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.i->:"

TRABALHO PRODUTIVO E IMPRODUTIVO


,
CONCEITOS TEOF.ICOS
E
CONSIDERAÇÕES ACERCA DA
ECONOMIA :BRASILEIRA t
1964 -1986 .

..

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Orientador: Luís Oar-Lo s M:erege _


~of.~ _
Prof. _

i
I

'"A meus pais,


Therezinha e Bruno

ii

" .
I
i
I

~..---
FUNDAÇÃO GETÚliO VARGAS
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE. SÃO PAULO

MARILAND FRANCISCO RIGHI

TRABALHO PRODUTIVO E IMPROnUTIVO


,
CONCEITOS TEORICOS
...E
·CONSIDERAÇOES ACERCA DA
ECONOMIA BRASILEIRA,
1964 -1986

'-FGV
~ Fundação Getulio Vargas ."
ESCOladeAdmini&,",~o
FGV ele Empre!Y8 de SA", "'''11'0
Bihliot"Pr.;a

co
CO
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io
(J)
C\J

Dissertação apresentada ao Curso


~ de Pós Graduação da FGV/EAESP
Área de Concentração: Economia
Aplicada à Administração, como
requisito para a obtenção do tí-
.tulo de mestre em Administração.o
Oriento~ Prof. Luís Carlos Meregê.o

SilO PAULO
1981
·---'

RIGHI, Mariland J!'rancisco. TrabaTho pJ:'odutivoe im-


p'rodutivo. Conceitos teóricos e considera-
ções acerca da economia brasileira, 1964-1986.
São Paulo, EAESP / F. G. V., 1987" 238 p. Dis-
sertação de Mestrado apresentada ao Curso de
Pós-Graduação da EAESP / F. G V., Área de Con-
e

"centração: Economia Aplicada à Ad.J:timstração.

Resumo: Apresenta a evolução dos " conceitos


de "trabalho produtivo e improdutivo na Histó-
ria do Pensamento Econômico, desde o mercan-
tilismo até os economistas neoclássicos6 Na
Última parte, trata da evolução do capital
produtivo e improdutivo na economia brasilei-
ra, segundo o critério marxista de distinção
destas variedades de capitais, no período de
1964 a 1986.
Palavras-chaves: trabalho produtivo e impro-
dutivo Economia política Brasil
capital improdutivo correção monetária
plano cruzado Marx •


IV
.----

Agradecimentos

,
A minha esposa, Nanei, e a meu filho, César, pelo tem-
po que não lhes dediquei, a fim de elaborar este tra-
balho.
Ao professor Luís Carlos Merege, pela orientação empe-
nhada e eficiente. .
A meus pais. Sem a vigilância deles, não teria sequer
saído do ginásio.
, . .
A amiga Arlete, pela ajuda na datilografia.
Ao vereador jundiaiense Francisco José Carbonari e às
Faculdades Padre Anchieta de Jundiaí, pela reprodução
da monografia.

v
.-----

índice

APRESENTAÇÃO •••.••••.••••••••••••••.•••••••••••••••• '. 4-


LISTA :PE T.AJ3ELAS.............................. •••• 'S
LISTA DE GRÁFICOS................................. 10

PRINIElRA PARTE: o CONCEITO DE TRABALHO PRODU-


E IMPRODUTIVO NA E.ISTÓP.IA DO
PENSAMENTO ECONÔMICO. ~ • • • • • • • • 12
CAPíTULO-l. INTRODUÇÃO ••••• ~.............. 13
CAPÍTULO-2. 11ERCANTILISMO................. 23
CAPÍTULO-3. FISIOCRACIA •••• ~.............. 31
, ,
CAPITULO-4~ ECON01IIA CLASSICA ••••••••••••• 40
a. INTRODUÇÃO •••••••. ~ •• ~ ••• ~ ••••• 40
b~ S1IITH •••••••••••••••••• ~•• ~ ••• 41
c. 1~LTHUS E RICARDO ••••••••••• ~. 50
d. SAY ••••••••••••• ~ ••• ~ ••• ~ •••• '. 63
e. ,lf1ILL •••••••••••••••••••••••••• 71
,
CAPITULO-5. ECONOMIA MARXISTA ••••• ~ ••••••• 79
a. INTRODUÇÃO ••• ~~.~ •••• ~ •••••••• 79
~~. .........,............... 80
b. MAJ1X: •.•••••••••••• ~ •••• ~ •••• ~ ••
c. 89
,
CAPITULO-6. ECONOMIA NEOCLASSICA •••••••••• 95
a. INT,RODUÇÃO••••••••••••• ~•••••• 95
b. ]3~~~Ji~ •••••• ~~•••••••••••••• ~ 97
c. JEVONS •••••••••••••••••••••••• 101
d. WALR.A.S. • • • • • • • • • • • • • • ~ • • • • • • '. • 103

1
e. MARSH:A.LL
••••••• ' ••••••••••••••• 108

SEGUNDA PARTE: CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS CON-


CEITOS DE TRABALHO PRODUTIVO E
IMPRODUTIVO •••• ' ••••••••••••••• 115
CAPÍTULO-1. CONCEITUAÇÃO EM FUNÇÃO DO PRO-
DUTO E EM' FUNÇÃO DO PROCES SO ~. 116
cAPfTULO-8. ,A "FORÇA MORAL" DAS EXPRESSÕES
PRODUTIVO' E 11~RODUTIVO ••••••• 129
TERCEIRA' PARTE: CAPITAL PRODUTIVO E IMPRODUTI-
VO NO BRASIL, ENTRE 1964 E
1986 •••••••••••• ~ ••••••••••••• 140
, ,
CAPITULO-9. VARIEDADES DE CAPITAIS QUE Dd-
PREGAM TRAl3ALF...A.DOru~S PRODUTI-
VOS E IMPRODUTIVOS, CONFORME
MARX ••••.••••••••••• fi! •••••••••• 141
,
CAPITULO-lO. O CAPITAL IIlPRODUTIVO ~lTES DA
"LEI DA CORREÇÃO MONETÁRIA" ••• 153
,
CAPITULO-lI. A EVOLUÇÃO DO CAPITAL IMPRODU-
TIVO, APóS A "LEI DA CORREÇÃO
MONETÁRIA" ••••• ' ••••••••••••••• 165
a. ATÉ AlrTES DO "PLANO CRUZADO" •• 165
b. A INTENÇÃO DO "PLANO CRUZADO" •. 192

ANEXO-I. DElv10NSTRATIVO DA RENTABILIDADE DOS DEZ


MAIORES BANCOS COMERCIAIS PRIVADOS BRA-
SILEIROS NO PERÍODO 1964 - 1986 .........• 202
ANEXO-2. ARTIGO 1Q, DA LEI NQ 4351, DE 16 DE JU-
mo DE 1964 213
ANEXO-3. DECRETO-LEI NQ 2284 DE 10 DE r~ço DE
1986 (PLANO CRUZADO) •• ~ ••••••••••••••.•• o 216
BIBLIOGRAFIA PRINCIPAL ••.•..•••....••••...••••...•• 228

2
Índice de nomes •••••••• ~•••.•• -••.••••••••••••••••••• 2-37
.s->:

ApresentaGão

o presente trabalho compõe-se de três par-


tes. As duas primeiras têm caráter inteiramente teó-
rico.~nquanto a terceira foi elaborada a partir de da-
dos concretos obsevados na economi.a brasileira.

,
As partes teóricas foram elaboradas atraves
de uma investigação levada a cabo na extensa biblio-
grafia dos principais economistas registrados na His-
tória do Pensamento Econômicot desde os mercantilistas
até os chamados economistas neoclássicoso Foram estu-
dados os conceitos de trabalho produtivo e improduti-
vo desenvolvidos por aqueles pensadores, bem como por
diversos outros autores que discutiram a questão. Es-
ta bibliografia é muito vasta e a relação de obrâs
apresentadas ao final deste trabalho é apenas uma pe-

4
., .-.--
.
quena parte que contem os principais escritos pesqui-
sados.

Na primeira parte estão apresentados os con-


, .
ceitos de trabalho produtivo e improdutivo em var~as
escolas de Pensamento Econômico.

,.. .
Com respeito ao sistema economco mercanti-
lista, procurou-se expor a idéia geral do conceito,
sem enfocar isoladamente cada um dos'autores, uma vez
que estes apr~sentam pensamentos muito aproximados.

Na Escola Fisiocrática, o conceito de traba-


lho produtivo oferecido por Quesnay é reconhecido ir-
restritamente pelos seus sectários. Á única excessão
foi Turgot, conforme será estudado.

Os conceitos de Smith, Malthus, Ricardo, Say


e Mill estão apresentados visando oferecer as idéias
da Escola Clássica acerca da questão do trabalho pro-
duti vo , ..tI. leitura das principais obras destes econo-
mistas evidencia a enorme diferença existente entre
suas concepções de trabalho produtivo e improdutivo,
levando a que o conceito de cada um deles fosse expos-
to separadamente no capítUlO 4.

Na Escola Marxista, estão apresentados os


conceitos de Mar-x, que julgou a questão do' trabalho
produtivo de gI'8J1deimportância e Bar-an, economista

5
/
/ .

-----
marxista, que desenvolveu o tema.

Entre os economistas neoclássicos, foram


destacados Jevons, Walras e Marshall. Estes autores
fizeram importantes observações com relação ao concei-
to de trabaDlo produtivo e imprOdutivo, embora houves-
sem evitado tratar empenhadamente da questão. o con-
ceito de Bentham é exposto j~tamente com os conceitos
dos pensadores neoclássicos, unicamente pelo fato de
aquele haver exercido significativa influência no pen-
samento destes economistas.

Dessa forma, a primeira parte é meramente


dissertativa, pr-ocur-andomo stn-ar a evolução dos con-
ceitos ,de trabalho produtivo e improdutivo, dentro da
História do Pensamento Econômico.

Na segtmda parte, são feitas conside~àções


de âmbito geral acerca da conceituação de trabalho
produtivo e improdutivo, de conformidade com o que foi
concluído após a pesquisª das obras. Estas considera-
ções não dizem respeito ao pensamento de um único au-
tor. Ao contrário, são conclusões extraídas do agru-
pamento de uma série de conceitos de diversos autores.

A terceira parte estuda aspectos da evolução


do capit2.l inprodutivo e produtivo no Brasil, no pe-
ríodo de 1964, em que é decretada a lei número 4357 de
16 de j1)~ho, conhecida como tllei da usura" até o de-

6
i
/
/

ereto-lei nÚIner02283 de 27--d~ fevereiro de 1986 (dias


depois, substi t1.údo pelo decreto lei número 2284~ com
ligeiras modificações), conhecido por "plano cruzado".
Para este estudo, serão empregados os conceitos de ca-
pital produtivo e capital improdutivo de acordo com a
ótica marxista. Dessa forma, o primeiro será repre-
sentado pelo capital financeiro, ao passo que o Último
o será pelo capital não-fin~ceiro,. o que reflete es-
ta ótica "aproximadamente. A metodologia acerca desta
terceira parte está apresentada no decorrer do seu de-
senvolvimento.

7
lista de tabelas

TABELA-I. Taxas anuais de inflação no Brasil, .


em porcentagem - 1933 a 1964 .......•. 159
TABELA-2. Captação de recursos financeiros,
como porcentagem do Produto Nacio-
nal Bruto 1952 a 1975 •••••••••••••• 167
TABELA-3. Rentabilidade líquida (lucro lí-
quido/patrimônio líquido) do capi-
tal produtivo e do capital impro-
dutivo no período 1978-1985 .•.......•.• 113
TABELA~4. Lucro líquido, patrimônio líquido
e rentabilidade consolidados de
1000 empresas produtivas (as maio-
res sociedades anônimas, não-fi-
.nanceiras), no período 1978 - 1985.
Estão apresentados separadamente
os resultados de 125 estatais, 786
empresas nacionais privadas e 89
empresas estrangeiras ................•• 176
TABELA-5. Participação percentual dos seto-
res da economí a no total da renda
interna, nos anos de 1949, 1959 e
1965 a 1980 ........................•... 179
TABELA-6. Despesas financeiras, lucro líqui-
do e despesas fina..VJ.ceiras/lucro
lÍ-
quido, extraídos do balanço conso-
lidado de 1000 empresas produtivas
(as maiores sociedades anônimas,
não-financeiras), no período 1978-
1985. Estão apresentados separa-

8
damente os resultados de 125 esta-
tais, 786 empresas nacionais pri-
vadas e 89 empresas estrangeiras ••••••• 180
TABELA-7. Índices selecionados >(patrimônio
líquido, endividamento, receita
~íquida de vendas, despesas. de
vendas, despesas administrativas,
despesas financeiras e lucro lí-
quido do exercício) das demonstra-
ções financeiras consolidadas de
1000 empresas produtivas (as maio-
res sociedades anônimas, não-fi-
nanceiras), no período 1978 - 1983.
Estão apresentados separadamente
os resultados de 119 estatais, 793
empresas nacionais privadas e 88 . .
empresas estrangeiras •••••••••••••••••• 184

9
~---#
lista de gráficos

GRÁFICO-I. Taxas anuaí,s de inflação no Brasil


no período 1933 - 1964 ••••• ~••••••••••• 160
,
GRAFICO-2. Poupança total interna como por-
centagem do Produto Nacional Bru-
to no períodO 1952 - 1975 •••••••••••••• 169
,
GRAFICO-3. Rentabilidade (lucro líquidO x 100/
patrimônio líquidO) consolidada
dos dez maiores bancos comerc~a~s
privados brasileiros, entre 1964 e
,198'5 -••••• '••••••.•••••••••••••.•• ~ •••••••• 172·
"
GRAFICO-4. Evolução comparativa das rentabi-
lidade s (lucro líquido x 100/ pa- ..
trimônio líquido) do capital pro-
dutivo e do capital improdutivo no
Brasil. Período: 1978 - 1985 ••..•.•••• 174
,
GRAFICO-5. Evolução da rentabilidade .'(lucro
líquidO x 100 / patrimônio líqui-
do) consolidada dos dez maiores
bancos comerciais privados brasi-
leiros e das mil maiores socieda--
des anônimas não-financeiras, sen-
do 125 estatais, 786 nacionais pri-
vadas e 89 estrangeiras, no perío- .
do 1978-1985 ••.•.....•••...•.•.•.••.••• 177
, .

GRAFICO-6 Evolução da variável "despesas fi-


nanceiras / despesas financeiras +
+ lucro líquidoU das 1000 maiores
sociedades anônimas não-financei-
ras, sendo 125 empresas estatais,

10
!
~----
786 empresas nacionais privadas~
e 89 empresas estrangeiras t . no
período 1978 - 1985 •...•.....•..••••.• 182
,
GRAFICO-7. Evolução dos índices de despesas
operacionais (d~spesas de vendas,
administrativas e financeiras) de
uma amostra de 1000 empresas pro~
dutivas, colhida das demonstra-
çõesfinanceiras consolidadas des-
tas ·empresas no período 1978-
1983 ,. ' ~.................•. .-.. 187
,
GRAFICO-8. Evolução dos índices de despesas
financeiras de uma amostra de mil
empresas produtivas, extraída das
demonstrações financeiras conso-
lidadas destas empresas no.perío-
do 1978 - 1983 ·...•....•.•. 189

11
· ," ..

Prim'eira .~arte

,o conceito de
trabalho produtivo e improdutivo
na
História do Pensamento Econômico

.. .,
.--'

Capítulo 1 - Introdução.

. , .
o estabelecimento de um cr~ter~o de distin-
ção entre trabalho' produtivo e trabalho improdutivo, a
,
delimitação precisa da fronteira entre as duas espe-
cies de trabaL~o e a classificação correta dos traba-
lhos existentes na realidade concreta dentro de uma
destas duas espécies são questões de enorme complexi-
dade. :mpregos de conceitos inexatos na literatura
econômica são comunSo Em grande parte desta literatu-
ra, algumas expressões são empr-egadas de modo que as
idéias que transmitem sejam suficientes à compreensao-
do texto, d spensando explicações complementares
í acer- />.

ca de seus sentidos. Os termos "produtivo" e "impro-


dutivo" têm esta característica.
.• , . .
Ass~m, e corr~que~ro
o emprego de expressões como terra produtiva e terra
improdutj.va, investimento produtivo e investimento im-

13

!
!

-----
produtivo, trabalho produtivo e trabalho -improdutivo,
força produtiva, setor produtivo e setor improdutivo,
capital produtivo e capital improdutivo, etc. Estas
expressões são utilizadas, na quase totalidade das ve-
zes, como se houvesse um perfeito e indiscutível en-
tendimento acerca dos seus significados.

Em.verdade, porém,. poucos conceitos ocuparam


tanto os mais renomados economistas da História do Pen-
samento :2conômicoe constituíram-se em questões tão
controvertidas quarrto o de trabalho produtivo e impro-
duti vo , Alguns autores, como Que snay , Smi th e Mar-x,
julgaram a questão de suprema importância, dispensando
largos espaços à sua explanação e discussão, conforme
é tratado nesta primeira parte.

o adjetiyo "produtivo", em sentido estrito,


significa "o que produz". Em contrapartida, "improdu-
tivo" significa "o que não produz". Em sentido lato,
no ent:lnto, "produtivo" comunica a idéia de fecundo,
rentável, proveitoso, útil, fértil, ao passo que "im-
produtivo" expressa a idéia de estéril, inútil, infe-
cundo, desnecessário. A Gramática c.onsidera transi ti-
vo o verbo produzir, uma vez que pede um complemento.
De fato, alguns autores sugerem, para uma perfeita
precisão:semântica, a utilização da expressão "produ-
tivolt acompanhada de complementos, tais como: produti-
vo de subsistências, de riqueza, de utilidades, de
bens materiais, etc (1).

14
i
/

---
Afirmar que trabalho produtivo é aquele que
produz é inquestionável tautologia.

Dessa forma, cada autor encontra inteira li-


berdade para expressar a seu modo o que entende por
trabalho produtivo. Entre os mais renomados economis-
tas que a História do Pensamento Econômico registra, é
co:mumjulgar produtivo o trabalho (e o trabalhador) que
produz riquezas, ou bens materiais, ou utilidades, ou
excedente sobre seus custos, etc.

Ademais, o conceito de trabalho produtivo e


improdutivo torna-se muito mais significativo a partir
da adoção da teoria do valor-trabalho. O pressuposto
de que a qu~~tidade de trabalho contida em um bem é a
medida de seu valor conduz à reflexão acerca de uma
classificação dos tipos de trabalho em função da sua
propriedade de criar ou não valor. A simples observa-
ção da execução de algumas atividades, condicionadas a
qualquer sistema econômico, é suficiente para fazer
despo1?-tartal reflexão. Apenas para lev3Jltar a ques-
tão, o trabalho de um oper-ár-í o de linha de produção ou
de um Lenhador- apresentam palpáveis diferenças em con-

(1) Assim o faz, por exemplo Marshall.


Ver ML\RSEALL, Alfred. Princípios de Economia: trata-
do introdutório. são Paulo, Abril Cultural, 1982. p.
75-76 (Os economistas).

15
i
I
------
traposição ao traball-:ode um caixa de banco ou de uma
secretária de administração, por exemplos, quer sob o
ponto de vista da atividade em si que exercem, quer sob
o enfoque das utilidades dos "obj etos" resul tante's de
seus respectivos trabalhos.

Certos termos de emprego corrente têm sido


utilizados descomprometidamep.te com o objetivo de
classificar os trabalhadores, presumivelmente em fun-
ção de um critério de produtividade. são eles: ope-
rário e empregado, "blue-collar" e "whi te col Lar-", t:rn.-
balhador manual e trabalhador intelectual, mão-de-obra
direta e mão-de-obra indireta, trabalho simples e tra-
ballio composto. ~m alguns países, a legislação traba-
lhista .estabelece distinção entre empregado e obreiro
ou assalariado. Diversas outras diferenças são consi-
deradas em outros países, provavelmente em função de
um critério de produtividade(2).

A recusaen aceitar a teoria do valor-traba-


lho, p'or outro lado, reduz a importância do estudo do
conceito de trabalho produtivo e improdutivo. Os eco-
nomistas neoclássicos, cuja grande maioria rejeitou
tal teoria, trataram "da questão, quando o fizeram, sem

(2) Ver NASCIT(:8NTO,Amauri Maacar-o , Com-


pêndio de Direito do Trabalho.. são PaUlo, LTr, 1972.
p. 340-345.

16
gr~de empenho. Outros autores utilitaristas, como
Saye Mill, por exemplo, definira:rn.
trabalho ·produtivo
e improdutivo, todavia não julgaram tratar-se de uma
questão relevante, como será visto adiante.

Entret3l1to, antes de adentrar aos conceitos


de trabaL~o produtivo e improdutivo conforme elabora-
dos por diferentes autores, convém expor com a devida
clareza o'objeto do estudo aqui desenvol-vido. Em dada
sóciedade, os agentes econômicos estão condicionados a
determinado modo de produção. Todos os indivíduos são
s , obví.anerrte , entretanto nem todos são tra-
con sumí.dor-e
balhadores, distinguindo-se assim dois grupos: o gru-
po dos que não trabalham e o grupo dos que trabaDlam.
O primeiro grupo r-emete à Seguinte súbdi visão: de uma
parte, os indivíduos não aptos ao trabaTho, tais como
crianças, idosos, deficientes, etc. e, de outra parte,
os ind.ivíduos aptos ao trabalho, porém, por qualquer
razão, ociosos(3).

Não se tome o trabalhador iEprodutivo por


ocioso. "'"'1 •.• o e,
.L e nao , simplesmente pelo fato de ser

(3) Sobre a questão da distinção entre os


indivíduos ociosos e os indivíduos não ociosos, ver
VEBLEN, Thorstein. A teoria da classe ociosa um
estudo d2.S instituições econômicas. são ~aulo, Abril
Cultur~l, 1983 (Os economistas).

17
I
(
;

_..--
trabalhador (4) •

No grupo das pessoas que trabalham, designa-


do na literatura por população economicamente ativa
(PEA) , encontram-se aquelas que circunst:mcialmente es-
tão ociosas, como, por exemplo, os trabalhadores que
não encontram emprego no mercado de trahaTho. Abrindo
mão desta particularidade, o.grupo dos trabalhadores
compreende, para efeito do objeto deste estudo, três
subdivisões, a saber: (1)trabalhadores produtivos,
(2)trabalhadores improdutivos e (3)trabalbadores aos
quais esta classificação não se aplica. A classifica-
ção de trabalhos em um. destes três subgrupos, eviden-
temente depende de uma regra ou critério.

(4) Mijail Bakunin (1814-1876), pensador


anarco-coletivista, todavia, apresenta uma colocação
diferente. AfirI!laque "existe trabalho produtivo e
trabalho explorador. O primeiro é o esforço do prole-
tariado; o segundo é o dos proprietárlos". (••• ) 11 i;
evidente a todos os que não estão cegos neste tema que
o trabalho produtivo cria riqueza e entrega aos produ-
tores só miséria; enquanto o trabalho não produtivo e
explorador é o único capaz de outorgar propriedade".
(BARUNIN, Mijail. Escritos de Filosof'ía política
[coInpilación de G.P. Ma:o{imoff]. Madrid, Alianza,
1953. v. 1. p. 216-217).

18
Convém exemplificar a f'f.m de esclarecer o
critério de classificação dentro cio terceiro grupo. Se
um economista estaoelece um critério de distinção en-
tre trabalhadores produtivos e improdutivos, tomandó
como referência as relações de produção que caracteri-
zam determinado sistema econômico, este critério só se
aplicará a trabalhadores empregados de conformidade com

trabaD10s
. -
o modo de produção peculiar ~quele sistema.
,.,
do artesao, do campones ou da dona de
Assim, a
casa
não se aplicam critérios definidos para o modo capita-
lista de produção, mui to embora estes trabalhadores se-
jam'comU!!lenteencontrados em sociedades dessa forma ar-
ganizadas.

Está esquematizada abaixo, a .classificação


descrita:

-
nao
trabalhadores {não aptos ao trabalho

aptos ao trabalho (ociosos)

população
produtivos

trabalhadores improdutivos

não se aplica o conceito

Trabalho (e trabalhador) é gênero do qual


trabalho (e tr aba.Lha dor ) produtivo e trabalho (e tra-
baLhador) improdutivo são espéCies.

19
------
Não será levada a cabo neste estudo a dis-
cussão a respeito das definições de trabalho. Entre
os pensadores que se empenharam em elaborá-las, as di-
vergências são incontáveis. ~ b~stante expor ~ue a
maioria destas definições associa traba1:ho a "esforço
físico, mental, intelectual, nervoso, etc." voltado à.
.produção. O trabalho é apenas uma das atividades hu-
manas.

Dado determinado trabalho, a sua caracteri-


zação COBO produtivo ou como improdutivo depende de um
critério. Um critério perfeito de distinção deve con-
cei tuar as duas espécies de trabaDlo, estabelecer uma
delimitação o mais clara possível entre elas, indicar·
em ~uecondiçõesé aplicável, oferecer a distinção dos
diferentes trabaD:os existentes na realidade concreta
com o mínimo possível de difictüdade e ser sustent~do
por justificativas convincentes. ·não há autor C}.ue,
após sugerir um critério, não tenha imediatamente se
empen11ado em preencher estes espaços incertos. Obser-
ve-seque estes espaços, por outro lado, ~uando mal
preencl:idos tornam o conceito extremamente vulnerável
a críticas de pensadores ideologicamente contrapostos.

Além disso, é impers..tivoque as qualific·a-


ções "produtivo" e "improdutivo" conservem rigorosa-
.mente os mesmos significados ao acomparJlarem outros
substantivos ~ue não o temo "tr2.balho". Os mesmos
economistas q,ue se referem a trabalho prod"J.tivo, fre-

20
i
/
.----
quentemente empregam. expressões como consumo produti-
vo, capital. produtivo, recursos produtivos, setor pro-
dutivo, investinento produtivo, capitalista produtivo,
forças produtivas, atividades produtivas, etc. Seria
contradi tório, por exemplo, o mesmo autor definir tra-
balho produtivo como sendo aquele que cria utilida4es
e capital produtivo como o que gera lucro. Se, por um
lado, este equívoco não foi pomum, por outro a vigi-
lância para não com.etê-Io foi enorme. Os fisiocratas,
por exemplo, que classificaram como produtivos exclu-
sivamente os trabaltós agrícolas,- jamais empregaram a
expressão "produtos d;:tindústria". Reservaram dili-
gentemente as expressões produto (produit) para os
bens da terra e obras (ouvr ages ) para os bens da in-
dústria. Caso extremo foi o ocorrido com oãbade
:Baudeau (1730-1792), economista da Escola Fisiocráti-
ca: realizou um autêntico malabarismo de palavras pa-
ror-a r-ec Laraant e ~ue se julgara "at:in-
ra isentar uma sen..
....
.o'ida"pela eXDressão
o • "estéril".

liA palavra estéril revoltou o amor


, .
proprl.o: imaginou-se ~ue significasse clas-
se nociva, classe inutil à sociedade. De-
certo sois demasiadamente razoável para aCl~-
di tar numa ou noutra coisa. ~ ser-víç o mui to
agradáveJiIl(porém não produtivo} "o que vos
presta diariamente quem vos penteia, e muito
útil" (mas não prOdutivo) "a arte" (não o
produto) lidopadeiro e do coz í.nhe.í.r-o, Da

21
!
!

mesma forma sabeis apreci3.I' a indústria" (o


produto, não) lidos que fabricam" (todavia
não prod.uzem) "tecidos para vossos móveis e
roupas,,(5).

A citação é indicativa do'esforço empreendi-


do pelo autor em desmelindrarasenhora, escapando de
comprometer a componente técnica do texto.

~.' r'O-'
.•.•/.tl. "'L~ , v,ug
•••. 'ene o Phy.siocrates. çuesnaY-"
Dupont de !'~emours, T,Iercier de la Riviere,--=l=--'
__ ._....:A"",b=...';;:
p ,
J3audeau., Le Trosne. ~arl.S, Librairie de Gtrillaumin,
1846. cf.: KUNTZ, Rolf!T. Cap-=i;...:t:..=a=l=i=..:s=r:1.='.;;b_--=-e
__ ...::.n=a::.t.~u::.::Lr~
são Paulo, Brasiliense, 1982. p. 35.

22
.-.---

Capitulo 2 Mercantilismo.

Os pensadores cham.:J.dos
mercantilistas esta-
beleceram objetivos de enriquecimento a nível nacio-
nal. Realizaram seus estudos a partir da 'Concepção de
nação como uma unidade econômica e política, remetendo,
, .
no maxlllio, -
a ~~ seeundo plano as facçoes sociais in-
ternas. Suas preocupações eram, port9.nto, com o enri-
queci~ento da nação como um todo. O conceito de tra-
balho produtivo a eles atribvído, insere-se inteira-
mente neste contexto.

Sabe-se ~ue este sistema supervalorizou a


quan t dade de metais preciosos como medida da
í riqueza
nacional e as atividades do comércio internacional e
de exploração de minas, como forma de obtenção e acu-
mulação destes metais. Os escritores chamado s .mer-c an-.

23
·-- ,...
tilistas, dispersos pelas naçoes europelas, tendo
'.
sua
atenção maior voltada ao comércio'exterior, não ofere-
ceram grande empenho na elaboração do conceito ora es-
tudado. Convém lembrar, este conjlli~tode idéias e
práticas econômicas floresceu aproximadamente em mea-
dos do século -z:tj em formas ligeiramente diferenciadas
.(colbertismo, na França; comer-c í a'Lí smo , na Inglater-
ra; buli onismo, na Espanhaj, cameralismo, na Alemanha,
etc.) em cada país europeu. Séculos depois, l\'1arshall
referiu-se a ele, ben como a seu conceito de trabalho
produtivo, observando que

"•••os mercantilistas, que consideravam os


metais preciosos como riqueza n~~ sentido
mais amplo do que qualquer outra coisa, em
parte porque eram imperecíveis, tinham na
conta de i3produtivo ou 'estéril' todo o
...•
trabalho que naose dir:i,gisseno sentido de
prod.uzir bens de exportação em troca de ouro
e pratall(6).

5steconceito alcança o principal ponto da


..• .
douta-ma mercantilista, ou seja, o sistema ec onoma c o
aplicado à exportação de bens cambiados por metais
preciosos.

(6) MARSF~A..LL,
A. Princípios. •• op. ci t.,
p. 750 (Nota de rOdapé; as asp3.S são dó autor).

24
i
;
!
I

------
Outros conceitos se aproximariam ao atribuí-
do por Marshall aos merc::.mtilista.s; todos eles ex-
pressando o mes~o intento: trabalho produtivo e'" a~ue-
le que "gera a riqueza da nação" (obviamente, riqueza
no sentido que os mercantilistas atribuíram ao termo) ,
ou aquele que "é cambiável com ourO" e prata do exte-
rior" "ou, ainda, aquele que "cria bens "."exportáveis,
etc.

A conceituação mais precisa e completa, por


estar indicando o objetivo maior do sistema e intima-
mente associada ao excedente líquido, anunciar-se-ia
da se guízrt e maneira: "admitindo-se inalterável a
quantidade circulante de metais preciosos do ,
comercl.O
.
internacional, trabalho produtivo é aquele que conduz
a um superavit na balança comercial".

De fato, Deyon, julg2.ndo trat3.r do "cerne da


doutrina mercantilistau, assevera que

"Na Inglaterra, insiste-se mais


sobre os interesses merc8ntis; na França o
serviço do príncipe, a riCi1..leZa
e a glória do
Estsdo preponderam frequentemente sobre ou-
tras pr-eo cupaçdes , Mas o elemento COI!lUm, o
elemento essencial é a teoria da balança co-
mercial, ou mais exatamente a convicção de
que uma ação harracní.o sa do Est::do deve per-
mitir o equilíbrio positivo desta ba.Lanç a e

25
!
!

fonte de prosperid:a.e e de pOderll(7).

o trabalho dentro do sistema mercantilista,


port~to, objetiva priorit~riamente obter o excedente
das exportações sobre as importações.

"Os merc3.!ltilistassão populacio-


nistas, isto é, favoráveis ao aumento da po-
pulaçãodo país. Este aumento, pensam, per-
mite obter facilmente mão-de-obra e favore-
ce" (••• ) 'tocomércio deexportação ••• 1I(8),

afirma. Deyon , Vários pensadores do sís t ema mercan-


til(9) defenderam a elevação da quantidade deste tra-
balho produtivo, combatendo a ociosidade e arsumentan-
do aspectos favoráveis do trabal~o de crianças e do
aum~nto da população a altas taxas. Alias, o entendi-
mento de trabalho produtivo com os olhos voltados ao

(7) ::U::YO,N, Pí.er r-e , Le merca.nti1isme. s,


L. p.,' F1ammarion, 1969. p. 59· (Col1ection Ques-
tions di Eistoire).

(8) DINIS, Henr í., História do Pensamento


--~~~=-------~~~~~
Econômico.4ª ed. Lisboa, Horizonte, 1982. p. 108.

(9) Entre eles Colbert e Laffemaso Ver DE-


NIS, H. Eistória ••• op. cit., p. 109.

26
comércio exterior, negligenciou
.-- a questão do bem-estar
material destas populações.

"::b: dificil encontrar na literatura


merc'lntilista 1)J!la
preocupação pelos infeli-
zes e uma filosofia da felicidade terrena
-
nara a maioria,,(lO) ,
explica TIeyon. A preocupação exclusiva à dinâmica in-
terna d~s economias nacionais, à época mercantilista,
é secundária. Consid.erados os trabalhos executados no
interior dos diferentes setores da produção de una de-
terninada nação em que vigoram as idéias e práticas
econômicas do sistema mercantilista, pode-se afirmar
convictamente que, entre os operários agrícolas, os
manufatureiros e os do comércio, estes {ütimos carre-
garam consigo as honras de elementos mais importantes
na geração do saldo líquidO das exportações e, assim
sendo, de mais produtivos. Será visto no decorrer
deste trabaD10 que a designação é sinsular e, mesmo,
exclu9iva, afinal o comércio, desassociado de quais-
quer outras atividades paralelas, não cria bens ma-
teriais. Contudo, os mercantilistas reservare.m-lhe IX>-
sição de destaque e exalts.ram os trabalhos levados a
cabo no setor. Foram incansáveis na arguI!lentação da

(10) D::YON, P. Le mercantilis::ne. op, ci t.,


p. 83.·

27
supremacia do trabalho comercial sobre os demais.
Montchrestien declarou que o papel do mercador no cor-
po social assemelha-se ao do cérebro no corpo do indi-
va'd uo (11) • Segtmdo ..Ueyon

"Charles Davenant exagera mais que


Montchrestien: para ele o mercador merece
todas ·as honras 'porque é o melhor e o mais
útil dos membros da comunidade l' ,,(12).

, .
Contudo, o proprlo ~eyonsustenta posição
contrária:

"O mercantilismo foi definido e


batizado por seus adversários", alega. ":Do
século XVI ao XVIII, ninguém se declarou
mercR.ntilista" (••• ). "Denvnciando no ner-
cantilismo o triunfo dos interesses egoístas
dos mer-cador-es , It seus adversários "ignoraran
que era to.nbém V1!l sitema manufatureiro, aerí-
cola ••• 1I(13).

(11) Ver D3fUS,. H. História ••• o p, ci t.,


p. 104.

(12) D::;YON, P. Le mer'cant í.Lt sme , op. cit.,


p. 56.

28
Em verdade, afora e"ã- apologia aos comercian-
tes proclamada pelos chamados mercantilistas, os tra-
balhos do comércio eram uma espéCie de carro-cLefe das
demais atividades econômicas. A abertura de mercados
novos acionava a produção de manufaturas que, por sua
vez, acionaria a produção agrícola" quando estas
..•
nao
eram diretamente acionadas. Neste sentido, sobres-
saem-se os trabalhos dos comerciantes em comparação aos
demais.

Com relação ao trr aba.Lho realizado nas minas,


objetivando a produção de ouro, prata e outros metais
preciosos, jamais lhe seria adequada a:qualificação de
inproduti vo.' O histórico empenho das grandes nações
européias, em meado s deste milênio, à pr-ocur-ade tais
metais em suas colônias ratifica tal inadequação. ~
justo considerar produtiva a atividade de geração des-
tes ~etais, uma vez que,seu produto é quantitativa e
quali tati vamente agregável ao saldo da ba Lança comer-
cial, à época mercantilista.

Os enganos da prática mercantilista, aponta-


dos pela maioria dos economistas que os sucederam são,
de 100 modo geral, os mesmos enganos cometidos na ela-
bor-açâo do conceito em estudo: excesso de ênfase
..a

(13) D3YON, P. Le' mer-cmtríLã sme , op. cit. ,


p. 11.

29
necessidade de obtenção de metais preciosos, o reco-
n11ecimento da riqueza nacional como o acúmulo de meios
circulantes através do comércio internacional, a exal-
tação dos trabalhos dos mercadores em detrimento das
atividades ligadas aos setores primário e seclmdário, a
fixaçã~ de esforços de enriquecimento a nível nacional
e o desinteresse pelo comportamento das:variáveis eco-
nômicas domésticas são algun~ destes enganos.

o surgimento da Escola Fisiocrática em mea-


dos do SéClUO XVIII e, posteriormente, de Smith, inau-
gur~do a Escola Clássica, indicaram as contradições 00
siste!:lamercantilista. :Sstes autores,: ao engendrarem
seus conceitos de trabalho produtivo e improdutivo, não
deixaram de apontar o s enganos cometido s pelo mercan-
tilismo, conforme se verá nos capítulos que se seguem.

30
I
!

---

Capítulo 3 Fisiocracia.

A Escola Fisiocrática, da qual destaca-se a


figura de François' Quesnay (1694-1774) . singularmente,
- em seu qua dr o econOID2CO(14) ,a SOC2e
supoe A. . dade f rag-

ment3da em tr~s classes sociais. Esta divis;o oferece


imediatamente, embora de ma~eira não inteiramente cla-
ra, a sua concepção de trabalho produtivo e improduti-
vo. As três classes são: a "produtiva", a "estéril"

,
(14) o "quadro econômico" ou "tableau eco-
nomí.quev , elaborado em 1758, esquematn.za a mane íz-a pe-
la qual ocorre a circulação de riquezas entre as clas-
ses econômicas, segundo a ótica de Quesnay. A partir
deste esquema, a fisiocracia desenvolve todo o pensa-
mento da escolao

31
j

e a "doe proprietários".
.--
A primeira pertencem todos os
trabalhadores que Quesnay entende como produtivos; a
segunda é constituida de trabalhadores improd.utivos; a
Última não é composta por trabalhadores e, dessa for-
ma, não se aplica a seus elementos a qualificação em
estudo.

A classe produtiva. compõe-se exclusivamente


de trabalhadores agrícolas, ao passo que a estéril (ex-
pressão cujo sentido é praticamente o mesmo de impro-
dutiva) é fornada por trabalhadores não agrícolas.
Quesnay, assim como todos os seus discípulos, sustenta
convictamente este conceito em toda a existência da
Escola Fisiocrática (mais ou menos no período de 1756
a 1778, em que se situam suas obras)o Eis como define
estas duas classes: a classe produtiva, assevera,

"é a que, graças ao cultivo da terra, faz


renascer a riqueza anual do país" (••• ) "e
paga anualmente as rendas dos proprietários
das terras. Englobam-se nesta classe todos
os trabalhos e despesas feitas na agricultu-
ra, até o momento da venda. dos produtos em
primeira mão; por essa venda conhece-se o
valor da reprodução anual das riquezas da
nação,,(15).

(15) François. "Le tableau écono-

32
~----...

Por outro lado, a classe estéril, ou seja, a


classe não produtiva

"é formada por todos os cidadãos ocupados em


qualquer tipo de trabalho ou serviços que mo
sejam a agricultura, -
e cujas despesas sao pa-
gas pela classe produtiva e pela classe dos
proprietários, a ~ual por sua vez, obtém as
suas rendas da classe produtiva,,(16).

Destas definições, assim. como do s escritos


subseqUentes elaborados pela escola francesa, é rápido
concluir-se que, para os fisiocratas, unicamente o tra.-
baILo agrícola é produtivo. Esta exclusividade da
agricultura sustenta-se em dois argumentos básicos. O
primeiro considera que o trabaTho levado a cabo na
agricultura é o 'Único criador de um prod.uto líquido,
ou seja, um excedente sobre seus custos de produção o

O seglL~do serve-se dos aspectos vivifica~tes da natu-


reza, isto é, da sua característica especial de pro-
por c.í onar a energia vi tal essencial à espécie humana.

mique" y. otros estudios económicos. [Selección y pró-


1030 de Valentín A.ndrés Alvarez]. Madr-í d, Revista de
Trabajo, 1974. p. 54.

(16) QUESNAY, F. "Le tableau... op , cit.,


p. 54-55.

33
.----
Se se examinar a veracidaie do primeiro ar-
gumento unicamente em fUnção do quadro econômico dos
fisiocrat3.s, nada há a que se opor, pois suas relações
,
são construídas de modo a haver excedente extraído ex-
clusi vamente do interior da classe prodl~tiva, ou agrí-
cola. Pode-se afirmar que o trabalho agrícola é pro-
.dutivo, simplesmente por construção. Por outro lado,
quadro eC?nÔmico à· parte, a afirmação de Que unicamen-
te o trabalho agrícola é produtivo porque apenas ele
cria excedente sobre seus custos, mostrou-se inteira-
mente insustentável, por ser .demais restrita. A idéia
só sobreviveu enquanto sobreviveu a escola francesa e,
pode-se afirmar convictar:1ente,nenhum outro autor com-
partilhou deste pensamento após os fisiocratas. Não.
se objetou a capacid3.de da agricultura em gerar produ-
to líquido, porém, sim, a sua exclusividade com rela-
ção a esta. propriedade. Adam Smith até mesmo conside-
rou "mais produtivo" o "trabalho dos arrendatários e
dos trabalhadores do campo 11 (17)• Os economistas que
corrt estar-aza o'conce í to de trabalho produtivo e impro-
dutivo do sistema fisiocrático, estender&~, ~~s mais,
outros menos, a propriedade de criar excedente sobre
seus custos a outros setores da economia, como a in-
dústri~, ° comércio, a prestação de serviços, etc. Além

(17) SMITH, Adam. A riqueza das -


naç~
investigªção sobre sua natureza e suas cqusas. são
Paulo, Abril Cultural, 1983 (Os economistas).

34
~-~~
..
de Smith, assim o fizeram, por exemplo, Ricardo, :Mal-
thus, Say, Mar-x, \'lalras;Schumpeter e outros. Marx,
por exemplo, expos que

"Se o trabalho produz mais-valia,


;

(que também é um excedente) "além de repro-


duzir seu próprio preço, ~roduzi~la-á não só
na agricultura mas . também na. indústria.
.
Mas,
uma vez que, segundo o sistema" (dos fisio-
cratas) "o trabalho só a produz num deterI!li-
nado setor de produção, na agricultura, -
nao
poderia ela decorrer do trabalho, mas da
ação (concurso) da natureza nesse setor. E
justamente por isso qualificam o trabalho
agrícola de trabalho produtivo, por oposição
a outras espécies de trabalho"(18).

Dessa forma, Marx endossou a idéia de exce-


dente associada ao traban10 produtivo, todavia não lhe
reservou à a3I'icu1turacom. exclusividade.

o segundo argumerrto que objetiva amparar a


singularidade da denominação "produtivo" aos trabalhos

(18) MLrtX, Karl. O capi t9.1 (crítica da Eco-


... -
nomia política) ._O~processo de circulação do caui-
t9.1. 4ª ed , Rio de Ja."'1eiro,
Difel, 1983. livro 2, v.
3. p. 222 (os p9.Tênteses são do autor).

35
-----
agrícolas, ou seja, a idéia de que só a natureza pos-
sui os tais aspectos vivifícantes, não parece fácil de
refutar. A questão é interdisciplinar; descencilha-se
da Ciência Econômica e dispersa-se, por várias outras
ciências. Cabe lembrar que a noção de ordem natural
conduz inteiramente o pensamento dos fisiocratas, es-,
tabelecendo uma associação íntima entre ,a natureza e
os conceitos da escola, da qual o de trabalho produti-
vo não escapa. Os termos agricultura e natureza têm,
na fisiocracia, sentidos fortemente relacionados. A
questão de se conceituar trabalho produtivo e improdu-
tivo, na escola em estudo, advém de uma outra, ou se-
ja, a de ~e definir o que é e o que não é " trabalho
agrícola, ou "da natureza"., Não emerge espontaneamen-
te um ponto natural de descontinuidade entre os traba-
lhos agrícolas e os trabalhos não agrícolas. Identifi-
ca-se, de imediato, por exemplo, o arroteamento do so--
lo, a semeadura, os tr:,,,tos
culturais, a colheita, etc,
como atividades aóI'ícolas e, portanto, produtivas. Não
seria difícil apontar também uma série de atividades
industriais ou comerciais que ninguém, certamente,
classificaria como agrícolas. No entanto, certos tra-
balhos, como a debulha de grãos, o acondicionamento da
colheita, a classificação da produção, as
..•
precauçoes
com perecibilidade e outros beneficiamentos suscita21
indecisões e fra3ffiontamo conjw~to de opiniões. Cir-
cunstâncias envoltas à atividade em si tendem a exer-
,
cer atração no sentido de ser classificada como agr~-

36
.--
cola ou como não a,grícola e; assim sendo , como produ-
tiva ou improdutiva, de' acordo com o pensamento fisio-
'-'-"
craul.Co.

Outra problemática, que'custou extensa série


, .
de justificativas, foi a da delimitação dos subsetores
abarcados pelo termo "agricultura": incluem-se como
tal as atividades .extrativas,COi1lO a pesca e a explora-
ção de pedreiras e minas? Quesnay é inteiramente ir-
resoluto acerca da questão. No manuscrito conhecido
como primeir:.iedição do "tableau écono:nique" ele, em
certa passagem, exclui estas atividades ao exemplifi-
car as despesas que consi:iera prod.utivas. Na segunda
e terceira edições, ele as inclui. Kuntz, em minucio-
sa inquirição acerca da questão, argui que

"Quesnay simplesmente .Lança a bom-


ba sobre o leitor e não toca mais no assun-
to,,(19).

A classificação da pesca, exploração de pe-


dreiras e mineração como atividades produtivas ou im-
produtivas, portanto é evi tad9. pelos fisiocratas. Den-

(19) KUNTZ, Rolf N. --.~~~~~~~~~=-


C9.nita1isno e nature-
za: ensaio sobre os fundadores da Economia política.
são Paulo, Brasiliense, 1982. p. 31.

37
---
tre elas, a pesca parece ser a única que contém os
elementos vivificantes da natureza. Estudos apura-
dos (20) reve 1 aram se tambem
" .
aun~ca que, ,a epoca
,
de
Quesnay, produz um excedente sobre seus custos, justi';"
fic~do, segw~do o critério da escola fr~~cesa a deno-
minação de atividade produtiva.

. Muitos autores julgaram que o concBito de


Quesnay foi elaborado com o objetivo dejustific9.r a
implementação do imposto ~~ico sobre a renda dos pro-
prietários de terra. Smith julgou ter ocorrido uma
compensação às idéias nercantilistas na conceituação de
tr':lbalhoprodu.tivo de çuesnay, uma vez que aqueles su-
pervaloriaram as atividades comerciais e este, em con-.
trapartida, o fez em rela.ção às atividades agrícolas.

o conceito de trabalho produtivo' da Escola


Fisiocrática confina-se demais à a.gricultura. A Últi-
ma obra escrita pela escola é datada de 1778 e a as-
cenção da blJ.r3Uesiaocorrida poucos anos depois na
Fr:J.nça(ReVOlução Francesa) jamais toleraria tal con-
cei +o , A classe urbana emergente não poderia assumir
a despresti~iosacarga seoântica da expressão "esté-

. (20) Ver 7r3UL:SRSSE, G. Le mouvement phy.-


siocratiÇiue en France (de 1756 a 1770) ~ Paris-Haia,
Mouton, 1968. p. 277-279. cf.: KUNTZ, R. No _ -
Cani-
...
talismo ••• op. cit., p. 31.

38
~------
ril" ou improdutiva. Jaques Turgot (i726-1781), pro-
vavebnente tentando evit'3.ros embaraços surgidos pelo
emprego destas expressões, conferiu à classe estéril a
nova intitulação de "classe estipendiária" (classe
stipendieé) (21), conservando-lhe as mesmas funções, to-
davia isto foi muito pouco para poupar-lhe o despres-
t'J.gJ.o.
. Além disso, à sua época, a predominância das
atividades agrícolas e as li~tações gerais da indús-
tia fazi~ mais suportável aq,uele conceito. Ademais,
a única classe que ,conforme os fisiocratas (1) cria o
produto líquido, (2) produz bens nateriais,(3) efetua
os adiantamentos das despesas do "exercício", (4) re-
produz anualmente as riquezas da nação, (5) sustenta
as outras duas classes da sociedade e(6) produz um
valor que excede seus custos é digna do prestígio da
denomina.ção "produtiva". O maior mérito da conceitua-
ção de trabalho produtivo e improdutivo da"primeira es-
cola científica de Economia resid~,no enta.nto, na sua
associação com o produto excedente,isto é, compreende
o trabalho a3rícola como produtivo, pelo fato de este
tra-03.:!..Lo
proporcionar um excedente sobre seus custos.

(21) Ver TURGOT, Jaca.ues. Refle:dons sur la


formation et la distribution des richesses. Paris,
Schelle', 1766. t. 2. cf.: G:E1'i1AHLING, Paul. Les
gr"ands économi.stes. Paris, Recuil Sirey, 1925. p •.

570

39
.-~-

Capítulo 4 Ecannala clássica.

a. Introdu cão
••
.

A :Escola Fisiocrática consti tlJ.íra-sede um


grupo de economistas extremamente fechado e coeso en
torno de um líder, o Dr. Quesnay, de modo ~ue o con-
ceito de trabalho produtivo e improdutivo a ele atri-
buf do , f'or a o me sno imputado a tod.os os seus sectá-
rios. Eventuais desvios aconteceram, provavelmente,
de mane í.z-a Lnvo Iurrtár-ã a, O mesmo não ocorre no inte-
rior da chamada :scola clássica. Diferentes posi.ções
acerca de vários conceitos (entre eles o·de trabalho

40
produtivo e impràdutivo)
.--
sao abertamente discutidas e
contestadas entre seus -prmc.í.pafs expoentes. A esco ..
·
,
la, predoninante~ente inglesa, como se sabe, mantem no
liberalismo econômico sua proposta central. Dadas àS

limitações de espaço deste trabalho, apenas serão es-


tudad.os os conceitos de trabalho produtivo e improdu-
tivo-dos principais economistas da escolao são eles:
Smith, Malthus, Ricardo, Th~ille o francês Say. Qual-
quer outra demarcação da :Escola clássica, reduzida a
um pequeno númer-o de pensadores, +ambém seria ãncom-
pletao

b. Smith.

Foi visto que o sistema mercantilista super-


valorizara as atividades comerciais, custando para is-
so o desprestígio das demais atividades e que o siste-
ma fisiocrático fizera o mesmo com relação ao setor
. , . ou agr1.co
pr1.lTIar1.o , 1a. o conceito de trabalho.produti-

41
vo e improdutivo éngen~3.do
---
por Adam Smith (1723-1790)
situa-se entre uma e outra posições.
, "

"Segundo diz o provérbio, •se a


vara estiver inclinada demais 'para um lado,
se quisermos retificá-la é preciso dobrá-la
para o lado oposto, em grau igual ao da in-
clinação anterior". Os filósofos "france-
ses," (Smith evita sistematicamente o título
de 'economistas' ao referir-se aos fisiocra-
tas) "que propuserao o sistema que represen-
ta a agricultura como única fonte da renda e
- da riqueza de cada país," (ou seja," os fi-
siocratas) "parecem ter adotado esse princí-
pio do provérbio, e, assim como no plano do
Sr. Colbert," (Jean-Baptiste Colbert,
mer-can't Lí.srta f'r-ancêa ) "a
í atividade
das cidades certamente foi supervalorizada em
comparação com a do campo, da mesma forma,
no sistema deles, a atividade das cidades
parece ser seguramente subvalorizada,,(22).

A despeito desta colocação, entretanto,


Smith julga, conforme mencionado no capítulo anterior,

(22) SI',:ITE, A. A ri(Hleza... op. ci t., p.


130 (as aspas são do autor).

42
i
!

---_ ...

ser, o trabalho agrícola, "mais produtivo" que os de-


mais,

"entretanto, a superioridade produtiva de


uma classe não faz com que a outra classe re-
ja estéril ou iaprodutivat,(23) t acrescenta.

o aut6r atribui uma série de propriedades


aos trabalhos que julga produtivos, com o objetivo de
identificá-los e discerni-los dos que julga improduti-
vos.

Este conjunto de·propriedades, Smith as ap:-e-


senta, em sua gr-ande parte, dispersas no capf tu.lo três
do livro se~.mdo - A acumulação de capital, ou traba-
lho produtivo e improdutivo - de sua "Riqueza das na-
ções" (1776). Examinadas detida'nente estas proprieda-
des, observa-se que o autor distingue trabaTho produ-
tivo de improdutivo, ora ãnc Lãnanão-cse a levar em con-
ta exclusivamente o processo dentro do qual o trabalho
élev~do a efeito, independentemente do bem almejado,
ora enfocanc1o este be~, porém abstraindo-se inteira-
mente do processo de produção. De f.ato, classifica um
de t ermãnado trabalho, ora em função do processo e ora
em função do resultado almejado.

(23) SI,aTE, s, A riqueza... op , ci t~, p.


138.

43

'.
I
Considera que ---
"existe um. tipo de trabalho que acrescenta
,
algo ao valor do objeto sobre o qual e apli'-.
cado; . e existe outro tipo que nao tem - tal
efeito. O primeiro, pelo fato de produzir
um.valor, pode ser- denominado produtivo; o
segundo, trabalho .improdutivo',,(24).

No entanto, os comentários que sucedem esta


afirmação no texto de Smith, muito mais do que ela
própria, externaI!la percepção do autor acerca do con-
ceito em estudo. Dentre as características que enfo-
can o processo de produção para classificar o trabalho
como produtivo ou imprOdutivo, na concepção de Smith,
pode-se citar: o primeiro (1) realiza-se em uma mer-
cadoria vendável, (2) conduz à aCumulaçãO-de capital,
...•
seus serviços sao utilizados :pelos empregadores
com o objetivo de obter lucro, ao passo que o trabalho
improdutivo, opostamente, (1) não se realiza em ~~a
mercadoria vendável, (2) não proporciona ac~unulação de
capit~l e (3) os empregadores não o utilizam com o fi-
to de al.cençar-lucro" (25) •

(24) SMITR, A. A riClueza... 01'. cit., p.

(25) Ver SrnTH, A. A ri.~ueza .•• 01'. C:l.


(,.,
·L

p. 285-287.

44

-.'
.-- .
De outra parte, quando Smi th leva em conta o
produto em elaboração, argumenta que o trabalho produ-
tivo (4) acrescenta algo ao valor do objeto sobre o
qual é aplicado, (5) fixa-se e realiza-se em um obj eto .
específico o qual perdura, no mínimo algum. tempo de-
pois de encerrado o trabalho, (6) deixa traço ou valor
e (7), realiza-se em um objeto permanente, enquanto o
improdutivo, .respect vanerrté , (4) nada acrescenta
í ao
valor do 'objeto em que é aplicado, (5) não se fixa e
nem se realiza em Um obj eto espec If í.co material e es-
tocável, (6) não deixa traço ou valor e (7) nem se
realiza em um objeto permanente.

Do ex~osto acima, c0ncl~ri-se resumidamente


que, de acordo com Smith, o.trabalho produtivo é aque-
leque produz ou acrescenta valor a uma mercadoria
material objetivando o lucro do empregador e a acumu-
lação'de capital. A ·ausência de uma destas proprieda-
des é condição necessária e suficiente para classifi-
car determinado trabalho como improdutivo.

o conceito de Smith, dado seu duplo enfoque,


ora ao processo de produção, ora ao produ,to em si, fá-
lo, de certo modo, vuL~erável a críticas. Ca~an, por
exemplo, arzvnenta que

":::1e"(Smi +h ) "tentou distingUir


o" .trabaD:o "produtivo do improdutivo atra-
vés de dois critérios, sem considerar que os

45
·----
dois não oferecem os mesmos resultados. Um
deles é que para ser produtivo o trabalho
deve 'fixar-se ou realizar-se' em alguma
'matéria particular que perdura depois de
. ,
executado o trabalho'; e o outro e que o
trabalho. deve fixar-se ou realizar-se em uma
'mercadoria vendável' ,,(26).

A questão fica dirimida a partir da observa-


ção de que Smith define trabalho produtivo e improdu-
tivo pressupondo trabalb.os levados a cabo de conformi-
dade com o modo capitalista de produção. Ora, como
neste sistema, idealmente considerado, todos os produ-
tos são mercadorias e, dessa forma, vendáveis, a res-
trição de SI!.lith
objetiva embutir o conceito de produ-
tivo exclusivamente a este sistema econômico. Além
disso,- somente a produção vendável é factível de gerar
lucro, estimulante essencial do mqdo de produção capi-
talista.

Dado o conceito de trabal~o produtivo e im-


produtivo de Smith,é oportuno indagar q,ue trabalhado-
res es.tiv'idades ele associou a cada uma das éatego-
rias? 'No capítulO cinco do livro segundo d' liA Rique-

(26) C A1H-En, Edvrin. A revievrof 5conomic


Theory. Hew York, A. M. Kelley, 1930. p. 45 (as as-
pas são do autor).

46
za das nações"
.--
Os diversos empregos de capital
ele divide as atividades econômicas do sistema capita-
lista em quatro categorias, a partir da extração da
natureza até a aquisição por parte do consumidor. Pri-
meiro, o "c:ultivo da terra, a exploraçãq das minas e
da pesca"; segundo, as "manufaturas"; terceiro, o.
."comércio atacadista" e quarto, o "comé;rcio varejis-
ta" (27) •

À primeira atividade, o cultivo da terra, a


exploração das minas e da pesca, Smith reservou a su-
premacia sobre as demais em se tratando de produtivi-
dade.

"Não há nenhum capital igual que


movimente uma quarrt í.dade maior de mão-de-o':'
bra pro llutiva do que o capital do agricul-
tor,,(28).

Em seguida,'estende seu pen samen to de U,.'D.a


forma a lhe valer indign:ld2_scont estaçôe s fora da Eco-
nomia Clássica:

( 27) SMITH, ·1
1.e A riq'J.eza •.• op. cit., p.
307.

(28) srUTH, A. A riqueza ••• op. ca. -'-li. , p.


309.

41
.--
"Não somente seus er.1preeados mas
tanbérn.o gado utilizado'no serviço agrícola
são trabalhadores produtivos,,(29).

Classifica o trabaLho dos manufatureiros (da


segunda categoria), como produtivo, uma vez que, .sem.
gre.ndes dificuldades, se ajusta ao conceito Clue elabo-
, .
rou. Qua'1.toaos trabalhos Levados a cabo no comerc~o
.
atacadista (a terceira categoria), inclui entre eles o
transporte, julg~~do-o produtivo.

"O capital do atacadista da empre-


go também aos m.arinheiros e :aos tr=msporta-
dores" (••• ). Essa é a única mão-de-obra
produtiva que o capital do atacadista põe em
ação •••".(30) •.

, .
Smith entende o comerc~o varejesta (quarta
categoria) como improdutivo,ressalvando de maneira
muito discutível Clue

"••• o próprio varejista é o único trabalha-

(29) SIiIIT}i, A. ~ .
~<lueza ••• Opa cit., p.
309.

(30) SMITH, A. ~ .
~<lueza ••• op. cit., p.
3090

48

. ~.
I
I
--~-
dor produtivo ao qual esse capital dá ime-
diatamente empregoll(31)~

Além destas quatro categorias, o economista


,.
escoces considera trabalhadores produ.tivos os capita-
listas:

"As pes~oas que empregam seus ca-


pitais de qualquer Ul!la das quatro formas as-
sinaladas são' elas mesnas trabalhadores pro-
dutivos,,(32)•

Assim, Smith conceitua trabalhadores produ-


tivos e improdutivos ultrapassru1do as fronteiras da
classe trabalhadora, opo stamen t e ao que fizera Quesnay
duas décadas antes' e do qie faria Marx quase um século
depois.

(31) St'ITTE, A. A riqueza ••• 01'. cito, p.


309.

(32) SI,:ITE, A. A riq,ueza••• op. cit., p.


308.

49
,
c. Malthus e Ricardo.

Extremamente cauteloso no emprego de termos


não usuais na literatura da :Economia política e con-
servendo prudência semelha~te no sentido de não utili-
zar expressões com significado desviado daquele que a
conversação já consagrou, Thomas Robert T:íalthus(1766-
1834), não abandona estas características na sua con-
cei tuação de trabalho produtivo e improdutivo. Reco-
menda explici tramerrt
e esta cautela na aplicação de cer-
to s termo s :

"Qual'1doempregamos tel"mos que -


sao
de ocorrência diária na conversa comum de
pessoas instruídas, deveríanos defini-los e
aplicá-los, bem como adequá-los, ao sentido
em que são compreendidos em seu uso ordiná-
rio,,(33),

afirma, em obra eS1.)ecialnente escrita com o intuito de

(33) MALT!-:US,ThO!llaSR. Defini tions in


Poli tical :::;cono~. Ney! York, Augustus M. Ke11ey; 1963.
p. 4.

50
~-----
estudar estas dificuldades.

Na SU:-3. explanação acerca da distinção entre


trabalho produtivo e improdutivo carrega consigo 'a
idéia de que trabalho produtivo é'aquele que produz
riqueza, porém não declara convictanente esta defini-
•..•
çao. 'Apenas observa que

"a questão do trabalho produtivo depende da


definição de riqueza, t~to no sistema dos
econonn'../.."
stas , quer- d'az er-, dos fisiocratas,
"'1uanto no de Adam Smith. A aplicação do
termo produtivo ao trabalho '1ue produz ri-
'1ueza é obviamente útil, seja '1U8.lfor a de-
finição adotada de ri'1ueza,,(34).

Ressalta, contudo, a enorme importância da


correta elaboração do conceito, quando , interrom.pendo'
determin:l.doraciocínio em seus "Princípios", recon1:ece
'1ue

(34) MALT::1JS, Thor.J.as


R. Princípios de Eco-
nomia Política e considerações sobre sua aplicação l~
,tica. são Paulo, Abril Cultm"a1, 1983. p. 12 (Os
economistas). A obra toda apresenta notas de David
,Ricardo, conforme or garrí zado pelo economista it3.liano
Piero Sr3.ffa. (o grifo é do autor).

51
~-----
"seria difícil prosseguir em nossas pesqui-
sas sobre a nátureza e as causas da riqueza
das nações sem uma classificação dos dife-
rentes tipos de trabaTho. Tal classificação
é; necessária, em primeiro lue8:T, para expli-
car a natureza do capital e sua influência
no crescimento da riqueza naca onaã« (35) •

A classificação de determinado trabalho como


produtivo, a partir da sua caracterização como criador
de riqueza, conduz imediatamente à questão da ·defini-
ção, então de riqueza.

"Parece-me
.
aue
"-
a linha mais natu-.
ral a traçar é aquela que separa os objetos
materiais dos imateriais, ou aqueles susce-
tíveis de acunulação e ava.l.í.açâo definida da-
queles que raramente admitem esses proces-
sos ••• ,,(36),

opina Mal thus. :2m seguida, define riqueza, caracteri-


aando a delLri ta~ão nítida entre trabaL.'-1.o
produtivo e

(35) r':'';'LTi:1JS, T. R. Princípios. •• op.


cit., p. 11.

(36) M.ALT;-:uS, T. R. Princípios ••, op.


cit., p. 11.

52
improdutivo: ---
eu definiria riqueza como sen-
- .
n •••

do aqueles objetos materiais que sao neces-


sários, úteis ou agradáveis à humanidade.
Sinto-me inclinado a crer que a definição
assim delinitada inclui quase todos os obje-
tos em que geralmente pensamos quando :fala-
mos de riqueza; .essa é uma van+agem consi-
derável, visto que assim mantemos tanto o
uso comum desses termos quanto o vocabulário
da Economia Política,,(37).

A denominação de trabalho produtivo ficaria, .


dessa forma, associada ao trabalho gerador de "objetos
,
materiais que são necessários, úteis ou agradáveis a
humanidade".

Este conceito leva em conta primor diaL1"1ent


e
o processo no interior' do qual o trabalho está conti-
do, isto é, o processo de produ.ção de riquezas. A li-
I!litaçãoa "objetos materiais" é desejada pelo autor, a
exemplo de Smith, nuito nais porque os tais objetos
são factíveis de elevar a riqueza (uma vez que os ser-
viços s3:o consu::nidosno inst.3.nteda produção e, por-

(37) M!-~LTI-ruS,T. R. Princípios... op.


cit., p. 12.

53
-----
tanto, não estocáveis como riqueza), do que pelas suas
propriedades mais úteis 'que as dos serviços prestados.
Numa palavra, Mal thus leva em conta o processo de tra-
)

'balho e não o objeto final da produção ao discernir


desse Dodo as duas espécies de trabalho. Mantém as
variáveis co~ceitt~das, quase que identicamente como
Smith'o fizera cerca de meio 'século ant~s, confor:r..e
ele próprio observa.

Não obs tant e , elabora uma outra proposta pa-


ra definir trabaL~o produtivo:

,,' '.
••• e necessar~o f azer outra espec~e
' . de dis-

tinção, diferente daquela de Adam Smith e


.que não invalidaria o seu raciocínio,,(38) •

Entretanto, esta "outra espécie de distin-


ção", se não invalida o raciocínio, de Smith, pelo me-
nos alcança resultados substanciabente diferentes e a
ressalva tr2~smite a impressão de apenas uma mera lem-
brança de uma reverência ao inaugurador da Escola
Clássica.

Malthus propõe não se confinar a riqueza a


objetos estocáveis e s~~3ere um~ revisão na classifica-

( 38 ) r.1ALTf:1JS,
T. ,,'R. ?Tinc ípio s. •• op.

cit., p. 14.

54
---
ção dos diferentes tipos de trabalho em função deste
novo determinante:

"Se não restringirmos a ri<lueza a


objetos tangÍveis e materiais, podemos con~
\

siderar todo trabaL1-J.o


produtivo, mas produ-
tivo em diferentes graus; e a única altera-
ção que -seria preciso fazer no traball:o de
Adam Smith no interesse desse modo de
ver a questão seria a substituição dos
termos produtivo e improdutivo por nais pro-
dutivo e menos .•.nrodutivo,,(39).
.

Ma1thus procura demonstrar a justeza desta.


proposição, argüindo que

"esse nodo de considerar a questão talvez


t enh cagens ,. em pon t os especa'fo1.-
enna a 1gumas van .•...
cos,.sobre o de Adam Smith. Estabeleceria
uma escala útil e razoavelmente acurada de
produtividade, em vez de dividir o trabalho
em apenas dois tipos, traçando uma 1i~nha ní-
tida de distinção entre eles,,(40).

(39) ~il.<\LT~lJS,
T.R. Princípios... opo
cito, p. 14.

(40) lfALT!-:'1JS,
T. R. Princílüos... 01'.
cit., p. 15.

55
...---
Essa colocação de Malthus está intinamente
associada à idéia do excedente sobre seus custos do
trabalho a ser classificádo. Embora não l~~ce expli-
citamente este ponto de v~sta, avaliaria a produtivi-
dade do trabalho em tanto maior grau quanto maior fos-
se este excedente.

tlPodemo~ afirmar" (••• ) "que todo


trabalho ]?roduz valor na medida do valor ]?a-
go por ele e na proporção em ~ue o produto
de ,diferentes tipos de trabalho quando
.•.. .
.,vendido s a preç o de livre concorrenc~a
excede em valor o preço do trabalho nele em-
pregado 11 ( 41) •

E, quando toma efetivamente os diferentes


tipos de trabalho observados na sociedade, para atri-
buf.r--Lhe
s o .devid.o "grau de produtividade", evidencia-
se sobr-emsne r-a a sua relação com o exceden+e ,
í

. ,.
"Segundo esse pr~ncl.p~o, os traba-
lhos agríCOlas seriam genericamente falando
os mais produtivos, porque o produto de qua-
se toda a terra efetivamente em uso não ape-
nas tem um valor de troca suficiente r>ara

(41) r,'I!••.:ÚTI-:uS, T. R. Princípio·s... 01'.


cit., p. 15.

56
·--
pagar os trraba'Ihador-es neles empregados, co-
mo também para pagar os lucros dos investi-
mentos feitos pelos agricultores e a renda
da terra cedida pelos proprietários. Depois
dos trabalhos agrícolas, seriam, em geral os
trabalhos mais produtivos, aqueles cujas
.operações fossem mais apoiadas pelo capital
ou pelo ·produto de trabanlo anterior, como
em iodos os casos em que o valor de troca
excedesse de muitoo trabalho empregado na
produção, e sustentasse, em forma de lucros,
>0 maior número adicional de pessoas e ainda
fosse mais favorável à acumulação de capi-
tal.

o trabalho que produz menos rique-


za seria aquele cujo.s resultados fossem ape-
nas eqtuvalentes, en valor de troca, ao va-
lor pago por tal trabalho ~ue, desse modo,
não sustentaria neru:UIDaoutra classe da so-
ciedade além dos trabalhadores realmente em-
pregados; seria aquele que restituísse pou-
co ou nenhum capital ,e que tendesse, da
for~' menos direta e efetiya, àquele tipo de
acumulação que facilita a pr-o duç ão futura.
Naturalmente todos os trabalhadores :improdu-
tivos de Adam Srnith estariam incluídos nesta
Última divisão de trabalho prodt~tiyo,,(42).

57
..
·

Patenteia-se, ---
pelo que Malthus expos acima,
a associação do trabalho "mais prbd"..1.tivo"
com aquele
que, de uma maneira geral, cria maior excedente sobre
o pagamento dos trabalhadores nele empregados.

Ressalve-se que a proposta de considerar os


diferentes tipos de trabalho em função "da sua produti-
vidade como uma'variável de.comport~üento contínuo (e
não, diséreto) não é original em Malthus. Smith
.,
Ja
despontara com a questão anteriormente(43), ao julgar
mais produtivo os trabaJ.hos agrícolas, embora não hou-
vesse feito referências semelhantes aos demais tipos
de trabaTho.

:Malthus classifica, segundo este critério,


os diferentes tipo's de trabalhos observados nasocie-
dade:

"O trabalho agrícola estaria em


primeiro lugar" (•••) "o trabalho manufatu-
reiro e mercantil estexia em segundo lugar."
(••• ) "e os trabalhadores improdutivos de

(42) M~..
E....LT}:uS, T. R. Princípios... op.

cit., p. 15.

(43) Ver SMITH, A. Ariqueza.~. op. cit.,


p. 138.

58
-----
..

Adam Smith estariam em terceiro lugar na


produtividade" •••"(44) •

:Bsta relação dos diferentes tipos de traba-


lho em funç,ão de sua produti vi dade-dznpr-o d.utividade su-
gere a representação gráfica que se segue.

trabalhos
mais
produtivos

CLASSIFIC~;.çÃO DOS TR-\BALEOS, CO:NFOm:tE' A P~O-


POSTA T\'IALTEUSIA:NA ns "GRAUS DE PROWTIVIDADE"

(44) M.A.LT::1JS, T. R. Princípios... op.


cit., p. 16.

59
.--
o gráfico apresenta no eixo vertical uma es-
cala de produti ví dade do trabsüho e no eixo horizon-
tal os dife:-entes tipos de trabalhos a partir da ex-
ploração da natureza até as atividades próximas do
consumo, de conformidade com o que sugere r.Talthus.

o autor, no entanto, faz certa reserva ao


argüir que

"•••a grand» obj eção a esse sistema. é o fato


de tomar ° paganerrt o do trabalho em vez das
quantidades do produto, como critério de
produtividade,,(45)

e sueere outro critério de classificação com inteiro


enfoque ao produto final do trabalho, independentemen-
te do seu processo:

"•••se deixarmos aI!l.8.téria.


de lado, devemos
adotar esse critério, ou todo esforço humano
para evitar a dor e obter o prazer é traba-
lho produtivo. E se realmente
adot3TffioSes-
,
te critério, o mesmo tipo .de trabalho sera
produtivo, ounao, - caso seja pago,. ou
não" (46) •

(45) r;L;'LTE:LJS, T. R. ?rincípios. •• op ,


cit., p. 16.

60
A lembra.nça de Bentham é imediata. A ex-
pressão "evitar a dor e obter prazer" fora 'largamente
empregada por ele nos "Princípios de 110ral e Legisla-
ção" (1789), que influenciara significativamente um.
gre~de número de economistas, conforme será visto no
capítulo seis. Este critério revela inpontestavelmen-
te o lado utilitarista do pensamento de Malthus. Mill
o utilizará e.íetematrí.canentie',
de acordo com o que será
estudado ao final deste capítulo.

Mal tl:us publica- pela primeira vez o .seu


"Princípios" em 1820 e foram extraídos desta obra os
conceitos apresentados neste tópico. Posteriormente,
David Ricardo (1772-1823) f'az~The uma série de notas e
sugere nova publicação com o texto de Mal thus na parte
superior das páginas e suas "Notas aos Princípios de
2conomia política de Malthus" na parte inferior. A
obra completa, escrita pelos dois econoDistas clássi-
cos, foi editada longo tempo depois através da organi-
zação de Piero Sraffa. Segue abaixo, o que 2icardo
oferece nestas notas acerca do conceito de trabalho
produtivo e improdutivo.

Ricardo poupa várias vezes o emprego da ex-


pressão "produtivo", adjetivandotrs.ball:.o. Nas notas

(46) MALT~JJS, T. R. Princípios... 01'.


cit., p, 16. (o grifo é do autor).

61
,I
!
I

i
!

6, 7 e 8, em que 'comenta oS'-êónceitos deMa1L thus acer-


ca da questão, patenteia-se esta observação. Na nota
196, ele refere-se à parte do texto em que Mal thus hou-
vera escrito "••• 0 consuno e a demanda criados por
trabalhadores produtivos •••" através das -
expressoes
"•••0 consumo e a demanda, ocasionados pelas pessoas
empregadas na produção de qualquer quantidade especí-
fica de riqueza ••• "(47), limi t8....'I1do-se
a acompanhar- o
conceito 'malthusiano, sem absolutamente nada acrescen-
tar.

Contesta inteiramente a elaboração ordinal


dos trabalhos que geram excedente, conforme Malthus
apresent2.ra:

"Não é verdade qu.e dentre todos os


trabaTIlos possíveis, o trabalho
aGríCOla se-
,
ria o que mais produz valor" (o •• ) "Não e
verdade que produziriam mais valor aqueles
tr~balhadores 'cujas operações fossem mais
apoiadas pelo capital ou. pelo produ.to de
trabalho anterior' ,,(48) r

(47) RIC/L.f1:DO,
David. ~~~~~--~~~~---
Notas aos Princíuios
de Economia política de r::althus. In: M..<\.LTDJS, Thomas
R. ?rincípios de Econonia pOlítica e considerações 00-

bre sua aI?Lílcaç~pra


- 't'lca. 'São Paulo, Abril C1)~t~),,:""al,

1983. p. 185.

62
assevera Ricardo, contrariaiíd~convictamente Malthus.

No entanto, o conceito de trabalho produtivo


.e improdutivo não·é empenhadamente abordado por Ricar-
do.

d. Say..

Jean-Baptiste Say (1767-1832), principal di-


fusor da Escola clássica na França, afirma em seu
"Tratado de Economia política", editado pela primeira
vez em 1803, que

"Seja qual for a operação a que o

.(48) RICARDO, D. "Notas... In: MALTHUS,


T. R. Princípios... op, cit., p, 14-15. "(as aspas
são do autor).

63
------
trabalho se aplica, ele é produtivo, pois
concorre para a criação 'de um produto,,(49),

, .
assegurando a toda espec2e de trabalho aquela qualifi-
cação.

Na mesma obra, ao contestar o conceito apre-


sentado por Mercier de La Ri:viere (1721-1793); seu
conterrârieo fisiocrata, declara:

"Nem todo trabalho é produtivo. s6


,o é quando acrescenta um valor real a uma
coisa qUalquertt(50).

Um trabalho que não acrescente valor real a


um objeto é classificado como produtivo pelo primeiro
critério, ao passo que, contrariamente, o é, como .±m-
p~odutivo, de conformidade com o outro critério. A
segunda asserção, embora expressa em sentido geral,
parece haver sido circunstancial, uma vez que o autor
se opunha a determinado pensamento. Say carrega con-

(49) ,SAY, Jean-Baptiste. Tratado de Econo-


mia pOlítica. são Paulo, Abril Cultural, 1983. p.
91. (Os economistas).

(50) SAY, J.-B. Tratado ••• op, cit., 'p.


72.

64
sigo o primeiro conceito no percurso de toda sua obra.
Unicamente ressalva que

":e raro que alguém se entregue a


,
um trabalho que não seja produtivo, isto e,
que não concorra para os produtos de alguma
indústria" (•••) "o trabalho é uma pena, e
·essa pena não seri;aseguida de nenhuma com-
pensação, de nenhum proveito: que a supor-·
tasse cometeria uma tolice ou uma extrava-
gâncf.a" (51) •

Não leva em conta o processo social dentro


do qual o trabalho é realizado, mas exclusivamente a
sua resultante final. Como se sabe, Say julga a pro-
dução uma criação de utilidades(52), e não de matéria~
Dessa forma, alguém que se submetesse ao desconforto
do trabalho sem obter esta compensação estaria come-
tendo uma !'toliceou uma extravagância" •

.O autor francês classifica as atividades da

(51) ,SAY, J.-B. Tratado... op, cit., p.

(52) Expressão de grande importância no


pensamento 'do autor, significando a "propriedade de
proporcionar satisfação das necessidades humanas".

65
·-...,-..--
indústria em três tipos distintos: (1) a indústria
a~ícola que "se limita acolher os objetos da nature-
za", (2) a indústria manÚfatureira, a qual "separa,
mdstura e modela os produtos da natureza para adaptá-
los às nossas necessidades" e (3) a indústria comer-
cial, que "coloca à nossa disposição os objetos de que
necessitamos e que, não fosse ela, estariam fora de
aâcancev , Em seguida, assinala convictamente que

"Estes trê~ tipos de ·indústria


(que, se quisermos, podemos dividir em um
.:grande número de ramificações) contribuem
exatamente da mesma maneira para a produção.
Todos eles conferem uma utilidade que uma
coisa já po'ssuian(53) •

Sugere, assim, que as três "indústrias" -


sao
igualmente produtivas e, portanto, identicamente pro-
duti vos os trabalhos nelas aplicados.

Ora, o entendimento da produção como "cria-


ção de utilidadesl1 conduz ao conceito de produtivo co-
mo "criador de utilidades". ~ evidente que o trabalho
agrícola cria utilidades e é, sob esse ponto de vista,
produti vo , A indústria manufatureira, identicamente,

(53) SAY, J.-B. Tratado... op. cit.,· p.


71-72. (os parênteses são do autor)o

66
as cria.
--
~ rápida a ccmpr-eensâo de que alguns produ-
tos agrícolas não se encontram prontos para consumo,
.ou se se encontram, as manufaturas ao menos elev~m
sua utilidade, caracterizando como produtivos os tra-
balhos nelas levados a cabo.

Entretanto, se nessas indústrias a criação


de utilidades as caracterizà como produtivas, até com
certa evidência, o mesmo não se pode afirmar imediata-
mente sobre a "indústria comercial". A classificação
desta atividade como produtiva e, portanto, como pro-
dutivos os trabalhos nela empregados, so pode se en-
tendida a partir da concepção especial de Say acerca
dela. Ele assinala que

"A indústria comercial contribui


para a produção da mesma forma que a indús-
triamanufatureira, aumentando o valor de um
produto mediante o transporte de um lugar pa-
ra o outro,,(54).

Entende o comérCiO, exclusivamente como a


atividade de transporte:

"O comérCiO, na realidade, não é

(54) SAY, J.-B. Tratado... op , cit., p.


73.

67
,,
j

---
senão o transporte das mercadorias de um lo-
cal para outro,,(55),

assevera Say. No capítulo de seu "Tratado de Economia


política", em que escreve acerca di "Os diferentes mo-
dos de' exercer a indústria comercial e como eles con-
correm para a produção", mantém rigorosamente esta
concepção.

Se se considerar o comércio como mero trans-


porte, como faz Say, não é difícil classificar como
produtivos os trabalhos nele empregados, uma vez que
são criadores de utilidades. Os trabálhos de trans-
porte desvinculados da atividade comercial (aos quais
Say não faz referência) seriam da mesma forma 'classi-
ficados. O comércio de imóveis ou de outros bens in-
transportáveis por sua própria natureza, ou que, ape-
sar de móveis, não são locomovidos na ocasião da .ven-
da, carece de argumentos do autor na sua caracteriza-
ção como criador de utilidades e, assim sendo, como
de atividade produtiva. Como já foi observado, pode
,
haver comércio sem transporte e transporte sem comer-
cio.

Numa passagem, apenas, Say considera o co-

(55) SAY, J.-B. Tratado ••• op. cit., p.


73 (nota de rOdapé).

68
, . ---
merc~o destacado da atividade de transporte:

"Exi ste um comércio chamado de es-


peculação que consiste em comprar mer-cadorãaa
num determinado momento, a fim de revendê-
,
las, no mesmo local e intactas, numa epoca
em que acredita-se que elas serão vendidas
, . ,
mais caro. Mesmo -esse comerc~o e produtivo:
sua utilidade consiste em empregar capitais,
entrepostos, cuidados de conservação , uma
indústria enfim •••". Argumenta que "esse
comércio tende a transportar, por assim di-
zer, a mercadoria de um tempo para outro, em
vez de transportá-la de um lugar para ou--
tro,,(56).

Garante, dessa forma, a qualifiéação de


"produtivo" aos trabalhos das "três indústrias" consi-
deradas. Reserva a mesma condição aos trabalhos do
cientista, do escritor e dos empresários. Igualmente,
julga produtivos os trabalhos que criam "produtos ima-
teriais ou valores que são consumidos no momento de
sua produção" (título do capítulO doze da obra de Say,
, -
em estUdO), citando como exemplos o médico, o mus~co,

(56) SAY, J.-B. Tratado... Opa cit., p.


107.

69
o ator, o administrador pÚblico, o advogado, o juiz,
etc. e contrariando a posição de Smith que restringira
.o uso da qualificação "produtivo" a objetos materiais:

"Não acho razoável pretender que o


talento do pintor seja produtivo e que o do
músico não o seja,,(57).

Trata de refutar um por um (capítulo dois do


"Tratado ••• ") os argumentos que houveram feito a Esco-
la Fisiocrática, também f'ranc.esa,julgar improdutivos
os trabalhos executados imediatamente após a agricul-
tura até o instante do consumo.

o conceito de trabalho produtivo, como Say


o engendra, não evidenciando diferenças entre setores,
classes sociais, atividades, materialidade-imateriali-
dade do bem resultante, etc. fá-lo passar praticamente
inatingido por possíveis contestadores perturbados com
aintitulação de improdutivos. Quesnay, em 1758, con-
finar"a a qualificação de produtivos aos trabalhos agrí-
colas e Say, em 1803, a alastra a todas as atividades
capitalistas. A Revolução Francesa~ entre uma escola
e outra, fez ascender ao poder uma classe urbana, a
burguesia industrial, a quem a posição" fisiocrática

(57) SAY, J .-B. Tratado. •• op, cit. , p.


126.

70
era menos conveniente que a de Say.

e. Mill.

John Stuart Mill (1806-1873), ao concei mar


trabalho produtivo e improdutivo, o faz conservando
admiravelmente a ordem e a clareza na exposição, que,
aliás, acompanham todo o seu "Princípios de Economia
pOlítica". Diferentemente de Malthus, cujo conceito
..
de trabalho produtivo e improdutivo fora externado a
partir da definição de riqueza de Smith e condicionado
à comprovação da veracidade de um considerável conjun-
to de outros conceitos, como ficou patente no item ~
deste capítulO, Mill é extremamente convicto em suas
conceituações. Cabe lembrar que, apesar de seu nome
figurar entre os Últimos (cronologicamente falando)
economistas clássicos, seu pensamento não é, via de
regra, concorde ao pensamento daquela escola. Miil
apresenta, certamente,fortes vínculos com as escolas

, 71
_._.---
socialistas e com o utilitarismo de Bentham e James
Mi11, seu pai, pelo menos até a década de 1820. O
conceito de trabalho e improdutivo, ora a.presentado,
está em seus "Princípios•••" (1848), portanto, após a
"rebeldia contra o benthamismo", de acordo com o que
explicou em sua autobiOgrafia(58).

Seu conceito é dos mais precisos, no senti-


do de que remanescem menos dúvidas, de quantos foram
pesquisados para a elaboração deste trabalho. Expõe
que

"Os termos produção e produtivo


são naturalmente expressões elípticas, en-
volvendo a idéia de algo produzido; ora, es-
se algo,-na acepção comum, entendo-o não
como utilidade, mas como riqueza. Trabalho
produtivo significa trabalho que produz ri-
quezan(59).

(58) Ver SCHWARTZ, Pedro. La "nueva Econo-


ma política" de John Stua.rtMill. .Madrid, Tecnos,
1968. p. 57-60.

(59) MILL, John Stuart. Princípios de Eco-


nomia política: com al~s de.suas aplicações à Fi-
losofia Social. são Paulo, Abril Cultural, 1983. p.
62 ,(Os economistas).

72
·--
Esta finalização remete de imediato, às in-
dagações: o quê o autor entende por riqueza? E quais
.são os trabalhos que a produzem? Mill define riqueza
êm função de utilidade e posteriormente retoma o con-
ceito de trabalho produtivo. Classifica as utilida-
des conforme os três tipos abaixo resumidos:

"As utilidades produzidas pelo


trabalho são de três tipos. são estes:

"Primeiran.ente.utilidades fixas e
incorporadas em objetos externos mediante o
trabalho empregado emconferira~coisas ma-
teriais externas propriedades que as tornam
úteis aos seres humanos. Esse é o caso co-
mum, não exigindo explicações"_

"Em segundo lugar, as utilidades


fixas e incorporadas em seres humanos, nesse
caso, o trabalho é empregado para conferir a
seres humanos qualidades que os tornam úteis
a si mesmos e a outros", referindo-se a edu-
cadores, cientistas, moralistas, médicos,
etc.".

"Em terc eiro e .Último lugar, uti-


lidades fixas ou ~ncorporadas em algum obje-
to, mas que consistem em um simples serviço
prestado: um prazer dado, um inconveniente

73
.--
ou uma dor afastada, durante um período mais
longo ou mais curtoll ( ••• ) "por exemplo, o
trabalho do músico, do ator, do declamador
ou recitador público" (••• ). Tal é também o
trabaTho do exército e da marinha" (••• ) "do
legislador, do juiz, do oficial de justi-
ça...
,,(60) •

o pensador londrino, em seguida, confina o


conceito de riqueza, delimitando em consequência, as
fronteiras do trabalho produtivo às utilidades da pri-
meira e da segunda espéCies:

"Temos.agora que estudar qual des-


sas três categorias de trabalho deve ser can-
tadacomo produtiva de riqueza, pois é isso
o que se deve entender automaticamente ao se
utilizar o termo produtivo. Utilidades da
terceira classe, que consistem em prazeres
que só existem enquanto estão sendo desfru-
tados não podem ser qualificados como rique-
za." (••• ) "~essencial, para o conceito de
riqueza, que ela seja suscetível de ser acu-
mulada •••,,(6l).

(60) MILL, J. S. Princípios ••• op. cit.,


p, 62-63.

74
.--
Dessa forma, não considera produtivos os
trabalhos que criam a terceira espécie de utilidades.
'Escreve que

"•••deveremos considerar como pro-


dutivo todo trabalho que é empregado em cri-
ar utilidades permanentes, quer incorporadas
em seres humanos •••tt, ou seja, do segundo ti-
po,'tt
•••quer em quaisquer outros objetos ani-
.. d ,,(62) . t "
ma dos ou ananama os , a s o e, do pr~e~-
..

ro 'tipo.

Esta é a sua anunciação mais simplificada de


trabalho produtivo. Prossegue expondo o que compreen-
de por trabalho improdutivo:

"Por trab~lho improdutivo enten-


der-se-á o que não termina na criação de ri-
queza material; um trabalho que, por maior
.,
que seja a intensidade e o êxito com que e
praticado, não torna a comunidade e o
mundo em geral mais rica em produtos ma-
teriais •••,,(63)

(62) MILL, J. s. Princípios ••• op. cit.,


p. 63-64.

(63) MILL, J. s. Princípios ••• op. cit. ,


p. 64.

75
·--
A regra de discernimento de Mill é clara,
como já foi dito. A classificação dos diferentes ti-
pos de trabalho é relativamente fácil, partindo-se do
critério que adotou. Trabalhos importantes, no entan-
to, que em quase todas as exposições acerca de traba-
lho produtivo e improdutivo consomem extensos espaços,
não constituíram exceção na explicação deste autor.
São os ~abalhos dos transportadores e comerciantes:

"Poderia parecer a alguns que os


tránsportadores e os comerciantes ou nego-
.
ciantes, devam ser colocados nesta catego-
ria," (refere-se à terceira categoria de
utilidades~ quer dizer, de trabalhadores im-
produtivos) "já que seu trabalho não acres-
centa propriedades aos objetos; respondo,
porém, que acrescenta; acrescenta a propri-
edade de as coisas estarem no lugar em que 00

deseja que estejam o que constitui uma


propriedade extremamente útil, e a utilidade
que tal propriedade proporciona está incor-
porada nas próprias coisas, que efetivamente
estão no local em que delas se necessita pa-
ra uSo." (••• ). "Este tipo de trabalho, por-
tanto, não pertence à terceira classe, mas à
primeira" (64), sendo assim produtivo.-

(64) ~nrLL,J. S. Princípios ••• op. cit.,


p. 63.

76
------
Observe-se que o autor não julga inúteis os
trabalhadores improdutivos. Considera-os, por vezes,
mais úteis que os próprios trabalhadores produtivos,
não obstante sua esterilidade na geração de riqueza.

Mi.ll destaca a importânCia, para a acumula-


ção de riquezas, de se dirigir as util~dades produzi-
das ao consumo dos próprios. trabalhadores produtivos,
extraindo daí o conceito de consumo improdutivo. Con-
duz a idéia a extremos, declarando que

"O trabalho de salvar a vida de um


amigo não é produtivo, a menos que o amigo
seja um trabalhador produtivo, e produza
mais do que consomett(65) •

.Sub divide os trabalhos que considera produ-


tivos em várias espécies. Seguem· algumas delas, a fim
de confirmar seu critério: (1) trabalho empregado di-
retamente na coisa produzida, como caça, pesca, etc.,
(2) trabalho empregado na produção de subsistência de
trabalho subsequente, tal como a produção de alimen-
tos; (3) trabalho na produção de matérias-primas e
(4) de implementos; (5) trabalho empregado na prote-
ção do trabalho; ex.: policiais, juízes, etc.; (6)

(65) MILL, J. S. Princípios... op. cit.,


p. 65.

77
---
no transporte e na distribuição de produtos; (7) tra-
balho que se refere a seres humanos, como o de instru-
tores; (8) trabalho de inventar e descobrir(66).

Décadas após os escritos de r~ll, Marx pro-


curou mostrar a debilidade dos conceitos de trabalho
produtivo e improdutivo que pressupuseram a definição
de "utilidade" de Bentham. '0 rompimento de Millcom o
pensamento benthamista contribui para a não inclusão
da produção de utilidades "não-fixas" na categoria de
ati vidades produtivas,· uma vez que estas não têm .po-
tencial para a acumulação de riquezas. Entretanto,
dos pensadores que partem do conceito de "utilidades"
para discernir entre trabalho produtivo e trabalho im-
produtivo, Mill, pela sua ordenação, clareza, franque-
za e atenta observação à realidade concreta _ granjeia
destacada posição.

(66) Ver MILL, J.S. Princípios... op.


cit., p. 49-59.

78
--
.....-...;,... :-

! .

Capítulo 5 Economia Marxista.

a. lntra d ucã
.. o. o

são abordados neste capítUlo os conceitos de


trabalho produtivo e improdutivo de acordo com as con-
cepções de Marx e do economí.sta marxista Paul Baran.
Via de regra, os autores marxistas foram concordes ao
, conceito oferecido por Marx.,

o',
.---
b. Marx.

A distinção entre' trabalho produtivo e im-


produtivo é uma 'temática a Fespeito da qual Karl Marx
(1818-1883) atribui enorme importância. A pressuposi-
-
çao da teoria do valor-trabalho bem como a diferencia-
-
çao entendida por ele dos tipos de, trabalho ora estu-

-
dados contribuem :fundamentalmente para esta atribui-
çao.

Marx define trabalho produtivo e trabalhador


produtivo "do ponto de vista do capital", ou seja, den-
tro do sistema capitalista, da seguinte maneira:

"Como o fim imediato e (o) produto


por excelência da produção capitalista é a
mais-valia, temos que somente é produtivo
aQ.uEüe trabalho que (e só é trabalhador pro-
dutiyo aquele possuidor da capacidade de
trabalho que) diretamente produza mais-ya-
lia; por isso, só aquele trabalho que seja
consumido diretamente no processo de produ-
ção com vista à vaãor í.aaçâo do caPital,,(67).

Este conceito conduz a conclusões de suma

80
importância: --
Primeira: á. distinção entre trabalho produ-
tivo e improdutivo, sob o ponto de vista do sistema
econômico capitalista, é indiferente ao produto em si,
bem como ao seu valor-de-uso. De fato, nada se altera
em função da utilização do bem ou do seu caráter mate-
rial ou imaterial.

Marx explica tal característica do trabalho


produtivo:

"Utilizando um exemplo fora da es-


fera de produção material: um mestre-escola
,
e um trabalhador produtivo quando trabalha
não só para desenvolver a mente das crian-
ças, mas também para enriquecer o dono da
escola", ou seja criar-lhe mais-valia. "Que
este inverta seu capital numa fábrica de en-
sinar, em vez de numa de fazer salsicha, em
nada modifica a Situação,,(6e).

(67) MARX, Karl. Capítulo-inédito d' O ca-


p'ital resultados do p'rocesso de p'rodução imediato.
Porto, Escorpião, 1975. p. ,93. (Biblioteca Ciência e
Sociedade, nº 12; os grifos e parênteses são do ori-
ginal),.

81
Segundà: .--
a propriedade que tem determinado
trabalho de criar valor é condição necessária, mas não
suficiente, para classificá-lo como produtivo. Faz-se
mister que crie um valor excedente sobre seus custos
de produção, ou seja, mais-valia.' Neste ponto, nota-
se destacada semelhança entre os conceitos de Marx e
dos fisiocratas(69). Um trabalho que produzisse valor
inteiramente consumido (pel? trabalhador) dentro do
seu próprio processo seria, de acordo com o critério
.
marxista, considerado uma anomalia, uma irracionalida-
de dentro do sistema econômico capitalista.

Terceira: dois trabalhos idênticos em dis-


pêndio de esforço físico, mental, intelectual, nervo-

(68) r.fARX, Karl. O cap.ital(crítica da


Economia política) O processo de produção global.
9' ed. Rio de Janeiro, Difel, 1984. livro 1, v. 2.
p. 584.

(69) S,chumpeter refere-se à questão, expon-


do que "em sua concepção geral, esta teorial1 (dos fi-
siocratas) "apresenta surpreendente similaridade com a
de Marx. Exatamente como Quesnay admite se a terra
a 'Única produtora de mais-valia, Marx aporrta vo traba-
lho como tal" (SCHUMPETER, JosephA. História da aná-
1ise econômica. Rio de Janeiro, USAID, 1964. v. lo

p. 298).

82
SO, muscular, etc., e que objetivem (por parte do
tr~balhador) o mesmo valor-de-uso podem ser, um produ-
.
tivo e outro improdutivo, em função de estarem, ou
não, inseridos no' modo capitalista de produção e de se-
rem, ou não, produtores de mais-valia.

"Umtrabalho de idêntico conteúdo


pode ser produtivo ou improduti VO;( ••• ) •
. , ,
"Uma cantora que canta como um passaro e uma
trabalhadora improdutiva. Na medida em que
veride seu canto é uma. assalariada ou uma co-
','
merciante. Porém, a mesma cantora contrata-
da por um empresário que a põe a cantar para
ganhar di~eiro,. é uma trabalhadora produti-
va, pOis prOduz diretamente capital,,(70).

Quarta: -
o conceito nao se aplica a alguns
trabalhos, dependendo de eles se encontrarem, ou -
nao ,
inseridos no modo de produção capitalista. Desprenden-
do-se da abstração científica feita por Marx na con-
cepção das relações capitalistas (muito embora esta
abstração seja extraída de uma realidade econOID.J.ca
A •

concreta) e enfocando o sistema econômico realmente


existente, detecta-se resquíCiOS de formas pré-capita- .
listas de produção, como a produção na agricultura de

(70) MARX, K. Q.ap'ítuloinédito. ..op.


cit., p. 99,(0 grifo é do original).

83
·----
subsistência, nas criações artesanais, etc., aos quais
não se encaixa este conceito marxista. Além disso,
conforme observa o pensador soviético Rubin,

"•••do ponto de vista da definição de Marx


sobre trabalho produtivo, o trabalho do ser-
vidor público, da polícia, dos soldados e
dos sacerdotes, não pode ser relacionado a
trábalho produtivo" (••• ) "porque está orga-
ilizado sobre princípios de direi to pÚblico, e
não sob a forma de empresas capitalistas pri-
.~vadas ••(71).

A conceit~ção acima, bem como as conclusões


dela extraídas dizem respeito à distinção entre traba-
lho produtivo e improdutivo engendrada por Marx,sob o
ponto de vista do sitema econ~mico capitalista, ou se-
ja, o conceito não é extensível aos sistemas feudal,
socialista, comunista, etc.

Há, porém, uma outra conceituação marxista


de sentido geral, com respeito à qual, independe o mo-
do de produção considerado.

"Do ponto de vista do processo de

:(71) RUBIN, Isaak Illich. A teoria marxis-


ta do valor. são Paulo, Brasiliense, 1980. p.283.

84 .
----
trabalho em geral, apresentava-se-nos" (no
livro 1, volume 1 di O capital) "como produ-
tivo aquele trabalho que se realizava num
produto,- mais concretamente numa mercado-
riatt(12)•

Prossegue explicando que

"só' a tacanhez mental da burguesia, que tem


por absoluta a forma capitalista de produção
e que, c onsequentement e , a considera forma
.;natural de produção, pode confundir a ques-
tão do trabalho produtivo e do trabalhador
produtivo do ponto de vista do capital, com
a questão do trabalho produtivo em geral,
contentando-se assim com a resposta tautoló-
gica de que é produt~vo todo o trabalho que
produz, em geral, ou que desemboca num pro-
duto, ou num valor-de-uso, em resumo: num
resultado,,(13).

(12) MARX, K. Capítulo inédito ••• op.


,
cit. , p. 93, (o'grifo e do original). Para. um estudo
da Itdupla visão de Marx de trabalho produtivo e impro-
dutivo", ver SINGER, Paul. Trabalho produtivo e exce-
dente. Revista de Economia Política, são Paulo, 1(1):
101-131, jan./fev. 1981.

85
Estes dois conceitos marxistas de trabalho
produtivo, um definido exclusivamente dentro do modo
de produção capitalista é outro definido em um sentido
geral, não obstante a limpidez da exposição do autor,
ofereceram inúmeras controvérsias até nossos dias. Ru-
bin, por exemplo, escreve:

"Infeliz~ente, nenhuma parte da


ampla literatura crítica sobre I~x está tão
cheia de desacordos e confusão conceitual co-
mo a relativa a esta questão, •••" (do tra-
-baâ.ho produtivo e improdutivo) !t ••• tanto en-
tre marxistas como entre estes e seus adver-
sários. Uma das razões dessa confusão é a
idéia obscura que se tem das próprias con-
cepções de Marx acerca do trabalho produti-
vo,,(74).

Está apresentada doravante apenas a concei-


tuação marxista elaborada para o modo de produção ca-
pitalista, tendo em mente que é edificada sobre o pano
de fundo de uma concepção ideal do sistema, embora de-

(73) MARX, K. Cap'ítulo inédito... op.


cit., p , 94. (os grifos são do original).

(74) RUBIN, I. I. A teoria... op. cit.,


p. 277.

86
---
corrida da observação de uma realidade econômica con-
creta.

Dados estes pressupostos, é recomendável à


classificação de determinado trabalho dentro de uma ou
outra categorias,como primeiro passo, .verificar se
ele está organizado sob a for.tnacapitalista de produ-
ção. Se .não, então o conceito marxista não se aplicaet
Se sim, observar se o trabalho cria mais-valia. Em
caso positivo, o trabalho é produtivo e, em caso nega-
tivo, nãooé. Reconheça-se, entretanto, a extrema
dificuldade em estabelecer este discernimento em al-
guns casos minuciosamente selecionados. A questão não
é acabada e este trabalho limita-se a afirmar que o
critério acima foi O indicado por Marx.

No capítulo 9, retomar-se-á a questão e


apresentar-se-á os trabalhos que, segundo Marx, -
sao
produtivos ou improdutivos.

timportante estudar ainda a visão marxista


acerca do significado da demanda de trabalhadores im-
produtivos, não obstante a sua total incapacidade, por
definição, de gerar mais-valia. O autor . considera
"necessários" os trabalhos improdutivos para o sistema
econômico capitalista., justificando assim a sua exis-
tência. Quanto aos trabalhos dos homens empregados no
comércio (Marx os declara imprOdutivos), por exemplo,
observa que:

87
"t um .-- (o comerciante)
-
elemento"
, -
"necessario do processo de produçaocapita-
-

lista em sua tótalidade" (••• ) "Há certa


analogia entre esse trabalho e o de combus-
tão de um corpo utilizado para produzir ca-
lor. O trabalho de combustão não gera ca-
lor, embora seja elemento necessário ao pro-
cesso de produzir .Calor,,(75).

Em sua clássica exposição do "ciclo do capi-


tal-dinheiro", no início do livro 2 d'O capital, re-
presentado por D - M• •• p • •• M' - D', descarta
imediatamente os estádios D - M e M' - D' da rela-
ção das atividades p~odutivas, visto que se relacionam
única e exclusivamente com a circulação de mercado-
rias.

O autor d'O capital, em sua extensa explica-


ção acerca do conceito de trabalho produtivo e impro-
dutivo, desrmoniza-se em um ponto extremamente rele-
vante da quase totalidade dos autores que estudaram a
questão. Estes autores, após conceituarem os tipos de
trabalho ora estudados, empenharam-se, uns mais, ou-
tros menos, em-desfazer os eventuais descontentamentos
de trabalhadores ou classes aos quais haviam atribuído

(75) MARX, K. O capital... livro 2, v. 3.


op. cit., p. 133ó

88
/
!
/

a inconveniente qualificaçãÕ--de improdutivo. Este em-


penho é observável em Smith, List; Senior e, princi-
palmente, nos fisiocratas, cujo conceito houvera me-
lindrado numerosas categorias na França devido seu de-
masiado confinamento à atividades agrícolas, conforme
ficou patente no capítulo 3. Marx não apresenta em
parte alguma esta preocupação. Ao contrário, declara
que

"Ser trabalhador produtivo nao - e,


nenhuma felicidade, mas azar,,(76).

C. Baran.

Paul A. Baran (1910-1964), em sua obra !tA

(76) MARX,K. O ·capital... livro 1, v. 2.


op. cit., p. 584.

89
Economia política do desenvolvimento" --- (1955), compre-
ende trabalho produtivo e improdutivo como algo dis-
cernível e conceituável de tantas maneiras quanto o
número de sistemas econômicos existentes. Com efeito,
defende a idéia de que a cada sociedade economicamente
organizada cabe um conceito "adequado" de trabalho
produtivo.

"Na verdade, do ponto de vista do


feudalismo, era indispensável, produtivo e
racional túdo quanto se mostrasse compatível
com a continuidade e a estabilidade do sis-
tema feudal e a elas conduzisse. Supérfluo,
improdutivo e esbanjador era tudo quanto in-
terferisse com ou se mostrasse desnecessário
à'preserVação e ao funcionamento normal da
organização social então existentett(77).

Faz análoga distinção com relação ao sistema


econômico capitalista:

"Ao admitir que o pronunciamento do


mercado desempenha o papel, de único critério
de racionalidade e eficiência, a Economia"

(77) BARAN t Paul. ,A Economia política do


desenvolvimento. são Paulo, Abril Cultural, 1983. p.
52-53 (Os economistas).

90
·.-..--
(bur-gueaa) "nega qualquer 'respeitabilidade'
à distinção entre" (••• ) "trabalho produtivo
e trabalho improdutivo;" (••• ) "o trabalho
improdutivo é glorificado por contribuir in-
.
dLretamente -
para a produçao... ,,(18)o

Identicamente, estende o conceito à socieda-


de socialista:,

"Do ponto de vista de uma socieda-


de socialista, isto é, de um ponto de vista
,que transcende o quadro de referência capi-
....
talista, muito do que, ao pensamento econo-
mico e social burguês, parece ser indispen-
sável, produtivo e racional se transforma em
supérfluo, improdutivo e eSbanjador,,(19).

Dessa forma, Baran, compreendendo um proces-


so histórico, a exemplo de Marx, (•••feudalismo, capi-
talismo, socialismo, comunismo), aponta para a tendên-
cia da substituição das atividades improdutivas pelas
atividades produtivas, à medida que um modo de produ-

(18) BARAN, P. A Economia... Opa cit., p.


53 (as aspas são do autor).

(19) BARAN, P. A Economia •• o Opa cit., p.


53.

91
ção oferece lugar a outro. ---
Assim,

0 trabalho
••••• improdutivo acima definido
tende a desaparecer gradualmente, à medida
que uma sociedade socialista avança na dire-
ção do comunismo. De fato, certas classes
de trabalhadores improdutivos' são imediata-
mente 'eliminadas cpm a planificação da eco-
. (80)
nomia ••• ti •

Ressalve-se, no entanto, .que se for conside-


rado exclusivamente o sistema econômico capitalista e
a sua evolução observada na realidade concreta (sem al-

(80) BARAN, P. A Economia ••, op. cit., p.


59. Koslov, entretanto, partindo de concepção dife-
rente de trabalho produtivo e improdutivo, coloca. a
questão de outro modo. Segundo ele, "com o progresso
da sociedade socialista, desempenha um papel crescente
.o trabalho na esfera improdutiva, a qual satisfaz as
demandas espirituais dos membros da sociedade e melho-
ra as condições de vida cotidiana do.s trabalhadores. A
esfera improdutiva influi ativamente no desenvolvimen-
to da produção, elevando o nível cultural e técnico dos
trabalhadores e contribuindo ao melhoramento de sua
saúde". (KOSLOV, G. et alii. Economia política. So-
cialismo. Moscow, Progreso, 1977. P.· 188. O grifo é
dos autores)o

92
-_..--'"
teração no modo de produção), detecta-se uma elevação
percentual de trabalhadores empregados improdutivamen-
te em relação aos trabalhadores empregados de maneira
produtiva. Este fenômeno é proximo àquele que se con-
vencionou chamar de "terciarização da economia ••(81).

Não obstante a preciosa refle~o levada .a


cabo por Baran e exposta resumidamente acima, a per-
cepção que tem com relação à distinção entre trabalho
produtivo e imprOdutivo "dentro da estrutura da ordem
capitalista", pode ser mais proveitosamente detectada
quando presta-se a definir a uparcela de trabalho im-
produtivo". A definição não é simples. t muito mais
ardilosa e útil à compreensão de aspectos importantes
do modo capitalista de produção, do que à classifica-
ção de determinado trabalho dentro de uma categoria ou
outra.

"Esta parcela" (de trabalho impro-


dutivo) "consiste para falar em termos
mais gerais em todo trabalho empregado
na· produção de bens e serviços cuja procura
pode ser atribuída às condições e relações

(81) Ver CARDOSO, Fernando Henrique. As


classes nas sociedades capitalistas contemporânea.s (no-
tas preliminares). Revista de Economia política, são
Paulo, 2/1(5): 5-28, jan./fev., 1982.

93
.--
peculiares ao sistema capitalista, procura
esta que não se verifica numa sociedade ra-
cionalmente organizada,,(82).

A~sim, Baran associa o trabalh9 improdutivo


,
a irracionalidade do sistema e, contrariamente, o tra-
balho .produtivo , à sua racionalidade. ~ote-se queBa-
ran, embo~a reconhecidamente-um autor marxista, -
nao
emprega as expressões "produtivo" e "improdutivo" no
mesmo sentido em que Marx as houvera empregado. A
compreensão que tem da questão é, no entanto, admirá-
vel.

(82) BARAN, P. A Economiaoe. op. cit., p.


58 (o autor grifou inteiramente a definição no origi-
nal).

94
.--

Capítulo 6 - Economia Neoclássica.

a.lntroducão.
-

A refutação da teoria do valor-trabalho (que


supõe ser o valor de um bem, função exclusiva da quan-
tidade de trabalho dispendido na sua produção), gene-
ralizada na Escola Neoclássica, obscureceu sobremanei-
ra a importância do conceito de trabalho produtivo e
improdutivo no interior da escola. A tendência a es-
tudar o bem econômico e a avaliá-lo depois de produzi-
do, em função da sua utilidade, arrefeceu a importân-
cia da investigação acerca dos aspectos que envolvem a

95
------.
sua produção. Oútras características da Escola Neo-
clássica devem ser expostas de imediato, uma vez que
.. '.
sao necessar~as
'\ ..",
a apresentaçao dos conceitos de traba-
lho produtivo e improdutivo oferecidos pelos seus prin-
cipais economistas.

o O pensamento utili tari sta (cuja máxima pode


ser expressa por "realizar a maior felicidade do maior
número de peaeo aa'') é largamente difundido entre os
economistas neoclássicos, impulsionando-os a conside-
rar a supremacia dos "trabalhos criadores de utilida-
des" sobrê aqueles que não têm esta propriedade. A
qualificação "útil" .aplicada ao capital, ao trabalho,
ao consumo, à terra, .etc. confere-lhes um prestígio
muito especial, preferi velà expressão "produti vo,,(83)

Há algumas divergênc.ias entre os economis-


tas neoclássicos a este respeito, todavia pode-se con-
siderá-las de segunda ordem. Entre elas, a proposta
da "mensurabilidade da utilidade", encontrada em auto-
res como Jevons, Menger, Walras e Marshal e negada por
A11en, Hicks, Pareto e outros, que conduziu, respecti-
vamente, à abordagem cardinal e à abordagem ordinal da
teoria do consumidor. Estas suposições opostas -
nao

,
(83) Ver BENTHAM, Jeremy. Escritos econo-
micos. MéxiCO, Fondo de Cultura Econômica, 1965. p.
14-15.

96
alteram essencialmente
--
a linha geral do pensamento
neoclássico.

~ sabido, na literatura acerca da História do'


Pensamento Econômico, não falta àquela ~scola, também
conhecida como marginalista, a qualificação de "apolo- .
.gética.", na medida em que esforça-se Po! restaurar, a
nível acadêmico, a imagem do sistema econômico capita-
lista, danificada pelo marxismo.

·b. Bentham.

Jeremy Bentham (1748-1832), utilitarista, es-


creveu quase um século antes da Escola Neoclássica.
Grande parte dos economistas desta escola retomou ir-
restritamente seus conceitos na contextura de suas
teorias. O conceito de trabalho produtivo e improdu-
tivo de Bentham está incluído neste capítulo unicamen-
te pela proximidade de seu pensamento aos dos econo-

97
mistas neoclássicos.
--
O-autor é principalmente conhe-
cido pela relação que atribui a dor e prazer. Consi-
dera-os variáveis de intensidades mensuráveis em senti-
dos opostos. Assim, a dor seria uma. espécie de prazer
negativo e vice-versa. No que concerne ao trabalho,
julga.-o uma dor e seu produto uma "utilidade" capaz de
proporcionar prazer:

tiA aversão, não o desejo, é a úni-


ca emoção que o trabalho, por si mesmo é ca-
paz de produzir; ti ( ••• ) "até o grau em que a
palavra trabalho se toma em seu próprio sen-
- ,
tido, dizer amor ao trabalho, e expressar
dois termos contraditórios,,(84).

Pode-se considerar Bentham adepto da teoria


do valor-trabalho, pois afirma que:

tiA riqueza é o produto do traba-


lho. A proporção do aumento da quantidade de
trabalho empregado na produção de riqueza, é
, .
a medida da proporção do aumento da propr~a
riqUeza,,(85) ,

(84) BENTHAM, J. Escritos ••• op. cit., p.


,
8 (o grifo e do autor) •

(85) BENTH.AM, J. Escritos ••• op. cit., p.


96.
98
e que:

tiOs termos riqueza e valor expli-


cam-se ente si. Um artigo apenas pode en-
trar na composição de um volume de riqueza
se possui algum valor'.(86) •

o pensador inglês .trata por produtivos e im-


produtivos, respectivamente, os trabalhos que criam.
riquezas e os que não as criam. Segue abaixo a manei-
..
ra pela qual classifica o trabalho. em quatro espécies:

til. Em alguns caao s o trabalho se


emprega sem dar origem a nenhuma espécie de
riqueza: tal é o trabalho de serventes su-
pernumerarios, de bailarinos, músicos, etc.

2. Em outros casos o trabalho se


emprega para a produção de artigos de consu-
mo rápida, sem nenhum efeito ulterior; tais
são, por exemplo, os alimentos e bebidas de
.]:uxo,co.nsumidas além do necessário à sub-
sistência.

3. Em outros casos também se em-

(86) BENTHAM, J. Escritos... op. cit., p.


90.

99
.--
prega em artigos que, ainda" que igualmente
improdutivos têm a vantagem de sua durabili-
dade: tais são os vestidos, os móveis, os
edifícios e outros objetos que possuem esta
qualidade em infinita variedade de graus.

4. Em. outros casos também se em-


prega em artigos que, qualquer que seja sua
. durabilidade, têm a vantagem de servir, mai s
ou ou menos, para a produção de várias coi-
, .
sas úteis; na agricultura, maquanas , adu-
bos, gado, leiterias,etc., na manufatura,
. ,
ferramentas, armazens, matérias-primas,
-etc"(87) •

Sem delimitar claramente quais destes "ca-


sos" correspondem a. trabalhos que considera produtivos
ou improdutivos, Bentham observa que:

,
"•••a quantidade de riqueza de um pa.l.S de-
penderá, ao final de um período determina-
do," (entre outras variáveis) pela !t ••• pro_
porção mais ou menos elevada entre trabalho
produtivo e improdutivO,,(88).

(87) BENTF..Atl, J • Escritos... op, cit., p.


118-119.

100
..

o ---
pensamento benthamista, conforme dito, in-
fluenciou sobremaneira os economistas neoc1ássicos,
cujos conceitos de trabalho produtivo e ::
.improduti vo
são apresentados a seguir •

. '·C. Jevons.

Em 1871, Wi11iam Stan1ey Jevons (1835 -1882)


retrilha a "teoria do prazer e do sofrimento" de
Bentham:

"•••devemosindubitavelmente aceitar o que


Bentham. formulou sobre este tema,,(89).,

(88) BE~~FJUd,J. Escritos... op. cit., p.


119.

(89) JEVONS, Wi1liam Stan1e~. A teoria da

101
-----
Em. conaequênc í.adesta. irrestrita. observância.
à premissa benthamista, Jevons define trabalho como

"•••qualquer esforço penoso da mente ou do


corpo empreendido parcial ou totalmente ten-
do em vista um bem futuro"(90).

Em função desta detinição, conclui que

"•••devemos médir o trabalho pela quantidade


de sofrimento que se vincula a e1e,,(91.).

Jevons propõe, em resumo, um· tratamento al-


gébrico a estas variáveis. Supondo uma reta numérica,
poder-se-ia considerar, de acordo com seu pensamento,
na metade negativa~ o sofrimento (associado ao traba-
lho e à produção) e, na metade positiva, o pra~er (as-
sociado às utilidades e ao consumo).

Economia política. são Paulo, Abril Cultural., 1983.


p. 41 (Os economistas).

(90) JEVONS, w. s. A teoria •• ~ op. ci t.,


p. 110.

(91) JEVor~S, w.~s. A teoria ••• op. cit.,


p. 110.

102
---
Ité possível que a verdadeira solu-
ção consistirá em tratar o trabalho como um
caso de utilidade negativa ou utilidade ne-
gativa combinada com PositiVa"(92).

Toda a teoria de Jevons fundamenta-se neste


pressuposto. Observe-se que sua 'tTeoria da Economia
política" é inteiramente voltada à criação de utilida-
des, sem enfoque ao processo social desta criação. Não
emprega as expressões "produtivo" e tlimprodutivotl para
qualificar as' espécies de trabalho que criam ou não
,
utilidadés, ao contrário do que fez Walras, como sera
estudado a seguir.

d. Walras.

(92) JEVONS, W. S. A ~eoria •• , op. cit.,


po 92.

103
o .--
economista francês, Léon Walras (1834-
1910), tido como um dos·fundadores da teoria margina-
lista dentro da Escola Neoclássica, ao lado de Jevons
e Menger, refere-se inúmeras vezes aos "elementos pro':'
dutivos" da sociedade, entre os quais o trabalho.

"Os elementos produtivos são em


número de três. Q:uando os enumeram, os au-
tores dizem na maioria das vezes: a terra,
o trabalho e o capitalu(93).

Walras, entretanto,. emprega a expressão "aLa-


mentos produtivos" no sentido próximo ao de "fatores
de prOdução". A antítese, "elementos improdutivos" ou
"elementos estéreis",não é objeto de sua:reflexão.

o autor francês emprega a expressão "servi-


ços produtivos" em contraposição a "serviços consumí-
veis". Embora o que entenda porttserviços" esteja mui-
to mais próximo de "rendimentos que consistem na pro-
I

pria utilização de capitais", do que de trabalhos ou


produtos não estocáveis, seu raciocínio faz lembrar os
conceitos de trabalho produtivo e improdutivo engen-

(93) \VALHAS,Léon. Compêndio dos elementos


de Economia pOlítica pura •. são Paulo, Abril Cultural,
1983. p. 108 (Os economistas; Os grifos são do autor).

104
.s->:

drados por inúmeros pensadores que o precederam:

"Há dois tipos de serviço. Há os


que são absorvidos como existem pelo consu-
mp" (••0) "o abrigo da casa, as consultas do
advogado, do médico, o uso dos móveis, rou-
pas, etc. Nós os chamaremos ~e serviços con-
sumíveis. E há os que são transformados,
pela agricultura, pela indústria, pelo co-
mércio, em rendimento.s ou em capitais, isto
é, em produtos: a fecundidade da terra, o
,
trabalho do operário, a utilização das ma-
quinas, instrumentos, utensílios, etc. Nós
os chamaremos de serviços produtivos,,(94).

t embaraç oso a Walras elaborar um conceito


de trabalho produtivo na medida em que considera as
próprias pessoas como "capitais naturais". Elabora. um
rol destas pessoas ou "capitaisll, tal como segue:

ttasque não fazem outra coisa senão viajar e


se divertir;

"as que estão a serviço de outras pessoas:


cocheiros, cozinheiros, criados e criadas;

(94) WALRAS, L. Compêndio... op, cit.,


p, 109 (os grifossão do autor).:

105
"os funcionários ·--
públicos que estão a servi-
. ,
ço do Estado ,como administradores, JUl.zes,
militares, etc.;

"os operários e operárias da agricultura, da


indústria e do comércio; "

"os homens que se .dão a profissões liberais,


como advogados, médicos, artistas, etc.,,(95).

Esta class"ificação de pessoas conf'ormesua


atividade aparenta haver sido elaborada em função da
produtividade de seus elementos. Lembra imediatamente
um grande número de classificações "
semelhantes
"
elabo-
das pelos economistas clássicos. Ao primeiro grupo,
das pessoas Itquenão fazem outra coisa senão viajar e
se divertirlt, certamente não se aplicariam as qualifi-
cações de trabalhadores produti vos ou improdutivos,
pois não se trata sequer de um conjunto de trabalhado-
res. Os segundo, terceiro e quinto grupos incluem
, .
proprl.as
trabalhadores, cada qual com características
e distintas, que já houveram sido julgados improduti-
vos dentro da teoria de vários pensadores da Escola
Clássica. O quarto grupo retoma a divisão das ativi-
dadesem agríCOlas, industriais e come~ciais, tal qual

(95) WALRA.S, L. Comp,êndio... op, cit.,


p. 110.

106
o fizera, por exemplo, Quesn~,
--- dentro da Escola Fi-
siocrática.

Walras recobra o julgam.ento dos fisiocratas,


segundo o qual o trabalho agrícola é o único produti-
vo, e empenha-se em demonstrar que os trabalhos da in-
.dústria e do comércio igualmente o são. Para fazê-lo,
mantém o mesmo conceito de trabalho produtivo adotado
por seus conterrâneos franceses:

"Será verdade que a classe indus-


trial e comerciante produz apenas o que ela
consome ou consome inteiramente o que pro-
duz, sem deixar produto líquido suscetível·
de garantir a vida de uma classe de proprie-
tários? Nada disso. A indústria e o comér-
cio não fazem o mesmo uso da terra que a
agricultura, mas, entretanto, fazem dela
certo uso. Não se pode fazer indústria ou
,
comércio entre o céu e a terra; e preciso
situar-se em algum lugar sobre o solo. Ora,
assim como a agricultura pode alimentar, pe-
lo rendimento fundiário a classe dos pro-
prietários das terras situadas nos campos,
a indústria e o comércio podem alimentar,
pelo rendimento fundiário, a classe dos pro-
prietários das terras situadas nas cida-
desH(96).

107
.--
Em resumo, as referências de Walras a trabà-
lho produtivo e improdutivo são superficiais e não se
evidencia em sua obra0 propósito convicto de desen-
volver uma distinção entre estas espécies de trabalho.
Marsha1l, por sua vez, adentra empenhadamente na dis-
cussão da questão, como será visto em seguida.

e. Marshal.

Alfred Marshall (1842-1924) trata da ques-


tão do discernimento entre trabalho produtivo e traba-
lho improdutivo com extrema cautela. Nos seus "Prin-
cípios de Economia" (1890) não estabelece convictamen-
te uma distinção, em instante algum. No ponto em que
está mais próximo de fazê-lo, afirma que:

(96) WALRAS, L. Compêndio... op. cit.,

108
---
tlTodo trabalho se dirige no senti-
do de produzir algum eféito" (••• ). E, se
tivéssemos que·começar de novo, seria melhor
considerar todo o trabalho como produtivo,
exceto aquele que deixasse de atingir o fim
colimado, e que destarte não produzisse uti-
lidade alguma,,(97).

Not-e-se que o autor sugere a distinção acima


indiferentemente ao processo social dentro do qual o
trabalho está contido. Cabe destacar também a parti-
cularidade de não ter aberto mão da expressão "utili-
dade". ~bastante que o fruto do trabalho seja útil
e coincidente com a intenção inicial, para caber-lhe a
qualificação de produtivo.

Entretanto, o economista inglês ressalva que

"Sempre que usamos a palavra pro-


dutivo isoladamente, devemos entender produ-
tivo dos meios de produção ou de fontes du-
ráveis de satisfação. ~,noentanto, uma
palavra ambígua, e não deve ser usada quando
se exige precisão. Se queremos usá-la num
sentido diferente, devemos dizê-Ioo Por

(97) MARSRA.LL, A. Princ!pioso". op. cit.,


p. 74.

109
--
exemplo, podemos falar de um trabalho que
,
e
p'rodutivode subsistências, etc.(98)•

.Marshall, bem como a maioria dos economistas


neoclássicos, empenha-se muito mais em interpretar o
significado histórico das expressões "~abalho produ-
tivo" e "trabalho improdutivoJt, dentro dos escritos da
Economia ~olítica do que, propriamente, remodelar uma
nova conceituação ou recobrar e desenvolver determina-
do ponto de vista. Chega mesmo a propor a conveniên-
cia de que a palavra produtivo "caia gradualmente . em
desuso". Reporta-se com muita propriedade ·aos riscos
de uma delimitação rigorosa:

nA tentativa para traçar uma linha


dura e inflexível de distinção onde não há
descontinuidade na Natureza tem, às vezes,
feito muito mal, mas talvez nunca tivesse
levado a resultados mais artificiosos do
que nas rígidas definições que têm sido da-
das ao termo Produtivo. Algumas delas, por
exemplo, lev~ à conclusão de que um cantor
de 6pera é improdutivo. Mas o impressor dos
bilhetes de ingresso na Ópera é produtivo.
Enquanto o porteiro que aponta ao pÚblico os.

(98) MARSF~LL, A. Princípios... op. cit.,


p. 75-76 (osgrifos são do autor).

110 .
--
seus lugares é improdutivo, se ao invés acon-
tecesse que ele vende programas, então se
torna produtivo,,(99).

t clara a alusão a Smith, assim como a todos


os economistas que haviam. até então'julgado produtivos
exclusivamente os trabalhos geradores de bens materi-
ais. Na ,mesma nota, adverte que:

flTodasas diferentes acepções em


que a palavra Produtivo é usada são muito
sutis e têm um certo ar de. irrealidade •••li
(?). "Elas têm uma longa história e, prova-
velmente é melhor que gradualmente caiam. em
. (100)
desuso do que abandonados abruptamente" •

(99) MARSHALL, A. Princíp.ios••• op. cit.,


p. 76 (nota de z-odapé ) •

(100) MARSHALL, A. Pr'l.ncl.p'l.Os


,. ••• op. cit.,
p. 76 (nota de rOdapé). A afirmação lembra imed1ata-
mente a colocação feita por Baran. 'Segundo este au-
tor, "••• a simples distinção entre trabalhadores pro-
dutivos e improdutivos defronta com a firme oposição
da Economia burguesa. Ela sabe graças à experiên-
cia de sua própria juventud~ que esta distinção se
pode constituir em poderoso instrumento de crítica so-
,
cial, capaz de ser facilmente orientado contra a pro-

111
Marshallempenha-se
--- em demonstrar que ostra-
balhos dos homens que atuam no comércio não são meri-
tórios da qualificação de improdutivos, repetindo a
tentativa da maioria dos grandes autoresneoclássicos,
além de Say, Mill e outros autores envolvidos com as
idéias utilitaristas.

"Diz-se,.às vezes, que os comer-


ciantes não produzem;" (notar que ele se
abstém do emprego da expressão timproduti-
.,
vo t, embora a ocasião fosse oportuna) ~'que
enquanto o marceneiro faz a mobília, o nego-
ciante de móveis vende apenas o produto ela-
borado. Mas não há fundamento .científicopa-
ra tal distinção. Ambos produzem utilida-
des, e nenhum deles pode fazer mais: o nego-
ciante de móveis movimenta e dá novo destino
à matéria, a fim de dar-lhe maior serventia
do que antes e o carpinteiro não faz mais
nada" (•••) "o peixeiro ajuda a transferir o
peixe de onde é relativamente de pouca uti-
lidade para onde possa ter maior emprego, e
o pescador nada mais faz" .(•••). Alguns au-
tores têm revivido o ataque medieval ao co-

pria ordem capitalista"(B~, Paul A. A Economia


política do desenvolvimento. Rio de Janeiro, Zahar,
1977 o p. 84).

112
mércio, sob o fundamento de que o mesmo não
produztl(idem). ."Todavia, não têm mirado no
(101)
alvo certo ••• " •

A problemática da classificação do comércio


como ati vi dad e produtiva é compãexa, Grande parte dos
pensadores que refletiram sobre a questão, atribuem a
condição de trabalhadores pr.odutivos aos homens que
atuam no comércio em função da pro dut ividade de ativi-
dades que lhe são meramente circunstanciais e que, de
forma alguma, lhe são essenciais, tais como o trans-
porte, o seguro, a vigilância da mercadoria contraf~
tos, os cuidados com a perecibilidade, a armazenagem,
a movimentação interna da mercadoria em depósitos, a.
prestação de eventuais assistências técnicas, os Últi-
mos reparos na mercadoria para a entrega ao comprador,
os serviço~ de entrega, os embalamentos especiais, além
de outras atividades que necessitam estar próximas do
instante da venda pela própria natureza do produto.

,
Embora não tenha atribuído relevância a
questão do trabalho produtivo e improdutivo, confira-
se a Marsha1l os méritos de ter tratado do tema e de
haver declarado sua posição de evitá-lo. Com a expo-
sição do pensamento marshalliano, está concluído o es-

(101) MARSP~, Ao Princípios... op. cit.,


p. 73-74.

113
'---
tudo acerca da trajetória do conceito de trabalho pro-
dutivoeimprodutivo desde'o sistema mercantilista até
a Escola Neocl&ssica.

'. .

.. "

114 "
. " '.,

--

. '

hgundaparte

-dos acerca
Consideracões

conceitos
de .

.trahalhe produtivo e . improdutivo .


,

'115

•. ,.'
---

Capítulo 7 - Conceituação em função do pro-


duto e em fun§ão do processo.

Há autores cujo discernimento entre trabalho


produtivo ~ improdutivo é elaborado exclusivamente em
função do produto final resultante., sem levar em conta
o processo de trabalho em si. Destaque-se entre eles
os chamados economistas utilitaristas, de uma forma ou
de outra vinculados ao pensamento bentha.'Dista,confor-
me foi visto no capítulo 6. O autor português João
Bernardo, refere-se à questão com bastante proprieda-
de: .

"Para eles o •• ti (os economi stas bUI'-


gueses antecessores e contemporâneos a Marx)
"•••a distinção entre trabalho produtivo e
improdutivo decorria de uma outra,conside-

116
:.-----
radafundamental, entre o trabalho útil e o
inútil ou supérfluo.Tà.l distinção incidia
nos produtos produzidos e não no processo de

-
trabalho" (•••). "Tratava-se de uma concep-
çao decorrente das tentativas de naturaliza-
ção da ideologia, já que era na realidade ma-
terial que se procurava a razão das classi-
a.caço- es economãoas" (102) •
f" A.

Em contrapartida, alguns economistas centram


sua análise unicamente. no processo. social do trabalho,
não reservando a mínima consideração ao valor-de-uso
ou à utilidade do bem ou serviço resultante. t o caso
típico dos conceitos de :Marx e dos demais autores mar-
xistas.

"A classificação de um trabalho em


produtivo ou improdutivo é, em ,,--º-ªpital"(de
Marx) "inteiramente indiferente à natureza
material ou a essa pretensa natureza
do produto, e incide exclusivamente sobre a
posição do processo de trabalho no conjunto
do processo econômico capi.talista. O produ-
to é, em Marx, um puro determinado pelo pro-
cesso de trabalho,,(103).

(102) BERNAP~O, João. ~,crítico de


~~x. Porto, Afrontamento, 1977. v. 3. p. 59.

117
·--
Esta separação entre os economistas que de-
finiram trabalho produtivo e improdutivo levando em
conta o processo de trabalho e os que o fizeram. consi-
dez-ando o resultado do trabalho não é, absolutamente,
rigorosa. Vários economistas argumentam a justeza de
seus critérios de distinção, ora enfocando o resultado
do trabalho, ora seu processo, entre eles Smith, con-
forme fo~estudado no capítulo 4. Quesnay confere a
exclusiVidade de ser produtivo ao trabalho agrícola (o
que leva em conta primordialmente o prOduto), no en-
tanto o argumento sustentador desta posição, ou seja,
a justi:ticativa do "produto lÍquido 11, origina-sede
uma análise cujo pivô é o processo social mOdelado no
"tableauéconomiquen• Esta separação. de critérios é,
entretanto, de enorme importância. t amais expressi-
va classificação dos conceitos de trabalho produtivo e
improdutivo, sagazmente sentida por João Bernardo(104).
t um instrumento precioso de percepção de significati-

(103) BERNARDO, J. Marx, ••• op• cit.,


v. 3. p. 60 (o grifo é do autor).

. (104) Para Um aprofundamento nas questões


concernentes a esta classificação, consultar BERNARDO,
J.Marx, ••• op. cit., v. J, capítulo 22 - A -
nao
concepção dos gestores em "O capitaltt• Segunda parte:
trabalho produtivo/trabalho improdutivo.

118
,
!
I

vas características
---
da ideologia do pensador e da es-
cola, conforme Bernardo. Quando um autor ou uma esco-
la elabora um critério de distinção entre trabalho pro-
dutivo e imprOdutivo, mantendo-se indiferente quanto
ao processo social dentro do qual o trabalho é reali-
zado, pressupõe que para qualquer processo social o
critério de distinção é o mesmo, livrando-se do incon-
veniente .de reconhecer que dado sistema social de pro-
dução pressupõe a existência de trabalhadores Lmpr-odu-
tidos. Este é o caso dos economistas neoclássicos,
que definem trabalho produtivo, quando o fazem, inde-
pendente do trabalho estar sendo realizado dentro ou
:fora do processo capitalista de produção.

Em contrapartida, a negligência com respeito


ao aspecto material ou útil do bem resultante do tra-
balho a ser classificado como produtivo ou improduti-
vo, em favor de exclusiva consideração ao processo so-
cial que ocondiciona, tem o efeito de destacar impor-
tantes características com relação a atividades impro-
dutivas do referido processo. A confirmação da neces-
sidade estrutural da existência de trabalhadores im-
produtivos em determinado sistema econômico, importuna
seus ideólogos. Daí, ser sutilmente perceptívél nas
escolas de caráter reconhecidamente conservador e apo-
logético, a relutância em distinguir os trabalhos e os
trabalhadores improdutivos ou em admitir a improduti-
vidade de determinados trabalhos; ou ainda, no míni-
mo, o esforço por deslocar a linha divisória no senti-

119
do de restringir ---
a ocorrência de trabalhadores impro-
dutivos, reduzindo o seu efeito ideologicamente incon-
veniente.

Além de Bernardo, Baran reflete sobre a


questão e, baseando-se no sistema econômico capitalis-
ta, assevera:

f1~ interessante notar que esse es-


forço de glorificar a ordem capitalista, pe-
la eliminação da distinção entre trabalho
'~produtivo e improdutivo, contribui enorme-
mente para a auto-emasculação da Economia
burguesatl(105).

Dessa forma, Bar-an procura explicar o .com-


portamento.ideológico dos neco~omistas burgueses" no
sentido de evitar a distinção entre trabalho produtivo
e improdutivo.

Em resumo, pode-se classificar as distinções


entre trabalho produtivo e improdutivo de duas manei-

(105) BARAN, P. A Economia!!•• (Zahar) op.


cit., p:. 84 (nota de rOdapé). Para questões apologé-
ticas da distinção entre trabalho produtivo e improdu-
tivo em vários sistemas de produção, ver o capo 2
O conceito de excedente econômico, da obra.

120
ras, a saber: --
lI> distinção em função das características
e propriedades do bem ou serviço resultante do trab~·
lho considerado. Exemplos:

a) considerar produtivo o trabalho que cria


objetos úteis aos seres humanos e improdutivo o traba-
lho que não os cria;

b) julgar produtivo o trabalho que produz os


bens materiais e improdutivo o trabalho que produz os
bens não materiais.

21) distinção em função do processo social


ou sistema econômico dentro dó qual o trabalho é exe-
cutado. Exemplos:

a) considerar produtivo, dentro do sistema


capitalista, o trabalho que produz mais-valia e impro-
dutivo o trabalho que não tem esta propriedade;

b) suporproduti vo, no sistema econômico feu-


dal, o trabalho que gera a corvéia e improdutivo o tra-
balho que não o faz.

Com relação aos critérios de distinção entre


trabalho produtivo e improdutivo que levam em conta o
sistema econômico dentro do qual o trabalho é levado a

121
., .-----
cabo, observa-se que varios economistas elaboram seus
conceitos e os consideram aplicáveis exclusivamente a
um determinado sitema ecónômico. Assim o faz, por
exemplo, Marx, conforme foi visto no capítulo 5. O
autor dto capital define trabalho produtivo "sob o pon-
to de vista do sistema econômico capitalistalf, como'.
sendo' todo aquele trabalho capaz de criar mais-valia.
Assim, o critério não se apl.ica a trabalhos executados
à.margem do sistema.

Acerca da classificação de trabalhos segundo


"valores" -do próprio sistema em que é em.preendido, o
economista'Baran elabora admiravelmente uma anlogia:

"Como poder-famc s pensar em julgar


a contribuição que um homicida faz ao bem-
estar, se adotássemos como ponto de partida
os cânones de comportamento seguidos por uma
sociedade canibal? O que pOderíamos fazer
de melhor seria julgar a coerência do com-
, .
portamento dos canibais com suas pro'pr~as
leis e regulamentos canibalísticos. Esse
tipo de indagação pode ser útil, se estivés-
,
semos procurando divisar os meios necessa-
rios à preservação eao melhor funcionamento
da sociedade canibal. O que se poderia de-
duzir, porém, de tal investigação, em termos
de'be~estar humano? Defrontaríamos com uma
situação de ótimo econômico se supuséssemos

122
---
que a vida dos canibais se conforma plena-
mente com os preceitos de sua sociedade, que
seus chefes conseguem realizar tantos escal-
pos quanto são requeridos pela sua fortuna,
posição social e suas relações, e que todos
os demais canibais consomem o número de es-
,
trangeiros que corresponde, exatamente, a
sua .produtividade ,marginal" (•••). "Pode-
ríamos, em tal caso, afirmar que o bem-estar
dos canibais melhorou? t óbvio que não po-
deríamos tirar esta conclusão da situação
.:que descrevemos" (106) •

Do mesmo modo , argumenta Baran, é redundân-


cia afirmar que determinado trabalho, elaborado em de-
.t.erminado sdstieraaeconômico, é produtivo unicamentePQr
ser atividade essencial àquel~ sistema. Por exemplo,
é redundância asseverar que o trabalho do comerciante
no sistema capitalista é produtivo, simplesmente por-
que o sistema capitalista não poderia existir sem, co-
, .
merc~o.

No capítulO 5 foram.abordados os conceitos


de trabaTho produtivo e improdutivo que Baran elaborou
para vários sistemas econômicos diferentes. 1: opor-

(106) BARAN, P. A Economia... (Zahar) op.


cit. po 79-80 (o grifo é do autor).

123
.--
tnmo , entretanto, esclarecer uma importante questão,
co~ respeito· a conceitos de trabalho produtivo e im-
produtivo elaborados sob o ponto de vista, exclusiva-
mente, de um determinado sistema econômico. Estes
conceitos tomam por base concepções modelares destes
sistemas, embora a realidade concreta seja repleta de
exceções. O conceito fisiocrático, por exemplo, é in-
separável de seu Ittableau"•. ~ indiscutível que na
realidade concreta houvesse na indUstria francesa, ao
menos alguns raros trabalhadores que, a exemplo dos
agricultores,. produzissem além do seu custo de manu-
tenção (ou seja, um produto líquidO), caracterizando-
os como produtivos e fazendo naufragar a idéia de es-
terilidade da indústria. Marx, por sua vez, fala a
respeito de

"certas partes dos trabalhos que produzem


mercadorias que continuam a ser executadas
de um modo que é próprio dos modos de produ-
ção p'recedentes" e que se encontram Itno in-
terior do modo capitalista de produção", não
lhes sendo "de maneira nenhuma aplicáveis as
categorias do trabalho produtivo e 1mP.rodu-
. "(107) •
tUE.

(107) MARX,K. Q.a.)?ítulo


inédito... OP.
cit., p. 97 (os grifas são do original).

124
--~-
Marx considera o traba~o, o trabalhador e o
capital comerciais inteiramente improdutivos no modo
de produção capitalista, todavia, ressalta a existên-
cia de atividades paralelas ao comércio.,

"O capital comercial, despojado de


todas as funções heterogêneas, com ele rela-
.cionadas, como eatmcagem, expedição, trans-
porte, classificação, fracionamento das mer-
cadorias, e limitado a sua verdadeira f1.IDção
de comprar e vender,lt (quer dizr, sua. função
modelar) "não cria valor nem maiS_Vali~t(l08),
.sendo, portanto, improdutivo.

Say, conforme foi' visto no capítulO 4, afir-


ma que todo trabalho é produtivo, independente da ope-
ração a que é aplicado, mas ressalva habilidosamente
as "estravagâncias", as "tolices"'e os "crimes" susce-
' . d ••..
t avea,e eocorrenCl.a, napra , t aca
. (109 )•

(108) MARX, Kar1. ~p'i tal (critica da


Economia política) O processogolbal da produção
capitalista. 3ª ed. Rio de Janeiro, Civilização Era-
sileira,1981. livro 3, v. 5. p. 325.

(109) Ver SAY, J.-E. Tratado... op. cit.,


p. 91.

125
Numa. palavra:
--
--
os conceitos de trabalho pro-
dutivo destinados a sistemas econômicos específiCOS de-
param-se com anomalias réais destes sistemas, às quais
não são aplicáveis. Estas anomalias são acidentes ine-
vitáveis e dificultam sua representação modelar, não
,
restando ao pensador outra alternativa senão enumera-
las a'posteriori.

Se, por um lado, os conceitos de trabalho


produtivo e improdutivo apresentam entre si enormes
desacordos, se a prOblemática é extremamente contro-
vertida entre os mais destacados economistas de todos
os tempos"e, se na literatura concernente à questão
observa-se, com freq~ência, agressões verbais abertas
entre eles, por outro lado, encontra-se entre os pen-
sadores das mais diversas linhagens, surpreendentemen-
te, ao menos um ponto import~te comum: as definições
estão intimamente associadas, de uma forma ou de ou-
tra, à idéia de excedente econômico.

o excedente econômico pode ser definido como


a diferença positiva entre o valor do resultado de de-
terminado empreendimento e o valor dos seus custos de
produção. Se um determinado empreendimento, deduzidos
os custos com matéria-prima, mão-de-obra, etc. não fi-
zer retornar absolutamente neIL~um valor adicionado a
estes custos, pode-se afirmar que não houve excedente
e que o empreendimento unicamente manteve os trabalha-
dore.snele empregados. Por outro lado, aeo empreen-

126
·--
dimento render uma diferença liquida sobre seus cus-
tos, é justo afirmar que houve um excedente exatamente
igual a esta diferença. Dessa forma, a existência do
valor excedente comunica a idéia de prOdutividade, ao
passo que a diferença nula entre os custos e o resul-
tado transmite a idéia de.esterilidade, cabendo a qua-
.lificação de improdutivo.

Assim, os mercantilistas que supervalorizam


os metais preciosos, a moeda e o comércio internacio-
nal, vinculam a idéia de trabaTho produtivo ao supera-
vit da balançacomerciaJ., ou seja, excedente das ex-
portações sobre as importações em determinado períOdO.
O conceito de Smith, embora se lhe façam frequentes.
referências mormente associadas à materialidade-imate-
rialidade do produto final (enfatizando o resultado do
,
trabalhO) ,.está, em verdade, fortemente atrelado a
idéia de excedente sobre seus custos (levando em conta
o processo social, no interior do qual o trabalho é
realizado). O conceito de Quesnay associa-se à cria-
ção do "produto líquido" que, identicamente, não passa
de um excedente sobre os custos de produção, com a
ressalva de haver sido produzido no meio rural. Marx
valia, que também é um
vincula seu conceito ao de mais...•
excedente sobre o valor pago ao assalariadoo

Em resumo, observa-se duas espéCies de con-


ceitos de trabalho produtivo e improdutivo. Uma em
função do bem ou serviço resultante do trabalho e ou-

127
.--
tra em função do processo social dentro do qual este
,
tr~balho é levado a cabo. Quanto a esta segunda espe-
cie, destaque-se que os conceitos foram engendrados a
partir deconcepçôes modelares dos sistemas econômi-
cos e que, via de regra, trazem consigo a associação
da idéia de "produtivo" com a idéia de "produtivo· de
excedente econômicou•

128
.--

Capítulo 8 - A "terea morar"· das expres-


sões produtivo e improdutivo"

A primeira parte deste trabalho discorreu a


respeito da evolução do conceito de trabalho produtivo
e improdutivo entre vários economistas registrados pe-
la História do Pensamento Econômico. Observou-se que
estes economistas, .apés o estabelecimento dos referi-
dos conceitos, empenham-se em procurar explicações que
justifiquem o critério de distinção entre uma espécie
e outra de trabalho.

Estas explicações, invariavelmente ultrapas-


sam o caráter meramente econômico da distinção, ou se-
ja, procura-se explicar porque determinados trabalhos
são produtivos ou improdutivos lançando mão de justi-
ficativas morais. Explíci ta ou, ,.
na maioria das vezes,

129
---
implicitamente patenteou-se aint~nção de diversos au-
tores em resguardar algum grupo de trabalhadores ou
uma classe social comerciantes, industriais, ban-
cários, varejistas, etc. da incômoda qualificação
de improdutivos.

A enorme carga de prestígio associada à qua-


lificação.de "produtivo" é t'ãoindiscutível quanto o
inconveniente vinculado à adjetivação de "improduti-
volt. Origina-se aí claramente uma oposição maniqueís-
ta. A questão moral, paralela à da conceituação en-
gendrada cientificamente pelos economistas, escapa de
seu aspecto meramente científico. A classificação de
uma.profissão ou grupo de pessoas dentro da categoria'
dos improdutivos, seja qual for o conceito utilizado,
acompanha imediatamente a impressão inconveniente de
inútil, estéril, ocioso e, numa segunda instância, a
impressão de dependente, parasita'epass:lvel de sujei-
ções e subordinações. Mesmo através de contatos pes-
soais do dia a dia, é observável a rejeição de muitos
trabalhadores em aceitar que seu trabalho ou profis-
são seja havido como improdutivo, sob o ponto de vista
de determinado autor. Sobrevém deste sentido paralelo
da expressão, a maioria das explicações suplementares
manifestadas após o anúncio dos conceitos de trabalho
produtivo e improdutivo.encontrados na literatura eco-
nômica. Há autores que procuram amenizar o impacto da
expressão "improdutivo" empregando justificativas como

130
"improdutivo, mas 'necessárióíí;-"improdutivo, mas hon-
roso", "improdutivo, mas útil", etc.

Quesnay e seus sectários fisiocratas são


obrigados a arquitetar engenhosas combinações de pala-
vras a fim de desimplicar os ofendidos, após terem de-
nominado "estéril", em oposição a "prodútiva", a clas-
se "formada por cidadãos ocupados em outros serviços.e
trabalhos' que não a agricultura".. Kuntz observa que:

"Seus discípulOS" (de Quesnay) "mais


de uma vez chegaram ao limite do bizarro ao
discutirem a esterilidade da:indústria e do
" . (110)
comercJ.o" •

Say evita sistematicamente a utilização da


expressão "improdutivo", enquanto esbanja o emprego da
expressão "produtivo". Julga produtivos todos os tra-
balhos indiscriminadamente, além da moeda, da nature-
za, dos capitais, etc., decisão que não reservousin-
gulari~ade alguma ao trabalho produtivo. Smith, por
sua vez, não se comede; define trabaLlJ.oprodutivo e
improdutivo, listando imediatamente uma porção de tra-
bà.ll1adoresimprodutivos, a começar do rei:

(110) KUNTZ, R. N. Qgp'italismo... op.


cit., p. 30-310

131
"O sober-ano, por exemplo, com to-
dOs os oficiais de justiça e de guerra"( ••• )
"todo o Exército. e Marinha, são traba.11lado-
res improdutivos. Servem ao Estado, sendo
mantidos por uma parte da produção anual .do
trabalho de outros cidadãos. Seu serviço,
.por mais honroso, útil ou necessário que se-
. rtao
Ja ~ pro duz na d a ••••" E arremata: UNa

meSma categoria devem ser enquadradas algu-


mas das profissões mais sérias e mais impor~
tazítes, bem como algUmas das mais frívolas:
.;eclesiásticos, advogados, médicos, homens de
letras de. todos os tipos, atores, palhaços,
músicos, cantores de ópera, dançarinos de
, (111)
opera, etc." •

Na Economia Clássica, a componente metafísi-


ca da elaboração dos conceitos de trabalho produtivo e
improdutivo foi significativa. As escolas de cunho
mais ideológico apresentaram esta componente com maior
relevância ainda.

Se, de uma parte alguns autores procuram ama-


ciar o impacto ·da qualificação "improdutivo", de outra
parte outros tentam elaborar argumentos para o conve-

(111) SMITH, A. A riQ.ueza... op, cit., p.


286.

132
.--
mente enquadramentode alguns grupos ou profissões
dentro da categoria dos produtivos. .os mercantilis-
tas,por exemplo, procedémdesta maneira com relação
aos comerciantes.' Já George Friedrich tist (1789-
1846) confere extrema importância à expressão "forças
produti vaa" e vincula ao seu prestígio a religião cris-
tã, a monogamia,a abolição da escravatura e do feuda-
lismo, a hereditariedade do .trono, a invenção da im-
prensa,. do sistema postal, do dinheiro, dos pesos e
medidas, do calendário, dos relógios, da polícia, a
introdução do,princ,ípio da propriedade alodial, o ca-
ráter pÚblico da administração da ·justiça, os julga-
, mentos do 'júri, a legislação parlamentar, a' liberdade
de imprensa, etc. (l12) , deixando clara a componentepo-
lítica e ideológica do empregoda expressão "produti-
volt •

temer dedica umtexto a explicar o caráter


supostamente produtivo do trabalho do comerciante in-
termediário ou atravessador (middleman). Sem expor
seu conceito de "produtivo", o autor compenetra-se em
explicar que o atravessador

"movimentacoisas do lugar onde elas sao me- -


(112) Ver LIST,George Friedrich. Sistema
nacional de Economiapolítica. são Paulo~ Abril Cul-
tural, 1983. p.100 (Os economistas).

133
, --o
nos necessarias para onde elas sao mais - ne-
cessáriastl, e"exemplifica: tto negociante
(trader) que compra parafusos ou pregos ou
outros ítens em uma cidade da Rússia e as
vende em outra mediante·pequeno lucro tem de
;

enfrentar severa punição por .I especulação ••


Contudo seu trabalho é provavelmente tão
produtivo quanto o de qualquer trabalhador
. na RÚSsiall(113).

Exemplo de manifestação agressiva contra um


conceito de trabalho produtivo fundamentada exclusiva-
mente em aspectos morais, que não poderia deixar de
ser apresentada nesta monografia foi a de List contra
a Escola Clássica (a qual ele chama de éscola popu-
lar), representada por por Smith, MacCulloch e Say. O
autor não se prende em aspectos científicos, objeti-
vando refutar a posição de Smith, .mas exclusivamente na
impropriedade ética do seu conceito:

tiApessoa que cria porcos, segundo

(113) LERNER, Abba P. The' "unproductive


middleman". In: HARRIS, C. Lowell, comp. Selected
readings in economics. Prentice-Hall, Englewood
Cliffs, 1967. p. 5"2(as aspas do trecho reproduzido e
do título do texto.são do autor).

134
.----
essa escola" ('popular') itéum membro produ-
tivo da comunidade, ao passo que quem educa
pessoas é um elemento meramente improdutivo.
O fabricante de gaitas de foles ou de berim-
baus-de-boca para a venda é um elemento pro-
dutivo, ao passo que os grandes compositores
e regentes não são prOdutivos, simplesmente
porque aquilo que' tocam não pode ser levado
ao mercado. O médico que salva as vidas de
seus clientes não pertence à classe produti-
va: •• ,,(1l4) li ••• mas sim o farmacêutico que

(114) Esta posição de Smith foi revista por


Say dentro da Escola Clássica. "Um médico vem visitar
um doente, observa os sintomas de seu mal, prescreve-
lhe um remédio e sai sem deixar nenhum produto que o
doente ou sua família possam dar a outras pessoas nem
sequer conservar para consumo em outra ocasião. .O
trabalho do médico foi imprOdutivo? Quem poderia pen-
sar nisso? O doente foi salvo. Essa produção era in-
capaz de tornar-se a matéria de uma troca? Em absolu-
to, pois o conselho do médico foi trocado pelos seus
honorários; màs a necessidade dessa recomendação ces-
sou desde o instante em que foi dada. Sua produção
consistia em dizê-la; seu consumo, em escutá--la; ela
foi consumida no mesmo momento em que produzd.da; t a
isso que chamo de. produto imaterial (SAY, 4'.-B •. Tra-
tado... op, cit., p. 125. O grifo é do autor).

135
-----
faz remédios, muito embora os valores de
troca que ele'prOduz (pílulas) talvez exis-
tam somente durante alguns minutos, até pas-
sarem a uma condição em que não têm mais va-
.
lor". List finaliza expãoaãvamerrte, procu-
rando ressaltar a imoralidade da conceit~
ção de Smith: "Um Newton, um Watt ou um. Ke-
pler não são tão produtivos como um jumento,
um cavalo ou um 'boi de carro' (categoria de
trabalhadores que recentemente foi introdu-
zida por MacCulloch na série dos membros pro-
dutivos da sociedade humana". E acrescenta:
"Não devemos crer que J .-B. Say tenha corri-
gido esta falha da doutrina de Adam Smith, '
introduzindo a ficção dos 'bens imateriais'
ou produtos imateriais; ao fazer isso, ape-
~as chamou a atenção, de certo modo, para a
loucura dos resultados dessa doutrina, mas
não lhe tirou seu caráter absurdo" (115)•

~ evidente que na pessoa que cria porcos" o


"fabricante de berimbaus-de-boca", um ti jumento, um ca-
valo ou um boi de carro" são termos empregados por
List para destacar algo desonroso e inferior, enquanto
o "educador de pessoas", os "grandes compositores e

-(115) -:~ST; Q.-F., _-Sistemà.-~. op, cit., p.


102 (as aspas, os parênteses e o grifo são do autor).

136
----
regentes" e um "Newton, um.Watt ou um Kepler" sao - co-
notativos de honorabilidade, demonstrando a utilização
não técnica da expressão "produtivo".

Resumindo, é observável em diversos autores


a tendência em associar certo prestígio à condição de
produtivo e certo desprestígio à condição de improdu-
tivo.

A posição encontra-se inteiramente inverti-


da, todavia, na exposição de outros pensadores. Baku-
nin (ver nota 4, do capítulo 1), supõe o trabalho ex-
plorador (expressão que utiliza em sentido imoral) em
oposição ao trabalho produtivo (ou explorado).

Thorstein Veblen (l857~l929), em sua clássi-


ca obra tiA teoria da classe ociosa um 'estudo das
instituições econômicastl, considera contrárias as ex-
pressões "ocioso" e "prOdutivo":

"•••
0 termo 'ócio', na conotação que tem
neste estudo, não implica indolência ou
quiescência. Significa simplesmente tempo
gasto em atividade não produtiva,,(1l6).

(ll6) . VEBLEN, T. A teoria... op. cit., p.


24, (as aspas são do autor).

137
Veblen não precisa com rigor o significado
de "atividade não produti va" ,uma vez que a problemá-
tica,escapa do objeto estudado na obra. Sua narrativa
contém; no entanto, posição inversa àquela que foi ex-
posta acima, pois associa fabuloso ,prestígio ': ao
"ócio", enquanto vincula a adjetivação ~e "produtivo"
a enorme desonra. Esclareça-se que esta não é a ótica
segundo a.qual Veblen vê a questão; é, em verdade,
como julga que os homens genericamente a vêem. Ponde-
ra que

tiA vida ociosa, por si mesma. e em


suas consequências, é linda ~ nobre aos
oll1os de todos os homens civilizados" e "o
trabalho produtivo é a marca da pobreza e da
Sujeição;,(ll7)•

Nesta afirmação, Veblen não se refere espe-


cificamente a nenhuma forma de organização econômica;
ela é universal e atemporal, segundo o autor.

Dessa forma, tanto em Veblen como nos demais


autores estudados, patenteou-se o emprego das expres-
sões "produtivott e "improdutivo" com conotações mo-
rais, políticas e ideológicas. A primeira parte deste

(117) 'VEBLEN, T. A teoria. •• op, cit., p.


22.

138
~_..---
trabalho tratou da evolução dos conceitos de trabalho
pr~dutivo e improdutivo na História do Pensamento Eco-
nômico. Outros aspectos importantes acerca da "força
moral" destas expressões foram deliberada ou circuns-
tancialmente tratados na ocasião.

139
Terceira p'arte

Capital produtivo e improdutivo,


. no Brasil,·
entre 1964 e 1986

140 .
Capitulo 9 - Variedades de capitais que'
empregam trabalhadores arn-
dutivos . e improdutivos. se-
gundo Marx.

Foram estudados no capítulo 5, os conceitos


de trabalho produtivo e improdutivo de con:formidade
com a ótica marxista. Evidenciou-se que, para Marx, a
qualificação de produtivo, dentro do sistema econômico
capitalista, foi reservada com exclusividade ao traba-
,
lhó criador. de mais-valia. Será enfocada neste cap~-
tulo a classificação de trabalhadores em produtivos e
improdutivos de conformidade com a espécie de capital
que os emprega, mantendo-se, contudo, a visão marxis-
tao

Quer no estudo acerca do "ciclo do capital-


dinheiro", do "ciclo do capital produtivo" ou do "ci-

141
elo docapi tal_me~cadorian(lí8), Marx reparte as ati-
vidades, dentro do sistema ecoIiômico capitalista,. em
duas esferas, as quais denomina esfera da circulação e
esfera da produção. Será evidenciado, a título de s:im-
plificar a exposição,' apenas o primeiro dos ciclos
acima, ou seja, o ciclo do capital produtivo, repre-
sentado por: D - r.t ••• P ••• M' - Df. O autor o
divide em três e'stádie;s,em ."0 capital", a saber:

12 estádio: D M;
29 estádio: M ••• P ••• M' e
32 estádio: M' - D' •

A esfera da circulação abrange o 1Q e o 32


estádios, que compreendem, respectivamente a compra
dos fatores' e a venda da produção por parte dos capi-
talistas. Em termos teóricos, todos os trabalhos le-
vados a cabo nesta esfera são, indiscriminadamente, :im-
produtivos (embora necessáriOS), uma vez que nenhum.
valor absolutamente é criado, segundo a teoria mar-
xista,

-A-ssim,as atividades de compra e venda, bem


como os trabalhadores nelas empregados, são improduti-

(118) Ver MAme, K. O capital. •• livro. 2,


.-
v. 3. op. cit., respectivamente capítulos 1, 2e 30 p.
27, 64 e 88 •.

142
~_...--~
vos. Compradores e vendedores são agentes que vendem
seu trabalho, gastam seu tempo de .trabalho , respecti-
vamente nas operações M - D e D - M, trabalham
como quaisquer outros, todavia não criam valor nem pro!.. .
duto. Figuram entre os elementos improdutivos da pro-
dução, conforme Marx.

o autor denomina capital produtivo, aquele


empregado na esfera produtiva e capital improdutivo
aquele empregado na esfera improdutiva da circulação,
mantendo, dessa forma, perfeita consistência no empre-
go destas expressões.

A esfera da produção compreende o 2º está-


dio, M .••• P ••• M'. t o próprio processo de produ-
ção capitalista. O valor de M' é maior que o de M e a
diferença positiva entre ambos é a mais-valia, denomi-
nada por Marx, f. ~neste proces~o, exclusivamente,
segundo a análise marxista, que o sistema capitalista
produz valor e, consequentemente, é unicamente nele
que os capitalistas empregam trabalhadores produtivos.

"Só no processo de produção vem ao


mundo f' a mais-valia" (119) ~

(119) MARX, K. O capital... livro 2, v.


3. op. cit., p.45.

143
.- '

Dessa forma, em termos modelares, a esfera


da circulação emprega exclusivamente trabalhadores im-
produtivos e seu capital, consequentemente, é improdu-
tivo. Em contrapartida, a esfera da produção emprega
singularmente trabalhadores produtivos e seu capital é
produtivo.

Entretanto, apesar de esta classificação se


apresentar relativamente clara e precisa no campo teó-
rico, oferece, observada a realidade concreta, uma sé-
rie de dúvidas conforme o próprio Marx as reconhece.
A esfera da circulação, representada pelo capital mer-
can til (12.0), pode, na prática, ex.ercer atividades cir-
cunstanciais ou acidentais ,que usualmente são levadas.
a cabo na esfera da produção. Marx as identifica e
exemplifica:

t. Abstraímo s aí totalmente de pro-


cessos eventuais que prosseguem no processo
de circulação, podendoex.istir deles disso-
ciada por inteiro, da atividade comercial.
Assim, a indústria de transportes 'e a expe-
dição podem ser e na realidade o são ramos

(120) Conforme Marx, "o capitál. mercantil


se subdivide em duas formas ou ,variedades capital
comercial e capital financeiro ••• ". MARX, K. ~pi-
tal... livro 3, v. 5. op, cit., p. 309.

144
inteiramente diver;;s do comércio, e as mer-
cadorias que estão no mércado podem ser guar-
dadas em armazéns gerais ou outros depósitos
públicos (••• ). O empresário de transpor~·
tes, o diretor da ferroVia, o armador -
nao
s~ •comerciantes' ,,(121).

Destaque-se que estes "processos c eventuais


de produç'ão que prosseguem no proce.sso de circulação"
oferecem, a alguns autores, férteis argumentos tencio-
nados a evidenciar a produtividade do comércio. Um
dos mais ambiciosos foi Lerner, através do texto tlThe
'unproductive middleman' ti, que lança mão de ardilosos
argumentos com o propósito de justificar a ironia do
seu título(122).

Analogamente, capitais industriais (produti-


vos) reconhecidamente empregadore~ de trabalhadores
que atuam no processo de produção criando valor, ine-
vitavelmente empregam homens em atividades improduti-
vas. Capitalistas industriais, ao mesmo tempo em que
mantêm homens ocupados em linhas de produção ou fabri-

(121) MARX, K. O capitalo•• livro 3, v.


5. op. cit., p. 332-333 (as aspas são do autor).

(122) Voer LERNER, A •.F. The "unproductiye


middleman"o op. cit., p. 51-54.

145
- -
caça0, sao obrigados a empregar contadores, adminis-
tradores, compradores, vendedores, almoxarifes, secre-
tárias, motoristas, vigilantes, etc., ou seja, homens
que exercem atividades que não acrescentam. absoluta':"
mente nenhum valor às mercadorias e são, portanto im-
produtivas(123).

. Em resumo, quando se afirma que determinada


empresa é produtiva, não significa absolutamente que
todas as atividades por ela exercidas e todos os tra-
balhadores nela empregados sejam produtivos. Uma em-
presa produtiva emprega necessariamente trabalhadores
produtivos e improdutivos. Por outro lado, ao se afir-
mar que determinada empresa é improdutiva, há que se
levar em conta que ela pode esporadic aménte exercer
alguma atividade produtiva na realidade concreta. O
capital, industrial, comercial ou financeiro não
pre-
,
cisa mudar de dono para passar da.esfera produtiva a
improdutiva e vice-versa.

Marx distinguiu duas variedades distintas de


capital: o capital industrial e o capital mercantil.
O primeiro, produtivo, remunerado pelo lucro propria-
mente dito. t o único capital empregador de trabalha-

(.123) Para o desenvolvimento do tema, .que.


aqui não cabe aprofundar ,ver MARX, K. o ce.pital •••
livro 2, v. 3, cap. 6 Os custos de qirculação.

146
----
dores que produzem valor e mais-valia, pertencendo com
exalusividade à esfera da produção.

o capital mercantil, por sua vez, Marx o


subdivide em duas espécies: capital comercial e capi-
tal financeiro. são ambos improdutivos, remunerados
respectivamente pelo lucro comercIal e pelo juro. O
lucro comercial advém da venda das mercadorias pelo
capitalista industrial ao capitalista comercial por
preços situados abaixo de seus verdadeiros valores.
, !

Este último agente as revende, por sua vez, pelos pre-


ços reais, iguais a estes verdadeiros valores.

1\0 preço de produção ou o preço a


que o capitalista industrial vende, sem ul-
trapassar a sua função específica, é portan-
to menor que o preço real da produção dãs
mercadorias; ou, se considerarmos a totali-
dade das mercadorias, os preços por que as
vende a classe capitalista industrial são
menores que os respectivos valorestt(124).

O lucro financeiro é o juro. O juro, a


exemplo do lucro comercial, é, na ótica marxista, uma
fração da mais-valia produzida na esfera da produção e

(124) MARX, K. O capital... livro 3, v.


5. op. cit., p. 329.

147
apropriada pelo capitalista
---
financeiro.

o quadro abaixo esquematiza a classificação


do capital em função dos seus aspectos produtivo ou
improdutivo, conforme Marx:

variedade de capital classificação remuneraçao


lucro propria-
-
.capital industrial produtivo
mente dito
capital
,comercial improdutivo lucro comercial
capital
mercantil capital
financeiro improdutivo juros

total mais-valia produ


zida no sistema

Dessa forma, a quantidade total de -valor


prodUZida na sociedade capitalista, deduzida a remune-
ração dos trabalhadores produtivos que, exclusivamen-
te, a produziram, resulta na mais-valia total, por sua
vez repartida entre os seguintes agentes:

1. trabalhadores improdutivos, sob a forma


de salários;

2. capitalistas industriais, sob a forma de


lucro propriamente dito;

. . 3. capitalistas comerciais, sob a forma de .

148
.---
lucro comercial e

4. capitalistas financeiros, sob a forma de


1ucro f J.llance~roou Juro (125)
...
· •
o o o

Destes quatro agentes, apenas o segundo mo-


,nopoliza o potencial de levar a cabo a criação de va-
lor, através de investimento~ produtivos. Aos traba-
lhadores improdutivos não cabe nenhuma iniciativa nes-
te sentido. Aos capitalistas comercial e financeiro,
absolutamente necessários e indispensáveis ao processo
de reprodução capitalista, cabe a função de ap~opria-
re~se de parte da mais-valia gerada na esfera da pro-
dução.

Ora, dado que a mais-valia produzida no sis-


tema é o somatório dos lucros obtidos pelas diferentes
variedades de de capitais (abstraindo-se da apropria-

(125) A rigor, há ainda um quinto agente que


participada repartição da mais-valia total do siste-
ma. ~ o rentista fundiário, de quem se abstrairá nes-
te estudo, que se apropria de parte da mais-valia, sob
,
a forma de renda da terra. "Toda renda fundiária e
mais-valia, produto de trabalho excederrte> (Marx ,
Karl. O capital (crítica da Economia Polí tica) =O

processo global de prodyção capitalista. 3~ ed. Rio


de Janeiro, Civilização Brasileira, 1981. livro 3, v.
6. p. 728.

149
ção involuntária
---
por parte dos trabalhadores improdu-
tivos, que são empregados em função de iniciativa ex-
clusiva de capitalistas produtivos ou improdutivos) ,
que apenas o capitalista industri~l tem potencial para
produzi-la e que a produz a partir de investimentos que
que a anteviram, é fácil detectar o componente inibi-
.dor destes investimentos desempenhado pelo lucro co-
mercial ~ pelo lucro financeiro ou juro. Eles repre-
sentam preciosos nacos subtraídos da mais-valia total
produzida no seio do capital produtivo.

Abstrair-se-á, neste trabalho, do lucro co-


mercial •. A magnitude do valor das mercadorias comer-
cializadas pelo capital comercial, dentro de um longo'
período (e numa economia feChada) tem como limite su-
perior o valor das mercadorias produzidas no período.
O comércio. certamente se ressente de flutuações na
produção industrial. Marx referiu-se a tal proprieda-
de desta variedade de capital, afirmando que

ttArotação do capita:1 mercantil em


um ramo de produção está naturalmente deli-
.
ID2tada - total do ramo" (126) •
pela produçao

O capital que emprega trabalhadores impro-

(126) MARX, K. O capital... livro 3, v.


5. op. cit., p. 319.

150
---
dutivos e é, portanto, improdutivo será representado
aqui exclusivamente pelo capital financeiro(127).

Dessa forma, delimita-se duas variedades de-


capitais para efeito do estudo ora. desenvolvido: o
capital financeiro, improdutivo e o capital industri-
trial-, prod.utivo. A exposição acerca do caráter pro-
dutivo ou improdutivo desta~ espécies de capitais, le-
vada a cabo neste capítulo, fundamenta-se no volume 5-
do livro 3 d' O capital, que trata do processo global
de produção capitalista.

Será estudado nos capítulos seguintes, o de-


senvolvimento do capital financeiro e do capital in-
dustrial no Brasil, seg1IDdo os conceitos marxistasdes-
tas variedades de capitais, aqui apresentadoso A ado-
ção do critério de outro autor para discernimento en-
tre capital produtivo e capital i~produtivo alteraria
sobremaneira o estudo. Analisar-se-á aspectos da re-
lação entre setor produtivo e setor improdutivo, no
Brasi~,.no período entre a leinQ 4357 de 16 de julho
de 1964, que introduziu a correção monetária até o
plano de estabilização econômica (plano cruzado) im-
plementado através do decreto-lei nQ 2283 de 21 de fe-

(127) Para adelimi tação rigorosa desta va-


riedade de capital, aqui adotada, ver MARX, K. O ca-
pital... livro 3,v. 5, cap. 19 O ~apital finan-
ceiro.

151
-----
vereiro de 1986 e, posteriormente, substituído com
correções pelo decreto-ieinº 2284 de 10 de março de
1986.

Os crescentes lucros do capital improdutivo


apÓs a lei da correção monetária constituíram-se em
.elementos fortemente inibidores do investimento em se-
tores produtivos, pela exces.siva apropriação d~ mais-
valia e que o plano de estabilização econômica repen-
tinamente anunciado em fevereiro de 1986, o "plano cru-
zado·· como se populariZOU, sob certo aspecto foi uma
tentativa de reversão da tendência crescente e insus-
tentável desta apropriação.

152
Capítulo 10 o capital improdutivo, antes
-
da ··1ei da cor rec ã o monetária""

Este trabalho, até aqui, foi estritamente


teórico. Foram estudados os conceitos de trabalho
produtivo e improdutivo em várias escolas de pensamen-
to econômico e de conformidade com as exposições de
diversos autore.s. Posteriormente, foram 'apresentadas
(capítulo anterior) as variedades de capitais que em-
pregam trabalhadores produtivos e improdutivos, segun-
do Marx. Ficou estabelecido que, dentre as variedades
de capital mercantil, o capital financéiro representa-
rá aqui, com exclusividade, o capital improdutivo, re-
munerado basicamente em função do juro.

Neste capítulo e no seguinte serão estudados


os desenvolvimentos dos capitais produtivos e improdu-
tivos no Brasil,a partir de algum tempo antes da lei

153
da correção monet~ia de 1964 •
---
..
A lei nQ 4357, de 16 de julho de 1964, que
introduziu a corr-eção monetária na economia brasilei-
ra, é um marco significativo da história da evolução
do capital financeiro no país. Antes dela, o decreto
n2 22."626 do ano de 1933, conhecido como "lei da usu-
ra", houvera fixado em 12% ao ano (1% ao mês, linea-
z-es) o limite" superior da taxa de juro. e a cobrança
de taxas mais elevadas era considerada crime contra a
economia popular.

Respeitado. o congelamento da taxa de juro


em 12% ao ano, concre~iza-se a interferência do Estado
em importante relação entre capitalista industrial e
capitalista financeiro, sob o ponto de vista da análi-
se marxista.

"Representa-o" (o juro) "não em


oposição direta ao trabalho, mas, ao contrá-
rio, sem relação com ele, como simples rela-
ção entre dois capitalistas,,(128)o

Com efeito, a taxa de juro é uma variável


que não se opõe diretamente ao trabalho. Dada a mais-

(128) MARX, K. O capital ••• livro 3, Vo

5. op. cit., p. 440.

154
.--
valia total produzida dentro de uma economia capita-
lista em determinado período de tempo, é exclusivamen-
te a taxa de juro que determinará a proporçao - entre a
parte apropriada pelo capitalista improdutivo e o re-
síduo apropriado pelo capitalista industrial e produ-
tivo. Quanto mais elevada a taxa de juro, tanto mai-
or será a remuneração do capital improdutivo e menor a
remuneração do capital produtivo. Importa complemen-
tar que a taXa de juro é uma variável contratada en-
tre o capitalista produtivo e o capitalista improduti-
vo no instante do contrato de empréstimo, isto é, an-
tes do primeiro obter seu próprio lucro, cabendo-lhe,
dessa forma, assumir todos os riscos do empreendimento
,
produtivo do qual o prestamista esta inteiramente isen-
to.

Caracteriza-se na taxa de juro interesses in-


teiramente opostos entre o capitalista produtivo e o
capitalista improdutivo. O empenho do primeiro é no
sentido de obter juros baixos, ao passo que o segundo
empenha-se para alcançar juros altos, sobrando ao tra-
balhador um papel completamente inerte e externo ao
problema.

"AsSim, no juro, figura particular


do lucro, encontra o caráter contraditó-
rio do capital expressão independente em que
a antinomia se desvanece, sendo inteiramente
posta de lado: o juro é uma relação entre

155
---
dois capitalistas e não entre o capitalista
e o trabalhador,,(129). "

Dessa forma, o decreton2 22.626/1933 limi-


tou o rendimento máximo do capital impr~dutivoem 12%
ao ano, em favor do rendimento do capital produtivo.

A partir da década de 1950, no entanto, o


sistema encarregou-se de exercer pressões contrárias ~
determinação daquele diploma legal. A elevação paula-
tina da demanda por capital-dinheiro atuou significa-
tivamente no sentido de fazer surgir o mercado parale-
lo. Os artifícios utilizados pelos bancos, entre os
quais até"mesmo o Banco do Brasil, foram inúmeros(130)."

"Diante da inflação progressiva, a


jurisprudência e a doutrina mitigaram os
,
efeitos legais do diploma de repressão a
usura,« (ou seja, o decreto n2 22.626/1933)
havendo até quem o considerasse revogado pe-
lo uso comercial e pela praxe bancária de

(129) MARX, K. O capital ••, livro 3, v.


5. op. cit., p. 440.

(130) Os mais comuns foram o ágiO não con-


tabilizado, a cobrança excessiva de comissões e as
contas vinculadas.

156
---
cobrança de taxas muito mais elevadas do que
as legalmente permitida~n(131).

Abstraindo-se destas determinações jurídi-


cas e compreendendo a questão em seus aspectos unica-
mente econômicos, o problema se resume de maneira mui-
to simples. Num sistema inflacionário, com taxa de
inflação ,i e taxa nominal dE! juro j para um mesmo pe-
ríOdO, os juros pagos por determinado empréstimo obe-
decerão as seguintes taxas reais, dependentes da mag_
nitude comparativa entre i ej:

j > i: l+j
juros reais positivos, com taxa y--:-
+~
j = i: juros reais nulos
j < i: juros reais negativos, com taxa j-i
l+i

Para j = 12% ao ano, conforme estabelecera .a


legislação em 1933, os juros reais unicamente seriam
positivos quando a taxa anual de inflação fosse infe-
rior a 12%, o que ocorrera em escassas vezes e, mesmo
assim, sem a menor possibilidade de antevisão. Taxas
anuais de inflação de, por exemplo, 6%, 12% e 24% pro-

(131) CHACEL, Julian; SIMONSEN:, Mário Hen-


rique & Y1ALD, Arnold. Correção Monetária. Rio de Ja-
neiro, Apec, 19760 p. 19.

157
porcionariam
---
juros reais aproximados de 5,66%, 0% e
-19,7%, respectivamente. A tabela-1 mostra que as ta-
xas de inflação, apenas ~m onze anos, não ultrapassa-
ram os 12,%, entre' os anos de 1933 (da lei da usura) e
1964 (da lei da correção monetária). O gráfico-1 re-
presenta as taxas de inflação no período. Nos demais
anos 'deste intervalo de tempo, a taxa de juro esteve
sempre aquém da taxa de inflação. 1950 é o Úl.time ano
em que a taxá. de inflação foi inferior a 12%. De 1951
em diante, a taxa de inflação anual nunca mais foi in-
ferior a 12%0'

Dadas estas variáveis que modelam simplifi-


cadamente a situação, desprendem-se dois grandes empe-
cilhos ao desenvolvimento do capital financeiro nacio-
nal: o primeiro reside na dificuldade de captação de
poupança voluntária. conrorme recorda Ness,

H ••• o sistema financeiro não funcionava co-


mo mobilizador d~ poupança, antes de 1967,
existindo apenas para fazer circular os re-
cursos monetários criados pelas Autorida-
des e para financiar os defici ts orçamentá-
rios'do setor PúbliCo,,(132).

(132) NESS JUNIOR, Walter Lee. A influência


da correção monetária no sistema financeiro. Rio de
Janeiro, IBMEC, 1977. p. 25.

158
.--
TABELA - 1: TAXAS ANUAIS DE INFLAÇÃO NO BRASIL, EM
PORCENTAGEM - 1933"A 1964.

ANO !fAXA ANO TAXA ANO TAXA


1933 O 1944 27,3 1955 23,3
1934 7,4 1945 17,2 1956 20,8
1935 " 5,3 1946 "16,7 1957 16,0
1936 14,7 1947 22,8 1958 14,9
1937 7,7 1948 3,0 1959 39,1
1938 4,1 1949 4,0 1960 29,3
1938 2,7 1950 6,7 1961 33,3
1940 5,0 1951 15,3 1962 55,8
1941 10,9 1952 17,2 1963 80,2
1942 t2,1 1953 14,7 1964 86,4
1943 15,0 1954 22,1

Fonte: Dados de 1933 a 1938, SEEF, índice do custo de


vida na cidade do Rio de Janeiro. De 1939 a 1944, Di-
visão de Estatística e Documentação Social da Prefei-
tura de são Paulo, índice de custo de vida na cidade
de são Paulo. De 1945 a 1961, Fundação GetÚlio Var-
gas, índice do custo de vida na cidade do Rio de Ja-
neiro. De 1962 a 1964, Conjuntura Econômica, vários
números, variações anuais do índice de custo de vida
na cidade do Rio de Janeiro.

A taxa de juro, remuneração por excelência


do capital financeiro e improdutivo, quando aplicada
sem a devida correção do poder aquisitivo da moeda na
qual o empréstimo se contraiu, torna-se subsídio e in-

159
.----
GWICO - 1: TAXAS ANUAIS DE INFLAÇÃO NO BRASIL, EM
PORCENTAGEM - 1933 A 1964.

30%
20%
10%

duz ao aumento da demanda em prejuízo da poupança.

Um segundo empecilho ao desenvolvimento do


capital financeiro, dadas as condições legais de co-
brança limitada 'de juros, está nas limitações que isto
transmite ao banco como firma capitalista~.

160
---
De imediato, observa-se a distorção que a
medida oferece ao motivo lucro. Com o desenvolvimento
do sistema capitalista, o lucro bancário é tão propul-
sor de inversões de capital financeiro, quanto o é o
lucro do capital produtivo, de investimentos na produ-
ção.

,
"Na rea4-idade, e apenas a separa-
.•
çao dos capitalistas em financeiros e indus-
triais que transforma parte do lucro em ju-
ro, cria, 'emfim,a categoria do juro,,(133),

afirma Marx. E conclui:

-
"Se o capital todo estivesse nas
.-
maos doá capitalistas industriais, nao exis-
tiriajuro nem taxa de juro ••(134).

Dessa forma, o desestímulo trazido pelo ta-


belamento da taxa de juro ao negócio bancário é evi-
derrbe, Portocarrero Castro observa que:

(133) MARX, K. O cap.ital••• livro 3, v.


5. Opa cit., p. 428.

{134) MARX, K. ~pital ••• livro 3, v.


5. Opa cit., p. 434.

161
.---
"Os bancos têm sido tratados nos
textos de Macroeconomia não tanto como fir-
mas, mas quase como entidades públicas, cuja
função básica é a de criar moeda escriturai.·
Esta visão é verdadeira dentro de certos li-
:mites já que os bancos criam efetivamente
moeda, e é suficiente
. para o . campo de estudo
da Macroeconomia elementar" (••• ). ."Daí pa-
ra a concepção do banco como firma cujo pro-
duto é moeda, produzida com o insumo emprés-
timos, trata-se de um curto passo,,(135).

Ademais, o sistema financeiro nacional ante


as distorções acima apontadas, transforma-se, como, de-.
veras, transformou-se na economia do Brasil, em com-
prometimento a todo o sistema econômico, não obstante
seu caráter inteiramente improdutivo.

••• se uma fm:tção, em si mesma improdutiva,


tt

embora necessária à reprodução, se transfor-


ma, com a divisão do trabalho, de uma tarefa
exclusiva, especializada de poucos, não muda

(135) CASTRO, Hélio Oliveira Portocarrero

162
---
ela, com isso, de carát.ertt(136).

Portocarrero Castro, por exemplo, lembra com


muita propriedade que:

."Intermediários financeiros orga-


nizados existem porque através de sua ativi-
dade podem diminuir" (como, de fato, diminu-
em) "os custos de transação entre os agentes
econômicos emprestadores e tomadores. Neste
j

sentido, prestam serviço a ambas as partes e


.~.percebem uma comissão que, em situação de
competição perfeita, deve cobrir seu custo
operacional" (137) •

Sumariando, através da lei da usura de 1933,


que houvera fixado em 12% ao ano o limite superior da
taxa nominal de juro, estabeleceu-se (1) a limitação
da capacidade de captação de poupança voluntária in-
terna,' (2) a limitação da lucratividade dos bancos,
restringindo o desenvolvimento do capital' financeiro
imprOdutivo e (3) uma distorção no sistema capitalista

(136) MARX, K. ~p'i tal... livro 2, v.


3. op. cit., p. 134.

(137) CASTRO, H. O~ P. As causas... op.


cit., p. 22.

163
","', ... ~.,

...brasileiro deVido ao subdesenvolVimento do capital fi~ -


nanceiro.

A lei nQ 4357 de 1964 objetivou salvaguardar


o lucro bancár-ío, regulamentando uma ta~a de juro<J de
12% ao ano,porém acima da correção monetária, como
. será visto no capítulO que segue.

'I' •

164
Capítulo 11 - A ev.olucão do capital impro-
dutivo, após a "lei da cor-
recao- meaetârla".
-

3. Até antes do ··plano cruzado".

A lei n2 4357, de 16 de julho de 1964,


instituiu as Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacio-
nal - ORTN, criou a correção monetária dos débitos
fiscais em atraso, dos ativos imobilizados, do custo
dos imóveis para efeitos da apuração do lucro imobi-
liário das pessoas físicas e deu outras providências.
Empregando o jargão tradicional, o advento da correção
monetária, através· da lei 4357/64, tlindexo·ua econo-
mia" numa sociedade que se traumatizara com as taxas

.. 165
altas e crescentes de inflação até o ano de 19640

Os juros de 12% ao ano, desde que cumprida


rigorosamente a determinação legal, passaram de nomi-
nais a reais, de tal modo que o empréstimo de uma de-
terminada quantia de dinheiro pelos bancos render-
Lhea-d a juros anuais nominais iguais ao produto desta
quantia por (1 + i). (1 + j), . sendo i a taxa anual de
inflação e j a taxa anual de juro real. A medida exer-
ceu influências na formação do capital financeiro,ba-
sicamente de três maneiras:

Primeira: elevou a captação de poupança in-


terna voluntária, uma vez que as instituições captado-o
ras passaram a remunerá-las com taxas reais acima das
taxas de desvalorização do poder aquisitivo da moeda.

Com efeito, a elevação da remuneração das


aplicações em poupança induz ao aumento nestas aplica-
ções. A tabela-2 apresenta a captação de recursos,
como porcentagem do Produto Nacional Bruto, nos anos
de 1952 a 1975, ou seja, compreendendo os doze anos
imediatamente anteriores à lei nº 4357/64 e os doze
anos imediatamente posteriores ao ano da mesma lei. A
poupança captada está dividida em sete categoriasfun-
damentais, a saber: (l)acumulação de haveres monetá-
rios, (2) de ativos rentáveiseInitidos pelas institui-
ções financeiraSt (3) emissões líquidas da dívida pú-
blica, (4) emissão de ações, (5) autofinanciamento do

166
TABELA - 2. CAPrAÇXO DE HECURSOS .FINANCEIROS, COMO PORCENTAGEM DO PRODUTO NACIONAL
BRUTO 1952 A 1975.

Ano Have- Inter- DÍvida Ações Autofi- .Auto- Pou- Total Poupan- Poupan
res mediá.- pública e nancia.- finan- pança ça ça
mone- ,rios debên- men1D do cia- ex- total total
tários finan- tures setor mento terna de intern a
cei- público de contas
ros* e pou- Empre- nacio-
pança sas nais

. -
CD
••••• (1) (2) (3) (4)
compul-
,
soria .
(5) (6) (7) . (8) (9)
.
(10~I
..
1952 3,68 0,20 0,81 " 2,50 3,61 2,09 5,40 18,29
16,7 12,89
1953 4,57 0,28 1,05 2,04 1,27 1,97 0,54 11,72
15,4 11,18
1954 4,40 0,75 1,08 3,58 3,73 3,82 1,96 19,32
16,9
1955 3,42 17,36
-0,03 1,29 3,07 2,19 3,46 -0,01 13,39
13,7 13,40
1956 3,50 0,31 0,11 3,47 1,13 3,22 -0,4214,211,3211,74
1957 5,34 0,42 0,63 3,59 1,92 1,63 1,6814,315,21
1958' 4,30 13,53
0,28 0,54 3,3,2 4,65 4,17 2,2616,419,5217,26
1959 5,74 0,21 0,03 3,55 4,42 2,87 1,45 18,28
20,9 16,83'
1960 6,56 0,44 0,80 3,59 4,97 3,91 3,3317,123,6020,27
(continua)
(*) Inclui depósitos com juros, reservas técnicas de poupança contratual e instumen-
tos de dívida privada (letras de câmbiO, letras imobiliárias e fundos de participação~
(oontinuação)
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10)
1961 7,75 0,32 1,43 2,24 1,50 4,08 1,60 18,92 17,3 17,32
1962 9,39 9,76 -0,26 2,35 -0,04 3,99 3,11 19,30 18,1 16,19
1963 8,57 0,63 0,.62 2,22 0,65 4,49 0,87 18,04 17,7 17,17.
1964 8,59 1,02 -0,15** 1,26 0,07 1,82 -0,,94 24,02 16,6 24,96
1965 8,16 1,25 0,59** 1,12 2,24 6,20 -1,25 18,31 22,2 19,56
1966 1,67 0,54 0,78** 1,53 6,.17 6,59 0,09 17,38 22,3 17,29
1967 4,89 2,28 0,09** 1,58 2,59 4,39 0,98 16,78 19,6 15,80
1968 3,99 3,07 0,61** 3,62 5,54 2,95 1,32 21,11 21,7 22,43
1969 3,69 1,96 0,47 3,14 6,64 3,04 0,71 19,64 25,0 18,93
1970 3,12 3,30 0,15 3,03 6,32 5,12 1,29 23,31 23,7 22,02
1971 2,87 5,21 0,53 5,71 6,33 6,10 2,53 29,28 25,5 ,26,75

-
c:n
co
1972
1973
1974
1975
4,00
5,27
3,52
·5,01
5,76
6,27
4,41
6,11
0,26
0,96
0,34
1,05
3,64
3,25
2,29
2,63
6,53
7,17
6,56
5,93
7,13
5,06
8,52
7,77
2,45
2,11
6,74
5,45
29,76
30,10
32,39
33,99
25,7
27,6
31,9
25,7***
27,31
27,99
25,65
28,54

,**Não inoluem Estados e munioípios.·


.***N~· . 1uem var1açoes
ao ~c . - em es t oques.

Fonte: Pesquisa elaborada por Ness. Para a metodologia e detalhamento dos compo-
nentes da tabela, ver NESS JRo, Walter Lee. A influência da correção monetária no'
j
.

sistema financeiro. Rio de Janeiro, IBMEC, p. 127-172 (Apêndice A).

Obs.: O gráfico-2 apref::?enta


a evolução dos dados da coluna 10.
-----
GIDICO - 2. POUPANÇATOTAL INTERNA COMOPORGENTAGEM
DO PRODUTONACIONAL BRUTO- 1952 A 1975.
FONTE: COLUNA 10, DA TABELA-2.

25"

média do período
1968-1975: 24,95%
do PNB
15%
média do período
1952-1963: 15,43%
do PNB

setor público e-acumulação de f'undos de poupança com-


pulsória nas instituições financeiras, (6) autofinan-
ciamento de empresas e (7) inf'luxo .líquido de poupança
externa. Evidencia-se na tabela-2 a elevação destas
captações, principalmente após os anos atípicos de
1965, 1966 e 1967.

169
~_.--"
o gráfico-2 apresenta a poupança total
(coluna-8 da tabela-2) menos a poupança externa (colu-
na-7 da tabela-2), ou seja, a evolução da poupança to-
tal interna (coluna-lO da tabela-2) no período 1952 a
1975. t sensível a elevação da captação de recursos
financeiros como porcentagem do PNl3; principalmente
após 1968. A média destas porcentagens 'no período
1952-1963 é de 15,43%, elev~do-se para 24,95% no pe-
ríodo 1968-1975. Isto significa que cerca de 10% a
mais, do PNB, passou a ser poupado internamente.

nA correção monetária dos ativos


financeiros, inaugurada com ó advento da lei
n2 4357/64" (•••) Itteve o grande mérito de
conciliar a poupança interna para suporte ao
desenvolvimento econômico, com infla-
,..,,(138)
çao •

Segunda: a lei nº 4357/64 elevou a lucrati-


vidade dos bancos, ou seja, do capital improdutivo. A
atiençâo para o fato da elevação dos lucros bancários
após a lei nº 4357/64 é de enorme importância para es-
te estudo, uma vez que estes representam aqui o lucro
do capital improdutivo. O anexo-l oferece o lucro
líquido, o patrimônio líquido e a rentabilidade sobre

(138) BRANDÃO, Carlos. In: prefácio de


NESS JUNIOR, W. L. A influência... op~ cit., p. 12.

170
---
o patrimônio líquido (lucro líquido x 100 / patrimônio
líquido) dos 10 principais bancos comerciais brasilei-
ros no período 1964-1985, colhidos das publicações
anuais dos balanços oficiais das referidas instituiçõ-
es finacieiras. A média dos lucros nos vinte e dois
anos considerados foi de 22,03%. Esta medida reflete
aproximadamente a taxa média histórica dos lucros ,do
capital i~produtivo privadO após 1964.

° gráfico-3 mostra a evolução da rentabili-


dade consolidada dos balanços dos dez bancos entre os
anos de 1964 a 1985. Estes dados foram extraídos dos
cálculos apresentados no anexo-l.

Se a taxa de lucro alcançada pelo capital


produtivo, representado aqui pelas empresas não finan-
ceiras, houvesse atingido igualmente um patamar, ao
menos próximo, de 22,03%, poder-se-ia concluir que as
taxas de lucro do capital produtivo e do capital i~
produtivo estariam razoavelmente equalizadas. Entre-
tanto~ a tabela-3 evidencia a diferença entre os lu-
cros do capital produtivo e do capital improdutivo, no
período 1978-1985, ou seja, nos oito, anos imediatamen-
te precedentes ao ano da decretação do Plano de Esta-
bilização Econômica (plano cruzado). 0,gráf'ico-4 es-
baça a evolução da rentabilidade destes mesmos capi-
tais no período considerado.

t notável o distanciamento dos lucros do ca-

171
· .,

GIDICO
---
:- 3. RENTABILIDADE (LUCRO LíQUIDO X 100 / PA-
TRIMONIOLtQUIDO) CONSOLIDADADOS lO~~IO-
RES· BANCOS qOMERCIAIS PRIVADOS BRASILEI-
Ros' ENTRE 1964 E 1985.- FONTE: ANEXO-l.

30%

25%

15%

*1985: exceto·Comind e Auxiliar, por apresentarem ba-


lanços atípicos.

pital improdutivo em relação aos lucros do capital~


dutivo, a partir de 1981. Neste ano, a diferença en-
tre as percentagens destes lucros atingiu o alto pa-

172
·-~..
TABELA - 3. RENTABILIDADE LíQUIDA (LUCRO LtQUIDO / PA-
TRIMONIO LíQUIDO) DO CAPITAL PRODUTIVO E
DO CAPITAL IMPRODUTIVO NO PEIdODO 1978-
1985, EM BILHOES DE CRUZEIROS* CORRENTES.

CAPITAL PRODUTIVO CAPITAL IMPRODUTIVO


ANO .
lucro
, patrimônio 1& lucro patrimônio LL
11.quido líquido PL líquido líquido PL
(~) (2) (3)- (4) (5) (6)
1978 150,2 519,2 28,9 8,6 39,4 21,8
1979· 188,5 914,5 20,6 12,3 69,7 17,6
1980 353,6 . 1.710,2 20,7 24,2 125,2 19,3
1981 513,0 3.895,8 13,2 90,3 312,9 28,9
1982 985,1 8.815,6 11,2 187,6 803,7 23,3
1983 2.056,7 25.869,9 7,9 572,4 2.464,3 23,2
1984 10.618,6 100.590,1 10,6 1.198,3 8.852,5 13,5
1985 38.811,3 348.915,0 11,1 6.038,4** 31.141,1** 19,4**

*Cruzeiro é a moeda brasileira anterior ao cruzado


com a seguinte paridade, em 28.02.87: 1 cruzado =
= 1000 cruzeiros.
:Exceto bancos Comind e Auxiliar.

Fonte: As colunas (1), (2) e (3) foram extraídas do


balanço consolidado de uma amostra das 875 maiores so-
ciedades anônimas privadas (786 empresas nacionais e
89 empresas estrangeiras), não-financeiras, conforme a
Conjuntura Econômica, nov./1986, v. 40, nQ 11 - F.G.Vo
As colunas (4), (5) e (6) foram elaboradas a partir de
balanços publicados em vários números da Revista Ban-
cária Brasileira. Reproduzem os dados consolidados de
uma amostra dos dez maiores bancos privados comerciais
brasileiros, conforme as três Últimas colunas do Ane-
xo-l.

173
---
GR!FICO-4: EVOLUçlo DAS RENTABILIDADES DO CAPITAL mo-
DUTIVO E DO-CAPITAL
, IMPRODUTIVO BRASlLEI-
ROS NO FERIODO 1978-19850

,,
~
I'

25~.
.I,I ".,
I \_--
I \ capital
~_,"",\I \ improdutivo
20% , \ í
\,/~) \ /
x.> \ /
\ /
\ /
15% \ /
\/

1o;t

(\J
<X) <X) <X)
0'\ 0'\ 0'\
r-f r-f r-f

Fonte: A rentabilidade do capital produtivo foi co-


lhida de uma amostra ·de 875 empresas não-finance.iras,
conforme coluna-3 da tabela-3. A rentabilidade do ca-
pital improdutivo foi extraída de uma amostra dos dez
maiores bancos privados comerciais do Brasil, conforme
coluna-6 da tabela-3.

174
--
tamar de 15,7% em favor do capital improdutivo, anali-
sando as amostras apresentadas.

Se se incluísse as 125 principais empresas


estatais não-financeiras na amostra das empresas pro-
dutivas, as diferenças entre as remuner~ções percen-
tuais do capital produtivo e improdutivo estariam mais
acentuada~, uma vez que os lucros das estatais produ-
tivas brasileiras foram decrescentes e menores que os
lucros das empresas privadas nacionais e estrangeiras,
conforme se conclui examinando a tabela-4. Nesta ta-
bela, observa-se dados extraídos do balanço consolida-
do das 1000 maiores sociedades anônimas não-financei-
ras, sendo 125 empresas estatais, 786 empresas nacio-
nais privadas e 89 empresas estrangeiras. Nota-se que
a rentabilidade sobre o patrimônio líquido das empre-
sas estatais da amostra caiu de 11,0%, em 1978, para
4,4% em 1985, passando pela margem extremamente críti-
ca de 2,6%, em 1983, ano em que os lucros do capital
improdutivo, conforme representados na tabela-3, al-
cançaram a rentabilidade de 23,2%. Analogamente, a
rentabilidade das empresas nacionais privadas reduziu-
se de 30,9% em 1978 para 11,1% em 1985, atingindo ape-
nas 7,6%, em 1983. No mesmo períodO, a rentabilidade
das empresas estrangeiras caiu de 23,6%. para 11,1%,
chegando a 9,1%, em 1983. O gráfico-5 esboça a evolu-
ção destas rentabilidades comparativamente à evolução
da rentabilidade consolidada dos 10 maiores bancos co-
merciais privados, no período considerado.

175
TABELA-4: RESULTADOS CONSOLIDADOS DE .1000 EMPRESAS PRODUTIVAS (AS MAIORES SOCIEDA-
DES ,ANÔNIMAS, NXO-FINAY:lC~IRAS), EM BILHÕES DE CRUZEIROS CORRENTES. . NO
PERIODO 1978-1985. ESTAO APRESENTADOS SEPARADAMENTE OS RESULTADOS DE
125 ESTATAIS, 786 EMPRESAS NACIONAIS PRIVADAS E 89 EMPRESAS ::ESTRANGEIRAS.
ANO 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985
Lucro líquido
(1000 emp.) 248,0 316,0 503,6 1.031,1 1.824,4 3.073,6 19.538,9 59.004,3
125 estatais 97,8 127,5 150,0 518,1 839,3 1.016,9 8.920,3 20.193,0
786 nac , prive 117,8 160,5 293,5 410,4 745,8 1.547,2 7.925,4 30.344,7
89 estrango 32,4 28,0 60,1 102,6 239,3 509,5 2.693,2 8.466,6

-
•••••
cn
Patr. líquido
(1000 emp , )
125 estatais
1.407,3 2.361,.4 4.202,6 9.582,3 21.882,0 65.710,2 249.093,8 849.2'44,6
888,1 1.446,9 2.492,4 5.686,5 13.066,4 39.840,3 148.503,7 500.329,6
786 nac. priVei 381.8 691.6 1.330,2 30024,1 6.946,3 .20.295,O 78.346,8 272.770,1 \
89 estrang. 137,4 222,9 380,0 871,7 1~869,3 5.574,9 22.243,3 76.144,9
L.Lo/P.L.
(1000 emp.) 17,6% 13,4% 12,0% 10,8% 8,3% 4,7% 7,8% 6,9%
125 estatais 11,~ 8,8% 6,0% 9,1% 6,4% 2,6~o 6,0% 4,4~
786 nac , prive 30,9% 23,2% 22,1% 13,6% 10,7% 7,6% 10,1% 11,1%
89 estrang. 23,6% 12,6% 15,8% 11,8% 12,8% 9,1% 12,1% 11,1%
Obs.:o gráfico-5 esboça a evolução do Lucro Líquido/Patrimônio LíquidO.
Fonte: Conjuntura Econômica (Mil S.A.), resultados consolidados, nov./1986, v. 40,
n2 11 - F.G.V.
, . .

GRÁFICO-5: EVOLUÇÃO DA RENTABILIDADE (100 x LUCRO Lt-


QUIDO/PATRIMÔNIOLÍQUIDO) DOS DEZ MAIORES
BANCOS COMERCIAIS PRIVADOS E DAS MIL MAIO-
RES SOCIEDADES ANÔNIMAS NÃO-FINANCEIRAS
SENDQ"125 ESTATAIS, 186 NACIONAIS PRIVA-
DAS E 89 EMPRESAS ESTRANGEIRAS, 1978-1985.

25"

l.5"

-z -::•.•. -.' ...•..• -.......••. '


".
." ~'''." .
...... .• "." ...•
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.•..
. ".
""a:> C\J ~ .q. '"
"t'- a:> a:> a:> a:>
0'\ 0'\ 0'\ 0'\ 0'\
M M M M
Font~~"."Para os 10 bancos: coluna-6, da tabela-3; pa-
ra os demais: tabela-4.

177
--
Para que se avalie a evolução da participa-
ção dos serviços de intermediários financeiros na ren-
da interna, é apresentada a tabela-5. Oferece-se a
participação percentual dos diversos ramos de ativida'::'
de, nos anos de 1949, 1959 e 1965 a 198~. Observando
a coluna (4) (seviços de intermediários financeiros),
conclUi-se que a participação dos intermediários fi-
nanceiros é crescente a partir de 1965, ou seja, um
ano após a lei da correção monetária.

"Dessa forma, os lucros do capital financei-


ro foram significativamente superiores aos lucros do
capi tal não-financeiro. t evidente, de acordo com a
análise marxista, a inibição trazida pelo comportamen-.
to destas variáveis à produção de valor e de mais-va-
lia do sistema. A razão entre a apropriação de mais-
valia pelo, capital improdutivo e a apropriação de
mais-valia pelo capital produtivo ·alcançou níveis ex-
tremamente altos até as vésperas da decretação do pla-
no de estabilização econômica de 27 de fevereiro de
1986.

Para a construção da tabela-6, foi elaborada


uma variável que se aproxima desta razão: "despesas
finaceiras/despesas financeiras + lucro líquido" de
uma amostra de empresas não-financeiras. A variável
reflete percentualmente o quanto, de uma ',',
determinada
soma a ser repartida entre capitalista improdutivo e
capitalista produtivo, coube ao ];>rimeiro. Observa-se

178
·---
TABELA-5: PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DOS SETORES DA ECO-
NOMIA NO TOTAL DA RENDA INTERNA, NOS ANOS
DE 1949, 1959 E 1965 A 1980.

,serviç o s
ano agri- indús- , int:erm.
cultura tria comercio financ. total
(1) (2) (3) (4) (5)
1949 24,9 26,0 12,4 3,7 49,1
1959 . 19,2 32,6 14,4 3,2 48,2
1965 15,9 32,5 15,1 4,4 51,6
1966 13,3 33,5 15,2 5,0 53,2
1967 12,8 32,5 14,8 5,1 54,7
1968 11,7 34,7 15,3 5,0 53,6
1969 11,1 35,8 15,5 5,6 53,1
1970 10,1 35,9 15,6 5,7 54,0
1971 10,4 35,7 15,8 6,1 53,9
1972 10,5 36,1 16,1 6,3 53,5
1973 11,3 36,6 16,6 6,2 52,0'
1974 11,5 37,9 17,3 6,0 50,6
1975 11,0 37,1 17,1 6,5 51,9
1976 12,8 35,7 16,8 7,6 51,6
1977 ,14,9 34,2 16,7 8,1 50,9
1978 13,5 33,4 16,1 8,4 53,1
1979 13,3 32,4 15,6 9,0 54,2
1980 13,0 34,0 16,1 8,6 53,0

Fonte:F.G.V., contas nacionais.

na tabe1a-6, que esta porcentagem é acentuadamente


crescente de 1978 até 1983, quando alcançou 84,5%, sjg-
nificando que, de cada cruzeiro destinado ao lucro das
empresas produtivas ou a despesas financeiras, 84,5
centavos de cruzeiro, tinham a segunda destinação. O

179
, ,
TABELA-6. DESPESAS FINANCEIRAS, ·LUCRO LIQUIDO E DESPESAS FINANCEIRAS/LUCRO LIQUI~
EXTRAíDOS DO BALANÇO CONSOLIDADO DE 1000 EMPRESAS PRODUTIVAS (AS MAIORES
SOCIEDADES ANÔNIMAS, NÃO-FINANCEIRAS), EM BILHÕES DE CRtJZEIROS COf'illENTES,
NO PERÍODO 1978-1985. ESTÃO APRESENTADOS SEPARADAMENTE OS RESULTADOS DE
125 ESTATAIS, 786 EMPRESAS NACIONAIS PR~VADAS E 89 EMPRESAS :ESTRANGEIRAS.

ANO 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985


Desp. Fin. (1000 emp.) 79,9 387,4 713,4 2.054,5 3.435,1 16.802,8 32,698,5 73.520,5
125 emp. estatais 47,8 289,6 502,1 1.469,1 2.357,5 12.902,6 21.774,7 37.871,9
786 emp. nac. privadas 16,6 60,1 139,0 3'67,7 746,7 2.544,9 7.130,1 23.141,8
89 emp. estrangeiras 15,5 37,7 72,3 217,7 330,9 1.355,3 3.793,7 12.506,8

-
m
~
Lucro 1íq. (1000 emp.) 248,0 316,0 503,6 1.031,1 1.824,4
125 emp. estatais 97,8 127,5 150,0 518,1 839,3
3.073,6 19.538,9 59.004,3
1.016,9 8.920,3 20.193~0
i
\
786 emp. nac. privadas 117,8 160,5 293,5 410,4 745,8 1.547,2 7.925,4 30.344,7
89 emp. estrangeiras 32,4 28,0 60,1 102,6 239,3 509,5 20693,2 8.466,6
D.F./D.F. + L.L. 24,4% 55,0{0 58,6% 66,6% 65,3% 84,5% 62,6% 55,5%
125 emp~ estatais 32,8% 69,4% 77,0% 73,9% 73~7'10 92~7'10 70,9% 65,2%
786 emp. naco privadas 12,4% 27,2% 32,1% 47,3% 50,0% 62,2% 47,4% 43,3%
89 emp. estrangeiras 32,4% 57,4% 54,6% 68,0{0 58,CY{o 72,7% 58,5% 59,6%

Obs.:O gráfico-6 mostra a evolução da variável D.F./D.F. + L.L.


Fonte: Conjuntura Econômica (Mil S.A.), resultados consolidados, nov./1986, Vo 40,
nQ 11 - F.G.V.
------
gráfico-6 foi esboçado a partir da tabela-6 e mostra o
-, .
comportamento desta variavel. Recorde-se que 1983 foi
o ano em que a recessão mais aprofundou-se nesta déca-
da. Naquele ano, as diferenças entre as taxas de lucro
do capital pro dut ivo e as taxas <E lucro ,do capital im-
produtivo, conforme a amostra colhida, foram máximas.

Terceira: após a ~ei n2 4357/64, que intro-


duziu a correção monetária na economia brasileira, o
capital financeiro fortaleceu-se, embora de maneiramui-
to distante da desejada ao sistema globalmente conside-
rado. Se, por um lado o capital financeiro nacional,
improdutivo, conseguiu atrair para si parcelas signifi-
cativas da mais-valia produzida pelo sistema, limitando
a perspectiva de lucro e o próprio lucro do capitalista
industrial, produtivo, por outro não exerceu suas fun-
ções necessárias a uma economia capitalista globalmente
considerada. Em outras palavras, '0 sucesso do desen-
volvimento do capital improdutivo a nível microeconômi-
co (palvável talvez, unicamente pela multiplicação de
agênca.as e matrizes bancárias,pela superfluidade de
seus adornos, pela mera consulta às taxas de juros ou
pela sofisticação desproporcional dos "serviços produ-
Zidos") acompanhou seu insucesso a nível macroeconômi-
co.

De acordo com Marx,

"Para desenvolver-se o modo capita-

181 .
GIDICO-6.
. ~--,
EVOLUÇÃODA VARIAVEL "DESPESAS
-- FINANCEI-
RAS/DESPESAS FINANCEIRAS + LUCRO LÍQUIDO",
. DAS 1000 MAIORES SOCIEDADES ANÔNIMAS NÃO-
FINANCEIRAS, SENDO 125 EMPRESAS ESTATAIS,
786 EMPRESAS NACIONAIS PRIVADAS E 89 EM-
,
PRESAS ESTRANGEIRAS, EM PORCENTAGEMo PE-
RIODO: 1978 - 1985.

90% I .

80%

7'0%

emp.
50%

20%

10%

1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985

Fonte: tabe1a-6.

182
.--
lista de produção, é mister historicamente
que o capital mercantil," (do qual o capital
."
financeiro, improdutivo, é fração) nexista e
,
atinja certo grau de desenvolvimento, pois e
condição prévia da concentração de haveres
monetários ••(139).

Ademais, Marx relaciona outras funções do ca-


pttal financeiro, necessárias ao desenvolvimento da
economia capitalista, como tomar emprestado e emprestar
dinheiro, negociar com crédito," facilitar a compensação
dos saldos', fornecer os meios técnicos para reduzir ao
mínimo econômico o entesouramento, etc.

Dessa forma, cabe ao capital financeiro de-


sempenhar determinado papel dentro do sistema econômico
capitalista, em troca da mais-valia que se apropria sem
produzir.

A tabela-7 apresenta o comportamento de algu-


mas variáveis adequadamente selecionadas, com o intuito
de evidenciar alguns aspectos importantes do relaciona-
mento entre o capital produtivo e o capital improdutivo
no período de 1978, que coincide aproximadamente com o
início de um período recessivo, até 1983, quando a re-

(139) MARX, K.. O cap.ital•• q livro 3, v~


5. op. cit., p. 376.

183
· -

------ ..
TABELA-7o 1NDICES SELECIONADOS DO BALANÇO CONSOLIDADO
DE 1000 EMPRESAS PRODUTIVAS (AS MAIORES SO-
CIEDADES ANÔNIMAS, NÃO-FINANCEIRAS), NO FE-
mODO 1978-1983.
, SÃO APRESENTADOS SEPARADA-
MENTE OS INDICES DE 119 ESTATAIS, 793 EMPRE-
SAS NACIONAIS PRIVADAS E 88 EMPRESAS ESTRAN-
GEIRAS•. DEFLATOR: IGP-DI. BASE: 1978 = lOO.

.•. ,
?ATRIMONIO LIQUIDO
TAXA
19781979 1980 1981 198211983 rmDIA
1000 empresas 100 116 100 107 123 143 7,4%
Estatais 100 119 99 106 123 144 7,6%
Nacionais Priv. 100 112 104 112 130 147 8,0%
Estrangeiras lOO. l04 89 96 108 123 4,2%

ENDIVIDAMENT0*
TAXA
1978 1979 1980 1981 1982 1983 MJ!:DIA
lOOO empresas 100 13l 120 123 132 166 10,7-%
Estatais 100 140 128 138 153 201 15,0%
Nacionais Priv. 100 ll5 105 99 101 108 1,6%
Estrangeiras 100 122 107 98 94 106 1,2%
,
RECEITA LIQUIDA DE VENDAS**
TAXA
1978 1979 1980 1981 1982 1983 1{f:t:DIA
1000 empresas iOO 111 .122 117 114 ll2 2,3%
Estatais 100 114 130 133 125 131 5,5%
Nacionais Priv. lOO 108 115 105 109 102 0,4%
.Estrangeiras lOO 110 122 117 109 1020,4%
(continua)

paSSivo circ. + exige a longo prazo


* Eridividamento=
patrimônio líquido
** Receita líquida de vendas = Receita operacional bru-
tra menos Deduções de vendas.

184
----
(continuação)
DESPESAS DE VENDAS TAXA
1978 19791980 1981 1982 1983 MtDIA
1000 empresas 100 63 67 64 82 72 -6,4%
Estatais 100 18 23 21 50 27 -23,0%
Nacionais :Priv. 100 96 98 93 108 107 1,4%
Estrangeiras 100 105 113 110 109 107 1,4%

DESPESAS ADMINISTRATIVAS TAXA


1978 1979 1980 1981 1982 1983 lílliDIA
1000 empresas 100 53 92 55 68 48 -13,6%
Estatais 100 33 124 45 72 39 -17,2%
Nacionais Priv. 100 66 67 61 66 55 -11,3%
Estrangeiras 100 72 66 64 60 56 -10,9%

DESPESAS FINANCEIRAS TAXA.


1978 1979 1980 1981 1982 1983 18DIA
1000 empresas 100 278 232 329 393 513 38,7%
Estatais 100 413 326 499 585 801 51,6%
Nacionais Priv. 100 150 147 161 221 239 19,0%
Estrangeiras -100 146 132 175 190 236 18,7

LUCRO LíQUIDO DO EXERCíCIO


I
TAXA
1978 1979 1980 1981 1982 1983 M~DIA
1000 empresas 100 68 70 81', 75 49 13,3%
Estatais 100 77 56 97 76 37 18,0%
Nacionais Priv. 100 68 90 68 75 60 9,7%
Estrangeiras 100 40 63 59 76 64 8,5%

Obs.: O gráfico-7 esboça a evolução das despesas ope-


racionais (despesas de vendas, administrativase fi-
nanceiras). O gráfico-8apresenta o desenvolvimentode
despesas financeiras, separadamentepara os três tipos
de empresas referidos acima.

Fonte: Conjuntura Econômica (Mil S. A.), resultados


consolidados,abr./1985, v.'39, nº 4- F.G.V.

185
atual atingiu seu ponto crítico com a redução do Pro-
duto Interno Bruto em 3,5%. Os dados da tabela foram
elaborados a partir dos balanços consolidados, das de-
monstrações consolidadas de lucros e das demonstrações
consolidadas de origem e aplicação de recursos em uma
amostra das 1000 maiores sociedades anônimas não-fi-
nanceiras no período 1978-1983, sendo 119 empresas es-
tatais, 793 empresas nacionais privadas e 88 empresas
privadas estrangeiras. ,As empresas da amostra, segun-
do o critério aqui adotado, são todas produtivas.

,
O endividamento do conjunto de empresas e
ligeiramente crescente no período, para as empresas
privadas, mas eleva-se a uma taxa anual média de 15%
para as empresas estatais. Ressalte-se que no ano de
1983 o endividamento elevou-se em 25% em relação ao
ano anterior, para o conjunto das 1000 empresas.

As despesas operacionais apresentam a se-


guinte evolução (ver gráfico-7): as despesas de ven-
das decrescem no período a uma taxa média anual de
6,4%, embora, considerando-se exclusivamente o capital
privado (nacional e estrangeiro), verifique-se um cres-
cimento médio anual de 1,4%. As despesas administra-
tivas, são demais decrescentes. Para o total das 1000
empresas produtivas a taxa média de redução é de 13,6%
anuais.

Em. contraposição à destacada redução das

186
, -, ---
GRAFICO-7. EVOLUÇAODOS INDICES DE DESPESAS OPERACIO-
NAIS (DESPESAS DE VENDAS, ADMINISTRATIVAS
E FINANCEIRAS)
. DE UMA AMOSTRA
, DE 1000 EM-
PRESAS PRODUTIVAS, EXT~DO BALANÇO CON-
SOLIDADO E DA DEMONSTRAÇÃO DE ORIGEM E
APLICAÇÃO DE RECURSOS CONSOLIDADA DESTA
AMOSTRA. PERÍODO: 1978-1983. BASE: 1978=
=100.

despesas
financeiras
500 .

400

30

200

100 despesas
.
"';':..
·"""'.:::;....,
..
······-
..
--
........,....
<,"
. ~e vendas
.........•...................
· ·.,~:::.:.------_despesas
administrativas

1978 1979 19.0 1981 1982 1983

Fonte: tabela-7.

187
.--
despesas de vendas e das despesas administrativas, a
evolução das despesas financeiras é brutalmente cres-
cente, comprovando a apropriação significativa, por
parte do capitalista improdutivo," da quantidade de va-
lor produzida no sistemao

Observa-se um aumento anual real médio ex-


tremamente alto, de 51,6% das despesas financeiras de
empresas do Estado no período. O mesmo aumento é de
19,0% para as empresas nacionais privadas e de 18,7%
para as estrangeiras. Esta evolução, sem dúvidas, in-
dica o comprometimento excessivo do capital": produtivo
com o capital improdutivo. O gráfico-8 ilustra a evo-
lução das despesas financeiras no período considerado."

Fica caracterizada a evidente contraposição


entre capitalista produtivo e capitalista improdutivo
e, conforme foi examinado, o segu:ndo obteve enormes
vantagens na repartição da mais-valia total.

Ora, recorde-se, novamente, Marx:

tt~ evidente que a massa de capi-


tal dinheiro, que os comerciantes de dinhei-
ro (banqueiros) manipulam, é o capi tal-di-
nheiro que está na circulação, dos capita-
listas comerciantes e industriais, e que as
operações que realizam são apenas as opera-
ções destes capitalistas a que servem de in-

188
GRÁFICO-8. , - ---
EVOLUÇAO DOS INDICES ·DE DESPESAS FINANCEI-
RAS DE UMA M~OSTRA DE 1000 EMPRESAS PRODU-
TIVAS, COLHIDA DO BALANÇO CONSOLIDADO E DA
DEM01fSTRAÇÃO DE ORIGEM E APLICAÇÃO DE .RE-
CURSOS CONSOLIDADA DESTA M~OSTRAo ESTÃO
APRESENTADAS SEPARADAMENTE A EVOLUÇÃO DOS
tNDICESDE 119 ESTATAIS, 793 EMPRESAS NA-
CIONAIS PRIVADAS E 88 ESTRANGEIRAS •

.I estatais
I
i
i
.i
I
i
I

~.
i
",.'"
.'"
",'
",'
1000 emp.
500 / "
/
/'

40
I
r-: ". /
./
/'

I '.'. / /'
I '.
300 i
i
i nac , prive
.........
-:;.;;::;;;::.
. estrang.
200 ...:..- .
~------::----
..:;.:.:.:........................... .,.,.",.~ .......
~ .~ ----- ---~~'"...........•..... .'

1978 1979 19 1982 1983

Fonte: tabela-7.

189
termediários. Também é claro que seu lucro
é apenas dedução da mais-valia, pois so li-
dam com valores já realizados" (140) •

Dessa forma, os "comerciantes de dinheiro"


exigiram grandes retornos pelos empréstimos ao setor
produtivo, reduzindo a perspectiva de lucro deste se-
tor. No Brasil, após 1964,.no entanto, são realçáveis
três eventos estranhos ao modelo capitalista marxista
que explicam o desempenho sofrível do "capital produ-
tor de jurosll• Estes eventos substituíram, em parte,
O capital financeiro nacional privado. são: (1) o ca-
pital financeiro público que subsidiou invesitmentos,
(2) o capital financ~iro internacional, que fez enor-
mes aplicações no Brasil e (3) o forte processo inflá-
cionário, que culminou na decretação do plano de esta-
bilização econômica de 27 de :fevereiro de 1986. Não
serão abordados estes eventos neste trabalilo, uma vez
que desviam do seu objeto. Segue abaixo, apenas com
o intuito de reforçar o que foi afirmado, a exposição
de PortocarreroCastro acerca da questão:

itEm primeiro lugar, é preciso ob-


servar que o papel do Estado no processo de
desenvolvimento industrial brasileiro não se

(140) MARX, K. Ocapi tal. o • livro 3, v.


5. op. cit., p.371 (os parênteses são do autor).

190
--
1imi tou ao de agente do aumento da demanda
de várias categorias de bens e serviços in-
..
dustriais. O estado brasileiro montou uma
estrutUra de financiamento à qual se asso-
cia, direta ou indiretamente, quase toda a
indústria nacional, pública e privada, até
mesmo algumas multinacionais haja vista
o papel do financiamento público na implan-
tação da indústria automobilística. Desde
os anos 50 esta imensa estrutura bancária
pÚblica, intimamente associada à indústria,"
ou seja, ao setor produtivo em geral, "pôde
caracterizar-se como verdadeiro capitalismo
financeiro,público. Em segundo lugar, as
multinacionais, estabelecidas no Brasil, com
toda á importânCia de sua participação na
economia industrial estão desde logo, asso-
ciadas a um capital financeiro internacio-
nalo Finalmente, o contínuo processo infla-
cionário correlato ao padrão de industriali-
zação brasileiro determina um ambiente eco-
nômico de a1to potencial de lucratividade pa-
ra os bancos comerciais," improdutivos, "que
se restringem a operações tradicionais de
curto prazo, concentrando esforços para a
obtenção de regras de atuação convenientes,
sem se aventurar no conjunto de operaçoes-
que poderiam propiciar a emergência de um
capital financeiro privado no país,,(141).

191
----
Os capitais financeiros estadual e interna-
cional, bem como o processo inflacionário, cumpriram,
dessa forma, parte significativa da função macroeconô-
mica que haveria de ser cumprida pelo capital finan-
ceiro privado nacional como contrapartida da sua alta
remuneração.

Fica caracterizado neste tópico que o capi-


tal financeiro nacional (improdutivo), apropriou-se de
excessiva parcela de mais-valia produzida na esfera do
capital industrial (produtivo). O decreto-lei n2
2283/86 de 27 de fevereiro de 1987 (dias depois, subs-
tituído com correções pelá decreto-lei nº 2284/86),
significou, em parte, uma tentativa de reversão de de-
terminações da lei nº 4357/64, que houvera instituído
a correção· monetária na economia brasileira, conforme
se verá no item seguinte.

b. A intenção do "plano cruzado".

(141) CASTRO, H. O. P. As causaso •• op.


cit.,p. 12-13.

192
Em 1985, o processo inflacionário alcançou
um ritmo insustentável e (235,l%, em 1985, se-
gundo o IGP-DI), a ponto .de exigir vigorosas medidas
de política econômica, denominadas genéricamente por
"Choque heterodoxo". Não serão abordadas neste tópico
as causas das altas taxas de inflação ~ue precederam a
iniciativa dos decretos-lei nº 2283/86 e 2284/86, res-
pectivamente a 27 de fevereiro de 1986 e 10 de março
de 1986, popularizados por "plano cruzado", uma vez
que este passou a ser o nome da nova moeda brasileira.
Tampouco deter-se-á à reflexão acerca da viabil:i,dade
das medidas ou à polêmica problemática do seu sucesso
ou insucesso como medida de polÍtica econômica.

Estabeleceu-se no "plano cruzado", sob certo


ponto de vista, uma reversão a determinações da lei nº
4357/64, que instituíra a correção monetária na econo-
mia do Brasil. Enquanto esta Última objetivara:

(1) "indexar a economí.av j

(-2) conviver com altas taxas de inflação e


(3) garantir ganhos reais ao capital finan-
ceiro,

o "plario cruzado It visou,respecti vamente:

(1) "desindexar a,economia", estabelecendo o


fim da correção monetária;
(2) a ttinflação-zero" e

193
.-- .

(3) a redução da rentabilidade do capital


financeiro., na medida em que a desinde-
xação embute a taxa de inflaç ão na taxa
nominal de juros.

Enquanto a lei nQ 4357, da correção monetá-


ria, impliCitamente procurou elevar a parte da mais-
valia do. sistema apropriada'pelo capital improdutivo,
o "plano cruzado" tentou reduzi-la em favor do aumento
da parcela que se mantém como remuneração do capital
produtivo. Sob este aspecto, a medida é muito racio-
nal.

Marx, há mais de um século, detectara a


irracionalidade da super-apropriação de mais-valia pe-
lo capital financeiro:

,
ttE disparate evidente supor que a
transformação do capital todo em capital-di-
nheiro, sem haver pessoas que comprem os
meios de produção e acrescentem valor a es-
ses meios nos quais todo o capital se confi-
gura, excetuada a pequena parte existente em
dinheiro. Está implícito aí o absurdo ainda
maior de imaginar que o capital" (improduti-
vo) "renderia juros no sistema capi talista .
de produção, sem operar como capital produ-
tivo, isto é, sem criar mais-valia da qual o
juro é somente uma parte, e que o sistema

194
---
capitalista de produção continuaria sua mar-
cha sem a produção capitalista." E arrema-
ta: "Se número demasiado de capitalistas .
quisesse transformar o respectivo capital em
capital-dinheiro, a consequência seria a
desvalorização enorme do capital-dinheiro. e.
queda imensa da taxa de juro; mui tos fica-
riam imediatamente impossibili tadosde viver
de juros, forçados portanto a retornar ao
papel de capitalistas industriais,,(142) •

, . .
Recorde-se que o pr-opr-a o Keynes ..reconhecera
na década de 30 a vigorosa força limitadora da taxa. de
juro ao investimento produtivo:

"Torna-se" (••• ) "evidente que a


·taxa real de investimento corrente tende a
aumentar até que não haja mais nenhuma cate-
goria decapitaI cuja eficiência marginal ex-
ceda a taxa de juros corrente. Por outras
,
palavras, a taxa de investimento se movera
até o ponto da escala de procura de investi-
mento em que a eficiência marginal do capi-
tal em geral seja igual à taxa de juros do
mercado" (143) •

(142) MARX, K. O cap.ital... livro 3, v.


5. op. cit., p. 435.

195
o .
"plano .--
cruzado", decretado em 27 de feve-
reiro de 1986, foi um conjunto de medidas de política
econômica envolvido por um clima nacional de otimismo
que se estendeu inclusive aos meios acadêmicos. Tei-
xeira e aosta, em obra intitulada "política Econômica
da Nova República", coletânea de artigos dos economis-
tas da Universidade de Campinas Unicamp (prefacia-
do por Maria da Conceição Tavares), observam que

...
"Os 'lobbies' dos banqueiros vem
re~gindo bravamente a essas idéias prelimi-
.~.nares lançadas para o debate da reforma fi-
'.
nanceira. Na verdade, demonstram uma visão
míope dirigida exclusivamente para seus in-
teresses de curto prazo, para a preservação
de seus ganhos especulativos" (leia-se ga-
nhos improdutivos) "no mercado financeiro, e
não para a possibilidade de voltar a atuar
plenamente (como antes da indexação e do
'open-market') com recursos captados a custo
zero e emprestados a juros baixos, o que
contribuiria para a retomada dos financia-
mentos ao inv.estimento produtivo,,(144).·

(143) KEYNES, John Maynard. Teoria geral do .


empregQ.,~juro e do dinheiro. Rio de Janeiro, Ftmdo
de Cultura, 1957. p. 136.

196
·---
-
Os autores propoem, com justeza, a retomada
d~ investimento produtivo, via redução do lucro finan-
ceiro, revertendo a tendência a um desvario ao qual se
refere Marx:

-
"Todas as naçoes capitalistas -
sao
periodicamente" (••• ) "acometidas de um. des-
. vario, o de procurar fazer dinheiro sem re-
coi-rer ao processo de produção,,(145).

ou seja, acometidas do desvario de tentar apropriar-se


da mais-valia que ninguém produziu.

(144) TEIXEIRA, Natermes Guimarães & COSTA,


Fernando Nogueira. Setor financeiro: momentos de de-
cisão. In: CA:RNEIRO,.Ricardo,org. política Econô-
mica da Nova República. são Paulo, Paz e Terra. p.
195< (os parênteses e as aspas são dos autores).

(145) MARX, K. ~p'ital ••, livro 2, v.


3. op. cit., p. 58.

197
.--

Conclusão

As duas primeiras partes deste trabalho tra-


taram do estudo da evolução dos conceitos de trabalho
produtiyo.e improdutivo dentro das principais escolas
de pensamento econômico. Observou-se uma intenção ge-
ral de cada um dos autores em estabelecer estes con-
ceitos de conformidade com o modo de produção existen-
te à sua época ou com um sistema econômico proposto
por eles. As diferenças entre os conceitos oferecidos
por cada um dos pensadores são, em muitas vêzes, abis-
mais, de acordo com o que foi estudado. No interior da
Escola Clássica, por exemplo, o trabalho produtivo foi
definido de várias maneiras diferentes, por economis-
tas que concordaram inteiramente entre si acerca de
inúmeras outras questões.

198
------ ..
o caráter dissertativo da primeira e segunda
partes fez com que a maioria das conclusões fossem
apresentadas no desenvolvimento do próprio texto.

Com respeito à terceira e Última parte, no


entanto, as conclusões devem ser mostradas com maior
diligência.

Segundo ~fuxx, o capital financeiro, remune-


rado pelos juros é inte'ira11l.ente
improdutivo, ao passo
que o capital industrial, remunerado pelo lucro indus-
trial, é produtivo. Na economia brasileira, até 1964,
a reIIIWleraçãodo capital financeiro foi limitada pelo
decreto nº 22.626 de 1933, conhecido por "lei da usu-
ra", que houvera fixado em 12% ao ano o limite superi-
or da taxa de juro. Esta limitação restringiu sobre-
maneira o desenvolvimento do capital financeiro nacio-
nal, até a criação da correção monetária em 16 de ju-
lho de 1964, por intermédio da lei nº 4357. O adven-
to, de uma maneira geral, "indexou a economia" e os
juros, legais de 12% ao ano passaram a ser cobrados so-
bre os índices de correção monetária.

Passados os anos atipicos de 1965 a 1967, ob-


servou-se tma elevação da captação de ~oupança interna
voluntária, atraida pelo aumento real das taxas de re-
·muneração. Os lucros do capital financeiro também se
elevaram. A taxa média dos lucros do capital finan-
ceiro (improdutivo) privado no periodo 1964-1985 foi

199
B\Bl\OTECA KARl. A. BOEDECKER
I
I
f
/

---
dê cerca de 22,03%, medidos através dos balanços ofi-
ciais publicados pelos bancos.

Na crise econômica da década de 1980, a re-


muneração do capital improdutivo elevou-se relativa-
mente à remuneração do capital produtivo. Em outras
palavras, os lucros do capital improdutivo tornara~se
significa~ivamente superiores aos lucros do capital
produtivo.

De acordo com a teoria marxista, a eLevação


dos luros do capital improdutivo é elemento inibidor
do lucro do capital produtivo e, coneequenüementie , ini-
bidor de novos investimento.produtivos e da produção
de valor do sistema.

Dessa forma, é fácil concluir que a redução


das taxas de juros e da remuneração do capital impro-
dutivo em favor, respectivamente, da elevação do lucro
industrial e da remuneração do capital produtivo con-
duz a um incremento nos investimentos produtivos, sen-
do esta uma importante observação orientadora de medi-
das de pOlítica econômica.

° decreto-lein2 2283 de 21 de fevereiro de


1986, substituído com alterações superficiais pelo de-
creto-lei nº 2284 de 10 de marÇo de 1986, conhecidopo-
pularmente por "plano cruzado", sob determinado ponto
de vista, estabeleceu uma reversão às determinações da

200
----
lei nº 4357/64, que instituíra a correção monetária no
Brasil e que proporcionara as condições para a. super-
remuneração do capital financeiro, improdutivo.

A "lei da correção monetária" implicitamente


procurou elevar a porção de mais-valia produzida no
sistema e apropriada pelo capital improdutivo, ao pas-
so que o "plano cruzado" tentou reduzi-la em favor do
aumento da parcela que se mantém como remuneração do
capital produtivo.

Fica caracterizada a necessidade de investi-


mentos produtivos na economia brasileira, que poderão
ser incentivados através da redução dos lucros do ca-
pi tal improdutivo. .

201
Anexo 1

Este anexo compõe-se de .onze tabelas. Nas


dez primeiras tabelas, são apresentados o lucro líqui-
do, o patrimônio líquido e a rentabilidade (lucro lí-
quido x 100 / patrimônio líqttido) de cada um dos dez
maiores bancos comerciais privados do Brasil. Na dé-
cima-primeira tabela, são encontradas as mesmas variá-
veis, somadas do conjunto dos dez bancos.
Período: 1964 a 1985, ou seja, entre a "lei
da correção monetária" (lei nº 4357 de 16 de julho de
1964) e o "plano cruzado" (decreto nº 2283 de 27 de
fevereiro de 1986, substituído com correções pelo de-
creto nº ·2284 de 10 de março de 1986).
:BRADESCO
, , L.Lo x 100
ANO LUCRO LIQUIDO PATR. LIQUIDO
P~L.
1964 5,3 16,5 23,8
1965 11,5 31,4 36,6
1966 15,6 47,6 32,8
1967 11,2 73,0 15,3
1968 19,8 142 13,9
1969 45,1 206 21.,9
1970 61,8 274 22,6
1971 74,8 561 13,3
1972 95,7 800 12,0
1973 176 1 ..
046 16,8
1974 610 1,,391 43,8
1975 427 2 ..
437 17,5
1976 1.425 ·4.000 35,6
1977 30140 4.924 6),8
1978 3.294 12.263 26,8
1979 4.264 22.381 19,0
1980 7.801 39.505 19,7
1981 36.207 101.389 35,7
1982 75.031 256.621 29,2
1983 223.178 787.478 28,3
1984 433.262 2.848.828 15,2
1985 2.661.149 11.3020558 23,8

202
ITAU

, , L.L. x 100
ANO LUCRO LIQUIDO PATR. LIQUIDO
P.L.
1964 2,0 8,5 23,5
1965 3,9 12,5 31,2
1966 2,3 19,0 12,1
1967 4,2 24,4· 17,2
1968 7,7 36,3 21,2
1969 15,2 100 15,1
1970 37,8 135 28,0
1971 44,7 306 14,6
1972 49,2 462 10,6
1973 70,8 525 13,5
1974 309 1.349 22,9
1975 598 1.414 42,3
1976 1.098 2.400 45,7
1977 941 3.500 26,9
1978 1.027 5.677 18,1
1979 1.276 9.976 12,8
1980 4.101 20.581 19,9
1981 16.913 540955 39,9
1982 24.148 137.884 17,5
1983 69.950 448.044 15,6
1984 315.198 1.701.805 18,5
1985 1.403.029 6.523.225 21,5

".
203
---
BAMERINDUS

, L.L. x 100
ANO - LUCRO LfQUIDO PATR. LIQUIDO
P.L.
1964 0,9 2,7 33,3
1965 2,6 4,7 55,3
1966 3,7 9,1 40,7
1967 4,7 14,0 33,6
1968 5,6 18,4 30,4
1969 7,4 27,5 26,9
1970 9,4 36,5 25,7
1971 39,6 158 25,0
1972 -31,6 222 14,2
1973 72,4 360 20,1
1974 222 661 33,,6
1975 257 761 33,8
1976 352 1.146 30,7
1977 536 2.192 24,5
1978 950 3.636 26,1
1979 870 5.931 14,7
1980 2.115 10.101 20,9
1981 8.074 28.244 28,6
1982 18.531 70.632 26,2
1983 60.342 215.644 28,0
1984 39.501 712.572 5,5
1985 411.102 2.583.928 15,9

204
---
MERCANTIL DE .."
SAO PAULO·

, , L.L. x 100
ANO LUCRO LIQUIDO PATR. LIQUIDO
P.L.
1964 1,1 11,8 9,3
1965 5,0 24,1 20,8
1966 6,0 .26,7 22,5
1967 10,3 40,9 25,2
1968 2,0 77,3 2,6
1969 9,8 132 7,4
1970 17,1 152 11,2
1971 21,6 264 8,2
1972 55,1 332 16,6
1973 64,0 437 14,6
1974 193 647 29,9
1975 419 . 959 43,6
1976 485 1.409 34,4
1977 567 2.305 24,6
1978 660 4 046
0 16,3
1979 1.165 6.881 16,9
1980 2.555 11.861 21,6
1981 6.640 25.965 25,6
1982 17.599 70.706 24,9
1983 29.486 '206.675 14,3
1984 50.121 633.813 7,9
1985 240.543 2.089.504' 11,5

205
---
UNIBANCO

, L.L. x 100
ANO LUCRO LIQUIDO PATR. LÍQUIDO :e. L.
1964 2,3 10,7 21,5
1965 4,7 17,3 27,2
1966 5,2 21,1 24,6
~967 6,1 56,9 10,2
1968 7,8 65,2 12,0
1969 16,5 108 15,2
1970 25,6 131 . 19,6
1971 30,8 348 8,8
1972 30,3 389 7,8
1973 42,2 486 8,7
1974 176 629 ·27,9
1975 132 668 19,8
1976 313 1.140 27,4
1977- 404 1.574 25,6
1978 430 3.147 13,7
1979 720 5.545 13,0
1980 1.610 10.332 15,6
1981 4.899 25.711 ·19,0
1982 9.701 63.640 15,2
1983 30.406 182.457 16,7
1984 79.661 .669.868 11,9
1985 427.233 2.849.371 15,0

206
.-
REAL

, , L.L. x 100
ANO LUCRO LIQUIDO PATR. LIQUIDO
P.L.
1964 5,4 14,5 37,2
1965 8,7 22,4 38,8
1966 16,1 31,6 50,9
·1967 21,3 47,5 44,8
1968 9,1 67,3 13,5
1969 6,2 91,8 8,9
1970 -18,7 106 17,6
1971 32,9 256 12,8
1972 50,0 406 12,3
1973 34,2 612 5,6
-1974 169 729 23,2
1975 158 1.029 15,3
1976 361 1.643 21,9
1977 598 2.232 26,8
1978 166 2.745 6,0
1979 1.346 5.397 24,9
1980 -1.441 9.585 15,0
1981 8 221
0 24.837 33,1
·1982 12.397 60.417 20,5
1983 75.565 183.147 41,3
1984 47.735 630.293 7,6
1985 281.072 2.307.502 12,2

207
--
A

E"C O N O M I C O

, , L.L. x 100
ANO LUCRO LIQUIDO PATR. LIQUIDO
P.L.
1964 2,9 5,5 52,7
1965 2,3 9,7 23,7
1966 3,2 13,2 24,2
1967 3,9 19,0 20,5
1968 5,0 24,4 20,5
1969 5,4 32,3 16,7
1970 10,2 47,8 21,3
1971 16,3 121 13,5
1972 28,8 158 18,2
1973 97,1 287 33,8
01974 276 558 49,4
1975 256 747 34,3
1976 342 1.154 29,7
1977 457 1.399 32,7
1978 707 2.647 26,7
1979 1.128 40543 24,8
1980 ·2.373 8.259 28,7
1981 4.042 17.184 23,5
1982 130803 45.527 30,3
1983 36.803 137.324 26,3
1984 116.419 558.651 20,8
1985 411.665 2.021.500 20,4

o 208
-----
c' o M I N D

.
ANO L.L. x 100
LUCRO LiQUIDO PATR. LiQUIDO
P.L.
1964 1,4 .13,1 10,7
1965 5,0 24,.0 20,8
1966 6,5 34,0 19,1
1967 7,6 49,8 15,3
1968 10,1 ' 64,6 15,6
1969 7,5 78,3 9,6
1970 11,4 112 1Cr,2
1971 17,1 173 9,9
1972 32,0 277 11,6
1973 56,0 312 18,0
1974 134 421 31,9
1975 166 507 32,7
1976 261 1.014 25,7
.1977 376 1.553 24,2
1918 259 1.833 14,2
1919 260 2.111 9,4
1980 603 4.845 12,4
1981 1.446 13.926 10,4
1982 4.804 35.609 13,5
1983 22.510 1130744 19,8
1984 39.889 423.314 9,4
1985 * * *
* O Comind apresentou dados atípicos em 1985.

209
--
NACIONAL

, , L.L. x 100
ANO LUCRO LIQUIDO PATR. LIQUIDO
P.L.
1964 1,7 16,0 10,6
-1965 3,8 19,1 19,9
1966 8,6 20,9 41,1
1967 11,3 45,5 24,8
1968 17,0 59,3 28,7
1969 1.5,3 71,2 21,4
1970 20,0 111 18,1
1911 9,3 154 6,0
1972 26,2 262 10,0
1913 59,0 323 18,3
:1914 173 447 38,7
1975 116 551 20,8
1976 262 1.010 25,9
1911 326 1.046 23,2
1918 519 2.345 24,7
1919 851 4.159 20,5
1980 1.213 6.637 18,3
1981 3.056 13.633 22,4
1982 7.079 40.551 17,5
1983 17.444 115.439 15,1
1984 45.258 408.065 11,1
1985 202.629 1.563.503 13,0

210
.----
AUXILIAR

, L.L. x 100
ANO LUCRO LíQUIDO PATR. LIQUIDO
P.L.
1964 1,2 6,3 19,0
1965 2,6 11,3 23,0
1966 2,4 16,9 14,2
1967 3,3 23,2 14,2
1968 4,2 30,0 14,0
1969 4,3 44,2 9,7
1970 9,4 56,7 16;6
1971 6,9 72,2 9,6
1972 11,0 119 9,2
1973 19,7 156 12,6
1974 34,8 175 19,9
1975 52,0 213 24,4
"1976 131 284 45,9
1977 92,6 860 10,8
1978 484 1.020 47,5
1979 376 2.125 17,7
1980 408 3.496 11,7
1981 777 7.Cf76 11,0
1982 ·4.484 22.140 20,3
"1983 7.274 74.320 9,8
1984 31.300 265.308 11,8
1985
* * *
* O Auxiliar apresentou resultados atípicos em 1985.

21,
·--
RESULTADOS CONSOLIDADOS DOS DEZ BANCOS
, , L.L. x 100
ANO LUCRO LIQUIDO PATR. LIQUIDO
P.L.
1964 24,2 ..
106 22,9
1965 50,1 176 28,4
1966 69,6 240 29,0
1967 83,9 394 21,3
1968 88,-3 585 15,1
1969 135 892 15,1
1970 221 1.161 19,1
1971 294 2.414 12,2
1972 410 3.427 12,0
1973 691 4.545 15,2
1974 2.298 7 007
0 32,8
1975 2.581 9.293 27,8
1976 5.029 15.199 33,0
1977 7.438 21.946 33,9
1978 8.557 39;.357 21,7
1979 12.256 69.708 17,6
1980 24.218 125.203 19,3
1981 90.334 312.920 28,9
1982 187.577 803.733 23,3
1983 572~355 2.464.272 23,2
1984 1.198.344 8.852.517 13,5
1985 6.038.422* 31.141.091* 19,4*
*Exceto Comind e Auxiliar, por haverem apresentado re-
sultados atípicos em 1985 •.'
Obs.: 1) Este anexo-1 ofereceu dados para a elabora-
ção dos gráficos-3, 4 e 5 e da tabe1a-3.
2) A rentabilidade média consolidada para os
dez bancos, no período 1964-1985, segundo os
balanços oficiais, foi de 22,03%_
3) O lucro líquido eo patrimônio líquido está
apresentado em bilhões de c~eiros corren-
tes.
Fonte: publicações anuais dos balanços oficiais dos
bancos. A maior parte dos dados foi colhida de balan-
ços publicados em vários números da Revista Bancária
Brasileira.

212
---
Anexo 2

o anexo-2 reproduz o artigo 12 da lei nQ


4357 de 16 de julho de 1964, que introduz a -
corregao
monetária na economia brasileira. Este artigo apre~
senta os aspectos desta lei ~ue mais se relacionam com
a terceira parte da monografia.

Está ofere'Cido, também, ao final deste anexo,


o § lQ do art~ 7Q, uma vez que o art. lQ faz-lhe refe-
•.. .
renc~a.

o
LEI N2 4357 DE 16 DE JULHO DE 1964

AUTORIZA AEMISSIODE OBRIGAÇÕES DO TESOURO


NACIONAL, ALTERA A LEGISLAÇÃO DO IMPOSTO SOBRE A RENDA
Ao

DA. OU~RAS PROVIDENCIAS.

Art. i2 Fica o Poder Executivo autorizado


a emitir Obrigações do T.esouro Nacional até o limite
de títulos em circulação de Cr$ 700.000.000.000,00 (se-
tecentos bilhões de cruzeiros), observadas as seguin-
tes condições, facultad~ a emissão de títulos múlti-
plos:

213
a) vencimento entre 3 (três) e 20 (vinte)
anos;
b) juros mínimos de 6% (seis por cento) ao
ano, calculados sobre o valor nominal atualizado;
c) valor unitário mínimo de Cr$ 10.000,00
(dez mil cruzeiros).

,
o valor nominal das Obrigações sera
atualizado periodicamente em função das variações do
poder aquisitivo da moeda nacional, de acordo com o
que estabelece o § 12 do artigo 7Q .desta Lei.

§ 22 O valor nominal unitário, em moeda


,
corrente, resultante da atualização referida no para-
grafo anterior, será declarado trimestralmente, medi-
ante portaria do Ministro da Fazenda.

§ 3Q As Obrigações terão valor nominal uni-


tário em moeda corente, fixado em portaria do I~nistro
da Fazenda, podendo ser colocadas, ao par, ou pelo va-
lor de cotação, nas Bolsas de Valores, desde que não
inferior a 50% (Cinqüenta por cento) do deságio médio
dos melhores papéis (letras e debêntures) das empresas
particulares idôneas.

§ 4Q As Obrigações terão poder liberatório


pelo seu valor atualizado d~ acordo com o § lQ, para
pagamento de qualquer tributo federal, após decorridos
30 (trinta) dias do seu prazo de resgate.

214
§ 52 Para os efeitos do limite de emissão,
somente serão considerados.em circulação os títulos
efetivamente negociados, computado o valor nominal
nitário de referência de que trata a alínea "c" deste
artigo.

§ 62 O Ministro da Fazenda fica autorizado


a celebrar convênios, ajuste~, ou contratos para emis-
são, colocação e resgate das Obrigações a que se refe-
re este artigo.

§ 72 As diferenças, em moeda corrente t de


valor nominal unitário, resultantes da atualização pre-
vista no parágrafo 12, não constituem·rendimento tri-
butável das pessoas físicas.ou jurídicas.

§ 8º O Orçamento da União consignará, anu-


almente, as dotações necessárias ao s serviços de juros
e amortizações das Obrigações previstas nesta lei.

Art. 7º
§ lº O Conselho Nacional de Economia fará
publicar no ":Diário Oficial" no segundo mês de cada
trimestre civil, a tabela, de coeficientes de atuali-
zação a vigorar durante o trimestre civil seguinte, e
a correção prevista neste artigo será feita com base
na tabela em vigor na data em que for efetivamente li-
quidado o crédito fiscal.

215
Anexo '3 --
o anexo-3 reproduz parcialmente o Decreto-
lei nQ 2284/86, popularizado por "plano cruzado", e
que significa, sob determinado ponto de ,vista, uma re-
versão das medidas da lei nQ 4357/64 que introduzira a
.correção monetária na economia brasileira.

DECRETO-LEI N2 2284, DE 10 DE MARÇO DE 1986.


MANTtM A NOVA UNIDADE DO SISTEMA MONETÁRIO BRASILEIRO,
O SEGURO-DESEMPREGO, AMPLIA E CONSOLIDA AS MEDIDAS DE
, ..•
COMBATE A"INFLAÇAO.

O Presidente da República, usando das atri-


buições que lhe confere o artigo 55, itens I e 11, da
Constituição, e

Considerando "que o Decreto-Lei nQ 2283, de


28 dê,fevereiro de 1986, foi pub.LLcado com algumas in-
correções;

Considerando que a adesão unânime do povo


brasileiro, ao plano monetário de combate à inflação,
foi, iggalmente fonte de sugestões para o aperfeiçoa-
mento das medidas;

Considerando que as correções e aperfeiçoa-

216
.--
mentos devem constar de texto consolidado sem solução
de continuidade para a vigência das normas inalteradas
e aqui repetidas,

DECRETA:

DAS DISPOSIÇOES PRELIMINARES:

Art. 12 Passa a denominar-se cruzado a


unidade do sistema monetário brasileiro, restabelecido
o centaVo para designar-se a centésima parte da nova
moeda.

§ 12 O cruzeiro corresponde a um milésimo


do cruzado.

§ 22 As importâncias em dinheiro-escrever-
se-ão precedidas do símbolo Cz$.

Art. 22 Fica ° Banco Central do Erasil in-


cumbido de providenciar a r-emar-eação e aquisição de cé-
dulas e moedas em cruzeiros, bem como a impressão das
novas moedas em cruzeiros, bem como a impressão das
novas cédulas e a cunhagem das moedas em cruzados, nas
quantidades ind,ispensáveis à substituição do meio cir-
culante.

§ 12 As cédulas e moedas cunhadas em cru-


zeiros circularão concomitantemente com o cruzado, e
seu~'valor paritário será de mil cruzeiros por um cru-
zado:

217
---
No prazo de doze meses, a partir da
vigência deste. Decreto-lei os cruzeiros perderão o va-
lor liberatório e não mais terão curso legal.

§ 3º O prazo'fixado no parágrafo anterior


poderá ser prorogado pelo Conselho Monetário Nacional.

Art. 3º Serão grafadas em cruzados, a par-


tir de 28' de fevereiro de 1986, as demonstrações con-
tábeis e financeiras, os balanços, os cheques, os tí-
tulos, os preços, os precatórios, os valores de con-
tratos, e.todas as expressões pecuniárias que se pos-
sam traduzir em moeda nacional, ressalvado o disposto
no artigo 34.

Parágrafo único. O ~oder Executivo mediante


normas expedidas pelos órgãos competentes, poderá dê..;.,
terminar às pessoas jurídicas o levantamento de de-
monstrações contábeis e financeiras extraordinárias,
relativas a 28 de fevereiro de 1986, com vistas àadap-
tação dos respectivos lançamentos aos preceitos deste
decreto-lei.

Art. 4º Obedecido o exposto no § lº do art.


lº, são convertidos em cruzados, no dia 28 de feverei-
ro de 1986, os depósitos à vista nas entidades finan-
ceiras, os saldos das contas do Fundo de Garantia de
Tempo de Serviço, do Fundo de Participação PIS/PASEP,
as contas-correntes, todas as obrigações vencidas, in-
clusive salários, bem como os valores monetários pre-
vistos na legislação.

218
----
Parágrafo único. A conversão para cruzados,
de.que trata este artigo do saldo de cadernetas de
..
poupança, bem como do Fundo de Garantia de Tempo de
Serviço e do Fundo de Participação PIS/PASEP deverá
ser precedida de uma aplicação pro rata da correção
monetária e juros, na forma de legislação específica
que vigorava em 27 de fevereiro de 1986.

Art. 52 Serão aferidas pelo Índice de Pre-


ços ao Consumidor IPC as oscilações do nível geral
de preços em cruzados, incumbidas dos cálculos a Fun-
dação Instituto :Brasileiro de Geografia e Estatística
. ,
e observada a mesma metodologia do Indice Nacional de
Preços ao Ooneumí.dcr-;

. Art. 62 A Obrigação Reajustável do Tesouro


Nacional - ORTN, de que trata.a Lei n2 4357, de 16 de
julho de 1964, passa a denominar-se Obrigação do Te-
souro Nacional - OTN, e a emitida a partir de 3 de mar-
ço de 1986 terá 'valor de Cz$ 106,40 (cento e seis cru-
zados e qu~renta centavos), inalterado até 12 de mar-
ço de 1987.

. Parágrafo único. Em lºde março de 1987,


proceder-se-á a reajuste, para maior ou para menor, no
valor da OTN em percentual igual à variação do IPC, no
·período correspondente aos doze meses imediatamente an-
teriores. Os reajustes subseqüentes observarão perio-
dicidade a ser fixada pelo Conselho Monetário Nacional.

219
Art. 7Q
--
A partir da vigência deste Decre~
to-Lei, é vedada, sob pena de nulidade, cláusula de
reajuste monetário nos contratos de prazos inferiores
a um ano. As obrigações e contratos por prazo i~
ou superior a doze meses poderão ter cláusula de rea-
juste, se vinculada à OTN em cruzados.

DA CO~nr.ERSÃODAS OBRIGAÇÕES:

As obrigações de pagamento, ex-


pressas em cruzeiros, sem cláusula de correção monetá-
ria ou com cláusula de correção monetária pré-fixada, -
constituídas antes de 28 de-fevereiro de 1986, deve-
rão ser convertidas em cruzados na data dos seus venci-
mentos dividindo-se o montante em cruzeiros pelo fator
de conversão fixado no § 12.

§ 12 O fator de conversão será diário e cal-


culado pela multiplicação da paridade inicial (1.000
cruzeiros/1 cruzado), cumulativamente por 1,0045 para
cada dia decorrido a partir de 03 de marçô de 1986.

§ 2Q As taxas de juros estabelecidas nos con-


tratos referentes às Obrigações, de que trata este ar-
tigo, deverão incidir sobre os valores em cruzeiros,
anteriormente à sua conversão em cruzados.

Art. 92 As Obrigações pecuniárias anterio-

220
----
res·a 28 de fevereiro de 1986 e expressas em cruzei-
ros, com cláusula de cor~eção monetária, serão naquela
data reajustadá3pro rata, nas bases pactuadas e em se-
guida convertidas em cruzados na forma do § 12 do arto
12.

.Art. 102 As obrigações constituídas por


aluguéis residenciais, prestação do Sistema Financeiro
de Habitação e mensalidades escolares convertem-se em
cruzados em 12 de março de 1986, observando-se seus
I

respectivos valores reais médios na forma disposta no


Anexo I.

Em·nenhuma hipótese a prestação do


Sistema Financeiro de Habitação será superior à equi-
valência salarial da categoria profissional do mutuá-
rio.

§ 22 Nos contratos de financiamentos do


Sistema Financeiro de Habitação e com prazo superiora
doze meses, o mutuante poderá cobrar, a partir de 12 de
março de 1986, a variação cumulativa do IPC em caso de
amortização ou liquidação antecipadas.

§ 3º Os aluguéis residenciais, convertidos


em cruzados de conformidade com o disposto neste arti-
go permanecerão inalterados até 28 de fevereiro de
.1987.

DO !vffiRCADO DE CAPITAIS:

221'.
Art •.112 o Conselho Monetário Nacional, no
uso de atribuições estatuídas pela Lei nº 4595, de 31
de dezembro de 1964, baixará normas destinadas a adap-
tar.o mercado de capitais ao disposto neste Decreto-
lei.

Art. 122 Os saldos das cadernetas de pnu-


pança, bem como os do Fundo "de Garantia de Tempo .de
Serviço e do Fundo de Participação PIS/PASEP, serão, a
partir de 12 de março de 1986,. reajustados pelo IPC
instituído no artigo 52 deste Decreto-lei, sob cr~té-
rios a serem fixados pelo Conselho Monetário Nacional.

Art. 132 Pode o Banco Central do Brasil


fixar período mínimo dos depósitos a prazo em institui-
ções financeiras e, permitir que elas recebam depósitos
a prazo de outras, ainda que sob o mesmo controle aci<r-
nário ou coligadas.

Art. 142 Ficam introduzidas na Lei nº 4595


de 3l"de dezembro de 1964, as seguintes alterações:

I - ao artigo 412 acrescenta-se o seguinte


inciso:

"XXXII - regular os depósitos a prazo entre


instituições financeiras, inclusive entre aquelas su-
jeitas ao mesmo controle acionário ou coligadas;"

II - o inciso III do artigo 102 passa a vi-


gorar com a seguinte redação:

222

1
--
ItIII- receber os recolhimentos compulsóriOs
de que trata o inciso XIV do art. 4º desta Lei, e t~
bém os depósitos voluntários à vista, das instituições
financeiras, nos termos do inciso III do § 2º do art.
19 desta Lei;"

III - o inciso III do artigo 19 passa a ter


a seguinte redação:

"III- - arrecadar os depósitos voluntários, "a


vista das instituições de que trata o inciso III do
arto 102 dest~ Lei, escriturando as respectivas con-
tas;"

Art. 150 artigo 4º do Decreto-lei nº


1454, de 1 de abril de 1916, passa a vigorar com a se-
guinte redação:

"Art. 4º o Banco Oentral do Brasil estabe-


lecerá os prazos mínimos a serem observados pelas ins-
tituições financeiras autorizadas para recebimento de
depósitos a prazo fixo e para emissão de letras de
câmbio de aceite dessaso"

Art. 16º O artigo 17 e o inciso II do art.


43 da Lei nQ 7450, de 23 de dezembro de 1985, passam a
ter a seguinte redação:

"Art. 17 As pessoas jurídicas cujo lucro rei!-


alou arbitrado, no exercício financeiro de 1985, te-
nha sido igualou superiora 40~OOO (quarenta mil)
OTNs (Art. 22 do Decreto-lei nº 1967, de 23 de no vem-

223
bro de 1983) serão trib~tadas com·base no lucro real
ou arbitrado, apurado semestralmente nos meses de ju-
nho e dezembro de cada ano ,salvo se demonstrarem ter
praticado a política de preços nos critérios adotados
pelos órgãos competentes do Ministério da Fazenda.

Art. 43 - 11 - excluir o rendimento real e o


deságio concedido na primeira colocação de títUlos e
obrigações da base de cálculo de ~ue trata o arto 72
do Decreto-lei nº 1641 de 7de dezembro de 1978, e dos
arts. 39 e 40.destaLeitt•

(Os arts. 17 a 24 tratam dos vencimentos, sá-


lários, soldos,pensões e proventos. Os 8.!ts. 25 a 32
abordam o seguro-desemprego. Não serão reproduzidoses-
tes artigos no anexo 3, uma vez ~ue escapam inteira-
mente do objeto desta monografia).

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS:

Art. 33º Os créditos em cobrança ou resul-


tantes de títulos judiciais, ou crédi tos habilitados em
concordata ou falência ou em li~uidação extrajudicial,
anteriores a 28 de fevereiro de 1986, são, pelos res-

224
;
J
!

pectivos valores em cruzeiros,


.-- devidamente atualizados
na forma da legislação aplicável a cada um, e conver-
tidos em cruzados, naquela data, nos termos fixados no
§ 12 do artigo 12 0

Art. 342 Os orçamentos p~bl~cos expressos


em cruzeiros somente serão convertidos em cruzados de-
pois de calculada a respectiVa. deflação sobre o sal-
do de despesas e remanescentes de receitas, em cada
caso e de maneira a !3tiaptá-10sà estabilida.de da nova
moeda.

Art. 35Q Ficam congelados todos os preços


nos níveis do dia 27 de fevereiro de 1986.

§lº A·conversão em cruzados dos preços a


que se refere este artigo far-se-á de conformidade com
o disposto no § lQ do artigo 12, observando-se estri-
tamente os preços à vista praticados naqUela data, não
se permitindo em hipótese alguma, os preços a prazo
como base de cálculo.

§ 2Q O congelamento previsto neste artigo,


que se equipara, para todos os efeitos, a tabelamento
oficial de preços, poderá ser suspenso ou revisto, to-
tal ou parcialmente, por ato do Poder Executrí, vo, em
função da estabilidade da nova moeda ou de fenômeno
conj un tural.

Art. 36 A Secreta.ria Especial de Abasteci-

225
---
mento e Preços - SEAP, o Conselho Interministerial de
Preços - CIP, a Superintendência Nacional de Abaste-
cimento e Preços SUNAB, órgãos do Ministério da
Fazenda, o Conselho Nacional de D~fesa do.Consumidor,
a Polícia Federal, órgãos do Ministério .da Justiça, e
do ~linistério do Trabalho exercerão vigilância sobre a
estabilidade de todos os preços, incluídos ou não no
sistema oficial de controle.'

Art. 372 Ficam os Ministérios da Justiça,


da Fazenda e do Trabalho autorizados a celebrar ime-
diatamente com os governos dos Estados, Municípios e
Distrito 'ederal convênios para a fiel aplicação deste
Decreto-lei nas áreas de suas respectivas competências·
e para a defesa dos consumidores, objetivando a puni-
çãodos infratores e sonegadores.

Art. 38º Qualquer pessoa do povo poderá e


todo servidor públiCO deverá informar as autoridades
competantes sobre infrações à norma de congelamento de
preços e prática de sonegação de produtos, em qualquer
parte do território nacional.

Art. 39º Os Ministros de Estado indicarão


à SUNAB os servidores públicos, a eles subordinados ou
vinculados, que deverão participar da execução das
atividades de fiscalização, previstas neste Decreto-
lei, e no Decreto nQ 92.433, de O) de março de 1986.

226
§ 12 A União celebrará com os Estados-mem-
bros, Disttrito Federal, .Territórios e Municípios con-
A • _
ven~os para execuçao das atividades a que alude o
caput deste artigo.

§ 22 Os servidores das pessoas estatais


referidas, que forem por elas designados para exercer
as atividades .de que tratae.ste artigo, terão compe-
tência para autuar infratores, notificá-los e praticar,
os demais atos relativos ao exercício da fiscalização.

As autuações, notificações e demais


atos realizados pelos agentes de fiscalização, inclusi-
ve os designados na forma deste artigo, serão proces-
sados e julgados na D.elegacia competente da SUNAB, a
quem caberá condenar, orientar e supervisionar a exe-
cução de todas as atividades fiscalizadoras.

(Os arts. 40 a 44, bem como os anexos deste


diploma legal não estão reproduzidos no anexo 3 desta
monografia, uma vez que não dizem respeito a seu obje-
to de estUdO).

227
---
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235
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TEXTOS CONSTITUCIONAIS:

Decreto-lei nQ 22.626 de 1933, conhecido :por


"lei da usura", que estabelece o. limite superior da
taxa de juro em 12% ao ano.

Lei nQ 4357, de 16 de julho de 1964, conhecida co-


mo "lei dflcorreção monetária", que autoriza a emis-
são de Obrigações do Tesouro Nacional, altera a legis-
lação do imposto sobre a renda, e dá outras providên-
cias.

Decreto-lei nQ 2283/86 de 27 de fevereiro de 1986,


o Plano de Estabilização Ec.anômica, conhec.ído como
"plano cruzado", que dispõe acerca da instituição da
nova unidade do sistema monetário brasileiro, do segu-
ro-desemprego e dá outras providências.

Decreto-lei nQ 2284/86 de 10 de março de 1986, que


mantém a nova unidade do sistema monetário brasileiro,
o seguro-desemprego, amplia e consolida as medidas de
combate à inflação anunciadas através do decreto n2
2283/86.

236
índice de nomes· ---

A11en: 96.
Bakunin: 18, 137.
Baran: 5, 79, 89-94, 111-112, 120-123.
Baudeau: 21.·
Bentham: 6, 61, 72, 78, 97-101, 116, 117.
Bernardo: 116-120.
Cardoso: 93.
Cannan: 45-46.
Co1bert: 26, 42.
Denis: 26-28.
Deyon: 25-28.
Hicks: 96.
Jevons: 6, 96, 101-104.
Laffemas: 26.
List: 89, 133-138.
MacCul1och: 134-136.
Malthus: 5, 35, 41, 50-62, 71.
Marshal1: 6, 24-25, 96, 108-114.
Marx: 5, 7, 14, 35, 49, 78-89, 94, 116, 118, 122, 12~
125, 127.
Menger: 96, 104.
Mercier de La Riviere: 64.

* Este índice foi elaborado abrangendo unicamente a


primeira e a segunda partes deste trabalho.

237
Mi11, James: 12.
Mi11, Stuart : 5, 11, 41, 61, 71-18, 112.
Montchrestien: 28.
Pareto: 96.
Quesnay: 5,.14, 31-40, 49, 10, 82, 107,.118, 127,131.
Ricardo: 5, 35, 41, 50-51, 61-63.
Rubin: 84-86.
Say: 5, l'Z, 35, 41, 63-11, 112, 125, 131, 134-136.
Senior: 89.
Singer: 85.
Schumpeter: 35, 82.
Smith: 5, 14, 30, 34-35, 38, 41-49, 51, 53-55, 51-59,
70-71, 89, 111, 118, 127, 131-132, 134, 136.
Sraffa: 51, 61.
Turgoi(: 5, 39.
Veb1en: 17, 131-138.
Walras: 6,- 35, 96, 103-108.

238

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