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Óculos Sonar – Protótipo de baixo custo para deficientes

visuais

Ândrio Hass Taege - andrioht@gmail.com


Maria Adelina Raupp Sganzerla – masganzerla@gmail.com
Marlise Geller – marlise.geller@gmail.com
Sistemas de Informação/Guaíba – PPGECIM/Ulbra

Descrição:
O Óculos Sonar, trata-se de um protótipo de sonar de baixo custo voltado aos
Deficientes Visuais, tendo como objetivo auxiliar na acessibilidade e segurança de
locomoção destas pessoas, utilizando-se de recursos tecnológicos simples e
funcionais, como placas microcontroladoras, neste caso o Arduino Nano, sensores e
atuadores conectados a ele, e empregando os conceitos da Tecnologia Assistiva.
Agregando o Arduino Nano, motor vibratório, sensor de ultrassom e uma bateria a
um óculos, criou-se um novo dispositivo assistivo capaz de identificar obstáculos
aéreos que podem causar acidentes pela restrição visual.
O Projeto foi desenvolvido junto ao Grupo de Pesquisa LEI – Laboratório de
Estudos de Inclusão em parceria com o LA – Laboratório de Acessibilidade da Ulbra –
Universidade Luterana do Brasil, campus Guaíba e é parte integrante do Trabalho de
Conclusão de Curso em Sistemas de Informação.

Objetivo:
Seu propósito é auxiliar as pessoas com deficiência visual a se locomoverem
com maior segurança e autonomia, avisando-as de possíveis perigos que estejam a
sua frente no nível de suas cabeças.

Materiais e construção:
Utilizando um Arduino Nano V3, um sensor de ultrassom HC-SR04, um motor
excêntrico e bateria, montou-se um óculos para servir como sensor de proximidade
e de obstáculos.
O sensor de ultrassom HC-SR04 possui alcance mínimo de 2 centímetros e
máximo de 4 metros e tem uma abertura horizontal de ação, chamada de leque, de
15°, conforme o fabricante, e este sensor foi escolhido por ser comumente utilizado
em projetos envolvendo Arduino e se mostrando uma ótima relação custo x
benefício.
Como controlador foi utilizado um Arduino Nano, escolhido por ser pequeno, de
dimensões reduzidas (45 mm x 15 mm) e leve (menos de 5 g) e a linguagem de
programação é própria do Arduino, sendo esta semelhante à Linguagem C.
O motor excêntrico é popularmente chamado de vibracall por ser o mesmo
utilizado em celulares e serve como interação do sensor de ultrassom com o usuário.
A bateria utilizada é uma pilha alcalina modelo AA de 12 volts. O óculos foi
escolhido por ser uma peça de utilização comum dos deficientes visuais e desse
modo não se faz necessário que tenha-se que utilizar mais um dispositivo, facilitando
assim no dia-a-dia além de estar exatamente no nível de preocupação deste projeto:
a cabeça..

Processo de Construção:
A construção física do presente projeto iniciou-se a partir do levantamento,
aquisição e teste dos componentes necessários para a elaboração do mesmo, sendo
estes: Arduino Nano V3, sensor de ultrassom HC-SR04, motor vibracall, óculos de EPI e
bateria.
Na placa de ensaio, iniciou-se com a ligações do Arduino, determinando as
portas utilizadas em cada componente e, ao testar o correto funcionamento da
montagem do hardware, foi possível iniciar a efetiva programação do Arduino.
Com a confirmação de que os componentes estavam funcionando
corretamente, foi possível realizar a montagem do protótipo funcional. Com a
montagem realizada, foi possível iniciar a programação do projeto. O Arduino utiliza
a linguagem de programação INO, sendo está baseada na linguagem C.
A programação efetiva dá-se basicamente em duas funções próprias do
Arduino: a SETUP e a LOOP. Na função SETUP ficam as portas utilizadas pelos
periféricos (sensor de ultrassom e vibracall) e na função LOOP ficam as instruções que
o Arduino deve seguir.
Na função SETUP, apontando as seguintes portas utilizadas:
• D2 – Trigger do sensor de ultrassom;
• D3 – Echo do sensor de ultrassom;
• D5 – motor vibracall.
Na função LOOP foi desenvolvida programação para envio e recebimento do
ultrassom, leitura e processamento dos dados, parametrização das distâncias assim
como as intensidades de vibração do motor vibracall.

Galeria de Imagens e descrições:

A bengala, pela sua natureza ao fazer o movimento de varrição, abaixo da linha da


cintura, não proporciona a capacidade de identificar obstáculos que estejam em
maiores alturas, como pode-se verificar na Figura acima.

Na placa de ensaio, pode-se notar que há uma chave que irá ligar e desligar o
sistema proposto. Ao estar ligado, o dispositivo trabalha com três linhas de percepção
de obstáculos pré-estabelecidos:
- de 2 cm até 80 cm será considerada a distância de risco e a vibração do
motor excêntrico será forte;
- de 81 cm até 120 cm será considerada distância de atenção e a vibração
será média e por fim
- de 121 cm até 200 cm será considerada a distância de risco mínima e a
vibração será fraca.
Acima de 200 cm o ultrassom irá desconsiderar os obstáculos e não acionará o motor
excêntrico. Esses valores foram estabelecidos a partir do cálculo da distância média
de um passo de um brasileiro.

No Diagrama de Atividade, percebe-se a atuação interna da percepção do


obstáculo por meio do ultrassom, o cálculo de distância realizado pelo Arduino Nano
e a escolha do alerta vibratório, se será disparado ou não e, caso sim, qual a sua
intensidade.
Este ciclo é iniciado no momento que o usuário liga o dispositivo, mantendo um loop,
e só se encerra no momento em que o mesmo é desligado.
O ciclo ocorre em meio segundo, desde o envio do sinal do Arduino Nano para o
ultrassom, o mesmo envia o sinal ultrassônico e o recebe para identificar possíveis
obstáculos, o Arduino calcula a distância desse obstáculo para então enviar ao
motor excêntrico a intensidade de sua vibração.

A Figura apresenta os componentes com aos respectivos valores datados em


setembro de 2018, na moeda oficial do Brasil, o Real.

Na placa de ensaio, iniciou-se com a ligações do Arduino, determinando as portas


utilizadas em cada componente, seguindo o padrão já definido previamente. Ao
testar o correto funcionamento da montagem do hardware, foi possível iniciar a
efetiva programação do Arduino.
Com a confirmação de que os componentes estavam funcionando corretamente,
foi possível realizar a montagem do protótipo funcional.

Menino com baixa visão fazendo uso do Óculos Sonar juntamente com sua bengala
verde.
Menina com baixa visão fazendo uso do Óculos Sonar juntamente com sua bengala
verde.

Uma das avaliadoras do Projeto.

Validação:
Para validar o projeto e verificar a sua funcionalidade, o mesmo foi apresentado
para especialistas que atuam na área de inclusão e Tecnologia Assistiva, bem como
para quatro Deficientes Visuais, dois adultos e duas crianças, tantos cegos como
baixa visão.
A entrevistadora, orientadora desse trabalho, fez os questionamentos e
condução da validação com dois alunos em uma escola municipal da Grande Porto
Alegre/RS. A validação aconteceu de forma individual para que houvesse a certeza
da imparcialidade dos entrevistados em uma sala de aula, ou seja, em um ambiente
controlado pela entrevistadora e pela professora do Atendimento Educacional
Especializado da instituição de ensino. As entrevistas tiveram início da mesma forma:
entregando o óculos nas mãos do entrevistado sem explicar do que se tratava.
Para fins de transcrição, a entrevistadora será denominada por E, o primeiro
aluno será indicado por A1 e o segundo por A2.
A1 cursa o quinto ano do ensino fundamental, possui 10% de visão no olho direito
e 5% no olho esquerdo. É um menino tranquilo, gosta de estudar e acima de tudo
curioso. Faz uso da Bengala Verde para se locomover dentro das dependências da
Escola e no seu ambiente social. Ao ser entregue o óculos, iniciou-se os
questionamentos:
E – Identificas isso que eu te entreguei? (o A1 estava com o óculos em suas mãos,
tateando e olhando, visto que ainda possui um resquício de visão)
A1 – Um óculos. (rapidamente a resposta foi dada)
E – Tu consegues identificar o que ele faz? (nesse movimento o óculos estava
ligado em seu rosto)
A1 – Ele faz cócegas. (ao ser ligado, o óculos vibra, o que fez com que A1
sentisse cócegas)
E – Tu queres dizer que ele vibra? (uma ajuda a nomenclatura)
A1 – Isso! Ele vibra! (a felicidade era estampada em seu rosto, porque associou
com a vibração do celular)
E – E tu consegues identificar o motivo de ele vibrar? (ao fazer essa pergunta, o
A1 ficou pensativo e então foi solicitado que ele andasse pela sala)
A1 – [...] quando eu ando ele vibra. (sua expressão era de pensativo, ao andar
ele encontrou vários obstáculos, como estantes, porta da sala e outros)
E – Só por isso? (um questionamento. Então a entrevistadora coloca-se em frente
à A1, ele estava parado no meio da sala, sem nenhum obstáculo próximo, a não ser
a própria entrevistadora)
A1 – Ele identifica pessoas! (sua resposta foi imediata! Como quem consegue
desvendar uma charada)
E – Será que é só isso? (novamente um questionamento. Então a entrevistadora
afasta-se de A1)
E – Ande, por favor. (provoca-se um novo cenário para que pudesse
compreender que não apenas pessoas eram detectadas, mas também objetos que
estava acima da sua cintura)
A1 – Ah! Ele vibra pra eu não bater nas coisas! (então a resposta veio
rapidamente. O A1 deu-se conta que a vibração era em função de qualquer objeto
e não somente de pessoas, como imaginara inicialmente)
E – Então ele identifica só pessoas? (novo questionamento)
A1 – Não! Ele identifica o que tiver na minha frente para eu não bater! (alegria
estampada no rosto!)
Alguns fatos observados enquanto era realizada a entrevista: óculos grande
para um rosto de criança, ele possui furos nas hastes o que pode ser adaptado um
elástico ou algo para fixar na cabeça. O fato de ser um equipamento muito utilizado
pelos cegos, os óculos não causam uma sensação de estarem utilizando algo novo
e sim um acessório do seu dia a dia.
A A2 (Figura 22) está cursando o quarto ano do ensino fundamental, é
considerada cega legal, possui apenas 5% da visão no olho esquerdo e cega total
do olho direito. Em seu dia a dia faz uso de lentes de aumento, lupas e todo o material
é escrito em fontes 38 a 42 dependendo da atividade. A entrevista seguiu com a
entrega dos óculos:
E – Identificas isso que eu te entreguei? (os óculos foram entregues, ela segurou,
tateou e aproximou em seu olho que possui resquícios de visão para ter certeza do
objeto que estava em suas mãos)
A2 – É um óculos. (identificando que tinha algo diferente nele, além de partes
verdes, algumas coisas que não eram comuns nos demais óculos que conhecia)
E – Tu consegues identificar o que ele faz? (nesse momento o óculos estava em
sua face, ela segurando em função de ser grande para o seu pequeno rosto)
A2 – Ele vibra. (imediatamente veio a resposta. Ela associou diretamente com
o celular)
E – E tu consegues identificar o motivo de ele vibrar? (ao seu lado estava uma
estante que logo fez vibrar, então saiu andando pela sala)
A2 – É para eu não bater nas coisas! (a resposta foi rápida ao andar pela sala
e verificar que quando existia algum obstáculo o óculos vibrava)
A A2 identificou rapidamente a função do óculos, sem muitos testes. Atribui-se
que a falta de visão pode promover uma maior interação aos demais sentidos,
mesmo tendo a bengala como guia e recurso de proteção, os obstáculos que estão
acima da cintura ficam expostos sendo passível de acidentes. Conversando com a
professora, descobriu-se que A2 já sofreu alguns acidentes em casa e em outros
ambientes na cabeça, sendo que um deles foi uma batida no olho em uma mesa,
isso ocorreu quando ela tinha em torno de 5 anos de idade.
Ao ser apresentada ao óculos, a professora do Atendimento Educacional
Especializado se mostrou contente, expressando a real contribuição do projeto para
os Deficientes Visuais. Porém o primeiro impacto foi de ter receio quanto aos fios e
placas, então após uma explicação que a tensão que passava era de baixa
intensidade por ser uma pilha e que os componentes não ofereciam perigo ao
usuário, iniciou-se a testagem. A mesma fez questão de testar como sendo uma
cega, pegou uma bengala, fechou os olhos e caminhou pela sala. Para interagir, a
entrevistadora se aproximava e distanciava para que a Professora pudesse
experienciar a sensação dos sensores e vibração.
A empolgação foi tanta, por saber das dificuldades que os cegos enfrentam ao
andarem em ambientes com obstáculos, que saiu para escola mostrando o
equipamento, tornando-se assim a entrevistadora. Nessa etapa não foi seguida a
estrutura inicial feita com os alunos e sim uma apresentação para os novos
entrevistados.
A primeira pessoa que testou foi a professora do reforço escolar, ela usa lentes
de grau elevado e faz uso de fontes ampliadas em seus materiais. Retirando seus
óculos de grau (sem eles, vultos são reconhecidos) e colocando o Óculos Sonar saiu
pelo hall de entrada da escola, onde existem vários obstáculos aéreos, como
decorações de Natal. Ao primeiro sinal de vibração a mesma se sentiu muito
confortável e expressou que todos os deficientes visuais deveriam possuir um
aparelho como aquele, que o fato de avisar um perigo iminente é algo necessário,
principalmente em ambientes desconhecidos. A testagem se prolongou para
verificar sua eficácia. Isso levou a outros professores videntes a testarem. Foi unânime
a aprovação de todos.
Algumas falas podem ser descritas: “Parabéns pelo trabalho! Precisamos de
mais acadêmicos envolvidos na questão da inclusão e acessibilidade!”, “Com um
valor acessível é inacreditável o que pode ser feito!” e “Onde posso encomendar um
assim?”.
Todos os professores que testaram perguntaram sobre o valor gasto, pois alguns
imaginavam que seria alto em função dos componentes e por ser semelhante a
alguns existentes no mercado.
Deste modo, aprecia-se que o corpo docente, especialistas na área da
educação, alguns atuando diretamente com Tecnologia Assistiva e outros não,
mostrando a variedade de profissionais que experimentaram o óculos, aprovaram o
mesmo.
Dois adultos, D1 e D2, deficientes visuais foram entrevistados e convidados a
utilizarem os óculos,
os dois são cegos de nascença, um com 40 anos e outro com 60
respectivamente, ambos professores. A metodologia foi a mesma utilizada com as
crianças, entrega do óculos e as perguntas.
Ao ser entregue o óculos automaticamente foi reconhecido e perguntado “o
que são essas coisas acopladas?”, a sensibilidade de pessoas cegas é muito grande,
então a percepção de que não era apenas um óculos comum foi imediatamente
confirmada. Ao ser ligado e vibrando logo foi identificado que existia algum sensor.
Uma explicação foi apresentada para eles.
O D1 logo colocou no rosto, pois um óculos tem essa função. Ao se locomover
percebeu algumas alterações na vibração (o ambiente estava repleto de
obstáculos), então começou a se aproximar e distanciar. Logo percebeu que era um
óculos indicador de obstáculo, pois já havia testado um em outra ocasião. Achou a
iniciativa muito boa e parabenizou pelo trabalho.
Já o D2 não foi tão expansivo, foi solicitado que colocasse o óculos e na primeira
vibração retirou da face dizendo que estava muito forte. Então foi necessário uma
explicação do motivo que vibrava mais, entendendo a mecânica do equipamento,
achou ótima a ideia e afirmou que usaria em seu dia a dia, mas não dispensava a
bengala de tantos anos. Novamente uma interação foi necessária, pois o óculos não
detecta obstáculos abaixo da cintura.
Os dois adultos entrevistados afirmaram que o equipamento é viável para ser
utilizado, porém ressaltaram que os componentes estavam muito expostos o que
poderia causar uma sensação de desconforto.
Sendo assim, ampliando a variedade de pessoas que interagiram com o óculos
e o testaram, garantindo um maior escopo para a coleta de sugestões e dados para
análise, houve uma ótima aceitação por parte dos usuários que experimentaram e
vivenciaram a utilização do mesmo, tornando-se assim viável a sua utilização.

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