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DO
SERVIÇO
PVBLICO
A N O VIII
V ol. II — N. 3
Jun. 1945
DEPARTAMENTO
AD M IN ISTRATIVO
DO
SERVIÇO
PÜBLICO
PALÁCIO DA F A Z E N D A - 6.° e 7 ° andares
R io d e J a n e iro
Brasil
ENDEREÇO T E L E G R Á F IC O : D ASP
P R ESID EN TE :
D IR E TO R E S D E D IV IS Ã O :
D IR E TO R E S D E SERVIÇO :
Alfredo Nasser
Documentação
CONSULTOR JU R ÍD IC O :
Carlos Medeiros Silva
REVISTA DO
SERVIÇO PÜBLICO . O R S Ã O D E IN T E R E S S E D A A D M IN IS T R A Ç Ã O
E D IT A D O PELO D E P A R T A M E N T O A D M IN IS T R A T IV O DO S E R V IÇ O PÚ BL IC O
(D ecreto-lei n . 1.870, d e 14 de D ezem b ro d e 1939)
AN O V III _ JU N H O DE 194 5 V o l. II - N . 3
—— : — SUMARIO — - — -----—
EDITORIAL Págs.
C O LABO RAÇ ÃO
\yHenri Fayol e a Ciência da Administração s
A teoria administrativa de Fayol — LU IZ SIMÕES LO PES ...............................................................................5
O “ planejamento” na teoria administrativa de Fayol — A L F R E D O N A SSER .................................... ........ 8
A “ organização” na teoria administrativa de Fayol — B E A T R IZ D E S O U Z A W A H R L IC H . . . 10
O “ comando” na teoria administrativa de Fayol — AN IBAL M A Y A ................................................... 12
. A “ coordenação” na teoria administrativa de Fayol — BEN ED ICTO SILVA ...................................... 15
/ O "controle” na teoria administrativa de Fayol — C E SA R C A N T A N H E D E .................................... 20
\JjL
localização da Universidade do Brasil — L. H. H O R T A BARBO SA ......................................................... 23
IO Estado e os cartéis — RICHARD L E W IN S O H N .............................................................................................. 36
\/A . readaptação ao trabalho dos tuberculosos curados •— AN N IBAL N O G U E IR A JR...................................... 41
, ^V.dministração de pessoal — T O M Á S D E V IL A N O V A M O N T E IR O L O P E S ................. ............................. 50
y A prcíerênda pelos veteranos na conjuntura atual — L. G. R A M O S RIBEIRO .................................... 58
V/O s Territórios e os Municípios — O I T O PR A ZE R E S .......................................................................................... 66
] O centenário do Barão do Rio Branco — A D A LB E R TO M ARIO RIBEIRO ................................................. 69
DIREITO E JURISPRUDÊNCIA
/D ir e ito de minas - FRANCISCO BURKINSKI ......................................................................................................... 91
Pareceres — Julgados .......................................................................................... - ............................................................ 97
ORGANIZAÇÃO E COORDENAÇÃO
Taylorismo e Administração Pública .............................................................................................................................. 105
ADMINISTRAÇÃO DE PESSOAL
Importantes modificações na concessão de diárias aos servidores p ú b lico s........................................................... 107
Notas para o funcionário ..................................................................................................................................................... 108
SELEÇÃO
Questões apresentadas no último concurso para a carreira de Arquivista ....................................................... 111
NOTAS
Notas para a História da Reforma Administrativa no Brasil ................................................................................ 11 $
Pessoal brasileiro para a U .N .R .R .A . — Uma entrevista do Presidente do D . A . S . P ............................... 1 20
Fundação Getúlio Vargas — Plano de trabalhos e orçamento para 1945 ......................................................... 123
BIBLIOGRAFIA
Crítica — Indicações — Publicações recebidas ................................................................. ............................................ 125
REVISTA
DO
SERVIÇO PÚBLICO
ORGÀO DE INTERESSE DA ADMINISTRAÇÃO
Editado pelo Departamento Adminlatratlvo do Serviço Público
(D ecreto-lei n . 1870, de 14 d* deaembro de l » í » )
REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO
Palácio da Fazenda - 6.° andar — Sala 615
Rio d e Janeiro — Brasil
Expedi ent e
Assinatura anual ........................................ CrS 50,00
Assinatura anual para o exterior.............. CrS 100,00
Número avulso . . . CrS 5.00
Fiel a essa honesta e inteligente filosofia, o Presidente Roosevelt diligenciou por me
lhorar a composição dos quadros do govêrno federal americano. A êle se deve a extensão
do sistema do merecimento a muitas categcrias de cargos e funções até então providas
politicamente, de acôrdo com as recomendações dos chefes eleitorais e membros do partido
dominante na ocasião. O famoso documento hoje mundialmente conhecido por “Presi
dentas Committee on Administrative Management — Report with special studies” — tra
balho de inexcedível valor como repositório de doutrina e informação sôbre os problemas
administrativos do govêrno — proclamava, inicialmente, que o “sistema do merecimento
deve ser estendido para cima, para baixo e para fora, de modo que inclua todos os cargos
do ramo executivo, exceto os que são de natureza política. Ao mesmo tempo, a adminis
tração do serviço civil deve ser. reestruturada em um órgão central de pessoal sob um chefe
único, auxiliado por um conselho de cidadãcs não partidários, nomeado para servir como
cão de guarda do sistema do merecimento” (appointed to serve as a watchdog of the merit
system ).
Aí temos a versão aperfeiçoada da file sofia do Presidente Roosevelt sôbre o serviço
civil.
Que grande e luminoso era o Estadista das quatro liberdades 1
HENRI FAYOL E A CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO 5
E H enri F a y o l . A homenagem é merecida e exposição dessa teoria, começa êle por afirmar
oportuna. Merecida, porque a boa gerência das que o conjunto das operações realizadas em qual
empresas públicas e particulares envolve gran quer emprêsa, “simples ou complexa, pequena ou
des interesses humanos e, com o se sabe, a contri grande” , privada ou pública, divide-se em seis
buição de Fayol para a criação da Ciência Adminis grupos distintos : cinco evidentes e bem conheci
trativa não encontra paralelo na de nenhum outro dos e um menos visível, mal definido, mais geral,
europeu. Oportuna, porque a necessidade de subs refratário à percepção com um .
6 REVISTA DO SERVIÇO PUBLICO — JU N . 1945
Segundo a classificação do mestre, tão divul nação e o controle, sem os quais o organismo mais
gada no Brasil, os cinco grupos de operações ou bem constituído não pode realizar seus fins” .
de funções’ essenciais, que existem em tôda em No exercício desta função, cumpre respeitar cer
presa, perceptíveis à observação ordinária, são : tos princípios, bem como conceber e praticar cer
1.° grupo — operações técnicas, ou seja, a pro tos procedimentos, que Fayol tentou indicar e sis
dução, a fabricação, a transformação de matérias tematizar no seu livro fundamental “Administra-
primas em mercadorias, utilidades e serviços; 2 .° tion Industrielle et Générale.” Apesar de baseadas
grupo — operações comerciais, isto é, as compras, numa experiência mais ou menos limitada, por
as vendas e as trocas; 3.° grupo — operações fi que circunscrita à indústria mineira e metalúrgica,
nanceiras, que se desdobram em procura e admi as regras fayolianas surpreendem pelo caráter de
nistração de capitais; 4 ° grupo — operações de sua generalidade, conforme registra o seu próprio
segurança, destinadas à proteção dos bens da em criador. Fayol estava convencido de que havia
presa e das pessoas que nela trabalham; 5.° grupo identificado princípios válidos e gerais.
— operações contábeis, a saber : o registro, o in
Quando iniciou, depois de encerrada a sua car
ventário, o balanço, a contabilidade de custo e
reira industrial, uma campanha de propaganda em
os levantamentos estatísticos.
benefício da administração científica, costumava
Analisando 'fujncionalmente as operações que
dizer : “Qualquer que seja o grupo, a família, a
integram os cinco primeiros grupos, o pesquisador escola, o sindicato; uma cooperativa, uma socie
meticuloso percebe que certas atividades impor dade científica, uma oficina de pintores ou uma
tantíssimas, também ocorrentes èm qualquer em
escola de músicos; um clube esportivo, um hospi-
presa, não figuram em nenhum dêles. Trata-se . tal, um ccm ité eleitoral, uma liga para o bem pú
das operàções administrativas, componentes do blico, uma obra de caridade, uma paróquia ou um
sexto grupo, ponto de partida e centro de inte consistório, um exército como um convento, um
rêsse da Teoria de Fayol. município, uma província, um Estado e até a So
Com efeito, nem a elaboração do programa ciedade das Nações, todos estão sujeitos, conscien
geral de ação da emprêsa, nem o recrutamento e temente ou não, a leis cuja observância ou inobser
seleção dos empregados, nem a direção do pes vância costuma ser sinônimo de prosperidade ou
soal, nem a coordenação de seus esforços, nem paralisação” . E concluía : “Estas leis constituem
o controle das atividades e resultados fazem parte a Administração experimental” .
de qualquer das operações constantes dos cinco
Como corolário lógico de sua teoria, Fayol diz
primeiros grupos. Elaborar os planos de ação,
que cumpre que o pessoal de qualquer emprêsa
constituir o corpo social da emprêsa, 'estruturar
seja capaz de desempenhar as seis funções essen
as suas divisões e serviços, dirigir o pessoal, coor
ciais e que, à medida que se sobe na escala hie
denar os esforços e controlar os resultados consti
rárquica, a capacidade mais necessária é a adminis
tuem uma função à parte, distinta, a que habi
trativa, isto é, a capacidade de planejar, organizar,
tualmente se chama administração. Pode-se dizer
comandar, coordenar e controlar. Por conseguinte
que, antes da sistemática de Fayol, tanto a com
— opinava êle — ■ uma educação exclusivamente
petência como a própria esfera de ação da admi
nistração se achavam mal definidas. técnica não corresponde às necessidades gerais das
emprêsas, quer públicas, quer particulares. E es
Fayol depõe que, ao lado das operações téc
tranhava que os esforços feitos no sentido de am
nicas, comerciais, financeiras, de segurança e con
pliar e aperfeiçoar os conhecimentos técnicos dos
tábeis, que existem em tôda emprêsa, e cuja ma
operários e contramestres não fôssem extensivos
terialidade é sensível, por assim dizer, a todos
também à preparação dos futuros chefes para o
os exames, percebeu, cada vez com maior clareza,
exercício das funções administrativas.
que existe uma função mais geral, menos conheci
da, que envolve tôdas as demais até dominá-las Ao tempo em que emitiu estas idéias a Admi
em dado momento — por fôrça da hierarquia dos nistração nem sequer figurava nos programas de
cargos — e a que chamou função administrativa. ensino das escolas superiores de engenharia civil.
Dessa função se desprendem — diz êle — “o pla Fayol não atribuía tal negligência a um possível
nejamento, a organização, o comando, a coorde desconhecimento do papel da capacidade admi
HENRI FAYOL E A CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO 7
nistrativa; ao contrário, acreditava que a impor ná-los com as respectivas causas. Com efeito, não
tância dessa capacidade era geralmente reconhe há sanção profissional contra os erros administra
cida . E argumentava : “Se se cogita de escolher tivos. Diz Fayol que a situação seria muito di
um capataz, entre os operários; um chefe de ofi versa se existisse uma doutrina consagrada — um
cina, entre os capatazes; ou um diretor, entre õs conjunto de princípios, regras, métodos, procedi
engenheiros, nunca, ou quase nunca, é a capacidade mentos provados e controlados pela experiência.
técnica que decide a escolha” . Sem dúvida é Por essas razões Fayol considerava urgente a for
desejável que o escolhido possua a necessária dose mulação de uma doutrina administrativa, tarefa a
de capacidade técnica, mas, dentre candidatos de que dedicou os seus últimos anos e energias. Levou
valor técnico quase equivalente, usualmente se dá tão longe êste empenho, que chegou a criar um
preferência àquele que é considerado superior por organismo especial intitulado “Centro de Admi
suas qualidades de presença, autoridade, ordem, nistração Industrial e Geral”, que tinha o tríplice
organização e outras, que representam por assim objetivo de : 1.°) organizar um esforço coletivo de
dizer os próprios elementos constituintes da capa elaboração doutrinária, no sentido de estender o
cidade administrativa. método experimental, introduzido pelo seu patrono
na administração industrial, a todos os domínios
À alegação de que a escola do administrador
é a emprêsa, Fayol contrapunha o parecer de que em que ocorre a função administrativa, desde a
a capacidade administrativa, tanto quanto a capa família, até o Govêrno, a Igreja, etc.; 2.°) conti
cidade técnica, pode e deve ser adquirida, primeiro, nuar e intensificar a propaganda em favor da im
na escola, e, depois, na prática — na oficina, no plantação do ensino administrativo nos programas
escritório, na repartição. Para êle, a verdadeira de tôdas as escolas; 3.°) promover a rápida vulga
razão da ausência do ensino da administração rização dos princípios administrativos atualmente
estava na ausência de doutrina. À míngua de uma elaborados, bem como dos procedimentos corres
doutrina comum, enxameiam doutrinas pessoais. pondentes. Como se vê, o Centro de Estudos
Cada chefe tende a julgar-se conhecedor dos me Administrativos devia, internamente, desempe
lhores métodos, o que explica a freqüência com nhar a tarefa de elaboração doutrinária e, exter
que, na indústria, no exército, na família, no go namente, desenvolver esforços de propaganda e
divulgação.
vêrno, sejam adotadas as práticas administrativas
mais contraditórias. Depois de haver feito uma grande emprêsa in
dustrial prosperar durante meio século, sem inter
Cumpre admitir que a inexistência de uma dou
rupção; depois de haver dado corpo a uma teoria
trina aceita conduz efetivamente a resultados in
que até agora tem resistido a tôdas as críticas, o
congruentes e até chocantes. O administrador fica
grande engenheiro francês, cônscio do valor de suas
à vontade para, em face desta ou daquela situação, idéias e auxiliado por alguns seguidores entusias
aplicar métodos empíricos, improvisados ao sabor tas, resolveu difundí-las profundamente na opinião
de suas tendências. pública, mediante ação sistemática e persistente.
Ao passo que, por exemplo, num problema de Acreditava e proclamava que, assim como há mui
técnica de construção de estradas de rodagem, o ta riqueza não utilizada, existe igualmente, em
engenheiro não se atreve a contrariar certas regras estado latente, dispersa por tôda parte, uma ener
estabelecidas, sob pena de perder o prestígio pro gia administrativa que convém explorar em bene
fissional, quando se trata de uma questão admi fício do gênero humano.
nistrativa, como seja o planejamento dos traba A exploração dessa fonte de riqueza potencial
lhos de uma repartição, ou a estrutura de um novo é susceptível de ser feita pela difusão e aperfeiçoa
órgão ministerial, o chefe pode admitir as praticas mento das modernas teorias sôbre a organização
mais perigosas e adotar as idéias mais apriorísti- científica do trabalho, em cuja constelação a T eo
cas, sem correr nenhum risco. E ’ que os procedi ria Administrativa de Fayol figura com o estrêla
mentos administrativos não são julgados por si de primeira grandeza.
mesmos, mas através de suas repercussões. Afas Ao homenagear, por meio desta reunião, a sua
tado pela distância, ou pelo tempo, o observador memória, nada mais estamos fazendo do que ren
ou o crítico, que queira julgar os resultados d der um preito justo ao seu espírito público e ao
ação administrativa, nem sempre consegue relacio seu anseio de progresso, tantas vêzes demonstrado.
8 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
N o túmulo de Taylor existe a seguinte ins pregar; nessa planta do futuro os acontecimen
crição : Frederick W . Taylor. Pai da Organização tos próximos aparecem com relativa nitidez, tais
Científica. N o de Fayol fôra de inteira justiça gra como os imaginamos, e os acontecimentos rem o
var-se esta : Henri Fayol, Fundador da Ciência da tos se esbatem cada vez mais vagos. O programa
Adminis tração. de ação é a marcha da emprêsa prevista e pre
parada para um certo tempo” .
A seguir ouviremos os nossos distintos colegas
incumbidos de interpretar, para êste seleto auditó As capacidades são aquelas mesmas a que dão
rio, os elementos administrativos nucleares da T eo lugar os seis grupos de operações, com ênfase —
ria de Fayol, ou sejam : o planejamento, a organi forte'ênfase — na capacidade administrativa.
zação, o comando, a coordenação e o controle.
As realidades a cuja revelia nenhum programa
pode ser elaborado pertencem à natureza íntima
dos meios de que dispõe a emprêsa para atingir
II. O “PLAN EJAM EN TO ” N A TEORIA aos seus obejtivos : dos imóveis e das matérias
A D M IN IST R A T IV A DE F A YO L primas ao capital e à capacidade de produção, das
ferramentas e do pessoal às relações sociais; per
A lfredo N asser
tencem à natureza e à importância das operações
em curso e, ainda, àquilo que o futuro pode de
QUE mais impressiona no pensamento de terminar e que depende, em parte, de fatores su
O Henri Fayol ao expor, inicialmente, a im jeitos a transformações para as quais a previdên
portância do planejamento, como o primeiro dos cia não pode, desde logo, determinar, nem a sua
elementos de administração, não é a máxima em importância nem o momento em que vão ocorrer.
que reoorda que “governar é prever” , nem quan
Mas se tôda ação, dirigida no sentido de um
do afirma que “prever significa aí, ao mesmo tem
propósito, deve ser iniciada^ por um programa,
po, levar em conta o futuro e prepará-lo” , senão
devem ser pesquisadas as razões que impedem o
quando, sucintamente, diz apenas isto : “prever é
surto, por tôda parte, dêsse “útil instrumento de
já agir” . _
govêrno” .
D e onde se deduz : onde quer que as coisas
Fayol suspeita de que os programas de ação
devam suceder bem, no mundo dos negócios pú
não têm sido utilizados freqüentemente e não che
blicos ou privados, o planejamento não antecede
garam, ainda, ao mais alto grau de aperfeiçoamen
a ação, porque, em si mesmo, êle deve constituir
to, porque a sua elaboração requer qualidades e
o início da ação.
condições que muito dificilmente se encontram
E ’ dessa forma que se limita a incursão do im reunidas nos dirigentes de uma emprêsa.
previsto nas oscilações do futuro.
Estas qualidades e condições são : 1.°) a arte
Quando o esforço individual ou coletivo se de de dirigir os homens; 2.°) muita atividade; 3.°)
senvolve segundo um plano — isto é, segundo uma certa coragem moral; 4.°) estabilidade; 5.°)
uma política — é óbvio que as possibilidades de uma certa competência na especialidade profissio
insucesso no empreendimento se reduzem de nal da emprêsa; 6 .°) uma certa experiência geral
m uito. de negócios.
Eu disse um plano, preferaitemente uma polí A boa maneira de conduzir os homens, que são
tica. a velha medida de tôdas as coisas — e há quan
tos séculos esta verdade nos é transmitida! — en
Fayol afirma : “o planejamento encontra uma
contra plena justificativa de sua exigência ao ser
infinidade de formas e de ocasiões para se mani
elaborado um programa, trabalho em que partici
festar : mas o seu instrumento mais eficaz é o pro
pam quase todos os chefes de Serviço, porque esta
grama de ação” .
tarefa excede às obrigações normais, sem que, por
Êste, que é a presença física do planejamento, isso, caiba qualquer remuneração especial. Uma
constitui ao mesmo tempo, diz o genial engenhei colaboração leal e ativa, nessas condições, só pode
ro, “o fim visado, a linha de conduta, a sar trilha ser obtida segundo a habilidade com que se por
da, as etapas a serem vencidas, os meios a em tar, normalmente, o responsável pelo grupo.
HENRI FAYOL E A CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO 9
A atividade por parte dos que dirigem quer que dois programas diferentes não podem coexis
dizer atenção contínua nas diferentes previsões tir em relação a um idêntico propósito.
(anuais, decenais ou especiais), e a coragem mo
A continuidade refere-se à ação diretriz do pro
ral se funda em saber resistir e manter o justo
grama, pois êste não deve sofrer interrupção e, já
equilíbrio em face de crítica, sabido com o é que que a duração dos programas é limitada, por fôrça
os programas, mesmo os mais cuidadosamente pre da própria limitação da perspicácia humana, um
parados, não se realizam nunca na justa medida deve suceder ao outro sem intervalo. O mais co
Os que não oferecem essa qualidade são tentados
mum na grande emprêsa, são os programas de
a evitar a crítica, ou suprimindo desde logo qual duração anual.
quer plano ou tornando-o insignificante. A esta
bilidade do pessoal dirigente é necessária, dado As inovações cuja necessidade freqüentemente
ocorre na marcha dos negócios exigem, para um
que o período de adaptação de novos chefes é
geralmente muito longo. Terminado êste pro bom programa, flexibilidade, vale dizer, capacida
cesso, não se sentindo suficientemente a coberto de de se amoldar às novas circunstâncias.
de surpresas que o impossibilitem de confeccionar Quanto à precisão, é lógico que possamos obtê-
o plano e, possivelmente, de, pelo menos, assistir la para os acontecimentos que venham a se de
ao início de sua execução, não se pode contar que senvolver em um futuro próximo. Para um fu
um chefe se abalance a empreender um trabalho turo remoto uma diretiva é o bastante.' Entre
que lhe deve parecer estéril. A competência pro tanto, a precisão falha completamente quando o
fissional e conhecimento geral de negócios são pêso do desconhecido sobrecarregar a balança da
qualidades tão necessárias à elaboração do pro
previsão. Nêste caso, a emprêsa — diz Fayol —
grama como é sua execução.
toma o nome de aventura.
“A ausência de programa” » diz textualmente
Fayol, “ou um mau programa, constituem demons Aí estão, minhas senhoras e meus senhores, em
trações de incapacidade do pessoal dirigente.” rápido esbôço, as idéias de Henri Fayol sôbre o
planejamento. Muitas outras advertências, quan
E com o pôr a salvo das incursões dessa incom
to às excelências e aos inconvenientes das previ
petência os interêsses dos empreendimentos em ge
ral ? Tornando obrigatória a elaboração de pro sões, com aquela magnífica precisão do seu pensa
gramas; expondo ao público, que assim se escla mento, o grande engenheiro nos oferece.
rece e exerce sua pressão, modelos de programas, Adverte, sobretudo, que um bom programa não
solicitados, de preferência, às emprêsas prósperas; se conduz sem eficientes práticas de organização,
e, finalmente, introduzindo no ensino, como disci de comando, de coordenação e de controle. Êle
plina que requer tôdas as atenções, o planeja influi, por assim dizer, decisivamente, sôbre todos
mento . os elementos de administração.
Mas, os programas apresentam diversas formas, E nenhuma forma melhor de pagar-vos esta
quer quanto ao seu tempo de duração, à sua con generosa atenção que relembrar as suas expres
textura, ou aos cuidados postos na sua elaboração. sões, quando, esforçando-se por determinar as
Como distinguí-los? Como conhecer um bom pro qualidades particulares que deve possuir um bom
grama? programa de ação, lembrava êle, melancolicamen-
A resposta seria atribuir à experiência a última te, que era preciso, em cada caso, procurar, na
palavra, segundo os resultados obtidos. Mas o prática dos negócios, elementos de comparação,
autor adverte, ainda, que há o instrumento e o como faz o arquiteto quando pretende edificar
artista, isto é, que deve ser levada em conta a ma uma casa. M elhor servido que o administrador, o
neira pela qual o programa é executado. Con arquiteto pode recorrer a álbuns e a cursos de ar
tudo existem alguns caracteres gerais que auto quitetura. Mas não há álbuns de pregramas de
rizam uma expectativa favorável e, entre êles, uni ação; não há cursos de planejamento; a própria
dade, continuidade, flexibilidade e precisão. doutrina administrativa está por ser elaborada.
Unidade não significa que um programa não se Se Henri Fayol ainda vivesse, haveria de gostar
subdividida em muitos que nele se entrosem, e, sim, desta reunião. Aqui se prova que a doutrina admi
10 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — - JU N . 1945
nistrativa não tinha, àquela época, contornos níti Êsse pode ser considerado como o principal
dos. Mas, hoje, já ela se definiu claramente e a característico da concepção de Fayol sôbre a orga
contribuição de Henri Fayol não foi grande, nem nização : não isolar a estrutura, não considerá-la
excelente. Foi a maior de tôdas. distinta dos demais fatores que possibilitam a orga
nização de um setor qualquer. A certa altura de
seu trabalho diz mesmo êle que a organização
consiste particularmente em “saber constituir o
III. A “ O R G A N IZ A Ç Ã O " N A TEORIA
corpo social” ( 5 ) , ou seja o pessoal.
A D M IN IST R A T IV A DE F A YO L
Em outro ponto, depois de repetir que “organi
B e a t r iz M. de zar uma emprêsa é muní-la de tudo que é neces
So u za W a h r l ic h
O material e social, da emprêsa” , define Fayol fazer, nesse conjunto, duas grandes divisões: o
( 1 ), que, logo após, torna mais precisa a sua organismo material e o organjsmo social” ( 6 ), e
idéia, dizendo : — “Organizar uma emprêsa é mu- declara que só tratará do segundo.
ní-la de tudo que é necessário a seu funcionamento: T odo o seu estudo, daí por diante, gira em tor
material, instrumental, capital e pessoal” ( 2 ) . no do “corpo social” , do “ente social” , do “pes
Ainda mais esclarece Fayol o seu pensamento, ao soal” . Discorre sôbre os deveres administrativos
assim dissertar sôbre o assunto : “Organizar é de do corpo social; trata da sua constituição nos di
finir e estabelecer a estrutura geral da emprêsa versos graus de seu desenvolvimento; salienta a
tendo em vista seu objetivo, seus meios de fun importância do fator individual; enumera os órgãos
cionamento e seu andamento futuro tal como de do corpo social; manifesta-se sôbre o “sistema Tay-
terminado pelo planejamento; é conceber e criar lor” , criticando e discordando da negação do prin
as estruturas de todos os serviços que a compõem, cípio da unidade de comando que encontra em
tendo em vista a atribuição de cada um . E ’ dar Taylor; discrimina as qualidades e conhecimentos
forma ao todo e a cada minúcia seu lugar; é ela que os chefes de grandes emprêsas devem pos
borar a moldura e pôr dentro dela o conteúdo que suir; e finaliza tratando do recrutamento do pes
lhe estava destinado. E’ assegurar uma exata di soal. Não enumera princípios de organização, não
visão do trabalho administrativo, dotando a em propõe tipos de organização. Os seus “princípios
prêsa somente das atividades consideradas essen de organização” estão compreendidos nos de “ad
ciais e determinando cuidadosamente a esfera de ministração”, que figuram logo no início de sua
cada uma delas. Na organização se traduzem obra clássica, a “Administração Industrial e
pois em fatos os conceitos teóricos do plane Geral” ( 7 ) .
jamento” ( 3 ) .
Vê-se, pois, que Fayol sempre preferiu encarar
Como se vê, o grande mestre considera a orga a divisão do trabalho como um grupamento de
nização em seus têrmos mais amplos, compreen homens, em vez de um grupamento de tarefas,
dendo, além do seu sentido mais comum — ou seja quer tendo em vista seu objetivo, ou seu processo
“a técnica de estruturação dos órgãos e normali de técnica ou a clientela, ou ainda a área. Partia
zação de seu funcionamento” ( 4 ) , a obtenção dos êle sempre do indivíduo e não da função, isto é,
recursos financeiros, materiais e humanos necessá não isolava nunca o trabalho de seu executante.
rios a fazer a emprêsa funcionar. Daí ter resultado tratar êle, quando se refere à
“organização” , quase que exclusivamente do corpo
( 1 ) Adm inistration Industrielle e t G én érale, Paris, D u-
social. Daí ter êle, ao estabelecer analogia entre
nod, 1931 — pg. 13. o organismo social e o animal, escrito q u e : “o
( 2 ) O p. cít., pg. 7 8 .
homem representa no corpo social um papel aná
( 3 ) T h e A dm inistrative T h eory in th e S tate, in “ Papers
on the S cien ce o f Adm inistration’ ,, por L u T H E R G U LIC K e logo ao da célula no anim al: célula única na em-
cutros, N ew Y ork, Institute o f P u blic Adm inistration,
pg. 103.
( 4 ) P a u l o d e A s s i s R i b e i r o — Curso d e P rincípios do ( 5 ) A dm inistration Industrielle e t G én érale, pg. 106.
O rganização, edição m im eografada dos Cursos de A dm inis (S ) O p. cit., pg. 78.
tração d o D . A . S . P . , 1942, l.a aula. ( 7 ) Pg. 28.
HENRI FAYOL E A CIÊNCIA P A ADMINISTRAÇÃO 11
prêsa rudimentar, milésima ou milionésima parte ção — sem, simultaneamente, tomar em conside
do corpo social numa grande emprêsa. O desen ração as tradições do patriotismo local, as ativi
volvimento do organismo se opera pelo grupamento dades da imprensa, as tendências emocionais cor
das unidades elementares (homens ou células) e rentes da população, enfim, mil e uma influências
cs órgãos aparecem, se diferenciam e se aperfei que podem levar a reduzir-se o desejável ao pos
çoam à medida que aumenta o número dos ele sível. O capitão de indústria administrador de
mentos reunidos. No corpo social, com o no ani uma vasta emprêsa não se deve esquecer da qua
mal, um pequeno número de funções essenciais lidade e das idiossincrasias pessoais dos seus ge
realizam uma variedade infinita de operações. rentes, nem do temperamento de seus operários,
Podem-se traçar numerosos paralelos entre as fun nem da tendência do mercado consumidor dos
ções dêsses dois organismos” ( 8 ) . produtos de seu ramo. Por serem “homens práti
cos”, por ser seu dever fazer o que estiver a seu
Analisando a concepção de Fayol sôbre a orga
alcance numa situação humana complexa, esta-
nização, Urwick em seu notável ensaio “A Função
riam êles cumprindo menos do que o seu dever
da Administração” — a considera o resultado de
se deixassem de ter tais considerações como a
ter sido Fayol “um homem prático” , um adminis
base de seu pensamento” . Entretanto — adverte
trador que não podia cogitar da organização em
Urwick — “somente mediante o isolamento de
abstrato. Pensa Urwick que dessa maneira Fayol
um ou mais fatores de um problema é que a
estabeleceu um limite para seu raciocínio, pois,
ciência alarga suas fronteiras. A medicina se preo
diz êle “é impossível progredir-se no conhecimento
cupa com a preservação da vida mas ganha conhe
da organização sem isolar o fator estrutura de
cimentos da anatomia. À arte da administração
todos os demais, ainda que possa parecer artificia!
é necessário o conhecimento do fator humano, mas
essa distinção” . Segundo Urwick, “a confusão que
isso não significa ser impossível estudar a estru
existe nos negócios de todos os países torna impe
tura de uma emprêsa anatomicamente, isolar a
rativo êsse progresso, a fim de preservar-se a ordem
organização e tratá-la com o um problema técni
social. E justamente devido ao fato de os adminis
co” ( 11 ) .
tradores, cuja opinião sôbre o assunto é respeitada
pelo público, não conseguirem, em razão mesmo Quererá isso dizer que Fayol e Urwick diver
da natureza de seu trabalho, operar essa abstração gem quanto ao que seja “organização” ? A meu
intelectual, que o nosso progresso nas ciências so ver não há propriamente uma divergência, mas,
ciológicas se arrasta atrás de nosso crescente do sim, uma apreciação feita de ângulos diversos e
mínio dos recursos físicos” ( 9 ) . ' cm época diferente.
Dizia Fayol que “se pudéssemos fazer abstração Realmente, Fayol partiu do fator homem e
do fator humano, seria bastante fácil constituir um Urwick do fator estrutura. A “Administração In
organismo social; qualquer um poderia fazê-lo, bas dustrial e Geral” de Fayol, foi iniciada em 1908,
tando para isso ter alguma idéia dos modelos e desenvolvida até 1916; o ensaio em que Urwick
usuais e o capital necessário. Mas não é possível sôbre êle discorre é de 1934.
constituir uma organização efetiva simplesmente A significação dêsses dados é ainda maior do
grupando homens e distribuindo funções; precisa que possa à primeira vista parecer.
mos, também, saber como adaptar a organização
Fayol foi, inegàvelmente, um pioneiro. A sua
às necessidades do caso, e com o encontrar as pes
obra, baseada no seu trabalho em uma única em
soas e colocá-las no lugar onde possam ser mais
prêsa, tem êsse sabor das coisas originais, das
úteis; para organizar precisamos, enfim, de sérias
coisas resultantes de uma experiência própria.
e numerosas qualidades” ( 10 ) .
Como disse o próprio Urwick, a Fayol não era
Por seu lado, salientou Urwick que “o esta possível deixar que suas pesquisas o levassem a
dista não pode considerar, com o um problema relegar a plano secundário sua característica de
técnico, o que é a mais efetiva forma de organiza- homem prático” — que não lhe permitiu ima
ginar a organização em abstrato, que o fêz tratar
( 8 ) Op. cit.f pg. 8 7 .
( 9 ) L . U r w i c i í — T h e Function o f Adm inistration, in
“ Papers on T h e S cien ce of Adm inistration” , pg. 122. (1 1 ) L . U R W IC K — T h e F u n ction o f Adm inistration, in
( 1 0 ) A dm . Ind. e t G én., pg. 8 3 . “ Papers on T h e S cien ce o f Adm inistration” , p g . 1 2 2 .
12 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
da organização como se fôsse predominantemente esta missão privativa da alta chefia ? E ’ ainda
a constituição do organismo social, entendido êste Fayol quem responde : ela se reparte entre os
como o elemento humano da emprêsa. diversos chefes da emprêsa, tendo cada um o en
cargo e a responsabilidade pelo seu setor. E pros
Por seu lado, Urwick, que antes de presidir, na
segue : “Para cada chefe a finalidade do comando
Inglaterra, a Companhia de Engenheiros Indus
é obter, no interêsse da emprêsa, o maior apro
triais, de que era sócio, havia dirigido o Instituto
veitamento possível dos agentes que trabalham
Internacional de Gerência, de Genebra, publicou
sob suas ordens” ( 3 ) .
o seu ensaio numa época em que já florescia e
se aprofundava o estudo da técnica de organiza Examinemos, inicialmente, as relações do co
ção, numa época em que, na América, M ooney e mando com as demais atribuições que, segundo
Reiley e Luther Gulick — para destacar aquêles aquêle autor, compõem a função administrativa,
que mais admiro — conseguiam uma admirável a saber : o planejamento, a organização, a coor
sistematização que, segundo uns, chega mesmo a denação e o controle. Não me parece possível
dar à embrionária técnica de organização foros hierarquizá-las. São tôdas essenciais, imprescin
de ciência. díveis, igualmente importantes.
Não é possível, pois, comparar os instrumentos Assim pensando, por extraordinário que pareça,
de que Fayol dispõe com os de Urwick. E foram não procurarei puxar a brasa para a minha sardi
os melhores instrumentos de Urwick que lhe per nha aceitando a afirmativa de Urwick, contida
mitiram criticar o fato de não ter Fayol tratado em certa altura do seu Organization as a Techni-
a “organização” 'como setor da administração pas cal Problem ( 4 ) , de que a função de comandar
sível de investigação própria, distinta da do ele e a mais importante de tôdas. D o quanto as
mento humano. Fayol, de sua própria experiência, diferentes operações se interrelacionam e depen
induziu os seus princípios e elementos da admi dem umas das outras diz-nos aquêle mesmo autor
nistração. Urwick examinou-os mais tarde, à luz com esta definição de com ando: “Comandar é
de sua experiência e da de seus ilustres contem fazer a organização operar de acôrdo com o pla
porâneos estudiosos da técnica da. organização, e no” ( 5 ) . E um pouco adiante : “controlar é veri
pôde verificar a possibilidade de um tratamento ficar se tudo está sendo executado de acôrdo com
mais rigorosamente científico para êsse aspecto da o plano estabelecido, a organização adotada e as
obra daquele “homem prático” . Assim, entre Fayol ordens dadas. Assim como a coordenação é a
e Urwick não me parece haver uma divergência. dinâmica da organização e dela depende, assim,
Há, sim, de um para outro, uma evolução, para também, o controle é, de certo modo, a conse
a qual contribuiu poderosamente o gênio do mes qüência do comando, a verificação constante dos
tre francês. seus resultados. O comandante não pode delegar
inteiramente a sua responsabilidade pessoal pela
coordenação e pelo controle, pelas mesmas razões
por que não pode delegá-la no que concerne à
IV . O “ C O M A N D O ” N A TEORIA
organização e ao próprio comando” .
A D M IN IST R A T IV A DE F A YO L
Daí se infere, não só “que essas funções cons
A n íb a l M aya
tituem uma parte essencial da atividade do chefe
e não se podem separar fàcilmente da sua perso
O M A N D A R é dirigir o pessoal” ( 1 ) . Eis
Evitando relacionar aquelas qualidades, o gran D o sétimo, não só depende o cumprimento efi
de mestre se limitou a lembrar alguns preceitos ciente dos demais, mas também êle se aplica ao
que, na sua opinião, podem facilitar o comando. modo pelo qual os outros devem ser obedecidos.
Assim, “o indivíduo encarregado de comandar Suas conseqüências podem ser bastante graves,
deve : quando o chefe não dispuser de elementos a quem
possa delegar as outras funções da administra
1 — Ter um conhecimento profundo de seu ção ( 8 ) .
pessoal. Não creio que haja dúvida sôbre o quanto im
2 — Eliminar os incapazes. porta para o comandante o conhecimento dos prin
cípios gerais da administração. Êsses conheci
3 — Conhecer perfeitamente os convênios que
mentos não são, porém, do domínio de todos os
regem as relações entre a emprêsa e os
que exercem cargos de chefia. Isso se compreen
seus agentes.
de, pois quanto mais o indivíduo se aproxima da
4 — Dar bom exemplo. esfera em que são executados os trabalhos, tanto
5 — Inspecionar, periodicamente, com o au mais indispensável se lhe torna a capacidade téc
xílio de quadros sinóticos, o corpo social. nica e menos importante a administrativa. A re
cíproca também é verdadeira, isto é : quanto mais
6 — Reunir em conferências os seus princi
elevado o seu nível na escala hierárquica, mais
pais colaboradores para manter unidade
deve possuir aquela última capacidade. São mais
de direção e convergência de esforços.
ou menos essas as palavras de Fayol.
7 — Não se deixar absorver pelas minúcias. E as razões que sugeriram a enunciação dêsse
8 — Fazer com que reinem entre o pessoal a princípio são óbvias : um ministro de Estado, por
atividade; a iniciativa e a abnegação” ( 6 ) . exemplo, tendo que distribuir a sua atenção pelos
diferentes setores de uma superfície muito ampla,
não poderá dominar um campo diminuto de espe
Examinando êsses oito preceitos somos obriga
cialização, oculto em uma das divisões de um dos
dos a chegar às mesmas conclusões a que chegou grandes departamentos do seu ministério, da mes
o supracitado Urwick : O primeiro, o segundo, o ma forma por que o faz o encarregado imediato
quarto e o sexto se referem à liderança pessoal; do referido cam po. E é claro que ninguém o po
a sua adoção exige um contacto permanente entre derá acusar por isso. O fato está rigorosamente
chefe e subordinados. O mesmo sucede com o previsto e situado dentro das técnicas da ciência
oitavo. Aliás, a esta altura, aquêle autor emprega do govêrno. Àquele encarregado, por sua vez,
uma palavra perigosa — staif — , a qual, como seja ou não chefe de serviço, não são necessárias,
todos sabem, tem na língua inglêsa duas acepções evidentemente, aptidões administrativas do mes
principais; pessoal — sentido em que foi usada; e mo grau das que deve ter o ministro.
estado-maior — expressão de grande voga entre
Se dispusesse de tempo ser-me-ia grato discutir,
os estudiosos de organização.
com minúcia, os princípios de administração que
Com o terceiro e o quinto preceitos, que são, se relacionam mais intimamente com a função de
via de regra, objeto de regulamentos e de ordens chefia. Limitar-me-ei, todavia, a citá-los e a defi-
de serviço, o chefe não se deve preocupar, “a ní-los quase exclusivamente com as próprias pala
menos que haja alterações importantes. Compete vras de Fayol. São os seguintes: a autoridade, a
-------------— . ' ' 5! i
(6 ) H enri F a y o l , Adm inistration Industrial y G eneral, ( 7 ) Cit. por A n d r é M a u r o i s , “ A rte de V iv er” , pág. 132.
págs. 146 e 147. ( 8 ) L, U r w i c k , op. cit., pág. 79.
14 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
disciplina, a unidade de comando, a unidade de pelos diretores da indústria do que pelos adminis
direção e a hierarquia. tradores de Washington.
“A autoridade consiste no direito de mandar e Embora tenham surgido nos últimos tempos
no poder de se fazer obedecido” . alguns trabalhos realmente notáveis sôbre a arte
de dirigir, êsses trabalhos, em maior ou menor
“A disciplina reside essencialmente na obediên
escala, repousam sôbre o que já disseram os velhos
cia, na assiduidade, na atividade e na presença dos
mestres. Isso talvez empreste um pouco de razão
sinais exteriores de respeito — tudo conforme as
aos que criticam a produção em massa de litera
convenções estabelecidas entre a emprêsa e seus tura especializada nos Estados Unidos, composta
agentes” . de obras que, no dizer daqueles críticos, nada
A unidade de comando consiste em fazer com mais são do que combinações novas de idéias
que “para a execução de um ato qualquer um velhas.
agente receba ordens de um só chefe” . Se compararmos, por exemplo, aquêle reduzido
capítulo de Fayol sôbre o comando, com o muito
A unidade de direção consiste em haver “um
que mais tarde se escreveu sôbre o mesmo tema,
só chefe e um só programa para um conjunto de
teremos de confessar que pouco de fundamental
operações que tenham um mesmo fim” .
lhe foi aditado e que, a rigor, os trabalhos surgidos
A “hierarquia, finalmente, é constituída pela posteriormente não passam de dilatações e de
série de chefes que vai desde a autoridade supe complementos de suas afirmativas capitais.
rior até aos agentes inferiores” . Aliás, duas características especiais da obra de
Apesar de consagrada por autoridade tão res Fayol são : a limpidez com que sempre apresen
peitável, a palavra comando atravessa, presente tou as suas doutrinas, e a sua extrema parcimônia
mente, um período de franco desprestígio nos verbal. Há nos seus escritos avareza de palavras,
meios administrativos. E a culpa cabe aos mo economia de exemplos e ausência quase total de
dernos estudiosos do problema da supervisão, os citações. Se fôsse meu objetivo, aqui, estudar-lhe a
personalidade, nada melhor me guiaria do que o
quais, em tôdas as oportunidades que se lhes ofe
sgu estilo. Estilo de homem prático, criado no meio
recem, recordam a necessidade de confiar os pos
ativo dos negócios, na intensa vida industrial, onde
tos de chefia a diretores. . . e não a comandantes.
há necessidade de poupar palavras, de não tomar
Que pretendem com isso dizer ? Apenas, que o
tempo, de aumentar a produção e de reduzir os
tipo autocrático de chefia está condenado e que
gastos. O modo por que planejou os seus livros,
cada vez mais se impõe substituí-lo pelo demo
e os escreveu, denuncia claramente o seu método
crático. D e modo pitoresco, os autores norte-ame de trabalho e a sua vocação de organizador : é
ricanos salientam esta distinção, afirmando que necessário dar ao leitor o máximo de utilidade com
ela é perfeitamente expressa pela diferença que o mínimo de dispêndio de tempo e de energia.
há entre os dois verbos : to lead e to boss. Desiludir-se-á, portanto, quem quiser encontrar
O assunto comporta ampla e fascinante discus nas obras de Fayol tropos literários ou fulgores
de estilo, pois a sua linguagem é chã, simples,
são. Nela não me demorarei, todavia, pois na Bi
despretensiosa, discreta. Não legou, certamente,
blioteca do D . A . S . P . se encontram, à disposi
páginas destinadas a ilustrar textos clássicos ou
ção dos curiosos, muitas obras em que abalizados
a compor antologias. Bastou-lhe a glória, não pe
autores (Ordway Tead, Frank Cushman, Walton,
quena, de inscrever o nome no livro de ouro, em
Stockberger e outros) fazem do tema cavalo de
que estão gravados os dos que mais contribuíram
batalha.
para o grande progresso industrial dos últimos
Isso evidencia, também, o quanto o elemento tempos.
comando ou, se quisermos evitar a palavra pros- O seu mérito principal talvez tenha sido o de
crita, o elemento direção vem preocupando aos reconhecer a necessidade de formar bons chefes,
estudiosos de assuntos administrativos. Aliás, se propiciando-lhes recursos profissionais que lhes
compararmos a copiosa literatura yankee sôbre permitam alcançar um rendimento maior.
o assunto, logo verificaremos que, naquele país, A sorte de um exército depende, em grande
êle tem sido considerado muito mais atentamente parte ,dos comandantes que lhe forem designados.
HENRI FAYOL E A CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO 15
Foi isso que levou o Marechal Foch a afirmar Se, dentre os filósofos da organização cientí
perante os alunos da Escola de Estado-Maior do fica do trabalho, Fayol ocupa lugar culminante e
exército francês : — “Lembrai-vos, senhores, de singular, pela sua penetração de pioneiro ainda
que as batalhas nunca são perdidas por soldados; não sobrepujado e pelo seu papel de fundador
sempre por generais” ( 9 ) . Da mesma forma, se da Ciência Administrativa, dentre os franceses,
pode afirmar que o destino de uma organização povo famoso pela clareza intelectual, Fayol figura
civil depende, maxima pars, dos dirigentes a que como paradigma indisputável. Com efeito, a pa
fôr confiada. lavra escrita de Fayol encerra, no mais alto grau
imaginável, as três qualidades que, no dizer de
A teoria de Fayol repousa grandemente sôbre
Anatole France, caracterizam a língua francesa :
êste princípio. E é por isso, senhoras e senhores,
primeira, clarté ; segunda, clarté ; terceira, clarté.
que andou, sem dúvida, acertado quem propôs
para o fayolismo aquela definição que lhe assen De sorte que o estudioso da Ciência da Admi
tou tão bsm : — é uma escola de chefes. nistração não deve desconhecer a doutrina do cé
lebre engenheiro francês, a quem se pode dar, com
inteira justiça, o título de engenheiro social. V á
rios motivos tornam inescusável a ignorância dessa
V . A “ C O O R D E N A Ç Ã O ” N A TEORIA doutrina, dentre os quais citaremos dois. Primei
A D M IN IST R A T IV A DE F A YO L (*) ro : Fayol é absolutamente fundamental — não
deve ser ignorado ; segundo: Fayol é claro como
B enedicto S ilva água pura — não pode ser incompreendido. D e
Fayol pode dizer-se o que Josué Montello disse
O tratamento, teórico ou prático, desta ma tão bela e simplesmente de M achado de Assis,
(1 8 ) F a y o l , idem, p g . 156.
(1 9 ) G u l i c k , o p. cit., loc. cit. (2 0 ) F a y o l, op. cit., pg. 158.
HENRI FAYOL E A CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO 21
conjunto produtor trabalha em perfeita harmonia, dade e preço; que os inventários são feitos e
e se nêle há inteira ligação entre todos os seus que os compromissos são saldados.
elementos, de modo que se possa ter certeza que É necessário observar, na função técnica, a mar
uma ordem emanada de uma autoridade compe cha das operações, seus resultados, suas desigual
tente seja sempre fiel e cuidadosamente cumprida. dades, o estado de conservação dos materiais, o
Com efeito, não basta dar ordens; é necessá funcionamento do pessoal e dos equipamentos.
rio verificar se elas podem ser cumpridas, e se Sob o ponto de vista financeiro, deve-se reali
são cumpridas com solicitude, com inteligência e zar o controle sôbre os registros e sôbre a caixa,
dedicação, pois que ordens exeqüíveis em que io- sôbre os recursos e sôbre as necessidades, e, tam
ram previstas tôdas as possibilidades de execução bém, sôbre o emprêgo dos fundos.
são ordens que se devem cumprir com entusiasmo.
Deve-se cuidar, ainda, que os meios adotados
E isso é administrar. para proteger os bens, cousas e pessoas estejam
A execução do trabalho, de acôrdo com as em bom estado de funcionamento, conforme es
ordens emanadas, é a contra-partida indispensável tabelecem os princípios da função de segurança.
da previsão e da preparação do mesmo trabalho.
Por último, sob o ponto de vista da contabi
T odo o tempo tomado pela reflexão e pela pre lidade, é mister verificar se os documentos neces
paração seria perdido se fôssemos, no decorrer dos sários são preparados e recebidos com rapidez e
trabalhos, encarar repentinamente novas maneiras oportunidade, se dão uma clara visão da situação,
de proceder ou novos processos de realização.
se o controle encontra, nos livros, nas estatísticas
O trabalho deve ser executado tal como tenha e nos gráficos, bons elementos de verificação.
sido previsto e planejado; modificações ocasio
Em todos êsses setores deve o controle pesqui
nais ou fortuitas podem ser gravemente prejudi
sar ainda se há atividade ou parcelas de ativida-
ciais.
, des inúteis ou antagônicas, para eliminá-las ou re-
O controle, diz Fayol, tem por finalidade assi duzí-las.
nalar os erros e as faltas, a fim de que se possa
repará-los e evitar a sua repetição.
Controle é pois vigilância
Evitar-se-á, assim, o desperdício em todos os
seus aspectos : desperdício de energia, desperdício É vigilância que garante a segurança, a tran
de matéria e (mais importante por invisível e irre qüilidade, o equilíbrio e a produtividade de um
cuperável) o desperdício de.tem po. Aplica-se a conjunto cuja finalidade é trabalhar e, portanto,
tudo : às cousas, às pessoas e aos a,tos. produzir.
Fiel à sua orientação de distinguir em tôda O trabalho do chefe seria incompleto se unica
atividade econômica seis grupos distintos de ati mente consistisse na “mise en marche” dos agentes
vidades ou operações, Fayol especifica mais o da execução; o controle tem por fim impelir cada
papel do controle, mostrando o que dêle se espera um a cumprir o seu dever.
em relação a cada uma de suas seis funções. A existência de um controle tem fôrça cata
lítica.
Assim é que :
Para ser eficaz deve êle ser realizado em tempo
Sob o ponto de vista administrativo, é mister útil e oportuno e ser seguido de sanções, quando
assegurar, diz êle, que existe um programa, que necessário.
êste é aplicado e mantido em atualização; que
O controle inoportuno e tardio só tem um cará
o organismo social é perfeito; que os quadros do
ter docum ental; o controle que não faculta en
pessoal são respeitados; que o comando se exerce
de acôrdo com os princípios estabelecidos, e que sinamentos, que as verificações possam comportar
ou indicar, é inútil.
a coordenação é mantida através a realização das
conferências dos chefes. Um bom controle é indubitàvelmente um pre
cioso auxiliar da direção.
Sob o ponto de vista comercial, é mister asse
gurar que os materiais movimentados (produtos Há entretanto um grande perigo a evitar : é
ou artigos) são verificados em qualidade, quanti a tendência do controle a se sobrepor à direção
22 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
e à execução dos serviços, imiscuindo-se constan — Buenos Aires, E ditorial argentina de finanzas y admi-
nistración, 1942, 184 p .
temente nos mesmos, na eterna ânsia do meio que Existe tam bém em tradução inglêsa, por J . A . Cou-
rendo transformar-se em fim, do instrumento al borough, e em tradução alemã, publicadas pelo Insti
tuto Internacional de Adm inistração de Bruxelas, em
mejando ser o principal.
1925.
Essa usurpação de funções constitui a dualida C on iéren ces iaites à 1’É co le Supérieure d e G u erre.
de de direção em seu aspecto mais tem ível: de La doctrine adm inistrative d e 1’É tat — Bruxelas, 1923.
um lado, um controle irresponsável, mas provido — Transláted from French b y Sarah G reer. ( The admi
nistrative th eory in th e state. In G u l i c k , L u t h e r and
do poder de opor obstáculos, a outras funções U r w i c k : Papers on th e S cien ce o í Adm inistration, N ew
(muitas vêzes com grande amplitude); e, de outro Y ork, Institute of P u b lic Adm inistration, 1937,
99-114 p . )
o serviço executivo, que só dispõe de débeis meios
É tudes sur 1’alteration da la com bu stion spontanée d e li!
de defesa contra um contrôls mal orientado. houille exp osée à l’a ir. B ulletin de la Société de l’ In-
de uma maneira tão precisa quanto possível, as N o te sur les m ou vem en ts d e terrains provoqu és pou r 1’ ex -
ploitation d es m ines. Bulletin de la S ociété de l ’ Indus-
atribuições do controle, indicando exatamente os trie M inérale, 1885, 71 p .
limites que não devam ser u l t r a p a s s a d o s é mis N ote sur les publications Iaites par le C en tre d’É tu d es Ad-
ter, depois, que a autoridade superior vigie o uso m inistr atives.
traduziram em palavras claras, simples e compre E m bora extrem am ente sobrecarregado de trabalho, ded i
cou a mais carinhosa atenção a todos os problem as especí
ensivas. ficos da adm inistração pública e particular e chegou m esm o
a criar uma doutrina que definiu assim : “ Pode-se dizer que
Se o controle puder pois preencher, com segu
até agora o em pirism o reinou na administração d e negócios.
rança e fidelidade, a sua missão em relação a atos Cada ch efe governa à sua maneira, sem desejar saber se
e esforços harmonizados e ligados por uma hábil há leis que regem o assunto. A ausência de doutrina fa v o
rece o livre curso de tôdas as fantasias. Precisa-se esta
coordenação do pessoal pôsto a trabalhar pelas belecer um m étodo experim en tal. . . isto é, observar, reco
ordens de um comando capaz, dentro de uma lher, classificar e interpretar os dados. Instituir experiên
cia s. D edu zir regras” . D epois d e m uitos anos de observa
organização eficiente, material e pessoal, fixada e
ção direta, tundou o Centro de Estudos Adm inistrativos,
orientada de acôrdo com um planejamento inteli com o fim de difundir as suas idéias, que não r,ó foram
gente, estareis, senhoras e senhores, diante de uma adotadas pelas mais im portantes sociedades, mas tam bém
pela adm inistração pú blica de vários países.
boa administração.
T e n d o criado uma teoria adm inistrativa — o fayolism o
— reuniu as suas observações na obra 14Adm inistration in
dustrielle e t gén éra le” que, conferindo-lhe a honra de um
B IB L IO G R A F IA D E H E N R I F A Y O L dos mais valorosos pioneiros da ciência da administração,
A dm inistration industrielle e t générale — Paris, Dunod, trouxe até nós a sua experiência, as suas sugestões e o
1931, 174 p . seu idealism o.
A LOCALIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE DO BRASIL 23
0 pelo Decreto-lei n.° 7.217, de 30-12-1944, que ciar, sob êsse aspecto, a Praia Vermelha, Quinta da
criou, junto à Divisão de Edifícios Públicos, o Es Boa Vista, Leblon e Gávea. Êsses quatro locais fo
critório Técnico da Cidade Universitária da Uni ram novamente estudados pelo arquiteto italiano
versidade do Brasil, vem de ter o seu primeiro e Mareei Piacentini, que abordou ainda mais a área
decisivo desfecho mediante o Decreto-lei n.° 7.563,
de Manguinhos. Trabalhos minuciosos foram poste
de 21 de maio findo.
riormente procedidos relativamente aos terrenos da
Trata-se do longamente debatido problema da Praia Vermelha e Quinta da Boa Vista pelos en
localização da Universidade, cuja complexidade e genheiros José Otacílio Sabóia Ribeiro e E. M o
dificuldades múltiplas explicam as discordâncias e
rais Vieira. .
vacilações por que tem passado.
Em abril de 1941, o engenheiro Paulo de Assis
Os velhos, insuficientes e inadequados edifí
Ribeiro efetuou detalhados estudos comparativos
cios esparsos por todos os cantos da cidade, onde
de oito soluções então consideradas aceitáveis: Val-
se; acotovelam alunos e professores, faltos de espa
queire, Manguinhos, Gávea, Niterói, Ilha do G o
ço e de ambiente universitário, terão, forçosamen
vernador, Praia Vermelha, Castelo e Petrópolis.
te, de ser reconstruídos ou substituídos.
O trabalho baseou-se em normas traçadas dentro
Esta circunstância justifica um plano a longo
prazo para a gradativa construção, num mesmo lo de critérios de máximo rigor e imparcialidade, pos
cal, de todos êsses novos edifícios. Assim, reuni síveis em assunto de tanta complexidade. Para que
das Escolas, Faculdades e Institutos de ensino e se possa avaliar essa complexidade será bastante
pesquisa, será possível a formação e implantação do transcrever as referidas normas :
espírito Universitário que só a convivência diuturna
de seus elementos pode proporcionar,
A ) FATORES DE ORDEM PO LÍTICA E SOCIAL
2 — Como premissa, aceitou-se a conclusão de
estudos anteriores, segundo os quais a Universidade 1 . 1 . 0 — Facilidade para obter a área
do Brasil deverá ser urbana e abranger, num mes
1 . 1. 1 — Desapropriações e grandes edificações.
mo “campus” , tôdas as suas organizações de edu
1 . 1 . 2 — Atividades locais nas áreas.
cação, cultura, pesquisa, administração e serviços
auxiliares, além de museus e jardins ou hortos flo 1 •1 •3 — Desembolso imediato para posse.
restais e o jardim zoológico, extensão do biotério.
Êstes, conquanto não possam ser considerados in 1 . 2 . 0 — Acessibilidade
»r
24 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
1 . 3 . 0 — Custo da condução C) FATORES DE ORDEM TÉCNICA
Lance da P on te da Ilha do G overnador, en tre o con tinen te e a Ilha do Fundão, com 3 vãos, 78 m etros de extensão
e 20 m etros d e largura
26 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
Também, depois de exposição verbal, manifes I — Quadro comparativo das áreas
taram-se favoràvelmente à solução encontrada : o 1 — Ilhas — l.a fase .............................. 3 .7 2 0 .0 0 0 ^ 2
Sr. General Eurico Gaspar Dutra, Ministro da 2 — Ilhas — 2.a fase .............................. 4 .9 3 0 .0 00 ^ 2
G ustavo Capanema.
A gam em non M agalhães. PRODUÇÃO DE a ) o terreno utilizável consiste em acrescido 3
E uríco G . Dutra. TERRENOS de marinha, resultantes de atêrro feito sôbre espessa
A . d e Souza Costa. PUBLICOS camada de lodo, circunstância que acarretaria notável
encarecim ento das fundações, para os num erosos edi
Joaquim P edro Salgado Filho.ATRAVÉS DE
fícios que deverão integrar a C idade U n iversitária;
ATERROS
( D . O . de 2 3 -V -9 4 5 ). b) grande parte dessa região ainda está por
aterrar e tôda ela por sa n ea r;
E X P O S IÇ Ã O D E M O T IV O S c) a localização da U niversidade nessa faixa
litorânea, cortada ou próxim a das vias mestras de p e
N.o 936 __ E m 14 de m aio de 1945 — Excelentíssi netração, viria im pedir a expansão da zona industrial
m o Senhor Presidente da R epú b lica — E m exposição de da m etrópole, que, para aí, naturalmente tende a se
m otivos n .° 2 .9 7 9 , de 17 de outubro de 1944, teve êste propagar.
Mapa demonstrativo das distâncias entre os principais locais estudados pára a Cidade Universitária e o centro de gravidade da população
universitária, que, de acordo com os dados do Censo cfe 1940, fica situado proximo a praça da Bandeira
A LOCALIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE DO BRASIL 29
9. Estavam sendo examinados os num erosos e com Censo de 1940, coloca êste p on to nas proxim idades
plexos aspectos dêsse problem a, no Escritório T écn ico cria da Praça da Bandeira, o que indica, não apenas que,
do neste D epartam ento, quando o prcpósito de construção dêsse p on to de vista, som ente as áreas do con ju nto
im ediata, p e lo M inistério da Aeronáutica, da ponte da ilha D erb y Clube-Quinta da B oa Vista e de M anguinhos
do G overnador, com um lance inicial entre o continente e estão m elhor situadas, mas, outrossim, que o aparen
a i!ha do Fundão, v eio trazer possibilidades de nova soluçã- tem ente longo afastam ento da zona sul não tem m aior
sign ificação.
10. D e fato, a reunião à ilha do Fundão, mediante
fáceis aterros (A n e x o I ) , das ilhas do B om Jesus, Pindaí do 12. Enfim , uma série de circunstâncias adicionais
França, Pindaí do Ferreira, Sapucaia e Pinheiros, tôdas, vem consolidar os argumentos em prol da adoção da solu
salvo a parte alodial da primeira, pertencentes a poderes ção ora focalizada :
públicos, proporcionaria uma área mais que suficiente para
a Cidade Universitária, ou sejam 3 .7 2 0 .0 0 0 m2, sem os a) se, futuramente, surgir a necessidade de am pliar
inconvenientes citados para Manguinhos, pois : a área da Cidade Universitária, será fácil anexar, m ediante
atêrro, as ilhas circunvizinhas de Baiacú, Cabras e Catalão,
a) as ilhas consideradas são, em geral, de ter resultando então, área superior a 5 .0 0 0 .0 0 0 de m etros
reno firm e, exceto um largo trecho de atêrro em Sa quadrados, com a constituição de uma esplêndida enseada
pucaia, favorável ao futuro estabelecim ento de um (A n exo I V ) ;
parque, de form a que a grande maioria dos edifícios
b) a execução dos trabalhos poderá sempre ser feita
ficaria situada em locais de ótimas fu n d a ções;
de maneira progressiva, de acôrdo com a necessidade de
b) os aterros a executar quase não atrasariam os utilização das diferentes áreas insulares e a crescid as;
trabalhos, porquanto, excluídos os estritamente indis
c) apesar das proxim idades de vias de acesso im
pensáveis à circulação entre as ilhas, os demais nao
portantes, a C idade Universitária ficará em relativo isola
teriam qualquer influência na marcha das construções;
m ento ;
c) tôda a área continental de Manguinhos,
d) um hospital de clínicas, situado na ilha do Fundão,
bem com o seus futuros acrescidos, ficariam livres para
terá satisfeita a condição de provável variedade de casos
a expansão da zona industrial.
típicos, devido à vasta clientela para seus am bulatórios e
11. Quanto ao acesso, há as seguintes observações clínicas, proveniente dos bairros de Olaria, Bonsucesso, R a
favoráveis a fazer : m os e G overnador, b em com o, uma vêz feita a segunda
parte, dos de Caju e São C ris tó v ã o ;
a) a ligação do conjunto de ilhas ao continente
e) a C idade Universitária gozaria dos benefícios da
seria feita inicialm ente pelo lance da Pen te da ilha do
G overnador, entre a linha costeira, em frente à A v e ribeirinidade da baía de Guanabara, o que não sucede com
Vila Valqueire, nem com quase tôdas as soluções cogitadas,
nida Brasil, e a ilha do Fundão, o qual, para isso, de
veria ter a largura ampliada de dez para vinte metros; e era inconcebível que em uma cidade com o o R io de Ja
neiro tais benefícios fôssem esq u ecid os;
b) posteriorm ente, uma outra ponte entre a ilha
de Sapucaia e a Ponta do Cajú, conjugada com a cons /) a brisa, quase constante o dia todo, que sopra da
direção da barra, aproxim adam ente sudeste, e bem assim
trução do cais nesta última, conform e projeto do D e
partam ento N acional de Portos, R ios e Canais, e com o terral que à noite vem da direção oposta, tornam o clim a
local bastante agradável, o que é testem unhado pelos m o
o prolongam ento da Avenida Rodrigues A lves até o
cais m encionado, segundo plano da Prefeitura do D is radores atuais ;
trito Federal, viria colocar a Cidade Universitária a g) as grandes áreas que pod em ser reservadas aos
poucos minutos da praça M auá e da Avenida G etulio esportes terrestres, a vizinhança do mar, a proxim idáde do
Vargas ; isso facilitaria sobremaneira o acesso das z o A ero-C lube de M anguinhos e do C . P . O . R . A éreo da ilha
nas sul e centro, bem com o o dos bairros R io C om do Governador, form am um conjunto ideal para a prática
prido, G rajaú, V ila Isabel, T iju ca, Caju e São Cristó de todos os tipos de esportes ;
vão, da zona norte, conform e pod e ser visto no Plano h) a existência de pedra, areia e saibro no loca l e a
D iretor dessa Capital (A n exo I I ) ; possibilidade de receber, por via líquida, o cim ento de
c ) quanto aos demais bairros, ainda o Plano D ire Guaxindiba, os vergalhões de ferro produzidos pela O rga
tor m encionado (A n exo I I ) mostra que as possibilidades nização Lage e a Com panhia Brasileira de Usinas M etalúr
de acesso são tam bém das mais favoráveis, ten do relêvo gicas, b em com o todos os dem ais m ateriais de m aior v o
especial os casos de Bonsucesso, Olaria, R am os e G o lume, virão m odificar e baratear a parte fundam ental das
vernador, particularm ente próxim os, e os dos bairros construções.
servidos por avenidas que convergem para o litoral
em frente às ilhas, destacando-se a do Jacaré, que dá 13. Contudo, até o presente continua a vigorar a de
ligação direta com R iachuelo, M eier, Engenho de D en cisão do G overn o de localizar a Cidade Universitária na V ila
tro e Benfica, além de atender ao escoam ento das p o Valqueire, consubstanciada no D ecreto-lei n.° 6 .5 7 4 , de 8
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de recorrer ao judiciário, quando da apuração dos respecti grupo de ilhas próximas a M anguinhos e Ponta do C a ju .
vos v a lo re s ; essa dilação não se verificará nas ilhas, senão 17. Forçoso, porém , é confessar, que restam ainda
pelos poucos meses correspondentes à construção do lance dois inconvenientes na nova situação proposta para a C i
de pon te entre o continente e Fundão e à exécução do dade Universitária :
atêrro da faixa de ligação desta ilha às d em a is;
a) o freqüente ruído de aviões, pela proxim idade da
e) do pon to de vista econ ôm ico anteriorm ente foca li base aérea do G aleão e a do A ero-C lu be de M anguinhos ;
zado, cabe ainda com parar a despesa inicial de aproxim ada essa desvantagem, entretanto, existe em m aior escala em
m ente 62 m ilhões de cruzeiros que decorrerá das desapro Valqueire, vizinho do C am po dos Afonsos, onde as ativida
priações, acesso e preparo d o terreno em Valqueire, com des aéreas são mais intensas e o som direto é agravado pelo
a im portância de 56 m ilhões que será despendida na desa refletido na serra ; ademais, sendo o ruído mais forte na
propriação da área alodial de Fundão, em diversas outras
aceleração dos m otores durante a decolagem , o que ocorre
indenizações a ocupantes não aforados e nas obras prelim i
na grande m aioria dos casos durante o dia, p eríodo em que
nares com preendendo o saneam ento das ilhas, atêrro de
sopra a brisa de direção próxim a do sul, fica dim inuído o
mais 9 6 2 .0 0 0 m etros quadrados, alargamento da ponte en
volum e de som que se transm ite à C idade Universitária ;
tre o continente e Fundão, e da respectiva estrada de aces finalm ente, e de supor, e o futuro dirá o grau de funda
so, construção de outra ligando a Universidade à Ponta do
m ento dessa hipótese, que o progresso da técnica dos silen
C aju e duas linhas de carris elétricos (A n exo V ) ;
ciadores d e m otores a explosão e da construção de aviões
/) um aspecto que tam bém não pod e ser esquecido de turbina e de jato, tenda a desenvolvê-los cada vez mais,
é o da valorização do patrim ônio da União nos dois casos : generalizando o em prêgo de tipos para os quais o ruídi
enquanto que em V ila Valqueire ela resultará apenas da seja desprezível em face d o dos a tu a is;
ESQUEMA- DO PLANO DIRETOR DO O FEDERAL. UfW£RS!OAr.£ OO SOAS*. 32
REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO <— JU N .
1945
Plano Direíor da Capital Federal, salientando as principais vias de acesso à Cidade Universitária, suposta em sua face inicial
A LOCALIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE DO BRASIL 33
b) a proxim idade de corporações militares, com os ilha de B om Jesus — tal fato não traz qualquer prejuízo
perigos decorrentes das rivalidades e conflitos entre estu à Universidade, pois a área a ser mantida com aquela ins
dante e p r a ç a s ; todavia, na cidade do R io de Janeiro, tituição é da ordem de 1 2 0 .0 0 0 m 2 e ficará de certa form a
dentro de condições de acesso aceitáveis, não se consegi isolada das atividades escolares pelo parque p r e v is to ; além
uma área de mais de 2 . 0 0 0 . 0 0 0 m 2 , que pertença tota! disso, a proxim idade do A silo e da Cidade Universitária é
ou parcialm ente ao G ovêrno ou possa ser adquirida por desejável, dos pontos de vista cívico, educacional e a fetivc;
preço razoável, que não lim ite com zonas militares, com o
b) do Senhor M inistro da A eronáutica : não ser atra
sucede com Valqueire, B oa Esperança, Manguinhcs, G o
sada a construção da ponte — essa circunstância é tam bém
vernador, o conjunto do D erb y Clube-Quinta da B oa Vista
do interêsse da Universidade e pode ser conseguida, co m a
e adjacências, etc. ; no caso, aliás, será provável que, em
resolução rápida da nova localização ora proposta, uma
futuro de d ifícil previsão,, a exigüidade do atua', aeroporto
troca im ediata de docum entos entre êste D epartam ento e o
da cidade e a valorização das áreas-militarizadas em M an-
M inistério da Aeronáutica, com conseqüente entrega, ao D i
guinhcs e G overnador levem a transferir o aeroporto civil
retor de Obras dêste últim o, da quantia a suplem entar para
da cidade para a ilha d o Governador, ficando o atual ape
o alargamento da pon te e de seu acesso, e, enfim , a assina
nas para cabotagem , bem com o a deslocar a base aérea para
tura de um têrm o aditivo ao contrato firm ado entre o m es
a região de Santa Gruz ; contudo, m esm o que isso não se
m o M inistério e o construtor.
chegue a realizar, a própria localização insular da Univer
sidade facultar-lhe-á um relativo isolam ento, sem equiva 24. E m síntese, todos os estudos e entendim entos p re
lente nas outras áreas estudadas. liminares a respeito da utilização das ilhas grupadas em
18. Assim, as desvantagens apontadas não são de tôrno da de B om Jesus, foram inteiram ente satisfatórios.
m olde a invalidar a nova solução proposta, tudo indicando, Ésses resultados, naturalmente com unicados ao Senhor M i
portanto, que êste D epartam ento deveria prosseguir na nistro da E ducação e Saúde, foram por êle hom ologados,
iniciativa que encetara. com o convinha, antes que pudessem ser trazidos à alta
19. Nesse sentido, fazia-se mister prcceder aos en-_ consideração de Vossa E xcelên cia .
tendim entos indispensáveis, com as autoridades sob cuja
25. Na hipótese de con ceder V . E x.a aprovação das
jurisdição se encontram as ilhas a aproveitar.
sugestões aqui apresentadas, deverá ser revogado o D e
20. Antes, porém , tornava-se conveniente ouvir a op i
creto-lei n.° 5 .6 7 4 , d e 8 de ju n h o de 1944, que declarou
nião técnica do engenheiro H ildebrando de Araújo Góis,
de uti.idade pú blica os prédios e terrenos com preendidos
D iretor do D epartam ento Nacional de Obras de Saneamen
to e, presentem ente, respondendo pelo expediente do D e em tôda a área da V ila Valqueire, tendo em vista a cons
partam ento N acional de Portos, R ios e Canais, pois o refe trução da Cidade Universitária, b em com o autorizadas as
rido técnico, além de ter sido o autor do parecer anterior seguintes m edidas :
m ente aludido, chefia duas repartições, cujas atividades
a) contribuição da C idade Universitária para o alar
estão em estreita correlação com o programa geral o b jeti
gam ento da estrada de acesso e do lance, entre o continen
va d o .
te e a ilha do Fundão, da pon te a ser construída p e lo M i
21 . O m encionado engenheiro julgou procedente a
nistério da A eron á u tica ;
argumentação reproduzida nos itens 4 a 11 desta exposição
de m otivos e, bem assim, mostrou que ja tivera um plano b) transferência do referido M inistério para a Cidade
de aproveitam ento do m esm o conjunto de ilhas, visando o Universitária, dos terrenos que forem necessários na ilha
estabelecim ento de um grande aeroporto para a c id a d e ; do F u n d ã o ;
com o êste, entretanto, deslocara-se para a ilha do G over
c) utilização, para os fins das alíneas a e b , d o cré
nador, a utilização do m esm o conjunto para a Universidade
dito aberto no B anco do Brasil ao C h efe d o E scritório T é c
fazia-se de todo aconselhável, m axime com a construção da
nico da Universidade d o Brasil, pelo art. 6 .° do D ecreto-lei
pon te de que ora se cogita.
n.° 7 .2 1 7 de 30 de dezem bro de 1 9 4 4 ;
22. R esolvid o êsse ponto básico, foram procurados
ARTICUL
sucessivam ente o Senhor M inistro da Guerra, apos estudo d) in ício im ediato das obras de atêrro, saneam ento e
AÇÃO prévio com o D iretor de Engenharia e o Chefe da Com is m ovim ento de terras, no con ju nto de ilhas de Fundão, P in
COM são de T om bam en to, o Senhor M inistro da Aeronáutica, daí do França, Pindaí d o Ferreira, B om Jesus e Sapucaia,
DEMAIS depois de exam e prelim inar com o respectivo D iretor de e mais tarde P in h e iro s ;
ENTES Obras, e o Senhor P refeito do D istrito Federal, em se
PUBLICOguida a contatos iniciais com o Secretário da V iação e e) continuação da alienação d e im óveis em b enefí
S O bras PúbUcas e ccm o C hefe da Com issão d o Plano da cio da C idade Universitária, determ inada pelos arts. 17 e
Mapa demonstrativo do atêno progressivo entre e em tôrno das ilhas destinadas à Cidade Universitária, indicando as três íases principais
A LOCALIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE DO BRASIL 35
ser revistos e intensificados com o desenvolvim ento que a piciosas, porquanto mostrou uma aceitação geral, tendo sido
região vai t c m a r ; entre êles pod em ser m encionados : de somenos im portância as poucas restrições apresentadas,
as quais não raro eram retiradas em face de novos esclare
a) construção e aparelhamento da zona portuária do
cim entos forn ecidos.
Caju, acarretando uma necessária am pliação na capacidade
do Pôrto d o R io de Janeiro, cujas atividades, terminada a 28. E m virtude d o exposto, tem êste D epartam ento
presente conflagração, devem -se tornar sobrem odo intensas; a honra de propor a V . E x.a as m edidas abaixo, para o que
junta uma minuta de decreto-lei :
b) abertura d o canal do Jacaré e seus tributários,
s aneando uma área de cêrca de 53,80 km2 que abrange di 1 .° — M udança do local da Cidade Universitária da
versos bairros servidos pela R io D ouro, Linha Auxiliar, Cen U niversidade do Brasil, da V ila Valqueire para o con ju nto
tral do Brasil e Leopoldina ; form ado pelas ilhas de B om Jesus, excluída a área do A silo
c)_ conclusão do atêrro e execução do cais de M an dos Inválidos da Pátria, Pindaí do Ferreira, Pindaí do
França, Sapucaia, Pinheiros e uma parte de F u n d ão.
guinhos, o que, com binado com a providência da alínea an
terior, permitirá o aproveitam ento de uma grande área, de 1 ° — Anulação da desapropriação da V ila V alqueire,
fácil acesso, dando ensejo à expansão da zona industrial da decorrente do D ecreto-lei n.° 6 .5 7 4 , de 8 de junho de 1944.
cidade ; 3.° — Entendim entos definitivos com o M inistro da
d) suspensão do atêrro de lixo em M anguinhos, o Aeronáutica, para efetivar a duplicação do lance de pon te
que obrigará a resolver um im portante assunto de há m uito entre o continente e a ilha d o Fundão e o alargam ento da
pendente de solução — o da incineração do lixo da Capital respectiva estrada de acesso, b em com o a transferência
Federal e da utilização da matéria transformada, inclusive de terrenos no Fundão, daquele M inistério para a C idade
gases ; Universitária.
e) abertura do prplongamento da Avenida Rodrigues
Alves até o cais oeste do Caju, o que facilitará a expansão 4.° — Destaques das quantias necessárias a saldar os
da zona portuária e o acesso das futuras zonas universitá com prom issos aludidos no item anterior, do crédito aberto
ria e industrial, por parte das regiões sul e centro da cidade; no B anco d o Brasil ao C hefe do Escritório T é cn ico da U n i
versidade do Brasil, pelo art. 6 .° do D ecreto-lei n.° 7.217,
i) construção da A venida do Jacaré, ao longo do ca
de 30 de dezem bro de 1944.
nal do m esm o nom e, facultando um rapido acesso as zonas
portuárias e futuras universitaria e industrial, por parte 5.° — Início, tão ced o quanto possível, dos aterros en
dos bairros citados na alínea b . tre as ilhas mencionadas no item 1 .°, e da execução, nas
mesmas, de obras d e saneam ento e terraplenagem, tudo de
27. Convém igualmente salientar que, paralelam ente acôrdo com um program a progressivo a ser fixado.
à marcha dos trabalhos prévios efetuados, procurou êste
õ.° — Continuação da alienação dos im óveis em b en e
D epartam ento conhecer a opinião do R eitor da Universi
fício da Cidade Universitária, cujos produtos de venda se-
dade, as de antigos m em bros de ccm issões da Cidade U n i
íâ o recolhidos ao T esou ro N acional com o receita extraordi
versitária, e b em assim as de professores e alunos, de urba
nária, abrindo-se concom itantem ente créditos especiais de
nistas, arquitetos e engenheiros, de pessoas, enfim , enten
igual m ontante.
didas ou interessadas em assuntos u niversitários; a verifica
rão, em bora tenha atingido, em quantidade, uma fração m ui A proveito a oportunidade para renovar a V . E x.a os
to pequena da coletividade passível de consulta, qualitati protestos d o meu mais profundo respeito. — L uiz Sim ões
vam ente incluiu elem entos ponderáveis e fc i das mais aus Lopes, Presidente.
36 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
0 ESTADO E OS CARTÉIS
R ichard L e w in s o h n
Dr. rer. pol.
O trabalho que aqui publicam os é um capítulo gítimos, oferecendo, contudo, em certas circuns
de um n ovo livro de nosso colaborador R ichard
tâncias, vantagens reais à economia nacional, mes
Lewinsohn, a ser pôsto brevem ente em circulação em
edição da Livraria do G lo b o de P ôrto A leg re. O
mo à internacional.
autor, qu e já tratou de alguns aspectos d o im por Há três maneiras distintas de se tratar a ques
tante assunto na R ev ista do S erviço P ú blico, apresenta
tão. Na Europa Oriental, renunciou-se durante
em sua nova obra um histórico e um a análise m inuciosa
da organização econ ôm ica e da constituição jurídica
muito tempo a uma legislação relativa aos cartéis
dessas grandes unidades nas principais indústrias, assim modernos. Limitou-se a tolerá-los por meio de
co m o das convenções nacionais e internacionais que, uma interpretação não raro audaciosa do direito
em diferentes ramos (ca fé , açúcar, borracha, m eta is),
civil, comercial e penal em vigor. Na América,
regem a produção, o com ércio e os preços.
, começou-se por uma interdição categórica de todos
os cartéis, para modificar em seguida, primeiro
ISTOS sob o ângulo jurídico, os trustes são
antitruste ou anticartel deve opor-se à existência A outra isenção da legislação sôbre os trustes e
e à atividade das organizações operárias. cartéis, igualmente de uma grande importância,
O Presidente Roosevelt tentou levar mais longe refere-se às cooperativas. Também aqui o Clayton
ainda esta concepção de que o trabalho humano A ct procurava dissipar as dúvidas. As cooperativas
ag.ícolas e horticultoras, cuja finalidade é a assis
tência mútua e não lucrativa, não estão sujeitas
(3 ) D a v id R ic a r d o , Principies of P olitical E con om y
and Taxatiôn, ca p . V .
à legislação contra os trustes e cartéis. O Farm
40 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
Cooperative 'Act de 1922 ia mais longe ainda ao Aquelas que se ocupam da venda tendem, do mes
autorizar as cooperativas agrícolas a venderem li mo modo que os cartéis, a obter preços elevados.
vremente suas mercadorias no m ercado. Uma gran E é fora de dúvida que as cooperativas dêsse
de parte da produção agrícola dos Estados Unidos gênero entravam a livire concorrência.
passa hoje efetivamente pelas cooperativas. Sua única particularidade é de ordem social.
As cooperativas são constituídas, e nisso diferem
Uma distinção de princípio, como a entre o
dos cartéis, por indivíduos humildes, por fracos
trabalho humano e a mercadoria, -não poderia ser
que necessitam de apoio. A cooperação pode me
feita entre cartéis de um lado e cooperativas, que lhorar ligeiramente sua situação, seu padrão de
podem vender suas mercadorias a quem quer que vida, mas é impossível que enriqueçam por meio
seja, de outro. Tôdas as tentativas feitas nesse de uma entente recíproca. Por essa razão, a le
sentido continuam artificiais. Também as coope gislação, tanto na América como na Europa, exce
rativas trabalham visando o luaro de seus mem tuou as cooperativas da categoria dos cartéis e mes
bros, ainda que chamem a êsses lucros “economias” . mo facilitou-lhes a atividade.
A READAPTAÇÃO AO TRABALHO DOS TUBERCULOSOS CURADOS 41
E Tisiologia, o das relações do trabalho com a que nos dão idéia as figuras dos tuberculosos pá
tuberculose avulta, pelas múltiplas questões que lidos, dispnéicos em grau variável, febris, sempre
pode suscitar. Deixando de lado o seu aspecto com a sua tosse impertinente e repetida, como que
médico-legal, ou seja, o estudo do trabalho como a chamar a atenção de instante a instante para a
fator direto ou circunstancial da enfermidade, que doença e a frizar que êsse paciente, cujas forças se
já abordamos em publicação feita há anos ( * ) , consumiam, não tinha sobras de energia para quais
vamos considerar outra face do assunto, não menos quer esforços, carecendo exclusivamente de repou
impartante, qual a ainda muito discutida questão sar. Durante muito tempo assim foi, mas em certa
da admissão ao trabalho, ou do retômo à atividade, época u’a mudança se processou, iniciada com as
dos antigos doentes, bem com o a possibilidade de o observações e os estudos de P aterso n em Frimley,
tuberculoso trabalhar. no ano de 1908, embora meio século antes B r e m -
b er , em Detweiller (1 8 5 6 ), e, depois, GoÜNDT na
D e um m odo geral, para os leigos e mesmo para
Noruega, P en d zo l t no Saxe e, mais tarde ainda,
muitos médicos não especializados, tão difundida
F l ic k e A r m str o n g na Pensilvânia, V a n dr em e r
está a noção do repouso como elemento fundamen
em França e V o s na Holanda tenham, entre ou
tal da terapêutica na tuberculose, que a idéia da
tros, realizado tentativas para mostrar que o tra
possibilidade ou conveniência dêsses pacientes tra
balho não era incompatível com a tuberculose e o
balharem se afigura um absurdo. Todavia, assim
seu tratamento, mas que, até pelo contrário, po
não é. Desde muitos anos vêm se defrontando
deria a êsse último servir ( 1 ) . Todavia, só depois
os adeptos da terapêutica ocupacional e os do re
que P aterson começou a propagar suas idéias foi
pouso absoluto, ambos com pontos marcados em
o assunto adquirindo uma projeção maior, embora,
seu favor e ambos com derrotas na batalha empe
a nosso ver, ate hoje quando já decorreram 37
nhada em tôrno da orientação aue seguem. Desde
anos. seja o trabalho muito pouco reconhecido como
muito, a noção do repouso como base do trata
útil aos doentes pulmonares e só nos últimos 12 a
mento da tuberculose adquiriu reputação firme, o
15 anos um desettvolvimento maior se tenha ob
que se compreende atentando nas características
tido a respeito. P a terso n , baseado nas teorias
evolutivas da moléstia, particularmente nas formai
imunitárias de W r ig ht , sustentou que o trabalho
( * ) A n n i b a l N o g u e i r a J u n i o r — A b e t o s M éd ico-
L egais da T u b ercu lose Pulm onar • — E m “ O H ospital 1 (1 ) V. referências bibliográficas no fim dêste tra
1938. b alho.
42 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
atuava beneficamente sôbre a tuberculose, deter de trabalhar. Êsses fatos vieram, todos, exigir uma
minando u’a mobilização das toxinas que seriam solução para cada um dos problemas que êles ori
absorvidas e iriam vacinar o organismo, aumen ginaram. Alguns, talvez muitos dos indivíduos com
tando sua resistência à moléstia. Então, instituiu capacidade funcional diminuída, poderiam estar
um sistema baseado no treinamento dos pacientes em condições melhores, se anteriormente hou
pelo transporte de pesos, a uma certa distância e vessem passado por um período de treinamento e
um número variável de vêzes, precedendo essa readaptação ao trabalho; os que antes de adoecer
prática de um outro treinamento de marcha, em se dedicavam a trabalhos penosos poderiam ter
que as distâncias a percorrer eram progressiva aprendido, enquanto se tratavam, novos ofícios
mente maiores. Os resultados foram muito inte mais adequados a seu ult&rior estado de saúde; o
ressantes e D u m a r e s t (2 ) iniciou a aplicação grupo dos que se deixaram entibiar, pela extensa
dêsse método em Hauteville, inte:rompendo-a com prática do “repouso absoluto” , não estaria com as
a superveniência da guerra de 1 9 1 4 . Muitos ou suas capacidades produtivas tão inferiorizadas se
tros serviços especializados imitaram, posterior viesse, aos poucos, submetendo-se a um treina
mente, os processos de P ater SON e a terapêutica mento para o trabalho. Por fim, atentou-se na ab
ocupacional foi sendo empregada em numerosos soluta necessidade de estabelecer um departamen
Sanatórios na Inglaterra, com L ieber , K Ü S S e to, que fôsse como “ponte de passagem” para os
B rieger na Alemanha, em Hallendoor, B erg em tuberculosos curados, entre a sua antiga existência
Bosch, Z o n n e st r a al e M ariaserd na Holanda, de doentes e a sociedade em que êles iam reentrar,
em Marcinelli na Bélgica, nos santatórios de “Lake departamento êsse que se encarregaria de propor
Tomahawk”, Toudeau e M ont Alto nos Estados cionar colocação a todos êsses pacientes infèriori-
Unidos, em muitos outros serviços especializados zados, num ou noutro sentido, pela doença e re
de França, Suíça e Itália, até chegairmos aos nossos cuperados ou readaptados e, também, dos clinica
dias, em que algumas fundações como a Escola de mente curados e aptos para o trabalho, mas que a
Readaptação de Camerlata, do Prof. P arodi , po sociedade repelia, atentando exclusivamente no seu
dem ser encaradas como padrões de Organização. passado de enfermos. Assim, hoje, a terapêutica
É, todavia, de interêsse frizar que essa difusão da ocupacional visa impedir que um prolongado “re
terapêutica ocupacional certamente não se fêz em pouso absoluto” roube ao tuberculoso o hábito de
conseqüência da aceitação absoluta das idéias e empregar sua energia no trabalho; treina-o para
conceitos de P a t e r SON, mas porque a grande mo retomar suas funções depois de curado, ou para
dificação produzida nos últimos 30 anos em nossa exercer outras mais compatíveis com a sua capaci
maneira de encarar os problemas ligados à Tisio- dade funcional; e atua no sentido de melhorar,
logia, dando cada vez mais importância à face em outros, a capacidade funcional reduzida pela
social da questão, veio salientar o interêsse em
enfermidade. Como complemento lógico dêsse pro
cesso, uma organização especializada se encarrega
iresolver a situação dos antigos doentes. Êsses,
da colocação dêsses pacientes recuperados e rea
após sua alta dos serviços em que se haviam tra
daptados, transpondo-se assim o obstáculo que a
tado, passavam a constituir um “pêso morto” para
situação de “antigos enfermos” para êles criava.
a sociedade : uns, porque a moléstia lhes deixara
diminuída em definitivo a capacidade funcional;
Exposta a questão, algumas perguntas de ca
pital importância poderiam ser feitas; em primeiro
outros, porque embora curados e capazes, não en
lugar, se o tuberculoso pode e d ev e. trabalhar e,
contravam onde trabalhar, visto que sempre eram
no caso de resposta afirmativa, quando e como
olhados como suspeitos e recusados como tal; ain
fazê-lo. Evidentemente, só a teoria de P a t e r s o n
da outros, porque não era possível, depois da cura,
— embora não aceita universalmente — já cons
retomar o antigo trabalho muito pesado para a
tituiria uma resposta à primeira parte dessas per
sua nova situação, faltando-lhes habilitações para
guntas. Naturalmente, nem todos os tuberculosos
executar outiros misteres; e, finalmente, um último
podem trabalhar. Um paciente com um processo
grupo em que o método da “cura de repouso” e o agudo, ou francamente evolutivo, com tempera
longo período de segregação de atividades que turas elevadas, desnutrição acentuada e mau es
brantara as energias, amolentara a vontade e con tado geral, sujeito a episódios hemorrágicos ou
duzira a uma situação de indolência e incapacidade apresentando complicações outras, como localiza
A READAPTAÇÃO AO TRABALHO DOS TUBERCULOSOS CURADOS 43
ções extrapulmonares graves, de modo geral não Todavia, quando se trata de autorizar o tra
deve trabalhar. Êle, antes do mais, precisa de balho dos pacientes, um exame cuidadoso da si
repouso e de um cuidadoso tratamento que lhe tuação em que êles se encontram deve preceder
permita recuperar o estado geral. Todavia, numa qualquer decisão. Evidentemente, os doentes sob
fase ulterior mais favorável, êsse mesmo paciente pneumotórax com bom colapso livre de aderências,
poderá, talvez, aos poucos ir-se exercitando, reali- com ausência de manifestações funcionais e de
ando pequenos trabalhos que efetuará mesmo dei sinais clínicos e com expectoração bacilo-negativa
tado, mais tarde caminhando um pouco, depois constituiriam, em princípio, os melhores casos a
exercendo pequenas funções ou realizando serviços indicar para a terapêutica ocupacional. Quem tra
de pouca monta, o que lhe permitirá não perder balha em serviços de tisiologia, mormente nos
o hábito de empregar sua capacidade funcional. Ambulatórios, tem ocasiões não poucas de verifi
Os doentes de evolução crônica, com bom estado car a tolerância surpreendente dêsses pacientes ao
geral, sem febre ou com febre periódica e mode trabalho e ao exercício, — regra geral praticados
rada, poderão com mais vantagem trabalhar e, sem consentimento médico.
mesmo, realizar serviços maiores, eventualmente Os pacientes das classes pobres, a quem as difi
ocupar-se de um serviço. Naturalmente, para esse culdades econômicas obrigam a não interromper
fim, deve êle encontrar ao seu dispor instalações suas ocupações senão muito temporàriamente, -logo
adequadas, que são os chamados centros de rea que melhoram sob a ação do pneumotórax voltam
daptação e treinamento, de que a já citada Escola ao trabalho, freaüentemente pesado e em condi
de Camerlata, do Prof. P a r o d i ( 3 ), é um exem ções higiênicas deficientes e, não obstante, suportam
plo dos mais interessantes. Por outro lado, em bem a prova. Temos visto vários dêsses casos e
certos países, em algumas usinas e fabricas há ocorre-nos aqui citar um bastante ilustrativo ( * ) :
secções especiais para tuberculosos, em tratamento,
que aí trabalham, — naturalmente sob regime “ .T .A .G ., branco, espanhol, 25 anos, em pregado
numa tinturaria. •
especial; porém, o que se deve notar é que o ren
O paciente v e io à consulta n o A m bu latório de
dimento dêsses operários não raro ultrapassa o
T isiologia d o H ospital S . Fran cisco de Assis (S e rv iço
dos “sãos” , sem que isso produza conseqüências do D r . Alexandre S tock ler) em 17-VI-39. dizendo-se
nocivas. Os próprios indivíduos ainda com expec- doente havia 3 meses, com dôres toiácicas, falta de
toração bacilífera trabalham e os resultados são apetite, tosse e escarros de sangue.
acompanha de melhoria acentuada em muitos en extensão das suas lesões e o pneum otórax bilateral
sim ultâneo que lhe estava sendo aplicad o.”
fermos, desaparecimento dos bacilos da expectora-
ção, curas clínicas numerosas e, portanto, resulta
(* ) Essa observação foi pu blicada em nossa tese de
dos que devem incitar a continuação da terapêutica
docência à cadeira de T erapêutica Clínica Alopata da Escola
ocupacional. d e M ed icin a e Cirurgia d o I . H .
44 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
Evidentemente, casos que tais não servem de observação de longo tempo houvesse fornecido pro
padrão, porém, mostram quão grande é a tolerân vas seguras da estabilização das lesões, seriam ad
cia que podem ter êsses pacientes para o trabalho mitidos ao trabalho. Necessàriamente, as cautelas
e porque, antes de proibirmos em absoluto o tra seriam com êles maiores que com os pacientes
balho dêsses doentes de ambulatório, sempre que cujas lesões estiveram sob o controle da colapso
a sua situação pareça bem estabilizada e os pa terapia. Também, dentro do nosso ponto de vista,
cientes merecedores de confiança quanto ao acata os doentes nessas condições só deveriam trabalhar
mento que dispensarão às nossas prescrições, de quando em Sanatório. De fato, não se compreende
vemos lhes permitir uma atividade moderada, pro que um paciente que não estivesse, por qualquer
gressivamente maior, embora prudentemente do razão técnica, submetido à colapsoterapia, e por
sada e que se constituirá, em muitas eventuali qualquer razão não estivesse em um Sanatório e,
dades, no único meio de impedir que o paciente sim, apenas sujeito a tratamento higienodietético,
vá trabalhar de qualquer maneira, sem obediência crisoterapia, etc., em ambulatório, oferecesse ga
a normas ou proibições, o que lhe acarretará pre rantias para uma terapêutica ocupacional. E ’ por
juízos maiores. isso que, entre nós, o problema atinge um grau
de extraordinária complexidade porque o nosso
Os casos sujeitos a outros processos colapso-
ainda incipiente armamento anti-tuberculose é, nos
terápicos, isto é, as toracoplastias e frenicectomias,
seus 4 /5 ou mais, constituído de ambulatórios, o
serão considerados diferentemente. Os que sofre
que proporciona situações de muito mais delicada
ram toracoplastias levam a desvantagem da redu
solução.
ção definitiva do campo respiratório, das modifi
cações da estática torácica e da limitação possível A volta ao trabalho, por outro lado, implica
dos movimentos por lesões musculares; em conse numa série de problemas que, muito por alto,
qüência. terão em muitos casos de ser readapta desejamos aqui mencionar. Como o faz notar
dos a novos misteres e, por outro lado, qualquer muito bem A ndré F abre ( 4 ) , “essa retomada efe
sinal clínico suspeito que faça pensar ter-se pro tiva do trabalho deve ser preparada com grau de
duzido uma reativação do foco lesional subjacente antecedência. No Sanatório, trabalhos fáceis como
a fabricação de cestos e a costura, etc., não exi
ao plastrão toracomuscular, deve impor a suspensão
gindo habilidade particular, ocupam os doentes.
do trabalho e uma pesquisa minuciosa para escla
Cremos que êsse tempo no Sanatório poderia ser
recer a situação.
aproveitado para desenvolvimento das qualidades
Os indivíduos que sofreram frenicectomias de intelectuais, penhor de futuro profissional melhor” .
verão ser julgados em funcão do tempo que tem a
E contmua F abre “o verdadeiro treinamento para
estabilização de suas lesões. Nos casos em que o esforço pertence a uma organização concebida
já decorreu um tempo suficientemente lontro para para o trabalho, como o foi õ Sanatório para a
creditar uma boa gairantia de cura, será permitido cura de repouso. E ’ um lugair de recuperação eco
o trabalho; igualmente, com o para as toracoplas nômica e social dos valores humanos aniquilados
tias, o menor sinal suspeito indicará a supressão pela tuberculose” e “aparece como um intermediá
da atividade e uma revisão completa, esclarece rio entre o sanatório e o meio da vida ordinária,
dora da situação. onde se faz um estágio antes de abandonar o
Os pacientes não submetidos a qualquer forma doente às suas próprias fôrças” . Essas organiza
de colapsoterapia, isto é, fazendo só tratamento ções constituem-se dos “Centros de Readaptação”
hieieno-dietético, criso^erapia ou tratamentos auxi- e dos “Escritórios de Colocação” , de preferência
liares outros, representam um grupo à parte e articulados entre si, de maneiira tal que os segun
que deve ser analisado muito cautelosamente. Já dos se dedicam à colocação dos pacientes readap
vimos que os bacilíferos podem trabalhar e que, tados pelos primeiros.
até em boa percentagem, êsses doentes parecem O trabalho do "centro de readaptação” é com
receber do trabalho um influxo favorável tradu plexo. Não só deve êle readaptar o paciente ao
zido na passagem do escarro a bacilo-nesativo. o esforço, com um treinamento bem dosado de exer
que seria um argumento em prol da teoria de- cícios, como examinar cada caso pessoal, verifican
P a t e r s o n . Como quer que seja, êsses pacientes do que tal indivíduo exercia um ofício incompatível
só em casos particulares, contudo, quando uma com a sua situação de antigo enfêrmo e que ne
A READAPTAÇÃO AO TRABALHO DOS TUBERCULOSOS CURADOS 45
cessita ser reeducado para uma profissão diferente; fermos à aceitação no mercado do trabalho e, na
que outro poderia melhorar as condições do seu turalmente, os empregadores dão preferência aos
trabalho se melhorasse' a sua técnica, de forma a pacientes que não apresentem qualquer causa de in-
despender um esforço menor, porque “o que se feriorização funcional, bem com o temem sempre a
visa principalmente não é só preparar o homem doença de que foi vítima o indivíduo. Nessas con
para o trabalho, mas buscar um trabalho conve dições. uma campanha que fizesse compreender a
niente ao homem” . E ’ dentro dessa forma de elevada importância social dessas organizações (os
considerar o assunto que a análise psicológica, por Centros de Readaptação e Escritórios de Coloca
meio de testes, e o estudo das preferências ocupa- ções) e obtivesse uma boa vontade maior de parte
cionais dos enfermos podem representar um ponto dos empregadores, traduzida numa também maior
muito importante em face do programa de rea cooperação com elas, seria sempre de máxima uti
bilitação, como frizam I r v i n S h u l t z e H a r v e y lidade. Ou, então, recomendar-se-ia o artifício de
R u s h ( 5 ) , parque “muitos pacientes ficaram inter reunir em uma só “organização” pacientes readap
nados tanto tempo, que perderam praticamente tados por outras enfermidades (cardíacos, reuma-
todo o contato com seu último trabalho. Outros se tismais, amputados, estropiados diversos, etc), além
dedicaram a trabalhos impróprios a suas capaci dos tuberculosos; assim, o empregador ignoraria a
dades física e mental. Ainda outros seguiram uma causa da invalidez e não existiria com certeza a
vairiedade de ocupações antes de sua entrada na etiqueta de “tuberculose” , sôbre o paciente que se
instituição” e por isso “é importante e valioso, do propõe a trabalhar ( 8 ) .
ponto de vista da direção e reabilitação, comparar Êsses aspectos da questão, que revisamos sem
os interêsses ocupacionais de um grupo assim in maiores detalhes só para dar uma idéia panorâ
ternado, com um grupo normal, de fora” . mica do seu vulto, permitem-nos agora passar à
Não se completa, porém, o serviço de readap 2.a parte de nossa exposição visando esclarecer
tação com o estágio dos pacientes no “Centro de a situação do tuberculoso, no Brasil, em face de
Readaptação” . Pelo contrário, é preciso ir mais sua admissão ou de sua volta ao trabalho, ou
adiante e não esquecer, segundo T e r r y F o s t e r ( 6 ) , de seu afastamento dêle quando adoece.
que a obra de readaptação do tuberculoso só ter
mina quando se obteve a sua estabilização social, *
isto é, o ajustamento do paciente às novas condi * *
ções de vida que êle passou a ter; sabendo-se que
Inicialmente, convém frizar de novo quão pre
“muitos pacientes reativam porque voltaram a am
cário ainda é, entre nós, “o armamento antituber-
bientes e habilitações desfavoráveis” , torna-se claro
culoso” . O tratamento da tuberculose no Brasil,
que ainda seja necessário acompanhá-los durante
em talvez 80 % dos casos, ou mais, faz-se em
algum tempo, depois de sua volta à sociedade.
Ambulatórios dada a escassez dos leitos que, de
A verdade, porém é que todo êsse processo acôrdo com B a r r o s B a r r e t o (9 ), em 1939, exis
ainda está ’ apenas no início. Basta atentar que tiam em número de 3 .9 1 5 nas diversas cidades
E. L. S i l t z b a c h ( 7 ) nos revela que somente capitais do país, enquanto na verdade precisariam
1 a 4 % dos pacientes que deixam os Sanatórios de atingir ao mínimo de 13.703. Se levarmos em
recebem orientação profissional. Portanto, na me consideração as restantes cidades do litoral e in
lhor das hipóteses, mais de 90, em cada 100 tu terior, essa desproporção entre a exigência e a dis
berculosos que deixam os Sanatórios, voltam a ponibilidade em leitos com segurança tende a au
sociedade sem saber com o trabalhar adequada mentar; nessas condições, o problema da readapta
mente para manter a saúde, no que se relaciona ção do tuberculoso, tão intimamente ligado aos
com a espécie de trabalho que lhes convém . Sanatórios, aos Centros de Readaptação e aos Es-
A solução do problema, então, reside na multipli critorios de Colocações, torna-se mais grave porque
cação dos Centros de Readaptação, com os quais é indiscutível que sobre pacientes em tratamento
funcionariam articulados os “Escritórios de Coloca ambulatorio e muito mais difícil exercer urtia vi
ções” . Haveria sempre dificuldades em obter re gilância que permita pôr em prática um sistema de
sultados 100 % satisfatórios, porque os “Escritórios readaptação, por meio de um treinamento ade
de Colocações” não podem impor os antigos en quado .
46 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
N o Brasil, o problema da tuberculose em rela se corre o risco de enviá-lo para o trabalho em con
ção ao trabalho deve ser encarado separadamente, dições inadequadas. Poder-se-ia argumentar que.
conforme se trata de pacientes que trabalham em em face à primeira hipótese — a aposentadoria —
serviços públicos ou em empregos prticulares e, o funcionário não fica desamparado, visto que lhe
para os primeiros, ainda se deve estabelecer uma são assegurados os vencimentos da atividade; toda
subdivisão, quanto aos serviços públicos federais, via, êsse argumento a nosso ver não procede :
estaduais e municipais. 1.°) porque a aposentadoria, nessas condições, não
representa menos que a interrupção da carreira do
Os servidores públicos federais, em face da tu
funcionário e, portanto, um prejuízo efetivo para
berculose, têm a sua situação regulada pelos ar
quem poderia melhorar a situação econômica com
tigos 158, 159, 168, 169 e seu parágrafo e 170 do
a ascenção natural que se processaria, sem contar
Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União.
com o dano moral resultante da etiqueta de in
O primeiro dêsses artigos estabelece que as licen
validez aposta ao paciente; 2.°) porque mesmo
ças para tratamento de saúde não podem ultrapas
sar de 24 meses consecutivos; esgotado êsse prazo, que o paciente se julgasse compensado com a si
tuação e não prejudicado com a interrupção da
de acôrdo com o artigo seguinte, o 159, será o
carreira, que poderia reencetar depois de curado,
funcionário submetido a inspeção e aposentado “se
não é menos verdade que os lesados seriam o
fôr considerado definitivamente inválido para o
Espado e a Sociedade, que passariam a sustentar
serviço público em geral” . Ora, êsse critério é,
com o inválido um indivíduo em condições de tra
do ponto de vista técnico, impróprio para atender
balhar. É, portanto, uma situação que merece re
à situação dos pacientes que, nos têrmos do artigo
visão .
168, serão licenciados compulsòriamente por sofre
Em França, de acôrdo com G. P o ix (1 0 ), os
rem de tuberculose, pois sabemos que o prazo de
24 meses na grande maioria dos casos é insuficiente funcionários públicos atingidos por tuberculose po
para assegurar uma cura clínica da tuberculose dem beneficiar-se de licenças num total de 5 anos,
pulmonar. Por isso, embora possa ser a mais per antes que seja declarada a sua invalidez. Entre
feita a fiscalização que se exerça de acôrdo com o nós, os Insíitutos dos Industriários, Comerciários,
Bancários, Marítimos e Empregados de Transpor
artigo 169 e seu parágrafo, sôbre o tratamento a
que fica obrigado o paciente licenciado, bem como tes e Cargas concedem aposentadoria por tuber
seja perfeitamente justa e razoável a conversão culose, que é revisada anualmente, por 5 anos.
da licença em aposentadoria como o estabelece o revertendo o paciente se nalguma dessas revisões
fôr iulpado apto para trabalhar (1 1 ) . N o Instituto
artigo 170, quando, mesmo antes de esgotado o
da Estiva essa revisão é feita bienalmente, por
prazo previsto no já refeirido artigo 158, fôr o
6 anos. Êsse critério parece-nos o mais acertado;
funcionário em inspeção julgado definitivamente
a revisão periódica deveria, a nosso ver proceder-
inválido, acreditamos que deveria ser modificad'-
se a intervalos de 6 meses durante 5 anos; assim,
o prazo máximo de licença, para nos situarmos
um paciente aposentado, findo o prazo máximo de
mais realmente em face da questão. .
licenca, seria compulsòriamente chamado à inspe
Com o atual oritério. pelas razões que antes ção em períodos determinados e, mesmo, dever-
apontamos, o que certamente sucederá com fre- se-ia permitir-lhe se apresentasse voluntariamente
cmência é o esgotamento do prazo máximo de à inspeção, fora daqueles períodos, desde que se
24 meses com o paciente ainda em tratamento e, a julgasse cutrado e instruísse o seu requerimento
não ser numa percentagem bastante reduzida dos com atestados médicos adequados.
casos, não se poderá considerá-lo curado ou em Essa a situação dos funcionários públicos fe
condicões de voltar ao serviço. Êsse doente será derais; quanto aos funcionários estaduais, são ac
definitivamente julgado inválido e aposentado, leis dos Estados que tracam a conduta a ser ob
quando uma dílação do prazo de licença permitiria servada nesses casos. D e acôrdo com DÉcio
certamente encarar sôbre outro prisma a sua si Q . T e l e s (1 1 ), em S. Paulo, e no Marenhão
tuação; ou, se a junta médica ponderar essa pos os funcionários tinham licenca por 4 anos com
sibilidade, só lhe (restará o recurso, para impedir todos os vencimentos e, depois, aposentadoria nas
a aposentadoria de um paciente eventualmente mesmas condições. Em M . Grosso, Minas Gerais.
válido, de julgá-lo curado clinicamente, com o que Paraíba, Piauí, Estado do Rio, Sergipe e Amazonas,
A READAPTAÇÃO AO TRABALHO DOS TUBERCULOSOS CURADOS 47
“o funcionário tuberculoso era aposentado com dorias, que mantêm serviços de assistência médica,
todos os vencimentos” . O Espírito Santo, Goiaz, possuem ambulatórios de Tisiologia. Contudo, fal
Pará e Pernambuco adotavam o disposto na Cons tam por completo Sanatórios que possam funcionar
tituição de 1934 dando, em conseqüência, venci articuiados com Centros de Readaptação, e os Sa
mentos integrais ao funcionário com tuberculose. natórios existentes no país também não estão apa
O Rio Grande do Norte concedia licença com todos relhados para tal. Portanto, resta nesse particular
os vencimentos e, na Bahia, Rio Grande do Sul, tudo a fazer. Parece-nos que, dado o vulto dos
Santa Catarina e Paraná, as Constituições não seus patrimônios, sejam os Institutos de Aposen
tratavam do assunto. Nos municípios os critérios tadorias (Comerciários, Industriários, e t c .) os que
adotados eram, como regra, os estaduais respec poderiam organizar serviços mais adequados, com
tivos . Confessamos que, hoje não sabemos qual preendendo Sanatórios e Centros de Readaptação;
a situação exata dos funcionalismos estaduais e naturalmente, tratando-se dêsses Institutos, nêles
municipais do Brasil no que tange a licenças e podariam funcionar os próprios organismos visando
aposentadorias por tuberculose, não nos tendo sido a colocação dos pacientes readaptados, o que seria
possível conseguir, quando preparávamos êste ar mais fácil pela vinculação do empregador e do
tigo, uma documentação esclarecedora a respeito. empregado à Instituição.
Todavia, o que julgamos de interêsse é que todos
os esforços sejam feitos para uniformizar a legis Quando se trata da volta ao trabalho de funcio
lação sôbre licenças e aposentadorias por tuber nários tuberculosos curados, outra questão a exa
culose porque, seja no Rio, seja em S. Paulo, minar será a norma a seguir para considerar o
seja em Minas, Pará ou Amazonas, em qualquer paciente em condiçoes. Evidentemente, essa ques
lugar do Brasil, a tuberculose é a mesma doença tão é puramente de ordem técnica e não caberia
e, exceto certas questões locais de ordem não geral, aqui discutí-la em minúcias; já vimos, contudo, que
a situação do funcionário tuberculoso é a mesma mesmo os pacientes bacilíferos podem trabalhar
quanto aos problemas oriundos da sua enfermi sem que isso afete a sua enfermidade. Não se
dade, não havendo razão para que varie o trata deve, porém, olvidar que o afastamento do tuber-
mento que lhes é dispensado somente porque un. cuioso é uma autêntica medida de defesa social
trabalham no Rio e outros em Santa Catarina ou e que não existindo ainda, entre nós, instituições
Maranhão. do genero das que descrevemos, o bacilífero nunca
deverá trabalhar. Todavia há pacientes que, cli
A situação dos empregados particulares em face
nicamente curados, apresentam imagens radioló-
das licenças e aposentadorias se rege pela regula
gicas pulmonares que levantam dúvidas quanto à
mentação dos Institutos e Caixas de Aposentado
sua situação; êsses casos limites são os mais difíceis
rias a que pertençam. É, todavia, digno de nota
de resolver, porque, sem dúvida, envolvem uma
que o amparo que êsses organismos conferem não
íesponsabilidade maior para quem os julga. Em
seja tão amplo quanto o concedido aos funcioná conseqüência, ao lado da observação prolongada
rios públicos, pois os contribuintes dos Institutos e do paciente para verificar, ou não, a estabilidade
Caixas não têm licença ou aposentadoria com das imagens radiológicas pulmonares, deve-se bus
vencimentos integrais, como aquêles. car na evolução da curva de sedimentação sanguí
nea, no aspecto do hemograma e, acessoriamente,
A situação dos trabalhadores doentes (funcioná
nas reações serológicas as indicações para a decisão
rios civis de qualquer categoria ou trabalhadores
a tomar. R i s t , num artigo (1 2 ) muito preciso e
particulares) ainda precisaria ser considerada
completo a respeito, lembra que não basta esteja
quanto à volta ao trabalho, em relação à readap
um tuberculoso curado segundo tôdas as aparên
tação. N o Brasil, pelo menos que seja de nosso cias; “é preciso que a cura seja sólida e tenha
conhecimento, não existe qualquer organização vi «ofrido a prova do tempo e, também, a do traba
sando a readaptação do trabalhador, ou sua co lho . Por isso, o tisiologista deveria, em certos
locação no trabalho após a cura; apenas o I.P.A.S.E. casos que se apresentam com o duvidosos, submeter
possui um sanatório para atender aos seus associa o paciente à prova do trabalho, único meio de se
dos e alguns dos Institutos e Caixas de Aposenta capacitar da solidez da cura.
48 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
Já observamos dêsses casos, entre os quais pa evita-se o êrro de considerar como tuberculosos
rece-nos interessante citar, resumidamente, a se mdividuos com outras aiecçóes pulmonares ou de
guinte observação de nossa clínica particular : não reconhecer como tais pacientes com lesões
bacnares, com o prejuízo conseqüente para o pró
“ V . P . , brasileiro, branco, 27 anos.
prio indivíduo e a coletividade. Todavia, em exa
O paciente já fizera, p or cêrca de 4 meses, pneu mes subseqüentes dêsses trabalhadores afastados
m otórax bilateral simultâneo, por lesões fibro-ulcerosas
da atividade, já não será lógico exigir a bacilos-
da m etade superior de am bos os pulm ões e fo i por
nós enviado a um Sanatório porque, na ocasião, julgá
copia positiva, quando se trata de renovar a licen
vam os inviável qualquer outro tratam ento. N o fim de ça. O médico deve ter liberdade completa para
14 meses, durante os quais fê z crisoterapia, regressou taze-io, mesmo em ausência de bacilos, se êle julga
d o sanatório m uito m elhorado, em bora com uma ca
que a cura clínica não foi alcançada ou que eia é
verna ju nto ao h ilo direito e outra ju nto ao h ilo es
muito recente e, portanto, ainda muito frágil.
q u erd o. N o lado superior direito havia extenso pro
cesso fibroso, possivelm ente residual das lesões ante
A ‘ admissão às funções públicas e particulaires
riores. Instalam os pneum otórax à direita, em abril de
dos pacientes curados, é outra questão fundamen
1939, e à esquerda, em ju nh o d o m esm o ano, que o
paciente m anteve até m eados de 1943. Nessa ocasião, talmente mal compreendida entre -ó s . Existe, no
a fibrose do lo b o superior direito se mantinha com o Brasil, uma verdadeira tuberculoíobia que, de um
m esm o aspecto e as lesões cavitárias haviam sido subs modo geral, fecha tôdas as portas aos pacientes
tituídas por traves fibrosas extensas; a laringite especí
com reliquats de lesões. Para o seirviço público
fica de qu e era portador o doente cicatrizara por
com pleto, o paciente não tinha mais expectoração e
federal, particularmente depois que os exames de
sentia-se b e m . T od avia, faltava a “ prova d ó trabalho” , admissão passaram a se fazer no Serviço de Bio-
pois tem íam os que no seio da fibrose do lob o superior metria do I . N . E . P . , uma acentuada modificação,
ficasse qualquer processo, capaz de se reativar com o
oriunda de uma compreensão melhor do assunto,
retorno à a tiv id a d e. O paciente fo i trabalhar numa
joalheria e hoje, passados 18 meses, continua em ati
pode-se notar; felizmente, já não se observa, hoje,
vidade, mais gordo e b em disposto e sem que a aquela investida quase sistemática, até há algum
fibrose do lob o superior direito hajà m ostrado qualquer tempo atrás em vigor, contra os pacientes com
m odificação, o que nos dá o direito d e considerá-la fibroses pulmonares ou calcificações cicatriciais.
uma cicatriz que já forneceu sua prova de solidez”
Todavia, ainda não existe uma regulamentação a
Relativamente ao afastamento do trabalho e à (respeito, com o a nosso ver se faz necessário. E ’
admissão, também, algumas considerações teriam preciso o estabelecimento de “normas gerais” , nas
cabimento, visto que muitos problemas a propósito quais se fixem o mais claramente possível as cir
suigem com freqüência. T odo indivíduo julgadc cunstâncias em que o candidato deve ser recusado
tubetculoso deve ser afastado do serviço, não de e em que pode ser admitido. Ficauá, assim, es
vendo a êle retornar enquanto apresente perigo tabelecido que um paciente com reliquats de le
de contágio e as suas lesões não estejam estabili sões desde que em bom estado geral, com ausência
zadas. A nosso ver, dentro dêsse conceito, ficam de manifestações funcionais e com testes bacterio
perfeitamente limitadas as condições em que o lógicos e hematológicos negativos, poderia ser ad
mitido. Ainda poder-se-ia organizar uma lista o.
paciente deverá ser afastado do serviço como tu
cargos ou funções para os antigos enfermos, m
berculoso; há, evidentemente, necessidede do teste
baciloscópico. A lei francesa, por exemplo, o exige moldes da lista organizada por L a n g i e r e B o n -
taxativamente; G . P o ix (1 0 ), discutindo essa exi nardel (in A . F a b r e [ 1 ] ) , o que simplificaria
gência, lembrou as controvérsias que ela suscitou bastante a solução das questões.
nos Congressos de Tuberculose de Strasbourg e Uma tal orientação quanto à admissão às fun
Lyon. Porém, como sublinha êsse autor, ao menos ções públicas encontraria, certamente, ressonância
para o primeiro exame a que o paciente se sub na admissão às funções particulares e, assim, tal
meta, êsse critério deve ser mantido. Hoje, com vez uma razoável conduta se estabelecesse em
os recursos de que dispomos, particularmente de tempo não muito protraído. Se conseguíssemos
pesquisa do bacilo pela cultura e inoculação do dessa forma, romper o isolamento que se produz
conteúdo gástrico, dificilmente um tuberculoso dei em tôrno ao antigo doente, realizaríamos um passo
xará de fazer, mais cedo ou mais tarde, a sua prova fundamental em seu benefício. “Enquanto cons
bacteriológica. Adotando o teste baciloscópico tituir um problema o grupo médio dos casos crô
À READAPTAÇÃO AO TRABALHO DOS TUBERCULOSOS CURADOS 49
nicos” , escreveu C l e m e n t e F e r r e i r a (1 3 ), “o es 3 — P h . C o u v e — T ravail e t tu bercu lose — L 'ex p érien ce
quema para seu reemprêgo e post-assistência de de Camerluta — Presse M ed ica le n.° 59 — 24-7-37.
verá ser considerado com o um complemento de 4 — A ndré F abre — La rep rise d u travail e t Vavenir
todo regimen de tratamento” . Se, então, por ab social d es tu bercu leu x pulm onaires — Presse M é -
soluta incompreensão da capacidade de trabalho dicale n.° 78 — 28-9-38.
que tem um tuberculoso curado, fecharmos as por 5 — I r v i n S h u l t z and H a r v e y R ush — P sychological
tas do trabalho aos indivíduos com reliquata de testing o l tuberculous patients — “ T h e A m e r. R.
lesões, estaremos agravando o problema e concor T u bercu losis” — Junho 1941.
rendo para dificultar a solução dessas questões, 6 — T erry C. F oster — R ehabilitation o l th e tu b er
para nós tão importantes. culous — “ T h e A m er. R e v . T u bercu losis” — F e
vereiro 1941.
No Brasil, todos os assuntos referentes à assis
tência aos tuberculosos ainda estão numa fase ini 7 — E. L. S il t z b a c h — R ehabilitation o f tuberculous
— “ T h e A m er. R e v . T u b e r c .” — Setem bro 1941.
cial . Começada a campanha com a organização de
ambulatórios e dispensários, já existe delineada e 8 — E t i e n n e B e r n a r d — T u b ercu lose e t M ed icin e So-
ciale — M asson et C ie. E d it. — 1938.
em início de realização, a construção de uma rêde
de Sanatórios em várias regiões do país. Seria de 9 — BARROS B a r r e t o — Bases para a organização da
desejar que, tanto quanto possível, uma organi luta antituberculosa em fa ce do atual m om en to
ep id em iológico do Brasil — R ela tório ao 1.° C on
zação paralela de readaptação dos antigos enfer
gresso N acional de T u b ercu lose — R io , S . P au lo —
mos fôsse estudada, visando, como lembra H o m e r o
M a io 1939.
S i l v e i r a (1 4 ), “ensaios de horticultura e jardina
10 — G . P o i x — La tu bercu lose e t le s fonctionnaires d e
gem, o desenvolvimento crescente das atividades
l’ E ta t — Presse M éd ica le n.° 49 — 18-6-38.
até atingirmos as pequenas oficinas” , tudo isso ao
11 — D É c i o Q u e ir o z T eles — O tu bercu loso em face
lado da formação de pequenas bibliotecas selecio
da legislação — R ela tório O ficia l ao 2.° Congresso
nadas cuidadosamente na base de um critério téc-
N acional de T u bercu lose — S . P au lo — M a io 1941.
nico-profissional e da realização de cursos, que se
12 — E . RlST — L ’ admission aux fonction s pu bliques des
destinariam a melhorar o nível cultural dos enfer
tu bercu leu x guéris — Presse M éd icale, n .° 36 —
mos e preparar-lhes um melhor futuro profissional, 13-5-37.
com indiscutíveis benefícios para a sua reintegra
13 — C l e m e n t e F e r r e i r a — Influência, sôbre a fatali
ção na sociedade após a cura da moléstia.
dade dos casos d e tuberculose, do tratam ento m édico-
cirúrgico e da segregação em estab elecim en tos institu
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS cionais. Post-assistência e reabilitação profissional —
Com unicação ao 1.° Congresso N acional de T u b e r
X __ ANDRÉ F a b r e — La reprise du travail e t l ’avenir
social des tuberculeux — G . D oin et C ie . E d it .. — culose — R io , S . Paulo — 1939.
Administração de Pessoai
. T omás de V il a n o v a M o n t e ir o L opes
T
“ Adm inistração d e pessoal é a gerência das relações
visa a determinados fins e, para alcançá-los,
en tre o indivíduo, seus superiores, seus com panheiros
deve dispor dos meios necessários. e a organização a q u e serv e” .
Dentre êsses meios, os mais importantes são os Quatro são os objetivos da administração de
seguintes: 1) organização (número, natureza, dis pessoal:
posição e normas de funcionamento dos órgãos da
emprêsa) ; 2 ) pessoal (para as tarefas de direção I — obter o melhor elemento humano possí
vel para os trabalhos da em prêsa;
e para as de execução) ; 3 ) material (maquina
ria, matéria prima, instalações, equipamentos e II — manter êsse elemento em condições que
utensílios de trabalho) ; e 4 ) orçamento (previ melhor consultem os interêsses dêle pró
prio e os da emprêsa;
são e controle de receitas e despesas).
III — elevar o prestígio da emprêsa no merca
O fato de ser o pessoal um dos meios de que
do de trabalho;
se socorre a emprêsa para alcançar seus fins ca
racteriza a administração de pessoal com o um IV — desenvolver um elevado padrão de moral
entre os empregados.
setor da administração adjetiva ou geral.
Depois de situá-la em um dos dois grandes ramos Para realizar êsses objetivos, a administração
em que se dividem as atividades administrativas, de pessoal deve basear-se no conhecimento das ne
poderemos definir a administração de pessoal como cessidades e aspirações do empregador e dos em
sendo o setor da administração geral que tem a seu pregados.
cargo dirigir e coordenar as relações humanas no Ao contrário do que pode parecer à primeira
trabalho. vista, essas necessidades e aspirações não se opõem
umas às outras, de sorte que atender aos interês
Essa definição, decalcada na de T ead e M etcalf
ses do empregador importe em sacrificar os dos em-
( 1 ) , encerra, em derradeira análise, a mesma idéia
7. D ivisão d e In vestigações : — Investigar a conduta so elaboração e execução orçam entária, na parte relativa a
cial e política dos candidatos a certos cargos ; pessoal.
apurar as fraudes nos casos de inscrição, exa D ivisão de Orientação e Fiscalização do Pessoal
mes e outros a t o s ; fiscalizar os trabalhos de
(D .F .) : — Orientar, coordenar e fiscalizar a parte exe
identificação datiloscópica de todos os servi
cutiva da adm inistração do pessoal civil da U nião, exceto
dores públicos fed era is; supervisionar a sele-'
no que se referir a seleção e a p erfeiçoa m en to ; estudar e
ção, treinam ento e designação dos investiga
dores. propor a revisão de decisões contrárias à legislação e normas
em vigor, no setor que lhe é correspondente ; apreciar as
8. Junta d e R ecu rso e R evisã o ( 8 ) : — A preciar os re
questões, relativas à m ovim entação, direitos e vantagens,
cursos e pedidos de revisão de atos e decisões
deveres e responsabilidades dos servidores p ú b lic o s ; elabo
dos vários serviços da Com issão, tais com o
rar e propor a expedição de instruções e normas que facili
classificação em concurso, organização de lis
tas para nom eação, aplicação da lei de a po tem a uniform e aplicação da legislação ou solucionem ques
sentadoria, e tc. tões de caráter geral, relativas ao seu cam po de a çã o.
cial a êle referentes, cabem quase que totalmente ções nominais de extranumerários, com indicação dos ele
m entos constantes das relações n um éricas; publicar o “ B ole
às agências menores. Estas últimas, situadas nos
tim de Pessoal” , que será am plam ente distribuído, incluin
ministérios e nos órgãos diretamente subordinados do-se nêle, obrigatoriam ente, tôdas as decisões e atos rela
ao executivo, são comumente denominadas divisões, tivos aos funcionários e extranum erários; lavrar todos os
serviços ou secções de pessoal. atos relativos aos funcionários e extranumerários e divul
gar os que se tornem n ecessários; organizar o expediente
N o serviço público federal norte-americano, as relativo à posse dos funcionários e à admissão dos extra
divisões ministeriais da pessoal foram instituídas numerários ; iniciar o processam ento para prover as vagas
por um decreto expedido em 24 de junho de 1938, ocorridas no quadro de fu n cion á rios; organizar e manter
o qual dispunha que as citadas divisões deveriam rigorosam ente em dia os elem entos necessários ao processa
estar instaladas até fevereiro do ano seguinte. m ento das prom oções dos funcionários ; organizar, manter
em dia e publicar as listas de antiguidade dos funcioná
Eritre nós, seis ministérios possuem divisões de rios ; matricular os funcionários e extranumerários e adotar
pessoal; são êles o do Trabalho, Indústria e Co o cód igo e os prefixos estabelecidos pelo D . A . S . P . ; pro
mércio, o da Agricultura, o da Educação e Saúde, por a criação e a supressão de cargos e funções, tendo em
vista as necessidades do serviço ; opinar quanto à lotação
o da Justiça e Negócios Interiores, o da Viação e
das repartições e s e rv iço s ; manter em dia o assentamento
Obras Públicas, e o das Relações Exteriores; os individual do funcionário e do extranumerário, com indica
quatro restantes — da Guerra, da Fazenda, da ção dos elem entos de identificação, encargos de fam ília, na
Marinha e da Aeronáutica — possuem serviços de tureza profissional, índices de aptidão e quaisquer outros
pessoal. fatos que se relacionem , direta ou indiretamente, com o
exercício de funções p ú b lica s ; organizar e publicar, anual
Convém observar que, no sistema adotado pelo mente, o almanaque de p e s s o a l; em itir a caderneta do fun
nosso serviço civil federal, as divisões e os serviços cionário ; estudar, nas épocas próprias, a relação numérica
de pessoal possuem as mesmas atribuições, expli dos extranumerários e seus salários, tendo em vista os
recursos orçam entários.
cando-se a disparidade de nomenclatura pela ne
S ecçã o d e C on trole ( S . C . ) : — Organizar e manter
cessidade de serem obedecidos certos preceitos de
em dia a ficha financeira in d iv id u a l; contro.ar os boletins
oraem estrutural ( 1 2 ) . Por outro lado, não dife
de freqüência, que lhe devem ser rem etidos pelas reparti
rem eies, essencialmente, quanto à sua composição, ções ; proceder à averbação e classificação dos descontos,
ut. bortc; que podemos tormar uma íaeia mais ou exercendo a fiscalização necessária ; conferir os valores aver
menos exata de todos, conhecendo a organização bados e cla ssifica d os; expedir guias de crédito correspon
da Divisão de Pessoal do Ministério do Trabalho, dentes aos descontos a utorizados; encaminhar à S . A . , d e
Indústria e Comércio, que abaixo (1 3 ) sinteti pois de extraídos os elem entos que interessam à secção, os
boletins de freqüência dos funcionários e extranumerários,
zamos :
para efeito do respectivo assentamento in d iv id u a l; fiscali
zar, permanentem ente, a distribuição e aplicação das verbas
(1 1 ) Funciona junto ao D . A . S . P . D êle fazem parte de p e s s o a l; organizar e manter em dia o conta corrente
os diretores das divisões de Estudos de Pessoal, O rienta das carreiras; expedir os boletins de alterações, contendo
ção e Fiscalização do Pessoal, A perfeiçoam ento e Seleção,
os novos elem entos e as m odificações de crédito e débito
bem com o os chefes ou diretores dos órgãos de pessoal civil
dos m inistérios. do pessoal.
(1 2 ) V eja-sè A D ivisão d e Organização e Coordena S ecçã o Financeira ( S . F . ) : — (Elaborar as fôlhas de
ção e suas atividades em 1941 — Pág. 22 — Imprensa N a
pagam ento, as relações dos descontos obrigatórios e auto
cional — R io , 1942.
rizados, b em com o os cheques ou bilhetes com o extrato dos
(1 3 ) O autor cingiu-se ao texto do Regulam ento apro
vado pelo D ecreto n.° 6 .7 3 5 , de 21-1-41. lançam entos feitos em fôlha ; organizar a dem onstração m en
ADMINISTRAÇÃO DE PESSOAL 55
sal da despesa com o pessoal, enviando-a à S . C . ; apurar satisfaça as necessidades que lhe são pró
o custeio do p e s s o a l; conferir os valores apurados e des prias ;
c o n ta d o s ; encaminhar à S . A . , devidam ente inform ados, os
elem entos da despesa que devam ser publicados no “ B ole 3.° a competência deve ser descentralizada,
tim do Pessoal” ; fornecer dados para o orçam ento do desde que a rapidez na realização das tare
pessoal do M in istério. fas apresente especial importância e deva
S ecção d e A ssistência Social ( S . S . ) : — Estudar as ser facilitada;
medidas relativas aos acidentes que possam atingir os fun 4.° a competência deve ser centralizada, sem
cionários e extranumerários, quando no exercício de suas
pre que a uniformidade dos processos e das
fu n ç õ e s ; estabelecer m edidas para socorros de u rg ên cia ;
soluções deva predominar;
providenciar sôbre a adoção de medidas para higienização
dos locais de trabalho e para o con forto do p e s s o a l; colabo 5.° a competência deve ser centralizada tanto
rar na incentivação do cooperativism o.; colaborar nos estu quanto seja preciso para evitar desperdícios
dos de tipologia, antropom etria e psicotécnica, relativos aos
e duplicação de atividades.
funcionários e extranum erários; estudar e propor a organi
zação de cursos de adaptação e a p erfeiçoa m en to; fornecer
IV . FUNÇÕES
atestados e laudos m édicos, nos casos de licença para tra
tam ento de saúde, verificação de doença em pessoa da fam í O campo da administração de pessoal é muito
lia e ausência ao serviço por m otivo de doença ; participar, extenso e compreende problemas de uma grande
por interm édio de um m édico, da junta m édica designada
variedade, desde os de ordem econômica até as
para efeito de a posen tadoria; colaborar com a Com issão de
E ficiên cia na identificação das causas determinantes da di
mais delicadas questões de psicologia individual e
m inuição do rendim ento do serviço e b em assim n o estudo social.
de medidas tendentes a racionalizar os m étodos e normas Dentro dêle há lugar para os princípios e méto
de trabalho.
dos de diversos ramos do conhecimento humano,
A descrição do sistema de pessoal do nosso ser como sejam a economia política, a estatística, a psi
viço civil federal não será completa se deixar de cologia, a medicina, o direito e a técnica de orga
mencionar o Serviço de Biometria Médica, do Ins nização.
tituto Nacional de Estudos Pedagógicos, adminis O empregador que deseja obter adequadas for
trativamente subordinado ao Ministério da Educa tes de suplência de mão de obra defronta-se com
ção e Saúde, e que, embora não possa ser, a rigor, a necessidade de conhecer o mercado de trabalho,
incluído entre as agências menores, desempenha, o que por sua vez implica o conhecimento da lei
entretanto, papel assaz importante dentro do refe da oferta e da procura, o dos princípios que con
rido sistema. A êle cabem, a grosso modo, funções dicionam as relações entre o capital e o trabalho
idênticas às da Divisão Médica da Comissão do no processo de produção, bem como o desenvolvi
Serviço Civil dos Estados Unidos. mento das fôrças econômicas e suas repercussões
* % * na mobilidade da fôrça do trabalho e nos sistemas
de aprendizagem e treinamento. Certos conheci
Da exposição que acabamos de fazer verifica- mentos de economia política são igualmente neces
se que a administração de pessoal é, ordinàriamen- sários à solução racional das questões de salários
te, centralizada na sua fase de planejamento, su e incentivos financeiros.
pervisão e controle, e descentralizada na sua fase A psicologia objetiva, nos seus vários aspectos,
de execução. Isto, porém, não impede que a agên é indispensável à administração de pessoal, pois é
cia central ou maior exerça atividades puramente
'ela que fornece os princípios sistematizados e os
executivas. A questão será entendida acertadamen-
recursos de investigação que permitem selecionar e
te, se a focalizarmos à luz dos princípios que regem
treinar os empregados, e adaptá-los ao ritmo e con
a distribuição das atividades entre os órgãos de pes
dições de trabalho, mediante processos baseados na
soal. Tais princípios são :
prévia exploração do mecanismo do comporta
1.° a competência para a prática de determi mento humano.
nados atos deve caber ao órgão que centra O problema da fadiga fisiológica, o das doenças
lizar as mais importantes das informações profissionais e muitos outros relacionados com a
em que os mesmos atos se devam basear; proteção à saúde do trabalhador não serão resol
2.° a competência deve ser descentralizada na vidos com acêrto sem auxílio da medicina, do mes
medida indispensável para que cada serviço mo passo que os ensinamentos da estatística e os
56 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
seus métodos de apresentação e análise não pode M o s h e r & K i n g s l e y (1 4 ), encarando a questão
rão ser desprezados no estudo de fenômenos multi- à luz da experiência das organizações públicas e
causais como são as relações humanas no trabalho. privadas de seu país, dão à agência de pessoal 26
funções, das quais 5 são de caráter quase-legislativo
Pelo fato mesmo de ser extenso e englobar pro
e administrativo, 11 de caráter administrativo, 1
blemas tão variados, o campo da administração de
de caráter quase-judicial, 7 de aconselhamento e 1
pessoal sói ser distribuído por funções, cuja discri de caráter administrativo e de aconselhamento.
minação e complexidade, como é óbvio, variam Tais funções figuram no quadro abaixo, que re
com as condições da emprêsa. produzimos do livro dos dois citados autores :
F u n ções Caráter
H arvey W alker (1 5 ), partindo igualmente do a mesma aparelhada para o exercício das seguintes
princípio de que a administração de pessoal deve funções :
ser funcionalizada, salienta a necessidade de estar
1. Exame — inclusive anúncio das vagas a
prover e recebimento de pedidos de inscri
' (1 4 ) “ P u blic Personnel A dm inistration” — P ágs. 9 0 ção;
e sgs. — H arper & Brothers — N ew Y ork, 1 9 4 1 .
2 . Classificação e remuneração ;
(1 5 ) "P u b lic Adm inistration in the United S tates”
— P á g. 1 5 5 — Farrar 85 Rinehart, Inc. — N ew Y ork, 1 9 3 7 . 3. Treinamento;
ADMINISTRAÇÃO DE PESSOAL 57
4. Condições de serviço, avaliação da eficiên 2. Controle das condições de trabalho, visando
cia e prom oção; manter e utilizar de m odo eficiente o pes
5. Incapacidade e afastamento;
soal obtido ;
“The tradition of aid to veterans, indeed, Porém, a fase de transição entre a guerra e a
is
much older than the m erit system ” — L eonard
paz exigirá, sem dúvida, maiores estudos, a res ■
D . W h it e .
peito das vantagens e prerrogativas que deverão
“ O ne o f the m ajor post-vvar problem s faced b y
ser outorgadas, genèricamente, aos ex-combatentes
any nations is the restitution o f its veterans to
normal national life ” . — J o h n F . MlLLER.
do Brasil, em razão do sacrifício que lhes foi exi
gido para a vitória. É claro que nos referimos
Á RIAS foram as repsrcussões que a entrada aos benefícios de ordem civil, já que, do ponto
Convém, entretanto, esclarecer que, pelo “Star- E continuam, salientando o caráter intrínseco
ney Bill” , uma nova política foi adotada a respeito, à qualificação do veterano :
excetuando-se das regras da preferência o serviço
“ N o one is entitled to the benefits o f veteran
militar, em tempo de paz, e estabelecendo-se que
preference unless he proves that his last discharge
tal privilégio atinge apenas os veteranos “who from m ilitary forces was an honorable one” .
served during any war or in any Campaign for
which a campaign badge has been authorized” Assim, a Comissão do Serviço Civil não sò
( 2 ). mente nega aos ex-soldados que tiverem dado
baixa do Exército ou da Armada, “for delinquency
Ademais, aquela preferência sòmente dizia res
or misconduct until at least one year after such
peito à ordem de classificação nos concursos, e
dismissal” , os benefícios da preferência, como,
não à nomeação propriamente dita. Desta ma
também, rejeita-lhes a própria inscrição nos exa
neira, a autoridade poderia,- em face da lei
mes para o serviço civil.
que permite seja feita a escolha do nomeado den
tre três nomes constantes de uma lista ( one-in- Cabe esclarecer que a preferência outorgada
three list), des'gnar para o cargo um dos outros às esposas dos veteranos, com a soma dos 10 pon
dois candidatos indicados, desprezando o veterano, tos à média obtida nas provas, só se verifica
sua espôsa ou viúva. O geral, no entanto, dadas
“ in those cases in w hich her husband’s physical
razões de caráter sentimental facilmente presu disabilities disqualify him from com peting in exa-
míveis, era a indicação do próprio ex-soldado ou minations for positions in line w ith the occupation,
marinheiro, ou pessoa de sua família. or occupations, b y which he has been accustom ed
to earn a liveh ood ” .
Uma exposição mais detalhada e, ao mesmo
tempo, mais recente dos procedimentos norte- Porém, quando se trata de viúva de ex-comba
americanos, em relação à matéria, se encontra no tente, não é feita qualquer distinção, isto é, não
livro “Your Federal Civil Service” , de autoria de se cogita se o marido, quando vivo, estava ou não
J a m e s C. O . B r i e n e P h i l i p P. M a r e n b e r g (edi inválido, ou nas demais condições referidas.
ção de 1940). De acôrdo com o que informam
Na hipótese de desejar o veterano usufruir as
êsses autores, o Congresso dos Estados Unidos
vantagens oferecidas, tem de preencher, no ato de
apenas estabeleceu o preceito de que aos vetera
inscrição no concurso, uma fórmula especial, jun
nos deve ser dada prferência nas nomeações, ca
tando a mesma os necessários documentos com-
bendo ao Presidente do pats e a Comissão do
probatórios, sob pena de não gozar das preferên
E, sempre baseado em leis federais, ou estaduais, Mais adiante, M osher e K in g sley chegam ao
examina as exceções ao sistema do mérito, abertas extremo de dizer que, de alguma forma, as várias
em favor dos veteranos, no tocante : “preference provisions” podem ser consideradas
como a mais recente forma do sistema de despojos
a) aos limites de idade; ( spoils system ). Porque, asseveram, não so
às exigências físicas e de sanidade; mente tal fator determina uma baixa nos padrões
b)
exigidos para o ingresso no serviço, como, também,
c) aos exames e provas, de caráter competi
porque contribui para complicar muitos problemas
tivo ;
da administração de pessoal. O efeito das prefe
d) à classificação nos concursos (rating for rências, sôbre o recrutamento, disciplina e moral,
appointment); é difícil de ser diretamente avaliado, embora tôda
e) à indicação para a nom eação; pessoa familiarizada com o serviço público seja
à readmissão; de opinião que é grande, especialmente em alguns
0
Estados, como o de Illinois e Massachusetts. A
ê) à rem oção;
excepcional proteção dispensada aos veteranos
h) à prom oção; contra a ação disciplinar e a preferência assegu
0 à permanência no cargo e rada para promoção, concorrem para diminuir o
(5 ) In "P roblem s o l th e A m erican P ublic S erv ice” , Nesta matéria, com o em muitas outras, a polí
N ew Y ork, 1935. tica deve ser estabelecida, visando, acim a de tudo,
(6 ) Para conhecim ento das preferências concedidas o interêsse p u b lico” , e não o interêsse especial de
em outros países, com o a Grã-Bretanha, França e A le qualquer grupo. O interêsse pú b lico, inclusive o
r .-
62 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
dos veteranos, requer a m anutenção de um serviço Contudo, a objeção de W h i t e parece proceder,
p ú b lico com petente, im parcial, e disciplinado, apto nesse ponto, pôsto que o fato de prescrever-se o
a ' executar satisfatoriam ente as várias atividades
monopólio desta ou daquela carreira para os ex-
estatais. D eb a ixo de tal consideração, a política
combatentes implica em infração a preceito de
adm inistrativa reconhece, acertadamente, a legítima
reivindicação dos veteranos, em lhes ser facilitado ordem constitucional, em qualquer república de
o restabelecim ento na vida civil, seja através de mocrática, assegurador do direito de todos a con
em pregos pú blicos ou particulares, e a assistência correr aos cargos públicos. As únicas prerroga
d o Estado naquilo que a guerra tornou tal reajus- tivas, previstas para o ingresso em certas
tam ento d ifícil ou im possível. M as, aquela mesma
carreiras, como as de Comissário de Polícia, Mé-
p olítica adm inistrativa não pod e subestimar, tam
dico-legista, Engenheiro, e asseguradas, como mo
bém , o legítim o direito dos rapazes e moças, que
atualmente cursam escolas, a concorrerem , amanhã, nopólio, aos cidadãos diplomados respectivamente
aos cargos públicos, e servir à R epú blica, nos ser em Direito, Medicina e Engenharia, justificam-se,
v iços m unicipais, estaduais ou federais. E, certa por serem predicados técnicos, reputados indispen
m ente, m uitos dêsses estudantes são filhos e filhas
sáveis à boa performance do funcionário. O mesmo
de veteranos” .
acontece com os demais requisitos que acarretam
Aliás, nesse estudo, L e o n a r d W h i t e , com a sua restrições à área do recrutamento, não parecendo,
autoridade incontestável em assuntos relativos à pois, lícito, estabelecer-se monopólio, fundado em
administração pública, faz uma explanação com quaisquer outras razões, embora as mais respei
pleta do problema, na conjuntura atual, merecendo, táveis, do ponto de vista cívico e patriótico.
por isso, referência especial os pontos principais Outra providência que está em cogitações nos
do mesmo, que é uma das mais recentes obras Estados Un:dos, e que se adotou aqui, é a garantia,
que conhecemos sôbre o oportuno assunto. ou pelo menos expectativa, da volta do funcio
Filia-se W h i t e , de modo geral, à corrente que nário mobilizado ao cargo, após o término da luta,
sustenta não dever a proteção dispensada aos respeitadas, é claro, as condições físicas e mentais
veteranos afetar os padrões da eficiência do ser do veterano. Um escriturário, por exemplo, que
viço público. Sustenta que haja ficado sem as mãos, não podendo mais de
sempenhar as suas funções, terá de ser readap
“ the normal passing grade which is b elieved es- tado .
sential fo r satisfactory work in ány jo b should be
L e o n a r d W h i t e preconiza, ainda, que as pre
required o f ali eligibles” ,
ferências dos veteranos fiquem restritas ao ingres
informando que, de acôrdo com um levantamento so no serviço público e permanência, no caso de
feito pela Comissão do Serviço Civil do Estado redução do número de servidores, a despeito desta
de Michigan, essa é a regra usualmente obedecida, última hipótese poder ser objeto de crítica ( 1 0 ) .
e que a prática federal constitui exceção. Sobre Vemos, através das fontes bibliográficas indi
tudo, no que toca aos “entrance standards” para cadas por W h i t e , que os Estados Unidos se pre
as carreiras profissionais, científicas e de direção, param para enfrentar e resolver convenientemente
W h i t e mostra-se intransigente, porque, diz ê le , o problema, de grande complexidade, ali. Tam
tais categorias são, verdadeiramente, o coração e bém a Inglaterra tem suas vistas voltadas para o
o cérebro da administração pública, e “their assunto. O “White Paper” n.° 6.567, publicado
soundness is absolutely essential” . Opina, tam pelo Govêrno Britânico em novembro de 1944,
bém, aquêle autor, contra o estabelecimento de refere-se ao recrutamento para postos efetivos do
monopólio para os veteranos, em determinadas serviço público ( established civil scrvice), du
carreiras, porque isso contraria as profundas con rante o período de reconstrução. Segundo escla
vicções norte-americanas sôbre a maneira de rea rece E s t a n i s l a u F i s c h l o w i t z , todos estão de
lizar a democracia, de vez que exclui a livre com acôrdo em que nada há de mais justo e eqüita-
petição. Esclarece que, não obstante, o “Starney tivo do que garantir a prioridade, no acesso ao
Bill” , então (maio de 1944) dependendo de dis serviço público, àqueles que, na hora do supremo
cussão no Congresso dos Estados Unidos, incluía
um tipo de monopólio dos veteranos, reservando
(1 0 ) A t ít u l o d e c o o p e r a ç ã o , s e rá t r a n s c r it a , n o f i n a l
as funções de guarda, cabineiro, mensageiro e vi d êsto a r t ig o , a b ib lio g r a fia r e f e r id a por W H IT E , no seu
gia, exclusivamente para veteranos. e n s a io .
A PREFERÊNCIA PELOS VETERANOS NA CON JU NTURA ATUAL 63
perigo para a Pátria, arriscaram a vida, a saúde formas de preferência devem encarar a situação
e o bem-estar econômico, defendendo-a contra o lega l:
perigo externo. D e acôrdo, ainda, com as infor
mações fornecidas por F i s c h l o w i t z , a) dos funcionários; e
b) dos extranumerários ;
“A solução procurada atualm ente pelo G ovêrno,
segundo opin ião unânim e dos responsáveis p elo alto Como se sabe, a conceituação jurídica dessas
padrão da adm inistração britânica, deverá preen
duas grandes modalidades de servidores públicos
cher as cin co con dições seguintes :
impede que tôdas as medidas e providências se
. 1. Garantir, de acôrdo com o discurso do Chan
celer d o Erário, pronunciado em 17 de fevereiro
jam tomadas indiscriminadamente, para benefício
de 1944, o recrutam ento generoso ( “ generous, not dos veteranos da guerra.
on ly fair” ) dos con vocados.
Por outro lado, as preferências poderão verifi
2. Em seguida, só conceder aos m em bros des car-se:
m obilizados das fôrças armadas privilégios que
sejam inteiram ente com patíveis com o interêsse da a) antes do ingresso no serviço público (fases
boa adm inistração p ú b lica . de recrutamento, seleção, etc.) ;
3. T u d o deverá ser feito para restabelecer com ò) para o ingresso (preferências para nomea
a máxima urgência a aplicação integral dos prin
ção ou admissão) ; e
cípios que regem norm alm ente a seleção do pessoal
p ú b lic o ; o período de em ergência, cham ado de
c) posteriormente ao ingresso (promoção, me
“ reconstrução” , deverá, portanto, ser lim itado ao lhoria, e t c .).
m ínim o necessário, com volta posterior im ediata
Tentaremos, a seguir, indicar algumas das pro
ao regim e norm al.
vidências, suscetíveis de aplicação, com o objetivo
4. O regim e de recrutam ento anteriorm ente em
vigor deverá ser reexam inado, a fim de ser aper de proteger os veteranos, proporcionando-lhes
feiçoa do pelo menos em parte. reemprêgo e meios de vida.
5. Certos favores deverão ser reservados aos Assim, aos ex-combatentes que se inscreverem
com ponentes do grupo de servidores “ tem porários”
em concursos ou provas de habilitação poderá
no propósito de aproveitar em ben efício da adm i
h a v er:
nistração a experiência por eles adquirida em tem po
de paz e de guerra” (1 1 ).
1.° — preferência na ordem de classificação
Nós temos, também, as nossas razões para final, em casos de em pate;
proceder igualmente. 2.° — atribuição de 10 pontos, sôbre a média
Os nossos feridos de guerra transitam, já, pela obtida no conjunto de provas intelec
cidade, e cada dia que passa aumenta o número tuais ; e
dêles. É certo que a ausência de dados esta 3.° — concessão de facilidades, quanto aos li
tísticos, pslo menos publicados, impossibilita esti mites de idade, capacidade física, dis
mativas plausíveis, sôbre o total de veteranos com pensa de exigências secundárias, taxas,
que contará o Brasil. N o entanto, a questão do etc.
seu reemprêgo e restabelecimento na vida civil está,
Em que pese o receio de L e o n a r d W h i t e e de
assim, evidente por si mesma. Temos de reco
nhecer, como é feito alhures, que êles merecem outros autores americanos, de que tais preferên
gratidão, não apenas cívica, mas também em têr- cias acabem por determinar sensível diminuição
mos de tratamento especial, proteção à sua pessoa nos padrões de ingresso no serviço público, com
e à sua família, facilidades efetivas, no sentido prejuízo dos mais capazes, e do próprio rendi
de garantir-lhes subsistência digna e honrada, de mento, nas funções, dos funcionários assim prefe
pois dos sacrifícios e perigos por que passaram. ridos, cumpre reconhecer que restará sempre um
mínimo de habilitação” exigível, cabendo ao trei
Naturalmente, em relação ao serviço civil bra
namento a tarefa de aumentar a eficiência, “in
sileiro, é necessário atender a certas peculiarida
service” , do veterano. .
des. Em face de nossa organização do sistema
de pessoal, uma distinção se impõe, de início; as Relativamente aos extranumerários, poder-se-á.
talvez, conceder-lhes preferência para permanecer
(1 1 ) “ R ev ista ífo S erviço P ú b lico” , m aio de 1945, na função, na hipótese de redução da respectiva
pág. 7. tabela numérica, por imperativos de economia.
64 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
Essa medida é semelhante à adotada nos Estados A dvancem ent of M anagem ent, Inc., 29 W est 39th Street,
N ew Y ork 18, N ew Y ork, O ctober-D ecem ber, 1943. pf>.
Unidos’ em casos de redução por motivos finan
127-30, 142. (D iscurso pelo Com issário de Estatística
ceiros, ou de depressão; entre nós, porém, não
d o Trabalho, D epartam ento do Trabalho d o s 'E . E . U . U . ,
cabe sua aplicação aos funcionários em gôzo de m aio, 1943) .
estabilidade, pois serão, em tais circunstâncias,
SOLDIERS, j o b s , and THE PEACE. F ortune, R ockefeller
considerados, quando menos, disponíveis. Center, N ew Y ork 20, N ew Y ork, O ctober, 1943, pp. 111
No que concerne à promoção, poderão os fun 15, 2 0 0-12. (P roblem as ligados à desm obilização e que
podem ser a n te cip a d o s ).
cionários que tiverem sido combatentes ter prefe
THE ORGANIZATION OF EM PLOYM EN T IN THE TRANSITION
rência absoluta, para os desempates de antiguida
FROM W AR TO PEACE. International Labour O ffice, 3480
de e merecimento, provendo-se-lhes, desta ma
U nversity Street, M ontreal, Canada, 1944. 179 p p . $1.
neira, mais fácil acesso. Para os extranumerá (E stu do crítico das considerações relativas às diretrizes e
rios, estabelecer-se-á preferência para melhoria, aos programas governam entais) .
dentro da Série Funcional, independentemente de wANTED : TEN m i l l i o n JOBS. A lvin H. Hansen. A tlan
provas de habilitação. tic M on thly, Septem ber, 1943, p p . 65-69. (E stu do sôbre
a desm obilização que se seguiu à Grande Guerra I e esti
Como é curial, as medidas apbntadas, em têr
mativas de em prêgo após a Grande Guerra I I ) .
mos gerais, e um tanto apressadamente, pressu
WHEN I GET OUT WILL I FINO A JOB ? M axw ell S.
põem, para sua concretização, o exame das parti
Stewart. P u blic Affairs Pam phlet N o. 86, P u b lic A ffairs
cularidades que o problema apresenta, cumprindo Com m ittee, Inc., 30 R ock efeller Plaza, N ew Y ork. 1943.
que os nossos órgãos de administração geral se 31 pp. $ .1 0 . (E studa os ajustamentos que vários se
dediquem a essa missão, que se nos afigura pre tores da econom ia terão de fazer em um program a de
mente, e deveras relevante. em prêgo integral) .
Aspectos Específicos
BIBLIO G RAFIA IN D ICADA POR LEONARD
W H ITE CANADA PLANS FOR VETERANS’ TRAINING. H .W Ja-
m ienson. O ccupations, National V ocational G uidance
Aspectos Gerais Association, Inc. 525 W est 120th Street, New Y ork 27,
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ao deixar o serviço m ilitar) . ciation, 525 W est 120th Street, N ew Y ork 27, N ew Y ork,
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POSTWAR REEMPLOYMENT : THE MAGNITUDE OF THE
veteranos e o em prêgo de veteranos de capacidade redu
PROBLEM . Karl T . S ch lotterb eck . Pam phlet N o. 54, T he
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tistics, W ashington, D . C . (C itações da im prensa perió POSTWAR EDUCATION OF SERVICE PERSONNEL. D onald
dica da época refletindo a opinião pública corrente com J. Shank. Annals o l the A m erican A cad em y o f Political
referência ao ex-com batente e seu p r o b le m a ). and Social S cien ce, January, 1944, p p . 65-73. (O papel
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H inrichs. A dvan ced M anagem ent, The S ociety for the tam ento do após-guerra) .
A PREFERÊNCIA PELOS VETERANOS NA CON JU NTURA ATUAL 65
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sonnel R ev iew , T h e C ivil Service A ssem bly, 1313 East cional, orientação vocacional, e aspectos jurídicos da rea
60th Street, C hicago 37, Illinois, April, 1944, pp. 95-100. bilitação) .
(D escriçã o dos recursos disponíveis proporcionados pelo REPORT OF THE COMMISSION ON POST-wAR TRAINING
Instituto das Forças Arm adas para tais a v a lia çõ e s ). AND ADJUSTMENT. Institute o f A dult Education, Teachers
RE-EM PLOYM EN T OF EX-SERVICEMEN IN PUBLIC POSI- College, Colum bia U niversity, N ew Y ork. 1942. 54 p p .
TIONS. Charles L. Jamison. Armais of th e A m erican (U m a declaração de princípios relativos aos problem as
A ca d em y of P olitical and Social S cien ce, 3457 W alnut educacionais de ex-soldados e ex-marinheiros, e de ex-
Street, Philadelphia, Pennsylvania, M ay, 1943, p p . 104 trabalhadores da indústria b elica ) .
10. (E stu d o crítico dos dispositivos de leis federais e VETERAN PREFERENCE IN THE PUBLIC SERVICE, in P rO -
estaduais) . blem s o i the A m erican Public S ervice, N ew Y ork , 1935,
r e e m p lo y m e n t OF v etera n s. A m erican M anagem ent pp. 243-334. (E sta m onografia da Com issão de Inqué
Association, 330 W est 52nd Street, N ew Y ork 18, New rito sôbre Pessoal do Serviço P ú b lico é um estudo co m
Y ork. Personnel Series No. 76. (C ó p ia dos debates de pleto e abalisado sôbre a preferência dos veteranos nos
uma reunião incluindo representantes da adm inistração de serviços civis dos Estados U n idos) .
Veteranos, do Serviço de E m prego dos Estados U nidos WE CAN TRAIN SOLDIERS FOR POSTwAR JOBS. Carl A .
e do Sistema de Serviço S e le t iv o ) . G ra y. Saturday E ven in ê Post, August 7, 1943. (S u gere
REHABILITATION o f THE WAR INJURED. E dited b y W m . um plano para reconduzir ao trabalho os ex-com batentes,
Brow n D oherty, M .D ., and D agobert D. Runes. N ew quando a guerra estiver term in a d a ).
66 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
Os Territórios e os Municípios
O tto P razeres
Secretário Geral da Presidência da Câmara
dos Deputados — M embro da Comissão de
Estudos dos Negócios Estaduais
nr .
ENHO lido com espscial e merecida atenção, de ação, firmeza de atos e responsabilidade de
1 na Revista do Serviço Público, os artigos procedimento. O Município, na propaganda re
publicados pelo Sr. Océlio de Medeiros a propó publicana, jamais foi pintado senão com tôda
sito da administração dos Territórios Federais e essa indumentária de festa ou de gala.
da organização dos Municípios. São artigos que Qual foi, entretanto, a realidade quando se
refletem uma erudição digerida, exposta com inte tratou de organizar legalmente a primeira Re
ligência e boa ordem. Há nêles muito que apren pública ?
der e em que refletir.
A Assembléia Constituinte de 1890-91 acabou
Tive a honra de ver citado o meu nome em ' dando aos Municípios, sob alguns pontos, uma
um dêsses magistrais artigos, relativamente a autonomia menor do que a que tinham os Mu
um trabalho meu na imprensa diária, lembrando nicípios da Monarquia que fôra abolida.
que os Territórios não deveriam ser divididos em
Os Municípios possuíam até então umas tan
municípios ou não deveriam ter divisões autô
tas atribuições, mesmo tributos, em que não po
nomas que caracterizam essa entidade política.
deriam intervir nem as Assembléias Legislativas
O ilustre técnico de administração, que orgu Provinciais, nem o próprio Govêrno Central.
lha as letras administrativas brasileiras, como
E que se deu com a primeira constituição
que contesta êsse meu ponto de vista. . . No
republicana ?
entanto, no seu último trabalho, da série inserta
na Revista do Serviço Público, sôbre o problema Essa lei básica apenas dedicou aos Municípios
das atribuições dos interventores e prefeitos ter três linhas dispersivas: “Os Estados organizar-
ritoriais, preconiza — “a instituição de um tipo se-ão de forma que fique assegurada a autonomia
de município diferente” . dos Municípios em tudo quanto respeite ao seu
peculiar interêsse” .
Filia-se, portanto, às minhas fileiras, e tão im
portante soldado não poderá ser recebido senão Chamo estas linhas de “dispersivas” porque,
com os braços bem abertos no preparo para um como se vê, elas davam a vinte Estados o direito
grande e muito afetuoso amplexo. de dedicar à organização municipal o critério que
bem escolhessem, cada um ficando com o seu.
Justifiquemos, porém, a opinião que expus
nos jornais do R io de Janeiro. É assim praticaram, porquanto Estados houve
que deram na própria Constituição estadual ga
A questão dos Municípios no Brasil sempre
rantias perfeitas, embora não completas, aos M u
viveu balançando entre dois critérios diversos:
nicípios ; outros adotaram o sistema misto de
o critério de estima e o critério da realidade.
incluir algumas questões na própria Constituição,
O critério de estima estava em se afirmar que deixando outras para as leis ordinárias; outros,
o Município era a celuia da Kepública, consti finalmente, deixaram quase tudo para as leis
tuía, por assim dizer, a escola primária do esta ordinárias.
dista, o jardim de infância do administrador, e Continuaram d izen d o: “Município, tu és
que, com o tal, deveria estar aparelhado de re a célula da República, o berço de estadistas 1”
cursos para o desempenho de determinados en M a s .. . faziam dêsse berço o que bem queriam
cargos, dando aos administradores independência ou, melhor, o que mal queriam .. .
OS TERRITÓRIOS E OS MUNICÍPIOS 67
Na Comissão Constitucional do Itamarati veio tônomo, menos senhor de si do que no regime da
a baila a diferença profunda entre os Municípios Constituição de 1891, durante a qual os Municí
Brasileiros e proposto foi, no ante-projeto de lei pios possuíam as prerrogativas que cada Estado,
básica, que os Municípios mais altamente colo de generosidade variada, lhe concedia.
cados na escala chegassem ao ponto de possuir Não estou — note-se bem — opinando ou cri
Carta própria. Realmente, Municípios com ren ticando. Estou apenas mostrando o fato.
das de dezenas de milhões de cruzeiros (não me
E que verificamos com a Constituição de 1937 ?
refiro a Municípios-Capitais) não deveriam ter
Esta tirou, desde logo, o direito ao Município
o mesmo tipo e nem podem satisfazer aos mes
de escolher o seu próprio Governador ou Pre
mos encargos de Municípios com rendas de de
feito. Todos são nomeados pelo Governador do
zenas (e alguns menos) de milhares de cru
Estado; por outro lado, suprimiu a autorização
zeiros. . .
para o estabelecimento de um órgão técnico de
A Constituição de 1934 estabeleceu, sem dú assistência municipal, que, com o vimos, figurava
vida, desde logo, competências municipais e ga na Constituição de 1934. Achou que bastaria o
rantiu-lhes a cobrança de determinados tributos. Prefeito nomeado pelo Governador para a inter
Seria, por assim dizer, a segurança amparada venção estadual.
pela lei básica do país à autonomia municipal.
Como, porém, não há na Constituição vigente
Mas, a Constituição, dando tais liberdades acs dispositivo algum que contrarie a existência do
Municípios, lembra a situação de um pai que, referido órgão — geralmente denominado de D e
dando licença para os filhos irem brincar, à von partamento das Municipalidades — todos foram
tade, no jardim, envia também para o local uma mantidos e continuam em plena fu n çã o .. .
tia rigorosa para vigiar os pequenos e impedir Vemos assim que o Brasil ainda não escolheu,
que façam qualquer estrepolia. . .
de fato e tranqüilamente, o seu tipo de Município.
Quem foi essa tia ? Na história municipal republicana, apura-se qué
O § 3.° do art. 13, isto é, dêsse mesmo artigo o Município somente tem direitos para praticar
em que se traçava a autonomia municipal e se atos pouco convenientes, ora por motivos de bai
lhe distribuía impostos. xa politicagem, ora pela ignorância de seus ad
ministradores .
Dizia o § 3.° : É facultada ao Estado a cria
O Decreto n.° 1.202, de 8 de abril de 1939,
ção de um órgão de assistência técnica à admi
nistração municipal e fiscalização das suas fi que deu uma organização provisória para os Es
nanças” . tados até que êstes votem as próprias constitui
ções, está valendo, nessa honesta experiência de
Os dispositivos tinham muita dose de eufemia, mais de um ciclo, como a experimentação utilís-
porém a intenção era dura. Entenderam os pra sima do tipo de federalismo brasileiro.
ticantes ou usadores dêsse dispositivo que se não
Tenho dito e repetido — e não me fujo de
poderia fiscalizar as finanças de um Município
escrever outra vez aqui — que o referido decreto
sem que se tomasse parte, muito de perto, na or
levou a União ao seio dos Municípios e trouxe os
ganização dos orçamentos locais, isto é, imiscuin
Municípios ao seio da União. Quer isto dizer que
do-se em impostos e rendas e respectiva apli
uns e outros somente agora estão se conhecendo,
cação .
estão entrando em relações e podem, dêsse modo,
Ora, uma entidade política que não pode, com traçar a intimidade mais conveniente.
critério seu, em virtude de resolução inteiramente Quanto ao motivo que, mais de perto, justifica
sua, criar ou fixar os seus impostos, organizar estas linhas, isto é, a inconveniencia que aventei
livremente o seu orçamento e alinhar as despe de serem os Territórios Federais divididos em
sas — não tem autonomia administrativa. Municípios, com o tipo usual — não há motivo de
Conseqüentemente, na própria Constituição em divergência entre mim e o ilustre técnico de or
que se elevava o Município ao pôsto de uma En ganização Océlio de Medeiros, uma vez que êle
tidade tributante, em que se dava uma dose, em preconiza um novo tipo de “Município” . . .
bora mínima, de autonomia política, se tirava tudo Devo, todavia, lembrar que o característico do
isto, deixando, de fato, o Município menos au “Município “ç ter administração própria, autQ-
68 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
nomia-administrativa. Desde os romanos, seus país, com o ainda em relação ao. país vizinho. O
criadores, nunca tiveram outra significação. O Governador deve estar armado de influência e
prestígio da palavra aumentou nos regimes demo- capacidade de procedimento no sentido de inter
cráticos-republicanos, modernos e contemporâneos. vir em tão importante assunto. Se houver Mu
nicípio autônomo é o administrador municipal
Conservado o nome, o prestígio do nome, não
que resolve. . .
,será de boa prudência e não será real, se não
existe a autonomia. . . T odo o sistema tributário dos territórios deve
Qual foi a intenção do. Governo Federal, cri estar, portanto, sob a tutela da União e não den
ando os Territórios, e da Constituição, permitindo tro do tipo municipal figurante na Constituição
essa criação ? vigente.
Não podia ser outro senão o de aproximar li Se assim não se der, o Governador do Territó
vremente êsses Territórios do Govêrno Federal, rio, em vez de ser, de fato, o Governador de um
tendo êste completa liberdadè de ação na escolha Território, será verdadeiramente — um Governa
do tipo político-administrativo a ser escolhido. dor de grupo de Municípios, isto é, será um pai de
Não se compreende que se não dê autonomia ao filhos maiores, sôbre os quais não pode exercer em
todo e conceda autonomia a cada uma das partes tôda a plenitude a autoridade paterna, em vez de
em que êsse mesmo todo se divide. . . ser um pai de filhos menores, aos quais se nega
O todo, como cada uma das suas partes, tem com firmeza e realidade a chave da porta da rua
que ficar sob o controle perfeito do Governador para passeios fora de horas. . .
do Território, delegado do Govêrno Federal. A O digno Sr. Océlio de Medeiros quer que os
ação dêsse delegado ficará nula ou será exercida Municípios, ou os filhos dêsse pai tenham outra
fora da lei quando esbarrar com as prerrogativas idade, que não fixou ; eu desejo que êsses filhos
municipais. tenham tal idads que se lhes não possa dar o
Um dos pontos que merecem mais detalhada nome de M unicípio. . .
atenção é o dos impostos. Agradeço-lhe o ensejo de, mais uma vez, com
Territórios de fronteira, na escolha e na co o desalinhavado característico e com a insignifi
brança dos tributos, têm a considerar os interês- cância própria de autoridade, ter de explicar a
ses dos impostos não só em relação ao próprio minha opinião.
O CENTENÁRIO DO BARÃO DO RIO BRANCO I
69
N
ESTA reportagem pretendemos publicar algu A Sra. Eugênia de M acedo Soares, espôsa do
mas notas inéditas sôbre o Barão do Rio Minisfcro José Roberto de M acedo Soares, que no
Branco, aspectos da Exposição Comemorativa do momento respondia pelo expediente do Ministério
centenário de seu nascimento e reproduzir o que do Exterior, na ausência do chanceler interino,
nos pareceu mais interessante do que foi dito e Embaixador Pedro Leão Velloso, foi convidada a
divulgado na vigência das comemorações realizadas cortar a fita simbólica de inauguração da Exposi
nesta Capital. ção, que ficou depois franqueada ao público até
Vamos, portanto, ser objetivo, só fornecendo aos meados de maio.
leitores da Revista do Serviço Público matéria Em vez de descrever o certâmen preferiríamos
que possa ser de seu agrado, e não apreciações trazê-lo à vista do leitor por meio de fotografias
nossas sôbre a vida do grande brasileiro, focali de todos os seus painéis. Mas isso é impossível.
zada, aliás, de forma admirável, nos discursos pro Falta-nos espaço na Revista e nem sempre as fo
feridos junto à sua estátua e que publicamos no tografias lá expostas podiam ser reproduzidas no
fim dêste trabalho.
vamente, a menos que fôssem retiradas dos res
Quanto a notas inéditas sôbre R io Branco, tam pectivos quadros, o que seria impraticável no mo
bém não são elas resultantes de qualquer esforço
mento . *
de pesquisa do repórter. Foram-lhe tôdas forne
Assim, pois, limitemo-nos ao essencial, aos as
cidas espontâneamente pelo Itamaraty, onde a im
pectos mais vivos e atraentes da exposição —
prensa é sempre acolhida com solicitude e distin
grande livro aberto ao público, que, para sentí-lo e
ção. Aliás, essa conduta é tradicional naquela no
bre Casa. compreendê-lo, não precisava folheá-lo, nem se
guir-lhe o texto de página à página, pois cada
O jornalismo tem sido ali exercido com agrado
paifièl mostrava-lhe episódios de relêvo e até mes
de muitos diplomatas, como aconteceu ao próprio
mo capítulos inteiros da vida e da obra do emi
R io Branco e se observa ainda entre alguns ele
mentos da carrière e do funcionalismo do M i nente estadista brasileiro.
nistério.
R io B ranco na in f â n c ia e na m o c id a d e
Exposto o plano desta reportagem, podemos
então começar pela No início da Exposição via-se o painel “Infância
e M ocidade” , com fotografias da casa n.° 8 da
EXPOSIÇÃO RIO BRANCO
antiga travessa do Senado, onde nasceu o Barão.
No dia 20 de abril, quando se registrou o pri Ao lado o assentamento, na matriz de Santana,
meiro centenário do nascimento do Barão do Rio de seu batismo, a 24 de julho de 1845. Retratos
Branco, além da solenidade realizada pela manhã na meninice e na juventude, quando estudante de
junto à estátua do grande chanceler, na Esplanada direito em São Paulo e no R ecife. Defronte dêsse
do Castelo, houve à tatrde, no Palácio Itamaraty, painel, outro com os retratos do primeiro e do se
a inauguração de interessante exposição reveladora gundo Rio Branco, conforme se vê na fotografia
da vida e da obra do insigne diplomata. que aqui estampamos.
O certâmen foi organizado pelo Cônsul Murilo
de Miranda Bastos, com a colaboração do 1.° se
R io B r a n c o , d ip l o m a t a
cretário Djalma Pinto Ribeiro Lessa e dos Côn
sules Roberto Luiz Assumpção de Araújo, Victor Noutro painel, retratos de R io Branco, quando
de Carvalho e Jorge D ’Escragnolle Taunay. De cônsul geral em Liverpool; enviado extraordinário
coração de Santa Rosa e painéis de H . Delnegri. e ministro plenipotenciário em missão especial nos
70 REVISTA DO SERVIÇO PUBLICO — JU N . 1945
Estados Unidos; enviado extraordinário e ministro e também uma bengala e duas canetas que per
plenipotenciário na Suíça, e enviado extraordinário tenceram ao Visconde do R io Branco.
e ministro plenipotenciário em Berlim.
O AM BIEN TE DE TRABALHO
R io B ranco e s t a d is t a
Várias fotografias de dependências do Itama-
Vários retratos do Barão, quando Ministro de raty, destacando-se a da sala onde o Barão faleceu.
Estado das Relações Exteriores nas presidências Esta sala era o seu dormitório e gabinete de tra
de Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha e balho .
Hermes da Fonseca. Nesse painel, esta frase de
Euclides da Cunha : No painel lia-se :
S ilvio R om ero”
DUAS FRASES DE R lO BRAN C O
Fotografia de Rio Branco ao lado de sua co
Fomos tomando nota dos painéis. A o lado de leção de tanagras e “terras cotas” .
retratos, mapas, etc., de vez em quando uma frase
destacada nos despertava a atenção. Duas de R io B ranco e a c a r ic a t u r a
noríficos concedidos a R io Branco e, num mos- E deu no vinte desde que nasceu.
cartão, ao lado :
E outras caricaturas são expostas, publicadas no
“ O p eríodo republicano, em que o B arão adquiriu “D . Quixote” , jornal ilustrado de Angelo Agos-
os seus grandes triunfos, não era propicio a con deco tini; n’“0 Mosquito” , no “M alho” e no “T upy” ,
rações, que a Constituição de 1891 não adm itia. Ainda
de outubro de 1872.
assim foram muitas e im portantes as que recebeu” .
Noutlra vitrina, viam-se várias medalhas come N o primeiro quadro está êle com os filhos
morativas com o cunho do Barão do R io Branco D . Hortência, D . Amélia, Raul e P aulo.
O CENTENÁRIO DO BARÃO DO RIO BRANCO 71
N o segundo quadro, Rio Branco num almôço CONFERÊNCIA INTERNACIONAL AM ERICANA NO RIO
oferecido pelo Núncio Apostólico em Petrópolis. DE JANEIRO E M 1906
Rio Branco em R oyat (1 8 7 8 ); em Berna, com Rio Branco tendo ao lado Joaquim Nabuco e
Carlos de Carvalho e o Cônsul Mesquita; em W a vários delegados estrangeiros.
shington com Domício da Gama e Olinto de M a
galhães (1 8 8 9 ); no Rio de Janeiro, com Pereira E no painel esta frase :
Passos; em Hamburgo (1 8 98 ) com suas filhas, o “ N ão há aqui quem alim ente invejas contra os
Ministro Souza Correia e a Condessa de Nioac; povos vizinhos, porque tu do esperam os no futuro; nem
ódios, porqu e nada sofrem os dêles no passado.
em Auteuil (1 897) com Hilário de Gouveia, etc.
R io B ranco.”
Ao lado de um dêsses quadros esta frase :
R io B ranco e seu s s e c r e t á r io s
“ N ão sei o que m a is .ê le a d q u iriu : se territórios
para a sua pátria, se fanáticos para a sua grandeza
Fotografia de Rio Branco com os seus secretá
d ’ a lm a . • rios : Moniz de Airagão, Batista Pereira e Araújo
M artim Francisco.”
Jorge.
didos em diversos leilões. Aliás, devo dizer que — Como vê, o Barão procurava por tôda parte,
êsse interêsse do barão pela pintura estava tam até mésmo nas exposições de pintura estrangeira,
bém ligado à nossa história. Quer uma prova desta tudo que se relacionasse com a nossa história e
minha observação ? Aqui está o que êle escreveu servisse, se possível, de documentação ou divul
em uma das páginas do dicionário de Guédy : gação cívica. Devo também dizer-lhe que ainda
não foi divulgada suficientemente entre nós a pre
“ Quadros que devem os copiar para o R io e nos quais
se encontram episódios de nossa guerra com a H olanda, dileção de Rio Branco pela pintura. Também a
ou das guerras da Espanha dêsse tem po : escultura o apaixonava, especialmente as tanagras,
G ardacho : “ A praça de Constança, socorrida p elo duque de que possuía êle dois belos' exemplares. Veja
de Faria, em 1633” ; “ Sítio de R h einfeld, 1633” . êste livro a q u i: Collections de Terres Cuites de
F elix Castello (M u seu de M a d rid ) n.° 695 — “ D esem barco Tanagra, de Lecuyer. Em 93 páginas há 958 ano
de D . Fradique de T o le d o en la Bahia de S . Salvador tações .
(con h ecid o antes pelo nom e de “ Expugnación de un
Castello por D . Fradique de T o le d o ) . Rio B ranco gostava de “f o o t -b a l l ”
“ Choque entre E sp. e H olandezes” (D . D .
Balyasar A lfaro, reinado de F elip e) . Pela carta que abaixo publicamos vê-se que Rio
N o M useu Naval (n .° 716) “ C om b . N aval occur- Branco gostava de “foot-ball” . Escreveu-a ao seu
rido el 12 S e p . de 1631 sobre la costa dei Brasil em amigo o conselheiro Silveira Martins :
que la armada Espanola mandada por D . A n t.° de
O quendo ven ció e destrozó a la H olandeza bajo las “ Paris, 7 de abril de 1896
ordenes dei gen l. Hans Pater.”
M eu caro Conselheiro A m igo :
E o D r. J . Fischer, depois de ler estas notas,
H o je ás 3 horas ha a ultim a partida de “ fo o t-b a ll'
fêz-nos esta observação : entre os m elhores jogadores de Paris e o Club de
74 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO •— JU N . 1945
Coventry, q u e possue uma das mais celebres turmas servido dignam ente a la politica dei Brasil en estos
de “ fo o t-b a ll” da Inglaterra. A partida será m uito in paizes, conciliando a la ves los intereses y el decoro
teressante, talvez m ais do que a d e hontem , a cjue de su patria con el decoro y los intereses de los pueblos
H ilário assistio com uma das filhas. vecinos y amigos con los cuales cultiva relaciones, y
M an do-lh e esta noticia porque pareceu-m e ante- respecto de los cuales debe siem pre consultar el pre
hontem que M adam e Silveira M artins desejava assis sente y el futuro.
tir a um “ m atch’ ’ internacional, e eu estou con vencido N o necesito decir a V . E . cuanto siento su se-
de que o espectáculo o interessará tam bem . Esse ge- paracion de Buenos Aires y la manera en que ella
nero de sport devia ser introduzido no seu R io Grande tiene lugar. Sin pretender jusgar los actos dei G o-
do Sul, em Santa Catharina, Paraná, São Paulo e biern o dei Im pério, a cuya lealtad siempre hice la
M in as on de o clim a perm ite taes exercícios. debida justicia, creo sin em bargo poder asegurar por
A partida será n o V élodrom e da A venue Bineau, lo que respecta a la N acion que presido, que V . E .
em C o m b ev oie. D a sua casa ao logar ha m eia hora debe estar satisfecho dei m od o com o ha desem penado
de carro. N ão lhe m ando bilhetes porqu e não os ha su mission cerca dei G obiern o Argentino, asi com o de
h o je . Paga-se ao entrar 2 francos por pessoa. los nobles y generosos esfuerzos que ha hecho siempre
M eu filh o Paulo, estudante de m edicina, é o en favor de la paz a que siem pre hem os propendido
com o regia invariable de nuestra politica interna y
arrière ou B ack da equipe francesa, e é tido pelo
m elhor arrière da F rança. N o.m u n d o dos sports athle. esterna. H aben do tenido ocasion de apreciar con tal
ticos aqui cham am -no D a S ylv a . E ’ a êle q u e estará m otivo sus distinguidas calidades y su anhelo p or la
confiada a ultim a defesa d o cam po, quando os Inglezes felicidad de estos paizes, m e haré un honor en tod o
forçarem , co m o hão de forçar, as tres linhas de avantes, tiem po y en cualquiera situacion en testificarle los
sentimientos con que m e ofrezco de V . E. su mui
dem is e troisquarts.
atento servidor y amigo que le saluda con su más dis-
H on tem atirou ao chão todos os Inglezes que
tinguida con sideracion . B artolom é M itre. S . C . M a yo
poude, até cançar, mas estes são m u ito superiores aos
1 9 /8 6 5 .”
Francezes em disciplina e na arte de passar o ' balão.
O que era atirado ao chão pelo Paulo, lançava o balão
a outro Inglez mui distante, e este, sem encontrar A EDIÇÃO DAS “OBRAS DO BARÃO DO RIO
Francezes, que todos perseguiam o prim eiro, fazia o BRAN CO”
p o n to .
Faz-se um essai que conta por 2 pontos, quando O Ministério das Relações Exteriores resolveu
se consegue collocar o balão em terra dentro da ultim a promover uma edição das Obras do Barão do Rio
linha do cam p o contrario. F eito o essai, a eq u ip e que
Branco, iniciativa que se deve ao Sr. Luiz Camilo
ob tém essa vantagem colloca o balão na linha perpen
dicular a esse p on to e com um ponta-pé procura fazer
de Oliveira Neto, quando diretor do Serviço de
passar o balão por cim a de dois postes que assinalam o Documentação do Itamaraty.
ca m p o con trario. Se consegue isso, ob tém mais 3
O plano da edição compreende doze volumes, a
p o n tos. Esses resultados só são obtidos depois de
m uitas m élées, ch a rles e tom bos form idáveis. saber : I — Questões de limites : República Ar
gentina; II — Questões de limites : Guiana Bri
A m igo velh o e obrigado — R io Branco
tânica; III — Questões de limites : Guiana Fran
P .S . E n vio-lh e a coloca çã o dos equ ipiers ao c o
m eçar a partida.”
cesa. l.a memória; IV — Questões de lim ites:
Guiana Francesa. 2.a memória; V — Exposições
U M A CARTA DE B AR T O LO M E U M lT R E AO VISCONDE
de motivos; VI — Efemérides brasileiras; V II —
do R io B ranco
Biografias; V III — Estudos históricos; IX — Es
Entre os papéis do Barão do Rio Branco, que tudos geográficos; X — Anotações à Guerra da
estavam sendo trabalhados pelo D r. J . Fischer, Tríplice Aliança de Schneider (três tom os); X I —
vimos esta carta que ao pai do grande chanceler, Discursos; X II — Coletânea de artigos.
o Visconde do Rio Branco, escreveu Bartolomeu
A redação de uma Introdução Geral à Coleção
M itre :
foi confiada ao Embaixador Arthur Guimarães de
Ilm .° y E xm .° S r. Consejero D . José M a da Silva Araújo Jorge, que já a publicou.
Paranhos.
Os trabalhos prosseguiram a cargo de um co
Senor M inistro
mitê de publicações sob a presidência do 1.° Se
A l separarse V . E . dei R io de la Plata m e es cretário de Embaixada Sr. Jorge Latour, que teve
grato dirijirle una amistosa palabra de despedida. Al
a colaboração dos Srs. Roberto Assunção de
m ism o tiem po cu m plo com el deber d e m anifestarle
confidencialm ente que, reconociendo sus distinguidos Araújo, Murilo de Miranda Basto, Sérgio Correia
servicios en el R io de la Plata, creo que V . E . ha da Costa e Jorge d’E^scragnolle Taunay.
O CENTENÁRIO DO BARÃO DO RIO BRANCO 75
Jayme de Barros, Aurélio Porto, Heraldo Pa U M FIL M E SÔBRE R IO BRANCO
checo de Oliveira e Luiz Nogueira Porto, João
O Instituto Nacional de Cinema Educativo, di
Paulo da Silva Paranhos do R io Branco, Fernando rigido pleo Prof. Roquette Pinto, ofereceu valio-
de Figueiredo e Rubens de Araújo. síssima colaboração às comemorações do centená
Emprestaram sua cooperação à comissão encar rio do Barão do Rio Branco, confeccionando pri
regada de editar as Obras do Barão do R io Branco, moroso filme sôbre a vida e a obra do estadista
na qualidade de consultores, os Srs. Embaixador brasileiro.
Araújo Jorge (assuntos diplomáticos), Sousa da Quando falávamos no Ministério do Exterior com
Silveira e Celso Ferreira da Cunha (questões de o Cônsul Roberto Assumpção de Araújo, a quem
ortografia), R odolfo Garcia e Sousa Docca (his se deve a iniciativa da confecção dessa biografia
tória), Rubens Borba de Morais e Rodrigo M. F. luminosa e movimentada de R io Branco, avista-
de Andrade (bibliografia). mo-nos também com o técnico Húmi
do Instituto de Cinema Educativo, que no mo
Merece uma referência especial, o trabalho dos
mento fazia entrega àquele diplomata q o
pesquisadores, funcionários do Itamaraty, Armando do referido filme. Por muito adequado a esta re
Ortega Fontes, Armando Brito de Sousa, Sarah portagem vamos reproduzí-lo aqui em seguida. Já
Gomes de Araújo, Celina de Abreu Braga, Manuel tivemos oportunidade de falar aos leitores da
de Miranda. Revista do Serviço Público sôbre os filmes confec
cionados por Humberto Mauro, sôbre um mundo
CICLO D E CONFERÊNCIAS DO IT A M A R A T Y de coisas interessantes do Brasil — fatos de sua
história, realizações no campo científico, aspectos
Também foi ot.ganizado êste programa de con
geográficos e variada documentação artística.
ferências para o Centenário de Rio Branco :
Entre estas, figura o 3.° ato do “Guarani” de
No Instituto de Geografia e História Militar do
Carlos Gomes — Invocação dos Aimorés; “O des
Conferencista : Embaixador Hildebrando Accioly,
pertar da Redentora” ; “Hino à Vitória” ; “Henrique
no dia 30 de maio. Tema : “Rio Branco e a
Oswald” ; “Machado de Assis” , “Euclides da
2.a Conferência de Haia.” ■
Cunha” , etc.
N o Instituto de Geografia e História Militar do
E a propósito do filme sôbre R io Branco, assim
Brasil — Conferencista : M ajor Deoclécio de Pa
nos falou ligeiramente Humberto Mauro :
ranhos Antunes. T e m a : “R io Branco, historiador
militar” , no dia 6 de junho. — Êste filme não foi de fácil confecção, sob o
ponto de vista cinematográfico, dada a sua difícil
Na Associação Brasileira de Imprensa — Con
adaptação. Conseguiu-se, entretanto, apreciável
ferencista : D r . Elmano Cardim. Tema : “A im
trabalho, muito vivo, profundo e mesmo emocio
prensa na vida e na obra de R io Branco” , em
nante. Na parte, por exemplo, das vitórias diplo
ju nho. máticas do Barão, com o as das Missões, Amapá e
Na Associação Brasileira de Imprensa — Con Acre, mostradas por meio de adequada documen
ferencista : D r. Danton Jobim . Tema : Rio Bran tação, conseguiu-se dar vida e ação a êsses episó
co e a Imprensa do seu tempo” , no dia 1.° de dios. Já a morte do grande brasileiro permitiu o
agôsto. uso da pura técnica cinematográfica, transmitindo-
nos intensa vibração emotiva.
No Instituto da Ordem dos Advogados — Con
— Durou muito tempo a confecção do film e?
ferencista : D r. Haroldo Valladão. T em a : “Rio
Branco, advogado do Brasil” , na segunda quinzena — Dois meses e pouco. O Instituto Nacional de
de julho. Cinema Educativo teve nesse trabalho a valiosa
cooperação e a constante colaboração do Minis
Na Sociedade de Geografia do R io de Janeiro
tério do Exterior. O filme tem cêrca de mil me
Conferencista : Ministro Bernardino José de Souza.
tros e sua projeção dura quarenta minutos. A parte
Na Academia Brasileira de Letras — Conferen musical é tôda constituída de músicas brasileiras,
cista : Acadêmico Levy Carneiro. dos compositores Vila-Lobos, Heckel Tavares,
76 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
Francisco Braga, Henrique Oswald e Carlos Go d o Senado, n.° 8, h oje rua 20 de abril, n.° 14. Era filho
prim ogênito de José M aria da Silva Paranhos, V isconde
mes .
d o R io Branco, e de D . Tereza de Figueiredo Paranhos.
No filme aparece a Casa de Ruy Barbosa, ao O V iscon de do R io B ranco um dos maiores estadistas
ser focalizada a Conferência de Haia, na qual foi do Brasil deu ao filho, na sua própria vida um m odêlo
representante do Brasil, como se sabe, o grande giorioso a seguir.
Ruy, por escolha de Rio Branco, igualmente a A estátua do V isconde d o R io B ranco ergue-se nos
vivenda de Westphalia, onde foi assinado o tratado jardins da G lória, na Capital da R ep ú b lica . F oi testemunho
da gratidão nacional pela “ Lei do Ventre L iv re” , — lei
de Petrópolis.
que o Barão defendeu nas colunas d o seu jornal A Nação
O filme, que teve sua confecção orientada pelo e votou na Câmara com o D eputado Geral por M ato-G rosso
Professor Roquette Pinto, constitui, sem dúvida, d e 1869 a 75.
tação para os cursos do Instituto Rio Branco, de Seus trabalhos históricos lhe valeram o ingresso no
que trataremos em seguida. Instituto H istórico e G eográfico Brasileiro, — em 1867 —
para o qual fo i eleito Presidente efetivo e depois Presi
N o início desta repontagem nos eximimos de dente perpétuo em 1909.
observações sôb;e a obra e a vida de Rio Branco, M o ço fidalgo da Casa Im perial fêz a sua primeira
adiantando ao leitor que em très discursos repro viagem à E uropa em 1867, e em 69, 70 e 71 acompanhou
o Pai nas viagens ao R io da Prata.
duzidos neste trabalho se acham elas focalizadas
A H istória M ilitar d o Brasil m ereceu predileção es
de forma admirável.
pecial d o Barão d o R io B ran co. A n otou a H istória da
Ocorre-nos nesta altura outra transcrição, não Guerra da T ríp lice Aliança, do alem ão Schneider.
menos interessante e oportuna, na qual a obra de A obre de Schneider tornou-se clássica, graças às notas
Rio Branco é ressaltada em seus contornos prin do insigne brasileiro.
cipais através do texto do filme sôbre sua vid a. A lém de vários outros trabalhos, as "E fem érid es do
Brasil” , em edição definitiva do Itam araty, em 1945, nas
Assim, pois, aqui está o “ Obras C om pletas” , é outro livro básico para os estudos de
nossa história.
N asceu o B arão do R io B ranco no R io de Janeiro, O T erritório de Palm as, de que o Brasil estava de posse,
a 20 de abril de 1845, na modesta casa da antiga travessa fica entre os rios Iguaçu e U ruguai. Os governos brasileiro
O CENTENÁRIO DO BARAO DO RIO BRANCO 77
e argentino estavam concordes quanto às duas fronteiras U m precioso atlas continha cem cópias autênticas de
d o Iguaçu e do Uruguai, mas discordavam quanto à deter mapas anteriores ao T ratado de U trecht — T ratado do
m inação dos dois rios — Santo A ntônio e Pepiriguaçu — “ Paz e A m izade” que resolveu im portantes questões entre
que afluem em direções divergentes. Portugal e a F rança.
O Brasil sustentava que a sua fronteira deveria ser N o m esm o ano — 1899 — o Barão do R io B ranco
form ada pelo Santo A ntônio e p elo Pepiriguaçu. D epois apresentou a Segunda M em ória, con ten do 186 pá^inaj i
de 1888 a pretensão argentina foi até o R io Jangada, que acompanhada igualm ente de quatro volum es, cópias au
sustentava ser o Santo Antônio. tênticas de docum entos e ainda um atlas com oitocentas e
seis cartas anteriores e posteriores ao T ratado de U trecht.
A o Brasil era disputada, assim, uma área de 3 0 .6 2 1
E m 1 de dezem bro de 1900, o Presidente Hauser, em
Km2 de superfície.
nom e d o Conselho Federal Suíço, proferiu a sentença fa v o
U m mapa organizado e anotado pelo próprio Barão rável ao Brasil, que foi publicada posteriorm ente com
mostra claram ente a primeira pretensão argentina, em 1888, 846 páginas.
tendo o rio Chopim com o divisa. F oi a segunda grande vitória diplom ática d o Barão do
R io B ranco.
M ais tarde, depois de 1888, a pretensão argentina foi
até o rio Jangada. Ficou, assim, definitivam ente incorporado ao Brasil o
T erritório do Am apá — com 2 5 5 .0 0 0 K m ! . de superfície.
Para defender os direitos do Brasil o Barão do R io
Branco apresentou cin co volum es de provas cartográficas e *
outros docum entos. * *
Um dos docum entos mais decisivos para provar os
E m 1902, quando ainda M inistro Plenipotenciário em
direitos d o Brasil fo i o cham ado “ M apa das C ôrtes” , de
Berlim, aceitou R io Branco o convite do Conselheiro Fran
1749, q u e serviu aos plenipotenciários de Portugal e Es
cisco de Paula Rodrigues Alves para o cargo de “ C hanceler”
panha para negociar o tratado de M adri em 1750.
O tratado de M adri fixou os prim itivos lim ites do do B rasil.
B ra sil. R io Branco aliou ao seu gênio p olítico a sua exce p cio
A E xposição dos Direitos d o Brasil, apresentada pelo nal capacidade de estadista e de adm inistrador.
B arão d o R io Branco ao Presidente Cleveland, dos E s Cuidou da nossa Chancelaria, reform ando os m étodos
tados U nidos, árbitro da questão, fo i publicada em volum e de serviço, aum entando-lhes a eficiência e atendendo m esm o
de cêrca de 300 páginas. aos aspectos da instalação m aterial.
O Presidente Cleveland deu sentença favorável ao F oi M inistro das R ela ções Exteriores de 1902 a 1912,
Brasil, em 5 de fevereiro d e 1895. __ nos G overnos dos Presidentes R odrigues Alves, A fonso
F o i essa a prim eira grnde vitória diplom ática do Barão Pena, N ilo Peçanha e H erm es da F on seca.
do R io B ra n co. Nesse pôsto com pletou o Barão do R io B ranco a sua
F icou assim definitivam ente incorporado ao Brasil o grande obra, iniciada com os triunfos de M issões e Am apá.
T erritório de Palm as — 3 0 .6 2 1 K m 2; N o E d ifício dos Arquivos, B ib lioteca e M apoteca, o
* M inistério das R elações Exteriores conserva preciosam ente
* * os livros, mapas e os arquivos d o B arão do R io Branco,
acrescidos de valor pelas notas, cotas e observações feitas
O Barão d o R io B ranco fo i eleito m em bro da A cade por ê le.
m ia Brasileira de Letras — em 1898. *
Nesse m esm o ano, 1898, teve nom eação para E nviado * *
Extraordinário e M inistro Plenipotenciário em M issão E s
pecial na Suíça, para tratar da defesa dos direitos do E m 1903 o Barão d o R io B ran co consegue a sua ter
Brasil no litígio com a França, sôbre o T erritório do Am apá. ceira grande vitória diplom ática resolvendo os lim ites com
O Brasil sem pre sustentou que o R io O iapoc era o a B olívia na delicada questão d o cham ado T eritório do
rio de V icen te P in zon . A cre — 1 5 2 .0 0 0 K m 2.
A França afirm ava ser o R io de V icen te Pinzon, o A questão fo i resolvida rapidam ente por um acôrdo
A ragu ari. direto: tratado de perm uta de T erritórios e outras co m
A linha da pretensão francesa — da foz d o Araguari pensações. F oi o A cre in corporado ao Brasil pela indeni
até o rio B ran co — iria abranger um a superfície de zação d e dois m ilhões de libras esterlinas e a cessão de
2 5 5 .0 0 0 K m 2. pequenas áreas d o nosso território :
O B arão do R io Branco procedeu os seus estudos em O triângulo entre o rio Abunam e o M adeira na bacia
Auteuil, na “ V ila M o lito r” — arredores de Paris. do Am azonas — 2 .2 9 6 K m 2;
Apresentou em 1899 ao árbitro da questão o C on
na bacia d o Paraguai, facilitando as com unicações da
selho Federal S u íço — a Prim eira M em ória d o B ra s il.
B olívia com êsse grande rio, quatro pequenas áreas;
A com panhavam êste trabalho quatro volum es contendo
os docum entos justificativos e ainda a obra de Joaquim na Baía N egra — 723 K m 2;
sum o i
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os cursos são grátis e de duração variável, con aglutina elem entos não apenas no espaço, senão ainda
nessa outra dim ensão que é o tem po, perm itindo que o
forme as circunstâncias. O Instituto realizará ain
presente seja uma p rojeçã o do passado e uma prospecção
da ciclos de conferências e cursos de extensão uni do futuro. Sem êsse prodigioso tecido conjuntivo, o que é
versitária, relativos aos problemas nacionais e in form a, continuidade, coerência, ordem e perpetuação hou
ternacionais . vera de tom bar no dom ínio do im preciso, do precário, do
desordenado e do efêm ero. São essas forças patriarcais,
— Aliás, já vamos ter as primeiras conferências
presentes na indefinida longura dos caminhos do tem po,
dêsse ciclo. . . que regem im periosam ente o crescim ento e a maturidade
— N ão. As conferências de que o senhor na das nações. M as a sua existência não é um arbítrio do
acaso, nem ocorre por si mesma, ingênitamente : essas
turalmente teve notícia são as constantes das co-
fôrças míticas só existem em razão do hom em , que é o
memoracões do Centenário de R io Branco. As pon to de convergência e de irradiação do universo, o de
do Instituto ainda não se acham programadas. m iurgo de prodígios cujo im pério conform a, altera, destrói
Pretendemos, em princípios de junho, realizar a e cria- as cousas sensíveis ou im ponderáveis e o próprio fato
universal, com o realidade ou representação.
sessão inaugural do Instituto com uma conferência;
teremos, assim, o inicio de uma fase de difusão cul Ora, essa forma, essa fôrça, êsse esplendor que evoca
m os e reverenciam os neste m om ento em nom e do Brasil,
tural no Itamaraty, bem interessante. O Instituto
êsse poder criador pertence efetivam ente ao grupo escasso
terá sede própria e à altura de sua nobre finali
dos maiores exem plares da categoria “ hom em ” — os que
dade. Também em junho terá início .o Curso de acrescem ou restauram ou estratificam alguma cousa dos
Prática Consular, para os funcionários da carreira agrupamentos sociais, tecem a trama e a urdidura das
de diplomata. suas tradições e, por isto, fundam as nacionalidades.
— E como surgiu idéia tão boa da criaçãq dêsse Ê le foi e, em verdade, continua a ser uma fôrca de-
miúrgica, porque os atos em que se im ortalizou não se
centro de estudo ?
esgotaram com o serem praticados, nem se lhes vasou o
— A iniciativa é do 1.° secretário de Embaixada, conteúdo : os seus efeitos, com o os de certas substâncias
D r. Jorge Latour, apoiado com entusiasmo pelos dotadas de suma capacidade de persistência e difusão,
foram mais dilatados do que o âm bito físico no qual se
Ministros Osvaldo Aranha, Leão Velloso, Jose
produziram, e altearam-se além das circunstâncias tem p o
Roberto de M acedo Soares e Embaixador Alves de
rais. M as de que vinha e, ainda h oj«, de que vem o sen
Souza. fascínio ca rism ático? N ão tem origem tão só nos 8 8 3 .6 2 2
K m 2 que, segundo os cálculos de Basílio de Magalhães,
HOM EN AG EM À M E M Ó R IA DO BARÃO DO reintegrou prodigiosam ente na riqueza territorial do Brasil.
RIO BRANCO JUNTO À SUA E STATU A A sedução do seu prestígio está, por igual, nos fatos im -
perecíveis de que, em relação ao nosso território e às
Entre as homenagens prestadas à memória do suas fronteiras, a sua obra é, substancialmente, obra de
Barão do R io Branco no dia 20 de abril, desta defesa nacional e de que êle foi um criador de tradições :
cou-se pela sua imponência e brilho a realizada criou uma atitude e uma linha de com prom isso e de pro
cedim ento para o Brasil diante não só dos 31 países com qu<?
junto ao monumento do grande chanceler, na Es
firm ou pactos, senão perante tôda a com unidade interna
planada do Castelo, e na qual falaram os Senhores cion a l. Essa atitude e essa linha de procedim ento consti
Abgar Renault. Diretor Geral do Departamento tuem preclara avenida lançada por entre o jog o denso e
Nacional de Educação, Ministro do Paraguai Se feroz dos desapoderados interesses das n a ções.
nhor Justo Pastor Benitez e Embaixador João O u n iv e r s a l era a su a p r o v ín c i a , m as, com o o uni
Neves da Fontoura em nome do Govêrno federal versa i só e x is t e em re la ç ã o ao p a r t ic u la r , ou n a c io n a l,
A o evocar da noite pelágica do T e m p o a sua figura sangue. P orqu e os tem pos tinham m u d a d o ; o espírito p ú
ecum ênica, trazendo-a de n ovo ao plano do circunstancial, b lico am ericano e v o lu ía ; o arbitram ento com ecava a se
o que fazem os não é apenas honrar-lhe a egrégia m em ória, oferecer com o m eio preferível aos m étodos coercitivos para
para a qual se volvem , num assom o de irreprim ível p ola dirim ir as divergências entre as novas nacionalidades e para
ridade, os pensam entos e os corações : é tam bém reapren opor-se às pretensões européias. O jov em estadista apren
der a nossa fé na justiça e no direito com êsse que foi dera, à luz da experiência de seu pai, que uma das causas
das querelas americanas, de cruéis guerras, eram as questões
um dos fundadores do B rasil.”
de lim ites entre países em form ação. E se incorporou ao
d is c u r s o do Sr. Justo P asto r B e n it e z grupo dos homens evoluídos que pensava que, em lugar
“ Senhores : A m odesta voz de um hispano-am ericano de recorrer à violência, dever-se-ia apelar para a solução ju
bem pode se fazer ouvir nesta com em oração, porque o B a rídica. preconizada na prim eira conferência panam ericana,
rão do R io B ranco chegou a ser um patrim ônio moral da consagrada na Constituição Brasileira de 91, e que repercutia
Am érica p o r suas idéias e por suas obras. E ’ dessas figuras pelo continente com o fórm ula de pa z. Era necessário elevar
que unem e se projetam além das fronteiras, porque sua a civilização americana afirm ando a sua soberania. Fora
ação de estadista não deixou ressentimentos nem germens das form as jurídicas, a Am érica perderia sua norm a ne
de vingança e foi um realizador do direito de dirim ir sem cessária de vida, sua característica essencial, e se dispersa
dilacerar, que resolve sem violência. Engrandeceu sua pá ria nas insolúveis querelas européias, ou se rebaixaria à
tria" sem ferir as pátrias alheias. C om razão se o consagra categoria dos continentes colonizados. O direito é a digni
neste m onum ento, erigido pela gratidão do seu povo, tendo dade da Am erica, e o B arão do R io B ranco fo i um dos
na base desenhado o mapa do Brasil, sim bolism o exato, magnos obreiros dessa form ação ; m arcou com fatos o ca
porqu e nunca houve sentinela mais alerta e esclarecida da minho assinalado, levou à prática o sonho dos doutriná
vossa vasta herança. rios ; substituiu a violência pelo direito estrito. Eis porque
Foi o Barão do R io Branco um destino lógico e p r o sua figura se projeta sôbre tod o o continente.
gressivo ; não tem em sua vida im provisação nem contra N ão alcançou essa categoria somente pelo favor dn
dições e se prolonga até hoje, pelo virtualism o de suas cria sorte, nem de golpe. Am adureceu numa larga aprendizagem.
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I
â TE 1E BÜ-IIA1CB
T e v e poderosos contendores, rivais esclarecidos e gra São experiências fugazes, pequenos clarões indecisos e
ves problem as. Para enfrentá-los contou com duas for passageiros que apenas antecedem e anunciam a alvorada
ças : sua inteligência e a colaboração de seu país. Nunca próxim a .
fc i um in com preendido. D epositava-se neste negociador a
P arece haver nas vidas eleitas uma torturante procura
rrá:;ima çcn fian ça . O que o Barão fazia, o brasileiro achava
do ru m o. M uitas se perdem ou desviam entre afluentes
bom porque intuía seu pensam ento e respeitava seu p a
m edíocres. Outras afinal encontram a grande estrada do
triotism o. N egociava tendo com o apoio a opinião auspiciosa
destino, que as tom a ilustres.
de seu p o v o .
N ão fo i em vão que R io Branco p elejou contra a má
D izia-se erradam ente que fugia da política, quando a
vontade do Im perador em busca d o prim eiro pôsto consu
verdade é que a praticava constantemente, mas em grande
lar. D êle é que o há de arrancar o govêrno republicano para
estile, rã o para disputar cargos nem ganhnr posições, mas
confiar-lhe o patrocínio dos interesses brasileiros no pleito
sim para captar simpatias, orientar a opinião, conseguir c o
£ecu’ ar sôbre o território de M issões.
laborações para os desígnios sempre eminentes de sua
chancelaria. O Itamarati fo i assim a cabeça de ponte da M as não é apenas o laudo a nosso fav or que o re co
união sagrada, o recinto onde só se reconheciam brasileiros. menda à gratidão nacicnal, nem a conseqüente in corpora
Nesse sentido, foi um político, um condutor, o paladino das ção ao território de tantos milhares de qui ôm etros quadra
expressões ideológicas de uma grande nação e realizador dos, indispensáveis à nossa segurança m ilitar. A glória
de uma grande política que perm itiu ao Brasil continuar de Joaquim N abuco não em palideceu com o sacrifício dos
uma coerente tradição internacional. Ê le m esm o servia à nossos direitos no caso da Guiana Inglêsa. O que destaca
Pátria acima das situações e até das form as de gov êrn o. a figura de R io Branco, no prim eiro e estrondoso triunfo da
Earão do Im pério, fc i chanceler da R epú blica ; era m aciço sua carreira, é que aquêle dependeu precipuam ente da sua
e pessoal, inclusive na firm a que adotou. contribuição pessoal, da luz que projetou sôbre os novos
docum entos fundamentais à demanda, m odificando-se, com o
A vida fo i generosa com ê l e ; uma bela figura, hom em
êle próprio escreveu, “ tod o o nosso sistema de defesa e ata
bem plantado, porte m ajestoso. N ão se encontra em sua
q u e” .
biografia um só traço de vulgaridade nem cie virtude pacata,
nem sequer a vivacidade de raposa que alguns consideram O advegado não se contenta em ser o sim ples portador
indispensável ao diplom ata. Com o tod o hom em transcen
rotineiro de um m em orandum elaborado na Secretaria de
dente, criou escola ; com o tod o autêntico mestre, deu uma
E stad o. P rofundo conhecedor de todos os segredos d o li
orientação. S ó os hom ens que crêem no futuro se projetam
tígio, inova a fisionom ia do debate, articula sôbre a rea
nêle. Os pov os americanos p od em congraçar-se amistosa
lidade docum ental os argumentos irrespondíveis em anados
m ente e honrar êste monum ento, porque não foi edificado
da cartografia e da h istória.
sôbre ruínas, vio!ência nem usurpações, mas sim com legí
tima terra brasileira, cem os troféus de vitórias incruentas E ’ aí o verdadeiro pon to de partida da sua vida pú-
conseguidas pelo direito. b ica. Quarenta anos mais tarde, o Segundo R io B ran co
substituiu o prim eiro na defesa dos mesm os interêsses ter
Seu pedestal descansa em terra firm e, honra a um
ritoriais, confundindo-se afinal os dois nom es ilustres na
estadista e se p rojeta aos céus em destino consubstanciado
justiça da decisão arbitrai.
com a pátria à qual consagrou sua existência” .
Bastaria esta para garantir ao Barão do R io B ran co
um lugar excepcional entre os benem éritos da P á tria . A sua
DISCURSO DO EM BAIXAD O R JOÃO N EVES ascensão, porém , não conhece outros lim ites senão os da sua
grande vida bem vivida, e, quando a m orte o arrebata
da F ontoura
qvase à banca d o trabalho, o Brasil encontrara o criador
“ T od os os brasileiros, alistados nas fileiras diplom áti de todo um sistema da sua política externa, fundado no
cas, presentes a esta hora ao p é dêste m onum ento, ou sonso da cbjetivid ade e nos princípios de um idealism o or
ausentes da Pátria e a seu serviço, renovam, com a sua h o gânico. E ’ à som bra dêle que R io B ran co leva a cabo
m enagem ao Barão do R io Branco, o seu testem unho de tôdas as realizações do seu M inistério, solven do sem o dis
fidelidade aos ideais que enobreceram a vida do Chanceler paro de um tiro as mais delicadas pendências de fronteiras,
im ortal. revigorando os laços de am izade co m todos os p o v o s da
N ão caberia, no estilo desta solenidade, desdobrar — terra, notadam ente os deste hem isfério, assinando inúmeras
ainda que em singelas ementas — a sua portentosa obra convenções de arbitragem e sustentando, na Conferência
política, nem recom por, para edificação pública, as p r o de H aia, pela v oz insuperável de R u i Barbosa, a teoria de-
porções am azônicas da sua carreira. m ocratica da igualdade ju rídica entre os Estados soberanos.
Am bas já transpuseram vitoriosas a im parcialidade da Apesar de haver perm anecido na E uropa por mais de
crítica, dentro e fora das nossas fronteiras, que, acim a dos um quarto de século, a ausência não desnacionalizou a subs
m arccs de pedra, conservam , vigilantes, a presença espiri tancia brasileira do seu caráter, antes aprim orou as virtu
tual do D em arcador ! des do seu patriotism o. N ão é um estrangeirado confundindo
84 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
os acentos prosódicos, que desem barca no velh o cais “ Pha- fascism o, e a independência das nações subjugadas ou
roux” para assumir a pasta das R ela ções Exteriores, mas o ameaçadas pela doutrina totalitária.
m esm o brasileiro que daqui partira, trazendo a mais um Durante o decênio em que dirigiu o Itamaraty, R io
capital de experiência, o m undo das amizades que con B ranco jam ais se deixou arrebatar pelas seduções da p o lí
quistara, o arquivo da sua docum entação, os pacientes estu tica interna. E fo i essa isenção entre os partidos que lhe
dos de geografia e de história para o serviço da Casa, que conferiu, a ju ízo de seus com patriotas, uma autoridade até
h oje se honra sob a designação de seu patroním ico. então desconhecida no conflito, sempre, cego e terrível, das
T endo aprim orado a independência de julgam ento e nossas rivalidades facciosas. H om em único neste país, des
o sentido das realidades nacionais, a sua form ação espiri frutou com justiça até o últim o dia da sua vida o esplendor
da glória associado paradoxalm ente a um a popularidade
tual européia não lhe tolhe a antevisão do futuro nem o
rumorosa e duradoura.
im pede de reconhecer que os mais nobres e im periosos in-
terêsses do Brasil teriam de gravitar na órbita de um sis A sua fidelidade à monarquia não o im pediu de servir
tem a continental. O cam inho da cooperação com os E sta a R epú blica com lealdade. N o fundo, não o animava o fa
dos U nidos fôra aberto desde os prim eiros dias da nossa natismo por qualquer form a de governo. O que d e s e ja v a
independência. Faltava quem retomasse, co m autoridade — êle m esm o o explicou — era que o n o v o regim e conse
guisse “ manter a o r d e m ; assegurar, com o o anterior, a in
e decisão, o im pulso quase perdido e buscasse im prim ir aos
tegridade, a prosperidade e a glória do Brasil, c o n s o l i d a n
sentimentos de am izade entre as duas nações um cunho de
do ao m esm o tem po as liberdades que nos legaram n o s s o 3
lealdade e con fian ça.
pais” .
O ideal bolivariano não desaparecera da consciência do
N o v o M u ndo ; carecia, porém , para assumir cs contcrnos de Trinta e três anos depois da sua morte, esta romaria
um corp o de doutrina vitoriosa na prática, que a coopera não se resume num preito ao passado, porque a política
ção entre fracos e fortes se fundasse nos princípios da ética externa da atualidade brasileira, sábia política do govêrno
internacional, co m a segurança de respeito a tôdas as so- e do p ovo, é a mesma que êle nos legou, apenas ampliada
beranias, de m od o que as bi!has de barro não corressem o palas novas condições do m undo e com as variantes inevi
risco de serem destruídas pelas de fe r r o . • táveis ao transcurso do tem p o.
M inistro das R elações Exteriores, R io Branco orienta As palavras, com que R io Branco encerrou nesta mes
desde logo as suas diretrizes em favor de um pan-am erica- m a cid ad e a T erceira Conferência Pan-Am ericana, valem
nism o extenso, com preensivo e p rofu n d o. N inguém o de por uma profecia dos tem pos que estamos viven do : “ N ão
finiu m elhor do que êle ao inaugurar nesta capital a Con raro — dizia êle — um ven to de insânia, despertando ins
ferência de 1906 : tintos bárbaros, açoita e abala os povos, m esm o os mais
cultos e cordatos. O dever do estadista e de todos os h o
“ N ações ainda novas, não podem os esquecer o que
mens de senso p olítico é com bater a propaganda de
devem os aos form adores do capital com que entramos na
ódios e rivalidades internacionais” .
concorrência social.
O pon do ha tres anos tôdas as suas armas contra o pre
A própria vastidão dos nossos territórios, em grande
dom ínio da insania totalitária — na frente da batalha e nas
parte desertos, inexplorados alguns, e a certeza de que te
linhas da retaguarda — o Brasil prossegue o pensamento
m os recursos para que neste continente viva com largueza
e a ação de uma política tradicional.
um a população dez, vinte vêzes m aior, nos aconselhariam
a estreitar cada vez mais as relações e boa amizade e pro O que R io Branco não logrou ver realizado foi o rea-
curar desenvolver as do com ércio com essa fonte prodigiosa parelham ento da nossa defesa m ilitar, preocupação absor
vente de seus dias de govêrno. A os que, por ela, o acoim a-
de energias que é a E u ropa ” .
ram de cultivar, sob o disfarce de ideais pacifistas, a paixão
N ão se trata, pois de um b lo co isolado de nações dêste do arm am entism o agressivo, êle respondeu com verdade,
hem isfério, carregadas de suspeitas ou hostilidades ccntra
no célebre discurso do C lube M ilitar : “ M as não se pode
as m etrópoles de origem , m uito menos para nós que sem
ser p a cífico sem ser forte, com o não se pode, senão em
pre confessamos com em oção e orgulho a gloriosa ascendên
intenção, ser valente, sem ser b ra vo” .
cia lusitana.
Frágil seria o conteúdo desta com em oração se ela não
C o u ra ça p a ra a d e fe sa c ó m u m d o c o n t i n e n t e c o n t r a as
exprimisse, antes de tudo, aquêle sentido de continuidade
a g r e s s õ e s p a r t id a s d e f o r a , a s o c i e d a d e d o s p o v o s a m e r ic a
política indispensável à vida das nações que já transpuse
n o s n a o se a lh e ia d o r e s t o d o m u n d o , n ã o r e p u d i a as r a íz e s
ram o período de ensaios, incertezas e decepções da ju ven
d a su a f o r m a ç ã o é t n ic a , s e n t im e n t a l e c u lt u r a l, n e m r e fo g e tu d e.
a o s e n t id o u n iv e r s a l d e t ô d a s as c o n c e p ç õ e s d o g ê n i o p o l í
A diplom acia brasileira está sem pre assistida pelo es
t ic o .
pírito de R io Branco. Os seus ensinamentos, os seus m é
C om esses princípios normativos, levados às últimas todos, as suas diretrizes orgânicas nada sofreram substan-
conseqüências sob a inspiração d o im ortal Presidente Fran- tivam ente com o transcurso dos anos. A o contrário, a nossa
klin R oosevelt, e que se inovou o teor das relações interna posição nestas duas guerras universais sempre estêve na
cionais e se assegurou, pela fôrça das armas ao serviço do lógica dos antecedentes por êle firm ados em docum entos e
direito, a liberdade dos indivíduos escravizados pelo nazi- atitudes inesquecíveis.
O CENTENÁRIO DO BARÃO DO RIO BRANCO 85
V erdadeiro m odelador do M inistério no regim e repu 1862
blicano, a sua personalidade vincou para sempre os serviços
1) — Luiz Barroso Pereira.
da nossa política estrangeira, dos mais elevadcs aos mais
In “ R evista P op ular” . N oticiosa, cien tífica, industrial,
subalternos. R io B ranco pertenceu àquele reduzido grupo
histórica, literária, artística, biográfica, anedótica, m usi
de hom ens de govêrno. para os quais nenhuma quantidade é
cal, etc., etc. Jornal ilustrado. 1862 — T o m o X I I I — A n o
desprezível quando a soma, de que se trata, é o interêsse na
IV — Janeiro a m arço. P á gs. 206 a 2 1 2 .
cion al.
aviadores, representantes dos irm ãos de armas que se ba 4 ) — A Guerra da T ríp lice Aliança contra o G ov êrn o
tem nas terras, nos mares e nos céus lon g ín q u os; p or isso da R epú blica d o Paraguai (1 8 6 4 -1 8 7 0 ), com cartas e p la
é que salvam as fortalezas da costa ; por isso desfila a ju nos por L . Schneider, Conselheiro privado e leitor de
ventude ansiosa para receber, ccm a maioridade do espírito, S . M . o Im perador da Alem anha e R e i da Prússia. T rad u
a herança dêstes tem pos amargurados ; por isso é que aqui zid o do alem ão p or M anuel T om a z A lves N ogueira. A n ota
ss encontram confundidos, num raro esplendor dem ocrático, do por J . M . da Silva Paranhos, E x-Secretário da M issão
os hom ens de govêrn'o, as elites e as camadas pop u 'ares. E special do Brasil no R io da Prata, M em bro do Instituto
H istórico e G eográfico do B rasil.
Na m em ória de R io Branco o Brasil encarna os seus
graves pensam entos de h oje e as suas inabaláveis resolu T om o I . — 1875. C /7 m apas e planos e 1 apêndice
ções de amanhã. págs. 1 /2 1 9 . 1 v o l. en c. X X X I I , 319-219 p .
5 ) — N avegação e com ércio en tre o Brasil e os portos 10) — L e B résil en 1889, avec une carte de 1’E m pire
da dependência do Consulado G eral do Im pério em L i- en chrom olithographie des tableaux statistiques des gra
v erp ool no ano d e 1876-1877. phiques et des cartes. Ouvrage publié par les soins du Syn-
dicat du C om itê Franco-Brésilien pour 1’ Exposition U n iver
In “ Inform ações dos Agentes D iplom á ticos e Consu
selle de Paris. A vec la C ollaboration de nom breux Écrivains
lares do Im p ério” . T o m o IV — A m érica e E u rop a . Anos
de 1875-77. R io de Janeiro, 1880, T ip . U niversal de du Brésil sous la direction de M . F . — J . de Santa Ana
E .G .H . Laem m ert, Págs. 328 a 397. N ery . (N a página 105, capítulo V : “ Esquisse de l ’H is-
toire du Brésil par le Baron de R io B ra n co) . Paris, 1889,
L ib . D elagrave, 1 vol. enc. in-8.° X I X — 699 p .
1882
In form ação apresentada a S . Excia. Sr. Conselheiro 11) — E fem érid es Brasileiras. (B ib lioteca do “ Jornal
M anuel A lves de Araújo, M inistro e Secretário de Estado do Brasil” ) . 1.° volum e. R io de Janeiro, 1892, T ip ografia do
O CENTENÁRIO DO BARÃO DO RIO BRANCO 87
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Êste pain el é constituído p elos mapas qu e serviram à prova cartográfica do d ireito do Brasil ria questão d o A m apa
“ Jornal do B rasil” , de H . de V illeneuve & C ., 1 vol. e n c, V ol. x. __ Statement. (E nglish translation). (C o m três
in-4.° p q . 378 p . m apas) : 1.° — Linha M eridiana de D em arcação Portugal
e Espanha, a 7 de ju nh o de 1494, pág. 16 ; 2.° — O Brasil,
— E fem érid es Brasileiras. — E dição com pleta,
feita pelo Instituto H istórico e G eográ fico Brasileiro, em seu território contestado, e os países lim ítrofes, pág. 277.
conform idade co m o m anuscrito d o autor, encerrando subsí (C o lo rid o ) ; 3.° — M apa do Brasil M eridional, m ostrando
dios d o Dr. V ieira Fazenda e Basílio de M agalhães. In a parte do seu território reclam ada pela R ep ú b lica A r
‘ R evista do Instituto H istórico e G eográ fico Brasileiro” , gentina, pág. 2 7 8 . (C o lo r id o ). 1 vol. cart. in -8.° X X —
T o m o 82 (1 9 1 7 ). R io de Janeiro, 1918, Im p. Nacional, 286 p . V o l. II — Exposição. (T h e original S ta tem en t).
1 vol. enc. in-8.° X X — 880 p . 1 vol. cart. in-8.° X X I — 275 p. V ol. III — A p p e n d icsc.
— E fem érid es Brasileiras. — C om um índice ana D ocum ents translated into E n glish. (D ocu m en tos vertidos
lítico e onom ástico, págs. 819 a 996. In “ R evista do Insti para o in glês) . 1 vol. cart. in -8.° V I I — 212-8 p. in um .
tuto H istórico e G eográfico B rasileiro” . V ol. 168 — 1933. V o l. IV — A p ên d ice. D ocu m en tos segundo o tex to origi
2.a edição, R io de Janeiro, 1938, Im p. Nacional, 1 vol. enc. nal. (T h e D ocum ents transcribed a ccording to the origi
in-8.° X I I I — 996 p . n a l) . 1 vol. cart. in-8.° V I — 200 p. 8 p. inum . V o l. V __
Appendix. M aps. (T e x to inglês-português) . 1 vol. cart. in-
1894
8.° X X I I I p. e 32 mapas num erados de 1 a 32. (O s mapas
12) — Q uestão d e L im ites en tre o Brasil e a R ep ú
N .°s 11, 15, 17, 21 a 26 e 31 são co lo rid o s ). V o l. V I —
blica A rgentina. Subm etida à decisão arbitrai do presidente
A ppendix. M aps. (T e x t o inglês-português) . 1 pasta con
Cleveland, dos Estados U nidos da Am érica, 1894. — E x
tendo 1 fôlh. in-8.° X V I p . e 29 mapas num erados de
posição que os Estados U nidos d o Brasil apresentam ao
presidente dos E stadcs U nidos da Am érica com o árbitro 1-A a 29-A . (O s mapas n.°s 7-A, 8-A , 12-A e 29-A são
segundo as estipulações do tratado de 7 de setem bro de c o lo rid o s ). N ew Y ork, 1894. (T h e K nickerbocker P ress),
1889, con cluído entre o Brasil e a R epú b lica Argentina. 6 vol s. enes.
88 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
1897 . T om e II — D ocum ents accom pagnés de notes expli-
catives et rectificatives. (C e volu m e contient la traduetion
13) — M ém o ire sur la Q uestion des L im ites en tre les
française de plusieurs docum ents du X V Ie siècle ju squ ’ au
Êtats-U nis du B résil e t la G uyane Britannique. (B ru x elles),
com m encem ent du X V IIIe . La série s’ arrête à l’ annee 1713,
1897 (Im p . des Traveaux Publics S . A . ) , 1 vol. enc. in-8.°.
aussitôt aprè la conclusion du T raité particulier d ’U trecht
V II — 151 p . c / 4 m apas.
entre le Portugal et la France. Les docum ents postérieurs
à ce Traité se trouvent réunis dans le volum e suivant. L e
1899 texte original, portugais ou espagnol, des docum ents tra-
14 ) — Fron tières en tre le Brésil e t la G uyane Fran- duits dans les T om es II et III est présenté dans le T om e
çaise. M ém oire présenté par les Etats Unis du Brésil au IV ). Berne, 1899, Im p . Staem pfli & Cie., 1 vol. enc.
T o m e I — M ém oire ou E xposé des D roits du Brésil. docum ents posterieurs au T raité d ’Utrecht, reproduits se
(P a r is ), 1899 (Im p . L a h u re), 1 vol. enc. in-8.° X V I I I — lon le texte français ou traduits du portugais et de l’ espagnol.
6 p. inum. 277 p. ( C /1 2 mapas num erados de 1 a 123. (O s Ils fen t suites a la série de pièces antérieurs à ce Traité,
mapas n.°s 1, 2 e 3 são co lo rid o s ). T o m e II — Docum ents réunis dans !e T om e II. Presque tous ces docum ents sont
Justificatifs du M ém oire du Brésil. (P a ris ), 1899, (Im p . accom pagnés, com m e les précédents, de notes explicatives
L a h u re), 1 vol. in -8.° 195 p . T em e III — D ocum ents. ou rectificatives, que parfois ont trait à ceux que le G ou
M ission Spécialé du V icom te do Uruguay a Paris (1 8 5 5 vernem ent Français a soumis à 1’ Arbitre ainsi qu ’ aux
1 8 5 6 ). D ocum ents. D euxièm e édition. Ire Partie. — N e- com m entaires que se trouvent dans le texte m êm e du ler.
gociation P rélim in a ire. M ém oires. Pgs. 1-28. 2m e Partie — M ém oire de la France. Le texte portugaise ou espagnol de3
P rotocoles de la C onference de Paris sur la délim itation dccum ents traduits se trouve au T om e I V ) . Berne, 1899,
des G uyanes Brésilienne et Française. 1855-1856. P g s. Imp. Staem pfli & Cie., 1 vol. enc. in-8.° X V — 401 p .
29 -262. Paris, 1899, A . Lahure, Im pr. Éditeur, 2 tom os T om e I V — D ocum ents. T ex te original des docum ents
enes. em 1 vol. in-8.° III — 195, 262 p . T om e V — traduits dans les T om es II et I I I . (C e volum e no contient
Silva (Joa q u im Caetano d a ) — L ’ O ya poc et l’ A m azone. que les textes originaux, portugais ou espagnol, des d o
Q uestion Brésilienne et Française. 2me Éd. Paris, 1899, cuments traduits en français et réunis dans les T om es II
A . Lahure, Im pr. Éditeur, 2 vols. enes. in l8 .° X X X V I I I - et I I I ) . Berne, 1899, Im p. Staem pfli & Cie., 1 vol. enc.
460, 506 p. T o m e V I — Atlas contenant un choix de cartes in-8.° X I I — 294 p .
anterieures au traité conclu a U trecht te 11 A vril 1713
T om e V — Fac-sim i!e de quelques docum ents repro
entre le Portugal et la France. — Annexe au M ém oire.
duits au T em es II, III et I V . (C e volum e contient des
(C e t A tlas se com pose de cent fac-sim iles conclus entre le
fac-sim ile de quelques docum ents dont de texte original
Portugal et la F rance le 4 mars 1700, a Lisbonne, et le 11
et la traduetion on t été présentés dans les T om es II, III
avril 1713, à U trech t. Scixante-six de ces reproduetions ont et IV du Second M ém oire du B ré s il). Berne, 1899, Impr.
été faites d ’ après des originaux graves, et trente-quatre Staem pfli & Cie. 1 vol. enc. in -4 .°.
d'après des originaux manuscrits) . Ire partie — 10 mapas
T om e V I — A tlas. (C e Atlas se com pose de deux
num erados de 1 a 10, sendo 1 colorido. 2me partie — 12
parties. La prem ière, com prenante quatorze cartes antériou-
mapas numerados de 11 a 18, sendo 8 coloridos ; 2m e partie res au T raité d ’Utrecht, est un supplém ent à Atlas an-
— 13 mapas num erados de 19 a 30, sendo 6 co lo r id o s ; nexé au ler M ém oire du Brésil, rem is à 1’ Arbitre le 5 avril
4m e partie — 15 mapas num erados de 31 a 43-b ; 5me par 1899. U ne quinzièm e carte, celle d ’ O ttom ano F reducci, est
tie — 12 mapas num erados de 43 a 54, sendo 1 colorido ; insérée dans le T om e I de ce 2nd. M ém oire ou R epliqu e
6m e partie — 16 mapas numerados de 55 a 72, sendo 3 du Brésil. — La seconde partie de l’Atlas ronferm e soixante
co lc r id o s ; 7me partie — 12 mapas num erados de 74 a — quinze cartes postérieurs au T raité d ’U trech t) . Paris,
86-a, sendo 6 coloridos ; 8m e partie — 11 mapas num era 1899. A . Lahure, Im pr. — Éditeur. 1 vol. enc. in -4 .°.
dos de 86-a a 91, sendo 2 coloridos. Com m ission Brésilienne
d ’Exp.oration du H aut Araguary sous la D iretion de M . F e-
1900
linto A lcin o Braga Cavalcante, Capitaine d ’É tat M ajor,
1896. (T rcis ca rtes). (C o lo rid o s ) Paris, 1900, A. Lahure, 1 5) — Estados Unidos d o Brasil. G eografia, Etnogra-
Im p. Éditeur, 8 vols. enes. in-8.° Second M ém oire pré fia, Estatística por ÉIsée Reclus. T radução e Breves N otas
senté par les Etats Unis du B résil an G ouvernem ent de la de B . F. R am iz G alvão e A notações Sôbre o Território
Confédération Suisse arbitre choisi selon les stipulations du contestado pelo Barão d o R io Branco, pág. 471. R io de
T raité conclu à R io-de-Janeiro, le 10 avril 1897 entre le Janeiro — Paris, 1900, H . Garnier, Liv.-E ditor, 1 vol.
Brésil et la France. enc. in-8.°. 481 p .
DOUTRINA
Direito de minas
F r a n c is c o B u r k in s k i
s u m á r i o : I — O con ceito da propriedade privada. Um pública, haja uma conseqüente melhoria no bem-
ramo autônom o do d ireito pú blico. I I — Sistem as estar das coletividades.
d e minas. I I I — D ireito com parado. I V — A l e
gislação cfe minas no Brasil. V — Considerações Tôdas essas grandes transmutações levaram não
finais. só a que se ampliasse o âmbito do direito minerá-
rio, como também contribuiu para que após a
I — O CONCEITO DA PROPRIEDADE PRIVADA. U M RAMO I Grande Guerra fôsse criado um direito novo,
AUTÔNOMO DO DIREITO PÚBLICO.
desprendido do direito administrativo, pela feição
autônoma que assumiu : direito de minas.
O direito de minas passou por transformação ra
dical nos últimos anos, em conseqüência de seu de R odolfo B insigne jurista argentino,
u l l r ic h ,
intervem com mais vigor e intensidade nas rela dos produtos; às instalações e serviços existentes
na superfície e à preservação das jazidas.
ções existentes entre o indivíduo e a propriedade,
imprimindo-lhes trajetória eminentemente social. Entre nós, os Decretos 23.535, de 4 de dezembro
de 1933, e 23.565, de 7 de dezembro de 1933,
Essa a razão precípua da dificuldade de distin-
ampliado pelo Decreto 23.884, de 18 de fevereiro
guir-se com nitidez a linha demarcatória que há
de 1934, dispõem, respectivamente, sôbre a com
entre o que é privado e o que é público, dada a pro
pra e venda de ouro e proibição de exportação da
gressiva tendência sociológica que visa restringir
sucata de ferro.
gradualmente o campo do direito privado e, conse
qüentemente, alargar a esfera do direito público. Contudo, para que tenhamos visão mais clara da
amplitude do direito das minas nos tempos pre
O intervencionismo verificado em vários setores
sentes, é de mister lançar a vista sôbre os varia
da economia privada, onde dantes apenas assistia
dos sistemas jurídicos assinalados pela doutrina.
ao Estado exercer poderes de polícia, também se
faz sentir de maneira acentuada nas relações de II SISTEMAS DE M INAS
“A operação fundam ental d o sistem a em aprêço a ) A mineração tornava-se cada vez mais uma
(industrial) consiste na criação de um dom ínio — arte especializada ;
a mina — na jazida descoberta, delim itada pelo
b ) As minas existentes não mais satisfaziam à
decreto de concessão, ainda que o concessionário
seja o proprietário m esm o da superfície e, portanto,
crescente procura de metais.
da própria jazida” (2 ).
Bastava o proprietário de terras ter descoberto
$ $ $ uma mina para que tivesse o direito de requerer
concessão ao Estado para a lavra da mesma. Obti
Dados, em linhas gerais, os fundamentos jurídi nha, assim, o direito de exploração, mediante certo
cos dos sistemas minerários, pode-se agora entrar pagamento ao rei.
no exame sucinto do desenvolvimento da legisla
Êsse sistema prevaleceu na antiga Alemanha, du
ção mineira desde os tempos antigos até os tempos
rante os últimos anos da Meia-Idade. A França
atuais, na qual se verifica a adoção de um ou outro
adotara também êsse princípio.
dos sistemas doutrinários acima apontados.
A Inglaterra reconheceu igualmente o privilégio
real. Como, porém, se referia apenas às minas de
III DIREITO COMPARADO
ouro e prata, os reis reclamaram sua extensão a
Entre os gregos e os romanos a mineração se metais de baixo teor.
fazia largamente em domínios pertencentes ao Es
Durante o reinado da rainha Elizabeth houve um
tado. O próprio Estado lavrava as minas, ou as
célebre caso sôbre minas, em que a côrte reconhe
concedia a particulares. Em certos casos, em terras
ceu a extensão da prerrogativa real pelo menos aos
do Estado, usava-se um sistema que muito se pa
minérios que contivessem ligas de ouro ou prata.
recia com o da livre mineração. Haja vista os exem
plos das minas de Laurio na Ática e os distritos Durante a Idade Moderna, que se caracteriza po
liticamente pela centralização da monarquia e eco
mineiros de Vispasca, na Espanha, então sob o
nomicamente pelo surto da burguezia, o próprio
domínio do Império Rom ano.
Estado tratou de pôr sob monopólio, em França,
N o que tange a terras particulares, os direitos tôdas as minas, em mãos de indivíduos ou compa
de mineração se confundiam com os direitos da pró nhias .
pria terra.
A legislação mais velha dos tempos modernos
O Codex Theodosianus, mostra que nenhuma está contida no AUgemeines Landrecht für die
distinção era feita entre o solo e o subsolo. Conce- preussichen Staaten, delineada ao tempo de Fre
d;a-se apenas ao minerador o direito de lavrar de derico o Grande, mas apenas completada em 1794.
terminado depósito mineral mediante pagamento A primeira lei de minas em França foi votada
do dízimo, e não se dava prerrogativa ao Estado pela Assembléia Legislativa em 1791. Essa lei, po
nessa questão. rém, não apresentava seguras garantias ao capita
Não se proibia também ao proprietário extrair lista, sujeito a constantes riscos.
minerais por êle descobertos em suas terras. A lei de 1810, ainda hoje em vigor, foi a pri
meira a reconhecer que a moderna legislação deve
O privilégio do Estado em questões minerárias,
preencher dois requisitos :
isto é, o direito regaliano, desenvolveu-se no século
X I, nomeadamente na Alemanha. A lei germânica a ) Apresentar base segura ao investidor de ca
cerceou o direito pleno da propriedade, proclama- pital, consistente na concessão de lavra por algu
mas décadas;
(2 ) J . G u i m a r ã e s M e n e g a l e — D ireito A dm inis b ) O Estado, nesse setor da indústria extrati-
trativo e Ciência da Adm inistração — T o m o III — 1941
— M etróp ole Editora — R io de Janeiro. va, deve apenas exercer poderes de polícia.
94 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
Condensou essa lei os princípios liberais que vin A legislação mineira da Rússia Soviética distin
garam na Resolução Francesa. gue entre jazidas conhecidas e descqnhecidas. As
primeiras se acham estatizadas em virtude da so
N o segundo quartel do século X IX , a Alemanha
cialização da propriedade privada, ocorrida após
adotou êsse princípio, combinando-o com o da li
a revolução de 1917, e ora são exploradas pelo Es
berdade de mineração, que herdara da Idade
tado, ora são arrendadas a particulares. Quanto às
M édia.
segundas há plena liberdade de mineração, a fim
A lei Sarda de 1859, na Itália, também adotou de que haja estímulo por parte do indivíduo na ex
o sistema de concessão ou industrial.
ploração das minas. O socialismo ali se harmoniza
No alvor do século X X , a Alemanha anulou a li com o liberalismo.
berdade de mineração, no que diz respeito a jazi
Na Itália, o decreto-lei de 19 de julho de 1927
das de carvão e potassa.
segue ainda o sistema da lei Sarda, conforme nos
Os países sul-americanos também seguiram a cor informa D ’A l e s s io .
rente liberalista.
Na Alemanha, após a I Guerra Mundial, quanto
Atualmente, porém, o Chile reservou a explo ao petróleo e à potassa, criaram-se sindicatos obri
ração do petróleo e do salitre ao Estado. E o M é gatórios para sua venda, superintendidos pelo go
xico, que em 1909 tirara o privilégio do Estado em vêrno e controlados por entidades autônomas, com
exploração de jazidas de petróleo, declarou em postas de operários mineiros, patrões e consumi
1917 e 1925 que as jazidas dessa natureza eram de dores .
exclusiva propriedade do Estado. Êsse privilégio
Tôda essa vasta legislação, que enunciamos em
sofreu pequena modificação em 1926 e 1927. A suas linhas gerais, J . G u im a r ã e s M e n e g a l e assim
tendência moderna, no México, é a de preservar
a sintetiza :
determinadas fontes de riquezas minerais, e de
monstra o intuito claro de eliminar a propriedade “ A um retrospecto histórico, averigua-se que o regim e
estrangeira, intensificando a exploração de jazidas ju ríd ico das minas percorreu, em síntese, sete períodos:
pertencentes a nacionais. _ 1.° — o regim e da prim eira idade romana, no qual
Nos Estados Unidos, a legislação mineira se os produtos do subsolo se identificavam com os frutos
da te r r a ;
fundamenta na “common law” , nas leis dos diver
sos Estados e na legislação federal. 2.° — o direito rom ano da república e do im pério,
em que o regim e das minas evoluiu para a regalia ;
A legislação mineira nos Estados Unidos parte
3.° — a idade feudal, na qual os produtos do sub
sempre do princípio de que os minerais pertencem
solo se subordinavam ao direito de senhoria, p or m eio
aos supreficiários da terra. Dá ao proprietário do de concessões especiais, independentes da concessão da
veio direitos extraordinários, até mesmo o de ir su p e rfície ;
além dos limites de suas terras, para onde se pro 4.° — o período estatutário, n o qual a propriedade
longa o veio que lhe pertence, prolongamento que das minas, atribuída a princípio à comuna, passou ao
considera apêndice do seu. Embora, como já dis dom ínio do E s ta d o ;
semos, prepondere naquele país o sistema fundiá 5.° — o período da dom inialidade absoluta ;
rio, êle sofre certas restrições, dada a pequena inter 6.° — o p eríodo da liberdade in du strial;
venção do Estado nessa ordem de relações privadas. 7.° — o p eríodo da publicidade, caracterizado pela
Após a I Grande Guerra houve uma remodela preponderância do interêsse pú blico, a exprimir-se na
ção incisiva no sistema que se seguiu à Revolução nacionalização ou socialização das m inas” (3 ).
Francesa.
Relativamente a êsses sete períodos assinalados
A lei 1919, de França, regulou a concessão por
pelo jurista brasileiro, temos apenas uma ressalva
tempo fixo, e não indeterminado, como era dantes,
outorgando direitos ao Estado para participar nos a fazer, quanto ao segundo item.
lucros da exploração, que também beneficiam os Conforme nos ensina R u d o l f Isa y , bem como
mineiros. outros autorizados juristas, no direito romano da
Essa lei é de tendências visceralmente sociali-
zantes, razão por que sofreu ataques dos doutrina- (3 ) J . G u i m a r ã e s M e n e g a l e — D ireito A dm inis
trativo e Ciência da Adm inistração — T o m o III — M e tró
dores filiados à corrente liberal. pole E ditora — R io de Janeiro — 1941 — Págs. 337 e 338.
DIREITO E JURISPRUDÊNCIA 95
república e do império, jamais se verificou a ten 1848, artigo 34, Lei n.° 601, de 18 de setembro de
dência para a regalia. Sempre predominou em R o 1850, artigo 16, e, principalmente, a Lei n.° 1507,
ma o sistema da acessão ou fundiário, o que aliás de 26 de setembro de 1867.
o Codex Theodosianus, já citado, nos prova exube Filiaram-se à corrente adotada no decreto de 27
rantemente. de janeiro de 1829 eminentes juristas como T e i
x e i r a d e F r e i t a s , P e r d i g ã o M a l h e i r o s e outros.
IV — A LEGISLAÇÃO DE M IN AS NO BRASIL
A questão só ficou definitivamente resolvida com
A legislação mineira do período colonial do Bra a instauração do regime republicano.
sil consta de nove alvarás, seis provisões reais, qua De feito, o artigo 72, § 17, da Constituição de
tro cartas régias, duas leis, e do decreto de 19 de 1891, não suscita dúvidas quando dispõe :
fevereiro de 1652.
“ O direito de propriedade m antém -se em tôda a sua
Todavia, é nas Ordenações que vamos encontrar
plenitude, salva a desapropriação por necessidade ou
c c; fundamentos jurídicos do sistema minerário do
utilidade pública, mediante indenização prévia.
Brasil-Colônia.
As minas pertencem aos proprietários do solo, salvas
Com efeito, o Livro II, título 26, parágrafo 16 as lim itações que forem estabelecidas p or lei a bem
das Ordenações, intitulado D os Direitos Reaes, da exploração dêste ram o da indústria” .
preceitua que os veeiros ou minas de ouro, prata,
ou qualquer outro metal, pertenciam à Coroa. Regulamentaram depois o assunto, o decreto
Êsse preceito está confirmado pelo título 2933, de 6 de janeiro de 1915, e o decreto de 15
X X X I V , § 10, consagrado às minas e metais. de janeiro de 1921, a que se refere R u d o l f I s a y ,
As Ordenações adotaram, pois, o sistema regalia- no artigo inserto na Enciclopédia das Ciências So
no dominante na época feudal. ciais, sôbre a legislação mineira. Essas duas leis são
O interêsse da Coroa, naquele tempo, consistia mais conhecidas pelos nomes de C a l ó g e r a s e Si
em fomentar a indústria de mineração, principal mões L opes.
mente a de ouro aluvionar e diamante. O rei de A emenda constitucional feita em 1926 apenas
Portugal fazia até mesmo promessas de recompen proibiu a transferência a estrangeiros de minas e
sas honoríficas aos exploradores. jazidas minerais necessárias à segurança e defesa
A carta régia expedida em 12 de agôsto de 1817, nacionais, e as terras onde existiam, dando, assim,
poucos anos antes de nossa independência políti cs primeiros passos na senda da nacionalização das
ca, não derrogou o que se continha nas Ordenações. jazidas minerais, que as Constituições de 1934 e
Deu, porém, preferência ao proprietário para la 1937 mais tarde consagraram inteligentemente.
vrar as minas em terras que lhe pertencessem. Antes da vigência do Código de Minas, convém
Posteriormente, o artigo 179, parágrafo 22 da citar o decreto 23.936, de 27 de fevereiro de 1934,
Constituição Imperial, garantiu plenamente a pro que subordinou a determinadas condições as auto
priedade, com a única limitação da desapropriação rizações para contratos de pesquisa e de lavra de
por utilidade pública, e o decreto de 27 de janeiro jazidas minerais, que houvessem de ser dadas na
de 1829 admitira que, mesmo sem licença do G o conformidade do artigo 1.° do decreto n.° 20.799,
vêrno, os brasileiros podiam promover a mineração de 16 de dezembro de 1931, além de dar outras
em terras de sua propriedade. providências.
À vista da vigência de disposições anteriores que Com o Decreto n.° 24.642, de 10 de julho de
consideravam as minas de domínio nacional, tra 1934, codifica-se a matéria referente a minas.
vou-se séria controvérsia sôbre a matéria. Dois ilus Aliás, o artigo 115 do Ante-projeto constitucio
trados juristas no Império, T r i g o L o u r e i r o e L a - nal ja se referia ao assunto de minas.
fayette, se bateram pelo sistema fundiário, ao A Constituição de 1934, esclareceu perfeitamen
passo que pela propriedade nacional das minas pro te a situação do domínio das minas :
nunciaram-se o Conselho do Estado e o Imperador.
O sistema dominical foi o vencedor. "A rt. 1 1 8 . A s minas e dem ais riquezas do subsolo,
bem com o as quedas dágua, constituem propriedade
A legislação posterior manteve êsse critério, con
distinta da do solo, para o efeito de exploração ou apro
firmado pela Lei n.° 514, de 28 de outubro de veitam ento industrial.
96 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
Art. 119. O aproveitam ento industrial das minas e tras fontes de energia, assim com o das indústrias con
das jazidas «minerais, b em com o das águas e da energia sideradas básicas ou essenciais à defesa econôm ica ou
hidráulica, ainda que de propriedade privada, depende m ilitar da nação” .
t
de autorização ou concessão federa!, na form a da le i.
O artigo 2.°, n.° II, do Decreto-lei n.° 66, de 14
§ 1.° A s autorizações ou concessões serão conferi
das exclusivam ente a brasileiros ou a empresas organi
de dezembro de 1937, modificou em parte o dispo
zadas no Brasil, ressalvada ao proprietário preferência sitivo da Constituição de 1937 :
na exploração ou coparticipação nos lucros.
“ A s minas e jazidas minerais não manifestadas ao
poder público, quer conhecidas quer desconhecidas, per
§ 4.° A lei regulará a nacionalização progressiva
ten cem aos Estados ou à U nião, a título do dom ínio
das minas, jazidas minerais e quedas dágua ou outras
privado im prescritível, na seguinte conform idade :
fontes de energia hidráulica, julgadas básicas à defesa
a) pertencem aos Estados as que se acharem em ter
econ ôm ica ou m ilitar do país” . ras de seu dom ínio privado, ou em terras que, tendo
sido do seu dom ínio privado, foram alienadas com re
Pelo que se infere do texto da Constituição de serva expressa ou tácita por fôrça de le;, da proprie
1934, abandonamos o sistema de acessão, se bem dade mineral ; b ) pertencem à U nião tôdas as de
que continuemos ainda no regime da propriedade m ais” .
privada.
F oi de duração efêmera êsse decreto-lei, porque
Tanto a Constituição de 1934 com o o Código sua estrutura foi modificada pelo artigo 10 do De
de Minas (Decreto n.° 24.642, de 10 de julho de creto-lei 1985, de 29 de janeiro de 1940 (segundo
1934) estabeleceram, entretanto, um regime mais Código de M inas), que fêz tudo voltar ao estado
avançado na parte referente ao aproveitamento anterior: ' •
racional das riquezas do subsolo indispensáveis ao
desenvolvimento progressivo das indústrias. “ A rtigo 10 — As jazidas não manifestadas na form a
d o artigo 7.° são bens patrim oniais da U n ião” .
A Constituição de 10 de novembro de 1937 man
teve os principais princípios consagrados no Códi
go de Minas e Constituição de 1934, mas modifi O artigo 7.°, a que se refere o artigo acima cita
cou e acrescentou outros : do do Decreto-lei 1985, modificou parte não só do
primeiro Código de Minas, como também o art. 143,
“ A rt. 143. A s minas e dem ais riquezas do subsolo, § 1.°, da Constituição de 1937 :
bem com o as quedas dágua, constituem propriedade
distinta da propriedade do solo para o efeito de explo “ Art. 7.° A s jazidas manifestadas ao G ovêrno Federal
ração ou aproveitam ento industrial. O aproveitam ento e registradas na form a do art. 10 do D ecreto n.° 24.642,
industrial das minas e das jazidas minerais, das águas de 10 de ju lh o de 1934, e da L ei n.° 94, de 10 d e se
e da energia hidráulica, ainda que de propriedade p ri tem bro de 1935, estão oneradas, em b enefício dos res
vada, depende de autorização federal. pectivos manifestantes, p elo prazo de cin co anos, a
contar desta data, com a preferência para a autorização
§ 1.° A autorização só poderá ser concedida a bra
de lavra ou, quando a outrem autorizada, com uma
sileiros, ou emprêsas constituídas por acionistas brasi
percentagem nunca superior a cin co por cento da pro
leiros, reservada ao proprietário preferência na exp lo
dução efetiva ” .
ração, ou participação nos lucros.
PARECERES
PROCESSOS A D M IN IST R A T IV O S - CER M INISTÉRIO DA VIAÇÃO E OBRAS PUBLICAS
TIDÕES REQUISITADAS PELAS A U T O
1. O em inente ju iz em exercício na 1.® V ara da F a
RIDADES JUDICIÁRIAS
zenda P ú blica do D istrito Federal solicita certidões de
peças, que enumera, do presente p rocesso.
— A administração, quando age, presume-
se que sempre o faz obedecendo às normas do 2. Sôbre essa questão de fornecim en to de certidões,
já tivem cs ensejo de nos m anifestar nesta Consultoria Jurí
direito e da justiça, não havendo que temer
d ica . Escreveram os, então : “ E m princípio, a parte tem
o conhecimento de seus atos. .
direito a certidões de peças d e processos form ados em repar
— A certidão poderá ser denegada, se o tições públicas. Êsse direito encontra lim ites no interêsse
exigir o interêsse público. p u b lico . Trata-se, entre nós, de velha praxe administrativa,
acolhida, em p receito expresso, na Constituição de 1934,
— Interpretação do art. 224 do Cód. de que só adm itia denegação “ nos casos em que o interêsse p ú
Proc. Civil. b lico im ponha segrêdo ou reserva” (art. 135 n.° 3 5 ). O
98 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
princípio perdeu a categoria de m andam ento de ordem cons 6. Na verdade, com o escreveu PEDRO B A T IS T A M ar
titucional, nem ,p o r isso, entretanto, deixa de ser regra de TINS, com sua grande autoridade d e jurista insigne e de
aplicação com um , na esfera adm inistrativa” (P a recer n.° autor do projeto d o nosso C ódigo de P rocesso C ivil, a m a
3098 no proc. 27 5 4 1 /4 3 ) . téria do art. 224 é, indissimulàvelm ente, das mais graves do
direito processual. E pon tifica o em inente processualista :
3. Trata-se, na verdade, de princípio acolhido por
“ A o dever de colaborar com a administração da justiça, não
nossa legislação. Dispunha, com efeito, o art. 5.° § 2.°
seria razoável que se subtraíssem as repartições públicas,
letra k da L ei Federal n.° 640, de 14 de n ovem bro de 1899:
principalm ente num regim e em que êsse m esm o dever se
“ E m b em de legítim a defesa de direitos ou interes estende a terceiros, ainda quando estranhos à relação p ro
ses particulares, ventilada, perante os tribunais ou au cessual” (C ód . d e Proc. Civil, ed. da “ R ev . Forense” , v o l.
as questões ventiladas no Contencioso Adm inistrativo, tadas por autoridades judiciárias, forçoso será con vir que
ou processos findos e em andamento, com o prescrevem o assunto está prêso às mesmas considerações já expostas
os arts. 14 § 4.° d o R egu lam en to n.° 254, de 21 de por ocasião de focalizar a hipótese da certidão pedida p e lo
A gôsto de 1850, Circular n.° 388, de Setem bro de 1857, próprio particular. E m qualquer dos casos, a certidão p o d e
A v iso n.° 26, de 6 de Setem bro de 1858” . rá ser denegada, se o exigir o interêsse p ú b lico. Nesta hi
pótese, a autoridade adm inistrativa levará ao conhecim ento
4. E ’ êste, efetivam ente, princípio tradicional do nos da autoridade judiciária a im possibilidade, por m otivos que
so direito, de m od o que, reproduzindo-o, pôd e escrever o relatará, de fornecerem -se as certidões. O art. 224, no pará
em inente m agistrado H e r o t i d e s DA S i l v a L i m a : “ T od os grafo único, faz expressa referência a essa hipótese quando,
têm o direito de pedir certidões às repartições públicas para referentemente à requisição de certidões, prevê “ a im possi
sustentação de interêsses legítim os, declarando expressa bilidade de seu cum prim ento” (art. 224 § ú n ico ). E a êste
mente o fim para que desejam a certidão. N ão é possível propósito, eis a opinião de J o r g e A m e r i c a n o :
JULGADOS
FU N C IO N ÁR IO PÜBLICO - CONCESSÃO — Interpretação do art. 226, n. III, do E . F .
DE PRIVILÉGIO
— Idem, do art. 779 do D ecreto 15.783,
— Não podem ser negadas as obrigações
de 8-11-1922.
decorrentes de ato administrativo não revoga
do pelo Govêrno nem anulado pelo Poder Ju • — Idem, do art. 115 do Decreto n. 13.393,
diciário. de 25-12-1919.
DIREITO E JURISPRUDÊNCIA 99
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL "E m suma : o recorrido alega : 1.°, ter feito antepro
jetos e trabalhos relativos à concessão, e nada prova nesse
Recurso extraordinário n. 6 .8 86 sentido ; pelo contrário, a prova lhe é inteiram ente adver
sa ; 2.°, que cedeu direito à concessão e, no entanto, está
Relator : Sr. Ministro Orosimbo Nonato. dem onstrado que não teria direito algum, e, portanto, não
poderia ceder aquilo que não existia. N ão vale a argum en
Recorrente : Brasunido S . A .
tação, em contrário, do douto Juiz a quo visto com o m esm o
Recorrido : Henrique Barbalho Uchôa Caval antes do Estatuto dos Funcionários P ú blicos não era per
canti . m itido ao funcionário requerer concessão e, m esm o na es
pécie o p ed ido deu entrada na Presidência da R ep ú b lica
ACÓRDÃO em 1940, após a prom ulgação do referido Estatuto, que é
de 28 de outubro de 1939. E a recorrente provou : a ) não
Vistos, relatados e discutidos êstes autos de recurso ex
existir trabalho ou estudo do A . ; b ) não p od er fazer cessão
traordinário n.° 8 .8 8 6 , do D istrito Federal, recorrente
daquilo que não existia ; c ) que o próprio A. declara que
Brasunido S . A . , recorrido H enrique Barbalho U chôa C a
sua interferência teria consistido em obter a concessão
valcanti.
para a R . ; d ) não ser perm itido ao A. pleitear da R . a
A corda o Suprem o Tribunal Federal, 2.a Turm a, inte participação prom etida pelo diretor e para a qual não hou
grando neste o relatório de fls. e na conform idade das notas ve contribuição alguma da parte do associado A., pois a
taquigráficas precedentes, não conhecer d o recurso, pagas as carta lhe foi dada por exigência, visto exercer cargo do
custas na form a da lei. qual dependia a con cessã o; além do mais, o p róprio A.
R io, 15 de dezem bro de 1944. — J osé Linhares, P re confessa que a sua atividade se teria originado de atos de
sidente. — O rosim bo N onato, R ela tor. advocacia adm inistrativa; e ) se nada disso valesse, há,
ainda, o fato de que a lei não perm ite ao A . ter participa
ção em sociedade com ercial e, m uito menos, naquelas que
RELATÓRIO
contrataram com o G ovêrn o.
O Sr. M inistro O rosim bo N on ato — Na dem anda a Por últim o, o próprio A. confessa que a R . teve des
que se refere o presente recurso extraordinário, o Dr. H en pesas vultosas. A prova feita em prim eira instância é exu
rique Barbalho U chôa Cavalcanti convocou a ju ízo Brasu berante nesse sentido e, agora, corroborada pelos does. ju n
nido S . A . , expondo que lhe cedera estudos e projetos de tos, que dem onstram não estar até a presente data liquidado
construção de vias férreas e d o ped ido respectivo, mediante o n egócio da concessão de que pleiteia “ A . 25 % ” .
a participação de 25 % dos proveitos que aquela sociedade
O Tribunal de Apelação em acórdão relatado pelo
viesse a lograr no negócio que a ré, obtida a concessão,
Sr. D esem bargador A franio Costa assim decidiu :
transferiu-a p o r 5 0 0 :0 0 0 $ e, entretanto, nega-se a pagar-
lhe os 25 % prom etidos, que o A . reclam a com juros mora- "A cordam negar provim ento ao recurso para manter a
tórios e honorários de advogado. sentença por seus jurídicos fundam entos que se apoiam na
Brasunido S . A . contestou o p ed ido alegando, em sín
p rov a .
tese, que o A . , funcionário pú blico, não podia obter a con
O argumento da sociedade em conta de participação,
cessão d e que se trata, pretensão de que desistiu sem reser
para conseqüências escusadoras do pagam ento ao apte., é
vas, e, pois, não tinha direito suscetível de cessão. A ré,
inconsistente. W alter Schm idt, p or via dêsse contrato de
nestes têrmos, não é cessionária do A . : — a concessão lhe
cessão, trouxe para o patrim ônio da apte. direitos que foram
veio diretamente. Balisou-se o trabalho d o A. no pedido
alienados por quinhentos contos de réis. A incorporação e o
— de deferim ento inalcançável, legal e m oralm ente — da
resultado são fatos incontestes ; pretender escapar-se ao p a
concessão. — E ’ certo que lhe fo i form ulada a promessa
gam ento ajustado no m esm o ato, com o retribuição de ser
dos 2 5 % , a que alude. Fê-la, porém , a ré para se aliviar
viços ou indenização ao a. apdos. a pretexto da ilegitim idade
da pressão que o A., alto funcionário da Inspetoria das E s
dêsse W alter Schim dt para obrigar o apte., em bora legíti
tradas de Ferro, entrou de desenvolver. D e resto, im pres-
ma a intervenção para dar-lhe lucro, aberra d o senso c o
tadio é o docum ento, que exprim iu a promessa, a uma por
m um . T an to mais que êsse m esm o W alter Schm idt, nas
que nenhum direito p od e o D r. B arbalho pretender com
mesmas condições, constituiu o adv. que em nom e da socie
raízes no p ed id o de concessão, nulo ex-radice, por ser inou-
dade pleiteia nestes autos. P or igual, não colh e o argum ento
torgável concessão do G ovêrn o Federal, a funcionário pú-
I m quanto à irregularidade da conduta do A., que com o fun
blico, à outra por falta de causa da obrigação : o A. nao
cionário pú b lico federal com exercício na R epartição de
prestou serviços à R . , de fora parte com unicação da dos
Estradas estava im pedido por isso de obter ou transferir
oficiais, que conhecia em razão d o cargo, o que não é susce
con cessões.
tível de pagam ento. A legou, à derradeira, Brasunido S .A .
não representar a quantia de 5 0 0 :0 0 0 $ 0 0 0 lucro líquido. — Nada houve de ocu lto ou sub-reptício, tudo fo i feito
D esenvolvido o pleito, proferiu o Juiz, D r . M arcelino de as claras : o A. requereu a concessão ao Sr. Presidente da
Queirós, a sentença de fls. 61 ( le r ) . R epú blica em 21 de ju lh o de 1939 quando nada o im pe
A pelou Brasunido S . A ., produzindo os does. de fls. e dia de fazer (fls. 3 1 ) ; sobrevin do o Estatuto do F u ncio
fis. A rgüiu a ineficácia da carta de fls. 4, reiterou os fun nário P ú b lico com o D ecreto-lei n.° 1 .7 1 3 , de 28 ae outu-
dam entos da contestação e resumiu nestes têrmos as razões de 1939, surgiu no art. 226 § 3.° a proibição que im pediu
do apêlo : o apelado de levar avante a sua pretensão.
100 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
P o r isso, e relatando a situação, a Brasunido reque preço da cessão que fêz, por 500 contos, para evitar prejuí
reu ao M inistro da V iação a transferência para ela dos di zos ainda maiores decorrentes de sua situação de firm a in
reitos e obrigações resultantes da concessão requerida ao cluída na “ lista negra” .
Sr. Presidente da R epú b lica pelo apelado (fls. 32 e 3 3 ). Reportou-se o recorrido, quanto ao m érito, às razões
T u d o foi feito, portanto, sob direta e im ediata fiscalização de fôlhas 1 8 0 /1 8 2 e sôbre as preliminares deixou escrito,
d o G ovêrn o Federal, pelas suas mais altas autoridades. referindo-se ao recurso :
Tornou-se a apelante senhora da concessão pela im possi
bilidade superveniente de continuar o A . a exercitá-la, mas “ N ão foi interposto em tem po hábil. Pu blicado o acór
os direitos que para ela advieram eram os dêles, por via de dão no “ D iá rio” de 7 de n ovem bro (fls. 1 8 9 ), somente
transferência. Portanto, se inquinada originàriamente em 19 foi apresentado ao Presidente do Tribunal (fls. 1 9 0 ).
nulidade, se de início viciada fôsse essa concessão, não con Ainda que se pudesse levar em conta o seu encam inha
valesceria co m a transferência. M as, não houve v ício a.- m ento através o protocolo e oferecesse êste a segurança de
gum, nem a U nião disso cogitou, apesar de alentada com autenticidade, que se não encontra, esgotado se acharia o
a situação claram ente definida, em que se achava a a. ape prazo de 5 dias, quando a 17 pretende tê-lo interposto com
lado. M as, ainda quando proceden te o im pedim ento, não a apresentação à Secretaria para despacho” .
poderia in vocá-lo a A., coparticipante para recolher b enefí
Procurando o recorrido mostrar que não tem o T rib u
cios, não pode repudiá-lo para evitar os “ ônus” .
nal de A pelação com petência para estabelecer praxes, que
T a m b ém im procede a exceção “ quod m otus causa” . envolvem , no caso, delegação de funções, prossegue quanto
As funções d o apelado não autorizavam absolutam ente a ao cabim ento do recurso :
receiar qualquer influência adversa. D em ais, a docum enta
“ Aliás, não seria para conhecer o recurso ainda que
ção junta aos autos revela que os litigantes, até que o A.
tem pestivo. N ão houve ofensa à letra de qualquer lei sô
reclam ou sua cota parte nos 500 contos, andaram em per
bre que se discutisse. A justiça local apreciou questão de
fe ito entendim ento correspondendo-se nos têrm os mais amis
fato e aplicou princípios e normas de direito correntes.
tosos, chegando Schim dt a felicitar a U chôa pela assinatura
Não enfrentou preceito, invocado na inicial ou na contesta
d o doc. que transferiu a concessão à apelante (fôlh as 6 ) ,
ção. N ão há, outrossim, acórdão divergente de outro T r i
p or telegram a expedido para B elo H orizon te. A que título
bunal .
essa efusão de abraços ?
Basta notar que, à exceção do prim eiro citado ( R e v .
A cresce ser de cristalina com preensão o enorm e in
do Sup. Trib. Federal, vol. 48, p á g . 154) todos os outros
terêsse que tal estrada de ferro traria e trará para a e co
são do m esm o Tribunal a quo. Aquele, com o êstes, versa,
nom ia nacional e quiçá para a própria d e fe s a ; basta isso
hipótese diversíssim a. C ita-o o recorrente por simples
para convencer logo que a Adm inistração P ú blica não per
enunciado da ementa : — “ N ão é possível conhecer efeitos
m itiria que um funcionário qualquer fôsse criar entraves jurídicos a contrato celebrado com transgressão da le i” ,
ao desenvolvim ento normal dos planos de construção. — O tese abstrata e na hipótese não há contrato com transgres
A. tem direito à rem uneração ajustada. são de le i. . .
Quanto aos docum entos juntos às razões de apelação Passo os autos, subm etendo êste relatório à esclareci
para dem onstrar que os 500 contos não representam par da censura do E xm o. Sr. M inistro revisor. .
cela líquida nos lucros auferidos, o Tribunal deixa de apre
ciá-los porque representa questão de fato não proposta na VOTO PRELIMINAR
“ A cs funcionários pú blicos é expressam ente vedado a) a reprodução, ao menos, de ementa que torne
fazer contratos com o G ovêrno, direta ou indiretamente, manifesta a divergência sôbre a interpretação da lei, em
por si ou com o representante de terceiros” . causa id ê n tica ;
b) que a citação, pôsto não provada por certidão,
À prim eira, parece de procedência íntegra a alegação não seja ob jeto de im pugnação do recorrido.
da recorrente. Exam inado, entretanto, de fato, o julgado,
Ora, no caso, êsses requisitos falecem .
o que se conclui é que, havendo o recorrido logrado a c o n
A reprodução da ementa de um dos julgados apenas
cessão e passando-a a recorrente, justo não seria negar o
noticia a adoção de regra abstrata, e de resto incontrariável:
pagam ento à conta da iiicitude do ato de que a Brasunido
■— “ N ão é possível conceder efeitos jurídicos a um con
logrou proveitos. D e ofensa do Estatuto não se pode cog i
trato celebrado com transgressão de le i” . E o recorrido
tar, uma vez que a concessão fo i outorgada anteriorm ente.
contesta, em têrm os perem ptórios, a alegação d o recorren
E se a vedação já existia anteriorm ente, certo é que, às
te, verb is :
abertas e não à puridade, fo i que o recorrido tratou do
n egócio e o transmitiu à recorrente. Considera o acórdão
“ N ão há acórdão d iv e r g e n te ...
que, prevalecendo, d e fato, a concessão — o que aliás, era
perm itido em leis especiais — e não havendo sido anulada Basta notar que, à exceção d o prim eiro citado ( R e v .
sua transferência à recorrente, torticeiro seria consagrar a do S u p . T rib . F e d ., vol. 48, pág. 1 5 4 ), todos os outros
locupletação co m jactura alheia, perm itir-se o não paga são do m esm o Tribunal a quo. E aquêle versa hipótese di-
m ento de n egócio realizado sem má fé e m antido, não obs versíssima” .
tante a ved ação. Nestes têrmos, deixo de con hecer d o recurso e, de
conseqüente, da matéria de fato, aliás relevante, que êle
E ’ que não se trata de nulidade oposta pelo govêrno con tém .
cutorgante ao concessionário, mas da pretensão de terceiro
que, não obstante vigorar a transferência, pretende não VOTO PRELIM INAR
pagar, por am or daquela nulidade.
O Sr. M inistro Vãldem ãr F a lcão —— N ão encontro no
D e resto, trata-se de ato adm inistrativo, que não foi acórdão recorrido nenhum a contrariedade da letra de lei
revogado p e lo G ovêrn o nem anulado pelo Judiciário. As federal, nos passos indicados pela recorrente.
baldas, que o trincam, não podem , destarte, castelar a defe C om efeito, ante os elem entos d e prova que exam inou
sa da recorrida, cujas obrigações perm anecem . V isto assim no processo, con cluiu a Justiça local pela procedên cia da
o caso, a hipótese não é de ofensa da letra da lei pelo ação ajuizada pelo ora recorrido, p or entender que, dados
que descabe o recurso na base da letra d. os característicos da coisa, tal qual esta se configurava à
M as, a recorrente ainda indica outros textos de lei que luz da docum entação trazida a lume, não infirm avam o d i
teriam sido trateados no acórdão recorrido : os arts. 82 e reito d o autor-recorrido os princípios legais invocados pela
145, § 2.° d o Cód. Civil. P elo prim eiro, a validade do ato ré, ora recorrente.
jurídico requer agente capaz, ob jeto lícito 9 form a prescrita E videntem ente, decisão assim caracterizada não se ajus
e não defesa em lei. ta aos têrm os do art. 101, n. III, letra a, da Constituição
1 02 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
vigente, com o o tem resolvido, em num erosos julgados, êste Regra universal de direito judiciário é a de que, quem
Suprem o Tribunal F e d e ra l. afirm a um fato, deve prová-lo e a necessidade da prova
P or outro lado, inadm issível ainda é o presente recur nasce da contestação do fato em que se baseia o p ed id o.
so extraordinário sob o prism a da letra d, do referido dis Se, porém , não é o fa to contestado, desnecessária será
positivo constitucional, eis que não fo i feita, p or form a a sua prova, surgindo, então, o que está expresso no C ódigo
ccnveniente, a dem onstração da colisão de julgados, referen de P rocesso C ivil nacional, art. 209, isto é, haver-se por
tes à inteligência da m esm a lei federal. provado aquilo que é afirm ado, sem contestação e resul
N em sequer transcreveu a recorrente as emendas dos tando do conjunto de outros inform es da ca u sa .
julgados apontados com o em plano oposto ao aresto recorri C om o autora, a apelada afirm ou que o órgão técnico da
do, lim itando-se à vaga rem issão a volum es e páginas de pu Prefeitura M unicipal do D istrito Federal, o Sr. D r. Procura
blicações ju diciárias. - dor M unicipal, D r. Josino de Araújo, havia dado parecer,
P o r êsses m otivos, sou levado a, prelim inarm ente, não em processo adm inistrativo contra êle instaurado, con cluin
conhecer do recurso extraordinário em aprêço. do pela sua absolvição, e êste fôra decidido pela Comissão
juigaaora, sob a Presidência d o Secretário da E ducação e
DECISÃO Cuitura da mesma M unicipalidade, Senhor C oronel Jonas
Correia, pessoa de absoluta confiança do Dr. Prefeito M u n i
C om o consta da ata, a decisão fo i a seguinte : R e je i
cipal que a havia dem itido.
tada a prelim inar de ter sido intem pestivam ente interposto
Essa afirm ação não fo i contestada.
o recurso, não conheceram do m esm o. Unanim emente.
A remessa de processos adm inistrativos à jurisdição
civil estando vedada na lei, determ ina o C ódigo de Processo
Civil que as autoridades administrativas rem etam certi
REIN TEGRAÇÃO - NULIDADE DE P R O dões de peças dos processos administrativos, quando ne
cessários nos esclarecim entos da Justiça civ il.
CESSO A D M IN ISTR A TIV O - P R O V A EM
JUÍZO D O S F A T O S N Ã O C O N TE STA D O S Entretanto, rem etendo m uito tardiamente certidões
reclamadas, repetidam ente, a Prefeitura M unicipal omitiu
nelas o que se lhe inquiria a respeito do direito da apelada,
— Se o fato não é contestado desnecessária
ficando, destarte, afirm ado, sem contestação e ex-vi-Iegis,
será a sua prova, na forma do att. 209 do Cód. tu do quanto afirm ou a autora apelada, em juízo. E videncia
de Proc. Civil. do ficou, assim, que a apelada, antiga e zelosa funcionária
administrativa m unicipal, sem pre fôra cum pridora de seus
TRIBUNAL DE APELAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL deveres, no desem penho de seu cargo, e isto ficou, por de
mais, revelado na farta atestação por ela ajuizada na sua
a ção.
Apelação Cível n.° 4.432
Suspeitada que fôra, injustamente, de exercer advoca
Relator : Sr. Desembargador Edmundo de Oli cia adm inistrativa na repartição, recebendo perjúrias, foi,
porém , absolvida, em processo disciplinar instaurado, p ro
veira Figueiredo.
cesso form alizado e seus vícios apontados, apenas, anulado
1.° apelante : Juízo da l.a Vara da Fazenda Pú por não ter se aplicado o rito processual dos Estatutos dos
blica . Funcionários Públicos Federais.
2.° apelante : Prefeitura do Distrito Federal, T a l razão de anulabilidade do processo ficou bem de
monstrada, na sentença apelada, ser ela ilegal, por não ter
pelo Doutor 1.° Procurador.
base na lei, o ato do Sr. D r. P refeito M u nicipal, evidencian
Apelada : Nídia Fonseca de Lima Rangel, repre do-se que, o m esm o D ou tor Prefeito, tanto no ato da aber
tura do processo disciplinar, com o no ato da nom eação da
sentada pela Justiça Gratuita. ......... '
Com issão Disciplinar, se baseou no D ecreto M unicipal nú
m ero 776 de 1900, porque a M unicipalidade não aplicava
ACÓRDÃO DA QUINTA CÂM ARA
os Estatutos dos Funcionários P ú blicos da União Federal,
mas sim u citado D ecreto M unicipal no ano de 1900, e, face
Vistos êstes autos de apelação cível n.° 4 .4 3 2 , entre
a tal estado de coisas, fo i decretado o Estatuto dos Fun
partes, com o 1.° apelante, o Juízo de D ireito da Prim eira
cionários M unicipais, com a prom ulgação d o D ecreto n.°
Vara da Fazenda Pública, 2.° apelante, a Prefeitura M u
3.770, de 28 de outubro de 1941.
nicipal do D istrito Federal, pelo 1.° Procurador, e com o
apelada, Nídia Fonseca de Lim a Rangel, pela Justiça Gra-- D éste gesto, a sentença recorrida deixou m uito certo
tuita : . que o segundo processo adm inistrativo, instaurado contra
a apelada, já absolvida, em vista da anulação do prim itivo
A cord am os Juizes da Quarta Câmara do Tribunal de
processo, acarretòu-lhe a demissão, sendo que o ato do Dr.
A pelação do D istrito Federal, pela conform idade de votos,
Prefeito M u nicipal, proveniente dêsse segundo processo ad
negar provim en to a am bos os recursos, a fim de confirm ar m inistrativo, com o ilegal, era evidentem ente n ulo. Custas
a sentença apelada, que bem julgou a causa. na form a da le i.
DIREITO E JURISPRUDÊNCIA 103
R io de Janeiro, 23 de fevereiro de 1945. — Edm undo FU N CIO N ÁRIO PÚBLICO M U NICIPAL -
de O liveira F igu eiredo, Presidente e R elator. — D uqu e ESTABILIDADE - DEMISSÃO - P R O
Estrada.
CESSO A D M IN ISTR A TIV O - A B A N
Ciente. 21-3-45. — R om ã o C. Lacerda.
D O N O DE CARGO
Vistos, relatados e discutidos êstes autos de apelação N . 22.602 — Capital — Apelante: Municipa
n.° 2 2 .4 2 6 , da com arca de R io Claro, em que é apelante lidade de São Paulo — Apelado : Oscar da Silva
José F elício de Sousa e apelada a M unicipalidade de R io Fagundes — (Secretaria).
Claro, acordam , em Prim eira Câmara C ivil d o T ribu n al de
Apelação, negar provim ento ao recurso e condenar o apelan
ACÓRDÃO
te nas custas.
E m abono da sua pretensão, in vocou o autor os arts. 86, Vistos, relatados e discutidos êstes autos d o processo
n. 2 2 . 6 0 2 — apelação cível d e São Paulo — em que é
§ 2.°, da Constituição do Estado, e 156 da Constituição
Federal de 1937, que teriam sido infringidos pelo A to M u apelante a M unicipalidade de São Paulo e é apelado Oscar
nicipal n .° 234, de 3 1 -X II-19 3 8 , que o demitiu. da Silva Fagundes, acordam em Prim eira Câmara C ivil do
Tribunal de A pelação negar provim ento ao recurso para
P e lo prim eiro dêsses dispositivos, os funcionários que
confirm ar a sentença de primeira instância, que está b em
contassem menos de dez anos d e serviço ( o autor contava
fundamentada, sob o aspecto ju ríd ico.
cêrca de n ove a n os), não poderiam ser destituídos dos seus
Custas pela apelante.
cargos, senão por justa causa, ou m otivo de interêsse p ú
blico . São Paulo, 5 de junho de 1944 — T heodom iro Dias,
pres. — Paulo C olom bo, relator, — J . M . Gonzaga.
E tanto êsse art. 86 da Constituição d o Estado, em
sua prim eira parte, com o o art. 156 da Constituição F e
SENTENÇA
deral de 1937, som ente con cedem estabilidade aos fu n cio
nários que contarem pelo menos dez anos de efetivo exer V istos os presentes autos de ação ordinária, entre par
cício, ou aos que, nom eados em virtude de concurso de p ro tes Oscar da Silva Fagundes e a M u nicipalidade de São
va, contem mais de deis anos. Paulo :
Ora, o autor não satisfazia nenhuma destas condições : Alega o autor que fo i adm itido ao serviço pú b lico m u
não tinha dez anos de serviço nem fôra n om eado em vir nicipal aos 2 de junho d e 1 9 2 9 , ten do com pletad o dez anos
tude de con cu rso. Logo, não gozava de estabilidade.
de efetivo exercício aos 2 de junho de 1 9 3 9 , con form e título
E a justa causa, ou m otivo de interêsse pú blico, decor expedido na mesm a data ; que, aos 2 1 de janeiro de 1 9 3 5 ,
re do fato de ter sido suprim ido o seu em prêgo, juntam en fôra provido no cargo de ch efe d e turm a da D iretoria de
te com outros, em fins de 1938, por necessidade econôm ica, Obras e V iação, da P refeitura ; que exonerado, p o r aban
segundo declarou o ato m u n icipa l. dono do cargo, em 3 d e dezem b ro de 1 9 4 1 , vencia nesse
E ’ verdade que depois fo i restabelecido o cargo de tem po Cr$ 8 8 0 ,0 0 mensais ; que, a 1 0 de m aio de 1 9 4 1 , por
fiscal e nêle provida outra pessoa. M as isso se deu cêrca m otivo de moléstia, requereu e obteve três meses de licença,
de um ano e m eio depois, em m aio de 1940, não bastando, a contar de 6 do m esm o mês, seguindo para o interior e só
portanto, o fato para elidir o fundam ento d o A to n. 2 3 4 . por isso deixou de com parecer ao exam e m édico, resultando
São Paulo, 29 de m aio de 1944 — T heodom iro Dias, dêsse fato o indeferim ento do p e d id o ; que em 2 3 de junho
Pres. — J. M . Gonzaga, relator. — G om es d e Oliveira. secundou o requerim ento, dessa vez, “ sem quaisquer ven
104 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
cim entos” , a contar de 6 de m aio ; que, não obstante lhe e que declara expressamente, no parágrafo único do dispo
assistir por lei tal, faculdade, o Prefeito indeferiu o segundo sitivo 246 : “ O processo adm inistrativo precederá sempre
pedido, sob pretexto de que o funcionário não havia com a dem issão do funcionário” .
parecido à inspeção m édica, e, a 3 de dezem bro do referido Bastam estas duas citações para mostrar que a penali
ano, exonerava o autor, sem qualquer processo administra dade impostia ao autor constitui ato arbitrário e altamente
tivo ou m aior form alidade, por “ abandono do cargo” . Pede censurável por parte do P od er P ú blico, que desrespeitou as
a sua reintegração no cargo e pagam ento de vencim entos leis do país.
atrasados e os que se vencerem n o decurso da ação, juros
O autor justificou o m otivo por que se não submeteu
da mora e custas, tu do acrescido da im portância de 20 %
ao exam e m édico e provou que lhe fôra recusada até mesm o
para honorários de advogado. A ré, contestando, declara que
a “ licença sem vencim entos” . O utro abuso de direito in
o autor, em face da legislação m unicipal, então aplicável ao
justificável, em face d o art. 175 d o E statuto citado.
caso, fo i regularmente destituído do em prego ; que o autor,
O próprio abandono do cargo só se verifica m ediante
não ten do m antido a posse efetiva do cargo por via do exer
as condições legais : não com parecim entb do funcionário
cício e desem penho, sofreu o natural afa stam en to; que a
p or mais de trinta dias consecutivos (art. 238, 8 2 .°), e o
falta do processo adm inistrativo é afirm ação inexata, pois
prévio processo adm inistrativo, em que o funcionário citado
o que houve foi instaurado consoante a legislação vigente ;
teria o prazo de dez dias para apresentar defesa (art. 246,
que a regularidade do ato, que considerou vago o cargo por
parágrafo ú n ic o ; 254 e seu parágrafo ú n ico) .
abandono, resulta de sim ples operação m a tem á tica ; que a
ação dev e ser julgada im procedente. A fls., consta o laudo Nada disso se fêz. N ão houve sequer apuração regular
pericial. N a audiência de instrução, o autor prestou seu de do fato, com audiência do argüído, nem pu blicação de edi
poim ento pessoal e, por últim o, as partes disseram do seu tal. T u d o correu à revelia d o autor, com manifesta infração
d ire ito . do m andam ento n. 255 d o E statuto.
H ou ve incontestável arbitrariedade e desrespeito às
B em exam inados : leis e ao direito in divid u al.
E videncia-se dos autos que o autor contava com mais E m conseqüência, ju lgo proceden te a ação para man
de dez anos de serviço pú b lico m unicipal, quando fo i exo dar reintegrar no cargo, com os mesm os vencim entos do
nerado (v . fls .), exoneração essa ocorrida a 3 de dezem bro últim o exercício, o autor Oscar da Silva Fagundes, com
de 1941, sem processo adm inistrativo. O seu afastam ento direito a percepção dos vencim entos atrasados, a partir de
forçado do em prego não resultou de nenhuma sentença ju 6 de setem bro de 1941, m ajorados d o abono con cedido aos
diciária. P or conseguinte, a sua dem issão sumária im porta funcionários m unicipais em virtude do D ecreto n.° 217, de
em franco desrespeito à Carta Constitucional vigente, que setem bro últim o, b em com o os vencim entos que se forem
no seu art. 15õ, letra c, garante a estabilidade do cargo aos ven cendo até final liquidação, juros da mora e custas, tudo
funcionários pú blicos que contem mais de dez anos de ser acrescido da percentagem de vinte p or cento para honorá
v iço , os quais “ só pod erã o ser exonerados em virtude de rios de advogado, visto constituir o ato exoneratório eviden
sentença judiciária ou mediante processo adm inistrativo, em te procedim ento inconstitucional, ilícito e abusivo de d i
que sejam ouvidos e possam defender-se” . reito .
A o tem po da sua dem issão, estava tam bém em vigor Para ser publicada na audiência designada.
o Estatuto dos Funcionários P ú blicos C ivis da União, subsi- São Paulo, 14 de março de 1944. — A . C . Pereira da
diàriam ente aplicável aos M unicípios, “ ex v i” do seu art. 1.° Costa.
O RG AN IZAÇÃO E COORDENAÇÃO
PROCESSO ADMINISTRATIVO E ARQUI Realm ente, não pode ser acolhida, em face do princípio
VAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL pacífico, m encionado por aquêle M inistério, quanto à inter-
independência das instâncias crim inal e administrativa,
DCLIX a argum entação expedida, contrariam ente a êsse sentido,
p elo interessado.
L. G. solicitou reconsideração do ato pelo qual foi
Já por diversas vêzes tem entendido o D . A . S . P . , com
dem itido, a bem d o serviço público, de acôrdo com o item
sólidos fundam entos doutrinários e integral aprovação do
V I d o art. 239 do E . F . , do cargo da classe F da car
Senhor Presidente da R epú blica, que a Adm inistração e a
reira de D ete tiv e do Q . P. do M . J.
Justiça p od em chegar a conclusões diversas sôbre os m es
Exam inando 0 assunto, verificou o D . A . S . P . que pro m os fatos, dentro dos lim ites da respectiva com petência,
ced em inteiram ente as razões aduzidas p elo M . J . , para sem que a decisão de uma esfera invalide, ou m esm o in
opinar p e lo indeferim ento do pedido em a preço. fluencie, a sentença da outra.
ADMINISTRAÇÃO DE PESSOAL 109
É ób v io que o p od er disciplinar do E stado se diferencia, ENTENDIMENTO SÔBRE ESTÁGIO
quer pelos ob jetivos da repressão, quer pela natureza das PROBATÓRIO
penas, e, ainda, p e lo âm bito de aplicação, do jus puniendi
DCLX
que êssie p róprio E stado e x e r c e . em b en efício da ordem
e da paz social, sôbre a com unidade dos cidadãos, através
Consultou o S . P . F . , se deverá ser com pu tado na con
de outros instrumentos, adequados aos fins perseguidos.
tagem do período de 730 dias de exercício, de que trata
Idên tico raciocín io deve prevalecer, em se tratando de o art. 16 do E . F . , o tem po de afastam ento do funcionário,
sentença proferida pela Justiça E special, cu jo caráter es decorrente de licenciam ento para tratam ento de saúde.
p e cífico mais acentua a órbita restrita de sua ju risdição.
E xam inando o assunto, a D . F . verificou e fo i de parecer :
O fato de ter sido arquivado, por solicitação do M in is
tério P ú blico, o inquérito policial instaurado contra o a) que o E. F. em seu art. 160 dispõe :
requerente e outros, não acarreta qualquer efeito sôbre
a decisão administrativa, que o considerou passível de uma
“ E m gôzo de licença, o funcionário não contará
penalidade, expressam ente estabelecida pelo E . F . , para
tem po para nenhum efeito, exceto quando se tra
tod o o servidor que transgredir determinadas normas fun
tar de licença concedida a gestante, a funcionário
cionais, configuradoras d e infração disciplinar.
acidentado em serviço ou atacado de doen ça pro
Ordenando o arquivam ento daquele inquérito o que o fissional” .
Tribunal de Segurança N acional decidiu foi que não
havia, no m esm o, in dício de culpabilidade do requerente b) que, nestas condições e ressalvadas as exceções ali
quanto ao delito de natureza especial, previsto no D . L . contidas, não deverão ser com putados, na contagem do
n.° 4 .7 8 6 -4 2 , e que lhe fôra im pu tado. pèríodo de estágio probatório, os dias de licenciam ento
para tratamento de saúde.
N ada deliberou aquêle E grégio Tribunal, e nem poderia
E , com êsse parecer, a D . F . restituiu o processo ao
fazê-lo no tocante à pena adm inistrativa, a qual foi aplicada
S .P .F .
através d o m eio legal apropriado, p or autoridade com p e
tente, no plen o exercício de suas atribuições. (P a recer — p r o c . n.° 5 .9 8 2 -4 5 , pu blicado no D . O . de
30-4-45, pág. 7 . 8 1 3 ) .
Aliás tam bém o P od er Judiciário já reconheceu, cabal
mente, “ o princípio da autonom ia das jurisdições penal e
adm inistrativa” , de acôrdo com o qual “ desde que houve
processo adm inistrativo, em que apurou falta causadora TRANSFERÊNCIA POR PERMUTA
de demissão, ato do G ovêrn o não pode ser anulado pelo
DCLXI
P oder Judiciário, p o u co im portando que o funcionário
fôsse im pronunciado ou absolvido em processo crim inal” A . P . A . , advogado de ofício, padrão L, do Q . J . — P . S .
(acórd ã o do Suprem o Tribunal Federal, de 15-6-29, in — do M . J . , solicitou transferência, p or permuta, para
“ A rqu ivo Judiciário” , vol. 15 p á g . 271) . cargo de Juiz de R egistro C ivil, padrão L .
(E x p osiçã o de m otivos n.° 661, de 26-3-45, publicada O D . A . S . P . opinou pelo indeferim ento do pedido por
no P , O . de 13-4-45, p á g. 6 . 6 1 5 ) . falta de am paro legal, com o o fêz o M . J ., e pelo enca
110 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — • JU N . 1945
minham ento do processo àquele M inistério, para arqui T E M P O D E S E R V IÇ O E D E S E M P A T E
vam ento .
NA PROM OÇÃO
(P arecer n.° 1 .2 3 6 , de 26-3-45, publicado no D . O . de
DCCXIII
11-4-45, pá g. 6 .4 5 8 ). -
R . G . F . , ex-com issário de polícia, H, do Q .P . do M . J . outros ministérios e que, posteriorm ente, hajam ingressado
1 .0 11 -4 4 , que indeferiu anterior ped ido de reconsideração, Exam inando o assunto, a D . F. verificou e foi de
feito p e lo suplicante, do ato que o dem itiu, por procedim en p a re c e r:
to irregular, devidam ente com provado, nos têrm os do item
a) que, de conform idade com o parecer da D . F . , de
III, do art. 238, do E . F . , em virtude de inquérito adm inis
9-11-41, no Processo n.° 25-41, pu blicado no D iário O ficial,
trativo .
de 13-11-41, “o tem po de serviço no M inistério (da
Exam inando o assunto, verificou o D . A . S . P . que se
Guerra) deve eqüivaler ao de exercício em cargo ou
trata de nítida renovação de pedido de reconsideração,
função, civil ou militar, no M inistério da G uerra” ;
expressam ente proibida pelo E . F ., ao dispor que “ ne
nhum p ed ido de reconsideração poderá ser renovado” (re b) que, assim, não im porta haja sido êsse tem p o pres
T a n to é assim que o m encionado diplom a legal esta E, com êsse parecer, a D . F. restituiu o processo à
beleceu, outrossim, que “ nenhum recurso poderá ser enca S .G .M .G .
m inhado mais de uma vez à mesma autoridade” (regra (P a recer — p ro c. n.° 6 .0 0 0 -4 5 , pu blicado n o D . O . de
n.° V II, do art. 2 2 1 ). 30-4-45, p á g . 7 .8 1 3 ).
Apreciar, nesta oportunidade, o requerim ento do supli
cante eqüivaleria à transgressão dêsse salutar preceito,
im peditivo do “ recurso de recurso” .
E X E R C ÍC IO DE FUNÇÃO G R A T IF IC A D A
Interpretar-se a lei, de m od o diverso, seria criar des
necessário e prejudicial desdobram ento de instâncias, para DCLXIV
tirem os m otivos determinantes da dem issão. ficar o processam ento dessas designações, julgou o D . A .
S .P . que a autorização prévia d o Presidente da R e p ú
O D .A .S .P . opinou pelo arquivam ento do processo
blica, em cada caso concreto, deveria ser exigida, apenas,
no M . J .
quando a investidura na função gratificada im portasse
(E x p o siçã o de m otivos n.° 654, de 26-3-35, publicada afastam ento do funcionário para M inistério diferente, ou
no D . O . de 13-4-45, pág. 6 .6 1 5 ) . órgão situado no m esm o plano de hierarquia.
SELEÇÃO 111
Nos dem ais casos, a designação seria precedida : sição, por tem po indeterm inado, V . Z. mestre categoria
M . R . L .-2 , e A . M . C ., caldeireiro, categoria R . L.-2
a) de autorização do ch efe da repartição, se o fun
— am bos da E . F . C . B . Exam inando o assunto, veri
cionário estivesse lotado em outro órgão da mesma re
ficou o D . A . S . P . : a ) que, con form e prevê o D . L .
partição ;
515-38, é possível que funcionários federais e em pregados
b) de autorização do M inistro de Estado, se o fun estaduais ou m unicipais prestem serviços à Com issão M ista
cionário estivesse lotado em outra repartição d o mesmo Ferroviária B rasileiro-Boliviana, m ediante prévia autori
M in isté rio .
zação do S r. P residente da R e p ú b lic a ; b ) que, nessa si
Nesse sentido, porém , deverá dispor expressamente a tuação, de acórdo com o art. 7.° d o m encionado diplom a
lei, em face d o estatuído no art. 35, cita do. legal, perderão os funcionários os vencim entos de seus
Nessas condições, o D . A . S . P . elaborou p ro je to de d e cargos, contado, porém , para todos os efeitos, o tem po de
creto-lei, consubstanciando aquelas medidas, o qual, uma serviço e ten do resguardada a situação em que se en con
vez aprovado, se .transform ou no D ecreto-lei n.° 7 .4 4 0 , trava por ocasião das respectivas re q u isições; c) que,
de 5-4-45, pu blicado no D . O . de 7-4-45. ■ em bora os lequisitados sejam servidores d e entidade de
(V e r exposição de m otivos n.° 645, de 26-3-45, p u b li natureza autárquica, poderão os m esm os servir naquela
cada no D . O . d e 7-4-45, pag. 6 . 2 0 6 ) . Com issão, na form a do D . L. 515 em face do entendi
m ento firm ado pela E . M. 3 .1 4 3 -4 3 do D . A. S. P. ;
e d ) que, à vista do exposto, nada tem que opor à soli
citação d e que se trata. O D .A .S .P . opinou por que
A F A S T A M E N T O D E F U N C IO N Á R IO
fôsse concedida a autorizaçao ■pedida e por que o p ro
DCLXV cesso fôsse restituído ao M . V . , para os devidos fin s.
SELEÇÃO
Foram boas as p rov a s ...................................... se procedeu. R ecom endou, ainda, o D . A . S . P . que à mesma D . F .
seja a referida reiaçáo enviada tôda vez que haja vaga
S o lu ç ã o : Foram boas as provas a qu e se procedeu.
ou cargo vago a prover, a fim de que sejam nomeados,
a) H á ordens............................ obedecem os com prazer. com brevidade, os candidatos habilitados e, conseqüente
b) T om a m -se nossas amigas as pessoas. U-. . . . faltas m ente, preenchidos os claros existentes e os que se abrirem
Silveira
R esposta às q u estões a b a ix o :
Solim ões
1 — Quais são as atribuições essenciais de um Serviço de
Com unicações ? Salazar
P rocedên cia : E M B A IX A D A D A E S P A N H A
R io de Janeiro, 22 de ju lh o de 1935
R eferência A lfabética :
N .° 111 — Senhor M inistro
N o processo anexo, o M in istério da Fazenda solicitou A Sua E xcelência o Senhor D ou tor José Carlos de
a criação da função gratificada de ch efe de portaria da M aced o Soares M in istro das R elações E xteriores.
Casa da M o e d a .
A p ro v e ito a oportunidade para apresentar a V . E x. pela com petente repartição dêste M inistério, tenho a honra
Senhor Presidente, os protestos d o m eu profundo respeito. de subm eter à consideração de Vossa E xcelência a proposta,
— a ) Luiz S im ões Lopes. assinada pelo D iretor do D epartam ento de Adm inistração,
SELEÇÃO 115
da conclusão das obras do ed ifício d o M inistério da E du consideração. — a) Luciano Jaques d e M orais, D iretor
cação . G e ra l.
As obras restantes a fazer e os acréscim os de preço
A Sua E xcelência o Senhor D ou tor A polon io Sales,
das obras anteriorm ente realizadas im portam em uma des
M inistro da A gricu ltu ra.
pesa de 4 .7 6 5 :6 0 4 8 0 . Autorizada esta última parcela do
custo total das obras, estará o E d ifício com pletam ente *
concluído, segundo asseguram os arquitetos, no prazo de * *
seis m eses. E ’ propósito d o M inistério da E ducação inau
gurar o seu ed ifício n o dia 19 de abril do próxim o ar.o, "C ód igo d e Classificação D e c it"a l’ ‘ a ser usado para
dia da juventude brasileira. classificar os docum entos apresentados, nesta prova :
D entro em pouco, uma vez feitos os necessários es
RESUM O
tudos, será apresentado a Vossa E xcelência o plano, de
1 GOVÊRNO E ADMINISTRAÇÃO.
m obiliário n ovo a ser adquirido para o ed ifício .
2 DEFESA NACIONAL.
A proveito a oportunidade para reiterar a Vossa E x
3 RELAÇÕES INTERNACIONAIS.
celência, Senhor Presidente, os protestos do m eu mais
4 EDUCAÇÃO E SAÚDE.
profundo respeito. — a ) G . Capanema. 5 OBRAS PÚBLICAS.
6 ECONOMIA E FINANÇAS.
P R E S ID Ê N C IA D A R E P Ú B L IC A
Circular 5 /4 3 D E S E N V O L V IM E N T O
que vêm oferecendo sua colaboração em emprêsr para a reconstrução da E u ropa devastada pelas hordas na
zistas e a reabilitação dos pov os q u e a guerra arrastou
de tal magnitude social e eminentemente humana.
ao caos da fom e e da m iséria. O auxílio q u e tem os pres
Por êsses motivos, o D . A . S . P . , ao examinar o tado em tcdos o s terrenos aos nossos aliados jam ais p o
derá ser olvid ado pslos chefes suprem os das N ações U n i
assunto, foi de parecer que os servidores selecio
das, tanto assim que, reconhecendo a relevância das nossa-;
nados para a U . N . R . R . A . deverão fazer jus a contribuições, de n ovo som os solicitados para continuar,
um tratamento especial enquanto estiverem efeti lado a lado, num em preendim ento que, pelos seus elevados
vamente a serviço daquela organização. Entre as e nobres objetivos, se enquadra perfeitam ente nos im
providências aconselháveis nesse sentido, está a pulsos naturais e característicos dos nossos sentimentos de
bondade e filan tropia. Essa é a fôrça que, aliada à in
de lhes ser garantido o retorno aos cargos e funções
teligência e à capacidade de iniciativa da nossa gente,
que atualmente ocupam, quando forem dispensados terem os que m obilizar para atender os apelos da
122 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
U .N .R .R .A . na sua grande tarefa de reconstruir e rea — Um Centro da U . N . R . R . A . é um local que
bilitar povos e nações. dispõe de serviço m édico, alim entação, dorm ida, e t c ., e
que, segundo a sua relevância, terá capacidade para abrigar
UMA HONROSA INCUMBÊNCIA CONFIADA AO D. A. S. P. de três a dez m il pessoas, prisioneiros de guerra, refugia
dos, feridos e outras vítim as d o cativeiro nazista, homens,
Ainda recentem ente, divulgam os em prim eira mão, que mulheres e crianças.
o Brasil enviaria um num eroso grupo de funcionários
Cada “ Centro” é, assim, um a pequena com unidade
para o V e lh o M u n d o. A seleção dos candidatos aos vá
que, diàriamente, recebe e encaminha para lugares adequa
rios cargos que a U .N .R .R .A . p ôs à disposição do
dos milhares de vítim as dos horrores da guerra e que,
Brasil, está sendo feita pelo D epartam ento Adm inistrativo
portanto, reclam a para o êxito dos seus objetivos a orga
do Serviço P ú b lico . A notícia, com o era natural, des
nização de serviços m édicos, de administração burocrá
pertou grande interêsse e, por isso, em busca d e maiores
tica, de enfermarias, laboratórios, depósitos, armazéns e
detalhes, fom os ouvir o S r. Luiz Sim ões Lopes, presidente
todos os dem ais que, em conjunto, perm itam o seu fun
do departam ento oficia l que assumiu perante a U .N .R .R .A .
cionam ento com o hospital, com o núcleo de assistência,
a grande responsabilidade dêsse trabalh o. Verem os, no
com o pon to de recreação e com o fonte de abastecim ento
decorrer da entrevista, que o fato de haver a im portante
para os necessitados.
organização das N ações Unidas con fiad o ao D . A . S . P . a
seleção de candidatos, constitui uma honrosa prova de
“ CENTROS” DA U. N. R. R. A. MESM O N A ALEM ANHA
con fian ça na organização das nossas dependências ad
ministrativas e na capacidade técnica e funcional dos seus
R espon den do a outra pergunta, adiantou o S r. Luiz
diretores e dem ais responsáveis. Sim ões Lopes que num erosos dêsses “ Centros” serão ins
talados pela U . N . R . R . A . na E uropa devastada, mesm o
A AFLUÊNCIA DE CANDIDATOS E AS VAGAS DISPONÍVEIS
na A lem a n h a .
Atendendo-nos prontam ente em seu gabinete de tra — N ão tem os a certeza do núm ero — disse-nos —
balho, o S r. Lu iz Sim ões Lopes, iniciou a sua entrevista mas, segundo os relatórios, há necessidade de milhares
detalhando-nos os principais ob jetivos da U . N . R . R . A . ; dêsses “ Centros” em tôdas as zonas ocupadas e devastadas
em seguida, respondendo às prim eiras perguntas que lhe pela bota prussiana, inclusive na própria A lem anha. Com o
foram feitas, acentuou : se vê, acentua, êsses serviços da U . N . R . R . A . não se
destinam apenas aos povos escravizados pelos alemães, mas
— D esde o in ício da honrosa incum bência que nos
tam bém aos próprios alem ães. Os súditos de H itler terão
foi confiada pela U . N . R . R . A . , já preparam os um grande
assim uma n oção exata sôbre princípios e deveres de
núm ero de funcionários para o exercício de vários cargos
hum anidade e verão com o as N ações Unidas sabem “ fazer
técnicos e burocráticos na im portante organização de so
o bem sem olhar a qu em ” , nessa grandiosa tarefa de
corro e assistência social das N ações U n idas. Entretanto,
recom por o m undo e de torná-lo m elhor e mais feliz.
precisam os de mais gente e as inscrições, que continuam
abertas, já reunem um total d e 300 interessados, não in
DO BRASIL DIRETAMENTE AO LOCAL DE TRABALHO
cluindo nesse total um grande contingente de candidatos
m obilizados em São Paulo, na sua m aioria profissionais
V oltando ao assunto da seleção e preparo dos candi
em m edicin a. São tam bém em grande núm ero os que
datos, esclarece o presidente do D . A . S . P . , que os fun
procedem de outros E stados. D en tro em b reve deverá
cionários brasileiros são os únicos sul-americanos que se
partir para Londres um candidato já selecionado proce
guirão diretam ente para Londres e, depois, im ediatam ente
dente de M anaus e outros que vieram da Bahia, Pernam
para o local onde deverão exercer as suas fun ções. E
b u co e P a rá .
acrescenta: — A princípio, quando a U . N . R . R . A . não
M ostrando-nos um boletim de inscrição, continua o conhecia ainda os nossos m étodos de trabalho, era pensa
S r. Sim ões Lopes : m ento enviar os funcionários para centros de treinam ento
em W ashington, onde uma parte da U niversidade de M a -
— T em os vagas para as mais variadas profissões. ryland está inteiram ente destinada ao preparo dos candi
Podem os citar especialm ente as de m édicos, radiologistas, datos americanos e canadenses. Posteriorm ente, porém ,
clínicos especializados em saúde pública, alim entação, etc. apreciando os nossos m étodos de ação, a U . N . R . R . A .
Há tam bém vagas para chefes e assistentes de serviço nos con fiou a seleção direta dos candidatos brasileiros,
social e para funções burocráticas especializadas em al- considerando-os aptos para as respectivas funções sem o
m oxarifados, armazenagem de gêneros, vestuários, etc., e, crivo, para outros indispensável, das provas e exames da
ainda, para assistentes de diretores de Centros, inclusive quela universidade “ yankee” . D e v o acrescentar aqui que
de secretários que deverão saber estenografia em inglês e a U .N .R .R .A . destinou vários cargos de responsabili
p ortu gu ês. dade para os candidatos selecionados p elo Brasil e isso
representa, sem dúvida, um m otivo de justo orgulho para
OS “ CENTROS” QUE SERÃO INSTALADOS PALA U .N .R .R .A . os funcionários b rasileiros.
R eportando-nos a referencia que fizera sôbre diretores — E para onde irão os funcionários selecionados pelo
de Centros, perguntam os o que se entendia sob êsse título D .A .S .P .?
na organização geral da U . N . R . R . A . E o Presidente d.' — Para a E uropa e para o Oriente M éd io, inicial
D . A . S . P . nos deu, em seguida, a explicação : mente — inform a o presidente d o D . A . S . P . , acrescen
NOTAS
tando porém que, de acôrdo com o assentimento das fugindo à praxe preestabelecida, resolveu con fiar ao
autoridades da U . N . R . R . A . , o D . A . S . P . está aceitando D.A.S.P. a seleção direta do pessoal brasileiro. E, res
tam bém inscrições de candidatos para a China e regiões pondendo-nos, acentuou :
devastadas pelos japoneses.
E com o últim a pergunta indagam os do S r. Luiz sido até aqui para os concursos e provas para o fu n cio
Sim ões Lopes dos m otivos pelos quais a U .N .R .R .A , nalismo pú b lico federal.”
Prosseguem ativamente os trabalhos da Fun cluindo-se nêle o que se pretende realizar no exer
dação Getúlio Vargas no sentido de serem inicia cício em curso e, ainda, um programa com as dire
das, o mais brevemente possível, as atividades re trizes gerais que deverão nortear o desenvolvimen
lativas aos vários setores que constituem o seu to dos trabalhos num período mais longo.
vasto campo de ação. As diretrizes adotadas nesse estudo já foram
De acôrdo com os Estatutos da Fundação, o D i amplamente discutidas e aceitas pelo Conselho D i
retor Executivo da entidade submeteu ao Presi retor ; em sua maioria, acham-se elas consubstan
dente da mesma, para exame e aprovação do Con ciadas em dispositivos do Regimento Interno apro
selho Diretor, o plano de trabalhos e respectivo vado.
orçamento para o corrente ano. Tratando-se do O programa elaborado não é nem poderia ser
primeiro plano a ser fixado, julgou-se conveniente um plano rígido, pois uma das características da
apresentar ao Conselho, para discussão prévia, um Fundação é exatamente a flexibilidade, que per
estudo amplo sôbre os recursos disponíveis e sua mite alterar um plano fixado, suprimindo ou am
melhor aplicação às atividades da Fundação, in pliando atividades, julgadas então de menor ou
124 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
maior necessidade, ou por deficiência de previsão, grama geral; Atividades imediatas das órgãos com
ou por contingências imprevisíveis. funções substantivas; Atividades imediatas dos ór
Os estudos prévios que levaram à elaboração gãos com funções adjetivas; Aplicação de bens;
Resumo geral.
dêsse programa foram conduzidos pelo Diretor
Executivo da Fundação, Sr., Paulo de Assis Ribei O projeto já foi amplamente debatido em várias
ro, que contou com a colaboração dos Srs. Lino sessões do Conselho Diretor. As sugestões aprova
Leal de Sá Pereira, José Baeta Viana, Othon Hen- das permitirão a elaboração definitiva do plano de
ry Leonardos, Charles Thadeu Javes, Tomás Pom- trabalhos e orçamento para o segundo semestre do
peu Acioli Borges, Heitor Campeio Duarte, Joa corrente exercício, os quais, após aprovação do
quim R . R . Jubé Junior, Jaime Lins de Almeida Conselho Diretor, entrarão em execução a 1 de ju
e Jorge Zarur. lho próximo, quando terão início as atividades da
O plano apresentado ao exame do Conselho D i Fundação Getúlio Vargas diretamente relaciona
retor inclui os seguintes capítulos : Previsões dos das com a realização dos objetivos para que foi
recursos da Fundação; Exposição sôbre um pro criada.
B IB LIO G R A FIA
CRÍTICA
TH E A D M IN IS T R A T IV E TH E O R IE S OF HA peito de m eios se estiverem unidos na busca d e o b je tiv o s
com u n s.
M ILT O N AND JEFFERSON : T H E IR
CON TRIBU TIO N S TO TH O U G H T ON O que estou sugerindo, e a tese que, segundo creio, está
defendida p elo livro do P rofessor C a l d w e l l (em b ora eu
PUBLIC A D M IN IS T R A T IO N — L y n t o n
desejasse que êle a tivesse desen volvid o mais exp licita
K. C A L D w E i.L — University of Chicago Press
m en te), é que uma “ ciên cia” de m eios é u m em preen di
— 1944 — 244 págs. — $3. 50. m ento somente possível num am biente social estável no
qual os elem entos políticos efetivos aceitem um a ideologia
( C om entário d e J . DONALD K lN G SLE Y, do A ntioch C o lleg e) com um e adiram a uma escala com um de valores. N um a
sociedade assim unificada através de um a classe d om i
A adm inistração pública, observa o P rofessor Cald- nante incontestada, um con ju nto de im portantes princípios
well no capítulo inicial dêste interessante livro, “ é, na rea e preceitos adm inistrativos pode ser desen volvido e ganhar
lidade, um ramo da política, e as teorias administrativas larga aceitação. M as tais princípios e preceitos são inteira
dos grandes adm inistradores públicos não podem ser com m ente relativos, e sua validade é determ inada, em últim a
preendidas co m exclusão de seus objetivos políticos, seus análise, não só em fun ção da estrutura social d o estado,
incitam entos em ocionais, e da m edida de seus valores” . com o dos fins mais ardentem ente colim ados pelos grupos
A questão é im portante e oportu n a . Seu abandono que dom inam politicam en te.
ó responsável em grande parte pela esterilidade de muitos Esta tese é im portante para qualquer com preensão acêrca
escritos norte-am ericanos em matéria da adm inistração e das opostas teorias adm inistrativas de H am ilton e J effer-
por uma perigosa e generalizada confusão de fins e meios. son, pois o balanço exato dos interêsses divergentes da
Sua negação conduziu à elaboração de uma ciência adm i nova R epú b lica veio pôr em fo co a disparidade dos m eios
nistrativa sintética em que acidentes históricos assumiram adequados aos diferentes fins. A S ra. F . S. O l iv e r disse
caráter universal e em que os esquemas de organização de H am ilton que sua idéia sôbre a m issão do estadista era
apropriados a um exército ou a uma corporação predatória “ a fiel m ordom ia dos bens p ú b licos” . Ê le considerava a
têm sido insistentemente recom endados com o m odelos para hum anidade d o m esm o m od o que considerava os recursos
um m inistério de cultura. naturais, “ com o m aterial a ser usado co m o m áxim o pos
Se o fa to de separar fins de m eios constitui ou não sível de energia e o m ínim o possível de desperdício, para a
um índice de decadência numa sociedade é questão que consecução da independência nacional, do poder e da per
podem os, talvez, deixar a critério dos m oralistas. M as manência” . ( 1 )
em assuntos sociais, pelo menos, não podem os vantajosa Êstes são os ideais d o adm inistrador de n egócios co m
mente excluir valores ou ob jetivos fundamentais, e qual a sua vigilante atenção na fôlha d o b a la n ço fin a n ceiro.
quer tentativa nesse sentido estará condenada ao fracasso. Sob várias aparências êsses ideais form aram , segundo d e
T od os nós tem os as nossas “ premissas maiores inarticula- monstrou o Professor T aw ney, um a doutrina central do
das” , m esm o quando elas nos passam inteiram ente des Puritanism o, isto é, a prim eira filosofia coeren te das clas
percebidas ; e o grande adm inistrador e tam bem um grande ses médias. Nossa civilização industrial acha-se p en e
p o lítico que im provisa m eios tendo em vista os fins
trada de semelhantes postulados de valor, e fo i o triun fo
que procura atingir. final das classes burguesas sôbre os grupos para os quais
Em parte alguma da literatura norte-americana tal Jefferson pregara que deu às idéias de H am ilton u m ar
conclusão se acha mais am plam ente docum entada d o que de m odernism o.
na análise das idéias administrativas de H am ilton e J ef-
É claro e insofism ável que H am ilton coloca va os v a
ferson, feita p e lo Professor Caldwell. O sistema governa
lores humanos em nível inferior de sua escala pessoal. Na
m ental norte-am ericano forjou -se numa época de especta-
sua opinião, © na dos grupos cujas aspirações ê le soube
tiva e agitações na qual os interêsses estabelecidos estavam
tão b em representar, os hom ens eram sim ples ob jetos de
por tôda a parte em preendendo contra uma classe capita
adm inistração : eram instrumentos a serem m anobrados
lista florescente, um a luta im profícua para controle do
ou dirigidos para algum propósito q u e lhes fôsse estranho,
estado. Essa luta, com o tôdas as grandes lutas para con
quer se tratasse d e potência m aterial, ou de sobrevivência
quista d o poder, afetou tôdas as premissas políticas e co lo
in stitu cion al. As massas humanas não eram considera
riu tôdas as decisões adm inistrativas.
das conjuntos de indivíduos mas — para usar, em suma,
Os suprem os interêsses que estavam em jô g o deram à
uma linguagem que se tornou grandem ente popular —•
política d o p eríodo uma significação peculiar à época, a
fatores de produção, potencial de trabalh o.
qual não encontrou rival até os nossos dias. M as a aguda
divergência de interêsse afetou igualm ente a adm inistra
ção, e a -primeira fase da história da R ep u b lica faz res (1 ) F r e d e r ic k S cott O liv e r , A le x a n d er H am ilton
saltar o fato de que os homens só p od em concordar a res (A rch iba ld C onstable & Co., 1 9 0 5 ), p á g . 4 5 0 .
126 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — JU N . 1945
Tal esquem a de valores, e os grandes ob jetivos aos tividade entre m eios e fins, e fugir da con cepção estéril
quais estava íelacionado, determinaram inevitavelm ente de que a administração constitui um fim em si mesma
04 m eios adm inistrativos a serem em pregados : centraliza ou de que a eficiência e a econom ia são objetivos superio
ção, integração, coerção, e a declaração de diretrizes pelos res a quaisquer outros que sejam alm ejados. Isto pode
adm inistradores principais. H am ilton foi, de fato, o pri obter-se mediante a aquisição de perspectiva e pela cui
meiro grande expoente norte-am ericano daquilo que o Se dadosa análise dos esquemas e técnicas adm inistrativos
nhor B u r n h a m cham ou de “ revolução gerencial” , e é, em relação aos am plos objetivos a que se destinam a servir
talvez, desnecessário assinalar que tanto as características de instrum entos.
políticas quanto administrativas do estado ham iltoniano são
M inha sugestão é a de que o m étodo mais adequado
idênticas à organização e aos ob jetivos da m oderna cor
para o estudo da adm inistração é aquêle que fo i seguido
poração industrial. As idéias de H am ilton são modernas
pelo Professor C a l d w e l l ; e isso é extremam ente im por
porque por mais de cem anos a história tem sido form a
tante em nossos dias. Estam os h oje viven do numa outra
da pela classe de que êle fo i apologista.
era de agitações e expectativa, na qual novos grupos so
Esta questão nem sem pre é claram ente exposta na ciais com novas aspirações estão exigindo uma participa
obra, aliás excelente, do Professor CALD wE LL, e sua im er ção no poder. E m tais circunstâncias, os homens sensa
são - nas profundas águas de nossa ideologia contem porâ tos se voltam para as idéias daqueles dois pensadores
nea o leva ocasionalm ente a conclusões contestáveis. A fir p o lítico s .
ma, por exem plo, que o “ pensam ento de Jefferson em
Considerem os, p.or exem plo, as conseqüências do des
adm inistração fo i defin ido com m aior precisão com o id eo
pertar p olítico das massas trabalhistas. T a n to quanto
logia política do que o correspondente pensam ento de
seja possível averiguar h oje em dia, as idéias administra
H am ilton ” . D u v id o que tal conclusão possa ser apoiada,
tivas dos representantes do trabalho norte-am ericano se
em bora de um a form a ou de outra tenha sido defendida
aproxim am m uito mais das idéias de Jefferson do que
pelos que aceitam a ideologia de H am ilton. Parece-m e,
das de H am ilton. Jefferson, com o seu em penho pelo
entretanto, que em parte alguma de tôda a extensão da
desenvolvim ento do indivíduo, achava-se menos inte
literatura política — inclusive as próprias obras de L e-
ressado na adm inistração ou na eficiência d o que na par
nin — se descobrirá uma estrutura ideológica mais siste
ticipação das massas no sistema adm inistrativo. Êste in
mática do que aquela que foi desenvolvida p or H am ilton.
terêsse é, de fato, a chave de tôda a sua teoria adm inis
Se o im pacto de suas idéias políticas e sociais sôbre o seu
trativa. L ev ou -o às suas idéias sôbre descentralização,
pensam ento adm inistrativo é m enos evidente d o que no
pois, de acôrdo com as condições que prevaleciam em
caso de Jefferson ( o que não m e parece verd a d eiro), tal
sua época, a mais ampla participação só poderia ser obtida se
fato resulta da aceitação contem porânea das idéias de
houvesse dispersão de funções governamentais. H oje, sem
H a m ilto n .
dúvida, podem os ter uma adm inistração descentralizada de
D e qualquer m odo, porém , se eu fôsse fazer qualquer funções nacionais — com o acontece, por exem plo, com a
crítica ao estudo esclarecedor do Professor Caldw ell, administração de nossos controles de potencial humano em
seria de que êle não aprofundou bastante sua análise a tem po de guerra. Pode-se, portanto, pelo menos conjecturar
respeito do im pacto da política social sôbre as idéias ad que Jefferson, se vivesse nos dias atuais, insistiria menos
ministrativas. F oi isso, segundo creio, que o levou a nos direitos dos Estados, pois o seu principal o b jetiv o pode
concluir que a adm inistração de Jefferson era caprichosa ser alcançado m ediante a integração de grupos funcionais
e contraditória. Um a interpretação mais ampla e funda representativos na estrutura adm inistrativa n acional.
mental da politica da época (e m têrm os da emergente Seja com o fôr, é claro que a hodierna política traba
estrutura de classe da socieda d e) poderia induzí-lo, com o lhista vestiu o manto da participação jeítersoniana ; e esta
aconteceu com o finado Professor P a f r i n g t o n , a concluir ênfase está transformando, a olhos vistos, a adm inistração
que Jefferscn agiu tão coerentem ente quanto H am ilton, norte-americana. T ais transform ações não se lim itam ape
à luz de seus principais objetivos e dos interêsses básicos nas ao setor pú blico da econom ia. Na indúitria, tam bém ,
que defen dia. as juntas de administração trabalhista estão vagarosamente
Se fôr verdade, com o penso que o seja, que a adm inis alterando as estruturas administrativas centralizadas, c o
tração é um ram o da política, segue-se que nossas tenta ercitivas e integradas, tão ao gôsto de H am ilton, e subs
tivas para a descoberta de princípios adm inistrativos de tituindo-as por sistemas menos formais, porém organiza
vem -se basear no fator histórico. N ão podem os, com dos mais dem ocraticam ente. -
proveito, excluir as idéias adm inistrativas de H am ilton T ais m odificações, igualmente, vêm apoiar a tese que
ou de Jefferson, de seu conteúdo político, sob pena de o Professor C aldw ell tão habilm ente apresenta, bem
não as com preenderm os, e, além disso, sua aplicação acar com o vêm pôr em relêvo a necessidade de serem desen
retaria a inclusão de idéias, ainda não analisadas, em nosso volvidos, à luz das con dições sociais ràpidam ente m utá
sistema adm inistrativo. Isto, segundo creio, é o que torna veis, novas teorias adm inistrativas e novos planos adm i
o livro do Professor C a l d w e l l uma obra de m áxim a im nistrativos. Não se pode descobrir m elhor m étodo de
portância. T em os tido, no cam po da adm inistração, uma tratamento para semelhante tarefa do que o estudo da
filosofia dem asiado sintética, disfarçada em ciência, e história administrativa, com base na política social. É
nenhuma análise suficiente das relações existentes, entre de se esperar que a ' iniciativa do Professor C a l d w e l l a
esquem as e técnicas adm inistrativos e os objetivos polí êsse respeito seja seguida por outros estudiosos do p ro
ticos. Precisam os, mais do que nunca, reconhecer a rela blem a e que tenhamos, em breve, uma literatura adm i
BIBLIOGRAFIA 127
nistrativa através de cujas páginas se perceba o sôpro apresentar, de m odo sumário, os m étodos atualm ente usados
da própria v id a . no estudo da sociedade e algumas das principais conclusões
que dêles se derivam . F oi tam bém possível fazer-se uma
ampla exposição dos m étodos experim entais atualmente
INDICAÇÕES usados em muitas Escolas de Treinam en to de Professores,
a fim de se proporcionar ao estudante um conhecim ento
DISPERSAL — An inquiry made by The Natio mais am plo da vida social e seus problem as. A relação da
nal Council ol Social Service — Oxford Uni- S ociologia com certos assuntos que fazem parte d o pro
grama das Escolas de Treinam en to foi tam bém estudada.
versity Press — 1944 — 96 págs. —- 3 sh
As palestras do referido Curso estiveram a cargo de
6 d.
eminentes sociólogos e educadores e foram reunidas no p re
sente volum e p or M iss D . M . E . D ym es, que tam bém
Ê ste im portante estudo trata de um a das questões
se encarregou de organizar um resum o das conclusões re
fundamentais do planejam ento de apos-guerra — isto é, a
sultantes das diversas contribuições apresentadas.
m elhor distribuição da população das ilhas britânicas. Seu
o b jetivo principal é estudar se é possível e com o pod e ser
feita a distribuição das repartições públicas e do pessoal
adm inistrativo fora de Londres e de outros grandes centros
urbanos. Baseia-se numa investigaçaão das opiniões de Os dois livros acim a indicados foram rem etidos a esta
chefes e em pregados de diversos órgãos, e nas experiências Revista pelo S r. representante d o Conselho B ritânico nesta
derivadas da evacuação em tem po de guerra. Dem onstra capital, â quem agradecem os a gentileza da oferta .
que nenhum plano terá probabilidade de êxito se não tomar
plenam ente em consideração os fatores sociais. M uitas das
questões levantadas, em bora fundam entalm ente relaciona
das com o problem a dos em pregados burocráticos, tem pontos D IC T IO N A R Y OF
SOCIOLOGY — H e n r y
de ligação com os resultados gerais expostos no R elatorio — N ew York — 1944 __
P r a t t F a ir c h ild
Barlow sôbre a D istribuição da População Industrial. 342 págs. — $ 6. 00.
( Comentário de J o h n A. F i t c h , da New
SOÔIOLOGY AND EDU CATION — Palestras York School ol Social W ork, Columbia Uni-
irealizadas no Curso de Inverno de Sociologia versity).
e Instrução Cívica organizado pelo Instituto
Ê ste D icionário d e Sociologia con tém mais de 3 5 .0 0 0
de Sociologia — Le Play House Press
definições de vocábu los e conceitos, com eçand o com “ aban-
Malvern — Inglaterra — 1944 — 96 págs. doned ch ild ” e term inando por “ zy g ote” . O o b je tiv o é
fornecer um con ju nto de defin ições exatas dos têrm os que
A série de cursos de inverno p a ra .o estudo de Socioio-
se usam em literatura sociológica. A sociologia sendo o
gia e Instrução Cívica, organizados pelo Instituto de S ocio
que é, muita cousa se incluiu que perten ce igualm ente a o
logia (L e P lay H o u s e ), foi interrom pida pelo advento da
vocabulário de um econom ista, de um antropologista, da
guerra em 1939.
um estatístico, de um psicólogo, ou de um leigo razoavel
E m 1942, julgou-se necessário prosseguir com as aulas, m ente cu lto. T a l característica contribui, d e m o d o assaz
a fim de se atender a uma urgente necessidade. Alguns decisivo, para aumentar o valor da pu blicação, pois que
diretores e mestres das Escolas de T reinam ento de P ro amplia o seu a lcance. A lém disso, n o caso d e referências
fessores dirigiram ao Instituto solicitações d e auxilio e a acontecim entos de grande im portância social, essa carac
conselho sôbre a m elhor mapeira de se incluir uma base terística freqüentem ente proporcion a uma quantidade lim i
sociológica nos programas das referidas E scolas. Quando tada de fundam entos históricos, ou, n o caso d e conceitos
o assunto foi trazido perante o Conselho do Instituto, ficou mais obscuros, conduz a explanações relativam ente deta
deliberado que uma discussão de Sociologia com especial lhadas.
referência aos trabalhos das Escolas de Treinam ento de
Professores seria o m elhor m eio de se atender a tais solici D uas espécies de dificuldades surgem inevitavelm ente.
tações . F icou, portanto, resolvido realizar em O xford um D esde que as defin ições oferecidas se referem a conceitos
curso de inverno de S ociologia e Instrução Cívica, expres e idéias, bem com o a vocábulos, e as explanações são, em
samente destinado aos interessados no assunto. sua maioria, necessariam ente breves, haverá divergência
entre os cientistas sociais no tocante à interpretação de
O o b je tiv o do Curso era obter uma discussão im parcial
do papel desem penhado p elo m etodo e pela teoria socioló term os esp ecíficos. H averá duvidas, tam bém , quanto ao
que foi om itido, bem com o ao que foi incluído, porquanto
gica no treinam ento de professores. A questão a ser deba
tida era a de se incluir ou não cursos de Sociologia nos uma obra desta natureza deve necessariam ente abranger
uma área que não possui lim ites predeterm inados e geral
programas das Escolas de T reinam en to. D esde o inicio,
m ente aceitos.
entretanto, adm itia-se que nenhuma parte do sistema educa
cional p o d e separar-se d o sistema social em que se desen Apesar destas dificuldades inevitáveis, o livro será de
volve e fu n cion a . As palestras oferecidas no Curso visaram grande utilidade para estudantes e leigos e, sem dúvida,
128 REVISTA DO SERVIÇO PÚBLICO — J U N . 1945
será consultado freqüentem ente e co m p rov eito. R epre R evista d e Agricultura y Ganaderia — Organo O ficial dei
senta um esfô^ço trem endo p or parte de um a junta de M inistério de Agricultura — N .° 6, fevereiro d e 1945
eminentes sociólogos, auxiliados p or quase cem autores bem — Assunción.
conhecidos p o r suas contribuições à discussão cien tífica .
C em en to Portland — R evista dei Instituto dei Cem ento
Portland A rgentino — N .° 4, fevereiro d e 1945.
E n gineering E xp erim en t Station N ew s — T h e O hio State Inapiários — Õ rgão dos Funcionários do Instituto de A p o
U niversity — V o l. X V I I , N .° 1 — February, 1945. sentadoria e Pensões dos Industriários — N .° 84, abril
de 1945 — R io .
Strení, R e lie í o i W eld m en ts for M achining S.tability, por
J . R . S'titt — Engineering E xperim ent Station, Bulle- R elatório sôb re as atividades da Secretaria da Agricultura,
tin n .° 121 — O hio State U niversity Studies, E n gi Indústria e C om ércio no qüinqüênio 1938-1942 —
neering Series — V o l. X III, N .° 6 — N ovem ber, 1944. P ôrto Alegre, Estado do R io G rande do Sul — 1945.
United S tates o i A m erica — Selected for their special n.° 5 1 ,.fevereiro de 1945 — R io .
interest to readers in Central and South A m erica — _ Hamann — E conom ia e Finanças — A n o V III, abril de
Issued b y T h e A ssociation of A m erican U niversity 1945 — R io .
Presses — 1945. B oletim Trim ensal d o D epartam en to Nacional da Criaíiça
R ev ista Ecuatoriana d e H igien e y M ed icin a T ropical — — M . E . S . — A n o IV , n.° 18, setem bro de 1944 —
Organo O ficial dei Instituto N acional d e H igien e — R io , 1945.
A n o I, n.° 2 — abril de 1944 — G uayaquil, E cu ador. B rasil-M édico —— A n o L I X — N s. 11, 12 e 13 — R io .