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Aluízio Borém
Sumário
Prefácio, 7
Capítulo 1
Planejamento da Lavoura, 9
Capítulo 2
Plantio, 29
Capítulo 3
Nutrição e Adubação, 66
Capítulo 4
Manejo de Pragas, 94
Capítulo 5
Manejo de Doenças e Medidas de Controle, 108
Capítulo 6
Plantas Daninhas, 139
Capítulo 7
Irrigação, 177
Capítulo 8
Colheita, 208
Capítulo 9
Enfardamento de Palha, 255
Capítulo 10
Qualidade da Cana-de-Açúcar para Processamento Industrial , 277
Prefácio
As plantações de cana-de-açúcar já são conhecidas dos
brasileiros há quase cinco séculos. Naquele começo, rapadura,
cachaça e açúcar mascavo eram produtos especiais. Há quase um
século, o Brasil tem carros movidos a álcool. E, no mesmo período, o
país vem sendo um importante player global na produção e exportação
de açúcar. Mas foi nos últimos 35 anos que o setor experimentou seu
mais impressionante salto de produção e produtividade, com base em
um progresso tecnológico absolutamente espetacular. O Proálcool,
maior programa global de alternativa energética resultante dos
"choques do petróleo" dos anos 1970, deu uma nova feição à cadeia
produtiva canavieira. Logo em seguida, a instituição do pagamento da
cana pelo teor de sacarose produziu uma das maiores revoluções
tecnológicas do agronegócio do século XX: novas variedades
desenvolvidas, diferentes tratos culturais, novas épocas de plantio e
colheita, outras fónnulas de adubação, nova mecanização; e
implantação de técnicas vigorosas em cada segmento da agroindústria.
Essas mudanças fizeram o Brasil se transformar, de forma sustentável
e altamente competitiva, no maior exportador mundial de açúcar e
etanol.
Os horizontes para o futuro são ainda mais promissores: a
chamada "economia verde", terminologia repetida à exaustão nos
grandes encontros dos maiores líderes mundiais, abre espaços
monumentais para a agroenergia, seja para os biocombustíveis, seja
para a bioeletricidade, seja para o uso do bagaço peletizado como
alternativa à lenha em lareiras nos países frios. E não há um único
tema desses que não esteja muito bem tratado neste oportuno e
importante livro. Neste momento da trajetória humana, em que o
aquecimento global é um grande problema, a cadeia produtiva da cana
tem um papel que transcende as fronteiras nacionais. Contudo, há um
aspecto preocupante em tudo isso: a falta de coordenação de políticas
para o setor, tanto em âmbito público quanto privado.
Até hoje não definimos quanto etanol queremos ou vamos
produzir, em que tempo e para qual mercado - interno ou e terno.
Não temos modelos de contrato de longo prazo. Não sab mos qu m
vai cuidar da logística, da estocagem, dos contratos de produção e da
certificação do produto final. Não temos coordenação nas áreas de
desenvolvimento tecnológico e formação de recursos humanos. Não
há definição do futuro do álcool hidratado. Nada se organiza sobre a
questão alimentos x energia, tema ridículo que continua na mídia por
causa de interesses menores de outros setores. O sistema de produção,
tão bem caracterizado por Barbosa Lima Sobrinho, no Estatuto da
Lavoura Canavieira, nos anos 40 do século passado, virou poeira com
a extinção do IAA. O fornecedor de cana, que "entrega" sua produção
à usina, e não a vende, tem uma posição muito desconfortável no elo
da cadeia produtiva, porque não pode escolher a quem vender: só pode
fazê-lo para uma indústria próxima da sua área agrícola. Isso
desnivela a cadeia produtiva. E falta arbitragem no processo, desde o
fim do IAA, embora o Consecana seja um bom começo de conversa.
Enfim, num segmento tão promissor para o Brasil, em um
momento tão importante, a falta de coordenação pode inibir o avanço
que o País pode ter, até mesmo liderando uma mudança na geopolítica
global, exportando tecnologia para os países tropicais pobres da
América Latina, África e Ásia produzirem agroenergia, associada a
alimentos. Por tudo isso, é uma grande notícia o lançamento deste
livro esclarecedor, escrito por algumas das maiores autoridades em
cada um dos temas tratados.
Os editores.
PLANEJAMENTO DA
LAVOURA 1
Fernando Bom.fim Margarido 1
Fernando Santos2
Introdução
Nos dias de hoje, os riscos em administração são bem
menores que antigamente. Entretanto, a responsabilidade é bem maior,
exatamente pelos processos tecnológicos que cercam uma decisão
administrativa. De acordo com a definição clássica de administração,
pode-se dizer que administrar é planejar, organizar, dirigir e controlar.
Considerando-se essa definição, o planejamento significa decidir
antecipadamente o que deve ser feito para alcançar determinado fim,
ou seja, maxnruzar o rendimento agrícola e industrial e,
consequentemente, os lucros. Esse é o ponto de partida para um bom
gerenciamento.
O setor sucroenergético brasileiro está em um de seus
melhores momentos. Houve modificações importantes na dinâmica
desse setor, tendo como consequências a diminuição da
competitividade das unidades industriais, a expansão do cultivo da
cana-de-açúcar e a adequação das estratégias adotadas pelas empresas.
Neste capítulo será abordado o planejamento agrícola por meio do
conhecimento técnico voltado para as práticas operacionais. Trata-se,
portanto, de uma visão simplificada do planejamento.
1
Engenheiro-Agrônomo e Sócio da M.S. Agro - Consultoria e Assessoria cm Gestão Jo
Agronegócio. E-mai l: Fcmando.margarido@msagro.com.br
2
Engenheiro-Agrônomo, M.S. e D.S. cm Oioquímica Agrícola. Universidade Federal de , ,·,.~isa.
E-mail : fa lmcidasantos8 1@yahoo.com.br
10 Margarido e Santos
Planejamento Agrícola
A principal função de um gerente agrícola é o fomento da
atividade. O fomento agrícola nada mais é do que a garantia de
fornecimento de matéria-prima para a indústria, o que envolve, no
caso da cultura da cana-de-açúcar, produção agrícola, conservação e
preparação do solo, plantio, tratos culturais da cana-planta, colheita,
tratos culturais da cana-soca e o abastecimento da usina com matéria-
prima durante o período de safra. O abastecimento se refere não só à
quantidade total de cana a ser moída durante a safra, mas também ao
abastecimento hora a hora, envolvendo o conceito de logística em
todo o canavial, observando-se o dimensionamento de máquinas e a
disponibilidade de pessoas. Além disso, segundo Magalhães et al.
(201 O), o gerente agrícola deverá contribuir para atender a um
conjunto de metas estratégicas:
(i) aumentar a produtividade média atual, que é de 85
toneladas por hectare (MAPA, 2012);
(ii) atingir entre 120 e 150 toneladas por hectare em 20 anos;
(ii) reduzir 30% no custo da produção da biomassa nos
próximos anos, com a aplicação de novas tecnologias; e
(iii) preservar o ambiente com manejo agrícola, redução dos
impactos negativos causados pelo preparo intensivo de solo e melhor
aproveitamento, para fins energéticos, da biomassa produzida.
O sistema de produção agrícola tem relevância para o
planejamento estratégico das unidades produtoras de açúcar e etanol,
pois permite presumir a produtividade, o annazenainento e a
comercialização dos produtos finais. Atualmente, o custo do cultivo
de cana-de-açúcar representa aproxin1adamente 60% do custo total da
produção de etanol e açúcar. Desses, mais de 60% se referem ao
manejo agrícola.
Segundo Pinazza ( 1985), os elevados índices de produtividade
agrícola devem-se a quatro fatores básicos: físicos, estruturais,
institucionais e de desenvolvimento. Os fatores fisicos representam as
condições edafoclimáticas de uma região e a exploração dos produtos
agrícolas. Os institucionais envolvem a ação governamental por meio
das políticas agrícolas implantadas. Já os de desenvolvimento estão
Planejamento da lavoura 11
Planejamento de Plantio
No planejamento de plantio, é importante o conhecimento do
potencial produtivo da região, tanto em relação ao clima como em
relação à qualidade do solo e aos recursos disponíveis para a produção
(uso de vinhaça, irrigação e adubação). Esse conhecimento é
fundamental para o sucesso do ciclo da cana-de-açúcar e,
principalmente, por ocasião da implantação de unidade de produção.
No caso de uma unidade nova, basta observar o histórico de
produtividade dos últimos cinco ou seis anos, no máximo, uma vez
que o comportamento das variedades já não é o mesmo.
A questão técnica é muito importante, pois é necessário o
levantamento da quantidade de terras agricultáveis disponíveis de seus
potenciais produtivos, das oportunidades de mercado regional em
relação à aquisição de matéria-prima, das opções de arrendamento ou
parceria, do zoneamento edáfico ( classificação em ambiente de
produção), da topografia (viabilidade de colheita mecânica), das
características climáticas da região (temperatura, precipitação,
luminosidade, fotoperíodo, balanço hídrico e ocorrência de geadas) e
do aspecto viário da região, visando ao escoamento da produção. Há
casos em que esses fatores inviabilizam uma unidade de produção,
con10 a instalação de um pedágio logo após um grande rio, elevando o
custo do transporte, e a proibição da queimada de cana em áreas com
declividade acima de 12% ou com pedras. É interessante notar que,
12 Margarido e Santos
J
16 Margarido e Santos
cana de primeiro corte ( 1/7), que seria usada para muda, não é usada e,
portanto, passa a somar na safra seguinte; e ii) a própria reforma, que,
se não realizada, aumenta a área de corte para o ano seguinte.
Variedades Destaque
Ambiente de Produção
Outono Inverno Primavera -
o
t:5
SP80-1816* Soqueira,canacrua
SP80-1~42 Soqueira
SP80-3280* Soqueira
SP81-3250** 1 Riqueza e produtividade
SP83-2847 Rusticidade
SP91-1049 Precocidade
---
CTC2* Soqueira
Continua...
N
N
N
CTC6 Produtividade
CTC7 Precocidade
CTC9 Precocidade
CTCI 1 Produtividade
CTCl7 Precocidade
CTCI9 Produtividade
CTC20 Produtividade
~
Conti nua ...
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Tabela 1.13 -Cont. õ
Época de Colheita ~
Ambiente de Produção i5"
Variedades Destaque Outono Inverno Primavera ~
abr. 1 maio I jun. jul. 1 ago. 1 set. out. 1 nov.
-
::;
IACSP94-2094 Rusticidade
IACSP94-2101 Responsiva
IACSP95-3028 Superprecoce
IACS 1 • : , _
Riqueza e produtividade
50Ll0
- --
LA.CSP95-
Produtividade
5094*
IA CSP96-3060 Riqueza e produtividade
-
RB835054 1 Riqueza
N
w
N
-+::-
RB935744 Ru~ticidade
~
-
:::s
Cl
e..,
Planejamento da lavoura 25
Planejamento de Colheita
Atualmente, há no Brasil perspectiva de aumento significativo
de aéreas plantadas com cana-de-açúcar. A expectativa é de que
grande parte da cana cultivada deixe de ser queimada e passe a ser
colhida crua (mecanizada), deixando a colheita semimecanizada
apenas para locais de grande declividade e de difícil acesso para as
colhedoras. A prática da pré-limpeza da cana-de-açúcar com fogo
deve ser eliminada nos próximos anos. Desse modo, o planejamento
de colheita da cana-de-açúcar é muito importante para assegurar ao
canavial o melhor rendimento agrícola, pois dele depende o fomento
da indústria hora a hora e a garantia da máxima qualidade do canavial.
No planejamento, o dimensionamento dos recursos humanos
(cortadores de cana, tratoristas, motoristas etc.) e matena1s
(caminhões, guinchos, colhedoras, transbordas, caminhão-oficina,
bombeiros e tratores) é de extrema importância. Um dimensionamento
adequado é determinante do sucesso ou fracasso do fomento, bem
como do lucro ou prejuízo da operação. Como a colheita influencia o
custo total da matéria-prima e, consequentemente, o custo final do
açúcar e do etanol, um dimensionamento adequado dessa atividade
resultará em baixo custo da operação. Sabe-se que um equipamento
traz maior lucro quanto maior é seu rendimento operacional e que
máquina parada é custo sem receita; assim, quanto mais justa for a
estrutura disponivel, maior será a rentabilidade da atividade. O
tamanho da fila de caminhões ou a falta de cana com que carregá-los,
durante a safra, diz muito sobre a eficiência do serviço e a
rentabilidade da atividade. O gerente experiente que vê uma fila de
caminhões para descarregar cana em determinada unidade industrial
pergunta primeiro se houve quebra na usina, depois verifica se as
26 Margarido e Santos
Considerações Finais
Planejar é, sobretudo, realizar um plano do que deve ser feito
e como deve ser feito, tomando como base uma previsão, a fim de
obter os melhores resultados possíveis para a empresa. O
planejamento desempenha importante papel na atividade agrícola
devido à expansão de áreas cultivadas com cana, ao aumento de
produção e à necessidade de se trabalhar de acordo com o orçamento.
Por fim, deve-se destacar que o custo da matéria-prima em
uma unidade produtora de açúcar e etanol é em torno de dois terços do
custo final dos produtos. Esse número reflete a importância do setor
agrícola no setor sucroenergético.
Referências
ABBJTT, B.; MORTON, M. Florida' s sugarcane industry: progress to date. Citrus &
Vegetable Magazine, v. 43, p. 10, 12-13, 26, 28, 1980.
ALV AREZ, J. ; DEREN, C.W.; GLAZ, B. Sugarcane selection for sucrose and
tonnage using economic criteria. Proceedings of the Sugar Cane lnternationaJ
Conference. November-December 6-1 O, 2003.
BARBOSA, M. H. P.; SILVEIRA, L. C. I. Melhoramento genético e recomendações
de cultivares. Jn: SANTOS, F. A.; BORÉM, A.; CALDAS, C. (Ed.). Cana-de-
açúcar: bioenergia, açúcar e etanol - tecnologias e perspectivas. 2. ed. Viçosa,
MG: 2012.p. 313-331.
BATALHA, M. O. (Coord.). Gestão agroindustrial: GEPAI: grupo de estudos e
pesquisas agroindustriais. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
CAMPOS, M. C. C.; JUNIOR, J. M.; PEREIRA, G. T.; SOUZA, Z. M.;
MONT ANARI, R. Planejamento agrícola e implantação de sistema de cultivo de
cana-de-açúcar com auxílio de técnicas geoestatísticas. Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 13, n . 3, p. 297-304, 2009.
28 Margarido e Santos
Introdução
O plantio é uma etapa de fundamental importância para o bom
desenvolvimento e a boa produção da cultura da cana-de-açúcar, visto
ser esta uma planta semiperene e esse processo ser responsável pela
longevidade do canavial. Qualquer erro nessa operação, como falha no
estande ou erro de espaçamento, acarretará problemas em toda a vida
útil do canavial, comprometendo a produção ao longo dos cortes.
Ambiente de Produção
É a definição dos ambientes produtores de cana-de-açúcar de
acordo com suas características fisicas, químicas e morfológicas e,
também, com a condição climática. Segundo Prado (2005), o ambiente
de produção é a soma das interações dos atributos de superficie e,
1
Engenheiro-Agrônomo. especialista em plantio mccnnizado de cana-de-açúcar.
E-mail: xicofz@yahoo.com.br
30 Barbosa
12
PVAc 121 , PVc ' , LVcf, LVe, LVAc. CXc. NVcf. NVc. MP.
AI > 100 ADA. e. cf, m, CTC média/alta
MX•, GMc, GXc. GMm. GXm
111
PVAc , PVc(l) . PAc <l>. LVcf, LVc. LVAc. CXc. NVcf.
A2 96 - 100 ADM, e, cf, CTC média/alta
' NVc
121
ADA, m, mf, CTC média/alta IPVAmlll, PVm , PAm!l 1• LVm( LVm. LVAm. LAm. CXm.
BI 92 - 96 ADM, mf, m, ma, CTC média/alta NVm( NVm, PVArrn•
131
ADB, cf. e, CTC média/alta LVcf, LVc, LVAc, LAc, NVcf, NVc. PVAc • PVc m.
1
ADM, m, mf, CTC média/baixo rVAmlll . PVmlll, PAmm, LVmf, LVm. LVAm. LAm. CXm
B2 88 - 92
ADA, m11, CTC média/alta I GMma, GXma
ADMB, wf, w, a, CTC méd1a/ulta LVw, LVw( L\/Aw, Law, LVa. LVAa. LAa
141 (4) (4) 14)
E2 < 68 ADMB, a, d, CTC méd ia/baixa l'V,\a , PVn • l'VAa • PAa , RQa. RQd
AD~113. e, m, d, ma, a Rlc, RLm, Rld, Rlma, RLa, l'VAá41
Variedades
A escolha da variedade adequada é fundamental para se obter
matéria-prima com maturação adequada ao longo da safra, além de
garantir a brotação da soqueira em diferentes épocas. A escolha da
variedade deve levar em consideração muitas variáveis, como a
adaptabilidade à colheita mecânica, precocidade de maturação,
brotação da soqueira, produtividade (tonelada/hectare, kg ATR/ha),
características industriais (Pol, Brix e teor de fibra), bem como sua
adequação aos ambientes de produção.
No Brasil, o melhoramento genético da cana-de-açúcar é
realizado pelas seguintes instituições: IAC - Instituto Agronômico de
Campinas, que produz as variedades IACs; RIDESA - Rede
Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro,
com as variedades RBs; CTC - Centro de Tecnologia Canavieira, com
as variedades CTCs e as antigas SPs: e CANAVIALIS, com as
variedades CV s.
,
Epoca de Plantio
A cana-de-açúcar, na região centro-sul do Brasil, pode ser
plantada durante todo o ano, porém há algumas restrições que se
referem à disponibilidade hídrica e às características da variedade
quanto à maturação e ao ciclo fenológico .
32 Barbosa
Definição do Espaçamento
A definição do espaçamento é vital para o plantio, pois
possibilita o melhor aproveitamento do espaço, além da otimização
das operações de plantio, trato e colheita. O espaçamento adequado
contribui para o aumento da produção, pois interfere favoravelmente
na disponibilização de recursos como luz, água e temperatura -
variáveis consideradas detenninantes para que haja aumento de
Plantio 33
Profundidade do Sulco
A profundidade do sulco é variável, porém o ideal é entre 20 e
35 cm, com a sobreposição de 5 a 8 cm de terra sobre o rebolo, no
fundo do sulco. Essa variação é dependente do tipo de solo e também
da época do plantio.
Preparo do Solo
É uma etapa posterior ao planejamento e muito importante
para todo o ciclo da cultura, visto que é a partir dela que serão
realizadas todas as demais operações, desde o plantio até a colheita.
Devido à grande diversidade de solos e às políticas gerenciais
existentes nas áreas produtoras de cana-de-açúcar, há muitas variações
na operação de preparo do solo, sempre buscando melhor adequação
da operação à realidade local.
Carreadores
Tem como função primordial o trânsito de veículos e insumos
para abastecer a cultura e facilitar a sua retirada para a indústria. Serve
como ponto de apoio às operações principais, como plantio e colheita,
pois é o local onde deve ocorrer o trânsito de veículos pesados, de
fonna a evitar o trânsito excessivo na área cultivada. Sua largura varia
de 3 a 1O m, de acordo com a sua importância na logística do sistema
produtivo.
Primeiramente, deve-se desenhar o trajeto dos caminhões para
retirada da matéria-prima e transporte de insumos; esses trajetos
podem ter largura de 5 m. Em estradas onde ocorrerá cruzamento de
caminhões, adota-se largura de 1O m. Em carreadores transversais à
suJcação, de pouco trânsito, podem-se adotar 3 m de largura; já em
locais de entrada e saída de sulcação, próximos a cercas e outros
obstáculos, deve-se optar por carreadores com 5 m de largura, para
facilitar as manobras dos equipamentos.
,
Nivelamento e Sistematização da Area
As diferentes conformações do terreno influem na
qualidade Jo trabalho e no rendimento dos equipamentos
utilizados na condução dos canaviais. Além da declividade do
terreno, a concavidade e ondulação devem ser consideradas e,
quando seus efeitos negativos aumentarem demasiadamente o
custo de produção, devem ser utilizadas técnicas para seu
nivelamento ou para a sua sistematização (STORINO et ai..
2008).
Esta operação pode ser muito onerosa, dependendo do volwne
de terra a ser movimentado, porém os beneficios para o
desenvolvimento da cultura e a realização das operações futuras
podem compensar o custo. No plantio e na colheita mecanizada, o
nivelamento e a sistematização do terreno são indispensáveis para o
melhor desenvolvimento dessas tecnologias.
Existem diversos equipamentos disponíveis no mercado
nacional para realização desta operação. Um dos mais simples ~ a
plaina de arrasto, com dive r"as forma s e tamanhos. Há também o
Plantio 37
Terraceamento
A construção dos te1Taços tem por objetivo preservar o solo da
ação das águas de chuva, facilitando sua infiltração, no caso de
terraços em nível ou de infiltração, ou direcionar as águas das chuvas
para um escoador natural, no caso de terraços em desnível.
Os terraços em nível são construídos em mesma cota (altitude)
e têm a função de infiltrar toda a água que entrar em sua área de
abrangência. Sua altura geralmente é definida de acordo com o
equipamento utilizado, e a distância entre os terraços varia com o tipo
de solo, a declividade do terreno, o manejo da cultura e o regime
pluviométrico da região.
Geralmente, para a cana-de-açúcar, os terraços em nível
embutido são os mais utilizados e caracterizam-se por serem
construídos de modo que sua calha ou canal tenha forma triangular,
ficando o talude que separa o canal do camalhão praticamente na
vertical (STORINO et al., 2008).
Motoniveladoras e tratores equipados com lâminas podem
realizar o terraço embutido, além do terraceador, que apresenta
rendimento operacional de 4,6 ha.h-1• Nesses ten-aços, é extremamente
importante o encabeçamento das curvas, para que as águas da chuva
que estão nas estradas e nos carreadores sejam direcionadas para eles,
evitando erosão nesses caminhos.
Atualmente, tem-se diminuído o uso de terraços em nível
embutidos nos canaviais para aumentar o rendimento operacional e
facilitar o dimensionamento dos talhões. Com o emprego de novas
tecnologias, como levantamento planialtimétrico e sulcação
georreferenciada, aumentou-se o uso de te1Taços de base larga, que,
diferentemente do terraço embutido, permite melhor traçado de
sulcação, aumentando assim o rendimento operacional.
38 Barbosa
Preparo Convencional
Geralmente, o preparo convencional do solo tem por objetivo
inverter e revolver uma camada profunda deste, destruir e incorporar ),
Preparo Reduzido
É uma técnica conservacionista que visa à diminuição do número
de operações realizadas no preparo convencional e à utilização de
equipamentos mais leves. Não deve haver, por exemplo, deficiência de
calcário e fosfato, ou pragas de solo, no tetTeno a ser preparado.
Geralmente é realizada a dessecação da área para controle de plantas
daninhas e uma subsolagem para descompactação do ten-eno.
Plantio 39
Plantio Direto
Amplamente utilizada na produção de grãos e cereais, esta
técnica tem expandido bastante na cultura da cana-de-açúcar, sobretudo
em áreas com rotação de culturas com soja e outras leguminosas.
Os sulcadores, e mesmo as plantadeiras, equipados com disco
corta-palha na frente possibilitam a realização do plantio direto
mesmo com alta quantidade de massa vegetal acamada sobre o solo.
Para adoção dessa tecnologia, é necessário verificar a compactação do
terreno, pois há casos em que é feita uma subsolagem para quebra da
camada compactada e, sem revolver o solo, é realizado o plantio
mecanizado sobre a palhada.
Mudas
A cana-de-açúcar é uma planta semiperene, razão pela qual
seu plantio é realizado apenas a cada cinco ou mais anos, o que toma
muito importante a qualidade da muda a ser usada. Para um plantio
longilíneo, devem-se utilizar mudas que, além de adequadas ao
ambiente onde serão introduzidas, devem ser livres de pragas e
doenças. A boa qualidade das mudas é o fator de produção de mais
baixo custo e que maior retorno econfünico proporciona ao agricultor,
principalmente quando a muda é produzida por ele próprio.
Para produção de mudas, é necessário que o material básico
seja de boa procedência, com idade de 9 a 12 meses, sadio,
proveniente de cana-planta ou primeira soca e que tenha sido
submetido ao tratamento térmico.
A tecnologia empregada na produção de mudas é praticamente
a mesma dispensada à lavoura comercial, apenas con1 a introdução de
algumas medidas fitossanitárias, quais sejam:
4.0 Barbosa
Plantio
O plantio de cana-de-açúcar, desde a chegada da culhlfa ao
Brasil, ainda no período colonial, demanda exacerbada mão de obra.
Com o desenvolvimento da agricultura, foram disponibilizados
equipamentos para facilitar esta operação. Inicialmente, foi utilizada a
força animal para tracionar os primeiros implementes de sulcação, nos
Plantio 41
42 Barbosa
:i(
,
Preparo da extração de expiante - ESTAGIO 1
O explante é constituído de ápices caulinares oriundos das
gemas de minitoletes de variedades (clones) de cana-de-açúcar sadia
em plena vegetação (6-8 meses de idade). Os minitoletes são
desinfestados com hipoclorito de sódio (2,5% cloro ativo; imersão 1O
min) e lavados e1n água pura. Em seguida, os pequenos toletes são
colocados para brotar em substrato esterilizado ( vermiculita ou
composto orgânico) em casa de vegetação (incubado a 3 7ºC; 15 dias).
Na sequência, selecionam-se os ponteiros dos brotos mais vigorosos
(cerca de 20 cm) e, no laboratório, após lavagem com água destilada,
é extraído um pedaço, contendo o meristema apical, com cerca de 5
cm. Fazem-se uma desinfestação superficial com hipoclorito de cálcio
(65% cloro ativo; imersão 15 1nin) e uma lavagem, por itnersão, com
água destilada autoclavada, em ambiente asséptico, numa capela de
fluxo laminar. Os ápices caulinares (2-3 mm) são extraídos e
inoculados em tubos de ensaio (2,5 x 8,5 cm) contendo ponte de papel
e 8,0 mL de meio denominado MS 1. Neste primeiro estágio, o meio
de cultura contém cinetina (O, 1mg L-1) como o único regulador de
crescimento.
A composição desses meios de cultura foi pesquisada por
Murashige e Skoog (1962) e é conhecida pelas abreviações MS
seguido do número de referência do estágio de desenvolvimento:
MS 1, MS2 e MS3, correspondentes aos estágios I, II e III.
respectivamente.
Os frascos de cultivo ficam e1n câmara de crescimento com
temperatura de 28-30ºC, iluminação com lâmpadas fluorescentes de
3.000 Lux (± 38 µmol. m·2 s· 1; distância de 20 cm dos recipientes) e
46 Barbosa
Transplantio e aclimatação
Após 15-20 dias, as touceiras mais desenvolvidas são retiradas
do meio de cultura e subdivididas em manejas com as folhas aparadas;
para evitar o ressecamento das raízes antes do transplante, as touceiras
são postas em recipientes com água.
O transplante para a condição ex vitro é feito em recipientes
próprios para mudas (copos de plásticos, saquinhos de plásticos ou
bandejas de isopor), contendo substrato esterilizado. En1 estufa com
sombreamento, as mudas transplantadas são mantidas em rnnidade
relativa acima de 80% e temperatura de 28-35ºC. Após 15 dias, é
Plantio 47
Plantio Manual
O verdadeiro plantio manual é aquele em que a abertura dos
sulcos, a distribuição da cana, a redução da cana em reboios de
aproximadamente 50 cm e o fechamento dos sulcos são realizados
manualmente. Isso pode ocorrer em áreas muito declivosas ou culturas
pouco tecnificadas com abundância de mão de obra, porém com
baixíssimo rendimento operacional. Nos dias atuais, é raro encontrar
áreas comerciais com essa forma de plantio no Brasil. Geralmente,
utiliza-se inteira na propagação da cultura, mas pode-se também
adotar outras formas de propagação.
Plantio Semimecanizado
O plantio denominado semimecanizado é conhecido
usualmente como manual, pois algumas das operações são
mecanizadas, como a abertura dos sulcos de plantio (sulcação) e o
fechamento desses sulcos ( cobrição), e outras são manuais, como a
colocação das mudas no sulco e sua pi cação (diminuição do tamanho
dos seus reboios).
Sulcação
A abe1tura dos sulcos de plantio geraln1ente é mecanizada, de
acordo com o espaçamento e a profundidade definidos no
planejamento. Pode-se realizar a aplicação de fe1iilizantes juntamente
com essa operação. Os sulcadores atuais oferecem a opção com
marcadores de sulco e banqueta, para facilitar e aumentar o
rendimento operacional.
O marcador de sulco auxilia o h·atorista, marcando o local
onde o conjunto trator-implemento voltará sulcando as linhas; já o
marcador de banqueta marca as linhas a serem deixadas sem sulcar,
para facilitar o trânsito da carreta ou do caminhão c01n 1nudas. Essas
linhas serão sulcadas após a distribuição de mudas para o fechamento
da área.
Plantio 49
MPB ou Micropropagação
Após a sulcação, adubação e aplicação de defensivos, as
caixas são distribuídas ao longo dos sulcos, de acordo com o cultivar.
Em seguida, as mudas são dispostas nos sulcos e se faz o cobrimento
com o uso de enxada. O plantio poderá também ser realizado através
de " mat racas"N
. esse caso, enquanto uma pessoa " bate" a matraca,
outra vai abastecendo o equipa1nento co1n a muda. Com esse sistema,
Plantio 51
"Cobrição"
Após a distribuição das mudas no sulco, deve-se cobri-lo o
mais rápido possível, para reduzir a perda de água nas paredes que
estão expostas e, principalmente, para evitar o ressecamento dos
toletes devido à exposição ao sol. É uma operação geralmente
mecanizada. Encontram-se cobridores de duas e três linhas, sendo
importante utilizar o cobridor de mesmo número de linhas do
sulcador, devido ao paralelismo das linhas.
Plantio Mecanizado
O plantio mecanizado é urna prática bastante recente. As
primeiras máquinas nacionais, que eram na verdade protótipos, foram
desenvolvidas entre 1964 e 1978 pela Santal e Motocana.
Inicialmente, elas não foram aceitas pelo mercado por não serem
necessárias na época, pelas dúvidas quanto à germinação das mudas
quando plantadas por essas máquinas (STOFEL et al., 1984 citado por
RIPOLI, 2006) e pelo baixo rendimento operacional apresentado, da
ordem de 3 a 5 ha dia-l (RIPOLI, 1978). O primeiro sistema com
colhedora de cana crua picada e plantadeira de toletes foi apresentado
em 1989, dando início à nova geração de plantadeiras no Brasil. Ao
longo dos anos, aconteceram os primeiros aprimoramentos e
avaliações, feitos pela Copersucar, dos equipamentos testados em
1989. Em 1991, o então CTC (Centro de Tecnologia Canavieira) fez
estudos de viabilidade para fabricar a plantadeira no Brasil, tendo
como base a plantadeira de uma linha da Bonel. O CTC também
avaliou outras plantadeiras e fez diversas revisões bibliográficas para
direcionar o projeto da máquina brasileira, que seguiu o modelo das
máquinas australianas.
Entre 1993 e 1996, a equipe do CTC fez testes em quatro
usinas cooperadas (Santa Luiza, Usina da Pedra, São Francisco e
Barra Grande) com a plantadeira importada Bonel, de uma linha. A
fim de criar uma distribuidora de toletes adaptada à necessidade
52 Barbosa
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Referências
BERNARDES, M. S.; TERAMOTO, E. R.; CÂMARA, G. M. S. Planejamento
estratégico da produção de cana-de-açúcar, Fazenda Abadia - Campos dos
Goytacazcs/RJ. Piracicaba, SP: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz.
2002. 131 f. (Boletim Técnico).
Plantio 65
Introdução
A adubação pode ser defimda pela necessidade nutricional da
cultura (planta), subtraindo-se os nutrientes fornecidos pelo solo e
multiplicando o resultado por um fator de eficiência da adubação (f),
ou seja, parcela do fertilizante efetivamente absorvida pelas raízes e
transformada em matéria seca da planta:
li
1
Análise de Solo
1
•
Amostragem do solo
Cana-Planta
- Retirar amostra composta por 15 a 20 subamostras por talhão
ou área homogênea, andando em "zigue-zague" e de forma a percorrer
toda a extensão da área.
- Utilizar preferencialmente trado holandês ou sonda como
ferramenta para amostragem.
- Realizar amostragem nas profundidades de 0-25 e 25-50 cm,
cerca de três a quatro meses antes do plantio.
- Para a camada superior (0-5 cm), proceder à análise de
rotina, enxofre e micronutrientes; para a camada inferior, análise de
rotina e enxofre. Pelo menos na primeira amostragem da área,
proceder à análise fisica textura} de ambas as camadas.
Cana-soca
- Proceder da mesma maneira que para cana-planta, realizando
amostragem de solo nas profundidades de O- 25 e 25- 50 cm, porém
posicionando o trado ou a sonda a 25 cm da linha da soqueira.
- Realizar a amostragem após os anos de corte ímpares
(primeiro, terceiro e quinto cortes), visando à aplicação dos corretivos
nos anos pares (segundo e quarto cortes), e, após o último corte, na
ocasião da reforma a 25 cm da linha da soqueira.
- Proceder à análise de macronutrientes na camada superficial
(0-25 cm); na camada inferior (25-50 cm), analisam-se S e Al.
Interpretação da análise
Nas Tabelas 3.2, 3.3, 3.4 e 3.5 são apresentadas as
interpretações dos valores dos teores de nutrientes no solo, para
recomendação de correção e adubação.
Deve-se lembrar que 1O mg.dm-3 de P na análise de solo
equivalem à reserva no solo de 46 kg ha-1 de P20 s, necessários para a
produção de 100 t ha- 1 de colmos, e que 1,0 mmolc.dm-3 de K equivale
a 96 kg ha-1 de K20 .
70 Villí, Luz e Altran
Teor Produção p
Relativa
% mg.dm-3
Muito baixo O- 70 O- 0,7 0-6
Baixo 7 1 - 90 0,8 - 1.5 7 - 15
Médio 91 - 100 1,6 - 3,0 16-40
Alto > 100 3,1-6,0 > 40
Muito alto > 100 > 6,0
Fonte RAIJ et ai. . 1996
Colagem
(1) Cana-planta: proceder ao cálculo da necessidade de
calagem por dois critérios: saturação por bases (IAC - Instituto
Agronômico de Campinas) e teor de Ca + Mg (Coopersucar),
utilizando-se a maior dose determinada, conforme descrito a seguir:
em que:
NC = necessidade de calagem, em t ha· 1;
V 1 = saturação por bases encontrada na análise de solo;
CTC = capacidade de troca de cátions, em 1mnolc dm-3 ;
PRNT = poder relativo de neutralização do calcário, em %;
(1) = camada de O- 20 ou O- 25 cm; e
(2) = camada de 20 - 40 ou 25 - 50 cm.
Observação: caso a amostragem seja realizada nas camadas
de 0-25 e 25-50 cm, multiplicar a dose do calcário por 1,25 para
compensar a maior profundidade considerada.
PRNT
1
em que : t
em que:
V 1 e CTC (mmolc.dm-3) = da camada de 0-20 ou 0-25 cm; e
PRNT = poder relativo de neutralização do calcário, em %.
Observação: caso a amostragem seja realizada nas camadas
de 0-25, multiplicar a dose do calcário por 1,25, para compensar a
maior profundidade considerada.
em que:
V 1 e CTC (mmolc.dm-3) = da camada de 0-20 ou 0-25 cm; e
PRNT = poder relativo de neutralização do calcário, em %.
Observação: caso a amostragem seja realizada nas camadas
de 0-25, multiplicar a dose do calcário por 1,25, para compensar a
maior profundidade considerada.
em que:
NC = necessidade de calagem, em t ha-1;
Ca = teor de Ca na camada de 0-20 ou 0-25 cm, em mmolc.dm-3;
Mg = teor de Mg na camada de 0-20 ou 0-25 cm, em mmolc dm·3;
PRNT = poder relativo de neutralização do corretivo (%).
Gessagem
Utilizar os critérios a seguir para recomendação de gesso tanto
em cana-planta como em soqueira, considerando o resultado de
análise da camada de 20-40 ou 25-50 cm.
a) Condicionador de subsuperficie
em que:
NG = necessidade de gesso, em t ha· 1;
V 1 = saturação por bases encontrada na análise de solo de 20-
40 ou 25-50 cm; e
CTC = capacidade de troca de cátions da camada 20-40 ou
25 -50 cm, em mmolc dm·3 .
b) Fonte de enxofre
Aplicar l l ha-1 de gesso para fornecimento de 150 kg ha-1 de
S. sendo isso suficiente para três cortes. em áreas para as quais não
Nutrição e adubaçcio · 75
sendo:
NG: necessidade de gesso (t ha· 1); e K: teor de potássio
(mmolc.dm· 1) na camada de 0-20 ou 0-25 cm
(multiplicando neste caso por 1,25).
Fosfatagem
Esta prática é particularmente importante em solos arenosos
com baixo teor de fósforo : P resina < 15 mg dm·3 ou P - Mehlich- l
nas classes muito baixa e baixa, ambos na camada de 0-20 ou 0-25
cm, quando o solo apresentar baixa CTC (< 60 mmok dm-~) ou teor
de argila < 30%. Quando o solo estiver nessa situaçào, podem-se
I
Adubação verde
A adubação verde na reforma do canavial é prática obrigatória
para equilíbrio do sistema, por proporcionar diversos efeitos, como a
proteção da camada superficial do solo na época mais suscetível à
erosão, ser fonte de nutrientes, principalmente N, e atuar na
Nutrição e adubação 77
Adubação orgânica
Os principais efeitos da matéria orgânica sobre os atributos
fisicos do solo são: aumento da capacidade de retenção de umidade;
porosidade (macroporos); redução da densidade aparente; melhoria na
taxa de infiltração de água; e amortecimento térmico, evitando
grandes oscilações de temperatura. A matéria orgânica também tem
efeito sobre os atributos químicos do solo, como aumento da
capacidade de retenção de cátions; fornecimento de macro e
micronutrientes; liberação gradual dos nutrientes; e redução da fixação
de P, uma vez que os radicais orgânicos bloqueiam os sítios de
fixação.
Além disso, a matéria orgânica implica melhoria dos atributos
biológicos do solo, pois proporciona melhores condições para o
desenvolvimento dos organismos vivos (insetos, anelídeos etc.),
especialmente da microbiota do solo, que conduzirá à disponibilização
dos nutrientes para as plantas.
No setor sucroenergético, a prática da adubação orgânica é de
extrema importância, pois a indústria gera diversos subprodutos que
apresentam potencial técnico e econômico para a aplicação em cana-
de-açúcar.
A utilização de subprodutos tornou-se grande redutor de
custos para a usina, visto que eles cada vez mais substituem ou
complementam a adubação mineral e com custos abaixo dos dela. Os
subprodutos mais utilizados são torta de filtro, vinhaça, fuligem ou
cinza. Quanto ao "processo para uso" desses subprodutos, há as
seguintes opções:
78 Vilfi. luz e Altran
Adubação de cana-soca
Antes da definição da quantidade de N e K2O, é necessário
saber o tipo de colheita, se a cana é queimada ou se é cana crua.
a) Cana queimada
A adubação de N é baseada na produtividade colhida,
enquanto a de K 20 é na produtivid:1de e na análise de solo
(amostragem da soqueira), utilizando 1,0 kg N/t de cana e de l ) a 1,5
kg de K 20 /t de cana, mantendo-se a relação N/K 20 na faixa de 1,0
para 1,3 a 1,5 (Tabelas 3.8·e 3.9).
f
b) Cana crua
No sistema de colheita de cana crua (sem despalha a fogo), há
acúmulo de 1O a 15 t ha-1 de matéria seca (MS), o que implica altas
relações C/N, C/P e C/S, indicando baixa mineralização da matéria
orgânica da palha, mesmo após um ano de corte. Dessa maneira.
ocorre imobilização dos 1nions (N, P e S) no interior da palhada e
liberação dos nutrientt.··, minerais catiônicos (K, Ca e Mg),
principalmente do K, devolvendo para o solo 50 kg ha· 1 de K e
aumentando, evidentemente, a atividade microbiana, em especial da
urease, responsávç l pelas p\~ rdas de NHJ da ureia por volatilização.
Nutrição e adubação 83
Via solo
- Adubação sólida: N-P205-K20 + micronutrientes: as doses
e as fontes para recomendação dos micronutrientes em cana-planta
estão apresentadas na Tabela 3.1 O.
Via herbicida
Tanto em cana planta como em soca, o boro pode ser aplicado
juntamente com o herbicida, na forma de ácido bórico, octaborato de
sódio ou boro monoetalonamina. A seguir, são apresentadas as
garantias e doses desses produtos.
Via tolete
Possibilita a aplicação conjunta com nematicidas e inseticidas,
além de diminuir o número de aplicações e melhorar a distribuição
dos produtos na "cobrição" da muda. Antes de proceder a essa prática,
deve-se verificar a compatibilidade desses produtos com os defensivos
agrícolas.
Fontes: B - ácido bórico, boro etalonamina ou octaborato de
sódio
Cu, Fe, Mn, Zn - sais (sulfato), quelatizados, fosfitos ou
ácidos húmicos e fúlvicos.
88 Villi, Luz e Altran
Via foliar
a. Objetivo - aumentar o potencial produtivo, principalmente
em canaviais em condições climáticas adversas, que resultam em
desenvolvimento abaixo do potencial.
b. Época de aplicação - de outubro a meados de janeiro, isto
é, antecedendo o período de máximo crescimento vegetativo da
cultura, bem como respeitando o período de ação do fertilizante, entre
a época de aplicação e o corte da cultura.
c. Sequência de aplicação - iniciar preferencialmente a
aplicação foliar em:
- canas para mudas (viveiros);
- canas a serem colhidas em início de safra: superprecoces
(RB85 5156) e precoces;
- canas médias; e
- canas "tardias".
Nutrição e adubação 89
d. Formulação básica
Nutriente Fonte
Nitrogênio 12 a 15 Ureia
Molibdênio 0,12 a 0,15 Molibdato de sódio
e. Resultados esperados
Em experimento realizado com quatro variedades, Crisóstomo
(2007) obteve aumento de produtividade de 9,7 t ha· 1 com a aplicação
foliar de N + Mo, em relação ao tratamento-controle. Em outro
experimento, o mesmo pesquisador, utilizando apenas uma variedade,
1
constatou aumento de produtividade de 8 t ha· com o mesmo
tratamento.
f. Nutrientes opcionais
Zinco - participa do desdobramento do triptofano em ácido
indolacético (AIA), promove maior crescimento dos internódios,
novos lançamentos, bem como maior resistência às falsas ferrugens.
Como a absorção via solo fica prejudicada pelo déficit hídrico e pela
90 Vitti, Luz e Altran
N Mo Zn
10 0,110 0,605
N Mo Zn B
Conclusão
Para obtenção de alta produtividade, qualidade e longevidade
dos canaviais, deve-se proceder ao seguinte manejo químico do solo:
Cana-Planta
a) Calagem; b) gessagem; c) fosfatagem, principalmente em
solos arenosos (argila< 30% ou CTC < 60 mmoic.dm-3), e P resina <
15 mg.dm-3 ou P - Mehlich-1 nas classes muito baixa e baixa; d)
adubação verde - crotalárias (junceae, ochroleuca ou spectabilis), soja
ou amendoim; e) adubação orgânica; f) adubação mineral no sulco de
plantio (N - P20 5 - K20 + micros, principalmente B e Zn); e g)
micronutrientes via tolete.
Cana-soca
a) Calagem (reaplicar quando V%< 50, na dosagem máxima
de 3 t ha-1); b) fontes de S: utilizar quando os teores em subsuperficie
forem menores que 15 mg.dm-3; c) adubação N - K 20 - B de cana
crua: 1,3 kg de N e 0,8 a 1,0 kg de K20.r 1 de cana produzida, e para
cana queimada, 1,0 kg de N e 1,3 a 1,5 kg de K 20.r 1 de cana
92 Vitti, luz e Altran
Experimentação em Cana-de-Açúcar
Tamanho da parcela
Para a cana-de-açúcar, o tamanho mínimo de parcela, visando
à avaliação de produtividade de colmos e retirada de amostra para
avaliações quanto a POL, fibra, ATR, Brix e outros atributos
tecnológicos, é de cinco linhas de 8 m, sendo o espaçamento
entrelinhas variável de 1,4 a 1,5 m. Dessa maneira, o tamanho mínimo
de parcela para montagem de experimento com cana-de-açúcar é 56
m 2 (5 x 8 x 1,4). Das cinco linhas totais, devem-se avaliar as três
linhas centrais, sendo as duas laterais descartadas como bordaduras.
Como se recomenda o mínimo de 20 parcelas para a realização de
qualquer experimento, o tamanho mínimo para experimento com
cana-de-açúcar, sem contar carreadores entre parcelas, é de 1.120 m2
(56 X 20).
O tamanho de parcelas mais usual para cana-de-açúcar é
pouco maior que o mínimo recomendado, ou seja, sete linhas de 10 m
cada para o caso da colheita manual, variando o espaçamento na
entrelinha de 1,4 a 1,5 m, considerando as cinco linhas centrais na
avaliação e as duas laterais como bordaduras. Deve-se deixar distância
de 1 m entre parcelas, para a separação deles.
Para a colheita mecanizada, recomendam-se parcelas mais
extensas, com 15 ou 20 metros, menor número de linhas (cinco ou
seis), e espaçamento de 1,5 ou 1,6 m, de forma a facilitar o trabalho da
colhedora de cana. Deve-se também deixar maior espaço entre
parcelas, por volta de 2 m, a fim de facilitar a colheita e as manobras
da máquina.
Nutrição e adubação 93
Referências
ALCARDE, J. C .; PONCHIO, C. O. Ação solubilizante das soluções de citrato de
amônia e de ácido cítrico sobre fertilizantes fosfatados. Revista Brasileira de
Ciência do Solo, v. 3, p. 173-178, 1979.
LARA CABEZAS, W. A. R.; KORNDÕRFER, G. H.; MOITA, S. A. Volatilização
de N-NH3 na cultura de milho. II. Avaliação de fontes sólidas e fluidas em sistema de
plantio direto e convencional. Congresso de Plantio Direto, Ponta Grossa, v. 21, n.
3, p. 489-496, 1997.
RAJJ, B. Van.; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J. A.; FURLANI, A. M. C.
Recomendação de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. 2. ed.
Campinas, SP: Instituto Agronômico & Fundação IAC, 1996. 285 p.
VITTI, G. C. Avaliação e interpretação do enxofre no solo e na planta .
Jaboticabal, SP: FCA/UNESP, 1988. 37 p.
VITTI , G. C .; LUZ, P. H. C . de E. ; ALTRAN, W. S. Nutrição e adubação. ln:
SANTOS, F. A.; BORÉM, A.; CALDAS, C. (Ed.). Cana-de-açúcar: bioenergia,
açúcar e etanol - tecnologias e perspectivas. 2. ed. rev. e ampl. Viçosa, MG: Editora
UFV, 2011. p.73-117 .
4 MANEJO DE PRAGAS
1
Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Instituição Universitária Moura Ulcerdu.
E-mail: aspinn@uol.com.br
2 Engenheiro-Agrônomo e estagiário no Dep. de Entomologia e Acarologia da Esalq/USP.
Pragas de Solo
As pragas de solo são manejadas de forma precária, com
exceção da cigarrinha-das-raízes, formigas cortadeiras e nematoides.
Quase todas são colocadas em um único "pacote" e tratadas como se
fossem uma só praga. O controle é predominantemente realizado de
forma química no plantio ou após a colheita, sobre as soqueiras.
Besouros e cupins
Os besouros de solo migdolus, gorgulhos-da-cana e corós,
bem como os cupins, alimentam-se da base das touceiras e do sistema
radicular da planta de cana-de-açúcar e os destroem, podendo causar
morte das plantas e elevados prejuízos econômicos. Os cupins
subterrâneos atacam os toletes-sementes, danificando as gemas e
causando falhas na germinação. Atacam a cana também no início do
crescimento e do perfilhamento, causando injúrias e redução no
estande, e após o corte, quando as soqueiras ficam vulneráveis. Os
danos chegam a 1O toneladas por hectare, por ano. Em geral, o ataque
é maior em solos arenosos.
Os cupins de montículos, sobretudo os do gênero Cornitermes
(lsoptera: Termitidae), não são importantes para a cultura pelos danos
diretos que causam, mas porque a porção visível e dura dos seus
montículos pode quebrar as facas de corte das colhedoras
mecanizadas.
As pragas de solo são fáceis de serem diferenciadas quando
encontradas em amostragens casuais ou sistemáticas, poré1n os danos
se confundem. O ideal é enviar formas biológicas (especialmente
adultos) a especialistas para a correta identificação, mas alguns guias
publicados podem ser ferramentas eficientes.
As espécies mais importantes de cupins são H. tenuis e
Procornitermes triacifer (Isoptera: Rhinotermitidae ). O primeiro tem
como característica não levar solo para o interior das galerias, ao
Man ejo de pragas 97
e D
Figura 4.1 - Larvas de besouros de solo. A. Migdolus; B. Gorgulho-
da-cana, S. levis; C. Besouro-rajado, M. hemipterus; D .
Coró.
Formigas cortadeiras
As formigas cortadeiras se alimentam principalmente de
folhas de plantas novas, causando desfolha muito característica, mas
que pode ser confundida com aquela causada por gafanhotos ou
lagartas. A diferença está no fato de os gafanhotos deixarem suas
fezes arredondadas e secas, e as lagartas, fezes mais espalhadas e com
grânulos finos ao redor do local de ataque ou sobre as folhas .
Após 45 dias da colheita, toda a área deve ser percorrida em
busca de "olheiros" (orifícios de entrada dos formigueiros) de saúvas
ou quenquéns e de sinais de desfolha, principalmente em áreas onde
há muito palhiço sobre o solo. Os "olheiros" devem ser marcados com
estacas, para facilitar o controle pela equipe especializada.
As formigas podem ser controladas com inseticidas em
formulação com pó seco, com iscas tóxicas (bagaço de laranja + óleos
vegetais + inseticida) ou com inseticidas aplicados via
tennonebulização, sendo o último o mais eficiente. O uso de pós
lOO Pinto, Lopes e Lima
Nematoides
Os nematoides atacam as raízes da cana-de-açúcar,
prejudicando a absorção de água e nutrientes pela planta, e injetam
toxinas, que podem produzir galhas (Meloidogyne) ou causar necroses
(Pratylenchus). As plantas ficain raquíticas, cloróticas, menos
produtivas e murcham nas horas mais quentes do dia.
Para realizar a amostragem de nematoides, devem-se coletar
raízes e solo tanto em cana-planta como em soqueiras. A coleta de
amostras deve ser feita no período chuvoso, porém nunca com o solo
encharcado.
Deve-se coletar uma ou duas subamostras por hectare para
formar uma amostra composta de um talhão de até 1O ha. Cada
su~ ,.,1nostra é representada por uma touceira, onde se coletam raízes
(radicelas) e um pouco de solo ao redor delas. Todas as subamostras
de uma amostra (1 O a 20 por 1O ha) são misturadas em um balde e
colc..-:am-se 500 g de solo e 50 g de raízes em um saco plástico,
identificado, para ser enviado ao laboratório de análises
nematológicas. O envio das amostras deve ser feito no dia da coleta ou
até uma semana de 1 ,ois, se conservadas na parte inferior da geladeira.
As subamostras devem ser retiradas com um enxadão ou trado.
O controle de nematoides é feito com nematicidas registrados
para a cultura, com rotação com culturas não hospedeiras ou culturas-
armadi lha (Crotalaria) ou com matéria orgânica.
Manejo de pragw I OI
Broca-da-Cana-de-Açúcar
A broca-da-cana ocorre em todo o Brasil, causando prejuízos
não somente à cana-de-açúcar, mas também a outras gramíneas. Outra
espécie que ocorre é D. _fiavipennella , registrada no Espírito Santo, no
Rio de Janeiro, em Minas Gerais e nos Estados do Norte e Nordeste.
Segundo o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), para as
variedades atualmente plantadas no Brasil, as perdas causadas pela
broca-da-cana chegam a 0,42% em açúcar, 0,21 % em álcool e 1, 14%
no peso da cana colhida a cada 1% de Índice de Intensidade de
Infestação (III) [100 x (número de entrenós broqueados/número total
de entrenós)] (DINARDO-MIRANDA, 2008). Portanto, é fácil perder
mais de 400 kg de açúcar por hectare em infestações (111) de até 10%.
Esses prejuízos incluem os danos diretos ( coração morto,
enraizamento aéreo, brotações laterais, perda de peso, quebra de
colmos) e indiretos (causados pelos fungos Col/etotrichum falcatum e
Fusarium moniliforme). A podridão-vermelha (danos indiretos)
inverte a sacarose, prejudicando a produção de açúcar, e os fungos e
outros microrganismos competem com as leveduras no processo de
fermentação alcoólica.
As lagartas são branco-amareladas e de cabeça marrom-
escura, com pontuações e manchas marrons pelo corpo. Podem atingir
até 2,5 cm de comprimento. As lagartas de segundo ou terceiro ínstar
penetram o colmo pela parte mais mole, ou seja, na região dos nós,
próximo às gemas. Abrem galerias ascendentes na região do palmito
e, durante essa fase, abrem galerias verticais e transversais até a fase
de pupa. Pouco antes de entrar na fase de pupa, as lagartas abrem
orificios, que permanecem fechados com serragem e excrementos e
servirão de saída para os adultos.
A broca-da-cana ocorre durante todo o desenvolvimento da
cultura. Entretanto, sua incidência é menor quando a planta é jovem e
não possui entrenós fo1mados. A cana de ano e meio (plantada no
começo do ano), no Estado de São Paulo, geralmente é mais atacada
pela broca no verão, e na cana de ano (plantada em setembro-outubro)
o ataque é mais intenso no inverno. Nos outros Estados e em certas
variedades, o ataque da broca é quase constante o ano todo, com
pequeno declínio no inverno.
104 Pinto, Lopes e Lima
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Outras Pragas
A broca-gigante, recentemente introduzida em São Paulo, está
mais restrita ao norte do País. Pouco se conhece sobre essa praga e sobre
os métodos de controle empregados ~ontra ela; os que existem são
onerosos e com baixa eficiência. Há um sistema com um pulverizador
acoplado à colhedora mecânica, em que o fungo B. bassiana é aplicado
na forma líquida sobre a soqueira, imeruatamente após o c011e. Com esse
sistema, o fungo, muito eficiente no controle da broca, é aplicado dentro
das galerias, antes de elas serem fechadas pela lagaita.
A )agarta-iponeuma, até recente1nente desconhecida, tem
aumentado sua importância. Seu ataque muito se assemelha ao da
broca-da-cana, porém ataca os internódios basais e os colmos, bem
Manejo de p ragas 107
Referências
ALMEIDA, J. E. M. ; BATISTA FILHO, A. Controle biológico da cigarrinha da
raiz da cana-de-açúcar com o fungo Metarhizium anisopliae. São Paulo: Instituto
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PINTO, A. de S.; BOTELHO, P. S. M.; OLIVEIRA, H. N. de. Guia ilustrado de
pragas e insetos benéficos da cana-de-açúcar. Piracicaba, SP: CP2, 2009. 160 p.
PINTO, A. de S. (Org.). Controle de pragas da cana-de-açúcar. Sertãozinho, SP:
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PINTO, A. de S.; GARCIA, J. F.; BOTELHO, P. S. M. Controle biológico de pragas
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SOUZA, D. T. (Org.). Controle biológico de pragas: na prática. Piracicaba: CP2.
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PINTO, A. de S.; GARCIA, J. F.; OLIVEIRA, H. N. de. Manejo das principais pragas
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NÓBREGA, J. C. M. de. (Org.). Atualização em produção de cana-de-açúcar.
Piracicaba: CP2, 2006. p. 257-280.
MANEJO DE DOENÇAS E
5 MEDIDAS DE CONTROLE
Sizuo Matsuoka'
A. FOLHA
l. Mosaico
2. Mancha-anelar
3. Pokkah-boeng (fusariose)
4. Mancha-parda
5. Mancha-ocular
6. Estrias-pardas
7. Estrias-vermelhas
8. Falsas-estrias-vermelhas
9. Escaldadura-das-folhas
10. Ferrugem-marrom
11. Ferrugem-alaranjada
B. BAINHA
1. Mancha-vermelha-da-bainha
2. Podridão-da-bainha
D. COLMO
1. Podridão-da-casca
2. Podridão-vermelha
3. Podridão de Fusarium
4. Raquitismo-da-soqueira
5. Escaldadura-das-folhas
Matsuoka
11 O
E. TOLETE DE PLANTIO
l. Podridão-abacaxi
2. Podridão-da-casca
F. RAIZ
l. Galhas (nematoide-de-galhas)
2. Lesões (nematoides e fungos)
Esbranquiçadas secas
Manchas irregulares, com contorno fino de cor marrom-
avermelhada, como se fosse um anel, e a parte interna cor de palha a
esbranquiçada ou inteiramente marrom, de tamanho bastante variável
- as maiores entre 5 e 7 mm de comprimento e sua metade em largura
- e que aparecem em grande número nas folhas mais velhas: mancha-
anelar (fungo: Lepstospheria sacchari van Breda de Haan)
Cloróticas
Manchas cloróticas a esbranquiçadas grandes e irregulares na
base das folhas do cartucho, ou seja, logo acima da bainha, tomando
toda a largura da folha, e podendo apresentar lesões marrom-
avermelhadas, causando com isso rompimento de tecido e
deformação; em estado avançado essas lesões podem encurtar as
folhas, tomá-las distorcidas, espiraladas e até matar o ponteiro:
Pokkah-boeng (Fusariose) (fungo: Fusarium moniliforme J.L.
Sheldon).
b. Estrias
l . Estrias curtas
Estrias marrom-avermelhadas com menos de 1 mm de largura,
de comprimento variando de alguns milímetros a mais de 50, podendo
apresentar halo amarelado, distribuídos espaçadamente ao longo do
limbo foliar das folhas medianas a velhas: estrias-pardas (fungo:
Bipolaris stenospila (Dreschler) Shoemaker).
. e. Lesões
l . Lesão ferruginosa l
Folha com pontuações cloróticas, mais visíveis à contraluz,
e lesões alongadas de margem irregular, geralmente com 2 a 1O
mm de comprimento e 1 mm de largura, de coloração marrom a
marrom-escura, visíveis de ambos os lados da folha e em alto
relevo, especialmente na face inferior da folha. Liberam abundante
quantidade de esporos, facilmente perceptíveis com lupa comum de
1O x ou passando um papel ou lenço branco, que fica sujo:
ferrugem-marrom ou comum (fungo: Puccinia rnelanocephala
H.&P. Sydow).
2. Lesão ferruginosa 2
Folha com pontuações cloróticas, mais visíveis à contraluz,
e lesões alongadas de margem irregular, geralmente entre 2 e 5 mm
de comprimento e 1 mm de largura, de coloração alaranjada-
marrom, visíveis de ambos os lados da folha, em alto relevo,
especialmente na face inferior da folha. Liberam abundante
quantidade de esporos, facilmente perceptíveis com lupa comum de
1O x. Nesse nível, a única diferença da ferrugem marrom é a sua
coloração mais para alaranjada: ferrugem-alaranjada (fungo:
Puccinia kuehnii E.J. Butler).
d. Queima
Secamento de parte da folha a partir da ponta, muitas vezes
formando um "V" e acompanhando áreas cloróticas, ou secamento de
toda a folha, geralmente de várias e com enrolamento, como se
tivessem sido escaldadas: escaldadura-das-folhas.
114 Matsuoka
Sintomas na Bainha
1. Manchas
a. Avermelhada 1
Manchas ave1melhadas, ovais ou irregulares, de vários
centímetros, com o centro mais escuro nas bainhas das folhas médias
para velhas: mancha-vermelha-da-bainha (fungo: Mycovellosiella
vaginae (W. Krüger) Deighton)
b. Avermelha da 2
Grandes áreas avermelhadas, da cor de tijolo, difusas e
tomando a maior parte da bainha, que depois seca, e da qual saem uns
pequenos espinhos pretos, que são a estrutura de frutificação do fungo
(picnídios): podridão-da-bainha (fungo: Cytospora sacchari E.J.
Butler).
e. Chicote
O ponteiro da cana apresenta uma estrutura preta parecida
com a de um chicote e que solta abundante pó. Em colmos adultos,
Manejo de doenças e medidas de co11trole 115
Sintomas no Colmo
a. Sintomas na casca
Os tecidos na região da gema se apresentam avermelhados,
cor que evolui para marrom, e com todo o internódio seco.
Apresentam numerosas estruturas espiraladas pretas, como uma
cabeleira: podridão-da-casca (fungo: Phaeocytostroma sacchari (Ellis
& Everhart) B. Sutton).
b. Sintomas internos
1. Avermelhada 1
Cortando-se o colmo no sentido do comprimento, as manchas
avermelhadas a marrons são vistas nos intemódios com danos de
broca e em outros sem esses danos, mas c01n "ilhas" brancas
transversais: podridão-vermelha (fungo: Colletotrichum falcatum
Went).
2. Avermelhada 2
Cortando-se o colmo no sentido do comprimento, o tecido do
intemódio apresenta cor vermelho-vivo, bem contínuo, sem as "ilhas"
brancas; geralmente está associado a uma lesão externa, como o
orificio da broca, quebra da cana, rachadura etc.: podridão de fusariun1
(fungo: Fusarium moniliforme J.L. Sheldon).
3. Vasos avermelhados 1
Descascando-se o colmo na região do nó, poden1 ser
notados vasos avermelhados em forma de vírgula na região da base
do nó que corresponde ao local onde estava ligada a folha. Várias
dessas "vírgulas" devem ser vistas em toda a circunferência e não
podem ser confundidas com alguns casos isolados e de cor 1nais
próxima a marrom: raquitismo-da-soqueira (bactéria: Leifsonia xyli
subsp. xyli).
116 Matsuoka
4. Vasos avermelhados 2
Cortando-se o colmo no sentido do comprimento na região
basal do nó, podem ser vistos alguns vasos avermelhados, que,
diferentemente do caso anterior, são em menor número, mais
claramente visíveis, se estendem para o intemódio inferior e, se
observados mais detidamente, percebe-se que são lesões, afetando
tecidos além da parede do vaso: escaldadura-das-folhas.
b. Secamento
Cortando-se o tolete no sentido do comprimento, o tecido da
região do nó se mostrará parte com uma cor avermelhada e a maior
parte marrom-escura; os intemódios poderão se apresentar levemente
róseos ou secos; externamente, na casca, haverá numerosas estruturas
espiraladas pretas, como uma cabeleira: podridão da casca (fungo:
Phaeocytostroma sacchari (J.B. Ellis &Everhart) B. Sutton).
Sintomas na Raiz
a. Galhas
As raízes se apresentam curtas, com nódulos nas
extremidades: nematoide-de-galhas.
b. Lesões
As raízes apresentam lesões entre avermelhadas e marrons:
diversas causas (várias espécies de nematoides e diversos fungos) .
Man ejo de doenças e medidas de controle 117
Importantes Doenças da
Cana-de-Açúcar
A seguir será feita a descrição de cada uma das doenças de
maior importância, entre aquelas citadas na chave de identificação. As
principais literaturas consultadas estão citadas no final.
Mosaico
Agente causal
O mosaico é causado pelo vírus do mosaico da cana-de-açúcar
(Sugar Cane Mosaic Virus ou SCMV). Existem muitas variantes do
vírus, algumas mais danosas que outras, com diversos hospedeiros
entre as gramíneas, entre os quais se destacam o capim-massambará, o
sorgo e o milho.
Sintomas
Os sintomas foliares do mosaico podem variar em intensidade,
de acordo com a resistência da variedade em questão, condições de
cultivo e linhagem do vírus. O sintoma típico é a alternância do verde
nom1al da folha com manchas verde-amarelas, fom1ando um mosaico.
Essas áreas cloróticas são mais evidentes na base das folhas novas do
cartucho quando em início de infecção e, depois, em toda a área das
folhas novas e medianas. Os colmos poden1 tambén1 apresentar-se
manchados, mas isso somente em plantas muito suscetíveis. o que não
é o caso das variedades comerciais.
Disseminação
A disseminação natural do vírus se dá por meio de vanas
espécies de pulgões que não se hospedam em cana-de-açúcar, como o
pulgão do fumo, da laranja, do algodão e de n1uitas gramín as.
Contrariamente ao que as pessoas pensam, o pulgão-amarelo da cana
não é capaz de transmitir o mosaico. Os pulgões transrnissores são os
alados, que se tornam virulíferos após se alimentarem de seiva de uma
cana infectada ou outra planta hospedeira; ao voarem e pousarem na
planta, picam-na. para provarem a seiva, e então, nesse momento.
11 8 Ma tsuoka
Importância econômica
O mosaico é uma das mais importantes doenças da cana-de-
açúcar. Mesmo variedades que apresentam sintomas leves, quase
imperceptíveis, podem apresentar perdas de até 18% quando
infetadas; já em variedades com sintomas usuais, a perda pode chegar
a 50% quando o canavial for plantado com 60% de infecção na muda.
Pela Figura 5.1 pode-se ter uma noção do efeito extremamente danoso
do vírus do mosaico em uma variedade suscetível: CB46-47. Como a
doença se dissemina rapidamente dentro do canavial, à medida que se
avança em número de socas, o canavial tem aumentado o nível de
doença e, consequentemente, os prejuízos atingem níveis mais altos.
Embora os dados sejam de variedades antigas, servem como
referência e alertam para a importância do uso de mudas sadias.
O uso de variedades resistentes é o método de controle mais
eficaz. Contudo, algumas variedades não são altamente resistentes,
sendo necessária uma medida preventiva de controle, como fazer
viveiro de mudas sadias. Esse viveiro deve ser localizado em um lugar
rodeado por variedades resistentes ou não ter nas proximidades áreas
não cultivadas infectadas por plantas daninhas. Esses capões são
criadouros de pulgões e podem ter muitas plantas infectadas por
uosaico, sendo uma fonte permanente de vírus. Um mês após o
plantio, deve-se inspecionar o viveiro, linha por linha, e fazer o
roguing, o qual consiste em arrancar as plantas infetadas ou n1atá-las
com glifosate, usando um aplicador en1 gota, gotejando no cartucho.
Deve-se repetir essa operação a cada 15 dias, até os seis meses de
idade. O normal é o número de plantas doentes diminuir a cada
operação, sucessivamente. Se isso não acontecer, é porque nos
arredores existe fonte de inóculo do vírus. Caso essa fonte sej a um
Man ejo de doença.\· e medidas de controle 119
capão de mato, ele deve ser eliminado; se for uma variedade suscetível
(e então o viveiro foi mal localizado), deve-se imediatamente colher o
canavial e procurar reformá-lo.
--..................__...
..
Controle
A manutenção do canavial sem plantas d~ni~a~,
especialmente em beira de estradas e arredores, e sem os pnnc1p~1s
hospedeiros do vírus (capim-massambará, sorgo etc.) é uma medida
de extrema importância para evitar a contaminação do viveiro.
Estrias Vermelhas
Agente causal
As estrias vermelhas são causadas pela bactéria Acidovora.x
avenae subsp. avenae. Outras gramíneas podem hospedar a bactéria
(milho, sorgo, milho etc.), mas têm papel insignificante na
epidemiologia da doença.
Sintomas
A doença se caracteriza por duas formas distintas de sintomas:
estrias vermelhas nas folhas e morte de ponteiro ("coração morto").
As estrias ve1melho-escuras aparecem na parte mediana inferior da
folha, sendo poucas e esparsas nessa região ou concentrando-se na
base, com comprimento variável, de alguns poucos centímetros a
tamanhos que podem se estender a todo o comprimento da folha e
também descer para a bainha. Esses sintomas aparecem em plantas de
quatro a seis meses de idade, em verão quente e úmido.
A forma de "coração morto" pode estar associada ou não com
aquele sintoma de estria, ou seja, colmos com ponteiro morto podem
apresentar ou não as estrias nas folhas inferiores.
Puxando o cartucho morto e cheirando a sua base, pode-se
sentir um odor fétido, maior ainda se o ponteiro for cortado, quando
então se apresentará uma podridão mole. Nem todos os colmos de
uma touceira são afetados, porétu, se a incidência for generalizada, o
mau cheiro pode ser sentido ao se chegar ao canavial.
Disseminação
A bactéria se dissemha pelo ar e infecta as plantas através dos
estômatos das folhas ou per lesões, como aquelas causadas pelo roçar
Manejo de doenças e medidas de controle 121
Importância econômica
Esta doença pode causar danos econômicos significativos em
variedades altamente suscetíveis; entretanto, estas são normalmente
eliminadas durante o processo de melhoramento. As variedades
comerciais são resistentes ou podem apresentar apenas ligeira
suscetibilidade. Nestas, uma eventual incidência pode causar
preocupação, mas geralmente o canavial se recupera porque alguns
poucos colmos da touceira são afetados, e nos meses seguintes os
demais sadios recuperam em crescimento aqueles que foram perdidos.
Controle
Não há nenhuma medida a ser tomada a não ser evitar o
plantio das variedades propensas à doença em solos pesados, muito
férteis, e em locais muito úmidos, como baixadas e margens de rios.
Sintomas
Os sintomas se caracterizam como estrias finas de cerca de
mm de largura e comprimento variável de vários centímetros,
paralelas à nervura central, de coloração vermelho-escura, mas na
contraluz podem se mostrar translúcidas, amareladas. A diferença
entre essa e a verdadeira estria vermelha, além da coloração amarelada
na contraluz, é que nessa falsa estria vermelha elas ocorrem
principalmente do meio para a ponta das folhas, rarament se
estendendo para a base e nunca na bainha. Outra característica
marcante é a intensa exsudação bacteriana branca na face inferior da
122 Matsuoka
Disseminação
Esta bactéria se dissemina intensamente pelo ar e infecta por
meio de estômatos ou de lesões nas folhas que ocorrem no roçar entre
elas. Não se conhece sua transmissão pelos toletes nem por
instrumentos. Em um campo afetado, a sua incidência é generalizada
em todas as plantas e maior nas épocas quentes e chuvosas. Ao
contrário da estria vermelha, esta doença ocorre em plantas adultas, ou
seja, após os oito meses de idade.
Importância econômica
Notou-se que alta infecção reduz o comprimento dos
intemódios, porém não existem dados efetivos de perdas causadas
pela falsa estria vermelha.
Controle
A única forma de controle é o plantio de variedades
resistentes. Os programas de melhoramento cuidam de liberar apenas
variedades com boa resistência.
Escaldadura-das-folhas
Agente causal
O agente causal da escaldadura-das-folhas é a bactéria
%_antho_monas albilineans_ (Ashby) Dowson. É uma doença que se
d1ssemmou pelo mundo, Junto com a própria disse1ninação da cana-
de-açúcar, porque ela ocorre sistemicamente.
Sintomas
Um sintoma típico sempre citado nos compêndios é a estria
tina, brnnca, de margens ben1 definidas e, por isso, denominada risca
de /{ap.ÍH, E1-11-1t1 Ctilria é bastante longa, podendo tomar toda a extensão
da H,Jlu, e, curnctcri81icamente, descer pela bainha. Também ocorrem
..,.,, ísw 11111 111 lur,~11 H e confinadas ao limbo foliar, bem como manchas
/Jf S ,ui 11 , d . conlnrno ind0linido, sempre de cor branca. No caso dessas
Manejo de doenças e medidas de controle 123
Disseminação
A bactéria é transmitida de uma planta doente para sadia por
meio de instrumento de corte e se perpetua nos colmos, ou seja, nos
toletes de plantio. Também pode ser transmitida por via aérea,
carregada em gotículas de água exsudada por gutação, com ma10r
efeito em locais onde ocorrem ciclones e tufão.
Importância econômica
A doença é mais severa em locais quentes e plantas sujeitas a
estresse por água. Pode, então, causar substanciais prejuízos.
Entretanto, as variedades comerciais têm geralmente resistência
adequada à doença.
Controle
Para variedades que não são altamente resistentes, é
aconselhável fazer viveiros de mudas sadias. Nesses viveiros, é
recomendada a desinfecção dos podões quando da retirada de mudas.
No caso de colheita mecânica de mudas, recomenda-se um dispositivo
para, continuamente, borrifar as facas cortantes com um bactericida,
atualmente à base de amônia quaternária. O roguing, isto é, arranque
das plantas doentes no viveiro, é uma medida necessária.
124 Matsuoka
Ferrugem-Marrom
Agente causal
A ferrugem-marrom é causada pelo fungo Puccinia
melanocephala H. & P. Sydow. No passado, a doença foi denominada
simplesmente ferrugem da cana-de-açúcar ou ferrugem-comum.
Sintomas
As folhas apresentam inicialmente pontuações cloróticas, mais
visíveis na contraluz. Essas pontuações evoluem para lesões alongadas
de margem irregular, geralmente com 2 a 10 mm de comprimento e
l mm de largura, de coloração amarelo-marrom no início e evoluindo
para parda a marrom-escuro no final, visíveis de ambos os lados da
folha. Quando o fungo produz os esporos, a lesão se rompe e libera
abundante quantidade deles, especialmente na face inferior da folha;
pode-se facilmente perceber essa esporulação ao passar um lenço
branco, que então fica sujo. Também essas lesões, que se chamam
pústulas, ficam em alto relevo, o que pode ser percebido pelo tato. Em
variedades suscetíveis, a junção de todas as pústulas acaba por matar a
folha prematuramente.
Disseminação
A ferrugem-marrom tem como único hospedeiro a cana-de-
açúcar e se dissemina pelo ar muito rápida e eficientemente, devido
aos milhões de esporos que as lesões foliares liberam. Assim é que,
desde que chegou ao Brasil, em 1986, a doença passou a ser
endêmica. A sua ocorrência maior é em condições de temperaturas
amenas e alta umidade relativa do ar. Em temperaturas acima de
30 ºC, a infecção é bastante reduzida. Em São Paulo, por exen1plo, a
época mais propícia para a doença é outono (março a junho) e final da
primavera e início do verão nos anos nom1ais de chuva. A infecção
ocorre em plantas a partir dos três meses, e muitas variedades
apresentam resistência a ela na fase adulta.
Importância econômica
A ferrugem-marrom é atualmente uma das doenças mais
importantes da cana-de-açúcar no mundo. Ela está sempre ocorrendo
Manejo de doenças e medidas de controle 125
Controle
A única forma de controle é o uso de variedades resistentes.
Obviamente, nas regiões de clima menos favorável à doença, podem
ser cultivadas variedades com alguma suscetibilidade, o que pode ser
determinado pelo histórico local.
Ferrugem-Alaranjada
Agente Causal
A ferrugem-alaranjada, causada pelo fungo Puccinia kuehnii
E.J. Butler, chegou ao Brasil em dezembro de 2009.
Sintomas
A ferrugem-alaranjada forma lesões e pústulas bastante
semelhantes às da ferrugem-marrom, porém apresenta coloração
tendendo para laranja, daí o seu nome. No campo, pode haver alguma
dificuldade para essa diferenciação, mas no laboratório a doença pode
ser facilmente identificada pelo exame dos esporos por pessoas com
treinamento muito simples. Os mais treinados podem conseguir a
distinção entre as duas ferrugens com uma lupa de campo.
Disseminação
A disseminação da ferrugem-alaranjada é igualmente feita
pelo ar e também com alta eficiência. Duas diferenças importantes em
relação à outra ferrugem são as condições predisponentes e a idade da
planta para maior suscetibilidade. Contrariamente à ferrugem-marrom,
este patógeno é mais favorecido por temperaturas altas em vez das
amenas, e as plantas tornam-se mais suscetíveis da meia idade para a
idade adulta.
Importância econômica
A ferrugem-alaranjada causa também grandes danos,
especialmente porque afeta plantas adultas.
126 Matsuoka
Controle
O plantio de variedades resistentes é o único recurso para
evitar perdas por essa doença. Variedades resistentes à ferrugem-
marrom podem ser suscetíveis a essa ferrugem e vice-versa; algumas
podem ser afetadas pelas duas.
Carvão
Agente causal
O agente causal do carvão-da-cana-de-açúcar é o fungo
Sporisorium scitamineum (Syd.) M. Piepenbr., M. Stoll & Oberw,
antes Ustilago scitaminea Syd.
Sintomas
O sintoma característico do carvão é uma estrutura alongada
como um chicote, preta, que se forma no ponteiro do colmo; o fungo
transforma o meristema apical nessa estrutura para ali produzir os seus
esporos, aos milhões. Um sintoma que antecede o aparecimento do
"chicote" é o espigamento do colmo, com folhas mais curtas e
espigadas. Colmos afetados são mais finos e curtos, e a touceira pode
apresentar superbrotamento e nanismo, tomando a aparência de
touceira de capim. Podem também aparecer galhas nos colmos e até
nas folhas.
Disseminação
Os esporos do fungo se disseminam com muita facilidade pelo
vento. A infecção se dá unicamente pela gema, no momento de
brotação desta e em presença de água. Esporos em contato com a
gema da cana em pé podem infectá-la e induzir a brotação lateral,
produzindo o "chicote". Esporos caídos no solo podem também ficar
dormentes e causar infecção quando ali se fizer um novo plantio.
Importância econômica
O carvão é outra doença de grande importância na cultura
canavieira. No passado, já causou grandes prejuízos, como na var.
NA56-79, no centro-sul brasileiro, na época da expansão do Proálcool.
Manejo de doenças e medidas de controle 127
Controle
Somente o plantio de variedades resistentes pode evitar seus
danos. Contudo, se variedades de alguma suscetibilidade forem
cultivadas, é imprescindível a produção de mudas sadias. Os viveiros
devem ser inspecionados de 15 em 15 dias, pelo menos, e as plantas
doentes arrancadas (roguing), ensacando-se antes os chicotes
(cortados bem na base) em saco plástico, que, bem fechado, deve ser
deixado ao sol para que os esporos germinem e a ráquis, ainda verde
dentro do cartucho, apodreça e, assim, os esporos também se inativem.
Mais tarde, toda essa biomassa pode ser queimada, longe do canavial.
Podridão-Vermelha
Agente causal
A podridão-vermelha é causada pelo fungo Colletotrichum
falcatum Went.
Sintomas
O sintoma mais comum é o avermelhamento dos tecidos
internos do colmo, geralmente associado a furo de broca, mas pode
ocorrer independentemente dele. Não deve ser confundido com a
doença podridão-avermelhada causada pelo fungo Fusarium, que é
mais comum, e está sempre associado a furo de broca ou outras
machucaduras no colmo. A diferença é que, na podridão-vermelha, a
podridão evolui para marrom-claro em infecção mais avançada,
devido a manchas brancas transversais; os colmos podem secar
totalmente. Pode ocorrer infecção também na folha, e o sintoma mais
comum ocorre na nervura central. Na face superior aparecem lesões
avermelhadas, geralmente entre 1 e 2 cm, com centro claro.
Disseminação
Este fungo é disseminado por meio de vento e chuva.
Importância econômica
A podridão-vermelha é também uma das mais importantes
doenças da cana-de-açúcar, porque ocorre ende1nican1ente e está
sempre presente nos canaviais. Em variedades mais suscetíveis, que
128 Malsuoka
Controle
A forma mais eficiente de controle é o uso de variedades
resistentes. Entretanto, naquelas menos resistentes, o controle da broca
ajuda a diminuir pontos de infecção.
Podridão-de-Fusarium
Agente causal
O agente causal da podridão-de-Fusarium, como o próprio
nome indica, é o fungo Fusarium moniliforme J.L. Sheldon.
Sintomas
O sintoma típico é o avermelhamento intenso dos tecidos
internos do colmo. Contrariamente ao avermelhamento causado por
Colletotrichum, antes mencionado, este é vermelho-intenso e
contínuo, sem ilhas brancas. Este fungo não tem a capacidade de
infecção autônoma, ou seja, sempre precisa de alguma lesão no colmo
e, dessa forma, está associado ao furo de broca ou qualquer outra
machucadura ou corte. Facilmente se desloca de um internódio a outro
pelos vasos e, por isso, sempre se observam fios avermelhados a
marrom atravessando os nós e se estendendo para os intemódios
adjacentes. Pode também causar murcha e morte dos colmos e,
diferentemente de sintomas semelhantes, causados por podridão-
abacaxi, não exala cheiro nenhum. Também o mesmo fungo pode
causar o sintoma pokkah-boeng, que consiste em enrolamento das
folhas do ponteiro, lesões e malformação nessas folhas, palmito quase
sem folhas, folhas com grandes manchas brancas na base e corte
transversal nos colmos, como se fosse um "corte de faca". Isso ocorre
geralmente nas épocas de intenso crescimento, ou seja, verão úmido.
Há relato de que os "cortes de faca" na base dos colmos.
Manejo de doenças e medidas de controle 129
Importância econômica
É também uma doença importante por ser endêmica e
invariavelmente presente nos canaviais. Na indústria, ela interfere
prejudicialmente, como a podridão-vermelha. Quando ela infecta o
topo da cana, causando ali o pokkah-boeng, os colmos podem morrer
ou ficar imprestáveis para a industrialização.
Controle
O controle do Fusarium é feito por me10 de variedades
resistentes. No entanto, como a resistência não é completa, o controle da
broca é, nesse caso, ainda mais importante que na podridão-vermelha.
Já o pokkah-boeng somente é controlado com resistência varietal.
Raquitismo-da-Soquei ra
Agente causal
O raquitismo-da-soqueira é causado pela bactéria Leifsonia
xyli subsp. xyli. Quando a doença foi descoberta, na Austrália, na
década de 1940, ela já tinha se disseminado pelo mundo por meio dos
toletes, porque é sistêmica e não se sabia da sua existência. Durante
muito tempo pensou-se que era causada por um vín1s, e son1ente na
década de 1970 descobriu-se que uma bactéria é seu agente causal.
Sintomas
Essa bactéria não causa nenhum sintoma específico externo
que pennita a sua identificação. Internamente no colmo, na base dos
nós, causa avermelhamento na fo1ma de pequenas vírgulas, que são o
entupimento dos vasos condutores do xilema, os quais conduzem água
130 Matsuoka
Disseminação
A bactéria se dissemina muito eficientemente por meio de
instrumentos de corte, como os podões de colheita ou as lâminas de
corte das máquinas colheitadeiras, ou, ainda, dos implementos
agrícolas. A infecção pelo corte e em toletes infectados são suas
únicas formas de disseminação.
lmportância econômica
Trata-se de uma das doenças mais importantes da cana-de-
açúcar, porque não causa sintoma externo visível. Desse modo, ela
ocorre endemicamente nos canaviais, sem que os produtores a
percebam. Como o próprio nome indica, o seu efeito danoso aumenta
nas sucessivas socas. As perdas vão de nada significativas a bastante,
de acordo com a suscetibilidade das variedades e as condições de
cultivo. O nível de estresse de água é sempre fator determinante da
extensão do dano. Por exemplo, demonstrou-se que os ganhos de
produti vidade em canaviais formados com uma muda sadia em
relação a uma doente podem ser da ordem de 22 a 37% na cana-planta
e de 17 a 27% na cana-soca (efeito menor na soca devido à regressão
da doença na muda tratada), confo1me o nível de tolerância de
variedades sensíveis. Esses valores baseiam-se em estudo cujos
resultados estão apresentados na Figura 5.2 A e B. Embora se trate de
variedades antigas, os dados são apresentados como referência. Corno
a doença vai se agravando nas socas, nos cortes seguintes os prejuízos
seriam ainda maiores que aqueles. mostrando a importância da doença
e do uso de mudas sadias.
Manejo de doenças e medidas de controle 131
A VAR. CB41-76
120 112
100
80
■ Cana-planta
60
·. Cana-soca
40
20
o
Muda usual Muda tratada % aumento
termicamente
B
VAR. CB49-260
120
107 112
- - -__.8 1
100 r------
80
60
■ Cana-planta
40
37 Cana-soca
20
o
Muda usual
Muda tratada 0
termicamente 1/o aumento
Figura 5.2 - Efeito do tratamento térmico nas variedades CB4 l-76 e
CB49-260.
Controle
O controle mais eficiente do raquitismo-da-soqueira ~ feito
utilizando-se variedades resistentes. As variedades comercta1.
modernas têm algum nível de resistência, porém, como ela. não são
132 Matsuoka
Podridão-Abacaxi
Agente causal
A podridão-abacaxi é causada pelo fungo Thielaviopsis
paradoxa (de Seynes) von Hõn.
Sintomas
Embora esse fungo possa infectar cana em pé, o dano mais
comum é nos toletes, após o plantio. Quando se notarem falhas
excessivas e brotos novos murchando, há indicação de sua ocorrência.
Cortando-se os toletes longitudinalmente, nota-se que eles estão
aquosos, com coloração de abacaxi passado e exalando cheiro
característico dessa fruta. Nas extremidades do tolete, pode-se notar
uma coloração preta, que também tomará todo o tolete após alguns
dias, e, com a degeneração do tecido parenquimatoso, restarão apenas
os fios das fibras. A coloração escura é causada pela esporulação do
fungo em contato com o ar.
Disseminação
Este fungo é disseminado através de estruturas de
sobrevivência (c]amidósporos) ou em restos culturais que ficain no
Manejo de doenças e medidas de controle 133
Importância econômica
É doença importante em condições desfavoráveis para a
brotação, porque, levando mais tempo para essa brotação, há mais
tempo para o fungo proliferar e sua toxina causar efeito, resultando
assim em.falhas no canavial.
Controle
O controle da podridão-abacaxi consiste em, primariamente,
dar condições de boa germinação para o tolete. Há diferenças varietais
em resistência, mas elas somente fazem efeito quando as condições de
germinação são desfavoráveis. Nos plantios em épocas mais frias e
ainda em solos pesados ou de várzea, a probabilidade de danos é
maior, por isso são aconselháveis algumas medidas preventivas. O
tratamento dos toletes, principalmente das extremidades, é
imprescindível com fungicida, no caso de plantio de viveiros com
toletes tratados termicamente. Porém é optativo no caso de toletes não
tratados termicamente, de acordo com as condições ambientais
mencionadas. O corte dos toletes em comprimento maior, seis a oito
gemas em vez de três, ou até mesmo cana inteira, se as mudas forem
novas, é uma medida boa, pois dá chance de escape para os brotos do
meio do tolete. Alén1 disso, em toletes maiores, os brotos têm maior
vigor e, consequentemente, suas raízes crescem mais rapidainente, o
que permite à planta escapar do efeito danoso das toxinas.
l 34 Matsuoka
Podridão-da-Casca
Agente causal
Esta doença é causada pelo fungo Phaeocytostroma sacchari
(J.B. Ellis &Everhart) B. Sutton).
Sintomas
A infecção sempre ocorre pela região do nó, onde se pode
notar coloração vermelho-rósea. Cortando-se o tolete no sentido do
comprimento, o tecido da região do nó se mostrará parte
avermelhada e parte marrom-escura. Os internódios poderão se
apresentar levemente róseos ou secos. Em estágio avançado, o
colmo se mostrará seco e leve e, externamente, na casca, haverá
numerosas estruturas espiraladas pretas, como uma cabeleira. Em
condições favoráveis à doença, colmos inteiros, em pé, podem
literalmente secar, ou seja, apresentar podridão-seca; o colmo perde
a parte líquida totalmente, ficando rígido e leve. Se canas
infectadas forem utilizadas como mudas, podem ocorrer falhas na
lavoura.
Disseminação
A dispersão do fungo se dá por vento e chuva.
Importância econômica
A podridão-da-casca é primariamente uma doença de
plantas estressadas, sem vigor, embora haja diferenças de
suscetibilidade entre variedades. Quando afeta canas em pé, de
variedades mais suscetíveis, pode causar sérios prejuízos e até
tornar inadequada toda a matéria-prima, devido à enorme
quantidade de canas secas. Além de ser prejudicada a extração,
ainda pode ocorrer muita infecção nas dornas.
Controle
Não há nenhuma medida de controle que se possa adotar. Se a
doença afetar seriamente uma variedade, esta não deve mais ser
plantada, pelo menos naquela condição.
Ma nejo de doenças e medidas de co111role 135
Nematoides (galhas)
Agente causa l
Dezenas de espécies de nematoides atacam as raízes da cana-
de-açúcar, entre as quais são as mais comuns: Meloidogyne.
Pratylenchus, Criconemoides, Helicotylenchus, Hop lolaimus,
Tylenchorhy nchus e Xiphin ema. As duas primeiras são citadas como
as principais no Brasil.
Sintomas
Existem dois tipos de sintomas nas raízes: as galhas e as
lesões. As lesões são de cor avermelhada a pardo-avermelhada, mas o
que comumente se observa é uma tonalidade escura, devido à
posterior infecção por fungos. Como vários fungos patogênicos
podem também infectar as raízes, esses sintomas não servem como
padrão diagnóstico para leigos. Já as galhas são produzidas pelo
nematoide Meloidogyne e são engrossamentos das raízes resultantes
do efeito de toxinas liberadas pelas formas juvenis, que podem ser
facilmente reconhecidos, mesmo por leigos.
Disseminação
Os nematoides normalmente habitam os solos, de modo que
nao ocorre propriamente uma disseminação. O mapeamento prévio
das áreas que têm maior infestação auxilia tanto na escolha de
variedades a serem plantadas como nas medidas de controle a serem
tomadas.
Importância econômica
Em muitas áreas onde se cultiva a cana-de-açúcar, a infestação
por nematoides é prejudicial, de modo que é um problema econômico
importante. Em experimentos, têm sido relatadas perdas de até 50%
ou, contrariamente, incrementos de até 45 t ha-1, ao se efetuar o
controle com nematicidas em variedades suscetíveis e solo altamente
infestado.
Controle
A recomendação dos especialistas é adotar um controle
integrado baseado em três métodos: varietal. cultural e químico. Numa
136 Matsuoka
Referências
CARDOSO, C. O. N.; SANGUTNO, A. Ferrugem da cana-de-açúcar. ln:
SEMINÁRIO DE TECNOLOGIA AGRONÔMICA, 4., 1988. Proceedings ... São
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açúcar em função da severidade do raquitismo da soqueira. ln: CONGRESSO
NACIONAL DA STAB, 1996, Maceió. Anais .. . Maceió: 1996. p. 287-293.
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ESTADO DE SÃO PAULO. Campanha integrada de controle do carvão em cana-
de-açúcar. São Paulo: 1985. 39 p.
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OLIVEIRA, A. A. M. (Ed.). Produção de cana-de-açúcar. Piracicaba, SP:
USP/ESALQ, 1993. p. 83-93.
GIGLIOTI, E. A.; CANTERI, M. G. Desenvolvimento de software e escala
diagramática para seleção e treinamento de avaliadores da severidade do complexo
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1998.
GHELLER, A. C. A.; GODOY, O. P. Eficiência comparativa de dois sistemas de
tratamento térmico na inativação do agente causal do raquitismo-da-soqueira em
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GIGLIOTI, E. A.; MATSUOKA, S. False red stripe. In: ROTT, P.; BAILEY, R. A.;
COMSTOCK, J. C.; CROFT, B. J.; SAUMTALLY, A. S. (Ed.). A guide to
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IANPLANALSUCAR. Relatório anual 1974. Piracicaba, SP: IANPLANALSUCAR,
1974. 68 p.
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1976. 80 p.
IANPLANALSUCAR. Relatório anual 1976. Piracicaba, SP: IANPLANALSUCAR,
1977. 88 p.
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nutricionais da cana-de-açúcar no Brasil. Piracicaba, SP: IANPLANALSUCAR,
1977. 56 p.
LIU, H. P. Chave ilustrada para identificação de doenças e anomalias nos
canaviais do Brasil. Piracicaba, SP: IANPLANALSUCAR, 1988. 48 p.
Manejo de doenças e medidas de controle 137
::.
PLANTAS DANINHAS
6
Sérgio de Oliveira Procópio 1, Antônio Alberto da Silvct2,
Evander Alves Ferreira3, Alexandre Ferreira da Silva4 , Leandro Galon 5
Introdução
A cana-de-açúcar (Saccharum spp.) foi introduzida no Brasil
em 1553, estabelecendo-se de forma definitiva nas regiões Centro-Sul
e Nordeste. O País é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo,
moendo, na safra 2014/2015, aproximadamente, 642 milhões de
toneladas por ano. A região Sudeste é a maior produtora, com mais de
62% da área total plantada (somente o Estado de São Paulo contribui
com 52% dessa área), seguida pelas regiões centro-oeste, com 11 %, e
Nordeste, com 19% da área total. Nessas três regiões, a produtividade
média é de 82, 73 e 56 t ha-1, respectivamente (CONAB, 2015).
É importante ressaltar que a ampliação de área cultivada com
cana-de-açúcar, visando principalmente à produção de etanol,
acarretará maior demanda por agrotóxicos. Em 2008, cerca de 8,4
E-mail: aasilva@ufv. br
3 Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Pós-doutorando na Universidade Federal de Viçosa
E-mail: evanderalvcs@yahoo.com.br
~ Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo.
E-mail: alexandre.fo1rcira@cmbrapa.br
~ Professor na Uni versidade Federal da Fronteira Sul, Campus Ercchim.
E-mail : lcandro.ga lon@uffa.cdu.br
140 Procópio et ai.
Controle cultural
Várias práticas culturais que visam tomar a cultura da cana-
de-açúcar mais competitiva em relação às plantas daninhas, entre as
quais se destacam:
- utilizar variedades com características mais competitivas, por
exemplo, aquelas que apresentem alto índice e alta velocidade de
perfilhamento;
- utilizar mudas em ótimo estado de sanidade e nutricional·
'
. adubar adequadamente a cultura, de modo a favorecer O seu
crescimento; e
reduzir o espaçamento em áreas que não apresentam aptidão a
mecanização.
Controle mecânico
São métodos mecânicos de controle de plantas daninhas.
destacando-se o arranque manual. a capina manual, a roçada e o
culti \'O mecanizado.
Plantas daninhas 151
Controle biológico
O controle biológico ainda é um método não disponível ou
pouco utilizado .no Brasil para o controle de plantas daninhas no
plantio da cana-de-açúcar e em culturas em geral.
Controle químico
O controle químico é o método mais utilizado na cultura da
cana-de-açúcar, por ser eficiente, apresentar alto rendimento, baixo
custo em relação a outros métodos e por haver no mercado inúmeros
herbicidas eficientes registrados para essa cultura no Brasil.
Nesta cultura, os herbicidas podem ser aplicados em pré-
emergência, pós-emergência (inicial ou tardia - normalmente em jato
dirigido), na reforma do canavial (para controle da soqueira da cana-
de-açúcar) e como maturador em subdose (ganho de sacarose e
planejamento de colheita). Em relação ao espectro de controle, os
herbicidas podem ser classificados em latifolicidas (controle exclusivo
de plantas daninhas de "folhas largas", grupo composto em sua
maioria por dicotiledôneas); graminicidas (controle exclusivo de
plantas daninhas pertencentes à família das gramíneas); herbicidas de
controle exclusivo de plantas daninhas da família das ciperáceas
("cipericidas"); e herbicidas de amplo espectro de ação ( controle de
mais de um grupo de plantas daninhas citado anterionnente). A
maioria dos herbicidas registrados para uso na cultura da cana-de-
açúcar no Brasil se enquadra neste último grupo (Tabela 6.3 ).
Radiação solar
Segundo Víctória Filho ( 1985), a luz pode aumentar a
translocação dos herbicidas, pois promove a fotossíntese e,
consequentemente, o movimento do herbicida, juntamente com os
produtos fotossintetizados na planta. Todavia, em determinadas
situações, a alta intensidade luminosa provoca aumento da espessura
da cutícula e também maior número de tricomas, que podem dificultar
a absorção dos herbicidas.
Precipitação pluvial
As chuvas interferem na ação dos herbicidas, dependendo do
momento em que ocorrem, da intensidade e da duração. De acordo
com Ferreira et al. (2005), chuva poucos dias antes da aplicação de
herbicidas, em pós-emergência, pode lavar parte das ceras e dos
alcanos da superficie das folhas das plantas daninhas, aumentando a
suscetibilidade delas aos herbicidas e melhorando, assim, a eficiência
de controle.
A influência da chuva na absorção dos herbicidas pela folha
também depende das características de cada produto, pois alguns são
absorvidos rapidamente, enquanto outros o são lentamente. De modo
geral, aqueles formulados em óleo, são menos afetados pela chuva que
outros veiculados em água (VICTORIA FILHO, 1985). Segundo Silva
et ai. (2007b), o bom teor de água no solo é essencial para boa eficácia
dos herbicidas utilizados em pré-emergência.
Umidade relativa do ar
A umidade relativa do ar é provavelmente o fator ambiental
que mais influencia a vida útil das gotas de pulverização e a atividade
dos herbicidas, principalmente os que têm como alvo as plantas
daninhas emergidas (MAROCHI, 1997). Victória Filho ( 1985) afüma
que a umidade relativa do ar influencia a absorção e translocação dos
herbicidas aplicados à folha, porque afeta diretamente o tempo de
permanência da gota na superficie foliar. como também influencia a
Plantas daninhas 155
Temperatura
A temperatura do ar influi de vanas maneiras na ação dos
herbicidas, pois pode modificar suas propriedades físicas, como
pressão de vapor e solubilidade, e também alterar os processos
fisiológicos das plantas (BELTRÃO; AZEVÊDO, 1994). Gupta e
Lamba ( 1978) dizem que, normalmente, temperaturas baixas (menores
que 1O ºC) ou muito elevadas podem reduzir o metabolismo das
plantas, tendo como consequência a diminuição da ação tóxica dos
herbicidas e do controle de plantas daninhas. Pode ocorrer também
perda de seletividade do herbicida quando este for aplicado em
temperaturas extremas. Isso ocorre, principalmente, quando a
seletividade da cultura ao herbicida é devida ao metabolismo
diferencial promovido pela planta (PROCÓPIO et ai., 2003).
Vento
Segundo Victória Filho ( 1985), o vento, indiretamente, afeta a
absorção dos herbicidas pelas plantas, pelo fato de aumentar a
evaporação da gota de pulverização na superfície foliar. Também,
plantas que crescem em condições de muito vento e altas temperaturas
apresentam normalmente cutícula mais espessa e mais pubescente, a
qual dificulta a absorção dos herbicidas.
Na aplicação de defensivos agrícolas, o vento pode provocar a
deriva, que é um termo usado para aquelas gotas que não foram
depositadas na área-alvo. A deriva pode causar a deposição dos
produtos químicos em áreas não desejadas, com sérias consequências.
Para diminuir os efeitos negativos das condições ambientais
nas aplicações de herbicidas, recomendam-se as seguintes práticas:
- não aplicar os produtos em condições ambientais adversas (umidade
re]ativa do ar baixa, temperatura elevada e ventos com velocidade
superior a 1O km h- 1);
- não aplicar quando as plantas daninhas estiverem em situações de
estresse (dificil absorção e translocação do herbicida);
156 Procópio er ai.
Tolerância de Variedades de
Cana-de-Açúcar a Herbicidas
Variedades de cana-de-açúcar podem apresentar respostas
diferentes aos herbicidas usados no controle de plantas daninhas, o
que pode causar problemas de fitotoxicidade, chegando até a
ocasionar perdas na produção. Uma variedade pode apresentar
diferentes comportamentos, dependendo do herbicida utilizado.
Planras da11i11has 161
Fitotoxicidade {%2
Cultivares/Clones 13 DAT 34DAT BSPA {%) Sensibilidade
RB855113 13,75 a 44,40 a 33, 32 c Alta
SP80-1842 7,50 b 21,16 b 50,29 b Média
SP80-1816 5,75 b 13,17 c 58,73 b Média
RB855002 6,25 b 8,33 d 94,79 a Baixa
RB928064 3,75 c 5,83 e 90,51 a Baixa
SP79-1011 8,50 b 16,60 e 40,35 b Média
SP81-3250 2,50 e 2,83 e 95,88 a Baixa
RB867515 4,25 e 5,83 e 94,45 a Baixa
RB957712 2,50 e 6,33 e 88,53 a Baixa
RB72454 7,50 b 7,50 e 91,76 a Baixa
RB845210 7,50 b 10,83 85,30 a Baixa
RB947643 5,00 b 4,17 e 89,24 a Baixa
RB855536 2,75 c 4,20 e 93,76 a Baixa
RB835486 1,25 c 6,67 e 86,05 a Baixa
RB957689 15,00 a 24,17 b 49,52 b Média
BSPA - % relativa de produção de massa seca da parte aérea em relação à testemunha.
Avaliações realizadas aos 45 DAT. Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem
entre si pelo teste de Scott-Knott.
Fonte: FERREIRA et al., 2005.
Aplicação aérea
Realizada por meio de aeronaves agrícolas (principalmente
aviões), é muito utilizada na cultura da cana-de-açúcar, sobretudo em
área de grande extensão. É recomendada para o controle em pré-
emergência e, ou, pós-emergência inicial. Este tipo de aplicação não é
recomendado para controle em pós-emergência média ou tardia das
plantas daninhas, por não se conseguir boa cobertura delas em
estádios mais avançados. Para se obter sucesso neste tipo de aplicação,
é necessário observar as condições do vento, as correntes de
convecção, a temperatura e a umidade do ar, entre outros fatores.
Aplicação tratorizada
Quando feita e1n área total, é realizada com equipamentos
tratoriz.ados com barras que normaltnente variam de 7 a 20 m de largura,
trabalhando-se em média com velocidades de 4 a 1O km h-1, dependendo
do tipo de máquina e da topografia do terreno. As aplicações podem ser
feitas em pré-emergência ou em pós-emergência inicial à tardia.
Aplicação costal
Este tipo de aplicação é muito usado em áreas de topografia
irregular, em pequenas áreas de produção de cana-de-açúcar, no
controle de reboleiras de plantas daninhas e na "catação química", a
qual consiste no repasse das áreas onde já foi aplicado algum método
de controle. Os equipamentos para este tipo de aplicação podem ser
pulverizadores costais de bombeamento manual ou pressurizados;
estes últimos permitem maior rendimento da aplicação.
Os acessórios de proteção de deriva em aplicações de
herbicidas não seletivos, como paraquat, glyphosate e MSMA, são
eficazes, pois foram observadas reduções significativas na intensidade
dos sintomas de intoxicação das plantas da cultura com o paraquat
(RODRIGUES; ALMElDA, 2005).
172 Procópio et ai.
Referências
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Estado do Paraná. Londrina: IAP AR, 1981. 244 p. (Circular, 23 ).
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16 p.
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pós emergência inicial e tardia da cana-de-açúcar na época da estiagem. Planta
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BARROSO, A. L. L. et ai. Manejo de plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar
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LA ASOCIACIÓN LATINOAMERICANA DE MALEZAS, 23., 2008b, Ouro Preto-
MG. Anais ... Sete Lagoas-MG: SBCPD, 2008b. CD-ROM.
BELTRÃO, N. E. M.; AZEVÊDO, D. M. P. Controle de plantas daninhas na cultura
do algodoeiro. Campina Grande: Embrapa - CNPA, 1994. 154 p.
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M. S.; OLIVEIRA, E. A. M. (Ed.). Produção de cana-de-açúcar. Piracicaba:
FEALQ, 1993. p. 3 1-64.
CHRISTOFFOLETI, P. J. ct ai. Plantas daninhas na cultura ela soja: controle químico
l! resistênc ia a herbicidas. ln: CÂMARA. G. M. (E<l.). Soja: tecnologia da produção.
Piracicaba: ESALQ, 2000. p. 179-202.
174 Procópio et ai.
Introdução
A irrigação consiste na aplicação eficiente de água no solo, na
quantidade adequada e no momento certo, com a finalidade de manter
a umidade em níveis adequados que favoreçam o pleno
desenvolvimento da cultura.
No Brasil, a área com cana-de-açúcar irrigada ainda é pouco
expressiva, sendo menor que 5% do total cultivado. Isso se deve,
principalmente, à alta resistência da cultura a déficits hídricos e à
localização geográfica dos cultivos de cana-de-açúcar, onde a estação
chuvosa coincide com a fase de crescimento vegetativo e a fase de
maturação coincide com o período seco.
O consumo diário de água da cultura da cana-de-açúcar varia
com o seu estádio de desenvolvimento, o clima, o tipo de solo, a
população de plantas e a variedade, geralmente entre 2,0 e 7 ,O mm.
E-muil: mmrnmos@ufv. br
1 Engenheiro-Agrónomo, M.S,, ü .S. e Professor Lia Universidade Federal de Vi~·osa.
E-muil : aquinoufv@yahoo.com,hr
178 Oliveira, Ramos e Aquino
Pivô Centra 1
O equipamento pivô central é constituído por uma tubulação
de aço suspensa, dotada de aspersores e sustentada por armações
metálicas com rodas pneumáticas, denominadas torres, e por um
sistema de comando (Figura 7 .1 ).
A tubulação do pivô central é de aço galvanizado, com
diâmetro de 168 mm (6 5/8"), 219 mm (8 5/8") e 254 mm (1 O"). O
mais comum são os equipamentos com tubulação de 168 mm de
diâmetro. Os fabricantes de pivô central também disponibilizam
equipamentos com tubos dotados de revestimento interno, para
proteção contra corrosão, no caso de se fazer a fertirrigação com a
aplicação de vinhaça na lavoura de cana-de-açúcar.
A torre central é uma estrutura metálica em forma de
pirâmide, fixada sobre base de concreto construída no centro da área
irrigada. A tubulação suspensa gira em torno da torre central, através
do pivoflex, in-igando áreas circulares. Na torre central. ficam
instalados o painel de controle e o tubo de elevação do pivô central.
No painel de controle do pivô, há os seguintes componentes:
chave geral, chave seletora do sentido de rotação, relê percentual,
voltímetro, luz indicadora de sistema ligado, luzes indicadoras de
defeitos, horímetro, relê temporizador contra excesso de úgua. Hú a
opção de painel de controle analógico (convencional) e di~ital.
182 Oliveira, Ramos e Aquino
Carretel Enrolador
Este sistema de irrigação é constituído por uma tubulação de
sucção, um conjunto motobon1ba, uma tubulação adutora e uma
tubulação principal dotada de hidrantes, onde o equipamento carretel
enrolador é conectado.
Esse equipamento é constituído por uma plataforma metálica
dotada de rodas, mn carretel de aço, uma mangueira de polietileno de
média densidade e um aspersor instalado sobre um carrinho. Dependendo
do modelo de carretel enrolador, a mangueira pode ter comprimento de
200 até 500 m, com diâmetro variando desde 50 a 140 mm.
O carretel é dotado de sistema propulsor, geralmente uma
turbina hidráulica. A mangueira de polietileno é conectada ao carretel
e à base do tubo de subida do aspersor.
Na operação do equipamento, o carretel enrolador é colocado
no meio do carreador, próximo a um hidrante da linha principal,
referente à faixa a ser irrigada. O carrinho com o aspersor é deslocado
com o uso de trator para a extremidade oposta da faixa, promovendo-
se o desenrolamento da mangueira. O bocal de entrada do carretel
enrolador é conectado ao hidrante da linha principal por meio de outra
mangueira com aproximadamente 5 m de comprimento.
Após o acionamento do conjunto motobomba, abre-se o
hidrante, colocando o sistema em funcionamento. À 1nedida que o
carretel gira, ocorre o enrolamento da mangueira; e o carrinho, com o
aspersor em üperaçãol começa a se deslocar em direção à plataforma
metálica. No fim do percurso, é acionado automaticamente o
dispositivo de parada, inte1Tompendo o deslocamento do carrinho.
Irrigação 185
Montagem Direta
Este sistema de irrigação é composto por uma tubulação de
sucção com mangote e válvula de pé, por um conjunto motobomba
com dispositivo para escorva, um guindaste e um aspersor setorial do
tipo canhão hidráulico. O conjunto é montado sobre chassi com quatro
rodas pneumáticas.
O guindaste serve de suporte para o mangote, possibilitando a
manutenção da válvula de pé com crivo a uma altura adequada dentro
do canal, além de auxiliar no transporte do sistema.
O sistema montagem direta é muito utilizado para aplicação
de efluentes de indústrias e destilarias (vinhaça) no solo,
principalmente em áreas canavieiras, e para aplicação de água na
irrigação de diversas culturas. Os componentes do sistema são
fabricados com materiais próprios para resistir à corrosão.
O equipamento é geralmente montado próximo a um canal,
onde irá funcionar durante o tempo necessário para aplicação da
lâmina desejada. O tempo de funcionamento em cada posição
dependerá da intensidade de aplicação do aspersor e da lâmina de
água ou do efluente a ser aplicada.
A distância entre pontos de montagem do equipamento
depende do raio de alcance do aspersor. Os espaçamentos entre os
canais e entre os locais de instalação do equipamento geralmente são
de I 00 m. Pode-se aumentar o espaçamento entre canais usando
extensões constituídas de tubu lações dotadas de válvulas de linha
espaçadas de 100 m.
186 Oli veira, Ramos e Aquino
Manejo da irrigação
O manejo de irrigação refere-se a um conjunto de decisões
técnicas envolvendo as características da cultura, do clima, da água,
do solo e do sistema de irrigação. O manejo adequado da irrigação,
associado às demais técnicas de cultivo, possibilita ao agricultor
alcançar níveis de produtividade elevados, com economia de água e
energia, além de contribuir para a preservação do ambiente.
Um manejo bem conduzido consiste em definir o momento
adequado de se iniciar a irrigação e em determinar a quantidade de
água necessária à cultura, possibilitando conhecer o tempo de
aplicação de água ou a velocidade de deslocamento do equipamento
de irrigação.
Para irrigar a cana-de-açúcar de maneira eficiente, é
necessário conhecer alguns parâmetros relacionados ao solo, ao clima,
à água, à planta e ao sistema de irrigação que possibilitarão quantificar
a água que deverá ser aplicada.
Capacidade de Campo
A capacidade de campo (Cc) cotTespondc ao limite superior da
água disponível e representa a umidade do solo após a drenagem da água
contida nos macroporos pela ação gravitacional. Essa condição <le
umidade favorece a maior absorção de úgua e nutrientes pelas planta ·.
, 1 1 t 1 .
190 Oliveira, Ramos e Aquino
35
30
~
o
';;' 25
õCll
o 20
"Cl
C,)
"Cl
(,;I
~
15
E
:::J
10
o
o 150 300 450 600 750 900 1050 1200 1350 1500
Tl!nsão (kPa)
Densidade do solo
A densidade do solo é a relação entre a massa e o volume de
uma amostra de solo seco. Na sua determinação, pode-se utilizar um
trado Uhland, cujo cilindro é cravado no solo, na profundidade média
da camada de solo explorada pelas raízes das plantas. Após a retirada
do cilindro, a amostra é preparada e levada à estufa para secagem por
24 horas, a uma temperatura aproximada de 105 ºC, para
determinação de sua massa. O volume é determinado com o uso dos
valores do diâmetro e da altura da amostra de solo.
Na amostragem para determinação da densidade do solo,
pode-se também usar o método recomendado por Oliveira e Ramos
(2008), denominado Método do Tubo de PVC.
O Método do Tubo de PVC consiste em nivelar previamente a
superficie do solo, umedecê-lo (Figura 7.4a) e, posteriormente, cravar
um tubo com diâmetro nominal de 50 mm e comprimento de 15 cm
(Figura 7.4b), tendo uma das extremidades biselada, até que a borda
superior do tubo de PVC fique à superficie do solo (Figura 7.5a). Em
seguida, escava-se o solo em torno do tubo de PVC, para facilitar o
acesso à sua extremidade inferior. Com uma faca, corta-se o solo na
base do tubo (Figura 7.5b), retira-se o conjunto (tubo com solo) e
apara-se a base da amostra, para elinúnar o excesso de solo (Figura
7.6a). Em seguida, fazem-se uma limpeza do tubo e a vedação das
extremidades da amostra de solo com fita plástica adesiva (Figura
7 .6b). Para iITigação, recomenda-se fazer pelo menos três repetições
na área irrigada.
Os tubos de PVC com as amostras devem ser enviados para
um laboratório, solicitando-se a determinação da densidade do solo.
Após a determinação da densidade, pode-se usar uma amostra
composta para obter os valores da capacidade de campo e do ponto de
murcha permanente.
192 Oli veira. Ramos e Aquino
(l)
em que:
Ds: densidade do solo, g/cm3 ;
ms: massa de solo seco, g; e
Vs: volume da an1ostra de solo, cm3 .
Evapotranspiração da cultura
O processo que associa a transferência de água do solo e das
plantas para a atmosfera, na forma de vapor de água, é denominado
evapotranspiração (ET). Ela representa, na prática, o consun10 de água
de uma cultura, geralmente expresso em milímetro por dia (n1n1/d).
Um milímetro representa a altura da lâmina formada pela aplicação de
um litro de água numa área de 1 m2 ( 1 mm = 1 L/m2).
A evapotranspiração varia com o tipo de cultura, por causa
das características próprias das espécies vegetais. Dessa maneira,
houve a necessidade de definir a cvapotranspiração para uma culturu
!rrigaçâo 195
,
198 Oliveira, Ramos e Aquino
LI =
(ee - uª ) D Z
10 E a s
(3)
em que:
LI = lâmina total de irrigação, mm;
Cc = capacidade de campo,% em peso;
Ua = umidade do solo antes da irrigação, % e1n peso;
Ds = densidade do solo, g/cm3 ;
Z = profundidade efetiva do sistema radicular, cm; e
Eu= eficiência de aplicação de água, decimal.
No caso de cana-de-açúcar irrigada con1 pivô central ou
sistema linear, deve-se calcular a velocidade de deslocamento por:
Irrigação 199
V= 100 Lr
LI (4)
em que:
V = velocidade de deslocamento do pivô central ou sistema
linear,%; e
Lp = lâmina de projeto do pivô para a velocidade de l 00% ,
mm.
No caso de carretel enrolador e autopropelido, após calcular a
lâmina total de irrigação, deve-se consultar o catálogo do fabricante
do equipamento para obter a velocidade de deslocamento
correspondente.
No caso dos sistemas montagem direta, canhão hidráulico
portátil e gotejamento subsuperficial, o tempo de funcionamento do
equipamento em cada posição ou setor deve ser calculado por:
LI
t=-
IB (5)
em que:
t = tempo de irrigação em cada posição ou setor, h;
LI = lâmina total de irrigação, mm; e
Ia= intensidade de aplicação de água do sistema de irrigação,
mm/h.
E (6)
"
em que:
LI = lâmina total de irrigação, mm;
ETc = soma dos valores de ETc ocorridos durante o período
correspondente ao turno de rega, 1nm; e
Ea = eficiência de aplicação de água, decimal.
Após calcular a lâmina total de irrigação, deve-se proceder de
maneira semelhante ao caso anterior para calcular a velocidade de
deslocamento do equipamento (equação 4) ou para calcular o tempo
por posição ou por setor (equação 5).
Se ocorrer chuva no período, deve-se verificar se a lâmina
precipitada foi suficiente para repor o déficit de água no solo até o
momento da ocorrência de chuva. Caso isso tenha ocorrido, deve-se
zerar o somatório dos valores de ETe visto que a lâmina deficitária foi
reposta ao solo pela chuva. Durante os dias restantes do turno de rega,
devem-se acumular novamente os valores diários da ETc. A lâmina
total de irrigação é calculada aplicando-se a equação 6 e a velocidade
de deslocamento do equipamento ou o tempo por posição ou por setor,
que são obtidos da maneira descrita anterimmente.
Se a lâmina precipitada for menor do que a lâmina
correspondente ao somatório da ETe, a diferença entre elas fornecerá a
lâmina deficitária atual após a ocoffência da chuva. Nesse caso, essa
diferença será acrescida aos novos valores diáiios da ETc verificados
durante os dias restantes do turno de rega. A lâmina total de irrigação
e a velocidade de deslocamento do equipan1ento ou o tempo de
irrigação são também obtidos conforme descrito anteriormente.
No caso de uso do irrigâmetro, antes de iniciar o manejo, o
aparelho deve ser preparado de acordo com o estádio de
desenvolvimento em que a cana-de-açúcar se encontra no campo.
Duas situações podem ocorrer: (1) início do manejo com o plantio da
cana-planta e (2) início do manejo com a cultura já implantada.
Na situação ( l ), o irrigâmetro deve ser preparado com a face l
da régua de manejo voltada para frente ê com a marca da haste
lrrigaçâo 201
Referências
ALLEN, R. G.; PEREIRA, L. S.; RAES, D.; SMITH, M. Crop evapotranspiration:
guidelines for predicting crop water requeriments. Rome: F AO, 1998. 308 p.
(Irrigation and Drainage Paper, 56).
BERNARDO, S. Manejo da irrigação na cana-de-açúcar. ITEM, v. 71/72, p. 56-
62, 2006.
DOORENBOS, J.; KASSAN, A. H. Yield response to water. Rome: FAO, 1979.
193 p. (Irrigation and Drainage Paper, 33).
DOORENBOS, J.; PRUITI, W.O. Guidelines for predicting crop water
requeriments. Rome: FAO, 1977. 179 p. (lrrigation and Drainage Paper, 24).
FRJZZONE, J. A.; MATIOLJ, C. S.; REZENDE R.; GONÇALVES, A. C. A.
Viabilidade econômica da ÍlTigação suplementar da cana-de-açúcar, Saccharum spp.,
para a região norte do Estado de São Paulo. Acta Scientiarum, v. 23, n. 5, p. 1131-
l 137, 2001.
OLIVEIRA, R. A.; RAMOS, M. M. Manual do irrigâmetro. Viçosa, MG: Edição do
autor, 2008. 144 p.
PEREIRA, L. S.; ALLEN, R. G. Novas aproximações aos coeficientes culturais.
Engenharia Aerícola . v 16 n 4 . r 1 18- 141 1997.
Irrigação 207
Introdução
Do ponto de vista de seleção e operacionalidade de um
sistema de colheita, seja qual for a cultura, a análise não deve se
limitar a apenas aspectos relacionados à máquina ou à mão de obra
envolvida. Um estudo mais profundo é necessário, levando-se em
conta quatro principais grupos de fatores condicionantes: sociais,
fisiológicos, tecnológicos e econômicos.
No caso da cultura da cana, a colheita da matéria-prima, que é
constituída de colmos industrializáveis, brotos "chupões", matéria
estranha mineral (terra e metais) e vegetal (palhas, folhas verdes,
ponteiros, restos de cultura e plantas daninhas), deve refletir todo o
trabalho desenvolvido no planejamento e na implantação da cultura,
desde o preparo periódico do solo até a operação de colheita e retirada
do produto do campo.
Esse universo de ações de planejmnento e execução deve
iniciar-se pela correta seleção varietal, de acordo com as condições
edafoclimáticas locais, terminando em condições adequadas da malha
viária, do subsistema de transporte, do subsistema de recepção d•
1
Engenheiro-Agrónomo, M.S., Ph,D. e Professor da Escolu Superior de Agricultura LuiL d~·
Quciroz-USP. E-mail: tcripoli@csalq.usp.br
1
Engenheiro-Agrônomo, M.S., Ph.D., Clicnt lnsight Leud - A&T Region 3 Enll!rpris~ Market
Rcscan:h. JOHN DL:E RE. E-mail: RipoliMarco@Johndccrc.com
Colheita 209
Q ACQpladas
Cortadoras-
enlelradoras Montadas
Q Autó-propelidas . ..
Manual
Q Acopladas
/Transporte/ Cortadoras- .-"\. Montadas
Amontoadoras L-.1'
Carreta
Caminhão Q Auto-propelidas
Transbordo
Q Dé colmo Inteiro
Colhedoras
Báscula lateral
Q De colmo picâdo
ou traseira
Manual
Subsistema de corte
A escolha do tipo de corte dos colmos de cana (manual ou
mecânico) dependerá de fatores diversos, como: disponibilidade de
mão de obra, aspectos socioeconômicos, condições de campo onde
está implantado o canavial, do subsistema de carregamento a ser
utilizado etc.
No Brasil, os trabalhadores envolvidos no corte manual são
uma classe que possui inúmeras carências, seja na área nutricional, de
saúde, de instrução e até de qualificação para este trabalho. Por isso é
que, quando se compara a capacidade diária desses operários
nacionais com de outros países, como África do Sul e Porto Rico,
observa-se que lá eles conseguem cortar, em média, de 12 a 14 t/dia
de trabalho, sendo operários qualificados, nutridos e saudáveis, além
de possuírem ferramentas ergonomicamente adequadas para suas
compleições fisicas. Regra geral, apenas homens participam desse
trabalho.
No Brasil, na massa de trabalhadores, são encontrados
homens, 1nulheres, crianças e idosos, salvo exceções, apenas com
autodidatismo, boa parte deles subnutridos, analfabetos ou
semianalfabetos e sem fe1Tamentas adequadas aos seus biotipos.
Perante esse quadro, o dispêndio de energia de cada operário está
acima da capacidade de cada um, refletindo em baixa produtividade
diária, de 7 a 1O t/dia, e numa perda gradativa de suas resistências
orgânicas. Em agroindústrias nacionais que já implantaram programas
de alimentação e treinamento, entre outros, para esses trabalhadores, a
produtividade já chega a 12 t/dia, quando as condições de campo
apresentam colmos de maior massa, 1nais eretos, e a qualidade da
queima é boa. Exemplo de programa de treinamento ben1-sucedido é o
implantado pelo G1upo COSAN.
Corte manual
O corte manual caracteriza-se por uma série de eventos que o
trabalhador braçal, de posse de uma ferramenta (denonunada ··folha"
ou "podão" etc., dependendo da região) utiliza para cortar e eliminar o
material vegetal sem interesse para produção de álcool ou açúcar.
216 Ripr i· e Ripo/i
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ----'-
Corte mecanizado
O processo de mecanização da colheita de cana não é,
simplesmente, uma substituição do trabalho manual pelas máquinas.
Atinge as dimensões de um sistema cujos limites são bastante amplos
para incluir toda a problemática de transferência da matéria-prima do
campo para a unidade industrial. Nesse sistema, podem-se visualizar,
segundo Mialhe e Ripoli (1975), três subsistemas, a saber:
- subsistema de corte e carregamento,
- subsistema de transporte e
- subsistema de recepção.
Considera-se que os subsistemas, embora contenham uma
parte específica da problemática global, apresentam interfaces que
incluem aspectos de interesse comum. Forma-se, assim, uma cadeia de
vinculação entre o campo e a fábrica (Figura 8.2), por meio da qual se
estabelece o fluxo de matéria-prima que alimenta a indústria. Portanto,
o objetivo fundamental dos estudos e pesquisas que se realizam sobre
o sistema de colheita mecanizada de cana é, em última análise, a
otimização desse fluxo para as condições particulares de cada empresa
produtora de açúcar e, ou, álcool, visando:
- qualificação da matéria-prima, em termos de manutenção
do teor de açúcar nos níveis originais de campo e de
redução do grau de deterioração, durante o fluxo;
- limpeza da matéria-prima, em termos de redução de matéria
estranha; e
- custo da transferência de matéria-prima do campo para
indústria, em termos de redução no custo da unidade de
intensidade de fluxo.
218 Ripoli e Ripo/i
Interfaces
1: Queima, desfolhante, técnica cultural etc.
2: Transbordo, limpeza etc.
3: Descarregamento, limpeza etc.
4: Amostragem, lavagem etc.
Desvantagens:
• Há necessidade de carregadoras, uma vez que essas
cortadoras depositam o material cortado no terreno (em
eitos amontoados ou esteirados).
• Qualquer interrupção nos subsistemas de transporte, de
carregamento ou de recepção na usina pode resultar em
cana cortada, ficando no campo por períodos mais longos,
com seus inconvenientes.
• Colmos inteiros apresentam cargas de menor densidade no
veículo de transporte, o qual, carregado, ficará com centro
de gravidade mais alto e, portanto, mais instável.
• O uso de correntes e cabos é custoso e consome tempo.
• O sistema de transporte não é eficientemente utilizado
devido à larga variação encontrada na densidade das
cargas.
• As perdas (canas que caem durante o trajeto campo-usina)
são significativas.
• Devido às características de projeto, as cortadoras possuem
centros de gravidade altos, tomando-se impróprias para
operar em relevos com declividades acima de 15-18%.
• A qualidade da matéria-prima que chega à usina é
prejudicada pela necessidade do uso de carregadoras, que
arrastam, com a cana, matéria estranha mineral e vegetal.
• Máquinas cortadoras, de constituição mais simples, ou
seja, que apenas cortam, sem efetuar a mnontoa, deixam os
colmos cortados ao longo das fileiras de plantio e
longitudinalmente a elas, o que dificulta sobremaneira a
220 Ripoli e Ripoli
Desvantagens:
• As operações de corte e transporte estão estreitamente
ligadas.
Colheita 221
Fatores da máquina
Centro de gravidade (C. G.): interfere na utilização e
capacidade operacional dessas máquinas, como em qualquer outra
fonte de potência. Quanto mais elevado o centro de gravidade, menor
será a utilização da máquina em função do relevo do terreno. Quanto à
capacidade operacional, ocorrerá decréscimo, pois há a tendência de
se diminuir a velocidade de deslocamento à medida que o C.G. é mais
elevado, pois as condições de instabilidade ficam mais críticas,
dificultando a operação. O único trabalho publicado, no Brasil, sobre a
determinação de centro de gravidade de colhedoras de cana e
condições de equilíbrio estático foi o de Ripo li et al. ( 1974). A
máquina foi uma Massey Fergusson, modelo 201, de rodado de pneus,
de origem australiana. É apresentada a curva de influência da
declividade na segurança da operação. Observa-se que a segurança
decresce rapidamente a partir de determinada declividade. Essa
declividade não se refere ao talhão como um todo, mas limitadamente
à distância equivalente aos extremos da bitola maior da máquina. A
ordenada fornece os desníveis, em cm, e em porcentagem de
declividade correspondente, enquanto a abscissa fornece a margem de
segurança em operação (em%).
Com base nesse estudo, fica reforçada a necessidade de
adequada sistematização dos talhões no que diz respeito à eliminação
de depressões ou elevações no micro relevo do terreno. Do contrário,
corre-se o risco de (mesmo numa área de declividade da ordem de
12%), num dado momento, os rodados de um lado (esquerdo, por
exemplo) passarem por uma depressão e os rodados direitos
encontraren1-se sobre uma elevação e, assim, ocorrer desequilíbrio
dinâmico da máquina, levando-a ao tombamento, mesmo nessa
declividade, considerada segura.
A declividade, por si só, não é suficiente para assegurar a
possibilidade de colheita mecanizada de cana, pois existem algumas
situações críticas para os órgãos ativos dessas máquinas, como é o
Colheita 223
Fatores de campo
Variedade: as características morfofisiológicas das variedades
interferem bastante no corte mecânico de cana. Em princípio, tanto as
colhedoras como as cortadoras operam melhor em canas eretas,
vigorosas e de sistema radicular profundo. As canas eretas facilitam o
corte, da base e do topo, havendo, com isso, ganho na capacidade
efetiva das máquinas (poderão trabalhar sem maiores intem1pções),
menor perda em canas não cortadas e melhor limpeza. Já as camas
vigorosas e com sistema radicular profundo resistem ao corte
mecânico basal feito por uma ou mais lâminas em rotação. É prt:ciso
resistência de ancoramento dos colmos para ocorrer o ci alhamento
adequado. Caso a cana possua sistema radicular superficial e não s "ja
vigorosa, pode ocorrer corte imperfeito ou corte dilace ra nte,
praticamente destruindo aquele internódio. Como con -equ~ncia, tem-
se o aumento da área de infecção e maior deterioração, como també m
228 Ripoli e Ripoli
Colmo
acamado
+----------rm-----------+
Figura 8.3 - Critério para definir porte de colmos em um canavial.
Fonte: RTPOLI et ai., 1977.
'' ' ,,
Vrcgião '-...... ~
~
Caminhão com uma roda no centro da entrelinha
Ida Volta
reg,ao saqueiro f
compactada <lani lieada
Fatores administrativos
Retaguarda de reparos e manutenção: as colhedoras, por suas
próprias características de projeto, requerem cuidadosa manutenção.
Em boa parte dos canaviais paulistas, a presença de pedras, tocos,
buracos etc. é significativa, o que aumenta a necessidade de reparos.
Caso não haja, na empresa, bom gerenciamento e adequada equipe de
reparos e manutenção, a máquina poderá se tornar muito ociosa,
aumentando o seu custo-hora, com a queda de sua capacidade
236 Ripoli e Ripoli
Subsistemas de carregamento
Manual
O carregamento manual, atualmente, é uma prática bastante
limitada no Brasil e ocorre, em algumas regiões de relevo acentuado do
sul de Pernambuco, norte de Alagoas e Zona da Mata de Minas Gerais,
quando se tem um carreador em desnível bastante acentuado em relação
ao talhão. Nesse caso, é colocada uma prancha de madeira, para servir de
passarela, entre o topo do barranco e a carroceria da unidade de
transporte. Outra situação em que se emprega o carregamento manual é o
transporte de matéria utilizando-se carros de bois. Essa situação ocorre
em pequenos engenhos de aguardente do Nordeste.
Mecânico ou semimecânico
O grande incremento do subsistema de carregamento
mecânico no Brasil se deu por volta da segunda metade da década de
Colheita 239
Subsistema de transporte
O estabelecimento de subsistemas de transporte, em bases
racionais, deve-se iniciar, em tese, concomitantemente com a
implantação da base tisica agrícola da agroindústria, a fim de que,
com a passar dos anos, ele não venha se tomar ponto de
estrangulamento nos processos de transferência da matéria-prima do
campo à unidade industrial.
Devido às grandes extensões que caracterizam as unidades
canavieiras no Brasil, consagrou-se o transporte viário como a
principal opção, apesar de nem sempre ser a mais viável
economicamente. Essa situação é resultante de uma política de
transportes desencadeada nos primórdios da implantação da indústria
automobilística no País. A fim de estimular e favorecer a
comercialização de veículos rodoviários, construíram-se rodovias, o
que, por si só, não seria negativo. Todavia, paralelamente foi total o
desinteresse no desenvolvimento, na manutenção e na ampliação de
ferrovias e hidrovias, meios comprovadamente mais econômicos para
transporte de carga.
Assim, o que se viu, por consequência, foi a desativação das
linhas férreas, que, então, também existiam nas usinas de açúcar.
Atualmente, não mais que duas ou três unidades açucareiras, no Rio
de Janeiro e em Pernambuco, mantêm trechos fen-oviários para o
transporte de cana.
. . .... .........-...
244 Ripoli e Ripoli
Tipos de transporte
As opções existentes hoje no Brasil referentes aos tipos de
unidades de transporte de matéria-prima incluem desde carros de bois
até tratores tracionando carretas; caminhões com uma ou duas árvores
motrizes (trucados), cavalos mecânicos tracionando duas ou mais
carretas, containers, entre outras.
A escolha desta ou daquela unidade será função de fatores
relativos a distâncias entre os campos de produção e a unidade
industrial, condições de trafegabilidade de malha viária (largura, tipo,
estado do leito carroçável, aclives e declives, obras de arte etc.),
Colheita 245
por cabos de aço. Essas perdas são dificeis de estimar; assim, sabe-se
que são significativas durante o transcorrer de uma safra, além de
causar acidentes.
Atualmente, predominam carrocerias fechadas nas partes
frontal e traseira e com fueiros largos e metálicos nas laterais, de
diversos modelos (na forma de carretas, de reboque, semirreboque
etc.), e ação de carregamento com mais cuidado, limitando-se a altura
da carga aos níveis compatíveis, visando menor perda de colmos
durante o percurso até a usina.
O uso de caminhões mais potentes tracionando, além de sua
carroceria, uma carreta já está consagrado. São os veículos tipo
Rodotrem, vulgarmente chamados de "Romeu e Julieta", com
capacidade de carga líquida em torno de 25 a 30 t. Suas carrocerias
podem ser tanto de fueiros como fechadas. Essa opção é recomendada
para distâncias de 20 a 50 km do campo à indústria. Para esses
veículos serem econômicos, é necessário que o leito carroçável das
estradas tenha boa conservação, a fim de permitir velocidades médias
de deslocamento maiores (de 50 a 70 lan/h), pois, do contrário, o
custo da tonelada por quilômetro transportado pode se tornar elevado,
comprometendo o uso desses veículos.
Finalmente, existem os veículos superpesados, que tracionam
três ou quatro carretas por vez, atingindo 60 t por viagem (há
restrições do Código Nacional de Trânsito para rodarem em pistas
estaduais). São recomendados para o transporte em longas distâncias,
acima de 30 km da indústria, podendo ser usados com carrocerias de
fueiros metálicos ou fechados. Nesse caso, a malha viária,
preferencialmente, deve conter rodovias pavimentadas, a fim de
agilizar o deslocamento desse veículo. Usar esses veículos sobre
estradas estreitas, mal conservadas e em pequenas distâncias é o
caminho mais curto para comprometer o custo operacional dessas
unidades e o custo da tonelada transportada por quilômetro rodado.
Como o custo do transporte da matéria-prima ten1
significância em todo o processo, várias empresas açucareiras vêm
refinando o planejamento. Com isso, esse nível de controle atinge até
os acompanhamentos periódicos do desgaste de pneus e análises
fisicas e químicas de óleos de motor e de câmbio dos veículos em
trabalho.
.............. ◄ .... ..
248 Ripoli e Ripoli
Operações de transbordo
Entende-se por operação de transbordo a atividade de
transferir a matéria-prima existente em um tipo de veículo de
transporte para outro. Essa operação pode ocorrer em qualquer
250 Ripoli e Ripoli
..
Colheita 251
Subsistema de recepção
Este subsistema envolve as seguintes etapas sequenciais:
pesagem da unidade de transporte em balança de plataforma, retirada
de amostra, por sonda, e descarregamento ( direto na mesa de recepção
ou no pátio/barracão de estoque e nova pesagem do veículo para
determinação de sua tara).
Descarregamento
Após a unidade de transporte ter passado pela balança e pela
sonda que retira amostra de matéria-prima para fins de determinação
de sua qualidade, ela pode se dirigir para duas áreas da usina: pátio de
estoque ou descarregamento direto na mesa de recepção. A definição
de onde ocorrerá o descarregamento depende da operacionalização da
usina, do sistema de çolheita, da quantidade de matéria-prima que
chega à usina e da capacidade de esmagamento das moendas.
No caso de corte manual ou corte por máquinas cortadoras, a
matéria-prima encontra-se na forma de colmos inteiros. Por meio de
ponte rolante e cabos de aço, a carga é retirada do transporte e
depositada no pátio para posterior esmagamento. Esse tipo de
descarregamento vem sendo evitado pelas usinas, dentro do possível,
pois o interesse deve ser o de esmagar a matéria-prima com o menor
tempo possível, após o corte. Cana estocada só se justifica para
abastecimento noturno. Havendo adequado planejamento de colheita e
de transporte, ou seja, que tenha levado em conta a capacidade diária
de esmagamento, o descarregamento é realizado por um sistema fixo
de guincho hidráulico, denominado Hilo, o qual, por meio de cabos de
aço, tomba lateralmente à carga do transporte, jogando-a sobre o piso
do pátio (menos comum) ou sobre a mesa de recepção. Para o
primeiro caso, tratores com ancinhos frontais realizam o manejo dessa
matéria-prima até as mesas de recepção.
252 Ripoli e Ripoli
Referências
AZZI, G. M. incidência de matéria estranha nos processos de carregamento de
cana-de-açúcar. 1972. 112 p. Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura Luiz
de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba.
BALASTREIRE, L. A.; RIPOU, T. C. Estudos básicos para quantificação de
colhedoras e veículos de transporte. ln: SEMrNÁRIO COPERSUCAR DA
Colheita 253
....
ENFARDAMENTO DE PALHA
9
Marcelo de Almeida Pierossi1
Sarnir de Azevedo Fagundes2
Introdução
A produção de cana-de-açúcar no Brasil vem passando por um
período de transfarmação nos últimos anos, devido à crescente
utilização da mecanização da colheita .. Esse avanço ocorre porque as
novas usinas foram instaladas em regiões planas e baseadas em
operações 100% mecanizadas e, também, devido à diminuição das
áreas com queimadas antes da colheita. No Estado de São Paulo, as
usinas, representadas pela UNICA - União da Indústria de Cana-de-
Açúcar, e o Governo do Estado assinaram, em junho de 2007, o
Protocolo Agroambiental do Setor Sucroalcooleiro, acordo voluntário
que antecipa em 14 anos os prazos para eliminação da queimada
controlada da palha da cana antes da colheita manual. A Figura 9 .1
mostra a eliminação dessa prática de acordo com a declividade das
áreas. Nas áreas mecanizáveis (declividades de até 12%), a eliminação
da queimada foi antecipada de 2021 para 2014, enquanto nas áreas
não mecanizáveis (declividades maiores que 12%) a eliminação
passou de 20~ 1 para 2017.
E 20% 20%
cu
: 30%
30% --------...--+-___.::_______
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~
~ 100% 1 1 1 1 1 100% 1 1 1 1 1 1
2006 2010 2011 2014 2016 2021 2007 2010 2011 2016 2017 2021 2026 2031
Nota: os pontos destacados nas linhas do gráfico mostram os anos específicos citados na Lei 011 no Protocolo.
Elaborado pela Unica.
1000
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2005 2010 2015 2020 2025 2030 2035
Biumas~a
Combustíveis Combustíveis
sólidos líquidos
Turbinas a vapor
(motores a pistão)
Calor
CaldeiraAP Caldeira MP
l Vapor 65 bar
Turbogerador
Dessuper
[ Vapor 22 bar
Acionamento
Turbogerador mecânico
-e Válvula
f
de cxp.
Processos
Condensado
Desaerndor
Make-up
....
Enfardamento de palha 261
Recolhimento da Palha
Como toda disponibilidade de biomassa demonstrada, o
desenvolvimento de um sistema de recolhimento da palha no campo e
transporte dela à usina é de fundamental importância na viabilidade
econômica do processo. O CTC realizou estudo considerando
diferentes rotas de recolhimento da palha (HASSUNI, 2005),
entretanto, atualmente, apenas duas rotas são utilizadas: a que
contempla o transporte da palha de cana junto com a cana picada
colhida mecanicamente, em sistemas denominados Sistemas de
Limpeza Parcial, com separação posterior na usina em unidades
industriais de limpeza a seco, e a do enfardamento.
A rota da limpeza parcial, segundo Marchi et al. (2005),
consiste na redução da limpeza da cana durante a colheita e o
transporte de maior quantidade de palha junto com a cana picada, para
posterior separação na usina, deixando o restante da palha no campo
(Figura 9 .5).
Isso é obtido mediante a redução da velocidade de rotação do
extrator primário e, ou, eliminação do uso do extrator secundário.
Esses extratores compõem o sistema de limpeza da colhedora e são
mostrados na Figura 9 .6. Eles são responsáveis pela remoção das
folhas verdes e secas (impurezas vegetais) dos toletes de cana picada
enviados ao transbordo.
~
Sepnmçilo da palha
na usina em Estação
de Limpeza a Seco
LJ
Parte da palha é
transportada junto
com a cana picada
Colheita com rotação
Limpeza reduziâa do extrator
parcial primário e extrator
11ecundário é1esUgodo
~ Port da palh
~ dcilu1da nl> ~ ,po
Extrator Primário
\
Rolo Alimentador,Barbatana
Rolos Alimentadores e Transportadores
• ♦ ••
E1!/ardame11to de palha 263
Enfardamento da Palha
Consiste no recolhimento de material vegetal depositado no
solo, compactando-o em pacotes (fardos) de maior densidade e de
mais fácil manuseio. O recolhimento da palha por meio do
enfardamento é realizado de quatro a sete dias após a colheita
(SARTO; HASSUANI, 2005), para garantir a secagem da palha.
Contudo, ressalta-se que o mais importante não é o tempo de
exposição ao sol, e sim a umidade do material, que deverá estar enh·e
1O e 15%, podendo, em alguns casos, devido às condições climáticas
locais, chegar a 5%. Nesse caso, além da dinlinuição natural na
densidade do material enfardado, devem-se observar os efeitos da
baixa umidade em função da caldeira utilizada.
No momento da colheita, grande parte das folhas encontra-se
verde e sua umidade média é de aproximadamente 40%. Apenas
depois de garantida a umidade ideal, inicia-se a sequência de
operações de recolhimento:
- aleiramento,
- enfardamento,
reco lhi mento dos fardos,
- carregamento dos fardos e
- transporte dos fardos.
264 Pierossi e Fagundes
Aleiramento
É a primeira operação da cadeia de recolhimento e consiste na
formação de leiras, concentrando-se o material de forma que garanta
fluxo de alimentação adequado à enfardadora.
Segundo Cavalchini (1999), na produção de feno e forragem,
o aleiramento, embora seja urna operação aparentemente simples,
apresenta problemas relativos à qualidade e produtividade do trabalho
realizado. Em nossa aplicação, palha como biomassa, ela acaba
afetando de forma mais significativa a qualidade da operação ao
agregar terra à leira, pois trata-se de uma operação de alta eficiência e
que não impacta operacionalmente · as etapas subsequentes. Além
disso, segundo COPERSUCAR (1998), a qualidade do aleiramento
impacta a capacidade de alimentação da enfardadora, reduz os danos
ao mecanismo de alimentação frontal da enfardadora e evita a
propagação de fogo acidental.
Outro importante aspecto a ser considerado no aleiramento é a
"largura de trabalho". Os modelos de implementos disponíveis no
mercado têm largura de trabalho oscilando de 3 a 15 m, de acordo
com suas características. A largura de trabalho é um fator importante
no desempenho do equipamento e, consequentemente, no custo da
operação.
Os tipos de aleiradores disponíveis no mercado são:
- aleirador de dedos (Figura 9.8) e
- aleirador de barras - tipo rollabar (Figura 9.9).
O modelo tradicionalmente usado para aleiramento da palha
nos canaviais é o aleirador de dedos, porém sua utilização restringe-se
às operações realizadas com o objetivo de redução de riscos de
incêndios em canaviais e retirada da palha para facilitar o cultivo. Ele
E11fardamento de palha 265
,-- ...
..• - . ·..=::.:,=--- -
Enfardamento
Após a confecção das leiras, é realizada a operação de
enfardamento. Os modelos atuais de enfardamento foram
desenvolvidos inicialmente para o enfardamento de feno formado por
capins e, ou, plantas forrageiras para alimentação animal. Segundo
Remoué (2007), formas mecânicas de enfardamento de feno foram
estabelecidas no final do século XIX, com a criação de máquinas
estacionárias, e as primeiras enfardadoras móveis de fardos
retangulares apareceram no início da década de 1900. Estas recolhiam
o material a partir do solo, comprimindo-o e mantendo-o ainarrado
com barbantes. As primeiras enfardadoras de fardos retangulares
grandes foram disponibilizadas no mercado no final dos anos 1970,
com a introdução da Hesston 4800.
As enfardadoras, de acordo com a forma e o tamanho de seus
fardos, são divididas em enfardadoras de fardos retangulares, que
podem ser pequenos (Figura 9.10) ou grandes (Figura 9.11), e
enfardadoras de fardos cilíndricos (Figura 9.12).
As dimensões dos fardos são muito variadas, havendo no
1nercado diversos modelos com diferentes dimensões. Para
enfardadoras de fardos retangulares, as dimensões mais comuns
encontram-se na faixa de 0,45 x 0,35 até 1,20 x 0,90 m, com
266 Pterossi e' Fag undes
Câmara principal
Agulhas
Pistão compactador
Garfos alimentadores da
câmara principal
Pré-câmara de
compressão
Dedos Dedos alimentadores da
recolhedores pré-câmara
Figura 9 .13 - Componentes funcionais de uma enfardadeira.
Aleirador H5980
É um aleirador (Figura 9.18) de 17 discos com dedos ancinhos
montados em bases de borracha. Seu desempenho operacional, ao ser
tracionado por um trator de 75 cv, é de aproximadamente 4,0 ha/ h,
com velocidade de trabalho entre l O e 12 km/h. Sua largura máxima
de trabalho é de 9.200 mm, porém testes de campo mostraram que,
para os nossos canaviais, a largura ideal de trabalho é de 7.500 mm,
que possibilita a formação da leira de aproximadamente 1.200 mm.
dimensão adequada ao sistema de alimentação da enfardadora.
272 Pierossi e Fagundes
Figura 9.18-AleiradorH5980.
Enfardadora 8B9080
É uma enfardadora (Figura 9 .11) de fardos retangulares com
dimensão de 1,2 x 0,9 m e comprimento variável de até 2, 7 m. Para a
palha de cana-de-açúcar, as dimensões variam de acordo com o
equipamento rodoviário utilizado e encontram-se de 2,20 a 2,50 m
(Figura 9.19). Ela possui uma pré-câmera de compressão (Figura
9.20), acima do sistema de alimentação, que garante uma pré-
compressão do material antes da entrada dele na câmara principal,
obtendo-se, dessa forma, fardos com maior densidade (densidades
para palha com 15% de umidade na faixa de 180 kg/m3).
Pr-ocessamento Industrial
Para se adequar à utilização, o fardo, ao chegar à unidade
industrial, deve passar por uma série de operações, que são definidas
conforme a necessidade do processo em que ele será utilizado.
Entretanto, existe um conjunto de operações que independe da
utilização industrial: recepção e descarga do fardo, armazenamento e
desenfardamento.
Ao final dessas operações, o material encontra-se desagregado
e, dependendo da aplicação, pode ser utilizado imediatamente, por
exemplo, para caldeiras de leito fluidizado. Entretanto, para a queima
em caldeiras de bagaço ( caldeiras que queimam em suspensão), o
índice de impurezas é fator crítico no processo, pois muitas vezes são
exigidos valores abaixo de 2% de impurezas. Essas caldeiras exigem
também partículas de dimensões semelhantes às do bagaço. Portanto,
são necessária- mais duas operações: limpeza e trituração.
Essas operações permitirão a queima da palha, pois eliminam
as impurezas minerais (terra) presentes no fardo e diminuem o
tamanho das µartículas, tornando-as de granulometTia similar à do
bagaço. Linero (2012) mostra a diferença entre os tamanhos das
partículas de palha e bagaço antes desse processamento (Figura 9.22).
Enf ardamento de palha 275
. - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - . . 80
70
□ Palha D Bagaço 60
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Abertura (mm) a 20 40
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276 Pierossi e Fagundes
Introd ução
A cana-de-açúcar tem se tornado umas das principais culturas
para a economia nacional, devido à produção de açúcar e etanol para os
mercados interno e externo. A produção de cana-de-açúcar processada
na safra 2014/2015 é estimada em 642, 1 milhões de toneladas, gerando
36,36 milhões de toneladas de açúcar e 28,66 bilhões de litros de etanol,
em uma área de aproximadamente 9 milhões de hectares (CONAB,
2014). Com a crescente demanda do mercado, a expectativa é de que,
em 2019, sejam produzidos 58,8 bilhões de litros de etanol e 47,34
milhões de toneladas de açúcar (MAPA, 2012).
Essa expressiva produção da cana-de-açúcar e a expectativa de
aumento significativo de área cultivada são consequências do emprego
de novas tecnologias, tanto na área agrícola quanto na área industrial.
Na área agrícola, tem-se buscado elevada produtividade, con1 destaque
E-mail: jqueiroz@ufv.br
1 Química, M.S., D.S. e Assistente de Pesquisa cio Luborntório Nacional de Ciência e Tecnologia
Qualidade da cana-de-açúcar
A qualidade da matéria-prima é definida por urna série de
características fisico-químicas e microbiológicas da planta, bem como
pelas impurezas vegetais e minerais oriundas do manejo agrícola e
industrial, que podem afetar negativamente o potencial de produção de
açúcar e etanol (RIPOLI; RIPOLI, 2004). Nesse contexto, quanto
melhores e mais adequadas forem as condições de cultivo e de colheira,
melhor será a qualidade da cana-de-açúcar, com maior acúmulo de
sacarose e, consequentemente, maior rentabilidade nos produtos finais
da indústria sucroenergética (SANTOS, 2008).
A cana-de-açúcar é constituída de colmo industiializável, folhas
verdes, folhas secas e ponteiro. Em se tratando da composição química, a
cana contém sólidos insolúveis (fibra) e solúveis (caldo); estes, por sua vez,
são constituídos de compostos orgânicos e inorgânicos. A composição da
cana é muito variável, dependendo de condições edafoclimáticas da região,
do sistema de cultivo, do estádio de maturação, da idade do cultivar, entre
outros fatores. A Figura 10.1 apresenta a composição média da cana
cultivada no Brasil. Tanto para a produção de açúcar como para a de etanol.
o componente principal é a sacarose.
Atualmente, no processo de produção de açúcar e etanol, é
aproveitado aproximadamente um terço de toda a energia contida na
cana, correspondente aos açúcares contidos no caldo; o restante está
dividido entre o bagaço e a palha. Vale ressaltar que há grande interesse
da comunidade científica no aproveitamento desses " subprodutos" da
indústria sucroenergética, além dos processos de cogeração já
estabelecidos atualmente (SANTOS et ai., 2012).
' 1
Qualidade da cana-de-açúcar para processamento industrial 279
Cana-de-açúcar
100%
1
Só!. Solúveis (brix) Água (umidade)
18% a 25% 68% a 76%
1
1 1
Orgânicos Inorgânicos
0,8% a 1,8% 0,2% a 0,7%
1 1 1
Sacarose Glucose Frutose
13% a 22% 0, l¾al,0% 0,0% a 0,6%
Plantio e Cultivo
Cultivares ,
Area (ha) %
1- RB867515 1.690.951 26,40
2- SP81-3250 823.776 12,86
3- RB855453 357.563 5,58
4- RB92579 322.549 5,03
5- RB855536 240.578 3,76
6- RB855156 210.832 3,29
7- SP83-2847 210.403 3,28
8- RB966928 163.870 2,56
9- RB72454 163.377 2,55
1O- RB835054 138.503 2, 16
Fontt!: RID ESA, 2014.
Qualidade da cana-de-açúcar para processamento industrial 281
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