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OP-015JL-20

CÓD.: 7891182034296

Instituto Federal de Educação,


Ciência e Tecnologia
Sul-Rio-Grandense - IFSUL

Professor de Geografia
Conteúdo Programático
1. Conceito de Espaço Geográfico: lugar, paisagem, ambiente, região e território . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Cartografia Básica: escala, projeções, fuso horário e Sistema de posicionamento global . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
3. Biomas Brasileiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
4. O espaço rural e a produção brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
5. Indústria no Brasil: organização da produção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
6. Espaço Urbano: estrutura, dinâmica e redes de produção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
7. Questões socioambientais: justiça ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
8. Geopolítica: a nova ordem mundial, a globalização e os blocos econômicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
9. Geografia da população: estrutura e dinâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
10. Conflitos internacionais: conflitos armados, guerrilha e terrorismo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
PROFESSOR DE GEOGRAFIA 
1. Conceito de Espaço Geográfico: lugar, paisagem, ambiente, região e território . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Cartografia Básica: escala, projeções, fuso horário e Sistema de posicionamento global . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
3. Biomas Brasileiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
4. O espaço rural e a produção brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
5. Indústria no Brasil: organização da produção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
6. Espaço Urbano: estrutura, dinâmica e redes de produção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
7. Questões socioambientais: justiça ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
8. Geopolítica: a nova ordem mundial, a globalização e os blocos econômicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
9. Geografia da população: estrutura e dinâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
10. Conflitos internacionais: conflitos armados, guerrilha e terrorismo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
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Tais redes são um importante elo entre as diferentes partes
1. CONCEITO DE ESPAÇO GEOGRÁFICO: LUGAR, PAISA- do espaço geográfico, permitindo (e também condicionando) o
GEM, AMBIENTE, REGIÃO E TERRITÓRIO; transporte e difusão de inúmeros instrumentos técnicos, além de
mercadorias, informações e conhecimentos, estando diretamente
associadas à maioria dos elementos que compõem a vida cotidiana
CONCEITOS GEOGRÁFICOS das sociedades.

A Geografia é fundamental para a compreensão do mundo Paisagem


contemporâneo e de seus problemas – a produção e o consumo, a É somente a aparência da realidade, aquilo que nossa percep-
questão ambiental, o caos urbano, as crises financeiras, entre tan- ção consegue captar. É a porção visível do espaço geográfico. A pai-
tos outros – em diferentes escalas geográficas. Nesse sentido, os sagem pode ser natural, caso não tenha sido transformada pelo ho-
conceitos geográficos (espaço, lugar, paisagem, região, território e mem; ou cultural (também chamada de artificial ou humanizada).
rede) são importantes instrumentos de análise do espaço geográfi- Uma paisagem natural reflete o ambiente natural em que foi criada.
co, que se constitui a partir das relações humanas com a natureza. Vulcões, florestas naturais e geleiras são exemplos de paisagens na-
turais, construídas sem a influência humana. Já uma paisagem cul-
Espaço tural reflete o período, as condições socioeconômicas e as tradições
É a maior das categorias da geografia, pois todas as demais culturais de um local.
estão contidas nele. É formado pela associação entre a sociedade Cabe aqui citar uma passagem da obra de Milton Santos, o fa-
e a paisagem. É o espaço construído através da transformação do moso geógrafo brasileiro que, no livro“Metamorfoses do Espaço
mesmo pelo homem (relação sociedade-espaço). Portanto, o espa- Habitado”, afirmou que “tudo aquilo que nós vemos, o que nossa
ço geográfico tem vida e movimento, como um filme em exibição, visão alcança, é a paisagem. (…). Não é formada apenas de volu-
e segundo muitas abordagens, constrói-se e articula-se a partir das mes, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc. Nos-
redes – formadas por um conjunto de pontos fixos interligados por sa visão depende da localização em que se está, se no chão, em
meio dos fluxos. um andar baixo ou alto de um edifício, num miradouro estratégico,
As redes de transportes, as digitais e as urbanas são alguns dos num avião.”
exemplos de redes geográficas. Portanto, em uma definição mais A realidade (o espaço) é apenas uma, mas cada pessoa a vê (a
abrangente, podemos entender as redes geográficas como um con- paisagem) de forma diferenciada. Por exemplo: imagine que duas
junto de locais da superfície terrestre conectados ou interligados pessoas estão observando um prédio. Uma delas é um arquiteto, e
entre si. Essas conexões podem ser materiais, digitais e culturais, a outra é um historiador. Possivelmente, enquanto muitas pessoas
além de envolver o fluxo de informações, mercadorias, conheci- veriam apenas mais um prédio, o arquiteto conseguirá observar o
mentos, valores culturais e morais, entre outros. estilo da construção e outros detalhes, como o material utilizado.
Com o processo de globalização, podemos dizer que a maior Já o historiador possivelmente se atentará aos fatos que podem ter
parte das redes passou a ter maior alcance e abrangência no es- ocorrido naquele espaço, bem como a sua importância para deter-
paço geográfico mundial. Todavia, o acesso e o poder de difusão minado evento histórico. Ou seja: é a mesma paisagem, mas cada
dessas redes dependem das diferentes hierarquias nas sociedades, um a enxerga de uma forma diferente.
constituídas pelo poder econômico ou político. Assim, quem possui
mais recursos ou poder tem uma maior possibilidade de usufruir da Vegetações Mundiais1
estrutura das redes geográficas.
É preciso observar que a estruturação e a evolução das redes Tundra
perpassam, impreterivelmente, pela evolução das técnicas e tecno-
logias. No século XIX, as transformações proporcionadas pelas revo-
luções industriais propiciaram um fundamental avanço das redes de
transportes, incluindo os modais rodoviários e ferroviários. Desse
modo, cidades distantes passaram a estar interligadas entre si, o
que se estendeu para pontos situados até mesmo em continentes
distintos.
A Revolução Técnico-Científico-Informacional também intensi-
ficou a expansão das redes, incluindo a própria rede de transportes,
por meios dos aviões e jatos mais avançados. A formação das redes
digitais e também os avanços nas redes de comunicação tornaram-
-se grandes marcos para esse período. Assim, em tempo real, co-
municados e transações financeiras ocorrem e notícias importantes
são divulgadas; até reuniões de negócios não mais necessitam da
presença física de todos os seus participantes, o que exemplifica o
grau de avanço técnico das redes.

A importância das redes geográficas deu-se também para o Formada por musgos, líquens e umas poucas plantas rasteiras,
avanço do sistema capitalista financeiro, que, para muitos, ganhou essa formação vegetal é típica das regiões polares.
o status de capitalismo informacional. Logo, as redes possuem pa- A Tundra é um tipo de bioma localizado no Hemisfério Norte
pel ativo na configuração do espaço geográfico, pois representam do planeta, nas regiões próximas ao Ártico, mais precisamente no
“nós” formados por tamanhos diferentes, ou seja, alguns com mais norte da América, da Europa e em outras localidades, como o Alas-
fluxos dos que os outros. ca e a Sibéria.
1https://www.policiamilitar.mg.gov.br/conteudoportal/uploa-
dFCK/ctpmbarbacena/04102016072647251.pdf

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O seu nome advém da palavra finlandesa “Tunturia”, que sig- Estepes
nifica “planície sem árvores”, o que já confere certa noção sobre
como é esse tipo de vegetação e o seu ambiente.

Florestas Boreais

Vegetação herbácea presente em regiões semiáridas, constituí-


da de gramíneas que se distribuem de forma irregular, em forma de
tufos e pequenos arbustos.
A estepe é considerada uma faixa de transição vegetativa e cli-
mática, ocorrendo geralmente aos arredores de desertos.
O solo onde desenvolve esse tipo de cobertura vegetal apre-
Também conhecidas como Taiga ou Matas de Coníferas, ocor- senta uma grande fertilidade, possui uma cor escura (negra) e é
rem no hemisfério norte do planeta, abrangendo a Ásia (Sibéria, usado frequentemente para o cultivo agrícola.
Japão), América do Norte (Alasca, Canadá, sul da Groenlândia) e
Europa (parte da Noruega, Suécia). Florestas Equatoriais Tropicais
A Taiga transforma-se em Tundra à medida que se aproxima
do Polo Norte. Há entre esses biomas uma zona de transição onde
pouco a pouco o colorido das coníferas é substituído pelas gramíne-
as e arbustos baixos da Tundra.

Vegetação Mediterrânea

Típica de áreas quente e úmidas, essas florestas apresentam


grande biodiversidade e ocorrem em regiões da América Central e
América do Sul, na África e no Sudeste Asiático.
A composição vegetativa é de árvores altas com copas largas
que se confrontam e que quase não permitem a entrada da luz do
sol. É por isso que no interior da floresta é muito escuro.

Característica de regiões com verões quentes e secos e inver-


nos chuvosos. É formada predominantemente por vegetação arbó-
rea e arbustiva distribuída de maneira dispersa.
A vegetação mediterrânea é possível de ser encontrada em
pontos isolados da Califórnia (Estados Unidos), Chile, África do Sul e
também da Austrália, no entanto, a maior concentração está locali-
zada no sul da Europa.

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Florestas Temperadas Subtropicais O Cerrado brasileiro é considerado um tipo de savana, mas
muitas características o diferenciam das outras savanas.

Pradarias

Sua área original de ocorrência é em regiões de clima tempe-


rado úmido. Formação vegetal diversificada com predominância de
árvores.
Presença de quatro camadas de vegetação: árvores mais altas Formação vegetal muito aproveitada pela pecuária, é caracte-
(de 10 a 25 metros); vegetação arbustiva (de 3 a 5 metros); ervas rística de áreas com baixa pluviosidade e formada basicamente por
(vegetação rasteira, próxima ao nível do solo) e musgos (rasteira, no gramíneas e alguns arbustos.
próprio solo, cobertas por folhas e galhos caídos). As pradarias são vegetações herbáceas fechadas presentes em
Solo fértil com presença de grande quantidade de nutrientes e áreas de clima temperado e que recebem diferentes denominações
material orgânico (resultado da decomposição dos vegetais). em diferentes partes do mundo.
Regiões onde há floresta temperada: Na Europa e na Ásia, recebem o nome de “estepe”. Na América
- Costa oeste dos Estados Unidos e Canadá; do Norte, são chamadas de “pradarias”. Na África do Sul, recebem o
- Sul do Chile; nome de “veld”. E, na América do Sul, recebem o nome de “pampa”.
- Norte da Espanha e Portugal;
- Região oeste do Reino Unido; Vegetação de Deserto
- Turquia;
- Japão e leste e sul da China;
- Região sudeste da Austrália;
- Sudoeste da Argentina;
- Costa ocidental da Nova Zelândia;
- Oeste da Noruega.

Savanas

Ocorrem em regiões com pequenas quantidades de chuva e


são formadas por plantas adaptadas a esse ambiente, como os cac-
tos. A vegetação do deserto é composta por plantas cactáceas e
herbáceas, com pequenos arbustos e cactos (xerófitas) e pratófitas
(plantas com raízes longas).
As xerófitas são plantas como os cactos que, ao invés das fo-
lhas possuírem espinhos para preservar a água, elas armazenam em
seus caules.
Característico de regiões tropicais com uma estação seca bem É muito difícil enxergarmos a vegetação no deserto por ser es-
definida. Savana ou campo tropical é o nome empregado a um tipo cassa e muito distante uma das outras.
de formação vegetal que varia desde um campo herbáceo até uma
matriz campestre com árvores esparsas.
Esse bioma é típico de regiões de clima tropical, quente e úmi-
do. A maior área e mais conhecida de savana situa-se na África, mas
também existem savanas na América do sul e na Austrália.

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Formação de Altitude

Formação vegetal característica de regiões montanhas, que apresenta variedade de porte em função do aumento da altitude. É co-
mum a ocorrência de gramíneas, musgos e liquens.
A vegetação de altitude ocorre na América do Sul e na Europa, ou seja, na Zona Temperada (sul e norte).
Na América do Sul, a vegetação de altitude aparece no Peru, na Bolívia, no Paraguai e na Argentina. Já na Europa existe muito pouco,
apenas no centro-oeste, na Alemanha.

Muitas pessoas leigas têm dificuldade para diferenciar os conceitos de espaço e paisagem. Por conta disso, o esquema anterior pode
ser útil. Da mesma forma, o fragmento abaixo pode ser bastante esclarecedor. Nele fica claro que, se a humanidade fosse extinta, teríamos
o fim da sociedade, e consequentemente do espaço geográfico, mas a paisagem construída permaneceria.
“Durante a Guerra Fria, os laboratórios do Pentágono chegaram a cogitar a produção de um engenho, a bomba de nêutrons, capaz de
aniquilar a vida humana em uma dada área, mas preservando todas as construções. O presidente Kennedy afinal renunciou de levar a cabo
esse projeto. Senão, o que na véspera seria ainda o espaço, após a temida explosão seria apenas paisagem.”
Outro conceito importante, a ideia de lugar representa a dimensão afetiva do espaço geográfico, pois envolve as relações de certos
grupos com determinadas partes da superfície terrestre, criando uma dimensão emocional nesse convívio. Portanto, o lugar é o espaço
apropriado ou percebido pelas relações humanas. É o caso do lugar onde crescemos da infância, do lugar que nos remete a boas memó-
rias, do lugar que nos traz uma sensação de pertencimento, sentimento, identidade e afetividade.

Região
O conceito de região é amplamente utilizado no senso comum, sendo geralmente empregado em referência a uma área do espaço
mais ou menos delimitada. Na Geografia, a região é uma parte do espaço geográfico, contínua ou não, que apresente uma ou um conjun-
to de características comuns. Ou seja, é determinada área da superfície terrestre, com extensão variável, que apresenta características
próprias e particulares que a diferenciam das demais. Podemos defini-la também como conjuntos ou parcelas do território que possuem
alguma identidade (física, política, cultural, econômica).
É possível utilizar vários critérios para estabelecer uma região. Assim, existem regiões naturais, regiões econômicas, regiões políticas,
entre muitos outros tipos. Vale lembrar que a expressão regionalização, porém, pode se referir a duas coisas distintas: ao processo de for-
mação de blocos econômicos (que será discutido noutro momento); ou ao ato de dividir um local em regiões diferentes (que nos interessa
agora). Por exemplo, a regionalização do Brasil é a realização de uma divisão do país em áreas, de acordo com as características comuns
existentes. Nesse sentido, a regionalização pode ser feita de formas diferentes, como visto nos exemplos abaixo.

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Território
É um espaço definido e delimitado a partir de relações de poder, dominação e apropriação que nele se instalam. Envolve não somente
uma divisão natural, mas sim uma divisão social e política. O território pode abranger desde uma área muito restrita, como uma rua ou um
terreno qualquer, até uma coalizão internacional composta por forças militares de diversos países. Ao mesmo tempo, seus tipos envolvem
territorialidades militares, jurídicas (vinculadas ao Estado), naturais, culturais e até criminais, como os territórios do tráfico de drogas ou de
grupos mafiosos. Fronteiras, divisas e limites são recursos usados para delimitar territórios. Para tal, podem ser usados elementos naturais
(como rios e montanhas) ou artificiais (como cercas e muros).
Portanto, muito utilizado no âmbito da política, o território é comumente entendido como uma área delimitada por fronteiras. No en-
tanto, nem sempre essas fronteiras são visíveis ou bem delineadas. Logo, na maioria das abordagens geográficas, o conceito de território
está relacionado com uma configuração de poder. É uma área apropriada por alguém, alguma instituição ou algum grupo que ali estabele-
ce um domínio sobre o local. É uma porção do espaço geográfico onde uma relação hierárquica é estabelecida.

Resumo:
Espaço geográfico: Qualquer área transformada pela ação do homem
Paisagem: Fragmento do espaço geográfico que pode ser visto ou sentido
Lugar: Porção do espaço com o qual tem-se uma relação de afetividade e pertencimento
Território: Local sobre o qual alguém ou algum grupo exercer poder
Região: Parte do espaço que apresenta características próprias e particulares que a diferenciam das demais.
Rede: Conjunto de locais da superfície terrestre conectados ou interligados entre si.

Fonte:
https://www.proenem.com.br/enem/geografia/conceitos-geograficos/

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2. CARTOGRAFIA BÁSICA: ESCALA, PROJEÇÕES, FUSO
HORÁRIO E SISTEMA DE POSICIONAMENTO GLOBAL;

CARTOGRAFIA

A cartografia é uma ciência repleta de conceitos técnicos e no-


ções basilares que permitem o seu entendimento
A cartografia, como sabemos, é a área do conhecimento res-
ponsável pela elaboração e estudo dos mapas e representações car-
tográficas em geral, incluindo plantas, croquis e cartas gráficas. Essa
área do conhecimento é de extrema utilidade não só para os estu-
dos em Geografia, mas também em outros campos, como a Historia
e a Sociologia, pois, afinal, os mapas são formas de linguagem para
expressar uma dada realidade.
Existem, dessa forma, alguns conceitos básicos de Cartografia
que nos permitem entender os elementos dessa área de estudos
Antigo mapa da América do Sul com uma maior facilidade. Saber, por exemplo, noções como as
de escala, legenda e projeções auxilia-nos a identificar com mais
A produção de mapas ocorre desde a pré-história, antes mes- facilidade as informações de um mapa e as formas utilizadas para
mo do surgimento da escrita. Sua confecção se dava em placas de elaborá-lo.
argila suméria e papiros egípcios. Ao longo da história a cartogra-
fia foi evoluindo e desenvolvendo novas técnicas e, atualmente, é Confira, a seguir, um resumo dos principais conceitos da Car-
uma ferramenta de fundamental importância nas representações tografia:
de áreas terrestres. - Mapa – um mapa é uma representação reduzida de uma dada
Conforme a Associação Cartográfica Internacional, a cartogra- área do espaço geográfico. Um mapa temático, por sua vez, é uma
fia é definida como o conjunto de estudos e operações científicas, representação de um espaço realizada a partir de uma determina-
artísticas e técnicas baseado nos resultados de observações diretas da perspectiva ou tema, que pode variar entre indicadores sociais,
ou de análise de documentação, com vistas à elaboração e prepa- naturais e outros.
ração de cartas, planos e outras formas de expressão, bem como - Plantas – representação cartográfica realizada a partir de uma
sua utilização. escala muito grande, ou seja, com uma área muito pequena e um
A cartografia é a junção de ciência e arte, com o objetivo de nível de detalhamento maior. É muito utilizada para representar
representar graficamente, em mapas, as especificidades de uma casas e moradias em geral, além de bairros, parques e empreen-
determinada área geográfica. dimentos.
É ciência, pois a confecção de um mapa necessita de conhe- - Croqui – é um esboço cartográfico de uma determinada área
cimentos específicos para a representação de aspectos naturais e ou, em outras palavras, um mapa produzido sem escala e sem os
artificiais, aplicação de operações de campo e laboratório, metodo- procedimentos padrões na sua elaboração, servindo apenas para a
logia de trabalho e conhecimento técnico para a obtenção de um obtenção de informações gerais de uma área.
trabalho eficaz. - Escala – é a proporção entre a área real e a sua representação
A arte na cartografia está presente em aspectos estéticos, pois em um mapa. Geralmente, aparece designada nos próprios mapas
o mapa é um documento que precisa obedecer a um padrão de or- na forma numérica e/ou na forma gráfica.
ganização. Necessita de distribuição organizada de seus elementos, - Legenda – é a utilização de símbolos em mapas para definir
como: traços, símbolos, cores, letreiros, legendas, título, margens, algumas representações e está sempre presente em mapas temá-
etc. As cores devem apresentar harmonia e estar de acordo com sua ticos. Alguns símbolos cartográficos e suas legendas são padroni-
especificação, exemplo, a cor azul em um mapa representa água. zados para todos os mapas, como o azul para designar a água e o
O mapa é o principal objeto do cartógrafo, ele é uma represen- verde para indicar uma área de vegetação, entre outros.
tação convencional da superfície terrestre, e até de outros astros, - Orientação – é a determinação de ao menos um dos pon-
como a Lua, Marte, etc. Apresenta simbologia própria e deve ser
tos cardeais, importante para representar a direção da área de um
sempre objetivo, além de transmitir o máximo de precisão.
mapa. Alguns instrumentos utilizados na determinação da orienta-
Existem vários modelos de mapas, entre eles podem ser cita-
ção cartográfica são a Rosa dos Ventos, a Bússola e o aparelho de
dos: Mapa-múndi; mapas topográficos; mapas geográficos que re-
GPS.
presentam grandes regiões, países ou contingentes; mapas políti-
- Projeções Cartográficas – são o sistema de representação da
cos; mapas urbanos; mapas econômicos; cartas náuticas e aéreas;
Terra, que é geoide e quase arredondada, em um plano, de forma
entre outros.
que sempre haverá distorções. No sistema de projeções cartográfi-
Mediante a compreensão dos principais conceitos básicos da
cas, utiliza-se a melhor estratégia para definir quais serão as altera-
cartografia, podemos ter um entendimento mais facilitado do pro-
cesso de leitura e produção de mapas. ções entre o real e a representação cartográfica com base no tipo
de mapa a ser produzido.

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- Hipsometria – também chamada de altimetria, é o sistema Vamos analisar então mais detalhadamente esses elementos.
de medição e representação das altitudes de um determinado am- Devemos considerar o mapa como um meio de comunicação,
biente e suas formas de relevo. Portanto, um mapa hipsométrico contendo objetos definidos por pontos, linhas e polígonos, permea-
ou altimétrico é um mapa que define por meio de cores e tons as dos por uma linguagem composta de sinais, símbolos e significados.
diferenças de altitude em uma determinada região. Sendo a sua estrutura formada por uma base cartográfica, relacio-
- Latitude – é a distância, medida em graus, entre qualquer nada diretamente a objetos e fenômenos observados ou percebi-
ponto da superfície terrestre e a Linha do Equador, que é um traça- dos no espaço geográfico.
do imaginário que se encontra a uma igual distância entre o extre- Essa base cartográfica é composta pelos chamados elementos
mo norte e o extremo sul da Terra. gerais do mapa, que são pelo menos cinco componentes que con-
- Longitude – é a distância, medida em graus, entre qualquer tribuem para a leitura e interpretação do produto cartográfico. São
ponto da superfície terrestre e o Meridiano de Greenwich, outra eles: o título, a orientação, a projeção, a escala e a legenda, sen-
linha imaginária que é empregada para definir a separação dos he- do que a ausência e erros em mapas, na maioria das vezes, ocorre
misférios leste e oeste. quando um desses elementos é apresentado de forma incompleta
- Paralelos – são as linhas imaginárias traçadas horizontalmen- ou distorcida, não seguindo as normas da ciência cartográfica, o
te sobre o planeta ou perpendiculares ao eixo de rotação terres- que pode contribuir para a apreensão incorreta das representações
tre. Os principais paralelos são a Linha do Equador, os Trópicos de do espaço geográfico pelos leitores. Então, vamos aqui procurar en-
Câncer e Capricórnio e os Círculos Polares Ártico e Antártico. Todo tender cada um deles de forma resumida:
paralelo da Terra possui um valor específico de latitude, que pode
O Título
variar de 0º a 90º para o sul ou para o norte.
O título no mapa deve ser visto como ocorre em uma apresen-
- Meridianos – são as linhas imaginárias traçadas verticalmente
tação de um texto escrito, ou seja, é a primeira apresentação do
sobre o planeta ou paralelas ao eixo de rotação terrestre. O prin-
conteúdo do que se quer mostrar; é o menor resumo do que trata
cipal meridiano é o de Greenwich, estabelecido a partir de uma um documento, neste caso, a representação cartográfica. Quando
convenção internacional. Todo meridiano da Terra possui um valor se está diante de um “mapa temático”, por exemplo, o título deve
específico de longitude, que pode variar entre 0º e 180º para o leste identificar o fenômeno ou fenômenos representados por ele (Figu-
ou para o oeste. ra 1). Nesse sentido, o título deve conter as informações mínimas
- Coordenadas Geográficas – é a combinação do sistema de que respondam as seguintes perguntas a respeito da produção: “o
paralelos e meridianos com base nas longitudes e as latitudes para quê?”, “onde?” e “quando?”.
endereçar todo e qualquer ponto da superfície terrestre. Um título deve responder a pergunta “o quê?” E ser fiel ao que
- Curvas de Nível – é uma linha ou curva imaginária que indica se desenvolve no produto cartográfico. Pode ser escrito na parte
os pontos e áreas localizados sob uma mesma altitude e que possui superior da carta, do mapa ou de outro produto da cartografia, isto
a sua designação altimétrica feita por números representados em é, deve ter um destaque para que o leitor identifique automatica-
metros. mente do que se trata esse produto cartográfico.
- Aerofotogrametria – é o registro de imagens a partir de fo-
tografias áreas, sendo muito utilizado para a produção de mapas. A Orientação
- SIG – sigla para “Sistemas de Informações Geográficas”, é o A orientação é sem dúvida um elemento fundamental, pois
conjunto de métodos e sistemas que permitem a análise, coleta, sem ela fica muito difícil de responder a pergunta “onde?”, conside-
armazenamento e manipulação de informações sobre uma dada rando que a carta, o mapa, a “planta” ou outro tipo de representa-
área do espaço geográfico. Utiliza, muitas vezes, técnicas e proce- ção espacial, sob os preceitos da Cartografia, é uma parcela de um
dimentos tecnológicos, incluindo softwares, imagens de satélite e sistema maior, o planeta Terra (se for esse o planeta trabalhado).
aparelhos eletrônicos em geral. E, em sendo assim, é preciso estabelecer alguma referência para
se saber onde se está localizado, na imensidão da superfície deste
Alguns conceitos a destacar... planeta.
Os Mapas são desenhos que representam qualquer região do A orientação deve ser utilizada, de preferencia, de forma simul-
planeta, de maneira reduzida, simplificada e em superfície plana. tânea à apresentação das às coordenadas geográficas (meridianos
Os mapas são feitos por pessoas especializadas, os Cartógra- e paralelos cruzados na forma de um sistema chamado de rede ge-
ográfica), no mapa, as quais também servem para se marcar a posi-
fos. A Ciência que estuda os mapas e cuida de sua confecção cha-
ção de um determinado objeto ou fenômeno na superfície da Terra,
ma-se Cartografia. Vários mapas podem ser agrupados em um livro,
de modo que a direção norte aponte sempre para a parte de cima
que recebe o nome de Atlas.
da representação (seguindo o sentido dos meridianos). E caso a re-
presentação não contenha coordenadas geográficas é importante
Elementos cartográficos dotá-la de um norte, ou de uma convenção que dê a direção norte
Todos os mapas possuem símbolos, que são chamados de da representação, geralmente na forma de seta ou da conhecida
Convenções Cartográficas. Alguns são usados no mundo todo, em “rosa dos ventos” (presente na figura 1).
todos os países: são internacionais. Por isso, não podem ser modi-
ficados.
Os símbolos usados são colocados junto ao mapa e constituem
a sua Legenda. Normalmente, a legenda aparece num dos cantos
inferiores do mapa.
As Escalas indicam quantas vezes o tamanho real do lugar re-
presentado foi reduzido. Essa indicação pode ser feita de duas for-
mas: por meio da escala numérica ou da gráfica. As escalas geral-
mente aparecem num dos cantos inferiores do mapa.

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Figura 1. Exemplo de carta contendo os elementos gerais da representação. Fonte: Elaborado pelo autor.

A Projeção
A ideia de projetar algo em outro meio, no caso, a forma da Terra, deu origem a técnica que definiu os tipos de projeções cartográficas.
Para isto foi preciso conhecer as dimensões do planeta, pois os modelos propostos para representar a Terra precisaram ajustar as suas
próprias dimensões a superfície deste planeta. Inicialmente os gregos, por intuição ou por desejo entenderam que a Terra era redonda.
Embora outras ideias tenham surgido e medidas demonstrem que este planeta não é tão bem acabado, como consideravam os gregos da
antiguidade, a esfera ou globo ainda é o seu modelo mais conhecido.
Entendido como a Terra pode ser vista, é importante lembrar que para representá-la ou para escolher o seu modelo de representação
é necessário conhecer os atributos de uma projeção, tendo em vista que esses atributos são em função do uso que se quer do mapa:
dimensão, forma e posição geográfica da área ou do objeto a ser mapeado. Principalmente porque as projeções são a maneira pela qual a
superfície da Terra é representada em superfícies bidimensionais, como em uma folha de papel ou na tela de um monitor de computador.
Como na hora de representar o planeta Terra (como uma esfera, tridimensional – com um volume) se utiliza quase sempre um meio
bidimensional (um plano – com largura e altura), deve-se minimizar as distorções em área, distância e direção dos traços que irão compor
o modelo terrestre ou parte dele (carta, mapa, planta e outras). Ou seja, se faz necessário compreender como a superfície esférica do
planeta Terra – o globo, pode se tornar uma superfície plana – o mapa.
Os modos de conversão do modelo esférico para a forma plana são os mais diversos, cada qual gerando certas distorções e evitando
outras. O que significa que precisamos colocar a esfera terrestre numa folha de papel, portanto, adaptá-la à forma plana, mas para que isso
ocorra é preciso pressionar o globo terrestre para que ele se torne plano, porém, tal pressão faz com que o globo se “parta” em vários lu-
gares. gerando uma série de deformações que precisaram ser compensadas com cálculos matemáticos que procuram resolver os “vazios”
criados com a abertura do globo (Figura 2).

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Figura 2. A Terra é dividida em segmentos ou “gomos” ao longo das linhas de longitude. Fonte: Phillipson (2010, p. 07)

A Cartografia buscou solucionar este problema com base no estudo das projeções cartográficas, e nessa busca concluiu que nenhum
tipo de projeção pode evitar as deformações em parte ou na totalidade da representação, por isso mesmo, um mapa nunca será perfeito.
Assim, a Cartografia se propôs a considerar três tipos de projeção: a azimutal ou plana, a cilíndrica e a cônica (figura 3). E para isto teve que
desenvolver processos geométricos ou analíticos para representar a superfície do planeta Terra em um plano horizontal.

Figura 3. Projeções cartográficas. Fonte: http://migre.me/aij9b

A definição dessas projeções solicitou ajustes quanto ao modelo da projeção a ser adotada: no Modelo Cilíndrico, as projeções são do
tipo: a) normais, b) transversas e c) oblíquas; no Modelo Cônico ou Policônico, as projeções são do tipo: a) normais e b) transversas; e, no
Modelo Plano, as projeções são do tipo: a) polares, b) equatoriais e c) oblíquas.
Quanto aos atributos as projeções conservam três propriedades importantes: a equidistância, quando a distância sobre um meridiano
(ou paralelo) medido no mapa é igual à distância medida no terreno; a equivalência, quando a área representada no mapa é igual à área
correspondente no terreno; a conformidade, quando a forma de uma representação do mapa é igual à forma existente. As projeções
azimutais permitem a direção azimutal no mapa igual à direção azimutal no terreno.
Essas características das projeções cartográficas garantem a elaboração de mapas para todos os tipos de uso e aplicação, porém, ne-
nhum mapa pode conter todas as propriedades: a equidistância, a equivalência e a conformidade ao mesmo tempo. Caso a representação
cartográfica não estiver submetida a nenhuma dessas propriedades, é chamada de projeção afilática.

A Escala
Na elaboração de um produto cartográfico observamos dois problemas importantes: 1º) a necessidade de reduzir as proporções dos
acidentes existentes, a fim de tornar possível a sua representação num espaço limitado - esta ideia é a escala, concebida a partir da pro-
porção requisitada pela representação dos fenômenos e; 2º) determinados acidentes, dependendo da escala, não permitem uma redução
acentuada, pois se tornariam imperceptíveis, mas como são importantes devem ser representados nos documentos cartográficos.

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Por isto, no caso de mudança de escala de trabalho, poderá acontecer uma modificação na forma de representar o objeto, ou seja,
a cada momento em que a escala for aumentando, acontecerá a aproximação do objeto, aumentando o seu tamanho, acontecendo ao
contrário, na diminuição da escala, o distanciamento do objeto, o que, consequentemente, modificará sua representação (Figura 4).

Figura 4. Relação entre a mudança de escala e representação espacial dos objetos. Fonte: o autor com base em Silva (2001) e Cruz e Me-
nezes (2009)

A figura 4 (A) mostra a representação de um objeto em uma grande escala – destacando o bairro de Nazaré, em Belém do Pará, na
qual se pode perceber as quadras do bairro (polígonos) e seus confinantes. Numa escala menor vê-se o município (4 B), depois o estado no
território nacional (4 C) e a localização global (4 D), na qual as quadras e os limites políticos administrativos dos municípios desaparecem,
e os estados são imperceptíveis. Nessa redução drástica da escala, as quadras, os municípios brasileiros e até certos estados são represen-
tados por pontos, uma vez que não se pode perceber a área desses objetos.
E para identificar essa relação a escala pode ser definida como escala numérica, na forma de fração, cujo denominador lhe determi-
na, ou como escala gráfica, definida por um seguimento de reta fracionado e usado de acordo com a unidade de medida admitida para a
representação (metro, quilômetro ou outras).

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Figura 5. Escala numérica e gráfica. Fonte: http://migre.me/aijJK (adaptado pelo autor)

Com isto se pode entender a escala como uma relação entre grandezas e é neste caso que a relação entre as medidas dos objetos ou
áreas da região representada no espaço cartografado (numa folha de papel ou na tela de um monitor, por exemplo) e suas medidas reais
define a maior ou menor resolução espacial do objeto (visibilidade).

A Legenda e as Convenções
As representações espaciais sempre estiveram presentes, pois antes mesmo da escrita e da fala os símbolos e desenhos represen-
tavam o meio vivido. Com eles o homem delimitava e ocupava os territórios. Mas foi somente a partir do século passado que os mapas
passaram a ter o padrão normativo atual, estabelecido por leis e convenções transformadas em normas aceitas pelos estudiosos e por
todos os que usam produtos da Cartografia.
Assim, estabeleceu-se uma linguagem artificial, padronizada, associativa e universal com o objetivo de promover uma melhor compre-
ensão para quem produz e para quem lê os mapas, alcançando leitores com menor e maior nível de conhecimento. Os mapas passaram
então a fazer parte do dia-a-dia do homem em sociedade, figurando em livros, revistas, jornais, televisão, internet, e muitos outros meios
de comunicação humana. De modo que, as técnicas cartográficas modernas permitiram que as representações ganhassem mais e melhor
sentido.
Assim, para a melhor simbolização dos objetos e fenômenos que são transportados e contidos em um mapa, e demais representações
cartográficas, foi necessário se aprimorar as chamadas legendas, ou seja, a parte de uma carta ou mapa que contém o significado dos fe-
nômenos representados nela, geralmente traduzidos por símbolos, cores e traços desenhados cuidadosamente para que o leitor de mapas
entenda do que trata a representação cartográfica.
A legenda de um mapa está situada, geralmente, dentro da moldura do mesmo, com todos os símbolos, cores e outros artifícios
capazes de explicar de modo resumido a ocorrência de um determinado objeto ou fenômeno, de acordo com sua distribuição no espaço
geográfico.
Faz-se necessário atentar para uma componente muito confundida com legenda, embora faça parte de outra categoria de informação
– as convenções, que não possuem a função de explicar o fenômeno temático, mas a de definir o significado de linhas, símbolos e outras
representações, geralmente, referentes aos componentes gerais do mapa.
Assim podemos ter mapas que mostram fenômenos qualitativos e quantitativos e/ou quantitativos (Figura 8), dispostos sobre uma
base de referência, geralmente extraída dos mapas e cartas topográficas. Desse modo, os mapas e cartas geológicas, geomorfológicas,
de uso da terra e outras, constituem exemplos de representação temática em que a linguagem cartográfica privilegia a forma e a cor dos
símbolos como expressão qualitativa que surge na forma de legendas
Desse modo, podemos entender que a descrição qualitativa é aquela que mostra os atributos (qualidades), a cada uma das circuns-
tâncias ou características dos fenômenos (como os aspectos nominais do fenômeno), as quais podem ser classificadas segundo um deter-
minado padrão.
Os mapas de densidade de população, de precipitação pluviométrica, de produção agrícola, de fluxos de mercadorias, constituem
exemplos de que pontos, dimensões dos símbolos, linhas iguais (isarítmicas), áreas iguais (corópletas), figuras (diagramas) e outros recur-
sos gráficos podem ser utilizados para representar as formas de expressão qualitativa, assim como a descrição quantitativa (Figura 8), que
pode mensurar o fenômeno através de uma unidade de medida ou através de um percentual (aspecto ordinal do fenômeno) quantitativo.

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Depois, o topógrafo completa o trabalho sobre o terreno, reve-
lando os detalhes pouco visíveis nas fotografias.

Coordenadas geográficas
O planeta Terra possui uma superfície de 510 milhões de quilô-
metros quadrados, devido esse imenso espaço a localização se tor-
na mais complexa, dessa forma o homem criou linhas imaginarias
para facilitar a localização, os principais são os paralelos e latitudes
e meridianos e as longitudes.

É através da interseção de um meridiano com um paralelo que


podemos localizar cada ponto da superfície da Terra.
Os paralelos são linhas imaginarias que estão dispostas ao re-
dor do planeta no sentido horizontal, ou seja, de leste a oeste. O pa-
ralelo principal é chamado de Linha do Equador que está situado na
parte mais larga do planeta, a partir dessa linha tem origem ao he-
misfério sul e o hemisfério norte. Existem outros paralelos secundá-
Figura 8. Mapa contendo temática quantitativa: a concentração do rios mais de grande importância como Trópico de Câncer, O Trópico
PIB do Brasil. Fonte: Fonte: Brasil (2006) de Capricórnio, o Circulo Polar Ártico e o Circulo Polar Antártico.

Assim, para finalizar essa contribuição, devemos reconhecer


que os conceitos e categorias da Cartografia não podem ser despre-
zados durante o uso ou a elaboração de um produto cartográfico. O
uso das ferramentas mais atuais, pelos profissionais que utilizam a
Cartografia, deve se dar sob o entendimento do meio que os circun-
da e dos elementos que compõem a ciência cartográfica.

A interpretação do espaço geográfico e dos fenômenos e obje-


tos inerentes a ele depende sobretudo dessa linguagem empregada
pela Cartografia, básica para a leitura dos seus produtos (mapas,
plantas, croquis e outros), tendo em vista que eles são usados por
um número cada vez maior de pessoas de todas as profissões e in-
teresses, principalmente estudantes de todas partes do mundo e
áreas do conhecimento.
Desse modo, um plano de representação do espaço só se con-
solida se apoiado na linguagem cartográfica. As ações mecânicas
que se estabelecem com o “apertar botão”, seleção de cores e pos-
sibilidade de zoom automático, colocam uma cortina sobre os fatos
importantes, e encobrem a capacidade crítica do profissional sobre
o objeto de estudo. A discussão não deve ser apenas sobre o fer-
ramental, mas também sobre conceitos, categorias e elementos da
Cartografia para compreender o espaço geográfico.
As latitudes são medidas em graus entre os paralelos, ou qual-
Tipos de Mapa quer ponto do planeta até a Linha do Equador, as latitudes oscilam
Para compreendermos o que se passa na superfície da Terra de 0º Linha do Equador e 90º ao norte e 90º ao sul.
existem diferentes tipos de mapas: Meridianos correspondem a semicircunferências imaginarias
- Mapas Políticos – mostram os continentes, um país, estados e que parte de um pólo até atingir o outro. O principal meridiano é o
municípios, limites, capitais e cidades importantes; Greenwich, esse é o único que possui um nome especifico, esse é
- Mapas Físicos – representam um ou alguns elementos natu- utilizado como referência para estabelecer a divisão da Terra entre
rais. Podem ser de relevo, hidrografia, clima, vegetação, etc; Ocidente (oeste) e Oriente (leste).
- Mapas Econômicos – apresentam as riquezas de uma região
(agricultura, indústrias, etc);
- Mapas Demográficos – mostra a distribuição de pessoas que
vivem em um continente, país, estado, cidade etc.

Hoje em dia, a cartografia é feita por meios modernos, como as


fotografias aéreas (realizadas por aviões, drones) e o sensoriamen-
to remoto por satélite.
Além disso, com os recursos dos computadores, os geógrafos
podem obter maior precisão nos cálculos, criando mapas que che-
gam a ter precisão de até 1 metro. As fotografias aéreas são feitas
de maneira que, sobrepondo-se duas imagens do mesmo lugar, ob-
tém-se a impressão de uma só imagem em relevo. Assim, represen-
tam-se os detalhes da superfície do solo.

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Fuso Horário
Os fusos horários, também denominados zonas horárias, foram
estabelecidos através de uma reunião composta por representan-
tes de 25 países em Washington, capital estadunidense, em 1884.
Nessa ocasião foi realizada uma divisão do mundo em 24 fusos ho-
rários distintos.
A metodologia utilizada para essa divisão partiu do princípio de
que são gastos, aproximadamente, 24 horas (23 horas, 56 minutos
e 4 segundos) para que a Terra realize o movimento de rotação, ou
seja, que gire em torno de seu próprio eixo, realizando um movi-
mento de 360°. Portanto, em uma hora a Terra se desloca 15°. Esse
dado é obtido através da divisão da circunferência terrestre (360°)
pelo tempo gasto para que seja realizado o movimento de rotação
(24 h).
O fuso referencial para a determinação das horas é o Greenwi-
ch, cujo centro é 0°. Esse meridiano, também denominado inicial,
atravessa a Grã-Bretanha, além de cortar o extremo oeste da Euro-
pa e da África. A hora determinada pelo fuso de Greenwich recebe
o nome de GMT. A partir disso, são estabelecidos os outros limites
de fusos horários.
As longitudes representam o intervalo entre os meridianos ou A Terra realiza seu movimento de rotação girando de oeste para
qualquer ponto do planeta com o meridiano principal. As longitu- leste em torno do seu próprio eixo, por esse motivo os fusos a leste
des podem oscilar de 0º no meridiano de Greenwich até 180º a de Greenwich (marco inicial) têm as horas adiantadas (+); já os fu-
leste e a oeste. sos situados a oeste do meridiano inicial têm as horas atrasadas (-).
Através do conhecimento da latitude e longitude de um lugar Alguns países de grande extensão territorial no sentido leste-
é possível identificar as coordenadas geográficas, que correspon- -oeste apresentam mais de um fuso horário. A Rússia, por exem-
dem a sua localização precisa ao longo da superfície terrestre. A plo, possui 11 fusos horários distintos, consequência de sua grande
partir dessas informações a definição de coordenadas geográficas área. O Brasil também apresenta mais de um fuso horário, pois o
são medidas em graus, minutos e segundos de pontos da Terra lo- país apresenta extensão territorial 4.319,4 quilômetros no sentido
calizadas pela latitude e longitude. leste-oeste, fato que proporciona a existência de quatro fusos ho-
rários distintos, no entanto, graças ao Decreto n° 11.662, publicado
Os Pontos de Orientação - Os meios que as pessoas utilizam no Diário Oficial de 25 de abril de 2008, o país passou a adotar so-
para orientar-se no espaço geográfico dependem do ambiente em mente três.
que elas vivem. A compreensão dos fusos horários é de extrema importância,
Para isso, foram definidos os pontos globais de referência, cha- principalmente para as pessoas que realizam viagens e têm contato
mados de pontos cardeais: com pessoas e relações comerciais com locais de fusos distintos dos
- Norte (N) seus, proporcionado, portanto, o conhecimento de horários em di-
- Sul (S) ferentes partes do globo.
- Leste (L ou E)
- Oeste (O ou W)
CONCEITO DE GLOBO TERRESTRE
Para ficar mais exata a orientação entre os pontos cardeais, te-
mos os pontos colaterais: noroeste (NO), nordeste (NE), sudoeste O globo terrestre é uma das formas mais comuns e úteis de
(SO) e sudeste (SE). Além desses, temos os pontos subcolaterais: representar o planeta Terra. Ele está projetado com base na forma e
norte-noroeste (NNO), norte-nordeste (NNE), sul-sudoeste (SSO), na superfície do planeta, como também em relação aos limites po-
sul-sudeste (SSE), leste-nordeste (ENE), leste-sudeste (ESSE), oeste- líticos dos continentes e dos países. É uma das formas tridimensio-
-noroeste (ONO) e oeste-sudoeste (OSO). nais de representação da Terra, pois os mapas são bidimensionais e
Todos estes pontos formam uma figura chamada de Rosa-dos- muitas vezes por causa disso se perde a real dimensão do território.
-Ventos ou Rosa-dos - Rumos. O globo terrestre é uma criação de muito tempo atrás, existen-
te na Idade Média, feito pelos árabes e chineses, ou seja, pelos não
ocidentais. Para entender melhor sua utilidade, devemos levar em
As Zonas Climáticas - Os paralelos especiais exercem papel
conta o fato de que o ser humano por muito tempo pensou que a
muito importante na definição das zonas climáticas, que são de-
Terra era plana, mas que através das expansões ultramarinas reali-
marcadas por eles. Tais paralelos são os seguintes:
zadas pela Europa confirmou as suposições e teorias de que a Terra
- Zonas polares ou glaciais norte e sul – são limitadas pelos cír-
era redonda ou esférica. Desde então, o globo terrestre se tornou
culos polares, possuem altas altitudes. São zonas muito frias.
um importante elemento de conhecimento para a navegação e para
- Zonas temperadas – com latitude medias, estão compreen-
cartografia, pois assim representa da melhor maneira a forma e a
didas a norte entre o circulo polar ártico e o tropico de câncer e a
superfície do planeta Terra.
sul entre o circulo polar antártico e o tropico de capricórnio. Possui O globo terrestre também é um elemento extremamente útil
temperaturas mais amenas que as zonas polares. e importante a nível educativo. Neste sentido, é importante tê-lo
- Zona tropical – compreendida entre os trópicos de câncer e na escola para que os alunos possam aprender sobre a localização
capricórnio, também é chamada de zona intertropical. E a região dos países, sua relação com os sistemas aquáticos e oceânicos, os
do planeta que recebe mais raios solares, portanto, a mais quente. limites que compartilham os países entre si, sendo tudo isso de ma-
neira tridimensional, melhor que os mapas regulares.

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O globo terrestre representa o planeta Terra. Entretanto, exis- Círculo Polar Ártico
tem outros planetas ou globos que, embora não sejam tão comuns,
são muito úteis no campo astronômico para conhecer detalhes de Situado no extremo norte do planeta, na latitude 66º 33’, o
sua superfície, de seu relevo, etc. Alguns também podem represen- paralelo passa pelos seguintes territórios: Alasca (pertencente aos
tar o Sol. Estados Unidos), Canadá, Groenlândia, Noruega, Suécia, Finlândia
e Rússia.
MAPA-MÚNDI: TUDO SOBRE A REPRESENTAÇÃO DO GLO- O Círculo Polar Ártico também delimita uma curiosidade. Ao
BO TERRESTRE norte dele, ao menos uma vez por ano ocorre a presença do sol por
24h durante o verão. Já durante o inverno, o sol não aparece nem
Sua função é reproduzir o globo terrestre em sua totalidade ou uma vez sequer.
suas partes assim como veríamos do espaço — mas de forma plana.
Nele, podemos observar os continentes e ilhas, bem como os rios Círculo Polar Antártico
e oceanos.
Além disso, convencionou-se a inclusão das fronteiras políticas Esta no extremo sul do mundo, na latitude -66º 33’. Ele é o úni-
dos países e suas capitais. Nesse caso, temos os mapas-múndi po- co paralelo que passa por apenas uma localização: a Antártica.
líticos. De modo análogo ao Círculo Polar Ártico, ele marca o limite no
Por ser uma retratação, os cartógrafos devem tomar alguns planeta em que o sol aparece por 24h no verão e não aparece pelo
cuidados para que os desenhos sejam o mais próximo possível da mesmo período durante o inverno.
realidade.
Para isso, esses profissionais fazem uso da escala — uma rela- Meridianos e o Meridiano de Greenwich
ção matemática entre as dimensões de um objeto, que no nosso
caso são os continentes, e sua representação. Dependendo do que Os meridianos são linhas verticais em relação à Linha do Equa-
se quer representar, pode-se utilizar uma escala gráfica ou numé- dor. Por meio delas, os geógrafos determinam a longitude e os fusos
rica. horários — que discutiremos logo mais.
O principal é o Meridiano de Greenwich, que estabelece a lon-
Linhas imaginárias do mapa-múndi gitude 0º, não estando, assim, localizado nem a leste e nem a oeste.
Seu nome vem do Observatório Real de Greenwich, localizado na
Além das terras e águas, você deve ter notado que existem al- Inglaterra, por onde o meridiano passa.
gumas linhas imaginárias, geralmente na cor azul, que cortam o ma- Seu estabelecimento como marco oficial da Terra se deu por
pa-múndi. Elas são úteis para encontrar as coordenadas geográficas meio de votação em 1884, na Convenção de Washington, nos Esta-
do globo terrestre. dos Unidos. Vale pontuarmos que o Brasil e a França abstiveram-se
Horizontalmente, são 5 linhas denominadas paralelos. Elas são do voto — os franceses preferiam utilizar o Meridiano de Paris.
determinadas pela latitude e quanto mais próximos estão dos po-
los, menores serão. Mapa-múndi: fuso horário

Linha do Equador Além de marcar o início das longitudes, o Meridiano de Gre-


enwich serve como referência para os fusos horários.
Considerado o principal paralelo, ele divide o mundo em dois Sabemos que a Terra demora 24 horas para completar seu tra-
hemisférios — Norte (boreal ou setentrional) e Sul (austral ou meri- jeto de rotação, que corresponde a 360º. Portanto, em 1 hora, a
dional). Com um raio de 6.380 km e 40 mil quilômetros de extensão, Terra se desloca 15º.
o Brasil é “cortado” pela Linha do Equador em 4 Estados: Amazonas, A partir disso, convencionou-se que o Meridiano de Greenwich
Roraima, Amapá e Pará. seria o marco-zero e os demais fusos horários seriam determinados
Além de sua importância para a Geografia, é uma referência a partir dele. Portanto, a cada 15º a leste do meridiano, tem-se o
para a localização no Planeta Terra, já que também auxilia no enten- acréscimo de 1 hora. Por sua vez, para cada 15º a oeste, diminui-se
dimento do clima. Quanto mais longe dela uma região está, tanto 1 hora.
para o norte quanto para o sul, menor será a incidência de sol —
sendo um fator para a possível diminuição da temperatura. Mapa-múndi antigo

Trópico de Câncer Os primeiros mapas-múndi datam de civilizações da Antiguida-


de. Eles eram feitos de madeira, esculpidos ou pintados, ou dese-
Encontra-se ao norte da Linha do Equador, sobre a latitude 23º nhados sobre a pele de animais.
37’ (vinte e três graus e trinta e sete minutos). As primeiras representações tinham como objetivo conhecer
Ele passa por 19 países da América, África e Ásia: Bahamas, áreas dominadas e possíveis territórios para a ampliação das fron-
Estados Unidos, México, Havaí, Egito, Mauritânia, Argélia, Chade, teiras, além de demarcar áreas de caça.
Líbia, Mali, Arábia Saudita, Níger, Bangladesh, China, Emirados Ára- É importante ressaltar que os povos baseavam-se em suas
bes, Índia, Omã, Myanmar e Taiwan. visões de mundo — logo, os mapas-múndi antigos tinham confi-
gurações diferentes das que conhecemos hoje, sem a inclusão de
Trópico de Capricórnio continentes desconhecidos na época.
Existiram algumas versões de mapa-múndi até chegarmos à re-
Localizado ao sul da Linha do Equador, sobre a latitude -23º 37’, presentação atual.
passando por 10 países: Brasil, Argentina, Paraguai, Chile, África do
Sul, Moçambique, Namíbia, Madagascar, Botsuana e Austrália.
Por aqui, o Trópico de Capricórnio passa pelos Estados de São
Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul.

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Mapa-múndi: mapa de Anaximandro Mapa-múndi: Europa

Por volta de 546 a.C, o desenhista e cartógrafo Anaximandro


elabora o primeiro mapa-múndi no formato circular.
Outra característica é a presença do Mar Egeu no centro da
representação, cercado pelos três continentes então conhecidos:
Europa, Líbia e Ásia.

Mapa-múndi: Eratóstenes

Em sua representação datada de aproximadamente 220 a.C,


Eratóstenes desenhou um mapa-múndi melhorado, incluindo infor-
mações obtidas pelas campanhas de Alexandre, o Grande. Além de
incluir pela primeira vez meridianos e paralelos, o desenho mostra
uma Ásia maior graças aos novos conhecimentos sobre o continen-
te.

Mapa-múndi: mapa do mundo Anglo-Saxônico


Composta por 50 países, a Europa é o segundo menor conti-
Contido na obra “Periegesis”, esse mapa foi produzido entre os
nente em extensão — ocupando 6,8% da área acima do nível do
anos de 992 e 994 com base nos relatos de viagem do arcebispo da
mar e abrigando o maior território europeu: a Rússia.
Cantuária Sigerico, que teve início em Roma.
O Vaticano é o menor.
Nele, Jerusalém é representada na parte superior e inclui-se a
cidade de Taprobama, no Sri Lanka — também conhecida como Cei- Mapa-múndi: Oceania
lão, região importante para os navegadores que iam até as Índias.

Mapa-múndi: mapa de Waldseemuller

Criado em 1507, pelo alemão Martin Waldseemuller, este é o


desenho que se assemelha ao mapa-múndi atual. Pela primeira vez,
a Terra foi dividida em Oriente e Ocidente, graças aos conhecimen-
tos obtidos durante as Grandes Navegações. Além disso, utiliza-se
pela primeira vez o termo América.
A partir dele, o holandês Gerardo Mercator propõe no século
XVI, um novo modelo baseado nas distâncias náuticas, em que fo-
ram incluídos rios e montanhas. Essa versão é a mais próxima da Composta por vários arquipélagos do oceano Pacífico e o con-
representação que conhecemos hoje em dia. tinente da Austrália, a Oceania não tem fronteira terrestre entre os
14 países que a constituem. Excluindo a Austrália e a Nova Zelândia,
Mapa-múndi político todos os demais países apresentam características de subdesenvol-
vimento.
Estamos tão acostumados com o mapa-múndi atual que às Mapa-múndi: Ásia
vezes nos esquecemos que se pudéssemos ver a Terra do espaço
teríamos uma visão diferente daquela representada.
Isso porque não seríamos capazes de identificar as fronteiras
entre os países, já que elas são convenções estabelecidas politica-
mente — muitas vezes não seguindo aspectos físicos.
É chamado de mapa-múndi político a reprodução em que cons-
tam os limites entre cada país, reconhecidos pela ONU (Organiza-
ção das Nações Unidas). O desenho atual inclui 193 Estados, não
reconhecendo Taiwan, Vaticano e Palestina como nações.

Mapa-múndi: continentes

Atualmente, o mapa-múndi traz em seu desenho 6 continen-


tes:
-Ásia
-África
-América
-Europa
-Oceania
-Antártica — único continente que não contém país.

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A Ásia, assim como a Europa, é composta por 50 países — 47 Mapa-múndi: América do Sul
países e 3 territórios de soberania nacional. É considerado o maior
dos continentes, tanto em área, quanto em população. Sua exten-
são corresponde a um terço das partes sólidas da Terra e abriga
cerca de três quintos da população mundial.
No lado Oriental, faz fronteira com o Oceano Pacífico, a Oce-
ania e com a América do Norte, pelo Estreito de Bering. Já o lado
Ocidental faz fronteira com a África e a Europa.

Mapa-múndi: África

Cobrindo 20,3% da área acima do nível do mar, a África é o


terceiro continente mais extenso do planeta, além de também ser
considerado o segundo mais populoso da Terra. Apresenta grande
diversidade cultural, étnica, social e política, sendo composta por
54 países — com 21 deles na lista dos 30 países mais pobres do
mundo.

Mapa-múndi: América Central

Compreendida entre a Península de Iucatã e a Colômbia, a


América Central localiza-se em uma placa tectônica própria: a Placa
Caribeana. Composta por 20 países, pode ser segmentada em duas
partes: América Central Insular e a América Central Ultramarina.

Mapa-múndi: América do Norte A América do Sul é composta por 12 países — a Guiana Fran-
cesa é um território ultramarino, não podendo ser considerado um
país. Sua área corresponde a 12% da superfície terrestre, abrigando
6% da população mundial.

Mapa-múndi Brasil

O Brasil está na porção leste da América do Sul, abrigando


aproximadamente 200 milhões de habitantes. É o maior país do
continente e o único que tem como língua oficial o Português.
O país ocupa a oitava posição de maior PIB do mundo, tanto
nominalmente, quanto por paridade de poder de compra. É consi-
derado pelo Banco Mundial como uma economia de renda média-
-alta e detém a maior parcela da riqueza global da América Latina
— junção da América do Sul com a América Central.

Representações do mapa-múndi

Uma das dificuldades enfrentadas pelos cartógrafos é conse-


guir reproduzir as proporções terrestres em um globo, com uma
superfície curva e de forma plana. Isso porque essa transferência
sempre acarretará deformações. Levando-se isso em consideração,
Considerada um subcontinente, a América do Norte é compos- cartógrafos fazem uso de diferentes sistemas de projeção.
ta por 3 países: Estados Unidos, Canadá e México — os dois primei- De acordo com a projeção escolhida e intenções de uso, a re-
ros países compõem a maior extensão fronteiriça do mundo. presentação do globo terrestre ganha novos formatos, muitas vezes
Além disso, o continente tem em suas dependências as Bermu- diferente daquelas às quais estamos acostumados.
das, a Ilha de Clipperton, Saint Pierre et Miquelon e a Groenlândia
— a maior ilha do mundo. Projeção de Mercator

Esta representação cilíndrica apresenta os paralelos afastan-


do-se entre si conforme se distanciam da Linha do Equador. Como
resultado, os polos acabam ganhando proporções muito grandes.

Projeção de Peters

Iniciado por James Gall, em 1885, e finalizada em 1973 por


Arno Peters, essa projeção é cilíndrica e equivalente. As áreas dos
continentes são próximas à realidade, mas suas formas são distor-
cidas.

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É comumente chamada de projeção “terceiro-mundista”, uma vez que países historicamente subdesenvolvidos ganham destaque
sobre os mais desenvolvidos.

Projeção de Robinson

Com o objetivo de diminuir as distorções das áreas e dos ângulos, Arthur H. Robinson propõe essa projeção cilíndrica. Os paralelos são
representados como linhas retas, enquanto os meridianos são curvados. A forma e a área dos continentes são bem representadas, apesar
de leves desproporções dos polos.

Projeção de Mollweide

Criado em 1805, por Karl Mollweide, o mapa apresenta a forma de uma elipse. Fazendo uso de meridianos curvos, o objetivo de
Mollweide era corrigir a Projeção de Mercator — conservando as áreas, tornando a representação do tipo equivalente.

Projeção de Albers

Utilizada em uma província do Canadá e pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos, a projeção de Albers é do tipo cônica e equiva-
lente. Representada como um semicírculo, as áreas dos continentes são apresentadas com fidelidade.

Projeção azimutal equidistante polar

Esta projeção é feita como se o globo fosse projetado em uma superfície plana. Preza-se pela representação fiel das distâncias do
mapa quanto à sua escala.

Projeção descontínua de Goode

Com base na projeção de Mollweide, esse mapa elimina diversas partes de oceanos. Além disso, os meridianos centrais da projeção
correspondem quase perfeitamente aos meridianos centrais dos continentes.

FOTOGRAFIAS AÉREAS

As fotografias aéreas são usadas para coletar informações de uma determinada área que necessita ser estudada ou mapeada, é ex-
plorada especialmente na elaboração e criação de mapas. Uma das primeiras fotografias da superfície terrestre foi concebida por meio
de câmeras fotográficas especiais instaladas primeiramente em pássaros, como pombos, depois em balões e pipas. Todas as fotografias
aéreas são realizadas verticalmente.
No ano de 1903, o fotógrafo alemão Julius Neubronner fez uma das primeiras fotoaéreas de toda história, quando acoplou máquinas
fotográficas de tamanho reduzido em pombos-correio.
Após todos os experimentos citados, os maiores avanços nesse seguimento ocorreram com o advento do avião, a partir de 1906, com
destaque para a aviação militar que estava sendo explorada na Primeira Guerra Mundial.
Nesse período os aviões tinham como objetivo principal identificar bases inimigas e seus movimentos, isso era possível por meio da
instalação de câmeras especiais denominadas de aerofotográficas, assim poderiam antecipar as estratégias e as ações.
Fato que aconteceu também no decorrer da Guerra Fria, conflito no qual não houve confronto armado entre Estados Unidos e União
Soviética, mas havia o objetivo de expandir a influência político-econômica do capitalismo e do socialismo.
Esse acontecimento histórico proporcionou grandes evoluções e desenvolvimento em tecnologias aeroespaciais, inclusive fotografias
aéreas com fins militares.
A partir das imagens coletadas nas fotos aéreas é possível obter informações com grande grau de detalhes sobre diversos temas, como
plantações, reservas ambientais, áreas de queimadas, plantação de drogas, loteamento.
Hoje existem empresas especializadas nesse tipo de trabalho, o resultado é usado na criação de cartas topográficas e mapas, para isso
contam com uma série de equipamentos modernos.

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Fusos Horários

Os fusos horários, também denominados zonas horárias, foram estabelecidos através de uma reunião composta por representantes
de 25 países em Washington, capital estadunidense, em 1884. Nessa ocasião foi realizada uma divisão do mundo em 24 fusos horários
distintos2.
O método utilizado para essa divisão partiu do princípio de que são gastos, aproximadamente, 24 horas (23 horas, 56 minutos e 4
segundos) para que a Terra realize o movimento de rotação, ou seja, que gire em torno de seu próprio eixo, realizando um movimento de
360°. Portanto, em uma hora a Terra se desloca 15°.
Esse dado é obtido através da divisão da circunferência terrestre (360°) pelo tempo gasto para que seja realizado o movimento de
rotação (24 h).
O fuso referencial para a determinação das horas é o Greenwich, cujo centro é 0°. Esse meridiano, também denominado inicial, atra-
vessa a Grã-Bretanha, além de cortar o extremo oeste da Europa e da África.
A hora determinada pelo fuso de Greenwich recebe o nome de GMT. A partir disso, são estabelecidos os outros limites de fusos ho-
rários.

Os Fusos Horários no Brasil

2 https://www.pjf.mg.gov.br/secretarias/sds/cpc/modulos/pism1/2018/geografia/geografia.pdf

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As regiões Sul, Sudeste e Nordeste, o Distrito Federal e os estados de Goiás, do Tocantins, Pará e Amapá acompanham o horário de
Brasília.
Mato grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima e a maior parte do Amazonas têm uma hora a menos. Já um pequeno trecho do
Amazonas e o Acre passam a ter duas horas a menos que Brasília com a mudança de fuso implementada em 2013.
O Brasil ficou então com quatro fusos horários. Observe que Fernando de Noronha e as ilhas oceânicas estão mais “adiantados” em
relação aos horários do Brasil continental.

As coordenadas geográficas expressam qualquer posição no planeta. Baseiam-se em linhas imaginárias traçadas sobre o globo ter-
restre3.

Paralelo: Latitude (varia 0º a 90º - norte ou sul);


Meridiano: Longitude (varia 0º a 180º leste ou oeste).

Paralelos: são linhas paralelas a linha do equador, sendo esta, também uma linha imaginária.
Meridianos: são linhas semicirculares, isto é, linhas de 180°, que vão do Polo Norte ao Polo Sul e cruzam com os paralelos.

3. BIOMAS BRASILEIROS;

O Brasil é formado por seis biomas4 de características distintas:Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal.
Cada um desses ambientes abriga diferentes tipos de vegetação e de fauna.
Como a vegetação é um dos componentes mais importantes da biota, seu estado de conservação e de continuidade definem a exis-
tência ou não de hábitats para as espécies, a manutenção de serviços ambientais e o fornecimento de bens essenciais à sobrevivência de
populações humanas.
Para a perpetuação da vida nos biomas, é necessário o estabelecimento de políticas públicas ambientais, a identificação de oportuni-
dades para a conservação, uso sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade.
3\ Orientação e Cartografia - Aulalivre.netaulalivre.net › revisao-vestibular-enem › geografia.
4https://www.mma.gov.br/biomas.html

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Amazônia em 300 mil hectares, passando a ter 823.435,7 hectares. Em 2012
A Amazônia é quase mítica: um verde e vasto mundo de águas foi criado o Parque Nacional da Furna Feia, nos Municípios de Ba-
e florestas, onde as copas de árvores imensas escondem o úmido raúna e Mossoró, no estado do Rio Grande do Norte, com 8.494
nascimento, reprodução e morte de mais de um-terço das espécies ha. Com estas novas unidades, a área protegida por unidades de
que vivem sobre a Terra. conservação no bioma aumentou para cerca de 7,5%. Ainda assim,
Os números são igualmente monumentais. A Amazônia é o o bioma continuará como um dos menos protegidos do país, já que
maior bioma do Brasil: num território de 4,196.943 milhões de km2 pouco mais de 1% destas unidades são de Proteção Integral. Ade-
(IBGE,2004), crescem 2.500 espécies de árvores (ou um-terço de mais, grande parte das unidades de conservação do bioma, espe-
toda a madeira tropical do mundo) e 30 mil espécies de plantas (das cialmente as Áreas de Proteção Ambiental – APAs, têm baixo nível
100 mil da América do Sul). de implementação.
A bacia amazônica é a maior bacia hidrográfica do mundo: co- Paralelamente ao trabalho para a criação de UCs federais, algu-
bre cerca de 6 milhões de km2 e e tem 1.100 afluentes. Seu princi- mas parcerias vêm sendo desenvolvidas entre o MMA e os estados,
pal rio, o Amazonas, corta a região para desaguar no Oceano Atlân- desde 2009, para a criação de unidades de conservação estaduais.
tico, lançando ao mar cerca de 175 milhões de litros d’água a cada Em decorrência dessa parceria e das iniciativas próprias dos estados
segundo. da caatinga, os processos de seleção de áreas e de criação de UC´s
As estimativas situam a região como a maior reserva de madei- foram agilizados. Os primeiros resultados concretos já aparecem,
ra tropical do mundo. Seus recursos naturais – que, além da madei- como a criação do Parque Estadual da Mata da Pimenteira, em Ser-
ra, incluem enormes estoques de borracha, castanha, peixe e miné- ra Talhada-PE, e da Estação Ecológica Serra da Canoa, criada por
rios, por exemplo – representam uma abundante fonte de riqueza Pernambuco em Floresta-PE, com cerca de 8 mil hectares, no dia
natural. A região abriga também grande riqueza cultural, incluindo da caatinga de 2012 (28/04/12). Além disso, houve a destinação de
o conhecimento tradicional sobre os usos e a forma de explorar es- recursos estaduais para criação de unidades no Ceará, na região de
ses recursos naturais sem esgotá-los nem destruir o habitat natural. Santa Quitéria e Canindé.
Toda essa grandeza não esconde a fragilidade do escossistema Merece destaque a destinação de recursos, para projetos que
local, porém. A floresta vive a partir de seu próprio material orgâni- estão sendo executados, a partir de 2012, na ordem de 20 milhões
co, e seu delicado equilíbrio é extremamente sensível a quaisquer de reais para a conservação e uso sustentável da caatinga por meio
de projetos do Fundo Clima – MMA/BNDES, do Fundo de Conversão
interferências. Os danos causados pela ação antrópica são muitas
da Dívida Americana – MMA/FUNBIO e do Fundo Socioambiental -
vezes irreversíveis.
MMA/Caixa Econômica Federal, dentre outros (documento com re-
Ademais, a riqueza natural da Amazônia se contrapõe drama-
lação dos projetos). Os recursos disponíveis para a caatinga devem
ticamente aos baixos índices sócio-economicos da região, de baixa
aumentar tendo em vista a previsão de mais recursos destes fundos
densidade demográfica e crescente urbanização. Desta forma, o e de novas fontes, como o Fundo Caatinga, do Banco do Nordeste
uso dos recursos florestais é estratégico para o desenvolvimento - BNB, a ser lançado ainda este ano. Estes recursos estão apoiando
da região. iniciativas para criação e gestão de UC´s, inclusive em áreas prioritá-
rias discutidas com estados, como o Rio Grande do Norte.
Caatinga Também estão custeando projetos voltados para o uso susten-
A caatinga ocupa uma área de cerca de 844.453 quilômetros tável de espécies nativas, manejo florestal sustentável madeireiro
quadrados, o equivalente a 11% do território nacional. Engloba os e não madeireiro e para a eficiência energética nas indústrias ges-
estados Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, seiras e cerâmicas. Pretende-se que estas indústrias utilizem lenha
Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais. Rico legalizada, advinda de planos de manejo sustentável, e que econo-
em biodiversidade, o bioma abriga 178 espécies de mamíferos, 591 mizem este combustível nos seus processos produtivos. Além dos
de aves, 177 de répteis, 79 espécies de anfíbios, 241 de peixes e 221 projetos citados acima, em 2012 foi lançado edital voltado para uso
abelhas. Cerca de 27 milhões de pessoas vivem na região, a maio- sustentável da caatinga (manejo florestal e eficiência energética),
ria carente e dependente dos recursos do bioma para sobreviver. A pelo Fundo Clima e Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal –
caatinga tem um imenso potencial para a conservação de serviços Serviço Florestal Brasileiro, incluindo áreas do Rio Grande do Norte.
ambientais, uso sustentável e bioprospecção que, se bem explo- Devemos ressaltar que o nível de conhecimento sobre o bioma,
rado, será decisivo para o desenvolvimento da região e do país. A sua biodiversidade, espécies ameaçadas e sobreexplotadas, áreas
biodiversidade da caatinga ampara diversas atividades econômicas prioritárias, unidades de conservação e alternativas de manejo sus-
voltadas para fins agrosilvopastoris e industriais, especialmente nos tentável aumentou nos últimos anos, fruto de uma série de diag-
ramos farmacêutico, de cosméticos, químico e de alimentos. nósticos produzidos pelo MMA e parceiros. Grande parte destes
Apesar da sua importância, o bioma tem sido desmatado de diagnósticos pode ser acessados no site do Ministério: Legislação e
forma acelerada, principalmente nos últimos anos, devido princi- Publicações. Este ano estamos iniciando o processo de atualização
palmente ao consumo de lenha nativa, explorada de forma ilegal e das áreas prioritárias para a caatinga, medida fundamental para di-
insustentável, para fins domésticos e indústrias, ao sobrepastoreio recionar as políticas para o bioma.
e a conversão para pastagens e agricultura. Frente ao avançado des- Da mesma forma, aumentou a divulgação de informações para
a sociedade regional e brasileira em relação à caatinga, assim como
matamento que chega a 46% da área do bioma, segundo dados do
o apoio político para a sua conservação e uso sustentável.Um exem-
Ministério do Meio Ambiente (MMA), o governo busca concretizar
plo disso é a I Conferência Regional de Desenvolvimento Sustentável
uma agenda de criação de mais unidades de conservação federais
do Bioma Caatinga - A Caatinga na Rio+20, realizada em maio des-
e estaduais no bioma, além de promover alternativas para o uso
te ano, que formalizou os compromissos a serem assumidos pelos
sustentável da sua biodiversidade. governos, parlamentos, setor privado, terceiro setor, movimentos
Em relação às Unidades de Conservação (UC´s) federais, em sociais, comunidade acadêmica e entidades de pesquisa da região
2009 foi criado o Monumento Natural do Rio São Francisco, com 27 para a promoção do desenvolvimento sustentável do bioma. Estes
mil hectares, que engloba os estados de Alagoas, Bahia e Sergipe e, compromissos foram apresentados na Conferência das Nações Uni-
em 2010, o Parque Nacional das Confusões, no Piauí foi ampliado das sobre Desenvolvimento Sustentável - Rio +20.

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Por outro lado, devemos reconhecer que a Caatinga ainda esgotamento dos recursos naturais da região. Nas três últimas dé-
carece de marcos regulatórios, ações e investimentos na sua con- cadas, o Cerrado vem sendo degradado pela expansão da frontei-
servação e uso sustentável. Para tanto, algumas medidas são fun- ra agrícola brasileira. Além disso, o bioma Cerrado é palco de uma
damentais: a publicação da proposta de emenda constitucional exploração extremamente predatória de seu material lenhoso para
que transforma caatinga e cerrado em patrimônios nacionais; a as- produção de carvão.
sinatura do decreto presidencial que cria a Comissão Nacional da Apesar do reconhecimento de sua importância biológica, de
Caatinga; a finalização do Plano de Prevenção e Controle do Des- todos os hotspots mundiais, o Cerrado é o que possui a menor
matamento da Caatinga; a criação das Unidades de Conservação porcentagem de áreas sobre proteção integral. O Bioma apresen-
prioritárias, como aquelas previstas para a região do Boqueirão da ta 8,21% de seu território legalmente protegido por unidades de
Onça, na Bahia, e Serra do Teixeira, na Paraíba, e finalmente a desti- conservação; desse total, 2,85% são unidades de conservação de
nação de um volume maior de recursos para o bioma. proteção integral e 5,36% de unidades de conservação de uso sus-
tentável, incluindo RPPNs (0,07%).
Cerrado
O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, ocu- Mata Atlântica
pando uma área de 2.036.448 km2, cerca de 22% do território A Mata Atlântica é composta por formações florestais nati-
vas (Floresta Ombrófila Densa; Floresta Ombrófila Mista, também
nacional. A sua área contínua incide sobre os estados de Goiás,
denominada de Mata de Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta;
Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia,
Floresta Estacional Semidecidual; e Floresta Estacional Decidual),
Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal,
e ecossistemas associados (manguezais, vegetações de restingas,
além dos encraves no Amapá, Roraima e Amazonas. Neste espaço
campos de altitude, brejos interioranos e encraves florestais do
territorial encontram-se as nascentes das três maiores bacias hidro- Nordeste).
gráficas da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Originalmente, o bioma ocupava mais de 1,3 milhões de km²
Prata), o que resulta em um elevado potencial aquífero e favorece em 17 estados do território brasileiro, estendendo-se por grande
a sua biodiversidade. parte da costa do país. Porém, devido à ocupação e atividades hu-
Considerado como um hotspots mundiais de biodiversidade, o manas na região, hoje resta cerca de 29% de sua cobertura original.
Cerrado apresenta extrema abundância de espécies endêmicas e
sofre uma excepcional perda de habitat. Do ponto de vista da diver- Mesmo assim, estima-se que existam na Mata Atlântica cerca
sidade biológica, o Cerrado brasileiro é reconhecido como a savana de 20 mil espécies vegetais (35% das espécies existentes no Brasil,
mais rica do mundo, abrigando 11.627 espécies de plantas nativas aproximadamente), incluindo diversas espécies endêmicas e ame-
já catalogadas. Existe uma grande diversidade de habitats, que de- açadas de extinção.
terminam uma notável alternância de espécies entre diferentes fi- Essa riqueza é maior que a de alguns continentes, a exemplo da
tofisionomias. Cerca de 199 espécies de mamíferos são conhecidas, América do Norte, que conta com 17 mil espécies vegetais e Euro-
e a rica avifauna compreende cerca de 837 espécies. Os números pa, com 12,5 mil. Esse é um dos motivos que torna a Mata Atlântica
de peixes (1200 espécies), répteis (180 espécies) e anfíbios (150 es- prioritária para a conservação da biodiversidade mundial.
pécies) são elevados. O número de peixes endêmicos não é conhe- Em relação à fauna, o bioma abriga, aproximadamente, 850 es-
cido, porém os valores são bastante altos para anfíbios e répteis: pécies de aves, 370 de anfíbios, 200 de répteis, 270 de mamíferos
28% e 17%, respectivamente. De acordo com estimativas recentes, e 350 de peixes.
o Cerrado é o refúgio de 13% das borboletas, 35% das abelhas e Além de ser uma das regiões mais ricas do mundo em biodiver-
23% dos cupins dos trópicos. sidade, a Mata Atlântica fornece serviços ecossistêmicos essenciais
Além dos aspectos ambientais, o Cerrado tem grande impor- para os 145 milhões de brasileiros que vivem nela.
tância social. Muitas populações sobrevivem de seus recursos na- As florestas e demais ecossistemas que compõem a Mata Atlân-
turais, incluindo etnias indígenas, quilombolas, geraizeiros, ribei- tica são responsáveis pela produção, regulação e abastecimento de
rinhos, babaçueiras, vazanteiros e comunidades quilombolas que, água; regulação e equilíbrio climáticos; proteção de encostas e ate-
juntas, fazem parte do patrimônio histórico e cultural brasileiro, e nuação de desastres; fertilidade e proteção do solo; produção de
alimentos, madeira, fibras, óleos e remédios; além de proporcionar
detêm um conhecimento tradicional de sua biodiversidade. Mais
paisagens cênicas e preservar um patrimônio histórico e cultural
de 220 espécies têm uso medicinal e mais 416 podem ser usadas
imenso.
na recuperação de solos degradados, como barreiras contra o ven-
Neste contexto, a conservação dos remanescentes de Mata
to, proteção contra a erosão, ou para criar habitat de predadores
Atlântica e a recuperação da sua vegetação nativa tornam-se
naturais de pragas. Mais de 10 tipos de frutos comestíveis são re- fundamentais para a sociedade brasileira, destacando-se para
gularmente consumidos pela população local e vendidos nos cen- isso áreas protegidas, como Unidades de Conservação (SNUC –
tros urbanos, como os frutos do Pequi (Caryocar brasiliense), Buriti Lei nº 9.985/2000) e Terras Indígenas (Estatuto do Índio – Lei nº
(Mauritia flexuosa), Mangaba (Hancornia speciosa), Cagaita (Euge- 6001/1973), além de Áreas de Preservação Permanente e Reserva
nia dysenterica), Bacupari (Salacia crassifolia), Cajuzinho do cerrado Legal (Código Florestal – Lei nº 12.651/2012).
(Anacardium humile), Araticum (Annona crassifolia) e as sementes O bioma também é protegido pela Lei nº 11.428/2006, conhe-
do Barú (Dipteryx alata). cida como Lei da Mata Atlântica, regulamentada pelo Decreto nº
Contudo, inúmeras espécies de plantas e animais correm risco 6.660/2008.
de extinção. Estima-se que 20% das espécies nativas e endêmicas já No dia 27 de maio é comemorado o Dia Nacional da Mata
não ocorram em áreas protegidas e que pelo menos 137 espécies Atlântica.
de animais que ocorrem no Cerrado estão ameaçadas de extinção.
Depois da Mata Atlântica, o Cerrado é o bioma brasileiro que mais Pampa
sofreu alterações com a ocupação humana. Com a crescente pres- O Pampa está restrito ao estado do Rio Grande do Sul, onde
são para a abertura de novas áreas, visando incrementar a produ- ocupa uma área de 176.496 km² (IBGE, 2004). Isto corresponde a
ção de carne e grãos para exportação, tem havido um progressivo 63% do território estadual e a 2,07% do território brasileiro.

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As paisagens naturais do Pampa são variadas, de serras a planí- Em relação às áreas naturais protegidas no Brasil o Pampa é o
cies, de morros rupestres a coxilhas. O bioma exibe um imenso pa- bioma que menor tem representatividade no Sistema Nacional de
trimônio cultural associado à biodiversidade. As paisagens naturais Unidades de Conservação (SNUC), representando apenas 0,4% da
do Pampa se caracterizam pelo predomínio dos campos nativos, área continental brasileira protegida por unidades de conservação.
mas há também a presença de matas ciliares, matas de encosta, A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é
matas de pau-ferro, formações arbustivas, butiazais, banhados, signatário, em suas metas para 2020, prevê a proteção de pelo me-
afloramentos rochosos, etc. nos 17% de áreas terrestres representativas da heterogeneidade de
Por ser um conjunto de ecossistemas muito antigos, o Pampa cada bioma.
apresenta flora e fauna próprias e grande biodiversidade, ainda não As “Áreas Prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e Re-
completamente descrita pela ciência. Estimativas indicam valores partição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira”, atualizadas em
em torno de 3000 espécies de plantas, com notável diversidade 2007, resultaram na identificação de 105 áreas do bioma Pampa,
de gramíneas, são mais de 450 espécies (campim-forquilha, gra- destas, 41 (um total de 34.292 km2) foram consideradas de impor-
ma-tapete, flechilhas, brabas-de-bode, cabelos de-porco, dentre tância biológica extremamente alta.
outras). Nas áreas de campo natural, também se destacam as es- Estes números contrastam com apenas 3,3% de proteção em
pécies de compostas e de leguminosas (150 espécies) como a ba- unidades de conservação (2,4% de uso sustentável e 0,9% de pro-
bosa-do-campo, o amendoim-nativo e o trevo-nativo. Nas áreas de teção integral), com grande lacuna de representação das principais
afloramentos rochosos podem ser encontradas muitas espécies de fisionomias de vegetação nativa e de espécies ameaçadas de extin-
cactáceas. Entre as várias espécies vegetais típicas do Pampa valem ção da fauna e da flora. A criação de unidades de conservação, a re-
destacar o Algarrobo (Prosopis algorobilla) e o Nhandavaí (Acacia cuperação de áreas degradadas e a criação de mosaicos e corredo-
farnesiana) arbusto cujos remanescentes podem ser encontrados res ecológicos foram identificadas como as ações prioritárias para a
apenas no Parque Estadual do Espinilho, no município de Barra do conservação, juntamente com a fiscalização e educação ambiental.
Quaraí. O fomento às atividades econômicas de uso sustentável é ou-
A fauna é expressiva, com quase 500 espécies de aves, dentre tro elemento essencial para assegurar a conservação do Pampa. A
elas a ema (Rhea americana), o perdigão (Rynchotus rufescens), diversificação da produção rural a valorização da pecuária com ma-
a perdiz (Nothura maculosa), o quer-quero (Vanellus chilensis), o nejo do campo nativo, juntamente com o planejamento regional, o
caminheiro-de-espora (Anthus correndera), o joão-de-barro (Fur- zoneamento ecológico-econômico e o respeito aos limites ecossis-
narius rufus), o sabiá-do-campo (Mimus saturninus) e o pica-pau têmicos são o caminho para assegurar a conservação da biodiversi-
do campo (Colaptes campestres). Também ocorrem mais de 100 dade e o desenvolvimento econômico e social.
espécies de mamíferos terrestres, incluindo o veado-campeiro O Pampa é uma das áreas de campos temperados mais impor-
(Ozotoceros bezoarticus), o graxaim (Pseudalopex gymnocercus), tantes do planeta.
o zorrilho (Conepatus chinga), o furão (Galictis cuja), o tatu-mulita Cerca de 25% da superfície terrestre abrange regiões cuja fi-
(Dasypus hybridus), o preá (Cavia aperea) e várias espécies de tuco- sionomia se caracteriza pela cobertura vegetal como predomínio
-tucos (Ctenomys sp). O Pampa abriga um ecossistema muito rico, dos campos – no entanto, estes ecossistemas estão entre os menos
com muitas espécies endêmicas tais como: Tuco-tuco (Ctenomys protegidos em todo o planeta.
flamarioni), o beija-flor-de-barba-azul (Heliomaster furcifer); o sapi- Na América do Sul, os campos e pampas se estendem por uma
nho-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus atroluteus) e algumas área de aproximadamente 750 mil km2, compartilhada por Brasil,
ameaçadas de extinção tais como: o veado campeiro (Ozotocerus Uruguai e Argentina.
bezoarticus), o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), o ca- No Brasil, o bioma Pampa está restrito ao Rio Grande do Sul,
boclinho-de-barriga-verde (Sporophila hypoxantha) e o picapauzi- onde ocupa 178.243 km2 – o que corresponde a 63% do território
nho-chorão (Picoides mixtus) (Brasil, 2003). estadual e a 2,07% do território nacional.
Trata-se de um patrimônio natural, genético e cultural de im- O bioma exibe um imenso patrimônio cultural associado à bio-
portância nacional e global. Também é no Pampa que fica a maior diversidade. Em sua paisagem predominam os campos, entremea-
parte do aquífero Guarani. dos por capões de mata, matas ciliares e banhados.
Desde a colonização ibérica, a pecuária extensiva sobre os A estrutura da vegetação dos campos – se comparada à das flo-
campos nativos tem sido a principal atividade econômica da região. restas e das savanas – é mais simples e menos exuberante, mas não
Além de proporcionar resultados econômicos importantes, tem menos relevante do ponto de vista da biodiversidade e dos serviços
permitido a conservação dos campos e ensejado o desenvolvimen- ambientais. Ao contrário: os campos têm uma importante contri-
to de uma cultura mestiça singular, de caráter transnacional repre- buição no sequestro de carbono e no controle da erosão, além de
sentada pela figura do gaúcho. serem fonte de variabilidade genética para diversas espécies que
A progressiva introdução e expansão das monoculturas e das estão na base de nossa cadeia alimentar.
pastagens com espécies exóticas têm levado a uma rápida degra-
dação e descaracterização das paisagens naturais do Pampa. Esti- Pantanal
mativas de perda de hábitat dão conta de que em 2002 restavam O bioma Pantanal é considerado uma das maiores extensões
41,32% e em 2008 restavam apenas 36,03% da vegetação nativa do úmidas contínuas do planeta. Este bioma continental é considerado
bioma Pampa (CSR/IBAMA, 2010). o de menor extensão territorial no Brasil, entretanto este dado em
A perda de biodiversidade compromete o potencial de desen- nada desmerece a exuberante riqueza que o referente bioma abri-
volvimento sustentável da região, seja perda de espécies de valor ga. A sua área aproximada é 150.355 km² (IBGE,2004), ocupando
forrageiro, alimentar, ornamental e medicinal, seja pelo compro- assim 1,76% da área total do território brasileiro. Em seu espaço
metimento dos serviços ambientais proporcionados pela vegetação territorial o bioma, que é uma planície aluvial, é influenciado por
campestre, como o controle da erosão do solo e o sequestro de rios que drenam a bacia do Alto Paraguai.
carbono que atenua as mudanças climáticas, por exemplo.

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O Pantanal sofre influência direta de três importantes biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. Além disso sofre influ-
ência do bioma Chaco (nome dado ao Pantanal localizado no norte do Paraguai e leste da Bolívia). Uma característica interessante desse
bioma é que muitas espécies ameaçadas em outras regiões do Brasil persistem em populações avantajadas na região, como é o caso do
tuiuiú – ave símbolo do Pantanal. Estudos indicam que o bioma abriga os seguintes números de espécies catalogadas: 263 espécies de
peixes, 41 espécies de anfíbios, 113 espécies de répteis, 463 espécies de aves e 132 espécies de mamíferos sendo 2 endêmicas. Segundo
a Embrapa Pantanal, quase duas mil espécies de plantas já foram identificadas no bioma e classificadas de acordo com seu potencial, e
algumas apresentam vigoroso potencial medicinal.

Apesar de sua beleza natural exuberante o bioma vem sendo muito impactado pela ação humana, principalmente pela atividade agro-
pecuária, especialmente nas áreas de planalto adjacentes do bioma. De acordo com o Programa de Monitoramento dos Biomas Brasileiros
por Satélite – PMDBBS, realizado com imagens de satélite de 2009, o bioma Pantanal mantêm 83,07% de sua cobertura vegetal nativa.
Assim como a fauna e flora da região são admiráveis, há de se destacar a rica presença das comunidades tradicionais como as indíge-
nas, quilombolas, os coletores de iscas ao longo do Rio Paraguai, comunidade Amolar e Paraguai Mirim, dentre outras. No decorrer dos
anos essas comunidades influenciaram diretamente na formação cultural da população pantaneira.
Apenas 4,6% do Pantanal encontram-se protegidos por unidades de conservação, dos quais 2,9% correspondem a UCs de proteção
integral e 1,7% a UCs de uso sustentável (BRASIL, 2015).

4. O ESPAÇO RURAL E A PRODUÇÃO BRASILEIRA;

A zona urbana e a zona rural são conceitos utilizados na geografia para diferenciar dois tipos de espaços geográficos. Podemos dizer
que o espaço rural é o oposto de um espaço urbano, ou seja, são regiões que se dedicam aos meios de produção e criação de alimento ou
extração de recursos naturais. Nesta aula, vamos nos aprofundar no estudo do espaço rural brasileiro.
Quando pedimos para alguém imaginar um espaço rural as pessoas logo pensam naquela casinha no campo, com uma horta na frente,
galinhas ciscando e uma vaquinha bonitinha para dar leite.
Porém, a realidade atual dos espaços rurais é outra. Na atualidade, o setor agrícola passa por transformações causadas pelo avanço
de técnicas agrícolas sofisticadas, pela introdução de intensos processos de mecanização. Deste modo, vemos que os ambientes rurais
também estão, na sua grande maioria, se tornando urbanizados a partir do momento em que são instaladas infraestruturas em busca de
aumento da produção e principalmente exportação.

O Brasil possui grande extensão territorial, suficiente disponibilidade de recursos hídricos e localiza-se, em sua maior parte, na região
tropical. Tais atributos, aliados aos novos recursos tecnológicos, fazem dele um dos maiores produtores e exportadores de produtos agrí-
colas do mundo na atualidade.
A agricultura e a pecuária são duas atividades econômicas tradicionais no Brasil e, apesar do desenvolvimento industrial brasileiro
nos últimos 60 anos, continuam tendo fundamental importância para a economia, a sociedade e as transformações espaciais do país. Isso
porque:

Fornecem alimentos para a população.


Fornecem matérias primas para a indústria de alimentos , couro , tecidos e até de combustíveis.
Empregam 17% da população economicamente ativa o Brasil.
Contribuem, e muito, para as exportações brasileiras
Estimulam a ocupação humana de vastas áreas do território nacional.

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De um modo geral existem três tipos básicos de organização Mais tarde, já no século XIX, especificamente em 1850, no con-
da produção agrícola brasileira: o latifúndio; a unidade familiar texto dos conflitos pelo fim da escravidão no país, foi criada a Lei
produtora de bens agrícolas para o mercado, também chamada de de Terras, quando as terras passam a ser leiloadas (vendidas). Com
agricultura familiar; e a empresa agrícola, em que estão inseridos o a Lei de Terras, o solo agricultável passou a ser uma mercadoria,
agronegócio e a agroindústria. podendo ter a posse somente aqueles cuja situação financeira era
favorável.
Latifúndio
São propriedades com grandes extensões. Nem toda sua terra Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
é cultivada, apresenta subaproveitamento e sua exploração se faz, Em 1964 foi criado o Estatuto da Terra, com destaque para a
geralmente, por meio de técnicas tradicionais, apresentando baixa afirmação da “função social da terra”, esta teria a função de produ-
produtividade. Geralmente utilizadas para a pecuária do gado (cria- zir alimentos, assim como se reconheceu a necessidade de realiza-
ção de gado). ção de Reforma Agrária, para melhor distribuir as terras.
Abaixo, um trecho do Estatuto da Terra:
Agricultura familiar Lei n. 4.504, de 30 de Novembro de 1964
Neste tipo de organização da produção agrícola, a utilização de Dispõe sobre o Estatuto da Terra, e dá outras providências.
terra é feita por pequenos proprietários, com trabalho fundamen- Art. 2° É assegurada a todos a oportunidade de acesso à pro-
talmente familiar, havendo, eventualmente, a contratação de mão priedade da terra, condicionada pela função social, na forma pre-
de obra assalariada. vista nesta lei.
A agricultura familiar, que vida abastecer principalmente o §1° A propriedade da terra desempenha integralmente a sua
mercado interno, é responsável por mais da metade da produção função social quando, simultaneamente:
de alimentos no Brasil – arroz, feijão, frutas, hortaliças, cebola, ba- a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores
tata, etc. Normalmente essas famílias se juntam em cooperativas que nela labutam, assim como de suas famílias;
ou vendem seus produtos para empresas maiores. b) mantém níveis satisfatórios de produtividade;
c) assegura a conservação dos recursos naturais;
A empresa agrícola d) observa as disposições legais que regulam as justas relações
As empresas agrícolas (ou agroindústrias) são unidades de de trabalho entre os que a possuem e a cultivem.
produção avançada do ponto de vista tecnológico e podem ocupar
grandes e médias extensões de terra. Usam sementes ou mudas Nos anos de 1970, o Brasil, mais do que nunca, enraíza seu pro-
selecionadas, realizam análise química do solo para detectar falta jeto de desenvolvimento econômico em uma lógica urbano-indus-
ou excesso de nutrientes para as plantas, fazem uso intensivo de trial, típico dos países europeus. Nessa perspectiva, para alcançar
fertilizantes, agrotóxicos, máquinas e implementos agrícolas, utili- esse desenvolvimento e o reconhecimento internacional era pre-
zam técnicas controladas de irrigação e contam com a assistência ciso consolidar a industrialização e as grandes cidades como polos
técnica de engenheiros agrônomos. Devido ao uso de tecnologia, as econômicos e de moradia da sociedade brasileira.
empresas agrícolas apresentam grande produtividade. Assim, asfaltos para o transporte rodoviário, grandes usinas
hidrelétricas, investimentos em tecnologia de comunicação foram
A agricultura moderna tem causado diversos impactos ambien- algumas das ações prioritárias dos governos militares.
tais, tanto no espaço rural quanto no urbano. Entre eles, podemos A construção das amplas usinas hidrelétricas foi responsável
citar a compactação e a erosão do solo, a contaminação da água de pelo grande deslocamento de pessoas de suas terras nativas (alta-
rios e lençóis subterrâneos e até mesmo danos a saúde humana. mente produtivas), além de muitas famílias não terem sido indeni-
Os agrotóxicos são os maiores inimigos da natureza e da sociedade zadas corretamente e ficaram sem as terras.
que consome, pois são compostos químicos para buscar controlar O que temos na atualidade é uma grande concentração de ter-
as pragas e doenças das plantas porém são altamente perigosos ras nas mãos de poucos, um espaço rural em conflito entre dois
para os humanos e muitos outros animais. modelos distintos de produção agrícola: de um lado a Agricultura
Familiar/Camponesa e, de outro, o chamado Agronegócio.
Fonte: Muitos são os que se unem na luta pela tão sonhada Reforma
https://cursoenemgratuito.com.br/o-espaco-rural-brasileiro- Agrária. Estes, compõem um movimento de diferentes sujeitos: os
-geografia-enem/ assentados e acampados da reforma agrária, os indígenas, os qui-
lombolas, os pequenos agricultores, entre outros.
Como fruto da colonização: um espaço rural conflituoso e de-
sigual A Agricultura Familiar/Camponesa e o Agronegócio
O processo de colonização do Brasil foi marcado por intensa Vejamos um quadro/resumo que nos ajuda a entender as dife-
exploração por parte dos colonizadores, o que ocasionou uma forte renças entre o uso da terra pela Agricultura Familiar/Camponesa e
concentração de terras agricultáveis nas mãos de poucos5. o Agronegócio.
Pode-se dizer que índios, negros (ora escravizados, ora mão de
obra barata), miscigenados e estrangeiros pobres foram sendo ex-
cluídos do acesso e produção na terra.
Logo no início do século XVI, a Coroa já havia criado as Capita-
nias Hereditárias, nas quais as terras eram concedidas (doadas) a
quem pudesse realmente explorá-la (os capitães), e que passaram a
representar a coroa portuguesa.

5\ http://proedu.rnp.br/bitstream/han-
dle/123456789/472/2a_Disciplina_-_Geografia_II.pdf?sequen-
ce=1&isAllowed=y

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Uso da terra pela Agricultura Familiar/Camponesa e o Agronegócio

Assim, no Brasil atual, o rural é um espaço conflituoso, marcado pela concentração de terras e renda, deixando à marginalidade mui-
tos dos que vivem no campo: os indígenas, os quilombolas, os ilhéus e ribeirinhos, os pescadores artesanais, os povos da floresta, entre
outros.
Entre os principais movimentos de resistência na luta pela Reforma Agrária, podemos citar o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra, mas sabemos que muitos outros foram surgindo ao longo destes últimos anos.
O avanço do agronegócio no Brasil tem colocado em risco a nossa soberania alimentar, uma vez que estes produzem em grandes ex-
tensões de terras, monoculturas voltadas, principalmente, para exportação ou para os grandes mercados.

5. INDÚSTRIA NO BRASIL: ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO;

Fordismo6
O Fordismo é um modo de produção em massa elaborado por Henry Ford, consistindo no aumento da produção, que possibilita a
baixa nos preços, que, por sua vez, aumentam as vendas e ajudam o produto a se manter com preços baixos.
O mecanismo de produção foi iniciado simbolicamente por cerca de 1914 a 1973, quando Ford introduziu seu “dia de oito horas e cin-
co dólares” como recompensa para os trabalhadores da linha de automática de montagem de carros que ele estabelecera no ano anterior
em Dearbon, Michigan.
A ideia de “oito horas e cinco dólares”, foi a forma que Ford buscou para adquirir a disciplina e a eficiência necessária para a operação
do sistema de linhas de montagens de alta produtividade. Era também preciso dar ao trabalhador renda e tempo de lazer suficientes para
que consumissem produtos em massa que as corporações estavam por fabricar em quantidades cada vez maiores. Para David Havey, o
Fordismo se aliou ao Keynesianismo, e o capitalismo se dedicou a um surto de expansões internacionais de alcance mundial atraídas para
sua rede inúmeras nações descolonizadas. Sendo assim, o período pós-guerra se tornou o propulsor do crescimento econômico.
Encontram-se entre os destaques da produção fordista:
• Os carros automobilísticos
• A construção naval
• Equipamentos de transporte
• O aço
• Os produtos petroquímicos
• A Borracha
• Os eletrodomésticos
• Construção

O Estado nesse período se reforçava por controlar novos ciclos econômicos com uma combinação apropriada de políticas fiscais e
monetárias no período pós-guerra. Políticas Públicas, como transporte, equipamentos, etc. Além disso, os governos também buscavam
fortalecer um forte complemento ao salário social com gastos de seguridade social, assistência médica, educação, habitação, etc.

Desta forma, o Fordismo se disseminou desigualmente, à medida que cada Estado procurava seu próprio modo de administração das
relações de trabalho da prática monetária e fiscal , das estratégias de bem-estar e de investimentos públicos. Sobre essa expansão estava a
regulamentação político-econômica mundial e uma configuração Geopolítica em que dominavam por meio de um sistema de bem distinto
de alianças militares e relações de poder, como exemplo a manutenção de ditaduras militares em todo o mundo.

6http://educacao.globo.com/geografia/assunto/industrializacao/fordismo.html

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Fordismo x Toyotismo
A produção fordista é baseada em economias de escalas, apresentando muitas diferenças da produção just-in-time ou toyotista, que
se baseia em escopo (metas).
Quanto ao processo de produção, a fordismo aposta na padronização, com a produção em massa de bens homogêneos, grandes
estoques e testes de qualidade ex-post (detecção tardia de erros e produtos defeituoso). Já o toyotismo é baseado na produção flexível e
variada, em pequenos lotes, sem estoques e com controle de qualidade integrado ao processo (detecção imediata de erros).

Diferente do fordismo, que tem a produção voltada para recursos, reduzindo custos através do controle dos salários, o modelo just-in-
-time aposta no aprendizado prático, com a produção voltada para as demandas.
O trabalho fordista é altamente especializado em apenas uma tarefa, com pouco ou nenhum treinamento ou experiência de apren-
dizagem, organizando o trabalho de forma vertical. Em contrapartida, as múltiplas tarefas com longos treinamentos e aprendizagem são
características da produção just-in-time. Assim, a organização do trabalho é mais horizontal, com ênfase na corresponsabilidade entre os
trabalhadores.
O espaço de trabalho do modelo toyotista é integrado, com agregações e aglomerações que diversificam o mercado de trabalho
(segmentação interna). Por sua vez, o fordismo preza pela segmentação espacial do trabalho, com especialização e homogeneização dos
mercados regionais do trabalho.
Há mais diferenças entre fordismo e toyotismo, quanto ao Estado:
- O Estado fordista defende a regulamentação, a rigidez, a centralização, a negociação coletiva, a socialização do bem-estar social, a
estabilidade internacional através de acordos multilaterais, a intervenção em mercados através de política de preços e a inovação liderada
pela indústria.
- O Estado toyotista, pelo contrário, é flexível e apoia a desregulamentação (ou uma nova regulamentação), a divisão/individualização,
as negociações locais, a privatização das necessidades coletivas, a desestabilização internacional, a descentralização e o aumento da com-
petição inter-regional. A inovação, as pesquisas e o desenvolvimento devem ser financiados pelo Estado.
Quanto à ideologia, o fordismo apresenta ideais modernos, como consumo de massa de bens duráveis e a socialização. Já o toyotismo,
é pós-moderno, da era do consumo individualizado e da sociedade do espetáculo.

Industrialização brasileira: de Vargas a FHC


Até o início da década de 1930, o espaço geográfico brasileiro foi estruturado exclusivamente ao redor do modelo primário-exporta-
dor, fazendo com que a configuração das atividades econômicas fosse dispersa e com rara ou ausente interdependência.
Dentre os produtos que compunham a pauta comercial brasileira destacaram-se a cana-de-açúcar, o algodão, o ouro, a borracha e o
café.
Como tais atividades se encontravam dispersas no espaço, por convenção denomina-se de configuração em Arquipélago Econômico
Regional (mapa Arquipélago Econômico Regional), isso por que as regiões brasileiras formavam uma espécie de ilhas.

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Impulso industrial
Cabe destacarmos, aqui, o fato de que, ao apontarmos o início de integração nacional e da industrialização do Brasil a partir de 1930
não estamos, de modo algum, desmerecendo a presença de um incipiente número de fábricas em nosso território, mas buscamos ressal-
tar que o fenômeno entendido como industrialização passa a ser uma preocupação governamental, incentivada e sistematizada, em seu
primeiro momento, pelo Estado.
A crise do modelo agrário-exportador, em fins de 1929, é sentida, no Brasil ao longo da década de 1930. Assim, temos uma relativiza-
ção deste padrão econômico. Ao passo que os cafezais apontavam um declínio assustador de rendimento, os capitais (lê-se, investimentos)
antes alocados no setor primário passam a ter seu eixo de gravidade modificado para as atividades tipicamente urbanas e, em especial, no
setor secundário. A Crise do Café gerou, assim, diversas condições para a industrialização brasileira. Também estimulou a necessidade de
produção de bens de consumo no país por conta da redução drástica das importações.
A concentração de riqueza na Região Sudeste, principalmente no eixo Rio-São Paulo, faz com que haja também uma concentração de
indústrias na região, destacando-se como pioneira na industrialização nacional. Diversos são os fatores que concorreram a favor do fenô-
meno, conhecidos por formarem a chamada economia de escala (ou de aglomeração):
I. concentração de infraestrutura de energia, comunicação e, sobretudo, transportes;
II. concentração de mão de obra qualificada (lembrando a entrada de mão de obra estrangeira, em sua maior parte, já qualificada para
os serviços fabris);
III. concentração de mercado consumidor;
IV. rede bancária desenvolvida, por conta da presença de centros de produção de café.

A organização do espaço industrial brasileiro é, assim, melhor compreendida por meio da atuação de diferentes administrações pú-
blicas federais. Algumas administrações merecem destaque: Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, o período compreendido pela Ditadura
Militar e, por fim, os governos Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso.

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Vargas e JK Desindustrialização7
Getúlio Vargas (1930-1945/1950-1954) O avanço tecnológico é fundamental para o crescimento da
Caracterizado pela nacionalização da economia, em que foi economia. Contudo nas últimas décadas tem se evidenciado um
adotado o modelo de Substituição das Importações, criando as cha- declínio na indústria de transformação decorrente da desindustria-
madas indústrias de base necessárias para o impulso de outros ra- lização. Isso porque a desindustrialização provoca efeitos no cresci-
mos industriais. Foram criadas neste período a Companhia Siderúr- mento econômico, que podem ser benéficos ou não, dependendo
gica Nacional, importante centro de produção de aço, a Companhia do grau de desenvolvimento da economia.
Vale do Rio Doce, atual Vale, empresa responsável pela exploração A desindustrialização é um evento econômico onde tanto o
dos diversos minerais utilizados pelas indústrias e criou a Petrobras, emprego industrial quanto a produção da indústria sofrem uma re-
importante produtora de energia. Cabe lembrar, também, a siste- tração. Essa queda se dá em proporção ao emprego total e ao PIB,
matização da Consolidação das Leis Trabalhistas, necessária para a respectivamente. Como o próprio nome sugere, a desindustrializa-
organização das relações de trabalho que vinham sendo estabele- ção é o contrário da industrialização. Além disso, é um fenômeno
cidas no país. que pode ocorrer nas mais diversas economias mundiais, tanto nas
desenvolvidas como nas subdesenvolvidas. Contudo, sempre pro-
Juscelino Kubitschek (1956-1961) voca a redução da capacidade industrial.
JK, por sua vez, participa da organização do espaço industrial
brasileiro por meio da internacionalização da economia. Tal prática O que pode causar a desindustrialização
política abriu espaço para a entrada de capitais (investimentos) es- As causas da desindustrialização podem surgir de uma série de
trangeiros, em especial aqueles ligados à indústria automobilística variáveis e eventos econômicos. Entre elas podemos citar as seguin-
(“motor” da economia). tes: Taxa de câmbio valorizada: torna o produto importado mais
Esse período é marcado pelo tripé da economia: capital estatal interessante que o nacional Abertura econômica mal planejada:
alocado em indústrias de base e em investimentos em comunica- pode levar a falência de muitas empresas que ainda não se encon-
ção, energia e transportes notadamente, ao passo que o capital pri- tram em condições de competir no mercado internacional Doença
vado nacional concentrou-se no investimento de indústrias de bens holandesa: é uma fenômeno de mercado que ocorre quando a ex-
de consumo não duráveis e o capital privado internacional voltado portação de produtos naturais pode prejudicar a produção manu-
ao desenvolvimento de indústrias de bens de consumo duráveis. O fatureira. Inflação: Encarece o preço de bens de capital necessários
slogan “50 anos em 5” marcou o período em questão, onde foram para equipar as industrias Redirecionamento para outros setores
edificadas altas taxas de crescimento econômico às custas da aber- econômicos: evento muito característico em países desenvolvidos.
Alta produtividade na indústria: leva a uma redução no preço do
tura da dívida externa.
produto manufaturado e consequentemente reduz a participação
do setor industrial na economia.
Governos militares
Os diversos presidentes que compunham o período militar, en-
Quais as consequências da desindustrialização
tre 1964 e 1985, apresentaram duas características marcantes: mo-
O crescimento rápido da produtividade no setor industrial
dernização da economia e autoritarismo político. A modernização
pode levar a uma redução na quantidade de empregos industriais.
da economia deu-se via aprofundamento da dívida externa, respon-
Além disso, pode provocar uma deterioração nos termos de trocas
sável pela experiência do Milagre Econômico (1968-73), quando o
entre países. Em outras palavras, um país cuja indústria está recru-
Brasil apresentou exorbitantes taxas de crescimento econômico, descendo não possui bons produtos para exportar.
acima de 10% ao ano.
Ao longo dos governos militares, foram surgindo sinais de A que se considerar ainda que a redução na capacidade de pro-
desgaste do modelo político-econômico adotado nesse período. A dução da indústria pode acelerar o desaquecimento econômico.
década de 1980 é conhecida, nesse contexto, como “a década per-
dida”, pois neste período o Brasil vivenciou os maiores índices de
inflação, com constantes correções monetárias diárias e retração
da atividade industrial.

Collor e FCH
A década de 1990 é marcada pela implementação do mode-
lo político-econômico neoliberal na administração pública federal,
onde surgem as ondas de privatizações de nossas estatais. Perío-
do em que há um processo de desregulamentação da economia
por meio da flexibilização das leis trabalhistas, maior abertura do
mercado nacional para produtos, capitais e serviços internacionais,
além da redução de investimentos em setores sociais e criação de
agências reguladoras.
A onda de desconcentração espacial das indústrias que já vinha
sendo registrada desde a década de 1970 sofre um efeito catalisa-
dor a partir desse período, por meio da chamada Guerra Fiscal, em
que cidades em vários pontos do Brasil oferecem incentivos, e até
mesmo renúncias fiscais e financiamento do parque industrial de-
empresas, no intuito de hospedar empreendimento.

7https://www.sunoresearch.com.br/artigos/desindustrializa-
cao/

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Desindustrialização no Brasil

Conforme mostra o gráfico, o crescimento do setor industrial ocorreu até a primeira metade da década de 1980. Isso se deu princi-
palmente em virtude do processo de internacionalização da economia que promoveu uma grande expansão do parque fabril brasileiro.
Após esse período, o processo de desindustrialização brasileira se acentuou ao longo dos anos. Nos anos recentes, a desindustrialização
no Brasil foi causada por fatores como:
- Crise da dívida externa no governo Sarney;
- Desorganização fiscal; Hiperinflação;
- Escassez de crédito de longo prazo;
- Valorização da taxa de câmbio no governo FHC;
- Recessão da economia no governo Dilma;

Dependendo da conjuntura econômica em que o país se encontra, a redução da capacidade de produção da indústria pode ser um
sinal positivo. Isso porque em países desenvolvidos pode significar a mudança nas preferências para o setor de serviços. Também pode
sinalizar crescimento rápido da produtividade no setor industrial comparado ao setor de serviços. Logo, indica sinal de maturidade da
economia. Por outro lado, quando verificada em uma economia em desenvolvimento, a desindustrialização pode ser considerada precoce
gerando retrocessos. Como consequência, pode provocar desemprego e até mesmo desencadear uma recessão econômica. A desindus-
trialização é um evento econômico.

Brasil: um país emergente
Na primeira década deste século, o Brasil ampliou sua influência no contexto geopolítico e chegou a ocupar, por um breve momento,
a sexta posição entre as economias mundiais. Embora não tenha se tornado um protagonista de ponta, o país esteve presente em impor-
tantes contextos da política internacional. No plano interno, a economia cresceu, a inflação manteve-se estabilizada, a oferta de emprego
foi ampliada e diversos programas sociais, voltados à promoção e à inclusão da população de baixa renda, foram implantados. O cenário
modificou-se a partir da crise econômica de 2014/2015 e da consequente perda de projeção e confiabilidade no cenário internacional. A
crise abalou a influência brasileira também no cenário regional latino-americano. Nessa região, o país tem presença marcante, inclusive
em diversas obras de infraestrutura financiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e tocadas por gran-
des empreiteiras brasileiras que se envolveram em um escândalo de corrupção apurado pela Justiça. Apesar dos retrocessos, o Brasil é
um país importante no cenário internacional. O país é integrante do G20, fórum que reúne países desenvolvidos e emergentes, e discute
propostas relativas ao sistema financeiro internacional e à economia global. Tem também papel relevante nas discussões sobre questões
ambientais em nível mundial e ainda é uma potência regional.

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Infraestrutura: necessidades e limites Desdobramentos recentes
Um dos fatores limitantes do crescimento econômico do Brasil Mais recentemente, no entanto, em decorrência dos grandes
é a deficiente infraestrutura. investimentos nas indústrias, em conjunto com os programas de
No final da primeira década do século XXI, nos meios governa- transferência de renda promovidos pelo Estado brasileiro, como
mentais e empresariais, com frequência discutia-se a necessidade o Bolsa Família, houve um aquecimento no mercado de consumo
de ampliar a oferta de energia elétrica no Brasil, pois um ritmo de da região, principalmente para as mercadorias de menor valor de
crescimento econômico mais acelerado poderia ser “freado” sem a mercado, como alimentos, produtos de higiene, roupas e, inclusive,
expansão do fornecimento de eletricidade. De fato isso não ocorreu eletroeletrônicos de menor custo, como celulares e TVs, mas tam-
em parte por causa da crise na economia, em meados da década de bém na compra de material de construção. Outros fatos que cola-
2010, que reduziu o ritmo de crescimento da atividade econômica boraram para uma melhora no mercado de consumo do complexo
e, por consequência, a demanda energética. De qualquer forma, é do Nordeste foram o reajuste maior do salário mínimo e programas
imprescindível que a quantidade de energia disponível à atividade sociais que atenderam amplas parcelas da população nordestina.
produtiva e à sociedade seja ampliada, para dar suporte à retoma- Isso demonstra o papel fundamental do poder público na estrutura-
da na produção e que esse processo de ampliação também esteja ção de transformações socioeconômicas que promovem a melhoria
pautado por uma maior oferta de energia renovável e de menor im- das condições de vida da população mais pobre.
pacto ambiental – eólica, de biomassa e solar, por exemplo. No caso
dos transportes, existem poucas redes ferroviárias e hidroviárias no Principais centros industriais
Brasil. O predomínio de rodovias na rede de transportes do país No Nordeste, os principais centros industriais estão localizados
encarece o custo da circulação de pessoas e mercadorias. nas regiões metropolitanas de Salvador (BA), Recife (PE) e Forta-
No entanto, é preciso lembrar que a expansão das redes de leza (CE). No interior da Bahia existem diversos centros industriais
infraestrutura (gasodutos, oleodutos, rodovias, ferrovias, redes de que também merecem destaque, como o de Feira de Santana (o
transmissão de energia elétrica) para a circulação de mercadorias, terceiro maior do estado), o de Ilhéus (polo de informática e indús-
informações e pessoas, bem como a construção de usinas gerado- trias eletroeletrônicas), o de Itabuna, o de Jequié, o de Vitória da
ras de energia (hidrelétricas, por exemplo) deve considerar a con- Conquista e o de Juazeiro. No sudeste baiano − região de Itapetin-
servação dos sistemas naturais, já bastante degradados. Por outro ga, Jequié, Serrinha, Ipirá e Itaberaba −, há um polo calçadista que
lado, é preciso avaliar se essas obras favorecerão apenas alguns vinha enfrentando dificuldades, em razão da concorrência com os
grupos ou setores da sociedade, como umas poucas empresas, ou produtos chineses. Igualmente em Sobral, no Ceará, há um impor-
se contribuirão para o crescimento econômico e a melhoria da qua- tante polo calçadista, em que se destaca também a cidade de Crato,
lidade de vida da sociedade em geral. além de indústrias têxteis, presentes também na região de Juazeiro
do Norte, no mesmo estado.
Histórico do crescimento econômico e industrialização
Dos anos 1990 até meados da década de 2010, principalmente, Importância da atividade industrial
diversos investimentos no Nordeste, tanto em projetos governa- A indústria moderna surgiu com a produção fabril inaugurada
mentais (sobretudo de infraestrutura) como da iniciativa privada, pela Revolução Industrial, que trouxe como principais inovações o
possibilitaram a ampliação de empregos e de recursos, os quais uso de máquinas e a divisão do trabalho. No longo processo que
melhoraram o quadro de predominância dos baixos salários na re- se seguiu até os dias atuais, a atividade industrial passou a utilizar
gião. Por exemplo: formação do Complexo Industrial e Portuário do tecnologias cada vez mais sofisticadas, como robôs e equipamentos
Pecém, em São gonçalo do Amarante (CE); o polo fármaco-químico, de alta precisão. A industrialização não provocou mudanças apenas
em goiana (PE); a fábrica da Fiat/Chrysler, também em goiana; o na forma de produção; ela também proporcionou:
Complexo Industrial Portuário de Suape, em Ipojuca (PE). • a urbanização, atraindo mão de obra e ampliando as cidades
Entre os investimentos em infraestrutura também estão a po- física e demograficamente, tendo muitas se tornado centros econô-
lêmica obra de transposição do São Francisco, a Ferrovia Transnor- micos importantes;
destina, que ligará o Porto do Pecém (CE) até o Porto de Suape (PE), • grandes transformações urbanas, com a multiplicidade de
passando por regiões agrícolas importantes e pelo polo gesseiro do serviços que caracterizam a cidade atualmente e o desenvolvimen-
sertão de Pernambuco, e a Ferrovia Oeste-Leste, que corta o oeste to dos meios de transporte e de comunicação, que interligam todo
baiano, na região de Barreiras, passa pelo município de Caetité (BA), o espaço mundial;
principal área de produção de urânio no Brasil, e onde também há • o aumento da produção agrícola, graças à mecanização das
minério de ferro e manganês, terminando no Complexo Intermodal atividades de criação, plantio e colheita, e ao uso da tecnologia e de
Porto Sul, que será construído em Ilhéus, no litoral da Bahia. insumos de origem industrial;
Além disso, na área de produção energética, o Nordeste é o • novos modos de vida, hábitos de consumo e profissões e ou-
principal polo de geração de energia eólica do Brasil, respondendo tra organização da sociedade.
por 85% da energia gerada pelos ventos no país, e por isso recebe As atividades industriais que ocorrem no interior das fábricas
muitos investimentos nesse setor. Apesar do crescimento econô- desdobram-se em outras atividades, como a produção e a extração
mico recente baseado na industrialização, a pobreza ainda afeta de matérias-primas, o transporte, a propaganda, a comercialização
milhões de nordestinos. A qualificação da mão de obra é inferior à dos produtos e o descarte de resíduos.
média nacional e não houve uma participação mais expressiva da
economia da região no conjunto da economia nacional. Enquanto Classificação da atividade industrial
o PIB do Nordeste representa cerca de 14% do PIB brasileiro, o do As indústrias podem ser classificadas em extrativa (extração de
Centro-Sul atinge aproximadamente 80%. recursos naturais de origens diversas, principalmente de minerais)
e de transformação (produção de bens a partir da transformação de
matérias-primas). De acordo com a finalidade dos bens produzidos,
as indústrias de transformação podem ser divididas em:

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• indústrias de bens intermediários ou bens de produção – pro- Por um lado, o Plano Real valorizou a moeda brasileira em re-
duzem matérias-primas, como alumínio (metalúrgica), aço (siderúr- lação ao dólar, facilitando as importações, aumentando a oferta de
gica), derivados de petróleo (petroquímica) e cimento, que serão produtos no mercado, reduzindo os preços e a inflação. Os juros
utilizadas por outras indústrias na fabricação de produtos; altos também contribuíam para isso, na medida em que encare-
• indústrias de bens de capital – produzem máquinas, peças e ciam o crédito. Por outro lado, essa política econômica dificultou
equipamentos para outras indústrias; as exportações e provocou déficit crescente na balança comercial
• indústrias de bens de consumo – produzem mercadorias para e no balanço de pagamentos. Com isso, a indústria brasileira ficou
consumo direto. Podem ser duráveis (móveis, aparelhos eletrôni- ainda mais dependente da importação de bens (insumos) para a
cos, eletrodomésticos, automóveis, computadores) e não duráveis produção de mercadorias, máquinas e equipamentos utilizados na
(alimentos, bebidas, medicamentos, cosméticos, vestuário, calça- produção industrial.
dos).
As atividades industriais podem ainda ser classificadas de acor- Indústria
do com o setor de atuação. Exemplos: A atividade industrial foi implementada na Amazônia com a
• indústria da construção civil (construção de edifícios, usinas criação da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa),
para produção de energia, pontes etc.); órgão do governo federal que administra a zona Franca. Por meio
• indústria da construção naval (produção de navios); de parcerias com governos estaduais e municipais, o órgão procura
• indústria aeronáutica (construção de aviões); minimizar o chamado “custo amazônico”, ou seja, aquele decorren-
• indústria bélica (produção de armamentos, tanques, navios e
te da dificuldade de circulação de mercadorias, do mercado con-
aviões de guerra).
sumidor reduzido, comparativamente ao Centro-Sul, dos custos de
produção maiores – entre outros fatores –, que não estimulariam
No Brasil, a indústria deu seus primeiros passos ainda no século
investimentos privados na região amazônica. Até 2014, a zona Fran-
XIX. A economia cafeeira, dominante nesse período, dinamizou as
atividades urbanas, estimulou a imigração europeia e gerou um em- ca de Manaus empregava cerca de 126 mil trabalhadores. Com a
presariado nacional com capacidade de investir em alguns setores retração forte na economia no ano seguinte, esse número havia caí-
industriais. Os imigrantes trouxeram novos hábitos de consumo, que do para 88 mil no final de 2015. As 600 empresas instaladas no polo
incluíam produtos industrializados e alguma experiência em relação fazem parte, principalmente, dos segmentos de eletroeletrônicos,
ao processo de produção industrial e ao trabalho como operários. bens de informática, duas rodas, termoplástico, químico, metalúrgi-
Aos poucos, formou-se um mercado interno, que se ampliou, no co, mecânico, descartáveis (isqueiros, canetas, barbeadores), entre
final do século XIX, com a abolição da escravidão e a intensificação outros.
do processo de imigração. Indústrias de alimentos, calçados, teci-
dos, confecções, velas, móveis, fundições e bebidas espalharam-se Ocupação recente e exploração econômica
rapidamente, sobretudo no estado de São Paulo, centro da ativida- Na Amazônia vivem diferentes povos indígenas desde épocas
de cafeeira e principal porta de entrada dos imigrantes. Apesar de pré-históricas. No entanto, a exploração da região teve início com
todos os avanços da industrialização, a economia continuou sendo a chegada do europeu, ao final do século XV. Seguindo o curso dos
comandada pela produção agrícola, especialmente de café. No iní- rios, missões jesuítas buscavam as drogas do sertão (baunilha, ca-
cio do século XX, a indústria ampliou sua participação na economia cau, urucum, castanha, guaraná, entre outras), então valiosas no
brasileira. Algumas indústrias eram estrangeiras, mas predomina- continente europeu. Mas foi somente entre os séculos XIX e XX que
vam as nacionais, na maioria desenvolvidas por imigrantes, muitas a Amazônia teve de fato uma ocupação um pouco mais expressiva,
delas inicialmente a partir de pequenas oficinas artesanais. Para se com a exploração da borracha.
ter uma ideia, o número de indústrias no Brasil aumentou de 3.258
em 1907 para 13.336 em 1920. Rodovias como vetores do desmatamento
O complexo da Amazônia é um dos menos servidos em trans-
A partir da década de 1990, intensificou-se a inserção do Brasil porte rodoviário e melhor em hidroviário. A construção e a recu-
no mundo globalizado, com a adoção de políticas neoliberais. Essas peração de rodovias que cortam a região amazônica são cercadas
políticas, iniciadas no governo de Fernando Collor (1990-1992), ga- de polêmicas entre diferentes setores da sociedade. Isso porque,
nharam força principalmente nos governos de Fernando Henrique apesar de facilitar a circulação de mercadorias e pessoas, as rodo-
Cardoso (1995-2002), quando o país se abriu às importações e aos
vias são os grandes vetores do desmatamento. A recuperação da
investimentos estrangeiros em detrimento de ações de fortaleci-
BR-319, inaugurada em 1976, com aproximadamente 900 km de
mento da indústria nacional. Produtos importados, como automó-
extensão e única ligação por terra entre Porto Velho (RO) e Manaus
veis, alimentos, roupas, eletrodomésticos, computadores, softwa-
(AM), foi muito criticada. As obras para recompor a rodovia, que
res, celulares, brinquedos e outros bens de consumo, inundaram
o mercado brasileiro. A abertura levou à falência várias indústrias teve trechos retomados pela floresta, foram iniciadas em 2008.
nacionais, acostumadas a políticas de proteção ao mercado, que Para tanto, o Ministério do Meio Ambiente, por meio do Ibama,
mantinham elevados impostos de importação (tarifas aduaneiras). determinou que fossem criadas unidades de conservação e, além
Outras indústrias, para não fechar as portas, foram vendidas para disso, sistemas de monitoramento para acompanhar intervenções
grandes grupos nacionais e multinacionais ou então incorporadas no espaço localizado às suas margens. O entorno da BR-319, den-
a eles, e diversas fusões ocorreram entre empresas nacionais e es- tro do bioma Amazônia, é um dos locais que apresentam mais ex-
trangeiras. Os anos 1990 foram marcados, ainda, pelo incremento pressiva biodiversidade e um dos mais preservados. Também gerou
do processo de privatização das indústrias de base, dos setores ex- preocupação entre os ambientalistas o asfaltamento da BR-163 –
trativista mineral, de distribuição de energia e de telefonia, entre Cuiabá-Santarém –, que servirá, em boa parte, ao escoamento da
outros, que contou com expressiva participação de grupos estran- produção agrícola de Cuiabá (MT) até Santarém (PA), na confluência
geiros. Em junho de 1994, a moeda brasileira passou a ser o real. dos rios Tapajós e Amazonas, de onde as mercadorias poderão se-
Essa mudança era parte de um plano econômico mais amplo, cujo guir para o mercado externo, por via fluvial até o Oceano Atlântico.
objetivo era combater a inflação e estabilizar a economia brasileira.

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O transporte rodoviário traçou novas rotas no decorrer do sé- Sistema de transportes no Brasil
culo XX, possibilitando maior alcance da carga transportada. Esse No Brasil, o circuito que liga as áreas de produção ao mercado
também foi o século do avião, que se transformou no principal meio externo foi moldado por corredores de exportação: eixos do terri-
de transporte transcontinental de passageiros e de cargas não tão tório que articulam os meios de transporte e o sistema de armaze-
pesadas quanto as carregadas por grandes navios. De fato, o desen- namento. Em geral, a infraestrutura de armazenamento é destinada
volvimento dos transportes a longa distância está vinculado à evo- a produtos cuja estocagem é feita em grandes volumes, como os
lução do capitalismo, sendo a base técnica para a expansão desse agrominerais. O ponto de chegada desse sistema de escoamento
sistema econômico em todo o mundo. são principalmente os portos espalhados pelo litoral brasileiro, de
Com o avanço dos transportes e das telecomunicações am- onde os fluxos de mercadorias são direcionados aos mercados in-
pliou-se o volume dos deslocamentos na economia globalizada. A terno ou externo. Veja o mapa (figura 2). A logística de transporte
distância geográfica deixou de ser impedimento para as trocas co- dos corredores de exportação está orientada principalmente para
merciais em todo o planeta. O fluxo de passageiros acentuou-se nos os portos das regiões Sul e Sudeste e ainda pouco articulada a ou-
últimos anos, tanto nas viagens de negócios como no turismo in- tras áreas de importância econômica mais recentes e afastadas do
ternacional. O desenvolvimento da tecnologia de transportes abriu Atlântico, como aquelas situadas nas regiões.
possibilidades à comercialização de todo tipo de mercadoria. Pro-
dutos perecíveis, por exemplo, são transportados rapidamente de Agropecuária
um continente a outro, por via aérea ou marítima, em contêineres Na década de 1970, intensificou-se o processo de moderniza-
com refrigeração. Para atender toda essa demanda, a infraestrutu- ção da agricultura brasileira, que promoveu uma série de transfor-
ra de transporte num território organiza-se na forma de redes. As mações econômicas, ambientais, sociais e, portanto, espaciais para
redes estruturam-se nos sistemas de deslocamento de mercadorias o país. Essa modernização ocorreu de forma mais significativa no
e passageiros, formados pelas vias de navegação marítima e fluvial, Centro-Sul, trazendo, portanto, maiores impactos nas transforma-
ferrovias, rodovias e aerovias, além da rede de dutos Centro-Oeste ções socioeconômicas (desemprego provocado pela substituição da
e Norte do Brasil. Com o objetivo de ampliar a capacidade de es- mão de obra por maquinário e concentração de terras nas mãos de
coamento da produção agrícola e de outros recursos econômicos empresas multinacionais) e ambientais (desmatamento provocado
dirigidos ao mercado asiático (China, Coreia do Sul e Japão), o Brasil pelo avanço da fronteira agrícola e poluição causada pelo uso in-
construiu junto com o Peru a Estrada do Pacífico, também conheci- tenso de agrotóxicos e fertilizantes químicos) para a região. Muitos
da como Rodovia Interoceânica, um eixo viário que se estende do agricultores tiveram de vender suas terras, principalmente os pe-
estado de Rondônia, passando pelo Acre e indo até o litoral do Peru, quenos e médios proprietários, cuja renda é obtida graças ao tra-
desembocando nos portos de Ilo, Maratani e San Juan. balho dos membros da família (agricultura familiar). Essas famílias
geralmente não possuem recursos para manter sua atividade, pois
dificilmente conseguem empréstimos nos bancos para modernizar
e aumentar a produção o suficiente para competir com as grandes
empresas, algumas delas corporações multinacionais. Os principais
produtos da agricultura comercial do Centro-Sul são: soja, cana-de-
-açúcar, laranja, arroz e milho. No Rio Grande do Sul, em Santa Ca-
tarina e no Paraná, considerados os grandes celeiros do Brasil em
razão da elevada produtividade (graças também às estações do ano
mais bem definidas e à regularidade das chuvas), merecem des-
taque os cultivos de arroz, uva, cebola, feijão, trigo, maçã, fumo,
centeio e cevada, além da soja e do milho. A atividade, no entanto,
perdeu importância na década de 1920, diminuindo o fluxo de pes-
soas para a região.

Agropecuária nas sub-regiões


O Nordeste pode ser subdividido em quatro sub-regiões, de
acordo com critérios naturais, interligados com a organização do
espaço: Zona da Mata, Agreste, Sertão e Meio-Norte. O cultivo da
cana-de-açúcar é, desde o período colonial, uma importante ativi-
dade econômica da região. O produto é cultivado praticamente em
todos os estados do litoral oriental, com destaque para os estados
O sistema de transportes é vital para os comércios interno e de Alagoas e de Pernambuco, na Zona da Mata. No entanto, como
externo, pois o custo do frete é um dos elementos – muitas vezes o você estudou, a estrutura agrária da região, que se mantém até
principal – que compõem o preço das mercadorias. De modo geral, hoje, é controlada pelo poder político regional, ocasionando gran-
o meio de transporte mais barato é o hidroviário, seguido pelo fer- des desigualdades na distribuição de terras. No Agreste, área de
roviário e pelo rodoviário. Apesar disso, no Brasil, o planejamento e transição entre a zona da Mata e o Sertão, estruturaram-se diversas
os investimentos das verbas públicas priorizaram o rodoviário, en- cidades importantes, como Campina grande, na Paraíba, Caruaru,
quanto as ferrovias e as hidrovias (incluída a navegação de cabota- em Pernambuco, Arapiraca, em Alagoas, e Feira de Santana e Vi-
gem) foram relegadas a segundo plano. tória da Conquista, na Bahia. É também um centro abastecedor de
O setor de transportes no Brasil acumula problemas, que po- diversos produtos agropecuários para os grandes centros da zona
dem ser explicados pela grande extensão do território e pelas polí- da Mata, em razão da existência de pequenas e médias proprieda-
ticas governamentais adotadas no decorrer do século XX, que não des, onde se praticam a policultura e a pecuária leiteira. No Sertão
levaram em consideração a necessidade de diversificar as modali- praticam-se a pecuária extensiva e, em vários trechos, a agricultura,
dades de transporte no país. inclusive irrigada, sobretudo no Vale do Rio São Francisco e no Vale
do Rio Açu, região de Mossoró, interior do Rio grande do Norte.

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No oeste da Bahia, na transição para o Cerrado, a agropecuária modernizada se expandiu, estruturando um importante polo de
produção de soja, algodão, milho e café. Essa região do oeste baiano e as áreas do Cerrado do Maranhão, Piauí e Tocantins fazem parte
da região conhecida como Mapitoba ou Matopiba. Nela há uma disputa entre os estados para definir os limites territoriais entre eles. As
propriedades rurais na Mapitoba atingiram grande valorização nos últimos anos. Além de agropecuaristas, investidores, inclusive estran-
geiros, haviam comprado terras na região em busca de valorização de seu patrimônio. Pela legislação nacional, os estrangeiros têm de se
associar a brasileiros para comprar propriedades rurais.
A sub-região Meio-Norte configura-se como uma zona de transição entre o Sertão e a Amazônia. Nela predomina o cultivo do arroz e
vem crescendo a produção de soja. O agroextrativismo também é presente, com a exploração das palmeiras babaçu e carnaúba, espécies
principais da Mata dos Cocais, sendo o babaçu predominante no Maranhão, e a carnaúba, no Piauí. Também nesses estados, particular-
mente na porção sul, como visto, tem se expandido a agropecuária moderna da soja, do milho e do algodão.
Graças à Revolução Industrial, evoluíram também as técnicas agrícolas, o que possibilitou o aumento da produtividade, sem neces-
sariamente a ampliação da área de cultivo. Esse desenvolvimento tecnológico aplicado à agricultura ficou conhecido como Revolução
Agrícola. Esse aumento de produtividade foi necessário, de um lado, em decorrência do crescimento da população em geral, da elevação
da população urbana e da consequente diminuição da população rural, responsável pela produção agrícola; de outro, ela ocorreu pela
imposição do crescimento industrial, que demandava cultivo de matérias-primas para as suas atividades. Portanto, as bases técnicas da
Revolução Agrícola foram propiciadas, sobretudo, pelas indústrias fornecedoras de insumos para a agricultura (máquinas e fertilizantes,
por exemplo).
A biotecnologia é o conjunto de técnicas aplicadas à biologia utilizadas para manipular geneticamente plantas, animais e microrganis-
mos por meio de seleção, cruzamentos e transformações no código genético. Teve grande desenvolvimento nas décadas de 1970 e 1980,
mas vem sendo estudada e aplicada desde os anos 1950, em vários países do mundo. A própria Revolução Verde, que criou sementes hí-
bridas, foi um dos agentes que impulsionaram o desenvolvimento da biotecnologia, que passou a ser largamente utilizada na agropecuária
e em outros setores. A manipulação genética é uma das aplicações mais recentes da biotecnologia e consiste na alteração da composição
genética dos seres vivos. Os vegetais derivados da alteração genética são chamados de OGMs (organismos geneticamentes modificados)
e transgênicos.
Ao mesmo tempo em que a engenharia genética e a biotecnologia avançam a passos largos, a prática da agricultura orgânica ganha
muitos adeptos não só nos países desenvolvidos, sobretudo os europeus, mas também em vários países em desenvolvimento. Visando
alinhar saúde e melhores condições de vida das populações com sustentabilidade, na agricultura orgânica utilizam-se métodos naturais
para a correção do solo e o controle de pragas. Nela não são utilizados fertilizantes, agrotóxicos e transgênicos, garantindo a manutenção
da qualidade do solo, o reaproveitamento de resíduos, o uso racional da água e respeitando as relações sociais e culturais da população.
Problemas como a carne bovina contaminada pela doença da vaca louca, na Europa, verduras com excesso de agrotóxicos, águas poluídas
por pesticidas e esgotamento do solo por causa do uso intensivo de irrigação têm forçado as pessoas envolvidas no processo de produção
agropecuária a repensar os métodos utilizados.
Agropecuária e questão agrária no Brasil
A agropecuária no Brasil é marcada por duas fortes características. Uma delas é o agronegócio (agribusiness), com elevada produtivi-
dade, que a coloca entre as mais competitivas do mundo. Reúne todo o conjunto de atividades que formam uma cadeia produtiva relacio-
nada à agropecuária, à silvicultura e ao extrativismo vegetal: empresas e tecnologias ligadas à produção agrícola moderna (fornecedores)
e uma variedade de atividades de produção industrial, de distribuição e comercial. Portanto, não está restrita à produção rural. A outra é
a questão agrária, cuja estrutura fundiária concentrada é responsável pelos conflitos que envolvem milhares de trabalhadores rurais sem
emprego e terra.

O agronegócio articula os três setores da economia: primário, secundário e terciário. Sua ideia central é a construção de cadeias pro-
dutivas, formadas por agentes econômicos integrados por mecanismos como: cooperativismo, parcerias, contratos, integração vertical e
alianças estratégicas.

Questão da terra
O Brasil está entre os países da América com a maior concentração da propriedade rural e é um dos mais desiguais do mundo nesse
quesito, apesar de seu imenso território e das extensas superfícies de terras não cultivadas. A situação fundiária é uma questão ainda não
resolvida, apesar das pressões sociais, da maior organização dos trabalhadores em luta pela terra e da repercussão internacional negativa
dessa realidade social.

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Lei e concentração de terra A estratégia do movimento baseia-se em fazer pressão perma-
A organização do espaço agrário brasileiro teve início com a nente sobre os órgãos do governo responsáveis pela questão da
colonização. Extensas áreas de terra foram doadas pelo rei de Por- terra, valendo-se de ocupação de latifúndios improdutivos, mani-
tugal para o cultivo da cana-de-açúcar em troca do pagamento de festações públicas e passeatas.
parte da produção obtida (sistema de sesmarias). A distribuição de A conquista da terra é um dos objetivos do MST, mas as ações
terras no Brasil teve início, portanto, com o latifúndio monocultor, do movimento continuam após os assentamentos, na forma de
voltado para o mercado externo. Com a independência do Brasil reivindicações por créditos agrícolas, assistência técnica e criação
(1822) e o fim da era colonial, as sesmarias deixaram de existir, e de infraestrutura para os novos assentamentos. O movimento tam-
as terras passaram a ser registradas em cartório, como proprieda- bém fornece apoio às famílias, com criação de escolas, formação de
des particulares. Começou, nessa época, um intenso processo de cooperativas de produção, serviços e comercialização.
ocupação por posseiros e grileiros. Em 1850, o tráfico de escravos O órgão responsável pela implementação dos assentamentos
foi proibido no Brasil, no momento em que a expansão da lavou- rurais é o Incra. Esses assentamentos contam com diversas peque-
ra cafeeira mais exigia mão de obra, sendo necessário recorrer à nas propriedades ou unidades agrícolas, denominadas parcelas, lo-
imigração. Para assegurar que os imigrantes recém-chegados tra- tes ou glebas, entregues às famílias de trabalhadores rurais. Cabe
balhassem nas lavouras dos barões do café, criou-se uma nova lei ao trabalhador rural beneficiado com uma gleba estruturar sua ati-
(Lei de Terras), que proibia a ocupação de terras devolutas. Essa lei vidade utilizando somente mão de obra familiar.
consolidou o domínio do latifúndio no Brasil. De acordo com ela,
as terras só poderiam ser vendidas pelo governo, que estabelecia 7. QUESTÕES SOCIOAMBIENTAIS: JUSTIÇA AMBIENTAL;
preços elevados (muito acima do mercado), comercializava apenas
grandes áreas e exigia dos compradores pagamento à vista. Assim,
só tinham condições de comprar terras os grandes fazendeiros, que A preocupação com o meio ambiente8 vem sendo questionada
ampliaram ainda mais seus domínios. e centro de tomada de decisões, pois, a grave problemática ameaça
Na década de 1930, foi fundado o Instituto Nacional de Colo- romper com o equilíbrio ecológico do Planeta.
nização e Reforma Agrária (Incra), cuja principal realização foi le- Grande marco a respeito da preocupação ambiental está na
vantar informações sobre a situação das propriedades rurais e das Declaração de Estocolmo, de 1972, onde se enunciou, dentre ou-
terras devolutas. Em 1964, no governo de Castelo Branco, foi cria- tros, os direitos fundamentais do homem à liberdade, à igualdade
do o Estatuto da Terra, reconhecendo-se a necessidade da reforma e ao gozo de condições de vida adequadas num meio ambiente de
agrária no Brasil. À época, foram feitos novo cadastramento e uma tal qualidade que lhe permita levar uma vida digna com solene obri-
radiografia da situação fundiária do país, mas a reforma agrária, ob- gação de proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações
jetivo principal do Estatuto, não saiu do papel. presentes e futuras.
Na década de 1970, foram distribuídos lotes de terras na Ama- Já na Declaração do Rio de Janeiro, de 1992, a formulação é
zônia, para atrair agricultores de outras regiões do país, sobretudo mais sutil, reza que os seres humanos estão no centro da preocu-
do Sul e do Nordeste, como parte de um plano do governo mili- pação com o desenvolvimento sustentável, com direito a uma vida
tar para garantir a colonização e a ocupação da Amazônia. Mas as mais saudável e produtiva, em harmonia com a natureza.
terras ficavam em áreas inadequadas para o cultivo ou a criação
pastoril, e não havia infraestrutura para garantir o escoamento da Breve histórico
produção. Assim, muitos agricultores logo abandonaram seus lotes. A sociedade passou por profundas transformações em que a
Outros planos de reforma agrária seguiram o mesmo caminho: o realidade socioeconômica se modificou com rapidez junto ao de-
Plano Nacional de Reforma Agrária (1986), no governo Sarney, teve senvolvimento incessante das economias de massas.
custos burocráticos, como os da criação de um Ministério especí- Os mecanismos de produção desenvolveram-se de tal forma a
fico, mais elevados que o valor gasto com o pequeno número de adequar às necessidades e vontades humanas. Contudo, o homem
assentamentos realizados. não mediu as possíveis consequências que tal desenvolvimento pu-
Nas décadas de 1990 e de 2000, multiplicaram-se as pressões desse causar.
pela reforma agrária. No entanto, o país ainda conta com um gran- Não apenas o meio natural foi alterado, como também a glo-
de número de trabalhadores sem-terra e mesmo muitos assenta- balização e seus mecanismos trouxeram para grande parcela da po-
dos carecendo de infraestrutura básica, além de amparo tecnoló- pulação mundial o aumento da pobreza, desigualdade social, além
gico e financeiro. dentre outros, a exclusão estrutural e cultural, como a perda de
identidade cultural e social, dando lugar ao consumismo cultural.
Terra e movimentos sociais Ou seja, os avanços tecnológicos não tão adequados e prepa-
A luta pela terra ganhou impulso no século XIX, por causa das rados ameaçam aos Direitos Humanos, onde as classes excluídas
ideias liberais europeias e dos ideais socialistas, que influenciaram sofrem diretamente muito mais com todo este cenário.
vários movimentos populares ao redor do mundo. No Brasil, envol- Sociedade atual – a crise e os riscos
veu indígenas, posseiros, grileiros, pequenos proprietários, grandes A sociedade atual é caracterizada por uma sociedade de risco
fazendeiros e até empresas dos mais variados ramos de negócio. No ambiental, em que não se sabe exatamente quais os riscos, quais
século XX, dois movimentos de trabalhadores rurais ganharam des- suas proporções e devidas consequências.
taque no país: as Ligas Camponesas, nas décadas de 1950 e 1960, A exploração irracional dos recursos naturais pelo homem de-
e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), funda- sencadeou uma série de eventos negativos em que a própria vida
do oficialmente em 1984, após o fim da ditadura militar. As Ligas do planeta se coloca em risco.
Camponesas surgiram em Pernambuco, espalharam-se em pouco
tempo por vários estados da Região Nordeste e transformaram-se
num movimento contra a exploração do trabalhador e pela reforma
agrária. Foram extintas em 1964, e vários de seus líderes e partici-
8https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-ambiental/
pantes foram presos e mortos pelo aparato repressivo da ditadura.
educacao-ambiental-perspectivas-e-desafios-na-sociedade-ade-
-risco/

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Destarte, o próprio homem se colocou na situação de crise
ambiental e sociedade de risco, pois, os fatos como o advento da
industrialização, globalização, crescimento populacional, guerras
mundiais, fixação da cultura do consumismo, falta de estrutura e
adequação, dentre outros, contribuíram para a atual crise ambien-
tal.
Ainda, verifica-se que o modelo capitalista, irracional de ex-
ploração e apropriação dos recursos naturais não apenas alterou o
meio natural, mas também houve o desencadeamento da miséria,
de desigualdade social, concentração de renda e a própria violação
aos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana. E, também,
desestruturou ou extinguiu a identidade cultural de muitos povos.
Segundo, PHILIPPI Jr., o modelo de desenvolvimento econô-
mico escolhido e assumido pelo governo brasileiro, nem sempre
esteve associado ao meio ambiente, provocando, dentre outros, o
incremento de uma sociedade dita consumista onde impera a força
do mercado com regras que priorizam “ter” e não o “ser”, a quan-
tidade, não a qualidade, de vida ou de qualquer outro objeto, de
onde emerge o vocábulo “descartável”, neologismo que provoca a
geração alucinada de resíduos sólidos, de todos os tipos, tamanhos
e matérias. (Fonte: Urbanização e Meio Ambiente, Suetônio Mota,
ABES, RJ, 2003, pg.50)
Isto é, o resultado desse tipo de desenvolvimento tem sido a - Domínio Equatorial Amazônico está situado na região Norte
degradação dos recursos naturais. Sendo que, respeitar a vida com- do Brasil, é formado, em sua maior parte, por terras baixas (Planície
preende respeitar ao meio ambiente e, sendo assim, o cuidado com Amazônica e as áreas de depressões), predominando o processo
o meio ambiente exige “ultrapassar fronteiras e gerações”, pois re- de sedimentação, banhado pela Bacia Amazônica, com um clima e
quer o “dever de atuação” da presente geração a fim de resguardar floresta equatorial.
o “direito à vida” das futuras gerações. - Domínio dos Cerrados está localizado na porção central do
território brasileiro, há um predomínio de chapadões (Planalto Cen-
Macrodivisão natural do espaço brasileiro: biomas, domínios tral), apresentando algumas nascentes importantes como dos rios
e ecossistemas da Bacia do Tocantins-Araguaia, com a vegetação predominante do
Cerrado e o clima tipicamente tropical.
O Brasil possui uma das biodiversidades mais ricas do mundo, - Domínio dos Mares de Morros está localizado ao longo do
detentor das maiores reservas de água doce e de um terço das flo- litoral brasileiro, o domínio de mares de morros recebe esse nome
restas tropicais que ainda não foram desmatadas. Segundo o IBGE em função de sua estrutura geológica. Formada por dobramentos
o Brasil é formado por seis biomas9 de características distintas:Ama- cristalinos da Era Pré-Cambriana, esse relevo sofreu intensa ação
zônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. Cada erosiva ao longo dos milhões de anos, o que contribuiu para a for-
um desses ambientes abriga diferentes tipos de vegetação e de mação de morros com vertentes arredondadas, chamadas de “mor-
fauna. ros em meia laranja”. A vegetação característica desse domínio é a
Como a vegetação é um dos componentes mais importantes Floresta Tropical Úmida ou Mata Atlântica, que possui cerca de 20
da biota, seu estado de conservação e de continuidade definem a mil espécies de plantas, das quais 8 mil são consideradas endêmi-
existência ou não de hábitats para as espécies, a manutenção de cas.
serviços ambientais e o fornecimento de bens essenciais à sobrevi- - Domínio das Caatingas localiza-se no nordeste brasileiro, no
vência de populações humanas. conhecido polígono das secas ou Sertão Nordestino, caracterizado
Para a perpetuação da vida nos biomas, é necessário o esta- por depressões interplanálticas e alguns chapadões, a hidrografia
belecimento de políticas públicas ambientais, a identificação de é bastante limitada pela condição climática que é o Semiárido e a
oportunidades para a conservação, uso sustentável e repartição de vegetação é a quem dá o nome a este domínio.
benefícios da biodiversidade. - Domínio das Araucárias encontra-se no Sul do país, com pre-
domínio de planaltos, com a Bacia do Paraná sendo destaque, o
Os Domínios Morfoclimáticos são conjuntos formados por as- clima é subtropical e a vegetação é formada por araucárias (quase
pectos naturais, como solo, relevo, hidrografia, vegetação e clima extintas).
que predominam em um determinado local, formando uma deter- - O domínio das Pradarias, também conhecido por Pampa ou
minada paisagem. O grande responsável por esta classificação no Campanha Gaúcha, é composto por uma vegetação rasteira, forma-
Brasil foi o professor Aziz Ab´ Saber. da por herbáceas e gramíneas. Localizado no sul do país, em espe-
cial no estado do Rio Grande do Sul, essa região exibe relevo sua-
vemente ondulado (coxilhas), onde se desenvolvem práticas como
a pecuária extensiva e a agricultura da soja e do trigo. O pisoteio
constante do gado e a prática da monocultura, respectivamente,
têm levado à compactação e à redução da fertilidade do solo, ge-
rando áreas desertificadas.
-Os ecossistemas são todos os sistemas abertos onde estão en-
volvidos fatores físicos e biológicos de uma área determinada e que
estão englobados seres vivos, os meios em que vivem e todas as
interações entre ambos.
9https://www.mma.gov.br/biomas.html

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PROFESSOR DE GEOGRAFIA 
Destaca-se que um domínio pode conter mais de um bioma e Mata Atlântica
de um ecossistema. Também chamada de floresta Atlântica, é um dos ecossistemas
O Brasil apresenta grande extensão territorial, isso confere di- mais devastados do Brasil.
ferentes tipos de clima e de solo, resultando em diferentes condi- Estima-se que existam apenas 5% da sua vegetação original.
ções ambientais e ecossistemas. Aproximadamente 70% da população brasileira vivem na área des-
se bioma.
Amazônia10 Localização: Estende-se do Rio Grande do Norte até o Rio Gran-
A Amazônia constitui a maior área remanescente de florestas de do Sul.
tropicais do mundo. Ela ocupa cerca de 49,29% do território brasi- Condições climáticas: Clima subtropical úmido ao sul e tropical
leiro. úmido ao norte.
Localização: Abrange os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Flora: As plantas apresentam folhas largas e perenes. A vegeta-
Pará, Roraima, Rondônia e uma porção do Mato Grosso, Maranhão ção é rica em plantas epífitas. As plantas características deste ecos-
e Tocantins. sistema são os ipês, pau-brasil, jacarandá, jequitibás e palmeiras.
Condições climáticas: Clima quente e úmido, com temperatu- Fauna: Os animais representativos da Mata Atlântica são as ja-
ras variando entre 20ºC a 41ºC durante o ano. As precipitações plu- guatiricas, saguis, mico-leão-dourado, tucanos e papagaios.
viométricas são superiores a 1800 mm/ano. A umidade na região
apresenta índices de 80 a 100%. Mata dos Cocais
Flora: Castanheiro-do-pará, a seringueira, a sumaúma, o guara- A Mata dos Cocais é considerada uma “mata de transição” e
ná e uma diversidade de plantas epífitas. está localizada entre as florestas úmidas da Amazônia e a Caatinga.
Fauna: insetos, anfíbios, jiboias, sucuris, bichos-preguiça, pei- Este ecossistema já foi muito explorado, ainda no período colo-
xe-boi, botos, onças-pintadas e pirarucu. nial, para extração de produtos específicos, como o óleo de babaçu
e a cera de carnaúba. Com o passar do tempo as plantações de soja
tomaram uma dimensão extensa, o que contribui com a destruição
Caatinga
do ambiente.
A Caatinga representa 10% do território brasileiro. Uma de suas
Localização: Abrange os estados do Maranhão, Piauí e Rio
principais características são suas plantas que se adaptaram à falta
Grande do Norte.
de água do ambiente.
Condições climáticas: Apresenta índices elevados de chuva,
A sobrevivência das plantas da Caatinga é sua resistência em com 1500 mm a 2200 mm. A temperatura média anual é de 26ºC.
períodos de seca, visto que elas armazenam água em seus troncos Flora: A espécie mais característica desses ecossistemas é a
e folhas. palmeira Orbignya martiana, o babaçu. Essa palmeira possui impor-
Localização: Abrange os estados do Piauí, Ceará, Rio Grande tância econômica para a população, pois de suas sementes se extrai
do Norte, Paraíba, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia e um óleo e as folhas são usadas para cobertura de casas.
Norte de Minas Gerais. Fauna: Apresenta diversas espécies de aves, mamíferos, rép-
Condições climáticas: Clima semi-árido, com índices pluviomé- teis, anfíbios, insetos, os animais característicos são a arara-verme-
tricos entre 500 mm a 700 mm anuais e temperatura entre 24ºC a lha, gavião-rei, ariranha, gato-do-mato, macaco-prego, lobo-guará,
26ºC. boto, jacu, paca, cotias, acará-bandeira, dentre outros.
Flora: A vegetação é formada por plantas adaptadas ao clima
seco. As plantas possuem folhas transformadas em espinhos, cutí- Pantanal
culas impermeáveis e caules que armazenam água. Essas caracterís- O pantanal é considerado a maior planície inundada do Brasil.
ticas correspondem às plantas xeromórficas. Como exemplos, estão Isso ocorre em alguns períodos do ano, onde determinadas áreas
as cactáceas (mandacaru e facheiro). podem ficar parcialmente ou totalmente submersas.
Fauna: Alguns animais típicos da Caatinga são o preá, veado, É um dos biomas com maior diversidade de animais e plantas.
calango, iguanas, onças e macaco-preto. Localização: Oeste de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Condições climáticas: Clima Tropical Continental. No verão, as
Cerrado temperaturas atingem 32ºC, enquanto no inverno, chegam a 21ºC.
O Cerrado é um bioma do tipo savana, com árvores espaçadas Flora: Apresenta poucas espécies endêmicas, ou seja, próprias
uma das outras e de pequeno porte. deste ecossistema. A palmeira carandá é a mais representativa.
Este é considerado um dos ecossistemas brasileiros que mais Fauna: A fauna é diversificada. Existem moluscos, crustáceos
vem sofrendo com o desmatamento causado pelo avanço das plan- e peixes, como o dourado, pau, jaú, surubim e piranhas. Além de
tações agrícolas. tuiuiús, socós, sara-curas, jacarés, capivaras, onças e veados.
Localização: Ocupa a região central do Brasil. Abrange os esta-
Mata de Araucárias
do de Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do
Recebe esse nome uma vez que a região está repleta de pinhei-
Sul e oeste de São Paulo e Paraná.
ro-do-paraná (Araucaria angustifolia), conhecido como Araucária.
Condições climáticas: O clima é relativamente quente. As tem-
A Mata das Araucárias apresenta, de forma bem definida, as di-
peraturas anuais variam de 21ºC a 27ºC. Possui uma época seca,
ferentes estações do ano, ou seja, os invernos são frios e os verões
com possibilidade da vegetação pegar fogo naturalmente. são quentes
Flora: As árvores possuem uma casca grossa, troncos retorci- Localização: Abrange os estados do Rio Grande do Sul, Santa
dos e raízes profundas. Existe um predomínio de gramíneas e plan- Catarina, Paraná e São Paulo.
tas herbáceas. Destacam-se o ipê, peroba-do-campo e pequi. Condições climáticas: Apresenta temperaturas baixas no inver-
Fauna: Alguns animais característicos são os gambás, tamandu- no. O índice pluviométrico é de 1400 mm anuais.
ás, lobo-guará, cutias, antas, tatus e suçuarana. Flora: A espécie mais representativa é a Araucária, que pode
atingir até 25 m de altura. Também podem ser encontradas samam-
baias e plantas epífitas.
10https://www.todamateria.com.br/ecossistema

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Fauna: Existem de mamíferos, aves, répteis e insetos. Os países industrializados apresentaram, durante esse perío-
Manguezais do, maiores taxas de desmatamento. Com o passar dos anos, essas
As plantas com raízes expostas no manguezal taxas começaram a cair nesses países e a aumentar nos países em
Os manguezais são biomas litorâneos com vegetação arbustiva desenvolvimento e subdesenvolvidos.
que se desenvolve em um solo lodoso e salgado. O desmatamento pode ser atribuído a diversas atividades, sen-
Para o meio ambiente, este é um importante ecossistema pois do essas, em sua maioria, antrópicas. A retirada da cobertura vege-
ele evita o assoreamento das praias, funcionado como uma barrei- tal está relacionada, por exemplo, com a expansão do agronegócio;
ra. com o extrativismo animal, vegetal ou mineral; com a necessidade
Localização: Estende-se por toda a costa brasileira. Entretanto, de explorar matéria-prima para atividades de todos os setores da
pode penetram vários quilômetros no continente, seguindo o curso economia; com a urbanização referente ao aumento das cidades;
de rios, cujas águas encontram, as águas salgadas durante a maré e também com atividades ilegais que envolvem queimadas propo-
cheia. sitais e até mesmo exploração de áreas de conservação para fins
Flora: Existem três espécies principais de mangue, o Mangue- pessoais, como especulação fundiária.
-vermelho, com predomínio da espécie Rhizophora mangle; Man- A expansão do agronegócio é considerada uma das principais
gue-branco, com predomínio da espécie Laguncularia racemosa e o causas do aumento do desmatamento no mundo todo. Segundo a
Mangue-preto, com predomínio da espécie Avicennia schaueriana. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
Fauna: Predominam caranguejos, moluscos e aves, como as (FAO), só na América Latina, a expansão da agricultura e da pecuá-
garças. ria comercial é responsável por aproximadamente 70% do desma-
tamento.
Pampas Dados da FAO revelam que a prática agrícola, por meio das pro-
Também chamado de campos ou campos sulinos. Representa duções em escala industrial, e a pecuária, por meio do aumento dos
um tipo de pradaria. pastos extensivos, fomentam o desmatamento em vários países do
Ocorre em locais onde a região de relevo apresenta topos ar- mundo.
redondados. A pecuária é considerada a principal atividade econô- Essa questão tem gerado diversas polêmicas, pois o agrone-
mica. gócio é o carro-chefe da economia de diversos países. Portanto,
Localização: Predomina no Norte do Rio Grande do Sul. muitos justificam o desmatamento como necessário ao suprimento
Condições climáticas: O clima do Pampa é subtropical com as das necessidades humanas, como a produção de alimentos. Contu-
quatro estações do ano bem definidas. do, segundo o relatório O estado das florestas do mundo, de 2016,
Flora: Predomínio de gramíneas e arbustos. Algumas plantas lançado pela FAO, aponta que não é necessário desmatar florestas
são louro-pardo, cedro, capim-forquilha, grama-tapete, pau-de-lei- para produzir alimentos. É necessário, ao invés de expandir as áreas
te, unha-de-gato, babosa-do-campo, cactáceas, timbaúva, araucá- agrícolas retirando as florestas, intensificar a atividade agrícola e as
rias, algarrobo, palmeira anã. medidas de proteção social.
Fauna: onça-pintada, jaguatirica, macaco-prego, guariba, ta-
manduá, ema, perdigão, perdiz, quero-quero, joão-de-barro, vea- Consequências do desmatamento
do-campeiro, preá, tuco-tucos, tucanos, saíras, gaturamos. Assim como as causas do desmatamento são muitas, suas con-
sequências são proporcionais. Apesar de muitos acreditarem que
Desmatamento11 se trata de um “mal necessário” para a manutenção do bem-estar
Desmatamento, também chamado de desflorestamento, con- social, especialmente com a questão da agropecuária e do extra-
siste na retirada da cobertura vegetal parcial ou total de um deter- tivismo, que são atividades essenciais ao desenvolvimento de um
minado lugar. Enquanto alguns enxergam essa prática como uma país, a questão do desmatamento tomou proporções jamais vistas,
ação necessária ao suprimento das necessidades do ser humano, colocando em risco todo o equilíbrio biológico do planeta Terra.
outros apontam o desmatamento como um dos maiores problemas As principais consequências estão relacionadas ao meio am-
ambientais da atualidade. A retirada da cobertura vegetal está rela- biente e a tudo que lhe diz respeito. Ao desmatar, compromete-
cionada a diversas causas, como a urbanização, mineração e expan- -se toda a biodiversidade da área. Espécies da fauna perdem seu
são do agronegócio, e seus impactos são inúmeros. habitat e espécies da flora podem entrar para a lista de ameaças à
extinção e assim causar um enorme desequilíbrio ambiental, preju-
Causas do desmatamento dicando até mesmo as atividades primárias, das quais dependem
A exploração dos recursos naturais acontece desde os primór- muitas famílias, e também a economia, como a caça, a agricultura
dios da humanidade. Contudo, na medida em que a sociedade se e a pecuária.
desenvolveu, essa exploração intensificou-se, colocando em risco o
equilíbrio do planeta e comprometendo o suprimento das gerações A retirada da cobertura vegetal também agrava a questão das
futuras. mudanças climáticas. Além do aumento das emissões de gases
poluentes à atmosfera que tem agravado o efeito estufa e o aque-
A questão do desmatamento tomou grandes proporções a par- cimento global, o desmatamento também é considerado um dos
tir da Revolução Industrial. A introdução de novas tecnologias (que fatores responsáveis pelas alterações no clima. Os anos estão cada
proporcionaram o aumento da produção industrial) e o consumo vez mais quentes, e o aumento da temperatura da Terra tem causa-
(que aumentou consideravelmente) fizeram com que diversas flo- do inúmeros danos aos ecossistemas e também à saúde humana.
restas temperadas e tropicais fossem devastadas, a fim de atender Outra questão diretamente ligada ao desmatamento está rela-
a essa nova demanda. cionada às alterações provocadas no solo, bem como nos recursos
hídricos. Retirar a vegetação de uma determinada área favorece o
11SOUSA, Rafaela. “Desmatamento”; Brasil Escola. Disponível
em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/o-desmatamento. processo de erosão do solo, pois é a cobertura vegetal que auxilia
htm. na infiltração da água da chuva. Portanto, sem ela, a água escorre

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sobre o solo, provocando deslizamentos e a erosão. A retirada da res. No entanto, atualmente, o cenário modificou-se novamente.
vegetação próxima a áreas de cursos d’água também provoca des- As taxas de desmatamento voltaram a subir, e esse assunto será
lizamentos de terra, que se deposita nos rios, provocando então o abordado no tópico seguinte.
assoreamento.
Todas essas questões convertem para o bem-estar e a quali- Desmatamento no Brasil
dade de vida de todos os seres vivos no planeta. Todos nós depen- Como dito, o Brasil lidera o ranking mundial de desmatamento
demos das florestas, seja para a produção de oxigênio, seja para o de florestas primárias, especialmente nos biomas Amazônia, Cerra-
fornecimento de matéria-prima para a produção de itens essenciais do e Mata Atlântica. No ano de 2017, o país devastou 45 mil km²,
à vida. Se acabamos com esse recurso natural, obviamente somos demonstrando que o país tornou a aumentar suas taxas de desma-
nós que sofreremos diretamente as consequências. E isso já tem tamento que haviam caído.
sido observado. Segundo o Monitoramento da Cobertura e Uso da Terra do Bra-
Diversos recursos naturais estão acabando, comprometendo as sil, divulgado em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-
gerações futuras. O clima tem sofrido mudanças sentidas em todas tística, o país perdeu cerca de 7,5% da sua cobertura vegetal. A área
as partes do mundo. E exatamente por essas questões, o desma- de vegetação do país era de 4.017.505 km2 em 2000. Esse número
tamento tem sido apontando como um dos maiores desafios da caiu para 3.719.801 km2 em 2016.
atualidade. Esse levantamento também mostra que mais de 62.000 km2
da área do país sofreram alterações entre os anos de 2014 e 2016.
Desmatamento no mundo A perda da vegetação acompanhou o ritmo acelerado da expan-
O desmatamento é uma questão de ordem mundial. De acordo são das áreas agrícolas (especialmente em estados da região Norte,
com dados fornecidos pelo Observatório Mundial das Florestas, a como Rondônia, Amazonas e Pará) e de pastagens próximas ao bio-
devastação das florestas alcançou cerca de 29,7 milhões de hecta- ma Amazônia.
res no mundo todo em 2016, um aumento de quase 51% compa- O monitoramento do desmatamento no país é feito oficialmen-
rado a 2015. Os principais contribuintes desse aumento foram os te pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e por algu-
incêndios florestais, como os que ocorrem em Portugal e na Cali- mas organizações independentes, como o Instituto do Homem e do
fórnia (EUA), e também a expansão da agricultura, do extrativismo Meio Ambiente na Amazônia (Imazon).
vegetal e da mineração.
Só em 2018, segundo os dados da Global Forest Watch, o mun- Desmatamento na Amazônia
do perdeu cerca de 12 milhões de hectares de florestas tropicais, O desmatamento da Amazônia tem provocado um grande pe-
o que equivale a quase 30 campos de futebol por minuto. A World sar no mundo todo. A região de maior biodiversidade do planeta
Resources Institute (organização não governamental ambientalista tem sofrido com o aumento do desmatamento e preocupado repre-
dos Estados Unidos) divulgou dados que mostram também os pa- sentantes de diversos países, assim como inúmeras organizações
íses que mais desmataram florestas primárias (correspondentes à ambientais, considerando que a Amazônia é responsável pelo equi-
vegetação em seu estado original e não ao resultado de reflores- líbrio ambiental não só do Brasil mas do mundo todo.
tamento). Segundo estudos divulgados por pesquisadores da Universida-
A lista dos países que mais desmataram é liderada pelo Bra- de de Oklahoma, nos Estados Unidos, publicados na revista Nature
sil e seguida por países como a República Democrática do Congo, Sustainability, a Amazônia brasileira perdeu 400 mil km² de suas flo-
Indonésia, Colômbia, Bolívia e Malásia. Brasil e Indonésia, juntos, restas, área essa maior que o território da Alemanha, entre os anos
desmataram aproximadamente 46% das florestas tropicais no mun- de 2000 e 2017.
do em 2018. Acredita-se que esse aumento do desmatamento tem O Inpe divulgou, em 2019, novos dados a respeito da perca da
prejudicado os esforços para conter o aquecimento global. cobertura vegetal no bioma. Esses dados apontam que o desmata-
Paralelamente, alguns países têm diminuído suas taxas de des- mento aumentou em 278% no mês de julho comparado a julho do
matamento. Entre 2010 e 2015, a diminuição do desmatamento ano anterior. Foram devastados, só nesse período, cerca de 2.254,9
mundial foi para cerca de 33 mil quilômetros quadrados líquidos, km² de florestas. Os dados são levantados pela Detecção do Desma-
segundo a FAO. Esse é o resultado obtido entre a devastação das tamento em Tempo Real (Deter), que monitora instantaneamente o
áreas e o reflorestamento. Anualmente são perdidos cerca 76 mil desmatamento na região da Amazônia.
quilômetros quadrados, compensados por 43 mil quilômetros qua- O aumento entre 2018 e 2019 foi de 49,5%, com relação ao
drados de reflorestamento. período entre 2017 e 2018. A devastação está relacionada com o
A Indonésia, por exemplo, tem se esforçado para preservar as aumento das áreas destinadas à agropecuária; com a interferência
suas florestas primárias, conseguindo reduzir, de 2018 até os dias na infraestrutura, como a de transporte; com a construção de hi-
atuais, cerca de 40% do desmatamento nessas áreas. O Ministro do drelétricas; com a mineração; e com os incêndios criminosos.
Meio Ambiente da Indonésia alegou o esforço do país para garantir
o cumprimento das leis nacionais de política ambiental, punindo e Desmatamento no Cerrado
alertando empresas. O Cerrado, assim como a Amazônia, tem sofrido com a inten-
A Noruega, que desmatou cerca de 10 milhões de m3 em seu sificação do desmatamento. De acordo com dados divulgados pelo
território desde 2014, reflorestou aproximadamente 25 milhões de Inpe em 2018, o bioma perdeu cerca de 6.657 km², 11% a menos
m3. A atitude de reflorestar contribui para que o país compensasse que em 2016 e 33% a menos que o registrado em 2010.
cerca de 60% das emissões de gases de efeito estufa à atmosfera. O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil, atrás apenas da
Outro exemplo é a Alemanha, que desmatou 58 mil hectares de área ocupada pela Amazônia. Apesar da redução da taxa de desma-
florestas, entre os anos de 2002 e 2012, e reflorestou cerca de 108 tamento nos últimos anos, é preciso ressaltar que a perca da vege-
mil hectares. tação do bioma já chega a 51%. Esse desmatamento é associado ao
O Brasil também havia demonstrado redução de desmatamen- avanço do agronegócio. Segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental
to, entre os anos de 2010 e 2011, para 20 mil quilômetros quadra- da Amazônia (Ipam), em 15 anos, o desmatamento do Cerrado foi
dos devastados, 20 mil a menos que os registros de anos anterio- superior ao praticado na Amazônia.

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Desmatamento na Mata Atlântica Desenvolvimento Sustentável12
Sem dúvidas, o bioma Mata Atlântica é o que mais sofreu com a O objetivo de uma política visando o desenvolvimento susten-
devastação no Brasil, e é no país o único bioma que possui legislação tável é de incentivar o desenvolvimento econômico e, ao mesmo
especifica, uma contradição. De acordo com o SOS Mata Atlântica, tempo, promover o uso eficiente dos recursos naturais, reduzir a
esse bioma, que cobria cerca de 15% do território brasileiro, possui degradação do meio ambiente e assegurar os recursos naturais
apenas 1% da sua mata original. Seu desmatamento já chegou a para o futuro. Os modelos atuais de desenvolvimento econômico
92%. Nele se encontra o maior número de espécies ameaçadas. têm levado a uma imensa desigualdade social, além de serem per-
Dados apresentados pelo SOS Mata Atlântica apontam que o dulários e altamente poluidores.
desmatamento do bioma caiu cerca de 9,8% entre os anos de 2017 É impossível dissociar a preservação ambiental da péssima
e 2018, se comparado ao período entre 2016 e 2017. Em 2018 fo- qualidade de vida de milhares de seres humanos. Ao mesmo tem-
ram desmatados cerca de 113 km². Alguns estados alcançaram o po o consumo de energia e a produção de resíduos são, de sobra,
desmatamento zero (desflorestamento abaixo de 100 hectares), maiores nos países desenvolvidos em relação aos subdesenvolvidos
como Ceará, Alagoas, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Espírito ou em desenvolvimento.
Santo, Paraíba, Pernambuco e São Paulo. Isso demonstra que os go- Para um país em desenvolvimento como o Brasil, seria aparen-
vernos têm se esforçado para cumprir as leis que protegem as áreas temente aconselhável explorar ao máximo seus recursos naturais
compreendidas pelo bioma. para aumentar a riqueza da nação. Porém, se os recursos naturais
Contudo, de acordo com o Atlas dos Remanescentes Florestais forem utilizados mais rapidamente que sua capacidade de repo-
da Mata Atlântica, alguns estados ainda apresentam elevadas ta- sição, o desenvolvimento será insustentável, pois no futuro, eles
xas de desmatamento do bioma, como Minas Gerais, Paraná, Piauí, deixarão de existir. Mas, se os recursos forem explorados de uma
Bahia e Santa Catarina. A devastação nessas áreas está associada maneira responsável, eles poderão se regenerar e continuar a exis-
a atividades como a produção de carvão, a plantação de soja e a tir perpetuamente.
indústria de celulose. Existem vários recursos naturais que são renováveis e que po-
dem se regenerar.Os peixes ou outros animais se reproduzem, a
Como conter o desmatamento água e o ar se limpam e a grama e as árvores crescem novamente
Conter o desmatamento parece óbvio: basta não desmatar. No - caso o estrago não seja tão grande a ponto de esgotar os recursos
entanto, essa não é uma questão tão simples. Sabemos que muitos antes de sua reposição.
países colocam, à frente dos seus patrimônios ambientais, questões Portanto, é necessário explorar recursos renováveis de uma
econômicas. É importante ressaltar que, sim, o agronegócio é fun- forma sustentável e responsável e com a intervenção dos governos.
damental para o desenvolvimento de uma economia, bem como
para o suprimento alimentar do mundo. Entretanto há de buscar-se Assegurando o desenvolvimento sustentável
uma maneira sustentável de desenvolvimento, e esse é atualmente No último século, a Terra sofreu grandes alterações ambien-
um dos maiores desafios da humanidade. tais.Ocorreu também o esgotamento de diversos recursos naturais
Estamos provocando um colapso ambiental por meio das ativi- como o desaparecimento de florestas inteiras e a extinção de vá-
dades humanas, e o desmatamento é uma das questões que, como rias espécies. O comprometimento de bens naturais, considera-
dito, possuem inúmeras consequências. Como afirmado pela FAO, dos livres e abundantes, como o ar e a água, tem chegado a níveis
não há necessidade de expandir as áreas voltadas à produção agrí- alarmantes. Acesso ao meio ambiente é disponível para todos. Os
cola, mas sim a de intensificar a produção, de modo que as leis am- recursos são limitados e o acesso a eles é ilimitado. É necessário,
bientais sejam asseguradas.
portanto, uma regulamentação do governo.
Segundo o Estado das Florestas do Mundo 2016 (Sofo, sigla em
Desmatamento por causa de práticas agrícolas e as queimadas
inglês), o incentivo da administração pública a iniciativas privadas
têm alterado drasticamente o habitat de várias espécies. O período
que aliam o recebimento de créditos quando as normas ambientais
de reposição dessas florestas é enorme e dependo da situação do
são cumpridas é um dos caminhos para o combate ao desmatamen-
solo após o desmatamento, até impossível.
to. De acordo também com o Sofo, países melhoraram sua segu-
Internacionalmente, um foco muito grande é sempre dado
rança alimentar mantendo sua cobertura vegetal, desde 1990. Isso
à Floresta Amazônica. O governo brasileiro, visando o desenvol-
significa que não há necessidade de desmatar para que se produza
vimento do estado da Amazônia, chegou a subsidiar a criação de
a quantidade de alimentos necessária. Com relação ao Brasil, Paulo
gado, indústrias e outras atividades que causaram o desmatamento
Barreto, engenheiro florestal da Imazon, apontou algumas medidas
necessárias para conter o desmatamento. Confira alguns exemplos: de áreas extensas da floresta.Internacionalmente, o governo brasi-
- Políticas de fiscalização e controle devem ser efetivas; leiro sofre pressão a respeito de medidas sérias para a preservação
- Cobrança do imposto rural, a fim de evitar a especulação fun- da Floresta Amazônica - que é frequentemente chamada de “o pul-
diária; mão do mundo”.
- Expansão da moratória da soja para o Cerrado. A moratória O tempo de recuperação e reposição de florestas é muito maior
da soja é um acordo setorial entre produtores e compradores de do que o tempo de reposição de peixes ou de outras espécies. Po-
soja que se comprometem a não comprar soja produzida em áreas rém, quando a caça e a pesca não são controladas, a extinção se tor-
desmatadas; na uma realidade. Acesso livre à pesca acaba desabonando classes
- Fechamento do mercado para carne de procedência ilegal, ou inteiras de peixes. O pacu, por exemplo, um peixe muito apreciado,
seja, provinda de áreas devastadas; antes abundante em todos os rios de Mato Grosso do Sul, parte de
- Subsidiar crédito apenas para quem cumpre as leis ambien- São Paulo e do Paraná, foi tão perseguido, que hoje é muito raro.
tais, ou seja, quem desmatar não tem direito ao crédito para pro-
duzir;
- Reflorestar. 12 https://www.educabras.com/enem/materia/geografia/
meio_ambiente_2/aulas/o_desenvolvimento_sustentavel_e_os_
impactos_ambientais

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Portanto, por mais que a caça, a pesca, a indústria e o desma- O Protocolo de Quioto (Kyoto)
tamento contribuam para a economia, é necessário visar um de- O Protocolo de Quioto é o mais rígido tratado internacional
senvolvimento econômico com um dano mínimo aos ecossistemas cujo propósito é o de reduzir a emissão de gases que agravam o
naturais. efeito estufa. Pesquisas científicas apontam que a emissão de tais
O papel do Estado deve ser o de passar e implementar medidas gases é uma das principais causas antropogênicas – isto é, deriva-
que integrem as considerações ambientais com as econômicas. das de atividades humanas – do aquecimento global, que é um fe-
Alguns fatores precisam ser levados em consideração: nômeno que pode resultar em consequências catastróficas para a
Que é o período de reposição de cada recurso natural renová- vida na Terra.
vel? O Protocolo foi negociado na cidade de Quioto, no Japão, em
Qual é o perigo de explorar até o limite irreversível cada recur- 1997, sendo ratificado em 15 de março de 1999. Porém, para que
so natural? este importante tratado internacional entrasse em vigor, era neces-
Qual é o perigo de levar espécies à extinção? sário que 55% dos países, que, juntos, produziam 55% das emis-
Como o governo pode controlar o uso do meio ambiente? sões, o ratificassem. Sendo que os Estados Unidos e a Austrália
decidiram não o ratificar, o Protocolo entrou em vigor apenas em
Após ser determinada a melhor forma de manter o desenvol- 16 de fevereiro de 2005, após a Rússia o ratificar, em novembro
vimento sustentável, o governo pode regular o acesso a recursos de 2004. Em novembro de 2009, 187 estados já haviam assinado e
através de impostos sobre poluição e da venda de permissões li- ratificado o Protocolo.
mitadas para poluir ou explorar certas áreas, implementando um De acordo com o Protocolo de Quioto, os países que o ratifi-
sistema de cotas ou por outros meios legais que cedem o direito do caram se comprometem a reduzir, durante os anos 2008-2012, a
uso limitado dos recursos naturais. emissão de gases do efeito estufa em, no mínimo, 5,2% em relação
Essas licenças ou permissões, além de limitarem a degradação aos níveis da década de 1990. As metas de redução não se aplicam
do meio ambiente, passam a ter um valor econômico para quem as de forma homogênea a todos os países. Os países da União Euro-
possui. Por exemplo, impostos sobre poluição reduzem o incentivo peia se comprometeram a cortar sua emissão em 8% e o Japão, em
de se manufaturar produtos que poluem; também servem como in- 5%. Já alguns países em desenvolvimento, como o Brasil, o México
centivo para os produtores acharem alternativas menos poluentes. e a Índia, não receberam metas de redução.
Proteger o meio ambiente tem seus custos, por isso muitos pa- A emissão de gases de efeito estufa pode ser reduzida através
íses pobres são mais tolerantes em relação às indústrias poluentes. de várias medidas, entre elas: reformas nos setores de energia e
Porém, os governantes desses países pobres devem se conscienti- transportes; a utilização de fontes de energia renováveis; a limita-
zar que estão sacrificando o meio ambiente e recursos naturais que ção de emissões de metano no gerenciamento de sistemas energé-
são uma fonte de capital preciosa e insubstituível. ticos; e a proteção de florestas.
Se o Protocolo de Quioto for implementado com sucesso, esti-
Tratados Internacionais ma-se que até 2100, a temperatura global seja reduzida entre 1,4oC
Os problemas ecológicos são problemas mundiais. Danos irre- e 5,8oC.
versíveis ao meio ambiente, incluindo mudanças na temperatura da
Terra, não têm fronteiras políticas. Créditos de carbono
As organizações mundiais e os países desenvolvidos têm tenta- Para incentivar a redução de gases poluidores, foi criado, a par-
do desenvolver políticas para incentivar ou até mesmo pressionar tir do Protocolo de Quioto, um mercado para créditos de carbono.
os países do “sul” a manterem o meio ambiente. Países ricos têm Isso significa que cada tonelada de CO2 (e equivalente) não emitida
dado abatimentos nas dívidas externa de países mais pobres com a ou retirada da atmosfera por um país em desenvolvimento pode ser
condição desses se empenharem para conservar o meio ambiente. negociada no mercado mundial.
Governos e instituições não governamentais têm trabalhado O Protocolo de Quioto criou o Mecanismo de Desenvolvimen-
para elaborar normas que conciliam o desenvolvimento econômi- to Limpo (MDL), que prevê a redução certificada das emissões. Ao
co e a preservação do meio ambiente, visando o desenvolvimento conquistar tal certificação, o país que promove a redução da emis-
são de gases poluentes adquire créditos de carbono que podem ser
sustentável. O crescimento econômico deve ser regido por políticas
comercializados com os países que têm metras a cumprir. As nações
capazes de preservar os recursos naturais.
que não conseguem ou não desejam reduzir suas emissões podem
Em 1972, na Suécia, as nações do mundo se reuniram na pri-
comprar os créditos de carbono e utilizá-los para cumprir suas obri-
meira Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente, com a
gações.
finalidade de debater os problemas causados pela poluição e ma-
neiras de preservar o ambiente. O documento resultante dessa con-
O Acordo de Paris
ferência ficou conhecido como Declaração de Estocolmo e discute a
O Acordo de Paris é um tratado que estabelece medidas de re-
importância da manutenção da qualidade do ambiente para garan-
dução de emissão de dióxido de carbono a partir do ano de 2010.
tir o bem-estar físico, mental e social do homem.
Negociado em Paris, o acordo foi aprovado em 12 de dezembro de
O Brasil, em 1992, sediou a segunda conferência da ONU sobre 2015 e visa a limitar o aumento da temperatura global no máximo
ambiente, a ECO-92, no Rio de Janeiro. O tema central visou ela- de 2ºC em relação aos níveis da era pré-industrial.
borar normas de conduta que conseguissem conciliar o desenvol- O líder da conferência, Laurent Fabius, ministro das Relações
vimento econômico e a preservação dos ambientes naturais. Essa Exteriores da França, afirmou que esse plano foi um ponto de virada
problemática sintetiza o chamado desenvolvimento sustentado: o histórica no importante objetivo de reduzir o aquecimento global.
crescimento econômico deve ser regido por políticas capazes de O Acordo de Paris é um tratado no âmbito da Convenção-Qua-
manter os recursos naturais, sem destruir o ambiente. Deve-se en- dro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC).
contrar alternativas energéticas e novas tecnologias para a produ- A Convenção-Quadro das Nações Unidas constitui um tratado
ção de recursos e para o reaproveitamento dos resíduos. internacional resultante da Conferência das Nações Unidas para o
Meio Ambiente e o Desenvolvimento, informalmente conhecida

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como a Cúpula da Terra, realizada em 1992, no Rio de Janeiro. Fir- em geral, bastante favorável ao Acordo de Paris. Vale lembrar que
mado por quase todos os países, esse tratado visa à estabilização da o antecessor de Donald Trump, o democrata Barack Obama, nego-
concentração de gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera. A comu- ciou e ratificou o Acordo de Paris, considerando-o um dos grandes
nidade científica acredita que se a emissão desses gases continuar a trunfos de seu governo.
crescer, haverá graves danos ao meio ambiente. Os Estados Unidos são o segundo maior emissor global de ga-
ses do efeito estufa. O primeiro é a China e o terceiro é a União
O objetivo do Acordo de Paris Europeia (UE). Tanto a China como os países que constituem a UE
O objetivo do Acordo de Paris é limitar o aumento da tempera- anunciaram que darão continuidade ao Acordo de Paris apesar da
tura ao máximo de 2oC em relação aos níveis da era pré-industrial decisão de Donald Trump.
e “continuar os esforços para limitar o aumento da temperatura a No Brasil, muitos foram os municípios criados e, com eles, os
1,5oC”. Para que isso ocorra, é necessário que haja uma redução perímetros urbanos, mas muitos urbanos estão mais próximos do
significativa das emissões dos gases causadores do efeito estufa. rural, não contendo grandes praças, prédios, longas linhas de trans-
Isso significa que certas medidas precisam ser tomadas: econo- porte coletivo, ampliada rede de serviços, entre outros.
mia de energia, reflorestamento e mais investimento em fontes de Tal fato gera um problema para o rural brasileiro, uma vez que
energias renováveis. poucas são as políticas públicas voltadas para a qualificação do es-
O Acordo de Paris, que entrou em vigor no dia 4 de novembro paço rural, havendo predomínio das políticas e dos financiamentos
de 2016, foi assinado por 196 países e ratificado imediatamente por voltados para o urbano13.
147 deles. Foi acordado que os países industrializados “devem estar
na linha de frente e estabelecer objetivos de redução das emissões Metrópoles e Megalópoles
em valores absolutos”. Já os países em desenvolvimento terão de As cidades, primeiramente, crescem na horizontal, em um sen-
“continuar a aumentar os esforços à luz de sua situação nacional”. tido centro-periferia. Na medida em que os espaços vão sendo ocu-
O Acordo de Paris prevê que o mesmo sistema seja aplicado a todas pados, os mesmos vão sendo valorizados, pois, na cidade, o espaço
as nações signatárias. Diferentemente do Protocolo de Quioto, o torna-se mercadoria a ser consumida pelo cidadão.
Acordo de Paris estabelece que as emissões dos países em desen- Não tendo mais tantos espaços na horizontal, a cidade passa
volvimento devem “continuar, dentro das suas possibilidades, a me- a crescer na vertical, valorizando ainda mais o solo. As grandes ca-
lhorar os esforços” na luta contra o aquecimento global. pitais brasileiras se encontram em intensos processos de verticali-
Contudo, o acordo prevê uma certa flexibilidade conforme as zação.
diferentes capacidades dos países. Em vez de estabelecer para os Quando duas cidades se ligam por sua malha urbana, compos-
países o que devem fazer, o Acordo de Paris determina que cada ta por habitações, asfaltos, espaços de prestação de serviços, pra-
um deles deve apresentar, a cada cinco anos, planos nacionais que ças, pontes, indústrias, prédios públicos, entre outros elementos,
especifiquem os objetivos que visa a cumprir para mitigar as alte- podemos dizer que está ocorrendo o processo de conurbação.
rações climáticas, de acordo com o que o governo considera viável
Na medida em que as cidades crescem em tamanho e impor-
a partir de sua situação social e econômica. A intenção deve ser
tância econômica e social, em âmbito local e global, vão se tornan-
apresentada por meio de um documento chamado de Pretendidas
do metrópoles. Em torno da metrópole ocorre a conurbação (uma
Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC). Vale ressaltar
ligação) entre as cidades vizinhas, formando, assim, as chamadas
que o Acordo é legalmente vinculativo, mas que os países que não
Regiões Metropolitanas.
cumprirem as estipulações não serão punidos com sanções.
Entre as principais Regiões Metropolitanas do país temos: São
O Brasil se comprometeu a reduzir em 37% suas emissões de
Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador,
gases estufa até o ano de 2025 (em relação ao montante registrado
Curitiba, Belém e Fortaleza.
em 2005), e em 43% até 2030.
Nem todo espaço urbano forma uma Metrópole e, consequen-
A retirada dos Estados Unidos temente, uma Região Metropolitana. Quando duas Regiões Metro-
Em junho de 2017, o republicano Donald Trump, presidente politanas se unem (promovem uma conurbação), principalmente
dos Estados Unidos, anunciou que seu país se retiraria do Acordo por relações econômicas, formam a chamada Megalópole.
de Paris. Trump alegou que o Acordo era “injusto” para a economia As megalópoles são marcadas pelas vias de transporte e co-
norte-americana. Com tal decisão, os Estados Unidos se juntam à municação, interdependência entre as atividades econômicas, em-
Síria (envolta em uma guerra civil há anos) e à Nicarágua (que boi- presas e redes de serviços. Existem megalópoles nos EUA (Boswach
cotou o acordo por considerá-lo pouco ambicioso) como as únicas – Boston e Washington / SanSan – San Diego e San José), no Japão
nações do mundo a não participarem do Acordo. (Tóquio-Osaka). Há quem afirme que no Brasil, São Paulo e Rio de
A decisão foi duramente criticada, tanto por governos como Janeiro formam a Megalópole brasileira.
por especialistas em todo o mundo. A Rússia declarou que o Acordo
de Paris é “impraticável” sem os Estados Unidos, mas afirmou que As Questões Socioambientais em Ambientes Urbanos
manterá o compromisso de ratificar o pacto climático global. A ocupação desenfreada e muitas vezes desordenada do urba-
A decisão de Trump de retirar os Estados Unidos do Acordo de no acabou por levar ao surgimento de inúmeras ocupações irregu-
Paris não é uma violação do tratado, pois este permite a retirada de lares, em alguns casos, formando as chamadas “favelas”. Cabe dizer
países. Contudo, a notificação de saída só poderá ser dada três anos que no espaço urbano há uma segregação socioespacial entre seus
após o acordo entrar em vigor. Além disso, a saída só poderá ser habitantes.
efetuada um ano após a notificação. Isso significa que os Estados Isso significa que podem existir, ao mesmo tempo, moradias
Unidos poderão se retirar do Acordo de Paris apenas após o pri- em prédios e condomínio de luxo, condomínios de classe média e
meiro mandato de Donald Trump. Portanto, a retirada dos Estados submoradias.
Unidos dependerá da reeleição do atual presidente norte-america- 13\ http://proedu.rnp.br/bitstream/han-
no. Se ele não conseguir se reeleger e um democrata for eleito, é dle/123456789/472/2a_Disciplina_-_Geografia_II.pdf?sequen-
provável que tal decisão seja revertida, pois o Partido Democrata é, ce=1&isAllowed=y

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Podemos perceber a segregação espacial não só nas habitações, mas também em quem consome os serviços e as inúmeras alterna-
tivas oferecidas pela cidade.
Nem todos frequentam os centros históricos, os teatros, os shoppings, as grandes redes de supermercados, entre outros, pois no
urbano, consumir estes espaços pressupõe ter recursos financeiros. Somam-se à segregação econômica, as questões de violência urbana.

Para termos uma ideia da quantidade de favelas em território brasileiro, vamos analisar o gráfico a seguir.

Número de favelas em cidades escolhidas, segundo o IBGE

Segundo dados das Organizações das Nações Unidas (ONU), nos últimos dez anos o Brasil reduziu em 16% a população residente em
favelas, o que representa cerca de 10,4 milhões de pessoas. Tal fato se deve, segundo relatório da ONU, a adoção das políticas econômicas
e sociais pelo governo, assim como uma diminuição das taxas de natalidade e a migração do campo para a cidade (êxodo rural).
Além das desigualdades sociais, cabe salientar as questões ambientais, problemas que resultam da alta produção de lixo e de espaços
inadequados para seu armazenamento, a poluição de rios por meio de esgotos, a poluição atmosférica e sonora produzidas pelas indús-
trias e pelos automóveis, a ocupação de morros e barrancos, entre outros.
No Brasil, ano após ano, temos visto, por meio de diferentes meios de comunicação, grandes catástrofes provocadas em áreas de
ocupação de morros.
As cidades são governadas, primeiramente, pelo poder municipal (podendo ter o apoio de outras instâncias do Estado) e exige a par-
ticipação direta dos cidadãos para que as políticas públicas atendam suas necessidades básicas.
As fontes de energia no Brasil
As fontes de energia podem ser renováveis, quando se renovam naturalmente e, não renováveis, quando seu tempo de renovação é
lento comparado com o tempo e a quantidade consumida pela humanidade.
\ Fontes renováveis: ar (ventos), luz solar, biomassa (vegetais), água (força das águas dos rios).
\ Não renováveis: carvão, petróleo, gás natural, urânio.
O Brasil mesclou suas fontes de geração de energia; quando o assunto é automóvel, usamos tanto a gasolina, o diesel e o gás natural,
oriundos de fontes não renováveis, quanto ao álcool (cana-de-açúcar) que é oriundo de fonte renovável.
Já a energia elétrica que sustenta as atividades industriais e as nossas habitações é gerada em sua maior parte pelas Usinas Hidrelé-
tricas, mas há produção a partir de Termelétricas (que usam o carvão), Usinas Eólicas (por meio dos ventos) e Usinas Nucleares (que usam
o Urânio).

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Vejamos a seguir um gráfico que nos mostra um pouco da di- A produção de energia via Usina Eólica também tem sido alvo
mensão das principais fontes de energia utilizadas no Brasil: dos investimentos do governo brasileiro, tendo somente o vento
como matriz para geração de energia, essa seria a mais ambiental-
mente sustentável possibilidade, porém, não é em todos os espaços
que elas podem ser instaladas.
Há usinas em estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Ceará e Rio
Grande do Norte, mas só geram energia suficiente para sustentar
300 mil residências.

A superfície da terra possui diversas formas, o que são denomi-


nadas de relevo. Eles são formados a partir de forças e movimentos
do interior da terra e são transformados pela ação de diversos fato-
res, tais como água do mar, dos rios, das chuvas, o gelo, o vento e
pela dinâmica do homem.

A dinâmica externa – processo de erosão


O relevo brasileiro vem sofrendo com a ação dos agentes exter-
nos, como a Água, Vento e Intemperismo.
Intemperismo
O intemperismo implica sempre na desintegração da rocha ma-
Fontes de energia utilizadas no Brasil
triz, com a geração dos sedimentos, areias, lamas e seixos, e forma-
ção dos solos. Além de agentes físicos, químicos e biológicos, que
Desde os anos de 1970, o Brasil tem feito investimentos em no-
atuam em maior ou menor grau no intemperismo das rochas.
vas alternativas, em particular, na produção de biocombustível. Nos
As mudanças climáticas são alterações do clima em todo o pla-
anos de 1970 o destaque foi para a produção do álcool, por meio
do programa Proálcool (Programa Nacional do Álcool), período este neta. Em outras épocas o aquecimento tinha causas naturais, mas
em que o mundo, devido a conflitos no Oriente Médio, sofria uma hoje se sabe que é produzido pelas atividades humanas e suas con-
verdadeira crise energética. sequências são irreversíveis.
Na atualidade, mais do que nunca, a produção de álcool tem O clima corresponde ao conjunto das características da atmos-
sido importante, pois há metas mundiais a serem atingidas em rela- fera durante um certo período e numa certa região. Compreende
ção às fontes poluidoras da atmosfera (carvão e o petróleo), dado o as temperaturas médias, a quantidade de chuvas, a umidade do ar,
contexto de “Aquecimento Global”. entre outros aspectos.
As mudanças climáticas estão relacionadas às alterações do
As fontes de energia e impactos socioambientais clima em nível global, ou seja, em todo o planeta e podem ser cau-
Não poderíamos deixar de considerar que a exploração e uso sadas tanto por alterações naturais (glaciações, mudanças na órbita
das fontes de energia geram impactos socioambientais. As fontes terrestre, etc), como pela ação humana.
mais poluidoras da atualidade são os combustíveis fósseis, como o Os combustíveis fósseis largamente usados em diversas ativi-
carvão e o petróleo. dades humanas intensificaram bastante o aquecimento global e
Como vimos, o Brasil tem apostado em investimentos na pro- suas consequências são, em grande parte, irreversíveis para a vida
dução de biocombustíveis com o intuito de substituir essas matri- na Terra.
zes. O investimento nas energias renováveis é desse modo funda-
Uma das questões socioambientais referentes à produção de mental, uma vez que substitui os combustíveis fósseis e seria a me-
biocombustível é que importantes áreas de terras produtivas estão lhor forma de controlar as emissões dos gases de efeito estufa.
sendo usadas para plantio de monoculturas de cana-de-açúcar, mi-
lho e soja, em detrimento da produção de alimentos. Tal fato vem Causas das Mudanças Climáticas
impactando nossa soberania alimentar.
Para geração de energia elétrica, sabemos que o país apostou, Desde a Revolução Industrial que houve um aumento significa-
principalmente, nas Hidrelétricas. Estas contribuem na emissão de tivo na queima dos combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás na-
gás metano (resultado da decomposição do material vegetal sub- tural, entre outros). Com isso também se tornou crescente a quan-
merso pelas águas das barragens), provocam o alagamento de ex-
tidade de dióxido de carbono lançada na atmosfera.
tensas áreas (de natureza e terras produtivas), e acabam deslocan-
do famílias de suas áreas de moradia e trabalho.
Causas das Mudanças Climáticas
Desde os anos de 1950, os diferentes governantes brasileiros
investiram em pesquisa e compra de tecnologia para produção de
energia a partir das usinas nucleares. Atualmente, essa matriz ener- Efeito estufa
gética é responsável, apenas, por 2% da produção de energia. Há
obras em andamento e que devem aumentar o potencial de gera- Efeito estufa é um fenômeno atmosférico natural responsável
ção de energia. pela manutenção da vida na Terra. Sem a presença desse fenôme-
A questão ambiental envolve desde problemas com vazamento no, a temperatura na Terra seria muito baixa, em torno de -18ºC, o
de material radioativo até o destino do material já utilizado (o lixo que impossibilitaria o desenvolvimento de seres vivos.
atômico).

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Existem, na atmosfera, diversos gases de efeito estufa capa-
zes de absorver a radiação solar irradiada pela superfície terrestre,
impedindo que todo o calor retorne ao espaço. Parte da energia
emitida pelo Sol à Terra é refletida para o espaço, outra parte é ab-
sorvida pela superfície terrestre e pelos oceanos. Uma parcela do
calor irradiado de volta ao espaço é retida pelos gases de efeito es-
tufa, presentes na atmosfera. Dessa forma, o equilíbrio energético
é mantido, fazendo com que não haja grandes amplitudes térmicas
e as temperaturas fiquem estáveis.
Para entender melhor, podemos comparar o efeito estufa ao
que acontece em um carro parado sob a luz solar. Os raios solares
passam pelos vidros e aquecem o interior do veículo. O calor, então,
tende a sair pelo vidro, porém encontra dificuldades. Portanto, par-
te do calor fica retido no interior do carro, aquecendo-o. Os gases
de efeito estufa, presentes na atmosfera, funcionam como o vidro
do carro, permitindo a entrada da radiação ultravioleta, mas dificul- A emissão de gases de efeito estufa é proveniente, principalmente,
tando que toda ela seja irradiada de volta ao espaço. de atividades industriais.
Contudo, a grande concentração desses gases na atmosfera di-
ficulta ainda mais a dispersão do calor para o espaço, aumentando Além desses gases, há também o vapor d’água, um dos princi-
as temperaturas do planeta. O efeito estufa tem-se agravado em pais responsáveis pelo efeito estufa. O vapor d’água capta o calor ir-
virtude da emissão cada vez maior de gases de efeito estufa à at- radiado pela Terra, distribuindo-o novamente em diversas direções,
mosfera. Essa emissão é provocada por atividades antrópicas, como aquecendo, dessa forma, a superfície terrestre.
queima de combustíveis fósseis, gases emitidos por escapamentos
de carros, tratamento de dejetos, uso de fertilizantes, atividades Causas do efeito estufa
agropecuárias e diversos outros processos industriais. Nos últimos anos, houve um considerável aumento da concen-
tração de gases de efeito estufa na atmosfera. As atividades huma-
Quais são os gases de efeito estufa? nas ligadas à indústria, as atividades agrícolas, o desmatamento e o
Existem quatros principais de gases de efeito estufa. aumento do uso dos transportes são os principais responsáveis pela
1. Dióxido de carbono: é o mais abundante entre os gases de emissão desses gases.
efeito estufa, visto que pode ser emitido a partir de diversas ativida- É válido ressaltar que o efeito estufa é um fenômeno natural
des humanas. O uso de combustíveis fósseis, como carvão mineral e essencial para manutenção da vida na Terra, já que mantém as tem-
petróleo, é uma das atividades que mais emitem esses gases. Desde peraturas médias, evitando grandes amplitudes térmicas e o esfria-
a Era Industrial, houve um aumento de 35% da quantidade de dió- mento extremo do planeta. Contudo, a intensificação de atividades
xido de carbono na atmosfera. industriais e agrícolas, que demandam áreas para produção e, con-
2. Gás metano: é o segundo maior contribuinte para o aumen- sequentemente, geram desmatamento, e o uso dos transportes au-
to das temperaturas da Terra, com poder 21 vezes maior que o di- mentaram a emissão de gases de efeito estufa à atmosfera.
óxido de carbono. Provém de atividades humanas ligadas a aterros A queima de combustíveis fósseis é uma das atividades que
sanitários, lixões e pecuária. Além disso, pode ser produzido por mais produzem gases de efeito estufa. A concentração desses gases
meio da digestão de ruminantes e eliminado por eructação (arroto) na atmosfera impede que o calor seja irradiado, aquecendo ainda
ou por fontes naturais. Cerca de 60% da emissão de metano provém mais a superfície terrestre, aumentando, portanto, as temperatu-
de ações antrópicas. ras. Esse aumento das temperaturas decorrente da intensificação
3. Óxido nitroso: pode ser emitido por bactérias no solo ou no do efeito estufa é conhecido como aquecimento global.
oceano. As práticas agrícolas são as principais fontes de óxido nitro-
so advindo da ação humana. Exemplos dessas atividades são cultivo
do solo, uso de fertilizantes nitrogenados e tratamento de dejetos.
O poder do óxido nitroso de aumentar as temperaturas é 298 vezes
maior que o do dióxido de carbono.
4. Gases fluoretados: são produzidos pelo homem a fim de
atender às necessidades industriais. Como exemplos desses gases,
podemos citar os hidrofluorocarbonetos, usados em sistemas de
arrefecimento e refrigeração; hexafluoreto de enxofre, usado na
indústria eletrônica; perfluorocarbono, emitido na produção de
alumínio; e clorofluorcarbono (CFC), responsável pela destruição
da camada de ozônio.

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O efeito estufa é um fenômeno natural que, apesar de ser essencial para a manutenção da vida, tem sido agravado pela emissão de ga-
ses decorrente da ação antrópica.

Aquecimento global e efeito estufa


O efeito estufa é um fenômeno atmosférico de ordem natural capaz de garantir que a Terra seja habitável. Esse efeito é responsável
por manter a temperatura média do planeta, de forma que o calor não seja totalmente irradiado de volta ao espaço, mantendo, portanto,
a Terra aquecida e evitando que a temperatura não baixe drasticamente.
A concentração dos gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono e o óxido nitroso, elevou-se significativamente nas últimas
décadas. Segundo diversos estudiosos, essa concentração tem provocado mudanças na dinâmica climática do planeta, provocando o au-
mento das temperaturas da Terra. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, a temperatura do planeta aumentou
aproximadamente 0,85º C nos continentes e 0,55º C nos oceanos em um período de cem anos. Com esse aumento, foi possível constatar
o derretimento das calotas polares e a elevação do nível do mar.
A comunidade científica relaciona, portanto, o aumento dos gases de efeito estufa ao aumento das temperaturas médias globais. A
concentração desses gases impede cada vez mais que o calor irradiado pela superfície seja disperso no espaço, aumentando a temperatura
e reafirmando a questão do aquecimento global. Contudo, é válido ressaltar que essa relação entre efeito estufa e aquecimento global,
bem como a existência do aquecimento global não são unanimidades entre os estudiosos. Muitos pesquisadores desacreditam que a con-
centração dos gases tem agravado o aumento das temperaturas do planeta. Para eles, esse aquecimento elevado constitui apenas uma
fase de variação da dinâmica climática da Terra.

O aquecimento global representa o aumento das temperaturas médias do planeta.

Consequências do efeito estufa


Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o sistema climático pode ser alterado trazendo danos irreversíveis,
como:
→ Derretimento das calotas polares e aumento do nível do mar.
→ Agravamento da segurança alimentar, prejudicando as colheitas e a pesca.
→ Extinção de espécies e danos a diversos ecossistemas.
→ Perdas de terras em decorrência do aumento do nível do mar, que provocará também ondas migratórias.
→ Escassez de água em algumas regiões.
→ Inundações nas latitudes do norte e no Pacífico Equatorial.
→ Riscos de conflitos em virtude da escassez de recursos naturais.
→ Problemas de saúde provocados pelo aumento do calor.
→ Previsão de aumento da temperatura em até 2º C até 2100 em comparação ao período pré-industrial (1850 a 1900).

O derretimento das calotas polares e o consequente aumento do nível do mar são consequências do efeito estufa.

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Como evitar o efeito estufa?
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas sinaliza que a emissão de gases de efeito estufa deve ser reduzida de 40%
a 70% entre os anos 2010 e 2050. Os países precisam estabelecer metas de redução de emissão desses gases a fim de conter o aumento
das temperaturas.
É preciso investir no uso de fontes de energia renováveis e alternativas, abandonando o uso dos combustíveis fósseis, cuja queima
libera diversos gases de efeito estufa. Outras ações cotidianas também podem ser adotadas, como redução do uso de transportes em tra-
jetos pequenos, optando por ir a pé ou de bicicleta, preferência pelo uso de transporte coletivo e de produtos biodegradáveis e incentivo
à coleta seletiva.

Resumo

Fenômeno atmosférico Efeito Estufa


Fenômeno de ordem natural responsável por manter as temperaturas médias globais, possibilitando a exis-
tência de vida na Terra. É agravado pela ação humana por meio da emissão de gases de efeito estufa à
Principais características
atmosfera, que impedem a dispersão da radiação solar irradiada pela superfície terrestre, aumentando a
temperatura do planeta.
Dióxido de carbono
Gás metano
Gases de efeito estufa
Óxido nitroso
Gases fluoretados
É um fenômeno natural que tem-se intensificado em decorrência de atividades humanas ligadas à indústria,
Causas
atividades agropecuárias, uso de transportes e desmatamento.
Derretimento das calotas polares.
Aumento do nível do mar.
Agravamento da segurança alimentar.
Consequências
Aumento dos períodos de seca.
Escassez de água.
Aumento das temperaturas.

El Niño e La Niña

O fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS) é caracterizado por anomalias, positivas (El Niño) ou negativas (La Niña), de temperatura da
superfície do mar (TSM) no Pacífico equatorial, e sua caracterização é feita através de índices, como o Índice de Oscilação Sul (IOS – calcu-
lado através da diferença de pressão entre duas regiões distintas: Taiti e Darwin) e os índices nomeados Niño [(Niño 1+2, Niño 3, Niño 3.4
e Niño 4), que nada mais são do que as anomalias de TSM médias em diferentes regiões do Pacífico equatorial].
As previsões da anomalia da TSM para Dezembro-Janeiro-Fevereiro de 2019 (DJF-2019) dos modelos numéricos de previsão climática
analisados indicam que as águas sobre o Pacífico Equatorial devem manter-se mais quentes que o normal, indicando a permanência do fe-
nômeno El Niño. A previsão da ocorrência de ENOS realizada pelo IRI/CPC no início de novembro aponta que a maior probabilidade (80%)
é de que o próximo trimestre (DJF) ainda tenha a influência do fenômeno El Niño, e assim segue até Abril-Maio-Junho de 2019 (AMJ-2019)
(49%). Para o último trimestre da previsão (Junho-Julho-Agosto de 2019) a maior probabilidade (51%) é de que retorne a neutralidade, ou
seja, sem a ocorrência do El Niño ou da La Niña.

El NiÑo
El Niño é um fenômeno atmosférico-oceânico caracterizado por um aquecimento anormal das águas superficiais no oceano Pacífico
Tropical, e que pode afetar o clima regional e global, mudando os padrões de vento a nível mundial, e afetando assim, os regimes de chuva
em regiões tropicais e de latitudes médias.

La NiÑa
La Niña representa um fenômeno oceânico-atmosférico com características opostas ao EL Niño, e que caracteriza-se por um esfria-
mento anormal nas águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical. Alguns dos impactos de La Niña tendem a ser opostos aos de El Niño,
mas nem sempre uma região afetada pelo El Niño apresenta impactos significativos no tempo e clima devido à La Niña.

Aquecimento Global
O aquecimento global pode ser definido como o processo de elevação média das temperaturas da Terra ao longo do tempo. Segundo
a maioria dos estudos científicos e dos relatórios de painéis climáticos, sua ocorrência estaria sendo acelerada pelas atividades humanas,
provocando problemas atmosféricos e no nível dos oceanos, graças ao derretimento das calotas polares.
O principal órgão responsável pela divulgação de dados e informações sobre o Aquecimento Global é o Painel Internacional sobre
Mudanças Climáticas (IPCC), um órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo o IPCC, o século XX foi o mais quente dos
últimos tempos, com um crescimento médio de 0,7ºC das temperaturas de todo o globo terrestre. A estimativa, segundo o mesmo órgão,
é que as temperaturas continuem elevando-se ao longo do século XXI caso ações de contenção do problema não sejam adotadas em larga
escala.

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O IPCC trabalha basicamente com dois cenários: um otimista - eventuais inundações de áreas costeiras e cidades litorâneas,
e outro pessimista. No primeiro, considerando que o ser humano em função da elevação do nível dos oceanos;
consiga diminuir a emissão de poluentes na atmosfera e contenha - aumento da insolação e radiação solar, em virtude do aumen-
ações de desmatamento, as temperaturas elevar-se-iam em 1ºC até to do buraco da Camada de Ozônio;
2100. No segundo cenário, as temperaturas poderiam elevar-se de - intensificação de catástrofes climáticas, tais como furacões e
1,8 até 4ºC durante esse mesmo período, o que comprometeria boa tornados, secas, chuvas irregulares, entre outros fenômenos mete-
parte das atividades humanas. orológicos de difícil controle e previsão;
Em um relatório de grande repercussão, publicado em março - extinção de espécies, em razão das condições ambientais ad-
de 2014, o IPCC afirma que o aquecimento global seria muito grave versas para a maioria delas.
e irreversível, provocando a elevação dos oceanos, perdas agríco-
las, entre outras inúmeras catástrofes geradas pelas alterações no Como combater o aquecimento global?
clima e na disposição dos elementos e recursos naturais. A primeira grande atitude, segundo apontamentos oficiais e
científicos, para combater o aquecimento global seria a escolha de
Causas do Aquecimento Global fontes renováveis e não poluentes de energia, diminuindo ou até
A principal entre as causas do aquecimento global, segundo abandonado a utilização de combustíveis fósseis, tais como o gás
boa parte dos especialistas, seria a intensificação do efeito estufa, natural, o carvão mineral e, principalmente, o petróleo. Por parte
um fenômeno natural responsável pela manutenção do calor na su- das indústrias, a diminuição das emissões de poluentes na atmosfe-
perfície terrestre, mas que estaria sendo intensificado de forma a ra também é uma ação necessária.
causar prejuízos. Com isso, a emissão dos chamados gases-estufa Outra forma de combater o aquecimento global seria diminuir
seria o principal problema em questão. a produção de lixo, através da conscientização social e do estímulo
Os gases-estufa mais conhecidos são o dióxido de carbono e o de medida de reciclagem, pois a diminuição na produção de lixo
gás metano. Além desses, citam-se o óxido nitroso, o hexafluoreto diminuiria também a poluição e a emissão de gás metano, muito
de enxofre, o CFC (clorofluorcarboneto) e os PFC (perfluorcarbone- comum em áreas de aterros sanitários.
tos). Essa listagem foi estabelecida pelo Protocolo de Kyoto, e sua Soma-se a essas medidas a preservação da vegetação, tanto
presença na atmosfera estaria sendo intensificada por práticas hu- dos grandes biomas e domínios morfoclimáticos, tais como a Ama-
manas, como a emissão de poluentes pelas indústrias, pelos veícu- zônia, como o cultivo de áreas verdes no espaço agrário e urbano.
los, pela queima de combustíveis fósseis e até pela pecuária. Assim, as consequências do efeito estufa na sociedade seriam ate-
nuadas.

As posições céticas quanto ao aquecimento global


Há, no meio científico, um grande debate sobre a existência
e as possíveis causas do aquecimento global, de forma que a sua
ocorrência não estaria totalmente provada e nem seria consenso
por parte dos especialistas nas áreas que estudam o comportamen-
to da atmosfera.
Existem grupos que afirmam que o aquecimento global seria
um evento natural, que não seria influenciado pelas ações humanas
e que, tampouco, seria gravemente sentido em um período curto
de tempo. Outras posições afirmam até mesmo que o aquecimen-
to global não existe, utilizando-se de dados que comprovam que o
ozônio da atmosfera não está diminuindo, que o dióxido de carbono
não seria danoso ao clima e que as geleiras estariam, na verdade,
O CO2 (dióxido de carbono) seria o grande vilão do aquecimento expandindo-se, e não diminuindo.
global

Outra causa para o aquecimento global seria o desmatamen-


to das florestas, que teriam a função de amenizar as temperaturas
através do controle da umidade. Anteriormente, acreditava-se que
elas também teriam a função de absorver o dióxido de carbono e
emitir oxigênio para a atmosfera, no entanto, o oxigênio produzido
é utilizado pela própria vegetação, que também emite dióxido de
carbono na decomposição de suas matérias orgânicas.
As algas e fitoplânctons presentes nos oceanos são quem, de
fato, contribuem para a diminuição de dióxido de carbono e a emis-
são de oxigênio na atmosfera. Por esse motivo, a poluição dos ma-
res e oceanos pode ser, assim, apontada como mais uma causa do
aquecimento global.

Consequências do Aquecimento Global


Entre as consequências do aquecimento global, temos as trans- Para alguns analistas, as calotas polares no sul e no norte esta-
formações estruturais e sociais do planeta provocadas pelo aumen- riam expandindo-se
to das temperaturas, das quais podemos enumerar:
- aumento das temperaturas dos oceanos e derretimento das
calotas polares;

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Essas posições mais céticas consideram que as posições sobre o Exemplos de energia não renováveis:
Aquecimento Global teriam um caráter mais político do que verda- Combustíveis fósseis: como o petróleo, o carvão mineral, o xis-
deiramente científico e acusam o IPCC de distorcer dados ou apre- to e o gás natural;
sentar informações equivocadas sobre o funcionamento do meio Energia Nuclear: que necessita urânio e tório para ser produ-
ambiente e da atmosfera. Tais cientistas não consideram o painel da zida.
ONU como uma fonte confiável para estudos sobre o tema.
Divergências à parte, é importante considerar que o aqueci- Fontes de Energia no Brasil
mento global não é a única consequência das agressões ao meio A busca por fontes alternativas de energias não poluentes ou
ambiente. Diante disso, mesmo os críticos ao aquecimento global renováveis tem avançado no mundo. Seja para diminuir a depen-
admitem a importância de conservar os recursos naturais e, princi- dência do petróleo, seja para descer os níveis de poluição, o fato é
palmente, os elementos da biosfera, vitais para a qualidade de vida que a busca por diferentes fontes de energia já são uma realidade
das sociedades. no mundo.
No Brasil, o uso do álcool, proveniente da cana-de-açúcar, data
Impactos ambientais de 1975, com a implantação do Programa Nacional do Álcool (Proál-
A principal ênfase dos estudos ambientais na Geografia refe-
cool), em decorrência da crise do petróleo. Hoje o álcool é também
re-se aos temas concernentes à degradação e aos impactos am-
usado como aditivo à gasolina.
bientais, além do conjunto de medidas possíveis para conservar os
Igualmente, o uso e a exploração da energia solar e eólica, vem
elementos da natureza, mantendo uma interdisciplinaridade com
sendo estimulada ainda que de maneira tímida por parte do gover-
outras áreas do conhecimento, como a Biologia, a Geologia, a Eco-
nomia, a História e muitas outras. no.
Nesse sentido, o principal cerne de estudos é o meio ambiente
e as suas formas de preservação. Entende-se por meio ambiente Transformação
o espaço que reúne todas as coisas vivas e não vivas, possuindo As fontes de energias são encontradas na natureza em estado
relações diretas com os ecossistemas e também com as sociedades. bruto, e para serem aproveitadas economicamente devem passar
Com isso, fala-se que existe o ambiente natural, aquele constituído por um processo de transformação e armazenamento.
sem a intervenção humana, e o ambiente antropizado, aquele que A água, o sol, o vento, o petróleo, o carvão, o urânio são cana-
é gerido no âmbito das práticas sociais. lizados pelo ser humano e assim toda sua capacidade de produzir
De um modo geral, é possível crer que o mundo e os fenôme- energia será explorada.
nos que nele se manifestam são resultados do equilíbrio entre os Os centros de transformação podem ser:
mais diversos eventos. Desse modo, alterar o equilíbrio pode trazer Usinas Hidrelétricas - a força da queda d’água faz girar as turbi-
consequências severas para o meio ambiente, de forma que se tor- nas e assim convertida em eletricidade
nam preocupantes determinadas ações humanas, como o desma- Refinarias de Petróleo - o petróleo é transformado em óleo die-
tamento, a poluição e a alteração da dinâmica dos ecossistemas. sel, gasolina, querosene, etc.
Fontes de energia são matérias-primas que direta ou indireta- Usinas Termoelétricas - através da queima do carvão mineral e
mente produzem energia para movimentar as máquinas, os trans- do petróleo, obtém-se energia.
portes, a indústria, o comércio, a agricultura, as casas, etc. Coquerias - o carvão mineral é transformado em coque, que é
O carvão, o petróleo, as águas dos rios e dos oceanos, o vento e um produto empregado para aquecer altos fornos da siderurgia e
certos alimentos são alguns exemplos de fontes energéticas. indústrias.

Energia Renováveis e Não Renováveis POLÍTICA ENERGÉTICA BRASILEIRA


As fontes de energia ou recursos energéticos podem ser classi- Recebe o nome de política energética brasileira as diretrizes
ficados em dois grupos: energias renováveis e não renováveis. estabelecidas pelo governo federal para administrar e explorar da
melhor forma possível os recursos do território nacional, de modo
Energias Renováveis
a alimentar a indústria, o comércio e a população em geral.
Energias renováveis são aquelas que regeneram-se espontane-
A energia é uma questão estratégica não só para o Brasil, mas
amente ou através da intervenção humana. São consideradas ener-
para todas as outras nações, que deve ser tratada com cautela. O
gias limpas, pois os resíduos deixados na natureza são nulos.
Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo,
Alguns exemplos de energias renováveis são:
Hidrelétrica - oriunda pela força da água dos rios; sendo que mais de 45% de toda a energia utilizada no país é gerada
Solar - obtida pelo calor e luz do sol; a partir de fontes renováveis. O mundo utiliza 81% de combustíveis
Eólica - derivada da força dos ventos, fósseis, e apenas 13% de fontes renováveis.
Geotérmica - provém do calor do interior da terra; Em contrapartida, o Brasil utiliza 53% de combustíveis fósseis
Biomassa - procedente de matérias orgânicas; em relação aos 81% da média mundial e 45% de fontes renováveis
Mares e Oceanos - natural da força das ondas; em comparação aos 13%.
Hidrogênio - provém da reação entre hidrogênio e oxigênio que As agências governamentais responsáveis pelas questões ener-
libera energia. géticas no país são:
• Ministério de Minas e Energia, ligado diretamente ao Po-
Energias Não Renováveis der Executivo, responsável pela criação de normas, acompanha-
Energias não renováveis são aquelas que se encontram na na- mento e avaliação de programas federais, além da implantação de
tureza em grandes quantidades, mas uma vez esgotadas, não po- políticas específicas para o setor energético;
dem mais ser regeneradas. • Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), dotado
Têm reservas finitas, pois é necessário muito tempo para sua da atribuição de propor ao presidente da república políticas nacio-
formação na natureza. São consideradas energias poluentes, por- nais e medidas para o setor;
que sua utilização causa danos para o meio-ambiente.

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• Secretarias de planejamento e desenvolvimento energé- É importante ressaltar ainda que cada desequilíbrio provocado
tico; de energia elétrica; de petróleo, gás natural e combustíveis traz consigo um retorno nada amigável para o ser humano, exemplo
renováveis; a empresa de pesquisa energética (EPE), que tem como disso, são as chuvas ácidas – tipos de precipitações na atmosfera
finalidade a prestação de serviços na área de estudos e pesquisas carregadas de ácido – que ao atingirem prédios, veículos e grandes
que irão subsidiar o planejamento do setor energético. construções vão as corroendo lentamente.
O Ministério de Minas e Energia tem ainda como autarquias E já que boas condições ambientais são pré-requisitos para
vinculadas, as agências nacionais de Energia Elétrica (Aneel) e do uma vida saudável pode-se afirmar com toda certeza que a falta
Petróleo (ANP), além do Departamento Nacional de Produção Mi- delas é sim um problema de saúde pública que reflete em uma pés-
neral (DNPM). sima qualidade de vida.
Outros órgãos governamentais estão incumbidos de cuidar de Acredita-se que os primeiros locais afetados por esse des-
assuntos relacionados à energia brasileira e de sugerir alterações controle todo são as regiões com grande densidade populacional
no modo como são explorados e utilizados a mesma, buscando o como, por exemplo, a Índia onde está localizado o Rio Ganges, um
“melhor” para o futuro do país. A grande questão está na eficiência dos mais poluídos do mundo.
e o foco dessas ações.
Atualmente, prosseguir a reestruturação do setor da energia Quando foi que isso passou a ser um problema?
será uma das questões fundamentais para garantia de investimen-
tos no setor de energia, acumulando o suficiente para atender a Diversos especialistas acreditam que a Revolução Industrial,
sempre crescente necessidade de combustíveis e da eletricidade. entre 1760 e 1840, tenha sido o evento histórico responsável por
Além disso, é importante que as ações do governo nessa área se- desencadear os processos que elevaram os níveis de poluição.
jam realizadas a partir de uma perspectiva que favoreça um futuro Com a tão sonhada industrialização e a urbanização diversas
sustentável, em outras palavras, garantindo a disponibilidade de re- características foram sendo consolidadas, entre as quais o sistema
cursos às gerações futuras. capitalista onde a indústria passa a ser uma atividade de vanguarda,
A ausência de uma política energética mais eficaz por parte do e também, aglomeração de pessoas que trarão como consequência
o consumo em excesso e poluição.
governo pode comprometer todo o desenvolvimento do país, além
É importante dizer ainda que com o advento do capitalismo os
de retardar a expansão da oferta, “sujando” a matriz, pois a falta de
conceitos de mercadoria e consumo ganham força tornando-se co-
planejamento pode abrir espaço para térmicas fósseis com eleva-
muns ao dia a dia. O resultado disso é o lucro presente em todos
dos índices de emissões de gases de efeito estufa.
os aspectos da sociedade, sendo assim, o que não traz lucro, não
serve.
DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
Nessa história toda o meio ambiente vai perdendo cada vez
mais espaço, dando lugar a uma sociedade moderna que cria seus
A degradação do meio ambiente, ou, degradação ambiental
próprios espaços, diversos especialistas denominam essa ação
pode ser classificada como um tipo de procedimento que diminui como segunda natureza, aquela criada/transformada pelo próprio
as chances de um ecossistema ser totalmente saudável. homem. Aqui a fauna e a flora dão origem a asfaltos, grandes cons-
Em geral, está relacionada a alterações do tipo biofísicas, as truções, ou seja, a paisagem natural deixa de ser a dominante.
quais alteram o “curso natural” de funcionamento da fauna e flora, Como já mencionado esse comportamento traz grandes conse-
o que – não raras às vezes – resultam em perda da biodiversidade. quências, em sua maioria negativas, para o homem que depende da
Essas alterações das quais falávamos podem ocorrer em razão natureza, ecossistemas e biomas para sua sobrevivência.
de dois tipos de ação: a antrópica, como por exemplo, poluição e
desmatamento; e também, as razões provocadas por fatores natu- O que tem sido feito?
rais, em geral, perceptíveis durante a chamada “evolução dos ecos-
sistemas”. Nos últimos anos algumas atitudes vem sendo tomadas com
relação a degradação ambiental, em geral, os grandes protagonistas
Principais formas de degradação ambiental desse movimento tem sido empresas multinacionais que buscam
“compensar” os danos que causam. Em geral tais atitudes recebem
Acredita-se que os principais fatores que contribuem para a de- o nome de “programa de responsabilidade social”.
gradação ambiental são as queimadas, os desmatamentos e a po- Também o governo tem tomado atitudes para mudar esse ce-
luição. Felizmente as preocupações com relação a esse tema tem se nário, muitas das vezes através do financiamento de campanhas
tornado constantes, e por isso mesmo, envolvido grandes empresas promovidas por ONGs. É claro que toda ajuda é bem-vinda, mas
e o Governo. não podemos tapar o sol com a peneira, não adianta esperar que
Entre os fenômenos que mais chamaram a atenção para ações tais atitudes surtam efeitos em curto prazo, afinal, foram anos e
efetivas nos últimos anos está as bruscas mudanças de temperatura anos de destruição e degradação ambiental.
média da atmosfera, que como consequência ocasionam um au- Mas enquanto não é possível utilizar a tecnologia criada pelo
mento no nível dos oceanos. homem para fazer a flora e fauna retornarem a seu estado natural,
Outro grande problema na sociedade atual é a poluição, identi- teremos que lidar com consequências que vão desde a alteração no
ficada como o estrago, ou, deterioração das condições ambientais. clima, passando pela poluição do solo, rios e florestas até o risco de
Todo e qualquer tipo de poluição traz consigo problemas de saúde extinção de algumas espécies animais.
pública, e por consequência, perda da qualidade de vida. Se a palavra de ordem não for preservação ambiental e o lucro
Toda e qualquer substância que provoca poluição desde a so- deixar de imperar não teremos o meio ambiente que queremos e
nora até aquelas que sujam os ecossistemas propriamente ditos – precisamos.
como os rios, por exemplo – são considerados agentes poluentes.
Além das embalagens plásticas, de metal e papelão os agrotóxicos
também têm figurado como grandes protagonistas na poluição do
meio ambiente.

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A crise econômica mundial expõe a fragilidade momentânea
8. GEOPOLÍTICA: A NOVA ORDEM MUNDIAL, A GLOBA- da economia norte-americana. Além do caráter conjuntural, as di-
LIZAÇÃO E OS BLOCOS ECONÔMICOS; ficuldades econômicas dos EUA não representam uma decadência
de sua ideologia, que continua fortalecida, muito menos do seu po-
der e eficiência militar. Nenhum outro Estado-Nação emerge como
As Configurações do Mundo Contemporâneo14 redefinidor de valores e nem sequer existem candidatos para esse
A geopolítica mundial tem sofrido grandes modificações nos posto (desconsiderando as bravatas expressas por líderes como
últimos 30 anos. A partir da década de 1980, as sucessivas disso- o presidente venezuelano Hugo Chávez ou o iraniano Mahmoud
luções dos regimes socialistas na Europa, marcadas pela queda do Ahmadinejad).
Muro de Berlim em 1989 e o enfraquecimento do império soviético, Os EUA devem reformular seus sistemas de vigilância, seguran-
demonstraram que a configuração das relações políticas internacio- ça nacional e planejamento estratégico, a fim de confirmar o status
nais pós-Segunda Guerra estava prestes a se reestruturar. Em 1991, quo geopolítico que foi determinado após a sua consolidação como
a União Soviética, país que idealizou um projeto político-econômico potência hegemônica. Mesmo a China possui limites quanto ao
de oposição ao domínio ocidental capitalista, não conseguiu resistir seu crescimento econômico e dificuldades para construir, em curto
às pressões internas relacionadas ao multiculturalismo e à fragili- prazo, um mercado consumidor capaz de absorver tamanho cresci-
dade de sua economia. Sua decadência decretou o fim da Ordem mento. No caso da Europa, que foi atingida mais gravemente pela
da Guerra Fria e o início da Nova Ordem Mundial, liderada pelos crise econômica mundial, deve ocorrer uma mudança no planeja-
Estados Unidos e com uma estrutura baseada no conflito Norte-Sul: mento de suas instituições que ainda precisam ser fortalecidas an-
a interdependência entre os países desenvolvidos e os países sub-
tes de apostarem na integração de países que possuem economias
desenvolvidos.
mais frágeis e limitadas a setores menos modernos ou até mesmo
A Nova Ordem está vinculada aos interesses dos Estados Uni-
pouco produtivos.
dos. Detentor da maior economia mundial, o país desenvolveu du-
Mais do que a transformação na Pax Americana, merece des-
rante a Guerra Fria todo um arcabouço técnico para aumentar a sua
influência econômica, cultural e militar ao redor do globo. taque a reformulação da ONU. A atual configuração da organização
Por outro lado, a Europa apostou na formação de um bloco supranacional parece estar mais condizente com o momento his-
econômico bastante ambicioso, a União Europeia, que envolve re- tórico que a Europa viveu entre o final do século XIX e a 2a Guerra
lações econômicas e políticas em torno do ideal de solidariedade e Mundial (redefinição de fronteiras) e com a bipolaridade imposta
crescimento em conjunto. Com a adoção do Euro, no ano de 2002, pelo período da Guerra Fria. Os debates acerca das novas funcio-
o bloco atingiu o maior dos seus objetivos de integração regional, nalidades da organização devem ser fundamentados na adaptação
criando instituições para gerenciar esse modelo de organização po- a esses novos tempos, em que os atos extremos, individuais ou
lítica. Na composição do eixo dos países desenvolvidos está o Japão, planejados a partir de células terroristas, tornam-se difíceis de se-
país que conta com alto grau de desenvolvimento tecnológico, mas rem conduzidos por uma estrutura geopolítica como a atual, ainda
que está atravessando muitas dificuldades econômicas desde o iní- muito preocupada com os interesses particulares nacionais e regio-
cio da Nova Ordem Mundial, principalmente pelo baixo crescimen- nais. As problemáticas globais tais como meio ambiente, escassez
to econômico acumulado e o envelhecimento de sua população. de água, terrorismo, violência, energias alternativas, entre tantos
Esse cenário começou a sofrer algumas alterações ao final da outros, requerem o abandono dessas práticas políticas obsoletas e
década de 1990, quando o termo ‘países emergentes’ começou a a introdução de uma nova racionalidade pautada em valores uni-
ganhar espaço nas análises da conjuntura econômica mundial. O versais. Até porque uma pitada de utopia nunca é demais.
crescimento expressivo e contínuo de países como China e Índia, a
recuperação econômica da Rússia, a maior estabilidade econômica Nova Ordem Mundial15
do Brasil e o desenvolvimento social e tecnológico da Coreia do Sul A Nova Ordem Mundial ou Nova Ordem Geopolítica Mundial,-
ofereceram uma nova característica para as relações internacionais: significa o plano geopolítico internacional das correlações de poder
países que apenas detinham uma posição secundária no sistema e força entre os Estados Nacionais após o final da Guerra Fria.
capitalista mundial passaram a influenciar mais ativamente o co- Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e o esfacelamento
mércio internacional, conquistando maior poder nas decisões de da União Soviética, em 1991, o mundo se viu diante de uma nova
blocos e organizações mundiais. configuração política. A soberania dos Estados Unidos e do capita-
Em 2001, o economista Jim O’Nill do banco de investimentos lismo se estendeu por praticamente todo o mundo e a OTAN (Orga-
Goldman Sachs criou o termo BRIC’s, formado por Brasil, Rússia,
nização do Tratado do Atlântico Norte) se consolidou como o maior
Índia e China e que atualmente conta também com a presença da
e mais poderoso tratado militar internacional. O planeta, que antes
África do Sul. Para O’nill, esse grupo de países apresentaria o maior
se encontrava na denominada “Ordem Bipolar” da Guerra Fria, pas-
potencial de crescimento entre as nações emergentes, algo que foi
sou a buscar um novo termo para designar o novo plano político.
consolidado na década de 2000 e que foi absorvido pelos países em
questão, que promovem reuniões anuais com o estabelecimento de A primeira expressão que pode ser designada para definir a
acordos comerciais e projetos para a transferência de tecnologia. Nova Ordem Mundial é a unipolaridade, uma vez que, sob o ponto
Todas essas transformações recentes nos direcionam para a se- de vista militar, os EUA se tornaram soberanos diante da impossi-
guinte reflexão: após duas grandes guerras, a Pax Americana estru- bilidade de qualquer outro país rivalizar com os norte-americanos
turada ao final da 2a Guerra Mundial pode estar passando por um nesse quesito. A segunda expressão utilizada é a multipolaridade,
processo de desconstrução? pois, após o término da Guerra Fria, o poderio militar não era mais
o critério principal a ser estabelecido para determinar a potenciali-
dade global de um Estado Nacional, mas sim o poderio econômico.
14SILVA, Júlio César Lázaro da. “As Configurações do Mundo
Contemporâneo”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilesco- 15PENA, Rodolfo F. Alves. “Nova Ordem Mundial”; Brasil Esco-
la.uol.com.br/geografia/configuracoes-do-mundo-contemporaneo. la. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/nova-
htm. Acesso em 24 de março de 2020. -ordem-mundial.htm. Acesso em 24 de março de 2020.

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Nesse plano, novas frentes emergiram para rivalizar com os EUA, a saber: o Japão e a União Europeia, em um primeiro momento, e a
China em um segundo momento, sobretudo a partir do final da década de 2000.
Por fim, temos uma terceira proposta, mais consensual: a unimultipolaridade. Tal expressão é utilizada para designar o duplo caráter
da ordem de poder global: “uni” para designar a supremacia militar e política dos EUA e “multi” para designar os múltiplos centros de
poder econômico.

Mudanças na hierarquia internacional


Outra mudança acarretada pela emergência da Nova Ordem Mundial foi a necessidade da reclassificação da hierarquia entre os Esta-
dos nacionais. Antigamente, costumava-se classificar os países em 1º mundo (países capitalistas desenvolvidos), 2º mundo (países socia-
listas desenvolvidos) e 3º mundo (países subdesenvolvidos e emergentes). Com o fim do segundo mundo, uma nova divisão foi elaborada.
A partir de então, divide-se o mundo em países do Norte (desenvolvidos) e países do Sul (subdesenvolvidos), estabelecendo uma linha
imaginária que não obedece inteiramente à divisão norte-sul cartográfica.

É possível perceber, no mapa acima, que a divisão entre norte e sul não corresponde à divisão estabelecida usualmente pela Linha
do Equador, uma vez que os critérios utilizados para essa divisão são econômicos, e não cartográficos. Percebe-se que alguns países do
hemisfério norte (como os Estados do Oriente Médio, a Índia, o México e a China) encontram-se nos países do Sul, enquanto os países do
hemisfério sul (como Austrália e Nova Zelândia), por se tratarem de economias mais desenvolvidas, encontram-se nos países do Norte.
No mapa anterior também podemos visualizar as áreas de influência política dos principais atores econômicos mundiais. Vale lembrar,
porém, que a área de influência dos EUA pode se estender para além da divisão estabelecida, uma vez que sua política externa, muitas
vezes, atua nas mais diversas áreas do mundo, com destaque para algumas regiões do Oriente Médio.

A “Guerra ao terror”
Como vimos, após o final da Guerra Fria, os Estados Unidos se viram isolados na supremacia bélica do mundo. Apesar de a Rússia ter
herdado a maior parte do arsenal nuclear da União Soviética, o país mergulhou em uma profunda crise ao longo dos anos 1990 e início dos
anos 2000, o que não permitiu que o país mantivesse a conservação de seu arsenal, pois isso custa muito dinheiro.
Em face disso, os Estados Unidos precisavam de um novo inimigo para justificar os seus estrondosos investimentos em armamentos e
tecnologia bélica. Em 2001, entretanto, um novo inimigo surgiu com os atentados de 11 de Setembro, atribuídos à organização terrorista
Al-Qaeda.
Com isso, sob o comando do então presidente George W. Bush, os Estados Unidos iniciaram uma frenética Guerra ao Terror, em que
foram gastos centenas de bilhões de dólares. Primeiramente os gastos se direcionaram à invasão do Afeganistão, em 2001, sob a alegação
de que o regime Talibã que governava o país daria suporte para a Al-Qaeda. Em segundo, com a perseguição dos líderes dessa organização
terrorista, com destaque para Osama Bin Laden, que foi encontrado e morto em maio de 2011, no Paquistão.
O que se pode observar é que não existe, ao menos por enquanto, nenhuma nação que se atreva a estabelecer uma guerra contra o
poderio norte-americano. O “inimigo” agora é muito mais difícil de combater, uma vez que armas de destruição em massa não podem ser
utilizadas, pois são grupos que atacam e se escondem em meio à população civil de inúmeros países.

Regionalização socioeconômica do espaço mundial16


Existem diversas formas de se regionalizar o espaço geográfico, haja vista que as regiões nada mais são do que as classificações obser-
vadas pelo intelecto humano sobre o espaço geográfico. Assim, existem regiões adotadas subjetivamente pelas pessoas no meio cotidiano
e regiões elaboradas a partir de critérios científicos, que obedecem a pré-requisitos e conceitos de ordem natural ou social.

16PENA, Rodolfo F. Alves. “Regionalização socioeconômica do espaço mundial”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.
com.br/geografia/regionalizacao-socioeconomica-espaco-mundial.htm. Acesso em 23 de março de 2020.

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A regionalização socioeconômica do espaço mundial é, pois, uma forma de realizar uma divisão entre os diferentes países com base
no nível de desenvolvimento no âmbito do capitalismo contemporâneo. Basicamente, trata-se de uma atualização da chamada “Teoria dos
Mundos”, que regionalizava o planeta com base em países de primeiro mundo (capitalistas desenvolvidos), segundo mundo (de economia
planificada ou “socialistas”) e terceiro mundo (capitalistas subdesenvolvidos). No caso da regionalização socioeconômica, considera-se
apenas a existência do primeiro e terceiro mundos, haja vista que a perspectiva socialista ou planificada não possui mais abertura no plano
internacional após a queda do Muro de Berlim.
Essa regionalização classifica os países em dois principais grupos: de um lado, os países do norte desenvolvido; de outro, os países do
sul subdesenvolvido. Por isso, muitos chamam essa divisão de regionalização norte-sul.
Posto isso, considera-se que a maior parte dos países ricos encontra-se situada nas terras emersas posicionadas mais ao norte do
globo, enquanto os países pobres estão majoritariamente no sul. No entanto, essa divisão não segue à risca a delimitação cartográfica do
planeta, havendo aqueles países centrais no hemisfério sul, como é o caso da Austrália, e países periféricos no hemisfério norte, a exemplo
da China.

Observe a imagem a seguir:

É importante observar que, além de ser muito abrangente, essa forma de regionalização do espaço geográfico mundial possui uma sé-
rie de limitações. A principal delas é a de não evidenciar a heterogeneidade existente entre os países de um mesmo grupo na classificação.
Os países do norte desenvolvido, por exemplo, apresentam-se com as mais diversas perspectivas, havendo aqueles considerados como
“potências”, a exemplo dos Estados Unidos, da Alemanha e outros, e aqueles considerados limitados economicamente ou que sofrem
crises recentes, tais como Portugal, Grécia, Rússia e Itália.
Já entre os países do sul subdesenvolvido, também existem evidentes distinções. Por um lado, há aqueles países pouco ou não indus-
trializados, como economias centradas no setor primário basicamente, e, por outro lado, aqueles países ditos “emergentes” ou “subde-
senvolvidos industrializados”, tais como o BRICS (exceto a Rússia), os Tigres Asiáticos e outros. Alguns deles, como a China, possuem eco-
nomias muito avançadas em termos de produção e geração de riquezas, porém sofrem com condições sociais limitadas, má distribuição
de renda, analfabetismo, pobreza e problemas diversos.
Entender a dinâmica do espaço mundial, mesmo que em uma perspectiva específica, é uma tarefa bastante complicada, de forma que
as generalizações tendem ao erro. No entanto, a regionalização norte-sul é importante no sentido de nos dar uma orientação geral sobre
o nível de desenvolvimento social e econômico dos países e das populações nas diferentes partes do planeta. Assim, constrói-se uma base
sobre a qual é possível nos aprofundarmos em termos de estudos e conhecimentos para melhor caracterizar as relações socioespaciais no
plano político e econômico internacional.

Globalização17
A globalização é um dos termos mais frequentemente empregados para descrever a atual conjuntura do sistema capitalista e sua
consolidação no mundo. Na prática, ela é vista como a total ou parcial integração entre as diferentes localidades do planeta e a maior
instrumentalização proporcionada pelos sistemas de comunicação e transporte.
O conceito de globalização é dado por diferentes maneiras conforme os mais diversos autores em Geografia, Ciências Sociais, Econo-
mia, Filosofia e História que se pautaram em seu estudo. Em uma tentativa de síntese, podemos dizer que a globalização é entendida como
a integração com maior intensidade das relações socioespaciais em escala mundial, instrumentalizada pela conexão entre as diferentes
partes do globo terrestre.
Vale lembrar, no entanto, que esse conceito não se refere simplesmente a uma ocasião ou acontecimento, mas a um processo. Isso
significa dizer que a principal característica da globalização é o fato de ela estar em constante evolução e transformação, de modo que a
integração mundial por ela gerada é cada vez maior ao longo do tempo.
17https://brasilescola.uol.com.br/geografia/globalizacao.htm Acessado em 23.03.2020

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Há um século, por exemplo, a velocidade da comunicação entre Entre os aspectos positivos da globalização, é comum citar os
diferentes partes do planeta até existia, porém ela era muito menos avanços proporcionados pela evolução dos meios tecnológicos,
rápida e eficiente que a dos dias atuais, que, por sua vez, poderá bem como a maior difusão de conhecimento. Assim, por exemplo,
ser considerada menos eficiente em comparação com as prováveis se a cura para uma doença grave é descoberta no Japão, ela é ra-
evoluções técnicas que ocorrerão nas próximas décadas. Podemos pidamente difundida (a depender do contexto social e econômico)
dizer, então, que o mundo se encontra cada dia mais globalizado. para as diferentes partes do planeta. Outros pontos considerados
O avanço realizado nos sistemas de comunicação e transpor- vantajosos da globalização é a maior difusão comercial e também
te, responsável pelo avanço e consolidação da globalização atual, de investimentos, entre diversos outros fatores.
propiciou uma integração que aconteceu de tal forma que tornou É claro que o que pode ser considerado como vantagem ou
comum a expressão “aldeia global”. O termo “aldeia” faz referên- desvantagem da globalização depende da abordagem realizada e
cia a algo pequeno, onde todas as coisas estão próximas umas das também, de certa forma, da ideologia empregada em sua análise.
outras, o que remete à ideia de que a integração mundial no meio Não é objetivo, portanto, deste texto entrar no mérito da discussão
técnico-informacional tornou o planeta metaforicamente menor. em dizer se esse processo é benéfico ou prejudicial para a socieda-
de e para o planeta.
A origem da Globalização
Não existe um total consenso sobre qual é a origem do proces- Efeitos da Globalização
so de globalização. O termo em si só veio a ser elaborado a partir da Existem vários elementos que podem ser considerados como
década de 1980, tendo uma maior difusão após a queda do Muro consequências da globalização no mundo. Uma das evidências mais
de Berlim e o fim da Guerra Fria. No entanto, são muitos os autores emblemáticas é a configuração do espaço geográfico internacional
que defendem que a globalização tenha se iniciado a partir da ex- em redes, sejam elas de transporte, de comunicação, de cidades, de
pansão marítimo-comercial europeia, no final do século XV e início trocas comerciais ou de capitais especulativos. Elas formam-se por
do século XVI, momento no qual o sistema capitalista iniciou sua pontos fixos – sendo algumas mais preponderantes que outras – e
expansão pelo mundo. pelos fluxos desenvolvidos entre esses diferentes pontos.
De toda forma, como já dissemos, ela foi gradativamente apre- Outro aspecto que merece destaque é a expansão das em-
sentando evoluções, recebendo incrementos substanciais com as presas multinacionais, também chamadas de transnacionais ou
transformações tecnológicas proporcionadas pelas três revoluções empresas globais. Muitas delas abandonam seus países de origem
industriais. Nesse caso, cabe um destaque especial para a última ou, simplesmente, expandem suas atividades em direção aos mais
delas, também chamada de Revolução Técnico-Científica-Informa- diversos locais em busca de um maior mercado consumidor, de
cional, iniciada a partir de meados do século XX e que ainda se en- isenção de impostos, de evitar tarifas alfandegárias e de angariar
contra em fase de ocorrência. Nesse processo, intensificaram-se os
um menor custo com mão de obra e matérias-primas. O processo
avanços técnicos no contexto dos sistemas de informação, com des-
de expansão dessas empresas globais e suas indústrias reverberou
taque para a difusão dos aparelhos eletrônicos e da internet, além
no avanço da industrialização e da urbanização em diversos países
de uma maior evolução nos meios de transporte.
subdesenvolvidos e emergentes, incluindo o Brasil.
Portanto, a título de síntese, podemos considerar que, se a glo-
Outra dinâmica propiciada pelo avanço da globalização é a for-
balização se iniciou há cerca de cinco séculos aproximadamente,
mação dos acordos regionais ou dos blocos econômicos. Embora
ela consolidou-se de forma mais elaborada e desenvolvida ao longo
essa ocorrência possa ser inicialmente considerada como um en-
dos últimos 50 anos, a partir da segunda metade do século XX em
trave à globalização, pois acordos regionais poderiam impedir uma
diante.
global interação econômica, ela é fundamental no sentido de per-
Características da globalização / aspectos positivos e negativos mitir uma maior troca comercial entre os diferentes países e tam-
Uma das características da globalização é o fato de ela se ma- bém propiciar ações conjunturais em grupos.
nifestar nos mais diversos campos que sustentam e compõem a so- Por fim, cabe ressaltar que o avanço da globalização culminou
ciedade: cultura, espaço geográfico, educação, política, direitos hu- também na expansão e consolidação do sistema capitalista, além
manos, saúde e, principalmente, a economia. Dessa forma, quando de permitir sua rápida transformação. Assim, com a maior integra-
uma prática cultural chinesa é vivenciada nos Estados Unidos ou ção mundial, o sistema liberal – ou neoliberal – ampliou-se consi-
quando uma manifestação tradicional africana é revivida no Brasil, deravelmente na maior parte das políticas econômicas nacionais,
temos a evidência de como as sociedades integram suas culturas, difundindo-se a ideia de que o Estado deve apresentar uma mínima
influenciando-se mutuamente. intervenção na economia.
Existem muitos autores que apontam os problemas e os aspec- A globalização é, portanto, um tema complexo, com incontá-
tos negativos da globalização, embora existam muitas polêmicas e veis aspectos e características. Sua manifestação não pode ser con-
discordâncias no cerne desse debate. De toda forma, considera-se siderada linear, de forma a ser mais ou menos intensa a depender
que o principal entre os problemas da globalização é uma eventual da região onde ela se estabelece, ganhando novos contornos e ca-
desigualdade social por ela proporcionada, em que o poder e a ren- racterísticas. Podemos dizer, assim, que o mundo vive uma ampla e
da encontram-se em maior parte concentrados nas mãos de uma caótica inter-relação entre o local e o global.
minoria, o que atrela a questão às contradições do capitalismo.
Além disso, acusa-se a globalização de proporcionar uma de- Acordos Internacionais18
sigual forma de comunicação entre os diferentes territórios, em As relações comerciais entre os países ocorrem há centenas de
que culturas, valores morais, princípios educacionais e outros são anos, pois nenhuma nação é autossuficiente em todos os setores
reproduzidos obedecendo a uma ideologia dominante. Nesse sen- que possam suprir as necessidades da população e proporcionar
tido, forma-se, segundo essas opiniões, uma hegemonia em que desenvolvimento econômico. Sendo assim, é comum e necessária a
os principais centros de poder exercem um controle ou uma maior comercialização internacional de recursos naturais, alimentos, fon-
influência sobre as regiões economicamente menos favorecidas, tes energéticas, tecnologia, etc.
obliterando, assim, suas matrizes tradicionais.
18https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/acordos-
-internacionais.htm

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Para facilitar essas relações, sobretudo numa economia globali- Essa divergência é proveniente das ideias impostas principal-
zada, que exige uma dinamização nas relações comerciais e sociais, mente pelos Estados Unidos que visa implantar a ALCA para abrir
intensificando o fluxo de mercadorias e serviços, foram criados vá- totalmente as fronteiras comerciais entre todos os países america-
rios acordos internacionais, com destaque para os blocos econômi- nos, desse modo se limitam somente nas relações econômicas.
cos. Esses grupos discutem medidas para reduzir e/ou eliminar as Já a ALBA quer estabelecer um padrão, ou melhor, tornar equi-
tarifas alfandegárias, promovendo a ampliação das relações comer- valentes a realidade de cada país, além disso, visa focalizar os es-
ciais entre os países-membros. forços no combate à pobreza, desigualdade social e toda forma de
Também existem grupos internacionais que realizam encontros exclusão social. Dentre outros objetivos da ALBA está ainda o de dar
para discutir a situação econômica global, como o G-8 e o G-20. preferência às empresas pequenas e médias, além de considerar
Além dos acordos comerciais, algumas organizações internacionais que os países desenvolvidos deveriam financiar todo o processo e,
discutem assuntos de ordem política, como, por exemplo, a Organi- por fim, estabelecer os fundamentos no princípio da solidariedade.
zação dos Estados Americanos (OEA), que objetiva garantir a estabi- Atualmente a ALBA é formada pela Venezuela, Cuba, Bolívia,
lidade política, a paz e a segurança no continente. Nicarágua e Dominica, além do interesse de países como Equador e
Esses acordos internacionais são tão importantes que são cria- São Vicente e Granadinas de ingressar nesse bloco.
dos até mesmo para controlar a exploração e venda de um determi- Em suma, os objetivos de ALBA e ALCA são conduzidos para
nado produto – é o caso da OPEP (Organização dos Países Exporta- rumos diferentes, de um lado os interesses norte-americanos de
dores de Petróleo), responsável por controlar a produção e venda implantar a ALCA que nesse caso favorece o mesmo, pois sua eco-
do “ouro-negro”. nomia e setor produtivo é extremamente superior ao dos outros
países dispersos no continente, assim nenhum país subdesenvolvi-
Acordos transnacionais do será capaz de competir com os produtos oriundos dos Estados
O mundo é cercado por uma série de acordos para tratar de Unidos, esse quer também regular sua balança comercial que se
diversos tipos de temas e questões, esse processo sofreu um in- encontra com déficit.
cremento a partir dos anos 90, tanto em números quanto em nível No outro lado, os representantes dos países que enfrentam
de importância, isso em escala planetária, jamais na história houve problemas sociais e que muitas vezes fazem parte de muitas das
tantas incidências desse tipo de negociação. nações das Américas, por isso não quer somente uma integração
Diante dos acordos existentes os que mais se destacam são os comercial-econômica e sim uma integração social que busque alter-
relacionados à economia e comércio internacional, impulsionado nativas coletivas entre os países subdesenvolvidos para solucionar
pelo crescente processo de globalização. ou, pelo menos, amenizar as dificuldades socioeconômicas que são
Os tratados e acordos variam conforme o grau de relaciona- comuns em países em desenvolvimento e subdesenvolvidos.
mento diplomático entre os países e também o caráter de comple-
xidade, ou seja, desde assuntos mais polêmicos e estruturais até Blocos Econômicos
questões simples e de fácil entendimento. A formação de blocos econômicos tem por objetivo criar con-
Um dos exemplos mais evidentes de acordos comerciais é a dições para dinamizar e intensificar a economia num mundo globa-
criação de blocos econômicos com aspecto de Zona de Livre Co- lizado. Em todas as modalidades de blocos econômicos, o intuito é
mércio, quando uma nação se ingressa em um bloco e com essas a redução e/ou eliminação das tarifas ou impostos de importação e
características reduz em curto e médio tempo suas taxas alfande-
exportação entre os países membros.
gárias sobre todo tipo de fluxos comercias entre os componentes.
Na tentativa de expansão do mercado consumidor, as nações
visam integrar a blocos econômicos que flexibilizem as relações co-
Caso o grupo de países queira estreitar os laços comerciais en-
merciais em escala internacional. Os acordos têm o propósito de
tre eles avançam para uma próxima etapa, denominada de União
estabelecer tratados para uniformizar as ações fiscais em termos
Aduaneira, que consiste em retirar as tarifas tributárias entre os
de diminuição ou isenção de impostos sobre as mercadorias e os
integrantes do bloco, além disso é adotada uma tarifa alfandegá-
serviços comercializados entre os países membros.
ria comum para a entrada de produtos oriundos de outros centros
Os blocos econômicos não ficam restritos apenas à redução ou
comercias.
abolição de tarifas alfandegárias, podendo proporcionar a livre cir-
Quando há a utilização de todos os aspectos apresentados no culação de pessoas entre os países membros de um determinado
texto acrescendo a livre circulação de pessoas, capitais e serviços, o bloco.
bloco se transforma em outra categoria de acordo, conhecida como Conforme suas características, os blocos econômicos podem
Mercado Comum, e se, além disso, esse grupo de países implantar ser classificados da seguinte forma:
uma moeda de circulação dentro do bloco, novamente esse altera Zona de livre comércio – acordos comerciais de redução ou
para a condição de União Econômica e Monetária, o último é o nível eliminação das tarifas alfandegárias entre os países membros do
máximo que atualmente pode ser concebido em nível internacio- bloco. Exemplo: Acordo de Livre Comércio da América do Norte
nal. (NAFTA).
União aduaneira – além de reduzir ou eliminar as tarifas comer-
ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas) cias entre os países integrantes do bloco, regulamenta o comércio
Nos dias 28 e 29 de abril do ano de 2006, houve uma reunião com as nações que não pertencem ao bloco através da TEC (Tarifa
na cidade cubana de Havana para discutir a implantação da ALBA Externa Comum). Exemplo: Mercado Comum do Sul (MERCOSUL).
(Alternativa Bolivariana para as Américas) que contou com a pre- Mercado comum – proporciona ainda a livre circulação de ca-
sença de líderes de países como Venezuela, Bolívia e Cuba. pitais, serviços e pessoas no interior do bloco. Exemplo: União Eu-
A Alternativa Bolivariana para as Américas tem como principal ropeia (UE).
objetivo integrar diversos países da América Latina e também do União econômica e monetária – evolução do mercado comum.
Caribe, que tem como base a ideologia de Simón Bolívar, esse tem Os países adotam a mesma política de desenvolvimento e uma mo-
a intenção de ser uma alternativa em relação à ALCA (Área de Livre eda única. É o atual estágio da União Europeia.
Comércio das Américas).

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Atualmente, os principais blocos econômicos são:
APEC – Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico.
ASEAN – Associação das Nações do Sudeste Asiático.
CARICOM – Mercado Comum e Comunidade do Caribe.
CEI – Comunidade dos Estados Independentes.
CAN – Comunidade Andina.
MCA – Mercado Comum Árabe.
MERCOSUL – Mercado Comum do Sul.
NAFTA – Acordo de Livre Comércio da América do Norte.
SADC – Comunidade da África Meridional para o Desenvolvimento.
UE – União Europeia.

9. GEOGRAFIA DA POPULAÇÃO: ESTRUTURA E DINÂMICA;

No decorrer da história da humanidade, de modo geral, o ritmo de crescimento populacional foi lento. A natalidade elevada era acom-
panhada pela mortalidade quase na mesma proporção. A fome, as epidemias e as catástrofes naturais chegavam a dizimar povos inteiros.

Revolução industrial e crescimento da população

O acelerado crescimento demográfico mundial é relativamente recente. Inicialmente, o fenômeno restringiu-se à Europa, em de-
corrência da Revolução Industrial e das transformações provocadas no modo de vida e na distribuição espacial da população. Houve
mudanças nos hábitos sociais e alimentares e nas relações de trabalho, além do intenso processo de migração do campo para a cidade. As
condições de vida nas áreas industriais eram precárias, mas aos poucos ocorreram melhorias sanitárias significativas, avanços na medicina
e a população urbana passou a ter maior acesso a serviços de saúde. Esses e outros fatores contribuíram para a diminuição da mortalidade
geral e infantil, a elevação da expectativa de vida e o aumento do número de habitantes nos países industrializados europeus do século
XVIII e XIX.A Revolução Industrial representou, portanto, mais do que uma transformação no modo de produção, uma transformação tec-
nológica e científica que atingiu todas as áreas do conhecimento, entre elas a medicina. A vacina contra a varíola foi a descoberta médica
mais importante para o crescimento populacional entre o final do século XVIII e o início do século XIX. Outros fatores também tiveram
relevância nesse crescimento, como a utilização generalizada do trabalho infantil, que teria estimulado o aumento do número de filhos
para elevar a renda familiar.
A reflexão sobre as transformações na dinâmica populacional a partir da Revolução Industrial deu origem a diferentes teorias que
estudam as causas do crescimento demográfico, a capacidade dos recursos naturais para suportar o crescimento e os impactos diversos
na sociedade humana; e a importantes debates sobre o tema.

Crescimento da população no século XX


A partir da década de 1950, os países em desenvolvimento passaram a registrar elevadas taxas de crescimento populacional, fenôme-
no que ficou conhecido como explosão demográfica. Alguns desses países chegaram a dobrar a sua população em menos de três décadas
e foram os que mais contribuíram para o crescimento da população mundial no século XX. Atualmente, eles concentram mais de 80% da
população do planeta, e esse índice tende a aumentar. Muitas doenças infecciosas que assolavam principalmente os países em desenvol-
vimento passaram a ser controladas com campanhas de vacinação em grande escala e uso de antibióticos. Essas práticas se estenderam a
várias regiões do mundo, provocando declínio significativo nas taxas de mortalidade, com consequente aumento no ritmo de crescimento
da população. No entanto, com o processo de urbanização em diversos países emergentes, entre eles o Brasil, as taxas de natalidade pas-
saram a declinar, provocando sensível queda nas taxas de crescimento populacional.

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Se na África, onde a taxa de urbanização ainda é relativamente Dinâmica populacional nos países desenvolvidos
baixa, o número médio de filhos por mulher está próximo de cinco, No início do século XXI, outro fenômeno começa a se apresen-
na América Latina e no Caribe, onde a urbanização foi intensa, essa tar no mundo desenvolvido. Trata-se da estabilização demográfica,
taxa média é praticamente a metade da africana. em que as taxas de crescimento tendem a ficar em torno de 0% ao
ano. Essa situação está presente no continente europeu e, prova-
População e recursos naturais velmente, será atingida brevemente por outros países desenvolvi-
O aumento da população frequentemente tem sido apontado dos. Como alguns países também registram crescimento negativo,
como principal responsável pela dilapidação dos recursos natu- alguns demógrafos denominaram este novo fenômeno de implosão
rais. Essa visão sobre o crescimento populacional é parte da teo- demográfica. Segundo previsões e projeções da ONU, a população
ria ecomalthusiana, que surgiu entre ecologistas e ambientalistas mundial, atualmente com mais de 7,3 bilhões de habitantes, inicia-
no final da década de 1960, com a publicação do livro A bomba rá um estágio de declínio depois de atingir um contingente de apro-
populacional, de Paul Ehrlich (1854-1915). A obra relaciona a pres- ximadamente 9,7 bilhões, por volta de 2050. Caso essa tendência se
são populacional sobre os recursos naturais e aponta o controle do confirme, ocorrerá um processo de retração da população mundial.
crescimento da população como instrumento necessário para que Será a primeira redução significativa na população mundial, desde
a vida no planeta seja viável. Como os países em desenvolvimento que a peste negra assolou a Europa na Idade Média.
são os maiores responsáveis pelo aumento da população mundial,
o controle da natalidade neles passou a ser considerado prioritário Brasil: crescimento da população
na edificação de um mundo mais comprometido com as questões Há pouco mais de um século, o Brasil tinha cerca de 17 milhões
socioambientais. No entanto, os ambientalistas também argumen- de habitantes, o equivalente em 2015 a cerca de 40% da população
tavam que as sociedades de consumo consolidadas estão nos pa- do estado de São Paulo. De acordo com estimativas do IBGE, a po-
íses desenvolvidos, que apresentam as menores taxas de cresci- pulação do país era de 205 milhões de habitantes no final de 2015;
mento populacional e representam menos de 20% da população e o Brasil, o quinto país mais populoso do mundo.
mundial, mas possuem as maiores rendas por habitante. Assim, a A dinâmica demográfica brasileira ilustra o acelerado cresci-
apropriação dos recursos da natureza e das fontes de energia ocor- mento ocorrido a partir de 1940, com a queda das taxas de mor-
re justamente na parte menos populosa do mundo. Na sociedade talidade nos países em desenvolvimento em razão das conquistas
de consumo novos produtos são lançados todos os dias, em substi- na medicina e do relativo avanço na área do saneamento básico.
tuição aos modelos anteriores. A propaganda estimula o desejo de Esse processo foi contínuo até 1960, quando o crescimento popu-
compra, criando novas necessidades. O consumo elevado estimula lacional brasileiro atingiu o ápice, com taxas médias de quase 2,9%
a produção de mercadorias e a necessidade de exploração de recur- ao ano (entre 1950 e 1960). No entanto, com o intenso processo
sos naturais. A tecnologia, ao mesmo tempo que possibilita a popu- de urbanização a partir da década de 1960, as taxas de crescimen-
larização do consumo, torna os produtos obsoletos num espaço de to começaram a declinar, ou seja, a natalidade tem diminuído num
tempo cada vez menor. Portanto, os ambientalistas não se limitam à ritmo superior ao da mortalidade. Em 2015, a taxa de crescimento
questão demográfica para discutir as ameaças ao planeta Terra em populacional era de apenas 0,83%.
razão dos problemas ambientais, mas ressaltam também o papel A urbanização provocou mudanças no modo de vida das mu-
negativo do consumismo. lheres e a consequente queda da natalidade. Nas cidades, as mu-
lheres conquistaram maior espaço no mercado de trabalho, optan-
Fome e subnutrição do por ter filhos mais tarde e em menor número para viabilizar a
Um dos maiores desafios da humanidade é o combate à fome. sua vida pessoal e seu desenvolvimento profissional. Além disso,
Em 2015, a estimativa da ONU era de que 795 milhões de pessoas há questões como o maior custo para a criação dos filhos nas cida-
no mundo ainda sofriam de subnutrição. Ao longo da última dé- des, maior acesso a informações sobre métodos anticonceptivos,
cada, houve uma queda de 167 milhões no número de pessoas a pílulas anticoncepcionais e a preservativos, oferecidos gratuita-
subnutridas, mantendo um número ainda elevado, com diferenças mente pelo sistema público de saúde, e a noções de planejamento
acentuadas entre as regiões. familiar. No caso das mulheres de famílias mais pobres, o trabalho
A fome está relacionada à distribuição de riquezas e à desi- extradomiciliar tornou-se imprescindível para a complementação
gualdade entre os países e entre os indivíduos da sociedade que da renda familiar. A taxa de fecundidade da mulher brasileira caiu
os compõem. Entretanto, outras causas são responsáveis pelo agra- de 6,2 filhos, em 1960, para 1,9 filho, em 2010. E de acordo com a
vamento do acesso aos alimentos, como desastres naturais (secas, estimativa do IBGE, em 2015 era de 1,7 filho.
chuvas intensas, furacões etc.); práticas agrícolas inadequadas que
esgotam a fertilidade do solo; o elevado preço das sementes e de
outros insumos agrícolas, que dificultam a agricultura familiar e de
subsistência; a concentração de terras; a expansão da agroenergia
nas terras antes destinadas ao cultivo de alimentos; e a péssima
infraestrutura agrícola nos países em desenvolvimento, que con-
tribui para encarecer o preço dos alimentos. Somam-se ainda as
situações de guerras e os conflitos persistentes em algumas regiões
do mundo, onde há dificuldades para a produção agrícola, o inimi-
go é privado de fontes de alimentação, plantações são destruídas
e a chegada de ajuda humanitária de outros países muitas vezes é
impedida. A África Subsaariana, por exemplo, além de apresentar
deficiências socioeconômicas, tem sido palco de conflitos perma-
nentes e de desastres naturais.

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Brasil: taxas de fecundidade – 1960-2015*

Demografia: entendendo os termos


Em algum momento você pode ter visto em noticiários assuntos relacionados à queda das taxas de natalidade e mortalidade de um
país e quanto isso influencia, a longo prazo, em questões políticas, econômicas e sociais dos países. O estudo do crescimento da população
humana depende da análise de importantes variáveis: a natalidade, a mortalidade e outros indicadores utilizados pela demografia.
• Taxa de natalidade: número de nascidos vivos (excluídos os natimortos) em um ano, calculado a cada mil habitantes. É a relação
entre os nascimentos anuais e a população total, expressa por mil habitantes. No exemplo abaixo, em um ano, para cada grupo de 1.000
habitantes, nasceram 14 crianças.
• Taxa de mortalidade: número de óbitos em um ano a cada mil. É calculada a partir da relação entre óbitos anuais e a população total,
expressa por mil habitantes.
• Taxa de mortalidade infantil: número de óbitos de crianças com menos de um ano de vida, a cada mil nascidas vivas (excluindo os
natimortos), considerando-se o período de um ano.
• Crescimento vegetativo: também denominado taxa de crescimento natural, corresponde à diferença entre a taxa de natalidade e a
taxa de mortalidade.
• Crescimento demográfico: também chamado crescimento populacional, considera o crescimento natural ou vegetativo mais a mi-
gração líquida, calculada pela diferença entre a entrada de pessoas em um território e a saída delas desse território.
• Taxa de fecundidade: número médio de filhos por mulher, entre 15 e 49 anos, período considerado de procriação.
• População absoluta: total de habitantes de um lugar (cidade, estado, país ou mesmo o mundo). Um país com população absoluta
elevada é considerado muito populoso; quando a população absoluta é pequena é considerado pouco populoso.
• População relativa: também chamada densidade demográfica, é a relação entre o total de habitantes (população absoluta) e a área
territorial que ocupam. É expressa em habitantes por quilômetro quadrado (hab./km2).

População brasileira

A Geografia Humana do Brasil tem por objetivo analisar as características da população brasileira, a diversidade étnica e cultural, os
aspectos socioeconômicos, o quantitativo e a distribuição populacional, a divisão regional, entre outros temas relacionados. Para enten-
dermos a atual estrutura da população brasileira, é importante uma abordagem histórica da ocupação do país e a formação da identidade
nacional.
O Brasil é considerado um dos países de maior diversidade étnica do mundo, sua população apresenta características dos coloni-
zadores europeus (brancos), dos negros (africanos) e dos indígenas (população nativa), além de elementos dos imigrantes asiáticos. A
construção da identidade brasileira levou séculos para se formar, sendo fruto da miscigenação (interação entre diferentes etnias) entre os
povos que aqui vivem.
Além de miscigenado, o Brasil é um país populoso. De acordo com dados do último Censo Demográfico, realizado em 2010 pelo Ins-
tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população total do país é de 190.755.799 habitantes. Essa quantidade faz do Brasil o
quinto mais populoso do mundo, atrás da China, Índia, Estados Unidos da América (EUA) e Indonésia, respectivamente.
Apesar de populoso, o Brasil é um país pouco povoado, pois a densidade demográfica (população relativa) é de apenas 22,4 habitantes
por quilômetro quadrado. Outro fato que merece ser destacado é a distribuição desigual da população no território nacional. Um exemplo
desse processo é a comparação entre o contingente populacional do estado de São Paulo (41,2 milhões) com o da região Centro-Oeste
(14 milhões).

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Origens do Povo Brasileiro Crescimento populacional ou demográfico: é a taxa de cresci-
mento populacional calculada a partir da soma entre o crescimento
O povo brasileiro foi originado a partir da miscigenação entre natural e o crescimento migratório.
diferentes etnias. Migração pendular: aquela realizada diariamente no cotidiano
A população brasileira é bastante miscigenada. Isso ocorreu em da população. Exemplo: ir ao trabalho e voltar.
razão da mistura de diversos grupos humanos que aconteceu no Migração sazonal: aquela que ocorre durante um determinado
país. São inúmeras as raças que favoreceram a formação do povo período, mas que também é temporária. Exemplo: viagem de férias.
brasileiro. Os principais grupos foram os povos indígenas, africanos, Migração definitiva: quando se trata de algum tipo de migra-
imigrantes europeus e asiáticos. ção ou mudança de moradia definitiva.
Êxodo rural: migração em massa da população do campo para
Povos indígenas: antes do descobrimento do Brasil, o território a cidade durante um determinado período. Lembre-se que uma mi-
já era habitado por povos nativos, nesse caso, os índios. Existem gração esporádica de campo para a cidade não é êxodo rural.
diversos grupos indígenas no país, entre os principais estão: Karajá, Metropolização: é a migração em massa de pessoas de peque-
Bororo, Kaigang e Yanomani. No passado, a população desses índios nas e médias cidades para grandes metrópoles ou regiões metro-
era de quase 2 milhões de pessoas. politanas.
Povos africanos: grupo humano que sofreu uma migração in- Desmetropolização: é o processo contrário, em que a popula-
voluntária, pois foram capturados e trazidos para o Brasil, especial- ção migra em massa para cidades menores, sobretudo as cidades
mente entre os séculos XVI e XIX. Nesse período, desembarcaram médias.
no Brasil milhões de negros africanos, que vieram para o trabalho
escravo. Os escravos trabalharam especialmente no cultivo da cana-
População
-de-açúcar e do café.
Imigrantes europeus e asiáticos: os primeiros europeus a che-
A população brasileira está irregularmente distribuída no ter-
garem ao Brasil foram os portugueses. Mais tarde, por volta do sé-
culo XIX, o governo brasileiro promoveu a entrada de um grande ritório, isso fica evidente quando se compara algumas regiões ou
número de imigrantes europeus e também asiáticos. Na primeira estados, o Sudeste do país, por exemplo, apresenta uma densida-
metade do século XX, pelo menos quatro milhões de imigrantes de demográfica de 87 hab/km2, as regiões Nordeste, Sudeste e Sul
desembarcaram no Brasil. Dentre os principais grupos humanos eu- reúnem juntas 88% da população, distribuída em 36% de todo o
ropeus, destacam-se: portugueses, espanhóis, italianos e alemães. território, fato contrário à densidade demográfica do Norte e Cen-
Em relação aos povos asiáticos, podemos destacar japoneses, sírios tro-Oeste, que são, respectivamente, 4,1 hab/km2 e 8,7 hab/km2,
e libaneses. correspondendo a 64% do território total.Os brasileiros atualmente
Tendo em vista essa diversidade de raças, culturas e etnias, o exercem um grande fluxo migratório, internacional e nacionalmen-
resultado só poderia ser uma miscigenação, a qual promoveu uma te, nesse processo é importante salientar a diferença entre emigra-
grande riqueza cultural. Por esse motivo, encontramos inúmeras ção (saída voluntária do país de origem) e imigração (o ato de esta-
manifestações culturais, costumes, pratos típicos, entre outros as- belecer-se em país estrangeiro).
pectos. Acerca das migrações externas o significado está no fluxo de
A demografia – ou Geografia da População – é a área da ciência pessoas que saem do seu país para viver, ou mesmo visitar, outro
que se preocupa em estudar as dinâmicas e os processos popula- país, geralmente países desenvolvidos; já as migrações internas ca-
cionais. Para entender, por exemplo, a lógica atual da população racterizam-se pelo deslocamento populacional que se realiza den-
brasileira é necessário, primeiramente, entender alguns conceitos tro de um mesmo país, seja entre regiões, estado ou municípios.
básicos desse ramo do conhecimento. No Brasil cerca de 40% dos habitantes residem fora dos municípios
População absoluta: é o índice geral da população de um deter- que nasceram.
minado local, seja de um país, estado, cidade ou região. Exemplo: Os principais fluxos migratórios no Brasil estão voltados para os
a população absoluta do Brasil está estimada em 180 milhões de nordestinos que saem em direção ao Sudeste e Centro-Oeste, isso
habitantes. muita vezes é provocado devido às questões de seca, falta de em-
Densidade demográfica: é a taxa que mede o número de pesso- prego, baixo índice de industrialização em relação às outras regiões,
as em determinado espaço, geralmente medida em habitantes por dentre outros fatores.
quilômetro quadrado (hab/km²). Também é chamada de população Outro fluxo bastante difundido é em relação aos migrantes do
relativa.
Sul que saem em direção às regiões do Centro-Oeste e Norte, esse
Superpovoamento ou superpopulação: é quando o quantita-
processo deve-se aos agricultores gaúchos que procuram novas
tivo populacional é maior do que os recursos sociais e econômicos
áreas de cultivo com preços mais baixos.
existentes para a sua manutenção.

Taxa de natalidade: é o número de nascimentos que aconte- GEOGRAFIA DO BRASIL


cem em uma determinada área.
Taxa de fecundidade: é o número de nascimentos bem sucedi- Crescimento e Distribuição da População Brasileira
dos menos o número de óbitos em nascimentos.
Taxa de mortalidade: é o número de óbitos ocorridos em um A população brasileira, segundo o Instituto Brasileiro de Geo-
determinado local. grafia e Estatística (IBGE, 2014) fica em torno de 203 milhões de
Crescimento natural ou vegetativo: é o crescimento populacio- habitantes distribuídos pelas 26 unidades de federação e 5.570 mu-
nal de uma localidade medido a partir da diminuição da taxa de nicípios e o Distrito Federal. Com isso podemos ter dados do cresci-
natalidade pela taxa de mortalidade. mento e distribuição da população brasileira.
Crescimento migratório: é a taxa de crescimento de um local
medido a partir da diminuição da taxa de imigração (pessoas que
chegam) pela taxa de emigração (pessoas que se mudam).

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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
PROFESSOR DE GEOGRAFIA 
Três estados em particular, São Paulo (44 milhões de habitan- Mas como a industrialização interfere na urbanização?
tes, taxa de 21,7% do total da população), Minas Gerais (20,7 mi-
lhões, taxa de 10,2%) e Rio de Janeiro (16,5 milhões, taxa de 8,1%) É errôneo pensar que a industrialização é o único fator que
concentram 40% da população. São 27 capitais que condensam condiciona o processo de urbanização. Afinal, tal fenômeno está
23,8% da população do país, índice que vem se mantendo estável relacionado também a outros eventos, que envolvem dinâmicas
há mais de uma década. macroeconômicas, sociais e culturais, além de fatores específicos
Embora as grandes cidades estejam mantendo uma maior con- do local. No entanto, a atividade industrial exerce uma influência
centração populacional, existe um deslocamento para o interior do quase que preponderante, pois ela atua tanto no espaço das cida-
Brasil, preferencialmente para as cidades de médio porte, que va- des, que apresentam crescimento, quanto no espaço rural, que vê
riam de 100 a 500 mil habitantes. uma gradativa diminuição de seu contingente populacional em ter-
mos proporcionais.
Mais informações sobre o crescimento e distribuição da po- No meio rural, o processo de industrialização interfere com a
pulação brasileira produção e inserção de modernos maquinários no sistema produ-
tivo, como tratores, colheitadeiras, semeadeiras e outros. Dessa
De 1970 até a atualidade, a parcela urbana da população bra- forma, boa parte da mão de obra anteriormente empregada é subs-
sileira cresceu de 58% naquela década para 80% em 2000, havendo tituída por máquinas e técnicos qualificados em operá-las. Como
uma estimativa de crescimento populacional, verificando-se que as consequência, boa parte dessa população passa a residir em cida-
aglomerações urbanasdas Regiões Norte e Centro-Oeste crescem des, por isso, elas tornam-se cada vez maiores e mais povoadas.
mais do que os centros urbanos já estabelecidos do eixo Sudeste- Vale lembrar que a mecanização não é o único fator responsável
-Sul, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada pelo processo de migração em massa do campo para a cidade, o
(IPEA). que chamamos de êxodo rural, mas é um dos elementos mais im-
Houve um crescimento mais intenso, entre 2001 e 2005, da po- portantes nesse sentido.
Além disso, a industrialização das cidades faz com que elas se
pulação brasileira nas regiões Norte e Centro-Oeste, enquanto que
tornem mais atrativas em termos de migrações internas, o que pro-
na região Sudeste e Sul um rápido crescimento urbano ocorreu. A
voca o aumento de seus espaços graças à maior oferta de empre-
região Centro-Oeste teve a experiência de ter a maior taxa de cres-
gos, tanto na produção fabril em si quanto no espaço da cidade, que
cimento anual (4,9%), justificado pela ocorrência de fluxos migrató-
demandará mais trabalho no setor comercial e também na presta-
rios relativos a atividades de expansão econômica.
ção de serviços.
A menor taxa de crescimento e distribuição da população bra-
Não por acaso, os primeiros países a industrializem-se foram
sileira, desde a década de 1990, é apresentada pela região Nordes-
também os primeiros a conhecer a urbanização em sua versão mo-
te, que embora apresente índices elevados de natalidade, possui
derna, tornando-se territórios verdadeiramente urbano-industriais.
uma abundância de oferta de mão de obra barata que provoca a Atualmente, esse processo vem ocorrendo em países emergentes
migração para a região Sudeste, que possui uma demanda gran- e subdesenvolvidos, tal qual o Brasil, que passou por isso ao longo
de de empregos para atender às necessidades do desenvolvimento de todo o século XX. Segundo a ONU, até 2030, todas as regiões
concentrado nos polos dinâmicos da economia brasileira. do mundo terão mais pessoas vivendo nas cidades do que no meio
Os processos de industrialização e urbanização estão intrinse- rural.
camente interligados. Foi com os avanços e transformações pro- O grande gargalo desse modelo é o crescimento acelerado das
porcionados, por exemplo, pelas Revoluções Industriais na Europa cidades, que contribui para fomentar a macrocefalia urbana, quan-
que esse continente concebeu o crescimento exponencial de suas do há o inchaço urbano, com problemas ambientais e sociais, além
principais cidades, aquelas mais industrializadas. Ao mesmo tempo, da ausência de infraestruturas, crescimento da periferização e do
o processo de urbanização intensifica o consumo nas cidades, o que trabalho informal, excesso de poluição, entre outros problemas. Es-
acarreta a produção de mais mercadorias e o aumento do ritmo da tima-se, por exemplo, que até 2020 quase 900 milhões de pessoas
atividade industrial. estarão vivendo em favelas, em condições precárias de moradia e
A industrialização é um dos principais fatores de transformação habitação.
do espaço geográfico, pois interfere nos fluxos populacionais, reor-
ganiza as atividades nos contextos da sociedade e promove a ins- Composição etária e demandas socioeconômicas
trumentalização das diferentes técnicas e meios técnicos, que são Os padrões demográficos de um país ou uma região (natalida-
essenciais para as atividades humanas. A atividade industrial, por de, mortalidade, migrações) determinam a composição da popu-
definição, corresponde ao arranjo de práticas econômicas em que lação em faixas etárias. Ao mesmo tempo que resulta do estágio
o trabalho e o capital transformam matérias-primas ou produtos de de desenvolvimento socioeconômico, também influencia na econo-
base em bens de produção e consumo. mia e na divisão dos recursos em saúde, educação, formação pro-
Com o avanço nos sistemas de comunicação e transporte – fa- fissional e outros. Não existe um critério único para a distribuição
tores que impulsionaram a globalização –, praticamente todos os da população por faixa etária. O mais adotado divide a população
povos do mundo passaram a consumir produtos industrializados, em jovens (0-14 anos), adultos (15-65 anos) e idosos (acima de 65
independentemente da distância entre o seu local de produção e o anos). Essa distribuição tem como referência a população ligada ao
local de consumo. Estabelece-se, com isso, uma rede de influências mercado de trabalho (pessoas de 15 a 65 anos, aproximadamen-
que atua em escalas que vão do local ao global. te), empregada ou não, e as pessoas potencialmente consideradas
Graças ao processo de industrialização e sua ampla difusão fora desse mercado (com menos de 15 anos ou mais de 65 anos,
pelo mundo, incluindo boa parte dos países subdesenvolvidos e aproximadamente). É evidente que esse critério não corresponde
emergentes, a urbanização também cresceu, a ponto de, segundo plenamente à realidade de diversos países – inclusive o Brasil – em
dados da ONU, o mundo ter se tornado, pela primeira vez, majorita- que, entre as camadas sociais pobres, o trabalho infantil ainda per-
riamente urbano, isto é, com a maior parte da população residindo siste e muitos idosos são obrigados a trabalhar até morrer ou serem
em cidades, feito ocorrido no ano de 2010 em diante. incapacitados por motivo de doença.

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Pirâmides etárias e fases do crescimento demográfico A violência contra as mulheres, que persiste em diversos países
A pirâmide etária é uma representação gráfica da população do mundo, é a mais grave constatação da desigualdade entre os gê-
por sexo e idade. Ela deve ser analisada a partir do número de ho- neros e da situação de submissão feminina. A maioria dos casos de
mens e mulheres em cada faixa etária com relação à população to- violência ocorre em âmbito doméstico; no contexto social, a mulher
tal. Por meio da análise do formato das pirâmides etárias, é possível está sujeita às mais variadas formas de agressões, como o assédio
conhecer as alterações demográficas dos países e suas tendências sexual no trabalho e em outras situações.
ao longo do tempo. Pirâmides etárias que apresentam uma base Em alguns países – como na Índia e na China – a violência co-
larga indicam um grande número de jovens, e o estreitamento meça antes do nascimento. Nesses países a preferência cultural
acentuado até o topo representa um pequeno número de idosos, pelo filho homem impele muitas famílias a interromperem o nasci-
ou seja, altas taxas de natalidade e baixa expectativa de vida. Um mento de meninas por meio do aborto seletivo. A população mas-
país com essa representação é considerado um país jovem, como é culina atualmente supera em grande volume a população feminina,
o caso dos países menos desenvolvidos, como o Quênia, por exem- em contraste com o que acontece na maior parte do mundo.
plo, de economia com base agrícola e que permanece em fase de
crescimento acelerado, na segunda fase da transição demográfica. Desigualdade de gêneros no Brasil
As pirâmides que apresentam um estreitamento na base, mas A população feminina apresenta níveis educacionais superiores
o restante triangular, indicam redução das taxas de natalidade e au- aos da população masculina, em 2014. A média de escolaridade das
mento da expectativa de vida, como as de alguns países em desen- mulheres é de 8 anos, enquanto a escolaridade média dos homens
volvimento industrializados (Brasil, México, Argentina) ou de nível é de 7,5 anos de estudo. No entanto, as mulheres, com grande po-
sociocultural mais elevado (Chile, Uruguai, Costa Rica), e estão na tencial para promover o desenvolvimento do país, ainda têm um
terceira fase da transição demográfica.
caminho a ser percorrido para a conquista da igualdade.
Apesar da implantação de políticas públicas nas últimas duas
décadas voltadas para a promoção da mulher, a desigualdade ainda
persiste e atinge especialmente as mulheres mais pobres, principais
vítimas da violência e da exclusão social e econômica. Os papéis
tradicionais desempenhados pelas mulheres e pelos homens ainda
estão enraizados na sociedade brasileira. Dessa forma, apesar da
implantação de leis e de instituições voltadas à proteção da mulher,
a violência doméstica e as diferentes oportunidades econômicas
ainda persistem. Em 2006, o governo brasileiro promulgou a Lei
Maria da Penha para coibir a violência doméstica e familiar contra
a mulher, estabelecendo condenações mais severas aos agressores.

Questão da identidade sexual


Casos de desrespeito, preconceito e violência contra lésbicas,
gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros, denomina-
dos LGBT, vêm sendo cada vez mais denunciados. Nesse contexto,
multiplicam-se pelo mundo associações e grupos ativistas em de-
fesa do respeito à diversidade e à igualdade LGBT e em repúdio ao
preconceito e à intolerância em relação à identidade sexual. Am-
pliam-se também as discussões em diferentes esferas da socieda-
de, envolvendo políticos, religiosos, juristas, educadores, sociólo-
gos, entre outros atores sociais. No âmbito legal, alguns avanços no
As pirâmides com formas irregulares, trechos intermediários e que diz respeito aos direitos dos LGBT vêm sendo conquistados. No
topos um pouco mais largos nas idades mais avançadas da popula- Brasil, a união de pessoas do mesmo gênero é reconhecida desde
ção correspondem aos países com predomínio de população adulta 2013. Em 2015, por exemplo, o casamento homoafetivo foi legali-
e grande quantidade de idosos. É o caso dos países desenvolvidos, zado em todos os Estados Unidos. Apesar de algumas conquistas,
que atingiram a quarta fase da transição demográfica, a fase de es- ainda há muita desinformação, preconceito e intolerância. A mídia
tabilização demográfica, como a Alemanha, por exemplo.
e diferentes grupos ativistas vêm denunciando casos de assassina-
to de homossexuais no Brasil. Nos últimos anos, centenas de gays,
Desigualdade entre gêneros
travestis, transgêneros e lésbicas foram mortos no país. Soma-se à
As conquistas femininas foram significativas nas últimas déca-
discriminação por homofobia inúmeros casos de intimidação, pia-
das. Registrou-se elevação dos índices de escolaridade e da presen-
ça feminina no mercado de trabalho. No entanto, a desigualdade das preconceituosas e exclusão em diferentes grupos sociais, como
entre gêneros ainda persiste. no trabalho, na escola e até mesmo na família. Visando rever esse
quadro, desde o início deste século, o governo brasileiro vem bus-
As oportunidades econômicas e a capacitação das mulheres cando implementar ações contra o preconceito à identidade sexual.
permanecem profundamente limitadas, e o acesso a cuidados de
saúde reprodutiva, em questões relativas à gravidez na adolescên- Globalização E migrações
cia, e à assistência pré-natal permanecem precários em boa parte A partir do século XVI até pelo menos as primeiras décadas do
do mundo. As mulheres ainda desfrutam de menos oportunidades século XX os principais movimentos migratórios em escala trans-
econômicas, recebem rendimentos inferiores aos dos homens e continental ocorriam da Europa para outras regiões do globo, so-
ainda é inexpressiva a participação feminina na política e em cargos bretudo para a América, mas também para a África e a Ásia.
de gestão pública e privada.

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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
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A grande migração transatlântica – 1881-1890

Hoje, os fluxos migratórios internacionais mais importantes ocorrem sobretudo na direção inversa: dos países em desenvolvimento
para os países desenvolvidos. O sentido desses fluxos é, em muitos casos, resultado do distanciamento (cada vez maior) entre a riqueza
acumulada nos países desenvolvidos e a situação de pobreza enfrentada por parcela significativa da população dos demais países. Leia o
Entre aspas.

Principais fatores que impulsionam os deslocamentos


Os principais fatores que propulsionam a dinâmica migratória são a desigualdade socioeconômica entre os países, o desemprego e
a falta de perspectiva. Entre os acontecimentos que estimularam as migrações internacionais nas últimas décadas, destacam-se: o ciclo
recessivo da economia mundial, na década de 1980; a crise dos países socialistas e a difícil transição para uma economia de mercado,
nas décadas de 1980 e 1990; as políticas neoliberais, que, ao serem incorporadas por diversos países em desenvolvimento, fragilizaram
as relações trabalhistas e retiraram a proteção social. Apesar de muitos países em desenvolvimento atraírem investimentos de empresas
multinacionais, em muitos casos, a entrada de empresas estrangeiras mais competitivas provoca a falência de empresas nacionais que
utilizavam muita mão de obra e pouca tecnologia.
Também influenciam os deslocamentos a evolução tecnológica, que intensificou as disputas entre as empresas e a competição entre
os profissionais no mercado internacional. Com as novas formas de produção de mercadorias e a crescente informatização do sistema fi-
nanceiro e dos serviços bancários e comerciais, as atividades econômicas estão absorvendo cada vez menos trabalhadores, especialmente
os de baixa qualificação, o que faz aumentar o desemprego. Além disso, a disseminação no uso das redes sociais e da internet, em geral,
contribui para que as pessoas tenham um conhecimento ampliado sobre o mundo, sobre os diversos países, facilitando contatos e pesqui-
sas para quem quer migrar. A crise econômica de 2007/2008 provocou, num primeiro momento, diminuição do fluxo para os países desen-
volvidos, enquanto fez aumentar para alguns países emergentes, como o Brasil, que recebeu imigrantes gregos, portugueses, espanhóis,
além de haitianos e africanos de vários países do continente. Entretanto, em função dos desdobramentos da crise, influenciada por pro-
blemas internos financeiro-econômicos em vários países, como a Rússia (afetada pela baixa no preço do petróleo) e o Brasil, o fluxo para
alguns emergentes diminuiu. A partir de 2011, o movimento populacional voltou a crescer nos países desenvolvidos, inclusive em razão
dos conflitos existentes em diversos países em desenvolvimento. Em muitos países em desenvolvimento, estruturaram-se novos centros
de destino de pessoas, parte delas deixando para traz a pobreza e a falta de perspectivas econômicas, outra parte os conflitos internos, as
guerras ou as perseguições de diversas ordens.

Migrações externas
O Brasil foi um país de imigrantes. Primeiramente foi ocupado pelos portugueses, que, por sua vez, trouxeram para a colônia os africa-
nos escravizados (imigração forçada). Entre 1850 e 1934, ocorreu a maior entrada de imigrantes no país, os quais vieram espontaneamente
da Europa, no auge da agricultura cafeeira no Brasil. Os principais grupos que entraram no Brasil, em toda a história da imigração espontâ-
nea, foram os portugueses, os italianos, os espanhóis, os alemães e os japoneses. Nesse período, o governo paulista chegou a estimular o
processo imigratório, inclusive com ajuda financeira (subvenção).

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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
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Além dos imigrantes constituírem mão de obra para a lavoura Esse processo tem alterado a dinâmica do fluxo populacional, ca-
cafeeira, após a proibição do tráfico de escravizados em 1850 (lei racterizado pelo crescimento das cidades médias em um ritmo su-
Eusébio de Queirós), vários grupos, principalmente alemães e italia- perior ao das metrópoles, particularmente do Sudeste. O Censo de
nos, foram utilizados para a colonização da atual Região Sul do país. 2010 apontou uma redução no volume total de migrantes, que caiu
Com a abolição da escravatura (1888), o número de imigrantes mul- de 3,3 milhões de pessoas no quinquênio 1995-2000 para 2 milhões
tiplicou-se e se manteve elevado até as primeiras décadas do século no quinquênio 2004-2009. O Sudeste apresentou saldo líquido mi-
XX. A partir de 1934, foi estabelecida a Lei de Cotas, que restringia a gratório negativo, apesar de São Paulo, Espírito Santo e Rio de Ja-
entrada de estrangeiros, com exceção dos portugueses. O declínio neiro apresentarem saldo positivo. Outras regiões passaram a atrair
da economia cafeeira, decorrente da crise mundial de 1929, afetou população, e muitos migrantes residentes no Sudeste retornaram
o crescimento econômico do Brasil. A nova lei foi justificada como à sua região de origem. O Centro-Oeste, em razão do crescimento
uma forma de evitar que o índice de desemprego aumentasse ain- das cidades médias e do desenvolvimento agropecuário e do setor
da mais, provocando instabilidade social. A lei de Cotas estabelecia de serviços, havia apresentado o mais expressivo saldo migratório
que apenas 2% do total de imigrantes de cada nacionalidade, que líquido positivo
haviam entrado nos cinquenta anos anteriores à promulgação da
lei, podiam fixar residência no país. Embora numa proporção bem Trabalho e economia informal
menor, o Brasil continuou recebendo imigrantes. A partir da década Entende-se por economia informal o conjunto de atividades
de 1940, a imigração para o país esteve muito ligada à conjuntura não registradas legalmente – à margem dos números oficiais que
da Segunda Guerra Mundial. Os principais grupos de imigrantes à indicam o desempenho da economia, como o Produto Interno Bru-
época foram judeus, poloneses, japoneses e chineses, além de ita- to (PIB) – e que não sofrem qualquer espécie de tributação. Mais
lianos, alemães e pessoas de outros países europeus. da metade dos trabalhadores do mundo, sem contrato e acesso à
seguridade social, estão na informalidade da economia e é expres-
Nova onda migratória: outros contextos sivo o volume de dinheiro que circula nesse setor, especialmente
Na década de 1970, o Brasil recebeu muitos imigrantes de An- nas economias menos avançadas. os grupos mais atingidos pelo tra-
gola e Moçambique. Tendo perdido privilégios com a descoloniza- balho informal são os jovens, as mulheres e os idosos. o comércio
ção desses países, vieram para o Brasil diversos descendentes de ambulante é a face mais conhecida do trabalho informal. Nas gran-
portugueses que lá viviam. A partir do final do século XX, sobretudo des cidades, os trabalhadores desse tipo de atividade – conhecidos
como camelôs – amontoam-se nas calçadas, disputando espaço
nos anos 1990, o país passou a receber maior quantidade de imi-
com pedestres, clientes e comerciantes legalizados. Em suas bar-
grantes peruanos, bolivianos, paraguaios, argentinos, coreanos e
racas, ou até mesmo no chão, os camelôs comercializam uma infi-
chineses. Muitos desses imigrantes estão em situação ilegal. Com
nidade de produtos, tanto nacionais como importados, falsificados
vistos vencidos e vivendo na clandestinidade, não podem trabalhar
ou contrabandeados (figura 6). Além de o setor informal não gerar
com carteira assinada, adquirir casa própria ou montar seu próprio
impostos, não há fiscalização sobre a qualidade dos produtos, nem
negócio.
controle das condições de trabalho.
Na cidade de São Paulo e em outras cidades do interior paulis-
No entanto, parcela significativa dos rendimentos adquiridos
ta, por exemplo, parte desses imigrantes trabalha em confecções
com a atividade informal é gasta com o consumo de produtos fabri-
que funcionam ilegalmente. Nelas, submetem-se a regimes de
cados legalmente e serviços da economia formal. o setor informal
semiescravidão, com jornada diária de até 17 horas e rendimen- também constitui uma válvula de escape para a fragilidade econô-
to inferior ao do salário mínimo estabelecido no país. Apesar dos mica de vários países incapazes de gerar renda ou empregos sufi-
abusos sofridos, esses imigrantes evitam denunciar a situação para cientes para o conjunto da população. Sem a economia informal, o
as autoridades brasileiras por terem entrado clandestinamente no número de pessoas sem renda seria maior e agravaria os problemas
país, o que resultaria na deportação para seu país de origem. Em sociais em boa parte do mundo.
meados de 2009, o governo federal aprovou uma lei anistiando to- A flexibilização das leis trabalhistas incentiva o surgimento de
dos os imigrantes que entraram irregularmente no Brasil até 1o de contratos temporários de trabalho, de tempo parcial, ou, ainda,
fevereiro de 2009. por conta própria. Essa flexibilização ou desregulamentação vem
sendo acompanhada por um intenso processo de terceirização –
Desse modo, aproximadamente 50 mil estrangeiros ilegais pas- transferência de atividades de uma empresa para outras, com vistas
saram a contar com a possibilidade de regularizar sua permanência à redução de custos. Antes, a terceirização estava mais restrita às
e obter vínculos empregatícios de acordo com a legislação traba- atividades-meio de uma empresa, como serviços de alimentação,
lhista vigente ou ainda denunciar eventuais abusos cometidos por limpeza, segurança, contabilidade e consultoria. Hoje, porém, ela
aliciadores e empregadores, sem correr o risco de ser deportado. atinge suas atividades-fim, como a própria atividade produtiva de
fabricantes de celulares, televisores, produtos de higiene e limpeza,
Emigrações de brasileiros alimentos, entre outros. Nesses casos, como os salários nas empre-
De acordo com estimativas divulgadas em 2015 pelo Ministério sas terceirizadas são menores, os custos para a empresa que tercei-
das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty), em 2014, cerca de 3,1 riza diminuem, maximizando seus lucros.
milhões de brasileiros viviam fora do país. Apesar de grande parte
desses emigrantes ter formação profissional, na maioria das vezes Trabalho no Brasil
exercem tarefas de baixa qualificação nos países onde residem. o desemprego e outros problemas relacionados ao trabalho,
como a baixa remuneração, os trabalhos escravo e infantil, cons-
Movimentos atuais tituem nos dias atuais grandes desafios ao Brasil. Essas questões
Atualmente, as atividades econômicas tornaram-se mais diver- tornam-se ainda mais complexas se considerarmos as dimensões
sificadas em todas as regiões. Além disso, a “guerra fiscal” travada do país, as desigualdades entre as regiões e a instabilidade econô-
entre os estados, que lançam mão de isenções de impostos para mica provocada pela crise econômica e política desencadeada em
atrair empresas, leva a uma relativa desconcentração industrial. 2014/2015.

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Informalidade no mercado de trabalho
Apesar de ainda apresentar elevado grau de informalidade em sua economia, o Brasil, na última década, mostrou uma melhora ex-
pressiva na formalização do mercado de trabalho, incluída a formalização do emprego doméstico. Contudo, essa melhora no período foi
revertida a partir de 2015, em função da crise econômica e política iniciada naquele ano. Em situação de crise e aumento do desemprego,
parte da população busca estratégias de sobrevivência na informalidade.

Questão do meio ambiente


O rápido crescimento urbano brasileiro – somado à falta de ações governamentais – trouxe consequências socioambientais de grande
amplitude, que repercutem na qualidade de vida dos moradores das grandes cidades.

Saneamento básico e escassez de água potável


O aumento da população e a expansão urbana levaram à ampliação de áreas desprovidas de saneamento básico (sistema de coleta re-
gular de lixo e de tratamento de água e esgoto). Os depósitos de resíduos sólidos em locais inapropriados e a falta de coleta de lixo aumen-
tam os riscos de transmissão de doenças infectocontagiosas, que atingem principalmente a população de baixa renda. A ingestão de água
não tratada, muitas vezes retirada de rios e córregos onde o esgoto doméstico é despejado, também traz sérios riscos de contaminação.
As dificuldades de abastecimento de água à população das regiões metropolitanas são cada vez maiores por causa da poluição das
bacias hidrográficas, onde o esgoto – muitas vezes sem tratamento – é despejado, e da ocupação das áreas de mananciais. Esse problema,
associado ao desperdício e a vazamentos, aumenta os riscos de racionamento e escassez de água potável nas grandes cidades brasileiras.

Poluição do ar
A má qualidade do ar, decorrente da elevada emissão de poluentes, sobretudo por veículos, e a falta de áreas verdes são fatores que
prejudicam a qualidade de vida da população nas grandes cidades brasileiras. Tanto no Brasil como no mundo, diversas doenças pulmo-
nares e cardiovasculares são causadas pela péssima qualidade do ar urbano. A expansão populacional em ritmo acelerado sobre as áreas
limítrofes à mancha urbana reduz a quantidade de áreas com remanescentes de vegetação. Além disso, as áreas verdes e as árvores das
cidades são, muitas vezes, destruídas para dar lugar a vias pavimentadas e a construções. Além da piora da qualidade do ar, a escassez de
vegetação traz outros problemas, como o aumento das temperaturas e da sensação de calor.
Algumas áreas verdes que restam em muitas grandes cidades brasileiras se transformam em parques urbanos destinados às atividades
de lazer e entretenimento. Tal fato acaba sendo explorado pela especulação imobiliária nos bairros do entorno, já que a população pode
desfrutar de uma melhor qualidade do ar, de um microclima mais ameno e de uma paisagem esteticamente atraente.

Destinação do lixo
A quantidade e o destino do lixo produzido nas áreas urbanas também são sérios problemas ambientais. Ao ser depositado em
terrenos impróprios, o lixo causa mau cheiro, proliferação de roedores e baratas e contaminação do solo e da água (com o chorume),
provocando danos sociais e ambientais.
O aumento da quantidade de lixo produzido e a falta de espaço destinado à construção de aterros sanitários dificultam a resolução do
problema. Eles acabam sendo construídos em áreas cada vez mais distantes das cidades, já que as pessoas não devem morar em lugares
próximos a eles. As operações de despejo dos resíduos sólidos passam a ficar cada vez mais custosas, onerando os cofres públicos.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos previa que em 2014 não deveriam existir mais lixões no Brasil, mas houve prorrogação do
prazo para 2018. Em 2014, apenas cerca de 40% do lixo produzido no país tinha destino adequado, ou seja, em aterros sanitários, onde
há melhor proteção para minimizar a contaminação do ar, do solo e de lençóis freáticos. Com a existência dos lixões, esses três elementos
sofrem contaminação, pois em sua formação não existe nenhum tipo de preparação, como: manta de argila e PVC para proteger o solo e
o lençol freático; cobertura diária para não poluição do ar; captação e queima do metano; tratamento do chorume – resíduo da decom-
posição do lixo orgânico.

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Além disso, o índice de reciclagem de materiais, apesar de ter O ódio e repulsa que caracterizam a xenofobia estão, geral-
crescido nos últimos anos no país, ainda é muito baixo: menos de mente, relacionados com questões históricas, sociais, econômicas,
5% dos resíduos são destinados à coleta seletiva. culturais, religiosas etc. A xenofobia sempre é fruto do desconhe-
cimento do outro e surge acompanhada de estereótipos que re-
Diversidade cultural forçam o preconceito sobre determinado grupo. Esse preconceito
Nos primórdios da história da sociedade humana, o indivíduo também pode ser acompanhado de etnocentrismo, a noção de que
se identificava basicamente com o clã e a aldeia em que vivia. As a própria cultura é superior à outra.
chances de conhecer valores e características diferentes eram re-
duzidas, dado o pouco contato entre os grupos. Esse relativo iso- Exemplos de xenofobia
lamento levou cada grupo a criar mecanismos próprios de sobre- A xenofobia está diretamente relacionada com o fenômeno
vivência, formas específicas de transformação da natureza e de da migração, que caracteriza o mundo atualmente. A migração de
vivência em comunidade. pessoas ocorre por fatores múltiplos, como fuga de violência ou de
Isso fez com que se desenvolvessem crenças, costumes, for- guerra, procura por melhores oportunidades de vida etc. Isso faz
mas de comunicação, idiomas, manifestações artísticas, culinária, com que determinadas pessoas de nacionalidades ou regiões espe-
métodos e equipamentos de produção diferentes, originando, as- cíficas sejam alvos de preconceitos e estereótipos, além de vítimas
sim, culturas distintas. No decorrer da história, os contatos entre da xenofobia.
os povos ocasionaram tanto choques como assimilações culturais, Por se tratar de um preconceito, a xenofobia está diretamente
intensificados em virtude das migrações, das guerras, do desenvol- relacionada com atitudes e comportamentos violentos e discrimi-
vimento e do crescimento da atividade comercial. Esses contatos natórios. Sendo assim, pessoas xenófobas costumam praticar ati-
possibilitaram, ainda, o surgimento de novas culturas. tudes que segregam (excluem) aqueles considerados estrangeiros.
Alguns até mesmo praticam atos de violência física.
Choque entre culturas e etnocentrismo
A etnia é um dos elementos do processo de construção da iden- Xenofobia no mundo
tidade de um grupo sociocultural. Um grupo étnico agrega pessoas Em diferentes partes do mundo, principalmente nos Estados
que partilham laços culturais ou biológicos (ou ambos) e se identi- Unidos e na Europa, destaca-se a xenofobia contra pessoas de ori-
ficam umas com as outras ou são identificadas como tal por outros gem árabe ou que praticam o islamismo. Esse preconceito está di-
grupos. Assim, a identidade étnica resulta de fatores construídos retamente relacionado com o estereótipo que existe a respeito de
historicamente, como a ancestralidade comum, as formas de orga- árabes e muçulmanos, vistos como terroristas.
nização da sociedade, a língua e a religiosidade. É uma forma de Esse estereótipo popularizou-se por causa da ação de grupos
legitimação de determinada realidade, de determinado modo de terroristas fundamentalistas islâmicos que atuam em determinadas
vida socialmente construído. O encontro entre duas culturas comu- partes do Oriente Médio e do norte da África e que ficaram famosos
mente provoca a avaliação recíproca da cultura do “outro”, normal- por atentados terroristas. A xenofobia contra árabes e muçulmanos
mente feito a partir da cultura do “eu”. Ao analisar a outra cultura, tem contribuído para marginalizar esses grupos, que não recebem
tende-se a considerar a sua como referência, como a ideal e a corre- as mesmas oportunidades e são vistos com desconfiança por mui-
ta. Essa atitude leva à visão etnocêntrica, ou seja, ao julgamento de tos, sendo vítimas de violência.
Outro caso de xenofobia muito comum acontece nos Estados
outros grupos com base em valores e padrões de comportamento
Unidos contra mexicanos e latinos (inclusive os brasileiros) em ge-
do seu próprio grupo. Dessa forma, há uma valorização do próprio
ral. Uma grande quantidade de pessoas do México e de outras na-
grupo que ignora ou rejeita a possibilidade de o outro ser diferente.
ções da América Central muda-se para os Estados Unidos. Em razão
Passa-se a desprezar os valores, o conhecimento, a arte, a crença,
desse grande fluxo de migração, a xenofobia pode manifestar-se em
as formas de comunicação, as técnicas, enfim, a cultura do “outro”.
pessoas temerosas de que, com a chegada dos imigrantes, a quanti-
A dificuldade de entender as diferenças em relação a outras etnias
dade de empregos diminua ou que a violência aumente, etc.
pode provocar estranheza, medo e hostilidade.
Xenofobia no Brasil
Xenofobia
Os brasileiros em muitas partes do mundo, principalmente
A xenofobia é o nome que utilizamos em referência ao senti- na Europa e nos Estados Unidos, são vítimas da xenofobia e, por
mento de hostilidade e ódio manifestado contra pessoas por elas isso, tratados de maneira preconceituosa. Essa realidade, porém,
serem estrangeiras (ou por serem enxergadas como estrangeiras). não impede que aqui em nosso país exista xenofobia contra outras
Esse preconceito social tornou-se mais comum em virtude do gran- pessoas. No Brasil, existem práticas da xenofobia contra estrangei-
de fluxo de migrações que tem acontecido. ros, mas também contra brasileiros oriundos de diversas regiões do
A xenofobia é manifestada contra diferentes grupos em todo país.
o planeta. Na Europa, por exemplo, os árabes e muçulmanos têm Grupos estrangeiros que sofrem bastante com a xenofobia
sido alvo de grande preconceito, assim como os mexicanos e lati- são os haitianos e venezuelanos, por causa do grande número de
nos, em geral, nos Estados Unidos. No Brasil, também se vivencia migrantes dessas nacionalidades no Brasil. Outras nacionalidades
esse problema, principalmente contra os imigrantes venezuelanos que são frequentemente alvos de preconceito em nosso país são
e haitianos. bolivianos, angolanos, moçambicanos e pessoas de outras naciona-
A palavra xenofobia surgiu da junção de duas palavras do idio- lidades africanas.
ma grego: xénos (estrangeiro, estranho) e phóbos (medo). Significa, Mas há também outro lado da xenofobia no Brasil. Aquela que
portanto, “medo do diferente” ou “medo do estrangeiro”. No sen- é reproduzida contra os próprios brasileiros que são originários de
tido clássico da palavra, o seu significado foi muito utilizado para outras regiões do país. Isso é muito comum em locais que recebem
retratar a aversão que pessoas podem sentir de um grupo estran- grande quantidade de pessoas à procura de emprego e de uma vida
geiro, mas também pode ser empregado para a aversão contra pes- melhor. Em geral, esse preconceito manifesta-se muito contra pes-
soas do mesmo país, mas que são consideradas forasteiras. soas das Regiões Norte e Nordeste do Brasil.

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Fonte: O universo indígena brasileiro é bastante diverso. Algumas na-
https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/xenofobia.htm ções indígenas mantêm a sua identidade e as suas tradições, apesar
de terem algum grau de contato com o restante da sociedade. Há
Questão étnica no brasil: povos indígenas e afrodescendentes também nações que só falam o português e adquiriram hábitos da
Antes da chegada dos portugueses às terras que viriam a for- civilização ocidental, como o consumo de produtos industrializados.
mar o território brasileiro já existia um mosaico étnico com a pre- Existem, ainda, alguns grupos indígenas que se mantêm isolados
sença de diferentes povos indígenas. Com o início do processo de em áreas próximas às fronteiras ou de difícil acesso, sem nenhum
colonização no século XVI, portugueses foram ocupando o território contato com outras comunidades.
e dominando e exterminando os povos nativos. A eles, somaram-se
os milhões de africanos, trazidos à força para trabalhar como es- Afrodescendentes
cravos, entre os séculos XVI e XIX. A partir de meados do século Os africanos trazidos como escravos para o Brasil eram prin-
XIX, chegaram ao Brasil, para trabalhar na lavoura do café e, poste- cipalmente sudaneses (Iorubás, Jejes, Malês, Ibos, entre outros) e
riormente, nas indústrias, grupos de imigrantes europeus (italianos, bantos (como Cabindas, Bengalas, Banquistas, Tongas) de Angola
espanhóis, alemães, poloneses, além dos próprios portugueses) e e Moçambique. Calcula-se que, durante o período de escravidão
asiáticos (árabes, japoneses, chineses). Assim, o Brasil é formado (da primeira metade de 1500 até 1888), foram capturados e trazi-
por grupos étnicos distintos, entre os quais ocorreu um intenso pro- dos para o Brasil cerca de 5 milhões de africanos, que entravam no
cesso de miscigenação. Apesar de terem em comum a língua – um país principalmente pelos portos de Salvador, Recife e Rio de Ja-
vínculo marcante –, alguns grupos mantêm as suas tradições. neiro. Aqui, trabalharam na lavoura de cana-de-açúcar, de algodão,
de café e na mineração, além de realizar outras atividades, como
trabalhos domésticos e de ofício (carpinteiros, pintores, pedreiros,
ourives etc.).
O Brasil foi o último país ocidental a abolir a escravidão, o que
ocorreu há pouco mais de um século, em 1888. Apesar de liber-
tos, os ex-escravizados, deixados à própria sorte, continuaram em
situação desfavorável. Nessa época, estimulava-se a imigração e os
postos de trabalho eram ocupados principalmente por europeus,
que em geral já desenvolviam em seus países de origem ativida-
des na lavoura, no comércio e na indústria. O Brasil é o país que
abriga a maior população negra fora da África: dados do IBGE de
2014 indicam que a população que se declara preta e parda (53,6%)
supera a população que se declara branca (45,5%). No entanto, os
afrodescendentes enfrentam inúmeras dificuldades, consequência
das desigualdades sociais e do preconceito.
Além da raiz histórica – marcada por quase quatro séculos de
escravidão –, a situação de desigualdade social entre brancos e
afrodescendentes se mantém em função da educação pública de-
ficiente, do difícil acesso às informações que estão associadas às
novas tecnologias (computador, serviços de banda larga, internet
etc.), da necessidade de jovens terem que ajudar na complementa-
ção da renda familiar e do preconceito. Dessa forma, é negado aos
afrodescendentes – e também aos indígenas – o princípio básico
das sociedades democráticas, que é a igualdade de oportunidades.
Segundo a atual Constituição brasileira, o racismo é considerado
Povos indígenas crime. Para a punição às atitudes racistas, é necessário o testemu-
Dos indígenas que escaparam da escravidão – milhares resis- nho de uma terceira pessoa e de registro de ocorrência policial.
tiram ao trabalho imposto pelos portugueses –, muitos foram ex- Muitas vezes, no entanto, o racismo não é manifestado abertamen-
terminados durante o processo de colonização e, posteriormente, te. É difícil, por exemplo, comprovar que um emprego foi negado a
em conflitos com fazendeiros, garimpeiros e outros grupos que determinada pessoa em função da cor de sua pele.
invadiam suas terras. Além das mortes em conflitos, comunidades
inteiras de indígenas foram aniquiladas ao contraírem as doenças 10. CONFLITOS INTERNACIONAIS: CONFLITOS ARMA-
trazidas pelo colonizador, como gripe, catapora e sarampo. Outras DOS, GUERRILHA E TERRORISMO.
tiveram sua cultura descaracterizada pelos processos de acultura-
ção. Cálculos aproximados indicam que, quando da chegada dos
portugueses, mais de 4 milhões de ameríndios viviam no que cons- CONFLITOS MUNDIAIS: PRINCIPAIS CAUSAS E EXEMPLOS
tituiu o atual território brasileiro. Eles formavam diferentes nações
com costumes, crenças e forma de organização social e de sobre- Segundo a ONU, existem atualmente 30 regiões do mundo com
vivência próprias. Leia o Entre aspas. O último censo registrou a a presença de conflitos armados. A maior parte destes conflitos en-
presença de 896,9 mil indígenas vivendo no Brasil, distribuídos em volve disputas por território e inclui, dentre as motivações, diferen-
305 etnias e que usam 274 línguas diferentes. Apesar dessa drástica ças étnicas, religiosas e o controle de recursos naturais. Para além
redução, a população indígena voltou a aumentar nas últimas déca- dos conflitos em andamento, existem ainda zonas de grande tensão
das, o que muitos atribuem a uma maior atenção à causa indígena e geopolítica, como é o caso da Coreia do Norte e do Irã.
à demarcação de algumas Terras Indígenas. O direito a um território
próprio e ao seu modo de vida é o que garante a sobrevivência e
reprodução dos povos indígenas.

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Outros casos incluem a presença de movimentos separatistas de intensidade variável, mas que criam instabilidades políticas e econô-
micas regionais, como os casos do Quebec (Canadá), País Basco e Catalunha (Espanha) e Irlanda do Norte.

A COREIA DO NORTE E A TENSÃO NUCLEAR


Os testes nucleares da Coreia do Norte, juntamente com a retórica belicosa dos Estados Unidos, deixam a ameaça de guerra na penín-
sula coreana maior do que nunca na história recente. O sexto teste nuclear de Pyongyang em setembro de 2017 e o alcance crescente dos
seus mísseis demonstram uma possível determinação em avançar o seu programa nuclear e poder de destruição intercontinental. O chefe
de estado norte-coreano Kim Jung Un acredita que, se abrir mão de seu poder nuclear, corre o risco de ser deposto por forças externas.
Ao mesmo tempo, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump faz discursos duros e afirma que a Coreia do Norte deve ser impedida a
qualquer custo de avançar o seu programa nuclear, e principalmente de ser capaz de atingir a porção continental dos Estados Unidos com
um míssil com poder nuclear.

Trump afirma que caso cruze esse limite, Kim Jong Un concluirá que ele pode impedir Washington de proteger os seus aliados e assim
estabelecerá as suas exigências – de retirar restrições comerciais a expulsar tropas americanas, até a reunificação da Coreia nos seus pró-
prios termos. Por conta disso, os Estados Unidos estão implementando uma “estratégia de pressão máxima”: cercar o Conselho de Segu-
rança em seções mais sólidas, pressionar a China a tomar mais ações para sufocar a economia do seu vizinho, conduzir grandes simulações
navais e das forças aéreas, e sinalizar diretamente ou por meio de aliados do Congresso que o país não teme um confronto militar. Até o
momento, Trump está deixando claro que busca a total desnuclearização da Coreia do Norte, o que é algo muito improvável.

Tanto a China quanto a Coreia do Sul apoiam sanções mais rígidas e estão frustrados com Pyongyang na mesma proporção em que
temem a possibilidade de uma ação militar dos EUA. O presidente chinês, Xi Jinping, teme o caos trazido pela possibilidade de guerra na
península, um regime possivelmente alinhado com os EUA e tropas americanas na sua porta, ele também teme que pressionar Pyongyang
possa precipitar uma agitação que poderia atingir a China.

Em maio de 2018, surpreendendo o mundo, Coreia do Norte e Coreia do Sul deram início a conversações de paz, num aceno diplomá-
tico incomum no histórico dos dois países rivais. No mesmo mês, os norte-coreanos destruíram algumas de suas áreas de testes nucleares,
no que pode ser um sinal de melhora na situação diplomática na península coreana.

A CRISE ROHINGYA: MYANMAR E BANGLADESH


A migração de cerca de 370 mil muçulmanos rohingyas de Mianmar para Bangladesh em meados de 2018 é mais um capítulo de uma
história marcada por décadas de perseguições. Cerca de um milhão de pessoas dessa minoria, a maior comunidade no mundo, vivem em
Mianmar, país predominantemente budista. A maioria mora de forma precária no Estado de Rakhine, onde tem ocorrido uma tentativa de
limpeza étnica por parte do governo de Mianmar.

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A crise do povo rohingya é uma das mais longas do mundo e Esta deveria durar apenas seis meses e proteger os civis dos
também uma das mais negligenciadas. Em Mianmar eles não tem ataques dos talibãs. Reino Unido, Canadá, França, Austrália e Ale-
direito à cidadania, pois são tratados pelo Estado como apátridas. manha declararam o seu apoio aos EUA. Em maio de 2011, Osama
No país, eles são proibidos de se casar ou de viajar sem a permissão bin Laden foi morto por soldados americanos, num ponto marcante
das autoridades e não têm o direito de possuir terra ou proprieda- do conflito repleto de batalhas, bombardeios, destruição e milhares
de. O povo representa cerca de 5% entre 60 milhões de habitantes de mortos.
de Mianmar, e sua origem ainda é amplamente debatida. Por sua
parte, eles afirmam serem indígenas do Estado de Rakhine, ante- Em 2018, a nova estratégia dos Estados Unidos para o Afega-
riormente conhecido como Arakan, no oeste do país, mas outros nistão acelera o ritmo das operações contra uma revolta do Talibã,
apontam que são, na verdade, muçulmanos de origem bengali que com mais forças dos EUA, ataques aéreos americanos mais pode-
migraram para Mianmar durante a ocupação britânica. rosos e ofensivas terrestres mais agressivas por forças afegãs. O
objetivo, segundo oficiais de alto escalão, é impedir o impulso do
Desde 1948, quando o país se tornou independente, eles têm Talibã e, eventualmente, forçá-lo a um acordo político. Por enquan-
sido vítimas de tortura, negligência e repressão. Com as dramáti- to, porém, a estratégia é quase exclusivamente militar. Contudo,
cas mudanças políticas e sociais locais nos últimos anos, os ânimos é importante frisar que atualmente o Talibã controla ou contesta
das várias comunidades que habitam o país entraram em ebulição mais territórios do que nunca desde 2001; está mais bem equipado
e uma onda de violência e discriminação voltou a emergir contra e, entre 2009 e 2012, resistiu a mais de 100 mil soldados dos EUA.
os rohingyas. Após ter sido governado por uma junta militar por
O CONFLITO NO IÊMEN
mais de meio século, Mianmar vinha passando por uma transição
O Iêmen, um dos países mais pobres do mundo árabe, tem sido
para a democracia e por melhorias no campo social. Mas a situação
devastado por uma guerra civil que opõe duas potências do Orien-
não melhorou para os rohingyas. Em 2012, duas ondas de violên-
te Médio: de um lado, estão as forças oficiais do governo de Abd-
cia, uma em junho e a outra em outubro, orquestradas por grupos
-Rabbu Mansour Hadi, apoiadas por uma coalizão sunita liderada
extremistas de maioria budista em Rakhine, deixaram cerca de 140 pela Arábia Saudita. Do outro, está a milícia rebelde huti, de xiitas,
mortos, centenas de casas e edificações muçulmanas destruídas e apoiada pelo Irã. Desde março de 2015, mais de 8,6 mil pessoas
100 mil desabrigados. Autoridades e a polícia foram acusadas de foram mortas e 49 mil ficaram feridas, muitas em ataques aéreos
não agir para defendê-los. liderados pela coalizão árabe.

Tanto as Nações Unidas quanto as organizações de defesa dos Em meio à guerra, o país sofre com bloqueios comerciais im-
direitos humanos pedem que as autoridades de Mianmar revejam postos pelos sunitas. Em decorrência disso, estima-se que cerca de
a Lei de Cidadania de 1982, de forma a garantir que os rohingyas 20 milhões de pessoas não tenham conseguido receber a ajuda hu-
não continuem sem pátria. Essa é a única maneira, dizem, para manitária enviada via portos e aeroportos e criou a maior situação
combater as raízes da longa discriminação contra essa etnia. Contu- de insegurança alimentar da história recente.
do, muitos budistas de Mianmar nem sequer reconhecem o termo
rohingya e os chamam de “bengalis muçulmanos” – uma alusão A ONU classifica a situação no Iêmen como uma grave crise hu-
à visão oficial de que os rohingyas são imigrantes de Bangladesh. manitária – pois além da guerra civil, há 8 milhões de pessoas em
Com isso, cerca de 800 mil rohingyas de Mianmar não possuem ci- situação de fome e uma epidemia de cólera em curso, com 1 milhão
dadania. E isso colaborou para incentivar os budistas a acreditarem de casos declarados, além dos 3 milhões de deslocados internos em
que sua campanha de segregação e expulsão forçada é justificada. virtude do conflito.

O TALIBÃ E O LONGO CONFLITO NO AFEGANISTÃOA Guerra do A GUERRA CIVIL SÍRIA


Afeganistão teve início em 1979, e depois de um primeiro período A guerra civil na Síria já vitimou ao menos 400 mil pessoas,
de embate entre soviéticos e afegãos, o conflito se expandiu e vol- além de forçar mais de 5 milhões a saírem do país como refugiados
tou a ganhar força a partir de 2001. Atualmente, a luta é travada e outros 11 milhões foram obrigados a se deslocar dentro da Síria.
entre os Estados Unidos e aliados contra o regime talibã. Com a economia em frangalhos, quase 80% dos sírios que perma-
neceram agora vivem abaixo da linha de pobreza.
Os atentados de 11 de setembro de 2001, nos EUA, deram iní-
Em março de 2011, um grupo de crianças e jovens foi preso em
cio à Segunda Guerra do Afeganistão. Foram executados pela Al-Qa-
Daraa, no sul da Síria, por picharem frases com críticas ao governo.
eda a mando de Osama bin Laden com o apoio do regime talibã. Um
Inconformadas, centenas de pessoas saem às ruas da cidade para
dos alvos do atentado foi justamente o símbolo do poder econômi-
protestar contra as restrições à liberdade promovidas pelo governo
co do país – o edifício World Trade Center, conhecido como as torres
do presidente Bashar Al-Assad. Num primeiro momento, simpati-
gêmeas. Nessa altura, o presidente dos EUA era George W. Bush, zantes dos que se rebelaram contra o governo começaram a pegar
que promoveu a “Guerra contra o Terror” a partir dali. em armas – primeiro para se defender e depois para expulsar as
forças de segurança de suas regiões. Esse levante de pessoas nas
Os EUA iniciaram os ataques ao Afeganistão no dia 7 de ou- ruas, lutando por democracia, fez parte de um movimento chama-
tubro de 2001, com o apoio da OTAN, mas contrários à vontade do Primavera Árabe e culminou no início da guerra civil na Síria.
da Organização das Nações Unidas (ONU). O objetivo era encontrar
Osama bin Laden, seus apoiantes e acabar com o acampamento de
formação de terrorista instalado no Afeganistão, bem como o regi-
me talibã. Somente em 20 de dezembro do mesmo ano, o Conselho
de Segurança da ONU autorizou, por unanimidade, uma missão mi-
litar no Afeganistão.

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Após a represália do governo de Assad contra os jovens que estavam se rebelando contra o regime, alguns grupos foram formados a
fim de combater, de fato, as forças governamentais e tomar o controle de cidades e vilas. A batalha chegou à capital, Damasco, e depois a
Aleppo em 2012. Mas desde que começou, a guerra civil na Síria mudou muito.

O grupo terrorista Estado Islâmico aproveitou o vácuo de representação por parte do governo, a revolta da sociedade civil e a guerra
brutal que acontece Síria para fazer seu espaço. Foi conquistando territórios tão abrangentes, tanto na Síria como no Iraque, que procla-
mou seu ‘califado’ em 2014. Para isso, tiveram de lutar contra todos: rebeldes, governistas, outros grupos terroristas – como se tivessem
feito uma guerra dentro da guerra.

Há evidências de que todas as partes cometeram crimes de guerra – como assassinato, tortura, estupro e desaparecimentos forçados.
Também foram acusadas de causar sofrimento civil, em bloqueios que impedem fluxo de alimentos e serviços de saúde, como tática de
confronto.

Pelo avanço do Estado Islâmico no ganho de territórios, os Estados Unidos fizeram ataques aéreos na Síria em tentativa de enfraque-
cê-lo, evitando ataques que pudessem beneficiar as forças de Assad – isso em 2014, mas que se repetiu em 2018. Em 2015, a Rússia fez o
mesmo contra terroristas na Síria, mas ativistas da oposição dizem que os ataques têm matado civis e rebeldes apoiados pelo Ocidente.

O resumo da obra em termos de apoio é esse: a Rússia e os Estados Unidos querem o fim do Estado Islâmico. Porém, os Estados
Unidos querem a queda do governo de Bashar Al-Assad – por considerarem que seu regime não-democrático é prejudicial à Síria – e, por
isso apoia os rebeldes; por outro lado, a Rússia acredita na força de Assad e está apoiando seu regime. A Síria, então, é o território do fogo
cruzado dessa guerra fria.

A CRISE HUMANITÁRIA NA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO


Segundo os dados da ONU, 1,7 milhões de residentes do Congo foram forçados a fugir de suas casas em 2017 — 5,5 mil pessoas por
dia. No total, o número de pessoas deslocadas atinge 4,21 milhões, com outros 7 milhões correndo o risco de fome. Isso porque o Congo
foi palco da Grande Guerra Africana, o mais sangrento conflito armado desde a Segunda Guerra Mundial. Desde então, a situação no
Congo tem permanecido instável.

A guerra durou cinco anos entre 1998 e 2003, matando 5,4 milhões de pessoas, segundo estimativas. É o holocausto africano. Mas
pouco se ouve falar sobre ele porque ocorre na floresta densa de um continente esquecido, a África, não mata brancos e não ameaça o
Ocidente. É uma guerra travestida de conflito étnico, mas que esconde interesses mundanos: os trilhões de dólares enterrados no solo
vermelho do leste do Congo.

O maior país da África subsaariana é também o mais rico em recursos naturais, confiscados desde a colonização belga. Hoje, essa
riqueza financia as milícias sem que a população civil seja beneficiada. Ao contrário disso, são explorados no trabalho pesado das minas.
Ouro, diamantes, coltan – minério que contém tântalo, usado em aparelhos de celular e tablets – são contrabandeados para países vizi-
nhos como Ruanda, Uganda e Burundi. Calcula-se que apenas 10% das minas do Congo sejam exploradas legalmente.

O SEPARATISMO NA UCRÂNIA
Uma ex-república soviética, a Ucrânia está dividida entre grupos que querem mais proximidade com a União Europeia e outros que
têm mais afinidade com a Rússia.

Em novembro de 2013, o então presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, se recusou a assinar um acordo com a UE e fez pacto com
a Rússia por um pacote de ajuda de US$ 15 bilhões de Moscou e pela redução do preço do gás russo. Milhares de pessoas foram às ruas
para protestar e derrubaram o presidente. Moradores da fronteira alinhados com Putin então se rebelaram com o que chamam de golpe
de Estado.

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BASCOS, CATALÃES E O SEPARATISMO NA ESPANHA


A Espanha, assim como inúmeros outros Estados atualmente constituídos, é um território multinacional, ou seja, é formada por várias
nações ou por diversos grupos étnicos regionais com identidade nacional diferenciada àquela do país ao qual pertencem. Nesse sentido,
esse território é um dos principais locais do mundo em que há movimentos separatistas, com um forte clamor pela independência local
em busca da constituição de um novo país.

A existência de movimentos separatistas na Espanha e também em outros lugares do mundo chama a atenção para a inconsistência
da ideia de unicidade do Estado moderno, em que o estabelecimento de suas fronteiras obedece mais a relações históricas de poder do
que propriamente ao sentimento de pertencimento de suas populações. Esse é o caso dos catalães, que, assim como outros grupos étnicos
espanhóis (tais como os Bascos e os Navarros, outros povos da Espanha), possuem um forte sentimento separatista, que é alimentado pelo
nacionalismo arraigado que esse grupo regional possui.

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Os catalães, além de uma identidade própria, possuem o seu idioma específico: o Catalão, uma língua evoluída a partir do latim e que
possui poucas semelhanças com o espanhol. Além disso, eles agregam-se na região da Catalunha, uma província autônoma da Espanha lo-
calizada ao sul da França, que possui até mesmo um parlamento próprio, tem 7,5 milhões de habitantes e representa 19% do PIB espanhol.

Os registros mais antigos sobre a presença desse povo na região são do século XII. Durante muitos anos, a Catalunha também integrou
o reino de Aragão, em conjunção com o domínio de Barcelona, mas foi com a Guerra de Sucessão Espanhola (1702-1714) que o seu terri-
tório passou a se tornar, de fato, parte do Estado Espanhol.

Após esse período, a Catalunha começou a se diferenciar economicamente do restante do território espanhol – assim como aconteceu
com os Bascos –, tornando-se um dos primeiros locais da Europa a seguir o processo inglês de industrialização. Foi uma região pioneira na
Primeira e na Segunda Revoluções Industriais, urbanizando-se de forma intensa e constituindo cidades verdadeiramente desenvolvidas,
com destaque para a capital Barcelona.

Atualmente, a região da Catalunha possui uma economia comparável à de Portugal, abrigando muitas grandes empresas e sendo
um dos principais centros comerciais e turísticos da Espanha. Essa conjuntura, somada ao fato de a Espanha ter sido uma das principais
afetadas pela crise recente da União Europeia, vem contribuindo ainda mais para o acirramento das relações entre o governo local e a
administração nacional.

Em termos culturais, os catalães são muito diferentes do restante do país. O governo da Catalunha, inclusive, faz questão de manter
essas diferenças, haja vista que o idioma oficial adotado é o catalão, que é ensinado nas escolas como a única língua nacional, tendo o
espanhol apenas como um dialeto estrangeiro. Em 2010, um referendo na Catalunha estipulou a proibição sobre as Touradas, uma tradição
espanhola não comungada pela população catalã.

Apesar de todas essas rusgas e diferenças, além das constantes pressões pela independência, é importante considerar que não há ne-
nhum tipo de conflito armado nessa questão. Trata-se de um movimento político pacífico, em que eventuais ações de violência costumam
ser fortemente repudiadas pela população. Já protestos e manifestações são comuns, mesmo sem um consenso entre os habitantes sobre
essa questão, já que nem todos são favoráveis os catalães são favoráveis à independência da Catalunha.

GUERRILHA

A guerrilha teve sua origem, tal como a conhecemos, no início do século XIX, na Espanha.
É muito comum, quando ouvimos a palavra “guerrilha”, pensar em imagens como a de membros das FARC (Forças Armadas Revolucio-
nárias da Colômbia), em Che Guevara e nos demais membros da Revolução Cubana ou, no caso brasileiro, de Carlos Marighella. Contudo, a
expressão “guerrilha” remonta ao início do século XIX e, desde então, ela tem sido usada para descrever fenômenos de resistência armada
em situações políticas e históricas bastante diversas.

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A palavra guerrilha vem do espanhol guerrilla, que significa Apesar de tantas notícias de atentados terroristas procedentes
“guerra pequena, de pequeno porte”. Essa expressão passou a ser do Oriente Médio, é um erro imaginar que esta seja uma prática uti-
empregada no contexto de resistência da população espanhola lizada apenas por muçulmanos. Alguns estudos históricos relatam
contra a invasão napoleônica entre o fim da década de 1800 e o iní- práticas terroristas já no Império Romano, quando estes utilizavam
cio da década de 1810. Como é sabido, o Império Napoleônico pro- da guerra punitiva ou destrutiva em suas campanhas de guerra.
moveu guerras em praticamente todo o continente europeu contra
as nações que se opuseram ao seu projeto político. A Espanha, ini- Durante a Idade Média, os cavaleiros tinham permissão para
cialmente, colaborou com Napoleão, mas depois rompeu relações a pilhagem e ataques contra inocentes sem poder de ataque ou de
e teve seu território ocupado, assim como Portugal. A guerrilla foi a defesa, incluindo homens, mulheres e crianças. Mas, a palavra ter-
principal forma de resistência a essa ocupação. rorismo foi usada pela primeira vez durante a Revolução Francesa,
quando o governo francês, visando a manutenção da máquina es-
- Principais características da Guerrilha tatal, usou da força contra o povo revolucionário, dando assim a
conotação político/jurídica à palavra terrorismo.
As principais características da guerrilha são, segundo o princi-
pal teórico a respeito desse assunto, o filósofo político Carl Schmitt: Então, percebe-se que a palavra terrorismo não é em sua tota-
1) a irregularidade do tipo de combate feito pelo guerrilheiro; 2) a lidade dirigida apenas aos muçulmanos ou a qualquer outro povo
capacidade de mobilidade; 3) o compromisso político; e 4) o caráter do Oriente Médio.
telúrico (ligação íntima com o meio – seja ele urbano, seja rural – no
qual a guerrilha se forma). O caráter irregular da guerrilha deriva Quando se fala em terrorismo deve-se pensar também no
do fato de seu corpo de agentes não ser formado totalmente por continente americano, que apresentam indícios de formação de
militares profissionais, mas por pessoas comuns, comprometidas grupos terroristas e também da prática do terrorismo de Estado
com uma causa política definida e que recebem treinamento básico como ocorreu durante as ditaduras militares de alguns países como
para luta armada. Esse treinamento inclui táticas de sobrevivência Argentina, Brasil e Chile, quando militares tomaram o poder regu-
(por isso a ligação telúrica) e de ação, como emboscadas, ataque lando de maneira ditatorial os direitos e deveres do povo, usando
surpresa, atentados, etc. da força e da violência contra qualquer um que estivesse contra a
Durante a Segunda Guerra Mundial e mesmo antes dela (como forma de governar dos oficiais do exército. Além dos Estados e dos
na Guerra Civil Espanhola), também se tornaram comuns as prá- governos grupos como o Tupac Amarú, Sendero Luminoso e FARC
ticas guerrilheiras em quase todo o continente europeu. O nome atuaram de maneira irregular e ilegal, porém, este é um tema que
usualmente empregado naquele contexto para definir os guerrilhei- gera várias discussões quanto à classificação e caracterização destes
ros era “partisan”, isto é, membro de uma tropa irregular. Na Guerra e outros grupos como terroristas ou guerrilheiros.
Fria, as revoluções comunistas que estouraram no Sudeste Asiático Um fato que trouxe à tona esta discussão envolve as Forças
e em Cuba, bem como outras tentativas revolucionárias citadas em Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), quando o governo
nosso parágrafo de abertura, valeram-se das táticas de guerrilha. colombiano exerceu uma incursão militar no início do mês de maio
de 2008 contra o grupo em território equatoriano, desrespeitando
Fonte:
a soberania do país vizinho. Em noticiários de televisão, artigos de
https://brasilescola.uol.com.br/geografia/configuracoes-do-
revistas e jornais, várias vezes o grupo colombiano foi chamado de
-mundo-contemporaneo.htm
terrorista, sendo que sua essência, é revolucionária, guerrilheira.
https://www.proenem.com.br/enem/geografia/conflitos-
Mas, como e quando saber se um grupo ou facção é terrorista ou
-mundiais-principais-causas-e-exemplos/
guerrilheiro?
https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/guerrilha.
htm
A noção do que vem a ser o terrorismo ou, quando um ato vio-
Terrorismo: Definições e Diferenças lento pode ser caracterizado como um ato terrorista ainda é confu-
Muito se fala em terrorismo após os atentados de 11 de se- so em alguns casos. Não existe uma definição única e global, cada
tembro de 2001 contra os Estados Unidos, quando dois aviões de instituição, Estado e governo tem uma visão sobre o assunto de-
passageiros atingiram o símbolo máximo do capitalismo ocidental, pendendo de como, quando e por que foi atacado por uma facção.
as torres do World Trade Center em Nova Iorque. Os ataques terro-
ristas contra os EUA levaram ao conhecimento do público um ho- Nem todo ato violento é um ato terrorista, mas toda ação ter-
mem conhecido como Osama Bin Laden1, um saudita que lidera a rorista é perpetrada por meio do uso da força e da violência. O ter-
facção terrorista Al Qaeda que, segundo as palavras de Osama, tem rorismo geralmente leva objetivos políticos, religiosos, culturais e
por objetivo destruir o “grande Satã “, Estados Unidos da América. separatistas. Tendo em vista de que todo ato terrorista é concreti-
O colapso do símbolo do poder econômico estadunidense, foi zado por meio do uso da força, então por que a guerra não é con-
como um espetáculo, um momento hollywoodiano, porém, infe- siderada também terrorismo? Qual a diferença entre terrorismo e
lizmente para alguns, real. A imprensa mundial mobilizou-se para guerra de guerrilha? Terrorismo e genocídio são as mesmas coisas?
transmitir ao vivo todas as notícias e imagens dos atentados, o de-
sespero das pessoas que ali estavam no momento que os aviões Este artigo tem como objetivo desmistificar o terrorismo tra-
atingiram os dois prédios em intervalo de minutos. çando uma breve diferença entre o que é terrorismo e outras ações
que envolvem violência, o uso da força e mortes de várias pessoas
Para muitos, o terrorismo passou a se confundir com o Islã, que causam da mesma forma pavor, pânico e medo nas pessoas.
com o povo muçulmano. Um simples homem com barba usando
um turbante passou a caracterizar a figura de um terrorista. Isso Definição do Terrorismo
mostra o poder de uma imagem, como a figura misteriosa de Osa- Segundo o dicionário de língua portuguesa Aurélio, terrorismo
ma Bin Laden pode confundir a capacidade de percepção e discer- significa:
nimento de muita gente.

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modo de coagir, ameaçar ou influenciar outras pessoas ou de tituído de violência exercida contra os Estados e os seres humanos,
impor-lhes a vontade pelo uso sistemático da força. civis, não é toda ação provida de força e violência que pode ser
forma de ação política que combate o poder estabelecido me- classificada como terrorismo.
diante o emprego da violência.
O FBI, departamento que investiga o crime organizado nos EUA Guerra e Terrorismo
define terrorismo como: “o uso ilegal da força ou violência contra Sabendo que terrorismo nem sempre se assemelha a uma ma-
pessoas ou propriedades para intimidar ou coagir um governo, uma nifestação revolucionária e também não é a essência de uma or-
população civil, ou qualquer segmento dela, em apoio a objetivos ganização guerrilheira, qual é então, a relação entre terrorismo e
políticos ou sociais. “O governo do Reino Unido tem como definição guerra? Guerra e terrorismo são as mesmas coisas? Os dois têm a
de terrorismo “o uso da ameaça, com o propósito de avançar uma característica de ação realizada por meios violentos, têm objetivos
causa política, religiosa ou ideológica, de ação que envolve violência políticos, um comando, e buscam muitas vezes, a destruição do ini-
séria contra qualquer pessoa ou propriedade. “O Departamento de migo. Mas, qual é a diferença entre terrorismo e guerra? A guerra
Estado dos EUA acredita que terrorismo é “a violência premeditada funciona como um instrumento de política externa de um Estado
e politicamente motivada perpetrada contra alvos não-combaten- é um ato declarado e que segue normas internacionais. A guerra
tes por grupos sub-nacionais ou agentes clandestinos, normalmen- não é feita por fazer, os motivos vão além de um descontentamento
te com a intenção de influenciar uma audiência. “O departamento político ou econômico, tendo em vista que a noção se uma guerra
de Defesa do mesmo país diz que terrorismo é “o calculado uso da é justa ou não é muito relativa. Uma guerra só pode existir entre
violência ou da ameaça de sua utilização para inculcar medo, com Estados soberanos, no paradigma realista das relações internacio-
a intenção de coagir ou intimidar governos ou sociedades, a fim de nais o Estado é o único ator internacional e como tal, é o único que
conseguir objetivos, geralmente políticos, religiosos ou ideológicos. deve usar da força e da violência para promover e defender seus
interesses, aquele, quando não o Estado, que usa da violência e da
Os conceitos e definições apresentados acima passaram a ideia força seja no cenário doméstico ou internacional é considerado um
de terrorismo como tática para se alcançar um objetivo através do criminoso.
uso da força, com ataques à população civil e a propriedades. Estes
objetivos podem ser tanto de natureza política, social ou religiosa, Segundo Hedley Bull5 em seu livro A Sociedade Anárquica, a
dependendo da causa e das metas que se deseja alcançar, e tam- guerra é no sentido estrito da palavra “a violência organizada pro-
bém, dos motivos que levam grupos terroristas a cometer tais atos movida por Estados soberanos”, e também, a violência exercida em
como, vingança, ódio, sentimento separatista entre outros que con- nome de uma unidade política só é guerra se dirigida contra outra
figuram não o modo de ação, mas sim, os objetivos. unidade política; a violência empregada pelo Estado para executar
criminosos e eliminar piratas não se qualifica como tal, porque tem
Nas definições citadas acima existem pontos em comum quan- por alvo indivíduos. (Bull, 211, 2002)
to ao terrorismo, o emprego da violência contra civis, intimidar e
coagir um governo, combater a um poder estabelecido. Porém, Então, pela afirmação de Bull, a guerra só pode existir entre
há diferenças quanto à procedência dos conceitos de terrorismo. dois Estados soberanos, que têm os quatro elementos essenciais
Como se percebe, o primeiro conceito adota uma posição linguísti- para a existência de um Estado que são, a soberania, território,
ca, apenas define o significado da palavra, trabalha com sinônimos povo e finalidade. Portanto, o terrorismo não se qualifica como
e não segue uma teoria específica de ideologia ou política, já o FBI, tal por que, em primeiro lugar não é uma violência organizada e
o governo do Reino Unido e os Departamentos de Defesa e de Es- promovida por um Estado soberano contra outro Estado soberano,
tado dos EUA adotam uma posição política e ideológica que são en- não é uma forma declarada de combate, o terrorismo tem como
volvidas por essas instituições, observando a ilegalidade das ações alvo civis, não-combatentes, propriedades estatais, não é violência
de terroristas, cada qual enfatizando sua posição em relação á pre- empregada como instrumento de política externa de um Estado. A
sente matéria, verificando-se então, que não existe uma definição guerra é o ponto máximo do paradigma realista das relações inter-
ou um conceito global para o que é o terrorismo, cada governo, nacionais, e segundo a teoria de Clauzewitz a guerra é a submissão
instituição e cultura, adota um conceito relacionado à sua natureza, total de um Estado aos interesses de outro Estado, e sempre entre
já que, cada Estado tem suas estratégias, táticas e noção de defesa Estados soberanos. Então, mesmo estas duas ações tendo caracte-
contra o terrorismo. rísticas violentas guerra não é terrorismo e terrorismo não é guerra.

Genocídio e Terrorismo
Pelo fato de não existir uma definição única do que vem a ser
Quando ouvimos a notícia de que ocorreu um genocídio ou en-
uma ação terrorista, uma definição constituída de clareza e pre-
tão quando lemos nos livros de história sobre uma ocorrência ge-
cisão, o entendimento do que é terrorismo passa a ser difícil em
nocida, vem logo à mente o fato de que houve a morte de inúmeras
muitos casos, fazendo com que leigos no assunto e até mesmo es-
pessoas em um determinado local, país ou região. O genocídio é um
pecialistas classifiquem, muitas vezes, ações providas de violência,
crime rejeitado pelas organizações internacionais e condenado pela
qualquer que seja, com uma ação terrorista, confundindo guerra de
guerrilha e até mesmo guerra entre Estados soberanos com terro-
Organização das Nações Unidas e pelos próprios Estados den-
rismo.
tro de sua ordem jurídica interna.
Um ato de violência nem sempre vem a ser um ato terrorista, Não existe um número certo para que se tenha a nítida certe-
como por exemplo, da maneira mais simplificada, um policial que za que houve um genocídio em tal lugar. Podemos identificar um
agride uma pessoa ou um soldado de um exército que se encontra ato genocida tanto quando morrem 10.000 pessoas quanto 5.000,
em um campo de batalha e abate seu inimigo com sua arma de fogo a classificação de genocídio não está ligada a números e sim, á
em defesa própria, não se caracteriza como um atentado terrorista. natureza dos atos, dos objetivos. Então, se a classificação do que
Portanto, fica claro que mesmo que o terrorismo seja um ato cons- vem a ser um genocídio não está ligada a números e sim à natureza

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dos atos, qual a diferença entre genocídio e terrorismo? Este é um Guerrilha, Revolução e Terrorismo
tema delicado de se trabalhar, deve-se ter muito cuidado quando se A guerrilha geralmente é formada por pessoas que têm uma
pretende diferenciar estes dois atos que envolvem morte de várias ideologia em comum contra as ações políticas do Estado. Os guer-
pessoas. rilheiros lutam contra o Estado buscando destituir o poder estabe-
lecido com o objetivo de iniciar uma nova era política. Geralmente
O termo genocídio vem de uma mistura do grego e do latim, as guerrilhas seguem uma ideologia socialista contrária à ideologia
onde génos quer dizer família, tribo ou raça, sendo que o sufixo da capitalista.
palavra quer dizer matar. Os objetivos do genocídio podem muitas
vezes se confundir com os objetivos do terrorismo quando o genocí- Mesmo tendo objetivos políticos contra o Estado assim como
dio pode seguir uma ordem política, religiosa, nacional, racial e por as organizações terroristas, as guerrilhas se comportam de maneira
diferenças étnicas e culturais. Mas terrorismo e genocídio, mesmo diferente, sendo na maioria dos casos organizadas com um número
tendo por vezes características parecidas não são as mesmas coisas maior de membros armados que se comportam como uma unidade
visto que, um terrorista não tem em suas necessidades um tipo de militar, com uniformes e identificação, enfrentam forças militares
limpeza étnica, social, a destruição de uma civilização, cultura ou do Estado, pela conquista e manutenção dos territórios ocupados,
grupo racial e sim, influenciar e interferir na política, intimidar e co- exercendo uma certa soberania geográfica. E também, diferente do
agir uma sociedade, muitas vezes arraigados a uma causa religiosa. terrorismo, a guerrilha tem o apoio popular, principalmente dos po-
bres e dos militantes socialistas, agindo assim em prol do povo e de
Então o terrorismo não persegue uma mudança na natureza uma melhor situação política e econômica para a população. Quan-
étnica e social de uma determinada região e sim uma mudança po-
do uma guerrilha age de forma contrária aos seus objetivos e se
lítica, religiosa e por vezes econômica. Já o genocídio, mesmo se-
encaixa na classificação de terrorismo passa a ser uma ação isolada
guindo objetivos parecidos e com a intenção de matar pessoas não
sem o apoio popular. Não quero afirmar aqui que uma guerrilha não
é considerado um ato terrorista, assim como houve em Ruanda na
pode agir como se fosse uma facção terrorista, essa possibilidade
década de 1990, como quando os Curdos sofreram nas mãos do
ditador iraquiano Saddam Hussein no Iraque, ou os Judeus quando existe e já aconteceu, porém, não é essência da guerrilha recorrer a
Hitler quis “varrê-los” da Alemanha. atos terroristas, estas são ocorrências isoladas em momentos isola-
dos na linha da história das guerrilhas.
O genocídio é uma forma de discriminação objetivada por
fatores políticos, religiosos e culturais, de acordo com a situação, Portanto, percebe-se que a guerrilha é uma organização que
considerado um crime não somente na ordem doméstica dos Es- funciona como uma organização militar, apoiada pelo povo, que en-
tados, mas também, na ordem internacional. A Convenção para a frenta a força militar do Estado enquanto que, diferentemente, o
prevenção e a repressão do crime de Genocídio de 1948 argumenta terrorismo nas palavras de Caleb Carr
no segundo artigo que genocídio é “qualquer dos seguintes atos,
cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um ..é, simplesmente a denominação contemporânea e a confi-
grupo nacional, étnico, racial ou religioso...”. Em seguida, no mesmo guração moderna da guerra deliberadamente travada contra civis,
artigo são relatados os atos que dão forma ao crime de genocídio: com o propósito de lhes demolir a disposição de apoiar líderes ou
políticas que os agentes dessa violência consideram inaceitáveis.
a) assassinato de membros do grupo; (16,2002)
b) dano grave à integridade física e mental de membros do gru-
po Exércitos profissionais e guerrilhas também podem cometer
c) submissão intencional do grupo a condições de existência atos terroristas como já citado, porém, a diferenças mostram que
que lhe ocasionem a destruição física total ou parcial; não há relação quanto à essência entre uma organização terrorista
d) medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do e uma organização guerrilheira.
grupo;
e) transferência forçada de menores do grupo para outro gru- Após o término da segunda guerra mundial em 1945, quando
po. se inicia a Guerra Fria entre EUA e URSS, começaram a surgir vá-
rios grupos aos quais foram atribuídos status de grupos terroristas.
Em seguida no terceiro artigo da mesma Convenção são defi- Eram revolucionários, grupos separatistas que buscavam a liberda-
nidos 5 dispositivos que determinam os atos que serão punidos em
de, a auto-determinação dos povos, direito defendido pela carta da
relação ao crime de genocídio:
ONU, eram contra o colonialismo e usavam assim táticas violentas
para expulsar os invasores de suas terras e conquistar a liberdade.
a) o genocídio;
b) o conluio para cometer o genocídio;
c) a incitação direta e pública a cometer o genocídio; Quando pensamos em movimentos revolucionários logo vem
d) a tentativa de genocídio; à mente imagens de pessoas nas ruas exigindo seus direitos e mu-
e) a cumplicidade no genocídio. danças políticas, econômicas e sociais, tumultos e muitas vezes
Observa-se então, que o genocídio, assim como o terrorismo, conflitos entre policiais e membros da revolução. As guerrilhas são
é considerado, pelos Estados, um crime contra o direito internacio- também, movimentos revolucionários que agem contra a política
nal, e assim sendo em alguns casos, contra os direitos humanos, e estatal mas que não saem ás ruas exibindo suas metralhadoras, elas
tais atos de violência deverão ser coibidos, proibidos e punidos seja têm uma região especifica de localização e geralmente é no meio
em matéria de âmbito doméstico ou internacional, como regem os de florestas ou em lugares desertos distantes das forças do Estado.
dispositivos da Convenção para a prevenção e a repressão do crime Movimentos como a OLP8, FQL9- Front de Libération du Québecfo-
de Genocídio e também, a Resolução N. 1.373 do Conselho se Se- ram considerados terroristas por lutar pela liberdade. Yasser Ara-
gurança, de 28.09.2001 de Combate ao Terrorismo e a Convenção fat10 num discurso para a ONU em 1974 falou que:
Interamericana contra o Terrorismo de 2002.

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a diferença entre revolucionário e terrorista está no motivo Estas diferenças e definições apenas facilitam o entendimento
pelo qual cada um deles luta. Isso porque quem quer que assuma e trabalhos relacionados ao terrorismo pela busca de soluções para
posição por uma causa justa e batalhe pela liberdade e pela liber- este problema que assola o Sistema e a Ordem internacionais de
tação de sua terra jugo de invasores, assentadores e colonizado- Estados.
res não pode de modo algum ser chamado de terrorista. (whit-
taker,23,2005) Terrorismo de Estado
Outra forma de se reconhecer e classificar o terrorismo é quan-
O discurso de Arafat está relacionado ao conflito entre Árabes do falamos de terrorismo de Estado. Considerado o ato terrorista
e Judeus na região da Palestina, conflito que já dura a mais de meio mais antigo de nossa era moderna, teve início na França revolucio-
século. Yasser Arafat está certo quando diz que quem assume uma nária, quando o Estado, se sentindo ameaçado pelo movimento dos
causa justa e batalhe pela liberdade não pode ser considerado um “ insurgentes ” usou de métodos violentos para coagir os cidadãos
terrorista, mas a definição do que é justo ou não, não nos cabe dis- com o objetivo de proteger a máquina estatal. Neste contexto, ob-
cutir aqui. A questão é que uma ação revolucionária não vem a ser serva-se que os atos por meio da força são voltados contra os civis,
uma ação terrorista quando não se usa a força e nem a violência mas muda o sentido quando é o Estado que usa dessa força, e não
para atacar pessoas do governo ou a própria população civil que uma facção terrorista.
mantêm sua lealdade ao Estado.
Porém, tratar de terrorismo de Estado não é uma tarefa fácil,
Portanto, quando a OLP ataca Israel e mata civis judeus está as discussões sobre este assunto entram em conflito quando tra-
cometendo um ato terrorista e não uma ação de movimento revo- vadas entre aqueles que defendem o Estado e suas ações e os que
lucionário, tirando assim as características daqueles que lutam pela
defendem o povo em relação às ações do Estado, os hobbesianos
liberdade contra assentadores de suas terras, seu país.
e os marxistas. Mas, geralmente ações de terrorismo perpetradas
pelos Estados se dão durante ditaduras militares quando o Estado
Terrorista e Criminoso Comum
se torna mais opressor e violento contra aqueles que são contra
Além das diferenças traçadas entre guerrilha, revolução e
terrorismo, guerra e terrorismo serão tratadas aqui, as diferenças uma ditadura e a favor da democracia. Segundo Celso Duvivier Al-
existentes entre terroristas e criminosos comuns. Mesmo que se buquerque Mello.
leve em consideração que o terrorismo seja uma ação criminosa
e que o terrorista que comete tal ato é um criminoso, existe uma o terrorismo pode ser tanto do governo como daqueles que
discrepância entre o criminoso terrorista e o criminoso comum que contestam o governo. O praticado pelas entidades governamentais
rouba um banco por exemplo. Há diferenças relacionadas quanto consiste no uso de terror com a finalidade de obter um determina-
aos objetivos e maneiras de agir que diferenciam os terroristas dos do comportamento.
criminosos comuns. Portanto, o Estado também pode usar de práticas terroristas
contra a população civil, de acordo com a afirmação de Celso Duvi-
O terrorista como já citado tem um fim político, religioso e so- vier, quando deseja em algum momento impor ao povo um deter-
cial, voltando suas ações contra o Estado, sua população civil com o minado comportamento que de acordo com o governo é o melhor
objetivo de intimidar e coagir um governo a adotar suas vontades, para o Estado.
enquanto que um criminoso comum age seguindo objetivos essen- Fonte: algosobre.com.br/geografia/terrorismo-definicoes-e-di-
cialmente pessoais, por satisfação própria, sem interesse político ferencas.html
ou religioso, simplesmente por desejo material. Nas palavras de
David J. Whittaker. PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

ao se distinguir os terroristas dos outros tipos de criminosos Contexto


e das outras formas de crime, passamos a apreciar o terrorismo
como: inescapavelmente político em objetivos e motivos; violento Como explicar a Grande Guerra? O que fez os países europeus
ou, igualmente importante, ameaça violenta; concebido para cau- deflagrarem um conflito que os levaria à ruína? Urna explicação bas-
sar repercussões psicológicas que transcendem a vítima ou o alvo; tante conhecida reitera o caráter imperialista da guerra, ressaltan-
conduzido por uma organização com cadeia de comando ou estru- do as disputas entre Grã-Bretanha e Alemanha pela redistribuição
tura celular conspiradora identificáveis (cujos membros não usam das colônias africanas e asiáticas - e do mercado mundial também19.
uniforme ou distintivos de identificação); e perpetrado por um gru-
No entanto, para compreendê-la, é necessário considerar ou-
po sub nacional ou entidade não estatal. (Whittaker,28,2005).
tros aspectos. Por exemplo, o fato de a guerra haver se concentra-
do em território europeu e as batalhas em regiões coloniais terem
Então, de acordo com a definição de Whittaker os motivos do
ocorrido como consequência do que acontecia na Europa. Também
terrorista é puramente político intimidando, por força psicológica,
ameaçando de maneira violenta, um Estado e uma sociedade. Além é preciso ponderar que, às vésperas da Grande Guerra, os conflitos
dos objetivos e motivos existem as diferenças em relação ao cená- decorrentes das disputas coloniais não se apresentavam como inso-
rio. Um criminoso comum age de acordo com os problemas sociais lúveis ou inegociáveis. Além disso, é fundamental analisar a conjun-
dentro de um âmbito doméstico, o terrorista além de agir em âmbi- tura política dos países europeus naquela época.
to doméstico também age no cenário político internacional atuan- Desde fins do século XIX, urna série de rivalidades políticas era
do como criminoso internacional. alimentada pelo clima de exacerbação nacionalista e pelo avanço
do militarismo no continente, sobretudo na Grã-Bretanha, na Ale-
Mesmo que hajam diferenças entre terrorismo e as guerras de manha, na França e na Rússia.
guerrilha, revolução, guerra e criminoso comum e, que todas elas
possam ser explicadas ainda há a necessidade de se entender uma
19 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição.
definição e conceituação global do que vem a ser o terrorismo.
São Paulo. Saraiva.

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A Inglaterra foi o primeiro país a se industrializar, dispondo de ideologia que defendia a anexação dos povos germânicos espalha-
vasto mercado consumidor. Além de fornecer produtos industriali- dos pela Europa Central, como holandeses, dinamarqueses (de lín-
zados para Suas colônias, delas recebia boa parte das matérias-pri- gua alemã), austríacos, entre outros.
mas de que necessitava. No início do século XX, porém, os ingleses Os russos apostavam na unificação dos povos eslavos dispersos
passaram a sofrer a competição de outros países que também se pela Europa Oriental e pelos territórios do Império Austro-Húngaro
industrializavam, corno era o caso da Alemanha, cuias indústrias - sérvios, eslovacos, poloneses, tchecos etc. Era o pan-eslavismo
eram fortes concorrentes para as inglesas. russo. Mas havia também o pan-eslavismo sérvio, cuja missão era
A Alemanha investiu pesadamente na industrialização, incen- agrupar os eslavos do sul da Europa: eslovacos, croatas, búlgaros
tivando a formação de grandes empresas, mediante a associação etc. Apesar dessas rivalidades, a paz foi garantida no continente eu-
entre indústrias e bancos, e desenvolveu um sistema educacional ropeu nas últimas décadas do século XIX, em grande parte, pelo sis-
técnico bastante eficiente. Na França, embora houvesse muitas tema diplomático criado pelo chanceler alemão Otto von Bismarck,
indústrias, predominava uma economia agrária - no tocante à in- cujo objetivo era estabelecer uma ordem internacional favorável ao
dustrialização, os franceses estavam atrás de ingleses e alemães. A Império Alemão. Para tanto, ele procurou evitar confrontos com a
Rússia, predominantemente agrária, era a economia mais frágil en- Grã-Bretanha, de modo a manter a neutralidade britânica na por-
ção continental da Europa.
tre os gigantes europeus. Além disso, a maioria das principais indús-
Com a França as dificuldades eram maiores devido ao ressenti-
trias em seu território era controlada por investidores estrangeiros.
mento dos franceses após a derrota na Guerra Franco-Prussiana. O
sistema de Bismarck, como ficou conhecido o modo como o chan-
Tensões pré-Guerra
celer alemão conduziu a política externa do Império Alemão, ficou
ainda mais claro quando, em 1879, um pacto com o Império Aus-
Naquele cenário tenso, em que as rivalidades entre os países tro-Húngaro contra quaisquer agressões vindas do leste ou do oeste
se agravavam, destaca-se a que havia entre França e Alemanha. Na foi firmado. Com a adesão da Itália em 1882, formou-se a chamada
Guerra Franco-Prussiana, travada entre 1870 e 1871, os franceses Tríplice Aliança. Na Conferência de Berlim, encerrada em 1885, Bis-
perderam para os alemães as regiões da Alsácia-Lorena, ricas em marck também renunciou a maiores ambições coloniais, para não
carvão. O episódio feriu gravemente o orgulho dos franceses, que provocar britânicos e franceses.
julgavam ser uma questão de honra a recuperação desses territó- O sistema do chanceler, contudo, entrou em colapso após sua
rios. renúncia, em 1890. Negando a política de Bismarck, o imperador
Com a ascensão da Alemanha à categoria de grande potên- Guilherme II lançou a Alemanha em uma política de expansão ter-
cia capitalista, as tensões aumentaram ainda mais no continente, ritorial (Weltpolitik).
acentuando o desequilíbrio econômico e social. Para proteger seu Em 1894, a França firmou com a Rússia uma entente, isto é, um
comércio exterior, a Alemanha investiu em uma marinha mercante acordo que foi confirmado dois anos depois. Ao superar as rivalida-
e de guerra, reforçando a concorrência com os produtos ingleses. A des na corrida colonial, a França também se aproximou da Grã-Bre-
tensão entre a Alemanha, de um lado, e a França e a Grã-Bretanha, tanha. Esse entendimento deu origem em 1904 à Tríplice Entente -
de outro, aumentou quando os alemães estabeleceram uma aliança que incluía a Rússia. Foi nessa tensa conjuntura política que marcou
diplomática e militar com o Império Austro-Húngaro. Mas esses não o final do século XIX na Europa que se originou a Grande Guerra.
eram os únicos focos de atrito no continente. A disputa pela hegemonia política, agravada pelas ideologias
O Império Austro-Húngaro era um mosaico de nacionalidades nacionalistas e pelo militarismo, havia se tornado central para as
- havia tchecos, eslovacos, bósnios, sérvios, croatas, romenos - que potências europeias, divididas em dois blocos rivais, a Tríplice Alian-
lutavam por autonomia. Os sérvios, por exemplo, identificavam-se ça e a Tríplice Entente. Qualquer guerra que viesse a eclodir no con-
com os interesses nacionais e culturais dos russos, alimentando di- tinente envolveria um amplo conjunto de nações.
ferenças e antagonismos com os austríacos. A Rússia e o Império
Turco-Otomano mantinham ressentimentos recíprocos. Paz Armada
A exemplo dos impérios Russo e Austro-Húngaro, o Turco-O- Antes da eclosão da Grande Guerra, ainda na primeira década
do século XX, houve um grande investimento nas Forças Armadas
tomano também abrigava povos de várias línguas e religiões. Todo
das principais potências europeias. Alemanha, Grã-Bretanha, Fran-
esse clima de competição e rivalidade entre os países foi intensifi-
ça, Rússia estimularam o alistamento de milhões de homens, com
cado com a expansão das ideologias nacionalistas. As rivalidades
base nos ideais de nacionalismo e patriotismo, e encomendaram às
políticas e o crescimento dos nacionalismos na Europa tiveram peso
suas indústrias armas, munições, navios de guerra, uniformes etc.
decisivo na eclosão da Grande Guerra. Como os países ainda não estavam em guerra, tratava-se de
uma paz armada. Apesar dos lucros que tal investimento gerou para
Fim do Equilíbrio Europeu a indústria bélica, é um engano supor que a Grande Guerra ocorreu
principalmente devido aos interesses desse setor. Às vésperas do
A partir de 1880, diversos grupos organizados - em sintonia confronto, cerca de 19 milhões de soldados estavam prontos para
com a burguesia e os proprietários rurais - passaram a defender as batalhas. Quando a guerra, de fato, começou, os próprios gover-
ideias fortemente nacionalistas. Recorrendo a discursos ufanistas nantes ficaram surpresos com o entusiasmo que tomou conta das
e emocionais, essas organizações acreditavam que podiam mobi- populações.
lizar a população, reforçando o patriotismo, inclusive, entre povos
que não contavam com um Estado constituído, como era o caso dos Grande Guerra Mundial (1914-1918)
sérvios.
As ideologias nacionalistas exaltavam as qualidades do Estado- O pretexto para a deflagração da guerra foi o assassinato do
-nação e a ideia de superioridade em relação aos demais povos. príncipe herdeiro do Império Austro-Húngaro, Francisco Ferdinan-
Britânicos e franceses, por exemplo, acreditavam em uma suposta do, e de sua esposa, cometido por um nacionalista sérvio do grupo
capacidade civilizadora do mundo. Os alemães, por sua vez, sonha- Mão Negra, no dia 28 de junho de 1914, na cidade de Sarajevo,
vam com uma “Grande Alemanha”, apoiada no pangermanismo capital da Bósnia-Herzegovina, à época província do império.

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Ao assumir o trono, Francisco Ferdinando pretendia transfor- afinidade política e cultural entre os EUA e a Grã-Bretanha, além de
mar o Império Austro-Húngaro, então uma monarquia dual com- interesses econômicos em curso - os estadunidenses vendiam ar-
posta pela Áustria e pela Hungria, em uma monarquia tríplice, re- mas e alimentos aos britânicos e aos franceses -, mas o governo só
conhecendo as populações eslavas que o compunham. Essa ideia, entrou na guerra quando a situação parecia desfavorável aos seus
contudo, contrariava os interesses nacionalistas dos sérvios, que ti- aliados.
nham a pretensão de agrupar os eslavos do sul da Europa e formar
uma “Grande Sérvia” independente. A entrada dos Estados Unidos no conflito favoreceu a Tríplice
Em decorrência do assassinato de Francisco Ferdinando, a mo- Aliança e fez com que a guerra, a partir daí, se tornasse mundial.
narquia austro-húngara declarou guerra aos sérvios em 28 de julho Meses depois, contudo, em outubro de 1917, ocorreu uma nova
de 1914. Os russos logo se posicionaram em defesa dos sérvios. Os reviravolta, beneficiando a Alemanha: eclodia uma revolução na
alemães, solidários aos austríacos, declararam guerra à Rússia no Rússia.
dia 1 de agosto e, dois dias depois, à França, colocando em ação o Em dezembro, o novo governo, de orientação socialista, aca-
ambicioso Plano Schlieffen: derrotar rapidamente a França antes tando a vontade da população, anunciou a retirada do país da guer-
que a Rússia pudesse mobilizar suas tropas. ra. O custo dessa decisão foi grande para a Rússia, que teve de ce-
Desse modo, evitariam lutar em duas frentes de batalha. Para der vários territórios para a Alemanha. Além disso, com a saída dos
alcançar o território francês, invadiram a Bélgica - país que havia se russos do conflito, os alemães puderam concentrar suas forças na
declarado neutro no conflito. Alegando a quebra da neutralidade frente ocidental.
belga, os britânicos declararam guerra contra a Alemanha, honran- Em 1917, após três anos de lutas incessantes, as sociedades
do a Tríplice Entente. A Itália, até então integrante da Tríplice Alian- europeias envolvidas no conflito estavam cansadas, e os soldados,
ça, mudou de lado, seduzida pelas promessas da Grã-Bretanha de exaustos. O bloqueio naval franco-britânico e a guerra submarina
concessões territoriais da Alemanha na África. alemã levaram a população europeia à fome. O custo de vida dis-
O conflito generalizou-se quando o Império Turco-Otomano parou, os salários não aumentavam e as mercadorias sumiam das
declarou guerra aos seus antigos inimigos russos e aliou-se aos prateleiras.
germânicos. Cada país beligerante contou com o apoio, por vezes Estimulado pelos protestos nas cidades, um amplo movimento
entusiasmado, de suas sociedades. O nacionalismo exacerbado e pacifista surgiu exigindo o fim da guerra. A partir de junho de 1918,
a crença de que o conflito era inevitável e seria curto mobilizaram a Tríplice Aliança acumulou sucessivas derrotas. Enquanto alemães
amplos setores sociais de cada um dos países beligerantes. e austríacos conheciam a fome, britânicos e franceses recebiam
ajuda material e militar dos Estados Unidos.
Guerra de Trincheiras O Império Austro-Húngaro ruiu, resultando na instauração de
As potências que compunham a Tríplice Aliança tiveram de uma república. Na Alemanha, o imperador Guilherme II abdicou e,
combater em duas frentes: na ocidental, depois que os alemães de- diante da iminente derrota, o novo governo assinou o armistício em
clararam guerra à França, e na oriental, de modo a impedir o avan- 11 de novembro de 191 S. A Alemanha tornou-se uma república,
ço dos russos. Na frente ocidental a guerra de trincheiras se impôs conhecida como República de Weimar.
como realidade - e como um dos maiores horrores do conflito. Trin-
cheiras foram cavadas ao longo de centenas de quilômetros, cor- Consequências da Primeira Guerra Mundial
tando o território europeu de norte a sul e impedindo os exércitos
alemães e franceses de avançar. No início de 1918, antes do término do conflito, o presidente
No final do ano de 1914, os envolvidos no conflito perceberam estadunidense Woodrow Wilson apresentou um plano para encer-
que ele não seria rápido nem curto. rar a guerra. Entre os chamados 14 pontos de Wilson estavam: abo-
O uso de novas armas também contribuiu para fazer da Gran- lição da diplomacia secreta, tornando-a de conhecimento público;
de Guerra um verdadeiro cenário de horrores. Pela primeira vez, liberdade de navegação e fim das barreiras econômicas entre as
utilizava-se o avião como arma bélica. Os britânicos inventaram o nações; limitação dos arsenais armamentistas; redefinição dos limi-
tanque de guerra. Já os alemães usaram lança-chamas e armas quí- tes territoriais italianos; reformulação das práticas colonialistas que
micas, como o gás mostarda, que provo- cavam graves queimadu- considerasse os interesses dos povos colonizados; independência
ras. Mas o grande trunfo alemão foi o submarino. da Bélgica e da Polônia; restauração da Sérvia, de Montenegro e
Ao afundar navios mercantes, sobretudo os que transportavam da Romênia; devolução da Alsácia-Lorena à França; autonomia dos
alimentos, eles conseguiram causar grande dano à população civil. povos submetidos ao Império Turco-Otomano; ajuda à Rússia; e,
Com seus submarinos, a Alemanha também conseguiu afundar por fim, criação da Liga das Nações.
quase um terço da frota britânica, em represália ao bloqueio naval Apesar de estar apoiado na justiça entre os povos - sem venci-
decretado pelas potências da Tríplice Aliança. dos nem vencedores - e atender a diversos interesses, o plano não
interessou aos governos da França e da Grã-Bretanha. Aos vitorio-
Os Rumos da Guerra sos interessava condenar pesadamente a Alemanha e eles assim
fizeram.
A despeito do uso do avião e do submarino, o conflito foi tra- Em 19 de janeiro de 1919, diplomatas dos países vencedores
vado, sobretudo, em terra. Na frente ocidental, a segunda grande encontraram-se na Conferência de Paris, com o objetivo de chegar
ofensiva alemã ocorreu em 1916. Embora dispusessem de ampla a um acordo que resultasse no desarmamento da Alemanha e na
superioridade militar, os alemães esbarraram na tenaz resistência reparação das perdas materiais provocadas pela guerra. O resulta-
francesa. do foi o Tratado de Versalhes, que entre os alemães ficou conhe-
Já na frente oriental, as forças alemãs e austríacas conseguiram cido como Ditado de Versalhes, por ser impositivo e humilhante.
barrar os russos. A vitória tendia para o lado alemão, mas os acon- De acordo com esse tratado, fundamentado na cláusula de culpa
tecimentos começaram a mudar com a entrada dos Estados Unidos de guerra estabelecida pelos vitoriosos, a Alemanha deveria ceder
no conflito, em abril de 1917, após três anos de neutralidade. Havia à França a Alsácia-Lorena e as minas de carvão da bacia do Sarre.

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Deveria ceder também parte de seu território para a Bélgica, a Em fevereiro de 1917, os alemães passaram a atacar inclusive
Dinamarca, a Lituânia e a Polônia - que ganhou, assim, uma saída os navios de países neutros. Mesmo com o protesto do governo
para o mar, o chamado corredor polonês, e recuperou sua indepen- brasileiro, o cargueiro Paraná, carregado com 4,5 toneladas de café,
dência. foi torpedeado em abril daquele ano.
As colônias alemãs na África foram divididas entre a França e Nesse contexto, o Brasil rompeu relações diplomáticas com a
a Grã-Bretanha. Além de perder dois quintos de suas minas de car- Alemanha. Em maio, dois outros navios brasileiros foram atacados.
vão, dois terços das minas de ferro, um sexto das terras cultiváveis Como o governo manteve a postura de neutralidade, nas ruas surgi-
e um oitavo de todo seu gado bovino, a Alemanha teve todos os ram movimentos de protesto, exigindo uma reação do governo. Em
seus investimentos no exterior confiscados para pagar uma pesada resposta, o presidente Wenceslau Braz declarou guerra à Alemanha
indenização aos vencedores. em outubro de 1917.
As imposições ainda incluíam a redução do Exército alemão a
100 mil homens, no máximo, a proibição de produzir armamentos O ENTREGUERRAS
(canhões, aviões militares e artilharia antiaérea) e a entrega de seus
submarinos e navios (mercantes e de guerra) à Grã-Bretanha, à A Crise de 1929 e a Grande Depressão
França e à Bélgica.
Mas a Alemanha não foi a única a pagar a conta da guerra. A Terminada a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos se
cláusula de culpa também atingia o Império Austro-Húngaro. De destacaram no capitalismo mundial: de maior devedor (3 bilhões
seu desmembramento surgiram a Áustria, a Hungria, a Tchecoslo- de dólares), tornaram-se o maior credor mundial (11 bilhões de dó-
váquia e a lugoslávia. O Império Turco-Otomano também desmo- lares)20.
ronou, dando origem ao Iraque, à Síria, ao Líbano, à Palestina e à Em 1918 mais de um terço da produção industrial mundial es-
Transjordânia, nações sob controle da França e da Grã-Bretanha. O tava nos Estados Unidos; em 1929 esse percentual chegava a mais
antigo império ficou reduzido à atual Turquia. de 42%. O país também continuava a atrair imigrantes: entre os
Em abril de 1919, foi fundada a Sociedade ou Liga das Nações, anos 1900 e 1910, entraram nos Estados Unidos cerca de 9 milhões
com sede em Genebra, na Suíça, com o objetivo de garantir a paz de europeus.
e resolver os conflitos entre os países por meio de negociações e A prosperidade econômica, entretanto, apresentava contra-
arbitramentos. Embora a iniciativa tenha partido do presidente es- dições que se tornavam cada vez maiores. Após o mandato do
tadunidense Woodrow Wilson, o Congresso dos EUA não aprovou presidente democrata Woodrow Wilson (1913-1921), os seus su-
a entrada do país na organização, optando pelo isolamento inter- cessores, até 1932, foram do Partido Republicano. Fiéis defensores
do liberalismo econômico e do isolacionismo, eles se recusavam a
nacional.
intervir em assuntos internacionais que não envolvessem o conti-
nente americano.
Os números da Guerra
Não ratificaram, por exemplo, o Tratado de Versalhes e não
participaram da Liga das Nações, deixando aos europeus a tarefa
As consequências da Grande Guerra foram trágicas. Calcula-se
de solucionar os conflitos ocorridos na Europa. Coerentes com essa
que cerca de 10 milhões de pessoas, entre militares e civis, morre-
política isolacionista, os governos republicanos aprovaram diversas
ram no conflito - desse total, aproximadamente, 1 milhão de ale-
leis restritivas à migração a partir de 1921, reduzindo drasticamen-
mães e 1 milhão e 500 mil franceses, a maioria com menos de 25
te a entrada de estrangeiros no país. Ao mesmo tempo, deixaram
anos de idade. Milhões de mulheres tornaram-se viúvas, com filhos de adotar medidas que resolvessem as crescentes contradições do
para criar. desenvolvimento econômico.
Os países europeus que se envolveram no conflito saíram eco- Seus líderes argumentavam que as dificuldades que surgiam
nomicamente arruinados, sobretudo a Alemanha. Até a Grã-Breta- na economia do país seriam resolvidas pelo próprio mercado, o
nha, com todo seu extenso e rico império colonial, deixou de ser a qual teria uma tendência à racionalidade e à superação dos pro-
grande potência do mundo. A partir de então, os países da Europa blemas econômicos, não cabendo ao Estado interferir na ordem
conheceram o declínio econômico. Os EUA, que se industrializavam econômica. O desenvolvimento econômico não foi acompanhado
a passos largos desde fins do século XIX, aceleraram sua ascensão por aumento nos salários e na renda dos trabalhadores. Essa estag-
econômica, com os lucros advindos da venda de mercadorias e do nação salarial, incompatível com o crescimento da produtividade,
fornecimento de empréstimos para os países envolvidos no confli- acentuou a desigualdade na distribuição da renda - apenas 5% da
to, principalmente os da Tríplice Entente. população detinham um terço da renda do país - e impossibilitava o
Com o fim da guerra, assistiu-se ao declínio dos ideais liberais aumento do consumo para a maioria dos estadunidenses.
em boa parte da Europa. Enquanto a democracia liberal sofria for- A dificuldade para expandir o consumo interno, enquanto a
tes críticas, as ideologias autoritárias de direita e de esquerda co- produção do país aumentava, resultou numa grande estocagem de
meçavam a ganhar prestígio. Como resultado, as décadas seguintes mercadorias.
seriam marcadas pelo confronto aberto entre partidos nacionalistas
radicais e partidos comunistas vinculados à orientação soviética. A Crise e o New Deal

O Brasil na Grande Guerra A intensa atividade econômica nos Estados Unidos também im-
pulsionou, a partir de 1928, a especulação financeira por meio da
Apesar de ter se mantido neutro no conflito. o Brasil também compra e venda de ações de grandes empresas na Bolsa de Valores
sentiu as consequências da Grande Guerra. As exportações de café, de Nova York. Em meados de 1929, o valor das ações quadruplicou
por exemplo. caíram sensivelmente e a arrecadação de impostos e cada vez mais investidores foram atraídos pela possibilidade de
também, já que o principal deles incidia sobre as exportações. Por enriquecer facilmente.
outro lado, a queda de importações provocada pela guerra estimu- 20 Vicentino, Cláudio. Olhares da História Brasil e Mundo. Cláu-
lou o desenvolvimento da indústria brasileira com tarifas protecio-
dio Vicentino. José Bruno Vicentino. Savério Lavorato Júnior. 1ª ed.
nistas e subsídios.
São Paulo. Scipione.

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A prosperidade econômica, contudo, tinha um limite físico. Por líticas de bem-estar social desenvolvidas pelos países capitalistas, o
um lado, o mercado não acompanhava a expansão industrial, pois, Welfare State (Estado de bem-estar social), expressão que entrou
devido à desigualdade na distribuição da renda, nem todos podiam em uso a partir dos anos 1940.
consumir na mesma proporção. A política keynesiana predominou no cenário econômico inter-
Por outro, os países da Europa, arrasados na Primeira Guerra nacional até o final dos anos 1970, quando a liberdade de mercado
Mundial, aos poucos se recuperavam e buscavam importar menos voltou a ganhar prestígio, defendida por teóricos como Friedrich
produtos estadunidenses, estabelecendo leis protecionistas. As- von Hayek (1899-1992) e por membros da escola monetarista de
sim, a superprodução agrícola e industrial, que não escoava e ge- Chicago, como Milton Friedman (1912-2006) e Robert Lucas.
rava uma estocagem cada vez maior devido ao subconsumo, levou A política econômica liberal foi adotada pela primeira-ministra
a especulação financeira ao limite: o valor das ações estava muito britânica Margaret Thatcher (1925- -2013) e pelo presidente esta-
acima de seu valor real, baseado apenas na confiança de que esses dunidense Ronald Reagan (1911-2004), entre outros políticos co-
papéis continuariam se valorizando e não nos lucros obtidos com as nhecidos como neoliberais. A partir de 2008, em virtude da crise
vendas da produção. econômica internacional originada em parte das políticas neolibe-
Entretanto, o presidente Herbert Hoover (1874-1964), que go- rais de não controle da economia pelo Estado, reacendeu-se o de-
vernou os Estados Unidos entre 1929 e 1933, mantinha sua posição bate entre defensores do neoliberalismo e do keynesianismo. Desta
liberal, recusando uma intervenção estatal para estancar ou rever- vez, ao contrário do que ocorrera nos meses seguintes à crise de
ter a situação. A crise explodiu em 24 de outubro, quando muitas 1929, governos de muitos países optaram por intervir na economia
pessoas tentaram vender suas ações e não encontraram comprado- para tentar diminuir os efeitos dessa crise.
res, o que provocou uma redução drástica dos preços. Os investido-
res, atemorizados, tentavam livrar-se dos papéis, originando uma O Nazifascismo
avalanche de ofertas de ações que derrubou ainda mais os preços.
Esse dia ficou conhecido como Quinta-feira Negra. Do dia para O nazifascismo caracterizou-se por ser um movimento essen-
a noite, empresários prósperos tornaram-se donos de papéis sem cialmente nacionalista, antidemocrático, antioperário, antiliberal
nenhum valor. A desordem econômica espalhou-se pelos meses se- e anticomunista. Sua ascensão na Europa ocorreu entre o final da
guintes e atingiu profundamente toda a sociedade estadunidense, Primeira e o início da Segunda Guerra Mundial, no contexto da crise
da indústria à agricultura. A queda da renda real dos agricultores dos países europeus desencadeada pelos efeitos da Primeira Guer-
até 1932 foi superior a 50%; consequentemente, diversos bancos ra Mundial e pela quebra da Bolsa de Nova York, em 1929.
do sul e do meio-oeste dos Estados Unidos quebraram. No conjun- Na Alemanha, o movimento foi representado por Adolf Hitler
to, 85 mil empresas faliram, 4 mil bancos fecharam e cerca de 12 (1889-1945), cujo livro Mein Kampf (Minha luta), publicado em
milhões de trabalhadores estadunidenses ficaram desempregados. 1925, serviu como base teórica do governo nazista.
Foi um período de pobreza e fome, não só nos Estados Unidos. A Itália foi outro polo do movimento, liderado por Benito Mus-
A crise de 1929 abalou o mundo inteiro, exceto a União Soviética, solini (1883-1945), que ascendeu ao governo em 1922. Em outros
fechada em si mesma e orientada segundo os Planos quinquenais. países, regimes políticos semelhantes ao nazifascismo também
A difusão da crise contou com dois fatores básicos: a redução das foram adotados, como o franquismo na Espanha e o salazarismo
importações pelos Estados Unidos, que afetou duramente os países em Portugal. Esses novos governos representaram uma reação na-
que dependiam de seu mercado consumidor (o café brasileiro é um cionalista às frustrações resultantes da Primeira Guerra Mundial e
exemplo), e o repatriamento de capitais estadunidenses investidos um modo de fortalecer o Estado, além de atender às aspirações de
em outros países. estabilidade diante das ameaças revolucionárias de esquerda e, so-
Em meio à crise econômica, o Partido Democrata derrotou os bretudo, diante da instauração do socialismo na União Soviética.
republicanos nas eleições presidenciais em 1932. Eleito presiden- A doutrina nazifascista caracterizava-se basicamente pelos se-
te, uma das primeiras providências de Franklin Delano Roosevelt guintes pontos:
(1882-1945) foi limitar o liberalismo econômico, intervindo na eco- - totalitarismo, em que o Partido Fascista ou Nazista confun-
nomia por meio do New Deal (“novo acordo”), plano elaborado dia-se com o Estado, formando a síntese das aspirações nacionais;
por um grupo de renomados economistas e baseado nas teorias do - nacionalismo, propondo a subordinação do indivíduo aos in-
teresses da nação;
economista inglês John Maynard Keynes (1884-1946).
- idealismo, acreditando no poder transformador das ideias e
Com o New Deal, o liberalismo de Adam Smith cedeu lugar ao
convicções;
keynesianismo, que defendia a intervenção do Estado para contro-
- romantismo, que negava a razão como solucionadora dos
lar o desenvolvimento da economia, de modo a combater crises e
problemas nacionais, defendendo, ao contrário, que somente a fé,
garantir empregos e direitos sociais. Roosevelt determinou grandes
o autossacrificio, o heroísmo e a força seriam capazes de superar as
emissões monetárias, inflacionando deliberadamente o sistema
dificuldades;
financeiro; fez grandes investimentos estatais, como hidrelétricas;
- autoritarismo, segundo o qual a autoridade do líder — o Duce
estimulou uma política de empregos por meio de obras públicas,
(na Itália) ou o Führer (na Alemanha) - era indiscutível; militarismo,
entre outras medidas, o que promoveu o consumo e possibilitou a
que possibilitaria a salvação nacional por meio da luta e da guerra;
progressiva recuperação da economia. - anticomunismo.
O Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, que caíra
de USS 103,7 bilhões para USS 56,4 bilhões em 1932, recuperou-se No caso alemão, havia ainda o antissemitismo, isto é, a perse-
lentamente, chegando a USS 101,3 bilhões em 1939. guição racista aos judeus, justificada pela afirmação de que, na Pri-
A política keynesiana da busca do pleno emprego para estimu- meira Guerra Mundial, os alemães haviam sido traídos pelos judeus
lar as economias em recessão, posteriormente adotada em outros marxistas, o que teria provocado a sua derrota no conflito. Além
países industrializados, foi acompanhada pela instalação de moder- disso, segundo os defensores do nazismo, os judeus, vistos como
nos sistemas previdenciários, como a Lei de Seguridade dos Estados antinacionais e sem pátria, ameaçavam a formação da “grande raça
Unidos, aprovada em 1935. Ela serviu também de base para as po- ariana alemã”.

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A ideia fundamental do nazismo era expressa pela máxima: Ein Para superá-la, Mussolini intensificou a produção de arma-
Volk, ein Reich, ein Führer (Um povo, um império, um líder). mentos e as conquistas territoriais, apoiado na ideia de restaurar
Na Itália, o fascismo baseava-se no corporativismo: o povo, o Império Romano. Voltando-se para a África, invadiu a Abissínia
produtor de riquezas, organizava-se em corporações sindicais que (atual Etiópia) e associou-se aos governos da Alemanha e do Japão
governavam o país por meio do Partido Fascista, que se confundia em diversas agressões internacionais.
com o próprio Estado. Ao contrário da visão marxista, negava-se a
oposição entre classes na estrutura social, e o Estado corporativo Nazismo Alemão
deveria buscar a harmonização dos interesses conflitantes do capi- Assim como o fascismo italiano, o nazismo alemão emergiu da
tal e do trabalho nos próprios quadros das corporações. derrota na Primeira Guerra Mundial e das condições impostas à Ale-
Hitler e Mussolini contaram com o capital financeiro e o apoio manha pelo Tratado de Versalhes. Com o final da guerra, o regime
da alta burguesia na edificação do Estado totalitário. No caso na- monárquico da Alemanha foi substituído pela República de Wei-
zista, foi representado pela tradicional família Krupp, dona de in- mar (1918-1933), que herdou uma grave crise socioeconômica. Em
dústrias no ramo de aço, munições e armamentos; e, na Itália, pela 1923, os governantes da República de Weimar decidiram cancelar
Confederação Geral da Indústria, pela Associação dos Bancos e pela os pagamentos impostos pelo Tratado de Versalhes. Em represália,
Confederação da Agricultura. os franceses invadiram o Vale do Ruhr, importante região minerado-
ra e siderúrgica da Alemanha. Apoiados pelo presidente socialista
Fascismo Italiano Friedrich Ebert (1871-1925), mineradores e operários dessa região
A Primeira Guerra Mundial deixou para a Itália enormes perdas entraram em greve, negando-se a trabalhar para os franceses. Para
financeiras e humanas e nenhum ganho territorial. Além do caos sustentar a greve, o Parlamento alemão autorizou a emissão de pa-
econômico - causado pela inflação, pelo alto índice de desemprego pel-moeda.
e pela paralisação de diversos setores produtivos -, o governo da O resultado foi uma espiral inflacionária, que chegou a atingir
Itália via-se também impotente em meio à agitação política e social o índice de 32400% ao mês. Alguns anos antes, em 1919, em Muni-
revolucionária das esquerdas, com sucessivas greves e ocupações que, um pequeno grupo de ultranacionalistas, entre os quais estava
de fábricas e terras. Adolf Hitler, fundou um partido totalitário, nos moldes do fascismo
O governo parlamentar, composto pelo Partido Socialista e italiano, que adotou, logo depois, o nome de Partido Nacional-So-
pelo Partido Popular, não chegava a um acordo quanto às grandes cialista dos Trabalhadores Alemães (Nationalsozialistische Deuts-
questões políticas, gerando impasses e impopularidade. Diante che Arbeiterpartei), popularmente chamado de nazi. Com forte
desse quadro de instabilidade na Itália, as elites do país passaram apelo ao sentimento nacional diante das dificuldades do pós-guer-
a apoiar a atuação das squadre d’azione (expressão italiana que ra, o novo grupo ganhou cada vez mais adeptos.
significa “comandos de ação”), milícias armadas formadas pelos Para intimidar os opositores, os nazistas atuavam com uma
camisas-negras, membros do Partido Fascista criado por Benito
polícia paramilitar, as Seções de Assalto (SA) - os camisas-pardas.
Mussolini em 1919.
Diante do agravamento da situação socioeconômica e da ineficiên-
Dois anos depois, os fascistas elegeram o maior número de
cia do governo, Hitler e seus seguidores tentaram assumir o poder
representantes no Parlamento. Apoiado na crise parlamentar e na
em novembro de 1923. Numa cervejaria de Munique, proclamaram
ideia da “mediocridade democrática”, Mussolini organizou o assalto
o fim da República. Embora todos tivessem sido presos, ganharam
ao poder. Em 1922, 50 mil camisas-negras, vindos de todas as regi-
ampla publicidade pelo país.
ões da Itália, dirigiram-se para a capital, exigindo o poder.
O Putsch (“golpe”, em alemão) de Munique, como o evento fi-
O episódio ficou conhecido como Marcha sobre Roma. O rei Ví-
cou conhecido, pareceu, por seu fracasso, o fim do nascente Partido
tor Emanuel III cedeu à pressão, e o líder fascista assumiu o cargo de
Nazista. Foi, no entanto, apenas um recuo momentâneo na escala-
primeiro-ministro. Em 1924, por meio de eleições fraudulentas, os
fascistas ganharam maioria parlamentar. A oposição, liderada pelo da nazista, que contaria mais tarde com circunstâncias propícias a
deputado socialista Giacomo Matteotti (1885-1924), denunciou as seu reerguimento definitivo.
irregularidades eleitorais, mas foi calada pela repressão generaliza- Na prisão, Hitler escreveu Mein Kampf, obra em que desenvol-
da, que culminou no sequestro e assassinato do deputado. veu os fundamentos do nazismo:
No ano seguinte às eleições, Mussolini passou a ser chamado - a ideia pseudocientífica da existência de uma raça “pura”, a
de Duce (guia), com o respaldo da Confederação Geral da Indús- raça ariana — que seria descendente de um grupo indo-europeu
tria, da polícia política fascista (Ovra) e de tribunais especiais, que mais puro;
julgavam e condenavam os dissidentes do regime. Concretizou-se, - o nacionalismo exacerbado;
assim, um Estado totalitário, no qual os principais focos de oposição - o totalitarismo;
eram eliminados; ao mesmo tempo que se impunham leis de exce- - o anticomunismo;
ção, suprimia-se a imprensa oposicionista e a licença de todos os - o antissemitismo;
advogados antifascistas era cassada. - o conceito de espaço vital (Lebensraum), domínio de territó-
Em 1929, Mussolini ganhou também o apoio do clero ao assi- rios indispensáveis ao desenvolvimento do povo alemão, inclusive
nar o Tratado de Latrão, que solucionava a antiga Questão Roma- com a conquista da Europa oriental.
na. Pelo tratado, o Papa Pio XI (1857-1939) reconhecia o Estado ita-
liano, e Mussolini, a soberania do Vaticano. O catolicismo tornou-se O nazismo ganhou impulso com a Grande Depressão, iniciada
a religião oficial da Itália. com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929. Em 1932,
Após garantir para si plenos poderes e cercar-se das elites do- muitos dos 6 milhões de desempregados alemães engrossavam as
minantes, o Duce buscou o desenvolvimento econômico do país. fileiras do Partido Nazista, ao lado de ex-soldados, jovens estudan-
Centrado numa intensa propaganda de massa e na proibição de tes e agricultores, descontentes com o governo democrático de
greves, seu governo obteve sucessos na agricultura e na indústria Weimar. Outros, porém, alinhavam-se aos grupos políticos de es-
até que a depressão mundial de 1929 mergulhou o país novamente querda, fato que amedrontou a elite e a classe média alemãs, que
na crise. viram na proposta nazista a salvação nacional.

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As tropas das SA passaram a agir livremente, e a popularida- A Itália fascista aderiu no ano seguinte. Foi uma reação ao VII
de nazista se impôs. Em 1932, nas eleições para o Parlamento, os Congresso da Internacional Comunista, realizado em Moscou, um
nazistas conquistaram 230 cadeiras (em 1930, eram aproximada- ano antes, que recomendou aos partidos comunistas de todo o
mente 30) e, em 1933, com a crise do sistema parlamentarista, o mundo a formação de frentes populares com socialistas e democra-
presidente Hindenburg (1847-1934) ofereceu a Hitler o cargo de tas contra a ascensão dos regimes fascistas.
chanceler. França e Grã-Bretanha viram no fortalecimento alemão uma
Elevado ao poder, o líder nazista se lançou contra a oposição. forma de conter o comunismo no limite das fronteiras soviéticas.
Para tanto, usou diversos meios, entre os quais uma farsa: provocou Por esse motivo, calcularam que a guerra alemã em busca de seu
um incêndio que destruiu o prédio do Parlamento em Berlim, o Rei- espaço vital se limitaria ao leste, talvez provocando a destruição da
chstag, e colocou a culpa nos comunistas, acusando-os de trama- URSS, mas não chegaria aos países do Ocidente europeu e a seus
rem um golpe. Isso lhe permitiu a instalação de uma ditadura totali- impérios coloniais na Ásia e na África. Mas os planos de Hitler logo
tária. Os deputados e líderes das esquerdas foram presos e levados se mostraram bem mais ambiciosos.
para campos de concentração - áreas de confinamento cercadas e
vigiadas. Nesses lugares e nos campos de extermínio, muitos oposi- Guerra Civil Espanhola
tores do regime nazista e milhões de judeus foram assassinados, no As democracias ocidentais nada fizeram para auxiliar o gover-
genocídio conhecido como holocausto. no republicano espanhol, atacado pelo levante militar comandado
Para sustentar o poder hitlerista, foram criadas a Gestapo - po-
pelo general Francisco Franco em 1936. Isso porque o governo ata-
lícia secreta do Estado - e as Seções de Segurança (SS), polícia políti-
cado era uma frente popular, inspirada na Internacional Comunista.
ca do partido, bem-treinada, disciplinada e fiel ao líder. No dia 21 de
Assim, essas democracias assistiram impassíveis à Guerra Civil Es-
margo de 1933, Hitler proclamou a criação do Terceiro Reich (“im-
panhola, que resultou no esmagamento do governo constitucional
pério”), sucessor do Sacro lmpério Romano-Germânico (962-1806)
e do Império dos Kaiser Hohenzollern (1871-1919). Com a morte de pelas tropas do general Franco.
Hindenburg, em 1934, Hitler acumulou a função de presidente e a O objetivo do generalíssimo, como era chamado, era defender
de chanceler, adotando o título de Führer (chefe). os interesses das classes proprietárias e da Igreja Católica, amea-
Hitler eliminou os partidos políticos, os jornais de oposição, os çados pelo movimento de esquerda que predominava no governo
sindicatos e suspendeu o direito de greve. Em junho de 1934, no republicano espanhol. As divergências entre as organizações e as
episódio conhecido como Noite dos Longos Punhais, eliminou vá- lideranças de esquerda facilitaram a vitória do franquismo. No final
rios líderes das SA que divergiam de sua autoridade absoluta. Cerca da guerra, Franco contou com o apoio direto de Hitler e de Musso-
de 70 líderes e 5 mil outros nazistas foram mortos por soldados lini, com aviões da Luftwaffe (Força Aérea alemã) bombardeando
do exército, pelas SS e pela Gestapo. A propaganda nazista ficou a cidades leais aos republicanos espanhóis, como Guernica - imortali-
cargo de Joseph Coebbels (1897-1945), que conquistou o apoio da zada em uma obra do pintor Pablo Picasso.
maioria da nação aos planos grandiosos do Führer.
A campanha racista criava um bode expiatório e aproximava Guerra Política
a população alemã dos nazistas ao propor a purificação racial por
meio do extermínio dos judeus. As potências ocidentais europeias eram tolerantes quanto as
Para cumprir seu plano de genocídio denominado “solução reivindicações territoriais do regime nazista. Assim, Hitler remilita-
final”, os campos de concentração foram multiplicados e milhões rizou a Renânia, na fronteira com a França, em 1936, sem nenhu-
de judeus assassinados. Toda a sociedade alemã foi envolvida no ma resistência, contrariando cláusulas do Tratado de Versalhes. Em
programa nazista do Terceiro Reich: das crianças aos adultos; nas 1938, anexou a Áustria, no episódio conhecido como Anschluss,
escolas e nas instituições, todos eram induzidos a filiar-se à Juven- após sabotar o regime democrático austríaco, em decorrência do
tude Hitlerista ou ao Partido Nazista. A nazificação da Alemanha forte movimento nazista existente naquele país.
completou-se com o armamentismo e o total militarismo, que rea- No mesmo ano, reivindicou a posse dos Sudetos, na Tchecos-
tivaram o desenvolvimento econômico baseado na indústria bélica. lováquia, alegando que havia maioria alemã na região e ameaçan-
A militarização do país visava à expansão territorial e à conquista do do invadir o lugar no caso de objeção das potências ocidentais. No
“espaço vital”, o que viria a constituir o estopim de um novo conflito Tratado de Munique, assinado em setembro de 1938, Hitler atin-
europeu.
giu seu objetivo. Em março de 1939, tropas alemãs entraram em
Praga e decretaram que a Boêmia e a Morávia fariam parte de um
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
protetorado alemão. Um dos poucos políticos a denunciar as inten-
ções expansionistas da Alemanha foi Winston Churchill, membro do
Precedentes
Partido Conservador britânico, declaradamente antissoviético, mas
O regime nazista preparou a Alemanha para a guerra. As posi- igualmente crítico do regime nazista.
ções de Hitler contra o Tratado de Versalhes (1919), o rearmamen- Os governos britânico e francês alertaram que, diante de qual-
to progressivo do Terceiro Reich e a instituição do serviço militar quer novo avanço territorial, seria declarada guerra à Alemanha
obrigatório não deixavam dúvida quanto aos seus objetivos expan- para resguardar a ordem internacional. Porém, a essa altura, Ale-
sionistas. Um dos primeiros atos de Hitler foi a retirada da Alema- manha, Itália e Japão já tinham firmado o Eixo Roma-Berlim-Tó-
nha da Liga das Nações - organismo internacional fundado ao final quio: uma aliança militar para atuar contra quaisquer inimigos. Ale-
da Primeira Guerra Mundial para resolver litígios entre os Estados21. manha e Itália também reforçaram sua aliança por meio do Pacto
Os nazistas não cansavam de declarar seu direito ao espaço vi- de Aço, assinado em maio de 1939.
tal, considerado necessário para a formação da “Grande Alemanha” A surpresa viria com o encontro entre o ministro de Relações
Em 1936, a Alemanha liderou o Pacto Anti-Komintern, aliando-se Exteriores da Alemanha, Joachim Von Ribbentrop, e o ministro sovi-
ao Japão contra o expansionismo soviético. ético, Viacheslav Molotov, em Moscou, em fins de agosto de 1939.
Nessa ocasião, os dois países firmaram o pacto germano-soviético
21 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição.
São Paulo. Saraiva. de não agressão, que incluía uma cláusula secreta de divisão da Po-

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lônia entre as duas potências - em caso de guerra -, além de prever Não tardou para que outros países apoiassem a Alemanha,
o intercâmbio comercial. De fato, a URSS enviou regularmente pe- como a Bulgária, a Romênia e a Hungria. Portugal e Espanha per-
tróleo e alimentos para a Alemanha até 1941. maneceram neutros, porém simpáticos à Alemanha. Em 1941, boa
Por meio desse acordo, a Alemanha nazista conseguiu carta parte da Europa estava, direta ou indiretamente, controlada pelo
branca dos soviéticos para invadir a Polônia. O regime soviético, Terceiro Reich. Apenas Suíça, Suécia e Turquia conseguiram manter
por sua vez, obteve garantias mínimas de que não seria atacado, na uma neutralidade mais consistente. Restava a URSS, no leste.
expectativa de que o esforço bélico dos nazistas se lançasse contra
outros países, incluindo as democracias ocidentais. As potências Inglaterra Resiste
ocidentais ficaram perplexas diante da cartada de Hitler e Stalin.
Os nazistas pretendiam invadir a Grã-Bretanha pelo sul, atra-
O Nazismo ataca a Europa vessando o canal da Mancha, em uma operação batizada de Leão-
-marinho. A ação dependia da Luftwaffe para neutralizar as defesas
Em 3 de setembro de 1939, França e Grã-Bretanha declararam aéreas britânicas, e acabou sendo o maior conflito aéreo da guerra.
guerra à Alemanha, embora, concretamente, nada tenham feito. A Luftwaffe dispunha de quase 3 mil aviões, entre bombardeiros e
Apenas aumentaram os gastos militares e mobilizaram soldados em caças. A força aérea britânica, Royal Air Force (RAF), dispunha de
grande escala para fazer frente ao conflito. A partir de março de menos aviões, embora a produção de caças tenha se multiplicado
1940, passaram a apoiar a Finlândia contra a invasão soviética, em no país entre 1940 e 1941. No início do ataque alemão, a Grã-Breta-
uma ação abortada por conta do acordo firmado naquele mesmo nha foi flagelada por bombardeios quase diários, cujos alvos deixa-
mês entre soviéticos e finlandeses.
ram de ser militares e passaram a se concentrar em Londres. Hitler
A Grã-Bretanha ainda tentou ocupar a Noruega, sob a alegação
calculava que, em poucas semanas, os britânicos não teriam como
de impedir o ataque alemão a esse país, com receio de que o Reich
deter a invasão alemã. Dessa vez, porém, ele estava enganado.
estabelecesse uma base de operações no mar do Norte. Mas de
A capacidade de resistência britânica foi extraordinária. No
nada adiantou, já que em abril a Alemanha ocupou a Dinamarca e a
Noruega, espalhando minas marítimas para sabotar a Marinha bri- ar, os caças britânicos provocaram pesadas perdas à Luftwaffe. No
tânica. O avanço alemão para o ocidente começava pelas beiradas. solo, houve enorme mobilização da população civil, insuflada pelos
discursos diários de Churchill. Em 25 de agosto de 1940, aconteceu
Invasão na França o que parecia impossível: em represália aos ataques alemães, os
A expansão alemã provocou mudanças sensíveis nos governos britânicos bombardearam Berlim. Com sucessivos desgastes, em
das potências ocidentais. Na Grã-Bretanha, por exemplo, o poder fevereiro de 1942, Hitler desistiu de ocupar Londres.
foi assumido por Winston Churchill, agora prestigiado pelos alertas A Grã-Bretanha resistiu praticamente sozinha, recebendo o
que vinha fazendo contra o perigo alemão. Em 10 de maio de 1940, apoio dos EUA em armas, navios e alimentos, apesar da posição
o Exército alemão, com o apoio da Luftwaffe, deu início a outra Blit- do governo estadunidense de não intervenção no conflito europeu.
zkrieg, agora contra a Holanda e a Bélgica. Enquanto resistiam na Europa, os exércitos britânicos eram fus-
A vitória alemã nos Países Baixos foi avassaladora. Nesse mo- tigados no norte da África pelos italianos, que pretendiam marchar
mento, estava claro que os alemães atacariam a França pela frontei- da Líbia até o Egito para conquistar o canal de Suez, de onde parti-
ra belga, contornando a Linha Maginot, complexo defensivo cons- riam para o Iraque com o objetivo de controlar as reservas petrolí-
truído pelos franceses ao longo do Reno nos anos 1930. Quando os feras da região.
alemães evitaram a Linha Maginot pelo extremo oeste, a resistência No Egito, os britânicos impuseram a derrota ao exército de
britânico-francesa ficou dividida e o caminho para Paris, aberto. Mussolini. A guerra no deserto estava só começando. Diante do
Os britânicos abandonaram a França à própria sorte, pois Chur- novo fracasso militar italiano, Hitler organizou o Afrika Korps, em-
chill temia perder homens e aviões em uma batalha condenada. purrando os exércitos britânicos de volta à fronteira egípcia, em
Ficou famosa a retirada de Dunquerque, na qual os britânicos resga- uma guerra que permaneceu em impasse até 1942.
taram mais de 150 mil soldados encurralados no nordeste da Fran-
ça, usando até barcos de pesca. Paris foi ocupada pelos alemães em Ofensiva japonesa na Ásia
14 de junho.
O novo governo francês, comandado por Pétain, entregou par- A partir da década de 1930, com o governo imperial sob o con-
te do território aos nazistas, permanecendo com dois terços dele e trole dos militares, o Japão se lançou em uma ofensiva militar sem
com as colônias. Colaboracionista, o regime comandado por Pétain,
precedentes. Industrializado e posto à margem da corrida imperia-
sediado em Vichy - e por isso conhecido como governo de Vichy -,
lista europeia, não se tratava mais de conquistar pontos estratégi-
não tardou a apoiar a Alemanha na guerra. Pétain foi então celebra-
cos na Coreia ou na própria China; o objetivo era dominar a Ásia.
do como “salvador da pátria”, pois a maioria dos franceses não su-
Em 1937, o governo japonês lançou um ataque à China, que
portava mais os bombardeios e as fugas desesperadas. Além disso,
boa parte da sociedade francesa era anticomunista e antissemita. começou na Manchúria e levou à conquista sucessiva de Pequim,
Shangai e Nanquim. Ao conquistarem esta última, os japoneses
Superioridade Nazista massacraram a população, com fuzilamentos de prisioneiros, inva-
Ao conquistar a França, Hitler foi saudado como grande estra- sões de casas, infanticídios e estupros de mulheres. A vitória japo-
tegista militar. O passo seguinte foi se concentrar na guerra contra nesa foi favorecida pela divisão política da China, que passava por
a Grã-Bretanha e avançar em direção ao Mediterrâneo. No início de uma guerra civil desde o final dos anos 1920.
1941, conquistou a Iugoslávia, a Grécia e a ilha de Creta, contando De um lado, o partido conservador Kuomintang, liderado por
com o apoio da Itália, que só passou a atuar em favor dos alemães Chiang Kai-Shek, chefe do governo chinês; de outro, os comunis-
às vésperas da queda da França. Mas os exércitos de Mussolini, que tas, sob a liderança de Mao Tsé-Tung. Em setembro de 1937, os
já haviam demonstrado debilidade na Etiópia, sequer conseguiram dois líderes fizeram uma trégua em nome da defesa da China e até
vencer sozinhos a resistência grega, sendo socorridos pelas tropas 1945 lutaram juntos contra os japoneses. Em 1941, o Japão invadiu
nazistas. a Indochina.

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Em represália, os EUA impuseram sanções econômicas aos ja- ao contra-ataque britânico. Em 1942, os britânicos atacaram o que
poneses, embargando a venda de petróleo e aço. Com fortes in- restava do exército alemão e de seu aliado italiano na segunda Ba-
teresses econômicos no Sudeste Asiático, os estadunidenses não talha de El Alamein.
estavam dispostos a aceitar a concorrência japonesa. As forças do Eixo, enfim, capitularam. Churchill saudou a vitória
O governo japonês decidiu enfrentar os EUA e, sem nenhuma britânica com entusiasmo: “Este não é o fim, não é nem o começo
declaração de guerra, atacou a base militar de Pearl Harbor, no Ha- do fim, mas é, talvez, o fim do começo”.
vaí, em dezembro de 1941. Os caças japoneses afundaram diversos
navios de guerra e destroçaram os aviões que se encontravam no Invasão da Itália
solo, causando milhares de mortes. O presidente dos EUA, Franklin
Delano Roosevelt, declarou guerra ao Japão e, no dia seguinte, à Com a retomada do norte da África, os Aliados, como ficou co-
Alemanha e à Itália. Mas a declaração de guerra estadunidense não nhecida a coligação de países que lutaram contra os regimes nazista
deteve os japoneses. e fascista, não tardaram a invadir a Itália. Em 1943, após inúmeros
No primeiro semestre de 1942, conquistaram a Birmânia, a Ma- bombardeios, desembarcaram na Sicília e partiram para a penín-
lásia e várias ilhas do Pacífico. Nessa fase da guerra, britânicos e es- sula. Os constantes fracassos militares e a iminente invasão aliada
tadunidenses foram derrotados em toda parte. O esforço de guerra abalaram o regime fascista.
dos EUA foi fenomenal, com a produção de milhares de navios, avi- Muitos líderes desejavam o fim da guerra e tramaram uma
ões e tanques. O país mostrava-se disposto a reagir no Pacífico e a conspiração, na qual até o genro de Mussolini se envolveu. O rei
enfrentar a Alemanha na Europa, mas o momento era de incerteza. Vítor Emanuel III demitiu Mussolini do cargo de primeiro-ministro,
A Alemanha mantinha intactas as suas conquistas europeias, en- mandando prendê-lo em um abrigo secreto em Abruzos, no centro
quanto o Japão era o senhor do Pacífico. do país.
A batalha naval de Midway, em junho de 1942, foi a primei- O governo foi passado ao general Pietro Badoglio, que liderava
ra grande vitória estadunidense contra os japoneses. Mas o fim da o grupo favorável à paz e assinou um armistício com os Aliados. Os
guerra ainda estava longe. nazistas reagiram com fúria ao que consideraram ser uma traição
da Itália.
Reação Soviética Nas frentes de batalha, os soldados italianos foram desarma-
dos pelos nazistas e muitos foram fuzilados. A Alemanha logo ocu-
Apesar das dificuldades do combate com a Grã-Bretanha, na pou o norte e o centro da Itália, tomou Roma e montou uma barrei-
frente ocidental Hitler pôs em marcha o plano de invadir a URSS - a ra defensiva nos Apeninos - cadeia montanhosa que vai do norte ao
Operação Barbarossa. Pretendia apoderar-se dos imensos recursos sul da Itália pela costa leste.
naturais do país, incluindo as áreas petrolíferas, mas havia também Mussolini foi resgatado por uma tropa de paraquedistas ale-
o objetivo político-ideológico de destruir o regime comunista sovi- mães e recolocado no poder em Saló, cidade próxima a Milão. Mas
ético e a pretensão de ocupar o território, em conformidade com a o regime fascista estava derrotado, o que fez do próprio Mussolini
teoria nazista do espaço vital. um fantoche de Hitler.
Em 1941, os alemães invadiram a URSS, com 3,5 milhões de
soldados. As instruções para a guerra incluíam a execução de ci- O Dia D
vis, a começar pelos comissários do partido comunista de cada área
conquistada. As primeiras vitórias alemãs foram arrasadoras, mas a A abertura da frente ocidental pelos Aliados foi adiada várias
resistência soviética revelou-se tenaz. vezes até 1944, apesar dos constantes protestos de Stalin. Meti-
Embora tenham recuado e perdido milhões de soldados, en- culosamente planejada, a Operacão Overlord, também conhecida
tre mortos e prisioneiros, os soviéticos conseguiram deter o avanço como invasão do Dia D, ocorreu em 6 de junho de 1944, quando
alemão. Leningrado não caiu, embora a população da cidade sitia- mais de 300 mil homens desembarcaram na Normandia, norte da
da tenha sido arrasada pela fome e por doenças. Moscou também França, abrindo caminho para a derrota do Terceiro Reich.
resistiu, graças ao esforço do Exército Vermelho. A chegada do in- Os alemães foram pegos de surpresa, pois esperavam o desem-
verno russo deteve de vez o ímpeto alemão, como ocorrera com o barque em Calais. O avanço dos Aliados tornou-se avassalador, com
exército napoleônico, em 1812. a retomada de Paris, em 25 de agosto de 1944, e da Bélgica e da
Holanda, nos meses seguintes. Hitler ainda tentou uma última car-
Stalingrado tada, lançando uma contraofensiva surpresa nos Países Baixos. A
Os alemães abandonaram o plano de conquistar Moscou e con- Batalha de Ardenas foi a última Blitzkrieg do Exército alemão, que,
centraram-se na conquista do Cáucaso, rico em petróleo, recursos após algumas vitórias, se rendeu na Bélgica, em janeiro de 1945.
minerais, industriais e agrícolas. Essa conquista lhes daria ainda o A Alemanha estava cercada, e o regime nazista se aproximava
controle do rio Volga, o maior da Europa, e acesso ao mar Cáspio. do fim.
Em agosto de 1942, a ofensiva chamada Operação Azul estava às
portas de Stalingrado, às margens do rio Volga. Operação Valquíria
Foi a batalha mais sangrenta da Segunda Guerra Mundial, ar-
rastando-se por meses, com avanços e recuos de ambos os lados. A iminente derrota da Alemanha acabou apressando os planos
Em novembro de 1942, a contraofensiva do Exército Vermelho cer- de militares do Alto Comando para derrubar Hitler e fazer um armis-
cou os alemães e forçou a rendição de soldados famintos e flagela- tício com as potências ocidentais e livrar o país da invasão soviética.
dos pelo inverno soviético. Trata-se da famosa Operação Valquíria, que se tornou, inclusi-
A vitória soviética em Stalingrado mudou o rumo da guerra, ve, tema de filme. Os conspiradores usaram o nome da deusa ger-
sinalizando a derrota alemã em todas as frentes de batalha. A cam- mânica Valquíria (ou Walquíria) para codificar sua ação, que incluía
panha na URSS absorvia enormes recursos da máquina de guerra a tomada de prédios públicos e da rede de comunicações na capital
nazista. No norte da África, os alemães não tiveram como resistir alemã, após a confirmação da morte de Hitler.

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Em 20 de julho de 1944. o coronel Claus von Stauffenberg Hiroshima e Nagasaki
escondeu uma bomba em uma pasta de trabalho, sob a mesa de
reunião do quartel-general de Hitler, mas poucos morreram com a No início de 1942, a ofensiva japonesa no Pacífico estava no
explosão e o Führer sobreviveu quase sem um arranhão. Embora auge, com a derrota dos EUA nas Filipinas. Mas, em junho daquele
muito doente e deprimido, Hitler mandou executar os conspirado- mesmo ano, o rumo da guerra começou a virar, com a vitória esta-
res, provocando a morte de quase 5 mil pessoas. dunidense na Batalha de Midway, que resultou na destruição dos
O marechal Erwin Rommell. ex-comandante do Afrika Korps, principais porta-aviões japoneses.
que havia participado da conspiração, recebeu a opção de suicídio, A ofensiva japonesa durou cerca de seis meses. Todo o resto da
por ser muito popular entre os alemães. Aceitou e foi enterrado guerra no Pacífico foi, na verdade, uma luta dos EUA para subjugar
com honras militares. o Japão. Os Estados Unidos consolidaram sua vitória com a recon-
quista das Filipinas, em fevereiro de 1945, e o triunfo nas batalhas
Auschwitz e o Holocausto de Iwo Jima e Okinawa, entre fevereiro e junho. Mas o Japão não
se entregava, multiplicando os voos kamikaze. No início de agosto,
Desde a ascensão do nazismo, em 1933, a situação dos judeus o imperador Hirohito autorizou seu embaixador a estabelecer acor-
na Alemanha era desesperadora, e pioraria muito nas áreas ocu- dos diplomáticos com Stalin.
padas, em especial no Leste Europeu. À medida que a Alemanha A essa provocação os EUA responderam com o lançamento da
perdia a guerra, a situação tornava-se ainda mais trágica.
bomba atômica Little Boy sobre a cidade japonesa de Hiroshima,
A matança de judeus começou na Polônia, em 1939, sendo
em 6 de agosto de 1945. Dois dias depois, a URSS invadiu a Manchú-
sistemática na URSS, após a invasão de 1941. A decisão formal de
ria, dominada pelos japoneses. Em 9 de agosto, os EUA lançaram
exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferência
uma nova bomba atômica, a Fat Man, sobre Nagasaki. Em cada um
de Wannsee, realizada em janeiro de 1942. Nela, foi estabelecida a
Solução Final para o problema judaico: o genocídio. desses ataques, estima-se que tenham morrido 80 mil pessoas ins-
Pouco a pouco, os guetos foram desativados e os judeus, en- tantaneamente, sem contar os efeitos que a radiação causou nos
viados a campos de extermínio (como o de Auschwitz, na Polônia, sobreviventes. No dia 14 de agosto, o imperador aceitou a rendição
o mais conhecido deles). Nos campos, eram selecionados os judeus incondicional do Japão.
que, após dias de viagem em vagões de trens de carga infectados,
ainda tinham condições de trabalhar para a máquina de guerra ale- Pós-Guerra
mã, inclusive nas fábricas de munições. Os demais eram enviados às
câmaras de gás, e seus corpos, incinerados em crematórios. A Segunda Guerra Mundial foi o maior conflito armado de to-
Na tentativa de iludir os condenados, os campos tinham um dos os tempos, resultando em mais de 60 milhões de mortos, além
letreiro grande no portão principal onde se lia: “O trabalho liberta” de milhões de civis e militares mutilados. Entre as forças do Eixo, es-
(Arbeit macht frei). tima-se cerca de 8 milhões de militares mortos (a maioria alemães)
Cerca de 6 milhões de judeus foram exterminados nos cam- e 4 milhões de civis.
pos alemães, fato que ficou conhecido como Holocausto (shoah, Entre os Aliados, 17 milhões de militares e 35 milhões de ci-
em hebraico). Eles não foram as únicas vítimas desse programa de vis, sobretudo no Leste Europeu. As maiores baixas dos Aliados
extermínio: cerca de 800 mil ciganos também morreram nos cam- ocorreram entre os soviéticos, que suportaram a guerra na Europa
pos de concentração, além de um número incerto de prisioneiros durante quatro anos seguidos. Estima-se que tenham morrido, no
de guerra soviéticos, presos políticos, homossexuais e testemunhas mínimo, 20 milhões de soviéticos, entre militares e civis. Depois da
de Jeová. URSS, a China foi o país que mais perdeu militares na guerra contra
o Japão: 2,5 milhões. EUA e Grã-Bretanha perderam cerca de 300
A Guerra chega ao Fim mil militares cada.
As potências Aliadas começaram a esboçar o destino do mundo
No começo de 1945, a guerra estava definida a favor dos Alia- em 1943, quando a derrota do Eixo se tornou uma possibilidade
dos. Hitler, doente e derrotado, recusava-se a abandonar Berlim, concreta. Foi na Conferência de Teerã, realizada no Irã em 1943,
onde havia se refugiado no Bunker da chancelaria. A notícia da onde se decidiu o desembarque aliado na Normandia e a divisão da
morte de Mussolini, capturado e fuzilado em 27 de abril de 1945,
Alemanha derrotada em zonas das potências vencedoras.
sinalizava um desfecho trágico.
Reconheceu-se também o direito soviético às repúblicas bál-
O ditador italiano e sua amante, Clareta Pettacci, tiveram seus
ticas da Estônia, Lituânia e Letônia, bem como ao leste da Polônia.
corpos pendurados de cabeça para baixo na principal praça de Mi-
Estabeleceu-se, ainda, a necessidade da criação de um organismo
lão, diante de uma multidão eufórica. Berlim era bombardeada
diariamente pelos soviéticos. Diante do avanço dos tanques pela internacional de segurança coletiva mais eficiente que a Liga das
cidade, até crianças da Juventude Hitlerista tentavam, em vão, com- Nações. Foi a origem da Organização das Nações Unidas - a ONU
bater. -, fundada em 24 de outubro de 1945, responsável pela Declaração
Em 30 de abril de 1945, Hitler suicidou-se com sua amante, Universal dos Direitos Humanos, em 1948.
Eva Braun, com quem se casara um dia antes. Os corpos do casal As conferências de Yalta, na Crimeia (URSS), e Potsdam, nas
foram queimados nos jardins do Bunker, seguindo a última ordem cercanias de Berlim, entre fevereiro e agosto de 1945, aprofunda-
do Fuhrer. Em 7 de maio de 1945, o almirante Karl Dónitz, sucessor ram as decisões sobre o destino da Alemanha, em especial o seu
nomeado por Hitler, assinou a rendição incondicional da Alemanha. desmembramento em zonas: uma sob o controle britânico, outra
sob influência estadunidense, e uma terceira e uma quarta sob con-
trole francês e soviético.
O mesmo foi decidido para Berlim, além de ser aprovada a des-
militarização e a democratização da Alemanha.

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GUERRA FRIA Em 1950, o senador Joseph McCarthy assumiu a liderança do
Comitê de Atividades Antiamericanas, criado para identificar e pu-
Duas Potências Mundiais nir pessoas suspeitas de envolvimento com o comunismo. Ele deu
início a uma intensa campanha de perseguição e intimidação diri-
No período que se seguiu ao final da Segunda Guerra Mundial, gida a intelectuais, líderes trabalhistas e funcionários do governo
os Estados Unidos e a União Soviética se firmaram como potências acusados - ou simplesmente suspeitos - de “esquerdismo”.
hegemônicas mundiais, com suas respectivas esferas de influência: Essa campanha ficou conhecida como macarthismo. Um dos
o bloco capitalista e o bloco socialista22. alvos do macarthismo eram os artistas e intelectuais, principalmen-
Durante a guerra, os Estados Unidos lograram uma relativa te os que se relacionavam com a indústria cinematográfica. Denún-
expansão econômica e não sofreram prejuízos territoriais (com cias forjadas e provas falsas contra essas pessoas eram alguns dos
exceção de Pearl Harbor, no Havaí). Com o esforço de guerra, sua meios de ação macarthista.
produção industrial duplicou entre 1939 e 1945. Essa expansão foi
acompanhada de grandes avanços tecnológicos e científicos. Alemanha Dividida
Com o poderio financeiro, bélico e tecnológico, o país assumiu
uma posição de liderança mundial, predominantemente imperialis- Até 1948, a Alemanha foi administrada por Estados Unidos,
ta, a partir do período pós-guerra. França, In-glaterra e União Soviética. Em 1949, foram criados dois
O governo da União Soviética, sob o comando de Stalin, tam- Estados alemães independentes: a República Federal da Alemanha
bém havia conseguido definir uma importante e intensa área de (ou Alemanha Ocidental), que reunia as partes dos países de eco-
influência sobre os países do Leste Europeu. Esse processo foi ini- nomia capitalista, e a República Democrática da Alemanha (ou Ale-
ciado quando o Exército Vermelho, depois de vencer os alemães manha Oriental), de economia estatal-socialista.
em território soviético, marchou em direção à Alemanha e não Nesse processo de divisão, deu-se um dilema: a cidade de Ber-
apenas libertou a maioria dos países do leste e do centro da Euro- lim, considerada a capital, estava situada na parte da Alemanha
pa dos nazistas, mas também os ocupou militarmente. No período Oriental, e também passou por uma divisão em duas partes, uma
pós-guerra, esses países passaram a ser liderados por governos de socialista e outra capitalista.
orientação socialista e formaram o bloco comunista. Em 1961, para impedir o aumento de fugas da Berlim Oriental
Liderado pela URSS, o bloco comunista era formado por Polô- (socialista) para a Ocidental (capitalista), os soviéticos construíram
nia, Tchecoslováquia, Hungria, Romênia, Bulgária, Albânia e pela um muro que dividiu a cidade ao meio. Extremamente fortificado
antiga Alemanha Oriental. e vigiado por soldados soviéticos, o chamado “Muro da Vergonha”
A Iugoslávia, cuja libertação do nazismo foi resultado da re- acabou se transformando no principal símbolo da Guerra Fria. Ao
sistência sob o comando do comunista Josip Broz Tito - e não do longo dos anos seguintes, o Muro de Berlim foi expandido até cer-
Exército Vermelho, adotou um modelo socialista mais flexível, assi- car completamente a porção ocidental da cidade.
milado pelos outros países do Leste Europeu. Em 1948, o governo
iugoslavo, sob o comando de Tito, rompeu com a URSS. Anticapitalismo

A Polarização Ideológica Na União Soviética, o governo também desenvolveu um plano


Para os Estados Unidos, a expansão do regime comunista arris- de auxílio econômico aos países do bloco comunista para isolá-los
cava a democracia e a livre-iniciativa. Para a União Soviética, o au- do capitalismo. Com a morte de Stalin, em 1953, Nikita Kruschev
mento da influência estadunidense sobre outras nações do planeta tornou-se o presidente da URSS.
era o tipicamente imperialista e punha em risco a ideia de igualdade Em 1954, o governo soviético criou seu serviço de inteligência
entre os indivíduos e o fim da exploração dos trabalhadores, ideais e espionagem internacional, a KGB, sigla em russo de Comitê para
da Revolução Socialista. a Segurança do Estado. Em 1955, em reação à fundação da Otan,
Nessa guerra ideológica, a propaganda foi uma das armas mais os países do bloco comunista formaram uma aliança militar deno-
utilizadas pelos dois blocos. minada Pacto de Varsóvia.

Macarthismo Corrida Armamentista e Espacial

Em março de 1947, o presidente estadunidense Harry Truman Em 1949, os soviéticos fizeram seu primeiro teste nuclear, ex-
fez um pronunciamento no qual declarava que os Estados Unidos plodindo uma bomba atômica no deserto do Casaquistão. A partir
deveriam “ajudar os povos livres” a lutar contra “movimentos de então, teve início a corrida nuclear entre os governos dos Estados
agressivos que buscam impor-lhes regimes totalitários”. Era uma Unidos e da União Soviética, que passaram a investir na pesquisa e
alusão à União Soviética. na produção de armas cada vez mais destrutivas, como a bomba de
Para muitos historiadores, esse discurso marcou o início da hidrogênio e os mísseis de longo alcance munidos de ogiva nuclear.
Guerra Fria. O discurso fazia parte da Doutrina Truman, que consis- A corrida nuclear difundiu o medo por todo o planeta. Temia-se
tia em oferecer sustentação econômica, política e militar aos países que a qualquer momento um dos dois países - para conter qualquer
ocidentais, de modo a criar forças de contenção ao comunismo. ação militar do outro - utilizasse essas armas contra seu rival, dando
Com o mesmo objetivo, em 1947, foi criada a Agência Central início a uma guerra nuclear de efeitos devastadores.
de Inteligência (CIA, em inglês), serviço secreto de inteligência que Um dos desdobramentos da competição entre as duas potên-
tinha poderes para agir nos Estados Unidos e na política interna de cias mundiais foi a corrida espacial, cujos principais eventos ocorri-
outros países. Em 1949, os estadunidenses lideraram a criação da dos nas décadas de 1950, 1960, 1970 e 1980.
Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar
formada, naquele momento, por doze países capitalistas, entre eles
a Inglaterra e a França.
22 Azevedo, Gislane. História: passado e presente / Gislane
Azevedo, Reinaldo Seriacopi. 1ª ed. São Paulo. Ática.

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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
PROFESSOR DE GEOGRAFIA 
Guerra Indireta Socialmente, a bigamia e o concubinato foram proibidos; o di-
vórcio foi legalizado, e as mulheres passaram a ter os mesmos direi-
Apesar da tensão das relações internacionais na Guerra Fria, tos políticos dos homens - direito à propriedade, ao voto, à candida-
as forças armadas dos Estados Unidos e da União Soviética sempre tura política, à igualdade salarial, etc. - embora muitos não tenham
evitaram o confronto direto. No entanto, em decorrência do velho se concretizado. Opositores ao novo regime foram proibidos de se
colonialismo em declínio ou da própria Guerra Fria, desde o fim da manifestar.
Segunda Guerra Mundial eclodiram diversas guerras localizadas,
conhecidas como guerras “quentes”. O Grande Salto
Nesses conflitos, a intervenção dos Estados Unidos e da União Inspirado na experiência soviética, em 1953 o governo chinês
Soviética (URSS) se dava indiretamente, por meio de apoio mate- pôs em prática seu primeiro Plano Quinquenal (1953-1957), cujas
rial e político às forças em luta. Em alguns casos, como na Guerra metas foram atingidas: a produção de aço triplicou, a de carvão e
da Coreia (1950-1953), a intervenção estadunidense se deu sob a eletricidade duplicou e o país cresceu 18% ao ano.
bandeira da ONU, cujo Conselho de Segurança aprovou o envio das Com a coletivização da terra no final de 1956, as recém-criadas
tropas de quinze países - comandadas pelo general estadunidense cooperativas agrícolas passaram a responder por 90% da produção
Douglas MacArthur - em defesa da Coreia do Sul. agropecuária. Por essa época, os bancos, as grandes indústrias e o
Em 27 de julho de 1953, foi assinado um armistício mantendo comércio já se encontravam estatizados. Em 1958, o governo chi-
a divisão entre as Coreias. Em outros casos, o governo dos Estados nês lançou seu segundo Plano Quinquenal, conhecido como Gran-
Unidos utilizou a CIA para promover golpes de Estado, como ocor- de Salto para a Frente (1958-1962), que pretendia transformar a
reu no Irã (1953) e na Guatemala (1954). Uma exceção a essa “re- China em um país tão desenvolvido quanto a Inglaterra em apenas
gra” foi a Guerra do Vietnã (1959-1975), na qual as forças armadas 15 anos.
dos Estados Unidos intervieram abertamente. A meta era fazer a produção industrial e agrícola da China
A União Soviética, por sua vez, também apoiou guerras de li- crescer 75% ao ano até 1962. Foram formadas unidades produti-
bertação nacional e levantes anti-imperialistas na África, na Ásia vas autossuficientes - as comunas populares -, que desenvolviam
e na América Latina. Ao mesmo tempo, reprimiu movimentos de- atividades agropecuárias, industriais, comerciais, administrativas e
mocráticos e manifestações operárias que reivindicavam melhores educacionais. Cada comuna era formada por cerca de 20 mil pesso-
condições de vida, eleições livres e liberdade de expressão nos paí-
as e tinha metas preestabelecidas para cumprir.
ses do Leste Europeu.
Ainda em 1958, 500 milhões de chineses foram trabalhar na
Em 1956, por exemplo, eclodiu na Hungria um movimento po-
construção de rodovias, fábricas, cidades, diques, represas e lagos,
pular contra a presença de tropas soviéticas e um grupo de comu-
o que contribuiu para o surgimento de pequenas indústrias no in-
nistas dissidentes criou um novo governo. Os soviéticos reprimiram
a rebelião e executaram seus líderes. Em 1968, tropas soviéticas terior do país.
ocuparam a Tchecoslováquia para impedir que o governo tcheco Na área agrícola, as metas estabelecidas no Grande Salto para
(comunista) continuasse a adotar medidas democratizantes. Em a Frente não foram atingidas, devido à precária infraestrutura de
1979, a União Soviética invadiu o Afeganistão, que se encontrava escoamento da produção, ao esgotamento dos recursos naturais e
em meio a uma guerra civil, realizando a primeira intervenção di- às calamidades naturais. A produção agrícola se desorganizou e, se-
reta fora dos países do bloco comunista desde a Segunda Guerra gundo alguns historiadores, entre 20 milhões e 30 milhões de pes-
Mundial. soas morreram de fome e exaustão nesse período.
Os enormes gastos para manter as tropas no Afeganistão de-
sestabilizaram a economia soviética, piorando as já precárias con- Separação entre URSS e China
dições de vida da população. Esse e outros eventos, de ordem
econômica e política, contribuíram para a desintegração da União Nesse mesmo período, divergências político-ideológicas opu-
Soviética, em 1991. seram os governos da China e da União Soviética. Os soviéticos opu-
nham-se a transferir conhecimentos na área nuclear para os chi-
China Comunista neses, que, apesar disso, testaram, em 1964, sua primeira bomba
atômica e produziram a bomba de hidrogênio em 1967.
O Partido Comunista ascendeu ao poder na China em 1949, de- Outra fonte de divergências era a política de coexistência pací-
pois de vencer uma guerra civil de 22 anos contra as forças do en- fica defendida pelo presidente da URSS, Nikita Kruschev. Essa pos-
tão presidente Chiang Kai-shek (1887-1975). Chiang Kai-shek e seus tura enfatizava a importância das negociações diplomáticas com o
correligionários refugiaram-se na ilha de Formosa (atual Taiwan), governo dos Estados Unidos ao mesmo tempo que reduzia o apoio
onde tentaram estabelecer um governo paralelo, com o apoio dos aos movimentos de libertação nacional na África, Ásia e América
Estados Unidos. Latina.
No dia 1º de outubro de 1949, Mao Tsé-tung (1893-1976) Para o PCC, as prioridades deveriam ser os princípios da Revo-
proclamou no continente a República Popular da China. O Partido lução e o combate ao imperialismo estadunidense. O rompimento
Comunista Chinês (PCC), entretanto, assumiu um país em ruínas. entre os dois países comunistas ocorreu em 1960, quando os sovié-
Apenas 0,6% da população trabalhava nas escassas indústrias chi-
ticos retiraram seus consultores técnicos da China.
nesas. Na zona rural, a produção de alimentos era insuficiente para
atender toda a população, de aproximadamente 580 milhões de
Revolução Cultural Chinesa e Abertura Econômica
habitantes. A fome se alastrava pelo país.
Em 1950, o governo chinês assinou um tratado de amizade
com a União Soviética e começou a pôr em prática medidas radicais O fracasso do Grande Salto abalou o Partido Comunista. Em
de transformação da estrutura social e econômica do país. Foram 1959, Mao Tsé-tung foi substituído por Liu Shaoqi na Presidência,
extintos os latifúndios, por meio de uma reforma agrária severa - mas manteve a influência política com o controle do PCC. Em 1966,
criando, ao mesmo tempo, milhares de cooperativas de campone- com o apoio da Guarda Vermelha - formada por 10 milhões de jo-
ses - e foram estatizadas as grandes empresas. vens que o idolatravam -, ele deu início à Revolução Cultural.

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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
PROFESSOR DE GEOGRAFIA 
Durante essa revolução, dirigentes do PCC, intelectuais e pesso- Naquele momento, em plena Guerra Fria, o mundo corria o ris-
as comuns foram perseguidos, humilhados publicamente, enviados co de uma guerra atômica entre os blocos socialista e capitalista.
para campos de reeducação ou mortos por supostamente defender Diante dessa realidade e da pressão estadunidense, os soviéticos
valores burgueses. O número de pessoas que morreram nesse pro- retiraram os mísseis, uma vez que Kennedy garantiu que não inva-
cesso também é controverso, mas alguns especialistas estimam que diria Cuba, como tentara fazer um ano antes, no episódio da baía
aproximadamente um milhão de pessoas perderam a vida durante dos Porcos.
esse movimento, denominado Revolução Cultural. A crise dos mísseis estava resolvida. No entanto, ainda em
A Revolução Cultural desorganizou a economia do país. Com a 1962, os Estados Unidos conseguiram que Cuba fosse expulsa da
morte de Mao, em 1976, o poder foi assumido por Deng Xiaoping, Organização dos Estados Americanos (OEA), e o governo dos Es-
um dirigente mais moderado do PCC, que havia sido perseguido tados Unidos decretou o bloqueio comercial e financeiro ao país.
durante a Revolução Cultural. Ele deu início a reformas que, entre Apesar das dificuldades criadas pelo bloqueio, com o apoio técnico,
outras coisas, permitiram a criação de Zonas Econômicas Especiais financeiro e comercial da União Soviética, o governo cubano conse-
(ZEEs) regidas por princípios capitalistas, e não pela ação do Estado. guiu promover reformas e implantar importantes medidas nas áre-
Formou-se, assim, uma economia socialista de mercado, que as de educação e saúde. Do ponto de vista político, porém, o país
tem sido responsável pelo crescimento econômico da China desde continua governado pelo único partido permitido, o Partido Comu-
então. nista Cubano, o que não permite a alternância no poder e reprime
sistematicamente seus opositores.
Revolução Cubana Com o colapso da União Soviética em 1991, Cuba entrou em
crise econômica, uma vez que dependia do apoio financeiro soviéti-
Por volta de 1950, a economia de Cuba dependia das relações co. Nos anos seguintes, o país conseguiu se recuperar devido, prin-
comerciais com os Estados Unidos, que comprava quase todo o açú- cipalmente, ao investimento de empresas e países que romperam
car, principal produto de exportação cubano. Pouco industrializada, o bloqueio imposto pelos Estados Unidos e ao desenvolvimento do
Cuba importava quase tudo dos Estados Unidos. Os reflexos do fra- turismo internacional.
co desenvolvimento e da dependência atingiam a população: misé- Em 2011, o governo cubano começou uma reforma econômica
ria, analfabetismo, péssimas condições de higiene e saúde. para reduzir o número de funcionários públicos e cortar subsídios,
Em 1952, o ex-presidente e ex-sargento Fulgêncio Batista entre outras medidas, visando fortalecer a economia do país. No
(1901-1973), assumiu o governo, suspendeu a Constituição e im- final de 2014, os Estados Unidos e Cuba reataram as relações di-
plantou uma ditadura por meio de um golpe de Estado apoiado pe- plomáticas.
los Estados Unidos. Ele estreitou as relações com os latifundiários
produtores de açúcar e agravou o quadro de desigualdade social. Socialismo na América Latina
A corrupção se generalizou, beneficiando as pessoas próximas do
ditador. Com o sucesso da Revolução Cubana, o governo apoiou ativa-
Em 1955, o advogado cubano Fidel Castro e o médico argenti- mente movimentos guerrilheiros em outros países da América Lati-
no Ernesto Guevara (1928-1967) organizaram um grupo armado e na, incluindo o Brasil. Também enviou militares para lutar na guerra
tentaram um golpe para derrubar o governo de Fulgêncio Batista. civil de Angola, ao lado do Movimento Popular para a Libertação de
Partiram do México, onde Fidel estava exilado, mas foram atacados Angola. Adepto da ideia de levar a revolução a outros países, Che
no desembarque em Cuba. Guevara se envolveu diretamente em movimentos guerrilheiros no
Refugiaram-se na floresta e, em menos de quatro anos, conse- Congo (África) e na Bolívia (América do Sul).
guiram organizar um movimento guerrilheiro, apoiado por campo- No Chile, um governo democrático com tendências socialis-
neses e por grupos de resistência urbana. O movimento entrou em tas chegou ao poder em 1970, com a eleição de Salvador Allende
ação, tomou a capital, Havana, e chegou ao poder em janeiro de (1908-1973) para a Presidência da República. Ele deu início a um
1959. Liderado por Fidel Castro, o governo revolucionário desapro- programa de reforma agrária e nacionalizou bancos e empresas es-
priou os grandes latifúndios, distribuiu terras entre os camponeses trangeiras. A reação do governo dos Estados Unidos à expansão do
e nacionalizou as grandes empresas, muitas delas de origem esta- socialismo na América Latina não tardou.
dunidense. Na Bolívia, agentes da CIA treinaram os militares que, em ou-
Em 1961, Fidel Castro reconheceu publicamente o caráter so- tubro de 1967, capturaram e executaram Che Guevara. No Chile, os
cialista da Revolução Cubana. Muitos de seus opositores foram estadunidenses agiram diretamente no golpe de Estado perpetrado
mortos ou fugiram para os Estados Unidos. pelo general Augusto Pinochet que, em setembro de 1973, derru-
bou o presidente Allende e instalou uma ditadura militar no país.
Crise dos Mísseis Na Nicarágua, entre 1975 e 1978, o governo dos Estados Uni-
Depois que o novo governo cubano se declarou alinhado ao dos forneceu ajuda militar ao governo do ditador Anastasio Somoza
socialismo, os Estados Unidos romperam relações diplomáticas Debayle (1925-1980) para combater a ação das forças guerrilheiras
com Cuba. Em 1961, exilados cubanos tentaram invadir a ilha com o da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), na Revolução
apoio da CIA, mas foram derrotados na baía dos Porcos. As relações Sandinista.
entre os dois países tornaram-se ainda mais tensas. Apesar disso, em 1979 os sandinistas chegaram ao poder. Uma
Em 1962, o governo dos Estados Unidos descobriu - por meio vez no governo, os sandinistas empreenderam grandes mudanças
de satélites - que mísseis nucleares soviéticos estavam sendo de- socioeconômicas: promoveram a reforma agrária, combateram o
positados em Cuba, que fica a apenas 150 quilômetros da Flórida, analfabetismo, investiram na saúde, nacionalizaram bancos e com-
um estado estadunidense. O presidente dos Estados Unidos, John panhias de seguro e fizeram a economia do país crescer 7% em me-
Kennedy, determinou o bloqueio de Cuba por terra e por mar. nos de dois anos.

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Na política externa, a Nicarágua se aproximou de Cuba e da Diferentemente de Kruschev, que estimulara a arte e a vida in-
União Soviética, o que desagradou ainda mais ao governo dos Esta- telectual na URSS, Brejnev voltou a perseguir os intelectuais que se
dos Unidos. A partir de 1981, os Estados Unidos financiaram grupos opunham ao regime. Após o episódio que ficou conhecido como
paramilitares antissandinistas, dando início a uma guerra civil que Primavera de Praga, a cúpula soviética não admite mais críticas ao
só terminaria em 1987, com a assinatura de um acordo de paz. regime. Na década de 1970, a economia da URSS começou a apre-
sentar sinais de estagnação.
Socialismo Africano Entre 1976 e 1980, dados indicavam um crescimento anual do
PIB de 2,3%. Como a burocracia soviética considerava que qual-
A onda socialista que atingiu grande parte do mundo em me- quer mudança nos métodos de produção ou de gerenciamento
ados do século XX também chegou à África. Jovens africanos que representava um perigo para o sistema, as indústrias mantiveram
estudaram no exterior assimilaram as teorias socialistas e passaram o sistema produtivo do tipo eletromecânico. Enquanto os soviéti-
a difundi-las em suas regiões de origem. Propagou-se assim a ideia cos mantinham os antigos métodos tayloristas em suas fábricas, os
de que apenas o socialismo poderia dar fim à opressão estrangeira países capitalistas desenvolvidos avançavam na Revolução Técnico-
no continente. -Científica.
Entre as principais lideranças dessa corrente destacam-se o Nos anos 1980, a distância tecnológica entre EUA, Japão e al-
senegalês Leopold Senghor (1906-2001), ex-aluno da Universida- guns países da Europa Ocidental e a URSS tornou-se um abismo.
de Sorbonne (França), o primeiro presidente eleito (em 1960) do Excetuando os avanços que haviam conquistado nas corridas arma-
Senegal independente; Amílcar Cabral (1921-1973), um dos líderes mentista e espacial, os soviéticos não tinham como competir com
da luta contra o colonialismo português na Guiné e em Cabo Verde; os países capitalistas. O nível de vida começou a cair na URSS. E a
e Agostinho Neto (1922-1979), uma das principais lideranças do sensação de declínio dominou o mundo soviético a partir dos anos
Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA) e primeiro 1980.
presidente de Angola independente (em 1975).
O Colapso do Comunismo
Mudanças na URSS
A crise vivida pelo mundo socialista foi agravada ainda mais
Ao assumir o governo da URSS, logo após a morte de Stalin, pela retomada da Guerra Fria, em especial pela política belicosa
em 1953, Nikita Kruschev deu início a uma série de reformas, co- adotada pelos Estados Unidos sob a presidência de Ronald Rea-
nhecida como reformismo comunista. Inicialmente, ele denunciou gan. Foi nesse contexto que, em 1985, Mikhail Gorbachev assumiu
os crimes de Stalin em um documento conhecido como “relatório o governo na URSS. Com sua franqueza, desenvoltura e simpatia,
Kruschev”23. Gorbachev conquistou muito rapidamente prestígio no cenário in-
ternacional.
As denúncias tinham o objetivo de desacreditar o stalinismo.
Ao propor, por exemplo, a redução de 50% das armas nucleares
Além disso, o novo governo pôs fim às perseguições em massa, li-
estratégicas e a destruição total dos arsenais atômicos até o ano
bertou prisioneiros dos campos de concentração e estabeleceu a
2000, ele deixou dirigentes europeus e estadunidenses perplexos.
prática do cumprimento das leis. A arte e a vida intelectual também
Após surpreender com sua arrojada proposta pacifista na política
foram incentivadas.
externa, ele se voltou para a política interna.
Apesar de a URSS ser um país industrializado, os soviéticos vi-
Ainda em 1985, mobilizou a sociedade soviética em torno de
viam com níveis de consumo mínimo. Com o objetivo de aumentar
uma palavra que se tornaria mundialmente conhecida: perestroika
a produção de bens de consumo, o novo governo investiu na produ-
- ou reestruturação, em português. A reestruturação, para Gorba-
ção de televisores e aparelhos eletrônicos. Kruschev também bus-
chev, implicava a reconstrução da economia da URSS, o atendimen-
cou aproximação com os EUA - espécie de trégua em plena Guerra to das necessidades de consumo dos soviéticos, a observância de
Fria. Em novembro de 1959, viajou oficialmente ao país, onde foi padrões de qualidade na produção e a descentralização do sistema
recebido pelo presidente estadunidense Eisenhower. produtivo.
O governo também beneficiou os trabalhadores com reajustes Com a perestroika, portanto, Gorbachev almejava alcançar
salariais e outras melhorias nos setores de transporte e habitação uma sociedade produtiva, harmônica e próspera. Seu grande pro-
popular. Kruschev encontrou problemas de difícil resolução. Os es- blema era como fazer isso.
forços para aumentar a produção agrícola, por exemplo, abrindo Em 26 de abril de 1986, ocorreu um acidente na usina nuclear
novas áreas de plantio, fracassaram, e o país foi obrigado a impor- de Chernobyl, na Ucrânia, então uma das repúblicas soviéticas, que
tar cereais do mundo capitalista. Além disso, o reformismo de seu se revelou o maior desastre radioativo da humanidade. Naquele
governo e a nova política externa por ele adotada descontentaram dia, um dos quatro reatores da usina explodiu, mas o governo sovi-
boa parte da nomenklatura. Nikita Kruschev foi deposto em 1964, ético somente admitiu o acidente e reconheceu sua gravidade duas
e, em seu lugar, Leonid Brejnev, um homem da nomenklatura, assu- semanas depois do ocorrido.
miu o governo da URSS. Como consequência, a atmosfera foi tomada por uma nuvem
de material radioativo que equivalia a cem vezes toda a radiação
Governo de Brejnev provocada pelas bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki juntas,
O governo Brejnev manteve a política de apaziguamento de e atingiu as repúblicas soviéticas da Rússia e da Bielorrússia, os paí-
Kruschev em relação aos EUA. Assinou acordos para restringir ar- ses da Europa Oriental e da Escandinávia e a Grã-Bretanha.
mas nucleares em 1972, estimulando a coexistência pacífica entre Cerca de cinco milhões de pessoas ficaram expostas à radia-
as duas potências, também conhecida como distensão ou déténte. ção. Depois que o governo da URSS admitiu a explosão, os cidadãos
soviéticos críticos do regime alegaram que o acidente teria sido de-
corrência da censura aos meios de comunicação no país, pois os
23 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. problemas, inclusive as condições precárias das usinas nucleares,
São Paulo. Saraiva. eram escondidos da sociedade.

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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
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Defendiam que, se houvesse transparência (glasnost, em rus- te aprovado pelo governo da Alemanha Oriental. Logo após a que-
so), o acidente não teria acontecido. Portanto, ao programa de da do muro, caíram também os governos comunistas da Bulgária
reestruturação de Gorbachev (perestroika) foi associada a transpa- e da Romênia - embora, no último caso, os dirigentes comunistas
rência (glasnost). tenham resistido. Apesar da repressão com a qual o ditador Nicolau
Os problemas de Gorbachev eram graves. A perestroika não Ceaucescu respondeu às manifestações pela democracia que come-
deslanchava. Continuava-se produzindo pouco e com baixa qua- çaram a eclodir pelo país, elas receberam o apoio de setores do
lidade. Em compensação, a glasnost avançava além do previsto. Exército romeno.
Depois de décadas de censura dos meios de comunicação, a socie- Ceaucescu e sua esposa foram presos e fuzilados. Na Tchecos-
dade soviética podia criticar o sistema, denunciando a devastação lováquia, negociações políticas resultaram na Revolução de Veludo,
do ambiente, a grande burocracia, o autoritarismo dos dirigentes, entre novembro e dezembro de 1989, que pôs fim ao regime co-
a péssima qualidade dos produtos, as imensas filas nas lojas e nos munista. De comum acordo, em 10 de janeiro de 1993, dois países
mercados, a dupla jornada feminina e os privilégios das elites bu- foram formados: a República Tcheca e a Eslováquia.
rocráticas. Na Iugoslávia, por conta das rivalidades étnicas internas, o pro-
Essas críticas geraram uma aguda divisão no interior da no- cesso de desagregação do comunismo resultou em uma guerra civil
menklatura: de um lado, os partidários da perestroika e da glas- entre sérvios e croatas, que dilacerou o país entre 1991 e 1992. Ao
nost; de outro, os conservadores do Partido Comunista contrários final, surgiram as repúblicas da Eslovênia, da Sérvia, da Croácia, da
às propostas reformistas de Gorbachev. Bósnia-Herzegovina, da Macedônia e de Montenegro. Sob a sobe-
Em um período de grande mobilização e fervor democrático, os rania da Sérvia, foram mantidas as duas províncias autônomas de
problemas do país foram debatidos abertamente. Mas se a glasnost Kosovo e de Voivodina.
era um sucesso, a perestroika era um fracasso. A economia passava A dissolução do comunismo nos países do Leste Europeu des-
da estagnação ao retrocesso. prestigiou Gorbachev entre os círculos mais conservadores do
PCUS, o Partido Comunista da URSS. Além disso e das dificuldades
com a economia, ele enfrentou outro grave problema: os naciona-
Desgaste da URSS
lismos que eclodiam em algumas repúblicas soviéticas como o Ca-
O mundo socialista apresentava sinais de desagregação desde
saquistão, a Bielorrússia e a Ucrânia.
o início dos anos 1980. Na Iugoslávia isso ocorreu após a morte de
Na Letônia, na Estônia e na Lituânia, exigia-se autonomia. Na
Josip Broz Tito, em maio de 1980, cuja liderança, construída na re-
parte da Ásia Central, repúblicas de maioria muçulmana também
sistência ao nazismo nos anos 1940, unificava uma série de nacio- manifestavam insatisfações. Entre março de 1990 e abril de 1991, a
nalidades, que formavam um país muito heterogêneo. Ucrânia, a Bielorrússia e a Geórgia proclamaram-se independentes.
Tito havia conseguido reunificar o país sob o nome de Repúbli- A URSS se desagregava. A partir daí os acontecimentos se sucede-
ca Popular da Iugoslávia, formada por sérvios, croatas, eslovenos, ram: junho de 1991, Boris Yeltsin foi eleito presidente da Rússia, a
bósnios, herzegovinos, montenegrinos e macedônios. Tratava-se de mais importante república da URSS.
um mosaico de nações, com diferentes religiões, línguas e culturas. Em agosto, ultraconservadores tentaram restaurar o regime
Sérvios e croatas, por exemplo, mantinham rivalidades políticas. A comunista com um golpe de Estado, mas foram derrotados. Entre
morte de Tito e a desagregação da URSS, alguns anos mais tarde, agosto e dezembro, novas proclamações de independência em re-
alimentaram forças nacionalistas que passaram a reivindicar auto- lação a Moscou. Em 21 de dezembro, dirigentes das repúblicas in-
nomia política. dependentes assinaram um documento declarando extinta a União
Na Polônia, nos anos 1980, o operário Lech Walesa liderou mo- Soviética. Em 25 de dezembro, Gorbachev, que já não tinha um país
vimentos grevistas que deram origem ao Solidariedade - primeiro para governar, declarou o fim da URSS. No Kremlin, a bandeira ver-
sindicato livre do controle do Partido Comunista na Polônia. O So- melha com a foice e o martelo foi substituída pela da Federação da
lidariedade cresceu com o apoio da população e do clero católico, Rússia.
realizando greves e passeatas. Em 1981, o governo comunista polo-
nês declarou o sindicato ilegal, mas o movimento continuou atuan- MANIFESTAÇÕES CULTURAIS E LUTA PELOS DIREITOS CIVIS NO
do na clandestinidade. SÉCULO XX
O poder da URSS já não era o mesmo.
Contracultura
O Colapso
Nos Estados Unidos e nos países da Europa Ocidental, entre as
Com a fragilidade do poder na URSS, os regimes comunistas na décadas de 1950 e 1960, muitos jovens passaram a criticar os mo-
Europa Oriental desmoronaram. O primeiro país a pôr fim ao regi- dos de vida tradicionais e a criar novos estilos de vida e de relações
me comunista foi a Hungria, em 1989, com a realização de eleições sociais. Esse conjunto de contestações da juventude daquela época
ficou conhecido como contracultura24.
gerais livres. Naquele mesmo ano a Polônia começou sua transição
O movimento da contracultura começou nos EUA, quando uma
à democracia liberal. Em dezembro de 1990, Lech Walesa foi eleito
geração de intelectuais e poetas dos anos 1950 - a beat generation
presidente do país por meio de eleições diretas.
- passou a criticar os valores conservadores da sociedade estaduni-
Mas o grande marco da desagregação do bloco socialista foi a
dense. Eles negavam o individualismo e o consumismo do chamado
queda daquele que era considerado o maior símbolo da Guerra Fria american way ofl ife. Allen Ginsberg, William Burroughs e Jack Ke-
- o muro que impedia a livre circulação entre as duas Alemanhas, o rouac são os nomes mais conhecidos desse movimento.
Muro de Berlim. O último escreveu um livro bastante divulgado, On the road,
Imensas manifestações em Berlim Oriental exigiam a abertu- de 1957 - que no Brasil foi lançado como Pé na estrada. Na década
ra da passagem para o lado ocidental da cidade. Em novembro de de 1960, a contracultura continuou a expressar a rebeldia de jo-
1989, depois que os alemães dos dois lados se reencontraram, o vens das classes médias contra o consumismo, a cultura de massa,
chanceler da Alemanha Ocidental, Helmut Kohl, apresentou um
plano para a unificação das duas Alemanhas, que foi imediatamen- 24 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição.
São Paulo. Saraiva.

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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
PROFESSOR DE GEOGRAFIA 
a sociedade industrial e a padronização dos comportamentos. Eles declararam a inconstitucionalidade da segregação racial nas esco-
também se mostravam insatisfeitos com o autoritarismo de seus las: todas as crianças, brancas ou negras, podiam frequentar qual-
pais e dos governantes. quer escola.
Estudantes e intelectuais passaram a incorporar reivindicações Naquele ano, o negro Martin Luther King foi nomeado pastor
de grupos considerados minoritários, como os negros, os homos- de uma igreja batista em Montgomery, no estado do Alabama. Em
sexuais e as mulheres - todos em busca de seus direitos. Grande seu curso de pós-graduação, ele defendera uma tese sobre o mo-
número de jovens se engajou no movimento hippie. Usando roupas vimento de resistência pacífica liderado por Mahatma Gandhi, na
largas e coloridas e cabelos compridos e sem corte, os hippies recu- Índia. Ele já tinha se tornado o maior defensor dos direitos da po-
savam a sociedade industrial, massificante e de consumo. pulação negra quando, em 1955, uma mulher negra, Rosa Parks, foi
Eles valorizavam o indivíduo, as ideias de paz, amor e liberda- presa em um ônibus. Rosa estava sentada e, pelas leis segregacio-
de e a vida comunitária. “Paz e amor” era o lema deles. Pacifistas, nistas, deveria ceder seu lugar a um passageiro branco.
eram contra a guerra e a violência e protestavam distribuindo flo- Ela se negou a fazê-lo e acabou detida pela polícia. Luther King,
res. Em geral, defendiam o amor livre, rejeitando o casamento mo- em represália, organizou um boicote da população negra aos trans-
nogâmico tradicional. portes urbanos em Montgomery. Foi preso e sua casa, atacada. A
Muitos não estudavam nem tinham emprego, viviam em co- Suprema Corte declarou, então, a inconstitucionalidade da segre-
munidades onde comiam o que plantavam e produziam artesanato gação racial nos transportes públicos de todo o país. Foi um avanço
para vender. Alguns se aproximaram das religiões orientais. na luta contra a discriminação.
Em resposta à resistência da população negra, a organização
1968 racista Ku Klux Klan empregou táticas de terror. Mas o movimento
contra a discriminação prosseguiu firme. Recorrendo à resistência
O auge do movimento da contracultura foi em 1968. Protes- pacífica, no início de 1963, Luther King liderou grandes protestos
tos de jovens e trabalhadores ocorreram nos Estados Unidos, na dos negros por seus direitos civis. Em 1964, Luther King foi vence-
Europa e na América Latina. Muitos estavam entusiasmados com dor do Prêmio Nobel da Paz. Em abril de 1968, ele foi assassinado
a Revolução Cubana (1959), a Independência da Argélia (1962) e a a tiros.
Revolução Cultural na China (1966). A luta dos negros estadunidenses continuou e resultou no re-
Com o desejo de mudar o mundo, jovens de vários países pas- conhecimento de seus direitos civis e na abolição da discriminação
saram a recusar o consumismo capitalista e o modelo de socialismo em todos os estados do país.
soviético. Nos EUA, milhões de jovens protestaram contra a Guerra
do Vietnã. Nas universidades, os estudantes organizaram protestos; Malcolm X e os panteras negras
fora delas, os hippies também defendiam o fim do conflito.
Na Europa, o movimento de rebeldia mais conhecido foi o que Apesar de bem-sucedido na sua estratégia de luta, a lideran-
aconteceu na França e ficou conhecido como Maio de 1968. Em 22 ça de King começou a ser contestada por setores mais radicais do
de março, estudantes ocuparam a Universidade de Nanterre para movimento negro, sobretudo sua proposta de integração e convívio
protestar contra a prisão de alguns colegas. Depois, tomaram o pacífico com os brancos. Outras lideranças surgiram, como Malcolm
Quartier Latin, famoso bairro universitário em Paris, erigindo bar- X. Filho de família pobre, tornou-se líder de um templo muçulmano
ricadas. Em 13 de maio, as centrais sindicais comunista e socialista em Detroit e passou a pregar a dignidade dos negros. Era contra a
declararam greve. estratégia da resistência pacífica. Em fevereiro de 1965, foi assas-
Trabalhadores e estudantes uniram-se a elas, organizando um sinado.
comando operário-estudantil. Em 20 de maio, 10 milhões de traba- Na segunda metade dos anos 1960, setores do movimento ne-
lhadores estavam em greve. Para contornar a situação, o governo gro aderiram a propostas ainda mais radicais. Entre elas estava a do
Charles de Gaulle convocou eleições, nas quais os chamados gaullis- Partido Pantera Negra para Autodefesa, fundado no final de 1966
tas saíram vitoriosos. De Gaulle acionou a polícia para recuperar em Oakland, na Califórnia. Sua maneira de luta era muito diferente
fábricas e universidades que haviam sido tomadas pelos revoltosos, da liderada por Luther King ou Malcolm X.
perseguiu e prendeu líderes estudantis. Os panteras negras não se amparavam na religião. Declaravam-
A partir daí, o movimento de Maio de 1968 recuou. Os protes- -se marxistas e maoistas e recorriam à violência em confrontos ar-
tos estudantis e operários de 1968 também ocorreram no Brasil, no mados com a polícia. Foram duramente reprimidos e a maioria de
México, na Polônia, na Iugoslávia e na Tchecoslováquia. A repressão seus líderes, presa. O movimento desapareceu nos anos 1980.
pôs fim à mobilização em toda parte.
O Movimento Feminista
Conquista dos Direitos Civis
Nos anos 1960, não eram apenas os negros estadunidenses
Até meados dos anos 1950, vigorou a segregação racial contra que lutavam por direitos civis. As mulheres também reivindicavam
os negros nos estados do sul dos EUA. Havia escolas para brancos e igualdade perante os homens. Em 1963, elas constituíam 51% da
escolas para negros, restaurantes e bares para brancos e restauran- população e um terço da força de trabalho. Mas ganhavam menos,
tes e bares para negros, banheiros públicos para brancos e banhei- inclusive quando exerciam um trabalho igual ou ocupavam o mes-
ros públicos para negros. Nos ônibus e nas praças públicas, havia mo cargo que um homem.
assentos reservados para os brancos e para os negros. Algumas funções pareciam impossíveis de serem ocupadas por
Em alguns estados sulistas, os negros encontravam dificulda- uma mulher, em particular cargos de gerência e direção. As mulhe-
des para exercer seus direitos políticos. Em 1954, a Suprema Corte res, além disso, eram minoria nos cursos superiores de graduação
dos EUA reconheceu que as escolas públicas para brancos recebiam e pós-graduação. Apesar das conquistas no campo político, em es-
mais recursos dos governos estaduais, e ofereciam um ensino de pecial o direito de voto, obtido em 1918, o movimento feminista
melhor qualidade do que as escolas para negros. Os juízes, então, perdeu o ímpeto a partir da década de 1920.

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O renascimento ocorreu nos anos 1960. Em 1963, a ativista A relação da Revolução Verde e da industrialização com a ur-
Betty Friedan publicou o livro The feminine mystique (A mística banização
feminina), em que atacava as ideias que reservavam para a mu-
lher apenas o papel de dona de casa e mãe. As feministas foram
hostilizadas, insultadas e ridicularizadas. Muitos alegavam que a
igualdade entre os sexos destruiria a instituição do casamento e da
família. Mas o movimento feminista enfrentou todos os obstáculos
com sucesso.
Em 1964, a legislação federal proibiu qualquer discriminação
no trabalho por motivo de raça e também de sexo. Nos anos seguin-
tes, uma série de leis garantiu às mulheres direitos civis e a igual-
dade perante os homens, a exemplo da criminalização do assédio
sexual no trabalho e da abertura da carreira militar para elas.
O movimento se expandiu por diversas partes do mundo, resul-
tando em campanhas e leis específicas contra a violência doméstica
e a favor da equiparação das mulheres aos homens no tocante aos
direitos civis.

6. ESPAÇO URBANO: ESTRUTURA, DINÂMICA E REDES


DE PRODUÇÃO;

A urbanização brasileira teve destaque e grande crescimento a


partir da segunda metade do século XX. É preciso ressaltar que este
processo de urbanização esteve desde o início relacionado às diver-
sas atividades econômicas desenvolvidas no país que contribuíram
significativamente para que esse processo ocorresse.
A produção do açúcar no século XVI foi responsável por criar os
primeiros centros urbanos, no litoral nordestino. A descoberta do
ouro em Minas Gerais também colaborou bastante para a urbani-
zação, serviu tanto para criar núcleos urbanos como para decentra-
lizar e interiorizar a população brasileira que era basicamente lito-
rânea, movimento importante para a ocupação e desenvolvimento
do Brasil. No entanto, foi no ciclo do café que o desenvolvimento Com o êxodo rural o meio rural sofreu um esvaziamento popu-
urbano do Brasil se destacou. lacional com a migração dos trabalhadores do campo para as cida-
Com o café, a industrialização se iniciou de forma efetiva, pela des, o que acarretou neste espaço inúmeros impactos, tais como os
necessidade da construção de portos para escoar a produção e congestionamentos.
abertura de novas vias e ferrovias para fazer o deslocamento até O processo de urbanização brasileira teve o seu grande salto
esses portos. Essas transformações proporcionaram uma atração na década de 60, bastante influenciado pela implantação das técni-
de pessoas para as cidades, principalmente São Paulo e seus arre- cas e processos desenvolvidos com a Revolução Verde. Com isso, os
dores, sendo um marco da urbanização. Atrelada ao crescimento migrantes rumaram para os centros urbanos em busca de oportuni-
exponencial do café na economia brasileira, a abolição da escra- dades de trabalho e melhoria de vida, processo chamado de Êxodo
vatura também foi responsável por levar boa parte dos escravos a Rural, o que ocasionou uma alteração na característica da socieda-
habitarem nas cidades e buscarem trabalho. de brasileira, passando de um predomínio de pessoas residindo no
campo para o espaço urbano.
No entanto, não foi somente a revolução verde a responsável
por esse movimento migratório em direção as cidades. Nesse pro-
cesso também podemos destacar o crescimento da industrialização
brasileira, que demandou mão de obra, se tornando um fator atra-
tivo também. Além disso o próprio desenvolvimento das cidades
atraiu diversas pessoas, com o objetivo de dispor de melhores con-
dições de moradias, devido à infraestrutura mais bem aparelhada
nos centros urbanos.
Em 1940, a população urbana brasileira era de 26,3% do total.
Em 2000, essa população passou para 81,2%. Em números absolu-
tos: em 1940 a população que residia nas cidades era de 18,8 mi-
lhões de habitantes e em 2000, de aproximadamente 138 milhões.
Assim, em apenas sessenta anos, os assentamentos urbanos no
Brasil foram ampliados de maneira a abrigar mais de 125 milhões
de pessoas. Constatamos, portanto, que ocorreu nesse período um
imenso crescimento das cidades. Esse crescimento foi necessário
para abrigar essa população, bem como as suas demandas sociais:
moradia, trabalho, educação, saúde, transporte, água e energia.

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A urbanização a partir da industrialização tardia vai ocasionar • Crescimento do setor terciário, devido à diminuição das
um grande volume de pessoas migrando do campo para as cidades indústrias nos grandes centros urbanos, fazendo com que essa ca-
sem um planejamento urbano capaz de dotar os centros urbanos mada de mão de obra seja absorvida pelo setor de serviços e co-
de infraestrutura para essa nova massa de pessoas que vai ocupar mércio. Essa nova realidade vai transformar a paisagem urbana,
as cidades. A partir disso, o crescimento de metrópoles acontece com a diminuição das indústrias e o crescimento de shoppings e
de forma desordenada, marcado principalmente pela periferização centros empresariais.
das cidades, com pessoas morando em favelas e cortiços, gerando
espaços de grande pobreza nas cidades, precarização dos serviços Espaço urbano e seus problemas
públicos e consequentemente aumento da violência urbana. O Espaço Urbano pode ser definido como o espaço das cida-
des, o conjunto de atividades que ocorrem em uma mesma inte-
Características da urbanização brasileira gração local, com a justaposição de casas e edifícios, atividades e
práticas econômicas, sociais e culturais. O espaço da cidade é, des-
sa forma, uma paisagem representativa do espaço geográfico, um
território das práticas políticas e um lugar das visões de mundo e
mediações culturais.
No entanto, é preciso estabelecer uma distinção entre o urba-
no e as cidades. Existem cidades, por exemplo, que não são consi-
deradas urbanas, por possuírem uma pequena quantidade de habi-
tantes e uma baixa dinâmica econômica.

Para o IBGE, cidades com menos de 20 mil habitantes são con-


sideradas como espaço rural. Além disso, no meio agrário, eviden-
ciam-se algumas práticas e características do espaço urbano, o que
nos leva a crer que o urbano transcende (vai além) do espaço das
cidades.
Nesse ínterim, podemos dizer que o espaço urbano é economi-
camente produzido, mas socialmente vivenciado, ou seja, apropria-
Rua 25 de março, importante centro comercial da cidade de do e transformado com base em ações racionais e também afetivas.
São Paulo que evidencia o crescimento do setor terciário nas me- O geógrafo brasileiro Roberto Lobato Corrêa afirma, em várias
trópoles brasileiras. de suas obras, que o espaço urbano é fragmentado, articulado; é
Por fim, podemos destacar algumas características históricas e também o condicionante das ações sociais e o reflexo destas, em
recentes sobre a urbanização brasileira: uma interação dialética. Além disso, segundo o mesmo autor, ele
• A concentração fundiária, característica brasileira desde a pode ser compreendido como um conjunto de símbolos e como um
colonização, desdobrou-se em baixa qualidade de vida nas áreas ru- campo de lutas, principalmente envolvendo as classes sociais.
rais, baixos salários e falta de apoio ao pequeno trabalhador rural, Com o desenvolvimento das técnicas, o homem passou a vi-
motivando a migração campo-cidade.
ver em sociedade e, assim, passou a construir as suas cidades, os
• O processo de industrialização, especialmente em alguns
seus espaços de moradia. As mais antigas cidades datam de cerca
estados da região geoeconômica Centro-Sul, motivou a migração
de 9.000 a.C., que é o caso das cidades de Jericó (Palestina) e de
para as grandes cidades desses estados, que passaram a polarizar a
Damasco (na Síria). No entanto, durante a maior parte da história
economia do país.
da humanidade, a população foi majoritariamente rural.
• O processo produtivo no espaço rural, a partir da sua mo-
Dessa forma, com o desenvolvimento das relações industriais,
dernização, começa a absorver menor quantidade de mão de obra.
o processo de urbanização – crescimento do espaço urbano em re-
• A construção de novas vias, a partir do modelo rodoviário
lação ao espaço rural – passou a ser a principal representação da
de transporte, facilitou o processo migratório e o acesso aos cen-
tros urbanos. modernidade. Assim, temos a evidência de como a industrialização
• Os valores da vida urbana vão ser amplamente dissemina- interfere e acentua o processo de urbanização.
dos pelos meios de comunicação, principalmente rádio e televisão, Antes da Primeira Revolução Industrial, cerca de 90% da po-
como forma de seduzir a população rural a migrar para a cidade. Os pulação das diferentes sociedades era rural. Atualmente, com a
excluídos do campo criam perspectiva em relação ao espaço urba- Terceira Revolução Industrial em curso, a humanidade atingiu pela
no e acabam se inserindo no espaço urbano no circuito Inferior da primeira vez a maioria urbana, segundo dados de 2010 da Organi-
Economia (mercado informal). zação das Nações Unidas.
• Apesar do contínuo processo de metropolização, é possí- Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)
vel perceber na atualidade que a região Sudeste brasileira enfrenta Na era moderna, podemos dizer que o processo de crescimen-
o processo de desmetropolização, ou seja, a redução do ritmo de to do espaço urbano ocorre por dois argumentos de elementos
crescimento de algumas metrópoles, a exemplo de São Paulo, que principais, os fatores atrativos e os fatores repulsivos.
passa a apresentar um ritmo de crescimento mais lento em relação Por fatores atrativos entende-se o crescimento das cidades a
a algumas cidades médias do interior. partir dos supostos benefícios que elas oferecem, principalmente
• Crescimento de cidades médias em função da desconcen- aqueles relativos ao crescimento industrial, em que boa parte da
tração dos investimentos produtivos (desconcentração industrial), população do campo é atraída pela oferta de mão de obra, e às pos-
buscando maiores vantagens para a indústria, como isenção fiscal, sibilidades de crescimento e emancipação sociais. Esses elementos
terrenos e mão de obra mais baratos para a indústria, fuga dos con- foram predominantes em países hoje considerados desenvolvidos,
gestionamentos das metrópoles, entre outros, além da migração da que passaram pelo processo de industrialização clássica. Entre as
população das grandes metrópoles que buscam qualidade de vida cidades, podemos citar os casos de Londres, Nova York, Paris e ou-
em cidades médias. tras.

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Por fatores repulsivos entende-se o crescimento das cidades Poluição do ar
em função da saída dos trabalhadores do campo, em face da meca-
nização da produção agrícola ou da concentração fundiária. A urba-
nização causada por fatores repulsivos costuma ser mais acelerada
e revela uma maior quantidade de problemas sociais, sendo carac-
terística dos países subdesenvolvidos. Entre as cidades, podemos
citar os casos de São Paulo, Rio de Janeiro, Cidade do México, entre
outras.
Assim, através dos fatores atrativos e repulsivos, podemos per-
ceber que o espaço urbano cresce, principalmente, com a migração
do tipo campo-cidade que, quando ocorre em massa, é chamada
de êxodo rural. Quando esse processo proporciona um crescimento
desordenado das cidades, ou seja, quando esse crescimento foge
do controle do Estado e dos governos, observa-se a emergência de
graves problemas sociais urbanos, dos quais destacam-se: a faveli-
zação, ocupações irregulares, índices de miséria, violência e muitos
outros.
Além de problemas sociais, a urbanização acelerada pode evi-
denciar a emergência de problemas ambientais urbanos, dentre
eles, merecem destaque as ilhas de calor, as chuvas ácidas e a in- A agenda ambiental das cidades que se propõem a mudar a
versão térmica. qualidade de vida das pessoas, de modo geral, propoõe destaque à
Portanto, mesmo sendo a expressão dos avanços da moderni- qualidade do ar, sendo esse um dos principais assuntos tratados nas
dade, o espaço urbano também pode ser a principal evidência de conferências ambientais.
suas contradições. Consequências diretas à saúde da população são percebidas
facilmente quando o ar dos espaços urbanizados está carregado
Problemas ambientais urbanos de toxinas. Problemas respiratórios já fazem parte do cotidiano nas
Pessoas que moram nas grandes cidades acabam causando grandes metrópoles.
prejuízo ao meio ambiente, direta ou indiretamente. A grande con- Durante a queima de combustíveis fósseis, como hidrocarbo-
centração populacional nas zonas citadinas do Brasil e do mundo, netos e carvão mineral, ocorre a liberação de gases para a atmosfe-
provoca uma série de impactos ambientais no Brasil e no mundo. ra, sendo este o principal motivo da sua contaminação.
Portanto, o tema dos principais problemas ambientais urbanos Os combustíveis dessa natureza estão entre as principais fontes
merece atenção. de energia primária no mundo, movimentando carros, motos, ôni-
Nos itens a seguir, entenda algumas das categorias centrais re- bus, caminhões, navios e aviões, e contribuem significativamente
lacionadas à essa questão e conheça os principais problemas am- para o Efeito Estufa.
bientais no Brasil e no mundo: Logo, é um assunto que merece muita atenção. Nas últimas dé-
Problemas urbanos: lixo cadas, a poluição do ar vem aparecendo como uma das principais
A maneira como a sociedade moderna consome os produtos questões ambientais das grandes cidades entorno do aquecimento
industrializados implica uma crescente preocupação com o proble- global.
ma do lixo urbano.
Realizar a gestão de resíduos sólidos é uma das atividades mais Poluição sonora
complexas dos governos dos municípios. Infelizmente, no Brasil, Existem, no ambiente urbano, inúmeros estímulos externos
cerca de 50% deles ainda depositam o lixo em vazadouros a céu que facilitam o desenvolvimento do estresse na população. Nas re-
aberto, segundo a Pesquisa Nacional de Resíduos Sólidos, publicada giões metropolitanas, são comuns os ruídos produzidos por auto-
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). móveis, fábricas, pessoas trabalhando, etc.
Esse tipo deposição implica em riscos de contaminação para a É verdade que, a poluição sonora não se acumula no espaço,
natureza e a população ao redor, pois gera chorume e emite gases, como as outras situações poluentes, porém, ela é responsável por
como o metano, que no processo de decomposição, transforma-se causar sérios danos à saúde, pois a exposição direta a barulhos in-
em dióxido de carbono (CO2), um dos principais compostos do Efei- tensos pode comprometer a audição e o bem-estar das pessoas.
to Estufa que causa uma série problemas ambientais no Brasil.
Solucionar esse problema urbano envolve iniciativas do gover- Poluição visual
no e também das várias camadas da sociedade. Destacam-se, como O excesso de estímulos visuais na paisagem das grandes cida-
medidas de resolução: a criação de aterros sanitários adequados, a des é constituído, em grande parte, por propagandas que oferecem
coleta seletiva, além da mudança no modo de produção e consumo. produtos e serviços. Você nunca reparou a disputa entre outdoors,
faixas e placas nas ruas da sua região?
Problemas urbanos: poluição Essas comunicações, quando instaladas de maneira indevida,
Chegou a hora de conferir os principais problemas ambientais constituem vários problemas urbanos, dentre os quais podemos
relacionados à poluição do meio ambiente nas zonas urbanas. Con- destacar:
tinue a leitura e entenda os detalhes de cada ocorrência! • a modificação do espaço público, a fim de veicular interes-
ses particulares;
• a deterioração da paisagem urbana e a degradação dos
elementos naturais, como vegetação, rios e lagos;

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• o prejuízo na percepção do espaço, referente à referencia-
ção espacial e localização, além do trânsito de pessoas nas cidades.

Esgoto
O alto teor de matéria orgânica que os mananciais de água dos
centros urbanos recebem, através do esgoto doméstico e industrial,
é a razão da poluição desses corpos d’água.
A deposição de resíduos sólidos, diretamente no solo ou na
água, como os vazadouros a céu aberto, também compromete de
maneira significativa a qualidade dos reservatórios hídricos da ci-
dade.
Infelizmente, o descomprometimento quanto às políticas pú-
blicas relacionados ao saneamento básico, é um dos principais pro-
blemas urbanos no Brasil.

Problemas sociais urbanos Tóquio, Japão


Violência urbana
O crescimento desordenado das cidades intensificou o proble- Função urbana é o papel econômico desempenhado por uma
ma da violência urbana. É correto dizer que essa situação acontece cidade dentro de uma lógica de divisão do trabalho.
em função de fome, miséria e desemprego, encontrados, principal-
mente, em países subdesenvolvidos. Hierarquia Urbana
No Brasil, a violência urbana é reflexo de políticas públicas ine- A hierarquia urbana é a ordem de organização entre os diferen-
ficientes, que não resolvem as situações de risco e não conseguem tes níveis de complexidade econômica das cidades. Como a própria
sanar lacunas do desenvolvimento dos cidadãos, como o acesso à ideia de hierarquia sugere, trata-se das relações de dependência
direitos fundamentais. econômica exercidas por algumas cidades sobre outras, formando
Mobilidade urbana uma cadeia mais ou menos definida de cidades dependentes e eco-
Mobilidade urbana pode ser caracterizada como a maneira que nomicamente interligadas entre si.
as pessoas utilizam para se locomoverem. Essas relações econômicas estabelecem inevitavelmente a con-
Para a realização de uma análise avaliativa da mobilidade urba- solidação de uma rede urbana que estrutura uma teia formada por
na, é necessário levar em conta os seguintes fatores: nós (as cidades) e os fluxos (os sistemas de transporte e telecomu-
• organização territorial; nicações). Essa estruturação é um fator que pode ser diretamente
• intensidade do fluxo de automóveis nas vias de transporte associado ao processo da globalização.
da cidade;
Fazem parte da hierarquia urbana mundial as cidades globais,
• tipos de transporte utilizados.
as metrópoles nacionais, as metrópoles regionais e as cidades de
No contexto brasileiro, como problemas de mobilidade urbana,
menor porte.
podemos citar:
Cidades globais: representam os principais polos da hierarquia
• sobrecarga de espaço;
• limitação do fluxo de pessoas e mercadorias; urbana internacional. Além de concentrarem elevados quantitati-
• alto índice de acidentes fatais; vos populacionais, sendo quase todas elas megacidades (cidades
• ineficiência do transporte público; com mais de 10 milhões de pessoas), essas cidades apresentam
• poluição do meio ambiente. uma complexa economia. Ao longo da história, em grande parte
dos casos, as cidades globais foram as primeiras a industrializar-se
Podemos destacar, ainda, que a ausência de políticas públicas no mundo ou, pelo menos, em seus países. Foram também as pri-
para a melhoria do transporte público resulta, consequentemente, meiras a iniciar o processo de desconcentração industrial que ainda
na procura por um meio de transporte particular. está ocorrendo, passando a ser conhecidas por abrigar as principais
Isso gera um ciclo vicioso, pois, quanto mais carros há nas ruas, sedes e centros de negócios das empresas multinacionais.
mais difícil se torna a implementação de uma mobilidade urbana Exemplos de cidades globais: Nova York, Tóquio, Paris, Londres,
eficiente, além de que acontece o aumento na emissão de dióxido Buenos Aires, Berlim, entre outros. No Brasil, existem duas: São
de carbono. Paulo e Rio de Janeiro.
Lembre-se de que a falta de mobilidade urbana no Brasil é um Metrópoles nacionais: são cidades que também apresentam
problema recorrente. uma complexa e avançada organização econômica, uma grande
Existem, porém, algumas propostas de solução desse problema quantidade de habitantes e uma posição atrativa no recebimento
que merecem a atenção de todos os moradores das grandes cida- de investimentos, sobretudo de empresas estrangeiras. No entanto,
des. Veículos a trilho, como o metrô, é uma alternativa eficiente e o seu nível econômico não lhes permite criar em torno de si uma
de energia limpa, por exemplo. influência além de seus países ou regiões territoriais próximas.
Há, ainda, os ônibus limpos, que usam combustível alternativo Exemplos de metrópoles nacionais: Belo Horizonte, Porto Ale-
para não poluírem. Ciclovias também são ótimas opções de trans- gre, Curitiba, Brasília e outras cidades.
porte, além de fazerem bem para a saúde da população.25 Metrópoles regionais: são cidades cuja importância e domínio
alcançam apenas o nível regional, estando direta ou indiretamente
O capitalismo contemporâneo ampliou o fenômeno urbano. subordinadas às metrópoles nacionais e às cidades globais. Mesmo
Se antes, havia cidades, atualmente há megalópoles, onde a conur- assim, são centros estratégicos, pois representam o elo de regiões
bação criou uma sofisticada rede de fluxo de capitais, informações,
ou pontos afastados em relação aos grandes polos da economia
mercadorias e serviços.
mundial.
25https://www.stoodi.com.br/

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Exemplos de metrópoles regionais: Goiânia, Cuiabá, Campinas, Veja mapa a seguir:
Belém e outras.
Abaixo dessas cidades, no contexto da hierarquia urbana, en-
contram-se cidades de menor porte, mas com relativa influência
local, tais como as cidades médias brasileiras que, apesar da menor
importância, vêm atraindo muitas indústrias e contemplando índi-
ces de crescimento muito acima da média das grandes cidades.26

As RIDEs são regiões metropolitanas especiais no Brasil. Veja a


definição tecnica a seguir:
Região integrada de desenvolvimento Econômico (ou RIDE)
são as regiões metropolitanas brasileiras que incluem municípios
de mais de uma unidade de federação.
Elas são criadas por legislação federal específica, que delimi- - Região Administrativa de Desenvolvimento do Polo Petrolina
ta os municípios que a integram e fixa as competências assumidas e Juazeiro engloba mais de 700 mil habitantes numa área com cerca
pelo colegiado dos mesmos. de 35 mil quilômetros quadrados. É constituída pelos municípios
de Lagoa Grande, Orocó, Petrolina e Santa Maria da Boa Vista, no
Existem três RIDEs no país, como vemos a seguir: estado de Pernambuco, e pelos municípios de Casa Nova, Curaçá,
Juazeiro e Sobradinho, no estado da Bahia. Esses municípios encon-
- Região Integrada de Desenvolvimento Econômico do Distrito tram-se localizados no vale do São Francisco, no curso baixo-médio
Federal - Compreende o Distrito Federal, mais municípios de Goiás do rio São Francisco, que interliga o Nordeste e Sudeste fluvialmen-
e de Minas Gerais: te, o que coloca a RIDE numa posição estratégica nacionalmente e
Distrito Federal e municípios de Abadiânia, Água Fria de Goiás, central no Nordeste, o que motiva o Projeto Plataforma Logística do
Águas Lindas de Goiás, Alexânia, Alto Paraíso de Goiás, Alvorada São Francisco.
do Norte, Barro Alto, Cabeceiras, Cavalcante, Cidade Ocidental, Co-
calzinho de Goiás, Corumbá de Goiás, Cristalina, Flores de Goiás,
Formosa, Goianésia, Luziânia, Mimoso de Goiás, Niquelândia, Novo
Gama, Padre Bernardo, Pirenópolis, Planaltina, Santo Antônio do
Descoberto, São João d’Aliança, Simolândia, Valparaíso de Goiás,
Vila Boa e Vila Propício, no Estado de Goiás, e de Arinos, Buritis,
Cabeceira Grande e Unaí, no Estado de Minas Gerais. Ocupa uma
área de 94.570,39 quilômetros quadrados, sendo pouco maior que
a Hungria e sua população é de aproximadamente 4,5 milhões de
habitantes, um pouco menos que a Nova Zelândia.

Fonte:
www.brasilescola.com/www.todoestudo.com.br/www.geo-
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fia.seed.pr.gov.br/www.brasilescola.uol.com.br/www.super.abril.
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nodantas.blogspot.com/www.cepein.femanet.com.br/www.mun-
doeducacao.bol.uol.com.br/www.getulionascimento.com/www.
- Região Integrada de Desenvolvimento da Grande Terezina é ambientes.ambientebrasil.com.br/www.enos.cptec.inpe.br/www.
constituída pelos municípios de Altos, Beneditinos, Coivaras, Cur- iguiecologia.com/www.periodicos.set.edu.br/www.brasilescola.
ralinhos, Demerval Lobão, José de Freitas, Lagoa Alegre, Lagoa do uol.com.br/www.infoescola.com/www.educacao.globo.com/www.
Piauí, Miguel Leão, Monsenhor Gil, Pau D’Arco do Piauí, Teresina e mundoeducacao.bol.uol.com.br/www.geografiasuperior.blogspot.
União, no estado do Piauí, e pelo município de Timon, no estado do com/www.monografias.brasilescola.uol.com.br/www.sustentaha-
Maranhão, que se encontra na margem esquerda do rio Parnaíba, bilidade.com/www.todamateria.com.br/www.sogeografia.com.
defronte à capital piauiense. Esses municípios ocupam uma área br/www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br/www.repositorio.ufsc.
de 11.321 km², na qual vivem 1.194.911 habitantes, segundo a es- br/www.todapolitica.com/www.descomplica.com.br/www.cola-
timativa para 2015 do IBGE, representando 37% da população do daweb.com/www.educabras.com//www.portodalinguagem.com.
estado do Piauí. br//www.geekiegames.geekie.com.br//www.grupoescolar.com/
www.educabras.com//www.portodalinguagem.com.br//www.ge-
ekiegames.geekie.com.br//www.grupoescolar.com/PENA, Rodolfo
F. Alves/Terra, Lygia. Conexões: estudos de geografia geral e do Bra-
sil/Rosana Hessel/Wellington Souza Silva/Eduardo de Freitas/Karen
Degli Exposti/ Régis Rodrigues/Rodolfo Alves Pena/ Wagner de Cer-
queira e Francisco/Michelle Nogueira
26https://mundoeducacao.bol.uol.com.br

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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
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Hierarquia e rede urbana no Brasil
O crescimento das cidades médias próximas às regiões metropolitanas tem ampliado a formação de áreas conurbadas ou em processo
de conurbação.
As cidades conurbadas são interligadas por importantes vias de circulação e por meios de transporte e infraestrutura comuns. A Gran-
de São Paulo e a Grande Rio são as maiores áreas conurbadas do país (figura 6, na página seguinte). Anualmente, milhões de pessoas e
de toneladas de mercadorias circulam entre as cidades brasileiras. Muitos dos fluxos de pessoas são diários, realizando-se por motivo de
trabalho, estudo, compras, assistência médico-hospitalar, negócios, participação em eventos (feiras, exposições, palestras, shows), lazer,
turismo etc. O número de pessoas que residem numa cidade e trabalham num grande centro metropolitano intensifica os deslocamentos
entre municípios de uma mesma região metropolitana.
A hierarquização dos centros urbanos, refere-se aos papéis ocupados pelas cidades na organização socioeconômica e espacial do
Brasil. Segundo a classificação do IBGE, estabelecida no estudo “Regiões de influência das cidades”, fazem parte da rede urbana brasileira:
12 principais centros urbanos, que são as metrópoles, e 70 capitais regionais; além de 169 centros sub-regionais e centros de zona e os
centros locais.
O estudo está fundamentado na estruturação das zonas de influência dos principais centros urbanos no território brasileiro, mostran-
do as redes que eles formam e os diversos aspectos considerados na estruturação dessas redes. A determinação dos principais centros
baseou-se na existência de órgãos públicos (Executivo, Judiciário, Legislativo, entre outros), de grandes empresas e na oferta de ensino
superior, serviços de saúde e domínios de internet.

Metrópoles brasileiras
As doze metrópoles brasileiras são divididas em três grupos, de acordo com a sua importância, a complexidade dos equipamentos
urbanos disponíveis, a funcionalidade que exercem na rede urbana e a extensão de sua área de influência:
• Grande metrópole nacional: São Paulo;
• Metrópoles nacionais: Rio de Janeiro e Brasília;
• Metrópoles: Belém, Manaus, Goiânia, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre.

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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
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Entre as metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro estende-se Exercícios
uma longa mancha urbana caracterizando a configuração da única
megalópole no território brasileiro. Num trecho do estado de São 01. Sobre o território brasileiro, assinale a alternativa INCOR-
Paulo, que engloba as regiões metropolitanas de São Paulo, Baixa- RETA:
da Santista, Campinas, além dos espaços densamente urbanizados Sobre o território brasileiro, assinale a alternativa INCORRETA:
de São José dos Campos e Sorocaba, há a metrópole expandida ou a) o Brasil é um país com dimensões continentais.
macrometrópole, que tem São Paulo como centro. b) a extensão do território brasileiro denuncia a grande distân-
cia de seus pontos extremos.
 Principais problemas urbanos no Brasil c) a localização do Brasil indica-se por longitudes negativas, no
Um traço marcante do rápido processo de urbanização nos pa- hemisfério ocidental.
íses em desenvolvimento e, em particular, no Brasil é a formação d) a grande variação de latitudes explica a homogeneidade cli-
de bairros com infraestrutura precária, loteamentos clandestinos, mática do país.
favelas e ocupações de moradias pela população de baixa renda.
Além disso, as principais cidades são marcadas também por bair- 02. “Moro num país tropical, abençoado por Deus
ros mais favorecidos por infraestruturas e qualidades urbanísticas, E bonito por natureza, mas que beleza
com parques, praças, amplas áreas arborizadas e gramadas, dando Em fevereiro (em fevereiro)
a seus moradores, nesses aspectos, condições de vida semelhantes Tem carnaval (tem carnaval)”.
às dos países desenvolvidos. A precariedade das condições de mo- (JOR, J. B. ; SIMONAL, W. País Tropical. Intérprete: Jorge Ben
radia de parcela considerável da população, sobretudo nas grandes Jor).
cidades, portanto, reflete a própria dinâmica do processo de mo- Ao dizer que o Brasil é um “país tropical”, o trecho acima está,
dernização de alguns países em desenvolvimento. Esta foi marcada em uma perspectiva geográfica,
pela concentração de renda e de propriedades e pela exclusão de a) correto, pois o território brasileiro é cortado por ambos os
parte da população dos benefícios produzidos por essa moderni- trópicos da Terra.
zação. b) incorreto, pois nenhum trópico, de fato, corta a área do país.
Apesar de abrigar parcela expressiva da população, as cidades c) correto, pois a maior parte do país encontra-se em uma zona
brasileiras apresentam situação de grande precariedade em rela- intertropical.
ção às condições das moradias urbanas. De acordo com o IBGE, em d) incorreto, pois não existe o “clima tropical” na classificação
2010, mais de 11 milhões de brasileiros – cerca de 6% da população climática do Brasil.
do país – viviam em favelas ou em moradias em situação inadequa- questão 3
da.
Não obstante os avanços conquistados no que diz respeito a 03. As fronteiras brasileiras, todas elas posicionadas na Amé-
fornecimento de energia elétrica, coleta de lixo, abastecimento de rica do Sul, totalizam 23.102 quilômetros de extensão. Desse total,
água e rede coletora de esgoto, ainda hoje um número expressivo mais de 15 mil quilômetros encontram-se em terras emersas, fa-
de moradias brasileiras não possui acesso simultâneo a esses servi- zendo fronteira com todos os países sul-americanos, exceto:
ços. A situação mais grave refere-se à rede coletora de esgoto, que, a) Venezuela e Colômbia
em 2014, faltava em 36,5% dos domicílios, segundo o IBGE. b) Chile e Equador
c) Uruguai e Guiana Francesa
Favelização d) Panamá e Peru
O processo de favelização é a face mais crítica do problema ha-
bitacional no Brasil. Incapazes de adquirir um terreno ou moradia, 04. (Faculdade Trevisan) Em síntese, o Brasil é um país intei-
ou de pagar aluguel, milhares de pessoas não têm outra opção a ramente ocidental, predominantemente do Hemisfério Sul e da
não ser ocupar áreas públicas ou privadas e nelas construírem suas Zona Intertropical.
casas. Esses locais dispõem de pouco ou de nenhum serviço pú- Considere as afirmações:
blico, dificultando muito a vida dessa parcela da população. Não I) O Brasil situa-se a oeste do Meridiano de Greenwich.
raro, também, os terrenos ocupados estão em áreas de risco, como II) O Brasil é cortado ao norte pela Linha do Equador.
encostas de morros e áreas de proteção ambiental, inclusive ma- III) Ao sul, é cortado pelo Trópico de Câncer.
nanciais. IV) Ao sul, é cortado pelo Trópico de Capricórnio, apresentando
92% do seu território na Zona Intertropical, entre os Trópicos de
Especulação imobiliária Câncer e de Capricórnio.
Historicamente, a ocupação do solo urbano levou grande parte V) Os 8% restantes estão na Zona Temperada do Sul.
da população mais pobre para a periferia, resultado da ação dos a) Apenas I, II e IV são verdadeiras.
responsáveis pelo planejamento urbano, que, via de regra, não b) Apenas I e II são verdadeiras.
priorizaram a questão da habitação para a população de baixo c) Apenas IV e V são verdadeiras.
poder aquisitivo. As empresas imobiliárias também participaram d) Apenas I, II, IV e V são verdadeiras.
ativamente desse processo, loteando a cidade de acordo com os e) Apenas I, II, III e V são verdadeiras.
interesses de valorização de seus imóveis no mercado. Frequente-
mente, obtêm informações prévias sobre investimentos do poder 05. (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ) A rede hidrográfica brasilei-
público em determinados trechos do espaço urbano e adquirem ra apresenta, dentre outras, as seguintes características:
terrenos, antecipadamente, nesses locais. Esse modelo de ocupa- a) grande potencial hidráulico, predomínio de rios perenes e
ção urbana tornou-se, assim, amplamente favorável à especulação predomínio de foz do tipo delta.
imobiliária. b) drenagem exorréica, predomínio de rios de planalto e predo-
mínio de foz do tipo estuário.
c) predomínio de rios temporários, drenagem endorréica e
grande potencial hidráulico.

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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
PROFESSOR DE GEOGRAFIA 
d) regime de alimentação pluvial, baixo potencial hidráulico e As afirmações corretas são:
predomínio de rios de planície. a) somente I e III.
e) drenagem endorreica, predomínio de rios perenes e regime b) somente II e III.
de alimentação pluvial. c) somente I, II e III.
d) somente II, III e IV.
06. (IFCE – com adaptações) Sobre as características da hidro- e) somente I, II e IV
grafia brasileira, são feitas as seguintes afirmações:
I. Considerando-se os rios de maior porte, só é encontrado regi- 10. Muitas espécies de plantas lenhosas são encontradas no
me temporário no sertão nordestino, onde o clima é semiárido, no cerrado brasileiro. Para a sobrevivência nas condições de longos
restante do país, os grandes rios são perenes. períodos de seca e queimadas periódicas, próprias desse ecossis-
II. Predominam os rios de planalto em áreas de elevado índice tema, essas plantas desenvolveram estruturas muito peculiares.
pluviométrico. A existência de muitos desníveis no relevo e o gran- As estruturas adaptativas mais apropriadas para a sobrevivên-
de volume de água possibilitam a produção de hidroeletricidade. cia desse grupo de plantas nas condições ambientais do referido
III. Na região Amazônica, os rios são muito utilizados como vias ecossistema são:
de transporte, e o potencial hidrelétrico é amplamente aproveita- a) Cascas finas e sem sulco ou fendas.
do. b) Caules estreitos e retilíneos.
Está correto o que se afirma em: c) Folhas estreitas e membranosas.
A) I apenas. d) Gemas apicais com densa pilosidade.
B) I e II apenas. e) Raízes superficiais, em geral, aéreas.
C) I e III apenas.
D) II e III apenas. 11. O Brasil enfrenta diversos problemas ambientais que pre-
E) I, II e III. judicam as diferentes espécies que aqui vivem. De acordo com o
IBGE, três problemas ambientais são os mais relatados no Brasil.
07.(FAC. AGRONOMIA E ZOOTECNIA de Uberaba) Leia as afir-
Marque a alternativa que indica esses problemas:
mativas abaixo sobre a hidrografia brasileira:
a) Poluição do solo, poluição atmosférica e contaminação por
I. É a maior das três bacias que formam a Bacia Platina, pois
metais pesados.
possui 891.309 km2, o que corresponde a 10,4%da área do territó-
b) Contaminação por metais pesados, desmatamento e caça.
rio brasileiro.
c) Poluição atmosférica, queimadas e caça.
II. Possui a maior potência instalada de energia elétrica, desta-
d) Assoreamento, desmatamento e queimadas.
cando-se algumas grandes usinas.
e) Queimadas, poluição do solo e contaminação por metais pe-
III. Em virtude de suas quedas d’água, a navegação é difícil. En-
sados.
tretanto, com a instalação de usinas hidrelétricas, muitas delas já
possuem eclusas para permitir a navegação.
Estas características referem-se à bacia do: 12. Um dos principais problemas ambientais que acontecem
a) Uruguai no Brasil são decorrentes do acúmulo de sedimentos nos ambien-
b) São Francisco tes aquáticos, desencadeando obstrução dos fluxos de água e des-
c) Paraná truição desses habitats. Esse problema é conhecido como:
d) Paraguai a) Desertificação
e) Amazonas b) Poluição marinha
c) Assoreamento
08. Sobre os mangues, assinale a alternativa INCORRETA: d) Desmatamento
a) São encontrados em ambientes alagados; e) Degradação do solo
b) São adaptados a cursos d’água com alta concentração de sal,
em razão da proximidade com o mar; 13. (UNINOEST) Entre os impactos ambientais causados nos
c) No Brasil, são encontrados em regiões litorâneas; ecossistemas pelo homem, podemos citar:
d) A extração de caranguejo é a principal atividade econômica I. Destruição da biodiversidade.
nesse ambiente; II. Erosão e empobrecimento dos solos.
e) É uma vegetação do tipo homogênea. III. Enchentes e assoreamento dos rios.
IV. Desertificação.
09. A Amazônia é uma área em evidência, seja pela questão V. Proliferação de pragas e doenças.
ecológica ou pela riqueza de seus recursos minerais. A expansão Assinale a alternativa que melhor representa os impactos
e a crescente valorização dessa área provocam uma infinidade de consequentes do desmatamento:
suposições a respeito do seu quadro natural. Sobre a Amazônia a) Apenas I
são feitas as afirmações a seguir: b) Apenas V
I - As queimadas podem alterar o clima do planeta e a destrui- c) Apenas III, IV e V
ção da floresta pode influenciar o aumento da temperatura; d) Apenas I, II, III e V
II - A floresta Amazônica funciona como “pulmão do mundo”, e) I, II, III, IV e V
sendo a principal fonte produtora de oxigênio;
III - A bacia hidrográfica do Amazonas é a maior do mundo, dre- 14. As queimadas são um problema ambiental grave enfren-
nando em torno de 20% da água doce dos rios para os oceanos; tado em nosso país. Analise as alternativas e marque aquela que
IV - Os solos amazônicos são de alta fertilidade, a qual é fa- não indica uma consequência das queimadas:
cilmente explicada pela concentração de matéria orgânica e pelo a) Morte dos micro-organismos que vivem no solo.
tempo de formação. b) Aumento da poluição atmosférica.

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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
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c) Diminuição dos nutrientes do solo.
d) Aumento dos riscos de erosão. 18. As fronteiras brasileiras, todas elas posicionadas na Amé-
e) Redução do aquecimento global. rica do Sul, totalizam 23.102 quilômetros de extensão. Desse total,
mais de 15 mil quilômetros encontram-se em terras emersas, fa-
15. (UNESP) Os animais da Amazônia estão sofrendo com o zendo fronteira com todos os países sul-americanos, exceto:
desmatamento e com as queimadas, provocados pela ação huma- a) Venezuela e Colômbia
na. A derrubada das árvores pode fazer com que a fina camada b) Chile e Equador
de matéria orgânica em decomposição (húmus) seja lavada pelas c) Uruguai e Guiana Francesa
águas das constantes chuvas que caem na região. d) Panamá e Peru
(J. Laurence, Biologia.)
O contido no texto justifica-se, uma vez que: 19. No Brasil, a agropecuária é um dos principais setores da
a) a reciclagem da matéria orgânica no solo amazônico é muito economia, sendo uma das mais importantes atividades a impul-
lenta e necessita do sombreamento da floresta para ocorrer. sionar o crescimento do PIB nacional. Nesse contexto, o tipo de
b) o solo da Amazônia é pobre, sendo que a maior parte dos prática predominante é:
nutrientes que sustenta a floresta é trazida pela água da chuva. a) a agricultura familiar, com elevado emprego de tecnologias.
c) as queimadas, além de destruírem os animais e as plantas, b) o agronegócio, com predomínio de latifúndios.
destroem, também, a fertilidade do solo amazônico, originalmente c) a agricultura sustentável, com práticas extrativistas.
rico em nutrientes e minerais. d) a agricultura itinerante, com técnicas avançadas de cultivo.
d) mesmo com a elevada fertilidade do solo amazônico, próprio
para a prática agrícola, as queimadas destroem a maior riqueza da 20. O processo de concentração fundiária caminha junto à in-
Amazônia, sua biodiversidade. dustrialização da agropecuária com predomínio de capitais. Sobre
e) o que torna o solo da Amazônia fértil é a decomposição da esse tema, assinale o que for incorreto:
matéria orgânica proveniente da própria floresta, feita por muitos a) O discurso de modernidade das elites tem contribuído para
decompositores existentes no solo. que a terra esteja concentrada nas mãos da grande maioria dos
agricultores brasileiros.
16. “O conceito de transição demográfica foi introduzido por b) Os pequenos agricultores não conseguem competir e são
Frank Notestein, em 1929, e é a contestação factual da lógica forçados a abandonar suas lavouras de subsistência e vender suas
malthusiana. Foi elaborada a partir da interpretação das trans- terras.
formações demográficas sofridas pelos países que participaram c) A intensa mecanização leva à redução do trabalho humano e
da Revolução Industrial nos séculos 18 e 19, até os dias atuais. A à mudança nas relações de trabalho, com a especialização de fun-
partir da análise destas mudanças demográficas foi estabelecido ções e o aumento do trabalho assalariado e de diaristas.
um padrão que, segundo alguns demógrafos, pode ser aplicado d) As modificações na estrutura fundiária provocam desempre-
aos demais países do mundo, embora em momentos históricos e go no campo, intenso êxodo rural, além de aumentar o contingente
contextos econômicos diferentes.” de trabalhadores sem direito à terra e sua exclusão social.
(Cláudio Mendonça. Demografia: transição demográfica e cres-
cimento populacional. UOL Educação. 2005. Disponível em: http:// 21. (IFB/2017 – IFB) Nas últimas décadas, as questões am-
educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/demografia‐transicao‐ bientais vêm ganhando peso nas preocupações mundiais. As re-
demografica‐e‐crescimento‐populacional.htm. Acesso em: março lações entre o modelo de desenvolvimento econômico e o meio
de 2014.) ambiente vêm sendo profundamente questionadas. Julgue abaixo
Sobre a dinâmica de crescimento vegetativo da população os questionamentos a este respeito, assinalando (V) para os VER-
brasileira com base no conceito de transição demográfica, deve‐se DADEIROS e (F) para os FALSOS.
considerar os seguintes conceitos, EXCETO: ( ) As ideias associadas ao modelo de desenvolvimento econô-
a) Crescimento vegetativo: crescimento populacional menos o mico hegemônico são a da modernização e progresso, que creem e
número de óbitos. professam um caminho evolutivo a seguir, tendo como referencial
b) Taxa de mortalidade: expressa a proporção entre o número de sociedade “desenvolvida” aquela que está no centro do sistema
de óbitos e a população absoluta de um lugar, em um determinado capitalista.
intervalo de tempo. ( ) Os diferentes espaços urbano e rural direcionam-se para a
c) Crescimento populacional: função entre duas variáveis: o sal- formação das sociedades modernas, mercadologizadas tanto em
do entre o número de imigrantes e o número de emigrantes; e, o escala regional, quanto em escalas nacional e global, impulsionados
saldo entre o número de nascimentos e o número de mortos. por um modelo desenvolvimentista, com características inerentes
d) Taxa de fecundidade: número médio de filhos por mulher de preservação ambiental.
em uma determinada população. Para obter essa taxa, divide‐se o ( ) O modelo de desenvolvimento econômico hegemônico pri-
total dos nascimentos pelo número de mulheres em idade reprodu- ma pelos interesses privados (econômicos) frente aos bens coleti-
tiva da população considerada. vos (meio ambiente).
( ) A ideia de desenvolvimento econômico hegemônico con-
17. Sobre o território brasileiro, assinale a alternativa INCOR- substancia-se em uma visão antropocêntrica de mundo, gerador de
RETA: fortes impactos socioambientais.
a) o Brasil é um país com dimensões continentais. ( ) A crítica mais comum à sociedade de consumo, representan-
b) a extensão do território brasileiro denuncia a grande distân- te e representada pelo modelo de desenvolvimento hegemônico,
cia de seus pontos extremos. é que essa sociedade está imersa em um processo de massificação
c) a localização do Brasil indica-se por longitudes negativas, no cultural.
hemisfério ocidental.
d) a grande variação de latitudes explica a homogeneidade cli-
mática do país.

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A sequência dos questionamentos é: 26. (CONSULPLAN/2014 – MAPA) “O conceito de transição de-
a) F, F, V, V, F mográfica foi introduzido por Frank Notestein, em 1929, e é a con-
b) V, F, F, V, F testação factual da lógica malthusiana. Foi elaborada a partir da in-
c) V, V, F, F, V terpretação das transformações demográficas sofridas pelos países
d) V, F, V, V, V que participaram da Revolução Industrial nos séculos 18 e 19, até
e) F, V, F, V, V os dias atuais. A partir da análise destas mudanças demográficas
foi estabelecido um padrão que, segundo alguns demógrafos, pode
22. (CESPE/2015 – MPOG) A respeito de tempo e clima, julgue ser aplicado aos demais países do mundo, embora em momentos
os itens a seguir. históricos e contextos econômicos diferentes.”
A afirmação “o aquecimento global deverá elevar a tempera- (Cláudio Mendonça. Demografia: transição demográfica e
tura média da superfície da Terra em até cinco graus Celsius nos crescimento populacional. UOL Educação. 2005. Disponível em:
próximos anos” está relacionada ao conceito de clima. http://educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/demografia‐
() Certo transicao‐demografica‐e‐crescimento‐populacional.htm. Acesso
() Errado em: março de 2014.)
Sobre a dinâmica de crescimento vegetativo da população
23. (FUNDEP/2014 – IS/SP) Considerando-se os estudos popu- brasileira com base no conceito de transição demográfica, deve‐se
lacionais, demográficos e econômicos elaborados sob enfoque do considerar os seguintes conceitos, EXCETO:
planejamento, é INCORRETO afirmar que a) Crescimento vegetativo: crescimento populacional menos o
a) a geografia da população é tão importante quanto é o estu- número de óbitos.
do da demografia naqueles trabalhos voltados para o planejamento b) Taxa de mortalidade: expressa a proporção entre o número
estratégico, uma vez que a primeira investiga e explica as leis de de óbitos e a população absoluta de um lugar, em um determinado
crescimento e mudança na estrutura da população; ao passo que a intervalo de tempo.
segunda investiga e explica os fatores das suas diferentes formas de c) Crescimento populacional: função entre duas variáveis: o sal-
distribuição espacial. do entre o número de imigrantes e o número de emigrantes; e, o
b) as diferentes sociedades contemporâneas passaram a se saldo entre o número de nascimentos e o número de mortos.
preocupar com o conhecimento sistemático do seu efetivo popu- d) Taxa de fecundidade: número médio de filhos por mulher
lacional (estoque populacional disponível), tanto em nível quantita- em uma determinada população. Para obter essa taxa, divide‐se o
tivo como qualitativo, notadamente entre os países desenvolvidos, total dos nascimentos pelo número de mulheres em idade reprodu-
em razão da prática do planejamento como instrumento para o de- tiva da população considerada.
senvolvimento.
c) o conhecimento da taxa de crescimento demográfico e da
distribuição da população em suas diferentes faixas de idade é con- GABARITO
dição necessária para qualquer política de empregos e de educa-
ção, assim como para os programas habitacionais e de saneamen- 01 D
tos básicos.
d) os estudos econômicos que se seguiram a Malthus incor- 02 C
poraram as pesquisas demográficas como segmento importante de 03 B
seu campo científico, apesar da teoria dos rendimentos decrescen-
04 D
tes por ele proposta não ter previsto o desenvolvimento das técni-
cas de produção que surgiram a partir do século seguinte à publica- 05 B
ção de sua obra. 06 B
24. (CESPE/2013 – MPU) Desde o período colonial, o espaço 07 C
geográfico brasileiro foi transformado e produzido prioritariamente 08 E
segundo as necessidades do mercado externo em detrimento da 09 A\
formação econômica interna. Foi por meio dessa perspectiva colo-
nizadora que, a partir de 1530, as propriedades rurais se organiza- 10 D
ram no Brasil. 11 D
Com relação às questões agrária e agrícola no Brasil, julgue o
12 C
item.
A partir dos anos 50 do século passado, os países capitalistas 13 E
desenvolvidos intensificaram o processo de industrialização da agri- 14 E
cultura no mundo subdesenvolvido como parte da estratégia de
revigoramento do capitalismo em âmbito mundial. Esse fato ficou 15 E
conhecido como Revolução Verde. 16 A
() Certo 17 D
() Errado
18 B
25. (CESPE/2013 – SEE/AL) No que se refere à globalização, 19 B
julgue o item subsecutivo.
20 A
O mundo globalizado definiu uma nova ordem mundial, mas
não uma nova geografia do comércio internacional. 21 D
() Certo 22 CERTO
() Errado

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