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MANUAL DE DIAGNOSE VISUAL DO

ESTADO NUTRICIONAL PARA A


CULTURA DA SOJA

Manual de diagnose visual do estado nutricional


para a cultura da soja

Autores:

Amanda Magalhães Bueno


Pesquisadora Agronômica I
Fisiologia e Nutrição de Plantas

Leonardo Fernandes Sarkis


Pesquisador Agronômico I
Fertilidade do Solo e Fertilizantes

Centro Tecnológico COMIGO (CTC)


Geração e Difusão de Tecnologias

Rio Verde, GO
2022
sumário
1- INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 3

2- DIAGNOSE VISUAL ................................................................................................... 4

2.1- Simetria ................................................................................................................... 4

2.2- Gradiente ................................................................................................................ 4

2.3- Distribuição dos sintomas..................................................................................... 5

3- SINTOMAS DE DEFICIÊNCIA E EXCESSO DE NUTRIENTES NA CULTURA DA SOJA 5

4- MACRONUTRIENTES PRIMÁRIOS ........................................................................... 6

4.1- Nitrogênio .............................................................................................................. 6

4.2- Fósforo ................................................................................................................... 7

4.3- Potássio .................................................................................................................. 8

5- MACRONUTRIENTES SECUNDÁRIOS ...................................................................... 9

5.1- Cálcio ....................................................................................................................... 9

5.2- Magnésio ................................................................................................................ 10

5.3- Enxofre ................................................................................................................... 11

6- MICRONUTRIENTES ................................................................................................. 12

6.1- Boro ......................................................................................................................... 12

6.2- Zinco ........................................................................................................................ 13

6.3- Manganês ............................................................................................................... 14

6.4- Cobre ....................................................................................................................... 15

6.5- Ferro ........................................................................................................................ 16

6.6- Molibdênio ............................................................................................................. 17

6.7- Cloro ........................................................................................................................ 17

6.8- Níquel ...................................................................................................................... 18

7- ELEMENTO BENÉFICO .............................................................................................. 19

7.1- Cobalto .................................................................................................................... 19

8- REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 20

1- Introdução
A determinação do estado nutricional das culturas pode ser realizada por

diferentes métodos, tais como a análise química do tecido vegetal, análise de

seiva, testes bioquímicos, análise de clorofila e a diagnose visual. Esses métodos

são considerados complementares a análise de solo e permitem determinar, no

momento da avaliação, os aspectos nutricionais da cultura analisada.

Dentre os demais métodos, a diagnose visual é a que permite de forma

imediata e não destrutiva a nível de campo, determinar a ocorrência de

deficiência e/ou excesso nutricional. O método ocorre por meio da comparação

de plantas padrão (com adequado aspecto visual) e amostras que apresentem

distúrbios visuais (cor, tamanho e forma). Na avaliação visual, são utilizadas as

folhas, ramos e plantas inteiras para comparação.

Embora seja um método considerado simples, necessita de experiência do(a)

avaliador(a), conhecimento do histórico da área e da função de cada nutriente e

da análise de solo. Pois a campo, os sintomas podem ser confundidos com os

causados pelo ataque de pragas e doenças, problemas físicos do solo, utilização

de produtos químicos, déficit hídrico, entre outros.

Quando a deficiência de um nutriente apresenta modificações no tecido, que

podem ser detectadas visualmente, ela já causou alterações moleculares,

subcelulares e lesões celulares que poderão refletir na perda de produtividade.

Desse modo, a diagnose visual para além de determinar o estado nutricional da

cultura, poderá auxiliar na tomada de decisão para o melhor manejo da

fertilidade do solo na próxima safra, e determinar a necessidade da adubação

foliar ou até mesmo via solo durante a safra em questão.

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2- Diagnose visual
A deficiência e o excesso nutricional podem ser confundidos com outros
distúrbios provenientes da incidência de pragas, doenças, fitotoxidez por
herbicidas, déficit hídrico, entre outros. O que diferencia os sintomas nutricionais
dos demais são a simetria, gradiente e dispersão na área (Faquim, 2005).

2.1- Simetria
Os sintomas foliares de causa nutricional, ocorrem de
maneira simétrica na folha e entre folíolos do mesmo trifólio
ou próximas no ramo, e aparecem independente da face de
exposição da planta.

Figura 1 - Simetria da deficiência de potássio nos trifólios da cultura da soja. Fonte: Escosteguy
(2012)

2.2- gradiente
Gradiente refere-se às diferenças de coloração entre folhas velhas e novas do
ramo, devido à redistribuição dos nutrientes na planta. Se o nutriente for móvel,
em condições de carência a planta promove sua remobilização das folhas velhas
para as novas ou frutos, e os sintomas se manifestam nas folhas velhas. O
contrário ocorre com os nutrientes pouco móveis e imóveis, os quais apresentam
sintomas nas folhas novas. Alguns nutrientes promovem sintomas muito
parecidos entre si e o gradiente é uma importante ferramenta para um
diagnóstico mais seguro.

Tabela 1 e Figura 2 - Gradiente de redistribuição e esquema de primeiros sintomas visuais de


deficiência nutricional na cultura da soja. Adaptado de Faquim (2005).

Nutrientes Redistribuição Primeiros sintomas

Folhas novas e
Das folhas novas para folhas velhas

B
Das folhas velhas para folhas novas

Ca
Ca e B Imóveis
meristemas
S Zn Fe Mn
S, Zn, Cu, Fe, Pouco móveis Folhas novas
Mn e Mo Cu Mo

Medianamente
Ni Folhas novas Ni
móvel

N
N, P, K, Mg e Móveis Folhas velhas P
Mg

Cl K
Cl

4
2.3- distribuição dos sintomas
Além da simetria e gradiente, os problemas nutricionais apresentam
distribuição na área, sejam eles causados pelo excesso ou deficiência de
nutrientes. Os sintomas podem ocorrer de forma generalizada, em função da
recomendação inadequada da necessidade de nutrientes. Se a ocorrência for
pontual, pode ser devido à má calibração dos implementos resultando em erros
como remontes na aplicação (excesso), esgotamento do fertilizante ou
entupimento da saída do implemento (deficiência), dentre outras causas. Os
sintomas raramente ocorrem de forma aleatória e isolada nas áreas de produção.

Figura 3 - Distribuição dos sintomas de deficiência de potássio na soja cultivada em área


experimental de solo arenoso (tratamento controle, dose 0 de K₂O), em Montes Claros de Goiás.
Fonte: Leonardo Sarkis.

3- Sintomas de deficiência e excesso de


nutrientes na cultura da soja
Após criteriosa análise, avaliação do histórico e observação de simetria,
gradiente e dispersão dos sintomas na área, comprovando se tratar de desordens
nutricionais, é possível, por meio da forma, padrão, cor, local de aparecimento,
dentre outros fatores, determinar qual o nutriente está provocando alterações no
tecido vegetal.
A seguir serão descritos os principais sintomas de desordens nutricionais
conforme descritos por: Borkert et al. (1994), Sfredo e Borkert (2004), Prado
(2008), Reis et al. (2017) e IPNI (2018).
5
4- Macronutrientes primários
7

4.1- Nitrogênio
14,007

Contato íon raiz: Fluxo de massa. Forma absorvível pela planta: NO₃⁻ (predominante) e NH₄⁺

Deficiência

O sintoma típico de deficiência de nitrogênio é a clorose generalizada iniciando


nas folhas velhas, as quais apresentam coloração verde pálido seguida por
amarelecimento. Na falta de nitrogênio, a planta deixa de sintetizar ou inicia a
degradação da clorofila, hidrólise e redistribuição de proteínas, liberando o N para
suprimento das folhas novas, flores e formação de frutos. Posteriormente, ocorre
a necrose dos tecidos, redução do crescimento vegetativo e queda das folhas.

Na cultura da soja, a deficiência nutricional de


nitrogênio ocorre principalmente pela nodulação
ineficiente, que pode ser causada devido a pH
desfavorável (baixo ou alto), déficit hídrico, excesso
de umidade no solo, inoculação ineficiente e excesso
de N no solo no início do desenvolvimento da
cultura. As deficiências de Mo e Co, também podem
induzir a deficiência de N, pois são essenciais para
que ocorra a fixação biológica de nitrogênio (FBN).

Figura 4 - Clorose generalizada devido a deficiência de nitrogênio na cultura da soja. Fonte: Yara Brasil

a) b

Figura 5 - Dispersão na área do sintoma de deficiência de nitrogênio na cultura da soja. Divisão da


cultura inoculada (esquerda) e não inoculada (direita) (a). Fonte: Stewart Duncan apud Solum
Laboratório. Deficiência de Nitrogênio devido à falta de Molibdênio (Mo), folhas amarelas sem Mo,
folhas verdes com Mo (b). Fonte: Sfredo e Borkert (2004).
6
Excesso
Sintomas acarretados pelo excesso de nitrogênio não são comumente
observados na cultura da soja devido a prática de inoculação das sementes com
bactérias fixadoras de nitrogênio, e utilização de baixas ou nulas doses de N via
fertilizantes.
Entretanto, de forma geral, quando em excesso, o N provoca escurecimento
das folhas, tornando-as de coloração verde escura; crescimento vegetativo
exacerbado, atrasando o período reprodutivo; aumento da relação parte
aérea/raiz, prejudicando o desenvolvimento do sistema radicular, favorecendo o
acamamento e trazendo maior sensibilidade ao déficit hídrico.
15

4.2- Fósforo 30,974

Contato íon raiz: difusão. Forma absorvível pela planta: e H₂PO₄⁻ (maior predominância no solo)
ou HPO₄²⁻

Deficiência

As plantas de soja requerem altos teores de fósforo para o seu crescimento e


desenvolvimento inicial. O P compõe a estrutura genética das células pois atua na
formação do DNA e RNA, e também está presente na molécula energética ATP,
essencial no fornecimento de energia para ativação de processos metabólicos. Por
isso, geralmente, quando em deficiência, ocorre a atrofia das plantas, crescimento
lento e plantas raquíticas. As folhas velhas podem apresentar coloração verde-
azulada ou verde-arroxeada devido ao acúmulo de pigmentos vermelho, azul ou
púrpura que pertencem ao grupo conhecido como antocianinas. As manchas
tornam-se cloróticas e posteriormente necróticas de coloração amarronzada.
As principais causas da deficiência de fósforo na cultura da soja, são a
ineficiência na recomendação e adubação com fertilizantes fosfatados e solos não
corrigidos, que apresentam elevada acidez.

a) b) c)

Figura 6 - Folíolo de soja com coloração verde-azulada (a) e folíolo de soja com progressão para
cloróticas e necróticas amarronzadas. Fonte: Yara Brasil (b). Sintomas de redução do crescimento e
desenvolvimento de plantas de soja em área com (esquerda) e sem (direita) adubação fosfatada. Fonte:
IPNI (c).
7
Excesso
Sintomas acarretados pelo excesso de fósforo não são comuns para a maioria
das plantas, incluindo a soja. No entanto, quando em quantidades excessivas no
solo, pode causar a inibição de absorção e transporte de micronutrientes
catiônicos como Cu, Fe, Mn e principalmente o Zn, acarretando na deficiência dos
mesmos. Dessa forma é de extrema importância conhecer o histórico da área e
ter em mãos os resultados das análises de solo para determinar a real causa da
desordem nutricional apresentada. (Os sintomas causados pela deficiência de Cu,
Fe, Mn e Zn podem ser observados a partir da página 13).
19

4.3- Potássio K 39,098

Contato íon raiz: difusão e fluxo de massa. Forma absorvível pela planta: K⁺

Deficiência

A deficiência de potássio provoca clorose marginal nas folhas mais velhas,


iniciando da ponta do folíolo para as extremidades, inicialmente as nervuras se
mantém verdes, mas com o avanço do sintoma, passam a despigmentar. À
medida que o amarelecimento avança em direção à base da folha, as bordas
começam a apresentar manchas necróticas amarronzadas.

a) b) c)

Figura 7 - Início do sintoma de deficiência de potássio com o amarelecimento dos bordos das folhas.
Fonte: Anderson Vedelago apud Aegro (a); Progressão dos sintomas com avanço da clorose para a
base da folha. Fonte: Yara Brasil (b); Manchas amarronzadas e necróticas nos bordos das folhas.
Fonte: Revista cultivar (c).

Para plantas de soja com hábito de crescimento indeterminado, o sintoma de


deficiência de potássio pode aparecer nas folhas novas, a depender do estádio
fenológico da cultura, conforme apresentado na Figura 8.

8
Figura 8 - Dispersão dos sintomas foliares de deficiência de potássio e aparecimento dos sintomas em
folhas novas, em área de cultivo de soja de crescimento indeterminado, que não recebeu adubação
potássica. Fonte: Leonardo Sarkis.

Excesso
O excesso de potássio na cultura da soja, na maioria dos casos não ocorre em
função da absorção excessiva do nutriente, mas sim pela salinidade dos
fertilizantes potássicos, principalmente o cloreto de potássio (índice salino 116%).
Dessa forma os sintomas observados são atraso na germinação e emergência das
plântulas e redução na população de plantas, devido às elevadas doses de
potássio próximo às raízes. Além disso, o alto teor de K nas plantas, pode ocorrer
por deficiência induzida de cálcio e magnésio (sintomas de deficiência desses
nutrientes podem ser vistos nas Figuras 9 e 10). Por ser um cátion monovalente, e
com menor raio hidratado, a planta favorece sua absorção em relação ao Ca e
Mg.
5- Macronutrientes Secundários
20

5.1- Cálcio Ca 40,078

Contato íon raiz: fluxo de massa e interceptação radicular. Forma absorvível pela planta: Ca²⁺

Deficiência

Em casos de deficiência de cálcio, a planta inicia seus sintomas nos pontos de


crescimento (zonas meristemáticas) e folhas novas. A deficiência de cálcio na
cultura da soja pode ser confundida com a falta de boro, dessa forma, para a
diagnose, ressalta-se a importância do conhecimento do histórico da área, bem
como da análise de solo. Dentre os sintomas estão:

Cor esbranquiçada nas margens de folhas e entre as nervuras; formas


irregulares de folhas, com dilaceramento das margens; reduzida expansão
foliar e folhas no formato de "taça"; manchas necróticas internervais nas
folhas; morte de brotações a partir das pontas; baixa produção de sementes;
colapso do pecíolo; senescência precoce das folhas.

9
a) b) c)

Figura 9 - Manchas esbranquiçadas nas margens da folha (a). Manchas necróticas internervais (b).
Reduzida expansão foliar e folíolos em formato de taça com dilaceramento das margens. Fonte: Yara
Brasil.

Excesso
A cultura da soja é altamente tolerante ao excesso de cálcio, não apresentando
sintomas de fitointoxicação. No entanto o desbalanço de cálcio (altas
concentrações) em relação teores de potássio e magnésio no solo, pode provocar
a deficiência induzida pela redução da absorção de K e Mg.
12

5.2- Magnésio Mg 24,305

Contato íon raiz: fluxo de massa. Forma absorvível pela planta: Mg²⁺

Deficiência
Devido à alta mobilidade do magnésio no floema, os sintomas de deficiência são
visualizados inicialmente nas folhas velhas. A alteração visual típica da deficiência
do Mg é a clorose internerval, que na soja, pode ser acompanhada de manchas
pálidas no limbo foliar que se unem nas margens das folhas. O aspecto visual é
semelhante à deficiência de Mn, no entanto, para distinção, é necessário observar
atentamente o gradiente.

a) b) c)

Figura 10 - Início da clorose internerval com manchas de pontuação amarelada e nervuras verdes (a).
Fonte: Yara Brasil. Clorose internerval nas folhas velhas (b) e teor de magnésio nos bordos e no centro
de folha de soja com sintomas de deficiência de magnésio (c) Fonte: Castro et al. (2020)

10
Excesso
Assim como citado anteriormente para outros nutrientes, na cultura da soja,
não é usual a adubação com fertilizantes magnesianos em excesso, sendo o
calcário sua principal fonte. No entanto, vale ressaltar que o excesso de magnésio
resulta em deposição de sais nos vacúolos celulares, porém, não são descritos na
literatura os efeitos deletérios desse comportamento.

5.3- Enxofre S 32,066

Contato íon raiz: fluxo de massa. Forma absorvível pela planta: SO₄²⁻

Deficiência
A clorose generalizada de coloração pálida com posterior necrose das folhas,
são os sintomas característicos da deficiência de enxofre nas plantas. Esse
sintoma é muito semelhante à deficiência de nitrogênio. Dessa forma, para a
correta diagnose, deve-se observar o gradiente, que no caso da falta do S, ocorre
das folhas novas para as folhas velhas, em função da sua baixa mobilidade na
planta. Em alguns casos é possível observar a presença de pontuações necróticas
entre as nervuras e redução da fixação biológica de N. Planta bem nutridas em S
apresentam maior tolerância a toxidez de Co, elemento benéfico muito utilizado
na cultura da soja pois é essencial na FBN.

a) b) c)

Figura 11 - Redução da nodulação em plantas de soja cultivadas com baixo teor de enxofre no solo (a).
Fonte: Malavolta (1982). Pontos necróticos internervais (b). Fonte Yara Brasil. Clorose generalizada
com coloração amarelo pálida nas folhas jovens (c). Fonte: Agronômica.

Excesso

A toxicidade de enxofre tem sido observada em algumas espécies de plantas


localizadas especialmente nas proximidades de áreas com muitas indústrias, nas
quais há altos níveis de SO₂ na atmosfera. É muito baixa a probabilidade de que
isto ocorra nas áreas cultivadas com soja no Brasil.

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6- micronutrientes
5

6.1- Boro B 10,811

Contato íon raiz: Fluxo de massa - Forma absorvível pela planta: H₃BO₃ (preferencial) e H₂BO₃⁻

Deficiência
Em função de sua imobilidade no floema, os sintomas de deficiência de B
ocorrem inicialmente nos órgãos jovens da planta. Os principais sintomas são a
inibição do crescimento da parte aérea e das raízes, encurtamento de internódios,
folhas engrossadas, com folíolos deformados (enrugados) e com coloração verde-
azulada escura e nervuras ressaltadas devido ao acúmulo de lignina e plantas
encarquilhadas. Também pode ocorrer a presença de manchas amareladas entre
as nervuras.

a) b) c)

Figura 12 - Manchas cloróticas entre as nervuras em função da deficiência de boro (a). Fonte: Yara
Brasil. Folhas enrugadas em com nervuras ressaltadas (b). Fonte: Amanda Bueno. Plantas
encarquilhadas (c). Fonte: Bruno Gai apud Elevagro.

Excesso
Ao contrário do que ocorre com a maioria dos macronutrientes, o excesso de
boro pode acarretar na fitointoxicação da planta. Isso ocorre devido ao pequeno
limite entre a dose adequada e a tóxica. Os problemas com a toxidez são
aumentados em solos arenosos, áreas com problemas operacionais, como o
remonte da adubação e recomendações inadequadas de fontes, doses e
momentos de aplicação.
Os sintomas de toxidez de boro na cultura da soja são caracterizados pelo
aparecimento de clorose malhada com posterior aparecimento de manchas
necróticas inicialmente nos bordos das folhas mais velhas, devido a maior
transpiração. As folhas ficam com aparência de queimadas e caem
prematuramente.

12
a) b) c)

Figura 13 - Clorose malhada nas margens das folhas com pontuações necróticas (a) e folhas com
aspecto de queimado devido ao excesso de boro em área de remonte da adubação (b). Fonte: Amanda
Bueno. Plantas com toxidez de boro em área de solo arenoso (c). Fonte: Leonardo Sarkis.

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6.2- Zinco Zn 65,409

Contato íon raiz: Difusão - Forma absorvível pela planta: Zn²⁺

Deficiência

As plantas de soja com deficiência de zinco apresentam encurtamento dos


internódios, os folíolos jovens tornam-se pequenas e lanceoladas, com áreas
cloróticas entre as nervuras. As nervuras se tornam marrons e com pontuações
necróticas. A lavoura de soja com deficiência de zinco apresenta coloração
amarelo-castanha ou amarelo-ouro. A deficiência de zinco é acentuada em áreas
com elevadas doses de calcário e fósforo.

a) b) c)

Figura 14- Clorose amarelo-castanha entre as nervuras em folha de soja com deficiência de zinco (a).
Fonte: Embrapa soja apud Agrolink. Folhas lanceoladas e de coloração amarelo-ouro entre as nervuras
(b). Fonte: Borkert et al. (1994). Folhas com nervuras e ponto necróticos de coloração marrom (c).
Fonte: Yara Brasil.

13
Excesso

Em excesso, o zinco provoca a Inibição do desenvolvimento da raiz, clorose


nas folhas mais jovens e induz a deficiência de ferro. Ainda podem surgir
manchas pardo-avermelhadas em toda a planta.
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6.3- Manganês Mn 54,983

Contato íon raiz: Interceptação radicular e difusão - Forma absorvível pela planta: Mn²⁺

Deficiência

O Mn é o segundo micronutriente mais encontrado nos solos brasileiros. No


entanto, problemas com a deficiência desse micronutriente podem ocorrem em
áreas com baixos teores no solo, baixa porcentagem de matéria orgânica ou
calagem excessiva.
Os sintomas característicos de deficiência de Mn na cultura da soja são: Clorose
internerval iniciando com pontuações nas folhas jovens formando um reticulado
grosso (as nervuras apresentam coloração verde e espessa). O amarelecimento
pode progredir para as nervuras, tornando a folha verde pálida.

a) b) c) d)

Figura 15- Progressão dos sintomas de deficiência de manganês em plantas de soja. Comparação de
um folíolo com pontuações cloróticas internervais e uma folha visualmente saudável (a). Clorose
internerval com aspecto de reticulado grosso (nervuras verde-escura) (b). Avanço dos sintomas com
início da descoloração das nervuras (c). Progressão do sintoma com a clorose completa da folha,
incluindo as nervuras (d). Fonte: Amanda Bueno.

Excesso
A toxicidade de Mn, ocorre primeiramente nas folhas jovens, caracterizada por
clorose marginal, pontuações marrons que evoluem para necróticas na superfície
do limbo e encarquilhamento das folhas. Os sintomas podem ser confundidos
com a deficiência de boro. Desse modo, cabe-se ressaltar a importância do
conhecimento do histórico da área para que ocorra a correta diagnose.
14
a) b) c)

Figura 16- Enrugamento de folhas (a) e encarquilhamento de plantas de soja (b) causados pelo excesso
de manganês. Fonte: Flávio Schadeck apud Mais soja. Encarquilhamento das folhas causado pelo
excesso de Mn (c). Fonte: Borkert (1994).
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6.4- Cobre Cu 63,546

Contato íon raiz: fluxo de massa - Forma absorvível pela planta: Cu²⁺(preferencial) e Cu complexado a
quelatos
Deficiência

Os sintomas de deficiência de cobre em plantas de soja variam conforme o grau


da deficiência. Quando moderada, ocorre o surgimento de pontos cloróticos nas
extremidades dos folíolos das folhas novas. Progride para a necrose dos bordos e
avanço das pontuações cloróticas para o centro do limbo das folhas e a planta fica
com o aspecto de perda de turgidez de água.

a) b)

Figura 17- Pontuações cloróticas nas margens das folhas simples (a) e progressão dos sintomas com o
surgimento de pontos necróticos avermelhados nas margens e pontuações cloróticas no limbo foliar
de soja em função da deficiência de cobre. Fonte: ATP nutrition.

Excesso
O excesso de cobre provoca limitações do crescimento, redução do crescimento
radicular e induz a deficiência de ferro pois desloca o micronutriente de alguns
sítios fisiológicos, promovendo assim sintomas como apresentados na Figura 18.

15
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6.5- Ferro Fe 55,845

Contato íon raiz: principalmente por fluxo de massa, mas interceptação radicular e difusão também
são importantes - Forma absorvível pela planta: Fe²⁺(preferencial), Fe³⁺ e Fe complexado a quelatos

Deficiência
Os primeiros sintomas de deficiência de Fe correm nas folhas jovens, com a
clorose internerval, com nervuras inicialmente verdes (reticulado fino) e seu avanço
resulta no amarelecimento das nervuras, deixando os folíolos completamente
pálidos, quase brancos.
Os solos tropicais da região do cerrado brasileiro são ricos em ferro, no entanto
alguns fatores podem provocar a redução da absorção do nutriente pelas plantas,
tais como: altos teores de fósforo no solo, aumento do pH por calagem excessiva,
encharcamento ou baixa umidade do solo e altas concentrações de outros
micronutrientes metálicos como Cu, Mn e o elemento benéfico cobalto (Co).

a) b) c)

Figura 18- Clorose internerval com nervuras formando reticulado fino (nervuras verdes sobre o fundo
amarelo pálido) em função da deficiência de ferro (a). Fonte Marco Nogueira apud Canal Rural. Planta
de soja cultivada em solução nutritiva completa exceto ferro (b) e folhas simples de soja com coloração
amarelo pálido devido ao excesso de Co no tratamento de sementes (c). Fonte: Amanda Bueno.

Excesso

Em solos hidromórficos, que passam algum período saturados, ocorre a redução


de Fe³⁺ => Fe²⁺, forma preferencial de absorção de ferro pelas plantas, quando
drenados podem apresentar altos teores do micronutriente, resultando maior
absorção e possível efeito fitotóxico.
Na soja, a toxidez de Fe é similar à do Mn (Figura 16), no entanto, as folhas se
tornam menos quebradiças. Além disso, o excesso de Fe também pode reduzir a
absorção de Mn, dessa forma, é possível observar os sintomas descritos na Figura
14.

16
42

6.6- Molibdênio Mo 95,94

Contato íon raiz: fluxo de massa. Forma absorvível pela planta: pH < 5: HMoO₄⁻ e pH≥ 5 MoO₄²⁻

Deficiência
O molibidênio é o nutriente requerido em menor quantidade pela cultura da
soja, no entanto, tem importante participação no processo de fixação biológica de
nitrogênio. Assim, quando em deficiência, os principais sintomas serão
semelhantes àqueles apresentados na deficiência de N (Figuras 4 e 5). Além desses
sintomas, a deficiência direta do Mo pode acarretar na murcha das folhas novas.
Sua deficiência ocorre principalmente em áreas com solos ácidos.

Figura 19- Clorose em plantas de soja provocada por deficiência de molibdênio, reduzindo a eficiência
de fixação biológica de nitrogênio. Fonte: Yara Brasil.

Excesso

Sintomas de excesso de Mo não são comumente observados nas lavoura de


soja, no entanto, com o aumento das adubações com esse nutriente, visando
melhor eficiência da FBN, relatos de anomalias tais como: coloração verde-escura e
distorções nas folhas jovens e paralização ("travamento") do crescimento,
associados a teores foliares superiores a 5 mg/kg, vem se tornando mais
frequentes.
17

6.7- Cloro Cl 35,453

Contato íon raiz: fluxo de massa. Forma absorvível pela planta: Cl⁻
Deficiência
Não se é observado no campo, sintomas relacionados à deficiência de cloro,
pois a principal fonte de potássio utilizada em áreas de cultivos comerciais de soja
é o cloreto de potássio (KCl) que possui em sua composição, cerca de 47% de Cl.
Dessa forma, sua toxidade é mais comum.

17
Excesso
Soja cultivada sob elevadas doses de KCl podem apresentar os sintomas de
excesso do micronutriente, tais como: coloração bronze nos bordos e pontas das
folhas mais velhas, e amarelecimento e queda prematura das folhas. Esses
sintomas podem estar associados a altos teores foliares de Cu aliados ao Mn,
especialmente quando uma seca ocorre antes da floração.
28

6.8- Níquel Ni 58,693

Contato íon raiz: fluxo de massa. Forma absorvível pela planta: Ni²⁺

Deficiência
O níquel foi o elemento mais recentemente adicionado ao grupo de nutrientes
para as plantas. Ele é essencial no metabolismo do nitrogênio, pois na planta, é
constituinte da enzima urease, que realiza a conversão da ureia em amônio. Os
sintomas de deficiência de níquel não são comuns, no entanto, podem ocorrer em
solos com alto teor de matéria orgânica e elevado pH, em plantas cujas as raízes
tenham sido danificadas por nematoides ou até mesmo quantidades excessivas de
Fe, Zn e Cu no solo.
É possível observar necrose nas pontas das folhas velhas em função do acúmulo
de ureia pela ineficiência da enzima urease, acarretando em concentrações tóxicas.
No entanto, o mais comum é ocorrer o comportamento de fome oculta. Ocorre
quando há a falta do nutriente sem aparecer os sintomas visuais de deficiência na
planta, mas ocorre a redução da produtividade.

Excesso
Na soja, o excesso de Ni pode induzir a deficiência de Fe, dessa forma os
sintomas são semelhantes aos apresentados na Figura 18. Ainda, de acordo com
Reis et al. (2017), ocorre a redução no transporte de fotoassimilados e de
nutrientes, de modo que as folhas apresentem coloração amarronzada.

a) b) c) d)

Figura 20- Progressão dos sintomas de excesso de níquel em folhas da soja. Fonte: Reis et al. (2017).

18
7- Elemento benéfico
27

7.1- Cobalto Co 58,93

Contato íon raiz: fluxo de massa. Forma absorvível pela planta: Co²⁺

Deficiência

O cobalto é considerado um elemento benéfico, no entanto, para as espécies


leguminosas, é essencial para a fixação biológica de nitrogênio por ser
componente da vitamina B₁₂ (cobalamina), precursora da leghemoglobina,
molécula que dá a coloração vermelha aos nódulos, indicando sua atividade. Em
função da sua essencialidade na FBN, a deficiência do elemento, acarretam na
redução da absorção de N pelas plantas, por consequência, os sintomas são
relacionados à deficiência do macronutriente (Figura 2).

Excesso

Em excesso, o cobalto inibe a absorção e transporte de ferro pelas plantas de


soja. A adição de Co e Mo no tratamento de sementes ou no sulco de plantio
promove efeitos benéficos para a soja, principalmente relacionados a FBN. No
entanto, têm-se visto nas lavouras, sintomas de deficiência de Fe induzidos pelo
excesso de cobalto nos estádios iniciais do desenvolvimento da cultura. Sendo
caracterizados pelo amarelecimento pálido, com início nos bordos das folhas
simples (unifolioladas) e a depender do teor no solo, pode progredir até o
aparecimento do segundo trifólio.

a) b) c)

Figura 21- Progressão dos sintomas de excesso de cobalto na cultura da soja na indução da deficiência
de ferro. Fonte: Amanda Bueno.

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8- Referências

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