, ela obterá de lucro 10 (neste caso, ela obtém lucro maior
praticando preços baixos). Já no caso da AZUL praticar preços normais, caso a GOL
pratique preços baixos, ela obterá de lucro 30, e caso pratique preços normais, obterá de
lucro 35 (neste caso, ela obtém lucro maior praticamente preços normais). Assim,
verificamos que para a GOL não há uma estratégia dominante. Mas como para a AZUL
há estratégia dominante de preços baixos, o equilíbrio de Nash deste jogo é de preços
baixos.

Verifiquemos agora um caso onde não há estratégias dominantes para nenhum20


dos jogadores. Suponha que John seja um estudante de graduação em Economia, e Todd
um estudante de graduação em Direito. Suponha que haja uma disciplina/curso em
comum entre os dois, chamada Direito e Economia, e que estejam cursando juntos. Eles
podem estudar separadamente, como podem estudar juntos.

20
Na literatura em Teoria dos Jogos, este caso é apresentado como Batalha dos sexos.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
172

Suponha que os dois ainda não estudaram, mas que estejam juntos, e que a
data/horário da prova será hoje daqui a cinco horas; e assim têm que decidir agora se
vão estudar as duas matérias juntos, ou se vão estudar separadamente somente as
matérias de maior preocupação individual. Suponha que Todd esteja mais preocupado
com as questões de Economia (já que ele é um estudante de Direito, e já tem mais
conhecimentos nesta área), e que John esteja mais preocupado com as questões de
Direito (já que ele é um estudante de Economia, e já é mais familiarizado com
conhecimentos desta área).

Suponha também que ambos obtêm notas maiores se estudarem juntos,


conforme matriz de resultados (de notas) apresentada na Tabela 26.

Tabela 26 Matriz de resultados/notas de Todd e John.

Fonte: KUME.

Pela óptica de John, verificamos que caso Todd decida por estudar Direito, e
assim John estude Direito junto com Todd, John obtém conceito A. Caso John resolva
estudar somente Economia sozinho, ele obterá conceito C (assim ele obtém melhor
resultado estudando Direito). Suponha agora que Todd escolha estudar somente
Economia, e assim, caso John estude separadamente somente Direito, ele obtém grau C,
e caso ele resolva estudar somente Economia com Todd, ele obtém grau B (agora, o
conceito obtido por John é maior quando ele estuda somente Economia, junto com
John). Verificamos assim que não há um equilíbrio dominante para John entre estudar
somente Direito, ou somente Economia, e o melhor grau obtido será quando ele decide
estudar junto com Todd.

Pela óptica de Todd, verificamos que caso John decida estudar somente Direito,
e assim Todd decida por estudar Direito junto com John, ele obtém grau B. Caso Todd
decida estudar somente por Economia sozinho, ele obterá grau Todd decida estudar
sozinho somente Direito, ele obtém grau C (assim Todd obtém grau maior estudando
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
173

somente Direito junto com John neste momento de véspera de prova). Agora, suponha
que John decida estudar somente Economia. Caso Todd opte por estudar sozinho
somente Direito, ele obterá grau C. Caso Todd resolva estudar somente Economia junto
com John, ele obterá então grau B (assim Todd obtém grau maior estudando somente
Economia junto com John). Verificamos assim que para Todd também não há estratégia
dominante entre estudar Direito ou Economia, mas que ele obtém resultados melhores
estudando junto com John.

Neste jogo, ambos não têm estratégias dominantes; no entanto, eles obtêm
melhores resultados quando estudam juntos (somente Economia, ou somente Direito).
Assim, há dois equilíbrios de Nash neste jogo, que corresponde estudarem juntos
somente Economia, ou somente Direito.

Em Teoria dos Jogos, há dois tipos de jogos que são estudados, os jogos
simultâneos (quando os participantes decidem ao mesmo tempo), e os jogos sequenciais
(quando um participante decide primeiro, e o outro em seguida). Nos exemplos que
vimos e ilustramos com matrizes de resultados, estudamos os jogos simultâneos (pois os
participantes deveriam escolher simultaneamente). Veremos agora como podemos
representar jogos sequenciais.

Considere o nosso exemplo das firmas GOL e AZUL, e que a GOL operando
sozinha, obtém de lucro 80; mas que desta vez a AZUL esteja avaliando se realmente
investe para entrar neste mercado. Caso a AZUL entre, assim a GOL deverá decidir se
compete normalmente ou pratica uma guerra de preços. Suponha que a AZUL entre, e
assim, caso a GOL opte por competição normal, a AZUL obtém lucro de 10, e a GOL
lucro de 50. Caso a GOL opte por uma guerra de preços, ela passa a obter de lucro -1, e
a AZUL -2, ou seja, ambas firmas terão prejuízos com guerra de preços. O processo de
decisão deste jogo sequencial é ilustrado pela árvore de decisão da Figura 141.

Figura 141 Árvore de decisões das firmas AZUL e GOL.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
174

Verificamos que após a decisão de entrada da AZUL, a GOL obterá maior lucro
caso decida por uma competição normal, e assim, esta deverá ser sua escolha.

No entanto, caso a GOL sinalize que fará competição de preços, a AZUL não
entra, pois obtém lucro maior (lucro igual a zero) não entrando, do que entrando e
sofrendo competição por guerra de preços (quando terá prejuízo ou lucro negativo). Esta
ameaça de guerra de preços não será crível, caso a AZUL saiba que a melhor opção da
GOL após sua entrada seja por praticar competição normal. Assim, há uma
inconsistência temporal na ameaça da GOL que eventualmente será percebida pela
AZUL.

Este jogo utilizado para exemplificação de jogos sequências é bem simples, a


firma AZUL tem de decidir uma única vez, se entra ou não entra; e a firma GOL
também decide uma única vez, se faz competição normal, ou guerra de preços. No
entanto, jogos podem ser repetidos, tanto com um final determinado, ou sem final
determinado (quando podem ser repetidos infinitas vezes).

Verifiquemos agora um exemplo de jogos repetidos com um final determinado.


Considere um duopólio com duração de cinco anos (após esta data, haverá uma
mudança na configuração do setor, como por exemplo, o final de uma patente).

Neste caso, como depois do quinto ano este acordo de duopólio irá se encerrar;
nenhuma das firmas sofrerá retaliação diante de um desvio no quinto ano – assim, neste
ano não vale a pena cumprir o acordo.

No entanto, já que se espera que não há acordo no quinto ano, a ameaça é


ineficaz, logo vale a pena não cumprir o acordo já no quarto ano. O mesmo acontece
para os anos anteriores, logo, no final, é melhor não cumprir o acordo desde o primeiro
ano.

Se os jogos são repetidos, a cooperação pode ocorrer se um dos participantes


tem reputação que recorrerá a retaliação (no velho sentido olho por olho, dente por
dente), principalmente quando o jogo não tem fim determinado.

Em relações internacionais, a guerra fria entre EUA e União Soviética consiste


num bom exemplo de aplicação de jogos sequenciais. Considere que a União Soviética
tivesse que decidir se invade ou não invade a Europa. Ela assim deve ponderar se os
EUA vão retaliar ou não retaliar caso faça a invasão. A retaliação levaria a uma guerra

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
175

nuclear, portanto, a ameaça não seria crível devido a morte de milhares de norte-
americanos. No entanto, segundo analistas, os EUA tornaram a ameaça crível através do
deslocamento de milhares de soldados para a Europa. A Figura 142 nos ilustra este caso
através de uma árvore de decisão.

Figura 142 Árvore de decisão na Guerra Fria.

Fonte: KUME.

Exercício 29. Suponha que o mercado de água mineral na Cidade X é controlado por
duas firmas, Firma A e Firma B. Cada firma tem um custo fixo de R$1 e um custo
marginal de R$2 por litro. A demanda de água mineral nesta cidade é dada pela Tabela
E29.

Tabela E29 Demanda de água mineral na Cidade X.

Fonte: KUME.

(a) Se as duas firmas formam um cartel e atuam como um monopolista, qual será o
preço e a quantidade vendida? Suponha que as firmas dividem igualmente o lucro, qual

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
176

será o lucro de cada firma? (b) Se a Firma A aumentar a produção em 1 litro enquanto a
Firma B não muda sua produção, qual será o novo preço e a nova quantidade de
mercado? Qual será o lucro da Firma A? E da Firma B? (c) Se a Firma A aumentar a
produção em 3 litros enquanto a Firma B não muda sua produção, qual será o novo
preço e a nova quantidade de mercado? Qual será o lucro da Firma A? E da Firma B?
Compare os resultados com o item b). (d) O que os resultados informam sobre a
probabilidade de traição em acordo para formação de um cartel entre estas duas firmas?

Exercício 30. Considere que a Firma A é uma empresa produtora de café


“especial” que está pensando em entrar um mercado dominado por uma Firma B. O
lucro de cada empresa depende da entrada ou não da Firma A e da política de preço
(alto ou baixo) adotada pela Firma B, conforme mostrado na matriz de lucros (em
milhões de reais) na Tabela E30.

Tabela E30 Matriz de ganhos das firmas A e B.

Fonte: KUME.

Considere que a Firma B ameaça a Firma A dizendo: “Se você entrar, vou fixar um
preço baixo, de modo que é melhor ficar fora”; você acha que a Firma A deve acreditar
na ameaça? Qual deve ser a opção da Firma A? Justifique ambas as respostas.
Considere que o jogo é sequencial e não simultâneo. Vide soluções na seção final do
caderno Soluções dos exercícios propostos.

6 – INTRODUÇÃO À TEORIA DO CONSUMIDOR RACIONAL

A Teoria do Consumidor se baseia na premissa de que o consumidor seja


racional, ou seja, que faz escolhas, de acordo com suas preferências e de acordo com
sua restrição orçamentária (ou de sua renda) que maximizem sua utilidade/bem-estar.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
177

Considere que uma cesta de bens seja composta por determinadas quantidades
de bens, como por exemplo, quantidades dos bens consumidos por semana, ou por mês.

Na Teoria do Consumidor Racional, há três premissas básicas sobre as


preferências.

1) As preferências são completas; ou seja, os indivíduos são capazes de


comparar e ordenar as cestas de bens. Por exemplo, consideremos duas
cestas de bens, uma Cesta A, e uma Cesta B. Uma Cesta A pode ser
preferível a Cesta B por um consumidor; como também uma Cesta B
pode ser preferível a Cesta A para outro consumidor; e ainda uma Cesta
A também pode ser indiferente a Cesta B para um terceiro consumidor.
2) As preferências são transitivas; no sentido que se um indivíduo prefere
uma Cesta A em relação a Cesta B, e prefere uma Cesta B em relação a
uma Cesta C; logo ele prefere uma Cesta A do que uma Cesta C.
3) Quanto mais bens é melhor, ou seja, há premissa de que não há
saciedade.

Podemos representar as preferências através de curvas de indiferença – que


representam combinações de cestas que fornecem o mesmo nível de satisfação para um
indivíduo.

Considere uma cesta composta por dois bens, arroz e feijão. Considere que uma
Cesta A composta por 5 quilos de arroz e 3 quilos de feijão. Considere uma Cesta D
(com menos quantidade de arroz, mas com mais quantidade de feijão), e uma Cesta E
(com mais quantidade de arroz, mas com menos quantidade de feijão). Um indivíduo
pode ser indiferente entre consumir as Cestas A, D e E, conforme ilustradas
graficamente na Figura 143.

Figura 143 Representação gráfica de cestas de bens indiferentes.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
178

Uma curva de indiferença irá “ligar” os pontos das cestas que são indiferentes
ao consumidor, e tem as seguintes propriedades:

a. As curvas de indiferença mais distantes da origem são mais preferíveis


(devido ao princípio de não saciedade).
b. As curvas de indiferença são negativamente inclinadas.
c. As curvas de indiferença são convexas em relação a origem (devido ao
princípio da preferência por variedade).
d. As curvas de indiferença não se cruzam.

Em geral, podemos traçar um mapa com infinitas curvas de indiferença, onde a


preferência entre a quantidade de dois bens pode ser expressa entre as distâncias das
curvas de preferência em relação a origem, conforme ilustrado na Figura 144.

Figura 144 Mapa de curvas de indiferença.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Por hipótese, uma curva de indiferença não pode ser côncava, pois neste caso
indicaria que uma cesta diversificada seria pior; e assim ela é convexa (com
concavidade voltada para cima), indicando a preferência por diversificação de bens. A
Figura 145 nos ilustra a curva de indiferença entre as cestas A, D e E de nosso exemplo,
bem como também nos ilustra o porque a curva de indiferença ser convexa.

Figura 145 Curva de indiferença e seu formato.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
179

A partir das curvas de indiferença, podemos definir a taxa marginal de


substituição (TMS), que mede o quanto um indivíduo está disposto a pagar (ou deixar
de consumir um bem) por quantidades adicionais de outro bem. Em nosso exemplo, a
TMS pode medir o quanto o consumidor está disposto a ceder de feijão por quantidades
adicionais de arroz.

Considere uma curva de indiferença, em que um indivíduo é indiferente entre


consumir uma Cesta A (3 quilos de arroz e 9 quilos de feijão), uma Cesta B (4 quilos de
arroz e 7 quilos de feijão), uma Cesta C (5 quilos de arroz e 6 quilos de feijão), e uma
Cesta D (6 quilos de arroz e 5,5 quilos de feijão).

A diferença entre a Cesta B e a Cesta A consiste em +1kg de arroz e -2kg de


feijão. Assim, a TMS entre a Cesta A e a Cesta B é de −2/1, ou seja, entre estes pontos,
o indivíduo está disposto e indiferente entre deixar de consumir 2kg de feijão para
consumir 1kg adicional de arroz. Para variações infinitesimais, a TMS corresponde ao
ângulo de uma reta tangente ao ponto verificado na curva de indiferença, conforme
ilustrado na Figura 146.

Figura 146 Taxa marginal de substituição.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Existem outros formatos de curvas de indiferença, como por exemplo, quando


dois bens são substitutos perfeitos, como no caso quando uma caneta azul seja
equivalente a uma caneta preta para um indivíduo (esta curva de indiferença será
linear); ou ainda para caso de quando dois bens são complementares perfeitos – como
um indivíduo que só toma uma xícara de café com duas gotas de adoçante. Estes
exemplos são ilustrados na Figura 147.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
180

Figura 147 Outros formatos de curva de indiferença.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Usamos o termo utilidade, ou função utilidade para atribuir a cada cesta de bens
um nível de satisfação/utilidade. Assim, uma Cesta A pode ter utilidade maior,
indiferente ou menor do que uma Cesta B. Em nosso exemplo, de cesta com quantidade
de feijão (𝑄𝐹 ) e arroz (𝑄𝐴 ), a função utilidade pode ser definida como 𝑈 = 𝑈(𝑄𝐹 , 𝑄𝐴 ),
ou seja, em função das quantidades de arroz e feijão. Assim, as curvas de indiferença
podem ser representadas por valores de utilidade diferentes, como ilustrado na Figura
148, de forma que 𝑈1 < 𝑈2 < 𝑈3 < 𝑈𝑁 .

Figura 148 Curvas de indiferença e utilidades.

Fonte: KUME.

Suponha agora que o preço do arroz seja de 𝑃𝐴 = 4, o preço do feijão seja de


𝑃𝐹 = 5, e a renda disponível para o consumo destes bens de um indivíduo seja 𝑅 =
100. Assim, a restrição orçamentária deste indivíduo para o consumo de uma cesta de
bens de arroz e feijão pode ser representada por 𝑅 = 𝑃𝐴 𝑄𝐴 + 𝑃𝐹 𝑄𝐹 , de forma que

100 = 4𝑄𝐴 + 5𝑄𝐹 ;


5𝑄𝐹 = 100 − 4𝑄𝐴 ;
4
𝑄𝐹 = 20 − ( ) 𝑄𝐴 .
5

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
181

Temos então que (𝑃𝐴 ⁄𝑃𝐹 ) = 4/5; e assim caso 𝑄𝐴 = 0, 𝑄𝐹 = 20; e caso 𝑄𝐹 = 0, 𝑄𝐴 =
25. Desta forma, a restrição orçamentária pode ser expressa graficamente como uma
linha negativamente inclinada entre as quantidades de arroz e feijão possíveis de serem
compradas diante de uma renda – indicando a área acessível de consumo, e a área
inacessível de consumo. A restrição orçamentária deste exemplo onde 𝑅 = 100 é
ilustrada na Figura 149.

Figura 149 Restrição orçamentária para consumo de arroz e feijão.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Diante desta restrição orçamentária, considere agora três curvas de indiferença,


que gerem três valores de utilidade diferentes, de forma que 𝑈1 < 𝑈2 < 𝑈3, como
ilustrado na Figura 150.

Figura 150 Restrição orçamentária, utilidades/curvas


de indiferença e escolha racional do consumidor.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Verificamos que o Ponto A, e qualquer outro ponto pertencente a 𝑈3 é


inacessível por conta da restrição orçamentária. Já o ponto 𝐵, e diversos outros pontos
pertencentes a 𝑈1 , incluindo o Ponto C, são acessíveis pela restrição orçamentária. No
entanto, existe um Ponto D que é acessível pela restrição orçamentária que maximiza a
utilidade do consumidor, que o faz obter utilidade 𝑈2 > 𝑈1 . Verificamos que neste
Ponto D, a inclinação da curva de indiferença é igual a inclinação da restrição
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
182

orçamentária, onde 𝑇𝑀𝑆 = 𝑃𝐴 /𝑃𝐹 . Assim, um consumidor racional maximiza sua


utilidade quando escolhe uma cesta que pertence a uma curva de indiferença ou
utilidade num ponto que tangencia a sua restrição orçamentária.

Algebricamente, como vimos, a utilidade obtida por uma cesta de arroz e feijão
pode ser representada por 𝑈 = 𝑈(𝑄𝐴 , 𝑄𝐹 ), ou seja, um nível de satisfação numérico em
função da quantidade consumida de arroz e de feijão. Assim, temos como condição de
primeira ordem que

𝜕𝑈 𝜕𝑈
𝑑𝑈 = ( ) 𝑑𝑄𝐹 + ( ) 𝑑𝑄𝐴 = 0;
𝜕𝑄𝐹 𝜕𝑄𝐴
𝜕𝑈
𝑑𝑄𝐹 ( ⁄𝜕𝑄𝐹 )
− = .
𝑑𝑄𝐴 (𝜕𝑈⁄ )
𝜕𝑄𝐴

Chamamos 𝜕𝑈⁄𝜕𝑄𝐴 = 𝑈𝑚𝑔𝐴 de utilidade marginal do arroz, e 𝜕𝑈⁄𝜕𝑄𝐹 =


𝑈𝑚𝑔𝐹 de utilidade marginal do feijão. Assim, o consumidor irá maximizar a sua
utilidade quando

𝑃𝐴 𝑈𝑚𝑔𝐴
𝑇𝑀𝑆 = = .
𝑃𝐹 𝑈𝑚𝑔𝐹

Seja a utilidade de um Indivíduo X do consumo de arroz e feijão representado


pela função de utilidade 𝑈𝑋 = 𝑄𝐴0,4 𝑄𝐹0,6. Assim, ele terá de utilidade marginal do arroz

𝜕𝑈𝑋 −0,6 0,6 0,4𝑄𝐹0,6


𝑈𝑚𝑔𝐴 = = 0,4𝑄𝐴 𝑄𝐹 = ,
𝜕𝑄𝐴 𝑄𝐴0,6

e de utilidade marginal do feijão

𝜕𝑈𝑋 0,6𝑄𝐴0,4
𝑈𝑚𝑔𝐹 = = 0,6𝑄𝐴0,4 𝑄𝐹−0,4 = .
𝜕𝑄𝐹 𝑄𝐹0,4

Assim, sua taxa marginal de substituição entre arroz e feijão serão de

0,4𝑄𝐹0,6
( ⁄ 0,6 )
𝑈𝑚𝑔𝐴 𝑄𝐴0,4𝑄𝐹 𝑄𝐹
𝑇𝑀𝑆𝑋 = = 0,4 = = .
𝑈𝑚𝑔𝐹 0,6𝑄𝐴 0,6𝑄𝐴 1,5𝑄𝐴
( ⁄ 0,4 )
𝑄𝐹

Isto significa que na margem, o Indivíduo X obtém a mesma satisfação trocando


uma quantidade 𝑄% de feijão por uma quantidade 1,5𝑄% de arroz. Este tipo de função

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
183

utilidade é chamada de função21 Cobb-Douglas, e indica tanto substituabilidade quanto


complementariedade entre os dois bens. A complementariedade é nítida observando-se
que caso a quantidade de arroz ou de feijão seja zero, a utilidade/satisfação do Indivíduo
X passa a ser zero (ele só obtém satisfação consumindo os dois bens).

Suponha que um Indivíduo Y tenha uma determinada função utilidade de


consumo entre arroz e feijão. Consideremos agora o impacto na escolha do consumidor
diante do aumento de sua renda, como por exemplo, de 𝑅1 = 100 para 𝑅2 = 150, e
com preços constantes dos bens, conforme ilustrado na Figura 151.

Figura 151 Impacto de um aumento na renda com preços constantes.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Como os preços não variam, e assim o preço do arroz é de 𝑃𝐴 = 4 e o preço do


feijão é de 𝑃𝐹 = 5, temos esta nova restrição orçamentária com 𝑅 = 150, expressa por

4𝐴 + 5𝐹 = 150;
4𝐴 = 150 − 5𝐹;
5
𝐴 = 37,5 − ( ) 𝐹.
4

Graficamente, como o preço dos bens é constante, a reta de restrição


orçamentária se desloca paralelamente para a direita (o coeficiente angular é o mesmo),
e assim, o consumidor escolhe uma nova cesta que faça parte de uma curva de
preferência mais distante da origem, num ponto de tangência igual à da restrição
orçamentária.

Verificamos que neste novo ponto de consumo, a quantidade de arroz consumida


pelo Indivíduo Y passa de 12,5kg para 15kg (um aumento de 20% na quantidade), e a

21
Devido ao caráter introdutório, nos exemplos gráficos não serão consideradas as funções utilidades
formalizadas em expressões matemáticas. Isto será estudado num curso de Microeconomia I.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
184

de feijão de 10kg para 18kg (um aumento de 80% na quantidade), diante de um


aumento de renda de 50%. Lembremos também que o preço do feijão é 25% superior do
que o preço do arroz (o preço do feijão é 5, e o preço do arroz é 4); assim podemos
deduzir que este consumidor possui maior preferência ou adquire maior utilidade
marginal do feijão do que do arroz (mesmo sem saber a expressão matemática da função
utilidade deste consumidor).

Suponha agora que um Indivíduo Z considere o arroz como um bem inferior,


assim, um aumento na renda fará com que ele diminua sua quantidade de consumo de
arroz. Este caso pode ser ilustrado através das curvas de preferências (ou de diferentes
utilidades constantes) apresentadas na Figura152.

Figura 152 Impacto de um aumento na renda com


preços constantes (um bem normal e um bem inferior).

Fonte: KUME.

Verificamos que a função utilidade do Indivíduo Z é diferente da utilidade do


Indivíduo Y. O Indivíduo Z, com renda de 𝑅 = 100, consome 10kg de arroz (enquanto
o Indivíduo Y consome 12,5kg) e 12kg de feijão (enquanto o Indivíduo Y consome
10kg). No entanto, com um aumento de renda de 50%, ele passa a consumir 25kg de
feijão (o que representa um aumento de 108,33% na quantidade), e passa a consumir
6,3kg de arroz (o que representa uma diminuição em 37% na quantidade de consumo) –
e assim, ele obtém uma satisfação maior.

Nos dois casos verificamos que há uma substituabilidade entre os dois bens, mas
com limites de mínimos de consumo para cada um dos diferentes bens. Em outras
palavras, caso o consumo de qualquer um dos bens seja zero, ou inferior a este limite
mínimo, a utilidade total (ou satisfação) do consumidor será zero.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
185

Consideremos agora a renda de um indivíduo constante, mas um aumento no


preço do arroz. Isto modifica a inclinação da reta da restrição orçamentária, pois agora o
preço do arroz se torna relativamente mais caro, e assim caso ele queira consumir a
mesma quantidade de arroz antes do aumento de preço, ele precisaria consumir uma
quantidade menor de feijão. Diante desta nova restrição orçamentária, ele passará a
consumir num ponto de uma curva de utilidade inferior, onde esta se tangencia com a
sua nova restrição orçamentária, conforme ilustrado na Figura 153.

Figura 153 Impacto de um aumento no preço do arroz com renda constante.

Fonte: KUME.

Verificamos que tanto a quantidade de arroz quanto a de feijão diminuem por


conta desta diminuição relativa de renda – no sentido em que a reta de restrição
orçamentária se torna mais inclinada, devido a menor oportunidade em comprar arroz
diante de seu aumento de preço. No entanto, é interessante decompormos estas
variações nas quantidades por conta do efeito substituabilidade (entre arroz e feijão) e o
efeito renda (maior restrição orçamentária por conta do maior preço do arroz).

Graficamente, verificamos que após o aumento do preço de arroz, o consumidor


obtém uma utilidade 𝑈1 < 𝑈2 . Para checarmos o quanto as quantidades variam pelo
efeito substituabilidade, basta traçarmos uma reta paralela à nova restrição orçamentária
que tangencie a curva de utilidade em 𝑈2 (antes do aumento do preço), conforme é
verificado na Figura 153. O ponto de consumo é apresentado pela letra B, o que nos
mostra que o efeito substituabilidade faz diminuir a quantidade de arroz e aumentar a
quantidade de feijão. Já a diferença entre o ponto representado pela letra B e pela letra C
(do novo ponto de consumo) nos ilustra o efeito renda – e por este efeito, tanto a
quantidade de arroz quanto a de feijão diminuem.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
186

Caso o arroz fosse visto como um bem inferior, o efeito renda provado por seu
aumento de preço aumentaria o seu consumo, conforme ilustrado na Figura 154.

Figura 154 Impacto de um aumento no preço do arroz com renda constante


(arroz como bem inferior, e feijão como bem normal).

Fonte: KUME.

Nesta ilustração gráfica verificamos que tanto a quantidade de arroz quanto a de


feijão diminuem; no entanto, podemos observar que o efeito substituabilidade diminui a
quantidade de arroz de uma forma maior do que no novo ponto de consumo
representado pela letra 𝐶. Assim, o efeito renda pode ser representado entre a diferença
da nova quantidade de consumo no Ponto C e a quantidade que seria consumida num
Ponto B (caso a renda do consumidor também aumentasse possibilitando que ele
obtivesse a mesma utilidade 𝑈2 antes do aumento do preço do arroz). O efeito renda
neste caso é positivo devido ao arroz se visto como um bem inferior.

No caso do arroz como bem inferior, verificamos que o seu aumento de preço
(que implica em renda relativa ou disponível para o consumo menor), gera tanto um
efeito substituabilidade negativo quanto um efeito renda positivo na variação da
quantidade do arroz, conforme vimos na Figura 154.

No entanto, é possível que o efeito renda supere o efeito substituabilidade, de


uma forma que uma diminuição relativa da renda (pelo aumento do preço do arroz)
possa provocar num aumento da quantidade consumida de arroz. Neste caso particular,
o arroz seria chamado de Bem de Giffen22. Este caso é ilustrado na Figura 155.

22
Em Economia, Bem de Giffen consiste em uma teoria que segue a ideia contrária da lei da oferta e da
demanda. Os bens de Giffen se referem àqueles que são mais procurados quando seus preços aumentam.
Assim, Bens de Giffen podem ser considerados como uma espécie especial de bem inferior; quando temos
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
187

Figura 155 Impacto de um aumento no preço do arroz com renda constante


(arroz como bem de Giffen, e feijão como bem normal).

Fonte: KUME.

Neste caso verificamos que diante do aumento do preço do arroz (representado


como uma diminuição relativa da renda) faz com que a quantidade de arroz aumente.
Desta forma, o efeito substituição é menor do que o efeito renda na variação da
quantidade de arroz; e assim, o seu consumo aumenta com seu preço mais elevado.
Verificamos também que pelo efeito substituição, a quantidade de feijão aumenta; no
entanto, o efeito negativo da renda é mais forte, fazendo com que a quantidade de feijão
diminua diante desta nova restrição orçamentária. Podemos interpretar que para este
consumidor, o arroz é considerado como um bem mais essencial.

Uma crítica importante em relação a Teoria do Consumidor Racional se refere


sobre a hipótese de que informação perfeita, no sentido que é questionado se os
consumidores realmente conhecem ou têm informações perfeitas sobre os bens para
assim escolher de forma racional.

Exercício 31. Para cada uma das situações seguintes, trace um diagrama contendo três
curvas de indiferença de Isabel. (a) Carros e pneus são complementares perfeitos na
proporção 1 por 4, isto é, para cada carro ela quer exatamente 4 pneus. Coloque pneus
no eixo horizontal e carros no vertical. (b) Ela obtém utilidade de seu consumo de
cafeína. Ela pode consumir uma xícara grande de café ou um refrigerante com cafeína.
A xicara de café tem o dobro de cafeína do refrigerante. Coloque refrigerante no eixo
horizontal e xícaras de café no vertical. (c) Ela obtém utilidade ao consumir

produtos em que a demanda/procura aumenta mesmo quando o seu preço tem um aumento, e a procura
cai quando o preço diminui.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
188

refrigerante, mas não obtém utilidade consumindo água. Água a mais ou a menos deixa
seu nível utilidade na mesma. Coloque água no eixo horizontal e refrigerante no
vertical.

Exercício 32. Um consumidor tem uma renda de R$3 mil. O vinho custa R$3 por copo
e o queijo R$6 por quilo. (a) Represente graficamente a restrição orçamentária deste
consumidor. Coloque a quantidade de vinho no eixo vertical. (b) Qual é a inclinação
dessa restrição orçamentária? (c) Qual é o significado econômico desta inclinação?

Exercício 33. Utilizando a restrição orçamentária do Exercício 32 e considerando que


há infinitas curvas de indiferença, (a) mostre graficamente a escolha ótima do
consumidor, indicando com a letra C; b) assinale com a letra D um ponto a esquerda do
ponto de escolha ótima. Explique porque o ponto D não pode ser de escolha ótima deste
consumidor. (c) Assinale no gráfico com a letra E um ponto a direita do ponto de
escolha ótima. Explique porque o ponto E não pode ser de escolha ótima deste
consumidor.

Exercício 34. Com as informações do Exercício 32, considere que a renda do


consumidor passa de R$3 mil para R$4,5 mil, mas os preços dos dois bens permanecem
constantes. Mostre graficamente o novo ponto de escolha ótima e o que acontece com a
quantidade dos dois bens considerando que (a) os dois bens são normais; (b) o queijo é
um bem inferior. (c) O queijo e o vinho podem ser inferiores?

Exercício 35. Continuando com as informações apresentadas no Exercício 32,


considere que o preço do queijo aumenta de R$6 para R$12 por quilo, enquanto a renda
permanece em R$3 mil. (a) Mostre graficamente o que acontece com as quantidades
consumidas de queijo e vinho (não é preciso calcular as novas quantidades, basta indicar
a direção); (b) e decomponha graficamente a variação na quantidade de queijo em efeito
renda e efeito substituição. (c) Explique o significado econômico dos efeitos renda e
substituição. (d) Em que condição, o aumento no preço do queijo pode induzir uma
elevação na quantidade consumida? Vide soluções na seção final do caderno Soluções
dos exercícios propostos.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
189

7 – INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS DE INFORMAÇÃO


ASSIMÉTRICA E ESCOLHA PÚBLICA

7.1 – Informação assimétrica , risco moral e seleção adversa

Em economia, dizemos que ocorre informação assimétrica quando entre duas


partes que estejam envolvidas em uma transação (como por exemplo, em uma troca,
compra ou venda), uma pessoa saiba mais do que a outra, ou seja, quando uma das
partes tenha mais informação sobre o que está sendo transacionado do que a outra.

A informação pode ser assimétrica quando tanto uma ação quanto uma
característica pode ser oculta.

Considere por exemplo, a relação entre uma empresa (ou empregador) e um


funcionário (ou empregado). Suponha que uma empresa queira saber o quanto os
funcionários se esforçam no trabalho. Esta ação, de esforço, pode ser oculta pelos
funcionários; pois somente cada um saberá o seu nível de esforço pessoal que aplica.

Considere agora a relação entre uma pessoa que queira vender seu carro usado, e
uma outra que seja potencial compradora. A potencial compradora pode querer saber se
o carro está em “bom estado” no geral. No entanto, esta característica do carro pode ser
oculta pela que está vendendo, pois só ela que está acostumada a dirigir o carro que
sabe.

Esta possibilidade de assimetria de informação gera o risco moral. Este risco


moral consiste quando uma pessoa (ou agente econômico) passa uma informação errada
sobre uma característica de um produto que só ele sabe; ou quando ele age de uma
forma imprópria em algum serviço, sabendo que só ele sabe sobre sua ação.

A Microeconomia utiliza da Teoria do Agente Principal para solução de


problemas relacionados ao risco moral, onde divide-se as pessoas em duas espécies de
atores: um agente (aquele que pode ocultar a informação) e o principal (que oferece
benefícios ao agente, e obtém retornos em função das ações do agente).

No caso de nosso primeiro exemplo, da relação entre uma empresa e o esforço


de um funcionário; o risco moral pode estar relacionado com um comportamento
inadequado ou imoral do empregado “não trabalhar com dedicação”. Neste caso o
funcionário é o agente, e a empresa (que obtém retornos em função da produtividade de
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
190

seus funcionários) é o principal. Uma solução do sistema de mercado pode ser da


empresa oferecer salários baixos (presumindo que os funcionários irão se esforçar
pouco).

No nosso segundo exemplo, da relação entre um vendedor de carro usado e um


comprador; o risco moral consiste se o vendedor do carro anunciar que o carro esteja
bom, mas sabendo que ele “costuma” apresentar defeitos. Um outro exemplo parecido
seria com a venda de um celular usado, que aparentemente possa estar bom e que seja
anunciado como “em perfeito estado”, mas que costuma travar, ou que esteja com a tela
prestes a queimar (e somente com o uso prolongada este defeito possa ser perceptível
pelo usuário). Uma solução do sistema de mercado pode ser dos compradores terem
disposições a pagar a preços menores tanto pelos carros quanto pelos celulares usados
(presumindo que possam vir a apresentar defeito).

Um outro exemplo pode ser visto na relação entre uma seguradora de carros
(principal) e os segurados (agente). Um risco moral poderia consistir no agente não
colocar o carro em estacionamento, pois em caso de roubo está protegido. Assim o
principal (no caso a seguradora, presumindo que seus segurados possam a se arriscar
mais) pode vir a cobrar um prêmio maior.

Em todos estes casos, tais soluções exemplificadas são chamadas de seleção


adversa – e que podem gerar um resultado contrário ao desejado. No caso da empresa
que diminui o salário, os funcionários bons podem acabar por deixar a firma; no caso
dos compradores de carros e celulares usados que se dispõem a pagar por um preço
menor, os proprietários de carros e celulares usados bons podem deixar de vender; e no
caso da seguradora de carro que passa a cobrar um prêmio maior, os clientes que sejam
mais cuidadosos podem deixar de fazer o seguro.

Assim, verificamos que na presença de informação assimétrica, o sistema de


mercado deixa de funcionar adequadamente.

Como um meio para tentativa de amenizar a informação assimétrica,


normalmente são usadas medidas para obter informações. No caso de uma empresa que
busca um funcionário, ela pode buscar sinais apresentados por um potencial candidato a
determinada vaga através de seu currículo, como por exemplo, se a escola que estudou
possui boa reputação, se fez curso de pós-graduação, etc. Da mesma forma, uma
seguradora de automotivos pode tentar identificar as características dos segurados.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
191

Assim, no caso de uma empresa, ela pode oferecer um salário maior do que a do
mercado, através de um salário eficiência, ou de gratificações com base no desempenho.
No caso de uma seguradora, elas podem oferecer prêmios (preço do seguro)
substancialmente menores se a franquia (parcela da responsabilidade do segurado) é
elevada. Outros exemplos que podemos citar, sobre a qualidade de um produto
comestível, pode ser por conta de franquias de redes de restaurantes e fast food, como
por exemplo McDonald’s, Burguer King, etc., onde os produtos são padronizados. Para
outros tipos de bens/produtos comercializados, a oferta de uma garantia também pode
ajudar o problema da assimetria da informação. De uma forma geral, empresas podem
buscar ter uma boa reputação no mercado como vendedoras de bons produtos.

Sobre uma intervenção governamental quando o mercado não consegue


solucionar problemas de informação assimétrica, esta também apresenta dificuldades,
pois governos normalmente não dispõem de mais informações, e uma intervenção
errada pode provocar resultados piores.

7.2 – Teoria da escolha pública (paradoxo eleitoral e teorema do


eleitor mediado)

Nesta seção, iremos analisar o Paradoxo Eleitoral de Condorcet (teórico político


francês do século XVIII). Normalmente, se há duas opções, o processo eleitoral
normalmente funciona.

Considere por exemplo, uma decisão pública através de votação sobre a


localização de um parque público, onde há somente dois locais possíveis, um Local A e
um Local B, conforme ilustrado no diagrama da Figura 156.

Figura 156 Escolha pública entre duas localizações para um parque.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
192

Considere agora que hajam três locais possíveis para o parque, um Local A, um
Local B, e um Local C; e também que hajam três tipos de eleitores com diferentes
preferências, conforme ilustrado na Tabela 27.

Tabela 27 Preferências de três tipos de eleitores sobre três possíveis localizações de um parque.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Neste caso, supomos que no processo eleitoral, cada eleitor pôde escolher os
locais conforme suas preferências.

Primeiramente, podemos analisar o resultado obtido entre as preferências pelos


locais A e B. Verificamos que os eleitores do Tipo 1 e do Tipo 3 preferem o Local A em
relação ao Local B, somando 55%. Já os eleitores do Tipo 2 preferem o Local B, com
45% de peso. Assim, entre os locais A e B, a escolha preferida é do Local A.

Já entre os locais B e C, verificamos que os eleitores do Tipo 1 e do Tipo 2


preferem o Local B, somando 80%; enquanto somente os eleitores do Tipo 3 preferem o
Local C em relação ao Local B, representando apenas 20%. Assim, a opção do Local B
é preferível em relação ao Local C.

Pelo princípio da transitividade, a preferência entre o Local A é maior do que


pelo Local B; e a preferência pelo Local B é maior do que pelo Local C; e assim, a
preferência pelo Local A é maior do que pelo Local C – e assim a opção de escolha é
pelo Local A.

Considere agora que sejam avaliadas as preferências entre os locais A e C.


Verificamos na Tabela 27 que os eleitores do Tipo 2 e Tipo 3 preferem o Local C, num
total de 65%; enquanto apenas eleitores do Tipo 1 preferem o Local A, representando
35% da população. Assim, o Local C é preferível.

Agora, analisando as preferências entre os locais A e B, como já vimos, 55% dos


eleitores preferem o Local A, enquanto apenas 45% dos eleitores (do Tipo 2) preferem o

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
193

Local B. Assim, o Local A é preferível ao Local B. Pelo princípio da transitividade,


verificamos que como a opção do Local C é preferível em relação ao Local A, e como o
Local A é preferível em relação ao Local B, assim podemos concluir que o Local C é
preferível em relação ao Local B; e assim a opção é pelo Local C.

Considere agora que o governo analise primeiramente as preferências entre os


locais B e C. Como já vimos, a opção B é preferível em relação a do Local C. Agora,
caso o governo resolva observar as preferências entre os locais A e C, como já vimos
também, a opção pelo Local C é preferida. Novamente, caso apliquemos o princípio da
transitividade, como o Local B é preferível ao Local C; e o Local C é preferível em
relação ao Local A, assim o Local B seria preferível em relação também ao Local A, e a
opção seria então pelo Local B.

Desta forma, verificamos que através de um mesmo resultado, dependendo da


forma de análise, as opções escolhidas podem ser tanto do Local A, do Local B ou do
Local C. Neste exemplo, utilizamos as preferências para a construção de um parque em
determinado local, mas isto também pode ser aplicado para uma escolha pública de
eleições para representantes políticos.

Este exemplo nos ilustra o Paradoxo de Condorcet, e assim verificamos que os


resultados democráticos nem sempre obedecem ao princípio da transitividade. Isto
implica que quando há mais de duas opções, a ordem em que é apresentada as escolhas
pode ter impacto sobre o resultado; e o voto da maioria não é suficiente para determinar
os desejos da sociedade.

Uma solução alternativa consiste na Contagem de Borda. Assim, para cada


eleitor, atribui-se uma pontuação, como por exemplo, 1 ponto para a última preferência,
e aumentando 1 ponto para as anteriores; como 2 pontos para a penúltima preferência, 3
pontos para a antepenúltima, e assim por dia.

No nosso exemplo da escolha pela localização do Parque, verificamos que 35%


dos eleitores do Tipo 1 preferem a localização A, seguida pela localização B (como
segunda opção), e depois seguida pela localização C (terceira opção).

Aplicando o esquema de pontuação, podemos dizer que os eleitores do Tipo 1


têm uma preferência por 1 × 35% = 35% pelo parque no Local C, 2 × 35% = 70%
pelo parque no Local B, e 3 × 35% = 105% pelo parque no Local A.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
194

Fazendo isto para cada tipo de eleitor, a Tabela 28 nos ilustra os resultados
obtidos por tais pontuações.

Tabela 28 Preferências de três tipos de eleitores sobre três


possíveis localizações de um parque de forma pontuada.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Agora podemos fazer a Contagem de Borda, simplesmente somando todos


resultados obtidos ponderados pelos pontos, conforme apresentados na Tabela 29.

Tabela 29 Contagem de borda sobre localização de um parque.

Fonte: KUME.

Neste caso, verificamos que a opção escolhida é pelo Local B.

Segundo Kenneth Arrow (premiado em 1972 pelo Prêmio Nobel em Ciências


Econômica), um sistema eleitoral perfeito deveria atender pelo menos quatro requisitos.
Considerando nosso exemplo com três opções de escolhas (A, B e C), seguem-se tais
requisitos.

1. Unanimidade: se todos preferirem uma opção A em relação a uma opção


B, então a opção A deve superar a opção B.
2. Transitividade: se a escolha pela opção A supera a escolha pela opção B,
e a escolha pela opção B supera a escolha pela opção C, então a escolha
pela opção A deve superar a escola pela opção C.
3. Independência de alternativas irrelevantes: a escolha entre as opções A e
B não deve depender de C.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
195

4. Ausência de ditadores: não deve existir nenhuma pessoa que vença,


independentemente das preferências de todas as demais.

Verificaremos agora se a Contagem de Borda atende o critério de independência


em relação a alternativas irrelevantes. Como visto na Tabela 29, a opção C seria a
irrelevante, pois seria a que teria menor número de pontos.

Retirando a opção pelo Local C, a Tabela 30 nos ilustra como ficariam as opções
dos três tipos de eleitores somente diante das preferências pelos locais A e B.

Tabela 30 Preferências dos eleitores excluindo o Local C.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Adotando o mesmo sistema de pontos (1 ponto para a 2ª opção, e 2 pontos para a


1ª opção), obtemos o seguinte resultado conforme expresso na Tabela 31.

Tabela 31 Preferências dos eleitores excluindo o Local C e adotando sistema de pontos.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

A Contagem de Borda deste exemplo pode ser expressa conforme Tabela 32.

Tabela 32 Contagem de borda excluindo o Local C.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
196

Verificamos assim que retirando a Opção C, a preferência mudou de B para A –


assim, o resultado depende de ter a Opção C.

Segundo o Teorema da Impossibilidade de Arrow, o sistema eleitoral é falho


como um mecanismo de escolha social que permita agregar as preferências individuais
de uma sociedade.

Em uma sociedade democrática, a escolha pública pode ser determinada pelo


Teorema do Eleitor Mediano. Suponha que um governo deseja questionar a uma
amostra populacional de 100 eleitores sobre o quanto ele deveria gastar com as forças
armadas, apresentando cinco alternativas onde cada eleitor deva escolher somente uma.
As alternativas apresentadas, em bilhões de reais, são de 0, 5, 10, 15 e 25. Um possível
resultado pode ser ilustrado conforme gráfico em torres da Figura 157.

Figura 157 Eleitores segundo preferências crescentes de gastos em forças armadas.

Fonte: KUME.

Em estatística, devemos ter em mente três noções/conceitos.

• Média ponderada: valor escolhido por cada eleitor, ponderado pelo


número de eleitores.
• Moda: valor com maior número de eleitores (valor mais frequente).
• Mediana: valor que divide na metade o número de eleitores (metade da
distribuição de eleitores).

Verificamos que caso seja adotada a média, o gasto em forças armadas escolhido
será de 9 bilhões de reais; no entanto, caso seja adotada a moda (o valor escolhido por
um maior percentual de eleitores), o gasto em forças armadas escolhido será de 15
bilhões de reais.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
197

Para a Teoria da Escolha Pública, deve-se haver um princípio convencional de


“interesse público”. Neste caso, as pessoas procuram promover o bem comum; e assim,
empresários, eleitores, políticos e “policy makers” deixariam de lado os seus interesses
específicos, e tomariam decisões com base no interesse público.

O grande problema consiste que normalmente as pessoas buscam pelos seus


próprios interesses. Muitas vezes, eleitores se preocupam com medidas que afetem a sua
renda e poiam quem defende seus interesses; funcionários públicos tomam decisões
baseadas na sua carreira; e políticos acabam tendo como objetivo a eleição ou reeleição.

Assim, a Teoria da Escolha Pública transfere o comportamento racional dos


indivíduos para o campo da política, tendo como unidade de análise o indivíduo. Desta
forma, perdem sentido os conceitos de “as pessoas”, “a comunidade” e “a sociedade”.
Podemos dizer que as decisões privadas e públicas podem ser idênticas nas suas
motivações, mas com diferenças apenas nos incentivos e nas restrições.

Exercício 36. Três amigos estão escolhendo um restaurante para jantar. A Tabela E36
mostra as preferências de cada um.

Tabela E36 Preferências para desenvolvimento do Exercício 36.

Fonte: KUME.

(a) Se eles empregarem a contagem de Borda para decidir, onde irão jantar? Mostre
como chegou ao resultado. (b) Quando estão a caminho do restaurante escolhido,
percebem que os restaurantes francês e mexicano estão fechados, então usam a
contagem de Borda mais uma vez entre as duas opções que restam. Qual restaurante
será escolhido? Mostre novamente como obteve a resposta. (c) De que modo as
respostas dos itens (a) e (b) se relacionam com o teorema da impossibilidade de Arrow?

Exercício 37. Considere que uma prefeitura tem um projeto para construção de um
museu na cidade. Há três locais disponíveis: A, B e C. A decisão será baseada nas
preferências indicadas por três vereadores conforme mostradas na Tabela E37.
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
198

Tabela E37 Preferências para desenvolvimento do Exercício 37.

Fonte: KUME.

O prefeito resolve estabelecer um sistema de escolha pedindo que os vereadores


indiquem a preferência para cada par de locais. Primeiro, entre A e B; segundo, entre B
e C; e, terceiro, entre A e C. Nesse caso, ocorre o paradoxo de Condorcet? Vide
soluções na seção final do caderno Soluções dos exercícios propostos.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
199

REFERÊNCIAS

KUME, H. Curso de Introdução à Economia I (FCE02-04565). Ofertado pelo


Departamento de Análise Quantitativa (DAQ) da Faculdade de Ciências Econômicas
(FCE) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) no primeiro semestre do
ano letivo de 2012.

HALL, R. E. e LIEBERMAN, M. Microeconomia: princípios e aplicações. São Paulo:


Pioneira, 2003.

HUBBARD, R. G. e O’BRIEN, A. P. Microeconomics. 5ª ed. Harlow: Pearson


Education Limited, 2015.

KRUGMAN, P. e WELLS, R. Introdução à Economia. Rio de Janeiro: Editora


Campus-Elesevier, 2006.

MANKIW, N. G. Principles of Microeconomics. 5ª ed. Mason: South-Western


Cengage Learning, 2008.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
200

SOLUÇÕES DOS EXERCÍCIOS PROPOSTOS

Exercício 1. (a) O benefício marginal de se comprar o livro no Submarino.com


consiste na diferença de preços. Comprando online, o preço do livro é de R$100,00, e o
preço do frete é de R$10,00; assim o custo total é de R$110,00. Comprando na Saraiva
(localizado no térreo da Universidade de Hillary), o preço é de R$120,00. Portanto, o
benefício marginal de se comprar o livro no Submarino.com em relação a comprar na
Saraiva corresponde ao dinheiro poupado, de 𝑅$120,00 − 𝑅$110,00 = 𝑅$10,00. O
custo oportunidade de se comprar na Submarino.com consiste no tempo de espera de
sete dias úteis para obter o livro – levando em consideração que na loja localizada no
térreo de sua universidade ela obtém o livro de forma imediata.

(b) A decisão de Hillary para comprar na Submarino.com vai depender se o benefício


marginal é superior ao custo marginal. Assim, ela comprará na Submarino.com caso
julgue o tempo de espera de sete dias úteis para ter o livro inferior ao valor de R$10,00.
Caso ela tenha uma prova nos próximos dias, e precise o livro de imediato,
provavelmente ela atribuirá o valor de espera de sete dias úteis um valor alto, superior a
dez reais, e comprará o livro na Saraiva. Caso ela esteja em início de curso, e não
precise do livro de forma imediata, provavelmente ela atribuirá o tempo de espera de
sete dias a valores próximos de zero; e assim comprará o livro na Submarino.com.

Exercício 2. O benefício marginal de um copo de água depende das circunstâncias. Se


você está com muita sede – acabou de correr 3 quilômetros – o benefício marginal é
elevado. Se você bebeu muito líquido nas últimas horas, o benefício marginal é
pequeno. Em resumo, apesar da água ser essencial para a vida, nem sempre tem
benefício marginal elevado.

Exercício 3. (a) De acordo com a Tabela E3, a fronteira de possibilidade de produção


(FPP) é ilustrada pelo gráfico da Figura E3.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
201

Figura E3 Fronteira de possibilidade de produção do Exercício 3.

Elaboração do autor.

(b) O ponto que representa a combinação de 500 quilos de peixe e 800 quilos de batata
está desenhado na Figura E3, no entanto esta economia não consegue produzir neste
ponto, pois está fora de sua fronteira de possibilidade de produção.

(c) Aumentando a produção de 600 quilos de batatas para 800 quilos, a produção de
peixes cai de 500 quilos para 300 quilos; logo o custo de oportunidade deste aumento de
produção é de 200 quilos de peixe, ou seja, o custo de oportunidade de produzir 1 quilo
de batata é 1 quilo de peixe.

(d) Aumentar a produção de batatas de 200 quilos para 400 quilos implica em reduzir a
produção de peixes de 650 quilos para 600 quilos; ou seja, nesta escolha a produção
marginal de 200 quilos de batatas implica deixar de produzir 50 quilos de peixe; e assim
o custo de oportunidade de se produzir 1 quilos de batata é 250 gramas de peixe.

(e) As respostas são diferentes porque os custos de oportunidade são crescentes. Uma
forma razoável de se pensar é que isto ocorre porque se a economia produz mais batatas,
precisa utilizar de terras cada vez menos apropriadas para o cultivo de batatas (menos
férteis), e assim é necessário deslocar maiores quantidades de recursos da atividade de
pesca para o cultivo de batatas. Neste caso, a inclinação da curva de fronteira de
produção é mais acentuada conforme aumenta a produção de batatas, ou em termo
matemático, esta curta de FPP não é linear, mas apresenta concavidade em relação aos
eixos.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
202

Exercício 4. (a) Pela Tabela E4A, o preço de equilíbrio é de R$15,00 por quilo, e a
quantidade de equilíbrio é de 600kg. As curvas de oferta e demanda estão ilustrados na
Figura E4A.

Figura E4A Curvas de oferta e demanda de lagostas do Exercício 4A.

Fonte: KUME.

(b) Com o aumento do número de consumidores (ou do tamanho de mercado), passando


a incluir compradores norte-americanos da lagosta brasileira; a demanda total passa a
incluir a demanda interna (dos brasileiros) e da demanda externa (dos norte-
americanos). A Tabela E4C nos mostra esta nova demanda total.

Tabela E4C Demanda total das lagostas brasileiras.

Fonte: KUME.

(c) O novo preço de equilíbrio será de R$20,00 por quilo, e a nova quantidade de
equilíbrio será de 700 quilos. Esta nova curva de demanda com maior número de
consumidores e novo ponto de equilíbrio é ilustrado na Figura 4B.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
203

Figura E4B Curvas de oferta e demanda de lagostas do Exercício 4C.

Fonte: KUME.

(d) O preço pago pelo quilo da lagosta pelos brasileiros aumenta e passa a ser de
R$20,00, e assim a quantidade demandada pelos brasileiros cai para 400 quilos. A
possibilidade de exportação representa uma ampliação da demanda, levando ao aumento
no preço e desestímulo ao consumo interno. Note que parte da demanda dos EUA de
300 quilos é atendida via redução do consumo interno de 600 para 400 quilos e um
aumento na produção de 100 quilos.

Exercício 5. Tendo a informação de que 𝑄𝐷 = 45 − 2𝑃 e 𝑄𝑂 = −15 + 𝑃, e sabem


que a quantidade em equilíbrio equivale que 𝑄 ∗ = 𝑄𝐷 = 𝑄𝑂 , igualamos as equação e
determinamos 𝑃 de equilíbrio, de forma que

45 − 2𝑃 = −15 + 𝑃;
3𝑃 = 60;
60
𝑃= = 20.
3

Verificamos assim que o preço de equilíbrio é de R$20,00; resolvendo qualquer uma


das equações com o 𝑃 de equilíbrio, obtemos que

45 − 2(20) = −15 + 20 = 5.

Assim, a quantidade de equilíbrio é de 5.000 latas de um litro. O gráfico destas curvas


de oferta e demanda e seu ponto de equilíbrio é apresentado na Figura E5.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
204

Figura E5 Curvas de oferta e demanda do Exercício 5.

Fonte: KUME.

Exercício 6. A demanda de um mercado é dada pela equação 𝑄𝐷 = 100 − 2𝑃 + 𝑅, e


a oferta por 𝑄𝑂 = 40 + 4𝑃. Sabemos que em equilíbrio, 𝑄𝐷 = 𝑄𝑂 . (a) No caso de 𝑅 =
60, 𝑄𝐷 = 100 − 2𝑃 + 60 = 160 − 2𝑃. Assim, igualando as equações, temos que

160 − 2𝑃 = 40 + 4𝑃;
6𝑃 = 120;
120
𝑃= = 20.
6

Obtemos então que o preço de equilíbrio é de R$20,00; e assim podemos calcular que a
quantidade de equilíbrio seja em toneladas de

𝑄 ∗ = 40 + 4(20) = 40 + 80 = 120.

A solução gráfica é apresentada na Figura E6.

(b) No caso de 𝑅 = 90, temos que 𝑄𝐷 = 100 − 2𝑃 + 90 = 190 − 2𝑃. Igualando às


expressões de quantidade de oferta e demanda, obtemos o preço de equilíbrio, de forma
que

190 − 2𝑃 = 40 + 4𝑃;
6𝑃 = 150;
150
𝑃= = 25.
6

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
205

Tendo verificado que o preço de equilíbrio agora seja de R$25,00, obtemos a


quantidade de equilíbrio em toneladas substituindo o novo preço de equilíbrio em
qualquer uma das equações, de forma que

𝑄 ∗ = 190 − 2(25) = 190 − 50 = 140.

Neste caso, verificamos que o efeito do aumento da renda aumenta tanto o preço quanto
a quantidade de equilíbrio. A solução gráfica deste caso é também apresentada na
Figura E6.

Figura E6 Curvas de oferta e demanda do Exercício 6.

Fonte: KUME.

Exercício 7. Pela Tabela E7, podemos observar que para o Grupo A, o desconto de
10% no preço de cada livro, faz com que a demanda aumente de 1,55 milhões para 1,65
milhões, ou seja, um aumento de 0,1 milhões. Para o Grupo B, este desconto faz com
que a demanda aumente de 1,50 milhões para 1,70 milhões, ou seja, um aumento de 0,2
milhões de livros. O ponto médio da demanda do Grupo A é de 1,6 milhões; e do grupo
B também de 1,60 milhões. Já para o preço, como o preço anterior é de R$10,50, e o
preço com desconto é de R$9,50; o preço médio é de R$10,00, e a variação de preço é
de -R$1,00. (a) Usando o método do ponto médio, podemos calcular a elasticidade-
preço da demanda para cada grupo, de forma que

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
206

0,1
1,6 1
|𝜀𝑃 𝐴𝐷 | = | |=| | = |0,625|.
−1 −1,6
10
0,2
1,6 2
|𝜀𝑃 𝐷 |=| |=| | = |1,25|.
𝐵 1 −1,6
− 10

(b) Verificamos que a elasticidade-preço da demanda neste ponto médio é de 0,625, ou


seja, é inelástica, pois |𝜀𝑃 𝐴𝐷 | < 1 para o Grupo A. Isto implica que o desconto para este
grupo afetará em perda na receita total, pois o aumento na demanda não compensa a
diminuição do preço. Já para o Grupo B, observamos que a elasticidade-preço da
demanda neste ponto médio é de 1,25, ou seja |𝜀𝑃 𝐷
𝐵
| > 1 é elástica. Assim, este
desconto para este grupo gera um efeito de ganhos para a receita total, pois o aumento
na demanda compensa a redução do preço.

(c) Caso a firma possa discriminar o desconto perfeitamente entre cada grupo de
consumidores; ela poderá obter ganhos ofertando este desconto (seja via cupons online
para clientes selecionados) para o Grupo B, que possui elasticidade-preço da demanda
neste ponto elástica.

Exercício 8. Sendo a função demanda dada por 𝑄 = 60/𝑃, sendo 𝑄 a quantidade, e 𝑃


o preço; (a) para 𝑃 = 1, 𝑄 = 60; para 𝑃 = 2, 𝑄 = 30; para 𝑃 = 3, 𝑄 = 20; para 𝑃 = 4,
𝑄 = 15; para 𝑃 = 5, 𝑄 = 12; e para 𝑃 = 6, 𝑄 = 10. (b) A Figura E8A nos ilustra esta
curva de demanda.

Figura E8A Curva de demanda aproximada do Exercício 8.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
207

(c) Quando o preço aumento de R$1,00 para R$2,00, isto implica uma variação na
demanda de 60 unidades para 30 unidades. Isto implica um 𝛥𝑃 = 𝑅$1,00 e 𝛥𝑄 = −30.
Os pontos médios de preço e quantidade são de respectivamente R$1,50 e 45 unidades.
Assim,

30
− 45
𝐷
|𝜀𝑃1,𝑃2 | = | 45 | = |− | = 1.
1 45
1,50

Para o caso de quando o preço aumenta de R$5,00 para R$6,00, a demanda cai de 12
unidades para 10 unidades; assim 𝛥𝑃 = 𝑅$1,00 e 𝛥𝑄 = −2𝑢; e os pontos médios de
preço e quantidade serão respectivamente de R$5,50 e 11 unidades. Podemos calcular a
elasticidade-preço da demanda pelo ponto médio da seguinte forma,

2
− 11 11
𝐷
|𝜀𝑃5,𝑃6 |=| | = |− | = 1.
1 11
5,50

(d) Verificamos que a elasticidade-preço da demanda pelo ponto médio é unitária para
todos valores desta curva de demanda. Apesar de na ilustração da Figura E8A esta curva
de demanda possa parecer ser linear, ela trata-se de uma curva de demanda em formato
de hipérbole equilátera. Por sua vez, em curvas de demanda linear, as elasticidades-
preço da demanda variam aos vários preços. A Figura E8B nos ilustra melhor o formato
desta curva de demanda.

Figura E8B Curva de demanda do Exercício 8.

Elaboração do autor.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
208

Exercício 9. Pela Figura E9, verificamos que sem intervenção governamental, o preço
do milho em equilíbrio é de R$3,00 por tonelada, e a quantidade de equilíbrio é de
1.000 toneladas. (a) Com um preço mínimo de R$5,00 por tonelada, os produtores estão
dispostos a ofertar 1.200 toneladas; no entanto, a demanda passa a ser de 800 toneladas.
Assim, o governo assumindo a comprar qualquer quantidade não vendida pelo mercado,
passa a assumir a compra desta diferença de 400 toneladas. A despesa do governo será
então de 𝑅$5 × 400 = 𝑅$2.000. A receita dos produtores será de 𝑅$5 × 1.200 =
𝑅$6.000.

(b) Caso o governo garanta um preço mínimo de R$5,00 para até 1.000 toneladas, os
produtores irão ofertar 1.000 toneladas que podem ser absorvidas pelo mercado ao
preço de R$3,00. Assim, nenhuma quantidade será adquirida pelo governo, no entanto,
ele deverá pagar por esta diferença de R$2,00 nesta quantidade, implicando a uma
despesa de R$2.000 para o governo. A receita dos produtores será de R$5.000.

(c) Se os consumidores puderem escolher a política governamental, optariam pela


segunda alternativa, de garantia de preço com limitação quantitativa – pois neste caso,
eles pagam menos (o preço de R$3,00 por tonelada). Apesar da despesa do governo ser
igual nos dois casos, na primeira alternativa parcela desta despesa pode ser recuperada
com a revenda do milho comprado pelo governo.

Exercício 10. (a) Sem imposto, o preço em equilíbrio dos livros era de R$50,00, e a
quantidade em equilíbrio era de 1 milhão de livros. Após a criação do imposto, a nova
quantidade de equilíbrio é de 600.000; sendo que os estudantes pagam agora R$55,00
por livro, e as editoras recebem R$30,00 líquidos de impostos. Verificamos assim que a
incidência econômica do imposto é de R$5,00 para os consumidores, e de R$20,00 para
as ofertantes, e o imposto é de R$25,00. Verificamos que a incidência econômica do
imposto neste caso recai mais para os produtores. Como o imposto é de R$25,00 e a
quantidade é de 600.000, assim a receita do governo será de 𝑅$25 × 600.000 =
𝑅$15.000.000. Podemos calcular a elasticidade-preço da demanda, de forma que

400.000
− 1.600.000 0,25
𝜀𝑃𝐷 = | | ≅ |− | ≅ 5,21 ⇒ elástica.
5 0,048
105

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
209

(b) Antes do imposto, o preço de equilíbrio era de R$500 por passagem área, e a
quantidade de equilíbrio era de 3 milhões de passagens aéreas por ano. Após a
introdução do imposto, os passageiros passaram a pagar por R$550 por passagem, e a
quantidade de equilíbrio aumentou para 5 milhões (verificamos que neste caso houve
também um deslocamento da curva de demanda). As companhias aéreas passam a
receber R$450,00 líquidas de impostos; assim verificamos que o valor do imposto é de
R$100,00 por passagem aérea, e incide de forma igual tanto para o consumidor quanto
para as companhias aéreas, no valor de R$50,00 para cada. Como a quantidade de
equilíbrio é de 5 milhões de passagens aéreas com o imposto, a receita do governo passa
a ser de 500 milhões de reais.

(c) Antes do imposto, o preço de equilíbrio era de R$1,50 por escova de dente, e a
quantidade de equilíbrio era de 2 milhões de escovas de dente. Após a cobrança de
imposto, a nova quantidade de equilíbrio passa a ser de 800.000 escovas de dente, e o
preço pago pelos consumidores é de R$2,00, ou seja, há uma incidência de R$0,50 do
imposto para os consumidores. Já para os produtores, o valor recebido líquido de
impostos é de R$1,25, ou seja, a incidência é de R$0,25. Neste caso, verificamos que a
oneração dos impostos se dá de forma maior para os consumidores. O valor do imposto
total é de R$0,75 por escova de dente. A receita do governo é então de 𝑅$0,75 ×
800.000 = 𝑅$600.000. Podemos calcular a elasticidade-preço da demanda para os
consumidores, de forma que 𝛥𝑃 = 0,50 e 𝛥𝑄 = −1.200.000.

1.200.000 6
− 2.800.000 − 14 −42
𝜀𝑃𝐷 = | |=| |=| | = 3.
0,50 1 14
3,50 7

Apesar da demanda ser elástica, através desta política de incidência do imposto


maior sobre o consumidor, isto faz com que a quantidade de demanda caia mais
significativamente. Enquanto no item (a) a quantidade de demanda cai 40%, neste item
(c) a quantidade de demanda cai 60%.

Exercício 11. (a) Neste caso, o valor atribuído pelo bem (ou a disposição a pagar/preço
de reserva) é de R$10,00. No entanto, o consumidor adquiri uma oferta pela metade
deste preço, ou seja de R$5,00. Assim o excedente do consumidor é de R$5,00.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
210

(b) O valor atribuído ao bem pelo consumidor é o mesmo do preço encontrado por ele.
Assim o excedente do consumidor será zero.

(c) O preço do bem é maior do que a disposição a pagar; logo não haverá transação, e
não haverá excedente do consumidor.

Exercício 12. (a) O preço de reserva, ou preço mínimo disposto a vender corresponde
ao preço do lance mais alto recebido pelo consumidor. Assim, haverá transação, mas o
excedente do produtor será zero.

(b) O preço de reserva, ou preço mínimo disposto a vender é de R$13.000. Como a


melhor oferta recebida do comprador foi de R$12.000, não haverá transação, logo
também não haverá excedente do produtor.

(c) A disposição da oferta de trabalho é de R$0,00; no entanto o salário é de R$3.000.


Assim, o excedente do produtor corresponde ao valor do salário de R$3.000.

Exercício 13. (a) Como o valor do imposto é de R$10 por quarto, e são 900 quartos
ocupados; a receita tributária é obtida por 𝑅𝑇 = 𝑅$10 × 900 = 𝑅$9.000. O peso morto
pode ser calculado pela área do triângulo da perda de bem-estar que não se converte a
receita tributária, ou seja, da perda da quantidade de quartos ocupados devido a
presença do imposto multiplicado pela metade da tarifa do imposto, de forma que 𝑃𝑀 =
(100 × 𝑅$10)⁄2 = 𝑅$500.

(b) Sendo o valor do imposto de R$20 por quarto, e a quantidade de quartos ocupado
800; a receita tributária é obtida por 𝑅𝑇 = 𝑅$20 × 800 = 𝑅$16.000. O peso morto é
de (200 × 𝑅$20)⁄2 = 𝑅$2.000. Verificamos que o aumento do imposto gerou um
aumento na receita tributária quase que proporcional ao aumento do imposto.

Exercício 14. Temos que 𝑄𝑂 = 2𝑃 e 𝑄𝐷 = 300 − 𝑃. (a) Para calcularmos o preço de


equilíbrio, igualamos a oferta e a demanda, de forma que

2𝑃 = 300 − 𝑃;
3𝑃 = 300;

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
211

300
𝑃∗ = = 100.
3

Assim, a quantidade de equilíbrio é de 𝑄 ∗ = 2𝑃 ∗ = 200.

(b) Como o imposto 𝑇 é cobrado dos consumidores, temos então que 𝑃𝑃 = 𝑃𝐶 − 𝑇.


Temos que 𝑄𝑂 = 2𝑃𝑃 = 2(𝑃𝐶 − 𝑇) = 2𝑃𝐶 − 2𝑇, e 𝑄𝐷 = 300 − 𝑃𝐶 . Igualando oferta e
demanda, obtemos que

2𝑃𝐶 − 2𝑇 = 300 − 𝑃𝐶 ;
3𝑃𝐶 = 300 + 2𝑇
2
𝑃𝐶∗ = 100 + 𝑇.
3

A quantidade de equilíbrio pode ser obtida por

2 2
𝑄 ∗ = 300 − 100 − 𝑇 = 200 − 𝑇.
3 3

O preço do produtor pode ser obtido substituindo 𝑃𝐶∗ na equação 𝑃𝑃 = 𝑃𝐶 − 𝑇, e assim


obtemos que

2 1
𝑃𝑃∗ = 100 + 𝑇 − 𝑇 = 100 − 𝑇.
3 3

Observa-se que maior parte deste imposto incide para o consumidor, que será onerado
em 2/3 dele; enquanto o produtor será onerado apenas por 1/3 de T.

(c) A receita tributária é obtida por 𝑅𝑇 = 𝑇𝑄. Como 𝑄 ∗ = 200 − 2𝑇/3,

2𝑇 2𝑇 2
𝑅𝑇 = 𝑇 (200 − ) = 200𝑇 − .
3 3

Variando T entre 0 a 300, podemos esboçar o gráfico de 𝑅𝑇(𝑇) = − 2𝑇 2⁄3 + 200𝑇 no


Excel conforme apresentado na Figura E14A. No entanto, podemos utilizar técnicas de
derivação também para resolver. Primeiro verificamos os valores da equação nas
extremidades, e obtemos que

2(02 )
𝑅𝑇(0) = − + 200(0) = 0;
3
2(300)2 180000
𝑅𝑇(300) = − + 200(300) = − + 60000 = −60000 + 60000 = 0.
3 3

Obtemos o ponto crítico da função através da condição de primeira ordem, onde

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
212

4𝑇
𝑅𝑇 ′ (𝑇) = − + 200 = 0;
3
600
4𝑇 = 600; 𝑇 = = 150.
4

Calculamos 𝑅𝑇(150), de forma que

2(150)2 45.000
𝑅𝑇(150) = − + 200(150) = − + 30.000 = 15.000.
3 3

Logo, como a função decresce para os dois lados; 𝑅𝑇(150) = 15.000 é um ponto de
máximo.

Figura E14A Receita tributária em função de T.

Elaboração do autor.

(d) O peso morto pode ser ilustrado graficamente conforme apresentado na Figura
E14B.

Figura E14B Peso morto do Exercício 14.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
213

O peso morto pode ser calculado como

2
𝑇 × 𝑇 𝑇2
𝑃𝑀 = 3 = .
2 3

Variando 𝑇 de 0 a 300, podemos traçar um gráfico do peso morto em função de 𝑇,


conforme ilustrado na Figura E14C.

Figura E14C Peso morto em função de T.

Elaboração do autor.

(e) Um imposto de 𝑇 = 𝑅$200 é ineficiente, pois conforme já visto, um imposto de 𝑇 =


𝑅$150 é o que gera maior receita tributária; assim, um imposto de R$200 além de não
gerar a maior receita tributária possível, ainda gera um peso morto maior. Então para
𝑇 = 𝑅$150, 𝑅𝑇 = 𝑅$15.000, para 𝑇 = 𝑅$200,

2(200)2 80000
𝑅𝑇 = − + 200(200) = − + 40000 ≅ 𝑅$13.333,33.
3 3

Esta mesma receita tributária pode também ser obtida com 𝑇 = 𝑅$100, mas com um
custo social de peso morto bem menor.

Exercício 15. (a) As curvas de oferta e demanda no mercado de ameixas do País A são
representadas pelo gráfico apresentado na Figura E15.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
214

Figura E15 Mercado de ameixas do País A.

Fonte: KUME.

(b) Como visto graficamente na Figura E15, e também através dos dados da Tabela
E15, caso haja regime de livre comércio, a quantidade demandada de ameixas ao preço
internacional de 𝑅$0,30 é de 16 quilos. No entanto, a oferta local a este preço é de
apenas 4 quilos. Assim, o País A irá importar 12 quilos de ameixa.

(c) Com uma tarifa aduaneira de R$0,20, o preço de importação passa a ser de R$0,50.
A este preço, a quantidade de demanda é de 12 quilos, enquanto a quantidade de oferta
local é de 6 quilos. Assim, o País A irá importar 6 quilos de ameixa.

(d) A perda da economia através da introdução deste imposto é representada pelo


incremento da oferta local com um custo maior do que o valor internacional, e da perda
de consumo pelo aumento do preço. Na Figura E15, este peso morto é indicado pelas
áreas das regiões 𝐴 e 𝐵.

Exercício 16. (a) Caso Malta não permita o comércio internacional de arroz, o preço de
equilíbrio interno será dado por 𝑄𝑂 = 𝑄𝐷 , de forma que

8 − 𝑃 = 𝑃;
2𝑃 = 8;
8
𝑃∗ = = 𝑈𝑆$4.
2

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
215

E a quantidade de equilíbrio será de 4 quilos. As curvas de oferta e demanda são


ilustradas na Figura E16A.

Figura E16A Curvas de oferta e demanda de arroz em Malta.

Fonte: KUME.

O excedente do consumidor pode ser calculado por 𝐸𝐶 = 4 × 4 × (1⁄2) = 8, o


excedente do produtor pode ser calculado por 𝐸𝑃 = 4 × 4 × (1⁄2) = 8, e o excedente
total, ou bem-estar total por 𝑊 = 𝐸𝐶 + 𝐸𝑃 = 8 + 8 = 16.

(b) Com o comércio internacional permitido, ao preço de US$1, a demanda será de


𝑄𝐷 = 8 − 1 = 7 quilos, e a oferta será de 𝑄𝑂 = 1 quilo. Assim, 6 quilos serão
importados. A Figura E16B nos ilustra esta situação.

Figura E16B Curvas de oferta e demanda de arroz em Malta com livre comércio internacional.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
216

O excedente do produtor pode ser calculado agora por 𝐸𝑃 = 1 × 1 × (1⁄2) = 0,5, o


excedente do consumidor por 𝐸𝐶 = 7 × 7 × (1⁄2) = 24,5, e o excedente total por
𝑊 = 𝐸𝑃 + 𝐸𝐶 = 0,5 + 24,5 = 25.

(c) Com um imposto de importação de US$1, o preço do arroz importado para o


consumidor passa a ser de US$2. Assim, a quantidade de demanda será de 𝑄𝐷 = 8 −
2 = 6 quilos, e a quantidade de oferta local será de 𝑄𝑂 = 2 quilos. Assim, o país
passará a importar 𝑀 = 𝑄𝐷 − 𝑄𝑂 = 6 − 2 = 4 quilos de arroz. A Figura E16C nos
ilustra esta situação.

Figura E16C Curvas de oferta e demanda de arroz em Malta com comércio internacional
e imposto de importação de US$1 por quilo.

Fonte: KUME.

O excedente do produtor pode ser calculado como 𝐸𝑃 = 2 × 2 × (1⁄2) = 2, o


excedente do consumidor como 𝐸𝐶 = 6 × 6 × (1⁄2) = 18, o excedente total por 𝑊 =
𝐸𝑃 + 𝐸𝐶 = 2 + 18 = 20, e a receita do governo (ou receita tributária) por 𝑅𝑇 = 𝑇𝑀 =
2 × 4 = 8. O custo social, ou peso morto, pode ser calculado por 𝑃𝑀 = 1 × 1 ×
(1⁄2) + 1 × 1 × (1⁄2) = 0,5 + 0,5 = 1.

Exercício 17. (a) Caso não haja comércio internacional, o preço de equilíbrio será
definido por 𝑄𝐷 = 𝑄𝑂 , de forma que

8 − 𝑃 = 𝑃;
2𝑃 = 8;

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
217

8
𝑃∗ = = 𝑈𝑆$4.
2

A quantidade de equilíbrio será de 𝑄𝐷 (𝑃∗ ) = 𝑄𝑂 (𝑃∗ ) = 4 quilos. As curvas de oferta e


demanda podem ser ilustradas pela Figura E17A.

Figura E17A Curvas de oferta e demanda de arroz no Uruguai.

Fonte: KUME.

O excedente do consumidor será de 𝐸𝐶 = 4 × 4 × (1⁄2) = 8, o excedente do produtor


será de 𝐸𝑃 = 4 × 4 × (1⁄2) = 8, e o excedente total de 𝑊 = 𝐸𝐶 + 𝐸𝑃 = 8 + 8 = 16.

(b) Com o comércio internacional permitido, ao preço 𝑃𝑊 = 𝑈𝑆$6, a quantidade da


oferta local será de 𝑄𝑂 = 6 e a quantidade de demanda local será de 𝑄𝐷 = 8 − 6 = 2.
Assim, a quantidade exportada será de 𝑋 = 𝑄𝑂 − 𝑄𝐷 = 6 − 2 = 4. A Figura E17B nos
ilustra esta situação.

Figura E17B Curvas de oferta e demanda de arroz no Uruguai com comércio internacional.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
218

O excedente do consumidor será de 𝐸𝐶 = 2 × 2 × (1⁄2) = 2, o excedente do produtor


de 𝐸𝑃 = 6 × 6 × (1⁄2) = 18, e o excedente total de 𝑊 = 𝐸𝐶 + 𝐸𝑃 = 2 + 18 = 20.

(c) Com uma tarifa de exportação de US$1, o produtor deverá vender a US$5 o quilo do
arroz para ter seu preço externo ao nível competitivo de US$6. Assim, a quantidade
ofertada será de 𝑄𝑂 = 5, e a quantidade de demanda interna será de 𝑄𝐷 = 8 − 5 = 3. A
exportação será de 𝑋 = 𝑄𝑂 − 𝑄𝐷 = 5 − 3 = 2. Esta situação é ilustrada na Figura
E17C.

Figura E17C Curvas de oferta e demanda de arroz no Uruguai com


comércio internacional e tarifa de exportação de US$1.

Fonte: KUME.

O excedente do consumidor pode ser calculado como 𝐸𝐶 = 3 × 3 × (1⁄2) = 4,5, o


excedente do produtor como 𝐸𝑃 = 5 × 5 × (1⁄2) = 12,5, o excedente total como 𝑊 =
𝐸𝐶 + 𝐸𝑃 = 4,5 + 12,5 = 17, e a receita do governo como 𝑅𝑇 = 𝑇𝑋 = 1 × 2 = 2. O
custo social/peso morto pode ser calculado por 𝑃𝑀 = 1 × 1 × (1⁄2) + 1 × 1 ×
(1⁄2) = 0,5 + 0,5 = 1.

Exercício 18. (a) Como o consumo da vacina contra a gripe além de reduzir a chance
de um indivíduo ficar gripado, também diminui a possibilidade de passar gripe para
outras pessoas, dizemos que este consumo gera externalidades positivas. Desta forma, a
curva do benefício ou valor marginal social da vacina localiza-se acima da curva da
demanda (que representa o valor marginal privado da vacina). Logo, a proporção de
pessoas vacinadas socialmente ótima (𝑄𝑆 ) é maior do que 𝑄1. Isto é ilustrado na Figura
E18S. (b) Um instrumento que um governo poderia introduzir para induzir a quantidade
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
219

socialmente ótima seria um subsídio de Pigou, equivalente ao benefício social


proporcionado pela vacina, conforme também ilustrado na Figura E18S.

Figura E18S Solução gráfica do Exercício 18.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

(c) Não, pois o custo social da vacina é positivo – o subsídio de Pigou implica em um
custo social através dos gastos do orçamento de um governo. Além disto,
intuitivamente, supondo que exceto uma pessoa, toda população mundial esteja vacina,
não faria sentido esta pessoa se vacinar (pois não haveriam outras pessoas para
transmitir a gripe). É racional pensar-se que a uma taxa entre 80% a 97% de uma
população total vacinada, haveria uma segurança maior contra surtos de gripe.

Exercício 19. (a) No horário com poucos visitantes, a visita ao museu não é um rival no
consumo, pois a entrada de um não impede a entrada de outro. No entanto, é um bem
excluível, pois é necessário o pagamento de R$10, caso contrário, não é permitida a
entrada. Assim, a visita do museu pode ser considerada como um bem artificialmente
escasso; e como o custo adicional de um visitante neste momento é zero, logo o preço
eficiente seria nulo.

(b) Quando o museu está com muitos visitantes, em seu ponto de capacidade máxima,
ele é um rival do consumo – pois a entrada de um impede a entrada de outro. Ainda que
ele não esteja em sua capacidade máxima, a presença de muitas pessoas dificulta a
apreciação do museu. Como tem o preço de entrada, ele continua sendo um bem

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
220

excluível. Portanto, por estas duas características, a visita no museu neste horário
consiste em um bem privado. Como neste horário há um custo social para um visitante
adicional (impedir ou atrapalhar que outras pessoas desfrutem bem do museu), o museu
deveria cobrar um preço equivalente ao custo social.

Exercício 20. (a) Considerando que o número de visitantes em relação ao tamanho do


parque, um visitante adicional não impede que outros simultaneamente apreciem o
parque; portanto, a visita ao parque é bem não-rival. No entanto, ele é excluível, pois
somente podem entrar no parque os visitantes com ingresso. Assim é um bem
artificialmente escasso. (b) A curva de demanda de visitas ao Jardim Botânico com os
preços e quantidades dadas pode ser ilustrada através da Figura E20.

Figura E20 Demanda por visitas no Jardim Botânico.

Fonte: KUME.

(c) A curva de oferta, ou de custo marginal de visitantes ao Jardim Botânico seria


perfeitamente elástica entre a faixa de 0 a 2.000 visitantes, e estaria localizada no eixo,
ao preço zero. Assim, o preço de R$10 é ineficiente, pois é maior do que o custo
adicional. Assim, verificamos que a preço de R$10, existe um peso morto,
correspondente a demanda não atendida. (d) O peso morto pode ser calculado por

(2000 − 1000) × 10
𝑃𝑀 = = 5000.
2

Exercício 21. (a) A Proposta A implica que o montante a ser pago de imposto seja o
mesmo, independente da renda. Isto implica que a incidência tributária efetiva 𝑡 seja
decrescente, pois como o valor do tributo é fixo, quanto maior a renda,
proporcionalmente este imposto terá uma alíquota menor. Assim, este imposto de renda
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
221

é regressivo. Já pela Proposta B, como os indivíduos com renda mais alta pagam uma
proporção mais alta de suas rendas em impostos, isto implica uma incidência tributária 𝑡
crescente em relação a renda. Assim, este imposto de renda é progressivo.

(b) Considerando que todos se beneficiam igualmente pela Defesa Nacional, a Proposta
A se baseia então no princípio do benefício. Por outro lado, pela Proposta B, como
quem tem maior renda paga mais, esta se baseia no princípio da capacidade de
pagamento.

Exercício 22. (a) Como os proprietários de carros são potenciais beneficiários de uma
maior segurança nas rodovias, este imposto está aproximadamente de acordo com o
princípio do benefício. No entanto, como o imposto é um valor fixo independente da
renda do proprietário, não está de acordo com o princípio da capacidade de pagamento.

(b) Geralmente os hóspedes dos hotéis de uma cidade não residem neste mesmo
município e, portanto, não se beneficiam de forma completa dos gastos deste município
(talvez somente no período de estadia). Logo, este imposto não está de acordo com o
princípio do benefício. No entanto, hóspedes em hotéis usualmente têm renda mais
elevada, e podem escolher diárias de quartos com preços diferenciados – como o
imposto é porcentual sobre o valor da diária, os hóspedes podem implicitamente
escolher o quanto vão pagar de imposto. Assim, o imposto está de acordo com o
princípio da capacidade de pagamento.

Exercício 23. O lucro contábil registra apenas as receitas e as despesas efetivamente


realizadas, enquanto o lucro econômico inclui também o custo de oportunidade dos
fatores envolvidos. O custo de oportunidade de deixar de ser professor é o salário que
deixa de receber no valor de R$60 mil; e o custo de oportunidade do capital aplicado na
livraria é quanto ele deixa de receber do rendimento da poupança (R$6 mil). Portanto,
devemos abater do lucro contábil o custo de oportunidade do trabalho do professor e do
capital aplicado, no total de R$66 mil. Logo, o lucro econômico é de apenas R$4 mil.

Exercício 24. Dado que a função custo corresponde a 𝑐(𝑠) = 2𝑠 2 + 100, (a) o custo
médio será de

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
222

𝑐(𝑠) 2𝑠 2 + 100 100


𝐶𝑀𝐸 = = = 2𝑠 + .
𝑠 𝑠 𝑠

(b) O custo variável médio será de 𝐶𝑉𝑀𝐸 = 2𝑠.

(c) O custo marginal será de

𝑑(𝑐(𝑠))
𝐶𝑀𝑔 = = 4𝑠.
𝑑𝑠

(d) O gráfico da curva de oferta pode ser representado pela quantidade em função do
custo marginal, conforme ilustrado na Figura E14A.

Figura E24A Curva de oferta.

Fonte: KUME.

(e) Caso o preço seja de 𝑃 = 𝑅$20, como a curva de oferta é dada por 𝑃 = 4𝑠, 20 =
4𝑠; 𝑠 = 20⁄4 = 5; assim a quantidade de serviços ofertadas será 5.

(f) Caso o preço seja de 𝑃 = 𝑅$40, a quantidade será de 𝑠 = 40⁄4 = 10.

(g) Caso o preço seja de 𝑃 = 𝑅$40, como vimos no item e), a quantidade ofertada será
de 10 unidades de serviço. Como receita total é igual a 𝑅𝑇 = 𝑝𝑞 = 𝑅$40 × 10 =
𝑅$400. O custo total pode ser calculado por 𝐶𝑇 = 𝑐(10) = 2(10)2 + 100 = 200 +
100 = 𝑅$300. O lucro é dado pela diferença entre receita total e receita total, de forma
que 𝜋 = 𝑅𝑇 − 𝐶𝑇 = 𝑅$400 − 𝑅$300 = 𝑅$100. O gráfico das funções de custo total, e
receita total e lucro total ao preço de R$40 é ilustrado na Figura E24B.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
223

Figura E24B Custo total, e receita total e lucro total a preço de R$40.

Fonte: KUME.

Exercício 25. (a) Como com produção nula, ou seja, para 𝑄 = 0 o 𝐶𝑇 = 5, então o
custo fixo é de R$5, ou seja, o gasto com produção igual a zero. (b) A partir dos dados
da Tabela E25, podemos calcular o custo marginal para cada unidade incremental, ou
seja, o quanto varia o custo total em relação a produção de cada unidade adicional. Os
custos variáveis médios podem ser calculados a partir da relação entre a soma dos
custos marginais para a produção de determinada quantidade e sua respectiva
quantidade produzida. Já o custo total médio pode ser obtido através da relação entre
cada custo total com cada respectiva quantidade produzida. Os resultados são
apresentados na Tabela E25S.

Tabela E25S Custos marginais, custos variáveis médios e custos total médios.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
224

(c) No curto prazo, a curva de oferta da firma é dada pela curva de custo marginal acima
do ponto mínimo da curva de custo variável médio. Na Tabela E25S, verificamos que o
menor custo variável médio é de R$4, com a produção de quantidade igual a 2. Assim,
se o preço for R$4, cada firma produzirá 2 unidades, se o preço for igual ao custo
marginal de R$5, cada firma produzirá 3 unidades, se o preço for de R$7, cada firma
produzirá 4 unidades, se o preço for de R$10, cada firma produzirá 5 unidades, e se o
preço for de R$11, cada firma produzirá 6 unidades. Como há 100 firmas idênticas nesta
indústria, para traçarmos a curva de oferta de mercado desta indústria no curto prazo,
basta utilizarmos tais preços e multiplicarmos as quantidades por 100. A curva de
demanda pode ser traçada através das informações da demanda de mercado contidas na
Tabela E25. A apresentação gráfica das curvas de oferta de curto prazo e demanda de
mercado desta indústria é ilustrada na Figura E25.

Figura E25 Curvas de oferta e demanda da indústria com 100 firmas competitivas idênticas.

Elaboração do autor.

(d) O preço de mercado será de R$10, e a quantidade produzida será de 500 unidades.
(e) Como cada firma produz 5 unidades com custo médio de R$7, a um custo total de
R$35, e vende cada uma destas unidades por R$10, e assim obtém de receita total R$50;
cada firma terá de lucro 𝜋 = 𝑅$50 − 𝑅$35 = 𝑅$15. Isto implica que novas firmas
terão incentivos a entrar neste mercado, até que o lucro se aproxime de zero.

Exercício 26. (a) Caso a indústria fosse perfeitamente competitiva, o equilíbrio entre
preço e quantidade seria correspondente ao intercepto entre as curvas de demanda e de
custo marginal. Assim, o preço seria 𝑃 = 𝐸 = 𝐶𝑀𝑔, e a quantidade seria 𝑄 = 𝑆. (b) O

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
225

excedente do consumidor corresponderia a área acima do preço e abaixo da curva da


demanda, ou seja, a compreendida pelo triângulo 𝐴𝑅𝐸. (c) Caso a indústria fosse
monopolista de preço único, ela produziria na quantidade em que sua receita marginal
se iguala a seu custo marginal, ou seja, na quantidade de 𝑄 = 𝐼. Ela cobraria o preço
que atende a demanda de quantidade 𝐼, ou seja, a preço de 𝑃 = 𝐵. (d) O lucro do
monopolista é obtido através do produto de sua quantidade produzida com a diferença
entre o preço cobrado por unidade e o seu custo marginal, representado pelo retângulo
𝐸𝐵𝐹𝐻. (e) O excedente do consumidor reflete ao somatório de preços que
consumidores estão dispostos a pagar acima do preço cobrado, expresso pela área do
triângulo 𝐴𝐵𝐹. (f) O peso morto corresponde as quantidades não ofertadas e não
transacionadas no mercado devido ao preço de monopólio superior ao custo marginal, e
é representado pela área do triângulo 𝐹𝐻𝑅. (g) Caso o monopolista pudesse praticar
uma descriminação de perfeito perfeitas, a quantidade ofertada seria a mesma que no
caso de concorrência perfeita, ou seja, a 𝑄 = 𝑆.

Exercício 27. (a) Dadas as informações relacionadas às demandas individuais, podemos


calcular as receitas totais a cada nível de preço, e as receitas marginais através das
diferenças entre as receitas totais, conforme apresentado na Tabela E27.

Tabela E27 Receitas totais e receitas marginais da Firma D.

Fonte: KUME.

Com as mesmas informações relativas à demanda, com a informação de que o


custo marginal é constante e igual a R$100, custo fixo zero, e agora com as informações
sobre receita marginal, podemos construir um gráfico com as curvas. No entanto, como
pedido, a curva de receita marginal será uma reta contínua, com intercepto nos pontos
(0, 500) e (2,5, 0), conforme ilustrado na Figura E27A, mas de forma contínua

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
226

Figura E27 Curvas de oferta, demanda e receita marginal da Firma D.

Fonte: KUME.

(b) A demanda é composta apenas por quatro pessoas com disposições a pagar acima de
R$0, e cada uma delas tem disposição a pagar de forma linear a preços incrementais de
R$100. Ou seja, há uma pessoa com disposição a pagar uma única unidade do bem a
R$400, outra a R$300, outra a R$200, e outra a R$100, bem como uma disposta a
adquirir o bem pagando R$0 (ou recebendo de graça). Como a Firma D é a única
vendedora, só ela pode atender esta demanda, que tem este formato negativamente
inclinado. (c) Para cada diamante que a Firma D quiser vender, ela terá que diminuir o
preço não somente desta unidade, mas também das unidades anteriores. Portanto, a
receita marginal de uma unidade adicional vendida é igual ao preço menos a redução no
preço em todas as unidades anteriores. (d) Se o preço for R$200, a Firma D venderia
para Raquel, Jaqueline e Joana. Se reduz o preço para R$100, a Firma D passa a vender
também para a Mia. O efeito preço é a perda de R$100 das vendas para Raquel,
Jaqueline e Joana, pois todas elas passam a pagar R$100, pagando então as três juntas
agora R$300 (quando antes pagavam R$600). Ou seja, há uma perda de R$300 na
receita total. O efeito quantidade aumenta a receita total em R$100, devido à venda a
Mia. Portanto, a receita marginal é de −𝑅$200 = −𝑅$300 + 𝑅$100. (e) O desenho já
está ilustrado na Figura E27. O custo marginal é constante e de R$100. A receita
marginal se iguala ao custo marginal na quantidade de 2 diamantes, conforme o desenho
com a curva de receita marginal contínua – assim, esta será a quantidade que maximiza
o lucro. O preço cobrado será de R$300, e assim a receita total será de R$600, o custo
total será de R$200, e o lucro será de R$400. (f) Ao preço de R$300, somente Jaqueline

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
227

e Raquel compram. Como a disposição a pagar de Raquel é de R$400, ela obtém de


excedente R$100; já para Jaqueline, como sua disposição a pagar é igual ao preço de
R$300, ela obtém de excedente zero. Assim, o excedente do consumidor será de 𝐸𝐶 =
𝑅$100 + 𝑅$0 = 𝑅$100. Como a diferença entre o preço de monopólio (R$300) e o
custo marginal (R$100) é de R$200, e a firma vende duas unidades, o excedente do
produtor será de 𝑅$200 × 2 = 𝑅$400. (g) Em competição perfeita, o preço é igual ao
custo marginal, ou seja, 𝑃 = 𝑅$100, e assim a quantidade vendida neste mercado seria
de 4 unidades. (h) O preço pago por todos é de R$100. Assim, como a disposição a
pagar de Raquel é de R$400, ela obtém de excedente R$300, já para Jaqueline, como
sua disposição a pagar é de R$300, ela obtém de excedente R$200, para Joana, como
sua disposição a pagar é de R$200, ela obtém de excedente R$100, e para Mia, como
sua disposição a pagar é R$100, ela obtém de excedente R$0. Assim, o excedente total
do consumidor é de 𝐸𝐶 = 𝑅$300 + 𝑅$200 + 𝑅$100 + 𝑅$0 = 𝑅$600. Como o preço é
igual ao custo marginal, o excedente do produtor é zero. (i) Ao passar do monopólio
para a concorrência perfeita, o excedente do consumidor passa de R$100 para R$600
(uma diferença positiva de R$500), já o excedente do produtor passa de R$400 para
R$0 (uma diferença negativa de R$400). Assim, somando as duas variações, a variação
do peso morto é de -R$100, ou seja, o peso morto perde R$100. (j) Caso a Firma D
fosse monopolista e conseguisse aplicar uma discriminação perfeita de preços, ela
venderia para Raquel, Jaqueline, Joana e Mia, a preços respectivamente de suas
disposições a pagar, ou seja, de R$400, R$300, R$200 e R$100. (l) Com discriminação
perfeita de preços, cada consumidor paga o seu preço reserva, ou seja, o máximo que
está disposto a pagar; assim, o excedente do consumidor é zero. Já para as vendas,
excedente do produtor consiste na soma de diferença entre cada preço vendido e seu
custo marginal. Assim na venda para Raquel, o excedente do produtor é de R$300, na
venda para Jaqueline, é de R$200, na venda para Joana, é de R$100, e na venda para
Mia é de R$0. O excedente do produtor total é de 𝐸𝑃 = 𝑅$300 + 𝑅$200 + 𝑅$100 +
𝑅$0 = 𝑅$600.

Exercício 28. (a) A afirmação é falsa, pois o preço cobrado ao consumidor é maior em
concorrência monopolística do que em concorrência perfeita. Em concorrência perfeita,
todas as firmas cobram um preço dado pelo mercado, e produz na quantidade onde o
custo marginal se iguala com o custo médio mínimo e a este preço tomado pelo
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
228

mercado. Já em concorrência monopolística, uma firma típica costuma fixar preço


maior do que seu custo marginal e acima do custo médio mínimo, mesmo em longo
prazo. Isto por conta da diferenciação dos produtos – assim cada firma se depara como
uma curva de demanda negativamente inclinada. (b) A afirmativa é falsa. No longo
prazo, uma firma em concorrência perfeita produzirá no ponto mínimo de sua curva de
custo médio. Já em concorrência monopolística, no longo prazo uma firma produzirá em
qualquer ponto de sua curva de custo médio antes do ponto mínimo, no ponto em que
ela maximize seu lucro, ou seja, no ponto onde sua receita marginal se iguala ao seu
custo médio. (c) A afirmação é ambígua. A quantidade produzida em concorrência
perfeita é claramente eficiente, pois o valor marginal atribuído pelos consumidores à
última unidade produzida é igual ao custo marginal de produção desta unidade.
Portanto, não há ganho de excedente ao variar a produção em relação a quantidade
produzida pelo mercado. Em concorrência monopolística, o resultado é ambíguo, pois
na última unidade produzida, o valor atribuído pelos consumidores é maior do que o
custo marginal desta unidade. Logo, o aumento de produção geraria ganhos líquidos
para a sociedade. No entanto, a concorrência monopolística produz variedade de
produtos que proporciona ganhos para os consumidores por terem estas variedades de
opções de escolha. (d) A afirmação é verdadeira. No longo prazo, o lucro econômico é
zero tanto em concorrência perfeita como em concorrência monopolística devido a livre
entrada e saída de firmas.

Exercício 29. (a) Para resolvermos este problema, precisamos primeiro estabelecer a
curva de receita marginal de cada firma. Como os custos das duas firmas são simétricas,
podemos calcular isto através de uma firma representativa, que tem custo fixo de R$1, e
custo marginal de R$2. Assim, através dos preços de demanda para cada nível de
produção, podemos calcular as receitas totais e as receitas marginais para cada nível de
quantidade, conforme ilustrado pela Tabela E29S.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
229

Tabela E29S Receita total, e receitas marginais das firmas A e B.


Quantidade Preço Custo Custo Custo Receita Receita
Lucro
demandada (em R$) Fixo Marginal Total Total Marginal
0 10 1 2 1 0 0 -1
1 9 1 2 3 9 9 6
2 8 1 2 5 16 7 11
3 7 1 2 7 21 5 14
4 6 1 2 9 24 3 15
5 5 1 2 11 25 1 14
6 4 1 2 13 24 -1 11
7 3 1 2 15 21 -3 6
8 2 1 2 17 16 -5 -1
9 1 1 2 19 9 -7 -10
Elaboração do autor.

Como as firmas formam um cartel e atuam como monopolista, elas escolhem a


quantidade onde a receita marginal é igual ou maior que o custo marginal. Como o
custo marginal é de R$2, a quantidade escolhida será de 4 unidades, em que a receita
marginal corresponde a R$3. Como elas dividem simetricamente o mercado, cada firma
irá produzir 2 unidades, que poderão vender ao preço de R$6. Assim, a receita total de
cada firma será de R$12, com um custo total de R$5; assim o lucro de cada empresa
será de R$7.

(b) Caso a Firma A aumente sua produção em uma unidade (passando a produzir 3
unidades), a quantidade total do mercado será de 5 unidades, e o preço de R$5. Assim, a
receita total da Firma A será de 𝑅𝑇𝐴 = 𝑅$5 × 3 = 𝑅$15, e seu custo total será de
𝐶𝑇𝐴 = 𝑅$7, e seu lucro de 𝜋𝐴 = 𝑅𝑇𝐴 − 𝐶𝑇𝐴 = 𝑅$15 − 𝑅$7 = 𝑅$8. Já a Firma B terá
receita total de 𝑅$5 × 2 = 𝑅$10, com o mesmo custo total de R$5, e assim seu lucro
será de 𝜋𝐵 = 𝑅$10 − 𝑅$5 = 𝑅$5.

(c) Caso a Firma A aumente sua produção em três unidades (passando a produzir 5
unidades), a quantidade total do mercado será de 7 unidades, e o preço de R$3. A
receita total da Firma A será de 𝑅𝑇𝐴 = 𝑅$3 × 5 = 𝑅$15, e o seu custo total será de
𝐶𝑇𝐴 = 𝑅$11, e assim o seu lucro será de 𝜋𝐴 = 𝑅$15 − 𝑅$11 = 𝑅$4. Para a Firma B,
ela terá receita total de 𝑅𝑇𝐵 = 𝑅$3 × 2 = 𝑅$6, e com custo total igual a R$5, seu lucro
passará a ser de 𝜋𝐵 = 𝑅𝑇𝐵 − 𝐶𝑇𝐵 = 𝑅$6 − 𝑅$5 = 𝑅$1. Verificamos que o lucro da
Firma A diminui dado este nível de produção, no entanto aumenta caso ela aumente
somente uma unidade. Assim, ela tem incentivo em se desviar produzindo uma unidade
adicional, mas não em três unidades adicionais.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
230

(d) Os resultados mostram que não cumprir o acordo de formação de cartel é lucrativo,
desde que o aumento na quantidade não seja muito elevado, o que mostra que há
elevada chance de traição em um cartel.

Exercício 30. O equilíbrio de Nash ocorre quando cada país está fazendo a melhor
escolha possível diante das circunstâncias. Pela matriz da Tabela E30, verificamos que
caso os EUA adotem tarifas baixas, se o México também adotar tarifas baixas, o México
irá lucrar 25, e caso o México adote tarifas elevadas, irá lucrar 30 (neste caso o México
lucra mais adotando tarifas elevadas). Caso os EUA adotem tarifas altas, se o México
adotar tarifas baixas, irá lucrar 10, e caso o México adote tarifas altas, irá lucrar 20
(neste caso, o México lucra mais também adotando tarifas elevadas). Assim,
verificamos que o México tem estratégia dominante em adotar tarifas elevadas. Agora,
pela óptica dos EUA, caso o México adote tarifas baixas, se os EUA adotarem tarifas
baixas, irá lucrar 25, e caso adote tarifas altas, irá lucrar 30 (neste caso, os EUA lucram
mais adotando tarifas altas). Agora, caso o México adote tarifas altas, se os EUA
adotarem tarifas baixas, irá lucrar 10, e caso os EUA adotarem tarifas altas, irá lucrar 20
(assim, neste caso os EUA também lucram mais adotando tarifas altas). Desta forma, os
EUA também têm estratégia dominante de adotar tarifas altas. Assim, o equilíbrio de
Nash será com ambos países escolhendo adotar tarifas altas, e cada um obtendo ganhos
de 20 (mesmo sendo ganhos inferiores em relação ao caso de os dois países adotando
tarifas baixas, devido às estratégias dominantes serem de aplicar tarifas altas).

Exercício 31. (a) Considerando carros e pneus complementares perfeitos na proporção


1 por 4 para Isabel, ela obterá um nível de satisfação tendo um carro com quatro pneus
(de forma que quantidades adicionais além de quatro pneus não aumentará sua
satisfação; e da mesma forma carros adicionais sem quatro pneus adicionais, também
não aumentará sua satisfação). Um nível de satisfação/utilidade maior ela obterá tendo
dois carros e oito pneus (com quatro pneus por carro). Isto pode ser ilustrado no gráfico
da Figura E31A.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
231

Figura E31A Utilidade entre carros e pneus para Isabel.

Fonte: KUME.

(b) A utilidade medida agora é sobre o consumo de cafeína (preferências entre café e
refrigerante não são consideradas). Os dois produtos possuem cafeína, logo são
substitutos perfeitos para a utilidade que Isabel obtém sobre consumo de cafeína. No
entanto, a xícara de café tem o dobro de cafeína em relação ao refrigerante, assim,
Isabel obtém a mesma utilidade de cafeína consumindo uma xícara de café ou dois
refrigerantes. As curvas de utilidade são ilustradas na Figura E31B.

Figura E31B Utilidade de cafeína consumida obtida em café e refrigerante por Isabel.

Fonte: KUME.

(c) Como Isabel não obtém utilidade no consumo de água, suas curvas de utilidade entre
consumo de refrigerantes e água dependerão somente das quantidades consumidas de
refrigerantes – em formato de linhas horizontais (pois a quantidade de consumo de água

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
232

é pedida que seja exposta no gráfico no eixo horizontal). As utilidades são ilustradas na
Figura E31C.

Figura E31C Utilidade do consumo entre água e refrigerante por Isabel.

Fonte: KUME.

Exercício 32. A renda do consumidor é de 𝑅 = 𝑅$3.000. O preço do copo de vinho é


de 𝑃𝑉 = 𝑅$3, e do quilo do queijo é de 𝑃𝑄 = 𝑅$6. Sua restrição orçamentária é dada
por

𝑃𝑉 𝑄𝑉 + 𝑃𝑄 𝑄𝑄 = 𝑅$3.000 = 𝑅$3𝑄𝑉 + 𝑅$6𝑄𝑄 ;


𝑅$3𝑄𝑉 = 𝑅$3.000 − 𝑅$6𝑄𝑄 ;
𝑅$3.000 − 𝑅$6𝑄𝑄
𝑄𝑉 = = 1.000 − 2𝑄𝑄 .
𝑅$3

(a) Esta linha de restrição orçamentária pode ser expressa graficamente conforme
apresentada na Figura E32.

Figura E32 Restrição orçamentária do consumidor de queijo e vinho.

Fonte: KUME.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
233

(b) A inclinação desta reta é −2. (c) O significado econômico do valor absoluto deste
número consiste que o preço de um quilo de queijo equivale a dois copos de vinho.

Exercício 33. (a) A escolha ótima consiste num ponto onde a curva de utilidade
tangencia a restrição orçamentária, de forma que |𝑇𝑀𝑆| = 𝑃𝑄 ⁄𝑃𝑉 = 2. Para ilustração
gráfica, podemos desenhar uma curva genérica do tipo Cobb-Douglas, e assim definir o
Ponto 𝐶. Na Figura E33 é ilustrado este Ponto 𝐶, e os pontos 𝐷 e 𝐸 dos itens b) e c).

Figura E33 Utilidade e restrição orçamentária do consumidor de queijo e vinho.

Fonte: KUME. Adaptado pelo autor.

(b) No desenho gráfico, podemos supor que no Ponto 𝐷 há uma variação negativa na
quantidade de um quilo de queijo e uma variação positiva em dois copos de vinho,
conforme deslocamento marginal na restrição orçamentária que possui inclinação de
valor −2. No entanto, este ponto se encontro a esquerda da curva de utilidade que passa
pelo Ponto C; e podemos deduzir que neste ponto de variação negativa de 1kg de
queijo, a variação de vinho deveria ser positiva em quatro copos de vinho para que o
ponto pertencesse a mesma curva de utilidade do Ponto 𝐶. Assim, a 𝑇𝑀𝑆 > 𝑃𝑄 /𝑃𝑉 , ou
seja, a TMS é maior do que o preço do queijo medido em unidades de copos de vinho.
Logo neste ponto valeria a pena aumentar a quantidade de queijo.

(c) Podemos supor que no Ponto 𝐸 há uma variação positiva de 1kg de queijo e uma
variação negativa de 2 copos de vinho em relação ao Ponto 𝐶. No desenho gráfico,
podemos supor que para esta variação positiva de 1kg na quantidade de queijo, uma
variação negativa de 2 copos de vinho manteria o ponto na curva de utilidade 𝑈2 ; no
entanto, o Ponto 𝐸 está localizado abaixo desta curva de utilidade. Verificamos que a

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
234

𝑇𝑀𝑆 = 2, ou seja, é maior do que o preço relativo entre vinho e queijo de 𝑃𝑉 ⁄𝑃𝑄 = 0,5.
Assim, neste ponto valeria a pena aumentar a quantidade de vinho.

Exercício 34. Neste caso, como a renda aumenta de R$3.000 para R$4.500, obtemos
uma nova reta de restrição orçamentária (paralela e localizada a direita da reta de
restrição orçamentária anterior, pois os preços não mudam). Temos então que

𝑅$3𝑄𝑉 + 𝑅$6𝑄𝑄 = 𝑅$4.500;


𝑅$3𝑄𝑉 = 𝑅$4.500 − 𝑅$6𝑄𝑄 ;
𝑅$4.500 − 𝑅$6𝑄𝑄
𝑄𝑉 = = 𝑅$1.500 − 2𝑄𝑄 .
𝑅$3

(a) No caso de os dois bens serem normais para um consumidor, podemos traçar uma
curva de utilidade que tangencia esta nova restrição orçamentária de forma que o
consumo dos dois bens aumenta, conforme ilustrado na Figura E34A.

Figura E34A Aumento da renda e dois bens normais.

Fonte: KUME.

(b) Caso o queijo seja considerado como um bem inferior, um aumento na renda fará
com que haja um aumento no consumo do vinho e uma redução na quantidade de
consumo de queijo, conforme ilustrado na Figura E34B.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
235

Figura E34B Aumento da renda, um bem normal e um bem inferior.

Fonte: KUME.

(c) Dada a premissa da insaciedade, ou seja, de que quanto mais é melhor; o consumidor
sempre gastará toda a sua renda. Portanto, se a renda aumenta não é possível reduzir a
quantidade dos dois bens. De uma outra forma, na comparação entre apenas dois bens,
um bem apenas poderá ser considerado relativamente como um bem inferior, e outro
tratado como um bem normal.

Exercício 35. A restrição orçamentária original obtida no Exercício 32 era de 𝑄𝑉 =


1.000 − 2𝑄𝑄 . Como o preço do quilo do queijo passa para 𝑃𝑄 = 𝑅$12, temos então que

𝑅$12𝑄𝑄 + 𝑅$3𝑄𝑉 = 𝑅$3.000;


𝑅$3𝑄𝑉 = 𝑅$3.000 − 𝑅$12𝑄𝑄 ;
𝑅$3.000 − 𝑅$12𝑄𝑄
𝑄𝑉 = = 1000 − 4𝑄𝑄 .
𝑅$3

(a) Agora a inclinação da reta passa a ser de −4, e assim, considerando os dois bens
como normais, a quantidade de queijo e de vinho consumidas diminui, passando do
Ponto A da curva de preferência 𝑈2 para o Ponto 𝐶 numa curva de preferência inferior
𝑈1 , conforme ilustrado na Figura E35.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
236

Figura E35 Aumento no preço do queijo.

Fonte: KUME.

(b) A decomposição gráfica do efeito renda e do efeito substituição no consumo do


queijo é apresentado na Figura E35. (c) Quando o preço do queijo aumenta, o
consumidor reage da seguinte maneira: do Ponto A para o Ponto B, reduzindo a
quantidade do queijo cujo preço relativo aumentou e elevando a quantidade de vinho
cujo preço relativo diminuiu. Este é o efeito substituição. E do Ponto B para o Ponto C,
devido à queda no poder de compra (renda real) provocado pelo aumento no preço do
queijo. Este é o efeito renda. A quantidade consumida de queijo cai pois este bem é
normal. No caso do bem normal, os efeitos substituição e renda estimulam o
consumidor a reduzir o consumo.

(d) Caso o queijo seja um bem inferior, a queda no poder de comprar levará o
consumidor a comprar mais queijo. Ou seja, neste caso, o efeito renda estimulará o
consumidor a comprar mais queijo. Note que o efeito substituição sempre estimulará o
consumidor a comprar menos queijo devido ao aumento no seu preço. Se este efeito
renda for maior do que o efeito substituição, teremos aumento na quantidade consumida
de queijo mesmo com o aumento no seu preço.

Exercício 36. (a) Pela contagem de borda, podemos atribuir com 1 ponto a quarta
preferência, 2 pontos a terceira preferência, 3 pontos a segunda preferência, e 4 pontos a
primeira preferência. Assim, para Tom, o restaurante Italiano ganha 4 pontos, o
Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
237

restaurante Chinês ganha 3 pontos, o restaurante Mexicano ganha 2 pontos, e o


restaurante Francês ganha 1 ponto. Já para Hanks, o restaurante Italiano ganha 4 pontos,
o Chinês 3 pontos, o Mexicano 2 pontos e Francês 1 ponto. Já para Barak, o restaurante
Chinês ganha 4 pontos, o Mexicano 3 pontos, o Francês 2 pontos, e o Italiano 1 ponto.
Podemos somar os pontos de cada restaurantes, conforme apresentados na Tabela
E36A.

Tabela E36A Contagem de borda dos restaurantes.

Fonte: KUME.

Assim, pela contagem de borda, eles irão jantar no restaurante Chinês.

(b) Caso eles não possam escolher entre um restaurante Francês e Mexicano, mas
utilizem a mesma cartilha de preferências apresentada na Tabela E36, agora só há duas
opções disponíveis. Tanto para Tom quanto para Hanks, a primeira opção passa a ser do
restaurante Italiano, e a segunda opção passa a ser a do restaurante Chinês. Já para
Barak, a primeira opção passa ser a do restaurante Chinês, e a segunda opção a do
restaurante Italiano. Aplicando o mesmo tipo de pontuação para realização de contagem
de borda (atribuindo 1 ponto a 2ª opção, e 2 pontos a 1ª opção), temos o seguinte
resultado conforme expresso na Tabela E36B.

Tabela E36B Contagem de borda dos restaurantes Italiano e Chinês.

Fonte: KUME.

Agora, eles deverão jantar no restaurante Italiano. (c) As respostas anteriores diferem
devido à presença de locais irrelevantes, isto é, que nunca seriam escolhidos. Segundo
Arrow, uma escolha adequada não poderia depender das alternativas irrelevantes.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.
238

Exercício 37. Analisaremos as preferências primeiro entre A e B, segundo entre B e C,


e terceiro entre A e C.

Entre A e B: A tem dois votos, e B tem um voto; assim, A é preferível do que B.

Entre B e C: B tem dois votos, e C tem um voto; assim, B é preferível do que C.

Entre A e C: A tem dois votos, e C tem um voto; assim, A é preferível do que C.

Neste caso não ocorre o paradoxo de Condorcet, pois a regra de transitividade é válida.

Introdução à Economia I: uma introdução à microeconomia. Notas de aula do curso presencial Introdução
à Economia I (FCE02-04565) realizado na UERJ no semestre 2012.1 ministrado por Honorio Kume, por
Pedro Johnson; disponível em: https://sites.google.com/view/pedrobritto.

Você também pode gostar