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REVISTA

DO
SERVIÇO
PVBLICO

A N O VIII
V ol. II — N. 3
Jun. 1945
DEPARTAMENTO
AD M IN ISTRATIVO
DO

SERVIÇO
PÜBLICO
PALÁCIO DA F A Z E N D A - 6.° e 7 ° andares

R io d e J a n e iro
Brasil
ENDEREÇO T E L E G R Á F IC O : D ASP

P R ESID EN TE :

Luiz Simões Lopes

D IR E TO R E S D E D IV IS Ã O :

Moacir Ribeiro Briggs


Organização e Coordenação

Henrique Domingos Ribeiro Barbosa


Orientação e Fiscalização do Pessoal

Astério Dardeau Vieira


Estudos de Pessoal

Murilo Braga de Carvalho


Seleção

Mário Paulo de Brito


Aperfeiçoamento

Mário Bittencourt Sampaio


Material

Jorge Oscar de Melo Flores


Edifícios Públicos

D IR E TO R E S D E SERVIÇO :

Felinto Epitácio Maia


Administração

Alfredo Nasser
Documentação

CONSULTOR JU R ÍD IC O :
Carlos Medeiros Silva
REVISTA DO

SERVIÇO PÜBLICO . O R S Ã O D E IN T E R E S S E D A A D M IN IS T R A Ç Ã O
E D IT A D O PELO D E P A R T A M E N T O A D M IN IS T R A T IV O DO S E R V IÇ O PÚ BL IC O
(D ecreto-lei n . 1.870, d e 14 de D ezem b ro d e 1939)

AN O V III _ JU N H O DE 194 5 V o l. II - N . 3

—— : — SUMARIO — - — -----—
EDITORIAL Págs.

O Presidente Roosevelt e o Serviço Civil ............................................................................................................................ 3

C O LABO RAÇ ÃO
\yHenri Fayol e a Ciência da Administração s
A teoria administrativa de Fayol — LU IZ SIMÕES LO PES ...............................................................................5
O “ planejamento” na teoria administrativa de Fayol — A L F R E D O N A SSER .................................... ........ 8
A “ organização” na teoria administrativa de Fayol — B E A T R IZ D E S O U Z A W A H R L IC H . . . 10
O “ comando” na teoria administrativa de Fayol — AN IBAL M A Y A ................................................... 12
. A “ coordenação” na teoria administrativa de Fayol — BEN ED ICTO SILVA ...................................... 15
/ O "controle” na teoria administrativa de Fayol — C E SA R C A N T A N H E D E .................................... 20
\JjL
localização da Universidade do Brasil — L. H. H O R T A BARBO SA ......................................................... 23
IO Estado e os cartéis — RICHARD L E W IN S O H N .............................................................................................. 36
\/A . readaptação ao trabalho dos tuberculosos curados •— AN N IBAL N O G U E IR A JR...................................... 41
, ^V.dministração de pessoal — T O M Á S D E V IL A N O V A M O N T E IR O L O P E S ................. ............................. 50
y A prcíerênda pelos veteranos na conjuntura atual — L. G. R A M O S RIBEIRO .................................... 58
V/O s Territórios e os Municípios — O I T O PR A ZE R E S .......................................................................................... 66
] O centenário do Barão do Rio Branco — A D A LB E R TO M ARIO RIBEIRO ................................................. 69

DIREITO E JURISPRUDÊNCIA
/D ir e ito de minas - FRANCISCO BURKINSKI ......................................................................................................... 91
Pareceres — Julgados .......................................................................................... - ............................................................ 97

ORGANIZAÇÃO E COORDENAÇÃO
Taylorismo e Administração Pública .............................................................................................................................. 105

ADMINISTRAÇÃO DE PESSOAL
Importantes modificações na concessão de diárias aos servidores p ú b lico s........................................................... 107
Notas para o funcionário ..................................................................................................................................................... 108

SELEÇÃO
Questões apresentadas no último concurso para a carreira de Arquivista ....................................................... 111

NOTAS
Notas para a História da Reforma Administrativa no Brasil ................................................................................ 11 $
Pessoal brasileiro para a U .N .R .R .A . — Uma entrevista do Presidente do D . A . S . P ............................... 1 20
Fundação Getúlio Vargas — Plano de trabalhos e orçamento para 1945 ......................................................... 123

BIBLIOGRAFIA
Crítica — Indicações — Publicações recebidas ................................................................. ............................................ 125
REVISTA
DO

SERVIÇO PÚBLICO
ORGÀO DE INTERESSE DA ADMINISTRAÇÃO
Editado pelo Departamento Adminlatratlvo do Serviço Público
(D ecreto-lei n . 1870, de 14 d* deaembro de l » í » )

REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO
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Rio d e Janeiro — Brasil

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Administração............................. 22-9961 Bamal 544
Expedição.................................... 22-9961 Ramal 525

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de responsabilidade exclusiva de seus autores. A pu­
blicação de tais trabalhos nesta REVISTA é feita
unicamente com o objetivo de facilitar o conhecimento
de assuntos relacionados com a administração pública.
A R EVISTA D O SERVIÇO PÚBLICO, de um
anedo geral, não aceita colaborações espontâneas.
0 Presidente Roosevelt e o Serviço Civil
OMO tcdos os Chefes de Estado efetivamente bem preparados, moral e intelectual­
C mente, na arte e ciência de governar, o Presidente Roosevelt conhecia, reconhecia e
proclamava a importância do serviço civil no seio do Estado Moderno.
Os homens de govêrno medíocres em preparo, inteligência e experiência geralmente
não percebem, nem mesmo suspeitam, a significação do serviço civil. Pouco ou nada lhes
merecem os funcionários públicos, os membros, anônimos e numerosos, do serviço civil.
De tal modo a atitude em face do serviço civil é distintiva e caracterizante, que se
pode tomá-la por critério de julgamento dos estadistas: os que governam conscientemente
desejam promover o bem-estar geral e sabem hierarquizar os problemas coletivos, dando
prioridade aos mais instantes, conhecem e apregoam a importância do serviço civil; per
contra, os chefes medíocres, não preparados para a função, incapazes de distinguir entre o
que devem fazer hoje e o que podem deixar para amanhã, pouco se preocupam com o
serviço civil, a não ser como fonte de cargos e vantagens para distribuir aos parentes,
aderentes, protegidos e recomendados.
O Presidente Roosevelt pertencia eminentemente ao primeiro grupo: — nunca igno­
rou nem silenciou a importância do serviço civil. Reconheceu-a prática e coerentemente
ao longo de seus quatro mandatos, prestigiando o sistema do merecimento, dando maiores
recursos à “Civil Service Commission’’, fomentando estudos de administração de pessoal,
em suma, elevando por palavras e enriquecendo por atos o serviço civil americano.
Ao receber o título de Doutor Honoris Causa que lhe conferiu a “American Univer­
sity”, em 3 de março de 1934, dizia o Presidente Roosevelt em seu discurso: “Sem dú­
vida, é natural que eu receba com especial interêsse a notícia da criação de uma Escola
de Administração Pública pela “American University” . Têm-se escrito muitos artigos e
pronunciado muitos discursos, que procuram analisar e avaliar a história dos Estados
Unidos no curso do ano passado. Eu estou inclinado a aventurar a opinião de que poucos
dêsses epítomes apreciarão devidamente aquilo que, a meu ver, representa uma das mais
salientes características de um ano extraordinário em nossa vida americana. Refiro-me ao
espantoso e universal aumento de lúcido interêsse que o povo americano está tomando
por todos os negócios públicos e problemas de govêrno. Nas cidades, nos povoados, nas
fazendas e sítios, homens e mulheres hoje discutem, como jamais o fizeram, exceto em
tempo de guerra, os métodos pelos quais os problemas públicos — municipais e nacio­
nais — são ordenados.”
E depois de acentuar que a causa principal dêsse fenômeno era a crise então domi­
nante, o Presidente Roosevelt declarava que o desenvolvimento da vida econômica mo­
derna requer a compreensão inteligente de centenas de elementos complexos, e que o
govêrno necessita, definitivamente, não somente de sociólogos e economistas, mas também
da assistência prática de homens e mulheres que representem os setores acadêmico,
industrial, comercial e profissional.
4 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
“Necessitamos de pessoal treinado em matéria de govêrno. Necessitamos de funcio­
nários públicos desinteressados, bem como de servidores de bitola larga. Ainda não re­
solvemos esta parte de nosso problema, mas é possível resolvê-la, sem que seja necessária
a criação de uma burocracia nacional, que viesse a dominar a vida de nosso sistema de
govêrno. E’ por isso que me sinto particularmente feliz ao saber do estabelecimento desta
Escola de Administração Pública.”
Essas palavras, pronunciadas perante a congregação da “American University”, há
onze anos, revelam a sabedoria e a penetração com que o Presidente Roosevelt apreciava
as necessidades culturais e profissionais do serviço civil. A filosofia administrativa do
grande estadista, êle a recebeu, quando menino, do Presidente Grover Cleveland, cuja
irredutível devoção ao sistema do merecimento o Presidente Roosevelt, seu admirador,
tantas vêzes evocava em sua carreira pública. Com efeito, freqüentemente o Presidente
Roosevelt se referia, em documentos oficiais, discursos e mensagens, ao princípio de Cle­
veland, segundo o qual “public office is a public trust”, que se poderia traduzir por — o
emprêgo público é um encargo de confiança pública e não de grupos ou partidos.

Fiel a essa honesta e inteligente filosofia, o Presidente Roosevelt diligenciou por me­
lhorar a composição dos quadros do govêrno federal americano. A êle se deve a extensão
do sistema do merecimento a muitas categcrias de cargos e funções até então providas
politicamente, de acôrdo com as recomendações dos chefes eleitorais e membros do partido
dominante na ocasião. O famoso documento hoje mundialmente conhecido por “Presi­
dentas Committee on Administrative Management — Report with special studies” — tra­
balho de inexcedível valor como repositório de doutrina e informação sôbre os problemas
administrativos do govêrno — proclamava, inicialmente, que o “sistema do merecimento
deve ser estendido para cima, para baixo e para fora, de modo que inclua todos os cargos
do ramo executivo, exceto os que são de natureza política. Ao mesmo tempo, a adminis­
tração do serviço civil deve ser. reestruturada em um órgão central de pessoal sob um chefe
único, auxiliado por um conselho de cidadãcs não partidários, nomeado para servir como
cão de guarda do sistema do merecimento” (appointed to serve as a watchdog of the merit
system ).
Aí temos a versão aperfeiçoada da file sofia do Presidente Roosevelt sôbre o serviço
civil.
Que grande e luminoso era o Estadista das quatro liberdades 1
HENRI FAYOL E A CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO 5

Henri Fayo/ - e a Ciência da Administração


A B iblioteca do D epartam en to Adm inistrativo do tituir, na direção e funcionamento das emprêsas, os
S erviço Público, no intuito d e hom enagear a mem ória métedos rotineiros por métodos científicos, e os
d e um dos mais insignoa m estres da Ciência da A d m i­
critérios sentimentais por critérios intelectuais, hoje
nistração, o criadcr da “ T eoria Adm inistrativa” , H EN RI
FA Y O L, realizou em 22 d e n ovem b ro últim o, no A ud itó­
constitui uma preocupação crescente da cultura
rio d o M inistério da Educação e Saúde, interessante brasileira.
reunião d e estudos, qU3 consistiu num "sym p osi-jm " Em princípio, tôda análise ou divulgação das
verbal sôbre a vida e a obra d o grande engenheiro idéias de Fayol concorre para o progresso da C i­
francês, versando, principalm ente, sôb re os tópicos
ência da Administração. Fayol não .foi apenas um
mais mt.rcaní<ss de sua obra fundamental “ Administra-
tion Industrielle e t G én érale” .
precursor — foi também o arquiteto de uma dou­
Tom aram parte na reunião destacados elem en tos de trina completa, por êle mesmo chamada Teoria
nossa administração, cu ltores da m oderna "ciência c Administrativa. Perscrutador atento e infatigável,
arte d e gerir aplicada aos n egócios pú blicos” . A p ós uma
adotou e cultivou, durante 58 anos a fio, com uma
visão d e conjunto da “ T eoria Adm inistrativa” , a cargo
do Dr. Luiz S im ões L cpss, P resid en te do D . A . S . P . ,
perseverança difícil de ser igualada, o hábito de
m ereceu particular exam e cada um dos elem en tos ad­ tomar nota de todos os fatos que lhe pareciam cons­
m inistrativos enunciados e analisados por Fayol, qu e os tituir entraves à boa marcha da emprêsa indus­
considerava integrantes da função incumbida de “ for­
trial a que servia, a “Société Commentry Fou-
mular o program a geral d e ação da em presa, constituir-
lhe o corp o social, ccordenar os esforços e harmonizar chambault” , famosa na literatura sôbre a orga­
cs atos e controlar os resultados” , ou seja, da função nização científica do trabalho justamente pela cir­
c kiministra tiva. cunstância de ter sido o campo de atuação do
S ô b re " A Teoria Adm inistrativa d e F a yol” , já refe- genial engenheiro francês.
ferida, o "P lan eja m en to” , a "O rganização” , o "C om an ­
À medida que procurava remover ou contor­
d o ” , a “ C oordenação” e o "C o n tro le” , falaram, res­
pectiva m en te, o Sr. Luiz S im ões L op es, o Sr. A lfred o nar cada embaraço surgido, Fayol ia multipli­
Nasser, D iretor do S erviço d e D ocum entação, a Sra. cando as experiências no domínio técnico e, com
Beatriz M arques d e Souza W ahrlich, C h efe d e S eção especial cuidado, no setor complexo, infinitamente
da D ivisão de Organização e Coordenação, o Sr. Anni-
mais delicado, da condução de homens. Como os
bal M aya, à época C h efe d e S eção da D ivisão d e A p er­
feiçoam en to, todos do D.A.S.P., o Sr. B en edicto
resultado» de suas observações e experiências se
Silva, en tão C h efe d e D ivisão da Com issão d e O rça­ mostrassem animadores, perseverou nessa atitude
m en to do M inistério da Fazenda, e o Sr. Cesar Can- aventurosa de piqneiro e acabou por formular
tanhede, professor e técn ico dos S erviços H ollerith um corpo de princípios hoje mundialmente conhe­
S . A . , cujas con ferências são, a seguir, integralm ente
cidos e aceitos. “Da observação paciente dos fatos
transcritas.
— confessou êle — depreendiam-se regras gerais,
indispensáveis à boa gestão” .
I. A TEORIA A D M IN ISTR ATIV A Foi assim, com verdadeiro espírito científico,
DE F A Y O L partindo dos fatos e a êles se reportando para afe-
rir os princípios que ia identificando, que cons­
Luiz S im õ e s L opes
truiu a Teorla Administrativa, admirável pela sua
STA reunião tem por fim exaltar a obra de harmonia interna, simplicidade e consistência. Na

E H enri F a y o l . A homenagem é merecida e exposição dessa teoria, começa êle por afirmar
oportuna. Merecida, porque a boa gerência das que o conjunto das operações realizadas em qual­
empresas públicas e particulares envolve gran­ quer emprêsa, “simples ou complexa, pequena ou
des interesses humanos e, com o se sabe, a contri­ grande” , privada ou pública, divide-se em seis
buição de Fayol para a criação da Ciência Adminis­ grupos distintos : cinco evidentes e bem conheci­
trativa não encontra paralelo na de nenhum outro dos e um menos visível, mal definido, mais geral,
europeu. Oportuna, porque a necessidade de subs­ refratário à percepção com um .
6 REVISTA DO SERVIÇO PUBLICO — JU N . 1945
Segundo a classificação do mestre, tão divul­ nação e o controle, sem os quais o organismo mais
gada no Brasil, os cinco grupos de operações ou bem constituído não pode realizar seus fins” .
de funções’ essenciais, que existem em tôda em­ No exercício desta função, cumpre respeitar cer­
presa, perceptíveis à observação ordinária, são : tos princípios, bem como conceber e praticar cer­
1.° grupo — operações técnicas, ou seja, a pro­ tos procedimentos, que Fayol tentou indicar e sis­
dução, a fabricação, a transformação de matérias tematizar no seu livro fundamental “Administra-
primas em mercadorias, utilidades e serviços; 2 .° tion Industrielle et Générale.” Apesar de baseadas
grupo — operações comerciais, isto é, as compras, numa experiência mais ou menos limitada, por­
as vendas e as trocas; 3.° grupo — operações fi­ que circunscrita à indústria mineira e metalúrgica,
nanceiras, que se desdobram em procura e admi­ as regras fayolianas surpreendem pelo caráter de
nistração de capitais; 4 ° grupo — operações de sua generalidade, conforme registra o seu próprio
segurança, destinadas à proteção dos bens da em­ criador. Fayol estava convencido de que havia
presa e das pessoas que nela trabalham; 5.° grupo identificado princípios válidos e gerais.
— operações contábeis, a saber : o registro, o in­
Quando iniciou, depois de encerrada a sua car­
ventário, o balanço, a contabilidade de custo e
reira industrial, uma campanha de propaganda em
os levantamentos estatísticos.
benefício da administração científica, costumava
Analisando 'fujncionalmente as operações que
dizer : “Qualquer que seja o grupo, a família, a
integram os cinco primeiros grupos, o pesquisador escola, o sindicato; uma cooperativa, uma socie­
meticuloso percebe que certas atividades impor­ dade científica, uma oficina de pintores ou uma
tantíssimas, também ocorrentes èm qualquer em­
escola de músicos; um clube esportivo, um hospi-
presa, não figuram em nenhum dêles. Trata-se . tal, um ccm ité eleitoral, uma liga para o bem pú­
das operàções administrativas, componentes do blico, uma obra de caridade, uma paróquia ou um
sexto grupo, ponto de partida e centro de inte­ consistório, um exército como um convento, um
rêsse da Teoria de Fayol. município, uma província, um Estado e até a So­
Com efeito, nem a elaboração do programa ciedade das Nações, todos estão sujeitos, conscien­
geral de ação da emprêsa, nem o recrutamento e temente ou não, a leis cuja observância ou inobser­
seleção dos empregados, nem a direção do pes­ vância costuma ser sinônimo de prosperidade ou
soal, nem a coordenação de seus esforços, nem paralisação” . E concluía : “Estas leis constituem
o controle das atividades e resultados fazem parte a Administração experimental” .
de qualquer das operações constantes dos cinco
Como corolário lógico de sua teoria, Fayol diz
primeiros grupos. Elaborar os planos de ação,
que cumpre que o pessoal de qualquer emprêsa
constituir o corpo social da emprêsa, 'estruturar
seja capaz de desempenhar as seis funções essen­
as suas divisões e serviços, dirigir o pessoal, coor­
ciais e que, à medida que se sobe na escala hie­
denar os esforços e controlar os resultados consti­
rárquica, a capacidade mais necessária é a adminis­
tuem uma função à parte, distinta, a que habi­
trativa, isto é, a capacidade de planejar, organizar,
tualmente se chama administração. Pode-se dizer
comandar, coordenar e controlar. Por conseguinte
que, antes da sistemática de Fayol, tanto a com­
— opinava êle — ■ uma educação exclusivamente
petência como a própria esfera de ação da admi­
nistração se achavam mal definidas. técnica não corresponde às necessidades gerais das
emprêsas, quer públicas, quer particulares. E es­
Fayol depõe que, ao lado das operações téc­
tranhava que os esforços feitos no sentido de am­
nicas, comerciais, financeiras, de segurança e con­
pliar e aperfeiçoar os conhecimentos técnicos dos
tábeis, que existem em tôda emprêsa, e cuja ma­
operários e contramestres não fôssem extensivos
terialidade é sensível, por assim dizer, a todos
também à preparação dos futuros chefes para o
os exames, percebeu, cada vez com maior clareza,
exercício das funções administrativas.
que existe uma função mais geral, menos conheci­
da, que envolve tôdas as demais até dominá-las Ao tempo em que emitiu estas idéias a Admi­
em dado momento — por fôrça da hierarquia dos nistração nem sequer figurava nos programas de
cargos — e a que chamou função administrativa. ensino das escolas superiores de engenharia civil.
Dessa função se desprendem — diz êle — “o pla­ Fayol não atribuía tal negligência a um possível
nejamento, a organização, o comando, a coorde­ desconhecimento do papel da capacidade admi­
HENRI FAYOL E A CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO 7
nistrativa; ao contrário, acreditava que a impor­ ná-los com as respectivas causas. Com efeito, não
tância dessa capacidade era geralmente reconhe­ há sanção profissional contra os erros administra­
cida . E argumentava : “Se se cogita de escolher tivos. Diz Fayol que a situação seria muito di­
um capataz, entre os operários; um chefe de ofi­ versa se existisse uma doutrina consagrada — um
cina, entre os capatazes; ou um diretor, entre õs conjunto de princípios, regras, métodos, procedi­
engenheiros, nunca, ou quase nunca, é a capacidade mentos provados e controlados pela experiência.
técnica que decide a escolha” . Sem dúvida é Por essas razões Fayol considerava urgente a for­
desejável que o escolhido possua a necessária dose mulação de uma doutrina administrativa, tarefa a
de capacidade técnica, mas, dentre candidatos de que dedicou os seus últimos anos e energias. Levou
valor técnico quase equivalente, usualmente se dá tão longe êste empenho, que chegou a criar um
preferência àquele que é considerado superior por organismo especial intitulado “Centro de Admi­
suas qualidades de presença, autoridade, ordem, nistração Industrial e Geral”, que tinha o tríplice
organização e outras, que representam por assim objetivo de : 1.°) organizar um esforço coletivo de
dizer os próprios elementos constituintes da capa­ elaboração doutrinária, no sentido de estender o
cidade administrativa. método experimental, introduzido pelo seu patrono
na administração industrial, a todos os domínios
À alegação de que a escola do administrador
é a emprêsa, Fayol contrapunha o parecer de que em que ocorre a função administrativa, desde a
a capacidade administrativa, tanto quanto a capa­ família, até o Govêrno, a Igreja, etc.; 2.°) conti­
cidade técnica, pode e deve ser adquirida, primeiro, nuar e intensificar a propaganda em favor da im­
na escola, e, depois, na prática — na oficina, no plantação do ensino administrativo nos programas
escritório, na repartição. Para êle, a verdadeira de tôdas as escolas; 3.°) promover a rápida vulga­
razão da ausência do ensino da administração rização dos princípios administrativos atualmente
estava na ausência de doutrina. À míngua de uma elaborados, bem como dos procedimentos corres­
doutrina comum, enxameiam doutrinas pessoais. pondentes. Como se vê, o Centro de Estudos
Cada chefe tende a julgar-se conhecedor dos me­ Administrativos devia, internamente, desempe­
lhores métodos, o que explica a freqüência com nhar a tarefa de elaboração doutrinária e, exter­
que, na indústria, no exército, na família, no go­ namente, desenvolver esforços de propaganda e
divulgação.
vêrno, sejam adotadas as práticas administrativas
mais contraditórias. Depois de haver feito uma grande emprêsa in­
dustrial prosperar durante meio século, sem inter­
Cumpre admitir que a inexistência de uma dou­
rupção; depois de haver dado corpo a uma teoria
trina aceita conduz efetivamente a resultados in­
que até agora tem resistido a tôdas as críticas, o
congruentes e até chocantes. O administrador fica
grande engenheiro francês, cônscio do valor de suas
à vontade para, em face desta ou daquela situação, idéias e auxiliado por alguns seguidores entusias­
aplicar métodos empíricos, improvisados ao sabor tas, resolveu difundí-las profundamente na opinião
de suas tendências. pública, mediante ação sistemática e persistente.
Ao passo que, por exemplo, num problema de Acreditava e proclamava que, assim como há mui­
técnica de construção de estradas de rodagem, o ta riqueza não utilizada, existe igualmente, em
engenheiro não se atreve a contrariar certas regras estado latente, dispersa por tôda parte, uma ener­
estabelecidas, sob pena de perder o prestígio pro­ gia administrativa que convém explorar em bene­
fissional, quando se trata de uma questão admi­ fício do gênero humano.
nistrativa, como seja o planejamento dos traba­ A exploração dessa fonte de riqueza potencial
lhos de uma repartição, ou a estrutura de um novo é susceptível de ser feita pela difusão e aperfeiçoa­
órgão ministerial, o chefe pode admitir as praticas mento das modernas teorias sôbre a organização
mais perigosas e adotar as idéias mais apriorísti- científica do trabalho, em cuja constelação a T eo­
cas, sem correr nenhum risco. E ’ que os procedi­ ria Administrativa de Fayol figura com o estrêla
mentos administrativos não são julgados por si de primeira grandeza.
mesmos, mas através de suas repercussões. Afas­ Ao homenagear, por meio desta reunião, a sua
tado pela distância, ou pelo tempo, o observador memória, nada mais estamos fazendo do que ren­
ou o crítico, que queira julgar os resultados d der um preito justo ao seu espírito público e ao
ação administrativa, nem sempre consegue relacio­ seu anseio de progresso, tantas vêzes demonstrado.
8 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
N o túmulo de Taylor existe a seguinte ins­ pregar; nessa planta do futuro os acontecimen­
crição : Frederick W . Taylor. Pai da Organização tos próximos aparecem com relativa nitidez, tais
Científica. N o de Fayol fôra de inteira justiça gra­ como os imaginamos, e os acontecimentos rem o­
var-se esta : Henri Fayol, Fundador da Ciência da tos se esbatem cada vez mais vagos. O programa
Adminis tração. de ação é a marcha da emprêsa prevista e pre­
parada para um certo tempo” .
A seguir ouviremos os nossos distintos colegas
incumbidos de interpretar, para êste seleto auditó­ As capacidades são aquelas mesmas a que dão
rio, os elementos administrativos nucleares da T eo­ lugar os seis grupos de operações, com ênfase —
ria de Fayol, ou sejam : o planejamento, a organi­ forte'ênfase — na capacidade administrativa.
zação, o comando, a coordenação e o controle.
As realidades a cuja revelia nenhum programa
pode ser elaborado pertencem à natureza íntima
dos meios de que dispõe a emprêsa para atingir
II. O “PLAN EJAM EN TO ” N A TEORIA aos seus obejtivos : dos imóveis e das matérias
A D M IN IST R A T IV A DE F A YO L primas ao capital e à capacidade de produção, das
ferramentas e do pessoal às relações sociais; per­
A lfredo N asser
tencem à natureza e à importância das operações
em curso e, ainda, àquilo que o futuro pode de­
QUE mais impressiona no pensamento de terminar e que depende, em parte, de fatores su­

O Henri Fayol ao expor, inicialmente, a im­ jeitos a transformações para as quais a previdên­
portância do planejamento, como o primeiro dos cia não pode, desde logo, determinar, nem a sua
elementos de administração, não é a máxima em importância nem o momento em que vão ocorrer.
que reoorda que “governar é prever” , nem quan­
Mas se tôda ação, dirigida no sentido de um
do afirma que “prever significa aí, ao mesmo tem­
propósito, deve ser iniciada^ por um programa,
po, levar em conta o futuro e prepará-lo” , senão
devem ser pesquisadas as razões que impedem o
quando, sucintamente, diz apenas isto : “prever é
surto, por tôda parte, dêsse “útil instrumento de
já agir” . _
govêrno” .
D e onde se deduz : onde quer que as coisas
Fayol suspeita de que os programas de ação
devam suceder bem, no mundo dos negócios pú­
não têm sido utilizados freqüentemente e não che­
blicos ou privados, o planejamento não antecede
garam, ainda, ao mais alto grau de aperfeiçoamen­
a ação, porque, em si mesmo, êle deve constituir
to, porque a sua elaboração requer qualidades e
o início da ação.
condições que muito dificilmente se encontram
E ’ dessa forma que se limita a incursão do im­ reunidas nos dirigentes de uma emprêsa.
previsto nas oscilações do futuro.
Estas qualidades e condições são : 1.°) a arte
Quando o esforço individual ou coletivo se de­ de dirigir os homens; 2.°) muita atividade; 3.°)
senvolve segundo um plano — isto é, segundo uma certa coragem moral; 4.°) estabilidade; 5.°)
uma política — é óbvio que as possibilidades de uma certa competência na especialidade profissio­
insucesso no empreendimento se reduzem de nal da emprêsa; 6 .°) uma certa experiência geral
m uito. de negócios.

Eu disse um plano, preferaitemente uma polí­ A boa maneira de conduzir os homens, que são
tica. a velha medida de tôdas as coisas — e há quan­
tos séculos esta verdade nos é transmitida! — en­
Fayol afirma : “o planejamento encontra uma
contra plena justificativa de sua exigência ao ser
infinidade de formas e de ocasiões para se mani­
elaborado um programa, trabalho em que partici­
festar : mas o seu instrumento mais eficaz é o pro­
pam quase todos os chefes de Serviço, porque esta
grama de ação” .
tarefa excede às obrigações normais, sem que, por
Êste, que é a presença física do planejamento, isso, caiba qualquer remuneração especial. Uma
constitui ao mesmo tempo, diz o genial engenhei­ colaboração leal e ativa, nessas condições, só pode
ro, “o fim visado, a linha de conduta, a sar trilha­ ser obtida segundo a habilidade com que se por­
da, as etapas a serem vencidas, os meios a em­ tar, normalmente, o responsável pelo grupo.
HENRI FAYOL E A CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO 9
A atividade por parte dos que dirigem quer que dois programas diferentes não podem coexis­
dizer atenção contínua nas diferentes previsões tir em relação a um idêntico propósito.
(anuais, decenais ou especiais), e a coragem mo­
A continuidade refere-se à ação diretriz do pro­
ral se funda em saber resistir e manter o justo
grama, pois êste não deve sofrer interrupção e, já
equilíbrio em face de crítica, sabido com o é que que a duração dos programas é limitada, por fôrça
os programas, mesmo os mais cuidadosamente pre­ da própria limitação da perspicácia humana, um
parados, não se realizam nunca na justa medida deve suceder ao outro sem intervalo. O mais co­
Os que não oferecem essa qualidade são tentados
mum na grande emprêsa, são os programas de
a evitar a crítica, ou suprimindo desde logo qual­ duração anual.
quer plano ou tornando-o insignificante. A esta­
bilidade do pessoal dirigente é necessária, dado As inovações cuja necessidade freqüentemente
ocorre na marcha dos negócios exigem, para um
que o período de adaptação de novos chefes é
geralmente muito longo. Terminado êste pro­ bom programa, flexibilidade, vale dizer, capacida­
cesso, não se sentindo suficientemente a coberto de de se amoldar às novas circunstâncias.
de surpresas que o impossibilitem de confeccionar Quanto à precisão, é lógico que possamos obtê-
o plano e, possivelmente, de, pelo menos, assistir la para os acontecimentos que venham a se de­
ao início de sua execução, não se pode contar que senvolver em um futuro próximo. Para um fu­
um chefe se abalance a empreender um trabalho turo remoto uma diretiva é o bastante.' Entre­
que lhe deve parecer estéril. A competência pro­ tanto, a precisão falha completamente quando o
fissional e conhecimento geral de negócios são pêso do desconhecido sobrecarregar a balança da
qualidades tão necessárias à elaboração do pro­
previsão. Nêste caso, a emprêsa — diz Fayol —
grama como é sua execução.
toma o nome de aventura.
“A ausência de programa” » diz textualmente
Fayol, “ou um mau programa, constituem demons­ Aí estão, minhas senhoras e meus senhores, em
trações de incapacidade do pessoal dirigente.” rápido esbôço, as idéias de Henri Fayol sôbre o
planejamento. Muitas outras advertências, quan­
E com o pôr a salvo das incursões dessa incom­
to às excelências e aos inconvenientes das previ­
petência os interêsses dos empreendimentos em ge­
ral ? Tornando obrigatória a elaboração de pro­ sões, com aquela magnífica precisão do seu pensa­
gramas; expondo ao público, que assim se escla­ mento, o grande engenheiro nos oferece.
rece e exerce sua pressão, modelos de programas, Adverte, sobretudo, que um bom programa não
solicitados, de preferência, às emprêsas prósperas; se conduz sem eficientes práticas de organização,
e, finalmente, introduzindo no ensino, como disci­ de comando, de coordenação e de controle. Êle
plina que requer tôdas as atenções, o planeja­ influi, por assim dizer, decisivamente, sôbre todos
mento . os elementos de administração.

Mas, os programas apresentam diversas formas, E nenhuma forma melhor de pagar-vos esta
quer quanto ao seu tempo de duração, à sua con­ generosa atenção que relembrar as suas expres­
textura, ou aos cuidados postos na sua elaboração. sões, quando, esforçando-se por determinar as
Como distinguí-los? Como conhecer um bom pro­ qualidades particulares que deve possuir um bom
grama? programa de ação, lembrava êle, melancolicamen-

A resposta seria atribuir à experiência a última te, que era preciso, em cada caso, procurar, na
palavra, segundo os resultados obtidos. Mas o prática dos negócios, elementos de comparação,
autor adverte, ainda, que há o instrumento e o como faz o arquiteto quando pretende edificar
artista, isto é, que deve ser levada em conta a ma­ uma casa. M elhor servido que o administrador, o
neira pela qual o programa é executado. Con­ arquiteto pode recorrer a álbuns e a cursos de ar­
tudo existem alguns caracteres gerais que auto­ quitetura. Mas não há álbuns de pregramas de
rizam uma expectativa favorável e, entre êles, uni­ ação; não há cursos de planejamento; a própria
dade, continuidade, flexibilidade e precisão. doutrina administrativa está por ser elaborada.
Unidade não significa que um programa não se Se Henri Fayol ainda vivesse, haveria de gostar
subdividida em muitos que nele se entrosem, e, sim, desta reunião. Aqui se prova que a doutrina admi­
10 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — - JU N . 1945
nistrativa não tinha, àquela época, contornos níti­ Êsse pode ser considerado como o principal
dos. Mas, hoje, já ela se definiu claramente e a característico da concepção de Fayol sôbre a orga­
contribuição de Henri Fayol não foi grande, nem nização : não isolar a estrutura, não considerá-la
excelente. Foi a maior de tôdas. distinta dos demais fatores que possibilitam a orga­
nização de um setor qualquer. A certa altura de
seu trabalho diz mesmo êle que a organização
consiste particularmente em “saber constituir o
III. A “ O R G A N IZ A Ç Ã O " N A TEORIA
corpo social” ( 5 ) , ou seja o pessoal.
A D M IN IST R A T IV A DE F A YO L
Em outro ponto, depois de repetir que “organi­
B e a t r iz M. de zar uma emprêsa é muní-la de tudo que é neces­
So u za W a h r l ic h

sário ao seu funcionamento : material, instrumen­


R G A N IZA R é constituir o duplo organismo, tal, capital e pessoal” , Fayol acrescenta : “pode-se

O material e social, da emprêsa” , define Fayol fazer, nesse conjunto, duas grandes divisões: o
( 1 ), que, logo após, torna mais precisa a sua organismo material e o organjsmo social” ( 6 ), e
idéia, dizendo : — “Organizar uma emprêsa é mu- declara que só tratará do segundo.
ní-la de tudo que é necessário a seu funcionamento: T odo o seu estudo, daí por diante, gira em tor­
material, instrumental, capital e pessoal” ( 2 ) . no do “corpo social” , do “ente social” , do “pes­
Ainda mais esclarece Fayol o seu pensamento, ao soal” . Discorre sôbre os deveres administrativos
assim dissertar sôbre o assunto : “Organizar é de­ do corpo social; trata da sua constituição nos di­
finir e estabelecer a estrutura geral da emprêsa versos graus de seu desenvolvimento; salienta a
tendo em vista seu objetivo, seus meios de fun­ importância do fator individual; enumera os órgãos
cionamento e seu andamento futuro tal como de­ do corpo social; manifesta-se sôbre o “sistema Tay-
terminado pelo planejamento; é conceber e criar lor” , criticando e discordando da negação do prin­
as estruturas de todos os serviços que a compõem, cípio da unidade de comando que encontra em
tendo em vista a atribuição de cada um . E ’ dar Taylor; discrimina as qualidades e conhecimentos
forma ao todo e a cada minúcia seu lugar; é ela­ que os chefes de grandes emprêsas devem pos­
borar a moldura e pôr dentro dela o conteúdo que suir; e finaliza tratando do recrutamento do pes­
lhe estava destinado. E’ assegurar uma exata di­ soal. Não enumera princípios de organização, não
visão do trabalho administrativo, dotando a em­ propõe tipos de organização. Os seus “princípios
prêsa somente das atividades consideradas essen­ de organização” estão compreendidos nos de “ad­
ciais e determinando cuidadosamente a esfera de ministração”, que figuram logo no início de sua
cada uma delas. Na organização se traduzem obra clássica, a “Administração Industrial e
pois em fatos os conceitos teóricos do plane­ Geral” ( 7 ) .
jamento” ( 3 ) .
Vê-se, pois, que Fayol sempre preferiu encarar
Como se vê, o grande mestre considera a orga­ a divisão do trabalho como um grupamento de
nização em seus têrmos mais amplos, compreen­ homens, em vez de um grupamento de tarefas,
dendo, além do seu sentido mais comum — ou seja quer tendo em vista seu objetivo, ou seu processo
“a técnica de estruturação dos órgãos e normali­ de técnica ou a clientela, ou ainda a área. Partia
zação de seu funcionamento” ( 4 ) , a obtenção dos êle sempre do indivíduo e não da função, isto é,
recursos financeiros, materiais e humanos necessá­ não isolava nunca o trabalho de seu executante.
rios a fazer a emprêsa funcionar. Daí ter resultado tratar êle, quando se refere à
“organização” , quase que exclusivamente do corpo
( 1 ) Adm inistration Industrielle e t G én érale, Paris, D u-
social. Daí ter êle, ao estabelecer analogia entre
nod, 1931 — pg. 13. o organismo social e o animal, escrito q u e : “o
( 2 ) O p. cít., pg. 7 8 .
homem representa no corpo social um papel aná­
( 3 ) T h e A dm inistrative T h eory in th e S tate, in “ Papers
on the S cien ce o f Adm inistration’ ,, por L u T H E R G U LIC K e logo ao da célula no anim al: célula única na em-
cutros, N ew Y ork, Institute o f P u blic Adm inistration,
pg. 103.
( 4 ) P a u l o d e A s s i s R i b e i r o — Curso d e P rincípios do ( 5 ) A dm inistration Industrielle e t G én érale, pg. 106.
O rganização, edição m im eografada dos Cursos de A dm inis­ (S ) O p. cit., pg. 78.
tração d o D . A . S . P . , 1942, l.a aula. ( 7 ) Pg. 28.
HENRI FAYOL E A CIÊNCIA P A ADMINISTRAÇÃO 11
prêsa rudimentar, milésima ou milionésima parte ção — sem, simultaneamente, tomar em conside­
do corpo social numa grande emprêsa. O desen­ ração as tradições do patriotismo local, as ativi­
volvimento do organismo se opera pelo grupamento dades da imprensa, as tendências emocionais cor­
das unidades elementares (homens ou células) e rentes da população, enfim, mil e uma influências
cs órgãos aparecem, se diferenciam e se aperfei­ que podem levar a reduzir-se o desejável ao pos­
çoam à medida que aumenta o número dos ele­ sível. O capitão de indústria administrador de
mentos reunidos. No corpo social, com o no ani­ uma vasta emprêsa não se deve esquecer da qua­
mal, um pequeno número de funções essenciais lidade e das idiossincrasias pessoais dos seus ge­
realizam uma variedade infinita de operações. rentes, nem do temperamento de seus operários,
Podem-se traçar numerosos paralelos entre as fun­ nem da tendência do mercado consumidor dos
ções dêsses dois organismos” ( 8 ) . produtos de seu ramo. Por serem “homens práti­
cos”, por ser seu dever fazer o que estiver a seu
Analisando a concepção de Fayol sôbre a orga­
alcance numa situação humana complexa, esta-
nização, Urwick em seu notável ensaio “A Função
riam êles cumprindo menos do que o seu dever
da Administração” — a considera o resultado de
se deixassem de ter tais considerações como a
ter sido Fayol “um homem prático” , um adminis­
base de seu pensamento” . Entretanto — adverte
trador que não podia cogitar da organização em
Urwick — “somente mediante o isolamento de
abstrato. Pensa Urwick que dessa maneira Fayol
um ou mais fatores de um problema é que a
estabeleceu um limite para seu raciocínio, pois,
ciência alarga suas fronteiras. A medicina se preo­
diz êle “é impossível progredir-se no conhecimento
cupa com a preservação da vida mas ganha conhe­
da organização sem isolar o fator estrutura de
cimentos da anatomia. À arte da administração
todos os demais, ainda que possa parecer artificia!
é necessário o conhecimento do fator humano, mas
essa distinção” . Segundo Urwick, “a confusão que
isso não significa ser impossível estudar a estru­
existe nos negócios de todos os países torna impe­
tura de uma emprêsa anatomicamente, isolar a
rativo êsse progresso, a fim de preservar-se a ordem
organização e tratá-la com o um problema técni­
social. E justamente devido ao fato de os adminis­
co” ( 11 ) .
tradores, cuja opinião sôbre o assunto é respeitada
pelo público, não conseguirem, em razão mesmo Quererá isso dizer que Fayol e Urwick diver­
da natureza de seu trabalho, operar essa abstração gem quanto ao que seja “organização” ? A meu
intelectual, que o nosso progresso nas ciências so­ ver não há propriamente uma divergência, mas,
ciológicas se arrasta atrás de nosso crescente do­ sim, uma apreciação feita de ângulos diversos e
mínio dos recursos físicos” ( 9 ) . ' cm época diferente.

Dizia Fayol que “se pudéssemos fazer abstração Realmente, Fayol partiu do fator homem e
do fator humano, seria bastante fácil constituir um Urwick do fator estrutura. A “Administração In­
organismo social; qualquer um poderia fazê-lo, bas­ dustrial e Geral” de Fayol, foi iniciada em 1908,
tando para isso ter alguma idéia dos modelos e desenvolvida até 1916; o ensaio em que Urwick
usuais e o capital necessário. Mas não é possível sôbre êle discorre é de 1934.
constituir uma organização efetiva simplesmente A significação dêsses dados é ainda maior do
grupando homens e distribuindo funções; precisa­ que possa à primeira vista parecer.
mos, também, saber como adaptar a organização
Fayol foi, inegàvelmente, um pioneiro. A sua
às necessidades do caso, e com o encontrar as pes­
obra, baseada no seu trabalho em uma única em­
soas e colocá-las no lugar onde possam ser mais
prêsa, tem êsse sabor das coisas originais, das
úteis; para organizar precisamos, enfim, de sérias
coisas resultantes de uma experiência própria.
e numerosas qualidades” ( 10 ) .
Como disse o próprio Urwick, a Fayol não era
Por seu lado, salientou Urwick que “o esta­ possível deixar que suas pesquisas o levassem a
dista não pode considerar, com o um problema relegar a plano secundário sua característica de
técnico, o que é a mais efetiva forma de organiza- homem prático” — que não lhe permitiu ima­
ginar a organização em abstrato, que o fêz tratar
( 8 ) Op. cit.f pg. 8 7 .
( 9 ) L . U r w i c i í — T h e Function o f Adm inistration, in
“ Papers on T h e S cien ce of Adm inistration” , pg. 122. (1 1 ) L . U R W IC K — T h e F u n ction o f Adm inistration, in
( 1 0 ) A dm . Ind. e t G én., pg. 8 3 . “ Papers on T h e S cien ce o f Adm inistration” , p g . 1 2 2 .
12 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
da organização como se fôsse predominantemente esta missão privativa da alta chefia ? E ’ ainda
a constituição do organismo social, entendido êste Fayol quem responde : ela se reparte entre os
como o elemento humano da emprêsa. diversos chefes da emprêsa, tendo cada um o en­
cargo e a responsabilidade pelo seu setor. E pros­
Por seu lado, Urwick, que antes de presidir, na
segue : “Para cada chefe a finalidade do comando
Inglaterra, a Companhia de Engenheiros Indus­
é obter, no interêsse da emprêsa, o maior apro­
triais, de que era sócio, havia dirigido o Instituto
veitamento possível dos agentes que trabalham
Internacional de Gerência, de Genebra, publicou
sob suas ordens” ( 3 ) .
o seu ensaio numa época em que já florescia e
se aprofundava o estudo da técnica de organiza­ Examinemos, inicialmente, as relações do co­
ção, numa época em que, na América, M ooney e mando com as demais atribuições que, segundo
Reiley e Luther Gulick — para destacar aquêles aquêle autor, compõem a função administrativa,
que mais admiro — conseguiam uma admirável a saber : o planejamento, a organização, a coor­
sistematização que, segundo uns, chega mesmo a denação e o controle. Não me parece possível
dar à embrionária técnica de organização foros hierarquizá-las. São tôdas essenciais, imprescin­
de ciência. díveis, igualmente importantes.

Não é possível, pois, comparar os instrumentos Assim pensando, por extraordinário que pareça,
de que Fayol dispõe com os de Urwick. E foram não procurarei puxar a brasa para a minha sardi­
os melhores instrumentos de Urwick que lhe per­ nha aceitando a afirmativa de Urwick, contida
mitiram criticar o fato de não ter Fayol tratado em certa altura do seu Organization as a Techni-
a “organização” 'como setor da administração pas­ cal Problem ( 4 ) , de que a função de comandar
sível de investigação própria, distinta da do ele­ e a mais importante de tôdas. D o quanto as
mento humano. Fayol, de sua própria experiência, diferentes operações se interrelacionam e depen­
induziu os seus princípios e elementos da admi­ dem umas das outras diz-nos aquêle mesmo autor
nistração. Urwick examinou-os mais tarde, à luz com esta definição de com ando: “Comandar é
de sua experiência e da de seus ilustres contem­ fazer a organização operar de acôrdo com o pla­
porâneos estudiosos da técnica da. organização, e no” ( 5 ) . E um pouco adiante : “controlar é veri­
pôde verificar a possibilidade de um tratamento ficar se tudo está sendo executado de acôrdo com
mais rigorosamente científico para êsse aspecto da o plano estabelecido, a organização adotada e as
obra daquele “homem prático” . Assim, entre Fayol ordens dadas. Assim como a coordenação é a
e Urwick não me parece haver uma divergência. dinâmica da organização e dela depende, assim,
Há, sim, de um para outro, uma evolução, para também, o controle é, de certo modo, a conse­
a qual contribuiu poderosamente o gênio do mes­ qüência do comando, a verificação constante dos
tre francês. seus resultados. O comandante não pode delegar
inteiramente a sua responsabilidade pessoal pela
coordenação e pelo controle, pelas mesmas razões
por que não pode delegá-la no que concerne à
IV . O “ C O M A N D O ” N A TEORIA
organização e ao próprio comando” .
A D M IN IST R A T IV A DE F A YO L
Daí se infere, não só “que essas funções cons­
A n íb a l M aya
tituem uma parte essencial da atividade do chefe
e não se podem separar fàcilmente da sua perso­
O M A N D A R é dirigir o pessoal” ( 1 ) . Eis

C as poucas palavras com que Henri Fayol


define a terceira das atribuições que, no seu
entender, constituem a função administrativa. E
nalidade” , mas também que se prendem intima­
mente umas as outras, completando-se.

Mas, que aptidões deve ter um chefe para se


explica em ou|tra parte : “uma vez constituído o desincumbir, a contento, da complexa e difícil
ccrpo social, é mister fazê-lo funcionar : é esta a tarefa de comandar? Além do conhecimento dos
missão que deve caber ao comando” ( 2 ) . Será
( 3 ) ikid .
(1 ) H enri f a y o l , Adm inistration Industrial Y General, ( 4 ) In “ Papers on the Science o f Adm inistration” , p á ­
pág. 19. gina 78.
( 2 ) Idem , ( 5 ) Idem , pág. 77,
HENRI FAYOL E A CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO 13
princípios gerais da administração, Fayol afirma ao estado-maior conhecer os pormenores e acon­
que o chefe deve possuir certas qualidades pes­ selhar o comandante, quando a isso solicitado” .
soais. Na sua opinião — da qual, evidentemente, Mas, afinal, que fará o comandante ? — pergun-
não iremos discordar, — a arte de dirigir se aplica tareis. Simples e exata foi a resposta do General
tanto às pequenas como às grandes empresas; “e Lyautey, quando lhe fizeram esta pergunta. “Eu,
tem as suas gradações, como tôdas as demais respondeu êle, eu sou o técnico das idéias ge­
artes” . ' rais. . . ” ( 7 ) .

Evitando relacionar aquelas qualidades, o gran­ D o sétimo, não só depende o cumprimento efi­
de mestre se limitou a lembrar alguns preceitos ciente dos demais, mas também êle se aplica ao
que, na sua opinião, podem facilitar o comando. modo pelo qual os outros devem ser obedecidos.
Assim, “o indivíduo encarregado de comandar Suas conseqüências podem ser bastante graves,
deve : quando o chefe não dispuser de elementos a quem
possa delegar as outras funções da administra­
1 — Ter um conhecimento profundo de seu ção ( 8 ) .
pessoal. Não creio que haja dúvida sôbre o quanto im­
2 — Eliminar os incapazes. porta para o comandante o conhecimento dos prin­
cípios gerais da administração. Êsses conheci­
3 — Conhecer perfeitamente os convênios que
mentos não são, porém, do domínio de todos os
regem as relações entre a emprêsa e os
que exercem cargos de chefia. Isso se compreen­
seus agentes.
de, pois quanto mais o indivíduo se aproxima da
4 — Dar bom exemplo. esfera em que são executados os trabalhos, tanto
5 — Inspecionar, periodicamente, com o au­ mais indispensável se lhe torna a capacidade téc­
xílio de quadros sinóticos, o corpo social. nica e menos importante a administrativa. A re­
cíproca também é verdadeira, isto é : quanto mais
6 — Reunir em conferências os seus princi­
elevado o seu nível na escala hierárquica, mais
pais colaboradores para manter unidade
deve possuir aquela última capacidade. São mais
de direção e convergência de esforços.
ou menos essas as palavras de Fayol.
7 — Não se deixar absorver pelas minúcias. E as razões que sugeriram a enunciação dêsse
8 — Fazer com que reinem entre o pessoal a princípio são óbvias : um ministro de Estado, por
atividade; a iniciativa e a abnegação” ( 6 ) . exemplo, tendo que distribuir a sua atenção pelos
diferentes setores de uma superfície muito ampla,
não poderá dominar um campo diminuto de espe­
Examinando êsses oito preceitos somos obriga­
cialização, oculto em uma das divisões de um dos
dos a chegar às mesmas conclusões a que chegou grandes departamentos do seu ministério, da mes­
o supracitado Urwick : O primeiro, o segundo, o ma forma por que o faz o encarregado imediato
quarto e o sexto se referem à liderança pessoal; do referido cam po. E é claro que ninguém o po­
a sua adoção exige um contacto permanente entre derá acusar por isso. O fato está rigorosamente
chefe e subordinados. O mesmo sucede com o previsto e situado dentro das técnicas da ciência
oitavo. Aliás, a esta altura, aquêle autor emprega do govêrno. Àquele encarregado, por sua vez,
uma palavra perigosa — staif — , a qual, como seja ou não chefe de serviço, não são necessárias,
todos sabem, tem na língua inglêsa duas acepções evidentemente, aptidões administrativas do mes­
principais; pessoal — sentido em que foi usada; e mo grau das que deve ter o ministro.
estado-maior — expressão de grande voga entre
Se dispusesse de tempo ser-me-ia grato discutir,
os estudiosos de organização.
com minúcia, os princípios de administração que
Com o terceiro e o quinto preceitos, que são, se relacionam mais intimamente com a função de
via de regra, objeto de regulamentos e de ordens chefia. Limitar-me-ei, todavia, a citá-los e a defi-
de serviço, o chefe não se deve preocupar, “a ní-los quase exclusivamente com as próprias pala­
menos que haja alterações importantes. Compete vras de Fayol. São os seguintes: a autoridade, a
-------------— . ' ' 5! i
(6 ) H enri F a y o l , Adm inistration Industrial y G eneral, ( 7 ) Cit. por A n d r é M a u r o i s , “ A rte de V iv er” , pág. 132.
págs. 146 e 147. ( 8 ) L, U r w i c k , op. cit., pág. 79.
14 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
disciplina, a unidade de comando, a unidade de pelos diretores da indústria do que pelos adminis­
direção e a hierarquia. tradores de Washington.

“A autoridade consiste no direito de mandar e Embora tenham surgido nos últimos tempos
no poder de se fazer obedecido” . alguns trabalhos realmente notáveis sôbre a arte
de dirigir, êsses trabalhos, em maior ou menor
“A disciplina reside essencialmente na obediên­
escala, repousam sôbre o que já disseram os velhos
cia, na assiduidade, na atividade e na presença dos
mestres. Isso talvez empreste um pouco de razão
sinais exteriores de respeito — tudo conforme as
aos que criticam a produção em massa de litera­
convenções estabelecidas entre a emprêsa e seus tura especializada nos Estados Unidos, composta
agentes” . de obras que, no dizer daqueles críticos, nada
A unidade de comando consiste em fazer com mais são do que combinações novas de idéias
que “para a execução de um ato qualquer um velhas.
agente receba ordens de um só chefe” . Se compararmos, por exemplo, aquêle reduzido
capítulo de Fayol sôbre o comando, com o muito
A unidade de direção consiste em haver “um
que mais tarde se escreveu sôbre o mesmo tema,
só chefe e um só programa para um conjunto de
teremos de confessar que pouco de fundamental
operações que tenham um mesmo fim” .
lhe foi aditado e que, a rigor, os trabalhos surgidos
A “hierarquia, finalmente, é constituída pela posteriormente não passam de dilatações e de
série de chefes que vai desde a autoridade supe­ complementos de suas afirmativas capitais.
rior até aos agentes inferiores” . Aliás, duas características especiais da obra de
Apesar de consagrada por autoridade tão res­ Fayol são : a limpidez com que sempre apresen­
peitável, a palavra comando atravessa, presente­ tou as suas doutrinas, e a sua extrema parcimônia
mente, um período de franco desprestígio nos verbal. Há nos seus escritos avareza de palavras,
meios administrativos. E a culpa cabe aos mo­ economia de exemplos e ausência quase total de
dernos estudiosos do problema da supervisão, os citações. Se fôsse meu objetivo, aqui, estudar-lhe a
personalidade, nada melhor me guiaria do que o
quais, em tôdas as oportunidades que se lhes ofe­
sgu estilo. Estilo de homem prático, criado no meio
recem, recordam a necessidade de confiar os pos­
ativo dos negócios, na intensa vida industrial, onde
tos de chefia a diretores. . . e não a comandantes.
há necessidade de poupar palavras, de não tomar
Que pretendem com isso dizer ? Apenas, que o
tempo, de aumentar a produção e de reduzir os
tipo autocrático de chefia está condenado e que
gastos. O modo por que planejou os seus livros,
cada vez mais se impõe substituí-lo pelo demo­
e os escreveu, denuncia claramente o seu método
crático. D e modo pitoresco, os autores norte-ame­ de trabalho e a sua vocação de organizador : é
ricanos salientam esta distinção, afirmando que necessário dar ao leitor o máximo de utilidade com
ela é perfeitamente expressa pela diferença que o mínimo de dispêndio de tempo e de energia.
há entre os dois verbos : to lead e to boss. Desiludir-se-á, portanto, quem quiser encontrar
O assunto comporta ampla e fascinante discus­ nas obras de Fayol tropos literários ou fulgores
de estilo, pois a sua linguagem é chã, simples,
são. Nela não me demorarei, todavia, pois na Bi­
despretensiosa, discreta. Não legou, certamente,
blioteca do D . A . S . P . se encontram, à disposi­
páginas destinadas a ilustrar textos clássicos ou
ção dos curiosos, muitas obras em que abalizados
a compor antologias. Bastou-lhe a glória, não pe­
autores (Ordway Tead, Frank Cushman, Walton,
quena, de inscrever o nome no livro de ouro, em
Stockberger e outros) fazem do tema cavalo de
que estão gravados os dos que mais contribuíram
batalha.
para o grande progresso industrial dos últimos
Isso evidencia, também, o quanto o elemento tempos.
comando ou, se quisermos evitar a palavra pros- O seu mérito principal talvez tenha sido o de
crita, o elemento direção vem preocupando aos reconhecer a necessidade de formar bons chefes,
estudiosos de assuntos administrativos. Aliás, se propiciando-lhes recursos profissionais que lhes
compararmos a copiosa literatura yankee sôbre permitam alcançar um rendimento maior.
o assunto, logo verificaremos que, naquele país, A sorte de um exército depende, em grande
êle tem sido considerado muito mais atentamente parte ,dos comandantes que lhe forem designados.
HENRI FAYOL E A CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO 15
Foi isso que levou o Marechal Foch a afirmar Se, dentre os filósofos da organização cientí­
perante os alunos da Escola de Estado-Maior do fica do trabalho, Fayol ocupa lugar culminante e
exército francês : — “Lembrai-vos, senhores, de singular, pela sua penetração de pioneiro ainda
que as batalhas nunca são perdidas por soldados; não sobrepujado e pelo seu papel de fundador
sempre por generais” ( 9 ) . Da mesma forma, se da Ciência Administrativa, dentre os franceses,
pode afirmar que o destino de uma organização povo famoso pela clareza intelectual, Fayol figura
civil depende, maxima pars, dos dirigentes a que como paradigma indisputável. Com efeito, a pa­
fôr confiada. lavra escrita de Fayol encerra, no mais alto grau
imaginável, as três qualidades que, no dizer de
A teoria de Fayol repousa grandemente sôbre
Anatole France, caracterizam a língua francesa :
êste princípio. E é por isso, senhoras e senhores,
primeira, clarté ; segunda, clarté ; terceira, clarté.
que andou, sem dúvida, acertado quem propôs
para o fayolismo aquela definição que lhe assen­ De sorte que o estudioso da Ciência da Admi­
tou tão bsm : — é uma escola de chefes. nistração não deve desconhecer a doutrina do cé­
lebre engenheiro francês, a quem se pode dar, com
inteira justiça, o título de engenheiro social. V á­
rios motivos tornam inescusável a ignorância dessa
V . A “ C O O R D E N A Ç Ã O ” N A TEORIA doutrina, dentre os quais citaremos dois. Primei­
A D M IN IST R A T IV A DE F A YO L (*) ro : Fayol é absolutamente fundamental — não
deve ser ignorado ; segundo: Fayol é claro como
B enedicto S ilva água pura — não pode ser incompreendido. D e
Fayol pode dizer-se o que Josué Montello disse
O tratamento, teórico ou prático, desta ma­ tão bela e simplesmente de M achado de Assis,

N téria fascinante — a coordenação — é fa­


cultado ao expositor começar por uma referência
à clareza de pensamento — qualidade admirável
pois que, também neste caso, a claridade domina a
sua
pada.
obra como uma aurora uma planície descam­

e rara, característica da verdadeira inteligência. “Coordenar — diz Fayol — é ligar, unir,


De fato, se coordenar é ajustar harmoniosamente harmonizar todos os esforços e todos os atos” ( 1 ).
cs esforços de qualquer grupo de pessoas; se é Apesar de trazer o distintivo do pensamento fayo-
imprimir-lhes unidade de ação, para que se realize
liano, que é a clareza, esta definição mal entre-
o propósito comum em que estejam empenhadas,
mostra o interior da coisa definida. Se quisermos
a clareza de pensamento na concepção das idéias,
caracterizar o que seja coordenação, temos que re­
na transmissão das ordens, nas relações entre che­
correr a certos argumentos e passar em revista
fes, intermediários subalternos, constitui condição
certas idéias.
essencial do intuito coordenador.
Fayol ensina : “Quando o planejamento, a or­
Entretanto, não é para estudar a importância ganização, o comando, a coordenação e o controle
do pensamento claro na dinâmica da coordenação inc:dem em cheio sôbre as diferentes partes, a
— tema certamente difícil, superior aos recursos marcha da emprêsa é satisfatória, porque tôdas as
de um rncdesto observador — que me refiro, ini­ funções se cumprem convenientemente” ( 2 ) . Pa­
cialmente, neste desambicioso ensaio, à clareza de rece indicar, assim, que as' cinco operações incluí­
pensamento. Ao fazer a referência, não tenho em das na função administrativa são complementares
mente uma categoria de juízo, um conceito abs­
e mais ou menos equivalentes. O sacrifício ou a
trato — mas uma determinada clareza de pensa­ perturbação de qualquer delas pode repercutir ma-
mento, a de Henri Fayol.
lèficamcnte no funcionamento de tôda a emprêsa.
A menção dêste nome nos conduz diretamente De fato, em nenhuma parte de sua obra Fayol
ao âmago do assunto, pois que, segundo a teoria declara ou sugere que êste ou aquêle elemento
fayoliana, um dos elementos centrais da função administrativo seja mais significante do que os
administrativa é a coordenação. outros. Os tratadistas mais modernos, especial-

( 9 ) Cit. por U R W IC K , op. cit. ( ! ) A dm inistration Industrial y G en eral — T r a d . e s p .-


( * ) D êste trabalho foram lidos alguns trechos na reunião Buenos Aires, 1940, pg. 19.
em hom enagem a F a yol. ( 2 ) O p. cit., pg. 110.
16 REVISTA DO SERVIÇO PUBLICO — JU N . 1945
mente os americanos, entretanto, atribuem maior Demonstremos a tese, pois que não é difícil.
importância à coordenação. Stuart MacCorkle, por Quando um operário se incumbe, sozinho, de
exemplo, sustenta que uma emprêsa poderá so­ determinado trabalho, as operações que executa
breviver e realizar alguma coisa, mesmo que ne­ obedecem a uma seqüência lógica espontânea.
gligencie um ou outro princípio administrativo, Êle subordina-se ao desígnio prefixado e executa­
desde que pratique a cordenaçãp. Cessada esta, -as em tal ordem e de tal maneira, que a última
porém, os objetivos da emprêsa só poderão ser operação perfaz a tarefa. Aqui me permito a li­
atingidos por acaso ( 3 ) . James M ooney e Allan berdade de mencionar a ilustração que imaginei
Reiley, por sua vez, afirmam que a coordenação de outra feita ( 6 ), e que me foi sugerida pela
incui todos os princípios de organização ( 4 ) . Teoria da Organização, de Luther Gulick.
Que explica essa precedência do elemento coor­
Ao fazer sozinho uma peça de roupa, por exem­
denação ? Não é diíícil encontrar a resposta. Den­
plo, o alfaiate ordena automaticamente as opera­
tre os traços característicos da cena mundial con­
ções. A própria estrutura da peça indica a se­
temporânea, se destacam, de um lado, a especia­
qüência do trabalho. Há um ponto de partida,
lização intensiva e multiforme e, de outro, a asso­
digamos, o corte, e um ponto de chegada, digamos,
ciação de esforços. A especialização aumenta a
o pregamento dos botões. Entre êsses dois extre­
lista das profissões, desdobra os ofícios, adelgaça
mos se distribuem numerosas operações que se
as faixas de atividade individual, atomiza, por
hão de engrenar numa determinada ordem, sob
assim dizer, as ocupações. A associação de esfor­
pena de ser sacrificado o desígnio central do es­
ços aproxima as atividades especializadas e tende
forço. O alfaiate realiza-as guiado pelo próprio
a reunir, em grandes emprêsas, massas considerá­
trabalho, sem encontrar dificuldades para decidir
veis de trabalhadores. A divisão do trabalho, ex­
o que vem em primeiro lugar, o que vem em se­
tremada pela especialização, e a concentração de gundo e terceiro, e assim por diante. Disposto a
trabalhadores, exigida pela maioria dos empreen­ concretizar um objetivo definido, êle coordena e
dimentos humanos, é que fazem a coordenação ajusta as operações na seqüência adequada, exe­
indispensável ( 5) . cuta-as de certa forma e liga-as de tal modo que,
Efetivamente, quanto mais numeroso o pessoal de seu esforço, surge, afinal, a peça prevista.
engajado nas atividades de uma emprêsa, quanto Dá-se aquilo que poderíamos chamar coordenação
mais difíceis os propósitos objetivados, quanto espontânea do trabalho. E ’ claro que a realização
mais complexos os respectivos processos de traba­ de objetivos de grande envergadura, como a cons­
lho, tanto mais necessária se torna a ação coorde­
trução de um transatlântico ou de uma estrada de
nadora. A divisão do trabalho é fator de sobre­ ferro, a educação de milhões de crianças e jovens,
vivência e bem-estar das sociedades organizadas. o fcmento da produção agrícola num país extenso,
A sua inevitabilidade decorre da desproporção transcende incomparavelmente a capacidade de
entre a insignificância das faculdades naturais do um homem e demanda os esforços de grupos so­
homem e o vulto e complexidade de muitos dos ciais inteiros. Impõe-se a divisão do trabalho.
desígnios humanos, certamente impraticáveis sem
Quando, porém, se divide o trabalho, a seqüên­
a fusão das energias físicas e o concurso das in-
tel gências de numerosos indivíduos. Fraco, ex­ cia conveniente das operações não acontece assim
posto, pusilânime, o homem necessita de se asso­ naturalmente — não há coordenação espontânea.
ciar a outros- para conseguir a realização de qual­ A parte feita por um trabalhador poderá, ou não,
quer empreendimento maior. Mas se a coopera­ engrenar-se, temporal e espacialmente, com a parte
ção lhe amplia extraordinariamente a capacidade feita por outro. A coordenação torna-se uma ne­
realizadora, por outro lado lhe impõe a necessi­ cessidade imperiosa. Na sua ausência, só por
dade imperiosa de coordenar os esforços associa­ acaso as operações se ajustarão de modo lógico
dos. — à maneira de partes — para formar um todo.

Figuremos, para oompletar o exemplo, que


( 3 ) M u nicipal Adm inistration — New Y ork, 1942, p á ­
certas quantidades de matérias primas, aço, níquel,
ginas 5 2 /3 .
( 4 ) P rin cipies o í Organization — N ew Y ork, 1939,
Pg- 5. (6 ) BENEDICTO S i l v a — E nsaio d e A nálise do E stado
( 5 ) B e n e d ICTO S i l v a — O Ensino d e Adm inistração M od ern o ( I I I ) — In “ R evista do S erviço P ú b lico” , janeiro
Pública nos Estados Unidos — R io, 1943, pg. 18. de 1944, pgs. 1 8 /2 0 .
HENRI FAYOL E A CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO 17
cobre e outros meta:s, vidro, borracha, tinta, subs­ nadora, inata ou não, é suscetível de desenvolvi­
tâncias plásticas, tecidos, couro, etc., depois de mento. Seria possível aprender-se a coordenar
ccndicionadas através de milhares de operações, como se aprende a somar, a datilografar, a dirigir
acabem por assumir a forma de um automóvel. um automóvel ? Pensamos que sim.
Ora, um automóvel não é meramente uma quan­ A coordenação realiza-se em qualquer estágio
tidade de aço, outra de cobre, outra de madeira, do trabalho, mas sempre se coordena ou por sub­
outra de borracha, outra de níquel, outra de tinta, missão sincera e devotada a uma idéia, ou por
e assim por diante. Essas várias matérias primas, organização, ou ainda pelas duas vias, simultânea-
utilizadas em porções convenientes, só se trans­ mente.
formam em automóvel se e quando tocadas pelo A coordenação pelo primado de uma idéia sôbre
pcder mágico da coordenação. Se as operações um grupo pressupõe a instilação de “uma singula­
de fabiicar as diferentes peças não fôssem bem ridade de propósito nas mentes e nas vontades dos
coordenadas, jamais se conseguiria uma unidade homens” que o constituam. Partidário da mesma
lógica, prevista e operante, isto é, um automóvel. idéia, cada membro do grupo diligencia esponta­
Poder-se-iam fabricar — em massa e indefinida­
neamente por agir de modo que a sua contribui­
mente — tôdas as peças necessárias — rodas,
ção se ajuste o mais perfeitamente possível às
o'xos, aros, raios, válvulas, parafusos, alavancas,
contribu:ções dos outros; levado pela determi­
portinholas, motores, pistões, pára-lamas e tudo o nação de ajudar, de contribuir, acelera ou retarda
mais — sem, entretanto, se conseguir nunca uma
o próprio esforço na medida que se faça necessá­
coleção de peças dispostas de tal maneira que so­
rio para incorporá-lo utilmente ao propósito co­
massem um veículo automóvel. Como se vê, a mum.
divisão do trabalho, fonte prodigiosa de rendi­
A coordenação pela via da organização pres­
mento, seria uma insanidade se, para reunir as
partes de acôrdo com um desígnio central, não supõe o enredamento das várias divisões e sub­
houvesse a coordenação. divisões integrantes da emprêsa numa estrutura
de autoridade e num sistema de comunicações, ao
“Se a divisão do trabalho é inelutável, a coorde­
longo e através dos quais o trabalho é coordenado
nação torna-se compulsória” — afirma Gulick,
mediante a vigilância dos superiores sôbre os in­
com segurança e ênfase ( 7) .
termediários e dêstes sôbre os subalternos, escala
Com o que ficou dito até aqui, consideramos
hierárquica aba:xo, até ser atingido o último tra­
demonstrado que a coordenação se avantaja a
balhador.
todos cs outros princípios de organização. A sua
Nas emprêsas bem organizadas, além da estru­
importância é suprema, decisiva. Indaguemos
tura de autoridade adaptada às circunstâncias e
agora se essa fôrça misteriosa, que imprime uni­
aos objetivos, além da existência de um bom sis­
dade de ação às atividades de centenas, de m i­
tema de comunicações, que leve as ordens do
lhares e até de milhões de pessoas, constitui uma
centro diretor e traga a êste as informações de
capacidade inata ou uma técnica, uma arte adqui-
retorno, num contínuo vaivém, o pessoal dirigente
rível. Haverá princípios teóricos e regras prá­
recorre em larga medida à 'coordenação psico­
ticas cujo conhecimento habilite uma pessoa a co­
lógica, ou seja a que se obtém pela devoção c o ­
ordenar os esforços de outras, ou a coordenação
mum do grupo a uma idéia claramente enuncia­
resulta de algo imponderável — é uma qualidade
da e compreendida. A coordenação ideal só ocorre
individual inata e intransferível, que só se m a­
quando levada a efeito pelas duas vias simultâ-
nifesta em raras criaturas e escapa ao controle
neamente : a da organização e a da devoção.
consciente do próprio agente?
Se a capacidade coordenadora fôsse um dom É indiscutível que a complexidade da tarefa de
ou talento inato, tôda focalização intelectual da coordenar varia com a envergadura e a idade da
matéria teria apenas valor de passatempo. No emprêsa. Numa emprêsa modesta ou incipiente,
caso, a organização e o debate de idéias só se em que trabalhem poucas pessoas, a coordenação
justificam se se aceita que a capacidade coorde­ opera-se mais fàcilmente, porque o propósito cen­
tral é manifesto para cada trabalhador. Todos
sabem o que lhes cumpre fazer, os desvios reve­
(7 ) L u t h e r G u l i c k — Papers on the S cien ce o l Adrrti-
lam-se imediatamente e os corretivos são aplicados
rthíraticn — New Y ork, 1937, pg. 6 .
18 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
a tempo e à hora, mesmo porque o dirigente pode quanto se processe maravilhosamente em certas
apreciar a cada minuto a situação exata de tôda circunstâncias, deve ser considerada como recurso
a emprêsa e de cada uma de suas partes. Verifi­ complementar. Nem sempre é possível-coordenar
ca-se aí o que M ary Parker Follet chamou coor­ só por essa via. Ainda que todos os componentes
denação por contato direto entre os dirigentes e de um grupo estejam de pleno acôrdo quanto ao
os dirigidos. Esta é uma forma relativamente objetivo a ser atingido, só rarissimamente deixarão
simples de coordenação, porque, para se realizar, muitos dêles de discordar quanto aos detalhes da
não requer mais do que contatos freqüentes entre ação. É necessário o líder, com a sua “autoridade
as pessoas cujos esforços devam ser coordena­ pessoal, formada de inteligência, de saber, de ex­
dos ( 8 ). periência, de valor moral” ( 11 ), para incutir nas
Nas organizações de grande envergadura, em mentes e nas vontades dos liderados uma singula­
que tomam parte milhares de pessoas, como num ridade de propósito. Quando chega o momento,
ministério de obras públicas, a estrutura de auto­ porém, de decidir sôbre os detalhes, então o lider
ridade é naturalmente complicada. As tarefas são muitas vêzes deve ser apenas chefe e fazer valer
muito divididas e subdivididas, não é fácil à maio­ a sua autoridade estatutária, inerente ao cargo.
ria das pessoas pertencentes à emprêsa conservar A coordenação dos esforços numa emprêsa nu­
uma idéia nítida e permanente sôbre os propó­ merosa é condicionada, em larga medida, pelos
sitos objetivados. Por conseguinte, além das pos­ hábitos do pessoal e pelo fator tempo.
síveis duplicatas de iniciativas e de esforços, dos
E:'s, a respeito, o depoimento de Gulick : “O
desperdícios de material e dos movimentos para­
homem é uma criatura de hábitos. Quanto uma
sitários determinados pela diferença de ritmo dos
emprêsa cresce gradua^jpsnte, partindo de pouca
diversos setores, comumente acontece que o pes­
coisa, o pessoal pode ser treinado e aperfeiçoado,
soal perde de vista o propósito central — se é que
passo a passo. Se aparecem dificuldades, estas
efetivamente chega a vislumbrá-lo alguma vez —
são passíveis de aplanamento mediante a intro­
e, assim, cada qual tende a cuidar dos próprios
dução de novos métodos, os quais, dêsse momento
interêsses, sobrepondo-os aos da emprêsa.
em diante, se incorporam ao conjunto de práticas
Georges Renard, autor da Teoria da Institui­
ern uso na emprêsa. As operações rotine:ras po­
ção, convém em que a coordenação pelo primado
dem ser dominadas pelo pessoal à fôrça de exercí­
de uma idéia produz os mais amplos resultados.
cios, como acontece no exército. Mas quando se
Afirma êle que, em tôdas as etapas de desenvol­
trata de uma grande emprêsa a ser organizada ou
vimento, os sêres jamais se coordenam por acaso
mas sempre pelo efeito organizador de uma idéia. reformada da noite para o dia, então é que as
“Tôda organização resulta da submissão da maté­ verdadeiras dificuldades da coordenação se reve­
ria a um plano ideológico” ( 9) . lam plenamente. O elemento hábito, que é uma
base importante da coordenação, quando se dis­
Explorando outros refolhos dêste argumento,
põe de tempo, converte-se em sério embaraço
Renard sustenta que uma sociedade será tanto
mais organizada quanto mais os indivíduos com­ quando não se dispõe, isto é, quando as normas e
ponentes se acharem coordenados, por ligação uns métodos são alterados muito freqüentemente. O
com os outros, em sistemas progressivamente mais problema da coordenação deve ser apreciado com
amplos e em obediência a uma idéia; e que, afi­ ênfase diferente nas emprêsas grandes e peque­
nal de contas, o progresso outra coisa não é senão nas; nas situações simples e nas complexas; nas
a passagem indefinida do caótico e do empírico organizações estáveis e nas organizações novas ou
para sistemas de organização elaborados em tôrno em reforma” ( 12 ).
de uma idéia ( 10 ).
Nas grandes emprêsas. sobretudo nas novas, a
É necessário salientar que a coordenação deter­ coordenação deve ser encarada como “relação re­
minada pela magia de uma idéia dominante, con­
cíproca de todo os fatores em uma situação” e,
como tal, deve partir do reconhecimento das re­
( 8 ) P rocess o i control, in “ Papers on the S cien ce o f A d ­ lações interatuantes de muitos fatores, a fim de
m inistration” , N ew Y ork, 1937, p g . 161.
( 9 ) C itado por M i h a i l M a n o i l e s c o , O S écu lo do C or­
porativism o, R io 1938, pg. 2 0 . (1 1 ) F a y o l , op. cit., pg. 3 5 .
( 1 0 ) C itado por M i h a i l M a n o I l e s c o , op. cit., loc. cit. (1 2 ) L u t h e r G u l i c k , op. cit., pg. 6 .
HENRI FAYOL E A CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO 19
poder desenvolver, paralelamente, o esforço ne­ faculdades de todos e recompensar o mérito de
cessário para harmonizá-los num dado sentido (13). cada um, sem despertar susceptibilidades e inve­
A coordenação que ss processa pela via da jas, e sem turbar a harmonia que deve existir nas
organização requer, desde logo, o estabelecimento relações entre os diversos indivíduos pertencentes
de uma hierarquia ou sistema de autoridade, pelo a uma emprêsa — então, sim, é necessária a posse
qual o objetivo da emprêsa é conseguido ou leva-- de verdadeiro talento ( 16) .
do a efeito, através dos esforços consorciados das Ao longo da obra de Fayol se podem respigar.
pessoas que a constituam. “Como se sabe, uma aqui e ali, diversas alusões à coordenação, tôdas
estrutura de autoridade não só permite como ain­ elas impregnadas da idéia de que, para obter a
da facilita a coordenação do trabalho por meio coordenação do trabalho, é preferível que o diri­
de instruções e ordens transmitidas ao longo da gente use a sua autoridade pessoal, aquela forma­
escala hierárquica. É a estrutura de autoridade da de inteligência e valor moral, em vez de usar
que torna efetivo, para o chefe da emprêsa, o a sua autoridade estatutária, inerente à função de
direito de se fazer obedecer” ( 14 ) . “Colocado no chefe. Mas é na parte dedicada ao estudo dos
centro e no tope da emprêsa, o chefe pode, por cinco elementos administrativos que Fayol se de­
intermédio da organização, ver e coordenar os tém no conceito de coordenação, muitas de cujas
esforços associados exatamente com o o trabalha­ dobras procura focalizar, por meio de definições
dor vê e coordena as operações que executa so­ claras e simples. Coordenar — diz êle — é dar
zinho : primeiro isto, em segundo lugar, aquilo; ao organismo material e social de cada função as
isto deve ser feito de tal m odo; agora é a vez proporções convenientes, para que a mesma possa
dssta peça, etc., etc. (1 5 ). desempenhar o seu papel de forma certa e eco­
Voltemos, finalmente, a Fayol. nômica. É levar em conta as obrigações e as con­
Conquanto não se conheça nenhuma declaração seqüências que qualquer operação — técnica, co­
explícita, feita por Fayol, de que a função coor­ mercial, financeira ou outra — acarrete para as
denadora seja uma arte ou técnica e, portanto, demais funções. É fixar a proporção dos gastos à
susceptível de ensino e aprendizagem, é lícito in­ luz dos recursos financeiros; determinar a exten­
ferir do pensamento geral dêsse autor que, para são dos imóveis e utensílios de acôrdo com as ne­
êle, não só é possível com o também desejável cessidades da fabricação, adequar o abastecimento
aprender-se a coordenar, exatamente com o se ao consumo, equilibrar a produção com as vendas.
aprende qualquer outra técnica ou arte. Fayol É construir a casa nem demasiado grande, nem
indiretamente se inclina a dar maior importância demasiado pequena; afeiçoar a ferramenta ao uso,
à coordenação espontânea ou psicológica, a que a via ao veículo, as operações de segurança aos
Gulick chamou “coordenação pelo predomínio de perigos. E ’ atender primeiro ao essencial e depois
uma idéia” . Quando declara, por exemplo, que ao acessório. Em suma, é dar às coisas e aos atos
a coordenação, estabelecida com o concurso de proporções convenientes — é adequar os meios
todos, é uma geradora de confiança recíproca, está aos fins ( 1 7 ) .
certamente fazendo apologia da coordenação psi­
Como saber se as atividades de uma emprêsa
cológica . são efetivamente coordenadas ? Fayol aponta
Em outra passagem de sua obra, igualmente se os sintomas da boa coordenação. Se uma emprê­
revela a predileção de Fayol pela coordenação es­ sa é bem coordenada — diz êle — nela se verifi­
pontânea, estabelecida e mantida sutilmente, cui­ cam os seguintes fatos :
dadosamente, a fim de não provocar reações con­
trárias por parte do pessoal. Para semear a di­ ' a) cada serviço marcha de mãos dadas com
visão entre os próprios subordinados, declara os outros; o serviço de abastecimento sabe o que
Fayol, não é necessário nenhum m érito: isso e quanto deve fornecer; o de produção sabe o
está ao alcance de qualquer pessoa. Mas, para que se espera d ê l e ; o de conservação mantém o
coordenar os esforços, estimular o zêlo, utilizar as material e os utensílios em bom estado; o finan­
ceiro levanta os capitais necessários; o de se-
(1 3 ) M a r y P a r k e r F o l l e t , op. cit., loc. cit.
(1 4 ) B e n e d ICTO S i l v a , E nsaio d e A nálise d o Estado
M od ern o, loc. cit. m (1 6 ) F a y o l , o p . cit., p g . 6 2 .
(1 5 ) B e n e d ic t o S il v a , idem , ib id em . (1 7 ) F a y o l , o p . cit., p g . 1 5 5 .
20 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
gurança protege efetivamente os bens e as pes­ de outro modo. Em tempo relativamente curto —
soas ; tôdas as operações se efetuam com ordem quiçá uma hora — o diretor se informa sôbre a
e regularidade; marcha geral dos negócios e pode tomar decisões
que interessem, a um tempo, a vários serviços e
b ) as divisões e subdivisões de cada setor são
fixar o concurso que cumpra a êstes prestar uns
exatamente informadas sôbre a parte que lhes
aos outros” ( 2 0 ).
corresponde na obra comum e a ajuda mútua que
se devem prestar; Estimular o entusiasmo do pessoal, facilitar o
c ) o programa de ação dos diversos serviços cumprimento do dever, aproveitar a presença
e suas subdivisões é pôsto constantemente em dos chefes para resolver problemas de interêsse
harmonia com as circunstâncias (18). comum — eis outros resultados positivos, que se
podem obter mediante as reuniões periódicas dos
Fayol oferece também a contrapartida. Se­ chefes. Para assegurar a unidade de direção e a
gundo êle, se cada serviço ignora, ou pretende convergência de esforços, assim como para indu­
ignorar, a existência dos outros; se funciona como zir os dirigentes a uma colaboração espontânea,
se encerrasse em si mesmo seu fim e sua razão nenhum procedimento se avantaja a essas confe­
de ser, sem se preocupar com os serviços adja­ rências.
centes nem com o conjunto da emprêsa; se as Fayol afirma que os cordões de isolamento de­
divisões e as oficinas de um mesmo serviço, bem saparecem quando os chefes de serviço têm que
como os diferentes departamentos da emprêsa, se explicar e se entender em presença da autori­
agem com o compartimentos estanques; se a dade superior; e que a conferência de chefes
grande preocupação de cada um é pôr a própria de serviço é para a coordenação o que o programa
responsabilidade a salvo detrás de um papel, de de trabalho é para o planejamento — ou seja, um
uma ordem, de uma circular; se ninguém pensa signo característico e um instrumento essencial.
no interêsse geral; se a iniciativa e a abnega­
A coordenação do trabalho é a prova de fogo
ção primam pela ausência — o quadro traduz
do dirigente geral. Assim como, nas grandes or­
uma evidente incoordenação. _
questras, as sinfonias arrebatadbras dependem
A coordenação efetiva, ensina Fayol, exige uma mais da batuta do regente do que da habilidade
direção esclarecida, experimentada e dinâmica, pessoal dos músicos, assim também, numa grande
ponto de vista inteiramente partilhado por Gulick. emprêsa, num grande ministério, a eficiência, a
“A coordenação — diz êste — não é algo que harmonia e a realização dos objetivos dependem
aconteça por acaso. Cumpre conquistá-la por vitalmente da capacidade coordenadora do chefe
meio de esforços inteligentes, vigorosos, tenazes e geral.
organizados” (19 ) . Fayol tem na mais alta conta
Na orquestra, a incompetência do regente tra-
a coordenação dos esforços por contatos diretos,
duz-se em dissonância. Na emprêsa, a incapaci­
pelo que preconiza, sem restrições, que os chefes
dade do diretor traduz-se em desperdício, resistên­
de serviços sejam reunidos semanalmente, com o
cia passiva, ineficiência, desordem.
fim de cada um expor perante os demais as difi­
culdades com que se vê a braços e sugerir, ou
indicar, ou pedir a ajuda de que necessita, bem
V I. O “ CONTRÔLE” N A TEORIA
como as soluções que lhe parecerem acertadas. O
A D M IN ISTR A TIV A DE FA YO L
dirigente geral colhe as impressões ou opiniões de
todos sôbre os assuntos tratados. Com isão se evita
Cesar C an tan h ede
que as decisões tomadas, no momento ou mais
tarde, venham surpreender os responsáveis pelos O N TRO LAR é cuidar que tudo se passe de
serviços da emprêsa.
Graças a essas reuniões, “o diretor pode exa­
minar cada questão com uma amplitude, uma
C conformidade com as regras estabelecidas
e as ordens dadas.
Controlar é verificar se os trabalhos se. proces­
precisão e uma rapidez q,ue não seriam possíveis sam como fôra previsto e fixado, se há obediência
a um programa prévio, e, ainda, verificar se o

(1 8 ) F a y o l , idem, p g . 156.
(1 9 ) G u l i c k , o p. cit., loc. cit. (2 0 ) F a y o l, op. cit., pg. 158.
HENRI FAYOL E A CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO 21
conjunto produtor trabalha em perfeita harmonia, dade e preço; que os inventários são feitos e
e se nêle há inteira ligação entre todos os seus que os compromissos são saldados.
elementos, de modo que se possa ter certeza que É necessário observar, na função técnica, a mar­
uma ordem emanada de uma autoridade compe­ cha das operações, seus resultados, suas desigual­
tente seja sempre fiel e cuidadosamente cumprida. dades, o estado de conservação dos materiais, o
Com efeito, não basta dar ordens; é necessá­ funcionamento do pessoal e dos equipamentos.
rio verificar se elas podem ser cumpridas, e se Sob o ponto de vista financeiro, deve-se reali­
são cumpridas com solicitude, com inteligência e zar o controle sôbre os registros e sôbre a caixa,
dedicação, pois que ordens exeqüíveis em que io- sôbre os recursos e sôbre as necessidades, e, tam­
ram previstas tôdas as possibilidades de execução bém, sôbre o emprêgo dos fundos.
são ordens que se devem cumprir com entusiasmo.
Deve-se cuidar, ainda, que os meios adotados
E isso é administrar. para proteger os bens, cousas e pessoas estejam
A execução do trabalho, de acôrdo com as em bom estado de funcionamento, conforme es­
ordens emanadas, é a contra-partida indispensável tabelecem os princípios da função de segurança.
da previsão e da preparação do mesmo trabalho.
Por último, sob o ponto de vista da contabi­
T odo o tempo tomado pela reflexão e pela pre­ lidade, é mister verificar se os documentos neces­
paração seria perdido se fôssemos, no decorrer dos sários são preparados e recebidos com rapidez e
trabalhos, encarar repentinamente novas maneiras oportunidade, se dão uma clara visão da situação,
de proceder ou novos processos de realização.
se o controle encontra, nos livros, nas estatísticas
O trabalho deve ser executado tal como tenha e nos gráficos, bons elementos de verificação.
sido previsto e planejado; modificações ocasio­
Em todos êsses setores deve o controle pesqui­
nais ou fortuitas podem ser gravemente prejudi­
sar ainda se há atividade ou parcelas de ativida-
ciais.
, des inúteis ou antagônicas, para eliminá-las ou re-
O controle, diz Fayol, tem por finalidade assi­ duzí-las.
nalar os erros e as faltas, a fim de que se possa
repará-los e evitar a sua repetição.
Controle é pois vigilância
Evitar-se-á, assim, o desperdício em todos os
seus aspectos : desperdício de energia, desperdício É vigilância que garante a segurança, a tran­
de matéria e (mais importante por invisível e irre­ qüilidade, o equilíbrio e a produtividade de um
cuperável) o desperdício de.tem po. Aplica-se a conjunto cuja finalidade é trabalhar e, portanto,
tudo : às cousas, às pessoas e aos a,tos. produzir.

Fiel à sua orientação de distinguir em tôda O trabalho do chefe seria incompleto se unica­
atividade econômica seis grupos distintos de ati­ mente consistisse na “mise en marche” dos agentes
vidades ou operações, Fayol especifica mais o da execução; o controle tem por fim impelir cada
papel do controle, mostrando o que dêle se espera um a cumprir o seu dever.
em relação a cada uma de suas seis funções. A existência de um controle tem fôrça cata­
lítica.
Assim é que :
Para ser eficaz deve êle ser realizado em tempo
Sob o ponto de vista administrativo, é mister útil e oportuno e ser seguido de sanções, quando
assegurar, diz êle, que existe um programa, que necessário.
êste é aplicado e mantido em atualização; que
O controle inoportuno e tardio só tem um cará­
o organismo social é perfeito; que os quadros do
ter docum ental; o controle que não faculta en­
pessoal são respeitados; que o comando se exerce
de acôrdo com os princípios estabelecidos, e que sinamentos, que as verificações possam comportar
ou indicar, é inútil.
a coordenação é mantida através a realização das
conferências dos chefes. Um bom controle é indubitàvelmente um pre­
cioso auxiliar da direção.
Sob o ponto de vista comercial, é mister asse­
gurar que os materiais movimentados (produtos Há entretanto um grande perigo a evitar : é
ou artigos) são verificados em qualidade, quanti­ a tendência do controle a se sobrepor à direção
22 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
e à execução dos serviços, imiscuindo-se constan­ — Buenos Aires, E ditorial argentina de finanzas y admi-
nistración, 1942, 184 p .
temente nos mesmos, na eterna ânsia do meio que­ Existe tam bém em tradução inglêsa, por J . A . Cou-
rendo transformar-se em fim, do instrumento al­ borough, e em tradução alemã, publicadas pelo Insti­
tuto Internacional de Adm inistração de Bruxelas, em
mejando ser o principal.
1925.
Essa usurpação de funções constitui a dualida­ C on iéren ces iaites à 1’É co le Supérieure d e G u erre.
de de direção em seu aspecto mais tem ível: de La doctrine adm inistrative d e 1’É tat — Bruxelas, 1923.

um lado, um controle irresponsável, mas provido — Transláted from French b y Sarah G reer. ( The admi­
nistrative th eory in th e state. In G u l i c k , L u t h e r and
do poder de opor obstáculos, a outras funções U r w i c k : Papers on th e S cien ce o í Adm inistration, N ew
(muitas vêzes com grande amplitude); e, de outro Y ork, Institute of P u b lic Adm inistration, 1937,
99-114 p . )
o serviço executivo, que só dispõe de débeis meios
É tudes sur 1’alteration da la com bu stion spontanée d e li!
de defesa contra um contrôls mal orientado. houille exp osée à l’a ir. B ulletin de la Société de l’ In-

A tendência do controle a essa usurpação (não dustrie M inérale, 1878, 260 p.


É tu des sur le terrain houiller d e C om m en try; th éorie des
sou eu quem o diz, mas sim a autoridade incon-
deltas. B ulletin de la Société d e 1’ Industrie M inérale,
teste de F ayol) é bastante freqüente, sobretudo 1887, 545 p .
em grandes empresas, e pode ocasionar as mais L ’ incapacité industrielle d e 1’É ta t : les P .T .T ., Paris, D u ­
nod, 1921, 118 p .
graves conseqüências.
Uindustrialisation d e V É ta t. B ulletin de la S ociété de
Para combatê-la, é ncessário definir, primeiro, 1’ Industrie M inérale, 1919.

de uma maneira tão precisa quanto possível, as N o te sur les m ou vem en ts d e terrains provoqu és pou r 1’ ex -
ploitation d es m ines. Bulletin de la S ociété de l ’ Indus-
atribuições do controle, indicando exatamente os trie M inérale, 1885, 71 p .
limites que não devam ser u l t r a p a s s a d o s é mis­ N ote sur les publications Iaites par le C en tre d’É tu d es Ad-
ter, depois, que a autoridade superior vigie o uso m inistr atives.

que o controle faz de seus poderes. La réíorm e administrative des P .T .T .

É preciso controlar o controle.


N O T A B IO G R Á F IC A
E isso também é administrar.
H enry F ayol nasceu em Constantinopla, em 29 de julho
O controle não existe por si, nem é indepen­ de 1841 e morreu em Paris, em 19 de novem bro de 1925.
dente dos outros quatro elementos administrati­ Form ado, em 1860, pela E scola N acional de M inas de
Saint-Etienne, ascendeu rapidam ente aos mais altos postos
vos de F a y ol; com o independentes não são êstes, de direção nas empresas de indústria mineira. Desem penhou
nem podem ser isoladamente considerados. im portantes funções — administrador delegado da S ocie­
dade de M inas de Joudreville, presidente d a Com issão D i­
Administrar é o conjunto, e bem administrar é retora da Sociedade M etalúrgica de Pont-à-V endin, m em bro
o conjunto equilibrado dessas atribuições cujos da Com issão Central de H ulha da França, m em bro da C o­
missão de A perfeiçoam ento do Conservatório N acional de
conceitos exatos Fayol tão bem caracterizou, e os Artes e O fícios e m em bro da Junta C onsultiva de Estradas
meus antecessores na tribuna tão judiciosamente de F erro.

traduziram em palavras claras, simples e compre­ E m bora extrem am ente sobrecarregado de trabalho, ded i­
cou a mais carinhosa atenção a todos os problem as especí­
ensivas. ficos da adm inistração pública e particular e chegou m esm o
a criar uma doutrina que definiu assim : “ Pode-se dizer que
Se o controle puder pois preencher, com segu­
até agora o em pirism o reinou na administração d e negócios.
rança e fidelidade, a sua missão em relação a atos Cada ch efe governa à sua maneira, sem desejar saber se
e esforços harmonizados e ligados por uma hábil há leis que regem o assunto. A ausência de doutrina fa v o­
rece o livre curso de tôdas as fantasias. Precisa-se esta­
coordenação do pessoal pôsto a trabalhar pelas belecer um m étodo experim en tal. . . isto é, observar, reco­
ordens de um comando capaz, dentro de uma lher, classificar e interpretar os dados. Instituir experiên­
cia s. D edu zir regras” . D epois d e m uitos anos de observa­
organização eficiente, material e pessoal, fixada e
ção direta, tundou o Centro de Estudos Adm inistrativos,
orientada de acôrdo com um planejamento inteli­ com o fim de difundir as suas idéias, que não r,ó foram
gente, estareis, senhoras e senhores, diante de uma adotadas pelas mais im portantes sociedades, mas tam bém
pela adm inistração pú blica de vários países.
boa administração.
T e n d o criado uma teoria adm inistrativa — o fayolism o
— reuniu as suas observações na obra 14Adm inistration in ­
dustrielle e t gén éra le” que, conferindo-lhe a honra de um
B IB L IO G R A F IA D E H E N R I F A Y O L dos mais valorosos pioneiros da ciência da administração,
A dm inistration industrielle e t générale — Paris, Dunod, trouxe até nós a sua experiência, as suas sugestões e o
1931, 174 p . seu idealism o.
A LOCALIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE DO BRASIL 23

A localização da Universidade do Brasil


L u iz H i l d e b r a n d o H o r t a B a r b o s a
C h efe do E scritório T écn ico da Cidade
Universitária

GR AVE problema atribuído ao D . A . S . P . Ao engenheiro E. de Morais Vieira coube apre­

0 pelo Decreto-lei n.° 7.217, de 30-12-1944, que ciar, sob êsse aspecto, a Praia Vermelha, Quinta da
criou, junto à Divisão de Edifícios Públicos, o Es­ Boa Vista, Leblon e Gávea. Êsses quatro locais fo­
critório Técnico da Cidade Universitária da Uni­ ram novamente estudados pelo arquiteto italiano
versidade do Brasil, vem de ter o seu primeiro e Mareei Piacentini, que abordou ainda mais a área
decisivo desfecho mediante o Decreto-lei n.° 7.563,
de Manguinhos. Trabalhos minuciosos foram poste­
de 21 de maio findo.
riormente procedidos relativamente aos terrenos da
Trata-se do longamente debatido problema da Praia Vermelha e Quinta da Boa Vista pelos en­
localização da Universidade, cuja complexidade e genheiros José Otacílio Sabóia Ribeiro e E. M o­
dificuldades múltiplas explicam as discordâncias e
rais Vieira. .
vacilações por que tem passado.
Em abril de 1941, o engenheiro Paulo de Assis
Os velhos, insuficientes e inadequados edifí­
Ribeiro efetuou detalhados estudos comparativos
cios esparsos por todos os cantos da cidade, onde
de oito soluções então consideradas aceitáveis: Val-
se; acotovelam alunos e professores, faltos de espa­
queire, Manguinhos, Gávea, Niterói, Ilha do G o­
ço e de ambiente universitário, terão, forçosamen­
vernador, Praia Vermelha, Castelo e Petrópolis.
te, de ser reconstruídos ou substituídos.
O trabalho baseou-se em normas traçadas dentro
Esta circunstância justifica um plano a longo
prazo para a gradativa construção, num mesmo lo­ de critérios de máximo rigor e imparcialidade, pos­
cal, de todos êsses novos edifícios. Assim, reuni­ síveis em assunto de tanta complexidade. Para que
das Escolas, Faculdades e Institutos de ensino e se possa avaliar essa complexidade será bastante
pesquisa, será possível a formação e implantação do transcrever as referidas normas :
espírito Universitário que só a convivência diuturna
de seus elementos pode proporcionar,
A ) FATORES DE ORDEM PO LÍTICA E SOCIAL
2 — Como premissa, aceitou-se a conclusão de
estudos anteriores, segundo os quais a Universidade 1 . 1 . 0 — Facilidade para obter a área
do Brasil deverá ser urbana e abranger, num mes­
1 . 1. 1 — Desapropriações e grandes edificações.
mo “campus” , tôdas as suas organizações de edu­
1 . 1 . 2 — Atividades locais nas áreas.
cação, cultura, pesquisa, administração e serviços
auxiliares, além de museus e jardins ou hortos flo­ 1 •1 •3 — Desembolso imediato para posse.
restais e o jardim zoológico, extensão do biotério.
Êstes, conquanto não possam ser considerados in­ 1 . 2 . 0 — Acessibilidade

dispensáveis, constituirão elementos capazes de va­ 1.2.1 Tem po de distância de viagem.


lorizar muito o terreno que os tornar possíveis.
1 - 2 . 2 — Proximidade para atividades religiosas
Acurados e repetidos estudos foram procedidos e sociais dos estudantes.
por vários de nossos melhores engenheiros e ar­
1 - 2 . 3 — Proximidade dos centros de abasteci­
quitetos, bem como por técnicos estrangeiros, rela­
tivamente à melhor localização para sede da Uni­ mento .

versidade . 1 - 2 . 4 — Proximidade dos centros de recreação.

»r
24 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
1 . 3 . 0 — Custo da condução C) FATORES DE ORDEM TÉCNICA

1 . 3 . 1 — Condução coletiva. 3 . 1 . 0 — Circunvizinhança

1 . 3 . 2 — Condução individual. 3 . 1 . 1 — Ausência de barulhos, mau cheiro, poei­


ras, etc. •
1 . 3 . 3 — Ausência de causas perturbadoras no
3 . 1 . 2 — Ausência de focos de propagação de
tráfego e nas vias de acesso.
moléstias.
3 . 1 . 3 — Ausência de causas que desviem indivi­
1 . 4 . 0 — Integração ao meio
dual ou coletivamente os estudantes em
1 . 4 . 1 — Utilização dos resultados científicos, cul­ manifestações prejudiciais.

turais e artísticos pelo meio. 3 . 2 . 0 — Condições do clima


1 . 4 . 2 — Utilização dos resultados educativos pelo
3 . 2 . 1 — Insolação.
m eio.
3 . 2 . 2 — Ventilação.

1 . 5 . 0 — Ambiente universitário 3 . 3 . 3 — Umidade.

3 . 3 . 0 — Área, forma e relêvo topográfico


1 . 5 . 1 — Isolamento nítido das atividades cir-
cunvizinhas. 3 . 3 . 1 — Área total.

1 . 5 . 2 — Distribuição harmônica dos edifícios e 3 . 3 . 2 — Forma para distribuição do plano geral.

parques. 3 . 3 . 3 — Relêvo conveniente à situação dos edi­


fícios .
3 . 3 . 4 — Relêvo conveniente à urbanização e
B ) FATORES DE ORDEM ECONÔMICA
drenagem.
2 . 1 . 0 — Custo dos terrenos e das obras com- 3 . 4 . 0 — Condições favoráveis ao ensino profis­
plementares sional e superior
2 . 1 . 1 — Custo da área bruta. 3 . 4 . 1 — Facilidade para localização de ambula­
2 . 1 . 2 — Custo das obras complementares. tório e hospital.

2 . 1 . 3 — Dificuldades para execução das vias e 3 . 4 . 2 — Facilidade para localização de observa­


tório .
urbanização geral.
3 . 4 . 3 — Facilidade para localização de labora­
tórios dos institutos técnicos e oficinas.
2 . 2 . 0 — Custo das construções

3 . 5 .0 — Condições favoráveis ao ensino científico,


2 . 2 . 1 — Facilidade de material no local.
artístico, cultural
2 . 2 . 2 — Facilidade de grandes instalações no
3 . 5 . 1 — Formação de horto botânico.
loca l.
3 . 5 . 2 — Formação de um jardim zoológico.
2 . 2 . 3 — Facilidade de transportes para as obras.
. 3 . 5 . 3 — Museus.
2 . 2 . 4 — Condições dos terrenos para as funda­
3 . 6 . 0 — Condições favoráveis à educação física
ções.
e esportiva
2 . 2 . 5 — Facilidade para a mão de obra no local.
3 . 6 . 1 — Esportes terrestres.

2 . 3 . 0 — Custo das utilidades 3 . 6 . 2 — Esportes aquáticos. ■


3 . 6 . 3 — Esportes aéreos.
2 . 3 . 1 — Rêdes de água.
Em novembro de 1942, em longo parecer, o en­
2 . 3 . 2 — Rêdes de esgotos.
genheiro Hildebrando de Araújo Góis manifestou-
2 . 3 . 3 — Rêdes de fôrça, luz, gás e telefone. se favoravelmente à localização da Universidade
A LOCALIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE DO BRASIL 25
em Manguinhos, concluindo, porém, por motivos sapropriações, demolições de benfeitorias, sanea­
então procedentes em face da guerra, pela impos­ mento, valorização do patrimônio, etc., obtiveram-
sibilidade de uma imediata construção naquela se resultados tão favoráveis à solução em causa,
área. Dessa circunstância, já agora insubsistente, que foi possível apresentá-la imediatamente à con­
resultou a escolha dos terrenos da Vila Valqueire. sideração final do Exmo. Senhor Presidente da
República.
3 — O D . A . S . P . , retomando, por fôrça do en­
cargo recebido, o exame do assunto, estudou novas No entanto, prèviamente, foram ouvidos os pa-
áreas disponíveis no Distrito Federal, tais como as receres de técnicos como os engenheiros Hildebran-
de uma grande gleba de nome “Boa Esperança” do de Araújo Góis, Diretor do Departamento Na­
próxima às estações de Deodoro e Honório Gurgel, cional de Obras de Saneamento e do Departamento
anteriormente oferecida ao Ministério da Educa­ Nacional de Portos, Rios e Canais ; José de Oli­
ção, e as de um lote que poderia ser destacado das veira Reis, Chefe da Comissão do Plano da Ci-
vastas áreas da Ilha do Governador, pertencentes dane; Édison Passos, Secretário Geral de Viação
ao Ministério da Aeronáutica. e Obras da Prefeitura do Distrito Federal; Ge­
Foi no decorrer de um entendimento preliminar neral Enrique A . Futuro, Diretor da Diretoria de
com o engenheiro Alberto de M elo Flores, Diretor Engenharia do Ministério da Guerra; Alberto de
de Obras do aludido Ministério da Aeronáutica, M elo Flôres, Diretor de Obras do Ministério da
que lembrou aquêle engenheiro o aproveitamento Aeronáutica; Coronel Oscar Mascarenhas, D i­
das ilhas situadas entre a Ponta do Caju e a Ilha retor do Asilo dos Inválidos da Pátria; Co­
do Governador, em frente a Manguinhos. ronel Luiz Felipe de Albuquerque, Chefe da Co­
Conduzidos os estudos naquele sentido, verificou missão de Tombamento do Ministério da Guerra;
o D . A . S . P . , pelo seu órgão técnico, a felicidade Dr. Raul Leitão da Cunha, Reitor da Universidade
da indicação em face da maioria das características do Brasil; Dr. Fróis da Fonseca, Diretor da Es­
essenciais que deverá possuir o local destinado à cola Nacional de M edicina; Dr. J. Carneiro Feli­
futura Universidade. pe, Diretor da Comissão Censitária Nacional e
Assim é que, procedida a comparação de áreas, D. Ana Amélia Carneiro de Mendonça, Presidente
distâncias, acessibilidade, custo de aquisição, des­ da Casa do Estudante; além disso, muitos profes­
pesas de preparo do terreno e as de construção dos sores, bem como urbanistas, arquitetos e engenhei­
meios de acesso, bem como analisados os empeci­ ros, afora os enumerados, tiveram ocasião de se
lhos de ordem social, quais os decorrentes das de­ pronunciar a respeito.

PONTE ENTRE 0 CONTINENTE EA PONTA DO GALEAO


TRECHO.-CONTINENTE FUNDÃO ~ 3 VÃOS
variante prevenqo a con stru ção d a cidade u n iv e r s itá r ia
~ ESC. ) 2 0 0

Lance da P on te da Ilha do G overnador, en tre o con tinen te e a Ilha do Fundão, com 3 vãos, 78 m etros de extensão
e 20 m etros d e largura
26 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
Também, depois de exposição verbal, manifes­ I — Quadro comparativo das áreas
taram-se favoràvelmente à solução encontrada : o 1 — Ilhas — l.a fase .............................. 3 .7 2 0 .0 0 0 ^ 2
Sr. General Eurico Gaspar Dutra, Ministro da 2 — Ilhas — 2.a fase .............................. 4 .9 3 0 .0 00 ^ 2

Guerra; Dr. A . P . Salgado Filho, Ministro da 3 — V ila Valqueire ................................... 2 .9 8 0 .0 0 0 m2


4 — Quinta da B oa Vista ..................... 2 . 3 0 9 . 0 0 0 m2
Aeronáutica; Dr. Henrique Dodsworth, Prefeito do
5 — Gávea — Jóquei — Jardim B o ­
Distrito F ederal; e Dr. Gustavo Capanema, Minis­
tânico ...................................................... 3 . 0 2 0 . 000m2
tro da Educação. 6 — M anguinhos ......................................... 3 .5 0 0 .0 0 0 m2
7 — Praia Verm elha ................................... 1 .4 6 5 .0 0 0 m2
A opinião dos estudantes foi igualmente consul­
8 — L eblon ................................................... 1 .2 0 8 .000^2
tada, através do Diretório Central de Estudantes
9 — B oa Esperança ................................... 3 .3 4 0 .0 0 0 ™ 2
da Universidade do Brasil, perante o qual foram ex­ 10 — Nitterói .................................................... 4 .0 0 0 .0 0 0 m2
postos todos os elementos técnicos que justificam 11 — Governador (M arinha e G uerra) 1 .3 0 0 .0 0 0 m2
a escolha feita. Debatido o assunto, os esclareci­ 12 — Governador (A eronáutica) ............ 3 .4 5 0 .0 0 0 m2
mentos fornecidos deram lugar a um telegrama da­ Nos Estados Unidos, se, de um lado, existem
quele órgão estudantil ao Exmo. Sr. Presidente da Universidades que dispõem de 40 ou mais milhões
República, apoiando o plano estudado. de metros quadrados, como a de South, também,
4 — Como elemento subsidiário de apreciação, de outro lado, encontram-se muitas, como as de
além dos que constam da exposição de motivos que Idaho, Columbia, Washington, Maryland, que con­
encaminhou o decreto-lei, transcreveremos os se­ tam apenas com 1 a 3 milhões. A Universidade de
guintes quadros comparativos de áreas e dos nú- Madrid, uma das mais modernas da Europa, mede
meros-índices obtidos pelas diversas localizações, 3 . 60 0. 0 00 metros quadrados, e a de Roma, unica­
cujos estudos foram refeitos e atualizados de con­ mente 400.000 metros quadrados.
formidade com o critério estabelecido pelo enge­ Para a Universidade de São Paulo, foram reser­
nheiro Paulo de Assis Ribeiro, em seu trabalho vados 4. 800. 0 00 metros quadrados, parte dos
anteriormente citado. quais muito acidentada.

II — Quadro dos números-índices

FATO RES DE ORDEM FATO RES DE ÒRDEM FATO RES DE ORDEM


P O L ÍT IC A E SO CIAL EC O N O M IC A T É C N IC A T O T A L DE
PONTOS EM UM
L O C A L ID A D E S OBSERVAÇÕES
M Á XIM O DE
N ° de pontos em N° de pontos em N° de pontos em 3.000
um máximo de 1.000 um máximo de 1.000 um máximo de 1.000

I l h a s . ............................................................ 816 821 936 2.673 Incluindo atêrro, sanea­


M anguinhos................................................. 812 853 882 2.547 mento, duas pontes e duas
Governador (Aeronáutica)...................... 778 778 925 2.491 linhas de bondes.
Boa Esperança............................................ 526 891 805 2.222
Governador (Guerra e M arinha).......... 662 704 851 2.217
Fazenda Valqueire..................................... 492 782 778 2.052
N iterói........................................................... 501 776 730 2.007
Quinta da Boa Vista................................ 634 588 774 1.996
Praia Vermelha — C astelo....................... 799 524 544 1.867
Gávea (Vis. Albuq. M . S. V ic e n te )... 571 503 764 1.838
Vila Valqueire............................................. 328 662 778 1.768 — Incluindo linha da E.
Castelo.......................................................... 693 493 510 1.696 F. C. B. c terraplenagem

♦ # ♦ Art. 1.° Ficam reservadas, para a construção da Ci-


d ?d e Universitária da Universidade do Brasil, as seguintes
Passamos a transcrever o texto do decreto-lei
áreas :
que dispõe sôbre a localização da Cidade Univer­
I — Ilha de B om Jesus, excluída a área de cêrca de
sitária, bem como a exposição de motivos com que
1 2 0 .0 0 0 m2, na extrem idade nordeste, destinada ao A silo de
a D . A . S . P . encaminhou ao Chefe do Govêrno o
Inválidos da Pátria e que perm anecerá sob a jurisdição do
respectivo projeto :
M inistério da Guerra.

D E C R E T O -L E I N .° 7 .5 6 3 — de 21 de m a io de 1945 II — Ilha do Pin h eiro.


D isp õ e sôbre a localização da Cidade Universitária da Uni­ III — Ilhas Pindaí do Ferreira e Pindaí do França.
versidade do Brasil e dá outras providências
IV — Ilha de Sapucaia, inclusive a parte atualmente do
O Presidente da R epú blica, usando da atribuição que dom ínio da Prefeitura do D istrito Federal e que passa para
lhe confere o art. 180 da Constituição, decreta : o da União, obrigando-se esta a estabelecer, na Cidade
A LOCALIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE DO BRASIL 27
Universitária, uma área de logradouros públicos igual ou D epartam ento ocasião de apresentar uma rápida síntese
superior à transferida. dos trabalhos que, até àquela época, levara a e feito o
M inistério da E ducação e Saúde, tendo em vista o plan eja­
V — T ô d a a parte da Ilha d o Fundão que não inte­
m ento e a construção da Cidade Universitária da U n iver­
ressar ao M inistério da Aeronáutica.
sidade do B rasil.
V I — Os acrescidos de marinha que para êsse fim fo ­
2. D entre os problem as que, nesse período, mais
rem feitos entre ou em tôrno das ilhas mencionadas.
particularm ente preocuparam os técnicos incum bidos do
Parágrafo ú n ico. T en d o em vista o disposto no inciso assunto, sobre'.evou-se o da localização, em cu jo exam e fo ­
V dêste artigo, o ônus da desapropriação da parte alodial ram praticam ente estudadas tôdas as áreas continentais dis­
da Ilha do Fundão transferida do M inistério da Aeronáuti­ poníveis na Capital Federal, e, até m esm o, algumas áreas
ca para a Cidade Universitária, passará a correr à conta insulares e outras na vizinha cidade de N iterói.
das dotações a esta últim a destinadas.
3. A solução, finalm ente adotada, baseou-se em um
Art. 2.° F icam sem efeito todos os atos decorrentes da parecer do engenheiro H ildebrando de Araújo G óis, dire­
localização da Cidade Universitária na V ila Valqueire, assim tor d o D epartam ento N acional de Obras de Saneamento,
com o revogado o D ecreto-lei n.° 6 .5 7 4 , de 8 de junho de em itido em 20 de novem bro de 1942, em virtude do qual
1944, exceto n o que diz respeito ao parágrafo único de optou o Sr. M inistro da E ducação p or um terreno situado
seu art. 1 .° . na V ila Valqueire, à m argem da rodovia R io -S . Paulo e
Art. 3.° Os im óveis a que se referem os artigos 17 e próxim o ao C am po dos Afonsos.
20 da L ei n.° 452, de 5 de ju lh o de 1937, continuarão a ser 4. Entretanto, o parecer aludido, con form e se de­
alienados em ben eficio da Cidade Universitária, de acôrdo preende de seus trechos principais, é francam ente favorável
com o disposto nos parágrafos dêste artigo. à região de M anguinhos, só se m anifestando, nas con clu ­
§ 1.° O Serviço de Patrim ônio da União providencia­ sões pela V ila Valqueire, em razão das dificuldades opostas
rá a alienação dos citados im óveis, recolhendo as quantias pela guerra à obtenção da maquinaria indispensável ao sa­
obtidas, im ediatam ente, a uma conta especial aberta no neam ento daquela área.
B anco do Brasil, sob a rubrica “ Recursos da Cidade U ni­ 5. O decurso de já dois anos e m eio e a evolução fa­
versitária” , conta cuja m ovim entação som ente poderá ser vorável da conflagração mundial, cu jo térm ino, na Europa,
feita para os fins especificados no § 3.° dêste artigo. está iminente, abriu m elhores perspectivas, quer para a
§ 2 .° À m edida que o planejam ento e a execução da im portação da maquinaria em aprêço, quer para o aprovei­
Cidade Universitária forem exigindo novos recursos m one­ tam ento da existente no país, mas até agora absorvida no es­
tários, serão abertos créditos especiais em ben efício da refe­ forço de guerra.
rida obra, os quais serão depositados na conta aberta no 6 . Alteradas, dêste m odo, as condições dentro das
B anco do Brasil, em nom e d o C h efe do Escritorio T écn ico quais fôra elaborado o parecer em que se apoiara a decisão
da U niversidade d o Brasil, por fôrça do art. 6 .° do D ecreto- vigente, voltam à baila os argumentos expendidos pelo c i­
lei n.° 7 .2 1 7 , de 30 de dezem bro de 1944. tado técnico, cuja análise im parcial leva à con vicção de
8 3 .° Sim ultaneam ente com o que estatui o parágrafo que, dentre as regiões até então cogitadas para a localiza­
anterior, e em cada lei que determinar a abertura de um ção da Cidade Universitária, a mais adequada era a de
crédito especial em favor da Cidade Universitária, será de­ M anguinhos.
term inado o recolhim ento de igual im portância ao Tesouro 7. Aliás, outrcs engenheiros que tam bém estudaram
Nacional, com o receita extraordinária, e que será debitada o problem a, com o os Drs. Carneiro F elipe e Paulo de Assis
ao saldo da conta “ Recursos da Cidade Universitária” . Ribeiro, êste últim o em trabalho bastante m inucioso, haviam
Art. 4 .° O presente D ecreto-lei entrará em vigor na chegado a idêntica conclusão, recentem ente confirm ada
data de sua pu blicação. p elo Escritório T écn ico subordinado à D ivisão d e E difícios
Art. 5.° R evogam -se as disposições em contrário. Públicos dêste D epartam ento, logo ao prim eiro reexame
que procedeu da m atéria.
R io de Janeiro, 21 de m aio de 1945, 124.° da Indepen­
8 . T odavia, a par das m últiplas vantagens da área
dência e 57.° da R ep ú b lica .
de Manguinhos, cum pre sublinhar alguns inconvenientes
G e t u l io V argas. que lhe pod em ser atribuídos :

G ustavo Capanema.
A gam em non M agalhães. PRODUÇÃO DE a ) o terreno utilizável consiste em acrescido 3
E uríco G . Dutra. TERRENOS de marinha, resultantes de atêrro feito sôbre espessa
A . d e Souza Costa. PUBLICOS camada de lodo, circunstância que acarretaria notável
encarecim ento das fundações, para os num erosos edi­
Joaquim P edro Salgado Filho.ATRAVÉS DE
fícios que deverão integrar a C idade U n iversitária;
ATERROS
( D . O . de 2 3 -V -9 4 5 ). b) grande parte dessa região ainda está por
aterrar e tôda ela por sa n ea r;
E X P O S IÇ Ã O D E M O T IV O S c) a localização da U niversidade nessa faixa
litorânea, cortada ou próxim a das vias mestras de p e ­
N.o 936 __ E m 14 de m aio de 1945 — Excelentíssi­ netração, viria im pedir a expansão da zona industrial
m o Senhor Presidente da R epú b lica — E m exposição de da m etrópole, que, para aí, naturalmente tende a se
m otivos n .° 2 .9 7 9 , de 17 de outubro de 1944, teve êste propagar.

INSERÇÃO NO PLANO DA CIDADE


28
REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N .
1945

Mapa demonstrativo das distâncias entre os principais locais estudados pára a Cidade Universitária e o centro de gravidade da população
universitária, que, de acordo com os dados do Censo cfe 1940, fica situado proximo a praça da Bandeira
A LOCALIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE DO BRASIL 29
9. Estavam sendo examinados os num erosos e com ­ Censo de 1940, coloca êste p on to nas proxim idades
plexos aspectos dêsse problem a, no Escritório T écn ico cria­ da Praça da Bandeira, o que indica, não apenas que,
do neste D epartam ento, quando o prcpósito de construção dêsse p on to de vista, som ente as áreas do con ju nto
im ediata, p e lo M inistério da Aeronáutica, da ponte da ilha D erb y Clube-Quinta da B oa Vista e de M anguinhos
do G overnador, com um lance inicial entre o continente e estão m elhor situadas, mas, outrossim, que o aparen­
a i!ha do Fundão, v eio trazer possibilidades de nova soluçã- tem ente longo afastam ento da zona sul não tem m aior
sign ificação.
10. D e fato, a reunião à ilha do Fundão, mediante
fáceis aterros (A n e x o I ) , das ilhas do B om Jesus, Pindaí do 12. Enfim , uma série de circunstâncias adicionais
França, Pindaí do Ferreira, Sapucaia e Pinheiros, tôdas, vem consolidar os argumentos em prol da adoção da solu­
salvo a parte alodial da primeira, pertencentes a poderes ção ora focalizada :
públicos, proporcionaria uma área mais que suficiente para
a Cidade Universitária, ou sejam 3 .7 2 0 .0 0 0 m2, sem os a) se, futuramente, surgir a necessidade de am pliar
inconvenientes citados para Manguinhos, pois : a área da Cidade Universitária, será fácil anexar, m ediante
atêrro, as ilhas circunvizinhas de Baiacú, Cabras e Catalão,
a) as ilhas consideradas são, em geral, de ter­ resultando então, área superior a 5 .0 0 0 .0 0 0 de m etros
reno firm e, exceto um largo trecho de atêrro em Sa­ quadrados, com a constituição de uma esplêndida enseada
pucaia, favorável ao futuro estabelecim ento de um (A n exo I V ) ;
parque, de form a que a grande maioria dos edifícios
b) a execução dos trabalhos poderá sempre ser feita
ficaria situada em locais de ótimas fu n d a ções;
de maneira progressiva, de acôrdo com a necessidade de
b) os aterros a executar quase não atrasariam os utilização das diferentes áreas insulares e a crescid as;
trabalhos, porquanto, excluídos os estritamente indis­
c) apesar das proxim idades de vias de acesso im ­
pensáveis à circulação entre as ilhas, os demais nao
portantes, a C idade Universitária ficará em relativo isola­
teriam qualquer influência na marcha das construções;
m ento ;
c) tôda a área continental de Manguinhos,
d) um hospital de clínicas, situado na ilha do Fundão,
bem com o seus futuros acrescidos, ficariam livres para
terá satisfeita a condição de provável variedade de casos
a expansão da zona industrial.
típicos, devido à vasta clientela para seus am bulatórios e
11. Quanto ao acesso, há as seguintes observações clínicas, proveniente dos bairros de Olaria, Bonsucesso, R a ­
favoráveis a fazer : m os e G overnador, b em com o, uma vêz feita a segunda
parte, dos de Caju e São C ris tó v ã o ;
a) a ligação do conjunto de ilhas ao continente
e) a C idade Universitária gozaria dos benefícios da
seria feita inicialm ente pelo lance da Pen te da ilha do
G overnador, entre a linha costeira, em frente à A v e ­ ribeirinidade da baía de Guanabara, o que não sucede com
Vila Valqueire, nem com quase tôdas as soluções cogitadas,
nida Brasil, e a ilha do Fundão, o qual, para isso, de­
veria ter a largura ampliada de dez para vinte metros; e era inconcebível que em uma cidade com o o R io de Ja­
neiro tais benefícios fôssem esq u ecid os;
b) posteriorm ente, uma outra ponte entre a ilha
de Sapucaia e a Ponta do Cajú, conjugada com a cons­ /) a brisa, quase constante o dia todo, que sopra da
direção da barra, aproxim adam ente sudeste, e bem assim
trução do cais nesta última, conform e projeto do D e ­
partam ento N acional de Portos, R ios e Canais, e com o terral que à noite vem da direção oposta, tornam o clim a
local bastante agradável, o que é testem unhado pelos m o­
o prolongam ento da Avenida Rodrigues A lves até o
cais m encionado, segundo plano da Prefeitura do D is­ radores atuais ;
trito Federal, viria colocar a Cidade Universitária a g) as grandes áreas que pod em ser reservadas aos
poucos minutos da praça M auá e da Avenida G etulio esportes terrestres, a vizinhança do mar, a proxim idáde do
Vargas ; isso facilitaria sobremaneira o acesso das z o ­ A ero-C lube de M anguinhos e do C . P . O . R . A éreo da ilha
nas sul e centro, bem com o o dos bairros R io C om ­ do Governador, form am um conjunto ideal para a prática
prido, G rajaú, V ila Isabel, T iju ca, Caju e São Cristó­ de todos os tipos de esportes ;
vão, da zona norte, conform e pod e ser visto no Plano h) a existência de pedra, areia e saibro no loca l e a
D iretor dessa Capital (A n exo I I ) ; possibilidade de receber, por via líquida, o cim ento de
c ) quanto aos demais bairros, ainda o Plano D ire­ Guaxindiba, os vergalhões de ferro produzidos pela O rga­
tor m encionado (A n exo I I ) mostra que as possibilidades nização Lage e a Com panhia Brasileira de Usinas M etalúr­
de acesso são tam bém das mais favoráveis, ten do relêvo gicas, b em com o todos os dem ais m ateriais de m aior v o ­
especial os casos de Bonsucesso, Olaria, R am os e G o ­ lume, virão m odificar e baratear a parte fundam ental das
vernador, particularm ente próxim os, e os dos bairros construções.
servidos por avenidas que convergem para o litoral
em frente às ilhas, destacando-se a do Jacaré, que dá 13. Contudo, até o presente continua a vigorar a de­
ligação direta com R iachuelo, M eier, Engenho de D en ­ cisão do G overn o de localizar a Cidade Universitária na V ila
tro e Benfica, além de atender ao escoam ento das p o ­ Valqueire, consubstanciada no D ecreto-lei n.° 6 .5 7 4 , de 8

pulações transportadas através da Central d o Brasil e de junho de 1944.

da Leopoldina R a ilw a y ; 14. O retôm o ao problem a da localização, porém , já


d) por outro lado, o estudo d o centro de gravi­ fôra, em princípio, adm itido verbalm ente p or V . Ex.a . Esta
dade da população estudantil, feito com dados do circunstância, assim com o os argumentos que acabam de
30 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945

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A LOCALIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE DO BRASIL 31
ser expostos, quer os de ordem relativa, com referência à melhoria d o acesso decorrente da construção do ramal fe r ­
superioridade de M anguinhos sôbre a V ila V alqueire, e à do roviário, nas ilhas êsse fa to advirá não só do saneamento,
conjunto de ilhas sôbre M anguinhos, quer os de natureza atêrro e am pliação das áreas úteis, mas tam bém das liga­
absoluta, traduzidos pelas características altam ente favo­ ções, pelos lances de p on te em projeto, à ilha do G overn a­
ráveis ao conjunto citado, m ostram a conveniência de uma dor e principalm ente ao continente, com pletadas com a ex­
reconsideração da decisão anteriorm ente tom ada. tensão das linhas de carris e lé trico s ; no prim eiro caso a
valorização atingirá apenas a cêrca de dez m ilhões de cru ­
15. Aliás, reforçando os dados já expostos, é possí­
zeiros, ao passo que no segundo ela irá a perto de duzentos
vel, pela com paração direta entre a solução de Valqueire
m ilhões de cruzeiros (A n ex o V I ) ;
e a das ilhas, enum erar as seguintes ponderações que mili-
tam a favor destas últim as : é) outro pon to que con vém assinalar é o d o aprovei­
tam ento das áreas obtidas : o terreno insular, m edindo
a) à facilidade e m utiplicidade das vias de acesso 3.720.000m 2, poderá ser utilizado em sua totalidade, enquan­
que foram assinaladas quanto às aludidas ilhas, contrapõe- to que na V ila Valqueire, dos 2 .9 8 0 .0 0 0 m2, existentes,
se a única rodovia R io-S ã o Paulo, de que dispõe a Vi!a cêrca de 9 3 4 .0 0 0 m2 são excessivam ente •acidentados e de
Valqueire, situada no quilôm etro 2 da mesma, bem com o um d ifícil e m p rê g o ;
ramal da Estrada de Ferro Central do Brasil, cuja constru­
h) será ainda provável um m enor custo de constru­
ção será fo r ç o s a ;
ção no conjunto de ilhas, devido à m aior facilidade de o b ­
b) a m aior proxim idade do centro urbano facultará tenção d e materiais básicos que em V ila V alqueire, circuns­
CENTRO aos corpos discente e docente da U niversidade localizada tância que, em bora à primeira vista pareça de efeito des­
nas ilhas, exercerem atividades profissionais suplementares, prezível, deve-se tornar bastante apreciável, dado o vulto
GRAVITACIONAL
o que, à puridade, cum pre adm itir com o indispensáveis a excepcional das obras a ex ecu ta r;
UNIVERSITÁRIO
manutenção de grande parte tanto dos professores com o dos
i) p or outro lado, um hospital de clínicas nas ilhas,
alunos ;
já pelas proxim idades dos bairros operários, já pelas facili­
c) dos pontos de vista social e econôm ico, ao passo dades de acesso, deverá ter m uito m aior clientela que em
que em Valqueire riquezas serão destruídas com a dem o­ Valqueire, e, conseqüentem ente, m aior ocorrência de v a ­
lição de cêrca de 189 residências, pou co desejável em um riedades de casos típicos, sem falar na m aior soma d e b e ­
período de crise de habitação, e ainda a desapropriação de nefícios p resta d os;
mais de 837 pequenos proprietários, nas ilhas, o patrim ônio
j) tam bém a vizinhança das ilhas ao tradicional e
federal será aum entado com a am pliação da área disponível
justam ente fam oso centro cultural de M anguinhos, constitui
e o saneamento da ex isten te; esta últim a solução terá, ou-
mais uma circunstância ponderável pelos seus favoráveis
trossim, o m érito de dispensar o recurso a bens de dom í­
efeitos didáticos, incentivando a pesquisa e o culto das
nio privado, salvo quanto a benfeitorais de ocupantes d i­
tradições científicas d o B r a s il;
versos não aforados e à parte alodial da ilha d o Fundão,
/) p or fim , as con dições para a prática de esportes,
aliás já desapropriada integralm ente pelo M inistério da
que já pendem em favor do conjunto de ilhas em se tratan­
Aeronáutica, por fôrça do D ecreto n.° 1 8 .07 7 , de 15
d o de atividades aéreas, são-lhe integralm ente favoráveis
de março d e 1 9 4 5 ;
nos exercícios aquáticos, para os quais Valqueire apresenta
d) por outro lado, o in ício das obras em V ila V a l­
um índice n ulo.
queire ficará na dependência da liquidação prévia das d e­
16. Parece, portanto, não padecer dúvida a con ve­
sapropriações de mais de m il propriedades, cujos possui­
dores, desde já, m anifestam, em grande parte, a intenção niência de transferir a localização da Universidade para o

de recorrer ao judiciário, quando da apuração dos respecti­ grupo de ilhas próximas a M anguinhos e Ponta do C a ju .

vos v a lo re s ; essa dilação não se verificará nas ilhas, senão 17. Forçoso, porém , é confessar, que restam ainda
pelos poucos meses correspondentes à construção do lance dois inconvenientes na nova situação proposta para a C i­
de pon te entre o continente e Fundão e à exécução do dade Universitária :
atêrro da faixa de ligação desta ilha às d em a is;
a) o freqüente ruído de aviões, pela proxim idade da
e) do pon to de vista econ ôm ico anteriorm ente foca li­ base aérea do G aleão e a do A ero-C lu be de M anguinhos ;
zado, cabe ainda com parar a despesa inicial de aproxim ada­ essa desvantagem, entretanto, existe em m aior escala em
m ente 62 m ilhões de cruzeiros que decorrerá das desapro­ Valqueire, vizinho do C am po dos Afonsos, onde as ativida­
priações, acesso e preparo d o terreno em Valqueire, com des aéreas são mais intensas e o som direto é agravado pelo
a im portância de 56 m ilhões que será despendida na desa­ refletido na serra ; ademais, sendo o ruído mais forte na
propriação da área alodial de Fundão, em diversas outras
aceleração dos m otores durante a decolagem , o que ocorre
indenizações a ocupantes não aforados e nas obras prelim i­
na grande m aioria dos casos durante o dia, p eríodo em que
nares com preendendo o saneam ento das ilhas, atêrro de
sopra a brisa de direção próxim a do sul, fica dim inuído o
mais 9 6 2 .0 0 0 m etros quadrados, alargamento da ponte en­
volum e de som que se transm ite à C idade Universitária ;
tre o continente e Fundão, e da respectiva estrada de aces­ finalm ente, e de supor, e o futuro dirá o grau de funda­
so, construção de outra ligando a Universidade à Ponta do
m ento dessa hipótese, que o progresso da técnica dos silen­
C aju e duas linhas de carris elétricos (A n exo V ) ;
ciadores d e m otores a explosão e da construção de aviões
/) um aspecto que tam bém não pod e ser esquecido de turbina e de jato, tenda a desenvolvê-los cada vez mais,
é o da valorização do patrim ônio da União nos dois casos : generalizando o em prêgo de tipos para os quais o ruídi
enquanto que em V ila Valqueire ela resultará apenas da seja desprezível em face d o dos a tu a is;
ESQUEMA- DO PLANO DIRETOR DO O FEDERAL. UfW£RS!OAr.£ OO SOAS*. 32
REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO <— JU N .
1945

Plano Direíor da Capital Federal, salientando as principais vias de acesso à Cidade Universitária, suposta em sua face inicial
A LOCALIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE DO BRASIL 33
b) a proxim idade de corporações militares, com os ilha de B om Jesus — tal fato não traz qualquer prejuízo
perigos decorrentes das rivalidades e conflitos entre estu­ à Universidade, pois a área a ser mantida com aquela ins­
dante e p r a ç a s ; todavia, na cidade do R io de Janeiro, tituição é da ordem de 1 2 0 .0 0 0 m 2 e ficará de certa form a
dentro de condições de acesso aceitáveis, não se consegi isolada das atividades escolares pelo parque p r e v is to ; além
uma área de mais de 2 . 0 0 0 . 0 0 0 m 2 , que pertença tota! disso, a proxim idade do A silo e da Cidade Universitária é
ou parcialm ente ao G ovêrno ou possa ser adquirida por desejável, dos pontos de vista cívico, educacional e a fetivc;
preço razoável, que não lim ite com zonas militares, com o
b) do Senhor M inistro da A eronáutica : não ser atra­
sucede com Valqueire, B oa Esperança, Manguinhcs, G o­
sada a construção da ponte — essa circunstância é tam bém
vernador, o conjunto do D erb y Clube-Quinta da B oa Vista
do interêsse da Universidade e pode ser conseguida, co m a
e adjacências, etc. ; no caso, aliás, será provável que, em
resolução rápida da nova localização ora proposta, uma
futuro de d ifícil previsão,, a exigüidade do atua', aeroporto
troca im ediata de docum entos entre êste D epartam ento e o
da cidade e a valorização das áreas-militarizadas em M an-
M inistério da Aeronáutica, com conseqüente entrega, ao D i­
guinhcs e G overnador levem a transferir o aeroporto civil
retor de Obras dêste últim o, da quantia a suplem entar para
da cidade para a ilha d o Governador, ficando o atual ape­
o alargamento da pon te e de seu acesso, e, enfim , a assina­
nas para cabotagem , bem com o a deslocar a base aérea para
tura de um têrm o aditivo ao contrato firm ado entre o m es­
a região de Santa Gruz ; contudo, m esm o que isso não se
m o M inistério e o construtor.
chegue a realizar, a própria localização insular da Univer­
sidade facultar-lhe-á um relativo isolam ento, sem equiva­ 24. E m síntese, todos os estudos e entendim entos p re­
lente nas outras áreas estudadas. liminares a respeito da utilização das ilhas grupadas em
18. Assim, as desvantagens apontadas não são de tôrno da de B om Jesus, foram inteiram ente satisfatórios.
m olde a invalidar a nova solução proposta, tudo indicando, Ésses resultados, naturalmente com unicados ao Senhor M i­
portanto, que êste D epartam ento deveria prosseguir na nistro da E ducação e Saúde, foram por êle hom ologados,
iniciativa que encetara. com o convinha, antes que pudessem ser trazidos à alta
19. Nesse sentido, fazia-se mister prcceder aos en-_ consideração de Vossa E xcelên cia .
tendim entos indispensáveis, com as autoridades sob cuja
25. Na hipótese de con ceder V . E x.a aprovação das
jurisdição se encontram as ilhas a aproveitar.
sugestões aqui apresentadas, deverá ser revogado o D e­
20. Antes, porém , tornava-se conveniente ouvir a op i­
creto-lei n.° 5 .6 7 4 , d e 8 de ju n h o de 1944, que declarou
nião técnica do engenheiro H ildebrando de Araújo Góis,
de uti.idade pú blica os prédios e terrenos com preendidos
D iretor do D epartam ento Nacional de Obras de Saneamen­
to e, presentem ente, respondendo pelo expediente do D e­ em tôda a área da V ila Valqueire, tendo em vista a cons­

partam ento N acional de Portos, R ios e Canais, pois o refe­ trução da Cidade Universitária, b em com o autorizadas as
rido técnico, além de ter sido o autor do parecer anterior­ seguintes m edidas :
m ente aludido, chefia duas repartições, cujas atividades
a) contribuição da C idade Universitária para o alar­
estão em estreita correlação com o programa geral o b jeti­
gam ento da estrada de acesso e do lance, entre o continen­
va d o .
te e a ilha do Fundão, da pon te a ser construída p e lo M i­
21 . O m encionado engenheiro julgou procedente a
nistério da A eron á u tica ;
argumentação reproduzida nos itens 4 a 11 desta exposição
de m otivos e, bem assim, mostrou que ja tivera um plano b) transferência do referido M inistério para a Cidade
de aproveitam ento do m esm o conjunto de ilhas, visando o Universitária, dos terrenos que forem necessários na ilha
estabelecim ento de um grande aeroporto para a c id a d e ; do F u n d ã o ;
com o êste, entretanto, deslocara-se para a ilha do G over­
c) utilização, para os fins das alíneas a e b , d o cré­
nador, a utilização do m esm o conjunto para a Universidade
dito aberto no B anco do Brasil ao C h efe d o E scritório T é c ­
fazia-se de todo aconselhável, m axime com a construção da
nico da Universidade d o Brasil, pelo art. 6 .° do D ecreto-lei
pon te de que ora se cogita.
n.° 7 .2 1 7 de 30 de dezem bro de 1 9 4 4 ;
22. R esolvid o êsse ponto básico, foram procurados
ARTICUL
sucessivam ente o Senhor M inistro da Guerra, apos estudo d) in ício im ediato das obras de atêrro, saneam ento e
AÇÃO prévio com o D iretor de Engenharia e o Chefe da Com is­ m ovim ento de terras, no con ju nto de ilhas de Fundão, P in ­
COM são de T om bam en to, o Senhor M inistro da Aeronáutica, daí do França, Pindaí d o Ferreira, B om Jesus e Sapucaia,
DEMAIS depois de exam e prelim inar com o respectivo D iretor de e mais tarde P in h e iro s ;
ENTES Obras, e o Senhor P refeito do D istrito Federal, em se­
PUBLICOguida a contatos iniciais com o Secretário da V iação e e) continuação da alienação d e im óveis em b enefí­
S O bras PúbUcas e ccm o C hefe da Com issão d o Plano da cio da C idade Universitária, determ inada pelos arts. 17 e

C idade. 20 da Lei n.° 452 de 5 de ju lh o de 1937, ainda não revo­


gados.
23. T ôdas as citadas autoridades se manifestaram
favoravelm ente e apoiaram a idéia proposta, com as seguin­
26. A ntes de terminar, cu m pre sejam assinaladas al­
tes restrições, perfeitam ente justificadas e de pouca monta,
gumas vantagens indiretas da nova localização da Cidade
em nada afetando a solução em causa :
Universitária. D e fato, vários problem as, dos quais não d e­
a) d o Senhor M inistro da Guerra : conservação do pende a construção da U niversidade, foram focalizados com
A silo de Inválidos da Pátria na extrem idade nordeste da a m udança desta para as ilhas, e, certam ente, passarão a
34
REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N .
1945

Mapa demonstrativo do atêno progressivo entre e em tôrno das ilhas destinadas à Cidade Universitária, indicando as três íases principais
A LOCALIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE DO BRASIL 35
ser revistos e intensificados com o desenvolvim ento que a piciosas, porquanto mostrou uma aceitação geral, tendo sido
região vai t c m a r ; entre êles pod em ser m encionados : de somenos im portância as poucas restrições apresentadas,
as quais não raro eram retiradas em face de novos esclare­
a) construção e aparelhamento da zona portuária do
cim entos forn ecidos.
Caju, acarretando uma necessária am pliação na capacidade
do Pôrto d o R io de Janeiro, cujas atividades, terminada a 28. E m virtude d o exposto, tem êste D epartam ento
presente conflagração, devem -se tornar sobrem odo intensas; a honra de propor a V . E x.a as m edidas abaixo, para o que
junta uma minuta de decreto-lei :
b) abertura d o canal do Jacaré e seus tributários,
s aneando uma área de cêrca de 53,80 km2 que abrange di­ 1 .° — M udança do local da Cidade Universitária da
versos bairros servidos pela R io D ouro, Linha Auxiliar, Cen­ U niversidade do Brasil, da V ila Valqueire para o con ju nto
tral do Brasil e Leopoldina ; form ado pelas ilhas de B om Jesus, excluída a área do A silo

c)_ conclusão do atêrro e execução do cais de M an ­ dos Inválidos da Pátria, Pindaí do Ferreira, Pindaí do
França, Sapucaia, Pinheiros e uma parte de F u n d ão.
guinhos, o que, com binado com a providência da alínea an­
terior, permitirá o aproveitam ento de uma grande área, de 1 ° — Anulação da desapropriação da V ila V alqueire,
fácil acesso, dando ensejo à expansão da zona industrial da decorrente do D ecreto-lei n.° 6 .5 7 4 , de 8 de junho de 1944.
cidade ; 3.° — Entendim entos definitivos com o M inistro da
d) suspensão do atêrro de lixo em M anguinhos, o Aeronáutica, para efetivar a duplicação do lance de pon te
que obrigará a resolver um im portante assunto de há m uito entre o continente e a ilha d o Fundão e o alargam ento da
pendente de solução — o da incineração do lixo da Capital respectiva estrada de acesso, b em com o a transferência
Federal e da utilização da matéria transformada, inclusive de terrenos no Fundão, daquele M inistério para a C idade
gases ; Universitária.
e) abertura do prplongamento da Avenida Rodrigues
Alves até o cais oeste do Caju, o que facilitará a expansão 4.° — Destaques das quantias necessárias a saldar os
da zona portuária e o acesso das futuras zonas universitá­ com prom issos aludidos no item anterior, do crédito aberto

ria e industrial, por parte das regiões sul e centro da cidade; no B anco d o Brasil ao C hefe do Escritório T é cn ico da U n i­
versidade do Brasil, pelo art. 6 .° do D ecreto-lei n.° 7.217,
i) construção da A venida do Jacaré, ao longo do ca­
de 30 de dezem bro de 1944.
nal do m esm o nom e, facultando um rapido acesso as zonas
portuárias e futuras universitaria e industrial, por parte 5.° — Início, tão ced o quanto possível, dos aterros en­
dos bairros citados na alínea b . tre as ilhas mencionadas no item 1 .°, e da execução, nas
mesmas, de obras d e saneam ento e terraplenagem, tudo de
27. Convém igualmente salientar que, paralelam ente acôrdo com um program a progressivo a ser fixado.
à marcha dos trabalhos prévios efetuados, procurou êste
õ.° — Continuação da alienação dos im óveis em b en e­
D epartam ento conhecer a opinião do R eitor da Universi­
fício da Cidade Universitária, cujos produtos de venda se-
dade, as de antigos m em bros de ccm issões da Cidade U n i­
íâ o recolhidos ao T esou ro N acional com o receita extraordi­
versitária, e b em assim as de professores e alunos, de urba­
nária, abrindo-se concom itantem ente créditos especiais de
nistas, arquitetos e engenheiros, de pessoas, enfim , enten­
igual m ontante.
didas ou interessadas em assuntos u niversitários; a verifica­
rão, em bora tenha atingido, em quantidade, uma fração m ui­ A proveito a oportunidade para renovar a V . E x.a os
to pequena da coletividade passível de consulta, qualitati­ protestos d o meu mais profundo respeito. — L uiz Sim ões
vam ente incluiu elem entos ponderáveis e fc i das mais aus­ Lopes, Presidente.
36 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945

0 ESTADO E OS CARTÉIS
R ichard L e w in s o h n
Dr. rer. pol.

O trabalho que aqui publicam os é um capítulo gítimos, oferecendo, contudo, em certas circuns­
de um n ovo livro de nosso colaborador R ichard
tâncias, vantagens reais à economia nacional, mes­
Lewinsohn, a ser pôsto brevem ente em circulação em
edição da Livraria do G lo b o de P ôrto A leg re. O
mo à internacional.
autor, qu e já tratou de alguns aspectos d o im por­ Há três maneiras distintas de se tratar a ques­
tante assunto na R ev ista do S erviço P ú blico, apresenta
tão. Na Europa Oriental, renunciou-se durante
em sua nova obra um histórico e um a análise m inuciosa
da organização econ ôm ica e da constituição jurídica
muito tempo a uma legislação relativa aos cartéis
dessas grandes unidades nas principais indústrias, assim modernos. Limitou-se a tolerá-los por meio de
co m o das convenções nacionais e internacionais que, uma interpretação não raro audaciosa do direito
em diferentes ramos (ca fé , açúcar, borracha, m eta is),
civil, comercial e penal em vigor. Na América,
regem a produção, o com ércio e os preços.
, começou-se por uma interdição categórica de todos
os cartéis, para modificar em seguida, primeiro
ISTOS sob o ângulo jurídico, os trustes são

V corpos fluidos, sem forma precisa, pxoteus di­


fíceis de definir, mais difíceis ainda de serem
metidos a um regime especial. Escorregam das
sub­
atenuando, depois agravando pouco a pouco a le­
gislação, parcialmente com pronunciada minúcia,
mas com bem pouco sistema. Na Europa Cen­
tral, enfim, onde os cartéis estão particularmente
mãos dos legisladores, escapam aos juizes, e só a
difundidos, tentou-se estabelecer um direito espe­
ingerência direta e por vêzes brutal do Estado con­
cial que reconhece oficialmente os cartéis, subme­
segue domá-los.
tendo-os contudo a um certo controle público e
M au grado a diversidade de foxmas e métodos, combatendo-lhes os abusos.
os cartéis, pelo contrário, são organismos bem pre­
cisos. Têm por tarefa dar a uma indústria ou a *
um mercado uma determinada estrutura. Para agir, # *
êles necessitam de um certo estatuto que impõe As legislações inglêsa e francesa inspiram-se es­
deveres a cada um de seus membros e lhes confere sencialmente nos princípios liberais e, se tivessem
direitos. Podem escondê-lo, camuflá-lo, mas êsse sido aplicados textualmente, a formação dos car­
estatuto existe, é a condição mesmo de sua exis­ téis teria sido impossível. Na Inglaterra, todos os
tência. São portanto, por assim dizer, corpos só­ contratos tendentes a restringir a liberdade do co­
lidos, bem mais susceptíveis de serem atingidos mércio são nulos perante a lei. O direito francês,
pela legislação e pela jurisdição do que os trustes. até época recente, ia mesmo mais longe. O código
Embora desde antes de 1914 tal problema tenha penal, cujos artigos econômicos refletem a penúria
ocupado a atenção de numerosos países, o desen­ de mercadorias dos tempos da Revolução e das
volvimento de uma legislação detalhada sôbre os guerras napoleônicas, punia, até 1926, todos os
cartéis é relativamente recente. A causa dessa procedimentos destinados a suprimir a livre con­
evolução tardia pode ser atribuída mais a uma corrência e a influenciair artificialmente os preços,
falta de doutrina do que a uma falta de técnica. notadamente por meio de “reuniões ou coalizões” ,
Os governos, os parlamentos, a opinião pública não ou seja por meio de cartéis ou corners, e eventual­
sabiam se deviam ou não reagir contra êsses orga­ mente também por meio de trustes. Segundo a
nismos que tomavam lugar cada vez mais eminente letra da lei, os mais reputados industriais e ne­
na vida econômica, que sem dúvida eram incom­ gociantes deveriam ter ido para a cadeia.
patíveis com os princípios do liberalismo integral, Na realidade os tribunais, tanto de um como
que feriam muitos interêsses reconhecidamente le- do outro lado da Mancha, aplicaram rarxssimamen-
O ESTADO E OS CARTÉIS 37
te êsses dispostivos legais aos cartéis modernos. A lei fundamental, o Sherman A ct de 1890,
Encontraram interpretações para adaptar às ten­ proíbe os cartéis de qualquer espécie, assim como
dências econômicas de nosso tempo as prescrições os trustes. ivias a aplicação da lei demonstrava
pertencentes a outra época. Segundo um rela­ logo que há na economia certas possibilidades tí­
tório do Board of Trade, ministério do Comércio picas de entravar a concorrência ou de prejudicá-la,
britânico, apresentado em 1927 à Sociedade das quer por meio de uma dilerenciação dos preços,
Nações, a doutrina do direito comum inglês con­ para mercadorias iguais, quer por meio de entregas
sidera más tôdas as ações que tendem a entravar condicionais, de compromissos de exclusividade de
a liberdade üo comércio, e os contratos e acor­ oompra, de revenda a preços impostos, etc. Os
dos concluídos com êsse escopo são, em prin­ juizes precisavam a êsse respeito de indicações
cípio, inexigíveis. Mas não são ilegais. Entretanto, mais nítidas do que as oferecidas pelas fórmulas
os juizes inglêses têm firmado cada vez mais o gerais do Sherman Act.
princípio de que os contratos devem ser tidos co­ O Clayton A ct de 1914, que se ocupa a um
m o sag). ados, desde que se não trate, nos casos tempo dos cartéis e dos trustes, notadamente dos
individuais, de contratos “contrários aos bons cos­ trustes financeiros, dá algumas diretrizes para re­
tumes e à ordem pública” . conhecer e perseguir as maquinações dos cartéis.
A jurisprudência francesa, já há mais de um A lei interdiz aos comerciantes qualquer espécie
século, estabeleceu distinção entre as “boas e más de discriminação entre os diferentes compradores,
uniões” . Boa é a que obtém um lucro normal, en­ no caso em que esta discriminação sirva para “re­
quanto que a má é a que procura obter lucros duzir substancialmente a concorrência, ou tenda a
anormais para seus membros (1 ) . Embora tam­ criar um monopólio” . Ela visa especialmente o
bém as más uniões não tenham sofrido os rigores sistema das vendas com desconto, então muito em
da lei napoleônica, a ameaça nem por isso deixava voga na América, e os contratos que ligam de
de ter seus inconvenientes. Por isso, a lei de 3 de maneira exclusiva o comprador ao vendedor.
dezembro de 1926 modificava o artigo 419 do Có­ O Robinson-Patman A ct de 1936 ainda veio
digo Penal no sentido que a jurisprudência indi­ reforçar essa legislação. De início, êle devia cons­
cara : apenas as ententes exercendo ou tentando tituir uma arma contra a extensão das lojas de
exercer no mercado uma ação “com o fito de obter filiais múltiplas ( 2 ), mas, em sua forma definitiva,
um lucro que não seria o resultado do jôgo natural volta-se contra tôda limitação da concorrência de­
da oferta e da procura” são agara puníveis. corrente de uma discriminação relativa aos preços.
A Bélgica suprimiu completamente as disposi­ O direito americano não exige que uma mercadoria
ções do Código Penal referentes aos cartéis, salvo seja vendida ao mesmo preço a todos os clientes.
as que dizem respeito às manobras fraudulentas. Um fabricante de cal, por exemplo, pode fazer
preços distintos para um lavrador e para uma fá-
* h.ica de produtos químicos, em vista dêsses dois
* * compradores não serem concorrentes. Mas deve
êle ter um preço único para todos os lavradores
Enquanto as democracias da Europa Ocidental
e um outro preço uniforme para tôdas as emprêsas
não opõem pràticamente nenhuma barreira aos
químicas. Os grandes e os pequenos de um mesmo
cartéis, os Estados Unidos estão sempre lembrando
ramo devem encontrar meios de aprovisionamento
às empresas que elas não têm o direito de se co­
em igualdade de condições.
ligar a seu bel-prazer. A legislação americana con­
tra os cartéis é essencialmente idêntica à legisla­ A legislação sôbre preços nos Estados Unidos
ção contra os trustes, pois que, no espírito dos inspira-se portanto em princípio diferente do que
juristas americanos, um e outro são apenas duas fundamenta a lei liberal franoesa. Ela não insiste
formas diferentes na procura de um mesmo fim no jôgo natural da oferta e da procura” , mas
ilegal : a restrição da liberdade de comercio a fim sim no fair play” . Não toma com o ponto de
de alcançar uma posição monopolista.

(2 ) B usiness and th e “ R obinson-Patm an Law ” (A


(1 ) L é o n MAZEAUD, L e R ég im e Juridique des E n ten ­ Sym posium edited b y B en jam in W e rn e ), N ova Y ork, 1938,
tes In dustrielles e t C om m erciales en France, p á g . 161. pág. 39.
38 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
partida o mecanismo da formação dos preços, que uma outra lei vedava as combinações entre impor­
poderia ser forçado pelos cartéis sem escrupmos. tadores, que tivessem por fim uma fixação dos
Ela voive-se para o homem, para o indiviauo a preços.
quem deseja dar uma oportunidade de abrir seu
Tôdas essas medidas eram dirigidas contra uma
caminho. T al o sentido pioíundo de tôdas as
alta dos preços de importação. Depois a legisla­
leis americanas contra os monopólios e organiza­
ção fêz meia-volta : o Anti-Dumping A ct de 1916
ções que desejam um m onopólio. O Estado deve
incidia sôbre os preços excessivamente baixos, a
combater os cartéis, pois com êles o homem vê-se
fim de barrar o acesso ao mercado americano de
privado do que possui de mais precioso : a igual­
certos cartéis estrangeiros que vendiam suas mer­
dade de oportunidades.
cadorias nos Estados Unidos abaixo do custo da
Eis aí uma nobre idéia, cuja defesa honra os produção ou dos preços pedidos em outros países.
legisladores americanos. Entretanto, na prática, a Sem dúvida tratava-se ainda aqui da preocupação
luta contra os cartéis nada mais fêz do que favo­ do “fair play” . No entanto, tal sutileza era ainda
recer a formação de trustes nos Estados Unidos. mais de se admirar, porque se estava em plena
E, afinal de contas, não se poderia pretender que guerra, na qual os Estados Unidos exportavam duas
os pequenos fabricantes e comerciantes america­ vêzes mais do que importavam, em que os preços
nos tivessem, com o compradores, as mesmas pos­ eram absolutamente anormais, e na qual os países
sibilidades que as empresas pertencentes aos trus­ beligerantes se dispunham a pagar aos americanos
tes verticais, cujos desembolsos, por assim dizer, p.eços fantásticos por suas mercadorias. Por que,
afluem para suas próprias caixas. A igualdade das em tais condições, fechar as fronteiras a impor­
condições comerciais, prescrita pela lei, lembra de tações que talvez não fôssem absolutamente cor­
um certo m odo o dito lamoso de A n a to le F r a n c e : retas, mas que não tinham importância nenhuma
que os ricos e os mendigos têm o mesmo direito para a conjuntura na América ? Não seria um sinal
de dormir à noite sob as pontes de Paris. de que os Estados Unidos entreviam uma compe­
Os Estados Unidos não se limitaram aliás a es­ tição mais áspera no mercado mundial ?
tabelecer regras gerais de proteção ao “fair play” ; Após a entrada dos Estados Unidos na guerra, a
fizeram numerosas leis especiais contra as tendên­ nova tendência se precisava : da defesa passava-se
cias monopolistas de diversas indúistrias ameri­ ao ataque; o W ebb-Pom erene Act de 10 de abril
canas. Eis somente algumas dessas leis contra os de 1918 autariza a formação de trustes e cartéis
cartéis : em 1887, ainda antes da promulgação do votados exclusivamente à exportação. O promotor
Shermari Act, as ententes ( “pools” ) entre compa­ da lei é o mesmo deputado W ebb que, pouco
nhias de estradas de ferro foram declaradas ilegais tempo antes, se batia por severas cláusulas, niti­
pelo A ct to Regulate Commerce. Em 1916, o damente anticartelistas, do Clayton Act. O presi­
Shipping A ct proibia os acordos ( “pools” ou “con­ dente W ilson , em princípio adversário encarni­
ferências” ) entre companhias de navegação, ver­ çado dos trustes e cartéis, dirige um apêlo urgente
sando sôbre a fixação de tarifas de passagem e ao Congresso, pedindo-lhe para votar essa lei pró-
fretes. Em 1921, o Packers and Stockyards Act cartelista. Washington quer preparar terreno para
p-oibia às grandes emprêsas da indústria de carne, a economia de paz e assegurar à indústria ame­
convenções sôbre o controle dos preços, divisão do ricana, desmedidamente ampliada, uma parte gran­
mercado e restrição da distribuição. de no comércio internacional.

Sua importância é, com efeito, considerável,


*
tanto do ponto de vista ideológico como do ponto
# *
de vista prático. Por meio do W ebb-Pom erene
A legislação americana ocupou-se também, sob Act, o govêrno americano renunciou à doutrina
diversos aspectos, da atividade dos cartéis no co­ que condenava em bloco tôda restrição à liberda­
mércio exterior. O Wilson Tariíf Act de 1894 de do comércio. Em princípio, êle faz agora a
proibia todos os trustes ou cartéis suscetíveis de mesma distinção da jurisprudência francesa : dis­
entravar a concorrência na importação, assim tingue também as “boas” das “más” ententes, as
com o todos os organismos e acordos destinados a que são úteis à economia nacional das que são ne­
encarecer as mercadorias importadas. Em 1913, fastas .
O ESTADO E OS CARTÉIS 39
Praticamente, o W ebb-Pom erene Act permitiu não é uma mercadoria, e daí tirar uma conclusão
aos americanos não só a criação legal de cartéis extremamente importante para a vida econômica.
nacionais de exportação, como também lhes per­ As condições do trabalho, sua duração, assim com o
mitiu aderir às ententes internacionais. Assim é os salários, não podem constituir um objeto de
que as empresas americanas podiam tornar-se competição entre empregadores. Se êles o fazem,
membros dos cartéis do cobre, do alumínio, de cometem ato de concorrência desleal.
trilhos e de muitas outras ententes, uma vez que
Tal é o leitmotiv do famoso N ira ( National
êsses organismos deixassem fora de seus regula­ Industrial R ecovery A ct), a lei americana de 1933,
mentos o mercado interior dos Estados U nidos. que previa o estabelecimento de um código, ou
Graças ao W ebb-Pom erene Act, pode ser estabele­ melhor, dum estatuto social para cada indústria, fi­
cido abertamente um controle verdadeiramente uni­ xando a duração máxima de trabalho, os salários
versal dos mercados das matérias primas e dos mínimos e, de uma maneira bastante precisa, as
produtos fabris. relações entre patrões e-operários. Os “códigos”
e os acordos privados concluídos com êste fito
*
não deviam ser perseguidos com fundamento na
❖ *
legislação sôbre os trustes e cartéis. Embora a
A legislação dos Estados Unidos admite ainda, nova lei pretendesse fundar-se em princípios essen­
por motivos inteiramente diferentes, duas outras cialmente liberais, embora ela insistisse na salva­
formas de associações econômicas. Assim como guarda da “competição honesta” , embora conde­
em todos os países do mundo, os sindicatos ope­ nasse expressamente os monopólios, uma parte da
rários e patronais não mais são considerados car­ opinião pública e, naturalmente, sobretudo os em­
téis na América de hoje. O Sherman Act servira preendedores a consideravam com o uma etapa
efetivamente no comêço, e por diversas vêzes, de para a estatização da indústria. A oposição era
arma contra as organizações operárias. Isso pa­ tanto mais forte quanto mais era certo que o
recia ser o liberalismo puro. A teoria liberal clás­ Presidente Roosevelt reservara para si próprio o
sica de R icardo ( 3 ) vê no trabalho uma merca­ direito de aprovar ou repudiar os códigos elabora­
doria como outra qualquer, que se compra e vende. dos em comum pelos empregadores e empregados.
A fórmula popular segundo a qual “o salário é o
Após haver-se estabelecido quase um milhar de
preço do trabalho” indica que esta idéia está sem­
códigos para tôdas as espécies de indústrias e co­
pre bem viva nas massas operárias, assim como
mércios, uma queixa apresentada por um negocian­
no patronato.
te de aves nova-iorquino deu oportunidade ao Su­
O Clayton Act de 1914 punha umtêrmo às tenta­ premo Tribunal dos Estados Unidos para anular,
tivas de assimilar os sindicatos operários aos cartéis. em 27 de maio de 1935, o N ir a , como anticons-
A lei declara expressamente que “o trabalho de um titucional. Todavia, o direito de constituir associa­
ser humano não é mercadoria ou artigo de comér­ ções operárias e pràticamente também sindicatos
cio” . Assim nenhuma estipulação da legislação patronais, não foi atingido pela abolição do N ir a .

antitruste ou anticartel deve opor-se à existência A outra isenção da legislação sôbre os trustes e
e à atividade das organizações operárias. cartéis, igualmente de uma grande importância,
O Presidente Roosevelt tentou levar mais longe refere-se às cooperativas. Também aqui o Clayton
ainda esta concepção de que o trabalho humano A ct procurava dissipar as dúvidas. As cooperativas
ag.ícolas e horticultoras, cuja finalidade é a assis­
tência mútua e não lucrativa, não estão sujeitas
(3 ) D a v id R ic a r d o , Principies of P olitical E con om y
and Taxatiôn, ca p . V .
à legislação contra os trustes e cartéis. O Farm
40 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
Cooperative 'Act de 1922 ia mais longe ainda ao Aquelas que se ocupam da venda tendem, do mes­
autorizar as cooperativas agrícolas a venderem li­ mo modo que os cartéis, a obter preços elevados.

vremente suas mercadorias no m ercado. Uma gran­ E é fora de dúvida que as cooperativas dêsse

de parte da produção agrícola dos Estados Unidos gênero entravam a livire concorrência.

passa hoje efetivamente pelas cooperativas. Sua única particularidade é de ordem social.
As cooperativas são constituídas, e nisso diferem
Uma distinção de princípio, como a entre o
dos cartéis, por indivíduos humildes, por fracos
trabalho humano e a mercadoria, -não poderia ser
que necessitam de apoio. A cooperação pode me­
feita entre cartéis de um lado e cooperativas, que lhorar ligeiramente sua situação, seu padrão de
podem vender suas mercadorias a quem quer que vida, mas é impossível que enriqueçam por meio
seja, de outro. Tôdas as tentativas feitas nesse de uma entente recíproca. Por essa razão, a le­
sentido continuam artificiais. Também as coope­ gislação, tanto na América como na Europa, exce­
rativas trabalham visando o luaro de seus mem­ tuou as cooperativas da categoria dos cartéis e mes­
bros, ainda que chamem a êsses lucros “economias” . mo facilitou-lhes a atividade.
A READAPTAÇÃO AO TRABALHO DOS TUBERCULOSOS CURADOS 41

A readaptação ao trabalho dos tuber­


culosos curados
O problema do afastamento, readmissão e admissão, às fun­
ções públicas e particulares, dos pacientes
com tuberculose
A n n ib a l N ogueira J unior
C atedrático Interinq d e Patologia G era l da Faculdade F lu ­
m inense d e M ed icin a
Livre D o cen te d e Terapêu tica Clínica da E. d e M sdicina
e Cirurgia do Inst. Hahnem anniano
Assistente do A m bulatório d e T isiologia do H ospital São
Francisco d e Assis

N T R E o s problemas de maior relevância, em tísicas tão do agrado das classificações antigas e de

E Tisiologia, o das relações do trabalho com a que nos dão idéia as figuras dos tuberculosos pá­
tuberculose avulta, pelas múltiplas questões que lidos, dispnéicos em grau variável, febris, sempre
pode suscitar. Deixando de lado o seu aspecto com a sua tosse impertinente e repetida, como que
médico-legal, ou seja, o estudo do trabalho como a chamar a atenção de instante a instante para a
fator direto ou circunstancial da enfermidade, que doença e a frizar que êsse paciente, cujas forças se
já abordamos em publicação feita há anos ( * ) , consumiam, não tinha sobras de energia para quais­
vamos considerar outra face do assunto, não menos quer esforços, carecendo exclusivamente de repou­
impartante, qual a ainda muito discutida questão sar. Durante muito tempo assim foi, mas em certa
da admissão ao trabalho, ou do retômo à atividade, época u’a mudança se processou, iniciada com as
dos antigos doentes, bem com o a possibilidade de o observações e os estudos de P aterso n em Frimley,
tuberculoso trabalhar. no ano de 1908, embora meio século antes B r e m -
b er , em Detweiller (1 8 5 6 ), e, depois, GoÜNDT na
D e um m odo geral, para os leigos e mesmo para
Noruega, P en d zo l t no Saxe e, mais tarde ainda,
muitos médicos não especializados, tão difundida
F l ic k e A r m str o n g na Pensilvânia, V a n dr em e r
está a noção do repouso como elemento fundamen­
em França e V o s na Holanda tenham, entre ou­
tal da terapêutica na tuberculose, que a idéia da
tros, realizado tentativas para mostrar que o tra­
possibilidade ou conveniência dêsses pacientes tra­
balho não era incompatível com a tuberculose e o
balharem se afigura um absurdo. Todavia, assim
seu tratamento, mas que, até pelo contrário, po­
não é. Desde muitos anos vêm se defrontando
deria a êsse último servir ( 1 ) . Todavia, só depois
os adeptos da terapêutica ocupacional e os do re­
que P aterson começou a propagar suas idéias foi
pouso absoluto, ambos com pontos marcados em
o assunto adquirindo uma projeção maior, embora,
seu favor e ambos com derrotas na batalha empe­
a nosso ver, ate hoje quando já decorreram 37
nhada em tôrno da orientação aue seguem. Desde
anos. seja o trabalho muito pouco reconhecido como
muito, a noção do repouso como base do trata­
útil aos doentes pulmonares e só nos últimos 12 a
mento da tuberculose adquiriu reputação firme, o
15 anos um desettvolvimento maior se tenha ob­
que se compreende atentando nas características
tido a respeito. P a terso n , baseado nas teorias
evolutivas da moléstia, particularmente nas formai
imunitárias de W r ig ht , sustentou que o trabalho

( * ) A n n i b a l N o g u e i r a J u n i o r — A b e t o s M éd ico-
L egais da T u b ercu lose Pulm onar • — E m “ O H ospital 1 (1 ) V. referências bibliográficas no fim dêste tra­
1938. b alho.
42 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
atuava beneficamente sôbre a tuberculose, deter­ de trabalhar. Êsses fatos vieram, todos, exigir uma
minando u’a mobilização das toxinas que seriam solução para cada um dos problemas que êles ori­
absorvidas e iriam vacinar o organismo, aumen­ ginaram. Alguns, talvez muitos dos indivíduos com
tando sua resistência à moléstia. Então, instituiu capacidade funcional diminuída, poderiam estar
um sistema baseado no treinamento dos pacientes em condições melhores, se anteriormente hou­
pelo transporte de pesos, a uma certa distância e vessem passado por um período de treinamento e
um número variável de vêzes, precedendo essa readaptação ao trabalho; os que antes de adoecer
prática de um outro treinamento de marcha, em se dedicavam a trabalhos penosos poderiam ter
que as distâncias a percorrer eram progressiva­ aprendido, enquanto se tratavam, novos ofícios
mente maiores. Os resultados foram muito inte­ mais adequados a seu ult&rior estado de saúde; o
ressantes e D u m a r e s t (2 ) iniciou a aplicação grupo dos que se deixaram entibiar, pela extensa
dêsse método em Hauteville, inte:rompendo-a com prática do “repouso absoluto” , não estaria com as
a superveniência da guerra de 1 9 1 4 . Muitos ou­ suas capacidades produtivas tão inferiorizadas se
tros serviços especializados imitaram, posterior­ viesse, aos poucos, submetendo-se a um treina­
mente, os processos de P ater SON e a terapêutica mento para o trabalho. Por fim, atentou-se na ab­
ocupacional foi sendo empregada em numerosos soluta necessidade de estabelecer um departamen­
Sanatórios na Inglaterra, com L ieber , K Ü S S e to, que fôsse como “ponte de passagem” para os
B rieger na Alemanha, em Hallendoor, B erg em tuberculosos curados, entre a sua antiga existência
Bosch, Z o n n e st r a al e M ariaserd na Holanda, de doentes e a sociedade em que êles iam reentrar,
em Marcinelli na Bélgica, nos santatórios de “Lake departamento êsse que se encarregaria de propor­
Tomahawk”, Toudeau e M ont Alto nos Estados cionar colocação a todos êsses pacientes infèriori-
Unidos, em muitos outros serviços especializados zados, num ou noutro sentido, pela doença e re­
de França, Suíça e Itália, até chegairmos aos nossos cuperados ou readaptados e, também, dos clinica­
dias, em que algumas fundações como a Escola de mente curados e aptos para o trabalho, mas que a
Readaptação de Camerlata, do Prof. P arodi , po­ sociedade repelia, atentando exclusivamente no seu
dem ser encaradas como padrões de Organização. passado de enfermos. Assim, hoje, a terapêutica
É, todavia, de interêsse frizar que essa difusão da ocupacional visa impedir que um prolongado “re­
terapêutica ocupacional certamente não se fêz em pouso absoluto” roube ao tuberculoso o hábito de
conseqüência da aceitação absoluta das idéias e empregar sua energia no trabalho; treina-o para
conceitos de P a t e r SON, mas porque a grande mo­ retomar suas funções depois de curado, ou para
dificação produzida nos últimos 30 anos em nossa exercer outras mais compatíveis com a sua capaci­
maneira de encarar os problemas ligados à Tisio- dade funcional; e atua no sentido de melhorar,
logia, dando cada vez mais importância à face em outros, a capacidade funcional reduzida pela
social da questão, veio salientar o interêsse em
enfermidade. Como complemento lógico dêsse pro­
cesso, uma organização especializada se encarrega
iresolver a situação dos antigos doentes. Êsses,
da colocação dêsses pacientes recuperados e rea­
após sua alta dos serviços em que se haviam tra­
daptados, transpondo-se assim o obstáculo que a
tado, passavam a constituir um “pêso morto” para
situação de “antigos enfermos” para êles criava.
a sociedade : uns, porque a moléstia lhes deixara
diminuída em definitivo a capacidade funcional;
Exposta a questão, algumas perguntas de ca­
pital importância poderiam ser feitas; em primeiro
outros, porque embora curados e capazes, não en­
lugar, se o tuberculoso pode e d ev e. trabalhar e,
contravam onde trabalhar, visto que sempre eram
no caso de resposta afirmativa, quando e como
olhados como suspeitos e recusados como tal; ain­
fazê-lo. Evidentemente, só a teoria de P a t e r s o n
da outros, porque não era possível, depois da cura,
— embora não aceita universalmente — já cons­
retomar o antigo trabalho muito pesado para a
tituiria uma resposta à primeira parte dessas per­
sua nova situação, faltando-lhes habilitações para
guntas. Naturalmente, nem todos os tuberculosos
executar outiros misteres; e, finalmente, um último
podem trabalhar. Um paciente com um processo
grupo em que o método da “cura de repouso” e o agudo, ou francamente evolutivo, com tempera­
longo período de segregação de atividades que turas elevadas, desnutrição acentuada e mau es­
brantara as energias, amolentara a vontade e con­ tado geral, sujeito a episódios hemorrágicos ou
duzira a uma situação de indolência e incapacidade apresentando complicações outras, como localiza­
A READAPTAÇÃO AO TRABALHO DOS TUBERCULOSOS CURADOS 43
ções extrapulmonares graves, de modo geral não Todavia, quando se trata de autorizar o tra­
deve trabalhar. Êle, antes do mais, precisa de balho dos pacientes, um exame cuidadoso da si­
repouso e de um cuidadoso tratamento que lhe tuação em que êles se encontram deve preceder
permita recuperar o estado geral. Todavia, numa qualquer decisão. Evidentemente, os doentes sob
fase ulterior mais favorável, êsse mesmo paciente pneumotórax com bom colapso livre de aderências,
poderá, talvez, aos poucos ir-se exercitando, reali- com ausência de manifestações funcionais e de
ando pequenos trabalhos que efetuará mesmo dei­ sinais clínicos e com expectoração bacilo-negativa
tado, mais tarde caminhando um pouco, depois constituiriam, em princípio, os melhores casos a
exercendo pequenas funções ou realizando serviços indicar para a terapêutica ocupacional. Quem tra­
de pouca monta, o que lhe permitirá não perder balha em serviços de tisiologia, mormente nos
o hábito de empregar sua capacidade funcional. Ambulatórios, tem ocasiões não poucas de verifi­
Os doentes de evolução crônica, com bom estado car a tolerância surpreendente dêsses pacientes ao
geral, sem febre ou com febre periódica e mode­ trabalho e ao exercício, — regra geral praticados
rada, poderão com mais vantagem trabalhar e, sem consentimento médico.
mesmo, realizar serviços maiores, eventualmente Os pacientes das classes pobres, a quem as difi­
ocupar-se de um serviço. Naturalmente, para esse culdades econômicas obrigam a não interromper
fim, deve êle encontrar ao seu dispor instalações suas ocupações senão muito temporàriamente, -logo
adequadas, que são os chamados centros de rea­ que melhoram sob a ação do pneumotórax voltam
daptação e treinamento, de que a já citada Escola ao trabalho, freaüentemente pesado e em condi­
de Camerlata, do Prof. P a r o d i ( 3 ), é um exem­ ções higiênicas deficientes e, não obstante, suportam
plo dos mais interessantes. Por outro lado, em bem a prova. Temos visto vários dêsses casos e
certos países, em algumas usinas e fabricas há ocorre-nos aqui citar um bastante ilustrativo ( * ) :
secções especiais para tuberculosos, em tratamento,
que aí trabalham, — naturalmente sob regime “ .T .A .G ., branco, espanhol, 25 anos, em pregado
numa tinturaria. •
especial; porém, o que se deve notar é que o ren­
O paciente v e io à consulta n o A m bu latório de
dimento dêsses operários não raro ultrapassa o
T isiologia d o H ospital S . Fran cisco de Assis (S e rv iço
dos “sãos” , sem que isso produza conseqüências do D r . Alexandre S tock ler) em 17-VI-39. dizendo-se
nocivas. Os próprios indivíduos ainda com expec- doente havia 3 meses, com dôres toiácicas, falta de
toração bacilífera trabalham e os resultados são apetite, tosse e escarros de sangue.

favoráveis : uma estatística de L a n g e L e m b e r s k y , O exam e radioló^ico m ostrou lesões bilaterais e x­


a propósito de tuberculosos trabalhando numa fá­ tensas. com grande im neem cavitária cercada de som ­
bras d o tom subcostal n o têrco superior esquerdo e
brica de sapatos de borracha na U . R . S . S ., mos­
sombras de condensacões difusas na m etade ■suoerio'-
tra que 3 9 % dos pacientes se tornaram bacilo- direita, com um a im a?era cavitária n o seio do p ro­
negativos durante o trabalho; na “Altrowork Shop” cesso. O pariente aue era franzino, d e Deauena esta­
de New York, 45 a 50 % do pessoal é bacilí- tura, com lm 5 0 de altura e 44 quilos de pêso, apre­
sentava-se anirético e tivera o exam e direto de escarro
fero ( 1 ) e em Camerlata verifica-se que em nu­
positivo. F oi instalado pneum otórax à esquerda e cêrco
merosos pacientes os bacilos desaparecem da ex- de 1 mês após, pneum otórax à direita, fica n d o o p a ­
pectoração e 44,20 °7o dos doentes partem clinica­ cien te suieito a pneum otórax bilateral sim ultâneo, com
mente curados, sem contar os 20,65 % de outros o que m elhoraram grandem ente a tossse e a expectora­
que vão consolidar alhures lesões inativas ( 2 ) . ção, o pêso subiu de mais de dois quilos e o estado geral
com eçou a progredir. Entretanto, sabíam os co m cer­
Parece, assim, como deconrência dessa e de muitas
teza que o doente, entregador d e roupa na tinturaria
outras estatísticas e observações a respeito, que o em que trabalhava, contrariando nossas recom endações
trabalho convenientemente dosado e adaptado aos expressas, continuava nos seus afazeres, andando de
pacientes que devem executá-lo, não é prejudicial b icicleta ( ! ) grande parte d o dia e dando-se bem com
à doença; antes, pelo contrário, sua prática se êsse esforço que fazia, não obstante a gravidade e

acompanha de melhoria acentuada em muitos en­ extensão das suas lesões e o pneum otórax bilateral
sim ultâneo que lhe estava sendo aplicad o.”
fermos, desaparecimento dos bacilos da expectora-
ção, curas clínicas numerosas e, portanto, resulta­
(* ) Essa observação foi pu blicada em nossa tese de
dos que devem incitar a continuação da terapêutica
docência à cadeira de T erapêutica Clínica Alopata da Escola
ocupacional. d e M ed icin a e Cirurgia d o I . H .
44 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
Evidentemente, casos que tais não servem de observação de longo tempo houvesse fornecido pro­
padrão, porém, mostram quão grande é a tolerân­ vas seguras da estabilização das lesões, seriam ad­
cia que podem ter êsses pacientes para o trabalho mitidos ao trabalho. Necessàriamente, as cautelas
e porque, antes de proibirmos em absoluto o tra­ seriam com êles maiores que com os pacientes
balho dêsses doentes de ambulatório, sempre que cujas lesões estiveram sob o controle da colapso­
a sua situação pareça bem estabilizada e os pa­ terapia. Também, dentro do nosso ponto de vista,
cientes merecedores de confiança quanto ao acata­ os doentes nessas condições só deveriam trabalhar
mento que dispensarão às nossas prescrições, de­ quando em Sanatório. De fato, não se compreende
vemos lhes permitir uma atividade moderada, pro­ que um paciente que não estivesse, por qualquer
gressivamente maior, embora prudentemente do­ razão técnica, submetido à colapsoterapia, e por
sada e que se constituirá, em muitas eventuali­ qualquer razão não estivesse em um Sanatório e,
dades, no único meio de impedir que o paciente sim, apenas sujeito a tratamento higienodietético,
vá trabalhar de qualquer maneira, sem obediência crisoterapia, etc., em ambulatório, oferecesse ga­
a normas ou proibições, o que lhe acarretará pre­ rantias para uma terapêutica ocupacional. E ’ por
juízos maiores. isso que, entre nós, o problema atinge um grau
de extraordinária complexidade porque o nosso
Os casos sujeitos a outros processos colapso-
ainda incipiente armamento anti-tuberculose é, nos
terápicos, isto é, as toracoplastias e frenicectomias,
seus 4 /5 ou mais, constituído de ambulatórios, o
serão considerados diferentemente. Os que sofre­
que proporciona situações de muito mais delicada
ram toracoplastias levam a desvantagem da redu­
solução.
ção definitiva do campo respiratório, das modifi­
cações da estática torácica e da limitação possível A volta ao trabalho, por outro lado, implica
dos movimentos por lesões musculares; em conse­ numa série de problemas que, muito por alto,
qüência. terão em muitos casos de ser readapta­ desejamos aqui mencionar. Como o faz notar
dos a novos misteres e, por outro lado, qualquer muito bem A ndré F abre ( 4 ) , “essa retomada efe­
sinal clínico suspeito que faça pensar ter-se pro­ tiva do trabalho deve ser preparada com grau de
duzido uma reativação do foco lesional subjacente antecedência. No Sanatório, trabalhos fáceis como
a fabricação de cestos e a costura, etc., não exi­
ao plastrão toracomuscular, deve impor a suspensão
gindo habilidade particular, ocupam os doentes.
do trabalho e uma pesquisa minuciosa para escla­
Cremos que êsse tempo no Sanatório poderia ser
recer a situação.
aproveitado para desenvolvimento das qualidades
Os indivíduos que sofreram frenicectomias de­ intelectuais, penhor de futuro profissional melhor” .
verão ser julgados em funcão do tempo que tem a
E contmua F abre “o verdadeiro treinamento para
estabilização de suas lesões. Nos casos em que o esforço pertence a uma organização concebida
já decorreu um tempo suficientemente lontro para para o trabalho, como o foi õ Sanatório para a
creditar uma boa gairantia de cura, será permitido cura de repouso. E ’ um lugair de recuperação eco­
o trabalho; igualmente, com o para as toracoplas­ nômica e social dos valores humanos aniquilados
tias, o menor sinal suspeito indicará a supressão pela tuberculose” e “aparece como um intermediá­
da atividade e uma revisão completa, esclarece­ rio entre o sanatório e o meio da vida ordinária,
dora da situação. onde se faz um estágio antes de abandonar o
Os pacientes não submetidos a qualquer forma doente às suas próprias fôrças” . Essas organiza­
de colapsoterapia, isto é, fazendo só tratamento ções constituem-se dos “Centros de Readaptação”
hieieno-dietético, criso^erapia ou tratamentos auxi- e dos “Escritórios de Colocação” , de preferência
liares outros, representam um grupo à parte e articulados entre si, de maneiira tal que os segun­
que deve ser analisado muito cautelosamente. Já dos se dedicam à colocação dos pacientes readap­
vimos que os bacilíferos podem trabalhar e que, tados pelos primeiros.
até em boa percentagem, êsses doentes parecem O trabalho do "centro de readaptação” é com­
receber do trabalho um influxo favorável tradu­ plexo. Não só deve êle readaptar o paciente ao
zido na passagem do escarro a bacilo-nesativo. o esforço, com um treinamento bem dosado de exer­
que seria um argumento em prol da teoria de- cícios, como examinar cada caso pessoal, verifican­
P a t e r s o n . Como quer que seja, êsses pacientes do que tal indivíduo exercia um ofício incompatível
só em casos particulares, contudo, quando uma com a sua situação de antigo enfêrmo e que ne­
A READAPTAÇÃO AO TRABALHO DOS TUBERCULOSOS CURADOS 45
cessita ser reeducado para uma profissão diferente; fermos à aceitação no mercado do trabalho e, na­
que outro poderia melhorar as condições do seu turalmente, os empregadores dão preferência aos
trabalho se melhorasse' a sua técnica, de forma a pacientes que não apresentem qualquer causa de in-
despender um esforço menor, porque “o que se feriorização funcional, bem com o temem sempre a
visa principalmente não é só preparar o homem doença de que foi vítima o indivíduo. Nessas con­
para o trabalho, mas buscar um trabalho conve­ dições. uma campanha que fizesse compreender a
niente ao homem” . E ’ dentro dessa forma de elevada importância social dessas organizações (os
considerar o assunto que a análise psicológica, por Centros de Readaptação e Escritórios de Coloca­
meio de testes, e o estudo das preferências ocupa- ções) e obtivesse uma boa vontade maior de parte
cionais dos enfermos podem representar um ponto dos empregadores, traduzida numa também maior
muito importante em face do programa de rea­ cooperação com elas, seria sempre de máxima uti­
bilitação, como frizam I r v i n S h u l t z e H a r v e y lidade. Ou, então, recomendar-se-ia o artifício de
R u s h ( 5 ) , parque “muitos pacientes ficaram inter­ reunir em uma só “organização” pacientes readap­
nados tanto tempo, que perderam praticamente tados por outras enfermidades (cardíacos, reuma-
todo o contato com seu último trabalho. Outros se tismais, amputados, estropiados diversos, etc), além
dedicaram a trabalhos impróprios a suas capaci­ dos tuberculosos; assim, o empregador ignoraria a
dades física e mental. Ainda outros seguiram uma causa da invalidez e não existiria com certeza a
vairiedade de ocupações antes de sua entrada na etiqueta de “tuberculose” , sôbre o paciente que se
instituição” e por isso “é importante e valioso, do propõe a trabalhar ( 8 ) .
ponto de vista da direção e reabilitação, comparar Êsses aspectos da questão, que revisamos sem
os interêsses ocupacionais de um grupo assim in­ maiores detalhes só para dar uma idéia panorâ­
ternado, com um grupo normal, de fora” . mica do seu vulto, permitem-nos agora passar à
Não se completa, porém, o serviço de readap­ 2.a parte de nossa exposição visando esclarecer
tação com o estágio dos pacientes no “Centro de a situação do tuberculoso, no Brasil, em face de
Readaptação” . Pelo contrário, é preciso ir mais sua admissão ou de sua volta ao trabalho, ou
adiante e não esquecer, segundo T e r r y F o s t e r ( 6 ) , de seu afastamento dêle quando adoece.
que a obra de readaptação do tuberculoso só ter­
mina quando se obteve a sua estabilização social, *
isto é, o ajustamento do paciente às novas condi­ * *
ções de vida que êle passou a ter; sabendo-se que
Inicialmente, convém frizar de novo quão pre­
“muitos pacientes reativam porque voltaram a am­
cário ainda é, entre nós, “o armamento antituber-
bientes e habilitações desfavoráveis” , torna-se claro
culoso” . O tratamento da tuberculose no Brasil,
que ainda seja necessário acompanhá-los durante
em talvez 80 % dos casos, ou mais, faz-se em
algum tempo, depois de sua volta à sociedade.
Ambulatórios dada a escassez dos leitos que, de
A verdade, porém é que todo êsse processo acôrdo com B a r r o s B a r r e t o (9 ), em 1939, exis­
ainda está ’ apenas no início. Basta atentar que tiam em número de 3 .9 1 5 nas diversas cidades
E. L. S i l t z b a c h ( 7 ) nos revela que somente capitais do país, enquanto na verdade precisariam
1 a 4 % dos pacientes que deixam os Sanatórios de atingir ao mínimo de 13.703. Se levarmos em
recebem orientação profissional. Portanto, na me­ consideração as restantes cidades do litoral e in­
lhor das hipóteses, mais de 90, em cada 100 tu­ terior, essa desproporção entre a exigência e a dis­
berculosos que deixam os Sanatórios, voltam a ponibilidade em leitos com segurança tende a au­
sociedade sem saber com o trabalhar adequada­ mentar; nessas condições, o problema da readapta­
mente para manter a saúde, no que se relaciona ção do tuberculoso, tão intimamente ligado aos
com a espécie de trabalho que lhes convém . Sanatórios, aos Centros de Readaptação e aos Es-
A solução do problema, então, reside na multipli­ critorios de Colocações, torna-se mais grave porque
cação dos Centros de Readaptação, com os quais é indiscutível que sobre pacientes em tratamento
funcionariam articulados os “Escritórios de Coloca­ ambulatorio e muito mais difícil exercer urtia vi­
ções” . Haveria sempre dificuldades em obter re­ gilância que permita pôr em prática um sistema de
sultados 100 % satisfatórios, porque os “Escritórios readaptação, por meio de um treinamento ade­
de Colocações” não podem impor os antigos en­ quado .
46 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
N o Brasil, o problema da tuberculose em rela­ se corre o risco de enviá-lo para o trabalho em con­
ção ao trabalho deve ser encarado separadamente, dições inadequadas. Poder-se-ia argumentar que.
conforme se trata de pacientes que trabalham em em face à primeira hipótese — a aposentadoria —
serviços públicos ou em empregos prticulares e, o funcionário não fica desamparado, visto que lhe
para os primeiros, ainda se deve estabelecer uma são assegurados os vencimentos da atividade; toda­
subdivisão, quanto aos serviços públicos federais, via, êsse argumento a nosso ver não procede :
estaduais e municipais. 1.°) porque a aposentadoria, nessas condições, não
representa menos que a interrupção da carreira do
Os servidores públicos federais, em face da tu­
funcionário e, portanto, um prejuízo efetivo para
berculose, têm a sua situação regulada pelos ar­
quem poderia melhorar a situação econômica com
tigos 158, 159, 168, 169 e seu parágrafo e 170 do
a ascenção natural que se processaria, sem contar
Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União.
com o dano moral resultante da etiqueta de in­
O primeiro dêsses artigos estabelece que as licen­
validez aposta ao paciente; 2.°) porque mesmo
ças para tratamento de saúde não podem ultrapas­
sar de 24 meses consecutivos; esgotado êsse prazo, que o paciente se julgasse compensado com a si­
tuação e não prejudicado com a interrupção da
de acôrdo com o artigo seguinte, o 159, será o
carreira, que poderia reencetar depois de curado,
funcionário submetido a inspeção e aposentado “se
não é menos verdade que os lesados seriam o
fôr considerado definitivamente inválido para o
Espado e a Sociedade, que passariam a sustentar
serviço público em geral” . Ora, êsse critério é,
com o inválido um indivíduo em condições de tra­
do ponto de vista técnico, impróprio para atender
balhar. É, portanto, uma situação que merece re­
à situação dos pacientes que, nos têrmos do artigo
visão .
168, serão licenciados compulsòriamente por sofre­
Em França, de acôrdo com G. P o ix (1 0 ), os
rem de tuberculose, pois sabemos que o prazo de
24 meses na grande maioria dos casos é insuficiente funcionários públicos atingidos por tuberculose po­
para assegurar uma cura clínica da tuberculose dem beneficiar-se de licenças num total de 5 anos,
pulmonar. Por isso, embora possa ser a mais per­ antes que seja declarada a sua invalidez. Entre
feita a fiscalização que se exerça de acôrdo com o nós, os Insíitutos dos Industriários, Comerciários,
Bancários, Marítimos e Empregados de Transpor­
artigo 169 e seu parágrafo, sôbre o tratamento a
que fica obrigado o paciente licenciado, bem como tes e Cargas concedem aposentadoria por tuber­
seja perfeitamente justa e razoável a conversão culose, que é revisada anualmente, por 5 anos.
da licença em aposentadoria como o estabelece o revertendo o paciente se nalguma dessas revisões
fôr iulpado apto para trabalhar (1 1 ) . N o Instituto
artigo 170, quando, mesmo antes de esgotado o
da Estiva essa revisão é feita bienalmente, por
prazo previsto no já refeirido artigo 158, fôr o
6 anos. Êsse critério parece-nos o mais acertado;
funcionário em inspeção julgado definitivamente
a revisão periódica deveria, a nosso ver proceder-
inválido, acreditamos que deveria ser modificad'-
se a intervalos de 6 meses durante 5 anos; assim,
o prazo máximo de licença, para nos situarmos
um paciente aposentado, findo o prazo máximo de
mais realmente em face da questão. .
licenca, seria compulsòriamente chamado à inspe­
Com o atual oritério. pelas razões que antes ção em períodos determinados e, mesmo, dever-
apontamos, o que certamente sucederá com fre- se-ia permitir-lhe se apresentasse voluntariamente
cmência é o esgotamento do prazo máximo de à inspeção, fora daqueles períodos, desde que se
24 meses com o paciente ainda em tratamento e, a julgasse cutrado e instruísse o seu requerimento
não ser numa percentagem bastante reduzida dos com atestados médicos adequados.
casos, não se poderá considerá-lo curado ou em Essa a situação dos funcionários públicos fe­
condicões de voltar ao serviço. Êsse doente será derais; quanto aos funcionários estaduais, são ac
definitivamente julgado inválido e aposentado, leis dos Estados que tracam a conduta a ser ob­
quando uma dílação do prazo de licença permitiria servada nesses casos. D e acôrdo com DÉcio
certamente encarar sôbre outro prisma a sua si­ Q . T e l e s (1 1 ), em S. Paulo, e no Marenhão
tuação; ou, se a junta médica ponderar essa pos­ os funcionários tinham licenca por 4 anos com
sibilidade, só lhe (restará o recurso, para impedir todos os vencimentos e, depois, aposentadoria nas
a aposentadoria de um paciente eventualmente mesmas condições. Em M . Grosso, Minas Gerais.
válido, de julgá-lo curado clinicamente, com o que Paraíba, Piauí, Estado do Rio, Sergipe e Amazonas,
A READAPTAÇÃO AO TRABALHO DOS TUBERCULOSOS CURADOS 47
“o funcionário tuberculoso era aposentado com dorias, que mantêm serviços de assistência médica,
todos os vencimentos” . O Espírito Santo, Goiaz, possuem ambulatórios de Tisiologia. Contudo, fal­
Pará e Pernambuco adotavam o disposto na Cons­ tam por completo Sanatórios que possam funcionar
tituição de 1934 dando, em conseqüência, venci­ articuiados com Centros de Readaptação, e os Sa­
mentos integrais ao funcionário com tuberculose. natórios existentes no país também não estão apa­
O Rio Grande do Norte concedia licença com todos relhados para tal. Portanto, resta nesse particular
os vencimentos e, na Bahia, Rio Grande do Sul, tudo a fazer. Parece-nos que, dado o vulto dos
Santa Catarina e Paraná, as Constituições não seus patrimônios, sejam os Institutos de Aposen­
tratavam do assunto. Nos municípios os critérios tadorias (Comerciários, Industriários, e t c .) os que
adotados eram, como regra, os estaduais respec­ poderiam organizar serviços mais adequados, com ­
tivos . Confessamos que, hoje não sabemos qual preendendo Sanatórios e Centros de Readaptação;
a situação exata dos funcionalismos estaduais e naturalmente, tratando-se dêsses Institutos, nêles
municipais do Brasil no que tange a licenças e podariam funcionar os próprios organismos visando
aposentadorias por tuberculose, não nos tendo sido a colocação dos pacientes readaptados, o que seria
possível conseguir, quando preparávamos êste ar­ mais fácil pela vinculação do empregador e do
tigo, uma documentação esclarecedora a respeito. empregado à Instituição.
Todavia, o que julgamos de interêsse é que todos
os esforços sejam feitos para uniformizar a legis­ Quando se trata da volta ao trabalho de funcio­
lação sôbre licenças e aposentadorias por tuber­ nários tuberculosos curados, outra questão a exa­
culose porque, seja no Rio, seja em S. Paulo, minar será a norma a seguir para considerar o
seja em Minas, Pará ou Amazonas, em qualquer paciente em condiçoes. Evidentemente, essa ques­
lugar do Brasil, a tuberculose é a mesma doença tão é puramente de ordem técnica e não caberia
e, exceto certas questões locais de ordem não geral, aqui discutí-la em minúcias; já vimos, contudo, que
a situação do funcionário tuberculoso é a mesma mesmo os pacientes bacilíferos podem trabalhar
quanto aos problemas oriundos da sua enfermi­ sem que isso afete a sua enfermidade. Não se
dade, não havendo razão para que varie o trata­ deve, porém, olvidar que o afastamento do tuber-
mento que lhes é dispensado somente porque un. cuioso é uma autêntica medida de defesa social
trabalham no Rio e outros em Santa Catarina ou e que não existindo ainda, entre nós, instituições
Maranhão. do genero das que descrevemos, o bacilífero nunca
deverá trabalhar. Todavia há pacientes que, cli­
A situação dos empregados particulares em face
nicamente curados, apresentam imagens radioló-
das licenças e aposentadorias se rege pela regula­
gicas pulmonares que levantam dúvidas quanto à
mentação dos Institutos e Caixas de Aposentado­
sua situação; êsses casos limites são os mais difíceis
rias a que pertençam. É, todavia, digno de nota
de resolver, porque, sem dúvida, envolvem uma
que o amparo que êsses organismos conferem não
íesponsabilidade maior para quem os julga. Em
seja tão amplo quanto o concedido aos funcioná­ conseqüência, ao lado da observação prolongada
rios públicos, pois os contribuintes dos Institutos e do paciente para verificar, ou não, a estabilidade
Caixas não têm licença ou aposentadoria com das imagens radiológicas pulmonares, deve-se bus­
vencimentos integrais, como aquêles. car na evolução da curva de sedimentação sanguí­
nea, no aspecto do hemograma e, acessoriamente,
A situação dos trabalhadores doentes (funcioná­
nas reações serológicas as indicações para a decisão
rios civis de qualquer categoria ou trabalhadores
a tomar. R i s t , num artigo (1 2 ) muito preciso e
particulares) ainda precisaria ser considerada
completo a respeito, lembra que não basta esteja
quanto à volta ao trabalho, em relação à readap­
um tuberculoso curado segundo tôdas as aparên­
tação. N o Brasil, pelo menos que seja de nosso cias; “é preciso que a cura seja sólida e tenha
conhecimento, não existe qualquer organização vi­ «ofrido a prova do tempo e, também, a do traba­
sando a readaptação do trabalhador, ou sua co­ lho . Por isso, o tisiologista deveria, em certos
locação no trabalho após a cura; apenas o I.P.A.S.E. casos que se apresentam com o duvidosos, submeter
possui um sanatório para atender aos seus associa­ o paciente à prova do trabalho, único meio de se
dos e alguns dos Institutos e Caixas de Aposenta­ capacitar da solidez da cura.
48 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
Já observamos dêsses casos, entre os quais pa­ evita-se o êrro de considerar como tuberculosos
rece-nos interessante citar, resumidamente, a se­ mdividuos com outras aiecçóes pulmonares ou de
guinte observação de nossa clínica particular : não reconhecer como tais pacientes com lesões
bacnares, com o prejuízo conseqüente para o pró­
“ V . P . , brasileiro, branco, 27 anos.
prio indivíduo e a coletividade. Todavia, em exa­
O paciente já fizera, p or cêrca de 4 meses, pneu­ mes subseqüentes dêsses trabalhadores afastados
m otórax bilateral simultâneo, por lesões fibro-ulcerosas
da atividade, já não será lógico exigir a bacilos-
da m etade superior de am bos os pulm ões e fo i por
nós enviado a um Sanatório porque, na ocasião, julgá­
copia positiva, quando se trata de renovar a licen­
vam os inviável qualquer outro tratam ento. N o fim de ça. O médico deve ter liberdade completa para
14 meses, durante os quais fê z crisoterapia, regressou taze-io, mesmo em ausência de bacilos, se êle julga
d o sanatório m uito m elhorado, em bora com uma ca­
que a cura clínica não foi alcançada ou que eia é
verna ju nto ao h ilo direito e outra ju nto ao h ilo es­
muito recente e, portanto, ainda muito frágil.
q u erd o. N o lado superior direito havia extenso pro­
cesso fibroso, possivelm ente residual das lesões ante­
A ‘ admissão às funções públicas e particulaires
riores. Instalam os pneum otórax à direita, em abril de
dos pacientes curados, é outra questão fundamen­
1939, e à esquerda, em ju nh o d o m esm o ano, que o
paciente m anteve até m eados de 1943. Nessa ocasião, talmente mal compreendida entre -ó s . Existe, no
a fibrose do lo b o superior direito se mantinha com o Brasil, uma verdadeira tuberculoíobia que, de um
m esm o aspecto e as lesões cavitárias haviam sido subs­ modo geral, fecha tôdas as portas aos pacientes
tituídas por traves fibrosas extensas; a laringite especí­
com reliquats de lesões. Para o seirviço público
fica de qu e era portador o doente cicatrizara por
com pleto, o paciente não tinha mais expectoração e
federal, particularmente depois que os exames de
sentia-se b e m . T od avia, faltava a “ prova d ó trabalho” , admissão passaram a se fazer no Serviço de Bio-
pois tem íam os que no seio da fibrose do lob o superior metria do I . N . E . P . , uma acentuada modificação,
ficasse qualquer processo, capaz de se reativar com o
oriunda de uma compreensão melhor do assunto,
retorno à a tiv id a d e. O paciente fo i trabalhar numa
joalheria e hoje, passados 18 meses, continua em ati­
pode-se notar; felizmente, já não se observa, hoje,
vidade, mais gordo e b em disposto e sem que a aquela investida quase sistemática, até há algum
fibrose do lob o superior direito hajà m ostrado qualquer tempo atrás em vigor, contra os pacientes com
m odificação, o que nos dá o direito d e considerá-la fibroses pulmonares ou calcificações cicatriciais.
uma cicatriz que já forneceu sua prova de solidez”
Todavia, ainda não existe uma regulamentação a
Relativamente ao afastamento do trabalho e à (respeito, com o a nosso ver se faz necessário. E ’
admissão, também, algumas considerações teriam preciso o estabelecimento de “normas gerais” , nas
cabimento, visto que muitos problemas a propósito quais se fixem o mais claramente possível as cir­
suigem com freqüência. T odo indivíduo julgadc cunstâncias em que o candidato deve ser recusado
tubetculoso deve ser afastado do serviço, não de­ e em que pode ser admitido. Ficauá, assim, es­
vendo a êle retornar enquanto apresente perigo tabelecido que um paciente com reliquats de le­
de contágio e as suas lesões não estejam estabili­ sões desde que em bom estado geral, com ausência
zadas. A nosso ver, dentro dêsse conceito, ficam de manifestações funcionais e com testes bacterio­
perfeitamente limitadas as condições em que o lógicos e hematológicos negativos, poderia ser ad­
mitido. Ainda poder-se-ia organizar uma lista o.
paciente deverá ser afastado do serviço como tu­
cargos ou funções para os antigos enfermos, m
berculoso; há, evidentemente, necessidede do teste
baciloscópico. A lei francesa, por exemplo, o exige moldes da lista organizada por L a n g i e r e B o n -
taxativamente; G . P o ix (1 0 ), discutindo essa exi­ nardel (in A . F a b r e [ 1 ] ) , o que simplificaria
gência, lembrou as controvérsias que ela suscitou bastante a solução das questões.
nos Congressos de Tuberculose de Strasbourg e Uma tal orientação quanto à admissão às fun­
Lyon. Porém, como sublinha êsse autor, ao menos ções públicas encontraria, certamente, ressonância
para o primeiro exame a que o paciente se sub­ na admissão às funções particulares e, assim, tal­
meta, êsse critério deve ser mantido. Hoje, com vez uma razoável conduta se estabelecesse em
os recursos de que dispomos, particularmente de tempo não muito protraído. Se conseguíssemos
pesquisa do bacilo pela cultura e inoculação do dessa forma, romper o isolamento que se produz
conteúdo gástrico, dificilmente um tuberculoso dei­ em tôrno ao antigo doente, realizaríamos um passo
xará de fazer, mais cedo ou mais tarde, a sua prova fundamental em seu benefício. “Enquanto cons­
bacteriológica. Adotando o teste baciloscópico tituir um problema o grupo médio dos casos crô­
À READAPTAÇÃO AO TRABALHO DOS TUBERCULOSOS CURADOS 49
nicos” , escreveu C l e m e n t e F e r r e i r a (1 3 ), “o es­ 3 — P h . C o u v e — T ravail e t tu bercu lose — L 'ex p érien ce
quema para seu reemprêgo e post-assistência de­ de Camerluta — Presse M ed ica le n.° 59 — 24-7-37.
verá ser considerado com o um complemento de 4 — A ndré F abre — La rep rise d u travail e t Vavenir
todo regimen de tratamento” . Se, então, por ab­ social d es tu bercu leu x pulm onaires — Presse M é -
soluta incompreensão da capacidade de trabalho dicale n.° 78 — 28-9-38.
que tem um tuberculoso curado, fecharmos as por­ 5 — I r v i n S h u l t z and H a r v e y R ush — P sychological
tas do trabalho aos indivíduos com reliquata de testing o l tuberculous patients — “ T h e A m e r. R.
lesões, estaremos agravando o problema e concor­ T u bercu losis” — Junho 1941.

rendo para dificultar a solução dessas questões, 6 — T erry C. F oster — R ehabilitation o l th e tu b er­
para nós tão importantes. culous — “ T h e A m er. R e v . T u bercu losis” — F e ­
vereiro 1941.
No Brasil, todos os assuntos referentes à assis­
tência aos tuberculosos ainda estão numa fase ini­ 7 — E. L. S il t z b a c h — R ehabilitation o f tuberculous
— “ T h e A m er. R e v . T u b e r c .” — Setem bro 1941.
cial . Começada a campanha com a organização de
ambulatórios e dispensários, já existe delineada e 8 — E t i e n n e B e r n a r d — T u b ercu lose e t M ed icin e So-
ciale — M asson et C ie. E d it. — 1938.
em início de realização, a construção de uma rêde
de Sanatórios em várias regiões do país. Seria de 9 — BARROS B a r r e t o — Bases para a organização da

desejar que, tanto quanto possível, uma organi­ luta antituberculosa em fa ce do atual m om en to
ep id em iológico do Brasil — R ela tório ao 1.° C on ­
zação paralela de readaptação dos antigos enfer­
gresso N acional de T u b ercu lose — R io , S . P au lo —
mos fôsse estudada, visando, como lembra H o m e r o
M a io 1939.
S i l v e i r a (1 4 ), “ensaios de horticultura e jardina­
10 — G . P o i x — La tu bercu lose e t le s fonctionnaires d e
gem, o desenvolvimento crescente das atividades
l’ E ta t — Presse M éd ica le n.° 49 — 18-6-38.
até atingirmos as pequenas oficinas” , tudo isso ao
11 — D É c i o Q u e ir o z T eles — O tu bercu loso em face
lado da formação de pequenas bibliotecas selecio­
da legislação — R ela tório O ficia l ao 2.° Congresso
nadas cuidadosamente na base de um critério téc-
N acional de T u bercu lose — S . P au lo — M a io 1941.
nico-profissional e da realização de cursos, que se
12 — E . RlST — L ’ admission aux fonction s pu bliques des
destinariam a melhorar o nível cultural dos enfer­
tu bercu leu x guéris — Presse M éd icale, n .° 36 —
mos e preparar-lhes um melhor futuro profissional, 13-5-37.
com indiscutíveis benefícios para a sua reintegra­
13 — C l e m e n t e F e r r e i r a — Influência, sôbre a fatali­
ção na sociedade após a cura da moléstia.
dade dos casos d e tuberculose, do tratam ento m édico-
cirúrgico e da segregação em estab elecim en tos institu­
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS cionais. Post-assistência e reabilitação profissional —
Com unicação ao 1.° Congresso N acional de T u b e r­
X __ ANDRÉ F a b r e — La reprise du travail e t l ’avenir
social des tuberculeux — G . D oin et C ie . E d it .. — culose — R io , S . Paulo — 1939.

Paris, 1938. 14 — H omero S il v e ir a — Contribuição ao estudo da rea­


2 — D uM AREST — La v ie h ygien iqu e du tu bercu leu x — daptação e reeducação profissional dos tuberculosos
G . D oin et C ie . E d it. — Paris, 1932. — “ P u blicações M éd icas” — M a rço-A b ril 1942.
50 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — - J U N . 1945

Administração de Pessoai
. T omás de V il a n o v a M o n t e ir o L opes

7 écn ico d e Adm inistração

I . DEFINIÇÃO que J . W . D onald (2 ) traduziu com as seguintes


palavras :
ÔDA emprêsa, seja ela pública ou particular,

T
“ Adm inistração d e pessoal é a gerência das relações
visa a determinados fins e, para alcançá-los,
en tre o indivíduo, seus superiores, seus com panheiros
deve dispor dos meios necessários. e a organização a q u e serv e” .

Suas atividades administrativas, quando encara­


Em têrmos mais amplos e focalizando a admi­
das dêsse ponto de vista, dividem-se em substanti­
nistração de pessoal nos seus dois aspectos, o está­
vas ou específicas e adjetivas ou gerais. tico e o dinâmico, poderemos entendê-la como um
As primeiras dizem respeito aos fins da entidade conjunto de órgãos e funções através dos quais
ou emprêsa, os quais podem ser, por exemplo, a são tratados os problemas concernentes às relações
produção e venda de mercadorias, como na indús­ do empregador com os empregados, de uns e ou­
tria e no comércio, ou a segurança das instituições tros com a instituição a que servem, dos emprega­
políticas e sociais, como no govêrn o; as segundas dos entre si, e dêstes últimos com o seu trabalho.

relacionam-se com os meios de que a emprêsa ne­


cessita para atingir os seus fins. II. OBJETIVOS

Dentre êsses meios, os mais importantes são os Quatro são os objetivos da administração de
seguintes: 1) organização (número, natureza, dis­ pessoal:
posição e normas de funcionamento dos órgãos da
emprêsa) ; 2 ) pessoal (para as tarefas de direção I — obter o melhor elemento humano possí­
vel para os trabalhos da em prêsa;
e para as de execução) ; 3 ) material (maquina­
ria, matéria prima, instalações, equipamentos e II — manter êsse elemento em condições que
utensílios de trabalho) ; e 4 ) orçamento (previ­ melhor consultem os interêsses dêle pró­
prio e os da emprêsa;
são e controle de receitas e despesas).
III — elevar o prestígio da emprêsa no merca­
O fato de ser o pessoal um dos meios de que
do de trabalho;
se socorre a emprêsa para alcançar seus fins ca­
racteriza a administração de pessoal com o um IV — desenvolver um elevado padrão de moral
entre os empregados.
setor da administração adjetiva ou geral.
Depois de situá-la em um dos dois grandes ramos Para realizar êsses objetivos, a administração
em que se dividem as atividades administrativas, de pessoal deve basear-se no conhecimento das ne­
poderemos definir a administração de pessoal como cessidades e aspirações do empregador e dos em­
sendo o setor da administração geral que tem a seu pregados.
cargo dirigir e coordenar as relações humanas no Ao contrário do que pode parecer à primeira
trabalho. vista, essas necessidades e aspirações não se opõem
umas às outras, de sorte que atender aos interês­
Essa definição, decalcada na de T ead e M etcalf
ses do empregador importe em sacrificar os dos em-
( 1 ) , encerra, em derradeira análise, a mesma idéia

(2 ) A pud W ALTH E R S, A p p lied P ersonn el A dm inis­


(1 ) P ersonn el Adm inistration — Pág. 2 — M cG raw - tration — Pág. 5 — John W ile y & Sons, Inc. — N ew
H ill B o o k C o. — N ew Y ork — 1933. Y ork, 1931.
ADMINISTRAÇÃO DE PESSOAL 51
pregados e vice-versa. Em uma larga medida — 4 — oportunidade de progresso;
como observa O . P r e s t o n R o b i n s o n — elas se
5 — direito de participação na determi­
fundem e se identificam no desejo comum de que
nação das medidas que afetem ao
a organização seja eficiente para prosperar e . de­
seu bem-estar.
senvolver-se .
A prosperidade e o desenvolvimento da emprê­ A administração de pessoal atingirá tanto me­
sa traz para o empregador perspectivas de auferir lhor os seus objetivos quanto maior fôr a sua ha­
bilidade em harmonizar essas diversas aspirações e
maiores juros do capital invertido e, para os em­
pregados, possibilidades de situação mais estável e necessidades, e transformá-las de possíveis causas
de melhor remuneração. Naturalmente, além dêsses de atrito numa fôrça construtiva a serviço dos fins
da emprêsa.
incentivos financeiros há que considerar os estí­
mulos de ordem moral e psicológica, igualmente im­ Foi talvez com essas considerações em mente
portantes, sem os quais, por exemplo, a administra­ que W a l t h e r s (4 ) definiu a administração de pes­
ção pública, infensa por índole à preocupação do soal como sendo a obtenção de uma fôrça humana
lucro, não encontraria da parte do govêrno e de eficiente, adaptada à organização a que serve e a
seus servidores o mesmo interêsse em vê-la progre­ manutenção dessa fôrça em relações mutuamente
dir e aperfeiçoar-se. harmônicas e proveitosas para o empregador e para
o empregado.
Na maneira de satisfazer suas aspirações e ne­
cessidades é que os empregadores e empregados,
III. ÓRGÃOS
perdendo de vista o que seus interêsses têm de co­
mum, divergem e não raro entram em conflito. A administração de pessoal é exercida através
de órgãos, cujo número, estruturação e complexi­
Cabe à administração de pessoal acomodar essas
dade variam com as circunstâncias de cada caso.
divergências, diligenciando para que os emprega­
dos procurem compreender as necessidades, aspira­ Em geral, no serviço público e nas grandes em­
ções e problemas do empregador, e para que êste, presas industriais e comerciais, êsses órgãos são a
por seu turno, procure fazer o mesmo em relação agência maior ou central, diretamente subordinada
às necessidades, aspirações e os problemas dos em­ ao chefe executivo, com a responsabilidade de ela­
pregados . borar o sistema de pessoal e velar para que êle seja
fielmente cum prido; e as agências menores, que
Para isso, ela precisará, antes de tudo, conhecer
sob o controle e a assistência técnica da agência
essas necessidades e aspirações, que são de modo
central, embora quase sempre não estejam a esta
geral as seguintes :
subordinadas administrativamente, têm a tarefa
de pôr em execução o aludido sistema.
I — quanto ao empregador :
N o serviço público federal norte-americano a
1 — adequada fonte de suplência de agência central do sistema de pessoal é a Comis­
trabalhadores, de sorte que a em­ são do Serviço Civil ( United States Civil Service
prêsa possa dispor da mão de obra Commission), órgão composto de três membros
qualitativa e quantitativamente aceitos pelo Senado e designados pelo chefe do
ajustada às suas necessidades; executivo; e no serviço público federal brasileiro,
2 — mão de obra econôm ica; o Departamento Administrativo do Serviço Público.

3 — disciplina, cooperação, lealdade e A existência das agências centrais torna-se per­


eficiência da parte dos empregados. feitamente compreensível se atentarmos para o fato,
sobejamente pôsto em evidência, de não poderem
II — quanto aos empregados : os órgãos de execução dedicar o necessário cuida-
dc às atividades de pesquisa e de estudo, por isso
1 — salário compensador;
que são, via de regra, absorvidos pelas operações
2 — estabilidade no em prêgo;
3 — boas copdições de trabalho no to­ (3 ) R eta il P erson n el R elations — Cap. I — Prentice
H all, Inc. — N ew Y ork, 1940.
cante à proteção à saúde e respeito
(4 ) A p p lied P ersonn el A dm inistration — Pág. 1 —
à dignidade; John W iley 8s Sons, Inc. — N ew Y ork, 1931.
52 REVISTA DO SERVIÇO PUBLICO — JU N . 1945
de rotina e não dispõem de recursos técnicos que mento do sistema de pessoal; e, finalmente, torna
lhes permitam dedicar-se, com a continuidade e a mais rigorosa a definição de responsabilidades.
ênfase necessárias, ao estudo e solução dos proble­ Quer sejam de direção plural ou de direção sin­
mas que escapam aos seus habituais processos de gular, agências centrais de pessoal compreendem
trabalho. Mas ainda que os citados órgãos esti­ geralmente, além do gabinete do presidente ou do
vessem tecnicamente aparelhados para realizar, diretor executivo, certo número de divisões, de se­
cada um de per si, os estudos e pesquisas de que cretarias ou de serviços.
necessitassem, restaria observar que essas ativi­
A Comissão do Serviço Civil norte-americano,
dades isoladas acarretariam um dispêndio de tem­
por exemplo, engloba, afora o gabinete do diretor
po, esforço e dinheiro, que no serviço público, ou
executivo e os serviços de administração geral, 7
numa emprêsa particular de grande vulto, assqmi-
divisões, 1 conselho, 1 junta, e 13 secretarias dis­
ria respeitáveis proporções. Outra razão bastante
tritais, estas últimas situadas em Boston, New
forte para justificar a existência das agências cen­
York, Filadélfia, Washington — D .C ., Atlanta,
trais está em que elas asseguram a unidade de
Cincinnati, Chicago, St. Paul, St. Louis, New Or-
orientação indispensável ao estabelecimento de um
leans, Seattle, São Francisco e Denver.
sistema de pessoal uniforme, permitindo, assim, que
em todos os setores da emprêsa sejam adotadas O quadro abaixo indica diversos órgãos (7 ) in­
para iguais problemas iguais soluções. tegrantes da citada Comissão e dá um resumo das
principais atribuições de cada um.
As agências centrais podem ser de direção plural
o direção singular, isto é, podem ser dirigidas por
COMISSÃO DO SERVIÇO CIVIL DOS EE. UU.
várias ou por uma só pessoa. As Comissões de Ser­
viço Público pertencem, geralmente, ao primeiro ( United States Civil Service Commission)
tipo e, como exemplo do segundo, podemos indicar 1. D ivisão d e E xam e e Utilização do Pessoal : — E la b o­
o nosso Departamento Administrativo do Serviço rar editais de concursos (co m p etitiv e examina-
P úblico. tions) ; proceder à inscrição dos candidatos e
aos exames de seleção ; organizar as listas dos
Qual dos dois tipos de direção é o mais aconse­ candidatos em condições de serem nom eados ;
lhado ? Possivelmente, o segundo. estabelecer os requisitos e determinar as pro­
vas para efeito de prom oção, transferência e
A favor da direção plural têm sido apresentados
rein tegração; estudar processos tendentes ao
muitos argumentos, girando a maioria dêles em tôr­ aperfeiçoam ento das normas de trabalho e m e­
no do fato, assaz comprovado, de que as funções de lhoria da capacidade funcional dos servidores.
conselho e deliberação exigem que as situações e 2. D ivisão d e In form ações : — M anter o pú blico perm a­
os problemas sejam estudados de pontos de vista nentemente inform ado a respeito das ativida­
des da C om issã o; preparar o m aterial de
diferentes, filtrados através de vários cérebros,
propaganda e divulgação a ser distribuído à
a fim de que as soluções resultem de um exame tan­ imprensa, ao rádio, às universidades e outros
to menos unilateral e de uma troca de opiniões estabelecim entos de ensino, bem com o às ins­
tanto mais ampla, o que, sem dúvida, é mais difí­ tituições profissionais e de administração pú­
blica ; editar as publicações da Com issão, in­
cil de obter através da direção singular. Esta última,
clusive o relatório anual.
vivamente combatida por L e w is M e r ia m (5 ) que
3. D ivisão M édica : — V erificar a capacidade física e
nela vê o perigo da autocratização do sistema de
mental dos que pretendem ingressar no ser­
pessoal, oferece, entretanto, algumas vantagens de­ v iço pú blico fe d e r a l; realizar os exames m é­
cisivas (6 ). Assim, por exemplo, ela produz maior dicos nos casos de licença e aposentadoria por
concentração da autoridade e, com isso, cria con­ m otivos de s a ú d e ; estudar e propor medidas
que visem à proteção da saúde dos servidores
dições mais propícias à eficiência administrativa ;
permite maior uniformidade de diretrizes, impri­
(6 ) V id e a Parte II, Sec. II, do relatório do P resi­
mindo mais coerência à aplicação e desenvolvi-
d en ta C om m ittee on A dm inistrative M anagem ent — U . S .
G overnm ent Printing O ffice — W ashington, 1937.
(7 ) P or m otivos óbvios foram excluídos os órgãos
(5 ) P ersonnel Adm inistration in the F ederal G o­ que não exercem atividades específicas e m aiores de ad­
v ern m en t (o p ú scu lo ) — T h e Brookings Institution — ministração de pessoal, tais com o a B iblioteca, a D ivisão de
W ashington, 1937. M aterial, e tc.
ADMINISTRAÇÃO DE PESSOAL 53
públicos ; recrutar e examinar o pessoal para Estão elas indicadas, com suas principais atribui­
os serviços m é d ic o s ;
ções, no esquema abaixo, em que também figura
4. D ivisão d e Classificação d e Pessoal : — Analisar os
o Conselho de Administração de Pessoal, criado
cargos, especificar as fu n ç õ e s ; constituir as
classes e ca rreiras; organizar os planos de pelo Decreto-lei n.° 5.973, de 28-10-43.
pagam ento ; realizar estudos e propor normas
referentes a apuração da e fic iê n c ia ; aplicar
DEPARTAM ENTO ADM INISTRATIVO DO SERVIÇO
a lei de classificação e os regulamentos e or­
dens executivas que a suplem entam . PÚBLICO

5. D ivisão d e R egistro : — Centralizar os registros refe­


rentes aos servidores públicos, à parte os even­ ( Setor de Pessoal — Atividades maiores)
tuais ; fiscalizar a aplicação das normas refe­
rentes a nom eação, reintegração, transferência D ivisão d e E studos d e Pessoal ( D . E . ) : — Estudar
e p r o m o çã o ; elaborar ordens executivas para e elaborar planos de pagam ento dos servidores civis ; estu­
emenda das normas e regulamentos do serviço dar os planos e prop or a classificação dos cargos e fu n ç õ e s ;
c iv il.
estudar e rever continuadam ente os quadros e tabelas num é­
6. D ivisão cü Aposentadoria : — Aplicar a legislação re­ ricas do p e s s o a l; estudar e propor a lotação dos órgãos do
ferente a aposentadoria ; manter o registro dos serviço pú b lico civil ; estudar os sistemas de prom oção e
beneficiários e o controle dos fundos para
as normas para m elhoria de salários ; estudar os problem as
custeio das p en sões; estabelecer a regulam en­
de assistência social relativos aos servidores públicos ; estu­
tação a ser obedecida pelas agências emprega-
doras, no tocante às contas individuais de apo­ dar m edidas tendentes a incentivar o cooperativism o e a
sentadoria . assistência econôm ica aos servidores p ú b lic o s ; colaborar na

7. D ivisão d e In vestigações : — Investigar a conduta so­ elaboração e execução orçam entária, na parte relativa a
cial e política dos candidatos a certos cargos ; pessoal.
apurar as fraudes nos casos de inscrição, exa­ D ivisão de Orientação e Fiscalização do Pessoal
mes e outros a t o s ; fiscalizar os trabalhos de
(D .F .) : — Orientar, coordenar e fiscalizar a parte exe­
identificação datiloscópica de todos os servi­
cutiva da adm inistração do pessoal civil da U nião, exceto
dores públicos fed era is; supervisionar a sele-'
no que se referir a seleção e a p erfeiçoa m en to ; estudar e
ção, treinam ento e designação dos investiga­
dores. propor a revisão de decisões contrárias à legislação e normas
em vigor, no setor que lhe é correspondente ; apreciar as
8. Junta d e R ecu rso e R evisã o ( 8 ) : — A preciar os re­
questões, relativas à m ovim entação, direitos e vantagens,
cursos e pedidos de revisão de atos e decisões
deveres e responsabilidades dos servidores p ú b lic o s ; elabo­
dos vários serviços da Com issão, tais com o
rar e propor a expedição de instruções e normas que facili­
classificação em concurso, organização de lis­
tas para nom eação, aplicação da lei de a po­ tem a uniform e aplicação da legislação ou solucionem ques­
sentadoria, e tc. tões de caráter geral, relativas ao seu cam po de a çã o.

9. C onselho d e Adm inistração d e Pessoal ( 9 ) : — E sta­ D ivisão d e S eleçã o ( D . S . ) : — Estudar os processos


belecer um sistema de ligação entre a Com is­ de recrutam ento e seleção do pessoal do serviço pú b lico
são e as agências de pessoal dos ministérios ; civil ; organizar as instruções e programas dos concursos e
elaborar planos específicos para o aperfeiçoa­ provas de habilitação para ingresso no serviço pú b lico civil;
m ento e ccordenação da administração de pes­ realizar concursos e provas de habilitação e expedir certi­
soal do serviço pú blico fed era l. ficados de aprovação ; opinar sôbre a habilitação de can di­
datos a funções de extranumerários contratados e mensalis-
* * *
tas, quando não houver realizado prova para a função ; p ro ­
O Departamento Administrativo do Serviço Pú­ m over o aperfeiçoam ento da legislação e das normas sôbre
blico que, com o dissemos acima, é a agência cen­ seleção de pessoal.
tral do sistema de pessoal do serviço público fe­ D ivisão d e A p erfeiçoa m en to ( D . A . ) : — Organizar e
deral brasileiro, compõe-se de um Conselho Deli­ m anter cursos que visem ao aperfeiçoam ento dos servidores
berativo, oito divisões e dois serviços ( 1 0 ) . públicos, no que disser respeito a problem as de adm inis­
tração e a assuntos que sejam de interêsse com um aos órgãos
Dêsses órgãos, os mais importantes, do ponto
do serviço p ú b lic o ; prom over e orientar a organização e
de vista em que nos situamos, são as divisões que
fiscalizar o funcionam ento dos cursos de aperfeiçoam ento
tratam especificamente dos problemas de pessoal.
dos m in istérios; realizar congressos e con ferê n cia s; pro­
m over intercâm bio de órgãos da adm inistração pública, em -
(8 ) e (9 ) Órgãos colegiais auxiliares. prêsas privadas e instituições cu ltu ra is; prom over a ida
(1 0 ) Art. 2.° do R egim ento aprovado pelo D ecreto
de funcionários ao estrangeiro em viagem de estudos.
n.° 1 1 .10 1 , de 11-9-42.
54 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
Conselho d e Adm inistração d e Pessoal (1 1 ) : — P ro­ DIVISÃO DE PESSOAL (D . P . )
m over m elhor coordenação e m aior eficiência dos órgãos
interessados na adm inistração de pessoal no serviço civil Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio
federal.
S ecçã o Adm inistrativa ( S . A . ) : — Opinar, do ponto
* *
de vista legal, sôbre a aplicação da legislação vigente rela­
As agências menores. O sistema planejado pela tiva ao p e s s o a l; estudar os papéis e expedir as com unica-
agência maior põe em jôgo, na sua fase de aplica­ cões necessárias referentes a direitos, deveres, vantagens
e demais assuntos concernentes a funcionários e extranume­
ção, uma infinidade de providências, de operações
rários ; estudar e opinar quanto à admissão, recondução,
e de formalidades, as quais, visando à coordenação
m elhoria de salário e dispensa dos extranum erários; coor­
sistemática dos assuntos relativos ao pessoal, bem denar nas épocas próprias, em face das necessidades dos
como à execução e fiscalização das medidas de ca­ serviços, as relações numéricas dos extranumerários, tendo
ráter administrativo, econômico, financeiro e so­ em vista a lotação de cada rep a rtiçã o; organizar as rela­

cial a êle referentes, cabem quase que totalmente ções nominais de extranumerários, com indicação dos ele­
m entos constantes das relações n um éricas; publicar o “ B ole­
às agências menores. Estas últimas, situadas nos
tim de Pessoal” , que será am plam ente distribuído, incluin­
ministérios e nos órgãos diretamente subordinados do-se nêle, obrigatoriam ente, tôdas as decisões e atos rela­
ao executivo, são comumente denominadas divisões, tivos aos funcionários e extranum erários; lavrar todos os
serviços ou secções de pessoal. atos relativos aos funcionários e extranumerários e divul­
gar os que se tornem n ecessários; organizar o expediente
N o serviço público federal norte-americano, as relativo à posse dos funcionários e à admissão dos extra­
divisões ministeriais da pessoal foram instituídas numerários ; iniciar o processam ento para prover as vagas
por um decreto expedido em 24 de junho de 1938, ocorridas no quadro de fu n cion á rios; organizar e manter
o qual dispunha que as citadas divisões deveriam rigorosam ente em dia os elem entos necessários ao processa­
estar instaladas até fevereiro do ano seguinte. m ento das prom oções dos funcionários ; organizar, manter
em dia e publicar as listas de antiguidade dos funcioná­
Eritre nós, seis ministérios possuem divisões de rios ; matricular os funcionários e extranumerários e adotar
pessoal; são êles o do Trabalho, Indústria e Co­ o cód igo e os prefixos estabelecidos pelo D . A . S . P . ; pro­
mércio, o da Agricultura, o da Educação e Saúde, por a criação e a supressão de cargos e funções, tendo em
vista as necessidades do serviço ; opinar quanto à lotação
o da Justiça e Negócios Interiores, o da Viação e
das repartições e s e rv iço s ; manter em dia o assentamento
Obras Públicas, e o das Relações Exteriores; os individual do funcionário e do extranumerário, com indica­
quatro restantes — da Guerra, da Fazenda, da ção dos elem entos de identificação, encargos de fam ília, na­
Marinha e da Aeronáutica — possuem serviços de tureza profissional, índices de aptidão e quaisquer outros
pessoal. fatos que se relacionem , direta ou indiretamente, com o
exercício de funções p ú b lica s ; organizar e publicar, anual­
Convém observar que, no sistema adotado pelo mente, o almanaque de p e s s o a l; em itir a caderneta do fun­
nosso serviço civil federal, as divisões e os serviços cionário ; estudar, nas épocas próprias, a relação numérica
de pessoal possuem as mesmas atribuições, expli­ dos extranumerários e seus salários, tendo em vista os
recursos orçam entários.
cando-se a disparidade de nomenclatura pela ne­
S ecçã o d e C on trole ( S . C . ) : — Organizar e manter
cessidade de serem obedecidos certos preceitos de
em dia a ficha financeira in d iv id u a l; contro.ar os boletins
oraem estrutural ( 1 2 ) . Por outro lado, não dife­
de freqüência, que lhe devem ser rem etidos pelas reparti­
rem eies, essencialmente, quanto à sua composição, ções ; proceder à averbação e classificação dos descontos,
ut. bortc; que podemos tormar uma íaeia mais ou exercendo a fiscalização necessária ; conferir os valores aver­
menos exata de todos, conhecendo a organização bados e cla ssifica d os; expedir guias de crédito correspon­
da Divisão de Pessoal do Ministério do Trabalho, dentes aos descontos a utorizados; encaminhar à S . A . , d e­

Indústria e Comércio, que abaixo (1 3 ) sinteti­ pois de extraídos os elem entos que interessam à secção, os
boletins de freqüência dos funcionários e extranumerários,
zamos :
para efeito do respectivo assentamento in d iv id u a l; fiscali­
zar, permanentem ente, a distribuição e aplicação das verbas
(1 1 ) Funciona junto ao D . A . S . P . D êle fazem parte de p e s s o a l; organizar e manter em dia o conta corrente
os diretores das divisões de Estudos de Pessoal, O rienta­ das carreiras; expedir os boletins de alterações, contendo
ção e Fiscalização do Pessoal, A perfeiçoam ento e Seleção,
os novos elem entos e as m odificações de crédito e débito
bem com o os chefes ou diretores dos órgãos de pessoal civil
dos m inistérios. do pessoal.
(1 2 ) V eja-sè A D ivisão d e Organização e Coordena­ S ecçã o Financeira ( S . F . ) : — (Elaborar as fôlhas de
ção e suas atividades em 1941 — Pág. 22 — Imprensa N a­
pagam ento, as relações dos descontos obrigatórios e auto­
cional — R io , 1942.
rizados, b em com o os cheques ou bilhetes com o extrato dos
(1 3 ) O autor cingiu-se ao texto do Regulam ento apro­
vado pelo D ecreto n.° 6 .7 3 5 , de 21-1-41. lançam entos feitos em fôlha ; organizar a dem onstração m en­
ADMINISTRAÇÃO DE PESSOAL 55
sal da despesa com o pessoal, enviando-a à S . C . ; apurar satisfaça as necessidades que lhe são pró­
o custeio do p e s s o a l; conferir os valores apurados e des­ prias ;
c o n ta d o s ; encaminhar à S . A . , devidam ente inform ados, os
elem entos da despesa que devam ser publicados no “ B ole­ 3.° a competência deve ser descentralizada,
tim do Pessoal” ; fornecer dados para o orçam ento do desde que a rapidez na realização das tare­
pessoal do M in istério. fas apresente especial importância e deva
S ecção d e A ssistência Social ( S . S . ) : — Estudar as ser facilitada;
medidas relativas aos acidentes que possam atingir os fun­ 4.° a competência deve ser centralizada, sem­
cionários e extranumerários, quando no exercício de suas
pre que a uniformidade dos processos e das
fu n ç õ e s ; estabelecer m edidas para socorros de u rg ên cia ;
soluções deva predominar;
providenciar sôbre a adoção de medidas para higienização
dos locais de trabalho e para o con forto do p e s s o a l; colabo­ 5.° a competência deve ser centralizada tanto
rar na incentivação do cooperativism o.; colaborar nos estu­ quanto seja preciso para evitar desperdícios
dos de tipologia, antropom etria e psicotécnica, relativos aos
e duplicação de atividades.
funcionários e extranum erários; estudar e propor a organi­
zação de cursos de adaptação e a p erfeiçoa m en to; fornecer
IV . FUNÇÕES
atestados e laudos m édicos, nos casos de licença para tra­
tam ento de saúde, verificação de doença em pessoa da fam í­ O campo da administração de pessoal é muito
lia e ausência ao serviço por m otivo de doença ; participar, extenso e compreende problemas de uma grande
por interm édio de um m édico, da junta m édica designada
variedade, desde os de ordem econômica até as
para efeito de a posen tadoria; colaborar com a Com issão de
E ficiên cia na identificação das causas determinantes da di­
mais delicadas questões de psicologia individual e
m inuição do rendim ento do serviço e b em assim n o estudo social.
de medidas tendentes a racionalizar os m étodos e normas Dentro dêle há lugar para os princípios e méto­
de trabalho.
dos de diversos ramos do conhecimento humano,
A descrição do sistema de pessoal do nosso ser­ como sejam a economia política, a estatística, a psi­
viço civil federal não será completa se deixar de cologia, a medicina, o direito e a técnica de orga­
mencionar o Serviço de Biometria Médica, do Ins­ nização.
tituto Nacional de Estudos Pedagógicos, adminis­ O empregador que deseja obter adequadas for
trativamente subordinado ao Ministério da Educa­ tes de suplência de mão de obra defronta-se com
ção e Saúde, e que, embora não possa ser, a rigor, a necessidade de conhecer o mercado de trabalho,
incluído entre as agências menores, desempenha, o que por sua vez implica o conhecimento da lei
entretanto, papel assaz importante dentro do refe­ da oferta e da procura, o dos princípios que con­
rido sistema. A êle cabem, a grosso modo, funções dicionam as relações entre o capital e o trabalho
idênticas às da Divisão Médica da Comissão do no processo de produção, bem como o desenvolvi­
Serviço Civil dos Estados Unidos. mento das fôrças econômicas e suas repercussões
* % * na mobilidade da fôrça do trabalho e nos sistemas
de aprendizagem e treinamento. Certos conheci­
Da exposição que acabamos de fazer verifica- mentos de economia política são igualmente neces­
se que a administração de pessoal é, ordinàriamen- sários à solução racional das questões de salários
te, centralizada na sua fase de planejamento, su­ e incentivos financeiros.
pervisão e controle, e descentralizada na sua fase A psicologia objetiva, nos seus vários aspectos,
de execução. Isto, porém, não impede que a agên­ é indispensável à administração de pessoal, pois é
cia central ou maior exerça atividades puramente
'ela que fornece os princípios sistematizados e os
executivas. A questão será entendida acertadamen-
recursos de investigação que permitem selecionar e
te, se a focalizarmos à luz dos princípios que regem
treinar os empregados, e adaptá-los ao ritmo e con­
a distribuição das atividades entre os órgãos de pes­
dições de trabalho, mediante processos baseados na
soal. Tais princípios são :
prévia exploração do mecanismo do comporta­
1.° a competência para a prática de determi­ mento humano.
nados atos deve caber ao órgão que centra­ O problema da fadiga fisiológica, o das doenças
lizar as mais importantes das informações profissionais e muitos outros relacionados com a
em que os mesmos atos se devam basear; proteção à saúde do trabalhador não serão resol­
2.° a competência deve ser descentralizada na vidos com acêrto sem auxílio da medicina, do mes­
medida indispensável para que cada serviço mo passo que os ensinamentos da estatística e os
56 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
seus métodos de apresentação e análise não pode­ M o s h e r & K i n g s l e y (1 4 ), encarando a questão

rão ser desprezados no estudo de fenômenos multi- à luz da experiência das organizações públicas e
causais como são as relações humanas no trabalho. privadas de seu país, dão à agência de pessoal 26
funções, das quais 5 são de caráter quase-legislativo
Pelo fato mesmo de ser extenso e englobar pro­
e administrativo, 11 de caráter administrativo, 1
blemas tão variados, o campo da administração de
de caráter quase-judicial, 7 de aconselhamento e 1
pessoal sói ser distribuído por funções, cuja discri­ de caráter administrativo e de aconselhamento.
minação e complexidade, como é óbvio, variam Tais funções figuram no quadro abaixo, que re­
com as condições da emprêsa. produzimos do livro dos dois citados autores :

FUNÇÕES DE UM A AGÊNCIA DE PESSOAL

F u n ções Caráter

1. Classificação — jurisdicional Quase-legislativo e adm inistrativo


2. Classificação — atribuições Quase-legislativo e adm inistrativo
3. Recrutam ento Adm inistrativo
4. Seleção — exame, investigação ■
e certificação Adm inistrativo
S. Estágio probatório Adm inistrativo
6. Avaliação da eficiência Quase-legislativo' e adm inistrativo
7. Transferência Adm inistrativo e de aconselham ento
8. Prom oção Adm inistrativo
9. Reintegração Adm inistrativo
10. Treinam ento e educação Aconselham ento
11. Controle da freqüência (atra­
sos, faltas, saídas) Quase-legislativo e adm inistrativo
12. Desligam entos Adm inistrativo
13. D isciplina Aconselham ento
14. Recursos Quase-judicial
15. Rem uneração Quase-legislativo adm inistrativo ou de aconselhamento
16. Organização de fôlhas de
pagam ento Adm inistrativo
17. Aposentadoria Adm inistrativo
Aconselham ento •r
18. R eclam ações e sugestões
19. Saúde, bem -estar e recreação Aconselham ento
20. A m biente de trabalho A conselham ento
21. C ooperação dos em pregados Aconselham ento
22. C ooperação do pessoal
executivo Aconselham ento
23. Regras e regulamentos Quase-legislativo
24. Investigação da aplicação da lei Adm inistrativo
25. Pesquisa e estatística Adm inistrativo
26. R elações com o pú blico Adm inistrativo .

H arvey W alker (1 5 ), partindo igualmente do a mesma aparelhada para o exercício das seguintes
princípio de que a administração de pessoal deve funções :
ser funcionalizada, salienta a necessidade de estar
1. Exame — inclusive anúncio das vagas a
prover e recebimento de pedidos de inscri­
' (1 4 ) “ P u blic Personnel A dm inistration” — P ágs. 9 0 ção;
e sgs. — H arper & Brothers — N ew Y ork, 1 9 4 1 .
2 . Classificação e remuneração ;
(1 5 ) "P u b lic Adm inistration in the United S tates”
— P á g. 1 5 5 — Farrar 85 Rinehart, Inc. — N ew Y ork, 1 9 3 7 . 3. Treinamento;
ADMINISTRAÇÃO DE PESSOAL 57
4. Condições de serviço, avaliação da eficiên­ 2. Controle das condições de trabalho, visando
cia e prom oção; manter e utilizar de m odo eficiente o pes­
5. Incapacidade e afastamento;
soal obtido ;

6. Relações dos empregados, abrangendo os 3. Criação de certos serviços para os empre­


programas de bem-estar social e a audiên­ gados, tendo em vista fomentar entre êstes
cia e solução de reclamações. o auto-aperfeiçoamento e a elevação da
eficiência;
Segundo D ale Y oder ( 1 6 ) , as mais importan­
4. Manutenção dos registros e pesquisas rela­
tes funções da administração de pessoal na indús­
tivos ao pessoal.
tria moderna estão compreendidas nas quatro se­
guintes classes : A enumeração feita por M o s h e r 6c K i n g s l e y ,
a mais detalhada de tôdas e talvez por isso mesmo
1. Obtenção de pessoal;
a mais explicativa, é, sem dúvida, a que melhor
sugere um estudo objetivo e sistematizado das
(1 6 ) Personnel and Labor R elations — P á g . 12 —
funções da administração de pessoal.
Prentice H all, Inc. — N ew Y ork, 1941.
58 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — ■ JU N . 1945

A preferência pelos veteranos na


conjuntura atua!
Luiz G u i l h e r m e R a m o s R i b e i r o
Técnico de Administração

“The tradition of aid to veterans, indeed, Porém, a fase de transição entre a guerra e a
is
much older than the m erit system ” — L eonard
paz exigirá, sem dúvida, maiores estudos, a res ■
D . W h it e .
peito das vantagens e prerrogativas que deverão
“ O ne o f the m ajor post-vvar problem s faced b y
ser outorgadas, genèricamente, aos ex-combatentes
any nations is the restitution o f its veterans to
normal national life ” . — J o h n F . MlLLER.
do Brasil, em razão do sacrifício que lhes foi exi­
gido para a vitória. É claro que nos referimos
Á RIAS foram as repsrcussões que a entrada aos benefícios de ordem civil, já que, do ponto

V do Brasil na guerra produziu no campo da


administração de pessoal. O Govêrno decretou
uma legislação especial, ditada, duplamente, pe­
de
ser
vista puramente militar, outras regalias devem
estabelecidas.
Na esfera administrativa, tais concessões, em
las exigências da segurança da Pátria è.pelos in- outros países, assumem diversos aspectos, inician­
terêsses dos servidores públicos. Quanto a êstes do-se pela preferência garantida aos veteranos, na
últimos, foi-lhes assegurado o licenciamento do classificação de concursos, sôbre os demais candi­
serviço, com tôdas as vantagens do respectivo datos, em igualdade de condições. Segundo in­
cargo, ou função, no caso de mobilização para as forma L ev vis M a y e r s , nos Estados Unidos, o sis­
fôrças armadas. O direito de opção, no tocante tema de preferência data de 1865, quando o
ao vencimento, remuneração ou salário, também Congresso decretou a seguinte resolução :
ficou reconhecido.
“ Persons honorably discharged from the military
Por outro lado, foram suspensas diversas dispo­ or naval Service b y reason o f disability resulting from
sições do Estatuto dos Funcionários, visando apa­ wounds or sickness incurred in the line o f duty
relhar a Administração a agir, rápida e eficiente­ shall be preferred for appointm ents to civil offices,
provided they are found to possess the business ca-
mente, no sentido de resolver os problemas de
pacity necessary for the proper discharge o f the
pessoal, decorrentes do estado de beligerância.
duties o f such o ffice ” (1 ).
Foi suspensa, por exemplo, a obrigatoriedade do
prévio inquérito administrativo, para a demissão Posteriormente, foram revistas as leis rela­
do funcionário, entendendo-se que essa medida só tivas ao serviço civil, ficando estabelecida não só
tem aplicação na hipótese de faltas relacionadas a preferência dos veteranos sôbre os demais can­
com a situação bélica do país. didatos habilitados, como também foi permitida
Desta forma, e com a adoção de providências a sua aprovação com médias inferiores à daqueles,
complementares, com o o exame das possibilidades de modo que uma pessoa que, normalmente, não
de readaptação dos militares feridos, já em pleno teria logrado nem habilitação, poderia até ser
desenvolvimento, ficou, de certo modo, prevenido preferida para a nomeação, pelo fato de se tratar
o problema da desmobilização dos servidores con­ de um ex-marinheiro ou soldado.
vocados para o serviço ativo. O sistema de pen­ “ B y theses provisions the disabled ex-soldier or
sões, a seu turno, garante a subsistência das famí­ ex-sailor was not only preferred over ali others
lias dos funcionários mortos, ou desaparecidos, e w ho had passed the exam ination b u t he was per-
a aposentadoria, já prevista pelo Estatuto, regulará m itted to pass at a low er rating, so that one who

as futuras condições de vida dos servidores abso­


lutamente invalidados para o serviço" público. (1 ) T h e F ederal S erviço, p á g . 407.
A PREFERÊNCIA PELOS VETERANOS NA CON JU NTURA ATUAL 59
would have failed to qualify had he n ot been a Serviço Civil regular o m odo por que tal bene­
disabled ex-soldier or sailor m ight be given first fício será pôsto em prática.
call unon the position ” .
Uma das fórmulas usadas é a de adicionar 5
Antes de 1920, ocorreu outra extensão do a 10 pontos, nos graus obtidos pelos ex-militares
princípio da preferência dos veteranos, segundo incapacitados, havendo, porém, grande celeuma na
a qual conceituação do que seja um “veterano” , para os
efeitos legais. Por exemplo, uma questão a re­
“ In making appointm ents to clerical and other
solver é se o tempo de serviço prestado às fôrças
positions in the executive departm ents and inde-
armadas, contado em anos, meses ou dias, influi
pendent governm ent establishments preference
shall be given to honorably discharged soldiers, na caracterização do “veteran” , ou se tal qualifica­
sailors, and marines, and w idow s o f such, if they tivo decorre de ferimentos, ou incapacidades, re­
are qualified to hold such positions” . sultantes de campanhas bélicas. A respeito,
escrevem aqueles autores :
Essa decisão mereceu a crítica do citado autor,
pois “ E ven soldiers or sailors w ho h ave purchased
their releases from the A rm y and N a vy are en-
“ a m ere term o f Service in the A rm y or N avy titled to the benefits o f veteran preferen ce pro-
is m ade the basis for a m andatory preference in vided th ey were discharged under honorable
ali federal positions” . conditions” ( 3 ) .

Convém, entretanto, esclarecer que, pelo “Star- E continuam, salientando o caráter intrínseco
ney Bill” , uma nova política foi adotada a respeito, à qualificação do veterano :
excetuando-se das regras da preferência o serviço
“ N o one is entitled to the benefits o f veteran
militar, em tempo de paz, e estabelecendo-se que
preference unless he proves that his last discharge
tal privilégio atinge apenas os veteranos “who from m ilitary forces was an honorable one” .
served during any war or in any Campaign for
which a campaign badge has been authorized” Assim, a Comissão do Serviço Civil não sò­
( 2 ). mente nega aos ex-soldados que tiverem dado
baixa do Exército ou da Armada, “for delinquency
Ademais, aquela preferência sòmente dizia res­
or misconduct until at least one year after such
peito à ordem de classificação nos concursos, e
dismissal” , os benefícios da preferência, como,
não à nomeação propriamente dita. Desta ma­
também, rejeita-lhes a própria inscrição nos exa­
neira, a autoridade poderia,- em face da lei
mes para o serviço civil.
que permite seja feita a escolha do nomeado den­
tre três nomes constantes de uma lista ( one-in- Cabe esclarecer que a preferência outorgada
three list), des'gnar para o cargo um dos outros às esposas dos veteranos, com a soma dos 10 pon­
dois candidatos indicados, desprezando o veterano, tos à média obtida nas provas, só se verifica
sua espôsa ou viúva. O geral, no entanto, dadas
“ in those cases in w hich her husband’s physical
razões de caráter sentimental facilmente presu­ disabilities disqualify him from com peting in exa-
míveis, era a indicação do próprio ex-soldado ou minations for positions in line w ith the occupation,
marinheiro, ou pessoa de sua família. or occupations, b y which he has been accustom ed
to earn a liveh ood ” .
Uma exposição mais detalhada e, ao mesmo
tempo, mais recente dos procedimentos norte- Porém, quando se trata de viúva de ex-comba­
americanos, em relação à matéria, se encontra no tente, não é feita qualquer distinção, isto é, não
livro “Your Federal Civil Service” , de autoria de se cogita se o marido, quando vivo, estava ou não
J a m e s C. O . B r i e n e P h i l i p P. M a r e n b e r g (edi­ inválido, ou nas demais condições referidas.
ção de 1940). De acôrdo com o que informam
Na hipótese de desejar o veterano usufruir as
êsses autores, o Congresso dos Estados Unidos
vantagens oferecidas, tem de preencher, no ato de
apenas estabeleceu o preceito de que aos vetera­
inscrição no concurso, uma fórmula especial, jun­
nos deve ser dada prferência nas nomeações, ca­
tando a mesma os necessários documentos com-
bendo ao Presidente do pats e a Comissão do
probatórios, sob pena de não gozar das preferên­

(2 ) L e o n a r d W H IT E , V etera n ’ s P referen ce.. (3 ) Ob. cit., pág. 3 8 6 .


60 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
cias. Nos editais de recrutamento, há um item, Se acontece que um veterano consegue um car­
dentre os relativos às qualificações exigidas, que go no “classified Service” americano, êls continua
diz respeito ao assunto.^ Para ilustrar êste tra­ a merecer preferência, enquanto prestar seus ser­
balho, transcrevemos, a seguir, e extraído do edi­ viços ao Govêrno.
tal para as provas de “Farmer Fieldman”, do
“He cannot be discharged, dropped or reduced
Ministério da Agricultura, elaborado pela “United
in rank or salary if his record is good or if his
States Civil Service Examination” , o seguinte: efficien cy rating is equal to that o f any em ployee
in com petition with him who is retained in the
“ APPLICANTS M UST POSSESS THE FOLLOWING
QUALIFICATIONS :
Service” . f

Assim, quando as épocas de depressão obri­


V eteran p referen ce — A pplicants w ho wish to claim gam o Govêrno a reduzir o número de seus ser­
veteran preference must file, in addition to A p p li­ vidores, o veterano tem melhor chance de manter
cation F orm 8, Preference F orm 14 ( b lu e ), pro-
seu cargo e vencimento do que o ocupante da
perly executed and accom panied b y the docum en-
tary p ro o f required therein. Failure# to subm it
mesma classe, ou carreira, que haja sido nomeado
such evidence prom ptly m ay result in loss o f op- em condições normais. Certamente, isto não sig­
portunity to be considered for appointm ent” . nifica que o veterano esteja investido de um
direito em relação ao seu cargo e não possa ser
Também, nas Instruções para exame físico, ela­
removido, na ocorrência de certas circunstâncias.
boradas por aquêle órgão central de serviço civil
Uma repartição, ou Ministério, pode afastar fà-
americano, consta o seguinte item :
cilmente qualquer empregado, veterano ou não,
P rivilégio para os veteranos inválidos — A C o­ “if charges of delinquency or misconduct prefer-
missão é autorizada a dispensar os requisitos f í ­
red against the veteran are sustained” .
sicos no caso de inválidos — soldado honrosa­
m ente desligado, m arinheiro ou fuzileiro naval — Mas é inegável que, em condições semelhantes,
com atestado da Adm inistração dos Veteranos, que e desde que tais fatores não ocorram, o veterano
com pletaram um adequado e suficiente curso de
terá preferência para permanecer no cargo, se o
reabilitação para os serviços da classe dos cargos
Govêrno, como se disse, necessitar reduzir o total
pgra os quais o em pregado é encam inhado, ou a
Com issão pod e rejeitar os requisitos físicos no caso
de servidores. Outrossim, o direito à preferência
dum veterano inválido não treinado. O têrm o lhes assiste, no caso de, havendo os veteranos dei­
“ veterano in válido” , usado nesta acepção, quer d i­ xado um cargo, que obtiveram anteriormente, ma­
zer um veterano com uma incapacidade ligada ao nifestarem o desejo de serem readmitidos ( . . . if
serviço e que existe no tem po em que a preferência
they at one time held classified jobs, left them,
é pedida. N ão estão incluídos os veteranos cuja
incapacidade não esteja relacionada com o serviço
but desire to be reinstated.).
naval ou m ilitar, exceto os veteranos acim a de 55 Também, não estão êles sujeitos aos prazos
anos que recebem pensão ou com pensação por fixados para o pedido de readmissão, como os
leis existentes e aos quais são dados 10 piontos ou
funcionários “not entitled to preference” , nem fi­
preferência por incapacidade.
cam obrigados, como êstes, a prestar provas, em­
Entretanto, as preferências estabelecidas para bora sem o caráter de competição, quando o pe­
os veteranos, na fase da seleção, não se restringem dido de readmissão fôr feito depois de decorridos
aos 5 ou 10 pontos, acrescidos ao grau de apro­ 5 anos da demissão, a fim de serem considerados
vação obtido. Outras existem, visando prestar aptos ao reingresso no serviço federal.
assistência efetiva aos veteranos, assegurar-lhes, Nos Estados Unidos, onde tal prática não é
tanto quanto possível, empregos públicos ( 4 ) . costumeiramente observada, os veteranos podem
Porém, mesmo fora do campo da seleção, cer­ adicionar o tempo de serviço prestado às fôrças
tos benefícios e regalias são concedidos aos anti­ armadas ao tempo de serviço federal para efeitos
gos defensores da Pátria, que deixaram digna­
de aposentadoria, no cargo civil.
mente o serviço das armas, seja pela conclusão
Como se verifica, o grupo dos veteranos de
das hostilidades, seja por incapacidade oriunda de
guerra, que constitui uma poderosa corrente po­
ações de guerra.
lítica e social nos Estados Unidos, goza de várias
preferências, as quais já têm sido até consideradas
(4 ) Para m aiores detalhes, veja-se o livro citado,
págs. 3 9 1 /9 8 . como excessivas, e, sobretudo, violadoras do prin­
A PREFERÊNCIA PELOS VETERANOS NA CON JU NTURA ATUAL 61
cípio fundamental de um eficiente serviço c iv il: mais capazes e mais qualificados. De outro, po­
o sistema do mérito. Jo h n F. M iller , na sua rém, considerações tanto de ordem política como
exaustiva monografia, intitulada “ Veteran Prefe- humanitária persuadiram o Congresso a ordenar
rence in the Public Service” ( 5 ) , por exemplo, que o Estado providenciasse empregos adequados
afirm ou: a essa classe ds cidadãos e particularmente aos
que haviam se tornado incapazes. Nesse sentido,
“ A lt h o u g h u s u a lly in co r p o ra te d in th e c iv il Ser­
a tendência é para fazer do serviço público a sua
v ic e s ta t u t e s , v e t e r a n p r e fe r e n c e as a p p li e d in fe ­
cidadela, e até certo ponto para relaxar as exigên­
d era l and in m ost s ta t e l e g i s la t i o n is a d ire ct
n e g a tio n of th e m e r it sy s te m ” .
cias de uma boa administração.

E, sempre baseado em leis federais, ou estaduais, Mais adiante, M osher e K in g sley chegam ao
examina as exceções ao sistema do mérito, abertas extremo de dizer que, de alguma forma, as várias
em favor dos veteranos, no tocante : “preference provisions” podem ser consideradas
como a mais recente forma do sistema de despojos
a) aos limites de idade; ( spoils system ). Porque, asseveram, não so­
às exigências físicas e de sanidade; mente tal fator determina uma baixa nos padrões
b)
exigidos para o ingresso no serviço, como, também,
c) aos exames e provas, de caráter competi­
porque contribui para complicar muitos problemas
tivo ;
da administração de pessoal. O efeito das prefe­
d) à classificação nos concursos (rating for rências, sôbre o recrutamento, disciplina e moral,
appointment); é difícil de ser diretamente avaliado, embora tôda
e) à indicação para a nom eação; pessoa familiarizada com o serviço público seja
à readmissão; de opinião que é grande, especialmente em alguns
0
Estados, como o de Illinois e Massachusetts. A
ê) à rem oção;
excepcional proteção dispensada aos veteranos
h) à prom oção; contra a ação disciplinar e a preferência assegu­
0 à permanência no cargo e rada para promoção, concorrem para diminuir o

j) à aposentadoria ( 6 ) . moral de todo o serviço e contribuem para a “ossi-


ficação” do poder criador e desaparecimento da
Terminando, propõe um sistema especial, a fim iniciativa, que caracterizam algumas repartições
de conciliar o sistema do mérito com as preferên­ ( 8 ).
cias que devem ser deferidas aos veteranos, sis­
Por sua vez, L eonard W h it e , depois de afirmar
tema êsse que “is intented primarily as an aid to
que é uma forte tradição nos Estados Unidos tra­
the maladjusted veteran” .
tar generosamente os que arriscaram suas vidas
Assim, sugere duas soluções : uma, para o vete­ pela Pátria — não havendo a mais leve perspec­
rano incapacitado : a reabilitação; e outra, para tiva de seu abandono, pois está mais arraigada ao
o invalidado: o reajustamento. E afirma que sentimento público que o próprio “merit system”
ambas as soluções asseguram fundamentalmente — e que é imperativa a necessidade de ser esta­
a manutenção da eficiência do serviço público. belecida uma clara e definida política em relação
Referindo-se à matéria, M osher e K ingsley ao assunto, de vez que o número de veteranos,
( 7 ) asseveram que os responsáveis pela admi­ ao fim desta guerra, será aproximadamente de
nistração pública se encontram frente a um dile­ 1 5 .0 0 0 .0 0 0 , declara, no panfleto n.° 17, editado
ma. D e um lado, a boa administração requer em maio de 1944, pela “Civil Service Assembly” ,
que o serviço público seja restrito aos cidadãos sob o título de “ Veterans Preference — A Chal-
lenge and An Opportunity” (9 ) ;

(5 ) In "P roblem s o l th e A m erican P ublic S erv ice” , Nesta matéria, com o em muitas outras, a polí­
N ew Y ork, 1935. tica deve ser estabelecida, visando, acim a de tudo,
(6 ) Para conhecim ento das preferências concedidas o interêsse p u b lico” , e não o interêsse especial de
em outros países, com o a Grã-Bretanha, França e A le­ qualquer grupo. O interêsse pú b lico, inclusive o

manha, ver êsse trabalho, ca p . XV.


(7 ) P u blic Personnel Adm inistration — Pág. 235, (8 ) O b. cit., págs. 2 4 9 /2 5 0 .

ed. 1941. . (9 ) Página 7 .

r .-
62 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
dos veteranos, requer a m anutenção de um serviço Contudo, a objeção de W h i t e parece proceder,
p ú b lico com petente, im parcial, e disciplinado, apto nesse ponto, pôsto que o fato de prescrever-se o
a ' executar satisfatoriam ente as várias atividades
monopólio desta ou daquela carreira para os ex-
estatais. D eb a ixo de tal consideração, a política
combatentes implica em infração a preceito de
adm inistrativa reconhece, acertadamente, a legítima
reivindicação dos veteranos, em lhes ser facilitado ordem constitucional, em qualquer república de­
o restabelecim ento na vida civil, seja através de mocrática, assegurador do direito de todos a con­
em pregos pú blicos ou particulares, e a assistência correr aos cargos públicos. As únicas prerroga­
d o Estado naquilo que a guerra tornou tal reajus- tivas, previstas para o ingresso em certas
tam ento d ifícil ou im possível. M as, aquela mesma
carreiras, como as de Comissário de Polícia, Mé-
p olítica adm inistrativa não pod e subestimar, tam ­
dico-legista, Engenheiro, e asseguradas, como mo­
bém , o legítim o direito dos rapazes e moças, que
atualmente cursam escolas, a concorrerem , amanhã, nopólio, aos cidadãos diplomados respectivamente
aos cargos públicos, e servir à R epú blica, nos ser­ em Direito, Medicina e Engenharia, justificam-se,
v iços m unicipais, estaduais ou federais. E, certa­ por serem predicados técnicos, reputados indispen­
m ente, m uitos dêsses estudantes são filhos e filhas
sáveis à boa performance do funcionário. O mesmo
de veteranos” .
acontece com os demais requisitos que acarretam
Aliás, nesse estudo, L e o n a r d W h i t e , com a sua restrições à área do recrutamento, não parecendo,
autoridade incontestável em assuntos relativos à pois, lícito, estabelecer-se monopólio, fundado em
administração pública, faz uma explanação com­ quaisquer outras razões, embora as mais respei­
pleta do problema, na conjuntura atual, merecendo, táveis, do ponto de vista cívico e patriótico.
por isso, referência especial os pontos principais Outra providência que está em cogitações nos
do mesmo, que é uma das mais recentes obras Estados Un:dos, e que se adotou aqui, é a garantia,
que conhecemos sôbre o oportuno assunto. ou pelo menos expectativa, da volta do funcio­
Filia-se W h i t e , de modo geral, à corrente que nário mobilizado ao cargo, após o término da luta,
sustenta não dever a proteção dispensada aos respeitadas, é claro, as condições físicas e mentais
veteranos afetar os padrões da eficiência do ser­ do veterano. Um escriturário, por exemplo, que
viço público. Sustenta que haja ficado sem as mãos, não podendo mais de­
sempenhar as suas funções, terá de ser readap­
“ the normal passing grade which is b elieved es- tado .
sential fo r satisfactory work in ány jo b should be
L e o n a r d W h i t e preconiza, ainda, que as pre­
required o f ali eligibles” ,
ferências dos veteranos fiquem restritas ao ingres­
informando que, de acôrdo com um levantamento so no serviço público e permanência, no caso de
feito pela Comissão do Serviço Civil do Estado redução do número de servidores, a despeito desta
de Michigan, essa é a regra usualmente obedecida, última hipótese poder ser objeto de crítica ( 1 0 ) .
e que a prática federal constitui exceção. Sobre­ Vemos, através das fontes bibliográficas indi­
tudo, no que toca aos “entrance standards” para cadas por W h i t e , que os Estados Unidos se pre­
as carreiras profissionais, científicas e de direção, param para enfrentar e resolver convenientemente
W h i t e mostra-se intransigente, porque, diz ê le , o problema, de grande complexidade, ali. Tam­
tais categorias são, verdadeiramente, o coração e bém a Inglaterra tem suas vistas voltadas para o
o cérebro da administração pública, e “their assunto. O “White Paper” n.° 6.567, publicado
soundness is absolutely essential” . Opina, tam­ pelo Govêrno Britânico em novembro de 1944,
bém, aquêle autor, contra o estabelecimento de refere-se ao recrutamento para postos efetivos do
monopólio para os veteranos, em determinadas serviço público ( established civil scrvice), du­
carreiras, porque isso contraria as profundas con­ rante o período de reconstrução. Segundo escla­
vicções norte-americanas sôbre a maneira de rea­ rece E s t a n i s l a u F i s c h l o w i t z , todos estão de
lizar a democracia, de vez que exclui a livre com­ acôrdo em que nada há de mais justo e eqüita-
petição. Esclarece que, não obstante, o “Starney tivo do que garantir a prioridade, no acesso ao
Bill” , então (maio de 1944) dependendo de dis­ serviço público, àqueles que, na hora do supremo
cussão no Congresso dos Estados Unidos, incluía
um tipo de monopólio dos veteranos, reservando
(1 0 ) A t ít u l o d e c o o p e r a ç ã o , s e rá t r a n s c r it a , n o f i n a l
as funções de guarda, cabineiro, mensageiro e vi­ d êsto a r t ig o , a b ib lio g r a fia r e f e r id a por W H IT E , no seu
gia, exclusivamente para veteranos. e n s a io .
A PREFERÊNCIA PELOS VETERANOS NA CON JU NTURA ATUAL 63
perigo para a Pátria, arriscaram a vida, a saúde formas de preferência devem encarar a situação
e o bem-estar econômico, defendendo-a contra o lega l:
perigo externo. D e acôrdo, ainda, com as infor­
mações fornecidas por F i s c h l o w i t z , a) dos funcionários; e
b) dos extranumerários ;
“A solução procurada atualm ente pelo G ovêrno,
segundo opin ião unânim e dos responsáveis p elo alto Como se sabe, a conceituação jurídica dessas
padrão da adm inistração britânica, deverá preen­
duas grandes modalidades de servidores públicos
cher as cin co con dições seguintes :
impede que tôdas as medidas e providências se­
. 1. Garantir, de acôrdo com o discurso do Chan­
celer d o Erário, pronunciado em 17 de fevereiro
jam tomadas indiscriminadamente, para benefício
de 1944, o recrutam ento generoso ( “ generous, not dos veteranos da guerra.
on ly fair” ) dos con vocados.
Por outro lado, as preferências poderão verifi­
2. Em seguida, só conceder aos m em bros des­ car-se:
m obilizados das fôrças armadas privilégios que
sejam inteiram ente com patíveis com o interêsse da a) antes do ingresso no serviço público (fases
boa adm inistração p ú b lica . de recrutamento, seleção, etc.) ;
3. T u d o deverá ser feito para restabelecer com ò) para o ingresso (preferências para nomea­
a máxima urgência a aplicação integral dos prin­
ção ou admissão) ; e
cípios que regem norm alm ente a seleção do pessoal
p ú b lic o ; o período de em ergência, cham ado de
c) posteriormente ao ingresso (promoção, me­
“ reconstrução” , deverá, portanto, ser lim itado ao lhoria, e t c .).
m ínim o necessário, com volta posterior im ediata
Tentaremos, a seguir, indicar algumas das pro­
ao regim e norm al.
vidências, suscetíveis de aplicação, com o objetivo
4. O regim e de recrutam ento anteriorm ente em
vigor deverá ser reexam inado, a fim de ser aper­ de proteger os veteranos, proporcionando-lhes
feiçoa do pelo menos em parte. reemprêgo e meios de vida.
5. Certos favores deverão ser reservados aos Assim, aos ex-combatentes que se inscreverem
com ponentes do grupo de servidores “ tem porários”
em concursos ou provas de habilitação poderá
no propósito de aproveitar em ben efício da adm i­
h a v er:
nistração a experiência por eles adquirida em tem po
de paz e de guerra” (1 1 ).
1.° — preferência na ordem de classificação
Nós temos, também, as nossas razões para final, em casos de em pate;
proceder igualmente. 2.° — atribuição de 10 pontos, sôbre a média
Os nossos feridos de guerra transitam, já, pela obtida no conjunto de provas intelec­
cidade, e cada dia que passa aumenta o número tuais ; e
dêles. É certo que a ausência de dados esta­ 3.° — concessão de facilidades, quanto aos li­
tísticos, pslo menos publicados, impossibilita esti­ mites de idade, capacidade física, dis­
mativas plausíveis, sôbre o total de veteranos com pensa de exigências secundárias, taxas,
que contará o Brasil. N o entanto, a questão do etc.
seu reemprêgo e restabelecimento na vida civil está,
Em que pese o receio de L e o n a r d W h i t e e de
assim, evidente por si mesma. Temos de reco­
nhecer, como é feito alhures, que êles merecem outros autores americanos, de que tais preferên­
gratidão, não apenas cívica, mas também em têr- cias acabem por determinar sensível diminuição
mos de tratamento especial, proteção à sua pessoa nos padrões de ingresso no serviço público, com
e à sua família, facilidades efetivas, no sentido prejuízo dos mais capazes, e do próprio rendi­
de garantir-lhes subsistência digna e honrada, de­ mento, nas funções, dos funcionários assim prefe­
pois dos sacrifícios e perigos por que passaram. ridos, cumpre reconhecer que restará sempre um
mínimo de habilitação” exigível, cabendo ao trei­
Naturalmente, em relação ao serviço civil bra­
namento a tarefa de aumentar a eficiência, “in
sileiro, é necessário atender a certas peculiarida­
service” , do veterano. .
des. Em face de nossa organização do sistema
de pessoal, uma distinção se impõe, de início; as Relativamente aos extranumerários, poder-se-á.
talvez, conceder-lhes preferência para permanecer
(1 1 ) “ R ev ista ífo S erviço P ú b lico” , m aio de 1945, na função, na hipótese de redução da respectiva
pág. 7. tabela numérica, por imperativos de economia.
64 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
Essa medida é semelhante à adotada nos Estados A dvancem ent of M anagem ent, Inc., 29 W est 39th Street,
N ew Y ork 18, N ew Y ork, O ctober-D ecem ber, 1943. pf>.
Unidos’ em casos de redução por motivos finan­
127-30, 142. (D iscurso pelo Com issário de Estatística
ceiros, ou de depressão; entre nós, porém, não
d o Trabalho, D epartam ento do Trabalho d o s 'E . E . U . U . ,
cabe sua aplicação aos funcionários em gôzo de m aio, 1943) .
estabilidade, pois serão, em tais circunstâncias,
SOLDIERS, j o b s , and THE PEACE. F ortune, R ockefeller
considerados, quando menos, disponíveis. Center, N ew Y ork 20, N ew Y ork, O ctober, 1943, pp. 111­
No que concerne à promoção, poderão os fun­ 15, 2 0 0-12. (P roblem as ligados à desm obilização e que
podem ser a n te cip a d o s ).
cionários que tiverem sido combatentes ter prefe­
THE ORGANIZATION OF EM PLOYM EN T IN THE TRANSITION
rência absoluta, para os desempates de antiguida­
FROM W AR TO PEACE. International Labour O ffice, 3480
de e merecimento, provendo-se-lhes, desta ma­
U nversity Street, M ontreal, Canada, 1944. 179 p p . $1.
neira, mais fácil acesso. Para os extranumerá­ (E stu do crítico das considerações relativas às diretrizes e
rios, estabelecer-se-á preferência para melhoria, aos programas governam entais) .
dentro da Série Funcional, independentemente de wANTED : TEN m i l l i o n JOBS. A lvin H. Hansen. A tlan­
provas de habilitação. tic M on thly, Septem ber, 1943, p p . 65-69. (E stu do sôbre
a desm obilização que se seguiu à Grande Guerra I e esti­
Como é curial, as medidas apbntadas, em têr­
mativas de em prêgo após a Grande Guerra I I ) .
mos gerais, e um tanto apressadamente, pressu­
WHEN I GET OUT WILL I FINO A JOB ? M axw ell S.
põem, para sua concretização, o exame das parti­
Stewart. P u blic Affairs Pam phlet N o. 86, P u b lic A ffairs
cularidades que o problema apresenta, cumprindo Com m ittee, Inc., 30 R ock efeller Plaza, N ew Y ork. 1943.
que os nossos órgãos de administração geral se 31 pp. $ .1 0 . (E studa os ajustamentos que vários se­
dediquem a essa missão, que se nos afigura pre­ tores da econom ia terão de fazer em um program a de
mente, e deveras relevante. em prêgo integral) .

Aspectos Específicos
BIBLIO G RAFIA IN D ICADA POR LEONARD
W H ITE CANADA PLANS FOR VETERANS’ TRAINING. H .W Ja-
m ienson. O ccupations, National V ocational G uidance
Aspectos Gerais Association, Inc. 525 W est 120th Street, New Y ork 27,
N ew Y ork, O ctober, 1943, p p . 17-19. (P lanos para a
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reabilitação educacional dos ex-com b a ten tes).
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sões do problem a e recom endações para solucioná-lo) . M illan Com pany o f Canada, Ltda., T oron to, Canada. 1943.
468 p p . $ 5 .0 0 . (A s m edidas e o m ecanism o através dos
FROM WAR TO WORK : IÍOW TO GET FULL EM PLOYM EN T
quais será efetuado o reestabelecim ento à vida civil dos
AND k e e p IT GOING. S u rvey G raphic, Survey Associates,
ex-soldados canadenses) .
I n c ., 112 East 19th Street, N ew Y ork City, M ay, 1943,
pp. 151-234. (T ô d a a edição é consagrada aos problem as FROM M ILITARY SERVICE TO CIVIL SERVICE. U .S . Civil

de em prego durante o p eríodo de reco n s tru çã o ). Service Com m ission, W ashington, D . C . D ecem ber, 1943.
Unpaged. (R espostas às perguntas dos ex-com batentes
our s e r v jc e m e n and e c o n o m ic s e c u r ity .. Annals o i
masculinos e fem ininos sôbre o em prêgo pú blico fe d e ra l).
the Am erican A ca d em y o i Political and Social S cien ce,
M ay, 1943. (S érie de artigos sôbre o ajustamento do ONE MILLION MEN HAVE COME BACK. M a ry Francês

pessoal ao ingressar nas fôrças armadas e seu reajustam ento W ar. O ccupations, National V ocational G uidance Asso­
ao deixar o serviço m ilitar) . ciation, 525 W est 120th Street, N ew Y ork 27, N ew Y ork,
N ovem ber, 1943, p p . 109-13. (D escreve a colocação de
POSTWAR REEMPLOYMENT : THE MAGNITUDE OF THE
veteranos e o em prêgo de veteranos de capacidade redu­
PROBLEM . Karl T . S ch lotterb eck . Pam phlet N o. 54, T he
zid a ) .
Brookings Institution, 722 Jackson Place, N . W . , W ash­
ington 6, D . C . , 1943. 2 7 p p . $ .2 5 . (E stu d o das perspec­ ORGANIZING THE COM M U N ITY FOR VOCATIONAL GUI­
tivas do período de transição) . DANCE. O ccupations, N ational Vocational G uidance Asso­

PUBLIC ATTIYUDE TOWARD EX-SERVICEMEN AFTER WORLD


ciation, 525 W est 120th Street, New Y ork 27, N ew York,

W AR I. M on th ly Labor R e v ie w . D ecem ber, 1943, D i- N ovem ber, 1943, p p . 102-08. (Sugere processos de au­
vision o f Postwar L abor Problem s, Bureau o f L abor Sta- xílio ao ajustam ento ocupacional d o após-guerra).
tistics, W ashington, D . C . (C itações da im prensa perió­ POSTWAR EDUCATION OF SERVICE PERSONNEL. D onald
dica da época refletindo a opinião pública corrente com J. Shank. Annals o l the A m erican A cad em y o f Political
referência ao ex-com batente e seu p r o b le m a ). and Social S cien ce, January, 1944, p p . 65-73. (O papel
R EEM PLOYM EN T PROSPECTS AND PROBLEMS. A. F ord que a educação pode desem penhar no período de reajus­
H inrichs. A dvan ced M anagem ent, The S ociety for the tam ento do após-guerra) .
A PREFERÊNCIA PELOS VETERANOS NA CON JU NTURA ATUAL 65
EVALUATION OF EDUCATIONAL GROWTH DURING M ILITARY Y ork Philosophical Library, 1943. 684 p p . $10. (In clu i
SERVICE. R alph W . T y ler and L ily D etchen. P ublic P er- inform ações sôbre neurologia e psiquiatria, terapia ocupa-
sonnel R ev iew , T h e C ivil Service A ssem bly, 1313 East cional, orientação vocacional, e aspectos jurídicos da rea­
60th Street, C hicago 37, Illinois, April, 1944, pp. 95-100. bilitação) .
(D escriçã o dos recursos disponíveis proporcionados pelo REPORT OF THE COMMISSION ON POST-wAR TRAINING
Instituto das Forças Arm adas para tais a v a lia çõ e s ). AND ADJUSTMENT. Institute o f A dult Education, Teachers
RE-EM PLOYM EN T OF EX-SERVICEMEN IN PUBLIC POSI- College, Colum bia U niversity, N ew Y ork. 1942. 54 p p .
TIONS. Charles L. Jamison. Armais of th e A m erican (U m a declaração de princípios relativos aos problem as
A ca d em y of P olitical and Social S cien ce, 3457 W alnut educacionais de ex-soldados e ex-marinheiros, e de ex-
Street, Philadelphia, Pennsylvania, M ay, 1943, p p . 104­ trabalhadores da indústria b elica ) .
10. (E stu d o crítico dos dispositivos de leis federais e VETERAN PREFERENCE IN THE PUBLIC SERVICE, in P rO -
estaduais) . blem s o i the A m erican Public S ervice, N ew Y ork , 1935,
r e e m p lo y m e n t OF v etera n s. A m erican M anagem ent pp. 243-334. (E sta m onografia da Com issão de Inqué­
Association, 330 W est 52nd Street, N ew Y ork 18, New rito sôbre Pessoal do Serviço P ú b lico é um estudo co m ­
Y ork. Personnel Series No. 76. (C ó p ia dos debates de pleto e abalisado sôbre a preferência dos veteranos nos
uma reunião incluindo representantes da adm inistração de serviços civis dos Estados U n idos) .
Veteranos, do Serviço de E m prego dos Estados U nidos WE CAN TRAIN SOLDIERS FOR POSTwAR JOBS. Carl A .
e do Sistema de Serviço S e le t iv o ) . G ra y. Saturday E ven in ê Post, August 7, 1943. (S u gere
REHABILITATION o f THE WAR INJURED. E dited b y W m . um plano para reconduzir ao trabalho os ex-com batentes,
Brow n D oherty, M .D ., and D agobert D. Runes. N ew quando a guerra estiver term in a d a ).
66 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945

Os Territórios e os Municípios
O tto P razeres
Secretário Geral da Presidência da Câmara
dos Deputados — M embro da Comissão de
Estudos dos Negócios Estaduais

nr .
ENHO lido com espscial e merecida atenção, de ação, firmeza de atos e responsabilidade de
1 na Revista do Serviço Público, os artigos procedimento. O Município, na propaganda re­
publicados pelo Sr. Océlio de Medeiros a propó­ publicana, jamais foi pintado senão com tôda
sito da administração dos Territórios Federais e essa indumentária de festa ou de gala.
da organização dos Municípios. São artigos que Qual foi, entretanto, a realidade quando se
refletem uma erudição digerida, exposta com inte­ tratou de organizar legalmente a primeira Re­
ligência e boa ordem. Há nêles muito que apren­ pública ?
der e em que refletir.
A Assembléia Constituinte de 1890-91 acabou
Tive a honra de ver citado o meu nome em ' dando aos Municípios, sob alguns pontos, uma
um dêsses magistrais artigos, relativamente a autonomia menor do que a que tinham os Mu­
um trabalho meu na imprensa diária, lembrando nicípios da Monarquia que fôra abolida.
que os Territórios não deveriam ser divididos em
Os Municípios possuíam até então umas tan­
municípios ou não deveriam ter divisões autô­
tas atribuições, mesmo tributos, em que não po­
nomas que caracterizam essa entidade política.
deriam intervir nem as Assembléias Legislativas
O ilustre técnico de administração, que orgu­ Provinciais, nem o próprio Govêrno Central.
lha as letras administrativas brasileiras, como
E que se deu com a primeira constituição
que contesta êsse meu ponto de vista. . . No
republicana ?
entanto, no seu último trabalho, da série inserta
na Revista do Serviço Público, sôbre o problema Essa lei básica apenas dedicou aos Municípios
das atribuições dos interventores e prefeitos ter­ três linhas dispersivas: “Os Estados organizar-
ritoriais, preconiza — “a instituição de um tipo se-ão de forma que fique assegurada a autonomia
de município diferente” . dos Municípios em tudo quanto respeite ao seu
peculiar interêsse” .
Filia-se, portanto, às minhas fileiras, e tão im­
portante soldado não poderá ser recebido senão Chamo estas linhas de “dispersivas” porque,
com os braços bem abertos no preparo para um como se vê, elas davam a vinte Estados o direito
grande e muito afetuoso amplexo. de dedicar à organização municipal o critério que
bem escolhessem, cada um ficando com o seu.
Justifiquemos, porém, a opinião que expus
nos jornais do R io de Janeiro. É assim praticaram, porquanto Estados houve
que deram na própria Constituição estadual ga­
A questão dos Municípios no Brasil sempre
rantias perfeitas, embora não completas, aos M u­
viveu balançando entre dois critérios diversos:
nicípios ; outros adotaram o sistema misto de
o critério de estima e o critério da realidade.
incluir algumas questões na própria Constituição,
O critério de estima estava em se afirmar que deixando outras para as leis ordinárias; outros,
o Município era a celuia da Kepública, consti­ finalmente, deixaram quase tudo para as leis
tuía, por assim dizer, a escola primária do esta­ ordinárias.
dista, o jardim de infância do administrador, e Continuaram d izen d o: “Município, tu és
que, com o tal, deveria estar aparelhado de re­ a célula da República, o berço de estadistas 1”
cursos para o desempenho de determinados en­ M a s .. . faziam dêsse berço o que bem queriam
cargos, dando aos administradores independência ou, melhor, o que mal queriam .. .
OS TERRITÓRIOS E OS MUNICÍPIOS 67
Na Comissão Constitucional do Itamarati veio tônomo, menos senhor de si do que no regime da
a baila a diferença profunda entre os Municípios Constituição de 1891, durante a qual os Municí­
Brasileiros e proposto foi, no ante-projeto de lei pios possuíam as prerrogativas que cada Estado,
básica, que os Municípios mais altamente colo­ de generosidade variada, lhe concedia.
cados na escala chegassem ao ponto de possuir Não estou — note-se bem — opinando ou cri­
Carta própria. Realmente, Municípios com ren­ ticando. Estou apenas mostrando o fato.
das de dezenas de milhões de cruzeiros (não me
E que verificamos com a Constituição de 1937 ?
refiro a Municípios-Capitais) não deveriam ter
Esta tirou, desde logo, o direito ao Município
o mesmo tipo e nem podem satisfazer aos mes­
de escolher o seu próprio Governador ou Pre­
mos encargos de Municípios com rendas de de­
feito. Todos são nomeados pelo Governador do
zenas (e alguns menos) de milhares de cru­
Estado; por outro lado, suprimiu a autorização
zeiros. . .
para o estabelecimento de um órgão técnico de
A Constituição de 1934 estabeleceu, sem dú­ assistência municipal, que, com o vimos, figurava
vida, desde logo, competências municipais e ga­ na Constituição de 1934. Achou que bastaria o
rantiu-lhes a cobrança de determinados tributos. Prefeito nomeado pelo Governador para a inter­
Seria, por assim dizer, a segurança amparada venção estadual.
pela lei básica do país à autonomia municipal.
Como, porém, não há na Constituição vigente
Mas, a Constituição, dando tais liberdades acs dispositivo algum que contrarie a existência do
Municípios, lembra a situação de um pai que, referido órgão — geralmente denominado de D e­
dando licença para os filhos irem brincar, à von­ partamento das Municipalidades — todos foram
tade, no jardim, envia também para o local uma mantidos e continuam em plena fu n çã o .. .
tia rigorosa para vigiar os pequenos e impedir Vemos assim que o Brasil ainda não escolheu,
que façam qualquer estrepolia. . .
de fato e tranqüilamente, o seu tipo de Município.
Quem foi essa tia ? Na história municipal republicana, apura-se qué
O § 3.° do art. 13, isto é, dêsse mesmo artigo o Município somente tem direitos para praticar
em que se traçava a autonomia municipal e se atos pouco convenientes, ora por motivos de bai­
lhe distribuía impostos. xa politicagem, ora pela ignorância de seus ad­
ministradores .
Dizia o § 3.° : É facultada ao Estado a cria­
O Decreto n.° 1.202, de 8 de abril de 1939,
ção de um órgão de assistência técnica à admi­
nistração municipal e fiscalização das suas fi­ que deu uma organização provisória para os Es­
nanças” . tados até que êstes votem as próprias constitui­
ções, está valendo, nessa honesta experiência de
Os dispositivos tinham muita dose de eufemia, mais de um ciclo, como a experimentação utilís-
porém a intenção era dura. Entenderam os pra­ sima do tipo de federalismo brasileiro.
ticantes ou usadores dêsse dispositivo que se não
Tenho dito e repetido — e não me fujo de
poderia fiscalizar as finanças de um Município
escrever outra vez aqui — que o referido decreto
sem que se tomasse parte, muito de perto, na or­
levou a União ao seio dos Municípios e trouxe os
ganização dos orçamentos locais, isto é, imiscuin­
Municípios ao seio da União. Quer isto dizer que
do-se em impostos e rendas e respectiva apli­
uns e outros somente agora estão se conhecendo,
cação .
estão entrando em relações e podem, dêsse modo,
Ora, uma entidade política que não pode, com traçar a intimidade mais conveniente.
critério seu, em virtude de resolução inteiramente Quanto ao motivo que, mais de perto, justifica
sua, criar ou fixar os seus impostos, organizar estas linhas, isto é, a inconveniencia que aventei
livremente o seu orçamento e alinhar as despe­ de serem os Territórios Federais divididos em
sas — não tem autonomia administrativa. Municípios, com o tipo usual — não há motivo de
Conseqüentemente, na própria Constituição em divergência entre mim e o ilustre técnico de or­
que se elevava o Município ao pôsto de uma En­ ganização Océlio de Medeiros, uma vez que êle
tidade tributante, em que se dava uma dose, em­ preconiza um novo tipo de “Município” . . .
bora mínima, de autonomia política, se tirava tudo Devo, todavia, lembrar que o característico do
isto, deixando, de fato, o Município menos au­ “Município “ç ter administração própria, autQ-
68 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
nomia-administrativa. Desde os romanos, seus país, com o ainda em relação ao. país vizinho. O
criadores, nunca tiveram outra significação. O Governador deve estar armado de influência e
prestígio da palavra aumentou nos regimes demo- capacidade de procedimento no sentido de inter­
cráticos-republicanos, modernos e contemporâneos. vir em tão importante assunto. Se houver Mu­
nicípio autônomo é o administrador municipal
Conservado o nome, o prestígio do nome, não
que resolve. . .
,será de boa prudência e não será real, se não
existe a autonomia. . . T odo o sistema tributário dos territórios deve
Qual foi a intenção do. Governo Federal, cri­ estar, portanto, sob a tutela da União e não den­
ando os Territórios, e da Constituição, permitindo tro do tipo municipal figurante na Constituição
essa criação ? vigente.

Não podia ser outro senão o de aproximar li­ Se assim não se der, o Governador do Territó­
vremente êsses Territórios do Govêrno Federal, rio, em vez de ser, de fato, o Governador de um
tendo êste completa liberdadè de ação na escolha Território, será verdadeiramente — um Governa­
do tipo político-administrativo a ser escolhido. dor de grupo de Municípios, isto é, será um pai de
Não se compreende que se não dê autonomia ao filhos maiores, sôbre os quais não pode exercer em
todo e conceda autonomia a cada uma das partes tôda a plenitude a autoridade paterna, em vez de
em que êsse mesmo todo se divide. . . ser um pai de filhos menores, aos quais se nega
O todo, como cada uma das suas partes, tem com firmeza e realidade a chave da porta da rua
que ficar sob o controle perfeito do Governador para passeios fora de horas. . .
do Território, delegado do Govêrno Federal. A O digno Sr. Océlio de Medeiros quer que os
ação dêsse delegado ficará nula ou será exercida Municípios, ou os filhos dêsse pai tenham outra
fora da lei quando esbarrar com as prerrogativas idade, que não fixou ; eu desejo que êsses filhos
municipais. tenham tal idads que se lhes não possa dar o
Um dos pontos que merecem mais detalhada nome de M unicípio. . .
atenção é o dos impostos. Agradeço-lhe o ensejo de, mais uma vez, com
Territórios de fronteira, na escolha e na co­ o desalinhavado característico e com a insignifi­
brança dos tributos, têm a considerar os interês- cância própria de autoridade, ter de explicar a
ses dos impostos não só em relação ao próprio minha opinião.
O CENTENÁRIO DO BARÃO DO RIO BRANCO I
69

0 Centenário do Barão do Rio Branco


Reportagem de A dalberto M á r io R ib e ir o

N
ESTA reportagem pretendemos publicar algu­ A Sra. Eugênia de M acedo Soares, espôsa do
mas notas inéditas sôbre o Barão do Rio Minisfcro José Roberto de M acedo Soares, que no
Branco, aspectos da Exposição Comemorativa do momento respondia pelo expediente do Ministério
centenário de seu nascimento e reproduzir o que do Exterior, na ausência do chanceler interino,
nos pareceu mais interessante do que foi dito e Embaixador Pedro Leão Velloso, foi convidada a
divulgado na vigência das comemorações realizadas cortar a fita simbólica de inauguração da Exposi­
nesta Capital. ção, que ficou depois franqueada ao público até
Vamos, portanto, ser objetivo, só fornecendo aos meados de maio.
leitores da Revista do Serviço Público matéria Em vez de descrever o certâmen preferiríamos
que possa ser de seu agrado, e não apreciações trazê-lo à vista do leitor por meio de fotografias
nossas sôbre a vida do grande brasileiro, focali­ de todos os seus painéis. Mas isso é impossível.
zada, aliás, de forma admirável, nos discursos pro­ Falta-nos espaço na Revista e nem sempre as fo­
feridos junto à sua estátua e que publicamos no tografias lá expostas podiam ser reproduzidas no­
fim dêste trabalho.
vamente, a menos que fôssem retiradas dos res­
Quanto a notas inéditas sôbre R io Branco, tam­ pectivos quadros, o que seria impraticável no mo­
bém não são elas resultantes de qualquer esforço
mento . *
de pesquisa do repórter. Foram-lhe tôdas forne­
Assim, pois, limitemo-nos ao essencial, aos as­
cidas espontâneamente pelo Itamaraty, onde a im­
pectos mais vivos e atraentes da exposição —
prensa é sempre acolhida com solicitude e distin­
grande livro aberto ao público, que, para sentí-lo e
ção. Aliás, essa conduta é tradicional naquela no­
bre Casa. compreendê-lo, não precisava folheá-lo, nem se­
guir-lhe o texto de página à página, pois cada
O jornalismo tem sido ali exercido com agrado
paifièl mostrava-lhe episódios de relêvo e até mes­
de muitos diplomatas, como aconteceu ao próprio
mo capítulos inteiros da vida e da obra do emi­
R io Branco e se observa ainda entre alguns ele­
mentos da carrière e do funcionalismo do M i­ nente estadista brasileiro.

nistério.
R io B ranco na in f â n c ia e na m o c id a d e
Exposto o plano desta reportagem, podemos
então começar pela No início da Exposição via-se o painel “Infância
e M ocidade” , com fotografias da casa n.° 8 da
EXPOSIÇÃO RIO BRANCO
antiga travessa do Senado, onde nasceu o Barão.
No dia 20 de abril, quando se registrou o pri­ Ao lado o assentamento, na matriz de Santana,
meiro centenário do nascimento do Barão do Rio de seu batismo, a 24 de julho de 1845. Retratos
Branco, além da solenidade realizada pela manhã na meninice e na juventude, quando estudante de
junto à estátua do grande chanceler, na Esplanada direito em São Paulo e no R ecife. Defronte dêsse
do Castelo, houve à tatrde, no Palácio Itamaraty, painel, outro com os retratos do primeiro e do se­
a inauguração de interessante exposição reveladora gundo Rio Branco, conforme se vê na fotografia
da vida e da obra do insigne diplomata. que aqui estampamos.
O certâmen foi organizado pelo Cônsul Murilo
de Miranda Bastos, com a colaboração do 1.° se­
R io B r a n c o , d ip l o m a t a
cretário Djalma Pinto Ribeiro Lessa e dos Côn­
sules Roberto Luiz Assumpção de Araújo, Victor Noutro painel, retratos de R io Branco, quando
de Carvalho e Jorge D ’Escragnolle Taunay. De­ cônsul geral em Liverpool; enviado extraordinário
coração de Santa Rosa e painéis de H . Delnegri. e ministro plenipotenciário em missão especial nos
70 REVISTA DO SERVIÇO PUBLICO — JU N . 1945
Estados Unidos; enviado extraordinário e ministro e também uma bengala e duas canetas que per­
plenipotenciário na Suíça, e enviado extraordinário tenceram ao Visconde do R io Branco.
e ministro plenipotenciário em Berlim.
O AM BIEN TE DE TRABALHO
R io B ranco e s t a d is t a
Várias fotografias de dependências do Itama-
Vários retratos do Barão, quando Ministro de raty, destacando-se a da sala onde o Barão faleceu.
Estado das Relações Exteriores nas presidências Esta sala era o seu dormitório e gabinete de tra­
de Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha e balho .
Hermes da Fonseca. Nesse painel, esta frase de
Euclides da Cunha : No painel lia-se :

“ Seu saber h istórico-geográfico tinha de ser uma


“ O descortino dilatado de um estadista, depois de
engrandecer-nos no espaço, engrandeceu-nos no tem po.” fôrça em nossa vida de N a çã o.

S ilvio R om ero”
DUAS FRASES DE R lO BRAN C O
Fotografia de Rio Branco ao lado de sua co­
Fomos tomando nota dos painéis. A o lado de leção de tanagras e “terras cotas” .
retratos, mapas, etc., de vez em quando uma frase
destacada nos despertava a atenção. Duas de R io B ranco e a c a r ic a t u r a

R io Branco, altamente expressivas, parece-nos que


Êste painel é um dos mais interessantes da Ex­
foram escritas para o momento atual. Ei-las :
posição. Nêle estão afixadas páginas de revistas
“ O nosso ideal não é o da form ação d e dois m un­ do Rio com caricaturas do Barão. Numa capa da
dos rivais, mas de um só m undo u nido.”
Revista da Semana, de 18 de abril de 1909, fi­
“ A diplom acia m oderna é franca porque as dem o­
cracias modernas não têm segredos, e deseja não só
gurava a sua caricatura, trabalho de Raul, e em
conhecer a verdade, mas tam bém exprim í-la.” baixo esta quadra :

CONDECORAÇÕES “ Justo é que desde agora o lápis pinte


E aplauda a festa que se concebeu
Num painel havia a reprodução dos títulos ho­ E m honra a quem nasceu no dia vinte

noríficos concedidos a R io Branco e, num mos- E deu no vinte desde que nasceu.

truário envidraçado, as condecorações. Lemos num N ós T o d o s ”

cartão, ao lado :
E outras caricaturas são expostas, publicadas no
“ O p eríodo republicano, em que o B arão adquiriu “D . Quixote” , jornal ilustrado de Angelo Agos-
os seus grandes triunfos, não era propicio a con deco­ tini; n’“0 Mosquito” , no “M alho” e no “T upy” ,
rações, que a Constituição de 1891 não adm itia. Ainda
de outubro de 1872.
assim foram muitas e im portantes as que recebeu” .

E no painel estão mencionadas estas condeco­ O ITAM ARATY DO T E M PO DE RlO B RAN CO


rações :
Está focalizado em vários aspectos fotográficos
Ordem de Cristo (Portugal) 1873 internos e externos.
Legião de Honira (França) 1874
Ordem da Coroa da Itália 1874 Ao lado lemos esta frase:
Ordem de Leopoldo da Bélgica 1876 “ D iplom acia inteligente sem vaidade, franca sem
Ordem da Rosa (Brasil) 1881 indiscrição e enérgica sem arrogância.

Ordem de S. Estanislau (Rússia) 1889 (P arecer do Conselho de Estado do Im p é r io )”

Duplo Dragão da China


COM OS FILHOS, OS AMIGOS E OS CONTEMPORÂNEOS
Oficial da Instrução Pública (França) 1889
Busto do Libertador (Venezuela) 1911 Num longo painel, que se desdobrava em vários
quadros, havia flagrantes da vida de Rio Branco
MEDALHAS em companhia dos filhos e pessoas amigas.

Noutlra vitrina, viam-se várias medalhas come­ N o primeiro quadro está êle com os filhos
morativas com o cunho do Barão do R io Branco D . Hortência, D . Amélia, Raul e P aulo.
O CENTENÁRIO DO BARÃO DO RIO BRANCO 71
N o segundo quadro, Rio Branco num almôço CONFERÊNCIA INTERNACIONAL AM ERICANA NO RIO
oferecido pelo Núncio Apostólico em Petrópolis. DE JANEIRO E M 1906
Rio Branco em R oyat (1 8 7 8 ); em Berna, com Rio Branco tendo ao lado Joaquim Nabuco e
Carlos de Carvalho e o Cônsul Mesquita; em W a­ vários delegados estrangeiros.
shington com Domício da Gama e Olinto de M a­
galhães (1 8 8 9 ); no Rio de Janeiro, com Pereira E no painel esta frase :
Passos; em Hamburgo (1 8 98 ) com suas filhas, o “ N ão há aqui quem alim ente invejas contra os
Ministro Souza Correia e a Condessa de Nioac; povos vizinhos, porque tu do esperam os no futuro; nem
ódios, porqu e nada sofrem os dêles no passado.
em Auteuil (1 897) com Hilário de Gouveia, etc.
R io B ranco.”
Ao lado de um dêsses quadros esta frase :
R io B ranco e seu s s e c r e t á r io s
“ N ão sei o que m a is .ê le a d q u iriu : se territórios
para a sua pátria, se fanáticos para a sua grandeza
Fotografia de Rio Branco com os seus secretá­
d ’ a lm a . • rios : Moniz de Airagão, Batista Pereira e Araújo
M artim Francisco.”
Jorge.

NA EXPOSIÇÃO UNIVERSAL DE PARIS (1889) R io B ranco e a defesa n a c io n a l

Um trecho da baía de Guanabara, com os coura­


Fotografia de um grupo. De pé : Domício da
çados “Minas Gerais” e “São Paulo” .
Gama, Visconde de Cavalcanti, Ladislau Neto,
Barão da Estrela, Barão de Albuquerque. Senta­ Rio Branco assistindo às primeiras manobras rea­
dos : R io Branco, Eduardo Prado, Sant’Ana Nery lizadas no Ej asil, em Santa Cruz, em 1907. Num
e Ramalho Ortigão. grupo, estão : Afonso Pena, o Ministro português
Camelo Lampreia e os Srs. Miguel Calmon, Ri-
DESENHOS DE R lO BRAN CO
vadávia Correia, Calógeras, Hermes da Fonseca
Alexandrino de Alencar, etc.
R io Branco gostava de fazer desenhos. E a
exposição é rica de trabalhos seus : mapas, carica­ “ Não se pode ser p a cifico sem ser forte, com o
turas, etc. não se pode, senão em intenção, ser valente sem ser

Lá estava Pecegueiro do Amairal fixado em de­ b ra v o .


R io B ran co.”
senho do próprio punho do Barão! Também um
“croquis” da guerra do Paraguai para a “Ilustra­ PROVAS CARTOGRÁFICAS DE VÁRIOS TRATADOS
ção Francesa” .
A exposição continha numerosos painéis de pro­
ARBITRAM ENTO vas cartográficas dos vários tratados entre o Bra­
sil e países vizinhos.
“ O arbitram ento é para o Brasil com o que uma
religião internacional, e R io B ranco fo i o seu maior Assim é que se pôde bem apreciar a prova carto­
in térp rete. gráfica do direito do Brasil ao Território de Pal­
Calógeras.”
mas (M issões). Numa vitrina, a sentença auto­
Ao lado do painel em que figura essa frase, uma grafa do Presidente Cleveland e os respectivos se­
vitrina com 29 tratados subscritos de 1902 a 1912. los de armas, e noutro mostruário, os originais
autógrafos; edição original impressa e espécimens
VISITAS PRESIDENCIAIS cartográficos referentes à controvérsia entre o
Brasil e a Argentina sôbre o Território de Palmas.
Fotografias da recepção no R io de Janeiro aos
Presidentes Roca e Saenz Pena. Tambem muito extensa a documentação refe­
rente à quesitão do Amapá (1898-19 00). Via-se
II CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DA PAZ EM ao lado o retrato de J . Caetano da Silva, autor
H AYA --- 1907 da obra ‘L Oyapoc et 1’Amazone” . Fotografia da
Retrato de R uy Barbosa e fotografia da dele­ Missão Especial do Brasil em Berna, constituída
gação brasileira, bem como da sala das sessões da de Domício da Gama, Raul R io Branco, Hipólito
Conferência. de Araújo e Barão do Rio Branco.
72 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO ■
—' JU N . 1945
Um instantâneo de Rio Branco na Vila Molitor, O D r. J. Fischer está organizando um índice
em Auteuil, redigindo a defesa do Brasil. Retrato de tôdas as obras anotadas pelo Barão e que cons­
do Presidente Hauser, do Conselho Federal Suíço, tituirá, sem dúvida, valioso roteiro para quantos
árbitro da questão do Amapá. Rio Branco, em desejem estudar a obra do chanceler.
Berna, entre os filhos e amigos, após a vitória do Vimos êsse índice, organizado pela ordem cro­
Amapá, em 1 de dezembro de 1900. nológica dos documentos, sendo que o mais velho
dêles data de 1555. E ’ o “ n o v v s o r b i s r e g i o n v m
Noutro painel, documentos e fotografias rela­
i n s v l a r v m v e t e r i b v s i n c o g n i t a r v m , Basilea".
tivos ao Tratado de Petrópolis (Tratado com o
O barão fêz nesse livro quatro anotações.
Perú em 1909) . Lá estavam os negociadores dêsse
E a propósito dessas e de outras anotações, as­
tratado e seus auxiliares.
sim nos falou o D r. J. Fischer :
Iríamos longe se fôssemos registrar nesta repor­ — O estudo que fiz dos livros anotados pelo
tagem a imensa obra de R io Branco referente aos barão poderá servir de prova de sua erudição geo­
numerosos tratados em que trabalhou pela defesa gráfica, histórica, política e diplomática. Demons­
do Brasil. trará ainda, além de seu patriotismo sempre alerta,
também seu espírito por vezes irônico e eventual­
BIOGRAFIA DE R lO BRANCO mente mordaz. Não esorevia para o público, e só
o fazia unicamente em contradição às falsas impu-
No ceirtâmen estêve exposto o I vol. da obra tações que êle encontrava, quer contra o nosso
“R io Branco”, de autoria do escritor Alvaro Lins. . caráter, quer contra os nossos direitos ou contra a
Na página de rosto dêsse volume lemos : . vetrdade histórica dos feitos de nossa gente nas
guerras em que nos empenhamos. Homem modesto,
“ Êste livro foi escrito a convite do M inistério das na sua filosofia de quem vivera bem a sua vida e
R elações Exteriores para as com em orações do cente­
possuía em alto grau o raro dom de bem conhecer
nário do nascim ento do B arão d o R io B ran co.
os homens, nunca pensou em escrever para a pos­
A o autor ficou assegurada com pleta autonom ia de
teridade, pensando em si próprio. As suas notas
pensam ento e de trabalho, e, por isso, são de sua res­
revelam bem isso e mostram o homem destituído
ponsabilidade todas as opiniões e interpretações nêl«3
con tidas. D eu o Itam araty apoio e colaboração à obra, de egoísmo, de vaidade, de ambição e de orgulho.
quase tôda construída com o material de seu A rquivo
o in t e r e s s e do B arão do R io B ranco pela
e B ib lioteca .”
. p in t u r a

CONVERSANDO COM O D R . JANGO O D r. J. Fischer teve ensejo de mostrai-nos


FISCH ER 236 fôlhas intercaladas pelo Barão no Dictionnaire
des Peintres, de Guédy, e encerrando mais de
O Cônsul D r. Jango Fischer serviu ao lado do 1.100 anotações sôbre pintores, seus quadros e
Barão do Rio Branco durante dois anos e meio e respectivos valores. E o D r. J . Fischer assim nos
agora se ihe ofereceu ensejo de manusear copiosa esclarece :
documentação que está ordenando. Dêsse modo — Observe bem esta obra. O Barão era uma
tácil será depois consultá-la. E ’ constituída de autoridade em pintura e êsse dicionário apresenta
notas referentes a obras lidas pelo grande chan- 465 páginas por êle anotadas, estando dez notas
celeir e suplementares às anotações por êle feitas coladas e enxertadas com trinta recortes diversos.
à margem dos livros e nem sempre encontradas Procuramos saber detalhes dessas anotações e
nos devidos lugares. assim os tivemos :
— Nas fôlhas sôltas no texto, o Barão faz uma
O D r. J. Fischer já estudou 472 obras, em
relação dos quadros do grande Taunay e sua dis­
642 volumes, num total de mais de 17.000 pá­
tribuição por vários museus, como os do Louvre,
ginas, tôdas anotadas pelo barão. Rio Branco ti­ Versailles, Nantes, Cherburgo, Monipellier, Gre-
nha o hábito de colair às páginas lidas notas avul­ noble, Ermitage, na Galetria Leuchtemberg e tam­
sas, quando não havia mais espaço nas margens bém os que estavam no Paço de S. Cristóvão, em
do livro para escrever. Assim é que foram en­ número de cinco. Em outra página êle dá uma
contradas 377 coladas e 178 sôltas. lista de preços de outros quadros de Taunay, ven­
O CENTENÁRIO DO BARÃO DO RIO BRANCO 73

A galeria principal da E xposição do Centenário do Barão do R io Branco

didos em diversos leilões. Aliás, devo dizer que — Como vê, o Barão procurava por tôda parte,
êsse interêsse do barão pela pintura estava tam­ até mésmo nas exposições de pintura estrangeira,
bém ligado à nossa história. Quer uma prova desta tudo que se relacionasse com a nossa história e
minha observação ? Aqui está o que êle escreveu servisse, se possível, de documentação ou divul­
em uma das páginas do dicionário de Guédy : gação cívica. Devo também dizer-lhe que ainda
não foi divulgada suficientemente entre nós a pre­
“ Quadros que devem os copiar para o R io e nos quais
se encontram episódios de nossa guerra com a H olanda, dileção de Rio Branco pela pintura. Também a
ou das guerras da Espanha dêsse tem po : escultura o apaixonava, especialmente as tanagras,
G ardacho : “ A praça de Constança, socorrida p elo duque de que possuía êle dois belos' exemplares. Veja
de Faria, em 1633” ; “ Sítio de R h einfeld, 1633” . êste livro a q u i: Collections de Terres Cuites de
F elix Castello (M u seu de M a d rid ) n.° 695 — “ D esem barco Tanagra, de Lecuyer. Em 93 páginas há 958 ano­
de D . Fradique de T o le d o en la Bahia de S . Salvador tações .
(con h ecid o antes pelo nom e de “ Expugnación de un
Castello por D . Fradique de T o le d o ) . Rio B ranco gostava de “f o o t -b a l l ”
“ Choque entre E sp. e H olandezes” (D . D .
Balyasar A lfaro, reinado de F elip e) . Pela carta que abaixo publicamos vê-se que Rio
N o M useu Naval (n .° 716) “ C om b . N aval occur- Branco gostava de “foot-ball” . Escreveu-a ao seu
rido el 12 S e p . de 1631 sobre la costa dei Brasil em amigo o conselheiro Silveira Martins :
que la armada Espanola mandada por D . A n t.° de
O quendo ven ció e destrozó a la H olandeza bajo las “ Paris, 7 de abril de 1896
ordenes dei gen l. Hans Pater.”
M eu caro Conselheiro A m igo :
E o D r. J . Fischer, depois de ler estas notas,
H o je ás 3 horas ha a ultim a partida de “ fo o t-b a ll'
fêz-nos esta observação : entre os m elhores jogadores de Paris e o Club de
74 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO •— JU N . 1945
Coventry, q u e possue uma das mais celebres turmas servido dignam ente a la politica dei Brasil en estos
de “ fo o t-b a ll” da Inglaterra. A partida será m uito in­ paizes, conciliando a la ves los intereses y el decoro
teressante, talvez m ais do que a d e hontem , a cjue de su patria con el decoro y los intereses de los pueblos
H ilário assistio com uma das filhas. vecinos y amigos con los cuales cultiva relaciones, y
M an do-lh e esta noticia porque pareceu-m e ante- respecto de los cuales debe siem pre consultar el pre­
hontem que M adam e Silveira M artins desejava assis­ sente y el futuro.
tir a um “ m atch’ ’ internacional, e eu estou con vencido N o necesito decir a V . E . cuanto siento su se-
de que o espectáculo o interessará tam bem . Esse ge- paracion de Buenos Aires y la manera en que ella
nero de sport devia ser introduzido no seu R io Grande tiene lugar. Sin pretender jusgar los actos dei G o-
do Sul, em Santa Catharina, Paraná, São Paulo e biern o dei Im pério, a cuya lealtad siempre hice la
M in as on de o clim a perm ite taes exercícios. debida justicia, creo sin em bargo poder asegurar por
A partida será n o V élodrom e da A venue Bineau, lo que respecta a la N acion que presido, que V . E .
em C o m b ev oie. D a sua casa ao logar ha m eia hora debe estar satisfecho dei m od o com o ha desem penado
de carro. N ão lhe m ando bilhetes porqu e não os ha su mission cerca dei G obiern o Argentino, asi com o de
h o je . Paga-se ao entrar 2 francos por pessoa. los nobles y generosos esfuerzos que ha hecho siempre

M eu filh o Paulo, estudante de m edicina, é o en favor de la paz a que siem pre hem os propendido
com o regia invariable de nuestra politica interna y
arrière ou B ack da equipe francesa, e é tido pelo
m elhor arrière da F rança. N o.m u n d o dos sports athle. esterna. H aben do tenido ocasion de apreciar con tal

ticos aqui cham am -no D a S ylv a . E ’ a êle q u e estará m otivo sus distinguidas calidades y su anhelo p or la

confiada a ultim a defesa d o cam po, quando os Inglezes felicidad de estos paizes, m e haré un honor en tod o

forçarem , co m o hão de forçar, as tres linhas de avantes, tiem po y en cualquiera situacion en testificarle los
sentimientos con que m e ofrezco de V . E. su mui
dem is e troisquarts.
atento servidor y amigo que le saluda con su más dis-
H on tem atirou ao chão todos os Inglezes que
tinguida con sideracion . B artolom é M itre. S . C . M a yo
poude, até cançar, mas estes são m u ito superiores aos
1 9 /8 6 5 .”
Francezes em disciplina e na arte de passar o ' balão.
O que era atirado ao chão pelo Paulo, lançava o balão
a outro Inglez mui distante, e este, sem encontrar A EDIÇÃO DAS “OBRAS DO BARÃO DO RIO
Francezes, que todos perseguiam o prim eiro, fazia o BRAN CO”
p o n to .
Faz-se um essai que conta por 2 pontos, quando O Ministério das Relações Exteriores resolveu
se consegue collocar o balão em terra dentro da ultim a promover uma edição das Obras do Barão do Rio
linha do cam p o contrario. F eito o essai, a eq u ip e que
Branco, iniciativa que se deve ao Sr. Luiz Camilo
ob tém essa vantagem colloca o balão na linha perpen­
dicular a esse p on to e com um ponta-pé procura fazer
de Oliveira Neto, quando diretor do Serviço de
passar o balão por cim a de dois postes que assinalam o Documentação do Itamaraty.
ca m p o con trario. Se consegue isso, ob tém mais 3
O plano da edição compreende doze volumes, a
p o n tos. Esses resultados só são obtidos depois de
m uitas m élées, ch a rles e tom bos form idáveis. saber : I — Questões de limites : República Ar­
gentina; II — Questões de limites : Guiana Bri­
A m igo velh o e obrigado — R io Branco
tânica; III — Questões de limites : Guiana Fran­
P .S . E n vio-lh e a coloca çã o dos equ ipiers ao c o ­
m eçar a partida.”
cesa. l.a memória; IV — Questões de lim ites:
Guiana Francesa. 2.a memória; V — Exposições
U M A CARTA DE B AR T O LO M E U M lT R E AO VISCONDE
de motivos; VI — Efemérides brasileiras; V II —
do R io B ranco
Biografias; V III — Estudos históricos; IX — Es­
Entre os papéis do Barão do Rio Branco, que tudos geográficos; X — Anotações à Guerra da
estavam sendo trabalhados pelo D r. J . Fischer, Tríplice Aliança de Schneider (três tom os); X I —
vimos esta carta que ao pai do grande chanceler, Discursos; X II — Coletânea de artigos.
o Visconde do Rio Branco, escreveu Bartolomeu
A redação de uma Introdução Geral à Coleção
M itre :
foi confiada ao Embaixador Arthur Guimarães de
Ilm .° y E xm .° S r. Consejero D . José M a da Silva Araújo Jorge, que já a publicou.
Paranhos.
Os trabalhos prosseguiram a cargo de um co­
Senor M inistro
mitê de publicações sob a presidência do 1.° Se­
A l separarse V . E . dei R io de la Plata m e es cretário de Embaixada Sr. Jorge Latour, que teve
grato dirijirle una amistosa palabra de despedida. Al
a colaboração dos Srs. Roberto Assunção de
m ism o tiem po cu m plo com el deber d e m anifestarle
confidencialm ente que, reconociendo sus distinguidos Araújo, Murilo de Miranda Basto, Sérgio Correia
servicios en el R io de la Plata, creo que V . E . ha da Costa e Jorge d’E^scragnolle Taunay.
O CENTENÁRIO DO BARÃO DO RIO BRANCO 75
Jayme de Barros, Aurélio Porto, Heraldo Pa­ U M FIL M E SÔBRE R IO BRANCO
checo de Oliveira e Luiz Nogueira Porto, João
O Instituto Nacional de Cinema Educativo, di­
Paulo da Silva Paranhos do R io Branco, Fernando rigido pleo Prof. Roquette Pinto, ofereceu valio-
de Figueiredo e Rubens de Araújo. síssima colaboração às comemorações do centená­
Emprestaram sua cooperação à comissão encar­ rio do Barão do Rio Branco, confeccionando pri­
regada de editar as Obras do Barão do R io Branco, moroso filme sôbre a vida e a obra do estadista
na qualidade de consultores, os Srs. Embaixador brasileiro.

Araújo Jorge (assuntos diplomáticos), Sousa da Quando falávamos no Ministério do Exterior com
Silveira e Celso Ferreira da Cunha (questões de o Cônsul Roberto Assumpção de Araújo, a quem
ortografia), R odolfo Garcia e Sousa Docca (his­ se deve a iniciativa da confecção dessa biografia
tória), Rubens Borba de Morais e Rodrigo M. F. luminosa e movimentada de R io Branco, avista-
de Andrade (bibliografia). mo-nos também com o técnico Húmi­
do Instituto de Cinema Educativo, que no mo­
Merece uma referência especial, o trabalho dos
mento fazia entrega àquele diplomata q o
pesquisadores, funcionários do Itamaraty, Armando do referido filme. Por muito adequado a esta re­
Ortega Fontes, Armando Brito de Sousa, Sarah portagem vamos reproduzí-lo aqui em seguida. Já
Gomes de Araújo, Celina de Abreu Braga, Manuel tivemos oportunidade de falar aos leitores da
de Miranda. Revista do Serviço Público sôbre os filmes confec­
cionados por Humberto Mauro, sôbre um mundo
CICLO D E CONFERÊNCIAS DO IT A M A R A T Y de coisas interessantes do Brasil — fatos de sua
história, realizações no campo científico, aspectos
Também foi ot.ganizado êste programa de con­
geográficos e variada documentação artística.
ferências para o Centenário de Rio Branco :
Entre estas, figura o 3.° ato do “Guarani” de
No Instituto de Geografia e História Militar do
Carlos Gomes — Invocação dos Aimorés; “O des­
Conferencista : Embaixador Hildebrando Accioly,
pertar da Redentora” ; “Hino à Vitória” ; “Henrique
no dia 30 de maio. Tema : “Rio Branco e a
Oswald” ; “Machado de Assis” , “Euclides da
2.a Conferência de Haia.” ■
Cunha” , etc.
N o Instituto de Geografia e História Militar do
E a propósito do filme sôbre R io Branco, assim
Brasil — Conferencista : M ajor Deoclécio de Pa­
nos falou ligeiramente Humberto Mauro :
ranhos Antunes. T e m a : “R io Branco, historiador
militar” , no dia 6 de junho. — Êste filme não foi de fácil confecção, sob o
ponto de vista cinematográfico, dada a sua difícil
Na Associação Brasileira de Imprensa — Con­
adaptação. Conseguiu-se, entretanto, apreciável
ferencista : D r . Elmano Cardim. Tema : “A im­
trabalho, muito vivo, profundo e mesmo emocio­
prensa na vida e na obra de R io Branco” , em
nante. Na parte, por exemplo, das vitórias diplo­
ju nho. máticas do Barão, com o as das Missões, Amapá e
Na Associação Brasileira de Imprensa — Con­ Acre, mostradas por meio de adequada documen­
ferencista : D r. Danton Jobim . Tema : Rio Bran­ tação, conseguiu-se dar vida e ação a êsses episó­
co e a Imprensa do seu tempo” , no dia 1.° de dios. Já a morte do grande brasileiro permitiu o
agôsto. uso da pura técnica cinematográfica, transmitindo-
nos intensa vibração emotiva.
No Instituto da Ordem dos Advogados — Con­
— Durou muito tempo a confecção do film e?
ferencista : D r. Haroldo Valladão. T em a : “Rio
Branco, advogado do Brasil” , na segunda quinzena — Dois meses e pouco. O Instituto Nacional de
de julho. Cinema Educativo teve nesse trabalho a valiosa
cooperação e a constante colaboração do Minis­
Na Sociedade de Geografia do R io de Janeiro
tério do Exterior. O filme tem cêrca de mil me­
Conferencista : Ministro Bernardino José de Souza.
tros e sua projeção dura quarenta minutos. A parte
Na Academia Brasileira de Letras — Conferen­ musical é tôda constituída de músicas brasileiras,
cista : Acadêmico Levy Carneiro. dos compositores Vila-Lobos, Heckel Tavares,
76 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
Francisco Braga, Henrique Oswald e Carlos Go­ d o Senado, n.° 8, h oje rua 20 de abril, n.° 14. Era filho
prim ogênito de José M aria da Silva Paranhos, V isconde
mes .
d o R io Branco, e de D . Tereza de Figueiredo Paranhos.
No filme aparece a Casa de Ruy Barbosa, ao O V iscon de do R io B ranco um dos maiores estadistas
ser focalizada a Conferência de Haia, na qual foi do Brasil deu ao filho, na sua própria vida um m odêlo
representante do Brasil, como se sabe, o grande giorioso a seguir.
Ruy, por escolha de Rio Branco, igualmente a A estátua do V isconde d o R io B ranco ergue-se nos
vivenda de Westphalia, onde foi assinado o tratado jardins da G lória, na Capital da R ep ú b lica . F oi testemunho
da gratidão nacional pela “ Lei do Ventre L iv re” , — lei
de Petrópolis.
que o Barão defendeu nas colunas d o seu jornal A Nação
O filme, que teve sua confecção orientada pelo e votou na Câmara com o D eputado Geral por M ato-G rosso
Professor Roquette Pinto, constitui, sem dúvida, d e 1869 a 75.

mais uma brilhante realização do Instituto Na­ *


cional de Cinema Educativo. * *

O Itamaraty já providenciou no sentido de se- R io Branco fêz os seus estudos secundários no Im ­


perial C olégio de P ed ro II, na mesma rua on de terminou
.em tiradas cópias em português e inglês do filme
gloriosam ente seus dias, e onde, mais tarde, foi professor
“R io Branco”, e ser feita também sua redução de
interino de Corografia e H istória do Brasil, matérias em
35 para 16 milímetros, tamanho escolar, para dis­ que, desde m oço, se especializou.
tribuição posterior às representações diplomáticas O jov em Paranhos — Juca Paranhos, com o lhe cha­
e consulares do Brasil e também às escolas do m avam os íntim os — estudou D ireito ,a princípio na F a ­
país. Com êsse filme, inaugurou o Itamaraty a culdade de São Paulo, de 1862 a 6 5 . Concluiu o curso
“Filmateca Rio Branco”, que servirá de documen­ e m 'R e c ife , em 1866.

tação para os cursos do Instituto Rio Branco, de Seus trabalhos históricos lhe valeram o ingresso no
que trataremos em seguida. Instituto H istórico e G eográfico Brasileiro, — em 1867 —
para o qual fo i eleito Presidente efetivo e depois Presi­
N o início desta repontagem nos eximimos de dente perpétuo em 1909.
observações sôb;e a obra e a vida de Rio Branco, M o ço fidalgo da Casa Im perial fêz a sua primeira
adiantando ao leitor que em très discursos repro­ viagem à E uropa em 1867, e em 69, 70 e 71 acompanhou
o Pai nas viagens ao R io da Prata.
duzidos neste trabalho se acham elas focalizadas
A H istória M ilitar d o Brasil m ereceu predileção es­
de forma admirável.
pecial d o Barão d o R io B ran co. A n otou a H istória da
Ocorre-nos nesta altura outra transcrição, não Guerra da T ríp lice Aliança, do alem ão Schneider.
menos interessante e oportuna, na qual a obra de A obre de Schneider tornou-se clássica, graças às notas
Rio Branco é ressaltada em seus contornos prin­ do insigne brasileiro.

cipais através do texto do filme sôbre sua vid a. A lém de vários outros trabalhos, as "E fem érid es do
Brasil” , em edição definitiva do Itam araty, em 1945, nas
Assim, pois, aqui está o “ Obras C om pletas” , é outro livro básico para os estudos de
nossa história.

TE X TO DO FIL M E “ R lO B R A N C O ” M in ucioso e honesto nos seus processos de verificação


e análise, pesquisou bibliotecas e arquivos, copiando do­
“ José M aria da Silva Paranhos — B arão do R io cumentos, verificando e retificando fatos e datas. Encheu
B ranco — é uma das figuras que, pelo seu saber e pela centenas e centenas de livros de anotações preciosíssim as.
sua ação, mais e m elhor contribuíram para a grandeza do
Ingressou na carreira consular com o Cônsul em L i-
Brasil. A sua obra im portou em delim itar geograficam ente
verpool, em 1876, e recebeu o título de B arão do R io
tod o o território nacional, ao qual integrou 6 8 8 .6 2 1 K m -.
B ranco em 1888.
O P alácio Itam araty à rua M arechal Floriano, velho
solar da prim eira m etade do século passado, em estilo * *
neo-italiano, foi cedido ao M inistério das R ela ções E xterio­
res em 1897. A sua notoriedade veio com o prestígio que E m 1893 fo i o B arão do R io Branco nom eado para o
deu a nossa Chancelaria, o Barão d o R io B ra n co. E’ a cargo de E nviado Extraordinário e M inistro Plenipotenciário
Casa d e R io Branco. A li realizou êle sua grande obra em missão especial nos Estados Unidos, em substituição ao
diplom ática; serviu o Brasil com inexcedível devotam ento Barão de Aguiar de Andrade, para a defesa dos direitos
e ali, num m odesto gabinete de trabalho, faleceu na manhã Brasil n o litígio com a R ep ú b lica Argentina, sôbre o T e r ­
de 10 de fevereiro de 1912. ritório de Palm as ou M issões.

N asceu o B arão do R io B ranco no R io de Janeiro, O T erritório de Palm as, de que o Brasil estava de posse,
a 20 de abril de 1845, na modesta casa da antiga travessa fica entre os rios Iguaçu e U ruguai. Os governos brasileiro
O CENTENÁRIO DO BARAO DO RIO BRANCO 77
e argentino estavam concordes quanto às duas fronteiras U m precioso atlas continha cem cópias autênticas de
d o Iguaçu e do Uruguai, mas discordavam quanto à deter­ mapas anteriores ao T ratado de U trecht — T ratado do
m inação dos dois rios — Santo A ntônio e Pepiriguaçu — “ Paz e A m izade” que resolveu im portantes questões entre
que afluem em direções divergentes. Portugal e a F rança.

O Brasil sustentava que a sua fronteira deveria ser N o m esm o ano — 1899 — o Barão do R io B ranco
form ada pelo Santo A ntônio e p elo Pepiriguaçu. D epois apresentou a Segunda M em ória, con ten do 186 pá^inaj i
de 1888 a pretensão argentina foi até o R io Jangada, que acompanhada igualm ente de quatro volum es, cópias au­
sustentava ser o Santo Antônio. tênticas de docum entos e ainda um atlas com oitocentas e
seis cartas anteriores e posteriores ao T ratado de U trecht.
A o Brasil era disputada, assim, uma área de 3 0 .6 2 1
E m 1 de dezem bro de 1900, o Presidente Hauser, em
Km2 de superfície.
nom e d o Conselho Federal Suíço, proferiu a sentença fa v o ­
U m mapa organizado e anotado pelo próprio Barão rável ao Brasil, que foi publicada posteriorm ente com
mostra claram ente a primeira pretensão argentina, em 1888, 846 páginas.
tendo o rio Chopim com o divisa. F oi a segunda grande vitória diplom ática d o Barão do
R io B ranco.
M ais tarde, depois de 1888, a pretensão argentina foi
até o rio Jangada. Ficou, assim, definitivam ente incorporado ao Brasil o
T erritório do Am apá — com 2 5 5 .0 0 0 K m ! . de superfície.
Para defender os direitos do Brasil o Barão do R io
Branco apresentou cin co volum es de provas cartográficas e *
outros docum entos. * *
Um dos docum entos mais decisivos para provar os
E m 1902, quando ainda M inistro Plenipotenciário em
direitos d o Brasil fo i o cham ado “ M apa das C ôrtes” , de
Berlim, aceitou R io Branco o convite do Conselheiro Fran­
1749, q u e serviu aos plenipotenciários de Portugal e Es­
cisco de Paula Rodrigues Alves para o cargo de “ C hanceler”
panha para negociar o tratado de M adri em 1750.
O tratado de M adri fixou os prim itivos lim ites do do B rasil.
B ra sil. R io Branco aliou ao seu gênio p olítico a sua exce p cio ­

A E xposição dos Direitos d o Brasil, apresentada pelo nal capacidade de estadista e de adm inistrador.

B arão d o R io Branco ao Presidente Cleveland, dos E s­ Cuidou da nossa Chancelaria, reform ando os m étodos
tados U nidos, árbitro da questão, fo i publicada em volum e de serviço, aum entando-lhes a eficiência e atendendo m esm o
de cêrca de 300 páginas. aos aspectos da instalação m aterial.
O Presidente Cleveland deu sentença favorável ao F oi M inistro das R ela ções Exteriores de 1902 a 1912,
Brasil, em 5 de fevereiro d e 1895. __ nos G overnos dos Presidentes R odrigues Alves, A fonso
F o i essa a prim eira grnde vitória diplom ática do Barão Pena, N ilo Peçanha e H erm es da F on seca.
do R io B ra n co. Nesse pôsto com pletou o Barão do R io B ranco a sua
F icou assim definitivam ente incorporado ao Brasil o grande obra, iniciada com os triunfos de M issões e Am apá.
T erritório de Palm as — 3 0 .6 2 1 K m 2; N o E d ifício dos Arquivos, B ib lioteca e M apoteca, o
* M inistério das R elações Exteriores conserva preciosam ente
* * os livros, mapas e os arquivos d o B arão do R io Branco,
acrescidos de valor pelas notas, cotas e observações feitas
O Barão d o R io B ranco fo i eleito m em bro da A cade­ por ê le.
m ia Brasileira de Letras — em 1898. *
Nesse m esm o ano, 1898, teve nom eação para E nviado * *
Extraordinário e M inistro Plenipotenciário em M issão E s­
pecial na Suíça, para tratar da defesa dos direitos do E m 1903 o Barão d o R io B ran co consegue a sua ter­
Brasil no litígio com a França, sôbre o T erritório do Am apá. ceira grande vitória diplom ática resolvendo os lim ites com
O Brasil sem pre sustentou que o R io O iapoc era o a B olívia na delicada questão d o cham ado T eritório do
rio de V icen te P in zon . A cre — 1 5 2 .0 0 0 K m 2.
A França afirm ava ser o R io de V icen te Pinzon, o A questão fo i resolvida rapidam ente por um acôrdo
A ragu ari. direto: tratado de perm uta de T erritórios e outras co m ­
A linha da pretensão francesa — da foz d o Araguari pensações. F oi o A cre in corporado ao Brasil pela indeni­
até o rio B ran co — iria abranger um a superfície de zação d e dois m ilhões de libras esterlinas e a cessão de
2 5 5 .0 0 0 K m 2. pequenas áreas d o nosso território :
O B arão do R io Branco procedeu os seus estudos em O triângulo entre o rio Abunam e o M adeira na bacia
Auteuil, na “ V ila M o lito r” — arredores de Paris. do Am azonas — 2 .2 9 6 K m 2;
Apresentou em 1899 ao árbitro da questão o C on ­
na bacia d o Paraguai, facilitando as com unicações da
selho Federal S u íço — a Prim eira M em ória d o B ra s il.
B olívia com êsse grande rio, quatro pequenas áreas;
A com panhavam êste trabalho quatro volum es contendo
os docum entos justificativos e ainda a obra de Joaquim na Baía N egra — 723 K m 2;

Caetano da Silva — “ O O iapoc e o Am azonas . na L agoa de Cáceres — 116 K m 2;


78 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
na Lagoa M andipré — 20 K m 2; N abuco, n o Itamarati, está a m agnífica p e ça . E ’ de pau

na Lagoa G aíba — 8 K m 2. rosa, com em butidos e guarnições de bronze, estilo Lu iz X V .


D epois do Tratado de Petrópolis, a mesa tem figurado
E m 1909 fo i resolvida a questão com o P eru . na assinatura de todos os atos internacionais concluídos
O Peru pretendia além do T erritório do A cre — na Chancelaria brasileira.
152 .0 0 0 K m 2. — mais uma vasta área ao N orte do A cre,
Tratado com o Peru em 8 de setem bro de 1909 — e
limitada pela linha M adeira-Javari, com o se verifica no
ainda, um dos últim os trabalhos concluídos pelo Barão do
mapa de E uclides da Cunha — auxiliar dedicado do Barão
R io Branco, justam ente considerado com o um dos mais
nos seus trabalhos de delim itação de fronteiras.
altos docum entos da nossa diplom acia; o T ratado de L i­
Seria um acréscim o de 2 5 1 .0 0 0 K m 2.
mites com a R epú blica Oriental do Uruguai — assinado
A questão fo i resolvida da maneira a mais favorável e
em 30 de outubro de 1909, p e lo qual o Brasil, num
nobre, fican d o o Peru os T erritórios d o A lto Purús
expressivo gesto de solidariedade continental, concedeu ao
do A lto Juruá — 3 9 .0 0 0 K m 2.
país vizinho o condom ínio de navegação da Lagoa M irim
* e d o R io Jaguarão.

Na cidade de Petrópolis, num recanto da W estphalia. * *


hoje A venida R io Branco, está a casa que por m uito tem po
foi a residência d e verão d o Chanceler brasileiro. E m 1906, a 3.a Conferência Internacional Am ericana
Ali, estudou êle os problem as concernentes ao caso inaugurou o Palácio M on roe, que fôra o Pavilhão do Brasil
do A cre e ali fo i firm ado o T ratado com a B olívia — na E xposição de São L u iz. S ob a presidência de Joaquim
cham ado o “ T ratado d e P etrópolis” — em 17 de n ovem ­ N abuco, a Conferência teve com o presidentes de honra
bro de 1903. E lihu R o o t e R io B ra n co.
A mesa que serviu na cerim ônia da assinatura do As normas da política continental, nas suas grandes
Tratado de Petrópolis tornou-se céleb re. Na sala Joaquim diretivas, traçadas pela 3.® Conferência no Brasil, foram

sum o i

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Um dos m uitos painéis q u e figuram na exposição


O CENTENÁRIO DO BARÃO DO RIO BRANCO 79
confirm adas na C onferência de Chapultepec, no M éxico Parágrafo ú n ico. O Instituto poderá tam bém servir
— 1945. de órgão de inform ação geral, para funcionários d o G overn o
R u i Barbosa foi, por escolha do B arão d o R io Branco, federal, ou para delegados a congressos e reuniões n o ex­
representante do Brasil, em 1907 — na Segunda C on fe­ terior .
rência da Paz, em H a ia . A rt. 3.° A estrutura e o funcionam ento do Instituto
Na “ Sala dos Cavalheiros” , no “ B innenhof” de Haia, serão estabelecidos em regulam ento próprio, a ser baixado
o insigne advogado da Liberdade e da Justiça afirm ou o dentro de sessenta dias a contar da pu b lica çã o dêste D e ­
princípio d e igualdade jurídica dos Estados. creto-lei .
Parágrafo ú n ico. O M in istro de E stado das R ela ções
* ■* Exteriores nomeará uma com issão para elaborar o re fe iid o
regulamento e os planos de trabalho d o Instituto nos cin co
Várias foram as distinções que recebeu o Barão dp prim eiros anos d o seu fun cionam ento.
R io Branco, n o Brasil e no estrangeiro.
A rt. 4 .° Para atender, no presente exercício, às des­
A ação do B arão d o R io B ran co aum entou para mais
pesas decorrentes dêste D ecreto-lei, fica aberto, ao M in is­
de 2 .0 0 0 o núm ero d e m arcos que h oje assinalam os
tério das R elações Exteriores, o créd ito especial d e C r $ . . .
limites da nossa soberania.
2 0 0 .0 0 0 ,0 0 .
A o Barão do R io B ran co deve o Brasil o perfeito
delineam ento das suas fronteiras internacionais e a legí­ A rt. 5.° Ê ste D ecreto-lei entrará em v igor na data
tima posse dos vastos territórios qu e lhe foram disputados. da sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Foi, na frase d e R u i Barbosa, o “ deus T erm in us” da R io de Janeiro, 18 de abril de 1945, 124.° da In de­
integridade nacional. pendência e 57.° da R ep ú b lica .
u G e t u l io V argas.
tf !* J osé R o b erto d e M a ced o Soares.
A . d e Souza Costa.
N o C em itério de São Francisco X avier, na Ponta do
C aju — ja zigo 2 .1 3 3 , estão sepultados o V isconde e o Barão
do R io B ra n co. AS IN SC R IÇ Õ E S E S T IV E R A M A B E R T A S DE 1 1 A 2 0 DE
$ M AIO
* #
Estiveram abertas de 11 e 20 de maio último,
Na Capital da R epú blica, em 7 d e setem bro de 1943,
foi inaugurado o M on um ento d o B arão do R io B ranco. no salão de leitura da Biblioteca do Palácio Ita-
U m m arco d e fronteira sim boliza a sua grande obra.” maraty, as inscrições para os candidatos à matrí­
cula nos cursos de Geografia Superior do Instituto
IN STITU T O RIO BRANCO
Rio Branco.
Na vigência das homenagens ao grande chan­ Os referidos cursos serão ministrados pelos se-
celer, houve a criação do Instituto R io Branco, guintess professores :
conforme êste decreto :
a ) Geografia Política do Brasil e da América
D E C R E T O -L E I N .° 7 .4 7 3 — de 18 d e a b r i l d e 1945 Latina, Professor Everardo Backeuser.
b ) Geografia Cultural do Brasil e da América
D isp õe sôbre a criação do In stituto R io Branco e dá outras
providências Latina, Professor Fernando Antônio Raja
Gabaglia.
O Presidente da R epú b lica usando da atribuição que
lhe c o n f e r e o a r t ig o 180 d a C o n s t i t u i ç ã o , decreta : c ) História de Cartografia Política do Brasil,
A rt. 1.°. Fica criado, no M in istério das R elações Professor Jayme Cortesão.
Exteriores, um centro de investigações e ensino, denom i­ d ) Geografia Econômica do Brasil e da Amé­
nado Instituto R io B ra n co. rica Latina, Professor Afonso Varzea.
A rt. 2.° O Instituto R io Branco terá por finalidade:

a) a fo r m a ç ã o , o a p e r fe iç o a m e n to e a e s p e c ia liz a ç ã o CONVERSANDO CO M o SECRETÁRIO DO INSTITUTO


d e fu n c i o n á r i o s d o M i n i s t é r i o d a s R e l a ç õ e s E x t e r i o r e s ;
b ) o preparo de candidatos ao concurso para a carreira Falamos ao Cônsul M ellilo Moreira de Melo,
d e “ D iplom a ta ” ; Secretário do Instituto, sôbre êsse novo órgão do
c ) a realização, por iniciativa própria, ou em mandato
Ministério do Exterior. Não nos bastava publicar
universitário, de cursos especiais dentro do am bito dos
seus objetivos; apenas o decreto de criação do Instituto; talvez
d ) a difusão, m ediante ciclos de conferências e cursos pudéssemos colhêr mais algumas notas a respeito.
d e extensão, de conhecim entos relativos aos grandes p ro­ E assim nos falou o cônsul Moreira de M elo :
blem as nacionais e internacionais;
e ) a sistem atização de dados e docum entos e a rea­ — A criação do Instituto veio realmente atender
lização de pesquisas sobre historia política e d ip lom a tica . a uma necessidade imperiosa de preparação de
80 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
candidatos aos concursos para a carreira de D i­ fidelidade pela palavra dêsses eminentes homens
plomata e destina-se ainda ao aperfeiçoamento e ■públicos.
especialização dos funcionários do Ministério das
oração do S r. A bgar R en ault
Relações Exteriores, conforme estabelece o Decre­
“ As nações constituem-se, em grande parte, de uma
to-lei n.° 7 .4 7 3 . Quem tirar o curso terá seu di­
trama de im ponderáveis : os seus hábitos, os seus costumes,
ploma, que, entretanto, não assegura nenhum di­ n sua sensibilidade específica, a sua cultura, a sua religio­
reito ao seu portador, a menos que seja admitido sidade, o seu sentimento da terra, — o seu corp o de tradi­
em concursos de títulos. E ’ preciso acentuar que ções — verdadeiro tecido con ju ntivo que aproxima, une e

os cursos são grátis e de duração variável, con­ aglutina elem entos não apenas no espaço, senão ainda
nessa outra dim ensão que é o tem po, perm itindo que o
forme as circunstâncias. O Instituto realizará ain­
presente seja uma p rojeçã o do passado e uma prospecção
da ciclos de conferências e cursos de extensão uni­ do futuro. Sem êsse prodigioso tecido conjuntivo, o que é
versitária, relativos aos problemas nacionais e in­ form a, continuidade, coerência, ordem e perpetuação hou­
ternacionais . vera de tom bar no dom ínio do im preciso, do precário, do
desordenado e do efêm ero. São essas forças patriarcais,
— Aliás, já vamos ter as primeiras conferências
presentes na indefinida longura dos caminhos do tem po,
dêsse ciclo. . . que regem im periosam ente o crescim ento e a maturidade

— N ão. As conferências de que o senhor na­ das nações. M as a sua existência não é um arbítrio do
acaso, nem ocorre por si mesma, ingênitamente : essas
turalmente teve notícia são as constantes das co-
fôrças míticas só existem em razão do hom em , que é o
memoracões do Centenário de R io Branco. As pon to de convergência e de irradiação do universo, o de­
do Instituto ainda não se acham programadas. m iurgo de prodígios cujo im pério conform a, altera, destrói
Pretendemos, em princípios de junho, realizar a e cria- as cousas sensíveis ou im ponderáveis e o próprio fato
universal, com o realidade ou representação.
sessão inaugural do Instituto com uma conferência;
teremos, assim, o inicio de uma fase de difusão cul­ Ora, essa forma, essa fôrça, êsse esplendor que evoca­
m os e reverenciam os neste m om ento em nom e do Brasil,
tural no Itamaraty, bem interessante. O Instituto
êsse poder criador pertence efetivam ente ao grupo escasso
terá sede própria e à altura de sua nobre finali­
dos maiores exem plares da categoria “ hom em ” — os que
dade. Também em junho terá início .o Curso de acrescem ou restauram ou estratificam alguma cousa dos
Prática Consular, para os funcionários da carreira agrupamentos sociais, tecem a trama e a urdidura das
de diplomata. suas tradições e, por isto, fundam as nacionalidades.

— E como surgiu idéia tão boa da criaçãq dêsse Ê le foi e, em verdade, continua a ser uma fôrca de-
miúrgica, porque os atos em que se im ortalizou não se
centro de estudo ?
esgotaram com o serem praticados, nem se lhes vasou o
— A iniciativa é do 1.° secretário de Embaixada, conteúdo : os seus efeitos, com o os de certas substâncias
D r. Jorge Latour, apoiado com entusiasmo pelos dotadas de suma capacidade de persistência e difusão,
foram mais dilatados do que o âm bito físico no qual se
Ministros Osvaldo Aranha, Leão Velloso, Jose
produziram, e altearam-se além das circunstâncias tem p o ­
Roberto de M acedo Soares e Embaixador Alves de
rais. M as de que vinha e, ainda h oj«, de que vem o sen
Souza. fascínio ca rism ático? N ão tem origem tão só nos 8 8 3 .6 2 2
K m 2 que, segundo os cálculos de Basílio de Magalhães,
HOM EN AG EM À M E M Ó R IA DO BARÃO DO reintegrou prodigiosam ente na riqueza territorial do Brasil.

RIO BRANCO JUNTO À SUA E STATU A A sedução do seu prestígio está, por igual, nos fatos im -
perecíveis de que, em relação ao nosso território e às
Entre as homenagens prestadas à memória do suas fronteiras, a sua obra é, substancialmente, obra de
Barão do R io Branco no dia 20 de abril, desta­ defesa nacional e de que êle foi um criador de tradições :

cou-se pela sua imponência e brilho a realizada criou uma atitude e uma linha de com prom isso e de pro­
cedim ento para o Brasil diante não só dos 31 países com qu<?
junto ao monumento do grande chanceler, na Es­
firm ou pactos, senão perante tôda a com unidade interna
planada do Castelo, e na qual falaram os Senhores cion a l. Essa atitude e essa linha de procedim ento consti
Abgar Renault. Diretor Geral do Departamento tuem preclara avenida lançada por entre o jog o denso e
Nacional de Educação, Ministro do Paraguai Se­ feroz dos desapoderados interesses das n a ções.
nhor Justo Pastor Benitez e Embaixador João O u n iv e r s a l era a su a p r o v ín c i a , m as, com o o uni
Neves da Fontoura em nome do Govêrno federal versa i só e x is t e em re la ç ã o ao p a r t ic u la r , ou n a c io n a l,

e do Ministério das Relações Exteriores. êsse f a t o c o n t r ib u i u , a o in v é s d e ob sta r, a o seu soberan o


s e n t im e n t o d o B r a s il, q u e r e g e tôd a a su a v i d a e to d a
Vamos reproduzir aqui êsses discursos, nos quais sua ob ra ; ca d a vez m a is ir r e d u t í v e l a tr a v é s das v ia g e n s
a figura de Rio Branco é realçada com justeza e nu m erosas e do d i la t a d o p e r ío d o de r e s id ê n c ia n o e s tr a n
O CENTENÁRIO DO BARÃO DO RIO BRANCO 8!
geiro, nas quais alargou e enriqueceu a sua cultura e a ções. E m sua form ação contribuem para fazê-lo mais hu­
sua experiência hum ana. mano tanto a inteligência e a vontade com o o exem plo e a
época em que lhe coube attiar. N o C olégio P ed ro II. celeiro
O laço entre o particular e o universal confere-lhe
de cultura, nas faculdades de São P au lo e de R e cife , teve
força transvidente ao olhar aauilino, que tudo abrange,
ao lado do livro amigo a lição paterna, paradigm a de quem
perquire e interroga, ven d o as cousas, que não têm, em
aprendeu a arte de negociar com elegância e eficácia os
regra, para olhos com uns, form a, nem cór, nem volum e
mais graves assuntos internacionais. D esde sua juventude
p ró p rio s,'n a nitidez e na exatidão d o seu volum e, da sua
cór e da sua form a . teve ideais a defender e exem plo a seguir. Na história
diplom ática, no serviço da N ação, am bos são duas verten ­
O técnico em assuntos internacionais é recalcado ao
tes de um grande caudal que atravessa o Brasil, e adotam
segundo ou ao terceiro plano pelo hom em de Estado, que
o nom e de um rio, ou seja do que êste fecunda, lim ita e une
do técnico se extrema na universalidade da visão e na
cs p ov os.
escolha qu e sempre faz, sem hesitar, entre as categorias
moleculares e as categorias m olares. Assim, já não são M u ito aprendeu do advogado da humana causa da lei
os olhos d o técnico, mas os olhos do hom em de Estado, do Ventre Livre, do negociador de graves questões do R io
que com preendem a necessidade de rem odelar e rearmar o da Prata. Ê le pertence, porém, a outra época. T e m que
exército, de sanear a Capital da R epú b lica e de criar um continuar uma tradição, aperfeiçoá-la e enriquecê-la. A quêle
sistema de articulação e circulação entre zonas rem otas do atuou no Im pério ; êste na R epública. C cntam que seu pai
país, criando entre elas nexo p olítico e integrando-as na chegou ao R io de Janeiro com o passageiro de segunda clas­
unidade n acion a l. Sabe e sente que às áreas geográficas se, pobre e descon h ecid o; estudou e lutou até m erecer as
hão de forçosam ente corresponder áreas dem ográficas, isto mais altas distinções, a que soube honrar o estadista dos
é, políticas : para usar a expressão do princípio aristotélico, acordos nobres, das atitudes medidas, libertador dos escra­
a que, aliás, falece h oje verdade com o explicação cien tí­ vos. O filho cresce sob os auspícios do desinteressado ser­
fica, mas que nada perdeu de sua excelência com o imagem vid or da nação, mas quer am pliar e não repetir. T am bém
— em política, tal com o em física, a natureza tem horror viaja para realizar seu aprendizado. Antes se enfronhou nas
ao vá cu o. questões de sua terra, estudou sua história e batalhou na
Os exem plos ilustres da sua vida pública transform a­ im prensa. T em que interpretá-la e vivê-la à distância.
ram-se em tradições da política internacional d o Brasil, a “ U m bique patria m em or” . Sua estadia em Liverpool, em
qual fundam ente vincou, dia por dia, não com as virtudes Paris, em B erlim não constitui um exílio mas sim uma
levianas e m ovediças dos políticos, mas com as virtudes preparação. Arquivos e bibliotecas, às margens do Sena com
severas do hom em de E sta d o. D ev em nêle constituir as suas estantes de velhos livros. M useu Britânico, a B i­
o b je to de culto e de im itação a energia do querer, a p a ­ blioteca N acional de Paris, a Casa do B ib liófilo M r. Cha-
ciência, a fidelidade à vocação, o gôsto da pesquisa, do denas, absorvem sua vida durante um quarto de século. O
debate e da rixa intelectual, a cultura, o ponderoso bom futuro defensor dos direitos territoriais de sua pátria se
senso, a capacidade de renúncia, a devoção ao ideal, o docum entava, anotava suas efem érides ; traduzia ; verificava
am or ao B rasil. a ca rtog ra fia ; forjava suas armas para uma epopéia sem

A o evocar da noite pelágica do T e m p o a sua figura sangue. P orqu e os tem pos tinham m u d a d o ; o espírito p ú ­
ecum ênica, trazendo-a de n ovo ao plano do circunstancial, b lico am ericano e v o lu ía ; o arbitram ento com ecava a se

o que fazem os não é apenas honrar-lhe a egrégia m em ória, oferecer com o m eio preferível aos m étodos coercitivos para

para a qual se volvem , num assom o de irreprim ível p ola ­ dirim ir as divergências entre as novas nacionalidades e para

ridade, os pensam entos e os corações : é tam bém reapren­ opor-se às pretensões européias. O jov em estadista apren­

der a nossa fé na justiça e no direito com êsse que foi dera, à luz da experiência de seu pai, que uma das causas
das querelas americanas, de cruéis guerras, eram as questões
um dos fundadores do B rasil.”
de lim ites entre países em form ação. E se incorporou ao
d is c u r s o do Sr. Justo P asto r B e n it e z grupo dos homens evoluídos que pensava que, em lugar
“ Senhores : A m odesta voz de um hispano-am ericano de recorrer à violência, dever-se-ia apelar para a solução ju ­
bem pode se fazer ouvir nesta com em oração, porque o B a ­ rídica. preconizada na prim eira conferência panam ericana,

rão do R io B ranco chegou a ser um patrim ônio moral da consagrada na Constituição Brasileira de 91, e que repercutia
Am érica p o r suas idéias e por suas obras. E ’ dessas figuras pelo continente com o fórm ula de pa z. Era necessário elevar
que unem e se projetam além das fronteiras, porque sua a civilização americana afirm ando a sua soberania. Fora
ação de estadista não deixou ressentimentos nem germens das form as jurídicas, a Am érica perderia sua norm a ne­
de vingança e foi um realizador do direito de dirim ir sem cessária de vida, sua característica essencial, e se dispersa­
dilacerar, que resolve sem violência. Engrandeceu sua pá­ ria nas insolúveis querelas européias, ou se rebaixaria à
tria" sem ferir as pátrias alheias. C om razão se o consagra categoria dos continentes colonizados. O direito é a digni­
neste m onum ento, erigido pela gratidão do seu povo, tendo dade da Am erica, e o B arão do R io B ranco fo i um dos
na base desenhado o mapa do Brasil, sim bolism o exato, magnos obreiros dessa form ação ; m arcou com fatos o ca­
porqu e nunca houve sentinela mais alerta e esclarecida da minho assinalado, levou à prática o sonho dos doutriná­
vossa vasta herança. rios ; substituiu a violência pelo direito estrito. Eis porque
Foi o Barão do R io Branco um destino lógico e p r o ­ sua figura se projeta sôbre tod o o continente.

gressivo ; não tem em sua vida im provisação nem contra­ N ão alcançou essa categoria somente pelo favor dn
dições e se prolonga até hoje, pelo virtualism o de suas cria­ sorte, nem de golpe. Am adureceu numa larga aprendizagem.
82 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945

I
â TE 1E BÜ-IIA1CB

O utro painel da exposição

Quando se apresentou a ocasião, pode-se dizer que o lugar


de advogado dos direitos territoriais de sua pátria lhe cabia
legitim am ente. T em os agora o estrategista frente ao mapa,
disposto a realizar a epopéia incruenta ; seu arsenal é um
a r q u iv o ; seus aliados a geografia e a história americana,
que estudou com a prolixa paciência dè um beneditino.
Trabalha exaustivamente, sente a voluptuosidade de em ­ : - - ' V .. .. V .
brenhar-se em emprêsas de v u lto . N ão tem h o rá rio ; c o ­ Peru, Equador e Holanda, definir os limites geográficos e
m eça quando sente o im pulso m otor ; se encontra um ponto
estender as fronteiras morais de sua pátria. O Barão ven ­
do referência segue o fio, à luz d o sol ou à tênue claridade
ceu, mas seus triunfos não custam sangue nem deixam res­
de uma vela, até esclarecê-lo ; se tem uma dúvida, não des­
sentimentos ; é um vencedor incruento, um cavaleiro sem
cansa até decifrá-la ; havia algo de m iguelangelesco neste
armadura de ferro, um ven cedor sem hum ilhações. A p á ­
pesquisador de docum entos. Folheia, com pulsa, repete, or­
tria lhe deve essas fronteiras, que êle definiu a tinta e a
dena com uma espécie de intuição do dado que precisa.
co m p a s so ; é um agrim ensor internacional e não um usur­
Pelos aposentos por onde passa, deixa um rastro de tocos
pad or. A extensão que consolidou juridicam ente para seu
de vela e infinitas fôlhas cheias de anotações, com o tro­
féus de uma batalha. N o dia seguinte o sistematizará com país supera aquela que ganharam com «angue e ruínas os

rigoroso m étodo. maiores capitães da história.


O chanceler brasileiro se projeta m uito além de suas
E ’ um obcecado pelo trabalho, mas não um trabalha­ fronteiras. N ão é só um “ D iós térm inos” ; quer rodear
dor pontual e rotineiro. Term inada uma tarefa, sai a ca­
seu país de amigos solidários e não de adversários possíveis.
minhar em busca de amigos ou a admirar belos quadros ;
Sua política, que desperta alguma desconfiança, é de co o ­
coleciona figuras de Tanagra ; lê copiosam ente e entra para
peração, busca as soluções em função do futuro ; contem pla
com er num restaurante qualquer. C om o tod o espírito absor­
a Am érica do porvir, para o qual quer um Brasil forte. P re­
vid o por assuntos capitais, tinha m uito de despreocupação.
side com autoridade a III.® Conferência Pan Am ericana ;
O historiador, exigente verificador de datas e fatos, o geó­
procura a colaboração de seus com patriotas mais lú c id o s ;
grafo exato, tem para as outras coisas da vida uma amável
seu pessoal é uma escola de form ação ; não precisa rebai­
condescendência descuidada.
xar o contorno para sobressair. Quando há necessidade de
Êsse m étodo personalíssimo de trabalho, que o leva a prover a embaixada em W ashington, faz cpm que o gover­
negociar diretamente, a redigir as alegações, a corrigir as no a con fie a Joaquim N abuco, flor da civilização ; seu m en­
provas e até a intervir na primeira encadernação das fôlhas sageiro de cordialidade é O lavo Bilac, o hom em dos tim ­
im pressas à sua vista, lhe perm ite ganhar os pleitos do bres m u sica is; secundam -no eminentes figuras que reali­
Am apá e das Palmas, resolver a questão do A cre, encontrar zam a diplom acia brasileira : D om ício da Gama, M agalhães
juma fórm ula amistosa para a navegação da Lagoa M irim de Azeredo, Gastão da Cunha, Graça Aranha e tantos ou­
e do Jaguarão com o Uruguai, negociar com a C olôm bia, tros. E não se escraviza às cruas realidades da política in­
O CENTENÁRIO DO BARÃO DO RIO BRANCO 83
ternacional, mas propugna nobres ideais, princípios digni- Professor, jornalista, duas vêzes deputado à Câmara
ficadores e para defendê-los apela para o verbo de R u i Bar­ do Im pério, em nenhuma dessas atividades se fixam os tra­
bosa em H a ia . ços da sua v oca çã o. _

T e v e poderosos contendores, rivais esclarecidos e gra­ São experiências fugazes, pequenos clarões indecisos e
ves problem as. Para enfrentá-los contou com duas for­ passageiros que apenas antecedem e anunciam a alvorada
ças : sua inteligência e a colaboração de seu país. Nunca próxim a .
fc i um in com preendido. D epositava-se neste negociador a
P arece haver nas vidas eleitas uma torturante procura
rrá:;ima çcn fian ça . O que o Barão fazia, o brasileiro achava
do ru m o. M uitas se perdem ou desviam entre afluentes
bom porque intuía seu pensam ento e respeitava seu p a ­
m edíocres. Outras afinal encontram a grande estrada do
triotism o. N egociava tendo com o apoio a opinião auspiciosa
destino, que as tom a ilustres.
de seu p o v o .
N ão fo i em vão que R io Branco p elejou contra a má
D izia-se erradam ente que fugia da política, quando a
vontade do Im perador em busca d o prim eiro pôsto consu­
verdade é que a praticava constantemente, mas em grande
lar. D êle é que o há de arrancar o govêrno republicano para
estile, rã o para disputar cargos nem ganhnr posições, mas
confiar-lhe o patrocínio dos interesses brasileiros no pleito
sim para captar simpatias, orientar a opinião, conseguir c o ­
£ecu’ ar sôbre o território de M issões.
laborações para os desígnios sempre eminentes de sua
chancelaria. O Itamarati fo i assim a cabeça de ponte da M as não é apenas o laudo a nosso fav or que o re co ­
união sagrada, o recinto onde só se reconheciam brasileiros. menda à gratidão nacicnal, nem a conseqüente in corpora­
Nesse sentido, foi um político, um condutor, o paladino das ção ao território de tantos milhares de qui ôm etros quadra­
expressões ideológicas de uma grande nação e realizador dos, indispensáveis à nossa segurança m ilitar. A glória
de uma grande política que perm itiu ao Brasil continuar de Joaquim N abuco não em palideceu com o sacrifício dos
uma coerente tradição internacional. Ê le m esm o servia à nossos direitos no caso da Guiana Inglêsa. O que destaca
Pátria acima das situações e até das form as de gov êrn o. a figura de R io Branco, no prim eiro e estrondoso triunfo da
Earão do Im pério, fc i chanceler da R epú blica ; era m aciço sua carreira, é que aquêle dependeu precipuam ente da sua
e pessoal, inclusive na firm a que adotou. contribuição pessoal, da luz que projetou sôbre os novos
docum entos fundamentais à demanda, m odificando-se, com o
A vida fo i generosa com ê l e ; uma bela figura, hom em
êle próprio escreveu, “ tod o o nosso sistema de defesa e ata­
bem plantado, porte m ajestoso. N ão se encontra em sua
q u e” .
biografia um só traço de vulgaridade nem cie virtude pacata,
nem sequer a vivacidade de raposa que alguns consideram O advegado não se contenta em ser o sim ples portador
indispensável ao diplom ata. Com o tod o hom em transcen­
rotineiro de um m em orandum elaborado na Secretaria de
dente, criou escola ; com o tod o autêntico mestre, deu uma
E stad o. P rofundo conhecedor de todos os segredos d o li­
orientação. S ó os hom ens que crêem no futuro se projetam
tígio, inova a fisionom ia do debate, articula sôbre a rea­
nêle. Os pov os americanos p od em congraçar-se amistosa­
lidade docum ental os argumentos irrespondíveis em anados
m ente e honrar êste monum ento, porque não foi edificado
da cartografia e da h istória.
sôbre ruínas, vio!ência nem usurpações, mas sim com legí­
tima terra brasileira, cem os troféus de vitórias incruentas E ’ aí o verdadeiro pon to de partida da sua vida pú-
conseguidas pelo direito. b ica. Quarenta anos mais tarde, o Segundo R io B ran co
substituiu o prim eiro na defesa dos mesm os interêsses ter­
Seu pedestal descansa em terra firm e, honra a um
ritoriais, confundindo-se afinal os dois nom es ilustres na
estadista e se p rojeta aos céus em destino consubstanciado
justiça da decisão arbitrai.
com a pátria à qual consagrou sua existência” .
Bastaria esta para garantir ao Barão do R io B ran co
um lugar excepcional entre os benem éritos da P á tria . A sua
DISCURSO DO EM BAIXAD O R JOÃO N EVES ascensão, porém , não conhece outros lim ites senão os da sua
grande vida bem vivida, e, quando a m orte o arrebata
da F ontoura
qvase à banca d o trabalho, o Brasil encontrara o criador

“ T od os os brasileiros, alistados nas fileiras diplom áti­ de todo um sistema da sua política externa, fundado no

cas, presentes a esta hora ao p é dêste m onum ento, ou sonso da cbjetivid ade e nos princípios de um idealism o or­
ausentes da Pátria e a seu serviço, renovam, com a sua h o­ gânico. E ’ à som bra dêle que R io B ran co leva a cabo
m enagem ao Barão do R io Branco, o seu testem unho de tôdas as realizações do seu M inistério, solven do sem o dis­
fidelidade aos ideais que enobreceram a vida do Chanceler paro de um tiro as mais delicadas pendências de fronteiras,
im ortal. revigorando os laços de am izade co m todos os p o v o s da
N ão caberia, no estilo desta solenidade, desdobrar — terra, notadam ente os deste hem isfério, assinando inúmeras
ainda que em singelas ementas — a sua portentosa obra convenções de arbitragem e sustentando, na Conferência
política, nem recom por, para edificação pública, as p r o ­ de H aia, pela v oz insuperável de R u i Barbosa, a teoria de-
porções am azônicas da sua carreira. m ocratica da igualdade ju rídica entre os Estados soberanos.

Am bas já transpuseram vitoriosas a im parcialidade da Apesar de haver perm anecido na E uropa por mais de
crítica, dentro e fora das nossas fronteiras, que, acim a dos um quarto de século, a ausência não desnacionalizou a subs­
m arccs de pedra, conservam , vigilantes, a presença espiri­ tancia brasileira do seu caráter, antes aprim orou as virtu­
tual do D em arcador ! des do seu patriotism o. N ão é um estrangeirado confundindo
84 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
os acentos prosódicos, que desem barca no velh o cais “ Pha- fascism o, e a independência das nações subjugadas ou
roux” para assumir a pasta das R ela ções Exteriores, mas o ameaçadas pela doutrina totalitária.
m esm o brasileiro que daqui partira, trazendo a mais um Durante o decênio em que dirigiu o Itamaraty, R io
capital de experiência, o m undo das amizades que con ­ B ranco jam ais se deixou arrebatar pelas seduções da p o lí­
quistara, o arquivo da sua docum entação, os pacientes estu­ tica interna. E fo i essa isenção entre os partidos que lhe
dos de geografia e de história para o serviço da Casa, que conferiu, a ju ízo de seus com patriotas, uma autoridade até
h oje se honra sob a designação de seu patroním ico. então desconhecida no conflito, sempre, cego e terrível, das
T endo aprim orado a independência de julgam ento e nossas rivalidades facciosas. H om em único neste país, des­
o sentido das realidades nacionais, a sua form ação espiri­ frutou com justiça até o últim o dia da sua vida o esplendor
da glória associado paradoxalm ente a um a popularidade
tual européia não lhe tolhe a antevisão do futuro nem o
rumorosa e duradoura.
im pede de reconhecer que os mais nobres e im periosos in-
terêsses do Brasil teriam de gravitar na órbita de um sis­ A sua fidelidade à monarquia não o im pediu de servir
tem a continental. O cam inho da cooperação com os E sta­ a R epú blica com lealdade. N o fundo, não o animava o fa­
dos U nidos fôra aberto desde os prim eiros dias da nossa natismo por qualquer form a de governo. O que d e s e ja v a

independência. Faltava quem retomasse, co m autoridade — êle m esm o o explicou — era que o n o v o regim e conse­
guisse “ manter a o r d e m ; assegurar, com o o anterior, a in ­
e decisão, o im pulso quase perdido e buscasse im prim ir aos
tegridade, a prosperidade e a glória do Brasil, c o n s o l i d a n ­
sentimentos de am izade entre as duas nações um cunho de
do ao m esm o tem po as liberdades que nos legaram n o s s o 3
lealdade e con fian ça.
pais” .
O ideal bolivariano não desaparecera da consciência do
N o v o M u ndo ; carecia, porém , para assumir cs contcrnos de Trinta e três anos depois da sua morte, esta romaria
um corp o de doutrina vitoriosa na prática, que a coopera­ não se resume num preito ao passado, porque a política
ção entre fracos e fortes se fundasse nos princípios da ética externa da atualidade brasileira, sábia política do govêrno
internacional, co m a segurança de respeito a tôdas as so- e do p ovo, é a mesma que êle nos legou, apenas ampliada
beranias, de m od o que as bi!has de barro não corressem o palas novas condições do m undo e com as variantes inevi­
risco de serem destruídas pelas de fe r r o . • táveis ao transcurso do tem p o.

M inistro das R elações Exteriores, R io Branco orienta As palavras, com que R io Branco encerrou nesta mes­
desde logo as suas diretrizes em favor de um pan-am erica- m a cid ad e a T erceira Conferência Pan-Am ericana, valem
nism o extenso, com preensivo e p rofu n d o. N inguém o de­ por uma profecia dos tem pos que estamos viven do : “ N ão
finiu m elhor do que êle ao inaugurar nesta capital a Con­ raro — dizia êle — um ven to de insânia, despertando ins­
ferência de 1906 : tintos bárbaros, açoita e abala os povos, m esm o os mais
cultos e cordatos. O dever do estadista e de todos os h o­
“ N ações ainda novas, não podem os esquecer o que
mens de senso p olítico é com bater a propaganda de
devem os aos form adores do capital com que entramos na
ódios e rivalidades internacionais” .
concorrência social.
O pon do ha tres anos tôdas as suas armas contra o pre­
A própria vastidão dos nossos territórios, em grande
dom ínio da insania totalitária — na frente da batalha e nas
parte desertos, inexplorados alguns, e a certeza de que te­
linhas da retaguarda — o Brasil prossegue o pensamento
m os recursos para que neste continente viva com largueza
e a ação de uma política tradicional.
um a população dez, vinte vêzes m aior, nos aconselhariam
a estreitar cada vez mais as relações e boa amizade e pro­ O que R io Branco não logrou ver realizado foi o rea-

curar desenvolver as do com ércio com essa fonte prodigiosa parelham ento da nossa defesa m ilitar, preocupação absor­
vente de seus dias de govêrno. A os que, por ela, o acoim a-
de energias que é a E u ropa ” .
ram de cultivar, sob o disfarce de ideais pacifistas, a paixão
N ão se trata, pois de um b lo co isolado de nações dêste do arm am entism o agressivo, êle respondeu com verdade,
hem isfério, carregadas de suspeitas ou hostilidades ccntra
no célebre discurso do C lube M ilitar : “ M as não se pode
as m etrópoles de origem , m uito menos para nós que sem­
ser p a cífico sem ser forte, com o não se pode, senão em
pre confessamos com em oção e orgulho a gloriosa ascendên­
intenção, ser valente, sem ser b ra vo” .
cia lusitana.
Frágil seria o conteúdo desta com em oração se ela não
C o u ra ça p a ra a d e fe sa c ó m u m d o c o n t i n e n t e c o n t r a as
exprimisse, antes de tudo, aquêle sentido de continuidade
a g r e s s õ e s p a r t id a s d e f o r a , a s o c i e d a d e d o s p o v o s a m e r ic a ­
política indispensável à vida das nações que já transpuse­
n o s n a o se a lh e ia d o r e s t o d o m u n d o , n ã o r e p u d i a as r a íz e s
ram o período de ensaios, incertezas e decepções da ju ven ­
d a su a f o r m a ç ã o é t n ic a , s e n t im e n t a l e c u lt u r a l, n e m r e fo g e tu d e.
a o s e n t id o u n iv e r s a l d e t ô d a s as c o n c e p ç õ e s d o g ê n i o p o l í ­
A diplom acia brasileira está sem pre assistida pelo es­
t ic o .
pírito de R io Branco. Os seus ensinamentos, os seus m é­
C om esses princípios normativos, levados às últimas todos, as suas diretrizes orgânicas nada sofreram substan-
conseqüências sob a inspiração d o im ortal Presidente Fran- tivam ente com o transcurso dos anos. A o contrário, a nossa
klin R oosevelt, e que se inovou o teor das relações interna­ posição nestas duas guerras universais sempre estêve na
cionais e se assegurou, pela fôrça das armas ao serviço do lógica dos antecedentes por êle firm ados em docum entos e
direito, a liberdade dos indivíduos escravizados pelo nazi- atitudes inesquecíveis.
O CENTENÁRIO DO BARÃO DO RIO BRANCO 85
V erdadeiro m odelador do M inistério no regim e repu­ 1862
blicano, a sua personalidade vincou para sempre os serviços
1) — Luiz Barroso Pereira.
da nossa política estrangeira, dos mais elevadcs aos mais
In “ R evista P op ular” . N oticiosa, cien tífica, industrial,
subalternos. R io B ranco pertenceu àquele reduzido grupo
histórica, literária, artística, biográfica, anedótica, m usi­
de hom ens de govêrno. para os quais nenhuma quantidade é
cal, etc., etc. Jornal ilustrado. 1862 — T o m o X I I I — A n o
desprezível quando a soma, de que se trata, é o interêsse na­
IV — Janeiro a m arço. P á gs. 206 a 2 1 2 .
cion al.

D e alto a baixo, desde a arte sutil de negociar até as 1864


últimas minúcias do protocolo, nada escapou afortunada­
2) — Episódios da Guerra d o Prata (1 8 2 5 -2 8 ).
m ente à sua influência avassaladora e b en éfica .
(A pon tam en tos h istóricos) — in “ R evista M ensal do
Ainda hoje, as suas decisões, os seus conceitos e até,
Instituto C ien tífico” — São Paulo. 2.a Série — Junho de
mesm o, o vasto anedctário cíclico da sua passagem pelo 1864 — N .° 5 . P á g. 83. — (I — Prim eiras operações
M inistério constituem uma série de jurisprudência cristalina. navais no Prata — C om bate naval de Corales, a 9 de fe ­
M as a sua verdadeira glória está em que se pod e sem­ vereiro de 1826) .
pre identificá-lo com a im agem da Pátria, quando, nos 3.a Série — A gôsto de 1864 — N .° 1 — P á g . 8 —
dias de bcnança ou nas horas de febre, a im aginação p o ­ II — D efesa da Praça de Colônia em 1826.
pular, ávida de antropom orfizar os sentimentos, procura
frxar na fisionom ia passageira dos indivíduos os traços eter­ 1868
nos da N ação im ortal.
3 ) — E sb ôço biográfico do G en eral J osé d e A breu ,
N ão celebram os, assim, h oje apenas os talentcs, as Barão do Serro "Largo.
virUides, os trabalhos e os feitos de um h om em . O culto In “ R evista Trim ensal d o Instituto H istórico G eográ­
é o da própria Pátria na constância de tôdas as suas fôrças fico e E tnográfico do B rasil” . V o 1
.. X X X I — Parte segunda.
criadoras, com o sím bolo das nossas decisões em frente do Págs. 62 a 135. — R io de Janeiro, 1868. B . L . G a m ie r.
fu tu ro .

P or isso, é que aqui se acham soldados, marinheiros e _ 1875-76, 1924-25-26.

aviadores, representantes dos irm ãos de armas que se ba­ 4 ) — A Guerra da T ríp lice Aliança contra o G ov êrn o
tem nas terras, nos mares e nos céus lon g ín q u os; p or isso da R epú blica d o Paraguai (1 8 6 4 -1 8 7 0 ), com cartas e p la ­
é que salvam as fortalezas da costa ; por isso desfila a ju ­ nos por L . Schneider, Conselheiro privado e leitor de
ventude ansiosa para receber, ccm a maioridade do espírito, S . M . o Im perador da Alem anha e R e i da Prússia. T rad u ­
a herança dêstes tem pos amargurados ; por isso é que aqui zid o do alem ão p or M anuel T om a z A lves N ogueira. A n ota­
ss encontram confundidos, num raro esplendor dem ocrático, do por J . M . da Silva Paranhos, E x-Secretário da M issão
os hom ens de govêrn'o, as elites e as camadas pop u 'ares. E special do Brasil no R io da Prata, M em bro do Instituto
H istórico e G eográfico do B rasil.
Na m em ória de R io Branco o Brasil encarna os seus
graves pensam entos de h oje e as suas inabaláveis resolu­ T om o I . — 1875. C /7 m apas e planos e 1 apêndice
ções de amanhã. págs. 1 /2 1 9 . 1 v o l. en c. X X X I I , 319-219 p .

T om o II — 1876. C /6 m apas e 1 apêndice pá gs.


Lutarem os por uma paz fundada na justiça e na segu­
1 /5 1 3 . 1 vol. enc. V III, 185-513, V I p á g.
rança e equivalência das nações, no preceito da liberdade
dos povos e dos indivíduos, no aperfeiçoam ento das con d i­ T o m o III — 1.° Fase. — C /b iog ra fia de L . Schneider,
ções de vida de todos os sêres humanos, com o, decididos e págs. I / X I I e do Barão do R io Branco, págs. X I I I / X X I .
unânimes, afrontam os os perigos e incertezas da guerra” . R io de Janeiro, 1924, Im p. M ilitar, 1 vol. enc. in-8.° c / 4
mapas. X X V I , 219 a 417 p.

T om o III — Fase. — (A p ê n d ice ao 3.° v o lu m e ) __


B IB LIO G R A FIA DO BARÃO DO RIO BRANCO
(N otas e D ocu m en tos) . R io d e Janeiro, 1925, Im p. M ili­
tar, 1 vol. enc. in-8.° c /2 mapas. L X I a C C C X L I V págs.
“A Manhã” publica mensalmente magnífico su­
plemento literário, “Pensamento da América”, sob T o m o III — 3.° e ú ltim o Fase. — C /b io g ra fia do D r.
A fonso Celso de Assis F igueiredo, pág. V e do V iscon de de
a direção do escritor Renato de Almeida e que
O uro Preto, pág. V II. — (A p ê n d ice ao 3.° v o lu m e ). ( N o ­
constitui valioso elemento de aproximação cultu­ tas e D ocu m en tos) — (C o n clu s ã o ). R io de Janeiro, 1926,
ral entre os países dêste continente. Imp. M ilitar, 1 vol. enc. in-8.° X V — C C C X L V a C D L X X
— XV p.
N o “Pensamento da América” de 29 de abril
último, todo êle consagrado a Rio Branco, fomos A Guerra da T ríp lice Aliança ( Im p ério do Bra~
fil, R epú blica Argentina e R ep ú b lica Oriental do Uruguai)
encontrar a bibliografia do estadista brasileiro, tra­
contra o G ov êrn o da R ep ú b lica d o Paraguai (1 8 6 4 -1 8 7 0 ),
balho de autoria do dedicado funcionário da Bi­
com Cartas e Planos por L . Schneider, Conselheiro privado
blioteca do Itamaraty, Sr. Armando Ortega Fontes e leitor de S . M. o Im perador da Alem anha e R e i da
86 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — - J U N . 1945
Prússia. T raduzido do alemão p or M anuel Alves Nogueira. dos N egócios da Agricultura, C om ércio e Obras Públicas.
A notado por J . ' M . da Silva Paranhos, E x-Secretário da S /L . (1 8 8 2 ), S /E d . 1 fôlha 24 p .
M issão E special d o Brasil no R io da Prata, m em bro do
Instituto H istórico e G eográfico d o Brasil. 1884
V ol. I — Capítulos I a I X , págs. 1 /3 2 9 ; apêndice ao
7) — L e B résil à 1’ E xposition Internationale d e S t.
1.° volu m e (D ocu m en tos ju stifica tiv os), págs. 1 /2 1 4 . C /5
P étersbou rg 1884. S t. Pétersbourg, 1884, Im prim erie
mapas e planos. Tranke at Fusnot, 1 vol. cart. in-4.° X V I I I — 102 p .
V ol. II. — Capítulos X a X V , págs. 1 /1 6 2 ; apêndice
8) — E xposição brasileira em S. P etersb u rgo.
ao 2.° volu m e (N ota s e D ocu m en tos), págs. 1 /4 0 9 . C /7
m apas. R io de Janeiro, 1902, H . Garnier — L ivreiro-E di- R e ’ atório de 2 de junho de 1884. In “ Jornal do C o­
tor, 2 vols. enes. in-8.° X V — 329 — 214, 162 — 4 0 9 . m ércio” de 7 de agôsto de 1884. P á g . 2, 6.® coluna.

— C om entários à H istória da guerra do Paraguai,


1889
de Schneider.
In “ R evista A m ericana” . 9) — L e Brésil, par E . Levasseur.
Ano V II — A gôsto — Setem bro 1918 Ns. 11-12. (E xtrait de !a G rande E n cyclop éd ie) . Prem ière E di-
Pág. 5 : ín d ice d o 3 .° volu m e in é d ito . tien. P art. 1 — G éographie ph ysique. Parte II — G éo-
A n o V III — O utubro 1918 N .° 1 — Pág. 5 : Capítulo graphie pelitique. — H istoire, Adm inistration, Population.
X V I — D e T u yu ty à T u yu -C u ê. Parte III — G éographie économ ique. Chapitre dernier. —
A n o V I I I — N ovem b ro 1918 N .° 2 — P á g . 5 : C on ­ R ésum é de l’éat du Brésil par M . E . Levasseur, pág. 77 ;
tinuação do capítulo X V I . A n o V I I I . — X V I I — D ezem ­ bibliographie, pág. 79. A ppendice. — M aison Im périale du
bro de 1918 N .° 3 . — P á g. 5 : C apítulo X V I I — Cam ­ Brésil (P a r le baron de R io Branco, pág. 8 3 ) lè re Ed.
panha d o A pa (M a to G rosso) . Paris, 1889, H . Lam irault et Cie., 1 vol. enc. in-4.°, V III
A no V III — Janeiro 1919 N .° 4 — P á g. 5 : Capítulo — 86 p . c / l m apa fora do texto.
X V III — Ainda a campanha do A p a . E xp edição de C o­
— L e Brésil, par E . Levasseur.
rumbá .
A n o V III — F evereiro — M a rço de 1919 N .° 5 — 6 . A vec la collaboration de M M . de R io Branco, Eduar­

P á g . 5 : Continuação do capítulo X V I I I . do Prado, d ’ Ourém, H enri G orceix, Paul M aury, E . T rous-


A n o V III — A bril de 1919 N . 7. — Pág. 5 : C apí­ sart et Zaborow ski. (E xtrait de la G rande E n cy clop éd ie ).
tulo X I X — Prim eiras operações para isolar H u m a itá . D euxièm e édition illustrée de Gravure, Cartes et Graphiques
A no V III — M a io de 1919 N .° 8 . V III P á g. 5 : aceom pagnée d ’ un A pp end ice par . . . et M . Glasson, et
C ontinuação d o capítulo X I X . d ’ un A lbu m de Vues du Brésil exécuté sous la direction de
M . de R io B ra n co. P u bliée par le Syndicate Franco-Brasi-
A n o V III — Junho 1919 N .° 9 . — Pág. 5: C onti­
lien pour de 1’ Exposition universelle de Paris en 1889.
nuação d o capítulo X I X .
Parte I — G éographie ph ysique. Parte II — Géographie
A n o V III — Julho de 1919 N .° 10 — P á g. 5 : C onti­
politique — H istoire, Adm inistration, P op ulation. Parte
nuação do capítulo X I X .
III — G éographie É conom ique. Chapitre dernier. — R esu-
A n o V III — A gôsto-S etem bro de 1919 N .° 11-12. —
mé de 1’état du Brésil. Par M . E . Levasseur. Bibliographie,
P á g . 5 : C apítulo X X — F orçam en to da passagem de H u ­
p á g. 79. A pp end ice — M aison Im péria!e du Brésil par
maitá, ocupação d o quadrilátero pelos A lia d o s .
M . le baron de R io Branco, p á g. 87 ; Quelques notes sur
A n o I X — O utubro de 1919 N .° 1 — P á g . 5 : C on ­ la langue tu pi par ( D . P edro d ’A lca n ta ra ), pág. 8 9 ; Les
tinuação do capítulo X X . institutions prim itives du Brésil par M . E . Glasson, pág.
Ano I X — N ovem b ro — D ezem bro de 1919 Ns. 2-3. 9 3 . A lbu m de vues du Brésil exécuté sous la direction de
Pá. 5 : C ontinuação do capítulo X X . J . M . da Silva Paranhos, Baron de R io Branco. Paris,
1889, Imp. A . Lahure, 2m e É d. Paris, 1889, H . Lam irault
1880 et Cie., 1 vol. enc. in-4.° V III — 3 — 101 p .

5 ) — N avegação e com ércio en tre o Brasil e os portos 10) — L e B résil en 1889, avec une carte de 1’E m pire

da dependência do Consulado G eral do Im pério em L i- en chrom olithographie des tableaux statistiques des gra­
v erp ool no ano d e 1876-1877. phiques et des cartes. Ouvrage publié par les soins du Syn-
dicat du C om itê Franco-Brésilien pour 1’ Exposition U n iver­
In “ Inform ações dos Agentes D iplom á ticos e Consu­
selle de Paris. A vec la C ollaboration de nom breux Écrivains
lares do Im p ério” . T o m o IV — A m érica e E u rop a . Anos
de 1875-77. R io de Janeiro, 1880, T ip . U niversal de du Brésil sous la direction de M . F . — J . de Santa Ana
E .G .H . Laem m ert, Págs. 328 a 397. N ery . (N a página 105, capítulo V : “ Esquisse de l ’H is-
toire du Brésil par le Baron de R io B ra n co) . Paris, 1889,
L ib . D elagrave, 1 vol. enc. in-8.° X I X — 699 p .
1882

6 ) — O C alé na Grá Bretanha. 1892

In form ação apresentada a S . Excia. Sr. Conselheiro 11) — E fem érid es Brasileiras. (B ib lioteca do “ Jornal
M anuel A lves de Araújo, M inistro e Secretário de Estado do Brasil” ) . 1.° volum e. R io de Janeiro, 1892, T ip ografia do
O CENTENÁRIO DO BARÃO DO RIO BRANCO 87

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Êste pain el é constituído p elos mapas qu e serviram à prova cartográfica do d ireito do Brasil ria questão d o A m apa

“ Jornal do B rasil” , de H . de V illeneuve & C ., 1 vol. e n c, V ol. x. __ Statement. (E nglish translation). (C o m três
in-4.° p q . 378 p . m apas) : 1.° — Linha M eridiana de D em arcação Portugal
e Espanha, a 7 de ju nh o de 1494, pág. 16 ; 2.° — O Brasil,
— E fem érid es Brasileiras. — E dição com pleta,
feita pelo Instituto H istórico e G eográ fico Brasileiro, em seu território contestado, e os países lim ítrofes, pág. 277.

conform idade co m o m anuscrito d o autor, encerrando subsí­ (C o lo rid o ) ; 3.° — M apa do Brasil M eridional, m ostrando
dios d o Dr. V ieira Fazenda e Basílio de M agalhães. In a parte do seu território reclam ada pela R ep ú b lica A r­
‘ R evista do Instituto H istórico e G eográ fico Brasileiro” , gentina, pág. 2 7 8 . (C o lo r id o ). 1 vol. cart. in -8.° X X —
T o m o 82 (1 9 1 7 ). R io de Janeiro, 1918, Im p. Nacional, 286 p . V o l. II — Exposição. (T h e original S ta tem en t).
1 vol. enc. in-8.° X X — 880 p . 1 vol. cart. in-8.° X X I — 275 p. V ol. III — A p p e n d icsc.

— E fem érid es Brasileiras. — C om um índice ana­ D ocum ents translated into E n glish. (D ocu m en tos vertidos

lítico e onom ástico, págs. 819 a 996. In “ R evista do Insti­ para o in glês) . 1 vol. cart. in -8.° V I I — 212-8 p. in um .

tuto H istórico e G eográfico B rasileiro” . V ol. 168 — 1933. V o l. IV — A p ên d ice. D ocu m en tos segundo o tex to origi­
2.a edição, R io de Janeiro, 1938, Im p. Nacional, 1 vol. enc. nal. (T h e D ocum ents transcribed a ccording to the origi­
in-8.° X I I I — 996 p . n a l) . 1 vol. cart. in-8.° V I — 200 p. 8 p. inum . V o l. V __
Appendix. M aps. (T e x to inglês-português) . 1 vol. cart. in-
1894
8.° X X I I I p. e 32 mapas num erados de 1 a 32. (O s mapas
12) — Q uestão d e L im ites en tre o Brasil e a R ep ú
N .°s 11, 15, 17, 21 a 26 e 31 são co lo rid o s ). V o l. V I —
blica A rgentina. Subm etida à decisão arbitrai do presidente
A ppendix. M aps. (T e x t o inglês-português) . 1 pasta con ­
Cleveland, dos Estados U nidos da Am érica, 1894. — E x­
tendo 1 fôlh. in-8.° X V I p . e 29 mapas num erados de
posição que os Estados U nidos d o Brasil apresentam ao
presidente dos E stadcs U nidos da Am érica com o árbitro 1-A a 29-A . (O s mapas n.°s 7-A, 8-A , 12-A e 29-A são
segundo as estipulações do tratado de 7 de setem bro de c o lo rid o s ). N ew Y ork, 1894. (T h e K nickerbocker P ress),
1889, con cluído entre o Brasil e a R epú b lica Argentina. 6 vol s. enes.
88 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
1897 . T om e II — D ocum ents accom pagnés de notes expli-
catives et rectificatives. (C e volu m e contient la traduetion
13) — M ém o ire sur la Q uestion des L im ites en tre les
française de plusieurs docum ents du X V Ie siècle ju squ ’ au
Êtats-U nis du B résil e t la G uyane Britannique. (B ru x elles),
com m encem ent du X V IIIe . La série s’ arrête à l’ annee 1713,
1897 (Im p . des Traveaux Publics S . A . ) , 1 vol. enc. in-8.°.
aussitôt aprè la conclusion du T raité particulier d ’U trecht
V II — 151 p . c / 4 m apas.
entre le Portugal et la France. Les docum ents postérieurs
à ce Traité se trouvent réunis dans le volum e suivant. L e
1899 texte original, portugais ou espagnol, des docum ents tra-

14 ) — Fron tières en tre le Brésil e t la G uyane Fran- duits dans les T om es II et III est présenté dans le T om e

çaise. M ém oire présenté par les Etats Unis du Brésil au IV ). Berne, 1899, Im p . Staem pfli & Cie., 1 vol. enc.

G ouvernem ent de la C onféderation Suisse arbitre choisi in-8.° X V — 527 p .


selon les stipulations du T raité conclu à R io-de-Janeiro, le T om e III — D ocum ents accom pagnés de notes expli-
10 A vril 1897 entre le Brésil et la France. Ire m ém oire : catives et rectificatives. (C e volum e contient un choix de

T o m e I — M ém oire ou E xposé des D roits du Brésil. docum ents posterieurs au T raité d ’Utrecht, reproduits se­

(P a r is ), 1899 (Im p . L a h u re), 1 vol. enc. in-8.° X V I I I — lon le texte français ou traduits du portugais et de l’ espagnol.
6 p. inum. 277 p. ( C /1 2 mapas num erados de 1 a 123. (O s Ils fen t suites a la série de pièces antérieurs à ce Traité,
mapas n.°s 1, 2 e 3 são co lo rid o s ). T o m e II — Docum ents réunis dans !e T om e II. Presque tous ces docum ents sont
Justificatifs du M ém oire du Brésil. (P a ris ), 1899, (Im p . accom pagnés, com m e les précédents, de notes explicatives
L a h u re), 1 vol. in -8.° 195 p . T em e III — D ocum ents. ou rectificatives, que parfois ont trait à ceux que le G ou ­
M ission Spécialé du V icom te do Uruguay a Paris (1 8 5 5 ­ vernem ent Français a soumis à 1’ Arbitre ainsi qu ’ aux
1 8 5 6 ). D ocum ents. D euxièm e édition. Ire Partie. — N e- com m entaires que se trouvent dans le texte m êm e du ler.
gociation P rélim in a ire. M ém oires. Pgs. 1-28. 2m e Partie — M ém oire de la France. Le texte portugaise ou espagnol de3
P rotocoles de la C onference de Paris sur la délim itation dccum ents traduits se trouve au T om e I V ) . Berne, 1899,
des G uyanes Brésilienne et Française. 1855-1856. P g s. Imp. Staem pfli & Cie., 1 vol. enc. in-8.° X V — 401 p .

29 -262. Paris, 1899, A . Lahure, Im pr. Éditeur, 2 tom os T om e I V — D ocum ents. T ex te original des docum ents
enes. em 1 vol. in-8.° III — 195, 262 p . T om e V — traduits dans les T om es II et I I I . (C e volum e no contient
Silva (Joa q u im Caetano d a ) — L ’ O ya poc et l’ A m azone. que les textes originaux, portugais ou espagnol, des d o ­
Q uestion Brésilienne et Française. 2me Éd. Paris, 1899, cuments traduits en français et réunis dans les T om es II
A . Lahure, Im pr. Éditeur, 2 vols. enes. in l8 .° X X X V I I I - et I I I ) . Berne, 1899, Im p. Staem pfli & Cie., 1 vol. enc.
460, 506 p. T o m e V I — Atlas contenant un choix de cartes in-8.° X I I — 294 p .
anterieures au traité conclu a U trecht te 11 A vril 1713
T om e V — Fac-sim i!e de quelques docum ents repro­
entre le Portugal et la France. — Annexe au M ém oire.
duits au T em es II, III et I V . (C e volum e contient des
(C e t A tlas se com pose de cent fac-sim iles conclus entre le
fac-sim ile de quelques docum ents dont de texte original
Portugal et la F rance le 4 mars 1700, a Lisbonne, et le 11
et la traduetion on t été présentés dans les T om es II, III
avril 1713, à U trech t. Scixante-six de ces reproduetions ont et IV du Second M ém oire du B ré s il). Berne, 1899, Impr.
été faites d ’ après des originaux graves, et trente-quatre Staem pfli & Cie. 1 vol. enc. in -4 .°.
d'après des originaux manuscrits) . Ire partie — 10 mapas
T om e V I — A tlas. (C e Atlas se com pose de deux
num erados de 1 a 10, sendo 1 colorido. 2me partie — 12
parties. La prem ière, com prenante quatorze cartes antériou-
mapas numerados de 11 a 18, sendo 8 coloridos ; 2m e partie res au T raité d ’Utrecht, est un supplém ent à Atlas an-
— 13 mapas num erados de 19 a 30, sendo 6 co lo r id o s ; nexé au ler M ém oire du Brésil, rem is à 1’ Arbitre le 5 avril
4m e partie — 15 mapas num erados de 31 a 43-b ; 5me par­ 1899. U ne quinzièm e carte, celle d ’ O ttom ano F reducci, est
tie — 12 mapas num erados de 43 a 54, sendo 1 colorido ; insérée dans le T om e I de ce 2nd. M ém oire ou R epliqu e
6m e partie — 16 mapas numerados de 55 a 72, sendo 3 du Brésil. — La seconde partie de l’Atlas ronferm e soixante
co lc r id o s ; 7me partie — 12 mapas num erados de 74 a — quinze cartes postérieurs au T raité d ’U trech t) . Paris,
86-a, sendo 6 coloridos ; 8m e partie — 11 mapas num era­ 1899. A . Lahure, Im pr. — Éditeur. 1 vol. enc. in -4 .°.
dos de 86-a a 91, sendo 2 coloridos. Com m ission Brésilienne
d ’Exp.oration du H aut Araguary sous la D iretion de M . F e-
1900
linto A lcin o Braga Cavalcante, Capitaine d ’É tat M ajor,
1896. (T rcis ca rtes). (C o lo rid o s ) Paris, 1900, A. Lahure, 1 5) — Estados Unidos d o Brasil. G eografia, Etnogra-
Im p. Éditeur, 8 vols. enes. in-8.° Second M ém oire pré­ fia, Estatística por ÉIsée Reclus. T radução e Breves N otas
senté par les Etats Unis du B résil an G ouvernem ent de la de B . F. R am iz G alvão e A notações Sôbre o Território
Confédération Suisse arbitre choisi selon les stipulations du contestado pelo Barão d o R io Branco, pág. 471. R io de
T raité conclu à R io-de-Janeiro, le 10 avril 1897 entre le Janeiro — Paris, 1900, H . Garnier, Liv.-E ditor, 1 vol.
Brésil et la France. enc. in-8.°. 481 p .

T o m e I — M em oire en réponse aux allegations de la


1903
F ran ce. (A v e c des cartes, tableaux et fac-sim ile hors texte.
Pags. 64, 70, 72, 74, 80, 84, 104, 124, 166, 167, 176 et 1 8 0 ). 16) — Brasil and B olivia Boundary S e tle m e n t.
Berne, 1899, Im p. Staem pfli & Cie., 1 vol. en c. in-8.° X V II, T reaty for the Exchange o f Territories and Other Com pen-
231 p . (C o m 10 mapas, sendo 8 co lo r id o s ). sations. Signed at Petropolis, N ovem ber 17, 1903. T ogether
O CENTENÁRIO DO BARÃO DO RIO BRANCO 89
with the R e p o rt o f Baron R io Branco M inister for Foreign 1808-1910. R io de Janeiro, 1910, Im p. N acional, 1 folh.
R elations o f B ra zil. N ew Y ork, S / D . , T h e K nicherbocker 41 p .
Press, 1 vol. enc. in-8.° 44 p., 2 mapas fora d o texto.
— M inistros e altos funcionários da antiga R epa rtição
dos N egócios, d epois M in istério das R ela ções E xteriores, e
1904 m em bros do extin to C onselho de E stado (1 8 0 8 -1 9 3 9 ).
(M inistério das R ela ções E xteriores. S ecção de P u b lica ­
17) — Tratado en tre o Brasil e a Bolívia. (Câmara
ções. 2 ) . R io de Janeiro, 1939, Im p. N acional 1 vol. in -8.°
dos D epu tad os. Parecer — 1904) . E xposição que o Sr. Pre­
48 p .
sidente da R epú blica dirigiu ao Sr. M inistro das R elações
Exteriores ( R io de Janeiro, 1904, Im prensa N a cion a l), 1 2 3 ) — O Tratado d e 30 d e outubro d e 1909 en tre os
folh. 15 p . c /3 m apas. E stados Unidos d o Brasil e a R epú b lica O riental do Uru­
guai, m odificando as suas fronteiras na Lagoa M irim e R io
1906 j8gu arão e estabelecendo princípios gerais para o C om ércio
e N avegação nessas paragens. (E xp osiçã o apresentada ao
18) — O Brasil, os E stados Unidos da A m érica e o Presidente da R epú blica pelo M inistro de E stado das R e la ­
M onroism o. In “ Jornal do C om ércio” de 12 de m aio de ções Exteriores. R io, 19 de dezem bro de 1909. Pág. 9 / 3 7 ) .
1906. P ágs. 4 / 5 .
R io de Janeiro, 1910, Imprensa N acional, 1 vol. enc. in-8.°
— Brazil, th e U nited S tates and th e M on roe 213 p . C / uma “ Carta da Lagoa M irim e regiões circun-
D octrin e. A rticle published in the “ Jornal do C om ércio”
vizinhas” organizada na Secretaria das R ela ções Exteriores
of R io de Janeiro, January 20th 1908. (U n ited S ta tes),
do acôrdo com os levantam entos feitos p or E . M ou chez,
S /D . S /E d . 1 folh. 21 p .
Barão de Caçapava, e com alguns dados recen tes. P or E u -
— O Brasil, os E stados Unidos e o M onroism o. In
clides da Cunha.
“ R evista A m ericana” , A n o III — M a io — Junho, 1912.
N s. 5 -6 . P á gs. 469. 2 4 ) — O Tratado cfe 8 d e setem b ro d e 1909 en tre os
E stados Unidos d o Brasil e a R epú blica do Peru, co m p le ­

— - O Brasil, os Estados Unidos e o M onroism o. In
tando a determ inação das fronteiras entre dois países e es­
S a lv e ! Lauro M üller, 16 de agôsto de 1913. R io de Ja­
neiro, 1913, Im prensa N acional, 1 folh. 30 p . tabelecendo princípios gerais sôbre o seu ccm ércio e n ave­
gação na bacia do Am azonas. (E xposiçã o apresentada ao
— Brasil e Estados Unidos da A m érica. U m artigo de
Presidente da R epú blica pelo M inistro das R ela ções E x te ­
R io B ra n co. Seguido de anotações que abrangem o perío­
do de R io B ran co aos nossos dias. R io de Janeiro, 1930, riores. R io, 28 de dezem bro de 1909. Págs. 1 /6 5 ) . R io de
(I m p . N a cio n a l), 1 v o l. en c. in-8.°. 65 p . Janeiro, 1910, Im p. Nacional, 1 vol. enc. in -8 .°. 191 p . c / 2

— O Brasil, os Estados Unidos e o M onroism o. In m apas.


“ R evista do Instituto H istórico e G eográfico Brasileiro” .
__ Parecer da Com issão de D iplom acia e Tratados da
V o l. 178. Janeiro-M arço, 1943. Págs. 167 a 187. R io de
Câmara dos D eputados (Câm ara dos D eputados, 1 9 1 0 ).
Janeiro, 1943, Im prensa N acion al.
(T ratad o de 8 de setem bro de 1909 entre os Estados U nidos
do Brasil e a R epú blica d o P e r u ). (E x p osiçã o apresentada
1908
ao Presidente da R epú blica pelo M in istro das R ela ções E x ­

1 9) — D ecla ra ções. (A n ex o N .° 1 — Transcrito da teriores. R io , 28 de dezem bro de 1909. Págs. 1 / 6 5 ) . ( R io


“ Gazeta de N otícias” do R io de Janeiro, 8 de setem bro de Janeiro, 1 9 1 0 ). S /E d . 1 v o l. enc. in-8.° — 100, 65 p.
de 1908) . R io de Janeiro, 1908, Im p. Nacional, 1 folh. 4 p. 25) — O T erritório Brasileiro d o A cre e o Tratado
2 0 ) — Brasil e Colôm bia. Tratado de Lim ites e N ave­ d e L im ites en tre o Brasil e o Peru. (O A rbitram en to Peru-
gação e “ M odus V iv en d i” de navegação e com ércio pelo B olivian o em Buenos A ire s ). (T rech os da E xposição feita
Iça ou Putum ayo assinados em B ogotá a 24 de abril de
ao Presidente da R epú b lica p elo M in istro das R ela ções
1907. (E x p o siçã o feita pelo M inistro de Estado das R ela ­
Exteriores, Sr. R io Branco, e subm etida, em 28 de dezem ­
ções Exteriores sôbre os acordos de 24 de abril de 1907,
assinados em B o g o tá ). R io de Janeiro, 1908. Im p. Nacional, bro d e 1909, com o tratado, ao Congresso N a cio n a l). R io
1 vol. enc. in-8.°. 34 p . , 1 m apa fora do texto. de Janeiro, 1910, Im p. N acional, 1 vol. enc. in -8.° V I __
73 p .
21) — O T elegram a cifrado n.° 9, de 17 de junho
de 1908, dirigido p elo G ovêrn o Brasileiro à L egação do
1916
Brasil no C h ile. R io de Janeiro, 1908, Im p. Nacional,
1 folh. in-4.° 32 p . 26) A pon tam en tos para a H istória M ilitar do Brasil.
I Prim eiras lutas no Brasil. II — Guerras Cisplatinas.
1910
Antecedentes da intervenção do Brasil na Banda Oriental
22) M inistros e altos funcionários da antiga R ep a rti­ em 1816. In “ R evista A m ericana” . A n o V I — O utubro,
ção dos N eg ó cios Estrangeiros d epois das R ela ções E x te ­ 1916. N .° 1 — P á g . 5 . A n o V I — N ovem bro, 1916. N .° 2
riores do Brasil e M em b ros d o ex tin to C onselho d e Estado, — Pág. 5.
90 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
1 9 1 6 /1 7 /1 8 1926
#
27) — Biografia d e J osé M aria c',9 Silva Paranhos,
. „ 11
2 8 ) — Anais do E xército Brasileiro sôbre a guerra com
V isconde do R io B ranco. In “ R evista A m ericana” . A n o V I a R epú blica das Províncias Unidas do R io da Prata, e C am ­
— D ezem bro, 1916, N .° 3 — Pág. 5. Janeiro, 1917.
panha dos anos dõ 1825 a 1828, na Província de São P edro
N .° 4 . P á g . 5 ; Fevereiro, 1917. N .° 5 . P á g. 5 ; M arço,
do R io G rande até a declaração da P a z ; dissolução do
1917. N .° 6 . P á g . S ; A bril, 1917. N .° 7 . P á g . 5 ; M aio,
1917. N .° 8 . P á g . 5 ; Junho, 1917. N .° 9 . P á g . 5 ; Julho, E xército e destino dos Corpos pelo Brigadeiro Luiz M anuel
1917. N .° 10. Pág. 5 ; A gôsto-Setem bro, 1917. N .° 11-12. de Lim a e S ilva. P ôrto A legre, 30 de junho de 1862. A n o ­
P á g. 5 ; A n o V I I — Outubro, 1917. N .° 1. P á g . 5 ; N o ­
tado pelo Barão do R io B ra n co. R io de Janeiro, 1926, Im ­
vem bro, 1917. N .° 2 . Pág. 5 ; D ezem bro, 1917. N .° 3 .
prensa M ilitar, Estado M a ior do Exército, 1 vol. broc.
Pág. 5; Janeiro, 1918. N .° 4 . P á g .5 ; Fevereiro-M arço,
1918. N s. 5 -6 . Pág. 5; Abril, 1918. N .° 7. Pág. 5; in-8.°, 8 — X V I I I — 150 p . (A s notas do Barão do R io
M aio, 1918. P á g . 5 ; Junho, 1918. N .° 9 . P á g . 5 e Julho, Branco são as numeradas seguidamente ; as do próprio autor
1918. N .° 10. P á g. 5.
dos Anais levam um arterisco com o sinal distintivo) .
— O V iscon d e do R io Branco. C om introdução e notas
2 9 ) — H istória d o Brasil. R io de Janeiro, 1930, T ip .
de R enato M endonça. R io de Janeiro, (1 9 4 3 ). A N oite E d i­
tora, 1 vol. enc. in-8.°. 348 p . c /ilu s t. São Benedito, 1 vol. enc. 185 p .
D IR EITO E JU R ISPR U D ÊN CIA

DOUTRINA
Direito de minas
F r a n c is c o B u r k in s k i

s u m á r i o : I — O con ceito da propriedade privada. Um pública, haja uma conseqüente melhoria no bem-
ramo autônom o do d ireito pú blico. I I — Sistem as estar das coletividades.
d e minas. I I I — D ireito com parado. I V — A l e ­
gislação cfe minas no Brasil. V — Considerações Tôdas essas grandes transmutações levaram não
finais. só a que se ampliasse o âmbito do direito minerá-
rio, como também contribuiu para que após a
I — O CONCEITO DA PROPRIEDADE PRIVADA. U M RAMO I Grande Guerra fôsse criado um direito novo,
AUTÔNOMO DO DIREITO PÚBLICO.
desprendido do direito administrativo, pela feição
autônoma que assumiu : direito de minas.
O direito de minas passou por transformação ra­
dical nos últimos anos, em conseqüência de seu de­ R odolfo B insigne jurista argentino,
u l l r ic h ,

senvolvimento achar-se intimamente vinculado ao estudando a conexão entre o direito administrativo


conceito da propriedade privada; e sabemos como e as demais ciências jurídicas e sociais, acentua o
esta se apresenta hoje com características diferen­ vínculo que há entre êsse direito e o de minas.
tes das que lhe assinava o direito romano, em que Atualmente o direito de minas se refere não só
predominava o jus utenti, iruendi et abutendi re às autorizações para pesquisas e concessões para
sua, mais tarde introduzido nos códigos civis do lavras, mas diz respeito também à regulamentação
mundo civilizado. da transformação e preparo dos minerais; à sepa­
Em face do fenômeno do crescente aumento das ração do mineral útil do mineral bruto, bem como
necessidades sociais, o Estado moderno cada vez dos minerais coexistentes; à faculdade de dispor

intervem com mais vigor e intensidade nas rela­ dos produtos; às instalações e serviços existentes
na superfície e à preservação das jazidas.
ções existentes entre o indivíduo e a propriedade,
imprimindo-lhes trajetória eminentemente social. Entre nós, os Decretos 23.535, de 4 de dezembro
de 1933, e 23.565, de 7 de dezembro de 1933,
Essa a razão precípua da dificuldade de distin-
ampliado pelo Decreto 23.884, de 18 de fevereiro
guir-se com nitidez a linha demarcatória que há
de 1934, dispõem, respectivamente, sôbre a com ­
entre o que é privado e o que é público, dada a pro­
pra e venda de ouro e proibição de exportação da
gressiva tendência sociológica que visa restringir
sucata de ferro.
gradualmente o campo do direito privado e, conse­
qüentemente, alargar a esfera do direito público. Contudo, para que tenhamos visão mais clara da
amplitude do direito das minas nos tempos pre­
O intervencionismo verificado em vários setores
sentes, é de mister lançar a vista sôbre os varia­
da economia privada, onde dantes apenas assistia
dos sistemas jurídicos assinalados pela doutrina.
ao Estado exercer poderes de polícia, também se
faz sentir de maneira acentuada nas relações de II SISTEMAS DE M INAS

propriedade das minas, que ocupam lugar de relêvo


R u d o l f I s a v , jurista alemão, afirma que a mo­
nas indústrias chamadas extrativas.
derna legislação mineira divide-se em dois grupos
A intervenção faz-se sentir fortemente nestas in­ preponderantes. O primeiro grupo se baseia na pre­
dústrias, porque constituindo elas considerável ma­ sunção de que os minerais formam parte integrante
nancial de matérias primas necessárias às manufa­ da propriedade da terra e, por isso, apenas o pro­
turas, o objetivo primacial do Estado é fomentá-las prietário ou pessoa a quem êle permita tem o di­
e desenvolvê-las, para que, aumentando a riqueza reito de fazer pesquisas ou explorar qualquer mina
92 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
descoberta. O segundo grupo assenta em que o di­ * *
reito para todós os minerais se reserva ao Estado
Pelo segundo sistema as minas são propriedade
e constitui, assim, uma prerrogativa real.
do Estado. Não tendo, porém, meios financeiros
Embora êsses sejam os grupos predominantes, para explorá-las, o Estado concede a particulares o
cutros há no direito de minas. Em regra, os trata- direito de exploração mediante percepção de um
distas dividem os sistemas em quatro : preço fixo, ou participando nos lucros da exploração.
O fundamento dêsse sistema reside em que, não
1) Sistema fundiário ou da acessão ;
tendo o proprietário contribuído para a produção
2) Sistema da dominialidade;
da jazida, deve esta ser considerada uma jazida
3) Sistema de ocupação ;
comum, portanto pertinente ao Estado, como repre­
4) Sistema da concessão ou industrial.
sentante que é da comunidade.
❖ ❖ ❖
Juristas há, entre êles J . B a r t h e l e m y , que ex-
O primeiro sistema encara a mina como perten­ probam êsse sistema, vendo nêle os inconvenientes
cente ao proprietário do solo. monopolísticos e o perigo das imposições fiscais.
Êsse sistema constitui o fulcro de todo regime
de minas na Inglaterra e, embora com certas res­ . ❖ ❖ *
trições, também dos Estados Unidos.
Nesse sistema, a propriedade se apresenta em Os doutrinadores do terceiro sistema asseveram
seu sentido mais amplo, abrangendo o solo, sub­ que a mina pertence ao descobridor, seu primeiro
solo e espaço aéreo. E ’ o conceito romanista da ocupante. A mina é considerada res nullius,
propriedade, que assim se enuncia : Cujus est so-
O Código Civil Brasileiro insere êsse princípio
lum, ejus est usque ad sidera et usque ad iníeros.
em seu texto :
O artigo 526 do nosso Código Civil, adotou-o :
“ Art. 592 — Q uem se assenhorear de coisa alheia
“ A propriedade do solo abrange a d o que lhe está abandonada, ou ainda não apropriada, para logo lhe
• superior e in ferior em tôda a altura e em tôda a pro­ adquire a propriedade, não sendo esta ocupação defesa
fundidade, úteis ao seu exercício, não podendo, todavia, p or lei” .
o proprietário opor-se a trabalhos que sejam em preen­
didos a uma altura ou profundidade tais, que não tenha O grave defeito dêsse sistema está em que nem
êle interesse algum em im pedí-los” . sempre tem o descobridor os elementos econômicos
necessários para a exploração das minas, e, muita
Êsse artigo está derrogado pelo princípio consti­ vez, pode dar-se mesmo o caso de ser pessoà ini-
tucional vigente. dônea, a quem, pois, não se deve entregar o do­
C am bacères, B e outros, defensores acérri-
e r l ic mínio da riqueza de interêsse geral.
mos do Código de Napoleão, se batiam pelo prin­
J. B arth elem y, faz judiciosa crítica dêsse sis­
cípio acessorista.
tema. Diz êle que não basta alguém descobrir a
O grande defeito que êsse sistema apresenta é
mina para adquirí-la, porque a descoberta não eqüi­
que divide as minas em tantas partes quantos são
vale a uma ocupação. A ocupação pressupõe apre­
os proprietários de terra e vota à inutilidade as ri­
ensão material. Assim, ninguém ocupa u’a mina de
quezas minerais.
hulha pelo só fato de destacar do solo um pedaço
Falando sôbre êle, o jurista brasileiro T h e m is t o
de carvão.
c l e s B. C a v a l c a n t i diz :
* * *
“ N ão parece mais sustentável êsse prin cíp io diante
das modernas concepções jurídicas que, não som ente O quarto sistema se baseia no fato de o Estado
atribuem função social à propriedade, com o ainda fa v o­
escolher livremente o explorador, exigindo dêle o
recem o desenvolvim ento e o aproveitam ento econ ôm i­
máximo de garantias reclamadas pelo interêsse
c o das riquezas” ( 1 ) .
geral.
(1 ) T h e m i s t o c l e s B . C a v a l c a n t i — In stituições Por êsse sistema, a mina não pertence a ninguém,
i e D ireito A dm inistrativo Brasileiro — 2.a edição — II v o ­
lume — Livraria Freitas Bastos — 1938 — P á g . 5 3 7 .
e muito se assemelha ao sistema dominical, em que
DIREITO E JURISPRUDÊNCIA 93
há, outtossim, a atribuição dada ao Estado de es­ do pelos romamstas. Tanto o interior da terra,
colher o explorador. como o direito de usá-la, pertenciam ao rei.
Eis o que diz J . G u im a r ã e s M e n e g a l e sôbre Êsse privilégio real foi auxiliado por dois fato­
êsse sistema : res de ordem econômica :

“A operação fundam ental d o sistem a em aprêço a ) A mineração tornava-se cada vez mais uma
(industrial) consiste na criação de um dom ínio — arte especializada ;
a mina — na jazida descoberta, delim itada pelo
b ) As minas existentes não mais satisfaziam à
decreto de concessão, ainda que o concessionário
seja o proprietário m esm o da superfície e, portanto,
crescente procura de metais.
da própria jazida” (2 ).
Bastava o proprietário de terras ter descoberto
$ $ $ uma mina para que tivesse o direito de requerer
concessão ao Estado para a lavra da mesma. Obti­
Dados, em linhas gerais, os fundamentos jurídi­ nha, assim, o direito de exploração, mediante certo
cos dos sistemas minerários, pode-se agora entrar pagamento ao rei.
no exame sucinto do desenvolvimento da legisla­
Êsse sistema prevaleceu na antiga Alemanha, du­
ção mineira desde os tempos antigos até os tempos
rante os últimos anos da Meia-Idade. A França
atuais, na qual se verifica a adoção de um ou outro
adotara também êsse princípio.
dos sistemas doutrinários acima apontados.
A Inglaterra reconheceu igualmente o privilégio
real. Como, porém, se referia apenas às minas de
III DIREITO COMPARADO
ouro e prata, os reis reclamaram sua extensão a
Entre os gregos e os romanos a mineração se metais de baixo teor.
fazia largamente em domínios pertencentes ao Es­
Durante o reinado da rainha Elizabeth houve um
tado. O próprio Estado lavrava as minas, ou as
célebre caso sôbre minas, em que a côrte reconhe­
concedia a particulares. Em certos casos, em terras
ceu a extensão da prerrogativa real pelo menos aos
do Estado, usava-se um sistema que muito se pa­
minérios que contivessem ligas de ouro ou prata.
recia com o da livre mineração. Haja vista os exem­
plos das minas de Laurio na Ática e os distritos Durante a Idade Moderna, que se caracteriza po­
liticamente pela centralização da monarquia e eco­
mineiros de Vispasca, na Espanha, então sob o
nomicamente pelo surto da burguezia, o próprio
domínio do Império Rom ano.
Estado tratou de pôr sob monopólio, em França,
N o que tange a terras particulares, os direitos tôdas as minas, em mãos de indivíduos ou compa­
de mineração se confundiam com os direitos da pró­ nhias .
pria terra.
A legislação mais velha dos tempos modernos
O Codex Theodosianus, mostra que nenhuma está contida no AUgemeines Landrecht für die
distinção era feita entre o solo e o subsolo. Conce- preussichen Staaten, delineada ao tempo de Fre­
d;a-se apenas ao minerador o direito de lavrar de­ derico o Grande, mas apenas completada em 1794.
terminado depósito mineral mediante pagamento A primeira lei de minas em França foi votada
do dízimo, e não se dava prerrogativa ao Estado pela Assembléia Legislativa em 1791. Essa lei, po­
nessa questão. rém, não apresentava seguras garantias ao capita­
Não se proibia também ao proprietário extrair lista, sujeito a constantes riscos.
minerais por êle descobertos em suas terras. A lei de 1810, ainda hoje em vigor, foi a pri­
meira a reconhecer que a moderna legislação deve
O privilégio do Estado em questões minerárias,
preencher dois requisitos :
isto é, o direito regaliano, desenvolveu-se no século
X I, nomeadamente na Alemanha. A lei germânica a ) Apresentar base segura ao investidor de ca­
cerceou o direito pleno da propriedade, proclama- pital, consistente na concessão de lavra por algu­
mas décadas;
(2 ) J . G u i m a r ã e s M e n e g a l e — D ireito A dm inis­ b ) O Estado, nesse setor da indústria extrati-
trativo e Ciência da Adm inistração — T o m o III — 1941
— M etróp ole Editora — R io de Janeiro. va, deve apenas exercer poderes de polícia.
94 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
Condensou essa lei os princípios liberais que vin­ A legislação mineira da Rússia Soviética distin­
garam na Resolução Francesa. gue entre jazidas conhecidas e descqnhecidas. As
primeiras se acham estatizadas em virtude da so­
N o segundo quartel do século X IX , a Alemanha
cialização da propriedade privada, ocorrida após
adotou êsse princípio, combinando-o com o da li
a revolução de 1917, e ora são exploradas pelo Es­
berdade de mineração, que herdara da Idade
tado, ora são arrendadas a particulares. Quanto às
M édia.
segundas há plena liberdade de mineração, a fim
A lei Sarda de 1859, na Itália, também adotou de que haja estímulo por parte do indivíduo na ex­
o sistema de concessão ou industrial.
ploração das minas. O socialismo ali se harmoniza
No alvor do século X X , a Alemanha anulou a li­ com o liberalismo.
berdade de mineração, no que diz respeito a jazi­
Na Itália, o decreto-lei de 19 de julho de 1927
das de carvão e potassa.
segue ainda o sistema da lei Sarda, conforme nos
Os países sul-americanos também seguiram a cor­ informa D ’A l e s s io .
rente liberalista.
Na Alemanha, após a I Guerra Mundial, quanto
Atualmente, porém, o Chile reservou a explo­ ao petróleo e à potassa, criaram-se sindicatos obri­
ração do petróleo e do salitre ao Estado. E o M é­ gatórios para sua venda, superintendidos pelo go­
xico, que em 1909 tirara o privilégio do Estado em vêrno e controlados por entidades autônomas, com­
exploração de jazidas de petróleo, declarou em postas de operários mineiros, patrões e consumi­
1917 e 1925 que as jazidas dessa natureza eram de dores .
exclusiva propriedade do Estado. Êsse privilégio
Tôda essa vasta legislação, que enunciamos em
sofreu pequena modificação em 1926 e 1927. A suas linhas gerais, J . G u im a r ã e s M e n e g a l e assim
tendência moderna, no México, é a de preservar
a sintetiza :
determinadas fontes de riquezas minerais, e de­
monstra o intuito claro de eliminar a propriedade “ A um retrospecto histórico, averigua-se que o regim e
estrangeira, intensificando a exploração de jazidas ju ríd ico das minas percorreu, em síntese, sete períodos:
pertencentes a nacionais. _ 1.° — o regim e da prim eira idade romana, no qual
Nos Estados Unidos, a legislação mineira se os produtos do subsolo se identificavam com os frutos
da te r r a ;
fundamenta na “common law” , nas leis dos diver­
sos Estados e na legislação federal. 2.° — o direito rom ano da república e do im pério,
em que o regim e das minas evoluiu para a regalia ;
A legislação mineira nos Estados Unidos parte
3.° — a idade feudal, na qual os produtos do sub­
sempre do princípio de que os minerais pertencem
solo se subordinavam ao direito de senhoria, p or m eio
aos supreficiários da terra. Dá ao proprietário do de concessões especiais, independentes da concessão da
veio direitos extraordinários, até mesmo o de ir su p e rfície ;
além dos limites de suas terras, para onde se pro­ 4.° — o período estatutário, n o qual a propriedade
longa o veio que lhe pertence, prolongamento que das minas, atribuída a princípio à comuna, passou ao
considera apêndice do seu. Embora, como já dis­ dom ínio do E s ta d o ;
semos, prepondere naquele país o sistema fundiá­ 5.° — o período da dom inialidade absoluta ;
rio, êle sofre certas restrições, dada a pequena inter­ 6.° — o p eríodo da liberdade in du strial;
venção do Estado nessa ordem de relações privadas. 7.° — o p eríodo da publicidade, caracterizado pela
Após a I Grande Guerra houve uma remodela­ preponderância do interêsse pú blico, a exprimir-se na

ção incisiva no sistema que se seguiu à Revolução nacionalização ou socialização das m inas” (3 ).

Francesa.
Relativamente a êsses sete períodos assinalados
A lei 1919, de França, regulou a concessão por
pelo jurista brasileiro, temos apenas uma ressalva
tempo fixo, e não indeterminado, como era dantes,
outorgando direitos ao Estado para participar nos a fazer, quanto ao segundo item.
lucros da exploração, que também beneficiam os Conforme nos ensina R u d o l f Isa y , bem como
mineiros. outros autorizados juristas, no direito romano da
Essa lei é de tendências visceralmente sociali-
zantes, razão por que sofreu ataques dos doutrina- (3 ) J . G u i m a r ã e s M e n e g a l e — D ireito A dm inis­
trativo e Ciência da Adm inistração — T o m o III — M e tró ­
dores filiados à corrente liberal. pole E ditora — R io de Janeiro — 1941 — Págs. 337 e 338.
DIREITO E JURISPRUDÊNCIA 95
república e do império, jamais se verificou a ten­ 1848, artigo 34, Lei n.° 601, de 18 de setembro de
dência para a regalia. Sempre predominou em R o­ 1850, artigo 16, e, principalmente, a Lei n.° 1507,
ma o sistema da acessão ou fundiário, o que aliás de 26 de setembro de 1867.
o Codex Theodosianus, já citado, nos prova exube­ Filiaram-se à corrente adotada no decreto de 27
rantemente. de janeiro de 1829 eminentes juristas como T e i ­
x e i r a d e F r e i t a s , P e r d i g ã o M a l h e i r o s e outros.
IV — A LEGISLAÇÃO DE M IN AS NO BRASIL
A questão só ficou definitivamente resolvida com
A legislação mineira do período colonial do Bra­ a instauração do regime republicano.
sil consta de nove alvarás, seis provisões reais, qua­ De feito, o artigo 72, § 17, da Constituição de
tro cartas régias, duas leis, e do decreto de 19 de 1891, não suscita dúvidas quando dispõe :
fevereiro de 1652.
“ O direito de propriedade m antém -se em tôda a sua
Todavia, é nas Ordenações que vamos encontrar
plenitude, salva a desapropriação por necessidade ou
c c; fundamentos jurídicos do sistema minerário do
utilidade pública, mediante indenização prévia.
Brasil-Colônia.
As minas pertencem aos proprietários do solo, salvas
Com efeito, o Livro II, título 26, parágrafo 16 as lim itações que forem estabelecidas p or lei a bem
das Ordenações, intitulado D os Direitos Reaes, da exploração dêste ram o da indústria” .
preceitua que os veeiros ou minas de ouro, prata,
ou qualquer outro metal, pertenciam à Coroa. Regulamentaram depois o assunto, o decreto
Êsse preceito está confirmado pelo título 2933, de 6 de janeiro de 1915, e o decreto de 15
X X X I V , § 10, consagrado às minas e metais. de janeiro de 1921, a que se refere R u d o l f I s a y ,
As Ordenações adotaram, pois, o sistema regalia- no artigo inserto na Enciclopédia das Ciências So­
no dominante na época feudal. ciais, sôbre a legislação mineira. Essas duas leis são
O interêsse da Coroa, naquele tempo, consistia mais conhecidas pelos nomes de C a l ó g e r a s e Si­
em fomentar a indústria de mineração, principal­ mões L opes.

mente a de ouro aluvionar e diamante. O rei de A emenda constitucional feita em 1926 apenas
Portugal fazia até mesmo promessas de recompen­ proibiu a transferência a estrangeiros de minas e
sas honoríficas aos exploradores. jazidas minerais necessárias à segurança e defesa
A carta régia expedida em 12 de agôsto de 1817, nacionais, e as terras onde existiam, dando, assim,
poucos anos antes de nossa independência políti­ cs primeiros passos na senda da nacionalização das
ca, não derrogou o que se continha nas Ordenações. jazidas minerais, que as Constituições de 1934 e
Deu, porém, preferência ao proprietário para la­ 1937 mais tarde consagraram inteligentemente.
vrar as minas em terras que lhe pertencessem. Antes da vigência do Código de Minas, convém
Posteriormente, o artigo 179, parágrafo 22 da citar o decreto 23.936, de 27 de fevereiro de 1934,
Constituição Imperial, garantiu plenamente a pro­ que subordinou a determinadas condições as auto­
priedade, com a única limitação da desapropriação rizações para contratos de pesquisa e de lavra de
por utilidade pública, e o decreto de 27 de janeiro jazidas minerais, que houvessem de ser dadas na
de 1829 admitira que, mesmo sem licença do G o­ conformidade do artigo 1.° do decreto n.° 20.799,
vêrno, os brasileiros podiam promover a mineração de 16 de dezembro de 1931, além de dar outras
em terras de sua propriedade. providências.

À vista da vigência de disposições anteriores que Com o Decreto n.° 24.642, de 10 de julho de
consideravam as minas de domínio nacional, tra­ 1934, codifica-se a matéria referente a minas.
vou-se séria controvérsia sôbre a matéria. Dois ilus­ Aliás, o artigo 115 do Ante-projeto constitucio­
trados juristas no Império, T r i g o L o u r e i r o e L a - nal ja se referia ao assunto de minas.
fayette, se bateram pelo sistema fundiário, ao A Constituição de 1934, esclareceu perfeitamen­
passo que pela propriedade nacional das minas pro­ te a situação do domínio das minas :
nunciaram-se o Conselho do Estado e o Imperador.
O sistema dominical foi o vencedor. "A rt. 1 1 8 . A s minas e dem ais riquezas do subsolo,
bem com o as quedas dágua, constituem propriedade
A legislação posterior manteve êsse critério, con­
distinta da do solo, para o efeito de exploração ou apro­
firmado pela Lei n.° 514, de 28 de outubro de veitam ento industrial.
96 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
Art. 119. O aproveitam ento industrial das minas e tras fontes de energia, assim com o das indústrias con ­
das jazidas «minerais, b em com o das águas e da energia sideradas básicas ou essenciais à defesa econôm ica ou
hidráulica, ainda que de propriedade privada, depende m ilitar da nação” .
t
de autorização ou concessão federa!, na form a da le i.
O artigo 2.°, n.° II, do Decreto-lei n.° 66, de 14
§ 1.° A s autorizações ou concessões serão conferi­
das exclusivam ente a brasileiros ou a empresas organi­
de dezembro de 1937, modificou em parte o dispo­
zadas no Brasil, ressalvada ao proprietário preferência sitivo da Constituição de 1937 :
na exploração ou coparticipação nos lucros.
“ A s minas e jazidas minerais não manifestadas ao
poder público, quer conhecidas quer desconhecidas, per­
§ 4.° A lei regulará a nacionalização progressiva
ten cem aos Estados ou à U nião, a título do dom ínio
das minas, jazidas minerais e quedas dágua ou outras
privado im prescritível, na seguinte conform idade :
fontes de energia hidráulica, julgadas básicas à defesa
a) pertencem aos Estados as que se acharem em ter­
econ ôm ica ou m ilitar do país” . ras de seu dom ínio privado, ou em terras que, tendo
sido do seu dom ínio privado, foram alienadas com re­
Pelo que se infere do texto da Constituição de serva expressa ou tácita por fôrça de le;, da proprie­
1934, abandonamos o sistema de acessão, se bem dade mineral ; b ) pertencem à U nião tôdas as de­
que continuemos ainda no regime da propriedade m ais” .

privada.
F oi de duração efêmera êsse decreto-lei, porque
Tanto a Constituição de 1934 com o o Código sua estrutura foi modificada pelo artigo 10 do De­
de Minas (Decreto n.° 24.642, de 10 de julho de creto-lei 1985, de 29 de janeiro de 1940 (segundo
1934) estabeleceram, entretanto, um regime mais Código de M inas), que fêz tudo voltar ao estado
avançado na parte referente ao aproveitamento anterior: ' •
racional das riquezas do subsolo indispensáveis ao
desenvolvimento progressivo das indústrias. “ A rtigo 10 — As jazidas não manifestadas na form a
d o artigo 7.° são bens patrim oniais da U n ião” .
A Constituição de 10 de novembro de 1937 man­
teve os principais princípios consagrados no Códi­
go de Minas e Constituição de 1934, mas modifi­ O artigo 7.°, a que se refere o artigo acima cita­
cou e acrescentou outros : do do Decreto-lei 1985, modificou parte não só do
primeiro Código de Minas, como também o art. 143,
“ A rt. 143. A s minas e dem ais riquezas do subsolo, § 1.°, da Constituição de 1937 :
bem com o as quedas dágua, constituem propriedade
distinta da propriedade do solo para o efeito de explo­ “ Art. 7.° A s jazidas manifestadas ao G ovêrno Federal
ração ou aproveitam ento industrial. O aproveitam ento e registradas na form a do art. 10 do D ecreto n.° 24.642,
industrial das minas e das jazidas minerais, das águas de 10 de ju lh o de 1934, e da L ei n.° 94, de 10 d e se­
e da energia hidráulica, ainda que de propriedade p ri­ tem bro de 1935, estão oneradas, em b enefício dos res­
vada, depende de autorização federal. pectivos manifestantes, p elo prazo de cin co anos, a
contar desta data, com a preferência para a autorização
§ 1.° A autorização só poderá ser concedida a bra­
de lavra ou, quando a outrem autorizada, com uma
sileiros, ou emprêsas constituídas por acionistas brasi­
percentagem nunca superior a cin co por cento da pro­
leiros, reservada ao proprietário preferência na exp lo­
dução efetiva ” .
ração, ou participação nos lucros.

§ 2.° O aproveitam ento de energia hidráulica de


potência reduzida e para uso exclusivo do proprietá­
O artigo 16, V II e V III, também modificou parte
rio independe de autorização. do Código de Minas :
§ 3.° Satisfeitas as con dições estabelecidas em lei,
entre elas a de possuírem os necessários serviços técni­ “ Serão respeitados os direitos de terceiros, ressarcin­
cos e administrativos, os Estados passarão a exercer, do o concessionário da autorização os danos e prejuízos
dentro dos respectivos territórios, a atribuição cons­ que ocasionar, e não respondendo o G ovêrn o pelas lim i­
tante dêste artigo. tações que daqueles direitos possam sobrevir.

§ 4 .° Independe de autorização o aproveitam ento O concessionário poderá utilizar-se do produto da


das quedas dágua já utilizadas industrialmente na data pesquisa para fins de estudos sôbre o m inério u custeio
desta Constituição, assim com o, nas mesmas condições, dos trabalhos” .
a exploração das minas em lavra, ainda que transito­
riam ente suspensa. E, por fim, o artigo 68, que a seguir transcreve­
Art. 1 4 4 . A lei regulará a nacionalização progres­ mos, modifica os limites máximos para os tributos
siva das minas, jazidas minerais e quedas dágua ou ou ­ exigíveis do minerador :
DIREITO E JURISPRUDÊNCIA 97
“ A rt. 6 8 . Os tributos lançados pela União, pelo com o uma das con dições existenciais da sociedade con ­
E stado e pelo m u n icípio sôbre o m inerador habilitado tem porânea” .
por fôrça de decreto de autorização de lavra, ou ga­
rantido pelo artigo 143, § 4 .° da Constituição, não ex- ' Por êsses e outros princípios que norteiam nosso
cederão, em seu conjunto, de oito por cento do valor da Código de Minas, podemos afirmar, sem receio de
produção efetiva, calculado na b ôca da m ina” .
êrro, que constitui êle um dos maiores monumen­
Acresce, outrossim, que, pelo Decreto-lei n.° 1985, tos jurídicos dos tempos hodiernos, no que concerne
as jazidas foram classificadas de modo mais racio­ a êsse assunto.
nal que pelo Decreto n.° 2 4 .6 4 2 . A propriedade mineira, em face das condições
C l ó v i s B e v i l á q u a , nas páginas 207-210 da sua sociais de hoje, se reveste de inúmeras caracterís­
obra “Direito das Coisas” (Edição de 1941), resu­ ticas, dentre as quais apontamos como as mais in­
me brilhantemente o direito atual das jazidas mine­ teressantes as seguintes :
rais e seu aproveitamento, em face dos preceitos
constitucionais e do texto do Código de Minas. a) Constitui propriedade de natureza social;
b) E ’ uma propriedade distinta da do solo.
V CONSIDERAÇÕES FINAIS

A tendência moderna da nacionalização ou so­ Quanto à legislação mineira, podemos apontar


cialização das minas, que assinalamos na parte re­ os seguintes característicos marcantes :
ferente à história da legislação mineira, seguiram- a ) Preocupa-se mais com o explorador e des­
na também nossos dois códigos de minas. cobridor do que com o proprietário ;
A propriedade mineira perdeu, entre nós, o cará­
b ) Trata, além da pesquisa, descoberta e ex­
ter de propriedade privada, para assumir uma fei­
ploração, do transporte, acondicionamento e até
ção eminentemente social, com o imperativo dos
mesmo do direito de dispor dos produtos minerais;
dias que correm.
Citemos a propósito o seguinte tópico da Expo­ c ) Demonstra tendência acentuada para a na­
sição de M otivos que acompanhou o projeto do cionalização ou socialização das minas.
Código de 1934 submetido à consideração do Sr.
Chefe do Govêrno Provisório, pelo então Ministro M uito ainda poderíamos falar do direito de mi­
da Agricultura, Sr. Juarez Távora : nas, dada a amplitude de seu campo de investiga­
ções ; entretanto, nosso intuito foi apenas o de fo­
“ F iccu , assim, consagrada na nova legislação a ten­ calizar alguns aspectos da questão, que julgamos
dência m oderna de transformar-se a propriedade em
os mais interessantes dêsse direito novo que, dia
geral, de um sim ples direito subjetivo do proprietário
em uma função social do detentor da riqueza, opon do-
a dia, com alargar seu âmbito de estudo, apresenta
se à propriedade-direito do passado, a propriedade- ângulos curiosos aos que se consagram a essa ordem
iunção, reconhecida pela cultura econôm ica dos povos de pesquisas jurídicas.

PARECERES
PROCESSOS A D M IN IST R A T IV O S - CER­ M INISTÉRIO DA VIAÇÃO E OBRAS PUBLICAS
TIDÕES REQUISITADAS PELAS A U T O ­
1. O em inente ju iz em exercício na 1.® V ara da F a ­
RIDADES JUDICIÁRIAS
zenda P ú blica do D istrito Federal solicita certidões de
peças, que enumera, do presente p rocesso.
— A administração, quando age, presume-
se que sempre o faz obedecendo às normas do 2. Sôbre essa questão de fornecim en to de certidões,
já tivem cs ensejo de nos m anifestar nesta Consultoria Jurí­
direito e da justiça, não havendo que temer
d ica . Escreveram os, então : “ E m princípio, a parte tem
o conhecimento de seus atos. .
direito a certidões de peças d e processos form ados em repar­
— A certidão poderá ser denegada, se o tições públicas. Êsse direito encontra lim ites no interêsse
exigir o interêsse público. p u b lico . Trata-se, entre nós, de velha praxe administrativa,
acolhida, em p receito expresso, na Constituição de 1934,
— Interpretação do art. 224 do Cód. de que só adm itia denegação “ nos casos em que o interêsse p ú ­
Proc. Civil. b lico im ponha segrêdo ou reserva” (art. 135 n.° 3 5 ). O
98 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
princípio perdeu a categoria de m andam ento de ordem cons­ 6. Na verdade, com o escreveu PEDRO B A T IS T A M ar­

titucional, nem ,p o r isso, entretanto, deixa de ser regra de TINS, com sua grande autoridade d e jurista insigne e de
aplicação com um , na esfera adm inistrativa” (P a recer n.° autor do projeto d o nosso C ódigo de P rocesso C ivil, a m a­
3098 no proc. 27 5 4 1 /4 3 ) . téria do art. 224 é, indissimulàvelm ente, das mais graves do
direito processual. E pon tifica o em inente processualista :
3. Trata-se, na verdade, de princípio acolhido por
“ A o dever de colaborar com a administração da justiça, não
nossa legislação. Dispunha, com efeito, o art. 5.° § 2.°
seria razoável que se subtraíssem as repartições públicas,
letra k da L ei Federal n.° 640, de 14 de n ovem bro de 1899:
principalm ente num regim e em que êsse m esm o dever se

“ E m b em de legítim a defesa de direitos ou interes­ estende a terceiros, ainda quando estranhos à relação p ro­

ses particulares, ventilada, perante os tribunais ou au­ cessual” (C ód . d e Proc. Civil, ed. da “ R ev . Forense” , v o l.

toridades judiciárias, não é lícito negar certidão de III, p . 3 5 ).


dccum entos, pareceres ou inform ações prestadas sôbre 7. T odavia, m esm o tratando-se de certidões requisi­

as questões ventiladas no Contencioso Adm inistrativo, tadas por autoridades judiciárias, forçoso será con vir que

ou processos findos e em andamento, com o prescrevem o assunto está prêso às mesmas considerações já expostas

os arts. 14 § 4.° d o R egu lam en to n.° 254, de 21 de por ocasião de focalizar a hipótese da certidão pedida p e lo

A gôsto de 1850, Circular n.° 388, de Setem bro de 1857, próprio particular. E m qualquer dos casos, a certidão p o d e ­

A v iso n.° 26, de 6 de Setem bro de 1858” . rá ser denegada, se o exigir o interêsse p ú b lico. Nesta hi­
pótese, a autoridade adm inistrativa levará ao conhecim ento

4. E ’ êste, efetivam ente, princípio tradicional do nos­ da autoridade judiciária a im possibilidade, por m otivos que

so direito, de m od o que, reproduzindo-o, pôd e escrever o relatará, de fornecerem -se as certidões. O art. 224, no pará­

em inente m agistrado H e r o t i d e s DA S i l v a L i m a : “ T od os grafo único, faz expressa referência a essa hipótese quando,

têm o direito de pedir certidões às repartições públicas para referentemente à requisição de certidões, prevê “ a im possi­

sustentação de interêsses legítim os, declarando expressa­ bilidade de seu cum prim ento” (art. 224 § ú n ico ). E a êste

mente o fim para que desejam a certidão. N ão é possível propósito, eis a opinião de J o r g e A m e r i c a n o :

que as repartições públicas fiq u em expostas à devassa dos


“ E a im possibilidade de que fala o art. 224 § único
desocupados e que os juizes se convertam em mediadores
não é som ente a fôrça m aior, senão tam bém a im possi­
da curiosidade dêsses desocupados que se queiram introm e­
bilidade jurídica, isto é, a violação de normas adm inis­
ter em negócios alheios. E ’ certo que o art. 78, do D ecreto
trativas ou grave inconveniência para o interêsse p ú ­
F ederal n.° 370, de 2 /5 /1 8 9 0 , perm itia a qualquer pessoa
b lic o ” ( Cód. d e Proc. C ivil do Brasil, vol I, p. 4 6 9 ) .
requerer certidões do registro “ sem im portar ao oficial o
interêsse, que ela possa ter” . H oje, porém , com os abusos
8. O ilustre processualista prevê, expressamente, a
existentes, as autoridades devem exigir a declaração do m o­
hipótese, que deve ser atendida, de requisição de certidões
tivo, tanto mais que, havendo-o sério, o interessado não o
pelo juiz, m esm o no caso de dem anda contra a Fazenda
procurará ocultar” ( C ód . d e Proc. Civil Brasileiro, vol. I,
P ú blica (o b . c/f., loc. cit.) e isto pela razão de que há uma
p. 4 1 1 ) .
presunção de que a administração quando age sempre o faz
5. C ontudo, na hipótese, não se trata de certidão obedecendo às normas do direito e da justiça, não havendo
requerida per particular, mas solicitada por autoridade ju ­ que tem er o conhecim ento dos seus atos. D e resto, o juiz,
diciária, regendo-se o assunto p elo art. 224 do Cód. de ao requisitar a certidão, o faz em nom e do Estado, ao qual,
Proc. C ivil : cabendo administrar a justiça, não p od e ser indiferente à
sorte dos litígios.
“ A rt. 2 2 4 . O juiz, a requerim ento ou “ e x -officio” , 9. C om estas considerações, estou por que se atenda
poderá requisitar a repartições públicas ou estabeleci­ a requisição judicial fornecendo as certidões solicitadas.
m entos d e caráter p ú b lico as certidões necessárias à N ão há, a meu parecer, interêsse pú b lico que obste o a co­
prova das alegações das partes. lhim ento da solicitação do em inente ju iz em exercício na
Parágrafo único. Se dentro d o prazo fixado, não l . a Vara da Fazenda P ública do D istrito F ed eral.
fôr atendida a requisição, nem justificada a im possibi­ R io, 9 de março de 1945. — A . G onçalves d e Oliveira,
lidade d o seu cum prim ento, o ju iz representará à au­ Consultor Jurídico d o M inistério da V iação e Obras P ú ­
toridade com petente contra o funcionário responsável” . blicas .

JULGADOS
FU N C IO N ÁR IO PÜBLICO - CONCESSÃO — Interpretação do art. 226, n. III, do E . F .
DE PRIVILÉGIO
— Idem, do art. 779 do D ecreto 15.783,
— Não podem ser negadas as obrigações
de 8-11-1922.
decorrentes de ato administrativo não revoga­
do pelo Govêrno nem anulado pelo Poder Ju­ • — Idem, do art. 115 do Decreto n. 13.393,
diciário. de 25-12-1919.
DIREITO E JURISPRUDÊNCIA 99
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL "E m suma : o recorrido alega : 1.°, ter feito antepro­
jetos e trabalhos relativos à concessão, e nada prova nesse
Recurso extraordinário n. 6 .8 86 sentido ; pelo contrário, a prova lhe é inteiram ente adver­
sa ; 2.°, que cedeu direito à concessão e, no entanto, está
Relator : Sr. Ministro Orosimbo Nonato. dem onstrado que não teria direito algum, e, portanto, não
poderia ceder aquilo que não existia. N ão vale a argum en­
Recorrente : Brasunido S . A .
tação, em contrário, do douto Juiz a quo visto com o m esm o
Recorrido : Henrique Barbalho Uchôa Caval­ antes do Estatuto dos Funcionários P ú blicos não era per­
canti . m itido ao funcionário requerer concessão e, m esm o na es­
pécie o p ed ido deu entrada na Presidência da R ep ú b lica
ACÓRDÃO em 1940, após a prom ulgação do referido Estatuto, que é
de 28 de outubro de 1939. E a recorrente provou : a ) não
Vistos, relatados e discutidos êstes autos de recurso ex­
existir trabalho ou estudo do A . ; b ) não p od er fazer cessão
traordinário n.° 8 .8 8 6 , do D istrito Federal, recorrente
daquilo que não existia ; c ) que o próprio A. declara que
Brasunido S . A . , recorrido H enrique Barbalho U chôa C a­
sua interferência teria consistido em obter a concessão
valcanti.
para a R . ; d ) não ser perm itido ao A. pleitear da R . a
A corda o Suprem o Tribunal Federal, 2.a Turm a, inte­ participação prom etida pelo diretor e para a qual não hou­
grando neste o relatório de fls. e na conform idade das notas ve contribuição alguma da parte do associado A., pois a
taquigráficas precedentes, não conhecer d o recurso, pagas as carta lhe foi dada por exigência, visto exercer cargo do
custas na form a da lei. qual dependia a con cessã o; além do mais, o p róprio A.
R io, 15 de dezem bro de 1944. — J osé Linhares, P re­ confessa que a sua atividade se teria originado de atos de
sidente. — O rosim bo N onato, R ela tor. advocacia adm inistrativa; e ) se nada disso valesse, há,
ainda, o fato de que a lei não perm ite ao A . ter participa­
ção em sociedade com ercial e, m uito menos, naquelas que
RELATÓRIO
contrataram com o G ovêrn o.
O Sr. M inistro O rosim bo N on ato — Na dem anda a Por últim o, o próprio A. confessa que a R . teve des­
que se refere o presente recurso extraordinário, o Dr. H en ­ pesas vultosas. A prova feita em prim eira instância é exu­
rique Barbalho U chôa Cavalcanti convocou a ju ízo Brasu­ berante nesse sentido e, agora, corroborada pelos does. ju n ­
nido S . A . , expondo que lhe cedera estudos e projetos de tos, que dem onstram não estar até a presente data liquidado
construção de vias férreas e d o ped ido respectivo, mediante o n egócio da concessão de que pleiteia “ A . 25 % ” .
a participação de 25 % dos proveitos que aquela sociedade
O Tribunal de Apelação em acórdão relatado pelo
viesse a lograr no negócio que a ré, obtida a concessão,
Sr. D esem bargador A franio Costa assim decidiu :
transferiu-a p o r 5 0 0 :0 0 0 $ e, entretanto, nega-se a pagar-
lhe os 25 % prom etidos, que o A . reclam a com juros mora- "A cordam negar provim ento ao recurso para manter a
tórios e honorários de advogado. sentença por seus jurídicos fundam entos que se apoiam na
Brasunido S . A . contestou o p ed ido alegando, em sín­
p rov a .
tese, que o A . , funcionário pú blico, não podia obter a con ­
O argumento da sociedade em conta de participação,
cessão d e que se trata, pretensão de que desistiu sem reser­
para conseqüências escusadoras do pagam ento ao apte., é
vas, e, pois, não tinha direito suscetível de cessão. A ré,
inconsistente. W alter Schm idt, p or via dêsse contrato de
nestes têrmos, não é cessionária do A . : — a concessão lhe
cessão, trouxe para o patrim ônio da apte. direitos que foram
veio diretamente. Balisou-se o trabalho d o A. no pedido
alienados por quinhentos contos de réis. A incorporação e o
— de deferim ento inalcançável, legal e m oralm ente — da
resultado são fatos incontestes ; pretender escapar-se ao p a ­
concessão. — E ’ certo que lhe fo i form ulada a promessa
gam ento ajustado no m esm o ato, com o retribuição de ser­
dos 2 5 % , a que alude. Fê-la, porém , a ré para se aliviar
viços ou indenização ao a. apdos. a pretexto da ilegitim idade
da pressão que o A., alto funcionário da Inspetoria das E s­
dêsse W alter Schim dt para obrigar o apte., em bora legíti­
tradas de Ferro, entrou de desenvolver. D e resto, im pres-
ma a intervenção para dar-lhe lucro, aberra d o senso c o ­
tadio é o docum ento, que exprim iu a promessa, a uma por­
m um . T an to mais que êsse m esm o W alter Schm idt, nas
que nenhum direito p od e o D r. B arbalho pretender com
mesmas condições, constituiu o adv. que em nom e da socie­
raízes no p ed id o de concessão, nulo ex-radice, por ser inou-
dade pleiteia nestes autos. P or igual, não colh e o argum ento
torgável concessão do G ovêrn o Federal, a funcionário pú-
I m quanto à irregularidade da conduta do A., que com o fun ­
blico, à outra por falta de causa da obrigação : o A. nao
cionário pú b lico federal com exercício na R epartição de
prestou serviços à R . , de fora parte com unicação da dos
Estradas estava im pedido por isso de obter ou transferir
oficiais, que conhecia em razão d o cargo, o que não é susce­
con cessões.
tível de pagam ento. A legou, à derradeira, Brasunido S .A .
não representar a quantia de 5 0 0 :0 0 0 $ 0 0 0 lucro líquido. — Nada houve de ocu lto ou sub-reptício, tudo fo i feito
D esenvolvido o pleito, proferiu o Juiz, D r . M arcelino de as claras : o A. requereu a concessão ao Sr. Presidente da
Queirós, a sentença de fls. 61 ( le r ) . R epú blica em 21 de ju lh o de 1939 quando nada o im pe­
A pelou Brasunido S . A ., produzindo os does. de fls. e dia de fazer (fls. 3 1 ) ; sobrevin do o Estatuto do F u ncio­
fis. A rgüiu a ineficácia da carta de fls. 4, reiterou os fun ­ nário P ú b lico com o D ecreto-lei n.° 1 .7 1 3 , de 28 ae outu-
dam entos da contestação e resumiu nestes têrmos as razões de 1939, surgiu no art. 226 § 3.° a proibição que im pediu
do apêlo : o apelado de levar avante a sua pretensão.
100 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
P o r isso, e relatando a situação, a Brasunido reque­ preço da cessão que fêz, por 500 contos, para evitar prejuí­
reu ao M inistro da V iação a transferência para ela dos di­ zos ainda maiores decorrentes de sua situação de firm a in­
reitos e obrigações resultantes da concessão requerida ao cluída na “ lista negra” .
Sr. Presidente da R epú b lica pelo apelado (fls. 32 e 3 3 ). Reportou-se o recorrido, quanto ao m érito, às razões
T u d o foi feito, portanto, sob direta e im ediata fiscalização de fôlhas 1 8 0 /1 8 2 e sôbre as preliminares deixou escrito,
d o G ovêrn o Federal, pelas suas mais altas autoridades. referindo-se ao recurso :
Tornou-se a apelante senhora da concessão pela im possi­
bilidade superveniente de continuar o A . a exercitá-la, mas “ N ão foi interposto em tem po hábil. Pu blicado o acór­
os direitos que para ela advieram eram os dêles, por via de dão no “ D iá rio” de 7 de n ovem bro (fls. 1 8 9 ), somente
transferência. Portanto, se inquinada originàriamente em 19 foi apresentado ao Presidente do Tribunal (fls. 1 9 0 ).
nulidade, se de início viciada fôsse essa concessão, não con ­ Ainda que se pudesse levar em conta o seu encam inha­
valesceria co m a transferência. M as, não houve v ício a.- m ento através o protocolo e oferecesse êste a segurança de
gum, nem a U nião disso cogitou, apesar de alentada com autenticidade, que se não encontra, esgotado se acharia o
a situação claram ente definida, em que se achava a a. ape­ prazo de 5 dias, quando a 17 pretende tê-lo interposto com
lado. M as, ainda quando proceden te o im pedim ento, não a apresentação à Secretaria para despacho” .
poderia in vocá-lo a A., coparticipante para recolher b enefí­
Procurando o recorrido mostrar que não tem o T rib u ­
cios, não pode repudiá-lo para evitar os “ ônus” .
nal de A pelação com petência para estabelecer praxes, que
T a m b ém im procede a exceção “ quod m otus causa” . envolvem , no caso, delegação de funções, prossegue quanto
As funções d o apelado não autorizavam absolutam ente a ao cabim ento do recurso :
receiar qualquer influência adversa. D em ais, a docum enta­
“ Aliás, não seria para conhecer o recurso ainda que
ção junta aos autos revela que os litigantes, até que o A.
tem pestivo. N ão houve ofensa à letra de qualquer lei sô­
reclam ou sua cota parte nos 500 contos, andaram em per­
bre que se discutisse. A justiça local apreciou questão de
fe ito entendim ento correspondendo-se nos têrm os mais amis­
fato e aplicou princípios e normas de direito correntes.
tosos, chegando Schim dt a felicitar a U chôa pela assinatura
Não enfrentou preceito, invocado na inicial ou na contesta­
d o doc. que transferiu a concessão à apelante (fôlh as 6 ) ,
ção. N ão há, outrossim, acórdão divergente de outro T r i­
p or telegram a expedido para B elo H orizon te. A que título
bunal .
essa efusão de abraços ?
Basta notar que, à exceção do prim eiro citado ( R e v .
A cresce ser de cristalina com preensão o enorm e in­
do Sup. Trib. Federal, vol. 48, p á g . 154) todos os outros
terêsse que tal estrada de ferro traria e trará para a e co ­
são do m esm o Tribunal a quo. Aquele, com o êstes, versa,
nom ia nacional e quiçá para a própria d e fe s a ; basta isso
hipótese diversíssim a. C ita-o o recorrente por simples
para convencer logo que a Adm inistração P ú blica não per­
enunciado da ementa : — “ N ão é possível conhecer efeitos
m itiria que um funcionário qualquer fôsse criar entraves jurídicos a contrato celebrado com transgressão da le i” ,
ao desenvolvim ento normal dos planos de construção. — O tese abstrata e na hipótese não há contrato com transgres­
A. tem direito à rem uneração ajustada. são de le i. . .
Quanto aos docum entos juntos às razões de apelação Passo os autos, subm etendo êste relatório à esclareci­
para dem onstrar que os 500 contos não representam par­ da censura do E xm o. Sr. M inistro revisor. .
cela líquida nos lucros auferidos, o Tribunal deixa de apre­
ciá-los porque representa questão de fato não proposta na VOTO PRELIMINAR

instância inferior, desacom panhada de prova de que a om is­


O Sr. M inistro O rosim bo N on ato (R e la to r) — D e-
são decorreu de fôrça m aior (art. 824, § 1.° d o Cód. oe
sassiste razão ao recorrido quando argúi o intem pestivo do
P r o c.). A matéria exige debate, contraprova, exames peri­
recu rso.
ciais, etc., novas dilações que o recurso não com porta. —
P ublicado o acórdão no “ D iá rio” de 7 de nov. de 1942, veio A publicação do acórdão no D iário Oficial ocorreu em
7 de novem bro de 1942 e o pedido apresentou-se no dia 17,
Brasunido em 17 (u t carim bo na petição de fls. 190) com
no últim o dia, é certo, mas dentro, ainda, do prazo. Sem
recurso extraordinário na base das letras a e d do art. 101
dúvida que o despacho do Sr. Desem bargador Presidente
n.° III da Carta Constitucional.
leva, a data de 19. M as, a data do despacho pode não coin ­
As leis vulneradas seriam o art. 226 8 3.° do D ecreto- cidir com a da apresentação do pedido, possibilidade tanto
lei n.° 1 .7 13 , de 28 de outubro de 1939 (E statuto do Func. mais adm issível quanto o contrário não consta do despacho.
P ú b lic o ), art. 115 do D ecreto Federal n.° 13.939, de 25 de
E a reforçar ainda mais essa conclusão, está o “ ca­
dezem bro de 1919, art. 779 do D ecreto Federal n.° 15.783,
rim bo” da Secretaria, em data que é a mesma do pedido,
de 8 de n ovem bro de 1922, arts. 82 e 145, § 2.°, do Cód.
17 de novem bro.
Civ. E o acórdão estaria em divergência com os julgados,
que a recorrente cita, reportando-se à pu blicação em revis­ A parte alega que êsse carim bo não tem autenticidade.
tas especializadas. N o m érito, forceja a recorrente p o r d e ­ M as trata-se de carim bo da Secretaria. Se o carim bo é o fi­
m onstrar não haver o recorrido operado transferência de cial, não se pode entender que tenha havido irregularidade,
concessão — o que seria im possível — nem elaborado p la ­ a não ser mediante prova nesse sentido.
nos e estudos, servindo-se, apenas, de estudos oficiais. V iu - N ão tenho, pois, o recurso com o tardonho, e desorado.
se, por isso, forçada a recorrente a contratar serviços técn i­ Invocam -se com o fundam entos do recurso as letras a e d,
cos, suportando despesas elevadas que ultrapassaram o n.° III, do art. 101 da Carta C onstitucional.
DIREITO E JURISPRUDÊNCIA 101
Na versão do recorrente, o acórdão de fls. vulnerou, E pelo segundo, nulo é o ato ju ríd ico quando ilícito
sôbre os arts. 82 e 145 § 2 ° do C ód. C ivil, o art. 226 ou im possível o seu ob jeto. M as, as proposições que êsses
parágrafo 3.°, d o Estatuto dos Funcionários P ú blicos ( D e ­ textos encerram, transitaram incólum es pelo julgado. Seria,
creto-lei n.° 1 .7 1 3 , de 28 de setem bro de 1939) as leis de verdaae, sarjar profundam ente no texto da lei e, dem ais
anteriores, que cita, e que já defendiam pudesse o fu n cio­ disso, golpear entranhadamente os princípios, aceder em
nário p ú b lico lograr concessão do poder p ú b lico . A proibi­ que a validade do ato ju ríd ico dispensa a liceidade do o b je ­
ção existe e é anterior ao Estatuto dos Funcionários P ú b li­ to e que sua validade se mantém , ainda com a iiicitu de ou
co s. C itou a recorrente, a propósito, o art. 115 do R egu la­ im possibilidade do ob jeto — absurdezas em que não in­
m ento da Secretaria do Estado da V iação e Obras Públicas cide o acórdão. Baste para m ostrá-lo tratar-se de ato a d ­
(e o recorrido no funcionário do M inistério da V ia çã o ) que m inistrativo não revogado, nem anulado e cuja ineficácia
dispunha : vem , ao cabo de contas, ser alegada unicam ente p e lo ces­
sionário da concessão, que prevaleceu e pôde ser transfe­
“ Os em pregados d o M inistério não poderão fazer rida.
contratos com o G ovêrno, direta ou indiretam ente, por
E se o acórdão não vulnerou a letra da lei, tam bém
si cu com o representantes de outrem , dirigir bancos,
não delirou de outros arestos, com o a recorrente in cu lca .
com panhias ou emprêsas, sejam ou não subvencionados
As indicações, ao propósito, do recorrente ressentem-se de
pela União, salvo as exceções indicadas em leis espe­
evidente va cu idade.
ciais, requerer ou prom over, para si ou para outrem , a
É le abaliza-se com indicar os repositórios forenses
concessão de privilégios, garantias de juros ou outrcs
apontando volum es e páginas, em que estariam insertos ju l­
favores semelhantes, exceto privilégios de invenções” .
gados que se p õem as testilhas com o acordao re co rrid o .
N ão exijo que o recorrente ao fito de dem onstrar a o co r­
E o art. 779 do R egim en to G eral de Contabilidade
rência de arestos divergentes produza certidões. C ontento-
Pública, baixado com o D ecreto n.° 1 5 .7 8 3 , de 8 de
m e com indicações mas, acompanhadas de dois elem entos :
n ovem bro de 1922, verbis :

“ A cs funcionários pú blicos é expressam ente vedado a) a reprodução, ao menos, de ementa que torne
fazer contratos com o G ovêrno, direta ou indiretamente, manifesta a divergência sôbre a interpretação da lei, em
por si ou com o representante de terceiros” . causa id ê n tica ;
b) que a citação, pôsto não provada por certidão,
À prim eira, parece de procedência íntegra a alegação não seja ob jeto de im pugnação do recorrido.
da recorrente. Exam inado, entretanto, de fato, o julgado,
Ora, no caso, êsses requisitos falecem .
o que se conclui é que, havendo o recorrido logrado a c o n ­
A reprodução da ementa de um dos julgados apenas
cessão e passando-a a recorrente, justo não seria negar o
noticia a adoção de regra abstrata, e de resto incontrariável:
pagam ento à conta da iiicitude do ato de que a Brasunido
■— “ N ão é possível conceder efeitos jurídicos a um con ­
logrou proveitos. D e ofensa do Estatuto não se pode cog i­
trato celebrado com transgressão de le i” . E o recorrido
tar, uma vez que a concessão fo i outorgada anteriorm ente.
contesta, em têrm os perem ptórios, a alegação d o recorren­
E se a vedação já existia anteriorm ente, certo é que, às
te, verb is :
abertas e não à puridade, fo i que o recorrido tratou do
n egócio e o transmitiu à recorrente. Considera o acórdão
“ N ão há acórdão d iv e r g e n te ...
que, prevalecendo, d e fato, a concessão — o que aliás, era
perm itido em leis especiais — e não havendo sido anulada Basta notar que, à exceção d o prim eiro citado ( R e v .
sua transferência à recorrente, torticeiro seria consagrar a do S u p . T rib . F e d ., vol. 48, pág. 1 5 4 ), todos os outros
locupletação co m jactura alheia, perm itir-se o não paga­ são do m esm o Tribunal a quo. E aquêle versa hipótese di-
m ento de n egócio realizado sem má fé e m antido, não obs­ versíssima” .
tante a ved ação. Nestes têrmos, deixo de con hecer d o recurso e, de
conseqüente, da matéria de fato, aliás relevante, que êle
E ’ que não se trata de nulidade oposta pelo govêrno con tém .
cutorgante ao concessionário, mas da pretensão de terceiro
que, não obstante vigorar a transferência, pretende não VOTO PRELIM INAR
pagar, por am or daquela nulidade.
O Sr. M inistro Vãldem ãr F a lcão —— N ão encontro no
D e resto, trata-se de ato adm inistrativo, que não foi acórdão recorrido nenhum a contrariedade da letra de lei
revogado p e lo G ovêrn o nem anulado pelo Judiciário. As federal, nos passos indicados pela recorrente.
baldas, que o trincam, não podem , destarte, castelar a defe­ C om efeito, ante os elem entos d e prova que exam inou
sa da recorrida, cujas obrigações perm anecem . V isto assim no processo, con cluiu a Justiça local pela procedên cia da
o caso, a hipótese não é de ofensa da letra da lei pelo ação ajuizada pelo ora recorrido, p or entender que, dados
que descabe o recurso na base da letra d. os característicos da coisa, tal qual esta se configurava à
M as, a recorrente ainda indica outros textos de lei que luz da docum entação trazida a lume, não infirm avam o d i­
teriam sido trateados no acórdão recorrido : os arts. 82 e reito d o autor-recorrido os princípios legais invocados pela
145, § 2.° d o Cód. Civil. P elo prim eiro, a validade do ato ré, ora recorrente.
jurídico requer agente capaz, ob jeto lícito 9 form a prescrita E videntem ente, decisão assim caracterizada não se ajus­
e não defesa em lei. ta aos têrm os do art. 101, n. III, letra a, da Constituição
1 02 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
vigente, com o o tem resolvido, em num erosos julgados, êste Regra universal de direito judiciário é a de que, quem
Suprem o Tribunal F e d e ra l. afirm a um fato, deve prová-lo e a necessidade da prova

P or outro lado, inadm issível ainda é o presente recur­ nasce da contestação do fato em que se baseia o p ed id o.

so extraordinário sob o prism a da letra d, do referido dis­ Se, porém , não é o fa to contestado, desnecessária será
positivo constitucional, eis que não fo i feita, p or form a a sua prova, surgindo, então, o que está expresso no C ódigo
ccnveniente, a dem onstração da colisão de julgados, referen­ de P rocesso C ivil nacional, art. 209, isto é, haver-se por
tes à inteligência da m esm a lei federal. provado aquilo que é afirm ado, sem contestação e resul­
N em sequer transcreveu a recorrente as emendas dos tando do conjunto de outros inform es da ca u sa .

julgados apontados com o em plano oposto ao aresto recorri­ C om o autora, a apelada afirm ou que o órgão técnico da
do, lim itando-se à vaga rem issão a volum es e páginas de pu­ Prefeitura M unicipal do D istrito Federal, o Sr. D r. Procura­
blicações ju diciárias. - dor M unicipal, D r. Josino de Araújo, havia dado parecer,
P o r êsses m otivos, sou levado a, prelim inarm ente, não em processo adm inistrativo contra êle instaurado, con cluin ­
conhecer do recurso extraordinário em aprêço. do pela sua absolvição, e êste fôra decidido pela Comissão
juigaaora, sob a Presidência d o Secretário da E ducação e
DECISÃO Cuitura da mesma M unicipalidade, Senhor C oronel Jonas
Correia, pessoa de absoluta confiança do Dr. Prefeito M u n i­
C om o consta da ata, a decisão fo i a seguinte : R e je i­
cipal que a havia dem itido.
tada a prelim inar de ter sido intem pestivam ente interposto
Essa afirm ação não fo i contestada.
o recurso, não conheceram do m esm o. Unanim emente.
A remessa de processos adm inistrativos à jurisdição
civil estando vedada na lei, determ ina o C ódigo de Processo
Civil que as autoridades administrativas rem etam certi­
REIN TEGRAÇÃO - NULIDADE DE P R O ­ dões de peças dos processos administrativos, quando ne­
cessários nos esclarecim entos da Justiça civ il.
CESSO A D M IN ISTR A TIV O - P R O V A EM
JUÍZO D O S F A T O S N Ã O C O N TE STA D O S Entretanto, rem etendo m uito tardiamente certidões
reclamadas, repetidam ente, a Prefeitura M unicipal omitiu
nelas o que se lhe inquiria a respeito do direito da apelada,
— Se o fato não é contestado desnecessária
ficando, destarte, afirm ado, sem contestação e ex-vi-Iegis,
será a sua prova, na forma do att. 209 do Cód. tu do quanto afirm ou a autora apelada, em juízo. E videncia­
de Proc. Civil. do ficou, assim, que a apelada, antiga e zelosa funcionária
administrativa m unicipal, sem pre fôra cum pridora de seus

TRIBUNAL DE APELAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL deveres, no desem penho de seu cargo, e isto ficou, por de­
mais, revelado na farta atestação por ela ajuizada na sua
a ção.
Apelação Cível n.° 4.432
Suspeitada que fôra, injustamente, de exercer advoca­
Relator : Sr. Desembargador Edmundo de Oli­ cia adm inistrativa na repartição, recebendo perjúrias, foi,
porém , absolvida, em processo disciplinar instaurado, p ro­
veira Figueiredo.
cesso form alizado e seus vícios apontados, apenas, anulado
1.° apelante : Juízo da l.a Vara da Fazenda Pú­ por não ter se aplicado o rito processual dos Estatutos dos
blica . Funcionários Públicos Federais.

2.° apelante : Prefeitura do Distrito Federal, T a l razão de anulabilidade do processo ficou bem de­
monstrada, na sentença apelada, ser ela ilegal, por não ter
pelo Doutor 1.° Procurador.
base na lei, o ato do Sr. D r. P refeito M u nicipal, evidencian­
Apelada : Nídia Fonseca de Lima Rangel, repre­ do-se que, o m esm o D ou tor Prefeito, tanto no ato da aber­
tura do processo disciplinar, com o no ato da nom eação da
sentada pela Justiça Gratuita. ......... '
Com issão Disciplinar, se baseou no D ecreto M unicipal nú­
m ero 776 de 1900, porque a M unicipalidade não aplicava
ACÓRDÃO DA QUINTA CÂM ARA
os Estatutos dos Funcionários P ú blicos da União Federal,
mas sim u citado D ecreto M unicipal no ano de 1900, e, face
Vistos êstes autos de apelação cível n.° 4 .4 3 2 , entre
a tal estado de coisas, fo i decretado o Estatuto dos Fun­
partes, com o 1.° apelante, o Juízo de D ireito da Prim eira
cionários M unicipais, com a prom ulgação d o D ecreto n.°
Vara da Fazenda Pública, 2.° apelante, a Prefeitura M u ­
3.770, de 28 de outubro de 1941.
nicipal do D istrito Federal, pelo 1.° Procurador, e com o
apelada, Nídia Fonseca de Lim a Rangel, pela Justiça Gra-- D éste gesto, a sentença recorrida deixou m uito certo
tuita : . que o segundo processo adm inistrativo, instaurado contra
a apelada, já absolvida, em vista da anulação do prim itivo
A cord am os Juizes da Quarta Câmara do Tribunal de
processo, acarretòu-lhe a demissão, sendo que o ato do Dr.
A pelação do D istrito Federal, pela conform idade de votos,
Prefeito M u nicipal, proveniente dêsse segundo processo ad­
negar provim en to a am bos os recursos, a fim de confirm ar m inistrativo, com o ilegal, era evidentem ente n ulo. Custas
a sentença apelada, que bem julgou a causa. na form a da le i.
DIREITO E JURISPRUDÊNCIA 103
R io de Janeiro, 23 de fevereiro de 1945. — Edm undo FU N CIO N ÁRIO PÚBLICO M U NICIPAL -
de O liveira F igu eiredo, Presidente e R elator. — D uqu e ESTABILIDADE - DEMISSÃO - P R O ­
Estrada.
CESSO A D M IN ISTR A TIV O - A B A N ­
Ciente. 21-3-45. — R om ã o C. Lacerda.
D O N O DE CARGO

— E’ ilegal a demissão sumária de funcio­


nário público com mais de dez anos de servi­
FU N C IO N ÁRIO PÜBLICO - ESTABILI­
ço, ainda que sob a alegação de abandono
DAD E - DEMISSÃO
do cargo.

— Constitui justa causa para a demissão de — O abandono do cargo só se verifica m e­


funcionário público a supressão do emprêgo, diante o não comparecimento do funcionário,
embora seja restabelecido um ano e meio por mais de trinta dias consecutivos, e o prévio
depois e nêle provida outra pessoa. processo administrativo, em que será dada
oportunidade ao acusado para defender-se.
TRIBUNAL DE APELAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO
— Aplicação do art. 156, letra c, da Consti­
N. 22.426 — Rio Claro — Apelante : José Fe- tuição.
lício de Sousa — Apelada : Municipalidade de Rio — Idem, dos arts. 1, 238, 246 e 256 do D e­
Claro — (3.° o fíc io ). creto-lei 1.713, de 28-10-39.

ACÓRDÃO TRIBUNAL DE APELAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Vistos, relatados e discutidos êstes autos de apelação N . 22.602 — Capital — Apelante: Municipa­
n.° 2 2 .4 2 6 , da com arca de R io Claro, em que é apelante lidade de São Paulo — Apelado : Oscar da Silva
José F elício de Sousa e apelada a M unicipalidade de R io Fagundes — (Secretaria).
Claro, acordam , em Prim eira Câmara C ivil d o T ribu n al de
Apelação, negar provim ento ao recurso e condenar o apelan­
ACÓRDÃO
te nas custas.

E m abono da sua pretensão, in vocou o autor os arts. 86, Vistos, relatados e discutidos êstes autos d o processo
n. 2 2 . 6 0 2 — apelação cível d e São Paulo — em que é
§ 2.°, da Constituição do Estado, e 156 da Constituição
Federal de 1937, que teriam sido infringidos pelo A to M u ­ apelante a M unicipalidade de São Paulo e é apelado Oscar

nicipal n .° 234, de 3 1 -X II-19 3 8 , que o demitiu. da Silva Fagundes, acordam em Prim eira Câmara C ivil do
Tribunal de A pelação negar provim ento ao recurso para
P e lo prim eiro dêsses dispositivos, os funcionários que
confirm ar a sentença de primeira instância, que está b em
contassem menos de dez anos d e serviço ( o autor contava
fundamentada, sob o aspecto ju ríd ico.
cêrca de n ove a n os), não poderiam ser destituídos dos seus
Custas pela apelante.
cargos, senão por justa causa, ou m otivo de interêsse p ú ­
blico . São Paulo, 5 de junho de 1944 — T heodom iro Dias,
pres. — Paulo C olom bo, relator, — J . M . Gonzaga.
E tanto êsse art. 86 da Constituição d o Estado, em
sua prim eira parte, com o o art. 156 da Constituição F e ­
SENTENÇA
deral de 1937, som ente con cedem estabilidade aos fu n cio­
nários que contarem pelo menos dez anos de efetivo exer­ V istos os presentes autos de ação ordinária, entre par­
cício, ou aos que, nom eados em virtude de concurso de p ro­ tes Oscar da Silva Fagundes e a M u nicipalidade de São
va, contem mais de deis anos. Paulo :
Ora, o autor não satisfazia nenhuma destas condições : Alega o autor que fo i adm itido ao serviço pú b lico m u­
não tinha dez anos de serviço nem fôra n om eado em vir­ nicipal aos 2 de junho d e 1 9 2 9 , ten do com pletad o dez anos
tude de con cu rso. Logo, não gozava de estabilidade.
de efetivo exercício aos 2 de junho de 1 9 3 9 , con form e título
E a justa causa, ou m otivo de interêsse pú blico, decor­ expedido na mesm a data ; que, aos 2 1 de janeiro de 1 9 3 5 ,
re do fato de ter sido suprim ido o seu em prêgo, juntam en­ fôra provido no cargo de ch efe d e turm a da D iretoria de
te com outros, em fins de 1938, por necessidade econôm ica, Obras e V iação, da P refeitura ; que exonerado, p o r aban­
segundo declarou o ato m u n icipa l. dono do cargo, em 3 d e dezem b ro de 1 9 4 1 , vencia nesse
E ’ verdade que depois fo i restabelecido o cargo de tem po Cr$ 8 8 0 ,0 0 mensais ; que, a 1 0 de m aio de 1 9 4 1 , por
fiscal e nêle provida outra pessoa. M as isso se deu cêrca m otivo de moléstia, requereu e obteve três meses de licença,
de um ano e m eio depois, em m aio de 1940, não bastando, a contar de 6 do m esm o mês, seguindo para o interior e só
portanto, o fato para elidir o fundam ento d o A to n. 2 3 4 . por isso deixou de com parecer ao exam e m édico, resultando
São Paulo, 29 de m aio de 1944 — T heodom iro Dias, dêsse fato o indeferim ento do p e d id o ; que em 2 3 de junho
Pres. — J. M . Gonzaga, relator. — G om es d e Oliveira. secundou o requerim ento, dessa vez, “ sem quaisquer ven ­
104 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
cim entos” , a contar de 6 de m aio ; que, não obstante lhe e que declara expressamente, no parágrafo único do dispo­
assistir por lei tal, faculdade, o Prefeito indeferiu o segundo sitivo 246 : “ O processo adm inistrativo precederá sempre
pedido, sob pretexto de que o funcionário não havia com ­ a dem issão do funcionário” .
parecido à inspeção m édica, e, a 3 de dezem bro do referido Bastam estas duas citações para mostrar que a penali­
ano, exonerava o autor, sem qualquer processo administra­ dade impostia ao autor constitui ato arbitrário e altamente
tivo ou m aior form alidade, por “ abandono do cargo” . Pede censurável por parte do P od er P ú blico, que desrespeitou as
a sua reintegração no cargo e pagam ento de vencim entos leis do país.
atrasados e os que se vencerem n o decurso da ação, juros
O autor justificou o m otivo por que se não submeteu
da mora e custas, tu do acrescido da im portância de 20 %
ao exam e m édico e provou que lhe fôra recusada até mesm o
para honorários de advogado. A ré, contestando, declara que
a “ licença sem vencim entos” . O utro abuso de direito in­
o autor, em face da legislação m unicipal, então aplicável ao
justificável, em face d o art. 175 d o E statuto citado.
caso, fo i regularmente destituído do em prego ; que o autor,
O próprio abandono do cargo só se verifica m ediante
não ten do m antido a posse efetiva do cargo por via do exer­
as condições legais : não com parecim entb do funcionário
cício e desem penho, sofreu o natural afa stam en to; que a
p or mais de trinta dias consecutivos (art. 238, 8 2 .°), e o
falta do processo adm inistrativo é afirm ação inexata, pois
prévio processo adm inistrativo, em que o funcionário citado
o que houve foi instaurado consoante a legislação vigente ;
teria o prazo de dez dias para apresentar defesa (art. 246,
que a regularidade do ato, que considerou vago o cargo por
parágrafo ú n ic o ; 254 e seu parágrafo ú n ico) .
abandono, resulta de sim ples operação m a tem á tica ; que a
ação dev e ser julgada im procedente. A fls., consta o laudo Nada disso se fêz. N ão houve sequer apuração regular
pericial. N a audiência de instrução, o autor prestou seu de­ do fato, com audiência do argüído, nem pu blicação de edi­
poim ento pessoal e, por últim o, as partes disseram do seu tal. T u d o correu à revelia d o autor, com manifesta infração
d ire ito . do m andam ento n. 255 d o E statuto.
H ou ve incontestável arbitrariedade e desrespeito às
B em exam inados : leis e ao direito in divid u al.
E videncia-se dos autos que o autor contava com mais E m conseqüência, ju lgo proceden te a ação para man­
de dez anos de serviço pú b lico m unicipal, quando fo i exo­ dar reintegrar no cargo, com os mesm os vencim entos do
nerado (v . fls .), exoneração essa ocorrida a 3 de dezem bro últim o exercício, o autor Oscar da Silva Fagundes, com
de 1941, sem processo adm inistrativo. O seu afastam ento direito a percepção dos vencim entos atrasados, a partir de
forçado do em prego não resultou de nenhuma sentença ju ­ 6 de setem bro de 1941, m ajorados d o abono con cedido aos
diciária. P or conseguinte, a sua dem issão sumária im porta funcionários m unicipais em virtude do D ecreto n.° 217, de
em franco desrespeito à Carta Constitucional vigente, que setem bro últim o, b em com o os vencim entos que se forem
no seu art. 15õ, letra c, garante a estabilidade do cargo aos ven cendo até final liquidação, juros da mora e custas, tudo
funcionários pú blicos que contem mais de dez anos de ser­ acrescido da percentagem de vinte p or cento para honorá­
v iço , os quais “ só pod erã o ser exonerados em virtude de rios de advogado, visto constituir o ato exoneratório eviden­
sentença judiciária ou mediante processo adm inistrativo, em te procedim ento inconstitucional, ilícito e abusivo de d i­
que sejam ouvidos e possam defender-se” . reito .
A o tem po da sua dem issão, estava tam bém em vigor Para ser publicada na audiência designada.
o Estatuto dos Funcionários P ú blicos C ivis da União, subsi- São Paulo, 14 de março de 1944. — A . C . Pereira da
diàriam ente aplicável aos M unicípios, “ ex v i” do seu art. 1.° Costa.
O RG AN IZAÇÃO E COORDENAÇÃO

Taylorismo e Administração Pública

A 25 de abril próximo passado comemorou-se Na doutrina de Taylor, podemos identificar


o centenário do nascimento de F r e d e r i c k W i n s - dois aspectos principais, considerado o problema
lo w T a y lo r , “Pai da Organização Científica” . no que se refere à sua contribuição para os estu­
dos de administração pública.
Entre os aspectos mais notáveis da obra do
grande engenheiro americano destaca-se a grande D e um lado, agruparemos os princípios funda­
contribuição que representa a sua doutrina para mentais da doutrina: pesquisa, estandardização,
o movimento moderno de racionalização da admi­ controle, cooperação, etc., tais com o são formula­
nistração pública. dos nos “Principies of Scientific Management” .
De outro lado, encontramos o esquema que propõe
Tentaremos esboçar as linhas gerais dessa con­
para a organização das emprêsas industriais, com
tribuição .
a separação das tarefas de direção e planejamento
Deve-se , assinalar, antes de tudo, o momento das de pura execução ( planning “versus” períor-
em que apareceu a doutrina de Taylor : no auge ming), a pluralidade da orientação da orientação
do período de prosperidade que se seguiu à revo­ técnica, cronometragem dos movimentos dos ope­
lução industrial do século X IX , isfco é, quando co­ rários, etc.
meçavam a se expandir as atividades administra­
Os princípios gerais que orientam tôda a dou­
tivas do Estado.
trina de Taylor caracterizam-se pela sua univer­
Numa sociedade capitalista em pleno desenvol­ salidade. Podem ser aplicados na indústria como
vimento, é claro que a preocupação do rendimento na administração pública, nas atividades coletivas
haveria de dominar os espíritos. A luta pela obten­ como nas individuais, nas emprêsas que visam
ção da riqueza, estimulada nos Estados Unidos objetivos econômicos como nas iniciativas de fins
pelo sucesso da conquista do Oeste, encontrava beneficentes ou de ordem espiritual.
nos empreendimentos industriais e na fabricação
A aplicação, pois, dêsses princípios, na organiza­
em grande escala a sua maior oportunidade de
ção e funcionamento dos serviços públicos, não
triunfo.
significa uma “taylorização” propriamente dita.
As conquistas da ciência aplicada abriram ao Mas representa, sem dúvida, um resultado indi­
homem novas e largas perspectivas de domínio da reto da doutrina de Taylor porque a êle se devem
natureza e trouxeram consigo o desejo de reduzir a divulgação e a propaganda insistente e persua-
o esforço empregado na produção das mercado­ siva do valor prático dêsses princípios gerais na
rias, e, conseqüentemente, a procura de métodos organização do trabalho das emprêsas privadas e
que permitissem melhor utilização do material e públicas.
da mão de obra.' O ideal da eficiência, por exemplo, é o grande
Assim, a preocupação do rendimento já existia inspirador dos numerosos e sucessivos movimen­
entre os industriais da época de Taylor. Foi êle, tos de reforma administrativa que têm surgido
todavia, quem deu forma concreta a essa busca nos países ocidentais. M uito embora não seja
das condições ideais em que se deveria desenvol­ Taylor o seu autor, para êle sempre nos volta­
ver o esforço do homem. mos tôda vez que nos inspiram desejos de aperfei­
çoamento e de racionalização dos serviços públi­
Na verdade, como já se tem dito e repetido tan­
cos.
tas vêzes, o sistema chamado “da organização cien­
tífica” baseia-se na luta contra o desperdício, ma­ A própria palavra “racionalização” passou do
terial e humano; na eliminação de movimentos vocabulario industrial ou técnico para o vocabu­
inúteis; na redução dos tempos gastos na execução lário político e até mesmo do direito público.
das tarefas individuais; na diminuição enfim do D u b o is -R ic h a r d afirma que “o estudo preciso da
preço de custo das utilidades. racionalização industrial parece haver-se tornado
106 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
um elemento importante da própria experimenta­ nomia moderna, pela prestação daqueles serviços
ção política” „ E acrescenta : “ela não somente é públicos antes considerados privativos da iniciati­
susceptível de enriquecer a observação de um nú­ va privada : energia elétrica, telefones, saneamen­
mero considerável de fatos observáveis, mas tem to, abastecimento dágua, etc.
também a vantagem de aperfeiçoar, tornando mais
Aliás, é necessário acrescentar que a adminis­
precisa, a metodologia política” (1 ).
tração pública, por sua vez, emprestou alguns de
Ao mesmo tempo que se transformavam as con­ seus métodos ou técnicas às emprêsas privadas.
dições de trabalho nas indústrias privadas, uma No volume da “Encyclopédie Française” dedicado
radical modificação ocorria paralelamente no exer­
ao Estado Moderno, declara J e a n M i l l h a u d ao
cício das funções governamentais. A administra­
estudar a “organização do trabalho nas adminis­
ção pública deixava de ser apenas o resultado da
trações públicas” : “A exemplo de todos os servi­
ação singela de homens que usavam tinta e papel,
ços públicos, as indústrias desejosas de obter um
para se tornar um vasto e complexo mecanismo
bom rendimento do seu pessoal, se preocupam
onde se empregavam todos os recursos da técnica
moderna. hoje em codificar de maneira a mais precisa as
tarefas de cada um de seus serviços e de seus em­
Um grande número de serviços — construção
pregados, e de preparar para cada uma de suas
de estradas, fornecimento de energia elétrica, abas­
atividades previsões financeiras que lembram em
tecimento dágua, saneamento, correios, telégrafos,
todos os pontos a prática do orçamen,to das admi­
telefones — deixaram de ser privilégios de enti­
nistrações públicas” .
dades privadas e passaram à categoria de ativida­
des normais do Estado. A estandardização, a cronometragem, a funciona-
lização da direção, os órgãos de planejamento se­
Nessas circunstâncias, o serviço público adqui­
parados dos de execução, a estruturação dos con­
riu em muitos e importantes setores a fisionomia
troles e tantas outras idéias taylorianas ou devi­
das organizações particulares, incorporando neces­
das ao movimento originado pela obra de Taylor,
sariamente vários de seus métodos de ação e ins­
trumentos de trabalho. constituem, hoje em dia, um lugar comum na
administração pública de muitos países.
O resultado final da expansão e mecanização
dos serviços públicos foi a inclusão dêsses servi­ E o volume e a qualidade dessa contribuição
ços entre os que são susceptíveis da aplicação de aos serviços públicos são sem dúvida mais impor­
normas e experiências até 'então reservadas às tantes e mais profundos do que os ensinamentos
empresas particulares. A técnica divulgada sob o que as entidades privadas aprenderam dos órgãos
nome de “organização científica do trabalho” , ou governamentais.
seja, o taylorismo, acha-se entre as aquisições vin­ À autoridade de P f if f n e r se deve um reconhe­
das da indústria privada que mais revoluciona­ cim ento formal da contribuição da doutrina do
ram o aspecto da administração pública tradicio­ grande engenheiro americano, expresso nestas p a ­
nal. lavras : “O taylorism o pode m uito bem ser intro­
A êsse respeito, é curioso assinalar que os go­ duzido na administração pública com uma consi­
vernos locais dos Estados Unidos, onde primeiro derável redução do pessoal, m as isso exigiria uma
se manifestaram as tendências racionalizadoras, sociedade na qual os hom ens lutassem pelo direito
são os que em mais alto grau adquiriram a fisio­ de descansar e não pelo direito ao trabalho” ( 2 ) .

(1 ) D u b o i s - R i c h a r d — ■ U organisation techn iqu e de (2 ) P f if f n e r — Public Adm inistration — R . P ress


VEtat — L i b r a ir ie d u R e c u e i l S ir e y , 1 9 3 0 , p á g . 3 3 . C o ., 1938, p á g . 4 9 7 .
AD M IN ISTR AÇÃO DE PESSO AL

Importantes modificações na concessão de diárias


aos servidores públicos
Fiscalizando a execução do regime estabelecido correspondiam aos atuais níveis de vencimento,
pelo Decreto n.° 4.993, de 9-12-939, para efeito elaborando, outrossim, com êsse objetivo, outro
de concessão de diárias aos funcionários civis da projeto de lei.
União, na forma do seu Estatuto, o D . A . S . P . ve­ Os limites anteriormente vigentes, de Cr$ 8,00 e
rificou a ocorrência de alguns inconvenientes, que Cr$ 50,00, para as diárias mínima e máxima, fo­
somente a prática poderia, de fato, revelar. ram elevados, respectivamente, para CrS 10,00 e
Era o caso, por exemplo, da forma de paga­ Cr$ 80,00.
mento : naquele regime, as diárias só eram pagas Dentro dêsses limites, fixou-se a diária mínima
depois que o servidor fazia jus à percepção, pelo em metade do vencimento diário do funcionário.
efetivo afastamento da sede. Quanto à diária máxima, que correspondia apenas
Tal critério, adotado de acôrdo com a disposição a 50 % do vencimento diário, passou a ser fi­
expressa do art. 134 do Estatuto dos Funcionários, xada na base de 75 % , de vez que o acréscimo do
não apresentava, todavia, resultados vantajosos, e custo de vida se refletiu, especialmente, no preço
os inconvenientes notados poderiam ser removidos da alimentação.
mediante o pagamento antecipado de certo número Em virtude dêsses elementos, entendeu o D .A .
de diárias, de que o servidor prestará contas em S .P . ser desnecessário elaborar uma tabela, já que
seu regresso à sede. a diária passou a ser calculada diretamente sôbre
Para que fôsse possível essa antecipação, entre­ o vencimento ou salário dos servidores.
tanto, seria mister, além de estabelecer novo siste­ Em relação, porém, aos funcionários do Quadro
ma de registro dessa despesa, então feita a priori, Suplementar do Ministério da Fazenda, cujos ven­
na conformidade do Decreto-lei n.° 5.128, de cimentos se enquadram nos padrões estabelecidos
23-12-42, alterar o art. 134 do mencionado Esta­ pelo art. 16 do Decreto-lei n.° 1.847, de 1939, o
tuto, que expressamente regula a matéria. D .A .S .P . organizou uma tabela própria, cujos
Acontece, porém, que, passando o registro e con­ valores deverão ser aplicados na concessão de
trole da despesa a ser feito a posteriori, indis­ diárias aos referidos funcionários.
pensável se tornava cercar de maiores cautelas Finalmente, considerando o entendimento fir­
a concessão de diárias, para o que pareceu ao mado pelo Senhor Presidente da República, ao
D . A . S . P . mais conveniente outorgar essa atri­ aprovar a exposição de motivos n.° 2 .038, ds
buição aos órgãos de pessoal, modificando-se, nes­ 4-11-40, foram estendidas aos extranumerários
se sentido, o disposto no art. 132 do mesmo Esta­ tôdas as providências sôbre concessão de diárias.
tuto, pelo qual competia ao chefe da repartição Através da exposição de motivos n.° 89, de
ou serviço conceder aquela indenização. 11-1-45, o D . A . S . P . submeteu o assunto à ele­
Assim sendo, o D . A . S . P . elaborou os neces­ vada apreciação do Senhor Presidente da Repú­
sários projetos de decretos-leis, alterando os dis­ blica, que, manifestando-se de acôrdo com as me­
positivos vigentes, de modo a permitir o citado didas propostas, expediu, em 30-4-45, os Decretos-
adiantamento, em regime de registro a posteriori, leis n.°s 7.501 a 7.503 e Decreto n.° 18-517
que, aliás, já é adotado para outras despesas de (publicação constante do Diário Oficial de 3-5-45,
pessoal (Decreto-lei n.° 5.437, de 30-4-43). págs. 7 .9 4 5 /7 .9 4 8 ).
Por outro lado, e tendo em vista o acréscimo Vemos, desta maneira, que os principais pontos
de vencimentos concedido aos servidores públicos das modificações introduzidas na matéria, visando
em novembro de 1943, o D . A . S . P . procedeu, tôdas acautelar os interêsses da Administração,
também, à revisão das tabelas de diárias, fixadas e, ao mesmo tempo, garantir maiores vantagens
no Decreto n.° 4.993, de 9-12-39, as quais já não aos servidores públicos, foram os seguintes :
108 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
a) pagamento antecipado, até o máximo de O órgão de pessoal, depois de examinar a le­
30 diárias; galidade e a conveniência da despesa, arbitrará e
concederá as diárias, tendo em vista as indicações
h) registro e controle da despesa a posteriori,
fornecidas pela repartição ou serviço, e a natureza
pelo Tribunal de Contas, ou suas Dele­
da indenização, se de alimentação ou pousada,
gações ;
ou uma e outra.
c) ajustamento das diárias, em face dos no­
Nas localidades em que não houver órgão de pes­
vos padrões de vencimento e escalas de
soal, a fôlha de diárias será organizada pela própria
salário;
repartição ou serviço, cabendo ao respectivo chefe
d') concessão expressa de diárias ao pessoal arbitrar e autorizar o pagamento, remetendo ao
extranumerário; órgão de pessoal correspondente a segunda via
e) supressão da tabela respectiva, exceção fei­ da referida fôlha, para efeito de publicação e con­
ta para os funcionários do Quadro Suple­ trole .
mentar do Ministério da Fazenda; Nesse caso, o órgão de pessoal poderá promover,
í) aumento dos limites, máximo e mínimo, quando se fizer mister, a retificação da fôlha ou
das diárias; e a reposição de importâncias indevidamente pagas,
e, ainda, as medidas disciplinares que couberem .
g) transferiu dos chefes de repartição ou ser­
viço para os órgãos de pessoal a compe­ Regressando à sede, o servidor devolverá, den­
tência para a concessão de diárias. tro de 15 dias, as diárias recebidas em excesso, que,
em caso contrário, serão descontadas de uma só
Referência especial merece o Decreto número vez em seu vencimento, remuneração ou salário.
18.517, citado, que, regulamentando a concessão Para o cálculo da diária, a importância da gra­
de diárias aos servidores civis da União, estabeleceu tificação de função será acrescida ao vencimento.
as normas a serem seguidas, a respeito. Assim é
Outrossim, para os efeitos da concessão de diá­
que o funcionário ou extranumerário terá direito
rias, considera-se salário diário do tarefeiro a
à diária desde o dia em que se afastar da sede da
média aritmética dos salários percebidos em cada
repartição ou serviço, até a data de seu regresso.
dia de exercício, nos últimos três meses.
A concessão da diária será proposta, ao órgão
Vale acentuar, finalmente, que o Decreto-lei
de pessoal, pelo chefe da repartição ou serviço,
que indicará o nome do servidor, cargo ou função, n.° 7.501, que alterou a redação dos arts. 132 e
local para onde ss afasta, natureza do serviço, 134 do Estatuto dos Funcionários, e o Decreto
tempo provável de afastamento e número de diá­ número 18.517, somente entrarão em vigor 60
rias a serem adiantadas, que não poderá ser supe­ dias após a sua publicação, que foi feita, como
rior a 30 de cada vez. ficou visto, no Diário Oficial de 3-5-45.

NOTAS PARA 0 FUNCIONÁRIO

PROCESSO ADMINISTRATIVO E ARQUI­ Realm ente, não pode ser acolhida, em face do princípio

VAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL pacífico, m encionado por aquêle M inistério, quanto à inter-
independência das instâncias crim inal e administrativa,
DCLIX a argum entação expedida, contrariam ente a êsse sentido,
p elo interessado.
L. G. solicitou reconsideração do ato pelo qual foi
Já por diversas vêzes tem entendido o D . A . S . P . , com
dem itido, a bem d o serviço público, de acôrdo com o item
sólidos fundam entos doutrinários e integral aprovação do
V I d o art. 239 do E . F . , do cargo da classe F da car­
Senhor Presidente da R epú blica, que a Adm inistração e a
reira de D ete tiv e do Q . P. do M . J.
Justiça p od em chegar a conclusões diversas sôbre os m es­
Exam inando 0 assunto, verificou o D . A . S . P . que pro­ m os fatos, dentro dos lim ites da respectiva com petência,
ced em inteiram ente as razões aduzidas p elo M . J . , para sem que a decisão de uma esfera invalide, ou m esm o in­
opinar p e lo indeferim ento do pedido em a preço. fluencie, a sentença da outra.
ADMINISTRAÇÃO DE PESSOAL 109
É ób v io que o p od er disciplinar do E stado se diferencia, ENTENDIMENTO SÔBRE ESTÁGIO
quer pelos ob jetivos da repressão, quer pela natureza das PROBATÓRIO
penas, e, ainda, p e lo âm bito de aplicação, do jus puniendi
DCLX
que êssie p róprio E stado e x e r c e . em b en efício da ordem
e da paz social, sôbre a com unidade dos cidadãos, através
Consultou o S . P . F . , se deverá ser com pu tado na con ­
de outros instrumentos, adequados aos fins perseguidos.
tagem do período de 730 dias de exercício, de que trata
Idên tico raciocín io deve prevalecer, em se tratando de o art. 16 do E . F . , o tem po de afastam ento do funcionário,
sentença proferida pela Justiça E special, cu jo caráter es­ decorrente de licenciam ento para tratam ento de saúde.
p e cífico mais acentua a órbita restrita de sua ju risdição.
E xam inando o assunto, a D . F . verificou e fo i de parecer :
O fato de ter sido arquivado, por solicitação do M in is­
tério P ú blico, o inquérito policial instaurado contra o a) que o E. F. em seu art. 160 dispõe :
requerente e outros, não acarreta qualquer efeito sôbre
a decisão administrativa, que o considerou passível de uma
“ E m gôzo de licença, o funcionário não contará
penalidade, expressam ente estabelecida pelo E . F . , para
tem po para nenhum efeito, exceto quando se tra­
tod o o servidor que transgredir determinadas normas fun­
tar de licença concedida a gestante, a funcionário
cionais, configuradoras d e infração disciplinar.
acidentado em serviço ou atacado de doen ça pro­
Ordenando o arquivam ento daquele inquérito o que o fissional” .
Tribunal de Segurança N acional decidiu foi que não
havia, no m esm o, in dício de culpabilidade do requerente b) que, nestas condições e ressalvadas as exceções ali
quanto ao delito de natureza especial, previsto no D . L . contidas, não deverão ser com putados, na contagem do
n.° 4 .7 8 6 -4 2 , e que lhe fôra im pu tado. pèríodo de estágio probatório, os dias de licenciam ento
para tratamento de saúde.
N ada deliberou aquêle E grégio Tribunal, e nem poderia
E , com êsse parecer, a D . F . restituiu o processo ao
fazê-lo no tocante à pena adm inistrativa, a qual foi aplicada
S .P .F .
através d o m eio legal apropriado, p or autoridade com p e­
tente, no plen o exercício de suas atribuições. (P a recer — p r o c . n.° 5 .9 8 2 -4 5 , pu blicado no D . O . de
30-4-45, pág. 7 . 8 1 3 ) .
Aliás tam bém o P od er Judiciário já reconheceu, cabal­
mente, “ o princípio da autonom ia das jurisdições penal e
adm inistrativa” , de acôrdo com o qual “ desde que houve
processo adm inistrativo, em que apurou falta causadora TRANSFERÊNCIA POR PERMUTA
de demissão, ato do G ovêrn o não pode ser anulado pelo
DCLXI
P oder Judiciário, p o u co im portando que o funcionário
fôsse im pronunciado ou absolvido em processo crim inal” A . P . A . , advogado de ofício, padrão L, do Q . J . — P . S .
(acórd ã o do Suprem o Tribunal Federal, de 15-6-29, in — do M . J . , solicitou transferência, p or permuta, para
“ A rqu ivo Judiciário” , vol. 15 p á g . 271) . cargo de Juiz de R egistro C ivil, padrão L .

Ora, constituindo o arquivam ento d o inquérito policial


Exam inando o assunto verificou o D . A . S . P . :
aludido o ú nico argum ento novo, apresentado p elo reque­
a) que a inclusão dos cargos de Juiz de R egistro
rente, para justificar seu ped ido de reconsideração não
Civil e A dvogado de O fício na P . S . do Q . J . , te v e por
cabe deferir-se êste, dada a m anifesta inconsistência da
fim aproveitar os antigos Juizes de Casam ento e assegurar-
alegação em que se baseou.
lhes os direitos e vantagens que lhes eram a trib u íd o s ;
Cum pre acentuar, finalm ente, que, não ten do o supli­ b) que, paralelam ente, foram criados na P . P. do
cante oferecido outros argumentos, de contestação às pro­ mesm o Quadro cargos que serão providos à m edida que
vas colhidas no inquérito adm inistrativo a que respondeu, vagarem os citados na alínea anterior, na razão de um por
persiste o m érito das mesmas com o justo fundam ento para um (arts. 16 e 17 d o D ecreto-lei n.° 5 .6 0 6 -4 3 ) ;
para a penalidade im p osta .
c) que, assim, não é possível cogitar-se do atendi­
E m virtud e dessa circunstância, desnecessário se torna m ento d o pedido, pois que a vacância de um dos cargos
o reexam e da situação do postulante, frente aos elem entos extintos acarretaria a sua im ediata su p ressã o;
probatórios constantes d o referido inquérito adm inistrativo, d) que, além disso, determ ina o item I d o art. 64 do
subsistindo a sua responsabilidade, já afirm ada p elo Senhor E .F ., v e r b is : “ Art. 64 — As transferências far-se-ão :
P residente da R epú b lica , ao assinar o decreto de demissão, I. A pedido d o funcionário atendida a con ven iência do
a bem d o serviço p ú b lico. serviço, (g r ife i), havendo o T ribu n al de A pelação, n e s s e
O D .A .S .P . opinou com o tam bém o fêz o M . J •, sentido, declarado expressam ente que a perm uta em causa
pelo indeferim ento do ped ido de reconsideração, form u ­ não atende aos interesses da J u s tiça ; e
lado por L . G. encam inhando-se o processo àquele M i­ e) que, assim, é forçoso concluir que o p ed id o carece
nistério para ser a rq u iv a do. de am paro legal.

(E x p osiçã o de m otivos n.° 661, de 26-3-45, publicada O D . A . S . P . opinou pelo indeferim ento do pedido por
no P , O . de 13-4-45, p á g. 6 . 6 1 5 ) . falta de am paro legal, com o o fêz o M . J ., e pelo enca­
110 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — • JU N . 1945
minham ento do processo àquele M inistério, para arqui­ T E M P O D E S E R V IÇ O E D E S E M P A T E
vam ento .
NA PROM OÇÃO
(P arecer n.° 1 .2 3 6 , de 26-3-45, publicado no D . O . de
DCCXIII
11-4-45, pá g. 6 .4 5 8 ). -

— Consultou a S . G . M . G . se deverá ser com putado


com o tem po de serviço no m inistério para desem pate na
D Ó E X E R C ÍC IO D O D I R E I T O D E P E T I Ç Ã O classificação p o r m erecim ento, aquêle q u e fôr prestado,
com o voluntário, conscrito ou convocado, ao E xército N a­
DCLXII
cional, ainda que haja sido prestado por funcionários de

R . G . F . , ex-com issário de polícia, H, do Q .P . do M . J . outros ministérios e que, posteriorm ente, hajam ingressado

solicitou reconsideração do despacho proferido na E . M . no M inistério da G u erra .

1 .0 11 -4 4 , que indeferiu anterior ped ido de reconsideração, Exam inando o assunto, a D . F. verificou e foi de
feito p e lo suplicante, do ato que o dem itiu, por procedim en ­ p a re c e r:
to irregular, devidam ente com provado, nos têrm os do item
a) que, de conform idade com o parecer da D . F . , de
III, do art. 238, do E . F . , em virtude de inquérito adm inis­
9-11-41, no Processo n.° 25-41, pu blicado no D iário O ficial,
trativo .
de 13-11-41, “o tem po de serviço no M inistério (da
Exam inando o assunto, verificou o D . A . S . P . que se
Guerra) deve eqüivaler ao de exercício em cargo ou
trata de nítida renovação de pedido de reconsideração,
função, civil ou militar, no M inistério da G uerra” ;
expressam ente proibida pelo E . F ., ao dispor que “ ne­
nhum p ed ido de reconsideração poderá ser renovado” (re ­ b) que, assim, não im porta haja sido êsse tem p o pres­

gra n .° I II do art. 2 2 1 ) . tado antes d e haver o funcionário ingressado no m esm o


m in istério; e
C om efeito, h a v e n d o ' emanado do Senhor Presidente
da R epú blica, a última e suprema instância administra­ c) que, nessas condições, deverá ser considerado com o
tiva, o decreto de demissão, som ente dispunha o interessado tem po da ministério, tod o aquêle prestado ao m esm o m i­
de um recurso contra o mesm o, e dêle já se utilizou, ante­ nistério, a qualquer tem po e em qualquer cargo ou fun­
riorm ente. ção, civil ou m ilitar.

T a n to é assim que o m encionado diplom a legal esta­ E, com êsse parecer, a D . F. restituiu o processo à
beleceu, outrossim, que “ nenhum recurso poderá ser enca­ S .G .M .G .
m inhado mais de uma vez à mesma autoridade” (regra (P a recer — p ro c. n.° 6 .0 0 0 -4 5 , pu blicado n o D . O . de
n.° V II, do art. 2 2 1 ). 30-4-45, p á g . 7 .8 1 3 ).
Apreciar, nesta oportunidade, o requerim ento do supli­
cante eqüivaleria à transgressão dêsse salutar preceito,
im peditivo do “ recurso de recurso” .
E X E R C ÍC IO DE FUNÇÃO G R A T IF IC A D A
Interpretar-se a lei, de m od o diverso, seria criar des­
necessário e prejudicial desdobram ento de instâncias, para DCLXIV

reexam e de matéria já discutida e solucionada.


O art. 35 do Estatuto dos Funcionários dispõe :
D em ais, vale salientar, com o o fêz o M . J. que “ o
suplicante” , em rigor, nenhum novo, argumento aduz em “ N enhum funcionário poderá ter exercício em
abono de sua pretensão. Os atestados que junta, apesar serviço ou repartição diferente daquela em que
do valiosos, não destroem os elem entos de con vicção c o ­ estiver lotado, salvo os casos previstos neste E sta­
lhidos no inquérito adm inistrativo de que resultou a de­ tuto ou autorização do Presidente da R ep ú b lica ” .
missão. E a alegação de que, nesse inquérito, não ficaram
Dessa form a, a designação de funcionário para o exer­
provadas as faltas im putadas ao suplicante, não é senão
cício de função gratificada, sem pre que o m esm o não está
repetição de argumento já apreciado pelo S r. Presidente ,
lotado na repartição a que pertence a função e a legislação
da R e p ú b lica .
específica não dispõe em contrário, só p od e ser feita com
Desta maneira, m esm o que se admitisse, com o ped ido de
autorização prévia do Presidente da R e p ú b lica .
reconsideração, o atual requerim ento do interessado, esta­
A freqüência d e casos dessa natureza, dado o critério
ria êle por essa circunstância prejudicado, ainda uma vez.
que preside à escolha de funcionários para o exercício de
Finalmente, o próprio parecer do D . A . S . P . , contrário
função gratificada, aconselha um exam e especial do assunto,
ao atendim ento d o pedido, afasta a possibilidade de ser
com o sugeriu o M inistério da Fazenda em processo subm e­
estudada a conveniência da readmissão do pleiteante,
tido ao D . A . S . P .
pois esta medida, constituindo em bora um favor d o G o-
vêrno, só poderá ser concedida quando não mais subsis­ Assim, e considerando, ainda, a conveniência de sim pli­

tirem os m otivos determinantes da dem issão. ficar o processam ento dessas designações, julgou o D . A .
S .P . que a autorização prévia d o Presidente da R e p ú ­
O D .A .S .P . opinou pelo arquivam ento do processo
blica, em cada caso concreto, deveria ser exigida, apenas,
no M . J .
quando a investidura na função gratificada im portasse
(E x p o siçã o de m otivos n.° 654, de 26-3-35, publicada afastam ento do funcionário para M inistério diferente, ou
no D . O . de 13-4-45, pág. 6 .6 1 5 ) . órgão situado no m esm o plano de hierarquia.
SELEÇÃO 111
Nos dem ais casos, a designação seria precedida : sição, por tem po indeterm inado, V . Z. mestre categoria
M . R . L .-2 , e A . M . C ., caldeireiro, categoria R . L.-2
a) de autorização do ch efe da repartição, se o fun­
— am bos da E . F . C . B . Exam inando o assunto, veri­
cionário estivesse lotado em outro órgão da mesma re­
ficou o D . A . S . P . : a ) que, con form e prevê o D . L .
partição ;
515-38, é possível que funcionários federais e em pregados
b) de autorização do M inistro de Estado, se o fun ­ estaduais ou m unicipais prestem serviços à Com issão M ista
cionário estivesse lotado em outra repartição d o mesmo Ferroviária B rasileiro-Boliviana, m ediante prévia autori­
M in isté rio .
zação do S r. P residente da R e p ú b lic a ; b ) que, nessa si­
Nesse sentido, porém , deverá dispor expressamente a tuação, de acórdo com o art. 7.° d o m encionado diplom a
lei, em face d o estatuído no art. 35, cita do. legal, perderão os funcionários os vencim entos de seus
Nessas condições, o D . A . S . P . elaborou p ro je to de d e­ cargos, contado, porém , para todos os efeitos, o tem po de
creto-lei, consubstanciando aquelas medidas, o qual, uma serviço e ten do resguardada a situação em que se en con ­
vez aprovado, se .transform ou no D ecreto-lei n.° 7 .4 4 0 , trava por ocasião das respectivas re q u isições; c) que,
de 5-4-45, pu blicado no D . O . de 7-4-45. ■ em bora os lequisitados sejam servidores d e entidade de
(V e r exposição de m otivos n.° 645, de 26-3-45, p u b li­ natureza autárquica, poderão os m esm os servir naquela
cada no D . O . d e 7-4-45, pag. 6 . 2 0 6 ) . Com issão, na form a do D . L. 515 em face do entendi­
m ento firm ado pela E . M. 3 .1 4 3 -4 3 do D . A. S. P. ;
e d ) que, à vista do exposto, nada tem que opor à soli­
citação d e que se trata. O D .A .S .P . opinou por que
A F A S T A M E N T O D E F U N C IO N Á R IO
fôsse concedida a autorizaçao ■pedida e por que o p ro ­
DCLXV cesso fôsse restituído ao M . V . , para os devidos fin s.

— A Com issão M ista Ferroviária B rasileiro-Boliviana, (P a recer n.° 1 .5 2 5 , de 4-4-45, pu blicado no D . O . de


solicitou autorização para que fôssem postos à sua dispo­ 17-4-45, p á g. 6 .8 7 0 ).

SELEÇÃO

Questões apresentadas no último concurso para a


carreira de Arquivista
PORTUGUÊS 7. Os signatários dêste requerim ento pleitêem con ceção
de verba.
1.° — T ex to s
8. V ou à Campinas e depois voltarei à V itória para as­
Os textos q u e se seguem estão errad os. O s erros que sistir a inauguração d o parqu e.
apresentam são de vários tip os. P ois b em : faça a co r ­
9. Se prevíssem os as conseqüências e nos províssem os do
reção, cop ian do cada texto, n o lugar indicado, com a eli­
necessário, não passaría-mos dificu ldad es.
m inação dos erros.
10. Fazem dois anos que êles dem itiram -se.
N ão altere o qu e estiver c e r t o !
2 ° — Q u estões ob jetivas
N ão em ende nem raspe !
1. N unca d ev era » haver nos arquivos ofícios iq u e não se 1. Na prim eira coluna tem os p refixos latinos e na se-
respon deram . ganda coluna, p refixos g reg os. Preencha cada u m dos
parênteses que precedem os p refixos gregos co m o
2. N ota-se que os arquivistas tornaram-se mais eficientes,
m esm o núm ero do p refixo latino a êle equivalente
desde que se lhes aumentara os salários.
quanto ao sen tid o.
3. O processo indeferido, cumpre se o arquive' imediata­
mente . LATINOS GREGOS

4. As fichas que v o cê se refere são iguais as que trago ( 1 ) circum — ( ) a —


c o m ig o . ( 2 ) in — ( ) h ipo —■
( 3 ) super — ( ) peri —
5. O infra-assinado requer à V . S. que vos digneis
( 4 ) sub — ( ) di —
subm eter o assunto a apreciação da autoridade com ­
(5 ) bi — ( ) hem i —
petente .
(6 ) sem i — ( ) hiper —
6. Respondendo o vosso ofício, informo-vos que a pouco ( 7 ) ab —
expediu-se as instruções sôbre o concurso. (8 ) cis —
1 12 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
2. Preencha os parênteses com s ou z .• do D ecreto-lei n .° 4 .6 4 4 , de 2-9-42, que alterou o igual
diplom a legal n.° 4 .5 4 8 , de 4 -8 -4 2 .
flu id e ( ) gen tile( )a
despe ( ) a desp re( )a d o Estabelece o mesm o, n o respectivo artigo único, em .
u tili( )a r fis ca li( )a çã o nova redação d o art. 1.° do aludido D ecreto-lei n°. 4. 548,
a tra( )a d o anali( )a d o que tanto os funcionários, quanto os extranumerários, quando
convocados para o serviço ativo m ilitar ou quaisquer outros
3. D ê o significado preciso dos p refixos e sufixos assina­ obrigatórios por lei ou, no caso de aspirantes a oficial ou
lados nas seguintes palavras : oficiais da Reserva, quando convocados tam bém para está­
gios, serão considerados licenciados, sem prejuízo de quais­
paraestatal (p a ra )
quer direitos ou vantagens. D everão, porém , optar pelo
diálogo (d ia )
ven cim en to d o pôsto ou p elo vencim ento, rem uneração ou
arquivista ( is ía )
salário a que tiverem direito com o funcionários ou extranu­
interposição (in te r )
merários.
translúcido ( trans)
A m edida, na espécie, é de am plo alcance, quanto aos
4. Substitua as palavras sublinhadas p elo pronom e oblíquo
benefícios e beneficiados, com preendendo todos os funcioná­
o, a, os, as; lo, la, los, las; no, na, nos, nas, na foi ma
rios públicos, interinos, em estágio probatório, eletivos ou
devida, colocan do sem pre o pronom e após o verbo.
em com issão e os extranumerários d e qualquer m odalidade,

L ou vo os esforçados. da União, dos Estados, dos Territórios, dos M u nicípios e


da Prefeitura d o D istrito F ed eral” .
S o lu çã o ; L ou vo-os. 2) “ Cabe ao D . A . S . P . propor a nom eação dos can­
didatos habilitados em concurso para o cargo da classe
a ) R evistam os os arquivos.
inicial da carreira com um a mais de um M in istério. Isso
b ) Fizestes o fichario.
se justifica prim acialm ente não só por sua função orienta­
c ) Requisitaram os funcionários
dora e fiscalizadora da adm inistração de pessoal, com o tam ­
d ) E is as fichas, aqui :
bém e essencialm ente pela centralização de m edidas ati-
e ) D esfez o contrato.
nentes a mais de um órgão, de vez que as nom eaçóes para
os cargos de carreiras privativas continuam a ser propostas
5. M arqu e com um C, nos parênteses, a concordância ou
pelos M inistérios interessados.
as concordâncias certas :
Assim, para dar cabal desem penho àquela sua incum ­
) N em um dos convidados com pareceram à festa.
bência, o D . A . S . P . expediu a Circular D F -54, de 19-8-42,
) Cada um dos visitantes trouxe um presente.
pela qual recom endou a todos os órgãos de pessoal dos
) A m aior parte dos hom ens m orrem ce d o .
diferentes M inistérios providência no sentido de que seja
) D em itiu -se o ch efe e os seus subordinados.
enviada à D .F . a relação das vagas existentes e dos
) D em itiram -se o ch efe e os seus subordinados.
cargos vagos que possam ser providos com o saldo existente
na respectiva conta-corrente, indicando-se o m otivo da va­
õ. E screva na linha em branco o relativo conveniente a
cância d o cargo ou o decreto-lei que criou o cargo e a
cada caso (q u e , quem , cu jo, onde, o q u a l), usando,
localidade da sede da repartição em que irá servir o can­
ou não, antes d o m esm o a preposição adequada.
didato nom eado, de acôrdo com os m odelos fixados.

Foram boas as p rov a s ...................................... se procedeu. R ecom endou, ainda, o D . A . S . P . que à mesma D . F .
seja a referida reiaçáo enviada tôda vez que haja vaga
S o lu ç ã o : Foram boas as provas a qu e se procedeu.
ou cargo vago a prover, a fim de que sejam nomeados,
a) H á ordens............................ obedecem os com prazer. com brevidade, os candidatos habilitados e, conseqüente­

b) T om a m -se nossas amigas as pessoas. U-. . . . faltas m ente, preenchidos os claros existentes e os que se abrirem

perdoam o». na lotação dos diversos órgãos do serviço p ú b lioo. Isso


ficará dependendo, portanto, da iniciativa dos órgãos de
c) N ão gostei dos film e s ............................ você assistiu. pessoal correspondentes e da remessa da relação respec­
d) H á pessoas.......................... nomes nunca nos esque­ tiva ” .
cem os .
3) “ Ressalvadas as con dições e exceções prefixadas
e) H á c a r t a s ...................... não gostam os d e responder. no Estatuto dos Funcionários, ao servidor é lícito o exer­
cício de profissão liberal para que se acha h a b ilita d o .
3 ° — R edação d e cin co resum os : Estão, neste caso, advogados, m édicos, engenheiros, den­
tistas, e tc. D e m odo igual, tem porária ou efetivam ente,
Resum a, em ementas de 3 a 6 linhas, cada um dos
m ilita na im prensa grande núm ero de funcionários e ex­
trechos abaixo transcritos :
tranumerários .
1) “ N o intuito d e beneficiar am plam ente os servido­
D iante da dúvida suscitada a êsse respeito, ouvido,
res d o E stado resguardando-lhes os direitos, acaba o G o ­ entendeu o D . A . S . P . que o servidor d o Estado pode
vern o d e adotar im portante providência com a expedição colaborar na imprensa, não havendo dispositivo legal que
SELEÇÃO 113
o im peça, observando-se, porém , a exigência regimental, 2 — N o Brasil, os docum entos oficiais, não mais neces­
no caso con creto que apreciou” . sários à vida adm inistrativa das repartições, devem
4) “ N o art. 242 do Estatuto dos Funcionários, são ser recolhidos a o . .......................... ............................................
indicadas, discrim inadam ente, as autoridades com petentes
para a aplicação das diversas penalidades previstas no res­
3 — Mapas, desenhos, gráficos e outros docum entos do
p ectivo art. 23 1 .
m esm o gênero devem ser guardados em arquivos. . .
D izem os itens III e IV d o referido art. 242 que
são com petentes, naquele sentido, os chefes de repartição,
Que m étodos adotaria se tivesse de organizar os ar­
nos casos de advertência, repreensão e suspensão até 30 dias,
quivos das seguintes organizações ? .
e os chefes de serviço quando subordinados aos chefes
(Indique, colocando dentro dos parêntesis o nú­
de repartição, nos casos de advertência, repreensão e sus­
m ero correspondente)
pensão até 15 dias.

R ecentem ente, exam inou o D . A . S . P . consulta atinente


A lfa b ético (1 ) Assunto (3 )
à com petência de autoridades d o D epartam ento dos Correios
e Telégrafos, quais sejam a d o diretor geral, a dos di­ G eográ fico (2 ) Cronológico ( 4 )
retores regionais e a dos chefes d e secção. D iante da
Comissão Central de R equisições (
term inologia “ repartição” e “ serviço” , aplicada ao caso
Instituto de Previdência e Assis­
concreto, e em face dos têrm os e d o espírito da lei, escla­
tência aos Servidores do E stado (
receu o D .A .S .P . que,
Com issão de Estudos dos N egócios
“ à vista da linha de subordinação interna d o D . C . T . , Estaduais (
cabe ao D . G . aplicar penas de advertência, repreensão e D epartam ento Adm inistrativo do
suspensão até 30 dias, ao D . R . com pete im por perias de Serviço P ú b lico (
advertência, repreensão e suspensão até 15 dias, e, ao Serviço de Saúde dos Portos (
C . S ., som ente as penas de advertência e repreensão, cu m ­
prindo-lhes representar ao respectivo ch efe im ediato, em — Indique, dentro de cada quadro, colocan do nos es­
caso de penalidade m aior” . paços correspondentes o núm ero de ordem , com o devem
5) “ D eterm inado funcionário solicitou a gratificação ser disposto alfabèticam ente os seguintes nom es :
a que alude o item IV d o art. 120 d o E statuto.

A preciado o pedido, frisou o D . A . S . P . qu e o dis­ Alencar F elício


posto naquele preceito estatutário som ente se aplica aos A lberto
Souza
trabalhos técnicos e cien tíficos executados e concluídos na
M oreira Jerônim o
vigência d o m esm o E statuto. Ainda qu e assim não fósse,
estaria prescrito, na form a da legislação vigente, o direito D el V ech io B on ifácio
que o interessado pudesse ter d e pleitear o abono da van­ D iniz Gertrudes
tagem ali prevista, com fundam ento, n o Estatuto ou na
legislação anterior.

Assim entendendo, esclareceu ainda o D . A . S . P . que Amaral Felisberto


o arbitram ento da gratificação pela elaboração d e trabalho Francisco
A zevedo
técn ico ou cie n tífico que não seja d e utilidade para o
A m oedo Frederico
Serviço P ú b lico, em geral, independe d e pronunciam ento
prévio d o D . A . S . P . (a r t. 123 d o Estatuto, com binado Alves F abrício
-----
com o disposto nas alíneas o e p d o D ecreto n.° 5 .0 6 2 . de A lvim Fred
2 7 -1 2 -3 9 ).

TÉCNICA DE ARQUIVO Santos

Silveira
R esposta às q u estões a b a ix o :
Solim ões
1 — Quais são as atribuições essenciais de um Serviço de
Com unicações ? Salazar

2 — Quando dev e ser feita a transferência para o A rquivo Sam uel


M o rto dos docum entos de um a repartição ?
3 — C om o proceder para transferir êsses docum entos ?
*— Indique a ordem alfabética em que deverão ser
4 — Q ue tip o d e fichário adotaria se lhe mandassem or­ dispostos os nomes e firm as abaixo :
ganizar urti, com residências e telefones para uma
S ecção d e Inform ações ?
1 — A zevedo Am aral & C ia . ( )
R am os & P in to ( )
C o m p lete os claros nas frases a b a ix o :
Alexandre A zev ed o ( )
1 — O criador da classificação decim al f o i ............................... M artinelli S . A . ( )
M anoel da Silva Júnior ( )
114 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
2 — M inistério da M arinha ( ) D E P A R T A M E N T O N A C IO N A L D E P R O D U Ç Ã O
B anco d o Brasil ( ) M IN E R A L
Com issão Central de R equisições ( )
D epartam ento Adm inistrativo do . E m 3 de setem bro de 1943
Serviço P ú b lico ( ) Senhor M inistro
Legião Brasileira de Assistência ( )
No processo anexo a Com panhia Energia E létrica
— N o alto de cada página há uma ficha. Preencha-a Itabirito S . A ., requer seja concedida prorrogação d o prazo
com os dados relativos a cada uma, da form a seguinte : para apresentar os estudos, projetos e orçam entos, com o
prescreve o item II d o art. 2 .° do D ecreto n.° 7 .1 6 2 , de
Quanto ao assunto : Faça um índice, tão sucinto quanto
9-5-1941, que a autorizou a construir um ramal de trans­
possível, sem prejudicar a clareza e a possibilidade de
missão para fornecim ento d e energia elétrica às indústrias
ser encontrado o docum ento, quando procurado;
de m árm ore e granitos da firm a E n rico Guarneri & Cia.,
Q<iar:to-à procedência : E specifiqu e não só a p r o ce ­ no distrito de Cachoeira, m unicípio de Ouro Preto, Estado
dência, propriam ente dita, com o, tam bém , a espécie, nú­ de M inas G erais.
m ero e data do docum ento; .
À vista dos m otivos alegados pela requerente, m otivos
Q uanto à referên cia alfabética : Faça a indicação da êsses provocados pelo estado de guerra que assola o nosso
form a mais conveniente; País, im possibilitando a im portação e a aquisição de m a­
terial elétrico, e tendo em vista a inform ação prestada pela
Q uanto à classificação : Procure enquadrar o assunto
D ivisão de Águas dêste D epartam ento, ju lgo que Vossa
dentro d o “ C ódigo de Classificação D ecim al” que encon­
E xcelência poderá determinar, atendendo ao que pede a
trará anexo, escrevendo na ficha, no lugar próprio, o nú­
suplicante, o prazo de seis meses que, cum pre notar, não
m ero correspondente.
foi, com o devia, previsto pelo m encionado item II do art. 2.°
do decreto cita d o. *•
Assunto :
A proveito a oportunidade para reiterar a Vossa E xce­
lência os protestos da minha alta consideração. — Luciano
Jaques de M orais, D iretor G eral.

A Sua E xcelência o Senhor D ou tor A polon io Sales,


M inistro da Agricultura.
Classificação

P rocedên cia : E M B A IX A D A D A E S P A N H A

R io de Janeiro, 22 de ju lh o de 1935
R eferência A lfabética :
N .° 111 — Senhor M inistro

T en h o a honra de remeter, em anexo, a Vossa E xce­


lência, o certificado da Ata de depósito nos Arquivos do
M inistério de Estado, de M adri, d o instrumento de ra tifi­
cação de Nicarágua, relativo à C onvenção Postal das A m é­
P. R. — DEPARTAM ENTO A D M IN IS T R A T IV O DO ricas e Espanha e do A côrd o sôbre encom endas postais,
rogando a Vossa E xcelência se sirva determinar que me
S E R V IÇ O P Ú B L IC O
seja acusado o recebim ento.

E m 28 de m aio de 1943 A proveito a oportunidade, Senhor M inistro, para re i­


terar a Vossa E xcelência os protestos da minha mais alta
1 .5 1 8 — E x m o . S r. Presidente da R epú blica consideração. — a) V icen te Sales.

N o processo anexo, o M in istério da Fazenda solicitou A Sua E xcelência o Senhor D ou tor José Carlos de

a criação da função gratificada de ch efe de portaria da M aced o Soares M in istro das R elações E xteriores.

Casa da M o e d a .

Essa função era desem penhada por ocupante de cargo


M IN IS T É R IO D A E D U C A Ç Ã O E S A Ú D E
extinto, que foi suprimido pelo D ecreto n.° 8 .4 1 5 de 18 de
dezem bro de 1941. R io de Janeiro, 16 de outubro de 1941.
D iante disso, êste Departam ento é de parecer que
E x m o . S r. Presidente da R epú blica
deve ser aceita a proposta e tem a honra de apresentar a
V. E x. o anexo projeto de decreto-lei. C om o parecer do D . A . S . P . e com os estudos feitos

A p ro v e ito a oportunidade para apresentar a V . E x. pela com petente repartição dêste M inistério, tenho a honra
Senhor Presidente, os protestos d o m eu profundo respeito. de subm eter à consideração de Vossa E xcelência a proposta,
— a ) Luiz S im ões Lopes. assinada pelo D iretor do D epartam ento de Adm inistração,
SELEÇÃO 115
da conclusão das obras do ed ifício d o M inistério da E du ­ consideração. — a) Luciano Jaques d e M orais, D iretor
cação . G e ra l.
As obras restantes a fazer e os acréscim os de preço
A Sua E xcelência o Senhor D ou tor A polon io Sales,
das obras anteriorm ente realizadas im portam em uma des­
M inistro da A gricu ltu ra.
pesa de 4 .7 6 5 :6 0 4 8 0 . Autorizada esta última parcela do
custo total das obras, estará o E d ifício com pletam ente *
concluído, segundo asseguram os arquitetos, no prazo de * *
seis m eses. E ’ propósito d o M inistério da E ducação inau­
gurar o seu ed ifício n o dia 19 de abril do próxim o ar.o, "C ód igo d e Classificação D e c it"a l’ ‘ a ser usado para
dia da juventude brasileira. classificar os docum entos apresentados, nesta prova :
D entro em pouco, uma vez feitos os necessários es­
RESUM O
tudos, será apresentado a Vossa E xcelência o plano, de
1 GOVÊRNO E ADMINISTRAÇÃO.
m obiliário n ovo a ser adquirido para o ed ifício .
2 DEFESA NACIONAL.
A proveito a oportunidade para reiterar a Vossa E x­
3 RELAÇÕES INTERNACIONAIS.
celência, Senhor Presidente, os protestos do m eu mais
4 EDUCAÇÃO E SAÚDE.
profundo respeito. — a ) G . Capanema. 5 OBRAS PÚBLICAS.
6 ECONOMIA E FINANÇAS.

P R E S ID Ê N C IA D A R E P Ú B L IC A

Circular 5 /4 3 D E S E N V O L V IM E N T O

E m 31 de m aio de 194.» 100 GOVÊRNO E ADMINISTRAÇÃO

Senhor M inistro : 110 E stado

111 Chefe de E stado


O Senhor Presidente da R epú blica, atendendo ao que
112 M inistério, G abinete
sugeriu o D epartam ento Adm inistrativo do Serviço Pú
113 Constituição
blico, na sua E xposição de M otivos 1 403, de 18-5-43, reco­
114 N acionalidade
m enda a Vossa E xcelência a expedição urgente das neces­
115 D ireitos políticos
sárias ordens, no sentido de que os chefes das repartições
116 T erritório
providen ciem sôbre a intensificação dos trabalhos do pre­
117 Sím bolos
paração das respectivas propostas orçamentárias e obser­
vem rigorosam ente os prazos para seu estudo e devolução, 117.1 Bandeira
fixados nas instruções da Com issão do Orçam ento, usando 11 7 .2 H in o
das com unicações aéreas e telegráficas, sob pena de serem 1 1 7 .3 E scu do
os mesmos chefes das repartições responsabilizados pelos
118 Parlam ento
atrasos a que derem causa. Justiça. P od er Judiciário
119
A proveito a oportunidade para renovar a Vossa E x ­
.1 M inistério P ú b lico
celência os protestos de minha alta estim a e mais distinta
.2 Tribunais
con sideração. — a ) Luiz Vergara, Secretário da Presi­
.3 Legislação
dência da R e p ú b lica . Segurança P ública
.4

130 Adm inistração

D E P A R T A M E N T O N A C IO N A L D E P R O D U Ç Ã O 131 D ivisão Adm inistrativa


M IN E R A L 132 O rganização e funções
133 Patrim ônio
R io de Janeiro, 4 de novem bro de 1941 134 O rçam ento
135 M aterial
Senhor M inistro, 136 Pessoal

A M ineração Boa Vista L td a ., apresentando prova de 200 DEFESA NACIONAL


nacionalidade brasileira de seus três com ponentes e certidão
210 E xército
de seu contrato social na Junta Com ercial de M inas Gerais,
220 M arinha
requer a V . E x . que lhe seja expedido decreto de autori­
230 Aeronáutica
zação para funcionar com o em prêsa de m ineraçao
Exam inados os docum entos verificou êste Departam ento 300 RELAÇÕES INTERNACIONAIS
acharem-se os mesm os em perfeita ordem , estando a p e ­ 310 D ireito Internacional
tição em con dições de ser deferida, p elo que subm eto o 320 R ela çõ es P olíticas e D iplom áticas
assunto à aprovação de Vossa E xcelên cia . 330 R ela çõ es C om erciais
A proveito a oportunidade para reiterar a Vossa E x ­ 340 L im ites internacionais
celência, Senhor M inistro, os protestos da minha mais alta 350 In cid en tes internacionais
11 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
360 Guerra 691 Legislação social. Leis trabalhistas.
370 Paz 692 Organização racional do trabalho
380 A m izade 693 Assistência e P revidên cia Social

381 P an A m ericanism o CONHECIMENTOS GERAIS

382 P olítica da B oa Vizinhança M atem ática


R esolva as questões abaixo, fazen d o os cálculos nos
400 EDUCAÇÃO E SAÚDE
lugares indicados :
410 Ensino
1 1
411 Prim ário
------ + ------= .....................................................
412 Secundário
413 Com plem entar
414 Superior
25 x 0,0001 = ...
415 T écnico-profissional
0,00225 -H 15 = .
420 In tercâm bio intelectual 15 m 3 — ................. litros
430 B iblioteca s 10 hm 2 — ............ .. dam -
440 A rtes 0,003 km — ......... m

H igien e e Saúde Pública 121 -r- 0,011 = ..


460
0,036 H- 0,0006 =
461 Saneam ento
0,1333 .. =
462 D o e n ça s . E nferm idades
3,200 kg = ............
463 H ospitais .
500 ca — ..............
500 OBRAS PÚBLICAS 10 st = ...................
510 P on tes. Viadutos A unidade legal de com prim ento é o ........................a do
520 T úneia volum e o . .......................................... e a de massa é ...................
530 P ortos. A ncoradouros *
540 Fôrça. F ôrça M otriz. Energia
U m a cidade d e 12 000 habitantes tem víveres para
541 Á g u a . Fôrça hidráulica 30 dias. R edu zin do-se a população a 8 000 habitantes, os
542 E letricid ad e. E nergia elétrica víveres darão p a ra .................................... dias.
550 Cidades Cálculos :
551 Abastecim ento de água P odem os decom por 120 em duas parcelas. A 1.® igual
552 Esgotos
a 100 e a 2.® a 2 0 .
553 Ilum inação
A 1." parcela representa...............................% do tota l.
554 R u as. P raças. Jardins. Parques
555 E státuas. M on u m en tos. Cálculos :
560 E d ifícios P ú blicos D ivid ir 120 em partes inversam ente poroprcionais a
1 /4 e 1 /8 .
600 ECONOMIA E FINANÇAS
Corografia
610 Finanças
Cálculos :
611 D ívid a P ú blica
Para cada uma das questões que se seguem são suge­
612 R egim e T ribu tário
ridas várias respostas. D entre estas, uma ou mais de uma,
613 M oed a
satisfazem à questão a que correspondem . Leia, com aten­
614 B ancos
çã o as respostas sugeridas e assinale com um a cruz a res­
615 Caixas E con ôm icas
posta ou as respostas verdadeiras.
616 Loterias
1. D as cin co regiões naturais do Brasil, a que apre­
620 C on dições d e vida
senta m aior superfície é
621 H abitação ■■ — o norte — o leste
630 Capital — o nordeste — o sul
640 Seguros — o centro-oeste

650 Agricultura, Indústria e C om ércio 2. D os acidentes abaixo m encionados, o que serve


de lim ite entre o Brasil e o Peru é
651 P rodução V egetal
652 — o rio Paraguai — a lagoa de U beraba
P rodução animal
653 P rodução mineral — o rio O iapoc — o rio Javari
654 M anufatura. Produtos manufaturados — a coxilha d e Santana — o rio A pa
655 E xp osições. Feiras 3. Assinale, na lista abaixo o rio mais im portante
660 Colonização. Terras do p on to de vista da n avegação.
670 Em igração — P araíba d o Sul — T ap ajós
680 Im igração — T ie tê — Uruguai
690 Trabalho — S . Francisco — Parnaíba
SELEÇÃO 117
4. Os dois estados brasileiros, dentre os com preendi­ — o núm ero 2 , se a mais im portante região produtora
dos na lista abaixo, que apresentam m aior im portância na fôr o sul.
criação de gado são : ( ) sal ) m adeira
( ) carvão ) borracha
— • R io G rande do N orte — R io G rande d o Sul
) caroá
Am azonas — S ta . Catarina
) babaçu
— Piauí — • Paraná
) m ate ) carnaúba
Assinale as cidades que constituem portos fluviais : ) oiticica ) castanha
14. D en tro dos parênteses q u e precedem os rios da
— Curitiba — Ouro P reto
relação abaixo coloq u e o núm ero correspondente à bacia
— M anaus — Salvador
fluvial a que pertence cada um d êles.
— B e lo H orizon te — Corum bá
1 — Bacia d o Prata
6 . Assinale, na relação de produtos econôm icos que 2 — Bacia A m azônica
vêm a seguir, aqueles para os quais a região leste ocupa 3 — B acia d o S . Francisco
0 prim eiro lugar : ) Itajaí
) Paraíba d o Sul ) Iguaçu
— manganês — ferro
) T rom betas ) Parnaíba
— fu m o — ouro
— cacau — algodão ) Iça ) Velhas

— ca fé — açúcar ) Paraopeba ) Parnaíba


) Paranapanem a ) Carinhanha
7. A estrada d e ferro que serve ao estado da Bahia é: 15. Proceda d o m esm o m od o que na questão prece*
— a G reat-W estem — a N oroeste do Brasil dente, isto é, coloqu e, dentro do parêntese qu e precede
— a Central do Brasil — a Sorocabana cada cidade, o núm ero d o estado em q u e está situ a da .
— a M ogian a — a Leste Brasileiro ) Sobral
) S. Carlos
8 . Os dois estados brasileiros que mais produzem café,
) P on ta Porã
após S . Paulo, são : S . P au lo
) R ezen de
R io d e Janeiro
— S ta . Catarina — R io de Janeiro ) Itajuba
R io G rande do Sul
— Paraná — ■ Bahia ) Garanhuns
Pernam buco
— M inas Gerais — Pernam buco ) Joazeiro
M inas Gerais
) Petrolina
9. Na região norte do nosso país, o recurso econ ôm ico ) M arília
predom inante é : ) Caxias

— a indústria extrativa mineral


— a agricultura Estatística
— a indústria extrativa vegetal
N .B . — Os cálculos deverão ser feitos nos locais
— a indústria manufatureira
próprios sob pena d e não serem considerados.
C om plete o sentido das frases que se seguem pre­ 1. G rupe os valores abaixo, em classes co m inter­
enchendo os espaços pontilhados com as palavras ou ex­ valo 9 .
pressões con venien tes. 37 — 42 — 43 — 46 — 46,5 — 48 — 50 — 50
— 51 — 53,5 — 54 — 55 — 58 — 60 — 60 — 62
10. A cultura de arroz tem n o Brasil com o principais
— 62,5 — 63 —- 70 — 75 — 78 — 8 2 .
produtores, os estados d e ...................................................... ..
2. Calcule, de preferência p elo processo rápido, a
média aritm ética da seguinte distribuição hipotética de
11. A região do estado de M inas Gerais que mais valores :
se destaca na criação de gado b ovin o é ......................................
Freqüência Cálculos :
50 — 55,99 ............ l
12. Classifique os estados de S . Paulo, M a to Grosso, 56 — 61,99 ............ _
Ceará, R . G rande do Sul e Paraná por ordem decrescente 62 — 67,99 ............ 2
de superfície : 68 — 73,99 ............ 6

1 ........................................................................ 74 — 79,99 ............ 3

2 ......................................................................... 80 — 85,99 ............


i
2
3
3. Os intervalos de classe da distribuição da ques­
4 ................................... tão 2 é
5 ............................ ...................................................... O p on to m ed io da classe em qu e está a m oda da
13. C oloque dentro dos parêntesis que precedem os mesm a distribuição é ............................................................................
produtos extrativos da relação : 4. A m édia d e um a distribuição ligeiram ente assim é­
— o núm ero 1, se a mais im portante região produtora trica e 62 e a m ediana é 5 9 . Qual a m oda dessa distri­
fô r o n orte. buição ?
NOTAS

Notas para a História da Reforma Administrativa


no Brasil
1.® PA R T E

Panorama geral anterior a 1Í):>0

CAPÍTU LO X V motins e levantes militares, implantando serena,


mas severamente, a ordem civil.
C am p os S a le s
A êsses três grandes vultos da nossa História se
deve, na realidade, a reafirmação e a consolidação
O acôrdo denominado “funding loan” , celebrado
do princípio republicano, o progresso e o conceito
no último quartel do quadriênio Prudente de M o­
crescente de nosso país e, principalmente, a paz in­
rais, iria ter a sua execução a cargo do 4.° Presi­
terna, que só muito mais tarde iiria novamente con­
dente da República, D r. Manuel Ferraz de Cam­
turbar-se, como reflexo, aliás, de questões interna­
pos Sales, que, antes de se investir na chefia da
cionais .
Nação, tomara parte ativa nas negociações enta-
buladas com os banqueiros de Londres. O govêr­ Ao assumir a Presidência da República, a 15 de
no do ínclito filho de Campinas, que merecera a novembro de 1898, o D r. Manuel Ferraz de Cam­
alcunha de “Gambetrta brasileiro” , iria passar à pos Sales constituiu o seguinte ministério :
História com o o do saneamento e reabilitação do
crédito nacional. Com o auxílio de Joaquim Mur- Justiça e Negócios Interiores — D r. Epitácio
tinho, seu insigne Ministro da Fazenda, o Presi­ da Silva Pessoa;
dente Campos Sales levou a cabo durante o seu Fazenda — D r. Joaquim Duarte Murtinho;
mandato uma gigantesca obra de reconstrução das
Relações Exteriores — D r. Olinto Máximo de
finanças do país. De uma nação que se debatia
Magalhães;
nas vascas da indigência e que mergulhava no mais
profundo dos descréditos, conseguiu êle uma nação Indústria, Viação e Obras Públicas — Bacharel
rejuvenescida e curada dos males crônicos que a Severino dos Santos Vieira;
afligiam,- uma nação que lograva afinal manter-se Guerra — General de Divisão João Nepomu-
de pé sôbre um terreno sólido, uma nação sôbre ceno de Medeiros Mallet;
cuja vitalidade já não podiam restar dúvidas, uma Marinha — Almirante reformado Carlos Balta­
nação que já podia sustentar nos ombros o pêso zar da Silveira.
das tarefas do futuro.
Sem o descortino e a energia de Campos Sales A 19 de agôsto de 1899 era o Almirante Baltazar
a obra de Rodrigues Alves não teria sido possível. da Silveira substituído na pasta da Marinha pelo
Os governos dêsses dois eminentes paulistas fun­ Coxitra-Almirante José Pinto da Luz.
dem-se, por assim dizer, num ciclo perfeito. Um No ano de 1900 outras duas substituições mi­
semeia, o outro colhe. Um explica o outro e ambos nisteriais sucederiam, sendo uma, porém, em cará­
conseguem levar a República, havia pouco pericli- ter temporário. A 27 de janeiro, o Engenheiro
tante, ao apogeu de seus dias. Civil Alfredo Eugênio de Almeida Maia substituiu,
Por trás dêles, ergue-se, todavia, uma figüra na pasta da Indústria, Viação e Obras Públicas, ao
austera que cumpre não esquecer e que forma com Bacharel Severino dos Santos Vieira e, de 30 de
ambos o grande tríptico paulista da galeria repu­ abril a 24 de maio, o General de Divisão João
blicana — o vulto venerando de Prudente de M o­ Tomaz da Cantuária geriu interinamente os negó-
rais, que conseguiu extinguir no país os periódicos eios da Guerra.
NOTAS 119
No ptrimeiro ano do século X X era, a 6 de nacionais. Assinalem-se, entre outros, a criação de
agôsto, o D r. Epitácio Pessoa substituído, na pasta um fundo especial aplicável ao resgate e outro para
da Justiça, pelo Bacharel Sabino Barroso Junior, garantia do papel-moeda em circulação (4 ) , a re­
que no ano seguinte, isto é, a 2 de setembro de visão das tarifas das Alfândegas e Mesas de Ren­
1902, substituiria também, na pasta da Fazenda, das ( 5) , o novo regulamento para arrecadação dos
o Dr. Joaquim Murtinho. Nesse ano de 1902 ainda impostos de consumo ( 6) , o restabelecimento das
uma substituição ministerial se operaira, pois, a coletorias federais ( 7 ) e a criação de um fundo
8 de março o Conselheiro Antônio Augusto da de amortização dos empréstimos internos em
Silva sucedera, na pasta da Indústria, Viação e papel ( 8 ) .
Obras Públicas, ao Eng. Alfredo M aia. O Govêrno Campos Sales, que tão benèficamen-
Na obra administrativa do Govêrno Campos te iluminou os enegrecidos horizontes internos de
Sales avulta, fazendo quase desaparecer tudo o nossa pátria, fulgiu, também, além das nossas fron­
mais, a tarefa de saneamento, soerguimento e res­ teiras com singular projeção internacional. Além
tauração das finanças públicas, que se estende, mul- de o Barão do R io Branco ter inclinado vitoriosa
tiforme e onipresente, à grande maioria dos atos mente para o Brasil a questão que mantínhamos
e iniciativas do Poder Executivo. Os órgãos go­ com a França sôbre o Território do Amapá, re­
vernamentais mantêm, nesse pe|ríodo de recons­ cebeu a metrópole brasileira a honrosa visita do
trução e recuperação das energias nacionais, a es­ General Júlio Roca, Presidente da República Ar­
trutura adquirida nos primeiros anos do regime gentina, visita essa pouco depois retribuída, em
republicano. Não se criaram, nem se extinguiram, Buenos Aires, pelo Presidente Campos Sales.
nem se desmembraram ministérios. As repartições
Durante a ausência de Campos Sales, assumiu
existentes guardaram a antiga feição, sendo, não
a Presidência da República, no período de 19 de
obstante, algumas delas reformadas e reorganiza­
outubro a 8 de novembro de 1900, o Vice-Presi­
das, dentro do princípio geral de compressão das
dente, D r. Francisco de Assis Rosa e Silva.
despesas. Assim é que, logo a 7 de janeiro de
1899, o Govêrno, pelo Decreto n.° 3.191, reorga­ O D r. Rosa e Silva era, assim, o terceiro Vice-
nizava a Secretaria de Estado da Justiça e Negó­ Presidente que assumia, embora por poucos dias,
cios Interiores. Logo depois, ainda no mesmo ano, a Presidência da República. O primeiro fôra o
seriam reorganizadas a Assistência de Alienados e a Marechal Floriano, que sucedera a D eodoro. O
Brigada Policial da Capital Federal ( 1 ) . A 8 de segundo, o Dr. Manuel Vitorino, que substituíra a
janeiro de 1900 foi criado, pelo Decreto n.° 3.547, Prudente de Morais em fase de enfermidade.
um serviço especial de estatística comercial na O 4.° Vice-Presidente eleito da República seria
Alfândega do Rio de Janeiro. A 14 de abril do o único que, num espaço de 30 anos, deixaria de
mesmo ano (reformava o Govêrno o serviço policial ascender à suprema investidura da N ação. Esco­
do Distrito Federal ( 2 ) e a 20 de dezembro reor­ lhido paira companheiro de chapa do Conselheiro
ganizava o quadro dos oficiais da Arm ada. A 5 de Rodrigues Alves, o D r. Francisco Silviano de Al­
janeiro de 1901 era a antiga Contadoria Geral da meida Brandão faleceu antes de empossar-se no
Guerra extinta, criando-se, em seu lugar, a Direção mandato, sendo, já no decurso do quadriênio, eleito
Geral de Contabilidade da Guenra ( 3 ) . Por de­ para substituí-lo o Conselheiro Afonso Augusto
creto n.° 4.463, de 12 de julho de 1902, o Go­ Moreilra Pena, que sucederia mais tarde a Rodri­
vêrno avocava para a administração federal o ser­ gues Alves.
viço de higiene defensiva da Capital da República,
Se no govêrno Campos Sales não se processaram
estabelecendo no dia seguinte, por decreto de nú­
importantes modificações no terreno considerado
mero imediato, as bases paira a regulamentação
estritamente administrativo, gjrande foi, porém, a
dêsse serviço.
alteração operada nas diretrizes governamentais
O maior número, porém, dos atos administrativo
do país. À antiga política dos partidos sucedeu a
é concernente aos meios de restaurar as finanças

(4 ) L ei n.° 581, de 20 de ju lh o de 1899.


( 1 ) D ecretos n.° 3 .2 4 4 , de 29 de m arço de 1399. e (5 ) D ecreto n.° 3 .6 1 7 , de 19 de m arço de 1900.
3 .2 7 4 , de 15 de m aio de 1899, respectivam ente. (6 ) D ecreto n.° 3 .6 2 2 , de 26 d e m arço de 1900.
( 2 ) D e creto n.° 3 .6 4 0 . (7 ) D ecreto n .° 4 .0 5 9 , de 25 de ju nh o de 1901.
( 3 ) D e creto n.° 3 .8 9 3 . . (8 ) D ecreto n.° 4 .3 8 2 , de 8 de abril de 1902.
120 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO -—' JU N . 1945
chamada “polítifa dos governadores” , que durante pública lia, para os próceres políticos e para o
as três primeiras décadas do nosso século dominou país, a sua plataforma de govêrno. O povo aglo­
o panorama republicano. Francisco Glicério, an­ merava-se à porta do Casino Fluminense, depois
tigo condutor dos grupos políticos, entrou em rá­ Clube dos Diários e hoje Automóvel Clube do
pido crepúsculo, surgindo-lhe em contraposição, das Brasil, onde sempre se realizaram êsses históricos
bandas dos pampas, Pinheiro Machado, que du­ ágapes. Não raro irrompiam, à entrada e saída dos
rante quinze anos iria supervisionar e manobrar a comensais, apupos que degeneravam em arruaças.
política republicana. Foi, aliás, entre apupos e chufas de um povaréu
esquecido dos inestimáveis benefícios que recebera,
“ Sim plificara-se a máquina p o lítica . A convenção que o D r. Manuel Ferraz de Campos Sales deixou
dos representantes dos governos escolhia o candidato
o Palácio do Catête depois de transmitir o govêrno
e a eleição popular, em 1 de março, se lim itava a
sancionar a escolha, sem possibilidade de surpresa. As
ao Conselheiro Rodrigues Alves, na tarde de 15 de
maiores lutas presidenciais travar-se-iam em tôrno dêsse novembro de 1902.
costum e, de transformar-se a eleiçã o d o suprem o m a­
gistrado numa simples form alidade, pois realm ente Entretanto,
eleitores eram os convencionais, ou os governado­
“ Cam pos Sales entregou ao sucessor o país em
res” (9 ) .
perfeita tranqüilidade, o câm bio a 12 e os negócios
pú blicos em excelente desen volvim ento. Retom ara-se
A partir da eleição de Rodrigues Alves estabele­
o pagam ento da dívida externa. Os títulos da dívida
ceu-se a praxe da (realização de um grande ban­ pú blica subiram de 35 % . Era ainda o T esou ro credor
quete político em que o Presidente eleito da Re- . do B anco da R epú blica, e tinha em Londres depósitos
disponíveis no valor de 3 m ilhões de libras” (1 0 ).
(9 ) P edro — . H istória da Civilização Bra-
C A LM O N
leira, 4.a E dição aumentada, p á g. 3 5 1 . ( 1 0 ) Jd., ib.

Pessoal brasileiro para a U. N. R . R. A .


Uma entrevista do Presidente do D.A.S.P.

Em face de acôrdo firmado com a United Posteriormente, a administração central da


Nations R elief and Rehabilitation Administration U . N . R . R . A . , assim como procedera em relação
( U . N . R . R . A. ), o D . A . S . P . , devidamente au­ ao Canadá, dirigiu um convite ao D . A . S . P . , para
torizado pelo Chefe do Govêrno ,iniciou há algum que êste órgão enviasse aos Estados Unidos o fun­
tempo o recrutamento de pessoal brasileiro para cionário à testa do serviço, com a finalidade de
servir à referida organização internacional nas áreas examinar as normas gerais de seleção em uso pela
libertadas da Europa. U . N . R . R . A . e, bem assim, assentar as bases
finais para a execução do plano geral de recruta­
Segundo o que fôra inicialmente estabelecido,
mento do pessoal brasileiro.
ao D . A . S . P . caberia efetuar uma seleção preli­
D o primeiro contacto entre as autoridades da
minar dos candidatos que se apresentassem. O
U . N . R . R . A . e o funcionária designado pelo
resultado dessa seleção inicial seria depois subme­
D . A . S . P . , assim como do exame conjunto das
tido ao exame da U . N . R . R . A . , em Washington,
inscrições brasileiras, resultou a imediata escolha
a qual procederia então à seleção final de vinte
e nomeação dos vinte candidatos do nosso país
candidatos dentre os indicados pelo D . A . S . P . para diversas funções nas áreas européias assoladas
Nos têrmos do acôrdo firmado, todos os brasileiros pela guerra. Mais ainda: em face da verificação dos
selecionados pelo D . A . S . P . deveriam ser en­ processos de seleção de pessoal em uso no Brasil e
viados primeiramente aos Estados Unidos para a do nível elevado do contingente brasileiro, resol­
seleção final, e, dali, para as zonas européias a veu aquela organização confiar inteiramente ao
serem socorridas. D . A . S . P . a seleção futura de novos candidatos,
NOTAS 121
oferecendo ao Brasil, para preenchimento imediato, pela U . N . R . R . A . , uma vez terminado o trabalho
mais 35 novos cargos de direção de serviços, de nas zonas em que vão operar.
gerência, de assistência social e médica, e de ser­
Dentro dessa ordem de idéias, o D . A . S . P . —
viços administativos.
pela Exposição de Motivos n.° 860, de 7 de maio
Assim, nos têmos das comunicações recebidas e findo, com a qual encaminhou ao Chefe do Go­
que resultam da confiança que a U . N . R . R . A . vêrno o projeto de lei respectivo — sugeriu que
depositou no D . A . S . P . , pelo exame acurado dos aos servidores em aprêço seja concedida permissão
métodos e processos de trabalho empregados por especial para prestação de serviço à U . N . R . R . A .
êste órgão, os funcionários selecionados não mais Essa concessão beneficiará tanto os servidores fe­
seguirão para Washington, mas diretamente para derais, estaduais e municipais, com os dos órgãos
Londres, ficando inteiramente a cargo do D.A.S.P. autárquicos, paraestatais ou de economia mista.
a seleção intelectual, os exames médicos dentro dos A licença será concedida sem direito a vencimento
nossos padrões e a investigação social exigida. ou remuneração, embora fique assegurado ao ser­
Além dos 35 novos cargos para as mais variadas vidor o direito à contagem de tempo para efeito
funções, a administração central da U . N . R . R . A . de aposentadoria e disponibilidade. Terminado
aceitará quaisquer indicações adicionais que o o trabalho junto à U . N . R . R . A . , o servidor terá
D . A . S . P . sugerir. E ainda agora acaba de co­ até cento e vinte dias para reassumir o exercício
municar-se com o D . A . S . P ., interrogando-o sôbre do cargo ou função, contando-se o respectivo pe­
a possibilidades de se aumentar o número de car­ ríodo como de afastamento, para os efeitos de apo­
gos a serem preenchidos por brasileiros. sentadoria ou disponibilidade.

Tais propósitos da U . N . R . R . A . , de confiar a Havendo o Sr. Presidente da República aprovado


brasileiros maior número de postos na tarefa de a sugestão apresentada pelo D . A . S . P . , foi assina­
reconstrução já iniciada na Europa, representam do, em conseqüência, o Decreto-lei n.° 7.546, de
mais uma excelente oportunidade de colaboração 14 de maio de 1945, publicado no Diário Oficial
oferecida ao Brasil,, além de proporcionar exce­ de 16 do mesmo mês.
lente treinamento de pessoal para a administração
nacional, uma vez que os candidatos, em grande COMO FALOU A “A N O IT E ” O P R E SID E N TE
maioria, são servidores federais, estaduais, munici­ DO D . A . S . P . ■
pais ou de entidades autárquicas, para-estatais ou
A propósito da colaboração dos brasileiros nos
de economia mista.
trabalhos de reconstrução das zonas devastadas
A obra de auxílio e reabilitação nas zonas de­ pela guerra, A Noite desta capital, em sua edição
vastadas pela guerra é, sem contestação, tarefa de 11 de maio último, publicou uma entrevista que
essencial e de alta relevância das Nações Unidas, lhe concedeu o Sr. Luiz Simões Lopes, Presidente
que, vencido o inimigo comum, desejam oferecer do D . A . S . P . , e que passamos a transcrever :
ao mundo novas perspectivas de paz e trabalho
construtivo, por meio de medidas prontas e eficazes
“ O Brasil depois de contribuir valiosam ente para as
que já estão exigindo e exigirão em futuro pró­
batalhas da guerra, lutando pela vitória ao la d o das N ações
ximo, em escala ainda maior, grande soma de de­ Unidas, vai contribuir tam bém para as batalhas da paz,
dicação e sacrifícios da parte de todos aquêles prestando o m áxim o dos seus esforços, materiais e humanos

que vêm oferecendo sua colaboração em emprêsr para a reconstrução da E u ropa devastada pelas hordas na­
zistas e a reabilitação dos pov os q u e a guerra arrastou
de tal magnitude social e eminentemente humana.
ao caos da fom e e da m iséria. O auxílio q u e tem os pres­
Por êsses motivos, o D . A . S . P . , ao examinar o tado em tcdos o s terrenos aos nossos aliados jam ais p o ­
derá ser olvid ado pslos chefes suprem os das N ações U n i­
assunto, foi de parecer que os servidores selecio­
das, tanto assim que, reconhecendo a relevância das nossa-;
nados para a U . N . R . R . A . deverão fazer jus a contribuições, de n ovo som os solicitados para continuar,
um tratamento especial enquanto estiverem efeti­ lado a lado, num em preendim ento que, pelos seus elevados
vamente a serviço daquela organização. Entre as e nobres objetivos, se enquadra perfeitam ente nos im ­
providências aconselháveis nesse sentido, está a pulsos naturais e característicos dos nossos sentimentos de
bondade e filan tropia. Essa é a fôrça que, aliada à in
de lhes ser garantido o retorno aos cargos e funções
teligência e à capacidade de iniciativa da nossa gente,
que atualmente ocupam, quando forem dispensados terem os que m obilizar para atender os apelos da
122 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
U .N .R .R .A . na sua grande tarefa de reconstruir e rea­ — Um Centro da U . N . R . R . A . é um local que
bilitar povos e nações. dispõe de serviço m édico, alim entação, dorm ida, e t c ., e
que, segundo a sua relevância, terá capacidade para abrigar
UMA HONROSA INCUMBÊNCIA CONFIADA AO D. A. S. P. de três a dez m il pessoas, prisioneiros de guerra, refugia­
dos, feridos e outras vítim as d o cativeiro nazista, homens,
Ainda recentem ente, divulgam os em prim eira mão, que mulheres e crianças.
o Brasil enviaria um num eroso grupo de funcionários
Cada “ Centro” é, assim, um a pequena com unidade
para o V e lh o M u n d o. A seleção dos candidatos aos vá­
que, diàriamente, recebe e encaminha para lugares adequa­
rios cargos que a U .N .R .R .A . p ôs à disposição do
dos milhares de vítim as dos horrores da guerra e que,
Brasil, está sendo feita pelo D epartam ento Adm inistrativo
portanto, reclam a para o êxito dos seus objetivos a orga­
do Serviço P ú b lico . A notícia, com o era natural, des­
nização de serviços m édicos, de administração burocrá­
pertou grande interêsse e, por isso, em busca d e maiores
tica, de enfermarias, laboratórios, depósitos, armazéns e
detalhes, fom os ouvir o S r. Luiz Sim ões Lopes, presidente
todos os dem ais que, em conjunto, perm itam o seu fun­
do departam ento oficia l que assumiu perante a U .N .R .R .A .
cionam ento com o hospital, com o núcleo de assistência,
a grande responsabilidade dêsse trabalh o. Verem os, no
com o pon to de recreação e com o fonte de abastecim ento
decorrer da entrevista, que o fato de haver a im portante
para os necessitados.
organização das N ações Unidas con fiad o ao D . A . S . P . a
seleção de candidatos, constitui uma honrosa prova de
“ CENTROS” DA U. N. R. R. A. MESM O N A ALEM ANHA
con fian ça na organização das nossas dependências ad­
ministrativas e na capacidade técnica e funcional dos seus
R espon den do a outra pergunta, adiantou o S r. Luiz
diretores e dem ais responsáveis. Sim ões Lopes que num erosos dêsses “ Centros” serão ins­
talados pela U . N . R . R . A . na E uropa devastada, mesm o
A AFLUÊNCIA DE CANDIDATOS E AS VAGAS DISPONÍVEIS
na A lem a n h a .

Atendendo-nos prontam ente em seu gabinete de tra­ — N ão tem os a certeza do núm ero — disse-nos —
balho, o S r. Lu iz Sim ões Lopes, iniciou a sua entrevista mas, segundo os relatórios, há necessidade de milhares
detalhando-nos os principais ob jetivos da U . N . R . R . A . ; dêsses “ Centros” em tôdas as zonas ocupadas e devastadas
em seguida, respondendo às prim eiras perguntas que lhe pela bota prussiana, inclusive na própria A lem anha. Com o
foram feitas, acentuou : se vê, acentua, êsses serviços da U . N . R . R . A . não se
destinam apenas aos povos escravizados pelos alemães, mas
— D esde o in ício da honrosa incum bência que nos
tam bém aos próprios alem ães. Os súditos de H itler terão
foi confiada pela U . N . R . R . A . , já preparam os um grande
assim uma n oção exata sôbre princípios e deveres de
núm ero de funcionários para o exercício de vários cargos
hum anidade e verão com o as N ações Unidas sabem “ fazer
técnicos e burocráticos na im portante organização de so­
o bem sem olhar a qu em ” , nessa grandiosa tarefa de
corro e assistência social das N ações U n idas. Entretanto,
recom por o m undo e de torná-lo m elhor e mais feliz.
precisam os de mais gente e as inscrições, que continuam
abertas, já reunem um total d e 300 interessados, não in­
DO BRASIL DIRETAMENTE AO LOCAL DE TRABALHO
cluindo nesse total um grande contingente de candidatos
m obilizados em São Paulo, na sua m aioria profissionais
V oltando ao assunto da seleção e preparo dos candi­
em m edicin a. São tam bém em grande núm ero os que
datos, esclarece o presidente do D . A . S . P . , que os fun­
procedem de outros E stados. D en tro em b reve deverá
cionários brasileiros são os únicos sul-americanos que se­
partir para Londres um candidato já selecionado proce­
guirão diretam ente para Londres e, depois, im ediatam ente
dente de M anaus e outros que vieram da Bahia, Pernam ­
para o local onde deverão exercer as suas fun ções. E
b u co e P a rá .
acrescenta: — A princípio, quando a U . N . R . R . A . não
M ostrando-nos um boletim de inscrição, continua o conhecia ainda os nossos m étodos de trabalho, era pensa­
S r. Sim ões Lopes : m ento enviar os funcionários para centros de treinam ento
em W ashington, onde uma parte da U niversidade de M a -
— T em os vagas para as mais variadas profissões. ryland está inteiram ente destinada ao preparo dos candi­
Podem os citar especialm ente as de m édicos, radiologistas, datos americanos e canadenses. Posteriorm ente, porém ,
clínicos especializados em saúde pública, alim entação, etc. apreciando os nossos m étodos de ação, a U . N . R . R . A .
Há tam bém vagas para chefes e assistentes de serviço nos con fiou a seleção direta dos candidatos brasileiros,
social e para funções burocráticas especializadas em al- considerando-os aptos para as respectivas funções sem o
m oxarifados, armazenagem de gêneros, vestuários, etc., e, crivo, para outros indispensável, das provas e exames da­
ainda, para assistentes de diretores de Centros, inclusive quela universidade “ yankee” . D e v o acrescentar aqui que
de secretários que deverão saber estenografia em inglês e a U .N .R .R .A . destinou vários cargos de responsabili­
p ortu gu ês. dade para os candidatos selecionados p elo Brasil e isso
representa, sem dúvida, um m otivo de justo orgulho para
OS “ CENTROS” QUE SERÃO INSTALADOS PALA U .N .R .R .A . os funcionários b rasileiros.

R eportando-nos a referencia que fizera sôbre diretores — E para onde irão os funcionários selecionados pelo
de Centros, perguntam os o que se entendia sob êsse título D .A .S .P .?
na organização geral da U . N . R . R . A . E o Presidente d.' — Para a E uropa e para o Oriente M éd io, inicial­
D . A . S . P . nos deu, em seguida, a explicação : mente — inform a o presidente d o D . A . S . P . , acrescen­
NOTAS

tando porém que, de acôrdo com o assentimento das fugindo à praxe preestabelecida, resolveu con fiar ao
autoridades da U . N . R . R . A . , o D . A . S . P . está aceitando D.A.S.P. a seleção direta do pessoal brasileiro. E, res­
tam bém inscrições de candidatos para a China e regiões pondendo-nos, acentuou :
devastadas pelos japoneses.

— N ão tem os notícia de que haja, na A m érica do Sul,


PRAZO DE SERVIÇO, SALÁRIO E UNIFORME
outró órgão encarregado de fazer trabalho semelhante.
C om pletando os interessantes dados que nos forneceu, N os dem ais países as inscrições vã o diretam ente para
ecelareceu ainda o S r. Luiz Sim ões Lopes que o prazo Washington, onde são consideradas pelas autoridades am e­
m ínim o de serviço exigido pela U . N . R . R . A . e de um ricanas . H ouve, porém , uma exceção para o caso brasileiro.
a n o . Ê ste porém poderá ser reduzido ou dilatado segundo
Estêve, aqui, há tem pos, o S r. Laurence D uggan, antigo
entendim ento entre as partes. Para cada função haverá um
assistente da D ivisão Latino-Am ericana do D epartam ento
salário básico -e, ainda, uma diária para alim entação e
de Estado A m ericano e, hoje, assistente dip lom á tico para
d o rm id a . As despesas de transporte de ida e volta e
a Am érica Latina das atividades da U .N .R .R .A . O
dem ais viagem serão inteiram ente custeadas pela
U . N . R . R . A., b em com o a con fecção do respectivo S r. D uggan visitou dem oradam ente o D . A . S . P . e intei-

u n ifo rm e . rcu-se de suas atividades e depois solicitou do govêrno

— U n iform e ? brasileiro que o D . A . S . P . ficasse encarregado da seleção

__ Sim — confirm a — os funcionários da U .N .R .R .A . do pessoal brasileiro para a U . N . R . R . A . M ais ainda, o


usarão u n iform e. Isto se faz necessário para a iden tifi­ S r. Duggan tem sido m uito gentil em relação aos nossos
cação im ediata do seu p essoa l. C om o nos fardam entos trabalhos, pois declarou recentem ente ao nosso represen­
militares êsses uniform es terão nos braços a inscrição tante em W ashington, que o D . A . S . P . pod e ser con si­
“U . N . R . R . A . ” .
derado uma repartição modelar, para qualquer pa ís.
Adianta, em seguida, que as incrições abertas no
D .A.S.P. estão à disposição de qualquer brasileiro que Assim, é desvanecedor para nós que a U . N . R . R . A .
queira prestar uma benem érita colaboração às Nações tenha con fiado tôda a seleção do pessoal brasileiro direta­
U nidas e que a U . N . R . R . A . , no seu nobre propósito m ente ao D . A . S . P . , e, ainda, tod o o trabalho que se re­
de socorrer os países devastados pelo tacão da bota prus­ lacione com o transporte, para a chegada mais rápida a
siana, tem diante de si uma tarefa d ificil e grandiosa o Londres, evitando-se, assim, a ida a W ashington.
que, por certo, levará tem po, muitos anos talvez, para
realizá-la. D entro de poucos dias, sairá a prim eira turma e outras
se sucederão, à m edida que se apresentem candidatos c a ­
O D.A.S.P. E A U .N .R.R.A. pazes e, nesse ponto, seremos tão rigorosos com o tem os

E com o últim a pergunta indagam os do S r. Luiz sido até aqui para os concursos e provas para o fu n cio­
Sim ões Lopes dos m otivos pelos quais a U .N .R .R .A , nalismo pú b lico federal.”

Fundação Getúlio Vargas


Plano de trabalhos e orçamento para 1945

Prosseguem ativamente os trabalhos da Fun­ cluindo-se nêle o que se pretende realizar no exer­
dação Getúlio Vargas no sentido de serem inicia­ cício em curso e, ainda, um programa com as dire­
das, o mais brevemente possível, as atividades re­ trizes gerais que deverão nortear o desenvolvimen­
lativas aos vários setores que constituem o seu to dos trabalhos num período mais longo.
vasto campo de ação. As diretrizes adotadas nesse estudo já foram
De acôrdo com os Estatutos da Fundação, o D i­ amplamente discutidas e aceitas pelo Conselho D i­
retor Executivo da entidade submeteu ao Presi­ retor ; em sua maioria, acham-se elas consubstan­
dente da mesma, para exame e aprovação do Con­ ciadas em dispositivos do Regimento Interno apro­
selho Diretor, o plano de trabalhos e respectivo vado.
orçamento para o corrente ano. Tratando-se do O programa elaborado não é nem poderia ser
primeiro plano a ser fixado, julgou-se conveniente um plano rígido, pois uma das características da
apresentar ao Conselho, para discussão prévia, um Fundação é exatamente a flexibilidade, que per­
estudo amplo sôbre os recursos disponíveis e sua mite alterar um plano fixado, suprimindo ou am­
melhor aplicação às atividades da Fundação, in­ pliando atividades, julgadas então de menor ou
124 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
maior necessidade, ou por deficiência de previsão, grama geral; Atividades imediatas das órgãos com
ou por contingências imprevisíveis. funções substantivas; Atividades imediatas dos ór­
Os estudos prévios que levaram à elaboração gãos com funções adjetivas; Aplicação de bens;
Resumo geral.
dêsse programa foram conduzidos pelo Diretor
Executivo da Fundação, Sr., Paulo de Assis Ribei­ O projeto já foi amplamente debatido em várias
ro, que contou com a colaboração dos Srs. Lino sessões do Conselho Diretor. As sugestões aprova­
Leal de Sá Pereira, José Baeta Viana, Othon Hen- das permitirão a elaboração definitiva do plano de
ry Leonardos, Charles Thadeu Javes, Tomás Pom- trabalhos e orçamento para o segundo semestre do
peu Acioli Borges, Heitor Campeio Duarte, Joa­ corrente exercício, os quais, após aprovação do
quim R . R . Jubé Junior, Jaime Lins de Almeida Conselho Diretor, entrarão em execução a 1 de ju­
e Jorge Zarur. lho próximo, quando terão início as atividades da
O plano apresentado ao exame do Conselho D i­ Fundação Getúlio Vargas diretamente relaciona­
retor inclui os seguintes capítulos : Previsões dos das com a realização dos objetivos para que foi
recursos da Fundação; Exposição sôbre um pro­ criada.
B IB LIO G R A FIA

CRÍTICA
TH E A D M IN IS T R A T IV E TH E O R IE S OF HA­ peito de m eios se estiverem unidos na busca d e o b je tiv o s
com u n s.
M ILT O N AND JEFFERSON : T H E IR
CON TRIBU TIO N S TO TH O U G H T ON O que estou sugerindo, e a tese que, segundo creio, está
defendida p elo livro do P rofessor C a l d w e l l (em b ora eu
PUBLIC A D M IN IS T R A T IO N — L y n t o n
desejasse que êle a tivesse desen volvid o mais exp licita ­
K. C A L D w E i.L — University of Chicago Press
m en te), é que uma “ ciên cia” de m eios é u m em preen di­
— 1944 — 244 págs. — $3. 50. m ento somente possível num am biente social estável no
qual os elem entos políticos efetivos aceitem um a ideologia
( C om entário d e J . DONALD K lN G SLE Y, do A ntioch C o lleg e) com um e adiram a uma escala com um de valores. N um a
sociedade assim unificada através de um a classe d om i­
A adm inistração pública, observa o P rofessor Cald- nante incontestada, um con ju nto de im portantes princípios
well no capítulo inicial dêste interessante livro, “ é, na rea­ e preceitos adm inistrativos pode ser desen volvido e ganhar
lidade, um ramo da política, e as teorias administrativas larga aceitação. M as tais princípios e preceitos são inteira­
dos grandes adm inistradores públicos não podem ser com ­ m ente relativos, e sua validade é determ inada, em últim a
preendidas co m exclusão de seus objetivos políticos, seus análise, não só em fun ção da estrutura social d o estado,
incitam entos em ocionais, e da m edida de seus valores” . com o dos fins mais ardentem ente colim ados pelos grupos
A questão é im portante e oportu n a . Seu abandono que dom inam politicam en te.
ó responsável em grande parte pela esterilidade de muitos Esta tese é im portante para qualquer com preensão acêrca
escritos norte-am ericanos em matéria da adm inistração e das opostas teorias adm inistrativas de H am ilton e J effer-
por uma perigosa e generalizada confusão de fins e meios. son, pois o balanço exato dos interêsses divergentes da
Sua negação conduziu à elaboração de uma ciência adm i­ nova R epú b lica veio pôr em fo co a disparidade dos m eios
nistrativa sintética em que acidentes históricos assumiram adequados aos diferentes fins. A S ra. F . S. O l iv e r disse
caráter universal e em que os esquemas de organização de H am ilton que sua idéia sôbre a m issão do estadista era
apropriados a um exército ou a uma corporação predatória “ a fiel m ordom ia dos bens p ú b licos” . Ê le considerava a
têm sido insistentemente recom endados com o m odelos para hum anidade d o m esm o m od o que considerava os recursos
um m inistério de cultura. naturais, “ com o m aterial a ser usado co m o m áxim o pos­
Se o fa to de separar fins de m eios constitui ou não sível de energia e o m ínim o possível de desperdício, para a
um índice de decadência numa sociedade é questão que consecução da independência nacional, do poder e da per­
podem os, talvez, deixar a critério dos m oralistas. M as manência” . ( 1 )
em assuntos sociais, pelo menos, não podem os vantajosa­ Êstes são os ideais d o adm inistrador de n egócios co m
mente excluir valores ou ob jetivos fundamentais, e qual­ a sua vigilante atenção na fôlha d o b a la n ço fin a n ceiro.
quer tentativa nesse sentido estará condenada ao fracasso. Sob várias aparências êsses ideais form aram , segundo d e­
T od os nós tem os as nossas “ premissas maiores inarticula- monstrou o Professor T aw ney, um a doutrina central do
das” , m esm o quando elas nos passam inteiram ente des­ Puritanism o, isto é, a prim eira filosofia coeren te das clas­
percebidas ; e o grande adm inistrador e tam bem um grande ses médias. Nossa civilização industrial acha-se p en e­
p o lítico que im provisa m eios tendo em vista os fins
trada de semelhantes postulados de valor, e fo i o triun fo
que procura atingir. final das classes burguesas sôbre os grupos para os quais
Em parte alguma da literatura norte-americana tal Jefferson pregara que deu às idéias de H am ilton u m ar
conclusão se acha mais am plam ente docum entada d o que de m odernism o.
na análise das idéias administrativas de H am ilton e J ef-
É claro e insofism ável que H am ilton coloca va os v a ­
ferson, feita p e lo Professor Caldwell. O sistema governa­
lores humanos em nível inferior de sua escala pessoal. Na
m ental norte-am ericano forjou -se numa época de especta-
sua opinião, © na dos grupos cujas aspirações ê le soube
tiva e agitações na qual os interêsses estabelecidos estavam
tão b em representar, os hom ens eram sim ples ob jetos de
por tôda a parte em preendendo contra uma classe capita­
adm inistração : eram instrumentos a serem m anobrados
lista florescente, um a luta im profícua para controle do
ou dirigidos para algum propósito q u e lhes fôsse estranho,
estado. Essa luta, com o tôdas as grandes lutas para con ­
quer se tratasse d e potência m aterial, ou de sobrevivência
quista d o poder, afetou tôdas as premissas políticas e co lo ­
in stitu cion al. As massas humanas não eram considera­
riu tôdas as decisões adm inistrativas.
das conjuntos de indivíduos mas — para usar, em suma,
Os suprem os interêsses que estavam em jô g o deram à
uma linguagem que se tornou grandem ente popular —•
política d o p eríodo uma significação peculiar à época, a
fatores de produção, potencial de trabalh o.
qual não encontrou rival até os nossos dias. M as a aguda
divergência de interêsse afetou igualm ente a adm inistra­
ção, e a -primeira fase da história da R ep u b lica faz res­ (1 ) F r e d e r ic k S cott O liv e r , A le x a n d er H am ilton
saltar o fato de que os homens só p od em concordar a res­ (A rch iba ld C onstable & Co., 1 9 0 5 ), p á g . 4 5 0 .
126 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
Tal esquem a de valores, e os grandes ob jetivos aos tividade entre m eios e fins, e fugir da con cepção estéril
quais estava íelacionado, determinaram inevitavelm ente de que a administração constitui um fim em si mesma
04 m eios adm inistrativos a serem em pregados : centraliza­ ou de que a eficiência e a econom ia são objetivos superio­
ção, integração, coerção, e a declaração de diretrizes pelos res a quaisquer outros que sejam alm ejados. Isto pode
adm inistradores principais. H am ilton foi, de fato, o pri­ obter-se mediante a aquisição de perspectiva e pela cui­
meiro grande expoente norte-am ericano daquilo que o Se­ dadosa análise dos esquemas e técnicas adm inistrativos
nhor B u r n h a m cham ou de “ revolução gerencial” , e é, em relação aos am plos objetivos a que se destinam a servir
talvez, desnecessário assinalar que tanto as características de instrum entos.
políticas quanto administrativas do estado ham iltoniano são
M inha sugestão é a de que o m étodo mais adequado
idênticas à organização e aos ob jetivos da m oderna cor­
para o estudo da adm inistração é aquêle que fo i seguido
poração industrial. As idéias de H am ilton são modernas
pelo Professor C a l d w e l l ; e isso é extremam ente im por­
porque por mais de cem anos a história tem sido form a­
tante em nossos dias. Estam os h oje viven do numa outra
da pela classe de que êle fo i apologista.
era de agitações e expectativa, na qual novos grupos so­
Esta questão nem sem pre é claram ente exposta na ciais com novas aspirações estão exigindo uma participa­
obra, aliás excelente, do Professor CALD wE LL, e sua im er­ ção no poder. E m tais circunstâncias, os homens sensa­
são - nas profundas águas de nossa ideologia contem porâ­ tos se voltam para as idéias daqueles dois pensadores
nea o leva ocasionalm ente a conclusões contestáveis. A fir­ p o lítico s .
ma, por exem plo, que o “ pensam ento de Jefferson em
Considerem os, p.or exem plo, as conseqüências do des­
adm inistração fo i defin ido com m aior precisão com o id eo­
pertar p olítico das massas trabalhistas. T a n to quanto
logia política do que o correspondente pensam ento de
seja possível averiguar h oje em dia, as idéias administra­
H am ilton ” . D u v id o que tal conclusão possa ser apoiada,
tivas dos representantes do trabalho norte-am ericano se
em bora de um a form a ou de outra tenha sido defendida
aproxim am m uito mais das idéias de Jefferson do que
pelos que aceitam a ideologia de H am ilton. Parece-m e,
das de H am ilton. Jefferson, com o seu em penho pelo
entretanto, que em parte alguma de tôda a extensão da
desenvolvim ento do indivíduo, achava-se menos inte­
literatura política — inclusive as próprias obras de L e-
ressado na adm inistração ou na eficiência d o que na par­
nin — se descobrirá uma estrutura ideológica mais siste­
ticipação das massas no sistema adm inistrativo. Êste in­
mática do que aquela que foi desenvolvida p or H am ilton.
terêsse é, de fato, a chave de tôda a sua teoria adm inis­
Se o im pacto de suas idéias políticas e sociais sôbre o seu
trativa. L ev ou -o às suas idéias sôbre descentralização,
pensam ento adm inistrativo é m enos evidente d o que no
pois, de acôrdo com as condições que prevaleciam em
caso de Jefferson ( o que não m e parece verd a d eiro), tal
sua época, a mais ampla participação só poderia ser obtida se
fato resulta da aceitação contem porânea das idéias de
houvesse dispersão de funções governamentais. H oje, sem
H a m ilto n .
dúvida, podem os ter uma adm inistração descentralizada de
D e qualquer m odo, porém , se eu fôsse fazer qualquer funções nacionais — com o acontece, por exem plo, com a
crítica ao estudo esclarecedor do Professor Caldw ell, administração de nossos controles de potencial humano em
seria de que êle não aprofundou bastante sua análise a tem po de guerra. Pode-se, portanto, pelo menos conjecturar
respeito do im pacto da política social sôbre as idéias ad­ que Jefferson, se vivesse nos dias atuais, insistiria menos
ministrativas. F oi isso, segundo creio, que o levou a nos direitos dos Estados, pois o seu principal o b jetiv o pode
concluir que a adm inistração de Jefferson era caprichosa ser alcançado m ediante a integração de grupos funcionais
e contraditória. Um a interpretação mais ampla e funda­ representativos na estrutura adm inistrativa n acional.
mental da politica da época (e m têrm os da emergente Seja com o fôr, é claro que a hodierna política traba­
estrutura de classe da socieda d e) poderia induzí-lo, com o lhista vestiu o manto da participação jeítersoniana ; e esta
aconteceu com o finado Professor P a f r i n g t o n , a concluir ênfase está transformando, a olhos vistos, a adm inistração
que Jefferscn agiu tão coerentem ente quanto H am ilton, norte-americana. T ais transform ações não se lim itam ape­
à luz de seus principais objetivos e dos interêsses básicos nas ao setor pú blico da econom ia. Na indúitria, tam bém ,
que defen dia. as juntas de administração trabalhista estão vagarosamente
Se fôr verdade, com o penso que o seja, que a adm inis­ alterando as estruturas administrativas centralizadas, c o ­
tração é um ram o da política, segue-se que nossas tenta­ ercitivas e integradas, tão ao gôsto de H am ilton, e subs­
tivas para a descoberta de princípios adm inistrativos de­ tituindo-as por sistemas menos formais, porém organiza­

vem -se basear no fator histórico. N ão podem os, com dos mais dem ocraticam ente. -

proveito, excluir as idéias adm inistrativas de H am ilton T ais m odificações, igualmente, vêm apoiar a tese que
ou de Jefferson, de seu conteúdo político, sob pena de o Professor C aldw ell tão habilm ente apresenta, bem
não as com preenderm os, e, além disso, sua aplicação acar­ com o vêm pôr em relêvo a necessidade de serem desen­
retaria a inclusão de idéias, ainda não analisadas, em nosso volvidos, à luz das con dições sociais ràpidam ente m utá­
sistema adm inistrativo. Isto, segundo creio, é o que torna veis, novas teorias adm inistrativas e novos planos adm i­
o livro do Professor C a l d w e l l uma obra de m áxim a im ­ nistrativos. Não se pode descobrir m elhor m étodo de
portância. T em os tido, no cam po da adm inistração, uma tratamento para semelhante tarefa do que o estudo da
filosofia dem asiado sintética, disfarçada em ciência, e história administrativa, com base na política social. É
nenhuma análise suficiente das relações existentes, entre de se esperar que a ' iniciativa do Professor C a l d w e l l a
esquem as e técnicas adm inistrativos e os objetivos polí­ êsse respeito seja seguida por outros estudiosos do p ro ­
ticos. Precisam os, mais do que nunca, reconhecer a rela­ blem a e que tenhamos, em breve, uma literatura adm i­
BIBLIOGRAFIA 127
nistrativa através de cujas páginas se perceba o sôpro apresentar, de m odo sumário, os m étodos atualm ente usados
da própria v id a . no estudo da sociedade e algumas das principais conclusões
que dêles se derivam . F oi tam bém possível fazer-se uma
ampla exposição dos m étodos experim entais atualmente
INDICAÇÕES usados em muitas Escolas de Treinam en to de Professores,
a fim de se proporcionar ao estudante um conhecim ento
DISPERSAL — An inquiry made by The Natio­ mais am plo da vida social e seus problem as. A relação da
nal Council ol Social Service — Oxford Uni- S ociologia com certos assuntos que fazem parte d o pro­
grama das Escolas de Treinam en to foi tam bém estudada.
versity Press — 1944 — 96 págs. —- 3 sh
As palestras do referido Curso estiveram a cargo de
6 d.
eminentes sociólogos e educadores e foram reunidas no p re­
sente volum e p or M iss D . M . E . D ym es, que tam bém
Ê ste im portante estudo trata de um a das questões
se encarregou de organizar um resum o das conclusões re­
fundamentais do planejam ento de apos-guerra — isto é, a
sultantes das diversas contribuições apresentadas.
m elhor distribuição da população das ilhas britânicas. Seu
o b jetivo principal é estudar se é possível e com o pod e ser
feita a distribuição das repartições públicas e do pessoal
adm inistrativo fora de Londres e de outros grandes centros
urbanos. Baseia-se numa investigaçaão das opiniões de Os dois livros acim a indicados foram rem etidos a esta
chefes e em pregados de diversos órgãos, e nas experiências Revista pelo S r. representante d o Conselho B ritânico nesta
derivadas da evacuação em tem po de guerra. Dem onstra capital, â quem agradecem os a gentileza da oferta .
que nenhum plano terá probabilidade de êxito se não tomar
plenam ente em consideração os fatores sociais. M uitas das
questões levantadas, em bora fundam entalm ente relaciona­
das com o problem a dos em pregados burocráticos, tem pontos D IC T IO N A R Y OF
SOCIOLOGY — H e n r y
de ligação com os resultados gerais expostos no R elatorio — N ew York — 1944 __
P r a t t F a ir c h ild
Barlow sôbre a D istribuição da População Industrial. 342 págs. — $ 6. 00.

( Comentário de J o h n A. F i t c h , da New
SOÔIOLOGY AND EDU CATION — Palestras York School ol Social W ork, Columbia Uni-
irealizadas no Curso de Inverno de Sociologia versity).
e Instrução Cívica organizado pelo Instituto
Ê ste D icionário d e Sociologia con tém mais de 3 5 .0 0 0
de Sociologia — Le Play House Press
definições de vocábu los e conceitos, com eçand o com “ aban-
Malvern — Inglaterra — 1944 — 96 págs. doned ch ild ” e term inando por “ zy g ote” . O o b je tiv o é
fornecer um con ju nto de defin ições exatas dos têrm os que
A série de cursos de inverno p a ra .o estudo de Socioio-
se usam em literatura sociológica. A sociologia sendo o
gia e Instrução Cívica, organizados pelo Instituto de S ocio­
que é, muita cousa se incluiu que perten ce igualm ente a o
logia (L e P lay H o u s e ), foi interrom pida pelo advento da
vocabulário de um econom ista, de um antropologista, da
guerra em 1939.
um estatístico, de um psicólogo, ou de um leigo razoavel­
E m 1942, julgou-se necessário prosseguir com as aulas, m ente cu lto. T a l característica contribui, d e m o d o assaz
a fim de se atender a uma urgente necessidade. Alguns decisivo, para aumentar o valor da pu blicação, pois que
diretores e mestres das Escolas de T reinam ento de P ro­ amplia o seu a lcance. A lém disso, n o caso d e referências
fessores dirigiram ao Instituto solicitações d e auxilio e a acontecim entos de grande im portância social, essa carac­
conselho sôbre a m elhor mapeira de se incluir uma base terística freqüentem ente proporcion a uma quantidade lim i­
sociológica nos programas das referidas E scolas. Quando tada de fundam entos históricos, ou, n o caso d e conceitos
o assunto foi trazido perante o Conselho do Instituto, ficou mais obscuros, conduz a explanações relativam ente deta­
deliberado que uma discussão de Sociologia com especial lhadas.
referência aos trabalhos das Escolas de Treinam ento de
Professores seria o m elhor m eio de se atender a tais solici­ D uas espécies de dificuldades surgem inevitavelm ente.
tações . F icou, portanto, resolvido realizar em O xford um D esde que as defin ições oferecidas se referem a conceitos
curso de inverno de S ociologia e Instrução Cívica, expres­ e idéias, bem com o a vocábulos, e as explanações são, em
samente destinado aos interessados no assunto. sua maioria, necessariam ente breves, haverá divergência
entre os cientistas sociais no tocante à interpretação de
O o b je tiv o do Curso era obter uma discussão im parcial
do papel desem penhado p elo m etodo e pela teoria socioló­ term os esp ecíficos. H averá duvidas, tam bém , quanto ao
que foi om itido, bem com o ao que foi incluído, porquanto
gica no treinam ento de professores. A questão a ser deba­
tida era a de se incluir ou não cursos de Sociologia nos uma obra desta natureza deve necessariam ente abranger
uma área que não possui lim ites predeterm inados e geral­
programas das Escolas de T reinam en to. D esde o inicio,
m ente aceitos.
entretanto, adm itia-se que nenhuma parte do sistema educa­
cional p o d e separar-se d o sistema social em que se desen­ Apesar destas dificuldades inevitáveis, o livro será de
volve e fu n cion a . As palestras oferecidas no Curso visaram grande utilidade para estudantes e leigos e, sem dúvida,
128 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
será consultado freqüentem ente e co m p rov eito. R epre­ R evista d e Agricultura y Ganaderia — Organo O ficial dei
senta um esfô^ço trem endo p or parte de um a junta de M inistério de Agricultura — N .° 6, fevereiro d e 1945
eminentes sociólogos, auxiliados p or quase cem autores bem — Assunción.
conhecidos p o r suas contribuições à discussão cien tífica .
C em en to Portland — R evista dei Instituto dei Cem ento
Portland A rgentino — N .° 4, fevereiro d e 1945.

S erv iço Social — A n o V — M a rço d e 1945 — N .° 36 —


COMO SE H ACE UN EM PLEAD O — F. J. São P au lo.
R o e t h lis b e r g e r — Editorial Guillermo Jurisprudência — Õrgãos da Adm inistração — V o l. XV,
Kraft Ltda. — Buenos Aires — 254 págs. 1945 — R io — Imprensa N acional.
P or gentileza do E scritório d o Coordenador dos N egó­ B oletim Sem anal da A ssociação Com ercial d e São Paulo
cios Inter-am ericanos nesta Capital acabam os de receber — A no III, n.° 97, abril, 1945 — São P au lo.
o volu m e intitulado "C o m o se hace un em plead o” , de R evista Brasileira d e Atuaria — Õ rgão d o Serviço Atuarial
F . J . Roethlisberger, que não é senão a versão castelhana do M inistério do T rabalho, Indústria e C om ércio —
d o original inglês “ M an agem en t and M ora le” , do m esm o V o l. 3 — N .° 2 — Julho de 1943 — R io .
autor.
V erbum — P u blicação Trim estral das Faculdades C atóli­
A edição castelhana contribuirá, sem dúvida, para cas — T o m o II, fase. 1 — M a rço de 1945 — R io .
vulgarizar ainda mais -essa im portante obra, cu jo tem a prin ­
R evista do C onselho Nacional d o Trabalho — M . T . I . C .
cipal é a cooperação humana no am biente d e trabalho. — Janeiro e fevereiro de 1945, n.° 24 — R io .
Para m elhor apreciação do conteúdo d o presente v o ­ R evista d e Educação Pública — Secretaria Geral de E du ­
lume, reportam os os nossos leitores ao com entário de cação e Cultura — V o l. 2, n.° 8, outubro-dezem bro de
M o r r is S . V it e l e s , pu b lica d o nesta secção, no núm ero 1944 — R io .
de abril de 1943 desta R evista .
D .S ,.P . — Suplem ento de “ Adm inistração P ú b lica ” —
A n o I, n.° 14, abril de 1945 — São P au lo.

Engenharia — Publicada sob os auspícios do Instituto de


PUBLICAÇÕES RECEBIDAS
Engenharia — A n o III, v o l. III, ns. 32 e 33, abril e
Recebemos e agradecem os: m aio de 1945 — São P au lo.

E n gineering E xp erim en t Station N ew s — T h e O hio State Inapiários — Õ rgão dos Funcionários do Instituto de A p o ­
U niversity — V o l. X V I I , N .° 1 — February, 1945. sentadoria e Pensões dos Industriários — N .° 84, abril
de 1945 — R io .
Strení, R e lie í o i W eld m en ts for M achining S.tability, por
J . R . S'titt — Engineering E xperim ent Station, Bulle- R elatório sôb re as atividades da Secretaria da Agricultura,

tin n .° 121 — O hio State U niversity Studies, E n gi­ Indústria e C om ércio no qüinqüênio 1938-1942 —

neering Series — V o l. X III, N .° 6 — N ovem ber, 1944. P ôrto Alegre, Estado do R io G rande do Sul — 1945.

A Catalogue o i B o ok s irom U n iversity P resses — in T h e R ev ista do C om ércio do C aié do R io d e Janeiro — A n o IV ,

United S tates o i A m erica — Selected for their special n.° 5 1 ,.fevereiro de 1945 — R io .

interest to readers in Central and South A m erica — _ Hamann — E conom ia e Finanças — A n o V III, abril de
Issued b y T h e A ssociation of A m erican U niversity 1945 — R io .
Presses — 1945. B oletim Trim ensal d o D epartam en to Nacional da Criaíiça
R ev ista Ecuatoriana d e H igien e y M ed icin a T ropical — — M . E . S . — A n o IV , n.° 18, setem bro de 1944 —
Organo O ficial dei Instituto N acional d e H igien e — R io , 1945.
A n o I, n.° 2 — abril de 1944 — G uayaquil, E cu ador. B rasil-M édico —— A n o L I X — N s. 11, 12 e 13 — R io .

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