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23 de novembro de 2023
Sumário
1 Introdução 5
1.1 Contabilidade Social e Teoria Macroeconômica . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2 Questões Metodológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.3 Porque usar Modelos na Economia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.4 Teoria e Dados: o problema da dedução e indução na macroeconomia . 12
1
5.3 Polı́ticas Tributárias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
6 O Modelo IS-LM 55
6.1 Curva IS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
6.2 Curva LM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
6.2.1 A oferta de moeda pelo Banco Central . . . . . . . . . . . . . . . 59
6.3 Equilı́brio Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
6.4 Casos Especiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
6.4.1 Armadilha da Liquidez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
6.5 Politicas Macroecnômicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
7 Conceitos 68
7.1 Balanço de Pagamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
7.2 Taxa de Câmbio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
7.2.1 Taxa de Câmbio Nominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
7.2.2 Taxa de Câmbio Real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
7.3 Taxa de Juros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
7.3.1 Paridade Descoberta da Taxa de Juros . . . . . . . . . . . . . . . 71
9 Modelo IS-LM-BP 75
9.1 O Modelo Mundell-Fleming . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
9.2 Algebra do Modelo IS-LM-BP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
9.3 Polı́ticas Macroeconômicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
9.3.1 POLÍTICA MACROECONÔMICA SEM MOBILIDADE DE CA-
PITAIS E CAMBIO FIXO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
9.3.2 POLÍTICA MACROECONÔMICA SEM MOBILIDADE DE CA-
PITAIS E CAMBIO FLUTUANTE . . . . . . . . . . . . . . . . 84
9.3.3 POLÍTICA MACROECONÔMICA COM MOBILIDADE PER-
FEITA E CÂMBIO FIXO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
9.3.4 POLÍTICA MACROECONÔMICA COM MOBILIDADE PER-
FEITA E CÂMBIO FLUTUANTE . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
9.3.5 POLÍTICA MACROECONÔMICA COM MOBILIDADE IMPER-
FEITA E CÂMBIO FIXO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
9.3.6 POLÍTICA MACROECONÔMICA COM MOBILIDADE IMPER-
FEITA E CÂMBIO FLUTUANTE . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
9.4 Polı́ticas Cambiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
9.5 A Condição de Marshall-Lerner . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
9.6 A Curva J . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
2
IV MICROFUNDAMENTOS 97
10 Microfundamentos 98
10.1 Consumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
10.1.1 Teoria da Renda Permanente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
10.1.2 Escolha Intertemporal ou Modelo de Fischer - 2 perı́odos . . . . 101
10.1.3 Teoria do Ciclo de Vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
10.1.4 Escolha Intertemporal - Horizonte Infinito . . . . . . . . . . . . . 106
10.2 Investimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
10.3 Governo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
10.3.1 Déficit e Dı́vida Pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
10.3.2 Imposto Inflacionário e Senhoriagem . . . . . . . . . . . . . . . . 113
10.3.3 O problema da sustentabilidade da dı́vida pública . . . . . . . . 114
Bibliografia 116
3
Parte I
MACROECONOMIA: Conceitos,
Teorias e Métodos
4
1. Introdução
5
Tabela 1.1: Renda pela ótica do dispêndio e remuneração dos fatores
dos fatores trabalho (salário, W ), propriedade do capital (lucros, Π), aluguel A, e juros
sobre capital monetário J, com o que Y ≡ W + Π + A + J. Estas duas formas de cálculo
encontram-se resumidas na tabela 1.1.
Uma terceira forma de apurar contabilmente a renda de uma economia é pela
alocação ou destinação dada à renda, na forma de consumo e poupança, onde as famı́lias
alocam a renda entre consumo pessoal e poupança individual das famı́lias (C +Sf am ), as
empresas alocam os lucros não distribuı́dos entre investimento ou poupanças das empre-
sas na forma de lucros acumulados (I + Πac ou I + Semp ). No caso do governo supondo
que a arrecadação do governo seja apenas gasta em despesas de custeio na prestação de
serviços públicos, haverá uma formação de poupança pública se a arrecadação for maior
que os gastos. Por fim a renda da economia será maior se as exportações superarem as
importações e será menor, no caso das importações excederem as importações. Quando
uma economia importa mais do que exporta sua renda nacional é insuficiente para cobrir
todo o dispêndio e portanto ela precisa de alguma forma financiar este consumo exce-
dente, e neste caso dizemos que a economia precisa financiar seu consumo e investimento
com poupança externa (Sext = X − M > 0).
Outra maneira de entender estas relações macroeconômicas é demonstrando que
a igualdade da renda pelo lado da remuneração dos fatores e pelo lado do dispêndio
(YF at = YDis ) é a mesma coisa que assumir que a poupança é igual ao investimento
(I = S = Sf am + Semp + Sgov + Sext ). Para tanto considere a identidade contábil dada
pela equação (1.1):
Y DA ≡ C + I + G + X − M (1.1)
Para convertê-la em igualdade I = S precisamos fazer aparecer as expressões para a
poupança. Para tanto podemos deduzir tributos dos dois lados da equação sem alterar
os resultados, com o que obtemos:
Y DA − T ≡ C + I + G − T + X − M (1.2)
Em seguida deixamos o investimento no lado esquerdo e todos os demais termos no
lado direito, obtendo-se a identidade (1.3), na qual agrupamos os termos afins entre os
parêntesis. O primeiro termo do lado direito é a poupança das famı́lias (Sf am ). Dada
uma renda bruta Y DA , uma parte desta renda é recolhida na forma de imposto, uma
parte é gasta em consumo e o que resta é a poupança das famı́lias. Se assumirmos que
as empresas reinvestem todo o lucro(Π = I), não distribuindo nada às famı́lias nem
acumulando uma parte para investimento futuro, então a poupança das empresas será
zero. O segundo termo da expressão é a poupança do governo e por fim o último termo
é a poupança externa.
6
I ≡ (Y DA − T − C) + (T − G) + (M − X) (1.3)
Portanto, podemos substituir os termos do lado direito da identidade, pelos seus
respectivos valores em termos de poupança com o que temos:
7
de recursos financeiros poderá desencorajar alguasm empresas. Estes comportamentos
podem ser representados explicitamente pelas seguintes equações:
Um aspecto importante que deve ser mantido sempre presente ao se estudar macroeco-
nomia são as questões metodológicas envolvidas na construção de uma teoria e de um
1
Esta taxa é utilizada pelo consumidor para trazer o seu consumo futuro para o valor presente.
Um consumidor totalmente indiferente entre consumir hoje ou no futuro terá uma taxa de desconto
intertemporal igual à zero.
8
modelo. Uma das primeiras distinções a ser feita é exatamente a compreensão de que
teoria e modelo são conceitos distintos. Quando nos referimos à uma teoria estamos nos
referindo ao conjunto de pressupostos ou fatos empı́ricos usados na construção de uma
explicação a cerca da natureza e do funcionamento do mundo real, ou da economia e seus
agentes. Uma teoria portanto é construı́da por métodos de raciocı́nio dedutivo e indu-
tivo e contém afirmações sobre como o mundo, ou uma parte dele, funciona. Um modelo
é apenas uma representação simplificada por meio de uma linguagem matemática, es-
quemática ou forma descritiva, de um sistema mais complexo. A parte mais importante
desta última afirmação diz respeito à simplificação da realidade na construção de um
modelo. O modelo em si não é o objetivo final e constitui apenas num meio de se analisar
e representar uma parte da realidade de um modo conciso. Uma teoria pode ser expressa
por meio de um ou vários modelos. Com mais ou menos sofisticação matemática, ou
mais ou menos detalhamento descritivo, todo modelo conta uma história, e para efeitos
de teoria macroeconômica e ciência de uma forma mais geral, a história que está sendo
contada é que é o aspecto mais importante da teoria. O uso de modelos em economia e
especialmente em macroeconomia é abordado com mais detalhes na seção (1.3).
Macroeconomia e Microfundamentos
9
Microfundamentos e Agentes Representativos
10
tão antigos quanto seu uso por Arquimedes (287 a.C. - 212 a.C) um dos primeiros cien-
tistas (na moderna acepção da palavra) a usar deliberadamente modelos matemáticos
para representar o mundo real. As teorias macroeconômicas fazem uso intensivo dos
mais diversos tipos de modelos, de forma que a compreensão sobre o que é, como se
constrói e para que e porque se utiliza um modelo ajudará a esclarecer o tema e evitar
enganos metodológicos e conceituais para os economistas. E evitará talvez discussões
fúteis baseadas em concepções mal definidas.
Modelos são de importância central em muitos contextos cientı́ficos e são usados em
toda parte. Modelos como os de comportamentos dos gases a partir de comparações
com bolhas de bilhar, o modelo de atomos de Niels Bohr, modelo de cadeia de Gauss
(Gaussian-chain) de um polı́mero, o modelo atmosférico de Lorenz, o modelo de interação
entre presa-predator de Lotka-Volterra, modelo de hélice dupla do DNA, os modelos
baseados em agentes largamente utilizados em ciências sociais, modelos de equilı́brio
de mercados são alguns exemplos. Os cientistas dispendem uma enorme quantidade
de tempo construindo , testando, comparando e revisando modelos, e muito espaço em
jornais cientı́ficos é dedicado à explicar, aplicar e interpretar estes modelos. Em resumo,
modelos são uma das principais ferramentas da ciência moderna.
Em economia não tem sido diferente, o uso de modelos tem se estendido à todas as
áreas da economia, até mesmo em economia polı́tica, como por exemplo o modelo de
Rebelião Popular de ? e ?, entre muitos outros.
11
até mesmo formas rudimentares de vida constroem modelos da realidade à sua volta
para tomar decisões. No caso da espécie humana, os bebes aprendem com adultos
imitando alguns movimentos e hábitos, inclusive alimentares. Em muitos casos após
algum uso, alguns movimentos e hábitos são descartados pela criança que seguem sua
exploração do mundo. As primeiras palavras aprende-se por repetição e a medida que o
conjunto de informações cresce o pensamento se torna cada vez mais sofisticado e é capaz
de compreender um conjunto cada vez maior de fenômenos e tomar decisões cada vez
mais complexas. Fazemos isso por que nosso repertório de modelos de interpretação da
realidade foi aumentando com as experiências de vida e aprendizado baseado na razão.
Com um repertório maior, escolhemos em cada circunstância e necessidade de decisão
qual o modelo mais adequado e se for necessário, podemos até combinar e recombinar
modelos produzindo novos, para lidar com situações novas. Modelos sempre existiram
entre os seres vivos, em diversos graus de complexidade. Em essência todo o modelo
constitui num método de obter informações, analisar, construir uma representação da
realidade que pode ser usada para se tomar uma decisão. OU alternativamente, “apenas”
compreender mlehor o mundo que cerca do qual fazemos parte.
Um modelo não necessariamente precisa ser matemático. Decisões intuitivas não são
antı́teses de decisões baseadas em modelos. Na verdade, constituem-se em aplicações
ultra velozes de modelos, pois a intuição não é a negação da razão. Decisões intuiti-
vas e instantâneas se mostram ser posteriormente processos lógicos e racionais quando
analisados com a calma permitida pela passagem do tempo, e fazem isso muito mais
frequentemente do que se imagina. Bem este é um assunto complicado e é melhor pa-
rar por aqui pois estamos iniciando um estudo de macroeconomia e não um tratado
filosófico-psicológico sobre o desenvolvimento da inteligência, tarefa hercúlea que está
além do objetivo de um economista e de um só área da ciência.
Uma teoria pode ser construı́da a partir de duas maneiras distintas de abordar um
problema, as quais não são excludente e podem ser usadas complementarmente. A
primeira, que chamamos de dedução consiste em assumir alguns pressupostos iniciais
e então analisar as consequências e conclusões lógicas que podem ser obtidas a partir
destes pressupostos. Dados os pressupostos, deduzimos o resto seguindo um caminho
lógico. Teorias formuladas a partir de métodos dedutivos de pensamento só podem ser
refutadas questionando-se seus pressupostos e geralmente em economia o que se discute
a cerca da validade de alguma teoria é se seus pressupostos são razoáveis ou reais. A
segunda maneira é partir do conjunto de observações, coleta de dados e experiências e
extrair padrões e caracterı́sticas especı́ficas que podem ser usadas para fazer afirmações
genéricas. Neste caso, estaremos sendo mais empı́ricos, pois primeiro observamos, e de-
pois concluı́mos e fazemos afirmações sobre o comportamento da economia, do indivı́duo,
ou de uma forma mais geral, do mundo real.
Veja o seguinte exemplo. Einstein formulou a Teoria Geral da Relatividade em
torno de 1916 a qual previa que o espaço era curvo e a existência de ondas gravitacio-
nais. A curvatura do espaço foi provada empiricamente por Eddington em 1919, mas a
existência das ondas gravitacionais levou 100 anos e foi demonstrada somente em 2016
12
por um complexo experimento2 . É um caso em que os pressupostos vieram primeiro
(Einstein só uso uma caneta), mas a comprovação empı́rica só veio depois. Em outro
exemplo, entre muitos em economia, em 1958 Arthur Phillips usando dados do Reino
Unido entre 1861-1957 calculou uma correlação negativa entre salário e desemprego a
qual ficou conhecida até os dias de hoje como curva de Phillips sendo utilizada em
inúmeros modelos macroeconômicos. Neste caso os dados vieram antes da teoria. É
muito comum em economia, que se utilizem os dois métodos simultaneamente, ou que
se aplique os dois métodos para um mesmo problema, mesmo que isso possa levar algum
tempo. Uma teoria, deduzida de pressupostos apriorı́sticos precisa ser comprovada pos-
teriormente pelos dados, que foi o que aconteceu com a Teoria da Relatividade Geral:
tanto a curvatura do espaço quanto as ondas gravitacionais somente foram demonstradas
posteriormente à elaboração da teoria. Em geral os economistas são muitos céticos com
teorias abstratas e estão sempre à procura de comprovação empı́rica para suas teorias.
Há quem diga que um bom economista deve sempre partir dos dados para a teoria, mas
isso nem sempre é possı́vel. Karl Popper (1902-1994), um dos filósofos da ciência mais
importantes do século XX, dizia que nunca saberemos a verdade absoluta e que nossas
teorias sobrevivem algum tempo como verdadeiras, até que possamos comprovar que ela
está errada ou incompleta, isto é, até que se possa demonstrar que a afirmação teórica
é falsa, e não verdadeira. Enquanto não conseguirmos provar que uma teoria é falsa,
devemos aceitá-la, mesmo que provisoriamente como verdadeira. É que ficou conhecido
na filosofia da ciência como falsificacionismo de Popper.
A escassez e até mesmo a inexistência de dados é uma realidade que atormenta as
mentes mais criativas. Simplesmente não temos estatı́sticas para tudo. E pior ainda,
quando as temos, em geral temos apenas uma série de dados, especialmente quando es-
tamos lidando com séries temporais. Diferente de um fı́sico que pode realizar repetidos
experimentos controlados de um colizor de partı́culas por exemplo, um economista tem
à sua disposição uma única série de dados geradas pela complexa realidade.
Na macroeconomia empı́rica, aquela que parte dos dados para elaborar, ou comprovar
ou falsificar uma teoria, é muito comum fazer o uso de métodos empı́ricos distintos que
é importante destacar. O primeiro é o que poderı́amos chamar de modelos estruturais.
Os modelos estruturais descrevem o comportamento dos agentes ou do sistema macroe-
conômico a partir de equações previamente atribuı́das. O autor então assume determi-
nadas formas funcionais para estas equações, determina quais variáveis são endógenas e
exógenas, que variáveis e parâmetros entram numa e noutra equação e então testa, cali-
bra e estima este modelo por métodos estatı́sticos adequados. Chamamos estes modelos
de estruturais porque as equações apenas traduzem a estrutura (e a dinâmica) existente
no mundo real para um formato de modelo, o qual pode posteriormente ser utilizado
de vários fins. Estes modelos podem ser calibrados ou estimados econometricamente.
Na calibragem de um modelo seu autor atribui o valor dos parâmetros de forma que
a dinâmica do modelo produza resultados esperados ou que façam sentido lógico. No
caso da estimação os parâmetros são calculados estatisticamente a partir de métodos
2
A história Einstein e Eddington está brilhantemente contata em um filme da BBC de 2008 intitulado
Einstein and Eddington, o qual recomendo que se assista.
13
econométricos e somente depois disso são usados no modelo. Neste caso, mesmo a es-
timação econométrica parte de um modelo, e mais genericamente de uma teoria, para
determinar o valor dos parâmetros e calculador as variáveis.
Um outro procedimento muito utilizado pelos economistas são os chamados mo-
delos estatı́sticos à-teóricos, como por exemplo os modelos de séries temporais auto-
regressivos (ARIMA e famı́lia) e os modelos de múltiplas equações ou vetores auto-
regressivos (VAR). Neste caso, não se assume nenhum pressuposto e nenhuma estrutura
refletida em formas funcionais de equações e em escolhas de defasagens de variáveis. O
que se faz é estimar vários modelos econométricos e deixar que os dados indiquem quais
variáveis são relevantes ou estatisticamente significativas, com que sinal e com quais as
defasagens elas devem entrar em cada equação. Neste caso os dados falam primeiro e a
teoria, ou mais especificamente, o modelo vem depois. A macroeconometria é uma área
vasta que atrai muitos pesquisadores e deve ser sempre levada em conta nos estudos.
14
2. Uma Breve História das Teorias Macroeconômicas
• Macroeconomia Keynesiana
• Macroeconomia Novo-Keynesiana
• Macroeconomia Estruturalista
[Em desenvolvimento....]
15
Parte II
OFERTA E DEMANDA
AGREGADA: O problema da
flexibilidade de preços e salários
16
3. Funções de Produção na Macroeconomia
Este capı́tulo é uma revisão sobre funções de produção e seu uso na macroeconomia. As
funções de produção são de grande importância para a elaboração de teorias e modelos
macroeconômicos e, portanto, conhecer os tipos e suas propriedades é parte essencial
da compreensão dos fenômenos macroeconômicos, principalmente aqueles que dizem
respeito ao lado da oferta agregada. As funções de produção são importantes tanto para
análise de curto prazo (flutuação da produção, preço, salário e emprego) quanto de longo
prazo (crescimento econômico e mudança estrutural).
O estudo teórico e empı́rico do lado da oferta da economia não é possı́vel sem o
desenvolvimento de uma teoria da produção, a qual constitui um vasto campo de pes-
quisa que ganhou grande impulso com o trabalho seminal de Charles W. Cobb e Paul H.
Douglas em 1928 intitulado A Theory of Production [Cobb and Douglas, 1928] onde os
autores utilizaram a forma funcional1 Y = bLk C 1−k que ficou conhecida até os dias de
hoje como função Cobb-Douglas, e depois com as contribuições de Arrow et al. [1961]
e Uzawa [1962] os quais desenvolveram a chamada função de Elasticidade de Substi-
tuição Constante-CES que devido a sua forma polinomial genérica pode se ajustar à
qualquer situação, inclusive assumir a forma Cobb-Douglas dependendo apenas do va-
lor de um parâmetro. Isto deu um novo impulso a toda uma literatura empı́rica sobre
mensuração da produção fı́sica de uma economia e sobre a maneira como os insumos
capital e trabalho são combinados em diversas situações.
Do ponto de vista macroeconômico as funções de produção são importantes pois
são os micro-fundamentos da curva de oferta agregada. A curva de oferta agregada
por sua vez é parte essencial da explicação sobre flutuação do nı́vel de produto e de
emprego no curto prazo, ou do crescimento econômico e acumulação de capital no longo
prazo, e mais ainda pelos efeitos do progresso tecnológico sobre a atividade econômica
e riqueza das sociedades. A forma como os agentes, no caso trabalhadores e firmas, se
comportam em relação a fixação de salários e preços irá posteriormente determinar a
forma da curva de oferta agregada. Tais análises e teorias não seriam possı́veis sem o
ponto de partida da teoria da produção, representada formalmente por alguma função
de produção qualquer.
Existem vários tipos de funções de produção sendo as mais utilizadas as funções Leontief,
Cobb-Douglas e Elasticidade de Substituição Constante-CES, as quais serão explicadas e
terão suas propriedades demonstradas neste capı́tulo. Exemplos de funções de produção
estão listadas na tabela (3.1). A primeira parte da tabela mostra as funções de forma
1
Conforme grafia original.
17
implı́cita e destaca a forma como a tecnologia pode ser incorporada num modelo e
abordada teoricamente. A segunda parte da tabela mostra a forma funcional explı́cita
dos três casos mais importantes de funções de produção, os quais serão explicados em
detalhes à seguir.
Tabela 3.1: Funções de Produção mais comuns
18
sumir uma versão simplificada da função de produção de Leontief fazendo Y (t) = bL(t),
normalizando-se aK̄(t) = 1. Isto é muito útil, por simplificar os modelos de curto prazo
interessados em avaliar as flutuações no mercado de trabalho e no nı́vel de preços. Já
nos modelos de longo prazo, supõem-se que todos os fatores são flexı́veis.
A função de produção de Cobb-Douglas3 , por suas propriedades mais flexı́veis, tem sido
muito utilizada na macroeconomia especialmente na teoria do crescimento econômico.
No exemplo que se segue vamos utilizar somente dois insumos, capital e trabalho. A
principal caracterı́stica da função de produção Cobb-Douglas é que os insumos K, L e
3
Há de fato uma certa injustiça com este nome da função, pois quem descobriu este tipo de função
foi......
19
Figura 3.1: Função de Produção Leontief
eventuais outros insumos que podem ser adicionados à função, são substitutos imper-
feitos uns dos outros. Isto significa que uma firma pode escolher a melhor combinação
de capital e trabalho para ajustar a produção, mas a proporção com que podem ser
combinados varia de acordo com a produtividade marginal decrescente de cada um dos
fatores. Essa proporção K/L varia não linearmente, o que lhe faz com que as isoquantas
sejam convexas garantindo-lhes assi, a propriedade de substitutos imperfeitos. Quando
a firma estiver maximizado lucros, os preços relativos dos fatores (retorno unitário do
capital e salário) e suas respectivas produtividades irão determinar a quantidade de cada
que será utilizada. Quando o preço da mão de obra se torna muito alto a tendência é
que haja substituição de trabalho por capital. Isto é muito diferente do que ocorre na
função de produção de Leontief onde a proporção dos insumos é constante. Além disto
dependendo dos valores dos expoentes de cada insumo a função pode apresentar retornos
decrescentes ou crescentes de escala ao mesmo tempo que apresenta retornos decrescen-
tes ao nı́vel do fator. Esteja atento à diferença que existe quando a função de produção
é avaliada no seu conjunto (escala), ou quando é avaliada em termos de um fator apenas,
mantendo-se os demais constantes. Estas propriedades podem ser demonstradas mais
claramente com as equações e gráficos a seguir.
Assumindo a seguinte função de produção multiplicativa:
Retornos de Escala
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A propriedade de retornos constantes de escala estabelece que quando a quantidade
dos fatores de produção dobrar de valor, a quantidade produzida de bem final também
dobrará. Ou mais genericamente se os fatores aumentarem por um múltiplo λ qualquer,
então o produto final também aumentará λ. Isto pode ser representado matematica-
mente pela seguinte demonstração:
(a) Isoquantas e substituibilidade entre os fa- (b) Avaliada ao nı́vel do fator trabalho
tores
21
proporcionalmente e dependerá de quanto maior que um for a soma dos expoentes. Há
retornos crescentes de escala porque se dobrarmos o número de insumos, a produção
mais que dobra. Um problema difı́cil para a teoria econômica é explicar a origem dos
retornos crescentes de escala. Uma outra situação, na qual α + β < 1 há retornos de-
crescentes de escala. Este caso também é de difı́cil explicação econômica. Imagine uma
firma que possui uma linha de produção e resolve duplicar a produção criando uma
nova linha de produção num novo barracão ao lado do primeiro. Não haveria motivos
aparente para que o segundo barracão com as mesmas máquinas, trabalho e tecnolo-
gia produzisse menos. Uma situação mais comum, e utilizada mais frequentemente na
análise macroeconômica é o caso em que há retorno contante de escala, representada
pela linha reta na figura (3.2c).
A figura (3.2b) ainda mostra duas funções onde o produto marginal do trabalho
é decrescente, uma consequência da convexidade das isoquantas. A figura mostra dois
exemplos de formas funcionais de uma função de produção com rendimentos decrescentes
ao nı́vel do fator. A primeira é uma função de produção Cobb-Douglas e o segundo caso
é uma função quadrática em L. Em ambos os casos quando aumentamos a quantidade
do fator trabalho, mantendo constante a quantidade de capital, o produto aumenta, mas
em taxas decrescentes. A diferença é que na forma funcional quadrática, a partir do
ponto L∗ = A/2, o produto começa a cair, o que não ocorre no caso Cobb-Douglass.
E por fim a figura (3.2d) mostra o produto marginal do trabalho (P M gL) para três
diferentes valores do parâmetro α, o qual regula a intensidade ou a contribuição de cada
insumo na produção.
Tomando-se a função de produção Cobb-Douglas Y (t) = AK(t)α L(t)β podemos
calcular a TMS e demonstrar que o produto marginal do trabalho é positivo porém
decrescente. A TMS é uma medida de quantas unidades de um insumo (capital) deve ser
acrescida em troca de outro insumo (trabalho) de forma à manter a produção constante.
Simplesmente a TMS é a razão entre a variação dos dois insumos e por definição será
negativa, pois quando um insumo aumenta o outro possui variação negativa. A TMS
entre capital e trabalho é calculada como segue:
dK dK/dY dK dY 1 dY P M gL
T M SK,L = − ≡− ≡ ≡ ≡− (3.4)
dL dL/dY dY dL dY /dK dL P M gK
onde dividimos o numerador e o denominador na primeira igualdade por dY sem alterar
a função. Ao fazer isso transformamos a razão entre duas variações (dK/dL) em uma
razão entre os produtos marginais, o que torna o conceito de TMS mais interessante
ainda.
Os rendimentos decrescentes ao nı́vel do fator podem ser demonstrados tomando a
derivada primeira e segunda de Y em relação a cada um dos insumos, com o que temos:
1−α
dY 2 L1−α
dY L
P M gK = = αA >0 = −α(1 − α)A < 0(3.5)
dK K d2 K K 2−α
α
dY 2 Kα
dY K
P M gL = = (1 − α)A >0 = −α(1 − α)A < 0 (3.6)
dL L d2 K L1+α
22
onde pode-se ver claramente que em ambos os insumos, a derivada primeira é positiva,
porém a derivada segunda é negativa. A derivada primeira comprova que o aumento da
quantidade de um dos fatores aumenta a produção, porém a derivada segunda afirma
que este aumento diminui quando a quantidade de insumo vai se tornando muito grande.
Seu efeito é decrescente4 .
Além da convexibilidade, demonstrada pela deriva primeira e segunda, outra pro-
priedade importante da função de produção Cobb-Douglas é que ela atende o que
convencionou-se chamar de condições de Inada [1963], segundo a qual quando K → 0
ou L → 0 o produto marginal de cada fator será infinito e quando K → ∞ ou L → ∞
o produto marginal será zero. As condições de Inada são importantes mais do ponto de
vista matemático do que econômico pois garantem que a função se comporta adequada-
mente nos extremos ou nos limites inferior (zero) ou no infinito. Matematicamente as
condições de Inada podem ser representadas por:
∂Y ∂Y
lim = +∞ lim =0
K→0 ∂K K→∞ ∂K
(3.7)
∂Y ∂Y
lim = +∞ lim =0
L→0 ∂L L→∞ ∂L
23
mercado de trabalho e bens de capital, substituindo-os entre si ao longo do processo de
crescimento econômico de longo prazo, e portanto, é possı́vel especificar em que medida
o preço dos fatores, salário e retorno do capital, determinam como os insumos podem
estar sendo substituı́dos. Este é um problema de grande relevância para a economia,
pois afeta diretamente a vida de milhões de pessoas, seja pela determinação do valor do
salário, ou pela determinação do nı́vel de emprego no longo prazo.
A forma funcional da função de produção CES é:
h σ−1
i σ
σ−1 σ−1
Y (t) = A αK(t) σ + (1 − α)L(t) σ (3.8)
onde σ é um parâmetro que determina como os insumos podem ser substituı́dos entre
si, o qual dependendo do valor σ ∈ (0, ∞] transforma a equação (3.8) em qualquer um
dos casos adiante. Em muitos casos a equação (3.8) é escrita de forma um pouco mais
simplificada fazendo-se ρ = (σ − 1)/σ:
1
Y (t) = A [αK(t)ρ + (1 − α)L(t)ρ ] ρ (3.9)
onde A é uma parâmetro de eficiência tecnológica, α é o coeficiente que determina a
proporção entre os fatores e σ ou ρ é um parâmetro que regula a substituibilidade entre
os fatores, aproximando-a ora do caso linear (ou CES propriamente dita), ora do caso
Cobb-Douglas com diferentes inclinações, e ora do caso Leontief6 .
Como o próprio nome diz, este tipo de função tem uma propriedade importante sobre
a forma como K e L (ou outros insumos quaisquer) podem ser substituı́dos. Neste caso
a proporção ou a elasticidade de substituição é constante. A elasticidade substituição
no caso da função CES pode ser obtida como segue. A derivação da elasticidade é uma
demonstração um pouco trabalhosa e está além do no nosso objetivo no momento. O
leitor interessado poderá consultar a bibliografia deste capı́tulo, especialmente Grand-
ville [2009, cap. 3] e ?, mas em linha geral o raciocı́nio é o seguinte. A elasticidade
substituição é uma relação entre duas taxas de variações percentuais, genericamente
εx,y = ∆%x/∆%y = (dx/x)/(dy/y). No caso da função CES esta relação é dada pela
variação percentual na relação K/L em relação à variação percentual nos preços rela-
tivos w/r, onde P M gL = w e P M gK = r. Assim, conceitualmente, a elasticidade
substituição entre duas variáveis x e y é:
24
(a) (b) (c)
Figura 3.3: (a) σ é igual à zero indicando que os fatores de produção não são substitutos, mas complementares,
só podem ser usados em proporções fixas com o que a função se comporta como uma Leontief; (b) σ é maior
que zero e menor que infinito indicando que os bens são substitutos imperfeitos e no caso em que σ = 1 obtemos
a função Cobb-Douglas; (c) σ é infinito e há substituição perfeita entre os insumos, pois as isoquantas ficam
lineares.
d(K/L)
∆%(K/L) K/L d ln(K/L)
σ= = d(P M gL/P M gK)
= (3.11)
∆%(P M gL/P M gK) d ln(P M gL/P M gK)
P M gL/P M gK
1
(1−ρ)
P M gK = r = αA2 [αK(t)ρ + (1 − α)L(t)ρ ] ρ K ρ−1
(3.12)
1
2 ρ ρ (1−ρ) ρ−1
P M gL = w = (1 − α)A [αK(t) + (1 − α)L(t) ] ρ L
ou, substituindo (3.9), a parte da função de produção que permaneceu a original, por
Y:
25
Figura 3.4: Correspondência entre σ e ρ
• Melhoria da qualidade
26
toda uma indústria de fabricação de motores e sua cadeia produtiva deverá ser subs-
tituı́da por outra com todos os efeitos sobre mercado de trabalho e demais consequências
para a sociedade e o meio ambiente. O assunto é vasto e complexo e nesta introdução às
funções de produção pretendemos apenas chamar a atenção para este instigante assunto
que atormenta os economistas a anos.
Os efeitos tecnológicos do aumento de produtividade podem ser visto na figura (3.5)
a seguir.
27
Y =AF (K, L) = A(K α L1−α ) → Hicks neutra, K/L constante
α 1−α
Y =F (AK, L) = (AK) L → Solow neutra, poupadora de capital (3.15)
α 1−α
Y =F (K, AL) = K (AL) → Harrod neutra, poupadora de mão de obra
28
3.6 Exemplos Numéricos
29
Exemplos de função com Elasticidade Substituição Constante - CES
− 1 1 1
(a) A αK −100 + (1 − α)L−100 100 (b) Y = A αK 0 + (1 − α)L0 0 (c) Y = A αK 0.5 + (1 − α)L0.5 0.5
1
(d)
Y = A αK 1 + (1 − α)L1 1 (e) Y = (f) Y =
1 1
A 0.25K −3 + (1 − 0.75)L−3 −3 A 0.75K −3 + (1 − 0.25)L−3 −3
30
4. Oferta e Demanda Agregada
31
oclássicos e keynesianos, a distinção que os separam é muito tênue e sutil e poderia ser
resumida numa questão prática de determinar o grau de rigidez de duas variáveis ma-
croeconômicas importantes: preços e salários nominais. Numa análise mais fria, isenta
de paixões, parece ser um exagero que uma questão facilmente resolvı́vel empiricamente
possa ter criado tanta divisão no passado. Os modelos OA-DA clássico e keynesiano
apresentados neste capı́tulos vigoraram entre as décadas 1940-1980, com diversos deba-
tes sobre os efeitos de choques de demanda via polı́tica monetária e fiscal e portanto
sobre as polı́ticas macroeconômicas mais adequadas. A eloquente disputa entre mone-
taristas e keynesianos nos 1960 e 1970 e depois novamente após a grande crise financeira
de 2008 é um episódio tı́pico das diferenças de visões. A partir dos anos 1980 e até os
anos 2000 as diferenças reapareceram manifestadas no que convencionou-se chamar, na
falta de maior criatividade, de “novos clássicos” e “novos keynesianos”. Essencialmente
o ponto de disputa permanecia o mesmo, se os preços e salários são rı́gidos ou não e
se a economia se ajusta via preços ou quantidades e se o nı́vel de pleno emprego e o
equilı́brio são automaticamente restabelecidos ou requerem intervenção de polı́ticas ma-
croeconômicas públicas. Mas desta vez a explicação da origem ou da causa de rigidez
ou flexibilidade das variáveis macroeconômicas proveio de uma explicação engenhosa
baseada na hipótese de que os agentes antecipam o futuro e portanto tentativas do go-
verno de interferir na economia seria frustrada pois os agentes antecipariam as ações do
governo precificando os resultados antecipadamente. Isto ficou conhecido como hipótese
das expectativas racionais 1 .
A interação entre oferta e demanda agregada para diferentes casos pode ser resumida
no gráfico 4.1. O gráfico mostra três situações possı́veis para as relações entre oferta e
demanda agregada: o caso clássico, onde a curva de oferta é vertical, o caso keynesiano
puro, onde a curva de oferta agregada é horizontal e o caso intermediário, mais realista,
onde deslocamentos da curva de demanda causam variações simultâneas nos preços e
quantidades. No caso keynesiano, onde a curva de oferta agregada é horizontal, os preços
são rı́gidos e variações da demanda ao longo da curva de oferta causam variações nas
quantidades, aqui Y , o nı́vel de produto fı́sico e seu correlato nı́vel de emprego. No
caso clássico a curva de oferta é vertical e deslocamentos da curva de demanda causam
variações no nı́vel de preço, sem efeito real nenhum, o que demonstra a ineficácia das
polı́ticas macroeconômicas pelo lado da demanda como as polı́ticas monetárias e fiscais.
Por fim há o caso intermediário, entre as duas visões extremas. A questão essencial,
portanto, é determinar a verdadeira inclinação da curva de oferta agregada, a qual
determinará se choques de demanda têm efeito maior sobre o produto e o emprego
(quantidade) ou sobre o nı́vel de preços produzindo inflação.
Os modelos macroeconômicos de oferta e demanda agregada, especialmente os mo-
delos de curto e médio prazo, são criados para analisar as variações de preços e do nı́vel
de emprego mais do que explicar os determinantes do crescimento econômico. Uma
diferença dos modelos de oferta e demanda em relação aos modelos de crescimento é que
1
A palavra ‘racional’ neste contexto não significa a hipótese de se os agentes se comportam irracional-
mente ou não. A palavra é usada no sentido de capacidade de raciocı́nio ou capacidade computacional
que permite ao ser humano, e mais especificamente no caso, aos agentes econômicos, avaliar e antecipar o
futuro, trazendo-o para o valor presente por algum tipo de processo (cálculo) otimizador intertemporal.
32
Figura 4.1: Oferta e demanda agregada - três casos
estes últimos em geral assumem que os preços são flexı́veis e que as principais variáveis
que explicam o deslocamento da curva de oferta são os efeitos do investimento sobre a
ampliação do estoque de capital e aumentos de produtividade. Nos modelos macroe-
conômicos de curto e médio prazo em geral assume-se que a curva de oferta é dada, isto
é, a capacidade de produção da economia é constante ou pode variar de forma exógena.
Nestes modelos o investimento é um componente da demanda agregada apenas e seu
efeito capacidade ou de ampliação da oferta não é levado em conta diretamente. Um
modo de expressar esta ideia de exogeneidade é assumir que o produto potencial (ou
capacidade de produção) da economia cresce à uma taxa constante e que a inflação pode
ser expicada por uma variação da demanda maior que a variação do produto potencial.
Assim sendo, nos modelos de oferta e demanda de curto e médio prazo, em geral são
enfatizados os determinantes da curva de demanda a qual pode se deslocar ao longo de
uma curva de oferta dada, cuja posição num gráfico é fixa e cuja inclinação pode ser um
dos três casos tal como mostrado na figura 4.1.
33
Em linhas gerais, o pressuposto da flexibilidade de preços e salários significa afirmar
que eventuais choques de demanda provocam ajustes rápidos nos preços e no salário
nominal enquanto as quantidades são mantidas estáveis. Ao fim do processo de ajuste
da economia, um excesso de demanda em termos agregados provoca inflação, fazendo
variar o nı́vel dos preços (dP/dt > 0) sem aumentar o nı́vel de renda ou produto (Y )
ou, em outras palavras, sem aumentar a quantidade de bens e serviços ofertados. No
caso de um choque negativo de demanda, os preços e salários caem, mas as quantidades
de bens e serviços e o nı́vel de emprego são mantidos. O principal motivo pelo qual as
quantidades de bens e serviços e o próprio nı́vel de emprego não caem é o fato de que
o salário real (W/P ) se mantém constante. Com o salário real constante as empresas
continuam contratando a mesma quantidade de trabalho os trabalhadores continuam
ofertando a mesma quantidade de mão de obra e adquirindo as mesmas quantidades de
bens e serviços.
Este mecanismo será explicado em mais detalhes ao longo deste capı́tulo. Tal meca-
nismo descreve o funcionamento agregado da economia na visão dos economistas cha-
mados clássicos, e se contrapõe a explicação keynesiana segundo a qual variações na
demanda agregada podem provocar simultaneamente variações nos preços, nas quanti-
dades de bens e serviços e no nı́vel de emprego. A visão macroeconômica “keynesiana”
será apresentada na seção (4.4).
34
trabalho está em equilı́brio. A construção da curva de oferta agregada é a etapa mais
trabalhosa, mas pode ser obtida mais diretamente a partir da demanda de mão de obra
pela firma.
Ela consiste em encontrar o nı́vel de produção e a quantidade de mão de obra de
equilı́brio a partir do comportamento maximizador das firmas e dos trabalhadores. A
partir da função de produção das firmas e da sua maximização de lucros encontra-
se a curva de demanda de mão de obra (Ld ). A partir da função utilidade sujeita à
restrição orçamentária do trabalhador encontra-se a curva de oferta de mão de obra (Ls ).
Igualando-se as duas curvas obtém-se o nı́vel de emprego de equilı́brio (Ld = Ls = L∗ ).
Por fim, substituindo-se o nı́vel de emprego de equilı́brio de volta na função de produção
obtém-se o nı́vel de produto de equilı́brio Y ∗ = F (K̄, L∗ ), onde o estoque de capital é
mantido constante, uma vez que estamos supondo o curto prazo, com ajustamentos
apenas no mercado de trabalho. Ao substituir Ld na função de produção encontraremos
a curva de oferta agregada na forma Y = F (x, P ) com dY /dP ≥ 0, onde x representa
todos os demais parâmetros e variáveis exógenas que possam estar presente na expressão
que não seja o preço P .
Para mostrar todo este quebra cabeça vamos fazer uso de um modelo completo
baseado em funções de produção e utilidade do tipo Cobb-Douglas, derivando passo as
decisões das firmas e dos trabalhadores. Em termos mais didático a derivação da curva
de oferta agregada e do equilı́brio no mercado de trabalho segue as etapas a seguir:
a.) Obter a curva de demanda de mão de obra das firmas na forma de uma equação
Ld = f (W/P ), via maximização de lucros, a qual é negativamente inclinada, isto é,
f ′ < 0;
c.) Obter a curva de oferta de mão obra dos trabalhadores via maximização da utilidade
entre trabalho e laser na escolha do trabalhador, na forma de uma equação Ls =
g(W/P ), onde g ′ > 0;
35
No momento estamos preocupados com o curto e médio prazo, portanto soa bastante
razoável admitir que único fator de produção que varia é o trabalho. Existe uma grande
quantidade de formas funcionais especı́ficas para representar uma função de produção.
Uma das mais conhecidas é a forma Cobb-Douglas, cujas propriedades matemáticas
facilitam muito a obtenção de soluções analı́ticas, como veremos a seguir. Assumindo
então que a função de produção seja expressa pela função Cobb-Douglas2 a seguir:
dY
=P M gL = (1 − α)K α L−α > 0
dL
(4.2)
dY 2 Kα
= − α(1 − α) <0
d2 L L(1+α)
A função de produção Cobb-Douglas possui duas propriedades importantes que faci-
lita a obtenção de uma solução analı́tica relativamente simples, devido à sua concavidade.
A primeira propriedade diz que a função possui rendimentos constantes ao nı́vel da es-
cala, pois trata-se de um polinômio (mais precisamente de um monômio) com grau 1
(soma dos expoentes da função = 1)3 ; a segunda propriedade diz que a função possui
rendimentos positivos (derivada primeira maior à zero), porém decrescentes ao nı́vel do
fator (derivada segunda menor que zero) e que portanto a função de produção é côncava.
A figura (4.2) abaixo mostra estes resultados de forma conjunta.
A parte superior da figura mostra a função de produção, na qual observa-se que o
produto aumenta a medida que a quantidade L de mão de obra contratada, porém este
aumento é progressivamente menor. A função de produção é côncava. A parte inferior
da figura mostra o produto marginal do trabalho, o qual é positivo (primeira derivada
maior que zero) e decrescente (segunda derivada menor que zero) o que equivale dizer
que há retornos decrescentes ao nı́vel do fator trabalho.
36
Figura 4.2: Produtividade marginal do trabalho - PMgL
ela procura ajustar sua produção Y e, portanto, sua demanda de mão de obra L, num
nı́vel que possa maximizar seus lucros Π. Neste caso de mercados competitivos, onde o
preço e a demanda são determinados pelo mercado, a maximização de lucros por parte
da firma dependerá apenas de ajustar a mão de obra olhando para o produto marginal
do trabalho e seu respectivo nı́vel salário nominal comparando-o com a receita marginal
a ser obtida. Para maximizar lucros a empresa toma informações externas, preço no
mercado de bens e salário nominal no mercado de trabalho, e ajusta-se internamente
via quantidades variando a demanda de mão de obra. A equação de lucros totais é dada
pela remuneração do capital e do trabalho conforme a seguir:
Π = P Y − rK̄ − W L (4.3)
onde r é o preço unitário do capital e W o valor unitário da mão de obra, ou salário
hora, por exemplo, se o trabalho for medido em quantidade de horas trabalhadas. Como
estamos interessados em analisar o curto prazo, podemos assumir que o estoque de
capital (K) é constante e não varia. Dado o nı́vel de preço e o salário nominal, a firma
irá maximizar lucros ajustando a quantidade de mão de obra e a produção. Além da
maximização de lucros assumimos outra hipótese comportamental importante que é o
fato de que os salários reais da economia são determinados de acordo com a teoria do
salário eficiência, a qual diz que o salário real será igual a produtividade marginal do
trabalho. Isto fica claro quando diferenciamos a equação (4.3) no tempo, em relação
as variáveis Π, Y, K e L4 . Relembrando que estamos no curto prazo, de forma que K
4
Nota metodológica: A equação (4.3), bem como todas as demais foram omissas em relação
ao tempo. Isto está sendo feito porque estamos desenvolvendo um modelo para análise estática e não
dinâmica. Com a análise estática podemos comparar diversos pontos de equilı́brios após os ajustamentos
entre as diversas partes do sistema econômico terem sido processados. Na análise dinâmica, estarı́amos
interessados em explicar as trajetórias temporais de cada variável durante o processo de ajustamento,
37
também não varia, então a equação pode ser reescrita, no seu ponto de máximo, como:
dΠ = P dY − W dL = 0 (4.4)
A firma maximiza seu lucro quando o custo de variar a mão de obra é igual receita
que ela obtém com a venda da respectiva produção, de forma que a variação do lucro
é zero (dΠ = 0). Após igualar à zero, podemos reorganizar os termos e obter uma
expressão para o produto marginal do trabalho, que é a própria afirmação da teoria do
salário eficiência:
dY W
P M gL ≡
= (4.5)
dL P
Esta igualdade do produto marginal do trabalho com o salário real é fruto de dois
pressupostos sobre o comportamento da firma: o primeiro refere-se à estratégia de ma-
ximizar lucros no curto prazo e o segundo de negociar salários de acordo com o produto
marginal do trabalho. Para finalmente encontrar a curva de demanda de mão de obra
tudo o que temos que fazer é substituir a equação (4.2) na equação (4.5) e resolver para
L. Resumidamente, para encontrar a demanda de mão de obra basta igualar o produto
marginal do trabalho ao salário real fazendo P M gL = W/P e resolver a expressão para
Ld , onde o sobrescrito d identifica que é a demanda de mão obra, a qual posteriormente
será confrontada com a oferta Ls . Fazendo isto obtemos:
α
K W
(1 − α) = (4.6)
L P
Isolando L obtemos:
entre um ponto de equilı́brio e outro. A análise dinâmica requer outra metodologia de desenvolver
modelos, baseadas em equações diferenciais (no caso de tempo contı́nuo) ou em diferenças finitas (no
caso de tempo discreto). Por ora estamos interessados apenas nas posições de equilı́brio. Mas, para
entender como o lucro máximo é obtido, podemos imaginar que as variáveis da equação de lucros são
dinâmicas no tempo, portanto, poderı́amos escrever:
onde o subscrito t aparece apenas para as variáveis dinâmicas, de forma que que r e W são constantes no
tempo e K(t), L(t) são as quantidades que se alteram por escolha maximizadora da firma, especialmente
K e L, pois Y é resultado da quantidade de insumos utilizada na produção. Então, diferenciando a
expressão inteira em relação ao tempo podemos escrever:
dΠ(t) dY (t) ¯
dK(t) dL(t)
=P −r −W
dt dt dt dt
e se finalmente assumirmos, sem alterar a dinâmica das variáveis, que tempo varia discretamente de 1
em 1 perı́odo, isto é, dt = 1, então pode escrever a diferenciação inteira da equação de lucros em relação
ao tempo, simplesmente como:
Dada a hipótese de curto prazo, então dK = 0. Por fim, o lucro será máximo quando variações no
trabalho e no produto fazem com que dΠ = 0, com o que podemos simplesmente reescrever a equação de
lucros no ponto de lucro máximo fazendo 0 = P dY (t) − r0 − W dL(t), o que ao fim permite-nos escrever:
dY (t) W
=
dL(t) P
que nada mais é do que afirmar que o produto marginal do trabalho é igual ao salário real.
38
1/α
d P α
L = (1 − α)K (4.7)
W
A equação (4.7) representa a curva de demanda de mão de obra que tanto pro-
curávamos, ou seja Ld = f (α, K, P, W ) ou basicamente Ld = f (W/P ) como aparece em
vários manuais de macroeconomia, e onde W/P , o inverso de P/W , está negativamente
correlacionado com Ld . Note que a mesma equação poderia ser escrita numa forma
ligeiramente diferente, porém matematicamente equivalente:
1/α
1
Ld = (1 − α)K α (4.8)
W/P
Como pode ser observado, esta curva é negativamente inclinada no plano (L, W/P ),
pois dado P quanto maior o salário nominal W menor será a demanda de mão de obra.
Além disto a função é côncava para cima, dado que o termo W/P depende de α o qual
se situa entre 0 < α < 1.
Por fim a curva de oferta agregada pode ser obtida substituindo a equação (4.7) na
função de produção (4.1), com o que obtemos:
A equação (4.9) é curva de oferta agregada a qual depende do salário real. A sua
forma funcional decorre da utilização de uma função de produção do tipo Cobb-Douglas
com retornos constantes de escala. Outras formas funcionais poderiam produzir resulta-
dos semelhantes. De forma mais geral, estes diversos resultados poderiam ser expressos
em termos qualitativos, como uma curva de oferta agregada relacionando as variáveis Y
e P de uma forma genérica como:
39
Figura 4.3: Curva de Oferta Agregada a partir de uma Função Cobb-Douglas
então o salário real W/P ou seu inverso P/W ficarão constantes e a curva de oferta,
ou o produto real Y, não será afetado por variações nos preços, pois o efeito positivo
um aumento de preço é seguido por um efeito negativo do aumento do salário nominal
deixando o salário real e por conseguinte o nı́vel de produto ofertado constante. E se
assim for, a quantidade de mão de obra associada à Y também ficará constante, o que
no caso clássico, corresponde ao pleno emprego, como será explicado mais adiante.
Tendo obtido a curva de oferta agregada acima, o próximo passo importante é de-
terminar a curva de oferta de mão de obra por parte dos trabalhadores e o equilı́brio no
mercado de trabalho.
A derivação da oferta de trabalho é realizada a partir de pressupostos teóricos acerca
do comportamento dos trabalhadores em sua decisão de disponibilizar ou vender seu
tempo de trabalho no mercado, em troca de um salário real. Para construir a curva
de oferta de mão de obra dos trabalhadores o procedimento mais fácil é assumir que os
trabalhadores procuram maximizar uma função utilidade que depende da quantidade
de horas trabalhadas e horas destinadas ao laser. O aumento de ambas as horas, se
fosse possı́vel, proporcionaria mais bem estar, no entanto, o trabalhador não consegue
aumentar as duas coisas ao mesmo tempo e precisa fazer uma escolha que dependerá
da taxa de substituição entre as duas. Para aumentar uma, precisa diminuir a outra.
Consideremos então que um trabalhador representativo oferta uma quantidade H de
horas trabalhadas por dia, por semana ou por mês, em troca de um salário real hora,
semanal ou mensal ou por unidade de produto correspondente à W/P , que lhe dá acesso
à uma quantidade C de bens de consumo e cujo consumo lhe proporciona um certo
nı́vel de satisfação material medido por alguma função utilidade. O trabalhador pode
aumentar também seu bem estar quando decide por alocar uma quantidade de horas
L para seu laser, mas deverá diminuir sua renda se quiser ter mais laser. Assim, se a
quantidade total de horas disponı́veis por dia for 24 horas, então temos 24 = H + L ou
ainda, generalizando 24 como sendo um certo total de horas disponı́veis num perı́odo de
40
tempo qualquer, T = H + L.
O problema do trabalhador pode ser expressado então pelo seguinte problema de
maximização de utilidade, sujeita à uma restrição dada pela quantidade de bens de
consumo que o trabalhador pode adquirir com um certo nı́vel de salário W obtido por
uma certa quantidade de horas trabalhadas H:
max U = U(C, L)
(4.11)
suj. a P C = W H = W (T − L)
41
esquerda um dos outros, do contrário a curva de oferta de mão de obra na segunda parte
do gráfico não ficaria positivamente inclinada. Note que o segundo gráfico relaciona no
eixo horizontal as horas trabalhadas enquanto que o primeiro relaciona as horas de laser,
dado que T = H + L.
Podemos assumir uma forma funcional especı́fica para a função utilidade do traba-
lhador U(C, L) como sendo uma forma Cobb-Douglas, com o que teremos o seguinte
problema de otimização:
max U = U = C β L1−β
(4.12)
suj. a WT − PC − WL ≥ 0
∂L
=βC β−1 L1−β − λP = 0
∂C
∂L
=(1 − β)C β L−β − λW = 0 (4.14)
∂L
∂L
=W T − P C − W L = 0
∂λ
Uma vez obtida as condições de primeira ordem, podemos calcular os valores de
equilı́brio de C ∗ , L∗ e H ∗ , e também deduzir a curva de “demanda de laser ” e a sua
equivalente curva de oferta de horas trabalhadas, Ls = g(W/P ), onde g ′ > 0.
Os valores de equilı́brio podem ser obtidos como segue, resolvendo as duas condições
de primeira ordem para λ e em seguida igualando as duas, com o que obtemos:
1−β
β L
λ=
P C
β
(1 − β) C
λ= (4.15)
W L
1−β β
β L (1 − β) C
=
P C W L
42
Por fim, resolvendo a equação (4.15) para L obtemos a quantidade de horas de laser
de equilı́brio do trabalhador ao salário nominal e preços vigentes.
(1 − β) P
L∗ = C (4.16)
β W
ou para C ∗ , para obter o consumo de equilı́brio, obtendo:
βL W
C∗ = (4.17)
(1 − β) P
Os resultados obtidos pelas equações (4.16) e (4.17) correspondem à um ponto de
equilı́brio tal como os pontos A, B ou C da figura (4.4). Por fim, sabendo que H = T −L
podemos obter a curva de oferta de mão de obra substituindo a equação (4.16) nesta
igualdade, com o que obtemos:
(1 − β) P
Ls ≡ H = T − C (4.18)
β W
Na equação (4.18) o salário W está no denominador, porém o segundo termo tem um
sinal negativo, portanto quanto maior W , menor é o segundo termo negativo e portanto
maior é o número de horas ofertadas H. Isso fica evidente quando tomamos a derivada
primeira dH/dW e em seguida a derivada segunda, a qual é:
dH (1 − β) P
= C 2 >0
dW β W
(4.19)
dH 2 (1 − β) P
2
=−2 C 3 <0
d W β W
Este resultado mostra a oferta de mão de obra é positivamente inclinada no plano
W/P, L e que um aumento no salário real leva á um aumento na oferta de mão de obra.
Uma vez que temos as curvas de demanda e oferta de mão de obra, dadas pelas
equações (4.7) e (4.18), basta tomar a quantidade de mão de obra de equilı́brio L∗ no
mercado de trabalho e levar este resultado para dentro da função de produção, de modo
a obter uma expressão do tipo Y ∗ = F (K, L∗ ). Com esta expressão obtemos o nı́vel
de produto de equilı́brio correspondente ao equilı́brio no mercado de trabalho. Fazendo
Ld = Ls e resolvendo para P/W ∗ obtemos um valor de equilı́brio do inverso do salário
real, com o qual em seguida podemos voltar à uma das equações Ld ou Ls e calcular a
quantidade de equilı́brio de mercado da mão de obra L∗ . Igualando, obtemos:
1/α
P (1 − β) P
(1 − α)K α =T − C (4.20)
W β W
onde para simplificar as passagens algébricas definimos:
43
1
ϕ =[(1 − α)K α ] α (4.21)
(1 − β)
γ= C (4.22)
β
com o que podemos escrever:
1/α
P P
ϕ =T −γ (4.23)
W W
onde coletando os termos em P/W obtemos:
1/α
P P
ϕ +γ =T (4.24)
W W
A equação (4.24) é um polinômio não homogêneo. Sendo 0 < α < 1 o primeiro
termo será um termo com expoente maior que 1 e o segundo um termo com expoente
igual a 1, portanto haverá mais de uma raiz que soluciona o polinômio, o que quer dizer
que haverá mais de um P/W de equilı́brio. O número de raı́zes poderá ser até maior
que 2, dependendo do valor de α. Se por exemplo α = 0.333... terı́amos um polinômico
com um termo elevado à 3 e portanto terı́amos três raı́zes como solução, o que significa
dizer que terı́amos, matematicamente, três resultados para o salário real de equilı́brio
W ∗ /P ∗ , sendo uma delas a de maior significado econômico. A solução matemática
deste problema é apenas indicada aqui, ademais a solução de um polinômio nem sempre
é uma tarefa trivial. Uma opção ao problema acima seria log-linearizar o polinômio
todo, mas ao fim o resultado deveria retornar à escala original tomando-se o anti-log da
solução final, um procedimento também um pouco trabalhoso que desviaria ainda mais
as atenções ao problema econômico que estamos analisando. Não prosseguiremos em sua
demonstração para não se desviar em demasia do objetivo principal que é compreender
os aspectos teóricos da teoria macroeconômica, em dois regimes salariais distintos, o
clássico e o keynesiano. Obtendo-se (W/P )∗ de equilı́brio, bastaria substituir em uma
das duas equações Ls ou Ld para obter a quantidade mão de obra de equilı́brio, já que
no equilı́brio L∗ = Ls = Ld .
Por fim, o produto de equilı́brio final poderia ser encontrado, com um pouco de
trabalho algébrico, substituindo o salário real de equilı́brio encontrado pelo procedimento
descrito, na própria função de produção com o que obterı́amos Y ∗ = f (x, W ∗ /P ∗ ).
44
O funcionamento completo do lado da oferta agregada, desde o mercado de trabalho até
a função de produção pode ser observado na figura (4.5).
Figura 4.5: Oferta Agregada e Equilı́brio no Mercado de Trabalho
45
seguir.
46
Figura 4.6: Equilı́brio com Flexibilidade de Preços e Salários - Caso Clássico
cesso de ajustamento flexı́vel entrará em ação, mantendo ao fim o salário real constante.
Neste caso um aumento de demanda não teve efeitos reais na economia, provocando
apenas efeitos nas variáveis nominais, preço (P ) e salário nominal (W ), com o nı́vel de
produto e emprego constante e em permanente equilı́brio em seu nı́vel natural ou de
pleno emprego. Está é a essência do modelo clássico de oferta e demanda agregada.
Em situação de plena flexibilidade de salário a economia se ajusta pelo lado dos preços
nominais e não pelo lados das quantidades (produto emprego). O resultado final é que
embora a derivação algébrica da curva de oferta mostre uma inclinação positiva, con-
forme equação (4.9), de fato o salário real nunca mudará, o que faz com que este termo
fique constante e portanto a curva de oferta agregada se torna efetivamente vertical. A
principal conclusão do modelo clássico é uma corva de oferta agregada vertical.
O mecanismo de ajuste seria o mesmo no caso de um choque negativo de demanda.
Inicialmente os preços cairiam, seguidos de uma queda no salário nominal mantendo o
salário real, o emprego e o produto contante.
47
Todo este raciocı́nio tem sido utilizado por economistas de viés clássico (e atualmente,
por motivos adicionais, mas que não mudam este mecanismo básico, pelos chamados
novos clássicos) para justificar a ineficácia de polı́ticas macroeconômicas, especialmente
polı́ticas fiscais e monetárias, pelo lado da demanda. Somente polı́ticas econômicas pelo
lado da oferta, que levem à acumulação de capital ou aumento de produtividade por
exemplo, poderiam aumentar o nı́vel de emprego e produção. Outro corolário importante
da flexibilidade de preço e salários nominais é que a economia teria um mecanismo
automático de correção de choques adversos, sejam eles positivo e negativo, de forma a
sempre manter o pleno emprego com alto grau de utilização da capacidade produtiva.
48
Figura 4.7: Equilı́brio com Rigidez de Salário Nominal - Caso Keynesiano
da mão de obra. Ainda no gráfico (c) este novo equilı́brio da firma significa reduzir
a produção do ponto A para o ponto B. O gráfico (d), o qual mostra o equilı́brio no
mercado de trabalho, permite visualizar melhor a relação entre preço e salário e oferta
de demanda de mão de obra. Com um nı́vel de preços menor, agora em P1 e salário
nominal constante, o salário real torna-se maior, pois W0 /P0 < W0 /P1 . O salário real
maior tem dois efeitos sobre a economia. O primeiro deles é aumentar a oferta de mão de
obra pelos trabalhadores, aumentando assim o hiato do mercado de trabalho. Embora
o total de horas ofertadas ao salário real vigente (maior), as firmas estão demandando
menos, de forma que a quantidade efetiva de mão obra contratada é a curva Ls1 (ponti-
lhado vermelho) no gráfico (d). O mercado de trabalho se ajusta ao longo da curva de
demanda de mão de obra reduzindo as horas trabalhadas de L0 para L1 com um salário
real igual W0 /P1 tal como no ponto B no gráfico (d). O segundo ajuste na economia é
que há um efeito renda que atinge os trabalhadores que não perderam o emprego, pois
o salário real maior permite-lhes um nı́vel maior de consumo. Estre efeito já está com-
pensado pela inclinação positiva da curva de oferta agregada, no gráfico (a). para ver
este efeito, poderı́amos imaginar que a queda de demanda não tivesse reduzido o preço
o qual permaneceria em P0 após o choque. Neste caso a economia iria repassar todo o
choque de demanda e o nı́vel de produto de equilı́brio seria aquele correspondente ao
ponto B’ no gráfico (a), e não ao ponto B. Note que o ponto B’ situa-se mais à esquerda
de B. Este seria o caso de um curva de oferta agregada horizontal, com uma combinação
perniciosa de rigidez de salário nominal, combinada com rigidez de preço.
49
4.5 Modelo OA-DA Básico - O lado da demanda agregada
50
tratará do tema com mais profundidade e detalhamento.
MV = PY (4.25)
onde M é a quantidade de moeda em circulação, que modernamente pode assumir
qualquer um dos conceitos M1, M2, M3 ou M4, muito embora originalmente era uma
quantidade fı́sica entre papel moeda em poder do público (PMPP); V é a velocidade de
circulação da moeda; P é o nı́vel de preços, e Y é a quantidade de bens e serviços ou a
produção fı́sica da economia.
A teoria clássica assume que a moeda é usada na economia apenas para fins transa-
cionais, para facilitar as trocas, ou o que convencionou-se chamar de demanda de moeda
por motivos de transação. Na equação (4.25) V e Y são constantes no curto prazo.
No caso da velocidade de circulação da moeda, esta depende do estágio tecnológico da
economia e reflete de forma genérica o grau de organização social e dos mercados finan-
ceiros e o acesso do público ao PMPP e depósitos a vista em contas bancárias. Pelo lado
da produção o produto também é fixo no curto prazo devido a flexibilidade de salários
(W ) e preços P de forma que o equilı́brio no mercado de trabalho praticamente deixa a
curva de oferta Y OA numa posição vertical. Portanto, no modelo clássico, e de acordo
com a TQM, variações na oferta de moeda causam apenas variações nos preços, pois a
equação (4.25) teria a forma final a seguir:
1
M= P Ȳ (4.26)
V̄
Em termos implı́citos, a demanda de moeda no esquema clássico é uma função ape-
nas do nı́vel de produto, isto é, a demanda de moeda, dada uma velocidade de circulação
da moeda, deve manter uma relação constante com o nivel de produto e pode ser re-
presentada pela função M d = f (Y ). Se o produto aumentar, por alguma alteração
da oferta agregada, então a quantidade de moeda ofertada M s deve variar na mesma
proporção para equilibra-se com a nova demanda de moeda necessária para suportar as
novas transações. A única polı́tica monetária factı́vel, sem causar inflação ou deflação
seria calibrar a oferta de moeda, tal que:
1
M s (t) = M d (t) =P Y (t) (4.27)
V̄
Este fato conduz a conclusão que no modelo clássico a moeda é neutra, pois não é
capaz de alterar o nı́vel de emprego e produto, mas tão somente o nı́vel de preços.
Além disto a maior ou menor oferta de moeda não tem efeitos sobre a taxa de juros.
A taxa de juros é formada no mercado financeiro pelo mecanismo de mercado ou, em
51
Figura 4.8: Oferta e Demanda de Fundos e Taxa de Juros
r
S(r)
I(r)
I,S
52
Figura 4.9: Equilı́brio Geral no Modelo Clássico
P
YOA
YDA
P0
Y0
Y
r I(r)
S(r)
r0
Y0
Y
53
5. Polı́ticas Macroecônomicas nos modelos OA-DA
54
6. O Modelo IS-LM
O modelo IS-LM representa uma economia fechada no curto prazo, em que não há va-
riações de preços. Assumir rigidez de preços no modelo IS-LM não é um pressuposto
necessário, mas ao fazê-lo neste momento tornamos mais fácil o entendimento dos me-
canismo de causa e efeito entre as variáveis macroeconômicas numa economia fechada.
Em resumo o modelo IS-LM representa o equilı́brio de uma economia em dois mercados
distintos: no mercado de bens e serviços e no mercado monetário. Estes dois merca-
dos, como se verá em detalhes, estão conectados por uma variável macroeconômica que
é a taxa de juros. A taxa de juros afeta simultaneamente a demanda agregada pois
pode influenciar as decisões de consumo, poupança e investimento, e ao mesmo tempo
determina a oferta de moeda ou a liquidez da economia por parte dos agentes no mer-
cado financeiro. Assim, polı́ticas monetárias adotadas pelas autoridades monetárias, na
forma de variação da quantidade de moeda em circulação, ou mais abrangentemente,
pela variação dos meios de pagamentos, podem afetar a taxa de juros e indiretamente a
demanda agregada e o nı́vel de renda ou emprego da economia. Neste capı́tulo este me-
canismo é apresentado em detalhes. Na seção 6.1 apresentamos o equilı́brio do mercado
de bens, na forma de igualdade entre oferta e demanda ou investimento e poupança,
daı́ a expressão IS. Na seção 6.2 apresentamos o equilı́brio no mercado monetário, onde
analisamos as curvas de oferta e a demanda de moeda e como elas determinam a taxa
de juros da economia. Na seção 6.3 apresentamos o equilı́brio geral, que consiste na
determinação da taxa de juros e nı́vel de renda que equilibra simultâneamente os dois
mercados. Na seção 6.4 será visto dois casos especiais do modelo geral, uma situação
chamada de “armadilha da liquidez”, em que a polı́tica monetária é ineficaz, e um se-
gundo caso que é o caso clássico ou monetarismo extremo, que é o caso em que a polı́tica
fiscal é ineficiente. Por fim, a última seção, 6.5, aplica o modelo IS-LM para analisar o
efeitos da combinação de diversas polı́ticas macroeconômicas sobre o nı́vel de renda e
taxas de juros.
O modelo IS-LM mais simples é uma versão linear de uma abordagem estática (análise
dos diferentes pontos de equilı́brio) composta de uma equação de equilı́brio entre oferta
e demanda, assumindo que existe capacidade produtiva para atender qualquer nı́vel de
demanda da economia, tal que Y OA = Y DA = Y .
Algebricamente a curva IS de uma economia fechada, pode ser representada a partir
das equações abaixo:
Y =C +I +G (6.1)
55
C = C0 + c1 (Y − T ) (6.2)
I = I0 + b1 (Y ) − b2 r (6.3)
G = G0 (6.4)
onde a função consumo é uma função simples em que o consumo agregado depende
apenas da renda disponı́vel Y d = Y −T ), e a função investimento depende positivamente
da renda (Y ) e negativamente da taxa real de juros e por fim o governo realiza um gasto
fixo ao nı́vel G0 . Existem inúmeras variações deste caso básico, algumas das quais serão
analisadas em exercı́cios complementares.
Substituindo cada equação na equação (6.1) e resolvendo para a variável renda (Y )
obtemos uma expressão que nos permite calcular o nı́vel de renda pelo lado da demanda
agregada da economia.
1 b2
Y DA = Y = (C0 − c1 T + I0 + G0 ) − r (6.5)
(1 − c1 − b1 ) (1 − c1 − b1 )
Definindo A = C0 −c1 T +I0 +G0 como sendo os componentes autônomos ou exógenos
da demanda agregada, podemos exprimir a equação da renda de forma mais compacta
como:
1 b2
Y DA = Y = A− r (6.6)
(1 − c1 − b1 ) (1 − c1 − b1 )
A equação 6.6 é a curva IS do modelo IS-LM. Embora o modelo não esteja completo,
com base nesta equação ja é possı́vel analisar alguns efeitos de variações nos gastos do
governo, tributos e taxas de juros, sobre o nı́vel da demanda agregada.
O gráfico 6.1 representa o efeito de uma queda na taxa de juros sobre a demanda
agregada.
De acordo com a equação 6.6 há uma relação negativa entre taxa de juros e nı́vel de
renda, ou seja, uma elevação na taxa de juros provoca uma redução no nı́vel de renda da
economia e vice-versa. Com uma taxa de juros menor, haverá um aumento no nı́vel de
renda, deslocando a curva DA para cima até ser atingido o novo equilı́brio entre renda e
produto. A nova curva de demanda agregada passa a ser DA’ e o novo equilı́brio entre
renda e produto passa a ser representado pelo ponto B. Observe que neste novo ponto
de equilı́bro o nı́vel de renda da economia será maior, Y1 > Y0 . O efeito da redução na
taxa de juros sobre o nı́vel de renda pode ser visualizado no gráfico representativo da
curva IS. Observe que houve um deslocamento ao longo da curva IS, na qual ocorreu
um incremento no nı́vel de renda, passando de Y0 para Y1 e uma redução na taxa de
juros de R0 para R1 . A redução na taxa de juros provoca um deslocamento ao longo
da curva IS, deslocando a economia para o ponto B, ou seja, para um nı́vel maior de
renda. O deslocamento ao longo da curva IS ocorre em virtude de a taxa de juros ser
um componente endógeno ao modelo.
O gráfico 6.2 ilustra o que acontece quando ocorre elevações nos gastos do governo.
Haverá, neste caso, um aumento no nı́vel de renda deslocando a curva DA para cima
até ser atingido o novo equilı́brio entre renda e produto. Como no caso anterior, a nova
56
Figura 6.1: Efeito de uma redução na taxa de juros sobre o nı́vel de renda da economia
Figura 6.2: Efeito de um aumento nos gastos do governo sobre o nı́vel de renda da economia
curva de demanda agregada passa a ser DA’ e o novo equilı́brio entre renda e produto
passa a ser representado pelo ponto B. Neste novo ponto de equilı́brio o nı́vel de renda
será maior, Y1 > Y0 . Atente para o fato de que, até aqui, a elevação nos gastos do
governo possui o mesmo mecanismo que a redução na taxa de juros. A diferença entre
o impacto dessas variáveis sobre o nı́vel de renda pode ser melhor visualizada quando
observamos a curva IS. No caso anterior, uma redução na taxa de juros provocou um
deslocamento ao longo da curva IS na qual foi obtido um nı́vel de renda maior. Neste
caso, uma elevação nos gastos do governo provocará um deslocamento da curva IS para
a direita, com um nı́vel de renda maior (Y1 > Y0 ) e uma taxa de juros maior (R1 > R0 ).
57
6.2 Equilı́brio no Mercado Monetário - Curva LM e Bancos Centrais
Difenrente da teoria clássica, onde a demanda por moeda se dava apenas por fins de
transação, na teoria keynesiana a demanda por moeda ocorre por dois motivos: o motivo
da transações e adicionalmente um motivo de especulação, que o o Keynes chamou de
preferência pela liquidez.
A demanda por moeda pode se dar pela necessidade da realização de trocas entre
os indivı́duos, deste modo quanto maior o volume de trocas que os indivı́duos realizam
maior será a demanda por moeda. Neste aspecxto a teoria keynesiana não se diferencia
da abordagem da equação de Cambridge, dos clássicos. Essas trocas consistem basi-
camente no pagamento aos bens e serviços adquiridos pelos agentes. Outra forma de
se demandar moeda está relacionada ao que se denomina de motivo portfólio, ou mo-
tivo de especulação ou preferência pela liquidez: a moeda, neste caso, é considerada
igual a um ativo financeiro qualquer, tais como tı́tulos tanto públicos quanto privados
e aplicações financeiras em geral, tal qual a aquisição de ações de uma determinada
empresa. Nesta caso, a demanda por moeda depende da taxa de juros vigente na econo-
mia. Isto ocorre não porque a moeda requerida pelo motivo portfólio renda juros e sim
pelo custo de oportunidade de reter moeda. Se a taxa de juros for baixa o suficiente,
o custo de oportunidade de reter moeda será baixo e os agentes preferirão reter moeda
ao invés de assumir um certo risco ao aplicar em tı́tulos. Devido sua liquidez imediata,
a moeda não oferece riscos, comparados aos demais ativos financeiros. Caso a taxa de
juros seja elevada, os agentes se desfazem da moeda, ou deixam de demandar moeda e
preferirão aplicar seus recursos em tı́tulos. Agora há um elevado custo de oportunidade
em demandar moeda.
É importante ressaltar que a demanda por moeda depende do nı́vel de preços da
economia. Quanto mais elevados forem os preços, mais moeda será exigida em uma
transação e, deste modo, o público desejará reter mais moeda.
Assim é possı́vel estabelecer uma função de demanda de moeda com uma função do
nı́vel de renda e da taxa de juros da economia. Uma elevação no nı́vel de renda causa
um aumento na demanda por moeda. Uma vez que com um nı́vel de renda mais elevado
os agentes procurarão realizar mais transações. Uma redução na taxa de juros provocá
um incremento na demanda por moeda, uma vez que reduz o custo de oportunidade de
se reter moeda. Deste modo, a demanda por moeda é uma função positiva da renda e
negativa da taxa de juros. Isso explica a inclinação negativa da curva da demanda por
moeda em relação a taxa de juros (a curva LM). Esta relação pode ser visualizada no
gráfico abaixo:
A função de demanda de moeda, considerando preços constantes, é dada então pela
seguinte equação:
58
Figura 6.3: Demanda por moeda e taxa de juros
M d = L(Y, r) (6.7)
onde:
d(M d )
>0 ou Ly > 0
dY
d(M d )
<0 ou Lr < 0
dr
59
O Banco Central pode expandir ou contrair a quantidade de moeda em circulação
em uma economia através das operações de mercado aberto, nas quais o BC atuará na
compra e venda de tı́tulos governamentais. Quando o Banco Central do Brasil (BACEN)
deseja aumentar a quantidade de moeda em circulação ele atua comprando tı́tulos por
parte do público, desta forma a uma enxurrada de dinheiro novo na economia. Caso o
BACEN deseje diminuir a quantidade de moeda em circulação, atua vendendo tı́tulos
do governo e retendo desta forma parte da moeda em circulação na economia.
Abaixo, há um esquema algébrico utilizado para ajudar na compreensão da demanda
e oferta de moeda:
Em que:
• M d - Demanda de Moeda
• M1 , M2 , M3 , M4 = Meios de Pagamentos
• M1 = PMPP + DV
M d = P M P P + DV (6.8)
A demanda por moeda é representada pela soma de papel moeda em poder do público
com os depósitos à vista dos bancos comerciais. O papel moeda em poder do público
nada mais é do que a soma de dinheiro que o público deseja reter em mãos. No caso do
Brasil o PMPP é a soma das notas com as moedas de reais que os agentes mantêm em
mãos. Os depósitos à vista dos bancos comerciais, nada mais são, do que a demanda por
reservas por parte dos bancos. A soma de PMPP com os DV representam o indicador
M1 .
Neste caso o Depósito à Vista (DV) é o conceito de Meios de Pagamentos na forma M1 .
M d = cM d (6.9)
onde 0 < c < 1
60
Sendo c a propensão da demanda por moeda do banco central em função do papel
moeda em poder do público, (1-c) será a propensão da demanda por depósitos à vista.
Deste modo tem-se:
M d = DV = (1 − c)M d (6.10)
A partir das propensões de demanda por papel moeda e de depósitos à vista, basta
substituir 1.3 em 1.4 para obter:
M d = cM d + DV (6.11)
DV = (1 − c)M d (6.12)
Demanda por Reservas por parte dos Bancos
R = (1 − c)θDV (6.13)
Os Bancos mantêm um percentual θ dos depósitos à vista na forma de reserva obri-
gatórias ou compulsórias, este percentual (R) é mantido para atender aos saques e aos
depósitos à vista necessitados pelos seus clientes.
R = (1 − c)θM d (6.14)
4) Demanda de Moeda ofertada pelo Banco Central (H d )
Hd = P M P P + R (6.15)
Conforme explicitado acima a moeda ofertada pelo Banco Central ficará na forma
de PMPP e em reservas bancárias.
Substituindo ?? e 6.14 em 6.15 tem-se:
H d = [c + (1 − c)θ]M d (6.16)
Esta equação determina qual deve ser a oferta de moeda (base monetária) para
atender a demanda. Se usarmos a equação de demanda por moeda, de um modelo
IS-LM, M d = L(Y, i) ou M d = KY − hi então:
H d = [c + (1 − c)θ]M d (6.18)
Oferta e Demanda de Moeda, novamente:
Base Monetária, controlada pelo BC:
61
Figura 6.4: Equilı́brio entre oferta e demanda por moeda
H
= L(Y, r) > 0
[c + θ(1 − c)]
O lado esquerdo da equação representa a oferta de moeda ao passo que o lado direito
representa a demanda por moeda.
1
→ (Multiplicador da Base Monetária)
c + θ(1 − c)
• Meios de Pagamento = P M P P + DV
A Curva LM
Md
M d = L(Y, r) nominal ou = L(Y, r) em termos reais (6.19)
P
onde:
L=Oferta de Moeda
Y =Renda Nominal
r=Taxa de Juros
M =Demanda de Moeda
Neste caso a demanda por moeda é uma função positiva da renda e negativa da
taxa de juros. Incrementos na renda resultam em aumento na demanda por moeda em
proporção idêntica a constante k, a análise oposta pode ser feita para reduções no nı́vel
de renda. Com relação a taxa de juros se verifica o efeito oposto, ou seja, incrementos
na taxa de juros acarretam em redução na demanda por moeda igual a h e vice e
62
versa. A explicação para a relação negativa entre demanda por moeda e taxa de juros
está no mercado financeiro, uma vez que para taxas de juros mais elevadas os agentes
procurarão aplicar seu dinheiro, ao passo que para taxas de juros menos elevadas os
agentes procurarão reter moeda.
Md
= kY − hr
P
Resolvendo para r obtem-se a expressão para a curva LM, dada pela equação 6.20 a
seguir. Esta equação está representada no gráfico 6.3.
1 Md
i= (kY − ) (6.20)
h P
63
6.3 Equilı́brio Geral do Modelo IS-LM
1 b2
Y = A− r (6.21)
(1 − c1 − b1 ) (1 − c1 − b1 )
Em que A são os componentes dos gastos autonômos.
Md
= kY − hr (6.22)
P
Agregando os dois modelos encontra-se o nı́vel de produto de equilı́brio.
h b M
Y = + × (6.23)
[(1 − c1 )h + bk] [(1 − c1 )h + bk] P
Se substituirmos a equação 6.23 no lugar de Y da equação 6.22 e isolarmos r obte-
remos a taxa de juros de equilı́brio da economia.
k bk 1
Y = A0 + [ − 1] f racM P (6.24)
[(1 − c1 )h + bk] [(1 − c1 )h + bk] h
A equação 6.23 representa o produto de equilı́brio de uma economia, condiderando
tanto o mercado de bens e serviços quanto o mercado financeiro. Ao passo que a equação
6.24 demonstra a taxa de juros de equilı́brio da economia.
A figura abaixo ilustra as curva IS e LM em um mesmo gráfico. Qualquer ponto ao
longo da curva IS representa o equilı́brio no mercado de bens e serviços, ao passo que
qualquer ponto ao longo da curva LM demonstra o equilı́brio no mercado monetário.
A intersecção entre as duas curvas, representada pelo ponto A, nos dá o equilı́brio geral
de uma economia, ou seja, o ponto em que há equilı́brio tanto no mercado de bens
e serviços quanto no mercado monetário. Por demonstrar o equilı́brio entre os dois
tipos de mercado estudados na macroeconomia, a agregação das relações IS e LM nos
permite obter informações importantes sobre nı́vel de consumo, investimento, demanda
por moeda, gastos do governo de uma economia. Daı́ resulta a importância deste modelo.
64
Figura 6.6: Equilibrio Geral - IS=LM
formam expectativas sobre os preços dos ativos considerando que o preço esperado é tão
alto que não vale a pena comprar o ativo agora. Os Agentes sabem que o preço somente
cairá quando a taxa de juros subir. Como ela está num nı́vel muito baixo, é preferı́vel
ficar com moeda em mãos, esperando os juros subir ou, em outras palavras, o preço dos
ativos baixar (de acordo com a teoria keynesiana há uma relação negativa entre preços
dos ativos e taxa de juros, ou seja, para taxas de juros reduzidas o preço dos ativos será
elevado). Esta situação foi verificada na crise de 1929 e na de 2008. Nestas ocasiões
o nı́vel de investimento torná-se insensı́vel com relação a taxa de juros. O único modo
de tirar a economia da recessão, neste caso, é através do uso da polı́tica fiscal, ou seja,
diminuição da tributação e aumento nos gastos do governo.
dl
=∞ (6.25)
di
O gráfico 6.7 representa a situação de armadilha de liquidez. Quando a taxa de juros
é i0 , os agentes detêm uma parte de seus recursos sob a forma de moeda e outra parte
sobre a forma de ativos. Quando a taxa de juros se reduz a patamares próximos a zero,
os agentes preferirão reter todo incremento na sua renda sob a forma de moeda. Isto
ocorre a partir da taxa de juros i1 = i2 .
esta parte era para sair em baixo da figura 6.7 A figura acima representa a curva LM
em casos de armadilha de liquidez. Lembre-se de que a curva LM é obtida através dos
diversos pontos que representam o equilı́brio entre oferta e demanda por moeda. Desta
forma, o gráfico 6.8 é obtido através do gráfico 6.7.
A teoria denominada Mmonetarismo tipo I surgiu dentro da Universidade de Chicago
e possui como um de seus representantes Milton Friedman, economista ganhador do
prêmio nobel de 1976. A principal proposição deste tipo de monetarismo é a adoção de
uma regra monetária. De acordo com esta teoria a inflação é um fenômeno monetário.
De acordo com este modelo o moeda é neutra no longo prazo, ou seja, variações no
estoque monetário não afetam as variáveis reais da economia.
65
Figura 6.7: Demanda e oferta por moeda na armadilha de liquidez
66
Parte III
DEMANDA AGREGADA EM
ECONOMIA ABERTA
67
7. Balanço de Pagamentos, Câmbio e Juros
Em economia fechada os agentes tomam decisão entre consumir (C) e poupar (S).
No caso de economia aberta a decisão de consumo e poupança é desmembrada entre
consumo interno (C int ) e consumo externo (C ext ) e poupança interna (S int ) e poupança
externa (S ext ), e consequentemente o investimento é separado em investimento de ori-
gem doméstica e investimento estrangeiro direto (IED) realizado no paı́s. A abertura
da economia portanto envolve fluxo de divisas (moedas estrangeiras), que podem en-
trar a sair da economia por dois motivos básicos: motivos transacionais, em função da
importação e exportação de bens e serviços, e por motivos financeiros, acarretando flu-
xos financeiros motivados por diferenciais de juros entre a economia nacional e o resto
do mundo. O primeiro caso impactas o saldo de transações estrangeiras na conta de
transações correntes do balanço de pagamentos e o segundo caso na conta financeira.
A variável macroeconômica que regula as transações e movimentos de capitais é a taxa
de câmbio, cujas variações são importantes para determinar o nı́vel interno dos preços,
a demanda agregada e a oferta. A taxa de juros também afeta o fluxo financeiro de
forma que câmbio e juros são duas variáveis macroeconômicas importantes para anali-
sar a dinâmica macroeconômica de uma economia aberta. Por exemplo, um aumento da
taxa interna de juros, atrai capital financeiro especulativo que ao entrar no paı́s provoca
valorização cambial a qual por sua vez, afetará os fluxos de exportações e importações,
turismo, etc, alterando não apenas o saldo do balanço de pagamentos, mas a própria de-
manda interna. Estas relações de causa a efeito serão estudadas em detalhes através de
modelos algébricos que capturam a intensidade e direção (positiva ou negativa, aumento
ou redução) destes efeitos no sistema econômico.
O valor dos fluxos de todas as transações de uma economia com o exterior é registrado
contabilmente no Balanço de Pagamentos (BP). O BP é dividido em duas grandes par-
tes, a conta de transações correntes, onde se registram os fluxos de negócios “reais” e as
conta de capital e a conta financeira, onde se registram os fluxos de capitais pelo mer-
cado financeiro. A expressão “negócios reais” significa apenas que são fluxos oriundos de
transações econômicas de exportações, importações, remessas de lucros, transferências
de numerário e pagamentos de serviços. Esses fluxos se originam de alguma operação
de compra e venda de bens (tradables), serviços (no-tradables) ou remessas de lucros e
renda cuja origem também é resultado de uma atividade econômica no mercado de bens
e serviços. Imagine um trabalhador no estrangeiro, recebendo salário no estrangeiro, en-
viando parte de sua renda-salário para sua famı́lia no paı́s de origem. Isto é interpretado
68
como uma transferência de renda. Igualmente, imagine uma empresa nacional com um
filial no estrangeiro, enviando parte do seu lucro lá fora para o paı́s de origem. Todas
essas transações serão registradas e totalizadas na conta transações correntes. Por ou-
tro lado, investimentos especulativos no mercado financeiro, investimentos estrangeiros
no paı́s, empréstimos diversos e amortizações de dı́vidas, etc, são registrados na conta
financeira. Neste contexto, a palavra capital não significa capital fı́sico, tal como se-
ria interpretada numa função de produção, mas significa capital financeiro. É comum
também destacar apenas os fluxos de importações e exportações de bens, os chamados
tradables, como balança comercial.
• Na forma direta E = P
P∗ = R$
U S$
P∗
• Na forma indireta E = P = U S$
R$
69
P
θ= (7.2)
EP ∗
A taxa de câmbio real demonstra a razão entre o preço de um produto nacional
e o preço de um produto estrangeiros, ambos medidos em moeda nacional. A seguir,
segue-se um exemplo. Suponha:
RS2,00
• Uma taxa de câmbio nominal de U SS1,00
P BR 25.000 25.000
ε = ER = EU A
= = = 1, 25
EP 2 · 10.000 20.000
Comparado em R$:
P EU A E 2 · 10.000 20.000
ε = ER = BR
= = = 0, 80
P 25.000 25.000
Agora, suponha uma inflação no preço do automóvel de 10% nos dois paı́ses:
P BR /E 25.000 · 1, 10
ε= EU A
= = 1, 25
P 2(10.000 · 1, 10)
É interessante observar que a taxa de câmbio real não mudou, pois o preço do
automóvel variou na mesma proporção nos dois paı́ses, visto que a taxa de câmbio
nominal permaneceu constante.
Outro exemplo:
20.000
E= = 1, 667
12.000
Se houver 5% de inflação no Brasil e 10% de inflação na França
70
Também podemos escrever da seguinte maneira:
1, 05
E = 1, 67 · = 1, 59
1, 10
Isso significa que, quando ocorre uma inflação da moeda estrangeira maior do que a
nacional, a moeda nacional se valoriza (baseando-se no câmbio direto).
Seja θ = EP P ∗
∗ a taxa real de câmbio e i a taxa nominal interna de juros e i a taxa de
Et+1
(1 + i) = (1 + i∗) (7.3)
Et
A equação acima é denominada de equação da paridade descoberta da taxa
de juros (PDTJ), e representa o valor das variáveis para que os rendimentos nos dois
paı́ses sejam iguais.
71
8. Regimes Cambiais e Mobilidade de Capital
Por regimes cambiais nos referimos a forma como um paı́s, através do seu banco central,
determina o comportamento da taxa de câmbio. E mobilidade de capital é o sistema de
regulação, em geral baseado em legislação, que classifica e seleciona que tipo de divisas
estrangeiras podem entrar no paı́s e quais as condições em que deve permanecer ou sair
do paı́s.
Por exemplo, em alguns paı́ses os governos não permitem a entrada de capital fi-
nanceiro especulativo ou quando permitem, determinam um perı́odo de “quarentena”
dentro do qual o capital não pode ser retirado. Restrições na mobilidade de capital em
geral é uma polı́tica macroeconômica que tem por objetivo reduzir a volatilidade da
taxa de câmbio. Os anos 1990 e 2000 foram décadas marcadas por desregulamentação
do sistema financeiro internacional e a maioria dos paı́ses permite hoje que o capital
financeiro possa circular livremente em suas economias internas, seja para compra de
tı́tulos e ações no mercado privado, como compra de tı́tulos públicos.
Quanto maior a mobilidade de capitais, maiores tendem a ser os ingressos ou saı́das
de capitais e maior a dificuldade dos banco centrais em manter a taxa de câmbio fixa.
Por tanto, existe uma combinação adequada do grau de mobilidade de capitais com
o tipo de regime cambial adotado. Em geral regimes de cambio fixo, em que o banco
central realiza compra e vendo de moeda estrangeira com a finalidade de evitar variações
na taxa de cambio, requer a redução no grau de mobilidade de capitais, pelo simples
motivos de que o montante de fluxos de capital financeiro que entra e sai no curto prazo,
pode ser tão grande que não há reservas internacionais suficientes para o banco central
bancar o fluxo de compra ou venda. Vários são os casos na economia internacional, de
crises cambiais em que os banco centrais foram incapazes de evitar uma desvalorização
cambial especulativa por parte dos grandes fundos de investimentos financeiros, mesmo
nos paı́ses industrializados.
São três os regimes cambiais básicos:
• Cambio Fixo
• Cambio Flutuante
• Bandas Cambiais
• Sem Mobilidade
• Mobilidade Perfeita
• Mobilidade Imperfeita
72
No regime de câmbio o paı́s em questão por um motivo de polı́tica macroeconômica
adota uma polı́tica cambial de manutenção de uma taxa de cambio, seja ela valorizada
ou desvalorizada. qualquer que seja o nı́vel da taxa de cambio o objetivo é manter o
cambio estável, sem flutuação. Por exemplo, a China tem mantido sua taxa de cambio
desvalorizada por décadas, como uma maneira de estimular suas exportações tornando
seus produtos no resto do mundo, mais baratos. No Brasil, durante o Plano Real entre
jun/1994 a dez/1999 a taxa de cambio foi mantida fixa, e valorizada na proporção de
R$ 1,00 por US$ 1,00, como uma forma de manter os produtos estrangeiro mais barato
e com isso conter a inflação. Este regime cambial também ficou conhecimento como
“ancora cambial”, por ter ancorado a inflação interna à uma polı́tica cambial.
Para manter o cambio fixo, um banco central deve ser capaz de realizar operações
de compra e venda de moeda estrangeira no montante desejado pelos agentes, princi-
palmente fundos de investimentos financeiros. Suponha que existe um volume alto de
investidores querendo retirar seus investimentos de um determinado paı́s. Estes agentes
criam uma demanda por moeda estrangeira, predominantemente o dolar atualmente,
e portanto desejam comprar moeda estrangeira. Este desejo de compra faz com que
os vendedores cambio cobrem uma taxa maior, a qual será tanto maior quanto mais
escassa é a moeda estrangeira. Se o mercado não cobrir as ofertas de compra o banco
central deverá intervir no mercado ofertando moeda estrangeira de suas reservas, com
o objetivo de manter o cambio estável. A venda de divisas pelo banco central, se este
tiver estoque suficiente, neutralizará as pressões por desvalorização e manterá o cambio
estável.
Em geral, quando os deficit no balanço de pagamentos, são crônicos e não há fluxos
de entrara de capital financeiro para equilibrar o mercado de moedas, é muito difı́cil
para qualquer banco central manter o cambio fixo, em função da grande hipertrofia
dos mercados financeiros, que movimentam volumes altı́ssimos de recursos, para muito
além da capacidade de intervenção dos bancos centrais. É por isso que alguns paı́ses,
como o Brasil, procuram manter um certo estoque de reservas cambiais, como forma de
desestimular corridas cambiais ou ataques especulativos.
Do ponto de vista macroeconômico as intervenções do banco central no mercado
cambial envolve a troca de moedas, e no fim, estas trocas acabam condicionando a
polı́tica monetária. Quando o banco central vende moeda estrangeira para alimentar
o fluxo de saı́da, ele está no fundo, adotando uma polı́tica monetária contracionista,
reduzindo quantidade de moeda em circulação, com todos os efeitos negativos em termos
de crescimento econômico que uma polı́tica monetária causa. O inverso ocorre quando
há saldos positivos de transações correntes e fluxos de capitais financeiros. Neste caso
o banco central precisa comprar estas dividas e ao fazer isso, amplia a oferta de moeda
nacional, o que acaba se transformando numa polı́tica monetária expansionista, que
pode ser boa em termos de crescimento, mas poderá ser nociva ao estimular a inflação,
especialmente numa situação de pleno emprego.
73
de cambio para fins diversos. Com isso readquirem a capacidade de executar uma polı́tica
monetária independente, para outros fins. No regime de cambio flutuante o banco central
não intervém no mercado de divisas, e permite que a taxa flutue livremente ao sabor do
mercado, se na direção de desvalorizações ou valorizações.
Ocorre que o regime de cambio flutuante leva à muita instabilidade macroeconômica.
Suponha que uma economia esteja passando por um perı́odo de aceleração da inflação
e, por outros motivos, haja tendência de desvalorização cambial. Isto irá colocar mais
pressão sobre a inflação. Embora o padrão geralmente adotado e anunciado por diversos
paı́ses seja o cambio flutuante, na prática todos os banco centrais realizam algum grau de
intervenção, através de compra e venda, no mercado cambial com o objetivo de reduzir a
instabilidade cambial, o que ficou conhecido na literatura como fear of floting, ou medo
de flutuar.
74
9. Modelo IS-LM-BP
Y = C + I + G + (X − M ) (9.1)
onde X e M representam o fluxo de exportações e importações respectivamente, de
bens e serviços, sem incluir movimentações financeiras. As exportações e importações
são componentes da demanda agregada, onde X é uma demanda externa por bens
e serviços produzidos internamente, enquanto as importações significa uma parte da
demanda interna que é satisfeita com produtos e serviços produzidos no exterior.
Para efeito de entendimento do que está em jogo, podemos separar os componentes
internos e externos da demanda agregada, fazendo:
Y = C + I + G + (X − M )
Y = C − T + T − G + I + (X − M )
(Y − C − T ) + (T − G) + (X − M ) = I
onde separamos a poupança privada da poupança pública e por fim, da poupança ex-
terna:
Sp = Y − C − T
Sg = T − G
Sx = X − M
e portanto no caso de uma economia fechada temos que, contabilmente, o investi-
mento é igual à poupança privada das famı́lia e a poupança pública, do governo:
I = Sp + Sg (9.2)
No caso de uma economia aberta, teremos mais um componente de poupança que é
a poupança externa, formada pelo saldo da balança comercial
I = Sp + Sg + Sx (9.3)
onde
BP = BC = X − M = Sx (9.4)
A equação (9.3) mostra que, contabilmente, o investimento total da economia cor-
responde à somas das poupanças. A equação (9.4) mostra que o saldo em transações
correntes (X − M ) é igual a poupança externa, o que faz com que em alguns contextos
75
macroeconômicos, alguns autores se refiram ao saldo do balanço de pagamentos (aqui
balança comercial) como poupança externa. São duas maneiras de ver a mesma coisa.
Para aumentar o investimento na economia deve-se incorrer em aumento do superavit
em transações correntes ou no balanço de pagamentos. No caso em que o crescimento
econômico aumentar as importações e causar um deficit na balança comercial, será ne-
cessário que o paı́s obtenha recursos financeiros via conta de capitais, o que leva muitos
economistas a afirmar que paı́ses sem poupança interna só podem crescer se aumentar
o investimento com aumento de dı́vida externa ou deficit nas transações correntes. Mas
isto não é um mecanismo estável e duradouro, pois em algum momento o excesso de
divida externa ou dependência externa irá desestabilizar a taxa de cambio com efeitos
diversos e deletérios para a dinâmica macroeconômica.
Há um ponto importante, para a teoria macroeconômica, que não vamos aprofundar
aqui devido ao espaço e ao objetivo de apresentar a mecânica do modelo IS-LM-BP,
que é a coordenação de decisões dos agentes. Na prática as decisões de investimento
são tomadas por um tipo de agente (firmas) e as decisões de poupança por outros
(famı́lias, governo, setor externo), além do problema de decisões ex-ante e fatos ex-post.
Quando assumimos, como o faremos, que I = S, além de ser uma identidade contábil,
estamos assumindo que é uma imposição ex-post que não necessariamente significa uma
coordenação perfeita ex-ante das decisões dos agentes. Há um vasto debate na literatura
sobre isso, que não iremos tratar neste capı́tulo, cujo objetivo é somente apresentar o
modelo macroeconômico de economia aberta, num mundo perfeito de coordenação entre
decisões de investimento e decisões de poupança.
A relação entre nı́vel de renda e equilı́brio no balanço de pagamentos pode ser melhor
visualizada na figura (9.1), para o caso em que a taxa de juros interna não afeta os fluxos
de capitais. Dado um nı́vel de exportação X, que depende da taxa de cambio e da renda
externa, e dado uma elasticidade renda das importações, um aumento na renda interna
irá aumentar as importações e gerar um deficit no balanço de pagamentos (painel a),
quando M > X. Desta forma, pontos situados à direita da curva BP significam deficit e
pontos à esquerda superavit (painel b). Além disso como não há mobilidade de capital
(φ = 0) variações na taxa de juros não causam variações de capital, significando que
qualquer nı́vel de taxa de juros não irá provocar fluxos de capitais, fazendo com que a
curva BP seja vertical.
76
Figura 9.1: Nı́vel de Renda e Equilı́brio no BP
X,M (a)
M(Y)
( - ) Deficit
X
( + ) Superávit
i (b)
CurvaBP = BC
( + ) Superávit ( - ) Deficit
77
Figura 9.2: Curva BP
No primeiro caso, uma variação da renda externa levará a um aumento nas ex-
portações e deslocará a curva BP paralelamente para a direita. Já no segundo caso, um
aumento na taxa de câmbio (desvalorização da moeda nacional) levará a um incentivo
às exportações e uma queda nas importações, também deslocando a curva BP para a
direita. Finalmente, caso haja uma queda nas taxas de juros internacionais, isto pro-
vocará um aumento ao longo da curva BP, o que significa que quando a taxa de juros
interna subir, é possı́vel que a economia aumente a renda e as importações para um nı́vel
mais alto. O equilı́brio no setor externo é alcançado com fluxos de capitais atraı́dos pela
taxa de juros mais alta.
A curva IS é determinada incluindo o setor externo, que passa a fazer parte da demanda
agregada.
Y =C +I +G+X −M (9.7)
C = C0 + c1 (Y − T ) (9.8)
78
I = I0 + b1 Y − b2 i (9.9)
G = G0 , T = T0 (9.10)
BC = X − M = (x1 E + x2 Y ∗ ) − (m1 E + m2 Y )
(9.11)
onde x1 , x2 , m2 > 0 e m1 < 0
1 x1 − m 1
Y = (C0 − c1 T + I0 + G0 ) + E
1 − c1 − b1 + m2 1 − c1 − b1 + m2
x2
+ Y∗ (9.12)
1 − c1 − b1 + m2
b2
− (i − i∗ )
1 − c1 − b1 + m2
onde o segundo termo representa o efeito da taxa de câmbio E, a terceiro termos o efeito
do crescimento da economia mundial Y ∗ e o último termo a influência da taxa de juro
sobre a curva IS ocasionada pelo setor externo. Note o aparecimento do parâmetro m2
no multiplicador simples da curva IS. A abertura da economia torna o multiplicador
menor. O novo multiplicador simples da curva IS, comparado com economia fechada
passa a ser:
1
ms = (9.13)
1 − c1 − b1 +m2
o qual tem um termo a mais dado por +m2 que aparece no denominador. Este termo
reflete o efeito da elasticidade das importações e seu impacto é reduzir o multiplicador
simples. Portanto o multiplicador simples da economia aberta é menor que o multipli-
cador de uma economia fechada. A inclinação da curva IS no plano Y, i será menor e
consequentemente a curva IS em economia aberta será mais vertical, como demonstrado
na figura (9.3):
A curva LM é a mesma usada anteriormente:
M/P = kY − hi (9.14)
79
Figura 9.3: Curva IS Economia Aberta
IS
Economia Fechada
IS
Economia Aberta
BP = x1 E + x2 Y ∗ − m1 E − m2 Y + φ(i − i∗ ) (9.15)
onde o parâmetro φ determina o grau de mobilidade de capitais, sendo possı́vel três
casos:
• Sem mobilidade: φ = 0
• Mobilidade imperfeita: 0 < φ < ∞
• Mobilidade perfeita: φ → ∞
(x1 − m1 ) x2 ∗ φ
Y BP = E+ Y + (i − i∗ ) (9.16)
m2 m2 m2
onde novamente se φ = 0 estamos diante de uma situação em que a taxa interna de
juros não afeta o equilı́brio do setor externo, que é o caso descrito por Mundell-Fleming
de modelo sem mobilidade de capitais. O último termo da equação (9.16) determina a
inclinação da curva BP e no caso em que φ = 0, caso sem mobilidade de capital, a curva
BP será vertical e no caso em que φ → ∞, a curva BP será horizontal.
A inclinação da curva BP é dada por:
dY φ φ
= ≥0 ou =∞ (9.17)
di BP m2 m2
onde o resultado por ser dY /di = 0, no caso sem mobilidade de capital com a curva
BP vertical, ou 0 < dY /di < ∞ no caso de mobilidade imperfeita com uma curva BP
80
positivamente inclinada, e no limite dY /di = ∞ com mobilidade perfeita de capital, com
um curva BP estritamente horizontal.
Para analisar os diversos efeitos de polı́ticas macroeconômicas monetárias, fiscais
e cambiais devemos levar em consideração a combinação de regimes cambiais (fixo e
flutuante) com regimes de mobilidade de capitais (sem mobilidade, mobilidade perfeita
e mobilidade imperfeita), o que gera seis possı́veis casos que poderiam ser assumidos
como casos canônicos, isto é, casos referências que servem como modelos para outras
situações. A seção seguinte contém estas análises.
– sem mobilidade
– mobilidade perfeita
– mobilidade imperfeita
• Regime Cambial
81
9.3.1 POLÍTICA MACROECONÔMICA SEM MOBILIDADE DE CAPITAIS E CAM-
BIO FIXO
LM1
IS1
IS0 IS0
Y Y
Suponha que o banco central aumente a oferta de moeda e reduza a taxa de juros,
deslocando a LM para direita. Se a taxa de juros cair, ao longo da curva IS o nı́vel de
renda irá aumentar e consequentemente aumentará as importações. Os importadores
demandam moeda estrangeira pressionando o cambio e forçando uma desvalorização
cambial. Mas como o cambio é fixo o banco central se obriga a vender mais moeda
estrangeira para conter a pressão altista no mercado de câmbio. Mas as operações cam-
biais no mercado de moedas acaba retirando a quantidade de moeda que inicialmente
foi injetada na economia, fazendo com que a curva LM retorne à sua posição original.
Ao final o cambio fixo anula a polı́tica monetária a qual torna-se ineficiente para afetar
o nı́vel de atividade econômica.
M
↑ P
↓ i1 ↑I ↑ Y1 ↑M ↓ BP
M
↓ BP ↑E ↓ P
↑ i0 ↓I ↓ Y0
Figura 9.5: IS-LM-BP: Sequência de causa-efeito da polı́tica monetária expansionista, em regime sem mobilidade
de capitais e cambio fixo.
Suponha que o governo resolva aumentar seus gastos de forma geral, deslocando a
curva IS para a direita. O mecanismo multiplicador dos gastos fará com que a renda
aumente e com isso aumenta também a demanda de moeda para fins de transação, o que
acaba por elevar a taxa de juros. Porém existe um segundo efeito, uma vez que o aumento
82
da renda provoca um aumento das importações e demanda de moeda estrangeira pelos
importadores, o que faz, como antes, com que o Banco Central venda divisas para
neutralizar a pressão por desvalorização cambial. A operação de venda de divisas contrai
a quantidade de moeda em circulação e provoca um deslocamento da curva LM para a
esquerda, como se fosse um polı́tica monetária contracionista involuntária. O resultado
final é uma taxa de juros muito alta e uma polı́tica fiscal, também ineficiente.
↑ Md ↑ i1
↑G ↑ Y1
↑M ↓ BP
M
↓ BP ↑E ↓ P
↑ i2 ↓I ↓ Y0
Figura 9.6: IS-LM-BP: Sequência de causa-efeito da polı́tica fiscal expansionista em regime sem mobilidade de
capitais e cambio fixo.
83
9.3.2 POLÍTICA MACROECONÔMICA SEM MOBILIDADE DE CAPITAIS E CAM-
BIO FLUTUANTE
LM1
IS1
IS2
IS1
IS0 IS0
Y Y
Quando o cambio flutua, mas ainda sob o regime sem mobilidade de capital, os
resultados são completamente diferentes, comparado ao regime de câmbio fixo. A di-
ferença básica do regime de cambio flutuante, é que o Banco Central não precisa mais
intervir no mercado de divisas para estabilizar, ou manter o cambio fixo. Suponha
uma polı́tica monetária expansionista que desloca a curva LM para a direita, de LM0
para LM1 . A taxa de juros baixa ao longo da curva IS0 , induzindo um aumento de
renda. Este aumento de renda, dada a elasticidade renda das importações, aumenta
as importações e a demanda por moeda estrangeira, e ao fim desvaloriza o câmbio, já
que este é flutuante. O câmbio desvalorizado, por sua vez, põe em movimento um se-
gundo efeito que é provocar um aumento das exportações e uma queda das importações,
provocando um deslocamento paralelo da curva IS0 para IS1 (observe o segundo termo
da equação 9.12). A curva BP0 inicialmente se desloca para um ponto de passagem
situado na interseção da LM1 com a IS0 , antes dos efeitos da desvalorização cambial, e
depois segue seu caminho até a BP2 , quando as desvalorização cambial produziu uma
nova rodada de ajustes macroeconômicos. O resultado final é uma taxa de juros cons-
tante e um nı́vel de renda muito maior. Neste caso a polı́tica monetária é super eficiente.
84
M
↑ P
↓ i1 ↑I ↑Y ↑M ↓ BP
↑X
Deslocamento
↓ BP ↑E da curva IS ↑ Y2 ↑ i0
IS0 → IS1
↓M
Figura 9.8: IS-LM-BP: Sequência de causa-efeito da polı́tica monetária expansionista em regime sem mobilidade
de capitais e cambio flutuante.
No caso de uma polı́tica fiscal expansionista ocorre, com a curva IS, os mesmos efeitos
acima. Inicialmente, um aumento de gastos do governo desloca a curva IS0 para IS1 ,
aumentando a taxa de juros. Como a polı́tica monetária está constante, a taxa de juros
fica mais alta. O deslocamento da curva IS1 aumenta a renda e as importações e faz com
que o cambio se desvalorize, desta vez sem intervenção cambial no mercado de cambio.
Então uma nova rodada de ajustes tem inı́cio cocm um aumento das exportações e
diminuição das importações, com a balança de pagamentos se deslocando de BP0 para
BP1 e depois BP2 . O equilı́brio no setor externo, com X = M é atingido quando o
aumento da taxa de juros reduz a renda e retira um pouco o efeito do aumento de
gastos, de forma que o resultado final é uma renda maior, porém mais baixa que o caso
da polı́tica monetária expansionista. O resultado final neste caso é uma renda maior,
com dois efeitos cumulativos, porém com uma taxa de juros também maior.
↑ Md ↑ i1
↑X
Deslocamento
↓ BP ↑E da curva IS ↑ Y2 ↑ i2
IS0 → IS1
↓M
Figura 9.9: IS-LM-BP: Sequência de causa-efeito da polı́tica fiscal expansionista em regime sem mobilidade de
capitais e cambio flutuante.
85
9.3.3 POLÍTICA MACROECONÔMICA COM MOBILIDADE PERFEITA E CÂMBIO
FIXO
LM0 LM0
LM1 LM1
BP BP
IS0 IS1
IS0
Y Y
86
M
↑ P
↓ i1 ↑I ↑ Y1 ↑M ↓ BP
M
↓ BP ↑E ↓ P
↑ i0 ↓I ↓ Y0
Figura 9.11: IS-LM-BP: Sequência de causa-efeito da polı́tica monetária, em regime de mobilidade perfeita e
cambio fixo.
↑ Md ↑ i1
M
↑ i1 ↓E ↑ P
↓ i0 ↑I ↑ Y0
Figura 9.12: IS-LM-BP: Sequência de causa-efeito da polı́tica fiscal expansionista em regime com mobilidade
perfeita de capitais e cambio fixo.
87
9.3.4 POLÍTICA MACROECONÔMICA COM MOBILIDADE PERFEITA E CÂMBIO
FLUTUANTE
LM0 LM0
LM1 LM1
BP BP
IS1 IS1
IS0 IS0
Y Y
Um aumento da moeda em circulação desloca a curva LM0 para direita até LM1 e
reduz a taxa de juros para i1 , aumenta o investimento e a renda. Um maior nı́vel de
renda, dada uma elasticidade renda de importação, aumenta o volume de importação e
gera um deficit na balança comercial. O balanço de pagamentos é duplamente afetado.
Uma parte do déficit decorre do aumento de importação, mas a queda da taxa de juros
faz com que i1 < i∗ , e devido ao fato de que φ = ∞, isto é, mobilidade perfeita, ocorre
uma saı́da massiva de capital especulativo pela conta financeira do BP. Esses fluxos,
além de grandes, também são rápidos, de modo que há uma tendência de desvalorização
cambial muito forte e de curto prazo. A taxa de cambio aumenta para E1 e o aumento de
X e queda em M que daı́ decorre desloca paralelamente a curva IS0 para IS1 aumentando
o nı́vel de renda para Y2 . (conforme equação 9.12). Esse aumento de renda, aumenta a
demanda por moeda para fins de transação e ao fim faz a taxa de juros aumentar de i1
para i0 , restabelecendo a PDTJ (i0 = i∗ ) e o equilı́brio no balanço de pagamentos. O
resultado final é uma taxa de juros constante e um grande impacto positivo na renda.
A polı́tica monetária é super eficiente.
88
Saı́da de capitais uma
vez que φ = ∞
M
↑ P
↓ i1 ↑I ↑ Y1 ↑M ↓ BP
↑X
Deslocamento
↓ BP ↑ E1 da curva IS ↑ Y2 ↑ i0
IS0 → IS1
↓M
Figura 9.14: IS-LM-BP: Sequência de causa-efeito da polı́tica monetária, em regime de mobilidade perfeita e
cambio flutuante.
↑ Md ↑ i1
↓X
Contrai a
↑ i1 ↓ E1 curva IS ↓ Y0 ↓ i0
IS1 → IS0
↑M
Figura 9.15: IS-LM-BP: Sequência de causa-efeito da polı́tica fiscal expansionista em regime com mobilidade
perfeita de capitais e cambio flutuante.
89
9.3.5 POLÍTICA MACROECONÔMICA COM MOBILIDADE IMPERFEITA E CÂMBIO
FIXO
O regime de mobilidade imperfeita de capital é alguma coisa entre os dois extremos de
regimes sem mobilidade e mobilidade perfeita. O que distingue este regime é a existência
de um fluxo de entrada e saı́da de capital pela conta financeira que é influenciado pelo
diferencial da taxa interna e externa de juros, porém com algum tipo de resistência ou
imperfeição, de forma que pequenas variações de juros podem não ter efeito. As razões
que tornam os movimentos de capitais “imperfeitos” são várias. Pode ser qualquer outro
motivo que não o diferencial de juros, como por exemplo, o fato de que alguns fundos
de investimentos só operarem com ativos ou paı́ses com grau de risco abaixo de certo
threshold, ou valor. Podem ocorrer legislações e regulamentações próprias para certos
tipos de ativos por parte do Banco Central, ou simplesmente uma situação geral de
percepção de risco ou ambiente institucional não completamente precificado por alguma
avaliação de risco paı́s. A condição geral, para equilı́brio da conta capital continua
sendo a PDTJ completa, dada por, i = i∗ + ρ, onde ρ é o premio de risco precificável.
Assim a mobilidade imperfeita de capital é uma situação algebricamente caracterizada
por 0 < φ < ∞, de forma que a curva BP é positivamente inclinada, conforme equação
(9.16). Esta inclinação pode ser maior ou menor que a inclinação da curva LM, o que
leva a resultados ligeiramente distintos quando se analisam as polı́ticas macroeconômicas
neste tipo de regime. Nos exemplos a seguir vamos supor uma curva BP mais inclinada
que a curva LM, o que aproxima o regime como maior rigidez de fluxos de capital, ou
em outros termos, menor valor de φ.
LM1
2
IS1
IS0 IS0
Y Y
Seja o caso de uma polı́tica fiscal expansionista com aumento de moeda em circulação.
Taxa interna de juros cai abaixo da taxa de juros internacional, i1 < i∗ , causando dois
efeitos. O primeiro efeito é um aumento interno dos investimentos e o consequente
aumento da renda para Y1 . Dada uma elasticidade renda das importações, haverá um
aumento do volume de importações e uma déficit na balança comercial (BP1 ). O segundo
90
é o efeito da menor taxa interna de juros sobre os fluxos de capitais via conta financeira
do balanço de pagamentos. Haverá uma fuga de capitais, com uma demanda grande de
moeda estrangeira por parte do capital especulativo (BP2 ). A balança comercial e a
conta financeira serão deficitárias e a taxa de cambio se desvalorizará, aumentado para
E1 . Por conta do duplo deficit, haverá uma desvalorização muito grande do cambio.
Como o cambio é fixo, o Banco Central deve intervir vendendo divisas o que faz com
que a oferta de moeda se contraia, deslocando a curva LM1 para LM0 , anulando a
intenção inicial de aumentar a moeda e baixar a taxa de juros. A renda retorna para o
equilı́brio inicial Y0 e a taxa interna de juros para i0 , de forma que a polı́tica monetária
é ineficiente.
↑I ↑ Y1 ↑M ↓ BP1
M
↓ BP ↑E ↓ P
↑ i0 ↓I ↓ Y0
Figura 9.17: IS-LM-BP: Sequência de causa-efeito da polı́tica monetária expansionista, em regime de mobilidade
imperfeita de capitais e cambio fixo.
No caso de uma polı́tica fiscal expansionista, com aumento de gastos, ocorre uma
sequencia de eventos já analisada. O aumento de gastos, portanto, eleva a renda para Y1
e a taxa de juro para i1 , conforme ponto 1 na figura (9.17). Há um deslocamento da IS0
para IS1 , com um aumento da renda e taxa interna de juros, tal que i1 > i∗ . Pelo lado
da balança comercial, dada a elasticidade renda das importações, haverá um aumento do
quantum de importações e um deficit na balança comercial. Como a taxa de juro interna
é maior que a taxa de juro externa, haverá um ingresso de capital financeiro. Neste ponto
da cadeia de efeitos, importa saber qual dos dois efeitos predomina, pois os mesmos
atuam em sentido contrário. O déficit na balança comercial provoca uma desvalorização
cambial, e o ingresso de capital financeiro, uma valorização cambial. Tendo em vista o
fenômeno da hipertrofia dos mercados financeiros, em geral, predomina o segundo da
taxa de juros, de forma que ao fim, podemos assumir que haverá um ingresso de capital
financeiro maior que o aumento de exportação. O balanço de pagamentos como um
todo será superavitário e o cambio tende a valorizar. O Banco Central, no intuito de
evitar valorização cambial, já que estamos diante de um regime de cambio fixo, realizará
compras de divisas e aumentará a quantidade de moeda em circulação, deslocando a
LM0 para LM1 , reduzindo a taxa de juros de i1 para i2 e aumentando a renda para Y2 ,
levando a economia do ponto 1 ao ponto 2.
91
↑ Md ↑ i1 ↑ BP1
Predomina o efeito
↑G ↑ Y1
BP1
↑M ↓ BP2
M
↑ BP1 ↑E ↑ P
↓ i2 ↑I ↑ Y2
Figura 9.18: IS-LM-BP: Sequência de causa-efeito da polı́tica fiscal expansionista em regime de mobilidade
imperfeita de capitais e cambio fixo.
92
9.3.6 POLÍTICA MACROECONÔMICA COM MOBILIDADE IMPERFEITA E CÂMBIO
FLUTUANTE
2
0
1
2
1 0
IS2
IS1 IS1
IS0 IS0
Y Y
No caso da polı́tica fiscal, um aumento dos gastos do governo gera dois efeitos sobre
o balanço de pagamentos. O primeiro efeito é aumentar a renda deslocando a curva IS
para a direita até o ponto 1. Neste ponto há um deficit no balanço de pagamento e uma
pressão para desvalorizar a taxa de cambio (aumentar E). Mas o aumento de renda,
aumenta a demanda por moeda para fins de transação e com isso aumenta a taxa de
juros de forma que i > I ∗ , o que por sua gera um fluxo de entrada de capitais e portanto
uma pressão por valorização cambial. Ha duas forças atuando simultaneamente e o
93
resultado final dependerá da inclinação da curva BP em relação à curva LM. Vamos
assumir o caso em que a curva BP é mais vertical que a curva LM. Nesta situação
predomina o efeito da balança comercial (efeito BP) o qual é maior que o efeito juros,
ou em outras palavras, o efeito desvalorização é maior que o efeito valorização cambial e
ao fim a taxa de cambio será mais alta. Isso desloca novamente a curva IS para o ponto
2, aumentando ainda mais o nı́vel de renda e simultaneamente induzindo mais demanda
por moeda para fins de transação e ao fim uma taxa de juros maior. O resultado final
é um aumento do nı́vel de renda e da taxa de juros.
M
↑ P
↓ i1 ↑I ↑ Y1 ↑M ↓ BP
↓ i1 ↑X
Deslocamento
↑E da curva IS ↑ Y2 ↑ i2
IS0 → IS1
↓ BP ↓M
Figura 9.20: IS-LM-BP: Sequência de causa-efeito da polı́tica monetária expansionista em regime de mobilidade
imperfeita de capitais e cambio flutuante.
↑ i1 ↑X
Deslocamento
↑E da curva IS ↑ Y2 ↑ i2
IS1 → IS2
↓ BP ↓M
Figura 9.21: IS-LM-BP: Sequência de causa-efeito da polı́tica fiscal expansionista em regime de mobilidade
imperfeita de capitais e cambio flutuante.
94
9.4 Polı́ticas Cambiais
Em uma economia aberta, os fluxos de comércio de bens e serviços, como visto anterior-
mente, nos vários regimes cambiais e de mobilidade cambial a variável macroeconômica
câmbio tem um papel determinante no saldo da balança de pagamentos (transações cor-
rentes), sobre a demanda agregada e consequentemente sobre o crescimento econômico,
mas não apenas isso. A taxa de cambio também tem efeitos sobre a taxa de inflação e
nı́vel de salário real. Nesta seção vamos dar um passo mais na análise macroecônomica
e analisar os efeitos de variações na taxa de câmbio no médio e longo prazo, relaxando
a hipótese adotada anteriormente de preços fixos.
......
......
......
A condição Marshall Lerner diz que uma desvalorização da moeda só terá um efeito
positivo sobre o saldo da balança comercial se a soma elasticidade preço das exportações e
importações for maior que 1, em valores absolutos. Uma desvalorização cambial significa
uma redução no preço das exportações (X) e com isso um aumento na quantidade
exportada. Ao mesmo tempo o preço dos produtos importados sobem e sua quantidade
diminui. O efeito lı́quido sobre a balança comercial dependerá das elasticidades de preço:
• Ef1 : Se os bens exportados forem elásticos, sua quantidade irá aumentar mais do
que proporcionalmente à queda de preços, e a receita total aumentará.
Sendo assim, os efeitos Ef1 e Ef2 garantem que a balança comercial fique positiva se
Ef1 +Ef2 > 1 então uma desvalorização cambial melhorará o saldo da balança comercial.
Derivação Matemática
dBC
O objetivo é encontrar uma expressão para dBC = F (dϵ) ou dE
BC = X − EM (9.18)
Diferenciando a Equação:
dBC dX E
= − · dM − M (9.20)
dE dE dE
Dividindo ambos por X:
dBC 1 1 dX E dM M
· = · − · −
dE X E X dE X X
95
Para se obter o equilı́brio na balança comercial, aplicamos a regra que X = EM,
então:
dBC 1 1 dX E dM M
· = · = · −
dE X dE X dE EM EM
dBC 1 1 dX 1 dM 1
· = · − · −
dE X dE X dE M E
Multiplicando por E:
dBC E E dX E dM
· = · − · −1
dE X dE X dE M
Onde:
• E
dE · dX
X é a elasticidade câmbio(preço) das exportações
• E
dE · dM
M é a elasticidade câmbio(preço) das importações
Para que a Condição Marshall-Lerner se verifique é necessário que o ajuste das ex-
portações e importações ocorram simultaneamente. Como visto anteriormente, dado
uma desvalorização da moeda nacional, é de se esperar que as exportações sejam esti-
muladas e as importações desestimuladas, melhorando a situação da Balança Comercial.
Entretanto, essa desvalorização pode demorar para exercer uma força na quantidade de
X e M . No curtı́ssimo prazo, essa desvalorização afetará antes os preços dos produ-
tos, tornando as exportações mais baratas e as importações mais caras, permanecendo
as quantidades constantes, afetando a balança comercial negativamente. Após algum
tempo apenas é que os agentes se ajustam à essa nova realidade e ajustam suas quantida-
des de produtos exportados e importados, melhorando a situação da balança comercial,
causando uma trajetória em forma de J. Essa trajetória pode ser vista no gráfico 9.22.
Figura 9.22: Curva J
96
Parte IV
MICROFUNDAMENTOS
97
10. Microfundamentos
No primeiro caso temos uma teoria que não faz qualquer referência ao comporta-
mento das partes, e simplesmente correlaciona e estabelece relações de causalidade entre
variáveis agregadas, no intuito de reproduzir dinâmicas agregadas como inflação, cres-
cimento, emprego, taxa de juro, câmbio, etc. Muitos, senão a maioria, dos estudos
aplicados em macroeconomia, como contabilidade do crescimento, modelos de previsões
macroeconômicas e outros, são efetuados a partir de séries temporais agregadas, como
por exemplo, os chamados modelos econométricos do tipo Stock-and-flow ou os modelos
baseados em vetores auto-regressivos (VAR ou VEC). Em termos teóricos, boa parte
da teoria macroeconômica desenvolvido após a publicação de Teoria Geral de Keynes,
foi desenvolvida utilizando-se apenas representações dos padrões agregados. Assim é a
teoria keynesiana desenvolvida até os anos 1990, bem como a teoria do crescimento, in-
clusive a teoria do crescimento endógeno, e também a teoria dos ciclos reais de negócios
(real business cicle). O grande problema dos modelos macros, é que não há explicação
das origens dos padrões dinâmicos observados nesta nı́vel, os modelos e teorias apenas se
detectam esses padrões e os reproduzem, sem explicam porque ou de onde eles surgem.
No intuito de resolver as limitações dos modelos eminentemente macro, os economis-
tas procuraram aperfeiçoar os modelos macroeconômicos agregados, adicionando com-
portamentos causais aos modelos macros, através do que ficou sendo conhecido como o
problema dos microfundamentos, da macro. Isto foi alcançado através do uso da figura
do agente representativo. A ideia do agente representativo é muitos simples, embora
sua implementação as vezes seja matematicamente mais difı́cil. Em geral assume-se que
um tipo de comportamento predomina entre os agentes e então assume-se, por pres-
suposto, que todos os agentes se comportam da mesma maneira, e seguem as mesmas
regras decisórias. Se é razoável supor que um consumidor maximiza sua utilidade, então
98
assume-se que todos façam isso. Se uma firma maximiza lucros, e contrata trabalha-
dores negociando um salário eficiente em um mercado competitivo, e se uma firma tem
uma certa função de produção, então todas tem a mesma produção. O problema da
agregação então é facilmente resolvido, pois o total macro é a soma simples das partes,
ou mais sinteticamente a multiplicação de uma valor unitário do agente pelo total da
população (n). Assim, por exemplo, a produção agregada por ser obtida da seguinte
forma:
n
X
Y = Pi Qi = nPi Qi = P Q (10.1)
i=1
Se todas as firmas são iguais, então um firma significa a mesma coisa que o todo,
ou o agregado e não há diferenças entre elas. A teoria macroeconômica baseada em
agentes representativos as vezes é um pouco mais elaborada, admitindo algum grau de
diferenciação de agentes, mas por questões operacionais, algébricas e computacionais,
não consegue lidar com muita diferenciação entre os agentes. Além disso, se os agentes
são representativos, e utilizando-se de um agente para construir os processos macros,
a teoria ignora uma faceta muito importante da realidade que é o fato dos agentes
interagirem entre si.
Após a década de 1980, e diante do avanço de métodos e ferramentas computacionais,
o problema da ausência de heterogeneidade e interação entre os agentes foi resolvido
pela teoria macroeconômica baseada em agentes, ou agent-based economics (ABE) e
seus respectivos modelos baseados em agentes ou agent-based models (ABM), que é
hoje uma importante fronteira de pesquisa na teoria econômica.
Este capı́tulo aborda o problema dos microfundamentos da teoria macroeconômica
a partir do uso do pressuposto de que os agentes, notadamente famı́lias (consumidores),
trabalhadores e firmas, possuem o mesmo comportamento, isto é, tomam as mesmas
decisões, no mesmo instante do tempo e possuem estrutura interna comum, no caso das
firmas. Esta simplificação permite o uso da expressão agente representativo. Se por um
lado, perde-se em realismo, uma vez que nem famı́lias, nem trabalhadores e firmas são
agentes tão iguais assim, podendo haver muita heterogeneidade entre eles, por outro
lado ganha-se em simplicidade analı́tica. Formalmente, muitas conclusões e descrições
da dinâmica econômica não seria possı́vel sem o recurso do agente representativo. Entre
os grandes benefı́cios do uso do pressuposto de agentes representativos é possibilidade
de agregação. Obter resultados macroeconômicos a partir da agregação de agentes
representativos é uma tarefa relativamente fácil, bastando para isso extrapolar o que
acontece com um agente para todo o sistema econômico que está sendo retratado. A
agregação é obtida pelo simples somatório, no caso discreto, ou pela simples integração,
no caso contı́nuo, da população de agentes. O consumo agregado será a soma ou a
integral do consumo de n famı́lias, com as mesmas funções utilidades. A produção
agregada será o somatório ou a integração da função de produção de n firmas com a
mesma tecnologia ou função de produção. No caso da produção, a consequência mais
difı́cil de assimilar, num primeiro momento, é o fato de sendo as funções de produções
das firmas, todas iguais, o que obtemos ao final, em termos agregados, é uma economia
que produz um único bem, que serve simultaneamente para consumo e investimento.
Todos os macroeconomistas sabem do irrealismo desta representação, mas o fato é que
a metáfora de uma economia de um bem único é muito útil para simplificar um parte da
99
realidade caracterizada por uma estrutura diversificada e um comportamento complexo.
Sem esta simplificação ficarı́amos num mundo pior, sem mesmo compreender sequer,
uma parte da dinâmica macroeconômica.
Outro aspecto importante da microfundamentação é seu aspecto dinâmico, mais do
que estático. O comportamento do agente é abordado dinamicamente e não de forma
estática. Isto significa dizer que as decisões estão sendo tomadas no tempo, isto é, as
variáveis econômicas e os modelos econômicos que emergem dos microfundamentos são
modelos dinâmicos, formados por equações em diferenças finitas, no caso discreto, e
equações diferenciais, no caso contı́nuo. Portanto é importante saber lidar matematica-
mente com estas equações.
No restante deste capı́tulo serão analisados aspectos do microfundamento de três ele-
mentos importantes da formação da demanda agregada de um modelo macroeconômico:
o consumo, investimento e gastos do governo.
10.1 Consumo
Y T ot = Y P + Y T (10.2)
e o consumo depende apenas da renda permanente:
C = cY P (10.3)
O problema prático que se segue é como estimar a renda permanente. Uma maneira
de fazer isso dinamicamente é supor que apenas um percentual θ variação da renda entre
um perı́odo t e t − 1 é considerada como parte da renda permanente do perı́odo t. Então
podemos escrever:
100
YtP = Yt−1 + θ(Yt − Yt−1 ) where 0<θ<1 (10.4)
o que produz a seguinte equação:
Ct = c0 + c1 Y P (10.6)
Ct = c0 + c1 (θYt + (1 − θ)Yt−1 ) (10.7)
101
Considere a seguinte função utilidade, com preferências temporais separáveis, isto é,
as preferências temporais são aditivas:
1
U [c1 , c2 ] = u(c1 ) + u(c2 ) (10.8)
(1 + ρ)
onde a função utilidade U (ct ) é convexa e duplamente diferenciável, com U ′ (c) > 0 sig-
nificando que mais consumo é melhor, e U ′′ (c) < 0 significando que a utilidade marginal
do consumo é decrescente. O aspecto aditivo da função acima significa que as utilidades
temporais dos bens são independentes. A utilidade em consumir o produto no tempo
t = 1 não é afetada pela utilidade no tempo t = 2 e vice versa. Isto fica claro ao se
tomar a derivada parcial de dU (c1 , c2 )/dc1 não contém o termo c2 .
Uma forma funcional especı́fica muito utilizada, por satisfazer as condições descritas
e porque é matematicamente fácil de manipular, é assumir que a utilidade tem forma
de logaritmo natural, com o que obtemos:
1
U [c1 , c2 ] = ln c1 + ln c2 (10.9)
(1 + ρ)
onde o segundo termo, dividido por (1 + r), significa o valor presente daquele termo. O
que a equação estabelece é que o valor presente do consumo nos dois perı́odos deve ser
igual ao valor presente da renda dos dois perı́odos, somadas, e que portanto, o consu-
midor gasta exatamente o que recebe, sem deixar herança ou dı́vida. Além disto, em
termos de preferência intertemporal, o consumidor poderá ter três atitudes em relação
às suas preferências:
Supondo que o consumidor tenha um estoque inicial de riqueza igual a zero e que
ele gaste toda sua renda ao final do segundo perı́odo, sem deixar herança para a geração
futura então, sua restrição orçamentária será:
c2 y2
c1 + = y1 + (10.10)
(1 + r) (1 + r)
Se o agente dispusesse de algum estoque inicial de riqueza A(0), então sua restrição
orçamentária poderia ser expressa como:
c2 y2
c1 + = A0 + y 1 + (10.11)
(1 + r) (1 + r)
A equação (10.10) estabelece que o valor presente do consumo nos dois perı́odos,
descontados à uma taxa real de juros r, deve ser igual ao valor presente do fluxo de
renda nos dois perı́odos. Reescrevendo a equação temos:
c2 − y2
c1 − y1 + =0 (10.12)
(1 + r)
O problema do consumidor pode então ser escrito como:
102
1
Max ln c1 + ln c2
(1 + ρ)
(10.13)
c2 − y2
suj. a c1 − y1 + =0
(1 + r)
Este problema significa que o consumidor deve escolher a quantidade ótima de con-
sumo em cada perı́odo de tempo c1 e c2 levando em conta a taxa de juros r e sua
preferência temporal ρ. O problema da equação 10.13 pode ser resolvido a partir da
equação lagrangeana dada por:
1 c2 − y2
L = ln c1 + ln c2 + λ c1 − y1 + (10.14)
(1 + ρ) (1 + r)
Igualando a condição de primeira ordem à zero temos:
∂L 1
= 0 =⇒ + λ = 0
∂c1 c1
∂L 1 λ
= 0 =⇒ + =0 (10.15)
∂c2 (1 + ρ)c2 (1 + r)
∂L c2 − y2
= 0 =⇒c1 − y1 + =0
∂λ (1 + r)
O sistema de equações (10.15) pode ser resolvido para c1 e c2 utilizando-se somente
as primeiras duas condições e desprezando a terceira. Resolvendo a primeira condição
para λ e substituindo o resultado na segunda condição obtemos:
1 −1/c1
+ =0 (10.16)
(1 + ρ)c2 (1 + r)
Resolvendo esta equação para o consumo intertemporal ótimo do consumidor, en-
contraremos uma relação entre o consumo do perı́odo t = 2 e o consumo do perı́odo
t = 1 a qual indica o quanto o consumidor deve aumentar ou diminuir o consumo do
perı́odo 2 para se ajustar ótimamente quando variar a taxa de juros r e/ou sua taxa de
preferência intertemporal ρ. Com isso obtemos a seguinte expressão:
c2 1+r
= (10.17)
c1 1+ρ
Subtraindo c1 /c1 = 1 de ambos os lados e reorganizando a equação obtemos a taxa
de variação do consumo como um função de r e ρ:
c2 c1 1+r
− = −1
c1 c1 1+ρ
a qual resulta em:
∆c r−ρ
= (10.18)
c1 1+ρ
103
O resultado acima determina qual a variação na quantidade consumida em cada
perı́odo para que o consumidor desfrute da trajetória ótima. A equação (10.18) é a
famosa expressão de Frank Ramsey para o caso discreto.
No caso em que ρ = 1 um consumidor alocando seu consumo eficientemente entre
dois perı́odos será indiferente em relação à consumir uma unidade a mais de consumo
no perı́odo t = 1 ou no perı́odo t = 2. O consumo não varia entre os perı́odos pela
preferência intertemporal, isto é, ∆c/c1 = 0, se r = ρ.
Se a taxa de juros for maior que a taxa de preferência intertemporal, r > ρ o
consumo no perı́odo 2 será maior que o consumo do perı́odo 1 e se r < ρ o consumo do
perı́odo 1 deverá ser maior para que consumo ótimo seja alcançado. Se um consumidor
é indiferente em relação ao tempo, então ρ = 0 e neste caso o consumo do perı́odo 2
tende a ser o maior possı́vel. No caso em que o consumidor é muito imediatista, dando
preferência a consumir em t = 1 e não em t = 2 então ρ = 1 e, portanto, o consumo do
perı́odo 2 será o menor dos casos.
104
A + RY
C= (10.19)
T
note que o consumidor recebe renda durante R anos, mas deverá consumir ao longo de
T anos, então ele tem que distribuir equilibradamente a renda ganha em R anos, ao
longo do T anos. A equação acima pode ser reescrita como:
1 R
C= A+ Y (10.20)
T T
Com esta nova formulação, fica evidente que uma das razões para que a a propensão
marginal a consumir seja menor que 1 é o fato de que o consumidor está poupando
parte de renda hoje para poder consumidor durante o perı́odo de vida que não tiver
mais renda. A propensão marginal a consumidor, aqui é dada por c1 = R/T . A figura
(10.1) ajudará a entender melhor o que está em jogo aqui.
Figura 10.1: Hipótese do Ciclo de Vida do Consumo
ST - Poupança
Y - Renda
S=Y-C
C - Consumo
0 R T
Exemplo numérico
105
Considere uma pessoa de 20 anos de idade, com expectativa de vida de 80 anos que se
aposentará aos 65 anos de idade e que ganha $100.000 por ano.
a) Considerando que ela poupe 20% de sua renda, qual será o consumo antes e depois
da aposentadoria, no caso em que ela não deixa herança;
b) Qual deveria ser o consumo e a poupança caso ela planejasse ter um padrão de renda
constante antes e depois da aposentadoria;
c) Qual deveria ser o consumo e a poupança caso ela planejasse ter um padrão de renda
constante antes e depois da aposentadoria e além disso deixar uma herança de 30%
de sua poupança para seus descendentes.
106
que nada mais é do que uma expressão para calcular o valor presente de todo fluxo de
renda e consumo futuro descontado à uma taxa de juros r, ao longo do tempo t → ∞.
Note que a renda e consumo são variáveis endógenas que mudam no tempo. a renda
do consumidor provém de sua renda trabalho, em função da oferta de mão de obra no
mercado de trabalho. Uma maneira mais direta de representar o problema do consumi-
dor, sem se importar diretamente com a quantidade de trabalho que ele deverá ofertar
para obter sua renda-trabalho, é assumir diretamente para o consumidor uma função
utilidade que lhe confira maior bem estar material a medida que ele consumir mais pro-
dutos, entendendo que estamos falando aqui de bens de consumo que não proporcionem
dados colaterais ao próprio consumidor ou à outrem.
A utilidade do consumidor também pode variar no tempo de forma que o consumi-
dor estaria continuamente determinando a valor presente da utilidade atual e futura,
descontada à uma taxa subjetiva de preferência intertemporal igual à ρ:
Z ∞
Max U = u[C(t)]e−ρt dt
0
Z ∞ (10.23)
suj. a [y(t) − c(t)] e−rt = 0
0
107
Figura 10.2: Função Utilidade CRRA
∞
C(t)1−θ −ρt
Z
Max U = e dt
0 1−θ
Z ∞ (10.25)
suj. a [y(t) − c(t)] e−rt dt = 0
0
∂L
=0
∂C(t)
(10.27)
108
1 dC(t)
−θ −ρ−0+r =0
C(t) dt
1 dC(t)
θ =r−ρ (10.29)
C(t) dt
Ċ(t) r−ρ
=
C(t) θ
10.2 Investimento
109
assume correr riscos de diversas natureza. Seu fluxo de caixa futuro, bem como a taxa
de juros futura que será usada para descontar seu fluxo de caixa para valor presente
podem oscilar, lá no futuro, por diversos motivos. Assim, tudo o que podemos fazer
no presente é calcular o valor presente deste futuro incerto, assumindo valores a taxas
esperadas, isto é, formando expectativas sobre o futuro.
Assim, assuma que um investimento qualquer poderá gerar um fluxo de caixa de
lucros (Π) no perı́odo t + 1 e este valor possa ser descontado a uma taxa de juro r, então
o valor presente deste fluxo de caixa único é:
Πet+1
Πt = (10.30)
1+r
onde o sobrescrito e significa expectativa ou valor esperado, uma vez que não há certeza
sobre seu real valor, por tratar-se de um evento futuro. Por sua vez, na expressão acima,
a taxa de juros contratada hoje é fixa e conhecida, portanto é simplesmente denotada
por r, sem sobrescrito. Estendendo o fluxo de caixa para dois perı́odos, a valor presente
de um fluxo de caixa Πe será
Πet+1 Πet+2
V (Πt ) = + (10.31)
1 + r (1 + r)2
Se mantivermos a taxa de juros fixa no longo prazo para efeito de simplificação,
algo extremamente raro nos dias de hoje, então um valor presente de um fluxo de caixa
infinito pode ser representado discretamente pela seguinte equação, onde cada fluxo de
lucro Πet+i pode variar no tempo:
n
X Πet+i
Πe Πet+2 Πet+n
V (Πt ) = t+1 + + . . . + = (10.32)
1 + r (1 + r)2 (1 + r)n (1 + r)i
i=1
a1 (q n − 1)
Sn = (10.36)
q−1
110
onde q = 1/(1 + r) < 1. Podemos separar a equação em dois termos e como o tempo
vai até o infinito (n → ∞) o primeiro termo é zero, pois q ∞ = 0, com o que podemos
escrever:
a1 (q n ) a1 a1 a1
Sn = − =0− = (10.37)
q−1 q−1 q−1 1−q
e então substituindo a1 = 1 e q obtemos:
1 1 1 1+r
Sn = 1 = 1+r−1 = r = (10.38)
1 − 1+r 1+r 1+r r
ou simplesmente:
Π
V (Πt ) = (10.39)
r
Este resultado acima é impressionante e equivale ao inverso do ı́ndice Preço/Lucro
ou P/L = r/Π utilizado correntemente na bolsa de valores para avaliar o valor de uma
empresa e comparar com seu preço de mercado.
No caso da teoria do investimento, é muito comum encontrar funções investimentos
que relacionam a função investimento com o chamado q de Tobin, nome dado em função
da contribuição de James Tobin que incorporou o valor de mercado da empresa à função
macroeconômica de investimento:
Π
I = I[V (Π)] = I (10.40)
r+δ
onde δ é a depreciação.
Em termos de microfundamentos, este raciocı́nio todo mostra outra maneira de como
a taxa de juros afeta a função investimento. Normalmente afirma-se que uma elevação
na taxa de juro torna o crédito ao investimento mais caro, diminuindo o montante de
investimentos da economia. Outro caminho, mais adequado, diga-se de passagem, é que
uma elevação da taxa de juro diminui o valor presente de um investimento, pois ao se
descontar um fluxo de caixa por uma taxa maior, obtém-se um valor presente menor.
Esse é o raciocı́nio que está por detrás também das práticas de valuation ou valoração
de empresas pelo fluxo de caixa, e é o mesmo raciocı́nio pelo qual se avalia o valor de
uma empresa na Bolsa, pelo ı́ndice PL, como comentado.
10.3 Governo
111
Além disto, um aspecto importante do papel desempenhado pelo governo na teoria
macroeconômica é a análise da dı́vida pública diante dos fluxos tributários e de despesas.
• Ao setor privado
• Ao Banco Central
Bt = Gt − Tt + iBt−1 − At (10.42)
onde At é o total amortizado da dı́vida em cada perı́odo considerado. A amortização
sempre será um valor igual ou maior que zero (At ≥ 0) de forma que quando o governo
não consegue amortizar a dı́vida vencendo no perı́odo, ele deve rolar o principal. O
mais comum hoje em dia é inclusive os governos rolarem os serviços (juros) da dı́vida
112
incorporando para de iBt−1 ao estoque da dı́vida, o que faz com que a bola de neve
cresça, podendo atingir dimensões crı́ticas que conduzem a crises de financiamento do
governo. Isto já aconteceu inúmeras vezes na história de diversos paı́ses.
Em geral, paı́ses altamente endividados necessitam de altos impostos para manter
a dı́vida estável no longo prazo. No entanto altos impostos levam a problemas de co-
ordenação e comportamentos dos agentes. Quanto maior a carga tributária, mais os
agentes e firmas desenvolvem estratégias, até mesmo subterfúgios ilı́citos, para evitar
de pagar impostos. Este comportamento levou alguns economistas especializados em
finanças públicas a elaborar a hipótese do comportamento não linear da carga de impos-
tos, tal como proposto pelo economista Arthur B. Lafer, ao propor o seguinte quadro:
Figura 10.3: Curva de Lafer para a tributação
113
polı́tica, eleitoral. Uma saı́da para essa situação é financiar os gastos ou fechar a conta
da NFSP com emissão de moeda, o que acaba sendo uma maneira de criar receita, mas
por um mecanismo engenhoso, chamado de imposto inflacionário, que nada mais é do
que emitir moeda para complementar a arrecada tributária insuficiente gerando com isso
inflação na economia.
Formalmente ou imposto inflacionário é representado por:
Pt − Pt−1 Mt dP M M
Tinf = = = πt (10.43)
Pt Pt P P P
onde Tinf é o montante em $ de imposto inflacionário, π é a taxa de inflação e M/P é a
quantidade de moeda em circulação ou a demanda de moeda. Na parte final da equação,
omitimos o subscrito do tempo. O que a equação mostra é que o imposto inflacionário
corresponde ao poder de compra perdido pela população em função da inflação por reter
moeda.
Sendo a demanda por moeda para fins de transação e especulação dada por M d /P =
L(Y, i), podemos substituir a demanda por moeda na equação (10.43) obtendo a ex-
pressão para o imposto inflacionário:
A senhoriagem (S) é a receita retida pelo governo como resultado da sua capacidade
de emitir moeda. Senhoriagem é um termo antigo, usado na era medieval onde os senho-
res feudais emitiam sua própria moeda como forma de pagar suas despesas. Atualmente
a senhoria é um termo usado para designar o montate real de moeda criada pelo governo,
detentor do monopólio de criação da moeda, assim como acontecia na idade medieval.
Algebricamente a senhoriagem é definida como:
Mt − Mt−1 dM M
St = = (10.44)
Pt M P
onde dM/M é o percentual ou a taxa de variação nominal da moeda e M/P é o total
de moeda em circulação, retida pelos agentes.
114
onde i é a taxa nominal de juro, o parâmetro h é a proporção da dı́vida total atrelada
ao câmbio ou a parcela da dı́vida externa e Ė é a variação da taxa de câmbio e B é o
total da dı́vida, incluindo dı́vida interna e externa. A equação pode ser reescrita como:
(1 + i)
(1 + r) = ou (1 + i) = (1 + r)(1 + π) (10.47)
(1 + π)
e substituindo em (10.46)
Bt+1 Bt Gt − Tt Bt
= (1 + r)(1 + π) + + hĖ (10.49)
Pt+1 Yt+1 Pt+1 Yt+1 Pt+1 Yt+1 Pt+1 Yt+1
a assumindo as seguintes constatações onde g é a taxa de crescimento da economia num
ado instante do tempo:
Bt
Pt+1 = (1 + π)Pt ; Yt+1 = (1 + g)Yt ; bt = (10.50)
Pt Yt
e substituindo (10.50) em (10.49) obtemos finalmente:
(1 + r) 1 1
bt+1 = bt + dt + hĖ bt (10.51)
(1 + g) (1 + π)(1 + g) (1 + π)(1 + g)
a equação da sustentabilidade da dı́vida, onde dt = GtY−T t
t
é o resultado primário do
governo em termos proporcionais ao PIB. Considerando o problema da dı́vida como
uma proporção do PIB, se ... > bt+2 > bt+1 > bt é sinal que a dı́vida está aumentando
em relação ao PIB e isto é visto como um problema de trajetória insustentável da dı́vida,
colocando o governo na defensiva e em saia justa para conseguir rolar a dı́vida, e muitas
vezes pressionado para diminuir gastos e aumentar impostos como forma de equacionar o
problema, com todas as consequencias negativas que tais medidas irão impor è economia
e à sociedade.
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