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Cafeicultor., O Coronclismo
Homens, m11/here1 e capital Maria de Lourdesjanotti
(1850-1980) ·, .,, -. \
1930
O silêncio dos vencido1
Edgar de Decca
Partido Republicano P:mlisa
(1889-1926)
Jost ~nio Casalecchi
A Rcvoluçiio de 30
Boris Fausto
análise com o modo de produção escravista colonial, âmbito do escravismo colonial e tendo este como a
a cuja dinâmica própria atribuo uma determinação fonte da própria acumulação. . . ,
fundamental.
Mais ainda: a base para a acumulação ongma-
Uma vez que julgo indispensável adquirir o en- rià do capital começou a se formar na época em que o
tendimento do mencionado modo de produção, não Brasil foi colônia de Portugal. Nem toda a renda
me resta alternativa senão a de remeter o leitor à produzida no Brasil era, então, dirigida para fora,
minha obra O Escravismo Colonial, na qual abordo o conforme supõe Florestan Fernandes (v. A Revo/u·
tema de um ponto de vista abrangente e sistemático. ção Burguesa no Brasil, p. 61 e ss.), ~orém Au~a
parte muito considerável ficava na própna Col~ma,
seja para a ampliação direta da produção escrav1~ta,
em mãos dos plantadores, seja sob a forma d~ cap1!al
Acumulação originária do capital mercantil, em mãos dos mercadores, que fmanc1a-
e burguesia mercantil vam e comercializavam a produção das plantagens
escravistas.
A constituição do modo de produção capitalista, A Aber-tura dos Portos, decretada pelo Regente
qualquer que seja a via pela qual se processe, tem D. João em 1808, e a Independência política, .Cº~-
sempre uma fase precedente - a da acumulação quistada em 1822, não alteraram em nada a essen~1a
originária (também chamada primitiva) do capital. do modo de produção dominante nª-formação ~ocial
Ou seja, trata-se ele uma acumulação do capital rea- vigente no Brasil. O modo de prod~ção con!m~ou
lizada por meio de mecanismos ainda não essencial-
tão escravista e tão colonial (no sentido econom1co)
mente capitalistas, não se baseando, portanto, na
quanto o fora sob o domínio da Metrópole portu-
produção de mais-valia mediante a exploração do
trabalho assalariado livre. Ao atingir certo nível e guesa. Em 1850, quando s~ e~tinguiu_ o tráfico de
num quadro social já transformado, a acumulação escravos africanos, o quantitativo servil no Pais al-
cançou seu pico máximo (2500000 escravos, em ter-
originária do capital culmina na constituição do mo- mos estimativas). Se acrescentannos a este fato a
do de produção capitalista.
prosperidade da cafeicultura, _con~luiremos que a
Na Europa, a acumulação originária do capital acumulação do capital mercantil se incrementou, no
realizou-se no bojo do feudalismo. No Brasil, nunca Brasil independente, por conseqüência da expansão
houve feudalismo, o que Caio Prado Jr. foi o pri- do próprio escravismo colonial. .
meiro a demonstrar de maneira fundamentada. A Contudo, isto não significa que a Independência
acumulação originária do capital se processou no tenha sido acontecimento indiferente para a econo-
10 Jacob Gorender A Burguesia Brasileira li
geral, a servidão da gleba foi substituida pela vincu- pesos e medidas. Tudo isso entravava a circulação de
lação da enfiteuse - uma instituição que dava ao mercadorias.
camponês o direito de explorar a terra, transmiti-la f) A nobreza e o clero constituíam estamentos
por herança ou mesmo vendê-la, porém não o tor- privilegiados: não pagavam impostos e monopoli-
nava proprietário pleno, pois permanecia a obriga- zavam o acesso aos cargos públicos das instâncias
ção perpétua de pagar uma renda, como foreiro, ao superiores do Estado.
senhorio feudal. Com maior ou menor radicalismo, as revoluções
b) Salvo exceções pouco expressivas, a proprie- burguesas européias eliminaram os obstáculos acima
dade da terra não era a/odiai: estava sempre gravada enumerados e desobstruíram o caminho ao desenvol-
pelos tributos privados que deviam ser pagos a um vimento do modo de produção capitalista e à afir-
senhorio da nobreza, ao clero ou ao monarca. mação da burguesia como nova classe dominante.
c) O mercado de terras se submetia a extremas Assim é que, em resumo, as revoluções burguesas
restrições jurídicas. Com a vigência do instituto do desvincularam os camponeses da terra e jogaram
morgadio, os feudos s6 podiam ser herdados pelo uma parte deles (na Inglaterra, praticamente todos)
filho primogênito e, além de indivisíveis, tinham a no mercado de trabalho assalariado, onde podiam
condição de inalienáveis (não podiam ser transfe- ser livremente contratados pelos capitalistas. A terra
ridos por via de compra a um novo proprietário}. tornou-se alodial, completamente isenta de encargos
Cerca de um terço das terras da Europa, durante a privados. Extinguiu-se o morgadio e a Igreja teve os
Idade Média; pertencia à Igreja Católica e, por con- . seus dom[nios confiscados e postos à venda. Criou-se
seguinte, era insuscetível de transações mercantis. um mercado capitalista de terras. As corporações
d) Os artigos industriais,produzidos ainda com foram dissolvidas, suas regulamentações anuladas e
uma técnica artesanal, constitu[am privilégio legal das a instalação de manufaturas e fábricas deixou de
corporações ou guildas, em cada localidade. Cabia- sofrer qualquer restrição. Unificou-se o mercado na-
lhes regulamentar u número de produtores, os pro- cional e ficou estabelecida a uniformidade monetá-
cessos de produção, a qualidade e a quantidade dos ria, tributária e de pesos e medidas. Cumpriu-se o
artigos, seus preços, etc. A produção industrial se lema dos economistas liberais: laissez·faire, laissez·
achava, portanto, rieidamente controlada. passer (liberdade para produzir e circular}. Aboli-
e} O tráfego de mercadorias, além de inseguro, ram-se os privilégios estamentais da nobreza e do
sofria tributação toda vez que passava por um feudo. clero.
Cada feudo cobrava impostos privativos, cunhava
sua própria moeda e usava um padrão particular de
Jacob Gore1ufer A Burguesia Brasileira /9
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cindíveis quando convier ao empregador. Esse tipo em detalhe do evento da Abolição (abordado, nesta
de mercado de mão-de-obra começou a se constituir coleção, por Suely Reis de Queiroz). O que, aqui, me
no Brasil na segunda metade. do século XIX, porém interessa ressaltar consiste em que considero a extin-
sua expansão permaneceu fortemente restringida en- ção das relações de produção escravistas, no Brasil,
quanto subsistiu a instituição servil. A persistência da um evento revolucionário. Ou, dito de maneira mais
escravidão fazia do ócio apanágio do homem livre, de taxativa: a Abo/içao foi a única revo/uçao social ja·
tal maneira que muitos despossuídos preferiam a mais ocorrida na História de nosso País.
marginalidade e a indigência ao trabalho assala- Com o desaparecimento da escravidão, desapa-
riado. Também a imigração de trabalhadores eúro- receram também o modo de produção escravista co•
peus, enquanto sobrevivesse a escravidão, encontra- lonial - dominante durante quase quatro séculos -
ria sérios impedimentos. e a formação social escravista correspondente. A pro-
Acresce que, sob vários aspectos, o .ordena- funda transformação na estrutura econômica não
mento jurídico vigente no Brasil-Império se revelava deixou de se manifestar na superestrutura político-
inadequado ao desenvolvimento capitalista. A orga- jurídica. A Monarquia centralizadora estava esclero-
nização judiciária era apropriada a um regime domi- sada e se tornara um trambolho. Daí ter sido substi-
nado por plantadores escravistas, porém cheia de tuída pela República federativa descentralizada, na
falhas graves quando se tratava de proteger empreen- qual os Estados ganharam ampla autonomia, sob a
dimentos capitalistas. Só para citar um exemplo, por batuta hegemônica dos dois Estados mais poderosos:
uma lei de 1860, parcialmente alterada em 1882, as São Paulo e Minas Gerais.
sociedades anônimas não podiam ser constituídas Pode-se objetar: mas a Abolição deixou o lati-
sem autorizaçãóiexpressa do Governo e estavam proi- fúndio intocado. e
verdade. E não poderia ser de
bidas de colocar suas ações à venda. Finalmente, a outra maneira, por dois motivos principais:
condição do catolic.ismo como religiãll oficial e as 1?) A possibilidade de efetivação da reforma
restrições à prática dos demais cultos opunham difi- agrária seria concebível somente se já existisse um
culdades à vinda de imigrantes protestantes e de movimento camponês capaz de lutar por ela em
outras confissões. aliança com o movimento abolicionista. Ora, como
se sabe, o abolicionismo não encontrou apoio em ne-
nhum movimento camponês.
A revolução abolicionista 2?) A mais elevada forma de luta dos escravos
consistiu na fuga das fazendas, o que se deu sobre-
Para os fins do meu tema, não careço de tratar tudo em São Paulo, a região do escravismo mais
l
Jacob Gore11der 23
22 A Burguesia Rrasileira
próspero dos anos 80 do século passado. Em conse- ria (Machado de Assis alude a isso no seu romance
qüência, ao abandonar as fazendas, os escravos se Esaú e Jacob) seria hostil à Abolição ou temerosa de
incapacitavam para a luta pela posse da terra, apesar suas conseqüências, uma vez que os fazendeiros
de manifestarem aspiração nesse sentido. eram os principais devedores dos bancos e a proprie-
Com todas as suas limitações, a Abolição não dade servil representava a garantia mais substancial
deixou de ser uma revolução. Pela via da luta poll- dos débitos, pode-se supor, pela lógica dos interesses
tica, deu vigoroso impulso à eliminação de formas de de classe, que a burguesia industrial deveria assumir
exploração já esgotadas. Porém não o fez para trazer uma atitude oposta. Mas a burguesia industrial ape-
o paraíso aos trabalhadores, negros ou )>rancos .. No- nas estava em formação e, na vida real, suas posições
vas formas de exploração vinham sendo instauradas não foram sempre coerentes.
e se expandiram após a Abolição, pois eram ade- Ao menos, é característico o caso de Antônio
quadas ao nivel mais elevado das forças produtivas. Felício dos Santos. Industrial têxtil em Minas Ge-
Em especial, todos os trabalhadores se tornaram rais, presidente da Associação Industrial e signatário
juridicamente livres e, com isso, a difusão das rela- do seu Manifesto de 1881, no qual defende uma
ções de produção capitalistas ficou desembaraçada. política tarifária protecionista em favor do desenvol-
A República pôs em vigor algumas medidas, vimento da indústria nacional, Felício dos Santos
que completaram a transformação abolicionista: a conciliava semelhante posição com a de antiabolicio-
Igreja Católica foi separada do Estado e ficou garan- nista. Em 1885, foi eleito para a Câmara do Depu-
tida a liberdade da prática pública de outros cultos tados como candidato dos escravocratas.
religiosos; uma lei de 1890 agilizou a organização de
sociedades anônimas, afastando a interferência do
Estado e permitindo a negociação pública de ações.
Coloquemos, no entanto, a seguinte questão:
que papel teve a burguesia em transformações de tão
grande envergadura?
No concernente à Abolição, não contamos ain-
da, em nossa historiografia, com um estudo mono-
gráfico sobre a atuação da burguesia. Há somente
referências ocasionais à militância abolicionista de
comerciantes e industriais.
Se é possível conjecturar que a burguesia bancá-
A Burguesia Brasileira 25
café participava com 53% (seguido pela borracha, provocam uma febre de alta temperatura. O capita•
com 26%). Uma vez que São Paulo fornecia cerca de !ismo brasileiro foi acometido por uma dessas febres,
dois terços do café exportável, compreende-se a força entre 1889 a 1892, quando mal ensaiava seus pri-
econômica concentrada em mãos dos cafeicultores meiros avanços.
paulistas. O episódio ficou conhecido como "encilhamen-
A classe dominante era constituída, por conse- to", porque assim se· designava, na época, o mo•
guinte, pelos proprietários das plantagens ( de café, menta, nas corridas de cavalo, em que estes estavam
cana-de-açúcar, cacau, algodão, etc.) e das fazendas encilhados antes da largada e o jogo dos apostadores
de gado. A grande burguesia comercia) e bancária chegava ao frenesi. Por analogia, o termo foi apli•
associava-se intimamente aos latifundiários, além do cado aos lances dos investidores na compra e venda·
mais porque, com freqüência, procedia do meio de ações de companhias diariamente constituídas, ein
deles. escala desmedida.
Seria, no entanto, erro grosseiro identificar esta A febre especulativa começou ainda sob o Impé-
economia pós-Abolição com a do escravismo colo- rio, quando era Primeiro-ministro o Visconde de
nial, simplesmente porque, em ambas, a exportação Ouro Preto. A libertação dos escravos -provocara o
de produtos primários exerceu função primordial. súbito aumento da necessidade de pagar salários e os
Nas novas condições pós-Abolição, difundem-se as fazendeiros sentiam carência de dinheiro, cujo mon-
relações salariais e amplia-se num ritmo acelerado o tante, na economia escravista, não precisava ser ele-
mercado interno. Este acabará suplantando a_ impor- vado. A fim de atender a esta falta de liqüidez, como
tância estratégica da exportação e se converterá no dizem os economistas, o Governo imperial forneceu,
eixo do desenvolvimento econômico. Semelhante di· sem juros e com outras cpndições vantajosas, certas
namismo do mercado interno teria sido completa· . quantias aos bancos, que eles repassariam em dobro
mente inviável nos quadros do escravismo colonial. aos fazendeiros, a juros de 6% ao ano. Imediata•
mente se valorizaram as ações dos bancos existentes e
novos bancos se criaram. Numa reação em cadeia,
subiu a cotação dos títulos de toda espécie de socie·
O Encilhamento: uma loucura juvenil dades por ações, organizando-se depressa novas so-
ciedades que negociavam seus títulos com ágios cres•
A especulação é inerente ao capitalismo e faz centes.
parte do seu curso rotineiro .. Mas há momentos em Quando Rui Barbosa assumiu o Ministério da
que as manipulações especulativas se exacerbam e Fazenda, no primeiro governo republicano de no-
28 Jacob Goremler A Burguesia Brasileira 29
vembro de 1889, já encontrou o carro em movimento. Stanley J. Stein, também recebeu significativa inje-
Convicto de que a circulação monetária era· insufi- ção de capital, o que lhe permitiu dar um passo mais
ciente e, ademais, aberto a idéias de industriali- largo à frente.
zação, embora sem coerência doutrinária, estabe-
leceu um mecanismo de bancos privados· emissores, o
que incitou ainda mais a especulação. No entanto,
a grande maioria das companhias _então criadas não Particularidades regionais
dispunha de viabilidade e, nos primeiros meses de do desenvolvimento industrial
1891, as cotações da Bolsa começaram, a cair. Em
janeiro do mesmo ano, Rui já havia renunciado ao A industrialização brasileira - no que não dife-
cargo de ministro. riu da inglesa e de outros países do capitalismo "clás-
Acerca do episódio do Encilhamento, cumpre sico" - começou com a predominância da indústria
fazer duas observações. leve de bens de consumo não-durável, ocupando os
Em primeiro lugar, o investimento em ações e primeiros lugares, durante longo tempo, os ramos de
outros titulos privados, estimulado pela nova lei das tecidos e de alimentos. Os Censos de 1907 (este não
sociedades anônimas, apareceu como alternativa à oficial, promovido pelo Centro Industrial do Brasil) e
tradicional aplicação da poupança privada disponl- de 1920 nos oferecem o seguinte quadro compara-
vel em apólices do Governo. Ao descongelar a pou- tivo.
pança investida nessas apólices estatais de renda fixa
e transferir capitais disponíveis para empresas priva- PARTICIPAÇÃO PERCENTIJAL NO VALOR DO PRODUTO
das, a especulação serviu, apesar do inevitável des- INDUSTRIAL NACIONAL
sobre a circulação de mercadorias (i111posto só elimi0 açúcar até os anos 30. Como nos esclarece Peter L.
nado em 1937), às fábricas das ·regiões mais desen- Eisenberg, o núcleo de usinas modernas se formou
volvidas conseguem, nesta fase inicial, uma espécie com substanciais empréstimos do Governo estadual,
de proteção para reservar seu próprio mercado, ao os quais nunca foram restituídos e resultaram em
abrigo da concorrência dos produtores de outras re- doações às custas do erário público. Os usineiros
giões. Com o tempo, a concentração industrial se assumiram o controle da economia açucareira e se
acentuará em São Paulo e as indústrias regionais tornaram a força politica decisiva em Pernambuco.
passarão a competir entre si num mercado já de O fraco dinamismo· do seu mercado interno re-
caráter nacional, sobrevivendo e expandindo-se aque- gional fez do Nordeste um fornecedor de mão-de-
las favorecidas por fatores como base regional mais obra e de capitais às regiões meridionais.
poderosa, abundância de matérias-primas, especiali- Extremo Sul. No Rio Grande do Sul e em Santa
zação tecnológica, situação geográfica estratégica, etc. Catarina, temos o caso único de uma acumulação
Sob tal aspecto, distinguimos quatro casos tí- originária do capital que se processa, não a partir da
picos: economia de plantagem escravista, porém a partir da
Nordeste. Sua agricultura de exportação, na se- economia de pequenos camponeses e artesões livres,
gunda metade do século XIX, encontrava-se em de- estabelecidos nas zonas de colonização alemã e ita-
cadência e, por conseguinte, proporcionou uma base liana.
fraca à acumulação originária do capital. À medida que esses pequenos produtores ru-
Apesar disso, a Bahia foi pioneira na criação de rais, cujo autoconsumo era o mais elevado do País,
fábricas de tecidos e, ainda em 1911, sua produção encontraram vazão para seus produtos no mercado
têxtil ocupava o quarto lugar no País. Mas, ao que nacional, avolumou-se a capacidade aquisitiva mo-
parece, a expansão da nova cultura do cacau absor- netária regional e surgiram numerosos estabeleci-
veu o fraco impulso da economia baiana. A indústria mentos fabris em Blumenau, Joinville, Porto Alegre,
têxtil não se modernizou e sucumbiu à concorrência, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Caxias do. Sul e
quase desaparecendo após a Segunda Guerra Mun- outras cidades.
dial. O fio do desenvolvimento industrial da Bahia só Atuando, a princípio, no mercado regional, a
viria a ser reatado nos recentes anos 60. indústria sulina encontrou na especialização tecnoló-
A indústria têxtil de Pernambuco surgiu mais gica o fator que lhe permitiu enfrentar com êxito a
tarde e conseguiu resistir, sobrevivendo na fase de concorrência de São Paulo na fase de competição no
concorrência no mercado nacional. A par disso, Per- mercado nacional. Assim é que se reforçam e alcan-
nambuco continuou a liderar a produção nacional de çam grande porte grupos industriais sulinos como
32 Jacob Goremler A Burguesia Brasileira 33
Gerdau-Johannpeter, Eberle, Renner, Hering, Han- paulista uma precocidade capitalista, que dataria,
sen, Tupy e outros. segundo alguns, do início de sua formação. Exagero
Rio de Janeiro. Na antiga capital do País, ocorre flagrante costuma ser cometido, por exemplo, no
uma combinação entre a acumulação originária de referente à introdução do trabalho livre nessa cafei-
capital procedente da agricultura de exportação e a cultura. No cap. XXVII do meu livro já citado, creio
disponibilidade prévia de um mercado urbano de
haver demonstrado que as plantagens cafeeiras de
dimensões relativamente amplas. São Paulo, inclusive de sua Zona Oeste, se basea-
A cafeicultura da zona fluminense do Vale .do ram no trabalho escravo até as vésperas da Abolição.
Paraíba prosperou durante o século XlX e somente Em segundo lugar, como afirmei antes,, a cafei•
nos anos 80 é que entrou em declínio, cedendo a cultura de São Paulo,. no período pós-Abolição, ao
primazia à cafeicultura paulista. Por sua vez, o Rio explorar o trabalho de colonos, tampouco adquiriu
de Janeiro, por força da condição metropolitana, caráter capitalista. Por isso, considero errôneo cha-
tornou-se a cidade mais populosa e rica do País. Em mar os fazendeiros paulistas daquela época de "bur-
1900, sua população atingiu os 692 mil habitantes, guesia cafeeira".
quando a da capital de São Paulo não passava ainda Conquanto não-capitalista, a cafeicultura de
dos 240 mil. São Paulo, sobretudo a da Zona Oeste, formou-se e
O Rio de Janeiro se formou, antes de tudo, como prosperou na fase em que se iniciava ·o desenvolvi-
grande centro comercial e bancário. Sua situação de mento capitalista no Brasil. Acrescente-se, pois se
cidade portuária lhe deu o controle do comércio de trata de aspecto decisivo, que as fazendas de café
exportação e importação da região fluminense, de eram de propriedade de residentes no Brasil e não do
Minas Gerais e do Norte de São Paulo. A acumu- capital estrangeiro, a exemplo do que sucedia com as
lação de capital comercial e bancário, associada à plantagens de produtos tropicais em muitos países da
amplitude do mercadffurbano e rural, fez do Rio de América Latina, Ãsia e África.
Janeiro o maior centro industrial nacional até cerca Em conseqüência, a agricultura de exportação
de 1910. forneceu ao desenvolvimento industrial de São Paulo
São Paulo. A respeito da correlação entre cafei- uma acumulação originária de cap_ital e um mercado
cultura e industrialização em São Paulo, o leitor regional com um potencial superior ao das outras
encontrará abundante literatura. Todavia, penso que regiões do País. Embora só possam ser mencionados,
tal conexão - verdadeira, no geral - não foi corre- tais fatores positivos implicam outros correlatos:
tamente esclarecida sob aspectos importantes. grande disponibilidade de força de trabalho . imi-
Em primeiro lugar, atribui-se à cafeicultura grante, desenvolvimento da rede ferroviária, o porto
34 .ku:ob Goremler A Burguesia Hrasiteira 35
de Santos, localização geográfica central, etc. No o número de cafeeiros em produção no Estado de São
entanto, é preciso salientar fortemente que a corre- Paulo passou de 105 milhões a 685 milhões, com um
lação entre cafeicultura e indústria não deve ser consi- aumento de 577 milhões de pés de café, ou seja, um
derada simétrica, conforme a concepção errônea de acréscimo de 550%. Esta é, portanto, uma fase em
autores como Wilson Cano. que a cafeicultura paulista, apesar do auge de sua
Nos últimos vinte anos do século passado, a prosperidade, forneceu capitais à indústria em escala
cafeicultura paulista atravessou um período de auge. moderada.
Com o extraordinário afluxo de trabalhadores imi- Isto explica porque, em 1907, apesar da acen-
grantes, ampliou 0 se rapidamente o mercador regio- tuada decadência da cafeicultura fluminense, é ao
nal. Assim é que uns tantos fazendeiros aplicaram Rio de Janeiro que cabe de longe a primazia da
parte dos seus excedentes líquidos na montagem de indústria de transformação no Brasil. Se juntarmos
fábricas. Em numerosos casos, porém, o capital ini- os 30,3% do valor da produção industrial da Capital
cial para a indústria veio do comércio. As vezes, Federal aos 7,5% do Estado do Rio de Janeiro, temos
também os bancos adiantavam empréstimos para 37,8% para a indústria da região fluminense. Na
iniciativas industriais, como se deu com Francisco mesma data, o valor da produção industrial do Es-
Matarazzo, cujo investimento num moinho foi apoia- tado de São Paulo não ia além dos 15,9% da pro-
do por um banco inglês. De modo geral, os bancos dução brasileira.
preferiam transacionar com os fazendeiros de café, Contudo, ao· iniciar-se o século XX, caem as
uma vez que este era, então, o negócio mais seguro. cotações internacionais do café e o volume das safras
A formação de um novo cafezal, pelo sistema de paulistas configura uma situação de perigosa super-
empreitada, não exigia adiantamento de capital. produção. A solução encontrada consistiu no plano
Mas o aumento do parque cafeeiro requeria gastos de valorização adotado pelos Estados cafeeiros no
na compra de novas terras, no desbravamento e cons- Convênio de Taubaté, em 1906: uma parcela das
trução de vias de acesso, na ampliação das insta- safras será estocada e retida, com financiamento de
lações e equipamentos de beneficiamento, na cons- importadores e bancos europeus, a fim de sustentar
trução de casas para maior número de colonos, no os preços. Ao mesmo tempo, criou-se um imposto
pagamento dos seus salários antes da venda da co- sobre novos cafeeiros, o que•contribuiu para inibir o
lheita, etc. Por isso mesmo, o grosso dos excedentes plantio. Em 1917, aplicou-se o segundo plano de
líquidos gerados pela cafeicultura e concentrado pe- valorização. Tais medidas foram coroadas de êxito.
los bancos ou pelos comerciantes foi reaplicado na Entre 1902 e 1921, a quantidade de cafeeiros paulis-
expansão da própria cafeicultura. Entre 1880 e 1902, tas em produção só aumentou eP1 20%, alcançando
36 Jacob Gorem!er
industrialização. Em primeiro lugar, como frisei lo- O mito do enriquecimento pelo trabalho
go acima, não houve simetria entre o desenvolvi-
mento da cafeicultura e o da indústria. Em segundo Uma pesquisa recente sobre pequenas e médias
lugar, o número de fazendeiros de café, que assumiu empresas registra que 7% dos avós paternos e ma-
diretamente o papel de empresário industrial, foi ternos dos empresário.s, inclusos na amostra, foram
pequeno, dentro do conjunto de industriais. Quase operários e trabalhadores manuais. Embora pes-
sempre, citam-se os nomes de Álvares Penteado, fun- quisa semelhante não tenha sido feita com os empre-
sários da época inicial do capitalismo brasileiro, cer-
dador de uma fábrica de sacaria de juta, e Antônio
tamente algum percentual deles começou a vida na
da Silva Prado (não confundir com n homônimo
condição de operário ou artesão. Conhecem-se, em
Barão de Iguape). Este último, além de riquíssimo
fazendeiro de café, foi presidente do Banco Comércio especial, os casos de Scarpa, Ramenzoni e Pereira
e Indústria, atual Comind, de 1889 a 1920, e fun- lgnacio. A valorização de uma qualificação profis-
dador de várias empresas industriai.s. Não obstante, sional, um pequeno empréstimo de familiares ou de
quantos mais de tal porte, originários da aristocracia um banco e circunstâncias fortuitas ( um prêmio na
cafeeira, podem ser mencionados, que se comparem loteria, por exemplo) permitem que uns tantos traba-
a Matarazzo, Antônio Pereira Ignacio (fundador do lhadores se libertem da condição de assalariados e
grupo Votorantim), Antônio Proost Rodovalho (fun- subam os primeiros degraus da escada que leva à
dador da Compánhia Melhoramentos), Klabin-Lá- condição de capitalista.
fer, Jafet, Ometto-Dedini, Simonsen e tantos outros, Daí, precisamente, se originou o mito do capitão
cuja origem nada teve a ver com fazenda de café? Foi de indústria imigrante, que chegou ao Brasil com as
por via do mecanismo bancário e comercial, princi- mãos vazias e, à custa de uma vida a pão e banana,
palmente, que o capital acumulado na cafeicultura alcançou a justa recompensa da riqueza.
se transferiu à indústria. O percentual acima citado se relacio}la com uma
Em conclusão: reconheço que a supremacia in- amostra de 74 empresas. Isso já demonstra que, para
dustrial de São Paulo teve no chamado "complexo o conjunto de milhões de trabalhadores, o número de
cafeeiro" sua base de partida; simultaneamente, jul- indivíduos favorecidos com a ascensão ao escalão da
go que não passa de um' mito o "vanguardismo" dos burguesia só pode ser da ordem do milésimo de por
fazendeiros paulistas, cujo charme fascinou tantos cento. A regra de ouro do capitalismo se resume em
autores, às vezes até brilhantes e radicais .. que o salário não deve superar o valor da força de
trabalho. De preferência, convém que seja inferior a
esse valor e, para isso precisamente, existe o exército
40 Jacob Gorender A Burguesia Brasileira 41
contribuição ao tema, com o estudo sobre a indus- de embrulho e, finalmente, fundou uma fábrica de
trialização de São Paulo, no qual pôs em relevo uma papel, o que a conduziu ao negócio de importação de
das vias de formação da burguesia industrial: a via celulose. Mais tarde, deixaria de importar a celulose
do comércio importador. para produzi-la no Pais.
O caso clássico é justamente o de Matarazzo, o O fenômeno não se restringiu a São Paulo, nem
maior industrial da primeira época do capitalismo a grandes importadores. Domingos Giroletti cita
brasileiro. De importador de banha americana pas- uina ocorrência em Juiz de Fora, centro industrial de
sou a fabricante do produto. Quando idealizou sua Minas Gerais que reproduziu, aliás, em miniatura, o·
distribuição em latas (substituindo as barricas ameri- processo paulista de acumulação originária do capi-
canas), dominou o mercado. Foi também importador tal pela cafeicultura escravista. O imigrante Antônio
de farinha de trigo e isto o levou a montar um moi- Meurer, estabelecido inicialmente com um loja de
nho para industrializar no Brasil o trigo bruto impor- fazendas e artigos de armarinho, pôde notar a gran-
tado. de procura de meias estrangeiras. Resolvendo fabri-
Às vezes, o importador começava a produzir car o produto no Brasil, comprou máquinas alemãs
peças componentes do produto importado como e, em sua própria residência, montou pequena ofi-
meio de oferecer serviços de manutenção aos clientes. cina onde trabalhavam seus familiares, no final do
Daí passava à produção do artigo completo. A firma século passado. Em 1914, era dono de uma fábrk::!
paulista Rádio Frigor dedicava-se, nos anos 30, ao com 300 operários.
comércio de importação de aparelhos de rádio e equi- Em suma, levando em conta que o desenvolvi-
pamentos de refrigeração. Do fabrico de peças desses mento da indústria brasileira recebeu um dos seu$
equipamentos passou à sua produção por inteiro. principais impulsos do processo de substituição de
Transferiu-se do comércio de importação à indústria, importações, é compreensível que o ponto de partida
porém manteve a marca original até hoje, apesar de de certo número de industriais fosse o comércio de
nada mais ter a ver, há muito, com aparelhos de importação. Com isto, no entanto, ao contrário do
rádio. que sugere W. Dean, não se verificou uma fusão dos
A importação, em outros casos, objetivou deter- interesses econômicos de importadores e industriais,
minada matéria-prima ou bem intermediário, inexis- considerados em seu conjunto como setores distintos
tente ou escasso no País, porém indispensável à pro- da burguesia. Conforme veremos, foram setores de
dução de certos artigos finais. A família Klabin fez interesses geralmente contraditórios.
sua primeira inversão numa tipografia, depois adqui- Nem se deve supor que somente do comércio de
riu uma máquina para fabricar livros-caixa e papel importação derivaram industriais. Também o comér-
44 Jacob Gorender A Burguesia Brasileira 45
cio interno constituiu fonte de lucros que permitiu a em 1930, montou modesta oficina de consertos de
transição para a indústria. Bernardo Mascarenhas automóveis em Santa Bárbara do Oeste, no interior
foi tropeiro e, nesta atividade, juntou o capital que de São Paulo.
lhe permitiu montar, em 1872, uma fábrica têxtil
próximo a Juiz de Fora, seguida de outros empreen-
dimentos industriais. Rodovalho, em São Paulo, co- Ideologia e organização
meçou comerciando com açúcar e sal. O grupo in-
dustrial Renner, como nos informa Paul Sínger, .teve da burguesia industrial
sua origem nos estabelecimentos comerciais criados
por Franz Trein, a partir de 1847, na zona colonial Desde que adquiriu densidade e consistência, a
do Rio Grande do Sul e, mais tarde, centralizados burguesia industrial se viu a si mesma como uma das
em Porto Alegre. · "classes. conservadoras". E tinha razões para seme-
Tampouco é correta a idéia de que a indústria lhante visão de si própria. Após as transformações
fabril brasileira, em particular a ·têxtil, não teve promovidas pela Abolição e pela República, a bur-
precedentes nas pequenas oficinas. Ali onde se mos- guesia industrial não possuía motivos para revolu-
trou mais dinâmico o processo de desenvolvimento cionar a ordem social estabelecida.
da indústria de transformação, não foram raros os Contudo, pode-se objetar: o desenvolvimento da
casos de industriais cujo início se deu em pequena burguesia, pelo menos ao despontar o século XX,
escala. Embora na história da industrialização capi- não a colocava em antagonismo com o latifúndio,
talista do Brasil não tivesse havido uma fase cronolo- segundo assevera Nelson Werneck Sodré?
gicamente delimitada de domínio da manufatura ar- Cabe deslindar a identificação entre a política
tesanal ou semi-artesanal, ao qual se seguisse o do- econômica dos latifundiários e a propriedade latifun·
mínio da fábrica mébanizada, a transição da oficina diária. Se a burguesia industrial podia chocar-se com
à fábrica representou ocorrência freqüente. Já vimos a primeira (o que nem sempre acontecia), nenhuma
o caso de Antônio Meurer. O gnipo têxtil Hering, razão tinha para combater a segunda. A idéia de que
com sede em Blumenau, começou pela iniciativa do uma agricultura de pequenos proprietários teria
imigrante Hermann Hering, que adquiriu, em 1879, constituído mercado mais amplo para a indústria
um tear circular e organizou uma oficina de tipo nacional e acelerado o seu desenvolvimento - esta
familia!, que depois evoluiu para a fábrica. A traje- idéia é desmentida pela flagrante superioridade do
tória do grupo Romi, da indústria mecânica, partiu desenvolvimento da indústria em São Paulo com re-
do empreendimento de Américo Emílio Romi, que, lação ao Extremo Sul. Ademais, a história universal
4ó Jacob Gorel/t/er A Burguesia Rrasileirll 47
riado bi:asileiro contra a exploração capitalista, o estadonovista outorgara espontaneamente aos ope-
patronato industrial não ficou de braços cruzados, e, rários brasileiros, sem conflitos e sem derramamento
desde cedo, apelou aos serviços dos órgãos de repres- de sangue, a mais avançada legislação trabalhista do
são do Estado. Operários estrangeiros, que se desta- mundo. Estudos historiográficos recentes incumbi-
cavam na liderança sindical ou política, eram suma- ram-se de revelar as vigorosas lutas travadas pelo
riamente deportados como rufiões ou sob outras acu- proletariado antes de 1930 e a conexão de tais lutas
sações infamantes. Outros eram confinados em lo- com as leis trabalhistas aprovadas também antes
cais isolados e insalubres da Amazônia. As reuniões daquela data. Entre estas, podem ser citadas a lei
de trabalhadores costumavam ser disso~vidas a pátas que criou as Caixas de Aposentadorias e Pensões
de cavalo e golpes de sabre, não raro com mortos e para os Ferroviários (1923), benefício depois esten-
feridos. O refinamento da repressão se aperfeiçoou dido aos estivadores e marítimos (1926) e que, pela
com a organização das listas negras, nas quais a primeira vez, incluiu o dispositivo da estabilidade do
polícia e as entidades patronais incluíam os operários empregado após dez anos de serviço; a lei de férias
suspeitos de "subversão" e os condenavam, dessa remuneradas, no limite de quinze dias (1925); e a lei
maneira, ao desemprego permanente. de regulamentação do trabalho de menores (1927)
Protegidos pelo Estado dos fazendeiros, os in- A tática do patronato deixara de ser a da rejei-
dustriais mantiveram-se inteiramente surdos às rei- ção liminar da legislação trabalhista em nome do
vindicações dos operários, até a explosão das grandes liberalismo - ideologia política e- econômica oficial
greves de 1917-1919, em São Paulo, Rio de Janeiro e na Primeira República. Admitida, em face das lutas
outros pontos do País. Por isso mesmo, não é casual operárias, a legitimidade da discussão do assunto, o
que, justamente em 1919, o Congresso aprove a Lei patronato procurou ganhar tempo, conceder muito
de Acidentes do Trabalho - a primeira lei traba- pouco em matéria legal e aplicar o mínimo ou mesmo
lhista do Brasil - e seja criada, na Câmara dos De- nada do que ficasse registrado na lei. Basta dizer que
putados, a primeira Comissão de Legislação Social. a lei de acidentes do trabalho só teve sua regulamen-
A persistente e maciça propaganda do Estado tação em 1~135, quando começou a ser posta em
Novo conseguiu difundir eficazmente a faláeia de que prática. A lei de férias ficou quase no papel até 1932.
a legislação trabalhista brasileira não representou
conquista do movimento operário, mas outorga do
Governo presidido por Getúlio Vargas. O ditador e
seu Ministro do Trabalho, Alexandre Marcondes Fi-
lho, inúmeras vezes proclamaram que o Governo
A Burguesia Brasileira 53
tões do protecionismo e da taxa cambial, a obra de sição, em particular, da bancada do Partido Repu-
Nícia Vilela Luz é rica de informações acerca das blicano Paulista (PRP).
ofensivas e contra-ofensivas da burguesia industrial. O terceiro momento é o que veremos a seguir.
Para os fins de uma exposição introdutória, três mo-
mentos significativos devem ser assinalados.
O primeiro momento é o da ofensiva protecio-
nista consubstanciada no projeto do deputado mi-
Café e indústria na década de vinte
neiro João Luís Alves, apresentado à Câmara Fede- Jã no início dos anos 20 do século atual, o cha-
ral em 1904, precedido pela doutrinação de Amaro mado "complexo cafeeiro" deixara de ser fator posi-
Cavalcanti e Serzedelo Correia. O projeto foi defen- tivo para o desenvolvimento industrial e se conver-
dido energicamente por Jorge Street, por Vieira tera, nitidamente, em obstáculo. A expansão da ca-
Souto e pelo Centro Industrial do Brasil, durante as feicultura ganharia ritmo paroxístico, acentuando a
discussões que se arrastaram até 1907. ;,fas a opo- deformação monocultora, desviando investimentos
sição da cafeicultura paulista e de Leopoldo Bulhões, não somente da indústria como também da agricul-
Ministro da Fazenda do Governo Rodrigues Alves, tura de mercado interno e impondo outras medidas
levou a proposta parlamentar a encalhe irremediãvel. de uma política econômica que devia culminar em
A partir daí, os industriais abandonaram a pre- desastre.
tensão de alcançar a aprovação de uma ld protecio- Após o terceiro plano de valorização em 1921-
nista geral e adotaram a tâtica de lutar por obje- 1922, o Governo do Estado de São Paulo, aliado aos
tivos parciais restritos. Ã medida que a indústria governos de outros Estados cafeeiros, pôs em prática,
se desenvolvia e invadia novas faixas do mercado a partir de 1924, o que se chamou de "defesa perma-
abastecido por importações, surgia a necessidade de nente do café". A retenção de estoques para a susten-
novos ajustes tarifãrios, conseguidos por via do su- tação dos preços passava a ser aplicada sem solução
borno ou de manobras variadas. de continuidade, com financiamento de bancos inter-
O segundo momento é o da ofensiva antiprote nacionais, para os quais tal especulação vinha sendo
c1onísta de Homero Batista. Ministro da Fazenda do lucrativa. Enquanto as cotações do café se tornavam
Governo Epitâcio Pessoa, em 1919. Tal era, porém, a sempre mais estimulantes, nenhuma medida se to-
força já conquistada pela burguesia industrial que a mou para controlar o plantio de novos cafezais. Em
proposta de redução das tarifas aduaneiras (atin- São Paulo, o número de cafeeiros sobe, entre 1921 e
gindo, supostamenre. apenas as indústrias artificiais) 1930, de 844 milhões para 1188 milhões, com um
não passou na Cã,1-ara dos Deputados, com a opo- acréscimo absoluto de 344 milhões de pés de café e
(;()
Jacob Gorenda A B111xuesia Umsíleim 6/
um aumento relativo de 40%. Mas a política de valo- acuada pela concorrência dos tecidos ingleses e vinha
rização permanente induz crescimento ainda maior tendo desempenho medíocre. Nos anos 1927-1928,
em outros Estados cafeeiros, sobretudo em Minas · sofre queda brusca de 25% na sua produção. Os
Gerais e no Espírito Santo .. Com exceção de São industriais paulistas e cariocas desencadeiam uma
Paulo e no mesmo período 1921-1930, o número de campanha publicitária cautelosa no sentido da eleva-
cafeeiros sobe de 887 milhões para 1 343 milhões: um ção da proteção tarifária para certos tipos superiores
aumento de 456 milhões de pés de café, represen- de tecidos. De maneira intencional, evitam propostas
tando 51 % a mais. Entre 1924 e 1929, o café chega a de alteração depreciativa da taxa cambial, cuja esta-
alcançar a média anual de 73% do valor total" da bilidade constituía questão fechada para Washing-
exportação brasileira. Na safra agríc~la de 1931- ton Luís, pois nela residia a pedra de toque do rela-
1932, os cafezais ocupavam nada menos de 36% de cionamento com a finança internacional.
toda área cultivada no Brasil! A Câmara Federal aprovou. em 1929, uma ele-
A indústria continuou a se desenvolver neste vação parcial de tarifas alfandegárias, pleiteada e
período, porém o fez em ritmo mais lento e com formulada em projeto defendido por Manoel Villa-
dificuldades crescentes. Em primeiro lugar, a expan- boim, líder da bancada do PRP. Tal resultado confir-
são da cafeicultura absorve capitais que desvia da mará na burguesia industrial o comportamento con-
indústria, ao contrário do que sucedera no perído servador, segundo a linha de menor atrito· e final
1906-1920. Em segundo lugar, a abundante disponi- acomodação com os interesses hegemônicos da cafei-
lidade de divisas decorrentes da prosperidade da ex- cultura. Apesar de tais interesses já constituírem,
portação permite o afluxo impetuoso das importa- naquele momento, o principal entrave ao desenvol-
ções, o que repercutirá negativamente, em especial, vimento do capitalismo no Brasil.
na indústria têxtil, precisamente numa fase em que
se propunha concorrer na faixa de mercado dos teci-
dos mais finos.
Desta situação dão conta as taxas médias anuais
de crescimento da produção física brasileira, no pe-
ríodo 1920-1929: produção agrícola total - 4,1 %;
agricultura de exportação - 7,5%; agricultura de
mercado interno - 1,6%; produção industrial -
2;8%.
A indústria paulista de tecidos de algodão via-se
A !11trg11e~·ia Brasileira 63
tratado comercial, maniféstando-se por intermédio ção da produção exportável pela produção para ·
de líderes tão influentes como Roberto Simonsen, o mercado interno como eixo do sistema econô- ·
Vicente de Paulo Galliez e Euvaldo Lodi. Do lado mico.
oposto, o tratado foi defendido pelos representantes Com a queda vertical do valor das exportações,
da cafeicultura, por Valentim Bouças, porta-voz dos caiu também a capacidade para importar e as forças
comerciantes importadores, e por Oswaldo Aranha, produtivas industriais avançaram com celeridade,
Ministro das Relações Exteriores. Diante do prolon- apoiadas na acumulação precedente. De 1933 a
gamento dos debates no Congresso e das pressões 1939, a taxa média anual de crescimento da indústria
norte-americanas, Vargas interveio pessoalmente a de transformação foi de 11 % , a mesma do ramo têx-
fim de apressar a ratificação parlamentar. til, que se recuperou da estagnação da década de 20.
Todavia, é inegável que, nos anos 30, a indústria Os ramos de minerais não-metálicos e de metalurgia
brasileira deu um salto à frente e se reforçou a in- - ambos do departamento produtor de bens de pro-
fluência política da burguesia industrial. Se não hou- dução - aumentaram seu produto a taxas médias
ve uma revolução, é também inegável que ocorreu anuais, respectivamente, de 20 e de 21 %. Em 1919, a·
uma virada na evolução histórica do País. composição do produto físico nacional, em termo de
valor líquido, era de 79% para a agricultura e de
21 % para a indústria; em 1939, a participação da
agricultura caía para 57%, enquanto a da indústria
subia para 43%. Mesmo no âmbito da agricultura,
Nova correlação de forças sociais no período de 1930 a 1939, a produção das culturas
e desenvolvimento do capitalismo para o mercado interno aumentou a uma taxa média
anual de 3,3%, ao passo que a taxa correspondente
O movimento político-militar de 30 realizou das culturas de exportação foi de 2,2%.
uma tarefa importante para desobstruir o caminho Refletindo a consciência mais avançada dos seus
ao desenvolvimento do capitalismo: apeou do Poder interesses de classe,. a burguesia industrial formulou
a oligarquia dos fazendeiros de café e dos seus asso- nos anos 30 um projeto abrangente e diversificado de
ciados do capital bancário e comercial, a qual gover- suas reivindicações. Sua tônica continuou antilibe-
nava o Brasil há quarenta anos. A Grande Depressão ral, como sempre fora, mas deixou de se restringir à
de 1929-1933 golpeou violentamente a cafeicultura e questão do protecionismo no comércio exterior. Os
contribuiu para que, no quadro da nova correlação porta-vozes da burguesia industrial - Simonsen;
• de forças sociais. se tornasse irreversível a substitui- Horácio Láfer, Euvaldo Lodi, Guilherme Guinle e
óó .lacoh Gorent/1:r A Bw~~1wsia Urasileim 67
outros, timbram em estabelecer· identificação entre conquista ideológica da classe operária e de discipli-
industrialização e interesse nacional, repelem as acu- namento de suas organizações sindicais sob o con-
sações de artificialismo da indústria brasileira, enfa- trole· direto do Estado. Como responsáveis pelo Es-
tizam sua legitimidade e se batem por uma política tado, Vargas e sua equipe demonstraram uma in-
explícita de intervenção do Estado em favor da ini- tuição geral da dinâmica social que faltava ainda
ciativa privada capitalista. aos líderes saídos do próprio meio burguês. Enquan-
Apesar da hostilidade ou da desconfiança mú- to estes continuavam presos a uma visão economi-
tua nos primeiros anos do pós-30; a tendência, que cista e corporativa dos interesses de classe, Vargas e
acabou prevalecendo, foi a da aproximação entre os seus ministros podiam perceber a gravidade da
industriais e o Governo Vargas. Daí que o conjunto "questão operária" e enfrentá-la com a aplicação de
da burguesia, com particular realce para a burguesia uma orientação que, se -aparentemente conflitava
industrial, houvesse apoiado sem vacilações o golpe com os interesses imediatistas da burguesia, corres-
de 10 de novembro de 1937, que instaurou o Estado pondia aos seus objetivos gerais e de longo prazo.
Novo e deu a Getúlio Vargas, durante oito anos, Além da criação do Ministério do Trabalho, .
poderes ditatoriais. Indústria e Comércio, foram aprovadas leis como as
da jornada de oito horas, salário mínimo, de regula·
mentação do trabalho de mulheres, das convenções
Atitudes da burguesia diante coletivas de trabalho e da extensão da estabilidade
da legislação trabalhista aos dez anos de serviço à generalidade das categorias
profissionais. O mais importante consistiu, porém,
Com a vitória da Aliança Liberal em 1930, inau- no fato de que, da parte do Estado, houve a percep-
gurou-se nova fase nas relações entre o Estado e a ção de que a legislação trabalhista não devia ficar no
classe operária. A valorização historiográfica das lu- papel, mas precisava ser aceita e aplicada pelo patro-
tas da classe operária não deve obscurecer este fato. nato a fim de que atingisse sua-finalidade de submis-
A tática da repressão não se atenuou. Ao contrá- são ideológica e organizativa da classe operária. Daí
rio, aperfeiçoou-se com a criação das Delegacias de a instituição da Justiça do Trabalho, dotada de ele-
Ordem Política e Social. especializadas no combate mentos burocráticos para impor certo nível de efi-
ao movimento sindical independente, ao Partido Co- ciência à legislação específica.
munista e à esquerda cm geral. Contudo, o que Confluindo para o mesmo fim, o Governo Var-
sucedeu de realmente novo foi que o Governo Vargas gas ampliou, sobretudo na fase do Estado Novo, os
, pôs cm prática uma linha coerente e sistemática de mecanismos de previdência social e deu a esta pro-
68 Jacob Corender 69
A Burguesia Brasileira
porções desconhecidas no período anterior a 30. Sur- dade ideológica com as autoridades governamentais
giram os vários institutos previdenciários, que cons- na linha da colaboração de classes e da paz social.
truíram hospitais e conjuntos residenciais para ope- Ou seja, numa linguagem desmistificada: na linha
rários e setores da baixa classe média. Ao mesmo da criação das condições ideais para explorar a força
tempo, as greves ficaram rigorosamente proibidas. de trabalho e extrair dela a mais-valia.
, Tais medidas, aliadas à repressão policial, pro- Uma posição burguesa mais avançada foi, sem
' porcionaram as condições básicas que conduziram á dúvida, a de Roberto Simonsen. Ao contrário dos .
· supressão da independência dos sindicatos e sua. es- seus pares, que ainda insistiam em qualificar os ope-
truturação corporativista de inspiração fascista, se- rários como ignorantes e preguiçosos, o líder indus-
gundo os princípios orgânicos de unicidade, vertica- trial paulista reconheceu que os salários eram baixos ,
lidade e enquadramento oficial tutelado pelo Estado. e irrisório o nível de consumo do povo brasileiro. ·
Saliente-se, a propósito, que toda esta política Com sagacidade, antecipou-se à retórica oficial em
' multilateral teve em mira somente os trabalhadores várias décadas, pois, em síntese, afirmou ser inviável
urbanos, porque somente eles dispunham de organi- dividir o bolo enquanto este não crescesse. Para tal 1
zação, realizavam lutas de massa e já recebiam a fim, reclamou a proteção do Estado ao desenvolvi- 1
influência de idéias revolucionárias. A situação dos mento da indústria nacional.
trabalhadores do campo permaneceu intocada, em
nada se alterando as formas da tradicional domi-
nação latifundiária.
No entanto, como reagiu o patronato a todo este
processo?
Seria ingênuo esperar a aceitação automática e
plena da nova política trabalhista do Estado pela bur-
guesia. A tônica das suas lideranças nãd residiu pro-
priamente na rejeição daquela política, porém na res-
trição ao suposto exagero dos "encargos sociais". O
patronato discutiu acirradamente ínfimos detalhes da
elaboração da legislação trabalhista, seguindo a tática
de reduzir ao mínimo e protelar ao máximo as conces-
sões aos trabalhadores .
. Não deixou, contudo, de eXPressar sua afini-
A Burguesio Brasifeim 71
empréstimos dos bancos estatais representaram 65 % industrial nacional e, em nome do liberalismo, de-
do total de empréstimos dos 50 maiores bancos co- fendeu o retorno ao modelo agro-exportador, com
merciais, cabendo 41 % somente ao Banco do Brasil. admissão apenas de uma industrialização restrita.
Nos anos 40, teve início a atuação empresarial Gudin, em particular, não deixaria de advertir que o
do Estado no âmbito da moderna indústria de base. planejamento econllmico pelo Estado encerrava o pe-
Surgiram a Companhia Siderúrgica Nacional (Volta rigo de abrir caminho em direção à sociedade tota-
Redonda), a Companhia Vale do Rio Doce, a Com- litária comunista.
panhia Nacional de Álcalis e a Fábrica Nacional .de A tendência ao crescimento do setor estatal da
Motores (FNM). A industrialização nacional ingres- economia revelou-se, porém, incoercível, afirmando-
sava, decididamente, numa etapa mais alta. se com a criação da PETROBRÁS, da Rede Ferro-
Nos primeiros anos da década dos 40, o Governo viária Federal e da ELETROBRÁS. Nem mesmo as
Federal já dirigia também diversos institutos regula- forças políticas promotoras do golpe militar de 1964,
dores da produção e da comercialização de produtos apesar de suas proclamações antiestatistas, conse-
primários (café, açúcar e ãlcool, cacau, sal, mate, guiram deter essa tendência. Pelo contrário, o nú-
pinho) e formara alguns Conselhos de assessoria para mero das empresas estatais aumentou muito mais do
questões econômicas. Amadureceram, dessa ma- que no período anterior: em 1976, das empresas
neira, as condições para que, em 1944, através de estatais então existentes, 60% haviam sido fundadas
pareceres e discursos, Roberto Simonsen propusesse depois de 1966.
a idéia do planejamento da atividade econômica do Ocorre, ademais, que os governos p6s-64, justa-
Estado como instrumento de aceleração da indus- mente pelo empenho em modernizar o capitalismo
trialização. A idéia se fundava numa perspectiva de brasileiro, conseguiram colocar as empresas estatais
longo prazo, levando em conta o fim próximo da sobre os trilhos da eficiência capitalista. Decerto,
guerra mundial, ·e incluía a obtenção de um financia- não lograram livrá-las de todo dos males das admi-
mento geral procedente dos Estados Unidos. (Em nistrações incompetentes, das negociatas e dos des-
1947, o notável líder industrial, intelectual e político perdícios, ainda mais porque o regime militar põe os
propugnaria a extensão do Plano Marshall à Amé- diretores de empresas estatais fora do alcance da
rica Latina, tendo em vista o Brasil, como é óbvio). fiscalização·por parte da oposição politica. Além dis-
Da oposição às propostas de Simonsen se in- so, a lucratividade de certas empresas estatais, como
cumbiram Eugênio Gudin, Valentim Bouças e Octa- as siderúrgicas, vê-se afetada, em alguns momentos,
vio Gouvêa de Bulhões. Essa oposição momenta- pelos planos antiinflacionários governamentais, que
neamente vitoriosa apareceu como reação ao avanço impõem a contenção administrativa dos preços dos
74 Jacob Corender A Burguesia Brasileira 75
seus produtos, o que, afinal, resulta numa subvenção A primeira refere-se às campanhas antiestatistas i
do Estado ao capital privado. Feitas estas ressalvas, recorrentes, em cuja promoção se associam a bur- ',
constata-se que, em média, as empresas estatais das guesia brasileira e as multinacionais. Quais as moti- i
indústrias extrativa e de transformação e dos serviços vações dessas campanhas?
industriais (energia elétrica e comunicações) ostentam Do ponto de vista doutrinário, a burguesia bra- ·
lucratividade invejável, comparável à do capital pri- sileira e os dirigentes das multinacionais não podem
vado. Além de atuarem em condições monopolistas, deixar de sentir que a participação crescente do Es-
contam com fundos especiais criados pelo Governo e tado na atividade econômica representa uma brecha
com o acesso privilegiado ao financialllento interna- grave no sagrado princípio capitalista da livre em-
cional. Daí que a participação das empresas estatais presa. Cada empresa estatal bem-sucedida como que
na formação bruta de capital fixo (investimento na- constitui demonstração prática de que os capitalistas
cional em edificações e instalações produtivas, maqui- privados podem ser dispensados enquanto agentes do
naria, equipamentos e material de transporte) haja processo econômico. Por isso, a repetição monótona
saltado de 13%, em 1965, para25%, em 1975. de argumentos antiestatistas funciona como exor-
A longo prazo, a visão de Roberto Simonsen cismo para a consciência burguesa e para a chamada
revelou-se muito superior à do seu adversário Gudin, opinião pública. Esta má consciência burguesa foi
na polêmica de 1944. O governo Castello Branco expressivamente manifestada pela declaração de Sér-
criou um poderoso órgão de planejamento e, curio- gio Schapke, presidente da Federação das Indústrias
samente, na sua direção se sucederam economistas do Estado do Rio Grande do Sul, acerca do recente
afinados com as idéias de Gudin - desde Roberto decreto de privatização de empresas sob controle
Campos até Mário Henrique Simonsen e Delfim estatal: "O governo volta a acreditar nos emprés-
Netto. O planejamento(tecnicamente denominado de sários como os mais capazes para administrar e gerar
indicativo) não conduziu ao comunismo, mas forta- bons resultados em um empreendimento".
leceu o capitalismo. Do ponto de vista conjuntural, as campanhas ·
antiestatistas não visam extinguir o setor estatal da
economia, uma vez que a própria burguesia está :
convencida de que isso seria impossível e percebe -
Antiestatismo e burguesia de Estado o que é mais importante - que o setor estatal tem
representado formidável alavanca para o desenvol-
Definido tal quadro, cabe responder, conquanto vimento do modo de produção capitalista e, por con-
sumariamente, a duas questões. seguinte, para o fortalecimento do próprio capital
76 Jacob Gorender A B11rg11esia Brasileira 77
privado. Nas circunstâncias brasileiras, só o Estado Assim é que a Vale do Rio Doce, a PETROBRÁS e
disporia de condições para concentrar com rapidez as grandes siderúrgicas estatais criaram suas pró-
os imensos recursos requeridos pela construção da prias subsidiárias especializadas em projetos e ser-
infra-estrutura da moderna produção industrial e pa- viços de engenharia. Por motivos óbvios, isto não
ra o financiamento do capital privado a longo prazo, agradaria a Henry Maksoud, proprietârio da Hidro-
com juros baixos ou mesmo negativos e outras vanta- service, uma das maiores empresas privadas do ramo
gens decisivas. O que tais campanhas questionam da engenharia e para a qual, em decorrência, o mer•
• são os limites admissíveis do setor estatal da eco- cado interno se contraiu sensivelmente. Sem omitir
nomia. respeitáveis razões doutrinárias, não se pode deixar
Com o fortalecimento recente de alguns grupos de suspeitar que este fato tão palpável impeliu Mak-
privados do capital bancário, surgiu, por exemplo, a soud a assumir o papel de campeão do antiestatismo.
campanha contra a "estatização do crédito", mani- Aliás, a pregação antiestatista não é incompatível com
festada em pronunciamentos de Magalhães Pinto e · o privilégio de receber subsídios do Estado, como o
Olavo Setubal, ex-presidentes, respectivamente, do demonstra a noticia de .fevereiro de 1981 segundo a
Banco Nacional e do Banco ltaú. f: evidente que os qual os proprietários do Jornal do Brasil e de O
bancos privados cobiçam os gordos recursos do Pro- Estado de S. Paulo aceitaram o financiamento de
grama de Integração Social (PIS) e do Programa de 70% dos investimentos e a participação acionária do
Assistência ao Servidor Público (PASEP), fundos BNDE na fábrica de papel de imprensa que preten•
criados pelo Estado e administrados pelo BNDE. dem instalar no Paraná.
Porém semelhante pretensão do capital bancário pri- Os decretos do Executivo acerca da contenção
vado em absoluto coincide com os interesses da bur- da criação de novas empresas estatais e de privati-
guesia industrial, antés agravando as contradições zação de certo número de empresas sob o controle do
entre ambos. Estado, promulgados em julho de 1981, provocaram
Como não podia deixar de ser, as empresas esta- nova onda de publicidade antiestatista. Deram-lhe
tais, por.seu caráter capitalista, não escapam à ne- apoio empresários de posições tão divergentes em
cessidade da reprodução ampliada do capital. Por face do capital estrangeiro quanto Antônio Ermirio
isso, crescem e ultrapassam os limites aos quais deve- de Moraes e Augusto Trajano de Azevedo Antunes.
riam obedecer, segundo o consenso da burguesia ou O primeiro, atual superintendente do grupo Voto-
até mesmo por lei expressa. Em conseqüência, ge- rantim, elogiou o Ministro Delfim Netto porque sua
ram-se áreas de atrito e contestação que, vez por administração na Secretaria do Planejamento serviu
outra, inflamam as campanhas contra a estatização. para "( ... ) segurar o avanço das estatais". E Azevedo
Jacob Gore1uler A J1w:r:11esia Rrasíleira 79
78
Antunes - magnata da exportação de minérios, s6• camada de administradores de empresas estatais que
cio da Bethlehem Steel e da Hanna - elogiou o perseguem a expansão destas como um fim próprio e
Presidente Figueiredo pelo fato de, em dois anos e até se propõem a hegemonia no sistema econômico-
meio de governo, não haver criado nenhuma nova . social.
empresa estatal: um recorde há muito não verificado. A meu ver, a intensificação da atuação econô• ,
Ê explicável que, a partir de 1975, o clamor mica do Estado lhe atribuiu, no Brasil, elevado grau ,
antiestatista da burguesia ganhasse um tom estri• de autonomia de decisões, nas condições de militari• ,
, dente. Tornados mais escassos, os recursos ec9nô- zação do aparelho estatal p6s•64. Tal autonomia ex• '
j micos passaram a ser objeto de di~puta acirrada plica, por exemplo, empreendimentos desastrosos
entre empresas privadas e estatais, de tal maneira como o da Transamazõnica, no Governo Médici, ou
', que a contenção destas últimas pareceu solução im- que o Governo Geisel decidisse, entre quatro paredes
. perativa imediata para o empresariado. A par disso, e por conta própria, aprovar o acordo com a Ale•
o poderio alcançado por vários grupos da burguesia manha Ocidental para a execução de um programa
brasileira incitou-os a cobiçar a absorção de algumas tão irracional e de intenções tão suspeitas como o da
empresas estatizadas com perspectiva de lucrativi- instalação de oito usinas nucleares, implicando des·
dade por demais atraente. perdício clamoroso de recursos que o empresário An-
Ê improvável, contudo, que as intenções pri~~ti- tônio Ermírio de Moraes jã criticou mais de uma vez.
zantes ora acesas consigam reduzir o peso espec1flco Apesar disso, a autonomia do Estado não lhe confere
do setor estatal na economia brasileira. primazia sobre a classe dominante, nem tampouco
. Por fim, a segunda questão: teria o setor esta~al daí cabe deduzir que se tenha gerado uma "burgue- ,
; engendrado uma "burguesia de Estado''., º': seJa, sia de Estado" com objetivos especificos ou divergen- !
· uma burguesia juridicamente não-propnetãr1a dos tes da burguesia propriamente dita. .
. meios de produção, diferenciada pelos interesses e Os altos administradores das empresas estatais :
pelo comportamento? são servidores do capitalismo ao mesmo titulo que os ;
A tese sobre a existência da "burguesia de Es· altos administradores das empresas privadas. Uns e \
tado" tem sido defendida, no exterior, por Charles outros são profissionais cujos ordenados e mordo•
Bettelheim, com relação à União Soviética, e por mias contêm uma parcela de mais-valia, o que, en-
Sarnir Amin, com relação a países do Terceiro Mun· tretanto, não lhes tira o caráter de empregados do
do. Aqui, no Brasil, argumentaram a seu favor Fer- capital, seja privado ou do Estado, corri as limitações
nando Henrique Cardoso e Carlos Estevam MarHns, e a instabilidade próprias da condição de quem é
autores que apontaram para a formação de uma empregado e não patrão. Uns e outros obedecem à '
80 Jacob Goremler
..
i mesma lógica da eficiência capitalista resumida, em
última instância, na taxa de lucro. Demais, acham-
se ligados por múltiplas conexões e são intercambiã-
. veis, isto é, podem passar com facilidade do setor
· esta tal ao privado ou vice-versa. É certo que os admi-
nistradores das empresas· estatais costumam ser afe-
tados por injunções pollticas, porém estas decorrem
do jogo de forças na classe dominante em cujo rn,eio
se resolvem.
Para encerrar, penso que o conceito de burgue- BURGúESIA E CAPITAL
sia se define por determinado tipo de propriedade ESTRANGEIRO
dos meios de produção e não pela/unção de controle,
qualquer que seja o nome que lhe atribuam. Nas
condições da dominação de classe da burguesia, as
empresas estatais constituem uma propriedade cole· Padrão de investimento estrangeiro
tiva dos capitalistas, entregue ao controle e adminis-
. tração de seu representante concentrado e supremo
antes de 1930
-o Estado. Na vastidão do tema deste capítulo, devo res,
tringir-me a alguns tópicos. Um deles concerne à mu-
dança dé atuação do capital imperialista no decorrer
do século XX. No caso do Brasil, em particular,
tendo como marco divisor a Grande Depressão de
1929-1933.
No período que começa no século passado e vai
até 1930. o grosso das inversões estrangeiras no Bra-
sil coube ao capital inglês. A maior parte delas assu-
miu o carãter de investimento indireto, isto é, veio
sob a forma de empréstimos contraídos pelo Estado.
Os investimentos diretos, sob a forma de empre-
sas de propriedade estrangeira, concentravam-se na
ãrea dos serviços bãsicos de utilidade pública: estra-
82 Jacob Corender 83
das de ferro, companhias de navegação, portos, e Lênin pensavam de maneira oposta, ou seja, consi-
transportes e comunicações urbanas, fornecimento deravam que as inversões dos países industrializados
de energia elétrica, etc. Tais serviços absorveram deviam provocar o desenvolvimento do capitalismo
59% do investimento direto estrangeiro, entre 1860- nos países coloniais e semicoloniais. No entanto, tal
1902, e 62%, entre 1903-1913. idéia desses autores clássicos - aliás, por eles pouco
Contudo, mesmo naquela época, já aparecem elaborada, diante da escassez de material empírico
empresas estrangeiras na esfera da indústria de - foi abandonada e prevaleceu, nos meios marxis-
transformação. Em 1883, um consórcio inglês mon- tas, a corrente teórica que culminou na tese de Paul
tou, em Juiz de Fora, a Companhia -de Fiação e Baran (v. A Economia Política do Desenvolvimento):
Tecelagem Industrial Mineira, que, em 1914, empre- o capital imperialista não podia ter qualquer espécie
gava 637 operários. O grupo industrial Moinho In- de interesse na industrialização dos países atrasados
glês iniciou suas atividades no Brasil em 1886. Mas e constituía o principal obstáculo a essa industria-
as empresas industriais ·estrangeiras, durante muito lização.
tempo, tiveram pequena significação. De 1860 a
1902, representaram 4 % do investimento direto es-
trangeiro; de 1903 a 1913, atingiram 7%.
Até a Segunda Guerra Mundial, o tipo de inves- Mudança de padrão, suas causas
timento do capital imperialista nos países atrasados, e consequenc1as - A •
tria de transformação e apenas S% nos serviços pú- !aram-se no Brasil para a produção em escala de
.blicos. Em 1980, a proporção na indústria de trans- massa cujo mercado inclui, no fundamental, os
formação continuou de longe prioritária, mas bai- assalariados das camadas médias e de faixas não
xou para 74%, principalmente em virtude do espeta- negligenciáveis dos trabalhadores manuais.
cular aumento de 12 para 23% nas aplicações no A questão, para a qual desejo chamar a atenção,
item serviços, que inclui comércio, finanças. seguros, é outra. São por demais conhecidas as análises e
consultoria, turismo, publicidade e correlatos. Mas, denúncias que caracterizam o capital estrangeiro pe-
nos serviços públicos, o capital estrangeiro qu.ase la metáfora da "bomba de sucção": num lapso de
desapareceu. Não posso deter-me, aqui, nas conse- tempo suficiente para compensar as variações con-
qüências da forma específica que assumiu o investi- junturais, suas remessas de amortizações e rendi-
mento industrial do chamado capital multinacional. mentos para as matrizes, sob modalidades diversas,
Os rumos da industrialização· brasileira foram afe- algumas ocultas e de difícil quantificação, superam
tados pela concentração fortemente desproporcional com flagrante exorbitância o montante original apli-
dos investimentos estrangeiros, diretos e indiretos, cado no país onde se localizam as subsidiárias. Em
nos ramos produtores de bens de consumo durável conseqüência, o capital estrangeiro absorve pa~cela
(segundo definição corrente, bens cujo uso mínimo é de renda criada no país que o recebe e, com isso,
de três anos): automóveis, aparelhos eletro-eletrô- reduz incessantemente suas fontes nacionais de act•.-
nicos, utensílios diversos e bens complementares. mulação de capital. Quando se trata de país em
Considero, todavia, uma ilusão de 6ptica a afirmação processo de rápida industrialização, como o Brasil,
de que a economia brasileira passou a ser coman- as remessas do capital estrangeiro provocam desequi-
dada pelo "departamer.to de bens de consumo para líbrios graves no balanço de pagamentos, o que afeta
capitalistas", o que me parece aplicação simplista e a taxa cambial da moeda nacional, induz efeitos
impertinente do esquema de reprodução do capital inflacionários, etc. Manifestação de semelhante me-
elaborado pelo economista polonês Michal Kalecki canismo espoliador é a enorme dívida externa que
(v. Afrânio Mendes Catani, O Que É o Capitalismo, mais uma vez onera a economia brasileira e constitui
p. 124 e segs.). Ê concebível que a economia do um dos seus mais perturbadores pontos de estrangu-
Principado de Mônaco possa ser comandada por um
lamento.
"departamento de bens de consumo para capitalis- Apesar de tudo isso ser verdade .comprovada,
tas", nunca a de um pais como o Brasil. Já se seria unilateral limitar-se a focalizar tal aspecto da
tornou excessiva a evidência de que as firmas estran- atuação dô capital estrangeiro, nas condições do nos-
geiras fabricantes de bens de consumo durávpi insta- so País. Aliás, deve ficar claro que s6 me refiro ao
88 Jacob Gorender A Burguesia Bra.\·ileira 89
Brasil e não pretendo generalizar minhas observa- "bomba de sucção"; o outro, o da dinamização do
ções a quaisquer outros países. mercado interno. Uma fábrica de automóveis carece
Uma coisa é o capital estrangeiro aplicado em de aço, metais não-ferrosos, vidro, borracha, mate•
inversões puramente financeiras ou em unidades pro- riais plásticos, tintas, peças e componentes. O au-
dutivas (mineração e plantagens) voltadas para a mento da massa de empregos nos ramos produtores
exportação. O mercado interno do país onde se loca- de tais bens de produção repercute no crescimento
lizam tais inversões não interfere na lucratividade dos ramos produtores de bens de consumo, o que
dos investimentos. Outra coisa é o capital estrangeiro volta a estimular o departamento produtor de bens
investido em fábricas de automóveis, ,de produtos de produção.
químicos ou de cigarros, cujas vendas devam ser Impõe-se, em conseqüência, a seguinte conclu-
realizadas no mercado interno do país onde se locali- são: com a característica de sua duplicidade e le·
zam as fábricas. Neste último caso, os investimentos vando em conta as formas contraditórias de sua atua-
tornam-se parte integrante da organização produtiva ção, as empresas industriais estrangeiras,. objetiva·
dirigida com caráter específico ao mercado interno. mente, não podem deixar de contribuir para o desen·
Além disso, mesmo operando em condições de oligo- volvimento do modo de produção capitalista no Brasil.
pólio, as subsidiárias das muitinacionais enfrentam-
se numa concorrência feroz, que as obriga a escalas
cada vez maiores de produção e de vendas. A posição
das empresas industriais estrangeiras é, por isso, Uma gradação que vai.do nacionalista
dúplice: continuam sob o comando da matriz (norte- ao testa de ferro
americana, alemã, inglesa, japonesa, etc.) e devem Tem a burguesia brasileira uma posição geral e
subordinar-se aos planos mundiais da matriz no que constante diante do capital estrangeiro?
diz respeito a remessa de rendimentos, esquemas de Se remontarmos ao passado, veremos que os
investimentos, reserva de mercados de exportação, porta-vozes da burguesia se alternam no louvor à
etc.; mas fazem parte também da economia brasi- presença do capital estrani;e.iro e na crítica a certas
leira, o que lhes impõe o objetivo imediato de vender formas de sua atuação. Acontecimento típico foi o do
o máximo no mercado brasileiro e as torna interes- confronto, em 1937, no qual oito frigoríficos nacio-
sadas no crescimento dele, com a perspectiva, está nais se aliaram aos pecuaristas contra a política dos
claro; de dominar suas melhores fatias. sete frigoríficos estrangeiros então instalados no Bra-
O investimento industrial estrangeiro apresenta, sil. Estes últimos, associados sob a forma de cartel
assim, dois aspectos combinados. Um aspecto é o da mundial, haviam praticamente af~~tado o Brasil do
90 Jacob Gorell{/er A Burguesia Brasileira 9/
mercado internacional de carnes e concentraram tuação ambígua, assim se manifestou José Mindtin,
suas vendas no mercado interno, com a aplicação de presidente da Metal Leve: "( ... ) achamos que o capi-
um processo de verticalização, que ia c!a criação e a tal estrangeiro deve ser disciplinado, porque senão
invernagem do gado à produção de conservas. A ficaremos numa situação de dependência excessiva.
posição dos frigorificos nacionais e dos pecuaristas Porém, ele não deve ser combatido". Os investimen-
foi a de reclamar medidas contra este processo de tos estrangeiros, conforme opinou, devem ser aceitos
verticalização e exigir que os frigoríficos estràngeiros segundo critérios seletivos e direcionados para seto-
se voltassem para a tarefa específica de exportaçiio e res prioritários.
deixassem o mercado interno reservado aos frigorí- Se nos voltarmos para o comportamento dos
ficos nacionais. · empresários individuais, não encontraremos uma po-
No episódio, já se esboçava o princípio básico da sição única, mas uma gradação de atitudes. Numa
posição da burguesia brasileira como classe, em seu ponta, colocar-se-ia o falecido José Ermírio de Mo-
conjunto: o da aceitação seletiva do capital estran- raes, sucessor de Pereira Jgnacio na liderança do
geiro. grupo Votorantim. Nele encontramos a expressão
Tal princípio se tornará mais claro e consoli- empresarial mais avançada do nacionalismo bur-
dado na fase recente de investimentos estrangeiros guês. O interesse do seu grupo pela extração e indus-
maciços na indústria de transformação. Convém à trialização de minérios (alumínio, ferro e aço, zinco,
burguesia, por exemplo, facilitar a entrada no Brasil níquel, cimento) levou-o a prolongado confronto com
das chamadas indústrias de ponta, montadoras de os cartéis internacionais, enfrentados com êxito e
artigos finais que compram bens intermediários de sem aceitação de acoinodações associativas. De tal
outras empresas. A Ford tem cerca de dois mil forne- posição não-associada, em que se situam também
cedores e a IBM recebe peças e componentes de mais grupos de produção especializada como Brahma e
de trezentos. Os grandes fabricantes nacionais de Romi, passamos aos grupos empresariais cuja asso-
autopeças, como a Braseixos (grupo Vidigal) e a Me- ciação com o capital estrangeiro é significativa, po-
tal Leve (grupo K!abin-Láfer), prosperaram de ma- rém secundária, a exemplo de Villares, Gerdau-
neira fabulosa em companhia da indústria automobi- Johannpeter e Bardella; em seguida, aos grupos es-
lística. Se, por conseguinte, é do seu interesse a treitamente associados com o capital estrangeiro, a
expansão desta indústria multinacional no Brasil, exemplo de Vidigal, Morteiro Aranha, Klabin, An·
simultaneamente se vêem obrigados à vigilância in- tarctica e Ultra (Peri !gel); àqueles que, em todos os
cessante contra os propósitos de verticalização das empreendimentos importantes, estão fortemente as-
fábricas montadoras. Refletindo certamente tal si- sociados ao capital estrangeiro, como Azevedo Antu-
92 Jacob Gorender A Burguesia Brasileira 93
nes; até chegar à figura do testa-de-ferro, que Antô- hora de valorizar o poder de atração do mercado
. nio Gallotti, ex-presidente da Light e da Brascan, brasileiro, através da fixação· de uma política de en-
personificou da maneira mais completa e bem-suce- trada de capitais de risco. Devemos definir com pre•
dida. cisão regras disciplinadoras do ingresso das empresas
Todas as gradações reproduzem-se nas instân- estrangeiras, a partir das conveniências nacionais,
cias decisórias do aparelho de Estado, constituindo estabelecidas .Pela política industrial ·em seu con-
as correntes profundas que provocam turbulências junto. Não se trata, apenas, de estabelecer restrições,
mais ou menos vigorosas na superfície visível. . senão de oferecer princípios duradouros que permi-
A verdade da posição da burguesi;l, como.clas- tam um convívio proveitoso para a nação entre par-
se, não se fixa em nenhum desses graus isolada- ceiros, salientando-se o caráter complementar da
mente, mas se condensa em certa posição consensual contribuição estrangeira ao nosso próprio esforço de
reiterada com variações através dos tempos, na qual desenvolvimento nacional".
se aliam o protecionismo alfandegário à aceitação do A conclusão a tirar é que o capital estrangeiro
investimento estrangeiro dentro do País, uma vez que não entrou no Brasil por manobra solerte de uma
se subordine a critérios seletivos e condições especiais "camarilha" ou de um "grupelho" de entreguistas,
de operação. Precisamente nesse sentido se manifes- embora não faltem entreguistas para servir aos inte-
taram o Primeiro Congresso Brasileiro da Indústria, resses das multinacionais. Foi a própria burguesia
realizado em 1944, e a Conferência das Classes Pro- brasileira, como classe, que precisou do capital es-
dutoras, no ano seguinte, da qual resultou a Carta trangeiro e o incentivou a vir ao Brasil. O naciona·
Econômica de Teres6polis. Também foi esta a posi- lismo da burguesia brasileira não implica a rejeição
ção do documento assinado pelos oito empresários do capital estrangeiro, mas sua cooperação demar-
eleitos, em 1977, como os mais representativos entre cada pelas conveniências do capital nacional.
cinco mil dos seus pares, numa pesquisa da Gazeta As relações entre a burguesia brasileira e o capi-
Mercantil: Cláudio Bardella, Severo Gomes, José tal estrangeiro são, ao mesmo tempo, associativas e
Mindlin, Antônio Ermírio de Moraes, Paulo Vil- contraditórias. Ora se acentua. um ·aspecto, ora ou-
lares, Paulo Velinho, Laerte Setubal e Jorge Gerdau- tro, seja no conjunto da burguesia, seja em segmen-
Johannpeter. No referido documento, afirmaram os tos particulares. Mas, ambos os aspectos sempre têm
empresários:"(. •. ) a empresa estrangeira tem desem- coexistido. E, embora tantas empresas nacionais iso-
penhado um papel inegável na construção da econo- ladas já hajam sido absorvidas pelas multinacionais
mia de mercado no Brasil. E nem desejamos pres- ou caído na concorrência com elas, é equivocado
cindir de sua participação no futuro. Mas já está na supor que a burguesia brasileira, em seu conjunto e
94 Jacob Gorender A Burguesia Rrw:ileira 95
No referente à empresa privada nacional, cabe suco de laranja e do café solúvel. Assenhoreou-se do
salientar que a nova etapa do desenvolvimento eco- moderno comércio varejista (supermercados e shop·
nômico lhe impôs profundas transformações tecnoló- ping centers) e, por conta própria ou em associação
gicas e organizacionais. Nem todos os grupos mais com o capital estrangeiro, penetrou em ramos de
antigos conservaram as posições conquistadas. Os tecnologia avançadá, a exemplo da petroquímica, da
grupos Pignatari, Morgan ti e Soares Sampaio perde- produção eletro-eletrônica e da indústria mecânica.
ram o lugar entre os grandes, enquanto o grupo Na esfera bancária privada, à exceção talvez do
Matarazzo, liderado por Maria Pia, atravessa u.ma Mercantil de São Paulo e do Comind, os maiores
fase de agudas dificuldades. Em compensação, cres- grupos - Bradesco, Iritú, Nacional, Unibanco,
ceram vigorosamente grupos como Votorantim, Vil- Real, Bamerindus, Safra e Econômico - conquis-
lares, Vidigal, Brahma, Antarctica, Gerdau-Johann- taram .sua posição atual após a Segunda Guerra
peter, Ometto-Dedini, Romi, Bonfiglioli, Hering e Mundial.
Lundgren. Projetaram-se grupos de evolução re- Qual a correlação de forças entre os três setores
cente, çomo Mariani Bitténcourt, Barreto de Ara~- na fase em curso?
jo e Paes Mendonça, na Bahia; Azevedo Antunes, Pei- Apresentarei duas formas de avaliação, ambas
xoto de Castro, João Fortes e Sendas, no Rio de Ja. referentes ao ano de 1974.
neiro; Feffer, Civita, Cutrale, Confab, Machline- Em primeiro lugar, vejamos o que se passa no
Sharp, Gradiente e Pão de Açúcar, em São Pau)o; universo restrito das duzentas maiores"empresas não-
Café Cacique e Hermes Macedo, no Paraná; Sadia, financeiras, com a seguinte participação numérica:
em Santa Catarina; Ipiranga e Olvebra, no Rio 69 estatais, 76 de capital privado nacional e 55 de
Grande do Sul. Existem ramos que constituem ver- capital estrangeiro. Pelo critério do patrimônio lí-
dadeiras "reservas de caça" do capital estrangeiro, quido, as participações percentuais seriam as seguin-
onde a presença do capital nacional é residual tes: estatais - 67,3; capital privado nacional -
ou praticamente inexistente. Aí se incluem os ra- 16,1; capital estrangeiro - 16,6.
mos automobilístico, farmacêutico e de produção Em segundo lugar, vejamos o que se passa no
de cigarros. Mas o capital privado nacional con- universo de 5113 empresas que, em 1974, possuíam
serva presença destacada ou dominante nos ramos um capital acima de 8 milhões de cruzeiros (também
chamados tradicionais, como o têxtil, o de produtos exclulda a esfera financeira). A participação numé-
alimentícios e o editorial e gráfico.Além disso, ocu- rica é aí a seguinte: estatais - 246; capital privado
pou espaços recém-abertos como crs de novos produ- nacional - 4 326; capital estrangeiro -:- 541. Pelo
tos de exportação, 'a exemplo de derivados de soja, do mesmo critério do patrimônio líquido, a participação
98 Jarob Gorender A Hw:r:uesia llmsi!eira 99
percentual seria a seguinte: estatais - 36, 9; capital suma,a sólida presença do capital multinacional na
privado nacional - 48,3; capital estrangeiro - 14,8. indústria de transformação constitui o elo mais deci-
Se, no mesmo universo de pouco mais de cinco sivo do entrosamento da economia brasileira no sis-
mil empresas, focalizarmos em particular a indústria tema capitalista mundiai. Porém este processo de
de transformação, teremos a seguinte participação internacionalização não ocorreu, nem ocorre com o
percentual no patrimônio líquido: estatais - 20, 1; desaparecimento da burguesia brasileira. Bem ao
capital privado nacional - 50,6; capital estran- contrário, ela conservou sua identidade de interesses
geiro - 29,3. e ainda conseguiu se fortalecer.
Este levantamento tem uma participação muito A correlação acima exposta, referente ao ano de
pouco representativa da agricultura e exclui dezenas 1974, sofreu alterações posteriores. Estas reforçaram
de milhares de pequenas empresas, o que contribuiu as posições do capital estatal em detrimento mais do
para diminuir, em alguns pontos, o peso específico capital estrangeiro do que do capital privado nacio-
do capital privado nacional. Por fim, como foi assi• nal. Basta ressaltar que, em 1979, passou para a
nalado, exclui a esfera financeira; na qual é bem propriedade estatal a Light, até então a maior em·
minoritária a presença do capital estrangeiro. Com presa estrangeira no Brasil. Essa transferência, so-
tais ressalvas importantes, podemos extrair as se- mada a outras evoluções, já se reflete no quadro das
guintes conclusões: no patrimônio capitalista exis- duzentas maiores empresas não-financeiras de 1979.
tente no Brasil no ano de 1974, o mínimo de 85% era Sob o aspecto da participação numérica, temos: esta·
de propriedade nacional, com predominância da tais - 83; capital privado nacional - 78; capital
propriedade privada; o capital privado nacional de- estrangeiro - 39. Pelo :ritério do patrimônio lí-
tinha a metade do patrimônio da indústria de trans- quido, a participação percentual era a seguinte: esta·
formação; o capital estrangeiro dominava cerca de tais~ 77,9; capital privado nacional - 13,8; capital
30% da indústria de transformação, o que, por si só, estrangeiro - 8,3.
lhe dava uma posição estratégica fundamental. Os dados acima, extraídos dos levantamentos da
Acresce ainda que as grandes unidades produtivas de revista Visão, confirmam-se, sob outro aspecto, pelos
capital privado nacional possuem dimensões meno- levantamentos da revista Exame. A partir de 1976 e
res do que as grandes unidades produtivas do capital até 1980, durante quatro anos seguidos, observa-se
estrangeiro. A favor deste pesa· também a vantagem uma inflexão favorável à empresa privada nacional
qualitativa da superioridade em matéria de tecno- em sua correlação com a empresa estrangeira. Na
logia, fontes de financiamento, organização geren- lista das quinhentas maiores empresas privadas .não-
cial e atuação em ramos modernos e dinâmicos. Em financeiras pelo critério do volume de vendas, o nú-
Jacob Gorender
Goulart, do qual chegou a ser Ministro da Agricul- po de Serviço (FGTS), o que facilitou a manobra da
tura em 1963, seu filho homônimo - atual presi- rotatividade da mão-de-obra e forneceu os recursos
dente do grupo Votorantim - financiou e liderou o básicos às operações do Banco Nacional de Habi-
IPES, um dos centros articuladores da derrocada do tação, no qual se apoiou o grande surto da cons-
mesmo Governo Goulart. trução civil; elaboração de uma legislação estimu-
O empresariado brasileiro teve a aliança dos lante para o ingresso de capitais estrangeiros, no que
latifundiários, a colaboração das multinacionais, a se refere à remessa de lucros, sistema de taxação,
ajuda do Governo norte-americano e contou com a isenções tributárias, garantias contra risco de na-
intervenção executiva das Forças Armadas. Estas, cionalização, etc.; estruturação do mercado de capi-
por sua coesão institucional essencialmente conser- tais, o que deu lugar à diversificação e agilização do
vadora e antidemocrática, não apenas se incumbi- sistema financeiro, à revitalização da Bolsa de Valo-
ram da execução do golpe, como assumiram o Poder res, ao lançamento de títulos governamentais como
de Estado, militarizaram suas instituições e impri- fonte não inflacionária de recursos e à canalização
miram um estilo militarizado à tomada de decisões da poupança privada para o financiamento da com-
na esfera da política estatal. pra de bens de consumo durável, sobretudo automó-
O Estado, apesar disso, não se colocou acima veis; reformulação do sistema tributário e dos órgãos
das classes ( da chamada sociedade civil), porém se fazendários, elevando a carga fiscal em termos abso-
tornou mais burguês. O que pode e deve ser aferido lutos e com relação ao Produto Interno Bruto (PIB);
tomando como referência a polltica aplicada pelo instituição de incentivos fiscais, subvenções e cré-
Governo Castello Branco e por seus sucessores. Esta ditos subsidiados à produção para exportação, sobre-
política, que tem sido definida pelo conceito de mo- tudo de produtos industrializados; isenção de impos-
dernização conservadora extraído da obra de Bar- tos, crédito subsidiado e outros incentivos à venda de
rington Moore, Jr. (The Social Origins of Dictator- tratores, máquinas agrícolas e fertilizantes, o que
ship and Democracy), se consubstanciou nas seguin- beneficiou as multinacionais e acelerou a capitali-
tes medidas principais: arrocho salarial, com vistas à zação da agricultura latifundiãria; criação de nume-
elevação da taxa de lucro em declínio por motivo da rosos fundos, dotando o Governo de recursos canali-
fase depressiva do ciclo econômico entre 1963-1967, zados para o capital privado e para a realização de
tornando-se medida permanente como forma de con- obras de infra-estrutura, o que agigantou um pu-
trole da taxa de exploração da força de trabalho; nhado de firmas nacionais do ramo da construção
extinção da estabilidade no emprego após dez anos pesada (Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Men•
de serviço e criação do Fundo de Garantia por Tem- des Júnior e Norberto Odebrecht).
104 Jacob Gore,u/er A Burguesia Brasileira 105
todo capitalismo, por suas leis imanentes, tende à resultante da fusão do capital bancário com o capital
exploração da força. de trabalho até o limite das industrial. As conexões ora existentes entre bancos e
possibilidades físicas. O que o impede de chegar a indústrias, em nosso País, estão ainda longe de confi-
este limite e lhe impõe formas civilizadas de explo- gurar uma fusão, que implicaria a formação de um
ração é a luta de classes dos operários. capital simultaneamente bancário e industrial, com
c) A estrutura do parque industrial passou por os bancos assumindo os riscos e a orientação do
profundas modificações, resultantes do crescimento investimento industrial. Por enquanto, o que ocorre,
mais rápido dos ramos produtores de bens de produ- em uns poucos casos, é apenas que grupos industriais
ção e de consumo durável. As indústllÍas metalúr- possuem uma ramificação bancária, a exemplo do
gica, mecânica, de material elétrico e comunicações grupo Vidigal (Banco Mercantil) e do grupo Bonfi-
e de material de transporte elevaram sua partici- glioli (Banco Auxiliar). Em contraste, o grupo ban-
pação conjunta na produção industrial total de cário Moreira Salles (Unibanco) perdeu o fôlego e
13,2%, em 1939, para 32,3%, em 1969. Ao mesmo fracassou na tentativa de liderar um consórcio petro-
tempo, as indústrias têxtil e de produtos alimentícios qulmíco. Se focalizarmos os dois maiores grupos
tinham sua participação conjunta diminuída de bancários - Bradesco e Itaú - , verificamos que o
46,4 % para 23, 1 % . primeiro até agora só incursionou na esfera de servi-
Em 1980, a produção de bens de capital repre- ços e· o segundo tem suas ligações industriais limi-
sentou 23% do produto industrial total, contra 7%, tadas à Dura tex.
em 1969. Somada à produção de bens intermediá- Se bem que o crescimento do capital nacional já
rios, já se pode efirmar que o comando da indústria se manifeste no seu transbordamento para o exterior,
brasileira pertence; hoje, ao departamento produtor carecem de fundamento as especulações sobre impe-
de bens de produção. No âmbito da indústria de bens rialismo ou subimperialismo brasileiro. Contudo, o
de capital, o capital privado nacional ganhou posição ovo da serpente está chocando. Se houver tempo,
majoritária, apoiado nos maciços financiamentos do ainda veremos um imperialismo brasileiro.
BNDE. Note-se que o grupo Votorantim, com cerca e) Cresceu impetuosamente, nos últimos tem-
de 50 mil empregados em 1981, aparece atualmente pos, o envolvimento de grupos industriais com em-
como o maior empregador privado do País. preendimentos na esfera agropecuária, o que incen-
d) Julgo precipitada a afirmação de que já exis- tiva o desenvolvimento capitalista da agricultura pela
te um capital financeiro brasileiro, considerando sob via da grande propriedade fundiária. Entre os grupos
o conceito de capital financeiro - conforme Hilfer- industriais ligados a iniciativas ·agropecuárias, po-
ding, Bukharin e Lênin - o capital monopolista dem ser mencionados - numa relação longe de
108 Jacob Gorender A Burguesia Brt.1sileira 109
L
114 .Jaco!, Gon~nda A Bw:i:ue:âa !Jrasileira / 15
Brasileira da revista Visão, 1975, 1978, 1980; edições Burguesia Nacional e Desenvolvimento; Henrique
Melhores e Maiores da revista Exame, 1977, 1978, Rattner e outros - Pequena e Média Empresa no
1980. 1981; Brasil em Exame, 1980, 1981; Annibal Brasil; Liana Maria Aureliano - No Limiar da ln·
Villanova Villela e Wilson Suzigan - Política do dustrialização; José de Souza Martins - Empresário
Governo e Crescimento da Economia Brasileira, e Empresa na Biografia do Conde Matarazzo; Fer-
1889-1945; Gerald D. Reiss - Development of Bra- nando Motta - Empresário e Hegemonia Política.
zilian Enterprise: a Historical Perspective; Ana Célia Formação da ideologia burguesa: Roberto C.
Castro - As Empresas Estrangeiras no Brasil, l 860- Simonsen - Evoillção Industrial do Brasil e Outros
1913; Paulo Neuhaus (coord.) - Economia Brasi- Estudos; Edgard Carone - O Pensamento Indus·
leira: uma Visão Hist6rica; Heitor Ferreira Lima - triai no Brasil, 1880-1945 (coletânea de documen-
Evolução Industrial de São Paulo; Edgard Carone - tos); Marisa Saenz Leme - A Ideologia dos Indus·
O Centro Industrial do Rio de Janeiro, 1827-1977; triais Brasileiros, 1919-1945.
Eulália Maria Lahmeyer Lobo - Hist6ria do Rio de Desenvolvimento regional e formaçiio da bur·
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Vinhas de Queiroz, Maria da Conceição Tavares, e Evoluçiio Urbana (estudo comparativo dos casos de
Luciano Martins, Julian Chacel, Roberto Macedo, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mi-
Pedro Malan e Carlos von Doellinger. nas Gerais e Pernambuco); Warren Dean - A ln·
dustrializaçiio de São Paulo; Wilson Cano - Raízes
da Concentraçiio Industrial em Siio Paulo; Sérgio
Bibliografia Silva - Expansiio Cafêeira e Origens da Indústria
no Brasil; Domingos Giroletti - O processo de
Reuni obras de iniciação ao estudo da burguesia Industrialização de Juiz de Fora: 1850 a 1930.
brasileira por um critério temático, embora, em nu- Burguesia e classe operária: Ângela Maria de
merosos casos, vários temas sejam abordados na Castro Gomes - Burguesia e Trabalho.
mesma obra. Burguesia, Estado e capital estrangeiro: Eli Di-
Hist6ria e sociologia do empresariado: Stanley niz - Empresário, Estado e Capitalismo no Brasil,
J. Stein - Origens e Evolução da Indústria Têxtil no 1930-1945; Peter Evans -A Tríplice Aliança; Carlos
Brasil, 1850-1950; Nícia Vilela Luz - A Luta pela von Doellinger e Leonardo C. Cavalcanti - Empre·
Industrialização do Brasil; Fernando Henrique Car- sas Multinacionais na I11d1,stria Brasileira; Carlos
doso - Empresário Industrial e Desenvolvimento Estevam Martins - Capitalismo de Estado e Modelo
Econômico; Luciano Martins - Industrialização, Político no Brasil; Helena Hirata - Capitalismo de
J /6 Jacob Gorender A Burguesia Brasileira 117