Você está na página 1de 10

REVISTA DE DIREITO MERCANTIL

industriaL econômico e financeiro


Nova Série- Ano XLill- n. 133 - janein'-março de 2004

'DOUTRINA
EXTERNALIDADES E CUSTOS DE TRANSAÇÃO: A REDISTRIBUIÇÃO DE
DIREITOS NO NOVO CÓDIGO CIVIL ................................................................ 7 _ ·'
- RACHEL SZTAJN

ATUALIDADES
FUNDADORES
SOCIEDADE LIMITADA OU ANÔNIMA FECHADA? O NOVO DILEMA DOS
1" FASE: wALDEMAR FERREIRA EMPREENDEDORES NACIONAIS ........................................................................ 32 • ':). -'
FASE ATUAL: PRoF. PHILOMENo'J. DA CosTA (t) _i_ RICARDO GuJMARÃES MoREiRA

PRoF. FÁBIO KoNDER CoMPARATO DO EXERCÍCIO DO DIREITO DE VOTO DAS AÇÕES PREFERENCIAIS COM
DIVIDENDO DIFERENCIADO .................................................... ................... 77 -
-JORGE LOBO
A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE GOVERNANÇA CORPORATIVA NO
VALOR, ALAVANCAGEM E POLÍTICA DE DIVIDENDOS DAS EMPRESAS
BRASILEIRAS DE CAPITAL ABERTO ................................................................. 81 •
-ANDRÉ CARVALHAL
EVOLUÇÃO LEGISLATIVA DAS AÇÕES PREFERENCIAIS NO BRASIL E OS
SUPEf.VISOR GERAL: PRoF. "'{ ALDIRIO BuLGARELLI
INSTITUTOS A ELAS RELACIONADOS ................ ' ........................................... 121
COMITÊ DE REDAÇÃO: MAuRo RoDRIGUES PENTEADO, - MARCEL GOMES BRAGANÇA RETTO
HAROLDO MALHEmos DucLERC VERÇOSA,
O VALOR RESIDUAL GARANTIDO EM CONTRATOS DE ARRENDAMENTO
RACHEL SzTAJN, ANTONIO MARTIN, MARCOS PAULO DE ALMEIDA SALLES MERCANTIL FINANCEIRO ............................................................................... 143 ~
iiO iW~ 00 111. -GUILHERME DE A. c. ABDALLA
TÍTULOS DE CRÉDITO: UMA ANÁLISE DAS PRINtiPAIS DISPO§íÇ~Ê~ DO
TAIIUIAI. M: JU:n"JCA
IIILlOTEC! NOVO CÓDIGO CIVIL ..................................... "·"""'··,·.:.. .. ....,_,_,_,_,. ·. ' ....o·N·.··· 150
.. Ml.l - JEAN CARLOS FERNANDES Jo,:r
P 2.1'::\:3(. ol.f./o{/05 O REGIME DE ADMINISTRAÇÃO ESPECIAL TEMPORÁRIA 14 RAET 157 -
-CRISTIANO GOMES DE BRITO '~->
REVISTA DE DIREITO MERCANTIL Assinaturas e comercialização:
publicação trimestral de CATAVENTO DISTRIBUIDORA DE - ESPAÇO DISCENTE
MALHEIROS EDITORES LTDA. LIVROS S.A.
Rua· Paes de Araújo; 29, conjunto 171 Rua Conselheirc) Ramalho, 928 ASPECTOS DO DIREITO CONTRATUAL NO NOVO CÓDIGO CIVIL:
CEP 04531-940 ' CEP 01325-000 RESÔLUÇÃO. DISSOLUÇÃO. INEXECUÇÃO. TEORIA DA IMPREVISÃO ... 174 -
São Paulo, SP- Brasil São Paulo, SP- Brasil -MARIA CLARA VILLASBÔAS MAUDONNET
Te!. (011) 3078-7205 Te!. (0 11) 289-0811
Fax: (011) 3168-5495 Fax: (011) 251-3756 DOSIMETRIA DAS SANÇÕES NO DIREITO ANTITRUSTE: ANÁLISE DA
NOVA JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA SOB A PERSPECTIVA DA
Diretor Responsável: Álvaro Malheiros Supervisão Gráfica: Vânia Lúcia A mato DETERRÊNCIA. .................... ........................................ . .. .... 187 .
Diretora: Suzana Fleury Malheiros Composição:,f(nJ!rr -MARIA PAULA BERTRAN
202 REVISTA DE DIREITO MERCANTIL-133

que (i) faz-se necessário tratamento legal truste Brasileiro. São Paulo, Ed. RT, 1985,
concorrencial específico para mercados de p. 609.
bens duráveis suscetíveis a práticas simila- POSSAS, Mario Luiz. "Os conceitos de mer-
Espaç() Discente
-----;-',)li<;;i:'ji§-"c':e'»;~~~..]ü':f{{fÇ~::t3)5":*"'~ts::ttili/it:?%:i;J·':t.~'2%--~-~
res à obsolescência programada e·(ii) de que cado relevante e de poder de mercado no
a legislação de proteção à propriedade in- âmbito da defesa da concorrência", in POS-
telectual deveria ser reformulada, buscan- SAS, Mario Luiz (org.) et a/lii, Ensaios so-
do um novo ponto de equilíbrio entre ajus- bre Economia e Direito da Concorrência. ASPECTOS GERAIS DO SISTEMA DE MARCAS:
ta remuneração do autor e a difusão de no- São Paulo, Singular, 2002, pp. 75-97.
vas tecnologias. O REGISTRO E O RISCO DE CONFUSÃO
RANGNEKAR, Dwijen. Planned Obsolescence
Novembro de 2003. wzd Plant Breeding: Empirical Evidence
from Wheat Breeding in the UK ( 1965-
1995). Londres, Kingston University, 2001, ANDRÉ Luis AMOROSO DE LIMA
6. Bibliografia p. 21.
ASCARELLI, Tullio. Teoria del/a Concorrenza RUIZ, Juan M. Another Perspective on Planned
Obsolescence: /s There Really Toa Much 1. Escorço histórico. 2. Propriedade inteleclttai- Direito autoral e proprie-
e dei Beni lmmateriali. 3ª ed., Milão, Dott.
dade industrial: 2.1 Bens da propriedade industrial. 3. Do direito de marcas:
A Giutlé, 1960, p. 911. Innovatimz? Madri i Universidade Carlos III,
3.1 A nm;a Lei da Propriedade Industrial; 3.2 Conceito de marca de empresa;
2002, p. 41. 3.3 Class(flcação legal de marca de empresa (w·t. /23 da LPJ): 3.3.1 Marca
BRUNA, Sérgio Varella de. O Poder Econômi-
co e a Conceituação do Abuso em seu Exer- - - - · Yet Another Perspective on Planned de produto e/ou serviço; 3.3.2 Marca de cert~ficaç{fo; 3.3.3 Marca coletiva;
Obsolescence: ls Tlzere Really Toa Muclz 3.4 Class(ficação quanto à forma: 3.4.1 Marca nominativa; 3.4.2 Marca fi-
cício. 1° ed., São Paulo, Ed. RT, 1997, p. gurativa; 3.4.3 Marca mista; 3.4.4 Marca tridimensional; 3.5 Class(flcação
190. lmzovation? Madri, Universidade Carlos 111
quanto ao seu conhecimento: 3.5.1 Marca de alto renome (art. 125 da LPI);
1998, p. 20. ' 3.5.2 Marca notória (art. 126 da LPJ). 4. Registro da marca: 4.1 Do princípio
BULOW, Jeremy. "An economic theory of
planned obsolcscence", in Quarterly lo urna! SALOMÃO FILHO, Calixto. Direito Concor- da especialidade; 4.2 Do pedido de registro de marca. 5. Risco de cO!(/ltslio:
rencial -As Condutas. 2ª ed., São Paulo, 5.1 Regra da impressão de conjunto; 5.2 Regra da teoria da distância. 6.
of Economics I OI1729-749, 1986. Risco de co1~{usão diante da reproduçao e da imitaç{io: 6.1 Risco de conjitsão
Malheiros Editores, 2003, p. 336.
COMPARATO, Fábio Konder. "Função social diante da reprodução (total, parcial e com acréscimo): 6.2 Risco de COI({us{io
da propriedade dos bens de produção", in - - - · Direito Concorrencial- As Estrutu- diante da imitação; 6.3 A sondagem como meio de prova do risco de COI~{tt~
DireilO Empresarial: Estudos e Pareceres. ras. 2ª ed., São Paulo, Malheiros Editores, são. 7. Consideraç6es finais. 8. Bibliogrc{fia.
Sãà Paulo, Saraiva, 1995, pp. 27 a'37. 2002, p. 375. '
- - - · "A transferência empresarial de tecno- SANDRONI, Paulo. Novíssimo Dicionário de
logia para países subdesenvolvidos: um caso Economia. São Paulo, Best Seller, 1999, p. 1. Escorço histórico se marcas no gado, nas ferramentas de tra-
típico de inadequação dos meios aos fins", 650. balho c em outros objetos, como sinais de
in Direito Empresarial: Estudos e Parece- SCHUARTZ, Luís Fernando. "Poder econômi- Há quem sustente que o surgimento da propriedade.
res. São Paulo, Saraiva, 1995, pp. 39 a 53. co e abuso do poder econômico no direito marca, no seu sentido mais simples, como
É certo que os artífices gregos grava-
FRANCESCHINI, José Inácio Gonzaga. "Os de defesa da concorrência brasileiro'', in sendo um sinal aposto para identificar e dis-
vam sinais nos objetos que produziam, seja
contratos de tecnologia como forma de abuso RDM 94113-27, Nova Série, Ano XXXIII, tinguir objetos semelhantes, deu-se conco-
como uma tendência natural do ser huma-
do poder econômico", in FRANCESCHINI, 1994. mitantemente ao aparecimento do homem.
no de impor às suas criações o cunho de
José Inácio Gonzaga e FRANCESCHINI, SILVEIRA, Newton.A Propriedade Intelectual Observe-se que os sinais nas polpas dos
sua personalidade ou então de marcá-los
José Luiz Vicente de Azevedo, Poder Eco- e as Novas Leis A11torais. 2ª ed., São Paulo, dedos de cada ser humano (impressões di-
como identificação de propriedade. Acon-
nômico: Exercício e Abuso- Direito Anti- Saraiva, 1998, p. 346. gitais) servem como meio de identificação
e distinção individual (Soares, 1988, p. 7). tece que este é um costume difundido des-
de os povos primitivos, não podendo ser
Apesar da sua existência remota, em emprestado o mesmo caráter econômico
princípio, as marcas não tinham a mesma
hoje dado às marcas de empresa.
finalidade que lhes é atribuída atualmente,
utilizadas para identificar e individualizar Não obstante, é na Idade Média, com
produtos e/ou serviços a fim de que não se o substancial desenvolvimento do comér-
confundam com outros similares. A histó- cio, que o uso de marcas passou a indivi-
ria nos revela, por exemplo, a aposição do dualizar a grande variedade de produtos
nome de Ramsés III em seus inimigos, cuja colocados à venda nas feiras e rotas de co-
finalidade era identificar os resultados de mércio. Elas identificavam os produtos de
suas conquistas. Na Antigüidade, usavam- acordo com as respectivas corporações de
204 REVISTA DE DIREITO MERCANTIL-133 ESPAÇO DISCENTE 205

ofício de onde se odginavam; afinal, lá nas ploração da sua atividade econômica é convivência digna, conforme ós ditames da balho intelectual, genericamente chamado
corporações os produtos eram submetidos merecedor de proteção pelo ordenamento justiça social. Direitos da Propriedade Intelectual, divi-
a exame e aprovação, garantindo com isso jurídico, principalmente visando a evitar dindo a proteção jurídica em: Direito de
a sua qualidade aos compradores. que o empresário desleal se utilize concei- Autor e Propriedade Industrial.
2. Propriedade iutelectual
Pois bem. Como a temos hoje, a mar- to dos produtos do concorrente na promo- As criações no campo da estética são
ção dos seus.
-Direito autoral
ca conquista relevância após a Revolução e propriedade iudustrial protegidas pelo Direito Autoral e as cria-
Industrial, justamente em razão do desen- Como já foi dito, devem ser conside- ções no campo da técnica pelo Direito da
volvimento da indústria em todos os seus radas as diuturnas elucubrações em torno Da relação existente entre o ser huma- Propriedade Industrial, sendo diferenciados
setores e do emprego de novos métodos de da exploração econômica, os desgastes fí- no e os bens dispostos na natureza, para juridicamente nos seguintes aspectos:
trabalho para auferir-se maiores ganhos. A sico e intelectual do empresário, e todo o efeito de que as necessidades da vida sejam a) quanto à origem do direito:
proliferação acentuada das indústrias, com capital despendido na busca incessante de supridas, tanto as materiais como as espi-
a produção em série, deu ensejo a uma gran- O empresário se torna titular do uso
resultados satisfatórios da atividade empre- rituais, decorre atividade criadora. Contu-
de variedade de produtos semelhantes, que exclusivo da marca ou de qualquer outro
sarial. Não se pode tolerar, assim, que o ato do, ora essa criação está no campo da téc-
necessariamente demandaram a criação de bem da propriedade industrial (invenção,
desleal de se colocar um produto no mer- nica e ora no da estética (Silveira, 1998, p.
modelo de utilidade, desenho industrial),
mecanismos de identificação para distingui- cado com a utilização da boa reputação do 3).
los uns dos outros. prqduto alheio, assinalando-o com marca 1
tão-somente após a expedição do certifica-
; Observe-se que para o exercício pro- do de registrd ou da carta patente pelo INPÍ
Não bastasse o desenvolvimento in- idêntica, possa prevalecer. fissional de atividade econômica organiza- (Instituto Nacional da Propriedade Indus-
dustrial já mencionado, a implementação De outro modo, os efeitos do uso inde- da para a produção ou a circulação de bens trial). Isto significa dizer que o ato admi-
do modelo econômico capitalista consoli- vido de marca alheia na promoção de pro- ou de serviços, o empresário, mediante mo- nistrativo pelo qual o empresário tem reco-
dou um mercado altamente competitivo. dutos de falsa procedência alcançam inte- bilizações físicas e intelectuais, organiza nhecido o seu direito industrial é de natu-
Daí depreende-se o interesse do empresá- resses coletivos (dos consumidores), inclu- bens da natureza, transmitindo para a em- reza constitutiva.
rio de apresentar ao mercado o padrão im- sive. Como a função do sinal distintivo é presa a sua própria impressão pessoal.
identificar dentre outros semelhantes o De outro modo, o direito de exclusi-
presso na confecção dos seus produtos. A Neste caso, a criação está no campo da téc-
pretenso produto e/ou serviço ao consumo, vidade do criador de obras artística, literá-
finalidade é reunir uma clientela que possa nica, porque, o produto dos seus esforços
quer por sua qualidade ou por qualquer ria ou científica decorre da mera criação.
ser a razão da sua atividade econômica. As supre exclusivamente as necessidades ma-
pessoas só elegem determinado produto outro motivo, é certo que haverá violação Vale dizer: o registro junto aos órgãos com-
teriais de sobrevivência do ser humano, com
'de direitos, se acaso ele não corresponda petentes qe obras artística, literária ou ~ien­
para consumir, po'r entender que ele é satis- ' a produção ou a circulação 'de bens ou ser-
fatório a suprir as suas necessidades. De- àquele de fato eleito pelo consumidor. Ora, tífica é de natureza declaratória, apenas ra-
viços.
pois de estabelecida a credibilidade no pro- o consumidor elege determinado produto tifica um direito já constituído com o exer-
Já é diferente do que ocorre com as cício da atividade criativa. Nesse caso, a
duto, o consumidor se torna fiel a ele, pas- e/ou serviço, por entender satisfatório a
obras artística, literária ou científica, cuja finalidade do registro é apenas compro-
sando amiúde a consumi-lo. A identifica- suprir as suas necessidades; agora, tama-
atividade criadora constitui obra de satis- batória da anterioridade da criação.
ção de cada produto junto aos consumido- nho desrespeito é o empresário malicioso
fação do espírito humano e de estimulação
res se tornou possível com o emprego da levá-lo a consumir um produto e/ou servi- b) quanto à extensão da tutela jurídica:
do sentimento estético. O artista, por exem-
marca em seus rótulos e embalagens. ço distinto daquele realmente pretendido,
plo, ao executar a pintura de uma determi- Enquanto o Direito Autoral protege a
com a aposição de marca alheia.
Além disso, convém salientar que os nada tela, produz para a satisfação espiri- forma, a idéia exteriorizada, a Propriedade
resultados obtidos no desenvolvimento de Pelo visto, a marca chega em nossos tual, tanto que se preocupa com o estudo Industrial procura proteger não apenas a
um determinado produto dependem do es- dias com traços bem distintos daqueles ou- racional do belo. forma, mas a própria idéia inventiva.
forço que cada empresário emprega na sua trora adotados pelos povos primitivos. Des-
A capacidade criadora do ser humano O escritor de uma obra literária, por
realização. A utilização de sistemas de tra- de que utilizada na Idade Média como mar-
se desenvolve ora no campo da técnica, exemplo, não incorrerá em plágio se publi-
balho diferenciados, a qualificação do tra- ca de empresa, para distinguir os produtos
quando se busca a aplicação prática da cria- car um livro, abordando sobre tema dantes
balhador contratado, a matéria-prima em- vendidos nas feiras e rotas comerciais, ten-
ção no mundo exterior, material, e ~ra no escrito, desde que a sua forma seja outra.
do daí sim aferido relevância econômica,
pregada, enfim, os meios e as formas con- campo· da estética, quando os efeitos da Não é original o:tema sobre o qual já se
houve uma maior preocupação por parte dos
forme são realizadas a sua produção, indi- criação são gerados no mundo interior da tenha escrito anteriormente, muito embora
então comerciantes, que justificasse a sua
vidualizam cada produto. Essa individua- percepção humana. a maneira pela qual a abordagem é feita,
lização também se efetiva mediante a apo- regulamentação pelo Direito. Com isso, a
diverge e, assim, a obra recebe proteção do
cada dia se tem aprimorado os estudos acer- Pois bem: delineados os campos da
sição das marcas. Direito Autoral.
ca desses sinais, fundando-se sempre na indústria e da arte, literatura e ciência, de
Veja-se então que todo o esforço em- valorização do trabalho humano e na livre acordo com os resultados da criatividade Com relação à Propriedade Industrial,
pregado pelo empresário de boa-fé na ex- iniciativa, para efeito de proporcionar uma humana, o Direito reserva a tutela ao tra- resultaria indeferido, por exemplo, o pedi-
206 REVISTA DE DIREITO MERCANTIL-133 ESPAÇO DISCENTE 207

do de patente de invenção já patenteada, terapêuticos ou de diagnóStico, para apli- percepção visual, utilizado na apresentação fiscais, nos anúncios, nos uniformes dos
ainda que exteriorizada de maneira diferen- cação no corpo humano ou animal; e de produtos e/ou serviços ao mercado. As- empregados, nos veículos etc., procurando
te num suporte material. Nesse caso, as cria- IX- o todo ou parte do seres vivos sim, as marcas devem ser inconfundíveis identificar direta e indiretamente cada pro-
ções se originam de idéias idênticas, por- naturais e materiais biológicos encontra- umas das outras, pois, são instrumentos de duto e/ou serviço de outro semelhante ou
quanto, insuscetíveis de serem patenteadas. dos na natureza, ou ainda que dela isola· identificação de mercadorias (produtos/ser- afim.
A maior preocupação da Propriedade In- dos, inclusive o genoma ou germoplasma viços) levadas ao consumo. Pelo visto, o direito de marcas preten-
dustrial é proteger a idéia decorrente da de qualquer ser vivo natural e os proces. de não só manter entre os empresários uma
invenção. sos biológicos naturais.
3, Do direito de marcas leal concorrência, assegurando-lhes a co-
b) Modelo de utilidade: representa lheita dos frutos dos seus trabalhos, mas,
uma espécie de aperfeiçoamento da inven- Após ter percorrido um longo trajeto objetiva, por seu turno, proteger o consu-
2.1 Bens da propriedade industrial
ção, pois, embora não seja um invento por na evolução histórica e tendo agora chega- midor de não ser enganado em relação à
Entre os bens integrantes da proprie- inteiro, decorre de atividade inventiva. São do aos nossos dias como um instrumento falsa procedência dos produtos e/ou servi-
dade industrial, que por sua vez são partes recursos agregados às invenções, que am- utilizado para distinguir ou identificar pro- ços consumidos.
integrantes do estabelecimento empresarial, pliam a sua possibilidade de utilização. Tal dutos e/ou serviços apresentados ao mer-
estão: recurso deve constituir um avanço tecno- cado consumidor, as marcas se tornaram
ló;gico, de aplicabilidade industrial e passí- 3.1 A nova Lei da Propriedade Jndustri~l
a) Invenção: pol· oferecer extrema difi- passíveis de proteção, principalmente por-
vel de convencer um expert sobre a sua en- que, reduzidas à categoria de bem indus-
culdade para que sejam estabelecidos os genhosidade. Com a adoção, no início da década de
seus exatos contornos, a legislação não se trial, integrantes do estabelecimento empre- 1990, de uma política econômica voltada à
Ar!. 9' da LPI: É patenteável como sarial, ganharam relevância econômica.
atreveu a conceituar o instituto em referên- abertura para o livre comércio internacio-
modelo de utilidade o objeto de uso práli-
cia. Alguns de seus elementos são facilmen- Aliás, dentre as inúmeras teorias que nal, calorosa discussão sobre a necessida-
co, ou parte deste, suscetível de aplicação
te percebidos (criação do espírito humano, industrial, que apresente nova forma ou procuram explicar a natureza jurídica da de de uma nova legislação sobre proprie-
ampliação do domínio humano sobre a na- disposição, envolvendo ato inventiva, que marca, tais como: do direito natural, dos dade industrial emergiu no meio governa-
tureza etc.), mas insuficientes para definir- resulte em melhoria funcional no seu uso direitos intelectuais, do direito pessoal, do mental, empresarial e acadêmico (Gleber,
se invenção. em sua fabricação. direito sobre bens imateriais, entre outras; 1998, p. I 00).
Preferiu o legislador valer-se do mé- c) Desenho industrial: não amplia a consagra-se aquela que a considera como Esta discussão ocorreu principalmen-
todo de exclusãQ, elencando as atividades , função utilitária do objeto, !,~o-somente im- um direito de propriedade, eminentemente te devid,o à inadequação legislativa, e do
criativas do homem não consideradas in- prime alterações com relação a sua forma. ' de cunho patrimonial. Segundo o Profes- baixo grau de proteção atribuído aos bens
venção. Veja-se: sor Tinoco Soares,"( ... ) a marca, acima de relativos à propriedade intelectual. A legis-
tudo constitui-se em direito de proprieda- lação pátria então vigente, alvo de críticas
Ar!. I Oda LPI: Não se considera in- Ar!. 95 da LP!: A forma plástica or-
venção (... ): de, e uma vez adquirida cabe ao seu titular severas por parte da comunidade interna-
namental de um objeto ou o conjunto or·
namental de linhas e cores que possa ser
o ius utendi, fruendi et abutendi" (Soares, cional, deveria ser revista imediatamente e
I -
descobertas, teorias científicas
aplicado a um produto, proporcionando 2000, p. 81). amoldada à nova realidade do país, afinal,
e métodos matemáticos;
resultado visual novo e original na sua Em resumo, o Direito de Marcas pro- se aquela situação fosse mantida, as rela-
11 - concepções puramente abstra-
configuração externa e que possa servir cura combater a conduta de alguns empre- ções de comércio exterior possivelmente
tas;
de tipo de fabricação industrial. sários maliciosos que utilizam o conceito não se realizariam.
111 - esquemas, planos, princípios
O presente instituto se aproxima mui- de produtos e/ou serviços líderes no mer- O processo de mudança na legislação
ou métodos comerciais, contábeis, finan-
to do design da obra artística, ambos não cado para promoverem os seus. São assi- acelerou ainda mais, a partir da celebração,
ceiros, educativos, publicitários, de sor-
teio e de fiscalização; contribuem para o aumento da utilidade do nalados produtos de falsa procedência, co- em 15.4.1994, do Acordo Constitutivo da
objeto em si, apenas prestam contribuição mo se fossem líderes no mercado, com a Organização Mundial do Comércio (OMC).
IV- as obras literárias, arquitetôni-
estética, ligada a sua forma. A diferença se finalidade de fraudar as regras da livre con- A substituição do Código de Propriedade
cas, artísticas e científicas ou qualquer
encontra na função utilitária do obj_eto re- corrêqcia. Industrial, Lei 5.772, de 21.12.1971, tor-
criação estética:
vestido de Desenho Industrial. Ao contrá- Por outro lado, o combate à contrafa- nou-se indispenSável. Observe-se que to-
V - programas de computador em rio, o objeto de obra de arte não oferece ção das marcas quer também proteger a to- dos os países signatários da OMC, organi-
si; nenhuma utilidade, senão, o de satisfação dos os cidadãos de estarem consumindo zação da qual o Brasil participa, deveriam
VI- apresentação de informações; do espírito humano e de estímulo do senti- atender ao Acordo sobre Aspectos da Pro-
produto e/ou serviço distintos dos escolhi-
VII- regras de jogo; mento estético; e dos inicialmente. Até porque, as marcas são priedade Intelectual Relacionados com
VIII- técnicas e métodos operató· d) Marca: tudo aquilo que é realizá- sinais distintivos, realizáveis por meio de Comércio (TRIPs - Trade Related Inte-
rios ou cirúrgicos, bem corno métodos vel graficamente, porquanto, passível de suas aposições em embalagens, nas notas lectual Property Rights).
208 REVISTADED!REITOMERCANTIL-133 ESPAÇO DISCENTE 209

Nesse contexto, foi promulgada uma 3.3 Classificação legal de marca 3.4 Classificação quanto à forma 3.5 Classificação quanto
nova Lei brasileira da propriedade indus- de empresa (art. 123 da LPJ) ao seu conhecimento
trial (LPI- Lei 9.279, de 14.5.1996, Re- 3.4.1 Marca nominativa
gula Direitos e Obrigações Relativos à Pro- 3.3.1 Marca de produto e/ou serviço 3.5.1 Marca de alto renome
priedade Industrial), que cuidou mormente É constituída por uma ou mais pala- (art. 125 da LPI)
É aquela utilizada pelo empresário vras no sentido amplo do alfabeto roma-
de conquistar a credibilidade da comuni-
para identificar diretamente a procedência no, compreendendo, também, os neologis- Às marcas grandemente conhecidas,
dade internacional, adequando o ordena- de renome que se estende por toda exten-
dos serviços e/ou produtos oferecidos ao mos e as combinações de letras e/ou alga-
mento jurídico pátrio às convenções e tra-
consumidor, objetivando distingui-los de rismos romanos e/ou arábicos ("INPI. são territorial e transcenda o segmento de
tados internacionais inerentes à proteção
outros idênticos, semelhantes ou afins. Apresentação da marca", disponível na mercado para a qual foi originalmente des-
dos bens industriais.
internet, <www.inpi .gov.br/marca/con- tinada, a lei assegura proteção especial em
teudo/m_oquee.htm>, 10.3.2001 ). todas as classes.
3.3.2 Marca de certificação
3.2 Conceito de marca de empresa Em suma, marca de alto renome "é a
É utilizada para atestar a conformida- marca conhecida por uma larga parte do
Segundo o art. 122 da LPI, Lei que 3.4.2 Marca figurativa
de do serviço e/ou produto oferecido pelo público em geral e que diante de tal nature-
Regula Direitos e Obrigações Relativos à
,empresário com determinadas normas ou É constituída por deset)ho, imagem, za e reput&ção não há para terceiros q4al-
Propriedade Industrial, a marca é um sinal
'especificações técnicas, notadamente quan- quer justifi'cação para utilizá-la ou deposítá-
suscetível de percepção visual, que identi- figura ou qualquer forma estilizada dele-
to à qualidade, natureza, material utilizado la" (Soares, 2001, p. 204).
fica. direta ou indiretamente, produtos e/ tra e número, isoladamente, bem como dos
e metodologia empregada.
ou serviços. Observe-se: ideogramas de línguas tais como o japo-
Art. 122 da LPI: São suscetíveis de O titular da marca de certificação é nês, chinês, hebraico etc. Nesta última hi- 3.5.2 Marca notória (art. 126 da LPI)
registro como marca os sinais distintivos sempre um agente econômico, um empre- pótese, a proteção legal recai sobre o ideo-
perceptíveis visualmente, não compreen- sário sem interesse comercial ou industrial grama em si, e não sobre a palavra ou ter- A lei atribui proteção especial à mar-
didos nas proibições legais. relacionado ao produto e/ou serviço a ser mo que ele representa, ressalvada a hipó- ca que incondicionalmente é conhecida em
atestado (art. 128, § 3º, da LPI). tese de o requerente indicar no requeri- seu ramo de atividade, independentemente
Resumindo, a marca pode ser concei-
Para utilizar uma marca de certifica- mento a palavra ou o termo que o ideo- de ter sido registrada no Brasil. No entan-
tuada como sendo tudo aquilo que é reali-
ção, o empresário interessado é submetido grama representa, desde que compreensí- to, a tutela se estende apenas à classe para
zável graficamente, porquanto, passível de
ao atendimento de condiÇões constantes em vel por uma parcela significativa do pú- qual da se originou.
percepção visÍJal, e não compreendido nas'
proibições legais. Além de contribuir na regulamento registrado no INPI. Geralmen- blico consumidor, caso em que se inter- O ordenamento jurídico pátrio procu-
apresentação de produtos e/ou serviços ao te, está estabelecida no próprio regulamen- pretará como marca mista ("INPI. Apre- rou adequar-se ao art. 6' bis (I) da Conven-
mercado, as marcas são neles apostas para to a remuneração devida ao titular da mar- sentação da marca", cit.). ção de Paris, objetivando a repressão à con-
distingui-los, direta ou indiretamente, de ca. Este, por sua vez, responde judicial e trafação de marcas. Vale ressaltar que ale-
outros idênticos, semelhantes ou afins, sus- extrajudicialmente por eventuais ilícitos de- gislação brasileira estendeu a esfera de pro-
correntes do uso indevido. 3.4.3 Marca mista teção para a marca de serviço, não mencio-
cetíveis de causar confusão.
É constituída pela combinação de ele- nada pelo art. 6' bis (I) da Convenção de
Dessa maneira, as marcas devem ser
necessariamente inconfundíveis umas das mentos nominativos e elementos figurati- Paris.
3.3.3 Marca coletiva
outras, pois, de um lado servem como meio vos ou de elementos nominativos, cuja Com o advento da LPI, o INPI adqui-
de identificação para o consumidor dos pro- Nesse caso, a marca é usada para iden- grafia se apresente de forma estilizada riu poderes para indeferir de ofício o pedi-
dutos e/ou serviços apresentado ao merca- tificar produtos e/ou serviços provindos de ("INPI. Apresentação da marca", cit.). do de registro de marca que reproduza ou
do, e de outro servem para os empresários membros de uma determinada entidade. imite, ainda que em parte, marca notória.
distinguirem os seus produtos e/ou servi- A titularidade da marca coletiva per-
3.4.4 Marca tridimensional
ços de outros passíveis de associação. tence sempre a uma associação empresarial, 4. Registro de marca
Considera-se ainda que o mencionado que congrega os empresários de determi- É constituída pela forma plástica (es-
dispositivo legal proporcionou maior ampli- nados produtos e/ou serviços, ou de uma tende-se por forma plástica, a configuração É certo que, pelo menos no Brasil e
tude com relação à registrabilidade da mar- certa região, ou adeptos de uma específica ou a conformação física) de produto ou de na grande maioria dos países latinos, só se
ca, ao destacar a expressão: perceptíveis vi- ideologia. embalagem, cuja forma tenha capacidade adquire a propriedade da marca a partir do
sualmente; afinal, os sinais tridimensionais Quanto ao uso de marca coletiva, são distintiva em si mesma e esteja dissociada seu registro válido no INPI (art. 129 da
também se tornaram passível de registro (Di exigidas as mesmas condições para o uso de qualquer efeito técnico ("INPI. Apresen- LPI). O legislador pátrio, para assegurar ao
Biasi, Garcia e Mendes, 2000, p. 175). da marca de certificação. tação da marca", cit.). empresário a exclusividade de uso da mar-
210 REVISTA DE DIREITO MERCANTIL-133 ESPAÇO DtSCENTE 2t I

ca, preferiu o sistema atributivo ao sistema te, marca notóriá. Cuida-se de adequação Atualmente i10 Brasil, com quarenta e Observe-se que pode ocorrer de uma
declarativo de direito. Veja-se: da lei brasileira ao art. 62 bis (I) da Con- uma classes, sendo trinta e cinco de produ- marca registrada ser confundida com ou-
Art. 129, da LPI: A propriedade da venção de Paris, visando cumprir O com- tos (classe I a 35) e seis de serviços (classe tra, mesmo estando registrada em classes
marca adquire-se pelo registro validamen- promisso internacional assumido de recu- 36 a 41), constituídas ainda por grupos de distintas. Isto é comum nas hipóteses em
te expedido, conforme as disposições desta sar ou invalidar registro e proibir o uso de itens relativos a atividades similares, are- que marcas identificam produtos e/ou ser-
Lei, sendo assegurado ao titular seu uso marca que constitua reprodução, imitação ferida classificação orienta o empresário a viços afins ou semelhantes. Ou melhor, ape-
exclusivo em todo o Território Nacional, ou tradução de uma outra pertencente a compatibilizar a atividade que exerce e o sar de não pertencerem à mesma classifi-
observado quanto às marcas coletivas e de pessoa diversa, nascida ou domiciliada nou- âmbito de proteção que deseja para o re- cação adotada pelo INPI, os produtos e/ou
certificação o disposto nos arts. 147 e 148. tro país unionista; e gistro. serviços podem guardar uma certa relação
No caso do sistema declarativo, ao c) desimpedimento: a lei não permite entre si, ocasionando aí a colidência entre
A Classificação de Produtos e Servi-
contrário do adotado no Brasil, o direito o registro daqueles sinais indicados entre as marcas que os assinalam.
ços brasileira foi instituída mediante o Ato
sobre a marca decorre do uso anterior de os 23 (vinte e três) incisos do art. 124 da Normativo INPI 005 I, de 27.1.1981, tendo A afinidade dos produtos e/ou servi-
um sinal mediante a sua posse pela simples LPI, muito embora, a sua utilização para sido utilizada durante dezenove anos. Mas, ços pode decorrer do elo existente, por
ocupação: vale dizer: o registro apenas re- identificar produtos e/ou serviços possa com o Ato Normativo INPI 0150, de exemplo, entre: o continente e o conteúdo
conhece um direito pré-constituído. ocorrer. Acontece que sem o registro de um 9.9.1999, resolveu-se adotar, a partir de (açúcar/açucareiro); a matéria-prima e o
Agora, no tocante ao sistema atribu- sinal como marca, ;não há corno exercer o 3.1.2000, a Classificação Internacional insti- p)-oduto (tecido/roupas); ou ainda por sua
tivo, o direito de quem primeiro registrou seu uso de modo exclusivo. tuída com o Acordo de Nice, de 15.6.1957, finalidade (dedal, agulha, tesoura, linha,
validamente o sinal como marca prevalece celebrado entre os países unionistas. Vale máquina de costura).
sobre o direito do primeiro usuário;"( ... ) o 4.1 Do princípio da especialidade lembrar que o acordo da classificação inter- Um caso clássico quanto à ampliação
direito apenas existe se e na medida em que nacional foi revisado em 1967 e 1977, nas na interpretação do princípio da especiali-
Está presente no ordenamento jurídi-
esteja registrado a favor do respectivo titu-
co pátrio e consagrado internacionalmente cidades de Estocolmo e Genebra, respecti- dade é o reconhecimento da afinidade en-
lar" (Lopes de Oliveira, 2000, p. 8). pela doutrina o princípio da especialidade vamente, e sofreu alteração em 1979, tam- tre os artigos de vestuário e os perfumes.
Observe-se ainda que a concessão do em relação ao âmbito de proteção à marca bém em Genebra. As casas de alta costura mundial jamais
registro de marca pelo INPI está pautada registrada. Sobre o princípio da especialidade, em deixaram de estar associadas aos perfumes
na estrita legalidade. É nulo, portanto, o decisão proferida no recurso especial e cosméticos (ex.: Chanel e o célebre n. 5).
Isso significa dizer o seguinte: o di-
registro concedido em desacordo com as reito de uso e)\clusivo da marca pelo seu , 9.830-SP, o então Relator Ministro Dias Conclui-se daí que a aplicação do prin-
disposições da LPI. A lei prevê 3 (três) con- titular está limitado à classe de produto ou Trindade, do STJ (Superior Tribunal de ' cípio da especialidade nãà pode ocorrer de
dições a que está sujeito o deferimento do serviço em que ela foi registrada junto ao Justiça), manifestou-se no seguinte sentido: maneira tal a relegar-se a segundo plano a
registro de marca pelo INPI (Coelho, 200 I, INPI. A proteção do direito de uso exclusi- O direito de exclusividade de uso de principal finalidade do registro da marca,
p. 152); quais sejam: vo não alcança, portanto, produtos e servi- marca, decorrente de seu registro no Ins- que é a garantia da lealdade concorrencial
a) novidade relativa: para atender à ços pertencentes a classes cuja concessão tituto Nacional da Propriedade Industrial, entre os empresários, privilegiando simples
sua finalidade de distinguir e identificar, do registro não foi deferida. é limitado à classe de atividade para a qual critérios estabelecidos pelo INPI para faci-
direta ou indiretamente, produto e/ou ser- é deferido. não sendo possível e sua irra- litar buscas e arquivamentos. É por isso que
Veja-se que para dar maior segurança
viço de outros idênticos, semelhantes ou diação a outras classes de atividades, pre- a apreciação da colidência de marcas de
e rapidez aos processos de pedido de re-
afins, a marca deve ser nova. Entretanto, sente o princípio da especialidade (REsp empresa não pode ser baseada exclusiva-
gistro, evitando, sobretudo, conflitos entre
não é preciso criar um sinal nunca visto 9.830-SP, Rei. Ministro Dias Trindade, DI mente em suas respectivas classes.
interessados na titularidade do direito de
antes, para se fazer jus à concessão do re- uso exclusivo de uma mesma marca, foi 10.6.1991).
gistro. Deve-se é atribuir um novo signifi- criada a classificação de produtos e servi- Não obstante prevalecer o princípio da 4.2 Do pedido de registro de marca
cado aos sinais já existentes, dar-lhes uma ços, com fundamento no princípio da espe- especialidade em relação ao âmbito de pro-
utilização diversa capaz de não provocar cialidade. teção à marca registrada, limitando o direi- Consoante já foi anteriormente estu-
confusão con~ um outro sinal registrado co- Na realidade, o interessado só poderá to de exclusividade de uso à classe na qual dado, a concessão do registro da marca tem
rno marca. requerer o registro de márca para a ativida- o registro foi deferido, é sabido de todos como fundamento a estrita legalidade. O
b) não-colidência com marca notória: de exercida por ele. É admissível por con- que a sua aplicação merece atenção; prin- sinal distintivo perceptível visualmente que
o fundamento legal se encontra no art. 126 seqüência "o registro de marcas idênticas a cipalmente neste momento de globalização se pretende levar a registro no INPI não
da LPI. Como já foi dito, com o advento da outras já registradas se os respectivos pro- econômica, as empresas divulgam facil- pode estar entre as proibições constantes
LPI, o INPI adquiriu poderes para indefe- dutos ou serviços identificados forem dis- mente no mundo todo os seus produtos ou do art. I 24 da LPI.
rir de ofício o pedido de registro de marca tintos. Eis o princípio da especialidade" serviços, além de diversificarem sobrema- Assim o é justamente·em razão do pa-
que reproduza ou imite, ainda que em par- (Lopes de Oliveira, 2000, p. 47). neira a sua área de atuação. pel intervencionista que o Estado deve as-
212 REVISTA DE DIREITO MERCANTIL-133 ESPAÇO DISCENTE 213

sumir perante a grandiosidade e relevância mento as etiquetas das marcas, quando for A Lei prevê ainda a ação de nulidade são. Logo, há de se preocup.ar inclusive com
relativas às questões do sistema econômi- o caso, e o comprovante do pagamento da a ser proposta em face do INPI, no prazo a simples possibilidade de um sinal ser to-
co, para, neste caso da marca, assegurár o retribuição ao depósito. de até 5 (cinco) anos da data de concessão mado por outro semelhante.
direito à sua propriedade, constitucional- do registro, que se processará na Justiça
c) exame do pedido: apresentando o Acontece que o resultado do exame
mente consagrado (art. 5º, XXIX, da CF/ Federal (art. 109, I, da CF/1988). Os pra- comparativo de marcas, na verificação da
pedido, será o mesmo submetido a exame
1988). zos previstos são contados da data de pu-
formal preliminar e, se devidamente instruí- possibilidade de risco de confusão, tem por
Art. 5". (... ). do, será protocolizado e publicado na Re- blicação dos despachos na RPI- Revista base impressões pessoais, tais como: o es-
XXIX- a lei assegurará aos auto- vista da Propriedade Industrial para apre- da Propriedade Industrial. tado momentâneo de espírito do examina-
res de invento industriais privilégios tem- sentação de oposição, no prazo de 60 (ses- dor, que por sua vez influencia a sua sensi-
porário para a sua utilização, bem como senta) dias. bilidade, ou seja, depende da flutuação de
5. Risco de confusão
proteção às criações industriais, à proprie- fatores psíquicos que lhe são peculiares.
Decorrido o prazo de oposição, ou se
dade das marcas, aos nomes de empresas Conforme já foi abordado alhures, a Como na realidade a apreciação do ris-
e a outros signos distintivos, tendo em vis-
interposta esta, findo o prazo de manifes-
tação será feito o exame, durante o qual po- marca tem como função principal distinguir co de confusão se resume num depoimento
ta o interesse social e o desenvolvimento
derão ser formuladas exigências, que de- produtos ou serviços, identificando as suas instável, muito subjetivo e peculiar de cada
tecnológico e econômico do País;
verão ser respon,didas no prazo de 60 (ses- respectivas procedências. Assim, não pode examinador, foram criadas algumas regras
/,1. concessão do registro da marca pelo haver nunca corl.fusão entre uma e outra doutrinárias de apreciação do risco de con-
senta) dias. '
Estado, cujo ato administrativo se dá me- marca. fusão até para dar um pouco de objetivida-
diante o INPI- Instituto Nacional da Pro- Se a exigência não for respondida, o de ao exame comparativo de marcas. Entre
pedido será definitivamente arquivado. Diz-se haver confusão, se uma marca
priedade Industrial, órgão vinculado ao elas destacam-se a regra da impressão de
Mas, sendo respondida a exigência, ainda é tomada por outra, em razão de suposta
MDIC (Ministério do Desenvolvimento, conjunto e a regra da teoria da distância
que a mesma não seja cumprida, ou con- semelhança existente entre elas, de modo a
Indústria e Comércio Exterior); respeita o (Lopes de Oliveira, 2000, pp. 14-19).
testada a sua formulação, dar-se-á prosse- provocar no consumidor uma falsa impres-
sistema de exame prévio. Além de verifi-
guimento ao exame. Concluído o exame são quanto à identidade dos produtos ou
car se o pedido de registro atende às for-
malidades legais, verifica-se também se as será proferida decisão, deferindo ou inde~ serviços que o empresário pretende distin- 5.1 Regra da impressão de conjunto
ferindo o pedido de registro. guir.
condições de registrabilidade estão presen- Ao comparar uma marca com a outra,
tes, tais como: não colidência com marca Agora, nem é preciso que a confusão
Se a decisão der pelo indeferimento com o intento de verificar eventual risco
registrada, risco de confusão, ·ausência de seja inteiramente levada a efeito. Ou me-
do pedido, éaberá a interposição de recut;-
registro anterior. lhor, a simpl~s probabilidade da sua ocor'c de confusão delas decàrrente, tanto o juiz
so no prazo de 60 (sessenta) dias. A deci- como o perito devem dar importância sem-
rência deve ser enjeitada de plano pelo ór-
Há, portanto, um procedimento a ser são do recurso se dará pelo Presidente do pre aos seus aspectos gerais. Os elementos
gão expedidor do registro. até para não frus-
seguido desde o pedido de registro até a INPI e, havendo a manutenção do indeferi- constitutivos da marca, que impressionam
trar o fim ao qual a marca é destinada -
sua concessão definitiva que, em resumo, mento, encerrar-se-á a instância adminis- os sentidos do consumidor, não podem ser
distinção e identificação da proveniência do
consiste na busca prévia, no depósito, no trativa. examinados isoladamente e nem de manei-
produto ou serviço.
exame do pedido e na decisão. No entanto, não caberá recurso da de- ra minuciosa.
Lecionando com sobeja sensibilidade
Convém colacionar aqui as indicações cisão que der pelo deferimento do pedido, Aqui, prevalece o velho jargão popu-
sobre o tema, Affonso Celso destacou o
feitas pelo INPI a respeito do procedimen- devendo ser efetuado e comprovado, no lar de que: "a primeira impressão é sempre
seguinte: não é necessário que a confusão
to do registro de marca ("INPI. Apresenta- prazo de 60 (sessenta) dias, o pagamento a que fica".
efetivamente se dê, hasta a possibilidade, a
ção da marca", cit.): das retribuições relativas à expedição do É preciso acrescer ainda que a marca
qual entende-se existir sempre que as dife-
a) busca prévia: não é obrigatória, certificado e ao primeiro decênio de vigên- renças não se percebam sem minucioso forma um todo indivisível; logo, assim co-
entretanto, é aconselhável ao interessado cia do registro. exame e confrontação da marca legítima mo a melodia só é sentida pelo seu conjun-
realizá-la antes de efetuar o depósito, na Findo o prazo mencionado, a retribui- com a semelhante (Affonso Celso, Marcas to e não devido a existência de uma nota
atiVIdade que o sinal visa assinalar com o ção poderá ainda ser paga e comprovada Industriaes e Nome Commercial, Impren- mu,sical tão-somente, devem ser conside-
intuito de verificar se já existe mar~a an:te- dentro de 30 (trinta) dias, mediante o paga- sa Nacional, 1888, pp. 55-56, apud Lopes rados conjuntamente os elementos de uma
riormente depositada/registrada. mento de retribuição específica, sob pena de Oliveira, 2000, p. 13). marca ao julgá-la semelhante a uma outra.
b) depósito: O pedido de registro de de arquivamento definitivo do pedido. Ha- "Este raciocínio lastreia-se no próprio modo
Pelo visto, é de extrema relevância não
marca é requerido através de formulário vendo o recolhimento, é publicada a con- de percepção das coisas pelo homem co-
apenas ter a noção da ocorrência efetiva de
próprio, no qual são prestadas informações cessão do registro, que poderá ser revista mum( ... )" (Lopes de Oliveira, 2000, p. 16).
confusão entre determinados sinais tidos
e fornecidos dados sobre a marca e o re- administrativamente, dentro do prazo de como marca; é preciso, sobretudo. perce- Além do mais, a apreciação do risco
querente. Devem constar ainda do requeri- 180 (cento e oitenta) dias. ber eventuais hipóteses de risco de confu- de confusão entre marcas semelhantes deve

TI'IIIUfUl bt JUnÇA • •
ll"LJII\UA..-·
214 REVISTA DE DIREITO MERCANTIL- I 33 ESPAÇO DISCENTE 215

ocorrer sucessivamente, ou seja, o exami- registradas por pessoas distintas na mesma 6.1 Risco de confusâo A doutrina, com fundamento no inciso
nador não deve colocá-las lado a lado e classe, identificam produtos idênticos. Nada diante da reprodução XIX do art. 124 da LPI destaca também a
observá-las ao mesmo tempo. Ora, levan- impediria aqui o surgimento da marca Je- (total, parcial e com acréscimo) possibilidade de ocorrer a reprodução com
do-se em conta que no seu dia-a-dia, o con- blum a ser utilizada por um terceiro, devi- acréscimo; ou seja, toma-se por base a mar-
Pelo que anteriormente foi estudado, ca registrada e à ela é feito o acrescenta-
sumidor não tem as marcas simultaneamen- do ao fraco poder distintivo que as marcas
já se conclui de início que não há de se co- mento de um outro elemento qualquer. Em
te na sua frente, o juiz, ao questionar-se se precedentes exercem sobre o consumidor.
gitar no risco de confusão, na hipótese de decisão administrativa, o INPI decidiu que
a impressão provocada pela primeira é a A preexistência de marcas semelhan- haver reprodução total de uma marca re-
mesma causada pela segunda marca, deve tes identificando produtos ou serviços idên- a marca Monarch Norte é "mera repro-
gistrada. Por ser cópia fiel, é inevitável aí a
também analisar uma e depois a outra, su- ticos cria uma sensibilidade mais aguçada dução com acréscimo da marca Monarch
confusão; a marca reproduzida necessaria- anteriormente registrada na mesma classe
cessivamente. no consumidor, de modo que a distinção mente será tomada pela autêntica. 07" (Decisão administrativa no processo
De se acrescer por último a transcri- entre elas será realizada facilmente, sem
Veja-se então que, neste caso, a con- 800.255.81 O, publicada na Revista de Ju-
ção de trecho do acórdão proferido em ape- qualquer risco de confusão. Pelo visto, a
fusão é certa e não ocorre por desatenção risprudência do INPI, v. I, março de 1986,
lação cível 288.498, da 4ª Câmara Civil do marca nova "não precisa guardar um afas-
ou suposta falta de conhecimento a respei- p. 11).
Tribunal de Justiça do Estado de São Pau- tamento- uma distância- desproporcio-
to da autenticidade de uma determinada Entretanto, é preciso destacar que o
lo, esclarecedor quanto ao tema em dis- nal com relação ao grupo de marcas seme-
marca, mas, sim, porque net;n mesmo con-
cussão: lhantes já reconhecidamen(e aceito no mer- acréscimQ só constituirá a reproduçãç:> da
' frontando uma com outra seria possível
Segundo o ensinamento de João da cado" (Lopes de Oliveira, 2000, p. 19). marca se o seu elemento distintivo for co-
diferençar a autêntica da contrafeita. piado. Ainda assim, mesmo reproduzindo
Gama Cerqueira, em trecho citado pela
sentença, "a possibilidade de confusão
De outro modo, a reprodução de uma o elemento característico da marca, pode
6. Risco de confusão diante marca registrada pode ainda ser parcial, ou ser que o acréscimo lhe dê um novo signi-
deve ser apreciada pela impressão de con-
da reprodução e da imitação seja, quando apenas o seu principal elemen- ficado, capaz de distinguir produtos ou ser-
junto deixada pelas marcas, quando exa-
minadas sucessivamente, sem apurar as to identificador é copiado. A parte essen- viços idênticos.
A teor do inciso XIX do art. 124 da
suas diferenças, levando-se em conta não cial, aquela que por um motivo qualquer
LPI, "não são registráveis como marca: a Daí é que o acréscimo não deve ser
só o grau de atenção do consumidor co- aguça a sensibilidade humana, diferencian- examinado de maneira isolada, desconsi-
reprodução ou a imitação, no todo ou em
mum e as circunstâncias em que normal- do-a das outras marcas, é reproduzida para
parte, ainda que com acréscimo, de marca derando-se o seu conjunto. Conforme já foi
mente se adquire o produto, como tam- formar a marca contrafeita. estudado, o exame comparativo para aferir
alheia registrada".
bém a ~ua natureza e o meio em que s\u Dar-se-ia, por exemplo, a reprodução
Com efeito, a imitação ocorrerá quan- suposto risco de confusão observa sempre
consumo é habitual" (RT 537/84) (desta- parcial da marca fictícia DOCES DO DIA,
do houver concepção à semelhança de, ou o princípio do tout indivisible (a marca é
camos). a criação da marca CONFEITOS DO DIA,
seja, constitui imitação construir algo me- um todo indivisível). Veja-se: "quando a
utilizada também na identificação de artigos marca forma um tout indivisible, os elemen-
diante o emprego de elementos parecidos e
5.2 Regra da teoria da distância de confeitaria e afins (tais como: doces, bis- tos que a compõem perdem sua individua-
dispostos de modo análogo.
coitos, bolachas). Não obstante a substitui- lidade. Há uma fusão indissociável dos ter-
Criada pela doutrina alemã, a teoria Agora, a reprodução por sua vez é ção da expressão CONFEITOS pela expres- mos que formam uma única marca. ( ... )
da distância é mais uma regra utilizada para cópia fiel - "Quem reproduz, produz, de são DOCES, a força atrativa da marca, que Considerando a teoria do tout indivisible,
auxiliar o juiz ou o perito no exame com- novo, o mesmo" (Pontes de Miranda, Tra- se exprime pela expressão DO DIA, não está é lícito afirmar que a marca Sapo-boi não é
parativo de marcas semelhantes. A aprecia- tado de Direito Privado, Borsói, 1971, p. descaracterizada; aqui, DO DIA é o verda- uma reprodução com acréscimo da marca
ção do risco de confusão, neste caso, ba- 42, apud Lopes de Oliveira, 2000, p. 20). deiro elemento distintivo da marca. Boi; afinal, ninguém, em sã consciência,
seia-se principalmente na força distintiva Enquanto "a reprodução é a cópia ser- Porém, a marca DOCES ALEGRIA, confundiria um animal mamífero ruminante
da marca já registrada anteriormente. vil, a imitação é a mesma reprodução, total por exemplo, não reproduziria parcialmente com um anfíbio" (Lopes de Oliveira, 2000,
Na aplicação da teoria da distância, é ou parcial, porém dissimulada com mais ou a marca fictícia DOCES DO DIA, afinal pp. 24-25).
necessário levar-se em conta o poder de dis- menos habilidade" (Bento de Faria, apud de contas, "a reprodução de um elemento É isso. Só constituirá reprodução com
tinção que a marca precedente exerce so- Sqares, v. 2, 1988, p. 1.072). banal, de um sinal de uso comum, não é acréscimo se o acrescentamento não tiver
bre os consumidores. Talvez seja até pos- Analisando os conceitos doutrinários condenável, pois, em princípio, não haverá força suficien'te para descaracterizar por'
sível a coexistência pacífica de uma marca anteriormente transcritos. conclui-se ser risco de confusão para o consumidor" completo a marca antecedente.
registrada com outra semelhante, sem o ris- essencial para delimitar o âmbito de prote- (Lopes de Oliveira, 2000, p. 22).
co de causar confusão, justamente em ra- ção da marca registrada verificar o risco de Além do mais, a palavra DOCES por 6.2 Risco de confusão diante da imitação
zão da sua fraca eficácia distintiva. confusão que possa haver no exame com- si só é incapaz de distinguir produtos ali-
Observe-se, por exemplo, as marcas parativo entre um e outro sinal distintivo, mentícios, justamente por causa da suare- Com o intento de reservar para si even-
fictícias Fablum, Carblum e Tiblum, que diante da reprodução ou da imitação. lação natural com gêneros comestíveis. tual defesa em relação ao titular da marca
2i6 REViSTA DE DiREiTO MERCANTiL-i33 ESPAÇO DISCENTE 217

registrada, o Contrafator prefere valer-se da Considera-se, pois, imitação por seme- rém, que não se admite a proteção do gêne- apresente de forma estilizada" (Resolução
imitação à reprodução. Mesmo porque, lhança fonética, a marca HOSSOR da mar- ro, ou melhor, de uma idéia abstrata. Não é do INPI 05111997), prevalece a impressão
pode haver imitação sem que um elemento ca OÇOR, ou a marca FONCO da marca registrável a marca indefinida, que não está de conjunto.
constitutivo sequer da marca autêntica seja PHONQUO, a marca RAPIDOLINA da sujeita à identificação individual. Mesmo porque, ora a imitação é da
reproduzido. Isso facilita sobremodo para marca RAPIDINA, a marca PALUDEX da Os "autores clássicos aceitam, sem parte nominativa e ora da parte figurativa.
o concorrente doloso articular a sua defe- marca PALUDAN, a marca KIMAX da restrições, o princípio da proteção do gê- "No primeiro caso, o contrafator argumen-
sa, se acusado de contrafação. marca QUIMEX, a marca DORCET da nero da imagem que caracteriza a marca tará com o aspecto de conjunto das marcas
Na imitação, portanto, existe é a si- marca D'ORSAY, a marca GINAL da mar- figurativa" (Lopes de Oliveira, 2000, p. 33). para demonstrar a impossibilidade de con-
mulação, o disfarce de uma marca, de tal ca GYNEAL, a marca AMECOL da marca O fundamento da proteção in genere está fusão, malgrado a semelhança da denomi-
sorte a induzir o consumidor em erro. Nes- AMEIXOL (Lopes de Oliveira, 2000, p. justamente no risco de confusão ocasiona- nação; no segundo apelará para a diversi-
te caso não há cópia servil, mas, semelhan- 30). do pela semelhança intelectual entre mar- dade das denominações, que seria suficiente
ça entre a marca autêntica e a contrafeita, Nem sempre, contudo, a confusão re- cas criadas a partir de figuras de um mes- para impedir qualquer confusão" (Gama
capaz de causar confusão. Ao imitar a mar- sulta da semelhança gráfica ou fonética, até mo gênero, mas, representadas de formas Cerqueira, 1982, p. 917).
ca autêntica, o "contrafator sempre procu- então indicadas. Pode ser que uma marca distintas.
ra artifícios que encubram ou disfarcem o desperte no consumidor a mesma idéia da Logo, independentemente das mais 6.3 A sqndagem como meio de provp
ato delituoso'~ (Gama Cerque ira, 1982, p.: marca autêntica, constitUindo aí imitação diversas formas que uma mesina imagem
11

do J-isco de confusão
914). por semelhança ideológica. possa apresentar como marca figurativa, é
Veja-se, então, que, para aferir a imi- A semelhança ideológica "é a que pro- o seu gênero que é passível de proteção. Criada nos Estados Unidos, na déca-
tação, o examinador, além de fundar-se na cura criar confusão com a marca legítima Um jacaré qualquer, por exemplo, imita a da de 1950, para aferir o risco de confusão
impressão do conjunto deixada pela mar- por meio da idéia que esta evoca ou sugere marca figurativa Lacoste, se utilizado, mes- existente entre marcas semelhantes, a son-
ca, deve destacar mais as semelhanças do ao consumidor" (Gama Cerqueira, 1982, p. mo que com outro formato, para identifi- dagem se desenvolve por meio da pesquisa
que as diferenças, que o contrafator capri- 916). Vale dizer: a associação das idéias car produtos ou serviços idênticos ou afins. de opinião pública - tesr of consumer
chosamente conservou. sugeridas por uma e outra marca é passível No entanto, não se confere, segundo a reaction.
Em se tratando de marcas nominativas, de causar confusão. "A marca Bela Amiga doutrina, constiluindo exceção a essa regra, A aplicação da sondagem supõe pri-
aquelas constituídas "por uma ou mais pa- evoca a mesma idéia da marca Bonita Com- proteção ao gênero da imagem relacionada meiro a necessidade da produção de prova
lavras no sentido amplo do alfabeto roma- panheira, muito embora tenham grafia di- à natureza do produto a ser identificado. A para demonstrar o risco de confusão. Deve
no, compr'eendendo, também, os neologis- versa. A imitação ca\·acteriza-se porque a "imagem de uma vacá não é protegida in haver uma situação fática que reclame ne-
mos e as combinações de letras e/ou alga- associac;ão de idéias propicia risco de con- genere para identificar produtos derivados cessariamente a produção de prova, pois,
rismos romanos e/ou arábicos" (Resolução fusão. E o caso das marcas Colméia e Ni- do leite, conforme estimou a Cour de Pa- não seria razoável instaurar a sondagem na
do INPI 05111997), a semelhança pode ser: nho de Abelhas" (Lopes de Oliveira, 2000, ris" (Lopes de Oliveira, 2000, p. 34). comprovação de fatos evidentes.
ortográfica, fonética ou ideológica. p. 31). Percebe-se ainda em relação à marca Além disso, devido ao alto custo da
Quando a semelhança é ortográfica, a Assim, com base na semelhança ideo- figurativa casos em que não há qualquer pesquisa de opinião pública, o interesse fi-
confusão é ocasionada pela alteração de lógica, doutrina e jurisprudência também relação entre uma e outra figura registrada nanceiro em jogo também deve ser tamanho
alguma letra ou acentuação silábica, de ma- reconhecem como imitação a tradução da como marca. Entretanto, já que as imagens a justificar a produção de prova mediante a
neira que a impressão visual entre a pala- marca para a língua estrangeira ou para o necessariamente evocam idéias, pode ocor- sondagem.
vra autêntica e a imitada resulte numa iden- vernáculo, porque, se o significado das rer neste caso de a mensagem transmitida No Brasil, a sondagem não tem sido
tidade. O imitador costuma adotar o mesmo marcas é o mesmo, inevitável a associação tanto por uma como por outra marca figu- utilizada, até pelo seu custo elevado, mas,
número de letras e sílabas da marca autên- de idéias delas decorrente. Neste sentido, rativa serem comuns, mesmo não havendo registre-se, que o sistema processual a pre-
tica, terminações comuns, mantendo ames- convém conferir as decisões do Conselho identidade no tocante às figuras. Para evi- vê como meio de prova do risco de confu-
ma sonância silábica. Por exemplo: Caro- de Recursos da Propriedade Industrial: n. tar o risco de confusão, o registro como são, a teor do art. 332, do CPC.
lina imita Coral i na; Paludex imita Paludan. 279, publicada no DO de 20.3.1935 (Ma- marca da figura material e apa,rcntemente Art. 332, do CPC: Todos os meios
Por outro lado', a semelhança fonética ria Luisa vs. Marie Louise); e n. 4.300, distinta da marca registrada deve ser afas- legais, bem como os moralmente legíti-
de marca nominativa, muito embora possa publicada no DO de 21.7.1942 (Arco Íris tado, quando transmitirem a mesma idéia. mos que não especificados neste Código.
até ter a grafia diversa, provoca a confusão vs. Arc-en-Ciel). Ao final, convém destacar que quanto são hábeis para provar a verdade dos fa-
pela pronúncia das palavras. É certo que À marca figurativa, por sua vez, aquela à aferição da imitação da marca mista, tos, em que se funda a ação ou a defesa.
na aquisição de determinado produto ou formada por sinais que não palavras, geral- "constituída pela combinação de elemen- A doutrina ainda sustenta que a son-
serviço, o consumidor pronunciará a mar- mente constituída de uma imagem qualquer, tos nominativos e elementos figurativos ou dagem é ineficaz no Brasil, porque, "a
ca daquilo que escolheu para consumir. atribui-se proteção in genere. É certo, po- de elementos nominativos, cuja grafia se constatação do risco de confusão é questão
218 REVISTA DE DIREITO MERCANTIL- I 33 ESPAÇO DISCENTE 219

de fato, existindo regras legais e doutriná- midor é enganado e, por conseqüência, le- Acontece que é preciso, acima de tudo, P1Vpriedade Industrial. Rio de·laneiro, Fo-
rias de apreciação que não podem ser subs- vado a consumi-los indesejadamente; na equacionar o rigor com que se aplicam os rense, 2001.
tituídas por opiniões possivelmente emiti- realidade, um produto ou serviço acaba sen- procedimentos administrativos e os critérios GLEBER, Eduardo. "A nova lei brasileira de
das sem critério" (Lopes de Oliveira, 2000, do tomado por outro, em razão da aposição adotados no exame comparativo entre si- propriedade industrial", RDM 1111100-119,
p. 43). de marca alheia. nais distintivos. Às vezes, tal como ocorre jul.-set. 1998.
Pelo visto, a conservação do sistema com o princípio da especialidade (item 4.1 ), MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial.
de proteção à marca de empresa corres- consagrado no direito de marcas, a rigidez Rio de Janeiro, Forense, 1999.
7. Considerações finais
pende a um instrumento de efetividade dos na sua aplicação frustraria a finalidade de NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comer-
É evidente a importância da marca de princípios constitucionais da ordem econô- distinção e identificação da procedência de cial. Campinas, Bookseller, 1999.
empresa na identificação da procedência mica. Com a proteção de mecanismos que produtos ou serviços afins.
OLIVEIRA, Maurício Lopes de. Propriedade
dos produtos ou serviços que resultam da identificam e distinguem a procedência de Enfim, pela importância do sistema de Industrial: o Âmbito de Proteção à Marca
exploração da atividade econômica empre- produtos ou serviços, garante-se a livre e marcas de empresa na efetiva realização da Registrada. Rio de Janeiro, Lumen Juris,
sarial. Conforme já foi dito amiúde ao lon- leal concorrência entre os empresários, in- ordem econômica constituída, é preciso 2000.
go deste trabalho, a marca de empresa tem clusive, valorizando todo o trabalho des- relativizar o rigor na aplicação das formas
"Ensaio sobre a marca de alto renome:
por finalidade precípua identificar e distin- pendido na busca incessante de melhores que constituem o processo administrativo
UJ;lla proteção especial contraponc;io a eterna
guir a procedência de produtos ou serviÇos resultados da atividade empresarial. Ao para a expedição do r~gistro. A eficiência
plivação da novidade absoluta", RDM 117/
apresentados ao mercado consumidor. mesmo tempo, o sistema de proteção à mar- da marca de empresa, identificando e dis-
150-155, jan.-mar. 2000.
ca de empresa promove a defesa do consu- tinguindo a procedência de produtos ou
Em decorrência da mencionada força ___ . "A obrigação do contrafator de marca
midor, assegurando o conhecimento prévio serviços apresentados ao mercado consu-
distintiva e identificadora inerente à pró- famosa em ressarcir o legítimo titular do re-
da procedência do produto ou serviço a ser midor, independentemente de atendidas as
pria natureza da marca de empresa, o seu gistro por prejuízo à imagem e conseqüente
consumido. formas do registro, é também garantia de
sistema de proteção garante a efetividade dano moral", RDM 1181101-105, abr.-jun.
No entanto, o funcionamento desse eficácia dos princípios constitucionais ine-
de princípios constitucionais relativos à or- 2000.
instrumento que conserva a ordetn econô- rentes à ordem econômica.
dem econômica, tais corno: a valorização _ _ _ . "O âmbito de proteção à marca regis-
do trabalho humano, a livre concorrência, mica nos moldes colocados na Constitui-
trada", Revista da ABPl31126-34, nov.-dez.
a propriedade privada, a defesa do consu- ção Federal só se concretiza mediante uma 8. Bibliografia 1997.
midor- art. 170 da CF/1988. seqüência de procedimentos administrati-
' \ vos, entre os qua~ está o registro da marca BENJÓ, Roberto. "O respeito à marca sob a SILVEIRA, Newton. A Propriedpde intelectual
Observe-se que é mediante o funcio- de empresa. Por uma questão de política perspectiva do consumidor", RDM 1171150- e a Nova Lei de Propriedade Industrial. São
namento de um sistema de proteção de legislativa, é só com o registro junto ao INPI 155, jan.-mar. 2000. Paulo, Saraiva, 1998.
marcas de empresa que se afasta a possi- (Instituto Nacional da Propriedade Indus- COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Co- SOARES, José Carlos Tinoco. Lei de Patentes,
bilidade do empresário desleal utilizar-se trial), que o empresário adquire o direito mercial. 3 vs., v. 1, São Paulo, Saraiva, 2001. Marcas e Direitos Conexos. São Paulo, Ed.
da boa reputação de um outro produto ou de uso exclusivo da marca de empresa (sis- RT, 1997.
CERQUEIRA, João da Gama. Tratado da Pro-
serviço, na promoção do seu. Ao aprovei- tema atributivo). Marcas "vs. " Nome Comercial. São
priedade Industrial. 2 vs., v. 2, São Paulo,
tar-se da marca que identifica a procedên- Veja-se que, devido à funcionalidade Paulo, Jurídica Brasileira, 2000.
Ed. RT, 1982.
cia dos produtos ou serviços do concorren- do sistema de proteção à marca de empre- DI BLASI, Gabriel; GARCIA, Mário Soeren- _ _ _ . Tratado da Propriedade Industrial. 3
te, o empresário desleal induz o consumo sa como um instrumento de realização efe- vs., São Paulo, Resenha Tributária, 1988.
sen; e MENDES, Paulo Parente Marques. A
dos seus, até porque, estes estarão associa- tiva da ordem econômica, o ato do registro
dos à boa fama daqueles. está cercado de um certo formalismo justa-
Não bastasse daí a ocorrência de le- mente na tentativa de não frustrar o fim para
são aos direitos do empresário, cujo pro- o qual a marca é destinada: distinguir e iden-
duto ou serviço é sempre consumido pelo tificar a procedência de produtos ou servi-
bom nome que lhe é peculiar, devido justa- ços apresentados ao mercado consumidor.
mente a inegáveis esforços empregados no No desenrolar deste trabalho, destacou-se
decorrer do desenvolvimento da atividade oportunamente uma série de regras e prin-
empresarial, o consumidor também tem os cípios próprios do direito de marcas, vol-
seus direitos violados, nessa hipótese. Ora, tados a viabilizar a convivência pacífica
acreditando na boa reputação exteriorizada entre sinais distintivos de produtos ou ser-
por intermédio da marca aposta no produto viços dentro do meio empresarial, de modo
ou serviço de falsa procedência, o consu- a evitar o risco de confusão.

Você também pode gostar