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AS
CLASSES SOCIAIS
NO CAPITALISMO
DE HOJE
Tradução de
ANTONIO ROBERTO NEIVA BLUNDI
ZAHAR EDITORES
RIO DE JANEIRO
Título original:
Le$ classes sociales dans le capitalisme aujourd'hui
capa de
ÉRICO
1975
Impresso no Brasil
fNDICE
Advertência 7
INTRODUÇÃO
As CLASSES SoCIAIS E SUA REPRODUÇÃO AMPLIADA 11
A INTERNACIONALIZAÇÃO
DAS RELAÇÕES CAPITALISTAS
E O ESTADO-NAÇÃO
- AS BURGUESIAS:
SUAS CONTRADIÇÕES E SUAS RELAÇÕES
COM O ESTADO
A PEQUENA-BURGUESIA TRADICIONAL
E A NOVA PEQUENA-BURGUESIA
AS CLASSJ~S so·cIAIS
E SUA REPRODlJÇÃO AMPLIADA
EsTAS OBSERVAÇÕES introdutórias não têm por objetivo constituir
a exposição de uma teoria marxista sistemática das classes sociais
preliminar às análise~ concretas en1preendidas nos ensaios que se
seguem: segundo a linha de exposição seguida neste texto, as aná-
lises teóricas serão intimamente articuladas às análises concretas,
sendo expostas no ritmo destas. Estas observações visam colocar
alguns alinhamentos e pontos de· referência muito gerais que fa-
cilitarão a leitura dos ensaios que se seguem, onde serão retoma-
dos e aprofundados. 1 ,.,
Cl.I IDEOLOGIA
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Relações de dominação/
subordinação ideológica
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t1vam.ente autonomas.
Isso não significa que se trate, contudo, de "grupos sociais"
exteriores, ao lado ou acima das classes. As frações são frações
de class.e: a burguesia comercial, por exemplo, é uma fração da
burguesia; também a aristocraciia operária é uma camada da
classe- operária. As próprias categorias sociais têm um pertenci-
mento de classe: seus agentes dependem em geral de várias clas-
ses SOClaIS. '
Encontra-se aí um dos pontos essenciais de diferença entre
a teoria marxista e as diversas :ideologias da estratificação social,
ideologias dominantes na sociologia atual: segundo estas, as clas-
ses sociais - todos os sociólogos atuais admitem sua existência
- só seriam uma das classificações, parcial e regional (r·ef eren-
tes, sobretudo _e unicamente, ao nível econômico) de uma estra-
tificação----mais geral. Tal estratificação daria lugar, nas relações
políticas e ideológicas, a grupos sociais paralelos e exteriores às
clas~.es, 'os quais a ~las se superporiam. Max Weber já demons-
trara o caminho, e só resta assinalar as diversas correntes das
"elites" políticas.
.. 12 . A articulação da det~:rminação estrutural de classe e as
püSÍ·ÇÕes de classe no seio de mma f OJ]!l~ão SOClai, lúgar (}e exis-
tência das conjuntu.ras, requer conceitÕs paitfC1:Jlaies. Tr.ãta.:se
daquilo que chamarei de conceitos de estratégia, abrangendo
principalmente os fenômenoS<je polarização e de alianças de
classes. É entre outros o caso, ao lado da dominação de. classe·,
do conceito de "bloco no podér", designando uma alianç;a espe-
26 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE
II
III
l . A Periodização
O modo de produção capitalista (MPC) é caracterizado, em
:sua reprodução ampliada, por uma- dufla tendência.: sua repro-
dução no seio de uma formação socfa onde "tomã pé" e esta-
belece sua dominância, e sua extensão no exterior desta forma-
ção, agindo ao mesmo tempo os dois aspectos desta tendência.
O MPC só pode existir, por razões que veremos, ampliando suas
relações de produção, e fazendo assim recuar seus limites. Se esta
dupla tendência caracteriza o MPC desde seus primórdios, ela as-
sume uma importância particular no estádio imperialista. Este
estádio, que acentua a tendência para a baixa da taxa de lucro, é
caracterizado pela preeminência, na extensão para o exterior do
€ ) I a exportação de capitais sobre a simples exportação de mer-
cadorias. Sabe-se que esta característica é decisiva, e constitui o
próprio fundamento da concepção leninista do imperialismo: mas,
de fato, isso não significa absolutamente que à tendência para a
exportação das mercadorias e para a ampliação do mercado mun-
dial "se submeta" ao estádio imperialista, bem ao contrário; isso
significa que a exportação de capitais é a tendência essencial e
determinante do imperialismo. Enfim, o estádio imperialista, cor-
respondente ao capitalismo monopolista, está marcado pelo deslo-
·camento da dominância. ao mesmo tempo na formação so-ciaTe
nacor-renfe imperialista, do econômico ao político (o Estado).
A própria corrente imperTu.lTsta é··-·marEada pelô. ··aesenvolvi-
:mento desigual; esta corrente reflete-se em cada um de seus elos
numa espec1f1cidade de cada formação social. Esta especificidade
·depende das formas de que se reveste o domínio do MPC na escala
:internacio~al sobre os outros modos e formas de produção no seio
46 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE
:24 Sendo entendido que isso não deve ser compreendido como tá-
t:ca a curto prazo concernente às úni~as taxas de lucro, mas como es-
.tratégia a longo prazo da fração dominante do capital bternacional ten-
<lente a se assegurar um domínio social do processo produtivo mundial.
Sotre fste assunto o artigo digno de nota c'e Chr. Leucate: "Les con-
trad.cti ns inte:-imp~rialstes auj:)Urd'hui'', em Critiques d'économie po-
Iitique, outub:·o-dezembro de 1973. Ver igualmente A. Granou: "La nou-
velle crise du capitalisme", em Les Temps Modernes, dezembro de 1973.
68 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HoJE
•
É precisamente levando-se em conta formas atuais de aliança
incl~sive contradições -· entre as burguesias imperialistas e
o capital àmericano, sob sua hegemonia, que se pode colocar a
questão dos Estados nacionais. A internacionalização atüal do
capital não suprime e não _:ahala..__,.gs Estadas nacionais, nem no
sentido de uma integração pacífica dos diversos capitais "por
cima" dos Estados - todo processo de internacionalização ope-
rando-se sob o domínio do capital de um país determinado -,.
nem no sentido de sua extinção sob o super-Estado americano,
como se o capital americano digerisse pura e simplesmente· as
outras burguesias imperialistas. Mas esta internacionalização, por
outro lado, afeta profundamente' a política e as formas inst!!Y-
cionais desses Estados pela sua inclusão e-m um sistema de inter-
conexões, que nao-Se limita de forma alguma a um jogo de pres-
sões "exteriores" e "mútuas" entre Estados e capitais justapostos.
Esses Estados encarregam-se eles próprios dos interesses do capt-
ig.z imperíalisia dominante no ·seu desenvolvimento -no próprio-
s.eia da formação "nacional'~,__Çl_ saJ?_e_r, em sua in{ef!àfiiaJ;ãO"- com-
plexa coni a burgue__siª_Jr.z-__(<!_1:Í:í!..~---que_ ele- ·dominá. Esse- si-stemade-
interconexões não tende para a coiisHtuiç'âõ-âe formas ou ins-
tâncias institucionais supranacionais e supra-estatais efetivas, o
que- seria o caso se se tratasse: de uma internacionalização em um
contexto de Estados justapostos de relações externas (contexto
que teria sido necessário ultrapassar), mas que é, primeiramente,
fundado sobre uma reproduçiio induzida da forma do poder im-
Ü EsTADO NACIONAL 79'
2. O Estado e a Nação
4 Chr. Palloix, Firmes multinationales ... , op. cit., pp. 112 sq.,
146, sq., seguindo nisso P.-Ph. Rey: "O segredo último da relação de
produção cap~talista é estar incorporado como um simples momento de um
subconjunto do processo de circulação" "Sur l'articulation des modes de
productiim~", em Problemes de Planifica~ion, n.os 13-14, p. 95, o que tem
co'!lo efeito, em Rey, sua fixação exclusiva, na periodização do capi-
talismo, sobre a forma-salário. Sabe-se, aliás, que essas confusões t1êm
repercl!ssôes bem maiores: ver, por exemplo, as diversas crífcas atuais
da so~1edade dita de consumo, críticas centradas em tomo da forma-mer-
cadona (principalmente, na França, as análises de Baudrillard).
102 As CLASSES SOCIAIS No CAPITALISMO DE HoJE
II
III
IV
1. O Capital Monopolista
II
capital-dinheiro ou bancário.
III
~ucã?. Isso quer dizer, então, que não há, propriamente, uma "socia-
hzaçao" neutra dos processos de trabalho: sob o capitalismo_ só se pode
tratar de uma socialização capitalista dos processos de trabalho.
As CoNTRADIÇOES ATUAIS DA BURGUESIA 125
6 J.-P. Delilez, Les Monopoles ... , op. cit., pp. 117 sq.; Ph. Herzog,
Politique économique .. ., op. cit., pp. 49 sq.; P. Boccara, Etudes sur le
capitalisme monopoliste d'Etat ... , 1973, pp. 21 sq.
126 As CLASSES Soc1A1s NO CAPITALISMO DE HOJE
II
mas que possa ser suficiente para atribuir a uma dessas firmas
0 controle econômico real, no todo ou em parte, da outra (con-
trole minoritário) é apenas uma dessas modalidades. Por vezes
essa tomada de participação não é mesmo necessária: uma gran-
de empresa industrial pode, indiretamente, por intermédio das
múltiplas subcontratações, apoderar-se· de uma unidade de pro-
dução separada, seja apropriando-se de alguns dos poderes decor-
rentes da propriedade econômica, caso em que esta última vê
retroceder o grau de sua propriedad~ econômica em proveito da
primeira, seja apropriando-se da totalidade desses poderes, caso
em que se trata de uma real expropriação de fato: e tudo isso
sob a cobertura não somente de proprie.dades jurídicas autôno-
mas, mas também de propriedades jurídicas inteiramente sepa-
radas e distintas.
Esses efeitos se manifestam ig!!_alm~me nas formas de inter-
dependência e de contradições entre a concentração do ~apijal
produtivo e a centraliz_aç~Q. çlg __çÊpitaI-dlüfieirO.-A--fim-· de se
apropriar, no todo ou em parte, dã--propneaade econômica de
uma firma industrial, e dos, ou de alguns dos, poderes decorren-
tes, não é necessário a um grupo bancário deter a maior parte
do capital social dessa firma - propriedade jurídica -. nem
mesmo participar dessa propriedade. É suficiente, com freqüência,
que o grupo bancário atue sobre a seletividade no financiamento
e sobre a diferenciação nas condições de crédito para que, em
circunstâncias determinadas de fluxo do lucro, esse grupo impo-
nha seu controle real sobre a destinação dos meios de produção
e alocação dos recursos dessa empresa. Isso se refere tanto às gran-
des firmas monopolistas, tendo em vista seus limites de autofi-
nanciamento e a necessidade para elas de uma rotação rápida do
capital, quanto ao capital industrial não-monopolista. Enfim, é
inútil insistir sobre as dive·rsas formas de "acordos" ou "alianças"
dos monopólios industriais entre si. dos monopólios bancários en-
tre si, ou entre esses dois conjuntos, formas que, sob um disfarce
de propriedade jurídica autônoma, correspondem freqüentemente
de fato a novas etapas dos processos monopolistas.
Os efeitos dessas dissociaçõe~ entre propriedade jurídica e
propriedade econômica, de um lado, e entre a pluralidade dos
poderes da propriedade econômica, de outro, fazem-se if?;ualmente
sentir em u_m_a_ ordem inversa: uma propriedade furídica única
- uma grande firma industrial, um grande banco, um grande
holding financeiro - pode muitas vezes esconder, sob a f<!chada
de elementos "absorvidos", seja propriedades econômicas relati-
130 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE
III
IV
l
no capit::tlismo com-
pctitirn
ies
,;:
i-
equit. i<>
; de . · 1.
!'' Submissão fcrmal do trabalho
ao capitaL manufatura
Proprietários e trabalhadores
diretos
Estado de transição:
Estado
na Europa
"absolutista"
( "'
la ~~~
I
i ~
1
J. Princípios da submissão real
do trabalho ao capital
2 Dominante exploração e:rlen-
CARA<..'T.
1 E:
DORAVANTE CONSTAN-
l'ODERES DECORRENTES DO
lugar 00 CAPITAL
1. Determinação e do-
mínio detidos pelo
•'econômico"
. siva do trabalho 2. Estado liberal
<o 3. Surgimento da exploração in- Unidades de produção simples. Pe><leres concentrados e exer-
pr. tensiva do trabalho: primeiros e "separadas" cidos pelo capitalista empre-
sário individual/ detentor das
Í ~ "·
!Jst ,_ efeitos da cooperação e da
socialização (maquinismo e relações
;"""';u)
__Jj_=~-------------------------------------~
ca~-
J
.._, Reforço da exploração intensiva
- ...., do trabalho
Concentração das unidades de
produção simples, unidades con-
1. Dissociação dos as_entes
capitalistas detentores das
PAPEL
oo
DOMINANTE
ESTADO
•.
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o
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Consolidação do p~pcl
dominante do fat~do
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J,
-i:i
D 1. Deslocamento para a domi- PRODUÇÃO INTEGRADA 1. Concentração dos detento- 1. Papel novo do Es-
nan1e de exploração intensiva res das re!açõcs tado r.a reprodu,·ão
do trabalho Unidade de Prod. Complexa 2. Reprodução da dissociação e acentuação de sua
2. Realização ampliada da sub- t t t dos agentes que exercem dominância
missão real do trabalho ao UPEI. UPE2. UPE3. os poderes 2. Nova forma do Es-
capital (Questão do "centralismo/ tado intervencior.i"-
3. Cooperação e socialização am- (urE: unidades de produção descentralização" da ta
pliada dos pro~essos · de tra- elementcres) "grande firma")
1'1 balho
4. Dominação do "trabalho Unidades de Prod. Complexas
morto" sobre o "tn; balho vi- t t t
UPDI. U!'r.2. uri;.1
vo" (Papel das ino\·ações kc-
nológicas)
(uro: unidades de pre><lução
dependentes)
II
II
III
Podemos assim ver bem que essas análises negam aquelas dos
PC ocidentais que, sob os termos "camadas não-monopolistas" ou
"pequeno capital", excluem o capital não-monopolista da burgue-
sia e da dominação econômico-política, identificando-o pratica-
mente à pequena-burguesia manufatureira, artesanal e comercial,
incluindo-o assim nas classes dominadas (camadas não-monopo-
listas). Podemos dizer agora que existe aqui uma diferença deci-
siva, que é· uma barreira de classe: a pequena-burguesia não é
uma burguesia menor do que as outras, não é simplesmente uma
burguesia, pois não explora, pelo menos principalmente, o traba-
lho assalariado. A diferença entre um artesão nas empresas arte-
sanais ou mesmo "semi-artesanais" e um pequeno patrão que ex-
plora 10 operários não é da mesma ordem daquela que existe
entre ele e um patrão que explora 20: existe aí uma barreira de
classe que não se poderia configurar como uma diferença de
"grandeza". Ignorá-la é cair em cheio no mito das "pequenas e
médias empresas". )
Isso tanto é verdade que o próprio tipo das contradições que
separam a pequena-burguesia do capital monopolista não é abso-
lutamente o mesmo que· aquele que separa o capital não-monopo-
lista do capital monopolista. O que se depreende das estatísticas,
que nesse sentido são bastante incompletas, é que, particular-
mente na fase atual, os efeitos de dissolução impostos pelo capital
monopolista à pequena-burguesia tradicional diferem de maneif:a
nítida dos efeitos impostos ao capital não-monopolista: no caso
da equena-burguesia tradicional, esses efeitos assumem as for-
m as de um processo ace era o e 1gu1 açao e e e 1mmaçao.
1. O Debate
--~ ........
178 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE
1
Todas essas observações e precisões não excluem, naturalmen---
te, que u;1odificações importan~ intervenham não só na forma
II
III
•
Esses elementos, conjugados às formas atuais da contradição
principal (burguesia-classe operária) ~ à emergência. da luta d~s
massas populares na Europa, podem igualmente exphcar uma se-
rie de fenômenos importantes que aí se desenvolvem:
a) Primeiramente, a crise hegemônica latente que· atualmert-
te afeta as burguesias européias. Com efeito, no plano da luta das
classes e do bloco no poder, constatou-se que as burguesias euro. .
péias estão, em suas contradições com o capital imperialista ame--
ricatto, constituídas por conjuntos heterogêneos e conjunturais~
0 que já é um fator importante de instabilidade hegemônica, na
interiorização das contradições do capital imperialista no próprio
seio de cada bloco no poder "nacional" europeu. Paralelamente,
as contradições internas nesses blocos no poder só fazem acen-
tuar-se, em um período precisan1ente onde o papel do Estado é
cada vez mais importante e onde a restrição de sua autonomia
relativa se torna, para o capital 1nonopolista, uma necessidade im-
periosa. Então, se não é verdade que o Estado atual se transforma
em simples instrumento dos monopólios, não é menos. verdade que
é cada vez menos apto, nesse contexto, a desempenhar eficazmen-
te seu papel de organizador da hegemonia. A política estatal re-
torna freqüentemente a uma série de medidas contraditórias e
pontuais que, se testemunham a lógica do capital monopolista, não
revelam menos as fissuras e desarticulações dos aparelhos de Es-
tado, reproduzindo as contradições do bloco no poder, em face
do enfraquecimento das capacidades hegemônicas do capital mo-
nopolista. No momento em que o papel do Estado é mais do que
nunca decisivo, o Estado parece afetado por uma crise de repre-
sentatividade de seus diversos aparelhos (inclusive os partidos po-
In1cos) em suas relações com as frações inclusive do bloco no
poder: encontra-se aí uma das razões das controvérsias, na forma
que pelo menos elas poss·am as.surnir no próprio seio da burguesia,
em relação ao "dirigismo estatal'~', à "regionalização", à "descen-
tralização" etc.
b) A isso se acrescenta um fenômeno suple·mentar, que se
prende à nova articulação estreita que se estabelece entre o eco-
nômico, o Estado, e· a ideologia. Se o Estado atual parece ter che-
gado a "regularizar", em certa m·edida, o aspecto "selvagem" das
crises econômicas do capitalismo (o que nada tem a ver com o
mito do "capitalismo organizado") foi seguindo um caminho apa-
,1 ........
186 As CLASSES SocIAIS No CAPITALISMO DE HoJE
·-··-
/ ,- J
188 As CLASSES Soc1AIS NO CAPITALISMO DE HoJE
II
I
Essa mesma problemática dos agentes-sujeitos encontra-se
atualmente em uma série de análises concernentes desta vez às
I
.relações atuais ·entre a elas.se dominante e o aparelho de Estado:
·vâo de algumas análises do PCF referentes ao capitalismo mono-
·polista de Estado àquelas de R. Miliband e de J. K. Galbraith
·sobre o Novo Estado Industrial. Essas análises visam principal-
·mente a demonstrar a relação entre a fração hegemônica do ca-
pital monopolista e o aparelho de Estado pela identidade física,
·pela identidade de origem de classe ou pelas relações interpes-
soais entre os agentes da fração monopolista do capital e os vér-
tices - os altos funcionários, os membros dos gabinetes ministe-
Tiais, o pessoal político em sentido lato - do aparelho de Esta-
do. ·Para o PCF, principalrnente, a prova da fusão do Estado e
dos monopólios em um "naecanismo único" encontra-se na iden-
·~ificação física dos "indivíduos" que os dirigem. O modelo típico
·dessas análises é aquele de "Pompidou-banqueiro" 7 •
Ora, esse aspecto da questão é aleatório e se.cundário. Com
efeito, a lração hegemônicJJ. foi freqüentemente, e o é ainda, se-
gundo as formações sociais, distinta da classe ou fração reinante,
no interior da qual se recnJtam - origem de classe - ou à qual,
·por vezes, pertencem os rnembros superiores e o pessoal político
l
dos aparelhos de Estado. Esse fenômeno não tem, no entanto,
em nenhum lugar, impedido a correspondência objetiva da polí-
tica estatal e dos interesses da fração hl#emônica. Procurar a
todo preço essa correspondência em uma ntidade suposta entre
·a fração hegemônica ·e a classe ou fração reinante leva, nos casos
em que existe um distanciamento claro entre as duas, a conside-
rar a classe reinante como detendo a hegemonia: eis aí o que
·constituiu a base dos erros das análises socialdemocráticas refe-
rentes ao fascismo, considerado como "ditadura da pequena-bur-
Entretanto:
a) tudo isso não quer dizer que membros da classe ou fra-
ção hegemônica não tenham diretamente participado dos apare-
lhos de Estado capitalistas (governo, alto pessoal dos partidos
políticos, vértices da administração de Estado) : foi sempre o caso
para toda forma de Estado capitalista, tanto no passado como no
presente. Pode-se mesmo certamente dizer que tal fenômeno é,
no aparelho de Estado da fase atual, mais marcado do que antes:
ao mesmo tempo, em razão do papel decisivo da intervenção eco-
nômica do Estado atual, da ampliação do setor econômico na-
cionalizado em cuja direção o capital monopolista intervém, da
dependência particular do capital não-monopolista em relação ao
ca,pital monopolista e, enfim, em razão das transformações insti-
tucionais do Estado. Mas tal fenômeno, assumindo aqui também
o valor de indicador, permanece secundário e não pode, de toda
forma, ser interpretado como u1n "embargo-físico" dos "mono-
polizadores" sobre um Estado que, antes, conservava ainda uma
"'pureza" virginal de "arbitragem'' por "honestos funcionários".
b) acrescentarei uma palavra sobre o caso francês: o fenô-
meno assinalado, nesta última década, pela presença direta dos
membros da fração monopolista no seio dos aparelhos de Estado
foi sobretudo apreender por comparação com um passado parti-
.cu lar da França, ligado à tradição "jacobina" da terceira ou mes-
s Naturalmente, só se trata aí de um aspecto secundário do pro-
.blema dos governos socialdemocratas, problema que não tenho intenção
.de abordar aqui em profundidade.
200 As CLASSES Soc1A1s NO CAPITALISMO DE HoJE
II
l
crac:a seria a encarnação (Hegel, Weber etc.). É, ao inverso, a autono-
mia re'ativa do Estado, inscrita em sua própria estrutura (ver acima),,
a passive esse pape especifico da burocracia.
e cap1 a zsme monopoliste d'Etat, já citado, t. I,
pp. 233 sq.
OBSERVAÇÕES SOBRE O CONTINGENTE BURGUÊS 203
1. Observações Gerais
II
4
Fossaert, L'A venir du capitalisme, 1961; Praderie, Les Tertiaires,
1968.
5 · Le Traité, jâ citado, t. I, p. 204.
ATUALIDADE DO PROBLEMA 215
ma cada vez mais da classe operária com a qual eles não podem
entretanto ... confundir-se atualmente~". Mas em nenhuma parte
se responde à questão: de qual classe esses conjuntos são cama-
das ou, por outro lado, qual é o pertencimento de classe dessas
-camadas?
É preciso nos determos aqui, pois trata-se de um problema
muito importante para a teoria marxista das classes sociais e da
luta das classes. O t;nêi_~J.[j~mº- admite, com efeito~ a existência de
frações, de camadas, e mesmo de ca~_eggxj~~ .~-º~i~is ("burocracia
de Estado", "intelectuais"). Mas não se trata absolutamente aí
de coniuntos ao lado, à marge1n ou acima, em _suma,· exterzore~Ç
às clas~es. As frações são frações- dê.cfasse: _a Qu.rgue.$.iá.iii_qµsfriaT
é uma fração da burgueshi; as cama.dêi~. -~ão camadas de da.sse:
a aristocracia operária é uma camada da classe operária. As pró,;;;
prias categorias sociais, como acabamos de observar com a buro-
cracia de Estado, tem um pertencimento de classe.
Encontra-se aí um ponto fundamental de distinção entre a
teoria marxista das classes sociais e as diversas concepções da so-
ciologia burguesa. A grande maioria dos sociólogos não-marxistas
fala igualmente de classes sociais, com o risco de defini-las de
forma freqüentemente bastante fantas.iosa. Mas eles consideram
que tal divisão em classes é unia simples subdivisão, parcial, de
uma estratificação mais geral que dá lugar igualmente a outros
grupos, paralelos e exteriores às classes: já foi o caso para M. We-
ber (classes e grupos estatutários), e atualmente isso se prolon-
ga sob várias formas (princip&lmente sob a forma de classes sociais
e elites políticas). É verdade que, em tais subdivisões, .essas corren-
tes sociológicas, numa sociedade~, atribuem em geral aos outros
grupos um papel mais import·ante do que às classes sociais. Ora,
a resposta marxista a essas correntes não consistiria simplesmente
no fato de sustentar que as classes são os grupos fundamentais
no "processo histórico", admitindo a possibilidade de existência,
pelo menos em um corte "sincrônico" de uma formação social, de
outros grupos paralelos e exteriores às classes. A divisão da socie-
dade em classes significa precisamente, do ponto de vista ao me,
ino tempo teórico-metodol~gico e• da realidade social, que o con-
""ce1to de classe social é pertinente a todos os níveis de análise:
d dtvisao em classes constituz o quadro r~ferenciãl de todo escalo-
namento das diversificações sociais.
III
IV
Essas questões· são bastante importantes para justificar algu-
mas observações suplementares: confttsões manifestaram-se igual-
mente em: a1gurrías_ análises atuais referentes às formações periféri-
cas, articuladas em torno da problemática ga margin!Jli4adg_ (as
"massas marginais"). O que é designadÕ- p0r este termo é, grosso
modo, o fenômeno, nas formações periféricas, de uma "massa de
ATUALIDADE DO PROBLEMA 219
II
III
.aHistoire des doctrines économiques, ed. Costes, t. II, pp. 12-13 .r:q:
4 Sixieme Chapitre . .. , ibid. ·
õ Histoire des Doctri'nes ... , -ibíd., p. 199. Ver também Le Capitaf:..
Ed. Sociales, t. Il, pp. 183-184.
230 As CLASSES SocIAIS NO CAPITALISMO DE· HOJE
II
III
1
Chegamos assim à questão das relações ideológicas na divi-
são social do trabalho no seio da- produção material,, e de sua
articulação nas relações políticas: significa engajar o problema
da divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual, que va-
mos examinar, primeiramente, na determinação estrutural de ..
classe dos engenheiros e técnicos diretamente implicados na pro-
dução material. Mas a divisão trabalho manual e trabalho inte-
lectual ultrapassa de longe seu único caso, e refere-se de fato
ao conjunto da nova pequena-burguesia em suas relações com
a classe operária.
De fato, a teoria .marxista manifestou durante muito tempo
um certo "rnal-estar" com respeito à questão da divisão entre
trabalho manual e trabalho intelectual. De um lado, os clássicos
do marxismo sempre enfatizaram quer (Marx, Engels) o papel
decisivo dessa divisão na "aparição histórica" da divisão das clas-
ses, quer (Lêiiin, Mao) a relação estreita entre a abolição da
divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual e a supres-
são da exploração de classe, e mesmo a divisão da sociedade em
250 As CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE
5 Sixieme Chapitre inédit .. . , ed. Pléiade, op. cit., pp. 388 sq.
6 Le Capital, t. II, p. 183.
DETERMINAÇÃO DE CLASSE DA NOVA PEQUENA-BURGUESIA 251
8 MEW, t. 23, pp. 531-2. Assinalo que esse texto da edição ori-
ginal difere daquele da tradução francesa por J. Roy (t. II, p. 183,
Ed. Soaiales) em um ponto decisivo: é que a frase grifada por mim:
"Mais tarde, estes se separam ~m uma contradição antagônica" foi pura
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12 lbid., p. 9.
276 As: CLASSES SOCIAIS NO CAPITALISMO DE HOJE
a Ibid., p. 56.
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que, por un1 lado, não permite cercar de forma rigorosa a fron-
teira ·entre a classe operária e a nova pequena-burguesia, e leva
a incluir nesta uma série de agentes que, de fato, pertencem à
classe operária; por outro lado, não permite precisamente com-
preender ~s delimitações e diferenças, do ponto de vista da divi-
são trabalho· intelectual/trabalho manual, no próprio seio do tra-
balho assalRriado não-produtivo.
e lbid., p. 9.
PAPEL DA DIVISÃO DO TRABALHO 279
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s Maspero, 1971.
9 lbid., pp. 81-82.
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.que assinala: "Os ofícios que a maioria das moças desejam apren-
der quando de sua entrada no CET e os ofícios que lhes são efeti-
vamente ensinados têm em cornum não serem precisamente ofí-
cios 'técnicos': os ofícios da n1oda e da decoração (vendedora,
·cabeleireira, esteticista, desenhilsta de moda, vitrinista ... ) e os
.ofícios do vestuário ou os ofícios comerciais que lhes são efeti-
vamente ensinados, apelam para seu 'gosto', sua 'sensibilidade'
seu 'discernimento' ... mais do que para conhecim~ntos técnicos
;particulares; para as secretárias aprendizes, a 'tecnologia' se reduz,
em uma boa parte, à aquisição de conhecimentos de ortografia,
de vocabulário e de gramática. É a mesma coisa para os ofícios
sociais, para pedagógicos ou paramédicos. . . ofícios que não são
em verdade nem "manuais" ne.m "técnicos". Enquanto o sucesso
,dos gestos profissionais de um operário depende da estrita apli-
cação de receitas ou de regras técnicas ... (esses ofícios) podem
1depender em larga medida da :maneira como são realizados. . . A
prática profissional (desses agentes) lhes dá oportunidade de ad-
1quirir competências urbanas, senão mundanas, que faltam à jo-
·vem operária sujeita a tarefas puramente manuais 15 ."
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Contudo:
1) Enquanto o próprio lugar dessa pequena-burguesia se es..
tende na fase atual do capitalismo monopolista, seus agentes
apresentam uma instabilidade característica quanto à ocupação
desse lugar. Instabilidade característica porque, de um lado, ela
diferencia esses agentes dos agentes da burguesia e da classe ope-
rária, pois, por outro lado, ela é diferente daquela, formalmente
semelhante, das classes pobres do campesinato e da pequena-bur..
guesia tradicional: nestes últimos casos, os deslocamentos maci-
ços de agentes que constatamos são devidos à própria eliminação
de seu lugar no desenvolvimento do capitalismo monopolista 3•
2) Uma parte importante- desses agentes que se deslocam
"cai" na classe operária: é principalmente o caso dos "emprega-
dos". Entre os empregados homens que, no decorrer de sua vida
profissional, se deslocam, 20% de empregados de comércio e
250/o de empregados de escritório caem na classe operária. Nas
gerações seguintes, 40% dos filhos e 17% das filhas dos empre-
gados tornam-se operários e operárias.
3) Em contrapartida, a proporção dos agentes pequeno-bur-
gueses que se deslocam para o lugar da burguesia é sem medida
comum, isto é, consideravelmente mais elevada, do que para a
classe operária, se bem que este transbordamento burguês só se
2 Obtém-se essa perca.1tagem considerando as crianças (de ambos
os sexos) ao mesmo tempo dos executivos médios e dos diversos em-
pregados que se tomam quer executivos médios, quer empregados. Fun-
damentei-me para esses reagrupamentos nas cifras "brutas" da pesquisa
citada do INSEE, reagrupamento que, em virtude da ideologia da "mo-
bilidade" que dirige essas pesquisas nunca foi aí analisado. Para as cria1\-
ças da burguesia que se tornam elas próprias burguesas, observa-se que
a cifra de 43% é enganadora: de fato, a pesquisa só se refere aos agen-
tes quando muito com 45 anos no momento da pesquisa (nascidos em e
após 1919, pesquisa de 1964). Ora, um número apreciável de filhos de
burgueses não teve ainda tempo, no momento da pesquisa, de herdar
(não no sentido da herança cultural de Bourdieu, mas em moeda so-
nante) e de se tornar assim diretamente burgueses, isto é, de se recolocar
em seu lugar: a1contra-se aí o fenômeno da "contramobilidade" que as
pesquisas de Girod na Suíça esclareceram.
3 Sobre esse assunto, ver os artigos citados de D. Bertaux.
DISTRIBUIÇÃO DOS AGENTES 309
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-,
Voltemos agora à pequena-burguesia tradicional. Esta, se bem
que ocupando um lugar diferente daquele da nova pequena-bur-
guesia nas relações econômicas., é no entanto caracterizada, ao
nível ideológico, e apesar de certas diferenças, por traços análo-
gos àquela. Isso porque as relações econômicas que são próprias
ao lugar da pequena-burguesia tradicional a situam, também, e
por traços específicos, numa polarização em relação à burguesia
e à classe operária. Essa comunildade de efeitos ideológicos se
traduz em. analogias das posições desses dois conjuntos, afetados
pela polarização de classe.
Podemos mesmo sustentar que esses dois conjuntos dependem
da mesma classe, a pequena-burguesia. Mas, com a condição de
esclarecer imediatamente que a pequena-burguesia não é uma
classe como as duas classes fundamentais da formação social
capitalista - a burguesia e o proletariado -, não apresen-
tando principalmente a unidade que caracteriza aquelas. A pe-
quena-burguesia tradicional (pequenos comerciantes, artesãos)
não é assimilável à nova pequena'."burguesia da mesma forma, por
exemplo, que o capital bancário o é ao capital industrial, no caso
da burguesia. As heterogeneidades nas relações econômicas dos
conjuntos pequeno-burgueses perrnanecem. Se podemos conside-
rar a pequena-burguesia tradicional e a nova pequena-burguesia
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1. As Transformações Atuais
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20 Nas. coleções do INSEE, op. cit., pp. 52, 54, 56, sq.
350 As CLASSES Soc1A1:s NO CAPITALISMO DE HoJE
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:sos quadros do setor privado foi bem menor do que aquele dos
empregados de base. Se os empregados de escritório se distinguem,
quanto à ventilação hierárquica interna em sua classe e ao trans-
bordamento burguês, ao mesmo tempo no curso de sua vida pro-
fissional é nas gerações seguintes, dos empregados de comércio
uma delimitação muito import~nte os separa das diversas catego-
rias dos executivos médios.
E aqui, enfim, onde mais se· encontra a desvalorização atual
dos diplomas e graus escolares, dada a importância que desem-
penham no mercado de trabalho e na promoção dos agentes dessa
fração: o que se .manifesta pe]la ocupação, maciça atualmente,
dos postos subalternos por agentes cuja qualificação escolar lhes
permitiria outras esperanças. De fato, é para essa fração que se
dirigem maciçamente os jovens titulares de diplomas superiores
desvalorizados. O que se traduz pelas formas de d.esemprego ca-
muflado que grassam nessa fração: diversas formas de trabalho
clandestino, trabalho eventual, interino e' auxiliar, que atingem o
conjunto das frações de polarização objetiva proletária, mas que
são aqui particularmente pronunciadas. É essa fração que apre-
senta também, nestes últimos anos, a tendência mais marcada e
acelerada à feminização (bancos, companhias de seguros. admi-
nistração): encontra-se, pois, a questão da ênfase consideráve 1
das delimitações hierárquicas entre os escalões subalternos maci-
çamente feminizados e seu enquadramento.
Ê preciso também observar que o fenômeno de uma degra-
dação geral da situação desses empregados nos países capitaÍistas
avançados, após a Segunda Gmerra Mundial, não se manifestou
uniformemente para esses agentes, e· sobretudo para aqueles que
já estavam engajados na vida ativa nessa época: uma grande
parte dentre eles, -em razão do crescimento desse setor e de sua
feminização, passou para tarefas de enquadramento, enquanto
essa degradação afetou principalmente as mulheres, acentuando
as delimitações internas. Estas, atualmente, pela acumulação das
diversas coordenadas, atingem esse setor e, principalmente. os jo-
vens e as mulheres.
III
rária a seus aliados tomados tais como são, mas pelo estabeltkir-
mento de objetivos que, nas lutas ininterruptas e por etapas, sob
sua direção, as podem transformar, levando-se em conta sua pró-
pria determinação de classe e sua polarização específica que são
por elas caracterizadas.
Tenho consciência do caráter indicativo e lapidar dessas ob-
servações; mas elas visam somente a acentuar o verdadeiro pro-
blema, sem contudo pretenderem responder à pergunta: então,
·que e como fazer? Com efeito, não me cabe fornecer a resposta
a essa questão que está no centro do debate atual sobre a estraté-
gia revolucionária, o que também não foi o objetivo deste texto.
De fato, teria sido necessário, entre· outras coisas, empreender
um estudo, sob esse aspecto, da história e das experiências do
movimento operário e revolucionário internacional, de suas or-
ganizações, das concepções e de suas voltas sobre as questões do
processo revolucionário, da organização (partido-sindicatos), das
alianças etc., enfim, cercar de mais perto o sentido e os funda-
mentos da ideologia e das correntes socialdemocratas. Meu obje-
tivo, neste· texto, foi contribuir para o conhecimento mais preciso
desses aliados, de suas determinações objetivas e das lutas que se
travam atualmente, tentando, na m·edida do possível, aproveitar
os ensinamentos e me precaver contra certas concepções teórico-
políticas atuais. É porque estou convencido de que ainda há tem-
po para aprofundar-me ainda mais nesses conhecimentos e pes-
·quisas precisas, por mais árduo que seja o caminho. Sem esses
conhecimentos, as diversas estratégias elaboradas arriscam-se, na
melhor das hipóteses, a permanecer mortas; e, na pior, a conduzir
:a graves derrotas.
A ESTRUTURA DE CLASSES
DAS SOCIEDADES AVANÇADAS
ANTHONY GIDDENS
da Unive-rsidad6 de Cambridge
ZAHAR