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Aluízio Borém

Eleusio C urvelo Freire


Editores

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ALGODAO
do Plantio à Colheita

EdiTORA

UFV
Universidade Federal <le Viçosa
2014
Prefácio
É motivo de orgulho para a Universidade Federal de Viçosa
(UFV) o lançamento deste livro, de interesse para técnicos,
agricultores e estudantes de Agronomia. Há muito tempo a UFV vem
sobressaindo-se como um dos maiores polos de formação de
agrônomos do País e de desen volvimento tecnológico.
Os produtores brasileiros contaram com a pesquisa e o
desenvolvimento tecnológico, aplicados à cotonicultura, empreendidos
pela Embrapa, Esalq, Unesp, IMA-MT e UFV, entre outras instituições,
para alcançar o salto de qualidade na produção de algodão que o Brasil
experimentou nesses últimos dez anos. Na safra 2011/ 12, o País alcançou
a terceira colocação mundial em exportação - com o recorde de 1,04
milhão de toneladas enviadas ao exterior - e, a cada ano, vê ampliada
sua importância como ator na cadeia de valor em termos de
quantidade e qualidade de plmna produzida. Fechamos a safra
2011/12 com produção de 1,9 milhão de toneladas.
O foco deste livro são as informações técnicas necessárias à
cotonicultora e, portanto, de interesse do técnico em contínua
formação e atualização. Escrito por especialistas nos diversos temas
abordados, esta obra é essencial à fmmação e atualização dos técnicos
interessados na cultura do algodão, por conter informações técnicas
atualizadas e intensamente aplicadas à realidade brasileira.
Trata-se, pois, de uma obra, sem dúvida, extremamente útil à
cotonicultura brasileira.
Boa leitura!

Os editores.
Sumário

1. Aspectos econômicos, 9

2. Organização dos produtores, 3 1

3. Botânica, 49

4. Exigências edafoclimáticas, 67

5. Preparo do solo e plantio, 90

6. Melhoramento no Brasil, 113

7. Variedades transgênicas e seu manejo, 133

8. Nutrição, calagem e adubação, 156

9. Reguladores de crescimento, 177

1O. Manejo de plantas daninhas, 199

11 . Manejo de pragas, 217


12. Manejo de doenças, 250

13. Manejo da irrigação, 271


14. Colheita, 295
ASPECTOS ECONÔMICOS 1
Lucilio Rogerio Aparecido Alves1
Fábio Francisco de Lima2
Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho3

Histórico e Evolução da
Cotonicultura Brasileira
O Brasil é um dos principais exportadores mundiais de
algodão, possuindo atualmente a segunda melhor média mundial de
produtividade. Tendo passado por transformações importantes nos
últimos 20 anos, a cotonicultura brasileira se configura hoje como um
dos setores mais modernos da agricultura nacional.
A cotonicultura brasileira moderna tem o ano de 1996 como
marco histórico. Antes desse ano, o algodoeiro era cultivado
principalmente em pequenas propriedades, concentradas no
Sul/Sudeste do País, com nível tecnológico que podeiia ser
considerado baixo para os padrões atuais. Posteriormente, formou-se
uma cotonicultura empresarial, de grandes propriedades e expandindo
pelo Centro-Oeste e oeste baiano.

1
Professor Doutor da Escola Superior de Agricultura ''Luiz de Quctroz" (ESALQ). Universidade
de São Paulo (USP). E-mail: lralves@usp.br.
2 Engenheiro Mestrando. Pesquisador da ESALQ/USP. E-mail: ffagro@gmai l.com

J Professor Titular da ESALQ/USP. Pesquisador da ESALQ/USP. E-mail: jbsferrc@usp.br


10 All'es, lima e Ferreira Filho

O cultivo do algodoeiro no Brasil se ex pandiu a partir de 1930


com incentivos governamentais, devido à crise do café (MAPA,
2007); já em meados da década de 1970, a cotonicultura tomava força
e se concentrava no Paraná e São Paulo, situação que prevaleceu até
meados da década de 1990 (Figura 1. 1).

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Fonte: IBGE, 2013.

No entanto, em meados da década de 1980, uma série de


fatores levou à desorganização completa da cotonicultura nacional.
Entre eles pode-se destacar o aparecimento do bicudo (praga), os altos
custos de produção, a redução dos preços internacionais e o fato de a
cultura ser então característica de pequenos produtores e arrendatários,
o que dificultou a adaptação do sistema à nova realidade do mercado.
A crise perdurou até meados da década de 1990, quando se
iniciou uma nova fase para a cotonicultura no Brasil, com novo
delineamento do mapa produtivo. Nessa etapa, o cultivo do algodoeiro
migrou principalmente para o cerrado (Figura l .2) e, difere ntemente
do modelo anterior, passou a realizar-se em grandes propriedades,
com processo de cultivo tecnificado, com surgimento de fundações e
associações de produtores e implantação de programas estatais.
Aspectos econômicos 1I

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Figura 1.2 - Microrregiões produtores de algodão no Brasil - 2011.


Fonte: IBGE, 2013.

O deslocamento da cotonicultura para o Centro-Oeste,


promovida por produtores de soja, estabeleceu um novo padrão
produtivo, embasado no aumento do rendimento da terra e de mão de
obra e também na n1elhoria da qualidade da fibra. A partir da metade
da década 1990, esse deslocamento foi ainda fortalecido por ser uma
forma de diversificação de risco, uma vez que o cultivo da soja
oferecia grande risco nessa região. Além disso, a consolidação da
cotonicultura no Centro-Oeste criou um grande estreitamento entre
produtores e fornecedores e, tendo gerado ainda inovações
institucionais, como o modelo inédito das fundações de pesquisa
vinculadas ao setor, permitiu otimizar os aspectos produtivos através
da articulação vertical do segmento agrícola e o fornecimento de
tecnologia genética.
A mudança para novas fronteiras agrícolas do cultivo do
algodoeiro no Brasil resultou, nas últimas décadas, em drástica
redução na participação da região Sul na produção brasileira
(Figura 1.3). Neste cenário, constata-se a saída dos produtores menos
eficientes da atividade, com a -consequente elevação da produção e
produtividade. Em contrapartida, o Cenh·o-Oeste entrou na nova fase
da cotonicultura, finnando-se como principal produtor nacional.
12 Alves, lima e Ferreira Filho

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Figura 1.3 - Evolução da participação por região na produção


brasileira de algodão.
Fonte: CONAB, 2013 .

O Norte/Nordeste também acompanhou este processo de


intensificação da produção, tendo-se tornado, a partir do ano 2000, a
segunda maior região produtora do País devido à substituição do
cultivo de algodão arbóreo pelo herbáceo no oeste baiano.
Atualmente, a expansão de área cultivada na região compreendida
pelo Mapitoba (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia) vem aumentando
sua participação na oferta inten1a de algodão.
Os dados apresentados na Figura 1.4 mostram de forma
precisa a época da mudança da cotonicultura do Sul do país para o
cerrado. Nos anos 1980, Paraná e São Paulo dominavam a produção
de algodão brasileira, que começou a decair de 1990 até 1996 e então
se estabilizar. A partir de 1996, o Mato Grosso disparou na escala de
produção e se firmou como principal produtor de algodão no Brasil já
na safra 1997/98, registrando crescimento de 2.585% no período de
1996 até 2011. No mesmo período, Goiás começou a tomar espaço,
ressaltando-se que até 2001 se caracterizava como o segundo maior
produtor. Essa posição, contudo, foi ocupada a partir de 2002 pela
Aspectos ec:011ô111ico., 13

Bahia, que apresentou crescimento de 456% na produção de 1996 até


a safra 2010/ 11.
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Figura 1.4 - Evolução da produção d e pluma de algodão nos principais


Estados produtores brasileiros.
Fonte: CONAB, 2013.

É importante ressaltar que a nova cotonicultura brasileira não


obedeceu a mn padrão tradicional evolutivo, pois ela j á "nasceu"
moderna. No final da década de 1990, quando ocorreu a forte
recuperação do setor, investimentos em tecnologias, uso de variedades
adaptadas, substituição do algodão arbóreo pelo herbáceo e o modelo
empresarial da soja permitiram elevação na produção, a despeito da
diminuição de área, o que se fez com fo11es elevações na
produtividade. A introdução do modelo empresarial da cultura da soj a
na nova cotonicultura brasileira teve ainda outras consequências,
tendo a primeira delas sido a modificação no tamanho da propriedade
padrão, já mencionado. Até 1996/97, a característica predominante da
cotonicultura no País era de propriedades com até 100 ha. Por o utro
lado, com a mudança para o Centro-Oeste, esse modelo padrão passou
para propriedades com área superior a 2.500 ha (FERREIRA FILHO
et ai., 2010).
14 Alves. Lima e Ferreira Filho

Não menos importante para o avanço da produção de algodão,


foi a modificação do processo de colheita, que atualmente é
mecani zado quase integralmente no Brasil. A topografia plana do
cerrado permitiu o melhor aproveitamento de máquinas em escala,
como j á acontecia no caso da soja . Aliado ao clima do cerrado, o uso
de colheita mecânica permitiu ganhos significati vos na qualidade da
fibra .
O ponto mais recente da evolução tecnológica da
cotonicultura é a tardia inserção do algodão geneticamente modificado
(OGM) no País. Atualmente (2013), 12 eventos transgênicos de
algodão estão aprovados pela Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança (CTNBio), sendo a primeira liberação em 2005
(ALVES et al., 2012). Entre os eventos liberados estão o algodão
resistente a insetos (RI), tolerante a herbicidas (TH) e os resistentes a
insetos e tolerantes a herbicidas (RI/TH), cujas quantidades de área
plantada estão descritas na Figura 1.5. Segundo Céleres (2012), no
total, o Brasil plantou na safra 20 12/13 o estimado a 550 mil hectares
de algodão transgênico, equ ivalente a 50, 1% da área total cultivada -
1,09 milhão de hectares. Esta rápida adoção de OGM nos últimos anos
vem auxiliar o crescimento da produção nacional de algodão.
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Figura 1.5 - Evolução na área plantada de algodão e representatividade


do a lgodão beneticamente modificado no Brasil - safra
2004/05 a 20 12/ 13.
Fonte: CÉLERES, 20 12.
Aspectos económicos 15

Da safra 1996/97 até a 201 O/ 11, a produção aumentou 494%,


acompanhando o salto de produti vidade de 167%, enquanto a área
plantada nesse mesmo período cresceu 1 13%. Porém, nota-se que
desde a crise da década 1980 a área plantada segue uma linha de
tendência decrescente (Figura 1.6).
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Figura 1.6 ~ Evolução da área, produção e produtividade do algodão


no Brasil.
Fonte: CONAB, 201 3.

O crescimento na produção é retomado em 1997/98, havendo


grandes oscilações a cada safra devido às peculiaridades no mercado.
No período entre os anos-safra de 1976/77 e 1995/96, a taxa de
crescimento médio de produtividade foi de 6,9% a.a.; e de 8,0% a.a.,
entre 1995/96 e 2011 / 12. Esse impulso na década de 1990 foi
estimulado pela desvalorização da moeda brasileira e pelas políticas
tarifárias, que deram início a um período de restrição das importações,
forçando o mercado doméstico a se abastecer com algodão brasi leiro.
No período da crise da cotonicultura nas décadas de 1980 e
1990, o Brasil começou a ser mais dependente de algodão externo,
pois, enquanto a sua produção caía, o consumo se mantinha
praticamente estável. De acordo com a Figura 1. 7, no período que
compreende as safras de 1992/93 a 1999/2000, o Brasil teve a menor
16 Alves, lima e Ferreira Filho

produção anual das últimas décadas e importou altos volumes de


algodão. Nessa época da crise, o País importava, em média, 45,8% do
seu consumo total desse produto.
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Figura 1. 7 - Comparativo da evolução as importações, exportações,


consumo doméstico e produção de algodão no Brasil,
em mil toneladas.
Fonte: USDA, 2013.

No entanto, a nova cotonicultura brasileira tomou o Brasil


autossuficiente, o qual, neste cenário, passou a exportar volumes de
fibra de qualidade, diminuindo cada vez mais a necessidade de
importação. No período de 2004/05 a 2012/ 13, o País exportou em
média 39,8% de sua produção. Cabe ressaltar que a produção nacional
é baseada, em sua maior parte, em algodão de sequeiro, enquanto que
outros países praticam a cultura irrigada, o que atrelado aos
significativos avanços no campo da genética demonstra a eficiência
das novas regiões produtoras.
A crescente exportação do algodão brasileiro direcionou-se
aos países asiáticos, sendo a China, Indonésia, Paquistão e Coréia do
Sul os principais consumidores. A grande representatividade desses
países como destino das exportações brasileiras se deve ao grande
Aspectos econômicos 17

parque de indústrias têxteis naquelas regiões, bem como ao expressivo


aquecimento de suas economias, pri ncipalmente da China.
Segundo dados da Secretaria do Comércio Exterior (Secex),
desde 2008 a China vem aumentando sua demanda pelo algodão do
Brasil, atingindo seu pico em 2012, ano em que houve quebra de
produção nos Estados Unidos decorrente de desastres climáticos,
aumento de oferta brasileira e procura de pluma pela China para fazer
estoque.

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Figura 1.8 - Principais destinos das exportações de algodão do Brasil.


Fonte: SECEX, 2013.

O Paquistão, que em 2008 era o segundo maior importador de


algodão brasileiro, vem diminuindo o volume de suas importações do
Brasil, por possível substituição do produto brasileiro pelo australiano,
que nos últimos anos se consolidou como forte exportador dessa
matéria-prima.
18 AIFes. Lima e Ferrd ra Filho

O Sistema de Comercialização do
Algodão no Brasil
A cadeia do algodão no Brasil pode ser dividida em
fon1ecedores de insumos (T l ), produtores de algodão (T2),
beneficiadoras (T3), agente de mercado (T4), indústria têxtil e
confecção (T5 e T6) e atacado/varejo, organizados conforme
demonstrado na Figura 1.9.
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Figura 1.9 - Estrutura da cadeia produtiva do algodão.


Fonte: ALVES, 2006.

As características dos setores são diferentes quanto à forma de


regulação do mercado. Enquanto na cotonicultura as instituições
públicas controlam as regras que condicionam o mercado e os fluxos
de produção, o setor de vestuário é regido pelas empresas do varejo.
As fiações são governadas diferentemente pelas tecelagens: as
primeiras realizain a produção em larga escala e são politicamente
Aspectos econômicos 19

organizadas; as tecelagens são mais atomizadas, não dispondo de


representatividade de instituições.
De modo geral, os setores da cadeia do algodão não
funcionam com intensa verticalização, embora as modificações
observadas na produção nos últimos anos também tenham trazido
algumas alterações neste aspecto. Em particular, com o advento da
" nova cotonicultura" no Brasil, o produtor, que antes comercializava
algodão em caroço, eliminou a algodoeira como intermediário e
integrou ao seu processo o beneficiamento. O produtor agora
comercializa algodão em pluma, produto de maior valor agregado.
Além disso, a produção em larga escala e a forma de organização das
associações dessa nova fase da cotonicultura permitiram ao produtor
ter maior poder de negociações perante os fornecedores de insumos,
aumentando sua competitividade no mercado do algodão.

Mecanismos de formação de preços do


algodão no Brasil
A fonnação de preços do algodão em pluma no Brasil
depende das diferentes cotações das bolsas de mercadorias, variação
no prêmio, taxa de câmbio, perspectivas de produção mundiais e
classificação da pluma.
A classificação da pluma é o primeiro passo para se entender a
formação de preços do· algodão. Atualmente, o algodão pode ser
classificado pelo sistema visual ou, principalmente, por intermédio de
equipamentos automáticos denominados High Volume Instruments
(HVI), que têm como parâmetros de classificação padrões universais
adotados pelos principais países produtores e consumidores de
algodão no mundo. Nesse sistema, o algodão é classificado conforme:
comprimento, uniformidade, micronaire (resistência) e cor. O algodão
é ainda classificado por tipo, em escala que no Brasil tem por base o
tipo 41-4. Um algodão do tipo 3 1-4 é um produto de melhor qualidade
do que o do tipo 41 -4, enquanto mn do tipo 5 1-5 é um algodão pior.
Com base nesses parâmetros, são determinados os valores de ágios e
deságios dos preços nos mercados.
20 Alves. Lima e Ferreira Filho

Essa classificação é realizada pela BM&FBovespa, pelas


associações de produtores, e por e mpresas privadas prestadoras desses
serviços. A classificação por esse método não é obrigatória em tennos
legais, mas os agentes procuram esse procedimento por considerar que
facilita a comercialização da pluma e para efeito de comparação. A
classificação por HVI já é feita nos Estados Unidos desde o início da
década de 1980 (FERREIRA FILHO et al., 201 O).
O parâmetro de base para a formação do preço internacional é o
preço do produto na bolsa de Nova York (ICE Futures US), onde há
cotações diátias em mercado futuro de algodão em pluma. Nas vendas
antecipadas e futuras, boa parte dos negócios internacionais usam
contratos realizados nessa bolsa, que acabam sendo referência para
balizar os preços no mercado interno brasileiro. As cotações de bolsas
são divulgadas em cents de dólar por libra-peso (cents de US$/lp) e
podem ser convertidas em centavos de reais por libra-peso (cents de
R$/lp). Uma libra-peso equivale a 0,453597 kg. Para transformar uma
quantia de libra-peso em arroba (@), multiplica-se por 33,069, para
transformar uma quantia de libra-peso em kg, multiplica-se por 2,2046.
Outra referência importante como formador de preços
internacionais é o Cotton Outlook de Liverpool, que publica o índice
Cotlook A. Este índice tem como base o algodão classificado como
Middling, com fibra 1-3/32" e visa apresentar a média das cinco
cotações mais baratas de uma seleção das principais regiões ofertantes
de algodão no mundo (COTLOOK, 2012). A base é o produto posto
no Extremo Oriente.
Para o mercado interno, as negociações são baseadas no
indicador Cepea/Esalq do algodão em pluma. Este índice surgiu da
parceria entre a Bolsa de Mercadoria e Futuros (BM&F) e o Centro de
Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), diante da
necessidade de um índice diário que expressasse o preço do mercado
fisico para liquidação de contratos futuros. O índice elaborado pelo
Cepea representa uma média aritmética dos valores praticados no
mercado físico pelo algodão do tipo 41-4, fibra 30/3 2", sem
característica e sem ICMS.
Na comercialização da pluma de algodão, os principais
tributos incidentes são o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS), a Contribuição para o Financiamento da Seguridade
Aspecros econômicos 21

Social (Cofins) e o Programa de Integração Social (PIS), no caso de


pessoas jurídicas; e a Contribuição Especial para a Seguridade Social
Rural (CESSR - antigo Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural,
Funrural), no caso de pessoa ílsica. O ICMS incide sobre cada
operação ainda que diferido para operação seguinte dentro de cada
estado e entre estados (FERREIRA FILHO et ai., 201 O).
O mecanismo de tributação é tido como causador de
problemas para a competitividade da cadeia algodoeira no Brasil.
Atualmente, diversas unidades da federação possuem alíquotas e
fonuas de arrecadação diferenciadas no sistema agroindustrial do
algodão, além de possuírem programas paralelos de fomento e
restituição de tributos, dentre outros (Tabela 1. 1).
Os estados que são, simultaneamente, produtores e grandes
consumidores de algodão adotam um sistema de diferimento do
ICMS, o que acaba po r determinar, inclusive, alterações nos valores
de comercialização da pluma. Este fato pode ser constatado com o
acompanhamento dos preços no Estado de São Paulo, por exemplo, no
qual os produtores acabam recebendo preços mais elevados que nas
demais regiões.

Tabela 1.1 - Alíquota de Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e


Serviços (ICMS) e programas de incentivo nos principais
estados produtores/comercializadores de algodão em
pluma no Brasil
Programa de
Estado Alíquota de ICMS lncentivo/ Ano
Ince ntivo
Ala!!ons 0% com diferimento 12% Não h:m Não tem
Proalba ( 10% do
Bahia 0% com diferimento 125 50%/2001
ICMS+ 1.2%)
Ceará 0% com dife rimento 12% Não tem Não tem
Proalgo - F'ialgo
17%, com n:dução de
(15% dos 75%
Goiás 70,59 na base de 12% 75%/1999
que não são
cúh:ulo
recolhidos)
Proalmat - Facual
17%, com redução de
Mato (15% dos 75%
70.59 na base de 12% 75%/1997
Grosso que nilo sào
cálculo
recolhidos)
Maio Pdagro ( 15% dos
Grosso do 0% com difrrimento 12% 75% que n:Jo são 753/.J 199'>
Sul recolhidos)
C0n1inua..
22 Alves, lima e Ferreira Filho

Tabela l I - Cont
Programa de lnccnlivo/Ano
E.~tado Aliquo1n de ICMS Incentivo
Minas 12% Proolminas ESALQ +
0% com diferimento 9%12002
Gerais 7% pnrn NE (0.826% do valor)
Poraiba 0% com <lifcrimcnlo 12% Não 1cm Não tem
Isenção de 80%
12% de ICMS
Pamn:i 18% Nilolcm
7% pam Nordeste destacado dentro
do estado
12% para Sul e
São Paulo 0% com diferimento Sudeste N11olem Não tem
7% para o Norte
17% 17%
Distrito Nilo tem
Pode reduzir n base de Pode reduzir 11 Não tem
Federal
cálculo base de cálculo
12% com redução
Maranhão 0% com diferimento de 60% na base Nilo tem Não tem
de cálculo
Isenção de IO0¾
Tocantins do ICMS
destacado
Isenção de 100%
do ICMS
destacado nos
7% para Sul e primeiros anos.
Piaui 18% 12% restante do Não tem 70% nos três anos
Pais seguintes para
regimes especiais
liberados pelo
governo
Fonte: FERREIRA FILHO et ai., 20 l O.

Outras políticas públicas podem ainda influenciar a formação


do preço do algodão no Brasil. O Prêmio Equalizador Pago ao
Produtor (Pepro), por exemplo, é "uma subvenção econômica (em
prêmio) concedida ao produtor rural e, ou, sua cooperativa que se
disponha a vender seu produto pela diferença entre o Valor de
Referência estabelecido pelo governo federal e o valor do Prêmio
Equalizador arrematado em leilão, obedecida a legislação do ICMS
vigente em cada Estado da Federação" (CONAB, 2012).
A expansão territorial da cotonicultura brasileira resultou em
uma ampliação do período de colheita em nível nacional, com reflexos
na sazonalidade de preços. Esse fenômeno teve reflexos profundos na
comercialização, geralmente pouco notados. Até o início da década de
1990, a entressafra do algodão se iniciava con1 o final da colheita da
região Sudeste, no mês de julho, prolongando-se até o início do mês
de março do ano seguinte. Atualmente, a colheita do algodão no Brasil
vai de março a setembro de cada ano.
Aspectos eco11ó111icos 23

Os dados mostrados na Figura 1. 1O ilustram a dificuldade de


se realizarem previsões de preços no mercado do algodão, dada a
diferença de comportamento entre os valores dos limites superiores e
inferiores em diversos meses (como janeiro, agosto, setembro e
novembro). No entanto, note-se que a amplitude da dispersão dos
preços se reduz nos meses compreendidos entre maio e agosto,
período de maior volume da safra nacional. A evolução histórica dos
preços do algodão, em valores nominais e deflacionados pelo IGP-DI
podem ser observados na Figura 1. 11.
130,00 --- --
125,00
120,00 1

115.00 '

.,
110,00 -
~ 105,00
.E
100,00

95,00 ·-'
90.00 --
85,00 .

80,00
e > 1õ õi e o êã :5 >
~ .!? E E ..2, O)
a,
"' o g
- lndicesazonal - U mlle superior - llmtle inferior

Figura l.10 - Variação estacionai (sazonalidade) do preço do algodão


em pluma em São Paulo, no período 2001 a 2010.
Fonte: CEPEA, 2013.

Os preços regionais ta1nbén1 são influenciados pelo frete,


tanto marítimo quanto o rodoviário para se levar o produto até o porto.
Cabe ressaltar o fato de as principais regiões produtoras de algodão se
situarem no Centro-Oeste, região localizada distante dos pontos de
escoamento de produção e apresentar deficiência na infraestrutura do
transporte.
O frete faz parte do cálculo para se avaliar a paridade de
exportação e importação do produto, que ainda leva em conta o preço
dos indicadores externos, os prêmios e os custos portuários. Efeitos
políticos, como tributos, subsídios e taxas sobre a mercadoria, são
igualmente incluídos nestes ajustes, e, caso se objetive exprimir o
24 Al11es, Lima e Ferreira Filho

preço de paridade em moeda local, uma conversão deve ser efetuada


usando taxas de câmbio.
C1S.Ct , - -- - -- - - - - - -- -- - -- -- - -- ----,
U1,0 - -- - - - - - - - - - -- - -- - · - - - ~ - - -,
.zzJ..Ol- - - - - - -

~---
«.10,0

us.u

JlUI
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4273.U L _ _ -~\.-. .
~ r;u.u ...__- ----"'----'--------Ã-""'·
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DQ,ll + - - - - - - - - - - -1 -- ~ ~ > - - - - - -~ ~-/!--l=----...1C..:=-1
i=,-o t - - - - - - - - --1-- ------\~- , _Joa:!JI
1'1Q,(9 +-- - -f\-::~ ,-,,,c--_.,__ _ __ _ ; : ~ - -- - - - - - - - l
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'-Ul ~ - - - - -- - -- - - - - - - - -- - - - - - - - - 1
= +--- - - - - - - -- - - - -- - - - - - -- -- - ~
11,111 -t1- - •ssaiaaaasõ-
,-- ~~ - ~ - ~ -- aªe~õõõssg~~ass•ata~~=-=~~~
- ~-~--~--~ -~- -~------'
~Jt; l ~lllilJ~i l 1lll lllil~tt~ l il2l~il~lt ; l

Figura 1.11 - Evolução histórica dos preços do algodão em pluma,


representados pelo Indicador Cepea/Esalq, nominais e
deflacionados pelo IGP-DI, base maio/13 = 1,00.
Fonte: CEPEA, 2013.

Esse cálculo faz parte da tomada de decisão no mercado,


demonstrando a concorrência do produto interno versus o externo.
Assim, por exemplo, como se pode ver da Figura 1.12, em 2001 o
mercado interno remunerava 1nelhor que a venda do produto para
exportação. Nesse caso, para o fornecedor era melhor vender no
mercado doméstico, valendo o raciocínio inverso para o comprador.
Aspectos econômicos 25

◄,IJl5 --------------------------.
:1Jfl ·---"- - -··- - - -·· - -···- ····•-· -· - - .... - ·--···-•···----·-- --- ·- ···-· ....-
3,ifi
3,111
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2.55 ··- - -
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s 2,10
~ 1.as
1,111 ·-·-· ...
1,15
1,50
1~
1,31
1.115
0,111
---=- -- -
O,i6
0,111
O,L5
0,30
0,15
O.Ili ~-r-,,.............--,-,-.,.........-,--y--,-,~-.--T---r-..----.--r-T"""T"""T--.--,--,---,----r---r-ir"""'T"""T"-'
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Qr.~Qr.iQr.~Qr.ii~iQ~l~~!Qr.lR~IQr-~Qr.iR~i
2

------------------------------------
aooooooaaooocooooaooooccoooooooooooo
,,_P■ aiUA
RMI

Figura 1.12 - Paridade de exportação do algodão (ValorParanagua),


Free Along Side (FAS) no porto de Paranaguá e relação
com o Indicador Cepea/Esalq (Ind8diasBRA).
Fonte: CEPEA, 2013.

Diferenças regionais na estrutura de produção


e comercialização do algodão
Conforme analisado anteriormente, a cotonicultura brasileira
migrou do Sul/Sudeste para o Centro-Oeste e Bahia, com reflexos na
estrutura produtiva das propriedades agrícolas. Este tópico tem como
objetivo apresentar alguns diferenciais aspectos importantes entre as
principais regiões produtoras de algodão do Brasil.
Anteriormente à migração da cotonicultura para o cerrado
(especificamente em 1996), as propriedades modais de algodão se
encaixavam em módulos de extensão menores que 100 hectares,
podendo ser caracterizadas como pequenas propriedades para os
padrões atuais, quando comparadas às situadas nas regiões Centro-
Oeste e Norte.
26 Alves. Lima e Ferreira Filho

Novas alternativas para os problemas do cultivo de algodão no


Brasil, como a elevação dos custos de produção, foram desenvolvidos no
tempo. De acordo com Fc1Teira Filho, Alves e Gottardo (201O), o
primeiro deles foi a introdução do algodão de segunda safra que, em
vários anos, teve melhor resultado econômico que o cultivo convencional.
Nesse sistema, produtores cu ltivam a soja mais cedo (mês de setembro) e
com variedades precoces, para, em seguida, efetuar o plantio de algodão
(em geral, no mês de janeiro do ano seguinte).
Já na safra 2008/09, visando à redução do risco e diluição de
custos fixos, os produtores brasileiros iniciaram a utilização em larga
escala do cultivo do algodoeiro no sistema adensado, também
chamado de cultivo em sulcos estreitos, ou narrow row (NR). Como
tal tecnologia já era utilizada em outros países, como na Argentina,
Paraguai e Estados Unidos, e com bons resultados, os produtores
brasileiros foram ainda mais estimulados a testar o novo sistema.
A Tabela 1.2 apresenta as áreas da propriedade representativa das
principais regiões produtoras de algodão, ou seja, o módulo de produção
típico com maior representatividade em cada localidade. Além disso, são
detalhadas as áreas algodão safra, algodão 2ª safra 0,76 m e algodão 2ª
safra adensado dentro de cada uma dessas propriedades representativas. O
levantamento das infonnações foi realizado pelo CEPEA através de
reuniões entre pesquisadores, técnicos e produtores em cada região de
referência, em metodologia deno1ninada painel.
A área da propriedade representativa é composta por área
agrícola própria e arrendada, área de preservação permanente, reserva
legal e área agrícola sem exploração (pousio). De modo geral, nota-se
que a cotonicultura do cerrado possui padrões de propriedades
maiores das do Sul/Sudeste do País, conforme mencionado
anterio1mente. Em nenhuma das regiões analisadas pelo CEPEA
encontram-se áreas inferiores a l.500 ha (Tabela 1.2), ressaltando-se
que Bahia e Mato Grosso possuem as maiores áreas. Em Luís Eduardo
Magalhães (LEM), a propriedade típica é de 6.269,2 ha e, em
Rondonópolis (RND), de 9.37.5,0 ha.4

4
Os dados c~lctados pcl? ~epea foram obtidos pela técnica de painel, que consiste cm reuniões
entr~ pcsqu1sad~r~s, lecn1cos e produtores em c~da região de referência. No painel, em
conJ~nto os parllc1p,~ntcs procuram desenhar um sistema típico de produção de dctcnninnda
localidudc. Todos os itens do custo são dctalh..idos.
Asp ectos eco11ómicos 27

Tabela 1.2 - Propriedade representativa e área semeada com algodão


safra, algodão 2fl safra 0,76 m e algodão 2ª safra
adensado nas principais regiões produtoras do Brasil -
safra 2010/ l l
Safra 2010/11
Algodão 2ª
Algodão 2ª Propriedade
Estado Local Algodão Safra
Safra 0,76 Representativa
Safra (ha) Adensado
m(ha) (ha)
(ha)

MS CHS 700,0 2.400,0

SRS 1.500,0 750,0 750,0 6.250,0


CNP l .000,0 400,0 100,0 5.714,3
MT
CVD 500,0 200,0 l. 764,7
PRM 4.500,0 9.375,0

GO RVD
BA LEM 1.500,0 6.269,2
Obs.: SRS = Sorriso/ MT; CNP = Campo Novo do Parec1s/MT; CVD = Campo Vcrde/NlT;
PRM = Primaverado Leste/MT; RVD = Rio Verde/GO: CHS = Chapadão do Sul/MS:
LEM = Luís Eduardo Magalhães/BA.
Fonte: CEPEA, 2013.

Dessas regiões, com exceção de Primavera do Leste (PRM), o


plantio do algodoeiro não predomina em área cultivada no verão,
perdendo em área para o cultivo da soja. Na média dessas regiões, o
plantio do algodoeiro ocupa 25% da área total, enquanto em PRM
chega a quase 50% da área. Para o algodão 2ª safra O, 76 m, as áreas
começam a ganhar espaços nos últimos anos; na safra 2010/11 ocupou
na média 10% da área total.
Junto às diferenças na dimensão da propriedade representativa
está o tamanho do parque de máquinas. Na antiga cotonicultura do Sul
e Sudeste, onde as propriedades eram menores, os tratores eram de
baixa potência e a colheita ainda não era mecânica. No entanto, no
Centro-Oeste (com a predominância das propriedades de grande
dimensão) não só é necessário que os tratores sejam de maiores
potências, bem como a quantidade aumenta conforme o tamanho da
28 Alves. Lima e Ferreim Filho

propriedade; os implementos também são maiores em áreas maiores.


Esse modelo de porte e quantidade elevada de máquinas e
implementos é indi spensável para que o produtor de grandes áreas
consiga realizar operações de cultivo dentro da janela ideal de tempo.
Outro ponto importante a se destacar na caracterização das
regiões é a fonna de captação de recursos para financiar o cultivo do
algodoeiro (despesas com insumos, tratos culturais, colheita etc.) que
estão apresentados na Tabela 1.3. A fonna que apresenta maior
participação para custear o plantio do algodoeiro, quando comparada
às demais, é por intermédio de n1ultinacionais, tradings, cooperativas
e revendas, ressaltando-se que em Campo Novo do Pareeis (CNP)
60% da lavoura é financiada dessa forma.

Tabela 1.3 - Formas de financiamento das propriedades representativas


das principais regiões produtoras de algodão - safra
2010/ 11
Fontes
Multinacionais, Bancos
Estado Local Tradings, Públicos
Próprio Outros
Cooperativas e Recursos
Revendas Controlados
MS CHS 20,00% 30,00% 20,00% 30,00%
SRS 35,00% 25,00% 40,00%
CNP 30,00% 60,00% 10,00%
MT
CVD 30,00% 50,00% 20,00%
PRM 30,00% 50,00% 20,00%
GO RVD 23,00% 57,00% 20,00%
BA LEM 37,00% 30,00% 33,00%
Obs.: SRS = Som so/MT; CNP = Campo Novo do Parec1s/MT; CV D = Campo Yerde/MT;
PRM = Primavera do Leste/MT; RVD = Rio Vcrde/GO; CI-IS = Chapadão do Sul/MS:
LEM = Luís Eduardo Magalhiies/BA.
Fonte: CEPEA, 2013 .
Asp ectos eco11à111icos 29

A captação de recursos para custeio em bancos à taxa de juros


controlada apresenta a menor taxa de juros ao ano em relação às
demais fontes. Em contrapartida, é restrita a um limite de valor por
pessoa física e jurídica, o qual, devido aos altos custos das lavouras de
algodão, representa um valor relativamente baixo para movimentar as
atividades agrícolas (de 10% a 40% do custeio total).
A nova cotonicultura apresenta altos custos por hectare com
defensivos, o que vem crescendo a cada ano e que, somado às grandes
áreas cultivadas, resulta em um montante demasiadamente elevado para
ser coberto com recursos provenientes de bancos ou mesmo do próprio
cotonicultor. Dessa fonna, a parcela de recursos captados pelos
produtores junto a tradings e cooperativas tem aumentado nos últimos
anos. Apesar disso, a parcela de recursos próprios do produtor de algodão
tem representado em média 30% das suas necessidades de custeio.

Considerações finais
Verifica-se, portanto, que a reestruturação da cotonicultura
brasileira a partir de meados da década dos anos 1990 teve impactos
importantes no mercado de algodão do Brasil. A nova cotonicultura
brasileira posiciona-se como uma das mais eficientes do mundo, em
todos os seus aspectos principais, da produção à comercialização; no
entanto, há desafios à evolução da atividade no Brasil. A
intensificação da produção em grandes áreas tem ensejado o
surgimento de novas e importantes pragas e doenças, o que pode ser
atestado pela elevação da parcela de insumos químicos no custo de
produção, cuja solução requer um investimento contínuo em ciência e
tecnologia.
Além disso, os desafios logísticos para o escoamento das safras a
partir de regiões distantes dos portos, um problema antigo, persistem. A
grande vantagem competitiva da cotonicultura nacional "dentro da
p011eira" é rapidamente perdida quando se acrescentam os custos
logísticos e de con1ercialização em geral. Essa perda de eficiência
causada pelos elevados custos de transporte e de comercialização
certamente compromete em muito a competitividade da produção
nacional no mercado externo, fundamental para o incremento contínuo da
produção brasileira de algodão.
30 Alves. lima e Ferreira Filho

Referências
ALVES, L. R. A. A reestruturação da cotonicultura no Brasil: fatores econômicos,
institucionais e tecnológicos. 2006. 121 f. Tese (Doutorado cm Economia Aplicada) -
Escola Superior da Agricultura " Luiz de Queiroz'', Universidade de São Paulo. Piracicaba,
2006.
ALVES, L. R. A.: LIMA. F. F.; FERREIRA FILHO, J. B. S.; OSAKI, M.; RIBEIRO, R.
G. Liberações de tecnologias geneticamente modificadas de algodão no Brasi l e no mundo.
ln: CONGRESSO DA SOBER - SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA,
ADMlNISTRAÇÀO E SOCIOLOGIA RURAL, 50., 20 12. Vitória. Anais...Vitória:
Sober, 2012.
CÉLERES - Acompanhamento de adoção da biotecnologia agrícola. Disponível em:
<http://www.celeres.com.br/imprensa.php>. Acesso em: jun. 2013.
CEPEA - Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. Disponível em:
<http://www.cepea.esalq.usp.br/>. Acesso em: jun. 2013.
COTLOOK - COITON OUTLOOK. Disponível em: http://www.cotlook.com/index.php.
Acesso em: jun. 2012.
CONAB Companhia Nacional de Abastecimento. Disponível em:
<http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/ l l_04_20_ l l_04_40_yepro_2011
..pdf>. Acesso em: jw1. 2012.
CONAB - Companhia Nacional do Abastecimento. Safras - Série Histórica de Área
Plantada, Produtividade e produção de algodão no Brasil. Disponível em:
<http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a= 1252&t=2>. Acesso em: jun. 2013.
CIB - Conselho de lnfonnações sobre Biotecnologia. CTNbio. Disponível em:
<http://www.ctnbio.gov.br/index.php/contentJview/ l 4783.html>. Acesso em: jun. 2013.
FERREIRA FlLHO, J. B. S.; ALVES, L. R. A; GOITARDO, L. C. B. Aspectos
econômicos" do algodão no cerrado: ajustes estruturais e consolidação. ln: FREIRE, E. e.
(Org.). Algodão no cerrado do Brasil. 2. ed. Aparecida de Goiânia: Mundial Gráfica,
2011, p. 61-100.
LBGE - Instituto Brasileiro de Geografia Estatística. Tabela 16 l 2 - Área plantada, área
colhida, quantidade produzida e valor da produção da lavoura temporária. Disponível em:
<http://\\'W\v.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl3.asp?c= l 6 l 2&n=0&u=0&z=t&o= 11 &i=
P>. Acesso em: jun. 2013.
IBGE Instituto Brasileiro ele Geografia Estatística. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estalisticaeconomia/agropecuaria/censoagro/default.shtm>.
Acesso em: jun. 201 2.
MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Cadeia produtiva do
algodão. Brasília : IICA : MAPNSPA, 2007. 108 p.
SECEX - Secretaria de Comércio Exterior. Disponivel em: <http://www.desenvolvimento .
.gov.br/sitio/>. Acesso em: jun.2013.
USDA - UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE. Forcign Agricult1.tral
Service (FAS). Disponível em: < http://www.fas.usda.gov/>. Acesso em: jun.2012.
ORGANIZAÇÃO DOS
PRODUTORES 2
Eleusio Curve/o Freire'
João Luiz Ribas Pessa2

A organização dos produtores de algodão, nas regiões


tradicionais de cultivo (Nordeste, Sudeste e Sul), sempre foi
incipiente, quando muito eles estavam associados em cooperativas de
produção, que se encarregavam do recebimento do algodão em caroço,
seu beneficiamento e a comercialização da pluma, do óleo e da torta
de algodão, com repasse dos lucros aos associados. Porém, até a
década de 1980, os produtores de algodão do Brasil não tinham a
pretenção de se organizarem em associações, apesar de esse modelo já
predominar há décadas nos Estados Unidos e em alguns países da
África.
Como resultado dessa organização deficiente, os produtores
de algodão não conseguiam fazer seus interesses serem respeitados
nem influenciavam nas políticas para a cadeia do algodão no Brasil.
Muito pelo contrário, a maioria das decisões tomadas pelo governo em
benefício dessa cadeia, na realidade, levava em conta sempre as
demandas da indústria têxtil ou decisões técnicas oriundas da
tecnocracia do próprio governo.
Por outro lado, os produtores de soja, constituídos em sua
maioria por imigrantes europeus, instalados nos Estados do Sul,

1
Engenheiro-Agrônomo. M. Se. D.S; e Consultor da Cotton Consultoria - Campina Grandc-PB.
E-mai 1: cottonco nsuhoria@gma i1.com
1
Engenheiro. Consclhdro da ABRAPA, Diretor da GFN Agrícola SA.
E-mail: pcssa@abmpa.com.br
Freire e Pessu
32

cresceram organi zados em cooperativas e, quando sentiram a


necessidade de se ex pandir, o que não conseguiam nesses Estados,
saíram em busca de novas áreas na fronteira da região Centro-Oeste.
Assim, em meados de 1970, teve início uma leva de migração interna,
inic iando pelo Mato Grosso do Sul, na região de Dourados, e depois
para o Mato Grosso, na década de 1980. Esses migrantes adentraram
regiões onde somente havia pasto e cerrados ralos, com ausência total
de infraestn1tura ou organização administrativa. Sem ter a quem
reclamar ou reivindicar, restou aos pioneiros se o rgan izarem e
trabalharem, para viabilizar a fronteira do Centro-Oeste.

Os Primeiros Movimentos de Organização no


Cerrado
Nasceram daí as primeiras organizações dos produtores
buscando viabilizar e criar as condições mínimas necessárias para
abrir a nova fronteira. Como vinham do Sul, trouxeram a experiência
e o capital provenientes do lucro das lavouras conduzidas nos Estados
de origem, ou mesmo investiram o resultado da venda de propriedades
menores e altamente valo1izadas. Ajudou também a tradição dos
produtores, que facilitou o crédito junto à rede bancária, permitindo os
financiamentos das novas lavouras (PESSA, 2011).
Os pioneiros foram para o cerrado com algum capital
financeiro e tecnológico e, mais do que tudo, com conceitos de
organização e trabalho em conjunto. Não havendo a facilidade de
aglutinação de produtores em cooperativas, primeiro pela existência
do pequeno número em cada região e segundo pelas distâncias, a
solução foi criar parcerias entre vizinhos para viabilizar atividades de
infraestrutura, como estradas, energia.
A procura por tecnologias de produção levou à criação de
fundações de pesquisa, corno a Fundação Mato Grosso, Fundação
Cerrados, ~undaç~o Chapadão, Fundação Goiás e Fundação Bahia,
q~e, _associadas a ~mbrapa, toram as grandes responsáveis pela
d1fusao da tecnologia de plantt0 no cerrado. Os proprietários rurais
inte~alizaram o capita l necessário para as ins tituições de pesquisa
fu.n~10narem e gerarem as tecnologias para viabilização das suas
at1v1dades (PESSA, 2011 ). O algodão só veio para O cerrado após as
Organi::açâo dos produtores 33

crises que inviabilizaram seu plantio no Nordeste, Sul e Sudeste. O


bicudo e políticas públicas erradas acabaram com os plantios no
Nordeste do Brasil e nos Estados sulistas.
A Embrapa iniciou o desenvolvimento de tecnologias próprias
para o ceITado, trabalhando com o Grupo Itamaraty, em Campo Novos
dos Parecis-MT; depois em associação com a Fundação Mato Grosso
em Rondonópolis-MT; e, logo em seguida, com as demais fundações
de Goiás, Mato Grosso do Sul e Bahia, onde foram efetuados os
trabalhos de adaptação dos cultivares de algodão às condições do
cerrado. Com o lançamento do cultivar CNPA ITA 90, em 1992, no
Mato Grosso, os produtores sentiram-se seguros para utilizar o
algodão como alternativa econômica para a soja.
Com o algodão mostrando sua viabilidade, começou o
verdadeiro movimento de organização do produtor. A ideia genial que
acabou sendo a semente para que os produtores se organizassem foi a
criação do Programa de Incentivo à Cultura do Algodão do Mato
Grosso (Proalmat). Essa ideia nasceu nas fileiras dos produtores que
vinham-se organizando, não só na Fundação MT, mas em diversas
entidades, como uma fonna de criar um incentivo ao plantio do
algodão tecnificado no cerrado. Assessores da Fundação MT captaram
a ideia e elaboraram uma lei propondo a renúncia fiscal de ICMS do
governo do Estado de Mato Grosso, que estabelecia as condições para
permitir aos produtores a retenção de 75% do ICMS. Dos 75% do
ICMS renunciados pelo Estado, o produtor recolheria 15% para o
Fundo de Apoio à Cultura do Algodão (Facual), ad1ninistrado por
representantes de cinco entidades públicas e privadas, qüe
direcionavam esses recursos para diferentes áreas, como pesquisa,
transferência de tecnologia, marketing, comercialização, meio
ambiente, serviço social e educação. O Facual passou a ser gerido
atendendo às demandas dos produtores encaminhadas pela Associação
Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), que, juntamente
com as entidades e pessoas que administravam o fundo, gerenciavam
os recursos do Facual, através da liberação de recursos para projetos
analisados e acompanhados pelo Facual.
A lei que criou o Facual foi posterionnente adotada pelos
Estados de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Bahia, com as
denominações de Pluma, Proalminas. Proalgo. e Fundeagro.
respectivamente.
34 Freire e Pessa

A história da cria ção da Abrapa e suas


associadas
É consensual que os produtores de algodão do Brasi l
conseguiram criar uma das melhores organizações de produtores,
reconhecida pelo setor público e privado como legítima representante
de todos os cotonicultores brasileiros.
O segredo desse sucesso e da credibilidade da associação
brasileira dos produtores de algodão (Abrapa) e de suas correspondentes
associadas estaduais - Ampa (Mato Grosso); Ampasul (Mato Grosso do
Sul); APPA (São Paulo); Amipa (Minas Gerais); Acopar (Paraná); Agopa
(Goiás); Abapa (Bahia); Amapa (Maranhão) e a Apipa (Piauí) é que estão
calcadas em princípios éticos que se encontram acima dos interesses
individuais ou das suas corporativistas.
Quando da criação da Abrapa em 1999, os produtores
escolheram eleger uma diretoria provisória com a missão de criar, em
seis meses, associações estaduais nos principais estados produtores de
algodão, seguindo os moldes do Estado de Mato Grosso, que contava
com a Ampa, criada em 1997. O modelo adotado foi de uma
organização nacional, que representa as associações estaduais, que por
sua vez representam os produtores de cada região. Dessa forma, a
Abrapa foi elevada à condição de entidade federativa, com a missão
de representar as organizações estaduais perante o governo federal e
entidades privadas da cadeia têxtil no contexto nacional.
A legitimidade da Abrapa como representante nacional se
estabeleceu no momento em que todos os Estados discutiram e votaram a
melhor fonna estatutária de gestão e também ao contar em sua diretoria,
obrigatoriamente, com representantes de todas as unidades federativas. O
presidente de cada associação estadual faz parte automaticamente do
Conselho Diretor, assim como os seus ex-presidentes.

Os princípios que regem as organizações dos


produtores
A Abrapa, desde sua fundação, teve o entendimento de que a
cotonicultura faz parte de um contexto em que a cadeia têxtil como
Organização dos produtores 35

um todo e o governo são partes de uma equação importante para a


sustentabilidade da cultura.
Uma cadeia produtiva tem que lembrar que a concorrência
hoj e não está mais restrita a um país ou nação. Um produto que não
tenha custo competitivo internacionalmente vai sair do mercado,
passando a ser produzido em outro país em maior escala, exportando
empregos e afetando negativamente a balança comercial. A
sustentabilidade de uma atividade é responsabilidade de todos -
empregados, empregadores, empresas fornecedoras, produtores,
consumidores e o próprio governo.
Desde sua fundação, a Abrapa praticou a política de fazer o
melhor para a classe, sem esquecer o contexto em que está inserida.
Ao participar em conjunto co1n a indústria têxtil, junto ao governo, da
discussão dos mecanismos de apoio à comercialização, levam-se em
consideração os impactos que as decisões conjuntas podem ter para os
produtores e também para seus parceiros. Essa estratégia de trabalho
possibilitou que a Abrapa conseguisse do governo a desobrigação da
classificação oficial e a mudança da padronização de classificação de
nosso algodão com visível ganho para todo o setor.

A conquista dos mercados interno e externo


A Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), também
teve papel importante para incentivar os produtores do cerrado.
Através de empresas capitaneadas pela Santista, que teve a visão de
que a indústria têxtil para ser competitiva, precisa contar com matéria-
prima produzida no próprio país e de que, não dependendo de
importação, os estoques possam ser menores.
Inicialmente a Santista atuou no Mato Grosso, incentivando
os produtores a plantarem e garantindo que sua empresa compraria
tudo o que fosse produzido. O aumento de produção foi de tal
dimensão que logo extrapolou as expectativas, obrigando a Santista a
sensibilizar mais empresas a assumirem o compron1isso de absorver o
que se produzia. Nessa época foi feita a primeira exportação de
algodão do cerrado, con1 os produtores se cotizando e colocando,
através da Santista, 20 cargas de algodão, mesmo com prejuízo, pois o
preço interno era melhor e o mercado externo não pagou o que valia
36 Freire e Pessa

nosso algodão, então considerado um produto desconhecido pelo


mercado. Foi assim lançada a semente da busca de novos mercados
exte111os através de um traba lho coleti vo de marketing.
Quando a produção passou a ser mais significativa, a busca de
suprir totalmente o mercado inte rno e evitar a concorrência com o
produto importado se tomou imperi osa. Visitas foram programadas
por produtores, suas cooperativas e suas associações estaduais aos
centros industriais têxteis do mercado brasileiro. Os Estados do
Nordeste, Sul e Sudeste tiveram seus parques têxteis visitados no
intuito de mostrar o novo algodão que o cerrado produzia. Seminários,
congressos e reuniões serviram como ponto de encontro para
transmitir os avanços tecnológicos em todas as áreas e, também, para
promover o produto. Nas visitas às indústrias foram efetuados
convites para que seus diretores visitassem as fazendas e algodoeiras
do cerrado, para conhecerem a qualidade da produção e da pluma.
Na década de 1990, paulatinamente o mercado interno foi
substituindo a fibra importada pelo produto nacional, inclusive porque
o preço, a qualidade e a logística tomavam o processo cada vez mais
rápido. A eficiência em incrementar a produção através do aumento
constante de área e os ganhos em produtividade possibilitaram que a
partir de 2001 fosse produzido no Brasil todo o algodão necessário
para nosso consumo industiial. Nos anos seguintes os produtores
viram os preços caírem e chegaram à conclusão de que a continuidade
do crescimento da cotonicultura passaria a depender da conquista do
mercado externo.
O processo de avanço no mercado externo seguiu passos
semelhantes aos dados por ocasião da conquista do mercado interno.
Eventos internacionais, como Icac, ITMF, Bolsa de Bremen,
congressos na Austrália e jantar anual em Liverpool (ICA), passaram
a fazer parte do calendário obrigatório de visita dos produtores,
buscando melhor conhecimento do mercado internacional e
promovendo nosso algodão. Em contrapartida, os produtores
brasileiros em visitas ao exterior trouxeram, através de convites, os
comerciantes internacionais e industriais têxteis de todo o mundo para
conhecerem a nossa realidade.
Relevantes também foram as visitas comerciais fe itas
diretamente às indústrias têxteis nos diversos países e que continuam a
Organização dos produtores 37

~erem realizadas até hoje. Países corno o Japão, Itália, Turquia, China,
India, Paquistão, Bangladesh, Inglaterra, Coreia, Tailândia, Taiwan,
Argentina e muitos outros receberam visitas e também tiveram
industriais têxteis visitando nosso país. Os resultados aí estão, o
mercado interno está tota lmente conquistado e ocupamos hoje entre a
quarta e a quinta posição corno maiores exportadores de algodão do
mundo.
A comercialização do algodão do Brasil já se faz de maneira
eficiente e igual à realizada pelos países que mais exportam. Contratos
futuros para exportação em dólar são feitos com antecedência de
vários anos. Isto permite ao produtor programar suas compras e
plantios tendo a garantia de que o produto será colocado a um preço
acima dos seus custos.

O papel do governo no apoio ao algodão


brasileiro
Já foi comentada a importância da contribuição dos governos
estaduais, que estabeleceram os programas de apoio à cultura do
algodão. Os recursos advindos desses programas estão sendo
administrados por Fundos para financiar a pesquisa, marketing,
programas sociais e culturais. O apoio do governo federal se fez
através do Ministério da Agricultura, da Secretaria de Política
Agrícola e da Conab, orgãos de grande importância para a
sustentabilidade do algodão.
A Secretaria de Política Agrícola tem apoiado os produtores
através de mecanismos que corrigem distorções de mercado, com
beneficios para a cadeia têxtil. Muito importante foi a criação do
Fórum de Competitividade da Cadeia Têxtil, promovido pelo MDIC,
que ajudou bastante no passado, desobstruindo alguns gargalos que
atrapalhavam a cadeia, como a lei de classificação nas exportações.
A criação da Câmara Técnica do Algodão é um impo rtante
mecanismo, que veio a dar forma oficial e organizar os entendimentos
entre os diversos elos da cadeia têxtil. Esta câmara tem trazido visíveis
ganhos para o setor que conta agora com uma organização que traduz,
filtra e consolida o necessário entendimento entTe o setor privado e o
setor público.
38 Freire e ?essa

É visível a evolução que tivemos nos mecanismos de apoio à


comercialização. O governo sempre contou com dados bastante
confiáveis sobre área plantada e produção, levantados pela Conab,
para orientar nas políticas a serem adotadas a cada safra. Para lançar
mão de mecanismos eficientes de apoio à comercialização, faltava ter
acesso aos dados de quanto algodão já estava vendido para os
mercados interno e externo através de contratos, e isso se tornou
possível através dos levantamentos feitos pela organização dos
produtores. Os primeiros programas disponíveis, há alguns anos,
limitavam-se ao AGF, EGF e PEP, Contratos de opção e Prop.
Da evolução desses programas, surgiu o Pepro, que corrige a
maioria das distorções dos programas anteriores. De todos os
mecanismos, este é o mais justo e eficiente e que só foi adotado
porque a classe produtora está muito organizada e o governo
convencido de que existe um c01nprometimento com o uso correto
desse mecanismo.
O Pepro conseguiu tornar realidade a forma mais justa e
confiável para que os recursos do orçamento do Ministério da
Agricultura cheguem diretamente à mão dos produtores. Esse
mecanismo já mostrou sua eficiência no passado e será ferramenta
fundamental no futuro, para dar sustentabilidade aos contratos futuros.

A agricultura familiar e o algodão


Um dos maiores enganos que se comete no Brasil atualmente
é achar que a agricultura familiar e a empresarial não são atividades
compatíveis, já que ambas se utilizam da terra e tratam do mesmo
negócio, só que em escala diferente.
A orgaruzação dos pequenos produtores em cooperativas e
associações tem de forçosamente valer-se de gestores, para poder buscar
novas tecnologias, equipamentos e mercado, e estar atenta ao que
acontece da porteira para fora das prop1iedades. Observa-se que as
condições mírumas para que a agricultura familiar se desenvolva incluem:
1 - organizar os produtores em cooperativas e associações; 2 - dar acesso
à terra; 3 - ensiná-los a plantar e a manejar as culturas; 4 - fornecer adubo,
sementes e defensivos; 5 - fornecer equipamentos; 6 - colocar seus
produtos no mercado; e 7 - garantir sua viabilidade econômica.
Organização dos produtores 39

No caso específico do alg0.dão, a agricultura familiar so e


viável c om o desenvolvimento de variedades que agreguem valor ao
produto, a exemplo do algodão colorido e do algodão orgânico, que,
com alto valor no mercado, remuneram e viabilizam a produçã o em
pequena escala. Mesmo esses programas têm de estar vinculados a
cade ias integradas de produção, descaroçamento, fiação, tecelagem e
comercialização para garantir s ua s ustentabilidade e permanência no
mercado, como nos exemplos de su cesso já comprovados do a lgodão
colorido da Paraíba e dos agricultores familiares de Catuti-MG.

As organizações cooperativas no cerrado


É bastante conhecida a importância que as cooperativas
tiveram na organização e consolidação da agricultura de alta
tecnologia e financeiramente sustentada nos Estados do Sul e Sudeste
nas décadas de 1970 e 1980. Os Estados do Sul viram crescer
cooperativas fortes, que fizeram investimentos importantíssimos em
armazéns, secadores, algodoeiras, indústrias de á lcool, indústrias de
esmagamento de soja, fiações e assim por diante.
Essas cooperativas tiveram que prover os produtores de
estruturas que eles não tinham nem podiam construir, seja pelas
condições financeiras, seja mesmo pela pequena economia de escala,
afinal pequenas e médias propiiedades não justificam grandes
unidades armazenadoras ou fabris.
No Centro-Oeste, as cooperativas foram formadas por produtores
que já haviam feito grandes investimentos em imobilizados.
Primeiramente porque não havia produtores disttibuídos por todas as
regiões que pudessem se aglutinar e criar cooperativas, depois porque
regiões muito extensas não permitiram centralizar unidades em áreas
estratégicas.
Partindo da necessidade de ter laboratórios de classificação de
algodão em conjunto, as prüneiras cooperativas começaram a ser
formadas . Como os produtores já estavam estruturados em termos de
algodoeiras e a1mazéns, essas cooperativas nasceram com a
característica de grandes prestadoras de serviço com baixo capital
investido (na cooperativa), embora contando com estrutura c01nplexa
através de seus cooperados.
40 Freire e Pessa

Da classifi cação já se evoluiu para outros serviços, como no


caso da Unicotton, que promoveu programa para obter a certificação
das algodoeiras de seus associados com a ISO 9000, tendo também
seu laboratório certificado. As compras de defensivos, fertilizantes e
materi ais para enfardamento passaram a ser fe itas em conjunto. Na
área de vendas, passaram a vender em pool para ati ngir mercados com
lotes de melhor qualidade.
Os mecanismos de apoio à comercialização lançados pela
Secretaria de Política Agrícola e a nova regra de recolhimento do
PIS/Cofins deram o impulso final para que a maioria dos produtores
de algodão dos cerrados procurasse se organizar em cooperativas. No
primeiro caso, as cooperativas participam disputando nos leilões e
permitindo maior transparência; no caso dos impostos, a venda através
de cooperativas para as indústrias têxteis é a única maneira de não
perderem o crédito do PIS/Cofins.
O processo cooperativis ta no cerrado continua evoluindo.
Além das diversas cooperativas süngulares regionais, um novo tipo de
cooperativismo está sendo criado: são as cooperativas formadas para
prestação de serviços em áreas que demandam grande escala de
operação para serem viáveis. Este é o caso da Cooperativa
Agroindustrial do Centro-Oeste do Brasil (Coabra), cooperativa que
agrega associados de vários Estados e que é responsável pela
importação de mais de 500 mil toneladas de fertilizantes anualmente.
Temos o caso do Consórcio Cooperativo Agropecuário Brasileiro
(CCAB), que, embora sendo uma S.A., tem como acionistas mais de
I 5 cooperativas e se dedica à produção e importação de defensivos
químicos. Também na área do biocombustível, os produtores estão
investindo em unidades industriais de grande produção, através do
cooperativismo, como é o caso da Allcoton em Goiás e da Cooperbio,
formada pelos associados da Ampa em Cuiabá.
O cooperativismo tem sido a fom1a de os produtores do
cerrado se manterem na atividade. Tendo altos custos de logística, a
única forma de continuarem no mercado é através do aumento da
produtividade e diminuição dos custos; para isso se faz necessária a
aglutinação em conglomerados que pem1itam economia de escala.
Organização dos produtores 41

Evolução mais recente das organizações dos


produtores
Coabra - Cooperativa Agroindustrial do Centro-
Oeste do Brasil
A Coabra nasceu da experiência de alguns produtores na
importação direta de fertilizantes, como Cloreto de Potássio, Super
Simples etc., para posterior formulação - em unidades misturadoras
de empresas prestadoras de serviço ou diretamente nas fazendas pelos
produtores. Com a pressão das grandes empresas misturadoras sobre
as importadoras-fornecedoras dos produtos in natura, os produtores se
viram excluídos do mercado de itnportação por não terem mais seus
pedidos atendidos.
A solução foi a criação de uma cooperativa para agregar os
que individualmente já importavam fertilizantes e aumentar o
potencial de compra buscando a adesão de mais produtores. Com esse
intuito, em março de 2000, reuniram-se 38 produtores, sendo 18 do
Mato Grosso do Sul e 20 do Mato Grosso, para fundarem a Coabra.
Essa cooperativa tem hoje 358 associados e é a maior acionista da
CCAB - Participações S.A. e é também acionista da Libero
Commodities, empresas dos produtores também citadas neste capítulo.
Desde sua fundação até o ano de 2010, importou 2.750 milhões
de toneladas de fertilizantes, movitnentando mais de 1,3 bilhão de
dólares. Conta com filiais em Campo Grande-MS, Rondonópolis-MT,
Chapadão do Céu-GO, Paranaguá-PR e Patrocínio-MG. Os principais
países fornecedores de potássio para a Coabra têm sido Canadá, Rússia,
China, Israel e Holanda; e de fósforo e nitrogenados, a Rússia.

Consórcio Cooperativo Agropecuário Brasileiro


O desenvolvimento do modelo de negócio do CCAB iniciou
quando, em junho de 2004, executivos oriundos de grandes empresas
multinacionais e um grnpo restrito de produtores começaram a discutir
a ideia de procurarem um modelo de negócio ligado à área de
produção, com o objetivo principal de explorar as oportunidades
existentes no suprimento da cadeia do agronegócio.
42 Freire e Pessa

O foco principal foi criar, crescer e agregar valor à cadeia de


suprimento do agroncgócio; dessa forma , a criação do CCAB Agro,
uma empresa focada cm defensivos para lavoura, foi uma
consequência lógica e natural, considerando que, assim como os
fertilizantes, os defensivos são os que mais impactam no custo de
produção.
A CCAB Agro Ltda. iniciou sua operação em outubro de
2007, planejando o registro de princípios ativos - condição necessária
para a importação, fabricação e comercialização de produtos
químicos. Logo em seguida foi criada a CCAB Projetos e Soluções
Financeiras Ltda.; iniciando suas operações em novembro de 2007.
Esta empresa, encarregada da assessoria financeira e de procurar
através de serviços complementar o atendimento aos acionistas, é o
braço do CCAB, que busca no mercado parcerias e profissionais
competentes para operações acessórias, como contratação de seguros,
logística, alavancagem financeira etc.
Hoje o CCAB é encabeçado por uma Holding - CCAB S.A.,
formada por 15 cooperativas que detêm o controle acionário, tendo
como braços a CCAB Agro Ltda. e a CCAB Projetos Ltda., bem corno
compreende uma divisão que trata dos "Negócios Adicionais", não
cobertos pelas empresas anteriores.
Os seus associados respondem por 69% da área plantada de
algodão do Brasil, 18% da área de soja, 11 % da de n1ilho e 14% da de
café. O faturamento dessas atividades dos associados é da ordem de
US$ 7,5 bilhões no período de uma safra, o que corresponde ao
potencial de consumo de 20% dos defensivos que se comercializam no
Brasil.
Sua atuação cobre o atendimento aos acionistas e cooperados
no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Santa Catarina e Minas
Gerais e continua aumentando, assim como investindo na busca de
ofertar maior variedade de defensivos.
O CCAB procura ser a mais completa organização de
produtores de todo o Brasil na cadeia de suprimento agrícola,
considerando que conta também entre seus acionistas con1 a Coabra,
especializada em suprir fertilizantes aos produtores.
Os associados da CCAB Participações S.A. são formados por
importantes cooperativas de produtores do Brasil, comprometidas com
Organização dos produtores 43

a viabilidade de seus cooperados, oferecendo produtos de alta


qualidade, com preços competitivos, repassa ndo as vantagens para os
seus acionistas, ou seja, para os produtores, através de suas
cooperativas.

Instituto Brasileiro do Algodão (IBA)


No decorrer dos últimos anos, certamente o caso de maior
repercussão foi - e ainda é - o "Acordo-Quadro para uma Solução
Mutuamente Acordada para o Contencioso do Algodão na
Organização Mundial do Comércio (WT/DS267)", celebrado entre os
governos do Brasil e dos Estados Unidos da América (EUA), que
suspendeu o processo de retaliação comercial que o Brasil imporia aos
EUA, após autorização legal e definitiva concedida pela OMC. Em 31 de
agosto de 2009, a OMC autorizou o governo brasileiro a retaliar os EUA.
O valor mínin10, resultado dos subsídios ilegais concedidos
(calculados de acordo com os números relativos ao ano-base (2006),
foi de pouco menos de US$ 300 milhões. Porém, considerando que
nos últimos anos os subsídios norte-americanos cresceram muito,
estimou-se que o valor calculado sobre o ano-base 2009 alcançaria
US$ 830 milhões.
À época não faltaram setores interessados em se beneficiarem
dos ganhos que um eventual acordo poderia proporcionar. Mas a
diretoria da Abrapa sempre foi fume no sentido de que a própria
Abrapa é legítima interessada tanto na retaliação quanto no caso de
um eventual acordo e de que o setor cotonicultor brasileiro deveria ser
o principal favorecido.
A proposta foi a criação, pela Abrapa, de um instituto p1ivado,
o IBA, com a finalidade de gerir e aplicar os recursos recebidos pelo
governo dos EUA como parte de um eventual acordo para suspensão
temporária da retaliação autorizada pela OMC no contencioso do
algodão. Os valores que seriam recebidos teriam a natureza de
recursos privados, pois dec01Teria de compensação temporária pelos
prejuízos causados pelo não cumprimento das decisões da OMC.
No acordo celebrado entre os goven1os, os EUA se
comprometeram a fazer uma transferência inicial de US$ 30 milhões,
uma segunda no valor de US$ 4,3 n1ilhões e transferências mensais, a
partir de julho de 20 l O, da ordem de US$ 12,275 milhões.
44 Freire e Pessa

Uma das exigências das autoridades negociadoras dos EU A


era que os recursos não fossem utilizados em pesquisa, mas pode1;am
ser destinados: ao controle, mitigação e erradicação de pragas e
doenças; à tecnologia pós-colheita; à compra e uso de bens de capital;
à pron1oção do uso do algodão; à adoção de cultivares; à observância
das leis trabalhistas; ao treinamento; a serviços de informação de
1nercado; à gestão e conservação de recursos naturais; à melhoria da
qualidade do algodão e dos serviços de classificação; a serviços de
extensão; à cooperação internacional; e ao custeio de despesas
administrativas.
A Abrapa e suas afiliadas estaduais propõem projetos que são
discutidos em assembleias, e, uma vez aprovados, autoriza-se o Conselho
Gestor do IMA a contratar sua implementação e acompanhamento.

Cooperativa de Biocombustível (Cooperbio)


Em 2006, a Ampa, ouvindo a preocupação de seus
associados com o alto custo de produção das lavouras, constatou a
alta significativa nos con1bustíveis, um dos principais insumos na
composição dos custos. Insumo este que representava no passado
4% e atingia na época o patainar dos dois dígitos, ficando acima
dos 12%.
Com o advento do biodiesel, a A1npa encomendou um
estudo de viabilidade técnica e econômica para a construção de
uma indústria de biodiesel, através do IMA. O estudo de
viabilidade indicou a construção de uma indústria de biodiesel com
escala de produção acima de 120 mil litros/dia. Consultados os
assessores jurídicos, estes aconselharam a A1npa a constituir uma
empresa, considerando que, como associação, não poderia ter
interesses econômicos. Dessa forma, criou-se a Cooperbio - com
direito de filiação dos associados da Ampa e dos associados da
Aprosoja.
A Cooperbio se diferencia das cooperativas usuahnente
formadas, pela sua característica de ser un1a indústria de produção
de biodiesel que tem o número de cotas de participação atreladas à
capacidade de produção. A forma de admitir os cooperados e
estabelecer a cota de cada um foi associar a produção da fábrica à
capacidade de produção e consumo de cada um de seus cooperados.
Organização dos produtores 45

Instituto Algodão Social (IAS)


Além de seus objetivos econômicos, os produtores adotaram a
sustentabilidade como fundamento dos seus empreendimentos n1rais e
priorizaram o seu comprometimento com a ética, a cidadania e prática
da responsabilidade social; criando em 06/09/2005, em Assembleia
Geral da Ampa, o Instituto Algodão Social.
O IAS foi criado com a missão de conscientizar o produtor de
algodão sobre a importância do cumprimento das normas legais
trabalhistas, de segurança do trabalho e ambientais como instrumento
de sua permanência e competitividade no mercado.
As ações foram iniciadas já na safra 2005/06, com a
realização do Diagnóstico Inicial que foi disponibilizado para as
fazendas dos associados da Ampa. Os critérios de avaliação atendem
às normas internacionais da prática de Responsabilidade Social, bem
como a legislação relativas à CLT e à Lei do Trabalho Rural e ao
cumprimento das normas de segurança do trabalho que integram a
norma regulamentadora NR 31.
Consolidando o processo de melhoria contínua de construção
da boa imagem do algodão de Mato Grosso, celebrou-se em 2007 uma
parceria com a certificadora ABNT, para a execução do processo de
certificação, que já resultou na venda e exportação de mais de dez
milhões de fardos com o Selo de Conformidade Social. Este selo tem
a finalidade de informar ao mercado que o algodão foi produzido de
acordo com os princípios universais que caracterizam o chamado
trabalho decente.

Better Cotton lniciative (BCII)


Esta entidade internacional foi criada em 2006 com o intuito
de, sob a bandeira de BETTER COTTON, criar condições e regras a
serem adotadas pelos produtores, visando trazer beneficios tanto para
quem ~roduz quanto para o meio ambiente e a comunidade que o
cerca. E uma organização sem fins lucrativos, voluntária e inclus iva.
A entidade busca atingir metas, con10: reduzir o impacto do uso da
água e de pesticidas em beneficio da saúde humana e preservar o meio
ambiente; melhorar as condições dos solos e promover a
biodiversidade; proporcionar melhores condições de trabalho para as
46 Freire e Pessa

comunidades e aos trabalhadores na cultura do algodão; e aumentar a


rastreabilidade em toda a cadeia de suprimento de algodão.

Programa Soci oambiental de Produção de Algodão


(Psoal)
O sucesso do programa do IAS no Mato Grosso levou a
Abrapa a adotar seus procedimentos e normas também nacionalmente,
criando o programa chamado Psoal, que foi implementado em todo o
Brasil nas fazendas de algodão, visando a um plantio socialmente
correto. Lançado em maio de 2009, foram promovidas palestras de
mobilização dos produtores nos Estados, além de reuniões de
instrução para os técnicos em Brasília. Foi estabelecido que, para ter
direito à certificação, as fazendas que participaram do projeto tinham
que atingir um míniJno de 80% das metas estabelecidas.
Se1n dúvida, um programa ambicioso e necessário, estando
disponível no site da Abrapa (www.abrapa.com.br) um check list que
permite a autoavaliação; para aderir ao programa, basta que o produtor
entre em contato com sua Associação Estadual. Em 2013, este
programa passou a receber a denominação de Algodão Brasileiro
Responsável (ABR), em que se procura implantar nas fazendas de
algodão do Brasil as normas do P soal e da BCI. A BCI, assim como o
Psoal, e o ABR se complementaram, conferindo maior credibilidade
interna e externa ao algodão brasileiro.

Libero
A Libero é uma empresa nascida no Brasil, com sede na
Holanda e filiais no Brasil e em Genebra, e que objetiva o marketing e
a comercialização dos produtos agrícolas produzidos no País. Tendo
como principais sócios os produtores, promove parcerias com
operadores de mercado, fon1ecedores de insumos, empresas
operadoras de logística e as mais importantes fontes de recursos
financeiros.
A imprensa conta em seu quadro de associados com os
1naiores produtores do Centro-Oeste, que representan1 70% da
produção do algodão, 15% da produção da soja e l 0% da produção do
Organi=arao dos produtores 47

mi lho brasileiro. Sua área plan tada passa de quatro mil hões de
hectares, o que lhe garante a tranquil idade de se lançar no mercado,
sabendo que conta com fo rnecimento garantido de grande quantidade
e variedade de produtos. A libero tem como propósito melhorar as
condições no mercado e buscar oportunidades em basicamente quatro
atividades: originação; marketing e comercialização; captação de
recursos financeiros; e financiame ntos internacionais.
A organização dessas ativ idades resultaram na constituição da
Libero Commodities Holding Bv, com duas subsidiárias brasileiras: a
Libero Commodities do Brasil S.A., que comercializa os produtos no
mercado interno brasileiro, e a Libero Commodities S.A ., com sede na
Suíça, que se encarrega da comercialização dos produtos
internacionalmente. Além dessas, a Libero Serviços do Brasil atuará
como provedora de serviços na originação e nas operações de apoio às
outras duas empresas que comercializam.
Esse modelo de empresa, em que 50% das ações estão com os
produtores e os outros 50%, com acionistas que completam a cadeia
da produção, comercialização, logística, financiamento e
administração de riscos, é sem dúvida ímpar no mercado e que
prenuncia que a Libero tem grande potencial de crescimento e sucesso
num mercado altamente competitivo, vo látil e que funciona em ritmo
acelerado.

Câmara técnica setorial da cadeia produtiva do


algodão e seus derivados
Embora a organização das câmaras setoriais seja uma
iniciativa do governo através do Mapa, tem sido muito importante o
envolvimento da Abrapa, que a preside.
Para destacar a importância desta câmara, ressaltamos que e m
2009 ela viabilizou a comercialização de 792 mil toneladas de
algodão, graças ao apoio do governo, aportando R$ 550 milhões e
delegando à Abrapa o compromisso de fazer com que esses recursos,
de forma transparente e justa, chegassem realmente aos produtores.
Estabeleceu, juntamente com o Mapa e a Embrapa, o
Prog rama Nacional de Combate ao Bicudo. Regulamentou a prática de
aimazcnamento de algodão a céu abe rto. Promoveu o progra ma de
48 Freire e Pessa

uni fonnização dos critérios de classificação visual através da parceria


Abrapa/Mapa, na instrução e recic lagem dos profiss ionais
classificadores de pluma. Apoiou a importação de 250 mil toneladas
de pluma pela indústria têx til bras ileira na nossa entressafra, através
da liberação pelo governo do imposto de importação.
A câmara criou a Agenda Estratégica 20 10/20 15, que, a lém
das questões conjunturais, permite programar o futu ro resolvendo as
chamadas questões estrutura is.

Referências
PESSA, J. L. R. A organização dos produtores de a lgodão. ln: FREIRE, E. C. (Ed.)
Algodão no cerrado. 2. ed. Brasil ia: Abrapa, 2011.
BOTÂNICA
3
Tricia Costa Lima'
~ 2
Leonardo Ângelo de Aquino
Paulo Geraldo Berger3

Introdução
O cultivo do algodão no Brasil, com o uso de espécies nativas
e importadas, teve início nos primeiros anos da colonização. Dois
famosos religiosos - padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta -
defenderam a instalação de uma indústiia têxtil em nosso país. Em
carta a Simão Rodrigues, superior dos jesuítas em Lisboa, Nóbrega
pediu o envio de tecelões para fiar e tecer o algodão. Anchieta
defendia a mesma opinião e a justificava: "Para vestir há muito
algodão". Quanto aos indígenas brasileiros, Pero Vaz de Caminha na
sua célebre Carta relata que usavam o algodão para fazer redes, faixas
e também flechas incendiárias, cmn a ponta envolvida em chumaços,
aos quais punham fogo. No México e no Pe1u também se encontraram
objetos feito de algodão. É certo, portanto, que o algodão arbóreo
existia em váiias partes das Américas, quando os europeus iniciaram
as conquistas (COSTA, BUENO, 2004).

1
Engenheira-A&,rrônoma, D. Se. e Professora du Universidade Estadual do Goiús.
E-mail: tclima7@gmail.com.
1
Engenhe iro-Agrônomo, D. Se. e Professor du Uniw rs icladc Fedaal de Viçosa - C' RP .
E-mail : leonardo.uquino@ ufv.br
3
Engenheiro-Agrônomo, D. Se. e Professor do Dep. ele Fitok"Cniu da Univcrsidudc Flxkml Jc Viçosa.
E-mail: pgberger@ufv.br
50 lima. Aquino e Berger

Classificação botânica
O algodoeiro é uma planta dicotil edônea hirsuta ou glabra,
anual ou perene, herbácea, arbustiva ou arbórea, pertencente à família
Malvaceae, gênero Gossypium. O algodoeiro herbáceo anual
( Gossypium hirsutum L.) é uma das 50 espécies já classificadas e
descritas no gênero Gossypium. Sua classificação é a seguinte
(TROPICOS, 20 J 3):
Classe: Equisetopsida C. Agardh
Subclasse: Magnoliidae Novák ex Takht.
Superordem: Rosanae Takht.
Ordem: Malvales Juss.
Família: Malvaceae Juss.
Gênero: Gossypium L.
Espécie: Gossypiwn hirsutum
Subespécie: Gossypium hirsutwn subsp. latifolium (Murray)
Roberty
Das 50 espécies já catalogadas (descritas) 17 são endêmicas
na Austrália e todas têm um número básico de cromossomos (n = 13),
sendo algumas diploides (2n = 26); outros, tetraploides, com n = 26 e
2n = 52, envolvendo seis espécies: G. tomentosum, G. muste!inum,
G. darwinii, G. barbadense, G. lanceolatwn e G. hirsutum. De todas
as espec1es de Gossypium, apenas quatro são exploradas
comercialmente e mais de 90% da produção mundial de fibras é da
espécie G. hirsutum (LEE, 1984 citado por BELTRÃO, 1999).
As espécies que produzem fibra comercial são: G. hirsutum e
G. barbadense, tetraploides, originadas da An1érica Central e América
do Sul, respectivamente, e G. herbaceum e G. arborewn, diploides e
originadas da África e Ásia (GRID-PAPP, 1965). As espécies
consideradas selvagens em geral não apresentam fibras ou, quando as
apresentam, não possuem torções e assim não são fiáveis, além de
possuírem comprimento de fibra pequeno e baixa resistência, o que
toma inviável seu aproveitamento industrial.
De acordo com Hearn e Constable ( l 984 ), somente uma
espécie selvagem de algodão, G. herbaceum, raça Africanurn, que é
Botânica 51

endêmica no Sudoeste da África, tem fibra com torções e e


considerada o ancestral de todas os cultivares de algodão. Ela foi
domesticada há mais de 4.000 anos no Sudoeste da Arábia, onde a
raça Accrifoliurn, também da espécie G. herbaceum, foi encontrada.
As espécies tetraploides surgiram na América do Sul,
possivelmente do cruzamento do G. raimondii com o diploide exótico
de G. herbaceum da raça Africanum. O ancestral tetradiploide ao
longo do tempo diferenciou-se em G. barbadense e G. hirsutum,
seguindo a domesticação. A espécie G. hirsutum diferenciou-se, por
sua vez, em sete raças na América Central, sendo a mais importante a
Latifo[ium seguida pela Marie Galante, à qual pertence o algodoeiro
arbóreo (mocó) do Nordeste, e a Punctah1m, que serve de banco de
genes para resistência à doenças, como a mancha angular, causada
pela bactéria Xanthomonas malvacearum. (BELTRÃO, 1999).
A planta de algodão do gênero Gossypiwn apresenta porte
subarbustivo e de crescimento indeten11inado. Tem número variável
de cápsulas (capulhos), com três a cinco !óculos com 30 a 40 sementes
por capulho. Apresenta em geral nectários na face inferior das folhas e
na base das flores. Possui, normalmente, distribuídas em sua quase
totalidade glândulas produtoras de, entre outras, substâncias tóxicas a
certos insetos e aos animais não ruminantes, denominadas gossipol.
Suas sementes são cobertas por dois tipos de células diferenciadas que
constituem as fibras longas e fiáveis e as curtas ou línter, as quais
proporcionam à culhira grande valor comercial. Suas flores são
hermafroditas e possue1n pétalas creme ou amareladas, que se tornain
violáceas após exposição prolongada à luz solar. A autopolinizaçào é
mais frequente, porém, dependendo de condições ambientais, a
polinização cmzada pode chegar a 80% ou mais, sendo os insetos
(abelhas) os principais agentes polinizadores. Seu ciclo varia segundo
a precocidade do cultivar, mas é, em média, de 160 a 180 dias para as
condições brasileiras (PENNA, 1982).
52 lima. Aquino e Berger

Descrição das espécies


Gossypium hirsutum L.
Plantas pequenas, arbustivas, com altura entre 60 cm e 100 cm,
pouco ramificadas, caules variando entre as cores verde e marrom.
Folhas largas, palmadas, tri ou pentalobadas, frequentemente pilosas.
Flores grandes de cor amarelo-pálida. Cápsulas grandes,
arredondadas, com poucas glândulas e com três a cinco lóculos; cada
lóculo com cerca de 11 sementes. Sementes com copiosa cobertura de
fios longos, exibindo também fios muito curtos. Apresenta as
seguintes raças: Marie galante, Punctatum, Latifolium, Morrilli,
Palmerii, Yucatense, Riclunondii e Caicoense.

Gossypium barbadense L.
Planta anual, arbustiva, alcançando 2,70 m de altura, pouco ou
muito ramificada, com ramos ascendentes. Folhas claramente
divididas em três ou cinco lóbulos, geralmente glabras, mais rijas e
espessas do que nas outras espécies.
Flores grandes, de um amarelo acentuado, com uma mancha
avermelhada na base das pétalas. As bractéolas são largas, quase tão
longas quanto largas, dentadas (10-15 dentes). Cápsulas usualmente
grandes, alcançando 6 cm de comprimento, com três }óculos. Paredes
recobertas por pequenas pontuações e inúmeras glândulas. Cada
lóculo com cinco a oito sementes. Línter verde ou marrom cobrindo
parte da semente e fios longos e brilhantes, protegendo toda a testa.
Possui as seguintes raças: Brasiliense, Daiwinii, Peruvianum e Típica.

Gossypium herbaceum L.
Planta subarbustiva, alcançando até 1,30 m de altura, pouco
ramificada, com caule rígido. Folhas lobadas, de pilosidade variável,
de ápices, geralmente lobados. Brácteas de formato triangular, largas e
arredondadas na base, sempre mais largas que longas, de margem
dentada (seis a oito dentes).
Botânica 53

Cápsulas arredondadas, às vezes com suturas proeminentes;


de ápice pontudo, com 2,0-3,5 cm de comprimento, superfície lisa ou
superficialmente áspera e pontuda; glândulas esparsas. Três a quatro
lóculos, cada um com cerca de 11 sementes, cobertas tanto por pelos
pequenos (línter) como por pelos longos. Apresenta as seguintes raças:
Africanum, Acerifolium, Persicum e Wightianum.

Gossypium arboreum L.
Planta perene ultrapassando 3,0 m de altura. Folhas mais ou
menos pilosas com cinco a sete lóbulos; lóbulos estreitos e estípulas
lineares.
Bractéolas mais ou menos triangulares recobrindo a flor em
botão, de margem inteira lateralmente e ápice com vários dentes.
Flores com coluna estaminal muito longa que sustenta anteras
de curtos filetes. Cápsulas geralmente triloculares, profusamente
pontuadas; glândulas proeminentes. Deiscência da cápsula formando
fendas alargadas. Lóculos com 17 sementes, inteiramente recobertas
por línter e por longos fios. Representada atualmente pelas seguintes
raças: Indicum, Burmanicum, Cemuum, Sinensis e Benghalense
(BRANDÃO, l 982).

Morfologia do algodoeiro
O a lgodoeiro herbáceo, também chamado de anual, possui
estrutura organográfica peculiar, apresentando ramos frutíferos e
vegetativos, dois tipos de folhas (associadas ao ramo reprodutivo
ou ao vegetati vo), flores con1pletas com um terceiro verticilo floral,
as brácteas, que fazem uma proteção extra e podem possuir, na
base interna e externamente, g lândulas de secreção (nectários) além
de apresentar prófilos, folhas sem ba inha com duas estípulas, dois
tipos de glândulas e pelo menos duas gemas na base de cada fo lha
(Fig ura 3. 1).
54 limo. Aquino e Berger

Figura 3 .1 - Três brácteas que exercem proteção extra ao botão floral.


Na base de cada bráctea se encontra o nectário.
Foto: A rquivo pessoal.

No algodoeiro, o meristema apical ongma quatro órgãos:


folhas, caules, raízes e flores. Há três tipos de folhas, as cotiledonares,
os prófilos e as folhas verdadeiras (Figuras 3.1 , 3.2 e 3.3). Na axila de
cada cotilédone, prófilo ou fo lha verdadeira, apenas um ramo com
meristema apical se desenvolve. A diferença básica entre um ramo
vegetativo (monopodial) e um frutífero (simpodial) é que, neste
últi1no, o meristema apical, após originar o pró filo e uma folha
verdadeira, termina com uma flor, enquanto o ramo vegetativo
continua emitindo folhas (BELTRÃO; SOUZA, 1999).
O algodoeiro é propagado principalmente por meio de
sementes, que são cobertas com linter, constituídas de fibras pequenas
(8 a 12% do peso da semente) . ·A s sementes apresentam, em média,
teores de óleo e proteína de 30-35% e de 40-5 %, respectiva1nente. A
semente, com 10% de umidade, te m 7-12% de línter, 25-27º/o de casca
e 25 -27% de amêndoa e teor de óleo variando de 14-25% . Destaca-se
ainda o pigmento gossipol, que pode atingir 2% do peso da semente
(BELTRÃO; SOUZA, 1999) .
Botânica 55

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Figura 3.2 - Folhas do algodoeiro: A - fol.has cotiledonares; B - prófilo;
C - folllas verdadeiras (do ramo e do fruto).
Fonte: EXTENSION, 2013; BELTRÃO et ai., 2008; e arquivo pessoal.

~ Ramo frutífero (simpodial)

----- ~ Nó cotilcc.Jonar

Figura 3.3 - Representação dos ramos vegetativos (monopodial) e


frutíferos (simpodial).

Sistema radicular
O sistema radicular é do tipo pivotante, sendo bastante
desenvolvido e vigoroso em condições nonnais para o pleno
crescimento da planta (Figura 3.3 ). A raiz, além da sua função básica
de absorção de água, nutrientes e fixação da planta ao solo, é
importante no armazenamento de fotoassimilados. A raiz pivotante
pode chegar a 2,5 m de profundidade, concentrando a sua maior parte
nos primeiros 30 cm a 50 cm de profundidade.
56 Lima, Aquino e Berger

Caule
O caule é o eixo ascendente da planta, no qual estão ligados
pelo menos dois tipos de ramos: vegetativo ou monopodial e frutífero
ou si mpodial (Figura 3.3). O caule tem várias funções na planta, tendo
uma gema apical (meristema) e vários nós e entrenós ou meritalos.
Constitui-se no elemento de sustentação das folhas , flores e frutos e
conduz a água e os minerais via xilema e os fotoassimilados via
floema. O caule, os ramos, as folhas e os pecíolos podem ser glabros
ou pilosos (Figura 3.4). No caule é possível observar tricomas e
glândulas internas, onde a planta armazena gossipol, produto de
natureza fenólica ligado à defesa da planta contra pragas e doenças.

Figura 3.4 - Planta de algodão com destaque para seu sistema


radicular pivotante, com presença da raiz principal.

As primeiras ramificações simpodiais geraln1ente surgem a


partir do quinto ao sétimo nó na haste principal, apresentam
Botânica 57

segmentos sucessivos em forma de ziguezague, surgem das gemas


posicionadas lateralmente nas axilas foliares e têm crescimento extra-
axilar, tendo em cada segmento crescimento determinado ou definido .
Cada segmento quase sempre termina em uma estrutura reprodutiva.
Os ramos vegetativos ou 1nonopodiais desenvolvem-se e crescem a
partir de gemas situadas no plano axilar das folhas e têm crescimento
indetenninado, semelhante ao do eixo principal da planta, sendo mais
robustos e lenhosos que os ramos frutíferos. Os ramos monopodiais
podem se ramificar produzindo outros monopodiais ou simpodiais
(BELTRÃO; SOUZA, 1999).

Folhas
As folhas verdadeiras do a lgodoeiro (macrófilos) são simples
e incompletas (não possuem bainha), podendo ser vegetativas ou
reprodutivas. As vegetativas ou do ramo são as situadas no ramo
principal e nos ramos monopodiais, já as reprodutivas originam-se no
lado oposto de cada nó frutífero junto à estrutura de reprodução. As
folhas vegetativas ou do ramo surgem no eixo principal e apresentam
no Gossypium hirsutum uma filotaxia de 3/8 (em cada três voltas
completas no eixo do caule têm-se oito folhas), enquanto os frutíferos
têm filotaxia diferente, em tomo de 2/5. As folhas vegetativas, além
de maiores que as reprodutivas, em média quase o dobro do tamanho,
são mais longevas, sobrevivendo por até 70 dias em condições ótin1as,
e responsáveis pela maior parte da nutrição dos dois prüneiros frutos
de cada ramo frutífero , que corresponde a mais de 70% da produção
da planta (Figura 3.2). Devido ao hábito de crescimento
indeterminado do algodoeiro ocorre dissincronia entre os frutos em
crescimento (drenos) e as folhas fnitíferas (fontes de produção de
assimilados), oc01Tendo queda de frutos jovens. O limbo das folhas do
algodoeiro apresenta estômatos e1n ambas as faces e pode ser glabro a
densamente piloso (BELTRÃO; SOUZA, 1999). As folhas têm vida
média de 65 dias, mas o pico de fotossíntese ocorre aproximadamente
20 dias após a abertura da folha (ROSOLEM, 2007).
58 Lima, ;lq11i110 e Berger

Flor
A flor do algodoeiro herbáceo é isolada e peduncular, com
brácteas cordiformes, livres, persistentes, apresentando 8-12 dentes
(Figura 3. 1). Cada ramo frutífero produz, em média, seis a oito botões
que depois se transformarão em flores, caso não caiam. A flor, ao
abrir-se, é constituída de um invólucro, que representa as três brácteas;
do cálice, que é gamossépalo (sépalas ligadas); e da corola, que é
dialipétala (pétalas separadas). As pétalas são imbricadas e formam o
andróforo pela base; apresentam cor variando de branco a creme e,
normalmente, sem manchas, tomando-se violáceas após o processo de
fecundação (Figura 3.5). As flores do algodoeiro apresentam padrão
de surgimento característico, ocorrendo o aparecimento em espiral.
Inicialmente ocorre a primeira flor do primeiro ramo frutífero, depois
a primeira do segundo ramo frutífero, em seguida a primeira do
terceiro ramo frutífero, voltando para o primeiro ramo com a segunda
flor do priineiro ramo frutífero, ocorrendo um intervalo de floração
veitical entre ramos frutíferos e um intervalo de floração horizontal,
em cada ran10 frutífero, confonne Figura 3.6. O intervalo de enl.Íssão
de flores é variável com as condições ambientais e cultivar. Em
média, a cada três dias uma flor é emitida enh·e ramos reprodutivos
consecutivos e, a cada seis dias, num mesmo raino reprodutivo
(OOSTERHUIS, 1998).

Figura 3.5 - Flor co11:1 ~rá,cteas, cálice gamossépalo (sépalas ligadas).


corola chahpetala (pétalas separadas) e flor violácea pós-
fecundação .
59
Botii11ica

6º ramo frutí fero


17 5º ramo frutí fero

l ? 3º ramo frutífero

l 3 l º ramo fn1tífcro

Figura 3.6 - Representação gráfica do aparecimento de flores com


índice filotáxico 2/5.
Fonte: PASSOS, 1977 citado por BELTRÃO et al., 2008.

Fruto
O fn1to, que apresenta de três a cinco lóculos, é formado a
partir do ovário, após o processo de fecundação (Figura 3. 7) .
Quando jove1n, é chan1ado de 111.açã e, depois que se abre, de
capulho. Cada lóculo gerahnente contém seis a oito se1nentes,
cujo peso, associado ao das fibras, é chainado de peso de capulho,
sendo um dos principais componentes de produção. O fruto
também pode ser denominado de carin1ã, que é o fruto
mumificado. Tal situação ocorre devido ao ataque de pragas e , ou,
condições climáticas adversas (Figura 3. 7) .
62 lima. Aquino e Berger

água no pcrfi I do solo. O uso do sistema de irrigação, no caso da


planta adulta, terá a fu nção apenas suplementar às chuvas, para que a
cultura tenha evapotranspiração potencial (W ADDLE, 1984).
Condições adversas (l imitações físicas e, ou, químicas) ao
aprofundamento do sistema radicular podem contribuir para maior
suscetibilidade da planta a períodos de veranicos. O crescimento
máximo do sistema radicular é alcançado na floração, havendo
declínio após esse estádio (BEZERRA et al., 1999).
2.500

Botões
2.000

8
~
1.500

X
.__,
o..... l.000
e.,
E
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z
500

o
o 20 40 60 80 100 120 140 160
Dias após a emcrgcncia
Figura 3.9 - Esquema do ciclo de crescimento do algodoeiro.
Fonte: ROSOLEM, 2001.

A cultura do algodão requer, por ciclo, entre 650 e 900 mm de


água em função das práticas culturais, disponibilidade de água no solo,
cultivar e demanda evapotranspiro111ét1ica. Geralmente, na fase inicial, até
o aparecimento das primeiras estruturas reprodutivas, o requerimento
hídrico é inferior a 2 mm/dia. Após essa fase, co1n o rápido crescimento
vegetativo, aumenta-se o consumo, que pode ultrapassar 8 mni/dia. A
deficiência hícuica, na fase de genninação e emergência, prejudica a
absorção de água pelas sementes e o cresci1nento da radícula e do
hipocótilo (W ANJURA, BUXTON, 1972). Assün, pode ocorrer
estabelecimento de stand desunifonne, prejudicando, por exemplo, os
tratos culturais posteriores como aplicação de herbicidas e rcgulador~s de
crescimento (OOSTERHUIS, 1999; ROSOLEM, 2007).
Botânica 63

O estádio mais sensíve l ao déficit hídrico é o reprodutivo


(floração e formação das maçãs), no qual o déficit ?u excesso ~1ídrico
pode provoca r abscisão das estn1turas reprodutivas,_ reduzm,do a
produtividade da cultura. A frutificação do algodoetro se da por
etapas, permitindo certa tolerância a curtos períodos de deficiência
hídrica. Existe correlação positiva entre altura da planta de algodão
nas primeiras folhas e a produção final do algodoeiro, s ugerindo que
um estresse hídrico moderado antes do florescimento favoreça o
aumento de produtividade (BEZERRA et ai., 1999). Pereira et al.
( 1988), estudando déficit hídrico moderado no algodoeiro, verificaram
que, na fase inicial, o déficit não resultou em decréscimo de
produtividade e que as fases mais sensíveis fora111 as de florescimento
e frutificação.
Sob deficiência hídrica, pode haver redução do diâmetro do
caule, da altura das plantas e consequentemente da produtividade
(CORDÃO SOBRINHO et al., 2007). Oliveira et al. (1999)
verificaram que a tensão de 200 k.Pa foi a tensão que proporcionou
maior produtividade do algodoeiro. Marur et al. (2000) verificaram
que o déficit hídrico reduziu a atividade da enzima nitrato redutase,
quando o potencial hídrico foliar atingiu -1 ,5 MPa. Limitações
hídricas podem reduzir a produtividade por compro1neter as trocas
gasosas, o crescimento e a atividade d~ diversas enzin1as na planta.
Para fins de economia de água e melhoria da qualidade da
fibra, é importante a definição do 111elhor momento para interromper
as inigações. A intenupção precoce afeta a fotossíntese e a elongação
da fibra, comprometendo a produtividade e a qualidade da fibra. A
interrupção da irrigação tardiamente pode levar ao prolongamento do
ciclo e maior consumo de água sem acrésci1nos de produtiv idade e
com possibilidade de redução da qualidade da fibra pelo excesso de
umidade nos capulhos da porção inferior da planta (OLIVEIRA et al.,
1999; BRADOW; DAVIDONIS, 2000; LUZ et al., 2003).
A temperatura influencia todas as fases do desenvolvimento
da planta. As diferenças de ciclo de um mesmo cultivar quando
cultivado na região sudoeste e meio norte de Mato Grosso poden1 ser
atribuídas às diferenças de temperatura das regiões, sendo a
temperatura basal da cultura de 15 ºC (ROSOLEM, 2007). Durante n
germinação e emergência, baixas temperaturas podem prejudicar a
absorção de água pela semente e emissão da radícula. A nbsorçüo de
64 Lima. Aquino e Berger

água e emissão da radícula são mais afetadas pela temperatura do que


pela umidade do solo propriamente dita. O crescimento do hipocótilo
também é influenciado pela temperatura, porém a água assu me maior
importância no seu crescimento. De modo geral, em condições
adeq uadas de umidade, a temperatura em torno de 32 ºC permite
maior velocidade dos processos de absorção de água pela semente,
emissão da radícula e máximo crescimento do hipocótilo.
Nas fases de abertura dos botões florai s, florescimento e
frutificação , a temperatura do ar ótima varia de 22 ºC a 30 ºC (noturna
e diurna). Baixas temperaturas na fase de abertura dos capulhos
podem retardar sua abertura e prejudicar a qualidade da fibra, além de
prolongar o ciclo da cultura.
Com relação à luminosidade, algodoeiro, por ser uma planta
C3 com alta taxa de fotorrespiração e arquitetura de folhas planofiliar,
necessita de 140 a 160 dias ensolarados (PASSOS, 1977). Entretanto,
com apenas 50% de luminosidade as variedades em uso produzem
pouco e, em condições inferiores a 40% de luminosidade~a produção
fica praticamente inviabilizada.
O algodoeiro silvestre é uma planta perene, de modo que,
durante a maior parte do seu ciclo, especialmente dos 50-60 dias até
110-120 dias, há diversos eventos ocorrendo ao mesmo tempo, como
crescimento vegetativo, aparecimento de gemas reprodutivas,
florescimento, crescimento e 1naturação de frutos. A produção final
satisfatória da planta depende do equilíbrio desses eventos. A fonte de
energia e nutrientes é a mesma para todos os processos, ocorrendo
durante boa parte do ciclo da planta forte competição interna pelos
produtos da fotossíntese. Assim, havendo queda excessiva de
estruturas reprodutivas, haverá crescimento vegetativo exacerbado,
aumentando o autossombreamento, que, por sua vez, causará maior
queda de estruturas reprodutivas (OOSTERHUIS, 2001 ; ROSOLEM,
2006, 2007).

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EXIGÊNCIAS
EDAFOCLIMÁTICAS 4
Ciro A. Rosolem 1

Introdução
Há várias revisões publicadas sobre o algodoeiro e suas
relações com o ambiente, abordando diferentes aspectos do
crescimento e desenvolvimento da planta, dentre as quais se destacam,
internacionalmente: Stewart (1979, 2010), Mauney (1980), Mauney e
Stewart (1986), Kerby e Keeley (1987), Hodges (1991), Oosterhuis
(1992), Kerby e Hake (1993), Stewart et al. (2010) e Oosterhuis
(2011). No Brasil, o tema também vem sendo explorado há algum
tempo: Ortolani e Silva (1965), Verdade (1965), Passos (1977), Souza
e Beltrão (2009), Medeiros et al. (2009), Rosolem (2007, 2011 , 2012)
e Campeio Jr. et al. (2012). Cada um dos trabalhos aprofunda
determinado aspecto do tema, mas, em geral, a ecofisiologia do
algodoeiro tem predominado, principalmente visando ao
desenvolvimento de técnicas de manejo. Neste capítulo pretende-se
repetir o mínimo possível do que já se encontra disponível,
principalmente na literatura nacional. O enfoque principal será dado às
limitações ambientais ao cultivo desta espécie, assunto que tem sido
menos explorado recentemente.

1
Engenheiro-Agrônomo e Professor Titular da r◄uculdudc de Ciências Agronómicas. Un1.:~p.
Botucatu, SP. E-mail: rosolem@fca.unesp.br
68 Rosa/em

Em 1965 foi escrito no Brasil o primeiro livro sobre a cultura


do algodão. Naquela época, Verdade ( 1965) escreveu sobre solos
adequado'- para o algodoeiro. Segundo o autor,
O relevo é um dos fatores mais importantes na implantação
desta malvácea, ex igindo a cu ltura, topografia desde plana
até ondulada. Possuindo raiz pivotante, o algodão requer
uma espessura razoável de solo para seu desenvolvimento.
A profundidade é, portanto, fator importante e, apesar do
ciclo curto, as raízes atingem, nas condições do Estado de
São Paulo, a profundidade de 1,3 a 2,5 m. O arejamento é
importante, pois a cultura não suporta solos encharcados.
Nos solos com drenagem interna impedida, quer por
camada impermeável ou lençol d 'água superficial, a fase
gasosa está praticamente ausente, o que os torna
desaconselháveis à cultura.

Com relação ao clima, Ortolani e Silva (1965) escreveram:


O algodoeiro é originário de regiões tropicais e subtropicais
de baixa pluviosidade e vegetação rala, onde apresenta-se
como arbusto de hábito perene. As formas anuais surgiram
depois, por aclimatação, quando o homem as levou para
altitudes mais altas. Estas formas, completando seu ciclo
em alguns meses, produzem antes que o frio venha
apresentar condições adversas ao seu cultivo; as formas
perenes não produziriam ou não sobreviveriam em tais
condições. Hoje, o algodoeiro é cultivado desde o paralelo
de 47 º N (URSS) até, aproximadamente, o paralelo de 30°
S (Argentina, África do Sul e Austrália). A existência dessa
extensa faixa implica nas mais diversas variações
climáticas e de solo. Porém, em qualquer região, o
algodoeiro requer, para produzir economicamente, um
período de 180 a 200 dias isentos de geadas ou nevadas,
predominantemente ensolarados, com média de
temperatura superior a 20 ºC e, precipitações
adequadamente distribuídas, num total de 500 a l .500 mm
anuais. Em virtude da não coincidência dessas condições
nas diversas zonas produtoras, dificilmente ocorre um mês,
no ano, em que não se plante ou não se colha algodão, no
globo.
Exigências ed{~joclimáticas 69

Quase 50 anos depois, embora o desenvolvimento tecnológico


lenha sido enonne, as exigências bás icas não mudaram. Hoje se
conhece mais, com mais detalhe, mas a planta é a mesma, assim como
suas exigências básicas. A ocorrência de veranicos e a distribuição
in·egular de chuvas têm causado problemas, principalmente na Bahia e
Mato Grosso. Por outro lado, principalmente em lavouras tardias, as
baixas temperaturas têm posto em risco não só a produtividade como a
qualidade do algodão produzido, pois temperaturas médias baixas e
noites frias restringem o crescimento, resultando em plantas com
menos ramos frutíferos.
O detalharnento dessas exigências, de acordo com as
condições das regiões algodoeiras do Brasil e com o ciclo da cultura,
será discutido neste capítulo.

Textura do solo
A partir de 1997 foi introduzido no Brasil um instrumento de
política agrícola do.governo federal, para efeito de crédito e segurança
agrícola: o Zoneamento de Risco Climático, que leva em conta as
chuvas de cada região, assim como os solos, a temperatura, o
coeficiente da cultura e a época de semeadura. Para o cálculo do risco
climático, admite-se o cultivo do algodoeiro em solos contendo acima
de 100 g kg" 1 de argila, desde que tenham profundidade maior de 0,50 m.
Entretanto, se possível, deve ser evitado o cultivo de algodão em solos
com menos de 150 g kg" 1 de argila.
Além de sua baixa fertilidade, comum em regiões tropicais
úmidas, os solos arenosos apresentam baixa capacidade de retenção de
água e, portanto, pouca água disponível.
Enquanto no solo arenoso a evapotranspiração real chega a
menos de 10% da evapotranspiração potencial, no solo argiloso isso
demora o dobro do tempo. Assim, em solos arenosos o risco climático
aumenta muito. Embora solos mais leves tenham textura mais
favorável ao crescimento radicular, o que, até certo ponto, pode
melhorar a aquisição de água pelo algodoeiro, seu manejo exige
cuidados especiais.
Outro problema com solos arenosos, principalmente os
Latossolos de textura arenosa e média da Bahia, quando submetidos a
70 Rosolem

preparo anual com arado e, ou, grade, ou quando recebem calagem


que eleve a saturação por bases aci ma de 60%, com pH de água de 6,5
ou maior, é que podem apresentar diminuição na infiltração de água.
Esse aspecto tem sido geralmente negligenciado, m as pode ser
importante na cultura do algodoeiro. Ocorre que, nessas condições,
além da pulverização física do solo, há mudança no complexo de
cargas que resulta em elevada dispersão de argilas. Isso causa
rearranjo de partículas, que acabam se acumulando em camadas no
perfil do solo, criando zonas de baixa condutividade hidráulica e alta
resistência à penetração. A alta resistência à penetração resulta em
menor profundidade do sistema radicular, gerando uma
superpopulação de raízes nas camadas superficiais do solo. O
decréscimo da permeabilidade do perfil do solo provoca nele rápido
encl_1arcamento das camadas superficiais, e, consequentemente, menor
capacidade de armazenamento de água .

Aeração do solo
O algodoeiro responde a mudanças no ar do solo. Embora seja
relativamente resistente a níveis de dióxido de carbono que
normalmente afetam outras plantas, é extremamente sensível a
mudanças na concentração de oxigênio. A atmosfera contém cerca de
20% de oxigênio e menos de O, 1% de dióxido de carbono, mas as
proporções relativas diferem no ar do solo, onde os níveis de oxigênio
diminuem e de dióxido carbono podem aumentar para 5%. Raízes de
algodão podem absorver oxigênio diretmnente a partir do ar do solo.
Quando a umidade do solo está na capacidade de campo ou abaixo, o
ar ocupa os espaços porosos, mas, se o solo estiver encharcado, os
poros estarão cheios de água.
Dessa forma, em razão da respiração radicular, considerando
que a difusão de gases é muito menor na água que no ar, en1 solos
encharcados haverá falta de oxigênio às raízes, que terão, portanto,
sua respiração prej udicada, be.m con10 seu crescimento. Solos
encharcados podem conter 1nenos que 2% de oxigênio, e a e longação
radicular é reduzida quando o sistema radicular é exposto a uma
atmosfera com 5% de oxigênio, mesmo por curtos períodos. Se
exposta a atmosfera sem oxigênio por três horas, a raiz morre, o que
to nia o algodoeiro muito sensíve l ao encharcarnento do solo, mesmo
Exigências edafoclimáticas 71

que temporário. Em condição de excesso de água, falta oxigênio, e o


sistema radicular do algodoeiro é particularmente sensível à falta de
oxigênio. Nesta condição, foi verificado que havia redução na
atividade da redutase de nitrato, causando deficiência de N,
diminuição da transpiração, da fotossíntese, do cresci,:nento radicular
e, finalmente, menor produtividade (SOUZA; BELTRAO, 1999).

Compactação do solo
Com relação à compactação do solo, o algodoeiro é uma
planta particularmente sensível. É, por exemplo, mais sensível que o
milho ou mesmo que a soja, como pode ser visto na Figura 4.1. Pela
figura, o milho tem maior capacidade de penetração em camadas de
solo compactadas. A seguir, vem a soja e depois o algodão. Observa-
se, ainda, na figura que, quando o solo tem resistência à penetração de
2 ,0 MPa, não há mais crescimento radicular do algodoeiro, mas o
milho ainda cresce.
Em consequência da restrição ao crescimento radicular
ocorrem modificações morfológicas, como o aumento do diâmetro e a
formação de raízes tortuosas. Há estudos sobre o efeito da
compactação em várias culturas, a exemplo de soja, milho e trigo; e o
crescimento da parte aérea do algodão se mostrou mais sensível à
compactação do solo do que a soja, milho e Brachiaria brizantha,
conforme Figura 4.2. Na figura, nota-se que o algodoeiro teve, para o
solo em questão, seu crescimento da parte aérea reduzido a 80% do
máximo, com densidade do solo de 1,3 MPa, ao passo que as outras
espécies não chegaram a redução tão alta, mesmo com densidade do
solo de 1,5 MPa. A resistência à penetração de 2,0 MPa é considerada
crítica para o crescimento da 1naioria das plantas cultivadas, mas
existe relato de que pode ocorrer crescimento radicular do algodoeiro
até a resistência à penetração de 2,45 Mpa; além disso, foran1
encontradas raízes dessa cultura abaixo de camada com resistência de
3,0, podendo haver diferenças entre cultivares. Recentemente foi
demonstrado, em cinco cultivares de algodão (FMT 70 l, FtvlT 705,
FMT 707, FMX 966 LL e FMX 951 LL), que resistências à
penetração da orden1 de 0,92 a 1,06 MPa reduzem a 50% o
crescimento radicular do algodoeiro, mas resistênc ia do solo a
penetração de 1,92 MPa não impede totalmente o crescimento .
72 Roso/em

("') 0.9
1

E
o 0.8
E - · Algodão
<-: o.7 - Soja
o
fü 0.6 ···· Milho
E
·g_ 0.5
E
8 0.4
Q)

~ 0.3
-o
:2 (/)
0.2
e
a, 0.1
a
o
o 0.4 0.8 1.2 1.6 2
Resistência à penetração, MPa

Figura 4.1 - Densidade de comprimento radicular da soja, milho e


algodão em função da resistência do solo à penetração.

uo uo
100 - 100
90
90 so
ao 70
70 60 l
$0
60
JO
50
';f. 30

t JO
lO
20
10

~
1,0 1,1 1,1 1,l 1,4 1,5 1,6 0,9 1,0 1,1 1,2 l,J ~ 1,5
º' 1,6

! 110
100
90
ao
110
100
90
80
70
70 60
60 50
40
50 30

'°lO 20
10
1,5 1,11
º' 1,0 1,1 1,2 l,l 1,4
DENSIDADE DO SOLO, Mi: m·3
0,9 1,0 1,1 l,2 l ,J l,J 1,5 1,,

Figura 4.2 - Altura de plantas de algodão, B. brizanta, 1nilho e soja,


em função da co1npactação do solo.
Fonte: SILVA et ai., 2006.
Exigências ed({{oc/imáticas 73

O perfil do so lo pode estar compactado de forma mais ou


menos homogênea, quando for o caso de compactação por tráfego de
máquinas. Nessa situação todo o crescimento será prejudicado .
Entretanto, mais comum é o aparecimento de camadas compactadas
entre I O e 20 cm de profundidad e no perfil, resultado do uso de
implementos sempre à mesma profundidade ou acúmulo de argila
dispersa. Assim, mesmo que as raízes encontrem regiões de menor
resistência, ou bioporos pelos quais consigam atravessar a camada
mais densa, o algodoeiro vai apresentar sintomas semelhantes aos que
aparecem na Figura 4.3.
Na presença de uma camada compactada em subsuperficie
ocorre concentração das raízes em camadas superficiais, resultando em
superexploração dessa região do solo. Em laboratório, numa simulação
usando tubos de PVC, foi demonstrado que, frequentemente, na presença
de "pé de grade" ou camada compactada em subsuperficie o
comprimento total de raízes não é modificado (Figura 4.4), mas sim a
distribuição do sistema radicular no perfil do solo, resultando então na
superexploração da camada mais superficial. Na ocorrência de chuvas,
mesmo que não muito pesadas, ern função da menor condutividade
hidráulica da camada compactada, a camada superficial fica logo
encharcada, prejudicando a aeração do solo. Por outro lado, em poucos
dias, como há muitas raízes, o solo secará rapidamente.

Figura 4.3 - Raízes de algodoeiro confinadas no horizonte mais


superficial em função ele camada de solo compactada
em subsuperfície .
74

O algodoeiro é muito se ns ível à falta de oxigênio no solo, ou


anox ia, tendo seu desenvo lvimento e produção prejudicados nessa
condição. A falta de oxigênio no solo por três ou quatro dias, na época
do florescimento, já pode resultar em diminuição no número de maçãs
por planta (SOUZA et ai., 1997). Por outro lado, embora o algodoeiro
não seja muito sensível à seca, a falta de água pode modificar seu
crescimento. Dessa forma, mesmo qw.: uma camada compactada não
resulte em menor sistema radicular, a compactação em subsuperficie,
ou mesmo uma camada de impedimento química, fará com que o
algodoeiro fique em estresse por muito tempo, tendo assim a
produtividade prejudicada.
Rnlz supcrficinl

SECA
SECA MUITO
Rt\PJDO
MUITO
TEMPO EM

CH UVA
ENCHARCA MUlTO
RÁPIDO
V ESTRESSE

Figura 4.4 - Simulação de concentração radicular do algodoeiro na


camada mais superficial do solo.

Fertilidade do solo
Para que ocorra crescimento adequado do sistema radicular do
algodoeiro é fundamenta l que não existam baiTeiras químicas ao
crescimento. Embora todos os nuh·ientes tenham algum efeito no
crescimento radicular, a maioria pode chegar aos pontos de
crescimento através do transporte interno na planta. Assim, podem ser
absorvidos por uma região da raiz e ser transportados aos pontos de
crescimento. A exceção é o cálcio, que só se moviinenta no sentido da
corrente transpiratória. Desse modo, há necessidade de Ca no local
onde a raiz está crescendo.
Exigências edafoclimáticas 75

Por outro lado, o algodoeiro é uma planta sensível à toxidez


de AI, de modo que não deve haver AI disponível no perfil do solo. Há
muito tempo foi demonstrado que é necessária a correção do perfil,
mantendo-o livre de AI tóxico, pelo menos até 60 cm de profundidade.
De outro modo não se conseguem altas produtividades de algodão.
Um exemplo do efeito dramático do AI no crescimento radicular do
algodoeiro se encontra na Figura 4.5. No caso, a primeira camada do
solo (20 cm) foi corrigida adequadamente, enquanto o subsolo foi
tratado com doses de fosfogesso , de 0,0 a 12,0 vezes o teor de argila
do solo, visando diminuir a saturação por AI e criar condições para um
bom crescimento radicular. É claro, pela figura, que só houve
crescimento radicular quando a saturação por Al (valor m) foi menor
que 15 %, o que, no caso, requereu a aplicação de gesso na dose de
6,0 vezes o teor de argila, dose maior que a normalmente
recomendada.
Uma forma prática de se verificar a necessidade de correção
do subsolo, além da saturação por Al, que deve ser menor que 15%, é
a saturação do solo por bases, que se recomenda que seja, no mínimo
de 45 %.
Embora se tenha comentado muito a respeito do
enriquecimento do perfil em fósforo, ou mesmo boro, para assegurar o
bom crescimento radicular, não há resultados experimentais que
permitam fazer recomendação neste sentido.

DOSE .DE GESSO - X TEOR DE ARGILA

Figura 4.5 - Resposta do algodoeiro à aplicação de fosfogesso ao


subso lo e à saturação por AI.
76 Rosofem

,
Agua
Para a obtenção de altas produtividades de algodão, é
necessária uma quantidade de água da ordem de 700 m1n durante o
ciclo da cu ltura (GRIMES; EL-ZIK, 1990). O uso de água pelas
plantas depende da demanda evaporativa, ou seja, do déficit de
pressão de vapor da atmosfera e da evaporanspiração. A
evapotranspiração tem dois componentes: a evaponção propriamente
dita, isto é, a perda de água diretamente do solo, e a transpiração da
planta, que vai depender da área foliar. Assim, logo após uma boa
chuva, o solo úmido perde água em quantidade igual à demanda
evaporativa. A duração dessa perda é diferente conforme a textura do
solo (Figura 4.6). Isso é importante quando as plantas estão ainda
pequenas, deixando exposta a maior parte da superficie do solo. No
caso do algodoeiro, embora o Kc seja baixo no início do ciclo, a
exigência de água da cultura pode ser grande, pois a evaporação é
grande. Isso é mais crítico em solos mais arenosos, como pode ser
visto na Figura 4.6. Uma ferramenta importante para amenizar o efeito
seria a manutenção de palha na superficie do solo.
100

· - • · · · · · -· -· · · · · · · · · · · • · iftgilo·f õ · · · · · - · - · - - · - - · - · - · · - - · -- - · · ·

o
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Dias após a irrigação

Figura 4.6 - Perdas de água por solo úmido nu, e1n função do tempo
após a irrigação e da textura.
:..... '-!ê11cias edr{foc!i11 ·-í1icas 77

A transpiração do algodoeiro logo após a emergência é muito


baixa, principalmente devido à pequena área foliar (Figura 4.7). Com
o aparecimento do primeiro botão 'tté a primeira flor, a exigência de
água passa de menos de 1,0 mm por u ª para qua~e 4,0 mm por dia. A
falta de água nesse período fará com que a planta fique menor do que
deveria, com menos posições parn o desenvolvimento de flores e
maçãs, ou seja, ela estaciona seu cresc· !ento. Se a seca não for muito
severa, poderá haver recuperação.
A exigência de água não e unifonne durante o ciclo, bem
como a falta desta terá efeitos dif rent.:s, dependendo da fase em que
ocorre (Tabela 4. 1) A fase em que o algodoeiro é mais sensível à falta
de água, que pode resultar em perda severa de produtividade e
qualidade, compreende o primeiro mês após o aparecimento da
primeira maçã. É interessante notar que esta não é a fase em que a
exigência de água é máxima, o que só vai ocorrer com o máximo
índice de área foliar (Figura 4.7), que acontecerá próximo à abertura
do primeiro capulho.
4 1,2

-IAF 1

~
... 3 ---------- -- -----------------
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.!::? 1
"C
e 0,2
,._

o o
o 30 60 90 120 150 180
Idade da planta

Figura 4.7 - Crescimento do algodoeiro e uso de água. IAF: índice de


área foliar; ETr/ETp: relação entre a evapotranspiração
real e evapotranspiração potencial.
Fonte: WRONA et ai., 1999.
78 Rosolem

Tabela 4.1 - Fases de desenvolvimento do algodoeiro em que a planta


é mais sensível à falta de água, com o respectivo prej uízo
esperado

Estádio do Retenção Qualidade de


Produção
Fruto de Frutos Fibra

Pré-botão Mínimo Mínimo Mínimo

Perda, poucas maçãs.


Botões Moderado Mínimo
maçãs pequenas

Perda, fibra curta,


l º mes das maçãs Severo Severo
micronaire alto
2° mes das maçãs Mínimo Moderado Perda, fibra imatura

Abertura de
Nenhum Mínimo Maturidade apressada
capulhos

A partir da abertura da primeira flor, até a abertura do


primeiro capulho, quando a planta atinge o máximo índice de área
foliar (Figura 4.7), a exigência de água passa de 4,0 para mais de
8,0 mm por dia, chegando a ser igual à evapotranspiração potencial.
Com a abertura do primeiro capulho, a exigência de água cai
rapidamente. Uma lavoura exposta a essas condições poderá até se
recuperar, dependendo da época de semeadura e do cultivar, ou seja,
se houver condição de água suficiente e temperatura adequada, ao
final do ciclo, para o desenvolv imento de um ponteiro vigoroso e
produtivo. Evidentemente o ciclo será alongado e o custo maior, além
da possibilidade de se obter produto de pior qualidade em função do
atraso no ciclo.
Por outro lado, o excesso de água também é prejudicial. Há
relatos de que, em algumas regiões do mundo, há u1na correlação
negativa entre produtividade e quantidade de chuvas após o
aparecimento do primeiro capulho. Na verdade, quando da abertura
dos capulhos, seria desejável que chovesse pouco, ou até não
chovesse, para que fosse preservada a qualidade das fibras.
Exigências edc{(Oclimâticas 79

Luz
O algodoeiro, assim como outras espécies de mecanismo de
fixação de carbono C3, possui a enzima de carboxilação de baixa
afinidade com CO2 , co1n elevado ponto de compensação, entre 60 e
120 µL L-1 CO 2 (KRIZEK, 1986).
Sob condições de baixa luminosidade, causada pelo uso de
altas populações de plantas ou pela alta nebulosidade, há redução na
produção de carboidratos e aumento na relação etileno/açúcares,
favorecendo a abscisão de estruturas reprodutivas. Sob o aspecto de
resposta à luminosidade, o ponto de sah1ração lumínica do algodoeiro
é mais baixo que. o de plantas com ciclo C4, como o sorgo. Pode ser
visto na Figura 4.8 que a fotossíntese do algodoeiro é máxima com
radiação da ordem de 1.000 a 1.200 µmol m·2 s· 1, enquanto o sorgo
não atingiu o máximo co1n radiação acima de 2.000 µmol m·2 s· 1• Para
se ter uma ideia, em Paranapanema-SP, foi medida a radiação
fotossinteticamente ativa em um dia claro, chegando-se ao valor de
1.000 µmol m·2 s· 1 (ECHER, 2012), ou seja, um valor suficiente para
que o algodoeiro atinja a máxima taxa de fotossíntese líquida.

-Sorgo
60
~ -Algodão
~
o,.. 40
u
00
E!
o"
E? 20
~S
til
til
.so
r.x..
o
O 400 800 1.200 1.600 2.000 2.400
Radiação fotossintética, µmol m-2 s·1
Figura 4.8 - Fotossíntese líquida comparada do sorgo granífero e do
algodoeiro, em fünção da radiação fotossintética ativa
recebida.
80 Rosolem

Quando foi instalada uma tela sombrite 50% sobre a lavoura


de algodão, a radiação fotossintética ativa foi diminuída para pouco
mais de 600 µmol m-2 s-1, o que resultou em redução de
aproximadamente 27% na fotossíntese (ECHER, 2012). Isso mostra
como a simples passagem de uma nuvem ou a presença de nevoeiro
ou dias nublados podem prejudicar a fixação de carbono da atmosfera
pelo algodoeiro, resultando em queda de estruturas, pior qualidade e
produtividade. Transportando-se esses valores para a Figura 4 .8~ com
600 µmol m-2 s- 1, o algodoeiro teria fotossíntese de pouco menos que
30, enquanto o sorgo ainda fixaria cerca de 36 mg C02 dm- 2 1rr- 1,
sendo portanto o prejuízo bem menor no caso do sorgo.
Como nas maiores regiões produtoras do Brasil o algodoeiro é
cultivado sem irrigação, porque as chuvas são abundantes, a presença
de nuvens invariavelmente causam algum prejuízo, ocasionando
queda de estruturas frutíferas. Um exemplo encontra-se na Figura 4.8,
que mostra a relação entre chuvas ocorridas durante o primeiro mês de
florescimento do algodoeiro. Curiosamente esta é a fase mais sensível
à seca (Figura 4.9). Neste caso, a produtividade foi máxima quando
choveu de 280 a 360 mm. Quando choveu menos que isso no n1ês de
fevereiro, a produtividade foi prejudicada, provavelmente por seca.
Mas, quando choveu muito, também houve prejuízo, provavelmente
em função da falta de luz suficiente.
Exigências edafoclimáticas 81

Pura algoc.l.1o semeado cm dezembro


300

100

y = -0.0011 x1 + 0,5696x + 222,33


R: = 0,60
o ..____ .1..-_ _......__ __.___ __.___ __.___ ___.__ ___,

o 200 400 600


Chuva em fevereiro
Figura 4.9 - Correlação entre chuvas ocorridas durante o mês de
fevereiro e produtividade de algodão de lavouras
semeadas em dezembro, em Chapadão do Sul - MS.

Temperatura
O algodoeiro é bastante sensível à temperatura. O regime
térmico de uma região determina a possibilidade de cultivo e o ciclo
do algodoeiro, como pode ser visto na Tabela 4.2. Para cada região
algodoeira o ciclo é um pouco diferente, em função das diferentes
temperaturas médias. Particularmente para maturação, abertura de
capulhos e qualidade de fibra, não só a temperatura média, mas
também a mínima tem importância.
00
N

Tabela 4.2 - Número de graus-dia e dias calculados para o ciclo do algodoeiro em três regiões algodoeiras do
Brasil, considerando-se as médias de temperatura dos últimos 30 anos, para semeadura em 15 de
dezembro e emergência em 21 de dezembro
MT BA
Estádio Graus-Dias 1 MT Sudeste Meio Norte Oeste
ºC
360
27O ------------------------------- d ias ------- --------------------------
Emergência ao primeiro botão 31 34 36
Primeiro botão à primeira flor 22 26 27
Primeira flor ao primeiro capulho 620 58 67 63
Emergência ao primeiro capulho 1.350 115 135 133
Flor branca no quinto nó à coll1eíta 620 64 64 69
Emergência à colheita 1.970 179 199 202
Fonte: ROSOLEM, 2011).

~
o,.,,
--;:
C)
('t
Exigências edtf oclimâticas 83

De modo geral, pode-se dizer que, para a fase germinação e


emergência, a temperatura média ótima é de 32 ºC, com mínima de 18 ºC
e máxi ma de 34 ºC. Para o crescimento vegetativo, o ótimo está entre
25 e 30 ºC, com mínimo de 15 ºC e máximo entre 33 e 35 ºC. Durante
a fase de crescimento a planta suporta até duas ou três horas do dia
acima de 40 ºC, dependendo da carga pendente. Ainda durante a fase
de enchimento das maçãs, com crescimento vegetativo concom itante,
o algodoeiro cresce muito pouco em altura quando as temperaturas
médias são menores que 25 ºC. Assim, deve-se estar atento a isso no
planejamento e uso de reguladores de crescimento nessa fase. Para a
fase de frutificação, as temperaturas devem ser um pouco mais baixas,
da ordem de 22 a 26 ºC.
Temperaturas noturnas abaixo de 15 ºC logo após a emergência
das plantas vão retardar o aparecimento do primeiro ramo frutífero,
retardando o ciclo da planta. Entretanto, temperah1ras baixas são mais
prejudiciais na época de maturação das fibras. Por exemplo, de acordo
com Gipson e Ray (1970), temperaturas noturnas baixas diminuem
tanto a taxa de crescimento da fibra quanto a taxa de deposição de
celulose (Figura 4.1 O).

120 CI Comprimento
■ Peso
100
■Acúmulo de celulose
80

60

40

20
o....,___
10 15
20 25
Temperatura média {°C)
Figura 4.1O - Variações no comprimento, peso e no acúmulo de
celulose em fibras de algodão em função da
temperatura média.
Fonte: GIPSON; RAY, 1970.
84 Rosolem

Como pode ser visto na Figura 4.1 1, temperaturas abaixo de


20 ºC prejudicam tanto o comprimento quanto o peso da fibra. Isso
ocorre porque a taxa de acúmulo de celulose é bastante prejudicada.
Ainda com relação à qualidade da fibra, não só a temperatura
média é importante, como também as temperaturas noturnas, pois
temperaturas baixas durante a noite alteram o padrão de deposição
concêntrica de celulose que deve ocorrer no interior da fibra
(HAIGLER et al., 1990), tomando-as, além de imaturas, menos
resistentes. Temperaturas noturnas abaixo de 17,5 ºC podem levar à
obtenção de fibras com micronaire muito baixo (Figura 4.11 ). Esse
fator, junto com a disponibilidade de água, é primordial na definição
da época de semeadura, principalmente do algodão tardio.
5

4,5

r'
.::;
~ 4
e
~
3,5

3 _ _....__.,___..___.,___..___..___..______J
11 15 19 23 27
Tcmpcmrura noturna (º C)
Figura 4.11 - Efeito da temperatura noturna na qualidade da fibra do
algodão.

Em função da importância da temperatura na definição da época


de semeadura com menor risco, é apresentado em seguida um resumo das
considerações de Rosolem (2011 )~ para algumas regiões algodoeiras.

Chapadão do Sul
Para uma suposta semeadura em 15 de janeiro, os th1tos
começariam a se desenvolver a paitir de meados de março. Os frutos do
quarto e, principalmente, do quinto ramo estariam crescendo, e sua
maturação se daria em época com temperaturas baixas, aumentando o
Exigências edafoclimáticas 85

risco de diminuição no micronaire. Com semeaduras em fevereiro,


aumenta-se bastante o risco de perdas de produtividade e também de
qualidade do algodão nesta região. Os frutos teriam boa parte de seu
crescimento e, principalmente, maturação em época com temperaturas
noturnas muito baixas.

Oeste da Bahia
Nesta região, em anos com temperaturas próximas das médias
históricas, não se espera limitação no desenvolvimento, crescimento e
maturação das fibras de algodão, mesmo com semeaduras tardias, no mês
de fevereiro. Deve-se ainda ter em conta que o regime pluviométrico
desta região é muito irregular, tanto do ponto de vista de quantidade
quanto do ponto de vista de consistência em anos diferentes, o que
multiplica o risco de semeaduras tardias de algodão. Por outro lado,
apresenta-se uma oportunidade interessante para o cultivo sob irrigação.

Primavera do Leste-MT
Em Primavera do Leste-MT, de modo geral, considerando-se
as médias históricas de precipitação e de temperatura, não haveria
grandes limitações ao cultivo do algodoeiro até com semeaduras em
início de fevereiro, uma vez que haveria temperatura e água suficiente.
No caso de semeaduras em fevereiro, pelo menos os frutos dos quatro
primeiros ramos se desenvolverão em condições adequadas, com
baixo risco. A partir daí, poderão oconer temperaturas baixas e,
talvez, déficit hídrico.

Rio Verde-GO
A partir de final de abril as temperaturas noturnas poderiam
ser limitantes para alguns cultivares de algodoeiro. Mesmo com
semeaduras de 15 de dezembro, os fiutos dos ramos reprodutivos
acima de 1O já sofrerão os efeitos de temperaturas noturnas baixas,
havendo, portanto, certo risco de perda de qualidade. No caso de
semeaduras em 15 de janeiro, as temperaturas baixas afetarão
sobremaneira a deposição de celulose, o que pode, em certos anos,
comprometer a qualidade do algodão colhido e talvez até a
86 Rosolem

produtividade, uma vez que poderiam ser produzidas muitas fibras


mais curtas e imaturas. Semeaduras ma is tardias, a partir de primeiro
de fevereiro, têm como principal fator limitante a ocorrência de
temperaturas noturnas baixas. O risco de produção de fibras curtas,
com alta desuniform idade e baixo micronaire é muito alto, tomando
temerária a recomendação de algodão nesta época nesta região.

E o futuro?
Tem havido muita discussão a respeito do aquecimento
global, desde sua própria existência e possíveis causas até como
conviver com as mudanças previstas. Para as previsões são usados
diversos modelos matemáticos, aplicados em determinados cenários
mais ou menos pessimistas. No Brasil, foi feito um estudo (PINTO et
al., 2008), em que se estimou o que aconteceria com diversas culturas,
até o ano de 2070, inclusive para o algodão. Em seguida, é
apresentado um resumo das previsões para a cultura do algodão no
Brasil até o ano de 2050. Na Figura 4.12 são apresentados os mapas
com as regiões de cultivo indicadas no ano de 2010 e a modificação
indicada pelo modelo, em 2050.
A B

ir-.~8.~~
~'. ..~~ ~
'#~
, \ ~

0'-Pa
• lnipa

D ira,,a • ~
• Á,~ úó.lldo


Figura 4.12 - Áreas aptas e produtoras de algodão, aptas, inaptas,
inaptas e produtoras nos anos 20 l O (A) e previstas para
2050 (B).
Fonte: PLNTO ct ai., 2008.
Exigências edc{(oclimáticas 87

Segundo os autores, com o aquecimento global, a cultura deve


sofrer redução nas áreas consideradas de baixo risco, principalmente
no agreste e nas regiões de ceITado nordestino, compreendidas entre o
sul do Maranhão, sul do Piauí e oeste da Bahia. A redução de área de
baixo risco começa cerca de 11 % menor em 2020 e fica por volta de
14% menor em 2050. O interessante é que essa redução é p~evista
justamente nas regiões de crescimento mais recente da cotonicultura.
Como se vê, as consequências para a cultura do algodão não devem
ser muito drásticas, como previsto para outras culturas. Isso ocorre
porque, com relação à principal variável, temperaturas altas, o clima
nas regiões cotonicultoras do Brasil, em sua maior parte, não oferece
grandes restrições, a não ser em regiões de baixa altitude.

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Exigências cdafoc/imáticas 89

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Cotton water use. Cotton Physiology Today, v. 1O, 1999.
PREPARO DO SOLO E
5 PLANTIO

Eva/do Kazushi Takizawa1

Introdução
O sistema agrícola de produção do algodão no Brasil sofreu
profundas alterações com a migração das áreas de cultivo para as
regiões da vegetação de ceITado, ressaltando-se que a aplicação de
técnicas de manejo avançadas e a presença de profissionais
capacitados com formação na área agrícola capazes de implantar esses
modelos fizeram a diferença.
Para atender ao dinamismo do trabalho rural e à constante
necessidade de aprendizagem, as informações dispersas caoticamente
devem ser organizadas em categorias e adaptadas para as condições
próprias de cada unidade agrícola.
Neste capítulo, o preparo de solo e o plantio serão tratado para
apoiar as tomadas de decisão requeridas por todos no momento do
planejamento da i.mplantação da cultura do algodão, e o ambiente do
cerrado brasileiro será o cenário utilizado como modelo para iniciar os
entendimentos do Sistema Agrícola.
A gestão dos solos não possui um processo único, e a
condição da área impõe um estudo para detemünar sua metodologia;
isso considera a classe do solo, as culturas anteriores, posteriores e
adjacentes ao local, os problemas fitossanitários, o sistema de cultivo,
o clima, a infraestrutura e os recursos físicos e humanos disponíveis.

1
Engenheiro-Agrônomo e Consultor da CERES Consultoria Agronõmicnt-.
E-mail : eva ldo@tcrcsconsultoria.com.br
Preparo do solo e plantio 91

Essa exigência da instrução multidisciplinar requer


profissionais capacitados para garantir que as melhores práticas de
manejo em direção à sustentabilidade progridam em toda área agrícola
do Brasil.

Objetivos do preparo de solo


Identificar os objetivos do preparo de solo antes de realizar as
atividades parece óbvio, mas nem sempre há clareza de suas reais
necessidades, principalmente quando houver movimentação do solo.
O solo deve oferecer à planta quantidade adequada de água,
oxigênio, nutrientes, se1n restrição de pragas, plantas daninhas e
doenças, e suporte para seu estabelecimento, devendo ser livre dos
riscos de erosão; caso esta condição não ocorra, este solo necessita de
preparo. As causas dos problemas devem ser estudadas em busca das
soluções; os sinais e sintomas apresentados pela planta e pelo solo
(Figura 5.1) apontam o diagnóstico do problema, com o qual é
possível dete1minar os objetivos.

Figura 5.1 - Sinais de compactação apresentado pelo to1Tão: cantos


"cortantes", raízes horizontais achatadas (esquerda) e
sistema radicular pobre identificando "pé de grade"
(direita).

Os critérios para correção dos atributos químicos podem ser


obtidos em diversas publicações, e os parâmetros para correção dos
componentes da acidez do solo e dos nutrientes seguem sem diferença
de outras culturas. O efeito do preparo do solo sobre suas propriedades
92 Takizawa

biológicas é pouco conhecido; entretanto, é conhecida a importância


das micorrizas para melhor absorção de fósforo e micronutrientes pelo
algodoeiro. A distinção e ordenação desses fatos dão clareza ao
propósito do preparo do solo, pois se trata de uma operação onerosa,
em que a relação custo/beneficio influencia o resultado final da
cotonicultura.
Entre as razões do preparo do solo, destacam-se o incremento
da infiltração de água e a capacidade de armazenagem de água no
solo; drenagem da água (Figura 5.2); captura da água da chuva;
redução da erosão e escorrimento ; sistematização e aeração do solo;
remoção das crostas; controle de plan tas dani nhas, pragas e doenças;
incorporação de corretivos, fertili zantes e defensivos agrícolas;
promoção do crescimento das raízes; e redução dos efeitos da
compactação.

Figura 5.2 - Solo demonstrando problema de drenagem e plântulas


com mela (Thmzatephorus cucumeris).

A compreensão dos objetivos de preparo o solo penni te


nortear as ações, evitando atividades desnecessárias, e investir os
Preparo do solo e plantio 93

esforços no trabalho organizado e executado no tempo adequado, pois


efetuar o preparo do solo s ignifica realizá-lo na época hábil para os
efeitos desejados se concretizarem.
Todos os objetivos de preparo do solo devem ser desejados,
porém a análise loca l determinará quais problemas são urgentes e os
passos apropriados para garantir as soluções das carências específicas
do algodoeiro.

Fatores a serem considerados


• Sistema de gestão do solo: preparo convencional com
movimentação, cultivo mínimo, cobertura vegetal e plantio direto
exigem processos próprios para atenderem a seus objetivos.
• Sistema de cultivo do algodão: algodão primeira safra, algodão
segunda safra, algodão sequeiro ou irrigado, algodão em
espaçamento largo 1 algodão e1n espaçamento estreito (adensado),
algodão para colheita com fusos ou picker e algodão para colheita
escova ou pente ou stripper.
• Época de semeadura: início, 1neado e final do período ideal para
semeadura.

Manejo do so lo
As combinações desses fatores geram diversos sistemas de
produção do algodão e cada uma pode resultar numa fonna específica
de preparo de solo. Assim, como salientado anterio1mente, não há um
preparo de solo único, a árvore decisória (diagrama que descreve as
principais interações entre decisões e possibilidades com todos os
atos, eventos e resultados possíveis, Figura 5.3) pode ser uma
ferramenta para organizar as ações no preparo de solo.
\O
~

preparo 1 Jl Prcparo JtPr•paro Jl Prcparo JtPrcparo 5 Jl Prcp:o 6 J( Prcparo JlPrcparo


0
2
0
3
0
4
0 0
7
0
8 J(Prcparo •
0
l
) "'•p aro 1~ ( Prcp j
0
11]

3ª. época 2ª. época 3s_ época

Sistema Cultivo Plantio


Convencional Mínimo Direto

Questão:
Preparo de solo

Figura 5.3 - Exemplo de árvore decisória para direcionamento das ações no preparo de solo.
~
....
;,,-
N
~

~
Preparo do solo e plantio 95

Quanto aos tipos de manejo de solo, é comum criar ideologias


opostas entre o sistema convencional e o plantio direto e considerar
que o primeiro se trata de um processo degradante e o segundo, de um
processo conservacionista do solo. Entretanto, é errôneo pensar que
um preparo de solo convencional executado com base nas boas
práticas agronômicas possa provocar danos ao solo. Adicionalmente,
esse sistema pode ser exigido para solucionar problemas decorrentes
de outros sistemas considerados mais ecológicos, como plantio direto
e cultivo mínimo (Figura 5.4).

Figura 5.4 - Escorrimento de água e erosão (esquerda) em sistema de


cultivo mínimo se1n cobertura vegetal e semeadura em
desnível; e trator com terraceador para conter as águas da
chuva, operação drástica de movimentação do solo
(direita).

Qualquer sistema de cultivo efetuado de maneira inapropriada


pode ser prejudicial, seja por questões química, física ou biológica;
quando isso ocorre, os custos para correção podem ser elevados
(Figura 5.4).
As vantagens de cada sistema de preparo do solo podem ser
usufruídas harmonicamente quando submetido a uma análise
agronômica das necessidades e não há razões para polarizar ideias,
acreditando-se que o plantio direto é bom e o convencional é 1uiin e
considerando o espectro de variação ambiental em um país continental
como o Brasil. Cada sistema possui suas vantagens e desvantagens;
dessa maneira, o acompanhamento da evolução e dinâmica dos solos é
o ponto-chave para evitar que movimentações de solo sejam
Takizawa
96

executadas desnecessariamente o u em momentos inadequados, sem


propiciar os efeitos desejados.
Os principais problemas do plantio direto podem ocorrer com
um mau preparo de solo convencional. Para alicerçar o plantio direto,
principalmente no ambiente de solos do cerrado, o preparo
convencional com movimentação de solo com arado, grade aradora,
grades intermediárias, grades niveladoras, escarificadores ou
subsoladores foram os responsáveis pela correção dos solos com
vários fatores restritivos (Figura 5 .5).

lEGENDA
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:::::::=:::~.-::=.=:=:..~.....
Figura 5,5 - Potencialidade agrícola.
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Fonte: h11p://www2.fct.uncsp.br/ncra/a1las/mnpns/conl'- tcrritorinl/polcncinlida(e_ . · 1a_ 1bgc
· _ b.Jpg
.
Preparo do solo e plantio 97

Cronograma de atividades
As características de cada classe de solo (Figura 5.6) impõem
condições diferentes para o preparo de solo, de forma que a melhor
época esteja vinculada ao regime meteorológico (Figura 5.7), em que
as chuvas determinam o período com umidade no solo; o torrão seja
friável; as pragas e as plantas daninhas estejam em condições de
controle; e todas as operações possam ser executadas.

LEGENDA
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ATLAS OA QUESTAO AGRARIA BRASILEIAA

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Figura 5.6 - Solos.


Fonte: http://www2. fct. unesp.br/ ncra/atlas/ma pas/con f_ ccrri torial/solos_ b.jpg
Preparo do solo e plantio 99

O melhor momento para o preparo do solo nem sempre


converge para os objetivos do agricultor. Abrir mão da "safrinha"
em favor do preparo do solo é pouco comum ; não realizar o
preparo do solo no tempo correto de forma agronômica terá seus
reflexos como a impossibilidade da destn1ição adequada dos restos
culturais (Figura 5.8).

Figura 5.8 - Condições de baixa umidade no solo inadequada para o


preparo convencional com grade aradora (esquerda) e
rebrota de algodão após preparo (direita).

Quando a execução das atividades não ocorre no momento


certo, o resultado sempre será o preparo inadequado para os objetivos
citados anteriormente e os reflexos poderão ser sentidos durante a
condução do algodoeiro; quando a planta está instalada, resta apenas
lamentar os efeitos danosos.
O preparo de solo bem aplicado agronomicamente (Figura
5.9) é fundamental para mitigar os riscos e garantir o retorno da
produção, embora muitas vezes considerada inviável pelos altos
custos. Os resultados são sempre positivos, desde que os critérios para
determinar os procedimentos sejam tecnicamente analisados e
nenhuma movimentação do solo seja realizada desnecessariamente.
Takizawa
100

Figura 5.9 - Trincheiras para avaliar as características do solo


(esquerda) e o desenvolvimento da planta (direita)
orientam se o solo está favorecendo o crescimento
normal das raízes.

O sistema de gestão do solo inicia-se a partir de um bom


preparo convencional, passa pelo cultivo mínimo e semeadura sobre
palhada e evolui para o plantio direto. Estes são estágios evolutivos
obrigatórios para solos de cerrado, portanto cada u1n destes sistemas
deve ser executado com excelência e os assuntos abordados
anteriormente têm de ser, obrigatoriamente, aplicados.

Sistemas de cultivo e época de semeadura


Essencialmente, o sistema de cultivo do algodão é
estabelecido quando cultivado como uma cultura única na safra
(algodão safra) ou como segunda cultura (algodão safrinha),
normalmente após a soja no Estado do Mato Grosso, pelo regime
hídrico (sequeiro ou iITigado), pelo espaçamento das entrelinhas
(convencional quando maior ou igual a 7 6 cm ou adensado para
espaçamentos menores), pelo sistema de colheita (colheita picker ou
fusos e colheita stripper ou pente ou escova).
No cerrado brasileiro de forma geral não há litnitações na
questão da temperatura do solo e luminosidade, sendo os aspectos
fundamentais disponibilidade hídrica ao algodoeiro e coneção do solo.
Preparo do solo e plantio
101

Os s istemas de c ultivo baseiam-se no regime pluviométrico e


tipo de solo, sendo a escolha de cada modelo determinada pelo fator
de maior limitação; porém, nem todas as regiões ou solos podem
implantar livremente qualquer s istema de cultivo.
A época da semeadura é determinada para garantir que as
fases de maior demanda de água pelo algodoeiro sejam contempladas
pelas chuvas e que no momento da colheita as chuvas cessem.
No sistema de cultivo de algodão primeira safra ou como
cultivo único o objetivo é explorar o máximo do potencial produtivo
do algodão; dessa forma, a época de semeadura visa aproveitar ao
máximo as condições edafoclimáticas da estação agrícola. Como
apresentado anterio1mente, não há um modelo próprio de preparo do
solo, o qual será apto ao cultivo nesse sistema desde que propicie as
condições básicas para a produção.
A Figura 5 .1 O ilustra os tratos culturais para o algodão safra
(algodão como cultura única numa safra) distribuídos durante o ano
agrícola e a época de semeadura e colheita do algodão.
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Figura 5.1 O - Distribuição de dias de chuva, volume em milímetros de


chuvas por mês durante o ciclo do algodoeiro na primeira
safra e a fase dos tratos culturais na região Sudeste do
Estado do Mato Grosso.
Fonte; Elaborado pela CERES Consultoria Agronômic,t.
102 Takizawa

O preparo convencional com movimentação do s~lo pode ser


uma forma de destruir os restos culturais do algodão (Figura 5 .11 ),
embora, quando executada, ocorra num período de baixa umidade no
solo, podendo os resultados não serem satisfatórios quando os
equipamentos utilizados não forem adequados.

F-

Figura 5.11 - Visão em detalhe da destruição dos restos culturais


(esquerda) e aspecto geral após a destruição mecânica
dos restos culturais (direita).

Na Figura 5.12, a semeadura e os tratos culturais estão


representados para o sistema de cultivo do algodão segunda safra ou
"safrinha". É importante salientar que no Estado do Mato Grosso e
demais regiões do Brasil o zoneamento agrícola de risco climático
estabelece diferentes épocas de sen1eadura fixado pelas condições do
clima, do solo e das necessidades do algodoeiro por grupo ou ciclo de
duração da cultura.
A época de semeadura deve ser ajustada pela variedade
escolhida. Informações mais detalhadas sobre as características de
cada cultivar podem ser obtidas com os detentores das sementes de
algodão, e as sementes utilizadas devem estar en1 conformidade com a
legislação brasileira de sementes.
A época de semeadura deve atender a portarias estaduais de
instruções normativas que estabelecem o vazio sanitário. É importante
informar as datas indicadas para cada região de produção de algodão
do Brasil, medida esta essencial para sustentabilidade do algodão.
O tipo de solo, a fragilidade, a erosão e a capacidade de água
disponível são elementos complen1entares considerados para decidir o
Preparo do solo e plantio 103

sistema de cultivo do algodão, evidenciando que somente em solos


corrigidos é possível implantar o algodoeiro sem maiores riscos.
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Figura 5 .12 - Distribuição de dias de chuva, volume em mm de chuvas
por mês durante o ciclo do algodoeiro na segunda safra e
a fase dos tratos culturais na região Sudeste do Estado
do Mato Grosso.
Fonte: Elaborado pela CERES Consultoria Agronômica®.

As barras horizontais da Figura 5.13 representam a época


mais indicada para semeadura do algodão, considerando seis
decêndios recomendados para semeadura do algodão. Os solos mais
argilosos, quando corrigidos, não possuem limitações na época de
semeadura, enquanto solos de texhira média e arenosos não devem ser
semeados nas últimas épocas de semeadura.
6° dcccnd10

Cultivares

Figura 5.13 - Variáveis básicas para determinação da época ideal de


semeadura do algodão, considerando seis decêndios
ideais para semeadura.
104 Takizawa

Os cultivares de cic los tardios devem prioritariamente ser


semeados nos primeiros decêndios; os de ciclos médios, no período
intennediário; e, na fase final, as variedades de ciclos precoces . Este
procedimento visa instalar o algodão no período que proporciona as
melhores condições para produtividade.
A caracterização dos solos apenas pelo teor de argila é uma
forma simplória de agrupar em classes texturais, mas estudos mais
aprofundados podem ser realizados para determinar claramente a
capacidade de água disponível de cada classe de solo.
O sistema de cultivo sobre cobertura vegetal com cultivo
mínimo tem exigências prévias para sua implantação, considerando-se
que o preparo de solo deve satisfazer os objetivos de duas culturas
(cobertura vegetal e algodão), o que toma mais complexa a sua adoção.
A falta de atenção na condução da cobertura vegetal pode
gerar dificuldades de semeadura do algodão, seja por questões na
qualidade de semeadura, como as causadas pelo atraso da dessecação
da cultura de cobertura resultando na dificuldade de corte da palhada,
seja pela falta de semeadoras apropriadas para esse sistema de cultivo~
ou então por problemas fitossanitários, como ataque de pragas,
doenças ou plantas daninhas remanescentes da cobertura vegetal.
No sistema de culti vo mínimo com semeadura sobre cobertura
vegetal, a semeadura e os tratos culturais de duas culturas serão
desenvolvidos em série, como a cobertura vegetal, que antecede o
algodão, e as atividades de preparo, que ocorrem num período anterior à
semeadura da cobertura vegetal. A Figura 5.14 ilustra duas atividades
exe:u_tadas na cultura do milheto utilizado como urna das principais

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espec1es de cobertura vegetal para algodão no cerrado mato-grossense.

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Figura 5.14 - Aspecto do milheto como cobertura vegetal na fas~


inicial, quando são controladas as plantas daninhas d<!
folha larga (esquerda); e após dessecaçào, antes da
semeadura do algodão (direita).
Preparo do solo e plantio 105

No conceito do plantio direto a ausência de movimentação do


solo, a rotação de cultura e a cobertura vegetal permanente aumentam
ainda mais a complex idade do sistema de cul tivo do algodão e nas
condições de cerrado mato-grossense este sistema não ocorre na
plenitude.
A cobertura vegetal perm anente nas regiões de cerrado com
alta pluviometria durante os meses de verão e alta temperatura durante
todo o ano acelera a mineralização dos restos vegetais. Normalmente
apenas culturas com aporte de biomassa acima de I O toneladas por
hectare propiciam saldo positivo de palhada.
O algodão durante a safra não produz uma quantidade de
biomassa capaz de resultar num saldo positivo para o plantio direto;
dessa forma, após a colheita do algodão, uma cultura de cobertura será
desejada.
As gramíneas normalmente são as culturas que produzem
maior e melhor tipo de biomassa para cobertura vegetal no plantio
direto (Figura 5.15). A ausência de movimentação do solo e a
presença de pragas beneficiadas por esse sistema de cultivo exigem
um estudo detalhado antes da adoção do plantio direto para a cultura
do algodão; o preparo do solo deve ser planejado com maior
antecedência prevendo o número de safras sem movimentação do solo
e as culturas no processo de rotação.

Figura 5.15 - Plantio direto do algodão sobre palhada de braquiária


(esquerda) e sobre restos de milho (direita).
106 Takizawa

O sistema de cultivo de algodão com espaçamento de


entrel inha estreito ou algodão adensado (Figura 5.16) tem como
característica a semeadura tardia; com isso, o suprimento de água será
limitado, a própria deficiência hídrica irá encerrar o crescimento do
algodoeiro e a quantidade de estruturas reproduti vas será menor por
planta.
Para compensar a menor quantidade de frutos por plantas em
virtude da deficiência hídrica, o aumento da densidade de plantas visa
manter o mesmo número de frutos por hectare e garantir o potencial
produtivo; nesta lógica espera-se maior eficiência fotossintética.
No preparo de solo para implantação do algodão no sistema
adensado é necessário garantir que nessas áreas o solo seja capaz de
fornecer todos os elementos ao algodoeiro sem restrição, enquanto não
houver problemas de deficiência hídrica. Isso implica um solo sem
problema de drenagem e de todos outros atributos, pois na época da
semeadura as chuvas ocorrem torrencialmente e o período disponível
de trabalho pode ser limitado.
A semeadura do algodão no sistema adensado normalmente é
feita logo após a colheita da soja, quando os restos dessa cultura ainda
não sofreram o processo de decon1posição completa, o que ocorrerá
somente durante a emergência e desenvolvin1ento inicial do algodão;
este processo muitas vezes dificulta o estabelecimento do algodão no
sistema adensado.

Figura 5.16 - Emergência do algodão no sistema adensado (esquerda)


e colheita do algodão adensado no sisten1a stripper
(direita).
Preparo do solo e plantio 107

O sistema de colheita do algodão com colhedoras de fusos ou


picker implica menor exigência quanto à sistematização do solo,
enquanto no sistema de colheita com plataforma de pente ou stripper
o nivelamento do solo é fundamental para evitar problemas durante a
operação.
A semeadura do algodão em cada um desses sistemas muda o
grau de exigência quanto à paralelização das linhas e sentido da
semeadura. No sistema picker as linhas devem ser paralelas, enquanto
no sistema de colheita com plataforma de pente ou stripper há certa
tolerância, porém o sentido da semeadura deve considerar a colheita
transversal com angulação de 25 a 3O graus em relação à linha de
plantio do algodão.
O sentido da semeadura deve atender à declividade da área,
protegendo o solo contra erosão pluvial, e, como abordado
anteriormente no sistema de colheita com plataforma de pente,
normalmente utilizado no algodão adensado, essas linhas devem ser
transversais à direção da colheita para evitar problemas de formação
de buchas impedindo o desenvolvimento da colheita.
A intensificação da utilização do solo alternando culturas com
problemas comuns como a soja e algodão não deve ser encarada como
sustentável, mas ser medidas momentâneas em proveito de situações
específicas, tendo-se a consciência de que é maior a exigência da
qualidade do preparo de solo e sen1eadura. Os objetivos devem
atender a mais quesitos, e, a médio e longo prazo, as técnicas atuais
não serão capazes de resolver os problemas criados pela falta de
rotação de culturas complen1entares.
Os benefícios da rotação de culturas, alternância de sistemas de
cultivo e gestão dos solos propiciarão n1aior durabilidade à cotonicultura.
Em ambientes tropicais é mais intensa a atividade das pestes e as
mudanças promovidas em cada sistema evitam o aumento de problemas.
A fórmula do sucesso no preparo de solo é atender as necessidades
particulares de cada área e, dessa fonna, estabelecer os procedimentos.

Semeadura
O processo da semeadura do algodão (Figuras 5. 17 e 5. 18)
exige os mesmos cuidados em relação a outras culturas, pois o
108 Takizawa

algodoeiro é uma planta bastante elásti ca quanto à população,


podendo produzir altos rendimentos cm populações entre 45.000 a
100.000 plantas por hectare; o aspecto de maior relevânc ia é a
unifonnidade da distribuição espacial das plantas e emergência do que
a quantidade de plantas na área.
No mercado agrícola existe variada ofe rta de tipos e modelos
de semeadoras para plantio convencional e plantio direto. Nas
semeadoras por gravidade, o disco dosador possui aberturas ou células
e roda no fundo do depósito de sementes. A ssim que o disco gira, as
sementes caem nas suas células e este dispositivo é acionado por
molas que evitam que mais de uma semente caia no tubo de descarga.
É um sistema de fácil regulagem, porém menos acurado que o sistema
a vácuo. As semeadoras com sistema pneumático a vácuo de
distribuição de sementes apresentam elevados índices de precisão no
plantio. Existem dois sistemas distintos: por pressão de ar ou por
sucção de ar. Em ambos os casos, a pressão ou sucção é formada por
um turboventilador acionado pela TDP do trator através de eixo cardã.
Para cada cultura a ser implantada existem os pratos perfurados
correspondentes. As sementes, por ação de pressão ou de vácuo, são
forçadas a aderir aos furos, sendo liberadas em urna abertura em que 0
efeito do ar é minimizado e elas são liberadas para o tubo condutor.

Figura 5.17 - Semeadora adubadora de algodão.


Preparo do solo e plantio 109

Figura 5.18 - Abastecimento de fertilizante na semeadora (esquerda) e


distribuição desejada entre as sementes (direita).

Os critérios a serem considerados para garantir boa semeadura


incluem: qualidade da semente, condições e tecnologia da semeadora,
equipamentos ligados ao processo da semeadura, condições e tipo de
solo e condições climáticas.
A qualidade da semente e os aspectos vinculados aos
tratamentos da semente para preservar e proteger contra agentes
bióticos e abióticos refletem diretamente no resultado da semeadura.
Os defensivos usados contra pragas e doenças são
fundamentais no tratamento da semente diante da quantidade de
moléstias que acometem o algodão. Além deste fator, lubrificantes e
polímeros para proteger as sementes contra danos mecânicos durante
o processo da semeadura e preservar os defensivos do tratamento de
sementes são largamente utilizados.
A profundidade ideal para semente está entre 2,5 e 3,0 cm,
(Figura 5.18, esquerda), e esse valor poderá ser ajustado de acordo
com a classe textural do solo, qualidade do preparo do solo, cobertura
vegetal e umidade.
Em regiões onde a intensidade pluviométrica é menor, em
solos mais arenosos e quando se utilizam fertilizantes ácidos ou
salinos, os cuidados com a posição da semente e fertilizante são
fundamentais para garantir uma boa emergência do algodão e evitar
injúrias as sementes (Figura 5. 19, direita).
Takizawa
11 O

Figura 5.19 - Semeadura na profundidade ideal da semente (esquerda)


e injúrias provocadas pelo efeito salino do fertilizante
próximo à semente (direita).

Replantio
A decisão em arcar com os prejuízos de uma má semeadura
do algodão ou realizar uma nova semeadura nem sempre é uma
sentença fácil, pois a flexibilidade do algodoeiro e sua capacidade de
recuperação a adversidades, bem como a incerteza das condições
climáticas do futuro, não dão garantia do êxito no replantio.
Os critérios da decisão do replantio ponderam a quantidade de
plantas remanescentes, a uniformidade da lavoura, as condições da
área, a variedade de algodão, a época da semeadura e os custos e
beneficias do replantio.
A ordenação de todos esses fatores ampara a decisão de
replantio. O número de plantas remanescentes normalmente deverá ser
acima de 45.000 plantas por hectare, porém é relevante salientar que a
uniformidade dessas plantas tem maior importância e a presença de
falhas (consideramos uma falha um espaço superior à metade da
largura do espaçamento da entrelinha) não deve ocupar mais do que
20% da linha de algodão. A condição do solo e herbicidas pré-
emergentes podem aumentar a necessidade do replantio. Variedades
transgênicas resistentes a herbicidas podem dificultar essa decisão.
Preparo do solo e p /011/io 11 I

Considerações finai s
Embora seja botanicamente perene, o algodoeiro é c ulti vado
como espécie anual, o que requer c uidados especiais.
O preparo de solo e a semeadura do algodão devem fornecer
as melhores condições para a planta expressar seu potencial máximo
na conversão da água, luz, gás carbônico, oxigênio e nutrientes em
sementes e fibras. Esta é uma tarefa exigente, po is cada propriedade
deve ser encarada como um local específico e não um modelo único.

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1I 2 Takizawa

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MELHORAMENTO NO BRASIL
6
Eleusio Curve/o Freire1

Histórico e Evolução do Melhoramento do


Algodoeiro no Brasil
O melhoramento do algodoeiro no Brasil iniciou-se em 1921 ,
quando foi reativado, no Ministério da Agricultura, o Serviço Federal
do Algodão com os objetivos de dar assistência técnica aos
agricultores; estimular o 1nelhoramento das variedades; proceder a
estudos dos solos e do clima; incentivar a criação de campos
experimentais; e, por fim, desenvolver o estudo das pragas e doenças
do algodoeiro, para permitir o seu combate.
Em 1924, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) iniciou
os trabalhos de melhoramento genético do algodoeiro. Nessa época
foram iniciados também os programas de melhoramento do algodoeiro
herbáceo e arbóreo no Maranhão, Paraíba, Rio Grande do Norte,
Pernambuco, Ceará e Sergipe, nas estações experimentais de Coroatá-
MA, Cn1zeta-RN, Pendência, no município de Soledade-PB, Surubim
e Serra Talhada-PE, Santo Antônio do Pitaguari, no município de
Maranguape-CE, e Quissamã-SE.
Em 1930 já existia adequada rede de pesquisa e
melhoramento do algodoeiro no Brasil, sob a coordenação do Serviço
Federal e dos Serviços Estaduais de Algodão, principalmente nos

1
Engenheiro-Agrônomo, M. S. - Collon Consultoria, Campina Grnnde-PB.
E-mail: collonconsultoria@gmail.com contato@cottonconsultoria.com
Freire
l 14

Estados do Mara nhão (Eslaçào Experimenta l de Coroat~),


Pern ambuco (Estações Experimentais de Surubim , para o a lgodoeiro
anual, e de Serra Talhada para o algodoeiro arbóreo), Rio Grande do
Norte (Estação Experi mental de C ruzeta e a Fazenda São Miguel, em
Angicos, mantida pelas Linhas Corrente, para o a lgodoeiro arbóreo),
Ceará (Estação Experimental d e Santo Antônio do Pitaguari.
município de Maranguape), Sergipe (Estação Experimental de
Quissa1nà), Minas Gerais (Estação Experimental de Sete Lagoas) e
São Paulo (Seção do Algodão do Instituto Agronômico de
Campinas). A maioria dessas Estações Experimenta is func ionaram
até a década de 1980, quando o bicudo-do-algodoeiro foi introduzido
no Brasil, levando à derrocada do algodoeiro arbóreo e à desativação
da maioria dos programas de melhoramento dessa cultura no
Nordeste. Desses programas, apenas o de melhoramento do
algodoeiro anual da Embrapa Algodão e o da Seção de Algodão do
IAC, em Campinas-SP, ainda funcionam, sem interrupção.
Nas décadas de 1980 e 1990, os trabalhos de melhoramento
do algodoeiro executados no cerrado do Centro-Oeste eram restritos
à avaliação de cultivares desenvolv idos pelo IAC, Iapar e Embrapa
Algodão, oriundas dos Estados de São Pau lo e Paraná e do Nordeste
do Brasil. Os cultivares que apresentavam comportamento produtivo
superior eram ind icados para plantio, e procurava-se adquirir
sementes produzidas nos Es tados de origem para di stribuição aos
produtores do Centro-Oeste. Em Goiás, as pesquisas com
me lhoramento iniciaram-se na década de 1980, por meio de uma
parceria entre o Instituto Agronômico de Campinas e o Grupo
Maeda. Nessa época, no Mato G rosso, os grandes produtores do
cerrado inic iara m a busca por novas altern ativas agro pecuárias,
impulsionados pela crise de r entabilidade da soja, além dos
problemas fitossan itários, advindos da exploração contínua dos solos
com a soja, como o cancro da haste, olho de rã e o nematoide de
cisto (FR EIRE, 1989).
Em 1989 fo i estabelecido um convênio entre a Embrapa -
Centro Nacional de Pesquisa de A lgodão e a ltamarati Norte, com o
objetivo de gerar tecnologia para a ex ploração do algodão no cerrado
de Mato Grosso, incluindo a introdução e avaliação de cultivares e o
melhoramento do algodoeiro de fibras médias e longas (FRE IRE et
ai.. 1998).
Melhoramento 110 Brasil l 15

A partir de 1995, novas empresas de melhoramento passaram


a investir no cerrado, incluindo a F undação Mato Grosso, que firmou
parcerias com a Embrapa Algodão, com o Instituto Agronômico de
Campinas e com o Instituto Agronômico do Paraná. A Cooperativa
Central de Pesquisa Agn1ômica (Coodetec), que possuía um programa
de melhoramento com atuação apenas no Paraná, iniciou nesse ano
suas atividades no cerrado, em parceria com o Cirad, da França.
Posterionnente, outras empresas privadas passaram a investir no
melhoramento do algodoeiro no cerrado, incluindo a
Bayercropscience, que se associou à CSD-Csiro, da Austrália, e à
Stoneville; a Delta and Pine Land Co, que se associou a Monsanto; e,
por fim o Instituto Matogrossense do Algodão - fMAMT que adquiriu
os programas de melhoramento da Salles Sementes, da Coodetec e da
LD Melhoramento, com sede em Primavera do Leste, MT.

Métodos de Melhoramento Utilizados


Aspectos gerais
Em geral, os programas de melhoramento do algodoeiro
visam à melhoria da produtividade de pluma (prolificidade, peso de
capulhos, porcentagem de fibra) e da qualidade de fibra
(comprimento, resistência, finura etc.). Há, entretanto, caracteres de
interesse mais específico, definidos em função de particularidades
fitossanitárias, edafoclimáticas e de sistema de produção, como
resistência a determinadas doenças; adaptação a diferentes altitudes e,
por consequência, a determinadas características de clima; e adaptação
a características do sistema de produção, como escala de cultivo,
intensidade no uso de insumos e máquinas e sistema de plantio.
Por sua vez, na produção em pequena escala lagricultura
familiar), as características deste sistema são distintas, a exemplo do
manejo de solo, de pragas e de doenças, e em geral produzem fibras
especiais (fibra colorida).
De maneira geral, utiliza-se no algodoeiro a hibri dação como
fonna de explorar e ampliar a variabilidade genética, e, entfio, aplica-se
um das formas de condução da população segregante bulk, bulk dentro de
família, ou genealógico. Os métodos de melhoramento do algodoeiro são
1 16 Freire

agrupados em: seleção massal, seleção genealógica, seleção pedigree-


massal, seleção recotTente, hibridação, retrocruzamento e uso do vigor
híbrido.
A seleção genealógica é o principal esquema e mpregado na
maioria dos programas de melhoramento do algodoeiro e consiste na
seleção individual de plantas, baseando-se nas características
fenotípicas, com estudo posterior das progênies, predominantemente
autofecundadas. Plantas superiores são eleitas nas melhores progênies,
estudando-se comparativamente sua descendência, até optar-se por
uma ou várias linhagens superiores, que serão multiplicadas como um
novo cultivar. Essa metodologia é aplicada tanto em populações com
pouca variabilidade quanto em populações segregantes derivadas de
hibridações intraespecí ficas.
A maioria dos cultivares latino-americanos foi obtida por esse
método, destacando-se os cultivares paulistas de algodão, e1n que a
seleção genealógica constitui, desde 1937, a base do programa de
melhoramento do Instituto Agronômico de Campinas; este também
foi o principal método empregado no melhoramento dos algodoeiros
arbóreo e herbáceo, no Nordeste brasileiro.

Progresso genético do melhoramento do


algodoeiro no cerrado
O progresso obtido nos programas de melhoramentro do
algodão tem sido avaliados em diversas etapas e usando 1netodologias
diferentes. Nos Estados Unidos, em uma análise do experin1ento
nacional de cultivarés norte-americanos no período de 1960 a 1996
constatou-se que o progresso genético médio para produtividade nos
37 anos do estudo foi de 6,78 kg/ha ou de 0,64 °/o ao ano.
Os programas de melhoramento do algodoeiro desenvolvidos
no ~rasil tem sido avaliados periodicamente con1 relação ao progresso
genético conseguido e, ou, sua contribuição para a melhoria da
produtividade da cotonicultura no Brasil. Um dos programas
considerados de maior sucesso e de maior contribuição à cotonicultura
naciemal tem sido o programa de melhoramento do lnstih1to
Agronômico de Campinas, que ven1 sendo desenvolvido desde 1930.
Melhornmento 11 0 Bmsi/ 1 17

O programa de melhoramento do algodoeiro desenvolvido no


Nordeste do Brasil pela Ernb rapa fo i avaliado no período de 1976 a
1994, verificando-se que esse programa resultou num progresso
genético de 1,03% ao ano para rendimento de algodão em caroço
(CARVA LHO et ai. , 1997).
O programa de melhoramento do algodoeiro, desenvolvido
pela Embrapa no cerrado do Mato Grosso, teve seu progresso
detenninado por Moresco (2003), utilizando três metodologias e
dados de 12 anos de pesquisa (1989 - 200 l) para produtividade de
algodão em caroço (kg/ha) e rendimento de fibra (%). Essa autora
constatou que o progresso médio anual do algodão em caroço variou
de 3,93 a 3,63% e do rendimento de fibra, de 0,96 a 1,03% ao ano,
caracterizando-se como um dos programas de maior taxa de progresso
mundial e contribuindo efetivamente para os ganhos de produtividade
e de rendimento de fibras obtidos na cotonicultura do cerrado.

Evolução das estratégias do programa de


melhoramento desenvolvido no cerrado
Os objetivos do programa de melhoramento desenvolvido no
cerrado foram estabelecidos em consonância com as demandas dos
produtores da região. Esses objetivos eram bastante simples no início,
mas a cada ano foram-se tornando mais complexos, devido aos novos
problemas que apareceram e para os quais se procuraram soluções
genéticas. A evolução cronológica desses objetivos foi a seguinte:
I - Em 1989 desejavam-se cultivares de altas produtividades e de
fibras médias (30-32 rrun) e longas (36-38 mm) adaptadas ao
cerrado.
2 - Em 1991 foi acrescida a necessidade de fibras médias longas (34-
36 mm) resistentes à ramulose.
3 - Em 1993 foi incorporada a necessidade de resistência a viroses
(mosaico das nervuras f. Ribeirão Bonito, mosaico comum e
vermelhão) e algodões com rendimento de pluma acima de 38%) e
com resistência acima de 28 gf/tex.
l 18 Freire

4 - Em 1996 aumentou a demanda por resistência a doença ~oliares


(Stemphylium e bacteriose) e alto rendimento de fibras, acima de
40%.
5 - A partir de 2000 foi acrescida a necessidade de resistência ao
complexo Fusarium-nematoide, resistência a outras doenças
foliares (ramulária, alten1aria, ascochita, mirotercium), resistência
ao murchamento avermelhado e resistência a pragas e a
herbicidas.
6 - A partir de 2004, as exigências aumentaram para rendimento de
pluma (acima de 42%) e para características de fibras, incluindo
comprimento maior de 30 mm em HVI e resistência acima de 30
gf/tex. Os produtores passaram a exigir também cultivares
transgênicos resistentes a herbicidas, a lagartas (Alabama, Heliothis,
Spodoptera, Pectinophora, Plusias), a virose e ao bicudo.
7 - Em 2006 foi incluída nos objetivos do programa de melhoramento
a obtenção de genótipos precoces de rápida frutificação como uma
alternativa para a época denominada "safrinha" e a seleção de
fontes com resistência aos nematoides dos gêneros rotylenchus e
pratylenchus.
8 - Em 2007 a Embrapa decidiu incorporar a resistência e, ou,
tolerância à seca como um dos objetivos dos seus programas de
melhoramento.
9 - A partir de 2008 passaram a ser procurados cultivares com
frutificação concentrada e de ciclo precoce ( 100 a 130 dias),
tolerantes a estresse hídrico e com maior rendimento de pluma e
com micronaire mais alto, para uso em sistemas de produção
adensado em safrinha no cerrado e para colheita corn colhedeiras
Stripper.
l O- A partir de 2008 passou-se a incorporar em linhagens de elite
nacionais os eventos trasgênicos incorporados em cultivares dos
Estados Unidos, que conferem resistência a herbicidas e aos
lepidopteros-pragas, via retrocruzamentos, obtendo-se cultivares
essencialmente derivados.
IJ - A partir da safra 201 2, com a introdução da lagarta Helicoverpa
armigera com resistência a inseticidas, passou-se a exigir
também resistência a essas lagartas via transgenia.
Melhoramento 110 Brasil I 19

Tendên cias
Os objetivos gerais dos programas de melhoramento
desenvolvidos no cerrado atualmente são o desenvolvimento de
cultivares de alta produtividade, de ciclos médio e precoce, adaptados
à colheita mecanizada, com alta qualidade de fibras e resistência
múltipla a doenças e aos nematoides. São exigidas também
características transgênicas, como resistência a lagartas desfolhadoras
e das maçãs, ao bicudo, a herbicidas e à seca.
As tendências futuras são as empresas obtentoras
internacionais investirem maciçamente em biotecnologia, visando à
obtenção de cultivares resistentes a lagartas, a herbicidas, ao bicudo e
à seca, alén1 de cultivares de fibras de cores não encontradas na
natureza, como a azul e preta. Essas novas características obtidas por
transgenia serão colocadas em linhagens de elite, próprias ou de
programas de empresas licenciadas, que apresentam alta
produtividade, alto renditnento de pluma e características superiores
de fibras. Deve-se aumentar a competitividade entre as empresas
biotecnológicas para a obtenção de eventos com propriedades
semelhantes, porém a partir de genes diferentes, os quais propiciarão,
cada vez mais, ações eficientes e amplas para o controle de pragas e
ervas daninhas, além de custos mais baixos.
Por outro lado, para as empresas obtentoras nacionais, que
amargam 1O anos de atraso nas técnicas biotecnológicas, por pressões
dos ambientalistas, desencontros da legislação brasileira e ações
contrárias de ONGs inclusive amparadas pela justiça, restará a opção
de a curto prazo agilizarem suas áreas de cooperação e negócios para
conseguirem acesso a esses eventos por meio de licenciamentos, para
em seguida protegerem, registrarem e colocarem no mercado
cultivares nacionais essencialmente derivados, com os genes
licenciados, obviamente sempre com anos de atraso em relação à
disponibilização desses cultivares transgênicos aos produtores dos
Estados Unidos e Austrália.
Freire
120

Melhoramento em Instituições Públicas

Programa de melhoramento da Embrapa do


Mato Grosso
A fazenda ltamarati Norte S.A. importou de Israel, em 1989,
sementes dos cultivares de fibras longas, além de introduzir alguns
cultivares nacionais, implantando em tomo de 1 1 ha de cada material
para avaliar o desempenho nas condições do Chapadão dos Pareeis, no
município de Campo Novo dos Parecis-MT. Esses materiais
produziram de 718 kg/ha de algodão em caroço (Pima S-5) a 2.759
kg/ha de algodão em caroço (IAC 20), produções consideradas
insatisfatórias para os padrões desejados pela Itamarati Norte, motivo
que levou ao estabelecimento da cooperação com a Embrapa, para
aperfeiçoamento do sistema de produção e melhoramento do
algodoeiro, para obtenção de cultivares mais produtivos e adaptados,
às condições do cerrado.
Através do convênio Embrapa/Grupo ltamarati, nos anos de
1989 a 1995 foi introduzido e avaliado no cen-ado do Mato Grosso um
total de 70 cultivares, oriundos dos Estados Unidos, França, China,
Israel, Egito e Sudão. Desde o início desse programa, além da
introdução e avaliação de novos cultivares, procurou-se efetuar
também seleção, quando surgia variabilidade natural no material
introduzido, bem como quando se escolhiam alguns cultivares para
realização de cruzamentos biparentais e múltiplos.
A partir de 1995 este programa foi negociado com a Fundação
Mato Grosso, que passou a ser a parceira da Embrapa, num trabalho
conjunto que perdurou até o ano 2001, quando essa fundação passou a
conduzir programa próprio de melhoramento.
Como resultados mais re levantes do melhoramento
desenvolvido pela Embrapa Algodão no Mato Grosso, foram obtidos,
registrados e distribuídos os cultivares: CNPA ITA 90, CNPA ITA 92,
CNPA ITA 96, BRS ANTARES, BRS FACUAL, BRS ITAUBA,
BRS CEDRO, BRS PEROBA, BRS JATOBÁ e BRS ARAÇA, sendo
distribuídos com maior sucesso os seguintes cultivares:
Me//10rame11to 110 Brasil 121

CNPA ITA 90 - Início da distribuição 1992, cultivar


registrado pela Embrapa, no Serviço Nacional de Registro de
Cultivares (SNRC) sob o número 008. Origem: composto formado em
1990, pela mistura de 13 plantas selecionadas no cultivar Deltapine
Acala 90, que apresentaram alta qualidade de fibras e foram
submetidas a três ciclos de seleção massa! para resistência a virose
(Mosaico das nervuras f. Ribeirão Bonito). Características principais:
resistência a ramulosc, suscetível a viroses, alto rendimento no
descaroçamento (± 38%), alta resistência de fibras (+28 gf/tex), alta
produtividade, comprimento de fibras na fa ixa 32-34 mm, ciclo longo
( 150 a 180 dias) e adaptação à colheita mecanizada. Cultivar
recomendado para grandes produtores do cerrado que utilizam
mecanização total e controle rigoroso de pulgão e pragas sugadoras,
adotando o nível de infestação de pragas sugadoras inferior a 10%
(Figura 6.1).

Figura 6.1 - Lavoura de algodão com produtividade de 300 @/ha, com


o cultivar CNPA IT A 90, na Serra da Petrovina, MT em
2003.
Foto: Eleusio Curvelo Freire.

BRS CEDRO - Ano de início da distribuição: 2002. Origem:


obtido pelo uso do método de seleção genealógica aplicada a uma
população segregante do cultivar australiano CS 50, sendo
122 Freire

inicialmente identificado como a planta CNPA 96- 1067. Destacou-se


pe la alta resistência a viroses e alto rendimen to de pl um a.
C aracterísticas principais: alta produtividade (até 450 @/ha); a lto
rendimento de fibras ( 41 -42%); res istência de fibras: 28,3 gf/tex;
comprimento de fibras: 30,4 mm; finura: 4,3 (índice micronaire); a i ta
resistência a viroses; medianamente resistente a ramulariose e
bacteriose; medianamente suscetível a ramulose; c ic lo no rmal a longo
(160- 180 dias) ; porte alto.
BRS ACÁCIA - Ano de início da distribuição: 2003.
Origem: obtido através do método de seleção genealógica aplicada a
população de Acaia Dei Ceno mantida e melhorada pela Embrapa
Algodão. Inicialmente a planta CNP A 96-117 foi selecionada dentro
da progênie CNPA GIORGI 92/6-94/ 1-96/8, do Ensaio de Progênies
de Fibras longas conduzido sob condições de irrigação em pivô central
em Touros-RN. O cultivar foi avaliado e teve suas sementes
aumentadas no período de 1997 a 2002 sob condições irrigadas em
Touros-RN e Barbalha-CE e, sob condições de sequeiro nas condições
do cerrado em Primavera do Leste-MT. Características principais:
ciclo normal (160-170 dias); rendimento de fibras: 36,0%; resistência
de fibras: 35,8 gf/tex; comprimento de fibras: 33,5 mm; finura: 4,2
(índice micronaire); suscetível a viroses, ramulose e bacteriose;
medianamente resistente a ramulariose.

Programa de melhoramento da Embrapa em


Goiás
A partir da safra 1998/99 a Embrapa passou também a atuar
no cerrado de Goiás, em convênio com a Fundação Goiás. De início
foram apenas avaliados cultivares e linhagens desenvolvidos no
programa de melhoramento do Mato Grosso, comparativamente aos
cultivares disponíveis no mercado de Goiás. Porém, já a partir da safra
1999/00 decidiu-se abrir um programa de melhoramento específico
para Goiás, porque as condições de manejo da lavoura, tipos de so los,
nível de contaminação dos solos com fungos e nematoides e a
intensidade das doenças que ocorriam no Estado, inclus ive do
complexo Fusarium-nematoides, eram diferentes dos ocotTentes no
Mato Grosso. A partir da safra 2003/04 o programa de Goiás já estava
lvfelhoramenro 110 Brasil 123

estruturado e passou a produzir as próprias populações segregantes,


inclusive fornecendo-as para os programas da Embrapa de Mato
Grosso e da Bahia.
A partir de 2008, este programa passou a ser o programa
central de melhoramento da Embrapa no cerrado, com aumento do
número e especialidades dos pesquisadores (foi incorporada uma
equipe multidisciplinar, incluindo especialistas em melhoramento
genético, marcadores moleculares, fisiologistas, fitopatologistas,
fitotecnistas e entomologistas ) e localização da equipe em Goiânia-GO,
porém tendo como Estações Experimentais principais o Centro de
Pesquisa da Fundação GO, em Santa Helena de Goiás, e a Sede da
Embrapa Arroz e Feijão, em Aparecida de Goiás.
Como resultados deste programa, foram obtidos e lançados os
cultivares BRS Aroeira e BRS IPE em 2004, os quais foram
distribuídos e plantados até 2009 em Goiás. Atualmente estão sendo
plantados os cultivares BRS Buriti e BRS 293, cujas características
são as seguintes:
BRS BURITI - Ano de início da distribuição: 2004. Origem:
cruzamento do cultivar CS 50 com BRS Facual em 1997, sendo a
população segregante conduzida pelo método da seleção genealógica,
até a obtenção da linhagem CNPA GO 2000-1167. Características
principais: rendimento de fibras entre 39,5 e 41 %, comprimento
médio de fibras de 29 a 32 mm e resistência entre 30 e 34 gf/tex. É
medianamente resistente a bacteriose, n1osaico das nervuras,
ramulose, ramulariose e ao complexo Fusarium-nematoides
Meloydogine. Deve ser man~jado com populações de pulgão
inferiores a 40%.
BRS 293 - Ano de início da distribuição: 2004. Origem:
cruzamento entre os cultivares Stoneville 132 e Delta Opal, ocorrido
no ano 2000. O desempenho produtivo do BRS 293 destaca-se,
principalmente, em condições de altitude, acima de 850 m, em que
foram obtidos resultados superioies a 380 @lha e 160 @/ha, de
produtividade de algodão em caroço e em pluma, respectivamente.
Sob elevada pressão de inóculo, o BRS 293 foi caracterizado como
medianamente resistente a mancha angular, viroses (mosaico da
nervura e mosaico comum), ramulariose e ramulose e medianamente
suscetível ao complexo Fusarium-nematoides. Deve-se evitar o cultivo
124 Freire

do BRS 293 em condições de elevada incidência de Fusarium sp.


associado a Fusarium oxysporum vaSÍl?f'ectum , F. oxyspon,111
vasil~fectum, Meloidogyne incognita ou Roty lenchulus ren~/ormes. O
padrão de fibras do BRS 293 atende às exigências do mercado interno
e externo, quanto a fibras de comprimento médio.

Programa de melhoramento da Embrapa na


Bahia
A Embrapa passou a atuar no melhoramento na Bahia a partir
da safra 1997/98, de início recebendo populações segregantes e
linhagens oriundas do programa de melhoramento da Embrapa do
Nordeste e também do Mato Grosso. Desde o início este programa foi
estruturado para a produção de linhagens e cultivares de fibras longas
e de fibras médias, bem como para a obtenção de cultivares mais
tolerantes a veranicos mais prolongados, condições climáticas
antagônicas como secas prolongadas e muitas vezes excesso de
chuvas, seguidas por encharcamen tos e altos níveis de apodrecimento
de maçãs do algodoeiro. Embora as condições de manejo das lavouras
sejam bem semelhantes às do Mato Grosso, são comuns fortes
populações de mosca branca, especiahnente em anos de veranicos
mais prolongados.
Como resultados deste pro grama, foram obtidas e lançadas os
cultivares BRS Sucupira e BRS Camaçari em 2004. Atualmente está
em distribuição os cultivares BRS 286, BRS 335 e BRS 336, cujas
características são as seguintes:
BRS 286 - Ano de início da distribuição: 2008. Origem:
obtida através do cruzamento biparenta! entre as variedades CNP A
lTA 90 e CNPA 7H, oconido no ano de 2000. O BRS 286 possui
níveis adequados de resistência às principais doenças de ocorrência
em condições de cerrado e semiárido de ocorrência no Estado da
Bahia, sendo resistente à mancha-angular, mosaico da nervura e
mosaico comum; moderadamente resistente à ramulariose; e
medianamente suscetível a ramulose e ao complexo Fusarium
oxysporum f. sp. Vasinfectum - Meloidogyne incógnita/Rotylenchulis
reniforme. Deve-se evitar o cultivo do BRS 286-Piqui em condições
de elevada incidência de Fw,·ariwn oxysporum associado a
Melhoramento 110 Brasil 125

Meloidogyne incognita ou a Rotylenchulus reniforme e de


Colletotrichum gossypi var. cephalosporioides (agente causador da
ramulosc). O BRS 286 foi avaliado em condições de cerrado por cinco
safras, obtendo-se produtividade média de algodão em caroço de
4.874 kg/ha (325 @/ha) e de l.995 kg/ha (133 @/ha) de algodão em
pluma. O padrão de fibras do BRS 286 atende às exigênc ias dos
mercados interno e externo quanto a fibras de comprimento médio.
BRS 335 - O cultivar BRS 335 foi originado do cruzamento
triparenta} entre os cultivares DP 4049, CNPA ITA96 e Delta Opal. Foi
avaliado quanto à resistência às p1incipais doenças em ensaios de campo
e em condições controladas, sendo resistente à mancha-angular;
medianamente suscetível ao nematoide-das-galhas, murcha-de-fusário,
doença azul e mancha-de-ramulária; e suscetível à ramulose. As
características das fibras da BRS 335 estão de acordo com as exigências
dos mercados consumidores interno e externo, relativas a fibras de
comprimento médio na espécie Gossypium hirsutum L.
BRS 336 - Este cultivar foi originado do cruzamento
triparenta! entre os cultivares Chaco 520, BRS Itauba e Delta Opal.
Avali ado quanto à resistência às principais doenças em ensaios de
campo e em condições controladas, o cultivar foi caracterizado como
resistente à mancha-angular; apresentou mediana suscetibilidade à
ramulária e à ramulose; mediana resistência a viroses; e suscetilidade
ao complexo Fusarimn-nematoides. As características das fibras do
BRS 336 estão de acordo com as exigências dos mercados consumidor
interno e externo, re lativas a fibras de comprin1ento médio longo na
espécie Gossypium hirsutum L., com mais de 32 mm de comprimento
no HVI e mais de 32 gf/tex de resistência.

Programa de melhoramento da Epamig


O Programa de Pesquisa com o Algodoeiro conduzido pela
Epamig tem como meta o desenvolvimento de variedades de algodão
para as regiões produtoras de Minas Gerais, a saber: Norte, Noroeste,
Triângulo e Alto Paranaíba. Está centralizado no Centro Tecnológico
do Triângulo Mineiro e A lto Paranaíba, em Uberaba, onde se realiza a
pesquisa básica do melhoramento genético. A li se encontra
armazenada a coleção de Gossypiwn, composta de itens provenientes
126 Freire

do Brasil e de diversos países. No início da década de 1970, a Epamig


assumiu os trabalhos de melhoramento do algodoeiro em Minas
Gerais, transferindo a coleção de germoplasma de Sete Lagoas, bem
como todo trabalho básico, para a Fazenda Experimental Getú lio
Vargas, em Uberaba.
Foram desenvolvidos vários culti vares adaptados às regiões
algodoeiras do Estado, com altos índices de produção e qualidade de
fibra, como: Minas Dona Beja (seleção de lpeaco-SL-7), Minas
Sertaneja (seleção de DPL), Epamig 3 (seleção de Minas Dona Beja),
Epamig 4 ou Redenção (Seleção de IAC 17), Epamig Precoce I
(seleção da linhagem C-25-1-80), Alva ("<li-haploide" duplicado de C-
25-1-80) e Liça ("<li-haploide" duplicado de GH-11-9-75).
Os objetivos do melhoramento do algodoeiro da Epamig são:
obter cultivares de bom potencial de rendimento, com resistência
múltipla às doenças, com fibra de boa qualidade e adaptadas ao
cultivo nas regiões produtoras do Estado de Minas Gerais; avaliar os
novos genótipos nas regiões produtoras de Minas Gerais; formar
núcleos de semente genética de linhagens promissoras e de cultivares
recomendados (LANZA, 2005).

Programa de melhoramento do
IAC/ lapar/Seag ro
Em 2001, com apoio financeiro do Fundo de Incentivo à
Cultura de Algodão em Goiás (Fialgo), foi estabelecida uma parceria
envolvendo o Instituto Agronômico de Campinas, o Instituto
Agronômico do Paraná (Iapar) e a Secretária de Agricultura de Goiás-
Seagro, com vistas a obter cultivares de algodoeiro adequados às
condições da cotonicultura goiana e, devido à similaridade de
problemas, adaptados também a outras áreas da região Centro-Oeste
brasileira.
Dessa forma, são objetivados cultivares que, ao lado de bons
níveis nas características convencionais - conforn1ação da planta,
produtividade, porcentagem de fibra e qualidade intrínsica desta _ ,
possuam resistência múltipla aos patógenos 1nais destrutivos e, pelo
menos, tolerância às doenças secundárias, que ocorrem na região.
Melhoramento 110 Brasil 127

Os primeiros cultivares desenvolvidos por este programa


foram o IPR Jataí e o IPR 140, recomendados para plantio no Paraná e
em Goiás, cujas características estão descritas na Tabela 6.2. O grande
desafio desses programas está em efetuar o licenciamento de seus
cultivares para que sejam produzidas sementes a serem repassadas aos
produtores de Goiás. Os principa is destaques de comportamento do
IPR Jataí foram na presença de nematoides, fusariose, virose e
alten1ariose; em contrapartida, não atingiu graus desejáveis de
resistência a ramulose e ramulariose, o que pode representar problema
e requerer uso de fungicidas, se uti lizado em condições de alto
potencial de ocorrência dessas doenças.
O IPR 140 apresentou boa percentagem de fibra (42, 18%) -
podendo atingir até 39,5% em descaroçador de serras); alto peso de
capulho (6,5 g), ciclo intennediário e porte médio tendendo a alto. O
cultivar apresenta arquitetura do tipo taça, com crescimento lateral
pronunciado, exigindo espaçamentos relativamente largos. Com
relação à reação a sete doenças/parasitas (fusariose, nematoides,
ramulose, ramulariose, mancha-angular, altemariose e virose),
constata-se que o IPR 140 se enquadrou entre os quatro melhores
cultivares para resistência múltipla (índice = 0,89) e índice de
segurança (0,60). Esse cultivar destacou-se, sobretudo, na presença de
nematoides, fusariose, mancha-angular, altemariose e virose (mosaico
das nervuras f01ma Ribeirão Bonito); em contrapartida, não atingiu
graus desejáveis de resistência a ramulose e ramulariose, o que pode
representar problema, vindo a requerer uso de fungicidas, se utilizado
em condições de alto potencial de ocorrência dessas doenças.

Me lhoramento em Instituições Privadas


Programa de melhoramento da Delta and
Pine Land Co.
,; Delta Pine Land Co . é uma das maiores empresas de
melhoramento do algodoeiro do mundo, com sede em Scott,
Mi ssi ss ippi-EU A, com atuação em 13 países, incluindo Estados
Unidos, China, Índia, Brasil , México, Turquia e Paquis tão.
128 Freire

Juntamente com a Monsanto, controla 57¾1 do comércio de sementes


de algodão nos Estados Unidos.
A Delta Pine tem um dos melhores bancos ele ge rmoplasmas
de algodão do mundo, possuindo licenciamento para incorporação em
seus cultivares e distribuição de todos os eventos transgenicos
modernos da Monsanto e da Dow AgroSciences. No Brasi l, tem sua
E stação Experimental principal sediada em Uberlândia-MG. A Delta
Pine recentemente foi adquirida pela Monsanto, porém continuará
com a marca Delta and Pine Land Co., atuando no mercado mundial
de sementes convencionais e transgênicas de algodão, inclusive no
Brasil.
Possui atualmente em distribuição no mercado brasileiro
apenas o culti var convencional Deltaopal, que é produzido quase
exclusivamente no oeste da Bahia. Todos os demais cultivares em
distribuição por essa empresa são transgênicos.
Características pricipais do Deltaopal - Cultivar muito bem
adaptado ao cerrado da Bahia, com porte e ciclo médios; resistência a
viroses e à bacteriose e alta sensibi lidade à ramulária, demandando
cinco a seis aplicações de fungicidas por safra para o controle dessa
doença; fibras com comprimento médio e boa res istência e finura.
Apresenta problemas de apodrecimento de maçãs e sensibilidade a
veranicos. Atualmente é um cultivar de domínio público, com os
produtores fazendo sua própria semente. Está sendo substituído pela
FM 993.

Programa de melhoramento da Bayer


CropScience
A Bayer CropScience adquiriu o programa de melhoramento da
A ventis Seeds, que tinha fim1ado parceria para uso do gennoplasma do
CSlRO-CSD da Austrália. Centraliza suas pesquisas em Aparecida de
Goiás. Seus cultivares se destacam pela alta qualidade de fibras, sendo
atualmente a empresa com maior participação no mercado de sementes de
algodão no Brasil. As características p1incipais de seus cultivares
convencionais disponibilizados no mercado brasileiro estão apresentadas
na Tabela 6.1.
Melh orame11to 110 Brasil 129

Tabela 6.1 - Características dos cultivares convencionais de algodão


da Bayer CropScience
Característica FM 966 FM 910 FM 993
Porte da planta (m) 0,9 a 1,2 0,9 a 1,2 1, 1 a 1,3
Peso do capulho (g) 5,5 a 6,5 4,5 a 5,5 5a6
Ciclo até colheita 135a l70 135al70 150 a 190
Rendimento de fibra(%) 40 a42 41 a 43 40 a42
Resistência (gfffex) 29 a 32 28 a 32 28,5 a 31,5
Micronaire (ug/pol) 3,7 a 4,2 3,8 a 4,3 3,8 a 4,5
Comprimento de fibra (mm) 28 a 3 I 28 a 32 28,5 a 30
V iroses s R R
Ramulária MR T T
Ramulose MS MS s
Bacteriose R R R
Nematoides s MR MR
Alternária MR MR --
Fonte: MESQUITA, 2009.

Programa de melhoramento da Fundação


Mato Grosso
A Fundação Mato Grosso iniciou suas atividades com
melhoramento do algodão através da parceria finnada em 1995 com a
Embrapa Algodão. No período de 1995 a 2000, as duas instituições
exerceram atividades conjuntas de melhoramento no cerrado do Mato
Grosso. A partir de 2000, como encerramento da parceria, a Embrapa
repassou 1netade das linhagens em fase final de melhoramento para a
FMT, que passou a conduzir programa próprio de melhoramento com
o apoio financeiro do Facual. Seu programa de melhoramento possui
uma Estação de Pesquisa principal no município de Rondonópolis; as
linhagens desenvolvidas são avaliadas em quatro localidades,
incluindo (Rondonópolis, Serra da Petrovina, Sorriso e Campo Novo
dos Pareeis), enquanto os materiais em fase pré-comercial são
demonstrados nessas quatro localidades, incluindo de Sapezal e
Itiquira.
Freire
130

Os cultivares desenvolvidos e disponibi lizados pela FMT


foram os seguintes: FMT Fetagri, FMT Saturno, FMT 50 l , FMT 70 l ,
FMT 523, FMT 705, FMT 707 e FMT 709 (Tabe la 6.2). Os três
primeiros foram distribuídos para os pequenos produtores, enquanto
que os demais, para os produtores empresariais. O FMT 523 é
recomendado para plantios adensados, em áreas sem problemas de
nematoides (Aguiar, 2005).
Tabela 6.2 - Características principais dos cultivares da Fundação MT
disponíveis no mercado
Característica FMT 705 FMT707 FMT 709
Ciclo Tardio Médio Tardio
Porte da planta Porte alto Porte médio Porte alto
Rendimento de fibra(%) 39-42 39-42 39-42
Aderência Forte Forte Muito forte
Micronaire (ug/pol) 4,60 4,10 4,43
Comprimento de fibra (mm) 30,.10 30,70 29,98
Resistência (gf/tex) 28,.60 28,90 27,06
VIR(DA) - Virose "doença R
R R
azul"
VIR("ATIP") - Virose atípica MR R R
BAC - Bacteriose R R R
RLA - Ramulária R R MR
RLE - Ramul ose MR MR MR
NEM -Nematoides MS AS MR
Fonte: www.fundacaomt.com.br; AGUIAR, 2009.

Programa de melhoramento do Instituto Mato-


grossense do Algodão - IMAmt
O Instituto Mato-grossense do Algodão é uma instituição
focada na ideia matriz do desenvolv imento sustentável. D esse modo a
entidade visa prioritariamente à expansão da produtividade e da
'
produção a um custo ambiental mínimo. Fundado em março de 2007,
o instituto se destina a promover o desenvolvimento nas mais diversas
Melhora111e11to 110 Brasil 131

áreas de pesquisa do algodão no Estado de Mato Grosso. Seu


programa de melhoramento do algodoeiro incluiu a obtenção de um
grande banco de germoplasma, recebido dos Estados Unidos, França e
Brasil, além da aquisição dos programas de melhoramento do
algodoeiro da Salles Sementes, da Coodetec e da LD Melhoramento.
Na essência, seu programa de melhoramento tem como prioridade
encontrar fontes de resistência às principais doenças e nematoides
presentes no Mato Grosso, buscando apresentar materiais com
resistência múltipla, aliando isso a altas produtividades e uma
qualidade intrínseca da fibra aceitável nos mercados interno e externo.
Todos os materiais a serem lançados poderão ter versão
"convencional" ou "transgênica", visando resistência aos herbicidas
glifosato e glufosinato e, ou, às lagartas (genes BG2 e WideStrike).
Atualmente tem disponíveis no mercado cultivares oriundos dos
programas da LD Melhoramento e da Coodetec, incluindo os descritos
na Tabela 6.3, e da Boldt et ai. (2009), a exemplo do IMACD408, que
apresenta as seguintes características: Diferencial: alto potencial
produtivo em situação de água limitante. Elevado RF¾ (superior a
CD406 e FM966). Ciclo: Intermediário. Fibra: padrão médio.
Posicionamento: regiões de média e alta tecnologia. Final de janela de
plantio. Restrição: não é recomendado para áreas com nematoides.
(Meloidogyne e Rotylenchulus).

Tabela 6.3 - Características médias dos cultivares oriundos do


progra1na IMALD Melhoramento
Característica IMALDCV03 IMALDCV22 IMALDCVlO
Ciclo-dae 150 l 65 l75
Potencial produtivo (@/há) 280-370 320- 365 310-380
Rendimento de fibra(%) 40 39,0 42.5
Resistência a virose Tolerante Tolerante R\;s1stente
- -
Resistência a ramulária Tolerante Toleranll· Tolerante
Micronaire 4,0 4,0 4,6
Comprimento 29,0 28,5 28,5
Resistência 30,0 29,5 31,0
Fonte: AGUILERA, 2009.
132 Freire

Referências
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AGUILERA, L. A. 2009. Cultivares de algodão LD/Cooperfibra. ln: CONGRESSO
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Embrapa/Acopar/Abrapa, 2009. Cd-Room. <www.cnpa.embapa.br/produtos/algodão/
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7., 2009, Foz do Iguaçu. Anais... Foz do Iguaçu: Embrapa/Acopar/Abrapa, 2009. Cd-
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no Nordeste. Pesquisa Agropecuária Brasleira, v. 32, p. 283-291, l 997.
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genético do algodoeiro. ln: SEMINÁRIO ESTADUAL DA CULTURA DO
ALGODÃO, 4, 1998, Cuiabá. Anais... Cuiabâ: Fundação MT/Embrapa
Algodão/EMP AER-MT, p.5-20.
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MESQUITA, D. Novas Cultivares de A lgodoeiro. Bayer Cropscience ln:
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Mato Grosso. 2003. 79 f. Tese (Doutorado em Genética e melhoramento) ESALQ,
Piracicaba, SP. 2003.
VARIEDADES TRANSGÊNICAS E
SEU MANEJO 7
1
Paulo Augusto Vianna Barroso
Lúcia Vieira Hoflmami2
Aluízio Borém3

Introdução

As modificações das características genéticas e fenotípicas de


plantas se iniciaram há mais de 10.000 anos. A alteração do
comportamento do homem de caçador-coletor para cultivador lançou
as bases para a sociedade que conhecemos hoje. Essa mudança
oconeu de forma independente e difusa no mundo, sobretudo em
áreas tropicais e subtropicais, com a diversidade biológica e cultural
elevada. Em todas essas áreas, as variações genéticas das plantas
silvestres e cultivadas têm sido exploradas para desenvolver seus
cultivares (ELLSTRAND et al., 1999).
Os ganhos en1 produtividade em meados do século XX foram
associados ao desenvolviinento de variedades com b01n desempenho e
uso intensivo de insumos. Embora os progressos obtidos sejam
expressivos, os desafios à frente são ainda maiores e o melhoramento
genético vem-se modenlizando e incorporando novas técnicas para se
tornar mais rápido e preciso. No sentido amplo, a biotecnologia pode
ser entendida como qualquer aplicação tecnológica que usa sistemas

1
Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Pesquisador da Embnipa. E-mail: paulo.barroso@embropa.br
2 Engcnheim-Agrônoma, M.S., D.S. e Pesquisadora da Embrupa. E-mail: lucin.hotlimum@cmbrJpa.br
·1 Engenhdro-Agrõnomo, M.S .• Ph.D. e Professor da Universidade Fedem! de Viçosa.

E-mail: borem@ufv.br
134 Barroso, Hof(mann e Borém

biológicos, organismos vivos ou seus derivados, visando produzir ou


modificar produtos ou processos para um uso específico. Segundo
esse conceito, a biotecnologia é um dos mais antigos procedimentos
tecnológicos desenvolvidos pelo homem, abrangendo desde a
produção do pão e da cerveja até os mais sofisticados organismos
geneticamente modificados. Hoje, os conhecimentos e tecnologias
gerados estão presentes nos mais diversos produtos, desde sabões em
pó, passando por vacinas e medicamentos, até alimentos e matérias-
primas produzidas em cultivares geneticamente modificados.
O algodoeiro é uma das culturas que mais se têm
beneficiado com a nova biotecnologia. As novas tecnologias
geradas não só possibilitaram reduzir os custos de produção e
aumentar a produtividade, como também tomaram a cultura
ambientalmente mais amigável. Os impactos nas lavouras dos
países que estão usando os primeiros genótipos produzidos com o
auxílio direto da biotecnologia permitiram a ocorrência de
profundas alterações nas propriedades. Considerando que a
biotecnologia baseada no DNA é uma ciência nova e em franco
desenvolvimento, maiores e mais profundas alterações são
esperadas para a agricultura e, particularmente, para a cotonicultura
nas próximas décadas.

Tipos de variedades transgênicas


Historicamente, os Estados Unidos são os líderes na adoção de
biotecnologia no mundo. O Brasil, entretanto, ganha destaque neste
cenário a cada ano. Por exemplo, em 2006, enquanto os Estados
Unidos somavam 54,6 milhões de hectares e estavain em primeiro
lugar no ranking da adoção, o Brasil plantava 11 ,5 milhões de
hectares, figurando na terceira posição. A diferença era de 43, l
milhões de hectares (Figura 7 .1 ). De 2006 a 2012, embora a
agricultura americana tenha mantido a liderança, o ritmo de
crescimento brasileiro foi mais acentuado, o que fez corn que O País
assumisse o segundo lugar (antes da Argentina) e re duzisse a
diferença de área plantada em 10,2 milhões de hectares 2012. Apesar
de haver dezenas de espécies en1 que cultivares transgênicos eslào
disponíveis, em três, soja milho e a lgodão, a adoção foi ma ior.
Variedades tra11sgê11icas e seu manejo 135

Área plantada com cultivares GM


RO - ----
6?,5

1O ---=:::::::
0 - - - - - -- - - - - - - - - -
2006 2007 20011 2009 2010 201 1 20 12
,\no

-+-EUA ---Uni:,il

Figura 7 .1 - Evolução da área plantada com cultivares geneticamente


modificados nos EUA e no Brasil no período de 2006 a
2012, em milhões de ha.
Fonte: ISAAA, 2012.

O melhoramento convencional do algodoeiro foi capaz de


solucionar muitos dos problemas da cultura. Como em toda ciência
genética, a matéria-prima do melhorista são os genes à sua disposição,
sendo mais eficiente quanto maior a quantidade de genes diferentes
disponível. Um gene somente pode ser usado pelo melhorista
convencional caso ele esteja em uma planta capaz de se cruzar com a
o algodoeiro e produzir descendentes férteis, ao menos parcialmente.
Dessa forma, apenas os genes contidos em todos os indivíduos das
espécies alotetraploides, G. hirsutwn, G. barbadense, G. mustelinum,
G. tomentoswn e G. darwinii, podem ser u sados diretamente para a
produção de cultivares, sendo a transferência realizada pelo simples
cruzamento 1nanual das flores. Entre as espécies de Gossypium
diploides, aquelas que pertencem aos grupos genômicos A, D, B e F
também podem fon1ecer seus genes, sendo necessária a realização de
procedimentos que envolvam duplicações cromossômicas para a
obtenção de indivíduos férteis. No caso dos diploides dos demais
grupos genômicos de Gossypium - C, E e G -, há grande dificuldade
em realizar a transferência de genes, sendo necessários procedimentos
muito complexos e com baixo nível de sucesso. Assim, um melhorista
de algodoeiro pode contar, no máximo, com os genes presentes nas 50
136 Barroso, /-loffi1w1111 e Borém

espécies do gênero Gossypium para desenvolver variedades. Apesar


de o número parecer elevado, não é suficiente para reso lver parte dos
problemas séri os do algodoeiro e limi ta as possibilidades do
melhoramento genético.
Além da via sexual, por meio da fecundação dos gametas, os
genes podem ser introduzidos em um indivíduo via transformação
genética. Esse processo é conhecido desde 1923 e pode ser definido
como a incorporação de um fragmento de DNA exógeno ao DNA de
um indivíduo. A transformação é um processo que ocorre na natureza
e, com a evolução das técnicas de biologia molecular, passou a ser
realizado de modo controlado, dando origem aos organismos
geneticamente modificados.
O algodoeiro foi uma das primeiras espécies em que cultivares
geneticamente modificados foram comercialmente explorados. O
marco inicial foi a liberação comercial de cultivares tolerantes ao
herbicida bromoxinil, em 1994, nos EUA. A partir de então a área
plantada com cultivares geneticamente modificados cresce de modo
bastante acentuado. Desde 2009, mais de 50% de todo algodoeiro
cultivado no mundo é geneticamente modificado (Figura 7 .2). Esse
valor foi atingido no Brasil na safra 2012/13. As variedades
transgênicas de algodão aprovadas pela CTNBio até a presente data
estão listadas na Tabela 7 .1.

Figura 7.2 - Percentagem de adoção dos cultivares geneticamente


modificados de algodoeiro no Brasil e nas regiões em
que o algodoeiro foi plantado na safra 2012/ 13.
Fonte: Elaborado a partir dos dados de CELERES, 201 3.
Tabela 7.1 - Descrição das variedades transgênicas de algodão aprovadas para comercialização no Brasil até
2013 ~

~
Ano de
Nome C omercial Eventos Organismo Doador Caractcrísticn Proteína Obtentor ~
.,,
Bolgard I MON531 Bacillus tlturingiensis Resistente a insetos CrylAc Monsanto
aprovação

2005
-~
Round up Ready MONl445 Agrobacterium tumefaciens Tolerante a herbicida ~
CP4- EPSPS Monsanto 2008 ê)
Liberty Link LLCotton25 Streptomyces viridochromogenes Tolerante a herbicida PAT Bayer 2008
;:; .
:::i
e-,
Bolgardl Bacil/11s 1/111ri11gie11sis/ Tolerante a herbicida e ~
MON531&MON1445 Cry 1Ac CP4-EPSPS Monsanto 2009 c..,
Roundup Ready Agrobacterium tumefaciens resistente a insetos
ê
281-24-236 & 3006- Baci/lus thuringie11sisl Tolerante a herbicida e Dow
WideStrikc CrylAc CrylF PAT 2009
210-23 Streptomyces viridochromogenes resistente a insetos Agrosciences ê
Bolgard li MON15985 Bacil/11s 1/wri11gie11sis Resistente a in.sctos Cry2Ab2 CrylAc
~

Monsanto 2009

GlyTol GHB614 Zea rnays Tolerante a herbicida 2mEPSPS Bayer 2010


Bacillus tlwringiensis/ Resistente a insetos e
TwinLink T3~0&GHB119 Cry!Ab Cry2Ae PAT Bayer 2011
Streptomyces hygroscopicus tolerante n herbicidas

MON88913 MON88913 Agrobacteri11111 111111efaciens Tolerante a herb icida CP4-EPSPS Monsanto 2011
Gly tol x Gf-18 61 4 x T304-40 x Zea 111ay/B.t/111ringiensisl Tolerante a her bicida e
CrylAb, cry2Ae,2mepsps Bayer 2012
TwinLink GHB 119 Streptomyces higroscopicus resistente a insetos
GHB6l4 x Zea mays!Streptomyces
GTxLL Tolerante a herbicida 2mepsps, bar Bayer 2012
LLCollon25 viridochromogenes
Bolgmd 11
MON 15985 x MON Baci/111s th11ringie11sisl Tolemntc u herbicida e cry I Ac e cry2Ab2 e CP4-
Roundup Rcady Mons:lllto 2012
Flex
88913 Agrobacteríum ltlmefaciens resistente a insetos EPSPS

-
v->
-..J
138 Barroso, /-loj/i11a1111 e Borém

Variedades tolerantes a herbicidas


A planta do algodoeiro apresenta crescimento lento,
principalmente nos primeiros estádios de seu ciclo. O vagaroso
desenvolvimento inicial torna a lavoura vu lneráve l à competição com
plantas daninhas ou invasoras, o que pode ca usar reduções drásticas
na produtividade. No final do ciclo, a presença de algumas espécies de
plantas daninhas dificulta a colheita e deprecia a qual idade da fibra.
Por essas razões, o controle de p lantas invasoras é muito importante,
sendo realizado por meio mecânico, químico ou cultural.
Isoladamente ou em associação, a maioria dos s istemas de manejo
inclui o uso de herbicidas em pré e pós-emergência. O pré-requisito
essencial para se utilizar um herbicida é que ele seja incapaz de causar
danos ao algodoeiro. Tal condição faz com que muitos produtos não
possam se empregados ou que se restrinjam a jato dirigido.
Embora o algodão não seja tolerante a herbicidas de amplo
espectro, outros organismos biológicos possuem genes que codificam
proteínas capazes de detoxificar ou que não são afetadas por essas
substâncias, mantendo o metabo[ismo normal mesmo na presença do
herbicida. A transfonnação de a lgodoeiros com alguns desses genes
pennitiu o desenvolvimento de cultivares tolerantes a herbicidas. Até
o momento, cinco diferentes algodoeiros tolerantes a herbicidas foram
autorizados para plantio em cmnpo em alguns países, parte deles no
Brasil. Segue-se uma breve descrição de cada um.
O algodoeiro tolerante aos herbicidas da classe do oxinil, que
inclui o bromoxinil, denominado BXN, foi o primeiro algodoeiro
geneticamente modificado disponibilizado aos agricultores. Ele foi
aprovado pelas autoridades dos EUA em 1994 e começou a ser usado
em 1995. O bromoxinil (3,5-dibromo-4-hidroxibenzonitrila) age em
plantas dicotiledôneas bloqueando o fluxo de elétrons durante a fase
clara da fotossíntese e provocando a síntese de radicais livres do tipo
superóxidos, que destroem as membranas celulares e inibem a
formação de clorofila e matam a planta. O BXN contém u1n gene que
codifica a enzima nitrilase, originalmente presente na bactéria
Klebsiella pneumoniae subespécies ozanae. Essa enzima quebra 0
herbicida em compostos não tóxicos, inativando-o. Ele foi p lantado
apenas nos EUA, com nível de adoção baixo, sendo mais empregado
no Arkansas, no Tennessee e em Missouri, estados .em que a corda de
Variedades tra11sgê11icas e seu 111a11ejo 139

viola representa um problema mais sério. Ele foi disponibilizado até


2004, quando deixou de ser comercializado. Também foi
desenvolvido um algodoei ro tolerank à sulfoni1urea. Apesar de ter
sido autorizado nos EUA para ser cultivado em escala comercial em
1996, não entrou efetivamente no mercado. A tolerância ao
sulfonilurea é conferida pelo gene ais, que codifica a enzima ALS
( aceto lacta to sintase).
Um ano após a liberação do BXN, foi autorizado nos EUA o
plantio co1nercia l de algodoei ros to lerantes ao glifosato, os quais são
conhecidos no mercado como algodoeiros Roundup Ready ou RR e
foram liberados para cultivo pela primeira vez em 1997" nos EUA. O
glifosato inibe uma enzima presente em plantas, fungos e bactérias
que é essencial para síntese de compostos aromáticos, incluindo
alguns aminoácidos, vitaminas e hormônios vegetais. Essa enzima é
denominada 5-enolpiruvil-chiquimato-3-fosfato sintetase (EPSPS) e é
produzida pela expressão do gene epsps. Prospecções iniciadas na
década de 1980 permitiram identificar algumas bactérias insensíveis
ao glifosato, cuja enzima EPSPS mantinha sua atividade biológica na
presença do herbicida. O gene cp4-epsps, obtido de Agrobacterium
spp. estirpe CP4, foi clonado e transferido via transfonnação para
plantas de algodão. Sua expressão propiciou uma rota alternativa para
a síntese dos compostos aromáticos: ao aplicar o glifosato, a EPSPS
da planta é inibida, mas não a CP4-EPSPS inserida por transformação,
propiciando que as plantas de algodoeiro se desenvolvam
nonnalmente na presença do herbicida.
Três tipos diferentes de algodoeiro tolerantes ao glifosato
foram desenvolvidos: Roundup Ready, Roundup Ready Flex e Glytol.
O algodão Roundup Ready ou algodão RR foi o pri1neiro a ser
desenvolvido e tem como característica marcante o fato de o glifosato
somente poder ser aplicado sobre as plantas de algodão até o estádio
V4 (quatro folhas verdadeiras). Caso seja aplicado após esse estádio,
ocorrem reduções na produtividade devido à macho-esterilidade
parcial. A limitação da aplicação do glifosato após o desenvolvimento
das quatro folhas verdadeiras deve-se ao baixo nível de expressão da
enzima CP4 EPSPS nos tecidos re lacionados à produção de pólen.
Isso permite que o glifosato se acumule em concentrações tóxicas e
comprometa a formação do pólen e das estruturas florais masculinas,
sendo o problema mais intenso em temperaturas 111ais e levadas.
140 Barroso. Hr~[fma,111 e Borém

Presume-se que a menor quantidade de pólen viável produ z ida cause


uma baixa ferti lização dos óvulos, resultando em menor quantidade de
sementes por capulho e em elevada taxa de abo rtamento de maçãs.
Para resolver o problema de limitação da tolerân cia durante a fase
reprodutiva do algodoeiro, foi desenvolvido o Ro undup Ready Flex.
Ele difere do Round Ready por possuir duas cópias do gene cp4-
epsps, cuja expressão atinge níveis capazes de fornecer tolerânc ia ao
glifosato em órgãos vegetativos e reprodutivos. Assim, algodoeiros
Roundup Ready Flex podem receber pulverizações de glifosato
durante todo o ciclo sem causar reduções de produtividade. Outro
evento de segunda geração tolerante ao glifosato é comercial.mente
conhecido como Glytol, tendo sido aprovado para uso comercial nos
EUA em 2008 e no Brasil em 2010. A tolerância ao glifosato é
condicionada pela expressão do gene 2mepsps, originalmente obtido
do milho e que foi alterado em apenas dois aminoácidos para se tomar
tolerante ao herbicida.
Outro algodoeiro geneticamente modificado disponível
comercialmente é o Liberty Link ou LL. Ele possui tolerância ao
herbicida glufosinato de amônia, produto não seletivo e de amplo
espectro. Da mesma forma que a segunda geração de eventos
tolerantes ao glifosato, o glufosinato de amônio pode ser aplicado em
cultivares Liberty Link durante todo o ciclo sem causar injúrias às
plantas. O glufosinato de amônia, que é unia fosfinotricina sintética,
inibe a enzima glutamina sintetase, responsável pela incorporação da
amônia ao ácido glutâmico para formar a glutamina. A inibição
causada pelo herbicida provoca carência de glutamina, inibição da
fotossíntese e acúmulo de amônia, que atinge níveis tóxicos, levando à
dessecação do vegetal. O algodoeiro Liberty Link possui o gene bar
(bialophos resistance), obtido da bactéria de solo Sh·eptomyces
hygroscopicus. Esse gene codifica a enzima PAT (fosfinotricina-N-
acetil transferase), que acetila a fosfinotricina produzindo N-acetil
fosfinotricina, composto não tóxico.
Novos eventos estão sendo desenvolvidos para que as plantas
de algodoeiro sejam tolerantes a herbicidas da classe das auxinas,
mais especificamente dicamba e 2,4-D. A tolerânci~ a 2,4-D é
conferida pelo gene ariloxialcanoato dioxigenase - 12 (aad- 12),
originalmente presente em Delfiia acidovorans, uma bactéria, que
degrada o herbicida em 2,4-diclorofenol (DCP). No caso de dicambn
'
Variedades transgénicas e seu manejo 141

o efeito fenotíp ico de tolerância se deve ao dicamba mono-oxygenase


(DMO), gene cuja expressão demeti la o dicamba no ácido 3,6-
diclorosalicilico (DCSA), metabólito inativo. Esses eventos deverão
ser disponibilizados em associação com a tolerância ao glifosato e, ou,
glufosinato de amônio. A tolerância concomitante a diversos
herbicidas é uma estratégia que pode dar bons resultados, pois a
possibilidade de manejar as plantas daninhas usando diferentes
princípios ativos torna mais baixa a probabilidade de desenvolvimento
de biótipos tolerantes. Porém, a destruição de restos culturais,
particularmente em áreas de plantio direto, poderá ser um desafio
maior do que na atualidade. Tradicionalmente, a destruição dos restos
culturais associa um método mecânico - roçadeira ou triton - com a
pulverização de herbicidas nas rebrotas. Os herbicidas mais
frequentemente usados para destruição dos restos culturais na
atualidade são dicamba e 2,4-D. No caso de plantio de cultivares
resistentes a esses herbicidas, eles deixam de ser uma opção para
eliminar o algodoeiro ao final do ciclo.

Variedades transgênicas resistentes a insetos


O algodoeiro é uma das espécies cultivadas com
maior número de insetos-praga, que se não adequadamente
controla.dos, provocam severas reduções de produtividade. O método
de controle mais empregado é o químico. Desde que adequadamente
escolhidos e aplicados, os inseticidas são capazes de proporcionar um
controle eficiente das pragas, i.tnpedindo que se atinja o lüniar de dano
econômico. Grande quantidade de inseticidas é usada pelos
produtores, que, embora necessários, apresentam uma série de
inconvenientes, como o aumento do custo de produção e do impacto
ambiental da lavoura, além de expor aqueles que trabalham na lavoura
a riscos de intoxicações.
A associação da resistência genética a insetos com outras
medidas de controle é preconizada pelo manejo integrado de pragas. O
melhoramento para obter plantas mais resistentes às pragas deveria estar
inserido em todos os programas de desenvolvimento de cultivares. Várias
características geneticamente herdáveis presente nos algodoeiros
conferem maior resistência a insetos. Podem-se citar como exemplos a
presença de glândulas de gossipol, que contêm substâncias tóxicas para
142 Barroso. f-lojfi11a1111 e Borém

muitos insetos; a pilosidade elevada, que diminui a incidência de pulgões


e a coloração roxa das folhas, menos atrativa para alguns insetos. Apesar
da variabilidade existente, a resistência genética a pragas é muito pouco
utilizada. As principais razões são: i) boa parte das características de
resistência a doenças presentes nos algodoeiros se baseia no princípio da
não preferência, ou seja, o inseto se alimenta prioritariamente de plantas
que não possuam detenninada característica. Porém, quando plantas
contendo uma característica de não preferência são a única opção
alimentar, o inseto coloniza e ataca as plantas; ii) ocorre, às vezes, que os
genes envolvidos na expressão da resistência estejam ligados a outros
genes que causam efeitos indesejáveis, como redução na produtividade e
na qualidade da fibra, dificultando o processo de obtenção de plantas com
os genes de resistência a insetos e sem os genes depreciativos de outras
características importantes; e iii) algumas das características de
resistência a pragas apresentam herança complexa, condicionada por um
grande número de genes e com forte interação com o ambiente e com a
população do inseto.
Um microrganismo que produz uma toxina letal para
insetos a partir de um gene é Bacil!us thuringiensis. Essa bactéria
ocorre em solos, insetos e plantas, entre as quais o algodoeiro;
durante a fase de esporulação, produz cristais constituídos por
polipeptídios biologicamente inativos den01ninados delta-endotoxinas,
toxinas Bt ou proteínas Cry. A ativação da toxina ocorre no interior do
intestino do hospedeiro, pela ação de proteases produzidas pelo inseto.
Uma vez ativada, a toxina se liga a receptores presentes nas
microvi]osidades das células do intestino e induzen1 a fonnação de poros
que interferem no sistema de transp011e de íons pela membrana
citoplasmática, causando alise das células do epitélio do intestino. Como
consequência da desestruturação de seu intestino, o inseto para de se
alimentar dentro de poucas horas e morre por inanição e1n alguns dias.
As proteínas Cry possuem especificidade em relação ao
inseto-alvo. A atividade proteolítica da toxina no trato digestivo do
inseto resulta na ligação da toxina aos receptores das células do
epitélio do intestino e na capacidade da toxina em fonnar os poros.
Portanto, dete1minada toxina Cry não é capaz de causar danos e1n uma
gama muito grande de insetos. Boa parte delas é específica para uma
ordem coleóptera, lepidóptera ou díptera. Porém, há toxinas Cry
capazes de atuar em espécies de mais de uma ordem.
144 Barroso, /-lo.ff,1101111 e Borém

incorporação de restos culturais, rotação de culturas, uso seletivo de


defensivos agrícolas, rotação do princípio ativo desses defensivos e
utilização de variedades resistentes, entre outros. O manejo das
variedades transgênicas segue os mesmos princípios que norteiam
uma agricultura autossustentável. Entretanto, as particularidades de
cada tipo de variedade definem práticas específicas que devem ser
adotadas.

Manejo das variedades tolerantes a herbicidas


O principal empecilho para que as tecnologias de tolerância a
herbicidas tenham vida longa é o desenvolvimento de resistência aos
princípios ativos por plantas daninhas. O uso continuado de um
herbicida pode induzir a seleção de biótipos de plantas daninhas
resistentes, que, a depender da agressividade e da frequência da
espécie, pode inviabilizar seu uso. Isso foi verificado em algumas
regiões cotonícolas dos EUA, sendo especialmente problemática para
Amaranthus palmeri. No Brasil foram relatadas quatro espécies com
biótipos resistentes ao glifosato: Lolium multiflorum, Conyza
bonariensis, Conyza canadensis e Digitaria insularis.
Pode-se postergar o aparecimento desses biótipos ou mantê-
los em frequência baixa, adotando medidas relativamente simples de
manejo. Algumas das mais eficazes são alternar o uso de cultivares
tolerantes a diferentes princípios ativos, intercalar plantios de
cultivares tolerantes com cultivares convencionais, usar sempre a dose
recomendada do herbicida e realizar rotação de cultura com espécies
não tolerantes. Um monitoramento constante da lavoura com a
destruição de plantas daninhas suspeitas de possuírem resistência
usando outros herbicidas ou métodos físicos deve ser realizado.
Adequadamente manejadas, as plantas daninhas impo1iantes para a
cultura do algodoeiro devem pe1manecer suscetíveis aos herbicidas, e
as tecnologias e benefícios dela provenientes poderão ser usufruídas
por mais tempo.
146 Barroso, Ho_Ui11a1111 e Borém

pequena, menor que 800 m, e que haja sincronia na emergência dos


insetos adultos nas duas áreas.
No Brasil, a li beração do algodoeiro Bollgard foi
condicionada à presença de áreas de refúgio, em área que represente
pelo menos 20% da área culti vada com algodoeiros Bollgard. Ornoto e
Matinelli (2005) publicaram um comuni cado técnico, em que
propõem que o refúgio pode ser colocado a campo em diferentes
conformações, como em faixas, na bordadura, em bloco e em campos
adjacentes (Figura 7.3). Em todos os casos, não deverá ter menos de
50 linhas, pode ser pulverizado com inseticidas para o controle de
pragas e não deve estar localizado a mais de 800 m de distância dos
campos de algodoeiro Bollgard. Para pequenos e médio produtores, há
a opção de refúgio comunitário (Figura 7.4), no qual uma mesma área
de refúgio é compartilhada por produtores vizinhos . O refugio
comunitário segue as mesmas regras descritas.
O refúgio também é preconizado em países como Austrália e
EUA, podendo ser realizado co1n e sem pulverização de inseticida nos
algodoeiros convencionais. Na Austrália, o refugio pode feito com
espécies diferentes de algodoeiro, mas hospedeiras dos mesmos
insetos-praga. Para Bollgard II, por exemplo, em vez de 10%
algodoeiro convencional não pulverizado, o agricultor australiano
pode optar por compor o refúgio com grão de bico. Ele não deve ser
pulverizado com inseticidas e possuir área equivalente a 5% daquela
plantada com algodoeiro Bollgard II. Nos EUA, a área de refugio com
algodoeiros convencionais para Bollgard II pode ser de 5% quando
não for realizada a pulverização com inseticida ou 20% quando a área
for pulverizada com inseticidas. A maior c01nplexidade de pragas no
Brasil, que inclui o bicudo, impede que refúgio sen1 aplicação de
inseticidas seja realizada.
Podem-se manter os insetos resistentes en1 níveis baixos
também pela incorporação de duas ou mais toxinas, desde que os
mecanismos de resistência dos insetos não sejam os mesmos. A
presença de duas toxinas reduz os efeitos da seleção para os
indivíduos que possuem os genes associados à resistência de apenas
uma toxina. Como a frequência de insetos que possuem
simultaneamente os dois mecanismos de resistência é muito 1nais
baixa do que a daqueles que detêm apenas um, impede-se ou posterga-
se que população evolua para a resistência. A associação entre a
Variedades tra11sgê11icas e :.-eu ma11~jo 147

estratégia de refúgios com a expressão de duas toxinas, já presente em


alguns algodoeiros transgênicos, poderá prolongar a inda mais
durabi Iidade da tecnologia.

Bordadura Em bloco

Em faixas Campo próximo


,,

Campo adjacente

■ Algodoeiro Bollgard

D Algodoeiro convencional

Figura 7 .3 - Conformações possíveis para o plantio de refúgios. A área


dos refúgios deve ser pelo menos 20% da área de
algodoeiros Bollgard, ter largura míni ma de 50 fileiras e
distância máxima de 800 m da lavoura com o algodoeiro
Bollgard.
148 Barroso, /-/ of]i11u1111 e Borém

l2ha

D Algodoeiro Bollgard

D Algodoeiro convencional
Figura 7.4 - Refúgio comunitário para algodoeiros presentes em
mesma região.

Outro problema que poderá ocorrer quando os algodoeiros


resistentes a insetos estiverem sendo plantados em larga escala é o
aumento da importância de pragas não controladas pelas toxinas
presentes nas plantas transgênicas. A aplicação de inseticidas para o
controle das pragas-chave mantém outros insetos em níveis baixos.
Porém, a redução da quantidade ele inseticidas usados e1n lavouras
resistentes a lagartas pode ocasionar aumento da população da praga
secundária a ponto de causar danos econômicos. Em algmnas regiões
da China e dos EUA há relatos de aumento da importância de insetos
como mosca-branca, percevejos e cigarrinhas.

Perspectivas
Outros tipos de variedades geneticamente modificadas
resistentes a lagartas e tolerantes a herbicidas estão em
desenvolvimento. Espera-se que o maior número de genes permita
Variedades tra11sge11icas e seu manejo 149

maior longevidade da resistência, como já discutido. Outro aspecto


positivo será o aumento de empresas detentoras da tecnologia, cuja
competição poderá ocasionar a redução do valor da taxa tecnológica.
Com isso, maior proporção dos benefícios econômicos resultantes da
tecnologia poderá fi car com os produtores de algodão e com os
consumidores.
O controle de outros insetos-praga por algodoeiros geneticamente
resistentes também está sendo buscado, principalmente contra o
bicudo. Do mesmo modo que para o controle de lepidópteros, os
genes c,y provenientes de Bacillus thuringiensís são um dos mais
promissores, tendo sido identificados algumas toxinas Cry com
atividade contra o bicudo. Inibidores de amilases e de proteinases
também estão em estudo para controle dessa importante praga. Urna
nova perspectiva que se descortina é o uso da tecnologia do RNA
interferente, ou RNAi, que é a mesma usada para produzir o feijoeiro
resistente ao mosaico dourado, produzido pela Embrapa. Nessa
tecnologia, o transgene inserido na planta codifica a síntese de um
pequeno fragmento de RNA complementar ao RNA mensageiro de
uma enzima do inseto. O pequeno RNA será sintetizado na planta e
ingerido pelo inseto ao se alimentar. No trato digestivo do inseto, ele
se ligará à sequência complementar do RNA mensageiro, formando
uma molécula de RNA de fita dupla. Essa molécula de RNA de fita
dupla será reconhecida por um complexo aparato celular que
degradará todo o RNA mensageiro, evitando que a proteína por ele
codificada seja sintetizada. A hipótese das pesquisas em andamento é
que as plantas geneticamente modificadas de algodoeiro que associem
a expressão de RNAi e proteínas com características inseticidas
possam ser capazes de conferir resistência do algodoeiro ao bicudo.
O aumento da tolerância ao estresse hídrico e da eficiência no
uso da água são outras possibilidades exploradas via transgenia.
Algumas instituições, incluindo instituições públicas brasileiras, estão
desenvolvendo estudos com genes cuja• inserção em plantas via
transformação deve resultar vegeta is geneticamente modificados mais
tolerantes ao déficit hídrico. Os esforços se concentram nas principais
commoditíes, incluindo o algodoeiro. É bem provável que nos
próximos anos algodoeiros comprovadamente mais tolerantes à
deficiência hídrica venham a ser liberados comercialmente. O grande
número de patentes relativas ao aumento do estresse hídrico em
1.50 Barroso, J-!o.fji1w1111 e Borém

plantas depositadas nos bancos de patentes americano e europeu


indica que diversas insti tu ições estão trabalhando com afinco e que
poderá haver difere ntes opções para os produtores, de modo similar ao
que começa a ocorrer com os algodoeiros tolerantes a herbicidas e
resistentes a lagartas.
A qualidade nutricional elos caroços do algodoeiro também
t:stá sendo trabalhada via transgenia, particularmente quanto à
presença de gossi pol nas sementes O algodoeiro possuiu gossipol e
outros terpenoides em glândulas presentes nos caules, folhas, flores e
n1açãs e sementes do algodoeiro. As mesmas substâncias também são
produzidas em resposta à infecção por patógenos, de modo similar às
fitoalexinas. Ao mesmo tempo que confere resistência a patógenos e
insetos-praga, a presença do gossipol nas se1nentes de algodoeiro
toma-as inadequadas para o consumo de monogástricos. Por isso, são
usadas apenas para a produção de óleos comestíveis, após a extração
do gossipol, e na alimentação de ruminantes. Estima-se que sejam
produzidos cerca de 44 1nilhões de toneladas de caroços de algodão
anualmente, valor que seria suficiente para suprir as necessidades
proteicas de centena de milhões de animais domésticos e seres
humanos. Tentativas de transferir esta ausência de glândulas apenas
nas sementes para as plantas de algodoeiro cultivadas foram
realizadas; no entanto, não se obteve êxito até o momento devido à
grande quantidade de características não desejáveis que foram
incorporadas junto com a ausência de glândulas nas sementes. Usando
a tecnologia de RNAi, algodoeiros contendo glândulas de gossipol em
toda a planta, mas não na semente, foram desenvolvidos pela Texas
A&M University (EUA). Embora tenham esse efeito fenotípico
altamente desejável, os eventos ainda não foram autorizados para
serem plantados comercialmente em nenhum país.

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ZHAO, J. Z.; CAO, J.; COLLINS, H. L.; ROUSH, R. T.; EARLE, E. D.; SHELTON,
A. M. Transgenic plants expressing two Bacillus tlwringiensis toxins delay insect
resistance evo lution. Nature Biothecnology, v. 21, p. 1493-1497, 2003 .
NUTRIÇÃO, CALAGEM E
8 ADUBAÇÃO

Maria da Conceiçcio Santana Carvalho'


2
Ana Luiza Dias Coelho Borin
Luiz Alberto Staur3
4
Gi/van Barbosa Ferreira

Introdução
Os solos da região do cerrado são naturalmente de baixa
fertilidade, em sua maior parte, e a reserva de nutrientes não é
suficiente para suprir a quantidade extraída pelas culturas e exportada
nas colheitas por longos períodos. Assim, sua correção e adubação são
essenciais.
A correção da acidez do solo e a adubação mineral do algodoeiro
no cerrado chegam até 30% do custo total da cultura. Assim, o uso eficiente
da adubação é essencial para alta produtividade, redução de custo por kg de
algodão produzido e viabilização dos sistemas de produção vigentes.
No cerrado obtêm-se até 6.000 kg/ha de algodão em caroço
devido às condições favoráveis para o desenvolvimento da cultura e ao
alto nível tecnológico adotado nas lavouras. Nessas condições, a
adubação tem que atender à demanda do sistema de produção usado e à
expectativa de produtividade local, além da necessidade de uso racional

1
Engenheira-Agrônoma, D. Se., Pesquisadora da Embrapa An-oz e Feijão.
E-mail: maria.earvalho@embrapa.br
1
Engenheira-Agrônoma, D. Se., Pesquisadora da Embrapa Algodão. E-mail: ana.borin@e1nbrapa_br
Engenheiro-Agrónomo, M. Se., Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste.
E-mail: luiz.staut@embrapa.br
4
Engenheiro-Agrónomo, D. Se., Pesquisador da Embrapa Algodão.
E-mail: gilvm1.fen-cira@embrapa.br
N11triçâo. calagem e aduhaç·r7o 157

dos fe11ilizantes e a manutenção das produtividades alcançadas com


sustentabilidade e responsabilidade ambiental.

Deficiência nutricional e diagnose foliar no


algodoeiro
O algodoeiro é exigente de nutrientes e, se houver suprimento
inadequado, ele manifesta sintomas típicos de deficiência.
O estado nutricional da planta pode ser avaliado pela simples
comparação entre uma amostra (planta ou conjunto de plantas) e um
padrão (com teores adequados de nutrientes) (MALAVOLTA, 1997).
A diagnose visual é uma fonna de avaliar o estado nutricional, através
da comparação de uma amostra deficiente com um padrão normal,
geralmente folhas de igual estágio fonológico e mesma posição na
planta (TAIZ; ZEIGER, 2006). A folha é a parte da planta mais usada
no diagnóstico visual, porém há vários fatores que alteram as folhas, o
que leva a confundir com deficiência. Portanto, é necessário observar
se existe incidência de pragas e doenças, se os sintomas são
generalizados, e se existem gradiente e simetria na planta.
No caso de incidência de pragas e doenças, os sintomas não
são generalizados, não há simetria na folha nem gradientes de
mobilidade, além de o agente causador do dano (praga, doença ou
nematoide) estar presente. É o caso do avermelhamento das folhas do
algodoeiro que pode ser causado por ácaro (Figura 8. IA) ou vírus
(vermelhão-do-algodoeiro) (Figura 8.lB), mas pode ser confundido
com a deficiência de magnésio.
A sintomatologia de deficiência nutricional é generalizada, ou
seja, o sintoma ocone em grandes áreas, não isolado em uma única
planta, ou em reboleira (MALA VOLTA, 1997). Alguns nutrientes
podem ser redistribuídos das folhas mais velhas para as mais novas
(TAIZ; ZEIGER, 2006), criando gradiente de mobilidade. Nutrientes
móveis na planta, como nitrogênio, fósforo, potássio e magnésio,
podem prontamente mover-se das folhas mais velhas para as mais
jovens; dessa forma, os sintomas de deficiência tendem a aparecer
primeiro nas folhas mais velhas. Por outro lado, nutrientes de baixa
mobilidade, como o cálcio, enxofre, boro, cobre, manganês e zinco,
apresentam os sintomas nas folhas jovens. Em qualquer caso. há
158 Carvalho, Borin, Staut e Ferreira

sempre um gradiente de intensidade do sintoma de deficiência, de


baixo para cima (nutrientes móveis) e de cima para baixo (nutrientes
de baixa mobilidade).

Figura 8.1 ~ Danos ocasionados pelo ataque de ácaro rajado na folha


(A) e sintoma da virose "vermelhão-do-algodoeiro" (B).
Fotos: A - Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira; B - Wirton Macedo Coutinho.

Outro ponto para confirmação de sintomatologia de


deficiência nutricional é a presença de simetria; na folha, o sintoma
ocorre tanto do lado direito quanto do lado esquerdo e1n relação à
nervura principal; e, no algodoeiro, a simetria acontece nos ramos
vegetativos e produtivos, em relação ao caule.

Nitrogênio
A deficiência de nitrogênio resulta em clorose em toda a
planta (Figura 8.2A e B). Por ser o nuh·iente móvel n a planta, os
sintomas de amarelecimento surgem nas folhas mais velhas do
"baixeiro" (Figura 8.2C). A deficiência diminui o crescimento, reduz
o número e o comprimento dos internódios, o nútnero de ramos
vegetativos e reprodutivos; ao se tornar mais severa, as folhas ficam
bronzeadas, secam e caem precoce111ente e ocorre queda anormal de
botões florais, flores e fh1tos novos, prejudicando a produtividade e a
qualidade da fibra (CARVALHO et ai., 2008, 2011 ).
Nutriç<io. calage111 e aduhaçüo 159

Figura 8.2 - Sintoma de deficiência de nitrogênio em algodoeiro (plantas


normais à direita) (A). Sintomas iniciais de deficiência nas
folhas mais velilas do "baixeiro" (B e C).
Fotos: A - Gilvan Barbosa Ferreira; B e C - Ana Luiza Dias Coelho Borin.

Fósforo
Há redução no crescimento da planta (Figura 8.3) (CARVALHO
et al., 2008, 2011 ), com presença de folhas de cor verde-escura intensa. A
deficiência reduz a fotossíntese, o acúmulo e a translocação dos
carboidratos para as maçãs, resultando em plantas pequenas (Figura
8.3A), com folhas mais velhas ave1melhadas (acúmulo de antocianina),
com manchas ferruginosas nas bordas e ressecarnento. Pode haver
avermelhamento do caule (Figura 8.3B). Se a deficiência é severa, há

,-- _
queda de botões florais, redução do tamanho e baixa retenção das maçãs,
com consequente redução da produtividade. __...,,....,,
B
_
_.,,.......-.,, __
.....,...__,.........,

Figura 8.3 - Sintoma de deficiência de fósforo em algodoeiro (plantas


à frente) (A) e deficiência severa, com avermell1an1ento
de caule e folhas, presença de manchas ferrugi nosas nas
bordas das folhas, evoluindo para ressecamento (B).
Fotos: Gilvan Barbosa Ferrei ra.
160 Carl'ltflw. /Jorin, Sta 11I e Ferreira

Potássio
A defic iência de potássio no algodoeiro é mais frequente e
intensa que noutras espécies agronômicas (KERBY; A DAMS, 1985).
Em pré-florescimento, é caracterizada pela clorose intem erval das
folhas do baixeiro, seguida de necrose nas margens e queda (Figuras
8.4 A e B); como consequência, há o encurtamento do ciclo, a má-
formação de capulhos, a redução da produtividade e da qualidade das
fibras (CARVALHO et ai., 20 11 ).
Se o suprimento de potássio for insuficiente para o enchimento
de maçãs ou uso de cultivares com alta capacidade produtiva e curto
período de maturação, a deficiência se manifesta nas folhas mais novas
do terço médio e superior da planta (Figura 8.4C).

l...

Figura 8.4 - Evolução dos sintomas de deficiência de potássio nas folhas


do algodoeiro (maior gravidade da direita para a esquerda)
(A); sintoma nas folhas do "baixeiro" (B) ou expresso nas
folhas do terço superior da planta e (C).
Fotos: A e B - Gilvan Barbosa Ferreira; C - Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira.
N11triçcio, calagem e adubaçcio 161

Cálcio
As deficiências de cálcio não são comuns no campo. Em
geral, são manifestados apenas os efeitos da acidez do solo e da
pobreza dos demais nutrientes (CARVALHO et ai., 20 l l ). Os
sintomas de cálcio são: menor crescimento, curvatura das margens das
folhas, colapso dos pecíolos, redução do florescimento e perda de
maçãs ( ROSOLEM; BASTOS, 1997).

Magnésio
A deficiência de magnes10 provoca lento crescimento do
algodoeiro, clorose nas folhas do baixeiro (Figura 8.5A), geralmente
clorose internerval (Figura 8.5B), enquanto o resto do limbo foliar pode
tornar-se vermelho-púrpura (CARVALHO et al., 2011) (Figura 8.5C).

Figura 8.5 - Deficiência de magnésio nas folhas do ''baixeiro'' no


a lgodoeiro (A); clorose internerval nas folhas ( 8 ); e
clorose e avermelhainento, com acúmulo de
antocianina (C).
Fotos: Gi lvan Barbosa Ferreira.
162 Carvo/110, Bnri11. Staut e Ferreira

Enxofre
A deficiência de enxo fre reduz a fo tossíntese, afetando a
produtividade e a qualidade da fi bra. As plantas têm menor
crescimento (Figura 8.6A), emi tem poucos ramos e apresentam fo lhas
no ponteiro de cor verd e-amarelada (Fig ura 8.6B) (CARVALHO et
al. , 2011 ).

Figura 8.6 - Sintoma de deficiência de enxofre em algodoeiro (plantas à


frente) (A) e clorose verde-limão típica da deficiência de
enxofre (B).
Fotos: Gilvan Barbosa Ferreira.

Boro
Os sintomas de defic_iência ocon-em nas partes j ovens, nos
!ecidos de condução e nos órgãos de propagação . São comuns
amarelecimento, endurecimento e enrugmnento das folhas do ponteiro;
presença de anéis concêntricos verde-escuros nos pecíolos (Figura 8.7) e
nas hastes, com necrose interna da medula, no período de
florescimento/frutificação, que podem surgir também nos ramos e na
haste principal (ROSOLEM; BASTOS, 1997; CARVALHO et ai.,
2011 ); e fa lha na genninação, desintegração de tecidos inte1nos, queda
excessiva de botões florais, de flores e frutos novos (ROSOLEM et ai.,
2001 ; ZHAO; OOSTEHUIS, 2002; T A IZ; ZEIGER, 2006).
N11triçiio. ca/agem e ad11haçiio 163

J
Figura 8.7 - Deficiência de boro caracterizada pela presença de anéis
escuros no pecíolo das folhas do algodoeiro.
Foto: Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira.

Outros micronutrientes (m.ongonês, cloro, molibdênio,


ferro, cobre e zinco)
O sintoma típico de deficiência de manganês é a clorose
intemerval em folhas jovens, pois o manganês é pouco móvel na
planta; clorose marginal das folhas mais novas, que ficam enrugadas e
têm o limbo cotn bordas voltadas para baixo, associado com a
ocorrência de entrenós mais curtos e queda de folhas e1n plantas
deficientes (ROSOLEM; BASTOS, 1997).
Dificiln1ente Cl, Mo, Fe, Cu e Zn apresentam deficiências
v1sua1s em ca1npo .
Para facilitar o diagnóstico, mn resumo das principais
características dos sintomas de deficiência de nutrientes é apresentado
em chave de identificação (Figura 8.8).
O\
~

- -Folh1'~ vellÍ.-is-
tol:llmcnte
dcsem·olvid.1s wncrDllz.:ida Nltroi;ênlo

Clorose
Com ou sem
avermelhamento
--i Ma6J1~:do
.,_________
1
_,
lntemcrv.il

Necrose nu mari;cns -,- , Po1;hslo 1

Defornupo do limbo Cobre


~neralizada Enxofre
Fina

Ferro
aorosc lntcrncn"31 Espessura do verti e das\
nervuras 1

Grossa Mmr;:inês
Mari;ens írresulares Zlnco r:i
,- Folhas jov('Jls ~
~
Pecíolos com anéis
Doro
::=:
escuros 5)
te
~
Mari;cns cun,;id.:is para
baixo
Clltiil ~-
S()
!:::
....
~

~
Figura 8.8 - Chave para diagnose visual da deficiência de nutrientes e1n algodoeiro. (";)
::::
~
~-
Nutriçcio, calagem e adubaçcio 165

Diagnose foliar
Os teores de nutrientes das folhas são reflexos das condições
de fertilidade dos solos e da adubação rea lizada na cultura, pois existe
relação direta entre os teores do solo e os das folhas e destes com a
produtividade, até determinado limite.
Em geral~ recomenda-se a coleta de, pelo menos, 25 folhas por
área homogênea, colhidas de 25 plantas diferentes, sendo retirada, do
caule principal de cada planta, a quarta ou quinta follia cortada a partir
do ápice, durante o período de máximo florescimento. Em condição de
boa nutrição (Tabela 8. 1), o algodoeiro alcança seu máximo potencial
produtivo.

Tabela 8.1 - Teores adequados de nutrientes usados na interpretação


dos resultados de análise da quinta folha do algodoeiro,
no estádio de máximo florescimento
N p K Ca Mg s
-------------------------------------------- g/kg ------------ ---------------------
35 a 43 2,5a4,0 15a25 20a35 3a8 4a8
B Cu Fe Mn Mo Zn
-------------------------------------------- mg/kg -----· _____________________________,__
30 a 50 5 a 25 40 a 250 25 a 300 0,5a 1,0 25 a 200
Fonte: SILVA; RAIJ, 1996; MALAYOLTA, 1987.

Extração e exportação de nutrientes pelo


algodoeiro
O algodoeiro é uma planta que extrai grandes quantidades de
nutrientes do solo durante o seu ciclo; no entanto, não é uma planta com
alta exportação de nutrientes, visto que somente cerca de 50% do total
absorvido é exportado através das fibras e caroço. A adubação deve
considerar as quantidades exigidas pela cultura e a capacidade de
fornecimento pelo solo, sendo importante suplementar por meio de
adubação quí1nica e, se possível, adubação orgânica. Caso contrário,
aparecerão os sintomas de deficiências nutiicionais e, quando isso ocorre,
166 Carvalho, Burin, Staut e Ferreira

o crescimento e a produção já podem estar comprometidos, pois a planta


passa por uma fase de "fome oculta", antes de manifestá-los.
Nos cen-ados brasileiros, Carvalho et ai. (2011) têm mostrado
que a extração total média de N, P2O 5, K 2O, CaO, MgO e S, de 66, 20,
59, 29, 9 e 6 kg/ha por tonelada de algodão em caroço produzida,
respectivamente. A expo11ação média é de 29, 8, 19, 4, 4 e 4
kg/ha/tonelada, respectivamente. Para os micronutTientes, são extraídos
cerca de 120, 43, 60-1.200, 52-92, 1 e 43-62 g/t de algodão em caroço de
boro, cobre, fen-o, manganês, molibdênio e zinco, respectivamente, e
exportam-se 16-27, 6-9, 7-200, 10-1 5 e 11 -44 g/t, respectivamente.

Marcha de absorção de nutrientes


O algodoeiro tem crescimento inicial lento, que se acelera a
partir dos 25-30 dias após a emergência. A absorção dos nutrientes pela
planta segue o seu padrão de crescimento, aumentando a partir dos 30
dias do plantio, na emissão dos primeiros botões florais, e alcança a
absorção máxima diária 60 a 90 dias após a germinação. Neste período,
as taxas de absorção de N e K são altas: podem ocorrer cerca de 2,5 a
3,6 kg/ha/dia de absorção de N no enchimento dos frutos e em tomo de
3,6 a 4,8 kg/ha/dia de K20 próximo ao pico do florescimento. Cerca de
60% do total acumulado de potássio ocorre entre o aparecimento da
primeira flor e a maturidade do capulho. Na proximidade do máximo
florescimento, 1/3 do total acumulado é absorvido em um período de 12
a 14 dias, ocasião em que a deficiência de K pode comprometer a
produtividade (SILVA, 1999).
Quanto mais precoce é a variedade, mais cedo ela alcança seus
picos de absorção e maior atenção deve ser dada à aplicação dos
nutrientes na lavoura.

Colagem
A acidez dos solos, com presença de alumínio trocável e, ou,
baixos teores de cálcio e magnésio, diminui o desenvolvimento radicular,
o crescimento e a produtividade do algodoeiro.
Nutriçcio, calagem e ad11haçtio 167

No cerrado, é comum usar a saturação por bases para


determinar a quantidade de calcári o. Porém, em solos arenosos (argila
< 150 g/kg), são mai s apropriado s os critérios de neutralização do
alurnínio ou do aumento dos teores de Ca e Mg trocáveis,
considerando o maior va lor encontrado pelas seguintes equações
(SOUSA; LOBATO, 2004c):
NC (t/ha) = (2 x AI) x f ou NC (t/ha) = 2 - (Ca + Mg) x f
O algodoeiro produz bem e1n saturação por bases variando de 45
a 80%. Em geral, saturações de 50 a 60% e pH em água máximo de 6,5
(FERREIRA et ai., 2009) são suficientes para obter boa produtividade,
embora existam variedades que respondem a saturações de 70 a 80%
(ALTMAN, 2008). A sensibilidade ao manganês pode explicar essa
exigência. A calagem deve ser feita para atender à cultura mais
sensível usada no sistema de rotação de culturas, que é o algodoeiro, e
a faixa de 50 a 60% de saturação atente à maioria das variedades em
uso no cerrado. Assim, deve-se fazer recalagem sempre que o limite
inferior da faixa for alcançado.

Gessagem
O algodoeiro tem sistema radicular pro fundo, usado para
aumentar sua capacidade de absorção de água e nutrientes. Assim, além
da c01Teção da acidez da camada superficial, é necessário eliminar
qualquer restrição química nas camadas subsuperficiais, que é feita pelo
aumento de bases trocáveis lixiviadas da superfície pelo uso do gesso.
As maiores possibilidades de resposta ao gesso em produtividade
oc01Tem quando o teor de cálcio nas profundidades de 20 a 40 c1n e de 40
3
a 60 cm for inferior a 0,5 cmolc/dn1 e a saturação de aluminio na CTC
efetiva dessas mesmas camadas [Al --,- (Ca+Mg+K +Na) x 100] for
superior a 20% (SOUSA; LOBATO, 2004c). Essa previsão foi
recentemente confirmada por Ferreira et al. (20 l O), na incorporação de
solos nativos de cerrado d e Roraima. Nesses casos, calcula-se a
necessidade de gesso (NG), utilizando a fó1mu la:
NG (kglha) = 5 * Teor de argila (glkg), na camada 20 a 40 cm 011 40 a 60 cm.
168 Car valho, Bori11, Sta11t e Ferreira

Adubação com nitrogênio


Para as condições do cerrado brasileiro, sugere-se na Tabela 8.2
a quantidade de nitrogênio a se aplicar no sulco de plantio e em
cobertura, em fu nção da expectativa de produtividade de algodão em
caroço, especialmente para culti vo e1n solos de textura média a argilosa.
No caso de solos de textura arenosa (teor de argila menor que 150 g/kg),
admite-se aun1ento de 1O a 20% da dose indicada para a adubação de
cobertura, especialmente se a cult11ra anterior for wna gramínea.

Tabela 8.2 - Sugestões da quantidade de nitrogênio a se aplicar na


cultura do algodoeiro, em função da produtividade
esperada de algodão em caroço
Dose de N (kg/ha)
Expectativa de produtividade' - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Plantio Cobertura
(kg/ha) -~- -~---------------------- kg/ha -------------- ---------
Até 3.000 15 a 20 60 a 802
4 .000 15 a 20 80 a 100
3
5.000 15 a 20 100 a 120
3
6.000 15 a 20 120 a 140
1
Expectativa de produtividade com base na maior produtividade alcançada na região ou nos
melhores talhões da propriedade, para condição s imilar de solo, cultivar e manejo.
2
Os maiores valores correspondem às áreas com a lto potencial de resposta a N: solos com baixo
teor de matéria orgânica (M.0.); primeiros anos de plantio direto, cuja cultura antecessora ao
algodão é uma gramínea. Os menores valores são para áreas com baixo potencial de resposta:
rotação de culturas com leguminosa (soja ou cultura de cobertura); solos com vários anos de
SPD e alto teor de M.O.; e cultivos sucessivos com algodão.
, É pouco provável alcançar esse nível de produtividade em solos em processo de correção de s ua
ferti lidade ou em locais com pluviosidade inferior a 1.200 mm, bem distribuída nos primeiros
160 dias do ciclo da cultura.
Fonte: CARVALHO et ai., 201 1.

Nos solos com maior teor de matéria orgânica, o algodoeiro


responde menos à adubação nitrogenada e tende a ser mais responsivo
quando aumenta a palhada sobre o solo.
Em regiões com menor frequência de veranico alta
precipitação pluviométrica e potencial produtivo superior a 300 '@lha,
como também em áreas irrigadas, pode haver resposta a doses de N
N11triç<io. calage111 e ad11ba<,:<io 169

superior a 180 kg/ha. Assim, a aplicação de 35-40 kg/ha/tonelada de


algodão em caroço que se es pera produz ir na área pode também ser
um cri tério razoável.
Parte da adubação nitrogenada pode ser aplicada a lanço na
cultura de cobertura, até o limite de um terço da dose prevista. O
restante pode ser aplicado, pre ferencialmente, incorporado à entrelinha
em uma ou duas oporhmidades, aos 25 e 45 dias da emergência. Em
locais com chuvas frequentes pode-se aplicar também a lanço, tanto
usando ureia quantosulfato de amônia, especialmente quando se
utilizam produtos com tecnologia de redução de volatilização e de
queima das folhas.

Adubação com fósforo


O fósforo é um dos nutrientes aplicados em maiores
quantidades nas adubações, devido à sua adsorção no solo. A
interpretação dos resultados de análise de solo para fósforo, na região do
cerrado, é apresentada na Tabela 8.3 (extrator Meblich-1 ).

Tabela 8.3 - Rendimento potencial e interpretação da análise de solo


para o P extraído pelo método de Mehlich- 1, de acordo
com o teor de argila, para recomendação de adubação
fosfatada em sistema de sequeiro com culturas anuais no
cerrado
Rendimento potencial da cultura (%)

Teor de 0-40 41-60 61-80 8 1-90 >90


argila Interpretação dos teores de P no solo

Muito baixo Baixo Médio Adequado Alto


3
g/kg ----------------------------- 1ng/dm ---------------

~ 160 0,0 a 6,0 6.1 a 12,0 12.1 a 18,0 18, 1 a 25,0 > 25,0
161-351 0,0 a 5,0 5,1 a 10,0 10,l a 15,0 15, 1 a 20.0 > 20,0

36 1-600 0,0 a 3,0 3, 1 a 5,0 5, 1 a 8.0 8, 1 a 12,0 > 12.0

> 600 0,0 a 2,0 2, 1 a 3.0 3. 1 a 4,0 4.1 a 6,0 > 6.0

Fonte: SOUSA et ai., 2004d. com adaptações.


170 Car\lalho, Borin, S ta 11/ e Ferreira

Na maioria das áreas culti vadas com algodão no cerrado, os


solos já se encontram com a fe rti!idade corrigida quanto a fósforo,
apresentando teores classificados como médio, adequado, bom ou alto,
pelas tabelas de interpretação ele análise de solos. Nessas condições,
deve-se fazer apenas adubação de manutenção, baseada na quantidade
de nutrientes extraídos e exportados pela cultura, na expectativa de
produtividade e nos fatores que afetam a eficiência do uso de
fertilizantes.
Na Tabela 8.4 são apresentadas sugestões para a adubação de
manutenção do algodoeiro na região, em função da produtividade
esperada.

Tabela 8.4 - Sugestões de adubação fosfatada de manutenção do


algodoeiro cultivado no cerrado, em função da
expectativa de produtividade e da interpretação da
análise do solo

Expectativa de Teor de fósforo no solo


produtividade 1 Adequado Alto
4

3
(kg/ha) ---------------------- kg/ha de P20 5 - - --- - - ------- -

Até 3.000 60 30
4 .000 90 45
5.0002 110 55
6.0002 135 70
1
Expectativa de produtividade com base na maior produtividade alcançada na região ou nos
melhores talhões da propriedade, para condição similar de solo, cultivar e manejo.
2
É pouco provável alcançar esse nível de produtividade em solos em processo de correção de sua
fertilidade ou em condições de sequeiro nos locais com pluviosidade inferior a 1.200 mm,
razoavelmente bem distribuídos durante o ciclo da cultura.
3
Doses estimadas considerando que o algodoeiro c~tr~i çcrca de 20 a 25 kg/ha de p2Q 5 para cada
1.000 kg de algodão em caroço produzidos.
4
Nível alio de fósfo ro no solo, no qual a adubação pode ser reduzida ou até suprimida por uma
safra, em anos de elevada relação de preços insumo/produto.
Fonte: CARVALHO et ai., 2011.
Nutrirtio, calage111 e ad11haçâo 17 l

Quanto ao modo de aplicação dos fertilizantes fosfatados, em


solos com teores baixos de P (Tabela 8.3), a aplicação no sulco de
semeadura é mais eficiente que a lanço; porém, é conveniente evitar
doses acima de 120 kg/ha de P2 O 5 no sulco. Em solos com teores
adequados a altos, a aplicação do fertilizante pode ser feita a lanço ou
no sulco sem ocorrer diferença de produtividade. Havendo interesse,
sobretudo no sistema plantio direto, parte da adubação fosfatada pode
ser aplicada em pré-plantio, na cultura de cobertura.
Na incorporação de áreas nativas ou conversão de outros usos
para o cultivo do a lgodoeiro, deve-se promover uma adubação
corretiva total da área. Nesse caso, aplicam-se 5 kg/ha de P2Os para
cada percentual ( ou 1O g/kg) de argila da camada arável do solo
(SOUSA; LOBATO, 2004d). Em geral, o algodão entra na área após
três safras com outras culturas, especialmente soja, arroz e milho.

Adubação com potássio


O potássio é o segundo nutriente mais absorvido e exportado
pelo algodoeiro, sendo imprescindível para o desenvolvimento,
produtividade e qualidade de fibra. Em geral. são preconizadas
adubações corretivas, de manutenção e foliar para obter altas
produtividades.
Em solos de textura média e argilosa e teor de K muito baixo,
é possível fazer adubação corretiva com potássio para elevar a sua
saturação na CTC a pH 7,0 para 3% a 4%. Porém, em solos arenosos
com menos de 20% de argila e CTC menor que 4,0 cmolcfdm3 , a
adubação con-etiva não é recomendada em razão do elevado potencial
de lixiviação de K. Em geral, a interpretação recomendada é a que se
mostra na Tabela 8.5.
De modo geral, as áreas cultivadas com algodão no cerrado já
estão co1Tigidas quanto aos teores de potássio, sendo necessário fazer
adubações de manutenção. Na Tabela 8.6 é apresentada uma sugestão
de adubação com potássio para o cerrado, em função dos teores de K
no solo e da expectativa de produtividade.
172 Cmwr/110, Bori11. Stattl e Ferreira

Tabela 8.5 - Interpretação da análise de solo para potássio no cerrado,


de acordo com CTC do solo, e em de Minas Gerais,
visando a recomendação ele adubação de culturas an uais
1nterprctação
CTC
Estado/Região Adequado/ Alto/
a pH 7,0 Muito baixo Baixo Médio
Bom Muito bom
(cmolcfdmJ) -------Teor de K no solo (mg/dm3 ) - Extrator Mehlich 1 -- ---

Minas Gerais' < 16 16 a 40 41 a 70 71 a 120 > 120

Cerrado2 <4,0 < 16 16 a 30 31 a 40 > 40


> 4,0 < 26 26 a 50 51 a 80 > 80

Fonte: 1ALV AREZ V. 1999; 2VILELA et ai., 2004, com adaptações.

Tabela 8.6 - Sugestão de adubação potássica do algodoeiro na região


do Cerrado, em função dos teores disponíveis no solo e
da produtividade esperada de algodão em caroço

Teor de K no solo, mg/dm 3 (camada de 0-20 cm)


Produtividade
esperada'
<25 2 26-502 51-80 81-120 > 1204

(kg/ha) -------------------------- kg/ha de K20 ---- --------


Até 3.000 130 100 80 60 30
4.000 150 a 170 120 a 140 100 a 120 80 40
5.0003 170 a 190 140 a 160 120a 140 100 50
6.0003 190 a 210 160 a 180 140 a 160 120 60
1
Expectativa de produtividade com base na maior produtividade alcançada nos melhores talhões
da propriedade, para condição similar de solo, cultivar e manejo.
2
Nesses níveis de K no solo, as doses sugeridas incluem a adubação corretiva mais a adubação
de manutenção (considerando-se o teor adequado de K para o algodão na faixa de 80 a 120
mg/dm 3).
3
É pouco provável alcançar esse nível de produtividade em solos em processo de correção de sua
fertilidade ou em locais com pluviosidade inferior a 1.200 mm, razoavelmente bem distribuídos
durante o ciclo da cultura.
4
Nível alto de potássio no solo, acima do qual a adubação pode ser reduzida o u ate suprimida,
em anos de elevada relação de preços insumo/produto.
Fonte: CARVALHO et ai., 20 11 .
Nutriç<io, calagem e aduhaçcio 173

O algodoeiro responde à adubação com potássio quando o


solo tem baixo teor de potássio e, ou, a relação (Ca+Mg)/K é maior
que 20.
O potássio pode ser aplicado em pré-plantio, no plantio ou em
cobert11ra a la nço. Apenas recomenda-se que, caso seja feita adubação
de plantio, colocar até 60 kg/ha K20 na linha de plantio para evitar
efeito salino. Em solos arenosos também pode ser vantajoso parcelar a
adubação em duas aplicações, para diminuir perdas por lixiviação.
Nem sempre há resposta à adubação foliar com potássio, a qual
deve ser feita em: (i) campos com problemas frequentes de deficiências
de potássio; (ii) lavouras com cultivares de porte baixo e ciclo curto com
potencial para obtenção de produtividades superiores a 4 .500 kg/ha, cuja
adubação via solo foi insuficiente; (iii) quando a absorção pelas raízes é
comprometida, mesmo havendo disponibilidade do nutriente no solo,
devido, por exemplo, ao estresse hídrico pela ocorrência de um período
longo de "veranico" na fase de máximo florescimento e enchimento de
maçãs (CARVALHO et ai., 2011).

Adubação com enxofre


O enxofre é um elemento pouco móvel na planta; por isso, o
algodoeiro necessita de um suprin1ento contínuo desse nutriente para
seu pleno desenvolvimento. Em geral, o nutriente se acumula nas
camadas mais profundas do solo, e, sempre que o teor de S disponível,
na média das camadas 20-40 e 40-60 cm, estiver abaixo de 1Omg/dm3
[S-So/-, extraído com CaH2(P04)2], será alta a possibilidade de resposta
ao enxofre.
A adubação com 30 a 40 kg/ha/ano permite completo
atendimento às necessidades de enxofre do algodoeiro, e a gessagem
feita na área provê todo o enxofre necessário.

Adubação com micronutrientes


As pesquisas realizadas com micronutrientes na cultura do
algodoeiro nas diversas regiões produtoras do Brasil demostran1 que: (i)
174 Carvalho, Bori11, S ta111 e Ferreira

são frequentes as respostas ao boro; (ii) as respostas ao zinco são raras e


ocorrem em áreas de cen·ado recém-incorporadas ao sistema produtivo
ou em solos pobres nesse nutriente e cultivados sucessivamente sem
adubação com zinco; (iii) eventualmente, ocorre resposta ao manganês
via pulverização foliar, em solos com pH (em água) acima e 6,3; (iv) a
adubação corretiva com zinco, cobre e boro é uma estratégia eficiente
para suprir a necessidade desses nutrientes para a cultura, apresentando
efeito residual de pelo menos quatro anos (CARVALHO et al., 2011 ).
A aplicação anual de l a 3 kg/ha de boro é suficiente para
nutrir a cultura e fazer expressar todo seu potencial em produtividade.
Se aplicado a lanço, 3 a 4 kg/ha são suficientes e podem ser feitos em
pré-plantio ou em cobertura, juntamente com o nitrogênio.
Apesar do uso comum entre os produtores, a aplicação foliar
de 1 kg/ha de B (200 g/aplicação) em várias pulverizações só se
justifica se os teores de B forem baixos no solo e não for feita
adubação no solo com bórax ou ácido bórico.
Teores abaixo de 0,6 mg/dm3 de Zn podem ser associados a
sintomas de deficiência no cen-ado, pennitindo resposta à aplicação de
Zn em solos argilosos até o nível de 1,7 mg/dm3 (ZANCANARO et al.,
2004a). Altas dosagens de calcário e fósforo contribuem para o
aparecimento da deficiência (SILVA, 1999). Nesses casos, recomenda-se
a aplicação de 3 a 6 kg/ha de Zn (ZANCANARO et al., 2004a;
GALRÃO, 2004).
Exceto em solos com pH acima de 6,3 que receberam altas doses
de calcário, as respostas a manganês no ceITado são pouco prováveis
(REIS JÚNIOR, 200 I ). Como o comportamento do Mn na planta é
variável em função dos cultivares e das condições do meio, a diagnose
visual é mais importante que a diagnose foliar nesse nutriente
(ROSOLEM, 2005). Como pode haver deficiência ou toxidez na área,
Rosolem (2005) sugere esperar a manifestação dos sinto1nas inicias de
deficiência nas folhas e então fazer a co1Teção com aplicação foliar.
Os solos de cerrado com teor de Cu acima de 0,8 mg/dm3
(extrator Mehlich-1) não permitem resposta do algodoeiro à adubação
com cobre, e a adubação corretiva com 2 kg/ha, ou sua divisão em
três partes iguais anualmente, supre a necessidade da maoria das
culturas por quatro a cinco anos (GALRÃO, 2004). Em condição de
N11triç<iv, c:alage111 e mlu baç<io 175

teores baixos no solo, Zancanaro e Tessaro (2006) recomendam a


aplicação de 3 a 6 kg/ha de Cu, a lanço, no algodoeiro.
No caso ele Fc, CI e Mo, não há registros de resposta do
algodoeiro à ad ubação no Brasil.

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REGULADORES DE
CRESCIMENTO 9
Fernando Mendes Lama/
2
Alexar,dr-2 Cunha de Barcellos Ferreira

lntroducão .::,

Neste capítulo são abordados aspectos relativos ao uso de


reguladores de crescimento, que envolve substâncias que controlam o
crescimento das plantas, provocam desfolha e aceleram a maturação
dos frutos. São considerados reguladores de crescimento todas as
substâncias que alteram o balanço hormonal das plantas.
O algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) é uma planta perene,
com hábito de crescimento indeterminado (COTHREN;
OOSTERHUIS, 201 O). Com adequada disponibilidade de água e
nutrientes, verifica-se crescimento vegetativo excessivo, o que
favorece o apodrecimento de fn1tos e a abscisão de botões, flores e
frutos, interferindo negativainente na produtividade de fibra e
dificultando a colheita (RITCHE ·e t al., 2004). Assim, é marcante o
efeito do ambiente sobre o crescimento e desenvolvimento do
algodoeiro, bem como sobre os componentes da produção e as
características da fibra (MEREDITH JUN10R et al., 2012). O balanço
entre crescimento vegetativo/reprodutivo é fundan1ental para
assegurar adequada produção de fibra e con1 esse objetivo utilizam-se
reguladores de crescimento.

1 Engenheiro-Agrônomo, Dr. e Pesquisador da Embrupa. E-mui1: fcrn:mdo.lumas@.cmbrupa.br


2 Engcnhe!iro-Agrônomo, Dr. e P1.-squisa<lor da Embrnpa.E-mail:alexandn.-cunha.fem:im@'embrar,.1.br
178 Lamas e Ferreim

Em função do hábito de crescimento indeterminado, o


algodoeiro. além de crescer, emite estruturas reprodutivas
" indefinidamente". Assim, em determinada fase do ciclo, em uma
1nesma planta são encontrados botões florai s, flores, frutos e capulhos.
Em algumas situações, para tornar possíve l a colheita da fibra, faz-se
necessária a utilização de produtos para acelerar a maturação dos
frutos e proporcionar a queda de folhas e de estruturas reprodutivas
imaturas. A utilização desses produtos deve ser muito criteriosa, pois
estes podem interferir negativamente na qualidade da fibra , quando
utilizados de fomrn inadequada. O uso de desfolhantes e maturadores
constitui-se em importante estratégia para o manejo integrado de
pragas, pois proporciona a eli minação de estruturas de alimentação e
ovi posição de vários insetos.

Reguladores de crescimento
Os reguladores de crescimento, também chamados
fitorreguladores, tito-hormônios ou retardadores de crescimento, são
substâncias sintéticas que reduzem a concentração do ácido giberélico
e, por conseguinte, o alongamento e a divisão celular. Uma das
substâncias utilizadas como regulador de crescitnento é o cloreto de
mepiquat (cloreto 1, l - dimetil piperidíneo). Esta impede a formação
de entcopalil difosfato (CDP) e ent-caureno, substâncias precursoras
das giberelinas (RADEMACHER, 2000). De acordo com Taiz e
Zeiger (2004), o ácido giberélico ou giberelina é o hormônio vegetal
que estimula o alongamento e a divisão celular. Com a redução da
concentração do referido hormônio, o alongamento e a divisão celular
são diminuídos; consequentemente, o crescimento das plantas é
reduzido.
Com a aplicação de reguladores de cresci1nento, a re lação
entre a matéria seca da parte vegetativa e a da parte reprodutiva é mais
equilibrJda. Com isso, têm-se melhor índice de colheita e plantas mais
eficient~s, do ponto de vista fisiológico. Nessa sih1ação, a co1npetição
por fotonssimilados entre o crescimento vegetativo e o reprodutivo é
significaLivamente reduzida (COTHREN; OSTERHUIS, l 993).
Em trabalho desenvolvido por Lamas (1997), co1n o cultivar
CNPA I f A 90, foi observad0 que, ao elevar a dose de c loreto de
Reguladores de crcsci111e11to 179

mepiquat até 100 g ha-1, a relação en tre a matéria seca da parte


reprodutiva/vegetativa aum entou , tendo-se, assim, uma planta mais
equil ibrada, que é um dos obj etivos da aplicação de reguladores de
crescimento.
Em plantas com porte muito elevado e com crescitnento
vegetativo vigoroso, a retenção de estruturas reprodutivas é menor, a
maturação dos frutos é muito desuniforme, verifica-se excessiva
podridão de frutos e a colheita é dificultada (JOST et ai., 2006).
Plantas tratadas com regu !adores de crescimento têm o seu
crescimento vegetativo reduzido, assim como o número de nós da
haste principal e o intervalo entre nós (REDDY et ai., 1992). O efeito
dos reguladores de crescimento no algodoeiro depende de fatores
bióticos e abióticos. Rosolem et ai. (2006) verificaram efeito
significativo da temperatura sobre a anrnção do cloreto de mepiquat. A
eficiência do cloreto de mepiquat em reduzir a altura das plantas é
significativamente menor em condições de temperaturas mais
elevadas.
Dodds et al. (2010) desenvolveram em diferentes condições
ambientais uma série de experimentos, em que avaliaram os efeitos de
diversos regu ladores sobre o algodoeiro, concluindo que o efeito sobre
a altura de plantas foi semelhante em todas as condições estudadas. O
efeito sobre o número de nós, e de ramos, e sobre a produção de fibra,
a maturidade e micronaire, variou em função das condições
ambientais.
Os efeitos dos reguladores de crescimento sobre a
produtividade de fibra são evidentes, especialmente em cultivares de
porte alto, e1n que as condições ambientais são favoráveis para o
excessivo crescimento vegetativo (NICHOLS et al., 2003).
Em resumo, os efeitos dos reguladores de crescimento sobre
o algodoe iro dependem de vários fatores, entre os quais temperatura,
disponibilidade de nutrientes no solo, população de plantas, cultivar,
disponibilidade de água no solo, precipitação pluvial, dose, época e
forma de apíicação (ECHER et ai., 2013; FERREIRA; LAMAS, 2006;
LAMAS, 2001; REDDY et ai., 1992; SOARES, 201 O; W ALLACE et
ai., 1993; YORK, 1983).
Para a tomada de decisão sobre a aplicação de regulador de
crescimento, é indispensável ana lisar o potencial de crescimento
180 lamas e Ferreira

vegetativo das plantas, estágio de desen vo lvimento, taxa de


crescimento, retenção de estruturas reprodutivas, fertilidade do solo,
quantidade de fertilizantes utilizada, doses de herbicidas inibidores da
acetolactato sintase (ALS), cultivar e histórico da área. Vale lembrar
que, entre os anos de cultivo, sempre existe al guma diferença, o que
também deve ser considerado.
O manejo eficiente do crescimento do algodoeiro requer
ngoroso monitoramento de cada fase do crescimento e
desenvolvimento das plantas, sobretudo até a fase de pleno
florescimento e corte fisiológico (cut-out), durante todo o ciclo. Cada
fase do crescimento é caracterizada por uma atividade fi siológica
predominante que, em consequência, demanda tipos e práticas
culturais específicas para otimização do crescimento dessas plantas
durante os vários estádios do desenvolvimento (LANDIVAR et ai.,
1999).
O crescimento do algodoeiro é mais intenso entre o
aparecimento dos primeiros botões florais (B 1) até que, acima da flor
mais alta, na haste principal, a planta apresente de quatro a cinco nós
(RlTCHIE et al., 2004). A partir dessa fase, a demanda dos frutos por
carboidrados é muita alta, consequentemente reduzindo a taxa de
crescimento da planta, caso haja boa retenção de frutos nas primeiras
posições. Portanto, é a partir do aparecimento dos primeiros botões
florais (B 1) que os cuidados com o crescimento das plantas devem ser
aumentados e estendidos até que estejam formados quatro ou cinco
nós acima da flor mais alta da haste principal (Figura 9 .1 ).
A aplicação de reguladores de crescitnento no algodoeiro é
feita por meio de pulverizações foliares. A dose total a ser aplicada
deve ser parcelada (sequencial), o que proporciona maior redução da
altura das plantas (FURLANI JUNIOR et al., 2003; STEWART,
2005).
O momento da primeira aplicação é decisivo para que se
obtenha sucesso com aplicação de reguladores de crescünento no
algodoeiro. Para uma mesma dose de cloreto de 1nepiquat, quando
houve atraso na primeira aplicação, a altura das plantas por ocasião da
colheita foi semelhante à dos algodoeiros que não receberam
regulador de crescimento (Figura 9.2).
182 Lamas e Ferreira

1,55 -- -

1,5 - '
1

1,45

1,4
I
l? 1,35 -----
E
< 1,3 ---

1,2

1,15 ------

o 12,5+17,5+20 25+25
Doses de CM (g/ha)

Figura 9.2 - Efeito do atraso da primeira aplicação de cloreto de


mepiquat na altura das plantas da cultivar CNP A ITA
90, em Primavera do Leste-MT.
Fonte: LAMAS, 200 l.

O ideal, em termos de crescimento inicial do algodoeiro, é que


o comprimento médio do internódio, obtido pela razão entre altura da
planta e número de nós da haste principal, se mantenha entre 3 e 4 cm.
Assim, sempre que se aproximar dos valores mencionados, nova
aplicação de regulador deverá ser realizada. A retomada do
crescimento das plantas é mensurada medindo-se o comprimento dos
últimos cinco intemódios da haste principal.
No Brasil, o cloreto de 1nepiquat ( 1, 1-dünethylpiperidinium
chloride) e o cloreto de clormequat (2-chloroethyltrimethyl-
ammonium chloride) são os principais reguladores de crescimento
utilizados na cultura do algodoeiro. Esses produtos possuem
mecanismo e modo de ação semelhantes. Também existe no mercado
brasileiro, como regulador de crescimento, un1 produto comercial
composto pela mistura de cloreto de mepiquat (88 g L-1) e cyclanilide
1
(22 g L- ). A cyclanilide, que é un1 inibidor do transporte e
possivelmente da síntese de auxina (BURTON et al., 2008),
potencie liza o efeito do cloreto de mepiquat, quando o regulador de
crescimento é aplicado via semente (SOARES, 20 l O).
Reguladores de cr esci111e11to 183

Os reguladores em uso são form ulados como concentrado


solú vel. Entretanto, estudos estão sendo desenvolvidos com uma nova
formu lação de clore to de mepiquat, na forma de grânulos dispersos
em água (WDG). Em trabalhos desenvolvidos por Turner e Hickey
(20 l O) e Fen1andes e Correa (20 1O), não se constatou diferença na
eficiência entre a nova fo1mu lação (WDG) e a formulação em uso
(concentrado solúvel em água).
A dose total de cloreto de mepiquat e de cloreto de clormequat
varia entre 50 e 75 g ha· 1 do i.a. É importante que na colheita as plantas
tenham no máximo l ,20 m de altura. Para cultivares de porte mais
baixo, como FiberMax 966 LL, BRS 369 RF e FMT 523 , 50 g ha·' é
suficiente; já para os cultivares BRS 269- Buriti, FMT 709, FiberMax
993, BRS 37 1 RF, IMACD 8276, FiberMax 975 WS e FiberMax, 91 O
75 g ha·' é suficiente; porém, dependendo da condição edafoclimática
e da época de semeadura, podem ser necessários até 100 g ha·' . Como
regra geral, deve-se considerar que o ideal é que as plantas, na
colheita, tenham altura 1,5 vez maior que o espaçamento entre fileiras.
Em plantas com altura superior a 1,20 m, o produto colhido terá a sua
qualidade prejudicada em função de impurezas, especialmente casca
do caule. A dose total a ser aplicada deve ser parcelada, considerando
o crescimento das plantas; assim, recomenda-se parcelar, por
exemplo, 1O+ 20 + 30 + 40% da dose total.
Havendo retenção de estn1turas reprodutivas, especialn1ente
nas primeiras posições dos ramos reprodutivos, o crescimento
vegetativo é menor; o contrário se verifica quando por qualquer
estresse a retenção for baixa. Nessas condições, a dose de reg ulador
poderá ser maior.
Independentemente do produto utilizado, a ocorrência de
chuvas logo após a aplicação pode comprometer a eficiência deste. De
acordo com Mateus et al. (2004), caso ocorra chuva até 16 horas após
a aplicação do cloreto de mepiquat, faz-se necessária a reposição do
produto. Ocorrendo chuva de 30 mm até 24 horas após a aplicação do
cloreto de clormequat, também é necessária a reposição (TOZI et al.,
2006). Souza e Rosolem (2007) observaram que chuva correspondente
a 5,0 ffilTI, ocorrida 90 minutos após a ap licação do cloreto de
mepiquat, já compromete a ação do produto.
184 lamas e Ferreira

Tradicionalmente, os reguladores de crescimento são


aplicados na cotonicultura via pulverização foliar, tendo-se como
critério para o início das aplicações o crescimento d os algodoeiros, de
acordo com o cultivar em uso (FERREIRA; LAMAS, 2006). Nas
condi ções do cenado brasileiro, a fase de crescimento exponenc ial do
algodoeiro e a consequente necessidade de aplicações coincidem com
o período das chuvas, razão pela qual são muito comuns atrasos nas
aplicações, ou mesmo perdas dos fitorreguladores após as
pulverizações. Quando isso ocorre, a efi ciência d esse trato cultural é
seriamente comprometida, e o efeito desejado do controle do
crescimento não é alcançado, mesmo que se utilizem maiores doses
nas pulverizações posteriores.
O uso de reguladores de crescimento aplicados por meio do
tratamento de sementes é uma prática usada por alguns cotonicultores,
mas que ainda precisa de mais estudos. A maioria dos trabalhos
publicados sobre o assunto diz respeito a pesquisas em ambiente
controlado, com os algodoeiros sendo conduzidos até no máximo, no
início do estádio reprodutivo. Poucas informações técnico-científicas
estão disponíveis a respeito do efeito do tratamento de sementes com
cloreto de mepiquat ou cloreto de chlormequat, em condições de
campo, durante todo o ciclo da cultura.
Sementes tratadas com cloreto de mepiquat até a dose de 8 g
1
do i.a. kg- de semente não apresentaram redução da porcentagem de
emergência (LAMAS, 2006). Sementes tratadas com cloreto de
chlormequat ou de mepiquat, independentemente da dos e ou tempo de
embebição usado, não apresentaram redução da velocidade de
emergência das plântulas, em comparação com as provenientes de
sementes não tratadas (PAZZETTI et al., 2009).
O tratamento de sementes de algodão via embebição é um
método pouco prático para o uso de regulador, pois requer imersão,
secagem e armazenamento antes da semeadura (YEATES et al.,
2005). Confom1e N agashima et ai. (201 O), o tratamento das sementes
de algodão deve ser realizado com a antecedência de
aproximadamente sete dias da semeadura. Entretanto, tem-se
conseguido utilizar o cloreto de mepiquat, na fonnulação comercial de
1
250 g L- , em doses que variam de O a 16 g do i.a. kg-1 de semente, de
fonna que o tempo de secagem das sementes após o tratamento fique
em tomo de 12 horas. As sementes tratadas com cloreto de mepiquat
Reguladores de cresci111e11to
- - - - - - - - -- - - - - - - - - - -185
-

podem ser armazenadas por pelo menos 60 dias sem que haja redução
na qualidade fi siológica e mantendo o potencial de efeito redutor do
crescimento dos algodoeiros (NAGASHIMA et al., 20 I O).
Em est11do sobre o uso do cloreto de mepiquat por me io do
tratamento de sementes do cultivar IPR 120, Nagashima et al. (2005)
observaram que hou ve redução do crescimento dos algodoeiros desde
a emergência e que o regulador de crescimento interferiu no núm ero
de botões florais e de ramos, na área foliar, na matéria seca da parte
aérea e na altura de inserção do nó cotiledonar. Yeates et ai. (2005)
também constataram que a aplicação de regulador de crescimento via
tratamento de sementes diminuiu o crescimento inicial do algodoeiro e
que a redução do crescimento foi maior com o aumento da
concentração de cloreto de mepiquat. Lamas (2006) também verificou
que houve controle do crescimento até o início do florescimento do
algodoeiro, em trabalho conduzido em condições de campo.
Quanto à forma de aplicação do regulador de crescimento
para o contato com as sementes, Yeates et ai. (2005) estudaram cinco
doses de cloreto de mepiquat (0,0; 0,2; 0,5; 1,0; e 2,0 g do i.a. por kg-1
de sementes) aplicadas por meio de aspersão e por meio de embebição
por 2,5 horas, cinco dias antes da semeadura, e concluíram que o
tratamento via embebição reduziu em duas vezes a altura de plantas,
comparado com o tratamento por aspersão direta da solução sobre as
sementes.
Sementes tratadas co1n regu lador de crescimento têm
reduzido a altura dos algodoeiros até 31 dias após emergência, sem
afetar a produção (NAGASHIMA et al., 2007). Em trabalho mais
recente, Nagashima et al. (2009b) concluíram que as doses de cloreto
de mepiquat, usadas na embebição de se1nentes, mantiveram reduzido
o porte dos algodoeiros até 80 dias após a emergência.
De modo geral, os trabalhos de pesquisa desenvolvidos no
Brasil e na Austrália (CHIAVEGATO et ai., 2009; FERRARl et ai..
2009; LAMAS, 2006; NAGASHIMA et al., 2005 , 2007; P AZZETTI
et ai., 2009; YEATES et al., 2005), e1n ambiente controlado ou em
condições de ca1npo, têm evidenciado que os reguladores de
crescitnento cloreto de mepiquat e cloreto de chlormequat aplicados
1

via tratamento de sementes, independentemente da dose e do tempo de


embebição, reduze1n o crescimento inicial dos algodoeiros, desde a
186 Lamas e Ferreira

emergênc ia até o início do desenvolvimento reprodutivo. Entretanto,


os reguladores aplicados via tratamento de sementes não têm
influenciado significati vamente os com ponentes de produção e a
produtividade dos algodoeiros. Ferrari et ai. (2009) veri ficaram maior
efeito residual do cloreto de mepiquat aplicado via semente, quando
c01nparado com o cloreto de chlormequat, diferentemente dos demais
trabalhos citados anteriormente, os quais observaram que,
independentemente da molécula, dose ou tempo de embebição, os
cloretos de mepiquat e de chlormequat, aplicados via semente, podem
contribuir para prorrogar a época da primeira aplicação.
Os reguladores de crescimento modificam o padrão de
crescimento do algodoeiro. A alteração do crescimento da parte aérea
do algodoeiro pode influenciar no crescimento e desenvolvimento das
raízes e, por consequência, inte1ferir na sensibilidade dos algodoeiros
submetidos a deficiência hídrica (IQBAL et al., 2005). Segundo
Nagaslúma et ai. (2009a), a fitomassa de raízes de algodoeiros não é
influenciada pelo tratamento das sementes co1n diferentes doses e
formas de contato com o cloreto de mepiquat. Contudo, essa ainda é
uma preocupação que deve existir por ocasião do uso dessa técnica de
aplicação via sementes para o controle do crescimento do algodoeiro,
pois deficit hídrico nas primeiras fases de desenvolvimento do
algodoeiro pode comprometer o estabelecimento da lavoura e,
dependendo, da intensidade e severidade do estresse, reduzir a
população. E de se esperar que os algodoeiros oriundos de sem entes
tratadas com regulador de crescimento sejam mais sensíveis a deficit
hídrico no início do crescimento (Figura 9.3), quando as raízes ainda
estão se estabelecendo no solo.
Em algumas situações talvez essa técnica de aplicação possa
auxiliar no controle do crescimento do algodoeiro, conferindo maior
flexibilidade quanto ao momento de realização da prin1eira aplicação
por via foliar. Contudo, observa-se que é indispensável o controle do
crescimento dos algodoeiros por meio das pulverizações sobre as
folhas, sobretudo nos cultivares de portes médio e alto.
Reguladores de cresci111e1110 187

Figura 9.3 - Efeito de regulador de crescimento aplicado via


tratamento de se1nentes no algodoeiro BRS 269-Buriti
submetido a estresse hídrico (VI = deficit hídrico na
fase feno lógica VI; SD = sem deficit hídrico; DO, D 1
e D2 = O, 2 e 4 g do ingrediente ativo de cloreto de
mepiquat por kg de semente).
Fotos: Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira.

As informações de manejo do cresci1nento do algodoeiro por


mei o de fitoITeguladores, disponíveis na literatura para o cerrado
brasileiro, são provenientes de estudos desenvolvidos com cu ltivo no
período de safra normal, ou seja, com semeadura após meados de
novembro até o final de dezembro.
O cultivo do algodoeiro como segunda safra ou safrinha, após
o cultivo da soja ou do feijão , é tendência crescente no cerrado
brasileiro, sobretudo nos Estados de Mato Grosso, Goiás e rvtato
Grosso do Sul. Em safrinha, o algodoeiro tem sido cultivado com
populações entre 130 e 200 mil plantas ha·1, no espaçamento de O, 45 m
188 lamas e Ferreira

entre fil eiras conhecido como cultivo adensado em safrinha; porém,


'
sobretudo devido às dificuldades de colheita e à pior qualidade
tecnológica da fibra , o que tem predominado é o cultivo com
espaçamento de O, 76 m entre as fil eiras.
Dados climáticos dos últimos 30 anos do cerrado brasileiro
evidenciam que, normalmente, ocorre uma redução considerável de
chuvas após meados de abril. Além disso, há alto risco de ocorrência
de veranicos entre janeiro e fevereiro, de modo que o crescimento,
desenvolvimento e produtividade do algodoeiro podem ser afetados,
se o déficit hídrico ocorrer no início do período de estabelecimento da
cultura e, ou, nos 60 dias subsequentes ao florescimento.
A semeadura do algodoeiro em sequeiro, no cultivo em safrinha,
próximo ao final do mês de janeiro, mas principalmente com o avançar
do mês de fevereiro, indubitavelmente faz com que os algodoeiros sejam
submetidos a deficiência hídrica, especialmente na fase de enchimento de
maçãs. Assim, com o atraso da semeadura nos cultivos de safri.nha nos
últimos quatro anos, observa-se que o algodoeiro cresce pouco,
produzindo entre 13 e 16 nós, dependendo da época de semeadura e do
cultivar, e em muitas situações não forma mais do que três maçãs por
planta; esse fato corroborou para o baixo rendimento das lavouras,
sobretudo quando as semeaduras adentraram o mês de fevereiro.
A expansão das áreas sob cultivo de "algodão safrinha", em
condições de sequeiro, predispõe os algodoeiros a maiores riscos
climáticos, tanto devido a veranicos no início do desenvolvimento
vegetativo quanto pelo déficit hídrico na fase reprodutiva, período em que
a demanda por água do algodoeiro aumenta consideraveln1ente. Dessa
forma, o manejo do crescimento do algodoeiro por meio de
fitorreguladores não deve ser igual ao realizado no algodoeiro cultivado
em safra normal. Em experimentos conduzidos em Goiás, nos quais
foram avaliadas doses de regulador de cloreto de mepiquat para O cultivo
do algodoeiro no sistema adensado em safrinha, observou-se que as
maiores produtividades de fibra foram obtidas nos tratan1entos
correspondentes à ausência do fiton-egulador. Obviamente, a depender
das condições edafoclimáticas após a semeadura, o crescimento do
algodoeiro pode ser de tamanha intensidade que exigirá adequado
controle inicial; caso contrário, as primeiras posições frutíferas,
fundamentais para o sucesso do cultivo em safrinha, poderão ser
abortadas devido ao intenso desenvolvimento vegetativo.
Reguladores de crescimento 189

Desfo Iha ntes


A desfolha do algodoeiro é um processo natural, altamente
influenciado pelo ambiente e que ocorre quando as estruturas foliares
se tornam fis iologicamente maduras. Entretanto, por ser uma planta
perene, com hábito de crescimento indeterminado, muitas vezes se faz
necessária a eliminação de fo lhas e estruturas reprodutivas com a
utilização de produtos químicos (desfolhantes).
Na época da colheita, se o algodoeiro ainda estiver com um
número elevado de folhas, botões florais, flores e frutos jovens, que
interferem negativamente na operacionalização e na qualidade do
produto colhido, o uso de desfolhantes toma-se quase indispensável na
maioria dos casos. Como vantagens, podem ser citadas: facilitar o
planejamento da colheita e a utilização de máquinas; melhorar o
desempenho da colheita; reduzir a umidade das sementes, fibra e
proporcionar a obtenção de um produto mais limpo (FERREIRA;
LAMAS, 2006).
Os desfolhantes reduzem a síntese e translocação de auxinas e
amnentam a produção de etileno, hormônio responsável pela formação
da camada de abscisão (JOST; BROWN, 2003).
Os desfolhantes podem ser considerados estratégia importante
para o manejo da lagarta-rosada (Pectinophora gossypiella, Saund.,
1844) e principalmente do bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus
grandis, Boheman, 1843) por contribuírem para a abscisão de
estruturas reprodutivas que serão utilizadas como local para
oviposição e alimentação (BARlOLA et al., 1990).
Os efeitos dos desfolhantes na cultura do algodoeiro são muito
dependentes das condições ambientais, especialmente temperatura e
umidade. Em condições de temperatura inferior a 22 ºC ou em plantas
sob efeito de estresse hídrico, o efeito do desfollhante é
s ignificativam ente reduzido (JOST; BROWN, 2003).
É de g rande importância a definição do momento correto para
aplicação dos desfolhantes. Quando aplicados antecipadamente, estes
interfer em negativamente na produtividade e na qualidade da fi bra
(SNIPES; BASKfN, 1994). Os desfolhantes só devem ser ap licados
quando a maio ria das maçãs ating irem a mat11ração fisiológica .
190 Lamas e Ferreira

Na definição do momento adequado para aplicação do


desfolha nte, o estádio de desenvo lvimento da s p lantas e o calor
ac umulado no período (soma té rmi ca) devem ser considerad os. A
aplicação de desfolhan tes somente deve ser realizada quando aci m a da
últin1a fl or, na haste principal, a planta apresentar cinco nós. Após este
estád io deve ser considerado o acúmulo ele 850 a 1.000 unidades de
calor (UC), send o UC = [(Tmax + Tmin)/2) - 15 º C. e m que Tmax =
te mperatura m áx ima, Tmin = temperat11ra mínima e 15 ºC é a
te1n peratura-base (GONIAS et ai., 2007). De acordo co m estes
a utores, qu ando se define o momento da aplicação, utili zando o
c ri téri o de 60-70% de frutos abertos (capulhos), a proba bilidad e de se
incorrer em erros é extremamente elevada, o que pode interfe rir
n egativamente na produtividade e na qualidade da fibra,
especialmente no índice micronaire.
Outro critério para definição do momento da aplicação de
d esfolhantes no algodoeiro utiliza como base o número de maçãs
acima do último capulho. Este momento é atingido quando as quatro
primeiras maçãs acima do último capulho estiverem maduras
fi siolog icamente (Figura 9.4). Essa recomendação é adequada
cons iderando-se que as plantas estejam com bom enfolhamento.
Ferreira e Saraiva (2009) observaram que houve redução
significativa das produtividades de algodão em caroço e e m fibra, p or
meio da aplicação precoce de desfolhante, com o algodoeiro
apresentando entre oito e seis ramos com maçãs viáv eis acima do
capulho mais novo. Esses mesmos autores também ve rificaram que,
p or m eio da aplicação de desfolhante e maturador, foi possív el colher
o algodão 22 dias mais cedo, em relação aos algodoeiros que não
receb eram esses fito-hormônios.
Reguladores de cresci111e11to 191

0111..-
~
madi,wa

wn-no
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.,.~ ). ,_

Figura 9 .4 - Representação esquemática da distribuição de frutos no


algodoeiro, e1n diferentes fases de desenvolvimento.
Ilustração: Nilton Pires de Araújo.

Os produtos registrados e recomendados como desfolhantes


1
são: 1) tidiazuron (120 g L"1) + diuron (60 g L" ) do produto comercial,
recomenda-se de 0,4 a 0,5 L ha· 1, o que corresponde a 48 a 60 g + 24 a
30 g ha-1 de tidiazuron + diuron, respectivamente; 2) carfentrazone-
1
ethyl - 400 g L- 1, na dose de 40 a 60 g ha· + l % v v·1, de óleo
1
mineral; 3) piraflufen-etílico - 25 g L-1, na dose de 4 a 6 g ha· + 0,5%
v v·' de óleo mineral (não iônico). Concentrações superiores a 1% de
óleo mineral podem deteriorar a qualidade da fibra, devido à
1
pegajosidade. Em doses superiores a 60 g ha- , o carfentrazone-ethyl
passa a ter ação dessecante, o que não é desejável por favorecer o
aumento da quantidade de impurezas (fragmentos de fol has secas que
não caíram) na fibra colhida, fenômeno normalmente conhecido como
algodão pimentinha.
De sete a 15 dias após a aplicação do desfolhante, verifica-se
intensa desfolha, o que deixa os capulhos totalmente expostos à ação de
192 lamas e Ferreira

chuvas, poeira, etc. A exposição prolongada proporciona desidratação


excessiva da fibra, danificando a sua qualidade. Assim, a aplicação de
desfolhantes deve ser feita considerando a capacidade de colheita.

Maturadores
Este grupo é constituído por substâncias qu e liberam etileno,
inibem a biossíntese e, consequentemente, a movimentação de auxinas,
o que acelera o processo de maturação dos frutos do algodoeiro.
A principal substância utilizada como promotora de abertura de
maçãs, normalmente denominada "maturadora", na cultura do algodoeiro
é o ethephon, cujos efeitos sobre as plantas se assemelham aos de estresse
fisiológico causado por deficiência hídrica, em que há paralisação do
crescimento e abscisão de estruturas frutíferas; nestas condições verifica-
se redução no nível de auxina (PETIIGREW et al., 1993).
A eficiência do ethephon como maturador é altamente
dependente da temperatura ambiente. Não se recomenda a aplicação
de produtos à base de ethephon quando a temperatura no momento da
aplicação for inferior a 20 ºC (SNIPES; WILLS, 1994). Ainda,
segundo estes autores, a faixa de temperahira considerada ótima situa-
se entre 22 e 30 ºC. Além de acelerar a maturação dos frutos, o
ethephon provoca a abscisão de folhas, mas não se recomenda a
utilização desse produto como desfolhante.
Ao aplicar o ethephon, recomenda-se primeiro a desfolha do
algodoeiro, para que o produto possa atingir diretamente os frutos.
O maturador somente deve ser aplicado quando mais de 90%
dos frutos a serem colhidos estiverem maduros fisiologicamente.
Aplicações precoces podem interferir negativamente na qualidade da
fibra. A aplicação precoce de ethephon diminui a 1nassa de capulhos e
reduz a qualidade tecnológica da fibra, principalmente o índice
micronaire, maturidade e finura (BEDNARZ et al., 2002; LIMA,
2007; SMITH et ai., 1986).
Bednarz et ai. (2002) avaliaram a aplicação de pron1otores de
abertura de 1naçãs desde a abertura do primeiro capulho e observaram
que o índice micronaire, a finura e a nmturidade da fibra foram
melhores depois que o algodoeiro apresentou, pelo 1nenos, 60% de
Reguladores de cresci111e11to 193

capulhos abertos. Lima (2007) observou que o índice micronaire e a


maturidade da fibra não foram prej udicados quando o promotor de
abertura dos frutos fo i pulveri zado a partir de 75% de capulhos abertos.
No Brasil, estão registrados como maturadores para utili zação
na cultura do algodoeiro:
• ethephon (480 g Lº1) + cyclanilide (60 g L"1) - a dose a ser utilizada
varia de 720 a 1.200 g ha· 1 de ethephon + 90 a 15 g ha· 1 de cycianilide;
em condições de temperaturas mais altas, utilizar menores doses, o
contrário para as condições de temperaturas mais baixas.
• ethephon (273 g L. 1) + AMADS (873 g L"1) - a dose a ser utilizada
varia de 1.092 a 1.638 g ha· 1 de ethephon. Para o preparo da calda,
recomenda-se fazer uma pré-diluição em recipiente menor. A
cyclanilide e a AMADS potencializam o efeito do ethephon como
maturador e, também, auxiliam na desfolha (JOST; BROWN, 2003).

Resumo
Do ponto de vista fisiológico, as substâncias que regulam o
crescimento do algodoeiro e as que aceleram a desfolha e a maturação
dos frutos são consideradas reguladores de crescimento, pois atuam
diretamente no balanço honnonal das plantas.
A utilização dos reguladores de crescimento deve ser feita
tendo como referência o crescimento e o desenvolvimento das plantas
e dos frutos . A eficiência desses produtos depende de vários fatores:
cultivares, época de semeadura, população de plantas, fa$e do
desenvolvimento, condições ambientais e do solo, dose e fonna de
aplicação.
É de fundamental importância o monitoramento das plantas
para auxiliar na tomada de decisão. Em especial os desfolhantes e
maturadores podem interferir negativamente na qualidade da fibra, daí a
importância do momento adequado para aplicação. Preferencialmente,
devem-se utilizar desfolhantes e1n vez de dessecantes, pois estes
inte1ferem negativamente na qualidade da fibra devido a impurezas, o
que exige maiores cuidados no beneficiamento. Desfolhantes e
maturadores também facilitam o manejo da colheita, otimizam o uso
de máquinas e implementos e auxiliam no controle de pragas.
194 lamas e Ferreira

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MANEJO DE PLANTAS
DANINHAS 10
Pedro Jacob Christoffoleti1
Caio Augusto de Castro Grossi Bnmharo2
Marcel Sereguin Cabral de Melo 3
Marcelo Nicolar4
Mylena Romano5

Introdução
A cultura do algodão necessita de um manejo adequado das
plantas daninhas para que sejam atingidas altas produtividades, além
de boa qualidade da fibra e facilidade de colheita, sem a interferência
dessas plantas indesejadas. Esse manejo deve ser adequadamente
inserido no planejamento da lavoura como mn todo, e o conhecimento
prévio dos produtos disponíveis, bem como a identificação das plantas
daninhas presentes no campo e de possíveis efeitos deletérios à
cultura, é premissa fundamenta l para se obter êxito no controle da
infestação (DEUBER, 1999).
As plantas daninhas têm as mesmas necessidades para o seu
desenvolvimento que a cultura do algodoeiro, ou seja, água, luz e
nutrientes. Entretanto, as plantas daninhas são classificadas como tal
pelo motivo de terem a capacidade de se desenvolverem mais

1
Engenheiro-Agrônomo, M. S., Ph. D. e Professor Associado lll da ESALQ/USP.
E-mail : pjchrist@usp.br
2 EngenJ1eiro-Agrônomo e Mestrando da Esalq/USP. E-mail:caio.brunharo@yahoo.com.br
3 Engenheiro-Agrônomo, M. S. da Esalq/USP.E-mail:marccl.melo@usp.br
4
Engenheiro-Agrônomo. Dr. Consultor da Agrocon Assessoria Agronómica LTOA.
E-mail: mnicolai2009@gmail.com
5 Engenheira-Agronôma da ESALQ/USP. E-mail: mylcna.romuno@usp.br
200 Chrisud/óleti. Brnnlwro, Ale/o, Nico/ai e Romano

rapidamente que as demais plantas de um meio, ter maior capacidade


de desenvolvimento radicular acelerado desenvolvimento da parte
'
aérea e dispersão sexuada/assexuada a grandes distâncias e de fonna
efetiva. Portanto, as plantas daninhas poss uem vantagem competitiva
sobre o algodoeiro.
Segundo Deuber ( 1999), a convivência do algodoeiro com as
plantas daninhas durante todo o ciclo da cultura, pode acarretar
prejuízos que variam entre 68 e 95% na redução da produtividade,
sem considerar os inconvenientes na colheita, como quando estão
presentes plantas daninhas que produzem sementes com dispersão
zoocórica, como o capim-carrapicho (Cenchrus echinatus) e picão-
preto (Bidens spp.).
Atualmente, o uso de herbicidas é o método mais eficaz no
controle do mato, devido às dificultades no uso da capina manual e ao
controle na linha através do processo mecânico, principalmente pelo
fate: de a cultura do algodoeiro ser em larga escala (SIQUERI, 2001).
Um dos pontos mais importantes em relação à utilização de herbicidas
e!:,tá na necessidade de esses produtos não causarem injúrias às
culturas não alvo que levem a uma diminuição da produtividade final.
Basicamente, no manejo químico de herbicidas há produtos utilizados
em pré-emergência de plantas daninhas ou cultura e os herbicidas pós-
emergentes, nas aplicações chamadas over the top, ou seja, em área
total ou em jato dirigido.
Nenhuma das técnicas de manejo de plantas daninhas
atualmente disponíveis para a cultura do algodão proporciona controle
eficaz quando utilizada isoladamente. No entanto, quando integradas
de forma planejada, essas práticas são altamente eficazes,
proporcionando um controle sustentável. Com o advento da
resistência de plantas daninhas a herbicidas, esse princípio de manejo
integrado tomou-se ainda mais necessário, exigindo mudanças
substanciais nas práticas de manejo das plantas daninhas na
cotonicultura.

Período de interferência
Durante o ciclo do algodoeiro existem três períodos de
interferência, obtidos de forma experimental, con1 deno1ninações
Man ejo de plantas da11i11has 20 1

tradicionais: PA I - Período Anterior à Interferência; PTPI - Período


Total de Prevenção da Interferência; e PCPI - Período Crítico de
Prevenção à Interferência das plantas daninhas, que é o intervalo
compreendido entre o PAI e o PTPI (PITELLI; DURIGAN, 1984). Na
prática, o PCP J é conhecido co mo período de mato-competição e
corresponde ao intervalo em que, efetivamente, o manejo de plantas
daninhas deve ser executado para que o rendi mento seja assegurado.
Ao término do PCPI, a cultura passa a apresentar expressiva
competitividade com as plantas daninhas, principalmente em
decorrência do sombreamento das entrelinhas causado pelo
fechamento do dossel.
Por ser o algodoeiro uma planta que possui o metabolismo
fotossintético C3, ele apresenta elevada taxa de fotorrespiração, baixa
taxa de fotossíntese líquida e dificuldade de translocação dos
assimilados produzidos nas folhas para os demais órgãos da planta.
Dessa forma, é uma espécie de crescimento inicial lento, até os 20
primeiros dias após a genninação, levando desvantagem na
competição pelo substrato ecológico em relação às plantas daninhas.
Em média, o período de mato-competição das plantas daninhas no
ciclo do algodoeiro ocorre entre os 15 e 70 dias após a emergência das
plantas de algodão (DAE), que é o intervalo de tempo em que o
controle de plantas daninhas deve ser executado com o objetivo de
eliminar a competição interespecífica e assegurar a produtividade.
Porém, esse período pode variar, principalmente em função do sistema
de produção adotado.

Tipos de manejo de plantas daninhas


No manejo de plantas daninhas é comum a integração de
várias estratégias de controle de forma a minimizar o efeito negativo
das práticas adotadas isoladamente. No intuito de evitar a
interferência, deve1n-se manejar as plantas daninhas com a integração
de medidas preventivas, físicas, culturais, biológicas, mecânicas e
químicas. Entre estas, o método químico, realizado por rneio de
herbicidas, é a principal medida de conh·ole.
202 Chrisro/foleri. Bru11/wro, Melo, Nico/oi e Romano

Manejo Preventivo
Essa modalidade de manejo de plantas daninhas está ligada a
medidas que evitam a introdução, infestação, reinfestação ou
dispersão de determinadas espécies de plantas daninhas para áreas
ainda livres desta presença (RIZZARDI et al., 2004).
Assim sendo, a prevenção da infestação de plantas daninhas, o
controle de focos isolados para evitar a dispersão, a remoção de
plantas daninhas presentes nas bordas das áreas agrícolas, e dos
indivíduos sobreviventes de aplicações são etapas-chave de todo o
manejo; além de serem altamente eficientes, são procedimento com
custo acessível. Em alguns casos especiais, principalmente que
envolvem espécies exóticas ou biótipos resistentes a herbicidas, até
mesmo a técnica da eITadicação pode ser considerada como
procedimento preventivo, uma vez que novos propágulos sejam
adicionados ou dispersados à área (WOOLCOCK; COUSENS, 2000).
O manejo da área na enh·essafra deve, com ou sem cultivos de
sucessão, ser feito de tal maneira que possibilite a redução de
sementes e de espécies perenes de reprodução vegetativa. No cerrado,
comumente é utilizado milheto c01no cobertura vegetal para evitar as
propagações demasiadas das infestações. Não havendo cultivas,
podem-se manter espécies presentes sob controle, utilizando
roçadeira, ou mesmo herbicidas dessecantes, sem efeitos residuais. É
importante manter o solo protegido com plantas ou restos vegetais,
mas sem permitir o aumento de dissemínulos. Vale ainda ressaltar a
necessidade de adequada limpeza do maquinário, principahnente
quando algumas máquinas são provenientes de aluguél e estas vem de
outras localidades, muitas vezes infestadas com propágulos de plantas
daninhas.

Manejo cultura l
O manejo cultural consiste no aproveitamento das
características agronômicas da cultura comercial co1n o objetivo de
levar vantagem sobre as plantas daninhas. O monocultivo de dada
espécie por vários anos, como também a utilização contínua de um
mesmo princípio ativo (herbicida), em uma mesma área, facilita o
Man ejo de pla11tas da11i11has 203

estabelecimento de certas plantas daninhas tolerantes e resistentes aos


herbicidas, promovendo um efeito negati vo adicional sobre a cultura.
Além disso, quando há rotação de culturas, ocorre também rotação dos
modos de ação dos herbicidas.
Entre as principais práticas de controle cultural na cultura do
algodoeiro, destaca-se a variação do espaçamento entre linhas. A
utilização de densidade de semeadura diferentes pode alterar o
comportamento dos cultivares em relação ao período de mato-
competição. O aumento da densidade de semeadura pode representar
beneficio pelo completo e rápido fechamento do dossel em
comparação con1 o sistema convencional. Estudos apontam que a
adoção de espaça1nentos ultra-adensados pode reduzir em até 70% a
penetração de luz pelo dossel, diminuindo a disponibilidade de
radiação peara a germinação do banco de sementes e desenvolvimento
das plantas daninhas (MOLIN et al., 2006).
Entretanto, o sistema adensado toma inviável operacionalmente a
aplicação de herbicidas na modalidade jato dirigido, que é uma operação
fundamental para a eliminação das espécies de plantas daninhas mais
tardias no ciclo da cultura, tornando esse sistema de certa forma
restrito. Assim, é possível que o custo com o controle de plantas
daninhas seja reduzido, caso o controle seja viabilizado apenas com
herbicidas pré-emergentes na semeadura e pós-emergentes seletivos.

Manejo mecânico
O Manejo mecânico é realizado por meio de ferramentas ou
implementos, sendo feito antes ou depois da semeadura. A capina com
enxada, muito comum na agricultura familiar, ou com cultivadores de
tração animal ou trator são os 1nétodos de controle mecânico mais
utilizados. A vantagem do uso de enxada é a grande eficácia de
controle; embora tenha baixo rendimento operacional. O cultivo
mecanizado, em função de ser um método que revolve o solo, só é
recomendado para áreas de plantio convencional. É largainente
utilizado por ter menor custo, eficiência e rapidez, principalmente em
condições de solo seco. Tem co1no desvantagem a não eliminação das
plantas daninhas na linha do algodoeiro.
204 Christof/oleti, Bmnlwro. Melo. Nico/ai e Romano

Manejo biológico
O manejo biológico consiste no uso de inimigos naturais das
plantas daninhas, como insetos, fungos, bactérias, ácaros e animais
que eliminam ou prejudicam o seu desen volvi mento vegetativo ou
reprodutivo. Este tipo de controle é ainda pouco explorado e u sado. A
vantagem desse tipo de manejo é que não possui e feito tóxico, mas
como a planta daninha-alvo é muito próxima da planta cultivada, os
agentes são limitados.

Manejo químico
O controle químico é o mais empregado no cultivo do
algodoeiro. A eficácia de um herbicida no controle de plantas
daninhas e a seletividade para a cultura dependem de diversos fatores,
como: características físico-químicas e dose do produto; espécie da
planta daninha a ser controlada; estágio de desenvolvimento da planta
daninha e da cultura; tecnologia de aplicação; e fatores ambientais no
momento e após a aplicação dos herbicidas, além dos atributos fisico-
químicos dos solos para os herbicidas aplicados em condições de pré-
emergência. Esses fatores interagem constantemente, provocando
diferenças nos resultados observados, ressaltando-se que, quando um
ou mais dos fatores citados não são satisfatórios, a eficácia e
seletividade do herbicida aplicado podem ficar comprometidas.
Atualmente, há grande número de herbicidas registrados para a culhira
do algodoeiro (Tabela 10.1). Existem herbicidas p ara serem aplicados
na dessecação, pré-plantio com incorporação (PPI), pré-emergência
(PRE), pós-emergência (POS) e pós-emergência e1n jato dirigido
(POSd).
Man ejo de p/a11tas daninhas 205

Tabela 10.1 - Herbicidas registrados para a cultura do algodão no


Brasil
lngredicnlc Ativo Gnipo Químico Produto
Classe
Comercial
Alncloro Cloroacetanilida Herbicida Alaclor Nortox
J\mclrirrn Triazina Herbicida Gcs.ipax 500
Carfcnlmzona-ctílica Triazolona Herbicida Aurora
Ci:mnzina Triazina Herbicida -
Clclodim Oxima ciclohexanodiona Herbicida Select 240 EC
Clomazona lsoxazolidinona Herbicida Gamit EC
Diclorclo de pamquatc Bipiridí lio Herbicida Gramoxooe 200
Di1t1rom Ureia Herbicida Kannex 800
Fluazifope-P-butilico Acido ariloxifcnoxipropiônico Herbicida FusiJade 500 PM
Flumiclor.ique-pentílico Ciclohcxanodicarboximida Herbicida Radiant 100
Flumioxazina Ciclohcxenodicarboximida Herbicida Flumyzin 500 PM
Fomesafem Eter difenílico Herbicida Flex
Glifosato Glicina substituída Herbicida RoundUp Original

Homoalanina substituída Herbicida/


Glufosin.110 de amônio Finale
Regulador
Haloxifope-P-metilico Acido ariloxifenoxipropiônico Herbicida Yerdict R
Jsoxa tlutole Isoxazol Herbicida Provcnce 750 WG
MSMA Organoarsênico Herbicida Yolcane
Oxifluorfem Eter difení lico Herbicida Goal BR
Paraquatc Bipiridilio Herbicida Gramoxone 200
Pendimetnlina Dirutroani lina Herbicida Herbadox 400 EC
Piraílufem Fenilpira2ol Herbicida Kabuki
Piritiobaque-sódico An. Ác. pirimidiniloxibenzoico Herbicida Staple 280 CS
Promctrinn Trinzina Herbicida Gesagard 500 SC
Propaquizafope Acido ariloxifenoxipropiônico Herbicida Accn
Quizalofopc-P-etilico Acido ariloxifenoxipropiônico Herbicida Targa 50 EC
Quizalofopc-P-tefurílico Acido ariloxifenoxipropiônico Herbicida Panthcr 120 EC
Setoxidim Oxima ciclohex;nnodiona Herbicida Poast
S-metolacloro Cloroacetanilida Herbicida Dual Gold
Tepraloxidim Oxima ciclohex:anodionn Herbicida Aramo 200
Herbicida/
Tidiazurom Ureia Rugct
Regulador
Trifloxissulfurom-sódico Sulfonilureia Herbicida Envoke

Trifluralina Dinitronni linu Herbicida Prt:mcrlin 600 EC

Fonte: AGROFIT, 2013.


206 Christo.ffoleti, Bnmlwro, 1\lfe/0, Nico/ai e Romano

Dessecoçõo
Em plantio direto ou em cultivo convencional, a eliminação
da cultura de cobertura e, ou, plantas daninhas remanescentes é
fundamental para facilitar as operações de semeadura do algodão.
Essa operação deve ser realizada pelo menos de duas a três semanas
antes da semeadura.
A dessecação deve ser realizada com dose/produto
especificados e regulagem dos equipamentos de aplicação visando boa
qualidade da cobertura foliar e uniformidade de deposição da calda de
pulverização. Entre as moléculas de herbicidas mais utilizadas para
essa operação, estão: o glifosato e o paraquat isoladamente ou em
associação com outras moléculas. Para a técnica de aplicação
sequencial, recomenda-se o glifosato na primeira aplicação, seguido
do paraquat; o intervalo entre as aplicações é variável ern função da
espécie de planta daninha alvo.
Para espécies de difícil controle, como a trapoeraba (Commelina
benghalensis) e o picão-preto (Bidens pílosa), diversos herbicidas surgem
como alternativa, como é o caso do uso de flumioxazina e carfentrazone
em associação com o glifosato (Tabela 10.2).

Tabela 10.2 - Eficácia de associações de glifosato com outras


moléculas, 30 dias após a aplicação, na dessecação
em pré-plantio de algodão
Controle (%)
Associações L ou kg.ha· 1 de
p.c. Picão-preto Trapoernba Fito toxic idade
(B. pilosa) (C. bengalensis)
Glifosato + 2,4D 2,0 + l,O 99,5 98 moderada
Glifosato + 2,0 + 0,05 100 94,5 ausente
Flumioxazina*
Glifosato + 2,0+ 0,05 100 96,5 ausente
Carfentrazone*
Glifosato + 2,0 + 0,063 100 98,S ausente
Carfentrazonc•
Glifosato + 2,0 + 0,075 100 100 ausente
Carfentrazone*
3*aplicados em conJunto com ASSIST a O,:,-o1/o v/v.
Fo nte: FREIRE ct ai., 2011.
Man<!Jo de p/a111as t!a11i11/ws 207

O herbicida 2,4-0 tem sido utilizado com frequência em áreas


de plantio direto (FO LONI, 2005), apesar de não possuir
recomendações para isso. No entando, a uti lização desse produto deve
ser feita com muita cautela, poi s o algodão é uma das plantas com
maior sensibilidade a esse herbicida hormonal.

Pré-plantio incorporado (PPI)


Para essa modalidade de aplicação, dois produtos são registrados
para a cultura do algodão: os herbicidas trifluralin e pendirnethalin. A
incorporação deve ser feita, preferencialmente, com uma grade
trnbalhamlo na profundidade média de 5-7 cm e 7-1 O cm iniciais de solo
para o pendimenthalin e trifluralin, respectivamente. A aplicação pode ser
realizada nas primeiras seis semanas antes ou até a véspera da semeadura;
no entanto, a aplicação dos produtos deve ser feita logo em seguida à
última gradagem, para evitar que as plantas daninhas iniciem o processo
de genninação, o que pode reduzir a eficácia do controle. Ambos os
herbicidas possuem caráter graminicida, controlando também algumas
folhas largas, como algumas espécies de caruru e guanxuma.

Pré-emergência (PRE)
A utilização de herbicidas pré-emergentes deve ser efetuada
após a realização de uma caracterização das plantas daninhas
infestantes, além da caracterização e histórico de infestação da área,
dada a necessidade de um conhecimento prévio do banco de sementes.
Isso se deve à necessidade de utilização de produtos adequados para o
controle das sementes das plantas daninhas que ali existem, uma vez
que, quando se utiliza essa modalidade de controle, as plantas
daninhas ainda não germinaram.
Nos sistemas convencionais de cultivo com culturas que não
são geneticamente modificadas para tolerância a herbicidas, os residuais
são utilizados com bastante frequênc ia. Três fatores importantes devem
ser considerados no uso de residuais pós-plantio: conhecimento das
espécies e densidade das plantas daninhas; condições do solo; e rotação
de culturas ou pastagens implantadas na entressafra. Uma exigência
fundamental para que se tenha 60111 resultado em aplicações realizadas
na pré-emergência da cultura é a necessidade de U111idadc no solo,
208 Chrisf(~[/oleti, Brun/wro, Melo, Nico/ai e Romano

favorecendo a solubilização do composto, o que permite sua


distribuição em uma fina camada s uperficial protegida contra fatores
adversos ao ambiente.
A seletividade do herbicida para a cultura do algodoeiro também
é outro item muito importante, que está ligado a três fatores: metabolismo
da molécula pelo cultivar, ajuste de dose e posicionamento no solo. Dos
três, a dose é o fator que tem maior possibilidade de manipulação. A dose
aplicada varia, principalmente, em função da granulometria e do teor de
matéria orgânica do solo. A Tabela 10.3 mostra, de forma resumida para
melhor compreensão, os pontos positivos e negativos da utilização de
herbicidas pré-emergentes.

Tabela 10.3 - Pontos positivos e negativos da utilização de herbicidas


pré-emergentes na cultura do algodoeiro
Positivo Negativo
Eficácia imprevisível, e dependente da
Custo relativamente baixo umidade do solo
·controle precoce das plantas daninhas, antes Necessidade de conhecimento prévio da
do início da interferência (otimização da infestação das plantas daninhas na área
produção)
Diferentes mecanismos de ação em relação aos
Possibilidades de resíduos no solo limita a
herbicidas pós-emergentes, portanto podem ser
rotação de culturas em algumas situações
utilizados para manejo da resistência
Injúrias para a cultura se a profundidade
de semeadura é desunifonne ou se há
"Janela de aplicação" mais ampla, com maior assoreamento do sulco de plantio com as
intervalo de tempo chuvas
O preparo do solo deve ser esmerado e
Melhor opção de manejo em algumas situações
alguns herbicidas exigem incorporação
de infestação
para melhor eficácia
Necessita de uma camada de solo tratada
Geralmente controla um amplo espectro de com o herbicida que não pode receber
espécies de plantas daninhas qualquer cultivo ou outra fonna de
distúrbio da superfície do solo
Controle efetivo de algumas plantas daninhas
de dificil controle pelos herbicidas pós- Dificuldade de alguns herbicidas cm
emergentes (Exemplo: trapoeraba tolerante ao transpor a palhada
glifosato)
Período de controle prolongado pode controlar
diversos fluxos de emergência de plantas Vaiiações de tipos de solo e ~ tcnçiio de
daninhas com característica de germinação umidade dentro de um mesmo tulhuo
descontínua podem refletir cm rcs ultudos variáveis
Manejo de plantas daninhas 209

Pós-emergência em área total (POS)


A aplicação de herbicidas em POS é uma ferramenta que
possibilita a escolha do produto e da dose a serem utilizados com base
na infestação visual das plantas daninhas na área. Quanto mais
estabelecidas as plantas daninhas no ambiente, quanto mais bem
formado o sistema radicular, ou mesmo quanto maior o número de
folhas presentes nas plantas daninhas, mais difícil se toma o controle
pós-emergente e maiores serão os danos por matocompetição, bem
como maior será a dose necessária para controlar a planta infestante.
O peróodo chamado de pós-emergência inicial ou precoce
garante o melhor controle das espécies. Dessa forma, o sistema
produtivo deve ser planejado para que as aplicações sejam feitas sobre
as plantas nos estágios iniciais de desenvolvimento; no entando, não
se excetua a aplicação dos produtos sobre as plantas um pouco mais
desenvolvidas. Ressalta-se, porém, que as doses aplicadas serão
maiores para que o mesmo controle seja assegurado, fato que aumenta
os custos e pode comprometer a seletividade da moléticla
(CHRISTOFFOLETI et al., 2007).
No caso do controle de gramíneas em alta infestação, são
recomendados herbicidas com ação graminicida, geralmente os
herbicidas inibidores da ACCase ( clethodim, fluazifop, propaquizafop
e sethoxydim), ressaltando-se que a fitotoxicidade desses herbicidas é
baixa e ocorre quando são adicionados óleos minerais à calda de
pulverização. Para o controle de plantas daninhas de folhas largas, em
área total, são encontrados dois produtos com recomendação para a
cultura do algodoeiro: piritiobaque-sódico e trifloxissulfurom-sódico.

Pós-emergência em jato dirigido (POSd)


A aplicação de herbicidas em pós-emergência dirigida às
entrelinhas do algodoeiro é indispensável para a manutenção du
cultura livre da interferência de plantas daninhas até o mo1nento da
colheita.
A estratégia 1nais eficaz para se evitar o efeito guarda-chuva
da cultura sobre as plantas daninhas, principalmente da linha da
cultura é o uso da aplicação em jato dirigido, protegida ou não. Essa
técnica de aplicação consiste no direcionamento do herbicida às folhas
Christoj/(J/eti. /Jr,111/wro. M elo. Nico/ai e Romano

das plantas daninhas ou ao so lo da entreiinha da cultura, com a cultura


já estabelecida na área. Em algodão é uma prática comum, entre 90 e
150 dias após a germinação ela cultura , e pode ocorrer mais de uma
vez, dependendo da conclução da lavoura, variedade utilizada e
pressão de infestação na área. Na Figura 10. 1 observa-se um dos
equipamentos de aplicação dirigida de herbicida na cultura de
algodão.

Figura I 0. 1 - Equipamento de aplicação dirigida de herbicidas na


cultura do algodão.

A aplicação pode ser protegida quando se utiliza o


equipament0 denominado "casinha de cachorro" (capota de proteção),
ou sem proteção com os bicos de pulverização direcionados para o
soio da entrelinha, muitas vezes utilizando-se de pingentes. Nesse
modelo de aplicação são utilizados diversos tipos de produtos, com
destaque para o uso de diuron e prometrina como herbicidas residuais
a serem inseridos no solo das entrelinhas e carfentrazone, paraquate,
amônio glufosinato e glifosato como herbicidas não seletivos de
amplo espectro para controle das plantas daninhas em pós-
emerg\!ncia.
Manejo de plantas daninhas
21 1

Manejo de plantas daninhas em algodão


geneticamente modificado resistente a
herbicidas
Como parte de um manejo integrado contra plantas daninhas,
a utilização de variedades resistentes a herbicidas entra como mais
uma ferramenta para o produtor no combate às plantas daninhas. A
disponibilidade de variedades de algodão resistentes a herbicidas,
como a tecnologia " Liberty Link", a "RoundUp Ready" e a
recentemente lançada, a tecnologia "Glytol", proporciona ao produtor
maiores opções de estratégia de controle de plantas daninhas.

Manejo de plantas daninhas no algodão


RoundUp Ready®
O glifosato é um herbicida não seletivo de ação sistêm ica, que
controla eficientemente tanto gramíneas quanto espécies de folhas
largas, plantas de ciclo anual ou perene, tendo um custo relativamente
barato, quando comparado com outros herbicidas de a lgodão. Esse
fator, além de sua baixa mobilidade no solo e baixa persistência, faz
com que o glifosato seja o herbicida mais consumido no Brasil e no
mundo. Os cultivares RoundUp Ready® possuem o gene que confere
resistência ao herbicida glifosato e pode receber aplicações de
glifosato em qualquer momento após a emergência até o estágio de
quatro folhas verdadeiras, pois a aplicação após esse período é capaz
de causar abortamento de frutos, isto para o algodão chamado de
geração não flex . No caso das variedades RR Flex, é possível aplicar
até sete dias antes da colheita. O uso do glifosato pennite a associação
com graminicidas na aplicação em pós-emergência.
212 Christojfoleti, Brunharo, Melo, Nico/ai e Romano

Manejo de plantas daninhas no algodão 1

Liberty Link® 1

Os cultivares de algodão Liberty Link® são aqueles que 1

resistem à aplicação do glufosinato de amônio. Este herbicida pode ser 1


aplicado desde a emergência até a fase inicial do florescimento, sem
1
que ocorram danos nos frutos, porém há limitação com relação ao
estádio da planta daninha, que deve estar em fases iniciais de 1
desenvolvimento (folhas largas, entre quatro e seis folhas, e gramíneas
1
até o primeiro perfilho). Assim, são feitas várias aplicações desse
herbicida para atender ao estádio ideal de aplicação e aos vários fluxos 1

de emergência de plantas daninhas. Em algodão com altura superior a 1

0,25 m, pode-se optar por aplicações sernidirigidas para garantir


melhor cobertura das plantas daninhas. 1

j
Manejo de plantas daninhas no algodão
1
Glytol®
1

GlyTol® é a primeira tecnologia aprovada no Brasil para a


1
cultura do algodão com resistência a dois tipos de herbicidas, o
glifosato e o glufosinato de amônio, o que promove melhor controle 1
das plantas daninhas em lavouras de algodão. É uma facilidade para o
1
manejo, pois se trabalha com um herbicida de contato (glufosinato de
amônio) e um de efeito sistêmico (glifosato), o que faz que controle 1
um maior espectro de plantas daninhas e reduza o risco de resistência 1
de plantas daninhas.
1

1
Resistência de plantas daninhas a 1

herbicidas 1

A resistência de plantas daninhas é definida como a capacidade 1

inerente e herdável de alguns biótipos, dentro de dete1minada população, 1


de sobreviver e se reproduzir após a exposição à dose de un1 herbicida
1
que, normalmente, seria letal a uma população normal (suscetível) da
mesma espécie (CHR1STOFFOLETI; LOPEZ-OVEJERO, 2008). 1

~
Man ejo de plantas da11i11ltas 213

A aplicação repetiti va de herbicidas na cultura tem


selecionado alguns biótipos de plantas daninhas chamadas de
resistentes. Da mesma forma, plantas daninhas de baixa
suscetibilidade ao herbicida específico têm sido selecionadas. Assim,
estratégias de recomendação de herbicidas de forma preventiva à
seleção de resistência, ou mesmo de manejo da resistência, em áreas
onde o problema já existe, devem ser planejadas.
No Brasil, para a cultura do algodão, ainda não se tem registro
oficial pela Associação Brasileira de Ação a Resistência de Plantas a
Herbicidas - HRAC-BR, porém deve-se levar em consideração a
experiência de outras culturas como a soja, em que o uso de herbicidas
também é intenso.
Para o manejo integrado de plantas daninhas resistentes
(MIPDR), Lopez-Ovejero et al. (2008) traçam algumas bases para a
prevenção e, ou, controle desses biótipos, entre as principais tem-se:
(i) manejo do banco de sementes de plantas daninhas, visando ao
controle da produção de sementes de biótipos resistentes; e (ii)
diminuição da pressão de seleção dos herbicidas, com o conhecimento
detalhado dos mecanismos de ação das moléculas usadas e diferentes
opções de uso no planejamento da cultura.

Resistência ao glifosato
O aumento da resistência de plantas daninhas a essa molécula
ocorreu devido ao surgimento de culturas tolerantes, onde a frequência
do uso de glifosato passou a ser intensa (MOREIRA;
CHRISTOFFOLETI, 2008). Con10 no Brasil a liberação comercial de
cultivares de algodão resistentes ao glifosato ainda é de certa forma
recente, deve-se levar em consideração a experiência vivenciada para
o manejo da resistência em outros países onde o cultivo comercial
desses cultivares existe há mais tempo. Nesses países, a recomendação
é a inclusão de herbicidas residuais em pré-emergência, além da
aplicação em jato dirigido de outros pós-emergentes com mecanismo
de ação diferentes (JORDAN, 20 10).
2 14 Christf?Jfoleti, Bn m lwro, 1vlelo. Nico/ai e Ro mano

Resistência ao glufosinato de amônio


Já existem duas espécies resistentes ao glufosinato de amônia
no mundo (Eleusine indica na Malásia e Lolium multiflorum nos
Estados Unidos da América); portanto, a utilização dessa tecnologia
deve ser feita de maneira consciente para evitar a seleção de mais
plantas daninhas resistentes ao glu fosinato de amônio.

Manejo de culturas voluntárias no cultivo


do algodão
Outro manejo muito importante é de soja ou milho voluntário
resistente ao glifosato, oriundos da sucessão das culturas. Com o
advento do cultivo de algodão em segunda safra, o controle de plantas
voluntárias de soja R.R® e de milho RR® tomou-se operação
indispensável na cotonicultura, pois, dentro das áreas de algodão
cultivado em segunda safra, é comum encontrar plantas voluntárias de
soja e de milho após a emergência da culh1ra. Essas plantas en1ergem
de sementes que foram debulhadas das vagens, no caso da soja, antes
da colheita, sementes com anomalias na germinação, além de
sementes oriundas de perdas na colheita. Dessa maneira, a
permanência desses grãos nas lavouras de algodão pode acarretar
prejuízos para o desenvolvimento inicial dessa cultura, em função da
interferência inicial. A soja e o n1ilho possuem potencial para se
tornarem plantas daninhas de clificil controle no algodão RR®, que
apresenta seletividade a esse mesmo herbicida.
Como alternativa de controle para a soja voluntária RR® e
milho voluntário RR®, pode-se aplicar glufosinato de amônio isolado
ou em associação com outros herbicidas. No caso da soja voluntária
RR®, em estádio V 1, glufosinato de amônio associado com
piritiobaque-sódico. O efeito causado pelos herbicidas inibidores de
ALS (piritiobaque-sódico e tritloxissul furom-sódico), seja isolado ou
em associação com outros herbicidas, é capaz de reduzir o porte da
soja, diminuindo o potencial competitivo dessas plantas voluntárias
com o algodoeiro. Para eliminação do milho voluntário reco1nenda-se
a associação com cletodim ou fluazi fope em aplicações em área total.
Manejo de plantas da11inlin.,· 2 15

Manejo da saqueiro do algodão


A destruição das soqueiras é uma prática com recomendação
obrigatória na cultura do algodão, tendo por finalidade principal
prevenir a infestação de pragas e doenças nas culturas de algodão
sucessivas. Caso o agricultor não destrua os restos culturais do
algodoeiro após a colheita, ele poderá sofrer penalidades, como multa e
isenção de incentivos fiscais, por ocasião da comercialização da fibra.
Existem diversos métodos para a de~truição da soqueira do
algodão. O método químico oferece a possibilidade de extinguir a
cultura da área sem o revolvimento do solo. Os herbicidas que podem
ser utilizados como opções para essa condição de manejo são o
glifosato, o amônio glufosinato e o 2,4-D.

Conclusão
Os métodos de manejo de plantas daninhas são muitos e
otimizados sempre que se unem medidas culturais às características
específicas dessas plantas e ao controle químico. Existem diversos
herbicidas para a cultura do algodão; o conhecimento da dinâmica do
banco de sementes e o padrão de germinação de plantas daninhas é
que condicionam quais moléculas mais se encaixam no sistema
produtivo adotado. Não há uma regra específica de quais herbicidas
utilizar ou quando aplicar. Sempre que se generaliza, ou seja, admite-
se rnna receita para o manejo de plantas daninhas, pode-se incidir em
grandes e1Tos que comprometerão todo o manejo. As espécies
presentes na área, o histórico de manejo adotado, a disponibilidadt; de
moléculas herbicidas, a época e duração da competição, os custos,
entre outros são os parâmetros que devem ser considerados no instante
da tomada de decisão de quando e como realizar o controle.

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f
MANEJO DE PRAGAS
11
Geraldo Papa 1
Fernando Juari Celoto2

Introdução
A cotonicultura brasileira vem passando por mudanças
fundamentais tanto pelo deslocamento das áreas produtoras do Sul e
Sudeste para o Centro-Oeste, bem como pelas mudanças no sistema
de plantio com vários cultivos em plantios sucessivos e, ou,
concomitantes. Embora esse sistema proporcione aumento de
produção e otimização do uso do solo, favorece a reprodução das
pragas devido à constante oferta de hospedeiros e a constante
dispersão dos insetos de um cultivo para o outro. Com isso, a
intensidade de ataque e oco1Tência de pragas tem aumentado e
dificultado o controle. Em muitos casos, o controle é realizado com
base em calendário (normalmente em pulverizações semanais) ou pela
presença do inseto, mesmo que a população esteja abaixo do nível de
controle. Existe ainda uma tendência em superestimar o dano causado
pelo inseto. Além disso, as pragas podem desenvolver resistência aos
inseticidas, dificultando o controle e obrigando o agricultor a mudar
de defensivo, aumentar a dose ou até 1nesmo misturar ou usar
inseticidas mais tóxicos.

1 Engenheiro-Agrônomo, M. S., D. S. e Professor da VNESP - Campus de Ilha Solteira.


E-mail: gpapa@bio.feis.uncsp.br
2 Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor dn \JNESP -· Campus de llha Solteira.
E-mnil: tjceloto@aluno.feis.unesp.br
2 18 Papa e C('/oto

Diante desse cenário, fica evidente que a agricultura moderna não


será sustentável se não houver alternativas mais racionais para
adequado manejo fitossanitário, associando medidas culturais.
biológicas, resistência genética e o uso de defensivos com perfil
toxicológico favoráve l tanto ao ambiente quanto aos consumidores e
aplicadores de defensivos químicos.
Segundo Papa (2003), na cotonicultura moderna o manejo de
pragas é de fundamental importância devido ao alto número de
espécies de insetos que atacam a cultura em todo o seu ciclo de
desenvolvimento. Dessa fo1ma, o número de pulverizações com
inseticidas deve ser racionado ao mínimo possível, utilizando as
técnicas disponíveis nos programas de Manejo Integrado. Os avanços
tecnológicos nos sistemas de plantio estão calcados em parâmetros
que vão desde a escolha do cultivar até a engenharia genética. Na
defesa fitossanitária, os avanços tecnológicos que podem ser
destacados são:
,
• Monitoramento - E o primeiro fundamento dos programas de
Manejo Integrado. Atualmente, a figura do amostrador ("pragueiro")
é comum nas principais áreas produtoras de algodão no Brasil.
Técnicos treinados e confiáveis podem forn ecer com frequência um
diagnóstico preciso da situação qualitativa e quantitativa referente à
ocorrência de pragas, doenças e plantas daninhas presentes em cada
talhão de algodão, subsidiando as tomadas de decisão sobre medidas
diretas de controle e racionalização de uso de defensivos. Vale
ressaltar nesse caso que a melhor pulverização é a que não necessita
ser feita, ou seja, uma pulverização poupada, em grandes áreas de
plantio, implica uma economia significativa no custo de produção e
também poupa o ambiente dos efeitos colatera is provocados pelo
uso intensivo de defensivos.
• Nível de dano econômico - A condição de praga para uma
população de insetos em uma cultura depende de sua densidade
populacional e da injúria ocasionada na planta. Muitas vezes a
injúria na planta não acarreta danos qualitati vos ou quantitati vos à
produção. Sendo assim, define-se como nível de dano econômico
(NDE) a densidade populacional da praga que causa prejuízos à
cultura, iguais ao custo de adoção de medidas de controle, ou seja,
menor densidade populacional capaz de causar perdas econômicas.
Nota-se, atualmente, por parte dos pesquisadores e técnicos das
Manl!jo de pragas 219

indústrias produtoras de defensivos, maior atenção em relação à


pesquisa e à publicação de dados d~ dano eco~ôn:1ico das praga~ do
algodoeiro, que se tornarão referencial para o tecmco tomar ou nao a
decisão de controlar as pragas na cultura. Com o deslocamento da
cultura algodoeira para grandes áreas de plantio na região do
cerrado, ocorrera1n também alguns avanços na adoção do Manejo
Integrado de Pragas do algodão. Entretanto, é necessária uma
evolução ainda maior, aumentando-se as pesquisas sobre o NDE na
cultura do al godão, visando à obtenção de novos valores e
reclassificação de outros, devido à introdução de novos materiais
genéticos, bem como às mudanças regionais no s istema produtivo e
à própria dinâmica biológica das pragas.
• Feromônios - Além de constituir ferramenta auxiliar do
monitoramento e de reduzir os riscos de intoxicação do ambiente, o
emprego de feromônio no controle direto de pragas já é viável na
cotonicultura, com a introdução de formulações que permitem a
liberação do feromônio por longos períodos, como é o caso do
controle da lagarta-rosada, Pectinophora gossypiella, em que estão
sendo usadas formulações que permitem a liberação do feromônio
por cerca de 120 dias, l?roporcionando o controle dessa praga com
uma única aplicação. E também o caso do bicudo, Anthonomus
grandis, em que a utilização de iscas tóxicas à base de fero1nônio +
inseticida, colocadas nas bordas do campo, reduzem
preventivamente os adultos infestantes diminuindo a taxa de
crescimento populacional.
• Controle biológico - A utilização de organismos vivos (predadores,
parasitoides, microrganismos entomopatogênicos) passa a
representar crescente segmento comercial, e muitas indústrias,
inclusive produtoras de pesticidas químicos, já estão no mercado
com vários produtos alternativos, como a comercialização de
agentes de controle biológico e biopesticidas.
• Silício e indutores de resistência - Existe a perspectiva de que o
si lício passe a ser usado na cultura, não exclusivamente como
micronutriente, mas como fonte de resistência a lagartas. O silício
age, deixando a folha mais resistente, o que provoca desgaste nas
mandíbulas das lagartas, reduzindo a ingestão e prcj~tdicando o
desenvo lvimento da praga. Os indutores de resistência são prod utos
que agem na planta deixando-as mais resistentes ao ataque de pragas
e doenças.
220 Papa e Ce/010

• Controle químico - Considerando-se que a melhor maneira de


avaliar o sucesso de um sistema proposto, entre várias outras opções,
é a sua adoção e a permanência de sua aceitação após anos de uso, o
controle químico é até o momento a forma mais utilizada - e,
consequentemente, a mais importante - para controle de pragas.
Todavia, o uso abusivo e sem critérios técnicos poderão acarretar,
entre outros, sérios problemas de contaminação ambiental,
comprometendo a sustentabilidade. Entretanto, acompanhando a
evolução tecnológica pela qual passa todo o setor produtivo e em
razão de sua própria sobrevivência, a indústria de defensivos vive
um período de grande modernização de seus produtos, introduzindo
no mercado inseticidas e acaricidas menos tóxicos, com menor
persistência no ambiente, mais seletivos em relação aos mamíferos e
aos inimigos naturais das pragas e que atuam sobre sistemas ou
enzimas exclusivos de artrópodes e seletivos aos mamíferos,
tomando possível a integração dos diferentes métodos de controle,
com o uso de defensivos de fonna a eliminar ou atenuar
significativamente os efeitos adversos causados. Isso tem
contribuído para um manejo mais racional no controle de pragas e
maior segurança aos agricultores, iniciando-se uma substituição
gradativa dos grupos químicos de pesticidas mais tóxicos e de amplo
espectro de ação, como a maior parte dos organofosforados e
carbamatos por grupos menos tóxicos e mais seletivos, como os
reguladores de crescimento de insetos, neonicotinoides,
bloqueadores de canais de sódio, moduladores de receptores de
acetilcolina, inibidores da biossíntese de lipídeos, moduladores de
receptores da rianodina, modificadores de comportamento alimentar
entre outros, já registrados para uso na cultura do algodão e que
possuem perfil toxicológico favorável tanto ao a1nbiente quanto à
segurança do aplicador. Essa evolução pennitiu U111a redução
significativa nas doses dos defensivos na cultura do algodão quando
se compara o sistema produtivo antigo co1n o atual. Outro avanço
significativo dos programas de rnanejo integrado na cultura do
algodão é a inclusão do manejo da resistência de pragas aos
defensivos. As técnicas de manejo da resistência de insetos e ácaros
aos agroquímicos vêm ganhando importância fundamental para 0
equilíbrio do agroecossistema e para o período de vida útil dos
agroquímicos. Os avanços recentes na área de manejo da resistência
de pragas a pesticidas no Brasil estão associados com a formação de
Manejo de pragas 221

pesquisadores especializados em diversas instituições de pesquisa e


ensino e a formação de um Com itê Brasileiro de Ação a Resistência
a Inseticidas (Irac/Brasil - "fnsecticide Resistance Action
Committee") em 1997, o qual é composto por representantes de
várias indústrias químicas e tem como principal objetivo manter
todas as classes de inseticidas e acaricidas como viáveis opções de
controle de determinada praga.

• Isca tóxica - O controle de lepidópteros adultos pode ser feito com


isca tóxica à base de açúcar + inseticida, pulverizada apenas nas
bordaduras da área, auxiliando na redução de mariposas no período
de pré-oviposição quando são atraídas por carboidratos, o que reduz
a população de lagartas na geração seguinte.

• Algodão Bt - Atualmente, encontram-se liberados para plantio


cultivares transgênicos que expressam proteína Bt (Bacillus
thuringiensis), a que causa a morte de muitos insetos, principalmente
lepidópteros (FONTES et al., 2002). Os cultivares de algodão
geneticamente modificados expressam em seus tecidos as toxinas
CrylF, CrylAc Cry2Ab, que conferem às plantas resistência aos
lepidópteros Heliothis virescens, Spodoptera frugiperda, Alabama
argillacea, Pectinophora gossypiella, Spodoptera eridania,
Pseudoplusia includens, Trichoplusia ni, consideradas pragas
importantes da cultura. Os cultivares transgênicos são, para o
cotonicultor, mais uma importante ferramenta para uso nos
programas de manejo de pragas.
Apesar dos avanços tecnológicos já praticados na Defesa
Fitossanitária na cultura do algodão, há ainda a necessidade de
maiores avanços tanto tecnológico quanto em estratégias, que
permitam a continuidade da expansão das áreas de forma sustentável.

Prin cipa is pragas do algodoeiro


A cultura do algodoeiro hospeda grande número de insetos,
ressaltando-se que em torno de 20 espécies apresentam potencial de
causar danos à cultura (GALLO et al., 2002) (Tabela l 0.1), além do
recente aumento na frequência de ocorrência de lagartas do complexo
222 Papa e Celotu

Plusia e a nova praga identificada em 201 3, Helicove,pa armigera. A


ocon-ência de um grande número de pragas atacando a cultura em
todas as fases de desenvolvimento desta (Figura 11 .1) toma
extremamente necessária a implantação do Manejo Integrado de
Pragas (MIP), que é um sistema de apoio de decisões para a seleção e
uso de táticas de controle de pragas, usadas individualmente ou
hannoniosarnente coordenadas em uma estratégia de manejo baseada
em análises de custo e beneficio, que levam em conta os interesses dos
produtores, bem como os impactos na sociedade e no meio ambiente
(KOGAN, 1998).

Tabela 11 .1 - Determinação do nível de controle das principais pragas


do algodoeiro
Praga Epoca de Ocorrência Parte Amostrada Nível de Controle
Ponteiro (CR) 50% de plantas atacadas
Pulgão Até 60 dias
Ponteiro (CS) 1 a 5% de ataque
Tripes Até 30 dias Folhas 6 insetos por folha
Controle
Broca -- preventivo
--

Acaro-rajado 80-11 0 dias Folhas medianas l 0% de plantas atacadas


Acaro-branco 70-100 dias Folhas novas 40% de plantas atacadas
Botões florais e 5% de botões atacados ou 1
Bicudo 40 dias até o final
armadilha bicudo por annadilha
Emergência até a Folhas, brácteas e
Lagarta-militar 10% de infestação
maturação botões fl orais

Curuqucrê 90- 140 dias Planta toda 2 lagartas por planta ou 25% d,
. desfolha
Lagarta-das- 20% de ponteiros com ovos ou
•. 70- 120 dias Planta toda
maçãs 15% de plantas atacadas
·. 5% de ataque ou 1O
Lagarta-rosada \ 80-120 dias Maçãs e armadilha
· 1, mariposas/annadilha/noite
Percevejos ,1 90-140 dias Plantas 20% de infestação
..
'
~

CR. cultivares resistentes a doença transm1 t1da por pulgao CS: cultivares suscetíveis a doenças
transmitidas por pulgão.
Fonte: Adaptado de PAPA; CELOTO, 2006.
Manejo ele p raga., 223

B,_. Ci__..
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Figura 11 .1 - Fenólogia do algodoeiro e a ocorrência de pragas.


Fonte: Adaptado de SARAN; SANTOS, 2013.

Pulgão-do-algodoeiro - Aphis gossypii


(Glover) (Hemiptera: Aphididae)
O pulgão é un1a das primeiras pragas a surgir na lavoura,
podendo ocorrer surtos durante todo o ciclo da cultura. Ataques
tardios podem provocar a carame lização da pluma devido ao
desenvolvin1ento de fumagina sobre os excrementos da praga.
diminuindo a qualidade industrial do algodão. Os pulgões se
reproduzem por partenogênese, isto é, sem a participação do macho.
originando novas fên1eas. São insetos de tan1anho pequeno e
coloração variando do amare lo-claro ao verde-escuro. Nas populações
de pulgões, ocorre111 as fonnas aladas, que são responsáveis pela
dispersão da praga, e as formas ápteras, que formam as colônias e
pe1manecem se ali1nentando sob as folhas e brotos novos da planta.
provocando encarquilhan1ento e deformação (Figura 11 .2).
224 Papa e Celoto

Figura 11.2 - Colônia de pulgões e capulho coberto de excrementos e


fumagina devido ao ataque tardio de pulgão.
Foto: F. J. Celoto.

Os pulgões são vetores de duas importantes viroses para o


algodoeiro, conhecidas como vermelhão e azulão (mosaico das
nervuras). O vermelhão deixa as folhas com áreas avermelhadas entre
as nervuras, é de ocorrência esporádica e causa poucos prejuízos. A
virose conhecida como azulão (mosaico das nervuras forma "Ribeirão
Bonito") se caracteriza pelo aparecimento de áreas amareladas ou
"palidez", formando um mosaico, que se toma mais visível contra a
luz. As folhas se apresentam com bordos curvados e quebradiços. O
vírus causa encurtamento de entrenós, paralisação do crescimento e
perda acentuada de produtividade, podendo provocar perdas totais se o
ataque for inicial (Figura 11.3). Em cultivares resistentes a viroses, o
pulgão atua como praga e em cultivares suscetíveis, como vetores da
doença, assim a amostragem é diferenciada para cada grupo de
cultivares (Tabela 11 .2).
O controle do pulgão necessita ser complementado com a
destruição de soqueira e tigueras, eliminação de plantas daninhas
hospedeiras de vírus, eliminação de plantas com virose (quando
possível), tratamento de sementes (Tabela 11.3) e aplicação de
inseticidas (Tabela 11 .4).
Manejo de pragas 225

Tabela 11 .2 - Amostragem de pulgão de acordo com o tipo de


variedade
Praga Vetor
Inspecionar o ponteiro das plantas Inspecionar toda a planta
Anotar o número de plantas com Anotar o número de plantas com
pulgões pulgões
Anotar o número de colônias pequenas, Anotar a ocorrência de colônias
médias e grandes pequenas, médias e grandes
Pulgão alado= colônia pequena até 80
Anotar presença de predadores e dias após emergência
parasitoides Anotar a presença de inimigos naturais
Anotar o número de plantas com virose
Obs.: O mvel de controle ate 30 dias de idade da lavoura é de 3% de plantas com pulgões. De 30
a 120 dias de idade da lavoura devem-se avaliar os sintomas da doença: o nível vai a 10%
de plantas com pulgões, se encontrar até 2% de plantas doentes; e a 5% de plantas com
pulgões, se encontrar de 3 a 5% de plantas doentes. Se a lavoura estiver acima de 5% de
plantas doentes, o controle do pulgão passa a ser sequencial. Após 120 dias de idade da
lavoura, 15% de plantas infestadas por pulgão desencadeiam o controle.
Fonte: Adaptado de PAPA; CELOTO, 2006.

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Figura 11.3 - Plantas c01n sintomas de virose (azulão) transmitida por


pulgões ao lado de plantas sadias.
Foto: G. Papa.
226 Papa e Celoto

Tripes - Frankliniella schultzei (T rybom, l 920)


(Thysanoptera: Thripidae)
São insetos pequenos, medindo ele I a 3 mm de comprimento;
os adultos têm coloração escura e as ninfas, co loração amarelada
(Figura 11 .4). Alimentam-se nas fo lhas, que em ataques severos se
tomam de aspecto coriáceo e quebradiças, com os bordos dobrados
para cima. A reprodução é sexuada e a postura, endofítica. Seu ciclo
de vida varia de 14 a 28 dias, ressaltando-se que condições de baixa
un1idade favorecem o desenvolvimento e o crescimento populacional
da praga.

Figura 11.4 - Adulto e ninfa de Tripes.


Foto: F. J. Celoto.

O período crítico de ataque é entre 1O e 20 dias de idade da


cultura, podendo ocorrer surtos na fase de frutificação. Infestações
severas logo após a emergência poderão ocasionar a morte das
plantas, porém o que geralmente acontece é a paralisação temporária
do crescimento.
A utilização de inseticidas em tratainento de sementes
proporciona boa segurança ao cotonicultor. Quando não for realizado
o tratamento, haverá a necessidade de vistoria dos I O aos 30 dias após
a emergência. As mnostragens devem ser realizadas por meio da
coleta de plantas para observação de adultos e ninfas de tripes. Para
isso, as plantas podem ser batidas em uma superfície clara, e a
constatação de cinco ou mais insetos por planta detennina o momento
da tomada de decisão do agricultor (Tabelas 11.3 e 11.4).
Mm ,ejo de p ragas 227

Curuquerê-do-a lgodoeiro - Afobamo orgillaceo


(Hübner, 1818) (Lepidoptera: Noctuidae)
O adulto é uma ma rip osa marrom-avermelhada que mede
aproximadamente 30 mm de envergadura e apresenta duas manchas
circulares escuras na parte central das asas anteriores. A fêmea pode
colocar cerca de 500 ovos, de coloração esverdeada, que são
depositados na face inferior das folhas . Ao eclodir, as lagartas se
ali1nentam raspando as folhas e, após a primeira troca de pele, passam
para a paiie superior da folha, onde se alimentam de todo o tecido
foliar. As lagartas possuem coloração verde-escura, com duas estrias
longitudinais no dorso e apresentam pintas pretas em todo o corpo
(Figura 11.5).

Figura 11 .5 - Em sentido horário: curuquerê adulto, planta com ataque


severo, pluma com fezes de larvas devido ao ataque
tard io e lagarta.
roto: F.J.Ccloto.
228 Papa e Ceio/o

Após o período larval, que varia de 14 a 21 dias, as lagartas


dobram os bordos das folhas, prendendo-os com fios de seda, onde se
transfom1am em pupas. O cic lo de vida se completa em
aproximadamente 30 dias. Em altas infestações, as lagartas ficam com
a coloração mais escura, dando ao cotonicultor uma ideia do grau de
infestação da lavoura. O algodoeiro pode ser atacado durante todo o
seu ciclo. As infestações normalmente são maiores durante os meses
de janeiro a março. Quando o ataque se dá na época da abertura das
maçãs, ocorre sua maturação forçada, diminuindo a resistência das
fibras, e as fezes podem manchar as fibras, depreciando-as.
O nível de controle até os 30 dias de idade da lavoura é de uma a
duas lagartas por metro ou até 10% de desfolha. Após os 30 dias da
emergência o nível de controle passa para cinco lagartas pequenas ou
duas médias por planta ou até 10% de desfolha no terço superior das
plantas. O controle de lagartas é feito pela pulverização foliar com
inseticidas (Tabela 11.3) e uso de cultivares com a tecnologia Bt.

Tabela 11 .3 - Defensivos para tratamento de sementes ou para


aplicação no sulco de plantio*
Nome Técnico Grupo Químico e Modo de Ação Praga Controlada
Acefate Fosforado / sistêmico Broca-da-raiz, pulgão e tripes
Acetamiprido Neonicotinoide /sistêmico Pulgão e tripes
Carbofurano Carbamato / sistêmico Pulgão, nematoide e tripes,
Carbossulfano Carbamato / sistêmico Elasmo e pulgão
Clotianidina Neonicotinoide / sistêmico Pulgão ·e tripes
Fiprooil Pirazol / contato e ingest:ão Broca-da-raiz, elasmo etripes
lmidacloprido Neonicotinoide /sistêmico Pulgão e tripes
lmidacloprido + Neonicotinóide + carbamato /
Tiodicarbe sistêmico Elasmo, pulgão, nematoides e tripes

Tebufós Carbamato / sistêmico Nematoides, percevejo-castanho,


pulgão e tripes
Tiametoxao Neonicotinoide /sistêmico Curuquerê, bicudo, mosca-branca,
broca-da-raíz, pulgão e tripes
* O uso de defen sivos aqui citados deve seguir as recomendações contidas no seu registro no
Ministério da Agricultura (Mupa) e indicações da bula do produto.
f onte: AGROFIT, 2013.
Manejo de pragas 229

Lagarta-das-maçãs - (Lepidoptera: Noctuidae)


Heliothis virescens (Fabricius, 1 781)
Helicoverpa armigera (Hübner)
O adulto da Heliothis virescens é uma mariposa que apresenta
as asas anteriores esverdeadas com três linhas oblíquas avermelhadas
(Figura 11.6A). Os ovos são estriados, de coloração branca e são
depositados de forma isolada nos ponteiros das plantas, nas brácteas
dos botões florais ou nas folhas laterais, mas sempre em folhas novas.
Cada fêmea deposita em média 600 ovos. As lagartas levam em média
três dias para eclodir. Em geral são de coloração verde, podendo
variar de verde-claro a marrom. Inicialmente alimentam-se de tecidos
novos, folhas ou botões florais; atingem 25 mm de comprimento; e
geralmente nos últimos instares atacam maçãs (Figura 11.6B e C).
Nas últimas safras surtos de lagartas pertencentes à família
Noctuidae (Heliothinae), inicialmente identificadas como Helicove,pa
zea e Heliothis virescens, foram relatadas atacando diversas culturas,
entre elas o algodão no oeste da Bahia, causando prejuízos da ordem
de 80% na produção. Em março de 2013, a espécie foi identificada
como Helicoverpa armigera, sendo relatada sua primeira ocorrência
na América. Trata-se de uma das espécies mais agressivas desse
grupo. O adulto é uma mariposa que apresenta uma série de pontos
nas margens das asas anteriores e uma mancha em forma de vírgula na
parte inferior (Figura 11.6D). As asas posteriores são mais claras e
apresentam coloração marro1n-escura na extremidade da margem
apical. Cada fêmea pode depositar de forma isolada em ponteiros,
frutos e folhas, entre 1.000 e 1.500 ovos. As lagartas possuem
coloração variável entre verde e a1narelo-claro a u1n tom mais escuro.
Lagartas a partir do quarto instar apresentam o quarto segmento em
forma de "sela" devido à presença de tubérculos abdominais escuros e
bem visíveis; quando perturbadas curvam a capsula cefálica até o
primeiro par de falsas pernas, ficando nessa posição característica.
Além disso, possuem o tegumento de aspecto levemente coriáceo,
mais resistente do que as outras espécies do gênero, que pode explicar
o fato de serem mais resistentes aos inseticidas de contato (CZEPAK
et al., 20 13).
230 Papa e Ce/010

Figura 11.6 - Adulto de Heliothis virescens (A); danos em flores (B) e


maçãs (C); e adulto de Helicove,pa armigera (d).
Foto: F. J. Celoto.

As lagartas de H. virescens se movimentam em sentido


descendente nas plantas, danificando os botões florais e as flores a
partir do ponteiro, atingindo posterionnente maçãs pequenas e grandes
dos estratos inferiores. As estruturas atacadas cae1n ao solo. Cada
lagarta pode consumir seis estn1turas frutíferas (botão floral, flores e
maçãs) e que haverá 25% de maçãs destn1ídas em n1édia para cada 5%
de infestação. As amostragens devem ser feitas en1 toda a planta, a
partir dos ponteiros, sendo o nível de controle de 8 a 10% de plantas
atacadas (SANTOS, 2007). O método de controle mais utilizado é a
aplicação de inseticidas (Tabela 11 .3) e uso de cultivares com a
tecnologia Bt.
Desde a safra 2011 / 12 a lagarta Helicoverpa armigera tem
atacado diversos cultivos do Brasil, em níveis populacionais elevados
nunca vistos anteriormente para lagartas desse gênero. O ataque foi
verificado inicialmente na região oeste da Bahia, atingindo o sul do
Maranhão e sul do Piauí ainda na safra 2012. Na sequê ncia, a praga
foi rcJatada causando sérios prejuízos entre às mais impo11antes
Manejo de pragas 231

regiões e cultivos do cerrado, como milho de verão. algodão. milho de


outono, feijão, sorgo, caupi, milheto, milho irrigado e soja. Pelo País
também há relatos de ataques em café, citros, tomate. pimentão. entre
outras plantas. Estima-se que. na safra atual, a praga já infesta
lavouras de pelo menos 12 Estados da Federação. As peculiares
características biológicas da praga contribuem para o aumento
populacional de Helicove,pa nas áreas de produção. É um gênero de
praga bastante sério e de difícil controle no mundo todo, a exemplo
das espécies Helicove,pa zea, Helicoverpa armigera, Helicoverpa
p1mctigera e Helicove,pa gelotopoeon, que têm histórico de
dramáticos sw1os e prejuízos pelo mundo. Adotar medidas práticas.
funcionais e urgentes para restabelecer minimamente o equilíbrio
biológico é o caminho para amenizar a problemática, independentemente
da espécie ocorrente (DEGRANDE; OMOTO, 201 3).
O gênero Helicove,pa é composto por diversas espécies
altamente dest1utivas em razão de suas características bioló(Jicas
o
(polifagia, alta fecundidade, alta mobilidade local das lagartas e
migração das mariposas), que lhe permitem sobreviver em ambientes
instáveis e adaptar-se a mudanças sazonais do clima. A oco1Tência de
lagartas do gênero Helicoverpa na região do cerrado foi observada a
partir de fevereiro de 2012 em níveis populacionais nunca antes
registrados, causando sérios prejuízos econômicos em milho, algodão,
soja, feijão comum, caupi, mílheto e sorgo. No Brasil há também
relatos de ataques em tomate, pimentão, café e citros, entre outras
plantas (EMBRAPA, 2013).
A taxonomia desse gênero é complexa e vários noctuídeos
podem ser confundidos com H. armigera, incluindo fl. assulta. f-1.
punctigera, H. zea e H. virescens, podendo os adultos ser identificados;
por diferenças na genitália. Na safra 2012/ l3, em amostras originárias
de lavouras de soj a, milho e algodão no Distrito Federal e nos Est3dos
da Bahia, Paraná, e Mato Grosso, a Embrapa identi ficou, com ba:;c n,1
genüália masculina e análise molecular de adultos, a espécie cxótil·a
quarentenária !-/. armigera (EMBRAPA, 20 13 ).
f-1. armigera é uma praga altamente poli fag.i que ..11,,~a
diversas culrun.1s de importância agrícola cm parti.!~ da Afri~u. :\sm.
Austrália (incluindo Oceaoia) e Europa (KI G, 1994 ~ GUO. 1997).
Devido ao número de culturas que \.!Ssa pragu afeta, l~m lllllltu:i l\l.Hll~:--
c.;omuns: s<:arce bordercd straw worm. cürn -.:unvonn . .-\ fri~an ~llltu11
Papa e Celoto
232

bollworm, American bollworm, e tomato worm (BEGEMANN;


SCHOEMAN, 1999).
Segundo Fitt ( 1989), fl. armigera predomina entre os
lepidópteros que atacam as lavouras de algodão na Austrália,
principalmente do período médio ao final do desenvolvimento da
cultura, ressaltando-se que as larvas podem ocasionar danos em todas
as estruturas e estágios do algodoeiro, preferindo as estruturas
reprodutivas, como o botão floral e as maçãs Jovens que,
potencialmente, reduzem a produção quando atacadas.
Além das características biológicas da praga, atribui-se aos
seguintes fatores o aumento populacional de Helicoverpa nas áreas de
produção, que são multipraga e com policultivos:
• Ocorreu um desequilíbrio climático no oeste da Bahia e sul do
Maranhão e do Piauí, caracterizado por uma longa seca, o que
favoreceu a sobrevivência de Helicoverpa a partir do mês de
fevereiro de 2012.
• Existe um esquema de diversificação e sucessão de culturas muito
favorável à praga Helicove,pa, no atual modelo de produção (milho -
feijão - sorgo - caupi - milheto - algodão - milho irrigado - soja).
• Existem evidências em campo de que a retirada do inseticida
endossulfan do mercado favoreceu o descontrole da praga no
algodão.
• Ocorre reduzida eficiência dos inseticidas comerciais atuais em
lagartas de tamanhos médio e grande, o que debilita a boa proteção
de plantas.
• Produtores sem assistência agronômica de qualidade tiveram
problemas para iniciar um controle adequado no início das
infestações, enfrentando dificuldades na distinção entre lagartas
de Helicoverpa e Heliothis vlrescens (lagarta-das-maçãs)
(DEGRANDE; OMOTO, 2013) .
Com relação a Helicoverpa armigera, considerando a
insustentabilidade ecológica e econômica dos sistemas agrícolas
produtivos do cerrado afetados por Helicove,pa spp., a Embrapa
propôs o estabelecimento de mn consórcio para o manejo da praga.
que deverá ser coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento - Mapa e terá como objetivo disponibilizar
informações sobre o complexo de pragas, mais especificamente sobre
Manejo de pragas 233

Helicoverpa armigera, e capacitar profissionais sobre o Manejo


Integrado de Pragas (MIP) e Manejo de Resistência de Plantas
transgénicas que expressam toxinas Bt.
Segundo a Embrapa (2013), as ações sobre o planejamento
das áreas de cultivo serão baseadas em época de plantio,
principalmente no sentido de encurtar o período de plantio; uso de
plantas geneticamente modificadas (Bt), procurando sempre
rotacionar o tipo de toxina ou utilizar plantas que expressem duas
toxinas; adoção de áreas de refúgio, favorecendo o cruzamento de
populações de pragas para diminuir o risco de resistência;
monitoramento de pragas; uso de controle biológico; uso de
feromônios; registro emergência de produtos; adequação da tecnologia
de aplicação. Vale ressaltar que as medidas de controle contextualizadas
nas ações emergenciais propostas somente terão o sucesso esperado se
adotadas de forma integrada. Também é fundamental que seja
restabelecido o equilíbrio ecológico do ambiente agrícola através da
redistribuição das áreas agrícolas e da preservação ambiental.

Complexo Spodoptera - (Lepidoptera: Noduidae)


Spodoptera frugiperda (J. E. Smith,
l 797)
Spodoptera eridanea (Cramer, 1782)
Spodoptera cosmiodes (Walker, 1898)
O gênero Spodoptera apresenta distribuição principalmente
tropical e subtropical, mas algumas espécies que ocorrem nos dois
hemisférios são encontradas também em regiões temperadas, sendo
representado na região neotropical por 16 espécies. Foram realizados
vários estudos em diferentes hospedeiros, para verificar a biologia de
diferentes espécies de Spodoptera, demonstrando que esse gênero
ataca desde plantas cultivadas, como soja (ABDULLAH et al., 2000),
milho (PITRE; HOGG, 1983) e algodoeiro (HABIB et al., 1983),
entre outras. As lagartas desse gênero apresentam alto grau de
polifitofagia, alimentando-se de diversas culturas de interesse
econômico, como algodão, arroz, amendoim, feijão, hortaliças, soja
etc. (SANTOS et al., 2005).
234 Papa C' Celoto

As lagartas desse gênero podem atacar plantas jovens,


cortando-as na base do caule com hábito semelhante ao da lagarta
Agrotis sp. Em plantas mais velhas, danificam folhas, botões florais,
flores e maçãs. Lagartas de tamanho médio são facilmente
encontradas dentro de flores e as lagartas maiores penetram na base
das maçãs e commmem todo o seu interior, ressaltando-se que neste
ponto se toma muito dificil o controle. O dano em maçãs provocado
pela lagarta-militar é muito semelhante ao da lagarta-das-maçãs,
podendo ser confundidos. Cada lagarta provoca em média a perda de
uma maçã por planta.
O levantamento populacional baseia-se na inspeção de toda a
planta, observando a ocorrência de folhas raspadas e flores
danificadas, bem como anotando a presença de lagartas e de massas de
ovos. O nível de controle é de 8 a l 0% de plantas com lagartas. As
áreas próximas a lavouras de milho podem sofrer maior ataque devido
à migração de mariposas para as áreas de algodão. A medida de
controle mais utilizada pelos cotonicultores é a aplicação de
inseticidas e uso de variedades con1 resistência a lagartas (Bt).
Spodoptera frugiperda é uma mariposa que apresenta as asas
anteriores pardo-escuras e as posteliores branco-acinzentadas, mede
cerca de 35 mm de envergadura e deposita em média 1.500 ovos
agrupados sob as folhas e brácteas dos botões florais. Após a
emergência, as lagartas têm coloração verde-escura e cabeça preta.
Inicialmente permanecem agrupadas raspando a face inferior das
folhas, deixando-as necrosadas. A seguir infestam as plantas ao redor,
soltando-se ao vento através de fio de seda e infestando unifo1memente
a área. O ciclo larval se completa entre 15 e 18 dias; e o ciclo da
espécie, em aproximadamente 30 dias, ao fim do qual a lagarta mede
cerca de 50 trun. Em algumas regiões, seu ataque pode superar 0
ataque da lagarta-das-maçãs, principalmente no cerrado. Podem atacar
durante todo o ciclo da cultura (Figura 11 .7).
lvfa11ejo de pragas 235

Figura 11. 7 - Ataque de Spodoptera em botão floral, flor e maçã de


algodoeiro.
Foto: F. J. Celoto.

Spodoptera eridanea é uma mariposa de cor geralmente


pardo-acinzentada. Entre as nervuras radial e mediana da asa anterior
aparece um ponto preto ou uma tarja preta longitudinal ao corpo do
inseto. Cada fêmea pode ovipositar até 2.000 ovos, geralmente em
posturas agrupadas. As lagartas, ao eclodirem, são de coloração verde
e possuem a cabeça preta. Ao se desenvolverem, elas apresentam
quatro pontos escuros sobre o dorso na parte mediana do corpo.
Lagartas desenvolvidas possuem três listras longitudinais amarelas -
duas laterais e uma dorsal.
Os adultos de Spodopetar cosmiodes possuem as asas
anteriores cinza-claro, mosqueadas longitudinalmente e margeadas por
uma franja, ao passo que as asas posteriores são de cor branco-pérola
com franja. Realizam postura agrupada, cerca de 1.000 ovos,
depositados em duas a três camadas, que são cobe11as por escamas
provenientes do abdô1nen da fêmea. As larvas, ao eclodirem, tendem ao
marrom, con1 cabeça preta, passando a um tom pardo-n~gro-
acinzentado, com três listras longitudinais alaranjadas - uma dorsal e
236 Papa e Celoto

duas laterais - com pontos brancos. Acima dos pontos b:ancos


encontram-se triângulos pretos apontando para o dorso do inseto.
Laga11as desenvo lvidas são pardas e apresentam uma faixa mais escura
entre o terceiro par de pernas torácicas e o primeiro par de falsas-pernas
abdominais e os outros dois na extremidade final do abdômen.

Lagarta-falsa-medideira - Pseudoplusia includens


(Walker, 1857) (Lepidoptera: Noctuidae)
É uma pra~a polífaga que ataca diversas culturas, entre e~a~ o
algodão e a soja. E crescente a cada safra a presença dessas espec1es
na cultura de algodão. A proximidade de lavouras de soja favorece a
migração das mariposas para o algodoeiro. O adulto é uma mariposa
de coloração marrom-acinzentada, com duas manchas na porção
mediana do primeiro par de asas. Fazem posturas isoladas, podendo
cada fêmea ovipositar cerca de 300 ovos. Os machos possuem um tufo
de pelos de cor marrom brilhante na extremidade do abdômen. As
larvas são verde-claras, com várias linhas brancas longitudinais,
passam por cinco instares e chegam a 30 mm de comprimento; além
disso, locomovem-se de forma mede-palmo, apresentando três pares
de pernas torácicas, dois pares de pseudopemas e um par abdominal.
Consomem as folhas do algodoeiro, inicialmente fazendo a raspagem.
As lagartas desenvolvidas consomem o tecido foliar sem se
alimentarem das nervuras, deixando a folha com aspecto rendilhado.
Atacam preferencialmente o baixeiro das plantas, dificultando o
controle, uma vez que é difícil a calda inseticida atingir as lagartas. O
controle é feito pela aplicação de inseticidas (Tabela 11.3) e uso de
variedades com tecnologia Bt.

Bicudo-do-algodoeiro -Anthonomus grandis


(Boh., 1843) (Coleoptera: Curculionidae)
O bicudo é uma das pragas com maior potencial de danos à
cultura do algodão. Encontra-se em franca expansão nas regiões
produtoras do cerrado brasileiro. O adulto é um pequeno besom·o com
7 mm de comprimento, de coloração cinza ou castanha e que
lvfanejo de pragas 237

apresenta um rostro bastante alongado (Figura 11 .8). A fêmea, que


coloca em média l 00 a 300 ovos durante o ciclo, perfura os botões
com o rostro, depos itando um ovo por orifício. O período de
incubação é de três a quatro dias, após o qual nascem as larvas, que
são de cor branca. Estas passam o período larval, que é de sete a 12
dias dentro dos botões florais, e em seguida se trans formam em pupas.
Depois de um período de três a cinco dias, em seguida transformam-se
em adultos, que se alimentam nos botões florais e, na ausência destes,
sob forte pressão populacional, passam a se alimentar de maçãs. Com
o fim da safra, alguns adultos migram para refúgios e podem entrar
em diapausa, por períodos que variam de 150 a 180 dias, até que
comece a nova safra.

Figura 11 .8 - Bicudo adulto (A), sintomas de oviposição (B) e


alimentação (C) e larva (D).
Foto: F. J. Celoto.

A fase crítica de ataque do bicudo para o algodoeiro compreende


o período entre os 40 e 90 dias após a emergência. O inseto provoca
intensa queda de botões devido à sua alimentação, e botões que
receberam postura também caem ao solo, onde a larva se desenvolve.
238 Papa e Ce/010

Segundo Santos (2007), para o monitoramento do bicudo, o uso


de am1adilha de feromônio é um método muito útil e confiável. A
instalação das annadilhas deve ser feita 50 dias antes do plantio, no
perímetro dos talhões e distantes cerca de 200 m uma da outra. Se a
captura for de mais de dois bicudos por an11adilha por semana, devem-se
fazer três aplicações a partir do primeiro botão floral ; entre dois e um
bicudo capturados por annadilha por semana, fazer duas aplicações,
entre um e zero bicudo capturado por annadilha por semana, fazer
un1a aplicação; e, se não ocorrer captura de bicudos nas armadilhas,
não realizar aplicação. Além das armadilhas devem-se realizar
amostragens em botões florais com aproximadamente 0,6 cm de
diâmetro, num total de 250 botões florais por talhão.
Além do uso de armadilhas, recomenda-se fazer amostragens
manuais, iniciadas nas bordaduras da área, principalmente próximo
aos locais de refúgio, inspecionando-se os botões florais das plantas.
O nível de controle deve ser de 5% de ataque até os 70 dias após a
emergência, passando para 10% dos 70 aos 100 e 15% de ataque a
partir dos 100 dias.
Como é uma praga de difícil controle, é necessária uma
integração de métodos, a fim de diminuir os danos causados pela
praga. É muito Ílnportante que se faça a destruição da soqueira e
tigueras, com o intuito de baixar a população do bicudo para a
próxima safra. Aplicação de inseticidas nas bordaduras da área com o
aparecimento dos primeiros botões florais també1n ajuda a retardar a
entrada do bicudo na área. Desde que possível, fazer catação de botões
florais caídos, principalmente nas bordaduras da área. Deve-se instalar
armadilhas antes da semeadura e após a colheita; utilizar soqueira
isca, com a aplicação sequencial de inseticidas, para combater os
bicudos remanescentes; aplicar inseticidas fosforados e piretroides
(SC) (Tabela 11.3), lembrando sempre que os piretroides devem ser
evitados até os 80 dias de idade da lavoura.

Lagarta-rosada Pectinophora gossypiella


(Saunders) (Lepidoptera: Gelechiidae)
O adulto é urna mariposa pequena, com 15 a 19 mm c.le
envergadura, de hábitos noturnos, coloração pardo-escura e asas
,\fa11ejo de prngas 239

franjadas. Os ovos, de coloração branco-esverdeada, são colocados


isoladamente ou cm grupos de 5 a 100. A postura é realizada na parte
inferior de maçãs novas. Após a eclosão, as larvas penetram nas maçãs e
passam a se alimentar das sementes. Inicialmente as lagartas são de
coloração branca; com a alimentação, tomam-se rosadas. O período larval
é de aproximadamente 20 dias, mas pode ser prolongado em muitos
meses, quando a lagai1a entra em diapausa (Figura 11 .9).

Figura 11.9 - Adultos coletados en1 armadilha de feron1ônio e larva de


Pectinoplzora gossypiella.
Foto: Fernando J. Celoto.

Terminada a fase larval, as lagartas que estiverem em


capulhos não abertos fazem orifícios nestes e, saindo, transforn1am-se
em pupas. Os danos causados pela lagarta-rosada são consideráveis.
Os primeiros prejuízos oconem nos botões florai s, pois as lagartas
impedem a abertura das pétalas, que tomam o aspecto de "roseta", e
não se abrem, impedindo a polinização e a formação de maçã.
Quando o ataque ocon-e em maçãs, as lagartas podem destruir
tanto as fibras quanto as sementes, afetando a quantidade e qualidade de
fibras e sementes. Um sintoma clássico do ataque da praga é a formação
de "carimãs", que são maçãs defeituosas e que não abren1 normaln1ente.
A ainostragem pode ser feita com uso de armadilhas de
feromônio e coleta de maçãs para verificar a presença da praga. O
nível de controle é de 7 a 1O mariposas/armadilha/noite ou 5% de
maçãs atacadas. O controle pode ser feito com uso de feromônio para
confundimento de acasalamento, aplicação de inseticidas (Tabela
I 1.3) e uso de variedades com tecnologia Bt.
240 Papa e Celoto

Mosca-branca - Bemisia tabaci (Gennadius)


Biótipo B (Hemiptera: Aleyrodidae)
É um inseto polífago que vem causando danos em diversas
culturas agrícolas. Trata-se de uma praga que está em expansão, tem
capacidade genética para desenvolvimento de indivíduos adaptados a
novos ambientes e apresenta facilidade no desenvolvimento de
resistência aos inseticidas.
Os adultos são de coloração branca e medem 1 mm de
comprimento. As fêmeas fazem a postura sob as folhas, e, após a
eclosão, as ninfas permanecem a maior parte da vida sugando a seiva
na parte inferior da folha. Em ataques severos, depauperam a planta,
afetando a produtividade; além de danos diretos pela sucção de seiva,
a mosca-branca transmite o vírus causador do "mosaico comum" para
o algodoeiro. Nesses ataques, devido ao líquido açucarado que a praga
expele, pode ocorrer o desenvolvimento da fumagina, um fungo que
prejudica a realização da fotossíntese e provoca o escurecimento das
fibras do algodoeiro, prejudicando a qualidade.
A amostragem dever ser realizada entre a terceira e quinta
folha expandida a partir do ápice da planta, num mínimo de 50
amostras por talhão. A constatação de três ou mais adultos por folha
ou uma ou mais ninfas por cm2 indica o momento do controle
(ARAÚJO et ai., 2000). O uso de armadilhas amarelas auxilia no
monitoramento da praga.
O controle é feito através da destruição da soqueira,
eliminação de plantas hospedeiras, eliminação de plantas com virose e
aplicação de inseticidas (Tabelas 11.2 e 11.3).

Percevejo-manchador Dysdercus spp.


(Hemiptera: Pyrrhocoridae)
O adulto possui coloração castanho-clara a castanho-escura, mede
cerca de 12 a 15 nun de comprimento e possui corpo elíptico (Figura
11 .1O). As ninfas são de coloração avermelhada e pennanecem nas
maçãs e capulhos, onde, após introduzir o rostro, sugam a seiva e
atingem a semente. Tanto adultos quanto ninfas preferem atacar
Manejo de pragas 241

capulhos abertos, onde penetram entre as fibras para perfurar as


sementes. O ataque também pode oco1Ter em botões e maçãs
pequenas, que caem ao solo quando picados.

Figura 11.10 - Dysdercus spp. adulto.


Foto: Fernando J. Celoto.

Maçãs maiores, quando picadas, crescem defeituosas e


geralmente apodrecem. Os maiores prejuízos são causados por dejeções
de adultos e ninfas, que tomam as fibras amareladas, de onde vem o
nome "percevejo-manchador", afetando a qualidade do algodão. A
qualidade das sementes também é afetada devido à sucção do óleo.
A amostragem deve ser feita verificando-se a presença da
praga em botões e maçãs; o nível de controle é de 20% de plantas
atacadas e deve ser feito pela aplicação de inseticidas (Tabela 11.3 ).

Percevejos migrantes da soja (Hemiptera:


Pentatomidae)
Euschistus heros (Fabricius, 1794)
Edessa meditabunda (Fabricius, l 794)
Nos sistemas de produção agrícola, o algodoeiro pen1ianece
por um período maior no campo do que as outras culturas, como a soja
e o milho. Ao final do ciclo da soja, e principalmente após a ~;ua
242 Papa e Celoto

colheita, poderá ocorrer uma mi gração de percevejos desta cultura


para o algodoeiro, principalmente nas variedades de ciclo tardio, que
se encontram em fase final de fl oração ou também nas variedades que
são menos pulverizadas. Esses percevejos migrantes poderão causar
danos aos botões florais, como também nas maçãs cm fase de
enchi mento (Figura l 1.1 I.).

Figura I 1. 11 - Perceve; JS migrantes..


Fotos: Fcmnndo J. Celoto.

Os sintomas de ataque são pontuações nas maçãs, com


formação de calosida jes na parte interna das maçãs, ocasionando
qu !da dessas estruturas, principalmente em maçãs novas (Figura
1 J. 12). O ataque dos percevejos também provoca prejuízos nas
caraL:terísticas tecnológicas d~s fibras e diminuição de produtividade
em ataq ues severos (CRUZ JUNIOR, 2004).
Man ejo de prag as 243

0 0 0G
Oo c, a
Figura 11. 12 - Danos provocados pelos percevejos em maçãs e maçãs
nom1ais sem danos aparentes.
Fotos: Fernando J. Celoto.

A amostragem pode ser realizada com rede entomológica, e


a captura de 1O percevejos em l 00 redadas indica o momento do
controle, que é realizado de modo semelhante ao controle do
percevejo-manchador, ou seja, com a aplicação de inseticidas
(Tabela 11.3).

,
Acaro-branco - Poliphagotarsonemus latus
(Ba nks) (Acari: Tarsonemidae)
O ácaro-branco é uma praga que ataca várias culturas. São
organismos bem pequenos, tendo a fêmea O, 17 mm de
comprimento por O, 11 mm de largura. O macho possui por hábito
carregar a pupa da fêmea no dorso, esperando o momento oportuno
para a cópula (Figura 11.13). A postura é feita isoladamente na
face inferior das folhas novas da planta. Inicialmente ao ataque, as
folhas se tornam mais escuras, depois os bordos se dobram para
baixo, e a folha adquire um aspecto vítreo. Na fase final do ataque
aparecem rasgaduras nas folhas e já não se encontram ácaros
nestas. O ataque desse ácaro é favorecido por temperatw·a e
umidade elevada, que geralmente ocorre nos meses de dezembro a
março. Pode ocorrer até 20 gerações por safra se as condições
forem favorávei s.
244 Papa e Celoto

Figura 11.13 - Folhas com sintomas de ataque do ácaro-branco.


Foto: Fernando J. Celoto.

Devido ao ataque nas folhas novas da planta, pode ocorrer


diminuição de área foliar e da produção de maçãs na parte mais alta da
planta; consequentemente haverá queda de produtividade. A
amostragem dever ser feita nos ponteiros das plantas, e a constatação
de 30% de ataque indica o momento do controle, que é feito com a
aplicação de acaricidas específicos. A amostragem frequente pode
detectar ataques iniciais em reboleiras e o controle, efetuado nesta
fase, evitará a aplicação de defensivos na área toda. O controle é feito
pela aplicação de acaricidas (Tabela 11 .3).

Acaro-rajado - Tetranychus urticae Koch


(Acari: Tetranychidae)
As fêmeas desta espécie medem 0,3 m1n de comprimento e
apresentam duas manchas escuras no dorso (Figura 11.14). Os ovos
são esféricos e de tonalidade amarelada, sendo a postura feita entre
fios de teia tecida pelo ácaro na página inferior das folhas localizadas
na parte mediana da planta, que se tornam avermelhadas na página
superior, indicando a presença da praga. Temperaturas elevadas e
baixa umidade do ar favorecem a praga. O pico populacional
geralmente ocorre entre 60 e 70 dias após a emergência.
Manejo de pragas 245

Figura 11.14 - Folhas con1 sintomas de ataque do ácaro rajado.


Foto: Fernando J. Celoto.

Ataques logo no inicio de desenvolvimento das plantas podem


provocar a destruição total da lavoura; já infestações a partir do período
de frutificação pode111 provocar prejuízos qualitativos e quantitativos à
produção. As infestações geralmente começam em reboleiras. O controle
é feito pela aplicação de acaricidas (Tabela 11.3).
Na Tabela 11.4 são relacionados os defensivos recomendados
para o controle das pragas na parte aérea do algodoeiro.
N
~
O\
Tabela 11.4 - Defensivos recomendados para h·atamento da parte aérea das plantas
Praga Ingredientes Ativos Registrados
Acefato, Acetamiprido, Benfuracarbe, Bcta-ciílulrina, Bcta-ciílutrina+lmidacloprido, Bifentrina+Carbossulfano,
Clorantraniliprole+Tiametoxam, Carbofürano, Carbossulfano, Clorpi rifós, Clotianidina, Cipermetrina, Deltametrina,
Pulgão Diafcntiuron, Dimetoato, Endossulfam, Esfcnvalerato, Fenitrotiona, Flonicamida, Imidacloprido,
lnúdacloprido+Tiodicarbc, Malationa, Metidationa, Metomil, Paraliona-metílica, Permctrina, Pimetrozina. Terbufós.
Tiacloprido, Tiametoxan, Triazofós, Zeta-cipennetrina
Acefato, Benfurocarbe, Carbofura ..o, Carbossulfano, Cipermetrina, Clotianidina, Diafentiurom, Dimetoato, Espinosade.
Tripes Fenitrotiona, Fempropatrina, Fipronil, Imidacloprido, Imidacloprido+Tiodicarbe, Malationa, Metomil, Parationa-
metilica, Terbufós, Tiacloprido, Tiametoxam
Abamectina, Acefato, AJfa-cipermetrina, Alfa-cipermetrina+Teflubenzuron, Baci/111s thuringiensis, Beta-cipermetrina,
Beta-ciflulTina, Beta-ciflutrina+Teflubenzuron, Bifentrina, Bifentrina+Zeta-cipennetrina, Bifentrina+ Carbossulfano.
Cloridrato de Cartape, Clorfluazurom, Cromafenosida, Cipermetrina, Cipennetrina+Profenofós, Clorantraniliprole.
Curuqueré
Clorpirifós, Deltametrina, Diflubenzurom, Endossulfam, Esfenvalerato, Espinosade, Fenpropatrina, Fipronil.
Flubendiamida, Flufenoxuron, lndoxacarbe, Lambda-cialotrina, Lufenuron, Metomil, Metoxifenoside, Milbemectina,
Novaluron, Parationa-metílica, Tebufenosida, Teflubenzuron, Triazofós, Triflumuron, Zeta-cipennetrina
Acefato, Alfa-cipermetrina, Bacillus th11ri11gie11sis. Beta-ciflutrina+Triflumuron, Beta-cipermetrina, Beta-ciílutrina.
Bifentrina, Bifentrina + Carbossulfa.no, Cipennetrina, Cipermetrina + Profenofós, Clorfenapir, Clorantraruliprole.
Lagarta-das-maçãs Clorpirifos, Deltametrina + Triazofós, Deltametrina, Endossulfan, Esfenvalerato, Espinosade, Etofemproxi,
Fenpropatrina, Flubendiamida, Fluvalinato, Gama-cialotrina, Indoxacarbe, Lambda-cialotrina, Lufenuron. Metomil.
Metoxifenosida, Novaluron, Parationa-metilica, Permetrina, Tiodicarbe, Trinzophos, Zeta-cipennetrina
Acefato, Alfa-cipennetrina+teflubenzurom, Bacillus t/111ri11gie11sis, Bifentrina, Bifentrina+Zetacipermctrina,
Bifentrina+carbossulfano, Clorantranilíprole, Clorantraniliprole+Lambda-cialotrina, Clorantraniliprole+Tiamctoxam,
Lagarta-militar
Carbossulfanu, Clorfenapir, Clorpirifós, Diflubenzurom, flubendiamida, Indoxacarbe, Lufenuron. Novaluron,
Tiodicarbe, Triflumurom , Zeta-cipennetrina
1
=:)
~

Q
Continua ... -º
C)
Tabela 11.4 - Cont. ~
~
Praga Ingredientes Ativos Registtados ~-
Alfa-cipennetrina, Alfo-cipennetrina+Teílubenzurom, Beta-ci ílutri na, Beta-cipennetrina. Cipcnnetrina.
º~
(<)

Lagarta-rosada Cipennctrina+Profenofós, Clorpirifós, Dcltamctrina, Endossulfam, Esfcnvalcrato, Fcpropatrina. Fluvalinato. "-::


lndoxacarbe, Lambda-cialotrina, Permetrina, Zeta-cipennetrina ~
V-:,
::::,
Alfa-cipcn11etrina, Beta-cipermetrina, Beta-ciflutrina, Beta-ciflutrina+Imidacloprido, , Bifentrina, Bifentrina+Zeta- "
cipcrmetrina, Bifentrina+Carbosulfano, Carbossulfano, Cipern1etrina, Cipem1etrina+Profenofós, Clorantraniliprole+
+Lambda-cialotrina, Clorantranil iprole+Tiametoxam, Deltametrina, Dcltametrina+Triazofós, Endossu Ifam.
Bicudo
Esfenvalerato+Fenitrotiona, Etofemproxi, Fempropatrina, Fcnitrotiona, Fipronil, Gama-cialotrina. Lambda-cialotrina.
Lambda-cialotrina+Tiametoxam, Malationa, Mctidationa, Metomil, Parationa-metílica, Pimetrozina, Tiametoxam. Zeta-
cipennetrina
Abamectina, Cipennetrina+Profenofós, Clorfenapir, Clorpirifós, Diafentiurom, Dicofol. Endossulfam. Espiromcsifeno.
Ácaro-branco Milbemectina, P iridafentiona, Propargito, Triazofós

Abamectina, Acefato, Bifentrina, Bifentrina+Carbossulfano, Cípcrmetrina+Profenofós, Clofentezina, Clorfenapir.


Ácaro-rajado Clorpirifós, Diafentiurom, Dicofol, Dimetoato, Endossulfam, Enxofre, Espiromesifeno, Etoxazol, Fempropatrina.
Flu.fenoxurom, Milbemectina, Piridafentiona, Propargito, Triazofós
Falsa-medideira Bifcntrina+Zeta-cipermetrina, Mctomíl
Beta c iflutrina, Carbaryl, Cipem1etrina, Dcllametrina, Dimctoato, Endossulfan, Fcnitrotion:.i, Lambda cyhalotrina.
Percevejo-rajado Mcthidathiona, Paratbion meú1yl
Percevejo-manchador Carbaryl, Dirnctoato, Endossulfan, Esfenvalerato , Fenitrotiona, Lambda cyhnlotrina. Malathion. Pnrathion mcthyl
Beta-ciflutrina+lmidacloprido, Bifcntrina, Bifenlrina+Cnrbossulfano, Hifentrinn+lrnidacloprido, Buprofezina,
Mosca-branca Deltamctrina+Triazofós, Diafcntiuron, Espiromesifeno, lmidacloprido, Pirnctrozinn, Piriproxifem, Tiamctoxam,
Tiacloprido,
* O uso de defensivos aqui c11ados deve seguir as recomendações contidas no registro do mesmo, junto ao Ministério da Agricultura (MAPA) e indicações
da bula do produto.
Fonte: AGROflT. 2013. lv
-+::-
---..)
Papa e Celoto
248

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12 MANEJO DE DOENÇAS

Nelson Dias Suassuna 1


Wirton Macedo Coutin/102

O cultivo de algodoeiro no Brasil concentra-se no ecossistema


cerrado. Nos últimos anos houve significativo aumento em
produtividade de fibra de algodão, resultado dos avanços genéticos e
das adequações dos sistemas de produção, o que tem permitido a
viabilidade econômica dessa cultura. Todavia, as condições
edafoclimáticas e o sistema de cultivo com base em extensas áreas
com poucos cultivares plantados, muitos deles suscetíveis a mais de
uma doença, agravam as doenças endêmicas na região, muitas dessas
antes consideradas pouco expressivas, além de possibilitar surtos
epidêmicos de novas doenças.
Neste capítulo serão apresentadas as principais doenças do
algodoeiro de ocorrência no ecossistema cerrado e discutidas as
principais táticas empregadas para o manejo dessas enfennidades.

Mancha de ramulária
Nos primeiros anos com cultivo de algodão no cerrado, a
mancha de ramulária ocorria apenas no final do ciclo da cultura sem
implicar perdas; entretanto, com o aumento da área cultivada com
1
Engenheiro-Agrônomo, Dr. e Pesquisador da Embrapa.
E-mail: ncJson.suassuna@embrapa.br
2
Engenheiro-Agrônomo, M.S. e Pesqu isador da Embrapa.
E-mail: wirton.coutinho@cmbrapa.br
Man ejo de doenças 251

algodão e o uso de cultivares s uscetíveis, a doença passou a surgir


mais cedo, sendo considerada, atualmente, a principal enfermidade da
cultura no cerrado brasi leiro.
A mancha de ramulária surge nas folhas mais velhas após a
emissão das primeiras maçãs (HILLOCKS, 1992a). No Brasil,
entretanto, os primeiros sintomas são percebidos entre o surgimento
do primeiro botão floral e o início do florescimento (SUASSUNA;
COUTINHO, 2011 ).
Os sintomas iniciais podem ser percebidos na fase de
colonização do patógeno, mesmo antes do início da esporulação. São
pequenas lesões (3 mm a 4 mm de largura) delimitadas pelas nervuras,
portanto com formato angular, nas folhas mais velhas. Vistas pela
superfície superior da fo lha, as lesões são de coloração verde-clara
(Figura 12.lA). A esporulação é iniciada na face inferior da folha
(Figura 12.1 B), dando às lesões um aspecto cotonoso semelhante aos
míldios. Sob alta umidade, ocorre intensa esporulação do patógeno
também na face superior das fo lhas (Figuras 12.IC), ocupando quase
todo o limbo foliar. Os pontos colonizados necrosam após o período
de esporulação do patógeno (Figura 12.1 D), e, em alguns genótipos de
algodoeiro, a necrose pode ocorrer no início da colonização pelo
patógeno, caracterizada como uma reação de hipersensibilidade, o que
impede ou reduz a esporulação (LUCENA et al., 2007).
Em casos de alta severidade da doença, pode ocorrer desfolha
parcial ou total das plantas (Figura 12. 1E F). Nesses casos, a perda de
fo lhas durante a fase de formação de maçãs c01npromete a produção
no terço superior da planta, reduz a produtividade nas estruturas
reprodutivas já formadas (Figura 12. lG) e induz a abertura precoce de
capulhos, implicando perda de qualidade da fibra.
252 S11ass111w e Co111 í11lto

Figura 12.1 - Sintomas de mancha de ramulária, causada por


Ramularia aréola: A- colonização da folha pelo
patógeno; B - esporulação na face inferior; C -
esporulação na face superior; D - lesões foliares
causadas após o período de esporulação; E - planta
com desfolha no terço inferior; F - planta totalmente
desfolhada; e G - redução de produção.
Fotos: Nelson Dias Suassuna e Wirton Macedo Coutinho.

O estágio conidial (anamórfico) do agente causal da doença é


Ramularia areola (Atk.) (sinônimos: Ramularia gossypii Speg. Ciferi,
Cercosporella gossypii Speg.), forma anamórfica de Nlycosphaerella
areola Ehrlich & Wolf. O fungo se desenvolve em três estágios
distintos durante seu ciclo de vida. O estágio conidial ocorre em
tecidos vivos, enquanto as folhas permanecem aderidas na planta e por
um curto período após sua abscisão. O estágio de espermogônio
Ma11c:jo de doenças 253

ocorre após a queda das folhas e é seguido pelo estágio ascógeno, o


qual se desenvol ve em folhas parcialmente deterioradas (EHRLICH;
WOLF, J932).
Ramularia areola sobrevive sobre lesões em restos de cultura,
e os esporos produzidos nestas condições constituem o inóculo
primário; é commn o fungo sobreviver em plantas nativas de algodão
perene. Por causa da importância dos restos culturais (folhas)
infectados na sobrevivência e ciclo de vida do patógeno, a principal
fonte de inóculo primário pode ser reduzida, evitando-se o cultivo
contínuo de algodão em uma mesma área. A dispersão do patógeno
ocorre por meio de vento, água de chuva ou de irrigação, pessoas e
máquinas. Conídios do fungo ge1mina1n em água livre em
temperaturas que variam de 16 a 34 ºC, com temperatura ótima entre
25 e 30 ºC. E1nbora seja necessária água livre para a germinação dos
conídios, a penetração, via estômatos, é 1naior em ciclos de noites
úmidas e dias secos do que em ciclos de umidade contínua. Algumas
infecções ocon-em após dois ciclos de noites úmidas com infecção
máxima após quatro ciclos (RATHAIAH, 1977).
Os primeiros sintomas da doença surgen1 concomitantemente
com o início da fase reprodutiva da planta, em geral, entre o
aparecimento do primeiro botão floral até a abertura da primeira flor.
Os danos causados pela doença estendem-se até o final do ciclo da
cultura, sendo mais expressivos entre o início do florescimento e a
abertura dos primeiros capulhos. Após o início de abertura de
cápsulas, o controle químico não traz benefícios>- exceto quando há
muita perda de maçãs no terço inferior da planta em decorrência de
pod1idões. No controle químico da doença, é importante conhecer o
modo de ação e o tipo de translocação do fungicida na planta para
tomar a decisão sobre qual produto a ser usado e quando deve ser
aplicado. A lém desse conhecimento, o uso de maneira alten1ada de
fung icidas com diferentes princípios ativos é fundamen tal, por ser
uma estratégia eficaz para se evitar o aumento da frequência de
isolados resistentes, dentro da população de R. areo/a.
No início dos primeiros si ntomas da mancha de ramulária, o
inóculo inicial de R. areola é baixo e oriundo de correntes aéreas,
folhas de algodoei ro da safra anterior ou das primeiras lesões
instaladas nas folhas mais velhas. Nessa fase, fungicidas do grupo das
cstrobílurinas podem ser usados isoladamente ou e1n mistura pré-
254 Suass111w e Co11ti11/to

fabricada com outros fungicidas, uma vez que são muito eficazes cm
prevenir a germinação de esporos e, também, têm e feito erradicante. O
atraso no início da primeira aplicação diminui a eficiência do controle,
podendo, inclusive, ser economicamente inviável (SIQUERI; COSTA,
2003 ). Antes do término do período residual do fungicida, devem-se
monitorar novamente as plantas, pois, caso sejam constatadas novas
lesões com esporulação no terço médio da planta, é necessário iniciar
a segunda aplicação, de preferência com um fungicida pertencente a
um grupo químico diferente do que foi empregado na primeira
aplicação. Essa estratégia impede o acréscimo de inóculo na área e
protege as plantas durante períodos críticos em necessidade de
fotoassimilados, além de reduzir o risco de surgimento de isolados do
patógeno resistentes a fungicidas.
A proteção das plantas com fungicidas, no caso de cultivares
suscetíveis, deve-se estender até o estágio fonológico C3 (abertura de
maçãs no terceiro ramo reprodutivo). A partir dessa fase, o uso de
fungicidas não mais induz ganhos em produtividade.
Além do controle químico, o uso de cultivares resistentes pode
ser empregado no manejo da doença. No Brasil, o primeiro cultivar
resistente à mancha de ramulária, FMT 705, foi lançado pela
Fundação Mato Grosso. Em 20 I 3, a Embrapa lançou o cultivar BRS
3 71 RF, que também é resistente à doença e tolerante ao herbicida
glifosato. A Embrapa também identificou uma série de linhagens com
resistência à mancha de ramulária: CNPA BA 2003-2059, CNPA GO
2007-419, CNPA GO 2007-423, CNPA MT 2009-1381, CNPA GO
2008-1265, CNPA GO 2008- 1266, CNPA GO 2008-1271 e CNPA GO
2009-204. A linhagem CNPA 00 2007-423 teve seu registro aprovado
e será lançada como cultivar com a denominação BRS 372. Além de
possuir resistência à mancha de ramulária, essa linhagem é resistente à
mancha-angular e doença azul.

Ramulose
A doença é causada pelo fungo Col!etotrichwn gossypii South.
var. cephalosporioides Costa. Os primeiros sintomas ocorrem nas
folhas mais novas, na forma de manchas necrólicas circulares ou
alongadas. O tecido necrosado rompe-se, originando perfurações nas
Al/anejo de doenças 255

folhas, conhecidas como "manchas estrelas" (Figura 12.2A); o


crescimento desigual do tecido provoca enrugamento do limbo foliar.
Logo após o surgimento das primeiras lesões em folhas, ocorre a morte
do meristema apical do ramo afetado (Figura 12.28), paralisando,
assim, o crescimento do ramo e estimulando a brotação de gemas
laterais, o que confere à planta aspecto envassourado, com ramos e
entrenós curtos e contorcidos (Figura l 2.3C); isso reduz o porte da
planta e a produção de capulhos (SUASSUNA; COUTINHO, 20 11 ).
Plantas infectadas antes do florescimento abortam estruturas florais, por
causa da competição por seiva pelos demais ramos vegetativos.

Figura 12.2 - Sintomas de ramulose em plantas de algodoeiro: A -


perfuração na folha ("mancha estrela"); B - morte do
meristema apical do ramo afetado; e C - superurotamento.
Fotos: Wirton Macedo Coutinho.

A severidade da ramulose é maior quando ocorre em plantas


no início do desenvolvimento vegetativo; em condições ambientais
favoráveis, novas infecções sucedem nos brotos recém-lançados,
impedindo o crescimento normal da planta.
256 S11ass1111a e Co11li11!10

As principais fontes de inóculo primário do patógeno são


sementes infectadas e restos de culturas contaminados. A infecção de
sementes por C. gossypii var. cephalosporioides está relacionada com
o estágio de desenvolvimento do algodoeiro, na ocasião da infecção, e
com as condições climáticas prevalecentes durante a formação e o
desenvolvimento das maçãs (LIMA et ai., 1985). Após o
estabelecimento do patógeno na área de cultivo, sua dispersão ocorre
por meio de respingos de chuva. Os ciclos secundários da doença são
favorecidos por chuvas intensas, temperaturas entre 25 e 30 ºC e
umidade relativa do ar acima de 80% (SUASSUNA; COUTINHO,
2011 ). A sobrevivência do patógeno no solo em restos de cultura é de
até nove meses, o que garante novas infecções em caso de plantios
sucessivos (ARAÚJO et al., 2003).
No manejo da ramulose recomenda-se o tratamento fungicida
de sementes, adoção do sistema de plantio direto na palha (com base
nas premissas: cobertura constante do solo com palhada, rotação de
culturas e não revolvimento do solo), uso de cultivares com algum
nível de resistência e aplicações de fungicidas na parte aérea das
plantas. O método mais eficaz para o manejo da doença é a adoção de
sistema de plantio direto, principalmente por conta da rotação de
culturas. Infelizmente, essas táticas de manejo nem sempre são
empregadas de fonna integrada, sendo, na maioria das vezes, o
controle químico a única medida adotada, principalmente em áreas de
cultivo sucessivo de algodoeiro.

Mancha-angular
A mancha-angular é difundida em todo o mundo e afeta o
algodoeiro em todas as fases de seu desenvolvimento vegetativo. A
doença é causada pela bactéria Xanthomonas citri subsp.
malvacearum (Smith) Vaut. - sinônimo: Xanthomonas campestris pv.
malvacearum (Smith) Dye, que varia em patogenicidade, dependendo
do cultivar em uso. Existem 20 raças do patógeno descritas com
capacidade para suplantar os genes de resistência identificados,
algumas das quais (3, 8, 1O, 18 e 19) ocorrem no Brasil (RUANO;
MOHAN, 1982), com predominância atual da raça 18.
Manejo de doenças 257

Os sintomas da doença são lesões angulares delimitadas pelas


nervuras secundárias e terciárias, inicialmente de aspecto encharcado
(anasarca), tornando-se pardas posteriormente. Na face inferior da
fo lha, a área da lesão mantém o aspecto encharcado por maior período
de tempo (Figura 12.3A); quando a bactéria alcança o floema de
nervuras primárias ou secundárias de folhas mais novas, as lesões
surgem ao longo das nervuras (Figura 12.3B). Em casos mais severos,
as lesões coalescem, podendo causar rasgadura do limbo foliar (Figura
l 2.3C). A infecção tambén1 ocorre em folhas cotiledonares, na forma
de manchas arredondadas com aspecto encharcado. A infecção no
hipocótilo induz um cancro negro, que pode causar anelamento e
morte das plântulas. Em casos de alta severidade, é comum, além do
dano por causa da redução da área foliar, ocorrer infecção de maçãs.
Nesses casos, o patógeno causa lesões circulares, inicialmente de
aparência aquosa, que se tornam deprimidas e com coloração que
varia de marrom a negra; essas lesões podem coalescer e afetar
grandes áreas da maçã (THAXTON; EL-ZIK, 2001).

Figura 12.3 - Sintomas de mancha-angular em folhas de algodoeiro:


A - lesões angulares com anasarca; B - lesões ao longo
das nervuras; e C - lesões coalescendo com início de
rasgadura do limbo foliar.
fotos: Wirton Macedo Coutinho.
258 Suassw,a e Coutinho

Xanthomonas c,tn subsp. 111alvacearu111 (Xcm) pode


sobreviver em restos de cultura contaminados ou ser introduzida no
campo de cultivo por meio de sementes infectadas, que, nesses casos,
constituem o inóculo primário do patógeno. Os ciclos secundários da
doença são favorecidos por respingos de chuvas que dispersam as
células bacterianas em curtas distâncias. A bactéria penetra na planta,
via estômatos ou ferimentos, mas também é capaz de entrar
diretamente nas sementes através da micrópila (HlLLOCKS, 1992c).
Quando as condições ambientais são favoráveis à infecção e
dispersão do agente causal (alta umidade relativa do ar, intensa
pluviosidade e ventos), as perdas podem ser significativas. O cultivo
contínuo de algodão contribui para o aumento do inóculo inicial. Uma
única planta contaminada em uma população de 6.000 plantas foi
suficiente para causar uma epidemia da doença em um cultivar
suscetível no Sudão (TARR, 1961).
A principal tática de manejo da mancha-angular é o uso de
cultivares resistentes (DELANNOY et al., 2005). Já foram
identificados 17 genes ou complexos gênicos que conferem resistência
à Xcm. Inicialmente, foram identificados I O genes "R" (Resistentes):
B1, B2, B3, 84, Bs, b6, B1, bs, B9 e B10. Destes, apenas b8, oriundo de G
anomalum, e b6 são recessivos, os demais possuem efeito dominante
ou parcialmente dominante (SAUDERS; INNES, 1963 ; EL-ZIK;
BIRD, 1970). Posteriormente, outros seis genes "R" foram
identificados: B11, B9L, B10L, B111, BN e Bs (HILLOCKS, 1992c). Dois
poligenes foram também identificados em cultivares comerciais de
algodoeiro. O primeiro, encontrado nos cultivares Stoneville 2B e
Empire, foi denominado Bsm; e o segundo, identificado no cultivar
Deltapine, chamado de Bom• Outro complexo gênico, mas de efeito
principal, B 12, que confere resistência a uma nova raça do patógeno,
foi identificado no cultivar S-295 (GIRARDOT et ai. , 1986).
No melhoramento genético do algodoeiro visando à
resistência genética à mancha-angular, uma fonte de resistência
bastante explorada é o cultivar Delta Opal (DP 5816 x Si cala 33 ), que,
além de resistente a essa doença, também é resistente à doença-azul
( Cotton leafro/1 Dwmf Virus) e amplamente adaptado às principais
regiões produtoras de algodão, sendo usada com sucesso no
desenvolvimento de cultivares no Brasil (MORELLO et ai. , 20 1O).
Manejo de doenças 259

Mofo branco
Esta doença foi observada em algodoeiro nos Estados da
Bahia e Goiás, geralmente em áreas cultivadas com feijão nas safras
anteriores, sob irrigação com pivô central. Em cultivos de sequeiro,
essa enfen11idade também tem sido constatada apenas em regiões de
elevada altitude, reduzindo o estande inicial e com alta severidade em
plantas adultas.
É causada por Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary, fungo
de ampla ocorrência em todo o mundo, com pelo menos 400 espécies
de plantas hospedei ras (BOLAND; HALL, 1994). No Brasil, o agente
causal do mofo branco em algodoeiro é comumente associado a
perdas significativas de produção em lavouras de feijão e de soja.
Os sintomas da doença são murcha, necrose e podridão úmida
em hastes, pecíolos e maçãs (Figura 12.4A). No interior do capulho,
em geral, são constatados micélio branco, de aspecto cotonoso, e
escleródios escuros irregulares são formados tanto internamente
quanto na parte externa da 1naçã (Figura 12.4B). Escleródios
encontrados no interior de capulhos desenvolvem apotécios em,
aproximadamente, 60 dias (CHARCHAR et al., 1999). Ao contrário
dos escleródios formados em outras plantas, como feijão e soja, os
escleródios formados en1 algodoeiro são maiores, e, a partir destes,
germinam muitos apotécios (Figura 12.4C).
Alta umidade aliada a temperaturas variando entre 15 e 25 ºC
são condições que favorecem a doença. O fungo sobrevive no solo,
por alguns anos, na forma de escleródios. Os ascósporos produzidos
em apotécios, que são originados da genninação dos escleródios,
correspondem ao inóculo primário do patógeno. As pétalas de flores
caídas do algodoeiro após a fec undação da flor podem fo nnar um
substrato ideal para a germinação de escleródios de S. sclerotiorum.
Ascósporos do fungo podem ser dispersos pelo vento e sobreviver por
até 12 dias no campo. Escleródios podem ser dispersos em mistura ou
aderidos às sementes ou por sementes infec tadas. Os escleródios
presentes no solo e nos restos de cultura também podem ser d1sp~rsos
pela áb11.1a ou implementos agrícolas.
260 Suas.,·ww e Co111i11ho

Figura 12.4 - A - planta de algodoeiro com sintomas de mofo-branco;


B - escleródios formados na parte externa da maçã de
algodoeiro; e C - apotécios germinados de um
escleródio fonnado em algodoeiro.
Fotos: Nelson Dias Suassuna.

A produção de ácido oxálico por S. sclerotiorum está


envolvida no processo de patogênese. O ácido oxálico atua na indução
de abertura de estômatos e, ou, inibição de fechamento de estômatos
induzidos por ácido abscísico (GUIMARÃES; STOTZ, 2004).
Manejo de doenças 261

Enzimas capazes de degradar o ácido oxálico, como oxalato


decarboxilase, têm sido usadas para produzir plantas transgênicas
resistentes, como alface (DIAS et ai. , 2006) e soja (CUNHA et ai.,
20 1O), e podem ser uma solução viável para o cultivo do algodoeiro.
O manejo dessa doença é difícil em virtude da capacidade do
agente causal de formar estruturas de resistência (escleródios), que
garantem sua sobrevivência por vários anos, mesmo em condições
adversas, limitando a utilização de práticas, como a rotação de
culturas. Não existem cultivares resistentes, e o controle quínúco nem
sempre é eficaz. A integração de medidas como controle biológico (a
exemplo dos fungos Trichoderma harzianum ou r asperellum,
visando à redução de escleródios na entressafra), controle químico
durante a condução da lavoura, rotação de culturas com plantas não
hospedeiras, além de outras práticas, deve ser implementada para o
manejo dessa doença.

Doenças causadas por fungos


habitantes de solo
Tombamento
É uma doença que pode ocasionar senos preJmzos ao
estabelecimento da cultura, em virtude, principalmente, dos efeitL,s
sobre a redução do estande.
O tombamento de plântulas em algodoeiro é causado por um
complexo de fungos fitopatogênicos , com destaque para Rhizoctonio
solani Kuehn.; forma anamórfica de Thanatephorus cucumeris
(Frank) Donk; Colletotrichum gossypii South.; Colletotn·chum
gossypii South. var. cephalosporioides Costa; Lasiodiplodia
theobromae (Pat.) Griffon & Maubl. (sin. Bohyodiplodia tlzeobrom ~e
Pat.); Macrophomina phaseolina (Tassi) Goid,· fom1a teleomórfica de
Rhizoctonia bataticola (Taub.) Butl. (Sin. Sclerotium bataticoia
Taub.); e algumas espécies dos gêneros Ascochita, Fusariwn e
Pythium (HILLOCKS, 1992b).
Os sintomas de tombamento são observados logo após a
emergência das plântu las, na forma de lesões irregulares e deprimidas
262 S11ass111w e Co11ti11ho

de coloração pardo-avermelhada a pardo-escura no hipocótilo,


cotilédones e nas folhas primárias das plântulas; essas lesões, ao
circundarem o hipocótilo, induzem o tombamento e a morte da
plântula. Patógenos que causam tombamentos podem també m afetar a
radícula e a plúmula de plântulas em formação, matando estas antes
mesmo de sua emergência do solo; nesses casos, o único sintoma
visível é a redução do estande de plantas sadias. Ambos os sintomas
são causados pela mesma gama de patógenos; entretanto, algumas
espécies de Py thiwn são os principais agentes causadores de morte de
plântulas de algodoeiro antes de sua emergência do solo, enquanto R.
solani é o principal agente etiológico de tombamentos e de morte de
plântulas após a emergência (HILLOCKS, 1992b).
Quando as condições ambientais são favoráveis ao
desenvolvimento da doença, ou seja, temperaturas entre 18 e 30 ºC e
alta umidade do solo, as perdas podem ser significativas, sendo,
muitas vezes, necessário o replantio para obtenção de uma população
ideal de plantas por unidade de área (BELMER et ai., 1966).
O manejo da doença é feito por meio do tratamento químico
de sementes. O tratamento de sementes deve ser realizado com
produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento.

Murcha de fusário
Esta doença é causada pelo fungo Fusarium oÃysporum
Schlelechtend. f. sp. vasinfe ctum (Atk.) Snyder & Hansen, que varia
em patogenicidade, dependendo do c ultivar em uso. Recentemente, foi
relatada a ocorrência de oito raças desse patógeno no mundo (DAVlS
et al., 2006). A raça seis do patógeno ocorre no Brasil
(ARMSTRONG; ARMSTRONG, 1978).
Esta doença atinge em qualquer estágio a planta de
algodoeiro. Em plântulas, ocorre o amarelecimento e enegrecimento
das folhas cotiledonares, as quais, posteriormente, secam e morreu,
causando a morte da plântula (Figura 12.5). Em plantas adultas, ocorre
amare lecimento em áreas irregulare s da superfície foliar e murcha de
folhas e ramos. A lgumas plantas afetadas podem sobreviver à doença,
emitindo novas brotações próximas ao solo, mas, em geral, os ramos
Manejo de doenças 263

originados a partir desses novos brotos não são produtivos. Durante o


processo infeccioso, as plantas perdem todas as suas folhas e as novas
brotações caem, permanecendo apenas o caule enegrecido (DAVIS et
ai., 2006). As plantas que não morrem sofrem severa redução de
crescimento. Seccionando longitudinalmente caules e raízes, observa-
se o escurecimento dos feixes vasculares; o lume dos vasos é
obstruído pela formação de tiloses, pela presença de esporos e
micélios do fungo e por substâncias produzidas pelo metabolismo
deste nos vasos, sendo a principal causa do sintoma de murcha na
planta.

Figura 12.5 - Sintomas de murcha de fusário em plântulas de


algodoeiro.
Fotos: Nelson Dias Suassuna.

O agente causal da murcha de fusário em algodoeiro pode


sobreviver no solo por muito tempo na forma de estruturas de
resistência ( clamidósporos). A dispersão do patógeno em curtas
distâncias é favorecida pelo movimento de partículas de solo
contaminado, principalmente por meio de máquinas agrícolas, pdo
vento e pela água; em longas distâncias, a dispersão ocorre
princ ipalmente por meio de sementes contaminadas (DAVlS ct aL
2006).
264 S11as.rn11a e Co11ti11ho

A murcha de fusário é agravada pela presença de nematoides


dos gêneros Meloidogyne, Roty lenc/111/us e Pratylenchus, que
aumentam a severidade, por causarem debilitação da planta e
provocarem ferimentos nas raízes, facilitando a penetração de F.
oxysporum f. sp. vasinfectum no seu sistema radicular. Além dos
nematoides, outras condições, como solos com alto teor de areia,
baixo pH, fertilidade desequilibrada, temperaturas entre 25 e 32 ºC e
alta umidade, favorecem a doença.
O manejo da murcha de fusário é realizado principalmente por
meio do princípio da exclusão, evitando-se a introdução do patógeno
em áreas isentas. Nesses casos, a utilização de sementes livres do
patógeno, assim como o tratamento de sementes com fungicidas, é
fundamental. O tratamento de sementes deve ser realizado com
produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. Outras táticas importantes no manejo dessa doença
são a rotação de culturas e o uso de cultivares com algum nível de
resistência.

Doenças causadas por vírus


Mosaico comum
O mosaico comum foi descrito pela primeira vez no Brasil em
1935 e, em 1937, associado à presença de um vírus (COSTA, 1937).
Apenas em l 954 foi constatado que essa doença era causada pelo
mesmo vírus causador do mosaico em malváceas nativas. O mosaico
comum é causado pelo Abuti/on mosaic virus, AbMV.
Os sintomas são manchas mosqueadas amarelas (cor de gema
do ovo), inicialmente pequenas e isoladas, as quais coalescem e
podem tornar-se avermelhadas com a maturação da folha (Figura
l 2.6). O vírus é transmitido por inoculação mecânica e pela mosca-
branca (Bemisia tabaci Hemiptera: Aleyrodidae), de maneira
circulativa não propagatíva, ou seja, uma vez que o vetor tenha
adquirido partículas do vírus, ele as transmitirá por todo o seu ciclo
vital; entretanto, o vírus não se multiplica no vetor e não é transmitido
para os seus descendentes, não sendo também transmitido por semente
e pólen.
Man ejo de doe11ços 265

Espécies nativas pertencentes à família Maivaceae são


hospedeiras do vírus, principalmente Sida rhombifolia (~axuma) e S.
micra11tha (vassourinha), além de outras plantas cultivadas, como
feijoeiro, soja, quiabeiro e tomateiro.

Figura 12.6 - Planta de algodoeiro com sintomas de mosaico comum.


Foto: Nelson Dias Suassuna.

O mosaico comum é uma doença com pouca importância


epidemiológica, pois, embora cause redução acentuada no rendimento
da planta de algodoeiro, a porcentagem de plantas afetadas raramente
ultrapassa 2%. Essa baixa incidência é resultante do fato de o v írus
não ser transmitido de planta a planta de algodoeiro, mas apenas a
partir das malváceas nativas, pelo inseto vetor.
Além do controle do inseto vetor, recomenda-se a diminaçào
de malváceas nativas hospedeiras do vírus. O sistcmn de produção
vigente no cerrado brasileiro favorece o manejo do mosaico conmm
por causa do conlTole sistemático de ervas daninhas com herbicidas,
inclus ive malváceas nativas hospedeiras do vírus.
266 S11ass1111a e Co11ti11ho

Mosaico das nervuras (doença azul)


O mosaico das nervuras foi relatado pela primeira vez no
Brasil em 1938 (COSTA; FORSTER, 1938). A ocorrência de uma
suposta estirpe mais agressiva do vírus foi observada em 1962, sendo
denominada "var. Ribeirão Bonito" (COSTA; CARVALHO, 1962). A
enfem1idade também é conhecida por doença azul, mosaico azul ou
moléstia azul, por causa dos sintomas acentuados nas folhas mais
novas, de cor verde-escura a azulada. Recentemente, o gene da capa
proteica e parte do gene da polimerase do vírus foram sequenciados, e,
de acordo com análises comparativas dessas sequências, é provável
que esse vírus pertença ao gênero Polerovirus (família Luteoviridae).
Para o agente causal desta virose, foi proposta a nomenclatura Cotton
leafro/1 dwa,f virus, CLRDV (COR.RÊA et al., 2005).
Essa virose é caracterizada pela redução do porte das plantas
afetadas (Figura 12.7A), principalmente quando a transmissão do
vírus se dá em plantas novas, causando encurtamento dos entrenós.
Ocorre encurvamento das bordas nas folhas mais novas, rugosidade e
amarelecimento ao longo das nervuras (Figura 12.7B), além de, em
casos mais severos, avermelhamento de pecíolos, nervuras e limbo
foliar (SUASSUNA; COUTINHO, 2011 ).
O vírus é transmitido pelo pulgão (Aphis gossypii Hemiptera:
Aphididae); plantas sadias expostas a pulgões contaminados com
partículas do vírus desenvolvem os sintomas em torno de 18 dias após
a exposição.
A resistência genética à doença azul é condicionada a um gene
dominante (PUPIM et al., 2008), sendo, portanto, de fácil
incorporação no desenvolv imento de cultivares resistentes.
Observações realizadas nas safras de 2005-06 e 2006-07 registraram a
ocorrência de focos da doença em campos de variedades resistentes
em diversos Estados produtores. As plantas apresentavam sintomas
atípicos da doença (Figura 12.6C), ou seja, folhas com coloração
avermelhada e pouca ou nenhuma redução de crescimento. Foi
demonstrado que a virose "atípica" também é transmitida pe lo mesmo
vetor (pulgão do algodoeiro); entretanto, genótipos de algodoeiro
disponíveis no Brasil diferiram no tavelmente quanto à reação ao
patógeno, sem aparente corre lação e ntre a resistênc ia dos genótipos à
Manejo de do<:1iças 267

virose em questão e a resistência à doença azul, indicando que


patógenos diferentes podem ser responsáveis pelas duas doenças
(GALBIERI et ai., 20 1O). Tal fato implica considerar nos programas
de melhoramento genético do algodoeiro no Brasi l a resistência a dois
patógenos, provavelmente distintos, bem como adotar critérios mais
rigorosos de contro le do inseto vetor no caso de cultivares resistentes
à doença azul, porém suscetíve is à virose "atípica".
l!P!'l~~ -
~ . e ·• -

. t.
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Figura 12. 7 - Plantas de algodoeiro c01n sintomas típicos de doença


azu l: A - planta c01n redução de po1ie à direita de mna
planta sadia; 8 -- planta con1 sintomas de epinastia e
nanis1no; e C - planta de algodoeiro com s intomas
atípicos de doença azul.
Fotos: Nelson Dias Suassuna.
268 S11a.\·s11na e Coutinho

Para o controle da doença azul, recomenda-se manter a


população do vetor em níveis baixos, variando ele acordo com a
resistência do cultivar plantado, e a utilização de resistência genética.
Alguns cultivares possuem alto nível de resistência a ambas as
viroses, como DeltaOpal, BRS 286, NuOpal, LDCV 03 , LDCV 09 e
LDCV 22. Outros cultivares, praticamente imunes à doença azul, são
sensíveis à virose "atípica", corno FMT 701 e FM 993. Por sua vez,
cultivares muito sensíveis a essa doença podem ter bom nível de
resistência à virose "atípica", como FM 966 (GALBIERI et ai., 201 O).
Para os cultivares com resistência às duas viroses, o nível de controle
do pulgão pode ser superior a 60% das plantas com colônias do inseto;
no caso de cultivares com resistência intermediária, como a BRS 269
Buriti, o nível de controle não deve ultrapassar 40°/4 de plantas com
colônias; o nível de controle de cultivares suscetíveis deve ser
rigoroso. Independentemente do nível de resistência do cultivar, faz-se
necessário o controle do pulgão logo que o primeiro capulho de
algodão estiver aberto, uma vez que os excrementos desse inseto
possuem açúcares que aumentam os níveis de caramelização da fibra
(SUASSUNA; COUTINHO, 2011 ).

Referências
ARAÚJO, A. E.; FREITAS, J. S.; SUASSUNA, N. D.; FARIAS, F. J. C.
Sobrevivência de Co/letotrichum gossypii var. ceplzalosporioides em restos de cultura
no solo. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 4., 2003 , Goiânia.
Anais... Campina Grande: Embrapa Algodão, 2003. CD-ROM.
ARMSTRONG, G M.; ARMSTRONG, J. K. A new race (race 6) of the cotton-wilt
fusarium from Brazil. Plant Disease Reporter, v. 62, n. 5, p. 421-423, maio 1978.
BELMER, E.; SALGADO, C.; CIA, E.; CAMPOS, H. Efeito do potencial de inóculo
de Colletotrichum gossypii South. sobre o tombamento das mudinhas de algodoeiro.
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MANEJO DA IRRIGAÇÃO
13
José Renato Cortez Bezerra'
João Henrique Zonta-'
José Rodrigues Pereira3

Introdução
Irrigação é a técnica agrícola que consiste no fornecimento de
água às plantas, na quantidade exigida pela cultura e no momento
oportuno, de modo a assegurar a sobrevivência e a produtiv idade das
plantas.
O algodoeiro é uma das mais importantes fibrosas do mundo e
constitui-se em u ma das principais atividades agrícolas do Brasil.
Embora sej a considerada uma cultura resistente à seca, a deficiência
de água no período crítico, que vai da floração a frutificação, é capaz
de reduzir 50% do seu potencial produtivo, além de comprometer a
qualidade da fibra, seu principal produto industrial. Nos perímetros
irrigados da regi ão semiárida do Brasil, a exploração agrícola tem s ido
caracterizada pelo baixo nível tecnológico adotado, que resulta em
pouca lucratividade e um desperdício 1nuito grande de água em
decorrência da baixa eficiência de irrigação, praticada nos sistemas de
produção. O algodoeiro tem nesta região ambiente extremamente

1
Engenheiro-Agrônomo. M. S., D. S. e Pesquisador Embrnpa Algodão.
E-mail: jose.cortez-bezerra@embrapa.br
2 Engenheiro Agrícola, M. S.• D. S. e Pcsquisudor embmpa Algodilo.

E-mail: joao-hcnriquc.zonta@cmbmpa.br
3 Engenheiro-Agrônomo. M. S. e Pesquisador Embrapa Algodão. E-mail: jos~.r.pcrcim(t_1)cmbrnpn.br
272 Bezerra, Zonta e Pereira

favorável ao seu cultivo, já se obtendo, em nível experimental,


genótipos com produtividade superiores a 5.000 kg/ha, o que torna
esta cultura altamente recomendada para os sistemas de produção
in-igados.
Na iITigação devem ser levadas em consideração duas questões
básicas: a determinação da quantidade de água que o solo é capaz de
armazenar e a determinação das necessidades hídricas da cultura,
visando à obtenção de seu máximo potencial produtivo.
O planejamento da irrigação é feito em função da capacidade
de armazenamento de água no solo, que depende da distribuição do
tamanho das partículas de areia, silte e argila (textura do solo), assim
como da organização das partículas sólidas no perfil do solo (estrutura
do solo). Nos solos argilosos, a predominância é de microporos, com
efeitos marcantes sobre a capilaridade e a tensão superficial,
resultando em maior capacidade de retenção. Os solos arenosos, onde
predominam os macroporos, apresentam menor capacidade de
armazenamento. Os solos de textura média, por possuírem proporções
mais equilibradas de areia, silte e argila, são, de maneira geral, mais
adequados ao desenvolvimento do sistema radicular das culturas,
porque apresentam boas condições de drenagem, favorecendo a
aeração e a retenção de água nos solos.

Planejamento da irrigação
Quando se pretende efetuar a irrigação em mna área agrícola,
visando à otimização dessa tecnologia, busca-se, basicamente,
responder a três questões fundamentais: quanto, como e quando
irrigar? Para responder à primeira questão, "Quanto in-igar", leva-se
em consideração a quantidade de água a ser aplicada na cultura para
irrigá-la satisfatoriamente. Para isso, o planejamento da in-igação deve
ser feito levando-se em conta a capacidade de armazenamento da água
no solo, nas quais se observa os seguintes conceitos:
• Capacidade de campo - representa, aproximadamente, o limite
superior da quantidade de água disponível no solo para as plantas
(JONG VAN LIER, 2000) e, corresponde ao teor de umidade retida
naturalmente nas partículas de solo, quando a água deixa de percolar
em decorrência da ação da gravidade. Inicialmente, avaliou-se que
Manejo do il'l'igaçtio 273

essa s ituação ocorre naturalmente dois a três dias após a saturação


do solo cm condições de drenagem livre, fazendo com que a água
fique retida às partículas de solo com uma tensão de -33,0 kPa.
Obse1va-se, entretanto, que esse é um conceito arbitrário, uma vez
que a capacidade de campo é resultante de um comportamento
dinâmico da água no solo e não uma característica intrínseca da
matriz do solo. São vários fa tores que influenciam no processo,
como drenagem, transpiração, evaporação, irrigação e chuvas, além
da existência do fenômeno da histerese, o que faz com que o
equilíbrio entre a força gravitacional e o conteúdo de umidade no
solo dificilmente seja atingido. Apesar das dificuldades em se
definir um valor para esse parâmetro, o conceito de capacidade de
campo é de extrema valia para a elaboração dos projetos de
irrigação, por definir o limite superior da água disponível no solo
para as plantas. Do ponto de vista prático, recomenda-se fazer a
determinação da capacidade de campo in situ para cada projeto a ser
elaborado, ou utilizar a determinação efetuada em laboratório,
usando como capacidade de campo o conteúdo de umidade obtido
nas tensões de -1 O, 1 e -33,4 kPa, para solos arenosos e argilosos,
respecti va1nente.
A determinação da capacidade de campo pode ser feita no
campo ou no laboratório, utilizando-se os seguintes métodos:
a) Método de campo: de acordo con1 Bernardo et al. (2006), e1n local
representativo da área a ser irrigada, constrói-se uma pequena bacia
com cerca de 2 m de diâmetro e aplica-se água com um volume
suficiente para que a frente de molhamento chegue até a
profundidade que se deseja irrigar. Após a aplicação da água, o solo
é coberto com uma lona plástica, para evitar a evaporação.
Deconidas 24 horas, o conteúdo de umidade do solo é determinado
nas camadas do perfil que se deseja umedecer. A determinação do
conteúdo de umidade é repetida diariamente até que esta
praticamente não se modifiq ue; esse conteúdo de umidade,
representa a capacidade de ca1npo.
b) Método da panela de Richards: determinação feita em laboratório
para a qual se coletam an1ostras de solo, defomrndas ou
indefonnadas, em diversas cainadas do perfil. Essas amostras são
colocadas na placa de pressão e submetidas à saturação por 24
horas, de forma que haja c01npleta absorção dn água pelo solo.
274 Bezerra, Zonla e Pereira

Dec01Tido esse tempo, aplica-se uma pressão correspondente a


valores de l O, l k.Pa para solos arenosos e de 33,4 k.Pa para solos
argilostos, de modo a provocar a drenagem do excesso de água do
solo. Quando ocorrer a interrupção do processo de drenagem, o
conteúdo de umidade do solo é determinado, e a percentagem de
umidade obtida corresponde à capacidade de campo (BERNARDO
et al., 2006).
c) M étodo da umidade equivalente: de acordo com Ruiz et al. (2003 ),
um dos métodos mais difundidos efetuados em laboratório é o da
umidade equivalente, que consiste em que amostras de solo,
previamente peneiradas e saturadas, a uma força centrífuga de mil
vezes a gravidade, por um tempo de 30 minutos. Essa força
centrífuga com rotor específico equivale a um potencial de 33 k.Pa.
• Ponto de murcha permanente - representa o limite inferior da
quantidade de água no solo disponível para as plantas e corresponde
ao teor de umidade retida nas partículas do solo, sem
aproveitamento pela cultura. Nesta fase, as plantas murcham e,
mesmo que haja uma chuva ou uma inigação, elas não voltam a
apresentar turgidez, porque a água está retida às partículas do solo
com tal tensão que a planta não é capaz de absorvê-la. Nessa situação,
a redução da umidade do solo provoca uma diminuição da quantidade
de água que passa do solo para as raízes das plantas, fazendo com que
a quantidade de água que a planta perde no processo de transpiração
seja maior que a absorção de água pelas raízes, o que provoca a
murcha das folhas e a consequente morte das plantas (BEZERRA et
ai., 2008). A tensão da água no solo, acima da qual não haverá água
suficientemente disponível para que as plantas possam se
desenvolver, varia de 500 a 2.500 kPa, dependendo da planta ou da
condição de ambiente (BERNARDO et al., 2006).
A determinação do ponto de murcha pennanente pode ser feita
no campo ou no laboratório utilizando-se os seguintes métodos:
a) Método fisiológico: neste método utilizam-se plantas indicadoras,
sendo o girassol (Helianthus annus) (BERNARDO et ai., 2006) e o
feijão vigna ( Vigna unguiculata L.) (CIRINO, 1992) as mais
utilizadas. O ponto de murcha permanente ocorre quando a pressão
de turgor das células foliares das plantas chega a zero, o que ocoITe
em diferentes potenciais, dependendo das características
Manejo da irrigaçiio 275

· lógicas das plantas. Para realização deste método, as plantas


fí 10
~" culti vadas em vasos onde as irrigações são efetuadas
sao A • • d
rmalmente até que as plantas formem os tres pnmeiros pares e
~;lhas coti lcdonares, quando as irrigações são interrompidas e a
superfície do solo é vedada com par~fina ou óleo, para evitar a
evaporação da água do solo. Decorrido algum tempo, as folhas
começam a apresentar sintomas de murcha, quando então as
plantas são levadas para u_ma câmara úmida durante a n~ite.
Inicialmente, na manhã seguinte, as folhas recuperam sua turg1dez
e as plantas são retiradas da câmara úmida e colocadas ao sol. O
processo se repete até que as planta<:: não consigam recuperar a
turgidez ao serem colocadas na câmara úmida. Quando isso ocorre,
0 conteúdo de umidade do solo é determinado gravimetricamente,
sendo a percentagen1 de umidade obtida equivalente ao ponto de
murcha permanente.
b) Método de laboratório: coletam-se amostras de solo deformadas ou
indeformadas, em diversas camadas do perfil, sendo as amostras
colocadas na placa de pressão e submetidas à saturação por 24
horas, de forma que haja a completa absorção da água pelo solo.
Decorrido esse tempo, aplica-se uma pressão correspondente ao
valor de 1.519,9 kPa. Quando ocorre a interrupção do processo de
drenagem, o conteúdo de umidade do solo é determinado, e a
percentagem de urnidade obtida corresponde ao ponto de murcha
permanente (BERNARDO et al., 2006).
• Água disponível - a di fe rença entre o conteúdo de umidade na
capacidade de campo e no ponto de murcha permanente é
denominada de água disponível e representa a água à disposição
das plantas, isto é, a quantidade de água que o solo é capaz de
armazenar. Levando-se e1n conta que a capacidade de campo
representa o limite superior de água dispor.ível, neste ponto, o
potencial da água no solo é a tensão com que este retém a água,
cujo valor é aproxi madainente zero, ou seja, as raízes das plantas
são capazes de absorver água con1 bastante facilidade. À 1nedida
que o solo seca, a tensão co1n que este retém a água aumenta.
tornando mais dificil a absorção da água pelas plantas até chegar ao
ponto de n1urcha111ento, limite inferior ela água disponível. ponto a
partir do qual a planta não consegue retirnr mais água para suas
atividades 1netabólicas e n1orre.
276 Bezerra, Zonla e Pereira

• Densidade do solo - pode ser definida como a quantidade de


sólidos e de ar existentes em um determinado volume de solo e é
dada pela relação entre a massa de solo seco e o volume de solo em
seu estado natural de arranjamento. A densidade serve como um
indicador do grau de compactação dos solos e é essencial para o
cálculo da lâmina de água que o solo é capaz de armazenar.
Em solos de textura arenosa ex iste uma menor quantidade de
espaço poroso, fazendo com que os valores de densidade variem de
1,3 a 1,8 g cm·3 (LIBARDI, 1995). O referido autor informa que, no
caso de solos de textura argilosa, esses valores se encontram na ordem
de 1,0 a 1,4 g cm·3 .
Vários métodos são utilizados para a determinação da
densidade do solo, contudo, o método do anel volumétrico é
considerado o método padrão e consiste em se utilizar um anel de aço
bizelado em uma das bordas e de volume conhecido, denominado anel
de Kopeck. Através do impacto ou pressão, crava-se o anel no solo na
profundidade do perfil em que se deseja determinar a densidade, até
que este esteja completamente cheio de solo. Utilizando um
instrumento cortante, retira-se o excesso de solo de ambos os lados do
anel, e a amostra é posta para secar na estufa a 105 - 11 O ºC, durante
pelo menos 24 horas. Decorrido esse tempo, o solo é pesado para se
determinar a massa do solo seco. A densidade é obtida pela seguinte
relação:

DS = ivíss
Vs
em que: I:, é a densidade do solo (g cm-3); Mss, a massa do solo seco
(g); e Vs, o volume de solo (cnl).
• Capacidade de armazenamento de água do solo - a quantidade
máxima de água que o solo é capaz de armazenar é função das
características fisico-hídricas des te e da profundidade do solo que
se deseja irrigar. Os teores de umidade na capacidade de campo e
no ponto de murchamento, a densidade do solo e a profundidade do
sistema radicular da cultura são info1mações essenciais para o
cálculo da lâmina de água, que é dada pela seguinte fó1mula:
(CC-PMP
L = - - - - x Dsx pe
100
Manejo da irrigaçtio 277

cm que: L , é a lâm ina de irrigação (mm); CC, a capacidade de campo


(%); PMP, o ponto de murcha permanent~ (%); Ds_, a densidade
aparente do solo (g cm-3); e pe, a profundidade efetiva do sistema
radicu lar (mm).

Sistemas de irrigação
Visando responder à questão "Como irrigar?", busca-se
escolher o sistema de irrigação mais adequado para a situação local.
Vários métodos de irrigação são utilizados na cultura do algodoeiro,
destacando-se no Brasil, em decorrência da área plantada: a irrigação
por aspersão, a por gotejamento e a superficial. Não é possível eleger
um sistema de irrigação ideal para a cultura, pois não há nenhum
capaz de atender satisfatoriamente a todas as situações; portanto, a
escolha depende de uma série de fatores, devendo-se levar em conta
os seguintes:
a) Relevo do ten·eno: áreas com relevo plano e com baixa declividade
se adaptam aos métodos de irrigação superficial; para os sistemas
de irrigação por aspersão é possível utilizar terrenos com maior
declividade, embora seja mais conveniente que eles tenham um
declive uniforme, de forma a permitir melhor eficiência de
aplicação de água; para o sistema por gotejamento, a topografi a do
terreno praticamente não é fator limitante em função da baixa taxa
de aplicação de água do sistema.
b) Tipo de solo: solos de textura arenosa, que se caracterizam pela
predominância da fração areia em sua composição, apresentam
alta taxa de infiltração e baixa capacidade de retenção de água. De
un1a maneira geral, são inadequados aos sistemas de irrigação
superficial em decorrência do d sco de erosão, da alta percentagem
de perda de água por percolação, além de exigir sulcos curtos, o
que reflete na baixa eficiência de irrigação. Solos de textura média,
que apresentatn seus constituintes (areia, silte e argila) en1
proporções aproximadamente iguais, são ideais para qualquer
sistema de irrigação; solos de textura argilosa, que têm uma maior
proporção de argila, são 1nais adequados para a irrigação por
s uperfície, pois apresentmn menor taxa de infiltração. reduzindo as
perdas de água por percolação e permitindo maior comprimento do
277
Manejo da irrigaçc7o

e· L é a lâmina de irrigação (mm); CC, a capacidade de campo


em qu . ' o d .d d
(ºlo); PMP, 0 ponto de murcha permanent~ ( 1/o); D~, a enst a e
aparente do solo (g cm-3); e pe, a profundidade efetiva do sistema
radicu lar (mm).

Sistemas de irrigação
V isando responder à questão "Como irrigar?", busca-se
escolher o s istema de irrigação mais adequado para a situação local.
Vários métodos de irrigação são utilizados na cultura do algodoeiro,
destacando-se no Brasil, em decorrência da área plantada: a irrigação
por aspersão, a por gotejamento e a superficial. Não é possível eleger
um sistema de irrigação ideal para a cultura, pois não há nenhum
capaz de atender satisfatoriamente a todas as situações; portanto, a
escolha depende de uma série de fatores, devendo-se levar em conta
os seguintes:
a) Relevo do terreno: áreas com relevo plano e com baixa declividade
se adaptam aos métodos de irrigação superficial; para os sistemas
de irrigação por aspersão é possível utilizar terrenos com maior
declividade, embora seja mais conveniente que eles tenham um
declive uniforme, de forma a permitir melhor eficiência de
aplicação de água; para o sistema por gotejamento, a topografia do
terreno praticamente não é fator limitante em função da baixa taxa
de aplicação de água do sistema.
b) Tipo de solo: solos de textura arenosa, que se caracterizam pela
predominância da fração areia en1 sua composição, apresentam
alta taxa de infiltração e baixa capacidade de retenção de água. De
un1a maneira geral, são inadequados aos sistemas de irrigação
superficial em decorrência do risco de erosão, da alta percentagen1
de perda de água por percolação, além de exigir sulcos curtos, o
que reflete na baixa eficiência de irrigação. Solos de textura média.
que apresentam seus constitu intes (areia, silte e argila) em
proporções aproximadamente iguais, são ideais para qualquer
sistema de in-igação; solos de textura argilosa, que têm tuna maior
proporção de argila, são n1ais adequados para a inigação por
superficie, pois apresentam 1nenor taxa de infiltração. reduzindo as
perdas de água por percolação e permitindo maior compri1n~nto do
278 Bezerra, Zo11ta e Pereira

sulco, o que diminui o custo da implantação do proj eto; a baixa


taxa de infiltração característica desse tipo de solo pode ser
limitante para a irrigação por aspersão por exigir a esco lha de
nspersor com precipitação muito baixa. Áreas com variações
espaciais de solo - comuns nos vales aluvíonais - exige m maiores
cuidados no manejo da irrigação superficial (BEZERRA et ai. ,
2008).
e) Quantidade de água: a pouca disponibilidade de água ou alto
custo da energia a ser utilizada no bombeamento da água exige a
utilização de sistemas com maior eficiência de irrigação. Esta
limitação pode reduzir o uso dos sistemas superficiais, que de um
modo geral, apresentam menor eficiência de aplicação de água.
d) Qualidade de água: água com elevado teor de sais solúveis pode
ser limitante na irrigação por aspersão, pois é capaz de ocasionar
danos a alguns tipos de tubulação do sistema e queima em partes
das folhas em algumas culturas mais sensíveis. Águas salinas
podem causar salinização dos solos quando se realiza irrigação por
superfície em sol0s com drenagem deficiente. Água com muitas
partículas sólidas em suspensão pode provocar obstruções nos
emissores, principalmente, no sistema por gotejamento.
e) Clima. em locais onde a velocidade média dos ventos exceda 5 m f 1,
recomenda-se não utilizar os sistemas de irrigação por aspersão,
em função das perdas de água provocada pela deformação do
perfil de distribuição de água dos aspersores, o que causa baixa
eficiência de aplicação de água; por outro lado, áreas com baixa
umidade relativa do ar e com altas temperaturas médias são
limitantes para o sistema por aspersão em função da alta perda de
água por evaporação. De acordo com Bernardo et al. (2006), essa
perda pode chegar até 20% da água aplicada.
f) Especializaçcio da mão de obra: de maneira geral, os sistemas de
irrigação superficiais, seguidos dos sistemas de irrigação por
aspersão portáteis, exigem maior intervenção do irrigante, ao passo
que sistemas automatizados, corno a aspersão por pivô central e
gotejamento, possibilitam o manejo do sistema de forma mais fácil,
aumentando a eficiência de aplicação de água da irrigação.
Para a iITigação do algodoeirc podem-se utilizar os seguintes
sistemas de irrigação:
Manejo da irrigaçcio 279

a) Irrigação por supe,jlcie: sistema que se caracteriza pela condução


e distribuição de água até o ponto a ser irrigado através da
superfície do solo, utilizando-se da gravidade para que a água
atinja todos os pontos da área. À medida que a água vai se
des locando sobre o solo, ela vai se infiltrando horizontal e
verticalmente, umedecendo o perfil do solo até a profundidade do
perfil que se deseja irrigar. Para que se possa ter urna boa
distribuição de água, geralmente é necessário fazer correção na
superfície do solo, através da sistematização. Pode-se, também,
utilizar o sistema de irrigação por sulco, que consiste na
construção de pequenos sulcos paralelos às linhas de plantio por
onde a água é conduzida, de forma de que ela vai-se infiltrando
por um tempo suficiente para umedecer toda a zona do perfil, onde
se encontra o sistema radicular da cultura. Outro método que pode
ser utilizado é o de bacias em nível, que consiste no sistema de
inundação intermitente, com a aplicação de grandes lâminas de
água em um curto espaço de tempo de modo que a água se
distribua em toda parcela e vá-se infiltrando de forma a umedecer
todo o perfil onde se encontra ·o sistema radicular da cultura; a
área tem de estar em nível, e os sulcos são conectados no início e
no final, fazendo com que haja o fechamento do circuito
hidráulico, evitando-se a erosão do solo e o deflúvio superficial.
b) Irrigação por aspersão: caracteriza-se pela aplicação de água nas
plantas sob a fonna de chuva artificial, por meio de dispositivos
hidráulicos especiais denominados aspersores, que têm a função
de pulverizar os jatos de água que saem das tubulações sob
pressão, assegurando uma distribuição uniforme da água sobre a
cultura. Vários tipos de sistemas de inigação por aspersão podem
ser utilizados na cultura do algodoeiro, como os sistemas portáteis,
semiportáteis, canhão hidráulico, pivô central, sistema sobre rodas
com deslocamento lateral ou longitudinal (Figura 13.1) etc., cuja
variação ocorre em função de características hidráulicas do
sistema.
Be:.erra, Zo11ta e Pereira
280

Figura 13. I - Sistema de inigação por aspersão sobre rodas com


deslocamento longitudinal.

c) Irrigação por gotejamento: caracteriza-se pela condução de água


sob pressão através de tubos, até ser aplicada diretamente sobre o
sistema radicular da cultura, por meio de emissores denominados
gotejadores. A água, aplicada com pequena intensidade (1 a 8 1 h- 1)
e com alta frequência de irrigação (um a quatro dias), forma um
bulbo molhado na zona do sistema radicular, mantendo o conteúdo
de umidade do solo, próximo à capacidade de campo. No
algodoeiro pode ser utilizada uma linha de gotejadores para cada
fileira de plantas ou usar o sistema de fileiras duplas, onde uma
linha de gotejadores atende a duas fileiras de plantas, reduzindo o
custo hidráulico do sistema.

Manejo da irrigação
Para responder à questão "Quando irrigar?", leva-se em conta
a capacidade de annazenamento de água no solo e a quantidade de
água que a planta consome ao longo do seu ciclo fenológico de forma
a estabelecer um manejo de água que permita a obtenção de alta
produtividade da cultura e um eficiente uso da água. No caso do
algodoeiro herbáceo, sugere-se que as irrigações de reposição sejam
Ma nejo da irrigaçâo 28 1

realizadas quando a cultura tiver consumido no máximo 65% da água


disponível, confonnc resultados obtidos por Oliveira et ai. (1992c).
O consumo hídrico da cultura é um parâmetro fundamental
porque condiciona as atividades fi siológicas e metabólicas das plantas.
De acordo com Azevedo et ai. ( 1993), quanto maior a disponibilidade
de água no solo, maior a capacidade de absorção de água e nutrientes
pelas raízes das plantas e maior a eficiência fotossintética das folhas.
A quantidade de água necessária para a cultura do algodoeiro varia de
acordo com suas características genéticas, pelas práticas culturais
empregadas, pela disponibilidade de água no solo e pela demanda
atmosférica local, exibindo considerável variação para diferentes
regiões (GRIMES; EL-Zl.K, 1990). Para Doorenbos e Kassam (2000),
a cultura do algodoeiro com ciclo superior a 140 dias necessita da
aplicação de uma lâmina de água de 700 a 1.300 mm, em função do
clima. Azevedo et al. (1993), em trabalho realizado na região
semiárida do Estado da Paraíba, determinaram o consumo hídrico do
algodoeiro CNPA Precoce 1, obtendo um valor de 440,0 mm no ciclo
da cultura. No semiárido do Rio Grande do Norte, Bezerra et ai.
(1994) observaram um consumo de 616,5 mm para o cultivar CNPA
6H. No Cariri do Ceará, Silva et al. (2003) obtiveram um consumo de
450,9 e 5 17, 1 mm para o cultivar BRS 201, utilizando as
metodologias do lisímetro de drenagem e da Razão de Bowen,
respectivamente. Bezerra et al. (20 1O) obtiveram mn consumo médio
de 543,3 mm para o cultivar BRS 200 - Marrom, em dois anos de
trabalho em Barbalha-CE. Bezerra et ai. (2012), em trabalho realizado
em 2008 e 2009, na região serniárida do Rio Grande do Norte,
encontraran1 um valor médio de 735 mm. Por outro lado, sob
condições protegidas, Pereira et al. (1997b) conseguiram consumos
médios de 501,1 e 533 ,5 1run para os cultivares de algodoeiro
herbáceo CNPA Precoce 1 e CNPA 7H, respectivamente.
Outro fator determinante no amnento da eficiência de uso de
água, com economia de água e energia, é a definição da época de
supressão da irrigação. Oliveira et al. (1992a e 1992b), estudando esse
efeito no algodoeiro herbáceo, observaram que os melhores
rendimentos foram obtidos quando as ÜTigações foram suspensas entre
80 e 11 O dias após a germinação. Por outro lado, Bezen-a et al. (2003)
obtiveram melhores rendimentos no cultivar BRS 201 quando o corte
foi efetuado aos 50 e 60 dias após a floração.
282 Bezerra, Zonfa e Pereira

A partir do conhecimento da capacidade de armazenamento de


água do solo, do conteí1do de água no solo e, ou, das necessidades
hídricas da cultura, é possível es tabelecer o turno de rega, que pode
ser definido como o intervalo entre duas irrigações consecutivas. Para
realizar o manejo da i1Tigação a partir do conteúdo de água no solo e a
deten11inação da umidade do solo ou da tensão com que a água está
retida no solo, os métodos mais cornumcnte utilizados são:
a) Método gravimétrico: conhecido como método padrão da estufa,
consiste na determinação da umidade do solo úmido; após a
secagem na estufa, determina-se a umidade da amostra seca, sendo
a porcentagem de umidade dada pela relação da massa de água
pela massa do solo seco.
b) Método do tensiômetro: consiste na medição da tensão com que a
água está retida no solo e que se constitui em uma cápsula de
cerâmica porosa ligada a um medidor de pressão por um tubo
cheio de água. A diferença de potencial entre a cápsula e o solo faz
com que haja h·ansferência de água de um m eio para o outro até
chegar ao equilíbrio. A tensão provocada pela transferência de
água de um meio para outro é lida em um manômetro e
corresponde à tensão da água no solo.
c) Método da moderação de nêutrons: a utilização deste método
baseia-se na emissão de nêutrons de urna fonte de material
radioativo colocada no solo cuja velocidade de deslocamento é
influenciada pela quantidade de íons H existentes na água contida
no solo. A partir da contagem desses nêutrons, é possível definir o
conteúdo de umidade do solo.
d) Método da rejlectometria com domínio de tempo (TDR): é um
método de leitura direta do conteúdo volumétrico de água no solo,
que consiste na diferença de velocidade de transmissão de um
pulso de micro-ondas que tem s ua velocidade de deslocamento
influenciada pela constante dielétrica (k) do material por onde ele
se desloca. Para o ar, o valor de k ;:;;; 1,0; para os minerais
existentes no solo, k = 2 a 3; e, para a água, k = 80. D esse modo,
associa-se a velocidade do pulso com o conteúdo de água no solo.
Para trabalhar levando-se em conta a necessidade hídrica da
cultura, faz-se necessário definir o conceito de evapotranspiração dessa
cultura, que consiste na perda de água do sistema solo-água-planta para a
Manejo da irrigação 283

atmosfera através dos processos de evaporação e transpiração. De


acordo com Doorenbos e Kassain (2000), a evapotranspiração é um
processo dinâmico, sendo representado pelas perdas de água ocorridas,
sob a forma de vapor, através da superfície do solo (evaporação) e da
superficie das folhas (transpiração), com variações locais e espaciais
provocadas pelas condições de solo, clima e estágio de desenvolvimento
da cultura. Vários métodos são utilizados para a determinação da
evapotranspiração das culturas, confonne descriminados a seguir:
a) Métodos diretos: são métodos que consistem na contabilização dos
fluxos de entrada e saída no volume de solo onde está sendo feita a
contabilização. Entre os métodos mais comumente usados, podem-
se destacar o uso dos evapotranspirômetros e o método do balanço
hídrico, cuja quantificação de cada mn dos componentes do
balanço no deco□-er do ciclo da cultura permite a contabilização da
água consumida pela cultura a partir da seguinte equação:
P + 1-R - ET±D±L1A =O
em que: P é a precipitação pluvial (mm); I, a irrigação (mm); R, o
escoamento superficial (mm); ET, a evapotranspiração (mm); D, a
drenagem ou ascensão capilar (mm); e L1A, a variação do
armazenamento de água no perfil do solo (1U111).

b) Métodos indiretos: são estimativas do consumo hídrico da cultura


a partir do produto da evapotranspiração de referência (ETo) pelo
coeficiente de cultivo (Kc), para os quais são utilizadas fórmulas
empíricas baseadas em dados experimentais. Entre as fórmulas
existentes para o cálculo de ETo, podem-se destacar as seguintes:
• Método de Penman-Monteith - considerado pela FAO, como
método padrão, sendo dado pela seguinte expressão (ALLEN et al.,
2006):
900
0,408 x b.(R11 - G) + Y T + U2 (es -eª)
273
ETo ô +y(l + 0,34u 2 )
1
em que: ETo é a evapotranspiração de referência (1nm dia- ); ô , a
inclinação da curva de pressão de vapor (k.Pa
2
0

1
c· 1
)~ Rn, a radiação
líquida sobre a superficie de cultivo (MJ m· dia- ); G, o fluxo de calor
284 Bezerra, Zonta e Pereira

no solo (MJ m·2 dia-1) cujo valor para dados diários é igual a zero;"/, a
constante psicrométrica (kPa ºC- 1); T, a temperatura média do ar (ºC);
u2. a velocidade do vento a 2 m de altura (m s· 1); es, é a pressão de
saturação do vapor d'água (kPa); e e0 , é a pressão atual do vapor
d ' água (kPa).

Detalhes da utilização dessa fórmula podem ser obtidos através


de Bezerra et al., (2009) e a partir de dados coletados nas estações
meteorológicas automáticas do Instituto Nacional de Meteorologia
(INMET), podendo ser encontrada na página http://cnpa.embrapa.br/
/destaques/201 O/planilha_calculo_ eto.htrnl, uma planilha eletrônica
que permite esse cálculo.
• Método do Tanque Classe A - a evapotranspiração, estimada a
partir da evaporação do Tanque Classe A, é dada pela expressão
(PEREIRA et ai., 1997a):
ET0 =KµxECA
em que: ETo é a evapotranspiração de referência (mm dia- 1); ECA, a
1
evaporação do tanque (mm dia- ); e Kp, o "coeficiente do tanque",
obtido em função da velocidade do vento a 2 m de altura, umidade
relativa média do ar e do tipo de exposição do tanque (Tabela 13.1).
Tabela 13 .1 - Coeficiente do tanque (Kp) em função do tipo de cobe1tura de solo, do tamanho da bordadura, da }
velocidade de vento e da umidade relativa média do ar ~

~
Tanque colocado em área Tanque colocado em área não
Tamanho da Tamanho da ~
Velocidade do
cultivada com vegetação baixa cultivada ~-
bordadura bordadura ~
~
vento Umidade relativa média(%) Umidade relativa média(%) ~!
o
(m) (m)
(m s· 1) Baixa Média Alta Baixa Média Alta
Grama Solo nu
<40 40-70 >70 <40 40-70 >70
1 0,55 0,65 0,75 1 0,70 0,80 0,85
Leve 10 0,65 0,75 0,85 10 0,60 0,70 0,80
<2 100 0,70 0,80 0,85 100 0,55 0,65 0,75
1.000 0,75 0,85 0,85 1.000 0,50 0,60 0,70

1 0,50 0,60 0,65 1 0,65 0,75 0,80


10 0,60 0,70 0,75 10 0,55 0,65 0,70
Moderado 2-5 1
100 0,65 0,75 0,80 100 0,50 0,60 0,65
1.000 0,70 0,80 0,80 1.000 0,45 0,55 0,60
Continua ...

N
00
Vl
N
Tabela 13.1-Cont. 00
O\

Tanque colocado em área Tanque colocado em área


Tamanho da Tamanho da
Velocidade cultivada com vegetação baixa não cultivada
bordadura bordadura
do vento Umidade relativa média(%)
(m) Umidade relativa média(%)
(m s-1) (m)
Baixa Média Alta Baixa Média Alta
Grama Solo nu
<40 40-70 >70 <40 40-70 >70
1 0,45 0,50 0,60 1 0,60 0,65 0,70
Alta 10 0,55 0,60 0,65 10 0,50 0,55 0,65
5-8 100 0,60 0,65 0,70 100 0.45 0,50 0,60
1.000 0,65 0,70 0,75 1.000 0,40 0,45 0,55

1 0,40 0,45 0,50 1 0,50 0,60 0,65


Muito alta 10 0,45 0,55 0,60 10 0,45 0,50 0,55
>8 100 0,50 0,60 0,65 100 0,40 0,45 0,50 ~
11:,
N
1.000 0,55 0,60 0,65 ~
1.000 0,35 0,40 0,45 ..:

Fonte: ALLEN et ai., 2006.


-~

-~
::::i
~

"'iJ
(';)

~
~-
Man ejo da irrigaçiio 287

• Método de Benavidcs-Lopez - a evapotranspiração, estimada a


partir de dados de temperatura e umidade relativa do ar, de acordo
com Bezerra ct ai. (2008), é dada pela seguinte expressão:
7.45T
ET0 = 1,21 x 10 123 •7 +r x (1 - 0,0 lUR)+ 0,2 IT - 2,30
em que: ETo é a evapotranspiração de referência (mm dia·\ T, a
temperatura média do ar (ºC); e UR, a umidade relativa média do ar(%).

• Método de Jensen-Haise - elaborada para ser utilizada em campos


irrigados em áreas áridas e semiáridas, esta metodologia se ajustou
adequadamente a campos cultivados por várias culturas, inclusive
algodão. Baseia-se em dados de radiação solar e de temperatura do
ar, de acordo com Pereira et al. (1997a), e é dada pela seguinte
fórmula:
ETo = Rs(0,O252T + 0,078)
em que: ETo é a evapotranspiração de referência (mm dia"1); Rs, a
radiação solar global expressa em equivalente de evaporação (mm dia.1);
e T, a temperatura média do ar (ºC).

• Método de Hargreaves - baseado em dados de radiação solar


global e temperah1ra do ar, pode ser expresso, conforme Back
(2008), pela seguinte equação:
ETo = 0,075Rs( l ,8T + 32)
em que: ETo é a evapotranspiração de referência (mm dia-1); Rs, a
radiação solar global dada em equLvalente de evaporação (mm dia-1); e
T, a temperah1ra média do ar (ºC).
• Método do Hargreaves modificado - também baseado em
informações de radiação solar,. temperat11ra e umidade relativa do
ar, confonne Back (2008), podendo ser dado pela equação:
ET0 = Ru(l,8T + 32) x 0,0006✓100- UR
em que: ETo é a evapotranspiraçào de referência (mm dia·'); Ra, a
radiação solar incidente no topo da atmosfera, dada em equivalente de
evaporação (mm dia-1); T, a temperatura média do ar (ºC); e UR. a
umidade relativa média(%).
Bezerra, Zonta e Pereira
288

Existe ainda na literatura um número bastante elevado de


fó m1ulas empíricas baseadas e m dados meteorológ icos, cuja escolha
se baseia, princ ipalmente, no tipo de dados disponíveis na estação
meteorológ ica e na precisão requerida na determinação do consumo
hídrico da cultura.
Coeficiente de cultivo (Kc) - é um parâ metro que permite que
se conheçam as necessidades hídricas de determinada cultura,
facilitando o estabelecimento da frequência e quantificação das
irrigações de reposição, sem necessidade das medições de umidade do
solo. De acordo com Dias (2009), é um parâmetro passível de ajustes
locais e está relacionado à demanda hídrica, ao tipo e fenologia da
cultura e às condições climáticas do local. De acordo com A1len et ai.
(2006), a razão entre a ETc e ETo origina o coeficiente de cultivo que
depende do estádio de desenvolvimento das plantas, do sistema de
irrigação, da configuração de plantio e das condições meteorológicas
reinantes. Esse coeficiente pode ser estimado pela metodologia
recomendada pela F AO em seu Boletim F AO - 56 (ALLEN et ai.,
2006), para as diversas fases do ciclo fonológico da cultura,
permitindo, assim, obter a curva de coeficiente de cultivo. Esses
valores podem também ser obtidos experimentalmente, permitindo a
elaboração da curva de coeficiente de cultivo, para aquela cultivar,
especificamente.
Segundo a metodologia contida no Boletim FAO - 56, é
necessário quantificar o número de dias de cada fase do
desenvolvimento da cultura, de acordo com os seguintes critérios:
• Fase I - da emergência da cultura até 10% de cobertura de solo;
• Fase II - de 10% de cobertura de solo ao início da floração;
• Fase III - do início da floração ao início da maturação; e
• Fase IV - do início ao final da maturação.
De acordo com esse critério, a duração do ciclo de alguns
cultivares pesquisados pela Embrapa Algodão pode ser observada na
Tabela 13.2.
290 Bezerra, Zo11ta e Pereira

Curva de Coeficiente de Cultivo

16 45 84 108
Dias após emergência (DAE)

Figura 13 .2 - Curva de coeficiente de cultivo do algodoeiro herbáceo,


cultivar BRS 187 - 8H.
Fonte: BEZERRA et ai., 2012.

A partir dos dados da evapotranspiração de referência e do


coeficiente de cultivo, a evapotranspiração da cultura pode ser
estimada pela expressão:
ETo = ETox Kc
em que: ETc é a evapotranspiração da cultura (mm dia-1); ETo, a
evapotranspiração de referência (mm dia-1); e Kc, o coeficiente de
cultivo.

c) Método do Balanço de Energia: esta metodologia baseia-se no


balanço de energia aplicado a áreas com cobertura vegetal, sendo
fundamentada no princ1pto da conservação da energia
(BEZERRA, 2007) e representa o balanço dos fluxos de entrada e
saída de energia no volume de controle representado pela área
vegetada, quantificando a energia utilizada pela cultura no
processo de transferência de água sob a forma de vapor para a
atmosfera. Para Silberstein et al. (2003), os fluxos de energia que
ocorrem em uma superfície vegetada são: saldo de radiação (Rn),
fluxo de calor latente (LE), fluxo de calor sensível (H), fluxo de
292 Bezerra, Zonta e Pereira

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COLHEITA
14
Jean Louis Beloc 1
Patricia Vilela 1

Introdução
Em nível mundial, o cultivo algodoeiro geralmente é um
cultivo de agricultura familiar, com manejo e colheita essencialmente
manual, empregando muita mão de obra. Porém, em alguns países,
como Estados Unidos, Uzbequistão e Brasil principalmente, o a lgodão
é cultivado em áreas 1nuito extensas, necessitando ser colhidas
mecanicamente. O parque de colheitadeiras modernas é muito
importante nos Estados Unidos e Brasil.
A colheita mecanizada e o desenvolvimento de colheitadeiras
foram realizados inicialmente nos USA a partir dos anos 1920, mas a
colheita mecanizada se desenvolveu em grande escala nesse país a
partir da segunda guerra n1undial (HUGHS, PARNELL JR.;
WAKELYN, 2010). A sua adoção nos Estados Unidos passou de 22%
em 1954 a 59% em 1962 e 99% em 1972 até hoje (COLWICK et al.,
1984), permitindo baixar significativamente o uso de mão de obra por
hectare colhido.
No Brasil, atualmente, a produção algodoeira e a colheita
estão quase 100% mecanizadas, com colheitadeiras de tipo Pickcr na
maior parte e com algumas máquinas Stripper para colher o algodão

1 En enheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Pesquisador do IMAmt. E:1 m1il: }é_nn~dot~ ,_mumt.com.br


,· Engcn
g · Agi·o
· 11oITta M S e Pesquisadorn e.lo lMAmt. E-mml : pn1ncrnv1ldu(!.!1m1amt.rnm.hr
11c1ra- , · ·
296 Belo! e Vilela

em linha estreitas ou ultraestreitas (sistema Narrow Row Cotton-


NRC, ou Ultra Narrow Row Cotton- UNRC) (Y AMAOKA; BELOT,
2011 ). Sínteses já foram escritas por Sofiatti, Silva e Carvalho (2011 )
sobre a sequência de operações envolvidas na colheita do algodão nos
cerrados.
É importante salientar que a colheita é uma etapa muito
importante na preservação da qualidade da fibra que foi elaborada em
campo. Este tipo de colheita mecânica necessita de cuidados especiais
para lin1itar, ao máximo possível, o seu impacto sobre a degradação da
qualidade da fibra. Eles envolvem tratos especiais, tanto na condução
da lavoura quanto na sua preparação antes da colheita ou na operação
da colheita e armazenamento do algodão em caroço.

As diversas máquinas presentes no Brasil


O parque de máquinas atualmente presente no Brasil é muito
variado, em função da diversidade dos sistemas de cultivo praticados e
da renovação constante das máquinas.

Colheitadeiras Picker, de fusos


A primeira colheitadeira autopropulsora de duas linhas, com
fusos, foi comercializada nos Estados Unidos em 1950 (John Deere nº
8). O modelo 99, lançado em 1958, trouxe melhorias significativas no
sistema para desprender a fibra dos fusos, melhorando
significativamente a qualidade do a lgodão em caroço. Ao longo dos
anos, as melhorias sucessivas visaram, principalmente, aumentar a
capacidade de colheita e a qualidade do algodão, até chegarem as
máquinas modernas.
Essas colheitadeiras colhem mais de 90% do algodão
brasileiro, cultivado em sistema com espaçamento de 0,90 ou 0,76 m.
O princípio desse sistema de colheita é, com ajuda de fusos de aço
com diversos movimentos de rotação, enrolar o algodão e extraí-lo do
capulho aberto (Figura 14.1).
Colheita 297

-
fambor

o,......

Ptausd

sfibrador

·-
IMode
...«Jo do

(a) (b) (c)


Figura 14.1 - Tambor recolhedor com fusos (a), desfibradores (b) e
esquema geral de uma unidade de colheita JD (c).
Foto: Jean Belot.

O algodão da linha vem de encontro à unidade. Caso haja


algodão no baixeiro da planta, ele já recebe um auxílio dos guias de
plantas para levantá-lo. Quando o algodão entra em contato com os
fusos recolhedores, as placas laterais passam a pressionar a planta
sobre as barras de grade (costelas) que geram uma divisão de fluxo de
algodão. Os tambores são equipados de barras com fusos articulados e
com movimentos de rotação, a fim de extrair o algodão dos capulhos
com o mínimo possível de impurezas. Dependendo do modelo da
máquina, as barras podem conter entre 18 e 20 fusos. Depois de
enrolar o algodão, e através de um sistema de pista (trilho ou carne),
as barras deslocan1 os fusos até o eixo desfibrador. O desfibrador com
alta rotação faz o giro anti-horário de basicamente 180 graus em cima
do fuso, retirando a maior parte do algodão; minúsculas fibrilhas que
ainda sobram são retiradas pelas escovas (sistema umidificador). No
sistema em linha, os tambores giram no sentido anti-horário, e o fuso,
no sentido horário. Após esse processo, o algodão é transportado
através de dutos, por sucção gerada por uma conente de ar criada pelo
ventilador do sistema de ar.
O objetivo desse mecanismo de fusos, e os aperfeiçoamentos
sucessivos dos diversos modelos, visam colher um algodão cada vez
298 Belot e Vilela

mais limpo, sem impurezas, e com capacidade de colhe ita cada vez
maior. Finalmente, os últimos modelos de máquinas (JD 7760 e Case
635) visam realizar as etapas de formação de módulo compactado de
algodão em caroço na própria máquina e, porta nto, reduz ir ainda mais
o uso de mão de obra nas fazendas.
A maior parte do parque de máquinas no Brasil é da marca
John Deere (modelos JD 9970, JD 9976, JD 9996, JD 7660 e JD
7760), sendo a mais recente de modelo 1D7760, com capacidade de
produzir fardinhos compactados de algodãc em caroço de 2,5 a 3 t
(Figura 14.2).

Figura 14.2 - Colheitadeira JD 7760.


Foto: Jean Belot.

As máquinas Case IH são de modelo CASE IH 2555, CASE


IH 420, CASE IH 610 e CASE IH 635 Module Express, esta última
produzindo fardões quadrados compactados de algodão em caroço de
aproximadamente 4,5 t (Figura 14.3).

Figura 14.3 - Colheitadeira CASE IH 635.


Foto: Case IH.
Colheita 299

A Montana 1mc1ou a comercialização de colheitadeiras de


fu so (Figura 14.4).

Figura 14.4 - Colheitadeira Montana Cotton Blue 2805.


Foto: Montana.

Algumas plataformas de colheita Picker de fusos foram


desenvolvidas para poder colher linhas com espaçamento estreito, de
menos de 0,50 m. Devido à falta de espaço para colocar os tambores
de fusos, uma linha de plantas é cortada e jogada na linha adjacente
para ser "colhida". O sistema é conhecido como VRS 12 da John
Deere, mas existem também alguns sistemas artesanais VRS 16.
(Figura 14.5).

Figura 14.5 - Sistema VRS 16 para colheita com fusos de linhas


estreitas.
Foto: kan Bclot.
300 Belo! e Vilela

Colheitadeiras Stripper
O sistema de colheita mecânico de tipo Stripper é
provavelmente o mais antigo, desenvolvido antes do sistema Picker de
fusos. Ele consiste em arrancar, com diversos sistemas de escovas ou
dentes, o capulho inteiro da planta e, em uma segunda etapa, eliminar
as casquinas (carpelos do capulho) e pedaços de ramos laterais. Essas
máquinas começaram a ser importadas, desenvolvidas e usadas no
Brasil com a adoção do sistema de cultivo em linhas estreitas (menos
de 0,50 m), geralmente chamado de s istema "adensado".
As plataformas mais vendidas são as plataformas Stripper de
pente (Figura 14.6a).

(a) (b) (e)


Figura 14.6 - Plataforma Stripper de pente (a), de escova (b) e de
barras (c).
Foto: Jean Belot.

Algumas plataformas de escovas (Figura 14.6b) foram


importadas dos Estados Unidos para colher algodão em sistema
adensado, mas não ocupam muito mercado. Outros sistemas com
barras foram desenvolvidos localmente (Figura 14.6c). Porém, nos
USA, as máquinas Stripper de escovas são usadas principalmente no
estado do Texas, para colher um algodão de espaçamento nonnal, de
baixo custo.
A maioria dessas máquinas tem um sistema de autolimpeza,
chamado de "HL", que pennite eliminar muitas casquinhas (Figura
14.7). Esses limpadores são compostos de rolos dentados, copiados
dos equipamentos de limpeza das algodoeiras.
Colheita 301

(a) (b)
Figura 14. 7 - Limpadores "HL" das colheitadeiras Stripper.

De modo geral, a maioria das máquinas Stripper destinadas à


colheita do algodão conduzido em sistema adensado foi construída a
partir de chassis de colheitadeiras JD ou CASE sucateadas, adaptando
plataformas de pentes de diversos fabricantes locais ou argentinos
(Figura 14.8).

Figura 14.8 - Colheitadeiras Stripper de pente sobre chassis de JD e


CASE.
Fotos: Jean l3clot.

Uma regulagem adequada desses limpadores "HL" é


fundamental para limitar o mais que possível as perdas na colheita e
preservar a qualidade da fibra.
302 Belot e Vilela

Realização de uma colheita de qualidade


No que se refere à qualidade de colheita, considera-se tanto a
eficiência da colheita quanto a qualidade do algodão em caroço
colhido. As perdas na colheita geralmente ficam entre 5 e 15%, as
porcentagens de impurezas com máquinas Picker, em torno de 6% e,
com máquinas Stripper, ao redor de 25%, podendo ser maior ainda
com algumas máquinas não equipadas adequadamente com
limpadores. Muitos trabalhos foram realizados para avaliar os fatores
que mais incidem sobre a qualidade da colheita (BELOT; VILELA,
2006).
Diversos fatores incidem sobre a qualidade do algodão em
caroço colhido, que iremos estudar a seguir, lembrando-se que o
primeiro fator a considerar é a escolha da variedade, cuja arquitetura
deve ser adequada a esse tipo de colheita, sem muitos ramos laterais
desenvolvidos. A arquitetura da planta pode ser modificada
significativamente em função do espaçamento e da densidade de
plantas na linha e com emprego dos reguladores de crescimento, que
permitem reduzir o tamanho dos ramos laterais e da haste principal. A
densidade de plantas por metro linear pode ser usada para aumentar a
altura dos primeiros capulhos a serem colhidos no baixeiro e reduzir
as perdas para as variedades que apresentam alto pegamento das
primeiras posições.

Adequação da lavoura
Desde o plantio, vários fatores podem influir sobre a
qualidade do algodão colhido.
• O plantio dos talhões a serem colhidos mecanicamente deve ser
realizado em áreas planas, com declives inferiores a 8%, com solos
de poucas ondulações. Caso contrário, corre-se o risco de aumentar
as perdas na colheita, principalmente quando realizada com
máquinas sem as opções de regulagem de altura no solo dos
tambores. Ter boa regularidade de espaçamento entrelinhas é
também um fator que pode influenciar as perdas na colheita.
• O controle da altura das plantas é um dos fatores mais impo1Lmues
para a realização de uma boa colheita mecanizada. A regularidade
Colheita 303

de densidade de plantas nél linha pode influenciar a regularidade de


altura elas plantas, fotor importante na qualidade da colheita. As
plantas não podem ser nem muito pequenas (inferiores a 1,0 m) nem
muito altas (superiores a 1,4 m). No primeiro caso, plantas muito
pequenas vão aumentar as perdas pós-colheita, pois a máquina pode
não alcançar as cápsu la.; do baixeiro muito perto do solo. Com
plantas muito altas, o caule va i ter que se curvar para entrar nos
tambores, havendo o risco de prejudicar o tipo do algodão, com o
aumento de fragmentos vegetais e pedaços de casca da haste
principal , gerando "barks".
• Um bom controle das ervas daninhas é outro fator importante que
permite boa colheita mecânica, limitando as contaminações com
pedaços de vegetais. Caso contrário, elas podem dificultar muito a
realização da colheita (Figura 14.9). As plantas daninhas que mais
prejudicam a colheita são a "corda-de-viola'' (/pomea spp.), o picão-
preto (Bidens pilosa), o capim-carrapicho ( Cenchrus spp.) e
Desmodiwn torluosum.

Figura 14.9 - Plantas daninhas dific ultando a realização da colheita.


Foto: Jean Bclot.

• O controle das pragas e doenças afeta também a qualidade do


algodão colhido. Algumas pragas podem manchar o algodão nos
capulhos abertos, corno os pulgões, moscas brancas ou cochonilhas,
gerando depósitos açucarados e a lgodão "pegajoso". Os percevejos
Dysdercus spp. podem ser responsáveis por amarelecimento da
fibra.
304 Belot e Vilela

• Finalmente, no momento da entrada da máquina na lavoura, as


plantas devem estar total mente desfolhadas e com capulhos
totalmente abertos, principalmente para a colheita Picker. A
desfolha das plantas antes da colheita e o tempo de exposição do
algodão aberto em campo são fatores que pode m afetar a
porcentagem de perdas e o tipo ela fibra colhida. O tempo de
exposição pode afetar a colorimetria da fibra, principalmente o
brilho (Rd), dependendo das condições de temperatllfa, umidade e
da ocorrência de a lgumas chuvas de final de ciclo. A falta de
desfolha adequada acarreta algodão em caroço de tipo ruim,
carregando pedaços de folhas chamados de "pimentinhas", às vez,es
cmn manchas verdes de c lorofila.
Em definitivo, um algodão em caroço de boa qualidade será
obtido com a colheita de uma planta perfeitamente desfolhada e com
baixo nível de umidade. A época de aplicação do desfolhante é
também muito importante, porque pode reduzir a produtiv idade
quando for aplicado muito cedo e ter incidência sobre a maturidade da
fibra.

A realização da colheita
Durante a colheita, é preciso ficar atento às perdas,
constituídas por algodão caído no chão e o que fica nas plantas. E sta
avaliação se realiza em geral diariamente, colhendo e pesando o
algodão de 5 linhas de 5 m. Com a s máquinas Picker, as perdas nas
condições do cerrado ficam entre 9,4% e 12,5 % (FREIRE et al.,
1995), mas podem ser reduzidas e1n 1nenos de 5%, com regulagens
das máquinas e preparo das lavouras adequados.
É imprescindível que o operador da máquina receba um bom
treinamento e tenha conhecimento sobre o manual do operador, pois a
regulagem da colheitadeira é de grande importância para a redução
das perdas na colheita. Em a lgumas fazendas, para ter um melhor
suporte, o operador é acompanhado por um técnico agrícola e de um
mecânico.
Após a manutenção básica diária da máquina, como
lubrificação e abastecimento, começa a verificação técnica d os
mecanismos operacionais da colheitadeira de algodão: unidades de
Colheiw 305

colheita (tambores), dutos de saída e tubos de elevação, turbinas de ar,


pentes de lim peza e telas do cesto, sistema de descarregamento e
proteção contra incêndio.

Regulagens
Existem algu mas regu lagens que devem ser feitas diariamente,
para evitar as perdas (RIBEIRO et al., 2012) e preservar a qualidade
do algodão:
Pressão das placas - O princíp io é que, quanto maior a pressão das
placas, menos algodão fica na planta. Entretanto, se a pressão for
muito grande, algumas impurezas indesejáveis, como pedaços de
capulho, bráctea, casca do caule, entre outras, virão junto com o
algodão. Essa regulagern (Figura 14.1O) é feita diariamente antes de
iniciar a colheita e durante o processo, pois os fatores que mais
interferem nesse ajuste são as variedades, manejo (como ficou a
desfolha), a umidade, entre outros. Corno os rotores dianteiros colhem
em média 75% do algodão, um operador prudente regula as placas
traseiras sempre um pouco mais apertadas, pois a planta vai chegar mais
'magra' aos rotores traseiros. Uma observação importante é que, se
estiver wn dia de muito sol e as placas estiverem com muita pressão,
deve-se ajustá-las novamente, para não correr risco de incêndio.

Figura 14. l O- Regulagen1 das placas em relação ao tambor de fusos.


Fotos: Evandro Ribeiro.
Belot e Vilela
306

Distância do desfibrador para o fuso - Esta operação é reali zada


uma vez por dia, antes do início da colheita , no período da manb~,
quando se verifica a distância do des fibrador para os fusos. E
importante esta regulagem, pois, se a distância entre o desfibrador e os
fusos é grande, o algodão co lh ido fica retido nesse espaço,
ocasionando um embuchamento, o que faz a máquina reduzir a
eficiência de puxar o algodão da cápsula, aumentando as perdas na
colheita. Caso a distância seja pequena, também será problema, pois
causará um desgaste maior no desfibrador e no fuso, havendo riscos
de incêndio e perda de qualidade da fibra.
Escova de limpeza dos fusos - Este ajuste é feito várias vezes por
dia, pois depende muito das condições climáticas. Esse problema com
as escovas pode ser considerado a principal causa de perda na
colheita. O objetivo desse processo é limpar os fusos para que os
dentes presentes estejam limpos, tendo maior eficiência na retirada do
algodão da cápsula. Os aj ustes são feitos com relação à distância entre
a escova, o fuso (à medida que vai ocorrendo desgas te do fuso, a
distância da escova também deve ser mexida) e o fluxo de água mais
detergente (muito influenciado p ela umidade do a lgodão), que faz
parte do processo juntamente com a escova (Figura 14.1 l ).

Figura 14.11 - Regulagem da distância ent re fusos e escovas.


Fotn: Jean Udm.
Colheiw 307

Ajuste da posição dos fusos em relação às barras do tambor - Essa


rcgulagem é importante a fim de limitar os riscos de incêndio; caso os
fusos toquem essas barras, podem provocar faíscas e início de
incêndio no cesto da máquina.
Ajuste da altura do tambor (corpo da colheita) - A regulagem se
ajusta de acordo com a variedade (pegamento das cápsulas) e as
condições gerais do talhão. Por exemplo, se as plantas tiveram
cápsulas para colher próximas ao chão, deve-se abaixar o tambor, isso
se o relevo não fo r muito desuniforme. Caso as cápsulas estejam mais
altas, os tambores serão ajustados para ficarem mais altos.
Lubrificação - Para evitar problemas de perdas e contaminação no
momento da colheita, no fim de cada dia de trabalho as colheitadeiras
são lubrificadas e, posteriormente, lavadas de modo a, no dia seguinte,
estarem prontas para iniciar os trabalhos, sendo necessário realizar
somente as regulagens diárias.

Umidade na col heita


Na colheita mecânica, deve-se estar atento ao teor de umidade
do algodão em caroço, que não pode ultrapassar 11-12% para poder
ser armazenado em fardões; portanto, a colheita deverá ser inici°ada
depois de o orvalho desaparecer e acabar antes de este ressurgir. Caso
o algodão seja colhido com umidades superiores, ele será transportado
diretamente para a unidade de descaroçamento, sendo imediatamente
processado, usando-se secadores.
Colher algodão com alto teor de umidade pode ser prejudicial à
qualidade da fibra por diversas razões. Durante o transporte, o algodão
se acomoda em blocos compactados, e, durante o beneficiamr;nto. a
quebra das fibras pode acontecer. O algodão com orvalho ou excesso de
umidade, superior a 12%, pode favorecer a fem1entação, com
consequente perda de qualidade da fibra e do caroço.

Armazenamento do algodão
No caso dos fardões elaborados com prensas (Figu1a 14.12), a
limpeza do solo onde eles vão ser constituídos é importante para não
contaminar a sua base. Os pés de algodão são cortados com facão.
308 Be/01 e Vilela

onde a prensa é posicionada. Qua ndo elaborado, o fardão é coberto


por uma lona, amarrado com corda e de ixado no local até o seu
transporte para a algodoeira. É importante visto ria r periodicamente
esses fa rdões deixados na lavoura, a fim de de tectar eventual início de
incêndio, que pode se revelar até quatro ou c inco dias depois da
colhe ita, ou para evitar fo nnentações no caso de uma colheita úmida.

Figura 14.12 - Algodão colhido e armazenado em fardões.


Fotos: Jean Belot.

Em se tratando dos fardinhos elaborados pelas máquinas JD


7760 (Figura 14. 13), é importante que o operador os descarregue na
beira do talhão, a fim de não prejudicar as operações de destruição de
soqueira que são realizadas na sequê ncia.

Figura 14.13 - Algodão armazenado na fom1a de fardinhos.


Foto: Jean Belot.
Colheita 309

Na lavoura, ou nos pátios das algodoeiras, é recomendado que


se armazenem os rolinhos/fardões em pilhas descontínuas, a fim de
limitar a propagação do fogo em caso de incêndio. Deve-se evitar
armazená-los abaixo de linha de energia elétrica.
O armazenamento em módulos compactados é uma prática
que foi criada para solucionar um problema de tempo entre os
processos de colheita e o beneficiamento. Portanto, é indispensável
que esses fardões sejam vistoriados diariamente por um encarregado
da fazenda, que verifica se a lona está rasgada, se está pegando fogo ,
registrando a umidade e temperatura deles, a fim de programar a
sequência de fardos a serem beneficiados.
Umidade e temperatura podem afetar significativamente a
qualidade da fibra e do caroço (Figura 14.14).
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Figura 14.14 - Efeito da temperatura e da umidade dos fardões sobre a


germinação da semente.
Fonte: ROBERTS cl ai., 1996.
310 Belot e Vilela

Acima de 32.2 º C existe degradação da semente, com


diminuição da germinação. Algodão cm caroço com umidade acima
de 14% também sofrerá com a degradação da semente, acarretando
grandes consequências se o objetivo for a produção de sementes.
Quanto ao transporte, o maior problema é quando o
transmódulo pega o fardão na lavoura e passa para a carreta levá-lo ao
beneficiamento, pois, neste momento, ele pode se quebrar, uma vez
que a pressão realizada pela prensa acaba sendo alterada com esse
manuseio.

Manutenção das máquinas e segurança


durante a colheita
Manutenção anual das máquinas
Grandes problemas de falhas prematuras e de baixa
performance poderiam ser evitados se as pessoas encarregadas pelo
maquinário optassem por fazer o uso co1Teto dos manuais técnicos dos
equipamentos. Esses manuais revelam paiticularidades, como
especificações de lubrificantes, produtos nocivos à pintura, chapas
metálicas ou plásticas, bem como a maneira correta de limpeza e
manutenção da eletrônica embarcada, cada vez mais presentes nos
equipamentos agrícolas. Neles constam também informações sobre a
frequência das manutenções e consumos de combustíveis e
água/detergente para o sistema umidificador, entre várias outras.
As manutenções anuais devem ser realizadas nas revendas
autorizadas, ou com mecânicos devidamente treinados, a fim de não
pôr em risco a duração útil dessas máquinas extremadamente
onerosas.

Segurança da máquina e dos operadores


As colheitadeiras de algodão são máquinas complexas,
delicadas, caras e perigosas quando funcionam ; por isso, merecem
atenção particular para a sua manutenção e durante o seu uso. É
Colheita 31 1

imprescindível a capacitação dos operadores por meio de


treinamentos, cursos ministrados pelos fabricantes , por escolas
especializadas ou por assoc iações de produtores.
Recomenda-se que a máquina, quando em funcionamento,
seja acom panhada ao longo do dia por um tanque de água, caso ocorra
um início de incêndio. O custo dessa operação é muito baixo em
relação ao valor de uma colheitadeira.
Durante a colheita, os operadores das máquinas devem seguir
as seguintes regras de segurança:
• Ninguém pode permanecer na plataforma da máquina quando esta
estiver em funcionamento.
• Prestar atenção aos operários que ficam na lavoura quando
manobram.
• Não operar a máquina quando o cesto é levantado.
• Levantar os tambores ao máximo quando manobram.
• E1n te1Tenos irregulares, a máquina deve ser conduzida em marcha
lenta.
• Evitar frear bn1scamente, podendo ocasionar danos nos tambores.
• Não realizar lubrificação ou limpezas embaixo da máquina com o
motor ligado. A única exceção é quando se usa o controle remoto
para acionar as cabeças de colhei ta para inspeção.
• Não operar a máquina sem as placas de proteção e extintores em
perfeito estado de funcionamento.
• Limpar fo lhas secas e algodão eventualmente presentes no motor, a
fim de evitar incêndios.
• Não tentar apagar o fogo no cesto. Derramar imediatamente o
algodão no chão.

Conclusão
A colheita é só uma das etapas-chave para a preservação da
qualidade da fibra produzida na lavoura. Essa etapa deve ser
totahnente integrada ao processo de beneficiamento do algodão, j á que
esse processo deve ser adequado ao tipo de algodão em caroço
produzido e ao tipo de fibra que a usina quer obter.
312 Belot e Vilela

Um algodão convencional colhido em condições ótimas com


Picker e outro cm sistema "adensado" colhido com Stripper não
podem ser beneficiados com os mesmos processos, sendo a sequência
das máquinas (1 impadores, secadores, stick machine, descaroçadores
etc.) totalmente diferente, principalmente em relação aos limpadores
de algodão em caroço e de fibra.
A organização da colheita e o dimensionamento do parque de
máquinas da fazenda são elementos fundamentais para poder
preservar a qualidade da fibra durante a colheita.

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Botânica 59

11
6 ra mo frutífero
17 5º ramo frutífero

1? 3º ramo frutífero
2º ramo frutífero
13 1º ramo fn1tífcro

Figura 3.6 - Representação gráfica do aparecimento de flores com


índice filotáxico 2/5.
Fonte: PASSOS, 1977 citado por BELTRÃO et ai., 2008.

Fruto
O fruto , que apresenta de três a cinco lóculos, é formado a
partir do ovário, após o processo de fecundação (Figura 3. 7).
Quando jovem, é chamado de maçã e, depois que se abre, de
capulho . Cada lóculo geralmente contém seis a o ito sernentes,
cujo peso, associado ao das fibras, é chamado de peso de capulho,
sendo um dos principais co1nponentes de produção. O fruto
também pode ser denominado de carimã, que é o fruto
mumificado. Tal s ituação ocorre devido ao ataque de pragas e, ou,
condições climáticas adversas (Figura 3. 7).
Variedades tra11sgê11icas e se11 manejo 143

O primeiro algodão transgênico Bt comercial é conhecido


com Bollgard ou Bollgard l e foi gerado em 1989 e liberado para
comercialização nos EUA e na Austrália em 1996/97. A liberação do
algodoeiro Bollgard no Brasil ocorreu em 2005 e foi o primeiro
cultivar geneticamente modificado utilizado em escala comercial
no Brasil. O algodoeiro com gene CIJ' 1Ac, que confere resistência à
parte das lagartas que atacam o algodoeiro no Brasil, como a
curuquerê e a lagarta rosada. Porém, não confere um controle
eficaz de outras lagartas importantes, como Spodoptera e a recém-
introduzida Helicoverpa armigera.
Uma segunda geração de algodões resistentes a lagartas está
disponível. Essa nova geração envolve os algodoeiros resistentes a um
maior número lepidópteros, incluindo as principais lagartas-praga. Ela
se inicia com a liberação em 2002, nos EUA e Austrália, do evento
denominado Bollgard II, proveniente da retransformação do Bollgard
I e que contém os genes c,yJAc e cry2Ab. Outro representante da nova
geração é o algodoeiro WideStrike, que possui os genes c,y1Ac e
c,yJF.
Além das toxinas Cry, a proteína V IP também confere ao
algodoeiro resistência a insetos. Um evento denominado VipCotton
que contém a toxina Vip 3A foi aprovado para cultivo nos EUA,
em 2005 . As toxinas Vip são originalmente produzidas em B.
tlmringiensis e em B. cereus, sendo sintetizadas e secretadas para o
meio externo durante o crescimento vegetativo da bactéria. As
proteínas VIP também precisam ser processadas por proteases do
intestino dos insetos para se tornarem ativas. O seu modo de ação é
menos conhecido que o das toxinas Cry. Sabe-se que ocorre a ligação
da proteína à membrana em sítios diferentes daqueles reconhecidos
pelas Cry, formação de poro e morte das células. A terceira geração de
algodoeiros resistentes a lagartas incluirá os genes C1y da segunda
geração com o gene Vip. Deverão chegar ao mercado no médio prazo.

Manejo de variedades transgênicas


O conceito do manejo integrado das cultu ras envolve a
combinação das mais eficientes tecnologias disponíveis para atingir o
controle das pragas, doenças e invasoras. Isso normalmente inclui a
Variedades tra11sgê11icas e seu manejo 145

Manejo das variedades resistentes a insetos


Os algodoeiros resistentes a insetos também devem ser
adequadamente manejados para que os benefícios advindos dessa
tecnologia sejam duradouros. O principal problema com o uso
inadequado dos algodoeiros transgênicos será o desenvolvimento de
populações de insetos resistentes às toxinas. As variedades Bt
expressam a toxina no tecido vegetal durante todo o ciclo da cultura,
expondo várias gerações da praga à toxina. Devido ao aumento do
tempo de exposição do inseto à toxina, o risco de aparecimento de
populações de insetos resistentes é relativamente alto. Estima-se que
menos de O, 1% dos indivíduos das populações das lagartas possui
genes que conferem resistência às toxinas. Devido à baixa frequência,
esses indivíduos não causam maiores problemas. Porém, o cultivo de
algodoeiros transgênicos resistentes às pragas em grandes extensões
cria condições para que ocorra uma seleção dos insetos resistentes,
aumentando sua frequência na população. Caso não se adotem
medidas que diminuam a pressão de seleção, após algumas gerações
os insetos resistentes, antes raros, podem se tornar predominantes.
Esse problema é maior quando o inseto se alimenta exclusivamente de
algodão, como é o caso do curuquerê e da lagarta-rosada, ou quando o
hospedeiro alternativo também possui o mesmo gene, caso de
Spodoptera em países que cultivam milho e soja transgênicos
portadores da mesma toxina empregada em algodoeiros.
A medida mais eficiente para evitar ou retardar o
desenvolvimento da resistência dos insetos à toxina é o uso da
estratégia de refúgio. Refúgios são áreas cultivadas com algodoeiros
não resistentes a insetos nas proximidades ou dentro de áreas
cultivadas com algodoeiros transgênicos resistentes a insetos. Ao
serem implantados, os refúgios permitem que os insetos suscetíveis à
toxina cresçam e se reproduzam. Esses insetos produzidos nas áreas
cultivadas com o algodoeiro resistente e o não resistente aos insetos se
acasalarão. Como os genes de resistência do inseto ao Bt são. de modo
geral, recessivos, a progênie produzida pelo cruzamento entre um
indivíduo resistente ao bt com outro suscetível será suscetível à toxina
bt. Para que o acasalamento ocorra é necessário que a dtstância entre
os locais em que os dois tipos de algodoeiro estão p!ant<1dos seja
Reguladores de cresci111e11to
18 l

----
lndll•--
,__ 1

Figura 9. 1 - Detalhe da localização da última flor creme, em relação


ao número de nós acima desta.
Ilustração: Nilton Pires de Araújo.

A primeira aplicação deve ser feita com base no crescimento


das plantas. Considerarmos a altura das plantas, recomenda-se a
primeira aplicação quando estas atingirem entre 0,30 e 0,35 m, em
cultivares com crescimento inicial muito vigoroso, como BRS 269 -
Buriti, FMT 709, BRS 37 1 RF, FMT 701, F iberMax 975 WS; em
cultivares com crescimento menos vigoroso, como BRS 369 RF, FMT
523 e FiberMax 966 LL, devendo a primeira aplicação ser feita
quando a altura das plantas estiver entre 0,40 e 0,45 m. Normalmente,
a primeira aplicação coincide com os estádios B l e F 1, ou seja, entre o
aparecimento dos primeiros botões florais e o das primeiras flores. A
tomada de decisão sobre o momento da primeira aplicação também
pode ser baseada no nú1nero de nós da haste principal. Em cultivares
de crescimento vigoroso, a primeira ap licação deve ser fei ta quando as
plantas apresentarem de seis a oito nós, e, em cultivares de porte mais
baixo e com crescimento menos vigoroso, de oito a dez nós acima do
nó cotiledonar.
Botânica 63

O estádio mais sensível ao déficit hídrico é o reprodutivo


(floração e formação das maçãs), no qual o déficit ou excesso hídrico
pode provocar abscisão das estruturas reprodutivas, reduzindo a
produtividade da cultura. A frutificação do algodoeiro se dá por
etapas, permitindo certa tolerância a curtos períodos de deficiência
hídrica. Existe correlação positiva entre altura da planta de algodão
nas primeiras folhas e a produção final do algodoeiro, sugerindo que
um estresse hídrico moderado antes do florescimento favoreça o
aumento de produtividade (BEZERRA et al., 1999). Pereira et al.
(1988), estudando déficit hídrico moderado no algodoeiro, verificaram
que, na fase inicial, o déficit não resultou em decréscimo de
produtividade e que as fases mais sensíveis foram as de florescimento
e frutificação.
Sob deficiência hídrica, pode haver redução do diâmetro do
caule, da altura das plantas e consequentemente da produtividade
(CORDÃO SOBRINHO et al., 2007). Oliveira et ai. (1999)
verificaram que a tensão de 200 kPa foi a tensão que proporcionou
maior produtividade do algodoeiro. Manir et al. (2000) verificaram
que o déficit hídrico reduziu a atividade da enzima nitrato redutase,
quando o potencial hídrico foliar atingiu -1,5 MPa. Limitações
hídricas podem reduzir a produtividade por comprometer as trocas
gasosas, o crescimento e a atividade de diversas enzimas na planta.
Para fins de econon1ia de água e melho1ia da qualidade da
fibra, é importante a definição do melhor momento para interromper
as irrigações. A interrupção precoce afeta a fotossíntese e a elongação
da fibra, comprometendo a produtividade e a qualidade da fibra. A
interrupção da irrigação tardiamente pode levar ao prolongamento do
ciclo e maior consumo de água sem acréscünos de produtividade e
com possibi lidade de redução da qualidade da fibra pelo excesso de
umidade nos capulhos da porção inferior da planta (OLfVEIRA et ai.,
1999; BRADOW; DAVIDON1S, 2000; LUZ et al., 2003).
A temperatura influencia todas as fases do desenvolvimento
da planta. As diferenças de ciclo de um mesmo cultivar quando
cultivado na região sudoeste e meio norte de Mato Grosso podem ser
atribuídas às diferenças de temperatura das regiões, sendo a
temperatura basal da cultura de 15 ºC (ROSOLEivl, 2007). Durante a
genninação e emergênc ia, baixas temperaturas podem prejudicar a
absorção de água pela semente e emissão da radíc ula. A absorção de
31 I

imprescindível a capacitação dos operadores por meio de


treinamentos, cursos ministrados pelos fabricantes, por escolas
especializadas ou por associações de produtores.
Recomenda-se que a máquina, quando em funcionamento ,
seja acompa nhada ao longo do dia por um tanque de água, caso ocorra
um início de incêndio. O custo dessa operação é muito baixo em
relação ao valor ele uma colheitadeira.
Durante a col heita, os operadores das máquinas devem seguir
as seguintes regras de segurança:
• Ninguém pode permanecer na pl ataforma da máquina quando esta
estiver em funcionamento.
• Prestar atenção aos operários que ficam na lavoura quando
manobram.
• Não operar a máquina quando o cesto é levantado.
• Levantar os tambores ao máximo quando manobram.
• Em terrenos irregulares, a máquina deve ser conduzida em marcha
lenta.
• Evitar frear bruscamente, podendo ocasionar danos nos tambores.
• Não realizar lubrificação ou limpezas embaixo da máquina com o
motor ligado. A única exceção é quando se usa o controle remoto
para acionar as cabeças de colhei ta para inspeção.
• Não operar a máquina sem as placas de proteção e extintores ern
perfeito estado de ·funcionamento.
• Limpar folhas secas e algodão eventualmente presentes no motor, a
fim de evitar incêndios.
• Não tentar apagar o fogo no cesto. Derramar imediatamente o
algodão no chão.

Conclusão
A colheita é só uma das etapas-chave para a preservação da
qualidade da fibra produzida na lavoura. Essa etapa deve ser
totalmente integrada ao processo de beneficiamento do algodão, já que
esse processo deve ser adequado ao tipo <le algodão cm caroço
produzido e ao tipo de fibra que a usina quer obter.
Man ejo da irrigação 289

Tabela 13.2 - Ciclo fenológico do algodoeiro em suas diversas fases


de desenvolvimento
Duração da Fase Fenológica (dias)
Culti vares
Fase I Fase II Fase 111 Fase rv
BRS 200 - Marrom 15 39 31 20
BRS 187 - 8H 16 29 39 24
BRS 286 16 31 39 17
Fonte: BEZERRA et ai., 201 O; BEZERRA et ai, 2012; PEREIRA et ai., 2012.

Os valores de coeficiente de cultivo (Kc) para esses cultivares,


nas fases inicial (Kcini), média (Kcme<l) e final (Kcfin), podem ser
observados na Tabela 13 .3 .

Tabela 13.3 - Valores de coeficiente de cultivo (Kc) para as diversas


fases do ciclo fenológico de cultivares de algodoeiro
herbáceo
Fase Fenológica
Cultivares
Inicial Média Final
BRS 200 - Marrom 0,70 1,0 l 0,99
BRS 187-8H 0,75 1,09 0,80
BRS 286 l,00 1,05 1,03
Fonte: BEZERRA et ai., 2010; BEZERRA et ai., 20 12; PERElRA et ai., 2012.

A partir das informações disponibilizadas nas Tabelas 13.2 e


13.3, é possível construir a curva de coeficiente de cultivo (Figura
13.2), em função da duração das fases fonológicas e dos coeficientes
nas fases inicial, médfa e final.
Man ejo da irrigação 291

calor no solo (G), energia armazenada na copa das árvores (S) e


energia utilizada no processo fotossintético (P). De acordo com
Heilman et ai. ( 1994), do ponto de vista do balanço de energia de
um dossel vegetal, a energia armazenada da copa das árvores e a
utilizada no processo fotossintérico podem ser negligenciadas
devido à sua pequena representatividade em relação ao saldo de
radiação e à sua difícil contabilização. Portanto, de forma
simplificada, o balanço de energia pode ser dado pela equação
proposta por Rosenberg et al. (1983):
Rn + LE + H + G = O
em que: Rn é o saldo de radiação (W m-2); LE, o fluxo de calor latente
(W m·2); H, o fluxo de calor sensível (W m-2); e G, o fluxo de calor no
solo (W m-2).

A razão entre os fluxos de calor sensível e calor latente foi


'
proposta por Bowen em 1926, como forma de estudar o fracionamento
da energia disponível, possibilitando o cálculo da evapotranspiração.
A razão de Bowen (P) é inferida pelas medições das diferenças médias
de temperatura e umidade através de uma distância vertical fixada
acima de uma superfície homogênea qualquer (CARDOSO et al.,
2005). De acordo com Rosenberg et al. (1983), a razão de Bowen
pode ser estimada pela expressão:

y(
p _!!._ _ Kh J11T
LE Kw ó.e
Para Verma et al. (1978), na ausência de advecção de calor
sensível e em condições de neutralidade atmosférica, Kh Kw =
portanto, a razão de Bowen pode ser assim escrita:

p= y 11T
!ie
em que: Pé a razão de Bowen; y, a constante psicrométrica (kPa 0 c ·1);
L1T, a diferença de temperatura do ar, medida em dois níveis acima da
superfície vegetada (ºC); e L1e, a diferença de pressão parcial do vapor
d'água atmosférico, medido em dois níveis acima da vegetação (kPa).

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