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CAIO PRADO JÚNIOR

DO AUTOR:
EVOLUÇÃO POLÍTICA DO BRASIL
2.ª edição - 1947 - osgoladcx
U.R.S.S., UM NOVO MUNDO
FORMAÇÃO DO BRASIL
CONTEMPORÂNEO
2.a edição - 1935 - esgotada
FORMAÇÃO DO BRASIL CONTE��
PORANEO (COLONIA) 1
6.ª edição - 1961
HISTóRIA ECONOMICA DO BRASIL COLÔNIA
6.ª edição - 1961
EVOLUÇJW POL1TICA DO BRASIL
E OUTROS ESTUDOS
3.ª edição - 1961
'\:
DIALtTICA DO CONHECIMENTO
dois tomos - 3.ª edição - 1960
ESBôÇO DOS FUNDAMENTOS
DA TEORIA ECONOMICA
�-ª edição - 1961 6.' EDIÇÃO
NOTAS INTRODUTóRIAS A LÓGICA
DIALÉTICA - z.a edição - 1961
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Sistema Alexandria
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EDITORA BRASILIENSE
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Engenho de açúcar.
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OFEREÇO �STE LIVRO A
NENA,
minha mulher
e
companheira de trabalho .
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O INÍCIO do séc. XIX não se assinala para nós unicamente por
êstes acontecimentos relevantes que são a transferência da
sede da Monarquia portuguêsa para o Brasil e os atos prepara­
tórios da emancipação política do país. Êle marca uma etapa
decisiva em nossa evolução e inicia em todos os terrenos, social,
político e econômico, uma fase nova. Debaixo ....daqueles acon­
tecimentos que se passam na superfície, elaboram-se processos
complexos de que êles não foram senão o fermento propulsor,
,,
e, na maior parte dos casos, apenas a expressão externa. Para o
'historiador, bem como para qualquer um que procure compre­
ender o Brasil, inclusive o de nossos dias, o momento é decisivo.
O seu interêsse decorre sobretudo de duas circunstâncias: de um
lado, êle nos fornece, em balanço final, a obra realizada por
três séculos de colonização e nos apresenta o que nela se en­
contra de mais característico e fundamental, eHminando do qua­
dro ou pelo menos fazendo passar ao segundo plano, o aciden­
tal e intercorrente daqueles trezentos anos de história. É uma
síntese dêles. Doutro lado, constitui Úma chave, e chave preciosa
e insubstituível para se acompanhar e interpretar o processo his­
tórico posterior e a resultante dêle que é o Brasil de hoje. Nêle
se contém o passado que nos fêz; alcança-se aí o instante em que
! os elementos constitutivos da nossa nacionalidade - instituições.
fundamentais e energias - organizados e acumulados desde o
início da colonização, desabrocham e se completam. Entra-se en­
tão na fase propriamente do Brasil contemporâneo, erigido sôbre
aquela base.
Tínhamos naquele momento chegado a um ponto morto. O
regime colonial realizara o que tinha para realizar. Sente-se que
a obra da metrópole estava acabada e nada mais nos poderia tra­
zer. Não apenas por efeito da decadência do Reino, por maior
que ela fôsse: isto não representa senão um fator compfementar e
acessório que quando muito reforçou uma tendência já fatal e ne­
cessária apesar dela. _Não é somente o regime de subordinação
colonial em que nos achávamos que está em jôgo: mas sim o con-. .
junto as instituições, o sistema colonial na totalidade dos: seus ca>
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ractetes econômicos e sociais que se apresenta prenhe de trans­
formações profundas. obra colonizadora dos portuguêses, na
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base em que assentava e que em conjunto forma aquêle sistema, Analisem-se os elementos da vida brasileira contemporânea;
esgotara suas possibilidades. Perecer ou modificar-se, tal era o "elementos" no seu sentido mais amplo, geográfico, econômico, so­
dilema que se apresentava ao Brasil. Nem lhe bastava separar­ cial, político. O passado, aquêle passado colonial que referi aci­
-se da mãe-pátria, o que seria quando muito passo preliminar, em­ ma, aí ainda está, e bem saliente; em parte modificado, é certo, mas
bora necessário. O processo de transformação devia ser mais pro­ presente em traços que não se deixam iludir. Observando-se o
fundo. E de fato o foi. O Brasil começa a se renovar, e o momen-. Brasil de hoje, o que salta à vista é um organismo em franca e · ati­
to que constitui o nosso ponto de partida neste trabalho que o va transformação e que não se sedimentou ainda em linhas defini­
leitor terá talvez a paciência de acompanhar, é também o daquela das; que não "tomou forma". É verdade que em alguns setores
renovação. Mas ponto de partida apenas, início de um longo pro­ aquela transformação já é profunda e é diante de elementos pró­
cesso histórico que se prolonga até os nossos dias e que ainda não pria e positivamente novos que nos encontramos. Mas isto, ape­
está terminado. Com vaivéns, avanços e recuos, .êle se desenrola sar de tudo, é excepcional. Na maior parte dos exemplos, e no
através de um século e meio de vicissitudes. O Brasil contempo­ conjunto, em todo caso, atrás daquelas transformações que às vê­
râneo se define assim: o passado colonial que se balanceia e en, zes nos podem iludir, sente-se a presença de uma realidade já
cerra com o século XVIII, mais as transformações que se sucede­ muito antiga que até nos admira de aí achar e que não é senão
ram no decorrer do centênio anterior a êste e no atual. Naquele aquêle passado colonial.
passado se constituíram os fundamentos da nacionalidade: povoou-se ./ .Não me refiro aqui Uilicamente a tradições e a certos anacro­
um território .semideserto, organizou-se nêle uma vida huillana que nismos berrantes que sempre existem em qualquer tempo ou lugar,
diverge tanto daquela que havia aqui, dos indígenas e suas na­ mas até a caracteres fundamentais da nossa estrutura econômica
ções, como também,_ embora em menor escala, da dos portuguê­ e social. No terreno econômico, por exemplo, pode-se dizer que
ses que empreenderam a ocupação do território. Criou-se no plano o trabalho livre não se organizou ainda inteiramente em todo o .__
das realizações humanas, algo de novo. 11:ste "algo de novo" não país. Há apenas, em. muitas partes dêle, um processo de ajusta­
é uma exp��ssão abstrata; concretiza-se em todos os elementos que mento em pleno vigor, um esfôrço mais ou menos bem sucedido,
constituem um organismo social completo e distinto: uma popula­ naquela direção, mas que conserva traços bastante vivos do regime
ção bem diferenciada e caracterizada, até êtnicamente e habitando escravista que o precedeu. O mesmo poderíamos dizer do caráter
um determinado território; uma estrutura material particular, cons­ fundamental da nossa economia; isto é, da produção extensiva para
tituída na base de elementos próprios; uma organização social de,, mercados do exterior, e da correlata falta de um largo mercado
finida por relações específicas; finalmente, até uma consciência, mais interno :Sàlidamente alicerçado e organizado. Donde a subordina­
precisàmente uma certa "atitude" mental coletiva particular. Tu­ ção da economia brasileira a outras estranhas a ela; subordinação
do isto naturalmente já se vem esboçando desde longa data. Os aliás que se verifica também em outros setores. Numa palavra,
não completamos ainda hoje a nossa evolução da economia colo­
sintomas de cada um daqueles caracteres vão aparecendo no cur0 nial para a nacional.
so de tôda nossa evolução colonial; mas é no têrmo dela que se·
completam e sobretudo se definem nitidamente ao observador. No terreno social a mesma coisa. Salvo em alguns setores do
, Entramos então em nova fase. Aquilo que a colonização rea­ país, ainda conservam nossas relações sociais, em particular as de
classe, um acentuado cunho colonial. Entre outros casos, estas
lizara, aquêle "organismo social completo e distinto" constituído diferenças profundas que cindem a população rural entre nós em
no período anterior, começa a se transformar, seja por fôrça pró­ categorias largamente díspares; dispariaade que não é apenas no .
pria, seja pela intervenção de novos fatôres estranhos. É então o nível material de vida, já inteiramente desproporcionado, mas so­
presente que se prepara, nosso presente dos dias que correm. Mas bretudo no estatuto moral respectivo de umas e outras e que nos
êste novo processo histórico se dilata, se arrasta até hoje. E ain­ projeta inteiramente para o passado. ·os depoimentos dos viajan­
da não chegou a sen têrmo, É por isso que para compreender o tes estrangeiros que nos visitaram em princípios do séc. XIX são
Brasil contemporâneo precilamos ir tão longe; e subindo até lá, fre_qüentemente de flagrante atualidade. Neste, como aliás em ou­
o leitor não estará ocupando-se apenas com devaneios históricos, tros setores de igual relêvo. Quem percorre o Brasil de hoje fica
mas .colhendo dados, e dados indispensáveis para interpretar e muitas vêzes surpreendido com aspectos que se imagina existirem
compreender o meio que o cerca na atualidade. nos nossos dias Uilicamente em livros de his�ória; e se atentar um

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Estes são apenas exemplos colhidos mais ou menos ao acaso.
pouco para êles, verá que traduzem fatos profundos e não são Por tôda parte se observará coisa semelhante. E foram estas, bem
apenas reminiscências anacrônicas. como outras considerações da mesma nahlreza, que me levaram,
Mas não é sümente isto. Coloquemo-nos num terreno prático. para chegar a uma interpretação do Brasil de hoje, que é o que
Os problemas brasileiros de hoje, os fundamentais, pode-se dizer realmente interessa, àquele passado que parece longínquo, mas que
que já estavam definidos e postos em equação há 150 anos atrás. ainda nos cerca de todos os lados. Pelo que ficou dito, também
E é da solução de muitos dêles, para que nem sempre atentamos se justificará o J)lano que adotei aqui. Faço em primeiro lugar
devidamente, que depende a de outros em que hoje nos esforça­ um balanço geral da colônia em princípios do século passado, ou
mos inUtilmente. Um dos aspectos mais chocantes do Brasil, e �ntes; naquele período que cavalga ::s dois s1culos que precedem
que alarma qualquer observador de nossas coisas, é esta atonia 1med1atamente o atual; teremos entao uma smtese do Brasil que
econômica, e portanto "vital", em -que mergulha a maior parte do
território do país. Pois bem, há século e meio, nas mesmas regiões
saía, já formado e constituído, dos três séculos de evolução colo­
nial; e tal será o objeto dêste primeiro volume. As transformações ii
ainda agora atacadas do mal, já se observava e discutia o fato. e vicissitudes seguintes, que nos trouxeram até o estado atual, virão li,.
Autoridades representavam sôbre êle à metrópole, particulares se depois. Se esta primeira parte, que ora enceto, parecer muito
interessavam pelo assunto e a êle se referiam ·em memórias e outros longa para uma simples introdução, isto será porqne a outra de­
escritos que chegaram até nós, e cuja precisão e clareza não foram pende dela, e encontrará aí seus principais elementos de inter­
ainda, na maior parte das vêzes, ultrapassadas por observadores pretação.
mais recentes. Há outros exemplos: os processos rudimentares em­
pregados na agricultura do país, infelizmente problema ainda da
mais flagrante atualidade, já despertavam a atenção em pleno séc. ·
XVIII; e enxergava-se nêles como se deve enxergar hoje, a fonte
de boa parte dos males que afligiam a colônia_ e que ainda agora
afligem o Brasil nação de 1942. Refere-se a êles, entre outras, uma
mem6ria anônima de 1770 e tantos (Roteiro do Maranhão a
Goiás): em algumas de suas passagens, parece que estamos lendo
o relatório de um inspetor agrícola recém-chegado do interior. St.
Hilaire, quarenta anos depois, fará observações análogas, acre.sci­
das de seus conhecimentos de naturalista que era. Inaugura-se o
Império, e o Brig. Cunha· Matos abre o capítulo sôbre a agricul­
tura de Goiás na sua Corografia histórica que é de 1824, com
a seguinte frase: "A agricultura, se é que tal nome se pode dar
aos trabalhos rurais da província de Goiás ..." Coisa que repe­
tida hoje acêrca de quase tôda atividade agrícola do Brasil, es­
taria longe de muito exagerada. As comunicações interiores do
país constituem outro problema ainda em nossos dias nos primei­
ros ensaios de solução e que já nos fins do séc. XVIII sé encon­
trava em equação quase nos mesmos têrmos de hoje, apesar de
todo o progresso técnico realizado de lá para cá (1).
( 1) Pessoalmente, só compreendi perfeitamente as descrições gue Esch­
wege� Mawe e outros fazem da mineràção em Minas Gerais depois que lá
estive e examinei de visu os proces:-.os empregados e que continuam, na
quase totalidade dos casos, exatamente os mesmos. Uma via gem pelo Bra­
sil é muitas vêzes, como nesta e tantas outras instâncias, uma incursão pela
história de um século e mais para trás. Disse-me certa vez um professor
estrangeiro que invejava os historiadores brasileiros que podiam assistir pes­
soalmente às cenas mais vivas do seu passado.
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SENTIDO DA COLONIZAÇÃO
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SENTIDO DA COLONIZAÇÃO
Tono Povo tem na su: evolução, vista à distância, um certo "sen-
tido'�. :E:ste se percebe não nos pormenores de sua história, mas no
conjunto dos fatos e acontecimentos .�ssenciais que a constituem
num largo período de tempo. · Quem observa aquêle conjunto,
desbastando-o do cipoal de incidentes secundários que o acom­
panham se1!1pre e o fazem niuitas vêzes confuso e incompre­
ensível, não deixará de perceber que êle se forma de uma linha
mestra e ininterrupta de acontecimentos que se sucedem em
ordem rigorosa, e dirigida sempre numa determinada orientação.
É iSto que se deve, antes de mais nada; : procurar quando se
aborda a análise da história de um povo, seja aliás qual fôr o
momento ou o aspecto dela · que interessa, porque todos os mo­
mentos e aspectos não são senão partes, por si só incompletas, de
um todo que deve ser sempre o objetivo último do historiador,
por mais particularista que seja. Tal indagação é tanto mais impor­
tante e essencial que é por ela que se define, tanto no tempo como
no espaço, a individualidade da parcela de humanidade qne interes­
sa ao pesquisadç,r: povo, país, nação, soéiedade, seja qual fôr a
designação ap�úpriada no caso. É sàmente aí que êle encontrará
aquela unidad:e que lhe permite destacar uma tal parcela humana
para estuc!,Ua à parte.
' O _;é;,tido da evolução de um povo pode variar; acontecimen­
tos ··:cranhos a êle, transformações internas profundas do seu equi­
lí �rio ou e.Strutura, ou mesmo ambas estas circunstâncias conjunta­
, - ente, poderão intervir, desviando-o para outras vias até então
ignoradas. · Portugal nos traz disto um exemplo frisante que para
nós é quase doméstico. Até fins do séc. XIV, e desde a consti­
tuição da monarquia, a história portuguêsa se define pela formação
âe uma nova nação européia e articula-se na evolução geral da.
civilização do Ocidente de que faz parte, no plano da luta que
teve de sustentar, para se .constituir, contra a invasão árabe qué
a�eaçou num certo momento todo o continente e sua civilização.
No alvorecer do séc. XV, a história portuguêsa muda de rumo.
Integrado nas fronteiras geográficas 'naturais que seriam definitiva­
rq:ente as· suas, -constituído t�rritorialmente o Reino, Portugal se
· .vai transformar num país marítimo-; desliga-se, por. assim dizer, do
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continente e volta-se para o Occa�o que se a�ria para o outrc} que damos como claras e que dispensam explicações; mas que não
lado · não tardará, com suas empresas e conquistas no ultramm, resultam na verdade senão de hábitos viciados de pensamento.
em �e tornar uma grande potência colonial. Estamos tão acostumados em nos ocupar com o fato da colonização
Visto dêste ânrru1o i;teral e amplo, a evolução de u1n povo se brasileira, que a iniciativa dela, os motivos que a inspiraram e de­
com-
torna explicável. Ôs po�enores e incid�n!e� mais ou n1enos �0,1. terminaram, os rumos que tomou em virtude daqueles impulsos
plexos que constituern a tra�a de sua h1ston� e que ameaçam ct
_ iniciais, se perdem de vista. Ela parec_e corno um fi.COntecimento
vêzes nublar o que verdadeiramente form� cl h_:1lia me�tra qu..__, fatal e necessário, derivado natural e espontâneamente do simples
d do al�-
define, passam para o segundo P,.,lano; e so cnt�o nos e . � fato do descobrimento. E os rumos que tomou também se afiguram
cançar 0 Sentido daquel
" a< evoluçao' compreende-la , exphca.-la. E corno resultados exclusivps daquele fato. Esqnecemos aí os ante­
ª?
,.,
isto que precisamos comc::çar por fazer com r�la5�0 ao �ras1 _ ·1 . N;"m cedentes que se acumulam atrás de tais ocorrências, e o grande
ra, p �
nos interessa aqui, é certo, o . conj�nto . da h1:tona brasilei número de circunstâncias particulares que ditaram as normas a
partimos de um momento preciso, 1a ...muito adiantado dela, oe pqu :. e seguir. A consideração de tudo isto, no caso _ vertente, é tanto
() final do período de colônia: Mas est mo�en;o, e1:1-bora mais necessária que os efeitos de tôdas aquelas circunstâncias ini­
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oss<1
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mos circunscrever cmn relativa precisao, nao e. senao um elosaJo. ciais e remotas, do caráter que Portugal, impelido por elas, dai-á
mesma cadeia que nos traz desde· o nosso mais remoto_ P,ª� à sua obra colonizadora, se gravarão profnnda e indelevelmente na
Não sofremos nenhuma discontinuidade no correr da histor,ia. de formação e evolução do país.
colônia. E se escolhi um momento dela, apenas a sua última A expansão marítima dos países da ·Europa, depois do séc. XV,
página foi tão-sàmente porque, já me expliquei na Introdução, expansão de que o descobrimento e colonização da América cons­
aquêle' momento se apresenta como um têi;110 final ,.,e a resultante tituem o capítulo que particularmente nos inter essa aqui, se origina
ele tôda nossa evolução anterior. A sua sintese. Nao se_ compre­ de simples emprêsas comerciais levadas a efeito pelos navegadores
ende por isso se desprezarmos inteiramente aquela evoluçao, o que daqueles países.. Deriva do desenvolvimento do comércio conti­
nela houve de fundamental e permanente. Numa palavra, o seu nental europeu, que até/ o séc. XIV é quase Ullicamente terrestre,
sentido. e limitado, por via marítima, a uma mesquinha navegação costeira
, Isto nos leva, infelizmente, para um passado relativamen_!-"e e de cabotagem. Como se sabe, a grande rota comercial do mundo
l�ngínquo e que não interessa diret�mente o nos�o _assunto.. Nao europeu que saí do esfacelamento do Império do Ocidente é a
podemos contudo dispensá-lo e precisamos rec,-..rnc;titmr o con1unto que liga por terra o Medíterri\neo ao mar do Norte, desde as repú­
da nossa formação colocando-a no amplo quadro, �8om seus ante­ blicas italianas, ah·avés dos Alpes, os cantões suíços, os grandes
cedentes dêstes três séculos de atividade colonizad<::,:ra que carac­ empórios do Reno, até o estuário do rio onde estão as cidades fla­
terizam � história dos países europeus a partir do séc.,, �V; ativi­ mengas. No séc. XIV, mercê de uma verdadeira revolução na
dade que integrou um novo continente na sua ór�ita; para�_�la�e_nte arte de navegar e nos meios de transporte por mar, outra rota
aliás ao que se realizava, embora em moldes diversos� em L_:tt,ros ligará aquêles dois pólos do comércio europeu: será a marítima
continentes: a Africa e a Ásia. Processo que acabaria por m,te­ que contorna o continente pelo estreito de Gibraltar. Rota que,
grar o Universo todo em uma nova ordem, que é a do mundt'l subsidiária a princípio, substituirá afinal a primitiva no .grande
moderno, em que a El.lropa, ou antes, a s...ua civilizaçã?, se este�.. lugar que ela ocupava. O primeiro reflexo desta transformação, a
deria dominadora por tôda parte. Todos estes aco,n�ecunentos sa? princípio imperceptível, mas que se revelará profunda e .revolucio­
correlatos, e a ocupação e povoamento do terntono que consti­ nará todo o equilíbrio europeu, foi deslocar a primazia comercial
tuiria o Brasil não é senão um episódio, um pequeno detalhe dos territórios centrais do continente, por onde passava a antiga
daquele quadro imenso. rota, para aquêles que formam a sua fachada oceânica: a Holancfa,
Realmente a colonização portuguêsa na An1éi�ca não é um a Inglaterra, a Normândia, a Bretanha e a Península Ibérica.
fato isolado, a aventura sem precedente e sem seguimento de uma ltste novo equilíbrio firma-se desde o princípio do séc. XV.
determinada nação empreendedora; ou mesmo um� ordem de Dêle derivará não só todo um novo sistema de relações internas
acontecimentos, paralela a outras semelhantes, mas independ�n_te . do contin_ente, como -nas suas conseqüênCias mais afastadas, a ex­
delas. É apenas a parte de um . todo, ine?mple!o sem a VI:ªº pansão européia ultramarina. O primeiro passo estava dado e a
dêste todo. Incompleto que se disfarça mmtas vezes sob noçoes Europa deixará de viver rec.olhida sôbre si mesma para enfrentar
..
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aqui; mas não será, em sua essência, diferente dos outros. É sempre

o Oceano. O papel de pioneiro nesta nova etapa caberá aos por­
h12Uêses os melhores situados, geogràficamente, no extremo desta como traficantes q�e os vários povos da Europa abordarão cada
península que avança pelo mar. Enquanto holandeses, ingleses, u.ma daquelas empresas que lhes proporcionarão sua iniciativa, seus
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normandos e bretões se ocupam na via comercial recém-aberta, e e�forços, o acaso e as circu1;1stâ_:1cias do momento em que se acha­
que bordeja e envolve pelo mar o ocidente europeu, os portuguêses vam. Os portugueses A traficarao na costa africana -com marfim
vão mais longe, procurando emprêsas em que não encontrassem ouro, escravos; na í�dia irã? buscar especiarias. Para concorre;
concorrentes mais antigos e já instalados, e para que contavam com com eleA , os espanhóis, segmdos de perto pelos inglêsl)s, franceses
_s
vantagens geográficas apreciáveis: buscarão a costa ocidental da e demais, procurarão outro caminho para o Oriente; a América, .
África, traficando aí com os mouros que dominavam as populações co� que toparam nesta pesquisa, não foi para êles, a princípio,
indígenas. Nesta avançada pelo Oceano descobrirão as Ilhas (Cabo senao nm obstáculo oposto à realização de seus planos e que devia
Verde, Madeira, Açores), e continuarão perlongando o continente ser contornado. Todos os esforços se orientam então no sentido
negro para o sul. Tud0- isto se passa ainda na primeira n1etade do de encont��r u�a passagem, ?uja existência se admitiu a priori.
séc. XV. Lá por meados dêle, começa a se desenhar um plano Os espanho1s, s1tnacfos nas Antilhas desde o descobrimento de Co­
mais amplo: atingir o Oriente contornando a África. Seria abrir lombo, exploram a parte central do continente: descobrirão o Mé­
para seu proveito uma Yota que os poria em contacto direto com xico; Balboa avistará o Pacífico; mas a passagem não será encontrada.
as opulentas índias das preciosas especiarias, cujo -comércio fazia Pro;ura-se então_ mais para _o sul: as viagens· de Sólis, de que resul­
a riqueza das república� italianas e dos mouros por cujas mãos ta'-ª-º �,,s.cob mento ao R10 da Prata, não tiveralll oµtro objetivo,
r,i
transitavam até o Meditenâneo. Não é preciso repetir aqui o que Magalhaes sera seu continuador e encontrará o estreito que con­
foi o périplo africano, realizado afinal depois de tenazes e siste­ servou o sen nome e qne constitnin afinal a famosa passagem tão
máticos esforços de meio século. procurada; . mas ela se revelará pouco praticável e se desprezará.
Atrás dos portuguêses lançam-se os espanh6is. Escolherão Enquant� :s�o . se passav � no _sul, as pesquisas se ativam para o
,
outra rota, pelo ocidente ao invés do oriente. Descobrirão a Amé­ norte; � m1ciativa cabe ai aos mgleses, embora tomassem para isto
rica, seguidos aliás de perto pelos portuguêses que também toparão o serviço de estrangeiros, pois não contavam ainda com pilotos
com o novo continente. Virão, depois dos países peninsulares, os na�io�ais basta�te prá_?cos para emprêsas de tamanho vulto. As
franceses, inglêses, holandeses, até dinamarqueses e suecos. A prrmerras pes11msas serao empreendidas pelos italianos João Cabôto
grande navegação oceânica estava aberta, e todos procuravam tirar e seu fi!ho Sebastião. Os portuguêses também figurarãq nestas
partido dela. S6 ficarão atrás aquêles que dominavam no antigo exploraçoes do Extremo-Norte americano com os irmãos Côtte Real
sistema comercial terrestre ou mediterrâneo e cujas rotas iam pas­ g_ne descobrirão o Labrador. Os franceses encarregarão o floren:
sando para o segundo plano: mal situados, geogràficamente, com tino Verazzano de iguais objetivos. Outros mais se sucedem, e
relação · às novas rotas, e presos a um passado que ainda pesava embora tudo isto servisse para explorar e tornar conhecido o novo
sôbre êles, serão os retardatários da nova ordem. A Alemanha e mundo, firmando a sua posse pelos vários países da Europa, não
a Itália passarão para um plano secundário ao par dos novos astros se encontrava a almejada passagem que hoje sabemos não existir
que se levantavam no horizonte: os países ibéricos, a Inglaterra, a �l). �inda em princípios do séc. XVII, a Virgínia Company of London
França, a Holanda. mclma ent�e. seus principais objetivos o descobrimento da brecha
Em suma e no essencial, todos os grandes acontecimentos desta para o Pacífico que se esperava encontrar no continente.
era que se convencionou com razão chamar dos «descobrimentos", · Tudo isto lança muita lu ".' sôbre � e�pírito com que ús povos
articulam-se num conjunto que não é senão um capítulo da história
do comércio europeu. Tudo que se passa são incidentes da imensa
?� _Europa tàbordam a Aménca. A idéia de povoar não ocorre
1mmalmente a nenhum. � o comércio que os interessa e daí 0
emprêsa comerciãl a que se dedicam os países da Europa a partir relativo desprêzo por êste território primitivo e vazio que'é a Amé-
do séc. XV, e que lhes alargará o horizonte pelo Oceano afora.
Não têm outro caráter a exploração da costa africana' e o desco­
(1) Também se tentou, a partir de meados do séc. XVI, a pas-­
brhnento e colonização das Ilhas pelos portuguêses, o roteiro das sagem para o Oriente pelas regrnes árticas da Europa e Asia. A iniciativa
índias, o descobrimento da América, a exploração e ocupação de cabe a:o mesmo Sebastião Cabôto, que já encontramos r.ia. América, e mais
seus vários setores. É êste último o capítulo que mais nos interessa uma vez a serviço dos inglêses ( 1553).
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CAIO PRADO JúNIOR FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORANEO 19
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rica; e inversarnente, o prestígi� e�? Oriente] �nde ;1 � Os problemas do novo sistema de colonização, envolvendo a
, .· ,� 1.1 1te , nercantis. A ideia de ocupcu, na.o cmn .5 e.
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ocupação de territórios quase desertos e primitivos, terão feição
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es cori:1erc 1a1s, f�t­ variada, dependendo em cada caso das circunstânc ias particulares
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donários e n11.ita
. .1. res para a el e es e zaclos em sunp l es fei 0-
f 'ª ' orcrani
. com que se apresentam. A primeira delas será a natureza dos
adas a mercadejar com os nativos e servu - . el.,.e articulacão gêneros aproveitáveis que -cada um daqueles territórios proporcio­
rhs dc,stin . �
',1s rotas mallL .,.... lill as e· os territórios ocupados; inas ocupai e ln nará. A princípio naturahnente, ninguém cogitará de outra coisa
,
entre
..
e .
encia, necess1&ide '
povoamento e[ et·ivo, 1·sto só surgiu como conting que produtos espontâneos, extrativos. É ainda quase o antigo
. .
-
A •
ias, nenhu m

. 1 ost"
in or circunstâncias novas e imprev1·stas. Al'' - sistema das feitorias puramente comerciais. Serão as madeiras, de
em condições naquele mo�ento -ele su�or­ construção ou tinturiais (como o pau-brasil entre nós,) na maior
P°\ ' 0 cÍ� ):uropa estava , ' f 1-
tar sarn:11:ias na sua popu1açao, - que no -sec . XVI ·1mcla nao se1 re o parte dêles; também as peles de animais e a pesca no Extremo­
que asso ou
zera d� todo elas tremendas devastaçoes da peste de censos pre ­
.L '
,
-Norte, como na Nova Inglaterra; a pesca será particularmente ativa
.. 'ti e�te nos dois séculos precedentes. Na falta cm _ 1,500 a po11u­
nos bancos da Terra Nova, onde desde os primeiros anos do séc.
���s n as melhores pro babilidades indicam quedo m�len10 anteno�. XVI, possivelmente até antes, se reúnem ing1êse s, normandos, vas­
l��, ã-� da Europa ocidental não ultrapassava a conhos. Os iespanhâi,;_ serão O.L!:11.Jê.is felizes: topll_rão desde Jogç,,
Nestas cond·1ço- es, «colonização � " ainda era entendida como aqm-
. - IJ.aS áreas que }_l:1�3. _J�9,:t!._ee��m , - -�º�-- _9_�__ metais preciosos, a prata e
lo gue .dantes se Taticav a· fala-se em colomzaçao, mas o que o ouro do._ México e Peru. Mas os metais, illCenfiVo e base sufí�­
R_ e' m;i · s que o estabelecimento d e feitori as
0 termo envo lve nao · an do no ciente para "OiUces·ro·*m:!-q_ualquer emprêsa colonizadora, ·não ocu­
. . d ata prahc
com�rcia;s, co�o s italianos vinham de longa o, mais recentemente os
pam na formação da Amé1ica senão um lugar relativamente pe­
M e diterraneo, a L�ig�'l Hsnseática no Báltic . o rte da Europa e no
queno. Impulsionarão o estabelecimento e ocupação das colônias
ü1crc,lêscs, holandeses e outros n o Extre - -ino-N espanholas citadas; mais tarde, já no séc. XVIII, intensificarão
f e na índia . Na Amé-
�evante;,_c orn� p ortuguêses fizeram na A nca ame nte diversa: um a colonização portuguêsa na América do Sul e a levarão para o
nea a s1tuaçao se._ apresenta de forma inteirç_a , m . '
d1 ig · apaz centro do continente. Mas é só. Os metais, que a imaginação
te;ritório primitivo habit ado por rala popula �
ro_ve1 ':ve .
;:ra �� fins escaldante dos primeiros exploradores pensava encontrar em qual­
de fornecer qualquer c oisa de realmente apaçao nao se pod"ia faze� quer território novo, esperança reforçada pelas premah1ras des­
mercantis qu. e se tin · han1 . em vis · ta, a ocup . cumbido cobertas castelhanas, não se revelaram· tão disseminados como se
i"do p essoa1 in
cmno nas srm]?1�s fe1. ton. s, ..... m u1n reduz esperava. Na maior extensão da América ficou-se a princípio ex­
apenas do negocm, SUa ª mmis
� . '-'? b.·ação e defesa armada; era precisoe clusivamente nas madeirás, nas peles, na p esca; e a ocupação de
c�paz de ,1bastecer
ampliar estas bases, criar um povoamento n � a r�dução dos territórios, seus progressos e flutuações, subordinam-se por muito
or
manter as feitorias que se fundassei;1 � r 1tei: d/povoar surge . tempo ao maior ou menor sucesso daquelas atividades. Viria de­
interessassem o seu comerc10. , , pois, em- substituição, uma base econômica mais estável, mais am­
, s ,que ,
"crênero
dai eso da1. , .. pla: seria a agricultura.
' Aqm. a.mda',_ Portugal foi um pioneiro. posto Seus pnme1ros pass s,
s avancados, pe� a Não é meu intuito entrar aqui nos pormenores e vicissitudes
neste terreno, s ao �a� 1"lhas do Atlil.ntico ame-
i. dentida , de. de cond . 1çoes para os f·ms vi-sa'dos, do conti{rnnte . . .a da colonização européia na América. Mas podemos, e isto muito
· cano · e isto am da no sec. , XV · Era p·reciso povoar e organizarto interessa nosso assunto, distinguir duas áreas diversas, além daquela
brilhantemente. E
rp,rod.uç',ão·· Portugal realizou êstes objetivos de que uma nov a
:d e�
em que se verificou a ocorrência de metais preciosos, em que a
colonização toma rumos inteiramente diversos. São elas as que
dos' os problemas que se prop o-em des r
ovos da E rapa a parti correspondem respectivamente às zonas temperada, de Ulll lado;
ecÜnômica se começa a desenhar aos p c u_ neÍros Ela­ tropical e subtropical, do outro. A primeira, que compreende gros­
do ! �éc. XV, os portuguêses sempre ap arecem nh6is
boram \ \ to,. das as, s aluçõ , e s até seus menores &t�lt�� · Esp� cmsa . ,' seiramente o território americano ao no rte da baía de Delawa,e
não fizeram o utra (a outra extremidade temperada do c ontin.ente, hoje países platinas.
depois inglêses, franceses e os demai. \ ias ácruas· mas navegaran1 e Cbile, esperará muito tempo para tomar forma e significar alguma\
duraPte muito tempo, que n lave gar e1:s \ni cia'à.or:s e arrebatando� coisa), não ofereceu realmente nada de :qiuito interessante, e per- \
t-ao '-vem, que . acabaram sup an tand
as realizaçoes e em- · manecerá ainda por muito tempo adstrita à exploração de produtos \
·
-lhe a maior parte, se na,., o pràtiéamente tôdas
° -
\
.;espontâneos: madeiras, peles, pesca. Na Nova Inglaten-a, nos pri- \\
prês�s ultramarinas.
}
\
20 c.,\JO PRADO JúNIOR
FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÃNEO
21
me1ros ,,11 ,,s ,J.·1 co ·lonizacão
, ' viam-se até com maus olhos quai�quer perada da América. Circunstâncias aliás que surgem posterior­
·
t�ntatívas de agricultura que desviavam das f. e1·t onas · e_� j pe1·es, et
pesca as atividades dos poucos colonos presentes (2), Se s; P mente ao descobrimento do Novo Continente, e que não se filiam à
esta área temperada, 0 que alíás s? .ocor�?u d�po1s _do _scc.. ';�f� ordem geral e plimitiva de acontecimento s que impelem o s povos
foi or circunstância� rnnit_o especrn1s. }<., a s1�u�çao, 1:1,te1_n� :1 "�- da Europa para o ultra mar. Daí derivará um novo tipo de colo­
Eurfpa, em particular ela Inglaterra, as su�s lutas poht_ico: rnngrn nização - será o único em que os portuguêses não serão os pio­
sas, qne desviam para a América as a tern�:ocs _de p op ula ço�s �:: n eiros - que tom ará um caráter inteiramente apartado dos obje­
tivos co merciais até en tão dominantes neste gênero de emprêsas.
não se sentem à vontade e vão procurar ah abngo e p az p�r� 5 O que os colonos. desta categoria têm em vista é construir um n ovo
convie ões Isto durará muito tempo; pode-se mesmo a�s1m1 lar o mundo, uma sociedade que lhes ofereça garantias que no con­
fato, J.êntÍco 110 fundo, a um process o que se prolong ar�, mbor tinente de o rigem já não lhes são mais dadas, Seja por motivos
com intensidade variável, até os tempos modernos, o secu.!o P. ª ;- religiosos oq... meramente econômicos (êstes impulso s aliás s e entre­
do Virão par a a An1éric a puritanos e q akers da Inglate �ra , laçam e sobrepõem), a sua subsistência se tornara lá impossível ou
�:u . enotes da França, mais tarde morávios,u. s�hwenkfeld�rs, ms- muito difícil. Procuram então uma terra ao abrigo das agita ções e
. gu_ a1·1s tas e menonitas da Alemanha mend10nal
prracmn e Smça, Du­
, · a to do resíduo transformações da Europa, de que são vítimas, para refazerem
rante mais de dois séculos despejar-se-a, na Amenc nela sua existência ameaçada . O que resultará dêste povoamento,
das lutas político-religio sas da Europa. É certo que se .espa ha , realizado com tal espírito e num meio físico muito aproximado do
por tôdas as colônias; até no Brasil, tão afastado e por isso � ant� da Europa, será naturalmente uma sociedade, que embora co m
mais ignorado procurarão refugiar-se huguenotes f�anceses . F ran
' ( caracteres própri os, terá semelhança pronunciada à do co ntinente
ça Antártic a no Rio de J aneiro. · ) M as se concentrara . quase mteua- de onde se origina. Será pouco mais que simples prolongamen- ·
. ,
mente nas da zona temperada, de condições n�tur 1s mais f to dê!�
da Europa, e po r isso preferida para quem nao � ?scav� .<;;�!r ª� M'uito diversa é a hist6ria d a área tropical e subtropical da
Améric a" mas Unicamente abrigar-se dos ven_dava1s pohtico que América. Aquf a__ ocupação e o povoamento tomarão outro rumo.
varriam � Eur o pa, e reconstruir um lar desfeito ou ameaça Jo . Em primeiro luga r, as co ndições naturais, tão diferentes do habitat
Há um fator econômico que também c o1:_corre na E;1ro pa de origem dos povos colonizadores, repelem o colono que vem como
· A simples povoa dor, da categoria daquele que procura a zona tem-
ês · d cão É a transformacao econom1ca so n a
f�Jª
P :;:, i?Jate�rt;:�;"iÔrre�
g do séc. XVI, e que modifica profun a­ , perada. Muito se tem exagerado a inadaptabilidade do branco aos
mente o eqm'J'br,·o1 1·nterno do país e a distribuicão de sua popu� a- tr6picos, meia verdade apenas que: os fatos têm demonstrado e
ão Esta é deslocada em massa dos campos,, qu� de cu1tiva · do s se redemonstrado falha em um sem-número de casos, O que há
'
çtrans· formam em pastagens para carneiros cup la 1na abastecer a nela de acertado é uma falta de predisposição, em raças formadas
nascen
' te indústria têxtil inglêsa.
. .
Constitu1-se a1, u ma,.., fonte de em climas ma is frios e por issü" afeiçoadas a êles, em suportarem os
corrent es migratonas , . que ab and onam O campo e vao encontrar tr6picos e se comportarem similarmente nêles. Mas falta de pre­
na· América q1.1e c o meça a ser conhecida, um largo cent�o d. e af1ue" disposição apenas, e que não é absoluta , corrigindo-se, pelo menos
eia. Também êstes elementos esco lherão de preferencrn,. � .P_�; em gera ções subseqüentes, por um novo processo de adaptação.
m otivos similares, as co1,onias temperadas. Os que se dmg1rao Contudo, se aquela afirma ção posta em tênnos absolutos, é falsa,
mais para o sul, para colônias incluídas na zon� subtrop . al d não deixa de ser verdadeira no caso vertente, isto é, nas circuns­
América do N orle porque nem sempre lhes fm dado :�colhe.: tâncias em que os primeiro s povoadores vieram enco ntrar a Amé­
seu destino c o m c�nhecimento de ca usa, o farão apenas, .n? ma� s rica. São trópicos brutos e indevassados que se apresentam, uma
d as vêzes provisOriamente: o ma10 . r nu, mero dêles ref uira l mais · natureza hostil e amesquinhadora do homem, semeada de obs­
tarde' e �a medida do possível, para as colônias temperadas ... táculos imprevisíveis sem conta para que o colono europeu não
- ' estava preparado e contra que não contava com nenhuma defesa.
.f · São assim circunstâncias especiais, que nao t em reJaça- o d'_:rela
/com ambicões de traficantes ou aventureiros, que omover ª Aliás a dificuldade do estabeleciment o de europeus civilizados nes­
/ ocupação fntensiva e O povoamento em larga_ escala 1â'a zona ��m tas terras americanas entregues ainda ao livre jôgo da natureza, é
,j . comum também à zona temperada. , Respondendo a teorias apres­
sadas. e. mui.to em voga (são as contidas no livro famoso de Turner,
(2) ._, Flansen, The Atlantic Migration 1607-1680, 13.
Marcus Lºe
The fronµer in American History), um recente escritor norte-ame-
'\-,--
FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÃNEO 23
l,alho físico. Viria como dirigente da pro dugiio de gêneros de
J CKIOR
cão, e mostra que a colo-

P F. A D O
- .,

C .\ 1 0
. ncl e ntcn grande val or comercial, como empresário de um negócio rendoso;
22
Iicano ana lisa cste f ato, �on , l oT:i
s·1 11'1 Ame nca re-c
. HoT'e,_L 1.l.anc.-lo- se
,':J :1-- . ., emb ora numa zona tem- mas só a contragôsto como trabalha dor. Outros trabalhariam pa­
. çao
rnza - n� e que
peracla, so prn gre · 'd;iu �� c1, 1�tc . �· �lc um. processo de seleção ddotado ra êie.
e1ro o c·,1 rac , terístico yankee, que
rcsu lto�1 �1m tiJJO . " p10n
,: , .- de , - -· t Lrcs ' :foi marchando na vangua� d'-; e
.. Nesta base se realizaria u1na primeira seleção entre os colonos
de apt i dao e lec1 11 ccl p,u tlct , . s, J-oc,·1·1-1-"'S ,1 ,, colono.s c1ue aflmam
que se dirigem respectivamente para um e outro setor do novo
abrindo can1m · •1 10 par1 ·is ' · l C\"1':S 1na1 mundo: o temperado e os trópicos. Para .êstes, o europeu só se
:.
r�), . .S e� ',1ssím fm numa zon,,1 que_ , afora' O fato <lo _ estar
de . dirige, de livre e espontânea vontad e, quando pode ser um diri­
ela Enr� opa_ \'- mmo
., o J?�I. s1;as condicõ ., es natu rais
indcvassada, se aproxr�n a tanttrop1cos : gente, quando dispõe de cabedais e aptidões para isto; quando

� L'-'· , • •
0
·
europeu, que não sena elos conta com outra gente que trabalhe para êle. Mais uma circuns­
europeu tinh. a de encontrar tância vem reforçar esta tendência e dis criminação� É o caráter
P.ara e.,,, tabele cer-se aí, o colono , q 8 0 nnpelem p�ira as que tomará a exploração agrária nos trópicos. E sta se realizara
estímulos diferentes e m�1s . fort� s
z onas ternper�c�a s . D e f�t?, . ass::ibé ���) n�:ce� embora e1n circuns­ em larga escala, isto é, em grandes unidades produtoras - fazen­
1
n p a rt i�ula rizarão
o tipo d e das, engenhos, plantações (as plantations das colônias inglêsas) -,?
tâncias cspecia1s que , P?I isso rais,
A diversidade de condições natu que reúnem cada qual um número relativamente avultado de tra
colono branco d os trop 1cos . e acabamos de ver como ume balhadores, Em ontras palavras, para cada proprietário (fazen
em co:11p aração com a
ov oamen '
!ur�!� eiela1i; por ou tro l a do um for.t deiro, senhor ou plantador), haveria muitos trabalhadores subordi­
emp, ecilho ao - p p roporcionarao - aos pm' ses da Eu- nados e sem propriedade"' Voltarei em outro capítulo, com mais
estimulo. E que tais condiçõesao d ·g'neros que lá fazem falta. vagar, sôbre as causas que determinaram êste tipo de organização
_
rapa a possibilidade da obte:iç C�l o e uem o-nos naquela Europa da produção tropical. A grande maioria dos colonos estava assim
E gêneros dt; P��\ulf: :�: �Z; tr6pic1s, s 6 indireta e long�q ua- nos tr6picos condenada a uma posição dependente e de baixo nível;
01
antenor ao s,ec.. ada
,. . -1a como de fato estava, priv ao trabalho em proveito de outrós e Unicamente para a subsis­
inente acess1ve1s, e 1mag1�e�o ,u s e hoje pela sua ban alidade,

t
tência própria de cada dia. Não era para isto, evidentemente, que
quase inteirame1;-t� de pro o qp r�za do s c�m o
requintes de luxo . . se emigrava da Europa para a América. Assim mesmo, até que se
parecem secundano s, e�am ���t ue e bora se cultivas
se em pequena \ adotasse universalmente nos trópicos americanos a mão-de-obra
Tome-se o ��s� do açuc�r, q �nd e rari dade e mu ita procura; escrava de outras raças, indígenas do continente ou negros africa­
\ escala na Src1h�, era omo dote pre­ nos importados, muitos colonos europeus tiveram de se sujeitar,
até nos enx ova1s de
ª�la s 1íe. �hegou a figurar c
ram , cons­ emb ora a contragôsto, àquela condição. Ávidos de partir para a
A y1 enta, I·m ortada do Oriente
cioso e altament� prezado. . · pal r� o d[ c omércio da s repúblicas

º
América, ignorando muitas vêzes seu destino certo, ou decididos a
tituiu dnrante seculos o p11nc1 erviu um sacrifício temporário, muitos partiram para se engajar nas
e _ar�ua rota das 1ndias não s
in er.cado ras italianas, e a gr�nde Europa . plantações ttopicais como simples trabalhadores. Isto ocorreu ):'ar­
111tnto tempo p ara outra coIS a mais que abªstecer dela a ticularmente, em grande escala, nas colônias inglêsas: Virguúa,
, . por r. sso rg . norado antes do desco-
0 tabaco oriainário da A_menca e , portância. E Maryland, Carolina. 'I Em troca do transporte, que não poç!iam
brimento,' na�bo teria · , d-ep ms · de conheci do m enor 1m do pagar, vendiam seus serviços por um certo lapso de tempo. Outros
não será êste tamb ém, mais tardros e, o ca�o' . d ani·1, do arroz ,
i ' partiram como deportados; também menores abandonados ou ven­
trop1ca1s .
algodão e de tant os outros gêne , . mo
didos pelos pais ou tutores eram levados naquelas condições para
Isto
,
nos da a me d"d 1 ª d 9.ue representariam os tr op1cos co a América a fim de servirem até a maioridade. É uma escravidão
. a. da tao - 1onge dêles . A América temporária que será substituída inteiramente, em meados do séc.
atrativo para a fn· a Europa ' situ espera-
. sição em tratos imensos, territórios queestisó. rou1ª:ª, a
, d íspo XVII, pela aefinitiva de negro s importados. Mas a maior parte
0
11ie p on·_a ª..
vam a irncrntiva e o ,esf'o 1ç� . do homem. :t isto que agu do inte- daqueles colonos s6 esperava o momento oportuno para sair da
r as tr azendo êste
M- condição que lhe f6ra imposta; quando não conseguiam estabele­
ocup ação dos trópicos am�ncanos. '1 a dis osicão de pôr-lhe cer-se como plantador e proprietário por conta pr6pria - o que é
rêsse, o colono eur�peu... n ao },r�f1;:t co� �: o ' a e�ergÍa do seu tra-
e es a a exceção naturalmente -, emigravam logo que possível parn as
a serviço, neste me10 tao d 1c1 colônias temperadas, onde ao menos tinham um gênero de vida
in American IIistvry - ve- mais afeiçoado a seus hábitos e maiores oporhmidades de pro-
(3) Marcus Leo Hansen, The
Imm:igrant
Expanswn.
ja-sc o capítulo Immigtation and
24 CAIO PRADO JúNIOR FORMAÇAO DO BRASIL CONTEMPORANEO 25
gresso. Situação de instabilidade do trabalho nas plantações do mundo uma organização e uma sociedade à semelhança do seu
sul que durará até a adoção definitiva e geral do escravo africano. modêlo e origem europeus; nos trópicos, pelo contrário, surgirá
O colono europeu ficará então aí na única posição que lhe com- um tipo de sociedade inteiramente original. Não será a simples fei­
/ petia: de dirigente e grande proprietário rural. toria comercial, que já vimos irrealizável na América. Mas con­
Nas demais colônias tropicais, inclusive o Brasil, não se chegou servará no entanto um acentuado caráter mercantil; será a em­
nem a ensaiar o trabalhador branco. Isto porque nem na Espanha, prêsa do colono branco, que reúne à natureza pródiga em recursos
aproveitáveis para a produção de gêneros de grande valor comercial,
nem em Portugal, a que p ertencia a: maioria delas, havia, como na
Inglaterra braços disponíveis, e dispostos a emigrar a qualquer o trabalho recrutado entre raças inferiores que domina: indígenas
preço. Em Portug al, a população era tão insuficiente que a maior ou negros africanos importados. _, Há um ajustamento entre os
parte do seu território se achava ainda, em meados do séc. XVI, tradicionais objetivos mercantis que assinalam o início da expansão
inculto e abandonado; faltavam braços por tôda parte, e empre­ ultramarina da Europa, e que são conservados, e as novas condi­
gava-se em escala crescente mão-de-obra escrava, primeiro dos ções em que se realizará a emprêsa. Aquêles objetivos, que ve­
mouros, tanto dos que tinham sobrado da antiga dominação árabe, mos passar para o segundo plano nas colônias temperadas, se man­
êõmõaos aprisionaaos nas guerras que Portugal levou desde prin­ terão aqui, e marcarão profundamente a feição das colônias do nosso
cípios do séc. XV para seus domínios do norte da Africa; como tipo, ditando-lhes o destino. No seu conjunto, e vista no plano mun­
depois, de negros africanos, que começam a afluir pa ra o reino dial e internacional, a colonização dos trópicos toma o aspecto de
desde meados daquele século. Lá por volta de 1550, cêrca de uma vasta emprêsa comercial, mais complexa que a antiga feitoria,
10% da população de Lisboa era constituída de escravos negros mas sempre com o mesmo caráter que ela, destinada a explorar
(4). Nada havia portanto que provocasse no reino um êxodo da os recursos naturais de um território virgem em proveito do co­
população; e é sabido como as expedições do Oriente depaupera­ mércio europeu. E êste o verdadeiro sentido da colonização tro­
ram o país, datando de @tão, e atribuível em grande parte a esta pical, de que o Brasil é uma das resultantes; e êle explicará os ele­
causa, a_ precoce decadência lusitana. mentos funda1nentais, tanto no econômico como no social, da for­
mação e evolução_ históricas dos trópicos americanos.
Além disto, portuguêses e espanhóis, particularmente êstes últi­
mos, encontraram nas suas colônias, indígenas que se puderam k É certo que a colonização da maior parte, pelo menos, dêstes
aproveitar como trabalha dores. Finalmente, os portuguêses tinham territórios tropicais, inclusive o Brasil, lançada e prosseguida em
sido os precursores, nisto também, desta feição particular do mund_o tal base, acabou realizando alguma coisa mais que um simples
moderno: a escravidão de negros africanos; e dominavam os terri­ ''contacto fortuito" dos europeus com o meio, na feliz expressão de
tórios que os forneciam. Adotaram-na por isso em, sua colônia Gilberto Freyre, a que a destinava o objetivo inicial dela; e que
quase que de início - posslvelmente de início· mesmo -, prece­ em outros lugares semelhantes a colonização européia não conse­
dendo . os inglêses, sempre imitadores retardatários, de quase um guiu ultrapassar: assim na generalidade das colôni as tropicais da
século (5fi' África, da Ásia e da Oceânia; nas Güianas e aliumas Antilhas,
aqui na Amé,i:i_Sl!,., Entre nós foi-se além no senti o ae constituir
Como se vê, as colônias tropicais tomaram um n1mo inteira-:­ nos trópicos uma "sociedàde com característicàs nacionais e quali­
mente diverso do de snas irmãs da zona temperada.\ Enquanto ( dades de permanência" (6), e não se ficou apenas nesta simples
nestas .se constituirão colônias pràpriamente de povoamento o emprêsa de colonos brancos distantes e sobranceiros.
nome ficou consagrado depois do trabalho clássico de) Leroy-Beau­
lieu, De la colonisation chez les peuples modemes , escoadouro Mas um tal caráter mais estável, permanente, orgânico, de
· para excessos demográficos da Europa que reconstituem no novo �a sociedade própria e definida, só se revelará aos poucos, do­
mmado e abafado que é pelo que o preaede, e que continuará man­
(4) História da Colonização Portugu&sa do Brasil, Introdução, vol. III,
tendo a prjmazia e ditando os tra ços essenciais da nossa evolução
pág. XI. colonial. ;se vamos à essência da nossa formação, veremos que na
(5) Não se sabe ao certo q_uando chegaram- os primeir?s_. r..egros ao realidade nos constituímos para fornecer açúcar, · tabaco, alguns
Brasil· há g"randes probabilidades de terem· vindo já na exped1çao de Mar­ outros · gêneros; mais tarde ouro e diamantes; depois > algodão, _ e
tim Áfonso de Sousa em 1531. Na América do Norte, a primeira leva
de escravos africanos foi introduzida por traficantes holandeses em Jarnes­
town ( Virgín_ia) em 1619, (6) Gilberto Freyre, Casa Grande & Senzala, 16.
f,
i
26 CAIO PRADO JúNIOR
em seguida café, para o comércio europeu. Nada mais que isto.
É com tal objetivo, objetivo exterior, voltado para fora do país e
sem ate;oção a considerações que não fôssem o interêsse daquele
colnércio, que se organizarão ã socied.-.lde e a economia brasi leiras.
Tudo se disporá naquele sentido: a estrutura bem como as ativi­
dades do país. Virá o branco europeu para especular, realizar um
negócio; inverterá seus -cabedais e recrutará a mão-de-obra que
precisa: indígenas ou negros importados. Com tais elementos,
articulados numa organização puramente produtora, industrirn1, se
constituirá a colônia brasileira. Êste início, cujo caráter se man­
terá dominante através dos três séculos que vão até o momento
em que ora abordamos a história brasileira, se gravará profunda e
totalmente nas feições e na vida do país. Haverá resultantes se­
cundárias que tendem para algo de mais elevado; mas elas ainda
mal se fazem notar. O "sentido" da evolução brasileira que é o
que estamos aqui indagando, ainda se afirma por aquêle caráter
inicial da colonização. Tê-lo em vista é compreender o essencial
dêste quadro que se apresenta em princípios do século passado, e
que passo agora a analisar.
POVOAMENTO

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