Você está na página 1de 289

Fernando Santos

Aluízio Borém
Sumário
Prefácio, 7

Capítulo 1
Planejamento da Lavoura, 9

Capítulo 2
Plantio, 29

Capítulo 3
Nutrição e Adubação, 66

Capítulo 4
Manejo de Pragas, 94

Capítulo 5
Manejo de Doenças e Medidas de Controle, 108

Capítulo 6
Plantas Daninhas, 139

Capítulo 7
Irrigação, 177

Capítulo 8
Colheita, 208

Capítulo 9
Enfardamento de Palha, 255

Capítulo 10
Qualidade da Cana-de-Açúcar para Processamento Industrial , 277
Prefácio
As plantações de cana-de-açúcar já são conhecidas dos
brasileiros há quase cinco séculos. Naquele começo, rapadura,
cachaça e açúcar mascavo eram produtos especiais. Há quase um
século, o Brasil tem carros movidos a álcool. E, no mesmo período, o
país vem sendo um importante player global na produção e exportação
de açúcar. Mas foi nos últimos 35 anos que o setor experimentou seu
mais impressionante salto de produção e produtividade, com base em
um progresso tecnológico absolutamente espetacular. O Proálcool,
maior programa global de alternativa energética resultante dos
"choques do petróleo" dos anos 1970, deu uma nova feição à cadeia
produtiva canavieira. Logo em seguida, a instituição do pagamento da
cana pelo teor de sacarose produziu uma das maiores revoluções
tecnológicas do agronegócio do século XX: novas variedades
desenvolvidas, diferentes tratos culturais, novas épocas de plantio e
colheita, outras fónnulas de adubação, nova mecanização; e
implantação de técnicas vigorosas em cada segmento da agroindústria.
Essas mudanças fizeram o Brasil se transformar, de forma sustentável
e altamente competitiva, no maior exportador mundial de açúcar e
etanol.
Os horizontes para o futuro são ainda mais promissores: a
chamada "economia verde", terminologia repetida à exaustão nos
grandes encontros dos maiores líderes mundiais, abre espaços
monumentais para a agroenergia, seja para os biocombustíveis, seja
para a bioeletricidade, seja para o uso do bagaço peletizado como
alternativa à lenha em lareiras nos países frios. E não há um único
tema desses que não esteja muito bem tratado neste oportuno e
importante livro. Neste momento da trajetória humana, em que o
aquecimento global é um grande problema, a cadeia produtiva da cana
tem um papel que transcende as fronteiras nacionais. Contudo, há um
aspecto preocupante em tudo isso: a falta de coordenação de políticas
para o setor, tanto em âmbito público quanto privado.
Até hoje não definimos quanto etanol queremos ou vamos
produzir, em que tempo e para qual mercado - interno ou e terno.
Não temos modelos de contrato de longo prazo. Não sab mos qu m
vai cuidar da logística, da estocagem, dos contratos de produção e da
certificação do produto final. Não temos coordenação nas áreas de
desenvolvimento tecnológico e formação de recursos humanos. Não
há definição do futuro do álcool hidratado. Nada se organiza sobre a
questão alimentos x energia, tema ridículo que continua na mídia por
causa de interesses menores de outros setores. O sistema de produção,
tão bem caracterizado por Barbosa Lima Sobrinho, no Estatuto da
Lavoura Canavieira, nos anos 40 do século passado, virou poeira com
a extinção do IAA. O fornecedor de cana, que "entrega" sua produção
à usina, e não a vende, tem uma posição muito desconfortável no elo
da cadeia produtiva, porque não pode escolher a quem vender: só pode
fazê-lo para uma indústria próxima da sua área agrícola. Isso
desnivela a cadeia produtiva. E falta arbitragem no processo, desde o
fim do IAA, embora o Consecana seja um bom começo de conversa.
Enfim, num segmento tão promissor para o Brasil, em um
momento tão importante, a falta de coordenação pode inibir o avanço
que o País pode ter, até mesmo liderando uma mudança na geopolítica
global, exportando tecnologia para os países tropicais pobres da
América Latina, África e Ásia produzirem agroenergia, associada a
alimentos. Por tudo isso, é uma grande notícia o lançamento deste
livro esclarecedor, escrito por algumas das maiores autoridades em
cada um dos temas tratados.
Os editores.
PLANEJAMENTO DA
LAVOURA 1
Fernando Bom.fim Margarido 1
Fernando Santos2

Introdução
Nos dias de hoje, os riscos em administração são bem
menores que antigamente. Entretanto, a responsabilidade é bem maior,
exatamente pelos processos tecnológicos que cercam uma decisão
administrativa. De acordo com a definição clássica de administração,
pode-se dizer que administrar é planejar, organizar, dirigir e controlar.
Considerando-se essa definição, o planejamento significa decidir
antecipadamente o que deve ser feito para alcançar determinado fim,
ou seja, maxnruzar o rendimento agrícola e industrial e,
consequentemente, os lucros. Esse é o ponto de partida para um bom
gerenciamento.
O setor sucroenergético brasileiro está em um de seus
melhores momentos. Houve modificações importantes na dinâmica
desse setor, tendo como consequências a diminuição da
competitividade das unidades industriais, a expansão do cultivo da
cana-de-açúcar e a adequação das estratégias adotadas pelas empresas.
Neste capítulo será abordado o planejamento agrícola por meio do
conhecimento técnico voltado para as práticas operacionais. Trata-se,
portanto, de uma visão simplificada do planejamento.

1
Engenheiro-Agrônomo e Sócio da M.S. Agro - Consultoria e Assessoria cm Gestão Jo
Agronegócio. E-mai l: Fcmando.margarido@msagro.com.br
2
Engenheiro-Agrônomo, M.S. e D.S. cm Oioquímica Agrícola. Universidade Federal de , ,·,.~isa.
E-mail : fa lmcidasantos8 1@yahoo.com.br
10 Margarido e Santos

Planejamento Agrícola
A principal função de um gerente agrícola é o fomento da
atividade. O fomento agrícola nada mais é do que a garantia de
fornecimento de matéria-prima para a indústria, o que envolve, no
caso da cultura da cana-de-açúcar, produção agrícola, conservação e
preparação do solo, plantio, tratos culturais da cana-planta, colheita,
tratos culturais da cana-soca e o abastecimento da usina com matéria-
prima durante o período de safra. O abastecimento se refere não só à
quantidade total de cana a ser moída durante a safra, mas também ao
abastecimento hora a hora, envolvendo o conceito de logística em
todo o canavial, observando-se o dimensionamento de máquinas e a
disponibilidade de pessoas. Além disso, segundo Magalhães et al.
(201 O), o gerente agrícola deverá contribuir para atender a um
conjunto de metas estratégicas:
(i) aumentar a produtividade média atual, que é de 85
toneladas por hectare (MAPA, 2012);
(ii) atingir entre 120 e 150 toneladas por hectare em 20 anos;
(ii) reduzir 30% no custo da produção da biomassa nos
próximos anos, com a aplicação de novas tecnologias; e
(iii) preservar o ambiente com manejo agrícola, redução dos
impactos negativos causados pelo preparo intensivo de solo e melhor
aproveitamento, para fins energéticos, da biomassa produzida.
O sistema de produção agrícola tem relevância para o
planejamento estratégico das unidades produtoras de açúcar e etanol,
pois permite presumir a produtividade, o annazenainento e a
comercialização dos produtos finais. Atualmente, o custo do cultivo
de cana-de-açúcar representa aproxin1adamente 60% do custo total da
produção de etanol e açúcar. Desses, mais de 60% se referem ao
manejo agrícola.
Segundo Pinazza ( 1985), os elevados índices de produtividade
agrícola devem-se a quatro fatores básicos: físicos, estruturais,
institucionais e de desenvolvimento. Os fatores fisicos representam as
condições edafoclimáticas de uma região e a exploração dos produtos
agrícolas. Os institucionais envolvem a ação governamental por meio
das políticas agrícolas implantadas. Já os de desenvolvimento estão
Planejamento da lavoura 11

relacionados ao sistema de pesquisa, em razão da capacidade de os


conhecimentos gerados possibilitarem incrementos na produtividade.
Os fatores estruturais são o sistema gerencial adotado, que influi
decisivamente no desempenho operacional e estratégico de uma
unidade de produção.
O planejamento agrícola obedece ao planejamento industrial
e, portanto, o ponto de partida é a intenção de moagem para as
próximas três safras. É importante saber que o setor agrícola exige
planejamento com, no mínimo, dois anos de antecedência, pois é
necessário fazer contratos de parceria, preparar o solo e esperar o
crescimento da cana. Ressalta-se que o primeiro corte é feito, em
média, um ano e meio após o plantio.

Planejamento de Plantio
No planejamento de plantio, é importante o conhecimento do
potencial produtivo da região, tanto em relação ao clima como em
relação à qualidade do solo e aos recursos disponíveis para a produção
(uso de vinhaça, irrigação e adubação). Esse conhecimento é
fundamental para o sucesso do ciclo da cana-de-açúcar e,
principalmente, por ocasião da implantação de unidade de produção.
No caso de uma unidade nova, basta observar o histórico de
produtividade dos últimos cinco ou seis anos, no máximo, uma vez
que o comportamento das variedades já não é o mesmo.
A questão técnica é muito importante, pois é necessário o
levantamento da quantidade de terras agricultáveis disponíveis de seus
potenciais produtivos, das oportunidades de mercado regional em
relação à aquisição de matéria-prima, das opções de arrendamento ou
parceria, do zoneamento edáfico ( classificação em ambiente de
produção), da topografia (viabilidade de colheita mecânica), das
características climáticas da região (temperatura, precipitação,
luminosidade, fotoperíodo, balanço hídrico e ocorrência de geadas) e
do aspecto viário da região, visando ao escoamento da produção. Há
casos em que esses fatores inviabilizam uma unidade de produção,
con10 a instalação de um pedágio logo após um grande rio, elevando o
custo do transporte, e a proibição da queimada de cana em áreas com
declividade acima de 12% ou com pedras. É interessante notar que,
12 Margarido e Santos

para a produção de cana, no passado, a fertilidade do solo era o único


fator determinante do valor da propriedade, mas atualmente a
topografia e obstáculos na área passaram a ser também determinantes.
Na Tabela 1.1, apresenta-se o exemplo de um canavial
equilibrado, considerando-se a produtividade média teórica do local e
as áreas com igual tamanho em cada categoria de corte.

Tabela 1.1 - Sistema de produção de cana-de-açúcar em equilíbrio


Corte Produtividade (t ha-1) Area (ha) Produção (t)
Cana-planta 4.100,00
1º corte 120,00 4.100,00 492.000,00
2° corte 100,00 4.100,00 410.000,00
3° corte 92,00 4.100,00 377.200,00
4° corte 81,00 4.100,00 332.100,00
5° corte 73,00 4.100,00 299.300,00
Demais cortes 66,00 2.050,00 135.300,00
26.650,00 2.045.900,00

Para se fazer um estudo em determinada região, é importante


considerar a produtividade local. As produtividades utilizadas se
referem às médias da região norte do Estado de São Paulo, região da
Alta Mogiana.
Na Tabela 1.2, considera-se que a cana de primeiro corte seja
usada para plantio e, com a produção de 1 ha de muda, seja possível o
plantio de 7 ha. Vale a pena ressaltar que, com o advento do plantio
mecanizado, o consumo de muda tem aumentado, passando a relação
média de "1 para 7" para algo em tomo de "l para 4". Nesse caso, a
área onde se faz o primeiro corte é menor.
Observa-se que a área de primeiro corte a ser colhida din1inui
pelo fato de ser utilizada parte da área (1/7, em média) para muda de
plantio da cana-planta.
Para melhor visualizar o planejamento agrícola, será adotada a
construção hipotética de uma nova unidade industrial com capacidade
tota] de moagem de 2.000.000 de toneladas de cana-de-açúcar e diária
Pla11eja111e11to da lavoura 13

de 12.000 toneladas. Nesse caso, vários fatores devem ser


considerados no planejamento, como condições fisicas e
edafoclirnáticas da região, sistema de plantio, tratos culturais e
colheita.

Tabela 1.2 - Sistema de produção de cana-de-açúcar em equilíbrio,


considerando-se a produção de mudas
Corte Produtividade {t ba-1} Area (ha) Produção (t)
Cana-planta 4.100,00
1º corte 120,00 3.514,29 421.714,29
2º corte 100,00 4.100,00 410.000,00
3° corte 92,00 4.100,00 377.200,00
4° corte 81,00 4.100,00 332.100,00
5° corte 73,00 4.100,00 299.300,00
Demais cortes 66,00 2.050,00 135.300,00
26.064,29 1.975.614,29

As Tabelas 1.3 a 1.11 referem-se a um planejamento de


plantio visando à moagem de 2.000.000 de toneladas no prazo de
cinco anos. Nesse caso, verifica-se que o plantio inicial é grande
(7.500 ha), diminuindo um pouco no segundo e terceiro anos (5.000
ha), estabilizando-se no quarto ano (4.100 ha). O técnico responsável
pelo planeja1nento pode facilmente utilizar uma planilha de Excel e
fazer suas projeções, alterando áreas de plantio e produtividade para
obter a produção ano a ano.
No primeiro ano, é importante realizar um plantio maior do
que o do ponto de equilíbrio futuro. Em razão da necessidade da
indústria de moer quantidade maior já no primeiro ano, é importante
fazer um planejamento em função da evolução de moagem ano a ano.
14 J\tfargarido e Santos

Tabela 1.3 - Planejamento do primeiro ano de produção para a cultura


de cana-de-açúcar
Corte Produtividade t ha- 1 Arca ha Produ ão (t
Cana-planta 7.500,00
1º corte 120,00
2º corte 100,00
3° corte 92,00
4° corte 81,00
5º corte 73,00
Demais cortes 66,00
7.500,00

Tabela 1.4 - Planejamento do segundo ano de produção para a cultura


de cana-de-açúcar
Corte Produtividade (t ha· 1) Area (ha) Produção (t)
Cana-planta 5.000,00
1° corte 120,00 6.785,71 814.285,7 1
2° corte 100,00
3° corte 92,00
4° corte 81,00
5° corte 73,00
Demais cortes 66,00
11.785,71 814.285,71

No segundo ano, já é possível diminuir a área de plantio para


5.000 ha; mesmo assim, a área a ser plantada ainda é maior do que a
área de equilíbrio (em torno de 4.100 ha).
Planejamento da lavoura 15

Tabela 1.5 - Planejamento do terceiro ano de produção para a cultura


de cana-de-açúcar
Corte Produtividade (t ha· 1) Area (ha) Produção (t)
Cana-planta 5.000,00
l º corte 120,00 4.285,71 514.285,71
2° corte l 00,00 7.500,00 750.000,00
3° corte 92,00
4° corte 81 ,00
5° corte 73,00
Demais cortes 66,00
16.785,71 1.264.285,71

A partir do planejamento do quarto ano, o plantio se estabiliza


em tomo de 4.100 ha, mantendo-se a produção do canavial ao longo
do tempo.

Tabela 1.6 - Planejamento do quarto ano de produção para a cultura de


cana-de-açúcar
Corte Produtividade (t ha· 1) Area (ha) Produção ( t)
Cana-planta 4.100,00
1º corte 120,00 4.414,29 529.714,29
2° corte 100,00 5.000,00 500.000,00
3° corte 92,00 7.500,00 690.000,00
4° corte 81,00
5° corte 73,00
Demais cortes 66,00
21.014,29 l.719.714,29

Uma observação importante é que, no ano em que se diminui


muito o plantio de cana ou se reforma menos, há aumento
significativo da produção total no próximo ano, porém no segundo
ano ocorre redução drástica. fsso se deve a dois fatores: i) parte da

J
16 Margarido e Santos

cana de primeiro corte ( 1/7), que seria usada para muda, não é usada e,
portanto, passa a somar na safra seguinte; e ii) a própria reforma, que,
se não realizada, aumenta a área de corte para o ano seguinte.

Tabela l .7 - Planejamento do quinto ano de produção para a cultura de


cana-de-açúcar

Coite Produtividade {t ha-12 Area {ha2 Produção (t2


Cana-planta 4.100,00
l º corte 120,00 3.514,29 421.714,29
2º corte 100,00 5.000,00 500.000,00
3º corte 92,00 5.000,00 460.000,00
4° corte 81,00 7.500,00 607.500,00
5º corte 73,00
Demais cortes 66,00
25.114,29 1.989.214,29

Após o quinto ano, já é possível manter a área de equilíbrio,


pois dessa maneira já é atingida a produção planejada.

Tabela l.8 - Planejamento do sexto ano de produção para a cultura de


cana-de-açúcar

Corte Produtividade {t ha-12 Área (ha) Produção {t)


Cana-planta 4.100,00
1º corte 120,00 3.514,29 421.714,29
2º corte 100,00 4. 100,00 410.000,00
3º corte 92,00 5.000,00 460.000,00
4º co1ie 81,00 5.000,00 405.000,00
5º corte 73,00 7.500,00 547.500,00
Demais cortes 66,00
29.214,29 2.244.2 14,29

Verifica-se que, no sexto ano, mantendo-se o plantio dos


4 . 100 ha, já começa a produção superior a dois milhões de toneladas.
Planejamento da lavoura 17

Nesse caso, pode-se rever o planejamento e diminuir o plantio ou


mesmo mantê-lo, mas é preciso ter a consciência de se iniciar a safra
antes do programado, vender cana ou, mesmo, "bisar" cana.

Tabela 1.9 - Planejamento do sétimo ano de produção para a cultura


de cana-de-açúcar
Corte Produtividade {t ha- 12 Area {ha2 Produção (t)
Cana-planta 4.100,00
l º corte 120,00 3.514,29 421.714,29
2º corte l 00,00 4.100,00 410.000,00
3° corte 92,00 4.100,00 377.200,00
4° corte 81,00 5.000,00 405.000,00
5° corte 73,00 5.000,00 365.000,00
Demais cortes 66,00 3.750,00 247.500,00
29.564,29 2.226.414,29

Tabela 1.1 O - Planejamento do oitavo ano de produção para a cultura


de cana-de-açúcar
Corte Produtividade {t ha- 1) Area {ha) Produção {t)
Cana-planta 4.100,00
1º corte 120,00 3.514,29 421.714,29
2° corte l 00,00 4.100,00 410.000,00
3° corte 92,00 4.100,00 377.200,00
4º corte 81,00 4.100,00 332.100,00
5º corte 73,00 5.000,00 365.000,00
Demais cortes 66,00 2.500,00 165.000,00
27.414,29 2.07 l.0 14,29

Se se mantém o plantio de 4.100 ha, há tendência de


estabilizar novamente a produção nos 2.000.000 de toneladas de cana.
18 Margarido e Santos

Tabela 1.11 - Planejamento do nono ano de produção para a cultura de


cana-de-açúcar
Corte Produtividadc{t lrn· 1} Area {ha} Produção {t)
Cana-planta 4.100,00
l O corte 120,00 3.514,29 421.714,29
2º corte 100,00 4.100,00 4 10.000,00
3º corte 92,00 4. 100,00 377.200,00
4º corte 81 ,00 4.100,00 332.100,00
5° corte 73,00 4.100,00 299.300,00
Demais cortes 66,00 2.500,00 165.000,00
26.514,29 2.005.314,29

Após seis anos de plantio de 4.100 ha, ocorre a estabilização


do canavial.
O fator tempo é muito impmiante no planejamento de plantio.
No exemplo apresentado, verifica-se que, logo após a definição do
local de implantação de determinada unidade industrial, é necessário
iniciar o plantio, para que, após a finalização da construção da unidade
de produção, a cana já esteja pronta para ser moída. Nesse exemplo,
no primeiro ano de funcionamento da indústria, seriam moídas
800.000 toneladas de cana, passando para 1.250.000 toneladas no
segundo e 1.700.000 no terceiro ano, estabilizando-se a partir do
quarto ano em cerca de 2.000.000 de toneladas. O leitor pode estar se
questionando sobre o quinto e sexto anos, quando se tem uma
produção cerca de 10% superior à necessária para n1oagem. Nesse
caso, ou se inicia a moagem mais cedo, ou, dependendo da região,
vende-se a produção para outra unidade industrial. Pode-se evitar esse
tipo de situação plantando menos que os 4.100 ha do ano anterior.
Já o custo da operação de plantio depende basicamente de este
ser realizado mecânica ou manualmente, mas está em torno de
R$800,00 a R$2.000,00 por hectare. Esse custo elevado é
consequência da grande movünentação de solo e do alto consumo de
gemas por hectare (MAGALHÃES et al., 201 O).
Planejamento da lavoura 19

Planejamento e Manejo Varietal


Após a definição da área de plantio, é necessário escolher a
variedade a ser plantada. A definição de qual variedade plantar é uma
decisão técnica e administrativa. No campo técnico, determina-se qual
é o ambiente de produção onde vai ser plantada a variedade, dado pelo
tipo de solo (por meio de análise específica) e pelo clima da região. Já
no campo administrativo, é necessário observar que a época de
colheita da cana é definida em função do ciclo da variedade.
A escolha da variedade é o mais importante aspecto para alta
produção. O sucesso na produção de energia, etanol, açúcar e seus
subprodutos passa necessariamente pela qualidade da matéria-prima
(BARBOSA et al., 2012). A escolha da variedade é, ainda, a base de
todas as tecnologias de produção.
O manejo varietal é uma estratégia para obter ganhos gerados
da interação genótipo/ainbiente, ou seja, objetiva-se aproveitar ao
máximo o potencial de cada variedade, levando em conta as
especificidades e condições de cada ambiente de produção.
Assim, é de suma importância o conhecimento do ambiente de
produção onde se pretende instalar o canavial e do período da safra em
que será feita a colheita. Outros fatores devem ser levados em
consideração para a escolha da variedade, por exemplo:
(i) ténnino de conh·ato de parceria;
(ii) época de colheita das plantações de cana próximas;
(iii) localização da área (evitar canas tardias em locais com
risco de incêndio);
(iv) possibilidade de irrigação;
(v) ciclo da variedade (precoce, média ou tardia);
(vi) tipo de colheita (mecânica ou manual); e
(vii) ambiente de produção (a classificação de ambientes de
produção é função do potencial produtivo da variedade e do ambiente.
Tem-se dado preferência para canas de ciclo precoce a ambientes de
produção D e E; e para canas de ciclo tardio, a ambientes A e B. O
ambiente E é o de menor potencial produtivo).
20 Margarido e Santos

No planejamento e manejo varietal, além da produção de


colmos, deve-se levar em consideração a maturação das variedades.
Definida como processo fisiológico de transporte e armazenamento da
sacarose nas células parenquimatosas dos colmos, a maturação é
influenciada pelas condições edafoclimáticas. Considera-se que canas
a serem colhidas nos meses de abril, maio e junho são precoces; em
j ulho, agosto e setembro, de ciclo médio; e em outubro e novembro,
tardias (Tabela 1.12).

Tabela 1.12 - Épocas de colheita para a região centro-sul e ciclos de


cana-de-açúcar
Abril/Maio/Junho Julho/ Agosto/Setembro Outubro/Novembro
PRECOCE MÉDIA TARDIA

As curvas de maturação de cana precoce, média ou tardia são


muito semelhantes. Normalmente, a maior concentração de açúcares
ocorre no fim de agosto ou início de setembro, um pouco antes do
período chuvoso (região centro-sul), porém o que determina a
precocidade da cana é o fato de a variedade ser a mais rica naquele
período em relação às demais, ou seja, atinge a maturação antes das
demais variedades. Já a cana tardia mantém por mais tempo a
maturação após o início do período chuvoso e não " isopora".
Em geral, é recomendado o plantio de cerca de 40% de canas
precoces, 30% de canas médias e 30% de tardias, porém, por ocasião
do plantio, é necessário verificar a quantidade de cana plantada pelos
fornecedores para se adequar o plantio das canas próprias.
A Tabela 1.13 apresenta a recomendação de manejo das
principais variedades de cana-de-açúcar plantadas no Estado de São
Paulo. Esse tipo de tabela facilita a visualização das opções para
escolha da variedade.
--
--0
::'.:)
:::?
~
§.
Tabela 1.13 - Características das principais variedades de cana plantadas no Estado de São Paulo e ~
:::?
recomendações de manejo ã
§-
e
Época de Colheita '<::

Variedades Destaque
Ambiente de Produção
Outono Inverno Primavera -
o
t:5

abr. 1 maio I jun. 1 jul. ago. 1 s.!t. out. 1 nov.


SP79-101 l Colheitabilidade

SP80-1816* Soqueira,canacrua
SP80-1~42 Soqueira

SP80-3280* Soqueira
SP81-3250** 1 Riqueza e produtividade

SP83-2847 Rusticidade

SP83-5073 Riqueza, cana crua

SP87-365 1 Riqueza e produtividade

SP91-1049 Precocidade
---
CTC2* Soqueira

CTC4* 1 Riqueza e produtividade

Continua...
N
N
N

Tabela 1.13 - Cont.


Época de Colheita
Ambiente de Produção
\ ·aricdadcs Destaque Outono Inverno Prima,·e ra

abr. 1 maio I jun. jul. ago. set. out. 1 nov.

CTC6 Produtividade

CTC7 Precocidade

CTC9 Precocidade

CTCI 1 Produtividade

CTC15* Rusticidade e to!. a seca

CTCl7 Precocidade

CTCI9 Produtividade

CTC20 Produtividade

CTC2I * Brotação de soqueira

CTC24* 1 Soqueira excelente

1AC87-3396 1 Produtividade de soqueira ~


- ~
~
IAC91 - 1099 Produtividade de soqueira ::S.
~
IACSP93-3046 Soqueira (1:)

~
Conti nua ...
-
:::s
e
~
--§
-:,

~
~-
~
::::;
Tabela 1.13 -Cont. õ
Época de Colheita ~
Ambiente de Produção i5"
Variedades Destaque Outono Inverno Primavera ~
abr. 1 maio I jun. jul. 1 ago. 1 set. out. 1 nov.
-
::;
IACSP94-2094 Rusticidade
IACSP94-2101 Responsiva

IACSP95-3028 Superprecoce
IACS 1 • : , _
Riqueza e produtividade
50Ll0
- --
LA.CSP95-
Produtividade
5094*
IA CSP96-3060 Riqueza e produtividade
-
RB835054 1 Riqueza

RB835486** Alto teor de sacarose

RB855 156* Precocidade

R8 855453* Riqueza e precocidade

RB855536* 1 Brotação de soca


Continua ...

N
w
N
-+::-

Tabela 1.13 - Cont.


Época de Colheita
Ambiente de Produção
Variedades Destaque Outono Inverno Primavera

E abr. 1 maio I jun. jul. ago. set. out. 1 nov.

RB867515* 1 Rusticidade e produtividade


--
RB92579* Produtividade
RB928064 Porte ereto e brotação

RB935744 Ru~ticidade

RB965902"' Brotação de soqueira


RB965917* 1 Alta produtividade
--
RB966928* 1 Precocidade

Ambientes de Produção: A = solos de alto potencial a E = solos de baixo potencial.


Fontes: CTC, IAC e UFSCar.
~
* Variedades com programação de plantio em 2015. ~
** Variedades não recomendadas para plantio por incidência de doenças. ~
~
Cl
~

~
-
:::s
Cl
e..,
Planejamento da lavoura 25

Vale a pena ressaltar que as variedades possuem respostas


diferentes de acordo com o seu manejo e a região onde estão se
desenvolvendo. Por exemplo, a ferrugem, em algumas regiões,
manifesta-se de maneira menos branda, além de a época de corte
alterar sua incidência na mesma região. Outro exemplo: o uso de
irrigação pode alterar o desempenho de variedades que possuem
problemas de brotação.

Planejamento de Colheita
Atualmente, há no Brasil perspectiva de aumento significativo
de aéreas plantadas com cana-de-açúcar. A expectativa é de que
grande parte da cana cultivada deixe de ser queimada e passe a ser
colhida crua (mecanizada), deixando a colheita semimecanizada
apenas para locais de grande declividade e de difícil acesso para as
colhedoras. A prática da pré-limpeza da cana-de-açúcar com fogo
deve ser eliminada nos próximos anos. Desse modo, o planejamento
de colheita da cana-de-açúcar é muito importante para assegurar ao
canavial o melhor rendimento agrícola, pois dele depende o fomento
da indústria hora a hora e a garantia da máxima qualidade do canavial.
No planejamento, o dimensionamento dos recursos humanos
(cortadores de cana, tratoristas, motoristas etc.) e matena1s
(caminhões, guinchos, colhedoras, transbordas, caminhão-oficina,
bombeiros e tratores) é de extrema importância. Um dimensionamento
adequado é determinante do sucesso ou fracasso do fomento, bem
como do lucro ou prejuízo da operação. Como a colheita influencia o
custo total da matéria-prima e, consequentemente, o custo final do
açúcar e do etanol, um dimensionamento adequado dessa atividade
resultará em baixo custo da operação. Sabe-se que um equipamento
traz maior lucro quanto maior é seu rendimento operacional e que
máquina parada é custo sem receita; assim, quanto mais justa for a
estrutura disponivel, maior será a rentabilidade da atividade. O
tamanho da fila de caminhões ou a falta de cana com que carregá-los,
durante a safra, diz muito sobre a eficiência do serviço e a
rentabilidade da atividade. O gerente experiente que vê uma fila de
caminhões para descarregar cana em determinada unidade industrial
pergunta primeiro se houve quebra na usina, depois verifica se as
26 Margarido e Santos

frentes de serviço estão próximas e, caso elas estejam, conclui que há


excesso de caminhão no transporte da cana. Isso é o mesmo que dizer
que seus caminhões estão operando abaixo da capacidade.
O dimensionamento não pode ser superestimado, a ponto de
criar ociosidade de funcionários e máquinas, encarecendo o processo,
nem subestimado, a ponto de não se conseguir abastecer a indústria.
Por se tratar de assunto amplo e complexo, não será abordado neste
capítulo.
A colheita da cana-de-açúcar é realizada em três etapas: corte,
can-egamento e transporte, este associado ao ciclo de maturação da
cana (precoce, média ou tardia), obedecendo-se a uma distância média
de colheita dia a dia, para que se possa manter o fornecimento de
cana-de-açúcar hora a hora. Por exemplo, uma usina que possui
capacidade de moagem de 500 toneladas de cana por hora tem de
receber 500 toneladas a cada hora. Parece óbvio, porém, caso o
fornecimento seja de 250 toneladas, a usina processará somente 250
toneladas/hora, trabalhando, dessa forma, abaixo de sua capacidade.
No caso de haver fornecimento de 750 toneladas por hora, haverá fila
de caminhões na descarga da unidade industrial; então, a usina não irá
parar por falta de cana, mas ocorrerá ociosidade da estrutura de
colheita, acarretando aumento de custo.
Uma usina costuma ter frentes de colheita em tomo de 1.500
toneladas de cana/dia a 2.500 toneladas/dia. Esses números podem
variar: uma usina com moagem de 12.000 toneladas/dia possui cerca
de seis frentes e o tipo de colheita também v_ariado (mecânica ou
manual). Contudo, no dimensionamento dos equipamentos, o número
a ser usado é sempre o médio. Por exemplo: no cálculo do número de
caminhões é considerada a distância média da usina. Supondo-se que
a média de distância é de 25 km, não se pode locar frentes de colheita
a uma média superior a 30 km, porque certamente faltará matéiia-
prima na usina, a não ser que paite do percurso seja de asfalto e,
apesar da distância, o tempo de percurso seja compensado por estrada
melhor, ou que naquele dia a quebra prevista de caminhão seja menor
que a média. O inverso também pode ocorrer: se as frentes de serviço
forem locadas a uma distância inferior a 20 km, haverá fila na entrega
de cana na usina. Poder-se-ia comparar a locação das frentes de
colheita com um jogo de xadrez, que deve ser jogado a cada jogada do
adversário, ou a cada evento ocorrido, pois, dentro do planejamento,
Planejamento da lavoura 27

há áreas em que a produção supera a estimativa e outras em que isso


não ocorre. Ocon-em ainda incêndio, ataque de pragas e doenças,
geadas, enfim, situações que fogem ao controle, obrigando a ajustes
no planejamento inicial.
Outro fator importante no planejamento é que, após a colheita,
a sequência dos tratos culturais define-se automaticamente.

Considerações Finais
Planejar é, sobretudo, realizar um plano do que deve ser feito
e como deve ser feito, tomando como base uma previsão, a fim de
obter os melhores resultados possíveis para a empresa. O
planejamento desempenha importante papel na atividade agrícola
devido à expansão de áreas cultivadas com cana, ao aumento de
produção e à necessidade de se trabalhar de acordo com o orçamento.
Por fim, deve-se destacar que o custo da matéria-prima em
uma unidade produtora de açúcar e etanol é em torno de dois terços do
custo final dos produtos. Esse número reflete a importância do setor
agrícola no setor sucroenergético.

Referências
ABBJTT, B.; MORTON, M. Florida' s sugarcane industry: progress to date. Citrus &
Vegetable Magazine, v. 43, p. 10, 12-13, 26, 28, 1980.
ALV AREZ, J. ; DEREN, C.W.; GLAZ, B. Sugarcane selection for sucrose and
tonnage using economic criteria. Proceedings of the Sugar Cane lnternationaJ
Conference. November-December 6-1 O, 2003.
BARBOSA, M. H. P.; SILVEIRA, L. C. I. Melhoramento genético e recomendações
de cultivares. Jn: SANTOS, F. A.; BORÉM, A.; CALDAS, C. (Ed.). Cana-de-
açúcar: bioenergia, açúcar e etanol - tecnologias e perspectivas. 2. ed. Viçosa,
MG: 2012.p. 313-331.
BATALHA, M. O. (Coord.). Gestão agroindustrial: GEPAI: grupo de estudos e
pesquisas agroindustriais. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
CAMPOS, M. C. C.; JUNIOR, J. M.; PEREIRA, G. T.; SOUZA, Z. M.;
MONT ANARI, R. Planejamento agrícola e implantação de sistema de cultivo de
cana-de-açúcar com auxílio de técnicas geoestatísticas. Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 13, n . 3, p. 297-304, 2009.
28 Margarido e Santos

COLETE, J. T. ; STUPIELLO, J. J. Plantio da cana-de-açúcar. ln: SEGATO, S. V.;


PINTO, A. S. ; JENDIROBA, E.; NÓBREGA, J. C. M. (Ed.). Atualização em
produção de cana-de-açúcar. Piracicaba: SP: 2006. p. 139-153.
MACEDO, I. C. (Org.). A energia da cana-de-açúcar: doze estudos sobre a
agroindústria da cana-de-açúcar no Brasil e a sua sustentabilidade. São Paulo:
Berlendis & Vertecchia, 2005.
MAGALHÃES, P. S. G.; BRAUNBECK, O. A. Roadmap tecnológico para o etanol.
ln: CORTEZ, L. A. B. (Ed.). Bioetanol de cana-de-açúcar: P&D para produtividade
e sustentabilidade. São Paulo: Edgard Blücher, 2010. p. 897-907.
PAJVA, R. P. O.; MORABITO, R. Um modelo de otimização para o planejamento
agregado da produção em usinas de açúcar e álcool. Gest. Prod., v. 14, n. 1, p. 25-41,
2007.
PICOU, M. C. A.; RUDORFF, B. F. T.; ZUBEN, F. J. V. Estimativa da
produtividade agrícola da cana-de-açúcar: estudo de caso da Usina Catanduva. ln:
SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO, 13., Florianópolis.
Anais ... Florianópolis, SC: INPE, 2007. p. 331-333.
PINAZZA, A. H. Implicações da gerência agrícola nas usinas e destilarias. Brasil
Açucareiro, v. 103, p. 26-27, 1985.
ROBISON, L. J.; BARRY, P. Present value models and investment analysis.
Northport, AL: The Academic Page, 1996.
SANTOS, F. A. Análise de trilha dos principais constituintes orgânicos e
inorgânicos sobre a cor do caldo em cultivares de cana-de-açúcar. 2008. 64 f.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 2008.
SEGATO, S. V. et ai. (Org.). Gerência agrícola em destilarias de álcool. Piracicaba:
Instituto do Açúcar e Álcool, Planalsucar, 1982. Atualização em produção de cana-de-
açúcar. 2006. Disponível em: http://www.agricultura.gov.br>. Acesso em: abril 2012.
PLANTIO
2
Victor Francisco Araújo de Medeiros Barbosa'

Introdução
O plantio é uma etapa de fundamental importância para o bom
desenvolvimento e a boa produção da cultura da cana-de-açúcar, visto
ser esta uma planta semiperene e esse processo ser responsável pela
longevidade do canavial. Qualquer erro nessa operação, como falha no
estande ou erro de espaçamento, acarretará problemas em toda a vida
útil do canavial, comprometendo a produção ao longo dos cortes.

Pia neja mento


O planejamento engloba diversas decisões a serem tomadas,
as quais determinarão o sucesso ou insucesso do canavial e
influenciarão sua longevidade. Nesta etapa, é necessária a abordagem
dos seguintes temas: ambiente de produção, variedades, época de
plantio, definição do espaçamento e profundidade do sulco.

Ambiente de Produção
É a definição dos ambientes produtores de cana-de-açúcar de
acordo com suas características fisicas, químicas e morfológicas e,
também, com a condição climática. Segundo Prado (2005), o ambiente
de produção é a soma das interações dos atributos de superficie e,

1
Engenheiro-Agrônomo. especialista em plantio mccnnizado de cana-de-açúcar.
E-mail: xicofz@yahoo.com.br
30 Barbosa

principalmente, de subsuperficies, considerando-se ainda o grau de


declividade onde os solos ocorrem na paisagem, associadas com as
condições climáticas (Tabela 2.1 ).

Tabela 2.1 - Ambientes de produção de cana-de-açúcar na região


centro-sul do Brasil
. rroduti\'idadc
Am liicntcs TCI Atributos do solo Simbolos dos solos (Embrapu. 1999: Prndo. 2004)
1

12
PVAc 121 , PVc ' , LVcf, LVe, LVAc. CXc. NVcf. NVc. MP.
AI > 100 ADA. e. cf, m, CTC média/alta
MX•, GMc, GXc. GMm. GXm

111
PVAc , PVc(l) . PAc <l>. LVcf, LVc. LVAc. CXc. NVcf.
A2 96 - 100 ADM, e, cf, CTC média/alta
' NVc
121
ADA, m, mf, CTC média/alta IPVAmlll, PVm , PAm!l 1• LVm( LVm. LVAm. LAm. CXm.
BI 92 - 96 ADM, mf, m, ma, CTC média/alta NVm( NVm, PVArrn•
131
ADB, cf. e, CTC média/alta LVcf, LVc, LVAc, LAc, NVcf, NVc. PVAc • PVc m.
1
ADM, m, mf, CTC média/baixo rVAmlll . PVmlll, PAmm, LVmf, LVm. LVAm. LAm. CXm
B2 88 - 92
ADA, m11, CTC média/alta I GMma, GXma

ADM. d, CTC média/alta irvAd 121 • rvl2' . PAd <21


CI 84 - 88 ADM, mo, CTC médio/alta LVArrn•. LArrn•
ADB, d, df, CTC média/alta LVd, LVdf, LVAd. LAd

ADB, e, CTC média/baixa i LVc, LVAc, LAc,


C2 80- 84
ADMB, cf, CTC média/baixa LVcf

ADB, w, wf, CTC média/alta LVw, LVw( LVAw, LAw


OI 76- 80
ADM, a, CTC média/alta • PVAa(2)•, Pva11' •. PAa 12)•

ADB, ma, CTC média/alta


L\ln~, LVAnn, LAm1
D2 72-76 ADB. e, CTC alta, A
Rlc
chcmozemico

ADB. u, CTC média/baixa PVAa 1 >, PVa (1>


. l'Aa fJl
El 68 · 72 141 141 14 1
ADD. mo, CTC média/baixa PVAmn • P\lma , PAma

ADMB, wf, w, a, CTC méd1a/ulta LVw, LVw( L\/Aw, Law, LVa. LVAa. LAa
141 (4) (4) 14)
E2 < 68 ADMB, a, d, CTC méd ia/baixa l'V,\a , PVn • l'VAa • PAa , RQa. RQd
AD~113. e, m, d, ma, a Rlc, RLm, Rld, Rlma, RLa, l'VAá41

Fonte: PRADO, 2005.


ADA: água disponível alta; ADM: água disponível média; ADB: água disponível baixa; ADMB:
água disponível muito baixo; LV: Latossolo Vermelho; LV A: Latossolo Vennelho-Amarelo;
LA: Latossolo Amarelo; PVA: Argissolo Vem1elho-Amarelo; PV: Argissolo Vem1elho; PA:
Argissolo Amarelo; NV: Nitossolo Vennelho; MT: Chemossolo Argilúvico; MX: Chemossolo
Háplico; CX: Cambissolo Háplico; RQ: Neossolo Quartzânico; RL: Neossolo Litólico; GX:
Glcissolo Háplico; GM: Gleissolo Melânico. ef: eutroférrico; e: eutrófico; mf: mesotrófico; df:
di stroférrico; d: distrólico; wf: acriférrico; w: ácrico; ma: mesoálico; a: álico.
'1 '110rizonte B na profundidade de até 20 cm iniciais desde a superfície; 12 'hunzonte B ocorrendo
na profundidade de 20 a 60 cm desde a superfície; 13lhorizontc B ocorrendo na profundidade de
60 a 100 cm desde a superfície; <4lhorizonte B ocorrendo em profundidade maior que 100 cm
desde a superfície; 1' 1mosqueamcnto ou variegado no hori zonte B.
Fonte: Encarte de lnfonnações Agronómicas, n. 110,junho 2005.
Plantio 31

As produtividades descritas para cada ambiente, nesta tabela,


são resultados de experimentos realizados nas usinas participantes do
Projeto Cana, do Instituto Agronômico de Campinas.
A definição de ambientes de produção leva em consideração
fatores como a profundidade, que é diretamente relacionada com a
disponibilidade de água no solo e o volume a ser explorado pelas
raízes; a fertilidade, ou seja, a fonte de nutrientes para as plantas; a
textura, relacionada a trocas catiônicas e quantidade de matéria
orgânica; e a disponibilidade hídrica, responsável pela parte solúvel do
solo.

Variedades
A escolha da variedade adequada é fundamental para se obter
matéria-prima com maturação adequada ao longo da safra, além de
garantir a brotação da soqueira em diferentes épocas. A escolha da
variedade deve levar em consideração muitas variáveis, como a
adaptabilidade à colheita mecânica, precocidade de maturação,
brotação da soqueira, produtividade (tonelada/hectare, kg ATR/ha),
características industriais (Pol, Brix e teor de fibra), bem como sua
adequação aos ambientes de produção.
No Brasil, o melhoramento genético da cana-de-açúcar é
realizado pelas seguintes instituições: IAC - Instituto Agronômico de
Campinas, que produz as variedades IACs; RIDESA - Rede
Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro,
com as variedades RBs; CTC - Centro de Tecnologia Canavieira, com
as variedades CTCs e as antigas SPs: e CANAVIALIS, com as
variedades CV s.

,
Epoca de Plantio
A cana-de-açúcar, na região centro-sul do Brasil, pode ser
plantada durante todo o ano, porém há algumas restrições que se
referem à disponibilidade hídrica e às características da variedade
quanto à maturação e ao ciclo fenológico .
32 Barbosa

Os principais períodos de plantio e os nomes que a cultura


recebe de acordo com esse período são:
- De setembro a início de dezembro, quando a cana é
conhecida como "cana de ano" e apresenta produtividade abaixo de
100 t ha· 1•
- De janeiro a março ou abril, chamada de "cana de ano e
meio", com produtividade acima de 120 t ha· '. Nesta época de plantio,
a cultura vegeta por maior período, por volta de 16 a 18 meses, por
isso essa denominação. Devido ao longo período de vegetação, não há
produção durante uma safra. É o período mais utilizado para plantio,
principalmente por fornecedores.
- De maio a agosto, geralmente período seco na região
centro-sul, conhecida como "cana de inverno", tem produtividade
geralmente acima de 100 t ha· 1, porém, neste período, a cultura requer
irrigação, devido à baixa disponibilidade de água no solo. O plantio
realizado nesta época apresenta como vantagens a produtividade e
também o fato de não passar um ano sem colheita, como o que ocorre
na "cana de ano e meio". A produtividade semelhante à da "cana de
ano e meio" deve-se ao fato de a planta ficar vegetando por
aproximadamente 14 a 15 meses.
A cana de ano apresenta as menores produtividades médias,
devido, principalmente, ao fato de ela enfrentar o período de seca já
com muitos colmos formados, o que acarreta a formação de entrenós
curtos. Já a cana de ano e meio e a cana de inverno não sofrem essa
influência, pois primeira chegará ao período seco apenas com folhas e,
ou, poucos colmos formados; e a de inverno, plantada no período
seco, estará apta à colheita no próximo período seco, atingindo a
maturação devido ao estresse hídrico.

Definição do Espaçamento
A definição do espaçamento é vital para o plantio, pois
possibilita o melhor aproveitamento do espaço, além da otimização
das operações de plantio, trato e colheita. O espaçamento adequado
contribui para o aumento da produção, pois interfere favoravelmente
na disponibilização de recursos como luz, água e temperatura -
variáveis consideradas detenninantes para que haja aumento de
Plantio 33

produção. O espaçamento do plantio deve variar de acordo com o


ambiente de produção do terreno e as características da variedade a ser
instalada.
O espaçamento entre sulcos pode variar de 0,9 a 1,8 m. Podem
ser encontrados espaçamentos simples e combinados. Em solos mai s
arenosos e ambientes mais fracos, recomendam-se espaçamentos
reduzidos entre sulcos (0,9 ou 1,2 m), visando diminuir a competição
da cultura com as plantas daninhas, pois nestes espaçamentos a cana-
de-açúcar cobre o solo mais rapidamente. Em áreas onde a colheita
será realizada com máquinas, aconselha-se utilizar espaçamento de 1,5
n1, para evitar pisoteio da soqueira pelas colhedoras; já em áreas com
irrigação por gotejamento enterrado, podem-se utilizar espaçamentos
combinados.
As principais características de cada espaçamento são:
- Simples: distância entre os sulcos de plantio constante êm
toda a área plantada.
- Combinado: num mesmo talhão encontram-se faixas de
espaçamento simples e alternado, proporcionando melhor condição de :
tráfego de maquinário na área. Neste tipo de espaçamento, utilizádo
principalmente em áreas irrigadas por gotejamento enterr~o,·
utilizam-se duas linhas espaçadas de 0,4 ou 0,3 m, com entrelinhas de
1,4 e 1,5 m, respectivamente, totalizando espaçamento total de 1,8 m.
Este tipo de espaçamento pe1mite a colheita mecanizada sem pisoteio ·
da soqueira.
Outra opção de espaçamento combinado · utilizada
recentemente visa à colheita mecanizada de duas linhas simultâneas, e
utilizam-se duas linhas espaçadas de 0,9, 1,0 ou 1, l m, com
entrelinhas de 1,6, 1,5 e 1,4 m, respectivamente, totalízando
espaçamento total de 2,5 m. Com este espaçamento, há redução no
trafego de equipamentos pesados na área cultivada e, com isso, men9r ·
compactação, redução de consumo de óleo diesel e ganho em
rendimento operacional dos equipamentos. Este novo espaça'inérito foi ·
adotado por algumas empresas do setor, porém ainda dema'nda ri1ais
estudo sobre a qualidade da colheita e longevidade do canavia-1.
Sulco de base larga: o sulcador faz um sulco com a base
(fundo) larga, que permite a disposição dos reboios lado a la~o e ·nâ~•
sobrepostos, diminuindo a competição entre os . perfill;lôs · e.
. ..
' ' . ' 11
34 Barbosa

aumentando o estande inicial do canavial. Com o emprego desta


técnica, que não é uma nova modalidade de espaçamento, pode-se
tanto aumentar o espaçamento entre os sulcos ( até 1,8 m) como
mantê-lo menor: l ,50 m.

Profundidade do Sulco
A profundidade do sulco é variável, porém o ideal é entre 20 e
35 cm, com a sobreposição de 5 a 8 cm de terra sobre o rebolo, no
fundo do sulco. Essa variação é dependente do tipo de solo e também
da época do plantio.

Preparo do Solo
É uma etapa posterior ao planejamento e muito importante
para todo o ciclo da cultura, visto que é a partir dela que serão
realizadas todas as demais operações, desde o plantio até a colheita.
Devido à grande diversidade de solos e às políticas gerenciais
existentes nas áreas produtoras de cana-de-açúcar, há muitas variações
na operação de preparo do solo, sempre buscando melhor adequação
da operação à realidade local.

Erradicação da Cultura Anterior


De acordo com a cultura que estava instalada anteriormente,
essa erradicação pode ser realizada quimicamente, cmn o uso de
dessecantes de contato ou sistêmicos; mecanicamente, com o emprego
de grades aradoras; ou com o uso destas duas técnicas
concomitantemente.
A escolha de uma das técnicas citadas deve levar em conta
alguns fatores, como a presença de restos de raízes de árvores, tocos,
pedras etc. O ideal para a cultura é a retirada desses elementos, a fim
de aproveitar melhor a área, evitar problemas con1 a quebra de
equipamentos e melhorar a qualidade em operações futuras, além de
evitar a contaminação do novo plantio com pragas, doenças e mistura
de variedades.
Plantio 35

Infraestrutura dos Tai hões


Os talhões são considerados a unidade operacional básica para
a cultura da cana-de-açúcar. Sua área e forma geométrica são variáveis
de acordo com o tipo de solo, com a topografia local, com a
regularidade do te1Teno, com as estradas e com os limites da
propriedade, além de outras características operacionais. Geralmente,
eles apresentam áreas máximas de 20 hectares - valor muito variável
de acordo com a região.

Dimensionamento de Tai hões


O dimensionamento dos talhões e sua forma geométrica são
dependentes de diversas variáveis, como ambiente de produção,
variedade, topografia do terreno, tratos culturais e época de colheita.
O comprimento das linhas de sulcação deve ser adequado à
capacidade dos implementos a serem utilizados, evitando-se manobras
no meio da área cultivada, sobretudo durante o plantio e a colheita,
quando ocorre o trânsito mais intenso de maquinário pesado na área.
Assim, há ganho significativo e1n rendimento operacional.
Tomando como base para cálculo do comprimento adequado
dos sulcos a colheita e a produtividade média de 95 toneladas/hectare,
tem-se a distância mínima de 400 m e a máxin1a de 700 m para a
colocação de carreadores transversais para saída de transbordos. Esse
é o tamanho máximo possível para o uso de irrigação com carretel, já
que as mangueiras utilizadas têm 300 m e a abrangência do aspersor é
de 50 m.
Adotou-se a colheita como a operação que definirá o
parâmetro de distância entre os carreadores transversais, pois é ela que
exige o maior trânsito de veículos pesados na lavoura. Além disso,
com o aumento do plantio mecanizado, as plantadeiras disponíveis
hoje no mercado possuem capacidade de carga 6 a 7 t de reboios, o
que pennite autonomia semelhante ao transbordo de 5 a 6 t, utilizado
na colheita mecânica.
36 Barbosa

Carreadores
Tem como função primordial o trânsito de veículos e insumos
para abastecer a cultura e facilitar a sua retirada para a indústria. Serve
como ponto de apoio às operações principais, como plantio e colheita,
pois é o local onde deve ocorrer o trânsito de veículos pesados, de
fonna a evitar o trânsito excessivo na área cultivada. Sua largura varia
de 3 a 1O m, de acordo com a sua importância na logística do sistema
produtivo.
Primeiramente, deve-se desenhar o trajeto dos caminhões para
retirada da matéria-prima e transporte de insumos; esses trajetos
podem ter largura de 5 m. Em estradas onde ocorrerá cruzamento de
caminhões, adota-se largura de 1O m. Em carreadores transversais à
suJcação, de pouco trânsito, podem-se adotar 3 m de largura; já em
locais de entrada e saída de sulcação, próximos a cercas e outros
obstáculos, deve-se optar por carreadores com 5 m de largura, para
facilitar as manobras dos equipamentos.

,
Nivelamento e Sistematização da Area
As diferentes conformações do terreno influem na
qualidade Jo trabalho e no rendimento dos equipamentos
utilizados na condução dos canaviais. Além da declividade do
terreno, a concavidade e ondulação devem ser consideradas e,
quando seus efeitos negativos aumentarem demasiadamente o
custo de produção, devem ser utilizadas técnicas para seu
nivelamento ou para a sua sistematização (STORINO et ai..
2008).
Esta operação pode ser muito onerosa, dependendo do volwne
de terra a ser movimentado, porém os beneficios para o
desenvolvimento da cultura e a realização das operações futuras
podem compensar o custo. No plantio e na colheita mecanizada, o
nivelamento e a sistematização do terreno são indispensáveis para o
melhor desenvolvimento dessas tecnologias.
Existem diversos equipamentos disponíveis no mercado
nacional para realização desta operação. Um dos mais simples ~ a
plaina de arrasto, com dive r"as forma s e tamanhos. Há também o
Plantio 37

Scraper, que fun ciona como uma lâmina, com um compartimento


parecido com uma caçamba, que acumula a terra em excesso para ser
aproveitada em depressões do terreno; as lâminas, apesar de menor
capacidade, têm maior agilidade.

Terraceamento
A construção dos te1Taços tem por objetivo preservar o solo da
ação das águas de chuva, facilitando sua infiltração, no caso de
terraços em nível ou de infiltração, ou direcionar as águas das chuvas
para um escoador natural, no caso de terraços em desnível.
Os terraços em nível são construídos em mesma cota (altitude)
e têm a função de infiltrar toda a água que entrar em sua área de
abrangência. Sua altura geralmente é definida de acordo com o
equipamento utilizado, e a distância entre os terraços varia com o tipo
de solo, a declividade do terreno, o manejo da cultura e o regime
pluviométrico da região.
Geralmente, para a cana-de-açúcar, os terraços em nível
embutido são os mais utilizados e caracterizam-se por serem
construídos de modo que sua calha ou canal tenha forma triangular,
ficando o talude que separa o canal do camalhão praticamente na
vertical (STORINO et al., 2008).
Motoniveladoras e tratores equipados com lâminas podem
realizar o terraço embutido, além do terraceador, que apresenta
rendimento operacional de 4,6 ha.h-1• Nesses ten-aços, é extremamente
importante o encabeçamento das curvas, para que as águas da chuva
que estão nas estradas e nos carreadores sejam direcionadas para eles,
evitando erosão nesses caminhos.
Atualmente, tem-se diminuído o uso de terraços em nível
embutidos nos canaviais para aumentar o rendimento operacional e
facilitar o dimensionamento dos talhões. Com o emprego de novas
tecnologias, como levantamento planialtimétrico e sulcação
georreferenciada, aumentou-se o uso de te1Taços de base larga, que,
diferentemente do terraço embutido, permite melhor traçado de
sulcação, aumentando assim o rendimento operacional.
38 Barbosa

A função do terraço é conservar o solo, evitando assim a perda


dele em decon-ência de erosões. Por isso, é importante ressaltar que a
escolha do tipo de terraço a ser utilizado deve seguir critérios técnicos
de acordo com o levantamento planialtimétrico, o histórico
pluviométrico da região e o conhecimento da área e adjacências a ser
plantada. Muitas vezes, o processo erosivo tem início nas áreas
adjacentes e, para evitar isso, é fundamental verificar as contribuições
de água externa.

Preparo Convencional
Geralmente, o preparo convencional do solo tem por objetivo
inverter e revolver uma camada profunda deste, destruir e incorporar ),

restos vegetais, expor pragas de solo à insolação, para seu controle, i:


destorroar e nivelar o terreno.
Esse preparo é constituído inicialmente por uma gradagem,
para eliminação dos restos vegetais da cultura anterior ainda no
período seco, depois uma subsolagem, para quebrar a camada
compactada em profundidade, podendo ser substituída por uma
escarificação quando a camada compactada é mais superficial. Com
uma grade aradora ou com um arado de aiveca, inverte-se o solo,
enterrando-se os restos vegetais a uma profundidade média de 15 a 30
cm. Juntamente com a primeira gradagem e a aração, aplicam-se
fertilizantes, como calcário e fosfato, e defensivos. Após essas etapas,
promove-se o destorroamento e nivelamento do terreno com grades
niveladoras. Também se usa esta última gradagem para completar a
aplicação de calcário ou de fosfato.

Preparo Reduzido
É uma técnica conservacionista que visa à diminuição do número
de operações realizadas no preparo convencional e à utilização de
equipamentos mais leves. Não deve haver, por exemplo, deficiência de
calcário e fosfato, ou pragas de solo, no tetTeno a ser preparado.
Geralmente é realizada a dessecação da área para controle de plantas
daninhas e uma subsolagem para descompactação do ten-eno.
Plantio 39

A diminuição do tráfego tem por objetivo atenuar o


adensamento e a compactação do terreno e, assim, não criar condições
que exigirão o preparo convencional.

Plantio Direto
Amplamente utilizada na produção de grãos e cereais, esta
técnica tem expandido bastante na cultura da cana-de-açúcar, sobretudo
em áreas com rotação de culturas com soja e outras leguminosas.
Os sulcadores, e mesmo as plantadeiras, equipados com disco
corta-palha na frente possibilitam a realização do plantio direto
mesmo com alta quantidade de massa vegetal acamada sobre o solo.
Para adoção dessa tecnologia, é necessário verificar a compactação do
terreno, pois há casos em que é feita uma subsolagem para quebra da
camada compactada e, sem revolver o solo, é realizado o plantio
mecanizado sobre a palhada.

Mudas
A cana-de-açúcar é uma planta semiperene, razão pela qual
seu plantio é realizado apenas a cada cinco ou mais anos, o que toma
muito importante a qualidade da muda a ser usada. Para um plantio
longilíneo, devem-se utilizar mudas que, além de adequadas ao
ambiente onde serão introduzidas, devem ser livres de pragas e
doenças. A boa qualidade das mudas é o fator de produção de mais
baixo custo e que maior retorno econfünico proporciona ao agricultor,
principalmente quando a muda é produzida por ele próprio.
Para produção de mudas, é necessário que o material básico
seja de boa procedência, com idade de 9 a 12 meses, sadio,
proveniente de cana-planta ou primeira soca e que tenha sido
submetido ao tratamento térmico.
A tecnologia empregada na produção de mudas é praticamente
a mesma dispensada à lavoura comercial, apenas con1 a introdução de
algumas medidas fitossanitárias, quais sejam:
4.0 Barbosa

Desinfestação do podão - o podão utilizado na colheita de


mudas e no corte delas em toletes, quando contaminado, é um
importante propagador das doenças escaldadura e raquitismo. Antes e
durante essas operações, deve-se desinfestar o podão, com álcool,
fon11ol, lisol , cresol ou fogo. Uma desinfestação prática, eficiente e
econômica consiste na imersão do instrumento numa solução com
creolina 10% ( 18 litros de água + 2 litros de creolina) durante meia
hora, antes do início da colheita das mudas e do corte delas em toletes .
. D_urante essas duas operações, deve-se mergulhar o podão com
frequência e rapidez na solução.
Vigilância sanitária e roguing - formado o viveiro, torna-se
Ílnprescindível a realização de inspeções sanitárias frequentes, no
~ o uma vez por mês. A finalidade dessas inspeções é a
. erradicação de toda touceira que exiba sintoma patológico ou
características diferentes da variedade em cultivo.
Rotação de culturas - durante a reforma do canavial, no
período em que o terreno permanece ocioso, deve-se efetuar o plantio
de culturas de ciclo curto, em rotação com a cana-de-açúcar.
Ame~doim e soja são as mais indicadas.
Tratamento térmico - consiste em submeter os colmos a uma
temperatura de 50,5 ºC, por duas horas. Tem por objetivo controlar o
raquitismo da cana-soqueira e pode ser realizado em toletes ou em
gemas isoladas.
Além dessas medidas, algumas recomendações agronômicas
devern ser levadas em consideração para evitar doenças no canavial
destinado a ser utilizado como muda, como a despalha manual das
mudas, é! menor densidade delas dentro do sulco, o controle eficiente
de pragas e o maior parcelamento do fertilizante nitrogenado.

Plantio
O plantio de cana-de-açúcar, desde a chegada da culhlfa ao
Brasil, ainda no período colonial, demanda exacerbada mão de obra.
Com o desenvolvimento da agricultura, foram disponibilizados
equipamentos para facilitar esta operação. Inicialmente, foi utilizada a
força animal para tracionar os primeiros implementes de sulcação, nos
Plantio 41

séculos XVIII e XIX, até a mecanização da agricultura, já no século


XX. Ainda nos dias atuais, a cultura da cana-de-açúcar é a menos
automatizada, principalmente na etapa do plantio, entre as grandes
culturas mundiais. Essa operação, entretanto, tem apresentado
profundas e rápidas mudanças nesses últimos anos. Empresas privadas
e centros de pesquisas têm desenvolvido equipamentos sofisticados
para facilitar o plantio, melhorando o rendimento e, sobretudo,
aumentando a exigência em qualificação da mão de obra a ser
empregada.
Antes de retratar os sistemas de plantio, é fundamental
descrever as metodologias de propagação da cultura da cana-de-
açúcar. Hoje em dia, além da cana inteira, utilizada desde a introdução
da cultura no Brasil, há outras maneiras de propagação, como a cana
picada, os minitoletes, as mudas pré-brotadas e meristemas. A seguir
são caracterizadas todas essas formas.
CANA INTEIRA: cortada na base da touceira (3-5 cm de
altura do corte) e próximo da gema apical (ponteiro/palmito) livre das
folhas. Geralmente este corte é realizado manualmente; após a
distribuição desta cana no sulco, é feita a picação (fracionamento) em
reboios de aproximadamente 50 cm, para quebrar a dominância apical
da planta e garantir uma germinação mais unifmme.
CANA PICADA: é o fracionamento da cana inteira em
reboios menores, com 3 a 5 gemas/tolete, variando o seu tamanho,
dependendo da modalidade de corte e de plantio a ser realizado, entre
35 e 50 cm. Geralmente este corte é realizado com colhedoras, mas
pode ser feito manualmente, sobretudo em viveiros de muda com
tratamento ténnico.
MINITOLETES: é o fracionamento da cana inteira em gemas
isoladas, com aproximadamente 5 cm, o qual permite grande controle
fitossanitário, evitando assim a propagação de pragas. Facilita o
tratamento térmico e químico, mas, devido à pouca quantidade de
reserva que o minitolete possui, é fundamental um controle maior das
condições edafoclimáticas, do plantio até a brotação, para seu
emprego com sucesso.
MUDAS PRÉ-BROTADAS (MPB): nesta tecnologia
desenvolvida por pesquisadores do IAC - Instituto Agronômico de
Campinas, também conhecida como "gema a gema", utilizam-se
..,,.

42 Barbosa

colmos ( cana inteira) produzidos em viveiros básicos. Para isso,


podem-se definir alguns estágios do processo.
Estágio 1 - Retirada dos colmos, corte e preparo dos
minirrebolos
Essas etapas deverão ser realizadas a partir de viveiros básicos
com idade fisiológica de 6 a 1O meses, o que permite maior
aproveitamento das gemas ao longo do colmo. Nesta fase, são
utilizados instrumentos de corte tipo "podão", os quais deverão ser
previamente desinfestados com produtos à base de amônia
quaternária. Recomenda-se efetuar a despalha em local isolado do
núcleo de produção de mudas, evitando o eventual transporte de
pragas, atividade que preferencialmente deverá ser realizada
manualmente, o que reduz danos às gemas. Para o corte e a preparação
dos minirrebolos (gema individualizada), sugere-se a utilização de um
sistema de guilhotina com lâmina dupla devidamente desinfestado
(XAVIER et ai., 2008). O espaçamento entre as lâminas determina o
tamanho do minirrebolo, e para esse modelo de multiplicação é
sugerido 3 cm, o que viabiliza a utilização da gema individualizada no
tubete.
Neste estágio, permite-se a realização de uma seleção das
melhores gemas. Essa seleção elimina do processo os minirrebolos
com sintomas de Diatraea saccharalis e eventuais danos mecânicos
das gemas, maximizando etapas posteriores.
Estágio 2 - Tratamento das gemas
O sistema de proteção dos minirrebolos é realizado com
produtos à base de Azoxistrobina ou Pyraclostrobin a O, 1% na
solução. O método utilizado para controle é a imersão em solução por
três minutos. Outros tratamentos complementares, como promotores
de enraizamento, poderão ser usados com o objetivo de ampliar a
sanidade e o vigor inicial das mudas.
Estágio 3 - Brotação
Esta etapa do processo oco1Te em substrato e, para isso, são
utilizadas caixas plásticas dimensionadas para conter 80 minirrebolos,
que deverão ser distribuídos nas caixas, cobertos com substrato e
mantidos a 32 ºC e1n câmara ou casa de vegetação climatizada. Nesta
fase, o molhamento deve ser suficiente para garantir a manutenção do
Plantio 43

processo de pré-brotação. A duração desse período é variável (de 7 a


l O dias), dependendo da variedade e idade fisiológica da gema a ser
utilizada.
Estágio 4 - Individualização ou "repicagem"
A individualização ou "repicagem" ocorre imediatamente
após o período de pré-brotação. Nesta fase são utilizados tubetes,
supo1tes, substrato e fertilizantes. Destaca-se que nesta etapa há um
segundo processo de seleção em que as gemas que não brotaram são
descartadas.
Estágio 5 - Aclimatação-fase 1
Após a individualização, os tubetes com gemas brotadas
permanecerão em aclimatação em casa de vegetação por um período
de 21 dias. Nos primeiros sete dias, utiliza-se uma proteção na parte
superior da casa de vegetação, com tela de sombrite a 50%, a qual, no
decorrer da etapa, vai sendo retirada. Esse procedimento, associado à
manutenção de elevada umidade relativa do ar no ambiente, tem como
objetivo minimizar os efeitos negativos de altas temperaturas. As
lâminas e os turnos de irrigação são definidos de acordo com o
desenvolvimento das plantas. No fim desta etapa, há uma primeira
poda foliar, realizada com tesouras devidamente desinfestadas ou
manualmente. Esse manejo estimula o desenvolvimento radicular e
minimiza as perdas de água.
Estágio 6 - Aclimatação-fase 2
A etapa final do processo ocorre em bancadas a pleno sol.
Nela, o objetivo principal é adaptar a muda às condições de plantio no
campo. Basicamente, há controle de irrigação com quatro turnos de
rega, totalizando 4 1nm/dia. O manejo de podas foliares é
intensificado, com três podas ao longo de 21 dias. No fim desta etapa,
a muda está em condições de ser retirada do tubete, embalada e
transportada para o plantio.
O sucesso do crescimento e desenvolvunento da muda no
campo vai depender, entre outros fatores, de um preparo eficiente do
solo e um plantio bem executado. De acordo com Ripoli e Ripoli
(2004), são necessárias práticas agrícolas con1 controle de precisão,
objetivando melhor rentabilidade econômica, para fazer frente ao
mercado altamente competitivo.
44 Barbosa

Nas áreas destinadas ao plantio de mudas MPB, devem ser


realizadas previamente amostragens para análise do solo e as devidas
correções. Posteriormente, as práticas de preparo e incorporação de
insumos devem ser realizadas para receber as mudas. O ideal é que
não haja camadas subsuperficiais compactadas e que seja feito o
destorroamento de modo que facilite o posicionamento das mudas,
sem a formação de bolsões de ar, prejudicando o desenvolvimento
radicular.
A muda deve estar em condições ideais para ser levada ao
campo, o que ocon-e normalmente no sistema MPB após
aproximadamente 60 dias do início do processo de produção. Espera-
se que, nesse momento, as mudas tenham bom vigor e estejam bem
enraizadas. Além de conservar a integridade do sistema radicular, esse
processo minimiza problemas com estresse hídrico e facilita
sobremaneira a realização do plantio e do "pegamento" da muda pós-
plantio.
As mudas devem distar umas das outras de 0,35 a 0,50 m, e o
espaçamento entre sulcos deve respeitar aquele adotado pelo produtor.
Os mais utilizados atualmente são os espaçamentos simples de 1,5 m,
ou espaçamentos combinados de 1,5 m por 0,90 m (Figura 2.1 ).

:i(

Figura 2.1 - Espaçamento entre plantas (MPB) e tubete com MPB.


Fonte: IAC.

MICROPROPAGAÇÃO: em escala comercial e em curtos


períodos de tempo, a micropropagação pode produzir plantas com alta
qualidade fitossanitária e com excelente homogeneidade genética
(~~IXEI~, 2001 ). _Na micropropagação, o material de multiplicação
utthzado e provemente do meristema, por isso ela também é
Plantio 45

conhecida com este nome. Conforme pesquisa de Hendre et ai. ( 1983 ),


o método de propagação de cana-de-açúcar, por meio de meristemas,
mostrou-se viável, pois os clones obtidos são fenotípicos e
genotipicamente idênticos à planta-mãe. Lee ( I 988) aperfeiçoou o
método para aplicação industrial.
Falando-se do sistema tradicional de cultivo in vitro, Miocque
( 1999) relata os procedimentos adotados para a multiplicação por
cultura de meristema de cana-de-açúcar, conforme descrição a seguir.

,
Preparo da extração de expiante - ESTAGIO 1
O explante é constituído de ápices caulinares oriundos das
gemas de minitoletes de variedades (clones) de cana-de-açúcar sadia
em plena vegetação (6-8 meses de idade). Os minitoletes são
desinfestados com hipoclorito de sódio (2,5% cloro ativo; imersão 1O
min) e lavados e1n água pura. Em seguida, os pequenos toletes são
colocados para brotar em substrato esterilizado ( vermiculita ou
composto orgânico) em casa de vegetação (incubado a 3 7ºC; 15 dias).
Na sequência, selecionam-se os ponteiros dos brotos mais vigorosos
(cerca de 20 cm) e, no laboratório, após lavagem com água destilada,
é extraído um pedaço, contendo o meristema apical, com cerca de 5
cm. Fazem-se uma desinfestação superficial com hipoclorito de cálcio
(65% cloro ativo; imersão 15 1nin) e uma lavagem, por itnersão, com
água destilada autoclavada, em ambiente asséptico, numa capela de
fluxo laminar. Os ápices caulinares (2-3 mm) são extraídos e
inoculados em tubos de ensaio (2,5 x 8,5 cm) contendo ponte de papel
e 8,0 mL de meio denominado MS 1. Neste primeiro estágio, o meio
de cultura contém cinetina (O, 1mg L-1) como o único regulador de
crescimento.
A composição desses meios de cultura foi pesquisada por
Murashige e Skoog (1962) e é conhecida pelas abreviações MS
seguido do número de referência do estágio de desenvolvimento:
MS 1, MS2 e MS3, correspondentes aos estágios I, II e III.
respectivamente.
Os frascos de cultivo ficam e1n câmara de crescimento com
temperatura de 28-30ºC, iluminação com lâmpadas fluorescentes de
3.000 Lux (± 38 µmol. m·2 s· 1; distância de 20 cm dos recipientes) e
46 Barbosa

fotoperíodo de 12 horas. Este estágio é caracterizado cerca de 30-45


dias após o início do estabelecimento in vitro, quando as plantas
atingem 3 cm de altura.

Desenvolvimento das plântulas - ESTAGIO li


As plantas estabelecidas in vitro passam para a fase de
desdobramento vegetativo. Elas são transportadas para vidro maior (5
x 12 cm) com 50 mL do meio de cultura MS2, adicionado de cinetina
(O, 1 mg L-1) e 6-benzilamina purina (BAP; 0,2 mg L-1). A cada três
semanas, procede-se ao subcultivo (aproximadamente cinco vezes ou
mais). Em geral, a permanência por um período de três a quatro meses
na câmara de crescimento é suficiente. A taxa de multiplicação é de
1: 1O, conforme a variedade considerada.

Formação das radículas - ESTAGIO Ili


As touceiras, bem desenvolvidas, provenientes da segunda
etapa são divididas na base de manejas de três perfilhas, os quais são
colocados em frascos de vidro contendo o meio MS3, adicionado de
cinetina (0,1 mg L-1) e ácido indolbutírico (AIB; 0,2 mg L-1). Nessas
condições, após 21 dias, aparecem raízes, e nessa etapa ainda pode
ocorrer a formação de alguns perfilhamentos. Neste estágio, na
câmara de crescimento, o fotoperíodo deve ser de 16 horas.

Transplantio e aclimatação
Após 15-20 dias, as touceiras mais desenvolvidas são retiradas
do meio de cultura e subdivididas em manejas com as folhas aparadas;
para evitar o ressecamento das raízes antes do transplante, as touceiras
são postas em recipientes com água.
O transplante para a condição ex vitro é feito em recipientes
próprios para mudas (copos de plásticos, saquinhos de plásticos ou
bandejas de isopor), contendo substrato esterilizado. En1 estufa com
sombreamento, as mudas transplantadas são mantidas em rnnidade
relativa acima de 80% e temperatura de 28-35ºC. Após 15 dias, é
Plantio 47

retirado o sombreamento e, durante 40 a 50 dias, as plantas são


expostas ao ambiente externo com irrigação controlada, até o plantio
definitivo no campo (viveiro).
Veiga ( 1997) afirma que na fase de enraizamento, ou seja, no
terceiro estágio da micropropagação em cana-de-açúcar, a composição
do meio de cultura pode apresentar diferenças em relação à mostrada
por Miocque ( 1999). Basicamente, as diferenças consistem na redução
pela metade dos níveis de todos os macronutrientes e do pH (de 5,8
para 4,0) e não adição de vitaminas e reguladores de crescimento ao
meio. O nível de sacarose é dobrado (de 2% para 4%).
C01n relação à micropropagação, a partir de pouco material
vegetativo, esta técnica pode proporcionar rápida multiplicação e
elevada quantidade de plantas sadias, e essa multiplicação em larga
escala é independente da época do ano. Além disso, a
micropropagação necessita de espaço fisico pequeno e permite a
obtenção de plantas livres de microrganismos, como bactérias, fungos
e vírus, os quais podem afetar de maneira significativa o
desenvolvimento das plantas (GRATTAP AGLIA; MACHADO,
1998).
Apesar das vantagens da propagação in vitro, esta técnica
pode produzir plantas com certas características peculiares, como
partes aéreas muito pequenas, menor quantidade de cera cuticular e
epicuticular nas folhas, tecidos con1 reduzida resistência mecânica
(menos colênquima e esclerênquima), maior conteúdo de água e
estômatos não funcionais (CASSELLS; W ALSH, 1994; ZIV et
al., 1987). Em relação às plantas cultivadas ex vitro, esta técnica pode
produzir plantas com folhas finas (WETZSTEIN; SOMMER, 1982) e
pequenas, com poucos tricomas e com baixa atividade fotoautotrófica
(CATSKY; SOLAROVÁ, 1992; DENG; DONNELLY, 1993;
DONNELLY; VIDAVER, 1984; FUJIWARA et al., l 987;
POSPISILOVÁ et ai., 1992).
Apresentadas as formas de propagação, agora é momento de
retratar os sistemas de plantio, que variam de acordo com a cultura,
escala de produção, tecnologia empregada, equipamentos disponíveis
e, principalmente. disponibilidade e qualificação da mão de obra.
48 Barbosa
- - -- - - - - -- - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Plantio Manual
O verdadeiro plantio manual é aquele em que a abertura dos
sulcos, a distribuição da cana, a redução da cana em reboios de
aproximadamente 50 cm e o fechamento dos sulcos são realizados
manualmente. Isso pode ocorrer em áreas muito declivosas ou culturas
pouco tecnificadas com abundância de mão de obra, porém com
baixíssimo rendimento operacional. Nos dias atuais, é raro encontrar
áreas comerciais com essa forma de plantio no Brasil. Geralmente,
utiliza-se inteira na propagação da cultura, mas pode-se também
adotar outras formas de propagação.

Plantio Semimecanizado
O plantio denominado semimecanizado é conhecido
usualmente como manual, pois algumas das operações são
mecanizadas, como a abertura dos sulcos de plantio (sulcação) e o
fechamento desses sulcos ( cobrição), e outras são manuais, como a
colocação das mudas no sulco e sua pi cação (diminuição do tamanho
dos seus reboios).

Sulcação
A abe1tura dos sulcos de plantio geraln1ente é mecanizada, de
acordo com o espaçamento e a profundidade definidos no
planejamento. Pode-se realizar a aplicação de fe1iilizantes juntamente
com essa operação. Os sulcadores atuais oferecem a opção com
marcadores de sulco e banqueta, para facilitar e aumentar o
rendimento operacional.
O marcador de sulco auxilia o h·atorista, marcando o local
onde o conjunto trator-implemento voltará sulcando as linhas; já o
marcador de banqueta marca as linhas a serem deixadas sem sulcar,
para facilitar o trânsito da carreta ou do caminhão c01n 1nudas. Essas
linhas serão sulcadas após a distribuição de mudas para o fechamento
da área.
Plantio 49

Há inúmeras variações nessa operação, dependenào dos


equipamentos e do número de trabalhadores participantes da frente de
plantio. O número de linhas a serem sulcadas para que as mudas
deixem a banqueta pode variar de seis a oito para duas ou três linhas
de mudas na banqueta (dependendo do sulcador, se este for de duas
linhas, podem-se sulcar seis ou oito linhas e deixar duas linhas de
mudas na banqueta). Sulcadores de três linhas não têm opção de
marcador de banqueta, pois o braço marcador de banqueta seria muito
grande, dificultando o trabalho em áreas declivosas, com obstáculos
como árvores, cercas etc., e também colocaria em risco a integridade
do tratorista, quando trabalhasse próximo a redes elétricas. Para o caso
de sulcadores de três linhas, deve-se usar um trator pequeno para
marcar os sulcos e as banquetas antes da entrada do sulcador na área,
ou o próprio conjunto trator-implemento, neste caso apenas marcando
as linhas da banqueta.

Corte, carregamento e transporte das mudas


O corte das mudas deve ser feito rente ao solo e próximo ao
ponteiro, desprezando as folhas do ponteiro. O carregamento tem de
facilitar a futura distribuição das mudas no sulco. Geralmente, utiliza-
se carregadeira mecânica para colocá-las na caneta ou no caminhão
que as transportará até a área a ser plantada.

Distribuição das mudas no sulco


Cana Inteira
A partir do caminhão/carreta
O plantio, ou melhor, a distribuição, a ain1mação das mudas
no sulco e a sua pi cação em toletes de três gemas ( em tomo de 50 cm,
ou do tamanho do facão do cortador), é realizado em sincronia com o
caminhão ou a carreta distribuidora e depende muito do m'.unero de
pessoas empregadas. As equipes de plantio podem conter entre 12 e
16 pessoas, divididas em cargueiros, picadores e plantadores ou
distribuidores. Os cargueiros arremessam as mudas nos sulcos; os
50 Barbosa

plantadores ou distribuidores as distribuem; e os picadores as cortam


em toletes com três gemas cada um.
A distribuição das pessoas nesses três cargos varia de acordo
com o número de linhas a serem levadas e o modo operacional de
cada local. Essa modalidade de distribuição está em declínio devido à
aprovação da Norma Regulamentadora n. 31 6 (NR3 l 6), a qual, nos
itens 31.12.1 'a' e 31.12.1 O, descreve que é "vetado, em qualquer
circunstância, trabalho em pé/sentado em máquina em movimento não
projetada para este fim"; ou seja, é vetado, em qualquer circunstância,
o transporte de pessoas em máquinas e equipamentos motorizados e
nos seus implementos acoplados. Estão incluídas na proibição as
carretas tracionadas por tratores.

A partir do caminhão via carregadeira (esparrama)


O descarregamento da cana do caminhão na área a ser
plantada é realizada com o auxílio de uma carregadeira, em pequenos
montes, numa distância entre eles que facilite a distribuição no sulco e
sua picação em rebolos. Nesta modalidade de distribuição, a equipe é
formada apenas pelos distribuidores e picadores. A distribuição das
pessoas nestes cargos é, também, muito variada, de acordo com o
número de linhas a serem levadas e o modo operacional de cada local.
Essa opção de carregamento permite que o transporte e o
descarregamento sejam feitos 24 horas por dia, diferentemente da
distribuição via caminhão ou carreta, que era realizada apenas durante
o dia.
Em ambas as modalidades de distribuição de cana inteira,
geralmente colocam-se duas canas ao longo do sulco, buscando cruzar
o terço inferior com o terço superior das plantas. Utiliza-se de 12 a 14
gemas viáveis por metro linear de sulco, consumindo na faixa de 8 a
12 toneladas/ha de muda.

MPB ou Micropropagação
Após a sulcação, adubação e aplicação de defensivos, as
caixas são distribuídas ao longo dos sulcos, de acordo com o cultivar.
Em seguida, as mudas são dispostas nos sulcos e se faz o cobrimento
com o uso de enxada. O plantio poderá também ser realizado através
de " mat racas"N
. esse caso, enquanto uma pessoa " bate" a matraca,
outra vai abastecendo o equipa1nento co1n a muda. Com esse sistema,
Plantio 51

o rendimento de plantio com duas pessoas é de mais ou menos 10.000


mudas por dia, que, no espaçamento simples de 1,50 m entre sulcos e
0,50 m entre plantas, equivaleria ao plantio de 0,75 ha.

"Cobrição"
Após a distribuição das mudas no sulco, deve-se cobri-lo o
mais rápido possível, para reduzir a perda de água nas paredes que
estão expostas e, principalmente, para evitar o ressecamento dos
toletes devido à exposição ao sol. É uma operação geralmente
mecanizada. Encontram-se cobridores de duas e três linhas, sendo
importante utilizar o cobridor de mesmo número de linhas do
sulcador, devido ao paralelismo das linhas.

Plantio Mecanizado
O plantio mecanizado é urna prática bastante recente. As
primeiras máquinas nacionais, que eram na verdade protótipos, foram
desenvolvidas entre 1964 e 1978 pela Santal e Motocana.
Inicialmente, elas não foram aceitas pelo mercado por não serem
necessárias na época, pelas dúvidas quanto à germinação das mudas
quando plantadas por essas máquinas (STOFEL et al., 1984 citado por
RIPOLI, 2006) e pelo baixo rendimento operacional apresentado, da
ordem de 3 a 5 ha dia-l (RIPOLI, 1978). O primeiro sistema com
colhedora de cana crua picada e plantadeira de toletes foi apresentado
em 1989, dando início à nova geração de plantadeiras no Brasil. Ao
longo dos anos, aconteceram os primeiros aprimoramentos e
avaliações, feitos pela Copersucar, dos equipamentos testados em
1989. Em 1991, o então CTC (Centro de Tecnologia Canavieira) fez
estudos de viabilidade para fabricar a plantadeira no Brasil, tendo
como base a plantadeira de uma linha da Bonel. O CTC também
avaliou outras plantadeiras e fez diversas revisões bibliográficas para
direcionar o projeto da máquina brasileira, que seguiu o modelo das
máquinas australianas.
Entre 1993 e 1996, a equipe do CTC fez testes em quatro
usinas cooperadas (Santa Luiza, Usina da Pedra, São Francisco e
Barra Grande) com a plantadeira importada Bonel, de uma linha. A
fim de criar uma distribuidora de toletes adaptada à necessidade
52 Barbosa

brasileira, entre 1995 e 1996, foi projetada, construída e testada a


distribuidora de toletes da Copersucar, nas usinas Barra Grande, São
João e Santa Adélia. Com esses estudos, em 1997, foi construído e
testado um protótipo brasileiro de duas linhas: a plantadeira
Copersucar de duas linhas, usada na Usina São João.
Na mesma época, o projetista Roberto Marchini, a pedido da
Usina Itamarati, finalizava o desenvolvimento de uma plantadeira de
toletes de duas linhas: a Itamarati 1. A máquina foi fruto das
observações feitas de oito plantadeiras que a própria ltamarati tinha
importado: uma Austoft de uma linha, uma Austoft de duas linhas,
três Cameco de duas linhas e três Class de duas linhas. Os testes finais
do protótipo de duas linhas da Copersucar, já aprovado para
comercialização, ocorreram em 1998 e 1999, nas usinas São João,
Santa Luiza e Bela Vista. Nesse período, avaliou-se também uma
plantadeira importada da Austrália, a Austoft A. O acompanhamento
desta máquina foi realizado na Usina São Martinho. Já entre 2000 e
2001, a São Martinho, em parceria com o Centro de Tecnologia
Canavieira, projetou, consbuiu e testou o protótipo da plantadeira
USM-CTC. Em 2002, houve o aprimoramento da plantadeira e a
implantação da multifuncionalidade para aplicação de torta. Com os
resultados obtidos, foram melhoradas e construídas mai~ duas
unidades de plantadeira aplicadora de torta entre 2002 e 2004.
A partir de 2006 foi lançada no mercado grande quantidade de
plantadeiras de cana com base nesses protótipos desenvolvidos aqui
no Brasil. Esses equipamentos trouxeram uma série de vantagens, que
acarretaram maior controle da execução das diversas fases desta
operação, aumentaram o rendimento operacional, reduziram a
quantidade de mão de obra, e diminuíram o trânsito de equipamentos
pesados na área a ser plantada, porém houve também acréscimo no
consumo de mudas para o plantio, devido ao aumento de danificação à
gema e aumento do percentual de falhas no canavial após o plantio por
falta de capacitação e qualidade operacional, levando à redução na
longevidade e produtividade do canavial.
Em meados de 2009, percebendo-se uma demanda grande de
pequenos e médios produtores por um equipamento de menor custo e
que aproveitasse a estrutura de sulcadores e cobridores, foi lançada
uma distribuidora de cana que apenas a distribui dentro do sulco.
Plantio 53

Nos últimos anos, com o crescimento da ocorrência de pragas


nos canaviais, como broca gigante (Telchin licus licus, mais
problemática pelos danos causados, e Telchin licus !aura, menos
agressiva), bicudo-da-cana (Sphenophorus levis) e Migdolus
(Migdolus fiJ1anus), que têm como meio de disseminação mudas
infectadas e causam sérios prejuízos ao canavial, como redução da
produtividade e da longevidade, tem aumentado a preocupação dos
produtores com a sanidade dos materiais a serem multiplicados, o que
levou centros de pesquisas a buscar alternativas de plantio que
garantisse1n essa sanidade. Com isso, houve expansão do plantio
através de minitoletes, MPB e micropropagação.
A queda na produção, causada entre outros fatores, pela
escassez de chuvas na região centro-sul do Brasil no ano de 2014 e
pelo baixo investimento nos canaviais, devido à crise que o setor tem
enfrentado, é outro fator que tem levado o setor a buscar novas
alternativas para baratear o custo de produção do plantio. Empresas e
centros de pesquisa desenvolveram novos equipamentos,
denominados plantadeiras automatizadas, visando à redução do
consumo de mudas no plantio e, com isso, ao aumento da quantidade
de matéria-prima disponível para a indústria. Isso tem levado ao
desenvolvimento de novos equipamentos para plantio mecanizado
direto de cana picada, com consumo de mudas inferiores, redução de
mão de obra e melhor distribuição, além, claro, do desenvolvimento
de plantadeiras para o plantio mecanizado direto de MPB.
Para facilitar a compreensão, o plantio mecanizado será
dividido em duas partes: plantio mecanizado indireto e plantio
mecanizado direto.

Plantio mecanizado indireto


O plantio mecanizado indireto é todo realizado por máquinas,
porém em operações separadas: um trator com sulcador realiza a
sulcação da área; outro trator, com a distribuidora, realiza a
distribuição das mudas; e mais um trator, com o cobridor, realiza a
cobrição. Neste sistema de plantio, é possível a distribuição de torta de
filtro ou outros resíduos orgânicos no sulco de plantio. e, como a
cobrição é uma operação posterior, observa-se a distribuição da muda
54 Barbosa

dentro do sulco, podendo-se corrigir possíveis falhas na distribuição.


A colheita de mudas, assim como no mecanizado direto, é feita
mecanicamente, através de colhedora adaptada para o corte de mudas.
Geralmente, há elevado consumo de mudas, que em alguns casos pode
passar de 20 toneladas/ha. Semelhantemente ao plantio mecanizado
direto de cana picada, colocam-se de 15 a 22 gemas viáveis/metro
linear de sulco.

Plantio mecanizado direto


O plantio mecanizado direto é realizado em uma única
operação, podendo variar a forma de propagação. Divide-se em:
plantio mecanizado de cana inteira, de cana picada, de mudas pré-
brotadas (MPB), e de minitoletes (gema isolada).

Plantio mecanizado direto de cana inteira


No plantio de cana inteira, as mudas são colhidas
manualmente e carregadas por carregadeiras mecanizadas, em carretas
que são acopladas a um implemento que sulca, distribui fertilizantes,
pica a cana em rebolos de aproximadamente 50 cm, distribui-os no
sulco, aplica defensivos, como inseticidas, nos rebolos e os cobre.
Necessita-se de menos mão de obra, porém o rendimento é inferior a
0,5 ha/h. Geralmente, precisa-se de um trator com potência mínima de
140 cv. Esse equipamento é interessante para pequenos e médios
produtores, que enfrentam dificuldades em conseguir mão de obra
para o plantio e possuem essa estrutura de maquinário (trator,
carregadeira e caminhão, se necessário). Há necessidade de duas a
quatro pessoas para abastecer de cana o picador.

Plantio mecanizado direto de cana picada


Hoje, o mercado brasileiro tem algumas empresas que
comercializam plantadeiras de cana picada, destacando-se: DMB,
SANTAL, TMA, SERMAG, CIVEMASA, ANTONIOSI e SOLLUS.
Melhorou-se o rendimento operacional (0,8 a 1,2 ha. h· 1), e a
Plantio 55

qualidade das mudas colhidas mecanicamente, o que mostra o


desenvolvimento dessa tecnologia. Neste método de plantio, adequado
a usinas e grandes produtores, é necessária a adaptação de uma
colhedora de cana para o corte de mudas.
A abertura do sulco é concomitante com a distribuição do
adubo em profundidade, a colocação da muda e sua cobrição,
reduzindo-se a perda de água do solo por dessecamento do sulco e as
perdas por volatilização do adubo nitrogenado. Os veículos
transportadores de muda não transitam sobre o sulco de plantio.
Reduz-se a demanda de máquinas, deixando-se de realizar a cobrição
posterior, sendo esta, como mencionado, realizada concomitantemente
com o plantio. Finalmente, ocorre uma grande redução na mão de obra
para o plantio. No entanto, este método apresenta algumas restrições,
como o fato de as mudas terem de ser colhidas com máquinas,
aumentando assim o número de gemas danificadas. Além disso, a
distribuição homogênea das mudas pela plantadeira depende muito do
seu operador, pois a alimentação incorreta da plantadeira pode
provocar falhas que serão visualizadas apenas na brotação, razão pela
qual cresce a importância da avaliação e da fiscalização da operação.
Como consequência, exige-se mais responsabilidade dos operadores
(BERNARDES et al., 2001 ).
Visando à melhor distribuição dos toletes no sulco, em 2014,
empresas do setor, juntamente com centros de pesquisa, lançaram
novos modelos de plantadeiras, chamadas de automatizadas. Estas
plantadeiras automatizadas (sem cabine) reduziram ainda mais a
necessidade de mão de obra, pois a distribuição dos toletes passou a
ser acompanhada pelo operador do trator, com auxílio de câmeras e
sensores de carga, e não mais pelo operador da cabine da plantadeira.
Algumas dessas máquinas conseguiram, além de melhorar a
distribuição, reduzir o consumo de mudas.
Na colheita mecânica de mudas, é vital, para obter baixo
número de gemas danificadas, além da adaptação da colhedora,
observar a idade das mudas, que, de preferência, deve ser próxima aos
nove meses, a fim de evitar rachaduras nos toletes devido ao seu alto
teor de fibra, garantir a sanidade do canavial e evitar tombamento no
talhão a ser utilizado como muda.
56 Barbosa

A colheclorc1 destinada à colheita de mudas deve receber algumas


cilterações, pc1ra que os tolctcs não sofram impactos, evitando assim danos
nas gemas e tonrnnclo-as inviáveis. A adaptação da colhedora para mudas
consiste na instalação de um kit para colheita de mudas. Essas
modificações podem ser visualizadas nas Figuras 2.2 e 2.3.
Conforme mostra a Figura 2.2, o primeiro passo na
modificação da colhedora para a colheita de mudas é a retirada do
divisor exte1110 (pi rnlitos) e do rolo tombador, além da instalação de
chapa lisa de borracha na entrada da máquina.

✓-
::- : :· . :- ...:-
• •. :., : -

- - •- ✓ •
, · • _ ... • ' ~J. :, - f - .. ( '1 • .

Figura 2.2 - Remoção dos "pirulitos" externos e revestimento de


borracha na entrada da colhedora.
Fonte: DONIZELLI, 2005.

Já nas Figuras 2.4 e 2.5, observa-se a substituição das taliscas


do rolo levantador por taliscas de borracha e o emborrachamento dos
rolos alimentadores e transportadores.
Plantio 57

Figura 2.3 - Rolo levantador com talisca de borracha.


Fonte: DONIZELLI, 2005 .

Figura 2.4 - Rolos alimentadores de taliscas de aço substituídos por


mangueiras de borracha.
Fonte: DONIZELLI, 2005.

Também se deve trocar o jogo de facas do rolo síncrono por


apenas uma faca e uma contrafaca, para arnnentar o tamanho do tolete
cortado.
58 Barbosa

Figura 2.5 - Rolo síncrono composto apenas de uma faca e uma


contrafaca.
Fonte: DONIZELLI, 2005.

A colocação de chapas lisas no elevador e o revestimento de


borracha do extrator primário também auxiliam na redução das
injúrias causadas às gemas (Figuras 2.6 e 2. 7).

Figura 2.6 - Assoalho do elevador, constituído por chapas lisas em vez


de perfuradas.
fonte: DONIZELLI, 2005.
Plantio 59

Figura 2.7 - Bojo do extrator primário, revestido com borracha.


Fonte: DONIZELLI, 2005 .

Ressalta-se a necessidade de manter as facas de corte de base


e os rolos picadores sempre bem afiados, para evitar estilhaçar os
toletes. A velocidade de trabalho também é inferior à usada na
colheita normal, não devendo passar de 2,5 km/h.
A Figura 2.8 exemplifica o local onde ocorrem as principais
perdas durante a colheita e mostra o resultado das modificações
realizadas com o kit para colheita de mudas sugerido pelo CTC.
Em ambos os sistemas de plantio mecanizado, é necessária
uma estrutura grande, com colhedora adaptada à colheita de mudas,
um caminhão bombeiro, transbordas para o transporte das mudas da
colhedora até a plantadeira/distribuidora, plantadeira ou distribuidora
e, também, um caminhão-oficina.
60 Barbosa

R esultado do Preparo da Colhedora


r-;.. D E <;El\ l ,\ S I NV I ,\ \'E I S

Figura 2.8 - Resultado das modificações da colhedora, para redução de


danos às gemas.
Fonte: DONIZELLI, 2005.

Plantio mecanizado direto de minitoletes


A utilização da gema isolada, ou minitoletes, pode facilitar o
plantio, visto que permite melhor distribuição das gemas, redução da
estrutura de plantio, maquinários mais leves e redução na quantidade
de reboios a serem usados no plantio, podendo vir a baratear esta
operação, que é, juntamente com a colheita, a mais onerosa no
processo produtivo da cultura. Utilizam-se 6 a 15 minitoletes/metro
linear de sulco. O consumo de muda para se plantar 1 hectare é de
aproximadamente 1.500 kg de minitoletes. Podem-se reaproveitar os
colmos remanescentes da produção de minitoletes para fabricação de
etanol, o que aumenta a quantidade de matéria-prima disponível para a
indústria e reduz ainda mais o custo de plantio.
O plantio mecanizado direto de minitoletes ainda é novidade
no setor e deverá ter seu uso aumentado nas próximas safras. Como
toda tecnologia nova, há ainda muitas incertezas sobre o seu sucesso,
principalmente quanto ao rendimento de produção no beneficiamento
das gemas, visto que a cana-de-açúcar é perecível e haverá
necessidade de essas gemas serem preparadas pouco tempo antes de
sua utilização, o que exige uma logística apurada. Algumas usinas e
Plantio 61

também produtores de mudas já utilizam essa metodologia de plantio


em viveiros, manualmente, para o tratamento térmico dos reboios,
visando ao controle de doenças, porém seu uso em larga escala ainda
não é comum (Figura 2.9).

Figura 2.9 - Plantadeira de minitoletes.


Fonte: JOHN DEERE.

Plantio mecanizado direto de mudas pré-


brotadas (MPB)
No que se refere ao plantio mecanizado, ele é feito com
plantadeira de arrasto, a qual pode realizar concomitantemente a
sulcação, a adubação, o plantio e o cobrimento das mudas. As caixas
são colocadas nas plataformas da máquina, e duas pessoas realizam,
por meio de uma n1esa giratória, a distribuição das mudas, perfazendo
duas linhas de plantio. No entanto, toma-se necessário o repasse de
cobrimento, com duas pessoas caminhando atrás da plantadeira
(Figura 2.1 O). Estima-se que o rendimento, com o equipamento
descrito, seja de aproximadamente 3,0 ha/dia.
62 Barbosa

Figura 2.1 O- Plantadeira de mudas pré-brotadas (MPB).


Fonte: DMB.

MEIOSI (Método Inter-rotacional Ocorrendo


Simultaneamente)
O sistema conhecido como MEIOS! (Método Inter-rotacional
Ocorrendo Simultaneamente) foi desenvolvido pelo Engenheiro-
Agrônomo José Telles de Barcelos, no início da década de 1980, na
estação experimental do Planalsucar, em Uberlândia, MG, tendo como
objetivo viabilizar a consorciação racional da cana-de-açúcar com
culturas anuais e, ou, adubos verdes em área de reforma, buscando
minimizar os custos de produção (LANDELL, 1998).
O sistema proposto é o plantio de cana de ano e meio, com o
início de uma parte do plantio em setembro/outubro, numa proporção
de 2:8, ou seja, o plantio de duas linhas de cana e um espaço intercalar
equivalente a oito, com o objetivo de produzir, nessas duas linhas,
mudas suficientes, na própria área de renovação, para o plantio do
restante da área e1n março/abril. Nesse espaço intercalar, cria-se a
possibilidade da instalação de culturas que tenham ciclo compatível
com o do sistema MEIOS!, ou seja, culturas que possan1 ser plantadas
e colhidas durante o período do desenvolvimento da muda de cana-de-
açúcar (Figura 2.11 ).
Plantio 63

Entretanto, o ideal é que a cultura a ser escolhida seja uma


leguminosa, a fim de serem aproveitados todos os beneficios que uma
rotação cultural proporciona ao solo. As leguminosas anuais mais
utilizadas são: soja, amendoim e feijão, com destaque para o adubo
verde Crotalaria juncea, pela capacidade de produção de grande
quantidade de massa verde em curto período de tempo. O plantio da
área total com cana-de-açúcar é realizado tomando como referência as
duas linhas-base, que serão "quebradas" ou cortadas e espalhadas nos
sulcos vizinhos (LANDELL, 1998). Trata-se da formação do viveiro
dentro de partes da área total a ser plantada, intercalado com uma
outra cultura, para um futuro plantio da área total.

Figura 2.11 - Plantio MEIOS! 2 x 6 com colheita mecanizada e


distribuição manual.
Fonte: Arquivo pessoal.

Hoje, com o emprego da sulcação georreferenciada, há


diversas variações dessa proposta e com diferentes formas de
introdução das primeiras linhas de cana, as quais podem ser oriundas
de micropropagação, MPB, minitoletes, cana picada ou cana inteira e
a "quebra" pode ser semimecanizada ( corte e distribuição manual,
com sulcação e cobrição mecanizada), mecanizada indireta ou
mecanizada direta. Assim, resolveu-se o problema de paralelismo das
linhas de sulcação.
Pode-se também variar o espaço intercalar entre linhas
(número de linhas intercalar), dependendo do sistema adotado e1n
cada local. Além da redução de custos, que pode chegar a 45%,
permite também maior controle sanitário do material de orige1n e
maior rapidez na multiplicação (expansão) de novos materiais.
64 Barbosa

Avaliação de qualidade do plantio


Independentemente de o plantio ser manual ou mecanizado,
devem-se realizar avaliações rigorosas para diagnosticar as falhas
deixadas na operação. Há diversos métodos de avaliação para
verificação de falhas. Stolf ( 1986) propôs uma metodologia que
classifica como falha todo ponto com distância superior a 50 cm de
linha de plantio sem perfilhas. O pesquisador propôs também uma
avaliação dessas falhas, como se verifica na Tabela 2.2.
Para esta avaliação, medem-se as falhas em 100 m lineares,
somam-se essas distâncias e obtém-se a porcentagem de falhas. Por
exemplo: em 100 m lineares, foram encontradas cinco falhas, com as
seguintes medidas: 50, 150, 75, 66 e 274 cm, totalizando 615 cm ou
6,5 m de falha. Seguindo a tabela proposta por Stolf, este plantio, com
índice de 6,5% de falha, é excelente.

Tabela 2.2. Avaliação da qualidade do plantio da cultura da cana-de-


açúcar por meio da verificação de falhas no plantio
% Folha> 0,5 Avaliação do Plantio
0-10 excelente*
11-20 bom**
21-35 médio
36-50 rmm
>50 péssimo
(*) Para 15 gemas por metro e ótimas condições de brotação.
(**) normal - tipo mais encontrado.
Fonte: STOLF, 1986.

Referências
BERNARDES, M. S.; TERAMOTO, E. R.; CÂMARA, G. M. S. Planejamento
estratégico da produção de cana-de-açúcar, Fazenda Abadia - Campos dos
Goytacazcs/RJ. Piracicaba, SP: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz.
2002. 131 f. (Boletim Técnico).
Plantio 65

CRESPO, L. E. C. Cultivo i11 vitro de cana-de-açúcar (Saccharum spp.) em


ambientes que favorecem condições heterotróficas e mixotróficas: um estudo
relacionado à fotossíntese, à eficiência fotoquímica e às relações hídricas. 2007 .
49 f. Tese (Doutorado em Produção Vegetal) - Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes-RJ, 2007.
DONIZELLI , J. L. Avaliação do plantio mecânico com a plantadeira DMB PCP
6000. Piracicaba-SP: 2005. (Relatório do Sistema de Mecanização do Plantio - CTC).
IAC. (Diversos autores). Sistema de multiplicação de cana-de-açúcar com uso de
mudas pré-brotadas (MPB) oriundas de gemas individualizadas. Campinas-SP:
20 12. (Documentos 109).
LANDELL, M. G. de A. Plantio com MEIOSI: redução de custos na lavoura
canavieira. São Paulo, SP: 1998. p. 54-62. (2º seminário IDEA).
PRADO, H. Ambientes de produção de cana-de-açúcar na região central do Brasil.
Encarte de Informações Agronômicas, n.11 O, 2005.
RIPOU, T. C. C.; CUNALI RIPOU, M. L.; CASAGRANDI, D. V.; IDE, B. Y.
Plantio de cana-de-açúcar: estado da arte. 1. ed. Piracicaba, SP: T.C.C. Ripoli, 2006.
216 p .
RIPOU, T. C. C. ; RIPOU, M. L. C. Biomassa de cana-de-açúcar: colheita, energia
e ambiente. Piracicaba, SP: Edição dos autores, 2004. 302 p.
STOLF, R. Metodologia de avaliação de falhas nas linhas de cana-de-açúcar. STAB,
p. 22-36, jul./ago. 1986.
STORINO, M .; PECCHE, A.; KURACHI, A. H. ln: DENARDO-MIRANDA, L. L.;
VASCONCELOS, A. C. M.; LANDELL, M. G. A. Aspectos operacionais do
preparo do solo: cana-de-açúcar. (Ed.). Campinas, SP: Instituto Agronômico, 2008.
882 p.
3 NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO

Godofredo Cesar Vitti'


Pedro Henrique Cerqueira luz!
Wellington Sacco A ltran.i

Introdução
A adubação pode ser defimda pela necessidade nutricional da
cultura (planta), subtraindo-se os nutrientes fornecidos pelo solo e
multiplicando o resultado por um fator de eficiência da adubação (f),
ou seja, parcela do fertilizante efetivamente absorvida pelas raízes e
transformada em matéria seca da planta:

ADUBAÇÃO = (PLANTA -- SOLO) x f

Para dimensionamento do primeiro parâmetro dessa equação


(Planta), é necessário conhecitnento básico de nutrição de plantas, ou
seja, das ex1gencias nutnc1onais para determinado nível de
produtividade, respondendo às seguintes questões:
( I) O que aplicar? (fontes e nutrientes a serem efetivamente
aplicados para a nutrição da planta).

· Engenheiro-Agrônomo. D.S. e Professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de


í)ueiroz/US P. E-mail: gcvitti@esalq.usp.br
F.ngcnhciro-Agrônomo, D.S. e Professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de
\límentosllJS P. E-mai l:phcerluz@usp.br
1 11 genhcíro-Agrõnomo, Raízen - Unidade Gaza Andrmhna , SP
l·-maíl : wdlington cre~pa(a~yahoo.com.br
Nutrição e adubação 67

(2) Quanto aplicar? (quantidade necessária parn determi nado


nível de produtividade).
(3) Quando aplicar? (época de maior exigência da cultura e
dinâmica do nutriente do solo).
( 4) Como aplicar? Os nutrientes podem ser aplicados via solo
- em cana-planta, em pré-plantio a lanço em área total, no sulco de
plantio e em cobertura, no caso do potássio; e em soca, após o corte.
Além da aplicação via solo, os nutrientes podem ser aplicados via
folha, tolete ou herbicidas.
Para dimensionamento do segundo parâmetro (solo), a
avaliaçao da fertilidade ("estoque" de nutrientes no solo) pode ser
feita por meio das seguintes técnicas:
a) diagnose visual (aspecto da parte aérea e do sistema
radicular);
b) diagnose fofiar (análise mineral do teor de nutrientes na
folha + 1);
c) análise química do solo; e
d) análise do caldo.
O fator (f) é decorrente da "competição" entre o sistema (solo-
planta-atmosfera) e a pl_anta (cultura) pelo fertilizante aplicado. Essa
competição, traduzida em perdas, pode ocorrer por:
( 1) Erosão: processo de arraste que ocorre para todos os
nutrientes.
(2) Lixiviação: percolação de nutnentes no perfil do solo.
principalmente para os ânions (Cl·, N03·, H38Q3, SO.i= e Mo04= l e
cátions trocáveis (K+, NH4+, Mg++ e ca++ ).
(3) Fixação: adsorção ou precipitação do ânion (H2PQ4·) e de
cátions metálicos (Zn++, cu++, Fe++ e Mn++).
( 4) Volatilização: perda do nutriente aplicado via solo para a
atmosfera, que pode ser por:
- volatilização da amônia (NHJ) da ureia, principalmente
quando aplicada em superfície sobre a palhada de cana crua:
- volatilização de nitrogênio (N 2, N20). enxofre (S02) e boro
( H1B0 1 ) provocada pela queima de palhada: e
68 Vitti, Luz e Altran

- desnitrificação biológica do NOJ-, provocada pela aplicação do


nitrato de amônio sobre a palhada com excesso de umidade (redução),
resultando em fom1as voláteis de N (N2, NO e N2O).
Em função dessas perdas, é esti mada a porcentagem média de
aproveitamento dos macronutrientes primários e dos micronutrientes,
em u m sistema convencional, conforme Tabela 3.1.

T abela 3 .1 - Eficiência de absorção de nutrientes pelas plantas em


sistema de plantio convencional

Nutrientes Aproveitamento (%) Fator (Q


N, S, B 50 a 60 2,0
P2Os, Cu, Mn, Zn 20 a 30 3,0 a 5,0
K20 70 1,5

Analisando os dados da Tabela 3 .1, observa-se que a


adubação eficiente se inicia pela diminuição do fator (f), ou seja,
maior aproveitamento do nutriente, por meio das seguintes práticas:
- plantio direto ou cultivo mínimo e colheita de cana crua;
- práticas conservacionistas;
- correção do solo mediante taxa variável (GPS);
- práticas corretivas ( calagem, gessagem e fosfatagem);
- adubação verde e1n áreas de reforma com crotalárias, soj a
ou amendoim; e
- adubação orgânica, utilizando-se de subprodutos da
indústria sulcroenergética (vinhaça, torta e cinza), de
resíduos animais ( de aves, suínos e bovinos) e da indústria
de alimentos.

li
1

Análise de Solo
1

O programa de correção e adubação baseado na análise de


solo inicia-se com a amostragem do solo, continua com a análise e
interpretação dos resultados e termina com a utilização correta dos
insumos.
Nu trição e aduhaçào 69

Amostragem do solo
Cana-Planta
- Retirar amostra composta por 15 a 20 subamostras por talhão
ou área homogênea, andando em "zigue-zague" e de forma a percorrer
toda a extensão da área.
- Utilizar preferencialmente trado holandês ou sonda como
ferramenta para amostragem.
- Realizar amostragem nas profundidades de 0-25 e 25-50 cm,
cerca de três a quatro meses antes do plantio.
- Para a camada superior (0-5 cm), proceder à análise de
rotina, enxofre e micronutrientes; para a camada inferior, análise de
rotina e enxofre. Pelo menos na primeira amostragem da área,
proceder à análise fisica textura} de ambas as camadas.

Cana-soca
- Proceder da mesma maneira que para cana-planta, realizando
amostragem de solo nas profundidades de O- 25 e 25- 50 cm, porém
posicionando o trado ou a sonda a 25 cm da linha da soqueira.
- Realizar a amostragem após os anos de corte ímpares
(primeiro, terceiro e quinto cortes), visando à aplicação dos corretivos
nos anos pares (segundo e quarto cortes), e, após o último corte, na
ocasião da reforma a 25 cm da linha da soqueira.
- Proceder à análise de macronutrientes na camada superficial
(0-25 cm); na camada inferior (25-50 cm), analisam-se S e Al.

Interpretação da análise
Nas Tabelas 3.2, 3.3, 3.4 e 3.5 são apresentadas as
interpretações dos valores dos teores de nutrientes no solo, para
recomendação de correção e adubação.
Deve-se lembrar que 1O mg.dm-3 de P na análise de solo
equivalem à reserva no solo de 46 kg ha-1 de P20 s, necessários para a
produção de 100 t ha- 1 de colmos, e que 1,0 mmolc.dm-3 de K equivale
a 96 kg ha-1 de K20 .
70 Villí, Luz e Altran

Tabela 3.2 - Limites de interpretação de teores de K e P pela resina em


solos

Teor Produção p

Relativa

% mg.dm-3
Muito baixo O- 70 O- 0,7 0-6
Baixo 7 1 - 90 0,8 - 1.5 7 - 15
Médio 91 - 100 1,6 - 3,0 16-40
Alto > 100 3,1-6,0 > 40
Muito alto > 100 > 6,0
Fonte RAIJ et ai. . 1996

Tabela 3.3 . Interpretação de teores de P no solo segundo o método


Mehlich-1
- - -
''lo de Argila Muito Baixo Baixo Médio Bom
6 1 - 80 <1 1,1 a 2 2, 1 a 3 >3
41 - 60 <3 3, I a 6 6, 1 a 8 >8
21 - 40 <5 5, 1 a 1O 10,1 a 14 > 14
< 20 <6 6_, 1 a _1_2__ ·-
12_, 1 a 18 > 18
-
Fonte· SOUZA: LOBA TO. 1988

Tabela 3.4 - Limites de interpretação de teores de Mg (resina) e S


(fosfato monocálcico) em solos
--- - - - -- - -- - -·- - ---
Teor Mg2+* S**
mg.dm-3
!-faix o 0- 4 <10
~édio 5-8 IO - 15
\lto >8 > 15
h1nll' · i<AIJ cl a i.. 1996: ** VITTI. 198()
Nutnçào e adubação . 71

Tabela 3.5 - Limites de interpretação de valores de teores de


micronutrientes em solos
- - -- - --
Teor 8 Cu
- ~- -- -
Fe
-~ - -
Mn Zn
Água quente DTPA
- - - - --
- -- -----
mg.dm-3 - - - ---
Baixo O- 0,2 0 - 0,2 0- 4 O- 1,2 O- 0,5
Médio 0,21 - 0,6 0,3 - 0,8 5 - 12 1.3 - 5,0 0.6 - 1,2 (l ,6 )*
Alto > 0,6 > 0,8 > 12 > 5,0 > 1,2 1,6)*
• Utilizar esse valor caso o extrator seja o Mehlich-1 .
Fonte: RAIJ et ai.. 1996.

É preciso lembrar que l mg.dm-3 , no resultado da análise de


solo, equivale à reserva de 2,0 kg ha- 1 do micronutriente, na camada
de 0-20 cm. considerando densidade do solo igual a l ,0.

Manejo Químico do Solo


O manejo e uso de fertilizantes em cana-de-açúcar inicia-se
com o diagnóstico da fertilidade do solo e as práticas corretivas
(cal agem, gessagem e fosfatagem), seguidos de práticas
"conservacionistas" (adubação verde e orgânica), e terminam com a
aplicação do fertilizante mineral, ou seja, adotando-se a seguinte
sequência crescente de aplicação das práticas de manejo:
1. Calagem(*)
2. Gessagem< *)
3. Fosfatagem< *)
4. Adubação verde(*)
5. Adubação orgânica(*)
6. Adubação mineral via solo, via tolete, via foliar

As práticas assinaladas com (*) têm a função de aumentar o


aprove1tamc11to do fertilizante mineral (ahsorção radicular ) pnts
/

72 Vilfi, Luz e Altran

promovem maior desenvolvimento do sistema radicular, ocasionando


maior absorção de água e, conseq uentemente, de nutrientes. Desse
modo, as práticas corretivas aumentam a eficiência da adubação
mineral.

Colagem
(1) Cana-planta: proceder ao cálculo da necessidade de
calagem por dois critérios: saturação por bases (IAC - Instituto
Agronômico de Campinas) e teor de Ca + Mg (Coopersucar),
utilizando-se a maior dose determinada, conforme descrito a seguir:

a) NC (t ha-1) = [ (60 - V1) x CTC (l)] + [ (60 - V1) x CTC (2) ]


PRNT x 10

em que:
NC = necessidade de calagem, em t ha· 1;
V 1 = saturação por bases encontrada na análise de solo;
CTC = capacidade de troca de cátions, em 1mnolc dm-3 ;
PRNT = poder relativo de neutralização do calcário, em %;
(1) = camada de O- 20 ou O- 25 cm; e
(2) = camada de 20 - 40 ou 25 - 50 cm.
Observação: caso a amostragem seja realizada nas camadas
de 0-25 e 25-50 cm, multiplicar a dose do calcário por 1,25 para
compensar a maior profundidade considerada.

b) NC (t ha· 1) = [ 30 - (Ca + Mg)] x 10 .


PRNT
1
em que : t

NC = necessidade de calagem, em t ha· 1; 1


1

Ca = teor de Ca na camada de 20-40 ou 25-50 cm, em


mmolc dm-3 ;
Nutrição e adubação 73

Mg = teor de Mg na camada de 20-40 ou 25-50 cm, em


mmolc dm·3 ; e
PRNT = poder relativo de neutralização do corretivo(%).

Observação: caso a amostragem seja realizada nas camadas


de 25-50 cm, multiplicar a dose do calcário por 1,25 para compensar a
maior profundidade considerada.

Para o sucesso dessa prática, recomenda-se aplicar o calcário


o mais profundamente possível na implantação do canavial. Deve-se
atentar para a uniformidade e antecedência da aplicação, bem como
para o teor de magnésio e PRNT do calcário.

(2) Soqueira: realizar a calagem logo após o segundo e quarto


cortes, com base nas análises de solo realizadas após primeiro e
terceiro cortes, caso a saturação por bases (V%) seja menor do que 50,
levando em consideração somente a camada de 0-20 ou 0-25 cm. Não
aplicar mais que 3 t ha· 1, porém, caso a dose calculada seja superior,
aplicar o restante no ano seguinte.

NC (t ha· 1) = [ (70 - Vi) x CTC]


PRNT x 10

em que:
V 1 e CTC (mmolc.dm-3) = da camada de 0-20 ou 0-25 cm; e
PRNT = poder relativo de neutralização do calcário, em %.
Observação: caso a amostragem seja realizada nas camadas
de 0-25, multiplicar a dose do calcário por 1,25, para compensar a
maior profundidade considerada.

Assim como no caso da cana-planta, deve-se utilizar o critério


do Ca e Mg, conforme expressão a seguir, escolhendo aquele que
resultar em maior dose:

NC (t ha· 1) = [ 30 - (Ca + Mg)] x 1O


PRNT
Nutrição e adubação 73

Mg = teor de Mg na camada de 20-40 ou 25-50 cm, em


mmolc dm·3; e
PRNT = poder relativo de neutralização do corretivo (º/o).

Observação: caso a amostragem seja realizada nas camadas


de 25-50 cm, multiplicar a dose do calcário por 1,25 para compensar a
maior profundidade considerada.

Para o sucesso dessa prática, recomenda-se aplicar o calcário


o mais profundamente possível na implantação do canavial. Deve-se
atentar para a uniformidade e antecedência da aplicação, bem como
para o teor de magnésio e PRNT do calcário.

(2) Soqueira: realizar a calagem logo após o segundo e quarto


cortes, com base nas análises de solo realizadas após primeiro e
terceiro cortes, caso a saturação por bases (V%) seja menor do que 50,
levando em consideração somente a camada de 0-20 ou 0-25 cm. Não
aplicar mais que 3 t ha· 1, porém, caso a dose calculada seja superior,
aplicar o restante no ano seguinte.

NC (t ha· 1) = [ (70 - Vi) x CTC]


PRNT x 10

em que:
V 1 e CTC (mmolc.dm-3) = da camada de 0-20 ou 0-25 cm; e
PRNT = poder relativo de neutralização do calcário, em %.
Observação: caso a amostragem seja realizada nas camadas
de 0-25, multiplicar a dose do calcário por 1,25, para compensar a
maior profundidade considerada.

Assim como no caso da cana-planta, deve-se utilizar o critério


do Ca e Mg, confonne expressão a seguir, escolhendo aquele que
resultar em maior dose:

NC (t ha· 1) = [ 30 - (Ca + Mg)] x 1O


PRNT
74 Vitti, luz e A ltran

em que:
NC = necessidade de calagem, em t ha-1;
Ca = teor de Ca na camada de 0-20 ou 0-25 cm, em mmolc.dm-3;
Mg = teor de Mg na camada de 0-20 ou 0-25 cm, em mmolc dm·3;
PRNT = poder relativo de neutralização do corretivo (%).

Observação: caso a amostragem seja realizada nas camadas


de 0-25 cm, multiplicar a dose do calcário por 1,25 para compensar a
maior profundidade considerada.

Gessagem
Utilizar os critérios a seguir para recomendação de gesso tanto
em cana-planta como em soqueira, considerando o resultado de
análise da camada de 20-40 ou 25-50 cm.

a) Condicionador de subsuperficie

NG (t ha·') = (50 - V1) x CTC


500

em que:
NG = necessidade de gesso, em t ha· 1;
V 1 = saturação por bases encontrada na análise de solo de 20-
40 ou 25-50 cm; e
CTC = capacidade de troca de cátions da camada 20-40 ou
25 -50 cm, em mmolc dm·3 .

Quando, por esse critério, a dosagem calculada for maior ou


igual a 1,0 t ha· 1, o gesso, além de condicionamento do subsolo, sera
suficiente para o fornecimento de enxofre por três c011es.

b) Fonte de enxofre
Aplicar l l ha-1 de gesso para fornecimento de 150 kg ha-1 de
S. sendo isso suficiente para três cortes. em áreas para as quais não
Nutrição e adubaçcio · 75

houver recomendação de gesso, segundo critério de condicionador de


subsuperficie, desde que essas áreas apresentem teor de S inferior a 15
mg.dm·3 na camada de 25-50 cm e que não recebam a aplicação de
vinhaça ou compostos de torta-de-filtro, ou aplicação de Ajifer. Pode-
se também optar nesse caso para outras fontes de enxofre como
superfosfato simples, sulfato de amônio, enxofre elementar pastilhado
com bentonita.

c) Áreas com elevadas doses de vinhaça


Nas áreas onde são utilizadas dosagens elevadas de vinhaça,
ou uso prolongado desta, pode haver desequilíbrio entre bases do solo.
devido ao acúmulo de potássio. O excesso desse nutriente pode ser
prejudicial à cultura da cana-de-açúcar de várias maneiras, como
agente dispersante da argila, gerando compactação. Se absorvido em
excesso, prejudica a absorção de Ca e Mg, diminuindo o A TR. Para
áreas que apresentam essa característica, ou seja, K na CTC do solo>
5%, sugere-se adotar a fórmula a seguir para o cálculo de dose de
gesso.

NG = (2,15 x K/10) x l,7

sendo:
NG: necessidade de gesso (t ha· 1); e K: teor de potássio
(mmolc.dm· 1) na camada de 0-20 ou 0-25 cm
(multiplicando neste caso por 1,25).

A finalidade da aplicação de gesso é balancear o equilíbrio de


bases no solo, devido à troca de potássio por cálcio, ou seja.
promovendo a lixiviação de K.

Fosfatagem
Esta prática é particularmente importante em solos arenosos
com baixo teor de fósforo : P resina < 15 mg dm·3 ou P - Mehlich- l
nas classes muito baixa e baixa, ambos na camada de 0-20 ou 0-25
cm, quando o solo apresentar baixa CTC (< 60 mmok dm-~) ou teor
de argila < 30%. Quando o solo estiver nessa situaçào, podem-se
I

76 Vitti, Luz e Altran

adotar as doses de P2O5 descritas na Tabela 3.6 em área total, após a


calagem e gessagem, antes do uso da grade de nivelamento
(incorporação superficial).

Tabela 3.6 - Doses de fósforo a serem aplicadas em fosfatagem


P resina (O - 20 ou O- 25 cm) Dose de P2Os
mg dm-3 kg ha-1
<5 150
6-10 120
11-15 100
> 15 o

As fontes de P2Os mais recomendadas para esta prática são as


que apresentam teores médios e altos de P2Os solúveis em ácido
cítrico (HCi), como fosfato natural reativo (30% P2Os total e 10 a 14%
P2O5 HCi); termofosfato magnesiano (18% P2Os total e 16% HCi);
torta de filtro; e composto de torta de filtro + cinza + fonte de P2Os ou
torta + cinza+ dejetos animais, principalmente aves. Para o cálculo da
quantidade de fosfato reativo, deve-se considerar o teor de P2Os total,
assim como o de outras fontes com alto teor de P2Os solúvel em HCi.
As principais consequências da fosfatagem são maior
quantidade de P em contato com o solo (maior fixação); maior volume
de solo explorado pelas raízes; maior absorção de água e de
nutrientes; melhor convivência com pragas de solo; e maior
aproveitamento do P2O5 aplicado no sulco, resultando em
manutenção de alta produtividade ao longo dos cortes (menor queda
de produtividade entre os cortes) com maior longevidade.

Adubação verde
A adubação verde na reforma do canavial é prática obrigatória
para equilíbrio do sistema, por proporcionar diversos efeitos, como a
proteção da camada superficial do solo na época mais suscetível à
erosão, ser fonte de nutrientes, principalmente N, e atuar na
Nutrição e adubação 77

solubilização mais rápida de Ca, Mg, S e P contidos nos corretivos em


menor tempo, além de melhorar a estrutura do solo, elevar os níveis de
MO, reduzir a fixação de fósforo, entre muitos outros.
As culturas mais indicadas para manejo com a cana-de-açúcar,
seja em rotação, seja em MEIOS!, são: crotalária (Crotalariajunceae,
Crotalaria spectabilis e Crotalaria ochroleuca), soja e amendoim, de
acordo com a região.

Adubação orgânica
Os principais efeitos da matéria orgânica sobre os atributos
fisicos do solo são: aumento da capacidade de retenção de umidade;
porosidade (macroporos); redução da densidade aparente; melhoria na
taxa de infiltração de água; e amortecimento térmico, evitando
grandes oscilações de temperatura. A matéria orgânica também tem
efeito sobre os atributos químicos do solo, como aumento da
capacidade de retenção de cátions; fornecimento de macro e
micronutrientes; liberação gradual dos nutrientes; e redução da fixação
de P, uma vez que os radicais orgânicos bloqueiam os sítios de
fixação.
Além disso, a matéria orgânica implica melhoria dos atributos
biológicos do solo, pois proporciona melhores condições para o
desenvolvimento dos organismos vivos (insetos, anelídeos etc.),
especialmente da microbiota do solo, que conduzirá à disponibilização
dos nutrientes para as plantas.
No setor sucroenergético, a prática da adubação orgânica é de
extrema importância, pois a indústria gera diversos subprodutos que
apresentam potencial técnico e econômico para a aplicação em cana-
de-açúcar.
A utilização de subprodutos tornou-se grande redutor de
custos para a usina, visto que eles cada vez mais substituem ou
complementam a adubação mineral e com custos abaixo dos dela. Os
subprodutos mais utilizados são torta de filtro, vinhaça, fuligem ou
cinza. Quanto ao "processo para uso" desses subprodutos, há as
seguintes opções:
78 Vilfi. luz e Altran

1) " ln natura'', ou seja, da forma que a to11a de filtro sai da


usina, com cerca de 70 a 75°io de umidade. É utilizada principalmente
no plantio de cana de inverno (na região centro-sul do Brasil), no
sulco, visando ao fornecimento de nutrientes, juntamente com a água,
além do efeito ténnico benéfico da torta. Todavia, como a umidade é
alta, para atingir a quantidade adequada de nutrientes, é necessário
aplicar elevada dosagem.
2) "Condicionada", ou seja, a torta de filtro que passou por um
processo de secagem, aliada ao condicionamento fí sico para melhorar
as características de aplicação. Nesse sentido, como ocorreu a
concentração de nutrientes e melhorou a escoabilidade por
aplicadores, torna-se alternativa muito interessante o uso da torta.
3) A torta de filtro "enriquecida", além de sofrer o processo de
condicionamento, passa por compostagem aeróbica, sendo misturada
com outras matérias-primas, visando elevar o padrão da concentração
de nutrientes e düninuir a umidade. Isso toma possível ampliar as
áreas de aplicação, uma vez que o produto pode ser transportado em
maiores distâncias em razão das menores dosagens.
O processo de compostagem visando ao enriquecimento pode
ser feito utilizando-se na mistura as seguintes matérias-primas:
a) Fornecedoras de carbono: bagaço, cinza, serragem etc.
b) Fornecedoras de nutrientes: cama de frango, esterco de
galinha, esterco bovino, dejeto de suíno etc.
c) Fontes minerais: gesso agrícola e fontes de P2O5 , como o
termofosfato magnesiano e fosfatos naturais reativos.
Como prática de manejo, sugere-se o uso de torta de filtro
com o condicionamento fisico, utilizando compostador mecanizado
(Figura 3 .1) no pátio de compostagem, visando à redução de umidade
e à melhoria da tendência de escoamento por meio da redução dos
agregados e melhor homogeneização do composto.
Após o condicionamento da torta, a usina está capacitada para
a segunda etapa: a compostagem. Nesse processo, mistura-se a torta
com a cinza (que será analisada mais à frente) nas proporções de três a
quatro quilos de torta para um quilo de cinza. Com o intuito de
enriquecer o c01nposto com S e Ca, além da possibilidade de redução
da perda de NH3 por volatilização, sugere-se a mistura do gesso
Nutrição e adubação 79

agrícola na dose de l 0% do peso, após o final do processo de


compostagem.
O uso da torta de filtro no plantio de cana-de-açúcar visa à
substituição plena do N e P2Os e parcial do K2O. É necessário que a
torta condicionada/enriquecida tenha elevado teor de P20 5, visto que,
normalmente, utilizam-se 30 a 40, 120 a 150 e 100 a 120 kg ha· 1 de N,
P2Os e K2O, respectivamente.

Figura 3.1 - Condicionamento fisico com o auxílio de compostador


mecanizado.

Dessa forma, no processo de compostagem, sugere-se o


enriquecimento com uma fonte mineral de P2Os. Entre as principais
fontes, destacam-se o fosfato natural reativo (FNR) e o termofosfato
magnesiano. O termofosfato magnesiano apresenta comportamento
muito interessante, pois é menos sujeito ao processo de fixação pela
elevação do pH (visto que no composto o pH passa de 7,0) e reação
com Ca (Figura 3.2).
Com a fertirrigação com vinhaça, evita-se utilização de
potássio nessas áreas, o que representa cerca de 25% das áreas de
80 Vitti, luz e Altran

soqueira da usina, bem como proporciona ganhos em produtividade e


longevidade.
P O % solubili zado cm CNA cm diferentes pH
l '
25
22,5 ...,_ Hiperfosfato CRA
(Fost. Reativo)
20
~ Fosforita Alvorada
17,5
';J. 15 -e-Apatita - Jacupiranga
612,5
o..N -e- Apatita -Araxá
10
7,5 + Apatita - Tapira
5
~ Termofosfato
2,5 Magnesiano
o
2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0
pH

Figura 3 .2 - Solubilização do P20s em função do pH em diferentes


fontes de fósforo.
Fonte: ALCARDE; PONCHIO, 1979.

Adubação Mineral N-P20s- K20


Adubação de plantio
A adubação no sulco de plantio e1n te1mos de N, P2Os e K2O é
feita em função do histórico da área (para N) e da análise de solo (para
P20 s e K2O), conforme apresentado na Tabela 3.7.
A adubação nitrogenada deve ser feita em doses menores (30
1
a 40 kg ha- ) (Tabela 3.7) e1n áreas de expansão e em solos mais
arenosos (ambientes de produção C, D e E).
As doses maiores de N (50 a 60 kg ha-1) são indicadas para
áreas de reforma e solos mais argilosos (ambientes de produção A e
B). Quando do uso de leguminosas cultivadas em condições
adequadas, em áreas de reforma, ou do uso de resíduos orgânicos, a
adubação de N de plantio pode ser dispensada.
Além do fornecimento dos macronutrientes primários
(N-P2Os-K2O), é fundamental o fornecimento dos micronutrientes.
principalmente B, Zn e C u, conforme a ser discutido no item
Nutrição e adubação 81

"Adubação com micronutrientes", considerando que o Ca, Mg e S


foram fornecidos por meio de práticas corretivas.

Tabela 3.7 - Adubação mineral de plantio de cana-de-açúcar com base


em análise de solo
KiO
N P resina P20 s K
Plantio Cobertura2 Total
kg ha- 1 mg dm-3 kg ha-1 mmolc dm·3 kg ha· 1
o- 6 1 180 < 0,7 60 110 170
1
7 - 15 150 0,8 - 1,5 60 80 140
30 a 60 16 - 40 120 1,6 - 3,0 50 60 110
> 40 100 3,1-5,0 o 80 80
> 5,0 o o o
1
Em solos com teor de argila~ 30%, realizar a fosfatagem e acrescentar 150 kg ha· 1 de P20 5 no
sulco de plantio. 2 Antes do fechamento do canavial, na operação "quebra-lombo" .

As formulações mais recomendadas para o plantio da cana-de-


açúcar são 07-30-12, 10-30-00, 04-30-10 e 10-30-12, dependendo da
análise de solo e do manejo realizado na área. As formulações citadas
podem ou não vir acompanhadas de micronutrientes, visto que
existem muitas tecnologias que os vinculam ao fósforo, ou a todos os
grânulos de N-P2Os-K2O, conforme o modo em que são fornecidos.

Adubação de cana-soca
Antes da definição da quantidade de N e K2O, é necessário
saber o tipo de colheita, se a cana é queimada ou se é cana crua.

a) Cana queimada
A adubação de N é baseada na produtividade colhida,
enquanto a de K 20 é na produtivid:1de e na análise de solo
(amostragem da soqueira), utilizando 1,0 kg N/t de cana e de l ) a 1,5
kg de K 20 /t de cana, mantendo-se a relação N/K 20 na faixa de 1,0
para 1,3 a 1,5 (Tabelas 3.8·e 3.9).
f

82 Vitti, Luz e Altran

Tabela 3.8 - Adubação mineral de cana-soca queimada, em função da


expectativa de produtividade

Produtividade esperada N K20


t ha-1 - - - - - - kg ha-1 - - -
65 - 80 80 100 - 120
81 - 100 100 130- 150
> 100 120 160-180

Tabela 3.9 - Recomendação de adubação potássica para cana-soca


queimada, com base nas análises de solo

< 1,5 150 - 180


1,6 - 3,0 110 - 140
> 3,0 80

Para cana colhida queimada, são usuais as formulações do tipo


20-00-30, 20-05-20, 18-00-27 e 18-06-24, dependendo de vários
fatores, como níveis de potássio e fósforo, bem como aplicação de
vinhaça ou de outros subprodutos. Essas formulações devem vir
acompanhadas de porcentagem de boro que forneça de 0,7 a 1,0 kg ha· 1
do nutriente, desde que não utilizada outra forma de aplicação do
elemento, como via herbicida.

b) Cana crua
No sistema de colheita de cana crua (sem despalha a fogo), há
acúmulo de 1O a 15 t ha-1 de matéria seca (MS), o que implica altas
relações C/N, C/P e C/S, indicando baixa mineralização da matéria
orgânica da palha, mesmo após um ano de corte. Dessa maneira.
ocorre imobilização dos 1nions (N, P e S) no interior da palhada e
liberação dos nutrientt.··, minerais catiônicos (K, Ca e Mg),
principalmente do K, devolvendo para o solo 50 kg ha· 1 de K e
aumentando, evidentemente, a atividade microbiana, em especial da
urease, responsávç l pelas p\~ rdas de NHJ da ureia por volatilização.
Nutrição e adubação 83

Por essas razões, quanto ao fon1ecimento desses nutrientes,


sobretudo do N , deve-se atentar para dois fatores: dose e fonte .
Quanto à dose, deverá ser aumentada em, no mínimo, 30%, ou seja,
1,3 kg N/t de cana produzida. No tocante à fonte de N, o uso da ureia
em superficie toma-se proibitivo, podendo as perdas, se não obedecida
a proibição, atingir 70%, conforme observado por Lara Cabezas et ai.
(1991), quando da aplicação superficial da ureia empalhada de milho.
Assim, para o uso da ureia, há três opções:
a) Aplicar ureia ')ateada" sobre a palha - quando os grânulos
são aplicados sob pressão, acabam transpondo a barreira de palha e
ficando próximos à superficie do solo.
b) Utilizar ureia "protegida" com inibidores da urease - -o que
talvez seja a melhor opção, já que há grande quantidade de produtos
desse tipo no mercado e possibilidade da elaboração de formulações
variadas de micronutrientes para a soqueira, como o B e o Cu, que,
para alguns produtos, são os agentes inibidores de urease e podem agir
também do ponto de vista nutricional.
c) Utilizar ureia misturada com sulfato de amomo, por
exemplo, na formulação 32-00-00-12, resultante da mistura equitativa
dessas duas fontes. O produto é excelente opção para fornecimento de
N e S, porém eleva-se o valor do ponto de N e o S já fornecido em
grande quantidade e de maneira mais econômica, devido à utilização
de gesso.
Com relação à adubação potássica, observa-se que a palhada
libera de 40 a 50 kg ha-1 de K, que deverá ser abatido da adubação
mineral. Assim, a dose de K2O em cana crua poderá ser de 0,8 a 1,0
kg de K 2O/t de cana colhida, resultando numa relação N/K2O de 1,0 a
1,3/1,0.
Na cana-soca, toma-se fundamental o fornecimento --do
micronutriente boro e, até certo ponto, de molibdênio, os quais
apresentam mecanismos do fluxo de massa (caminham com a água)
similares aos de N e K2O.
A adubação fosfatada em soqueira é muito discutida,
principalmente pela ausência ou baixa mobilidade do H2PO4- no solo,
bem como pela acidificação na zona radicular. No entanto, com o
adequado fornecimento de P2Os na implantação da cultura, tanto em
área total como no suko, não é necessária a utili zação de P2O 5 na
84 Villi, Luz e Altran

soqueira. Em áreas onde o P não foi devidamente manejado na


implantação, sugere-se aplicar cerca de 30 kg ha-1 de P 20 5• Contudo,
em solo com acidez devidamente corrigida (> 50%) e quando o P no
solo for menor que 15 mg.dm-3 em resina, deve-se preferir a fonte
MAP, que é mais solúvel, mais acidificante e tem maior mobilidade
em relação aos fosfatos de cálcio.
A adubação com enxofre na cana é fundamental , sobretudo
em áreas com maior rossibilidade de resposta, ou seja:
a) sem aplicação de subprodutos orgânicos ou gesso agrícola;
b) mais distantes da usina ( sem retorno do SO2 da queima do
bagaço); e
c) com solos mais arenosos, com baixos teores de MO.
Quanto à gessagem, a dose, por exemplo, de 1,0 t ha-1 é
suficiente para o fornecimento de S, no mínimo para dois cortes,
necessitando-se de reaplicação na cana-soca após o segundo e o quarto
cortes, quando o teor de S do solo na camada de 25-50 cm for menor
do que 15 mg.dm-3 .
O enxofre também pode ser fornecido no plantio a partir de
fontes de P20 s, como o superfosfato simples ( 12% S) e MAP
contendo S elementar (9 e 15% S). Na cana-soca, principalmente em
cana crua, a qual apresenta elevada relação C/S, as fontes de S podem
ser nitrogenadas: sulfato de amônio (24% S); mistura de ureia com
sulfato de amônio ( 12% S); ureia mais enxofre elementar ( 16% S); S
elementar mais argila (90% S); e, no caso de adubação fluida, por
meio de vinhaça, Ajifer ou Sulfuran (4% S).
Nas áreas fertirrigadas com vinhaça, deve-se avaliar o volume
dela aplicado: 150 a 200 m 3 são suficientes para o fornecimento de
todo o potássio e por volta de 50 kg ha- 1 de N. O restante deve ser
complementado de acordo com a produção de colmos e com o tipo de
corte ( cana crua ou queimada). Para a cana-soca colhida crua,
recomenda-se utilizar as formulações 21-00-17, 20-00-15, 2 1-04-17 e
20-05 - 15, entre outras, dependendo do manejo adotado. Essas
formulações devem apresentar P na forma de MAP, bem como de
boro na dose de 0,7 a 1,0 kg ha-1, caso ele não seja ap licado de outra
forma .
Nutrição e adubação 85

Adubação com Micronutrientes


Em razão dos baixos teores no solo, de práticas culturais, que
diminuem sua disponibilidade e de sua importância na nutrição da
cana, o fornecimento adequado de micronutrientes é prática
fundamental para aumento de produtividade e resistência a pragas,
doenças e déficit hídrico.
Os micronutrientes podem ser fornecidos das seguintes
maneiras:

Via solo
- Adubação sólida: N-P205-K20 + micronutrientes: as doses
e as fontes para recomendação dos micronutrientes em cana-planta
estão apresentadas na Tabela 3.1 O.

Tabela 3.10 - Doses e fontes de micronutrientes para a adubação, em


função do teor de nutrientes no solo
- -- -
Teor no solo Dose recomendada {kg ha·')* Fontes

Zn (DTPA< 0,6 mg.dm-3) 3,0 a 5,0 Oxissulfatos

Cu (DTPA < 0,3 mg.dm-3) 2,0 a 3,0 Oxissulfatos

B (água quente< 0,2 mg.dm-3) 1,0 a 2,0 Ulexita

Mn DTPA < 1,2 m .dm-3 ** 2,0 a 3,0 Oxissulfatos


* Observação: doses menores para solos arenosos e maiores para argilosos.
•• Solos muito arenosos.

As doses indicadas na Tabela 3.1 O, para aplicação de


micronutrientes na forma sólida e via solo, juntamente com a
formulação de plantio, fornecem Zn, Cu e Mn suficientes para os
cinco cortes; entretanto, o B deve ser reaplicado anualmente nas
soqueiras, na faixa de 0,7 a 1,0 kg ha-1, em virtude da dinâmica desse
nutriente.
86 Villí, Luz e Altran

É importante ressaltar que os micronutrientes devem


obrigatoriamente estar agregados à fonte de P20 s, ou revestindo todos
os grânulos de N-P2Os-K2O. Essas tecnologias, além de maior
unifonnidade na aplicação do micronutriente, irão promover maior
solubilidade dele, lembrando que a atual legislação sobre fertilizantes
exige que 60% do teor declarado de micronutrientes seja solúvel em
CNA + H2O, para Cu e Mn, e 60% solúvel em HCi, para os demais
(B, Zn, Fe, Mo etc.).
Devido ao mecanismo de absorção do Zn e Cu (difusão) - isto
é, eles apresentam fixação no solo, com efeito residual -, as doses
fornecidas são suficientes por, no mínimo, cinco cortes.
Recomendam-se, apesar disso, análises periódicas de solo.
- Adubação fluida: em unidades que dispõem de adubação
fluida, o B, Zn e Cu podem ser fornecidos juntamente com as fontes
de N (Aquamônia, Uran), P2Os (MAP, H3PÜ4) e K2O (cloreto) na
forma de ácido (H3BÓ3) e sais (sulfato de Zn), ou de quelatos e
fosfitos, ou, ainda, misturados a ácidos fúlvicos e húmicos. Atentar
para a corrosão causada pelo cobre, utilizando, preferencialmente,
produtos quelatizados ou fosfitos.

As doses de micronutrientes fornecidas via adubação fluida


_estão apresentadas a seguir.
B: 0,5 a 1,0
Doses (kg ha-1) Zn: 1,0 a 1,5
Cu: 0,5 a 1,0
• Observação: doses menores para produtos quelatizados e fosfitos, e maiores para produtos à
base de sais.

O fornecimento de micronutrientes via solo na forma fluida


possibilita resíduo de Cu e do Zn em dois cortes, devendo ser
aplicados novamente a partir do segundo corte. O boro deve ser
aplicado anualmente nas soqueiras, na dosagem de 0,7 a 1,0 kg ha-1•
Nutrição e adubação 87

Via herbicida
Tanto em cana planta como em soca, o boro pode ser aplicado
juntamente com o herbicida, na forma de ácido bórico, octaborato de
sódio ou boro monoetalonamina. A seguir, são apresentadas as
garantias e doses desses produtos.

Fontes de B Teor de B PS* B kg ha- 1


Acido bórico 17% 5 0,75
Octaborato de sódio .. 20% 10 0,50
Boro monoetanolamina** 135 a 150 g L- 1 Solução 0,35
*PS, produto de solubilidade (g I 00 m.1·1 ou kg 100 1· 1); ••o octaborato e o boro
monoetanolamina apresentam reação alcalina, devendo-se utilizar redutores de pH para não
diminuir a eficiência dos herbicidas.

No preparo da solução com H3BÜ3, recomenda-se colocar,


inicialmente, três quartos de água, adicionar a fonte de boro, levando
em consideração o produto de solubilidade, isto é, a quantidade
máxima possível de ser dissolvida sem causar precipitação, e
acrescentar a seguir o herbicida, completando o volume com água. No
caso das fontes alcalinas ( octaborato de sódio e boro
monoetanolamina) obedecer à seguinte sequência: (1) ¾ H2O: (2)
redutor de pH (pH 4,5 a 5,0): (3) herbicida: (4) fonte de B: (5) ¼ H2O.

Via tolete
Possibilita a aplicação conjunta com nematicidas e inseticidas,
além de diminuir o número de aplicações e melhorar a distribuição
dos produtos na "cobrição" da muda. Antes de proceder a essa prática,
deve-se verificar a compatibilidade desses produtos com os defensivos
agrícolas.
Fontes: B - ácido bórico, boro etalonamina ou octaborato de
sódio
Cu, Fe, Mn, Zn - sais (sulfato), quelatizados, fosfitos ou
ácidos húmicos e fúlvicos.
88 Villi, Luz e Altran

Doses: B - 300 a 350 g.ha-1 de B


Cu, Fe, Mn, Zn - extração x f
(f = 1,2 a 1,5 para Zn e Cu), cerca de 600 e 300 g.ha- 1,
respectivamente, para Zn e Cu.

A aplicação de 1nicronutrientes via tolete é vantajosa por


desvincular o seu fornecitnento da adubação de sulco de plantio, visto
qu~ ela é feita pelo cobridor, juntamente com o tratamento
Citossanitário. No entanto, as quantidades fornecidas são suficientes
para apenas um corte, devendo os micronutrientes ser reaplicados após
o primeiro corte, principalmente B e Zn (VITTI et al., 2011),
sugerindo-se assim o uso das duas tecnologias (aplicação via tolete e
solo), haja vista o alto perfilhamento pela aplicação via tolete.

Via foliar
a. Objetivo - aumentar o potencial produtivo, principalmente
em canaviais em condições climáticas adversas, que resultam em
desenvolvimento abaixo do potencial.
b. Época de aplicação - de outubro a meados de janeiro, isto
é, antecedendo o período de máximo crescimento vegetativo da
cultura, bem como respeitando o período de ação do fertilizante, entre
a época de aplicação e o corte da cultura.
c. Sequência de aplicação - iniciar preferencialmente a
aplicação foliar em:
- canas para mudas (viveiros);
- canas a serem colhidas em início de safra: superprecoces
(RB85 5156) e precoces;
- canas médias; e
- canas "tardias".
Nutrição e adubação 89

d. Formulação básica
Nutriente Fonte
Nitrogênio 12 a 15 Ureia
Molibdênio 0,12 a 0,15 Molibdato de sódio

Somente 50% do N-Ureia é absorvido após uma hora da


aplicação, e 70% é absorvido após cinco dias (TRIVELIN, 2007).
Essa absorção rápida do N irá induzir maior volume de raízes e
'
consequentemente, maior produção de matéria seca da parte aérea.
A presença de molibdênio tem duas finalidades :

•Aumentara atividade da nitrato redutase das folhas


Mo

• Aumentar a absorção de N via solo, pela sua ação na


nitrogenase
Mo/Fe

e. Resultados esperados
Em experimento realizado com quatro variedades, Crisóstomo
(2007) obteve aumento de produtividade de 9,7 t ha· 1 com a aplicação
foliar de N + Mo, em relação ao tratamento-controle. Em outro
experimento, o mesmo pesquisador, utilizando apenas uma variedade,
1
constatou aumento de produtividade de 8 t ha· com o mesmo
tratamento.

f. Nutrientes opcionais
Zinco - participa do desdobramento do triptofano em ácido
indolacético (AIA), promove maior crescimento dos internódios,
novos lançamentos, bem como maior resistência às falsas ferrugens.
Como a absorção via solo fica prejudicada pelo déficit hídrico e pela
90 Vitti, Luz e Altran

alta reatividade do solo (fixação), acentuada pelas práticas da calagem


e fosfatagem , recomenda-se a adubação foliar com aproximadamente
650 g ha-1 de Zn.
Fórmula sugerida: 20-00-00 + 0,19% Mo + 1,0% Zn (d=l,21)
na vazão de 50 L.ha-1, correspondente à adição de:

N Mo Zn

10 0,110 0,605

Boro - em variedades mais suscetíveis à deficiência desse


micronutriente, como RB86 7515, CTC 9 e CTC 20, é interessante a
aplicação desse nutriente, o qual participa da formação de zonas
meristemáticas (gema apical e radicelas) e dos mecanismos de
resistência das plantas a doenças. Sobretudo, na variedade RB86 7515,
cultivada em solos mais arenosos, recomenda-se a utilização de 350
g.ha-1 de B.
Fórmula sugerida: 23-00-00 + 0,22% Mo + 1,2% Zn + 0,6%
B, correspondente ao fornecimento de:

N Mo Zn B

12 0,115 0,600 0,350

Cobre - em áreas de baixada, sujeitas à inundação, onde o


cobre fica na forma insolúvel (Cu+), e devido à forte complexação pela
matéria orgânica, há grande possibilidade da resposta à aplicação
foliar desse micronutriente, o qual é também o maior responsável pelo
aumento de resistência a doenças. Assim, sugere-se a dose de 200
g.ha-1 de Cu, evitando fontes na forma de sais (sulfato e cloreto),
dando preferência a fosfito de cobre, pois os sais de Cu apresentam
efeito altamente corrosivo. O fosfito apresenta ainda a vantagem de
induzir a formação de fitoalexinas, aumentando a resistência a
doenças fúngicas .
Nutrição e adubação 91

Fórmula sugerida: 23-00-00 + 0,22% Mo + 1,2% Zn + 0,4%


Cu, correspondente ao fornecimento de:
N Mo Zn Cu

12 115 0,600 0,200

Mais recentemente, Crusciol (2013), conduzindo 24


experimentos, observou que a aplicação de 180 g ha- 1 de B na forma
de H3B03, cerca de dois meses antes da colheita (época de aplicação
de maturador) aumentou a produçãó de sacarose em 10% e 6%,
respectivamente, em cana precoce e média.

Conclusão
Para obtenção de alta produtividade, qualidade e longevidade
dos canaviais, deve-se proceder ao seguinte manejo químico do solo:

Cana-Planta
a) Calagem; b) gessagem; c) fosfatagem, principalmente em
solos arenosos (argila< 30% ou CTC < 60 mmoic.dm-3), e P resina <
15 mg.dm-3 ou P - Mehlich-1 nas classes muito baixa e baixa; d)
adubação verde - crotalárias (junceae, ochroleuca ou spectabilis), soja
ou amendoim; e) adubação orgânica; f) adubação mineral no sulco de
plantio (N - P20 5 - K20 + micros, principalmente B e Zn); e g)
micronutrientes via tolete.

Cana-soca
a) Calagem (reaplicar quando V%< 50, na dosagem máxima
de 3 t ha-1); b) fontes de S: utilizar quando os teores em subsuperficie
forem menores que 15 mg.dm-3; c) adubação N - K 20 - B de cana
crua: 1,3 kg de N e 0,8 a 1,0 kg de K20.r 1 de cana produzida, e para
cana queimada, 1,0 kg de N e 1,3 a 1,5 kg de K 20.r 1 de cana
92 Vitti, luz e Altran

produzida e cerca de 1 kg ha-1 de B; d) adubação P2Os - utilizar cerca


de 30 kg ha- 1 de P2Os quando P resina < 15 mg.dm-3 ou P Mehlich-1
nas classes muito baixa e baixa e em condições de V%> 50, na forma
de fosfato monoamônio (MAP).

Experimentação em Cana-de-Açúcar
Tamanho da parcela
Para a cana-de-açúcar, o tamanho mínimo de parcela, visando
à avaliação de produtividade de colmos e retirada de amostra para
avaliações quanto a POL, fibra, ATR, Brix e outros atributos
tecnológicos, é de cinco linhas de 8 m, sendo o espaçamento
entrelinhas variável de 1,4 a 1,5 m. Dessa maneira, o tamanho mínimo
de parcela para montagem de experimento com cana-de-açúcar é 56
m 2 (5 x 8 x 1,4). Das cinco linhas totais, devem-se avaliar as três
linhas centrais, sendo as duas laterais descartadas como bordaduras.
Como se recomenda o mínimo de 20 parcelas para a realização de
qualquer experimento, o tamanho mínimo para experimento com
cana-de-açúcar, sem contar carreadores entre parcelas, é de 1.120 m2
(56 X 20).
O tamanho de parcelas mais usual para cana-de-açúcar é
pouco maior que o mínimo recomendado, ou seja, sete linhas de 10 m
cada para o caso da colheita manual, variando o espaçamento na
entrelinha de 1,4 a 1,5 m, considerando as cinco linhas centrais na
avaliação e as duas laterais como bordaduras. Deve-se deixar distância
de 1 m entre parcelas, para a separação deles.
Para a colheita mecanizada, recomendam-se parcelas mais
extensas, com 15 ou 20 metros, menor número de linhas (cinco ou
seis), e espaçamento de 1,5 ou 1,6 m, de forma a facilitar o trabalho da
colhedora de cana. Deve-se também deixar maior espaço entre
parcelas, por volta de 2 m, a fim de facilitar a colheita e as manobras
da máquina.
Nutrição e adubação 93

Condução e avaliação do experimento


Quanto à condução do experimento, deve-se sempre assegurar
que a única variável seja o tratamento. Caso a variável seja a dose de
algum fertilizante, por exemplo, deve-se adotar o mesmo manejo,
incluindo correção do solo, uso de herbicidas, inseticidas e
nematicidas, profundidade de plantio, número de gemas, entre outros
fatores que possam interferir em algum tratamento.
Recomenda-se a realização de visitas periódicas para
acompanhamento do desenvolvimento das plantas e de eventuais
fenômenos que possam interferir no experimento.
As avaliações dependem dos tratamentos aplicados. Para
experimentos com adubação, por exemplo, realizar avaliações do
desenvolvimento das plantas ( altura, perfilho, falhas, número de
intemódios), análises foliares, quantificação de raízes, produtividade
total de colmos e atributos tecnológicos, como ATR, Brix, POL, fibra
e outros.

Referências
ALCARDE, J. C .; PONCHIO, C. O. Ação solubilizante das soluções de citrato de
amônia e de ácido cítrico sobre fertilizantes fosfatados. Revista Brasileira de
Ciência do Solo, v. 3, p. 173-178, 1979.
LARA CABEZAS, W. A. R.; KORNDÕRFER, G. H.; MOITA, S. A. Volatilização
de N-NH3 na cultura de milho. II. Avaliação de fontes sólidas e fluidas em sistema de
plantio direto e convencional. Congresso de Plantio Direto, Ponta Grossa, v. 21, n.
3, p. 489-496, 1997.
RAJJ, B. Van.; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J. A.; FURLANI, A. M. C.
Recomendação de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. 2. ed.
Campinas, SP: Instituto Agronômico & Fundação IAC, 1996. 285 p.
VITTI, G. C. Avaliação e interpretação do enxofre no solo e na planta .
Jaboticabal, SP: FCA/UNESP, 1988. 37 p.
VITTI , G. C .; LUZ, P. H. C . de E. ; ALTRAN, W. S. Nutrição e adubação. ln:
SANTOS, F. A.; BORÉM, A.; CALDAS, C. (Ed.). Cana-de-açúcar: bioenergia,
açúcar e etanol - tecnologias e perspectivas. 2. ed. rev. e ampl. Viçosa, MG: Editora
UFV, 2011. p.73-117 .
4 MANEJO DE PRAGAS

Alexandre de Sene Pinto 1


Vinicius Lourenço Lopes2
Angela Aparecida de Lima3

A cultura da cana-de-açúcar é atacada por muitas pragas,


porém as mais importantes são a broca-da-cana-de-açúcar, Diatraea
saccharalis (Lepidoptera: Crambidae), e a cigarrinha-das-raízes,
Mahanarva fimbriolata (Hemiptera: Cercopidae ), as quais são
definidas como pragas-chave.
Outros insetos considerados pragas importantes, regionais ou
esporádicas, que causam prejuízos são o gorgulho-da-cana-de-açúcar,
Sphenophorus levis (Coleoptera: Curculionidae), os cupins,
especialmente Heterotermes tenuis (Isoptera: Rhinotermitidae), as
formigas cortadeiras saúvas (Atta spp.) e quenquéns (Acromyrmex
spp.) (Hymenoptera: Formicidae), o migdolus, Migdolus fiyanus
(Coleoptera: Cerambycidae), a broca-gigante, Telchin licus
(Lepidoptera: Castniidae), e a cigarrinha-das-folhas, Mahanarva
posticata (Hemiptera: Cercopidae). Esta última não causa prejuízos no
Estado de São Paulo.

1
Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Instituição Universitária Moura Ulcerdu.
E-mail: aspinn@uol.com.br
2 Engenheiro-Agrônomo e estagiário no Dep. de Entomologia e Acarologia da Esalq/USP.

E-mail: vinicius.lopes l l@hotmail.com


1
Engenheira-Agrónoma, M.S. e estagiária no Dep. de Entomologia e Acarologia da Esalq/USP.
E-mail: angcla.agro@hotmaíl .com
Manejo de pragas 95

Pragas secundárias podem causar problemas, como o besouro-


rajado, Metamasius hemipterus (Coleoptera: Curculionidae), os corós,
o pão-de-galinha ou o bicho-bolo (Coleoptera: Scarabaeidae), que são
besouros de várias espécies, a lagarta-elasmo, Elasmopalpus
lignosellus (Lepidoptera: Pyralidae ), a broca-peluda ou iponeuma,
Hyponeuma taltula (Lepidoptera: Noctuidae), e as lagartas
desfolhadoras de várias espécies, como Spodoptera frugiperda e
Moeis latipes (Lepidoptera: Noctuidae).
Os nematoides também estão relacionados com a cultura da
cana-de-açúcar, mas apenas três espécies são consideradas
importantes: Pratylenchus zeae (Nematoda: Pratylenchidae),
Meloidogyne incognita e Mjavanica (Nematoda: Heteroderidae).
Apesar desse grupo expressivo, o monitoramento das pragas,
realizado pela amostragem populacional ou de danos, é efetuado
apenas para as duas pragas-chave, as formigas cortadeiras e para as
pragas de solo, incluindo cupins, besouros e nematoides.
No manejo das pragas da cana-de-açúcar, o controle biológico
é utilizado em grandes áreas para as principais pragas da cultura, ou
seja, a broca-da-cana e as cigarrinhas. No caso da broca-da-cana,
desde a década de 1970, utiliza-se o parasitoide larval Cotes ia jlavipes
(Hymenoptera: Braconidae), uma vespinha importada e que hoje é
liberada em cerca de três milhões de hectares, em um programa de
controle biológico dificil de ser superado em todo o mundo, pela sua
eficiência e pela extensão coberta. Também em 500.000 ha é utilizado
o microimenóptero Trichogramma galloi (Hymenoptera:
Trichogrammatidae), um eficaz parasitoide de ovos.
Para as cigarrinhas da cana-de-açúcar, utiliza-se o fungo-verde
Metarhizium anisop/iae, em mais de dois milhões de hectares, contra
as duas espécies mencionadas. Entretanto, o controle químico das
cigarrinhas é bastante usual entre os agricultores.
As demais pragas são controladas de forma química,
principalmente pelo uso de inseticidas nos sulcos de plantio ou sobre
as soqueiras, pois as táticas de controle biológico, apesar de
potenciais, ainda estão em desenvolvimento.
A complementação deste texto poderá ser feita em diversos
capítulos, livros e artigos, sendo recomendados Mendonça ( 1996),
96 Pinto, lopes e lima j

Almeida e Batista Filho (2006), Pinto (2006), Pinto et ai. (2006,


2009), Dinardo-Miranda (2008) e Pan-a et ai. (20 I O) .

Pragas de Solo
As pragas de solo são manejadas de forma precária, com
exceção da cigarrinha-das-raízes, formigas cortadeiras e nematoides.
Quase todas são colocadas em um único "pacote" e tratadas como se
fossem uma só praga. O controle é predominantemente realizado de
forma química no plantio ou após a colheita, sobre as soqueiras.

Besouros e cupins
Os besouros de solo migdolus, gorgulhos-da-cana e corós,
bem como os cupins, alimentam-se da base das touceiras e do sistema
radicular da planta de cana-de-açúcar e os destroem, podendo causar
morte das plantas e elevados prejuízos econômicos. Os cupins
subterrâneos atacam os toletes-sementes, danificando as gemas e
causando falhas na germinação. Atacam a cana também no início do
crescimento e do perfilhamento, causando injúrias e redução no
estande, e após o corte, quando as soqueiras ficam vulneráveis. Os
danos chegam a 1O toneladas por hectare, por ano. Em geral, o ataque
é maior em solos arenosos.
Os cupins de montículos, sobretudo os do gênero Cornitermes
(lsoptera: Termitidae), não são importantes para a cultura pelos danos
diretos que causam, mas porque a porção visível e dura dos seus
montículos pode quebrar as facas de corte das colhedoras
mecanizadas.
As pragas de solo são fáceis de serem diferenciadas quando
encontradas em amostragens casuais ou sistemáticas, poré1n os danos
se confundem. O ideal é enviar formas biológicas (especialmente
adultos) a especialistas para a correta identificação, mas alguns guias
publicados podem ser ferramentas eficientes.
As espécies mais importantes de cupins são H. tenuis e
Procornitermes triacifer (Isoptera: Rhinotermitidae ). O primeiro tem
como característica não levar solo para o interior das galerias, ao
Man ejo de pragas 97

contrário de P. triacifer. Para reconhecer o gênero de cupim, pode-se


observar a cabeça deles (PfNTO et ai. , 2009).
As larvas de besouros podem ser confundidas entre si , porém
são muito diferentes das dos cupins. As larvas de migdolus são de
coloração branco-leitosa e chegam a medir 6 cm de comprimento,
quando bem desenvolvidas (Figura 4.1 A). As larvas dos gorgulhos são
também branco-leitosas a amareladas. As larvas de S. levis e M.
hemipterus podem ser diferenciadas entre si, pois a primeira apresenta
várias manchas castanho-escuras no segmento anterior à cabeça
(protórax), e o abdome, apesar de protuberante (Figura 4.18), é menor
do que em M. hemipterus (Figura 4.1 C). Além disso, essas larvas.
antes de puparem, formam casulos bem distintos, bem definidos,
rígidos e com fibras longas entrelaçadas como os de M. hemipterus, e
mais simples e feitos com serragem fina, como os de S. levis. São
várias as espécies de corós, com formato de corpo diferente dos
demais besouros (Figura 4.1D).
Os adultos dos besouros que aparecem na superficie do solo
para a cópula nos meses mais quentes são bem distintos. Os adultos de
migdolus apresentam dimorfismo sexual (diferença entre os se-xos ~
muito pronunciado, sendo os machos menores com as antenas e a~
asas membranosas (internas) bem desenvolvidas, e as f~meas,
maiores, com antenas distintas e menores, além de não voarem. Os
adultos dos gorgulhos apresentam um "bico" (rostro) característico,
típico da família Curculionidae, e as duas espécies são de coloração
diferente: M. hemipterus é mais clara e com listras escuras, e S. levis,
escura sem listras ou com elas mair discretas. Os adultos dos coró~
são de diferentes tamanhos e coloração, em geral esc, .1ros.
A amostragem desses besouros e cupins é feita em touceiras
após a última colheita, antes da renovação da área, cavando-se de duas
a quatro covas de 0,5 x 0,5 x 0,3 m de profundidade, ao acaso, por
hectare. Nessas covas, contam-se as larvas, as pupas ou os adult ,s de
besouros encontrados, identificando-os, e a população de espécies de
cupins por meio de escala de notas: O- ausência de cupins; 1 - 1 a I O
insetos; 2 - 11 a 100 insetos; e 3 - mais de 100 insetos.
O migdolus também pode ser monitorado por meio de
armadilhas de feromônio sexual sintético de M. fryanus. Pelo menos
uma armadilha a cada I O hectares deve ser utilizada, de
Manejo de pragas 97

contrário de P. triac f er. Para reconhecer o gênero de cupim, pode-se


observar a cabeça deles (PINTO et ai. , 2009).
As larvas de besouros podem ser confundidas entre si, porém
são muito diferentes das dos cupins. As larvas de migdolus são de
coloração branco-leitosa e chegam a medir 6 cm de comprimento,
quando bem desenvolvidas (Figura 4.1 A). As larvas dos gorgulhos são
também branco-leitosas a amareladas. As larvas de S. levis e M.
hemipterus podem ser diferenciadas entre si, pois a primeira apresenta
várias manchas castanho-escuras no segmento anterior à cabeça
(protórax), e o abdome, apesar de protuberante (Figura 4.1 B), é menor
do que em M. hemipterus (Figura 4.1 C). Além disso, essas larvas.
antes de puparen1, formam casulos bem distintos, bem definidos.
rígidos e com fibras longas entrelaçadas como os de M. hemipterus, e
mais simples e feitos com serragem fina, como os de S. levis. São
várias as espécies de corós, com formato de corpo diferente dos
demais besouros (Figura 4. l D).
Os adultos dos besouros que aparecem na superficie do solo
para a cópula nos meses mais quentes são bem distintos. Os adultos de
migdolus apresentam dimorfismo sexual (diferença entre os se.xos ~
muito pronunciado, sendo os machos menores com as antenas e a~
asas membranosas (internas) bem desenvolvidas, e as f~meas,
maiores, com antenas distintas e menores, além de não voarem. Os
adultos dos gorgulhos apresentam um "bico" (rostro) característico,
típico da família Curculionidae, e as duas espécies são de coloração
diferente: M hemipterus é mais clara e com listras escuras, e S. levis,
escura sem listras ou com elas maif discretas. Os adultos dos (;Oró.~
são de diferentes tamanhos e coloração, em geral esc, .1ros.
A amostragem desses besouros e cupins é feita em touceiras
após a última colheita, antes da renovação da área, cavando-se de duas
a quatro covas de 0,5 x 0,5 x 0,3 m de profundidade, ao acaso, por
hectare. Nessas covas, contain-se as larvas, as pupas ou os aduh 1s de
besouros encontrados, identificando-os, e a população de espécies de
cupins por meio de escala de notas: O- ausência de cupins; 1 - 1 a I O
insetos; 2 - 11 a I 00 insetos; e 3 - mais de 100 insetos.
O migdolus também pode ser monitorado por meio de
armadilhas de feromônio sexual sintético de M. fryanus. Pelo menos
uma armadilha a cada l O hectares deve ser utilizada, de
Pinto, lopes e lima
98

outubro/novembro a março, período das revoadas dos adultos, sendo


trocada a cada 30 dias, ou uma armadilha a cada 30 m ao redor do
canavial fechado .

e D
Figura 4.1 - Larvas de besouros de solo. A. Migdolus; B. Gorgulho-
da-cana, S. levis; C. Besouro-rajado, M. hemipterus; D .
Coró.

Os cupins também podem ser monitorados com iscas


Tem1itrap®. Devem-se instalar 20 iscas por hectare, ao acaso,
marcadas com estacas para posterior localização. Após 15 dias, as
iscas são avaliadas com a escala de notas apresentada anteriormente.
O nível de controle de besouros não está bem definido, mas o
controle de migdolus deve ser feito quando fore1n capturados mais do
que dois machos por annadilha de feromônio, por hectare, por dia. Os
demais, quando encontrados nas covas de monitoramento, devem ser
controlados.
Os cupins deverão ser controlados quando mais de 30% das
covas ou mais de 20% das armadilhas Te1mitrap® apresentarem nota
superior a 1 ( l a l O cupins).
O controle de besouros de solo e cupins é feito com o uso de
inseticidas nos sulcos de plantio ou sobre as soqueiras, após a colheita.
Existem alguns inseticidas registrados, e as recomendações nas bulas
devem ser seguidas .
Manejo de pragas 99

Para o gorgulho-da-cana, são recomendadas também a rotação


de culturas e a eliminação de soqueiras atacadas por meio de aração e
três gradagens, alguns meses antes do plantio, coincidindo com o
período de maior porcentagem de larvas na superficie (20 a 30 cm), ou
seja, de março a agosto.
O controle biológico com os fungos M. anisopliae e
Beauveria bassiana (fungo-branco), ambos produzidos de forma
comercial no Brasil, é uma prática viável para a maioria dessas pragas
de solo.
O fungo B. bassiana pode ser usado em iscas Termitrap~ ou
em toletes de cana-de-açúcar partidos ao meio, em associação com um
inseticida, em 40 iscas por hectare, por ano. Os dois fungos têm
mostrado alta eficiência no controle do gorgulho-da-cana, quando
aplicados nas soqueiras, após a colheita, incorporados por meio de um
disco de corte.
Os nematoides entomopatogênicos são uma boa opção para
controle biológico de besouros, lagartas e cigarrinhas, mas ainda não
são comercializados no Brasil.

Formigas cortadeiras
As formigas cortadeiras se alimentam principalmente de
folhas de plantas novas, causando desfolha muito característica, mas
que pode ser confundida com aquela causada por gafanhotos ou
lagartas. A diferença está no fato de os gafanhotos deixarem suas
fezes arredondadas e secas, e as lagartas, fezes mais espalhadas e com
grânulos finos ao redor do local de ataque ou sobre as folhas .
Após 45 dias da colheita, toda a área deve ser percorrida em
busca de "olheiros" (orifícios de entrada dos formigueiros) de saúvas
ou quenquéns e de sinais de desfolha, principalmente em áreas onde
há muito palhiço sobre o solo. Os "olheiros" devem ser marcados com
estacas, para facilitar o controle pela equipe especializada.
As formigas podem ser controladas com inseticidas em
formulação com pó seco, com iscas tóxicas (bagaço de laranja + óleos
vegetais + inseticida) ou com inseticidas aplicados via
tennonebulização, sendo o último o mais eficiente. O uso de pós
lOO Pinto, Lopes e Lima

secos, insuflados no interior dos ninhos, é mais eficiente para


sauveiros novos, pouco profundos.
As iscas tóxicas são eficientes para controlar a saúva-limão e a
saúva-cabeça-de-vidro, que são muito atraídas pelo bagaço de laranja
presente na isca. A dificuldade de calcular a dose adequada do
fmmicida é um problema desse método, visto que, em muitas áreas,
ocorre a desestruturação dos ninhos em razão do uso de máquinas.
Na tem1onebulização, o inseticida diluído em óleo diesel ou
mineral é nebulizado, formando gotículas e espessa névoa, que
penetra de forma homogênea em canais e panelas dos sauveiros,
resultando na destruição deles.

Nematoides
Os nematoides atacam as raízes da cana-de-açúcar,
prejudicando a absorção de água e nutrientes pela planta, e injetam
toxinas, que podem produzir galhas (Meloidogyne) ou causar necroses
(Pratylenchus). As plantas ficain raquíticas, cloróticas, menos
produtivas e murcham nas horas mais quentes do dia.
Para realizar a amostragem de nematoides, devem-se coletar
raízes e solo tanto em cana-planta como em soqueiras. A coleta de
amostras deve ser feita no período chuvoso, porém nunca com o solo
encharcado.
Deve-se coletar uma ou duas subamostras por hectare para
formar uma amostra composta de um talhão de até 1O ha. Cada
su~ ,.,1nostra é representada por uma touceira, onde se coletam raízes
(radicelas) e um pouco de solo ao redor delas. Todas as subamostras
de uma amostra (1 O a 20 por 1O ha) são misturadas em um balde e
colc..-:am-se 500 g de solo e 50 g de raízes em um saco plástico,
identificado, para ser enviado ao laboratório de análises
nematológicas. O envio das amostras deve ser feito no dia da coleta ou
até uma semana de 1 ,ois, se conservadas na parte inferior da geladeira.
As subamostras devem ser retiradas com um enxadão ou trado.
O controle de nematoides é feito com nematicidas registrados
para a cultura, com rotação com culturas não hospedeiras ou culturas-
armadi lha (Crotalaria) ou com matéria orgânica.
Manejo de pragw I OI

A rotação de culturas pode ser feita com Crotalaria juncea


por dois anos consecutivos ou, como é mais usual em São Paulo, no
intervalo entre a colheita e a instalação de novo canavial, ou seja, no
período de renovação do canavial. A matéria orgânica, como a torta de
filtro, pode ser usada no controle de nematoides ou na melhoria do
estado geral da planta, sendo incorporada ao solo.

Ciga rri nha-das-raízes


Em decorrência do aumento de área de cana colhida
mecanicamente e da crescente proibição da queima para o corte,
houve mudanças no manejo da cultura e, como consequência,
aumento na população da cigarrinha-das-raízes. Esse aumento ocorreu
especialmente em locais de temperatura elevada, onde há alta
umidade, proporcionada pela abundante cobertura vegetal deixada no
solo pela colheita da cana crua, favorável ao inseto.
As ninfas são bastante semelhantes ao adulto, diferindo
apenas pelo tamanho e pela ausência de asas e de órgãos de
reprodução maduros. As ninfas se fixam aos coletos e a radicelas,
sugam a seiva das plantas e se cobrem com uma espuma que
produzem. Os adultos ficam escondidos dentro dos cartuchos ou na
parte inferior das folhas, durante o dia.
Em São Paulo, o ciclo de M. fimbrio/ata inicia-se em
setembro/outubro, normalmente com o início do período das chuvas.
A ausência do inseto de maio a setembro é decorrente da associação
de falta de água, queda de temperatura e redução da fotofase. Os ovos
colocados na base da touceira na geração de março-abril permanecem
em quiescência ( dormência) até setembro, quando se inicia novo ciclo.
Com o ataque dessa praga, as folhas podem apresentar
manchas amareladas, que se tornam avermelhadas e secam
posteriormente. Há redução no tamanho e na grossura dos entrenós
(gomos), que ficam curtos e fibrosos. O fluxo de água e nutrientes
dentro da planta fica comprometido, ocorrendo morte das raízes. Com
isso, o colmo pode ficar oco, afinado, com posterior aparecimento de
rugas na superficie externa. Também podem ocorrer brotações e
enraizamento laterais.
102 Pinto, lopes e lima

O monitoramento da cigarrinha é feito por meio da contagem


de ninfas a partir de cinco pontos por hectare, sendo cada ponto
representado por um metro linear. Atualmente, utilizam-se duas a três
ninfas por metro linear de sulco. O monitoramento é imprescindível
para se decidir sobre a estratégia de controle da praga, pois, quando
realizado na primeira geração, ele permite controle mais eficiente. Se
a segunda geração for atingida, geralmente em janeiro, as perdas na
produção podem chegar a 26%.
A retirada total do palhiço contribui para reduzir as futuras
populações da praga na área infestada, devido à exposição do solo e
criação de um ambiente desfavorável aos ovos que permanecem em
quiescência no local.
O fungo-verde, M. anisopliae, é o principal controlador dessa
praga. Embora o emprego de inseticidas no controle da cigarrinha-das-
raízes seja recomendado, ele deve ser utilizado em situações que
exijam resposta rápida de controle, sob o risco de agravar
sobremaneira os prejuízos. Os melhores resultados têm sido obtidos
com produtos de ação sistêmica, aplicados de forma dirigida aos dois
lados da base da touceira, quando líquidos, e de um lado, quando
granulados.
O fungo M. anisopliae deve ser aplicado na concentração de 5
12
x 10 conídios viáveis/hectare, equivalente a 225 gramas de conídios
puros ou 3-5 kg do fungo + meio de cultura (arroz). A aplicação deve
ser realizada em alto volume (200-300 L/ha), utilizando bicos
apropriados em pingente, com jato dirigido para a base da cana, de
ambos os lados da touceira, preferencialmente ao entardecer, para
evitar a ação dos raios ultravioleta, que degradam os conídios. Não é
recomendada a aplicação de inseticida químico com o fungo, pois a
ação de ambos pode ser prejudicada. A aplicação aérea exige maior
quantidade de conídios por hectare, podendo ser aplicados de forma
líquida ou granulado.
A aplicação do fungo deve ser realizada no finàl da tarde ou
início da noite, para que os conídios possam germinar e penetrar 0
tegumento do inseto-alvo, processo que leva em torno de oito horas
em condições ideais, especialmente de alta umidade. Em áreas com
muito palhiço, a aplicação do fungo na forma granulada (fungo +
arroz) pode ser a mais segura.
Manejo de pragas 103

Broca-da-Cana-de-Açúcar
A broca-da-cana ocorre em todo o Brasil, causando prejuízos
não somente à cana-de-açúcar, mas também a outras gramíneas. Outra
espécie que ocorre é D. _fiavipennella , registrada no Espírito Santo, no
Rio de Janeiro, em Minas Gerais e nos Estados do Norte e Nordeste.
Segundo o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), para as
variedades atualmente plantadas no Brasil, as perdas causadas pela
broca-da-cana chegam a 0,42% em açúcar, 0,21 % em álcool e 1, 14%
no peso da cana colhida a cada 1% de Índice de Intensidade de
Infestação (III) [100 x (número de entrenós broqueados/número total
de entrenós)] (DINARDO-MIRANDA, 2008). Portanto, é fácil perder
mais de 400 kg de açúcar por hectare em infestações (111) de até 10%.
Esses prejuízos incluem os danos diretos ( coração morto,
enraizamento aéreo, brotações laterais, perda de peso, quebra de
colmos) e indiretos (causados pelos fungos Col/etotrichum falcatum e
Fusarium moniliforme). A podridão-vermelha (danos indiretos)
inverte a sacarose, prejudicando a produção de açúcar, e os fungos e
outros microrganismos competem com as leveduras no processo de
fermentação alcoólica.
As lagartas são branco-amareladas e de cabeça marrom-
escura, com pontuações e manchas marrons pelo corpo. Podem atingir
até 2,5 cm de comprimento. As lagartas de segundo ou terceiro ínstar
penetram o colmo pela parte mais mole, ou seja, na região dos nós,
próximo às gemas. Abrem galerias ascendentes na região do palmito
e, durante essa fase, abrem galerias verticais e transversais até a fase
de pupa. Pouco antes de entrar na fase de pupa, as lagartas abrem
orificios, que permanecem fechados com serragem e excrementos e
servirão de saída para os adultos.
A broca-da-cana ocorre durante todo o desenvolvimento da
cultura. Entretanto, sua incidência é menor quando a planta é jovem e
não possui entrenós fo1mados. A cana de ano e meio (plantada no
começo do ano), no Estado de São Paulo, geralmente é mais atacada
pela broca no verão, e na cana de ano (plantada em setembro-outubro)
o ataque é mais intenso no inverno. Nos outros Estados e em certas
variedades, o ataque da broca é quase constante o ano todo, com
pequeno declínio no inverno.
104 Pinto, Lopes e Lima

O monitoramento da população da praga, realizado por meio


de levantamentos da quantidade de lagartas, serve para definir o
momento certo para ser adotada uma medida de controle. Esse
monitoramento é feito durante a fase vegetativa da cultura, até sua
maturação. A estimativa de danos é realizada no momento da colheita,
na frente de corte, ou na chegada da cana na usina, servindo para
identificar as áreas-problema que deverão ser monitoradas na safra
seguinte.
O levantamento da quantidade de lagartas deve ser feito
quinzenalmente - ou mensalmente em áreas muito extensas -, quando
as plantas apresentarem os primeiros intemódios visíveis (plantas com
três meses de idade) e até quando não mais for possível entrar no meio
do canavial, geralmente com 12 meses de idade.
Para a amostragem populacional mais usual, são analisados
dois pontos por hectare. Em cada ponto de amostragem, são avaliados
os colmos de todas as plantas em 5 m lineares de duas ruas paralelas,
num total de 1O metros lineares por ponto (Figura 4.2). Todas as
plantas são avaliadas, e os colmos com orificios de entrada da broca
(colmos brocados) são abertos e observados. Deve-se anotar em fichas
o número de lagartas menores e maiores que 1,5 cm, de pupas e de
"massas" (grupo de pupas) da vespinha encontradas. Os valores
encontrados devem ser extrapolados para 1 hectare para as decisões
serem tomadas.
Pode-se utilizar outro método de amostragem populacional,
em que pontos ao acaso são avaliados e descritos, e, ao final , o tempo
gasto é anotado, a quantidade de lagartas, pupas e "massas" é
registrada e essa quantidade é convertida para horas-homem
(quantidade de insetos registrada por um homem em uma hora).
A estimativa de danos é feita coletando-se 20 colmos por
hectare - plantas em pé ou na leira - ou na recepção da usina, sendo,
neste caso, retirados quatro a cinco colmos por carga, ao acaso, nos
veículos de transporte que chegam ao pátio. Os colmos são partidos ao
meio e anotam-se os números de internódios totais e brocados
(presença do "complexo broca-podridão") para o cálculo do Índice de
Intensidade de Infestação.
Manejo de pragas
105

--.- ---

----
50 -n
fllm

,
-- ...._.._ 1
i
som---- ------ -'1
&Om

Figura 4.2 - Esquema de amostragem populacional da broca-da-cana


em talhão de cana-de-açúcar.

O controle químico pode ser utilizado, mas é prejudicado


devido ao hábito de a lagarta permanecer, a maior parte de seu
desenvolvimento, dentro dos colmos. A aplicação de inseticida nos
sulcos de plantio, prática usual entre os agricultores para o conh"ole de
pragas de solo, muitas vezes garante que a cultura fique livre da
broca-da-cana durante algum tempo após o plantio. O controle
químico deve ser evitado, uma vez que o impacto ambiental causado
pela aplicação de agrotóxicos em grandes áreas é significativo.
106 Pinto, Lopes e Lima

O controle biológico da broca-da-cana a partir de liberações


inundativas do parasitoide larval C. flavipes é o método mais utilizado
no Brasil. A liberação dessa vespinha é feita em uma única vez ou de
forma parcelada, sempre que a população atinge o mínimo de 800 a
1.000 lagartas/ha ( cerca de 1 a 1,5 lagarta/1 O m amostrados) ou 1O
lagartas/hora-homem. Geralmente são liberadas, no mínimo, 6.000
vespinhas por hectare (quatro copos/ha), quantidade variável de
acordo com a população da broca-da-cana. Contudo, pesquisas
recentes revelam que uma opção melhor de controle é liberar a mesma
quantidade de insetos em oito pontos por hectare.
O nível de controle é variável em função da variedade, da
época de plantio, das condições da cultura etc., porém adota-se um
valor entre 2 e 3% do índice de intensidade de infestação (IID.
O parasitoide T galloi é outra opção viável para o controle de
ovos da broca-da-cana. A associação dos parasitoides C. flavipes e
Trichogramma garante excelente controle, visto que estes atuam em
diferentes fases de desenvolvimento da praga. Em geral, a decisão de
qual parasitoide usar depende do III encontrado. Se este índice estiver
abaixo de 5%, a vespinha C. flavipes é a melhor opção. Entre 5 e I 0%,
o parasitoide T galloi deve ser preferido, por garantir redução da
infestação mais rápida do que o agente anterior. Para III superior a
10%, a associação dos dois parasitoides é a melhor opção.

Outras Pragas
A broca-gigante, recentemente introduzida em São Paulo, está
mais restrita ao norte do País. Pouco se conhece sobre essa praga e sobre
os métodos de controle empregados ~ontra ela; os que existem são
onerosos e com baixa eficiência. Há um sistema com um pulverizador
acoplado à colhedora mecânica, em que o fungo B. bassiana é aplicado
na forma líquida sobre a soqueira, imeruatamente após o c011e. Com esse
sistema, o fungo, muito eficiente no controle da broca, é aplicado dentro
das galerias, antes de elas serem fechadas pela lagaita.
A )agarta-iponeuma, até recente1nente desconhecida, tem
aumentado sua importância. Seu ataque muito se assemelha ao da
broca-da-cana, porém ataca os internódios basais e os colmos, bem
Manejo de p ragas 107

próximo ao solo. Não existem métodos de controle, mas o uso de


inseticidas parece promissor.
Com a expansão das fronteiras agrícolas e com a quase
duplicação da área plantada, há grande preocupação de que não se
respeite a tradição do controle biológico de pragas e que sejam
aplicados indiscriminadamente agrotóxicos (especialmente em
pulverizações na parte aérea). Isso poderá provocar desequilíbrios
desastrosos, aparecendo então "novas" pragas e dificultando a
manutenção das medidas adotadas há quase meio século.

Referências
ALMEIDA, J. E. M. ; BATISTA FILHO, A. Controle biológico da cigarrinha da
raiz da cana-de-açúcar com o fungo Metarhizium anisopliae. São Paulo: Instituto
Biológico/ Apta, 2006. 19 p. (Boletim Técnico, 15).
DINARDO-MIRANDA, L. L. Pragas. ln: DINARDO-MIRANDA, L. L.;
VASCONCELOS, A. C. M. de; LANDELL, M . G. de A. (Ed.). Cana-de-açúcar.
Campinas, SP: IAC, 2008.p.349-422.
MENDONÇA, A. F. (Ed.). Pragas da cana-de-açúcar. Maceió: Insetos & Cia, 1996.
200p.
PARRA, J. R. P.; BOTELHO, P. S. M.; PINTO, A. de S. Controle biológico de
pragas como um componente-chave para a produção sustentável da cana-de-açúcar.
ln: CORTEZ, L.A.B. (Org.). Bioetanol de cana-de-açúcar: P&D para produtividade
e sustentabilidade. São Paulo: Blucher, 201 O. p. 441 -450.
PINTO, A. de S.; BOTELHO, P. S. M.; OLIVEIRA, H. N. de. Guia ilustrado de
pragas e insetos benéficos da cana-de-açúcar. Piracicaba, SP: CP2, 2009. 160 p.
PINTO, A. de S. (Org.). Controle de pragas da cana-de-açúcar. Sertãozinho, SP:
Biocontrol, 2006. 64 p. (Boletim Técnico Biocontrol, l ).
PINTO, A. de S.; GARCIA, J. F.; BOTELHO, P. S. M. Controle biológico de pragas
da cana-de-açúcar. ln: PINTO, A. de S.; NAVA, D. E.; ROSSI, M. M.; MALERBO-
SOUZA, D. T. (Org.). Controle biológico de pragas: na prática. Piracicaba: CP2.
2006. p. 65-74.
PINTO, A. de S.; GARCIA, J. F.; OLIVEIRA, H. N. de. Manejo das principais pragas
da cana-de-açúcar. ln: SEGATO, S. V.; PINTO, A. de S.; JENDIROBA, E.;
NÓBREGA, J. C. M. de. (Org.). Atualização em produção de cana-de-açúcar.
Piracicaba: CP2, 2006. p. 257-280.
MANEJO DE DOENÇAS E
5 MEDIDAS DE CONTROLE

Sizuo Matsuoka'

Os produtores da cana-de-açúcar geralmente não se preocupam


em fazer o controle de doenças, ao contrário de seus colegas de outras
culturas. Por que é assim? A cana-de-açúcar não é afetada por doenças?
Muito pelo contrário: ela pode ser afetada por muitas doenças. A
principal razão é porque uma variedade liberada para plantio comercial
tem resistência adequada para as principais doenças da cultura; no
processo de melhoramento genético, é obrigação dos melhoristas fazer a
seleção de material resistente. Todavia, como mencionado, a variedade
pode ter resistência adequada, mas não é imune, ou seja, pode ser
infectada por uma ou outra doença e ter alguma injúria, apresentar
alguma perda. Para algumas doenças importantes, a recomendação é
fazer viveiro de mudas sadias. Também pode aparecer uma doença nova,
ou uma doença que não tinha nenhuma importância econômica (doença
secundária), mas que apresenta um surto devido a uma condição
ambiental extremamente favorável, conjugada com o plantio de uma
variedade que não havia sido avaliada para aquela doença. Dependendo
da severidade desses casos, pode haver necessidade de alguma medida de
controle ou a substituição da variedade.
Este capítulo pretende auxiliar agrôno1nos, técnicos e
produtores na identificação das doenças mais comuns da cana-de-
açúcar, mostrando quanto elas podem afetar a cultura e que medidas
devem ser tomadas ante um caso concreto.

1 Engenhdro-Agrônomo. Ph.D. Vignis Lida. E-mail sizuo.ma1sul)kn~ Mgn1s.com.br


Manejo de doenças e medidas de controle 109

Primeiramente, é apresentada uma lista das doenças cujos


sintomas aparecem em cada parte da planta, pois isso permite uma
primeira triagem:

A. FOLHA
l. Mosaico
2. Mancha-anelar
3. Pokkah-boeng (fusariose)
4. Mancha-parda
5. Mancha-ocular
6. Estrias-pardas
7. Estrias-vermelhas
8. Falsas-estrias-vermelhas
9. Escaldadura-das-folhas
10. Ferrugem-marrom
11. Ferrugem-alaranjada

B. BAINHA
1. Mancha-vermelha-da-bainha
2. Podridão-da-bainha

C. CARTUCHO FOLIAR e, ou, PONTEIRO


l. Carvão
2. Pokkah-boeng
3. Estrias-vermelhas
4. Escaldadura-das-folhas

D. COLMO
1. Podridão-da-casca
2. Podridão-vermelha
3. Podridão de Fusarium
4. Raquitismo-da-soqueira
5. Escaldadura-das-folhas
Matsuoka
11 O

E. TOLETE DE PLANTIO
l. Podridão-abacaxi
2. Podridão-da-casca

F. RAIZ
l. Galhas (nematoide-de-galhas)
2. Lesões (nematoides e fungos)

Chave para identificação das principais


doenças da cana-de-açúcar
A seguir é apresentada urna chave para auxiliar na
identificação visual das doenças mais comuns da cana-de-açúcar, de
acordo com os órgãos da planta onde aparecem os sintomas mais
claros e característicos. Ela foi elaborada na sua maior parte tomando
como base duas publicações do IAA/PLANALSUCAR: "Guia para
identificação de doenças e deficiências nutricionais da cana-de-açúcar
no Brasil", de 1977, e "Chave ilustrada para identificação de doenças
e anomalias nos canaviais do Brasil", elaborada por Liu H. Pin (1988).
Contudo, esta foi, além de atualizada, simplificada, deixando-se de
lado muitas doenças menos comuns, bem como anomalias
nutricionais, ambientais e genéticas, pois elas tomariam a chave muito
extensa. O ideal seria apresentar fotografia dos sintomas, como se fez
nas duas publicações citadas, porém isso não seria possível em um
capítulo de livro como este.
A chave traz o nome comum e em seguida o seu agente
causal. Algumas doenças podem aparecer duas vezes na chave, por
apresentarem sintomas em dois órgãos diferentes da planta.

Sintomas nas Folhas


a. Manchas
1. Amareladas
Manejo de doenças e medidas de controle 111

Manchas levemente amareladas, contrastando com o verde


nom1al da folha, formando um mosaico, mais ou menos evidente de
acordo com a variedade e estirpe do vírus, sempre mais visível nas
folhas mais novas: mosaico (vírus do mosaico da cana-de-açúcar).

Esbranquiçadas secas
Manchas irregulares, com contorno fino de cor marrom-
avermelhada, como se fosse um anel, e a parte interna cor de palha a
esbranquiçada ou inteiramente marrom, de tamanho bastante variável
- as maiores entre 5 e 7 mm de comprimento e sua metade em largura
- e que aparecem em grande número nas folhas mais velhas: mancha-
anelar (fungo: Lepstospheria sacchari van Breda de Haan)

Cloróticas
Manchas cloróticas a esbranquiçadas grandes e irregulares na
base das folhas do cartucho, ou seja, logo acima da bainha, tomando
toda a largura da folha, e podendo apresentar lesões marrom-
avermelhadas, causando com isso rompimento de tecido e
deformação; em estado avançado essas lesões podem encurtar as
folhas, tomá-las distorcidas, espiraladas e até matar o ponteiro:
Pokkah-boeng (Fusariose) (fungo: Fusarium moniliforme J.L.
Sheldon).

Amarronzada com halo amarelado


Manchas pequenas em forma elíptica, com centro man-om e
contorno amarelado (halo), muito visíveis contra a luz e que
geralmente aparecem, em grande número, em folhas de idade
mediana; essas lesões têm tamanho regular numa mesma variedade,
geralmente em torno de 3 mm de comprimento, mas podem atingir o
dobro: mancha-parda (fungo: Cercospora longipes E.J. Butler).
l l2 Matsuoka

Amarronzada tipo olho


Manchas amarronzadas que inicialmente parecem um olho
porque têm um halo amarelado em tomo do centro marrom; depois
evoluem, formando uma espécie de rabicho amarelado e
posteriormente necrótico e marrom, no sentido da ponta da folha, com
a aparência de um cometa; várias dessas lesões podem se juntar e
formar grandes manchas marrons ou até tomar toda a folha, que, por
isso, toma o aspecto de ter sido queimada: mancha-ocular (fungo:
Bipolaris sacchari E.J. Butler)

b. Estrias
l . Estrias curtas
Estrias marrom-avermelhadas com menos de 1 mm de largura,
de comprimento variando de alguns milímetros a mais de 50, podendo
apresentar halo amarelado, distribuídos espaçadamente ao longo do
limbo foliar das folhas medianas a velhas: estrias-pardas (fungo:
Bipolaris stenospila (Dreschler) Shoemaker).

2. Estrias longas marrons 1


Estrias longas, marrons a vermelho-escuras, de alguns
milímetros de largura e comprimento variável. Podem se estender pelo
comprimento todo da folha, geralmente concentradas na base
podendo descer pela bainha; causa "coração 1norto": estrias-ve1melhas'
(bactéria: Acidovorax avenae subsp. avenae).

3. Estrias longas marrons 2


Estrias longas, marrons a vermelho-escuras, em tomo de 1
mm de largura e comprimento variável, tipicainente concentradas do
meio para a ponta da folha, embora possam se estender para baixo,
mas nunca para a bainha. Colocada a filha na contraluz, pode-se
observar um halo amarelado. Forma-se um sa~picado branco sobre as
estrias, que é o exsudato bacteriano; não causa "coração morto":
falsas-estrias-vermelhas (bactéria: Xanthomonas sp.).

4. Estrias longas esbranquiçadas


Estrias cloróticas finas (risca de lápis) longas, ou estrias
largas, de margens bem definidas, que descem para a bainha, ou
Manejo de doenças e medidas de controle l l3

manchas cloróticas largas que tomam grande parte da folha e podem


evoluir para secamento em parte dela; brotações na base da touceira e
brotações laterais, estimuladas pela doença, apresentam os mesmos
sintomas: escaldadura-das-folhas (bactéria: Xanthomonas albilineans
(Ashby Dowson)) .

. e. Lesões
l . Lesão ferruginosa l
Folha com pontuações cloróticas, mais visíveis à contraluz,
e lesões alongadas de margem irregular, geralmente com 2 a 1O
mm de comprimento e 1 mm de largura, de coloração marrom a
marrom-escura, visíveis de ambos os lados da folha e em alto
relevo, especialmente na face inferior da folha. Liberam abundante
quantidade de esporos, facilmente perceptíveis com lupa comum de
1O x ou passando um papel ou lenço branco, que fica sujo:
ferrugem-marrom ou comum (fungo: Puccinia rnelanocephala
H.&P. Sydow).

2. Lesão ferruginosa 2
Folha com pontuações cloróticas, mais visíveis à contraluz,
e lesões alongadas de margem irregular, geralmente entre 2 e 5 mm
de comprimento e 1 mm de largura, de coloração alaranjada-
marrom, visíveis de ambos os lados da folha, em alto relevo,
especialmente na face inferior da folha. Liberam abundante
quantidade de esporos, facilmente perceptíveis com lupa comum de
1O x. Nesse nível, a única diferença da ferrugem marrom é a sua
coloração mais para alaranjada: ferrugem-alaranjada (fungo:
Puccinia kuehnii E.J. Butler).

d. Queima
Secamento de parte da folha a partir da ponta, muitas vezes
formando um "V" e acompanhando áreas cloróticas, ou secamento de
toda a folha, geralmente de várias e com enrolamento, como se
tivessem sido escaldadas: escaldadura-das-folhas.
114 Matsuoka

Sintomas na Bainha
1. Manchas
a. Avermelhada 1
Manchas ave1melhadas, ovais ou irregulares, de vários
centímetros, com o centro mais escuro nas bainhas das folhas médias
para velhas: mancha-vermelha-da-bainha (fungo: Mycovellosiella
vaginae (W. Krüger) Deighton)

b. Avermelha da 2
Grandes áreas avermelhadas, da cor de tijolo, difusas e
tomando a maior parte da bainha, que depois seca, e da qual saem uns
pequenos espinhos pretos, que são a estrutura de frutificação do fungo
(picnídios): podridão-da-bainha (fungo: Cytospora sacchari E.J.
Butler).

Sintomas no Ponteiro (Cartucho Foliar)


a. Coração-morto
As folhas novas do cai1ucho que ainda estão enroladas secam
totalmente e podem ser facilmente arrancadas com um leve puxão.
Exalam cheiro forte de material podre. As folhas abertas podem ter
estrias longas, marrom-avermelhadas. A regiao do ponteiro
(meristema apical) se apresenta com podridão-mole e aquele forte
mau cheiro: estrias-vermelhas.
b. Ponteiro morto
O ponteiro da cana se apresenta com folhas anormais, cw1as,
sem ponta e lesionadas, podendo estar enroladas. O ponteiro mesmo
pode estar morto e os internódios próximos podem apresentar cortes
laterais em série, como uma "escada", ou cortes isolados, como "corte
de faca": pokkah-boeng ou fusariose.

e. Chicote
O ponteiro da cana apresenta uma estrutura preta parecida
com a de um chicote e que solta abundante pó. Em colmos adultos,
Manejo de doenças e medidas de co11trole 115

podem ocorrer brotos laterais com o mesmo "chicote": carvão (fungo:


Ustilago scitaminea H.&P. Sydow).

Sintomas no Colmo
a. Sintomas na casca
Os tecidos na região da gema se apresentam avermelhados,
cor que evolui para marrom, e com todo o internódio seco.
Apresentam numerosas estruturas espiraladas pretas, como uma
cabeleira: podridão-da-casca (fungo: Phaeocytostroma sacchari (Ellis
& Everhart) B. Sutton).

b. Sintomas internos
1. Avermelhada 1
Cortando-se o colmo no sentido do comprimento, as manchas
avermelhadas a marrons são vistas nos intemódios com danos de
broca e em outros sem esses danos, mas c01n "ilhas" brancas
transversais: podridão-vermelha (fungo: Colletotrichum falcatum
Went).

2. Avermelhada 2
Cortando-se o colmo no sentido do comprimento, o tecido do
intemódio apresenta cor vermelho-vivo, bem contínuo, sem as "ilhas"
brancas; geralmente está associado a uma lesão externa, como o
orificio da broca, quebra da cana, rachadura etc.: podridão de fusariun1
(fungo: Fusarium moniliforme J.L. Sheldon).

3. Vasos avermelhados 1
Descascando-se o colmo na região do nó, poden1 ser
notados vasos avermelhados em forma de vírgula na região da base
do nó que corresponde ao local onde estava ligada a folha. Várias
dessas "vírgulas" devem ser vistas em toda a circunferência e não
podem ser confundidas com alguns casos isolados e de cor 1nais
próxima a marrom: raquitismo-da-soqueira (bactéria: Leifsonia xyli
subsp. xyli).
116 Matsuoka

4. Vasos avermelhados 2
Cortando-se o colmo no sentido do comprimento na região
basal do nó, podem ser vistos alguns vasos avermelhados, que,
diferentemente do caso anterior, são em menor número, mais
claramente visíveis, se estendem para o intemódio inferior e, se
observados mais detidamente, percebe-se que são lesões, afetando
tecidos além da parede do vaso: escaldadura-das-folhas.

Sintomas no Tolete ou Rebolo


a. Amarelecimento e escurecimento
Cortando-se o tolete no sentido do comprimento, o tecido se
mostrará com uma cor de abacaxi passado e exalando mesmo cheiro
de abacaxi; depois de alguns dias, terá cor preta (frutificação do
fungo) e, com a degradação do tecido parenquimatoso, sobrarão as
fibras soltas: podridão abacaxi (fungo: Thielaviopsis paradoxa (de
Seynes) von Hõhnel).

b. Secamento
Cortando-se o tolete no sentido do comprimento, o tecido da
região do nó se mostrará parte com uma cor avermelhada e a maior
parte marrom-escura; os intemódios poderão se apresentar levemente
róseos ou secos; externamente, na casca, haverá numerosas estruturas
espiraladas pretas, como uma cabeleira: podridão da casca (fungo:
Phaeocytostroma sacchari (J.B. Ellis &Everhart) B. Sutton).

Sintomas na Raiz
a. Galhas
As raízes se apresentam curtas, com nódulos nas
extremidades: nematoide-de-galhas.

b. Lesões
As raízes apresentam lesões entre avermelhadas e marrons:
diversas causas (várias espécies de nematoides e diversos fungos) .
Man ejo de doenças e medidas de controle 117

Importantes Doenças da
Cana-de-Açúcar
A seguir será feita a descrição de cada uma das doenças de
maior importância, entre aquelas citadas na chave de identificação. As
principais literaturas consultadas estão citadas no final.

Mosaico
Agente causal
O mosaico é causado pelo vírus do mosaico da cana-de-açúcar
(Sugar Cane Mosaic Virus ou SCMV). Existem muitas variantes do
vírus, algumas mais danosas que outras, com diversos hospedeiros
entre as gramíneas, entre os quais se destacam o capim-massambará, o
sorgo e o milho.

Sintomas
Os sintomas foliares do mosaico podem variar em intensidade,
de acordo com a resistência da variedade em questão, condições de
cultivo e linhagem do vírus. O sintoma típico é a alternância do verde
nom1al da folha com manchas verde-amarelas, fom1ando um mosaico.
Essas áreas cloróticas são mais evidentes na base das folhas novas do
cartucho quando em início de infecção e, depois, em toda a área das
folhas novas e medianas. Os colmos poden1 tambén1 apresentar-se
manchados, mas isso somente em plantas muito suscetíveis. o que não
é o caso das variedades comerciais.

Disseminação
A disseminação natural do vírus se dá por meio de vanas
espécies de pulgões que não se hospedam em cana-de-açúcar, como o
pulgão do fumo, da laranja, do algodão e de n1uitas gramín as.
Contrariamente ao que as pessoas pensam, o pulgão-amarelo da cana
não é capaz de transmitir o mosaico. Os pulgões transrnissores são os
alados, que se tornam virulíferos após se alimentarem de seiva de uma
cana infectada ou outra planta hospedeira; ao voarem e pousarem na
planta, picam-na. para provarem a seiva, e então, nesse momento.
11 8 Ma tsuoka

infectam aquela planta. Plantas jovens e de crescimento vig?roso são


mais suscetíveis que plantas maduras ou estressadas Pº; fno e s~ca.
Plantas daninhas, por exemplo, capim-massambara e cap1m-
marmelada, ou outras plantas cultivadas, como o milho e o so~go,
podem ser infectadas pelo vírus e servem c?mo hospe~erros
alternativos, tanto do vírus como do pulgão, e, assim, se constituem
em eficiente fonte de inóculo para a disseminação em canaviais. Outra
forma muito comum de disseminação é a utilização de mudas (toletes)
de canas infectadas para formação de viveiros e canaviais comerciais.

Importância econômica
O mosaico é uma das mais importantes doenças da cana-de-
açúcar. Mesmo variedades que apresentam sintomas leves, quase
imperceptíveis, podem apresentar perdas de até 18% quando
infetadas; já em variedades com sintomas usuais, a perda pode chegar
a 50% quando o canavial for plantado com 60% de infecção na muda.
Pela Figura 5.1 pode-se ter uma noção do efeito extremamente danoso
do vírus do mosaico em uma variedade suscetível: CB46-47. Como a
doença se dissemina rapidamente dentro do canavial, à medida que se
avança em número de socas, o canavial tem aumentado o nível de
doença e, consequentemente, os prejuízos atingem níveis mais altos.
Embora os dados sejam de variedades antigas, servem como
referência e alertam para a importância do uso de mudas sadias.
O uso de variedades resistentes é o método de controle mais
eficaz. Contudo, algumas variedades não são altamente resistentes,
sendo necessária uma medida preventiva de controle, como fazer
viveiro de mudas sadias. Esse viveiro deve ser localizado em um lugar
rodeado por variedades resistentes ou não ter nas proximidades áreas
não cultivadas infectadas por plantas daninhas. Esses capões são
criadouros de pulgões e podem ter muitas plantas infectadas por
uosaico, sendo uma fonte permanente de vírus. Um mês após o
plantio, deve-se inspecionar o viveiro, linha por linha, e fazer o
roguing, o qual consiste em arrancar as plantas infetadas ou n1atá-las
com glifosate, usando um aplicador en1 gota, gotejando no cartucho.
Deve-se repetir essa operação a cada 15 dias, até os seis meses de
idade. O normal é o número de plantas doentes diminuir a cada
operação, sucessivamente. Se isso não acontecer, é porque nos
arredores existe fonte de inóculo do vírus. Caso essa fonte sej a um
Man ejo de doença.\· e medidas de controle 119

capão de mato, ele deve ser eliminado; se for uma variedade suscetível
(e então o viveiro foi mal localizado), deve-se imediatamente colher o
canavial e procurar reformá-lo.

--..................__...

..

Figura 5.1 - Efeito danoso do vírus do mosaico na variedade suscetível


CB46-47, cultivada em São Paulo, na década de 1960-70.
120 Matsuoka

Controle
A manutenção do canavial sem plantas d~ni~a~,
especialmente em beira de estradas e arredores, e sem os pnnc1p~1s
hospedeiros do vírus (capim-massambará, sorgo etc.) é uma medida
de extrema importância para evitar a contaminação do viveiro.

Estrias Vermelhas
Agente causal
As estrias vermelhas são causadas pela bactéria Acidovora.x
avenae subsp. avenae. Outras gramíneas podem hospedar a bactéria
(milho, sorgo, milho etc.), mas têm papel insignificante na
epidemiologia da doença.

Sintomas
A doença se caracteriza por duas formas distintas de sintomas:
estrias vermelhas nas folhas e morte de ponteiro ("coração morto").
As estrias ve1melho-escuras aparecem na parte mediana inferior da
folha, sendo poucas e esparsas nessa região ou concentrando-se na
base, com comprimento variável, de alguns poucos centímetros a
tamanhos que podem se estender a todo o comprimento da folha e
também descer para a bainha. Esses sintomas aparecem em plantas de
quatro a seis meses de idade, em verão quente e úmido.
A forma de "coração morto" pode estar associada ou não com
aquele sintoma de estria, ou seja, colmos com ponteiro morto podem
apresentar ou não as estrias nas folhas inferiores.
Puxando o cartucho morto e cheirando a sua base, pode-se
sentir um odor fétido, maior ainda se o ponteiro for cortado, quando
então se apresentará uma podridão mole. Nem todos os colmos de
uma touceira são afetados, porétu, se a incidência for generalizada, o
mau cheiro pode ser sentido ao se chegar ao canavial.

Disseminação
A bactéria se dissemha pelo ar e infecta as plantas através dos
estômatos das folhas ou per lesões, como aquelas causadas pelo roçar
Manejo de doenças e medidas de controle 121

das folhas entre si. A transmissão por instrumentos mecânicos e pelos


toletes é rara.

Importância econômica
Esta doença pode causar danos econômicos significativos em
variedades altamente suscetíveis; entretanto, estas são normalmente
eliminadas durante o processo de melhoramento. As variedades
comerciais são resistentes ou podem apresentar apenas ligeira
suscetibilidade. Nestas, uma eventual incidência pode causar
preocupação, mas geralmente o canavial se recupera porque alguns
poucos colmos da touceira são afetados, e nos meses seguintes os
demais sadios recuperam em crescimento aqueles que foram perdidos.

Controle
Não há nenhuma medida a ser tomada a não ser evitar o
plantio das variedades propensas à doença em solos pesados, muito
férteis, e em locais muito úmidos, como baixadas e margens de rios.

Fa Isas Estrias Vermelhas


Agente causal
Esta é uma doença ainda relatada apenas no Brasil e causada
pela bactéria Xanthomonas sp. Recebeu esse nome devido à
semelhança com as estrias vermelhas, com a qual facilmente pode ser
confundida.

Sintomas
Os sintomas se caracterizam como estrias finas de cerca de
mm de largura e comprimento variável de vários centímetros,
paralelas à nervura central, de coloração vermelho-escura, mas na
contraluz podem se mostrar translúcidas, amareladas. A diferença
entre essa e a verdadeira estria vermelha, além da coloração amarelada
na contraluz, é que nessa falsa estria vermelha elas ocorrem
principalmente do meio para a ponta das folhas, rarament se
estendendo para a base e nunca na bainha. Outra característica
marcante é a intensa exsudação bacteriana branca na face inferior da
122 Matsuoka

folha dando a ela o aspecto de ter sido polvilhada com farinha.


' .
Diferentemente da outra, essa doença não causa a morte do ponterro.

Disseminação
Esta bactéria se dissemina intensamente pelo ar e infecta por
meio de estômatos ou de lesões nas folhas que ocorrem no roçar entre
elas. Não se conhece sua transmissão pelos toletes nem por
instrumentos. Em um campo afetado, a sua incidência é generalizada
em todas as plantas e maior nas épocas quentes e chuvosas. Ao
contrário da estria vermelha, esta doença ocorre em plantas adultas, ou
seja, após os oito meses de idade.

Importância econômica
Notou-se que alta infecção reduz o comprimento dos
intemódios, porém não existem dados efetivos de perdas causadas
pela falsa estria vermelha.

Controle
A única forma de controle é o plantio de variedades
resistentes. Os programas de melhoramento cuidam de liberar apenas
variedades com boa resistência.

Escaldadura-das-folhas
Agente causal
O agente causal da escaldadura-das-folhas é a bactéria
%_antho_monas albilineans_ (Ashby) Dowson. É uma doença que se
d1ssemmou pelo mundo, Junto com a própria disse1ninação da cana-
de-açúcar, porque ela ocorre sistemicamente.

Sintomas
Um sintoma típico sempre citado nos compêndios é a estria
tina, brnnca, de margens ben1 definidas e, por isso, denominada risca
de /{ap.ÍH, E1-11-1t1 Ctilria é bastante longa, podendo tomar toda a extensão
da H,Jlu, e, curnctcri81icamente, descer pela bainha. Também ocorrem
..,.,, ísw 11111 111 lur,~11 H e confinadas ao limbo foliar, bem como manchas
/Jf S ,ui 11 , d . conlnrno ind0linido, sempre de cor branca. No caso dessas
Manejo de doenças e medidas de controle 123

estrias mais largas e das manchas, pode associar-se à seca de parte


desses tecidos, que geralmente ocorre a partir da ponta ou das bordas
laterais superiores da folha e desce afinando na base, o que dá a essa
lesão um formato de "V". Esses sintomas são os que se consideram
crônicos. Internamente no colmo, podem-se notar, na região nodal,
riscas avermelhadas de alguns milímetros, especialmente do meio do
nó para baixo. Outra forma de sintoma, chamado de agudo, é a súbita
seca de grande parte das folhas ou de todas elas. Neste caso, os
colmos também secam e podem apresentar brotações laterais,
geralmente dos nós mais basais para cima, o que contrasta com as
brotações das gemas da parte de cima do colmo, devido à eliminação
da dormência apical (dano por broca, pokkah-boeng, geada etc.), pois
neste caso as brotações ocorrem de cima para baixo. Aquelas
brotações também tendem a apresentar todos aqueles sintomas foliares
descritos e, bem na base, os traços avermelhados internos.

Disseminação
A bactéria é transmitida de uma planta doente para sadia por
meio de instrumento de corte e se perpetua nos colmos, ou seja, nos
toletes de plantio. Também pode ser transmitida por via aérea,
carregada em gotículas de água exsudada por gutação, com ma10r
efeito em locais onde ocorrem ciclones e tufão.

Importância econômica
A doença é mais severa em locais quentes e plantas sujeitas a
estresse por água. Pode, então, causar substanciais prejuízos.
Entretanto, as variedades comerciais têm geralmente resistência
adequada à doença.

Controle
Para variedades que não são altamente resistentes, é
aconselhável fazer viveiros de mudas sadias. Nesses viveiros, é
recomendada a desinfecção dos podões quando da retirada de mudas.
No caso de colheita mecânica de mudas, recomenda-se um dispositivo
para, continuamente, borrifar as facas cortantes com um bactericida,
atualmente à base de amônia quaternária. O roguing, isto é, arranque
das plantas doentes no viveiro, é uma medida necessária.
124 Matsuoka

Ferrugem-Marrom
Agente causal
A ferrugem-marrom é causada pelo fungo Puccinia
melanocephala H. & P. Sydow. No passado, a doença foi denominada
simplesmente ferrugem da cana-de-açúcar ou ferrugem-comum.

Sintomas
As folhas apresentam inicialmente pontuações cloróticas, mais
visíveis na contraluz. Essas pontuações evoluem para lesões alongadas
de margem irregular, geralmente com 2 a 10 mm de comprimento e
l mm de largura, de coloração amarelo-marrom no início e evoluindo
para parda a marrom-escuro no final, visíveis de ambos os lados da
folha. Quando o fungo produz os esporos, a lesão se rompe e libera
abundante quantidade deles, especialmente na face inferior da folha;
pode-se facilmente perceber essa esporulação ao passar um lenço
branco, que então fica sujo. Também essas lesões, que se chamam
pústulas, ficam em alto relevo, o que pode ser percebido pelo tato. Em
variedades suscetíveis, a junção de todas as pústulas acaba por matar a
folha prematuramente.

Disseminação
A ferrugem-marrom tem como único hospedeiro a cana-de-
açúcar e se dissemina pelo ar muito rápida e eficientemente, devido
aos milhões de esporos que as lesões foliares liberam. Assim é que,
desde que chegou ao Brasil, em 1986, a doença passou a ser
endêmica. A sua ocorrência maior é em condições de temperaturas
amenas e alta umidade relativa do ar. Em temperaturas acima de
30 ºC, a infecção é bastante reduzida. Em São Paulo, por exen1plo, a
época mais propícia para a doença é outono (março a junho) e final da
primavera e início do verão nos anos nom1ais de chuva. A infecção
ocorre em plantas a partir dos três meses, e muitas variedades
apresentam resistência a ela na fase adulta.

Importância econômica
A ferrugem-marrom é atualmente uma das doenças mais
importantes da cana-de-açúcar no mundo. Ela está sempre ocorrendo
Manejo de doenças e medidas de controle 125

em algumas variedades, embora não se cultivem aquelas de ma10r


suscetibilidade. Essas perdas podem ultrapassar 60%.

Controle
A única forma de controle é o uso de variedades resistentes.
Obviamente, nas regiões de clima menos favorável à doença, podem
ser cultivadas variedades com alguma suscetibilidade, o que pode ser
determinado pelo histórico local.

Ferrugem-Alaranjada
Agente Causal
A ferrugem-alaranjada, causada pelo fungo Puccinia kuehnii
E.J. Butler, chegou ao Brasil em dezembro de 2009.

Sintomas
A ferrugem-alaranjada forma lesões e pústulas bastante
semelhantes às da ferrugem-marrom, porém apresenta coloração
tendendo para laranja, daí o seu nome. No campo, pode haver alguma
dificuldade para essa diferenciação, mas no laboratório a doença pode
ser facilmente identificada pelo exame dos esporos por pessoas com
treinamento muito simples. Os mais treinados podem conseguir a
distinção entre as duas ferrugens com uma lupa de campo.

Disseminação
A disseminação da ferrugem-alaranjada é igualmente feita
pelo ar e também com alta eficiência. Duas diferenças importantes em
relação à outra ferrugem são as condições predisponentes e a idade da
planta para maior suscetibilidade. Contrariamente à ferrugem-marrom,
este patógeno é mais favorecido por temperaturas altas em vez das
amenas, e as plantas tornam-se mais suscetíveis da meia idade para a
idade adulta.

Importância econômica
A ferrugem-alaranjada causa também grandes danos,
especialmente porque afeta plantas adultas.
126 Matsuoka

Controle
O plantio de variedades resistentes é o único recurso para
evitar perdas por essa doença. Variedades resistentes à ferrugem-
marrom podem ser suscetíveis a essa ferrugem e vice-versa; algumas
podem ser afetadas pelas duas.

Carvão
Agente causal
O agente causal do carvão-da-cana-de-açúcar é o fungo
Sporisorium scitamineum (Syd.) M. Piepenbr., M. Stoll & Oberw,
antes Ustilago scitaminea Syd.

Sintomas
O sintoma característico do carvão é uma estrutura alongada
como um chicote, preta, que se forma no ponteiro do colmo; o fungo
transforma o meristema apical nessa estrutura para ali produzir os seus
esporos, aos milhões. Um sintoma que antecede o aparecimento do
"chicote" é o espigamento do colmo, com folhas mais curtas e
espigadas. Colmos afetados são mais finos e curtos, e a touceira pode
apresentar superbrotamento e nanismo, tomando a aparência de
touceira de capim. Podem também aparecer galhas nos colmos e até
nas folhas.

Disseminação
Os esporos do fungo se disseminam com muita facilidade pelo
vento. A infecção se dá unicamente pela gema, no momento de
brotação desta e em presença de água. Esporos em contato com a
gema da cana em pé podem infectá-la e induzir a brotação lateral,
produzindo o "chicote". Esporos caídos no solo podem também ficar
dormentes e causar infecção quando ali se fizer um novo plantio.

Importância econômica
O carvão é outra doença de grande importância na cultura
canavieira. No passado, já causou grandes prejuízos, como na var.
NA56-79, no centro-sul brasileiro, na época da expansão do Proálcool.
Manejo de doenças e medidas de controle 127

Controle
Somente o plantio de variedades resistentes pode evitar seus
danos. Contudo, se variedades de alguma suscetibilidade forem
cultivadas, é imprescindível a produção de mudas sadias. Os viveiros
devem ser inspecionados de 15 em 15 dias, pelo menos, e as plantas
doentes arrancadas (roguing), ensacando-se antes os chicotes
(cortados bem na base) em saco plástico, que, bem fechado, deve ser
deixado ao sol para que os esporos germinem e a ráquis, ainda verde
dentro do cartucho, apodreça e, assim, os esporos também se inativem.
Mais tarde, toda essa biomassa pode ser queimada, longe do canavial.

Podridão-Vermelha
Agente causal
A podridão-vermelha é causada pelo fungo Colletotrichum
falcatum Went.

Sintomas
O sintoma mais comum é o avermelhamento dos tecidos
internos do colmo, geralmente associado a furo de broca, mas pode
ocorrer independentemente dele. Não deve ser confundido com a
doença podridão-avermelhada causada pelo fungo Fusarium, que é
mais comum, e está sempre associado a furo de broca ou outras
machucaduras no colmo. A diferença é que, na podridão-vermelha, a
podridão evolui para marrom-claro em infecção mais avançada,
devido a manchas brancas transversais; os colmos podem secar
totalmente. Pode ocorrer infecção também na folha, e o sintoma mais
comum ocorre na nervura central. Na face superior aparecem lesões
avermelhadas, geralmente entre 1 e 2 cm, com centro claro.

Disseminação
Este fungo é disseminado por meio de vento e chuva.

Importância econômica
A podridão-vermelha é também uma das mais importantes
doenças da cana-de-açúcar, porque ocorre ende1nican1ente e está
sempre presente nos canaviais. Em variedades mais suscetíveis, que
128 Malsuoka

inadvertidamente venham a ser cultivadas, pode causar seca de grande


parte ou de todo o colmo. O grande prejuízo ocorre na indústria, pois,
nos tecidos afetados há inversão da sacarose e, em tecidos ou colmos
secos, simplesmente' não há caldo para extrair. Além disso, favorece a
infecção nas don1as e prejudica a coloração do açúcar.

Controle
A forma mais eficiente de controle é o uso de variedades
resistentes. Entretanto, naquelas menos resistentes, o controle da broca
ajuda a diminuir pontos de infecção.

Podridão-de-Fusarium

Agente causal
O agente causal da podridão-de-Fusarium, como o próprio
nome indica, é o fungo Fusarium moniliforme J.L. Sheldon.

Sintomas
O sintoma típico é o avermelhamento intenso dos tecidos
internos do colmo. Contrariamente ao avermelhamento causado por
Colletotrichum, antes mencionado, este é vermelho-intenso e
contínuo, sem ilhas brancas. Este fungo não tem a capacidade de
infecção autônoma, ou seja, sempre precisa de alguma lesão no colmo
e, dessa forma, está associado ao furo de broca ou qualquer outra
machucadura ou corte. Facilmente se desloca de um internódio a outro
pelos vasos e, por isso, sempre se observam fios avermelhados a
marrom atravessando os nós e se estendendo para os intemódios
adjacentes. Pode também causar murcha e morte dos colmos e,
diferentemente de sintomas semelhantes, causados por podridão-
abacaxi, não exala cheiro nenhum. Também o mesmo fungo pode
causar o sintoma pokkah-boeng, que consiste em enrolamento das
folhas do ponteiro, lesões e malformação nessas folhas, palmito quase
sem folhas, folhas com grandes manchas brancas na base e corte
transversal nos colmos, como se fosse um "corte de faca". Isso ocorre
geralmente nas épocas de intenso crescimento, ou seja, verão úmido.
Há relato de que os "cortes de faca" na base dos colmos.
Manejo de doenças e medidas de controle 129

provavelmente favorecidos pela palha deixada na colheita de cana


crua, provocaram a quebra de canas.
Disseminação
O Fusarium permanece em qualquer resto cultural da cana, e
sua disseminação se dá pelo ar.

Importância econômica
É também uma doença importante por ser endêmica e
invariavelmente presente nos canaviais. Na indústria, ela interfere
prejudicialmente, como a podridão-vermelha. Quando ela infecta o
topo da cana, causando ali o pokkah-boeng, os colmos podem morrer
ou ficar imprestáveis para a industrialização.

Controle
O controle do Fusarium é feito por me10 de variedades
resistentes. No entanto, como a resistência não é completa, o controle da
broca é, nesse caso, ainda mais importante que na podridão-vermelha.
Já o pokkah-boeng somente é controlado com resistência varietal.

Raquitismo-da-Soquei ra
Agente causal
O raquitismo-da-soqueira é causado pela bactéria Leifsonia
xyli subsp. xyli. Quando a doença foi descoberta, na Austrália, na
década de 1940, ela já tinha se disseminado pelo mundo por meio dos
toletes, porque é sistêmica e não se sabia da sua existência. Durante
muito tempo pensou-se que era causada por um vín1s, e son1ente na
década de 1970 descobriu-se que uma bactéria é seu agente causal.

Sintomas
Essa bactéria não causa nenhum sintoma específico externo
que pennita a sua identificação. Internamente no colmo, na base dos
nós, causa avermelhamento na fo1ma de pequenas vírgulas, que são o
entupimento dos vasos condutores do xilema, os quais conduzem água
130 Matsuoka

e nutrientes absorvidos pe las ra ízes . Co mo res ultado desse


entupimento, a planta sofre mais estresse de água q ue plantas sadi as e,
consequentemente, tem o crescimento prej udicado. Isso, entretanto, é
de difici l percepção, a não ser em variedades mu ito suscetíveis e em
condições bastante estressantes, quando o campo pode apresentar
plantas de altura irregul ar (altos e baixos).

Disseminação
A bactéria se dissemina muito eficientemente por meio de
instrumentos de corte, como os podões de colheita ou as lâminas de
corte das máquinas colheitadeiras, ou, ainda, dos implementos
agrícolas. A infecção pelo corte e em toletes infectados são suas
únicas formas de disseminação.

lmportância econômica
Trata-se de uma das doenças mais importantes da cana-de-
açúcar, porque não causa sintoma externo visível. Desse modo, ela
ocorre endemicamente nos canaviais, sem que os produtores a
percebam. Como o próprio nome indica, o seu efeito danoso aumenta
nas sucessivas socas. As perdas vão de nada significativas a bastante,
de acordo com a suscetibilidade das variedades e as condições de
cultivo. O nível de estresse de água é sempre fator determinante da
extensão do dano. Por exemplo, demonstrou-se que os ganhos de
produti vidade em canaviais formados com uma muda sadia em
relação a uma doente podem ser da ordem de 22 a 37% na cana-planta
e de 17 a 27% na cana-soca (efeito menor na soca devido à regressão
da doença na muda tratada), confo1me o nível de tolerância de
variedades sensíveis. Esses valores baseiam-se em estudo cujos
resultados estão apresentados na Figura 5.2 A e B. Embora se trate de
variedades antigas, os dados são apresentados como referência. Corno
a doença vai se agravando nas socas, nos cortes seguintes os prejuízos
seriam ainda maiores que aqueles. mostrando a importância da doença
e do uso de mudas sadias.
Manejo de doenças e medidas de controle 131

A VAR. CB41-76

120 112

100

80

■ Cana-planta
60
·. Cana-soca
40

20

o
Muda usual Muda tratada % aumento
termicamente
B
VAR. CB49-260
120
107 112
- - -__.8 1
100 r------
80

60
■ Cana-planta
40
37 Cana-soca
20

o
Muda usual
Muda tratada 0
termicamente 1/o aumento
Figura 5.2 - Efeito do tratamento térmico nas variedades CB4 l-76 e
CB49-260.

Controle
O controle mais eficiente do raquitismo-da-soqueira ~ feito
utilizando-se variedades resistentes. As variedades comercta1.
modernas têm algum nível de resistência, porém, como ela. não são
132 Matsuoka

imunes, recomenda-se o uso de mudas sadias, as quais são obtidas de


duas fonnas: ( 1) com tratamento térmico dos toletes a 50,5 º C por
duas horas (tratamento tén11ico longo) e subsequente multiplicação do
viveiro por uma a duas vezes para, finalmente, plantar o canavial; e
(2) com o uso de mudas de meristemas obtidas de plantas originadas
de tratamento ténnico longo, providência tomada somente por
laboratórios especializados. Nos viveiros, é imprescindível que as
ferramentas de corte sejam continuamente esterilizadas com
bactericida, geralmente amônia quaternária, ou por flambagem com
fogo, para que se diminua a propagação da doença. No canavial, não
há nada que se possa fazer. Se for uma variedade suscetível e estiver
com alto nível de infecção, e isso somente pode ser verificado por
especialistas, é recomendada a reforma. Se a área estiver bem irrigada,
os danos serão pequenos, de modo que se poderá conviver com a
doença.

Podridão-Abacaxi
Agente causal
A podridão-abacaxi é causada pelo fungo Thielaviopsis
paradoxa (de Seynes) von Hõn.

Sintomas
Embora esse fungo possa infectar cana em pé, o dano mais
comum é nos toletes, após o plantio. Quando se notarem falhas
excessivas e brotos novos murchando, há indicação de sua ocorrência.
Cortando-se os toletes longitudinalmente, nota-se que eles estão
aquosos, com coloração de abacaxi passado e exalando cheiro
característico dessa fruta. Nas extremidades do tolete, pode-se notar
uma coloração preta, que também tomará todo o tolete após alguns
dias, e, com a degeneração do tecido parenquimatoso, restarão apenas
os fios das fibras. A coloração escura é causada pela esporulação do
fungo em contato com o ar.

Disseminação
Este fungo é disseminado através de estruturas de
sobrevivência (c]amidósporos) ou em restos culturais que ficain no
Manejo de doenças e medidas de controle 133

solo. A infecção somente se dá em tecidos lesionados, no caso dos


toletes, nas suas duas extremidades. A partir dessas extremidades, o
fungo vai adentrando o tolete e, como libera uma toxina, o broto novo
pode morrer antes mesmo da emergência ou logo depois. É uma
corrida contra o tempo: quanto mais cedo a gema brotar, menor a
chance do efeito da doença, uma vez que, depois que o broto emite
raiz própria, ele não sofre mais o efeito da toxina. As condições
desfavoráveis para a brotação acentuam os danos. Solos encharcados
de baixada ou solos pesados com intensas e continuadas chuvas,
juntamente com baixa temperatura, atrasam a brotação e,
consequentemente, favorecem o efeito danoso da toxina do fungo.

Importância econômica
É doença importante em condições desfavoráveis para a
brotação, porque, levando mais tempo para essa brotação, há mais
tempo para o fungo proliferar e sua toxina causar efeito, resultando
assim em.falhas no canavial.

Controle
O controle da podridão-abacaxi consiste em, primariamente,
dar condições de boa germinação para o tolete. Há diferenças varietais
em resistência, mas elas somente fazem efeito quando as condições de
germinação são desfavoráveis. Nos plantios em épocas mais frias e
ainda em solos pesados ou de várzea, a probabilidade de danos é
maior, por isso são aconselháveis algumas medidas preventivas. O
tratamento dos toletes, principalmente das extremidades, é
imprescindível com fungicida, no caso de plantio de viveiros com
toletes tratados termicamente. Porém é optativo no caso de toletes não
tratados termicamente, de acordo com as condições ambientais
mencionadas. O corte dos toletes em comprimento maior, seis a oito
gemas em vez de três, ou até mesmo cana inteira, se as mudas forem
novas, é uma medida boa, pois dá chance de escape para os brotos do
meio do tolete. Alén1 disso, em toletes maiores, os brotos têm maior
vigor e, consequentemente, suas raízes crescem mais rapidainente, o
que permite à planta escapar do efeito danoso das toxinas.
l 34 Matsuoka

Podridão-da-Casca
Agente causal
Esta doença é causada pelo fungo Phaeocytostroma sacchari
(J.B. Ellis &Everhart) B. Sutton).

Sintomas
A infecção sempre ocorre pela região do nó, onde se pode
notar coloração vermelho-rósea. Cortando-se o tolete no sentido do
comprimento, o tecido da região do nó se mostrará parte
avermelhada e parte marrom-escura. Os internódios poderão se
apresentar levemente róseos ou secos. Em estágio avançado, o
colmo se mostrará seco e leve e, externamente, na casca, haverá
numerosas estruturas espiraladas pretas, como uma cabeleira. Em
condições favoráveis à doença, colmos inteiros, em pé, podem
literalmente secar, ou seja, apresentar podridão-seca; o colmo perde
a parte líquida totalmente, ficando rígido e leve. Se canas
infectadas forem utilizadas como mudas, podem ocorrer falhas na
lavoura.

Disseminação
A dispersão do fungo se dá por vento e chuva.

Importância econômica
A podridão-da-casca é primariamente uma doença de
plantas estressadas, sem vigor, embora haja diferenças de
suscetibilidade entre variedades. Quando afeta canas em pé, de
variedades mais suscetíveis, pode causar sérios prejuízos e até
tornar inadequada toda a matéria-prima, devido à enorme
quantidade de canas secas. Além de ser prejudicada a extração,
ainda pode ocorrer muita infecção nas dornas.

Controle
Não há nenhuma medida de controle que se possa adotar. Se a
doença afetar seriamente uma variedade, esta não deve mais ser
plantada, pelo menos naquela condição.
Ma nejo de doenças e medidas de co111role 135

Nematoides (galhas)
Agente causa l
Dezenas de espécies de nematoides atacam as raízes da cana-
de-açúcar, entre as quais são as mais comuns: Meloidogyne.
Pratylenchus, Criconemoides, Helicotylenchus, Hop lolaimus,
Tylenchorhy nchus e Xiphin ema. As duas primeiras são citadas como
as principais no Brasil.

Sintomas
Existem dois tipos de sintomas nas raízes: as galhas e as
lesões. As lesões são de cor avermelhada a pardo-avermelhada, mas o
que comumente se observa é uma tonalidade escura, devido à
posterior infecção por fungos. Como vários fungos patogênicos
podem também infectar as raízes, esses sintomas não servem como
padrão diagnóstico para leigos. Já as galhas são produzidas pelo
nematoide Meloidogyne e são engrossamentos das raízes resultantes
do efeito de toxinas liberadas pelas formas juvenis, que podem ser
facilmente reconhecidos, mesmo por leigos.

Disseminação
Os nematoides normalmente habitam os solos, de modo que
nao ocorre propriamente uma disseminação. O mapeamento prévio
das áreas que têm maior infestação auxilia tanto na escolha de
variedades a serem plantadas como nas medidas de controle a serem
tomadas.

Importância econômica
Em muitas áreas onde se cultiva a cana-de-açúcar, a infestação
por nematoides é prejudicial, de modo que é um problema econômico
importante. Em experimentos, têm sido relatadas perdas de até 50%
ou, contrariamente, incrementos de até 45 t ha-1, ao se efetuar o
controle com nematicidas em variedades suscetíveis e solo altamente
infestado.

Controle
A recomendação dos especialistas é adotar um controle
integrado baseado em três métodos: varietal. cultural e químico. Numa
136 Matsuoka

área sabida1nente infestada, deve-se, primeiramente, escolher uma


variedade indicada como resistente, fazer a aplicação de matéria
orgânica no sulco de plantio, ou uma prévia adubação verde, e aplicar
um nematicida.

Referências
CARDOSO, C. O. N.; SANGUTNO, A. Ferrugem da cana-de-açúcar. ln:
SEMINÁRIO DE TECNOLOGIA AGRONÔMICA, 4., 1988. Proceedings ... São
Paulo: Copersucar, 1988. p. 609-625.
CHAGAS, P. R. R.; TOKESHI, H. Avaliação da resistência de variedades de cana-de-
açúcar em função da severidade do raquitismo da soqueira. ln: CONGRESSO
NACIONAL DA STAB, 1996, Maceió. Anais .. . Maceió: 1996. p. 287-293.
COMISSÃO DE CONTROLE DO CARVÃO DA CANA-DE-AÇÚCAR DO
ESTADO DE SÃO PAULO. Campanha integrada de controle do carvão em cana-
de-açúcar. São Paulo: 1985. 39 p.
GHELLER, A. C. A. Produção de mudas de cana-de-açúcar. ln: CÂMARA, M. S.;
OLIVEIRA, A. A. M. (Ed.). Produção de cana-de-açúcar. Piracicaba, SP:
USP/ESALQ, 1993. p. 83-93.
GIGLIOTI, E. A.; CANTERI, M. G. Desenvolvimento de software e escala
diagramática para seleção e treinamento de avaliadores da severidade do complexo
broca-podridões em cana-de-açúcar. Fitopatologia Brasileira, v. 23, n. 3, p. 359-363,
1998.
GHELLER, A. C. A.; GODOY, O. P. Eficiência comparativa de dois sistemas de
tratamento térmico na inativação do agente causal do raquitismo-da-soqueira em
cana-de-açúcar. Piracicaba: 1987.
GIGLIOTI, E. A.; MATSUOKA, S. False red stripe. In: ROTT, P.; BAILEY, R. A.;
COMSTOCK, J. C.; CROFT, B. J.; SAUMTALLY, A. S. (Ed.). A guide to
sugarcane diseases. Montpellier: Cirad-ISSCT, 2000. p. 27-3 l.
IANPLANALSUCAR. Relatório anual 1974. Piracicaba, SP: IANPLANALSUCAR,
1974. 68 p.
IAA/PLANALSUCAR. Relatório anual 1975. Piracicaba, SP: IAAIPLANALSUCAR,
1976. 80 p.
IANPLANALSUCAR. Relatório anual 1976. Piracicaba, SP: IANPLANALSUCAR,
1977. 88 p.
JANPLANALSUCAR. Guia para identificação de doenças e deficiências
nutricionais da cana-de-açúcar no Brasil. Piracicaba, SP: IANPLANALSUCAR,
1977. 56 p.
LIU, H. P. Chave ilustrada para identificação de doenças e anomalias nos
canaviais do Brasil. Piracicaba, SP: IANPLANALSUCAR, 1988. 48 p.
Manejo de doenças e medidas de controle 137

MACEDO, N .; MACEDO, D.; CAMPOS, M. B. S. ; NOVARETTI, W. R. T.;


FERRAZ, L. C. C. B. Manejo de pragas e nematoides. ln: SANTOS, F.; BORÉM, A.;
CALDAS, C. (Eds.). Cana-de-açúcar: bioenergia, açúcar e álcool - tecnologias e
perspectivas. Viçosa, MG: Ed. dos autores, 2010. p. 119-159.
MASU DA, Y.; MATSUOKA, S.; VIEIRA, M. A. S.; DAL PICCOLO, C. R.;
CALHEIROS, G. G.; TOKESHI, H. Escaldadura das folhas : doença da cana-de-
açúcar de grande importância. ln: CONGRESSO NACIONAL DA STAB, 1981 , Rio
de Janeiro. Anais .. . Rio de Janeiro: 1981 . v. 2. p. 430-441 .
MA TSUOKA, S. Disseminação e controle do raquitismo-da-soqueira da cana-de-
açúcar. Summa Phytopathologica v. 1, p. 245-257, 1975.
MATSUOKA, S. Recuperação da produtividade de variedades de cana-de-açúcar pelo
tratamento térmico de toletes. Brasil Açúcar, Rio de Janeiro, v. 87, n. 5, p. 20-24,
1976.
MATSUOKA, S. Incidência e efeito do mosaico na cnltura da cana-de-açúcar no
Estado de São Paulo. Araras-SP: IAA/PLANALSUCAR, 1978. (Boi. Técnico n. 4).
MATSUOK.A, S. O controle do carvão da cana-de-açúcar no Brasil. Saccharum
STAB, v. 2, n. 5, p. 37-43, 1979.
MATSUOK.A, S. Ação da doença podridão da casca na deterioração de cana geada.
Saccharum APC, v. 6, n. 25, p. 30-32, 1983.
MATSUOKA, S. Longevidade do efeito do tratamento térmico em canas infetadas
pelo raquitismo-da-soqueira. ln: CONGRESSO NACIONAL DA STAB, 1984, São
Paulo. Anais ... São Paulo: 1984. p. 244-249.
MATSUOK.A, S. Benefícios da prática de tratamento térmico da muda de cana-de-
açúcar e eficiência dos dois métodos existentes no Brasil. Cadernos
PLANALSUCAR, v. 3, p. 22-24, 1984.
MATSUOK.A, S. O problema do carvão da cana-de-açúcar. STAB, v. 5, n. 2, p. 23-
32, 1986.
MA TSUOKA, S. Análise retrospectiva de perdas causadas pela ferrugem da cana-de-
açúcar em São Paulo. ln: CONGRESSO NACIONAL DA STAB, 1993, Águas de São
Pedro. Anais ... Águas de São Pedro: 1993. p. 148-156.
MATSUOKA, S. Virus dei mosaico. ln: FORS, A. L. (Ed.). Manual de
enfermedades de la caõa de azúcar. San Salvador: Ministério de Agricultura y
Ganaderia, 1999.p.29-63.
MA TSUOKA, S.; ABRAMO FILHO, J.; MARCHI, M. L. S.; GHELLER, A. C. A. ;
KRONKA, P. F. B. Sintoma incomum tipo "corte de faca" causado por Fusarium
moniliforme na variedade de cana-de-açúcar RB855536. Fitopatologia Brasileira, v.
25, n. 3, p. 544-548, 1984.
MATSUOKA, S.; AGUILLERA, M. M. Efeito aditivo de nematoides e raquitismo-
da-soqueira sobre a produção de algumas variedades de cana-de-açúcar. ln:
CONGRESSO NACIONAL DA STAB, 1981 , Rio de Janeiro. Anais... Rio de
Janeiro: 1981 . v. 2, p. 409-420.
138 Matsuoka

MATSUOKA, S.; AGUILLERA, M. M. Estudos de comportamento de variedades de


cana-de-açúcar em solos infestados por nemaloidcs. Brasil Açúcar, v. 103, n. 1, p.
15-19, 1985.
MATSUOKA, S.; COSTA, A. S. Perdas ocasionadas pelo vírus do mosaico da cana-
de-açúcar em parcelas com diferentes níveis iniciais de infecção no material de
plantio. 1. Perdas na cana-planta. Pesq. Agropec. Bras., v. 9, p. 89-92. 1974.

::.
PLANTAS DANINHAS
6
Sérgio de Oliveira Procópio 1, Antônio Alberto da Silvct2,
Evander Alves Ferreira3, Alexandre Ferreira da Silva4 , Leandro Galon 5

Introdução
A cana-de-açúcar (Saccharum spp.) foi introduzida no Brasil
em 1553, estabelecendo-se de forma definitiva nas regiões Centro-Sul
e Nordeste. O País é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo,
moendo, na safra 2014/2015, aproximadamente, 642 milhões de
toneladas por ano. A região Sudeste é a maior produtora, com mais de
62% da área total plantada (somente o Estado de São Paulo contribui
com 52% dessa área), seguida pelas regiões centro-oeste, com 11 %, e
Nordeste, com 19% da área total. Nessas três regiões, a produtividade
média é de 82, 73 e 56 t ha-1, respectivamente (CONAB, 2015).
É importante ressaltar que a ampliação de área cultivada com
cana-de-açúcar, visando principalmente à produção de etanol,
acarretará maior demanda por agrotóxicos. Em 2008, cerca de 8,4

1 Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros.


E-mail: Sergio.procopio@embrapa.br
2 Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Universidade Federal de Viçosa.

E-mail: aasilva@ufv. br
3 Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Pós-doutorando na Universidade Federal de Viçosa

E-mail: evanderalvcs@yahoo.com.br
~ Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo.
E-mail: alexandre.fo1rcira@cmbrapa.br
~ Professor na Uni versidade Federal da Fronteira Sul, Campus Ercchim.
E-mail : lcandro.ga lon@uffa.cdu.br
140 Procópio et ai.

bilhões de dólares foram comercializados, considerando todos os


agrotóxicos utilizados no Brasil, e os herbicidas representaram
aproximadamente 45% desse total (SINDAG, 2008). No manejo de
plantas daninhas da cultura da cana-de-açúcar, mais de trinta e quatro
mil toneladas de herbicidas foram utilizadas na safra 2009/201 O,
sendo a cana-de-açúcar a terceira cultura em termos de consumo de
herbicidas no Brasil (SINDAG, 201 O). O extensivo uso desses
produtos no cultivo da cana-de-açúcar se justifica pelo fato de esta
cultura apresentar desenvolvimento inicial lento, o que torna longo o
seu PCPI (período que a cultura precisa estar livre da interferência das
plantas daninhas). Por essa razão também, é muito comum utilizar em
cana-de-açúcar herbicidas que apresentam longo efeito residual no
ambiente, os quais, se utilizados sem os conhecimentos técnicos
necessários, podem causar sério impacto ambiental.
Pode-se estimar que cerca de 1.000 espécies de plantas
daninhas habitam o agroecossistema da cana-de-açúcar nas distintas
regiões produtoras do mundo (ARÉVALO, 1978). Apesar de ser
altamente eficiente na utilização dos recursos naturais disponíveis para
seu crescimento, por apresentar mecanismo fotossintético do tipo C4,
essa cultura possui crescimento inicial lento, e por esse motivo deve
ser protegida dos efeitos da competição com as plantas daninhas
(PROCÓPIO et al., 2003). Estas, em sua maioria, são altamente
eficientes na utilização dos recursos disponíveis no meio ambiente
( água, luz e nutrientes), possuem crescimento inicial rápido, além de
ocorrerem na área em alta densidade (SILVA et ai., 2007a). Portanto,
se não controladas no início do crescimento da cana-de-açúcar,
acarretam interferências negativas à cultura em razão da habilidade
competitiva pelos recursos naturais e dos efeitos alelopáticos (SILVA
et al., 2007a).
Além da redução no perfilhamento da cana-de-açúcar e da
produtividade de colmos e sacarose, outros aspectos negativos muito
evidentes em decorrência da competição com as plantas daninhas
nessa cultura são decréscimo na longevidade do canavial, queda na
qualidade da matéria-prima e dificuldade nas operações de colheita e
transporte (PROCÓPIO et ai., 2003).
Os gastos com controle das plantas daninhas n~ cultura da
cana-de-açúcar podem representar até 30% do custo de produção na
cana-soca e de 15 a 25%, na cana-planta (LORENZI, 1996). Por
Plantas daninhas 14 1

diversas razões, como a rapidez na operação, a melhor relação custo-


beneficio, a segurança para a cultura e a eficiência em épocas
chuvosas, o método químico de controle das plantas daninhas nesta e
em outras culturas é o mais utilizado. Todavia, esse método, para ser
eficiente e seguro do ponto de vista ambiental e técnico, precisa ser
supervisionado por um profissional qualificado na área de plantas
daninhas, com bons conhecimentos em biologia das plantas daninhas e
da cultura em questão. Além disso, esse profissional precisa ter
conhecimento sobre herbicidas quanto às suas características químicas
e fisicas e às suas interações com o ambiente.
Neste capítulo, estão disponibilizadas resumidamente
informações básicas, com o objetivo de subsidiar técnicos, para que
eles possam realizar, de forma adequada e segura, o manejo de plantas
daninhas na cultura da cana-de-açúcar.

Prejuízos Causados pelas Plantas Daninhas na


Cultura da Cana-de-Açúcar
Entre os diversos prejuízos que a interferência das plantas
daninhas pode ocasionar à cultura da cana-de-açúcar, destacam-se:
- Redução de produtividade de colmos e de açúcar - A
interferência das plantas daninhas pode promover perdas na
produtividade da lavoura em níveis variados, de 1O a 80%
(PROCÓPIO et al., 2003). Esse efeito diferenciado da interferência
das plantas daninhas sobre a cultura da cana-de-açúcar pode ser
atribuído à capacidade competitiva diferenciada das variedades ou
clones, bem como do seu estado nutricional e sanitário; do ciclo de
corte ( cana-planta, cana-soca); das espécies de plantas daninhas
estabelecidas na área; da densidade populacional e da época da
emergência das invasoras; além da disponibilidade de nutrientes e
água no solo.
- Decréscimo na longevidade do canavial - Altas infestações de
plantas daninhas, associadas à deficiência no controle dessas
invasoras, podem acelerar a necessidade de reforma do canavial. A
perda natural e gradual de produtividade nas áreas de produção de
cana-de-açúcar é acentuada em áreas com manejo de ficitário,
142 Procópio et ai.

obrigando muitas empresas a 1mc1ar suas operações de destruição


das soqueiras com apenas três cortes efetuados, quando a
programação original era de realizar ao menos cinco cortes. Isso
ocoITe porque o processo de depauperamento precoce do canavial
está associado à falta de reposição adequada de nutrientes, à
compactação do solo e à ação de pragas e nematoides.
- Dificuldade e aumento no custo da colheita - A presença de
plantas daninhas nas operações de colheita da cana-de-açúcar, seja
manual ou mecânica, ocasiona transtornos operacionais e aumento
de custos. Quando o canavial está infestado com plantas daninhas, o
preço acordado entre os trabalhadores e a empresa para colheita da
cana aumenta, devido ao menor rendimento de corte obtido pelos
cortadores. Também, a presença das plantas daninhas pode acarretar
maior risco à saúde dos trabalhadores, por servir de abrigo a animais
peçonhentos, além de incrementar o risco de acidentes com o
manuseio do instrumento manual de corte. Na colheita mecanizada
da cana-de-açúcar, as plantas daninhas são responsáveis por perda
no rendimento operacional, devido às constantes interrupções para
limpeza e desobstrução dos mecanismos de corte e abastecimento da
colhedora. Além disso, verifica-se desgaste prematuro de
componentes da colhedora e dificuldade na regulagem da altura de
corte adequada, o que pode causar prejuízos à brotação da soqueira.
- Queda na qualidade industrial da matéria-prima - Quando se
colhe um canavial infestado com plantas daninhas, é inevitável que
partes da composição dessas espécies, como folhas, caules e órgãos
reprodutivos, sejam transportados junto com os coln1os da cultura
para a unidade industrial. Isso resulta no aumento das chamadas
impurezas vegetais, que tradicionalmente são caracterizadas por
ponteiros e folhas da própria cultura, mas que são incrementadas
pela presença de pedaços de órgãos e tecidos das plantas infestantes.
Essas impurezas dificultam o processo industrial e.
consequentemente, diminuem a remuneração do produtor.
_ Abrigo para pragas e doenças da cana-de-açúcar - Diversas
espécies de plantas daninhas comumente presentes nas lavouras de
cana-de-açúcar podem abrigar insetos-praga ou servir de
hospedeiras para determinadas espécies de fungos, bactérias e
nematoides, que causam prejuízos significativos às plantas de cana-
de-açúcar.
Plantas da ninha., 143

- Depreciação do valor da terra - Determinadas espécies de plantas


daninhas, como ti ri rica ( Cyperus rotundus) e capim-camalote
(Rottboelia exaltata), principalmente em altas densidades
populacionais, podem depreciar o valor venal da propriedade em
questão, ou mesmo prejudicar o acerto de contratos de arrendamento
das áreas infestadas. Nesse ponto, o inverso também deve ser
praticado: quando se arrendam áreas livres de determinadas espécies
de plantas daninhas, deve-se exigir, em contrato, que a área seja
entregue ao ténnino do período contratual com a mesma
comunidade infestante. É muito comum na cultura da cana-de-
~çúcar se evitar a disseminação de determinadas espécies de plantas
daninhas, sobretudo as de propagação vegetativa. Deve-se ter
cuidado especial para prevenir a entrada ou a disseminação dessas
espécies em áreas sem histórico de ocorrência.

Manejo Integrado das Plantas Daninhas


(Conceitos e objetivos)
O manejo integrado de pragas (MIP) pode ser entendido como
a maneira de cultivo que considera todos os fatores que podem
proporcionar à planta aproveitamento eficiente dos recursos do meio e
maior e melhor produção. Nesse contexto, se insere também o manejo
integrado das plantas daninhas (MIPD), como componente do manejo
integrado de pragas (MIP). Esse sistema de produção integrada, cada
vez mais, vem ganhando espaço em todos os setores agrícolas, tendo,
no Brasil, sua base reforçada no campo da entomologia, quando
pioneiros promoveram o estudo dos problemas do algodoeiro no
Nordeste do País, propondo uma série de medidas que se enquadraram
no conceito de integração (CONCEIÇÃO, 2000). As premissas que
alicerçaram a proposta de manejo integrado podem ser bem
sintetizadas em garantia de qualidade do produto colhido, incluindo a
isenção de resíduos de defensivos nos alimentos; sustentabilidade
ambiental, econômica e social da produção, mantendo ou aumentando
a produtividade; e garantia de melhor qualidade de vida para o
agricultor no que tange ao retorno econômico e à maior segtu-ança na,
atividades que envolvem a utilização de detensivos agrícolas (SIL\1. \ .
2006).
144 Procópio et ai.

O termo "manejo integrado" refere-se basicamente à união de


dois fatores: a integração e o manejo. A integração é composta pela
utilização dos vários métodos de controle disponíveis, como culturais,
mecânicos, biológicos ou químicos, de forma harmoniosa, sendo
necessários, para melhor aplicação, conhecimentos da fisiologia e
biologia da cultura e das plantas daninhas, visando obter vantagens
competitivas da cana-de-açúcar diante de suas invasoras. O manejo
está relacionado com a tomada de decisão, que depende muito do
monitoramento. Esse conceito também se baseia na "convivência"
entre culturas e plantas daninhas até um limite em que estas não
interfiram negativamente na produção da cana-de-açúcar. É
importante ter em mente que o manejo integrado deve ser adaptado a
cada local e situação, não existindo mais aquela recomendação
universal "receita de bolo".
Para se obter êxito no Manejo Integrado de Plantas Daninhas
(MIPD) na cultura da cana-de-açúcar, é necessário conhecimento de
identificação, biologia e ecologia das plantas daninhas; fisiologia da
cultura e das plantas daninhas; nutrição mineral de plantas; e
variedades disponíveis de cana-de-açúcar. Esses fatores, associados às
características químicas e fisicas do solo e às condições climáticas,
irão definir o grau de interferência das plantas daninhas na cultura e a
necessidade de controle delas. O método de controle a ser empregado
deverá levar em consideração todas as variáveis citadas além da
'
topografia do terreno, dos custos das operações e, principalmente, do
impacto ambiental.

Principais Plantas Daninhas Infestantes


Devido às dimensões territoriais do Brasil e ao fato de a cana-
de-açúcar estar presente em praticamente todas as regiões brasileiras,
a diversidade de espécies daninhas observadas nesta cultura é muito
grande. Na Tabela 6.1 são destacadas as espécies que ocoITem com
maior frequência na região centTo-sul canavieira.
Plantas da11i11ha.1· 145

Tabela 6.1 - Principais espec1es de plantas daninhas infestantes da


cana-de-açúcar na região centro-sul

Nome comum Nome científico


Capim-braquiária Brachiaria decumbens
Capim-colonião Panicum maximum
Capim-camalote Rottboellia exaltata
Capim-colchão Digitaria horizontalis
Capim-marmelada Brachiaria plantaginea
Capim-carrapicho Cenchrus echinatus
Capim-pé-de-galinha Eleusine indica
Grama-seda Cynodon dactylon
Capim-massambará Sorghum halepense
Capim-falso-mas sambará Sorghum arundinaceum
Tiririca Cyperus rotundus
Tiriricão Cyperus esculentus
Corda-de-viola lpomoea sp.
Caruru Amaranthus sp.
Beldroega Portulaca oleraceae
Trapoeraba Commelina sp.
Falsa-serralha Emília sonchifolia
Serralha Sonchus oleraceus
Mentrasto Ageratum conyzoides
Leiteiro Euphorbia heterophyl/a
Nabiça Raphanus raphanistrum
Poaia-branca Richardia brasiliensis
Carrapicho-de-carneiro Acantlwspermum hispidum
Picão-preto Bidens pilosa
Buva Conyza bonariensis
Malva-vermelha Croton glandulosus
Guanxuma Sida sp~ _ _ __
146 Procóp io et ai.

Descrição de algumas espécies de plantas


infestantes da cultura da cana-de-açúcar
Brachiaria decumbens - Família : Poaceae (Gram ineae)
Planta perene, muito entouceirada, ereta, de 30-100 cm de
altura. As folhas são densamente pubescentes, de 10-20 cm de
comprimento. Sua reprodução ocorre por sementes, rizomas e estolõe.s
(LORFNZI, 2000). Suas sementes podem apresentar viabilidade de
até oito anos; a maioria apresenta dormência inicial e pode germinar
em diver! is profundidades (0-8 cm). O controle de sua sementeira.
devido à germinação irregular e prolongada, é dificil. Em
consequê"lcia dessa característica, na cultura da cana-de-açúcar, seu
controle em pré-emergência exige herbicidas de longo período efetivo
(residual).

Panicum maximum - Família: Poaceae {Gramineae)


Planta perene, robusta, entouceirada, ereta, de 1-2 m de altura.
Os colmos têm densa pilosidade nos nós. As folhas são glabras, de 20-
70 cm de comprimento. Sua reprodução ocorre por semente e rizomas
(LORENZI, 2000). Suas sementes apresentam baixa viabilidade
inicial, aumentando após um período de dormência. As plantas
originadas de sementes são bastante debilitadas e apresentam lento
crescimento inicial; a ocorrência de períodos de estiagem após a
emergência cl imina boa parte das plantas jovens. Após esta fase
inicial, o crescimento passa a ser acelerado, principalmente em
conuições de alta temperatura e luminosidade (metabolismo c4 ). A
boa adaptabilidade a diferentes tipos de solos e suporta curtos
períodos de seca, mas não suporla longos pcriodos em solos
encharcados. Apresenta boa tolerância a sombreamento, porém baixa
tolerância a geadas (KISSMANN, 1997).

Sorghum holepense - Família: Po { ramineae)


Planta perene, l!rl'ta, l'ortem 'Ili' rizomntl,sn, ccspitosa, de
~olmos cl!rosos e com pilosidnd~ dl: 1-- lll d' altura nos nós. Propaga-
-;c pnr sementes e por ri,omus. 1~ 'lHlsidl!rUl.l l urna dns 1wlis agressivas
plantas daninhas do mundo . Nn Br 1sil. s111 úrt''I de inf·staçào v~m
Plantas daninhas 147

aumentando, sendo mais frequente em São Paulo e Paraná. É


problemática em lavouras anuais e perenes (LORENZI, 2000).

Digitaria horizontalis - Família: Poaceae (Gramineae)


Planta anual, ereta, herbácea, muito entouceirada, de 30-80 cm
de altura. Tem o colmo com enraizamento nos nós. Suas folhas
medem de 6 a 12 cm de comprimento. A reprodução ocorre por
sementes (LORENZI, 2000). É muito agressiva em solos férteis e uma
das primeiras infestantes a aparecer após o preparo do solo, de
setembro a novembro, na região centro-sul. É planta daninha anual
mais frequente nos canaviais dessa região.

Brachiaria plantaginea - Família: Poaceae (Gramineae)


Planta anual, herbácea, entouceirada, ereta, de 50-80 cm de
altura. Seus colmos, em contato com o solo, podem apresentar
enraizamento nos nós. As folhas são glabras, de l 0-25 cm. A
reprodução ocorre por sementes (LORENZI, 2000). Suas s~mentes
apresentam baixa viabilidade logo após a maturação, porém a
viabilidade pode aumentar por muitos anos, caso a semente consiga
sobreviver a períodos de baixa temperatura. No campo, apenas
germinam as sementes localizadas na superficie do solo; aquelas
localizadas ma!s profundamente no perfil, normalmente, permanecem
dormentes. Em solos bem preparados, após o umedecimento, ocorre
germinação da maioria das sementes próximas à superfície do solo.
Contudo, em solos com baixa umidade, apenas pequena porcentagem
germma.

Cynodon dactylon - Família: Poaceae (Gramineae)


Planta perene, herbácea, de hábito de crescimento rasteiro.
Sua reprodução ocorre principalmente por rizomas e estolões. É uma
espécie de "vida longa", mesmo em condições adversas. Suporta solos
ácidos e alcalinos e tolera alta salinidade e seca extrema. Todavia,
desenvolve-se melhor cm períodos de alta luminosidade, temperatura
e umidade do solo. Esta espécie é severamente afetada por geadas e
praticamente não se desenvolve à sombra (KISSMANN, 1997).
148 Procópio et ai.

Rottboellio exoltoto - Família : Poaceae (Gramineae)


Planta anual, cespitosa, ereta, com bainhas foliares
densamente revestidas por cerdas rígidas, de 1,0-2,5 m de altura.
Propaga-se apenas por sementes. É uma planta daninha de introdução
recente, porém já bastante disseminada no centro-sul do Brasil. Infesta
principalmente lavouras anuais e perenes, beira de estradas e terrenos
baldios. Muito vigorosa e prolífica, uma única planta é capaz de emitir
até 100 perfilhos e produzir mais de 15.000 sementes, que ficam
dormentes por até quatro anos (LORENZI, 2000).

Cyperus rotundus - Família : Cyperoceoe


Planta perene, ereta, de 10-60 cm de altura, conhecida por
tiririca. Tem folhas basais em número de 5-12 (LORENZI, 2000). Seu
principal mecanismo reprodutivo inclui tubérculos e bulbos
subterrâneos. Sua reprodução por sementes é pouco significativa -
menos de 5% das sementes formadas são viáveis (KISSMANN,
1997). Pode se desenvolver em solos com diferentes texturas e numa
ampla faixa de pH. Contudo, solos muito salinos são inadequados ao
seu desenvolvimento.

Epocas de Plantio e Períodos de


Interferência
Na região centro-sul brasileira, a cana-de-açúcar é
normalmente plantada em duas épocas distintas. Se plantada entre os
meses de setembro e novembro, ela apresenta seu ciclo vegetativo
com duração média de 12 meses, sendo então denominada "cana-
planta-de-ano". Quando plantada entre os meses de janeiro e abril, a
cana-de-açúcar tem um ciclo vegetativo variando de 14 a 18 meses
sendo denominada "cana-planta-de-ano-e-meio". As variações na
duração dos ciclos dependerão, principalmente, da data de plantio, do
clima e do tipo de maturação da variedade utilizada (CÂNIARA
1993).
Todos os outros c01tes, independentemente se provenientt!s de
~ana-planta-de-ano ou cana-planta-de-ano-e-meio, terão duração
11édia de 12 meses, sendo chamados "cana-soca".
Plantas daninhas 149

Diversos trabalhos de pesquisa indicam períodos do ciclo da


cultura em que a competição acarreta perdas na produção da cana-de-
açúcar. No entanto, não se podem extrapolar esses resultados para
todas as condições, pois esses períodos são influenciados por diversos
fatores, como época de plantio e época de brotação da cana-soca
(condições climáticas), variedades utilizadas, qualidade da mud~ ,
plantas daninhas infestantes, adubação, profundidade de plantio e
espaçamento, ou seja, fatores que aceleram ou retardam o
desenvolvimento da cana-de-açúcar. Na Tabela 6.2 são apresentados
valores médios dos períodos: anterior à interferência (PAI), total de
prevenção da interferência (PTPI) e crítico de prevenção da
interferência (PCPI) para a região centro-sul (CONST ANTIN, 1993;
KUV A et ai., 2001, 2003, 2008).

Tabela 6.2 - Período total de prevenção da interferência (PTPI),


período anterior à interferência (PAI) e período crítico
de prevenção da interferência (PCPI), para a cultura da
cana-de-açúcar, na região centro-sul

lantio PTPI (dias) PAI dias) PCPI (dias)


Cana-planta-de-ano-e-meio 90-150 20-50 20-150*
Cana-p Ianta-de-ano 90-120 20-40 20-120
Cana-soca (brotação maio/set.) 90-100 30-40 30-100
Cana-soca (brota~ão out./dez.} 70-90 20-30 20-90
• Cana plantada em abril infestada por Brachiaria decumbens e. ou, Pa11ic11111 ma.ximum

Em relação às principais espécies de plantas daninhas infestantes


por época na região centro-sul, verifica-se tendência de, nos meses de
março a setembro, predominar plantas daninhas com metabolismo C) e.
entre os meses de outubro e fevereiro, aquelas com metabolismo C-1.
O período anterior à interferência (PAI) é de,
aproximadamente, 20 a 30 dias após a emergência do broto ( colmo
primário) em cana-planta, pois a manutenção da planta nessa fase
depende quase exclusivamente das reservas nutritivas do tolete de
plantio, não entrando assim em competição direta com as plantas
daninhas nesse período, ou seja, a presença destas na ·~rea não
interfere na cultura. Fato semelhante ocorre com a cana-soca: as
150 Procópio eL ai.

reservas contidas na base da antiga touceira mantêm por um período


inicial as novas brotações.

Métodos de Controle de Plantas


Daninhas
Controle preventivo
São medidas que visam evitar a entrada e, ou, a disseminação.
na área, de propágulos de plantas daninhas, entre outras:
- manter canais de vinhaça ou de irrigação livres de plantas daninhas;
- limpar máquinas e implementos quando da transferência para outro
talhão;
- armazenar a torta de filtro em áreas livres de plantas daninhas;
- utilizar mudas provenientes de viveiros com ótimo controle de
plantas daninhas; e
- controlar as plantas daninhas nas áreas adjacentes aos talhões de
cana-de-açúcar.

Controle cultural
Várias práticas culturais que visam tomar a cultura da cana-
de-açúcar mais competitiva em relação às plantas daninhas, entre as
quais se destacam:
- utilizar variedades com características mais competitivas, por
exemplo, aquelas que apresentem alto índice e alta velocidade de
perfilhamento;
- utilizar mudas em ótimo estado de sanidade e nutricional·
'
. adubar adequadamente a cultura, de modo a favorecer O seu
crescimento; e
reduzir o espaçamento em áreas que não apresentam aptidão a
mecanização.

Controle mecânico
São métodos mecânicos de controle de plantas daninhas.
destacando-se o arranque manual. a capina manual, a roçada e o
culti \'O mecanizado.
Plantas daninhas 151

Controle biológico
O controle biológico ainda é um método não disponível ou
pouco utilizado .no Brasil para o controle de plantas daninhas no
plantio da cana-de-açúcar e em culturas em geral.

Controle químico
O controle químico é o método mais utilizado na cultura da
cana-de-açúcar, por ser eficiente, apresentar alto rendimento, baixo
custo em relação a outros métodos e por haver no mercado inúmeros
herbicidas eficientes registrados para essa cultura no Brasil.
Nesta cultura, os herbicidas podem ser aplicados em pré-
emergência, pós-emergência (inicial ou tardia - normalmente em jato
dirigido), na reforma do canavial (para controle da soqueira da cana-
de-açúcar) e como maturador em subdose (ganho de sacarose e
planejamento de colheita). Em relação ao espectro de controle, os
herbicidas podem ser classificados em latifolicidas (controle exclusivo
de plantas daninhas de "folhas largas", grupo composto em sua
maioria por dicotiledôneas); graminicidas (controle exclusivo de
plantas daninhas pertencentes à família das gramíneas); herbicidas de
controle exclusivo de plantas daninhas da família das ciperáceas
("cipericidas"); e herbicidas de amplo espectro de ação ( controle de
mais de um grupo de plantas daninhas citado anterionnente). A
maioria dos herbicidas registrados para uso na cultura da cana-de-
açúcar no Brasil se enquadra neste último grupo (Tabela 6.3 ).

Tabela 6.3 - Principais herbicidas registrados para uso na cultura da


cana-de-açúcar no Brasil
Herbicida Modalidade Plantas daninhas Observações importantes
de aplicação controladas
Reguladores de crescimento
2,4-D Pós 01 Volati litlauc
2.4-D + Picloram Pré e pós D E levada persistência no
solo
Cnn11nuu.
152 Procópio et ai.

Tabela 6.3 - Cont.


Herbicida Modalidade Plantas daninhas Observações importantes
de aplicação controladas
Inibidores do Fotossistema II
Ametryn Pré e pós DeG2 Excelente controle de
Brachiaria plantaginea
Diuron Pré e pós DeG Normalmente utilizado em
misturas com outros
herbicidas
Metribuzin Pré e pós DeG Alta seletividade à cultura
Tebuthiuron Pré DeG Elevada persistência no
solo
Hexazinone + diuron Pré e pós DeG Excelente controle de
Brachiaria decumbens
Amicarbazone Pré e pós DeG Possibilidade de uso em
períodos mais secos
Inibidores da divisão celular
S-metolach lor Pré G e algumas D e C 3 Excelente controle de
Commelina benghalensis
Inibidores da ALS
lmazapic Pré D,GeC Possibilidade de uso em
períodos mais secos
lmazapyr Pré D,GeC Não seletivo à cultura
Halosulfuron Pós e Controle quase exclusivo de
Cyperns rotundus
Tri floxysu 1furon-sodi um Pós G,C Otimo controle de CypentS
rotundus
..
Imb1dores da EPSPS
Glyphosate Pós D,GeC Não seletivo à cultura
Inibidores da síntese de carotenoides
Clomazone Pré G e algumas D Excelente graminicida
lsoxaflutole Pré G e algumas D Possibilidade de uso em
períodos mais secos
Mesotrione Pós GeD Controle eficiente de cordu-
de-viola
..
Inabadorcs da PROTOX
Sulfentrazone Pré D,G eC Otimo controle de C.\pen1s
rot11nd11s
Oxylluorfen Prl! DcG Baixa mobilidade no solo
Continua..
Plantas daninhas 153

Tabela 6.3 - Cont.


Herbicida Modalidade Plantas daninhas Observações importantes
de aplicação controladas
Inibidores da respiração
MSMA Pós D,GeC Parcialmente seletivo à
cana-de-açúcar
Inibidores do Fotossistema I
Paraquat Pós D,GeC Parcialmente seletivo à
cana-de-açúcar quando
aplicado em baixas doses
Interruptores da mitose
Trifluralin Pré e PPI G Volatilidade e
fotodegradação
Misturas de herbicidas de diferentes mecanismos de ação
Clomazone + Ametryn Pré e pós DeG Pode causar
branqueamento na cana-de-
açúcar
Clomazone + Pré e pós DeG Melhor espectro de ação no
Hexazinone controle de gramíneas
Trifloxysulfuron sodium Pré e pós D,GeC Necessita de umidade no
+ Ametryn solo para sua atuação
MSMA + Diuron Pós D, GeC Aplicação
preferencialmente em jato
dirigido
1 .
D - dtcohledoneas. 2G - gramíneas. 3C- ctperáceas.

Fatores C li máticos que Influenciam


a Atividade de Herbicidas
Os herbicidas atualmente disponíveis no mercado
praticamente são a solução para o controle químico da grande maioria
das plantas daninhas ocorrentes na cultura da cana-de-açúcar. Na
prática, os resultados têm sido às vezes pouco satisfatórios, em razão
do desconhecimento sobre técnicas e equipa1nentos de aplicação e da
desconsideração das condições de an1biente (temperatura, un1idade do
ar e do solo, vento, orvalho). A influência desses fatores na eficácia
dos produtos químicos é complexa. porque eles interagem uns com o~
outros.
154 Procópio et ai.

A seguir, são feitas algumas observações a respeito da


influência desses fatores sobre a ação e as propriedades dos
herbicidas.

Radiação solar
Segundo Víctória Filho ( 1985), a luz pode aumentar a
translocação dos herbicidas, pois promove a fotossíntese e,
consequentemente, o movimento do herbicida, juntamente com os
produtos fotossintetizados na planta. Todavia, em determinadas
situações, a alta intensidade luminosa provoca aumento da espessura
da cutícula e também maior número de tricomas, que podem dificultar
a absorção dos herbicidas.

Precipitação pluvial
As chuvas interferem na ação dos herbicidas, dependendo do
momento em que ocorrem, da intensidade e da duração. De acordo
com Ferreira et al. (2005), chuva poucos dias antes da aplicação de
herbicidas, em pós-emergência, pode lavar parte das ceras e dos
alcanos da superficie das folhas das plantas daninhas, aumentando a
suscetibilidade delas aos herbicidas e melhorando, assim, a eficiência
de controle.
A influência da chuva na absorção dos herbicidas pela folha
também depende das características de cada produto, pois alguns são
absorvidos rapidamente, enquanto outros o são lentamente. De modo
geral, aqueles formulados em óleo, são menos afetados pela chuva que
outros veiculados em água (VICTORIA FILHO, 1985). Segundo Silva
et ai. (2007b), o bom teor de água no solo é essencial para boa eficácia
dos herbicidas utilizados em pré-emergência.

Umidade relativa do ar
A umidade relativa do ar é provavelmente o fator ambiental
que mais influencia a vida útil das gotas de pulverização e a atividade
dos herbicidas, principalmente os que têm como alvo as plantas
daninhas emergidas (MAROCHI, 1997). Victória Filho ( 1985) afüma
que a umidade relativa do ar influencia a absorção e translocação dos
herbicidas aplicados à folha, porque afeta diretamente o tempo de
permanência da gota na superficie foliar. como também influencia a
Plantas daninhas 155

hidratação da cutícula. Baixa umidade relativa causa evaporação mais


rápida da gota, dificulta a penetração via cuticular e pode provocar
estresse hídrico na planta.

Temperatura
A temperatura do ar influi de vanas maneiras na ação dos
herbicidas, pois pode modificar suas propriedades físicas, como
pressão de vapor e solubilidade, e também alterar os processos
fisiológicos das plantas (BELTRÃO; AZEVÊDO, 1994). Gupta e
Lamba ( 1978) dizem que, normalmente, temperaturas baixas (menores
que 1O ºC) ou muito elevadas podem reduzir o metabolismo das
plantas, tendo como consequência a diminuição da ação tóxica dos
herbicidas e do controle de plantas daninhas. Pode ocorrer também
perda de seletividade do herbicida quando este for aplicado em
temperaturas extremas. Isso ocorre, principalmente, quando a
seletividade da cultura ao herbicida é devida ao metabolismo
diferencial promovido pela planta (PROCÓPIO et ai., 2003).

Vento
Segundo Victória Filho ( 1985), o vento, indiretamente, afeta a
absorção dos herbicidas pelas plantas, pelo fato de aumentar a
evaporação da gota de pulverização na superfície foliar. Também,
plantas que crescem em condições de muito vento e altas temperaturas
apresentam normalmente cutícula mais espessa e mais pubescente, a
qual dificulta a absorção dos herbicidas.
Na aplicação de defensivos agrícolas, o vento pode provocar a
deriva, que é um termo usado para aquelas gotas que não foram
depositadas na área-alvo. A deriva pode causar a deposição dos
produtos químicos em áreas não desejadas, com sérias consequências.
Para diminuir os efeitos negativos das condições ambientais
nas aplicações de herbicidas, recomendam-se as seguintes práticas:
- não aplicar os produtos em condições ambientais adversas (umidade
re]ativa do ar baixa, temperatura elevada e ventos com velocidade
superior a 1O km h- 1);
- não aplicar quando as plantas daninhas estiverem em situações de
estresse (dificil absorção e translocação do herbicida);
156 Procópio er ai.

- preferir os horários do início da manhã e final da tarde para realizar


as aplicações, ou, se o herbicida e as condições tecnológicas
permitirem, fazer aplicações noturnas;
- incorporar herbicidas sensíveis à fotodecomposição ao solo com
grade, quando este estiver seco ou com pouca umidade;
- utilizar, se possível, gotas grandes nas pulverizações;
- não ultrapassar a pressão recomendada para a ponta de
pulverização; e
- ütilizar os adjuvantes corretos para cada situação.

Controle de Plantas Daninhas


em Cana-Crua
Com a atual tendência de aumento das áreas de cana-de-
açúcar colhidas sem a tradicional queima, seja por imposições por
parte da legislação, seja por conscientização ambiental, o atual manejo
de plantas daninhas nessas áreas apresenta significativas mudanças,
sendo necessário mais estudo a respeito dessa nova tecnologia.
A área de produção da cana-de-açúcar destinada à colheita
mecanizada da cana-crua cresceu nas últimas décadas. A adoção desse
sistema de colheita tem resultado em importantes modificações nas
técnicas de cultivo, como o uso de maiores espaçamentos e a
deposição de palha sobre o solo, que influenciam diretamente a
ocorrência e o manejo de plantas daninhas (VELINI; NEGRISSOLI,
2000).
A implantação desse sistema de colheita da cana-de-açúcar,
sem queima, ocasiona alguns fatores agronomica.mente benéficos,
como:
- diminuição de processos erosivos;
- melhor conservação da umidade do solo;
- maior reciclagem de nutrientes;
- aumento da matéria orgânica do solo;
- aumento da atividade microbiana do solo;
Plantas daninhas 157

- melhoria das propriedades físicas e químicas do solo;


- evita o acamamento dos colmos, ocasionado pela queima;
- diminuição da infestação por plantas daninhas; e
- evita a perda de açúcares via exsudação dos colmos durante e, ou,
logo após a queima.

No entanto, podem-se citar alguns fatores desfavoráveis com a


adoção dessa tecnologia:
- dificuldade na brotação da maioria das variedades de cana-de-
açúcar;
- possível aumento de pragas que atacam a cana-de-açúcar~
- provável aumento nas doses dos fertilizantes nitrogenados nos
primeiros anos de adoção desse sistema;
- em locais mais frios, pode desfavorecer o crescimento da cana-de-
açúcar;
- nas "baixadas", pode haver problemas com a cana-de-açúcar
decorrentes do excesso de umidade; e
- aplicação de herbicidas somente durante o dia, quando a presença
das plantas daninhas é facilmente detectada (com exceção da
implantação da "agricultura de precisão").

A palhada da cultura da cana-de-açúcar preservada


proporciona cobe11ura do solo, o que dificulta a emergência de plantas
daninhas, pois reduz a penetração de luz no solo. Pode ocorrer
também a liberação de exsudatos da palhada, que podem apresentar
efeitos alelopáticos sobre a germinação de propágulos de plantas
daninhas (PROCÓPIO et al., 2003).
A colheita sem queima deixa sobre o solo com cultura da
cana-de-açúcar uma espessa camada de palha, que pode superar 20 t ha-1•
Essa cobertura é muito importante no controle de espécies daninhas
por influenciar processos como dormência, germinação e mortalidade
de sementes, bem como o estabelecimento e a reprodução da planta
(FERNANDEZ-QUINTANILLA, 1988; TREZZI; VIDAL, 2004).
Essa cobertura reduz, ainda, a erosão e a evaporação, além de
aumentar a infiltração da água e a retenção da umidade, mantendo o
solo úmido por mais tempo (REDDY, 2003). O impedimento fisico
158 Procópio e l ai.

causado pela camada de palha causa ainda redução da emergência


(VITÓR1A FILHO, 1985), o que prejudica o desenvolvimento das
plântulas de algumas espécies daninhas, causando estiolamento e
tomando-as suscetíveis a danos mecânicos (CORREIA; DURIGAN,
2004). Assim, também é reduzida a emergência de plantas originadas
de sementes fotoblásticas positivas e daquelas que requerem
determinado comprimento de onda ou amplitude témúca para
germinar (CORREIA; DURIGAN, 2004). Segundo Almeida (1981 ), a
cobertura morta pode funcionar como um elemento de controle das
plantas daninhas, pois um terreno com camada uniforme e espessa de
resíduos apresenta infestação bastante inferior àquela que se
desenvolveria se fosse descoberto. Com a palha e as modificações
técnicas necessárias para implementar a colheita mecânica da cultura,
obteve-se um novo sistema de produção de cana-de-açúcar.
popularmente denominado cana-crua (VELINI; NEGRISOLI, 2000).
Toledo et al. (2005), em estudo comparando cana-crua com
cana-queimada, realizado no México, concluíram que o primeiro
sistema apresentou menor agressividade das plantas daninhas, maior
produção de biomassa (colmos maiores e mais grossos, além de maior
quantidade), pureza de suco e produção de açúcar, além de diferenças
nos teores de matéria orgânica, nitrogênio, fósforo, potássio e pH do
solo. A análise econômica mostrou, ainda, renda muito maior no
sistema de cana-crua. Núfiez e Spaans (2008), em estudo similar,
comparando os dois sistemas, no Equador, conseguiram custo de
controle de plantas daninhas 35% menor após a colheita de cana-crua.
Velini e Negrisoli (2000) observaram que a palha da cana-de-
açúcar reduziu drasticamente a variação da temperatura do solo a 1 e a
5 cm de profundidade. Segundo esses autores, esse efeito contribui de
modo decisivo para a redução da germinação de plantas daninhas de
áreas de cana-crua, pois é sabido que a amplitude térmica é um dos
componentes mais importantes na germinação das sementes de muitas
espécies.
É importante ressaltar que a maior eficácia da palhada na
diminuição da emergência de plantas daninhas depende
fundamentalmente da uniformidade da sua distribuição na superficie
do solo, pois pequenas clareiras já são suficientes para propiciar
condições favoráveis à emergência das plantas invasoras. Entre as
espécies cuja população vem aumentando nos levantamentos
Plantas daninhas 159

realizados em áreas de cana-crua, principalmente na região Sudeste do


Brasil, destacam-se: leiteiro (Euphorbia heterophylla), corda-de-viola
(lpomoea spp. , Merremia spp.), fedegoso (Senna obtusifolia),
parreira-brava ( Cissampelos glaberrima), cipó-de-são-joão
(Pyrostegia venusta), melão-de-são-caetano (Momordica charantia),
soja-perene (Neonotonia wightü) e tiririca (Cyperus rotundus). As
populações de tiririca vêm sendo reduzidas pela presença da palha,
porém em níveis insatisfatórios. Esses relatos mostram a clara
tendência de mudança de flora nas áreas de produção de cana-de-
açúcar, anteriormente dominada por gramíneas nas áreas de cana-
queimada e agora com significativa dominância de dicotiledôneas,
principalmente as que possuem sementes graúdas, e algumas
ciperáceas.
Além de modificar a composição da comunidade infestante, a
palha resultante da colheita sem queima pode alterar a eficiência dos
herbicidas de ação de solo. Essa alteração é resultante, sobretudo, da
interceptação das gotas de pulverização da calda herbicida, impedindo
ou dificultando que elas atinjam o solo e, consequentemente, não
permitindo que as moléculas herbicidas se posicionem junto à camada
do solo onde está localizada a maioria das sementes de plantas
daninhas passíveis de germinarem naquele período (normalmente de O
a 7 cm).
Algumas alternativas estão sendo estudadas para aprimorar o
manejo de herbicidas nas áreas de cana-crua, por exemplo:
1. Aplicação de herbicidas em pós-emergência. Tem como
vantagem possibilitar conhecer primeiro quais as espécies que
emergiram e a densidade populacional delas, pois assim pode-se
escolher o melhor tratamento herbicida para a situação. Esta estratégia
pode reduzir custos de controle e impacto ambiental. A principal
desvantagem é a provável necessidade de uma segunda aplicação na
área. Isso pode ocorrer porque muitas espécies de plantas daninhas
apresentam emergência escalonada, ou seja, poderá haver novo íltL"<O
de emergência na área após a primeira aplicação do tratamento
herbicida, e esse novo fluxo pode ocorrer antes do término do período
total de prevenção da interferência (PTPI). Nesse caso, a necessidade
de reaplicação na mesma área promove transtornos em relação à
logística de pulverizadores, além de aumento no custo de produção,
160 Procópio et ai.

aumento da compactação do solo e maior probabilidade de ocorrência


de danos por estes mecanismos às plantas de cana-de-açúcar.
2. Aplicação do tratamento herbicida antes da deposição
da palha sobre o solo. Isso pode ser conseguido adaptando-se um
sistema de aplicação de herbicidas junto à colhedora mecânica. Dessa
forma, o herbicida seria aplicado antes da liberação ao solo dos
resíduos de colheita. Essa tecnologia vem sendo estudada por
parcerias entre empresas de máquinas agrícolas, empresas fabricantes
de defensivos e instituições de pesquisas, podendo estar disponível em
futuro breve.
3. Aplicação de herbicidas que possuem características
físicas e químicas favoráveis sobre a camada de palha. Pesquisas
têm mostrado eficiência satisfatória de alguns herbicidas no controle de
plantas daninhas em pré-emergência, mesmo quando aplicados sobre a
palha da cana-de-açúca~. A principal vantagem de se aplicar o herbicida
sobre a palha da cana-de-açúcar é a solubilidade em água. Todos os
herbicidas que vêm se destacando nos experimentos em cana-crua
apresentam alta solubilidade em água. A ocorrência de chuvas após a
aplicação também vem sendo apontada como fator importante no
processo de retirada das moléculas herbicidas retidas na palhada da
cultura. Ressalta-se que a influência da palha na dinâmica dos
herbicidas é dependente da quantidade deposta sobre o solo. Muitas
vezes, para herbicidas de baixa solubilidade, pequenas quantidades de
palha (menos que 5 t ha-1) são suficientes para prejudicar sua ação.

Tolerância de Variedades de
Cana-de-Açúcar a Herbicidas
Variedades de cana-de-açúcar podem apresentar respostas
diferentes aos herbicidas usados no controle de plantas daninhas, o
que pode causar problemas de fitotoxicidade, chegando até a
ocasionar perdas na produção. Uma variedade pode apresentar
diferentes comportamentos, dependendo do herbicida utilizado.
Planras da11i11has 161

No campo, alguns sintomas de fitotoxicidade de herbicidas à


cana-de-açúcar são comumente observados, como branqueamento das
folhas (inibidores de pigmentos); clorose foliar seguida de necrose nas
margens e pontas de folhas (inibidores da fotossíntese absorvidos via
foliar e inibidores da respiração); redução do crescimento da cultura
(inibidores de aminoácidos e inibidores da fotossíntese); colmos e
raízes com teratogênese; entrenós mais finos e curvos; nós
engrossados e com tumoração; colmos curvados em forma de
cotovelo; raízes com menor desenvolvimento; e necrose na região
meristemática próxima aos nós (reguladores de crescimento).
Normalmente, esses sintomas de fitotoxicidade desaparecem após 15 a
90 dias de seu início. Todavia, o período necessário para a
recuperação das plantas de cana-de-açúcar depende, principalmente,
do tipo de sintoma de fitotoxicidade, da intensidade dos sintomas e
das condições climáticas após a ocorrência destes.
Ferreira et al. (2005), trabalhando com 11 cultivares e quatro
clones de cana-de-açúcar, observaram sensibilidade diferenciada dos
genótipos à mistura de herbicidas trifloxysulfuron-sodium + ametryn.
O cultivar RB855113 foi o mais sensível à mistura. Os cultivares
SP80-l 842, SP80-l 8 l 6, SP79-1 O11 e RB957689 apresentaram média
sensibilidade à mistura de herbicidas. Nos demais cultivares, essa
sensibilidade foi considerada baixa (Tabela 6.4).
Azania et ai. (2006), ao trabalharem com herbicidas em cana-
de-açúcar, relataram que esses produtos foram mais fitotóxicos
quando aplicados na fase de pós-emergência tardia, em relação à
aplicação na fase de pós-emergência inicial da cana-de-açúcar. Em
pós-emergência inicial, as plantas recuperaran1-se totalmente dos
efeitos de intoxicação causados pelos herbicidas, com menores
reflexos na produtividade. Isso poderia ser justificado, pelo menos em
parte, pelo maior número de folhas das plantas em estádio mais
avançado, o que maximizaria a interceptação dos herbicidas.
Concenço et al. (2007) afirmam que, à medida que a planta vai
envelhecendo, um conjunto de fatores morfoanatômicos da planta faz
com que o herbicida seja absorvido com menor eficiência. A redução
do diâmetro do poro dos plasmodesmos se destaca como um dos
fatores responsáveis pela menor absorção ou translocaçào de
herbicidas em plantas.
162 Procópio et ai.

Tabela 6.4 - Efeito da mistura pré-formulada dos herbicidas (ametryn


+ trifloxysufuron-sodium) sobre genótipos de cana-de-
,
açucar

Fitotoxicidade {%2
Cultivares/Clones 13 DAT 34DAT BSPA {%) Sensibilidade
RB855113 13,75 a 44,40 a 33, 32 c Alta
SP80-1842 7,50 b 21,16 b 50,29 b Média
SP80-1816 5,75 b 13,17 c 58,73 b Média
RB855002 6,25 b 8,33 d 94,79 a Baixa
RB928064 3,75 c 5,83 e 90,51 a Baixa
SP79-1011 8,50 b 16,60 e 40,35 b Média
SP81-3250 2,50 e 2,83 e 95,88 a Baixa
RB867515 4,25 e 5,83 e 94,45 a Baixa
RB957712 2,50 e 6,33 e 88,53 a Baixa
RB72454 7,50 b 7,50 e 91,76 a Baixa
RB845210 7,50 b 10,83 85,30 a Baixa
RB947643 5,00 b 4,17 e 89,24 a Baixa
RB855536 2,75 c 4,20 e 93,76 a Baixa
RB835486 1,25 c 6,67 e 86,05 a Baixa
RB957689 15,00 a 24,17 b 49,52 b Média
BSPA - % relativa de produção de massa seca da parte aérea em relação à testemunha.
Avaliações realizadas aos 45 DAT. Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem
entre si pelo teste de Scott-Knott.
Fonte: FERREIRA et al., 2005.

Barroso et al. (2008), trabalhando con1 1nanejo de plantas


daninhas na cana-de-açúcar (cultivar SP80- l 816), observaram que os
tratamentos herbicidas proveram fitotoxicidade acentuada às plantas
(Tabela 6.5). Esses autores observaran1 que os tratamentos que
acarretaram maior toxidade às plantas nos primeiros dias foram
ametryn (300 g L·') + clomazone (200 g L· 1) e clomazone (500 g L· 1) . 1
Ainda nessa avaliação, observou-se que, entre os tratamentos
Plantas daninhas 163

herbicidas, sulfentrazone (500 g L· 1) foi o que resultou em menor


nível de injúrias à cultura, comportamento que se manteve nas
avaliações posteriores.

Tabela 6.5 - Fitotoxicidade em plantas de cana-de-açúcar após a


aplicação de diversos tratamentos herbicidas
Tratamentos Fitotoxicidade {%2
7DAA 1 14DAA 21 DAA 35DAA
Clomazone (400 g kg· 1)+ 20,0 b2 11,3 b 5,8 a 0,0 a
hexazinone (100 g kg· 1)
Sulfentrazone (500 g L· 1) 12,5 b 9,8 b 2,8 b 0,0 a
Ametryn (300 g L· 1) + 24,5 a 14,5 a 4,3 a 0,0 a
clomazone (200 g L· 1)
Clomazone (500 g L· 1) 23,3 a 15,5 a 5,3 a 0,0 a
Sulfentrazone (500 g L· 1)+ 17,3 e 14,3 a 4,5 a 0,0 a
clomazone (500 g L· 1)
Testemunha caEinada 0,0 e 0,0 e 0,0 e 0,0 a
1 2
Dias após a aplicação dos herbicidas. Médias seguidas pela mesma letra na coluna não
diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probablidade.
Fonte: BARROSO et ai., 2008.

Comportamento de Herbicidas no Solo


O uso do controle químico em plantas daninhas é uma prática
indispensável para a cultura da cana-de-açúcar, portanto, é indiscutível
a utilização de herbicidas nessa cultw·a. No entanto, é fundamental
que esses produtos sejam adequadamente aplicados, para que se tenha
preservada a qualidade final da cana colhida, assim como a dos
recursos naturais que sustentam a produção, especialmente o solo e a
água.
Quando os herbicidas atingem o solo, inicia-se o processo de
sua redistribuição e degradação. Esse processo pode ser extremamente
curto, como no caso de algumas moléculas simples e não persistentes,
ou perdurar por meses ou anos, quando se trata de compostos
r

164 Procópio et ai.

altamente persistentes. O seu tempo de permanência no ambiente


depende, entre outros fatores, da capacidade de sorção do solo, da
dinâmica do fluxo hídrico e do transporte de solutos, além da taxa de
degradação do produto, a qual está relacionada à atividade
microbiológica, biodisponibilidade e recalcitrância do herbicida.
Embora escassos, os estudos envolvendo a sorção de
herbicidas em solos brasileiros, em condições de clima tropical, são
também fundamentais para avaliação da eficiência de controle das
plantas daninhas do local, pois elevados índices de sorção podem
comprometer a eficiência do herbicida. Com isso, cresce a
importância do entendimento do destino final dessas moléculas e do
estudo do comportamento no ambiente onde são aplicadas.
O estudo do comportamento de herbicidas no solo e no
ambiente visa pelo menos dois objetivos principais: primeiramente,
conhecer os fatores do ambiente, além do próprio herbicida, que
afetam direta ou indiretamente a eficiência no controle de uma planta
daninha; e, segundo, uma vez que o herbicida é uma substância
exógena ao meio, procura-se descobrir as interações do herbicida com
os componentes do solo, de modo a minimizar os eventuais efeitos
negativos que a sua presença possa causar ao ambiente.
Embora a capacidade de permanência do herbicida e sua
degradação no solo sejan1 processos-chave na determinação do seu
efeito na qualidade ambiental, é dificil a mensuração dessa capacidade
e a repetibilidade dos experimentos. Isso ocorre porque o solo é um
ambiente heterogêneo, sob influência de diversos fatores, onde
interagem inúmeros processos de ordem fisica, química e biológica
(HINZ, 2001).
Atualmente, o estudo do comportamento de herbicidas no
ambiente tem sido realizado por meio de estimativas das tendências a
que esses produtos estão sujeitos, de acordo com três principais
processos - retenção, transformação e transporte - que interagem
entre si, embora sejam processos descritos de forma isolada.
O comp01tamento de herbicidas no ambiente, principaln1ente
no solo, depende do somatório de diversos processos envolvidos os
quais são responsáveis pelo destino final desses co1npostos. O
resultado dos processos de transporte, retenção e transformação que
Plantas daninhas 165

ocorrem com as moléculas representa a capacidade de contaminação e


persistência destas no meio ambiente, e uma abordagem detalhada da
sua dinâmica seria difícil diante dos diversos interferentes
relacionados ao seu comportamento. O que se observa é que o
conhecimento das características do solo, dos fatores climáticos
envolvidos e dos mecanismos de interação herbicida-ambiente é
fundamental para se prever o comportamento dos herbicidas em
campo. Esse fato denota a importância de pesquisas, sobretudo em
solos brasileiros, com o objetivo de prevenir possíveis distúrbios
ambientais provocados por esses compostos. O fato de o tema ser
muito abrangente, quando todos os fatores envolvidos interagem, é,
sem dúvida, um dos motivos da necessidade de implementar pesquisas
nessa área. As implicações são claras: entendendo como os herbicidas
e outros pesticidas se comportam no solo, toma-se possível a
utilização desses compostos com eficiência técnica e econômica, bem
como a prevenção de problemas de contaminação do ambiente, além
de opções para recuperação de ambientes afetados.

Resistência de Plantas Daninhas a


Herbicidas
Os agricultores têm preferido o uso de herbicidas a outros
métodos de controle de plantas daninhas, devido, principalmente, à
alta eficiência e ao custo relativamente baixo. No entanto, o uso
indiscriminado e inadequado desses produtos prop1c1ou o
desenvolvimento de muitos casos de resistência a esses compostos por
diversas espécies daninhas.
A planta é sensível a wn herbicida quando o seu crescimento e
desenvolvimento são alterados pela ação do produto; assim, uma
planta sensível pode morrer quando submetida à determinada dose de
herbicida. Já a tolerância é a capacidade inata de algun1as espécies em
sobreviver e se reproduzir após o tratamento herbicida, mesmo
sofrendo injúrias. Por outro lado, a resistência é a capacidade
adquirida de uma planta sobreviver a determinados tratamentos
herbicidas que, em condições normais, controlam o demai:
integrantes da população.
166 Procópio et ai.

O uso repetido de um mesmo herbicida pode selecionar


biótipos resistentes de plantas daninhas preexistentes na população,
levando ao aumento do seu número. Em consequência, a população de
plantas resistentes pode aumentar até o ponto de comprometer o nível
de controle, chegando a inviabilizar o cultivo de determinadas culturas
na área.
Os primeiros casos de resistência a herbicidas foram relatados
em 1957, nos Estados Unidos e no Canadá. Muitos outros casos foram
relatados desde então, e atualmente há aproximadamente 319 biótipos,
pertencentes a 185 espécies, distribuídos em 59 países, sendo 11 1
dicotiledôneas e 74 monocotiledôneas (WEED SCIENCE, 2008). Há
espécies de plantas daninhas que apresentam resistência a mais de um
mecanismo herbicida, com comprovação em vários países. O maior
número de casos refere-se aos herbicidas inibidores das enzimas ALS
e ACCase e às triazinas. Acredita-se que o maior número de biótipos
resistentes a esses grupos seja devido às altas especificidades e à
eficiência destes, bem como ao fato de serem empregados em grandes
áreas em anos seguidos.
As técnicas de prevenção e manejo da resistência buscam
reduzir a pressão de seleção, controlar os indivíduos resistentes antes
que eles possam se multiplicar e, também, ampliar as alternativas de
controle possíveis de serem adotadas. Isso pode ser conseguido com a
adoção das práticas listadas a seguir:
- utilizar herbicidas com diferentes mecanismos de ação;
- realizar aplicações sequenciais;
- usar mistura de herbicidas com diferentes mecanismos de ação e de
detoxificação;
- realizar rotação de mecanismo de ação;
- limitar aplicações de um mes1no herbicida;
- usar herbicidas com menor pressão de seleção (residual e
eficiência);
- fazer rotação de culturas;
- promover rotação de métodos de controle;
- acompanhar mudanças na flora;
- evitar que plantas suspeitas produzam sementes; e
- efetuar rotação do preparo do solo.
Plantas daninhas 167

Tolerância de Plantas Daninhas a


Herbicidas na Cultura da
Cana-de-Açúcar
Os fatores envolvidos na seleção de espécies tolerantes a
herbicidas são mais complexos que os observados na seleção de
biótipos resistentes de plantas normalmente suscetíveis, e as mudanças
na população também ocorrem mais lentamente (OWEN, 2006). As
alterações na composição da flora infestante e a seleção de espécies
tolerantes a herbicidas, quando eles são aplicados repetidamente, são
também influenciadas por fatores do ambiente. Logo, quando
predomina em uma população a espécie tolerante, pode tomar-se mais
dificil combater a espécie naturalmente tolerante do que reduzir a
frequência de plantas de um biótipo resistente.
A aplicação repetida do mesmo herbicida ou de herbicidas
com o mesmo mecanismo de ação gera pressão de seleção sobre as
espécies presentes na área. As duas principais formas de resposta das
plantas daninhas são a mudança específica na flora, por meio da
seleção de espécies de plantas daninhas mais tolerantes, ou a seleção
intraespecífica de biótipos resistentes aos herbicidas
(CHRISTOFFOLETI; CAETANO, 1998).
Quando o controle químico é o único método usado no
manejo de plantas daninhas, principalmente quando se faz uso de
herbicidas com O mesmo mecanismo de ação durante vários anos
seguidos num mesmo local, a pressão de seleção de espécies
tolerantes e plantas resistentes é extremamente elevada, ocasionado
dessa forma mudança na população de plantas daninhas
(RADOSEVICH et al., 1997). Segundo Christoffoleti et al. (2000),
qualquer população de plantas que tenha uma base genética variável
quanto à tolerância a determinada medida de controle, con1 o tempo,
muda sua composição populacional como mecanismo de
sobrevivência, diminuindo assim a sensibilidade a essa medida de
controle. Segundo esses autores, wn bom exemplo foi o uso do arado,
que no primeiro momento eliminou praticamente todas as plantas
daninhas, mas, com o passar do tempo, novas espécies de plant·
168 Procópio et ai.

daninhas mais adaptadas passaram a infestar as culturas. Outro


exemplo foi o plantio direto, que a princípio provocou redução
drástica da incidência de plantas daninhas, porém, depois de algum
tempo da adoção desta técnica, houve seleção de espécies que se
adaptaram e germinaram na nova condição.
Como mencionado, a tolerância de plantas daninhas a
herbicidas é resultado da capacidade inata da espécie de suportar
aplicações de herbicidas, nas doses recomendadas, sem alterações
marcantes em seu crescimento e, ou, desenvolvimento. A
suscetibilidade também é uma característica inata de uma espécie.
Nesse caso, há alterações com efeitos marcantes no crescimento e
desenvolvimento da planta, como resultado de sua incapacidade de
suportar a ação do herbicida (CHRISTOFFOLETI, 2000).
A tolerância pode estar relacionada ao estádio de
desenvolvimento e, ou, a características morfofisiológicas da espécie.
Por outro lado, a resistência é a capacidade adquirida por biótipo de
uma planta em sobreviver à dose normalmente utilizada ( dose de bula)
de um herbicida que, em condições normais, controla os demais
integrantes da mesma população.
A tolerância de plantas daninhas a herbicidas apresenta os
mesmos mecanismos atribuídos à resistência e à seletividade de culturas,
podendo ser devido ao estádio de desenvolvimento da planta; a diferenças
na morfologia e anatomia foliar, bem como na absorção, translocação e
compartimentalização do produto; e ao metabolismo da molécula
herbicida (WESTWOOD et al., 1997; V ARGAS et al., 1999).
Na cultura da cana-de-açúcar, vários herbicidas,
especialmente os pertencentes aos grupos das triazinas e das ureias
substituídas, têm sido frequentemente utilizados no controle do capim-
colchão. O gênero Digitaria apresenta 13 espécies morfologica1nente
semelhantes, sendo as principais espécies infestantes de lavoura de
cana-de-açúcar no centro-sul do Brasil a Digitaria nuda, D. ciliaris,
D horizontal,s e D. bicornis (DIAS et al., 2007). Segundo esses
a~tores, 1•; espécies de cap11n-colchão estão sendo selecionadas pela
apli ·ação repetitiva cios herbicidas utilizados no controle dessas
Plantas daninhas 169

plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar, caracterizando um


processo de dinâmica populacional de mudança específica de plantas
daninhas tolerantes a herbicidas.
Dias et al. (2007) desenvolveram trabalho sobre tolerância de
espécies de capim-colchão aos herbicidas aplicados na cultura da
cana-de-açúcar, avaliando herbicidas quanto à eficácia e estudando os
mecanismos de tolerância das plantas daninhas. Eles concluíram que a
espécie D. nuda foi selecionada pela aplicação repetitiva dos
herbicidas utilizados no controle de capim-colchão na cultura da cana-
de-açúcar, demonstrando ser essa espécie mais tolerante aos
herbicidas dos grupos químicos das imidazolinonas e ureias
substituídas, quando comparada a D. ciliaris. Nesse trabalho, também
foi observado, por meio de curvas de dose-resposta, que D. nuda é
mais tolerante que D. ciliaris aos herbicidas diuron, imazapyr e
tebuthiuron. Em experimentos para determinar a absorção e
translocação dos herbicidas diuron (via folha), imazapyr e metribuzin
(via raiz) pelas espécies D. ciliaris e D. nuda, Dias et al. (2003)
demonstraram que a absorção e translocação não foram os
mecanismos responsáveis pela tolerância apresentada por D. nuda aos
herbicidas diuron e imazapyr.
Em ensaio conduzido em casa de vegetação, Dias et al. (2005)
avaliaram, quanto à eficácia, diferentes herbicidas recomendados para a
cultura da cana-de-açúcar no controle de quatro espécies de capim-
colchão (D. ciliaris, D. nuda, D. horizontalis e D. bicornis). Fora1n
utilizados os seguintes herbicidas em pré-emergência (g ha-1): ametryn a
2.500; diw·on a 2.500; tryfloxysulfuron-sodium + ametryn a 32,4 + 1.280;
hexazinone + diuron a 264 + 936; tebuthiuron a 750; clomazone a 800;
amicarbazone a 1.050; isoxaflutole a 112,5; e imazapic a 122,5, além de
testemunha sem aplicação. Também foram aplicados herbicidas em pós-
emergência (g ha-1): mesotrione a 120, tryfloxysulfuron-sodium +
ainetryn a 32,4 + 1.280; ametryn a 2.000; hexazinone + diuron a 264 +
936; metribuzin a 1.440; amet1yn + clomazone a 1,5 + 1,0; tvlSMA a
1.920; e diuron a 2.500, além de testenumha sem aplicação. Esses autore
observaram que os tratamentos hexazinone + diuron, tebuthiuron e
170 Procópio e/ ai.

imazapic apresentaram os menores controles para D. nuda em pré-


emergência, e os tratamentos diuron e hexazinone + diuron, os menores
controles para D. nuda em pós-emergência, o que a coloca como a
espécie mais tolerante a esses herbicidas. As demais espécies
apresentaram controle efetivo com a maioria dos tratamentos, tanto em
pré como em pós-emergência.
O glyphosate, considerado um herbicida não seletivo e
recomendado para dessecação em plantio direto, com aplicações
recomendadas para diversas culturas, inclusive para culturas transgênicas,
vem sendo usado de forma intensiva nos últimos anos, levando à seleção
de espécies tolerantes. São exemplos de espécies tolerantes ao glyphosate
a poaia-branca (Richardia brasiliensis), a corda-de-viola (Ipomoea spp.),
a erva-de-touro (Tridax procumbens) e a trapoeraba ( Commelina spp.).

Tecnologia de Aplicação de Herbicidas


em Cana-de-Açúcar
Existem no mercado brasileiro diversas opções de herbicidas
para o uso na cultura da cana-de-açúcar, tanto para aplicações em pré-
emergência quanto para uso em pós-emergência, podendo eles ser
utilizados em pós-emergência inicial, média ou tardia. Além disso, há
herbicidas disponíveis de ação "sistêmica" ou de "contato", sendo
alguns pouco seletivos à cultura. Todas essas variáveis associadas -
bem como a dificuldade da entrada de máquinas na área após
determinado período, a comum presença de plantas daninhas perenes
de dificil controle e, em áreas de colheita de cana-crua, a presença de
intensa palhada - tornam o manejo das plantas daninhas nessa cultura
uma atividade complexa, necessitando de alta qualidade no tocante à
tecnologia de aplicação de herbicidas para que se atinja um nível
satisfatório do controle das plantas daninhas.
A seguir, serão analisados alguns tipos de aplicação de
herbicidas na cultura da cana-de-açúcar.
Plantas daninhas 171

Aplicação aérea
Realizada por meio de aeronaves agrícolas (principalmente
aviões), é muito utilizada na cultura da cana-de-açúcar, sobretudo em
área de grande extensão. É recomendada para o controle em pré-
emergência e, ou, pós-emergência inicial. Este tipo de aplicação não é
recomendado para controle em pós-emergência média ou tardia das
plantas daninhas, por não se conseguir boa cobertura delas em
estádios mais avançados. Para se obter sucesso neste tipo de aplicação,
é necessário observar as condições do vento, as correntes de
convecção, a temperatura e a umidade do ar, entre outros fatores.

Aplicação tratorizada
Quando feita e1n área total, é realizada com equipamentos
tratoriz.ados com barras que normaltnente variam de 7 a 20 m de largura,
trabalhando-se em média com velocidades de 4 a 1O km h-1, dependendo
do tipo de máquina e da topografia do terreno. As aplicações podem ser
feitas em pré-emergência ou em pós-emergência inicial à tardia.

Aplicação costal
Este tipo de aplicação é muito usado em áreas de topografia
irregular, em pequenas áreas de produção de cana-de-açúcar, no
controle de reboleiras de plantas daninhas e na "catação química", a
qual consiste no repasse das áreas onde já foi aplicado algum método
de controle. Os equipamentos para este tipo de aplicação podem ser
pulverizadores costais de bombeamento manual ou pressurizados;
estes últimos permitem maior rendimento da aplicação.
Os acessórios de proteção de deriva em aplicações de
herbicidas não seletivos, como paraquat, glyphosate e MSMA, são
eficazes, pois foram observadas reduções significativas na intensidade
dos sintomas de intoxicação das plantas da cultura com o paraquat
(RODRIGUES; ALMElDA, 2005).
172 Procópio et ai.

Aplicação sob palhada


A grande vantagem da aplicação de herbicidas sob a palhada
seria o controle de plantas daninhas que emergem mesmo na presença
da cobertura. Foloni et al. (2008), trabalhando com a aplicação de
herbicidas sobre e sob a palhada no momento da colheita da cana-de-
açúcar, não observaram diferenças entre os sistemas. Entretanto, a
eficiência dos sistemas depende das características das espécies de
plantas daninhas presentes.
A escolha das pontas de pulverização é fator essencial para o
sucesso da aplicação de herbicidas. No campo, tem-se observado que
o uso de bicos inadequados, somado à definição incorreta do volume
de calda e aos erros na calibração do pulverizador, são os fatores mais
comuns responsáveis pelos insucessos na aplicação de herbicidas na
cultura da cana-de-açúcar, principalmente em aplicações em pós-
emergência média e tardia. Tão importante quanto determinar o
volume de calda a ser aplicado - sendo este dependente
principalmente do tipo de herbicida ("sistêmico" ou "contato"), da
espécie e do estádio de desenvolvimento das plantas daninhas - é
conseguir adequada distribuição dessa calda. O tamanho de gota
produzido pelas pontas de pulverização afeta diretamente a cobertura
do alvo e a resistência à deriva.
Outro ponto a ser observado no momento da pulverização são
as condições climáticas, uma vez que a velocidade do vento, a
umidade relativa do ar e a temperatura são fatores que influenciam
diretamente a qualidade da aplicação. Além disso, devem-se observar
os aspectos relativos à qualidade da água de pulverização e à
necessidade da adição de adjuvantes à calda de aplicação em
determinados casos. Na Tabela 6.6 são apresentados os efeitos da
adição de adjuvantes ao glyphosate no controle do capim-coloniào
(Panicum maximum).
Plalllas daninhas 173

Tabela 6.6 - Controle de P. maximum em quatro épocas de avaliação,


após a aplicação de glyphosate isolado e combinado com
adjuvantes na calda
Tratamento Dose Epoca de avaliação
(kg ha-1 i.a.) (dias após a aplicação)
7 14 31 45
Glyphosate 1,80 86,0 96,0 98,5 100,0
Glyphosate + óleo vegetal l,44 + 1L 85,1 95,2 97,2 98,7
Glyphosate + óleo vegetal 1,08 + 2 L 68,3 70,6 95,3 96,0
Glyphosate + óleo vegetal 0 ,72+ 3L 54,0 60,2 72, 1 70,0
Glyphosate + ureia 1,44 + 0,2% 90,0 92,0 94,0 97,5
Glyphosate + ureia 1,08 + 0,3% 61,2 77,0 86,7 89,0
Glyphosate + ureia 0,72 + 0,4% 51 ,0 53,0 68, 1 60,0
Testemunha si herbicida 0,0 0,0 0,0 0,0
Fonte: DURIGAN, 1992.

Referências
ALMEIDA, F. S. Controle de ervas. ln: IAPAR (Londrina, PR). Plantio direto no
Estado do Paraná. Londrina: IAP AR, 1981. 244 p. (Circular, 23 ).
ARÉVALO, R. A. Matoecologia da cana-de-açúcar. São Paulo: Ciba-Geigy, 1978.
16 p.
AZANIA, C. A. M. et a i. Seletividade de herbicidas: III - aplicação de herbicidas em
pós emergência inicial e tardia da cana-de-açúcar na época da estiagem. Planta
Daninha, v. 24, n. 3, p. 489-495, 2006.
BARROSO, A. L. L. et ai. Manejo de plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar
(cana-soca em pós-emergência), em região de cerrado. ln: CONGRESSO
BRASILEIRO DA CIÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS, 26.; CONGRESO D E
LA ASOCIACIÓN LATINOAMERICANA DE MALEZAS, 23., 2008b, Ouro Preto-
MG. Anais ... Sete Lagoas-MG: SBCPD, 2008b. CD-ROM.
BELTRÃO, N. E. M.; AZEVÊDO, D. M. P. Controle de plantas daninhas na cultura
do algodoeiro. Campina Grande: Embrapa - CNPA, 1994. 154 p.
CÂMARA, G. M. S. Ecofisiologia da cultura da cana-de-açúcar. ln: CAMARA. G.
M. S.; OLIVEIRA, E. A. M. (Ed.). Produção de cana-de-açúcar. Piracicaba:
FEALQ, 1993. p. 3 1-64.
CHRISTOFFOLETI, P. J. ct ai. Plantas daninhas na cultura ela soja: controle químico
l! resistênc ia a herbicidas. ln: CÂMARA. G. M. (E<l.). Soja: tecnologia da produção.
Piracicaba: ESALQ, 2000. p. 179-202.
174 Procópio et ai.

CHRISTOFFOLETI, P. J.; CAETANO, R. S. X. Soil seed banks. Sei. Agríc., v. 55, p.


74-78, 1998.
CONAB Companhia Nacional de Abastecimento. Disponível em:
<http://www.conab.gov.br/O 1 a l a C M S / u p l o a d s / a r q u i v o s
/ 11_05_27_11_53_13_boletim_cana_portugues_-_maio_201 l_lo_lev.. pdf >. Acesso em:
18 jul. 2011.
CONCENÇO, G. et ai. Sensibilidade de plantas de arroz ao herbicida bispyribac-
sodium em função de doses e locais de aplicação. Planta Daninha, v. 25, n. 3, p. 629-
637, 2007.
CONCEIÇÃO, M. Z. Segurança na aplicação de herbicidas. ln: CONGRESSO
BRASILEIRO DA CIÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS, 22., 2000, Foz do
Iguaçu. Palestras. Foz do Iguaçu: Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas
Daninhas, 2000. p. 46-91 .
CONSTANTIN, J. Efeitos de diferentes períodos de controle e convivência da
Brachiaria decumbens Stapf. com a cana-de-açúcar (Saccharum spp.). 1993. 98 f.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Botucatu.
CORREIA, N . M.; DURIGAN, J. C. Emergência de plantas daninhas em solo coberto
com palha de cana-de-açúcar. Planta Daninha, v. 2, n. 1, p. 11-1 7, 2004.
DIAS, A. C. R. et ai. Problemática da ocorrência de diferentes espécies de capim-
colchão (Digitaria spp.) na cultura da cana-de-açúcar. Planta Daninha, v. 25, n. 3, p.
489-499, 2003.
DIAS, T. C. S.; ALVES, P. L. C. A.; LEMES, L. N. Períodos de interferência de
Comme/ina benghalensis na cultura do café recém-plantada. Planta Daninha, v. 23,
n. 3, p. 397-404,2005.
Dias, A. C. R. et ai. Problemática da ocorrência de diferentes espécies de capim-
colchão (Digitaria spp.) na cultura da cana-de-açúcar. Planta Daninha, v. 25, n. 2, p.
489-499, 2007.
DURINGAN, J. C. Efeito de adjuvantes na calda e do estádio de desenvolvimento das
plantas, no controle do capim-colonião (Panicum maximum) com glyphosate. Planta
Daninha, v. 1O, n. 1/2, p. 39-44, 1992.
FERNANDEZ-QUINTANILLA, C. Studying the population dynamics of weeds.
Weed Research, v. 28, p. 443-447, 1988.
FERREIRA, E. A. et ai. Composição química da cera epicuticular e caracterização da
superfície foliar em genótipos de cana-de-açúcar. Planta Daninha, v. 23, n. 4, p. 611 -
619, 2005.
FOLONI, L. L. Avaliação de herbicidas aplicados em pós-emergência sobre e sob a
palha, em cana crua e o destino ambiental. ln: CONGRESSO BRASILEIRO DA
CIÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS 26.; CONGRESO DE LA ASOCIACIÓN
LATINOAMERICANA DE MALEZAS, 18., 2008, Ouro Preto. Anil.is ... Ouro Preto,
2008.
GUPTA, O. P.; LAMBA, P. S. Modem wecd scicocc. New Delhi, Índia: Today and
Tomorrow's Printcrs and Publishcrs, 1978. 42 1 p .
Plantas daninhas 175

HAMMERTON, J. L. Environmental factors and susceptibility to herbicides. Weeds,


V. ) 5, n. 4, p. 330-336, 1967.

HrNZ, C. Description of sorption data with isotherm equations. Geoderma, v. 99, p.


225-243, 2001 .
KISSMANN, K. G. Plantas infestantes e nocivas. Tomo I. 2. ed. São Paulo, SP:
BASF, 1997. 825 p.
KUV A, M. A. et ai. Padrões de infestação de comunidades de plantas daninhas no
agroecossistema de cana-crua. Planta Daninha, v. 26, n. 3, p. 549-557, 2008.
KUV A, M. A. et ai. Períodos de interferência das plantas daninhas na cultura da cana-
de-açúcar. I - Tiririca. Planta Daninha, v. 18, n. 2, p. 241-251, 2000.
KUV A, M. A. et ai. Períodos de interferência das plantas daninhas na cultura da cana-
de-açúcar. III - capim-brachiaria (Braclziaria decumbens) e capim-colonião (Panicum
maximum). Planta Daninha, v. 21, n. 1, p. 37-44, 2003.
LORENZI, H. Plantas daninhas do Brasil: terrestres, aquáticas, parasitas, tóxicas e
medicinais. 3. ed. Nova Odessa: Plantarum, 2000. 608 p.
LORENZI, H. Tiririca - uma séria ameaça aos canaviais. Boletim Técnico
Copersucar,v.35,p.3- 10, 1996.
MAROCHI, A. I. Pontos chaves para o sucesso de aplicações noturnas de herbicidas.
ln: CONGRESSO BRASILEIRO DE PLANTAS DANINHAS, 21., 1997, Caxambu,
MG. Palestras e mesas redondas. Caxambu, MG: SBCPD, 1997. p. 147-154.
NÚNEZ, O.; SPAANS, E. Evaluation of green-cane harvesting and crop management
with a trash-blanket. Sugar Tech, Springer India, v. 10, n. 1, 2008.
OWEN, M. D. K. Update on glyphosate-resistant weeds and weed population
shifts. Iowa: Academic Press, 2006. 3 p.
PROCÓPIO, S. O.; SILVA, A. A.; V ARGAS, L.; FERREIRA, F. A. Manejo de
plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar. Viçosa: Editora UFV, 2003. 150 p.
RADOSEVICH, S.; HOLT, J.; GHERSA, C. Associations of weeds and crops. ln-
_ _ _. Weed ecology: implications for management. 2. ed. New York: Wiley &
Sons, 1997.p. 163-214.
REDDY, K. N. lmpact of rye cover crop and herbicides on weeds, yield, and net
return in narrow-row transgenic and conventional soybean (Glycine max). \Veed
Technology, v.17, p. 28-35, 2003.
RODRIGUES, B. N.; ALMEIDA, F. S. Guia de herbicidas. 5. cd. Londrina: Edição
dos autores, 2005. 592 p.
SILVA, A. A. et ai. Biologia de plantas daninhas. ln: SlLV A, A. A.; SILVA. J. F.
(Ed.). Tópicos cm munejo de plantas daninhas. Viçosa: Universidade Federal de
Viçosa, 2007b. p. 18-6 1.
SILVA, A. A. et ai. Herbicidas: classificação e mecnnismo de ação. ln: SILVA, A. A.;
SILVA, J. F. (Ed.). Tópicos cm manejo de plantas daninhas. Viçosa: Univ~rsidude
Federal de Viçosa, 2007a. p, 83- 148.
176 Procópio et ai.

SILVA, A. A. Manejo integrado de plantas daninhas. Brasília, DF: MAPA, 2006 p.


269-284. (II Conferência Internacional sobre Rastrcabilidade de Produtos
Agropecuários).
SINDAG. Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola.
Disponível em: <http://www.sindag.com.br/dados_mercado.php>. Acesso em: 18 jul.
2011.
SINDAG. Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola.
Disponível em: <http://www.sindag.com.br/upload/compimp0l05.xls> Acesso em: 10
fev. 2007.
TOLEDO, E. T. et ai. Green sugarcane versus bumed sugarcane - results of six years
in the Soconusco region of Chiapas, Mexico. International Media Ltd, Great
Britain, v. 23, n. 1, p. 20-23, 2005.
TREZZI, M. M.; VIDAL, R. A. Potencial de utilização de cobertura vegetal de sorgo
e milheto na supressão de plantas daninhas em condição de campo: II - Efeitos da
cobertura morta. Planta Daninha, v. 22, p. 1-10, 2004.
V ARGAS, L. et al. Resistência de plantas daninhas a herbicidas. Viçosa-MG:
JARD Prod. Gráficas, 1999. 131 p.
VELINI, E. D.; NEGRISOLI, E. Controle de plantas daninhas em cana crua. ln:
CONGRESSO BRASILEIRO DA CIÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS, 22.,
2000, Foz do Iguaçu. Anais ... Foz do Iguaçu: Sociedade Brasileira da Ciência das
Plantas Daninhas, 2000. p. 148-164.
VICTÓRIA FILHO, R. Fatores que influenciam a absorção foliar dos herbicidas.
Informe Agropecuário, v. 11 , n. 129, p. 31-37, 1985.
VICTÓRIA FILHO, R. Potencial de ocorrência de plantas daninhas em plantio direto.
In: FANCELLI, A. L.; VIDAL TORRADO, P.; MACHADO, J. Atualização em
plantio direto. Campinas: Fundação Cargill, 1985. p. 31-48.
WEED SCIENCE. 2008. Disponível em: <http://www.weedscience.org/in.asp>.
Acesso em: 17 ago. 2008.
WESTWOOD, J. H.; WELLER, S. C. Absorption and translocation of glyphosate in
tolerant and susceptible biotypes of field bindweed (Convolvulus arvensis). Weed
Science, v. 45, p. 658-663, 1997.
176 Procópio et ai.

SlLV A, A. A. Manejo integrado de plantas daninhas. Brasília, DF: MAPA, 2006 p.


269-284. (II Conferência Internacional sobre Rastreabilidade de Produtos
Agropecuários).
SíNDAG. Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola.
Disponível em: <http://www.sindag.corn.br/dados_mercado.php>. Acesso em: 18 jul.
2011.
SINDAG. Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola.
Disponível em: <http://www.sindag.com.br/upload/compimpO 105.xls> Acesso em: 1O
fev. 2007.
TOLEDO, E. T. et ai. Green sugarcane versus bumed sugarcane - results of six years
in the Soconusco region of Chiapas, Mexico. International Media Ltd, Great
Britain, v. 23, n. 1, p. 20-23, 2005.
TREZZI, M . M.; VIDAL, R. A. Potencial de utilização de cobertura vegetal de sorgo
e milheto na supressão de plantas daninhas em condição de campo: II - Efeitos da
cobertura morta. Planta Daninha, v. 22, p. 1-10, 2004.
V ARGAS, L. et ai. Resistência de plantas daninhas a herbicidas. Viçosa-MG:
JARD Prod. Gráficas, 1999. 131 p.
VELINI, E. D.; NEGRISOLI, E. Controle de plantas daninhas em cana crua. ln:
CONGRESSO BRASILEIRO DA CIÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS, 22.,
2000, Foz do Iguaçu. Anais ... Foz do Iguaçu: Sociedade Brasileira da Ciência das
Plantas Daninhas, 2000. p. 148- 164.
VJCTÓRJA FILHO, R. Fatores que influenciam a absorção foliar dos herbicidas.
Informe Agropecuário, v. 1 1, n. 129, p. 31-37, 1985.
VICTÓRIA FILHO, R. Potencial de ocorrência de plantas daninhas em plantio direto.
ln: FANCELLI, A. L.; YIDAL TORRADO, P.; MACHADO, J. Atualização em
plantio direto. Campinas: Fundação Cargill, 1985. p. 31-48.
WEED SCIENCE. 2008. Disponível em: <http://www.weedscience.org/in.asp>.
Acesso em: 17 ago. 2008.
WESTWOOD, J. H.; WELLER, S. C. Absorption and translocation of glyphosate in
tolerant and susceptible biotypes of field bindweed (Convolvu/us arvensis). \Veed
Science, v. 45, p. 658-663, 1997.
IRRIGAÇÃO
7
Rubens Alves de Oliveira'
!viárcio Mota Ramos2
Leonardo Ângelo de Aquino3

Introdução
A irrigação consiste na aplicação eficiente de água no solo, na
quantidade adequada e no momento certo, com a finalidade de manter
a umidade em níveis adequados que favoreçam o pleno
desenvolvimento da cultura.
No Brasil, a área com cana-de-açúcar irrigada ainda é pouco
expressiva, sendo menor que 5% do total cultivado. Isso se deve,
principalmente, à alta resistência da cultura a déficits hídricos e à
localização geográfica dos cultivos de cana-de-açúcar, onde a estação
chuvosa coincide com a fase de crescimento vegetativo e a fase de
maturação coincide com o período seco.
O consumo diário de água da cultura da cana-de-açúcar varia
com o seu estádio de desenvolvimento, o clima, o tipo de solo, a
população de plantas e a variedade, geralmente entre 2,0 e 7 ,O mm.

1 Engenheiro Agrícola e Agrônomo. M.S .• D.S. e Professor du Universidade Fcdcrnl de Viçosa.


E-mail : rubens@ufv. br
1 Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Univcrs iuadi. ! Fcd1:rnl de Viçosa

E-muil: mmrnmos@ufv. br
1 Engenheiro-Agrónomo, M.S,, ü .S. e Professor Lia Universidade Federal de Vi~·osa.

E-muil : aquinoufv@yahoo.com,hr
178 Oliveira, Ramos e Aquino

Segundo Doorenbos e Kassam ( 1979), a necessidade hídrica da cana-


de-açúcar é de 1.500 a 2.500 mm por ci clo vegetativo.
O déficit hídrico na cultura da cana-de-açúcar não se limita às
regiões áridas e semiáridas, pois a irregularidade da precipitação em
regiões úmidas pode ocasionar deficiência hídrica nas plantas,
reduzindo a pr?dl!tividade potencial.
A produção brasileira de cana-de-açúcar na safra 2007/2008
foi de 493 milhões de toneladas. O Estado de São Paulo é o maior
produtor, respondendo por cerca de 60% da produção nacional, onde
praticamente toda a cana produzida é cultivada sem o emprego da
técnica de irrigação. No entanto, a planta responde positivamente à
irrigação em situações nas quais as chuvas não são suficientes para
atender às suas necessidades hídricas.
A irrigação da cana-de-açúcar traz diversos beneficios, como
aumento da produtividade de colmo e do teor de sacarose, precocidade
da colheita, longevidade do canavial, baixo índice de tombamento,
facilitando a colheita mecanizada, e maior resistência a pragas e
doenças. Existem também beneficios socioeconôrnicos, como o
aumento do número de empregos e da renda regional.
A produtividade da cana-de-açúcar não é determinada apenas
pela boa disponibilidade de água no solo, como é o caso de cultivos
irrigados, mas também por outros fatores determinantes da produção,
por exemplo: clima, fertilidade do solo, variedade com alto potencial
produtivo, manejo da cultura, incluindo-se controle fitossanitário,
época do corte etc.
Em regiões tropicais e subtropicais brasileiras, a produtividade
da cana-de-açúcar cultivada em sequeiro pode atingir l 00 t ha- 1;
contudo, na maioria das regiões produtoras, o rendünento é bem
inferior a esse valor. No cultivo irrigado, podem-se atingir
rendimentos superiores a 200 t ha-1 em condições favoráve is de clima,
fertilidade do solo, condução adequada da cultura e do manejo da
irrigação. No entanto, o desconhecimento dos beneficios provenientes
da irrigação restringe o uso desta técnica. Guazzelli e Paes ( citados
por SANTOS, 2005) estudaram a variedade SP80- l 842, cultivada com
irrigação por gotejamento na região de Ribeirão Preto, SP. Eles
obtiveram 173 t ha-1 com irrigação total e 144 t ha- 1 sem itTigação, li
com aumento <le 29 l ha· 1, correspondente a um acréscimo de 20%.
lrrigaçào 179

No manejo da irrigação da cana-de-açúcar, é importante


caracterizar as fases de desenvolvimento da cultura a fim de
possibilitar a aplicação adequada de água ao longo do ciclo. Assim,
para esta cultura, são definidos quatro estádios de desenvolvimento:
estádio I - germinação e emergência, com duração aprox imada de um
mês; estádio II - perfilhamento e estabelecimento da cultura, de dois a
três meses; estádio III - desenvolvimento vegetativo, de seis a sete
meses; e estádio IV - maturação, com duração de dois meses.
aproximadamente.
A cana-de-açúcar apresenta boa resistência ao déficit hídrico.
Isso advém de seus ajustes fisiológicos , assim como da facilidade de
seu sistema radicular de se adaptar às novas condições de estresse
hídrico no solo. O déficit de água no solo é mais crítico nos dois
primeiros estádios de desenvolvimento, podendo ocorrer redução na
população de plantas. Na fase de desenvolvimento vegetativo, esse
déficit não afeta tanto a produtividade quanto nas duas fases
anteriores. Já na fase de maturação, a cana-de-açúcar responde bem ao
déficit hídrico no solo, com aumento do teor de açúcar na planta.
Há diversas técnicas de manejo da irrigação aplicadas à
cultura da cana-de-açúcar: irrigação de salvação, irrigação com déficit
hídrico controlado, irrigação suplementar e irrigação total.
Na irrigação de salvação, são feitas duas ou três aplicações de
água ou vinhaça após o plantio, no caso de cana-planta, ou após os
cortes, no caso de cana-soca, visando garantir a germinação e o
desenvolvimento inicial das plântulas. Nesta modalidade de aplicação
de água e vinhaça, não existe rigor no atendimento da real necessidade
de água para a cultura da cana-de-açúcar. Este tipo de aplicação de
água ou de vinhaça é recomendado em locais com solo argiloso e
clima úmido, sendo geralmente aplicados 40 a 80 nm1 em um mês. No
caso de solo arenoso, pode-se aumentar o número de irrigações com
diminuição da lâmina de água ap licada por vez.
Na irrigaçào com déficit hídrico c.:ontrolado, são feitas
irrigações aplicando-se água apenas para atender parte da necessidade
hídrica das plantas. Esse manejo pode ser aplicado em todo o ciclo ou
nas fases de desenvolvimento e maturação.
Na irrigação suplementar, a aplicação de água é foita quando a
necessidade hídrica da cultura em um período é maior que a
180 Oliveira, Ramos e Aquino

quantidade de água disponível no solo, em decorrência da falta ou da


irregularidade das chuvas.
Na itTigação total, são feitas inigações suficientes para atender
plenamente a necessidade hídrica da cultura. Esse tipo de manejo é o
menos usual por questões econômicas e somente deve ser aplicado em
regiões áridas, onde a connibuição de água da chuva é insignificante.
A irrigação é uma prática importante para o êxito da maioria
das culturas, inclusive da cana-de-açúcar, porém deve-se,
primeiramente, avaliar se há necessidade e viabilidade de irrigar,
dependendo das condições climáticas locais, do tipo de solo, da
disponibilidade de água e dos aspectos econômicos. A decisão de
irrigar ou não a cana-de-açúcar vai depender, portanto, da quantidade
e distribuição das chuvas na região, da resposta da cana-de-açúcar à
irrigação, da capacidade financeira do empreendedor e da viabilidade
econômica do investimento. Se as condições técnicas e econômicas
justificam o cultivo da cana-de-açúcar irrigada, deve-se selecionar o
sistema de irrigação mais adequado.
Os custos da irrigação da cana-de-açúcar variam com o
método empregado, o relevo e o tamanho da área, o tipo de solo, as
condições climáticas e com a técnica de manejo da irrigação. Os
custos médios de implantação de sistemas de irrigação, por hectare
irrigado, para a cultura da cana-de-açúcar, são: sulcos - R$ l .500,00 a
R$2.500,00; montagem direta e carretel enrolador - R$3.000,00 a
R$4.500,00; pivô central e sistema linear - R$5.000,00 a R$7 .000,00;
e gotejamento - R$6.000,00 a R$8.000,00

Métodos de irrigação mais usados na


cultura da cana-de-açúcar
Os métodos de i1Tigação mais utilizados na cultura da cana-
de-açúcar são por aspersão, na superficie e localizada.

Método de Irrigação por Aspersão


No método de irrigaçã.o por aspersão, a água é conduzida em
tubulações. sob pressão, e lançada na ntmosfera na fom1a de jato, que
Irrigação 181

se fragmenta em gotas, distribuindo-se sobre a cultura e o solo da


parcela a ser irrigada, assemelhando-se a uma chuva.
Este método adapta-se a diferentes tipos de solos e culturas.
podendo ser usado onde o terreno apresenta topografia um pouco
acidentada. Por outro lado, o método de irrigação por aspersão
apresenta limitações, como baixa eficiência, quando usado em locais
sujeitos a ventos com velocidade média superior a 4 m/s, e elevada
interferência nos tratos fitossanitários, por efetuar a lavagem de
produtos químicos pulverizados na parte aérea das plantas.
Os três sistemas de in-igação por aspersão mais usados na
cultura da cana-de-açúcar são descritos a seguir.

Pivô Centra 1
O equipamento pivô central é constituído por uma tubulação
de aço suspensa, dotada de aspersores e sustentada por armações
metálicas com rodas pneumáticas, denominadas torres, e por um
sistema de comando (Figura 7 .1 ).
A tubulação do pivô central é de aço galvanizado, com
diâmetro de 168 mm (6 5/8"), 219 mm (8 5/8") e 254 mm (1 O"). O
mais comum são os equipamentos com tubulação de 168 mm de
diâmetro. Os fabricantes de pivô central também disponibilizam
equipamentos com tubos dotados de revestimento interno, para
proteção contra corrosão, no caso de se fazer a fertirrigação com a
aplicação de vinhaça na lavoura de cana-de-açúcar.
A torre central é uma estrutura metálica em forma de
pirâmide, fixada sobre base de concreto construída no centro da área
irrigada. A tubulação suspensa gira em torno da torre central, através
do pivoflex, in-igando áreas circulares. Na torre central. ficam
instalados o painel de controle e o tubo de elevação do pivô central.
No painel de controle do pivô, há os seguintes componentes:
chave geral, chave seletora do sentido de rotação, relê percentual,
voltímetro, luz indicadora de sistema ligado, luzes indicadoras de
defeitos, horímetro, relê temporizador contra excesso de úgua. Hú a
opção de painel de controle analógico (convencional) e di~ital.
182 Oliveira, Ramos e Aquino

Figura 7 .1 - Cana-de-açúcar irrigada por pivô central.

A chave geral controla a energização do painel e torres de


acionamento do pivô central. Esta chave tem duas posições, ligada e
desligada, e opera em tensão nominal de 480 V, como os demais
componentes do pivô.
A chave seletora do sentido de rotação permite girar o pivô no
sentido horário ou anti-horário, dependendo da área a ser irrigada.
O relê percentual permite controlar a velocidade de giro do
pivô, em termos percentuais, podendo ser operado mesn10 com o
equipamento em funcionamento. Os valores indicados expressam o
percentual do tempo de energização do motor da últin1a torre do pivô
central. Por exemplo, se o relê percentual for regulado en1 "0%", a
última torre não se deslocará e, consequentemente, o equipamento
permanecerá parado. Se a regulagem for "50%", a última to1Te se
movimentará durante determinado período de tempo, por exemplo, 30
segundos, e permanecerá parada durante esse mesmo tempo, sendo
esse processo repetido continuamente, enquanto o equipamento
permanecer Iigado. Se a rcgulagem for "I 00°/ti'', a ú ltima torre
hTigaçào 183

movimentará ininterruptamente com velocidade máxima, que resulta


no menor tempo para uma volta completa do pivô central.
As tubulações dos lances são interligadas por meio de pino
esférico, com alojamento próprio, e por mangotes especiais. Isso
pem1ite movimento da tubulação suspensa para adaptação do
equipamento a irregularidades da superficie do terreno.
O comprimento de cada lance varia entre 33,2 e 62,5 m,
dependendo do fabricante do pivô central. A maior distância entre
torres é mais econômica, com lance montado com nove tubos,
devendo ser usada apenas em condições de topografia suave e
uniforme e em solos que apresentem boa estabilidade quando
molhados, evitando problemas de atolamento do pivô central.
A altura livre em relação ao solo é de 2,70, 3,60, 4,60 ou 5,60
m, porém esses valores podem variar, dependendo do fabricante do
pivô central. No caso da irrigação de cana-de-açúcar, a altura· livre do
pivô deve ser de 4,60 ou 5,60 m.
Cada torre é equipada com um motorredutor com potência de
¾", 1 ou 1,5 cv, montado sobre a viga-base, que aciona, por meio de
acoplamentos elásticos, os redutores finais das rodas.
As rodas das torres são de aço, .c om pneus do tipo usado no
eixo traseiro de tratores agrícolas. As duas rodas são montadas nas
extremidades da viga-base da torre, de maneira que os pneus fiquem
com garras opostas, para que possam se cruzar no terreno, visto que o
equipamento pode girar em dois sentidos.
A velocidade de deslocamento da última torre é regulada no
painel de controle do pivô central. A velocidade e o alinhamento das
demais torres são controlados por uma caixa individual com
componentes eletromecânicos e por barras metálicas de controle na
parte superior de cada uma delas.
No interior das caixas de controle individual há um
microrruptor de movimento, responsável pela partida e parada da
torre, e um microrruptor de segurança, que atua desligando todo o
sistema quando ocorre desalinhamento excessivo da lmhR lateral,
como no caso de ocorrência de atolamento ,Jo pivô central.
O último lance da tubulação fica em balanço, com a finalidade
de aumentar a área irrigada com menor custo. Alguns pivôs centrais
184 Oli veira, Ramos e Aquino

possuem um aspersor setorial do tipo canhão hidráulico instalado na


extre1nidade da tubulação em balanço, com a mesma finalidade
mencionada. Entretanto, essa prática está em desuso por causa da alta
intensidade de aplicação de água, da formação de precipitações com
gotas grandes, que podem ocasionar danos ao solo e às culturas, e da
maior suscetibilidade à deriva de água pelo vento, reduzindo a
eficiência de aplicação de água. Para compensar a redução de área
irrigada causada pela retirada do canhão hidráulico, alguns fabricantes
têm amnentado o comprimento da tubulação em balanço.

Carretel Enrolador
Este sistema de irrigação é constituído por uma tubulação de
sucção, um conjunto motobon1ba, uma tubulação adutora e uma
tubulação principal dotada de hidrantes, onde o equipamento carretel
enrolador é conectado.
Esse equipamento é constituído por uma plataforma metálica
dotada de rodas, mn carretel de aço, uma mangueira de polietileno de
média densidade e um aspersor instalado sobre um carrinho. Dependendo
do modelo de carretel enrolador, a mangueira pode ter comprimento de
200 até 500 m, com diâmetro variando desde 50 a 140 mm.
O carretel é dotado de sistema propulsor, geralmente uma
turbina hidráulica. A mangueira de polietileno é conectada ao carretel
e à base do tubo de subida do aspersor.
Na operação do equipamento, o carretel enrolador é colocado
no meio do carreador, próximo a um hidrante da linha principal,
referente à faixa a ser irrigada. O carrinho com o aspersor é deslocado
com o uso de trator para a extremidade oposta da faixa, promovendo-
se o desenrolamento da mangueira. O bocal de entrada do carretel
enrolador é conectado ao hidrante da linha principal por meio de outra
mangueira com aproximadamente 5 m de comprimento.
Após o acionamento do conjunto motobomba, abre-se o
hidrante, colocando o sistema em funcionamento. À 1nedida que o
carretel gira, ocorre o enrolamento da mangueira; e o carrinho, com o
aspersor em üperaçãol começa a se deslocar em direção à plataforma
metálica. No fim do percurso, é acionado automaticamente o
dispositivo de parada, inte1Tompendo o deslocamento do carrinho.
Irrigação 185

O procedimento é repetido para irrigação da faixa localizada


no outro lado da linha principal, após efetuar o giro de 180º do carretel
sobre a plataforma metálica. Após a irrigação de duas faixas
contíguas, todo o conjunto é deslocado e posicionado próximo a outro
hidrante da linha principal, repetindo-se as operações anteriormente
descritas até que toda a área seja irrigada.
Existem no mercado fabricantes de carretel enrolador que
disponibilizam diversos modelos para irrigar pequenas e grandes
áreas, geralmente variando entre 15 e 60 hectares.

Montagem Direta
Este sistema de irrigação é composto por uma tubulação de
sucção com mangote e válvula de pé, por um conjunto motobomba
com dispositivo para escorva, um guindaste e um aspersor setorial do
tipo canhão hidráulico. O conjunto é montado sobre chassi com quatro
rodas pneumáticas.
O guindaste serve de suporte para o mangote, possibilitando a
manutenção da válvula de pé com crivo a uma altura adequada dentro
do canal, além de auxiliar no transporte do sistema.
O sistema montagem direta é muito utilizado para aplicação
de efluentes de indústrias e destilarias (vinhaça) no solo,
principalmente em áreas canavieiras, e para aplicação de água na
irrigação de diversas culturas. Os componentes do sistema são
fabricados com materiais próprios para resistir à corrosão.
O equipamento é geralmente montado próximo a um canal,
onde irá funcionar durante o tempo necessário para aplicação da
lâmina desejada. O tempo de funcionamento em cada posição
dependerá da intensidade de aplicação do aspersor e da lâmina de
água ou do efluente a ser aplicada.
A distância entre pontos de montagem do equipamento
depende do raio de alcance do aspersor. Os espaçamentos entre os
canais e entre os locais de instalação do equipamento geralmente são
de I 00 m. Pode-se aumentar o espaçamento entre canais usando
extensões constituídas de tubu lações dotadas de válvulas de linha
espaçadas de 100 m.
186 Oli veira, Ramos e Aquino

Após o funcionamento numa posição, o sistema é desligado e


transferido para a posição seguinte com o uso de um trator agrícola.
Na nova posição, a válvula de pé com crivo é imersa no canal, e o
conjunto é colocado em funcionamento. Esse procedimento é repetido
até irrigar toda a área.

Canhão hidráulico portátil


Este siste1na de irrigação é geralmente constituído de um
conjunto motobomba, tubos de aço zincado dotados de engate rápido,
peças acessórias e um ou mais aspersores de grande porte do tipo
canhão hidráulico.
Neste sistema, a linha lateral possui um hidrante em cada
posição de conexão de aspersor, operando com apenas um canhão
hidráulico durante o tempo suficiente para aplicação da lâmina de
água necessária. Terminada a irrigação numa posição, o aspersor
canhão hidráulico é deslocado para a posição seguinte na mesma linha
lateral, e assim sucessivamente, até completar as demais posições de
aspersor. Terminada a irrigação da parcela correspondente a
determinada posição de linha lateral, ela é desmontada, transportada e
montada novamente em outra posição na linha principal, repetindo-se
o procedimento até irrigar toda a área.

Irrigação por gotejamento subsuperficial


Este método de irrigação é caracterizado pela aplicação de
água em pequena intensidade diretamente abaixo da superficie do
solo, com uso de tubulação enterrada, com alta frequência, para
manter a umidade do solo próximo à capacidade de campo.
O sistema de irrigação por gotejamento subsuperficial é
composto por conjunto motobomba, unidades de controle, tubulações
de PVC e tubogotejadores ou fitas gotejadoras enterradas.
Na unidade de controle há filtros, injetor de produtos
químicos, válvulas, entre outros. No caso de sistemas automatizados,
existem diversos componentes, como controlador digital, para
progran1ação da irrigação nos diversos setores, válvulas solenoides e
válvulas de comando hidráulico ou elétrico.
Irrigação 187

No campo, no início de cada setor, existe uma estrutura


denominada cavalete, onde ficam instalados válvula de controle,
manômetro, ventosa e válvula antivácuo. Por se tratar de sistema com
emissores enterrados, é recomendável usar filtro de tela ou de discos
no cavalete.
As tubulações utilizadas podem ser de diferentes materiais. A
linha de recalque e a linha principal são normalmente enterradas,
sendo PVC o material mais usado. As linhas de derivação, usualmente
enterradas, são de PVC ou de polietileno. As linhas laterais,
constituídas de tubogotejadores ou fitas gotejadoras, são geralmente
de polietileno.
As linhas laterais são enterradas mecanicamente durante o
plantio da cana-de-açúcar, geralmente a 30 cm de profundidade e em
espaçamento de 1,40 m.
No sistema de irrigação por gotejan1ento, um dos maiores
problemas é a ocorrência de entupimento dos emissores. As causas
podem ser de natureza fisica, química e biológica da água de irrigação; no
caso do gotejamento subsuperficial, o entupimento pode ocorrer também
por intrusão radicular nos gotejadores. Na cana-de-açúcar, o problema de
intrusão se agrava por causa de seu sistema radicular fasciculado,
composto por raízes finas, que crescem e penetram nos gotejadores.
Outro fator que também provoca o entupimento dos emissores é a
ocorrência de vácuo na linha lateral enterrada, que pode succionar
partículas do solo para o interior dos gotejadores.
Apesar desses problemas, o gotejamento subsuperficial tem
sido usado na cultura da cana-de-açúcar por ocasionar amnento de
produtividade com otimização de água e energia, além de não
interferir nas práticas culturais.

Irrigação por Sulcos


Neste método de irrigação, são abertos sulcos paralelamente
às fil eiras de plantio da cana-de-açúcar, nos quais é feita a aplicação
de água (Figura 7.2).
Após a aplicação de de~erminada vazão no ~níc~o ~os sulcos,.ª
água começa a escoar e. à medida que avança em d1reçao a patte mais
188 Oliveira, Ramos e Aquino

baixa da área, vai ocorrendo a infiltração. Numa irrigação conduzida


de maneira adequada, a água deve escoar no final dos sulcos durante
tempo suficiente para aplicação da lâmina de água necessária. Assim,
parte da água infiltrada fica retida no perfil do solo explorado pelas
raízes das plantas, propiciando o armazenamento de água para
utilização durante o período compreendido entre duas irrigações
consecutivas.

Figura 7.2 - Tubo janelado aplicando água aos sulcos na irrigação da


cana-de-açúcar.

O espaçamento entre sulcos depende do tipo de solo e,


principalmente, da distância entre fileiras de plantas de cana-de-açúcar
a serem irrigadas. Em geral, na cultura da cana-de-açúcar usa-se um
sulco para cada fileira de plantas.
O comprimento dos sulcos depende da forma e do tamanho da
área, do tipo de solo e da vazão aplicada, variando, geralmente, entre
50 e 400 m.
Na maioria dos casos, os sulcos são construídos com
declividade variando entre O, 1 e 2,011/0. O primeiro valor é considerado
o mínimo desejável para evitar transbordamentos, facilitando o
/rrigaçâo 189

escoamento da água, e o segundo valor é o máximo para evitar


problemas sérios de erosão do solo.
O uso de sistema de irrigação por sulcos demanda muita mão
de obra por unidade de área, usada principalmente no controle da água
nos canais e na aplicação da vazão aos sulcos.

Manejo da irrigação
O manejo de irrigação refere-se a um conjunto de decisões
técnicas envolvendo as características da cultura, do clima, da água,
do solo e do sistema de irrigação. O manejo adequado da irrigação,
associado às demais técnicas de cultivo, possibilita ao agricultor
alcançar níveis de produtividade elevados, com economia de água e
energia, além de contribuir para a preservação do ambiente.
Um manejo bem conduzido consiste em definir o momento
adequado de se iniciar a irrigação e em determinar a quantidade de
água necessária à cultura, possibilitando conhecer o tempo de
aplicação de água ou a velocidade de deslocamento do equipamento
de irrigação.
Para irrigar a cana-de-açúcar de maneira eficiente, é
necessário conhecer alguns parâmetros relacionados ao solo, ao clima,
à água, à planta e ao sistema de irrigação que possibilitarão quantificar
a água que deverá ser aplicada.

Parâmetros importantes no manejo da irrigação


O solo é o reservatório natural de água para as plantas. A água
annazenada no solo e disponível às plantas está compreendida entre a
capacidade de campo e o ponto de murcha permanente.

Capacidade de Campo
A capacidade de campo (Cc) cotTespondc ao limite superior da
água disponível e representa a umidade do solo após a drenagem da água
contida nos macroporos pela ação gravitacional. Essa condição <le
umidade favorece a maior absorção de úgua e nutrientes pelas planta ·.

, 1 1 t 1 .
190 Oliveira, Ramos e Aquino

Usualmente, a capacidade de campo é determinada em


laboratório, pelo método da curva de retenção. Neste método, o valor
da umidade de capacidade de campo é representado pela umidade de
equilíbrio com a tensão de 6 a 33 kPa, dependendo da textura, da
estrutura e do teor de matéria orgânica do solo.

Ponto de Murcha Permanente


O ponto de murcha permanente (Pm) corresponde ao limite
inferior de água disponível. Essa condição de umidade restringe
severamente a absorção de água pelas plantas, que morrerão se não
houver reposição da água no solo.
Em geral, o ponto de murcha permanente é também
determinado em laboratório, pelo método da curva de retenção. Neste
método, o valor da umidade do ponto de murcha é representado pela
umidade de equilíbrio com a tensão de 1.500 kPa (Figura 7.3).
Para traçar a curva de retenção, valores de umidade do solo
são obtidos após submeter amostras a diferentes tensões no extrator de
Richards.
40

35

30
~
o
';;' 25
õCll
o 20
"Cl
C,)
"Cl
(,;I

~
15
E
:::J
10

o
o 150 300 450 600 750 900 1050 1200 1350 1500
Tl!nsão (kPa)

r igura 7 .3 - Curva de retençfio de úgua no solo.


Irrigação 191

Apesar de seu caráter dinâmico, para se fazer irrigação, a


capacidade de campo é usualmente obtida com valor de tensão de 1O
kPa (O, 1O atm) em solos arenosos e 33 kPa (0,33 atm) nos argilosos.
Por sua vez, a umidade correspondente ao ponto de murcha
permanente é obtida com a tensão de 1.500 kPa (15 atm).

Densidade do solo
A densidade do solo é a relação entre a massa e o volume de
uma amostra de solo seco. Na sua determinação, pode-se utilizar um
trado Uhland, cujo cilindro é cravado no solo, na profundidade média
da camada de solo explorada pelas raízes das plantas. Após a retirada
do cilindro, a amostra é preparada e levada à estufa para secagem por
24 horas, a uma temperatura aproximada de 105 ºC, para
determinação de sua massa. O volume é determinado com o uso dos
valores do diâmetro e da altura da amostra de solo.
Na amostragem para determinação da densidade do solo,
pode-se também usar o método recomendado por Oliveira e Ramos
(2008), denominado Método do Tubo de PVC.
O Método do Tubo de PVC consiste em nivelar previamente a
superficie do solo, umedecê-lo (Figura 7.4a) e, posteriormente, cravar
um tubo com diâmetro nominal de 50 mm e comprimento de 15 cm
(Figura 7.4b), tendo uma das extremidades biselada, até que a borda
superior do tubo de PVC fique à superficie do solo (Figura 7.5a). Em
seguida, escava-se o solo em torno do tubo de PVC, para facilitar o
acesso à sua extremidade inferior. Com uma faca, corta-se o solo na
base do tubo (Figura 7.5b), retira-se o conjunto (tubo com solo) e
apara-se a base da amostra, para elinúnar o excesso de solo (Figura
7.6a). Em seguida, fazem-se uma limpeza do tubo e a vedação das
extremidades da amostra de solo com fita plástica adesiva (Figura
7 .6b). Para iITigação, recomenda-se fazer pelo menos três repetições
na área irrigada.
Os tubos de PVC com as amostras devem ser enviados para
um laboratório, solicitando-se a determinação da densidade do solo.
Após a determinação da densidade, pode-se usar uma amostra
composta para obter os valores da capacidade de campo e do ponto de
murcha permanente.
192 Oli veira. Ramos e Aquino

Figura 7.4 - Umedecimento do solo (a) e cravação do tubo de PVC


para retirada de amostra (b ).

No laboratório, o solo contido no tubo de PVC deve ser


retirado e colocado em estufa à temperatura de 105º C, durante 24
horas. Após esse tempo, o solo seco é pesado, e a sua densidade,
calculada com aplicação da equação seguinte:

(l)
em que:
Ds: densidade do solo, g/cm3 ;
ms: massa de solo seco, g; e
Vs: volume da an1ostra de solo, cm3 .

Figura 7.5 - Borda do tubo de PVC rente à superficie do solo (a) e


retirada do tubo após abertura de trincheira (b ).
lrrigaçâo 193

Figura 7.6 - Retirada do excesso de solo na base do tubo (a) e


fechamento de suas extremidades com fita adesiva (b ).

Durante a cravação do tubo de PVC, geralmente ocorre


compactação, com rebaixamento da superficie do solo dentro do tubo,
como pode ser observado na Figura 7 .5a. O erro decorrente da
compactação é eliminado no Método do Tubo de PVC ao se
considerar, no cálculo da densidade do solo, o volume interno do tubo
de PVC, e não o volume da amostra de solo compactada.
O volume interno do tubo de PVC (V s) é calculado
multiplicando-se a área da seção transversal do tubo pelo seu
comprimento:
2
Ys = 3,1416 D C
4 (2)
em que:
D = diâmetro interno do tubo de PVC, cm; e
C = comprimento do tubo de PVC, cm.

Portanto, ao considerar o volume da amostra de solo igual ao


volume interno do tubo de PVC, elimina-se o erro decorrente da
compactação do solo, que geralmente ocorre durante a amostragem.

Profundidade Efetiva do Sistema Radicular


A profundidade efetiva do sistema radicular (Z) é aquela onde
se concentram pelo menos 80%1 das raízes das plantas. O seu valor
194 Oliveira, Ramos e Aquino

varia com a cultura e seu estádio de desenvolvimento, com o tipo de


solo e seu manejo, além do manejo da própria irrigação. Para a cultura
da cana-de-açúcar irrigada, podem-se usar os seguintes valores de
profundidade efetiva das raízes: estádio I - 15 cm; estádio II - 27 cm;
e estádio III - 40 cm.

Fator de disponibilidade de água no solo


Se a umidade estiver na capacidade de campo, com a ocorrência
da evapotranspiração, o nível de água no solo diminui, tomando-se cada
vez mais difícil a absorção de água e nutrientes pelas plantas. Em
irrigação, não se deve permitir que o teor de água no solo atinja o ponto
de murcha permanente. Assim, no manejo adequado da irrigação, deve-se
considerar a umidade-limite, c1tjo valor está compreendido entre a
capacidade de campo e o ponto de murcha permanente.
O fator de disponibilidade de água no solo (f) é importante no
cálculo da mnidade-limite e da lâmina de água necessária à cultura. O
valor de f representa a fração do total de água armazenada no solo,
entre a capacidade de campo e o ponto de murcha permanente, que
pode ser usada pela cultura, de maneira que as plantas não sofram
restrição de água em um nível que possa comprometer o seu
desenvolvimento e reduzir a produtividade. Para a cultura da cana-de-
açúcar, pode-se usar um valor máximo de f igual a 0,65.

Evapotranspiração da cultura
O processo que associa a transferência de água do solo e das
plantas para a atmosfera, na forma de vapor de água, é denominado
evapotranspiração (ET). Ela representa, na prática, o consun10 de água
de uma cultura, geralmente expresso em milímetro por dia (n1n1/d).
Um milímetro representa a altura da lâmina formada pela aplicação de
um litro de água numa área de 1 m2 ( 1 mm = 1 L/m2).
A evapotranspiração varia com o tipo de cultura, por causa
das características próprias das espécies vegetais. Dessa maneira,
houve a necessidade de definir a cvapotranspiração para uma culturu
!rrigaçâo 195

de referência (ETo) e, a partir daí, estimar a evapotranspiração da


cultura de interesse (ETc).
No manejo da irrigação, várias metodologias podem ser
usadas para determinar a ET c, entre elas o tanque Classe A, equações
de estimativa de evapotranspiração e o irrigâmetro.
No caso de uso do tanque Classe A , a ETc é determinada
multiplicando-se o valor da lâmina evaporada pelos coeficientes do
tanque e da cultura. O valor do coeficiente do tanque (Kt) depende das
condições de sua instalação no campo e do clima. Por sua vez, o valor
do coeficiente da cultura (Kc) (Tabela 7.1) depende do tipo de cultura,
dos seus estádios fenológicos, das práticas culturais adotadas, do
clima e da frequência de irrigação.

Tabela 7.1 -Valores de Kc para os diversos estádios fenológicos da


cultura da cana-de-açúcar
Idade (meses) Desenvolvimento da cana-de-açúcar
Cana- Cana- Fases de Estádio de Kc
planta soca desenvolvimento desenvo1vimento
Plantio até 25% de I 0,40
0-2 O- 1
fechamento
25 a 75% de
2-4 1 - 2,5 11 0,65 - 0,95
fechamento
75 a 100% de
4 - 14 2,5 - 10 III l, 10 - 1,25
fechamento
14 - 18 10 - 12 Mah1ração IV 0,75

Nas equações de estimativa de evapotranspiração, são usados


dados de elementos meteorológicos, geralmente obtidos em estações
meteorológicas automáticas. A evapotranspiração de reforência (ETo)
é calculada e seu valor é multiplicado pelo Kc para e obter a
'
evapotranspiração da cult1lt'a (ETc)- Neste caso, o manejo da irrigação
deve ser conduzido com uso de tabelas ou programa computacional.
O irrigâmetro é um aparelho que intro~uz gr~nde simplicidade
no manejo da água em áreas irrigadas por estimar d1retan1ent " a ET..: ,
196 Oliveira , Ramos e Aquino

além de responder a três questões básicas do manejo da irrigação: o


momento de irrigar, a lâmina de água necessária à cultura e o tempo
de irrigação (Figura 7.7). No caso de sistemas de movimentação
mecânica, como o pivô central e o sistema linear, o irrigâmetro
fornece a velocidade de deslocamento do equipamento, em vez do
tempo de irrigação. Ele também quantifica a precipitação pluvial na
área cultivada, permitindo otimizar o uso da água da chuva e,
consequentemente, reduzir o consumo de energia.
O irrigâmetro deve ser previamente ajustado para as condições
do solo, da cultura e do equipamento de irrigação da propriedade
agrícola. Feito isso, a decisão quanto ao manejo da água é do operador
do equipamento de irrigação, que não precisa ter formação técnica
especializada. A operação do irrigâmetro é feita facilmente, sem a
necessidade de cálculos ou uso de programas computacionais. A
operação do aparelho consiste simplesmente em abertura e
fechamento de válvulas, obedecendo-se a uma sequência predefinida.

:-igura 7 .1 - lrrigâmetTo usado no manejo da irrigação em pivô central.

(: H, ígâmetro apresenta as seguintes vantagens:


a) é simples, de fücil instalação e utilização e de custo
rdativamcnte baixo;
Irrigação 197

b) mede a lâmina precipitada, permitindo incluir facilmente a


chuva no manejo da irrigação;
c) fornece diretamente a estimativa do valor da evapotrans-
piração da cultura; e
d) indica diretamente ao irrigante quando se deve irrigar a
cultura e o tempo de funcionamento do equipamento de irrigação, ou a
sua velocidade de deslocamento em termos percentuais, sem a
necessidade de efetuar cálculos.

Eficiência de aplicação de água do sistema de


1rngaçao
Na irrigação, apenas parte da água aplicada é efetivamente
utilizada pela cultura, podendo ocorrer perdas por evaporação e
arrastamento pelo vento, por escoamento superficial, por percolação e
por vazamentos nas tubulações.
De maneira geral, quando o sistema de irrigação for bem
dimensionado e manejado adequadamente, pode-se considerar uma
eficiência de aplicação de água (Ea) em tomo de 90% para goteja-
mento subsuperficial; 85% para pivô cenh·al e sistema linear; 75%
para os sistemas carretP1 enrolador, montagem direta, autopropelido e
canhão hidráulico portátil; e 60% para sistema de irrigação por sulcos.

Estratégias de manejo da irrigação

Irrigação sem déficit hídrico


Este caso abrange os manejos com irrigação total ou com
irrigação suplementar.

a) Manejo da irrigação con1 turno de rega fixo


O turno de rega (TR) é o intervalo, em dias, entre duas
irrigações consecutivas numa mesma área. O manejo com turno d(!
rega fixo consiste em rea lizar as itTigaçõcs em intervalos de t mpo
definidos, ou seja, diariamente, de dois em dois dias ou de tr~s cm três
dias, e assim por diante.

,
198 Oliveira, Ramos e Aquino

Uma vez estabelecido o turno de rega, torna-se necessário


quantificar a lâmina total de água a ser aplicada, possibilitando
calcular a velocidade de deslocamento, nos casos dos sistemas pivô
central, sistema linear, carretel enrolador ou autopropelido; o tempo
de aplicação de água por posição, nos casos dos sistemas montagem
direta e canhão hidráulico portátil; e o tempo de irrigação em cada
setor, nos casos dos sistemas por gotejamento subsuperficial e em
sulcos.
A determinação da quantidade de água a ser aplicada por
irrigação geralmente é feita mediante avaliação da umidade do solo ou
estimativa'-ª evapotranspiração da cultura.

a.1) Manejo da irrigação baseado na umidade do solo


Depois de definido o turno de rega, deve-se avaliar a umidade
do solo antes de cada evento de irrigação. Isso possibilita calcular a
lâmina de água a ser aplicada pelo sistema de irrigação, a fim de
retomar a umidade do solo para a capacidade de campo. Após a
irrigação, uma parcela da água annazenada no solo será usada pela
cultura durante o próximo período correspondente ao turno de rega.
De maneira semelhante, deve-se fazer nova avaliação da umidade e
novo cálculo da lâmina a ser aplicada, sendo esse procedimento
repetido em todos os eventos de irrigação da cultura.
A lâmina total de irrigação é calculada aplicando-se a seguinte
equação:

LI =
(ee - uª ) D Z
10 E a s
(3)
em que:
LI = lâmina total de irrigação, mm;
Cc = capacidade de campo,% em peso;
Ua = umidade do solo antes da irrigação, % e1n peso;
Ds = densidade do solo, g/cm3 ;
Z = profundidade efetiva do sistema radicular, cm; e
Eu= eficiência de aplicação de água, decimal.
No caso de cana-de-açúcar irrigada con1 pivô central ou
sistema linear, deve-se calcular a velocidade de deslocamento por:
Irrigação 199

V= 100 Lr
LI (4)
em que:
V = velocidade de deslocamento do pivô central ou sistema
linear,%; e
Lp = lâmina de projeto do pivô para a velocidade de l 00% ,
mm.
No caso de carretel enrolador e autopropelido, após calcular a
lâmina total de irrigação, deve-se consultar o catálogo do fabricante
do equipamento para obter a velocidade de deslocamento
correspondente.
No caso dos sistemas montagem direta, canhão hidráulico
portátil e gotejamento subsuperficial, o tempo de funcionamento do
equipamento em cada posição ou setor deve ser calculado por:
LI
t=-
IB (5)
em que:
t = tempo de irrigação em cada posição ou setor, h;
LI = lâmina total de irrigação, mm; e
Ia= intensidade de aplicação de água do sistema de irrigação,
mm/h.

a.2) Manejo da irrigação baseado na estimativa da


evapotranspiração da cultura
No caso de uso de tanque Classe A ou de estação
meteorológica automática, a evapotranspiração da cultura é calculada
diariamente a partir da ET0 • No primeiro caso, um pluviômetro deve
ser usado para quantificar a chuva.
Os valores de ETc são acumulados diariamente ao longo do
período correspondente ao turno de rega, fornecendo a lâmina de água
a ser reposta ao solo pelo sistema de inigação.
A lâmina total de irrigação é calculada, aplicando-se a
equação 6:
200 Oliveira, Ramos e Aquino

E (6)
"
em que:
LI = lâmina total de irrigação, mm;
ETc = soma dos valores de ETc ocorridos durante o período
correspondente ao turno de rega, 1nm; e
Ea = eficiência de aplicação de água, decimal.
Após calcular a lâmina total de irrigação, deve-se proceder de
maneira semelhante ao caso anterior para calcular a velocidade de
deslocamento do equipamento (equação 4) ou para calcular o tempo
por posição ou por setor (equação 5).
Se ocorrer chuva no período, deve-se verificar se a lâmina
precipitada foi suficiente para repor o déficit de água no solo até o
momento da ocorrência de chuva. Caso isso tenha ocorrido, deve-se
zerar o somatório dos valores de ETe visto que a lâmina deficitária foi
reposta ao solo pela chuva. Durante os dias restantes do turno de rega,
devem-se acumular novamente os valores diários da ETc. A lâmina
total de irrigação é calculada aplicando-se a equação 6 e a velocidade
de deslocamento do equipamento ou o tempo por posição ou por setor,
que são obtidos da maneira descrita anterimmente.
Se a lâmina precipitada for menor do que a lâmina
correspondente ao somatório da ETe, a diferença entre elas fornecerá a
lâmina deficitária atual após a ocoffência da chuva. Nesse caso, essa
diferença será acrescida aos novos valores diáiios da ETc verificados
durante os dias restantes do turno de rega. A lâmina total de irrigação
e a velocidade de deslocamento do equipan1ento ou o tempo de
irrigação são também obtidos conforme descrito anteriormente.
No caso de uso do irrigâmetro, antes de iniciar o manejo, o
aparelho deve ser preparado de acordo com o estádio de
desenvolvimento em que a cana-de-açúcar se encontra no campo.
Duas situações podem ocorrer: (1) início do manejo com o plantio da
cana-planta e (2) início do manejo com a cultura já implantada.
Na situação ( l ), o irrigâmetro deve ser preparado com a face l
da régua de manejo voltada para frente ê com a marca da haste
lrrigaçâo 201

deslizante na direção cio valor indicado para o estádio I da cultura, de


acordo com a recomendação do fabricante.
Na situação (2), deve-se certificar em qual estádio de
desenvolvimento a cana-de-açúcar se encontra. Se a cultura estiver no
estádio I, o irrigâmetro deve ser preparado com a face 1 da régua de
manejo voltada para frente e com a marca da haste deslizante na
direção do valor de 2,5 cm, indicado para o estádio I da cultura
(Figura 7.8). Se a cultura estiver no estádio II, o irrigâmetro deve ser
preparado com a face 2 da régua de manejo voltada para frente e com
a marca da haste deslizante na direção do valor de 3,5 cm, indicado
para o estádio II (Figura 7.9). Se estiver no estádio III, a face 3 da
régua de manejo deve ficar voltada para frente e com a marca da haste
deslizante na direção do valor 4,5 cm, indicado para o estádio III da
cultura (Figura 7.10). Caso seja necessário irrigar a cana-de-açúcar no
estádio IV, deve-se apenas posicionar a marca da haste deslizante na
direção do valor indicado para o estádio IV da cultura, mantendo-se a
face 3 da régua de manejo.

Figura 7.8 - Cultura no estádio de desenvo lvimento 1: a face l da


régua de manejo fica voltada para frente (A) e a marca
da haste deslizante fica na direção do valor 2,5 cm na
régua de nível (B).
202 Oliveira, Ramos e Aquino

Figura 7.9 - Cultura no estádio de desenvolvimento II: a face 2 da


régua de manejo fica voltada para frente (A) e a marca
da haste deslizante fica na direção do valor de 3 ,5 cm na
régua de nível (B).

Figura 7.1 O - Cultura no estádio de desenvolvin1ento III: a face 3 da


régua de manejo fica voltada para frente (A) e a marca
da haste deslizante fica na direção do valor de 4,5 cm
na régua de nível (B).
Irrigação 203

O manejo deve ser iniciado logo após a ocorrência de uma


irrigação. Nesse momento, o irrigâmetro já deve estar preparado.
Uma vez definido o turno de rega, a quantidade de água
necessária para a cultura é diretamente indicada no tubo de
alimentação do irrigâmetro. De acordo com as características de
aplicação de água do pivô central ou do sistema linear, o irrigâmetro
vem equipado com uma régua percentual, que vai definir diretamente
a velocidade de deslocamento do equipamento. Nos casos dos
sistemas montagem direta, canhão hidráulico portátil e gotejamento
subsuperficial, o irrigâmetro vem equipado com uma régua temporal,
cujo modelo corresponde à intensidade líquida de aplicação.
O Irrigâmetro também permite ao irrigante considerar facilmente
a água da chuva para suprir as necessidades das plantas, possibilitando
reduzir o consumo de água e energia. No caso de chuva, o operador do
irrigâmetro deve medir a lâmina precipitada e verificar, em seguida, se ela
foi suficiente ou não para suprir o déficit hídrico que havia no solo antes
da_chuva. Se o nível de água no tubo de alimentação do irrigâmetro se
situar na direção da faixa azul da régua de manejo, não haverá
necessidade de irrigar, adiando-se a irrigação para o próximo evento
estabelecido pelo turno de rega.

b) Manejo da irrigação com turno de rega variável


O manejo com turno de rega variável consiste em realizar a
irrigação quando a umidade do solo atingir o valor da umidade-limite,
ou quando a cultura tiver consumido a lâmina real de água, no caso da
estimativa de evapotranspiração.

b.l) Manejo da irrigação baseado na umidade do solo


A irrigação deve ser efetuada quando a umidade-limite do
solo for atingida. Ela é calculada aplicando-se a equação 7:
ÜL = Cc - f (Cc - Pm) (7)
em que:
UL = umidade-limite definida pelo fator f, % en1 peso;
Cc = capacidade de campo, % em peso;
f = fator de disponibilidade de água no solo, adimensional; e
Pm = ponto de murcha permanente, % em peso.
204 Oliveira, Ramos e Aquino

A lâmina total de irrigação é calculada aplicando-se a equação


3, substituindo-se a variável Ü a por UL, e a velocidade de
deslocamento deve ser obtida pela equação 4. Nos sistemas cujo
manejo é feito com base no tempo de irrigação, deve-se usar a
equação 5.

b.2) Manejo da irrigação baseado na estimativa da


evapotranspiração da cultura
No caso de turno de rega variável, cada evento de irrigação
deverá ocorrer quando a soma das lâminas de água evapotranspiradas
for equivalente ao valor da lâmina real de água, calculada por:
LR = (C e- pm) D f Z
10 s (8)
em que LR é a lâmina real de água, em mm.

No caso de uso de tanque Classe A ou de estação


meteorológica automática, a evapotranspiração da cultura é calculada
diariamente a partir da ETo. No caso de uso do tanque Classe A, deve
ser usado um pluviômetro para quantificar a chuva.
Os valores de ETe devem ser acumulados diariamente, até que
a soma seja aproximadainente igual ao valor da LR. A lâmina total de
irrigação é calculada aplicando-se a equação 6, e a velocidade de
deslocamento do pivô central ou do sistema linear deve ser calculada
com o uso da equação 4. No caso de carretel enrolador e
autopropelido, após calcular a lâmina total de irrigação, deve-se
consultar o catálogo do fabricante do equipamento para obter a
velocidade de deslocamento correspondente. Em se tratando dos
sistemas montagem direta, canhão hidráulico portátil e gotejan1ento
subsuperficial, o tempo de funcionamento do equipan1ento e1n cada
posição ou setor é calculado com a equação 5.
No caso de uso do irrigâmetro, o manejo deve ser iniciado
logo após a ocorrência de uma ítTigação. Neste momento, o
irrigâmetro já deve estar preparado.
O momento adequado para irrigar a cultw·a é indicado
facilmente na régua de manejo, bastando observar o nível da áoua
;:;;,
no
tubo de ali1nentação.
Irrigação 205

Quando o nível da água se encontrar na direção da faixa azul,


a indicação é não irrigar, pois existe alta disponibilidade de água no
solo. A irrigação nessa condição é desnecessária, visto que a cultura
não está submetida a déficit hídrico expressivo.
Se o nível da água se encontrar na direção da faixa verde, é
indicativo de boa disponibilidade de água no solo e também, neste
caso, não há necessidade de irrigar a cultura.
Quando o nível da água descer a ponto de atingir o início da
faixa amarela, será o momento de irrigar. O comprimento da faixa
amarela estabelece uma margem de segurança no indicativo do
momento de irrigar. Neste caso, a decisão de irrigar ou não cabe ao
irrigante. Havendo margem de segurança ou indício de possibilidade
de ocorrência de chuva, o irrigante pode aguardar o dia seguinte.
Caso o nível da água abaixe a ponto de atingir a faixa
vermelha, o irrigâmetro estará indicando baixa disponibilidade de
água no solo, mostrando ao produtor que o momento da irrigação já
passou. Assim, existem sérios riscos de redução significativa na
produtividade da cultura, que se acentuam quanto mais baixo estiver o
nível da água.
Tomada a decisão de irrigar, deve-se observar a quantidade de
água necessária para a cultura da cana-de-açúcar, que é diretamente
indicada no tubo de alimentação do irrigâmetro. De acordo com as
características de aplicação de água do pivô central ou do sistema
linear, o irrigâmetro irá indicar direta1nente, na régua percentual, a
velocidade de deslocamento do equipamento. Se o equipamento for
carretel enrolador ou autopropelido, o irrigâmetro também indicará
diretamente a sua velocidade de deslocamento. No caso dos sistemas
montagem direta, canhão hidráulico portátil e gotejamento
subsuperficial, o irrigâmetro irá indicar diretamente na régua te1nporal
o tempo de irrigação em cada posição ou setor.

Irrigação com déficit hídrico


Este caso abrange o manejo da irrigação da cana-de-açúcar
com déficit hídrico controlado. Esse tipo de manejo possibilita melhor
aproveitamento da ·.3ua de chuva e estimula o aprofundamento do
sistema radicular, aumentando o volume de solo explorado pelas
206 Oliveira, Ramos e Aquino

raízes das plantas. A lâmina de água aplicada em cada irrigação é


menor que a quantidade de água necessária à cultura, porém seu valor
deve ser suficiente para não afetar significativamente o
desenvolvimento e a produtividade da cana-de-açúcar.
O controle da quantidade de água a ser aplicada em cada
irrigação é feito adotando-se valores de coeficiente de cultura menores
que os recomendados na Tabela 7.1.
No caso de manejo da irrigação com irrigâmetro, o déficit
hídrico controlado é estabelecido simplesmente com alteração do nível
de água no interior do evaporatório, posicionando-se a marca da haste
deslizante num valor menor na régua de nível que aquele
recomendado pelo fabricante do aparelho para cada fase de
desenvolvimento da cultura (Figuras 7.8, 7.9 e 7.10). Assim, a
diminuição do nível de água no evaporatório reduz a área da
superfície evaporante, resultando em menor estimativa da
evapotranspiração da cana-de-açúcar.

Referências
ALLEN, R. G.; PEREIRA, L. S.; RAES, D.; SMITH, M. Crop evapotranspiration:
guidelines for predicting crop water requeriments. Rome: F AO, 1998. 308 p.
(Irrigation and Drainage Paper, 56).
BERNARDO, S. Manejo da irrigação na cana-de-açúcar. ITEM, v. 71/72, p. 56-
62, 2006.
DOORENBOS, J.; KASSAN, A. H. Yield response to water. Rome: FAO, 1979.
193 p. (Irrigation and Drainage Paper, 33).
DOORENBOS, J.; PRUITI, W.O. Guidelines for predicting crop water
requeriments. Rome: FAO, 1977. 179 p. (lrrigation and Drainage Paper, 24).
FRJZZONE, J. A.; MATIOLJ, C. S.; REZENDE R.; GONÇALVES, A. C. A.
Viabilidade econômica da ÍlTigação suplementar da cana-de-açúcar, Saccharum spp.,
para a região norte do Estado de São Paulo. Acta Scientiarum, v. 23, n. 5, p. 1131-
l 137, 2001.
OLIVEIRA, R. A.; RAMOS, M. M. Manual do irrigâmetro. Viçosa, MG: Edição do
autor, 2008. 144 p.
PEREIRA, L. S.; ALLEN, R. G. Novas aproximações aos coeficientes culturais.
Engenharia Aerícola . v 16 n 4 . r 1 18- 141 1997.
Irrigação 207

RES:._t 1DE, R. S. Intrusão radicular e efeito de vácuo em gotejamento enterrado


na irrigação da cana-de-açúcar. 2003 .124 f. Tese (Doutorado) - Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba.
SANTOS, M . A. L. Irrigação suplementar da cana-de-açúcar (Saccharum spp.):
um modelo de análise de decisão para o Estado de Alagoas. 2005. I 00 f. Tese
(Doutorado) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São
Paulo, Piracicaba.
8 COLHEITA

Tomaz Caetano Cannavam Ripoli1


Marco Lorenzzo Cunali Ripoli2

Introdução
Do ponto de vista de seleção e operacionalidade de um
sistema de colheita, seja qual for a cultura, a análise não deve se
limitar a apenas aspectos relacionados à máquina ou à mão de obra
envolvida. Um estudo mais profundo é necessário, levando-se em
conta quatro principais grupos de fatores condicionantes: sociais,
fisiológicos, tecnológicos e econômicos.
No caso da cultura da cana, a colheita da matéria-prima, que é
constituída de colmos industrializáveis, brotos "chupões", matéria
estranha mineral (terra e metais) e vegetal (palhas, folhas verdes,
ponteiros, restos de cultura e plantas daninhas), deve refletir todo o
trabalho desenvolvido no planejamento e na implantação da cultura,
desde o preparo periódico do solo até a operação de colheita e retirada
do produto do campo.
Esse universo de ações de planejmnento e execução deve
iniciar-se pela correta seleção varietal, de acordo com as condições
edafoclimáticas locais, terminando em condições adequadas da malha
viária, do subsistema de transporte, do subsistema de recepção d•

1
Engenheiro-Agrónomo, M.S., Ph,D. e Professor da Escolu Superior de Agricultura LuiL d~·
Quciroz-USP. E-mail: tcripoli@csalq.usp.br
1
Engenheiro-Agrônomo, M.S., Ph.D., Clicnt lnsight Leud - A&T Region 3 Enll!rpris~ Market
Rcscan:h. JOHN DL:E RE. E-mail: RipoliMarco@Johndccrc.com
Colheita 209

matéria-prima na indústria e do potencial e da adequada qualificação da


mão de obra disponível (trabalhadores braçais, operadores de máquinas,
mecânicos, técnicos de nível superior, gerentes de áreas etc.).
Do ponto de vista fisiológico da cultura da cana, a colheita
representa o final do ciclo de crescimento e maturação, atingindo o
máximo de produtividade agrícola de colmos permitida pelas
condições edafoclimáticas do local, pela tecnologia agronômica e
variedade utilizadas, além de encerrar qualquer técnica de produção. É
de importância fundamental o adequado planejamento e a seleção de
variedades quanto ao seu PUI (período útil de industrialização), a fim
de que se obtenha, ao longo do período de safra, canaviais com
padrões desejáveis de maturação, adequadamente distribuídos por toda
a área pertencente a uma agroindústria ou a um fornecedor.
Mesmo não tendo participação direta na produtividade
agrícola de colmos, os subsistemas de corte, além do subsistema de
transporte da matéria-prima, poderão comprometer a sua qualidade,
bem como a produtividade de colmos em cortes subsequentes, caso
não sejam executados dentro de preceitos técnicos adequadamente
definidos e implementados e que irão variar de acordo com inúmeras
condições agronômicas, ambientais, técnicas e de gerenciamento,
principalmente. Seja o caso da utilização da queima de pré-colheita:
executá-la muito antecipadamente ao corte programado, levando o
canavial a permanecer por mais de 24 a 36 horas após a queima sem
sofrer a ação de corte manual e carregamento ou colheita mecânicas,
leva a significativas perdas de sacarose, por inversão, devido ao
ataque mais consistente da bactéria Leuconostocus. Ou, então,
operações de carregamento da matéria-prima com excesso de arraste
de terra, bem como pisoteio e destruição de soqueiras por veículos de
transbordo e, ou, de transporte, são algumas sérias in1plicações
decorrentes de inadequação operacional e gerencial de sistemas de
colheita, com sérias e custosas implicações no processamento
industrial do material colhido.
Por outro lado, deve-se ter em mente que o período de safra
canavieira vem por refletir, ainda, uma notada e ensí el modificação
no panorama socioeconômico das regiões com predominância dessa
cultura, com o surgimento de mão de obra volante e em boa e
significativa quantidade, desqualificada e sazonal, o que pode
acarretar implicações nos setores de promoção e assi tência social <la··
210 Ripoli e Ripoli

agroindústrias e de municípios canavieiros. Neste início de século 21,


ainda, é frequente a vinda de milhares de trabalhadores braçais das
regiões do norte do Estado de Minas Gerais, em busca de trabalho nas
regiões canavieiras paulistas.
Além da utilização intensiva de mão de obra braçal para o
corte de cana, o período de safra implica uma verdadeira "operação de
guerra", com a mobilização sincronizada de frotas de tratores,
colhedoras, transbordos, carregadoras, unidades de transporte,
subsistemas de recepção nas unidades industriais, objetivando garantir
um fluxo constante, por 24 horas diárias, da matéria-prima para
adequado e programado abastecimento. Todo esse complexo de
equipan1entos e atitudes técnicos-gerenciais devem levar ao
fornecimento de matéria-prima, mantendo as suas características de
qualidade preservadas e, idealmente, melhoradas.
Por fim, o aspecto econômico, o qual, em função não apenas
da produção e produtividade agrícolas de colmos industrializáveis,
mas também do adequado sistema de colheita definido pela
agroindústria, fará com que o período de safra resulte ou não no
sucesso da atividade agrícola. Estando atendidas todas as condições
desejáveis de implantação e condução da cultura, o período de safra
requer um complexo planejamento e gerenciamento por meio de mão
de obra altamente qualificada e constituída de técnicos agrícolas,
engenheiros agrícolas, engenheiros-agrônomos e engenheiros
mecânicos, principalmente, os quais devem possuir embasamento e
fonnação técnico-acadêmicas adequadas.

Opções de Sistemas de Colheita


As operações de corte, carregamento, transporte e recepção da
matéria-prima apresentam inúmeras opções (Figura 8.1).
Ripoli (1974) apresenta uma classificação de máquinas para
corte e colheita de cana (Figura 8.1.) e as descreve como:
Mác1uinas cortadoras - são as que somente realizam o corte
basal, deixando o material cortado sobre o terreno (algun1as tainbém
promovem o corte apical). É o caso da Cameco, de fab1icaçào
americana, que opera duas linhas de cada vez. É uma maquina d"
Colheita 211

rodado de esteiras, montada sobre um chassi adaptado de Caterpillar


modelo D-5 . Há, ainda, o tipo push-rake, em utilização no Peru e
Havaí.
Máquinas cortadoras-enleiradoras - além de realizarem o
corte basal dos colmos, cortam, ainda, o ponteiro e, em seguida,
depositam os colmos sobre o terreno na forma de esteira, a fim de
facilitar o carregamento mecânico. É o caso, por exemplo, da Santa},'
modelo CTE, fora de fabricação.
Máquinas cortadoras-amontoadoras são semelhantes . às ·
anteriormente citadas, porém, •em vez de esteirarem os colmos,
depositam-no em montes, espaçados uns dos outros. Foram abri~adas f
pela Santal , E. Artioli e Dedimac.

Cortadoras Q Costal m~torlzado


Manual Colhedoras
Q Tratorizada

Q ACQpladas
Cortadoras-
enlelradoras Montadas
Q Autó-propelidas . ..

Manual
Q Acopladas
/Transporte/ Cortadoras- .-"\. Montadas
Amontoadoras L-.1'
Carreta
Caminhão Q Auto-propelidas

Transbordo
Q Dé colmo Inteiro
Colhedoras
Báscula lateral
Q De colmo picâdo
ou traseira

Manual

Figura 8.1 - Opções de sistemas de colheita de colmos de cana-de-


açúcar, no Brasil (atualizado de RIPOLI; PARANHOS,
1987), e classificação de máquinas para corte e colheita
de cana-de-açúcar (atualizado de RIPOLI, l 974).

Máquinas colhedoras de cana picada - também chamadas


de combinadas, realizam o corte basal e promovem a eliminação
parcial da matéria-estranha vegetal e mineral, por gravidade,
2 12 Ripoli e Ripo/i

decorrente da ação de ventiladores e, ou, exaustores. Fracionam os


colmos em reboios de 15 a 40 cm de comprimento ( em média),
descmTegando-os sobre uma unidade de transporte ou transbordo. São
fabricadas , no Brasil, por Santa), Case-Cnh, John Deere, Star,
Civemasa e Cima. Esta última colhedora é acoplada a trator.
Os subsistemas de colheita, em utilização no Brasil e no
mundo, podem ser resumidos em três grandes grupos:
Sistema manual - onde o subsistema de corte e o subsistema
de carregamento se processam manualmente, podendo haver um
subsistema de transporte intermediário, por tração animal ou
transbordo com dispositivos específicos. Apesar de, aparentemente,
ser um sistema arcaico, ainda é amplamente usado em regiões
declivosas do Nordeste brasileiro, principalmente em Alagoas e
Pernambuco, onde canaviais são cultivados em relevos que chegam a
ultrapassar 100% de declividade.
Sistema semimecanizado - envolve o subsistema de corte
manual e o subsistema de carregamento, nas unidades de transporte,
por carregadoras mecânicas. É o mais amplamente adotado em todas
as regiões canavieiras do Brasil, onde o relevo não ultrapassa 20 a
25% de declividade.
Sistema mecanizado - é aquele que utiliza um subsistema
mecanizado com cortadoras de diversos tipos, conforme classificação
da Figura 8.1, ou com colhedoras de cana inteira com subsistema de
carregamento mecânico, ou, então, utiliza-se de subsistema por
colhedoras ( que cortam, picam, limpam parcialmente a matéria-prima
e carregam-na em unidades de transporte). Admite-se a utilização
deste sistema em relevos de até 15 a 17% de declividade (dependendo
da qualidade da sistematização do talhão e do centro de gravidade das
máquinas). Acima disso, por questões de estabilidade dinâmica dos
equipamentos, fica comprometido o trabalho, com riscos de
tombamento.
Colhedoras de cana inteira - efetuam os cortes basal e dos
ponteiros dos colmos e efetuam, parcialmente, a eliminação de
matéria-estranha vegetal, armazenam os colmos em um depósito
basculante e, deslocando-se para fora do talhão, depositam o material
colhido no catTeador, para posterior carregamento. São fabricadas, no
Brasil. pela Motocana.
Colheita 213

As p1imeiras máquinas que surgiram para o corte dt> cana foram


chamadas de cortadoras, depois vieram as cortadoras-enJeiradoras, as
cortadoras-amontoadoras e, finalmente, as colhedoras. À medida que
essas máquinas foram desenvolvidas, suas capacidades operacionais de
trabalho aumentaram, e hoje, dependendo das condições gerais de
trabalho, elas podem cortar, picar, limpar e carregar cerca de 30 a 70 t/h
operacional de trabalho de cana crua e, ou, queimada.
Ripoli (1974) efetuou outra classificação das principais
máquinas envolvidas no processo de corte da cana. Essa classificação
baseia-se nas suas características de projeto, em relação aos aspectos
que mais diretamente atuam ou refletem no processo de corte e de
manipulação da matéria-prima pela máquina:
Quanto à fonte de potência: com transmissão mecânica ou
hidrostática.
Quanto ao rodado: pneus (triciclo, quatro apoios ou seis
apoios, em tandem); semiesteira ou esteira.
Quanto ao número de fileiras cortadas por vez: um, dois, ou três.
Quanto ao sistema de levante de canas acamadas: varão,
correntes, cones fixos, ou cones rotativos com espiral.
Quanto ao número de discos de corte basal: um; dois; ou dois
(com suporte para quatro lâminas).
Quanto ao sistema de condução de cana dentro da máquina:
roletes dentados e rotativos; por esteiras rolantes; por esteiras fixas e
correntes com chapas transportadoras; por rotor.
Quanto ao sistema de picamento dos reboios: dois cilindros
horizontais com lâminas, na entrada da máquina ou em ponto
intermediário a ela; discos verticais com facão, em ponto
intermediário à máquina; ou cilindro na horizontal, com lâmina em
ponto intermediário à máquina.
Quanto ao tipo de matéria-prima fornecida: colmos inteiros;
ou reboios (colmos picados).
Seja qual for o sistema de colheita adotado, sempre ocorrerão
as chamadas perdas visíveis, ou seja, colmos e, ou, sua· fraçôes
(inclusive tocos de soqueira) que permanecerão sobre a área após as
operações envolvidas na retirada da matéria-prima do talhão, além dos
constituintes do palhiço.
214 Ripo/i e Ripoli

Ripoli e Ri poli (2001) apresentam resultados de cinco anos de


estudos sobre o efeito da queima de pré-colheita na exsudação dos
colmos. Os resultados médios obtidos em inúmeras variedades e
épocas de análise mostraram perdas de caldo, por exsudação,
equivalentes a 5 a 130 litros de etanol/ha. Essa extrema variação foi
decorrente das diversas condições de campo, antes, durante e depois
da prática da queima (variedade, idade, número do corte, porte do
canavial, umidade relativa do ar, velocidade do vento, qualidade da
queima, tempo decorrido entre a queima e a colheita, entre outros).
Grosso modo, estimando-se em 4,5x 106 ha colhidos em cana
queimada; por safra, no Brasil, e tomando-se o valor médio das perdas
pqr exsudação, determinados por Ripoli e Ri poli (2001 ), em
equivalentes litros de etanol (67,5 L/ha), em média, chega-se a um
montante anual da ordem de 303,75x106 litros, teoricamente, não
produzidos. Não é valor a ser desconsiderado em qualquer plano que
vise minimizar custos e desperdícios no setor sucroalcooleiro.
·, Após a queima, a cana deve ser cortada, transportada e
processada o mais rapidamente possível, estabelecendo-se como
prazos satisfatórios entre 24 e 36 horas. Nesse espaço de tempo, as
perdas não serão muito significativas. A cana queimada e cortada
exposta ao tempo sofrerá desidratação, com perda de peso; haverá
intensificação de respiração do colmo com perda de açúcares e, após o
prazo anteriormente citado, com grande frequência, a deterioração
assumirá proporções elevadas e rápidas, comprometendo totalmente a
qualidade da matéria-prima. Se chuvas ocorrerem após a queima e
antes do corte, ou mesmo após o corte e antes do transporte para a
indústria, as perdas serão consideravelmente agravadas.
Consumada a queima, seguem-se as operações de corte, que,
tanto manuais ou mecânicas, estão administrativamente organizadas
em "frentes de corte" (1, 2, 3, 4 ou mais), com um contingente de
cortadores ou <le máquinas dimensionados para suprir wna quantidade
de matéria-prima preestabelecida para moagem e manutenção de
e~toques, para a indústria. Essas frentes também contam com frotas
específicas para o carregamento (caITegadoras) e para o transporte
além do pessoal de fiscalização, controle, manutenção, abastecimento
e assistência mecânica.
Colheita 215

Subsistema de corte
A escolha do tipo de corte dos colmos de cana (manual ou
mecânico) dependerá de fatores diversos, como: disponibilidade de
mão de obra, aspectos socioeconômicos, condições de campo onde
está implantado o canavial, do subsistema de carregamento a ser
utilizado etc.
No Brasil, os trabalhadores envolvidos no corte manual são
uma classe que possui inúmeras carências, seja na área nutricional, de
saúde, de instrução e até de qualificação para este trabalho. Por isso é
que, quando se compara a capacidade diária desses operários
nacionais com de outros países, como África do Sul e Porto Rico,
observa-se que lá eles conseguem cortar, em média, de 12 a 14 t/dia
de trabalho, sendo operários qualificados, nutridos e saudáveis, além
de possuírem ferramentas ergonomicamente adequadas para suas
compleições fisicas. Regra geral, apenas homens participam desse
trabalho.
No Brasil, na massa de trabalhadores, são encontrados
homens, 1nulheres, crianças e idosos, salvo exceções, apenas com
autodidatismo, boa parte deles subnutridos, analfabetos ou
semianalfabetos e sem fe1Tamentas adequadas aos seus biotipos.
Perante esse quadro, o dispêndio de energia de cada operário está
acima da capacidade de cada um, refletindo em baixa produtividade
diária, de 7 a 1O t/dia, e numa perda gradativa de suas resistências
orgânicas. Em agroindústrias nacionais que já implantaram programas
de alimentação e treinamento, entre outros, para esses trabalhadores, a
produtividade já chega a 12 t/dia, quando as condições de campo
apresentam colmos de maior massa, 1nais eretos, e a qualidade da
queima é boa. Exemplo de programa de treinamento ben1-sucedido é o
implantado pelo G1upo COSAN.

Corte manual
O corte manual caracteriza-se por uma série de eventos que o
trabalhador braçal, de posse de uma ferramenta (denonunada ··folha"
ou "podão" etc., dependendo da região) utiliza para cortar e eliminar o
material vegetal sem interesse para produção de álcool ou açúcar.
216 Ripr i· e Ripo/i
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ----'-

Todavia, com o advento do palh iço, para fins de cogeração, elimina-se


apenas o ponteiro.
Esses eventos dependerão de uma condição inicial e de uma
condição fi nal desejadas em relação aos colmos. A condição inicial
pen11ite duas possibilidades:
- colmos, com folhas e palhas e ponteiros in natura (cana
crua) ou
- colmos que sofreram a ação do fogo, com eliminação quase
que total de palhas e parcial de folhas verdes e manutenção
de ponteiros.
Por sua vez, a condição final desejada também permite duas
possibilidades:
- colmos cortados e enfeixados sobre o terreno ou
- colmos cortados e não enfeixados sobre o terreno,
depositados e1n montes ou esteirados, formando os eitos de
canas cortadas.
Todavia, a tendência na região centro-sul do Brasil é a
redução drástica do corte manual, por razões socioeconômicas,
ambientais e de exigências do mercado internacional (que imporá
limites para produtos originários de práticas que agridam o ambiente).
Buscam-se soluções mecânicas para substituir a mão de obra que hoje,
principalmente, atende a pequenos e médios produtores cujas terras se
encontram em áreas de relevos mais acentuados.
Em termos de equipamento para aumentar o desempenho
operacional de trabalhadores braçais, a empresa Agria ESM Cane
Thumper está oferecendo uma cortadora simples e de fácil manuseio,
desenvolvida a partir de um cortador de grama e feno utilizado na
Alemanha. A usina Serra Grande (Pernambuco) iniciou sua utilização.
Pesando pouco mais de 200 kg, a máquina trabalha com um motor de
7 cv, com câmbio de quatro marchas. A velocidade de trabalho pode
ser variada: de 1,0, 1,5 e 2 km/h. A quarta marcha destina-se ao
deslocamento, quando a máquina não está cortando, podendo chegar a
7 km/h. O motor é Lombardin, produzido na Itália, e com o sistema d~
corte adapt?do na Alemanha pela empresa ESM. Seu consumo de
di esel é dJ r rdem de 0,6 litro/h. Em média, o reservatório de
combustível para cin1,;o !itras permite autonomia de oito horns de
Colheita 217

operação. O custo estimado da máquina é de US$ 27.00,00. Na


velocidade intermediária de 1,5 km e em espaçamento de 1 m entre
fileiras, ela chega a atingir 1 ha cortado a cada oito horas de trabalho.
Cinco pessoas vão à frente, abraçando a touceira de cana, e dois fazem
o desponte da cana esteirada, permitindo que ela seja cortada rente à
soque1ra.

Corte mecanizado
O processo de mecanização da colheita de cana não é,
simplesmente, uma substituição do trabalho manual pelas máquinas.
Atinge as dimensões de um sistema cujos limites são bastante amplos
para incluir toda a problemática de transferência da matéria-prima do
campo para a unidade industrial. Nesse sistema, podem-se visualizar,
segundo Mialhe e Ripoli (1975), três subsistemas, a saber:
- subsistema de corte e carregamento,
- subsistema de transporte e
- subsistema de recepção.
Considera-se que os subsistemas, embora contenham uma
parte específica da problemática global, apresentam interfaces que
incluem aspectos de interesse comum. Forma-se, assim, uma cadeia de
vinculação entre o campo e a fábrica (Figura 8.2), por meio da qual se
estabelece o fluxo de matéria-prima que alimenta a indústria. Portanto,
o objetivo fundamental dos estudos e pesquisas que se realizam sobre
o sistema de colheita mecanizada de cana é, em última análise, a
otimização desse fluxo para as condições particulares de cada empresa
produtora de açúcar e, ou, álcool, visando:
- qualificação da matéria-prima, em termos de manutenção
do teor de açúcar nos níveis originais de campo e de
redução do grau de deterioração, durante o fluxo;
- limpeza da matéria-prima, em termos de redução de matéria
estranha; e
- custo da transferência de matéria-prima do campo para
indústria, em termos de redução no custo da unidade de
intensidade de fluxo.
218 Ripoli e Ripo/i

Cortadoras versus colhedoras


A adoção de colhedoras combinadas, vulgarmente conhecidas
por máquinas de "colmo picado", ou das demais, denominadas
máquinas de "colmo inteiro", irá depender de inúmeras variáveis
específicas da agroindústria. Muitos são partidários das primeiras,
alegando que elas são mais eficientes no trabalho, fornecendo matéria-
prima de melhor qualidade; outros alegam que, com a adoção das
combinadas, há necessidade de investimentos elevados, com drásticas
mudanças no sistema de transporte e na recepção da usina, além de
levar a uma redução da produtividade agrícola em cortes
subsequentes. A fim de evidenciar esses aspectos, Paranhos (1974) e
Ripoli (1974) citam as principais vantagens e desvantagens dos dois
tipos básicos de máquinas para o corte de cana.

Interfaces
1: Queima, desfolhante, técnica cultural etc.
2: Transbordo, limpeza etc.
3: Descarregamento, limpeza etc.
4: Amostragem, lavagem etc.

Figura 8.2 - Fluxograma de sistemas de colheita de cana-de-açúcar,


com os subsistemas e interfaces. Sem sincronismo
adequado entre os subsistemas, os custos tomam-se
quase proibitivos.
Fonte: MIALHE; RIPOU, I 975.

Cortadoras (Colmos Inteiros)


Vantagens:
• Podem ser facilmente introduzidas com qualquer sistema
de transporte.
Colheita 219

• Corte e carregamento são operações independentes.


• Colmos inteiros não se deterioram tão rapidamente quanto
os colmos picados (portanto, sem estocagem) e podem ser
estocados por períodos mais longos.
• Não são necessários recipientes especiais para a estocagem
dos colmos inteiros, a não ser correntes e cabos de aço, já
existentes na usina.

Desvantagens:
• Há necessidade de carregadoras, uma vez que essas
cortadoras depositam o material cortado no terreno (em
eitos amontoados ou esteirados).
• Qualquer interrupção nos subsistemas de transporte, de
carregamento ou de recepção na usina pode resultar em
cana cortada, ficando no campo por períodos mais longos,
com seus inconvenientes.
• Colmos inteiros apresentam cargas de menor densidade no
veículo de transporte, o qual, carregado, ficará com centro
de gravidade mais alto e, portanto, mais instável.
• O uso de correntes e cabos é custoso e consome tempo.
• O sistema de transporte não é eficientemente utilizado
devido à larga variação encontrada na densidade das
cargas.
• As perdas (canas que caem durante o trajeto campo-usina)
são significativas.
• Devido às características de projeto, as cortadoras possuem
centros de gravidade altos, tomando-se impróprias para
operar em relevos com declividades acima de 15-18%.
• A qualidade da matéria-prima que chega à usina é
prejudicada pela necessidade do uso de carregadoras, que
arrastam, com a cana, matéria estranha mineral e vegetal.
• Máquinas cortadoras, de constituição mais simples, ou
seja, que apenas cortam, sem efetuar a mnontoa, deixam os
colmos cortados ao longo das fileiras de plantio e
longitudinalmente a elas, o que dificulta sobremaneira a
220 Ripoli e Ripoli

operação de carregamento (e do desponte, se houver). Essa


condição, possivelmente, foi e é a principal causa da não
aceitação dessas máquinas por produtores de cana, apesar
de elas terem relativo baixo valor de aquisição.
• Grande dificuldade em colher cana deitada.

Colhedoras (cana picada)


Vantagens:
• São máquinas autopropelidas, montadas ou acopladas a
tratores que eliminam o uso de carregadoras, depositando a
cana picada diretamente no sistema de transporte.
• Cortam todo o tipo de cana (ereta ou extremamente
acamada), promovendo limpeza parcial do terreno.
• Obtém-se maior massa específica das cargas no transporte
(em média, a 500 kg/m), pennitindo controle mais
realístico do transporte.
• Dificilmente caem colmos nas estradas durante o trajeto
campo-usma.
• Incontáveis ganhos são obtidos por moer cana fresca, sem
estocagem.
• Seu uso resulta em sistema de transporte mais eficiente e
bem programado, uma vez que a cana picada deve ser
entregue antes que a deterioração possa ocorrer.
• Interrupções da usina ou do sistema de transporte não
resultam em cana cortada e deixada no campo, sujeita à
deterioração.
• Operam em cana crua.

Desvantagens:
• As operações de corte e transporte estão estreitamente
ligadas.
Colheita 221

• Implica mudança onerosa no sistema de transporte, pois,


sendo cana picada, necessita de transporte especial
(carrocerias fechadas).
• Receptáculos especiais seriam necessários para uma
possível estocagem na usina, o que não é recomendado.
• Uma equipe mais eficiente e aperfeiçoada sincronização do
transporte seriam necessárias para garantir utilização
racional das colhedoras.
• Se o órgão picador não é eficiente, ou está inadequado, o
incorreto cisalhamento dos colmos resulta em reboios
imperfeitos.
• Em canas deitadas, ponteiros são frequentemente incluídos
na matéria-prima enviada à usina.
• Dependendo da distância da cana plantada à usina, haverá
necessidade de veículos de transbordo.

É evidente que, nessa comparação didática, dependendo das


condições técnicas e econômicas de cada usina, o que pode ser
vantagem para uma será desvantagem para outra. Por isso, enfatiza-se
que o estudo deve ser feito individualmente, envolvendo todos os
aspectos aqui apresentados, para se poder chegar a uma conclusão
mais objetiva e racional.

Fatores envolvidos na seleção e na


capacidade operacional das colhedoras
Partindo-se do que Ripo li ( 1974) já discorria sobre os fatores
que deveriam e que, ainda, devem ser levados em conta e que
interferem na capacidade operacional e na utilização das máquinas
cortadoras e colhedoras, apresentam-se a seguir, com novas
considerações, "fatores da máquina", que dizem respeito às suas
características de projeto; "fatores de campo", que dizem respeito às
condições de campo em que a máquina irá operar; e "fatores d\; ordem
administrativa'', que dizem respeito aos aspectos gerenciais e de
planejamento. É lamentável que, ainda nos dias atuais, muitas usinas e
destilarias adquirem colhedoras e não adaptam suas estruturas
222 Ripoli e Ripoli

operacional, gerencial e de campo, para o novo sistema. Daí, os custos


por tonelada colhida tornam-se elevados em comparação com os do
corte manual.

Fatores da máquina
Centro de gravidade (C. G.): interfere na utilização e
capacidade operacional dessas máquinas, como em qualquer outra
fonte de potência. Quanto mais elevado o centro de gravidade, menor
será a utilização da máquina em função do relevo do terreno. Quanto à
capacidade operacional, ocorrerá decréscimo, pois há a tendência de
se diminuir a velocidade de deslocamento à medida que o C.G. é mais
elevado, pois as condições de instabilidade ficam mais críticas,
dificultando a operação. O único trabalho publicado, no Brasil, sobre a
determinação de centro de gravidade de colhedoras de cana e
condições de equilíbrio estático foi o de Ripo li et al. ( 1974). A
máquina foi uma Massey Fergusson, modelo 201, de rodado de pneus,
de origem australiana. É apresentada a curva de influência da
declividade na segurança da operação. Observa-se que a segurança
decresce rapidamente a partir de determinada declividade. Essa
declividade não se refere ao talhão como um todo, mas limitadamente
à distância equivalente aos extremos da bitola maior da máquina. A
ordenada fornece os desníveis, em cm, e em porcentagem de
declividade correspondente, enquanto a abscissa fornece a margem de
segurança em operação (em%).
Com base nesse estudo, fica reforçada a necessidade de
adequada sistematização dos talhões no que diz respeito à eliminação
de depressões ou elevações no micro relevo do terreno. Do contrário,
corre-se o risco de (mesmo numa área de declividade da ordem de
12%), num dado momento, os rodados de um lado (esquerdo, por
exemplo) passarem por uma depressão e os rodados direitos
encontraren1-se sobre uma elevação e, assim, ocorrer desequilíbrio
dinâmico da máquina, levando-a ao tombamento, mesmo nessa
declividade, considerada segura.
A declividade, por si só, não é suficiente para assegurar a
possibilidade de colheita mecanizada de cana, pois existem algumas
situações críticas para os órgãos ativos dessas máquinas, como é o
Colheita 223

caso de rochas aflorantes, de tocos em áreas onde se procedeu ao


recente corte de árvores (reversão de áreas antes reflorestadas ou
matas naturais), de áreas com baixa resistência ao recalque
(alagadiços, turfa etc.) e áreas com lençol freático superficial
(baixadas sem drenos, várzeas etc.). Outro aspecto a ser considerado é
a capacidade de gerenciamento otimizado do sistema de colheita, fator
que determina as condições de retorno do capital investido no sistema
de colheita mecânica em cana-crua.
O grau máximo de declividade que permite o uso de máquinas
para colheita (ou por qualquer outra operação mecanizada), como
define Mialhe (1966), é limitado única e exclusivamente pelas
denominadas "condições de estabilidade operacional do espécime",
determinadas pelas reações de forças em equilíbrio que atuam no
espécime (máquinas, implemento etc.) considerado. Contrariamente
ao que tem sido relatado em artigos técnicos de autores que não são
especialistas em mecanização agrícola, o fulcro da questão da
declividade-limite para utilização de máquinas (Mecanização
Agrícola) não reside apenas na declividade do terreno, mas nas
características pondero-dimensionais do equipamento, como bem
evidenciam Mialhe ( 1966) e vários outros autores, como Chudacov
(1977) e Gill e Vander Berg (1967). Se, do ponto de vista da
conservação do solo, do manejo da fertilidade etc., o uso de máquinas
além de certos limites é prejudicial ou não é outra questão.
Certamente, o legislador, ao estabelecer 12% como limite de
declividade para áreas de colheita mecanizável de cana, não levou em
conta apenas o fator máquina colhedora, pois estas podem operar em
relevos mais acidentados, quando se considera sua condição de
equilíbrio dinâmico (distribuição de massa, posição do centro de
gravidade etc.)
Capacidade dos órgãos ativos de corte e de condução:
dependendo das características dos sistemas de condução interna da
cana (dimensões, rotação ou velocidade), certas máquinas poderão ou
não cortar variedades de maior produtividade agrícola. Quanto ao
sistema de fracionamento dos colmos em reboios, deve haver razoável
uniformização em seus tamanhos. O c01ie deve ser cisalhante,
evitando o dilaceramento do colmo, o qual acarretaria prejuízos à
matéria-prima, levando às já comentadas perdas invisíveis. Os
elementos de condução dos reboios também não devem causar danos
224 Ripoli e Ripoli

sensíveis a eles. Manutenção inadequada das lâminas de corte basal e


de fracionamento dos colmos, associada com características varietais,
pode aumentar, significativamente, a porcentagem de reboios
rachados, estraçalhados, mal-cisalhados, o que irá concorrer para o
aumento das perdas invisíveis.
Velocidade de deslocamento: este aspecto é influenciado
diretamente pelas condições da cultura e do terreno. Contudo, uma
máquina em velocidade nominal elevada, obviamente, tem a sua
capacidade de corte teórica, por unidade de tempo, maior. Geralmente
estas máquinas, segundo especificações dos fabricantes, podem
trabalhar com velocidade de até 9 km/h. Entretanto, atualmente, no
Estado de São Paulo, as colhedoras e cortadoras não têm ultrapassado,
em trabalho, 4 a 6 km/h, possivelmente devido à falta de
sistematização dos talhões voltada para a colheita mecânica. Maiores
velocidades em talhões não adequadamente sistematizados,
principalmente no que se refere à condição da soqueira,
inevitavelmente, levam a maiores perdas de matéria-prima. A
velocidade adequada deve ser ajustada em função das características
do talhão no que diz respeito à sistematização, ao porte do canavial e à
produtividade agrícola estimada.
Características dos mecanismos de levantamento das canas
acamadas, de picamento e ventilação (limpeza): determinadas
máquinas não possuem meios para o levantamento de canas acamadas.
Com isso, toma-se limitado o seu uso (só trabalharão com certa
eficiência em canas eretas). As colhedoras nacionais possuem esses
mecanismos, que operam satisfatoriamente. Quanto ao fracionamento
dos colmos em reboios, estes devem apresentar certa padronização de
tamanho, a fim de que, quando passarem pelos órgãos de limpeza ( que
se processa também por meio de ventiladores e, ou, exaustores de alta
potência), a separação entre eles e a matéria estranha (por diferença de
massa específica) não ocorra inadequadamente.
Sem essa padronização, pode ocorrer que reboios sejam
eliminados e ponteiros de colmos sejam colocados junto à matéria-
prima no transporte. Da mesma forma, se os ventiladores ou
exaustores não forem devidamente direcionados e regulados em suas
rotações, ocorrerá agravamento dessa situação, além das interferências
da própria variedade da cana co11ada. As colhedoras de última geração
permitem variação da rotação de exaustores e ventiladores, visando à
Colheita 225

diminuição de perdas (visíveis e invisíveis) e, ou, diminuição da


matéria estranha junto com a matéria-prima colhida.
A presença significativa de reboios rachados e mal-cisalhados
pode ser devida aos mecanismos de corte das colhedoras desregulados
ou com inadequada manutenção ou, ainda, a rotações excessivas dos
ventiladores e, ou, exaustores. A friabilidade dos colmos
(característica varietal) também influencia esta variável.
Mello (2002) apresenta resultados da Usina São Martinho
(SP), que é a agroindústria com maior porcentagem de colheita de
cana picada e crua no País. Esse tipo de sistema de colheita, na
safra 2001-2002, atingiu 3.893.521 t, sendo 94% dessa tonelagem
colhida em canaviais sem queima prévia. As perdas visíveis foram
de 2,52 t/ha, a porcentagem de terra na matéria-prima foi de 3,65
kg/t de cana colhida e a matéria estranha vegetal atingiu 4,30%. A
média diária de colheita, por máquina, durante os 167 dias corridos
de safra foi de 603 t.
Pearce e Gonzales (2003) apresentam alguns resultados
obtidos pela Usina São Martinho e pelo CTC-COPERSUCAR a
respeito da influência da rotação de exaustores nas perdas de
colheita, na qualidade da matéria-prima, na massa específica da
carga e em outras variáveis, utilizando colhedoras CASE-CNH,
modelo A 7700, versão 2003. Nesse estudo, obteve-se uma massa
específica média de carga da ordem de 400 kg/m, com reboios de
tamanho médio de 170 mm.
Potência: as colhedoras atuais possuem motores de potência
bruta da ordem de 280 a 330 cv. Essa elevada potência se deve às
exigências que ocorrem em função da produtividade agrícola do
canavial, de seu porte (ereto, deitado ou acamado) e dos mecanismos
de corte e limpeza constituídos de vários motores, bombas e cilindros
hidráulicos que fazem parte do seu conjunto orgânico, bem como para
acionar os dispositivos de transporte da matéria-prima, desde o c01ie
basal (início da operação) até a colocação da cana na unidade de
transporte (final da operação).
No futuro, que se espera não muito distante, a colheita integral
(a máquina não fará separação parcial da matéria esh·anha e, portanto,
tudo que ela processa em se us mecanismos de corte e condução irá
226 Ripoli e Ripoli

para o transbordo) será uma operação corriqueira (para a agroindústria


que venha a desejar agregar valor, por meio do aproveitamento do
palhiço) e as colhedoras apresentarão motores de menores potências,
pois estas não mais possuirão sistemas de limpeza, que chegam a
consmnir por volta de 30% da potência bruta disponível.
Rodado: existem colhedoras de rodado de pneus (simples ou
em tandem), de esteiras e de semiesteiras. No Brasil, existem apenas
os dois primeiros tipos, com predominância de esteiras. Máquinas
com rodados de esteira poderão operar em condições mais severas de
relevo e em solos com maior umidade. Dependendo do tipo de solo e
do rodado da máquina e do espaçamento entre fileiras, haverá maior
ou menor compactação do terreno e maior ou menor destruição e, ou,
esmagamento de soqueiras, o que refletirá, negativamente, na
produtividade da área, na safra seguinte.
A partir de 2000, várias usinas passaram a desenvolver
programas integrados, visando obter matéria-prima de melhor
qualidade - regra geral, são denominados "programas cana limpa". Os
grupos COSAN e João Lira, entre outros, estão fortemente
empenhados nesse processo. As metas básicas a serem buscadas
focam os seguintes aspectos: treinamento de equipes (frentes de corte)
de corte manual e, ou, de colheita mecanizada ( envolvendo operador,
pessoal de reparos e manutenção); redução do tempo entre a queima e
o corte ou colheita; otimização do subsistema de transporte (melhoria
do sincronismo entre colheita, deslocamento e recepção); nova
formatação de talhões em função da necessidade de queima e de
colheita diária (que é função da capacidade de moagem); melhor
eficiência nos critérios para controle de perdas visíveis no campo
(com diminuição da ação de bituqueiros: operários que, após a ação de
carregadoras ou de colhedoras, recolhem colmos e, ou, suas frações
que permaneceram sobre o ten-eno, colocando-os sobre algum tipo de
transporte ou amontoando-os, para posterior carregamento);
acompanhamento constante do estado das facas dos discos de corte
basal e de picamento de colhedoras; evitar sobras de áreas de cana em
pé, queimada, para ser colhida em dia subsequente; efetuar pré-análise
das áreas a serem liberadas para corte, liberando-as no ápice da ctrrva
de pol (ART/ha), entre outros fatores (Tabela 8.1).
Colheita 227

Tabela 8.1 - Critério referencial para situar as porcentagens de matéria


estranha na matéria-prima

Terras Corte Manual (%) Colheita Mecânica (%)


Ótimo Até 0,66 Até 0,60
Bom 0,67 a 1,32 0,61 a 1,67
Regular 1,33 a 1,94 1,68 a 2,74
Ruim > 1,94 > 2,74
Médias 1,32 1,67
MEV
Ótimo Até 2,34 Até 4,29
Bom 2,35a3,15 4,30 a 6,47
Regular 3,16a3,97 6,48 a 8,66
Ruim > 3,97 > 8,66
Médias 3,15 6,47
MEV = matéria estranha vegetal.
Fonte: IDEANEWS, 2003.

Fatores de campo
Variedade: as características morfofisiológicas das variedades
interferem bastante no corte mecânico de cana. Em princípio, tanto as
colhedoras como as cortadoras operam melhor em canas eretas,
vigorosas e de sistema radicular profundo. As canas eretas facilitam o
corte, da base e do topo, havendo, com isso, ganho na capacidade
efetiva das máquinas (poderão trabalhar sem maiores intem1pções),
menor perda em canas não cortadas e melhor limpeza. Já as camas
vigorosas e com sistema radicular profundo resistem ao corte
mecânico basal feito por uma ou mais lâminas em rotação. É prt:ciso
resistência de ancoramento dos colmos para ocorrer o ci alhamento
adequado. Caso a cana possua sistema radicular superficial e não s "ja
vigorosa, pode ocorrer corte imperfeito ou corte dilace ra nte,
praticamente destruindo aquele internódio. Como con -equ~ncia, tem-
se o aumento da área de infecção e maior deterioração, como també m
228 Ripoli e Ripoli

maior probabilidade de infecção ou destruição da soque1ra, com


redução do brotamento subsequente.
Variedades já abandonadas pelos produtores, como a Co419 e
IAC52-326, eram mais friáveis ( com menor teor de fibras), o que
pemutia um perfeito corte basal, mas, no momento em que os colmos
atravessavam internamente a máquina (primeiro estádio de limpeza),
elas se quebravam em pedaços e se perdiam por baixo da colhedora
(máquinas que no primeiro estádio contêm roletes e não esteiras
transportadoras).
As variedades, como as desenvolvidas na Austrália, com
pouco ponteiro são mais desejáveis quando se usa o corte mecânico.
Elas ocorrem também em Porto Rico e no Havaí, sendo de
características tropicais. Em contrapartida, as variedades brasileiras,
de maneira geral, possuem ponteiros mais longos, o que implica
dificuldade de os exaustores e ventiladores (órgãos de limpeza)
fazerem a separação por diferença de densidade, visto que palmitos
maiores podem equivaler, em peso, aos reboios. Aumentando-se a
rotação de trabalho do exaustor, rebolas também serão eliminados;
caso contrário, se diminuída essa rotação, ponteiros serão incluídos na
matéria-prima.
A sanidade da cultura também pode interferir na qualidade do
corte mecânico. Por exemplo, colmos atacados intensamente pela
"broca-da-cana" (Diatrea saccharalis) apresentam galerias em seus
internódios, o que facilita sua quebra na primeira fase de limpeza (em
determinadas máquinas). Com isso, matéria-prima é perdida por
debaixo delas.
Canas de boa combustibilidade apresentam menores teores de
matéria estranha vegetal depois de queimadas e, portanto, oferecem
maior facilidade de limpeza pela máquina. Uma queima bem feita
pode eliminar até 90% de matéria vegetal. Além disso, existe a
preocupação, também, quanto à qualidade da matéria-prima que chega
à usina, e, quando se pensa em corte ou colheita mecânicos, deve-se
atentar para esse aspecto.
Apesar de existir legislação a respeito das queimadas em
canaviais paulistas, à semelhança do que ocorre em alguns outro
países, na maioria dos Estados brasileiros produtores de cana, essa
prática é adotada amplamente. A razão disso é o aumento significativo
Colh eita 229

do desempenho dos cortes manual ou mecamco; a diminuição de


matéria estranha vegetal na matéria-prima a ser enviada à unidade
industrial; e a eliminação de animais peçonhentos ou insetos que
possam atacar os trabalhadores. Nesse caso, variedades que tenham
folha de boa combustibilidade facilitarão o trabalho de colhedoras e
cortadoras, oferecendo matéria-prima de melhor qualidade.
É vantajoso para as máquinas de colheita que o talhão a ser
trabalhado seja homogêneo no que diz respeito à altura das canas e ao
perfilhamento das soqueiras. Nos canaviais brasileiros, não são muito
comuns essas condições, visto que as variedades atualmente em uso
no Brasil, regra geral, não foram desenvolvidas para serem cortadas
ou colhidas mecanicamente. Além disso, a grande variação nas
técnicas culturais adotadas, com distribuição irregular do adubo,
dificulta essa homogeneização. Com a adoção de técnicas de
agricultura de precisão no setor canavieiro, esse problema tende a ser
controlável.
O reflexo dessa não homogeneidade é que a máquina não é
alimentada uniformemente, trabalhando sem um fluxo constante de
cana, o que faz diminuir a sua capacidade operacional. Quanto à
desuniformidade da altura, também há prejuízos na qualidade do
trabalho, pois o operador dificilmente poderá controlar, com perfeição,
o corte dos ponteiros, ocorrendo, por vezes, a eliminação de intemódios
e, por outras, a não eliminação de ponteiros, dificultando, inclusive, as
regulagens dos sistemas de ventilação e, ou, de exaustão das máquinas.
Alta produtividade de colinos, além de 130 a 150 t/ha, para
determinadas colhedoras, pode fazer baixar sua capacidade efetiva, em
virtude da necessária redução da velocidade de deslocamento e por
estar a cana acamada, entrelaçada etc., o que, além de proporcionar má
queima, dificulta a limpeza e concorre para o aumento das
probabi lidades de embuchamentos. Se a colheita for de cana crua, esse
efeito negativo será incrementado.
Campanhão (2000) apresenta as características desejáveis em
uma variedade para colheita em cana crua: porte ereto, fácil despalha,
palmito curto, diâmetro de colmo de médio para grosso, teor de fibra
médio, boa capacidade de brotação sob palhiço, população uniforme
de colmos, resistência à cigarrinha, Pol médio de 16 e produtividade
agrícola acima de 88 t/ha.
230 Ripoli e Ripoli

Estado do canavial: como visto no item anterior, à medida que


o canavial se acha mais uniformemente perfilhado, mais ereto e mais
unifonne em altura dos colmos, melhores condições de trabalho terão
as máquinas, podendo, então, desenvolver maior velocidade e oferecer
matéria-prima de melhor qualidade, havendo, ainda, menor
possibilidade de embuchamento da cana-de-açúcar.
Ripoli et al. ( 1977) propuseram um critério para definir o que
são colmos eretos, acamados e deitados. Eretos são os colmos que
apresentam posição relativa com a superficie do terreno, formando
ângulo igual ou maior que 45°. Acamados são aqueles que se
encontram entre 22,5° e 45º. Deitados são os que se encontram em
ângulos menores que 22,5° (Figura 8.3). Para caracterização de um
talhão, podem-se tomar 20 amostras/ha, de 1 m linear de sulco,
contando-se os colmos em cada condição, determinando-se suas
porcentagens. Para isso, utiliza-se de um triângulo retângulo de ferro
ou de madeira, com 1 m de cateto.

Colmo
acamado

+----------rm-----------+
Figura 8.3 - Critério para definir porte de colmos em um canavial.
Fonte: RTPOLI et ai., 1977.

Preparo de solo, sistema de plantio e espaçamento: o corte


basal é realizado por meio de um ou dois discos rotativos contendo
lâminas (facaJ), tanto nas cortadoras como nas colhedoras.
Apesar de o conjunto possuir acionamento hidráulico,
permitindo variação na altura de corte basal, ele é projetado para
cortar os colmos em um ponto pouco acima do nível do terreno, ou
seja, a touceira deverá estar sobre um pequeno camalhão.
Ressalta-se que detem1inados fabricantes de máquinas para
corte e colheita de cana já desenvolveram dispositivos para que suas
Colheita 231

máquinas realizem o corte basal acompanhando as imperfeições do


microrrelevo do solo, ou mesmo para operar touceiras que estejam
abaixo do nível do terreno.
A John Deere desenvolveu um sistema denominado CACB
(controle automático de corte de base), que é considerado, nos meios
canavieiros mundiais, o sistema mais avançado que existe atualmente
para colheita mecanizada com máquinas. Ele é composto por
transdutores, um controle principal ("o cérebro" do sistema) e um
programa desenvolvido especialmente para fazer a interface dos dados
colhidos. Os transdutores recebem as informações das variações de
pressão do corte de base e do rolo levantador, transformando esses
sinais em sinais elétricos, fazendo com que o cortador de base
acompanhe, automaticamente, o microrrelevo do terreno, com os
objetivos de: facilitar o trabalho do operador; reduzir as perdas de
campo; melhorar o cisalhamento do corte basal, sem causar dano à
soqueira; reduzir as matérias estranhas minerais e vegetais na matéria-
prima colhida; reduzir o consumo de combustível; e aumentar a vida
útil dos componentes internos da máquina. A CASE-CNH também
apresenta mecanismo com as mesmas finalidades.
Devido ao fato de as práticas de preparo de solo adotadas no
Brasil, em geral, não serem voltadas para a colheita ou corte
mecanizados, raramente encontra-se a condição ideal na cana-planta,
ou seja, a soqueira de primeiro corte já nivelada em relação ao terreno.
Sem essa condição, se houver camalhões (canas mais velhas), corre-se
o risco de se danificar a soqueira com o corte, ocasionando falhas na
próxima brotação. Há também o inconveniente de a máquina operar
com seus pneus em desnível, ocasionando serviço insatisfatório.
Como as lâminas irão trabalhar sob o solo, fica claro que ocorrerá
maior desgaste delas, por abrasão, e de todos os mecanismos de
condução do material cortado, na máquina.
As lâminas do mecanismo picador, ao longo do tempo e
comparativamente com os discos de corte basal, !'esistem mais ao
trabalho, e a sua substituição periódica é feita de acordo com a
informação enviada pelo laboratório de qualidade de matéria-prima da
usina (Figura 8.4).
232 Ripoli e Ripoli

Caminhão "11 cavalo" na linhn


Ida Volln

Caminhilo "11 cavalo" na entrelinha


Ida

'' ' ,,
Vrcgião '-...... ~
~
Caminhão com uma roda no centro da entrelinha
Ida Volta

reg,ao saqueiro f
compactada <lani lieada

Figura 8.4 - Posições relativas entre bitolas de veículos e espaçamento


entre fileiras, ocasionando maior ou menor compactação
próxima às soqueiras e, ou, seu esmagamento, o que
reforça a necessidade de ajuste do espaçamento com a
bitola de veículos e máquinas que trafegaram no talhão.
Fonte: MIALHE, 1980.

Muitas usinas optam por produzir suas próprias facas,


utilizando-se de molas descartadas de sistemas de molejo de
caminhões. Trata-se de uma opção discutível e sujeita a comprovação,
em termos de custo-beneficio, quando comparadas essas facas com as
de fabricantes que se preocupam em oferecer ao mercado mais do que
um pedaço de ferro amolado, e sim um produto de características
técnicas confiáveis. A Duraface, entre poucos fabricantes, produz
lâminas tanto para discos de corte basal como para os cilindros
picadores de colhedoras.
Por outro lado, estando as fileiras de plantio no sulco, não
haverá possibilidade de a máquina cortar a cana-de-açúcar na altura
desejada (ao nível da soqueira), havendo mais dilaceramento do
intemódio do que, propriamente, um cisalhamento, que seria o
esperado. Esse fato se deve, principalmente, à menor resistência de
Colheita 233

ancoramento pelo colmo ao corte. Essa situação leva a perdas visíveis


de matéria-prima.
Por sua vez, o preparo do solo surge como um dos aspectos
importantes em relação à colheita mecânica. Quanto maior o número
de pedras, tocos, buracos, desníveis etc. na área, maiores são as
dificuldades de operação das máquinas, resultando em m;iores perdas
de matéria-prima, aumento nos percentuais de matéria estranha e mais
reparos nas máquinas. Essas máquinas foram projetadas para operar
em ten-enos sistematizados. Ademais, o espaçamento entre fileiras de
plantio também interfere na qualidade do processo de colheita
mecanizada. As máquinas do mercado exigem um espaçamento ideal
de 1,50 m (em função de suas bitolas), havendo alguns modelos, em
outros países, que cortam duas fileiras (casos em que o espaçamento
não é tão importante). Em espaçamentos menores, a máquina, ao
operar numa fileira de colmos, estará com seus rodados sobre a
próxima fileira a ser colhida, deitando os colmos, esmagando-os,
dificultando o corte, prejudicando a soquetra e favorecendo a
compactação do solo.
Mesmo no espaçamento ideal de 1,50 m, para colheita
mecânica, deve-se controlar rigidamente a operação de sulcação no
que se refere ao paralelismo entre fileiras. A falta dessa condição
eleva as perdas de colheita e reduz o desempenho das operações
mecanizadas.
Comprimento das fileiras de plantio e estado dos carreadores:
o comprimento inadequado das fileiras de plantio influenciará
diretamente o tempo efetivo de colheita. Em fileiras de plantio muito
curtas, de 80 a 100 m, as máquinas, obrigatoriainente, terão número
muito maior de manobras de cabeceiras (além de exigir o mesmo do
transporte). Com isso, suas capacidades operacionais de trabalho serão
prejudicadas, onerando, significativamente, o sistema de colheita.
O inverso, fileiras de plantio muito longas ( de 1.500 a 2.000
m), pode dificultar o sincronismo entre as máquinas e o transporte,
exigindo melhor gerenciamento. Em dado momento, o transporte já
estará com sua carga máxima e a fileira ainda não terminou. A
condição ideal de tráfego dentro do talhão seria a troca do transporte,
nas cabeceiras dos talhões. Do contTário, ocon-e maior tráfego de
veículos sobre o talhão, com maior compactação do solo e maior
234 Ripoli e Ripoli

destruição de soque1ras. Nesse caso, recomenda-se a criação de


carreadores temporários. A experiência tem demonstrado que é
satisfatório um comprimento de fileiras de plantio de 500 a 1.000 m.
Todavia, com gerenciamento, uso de piloto automático e DGPS,
podem-se criar talhões de até 3 km, o que já ocorre em canaviais da
Austrália.
A largura dos carreadores terá influência na manobra mais ou
menos rápida das máquinas e do transporte utilizado. As máquinas,
em geral, fazem o seu giro em um raio mínimo de 7 a 1O m. Havendo
carreadores mais amplos, mais rápidas serão as manobras. É claro que
a conservação dos carreadores deve ser observada, eliminando-se,
sempre que possível, as diferenças de níveis entre eles e o talhão. A
exigência das máquinas quanto a carreadores é diferente, apresentando
vantagem aquelas com menor raio de giro.
Formato dos talhões: em geral, os canaviais são formados
dentro de uma gama muito grande de formato de talhões, além de a
ocorrência de ruas mortas ser bastante significativa em virtude das
práticas conservacionistas adotadas.
Já está comprovado que essas situações causam prejuízo nas
operações motomecanizadas, sejam elas de preparo do solo, de
sulcação, de plantio, de tratos culturais etc., no que diz respeito aos
tempos perdidos em excesso de manobras. Esse prejuízo é agravado
na colheita com colhedoras, quando é necessária a presença constante
do transporte ao seu lado. O desejável seria talhão de formato
retangular e sem ruas mortas ou, então, talhões acompanhando as
curvas de nível.
Uma sistematização adequada é a implantação da cultura em
faixas, acompanhando as curvas de nível, com comprimentos que
podem ser de 2 a 3 km. A cada 500 a 600 m, deve existir um carreador
transversal às curvas de nível, o qual desaparece nas operações de
preparo de solo. Com esse sistema, obtém-se aumento de capacidade
operacional de todas as máquinas envolvidas no processo de produção
agrícola. O relevo que permite o formato retangular é ideal para todas
as operações mecanizadas, inclusive a colheita.
Declividade do terreno: a declividade do terreno é um dos
fatores limitantes para o uso de colhedoras e cortadoras de cana, pois,
na verdade, eJas foram construídas, basicamente, para operar em
Colheita 235

terrenos planos (como os das regiões canavieiras da Austrália, Flórida


etc.). Possuindo um centro de gravidade relativamente elevado, essas
máquinas podem operar até certo declive, além do qual há risco de
acidentes por tombamento. Algumas colhedoras montadas em trator
possuem uma bitola maior, o que confere maior estabilidade, podendo
trabalhar com segurança em declividades de até 20% (informações de
fabricantes), porém a maioria delas não deve trabalhar em
declividades superiores a 12-15% (com rodado de pneus) e 15-20%
(quando o rodado é de esteira). Ressaltam-se, ainda, as condições de
sistematização do talhão. Acima dessas declividades, além do risco de
tombamento das colhedoras, surgem dificuldades da unidade de
transporte em acompanhar a máquina, decorrentes da relação pneu-
solo, conforme esclarece Beckker (1964).
Em síntese, uma adequada sistematização de talhão deve
contemplar práticas agrícolas referentes a:
- melhor geometria de cada talhão, em função da declividade
do terreno;
- desejado paralelismo entre fileiras (a ser obtido no período
de plantio);
- para sulcos simples, espaçamento de 1,5 m;
- melhor nivelamento do microrrelevo do terreno;
- melhor nivelamento entre talhões e carreadores;
- diminuição, ao máximo possível, de fileiras mortas,
principalmente no interior dos talhões; e
- controle de tráfego.

Fatores administrativos
Retaguarda de reparos e manutenção: as colhedoras, por suas
próprias características de projeto, requerem cuidadosa manutenção.
Em boa parte dos canaviais paulistas, a presença de pedras, tocos,
buracos etc. é significativa, o que aumenta a necessidade de reparos.
Caso não haja, na empresa, bom gerenciamento e adequada equipe de
reparos e manutenção, a máquina poderá se tornar muito ociosa,
aumentando o seu custo-hora, com a queda de sua capacidade
236 Ripoli e Ripoli

operacional. A existência de comboios de reparos e de manutenção e o


uso de radiofrequência têm apresentado eficácia, concorrendo para o
rápido atendimento no campo, com redução sensível nos tempos de
interrupções das máquinas por motivos de reparos e manutenção.
Aptidão do operador: colhedoras e cortadoras de cana são
máquinas que exigem cuidados especiais e possuem valores de
aquisição elevados, sendo temerário colocá-las em mãos não
qualificadas para o trabalho. Deve haver a preocupação de formar mão
de obra especializada e não simplesmente colocar tratoristas sem a
devida fom1ação para operá-las. A fim de reduzir custos e aumentar os
ganhos do operador, muitas usinas estão aplicando práticas que levam
o operador a participar diretamente da manutenção e de reparos das
máquinas que operam.
Com a formação de elementos capacitados, obtém-se maior
capacidade operacional da máquina, com sensível diminuição de
reparos. Os fabricantes devem participar diretamente na formação
dessa mão de obra, por meio de cursos, estágios etc. Algumas usinas
paulistas estão adotando uma nova sistemática em relação a
operadores de colhedoras. Eles recebem treinamento também sobre
manutenção e reparos e são responsáveis, nesse aspecto, pelas
máquinas que operam, acompanhando e participando, inclusive, das
reformas das máquinas, que ocorrem nas entressafras. Com isso, criam
comprometimento e motivação maiores para o zelo nas operações de
colheita. A Usina São João, de Araras, é uma unidade exemplar a esse
respeito. Com o avanço da cana-de-açúcar na região centro-sul do
País, há carência de mão de obra qualificada, desde motoristas,
operadores de máquinas etc. Faltam programas mais intensos de
qualificação.
Com mão de obra adequada, muitas usinas têm adotado
formas de remuneração que inclue1n um salário fixo e un1 percentual
por produtividade. Nessas condições, deixa de existir o operador para
se ter o "operador-mantenedor". Posto de outra forma, o operador da
máquina participa das manutenções de campo, dos reparos e, na
entressafra, envolve-se com a reforma das máquinas, criando wn
vínculo estreito entre eles, o que tem produzido resultados bastante
satisfatórios em tennos de redução de custos operacionais.
Colheita 237

Tipos de transportes e sistema vwrw: a introdução das


colhedoras, na verdade, não se limita apenas à máquina; trata-se de
um complexo conjunto de operações que se denomina "sistema de
colheita mecanizada" . Esse sistema exige adequado sincronismo de
operações entre os subsistemas envolvidos, a fim de que a máquina
não inten-ompa o seu trabalho pela falta do transporte, além de
diminuir o número de unidades de transporte por colhedoras, com
reflexos favoráveis no custo do sistema. A utilização de unidades de
transbordo ( que acompanha a colhedora em operação) é mais
frequentemente encontrada no Brasil. Essas unidades são também
denominadas transbordo intermediário.
Elas apresentam, em eral, capacidade de carga líquida entre 6
9
e 1O toneladas e basculamento hidráulico lateral, além de rodados
pneumáticos de alta flutuação (simples ou duplos em tandem), visando
à diminuição de compactação do solo e de danos às soqueiras. São
tracionadas por tratores com rodados 4x4 ou 4x2 TDA.
Após ter sua capacidade de carga atingida, o conjunto desloca-
se até um carreador, onde se encontra um veículo de transporte de
maior capacidade (30 a 45 t), promovendo o transbordo da carga.
Entretanto, a conjugação de aspectos como carga inadequada para o
tipo de transporte, excesso de velocidade e leito carroçável mal
conservado leva a acidentes.
Coordenação e sincronismo dos subsistemas: o sistema de
colheita mecanizada envolve, como comentado, os subsistemas de corte,
de transporte e de recepção. Quando, no subsistema de corte, se utilizam
colhedoras, a coordenação e o sincronismo entre esses três subsistemas
devem ser mais eficazes, sob risco de a colhedora permanecer ociosa por
falta de veículos de transporte ou de transbordo em operação,
encarecendo o sistema. Outro aspecto deve ser abordado: o sistema viário
da usina ou destilaria, o qual deverá obedecer a critérios que visem à ágil
circulação de veículos, ou seja, condição do leito can-oçável, sua largura,
níveis de aclives e declives, largura de pontes etc.
Gestão do sistema: para Mialhe e Ripo li ( 1999), os resultados
obtidos em ensaios padronizados em equipamentos agrícolas, em geral,
vêm sendo considerados sob novo enfoque: o de referência para lünite do
desafio gerencial de sistemas motomecanizados agrícolas. Por exemplo, a
capacidade operacional de colhedoras de cana, durante uma safra, que
238 Ripoli e Ripoli

afeta diretamente os custos do sistema, quando confrontada com o


parâmetro capacidade efetiva em condições de ensaio, em geral,
apresenta grandes discrepâncias, gerando baixíssimas eficiências de
campo. Incrementar tal eficiência é o grande desafio com que se
defrontam os profissionais responsáveis pela gerência de máquinas.
A diversidade de condições socioeconômicas e técnico-
gerenciais, típicas do Brasil, tem criado enorme confusão nos critérios
para avaliação comparativa de colhedoras de cana (em estudos com
colhedoras de grãos esse fato não ocorre). De maneira geral, os dois
principais pontos críticos dizem respeito aos seguintes aspectos: a)
não distinção da utilidade dos dados obtidos nos ensaios em condições
controladas e daqueles obtidos na média da safra, por meio de controle
operacional; b) supervalorização dos dados médios gerais, em
detrimento da contribuição de dados "limpos", obtidos em ensaios
padronizados. Assim, o desafio que se apresenta às gerências de
motomecanização é sempre buscar a aproximação dos dados de safra
aos dados de ensaios padronizados.

Subsistemas de carregamento
Manual
O carregamento manual, atualmente, é uma prática bastante
limitada no Brasil e ocorre, em algumas regiões de relevo acentuado do
sul de Pernambuco, norte de Alagoas e Zona da Mata de Minas Gerais,
quando se tem um carreador em desnível bastante acentuado em relação
ao talhão. Nesse caso, é colocada uma prancha de madeira, para servir de
passarela, entre o topo do barranco e a carroceria da unidade de
transporte. Outra situação em que se emprega o carregamento manual é o
transporte de matéria utilizando-se carros de bois. Essa situação ocorre
em pequenos engenhos de aguardente do Nordeste.

Mecânico ou semimecânico
O grande incremento do subsistema de carregamento
mecânico no Brasil se deu por volta da segunda metade da década de
Colheita 239

1950, na região centro-sul do País, ainda com máquinas importadas,


conforme relata Azzi ( 1972). Atualmente, desde que o relevo do
terreno permita e o produtor possua uma área mínima que justifique a
aquisição de carregadoras, pode-se encontrá-las em todas as regiões
produtoras. Ri poli ( 1986) estimou que, dos 3.867,2 milhões de
hectares cultivados em 1986, apenas em cerca de 400.000 ha,
principalmente localizados nos Estados de Pernambuco, Alagoas e
Minas Gerais, não é possível utilizar carregadoras mecânicas
convencionais, por limitação de relevo. Atualmente, essa área deve ter
diminuído em vista da introdução das carregadoras triciclo e
autopropelidas, inicialmente fabricadas pela Cemasa e agora pela
Implanor, de Pernambuco, cujos projetos foram originados de modelo
sul-africano da indústria BELL.
Os tipos básicos de carregadoras atualmente encontradas no
mercado brasileiro são as montadas em tratores e as autopropelidas,
estas últimas introduzidas a partir de 1981. Ambas são acionadas
hidraulicamente. Nas primeiras, a bomba hidráulica é movida por
meio de árvore de transmissão ligada à árvore de manivelas do motor
do trator, e as segundas possuem acionamento hidrostático.
Do ponto de vista ergonômico, essas máquinas montadas
sobre tratores normalmente deixam a desejar, não oferecendo
nenhuma proteção ao operador no que diz respeito a tombamentos,
nível de ruído, vibrações etc., além de inadequado posicionamento dos
comandos e do assento. O somatório desses aspectos leva, mais
rapidamente, ao stress do operador, ao aumento de acidentes
ocupacionais e à diminuição da sua eficiência como operador de
máquina agrícola. Os fabricantes oferecem, como opcional, cabines
climatizadas, que melhoram sensivelmente as condições de trabalho
dos operadores.
As carregadoras convencionais são constituídas, basicamente,
de uma estrutura metálica fixada sobre tratores, uma bomba
hidráulica, mangueiras, comandos e êmbolos hidráulicos, filtros e
depósito de óleo hidráulico. O sistema hidráulico dá movimento aos
órgãos ativos, ou seja, o rastelo e o conjunto: lança, flecha e garra.
O rastelo tem por função ancorar ou juntar os colmos que se
encontram cortados (em eitos amontoados ou esteirados) no terreno,
para facilitar a ação da garra, órgão que eleva e deposita a matéria-
240 Ripoli e Ripo/i

prima sobre as unidades de transporte. A experiência tem mostrado


que o melhor tipo é o flutuante, pois proporciona menor arraste de
matéria-estranha vegetal e mineral na matéria-prima carregada.
No carregamento manual, a matéria-prima pode chegar à
usina em feixes aman-ados com a própria parte apical (ponteiro com
folhas verdes), situação ainda encontrada em áreas declivosas, cujo
transporte intermediário se processa por animais. Dessa forma, com
exceção dessa parte apical, a matéria-prima apresenta-se com melhor
qualidade, quase sem nenhuma matéria estranha mineral. A
mecanização do carregamento resultou em aumento significativo tanto
da matéria estranha mineral como da vegetal. É lamentável,
entretanto, o fato de que, há muitos anos, apesar do desenvolvimento
de novos tipos de rastelos, nenhum trabalho com rigor científico tenha
sido desenvolvido para, efetivamente, se conhecer o seu efeito na
diminuição da quantidade de terra arrastada, tornando-se assim um
tanto dificil conhecer a eficácia desses atuais projetos,
comparativamente aos mais antigos. O que há são dados obtidos por
amostragem na sonda, porém, em geral, não se controla a qualificação
do operador, o tipo de manejo e outras variáveis; tomam-se valores
médios, os quais nem sempre são significativos.
Qualidade da queima: não é simples efetuar uma
determinação apurada da qualidade da queima de pré-colheita. Para
fins práticos, sugere-se adotar o critério proposto por Balastreire e
Ripoli (1975), que leva em conta apenas duas situações: boa ou ruim.
A queima será considerada boa quando restarem, no canavial, apenas
os colmos e os respectivos ponteiros. Queima ruim será aquela em
que, após a ação do fogo, permanecer na área, além dos ponteiros,
folhas verdes, restos de cultura e plantas invasoras. A qualidade da
queima sofre a influência de diversos fatores, sendo os principais:
porte do canavial; produtividade agrícola de cohnos; quantidade de
palhas e folhas verdes da variedade, no momento da queima; direção e
velocidade do vento; umidade do ar, dentro do canavial; e temperatura
ambiente. No corte manual, o trabalhador, em geral, desponta os
colmos, e os ponteiros caem ao solo. Os colmos cortados, por sua vez,
vão sendo esteirados ou amontoados sobre o terreno e sobre o material
despontado. Em canaviais cuja queima não foi adequada, a quantidade
de folhas apicais não queimadas é maior. Como consequência disso,
Colheita 241

no carregamento, esses ponteiros são levados com os colmos,


aumentando a incidência de matéria estranha vegetal.
Granu!ometria e umidade do solo: essas duas variáveis
influem sensivelmente no índice de matéria estranha mineral. Quanto
mais argiloso for o solo e mais úmido ele se encontrar no momento do
carregamento, maior será esse índice, pois essas características
facilitam a adesão dessas partículas aos colmos no momento da ação
do rastelo e da garra sobre os colmos, quando ocorre uma rolagem
destes sobre o terreno. Além desse aspecto, e com maior intensidade, a
ação do rastelo, ao deslocar-se, leva as suas extremidades inferiores a
penetrar no solo, concorrendo para o aumento de terra acumulada
junto ao monte de colmos elevados pela garra. Nos solos argilosos e
úmidos, a aderência ao rastelo é evidente. Outro aspecto que leva ao
aumento do índice de terra é a condição de pós-queima no que se
refere à exsudação dos colmos. Seja corte manual, seja corte por
cortadoras-amontoadoras, quando os colmos são depositados em
contato direto com o terreno ou arrastados durante a operação de
carregamento, a exsudação age como um meio aderente de particulas
de solo, que vão fazer parte do material carregado no transporte.
Disposição dos colmos cortados: montes ou esteiras de
colmos adequadamente dispostos levam à menor incidência de matéria
estranha, pois exigirão menos movimentação da garra da carregadora.
Canaviais com colmos eretos também favorecem o acomodamento no
solo.
Tipos de rastelo e de garra: rastelos flutuantes são mais
eficientes que os convencionais, pois possuem dispositivos hidráulicos
que limitam a sua penetração no solo. Suas extremidades inferiores
tendem a acompanhar o microrrelevo do terreno. Por sua vez, garras
que também possuem dispositivos hidráulicos que limitam seu
fechamento, evitando sua penetração no terreno, desfavorecem a
incidência de terra carregada. Os fabricantes de carregadoras, ao longo
dos anos, têm oferecido ao mercado diferentes mecanismos e
constituição de garras. A aquisição de determinado tipo de rastelo
depende do solo predominante e de condições de chuva na safra, em
dada região. Em solos mais leves, não há necessidade de equipamento
mais sofisticado, desde que se ofereça bom treinamento aos
operadores.
242 Ripoli e Ripo/i

Aptidão do operador: operar uma colhedora de cana é muito


diferente de operar um trator convencional. A inabilidade de um
operador é uma das causas dos aumentos de matéria estranha na carga
carregada, de perdas visíveis e dos custos de reparos e manutenção. O
treinamento deve visar não apenas ao manejo e à regulagem da
máquina, mas fornecer ao operador orientações e conhecimentos
mínimos a respeito da cultura canavieira.
Tipos de eitos: eitos de três, cinco ou sete ruas, amontoados
ou esteirados, devem proporcionar quantidades diferentes de matéria
estranha arrastada. Poucos estudos foram realizados a respeito da
influência desse aspecto na incidência de mais ou menos matéria
estranha, portanto não se pode, ainda, afirmar qual condição é mais
interessante. Em princípio, os eito_s de sete "ruas" (fileiras) arrastariam
menos matéria estranha, pois, por área, menores seriam os ciclos
operacionais da máquina para carregar uma mesma quantidade de
matéria-prima.
Devido à melhor tecnologia dos equipamentos, à melhor
qualificação da mão de obra, tanto de corte manual como de
operadores de carregadoras e colhedoras, e a programas que buscam
melhor qualidade em todo o processo, desde a colheita até a recepção
da matéria-prima, os valores para índice de terra atualmente
encontrados nas usinas estão abaixo dos citados por Monteiro et ai.
(1982).
Outro aspecto a se considerar no subsistema de carregamento
mecânico diz respeito às eficácias de manipulação (EM%) dessa
operação, ou seja, às quantidades de matéria-prima amontoada, mas
não can-egada pelas máquinas, que são denominadas perdas. Com o
objetivo de diminuir essas perdas, usam-se correntemente nas usinas
os "bituqueiros". São compensadores os custos envolvidos nessa mão
de obra, pois os prejuízos econômicos seriam maiores caso essas
perdas não fossem recuperadas. Contudo, o resultado dessa operação é
uma matéria-prima de má qualidade, em razão da elevada quantidade
de terra aderida aos colinos, geralmente, parcial ou totalmente
esmagados.
Finalmente, devem-se considerar, no subsistema de
carregamento mecânico, as capacidades operacional e efetiva dessas
máquinas, medidas em termos de t/h, t/dia ou t/mês de matéria-prima
Colheita 243

carregada. Esses parâmetros dependem, principalmente, da condição


dos colmos cortados ( eretos ou curvos), da capacidade da garra da
carregadora (por ciclo operacional), do número de fileiras cortadas e
que formam os eitos, da aptidão do operador, do sincronismo dos
veículos de transporte e da eficiência dos comboios de abastecimento
e manutenção das usinas.
O ideal, nos resultados de análises de índices de perdas
visíveis e de índices de matéria estranha, é o uso de porcentagem e
não da unidade t/ha. No caso de t/h, é necessário conhecer a
produtividade agrícola do canavial para se ter a referência correta.

Subsistema de transporte
O estabelecimento de subsistemas de transporte, em bases
racionais, deve-se iniciar, em tese, concomitantemente com a
implantação da base tisica agrícola da agroindústria, a fim de que,
com a passar dos anos, ele não venha se tomar ponto de
estrangulamento nos processos de transferência da matéria-prima do
campo à unidade industrial.
Devido às grandes extensões que caracterizam as unidades
canavieiras no Brasil, consagrou-se o transporte viário como a
principal opção, apesar de nem sempre ser a mais viável
economicamente. Essa situação é resultante de uma política de
transportes desencadeada nos primórdios da implantação da indústria
automobilística no País. A fim de estimular e favorecer a
comercialização de veículos rodoviários, construíram-se rodovias, o
que, por si só, não seria negativo. Todavia, paralelamente foi total o
desinteresse no desenvolvimento, na manutenção e na ampliação de
ferrovias e hidrovias, meios comprovadamente mais econômicos para
transporte de carga.
Assim, o que se viu, por consequência, foi a desativação das
linhas férreas, que, então, também existiam nas usinas de açúcar.
Atualmente, não mais que duas ou três unidades açucareiras, no Rio
de Janeiro e em Pernambuco, mantêm trechos fen-oviários para o
transporte de cana.

. . .... .........-...
244 Ripoli e Ripoli

Dessa forma, os tipos de subsistemas de transporte para cana


utilizados no País são: rodoviário, ferroviário e hidroviário, com
predominância expressiva do primeiro.

Subsistema de transporte rodoviário


Estima-se que mais de 95% do transporte da matéria-prima no
País seja feito pela malha rodoviária de todas as regiões canavieiras,
que somam quatro segmentos: vias de acesso da própria unidade
produtora (carreadores e estradas vicinais), vias municipais, estaduais
e federais.
Os carreadores são estradas de largura média de 5 a 7 m, os
quais, além de ser o segmento primário da malha rodoviária de uma
propriedade, têm ainda duas outras funções: separar e delimitar os
talhões da cultura e servir de espaço de manobras de toda maquinaria
agrícola envolvida no processo de produção e transferência da cana. A
arquitetura básica dos carreadores e estradas vicinais é detenninada
pelo traçado dos talhões, o qual, por sua vez, é função do relevo da
área e demais aspectos ligados ao planejamento organizacional da
base física agrícola.
As estradas vicinais possuem um leito carroçável com largura
entre 7 e 1O m, a fim de pennitir melhor trafegabilidade dos
transportes e unir os carreadores às demais vias de acesso até a
unidade industrial.

Tipos de transporte
As opções existentes hoje no Brasil referentes aos tipos de
unidades de transporte de matéria-prima incluem desde carros de bois
até tratores tracionando carretas; caminhões com uma ou duas árvores
motrizes (trucados), cavalos mecânicos tracionando duas ou mais
carretas, containers, entre outras.
A escolha desta ou daquela unidade será função de fatores
relativos a distâncias entre os campos de produção e a unidade
industrial, condições de trafegabilidade de malha viária (largura, tipo,
estado do leito carroçável, aclives e declives, obras de arte etc.),
Colheita 245

quantidade de matéria-prima a ser esmagada diariamente, além dos


custos operacionais de cada tipo de transporte. A esse respeito, vale
dizer que, além da preocupação em se colocar a matéria-prima colhida
na recepção da usina em um menor espaço de tempo possível, impõe-
se ao produtor buscar opções de transporte que minimizem o custo da
tonelada por quilômetro transportado. Esse objetivo só se alcança por
meio de estudos técnico-econômicos relativamente complexos sobre
os equipamentos disponíveis no mercado, associando-os às condições
específicas da malha viária a ser utilizada.
Animal: o uso de animais no transporte de cana é bastante
frequente nas regiões sul de Pernambuco, norte de Alagoas e Zona da
Mata de Minas Gerais. Isso ocorre devido ao cultivo de cana em áreas
de relevo acidentado, chegando em certos casos a 100% de
declividade.
As formas de utilização dos animais são: tracionando carro de
boi, com uso de zorras de madeiras ou metálicas, catracas mecânicas;
ou, ainda, como transportando-se a cana no lombo de muares, com
cambitos. Com exceção dos carros de boi, utilizados apenas por
pequenos engenhos de aguardente e em fábricas artesanais de
rapaduras do Nordeste brasileiro, as demais formas, denominadas
transporte intermediário, ocorrem dentro de talhões, até um ponto
onde é possível chegar veículos motorizados, ocorrendo então o
transbordo (manual ou mecânico).
Entende-se por cambitos o dispositivo colocado sobre o lombo
dos muares, os quais geralmente são constituídos de madeira na forma
de "V" unidos por cintos de couro ou lona. Em média, um animal
consegue transportar 300 kg de colmos, morro abaixo.
Por sua vez, zorra vem a ser um tipo de trenó, as mais antigas
confeccionadas de madeira e as mais recentes em chapas e cantoneiras
de ferro. Em média, elas apresentam capacidade de carga líquida em
torno de 1 tonelada.
A catraca mecânica constitui-se de um varão (tubo metálico)
que, por meio de arreiamento, é fixado à junta de bois. Possui uma
catraca de acionamento manual, com um cabo de aço que envolve o
feixe de cana a ser arrastado morro abaixo. Em média, esse transporte
intermediário tem capacidade líquida de 800 a 1.000 kg, depe ndendo
do arranjo dos feixes.
246 Ripoli e Ripoli

Outra prática que faz pa1ie de um sistema de retirada dos


colmos cortados em áreas, em geral acima de 60% de declividade, é o
chamado "tombo". Operários com uma haste de ferro ou de madeira
empurram, morro abaixo, os colmos cortados até que caiam em um
carreador onde seja possível a ação de carregadoras e unidades de
transporte motorizadas. Tanto a catraca quanto o "tombo" exigem a
ação de bituqueiros, pois o material não deslocado até um carreador
pode chegar a mais de 20% da produtividade agrícola.
Tratores com carretas: para as nossas condições, a prática tem
demonstrado que o uso de tratores agrícolas tracionando uma, duas ou
três carretas é viável para distâncias não maiores que 5 km entre a área
de produção e a unidade industrial, cuja malha viária não apresente
declives ou aclives acentuados, o que implicaria dificuldades de
manejo e aumento nos riscos de acidentes.
Essas carretas, dependendo do tipo de carroceria, transportam
colmos inteiros, quando possuem fueiros de ferro ou madeira, e
colmos picados, quando são teladas. Quando se traciona apenas uma
carreta por vez, esta possui ua capacidade líquida de carga por volta
de 1O t. Quando a opção é um comboio, a capacidade cai,
unitariamente, para 4 a 6 t por carreta.
Caminhões: o domínio dos caminhões no transporte de cana é
irrefutável, e a gama das opções existentes no mercado é bastante
ampla, variando desde caminhões médios, de 8 a 1Ot de carga líquida,
até os chamados superpesados, com capacidade de 45 a 50 t.
Economicamente, as maiores capacidades de transporte por viagem
devem ser recomendadas para as maiores distâncias.
O tipo mais tradicional de caminhão é o de carroceria de
fueiros de ferro ou madeira. Confrontando-se um mesmo modelo de
caminhão com transmissão simples ou dupla, as vantagens do segundo
podem ser citadas a seguir: aun1ento da capacidade de carga líquida de
8 para 17 t por viagem; e menor compactação do terreno agrícola, pois
se aumenta a área de contato entre os pneus e o solo e, em épocas
chuvosas, é menor o risco de atolamento.
Dependendo do arranjamento dos colmos na carroceria e das
condições de trafegabilidade do leito carroçável das estradas, os
caminhões com carrocerias de fueiros apresentam o inconveniente de
quedas de colmos durante o percurso, mesmo estando elas amarradas
Colheita 247

por cabos de aço. Essas perdas são dificeis de estimar; assim, sabe-se
que são significativas durante o transcorrer de uma safra, além de
causar acidentes.
Atualmente, predominam carrocerias fechadas nas partes
frontal e traseira e com fueiros largos e metálicos nas laterais, de
diversos modelos (na forma de carretas, de reboque, semirreboque
etc.), e ação de carregamento com mais cuidado, limitando-se a altura
da carga aos níveis compatíveis, visando menor perda de colmos
durante o percurso até a usina.
O uso de caminhões mais potentes tracionando, além de sua
carroceria, uma carreta já está consagrado. São os veículos tipo
Rodotrem, vulgarmente chamados de "Romeu e Julieta", com
capacidade de carga líquida em torno de 25 a 30 t. Suas carrocerias
podem ser tanto de fueiros como fechadas. Essa opção é recomendada
para distâncias de 20 a 50 km do campo à indústria. Para esses
veículos serem econômicos, é necessário que o leito carroçável das
estradas tenha boa conservação, a fim de permitir velocidades médias
de deslocamento maiores (de 50 a 70 lan/h), pois, do contrário, o
custo da tonelada por quilômetro transportado pode se tornar elevado,
comprometendo o uso desses veículos.
Finalmente, existem os veículos superpesados, que tracionam
três ou quatro carretas por vez, atingindo 60 t por viagem (há
restrições do Código Nacional de Trânsito para rodarem em pistas
estaduais). São recomendados para o transporte em longas distâncias,
acima de 30 km da indústria, podendo ser usados com carrocerias de
fueiros metálicos ou fechados. Nesse caso, a malha viária,
preferencialmente, deve conter rodovias pavimentadas, a fim de
agilizar o deslocamento desse veículo. Usar esses veículos sobre
estradas estreitas, mal conservadas e em pequenas distâncias é o
caminho mais curto para comprometer o custo operacional dessas
unidades e o custo da tonelada transportada por quilômetro rodado.
Como o custo do transporte da matéria-prima ten1
significância em todo o processo, várias empresas açucareiras vêm
refinando o planejamento. Com isso, esse nível de controle atinge até
os acompanhamentos periódicos do desgaste de pneus e análises
fisicas e químicas de óleos de motor e de câmbio dos veículos em
trabalho.

.............. ◄ .... ..
248 Ripoli e Ripoli

Merece citação, em separado, um sistema de transporte de


introdução bastante recente e que, apesar de ainda pouco utilizado,
está se mostrando promissor. Trata-se do sistema de containers, que
utiliza caçambas ou caixas metálicas,• móveis e transportáveis
separadamente, com capacidade de 5 a 7 t, em substituição às
carrocerias convencionais fixas ao cha...;si de unidades transportadoras.
Este sistema, em geral, faz uso de um trator tracionando uma carreta
apropriada para conduzir o contazner, acompanhando a unidade
carregadora, seja carregadora convencional, seja uma colhedora do
tipo combinada (este segundo é o caso mais usual), dentro do talhão.
Uma vez carregado, o container é transferido, geralmente, por
meio de empilhadoras para o sistema de transporte. Esse transporte,
comumente, leva dois containers de 7 t ou três de 5 t, dependendo do tipo
da unidade transportadora. A recepção e o descarregamento dos
containers na indústria também são diferenciados e realizados por meio
de equipamentos tipo empilhadora. A descarga pode ser feita diretamente
na mesa de recepção ou simplesmente empilhando-se os containers, que
funcionarão como unidades de annazenamento temporário.
Apesar de implicar a utilização obrigatória de transbordo no
campo e de unidades especiais para manuseio dos containers, este
sistema tem o grande mérito de agilizar o carregamento dentro do
talhão, reduzindo os problemas de compactação causados pelo trânsito
de unidades transportadoras muito pesadas. Uma vez que os veículos
de transporte não necessitam entrar nos talhões, eles podem ser
selecionados de acordo com sua melhor eficiência para transporte em
estradas. A recepção também se torna independente da moagem,
podendo a cana ser armazenada nos próprios containers, embora esse
procedilnento leve a mn superdimensionamento de unidades.
Projetado inicialmente para o transporte de cana picada, o
sistema de containers também pode ser dimensionado para cana
inteira, e1nbora nessas condições algumas de suas vantagens e
facilidades do manuseio possam ser eliminadas.

Subsistema de transporte ferrov iário


Como já relatado, este subsistema está quase totalmente
desativado no País, apesar de amplamente utilizado em países como
Colheita 249

Austrália e Cuba, onde a maior parte da produção agrícola chega à


indústria por esse meio. Atualmente, a ferrovia, onde existe, faz parte
do complexo viário de uma usina, em associação com o transporte
rodoviário. Por meio de tratores com carretas ou caminhões, a
matéria-prima chega até as chamadas estações de transbordo, nas
quais ela é transferida aos vagões ferroviários e levadas então às
unidades fabris.

Subsistema de transporte hidroviário


A partir de 1980, em uma experiência pioneira até o momento
no Brasil, a Usina Diamante, hoje pertencente ao Grupo COSAN,
localizada na Bacia do Médio Tietê, SP, implantou um sistema de
transporte fluvial para cana, aproveitando-se do sistema de eclusas
existentes nessa região. Da mesma forma que o subsistema de
transporte fe·rroviário, este deve trabalhar concornitantemente ·com _o
rodoviário. Ripoli et al. (1984) informam que, nessa usina, (oram
instalados quatro pontos de transbordo por meio de guindastes tipo
mo~ta-carga, nos quais a matéria-prima era transferida às chatas
fluviais. A máxima distância em que se opera com esse ·subsistema de
transporte é 35 km. Se essa matéria-prima fosse transportada· por
rodovias, a distância correspondente percorrida estaria por volta de
100 km. São utilizados como fonte de potência barcos denominados
de empurradores, com 1notores a diesel, de 270 a 340 cv de potência,
os quais deslocam de duas a três chatas, que transportam, por viagem,
de 200 a 500 t de maté1ia-prima. Os pesquisadores informãm, ainda,
que o uso de transporte fluvial resultou numa redução de custos de
53, 1% e que, em decorrência dessa associação de transporte fluvial e
rodoviário, atualmente, a distância média de transporte por rodovia
não ultrapassa 1Okm da indústria.

Operações de transbordo
Entende-se por operação de transbordo a atividade de
transferir a matéria-prima existente em um tipo de veículo de
transporte para outro. Essa operação pode ocorrer em qualquer
250 Ripoli e Ripoli

subsistema de transporte utilizado, e os locais onde se realiza são


denominados estações de transbordo.
Nos subsistemas de transpo1te ferroviário ou hidroviário
ocorre o transbordo das unidades rodoviárias para os vagões ou
barcaças, por meio de guinchos mecânicos ou hidráulicos ou por meio
de monta-cargas.
Nos subsistemas de transporte rodoviário há dois tipos de
transbordo a serem considerados: o direto e o intermediário. O
transbordo direto é usado em sistemas de colheita que utilizam
colhedoras (combinadas), portanto, a matéria-prima se acha na
condição de colmos picados (inadequadamente chamados de toletes; o
correto é rebolo). Para o acompanhamento das colhedoras, são
utilizadas carretas tracionadas (denominadas também de transbordos)
por tratores de rodas ou veículos especiais.
Quando se utiliza o primeiro tipo, há exigência de montagem
de dispositivos independentes, que permitam a operação de
transbordo. No segundo caso, a própria unidade de transporte possui
dispositivos hidráulicos que permitem o autodescarregamento. Em
média, esses equipamentos, denominados veículos de transbordo,
possuem capacidade líquida de carga de 4 a 12 t.
O uso desses veículos é justificado para locais onde a
compactação é problema, pois eles exercem menor pressão sobre o
terreno do que os caminhões trocados convencionais.
Genericamente, a operação de transbordo intermediário, por
sua vez, é justificada quando as frentes de corte encontram-se além de
25 km da unidade industrial. Com esse tipo de manejo de transporte,
pode-se agilizar o fluxo de veículos, com diminuição sensível dos
custos da tonelada por quilômetro percorrido, pois se utilizam
pequenas e lentas unidades para operar próximo às frentes de corte, e
as unidades mais velozes e de maior capacidade de carga, para
percorrer as grandes distâncias.
Em relação ao tipo de pneus utilizados nos veículos
canavieiros, cabe dizer que, por volta · de 1988, a Trelleborg
(fabricante sueca de pneus) introduziu no Brasil pneus radiais de baixa
pressão (alta flutuação), para uso, principalmente, nas unidades de
transbordo, ou seja, aquelas que trafegam dentro do talhão. Estudos
têm mostrado que esses pneus causam menor compactação no solo,

..
Colheita 251

reduzem os custos de transporte, apresentam maior durabilidade (por


volta de 15.000 horas) e levam a menor consumo de combustível das
unidades motoras.

Subsistema de recepção
Este subsistema envolve as seguintes etapas sequenciais:
pesagem da unidade de transporte em balança de plataforma, retirada
de amostra, por sonda, e descarregamento ( direto na mesa de recepção
ou no pátio/barracão de estoque e nova pesagem do veículo para
determinação de sua tara).

Descarregamento
Após a unidade de transporte ter passado pela balança e pela
sonda que retira amostra de matéria-prima para fins de determinação
de sua qualidade, ela pode se dirigir para duas áreas da usina: pátio de
estoque ou descarregamento direto na mesa de recepção. A definição
de onde ocorrerá o descarregamento depende da operacionalização da
usina, do sistema de çolheita, da quantidade de matéria-prima que
chega à usina e da capacidade de esmagamento das moendas.
No caso de corte manual ou corte por máquinas cortadoras, a
matéria-prima encontra-se na forma de colmos inteiros. Por meio de
ponte rolante e cabos de aço, a carga é retirada do transporte e
depositada no pátio para posterior esmagamento. Esse tipo de
descarregamento vem sendo evitado pelas usinas, dentro do possível,
pois o interesse deve ser o de esmagar a matéria-prima com o menor
tempo possível, após o corte. Cana estocada só se justifica para
abastecimento noturno. Havendo adequado planejamento de colheita e
de transporte, ou seja, que tenha levado em conta a capacidade diária
de esmagamento, o descarregamento é realizado por um sistema fixo
de guincho hidráulico, denominado Hilo, o qual, por meio de cabos de
aço, tomba lateralmente à carga do transporte, jogando-a sobre o piso
do pátio (menos comum) ou sobre a mesa de recepção. Para o
primeiro caso, tratores com ancinhos frontais realizam o manejo dessa
matéria-prima até as mesas de recepção.
252 Ripoli e Ripoli

O descarregamento direto de cargas de colmos inteiros é


aquele no qual o transporte chega ao /-filo e este realiza sua ação
jogando a matéria-prima diretamente na mesa de recepção da usina. A
unidade de transporte estaciona entre o /-filo e a mesa de recepção.
Cabos de aço são acoplados entre a carga e a base da carroceria, sendo
presos, por un1a das extremidades, no dispositivo de engate do Hilo e,
pelas outras extremidades, ao parapeito da mesa de recepção. Com o
acionamento do êmbolo do guincho, a carga é descarregada
lateralmente, caindo sobre a mesa.
Quando a cana é colhida uma colhedeira autopropelida e,
portanto, encontra-se fracionada em reboios, por volta de 15 a 30 cm
de comprimento, o seu descarregamento não deve ser indireto nem
passar por lavagem, ou seja, deve-se descarregá-la diretamente na
mesa de recepção. O porquê dessa afirmativa está relacionado a
aspectos de deterioração e perdas de sacarose discutidos
anteriormente. Para o seu descarregamento, exige-se que as mesas de
recepção e as esteiras transportadoras sejam montadas abaixo do nível
de tráfego dos transportes, para permitir o descarregamento por
báscula lateral ou traseira da carroceria do transporte, o que leva a
matéria-prima a cair na mesa de recepção, por gravidade.
Os transportes possuem um sistema pantográfico de abertura
da lateral ou traseira da carroceria na razão direta de seu
levantamento. Esse basculamento pode ocorrer por meio de cabos e
pontes rolantes ou sistema de êmbolos hidráulicos fixados ao solo e
que empurram lateralmente a carroceria basculante.
O subsistema de recepção também merece atenção no aspecto
gerencial, pois de sua agilidade em receber, descarregar e liberar
unidades de transporte dependerá a adequada sincronização com as
frentes de corte e carregamento, diminuindo as filas de veículos.

Referências
AZZI, G. M. incidência de matéria estranha nos processos de carregamento de
cana-de-açúcar. 1972. 112 p. Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura Luiz
de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba.
BALASTREIRE, L. A.; RIPOU, T. C. Estudos básicos para quantificação de
colhedoras e veículos de transporte. ln: SEMrNÁRIO COPERSUCAR DA
Colheita 253

AGROINDÚSTRIA AÇUCAREIRA, 2., 1975, Águas de Lindóia. Anais... São Paulo:


Copersucar, 1975. p. 345-353 .
BARBOSA, V. Efeito do pisoteio na produtividade da cana. ln: SEMfNÁRIO DE
MECANIZAÇÃO AGRf COLA: PERDA DE PRODUTIVIDADE, 2002, Ribeirão
Preto. Proc... Ribeirão Preto: Sociedade dos Técnicos Açucareiros e AJcooleiros do
Brasil, 2002. 1 CD-Rom.
BEKKER, M. G. Theory of land locomotion. Ann Harbor: The University Press, 1964.
520 p.
CAMPANHÃO, J. M. Comportamento de variedades em áreas de colheita mecanizada
de cana verde. ln: CANA CRUA 2000. Experiência acumulada. Jaboticabal:
UNESP/STAB, 2000. CD Rom.
CARVALHO, L. A; MEURER, _I.; SILVA JUNIOR, C. A; CAVALIERI, K. M. V.;
SANTOS, C. F. S. Dependência espacial dos atributos fisicos de três classes de solos Â
cultivados com cana-de-açúcar sob colheita mecanizada. Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 15, n. 9, p. 940-949, 2011.
CARVALHO, L. A ; SILVA JUNIOR, C. A.; NUNES, W. A G. A; MEURER, I.;
SOUZA lÚNIOR, W. S. Produtividade e viabilidade econômica da cana-de-açúcar em
diferentes sistemas de preparo do solo no Centro-Oeste do Brasil. Revista de Ciências
Agrárias, v. 34, n. 1, p. 199-211, 2011.
CHUDACOV, D. A Fundamentos de la teoria y el calculo de tractores y
automóviles. Moscou: Mir., 1977. 435 p.
GILL, W. R.; V ANDEN BERG, G. E. Soil dynamics in tiliage and traction.
Washington: USDA, 1967. 511 p. (Agricultura) Handbook, 316).
JANINI, D. A Análise operacional e econômica do sistema de plantio mecanizado de
cana-de-açúcar(Saccharum spp). STAB, v. 26, p. 51-57, 2008.
MAGALHÃES, O. S. G.; BRAUNBECK, O. A Collleita de cana-de-açúcar e palha. ln:
CORTEZ, L. A B. (Ed.). Bioetanol de cana-de-açúcar: P&D para produtividade
sustentabilidade. São Paulo: Edgard Blécher Ltda., 2010. p. 465-475.
MANHÂES, C. M. C.; GARCIA, R. F.; CORREA JÚNIOR, D.; FRANCELINO, F. M.
A.; FRANCELfNO, H. O.; SANTOS, C. M. F. G. Evaluation ofvisible losses and
damage to the ratoon cane in the rnechanized harvesting of sugarcane for different
displacernent speeds. American Journal of Plant Sciences, v. 5, p. 2956-2964, 2014.
MELLO, M. O. Colheita mecanizada de alto desempenho. ln: SEMfNÁRIO SOBRE
MECANIZAÇÃO E PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR, 4., 2002, Ribeirão Preto.
Anais ... Ribeirão Preto: IDEA, 2002. 1 CD-Rom.
MIALHE, L. G. Curso intensivo de mecanização agrícola na produção de álcool.
Piracicaba: ESALQ, 1980. 174 p.
MIALHE, L. G. Máquinas agrícolas: ensaios & certificação. Piracicaba: FEALQ,
1996. 722 p.
MIALHE, L. G.; RIPOU, T. C. C. Evaluación de coscchadoras automorrices de cana de
azúcar. ln: SEM INÁRIO INTERNACIONAL SOORE MECANIZAClÓN DE LA
254 Ripoli e Ríp oli

COSECHA DE CANA DE AZÚCAR, 1976, Caracas. Anais... Caracas: Dist.


Venezolana de Azucares, SLR, 1976. p. 189-204.
MJALHE, L. G.; RIPOU, T. C. C. Critérios de avaliação em análises de confronto de
colhedoras de cana-de-açúcar. ln: SEMANA DA CANA-DE-AÇÚCAR DE
PIRACICABA, 4., PIRACICABA, 1999. Resumos. Piracicaba: STAB, 1999. p. 8.
MONTEIRO, H.; PEXE, C. A.; BASSINELO, J. L.; RIPOU, T. C. C. Matéria estranha:
custos e técnicas de sua diminuição na colheita. Álcool e Açúcar, v. 2, n. 6, p. 20-26,
1982.
NASERI, A. A.; JAFARI, S.; ALIMOHAMMADI, M. Soil compaction due to
sugarcane (Saccharom officinarom) mechanical harvesting and the effect of subsoiling
on the improvement of soil physical properties. Journal of Applied Science, v. 7, n. 23,
p. 3639-3648, 2007.
PARANHOS, S. B. Colheita mecânica de cana-de-açúcar. ln: SEMJNÁRIO
AGRONÔMICO DE PINHAL, 4., 1974, Espírito Santo do Pinhal. Anais... Espírito
Santo do Pinhal: Fundação Pinhalense de Ensino, Faculdade de Agronomia, 1974. 10 p.
PEARCE, J.; GONZALES, C. Resultados de ensaios de qualidade de colhedoras série
7000 versão 2003. ln: SEMINÁRIO DE MECANIZAÇÃO E PRODUÇÃO DE
CANA-DE-AÇÚCAR, 5., 2003, Ribeirão Preto. Anais ... Ribeirão Preto: IDEA, 2003.1
CD-Rom.
RIPOU, T. C. C. Corte, carregamento; transporte e recepção de cana-de-açúcar.
Piracicaba: ESALQ, 1974. 52 p.
RIPOLI, T. C. C. Modelagem de desempenho operacional de uma carregadora
auto-propelida para cana-de-açúcar (Saccharum spp.). 1986. 105 f. Tese
(Doutorado) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São
Paulo, Piracicaba.
RIPOLI, T. C. C.; FRANCESCHI, P.; MIALHE, L. G. Transporte fluvial de cana-de-
açúcar no Estado de São Paulo. Álcool e Açúcar, v. 16, n. 4, p. 18-22, 1984.
'
RIPO LI, T. C. C.; PARANHOS, S. B. Colheita. ln: PARANHOS, S. B. (Coord.). Cana-
de-açúcar: cultivo e utilização. Campinas: Fundação Cargill, 1987. v. 2, p. 517-597.
RIPOLI, T. C. C.; p ARANHOS, S. B.; SANTOS, N. C. dos; MIALHE, L. G.
Determinação de declividade limite para trabalho de colhedora de cana Massey
Fergusson. ln: CONGRESSO NACIONAL DE ENGENHARIA AGRÍCOLA, 4., 1974,
Viçosa. Anais ... Viçosa MG: SBEA, 1974. p. 27-31.
RIPOU, T. C. C.; RIPOLI, M. L. C. Effects of pre-harvester buming in sugar cane
(Saccharum spp.) in Brazil. Rivista de Ingegneria Agrária, v. 32, n. 4, p. 202-210, 2001.
RIPOU, T. C.; MIALHE, L. G.; NOV AES, H. P. Um critério para avaliação de
canaviais visando a colheita ln: SEPARATA DE CONGRESSO BRASILEIRO DE
ENGENHARIA AGR.iCOLA, 4., Pelotas, 1977. Anais ... Pelotas: SBEA, l977. 10 p.
TUFAILE NETO, M. A. Charactcrization of sugarcane trashand bagasse, in biomass
power gencration: sugarcanc bagasse aml trash. ln: HASSUANl, S. J. et ai. (Org.).
Biomass power generation: sugar cane bagasse and trash. Piracicaba, SP: CTC, 2005.
216 p.

....
ENFARDAMENTO DE PALHA
9
Marcelo de Almeida Pierossi1
Sarnir de Azevedo Fagundes2

Introdução
A produção de cana-de-açúcar no Brasil vem passando por um
período de transfarmação nos últimos anos, devido à crescente
utilização da mecanização da colheita .. Esse avanço ocorre porque as
novas usinas foram instaladas em regiões planas e baseadas em
operações 100% mecanizadas e, também, devido à diminuição das
áreas com queimadas antes da colheita. No Estado de São Paulo, as
usinas, representadas pela UNICA - União da Indústria de Cana-de-
Açúcar, e o Governo do Estado assinaram, em junho de 2007, o
Protocolo Agroambiental do Setor Sucroalcooleiro, acordo voluntário
que antecipa em 14 anos os prazos para eliminação da queimada
controlada da palha da cana antes da colheita manual. A Figura 9 .1
mostra a eliminação dessa prática de acordo com a declividade das
áreas. Nas áreas mecanizáveis (declividades de até 12%), a eliminação
da queimada foi antecipada de 2021 para 2014, enquanto nas áreas
não mecanizáveis (declividades maiores que 12%) a eliminação
passou de 20~ 1 para 2017.

' EngcnJ1ciro Agrf cola, AgroPcrforma Consuhorin Agrlcoln.


E-mail: marcclo@agropcrforma.com.br
2
Engenheiro-Agrônomo, Gcrcnle de Produto. E-mnil: sumir.fagundcs@ugcocop.com
256 Pierossi e Fagundes

Prazo para a eliminação da queima dn palha da cana no Estado de São Paulo

Áreas mecanizáveis Áreas não mecanizáveis


0% _ _...,__ _ _ _-t------
e o% 10% --+-----
·gc:r
IOo/o - - - - - - : - - - - - -
_ J . -_ ___.::_ _ __

E 20% 20%
cu
: 30%
30% --------...--+-___.::_______
-o 40% _ _ _ _ _ _4-__.__ _...,___ _
:E 40% - - + - - . l o , - - ~ e , , - - - -
õ
u 50% - - \ - - ~- - -- - - 50%
"'§ 60% -~----------,4---- 60%
u
.g 70% 70%
§
eu
80% ----~-----+-- - 80%
90% -----~---4.--- 90% - - - - - - - ~ - - - - ~
~
~ 100% 1 1 1 1 1 100% 1 1 1 1 1 1
2006 2010 2011 2014 2016 2021 2007 2010 2011 2016 2017 2021 2026 2031

- - e Protocolo Agroambiental - - e Lei Estadual nº 11.241/02

Nota: os pontos destacados nas linhas do gráfico mostram os anos específicos citados na Lei 011 no Protocolo.
Elaborado pela Unica.

Figura 9.1 - Eliminação das queimadas.


Fonte: UNICA.

A eliminação das queimadas disponibilizará aos canav1a1s


grande quantidade de biomassa adicional. Estudo conduzido pelo
Centro de Tecnologia Canavieira - CTC (PAES; OLIVEIRA, 2005)
mostrou que a quantidade de palha é de 140 kg/tonelada de colmo
(Tabela 9.1 ).

Tabela 9.1 - Distribuição das folhas nos colmos

(%) Base úmida (%) Base seca


Folhas secas 71 81
Folhas verdes 24 17
Ponteiros 5 2
Fonte: PAES; OLIVEIRA, 2005.
Enfa rdamento de palha 257

Assim, considerando os dados de evolução da produção


brasileira de cana-de-açúcar, a quantidade de palha disponível em
2030 será de 160 mjlhões de toneladas, conforme mostrado na Figura
9 .2 (EPE, 2007).

Evolução da produção de palha e cana


1200

1000
"'
co
"C
~
Q)
800
e:
B
.g 600 ~Cana
"'
Q) -li-Palha
~ 400
~
200

• • •
o
2005 2010 2015 2020 2025 2030 2035

Figura 9.2 - Projeção da produção de cana-de-açúcar e disponibilidade


de palha no Brasil.

A energia da cana-de-açúcar é distribuída da forma descrita na


Tabela 9.2. Considerando todo o volume de palha disponível e ainda a
elevada disponibilidade energética desse material, que chega a
representar um terço de toda energia contida na cana-de-açúcar,
observa-se que grande quantidade de energia não está sendo
aproveitada safra após safra.

Tabela 9.2 - Energia da cana

1 t. de colmo de cana Ener ia MJ)


140 kg de açúcar 2.340
280 kg de bagaço (50% de umidade) 2.110
280 kg de palha (50% de umidade) 2.110
Total 6.560
Fonte: CTC.
258 Pierossi e Fagundes

Ao analisar a compos1çao elementar da palha e do bagaço,


Seabra (2008) comparou dados de diversos autores, encontrando
semelhanças (Tabela 9.3), fato que explica a semelhança quanto aos
valores de energia entre a palha e o bagaço. Os valores apresentados
na Figura 9.2 e na Tabela 9.2 mostram o potencial energético dessa
biomassa.

Tabela 9.3 - Composição elementar do bagaço e da palha de cana-de-


açúcar
Bagaço Palha
Gabra et us Lamônica e Gabra Lamônjca Gamez et
ai (2001) DOE Linero et ai eLinero ai (2006)
(2006) (2005) (2001 ) (2005)
e 45,2 48,4 44,6 44,2 46,2 41,6
H 5,4 6,0 5,8 5,4 6,2 5,8
N 0,2 0,2 0,6 0,6 0,5 0,5

o 41 ,8 41 ,6 44,5 38,7 43,0 n.a


s 0,02 0,02 0,1 0,1 o, 1 o, 1
CI 0,03 n.a. 0,02 0,3 o, 1 n.a.
Fonte: Adaptado de SEAB RA, 2008.

Segundo Walter e Nogueira (2008), a energia contida na


biomassa pode ser aproveitada de várias maneiras (Figura 9.3).
Entre todas essas possíveis aplicações para a palha, são
viáveis para utilização comercial da palha no curto prazo somente
duas : geração de energia elétrica e térmica em caldeiras e a hidrólise
enzimática para a produção do etanol celulósico.
A geração de energia elétrica e, ou, térmica com a utilização
da pa lha ocorre de maneira similar à do bagaço, ou seja, por meio da
combustão da palha, há geração de vapor, que pode ser usado
diretamente em processos industriais e, ou, acionamento de
turbogeradores. O fluxograma do processo de geração de vapor
encontra-se na Figura 9 .4 e consiste na geração de vapor em alta
pressão ( 65 bar) e média pressão (22 bar) para acionar turbogeradores
e moendas, os quai s, após o rebaixamento ela pressão (2,5 bar).
fornecem energia térmi ca nos processos industriai s.
E11/árclam<!11l0 de palha 259

Biumas~a

Annazenamento, transponc, pré-processamento

Conl'crsào tcnnoquím,ca Convers:io fisico-quím,ca Conversão biológica


Combustão Car,oejamento. r:=J ~-.-- Prensagem, Fermentação, Digestào
din:ta torrefação ~ Gaseificação extração
EsterifiCllção
hidrólise anaeróbica

Combustíveis Combustíveis
sólidos líquidos

Geradores Motores, Células a


de vapor turbinas a gás combustível

Turbinas a vapor
(motores a pistão)
Calor

Figura 9.3 - Aproveitamento energético da biomassa.


Fonte: WALTER; NOGUETRA. 2008.

A outra aplicação para a palha é a produção de etanol


celulósico, também chamado de "álcool de segunda geração". A
celulose e hemicelulose presentes na palha e bagaço de cana são
hidrolisadas através de hidrólise ácida ou, mais recentemente, através
da hidrólise enzimática, processo no qual estão baseadas as mais
recentes iniciativas. O processo pode ser descrito de forma
simplificada como a quebra das fibras que contêm celulose e
hemicelulose através da ação de enzimas em cadeias de açúcares, que
são fermentados, gerando etanol. O resíduo desse processo é a lignina,
que é queimada nas caldeiras para fornecimento de energia térmica e
elétrica (BROWN, 2003).
A utilização da biomassa residual é muito importante, e o
melhor exemplo disso é o trabalho realizado pelo governo americano
por meio dos Departamentos de Energia e da Agricultura, intitulado
Biumass as feedstock .for a bioenergy and bioproducts indus11:v: rhe
technical feasibility of a bi/lion-ton annua/ suply , publicado em 2005
e atualizado em 2011 (US Department of Energy, 2011 ). Nesse
trabalho estão descritas as ações que visam ao desenvolvimento de
260 Pierossi e Fagundes

sistemas agrícolas e industriais, as quais deverão viabilizar o


recolhimento de mais de 1,3 bilhão de toneladas anuais de resíduos,
divididos em 368 milhões de toneladas de resíduos florestais e 998
milhões de toneladas de resíduos agrícolas que serão utilizados como
matéria-prima para a produção do etanol celulósico.

CaldeiraAP Caldeira MP

Q__ . - Bagaço O__ .-Bagaço

l Vapor 65 bar

Turbogerador

Dessuper

[ Vapor 22 bar
Acionamento
Turbogerador mecânico

-e Válvula

f
de cxp.

Vapor 2,5 bar

Processos

Condensado

Desaerndor
Make-up

Figura 9.4 - Fluxograma simplificado do sistema energético de uma


usma.
Fonte: SEABRA, 2008.

....
Enfardamento de palha 261

Recolhimento da Palha
Como toda disponibilidade de biomassa demonstrada, o
desenvolvimento de um sistema de recolhimento da palha no campo e
transporte dela à usina é de fundamental importância na viabilidade
econômica do processo. O CTC realizou estudo considerando
diferentes rotas de recolhimento da palha (HASSUNI, 2005),
entretanto, atualmente, apenas duas rotas são utilizadas: a que
contempla o transporte da palha de cana junto com a cana picada
colhida mecanicamente, em sistemas denominados Sistemas de
Limpeza Parcial, com separação posterior na usina em unidades
industriais de limpeza a seco, e a do enfardamento.
A rota da limpeza parcial, segundo Marchi et al. (2005),
consiste na redução da limpeza da cana durante a colheita e o
transporte de maior quantidade de palha junto com a cana picada, para
posterior separação na usina, deixando o restante da palha no campo
(Figura 9 .5).
Isso é obtido mediante a redução da velocidade de rotação do
extrator primário e, ou, eliminação do uso do extrator secundário.
Esses extratores compõem o sistema de limpeza da colhedora e são
mostrados na Figura 9 .6. Eles são responsáveis pela remoção das
folhas verdes e secas (impurezas vegetais) dos toletes de cana picada
enviados ao transbordo.
~

Sepnmçilo da palha
na usina em Estação
de Limpeza a Seco

LJ
Parte da palha é
transportada junto
com a cana picada
Colheita com rotação
Limpeza reduziâa do extrator
parcial primário e extrator
11ecundário é1esUgodo
~ Port da palh
~ dcilu1da nl> ~ ,po

Figura 9.5 - Rota de recolhimento por meio da limpeza parcial.


Fonte: Adaptado de MARCI-lf et ai., 2005.
262 Pierossi e Fagunde~

Durante a operação de colheita com limpeza convencional, os


teores de impurezas vegetais das cargas enviadas às usinas situam-se
entre 5 e 6%, pois maior eficiência de limpeza acarreta maiores níveis
de perda de cana picada; já em sistemas com limpeza parcial esses
teores oscilam entre 12 e 15%. O aumento do custo dessa palha
transportada se deve à queda de densidade do material transportado
(cana + palha). Durante os ensaios realizados por Marchi et ai. (2005),
para nível de impureza vegetal de 16%, a densidade resultante foi de
66% da densidade inicial para impureza vegetal de 5% e palha com
umidade de 3 1%.

Extrator Primário
\

Rolo Alimentador,Barbatana
Rolos Alimentadores e Transportadores

Figura 9.6 - Esquema de uma colhedora de cana picada.


Fonte: NEVES. 2003.

Outro ponto importante a ser considerado nos sistemas de


limpeza parcial é a eficiência de limpeza das estações de limpeza a
seco. A estação de limpeza a seco consiste na separação da palha e da
cana picada por meio de ventilação e, posteriormente, limpeza e
picagem, a fim de que aquela possa ser misturada ao bagaço para
queima nas caldeiras. Existem modelos de diferentes fabricantes, e
cada um possui um nível de eficiência. O modelo apresentado na
Fi1:i,ura 9.7 foi projetado pelo CTC e está em operação na Usina Alta
Mogiana, em São Joaquim da Barra - SP.

• ♦ ••
E1!/ardame11to de palha 263

Figura 9.7 - Estação de limpeza a seco.

Enfardamento da Palha
Consiste no recolhimento de material vegetal depositado no
solo, compactando-o em pacotes (fardos) de maior densidade e de
mais fácil manuseio. O recolhimento da palha por meio do
enfardamento é realizado de quatro a sete dias após a colheita
(SARTO; HASSUANI, 2005), para garantir a secagem da palha.
Contudo, ressalta-se que o mais importante não é o tempo de
exposição ao sol, e sim a umidade do material, que deverá estar enh·e
1O e 15%, podendo, em alguns casos, devido às condições climáticas
locais, chegar a 5%. Nesse caso, além da dinlinuição natural na
densidade do material enfardado, devem-se observar os efeitos da
baixa umidade em função da caldeira utilizada.
No momento da colheita, grande parte das folhas encontra-se
verde e sua umidade média é de aproximadamente 40%. Apenas
depois de garantida a umidade ideal, inicia-se a sequência de
operações de recolhimento:
- aleiramento,
- enfardamento,
reco lhi mento dos fardos,
- carregamento dos fardos e
- transporte dos fardos.
264 Pierossi e Fagundes

A umidade é um fator importante na redução do custo do


processo, pois garante tanto o adensamento energético do material,
tomando-o mais atraente para recolhimento, quanto o desempenho
operacional dos equipamentos, evitando interrupções devido a
embuchamentos e outros problemas relacionados à qualidade do
material.

Aleiramento
É a primeira operação da cadeia de recolhimento e consiste na
formação de leiras, concentrando-se o material de forma que garanta
fluxo de alimentação adequado à enfardadora.
Segundo Cavalchini (1999), na produção de feno e forragem,
o aleiramento, embora seja urna operação aparentemente simples,
apresenta problemas relativos à qualidade e produtividade do trabalho
realizado. Em nossa aplicação, palha como biomassa, ela acaba
afetando de forma mais significativa a qualidade da operação ao
agregar terra à leira, pois trata-se de uma operação de alta eficiência e
que não impacta operacionalmente · as etapas subsequentes. Além
disso, segundo COPERSUCAR (1998), a qualidade do aleiramento
impacta a capacidade de alimentação da enfardadora, reduz os danos
ao mecanismo de alimentação frontal da enfardadora e evita a
propagação de fogo acidental.
Outro importante aspecto a ser considerado no aleiramento é a
"largura de trabalho". Os modelos de implementos disponíveis no
mercado têm largura de trabalho oscilando de 3 a 15 m, de acordo
com suas características. A largura de trabalho é um fator importante
no desempenho do equipamento e, consequentemente, no custo da
operação.
Os tipos de aleiradores disponíveis no mercado são:
- aleirador de dedos (Figura 9.8) e
- aleirador de barras - tipo rollabar (Figura 9.9).
O modelo tradicionalmente usado para aleiramento da palha
nos canaviais é o aleirador de dedos, porém sua utilização restringe-se
às operações realizadas com o objetivo de redução de riscos de
incêndios em canaviais e retirada da palha para facilitar o cultivo. Ele
E11fardamento de palha 265

também é utilizado para o aleiramento da palha a ser utilizada em


sistema de cogeração, porém é necessário avaliação quanto aos índices
de impurezas que esta operação poderá agregar ao material enfardado.

,-- ...
..• - . ·..=::.:,=--- -

Figura 9.8 - Aleirador de dedos. Figura 9.9 - Aleirador de barras.

Enfardamento
Após a confecção das leiras, é realizada a operação de
enfardamento. Os modelos atuais de enfardamento foram
desenvolvidos inicialmente para o enfardamento de feno formado por
capins e, ou, plantas forrageiras para alimentação animal. Segundo
Remoué (2007), formas mecânicas de enfardamento de feno foram
estabelecidas no final do século XIX, com a criação de máquinas
estacionárias, e as primeiras enfardadoras móveis de fardos
retangulares apareceram no início da década de 1900. Estas recolhiam
o material a partir do solo, comprimindo-o e mantendo-o ainarrado
com barbantes. As primeiras enfardadoras de fardos retangulares
grandes foram disponibilizadas no mercado no final dos anos 1970,
com a introdução da Hesston 4800.
As enfardadoras, de acordo com a forma e o tamanho de seus
fardos, são divididas em enfardadoras de fardos retangulares, que
podem ser pequenos (Figura 9.10) ou grandes (Figura 9.11), e
enfardadoras de fardos cilíndricos (Figura 9.12).
As dimensões dos fardos são muito variadas, havendo no
1nercado diversos modelos com diferentes dimensões. Para
enfardadoras de fardos retangulares, as dimensões mais comuns
encontram-se na faixa de 0,45 x 0,35 até 1,20 x 0,90 m, com
266 Pterossi e' Fag undes

comprimento variável que pode chegar até 2,5 m. Já para fardos


cilíndricos o diâmetro varia de 0,9 m a 1,8 m, com largura de 1,2 m
até l ,6 m.

Figura 9.1 O - Enfardadora de fardos retangulares pequenos.

Figura 9. I I - Enfardadora de fardos retangulares grandes.

Em ensaios conduzidos por Sarto e Hassuani (2005), o modelo


mais adequado para o enfardamento da palha-de-cana foi a
enfardadora de fardos retangulares grandes, devido à sua maior
capacidade operacional, maior facilidade de operar com palha e
E1~farda111ento de palha 267

pedaços de cana, melhor ocupação do espaço no veícu lo de transporte


pelos fardos e facilidade de seu manejo.

Figura 9 .12 - Enfardadora de fardos cilíndricos.

Cavalchini ( 1999) define, para cada tipo de enfardadora, as


seguintes faixas de densidade - considerando-se enfardamento de feno
e reforçando a recomendação da utilização dos fardos retangulares
grandes no recolhimento da palha de cana-de-açúcar:
- fardos retangulares pequenos - l 20 a 170 kg/m3 ;
- fardos retangulares grandes - 180 a 230 kg/m3 ; e
- fardos cilíndricos - 130 a 205 kg/m3.

Segundo Kepner et ai. ( 1980), uma enfardadora retangular tem


os seguintes componentes funcionais :
- uma unidade para recolher a palha do solo e elevá-la;
- um transportador que alimenta a palha na entrada da
câmara de enfardamento;
268 Pierossi e Fagundes

- sistema para pos1c10nar a palha na câmara enquanto o


pistão está na posição retraída;
- um pistão para comprimir a palha e movê-la através da
câmara de enfardamento;
- meios de aplicar força para resistir ao movimento da palha
através da câmara de enfardamento e, dessa forma,
controlar a compressão e a densidade resultante do fardo;
- um dispositivo automático de medida para controlar o
comprimento do fardo;
um meio de separar fardos consecutivos e colocar os
barbantes ao redor dos fardos; e
- dispositivos de amarração que operam quando os fardos
alcançam o comprimento pré-selecionado.
A Figura 9 .13 mostra os principais sistemas funcionais
descritos.
Atadores

Câmara principal

Agulhas

Pistão compactador
Garfos alimentadores da
câmara principal
Pré-câmara de
compressão
Dedos Dedos alimentadores da
recolhedores pré-câmara
Figura 9 .13 - Componentes funcionais de uma enfardadeira.

Os fardos são automaticamente ejetados da enfardadora à


medida que são produzidos e deixados no campo para posterior
recolhimento (Figura 9.14). A operação de enfardamento é a mais
importante da cadeia de recolhimento da palha, por ser a de maior
custo.
Enfardamento de palha 269

Figura 9 .14 - Campo de fardos de palha de cana-de-açúcar.

Recolhimento dos fardos


Os fardos depositados no campo devem ser recolhidos de
forma a minimizar a compactação dos canaviais. Existem no mercado
diversos tipos de equipamentos para realizar essa operação. Eles
podem ser tracionados, autopropelidos ou montados em caminhões
(Figura 9.15).

Figura 9 .15 - Carregadores de fardos.

A função desse equipamento é recolher os fardos da fon11a


mais eficiente e barata possível, removendo-os do canavial e
transportando-os até os carreadores onde serão empilhados (Figura
9 .16), para posterior carregamento nos equipamentos de transporte,
evitando pisoteio demasiado nos canaviais.
270 Pierossi e Fagundes

Figura 9 .16 - Empilhamento dos fardos no carreador.

Carregamento dos fardos


O carregamento dos fardos a partir das pilhas montadas nos
carreadores é realizado por implementos montados em tratores ou
manipuladores telescópicos (Figura 9.17). A escolha do implemento
deve levar em conta a quantidade de fardos que serão manipulados,
pois os equipamentos têm diferentes níveis de capacidade efetiva.
Esse tipo de equipamento facilita a colocação dos fardos nas laterais
dos equipamentos de transporte, aumentando a produtividade da
operação e reduzindo os custos.

Fi gura 9.17 - Manipulador telescópico.


Eltfárdamento de palha 271

Transporte dos fardos


O transp011e de fardos pode ser realizado por diferentes tipos de
composições rodoviárias - desde caminhão com carroceria a
composições de veículo de carga - e suas dimensões devem respeitar os
valores máximos pennitidos pela legislação brasilefra para veículos e
combinações de veículos de carga descritos nas Resoluções nº 210/06 e
211 /06 do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), que são:
- altura: 4,40 m,
- largura: 2,60 m
- comprimento:
veículo simples (caminhão) - 14,00 m
veículo articulado (cavalo mecânico e semirreboque) -
18, 15 m
veículo com reboque (romeu-e-julieta) - 19,80 m
- CVCs (rodotrem e bitrem) - 30,00 m

Sistema de enfardamento de palha


O Centro de Tecnologia Canavieira vem desenvolvendo, em
parceria com a New Holland, desde maio de 20 l O, um sistema de
recolhimento de palha baseado em enfardamento que contempla toda
a logística agrícola, do aleiramento ao transporte dos fardos . As
atividades agrícolas envolvem os seguintes equipamentos:

Aleirador H5980
É um aleirador (Figura 9.18) de 17 discos com dedos ancinhos
montados em bases de borracha. Seu desempenho operacional, ao ser
tracionado por um trator de 75 cv, é de aproximadamente 4,0 ha/ h,
com velocidade de trabalho entre l O e 12 km/h. Sua largura máxima
de trabalho é de 9.200 mm, porém testes de campo mostraram que,
para os nossos canaviais, a largura ideal de trabalho é de 7.500 mm,
que possibilita a formação da leira de aproximadamente 1.200 mm.
dimensão adequada ao sistema de alimentação da enfardadora.
272 Pierossi e Fagundes

Figura 9.18-AleiradorH5980.

Enfardadora 8B9080
É uma enfardadora (Figura 9 .11) de fardos retangulares com
dimensão de 1,2 x 0,9 m e comprimento variável de até 2, 7 m. Para a
palha de cana-de-açúcar, as dimensões variam de acordo com o
equipamento rodoviário utilizado e encontram-se de 2,20 a 2,50 m
(Figura 9.19). Ela possui uma pré-câmera de compressão (Figura
9.20), acima do sistema de alimentação, que garante uma pré-
compressão do material antes da entrada dele na câmara principal,
obtendo-se, dessa forma, fardos com maior densidade (densidades
para palha com 15% de umidade na faixa de 180 kg/m3).

Figura 9. J 9 - Fardo de palha de cana-de-açúcar.


Enfardamento de palha 273

Figura 9.20 - Pré-câmera de compressão.

A enfardadora opera com velocidades de 5 a 7 km/h, sendo


tracionada por trator ~e 180 cv, o que possibilita capacidade
operacional de 2,8 ha/h. Um conjunto de seis atadores de nó duplo
garantem a integridade dos fardos, com menor tensão nos atadores,
evitando desgaste e paradas excessivas.

Carreta de fardos PT201 O


É uma carreta recolhedora automática (Figura 9.21) de fardos
retangulares com uma garra lateral que recolhe os fardos do chão,
posicionando-os sobre uma plataforma com capacidade de dois fardos
de largura por seis de comprimento. Ao atingir a capacidade total, a
carreta desloca-se até o carreador, onde empilha os fardos através do
basculamento traseiro da platafmma. Esse equipamento é tracionado
por trator de 150 cv e possui pneus de baixa pressão e alta flutuação.
274 Pierossi e Fagundes

Figura 9 .21 - Carreta recolhedora de fardos PT 201 O.

Pr-ocessamento Industrial
Para se adequar à utilização, o fardo, ao chegar à unidade
industrial, deve passar por uma série de operações, que são definidas
conforme a necessidade do processo em que ele será utilizado.
Entretanto, existe um conjunto de operações que independe da
utilização industrial: recepção e descarga do fardo, armazenamento e
desenfardamento.
Ao final dessas operações, o material encontra-se desagregado
e, dependendo da aplicação, pode ser utilizado imediatamente, por
exemplo, para caldeiras de leito fluidizado. Entretanto, para a queima
em caldeiras de bagaço ( caldeiras que queimam em suspensão), o
índice de impurezas é fator crítico no processo, pois muitas vezes são
exigidos valores abaixo de 2% de impurezas. Essas caldeiras exigem
também partículas de dimensões semelhantes às do bagaço. Portanto,
são necessária- mais duas operações: limpeza e trituração.
Essas operações permitirão a queima da palha, pois eliminam
as impurezas minerais (terra) presentes no fardo e diminuem o
tamanho das µartículas, tornando-as de granulometTia similar à do
bagaço. Linero (2012) mostra a diferença entre os tamanhos das
partículas de palha e bagaço antes desse processamento (Figura 9.22).
Enf ardamento de palha 275

. - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - . . 80
70

□ Palha D Bagaço 60
50 --:::,
"'
40 ~
30 ~
20
10
~---½-'L...C:l~C..,.J..J,,,~.J::a..,,-LJ:~...1:::L..-LJ-...L.Cl..,.J,--c:i..,..1,..1:;;l..r-'-..L.L.,..C:Z:~...l...l"T""""u+ o
O 0,42 0,59 0,84 1,00 1,19 1,68 2,00 2,38 3,36 4,76 6,35 12,5 20 a> 40
Abertura (mm) a 20 40

Figura 9 .22 - Granulometria da palha e do bagaço.

Essa similaridade entre a palha da cana e o bagaço, seja em


granulometria e impurezas, seja em sua composição química, é o que
permite a utilização da mesma estrutura industrial para processamento
em sistemas de cogeração.

Referências
BROWN, R. C. Biorenewable resources: engineering new products from agriculture.
Iowa, USA: Blackwell Publishing, 2003.
CAV ALCHINI, A. G. Forage crops. ln: STOUT, B. A.; CHEZE, B. CIGR handbook
of agricultura! engineering. Vol. Ili. Plant production engineering. St. Joseph, MI:
ASAE, 1999 p. (Série Caminhos para Sustentabilidade).
COOPERATIVA DE PRODUTORES DE CANA, AÇÚCAR E ÁLCOOL DO
ESTADO DE SÃO PAULO. Projeto BRA/96/G3 l - Enfardamento da palha. ln:
Projeto BRA/96/G3 l: Geração de energia por biomassa, bagaço da cana-de-açúcar e
resíduos. STAB, v. 16, n. 6, p. 44-46, jul./ago. 1998.
EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA. Matriz energética nacional 2030.
Brasília: Ministério de Minas Energia, 2007 .
HASSUANI, S. J. Evaluation of agronomjc routes to unbumed cane harvesting with
trash recovery. ln: HASSUANI, S. J. et ai. Biomass power generation: sugar cane
bagasse and trash. Piracicaba: PNUD-CTC, 2005 . (Série Caminhos para
Sustentabilidade).
KEPNER, R. A.; BAINER, R.; BARGER, E. L. Principies of íarm machincry.
Westport: AVI Publishing Company, 1980.
276 Pierossi e Fagundes

LINERO, F. A. B. Biomassa adicional para aumento da geração de eletricidade.


Ribeirão Preto: 2012. (SINATUB - Curso de Caldeiras, Vapor e Geração de Energias
Renováveis).
MARCHI, A. S.; PIZZINATO, A. A. S.; ROCHA, D. E.; SILVA, J . E. A. R.
Unbumed cane harvesting with trash recovery routes. ln: HASSUANI, S. J. et ai.
Biomass power generation: sugar cane bagasse and trash. Piracicaba: PNUD-
CTC, 2005. (Série Caminhos para Sustentabilidade).
NEVES, J. L. M. Avaliação de perdas invisíveis em colhedoras de cana-de-açúcar
picada e alternativas para sua redução. 2003. 223 f. Tese (Doutorado) -
FEAGRI/UNlCAMP, Campinas, SP, 2003 .
P AES, L. A.; OLIVEIRA, M. A. Potential trash biomass of the sugar cane plant. ln:
HASSUANI, S. J. et ai. Biomass power generation: sugar cane bagasse and trash.
Piracicaba: PNUD-CTC, 2005. (Série Caminhos para Sustentabilidade).
REMOUÉ, T. Modeling and validation of crop feeding in a large square baler.
2007. 103 f. Dissertação (Mestrado) - University of Saskatchewan, Saskatoon,
Canada.
SARTO, C. A.; HASSUANI, S. J. Trash recovery: baling machines. ln: HASSUANl,
S. J. et ai. Biomass power generation: sugar cane bagasse and trash. Piracicaba:
PNUD-CTC, 2005. (Série Caminhos para Sustentabilidade).
SEABRA, J. E. A. Avaliação técnica-econômica de opções para o aproveitamento
integral da biomassa de cana no Brasil. 2008. 274 f. Tese (Doutorado) -
FEM/UNICAMP, Campinas, SP.
U.S. DEP ARTMENT OF ENERGY. U.S. billion-ton update: biomass supply for a
bioenergy and bioproducts industry. ln: PERLACK, R. D.; STOKES, B. J. Leads.
Oak Ridge, TN: Oak Ridge National Laboratory, 2011 . 227 p.
WALTER, A.; NOGUEIRA, L. A. H. Sistemas de produção de eletricidade a partir da
biomassa. ln: CORTEZ, L. A. B. et ai. Biomassa para energia. Campinas, SP:
Editora da UNlCAMP, 2008.
QUALIDADE DA
CANA-DE-AÇÚCAR PARA 1o
PROCESSAMENTO INDUSTRIAL
Fernando Santos 1
José Humberto Queiroz2
Sarita Cândida Rabe/o3

Introd ução
A cana-de-açúcar tem se tornado umas das principais culturas
para a economia nacional, devido à produção de açúcar e etanol para os
mercados interno e externo. A produção de cana-de-açúcar processada
na safra 2014/2015 é estimada em 642, 1 milhões de toneladas, gerando
36,36 milhões de toneladas de açúcar e 28,66 bilhões de litros de etanol,
em uma área de aproximadamente 9 milhões de hectares (CONAB,
2014). Com a crescente demanda do mercado, a expectativa é de que,
em 2019, sejam produzidos 58,8 bilhões de litros de etanol e 47,34
milhões de toneladas de açúcar (MAPA, 2012).
Essa expressiva produção da cana-de-açúcar e a expectativa de
aumento significativo de área cultivada são consequências do emprego
de novas tecnologias, tanto na área agrícola quanto na área industrial.
Na área agrícola, tem-se buscado elevada produtividade, con1 destaque

1 Engenheiro-Agrônomo, M.S. e Doutorando em Bioquímica Agrlcola. Universidade Federal de


Viçosa. E-mail: falmeidasuntos8 l@yahoo.com.br
2 Engenheiro de Alimento, M.S., D.S. e Professor Associado ela Universidade Federal de Viçosa.

E-mail: jqueiroz@ufv.br
1 Química, M.S., D.S. e Assistente de Pesquisa cio Luborntório Nacional de Ciência e Tecnologia

do Bioelanol (CTBE). E-mail: suritu.mbclo@bioclnnol.org.br


278 Santos, Queiroz e Rabelo

para os estu dos de melhoramento genético da cana-de-açúcar, de


colheita e plantio mecanizado, técnicas de ferti lização e melhor
qualidade da matéria-prima, entre outros. Das novas tecnologias
estudadas na área industrial , merece destaque o processo de produção
de etanol celulósico, empregando o bagaço e a palha da cana, com o
intuito de aumentar a produção de etanol por tonelada de cana. Para
isso, é necessária a melhoria da qualidade da cana-de-açúcar para o
processamento e obtenção de produtos finais de qualidade, ou seja,
aumento da "eficiência industrial".

Qualidade da cana-de-açúcar
A qualidade da matéria-prima é definida por urna série de
características fisico-químicas e microbiológicas da planta, bem como
pelas impurezas vegetais e minerais oriundas do manejo agrícola e
industrial, que podem afetar negativamente o potencial de produção de
açúcar e etanol (RIPOLI; RIPOLI, 2004). Nesse contexto, quanto
melhores e mais adequadas forem as condições de cultivo e de colheira,
melhor será a qualidade da cana-de-açúcar, com maior acúmulo de
sacarose e, consequentemente, maior rentabilidade nos produtos finais
da indústria sucroenergética (SANTOS, 2008).
A cana-de-açúcar é constituída de colmo industiializável, folhas
verdes, folhas secas e ponteiro. Em se tratando da composição química, a
cana contém sólidos insolúveis (fibra) e solúveis (caldo); estes, por sua vez,
são constituídos de compostos orgânicos e inorgânicos. A composição da
cana é muito variável, dependendo de condições edafoclimáticas da região,
do sistema de cultivo, do estádio de maturação, da idade do cultivar, entre
outros fatores. A Figura 10.1 apresenta a composição média da cana
cultivada no Brasil. Tanto para a produção de açúcar como para a de etanol.
o componente principal é a sacarose.
Atualmente, no processo de produção de açúcar e etanol, é
aproveitado aproximadamente um terço de toda a energia contida na
cana, correspondente aos açúcares contidos no caldo; o restante está
dividido entre o bagaço e a palha. Vale ressaltar que há grande interesse
da comunidade científica no aproveitamento desses " subprodutos" da
indústria sucroenergética, além dos processos de cogeração já
estabelecidos atualmente (SANTOS et ai., 2012).

' 1
Qualidade da cana-de-açúcar para processamento industrial 279

Cana-de-açúcar
100%

Sólidos insolúveis (fibra) Caldo absoluto


8% a 16% 84% a 92%

1
Só!. Solúveis (brix) Água (umidade)
18% a 25% 68% a 76%
1

Açúcares Não açúcares


14% a 23% 1,0% a 2,5%
1

1 1

Orgânicos Inorgânicos
0,8% a 1,8% 0,2% a 0,7%

1 1 1
Sacarose Glucose Frutose
13% a 22% 0, l¾al,0% 0,0% a 0,6%

Figura 10.1 - Composição química da cana-de-açúcar.

Fatores responsáveis pela qualidade da


cana-de-açúcar
Os principais fatores responsáveis pela qualidade da cana-de-
açúcar entregue à indústria são o cultivar, o estádio de maturação, as
impurezas minerais e vegetais, a ação dos microrganismos, a sanidade
do canavial e o corte, colheita e carregamento. Todos esses fatores são
extremamente importantes, e cada um deles é detalhado a seguir.
Cultivar: O cultivar é a tecnologia de menor custo para o setor
sucroenergético, bem como a mais importante, sendo considerad't a base
das demais tecnologias de produção (BARBOSA et al., 20 12). Na scolha
do cultivar deve-se levar em consideração o ambiente d produção, a
280 Santos, Queiroz e Rabelo

produtividade, a qualidade do caldo, o potencial de safra, a resistência a


pragas/doenças e a logística de colheita.
Atualmente, existem no Brasil quatro programas de
melhoramento genético de cana-de-açúcar: o do Instituto Agronômico
de Campinas - IAC; o do Centro de Tecnologia Canavieira - CTC; o
da Rede Interuniversitária para Desenvolvimento do Setor
Sucroalcooleiro - Ridesa; e o do CanaVialis/Monsanto - CV.
Na Tabela 10.1 são apresentados os dez cultivares mais
plantados no Brasil na safra 2011. O RB867515 é o mais cultivado e
um dos mais produtivos e relevantes para a produção de açúcar e etanol,
abrangendo uma área de mais de 1.300 milhão de hectares. Observa-se
também que os cultivares RB867515 e SP81-3250, juntos,
correspondem a mais de 30% de todos os cultivares plantados no País.
É importante mencionar que o cultivar RB92579, chamado por muitos
de "cana fantástica", apresenta produtividade mínima 30% maior que a
de qualquer outro, o que resulta em qualidade e lucratividade para a
indústria de etanol. No entanto, o seu desempenho na produção de
açúcar é prejudicado devido à coloração do caldo, que dificulta a
produção de açúcar cristal conforme as exigências de mercado.

Tabela 10.1 - Censo dos cultivares de cana-de-açúcar no Brasil, safra 2012

Plantio e Cultivo
Cultivares ,
Area (ha) %
1- RB867515 1.690.951 26,40
2- SP81-3250 823.776 12,86
3- RB855453 357.563 5,58
4- RB92579 322.549 5,03
5- RB855536 240.578 3,76
6- RB855156 210.832 3,29
7- SP83-2847 210.403 3,28
8- RB966928 163.870 2,56
9- RB72454 163.377 2,55
1O- RB835054 138.503 2, 16
Fontt!: RID ESA, 2014.
Qualidade da cana-de-açúcar para processamento industrial 281

Entre as características desejáveis dos cultivares encontram-


se: alto potencial produtivo, alto teor de sacarose, alta capacidade de
perfilhamento, talos médio-grossos a grossos e longos, internódios
longos, hábito de crescimento ereto, não alojamento de detritos, não
florescimento excessivo, ausência de espinhos na bainha da folha,
ausência de divisões nos talos, menor espalhamento da gema e
tolerância às principais pragas e doenças.
Estádio de maturação: O processo de maturação envolve a
formação de açúcares nas folhas e seu deslocamento e
armazenamento no colmo, que se dá a partir da base do colmo para
o seu ápice e da parte externa para a interna.
O estádio de maturação da planta pode ser estimado
utilizando-se um refratômetro de campo. O índice de maturação (IM)
é então calculado pela razão dos teores de Brix do ápice do colmo e
da base do colmo, conforme a Equação 1. A classificação do estádio de
maturação pode ser visualizada na Tabela 10.2.
Brix do ápice do colmo
/M=-------
Brix da base do colmo

Tabela 10.2 - Classificação do estádio de maturação de cana em função


do índice de maturação

Indice de Maturação Estádio de Maturação


< 0,60 Cana verde
0,60- 0,85 Cana em maturação
0,85 - 1,00 Cana madura
> 1,00 Cana em declínio de maturação

Quando a concentração de sacarose é uniforme ao longo do


colmo, diz-se que a cana chegou ao estado de n1aturação _completa
(IM), entre 0,85 e 1,00, ou seja, já pode ser colhida. Indice de
maturação maior que 1,00 significa que a cana já passou do ponto de
ser colhida, entrando em um estádio de declínio de maturação. As
análises laboratoriais (brix, pol, açúcares redutores e pureza)
fornecem dados mais confiáveis e precisos da maturação,
282 Santos, Queiroz e Rabelo

confirmando, assim, os resultados do refratômetro de campo. Nesse


sentido, em geral, é recomendado o plantio de aproximadamente
40% de cana de ciclo de maturação precoce, 40% de ciclo de média
maturação e 20º/o com maturação tardia em todos os blocos de
colheita, visando ao abastecimento da indústria com matéria-prima
de qualidade durante toda a safra.
Impurezas minerais e vegetais: Durante as operações de
corte, colheita e carregamento, a qualidade da cana-de-açúcar pode
ficar comprometida pelas impurezas contidas na carga, conforme
relatado ao longo deste capítulo.
Ação de microrganismos: Entre os principais compostos de
origem microbiana estão a dextrana e os próprios microrganismos,
como bactérias dos gêneros Leuconostoc, Bacillus e Lactobacillus e
leveduras. A contaminação microbiana do colmo após a queima e o
corte resulta no consumo de açúcares e na formação de substâncias
como gomas (dextrana e levanas) e ácidos orgânicos (lático e
acético). Esses compostos de origem microbiana vão afetar a
recuperação do açúcar na indústria, pois eles dificultam a
cristalização da sacarose e o rendimento da fermentação.
Sanidade do canavial: Além das perdas diretas na
produtividade, as lesões causadas por pragas e doenças afetam
consideravelmente a qualidade da matéria-prima. O complexo
broca-podridão é o que mais tem afetado a qualidade da cana-de-
açúcar, causando danos e queda na produtividade, além da
deterioração da cultura, principalmente por favorecer a
contaminação bacteriana, que causa diminuição da sacarose e
aumento dos açúcares redutores e das gomas.
Corte, colheita e carregamento: Este é, sem dúvida, um
importante fator responsável pela qualidade da matéria-prima.
Devido à diversidade dos sistemas de corte, a cana-de-açúcar pode
ser queimada, crua, inteira ou picada, resultando em injúrias
mecânicas que, além da degradação de açúcares, favorecem as
contaminações microbiológicas e agravam as perdas. O tipo de
colheita também é fundamental para a qualidade da matéria-prima
que será entregue à indústria. O sistema de colheita com queima
prévia, além de contribuir para o aumento da poluição ambiental,
acelera o processo de biodeterioração da cana. Já na colheita
Qualidade da cana-de-açúcar para processame11to industrial 283

mecânica , colhe-se a cana com grande quantidade de impurezas


minerais e vegetais .

Indicadores industriais da qualidade da


cana-de-açúcar
De acordo com Caldas e Santos (2012), toda e qualquer
indústria de processamento possui em sua estrutura um setor
específico destinado ao controle de qualidade, geralmente vinculado
a um laboratório, que tem como finalidades principais:
• controle de qualidade da matéria-prima;
• acompanhamento dos processos produtivos,
principalmente na avaliação e quantificação das perdas
industriais; e
• controle de qualidade dos produtos finais.
Para monitoramento da qualidade nas indústrias, é
necessário boa estrutura física de laboratório, equipamentos precisos
e confiáveis, quadro técnico competente e bem treinado, além de
eficiente plano analítico.
Havendo interação entre estes três requisitos básicos citados,
são necessárias metodologias adequadas, simples, rápidas e precisas,
bem como todas as ferramentas de gestão de controle que coloquem
à disposição dos técnicos números fidedignos, que atestem a
qualidade da matéria-prima e dos produtos elaborados, além dos
números indicativos do desempenho das indústrias, sempre medidos
em termos de rendimentos e eficiências.
O bom controle de qualidade na indústria sucroenergética
inicia-se com a definição dos parâmetros de avaliação da cana-de-
açúcar. Dessa forma, existem alguns indicadores que pern1item
avaliar tanto a riqueza da cana em açúcares como a qualidade do
produto final, conforme mostrado na Tabela 10.3 (AMORIM, 1999;
LEGENDRE, 2002, citado por RIPOLI; RIPOLI, 2004).
284 Santos, Queiroz e Rabelo

Tabela 10.3 - Principais indicadores da qualidade da cana-de-açúcar

Indicadores da Qualidade Valores Recomendados


POL > 14
Pureza >85%
ATR > 15%
AR < 0,8%
Fibra 11 a 13%
Tempo de queima/corte < 35 h para corte manual
Impureza mineral < 5 kg/t cana
Contaminação < 5,0 x 105 bastonetes/rnl no
caldo
Teor de álcool no caldo <0,6% ou < 0,4% Brix
Acidez sulfúrica < 0,80
Dextrana < 500 ppm/Brix
Amido < 500 ppm/Brix
Broca < 1,0%
Palhiço na cana <5,0%
Ácido aconítico < 1.500 ppm/Brix
Fonte: Adaptado de RIPOLI; RIPO LI, 2004.

POL: Representa a porcentagem aparente de sacarose contida


numa solução de açúcares (caldo de cana). Para a indústria, quanto mais
elevados os teores de sacarose, melhor, sendo recomendado POL > 14.
A cana imatura possui mais açúcares redutores, e estes interferem na
POL para menos.
Pureza: Representa a porcentagem de sacarose contida nos
sólidos solúveis. Quanto maior a pureza da cana, melhor a qualidade da
matéria-prima para se recuperar o açúcar. Para mna 1natéria-prima de
boa qualidade, a pureza da cana deve ficar acima de 85%.
Açúcares Redutores Totais (ART - sacarose, glicose e
frutose): Representam a quantidade total de açúcares da cana. A
Qualidade da cana-de-açúcar para processamento industrial 285

concentração de açúcares na cana varia, em geral, dentro da faixa de 13


a I 7,5%. Entretanto, é importante lembrar que canas muito ricas e com
baixa porcentagem de fibras estão mais sujeitas a danos fisicos e ao
ataque de pragas e microrganismos.
Açúcares redutores (AR): Representam a quantidade de
glicose e de frutose presentes na cana, afetando diretamente a sua
pureza, já que acarretam menor eficiência na recuperação da sacarose
pela indústria. Os açúcares redutores não interferem na produção de
etanol, uma vez que eles conseguem ser metabolizados pela levedura.
Porcentagem da fibra da cana: Representa a matéria
insolúvel em água contida na cana. A porcentagem de fibra influencia
a eficiência da extração da moenda: quanto mais alto o teor de fibra,
menor a eficiência de extração. No entanto, é necessário considerar que
cultivares com baixos teores de fibra são mais suscetíveis a danos
mecânicos ocasionados no corte e transporte, o que favorece a
contaminação e as perdas na indústria. Além disso, cana com baixo teor
de fibra acama e quebra com o vento, fazendo com que haja mais perda
de açúcares durante a lavagem.
Tempo de queima/corte: Representa o tempo entre a queima
do canavial e a sua moagem na indústria (no caso da colheita manual)
ou o tempo entre o corte mecanizado e a moagem. Quanto menor o
tempo entre a queima/corte da cana e a moagem, menor será o efeito de
atividades microbianas nos colmos e melhor será a qualidade da
matéria-prima entregue à indústria. Além de afetar a eficiência nos
processos de produção de açúcar e álcool, o tempo de queima/corte
também altera a qualidade dos produtos finais e seu desempenho nos
processos.
Impureza mineral: As impurezas minerais (terra e areia)
afetam a qualidade da cana-de-açúcar pela contaminação que carregam
para a indústria, gerando desgastes, embuchamentos, entupimentos e
incrustações nos equipamentos, reduzindo assim a sua vida útil.
Contaminação: Lesões, danos mecânicos e injúrias causadas
por insetos, doenças e intempéries serve1n como uma porta de entrada
para contaminação por bactérias, fungos e leveduras, que pode resultar
em grande perda de açúcares.
Teor de álcool no caldo da cana: Serve para avaliar a
qualidade da cana, pois exprin1e o seu potencial de deterioração e a
286 Santos, Queiroz e Rabelo

atividade microbiana. Teores alcoólicos elevados no caldo estão


associados à redução da POL e à intensidade da cor do açúcar.
Acidez sulfúrica: Quanto maior a acidez do caldo, menor será
a qualidade da cana-de-açúcar, uma vez que esse fator prejudica a
decantação, a recuperação e, consequentemente, a qualidade do açúcar.
Dextrana: É um polissacarídeo formado a partir da hidrólise
da sacarose pela ação de bactérias (Leuconostoc mesenteroides) durante
o processo de deterioração, que ocorre após a queima ou corte da cana.
Amido: É um polímero de glicose encontrado na maioria das
plantas na forma de amilose e amilopectina, sendo os teores mais
elevados encontrados na cana imatura. O amido pode causar aumento
da viscosidade das massas, dificultando a cristalização e a filtração do
açúcar, além de intensificar a cor e interferir na POL.
Broca (Diatrea sacchralis): É a principal praga da cana-de-
açúcar. As lagartas atacam a cana, causando "coração morto", brotação
lateral, quebra e atrofiamento de entrenós. A penetração de
microrganismos nas galerias abertas pela broca ocasiona a podridão-
vermelha, que determina a inversão da sacarose, diminuição da pureza
do caldo, aumento de gomas e contaminantes, o que leva à redução do
rendimento industrial (MACEDO et al., 2012).
Palhiço na cana: É considerado indesejável para a indústria,
uma vez que eleva os teores de amido, compostos fenólicos e ácidos
aconíticos no caldo, prejudicando a qualidade do produto final.
Ácido aconítico: Resulta do metabolismo da própria cana a
partir do ácido cítrico. É o ácido orgânico encontrado em maior
quantidade na cana-de-açúcar. Concentrações elevadas de ácido
aconítico aumentam os problemas de incrustação nos equipamentos,
uma vez que haverá necessidade de se usar mais cal na decantação.
Qualidade da cana-de-açúcar para processamento industrial 287

Influência da qualidade da cana-de-


açúcar na produção de açúcar e etanol
Conforme mencionado, a qualidade da cana-de-açúcar está
diretamente relacionada a fatores inerentes à própria planta e a fatores
extrínsecos a ela, como as impurezas minerais e vegetais, além dos
compostos produzidos por microrganismos devido à ação sobre os
açúcares presentes no caldo.
As impurezas minerais e vegetais são os maiores vilões da
qualidade da cana-de-açúcar, ocasionando os seguintes problemas na
indústria:
• perda de capacidade de moagem;
• perda de extração;
• aumento do consumo de energia;
• desgaste de equipamentos;
• dificuldade para tratamento do caldo;
• dificuldade da qualidade do açúcar;
• redução do rendimento da fermentação;
• problemas operacionais com a caldeira; e
• redução na densidade da carga /aumento do custo de
transporte.
A necessidade de avaliar a qualidade da cana durante a etapa de
colheita, carregamento e transporte deve-se à forte interferência dessas
etapas no processo produtivo. Essa avaliação é fundainental, pois tem
influência direta na eficiência industrial e, consequentemente, na
qualidade do produto final (açúcar e etanol).
As exigências ambientais e legais para o fim gradativo da
queima da cana-de-açúcar e a substituição da colheita manual pela
mecanizada acarretam aumento expressivo da quantidade de impurezas
vegetais e minerais na indústria (FELIPE, 20 l O; RlPOLt RIPO LI,
2004; FERNANDES et al., 2003). Essas impurezas, como folhas,
ponteiros, raízes, rizomas, panículas e plantas daninhas, podem
288 Santos, Queiroz e Rabelo

implicar 1naiores teores de amido, compostos fenólicos, ácido aconítico


e minerais, reduzindo a qualidade da matéria-prima.
É importante considerar que o fim gradativo da queima da cana-
de-açúcar leva ao aumento expressivo da quantidade e disponibilidade
de palha no campo. Do ponto de vista energético, é interessante, pois a
palha apresenta grande potencial para geração de calor e eletricidade e
para produção de etanol celulósico (SANTOS et al., 2012). Para a
produção de açúcar e etanol, as impurezas vegetais não são desejáveis,
devido à presença de compostos que prejudicam a qualidade do produto
final, além de aumentar os custos de processamento (PA YNE, 1989;
RIPOLI; RIPOLI, 2004).
É evidente que as indústrias alimentícias estão exigindo açúcar
com padrões de qualidade adequados às exigências de seus mercados.
Para isso, a qualidade da matéria-prima é de extrema importância, uma
vez que o cozimento e o desempenho dos cozedores dependem muito
da qualidade da cana entregue na unidade de produção, e esse, entre
outros fatores, é o que mais contribui para o melhor ou pior desempenho
do setor de cozimento e da qualidade do açúcar (CAV ALCANTE et al.,
2012).
Alguns compostos presentes na própria cana, como compostos
fenólicos e flavonoides, têm importância fundamental no
processamento, influenciando e afetando a cor do açúcar, já que podem
permanecer nos cristais, prejudicando completamente a qualidade do
produto final e aumentando os custos de refinamento (SANTOS, 2008).
As impurezas minerais que acompanham a cana na colheita são
foco de contaminação bacteriana, pois contribuem para a formação de
ácidos, a redução da pureza e o aumento da dextrana na cana, além de
prejudicar a qualidade do açúcar e da fermentação. Por exemplo, o
ataque de pragas como a broca diminui a eficiência fermentativa,
devido à produção de compostos fenólicos pela planta, bem como
aumenta a acidez por meio do sistema hormonal, o que causa toxicidade
para as leveduras.
O propósito deste capítulo foi discutir de forma simplificada os
parâmetros de qualidade aos quais a cana-de-açúcar deve atender para
garantir aumento da "eficiência industrial" e melhor qualidade dos
produtos finais.
Qualidade da cana-de-açúcar para processamento industrial 289

Entretanto, para que sejam alcançados esses objetivos, é


fundamental formatar procedimentos de amostragens para canas de pré-
colheita (índice de maturação); utilizar rigorosamente os dados dos
índices de maturação na definição das áreas a serem queimadas e
cortadas; realizar eficiente controle de brocas; formatar procedimento
para quantificação do tempo de queima; estabelecer uma logística de
transporte; implantar determinações de dextrana, pH e acidez no caldo;
estabelecer metas para impureza mineral e vegetal; e capacitar todos os
colaboradores envolvidos nessas ações.
Assim, é necessária uma ação conjunta dos setores agrícola e
industrial para minimizar as perdas e maximizar .os ganhos, a fim de se
obter um produto de qualidade.

Referências
BARBOSA, M. H. P.; SILVEIRA, L. C. 1. Melhoramento genético e recomendações
de cultivares. ln: SANTOS, F. A.; BORÉM, A.; CALDAS, C. (Ed.). Cana-de-açúcar:
bioenergia, açúcar e etanol - tecnologias e perspectivas. 2. ed. Revisada e ampliada.
Viçosa, MG: Editora UFV, 2012. p. 313-331.
CALDAS, C. Manual de análises selecionadas para indústrias sucroalcooleiras.
Maceió: Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Alagoas, 1998. 422 p.
CALDAS, C.; SANTOS, F. Controle de qualidade nas indústrias de açúcar e álcool. ln:
SANTOS, F. A.; BORÉM, A.; CALDAS, C. (Ed.). Cana-de-açúcar: bioenergia,
açúcar e etanol - tecnologias e perspectivas. 2. ed. Revisada e ampliada. Viçosa, MG:
Editora UFV, 2012. p. 357-368.
CAV ALCANTE, C. S; ALBUQUERQUE, F. M. Processo de produção do açúcar. ln:
SANTOS, F. A.; BORÉM, A.; CALDAS, C. (Ed.). Cana-de-açúcar: bioenergia,
açúcar e etanol - Tecnologias e perspectivas. 2. ed. Revisada e ampliada. Viçosa, MG:
Editora UFV, 2012. p. 391-450.
FELIPE, M. G. A. A qualidade da matéria-prima na produção de etanol de cana-de-
açúcar. Jn: CORTEZ, L. A. 8. (Ed.). Bioetanol de cana-de-açúcar: P&D para
produtividade sustentabilidade. São Paulo: Edgard Blücher Ltda., 2010. p. 553-559.
COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Acompanhamento de safra
brasileira: cana-de-açúcar, terceiro levantamento, dezembro/2014 - Companhia
Nacional de Abastecimento. Brasília: Conab, 2014.
FERNANDES, A. C. Cálculos na agroindústria de cana-de-açúcar. 2. ed.
Piracicaba: STAB, 2003. 240 p.
MACEDO, N.; MACEDO, D.; CAMPOS, M. B. S.; NOVARETII, W. R. T.;
FERRAZ, L. C. C. 8. Manejo de pragas e nematoides. ln: SANTOS, F. A.; BORÉM,
290 Santos, Queiroz e Rabelo

A.; CALDAS, C. (Ed.). Cana-de-açúcar: bioenergia, açúcar e etanol - tecnologias e


perspectivas. 2. ed. Revisada e ampliada. Viçosa, MG: Editora UFV, 2012. p. 119-159.
MUTION, M. J. R.; MUTION, M. A. Identificação de perdas de açúcares no setor
agrícola. STAB, v. 23, n. 4, p. 42-46, 2005.
PAYNE, J. H. Operações unitárias na produção de açúcar de cana. São Paulo:
Nobel, 1989. 245 p.
PERErRA, L. L.; SEGATO S. V. Colheita da cana-de-açúcar: corte manual.
Atualização em produção de cana-de-açúcar. Piracicaba: Esalq/USP, 2006. p. 307-346.
PRASAD, M.; JAIN, P. K.; NIGAM, G. D. Effect of iron on sugar crystals during
storage. Int. Sugar Jnl., v. 91, n. 1091 , p. 222-226, 1989.
QUALIDADE DA MATÉRIA-PRIMA: Dr. Carlos Eduardo Vaz Rossell - CTBE
(palestra/relator); Dra. Márcia Justino R. Mutton - Unesp e Dr. Jorge Horii - Esalq-
USP (debatedores).
RIPOU, T. C. C.; RIPOU, M. L. C. Biomassa de cana-de-açúcar: colheita, energia e
transporte. Piracicaba, SP: 2004. 302 p.
SANTOS, F. A. Análise de trilha dos principais constituintes orgânicos e
inorgânicos sobre a cor do caldo em cultivares de cana-de-açúcar. 2008. 64 f.
Dissertação (Mestrado em Fitotecnia) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG,
2008.
SANTOS, F. A.; QUEIROZ, J. H.; COLODETTE, J. L.; FERNANDES, S. A.;
GUIMARÃES, V. M.; REZENDE, S. T. Potencial da palha de cana-de-açúcar para
produção de etanol. Revista Química Nova, v. 35, p. 1-7, 2012.
STUPIELLO, J. P. Relação açúcares redutores/cinzas. STAB, v. 19, n. 2, p.10, 2000.
STUPIELLO, J. P. Efeito dos não açúcares. STAB, v. 20, n. 3, p. 10, 2002.

Você também pode gostar