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Organizadora
Razão e Emoção:
pela linguagem dos afetos e sensibilização dos conhecimentos
2022
Editora Chefe: Karidja Kalliany Carlos de Freitas Moura
Projeto Gráfico/ Designer: Antônio Laurindo de Holanda Paiva Filho e Edvaldo Rodrigues
Júnior
Diagramação: Luciana Fernandes Queiroz Amorim.
Publicação: Faculdade Católica do Rio Grande do Norte.
Editoração:
Liandra Chirley Medeiros da Silva
Luciana Fernandes Queiroz Amorim
Marciana Bizerra de Morais
Marina Evelyn da Costa Soares
Nayla de Freitas Fernandes
APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................................. 10
ADMINISTRAÇÃO ................................................................................................................................................ 11
A ARTE COMO CAMPO DE SABER NAS CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS ..................... 271
A EDUCAÇÃO COMO DIREITO FUNDAMENTAL: uma crítica aos cortes de gastos na educação
pelo atual governo .......................................................................................................................... 384
A CULTURA DOS RITUAIS FÚNEBRES: a despedida como uma construção social ................ 660
ACOLHENDO A DOR INVISIBILIZADA: a atuação do Psicólogo em casos de óbito fetal ....... 791
DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO: uma perspectiva feminista na educação básica ............... 874
O LUTO INFANTIL E SUAS PARTICULARIDADES: um olhar sobre o luto na infância com uma
perspectiva compreensiva e reflexiva ........................................................................................... 1069
O QUE FICA DEPOIS DO AMOR?: estudo sobre o trabalho de luto das separações amorosas . 1116
SAÚDE MENTAL DA MULHER: uma perspectiva a partir do movimento feminista ............... 1258
TEOLOGIA ..........................................................................................................................................................1360
APRESENTAÇÃO
Comissão Organizadora
11
ADMINISTRAÇÃO
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RESUMO
O uso do marketing digital nas empresas do ramo de beleza em Mossoró/RN, muda a forma de
visibilidade do negócio, mostra que assim como as demais áreas de mercado estas também têm
seu espaço no meio através das mídias sociais. A influência mútua com os clientes contribui
para construir ou destruir a imagem da empresa. Por meio do marketing digital é possível
planejar estratégias para serem usadas nas redes sociais, dessa forma o presente artigo teve
como objetivo geral descrever os impactos estratégicos do Marketing no desempenho de
pequenas empresas do ramo de salão de beleza em Mossoró-RN. A pesquisa foi classificada
como descritiva e nela foram usadas técnicas de coletas bibliográficas, seguida de pesquisa de
campo em forma de questionário, através do google forms, com dezesseis perguntas de
múltiplas escolhas. De maneira geral, percebe-se que o marketing digital tem impactado
positivamente no desempenho das empresas respondentes da pesquisa na área de
relacionamento com o cliente, já que melhora a comunicação entre ambos, no aumento do
número de clientes, na melhoria do faturamento e na visibilidade do negócio.
Palavras-Chaves: Marketing. Marketing Digital. Redes Sociais. Internet.
ABSTRACT
The use of digital marketing in beauty companies in Mossoró/RN, has changed the way of
business visibility, shows that like other market areas, also has their space in the middle through
social media. Digital marketing´s influence can improve or destroy the company's image.
Through digital marketing is possible to plan strategies to be used in social media, so this article
had as general objective to describe the strategic impacts of Marketing on the performance of
small businesses in the beauty salon sector in Mossoró-RN. The research was classified as
descriptive and techniques of bibliographic collection were used, followed by research by
1 Mestra em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail:
Wendy.bezera@gmail.com.
2 Graduanda em Administração, pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
nayararfranca@gmail.com.
3 Mestre em Administração e Controladoria pela Universidade Federal do Ceará. E-mail:
jane_elly@hotmail.com
4 Mestra em Administração pela Universidade Estadual do Ceará. E-mail: natqs.queiroz@gmail.com.
5 Mestre em Administração e Controladoria pela Universidade Federal do Ceará. E-mail:
italocarlos25@gmail.com.
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questionnaire, through google forms, with sixteen multiple choice questions. In general, it can
be seen that digital marketing has had a positive impact on the performance of the companies
responding to the survey in the area of customer relationship, as it improves communication
between them, increasing the number of customers, improving revenue and also in business
visibility.
Keywords: Marketing. Digital Marketing. Mídias sociais. Internet.
1 INTRODUÇÃO
independente do seu porte vêm fazendo uso para propagar seu nome e de seus produtos/serviços
competindo de igual para igual, ao mesmo tempo que desenvolvem e avançam com seu
marketing digital. Para Castells (2003), a Internet é um meio de comunicação que permite, pela
primeira vez, a comunicação de muitos com muitos, num momento selecionado, em linha
graduada global.
Com o aumento da tecnologia, o constante uso da internet, e o fácil acesso as redes
sociais, surge uma nova forma de marketing, também conhecida como marketing digital, esta
possibilita interação direta entre organização e cliente, de forma rápida, real e próxima. Segundo
Cruz e Silva (2014), o marketing digital pode ser considerado o marketing do novo milênio,
visto que ele é utilizado junto da internet, meio em constante crescimento, para aumentar a
relação entre organizações e clientes.
É fundamental que as empresas recorram ao marketing com o propósito de atingir seus
objetivos. No contexto atual, o marketing digital vem para facilitar a vida das pessoas, com essa
evolução, em pouco tempo, se faz a divulgação e se estabelecem contatos, basta ter acesso à
internet e saber divulgar o produto ou serviço. Sabe-se que a internet pode aumentar o
desempenho dos negócios usando ferramentas de publicidade e captação de clientes e
profissionais. Por meio de redes sociais as empresas têm conseguido atender as expectativas do
mercado, que vem crescendo rapidamente. Dau (2020), escritor da Revista Contábil, diz que,
segundo pesquisa feita da Kantar, marca especializada em pesquisa de mercado, as redes socais,
como o Facebook, WhatsApp e Instagram, tiveram um crescimento de uso de 40% na
pandemia, possibilitando que algumas empresas se mantivessem no mercado e gerassem novas
oportunidades de emprego.
Para uma empresa implementar o marketing digital, necessita antes de tudo identificar
o público-alvo, isto é, usuários clientes da internet. As organizações devem estar cientes e
entender como seus clientes utilizam a tecnologia e as informações, como objetivo de que as
organizações tenham melhor interação com o seu público/cliente (RYAN, 2014). A
necessidade e o desejo que o cliente passa a ter pelo produto ou serviço por meio da oferta on-
line vem de um processo planejado.
A pergunta que irá conduzir esta pesquisa é: Quais os impactos estratégicos do
Marketing Digital no desempenho de pequenas empresas do ramo de salão de beleza de
Mossoró-RN? Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo geral descrever os impactos
estratégicos do Marketing no desempenho de pequenas empresas do ramo de salão de beleza
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em Mossoró-RN. Para que o objetivo geral seja alcançado tem-se os seguintes objetivos
específicos: fazer levantamento teórico sobre o marketing e o marketing digital que subsidiem
a pesquisa de campo; identificar e descrever por meio de pesquisa de campo os impactos
estratégicos do marketing digital em salões de beleza.
Justifica-se o tema escolhido, uma vez que os negócios vêm mudando suas estratégias
de marketing para atender as mudanças no comportamento dos consumidores que, cada vez
mais, utilizam a internet para se relacionar com as empresas e o crescimento do marketing
digital, sobretudo no setor de salão de beleza.
Este trabalho está dividido em introdução, referencial teórico onde é encontrado o
resultado do levantamento teórico com conceitos de marketing e sua evolução, marketing
digital, internet e estratégias de marketing digital. A seguir apresenta-se a metodologia utilizada
no trabalho para alcançar os resultados da pesquisa que são apresentados na próxima seção. Por
último tem-se as considerações finais e recomendações para futuros trabalhos.
2 MARKETING
Em Marketing 3.0, Kotler (2010), afirma que o Marketing vem em constante evolução,
passando por três fases, chamados Marketing 1.0, 2.0 e 3.0. Em Kotler (2021), diz que desde
sempre considerou o Marketing 3.0 como a prática finalização do marketing tradicional. Com
ele, ficaram completos os grupos de construção de um serviço intelectual (1.0), emocional (2.0)
e espiritual (3.0) ao cliente.
O mesmo com o passar dos anos, evolui o marketing novamente, em Kotler (2021), diz
que o marketing 4.0 é a fase da mudança do tradicional ao digital, onde marketing no digital
não se fundamenta apenas em mídias e canais digitais. Ainda existe um canal digital que separa
aqueles que têm acesso à internet dos que não têm, por isso o marketing exige uma abordagem
“onicanal”, isto é, tanto on-line quanto online.”
Chegamos a última evolução dos últimos tempos, no marketing 5.0, tecnologia para
humanidade. A pandemia de COVID acelerou a chegada dessa fase com o distanciamento
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A internet é uma rede de conexão global, criada nos anos 70 nos EUA, porém sua
chegada ao Brasil veio nos anos 90. Possui muitos benefícios para o uso comercial e pessoal,
ela tem grande fonte de informação, um catalogo e comercio eletrônico, e o maior meio de
comunicação que existe. Através dela consumidores e empresas se conectam e se aproximam,
criando vínculos e proporcionando maior conhecimentos entre eles.
É fato que a internet evoluiu e trouxe grandes mudanças, mas precisamente por competir
com outras mídias, atingindo o “status quo” dos meios de comunicação e agencias de
publicidades, esse crescimento não foi aceito de imediato, sendo muitas vezes limitada ao uso.
Por muito tempo a internet foi vista como “coisa de jovens” ou “um exercício de futilidade
(TORRES, 2018).
Kotler deixa claro que no início dos anos 2000, a tecnologia da informação tornou-se
dominante no mercado, a partir de então é vivido o que se chama de nova onda da tecnologia.
Kotler (2010, p. 7) afirma que a Internet, “abrange uma tecnologia que permite a conectividade
e a interatividade entre indivíduos e grupos. A nova onda de tecnologia é formada por três
grandes forças: computadores e celulares baratos, Internet de baixo custo e fonte aberta”.
A forma como a internet cresceu e se tornou a maior fonte de dados e referencias, trouxe
um grande impacto nas empresas, principalmente pela forma inovadora de se fazer marketing.
A partir dessa dimensão de crescimento a comunicação passou a ser um ciclo contínuo que
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acontece dos dois lados, receptor e transmissor, ao mesmo tempo. Dado a isso o diálogo entre
as partes envolvidas, sendo, tanto dentro das organizações, como entre os consumidores.
Esse cenário promoveu o acréscimo dos elementos diálogo (colaboração) e data base
(base de dados) ao tradicional mix de marketing, sendo ambos enriquecidos à medida que as
interações ocorrem (KARSAKLIAN, 2001).
Com base na inovação do Marketing no mercado dentro do meio da internet, as mídias
digitais passam a ser a receptora das ações desta inovação, com suas redes sociais como parte
das mídias sociais. Nas mídias digitais, os clientes estão socialmente conectados em redes
diversas de comunidades.
Para se envolverem de forma eficaz com uma comunidade de consumidores, as marcas
precisam pedir permissão. No entanto, ao pedir permissão, as marcas precisam agir como
amigos necessitando de um desejo sincero de ajudar, e não caçadores com uma isca. Isso
demonstra o relacionamento aberto entre marcas e consumidores. Os consumidores estão com
poder de escolhas, e consequentemente mais críticos, tornando mais fácil para eles avaliar as
promessas de posicionamento da marca de qualquer empresa, com as mídias sociais, as
empresas já não conseguem fazer promessas que não consigam cumprir.
Lucena (2011), explica que a rede social é uma composição mista formada por pessoas
e/ou organizações, das quais se conectam por um ou vários tipos de relações, dentro dessas,
compartilham valores e objetivos comuns. Uma característica essencial para definição das redes
sociais, é a sua transparência, dando possibilidade de relacionamentos horizontais e não
hierárquicos entre as partes que à compõe.
Dentro do Marketing digital, as mídias sociais, traz a confiança no relacionamento
horizontal, aquela que ocorre entre funcionários e equipes para tratar de assuntos do dia a dia,
não mais por meio do relacionamento vertical, que ocorre entre pessoas de diferentes níveis
hierárquicos. “O conceito de confiança do consumidor não é mais vertical. Agora é horizontal”
(KOTLER, 2017). No passado, os consumidores eram facilmente influenciados por campanhas
de marketing. Eles também buscavam e ouviam autoridades e especialistas.
Entretanto, pesquisas recentes em diferentes setores mostram que a maioria dos
consumidores acreditam mais no fator social (amigos, família, seguidores do Facebook e do
Twitter). A maioria pede conselhos a estranhos nas mídias sociais e confia neles mais do que
nas opiniões advindas da publicidade e de especialistas. O que faz com que as experiências de
uso e satisfação de cada ser fale por si.
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diante o produtor e consumidor se encontram juntos dentro desse mundo de conexão, cada um
com seus interesses.
A conectividade é provavelmente o mais importante e influente da mudança na história
do marketing. Mesmo que não possa mais ser considerada como uma novidade, vem mudando
muitos aspectos do mercado e não se exibi sinais de desaceleração (KOTLER, 2017). O
crescimento é significativo, e a tendência é que ela continue a crescer, pois com esse avanço
ela não aproxima somente os consumidores, mas deixa as empresas integrada, diminui custo de
interação entre empresa, funcionário, clientes, e outras partes envolvidas.
Dentre tantos pontos positivos, a conectividade permite entrada de novos mercados,
auxilia no desenvolvimento de novos produtos, ajuda no crescimento e conhecimento da marca,
entre outros pontos a mais que existem de possibilidades através deste meio.
Gabriel (2010, p. 104) completa conceito sobre o termo marketing digital como “o
marketing que utiliza estratégias em algum componente digital no marketing mix – produto,
preço, praça ou promoção”.
O Marketing Digital traz como importância a comunicação consistente através da
tecnologia com as redes sociais, isso dado principalmente após a pandemia, onde o mundo hoje
se encontra, com o distanciamento social as pessoas se aproximaram de outra maneira,
virtualmente. E assim o comercio dentro da internet ganhou mais força e as empresas passaram
a ter destaques como uma rapidez significativa, sejam elas micro ou macro, o que faz com que
elas ganhem visibilidade são as ferramentas de Marketing, que são aplicadas no mundo digital,
por isso, o Marketing Digital.
Adotar estratégias para o Marketing digital cada vez mais se faz necessário para as
empresas. Todos os tipos de negócio, mercado e segmento de atuação podem ser beneficiados
com as estratégias bem aplicadas.
Torres (2009), destaca que o marketing digital deve ser composto por sete ações
estratégicas, sendo elas:
Marketing de conteúdo: conteúdo publicado em um site, visando torná-lo visível na
internet e atraente ao consumidor.
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Marketing nas mídias sociais: as mídias sociais são sites na internet construídos para
permitir a criação colaborativa de conteúdo, interação social e o compartilhamento de
informações em diferentes formatos;
Marketing viral: envio de uma mensagem na internet de uma pessoa a outra, visando à
transmissão de uma mensagem de marketing;
E-mail marketing: as empresas adaptaram a velha mala-direta ao e-mail formando esse
tipo de ação estratégica, procurando garantir que a mensagem de fato atinja o consumidor;
Publicidade on-line: iniciou-se a partir de banners publicados em sites, atualmente os
banners ganharam animação, interação, som, vídeo e outros recursos.
Pesquisa on-line: a pesquisa é à base da atividade de marketing, sendo que a pesquisa
on-line pode ser apoiada por programas de computador, como os spiders.
Monitoramento: é a ação estratégica que integra os resultados de todas as outras ações
estratégicas, táticas e operacionais.
Telles (2010), diz que grande parte do processo de velozes mudanças e transformações
que todos estamos vivenciando é decorrente de dois fatores principais: a globalização e o
desenvolvimento tecnológico. A globalização está presente na realidade e no pensamento,
desafiando grande número de pessoas em todo o mundo. Ainda segundo o autor, é necessário
que as empresas estejam interagindo com os consumidores nos lugares onde elas se encontram:
nas mídias sociais. A influência dos usuários que estão disseminando a mensagem e as
interações dele na rede no processo de cooperação na construção de conteúdo está intimamente
associada ao sucesso da viralização.
Araújo (2015) fala que, pesquisadores, editores de periódicos científicos ou instituições
que pesquisa que se interessam em trilhar esse caminho e aproveitar o melhor que essas
características oferecem para o emprego do marketing digital devem se dedicar a três questões
essenciais:
Construir e manter uma presença online - é o marco inicial de ingresso aos interessados
em atingir um público maior e cada vez mais conectado no ambiente web;
Oferecer um conteúdo adequado aos ambientes que atuar e - As pessoas tendem a
interagir com conteúdo que as interessem, e é comum buscarem algum tipo de ‘filiação’ com
produtores desses conteúdos (assinar o blog, curtir a página no Facebook, seguir no Twitter) e
recomendá-los;
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Estabelecer uma atuação responsiva - Uma vez que a web 2.0 vai propiciar
possibilidades de interação com o conteúdo, com espaços de participação e colaboração, é
necessário manter uma atuação atenta e responsiva.
A mudança no comportamento do consumidor tem sido cada vez mais constante, e
levando à necessidade de alterar as estratégias utilizadas por uma empresa, seja por fatores
sociais, psicológicos, pessoais ou culturais. Por isso, é importante manter uma análise frequente
do comportamento do cliente, de maneira que se possa identificar o que dará melhor resultado,
quais são as oportunidades mais vantajosas, dentre outras estratégias a serem adotadas pela
organização (FERREIRA; COSTA; ZIVIANE, 2018, p. 78).
Adotar estratégias para o Marketing digital cada vez mais se faz necessário para as
empresas. Todos os tipos de negócio, mercado e segmento de atuação podem ser beneficiados
com as estratégias bem aplicadas. Portanto, os questionamentos de por onde começar a trabalhar
por esse meio ou de trazer a forma de exercer o trabalho dentro das empresas sempre estão em
pautas. A dedicação a essas três questões é fundamental para a geração e acompanhamento das
principais métricas que o Marketing digital tem a oferecer: visibilidade, influência,
engajamento e conversão (ARAÚJO, 2015).
Os conteúdos são baseados em confiança, e confiança gera lucro. Por tanto, é necessário
qualificação e atualização profissional para conduzir e administrar campanhas criativas,
interessantes, projetos que atraentes, lucrativos e eficiente, prezando sempre por uma
comunicação transparente.
Pesquisas mostram que em 2021, a base de usuários do Instagram no Brasil era de
aproximadamente 98,84 milhões de usuários. O número de usuários do Instagram no Brasil está
projetado para aumentar para 135,36 milhões de usuários até 2025. Os números dos usuários
foram estimados levando-se em consideração arquivamentos da empresa ou material de
imprensa, pesquisas secundárias, downloads de aplicativos e dados de tráfego. Eles se referem
à média de usuários ativos mensais durante o período e contam várias contas por pessoa apenas
uma vez.
Os usuários do Instagram possuem acesso a diversos tipos de conteúdo, sendo esse
conteúdo feito por pessoas físicas ou por empresas, que estão descobrindo o potencial
que essa ferramenta tem para os negócios, já que nessa rede social pode existir contato
direto entre a empresa e o consumidor, (COSTA; BRITO, 2020, p. 2).
3 METODOLOGIA
Segundo Vergara (2010, p. 41), “uma pesquisa pode ser exploratória, descritiva,
explicativa, metodológica, aplicada e intervencionista. Quanto aos meios de investigação,
pesquisa de campo, pesquisa de laboratório, documental, bibliográfica, experimental, ex post
facto, participante, pesquisa-ação, estudo de caso”.
Com o objetivo de descrever os impactos estratégicos do marketing digital no
desempenho do ramo de salão de beleza em Mossoró/RN, o presente artigo é uma pesquisa
descritiva. Vergara (2010, p. 42) diz que, “uma pesquisa descritiva expõe características de
determinada população ou de determinado fenômeno. Pode também estabelecer correlação
entre variáveis e definir sua natureza”.
Um dos meios de investigação usados para realizar essa pesquisa, foi a pesquisa
bibliográfica. Vergara (2010, p. 43), explica que “pesquisa bibliográfica é um estudo
sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes
eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral. O material da pesquisa é de fonte
primária e secundária ”.
Outro meio de investigação utilizado no presente artigo, se deu em forma de pesquisa
de campo, Marconi (2003, p. 185), “Pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de
conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma
resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar, ou, ainda, descobrir novos fenômenos
ou as relações entre eles”.
Para a realização da pesquisa de campo foi utilizado um questionário com perguntas
fechadas, enviado por meio eletrônico (googles forms) e de forma aleatória, aplicado aos
profissionais da área de salão de beleza em Mossoró/RN. Foi enviado link para que os
profissionais selecionados pudessem responder. A partir dessa pesquisa foram identificados os
impactos estratégicos do marketing digital no desempenho dos salões de beleza em
Mossoró/RN.
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4 RESULTADOS DA PESQUISA
A primeira parte da pesquisa teve como objetivo levantar dados sobre a empresa.
Inicialmente foi questionado se a empresa era formalizada, e em seguida, o tempo de atuação
no mercado.
Em relação a formalização das empresas, constatou-se que 76,9% dos respondentes
disseram que suas empresas são formais, isso pode indicar uma tendência de maior
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A pergunta seguinte retrata sobre as redes sociais que os respondentes utilizam para se
relacionarem com seus clientes. Neste quesito os pesquisados poderiam escolher mais de uma
resposta, pois deveriam responder as formas que as empresas propagam seu negócio dentro do
marketing digital. Outro ponto analisado foi o tempo que as redes sociais são usadas dentro do
negócio e quem gerencia elas.
27
Dentro desse contexto, a pesquisa teórica mostra que as mídias sociais possuem um
papel muito importante para as organizações, já que boa parte da população mundial se
concentra por lá, por essa razão, o alcance de uma marca se torna muito maior se estiver presente
em alguma ferramenta de mídias sociais (SANTOS, 2020, p. 09).
O gráfico 4 compara o quantitativo da utilização das redes sociais pelos profissionais da
área da beleza. Com 61,5% o Instagram é a rede social mais utilizada, em segundo lugar o
WhatsApp, com 26,9%, em seguida o Facebook totalizando 7,7%, e por último o Twitter com
menos utilização de uso 3,8% dos respondentes.
Saber qual a rede social mais adequada para os negócios pode ser estratégico já que o
público pode se sentir atraído mais por uma rede social do que por outra. Desse modo, vale a
pena a reflexão trazida por Santos (2020), ao afirmar que as redes sociais ajudam a mensurar
os investimentos do negócio, já que existe a possibilidade de verificar como o público foi
alcançado, pela forma de quantidade de visualizações, comentários, e outros feedbacks que
consegue através das mídias sociais.
No levantamento de pesquisa feito através do questionário em relação ao tempo em que
os profissionais já usam as redes sociais, foi constatado que 84,6% dos profissionais e/ou
empresários usam as redes há mais de 3 (três) anos, 11,5% usam há 1 (um) ano, e 3,8% fazem
uso das redes sociais há 2 (dois) anos. O gráfico 5 mostra o resultado descrito.
O gráfico 6 mostra como as empresas gerenciam suas redes sociais, já que é algo que
está na palma da mão do empreendedor, o resultado da pesquisa diz que 92,3% das empresas
gerenciam as próprias redes sociais, e 7,7% divide o gerenciamento com uma agência de
publicidade. O resultado pode ser explicado pelo perfil de Mossoró quanto à escassez de
empresas que ofereçam serviços profissionais eficientes da área de marketing digital.
Sobre a presença on-line frequente, Araújo (2015) cita que o marketing digital tem três
caminhos de dedicação, e um deles é construir e manter uma presença on-line. Desse modo, as
empresas que tem sua frequência significativa nas mídias sociais atingem um público maior
que se interesse por seus serviços ofertados.
Sobre a forma de como se promover nas redes sociais, usando indicadores como gestão
de tráfego pago, gestão de likes, horários de maior acesso, 30,8% das empresas fazem uso
eventualmente, 26,9% raramente, 15,4% frequentemente, 15,4% muito frequente, e 11,5%
nunca usaram os indicadores nas redes sociais para promover seu negócio no marketing digital.
O gráfico 8 mostra o resultado da pesquisa. Vale ressaltar que o uso de indicadores de
desempenho nas redes sociais como ferramenta de tomada de decisão para o Marketing Digital
pode trazer benefícios importantes para os negócios, sobre essa temática Kotler (2015), diz que
as empresas com excelente marketing fazem uso de estratégias de marketing de forma segura
focadas nos clientes, não só para criar valor para empresa, mas também para construir um
relacionamento.
O Gráfico 14 mostra o resultado das respostas quanto ao uso da imagem pessoal dos
profissionais para promover seu negócio na internet, 50% concorda totalmente, usam a imagem
pessoal para promover seu negócio, 46,2% concorda com o uso, e 3,8% não está decidido.
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Importar-se com sua imagem pessoal, não é apenas sobre marketing digital, e sim como
as pessoas olham para cada profissional, e o quanto isso gera credibilidade para seu negócio e
seu serviço. A forma como o profissional se apresenta é o primeiro momento de estar vendendo
o seu serviço ou produto, o marketing digital acelera sua visibilidade e automaticamente a forma
como os clientes leem que profissional é.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O marketing digital por meio das redes sociais tem influenciado nas decisões dos
consumidores, pois a maior parte deles compartilham as suas opiniões nas redes sociais sobre
empresas, produtos ou serviços. Esse cenário tem mudado a visão dos negócios sobre o
marketing e suas ferramentas.
É notório que as redes sociais estão cada vez mais presentes no dia a dia das empresas,
dessa forma se torna um meio de comunicação válido para elas, possibilita a escolha de
investimento e facilita a direção do seu público-alvo, melhorando o relacionamento com seus
clientes e possibilitando conhecer mais suas necessidades.
Nesse contexto, as empresas acreditam na aproximação dos clientes através das redes
sociais, o relacionamento é facilitado e o feedback eficiente que acontece de forma prática e em
tempo real, melhorando ou corrigindo os processos quando necessário.
Este artigo é uma pesquisa descritiva que coletou a percepção dos empresários donos de
empresas do ramo de beleza em Mossoró sobre o marketing digital e seu impacto no
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desempenho de seus negócios. Para tanto, foi aplicado um questionário através do googles
forms com 16 questões de múltiplas escolhas, que possibilitou alcançar o objetivo inicial. O
questionário foi respondido por 26 profissionais do ramo da beleza em Mossoró-RN.
Sobre os principais resultados alcançados na pesquisa de campo, pode-se constatar que
de maneira geral o Marketing Digital pode trazer impactos em diversas áreas de desempenho
de um negócio do ramo de beleza em Mossoró, como: melhoria na comunicação entre empresa
e cliente e vice-versa e consequente melhoria no relacionamento com clientes; com o uso do
Marketing Digital houve um incremento do número de clientes nas empresas em estudo; o uso
de ferramentas de Marketing Digital trouxe melhorias no faturamento das empresas
pesquisadas; os uso do Marketing Digital pode proporcionar otimização da imagem da marca,
melhorando inclusive sua visibilidade; e por fim, é importante que seja associada às estratégias
de Marketing Digital do negócio a imagem do empresário.
Este trabalho foi de suma importância para o desenvolvimento profissional e acadêmico
da autora, tendo que em vista que o ramo de atividade que trabalha é o de beleza em
Mossoró/RN. Desse modo, as inferências contribuíram para a tomada de decisão quanto ao
Marketing Digital em seu próprio negócio.
O trabalho teve limitações importantes quais sejam: número de respondentes menor do
que o planejado inicialmente e números que ratifiquem as respostas dos pesquisados que não
foram coletados nessa pesquisa. Essa lacuna pode ser um ponto de partida para um próximo
trabalho: números que demonstrem o incremento do faturamento após o uso do Marketing
Digital, análise histórica do número de clientes antes e após o uso do Marketing Digital.
REFERÊNCIAS
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periódicos: da visibilidade ao engajamento. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 20,
p. 67-84, 2015. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/pci/a/HNvPmkhhgkm6Snghmn6Xmkq/?format=pdf&lang=pt. Acesso
em: 24 de nov. de 2021.
CINTRA, Flavia Cristina. Marketing Digital: A Era Da Tecnologia On-Line. V. 10. São
Paulo: Investigações, 2010.
CRUZ, Cleide Ane Barbosa; SILVA, Lângesson Lopes. Marketing Digital: marketing para o
novo milênio. Revista Científica do ITPAC, Araguaína, v.7, n.2, Pub.1, abril 2014.
Disponível em: https://assets.unitpac.com.br/arquivos/revista/72/1.pdf. Acesso em: 11 out. de
2021.
CRESCE o uso de internet durante a pandemia e número de usuários no brasil chega a 152
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ie=UTF-8. Acesso em: 15 de abr. de 2022.
DAU, Gabriel. Redes Sociais crescem 40% durante a pandemia, possibilitando que empresas
se mantivessem no mercado. Jornal Contábeil, 17 ago 2020. Disponível em:
https://www.jornalcontabil.com.br/redes-sociais-crescem-40-durante-a-pandemia/. Acesso
em: 11 de out. de 2021.
LUCENA, Patricia. Evolução na comunicação: estudos nas redes sociais. São Caetano do
Sul, 2011.
37
RYAN, Damian. Understanding digital marketing. 3. Ed. [S.L.]: Kogan Page, 2014.
TELLES, André. A revolução das mídias sociais: case, conceitos, dias e ferramentas. São
Paulo: M Books, 2010.
TORRES, Cláudio. A bíblia do marketing digital: Tudo que você queria saber sobre
marketing e publicidade na internet e não tinha a quem perguntar. São Paulo: Novatec, 2018.
RESUMO
ABSTRACT
One of the biggest challenges of people management is to ensure the quality of life at work
(QWL), motivation, health, fair remuneration and well-being for all employees involved in the
activities of an organization, such factors directly impact productivity and consequently the
companies profit. In this sense, this research has as main objective to analyze the quality of life
at work with the employees of a telecommunications company located in the municipality of
Mossoró-RN. Through the quality of work life measurement model proposed by Richard
Walton (1973), a quantitative, descriptive and explanatory research was carried out with thirty
employees of a telecommunications company. Among the main results obtained, it was found
that employees are dissatisfied with their current remuneration. Also according to the results
achieved with the research, the company has good quality of life indices, when analyzing the
other factors of the proposed model such as: health and safety conditions, use and development
of capacities, growth, social integration, constitutionalism, work , total living space and social
relevance of life at work, where workers stated that the company meets the expectations of these
requirements.
Keywords: People management; Quality of life at work; Motivation.
1 INTRODUÇÃO
1
Mestrando em Administração – PPGA/UFERSA. E-mail: acesso.lucas09@gmail.com
2
Bacharela em Administração – UERN. E-mail: railaneres_cg@hotmail.com
39
Um desafio dos gestores em todo o mundo é assegurar aos colaboradores que compõem
as empresas a qualidade de vida no trabalho, assim, fazendo com que todos as pessoas
envolvidas nas atividades rotineiras das organizações sintam-se motivados e o clima
organizacional proporcione saúde e bem-estar.
Numa sociedade capitalista, onde a questão central das empresas é a necessidade da
obtenção do lucro, o olhar de alguns gerentes volta-se apenas para as tarefas, nesse sentido, a
gestão de pessoas precisa encontrar um ponto de equilíbrio entre a produção e a satisfação,
saúde e bem-estar daqueles envolvidos no processo produtivo, o que podemos definir como
qualidade de vida. A qualidade de vida no trabalho (QVT) pode ser entendida, conforme Davis
(1996, p. 419) como “a preocupação com o bem-estar geral e a saúde dos colaboradores no
desempenho das atividades”.
Ainda conforme Davis (1996) a qualidade de vida no trabalho é fruto da luta de classes
e mobilizações de trabalhadores, que buscaram um contraponto aos modelos de gestão
burocratas, que enfatizavam processos, tarefas e produtividade e deixavam de lado o aspecto
humano.
A QVT deve ser levada a sério não só por organizações que priorizam a gestão de
pessoas e boas práticas de relacionamento interpessoal, mas por todas que desejam alcançar
altos índices de resultados, tendo em vista que a qualidade de vida no trabalho pode resultar no
melhoramento dos índices de motivação e produtividade, tendo em vista que, colaboradores
motivados participam ativamente das atividades e sentem-se adequadamente recompensados
para produzir mais, de maneira correta e eficaz.
Um dos precursores dos estudos e a aferição dos índices de qualidade de vida no trabalho
é Richard Walton, que elaborou um modelo de mensuração da QVT e a correlação entre os
índices de produtividade, satisfação e motivação dos colaboradores. Diante de sua importância,
a QVT deve ser analisada em empresas de todos os setores da economia, inclusive das
telecomunicações, que engloba o campo empírico dessa pesquisa, que possui como objetivo
precípuo analisar a qualidade de vida no trabalho, a partir do modelo proposto por Walton
(1973), junto aos colaboradores de uma empresa de telecomunicações situada no município de
Mossoró-RN.
Este trabalho justifica-se dada a extrema relevância da avaliação da qualidade de vida
de colaboradores em suas atividades laborais, pois, a partir do conhecimento obtido através
desta avaliação, gestores poderão realizar ajustes e proporcionar um ambiente de trabalho e
40
cima organizacional mais humana, dando ênfase na proteção, saúde e bem-estar de todos
envolvidos em suas atividades.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
A qualidade de vida no trabalho tem sido uma preocupação do homem desde o início
Rodrigues (1994) de sua existência, com outros títulos e em outros contextos, mas sempre voltado para
a satisfação e o bem-estar do trabalhador na execução de suas tarefas.
Pereira e Bernhardt (2004) descrevem a QVT como o bem-estar dos indivíduos de uma
organização, obtido por meio de um conjunto de valores comuns e partilhados, seja em
ambiente interno, ou em ambiente externo à organização. Independentemente do tamanho e
setor da economia da empresa, é importante e necessário a existência de um programa de QVT,
para potencializar entre seus colaboradores a motivação, bem como propiciar o crescimento e
desenvolvimento pessoal. Uma empresa que adota uma postura de valorização do capital
humano pode alcançar melhores indicadores de resultados e de produtividade.
Vários são os fatores que interferem na QVT, e por isso é importante que os gestores
fiquem atentos a todos os acontecimentos. Um colaborador motivado que se sente parte da
42
organização dispõe de uma bagagem bastante satisfatória para a organização, ele faz o possível
para realizar as suas tarefas da melhor forma assim, como o funcionário desmotivado não
consegue sequer realizar suas atividades básicas do dia a dia.
Para Walton (1973) a QVT é a responsabilidade e atenção que as organizações detêm
com seu capital humano, assegurando aos mesmos oportunidades de crescimento, condições de
trabalho adequadas, valorização e remuneração justa. Precursor do estudo da Qualidade de Vida
no Trabalho, Walton desenvolveu um modelo de mensuração, estruturado em oito eixos ou
fatores principais, conforme exposto no quadro 3:
Autonomia;
Utilização e
Significado e identidade da tarefa;
desenvolvimento de
Variedades de habilidades;
capacidades
Retroação e retro informação.
Igualdade de oportunidades;
Integração social na
Relacionamentos interpessoais e grupais;
organização
Senso comunitário.
Imagem da organização;
Relevância social da vida
Responsabilidade social pelos produtos/serviços;
no trabalho
Responsabilidade social pelos trabalhadores.
Chiavenato (1999) relata que: “A QVT representa em que grau os membros das organizações
são capazes de satisfazer suas necessidades pessoais através de seu trabalho na organização”.
3 MEDOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Walton (1973) propôs um modelo de QVT que abrange 8 fatores existências que medem
a satisfação do trabalhador: Compensação justa e adequada, condições de segurança e saúde no
trabalho, utilização e desenvolvimento das capacidades, oportunidades de crescimento
contínuo, integração social na organização, constitucionalismo, trabalho e espaço total de vida
e relevância social de vida. Tais fatores foram apresentados aos colaboradores da empresa em
estudo no qual discorreram sobre sua concordância ou discordância e são apresentados nos
gráficos a seguir 1 ao 8.
44
O gráfico 1 apresenta o primeiro fator de QVT proposto por Walton: Compensação justa
e adequada, que abrange a satisfação com a remuneração ofertada para o serviço prestado e
comparada aos colegas de trabalho que exercem função similar.
É possível afirmar que a maioria dos entrevistados asseguram que a empresa fornece
condições necessárias para a segurança e a saúde do trabalhador, onde 42,4% concordam com
a afirmativa. Para Chiavenato (2004) a Qualidade de Vida no Trabalho envolve todos os
aspectos físicos e ambientais, assim como os aspectos psicológicos presentes no local de
trabalho. É necessário manter um ambiente propício e agradável para uma boa rotina de
trabalho.
O terceiro fator de QVT proposto por Walton (1973) pode ser observado no gráfico 3:
Desenvolver as capacidades pode ser entendido como a liberdade e autonomia para que
os colaboradores forneçam novas ideias ou métodos de trabalho e a empresa adote uma política
46
O gráfico 5 destaca o quinto fator de qualidade de vida de Walton (1973), integração social na
organização:
Conforme exposto no gráfico 5, 38,3% dos entrevistados concordam que atuam em uma
equipe competente e comprometida e que há um bom relacionamento com seus chefes.
O sexto critério de QVT proposto pelo modelo de Walton (1973) refere-se ao
constitucionalismo, que de maneira resumida pode ser entendido como a satisfação do
colaborador com em relação ao respeito que a organização possui com seus direitos, a liberdade
de expressão, a satisfação quanto às normas e regras da organização e o respeito a
individualidade por parte dos gestores. Tal critério é exposto no gráfico 6:
Gráfico 06 – constitucionalismo
Nesse critério, o autor elenca que a qualidade de vida no trabalho só existe naqueles
ambientes que influenciam positivamente na sua rotina fora da empresa, como a relação com a
família, seu lazer e descanso. 36,8% dos entrevistados concordam que a empresa em análise
fornece tais condições. Para Chiavenato (2004) um bom lugar para se trabalhar possibilita, entre
outras coisas, que as pessoas tenham, além do trabalho, outros compromissos em suas vidas,
como a família, os amigos e os hobbies pessoais.
O último dos oito fatores propostos pelo modelo de Walton (1973) é a relevância social da vida
no trabalho, conforme gráfico 8:
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como objetivo principal avaliar a qualidade de vida no trabalho,
a partir do modelo proposto por Walton (1973), junto aos colaboradores de uma empresa de
telecomunicações situada no município de Mossoró-RN. Os resultados da pesquisa apontam
que a empresa estudada vem atingindo as expectativas dos colaboradores em relação a
Qualidade de Vida no Trabalho. As respostas obtidas demonstram que quase a totalidade dos
fatores propostos de Walton, atendem os anseios dos colaboradores, que concordam
parcialmente ou totalmente das afirmativas.
Apenas o aspecto remuneração justa e adequada obteve um maior índice de
discordância. Nesse sentido, é possível afirmar que existe um sentimento de insatisfação dos
funcionários em relação à remuneração ofertada para o desempenho das atividades. Tal
insatisfação pode ser solucionada com a aplicação de um plano de cargos e salários, condizente
com a realidade do mercado.
Dentre as lacunas da pesquisa está a não realização de perguntas abertas, de natureza
qualitativa, que possibilitaria um enriquecimento do trabalho, tendo em vista que entenderia,
para além do modelo proposto, como são as expectativas pessoais dos trabalhadores quanto a
qualidade de vida no trabalho. Tal lacuna pode ser solucionada em estudos futuros.
Dentre as principais contribuições está a visibilização da temática, tendo em vista que o
trabalhador é peça fundamental em qualquer empresa e deve ser valorizado.
REFERÊNCIAS
CHIAVENATO, I. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações.
Rio de Janeiro: CAMPUS, 1999.
CHIAVENATO, I. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações.
2ª Edição, Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
50
GIL, A.C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social.6ª ed. São Paulo: Atlas, 2008.
WALTON, R. E. Quality of Work Life: What is it? (1, 11-21) Sloan Management
Review,1973.
51
RESUMO
A cada dia as pessoas estão mais conectadas, interagindo numa troca constante de informações.
Em meio a este cenário de mudanças, visualiza-se um novo perfil de consumidor, orientado
para um maior grau de exigência, cujas decisões de compras são influenciadas pelas opiniões
expostas nas redes sociais, tais como o Instagram. Diante disso, esta pesquisa tem como
objetivo identificar os fatores influenciadores do comportamento de compra de usuários do
Instagram. Trata-se de uma pesquisa descritiva, quantitativa e de campo, realizada através de
aplicação de questionários com 190 usuários do Instagram de diferentes faixas etárias e renda.
A análise dos dados se deu através de técnicas da estatística descritiva. Os resultados permitiram
identificar que o Instagram como ferramenta do marketing digital exerce forte influência sobre
a decisão de compra dos usuários, que são estimulados a consumirem produtos divulgados nas
postagens das marcas e principalmente dos influenciadores digitais. Observou-se ainda que os
consumidores seguem esses perfis para se atualizarem sobre produtos e serviços e os resultados
reafirmam a importância da presença ativa das marcas nesse ambiente digital.
Palavras-chave: comportamento do consumidor, marketing digital, instagram, influenciadores
digitais.
ABSTRACT
Every day people are more connected, interacting in a constant exchange of information. In the
midst of this changing scenario, a new consumer profile is visualized, oriented towards a greater
degree of demand, whose purchase decisions are influenced by the opinions exposed on social
networks, such as Instagram. Therefore, this research aims to identify the factors influencing
the purchase behavior of Instagram users. This is a descriptive, quantitative and field research,
1
Graduada em Administração pela Faculdade Católica do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail:
aleilzagsantos@gmail.com.
2
Doutorando e Mestre em Administração e Controladoria pela Universidade Federal do Ceará. Docente da
Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail: italocarlos25@gmail.com.
3
Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Docente da Faculdade
Católica do Rio Grande do Norte. E-mail: wendy.bezerra@gmail.com.
4
Doutor em Ciência da Propriedade Intelectual pela Universidade Federal de Sergipe. Docente da Universidade
Federal Rural do Semi-Árido. E-mail: wsalesmkt@gmail.com.
52
carried out through the application of questionnaires with 190 Instagram users of different age
groups and income. Data analysis was carried out using descriptive statistics techniques. The
results allowed us to identify that Instagram as a digital marketing tool has a strong influence
on the purchase decision of users, who are encouraged to consume products advertised in the
posts of brands and especially of digital influencers. It was also observed that consumers follow
these profiles to update themselves on products and services and the results reaffirm the
importance of the active presence of brands in this digital environment.
Keywords: consumer behavior, digital marketing, instagram, digital Influencers.
1 INTRODUÇÃO
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Costa, De Oliveira e Lepre (2020), afirmam que as redes sociais exercem uma grande
influência no perfil do consumidor. A cada dia as pessoas estão mais conectadas, interagindo
numa troca constante de informações e experiências vividas, compartilhando essas
experiências, sobre determinados produtos ou serviços com outros consumidores que buscam
essas informações para decidirem sobre a tomada de decisão de compra (ARAGÃO et al.,
2016).
Devido a essas mudanças, as empresas estão buscando meios de se adaptar para atender
as necessidades desses novos consumidores (ARAGÃO et al., 2016). Conforme a visão de
Garcia (2007) as empresas vêm se reformulando para continuarem se mantendo competitivas,
diante do crescimento do consumo online. Como consequência direta, há a emergência de um
novo tipo de consumidor, o consumidor virtual, que é aquele que utiliza a internet para comprar
produtos e serviços.
Mediante essas circunstâncias, foi demandado que as empresas mudassem sua forma
como se relacionam com seu público principalmente no âmbito virtual. Buscando a
sobrevivência no mercado, foi percebido pelas organizações a importância de se criar
estratégias de marketing que não vissem apenas os seus interesses, mas também os dos seus
consumidores (PAIXÃO, 2020).
Na visão de Sampaio e Tavares (2017) o Marketing Digital foi criado com o intuito de
estreitar os laços entre as empresas e seus consumidores, e proporcionar às organizações um
grande diferencial competitivo, divulgando sua marca, captando novos clientes e aumentando
suas vendas, assim gerando novos negócios por meio da Internet.
Torres (2009) afirma que para as empresas se manterem competitivas no mercado digital
é de fundamental importância ouvir e manter um relacionamento mais próximo com cada um
de seus clientes, se fazendo presente no cotidiano dos consumidores, a fim de conhecer as suas
necessidades e buscar meios para atendê-las
O Marketing Digital se tornou um importante fator que possibilita compreender as
tomadas de decisões do consumidor. Através dele é possível mensurar as sensações, desejos e
também as motivações que influenciam o indivíduo no momento de realizar suas compras
(CASTRO et al., 2015).
As empresas precisam conhecer o seu público alvo, para poderem concentrar os seus
esforços nas estratégias de marketing corretas, com criação de conteúdos relevantes para atrair
seus clientes a visitarem sua página e manterem uma interação com a marca (SOARES;
OLIVEIRA, 2018). É importante a criação de propagandas que acompanhem as tendências do
momento, que sejam criativas, fazendo com que os usuários sintam interesse em procurar pela
marca, facilitando a compra e a divulgação de produtos (CINTRA, 2010).
As empresas ao adotar as estratégias de marketing, precisam colocar o consumidor como
o centro do círculo de influência, observar seu comportamento para poder alinhar suas
estratégias de Marketing Digital direcionado para a satisfação dos desejos do seu consumidor
(TORRES, 2009).
Através do Marketing Digital também é possível, mensurar os resultados dos
investimentos realizados pelas marcas, assim como, a imagem de como a marca é vista e a
opinião de como os consumidores avaliam os produtos e serviços oferecidos por ela, podendo
assim através dessas informações minimizar possíveis impactos que possam a vir ocorrer
devido a experiências negativas vividas por seus consumidores (TORRES, 2009).
Torres (2009, p. 113) define as mídias sociais como "sites na Internet que permitem a
criação e o compartilhamento de informações e conteúdo”, os próprios usuários criam e
compartilham essas e informações com os outros usuários se tornando, produtor e consumidor
dessas informações e conteúdo. Nelas as pessoas interagem, trocam informações e se segregam
em grupos por afinidades e interesses em comum.
As mídias sociais têm um grande poder de formação de opinião, por meio delas as
pessoas buscam informações e referências sobre produtos e serviços oferecidos pelas marcas,
por isso, é necessário que as empresas se façam presentes nesse meio garantindo um bom
relacionamento com seu público e criando uma imagem positiva da sua marca (PIZETA;
SEVERIANO; FAGUNDES, 2016).
Por ser um grande meio de formação de opinião, os conteúdos veiculados pelas mídias
sociais podem ajudar a construir ou destruir uma marca, um produto ou uma campanha
publicitária. Pois o consumidor não se deixa mais influenciar apenas pelas propagandas
divulgadas por elas, eles procuram informações com outros consumidores que compartilham
suas experiências por meio da Internet. Por isso, é importante que as empresas falem e criem
propagandas positivas sobre o seu negócio e se preocupem com o feedback dado pelos
consumidores antes que gerem opiniões negativas e sem controle (TORRES, 2009).
Dentro do âmbito das mídias sociais está inserido as redes sociais, que apesar de
comumente confundidas se diferem em relação ao conteúdo. Segundo Torres (2009) as mídias
sociais são tudo o que é publicado na internet, pelas pessoas de forma colaborativa, como por
exemplo, vídeos, fotos notícias entre outros. Já para o autor quando se fala em redes sociais, ele
define como plataformas onde existe interação e troca de informação entre as pessoas que fazem
parte de um grupo de relacionamento e compartilhamento de conteúdo.
Lopes (2019) complementa que as mídias sociais têm como objetivos facilitar a
divulgação de conteúdos por meio de pessoas ou instituições, enquanto as redes sociais, e o
meio pelo qual, as pessoas interagem entre si e trocam informações sobre determinados
assuntos.
As redes sociais passaram a exercer grande influência sobre as formas de consumo,
devido a infinidade de informações que está disponível para os usuários, modificando assim, o
mercado de consumo devido à facilidade e rapidez no momento da escolha da compra, fazendo
crescer o desejo de se consumir conforme o que e mostrado nas mídias sociais, as transformando
57
em uma das maiores ferramentas para divulgação de produtos e marcas (SOARES; LEAL,
2020).
O Instagram, ferramenta de estudo desse trabalho, foi criado em 2010 pelo norte-
americano Kevin Systrom e pelo brasileiro Mike Krieger, ambos engenheiros de Software. Em
sua primeira versão o aplicativo só era disponível para IOS, apenas em 2012 foi lançado o
aplicativo para versão Android, logo após foi vendido para o Facebook, por 1 bilhão de dólares
(ROCK CONTENT, 2019).
Segundo o site DataReportal (2019), no Brasil, o Instagram contava com 69 milhões de
usuários, e apresentava o maior índice de crescimento entre as redes sociais em número de
usuários, sendo a segunda rede social mais utilizada pelos brasileiros com um índice de 92,5%,
ficando atrás apenas do Facebook 97,5%.
Em pesquisa realizada pelo Social Media Trends (2019), foi avaliado o crescimento de
utilização dessa mídia social pelas empresas, no período de 2017 a 2019, onde também foi
comprovado que o Instagram foi a rede social que as empresas mais se fizeram presente nos
últimos anos, com um crescimento de 26,1% (Gráfico 1).
58
Ainda de acordo com os dados da pesquisa do Social Media Trends (2019), o Instagram
é a rede social que mais impacta as estratégias de marketing das empresas, o fato de oferecer
uma maior interação com o público, o engajamento com a marca, o alcance de novos públicos
e uma maior visibilidade para a marca, foram benefícios percebidos segundo as empresas, que
contribuíram para o aumento da presença delas nessa rede social.
Na medida que as marcas perceberam as possibilidades oferecidas pelo Instagram de se
comunicar com um público segmentado, que se relacionam conforme as suas preferências,
houve um crescente aumento em diversos perfis de negócios que começaram a divulgar seus
produtos e serviços nesta rede social para aumentar sua interação online com os seus
consumidores (SILVESTRE, 2017).
Segundo a revista Pequenas empresas e Grandes negócios (2016) a partir da criação do
recurso de contas comerciais, conhecidas como Instagram Business ou Instagram para
Empresas, foi possibilitado para as marcas criarem um perfil comercial auxiliando na
identificação de quais são os produtos que mais têm relevância para os seus seguidores, assim
como identificar quem são seus seguidores e suas preferências. O recurso também disponibiliza
dados importantes para as empresas, como a quantidade de visualizações que a postagem
recebeu, o alcance de contas que ela conseguiu atingir e a quantidade de visitas ao perfil da
marca.
Oliveira (2018) afirma que o crescente aumento das empresas no Instagram fez com que
essa rede social deixasse de ser apenas um aplicativo de compartilhamento de fotos e vídeos e
se tornasse uma importante ferramenta mercadológica, devido às novas formas como as
empresas passaram a utilizar essa rede social para atingir os seus públicos-alvo (OLIVEIRA,
2014).
Dentre os diversos investimentos em estratégias de marketing usadas pelas marcas para
alcançar e fidelizar o seu público-alvo, foi percebido que os influenciadores digitais
proporcionam um grande retorno para a marca, assim as empresas começaram a investir em
patrocínio e apoiar esses influenciadores para divulgar e vender seus produtos (FEITOZA;
FERREIRA, 2018).
Com o aumento de usuários nas redes sociais devido a facilidade moderna de acesso à
internet, principalmente por meio dos aparelhos de celulares, cada vez mais é visto pessoas
anônimas se destacando em seus nichos de preferência e se tornando web celebridades, ou pelo
termo como são mais conhecidos Influenciadores digitais (SILVA; TESSAROLO, 2016).
Antes conhecidos como blogueiros, devido a prática de divulgação e trabalhos de
parcerias com as marcas serem feitas por blogs pessoais, através de posts opinativos. Com a
asserção do Instagram esses indivíduos que já exerciam a influência sobre as pessoas que os
seguia e acompanhavam os posts que realizavam em seus blogs, migraram para essa rede social
ganhando um caráter mercadológico (TEIXEIRA; SILVA, 2017).
Silva e Tessarolo (2016, p.12) definem os influenciadores digitais como indivíduos
“capazes de influenciar, pautar opiniões e comportamentos, transmitir confiança e servem de
referência para os indivíduos que os acompanham". Teixeira e Silva (2017), complementa
falando que, os influenciadores digitais são pessoas que usam seu perfil nas redes sociais para
gerar conteúdos que atraiam pessoas com as mesmas opiniões que elas, assim, fazendo com que
essas pessoas a sigam e acompanhem seu dia a dia.
Nesse viés as marcas têm apostado cada vez mais no digital ao invés dos meios
tradicionais, os influenciadores têm si tornado um importante recurso para divulgação de
produtos e campanhas publicitárias, aproximando as marcas do seu público alvo lhe
proporcionando uma experiência mais personalizada (PERDIGÃO, 2019). Não atuando apenas
como “garotos propagandas”, mas como alguém capaz de despertar emoções, mexendo
diretamente com a imaginação de seus seguidores, despertando o interesse pelo consumo do
que está sendo apresentado ao público através de seus posts (SILVESTRE, 2017).
3 METODOLOGIA
através do google form, tomando-se como base o instrumento de pesquisa de Goulart et al.
(2019). O questionário aplicado foi disponibilizado entre os dias 28 de março de 2021 a 01 de
maio de 2021, e foi compartilhado por meio das redes sociais (Instagram e WhatsApp). Foram
obtidas 195 respostas, entretanto apenas 190 foram consideradas válidas, pois 5 respondentes
não são usuários do Instagram. Desta forma, a amostra final reúne 190 usuários do Instagram,
residentes em Mossoró-RN.
Quanto à análise, se deu por meio de técnicas da estatística descritiva, com indicações
de frequências. Utilizou-se a ferramenta do Google Docs, para auxílio na coleta dos dados, os
quais são apresentados por meio de tabelas dos programas Microsoft Word e Excel (Versão
Windows 2010), e foram analisados no programa Statistical Package for the Social Siences -
SPSS® - versão 22, permitindo assim realizar a tabulação e análise dos dados coletados através
do instrumento de pesquisa.
4 RESULTADOS
36 a 40 anos 30 15,8
Acima de 40 anos 15 7,9
Até R$ 600,00 R$ 10 5,3
601,00 a R$ 32 16,8
Renda 1.100,00
R$ 1.101,00 a R$ 89 46,8
2.200,00
R$ 2.201,00 a R$ 36 18,9
3.300,00 23 12,1
Acima de R$
3.300,00
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
A faixa etária ficou dividida em 6 grupos, representado por sua maioria o público de 31
a 35 anos com 51 respondentes, o que representa 26,8% da amostra e o menor número de
respondentes entre 18 e 21 anos, representando apenas 5,3%. No que diz respeito à renda,
verifica-se que a maioria dos respondentes da amostra possui renda entre R$ 1.101,00 e R$
2.200,00, representando 46,8%.
Esta subseção foi delineada a partir do objetivo geral do estudo – fatores influenciadores
do comportamento de compra de usuários do Instagram. Inicialmente, foi indagado se os
respondentes já realizaram alguma compra por meio do Instagram, conforme Tabela 2.
Quando questionados sobre já terem ou não realizado compras pelo Instagram, 56,8%
da amostra diz já ter realizado compras pelo menos uma vez pelo Instagram frente a 43,2% que
afirmaram nunca ter usado a plataforma para realizar compras. Em seguida, buscou-se perceber
quais são os assuntos que despertam maior interesse no Instagram, conforme Gráfico 2.
Como afirma Torres (2009) as redes sociais passaram a ser um meio onde as pessoas,
produzem e consomem conteúdo a todo momento. Nesse foco, a pesquisa mostra que o assunto
que desperta maior interesse para os pesquisados está nas informações e notícias com 77,4%,
bem como produtos e serviços que são visualizados por 51,8%, seguidos de assuntos
relacionados a cursos e estudos com 46,7%. Cabe ressaltar que a maior parte da amostra é do
gênero feminino e pode-se observar que moda e beleza também despertam interesse mesmo
que em menor intensidade (35,9%), enquanto assuntos relacionados a religião não despertam
interesse em cerca de 19,5% da amostra.
Logo em seguida, buscou-se identificar com que frequência os respondentes da pesquisa
realizam acesso ao Instagram. Para esta questão, foi proposta uma escala de 5 pontos, sendo 1
para pouca frequência e 5 para muita frequência. Os resultados estão expostos na Tabela 3.
Tabela 6 – Usa o Instagram para buscar informações sobre produtos/serviços com interesse de compra
Escala Frequência Absoluta %
1 45 23,7
2 12 6,3
3 27 14,2
4 41 21,6
5 65 34,2
Total 190 100
Nota: 1 - pouca frequência e 5 - muita frequência.
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
Esse resultado corrobora com a pesquisa também realizada por Oliveira (2018), onde
73,4% dos respondentes confirmaram a utilidade do Instagram para promover as empresas e
informar os clientes facilitando e agilizando os processos de compra.
Em contrapartida, quando relaciona-se o interesse citado acima com a efetividade de
compras, encontra-se um número baixo de respostas no maior grau de frequência, sendo que
somente 8,4% responderam realizar com muita frequência compras cujo o interesse se deu pela
divulgação no Instagram, enquanto 28,4% disseram realizar com pouca frequência, conforme
Tabela 7, em que buscou-se identificar com qual frequência é efetuada a compra de produtos e
serviços em que o interesse foi despertado pela divulgação deste no Instagram.
Tabela 7 – Frequência em que realiza compra cujo interesse se deu pela divulgação em redes sociais
Escala Frequência Absoluta %
1 54 28,4
2 35 18,4
3 51 26,8
65
4 34 17,9
5 16 8,4
Total 190 100
Nota: 1 - pouca frequência e 5 - muita frequência.
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
Ainda conforme Tabela 7, analisando por outro ponto de vista, é possível observar que
houve uma quantidade expressiva da resposta 3 localizada no centro da escala com 26,8%. Essa
resposta pode representar diversas perspectivas de pensamento do consumidor, podendo está
associada aos resultados dos estudos de Aragão et al. (2016), onde foi analisado que 34% dos
usuários, enquanto consumidor, efetiva sua compra indo até a empresa, em loja física, tendo a
mídia social Instagram servido de canal direto na intenção de compra, despertando no usuário
o desejo inicial de obter os produtos ou serviços da marca.
Logo após, os usuários respondentes foram questionados se consideram que o
Instagram influenciava o seu comportamento de compra, conforme Tabela 8. Os resultados
obtidos divergem das demais respostas analisadas neste referido trabalho, onde 30,0% dos
respondentes afirmam serem pouco influenciados pelo Instagram na tomada de decisão de
compra, e apenas 12,1% responderam que o Instagram exerce muita influência em suas decisões
de compras.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
com faixa de renda salarial de até dois salários mínimos (46,8%). Além disso, 45,8% acessam
o Instagram frequentemente, tendo informações e notícias (77,4%) como os assuntos que
despertam maior interesse; costumam seguir empresas de vestuário (36,88%), buscam acesso
por questões de relacionamento (67,38%), e 34,2% usam o Instagram com muita frequência
para buscar informações sobre produtos e serviços que têm interesse de compra.
Observou-se ainda que 57 dos respondentes o que representa 30,0% da amostra não
considera que o Instagram os influencie na tomada decisão de compra, mas 34,2% utilizam essa
rede social para buscar informações sobre produtos e serviços que tem interesse de comprar, os
quais admitem que influenciadores digitais influenciam o consumo por meio do Instagram
frente a esse processo de compra mais do que as próprias marcas. Esse é um ponto que deve ser
relevado no momento de criar campanhas publicitárias para engajar seus usuários.
Academicamente, o estudo contribui para a discussão da temática das redes sociais e
sua relação com a influência do consumo, nesta pesquisa caracterizada de forma específica na
análise do uso do Instagram, avançando assim sobre a discussão do tema, que ainda encontra-
se incipiente. Ademais, proporciona reflexões pertinentes ao mercado, permitindo que
estratégias de marketing sejam implementadas para o alcance dos objetivos organizacionais.
Entretanto, algumas limitações podem ser apontadas, uma das quais foi a
impossibilidade do alcance de um maior número de respondentes, em razão da pandemia
causada pela Covid-19. Sendo assim, recomenda-se a ampliação da amostra, como também
qual sugere-se para futuras pesquisas a aplicação de outras técnicas estatísticas, tais como a
análise de clusters e/ou ANOVA, permitindo-se a comparação do perfil dos respondentes com
as questões propostas no instrumento de pesquisa.
REFERÊNCIAS
ARAGÃO, Fernanda Bôto Paz et al. Curtiu, comentou, comprou. A mídia social digital
Instagram e o consumo. Revista Ciências Administrativas, v. 22, n. 1, p. 130-161, 2016.
CASTRO, Nalita Santos et al. A influência do marketing digital sobre a escolha dos
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Janeiro. Anais... SEGeT, 2015.
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TORRES, Cláudio. A bíblia do marketing digital: tudo o que você queria saber sobre
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70
RESUMO
A construção civil representa uma importante parcela da economia nacional que vem passando
a crescer mais moderadamente ao longo dos anos. Por essa razão, volta-se a atenção para os
canteiros de obras, a fim de aumentar a produtividade e a sustentabilidade da produção. Nesse
contexto, o principal objetivo desta pesquisa é entender como ocorre o planejamento e controle
de obras na construção de residências unifamiliares na cidade de Mossoró-RN e identificar
quais medidas podem ser sugeridas para adequação, a partir do estudo de caso de um conjunto
de cinco obras de uma pequena construtora. O trabalho foi realizado a partir de uma pesquisa
exploratória dividida em duas etapas: fundamentação teórica e análise prática, sendo essa última
composta de uma investigação através de observação direta e de entrevista semiestruturada
aplicada ao engenheiro e aos mestres das obras. Para a sugestão de melhorias, utilizou-se os
exemplos encontrados na literatura e a experiência empírica dos envolvidos. A pesquisa
evidenciou a importância de reunir esforços para melhor organizar a produção no canteiro de
obras, valorizando os processos de planejamento e controle, tornando-os indispensáveis em
qualquer obra, de modo a aumentar a qualidade, a rapidez e diminuir os custos das obras,
melhorando também o ambiente de trabalho, contando com a qualificação dos profissionais.
Palavras-chave: gestão, planejamento, controle, construção civil, construtora.
ABSTRACT
The civil construction represents an important part of the national Brazilian economy that has
been growing more moderately over the years. For this reason, attention is turned to building
sites in order to increase productivity and sustainability of production. In this context, the main
objective of this research is to understand how the planning and management of works in the
construction of single-family residences in the city of Mossoró- RN occurs and to identify
which measures can be suggested for adequacy, based on the case study of a set of five works
of a small construction company. The work was carried out from an exploratory research
divided into two stages: theoretical foundation and practical analysis, being the last one
composed of an investigation through direct observation and semi- structured interview applied
to the engineer and the masters of the works. To suggest improvements, we used the examples
found in the literature and the empirical experience of those involved. The research highlighted
the importance of joining efforts to better organize production on the building site, valuing the
planning and control processes, making them indispensable in any work, in order to increase
the quality, speed and decrease the costs of works, also improving the work environment,
1
Doutora em Engenharia Civil, professora da UFERSA. E-mail: aridenise@ufersa.edu.br
2
Graduada em Engenharia Civili pela UFERSA. E-mail: ericakarinef@gmail.com
71
1 INTRODUÇÃO
A construção civil representa uma importante parcela do Produto Interno Bruto (PIB)
brasileiro: 8,6% de todo o PIB nacional, em 2017, era ligado ao setor (ABRAMAT/FVG, 2018),
sendo a maior parte dos estabelecimentos integrantes deste composto por até 4 empregados
(PAIC/IBGE 2017)
Na cidade de Mossoró – RN, essa realidade se configura através do crescimento na
procura por residências em condomínios fechados e loteamentos, fomentando o surgimento de
micro e pequenas empresas que trabalham com esse tipo de construção.
Entretanto, seguindo a tendência nacional de queda na produtividade na construção civil
(PAIC/IBGE 2017), essas construtoras tendem a não apresentar, apesar do baixo grau de
complexidade das atividades desempenhadas e do quadro de funcionários reduzido, uma
produtividade satisfatória – o que é grosseiramente indicado pelo não cumprimento dos prazos
e não padronização da qualidade do produto.
De acordo com os autores do Estudo da Produtividade da Construção Civil Brasileira
de 2016, realizado pela parceria da Câmara Brasileira da Indústria da Construção com a
Fundação Getúlio Vargas (CBIC/FVG, 2016):
[…] uma vez que o mercado da construção passe a crescer de forma mais moderada,
a obtenção de ganhos de produtividade tende a ser, cada vez mais, um meio
sustentável de melhor remunerar trabalhadores e empresários. Enfim, na atual
conjuntura, a atenção se volta para o canteiro de obras, pois é lá que se concretizam
os avanços da produtividade […]. Por isso, é evidente a importância de estudos
continuados sobre o tema da produtividade na construção civil […].
produção e produto.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.2.1 Planejamento
Corrêa et. al. (2010) apresenta a seguinte definição para planejamento: “Planejar é
entender como a consideração conjunta da situação presente e da visão de futuro influencia as
decisões tomadas no presente para que se atinjam determinados objetivos no futuro.”
Informalmente, pode-se relacionar a definição de planejamento com a resposta para a pergunta:
o que preciso fazer para chegar ao meu objetivo, partindo de onde estou agora?
Na construção civil, Mattos (2010) aponta a ausência e a inadequação do planejamento
nas obras, principalmente em obras de pequeno e médio porte, que são efetuadas por pequenas
empresas, autônomos ou até pelos próprios proprietários.
Corroborando para esse cenário, Santana (2006) apresenta algumas carcaterísticas
dessas pequenas empresas que dificultam sua sobrevivência:
Nesse contexto, temos a atuação deficitária do engenheiro civil, que muitas vezes possui
uma rasa ou inexistente formação gerencial, no canteiro de obras. Mattos (2010) aborda essa
questão como o “mito do tocador de obras”. Segundo ele, há no cenário nacional a valorização
do profissional que não realiza o devido planejamento, que é considerado perda de tempo, e
assume uma postura de tomar decisões rapidamente, baseando-se na experiência e intuição. A
74
2.2.2 Controle
3 METODOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
terceirizados que prestam serviços específicos e que variam sua quantidade dependendo da fase
da obra. A estrutura organizacional geral da equipe é representada na figura 2.
Fonte: autoria própria a partir das informações colhidas nas entrevistas e da observação do cotidiano
da obra, 2019.
literatura e também nas observações feitas pelos entrevistados – como sugestões e ideias de
como poderiam ser melhorados os processos – elaborou-se o diagrama apresentado na figura 3,
organizado da seguinte forma:
Coluna 1: Problemas
Coluna 2: Objetivos
Na coluna dos objetivos colocou-se o que deveria ocorrer na administração das obras de
modo a solucionar os problemas. Todavia, podemos ver que alguns problemas são beneficiados
por mais de um objetivo, para essa representação foram utilizadas as setas. Por exemplo: tornar
alterações no projeto ou no procedimento de execução de uma determinada parte da obra claras
para todos os envolvidos na construção auxilia na resolução do desencontro de informações,
visto que todos possuem a mesma informação, mas também evita um tipo de retrabalho – caso
a adequação precisasse ser feita depois do serviço já executado.
Coluna 3: Ações
“À medida que você compartilha, você traz os outros para discussão e todos passam
a ter responsabilidade com a obra. […] E também, [o planejamento] é uma previsão
lógica, mas toda obra tem suas particularidades, então nós estamos abertos a opiniões
pra ajustar o pessoal e material – que inclusive devem ser revistos a cada mês, pra
verificar se está de acordo. ” (Mestre 01)
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
MATTOS, Aldo Dórea. Planejamento e controle de obras. São Paulo: Pini, 2010.
PAIC/IBGE. Estudos específicos da construção civil. 2017. Disponível em
<http://www.cbicdados.com.br/menu/estudos-especificos-da-construcao-civil/pesquisa-anual-
da-industria-da-construcao-paicibge> Acesso em 12 de maio de 2019.
SANTANA, Ava Brandão. Proposta de avaliação dos sistemas de gestão da qualidade em
empresas construtoras. (Mestrado) - Curso de Engenharia de Produção, Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2006.
81
YIN, Robert K.. Estudo de Caso: Métodos e Planejamentos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman,
2001. Tradução de: Daniel Grassi.
82
RESUMO
ABSTRACT
In a context of economic crisis, high unemployment rate and an increasingly demanding and
dynamic market, the professional insertion of newly graduated individuals in higher education
becomes a challenging activity. In this sense, the present research seeks to understand how the
Bachelor of Business Administration course at UERN contributes to the professional insertion
of its graduates. For this, a quantitative research was carried out with 64 students graduating
from the course in the semesters 2017.2 and 2018.2. Among the main results, it was found that
after graduation, the rate of graduates entered the job market increased, working in their area
and a growth in monthly income. Through the research, it was also possible to identify the
elements that influence the process of professional insertion of the graduating students, such as:
internships, extra curricular activities, the relationship network built throughout the course, the
status of the institution and that the course fulfills its role. by preparing its students effectively,
promoting a positive transformation in the financial, economic and social situation of
individuals.
Keywords: Labor market, Professional Insertion, Administration.
1 INTRODUÇÃO
1
Mestrando em Administração – PPGA/UFERSA. E-mail: acesso.lucas09@gmail.com
2
Pós-Graduanda em Gestão Pública – UFERSA. E-mail: sherlycalinhares@hotmail com
83
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Nos últimos anos o Brasil sofreu diversas mudanças nas esferas educacionais e no
mercado de trabalho, a expansão demasiada do ensino superior, causou um grande aumento de
jovens graduados em busca de um trabalho digno e compatível com o tempo dedicado à sua
educação.
São utilizados diferentes termos para designar o fenômeno social da passagem do
sistema educacional para o emprego: Inserção profissional, entrada na vida ativa, transição
profissional, transição da escola para o trabalho, entrada no trabalho ou entrada no emprego. A
sua utilização varia de acordo com o período e contexto social no qual está inserido
(ALVES,2007). Porém no decorrer do presente trabalho será utilizado o termo inserção
profissional, para discorrer sobre o assunto.
O tema inserção profissional é relativamente recente nos estudos e pesquisas, e parte do
pressuposto das múltiplas etapas que um indivíduo percorre desde a entrada na sua vida ativa,
da transição da escola para o trabalho, até a inserção profissional propriamente dita. A expressão
“inserção profissional” começou a ser utilizada na França em meados de 1970, que substituiu a
expressão “entrada na vida ativa” utilizada na década anterior. Essa expressão foi vista
primeiramente em textos legislativos e posteriormente em estudos relacionados à dificuldade
de jovens recém-formados que pretendiam ingressar no mercado de trabalho.
Tais acontecimentos contribuem para os conflitos encontrados nesse processo de
transição da universidade para o mundo corporativo, um processo que antes era considerado
praticamente instantâneo, passou a ser longo e complexo (ROCHA-DE-OLIVEIRA, 2012).
Já em 1980 a inserção profissional dos jovens se torna uma das principais preocupações
dos poderes públicos da França, visando inserir medidas políticas de emprego educação e
formação e nesse contexto o conceito inserção surge como demanda social visando melhorias
85
Sendo assim a inserção profissional é uma construção social, inscrita num contexto
sócio-histórico que engloba aspectos da conjuntura econômica, da estrutura demográfica e
ocupacional de cada região ou país, níveis de formação e desenvolvimentos tecnológico e
industrial são fatores que influenciam o ingresso do jovem no mercado de trabalho (ROCHA-
DE- OLIVEIRA,2012).
No que se refere a aspectos institucionais, dizem respeito às leis institucionais que
pautam como deve acontecer a entrada no mercado de trabalho e as políticas públicas como o
governo tem tratado a inserção em dado momento. Ainda no âmbito institucional, as políticas
de gestão de recursos humanos promovidas pelas empresas merecem destaque visto que podem
assumir formas distintas dependendo do tamanho da organização, setor de atuação ou mesmo
para grupos profissionais considerados diferenciais para o negócio (ROCHA-DE-
OLIVEIRA,2012).
Guimarães (2008), aponta em sua pesquisa como as oportunidades de trabalho chegam
para os indivíduos e como operam os mercados contemporâneos. Constatando que a grande
maioria dos indivíduos costumam procurar trabalho através das instituições e intermediações
do mercado (agências de emprego e empresas de trabalhos temporários), contudo acabam
obtendo através de suas redes de contatos como: amigos mais próximos, familiares, e
principalmente a rede de contatos que construíram no ensino superior.
Por fim, aspectos individuais como origem familiar do indivíduo, etnia, escolaridade,
88
profissão dos pais, valores sobre o trabalho considerados pela família, elementos que
contribuem para a construção de suas representações do trabalho e para o aprendizado das
estratégias de inserção; experiência profissional e expectativas profissionais interferem no
processo (ROCHA- DE-OLIVEIRA, 2012).
3 METODOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
a graduação e após sua conclusão: O gráfico 1 apresenta a situação profissional dos egressos
em administração dos semestres 2017.2 e 2018.2 antes e após a graduação:
O gráfico 6 mostra que 50% dos egressos participaram de estágios não obrigatórios
durante o período da graduação. Outro índice relevante é daqueles que não participaram de
nenhuma atividade durante o período da graduação (30,40%). A não participação de atividades
durante a graduação pode impactar negativamente na inserção profissional, tendo em vista que
com essas atividades os indivíduos adquirem experiência prática e conhecimento para além da
sala de aula.
Conforme o Projeto Pedagógico da UERN (2014), às atividades complementares fazem
parte da formação e possibilitam o reconhecimento, por avaliação, de habilidades e
competências do aluno, incluindo a prática dos estudos e atividades transversais de
interdisciplinaridade, especialmente nas relações com o mundo do trabalho e com as ações de
94
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALVES, Natália. Inserção profissional dos jovens: do problema social ao objeto
sociológico. 2007. Disponível em:
http://sga.sites.uff.br/wpcontent/uploads/sites/296/2017/12/insercao-profissional-jovens-
problema-social.pdf. Acesso em: 05 de outubro 2019.
https://www.publicacoeseventos.unijui.edu.br/index.php/salaoconhecimento/article/view/730
7 acesso em 20 de julho de 2022.
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RICHARDSON, R. Pesquisa social métodos e técnicas. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2012.
SOUZA, J. Uma nova classe trabalhadora brasileira? In: Os batalhadores brasileiros: nova
classe média ou nova classe trabalhadora? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
RESUMO
ABSTRACT
Corporate governance, understood as a set of internal and external mechanisms created and
maintained by organizations, with the objective of guaranteeing business continuity, has been
widely discussed in recent years, especially in the context of publicly traded companies.
However, research focused on the applicability of governance in family businesses is still
incipient.. Thus, the general objective of this research is to analyze the applicability of corporate
governance in small and medium-sized companies in Mossoró-RN. For that, a descriptive,
qualitative research was developed, through a case study, through semi-structured interviews
1
Especialista em Contabilidade e Planejamento Tributário pela UFERSA. E-mail: renatahlopes@hotmail.com
2
² Doutorando e Mestre em Administração e Controladoria pela UFC. E-mail: italocarlos25@gmail.com
3
² Doutorando e Mestre em Administração e Controladoria pela UFC. E-mail: geisoncalyo@hotmail.com
4
² Doutoranda em Ciências Contábeis pela UFPB. E-mail: caritsascarlaty@gmail.com
5
² Mestrando em Administração e Controladoria pela UFC. E-mail: jerfersonfreitas111@gmail.com
100
in two small and medium-sized companies in that municipality. With the results, it was found
that the two companies are taking small steps to achieve good management, through the
application of good corporate governance practices. It was found that company A, so called for
research purposes, is more advanced than company B, with regard to the implementation of
KM in its management model. However, it should be noted that both companies aim to maintain
and develop to compete with other companies in the market.
Keywords: Corporate Governance, Decision Making, Small and Medium Enterprises.
1 INTRODUÇÃO
2 REFERENCIAL TEÓRICO
cenário global é o primeiro passo para as empresas que desejam atrair investimentos a custos
menores, e inicia-se pela adequação as exigências deste mercado exigente e interligado
(RADAELLI, 2010).
Rodriguez e Brandão (2010) esclarecem que os micros e pequenos empresários
assimilam a preocupação com a governança, quando buscam a profissionalização da empresa,
retratando questões como definição de uma missão e visão de futuro, aproveitamento de
oportunidades, e permanência da organização, gerenciamento de riscos, aumento de lucros,
diminuição máxima dos custos e padrões éticos na condução administrativa e na abordagem de
problemas tanto com os clientes internos como os externos. A governança corporativa, nas
micro e pequenas empresas, existe a partir do momento em que o proprietário consegue
distinguir o governo da empresa da gestão da mesma.
Nas micro e pequenas empresas (MPEs) a governança corporativa pode ser estabelecida
como uma abordagem de gestão, uma maneira de administrar os recursos de modo que os lucros
dos acionistas ou cotistas sejam limitados (CHAGAS, 2003; DOMINGUES; MURITIBA;
MURITIBA, 2016). Estas empresas possuem características exclusivas de governança, como a
concentração das decisões na mão de poucos acionistas ou até mesmo do mesmo grupo familiar
(FELTHAM; FELTHAM; BARNETT,2005; DOMINGUES; MURITIBA; MURITIBA,2016).
No Brasil, boa tarde das empresas de menor porte é de propriedade familiar, nas
empresas familiares, pode haver à sobreposição entre a administração e a propriedade da
empresa o que torna o problema da agência inexistente. Entretanto, elas também podem ter a
administração e propriedade dissociada, em que os administradores são profissionais de fora do
grupo familiar. Diante disso, passa a existir o conflito de agência, pois, os donos do capital
passam a não serem os responsáveis diretos pela sua gestão (DOMINGUES; MURITIBA;
MURITIBA, 2016).
3 METODOLOGIA
em três etapas: (i) pré-análise; (ii) exploração do material; e (iii) tratamento dos resultados:
inferência e interpretação (BARDIN, 2011).
Assim, inicialmente, foi realizada a pré-análise, que consiste na organização do
material; posteriormente, os conteúdos das entrevistas foram transcritos, viabilizando a
exploração do material de forma mais aprofundada. Por fim, toda a leitura e análise realizadas
anteriormente foram organizadas sistematicamente, a fim de expor os resultados com o intuito
de alcançar os objetivos propostos no estudo.
“Basicamente fazemos o planejamento financeiro, ou seja, previsão de receitas e despesas para o para o ano
seguinte visando a manutenção da empresa dentro das expectativas do mercado local” (Entrevistado A).
“Sim, curto prazo. Atualmente faço somente serviços, mais breve quero colocar peças com valores acessíveis para
vender.” (Entrevistado B).
A primeira questão teve como objetivo identificar como as decisões são tomadas na empresa,
se existe uma participação dos funcionários e qual o papel de cada um. Os discursos dos
entrevistados foram os seguintes:
“Boa parte das mudanças na empresa são realizadas com o auxílio dos colaboradores, sempre é importante a
participação dos colaboradores nas tomadas de decisões, até porque a satisfação e engajamento dos funcionários
está diretamente ligado ao sucesso de uma empresa.” (Entrevistado A).
“Todos tem um papel fundamental na empresa, mas as decisões são tomadas por mim próprio... mas as vezes peço
opiniões dos funcionários mais experientes.” (Entrevistado B).
109
“Sim. Apesar de ser bem simples, nosso controle interno consiste basicamente na supervisão constante dos
processos e rotinas administrativas visando uma melhor qualidade no atendimento bem como a redução de
despesas.” (Entrevistado A).
“Existe sim. Na área financeira fazemos o controle das contas a pagar e das contas a receber, e todos os dias é
controlada as entradas do caixa do dia. Temos também um sistema que cadastrados todas as peças que chega para
fazemos serviço, nele colocados os serviços que foram feitos na peça, e quando o cliente vem pega a peça pronta
demos saída na peça no sistema.” (Entrevistado B).
“Sim. Apesar de não fazermos na nossa empresa, por se tratar de um serviço de custo um tanto quanto alto para
nossa empresa, que é uma microempresa, consideramos importante porque muitas vezes alguns problemas que
existem numa empresa não são facilmente identificados pelas pessoas que a compõe.” (Entrevistado A).
“É importante sim; porque com auditoria a empresa consegue perceber se os processos estão sendo cumpridos
como é para ser, e se não, corrigir para que eles sejam seguidos, com o controle dos auditores a empresa tem o
controle melhor do seu desenvolvimento.” (Entrevistado B).
Cabe ressaltar que por se tratarem de empresas familiares e de pequeno porte, estas não
são obrigadas a realizarem auditoria, pois a auditoria independente é obrigatória apenas para as
empresas de capital aberto. Mesmo assim, os entrevistados destacaram a importância, como
demonstrado nos discursos acima.
Considerando-se os princípios de governança corporativa, um deles, de acordo com o
IBGC (2015) é a transparência. Desta forma, foi indagado se as informações sobre o
desempenho da empresa são transparentes, se todos possuem acesso e como é feita a prestação
de contas da entidade. O discurso do Entrevistado A indica que de forma geral existe uma
transparência nas informações prestadas. Já o Entrevistado B relevou que não há transparência.
Para melhor visualização, os discursos são dispostos abaixo.
“As metas e resultados sempre são expostas no mural da empresa para que os colaboradores tenham ciência da
participação deles no crescimento da empresa.” (Entrevistado A).
“Sim. Temos a preocupação em mantermos a ordem com o meio ambiente, a nossa sucata é transportada para
pessoas que trabalham com reciclagem, e o que eles não reaproveitam eles enviam para o lugar correto de lixo.”
(Entrevistado B).
Como observado nos discursos, na Empresa A, ainda não existe essa cultura,
porém o gestor destaca que precisa trabalhar essa questão. Já na Empresa B, destaca-se quanto
ao uso de práticas sustentáveis, como a reciclagem. De acordo com o IBGC (2015) os agentes
de governança vem zelar pela viabilidade econômica – financeira das organizações, reduzir as
externalidades negativas e seus procedimentos e aumentar as positivas, levando em valorização,
no seu modelo de negócios, os diversos capitais (financeiro, manufaturado, intelectual, humano,
social, ambiental, reputacional, etc.) no curto, médio e longo prazo.
O penúltimo questionamento tratou de identificar quais são os princípios da empresa.
Na Empresa A, os princípios estão centrados no crescimento da empresa atrelado à satisfação
dos colaboradores e clientes; já na Empresa B, destacou-se o seguinte: um bom relacionamento
com os colaboradores, sempre manter uma fiel parceria com os fornecedores, e um ótimo
atendimento para com os clientes.
Por fim, o último questionamento buscou perceber qual a relação da empresa com os
seus clientes e fornecedores, tendo em vista a importância de se estabelecer uma boa relação
com todos os envolvidos na cadeia de valor da empresa, ou seja, todos os stakeholders. Os
discursos foram os seguintes:
“Nossa empresa estar a 7 anos no mercado local e todos os anos tem crescido de maneira satisfatória, acredito que
esse sucesso seja resultado do bom relacionamento com nossos clientes e fornecedores e da nossa equipe interna”
(Entrevistado A).
“Uma ótima relação tentando atender o cliente da melhor forma e prestando-lhe um serviço de boa qualidade, e
um bom atendimento. E o fornecedor sempre buscando ter bons laços de amizade e parceria.” (Entrevistado B).
A empresa precisa ter bons laços com o fornecedor, pois ele é responsável em entregar
a matéria-prima para a empresa desenvolver o produto ou serviço para o cliente, tendo em conta
se o fornecedor atrasa o envio da mercadoria, enviar avarias ou produtos de baixa qualidade as
atividades de produção serão impactadas, e o consumidor final, que é o cliente, sofrerá com o
112
resultado final. Assim como precisamos estabelecer uma boa relação com o fornecedor, também
é preciso manter uma relação saudável com o cliente, pois essa é a melhor maneira de garantir
que ele tenha um clico na empresa.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
113
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utilização de capital de terceiros. 2010. 47 f. Tese (Doutorado) - Curso de Administração,
Escola de Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Passo Fundo, 2010.
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NAS MAIORES EMPRESAS DE CAPITAL ABERTO DA BM&BOVESPA. Revista
Conhecimento Contábil, Mossoró, v. 05, n. 02, p.77-104, dez. 2017.
RESUMO
Para a sociedade, a contabilidade é de suma importância, pois fornece informações relevantes
para os usuários. Nesse contexto, os discentes do curso de Ciências Contábeis são apresentados
ao Código de Ética Profissional do Contador. Posto isso, observou-se nesta pesquisa a
percepção da importância e a contribuição da ética na formação dos alunos respondendo a fim
de compreender qual a importância da aprendizagem sobre ética contábil na graduação com
base na percepção dos alunos. A coleta das informações ocorreu por meio de um questionário
de perguntas fechadas feito a 31 estudantes numa instituição de ensino em Mossoró-RN. Após
a coleta foi feita a tabulação dos dados no Excel, onde se pode medir de forma gráfica os dados
colhidos bem como obter resultados percentuais, aplicando análise estatística descritiva. Os
resultados analisados mostraram que a maioria dos estudantes reconhecem a importância da
disciplina de ética para a formação da conduta ética, considerada indispensável no exercício da
profissão, sobretudo por valorizar a classe contábil, ainda que venha ser algo desafiador
atualmente. Os discentes analisados também consideram o conhecimento ético tão importante
quanto o conhecimento técnico. A presente pesquisa contribuiu para voltar a atenção dos
discentes sobre a valorização da ética na graduação.
Palavra-chave: ética; ética Contábil; graduação; código de ética.
ABSTRACT
1
Graduando em Ciências Contábeis da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte.
Abraao.duarte@aluno.catolicadorn.com.br
2
Graduando em Ciência Contábeis da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte.
Maria.rosado@aluno.catolicadorn.com.br
3
Graduando em Ciências Contábeis da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte.
Antonio.alisson@aluno.catolicadorn.com.br
4
Graduando em Ciências Contábeis da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte.
Guilherme.lima@aluno.catolicadorn.com.br
5
Docente da Faculdade Católica do RN e Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Doutora em
Administração pela PUCPR. E-mail: adriana.oliveira@professor.catolicadorn.com.br
116
Code of Professional Ethics. Having said that, this research observed the perception of the
importance and the contribution of ethics in the formation of students responding in order to
understand the importance of learning about accounting ethics in undergraduate studies based
on the students' perception. The information was collected through a closed questionnaire of
questions given to 31 students in an educational institution in Mossoró-RN. After data
collection, data were tabulated in Excel, where the collected data can be measured graphically,
as well as obtain percentage results, applying descriptive statistical analysis. The results
analyzed show that most students recognize the importance of the discipline of ethics for the
formation of ethical conduct, considered indispensable in the exercise of the profession,
especially valuing the accounting class, even though it will be something challenging today.
Students also consider ethical knowledge as important as technical knowledge. This research
contributed to return the students' attention to the valorization of ethics in undergraduate
studies.
Keywords: Ethics; Accounting ethics; Graduation; Code of ethics.
1 INTRODUÇÃO
ensino superior são apresentados desde o início da graduação às questões de ética profissional
da classe contábil, como mostra a pesquisa de Gilioli et al. (2020).
Ao estudarem disciplinas sobre ética, os discentes podem compreender como ela é
fundamental para a prática profissional num cenário mundial em que a contabilidade assume
cada vez mais o seu papel de controle de patrimônio, tendo como base, princípios para a tomada
de decisões éticas (BERTÉ, 2019).
Portanto, além do conhecimento técnico e habilidades profissionais, o exercício da
profissão contábil exige uma ampla formação didática e ética, pois a execução dos serviços
fixado em padrões éticos é essencial para obter confiança, credibilidade e reconhecimento
profissional Rosa e Feil (2017).
Posto isso, faz-se necessário observar como o estudo da ética é abordado durante a
graduação desse profissional, a contribuição para sua formação e a percepção dos alunos sobre
sua importância. Com isso o presente estudo buscou responder o seguinte questionamento: Qual
a importância do ensino e aprendizagem da ética contábil na graduação com base na percepção
dos alunos curso de Ciências Contábeis de uma instituição de ensino superior privada do
município de Mossoró? Dessa forma, o objetivo geral dessa pesquisa é verificar por meio de
um questionário aplicado a percepção dos estudantes de contabilidade de uma instituição de
ensino superior quanto a importância do estudo e aprendizagem da ética profissional contábil
no seu processo de formação.
Logo, o presente estudo justifica-se por buscar oferecer esclarecimento a respeito da
percepção dos discentes de contabilidade sobre a importância do estudo da ética profissional
contábil e o quanto isso pode contribuir para o bom desempenho no exercício da profissão. A
pesquisa possui contribuições teórica e prática uma vez que se fundamentou em estudos
anteriores e foi realizada com estudantes de contabilidade em que foi possível observar a visão
destes.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
(NALINI, 2020). Apesar de ser um antigo estudo filosófico, a ética é um termo recorrente no
mundo contemporâneo.
Para Aristóteles, o primeiro filósofo a escrever sobre ética sob uma visão científica, ela
é ainda mais antiga que a política, dada a sua abordagem reflexiva pessoal, dentro de um
contexto social. Ele considera a ética como a atuação humana em busca da felicidade e a busca
da realização do bem supremo de acordo com Gonçalves et al. (2016).
Etimologicamente a palavra ética que se origina do grego "ethos" significa
essencialmente o conjunto de condutas, costumes fundamentais e valores de uma determinada
sociedade. Hoje a ética e a moral são estudados em diversos contextos culturais e regionais.
Figueiredo (2008) define a ética como uma ciência que reflete sobre as bases de uma vida moral,
de forma a conduzir de forma reflexiva sobre as condutas e escolhas individuais dentro da
sociedade.
O filósofo e sociólogo Bauman (1995) explica que a ética prescreve universalmente o
comportamento correto a se observar, separando de vez o bem e o mal. Paviani (2014) define a
ética como a investigação de princípios e sentenças morais no agir humano, ou seja, busca o
sentido teórico, a essência para investigar as ações e o modo de agir baseado na racionalidade
humana. Por isso a ética e a moral, por vezes, são tratados como sinônimos.
Vázquez (2017) em sua obra intitulada “ética”, explica inicialmente que as questões
éticas são marcadas pela sua generalidade de forma a possibilitar que o indivíduo, independente
da situação ou contexto em que se encontra, faça a análise do que é o bom, geralmente pautado
por normas, dentro de preceitos teóricos que a ética possibilita. As consequências práticas da
análise são, portanto, morais. O autor explica o conceito de ética a diferenciando da moral,
afirmando que:
A moralidade não cria a moralidade. É verdade que toda moral pressupõe certos
princípios, normas ou regras de conduta, mas não é a moral que os estabelece em uma
determinada comunidade. A ética confronta a experiência histórico-social do campo
moral, ou seja, uma série de práticas morais ocorridas e, desse ponto de vista, tenta
determinar a natureza, a origem, as condições objetivas e subjetivas da moralidade.
Comportamento moral, fontes de avaliação moral, a natureza e a função dos
julgamentos morais, os critérios pelos quais esses julgamentos são justificados e os
princípios que governam a mudança e a herança de diferentes sistemas morais
(VÁZQUEZ, 2017, p. 22).
Nesse sentido, entende-se que a teoria reflexiva (ética propriamente dita) pode e deve
interferir no comportamento concreto de forma prática (moral) do indivíduo possibilitando uma
119
boa conduta. São termos diferentes, mas vale destacar que são complementares e indissociáveis,
pois possibilitam um comportamento efetivo e essa é a importância de conhecer a teoria.
A ética é uma ciência e possui características de teoria enquanto a moral está dentro do
estudo filosófico da ética, voltada a condutas resultantes de diversos fatores sociais.
A ética é, portanto, um campo científico vista que possui um objeto de estudo próprio,
que é a vida relacional de cada ser humano nos âmbitos do consigo, do com o outro,
do com os espaços, do com projeto de vidas, do com a humanidade. Entendemo-la
ainda como ciência porque é suscetível de ser observada, estudada, sondada, indagada,
inquirida, averiguada, perscrutada.” (MACEDO; CAETANO, 2020, p.6)
Na mesma linha de pensamento, Basto et al. (2019). A firmam que o profissional que
almeja ser reconhecido no exercício da profissão precisa ter dedicação, conhecimento e
competência profissional, sobretudo deve considerar a conduta ética como indispensável, o que
vem a ser um diferencial no sucesso ou fracasso desse profissional.
Para os profissionais que atuam diretamente com gestão de empresas e pessoas, por
exemplo, a questão da ética profissional precisa de ainda mais atenção pois toma proporções
ainda mais significativas, uma vez que estão presentes em instituições públicas e privadas que
podem estar diretamente ligadas ao desenvolvimento econômico, social e ambiental de onde
estão inseridas.
Marques (2018) diz que uma empresa demonstra sua ética por meio dos valores que
cultiva e da cultura organizacional que dissemina. Tais valores são vivenciados de forma a
encorajar e dar segurança aos seus colaboradores ao tomar decisões e dar mais confiança à
liderança que entende a importância da boa conduta e atesta consequências positivas.
Bermeo-Giraldo et al. (2021) explicam que os profissionais de administração e
contabilidade devem ter uma atuação segura e transparente para evitar fraudes em empresas.
Os autores afirmam ainda que no ambiente de negócios as questões éticas são afetadas por
fatores internos e externos, sendo esse último relacionado com posição de mercado e trazem
exemplos de pesquisas científicas sobre o assunto.
bacharelado em Ciências Contábeis deve atentar cada vez mais à perspectiva de sólida formação
técnico-científica e colaborativa no desenvolvimento social de forma que contribua para o
desenvolvimento sustentável global.
Desde a graduação os estudantes necessitam dessa sensibilização, assim como o corpo
docente, pois estarão envolvidos em controle de informações importantes a toda a sociedade e
na gestão de entidades públicas e privadas.
O ensino sobre ética profissional é uma parte importante dessa formação dentro da
perspectiva das novas necessidades globais. O processo de ensino-aprendizagem envolvendo a
ética profissional é uma urgência. Silva Júnior et al. (2017) constataram em pesquisa que existia
até então um abismo de diferença entre a concepção por discentes da dimensão pública e a
privada de integridade e honestidade e essa ambiguidade ética pode interferir em como as
informações contábeis serão fornecidas aos seus usuários.
Confirmando a urgência da temática, tendo em vista o grande número de escândalos
envolvendo informações contábeis, Gilioli et al. (2020) questionaram os estudantes do curso de
Ciências Contábeis sobre a ética e moral no processo de tomada de decisão em diversas
situações e os resultados foram mais positivos em relação à conduta ética. Os autores destacam
que os futuros contabilistas devem ser reflexo dos resultados da pesquisa para que atuar de
forma ética e ter princípios morais em todas as decisões que toma, contribuindo para o
crescimento e reconhecimento desta nobre profissão (GILIOLI et al., 2020).
A profissão contábil está sempre em modificação e atualização contínua, tendo em vista
os desenvolvimentos tecnológicos, a partir dessa ótica, surge a necessidade para que o
profissional contábil se qualifique cada vez mais, buscando habilidades para melhor atender as
exigências do mercado. O papel das Instituições Ensino Superior é de total importância, pois, é
quem vai formar profissionais capazes para os mais variados campos dentro da contabilidade.
(SILVA, 2017 apud CONSTANCIO et al., 2021).
Com o passar do tempo, o mercado de trabalho tem se tornado cada vez mais
competitivo ao longo dos anos. Nesse contexto, com o aumento do número de IES e o aumento
dos cursos de Ciências Contábeis, o mercado de trabalho começa a exigir mais profissionais
habilitados para a prática contábil. Portanto, além de conhecimentos teóricos e práticos, eles
são os responsáveis para uma boa tomada de decisão (BIANCHI, 2019 apud CONSTANCIO
et al., 2021).
124
3 METODO DE PESQUISA
As formas de coleta foram presenciais na IES citada por meio de formulário impresso,
onde os autores estiveram presencialmente nas salas de ambas as turmas aplicando o
questionário com cada estudante presente. Na turma do quinto período foram coletados dados
dos 15 alunos presentes e no sétimo período foi colhido os dados de 16 alunos que estavam
presentes no momento da coleta, totalizando assim 31 estudantes respondendo ao questionário.
Para essa quantidade de alunos foram necessários 10 minutos para aplicação e recolhimento do
questionário.
Após a coleta dos dados foi feita a tabulação dos dados no Excel, onde pode-se medir
de forma gráfica os dados colhidos bem como obter resultados percentuais, aplicando a
estatística descritiva, para entendimento dos resultados da pesquisa.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A primeira parte do questionário foi aplicado 3 questões que visa identificar gênero,
idade e se o estudante atua ou não na área contábil; para que assim seja viável uma comprovação
entre os alunos, partindo destes dados, o aluno teve que optar por responder a segunda parte do
questionário com as seguintes opções: 1 concordo totalmente, 2 concordo parcialmente, 3
discordo parcialmente, 4 discordo totalmente ou 5 não sei responder.
As respostas dos alunos serão representadas nas tabelas a seguir, a começar pelo gênero
dos respondentes conforme mostra na (Tabela 1).
Tabela 1 – Gênero
Grupo Contagem Percentual
Masculino 13 42%
Feminino 18 58%
Fonte: Dados da pesquisa (2022)
Na parte inicial do questionário visa identificar o gênero dos alunos onde constatou-se
que a maioria dos estudantes do curso de ciências contábeis são do sexo feminino, como mostra
a Tabela 1. O estudo de Rosa e Feil (2017) também mostra resultado semelhante onde os autores
defendem que isso pode ser explicado pela busca das mulheres em adquirir um lugar do
mercado de trabalho. Do ponto de vista de Ristoff (2006) isso ocorre em função da
democratização da educação universitária em termos de igualdade de oportunidades.
126
Tabela 2 – Idade
Grupo Contagem Percentual
18 a 20 2 7%
21 a 24 11 35,6%
25 a 20 8 25%
30 a 34 4 13%
35 ou mais 6 19,4%
Fonte: Dados da pesquisa (2022)
Em relação a idade dos alunos a Tabela 2 mostra que 11 dos 31 respondentes estão na
faixa etária dos 21 a 24 anos outros 8 tem idade entre 25 a 29 somados esses números equivale
a 61% do total dos participantes. Observa-se a predominância destas duas faixas etárias. Já o
estudo de Koch et al. (2022) mostra números divergente segundo os pesquisadores 86,67% dos
estudantes tem idade igual ou inferior a 25 anos.
Tabela 4 - A ética profissional deve ser estudada no curso de graduação em ciências contábeis não só
pela obrigatoriedade.
Grupo Soma Porcentagem
Concordo totalmente 26 95%
Discordo parcialmente 3 9%
Discordo parcialmente 2 7%
Fonte: Dados da pesquisa (2022)
127
Tabela 5 - O estudo sobre ética é fundamental na formação de contadores, sendo indispensável para
atuação do bom profissional.
Grupo Soma Porcentagem
Concordo totalmente 28 91%
Concordo parcialmente 3 9%
Fonte: Dados da pesquisa (2022)
Tabela 6 - O código de ética do profissional contábil tem linguagem clara e é de fácil entendimento
para o estudante.
Grupo Soma Porcentagem
Concordo totalmente 10 32,3%
128
De acordo com os dados colhidos na tabela pode-se perceber que há dúvidas com relação
a linguagem usada no código, em sua maioria as respostas foram de concordar parcialmente o
que mostra que os estudantes ainda tem dificuldades de compreender a linguagem do código,
visto que aproximadamente 68% dos pesquisados encontram-se na faixa de entender
parcialmente, discordar parcialmente e discordar totalmente.
Berté (2019) constatou em sua pesquisa que apenas 34,02% concordam plenamente que
o código tem uma linguagem de fácil entendimento, enquanto que 65,98% dos que participaram
da pesquisa encontram-se distribuídos em concordo parcialmente, discordo parcialmente e
discordo plenamente.
Ao considerar a hipótese de parte dos discentes já atuarem na área contábil ou
considerando a percepção sobre a atuação de profissionais foi questionado sobre a valorização
da classe diante da postura ética dos contadores (Tabela 7) como mostra a seguir:
Assim como a ética, o estudo dos valores se relaciona com a filosofia. A conduta ética
do profissional está totalmente relacionada com princípios e valores e para Barros (2010) essa
reflexão ética mantém uma reputação positiva no ambiente de trabalho, ou seja, relaciona com
estima.
20 alunos entrevistados, cerca 65%, concordaram totalmente que a conduta ética
valoriza, de fato, a classe profissional. 8 alunos, 25% dos entrevistados responderam que
concordam parcialmente com a afirmação. 7% dos entrevistados discordaram parcialmente e
apenas 1 entrevistado o que corresponde a 3% discorda totalmente, o que está em total
desacordo com o próprio código de ética sobre a importância do instrumento para a classe
contábil.
129
Tabela 10 - O código de ética define as boas condutas e aplica penalidades justas para o profissional
que não age de forma ética.
Grupo Soma Porcentagem
Concordo totalmente 15 48,5%
Concordo parcialmente 15 48,5%
Discordo parcialmente 1 3%
Fonte: Dados da pesquisa (2022)
O questionamento abordado na Tabela 10, teve um resultado bastante importante, onde
48,4% dos discentes concordaram totalmente e 48,4% discentes concordaram parcialmente e
3,2% discordou parcialmente, pode-se perceber que houve uma igualdade nos resultados
131
obtidos. Para Campos et al. (2020) o código de ética do profissional ser relevante na conduta
ética profissional, onde 79% dos discentes abordados relataram que concordam totalmente com
a conduta ética, em consequência da conduta ética, 80% dos pesquisados concordam totalmente
que os conselhos de contabilidade devem punir os infratores.
Portanto, ao analisar as duas percepções das propostas, foi possível identificar o
contraste existente na pergunta, onde na pesquisa feita nas IES teve uma igualdade, já para
Campo et al. (2020) não teve essa mesma igualdade nos resultados obtidos.
A Tabela 11 traz os resultados da percepção dos estudantes sobre ser ético nos dias
atuais.
Tabela 11 - Ser ético é algo muito desafiador atualmente.
Grupo Soma Porcentagem
Concordo totalmente 11 35,5%
Concordo parcialmente 15 48,5%
Discordo parcialmente 4 13%
Discordo totalmente 2 7%
Fonte: Dados da pesquisa (2022)
Para o argumento “o profissional contábil deve se preocupar mais com sua qualificação
técnica do que com a sua postura ética, percebe-se que de um total de 100% dos alunos que foi
questionado sobre esse tema, constatou que 17% dos alunos discordaram totalmente, 5%
discorda parcialmente, 6% concorda parcialmente e 3% concorda parcialmente, como pode-se
perceber na tabela 12 que os profissionais contábeis se preocupam mais com a qualificação
técnica do que com sua postura ética. Berté (2019) destaca em sua pesquisa que 62,24%
discordaram totalmente. Pode-se constatar que os profissionais contábeis estão mais
preocupados em sua qualificação ética.
A Tabela 12 traz os resultados sobre qual qualificação os profissionais devem se
preocupar.
Tabela 12 - O profissional contábil deve se preocupar mais com sua qualificação técnica do que com a
sua postura ética.
Grupo Soma Porcentagem
Concordo totalmente 3 9,7%
Concordo parcialmente 6 19,4%
Discordo parcialmente 5 16,1%
Discordo totalmente 17 54,8%
Fonte: Dados da pesquisa (2022)
132
É condizente afirmar que ambos os argumentos são essenciais para o bom desempenho
da qualificação dos Contadores profissionais, que devem andar de mãos dadas e se
complementar todos os dias.
Por fim, ao observar os resultados obtidas percebe-se que foi um resultado insatisfatório
sobre a percepção dos discentes referente aos dilemas éticos. Entende-se que a postura ética
para os discentes não é relevante para os profissionais, onde os profissionais estão se
preocupando mais com a qualificação ética e não com a postura ética.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BITTAR, E. C. B. Curso de ética jurídica: Ética geral e profissional. 13 ed. São Paulo:
Saraiva, 2016.
CAMPOS, A. F. R., et al. Dilemas éticos e a importância da disciplina de ética: percepção dos
discentes do curso de ciências contábeis de instituição de ensino superior. Refas-Revista
Fatec Zona Sul, v. 7, n. 2, p. 1-16, 2020.
CLEMENTE, A., et al. Ética nos periódicos de contabilidade: a percepção dos professores de
mestrado e doutorado do brasil. Estudios Gerenciales, [S.L.], p. 279-291, 19 jul. 2018.
Universidad Icesi.
KOCH, A. M.; MATTOS, L. K.; FLACH, L. Ética profissional dos estudantes de Ciências
Contábeis: análise dos fatores ligados aos valores individuais, In. REAVI-Revista Eletrônica
do Alto Vale do Itajaí, v. 8, n. 13, p. 013-029, 2019. Disponível em:
https://tinyurl.com/y3xgvrbg. Acesso em: 17 abr. 2022.
MACEDO, Sheyla Maria Fontenele; CAETANO, Ana Paula Viana. A formação ética
profissional docente: significados, trajetórias e modelos. Exitus, Santarém, v. 10, p. 1-30,
2020.
NALINI, José Renato. Ética Geral e Profissional. 14. ed. São Paulo: Thomson Reuters
Brasil, 2020.
PAULO, Washington Luiz de. Ética contábil e ética cristã no mundo do trabalho. 2019.
116 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciências da Religião, Mestrado Interinstitucional em
Ciências da Religião, Puc Goiás, Goiânia, 2019.
VÁZQUEZ, A.S. Ética. 37. ed. Tradução Dell’Anna, J. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2017.
136
RESUMO
As Demonstrações contábeis são essenciais para obtenção de resultados para análise de seus
usuários. Com isso o presente trabalho tem por objetivo analisar através da Demonstração do
Valor Adicionado a mensuração da carga tributária em empresas de sete setores diversos. A
metodologia do estudo foi classificada como descritiva quanto aos objetivos, documental nos
procedimentos de análise, e de natureza quantitativa. A amostra foi constituída com empresas
de sete setores diferentes, totalizando 28 instituições que foram alcançaram o ranking das
melhores do país segundo a revista Exame – Maiores e Melhores 2021, com base nas
evidenciações de 2018 a 2020. Os dados foram coletados do site B3: A Bolsa do Brasil, onde
foram extraídas dos relatórios as informações contidas na Demonstração do Valor
Adicionado. Os estudos apontaram que existe uma variação significante de carga tributária
entre os setores e empresas quando estudadas individualmente e na maioria das médias por
setor, a parcela tributária atingiu um percentual maior que a média nacional, como também
se percebeu uma relação inversamente proporcional entre o Valor Adicionado e carga
tributária. Por fim, a pesquisa contribuiu para compreender a relevância da demonstração no
processo de evidenciação, além de proporcionar informações das empresas definidas no
período analisado e favorecendo o complemento de leitura de outros estudos.
Palavras-chave: Carga tributária, DVA, Valor Adicionado.
ABSTRACT
The financial statements are essential to obtain results for analysis by its users. The present
work aims to analyze, through the Value Added Statement, the measurement of the tax burden
in companies from seven different sectors. The study methodology was classified as
descriptive in terms of objectives, documental in the analysis procedure, and of a quantitative
nature. The sample consisted of companies from seven different sectors, in a total of 28
1
Graduada em Ciências Contábeis – UERN. E-mail: flavia_neidja@hotmail.com.
2
Mestranda em Ciências Contábeis -UFRN. Docente - E-mail: keliane.melo.14@gmail.com.
3
Mestranda em Ciências Contábeis - UFRN. Docente - E-mail: sabrinauern@gmail.com.
4
Doutora em Administração – PUC. Docente - E-mail: adrianamartins@uern.br.
5
Mestre em Administração - UFERSA. Docente - E-mail: cassiorodrigocontabilidade@hotmail.com.
137
institutions that were defined as the best in the country according to Exame magazine –
Maiores e Melhores 2021, with samples of disclosures from 2018 to 2020. Data were
collected from the website B3: The Brazilian Stock Exchange, where the information
contained in the Value Added Statement was extracted from the reports. The studies showed
that there is a large variation in the tax burden between sectors and companies when studied
individually, and in the vast majority of averages by sector, the tax share reached a percentage
higher than the national average, as well as an inversely proportional relationship. between
Value Added and tax burden. Finally, the research contributed to understanding the relevance
of the demonstration in the disclosure process, in addition to providing information on the
companies defined in the analyzed period and favoring the reading complement of other
studies.
Keywords: Tax Burden, DVA, Added value.
1 INTRODUÇÃO
Michels (2018) em seu estudo verificaram as informações através desta ferramenta. Assim
como complementação de leitura para os demais artigos feitos.
Portanto, este trabalho está organizado em cinco tópicos, onde a primeira discorre a
introdução; a segunda, o referencial teórico da temática; a terceira retrata a metodologia
utilizada; a quarta os resultados obtidos na pesquisa e análise de dados, e por último as
considerações finais do estudo.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
de capital aberto conforme a Lei 11.638/07 (BRASIL, 2007). Sua estrutura é formada com
informações derivadas das demonstrações de resultados e patrimoniais.
Ao definir os critérios da DVA, no CPC 09 (2008, p.3), onde ele diz que “representa
um dos elementos componentes do Balanço Social e tem por finalidade evidenciar a riqueza
criada pela entidade e sua distribuição, durante determinado período”. O Balanço Social
realiza uma relação entre entidades e a sociedade, essa ferramenta de evidenciação muda o
foco das demais demonstrações que são apenas de caráter econômico e mostra um olhar para
o envolvimento com a sociedade (CUNHA; RIBEIRO; SANTOS, 2005).
A Demonstração do Valor Adicionado também é uma ferramenta que possibilita
análise macroeconômica, o CPC 09 (2008, p.3) afirma que “A DVA está fundamentada em
conceitos macroeconômicos, buscando apresentar, eliminados os valores que representam
duplacontagem”. Nesse aspecto, a DVA relaciona sua forma de apresentação na composição
do Produto Interno Bruto (PIB).
Na análise da Demonstração do Valor Adicionado, é identificado a contribuição
econômica e a parte da sociedade inserida na geração de riqueza da empresa.
Alguns estudos semelhantes a esse foram desenvolvidos e esta seção trará a exibição
de alguns. Foram buscados pesquisas referente a relação entre carga tributária e a Demonstração
do Valor Adicionado.
Brasil (2017) realizou um estudo de caso utilizando a Demonstração do Valor
Adicionado como forma de mensuração para avaliar a carga tributária em dez setores de
empresas listadas na BM&FBovespa, desta forma, constatou-se que a variação tributária é
modificada conforme o segmento de atuação.
Gassen, Ludwig e Michels (2018) relacionaram a carga tributária e a DVA, avaliando
empresas do setor cíclico e não cíclico, onde o setor cíclico corresponde ao ramo de instituições
mais essencial e o não cíclico são designados as com menos essencialidade, e necessita de um
ciclo econômico para sua ascensão de receitas. A mostra de dados ocorreu com demonstrações
entre os anos de 2014 a 2016, de empresas listadas na BM&F Bovespa. Os resultados apontaram
que o setor cíclico corresponde a uma parcela maior de tributos em comparação ao setor não
cíclico, visto que, no setor não cíclico são produtos mais essenciais e têm menor custo. Ainda
foi observado que os incentivos fiscais têm uma influência significativa nos impostos a serem
pagos.
Lima e Machado (2018) verificaram a influência dos incentivos fiscais na carga
tributária, utilizando como ferramenta de mensuração a Demonstração do Valor Adicionado,
com empresas listadas na Bolsa, Balcão, Brasil (B3), entre os anos de 2010 a 2016. Foi
observado que os incentivos fiscais exercem influência negativa na geração de riqueza da
entidade, obtendo resultado adverso à sua proposta, que seria gerar desenvolvimento
econômico.
Piccoli, Rigo e Almeida (2019) buscaram analisar a distribuição da riqueza nas
Demonstrações do Valor Adicionado de empresas da região Sul listadas da B3, assim,
constatou-se que a maior parte da tributação não é destinada ao município, apesar de sua
localização ser nesta região, o que pode ser justificado pelo motivo que a maioria das empresas
atuam no ramo de produção e/ou comércio.
Santos e Hashimoto (2003) identificaram os aspectos relacionados a DVA em um
estudo com empresas de 1996 a 2001, assim constataram que a carga tributária divulgada pelas
143
empresas são distintas das divulgações governamentais. Ainda foi identificado que o setor de
produção tem uma contribuição tributária maior que o setor bancário.
Schafer, Konraht e Ferreira (2016) perceberam que através da DVA, o valor agregado
aos tributos com empresas do ramo de energia elétrica atuantes da BM&FBovespa, obtiveram
resultados os quais indicaram que as empresas que geraram mais riqueza foram menos
tributadas das que menos geram, considerando assim, a relação adversa entre carga tributária e
valor adicionado.
Tinoco et al. (2011) assim como este estudo, desenvolveram em sua pesquisa diferentes
setores, seguindo a classificação da Revista Exame – Melhores e Maiores, nos anos de 2005 a
2007. Foi identificado que em média a carta tributária variou entre 37,77% a 39,67% neste
período, ainda afirmaram que o governo deteve a maior parcela referente ao valor adicionado.
Os estudos relatados revelaram que através da ferramenta da Demonstração do Valor
Adicionado foi identificado a proporção da carga tributária, e em alguns estudos os autores
observaram uma influência quando a empresa adere programas de incentivos fiscais. Outrora,
descobriram uma relação adversa entre a carga tributária e o valor da riqueza. Por fim,
observaram que a maior parte da riqueza gerada é detida pelo governo.
3 METODOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
70.00 61.74
54.97 57.84
60.00 53.73 52.13 53.44
46.76
50.00 42.33
39.42
40.00 30.48 32.39
30.00 28.04
20.00
10.00
0.00
PETROBRAS RAÍZEN BRASKEM S.A. COMGAS
Conforme dados obtidos, o ano de 2019 obteve o menor percentual na parcela tributária,
exceto a empresa Comgas, que teve sua parcela de forma crescente entre os três anos. A
Petrobrás e Raízen, que são companhias voltadas para setor petrolífero acompanham o mesmo
nível tributário, variando de 46,76% em 2019 a 61,74% em 2020, diferente da Braskem que
maneja no ramo químico, que teve sua variação de 28,04% em 2019 para 32,39% em 2020. Já
a Cia do Gás de São Paulo, que atua em manuseio de gás, variou entre 39,43% em 2018 e
53,44% em 2020, ainda foi perceptível que o aumento na parcela tributária da Comgas ocorreu
pelo aumento dos tributos estaduais no ano de 2019 e nos federais no ano de 2020.
No Gráfico 2 é formado pelas empresas de Siderurgia e Metalurgia, integradas pela
Gerdau, Cia Siderúrgica, Paranapanema e Usiminas.
Verificou-se que cada uma das empresas seguiu um padrão diferente durante os anos,
a Neoenergia teve um índice que variou de 52,10% em 2018 a 49,36% em 2020. Em 2019,
chegou a sua maior marca em 2019, com 57,10%. Já a CPFL Energia teve o maior índice entre
as empresas de energia no ano de 2020, alcançando o 70,95% de parcela destinada ao governo,
e o seu ponto mais baixo atingiu 66,69% em 2019, ressaltando que essas duas são empresas
direcionadas a o ramo de energia elétrica.
147
140.00
114.01
120.00
100.00
80.00 55.84
60.00 48.87 54.61 50.91 53.19 41.39 46.49
39.31
40.00
15.63
20.00 8.64
0.00
-20.00 TELEFÔNICA BRASIL S.A TIM S.A. OI S.A ALGAR TELECOM S/A
-8.35
2018 2019 2o2o
Pode-se observar que a empresa Telefônica Brasil obteve uma estabilidade em seus
índices de parcela tributária, alterando-se entre 48,87% em 2018 a 54,61% em 2020. A TIM
teve um pequeno índice no ano de 2018, chegou a marcar 15,63% em 2018, verifica-se também
que neste ano alcançou a menor receita entre os períodos, e ainda com uma baixa nos tributos,
principalmente nos federais.
A empresa Oi encontra-se em recuperação judicial, obteve oscilação significativa
durante os anos, no ano de 2018, devido ao saldo negativo nos tributos federais, destinando
apenas 8,64% para o governo. Já no ano de 2019, destinou 114,01% da parcela a ser distribuída
para os tributos, justificável que o Valor Adicionado foi pouco para muitos tributos, e em 2020
a parcela voltou a cair, chegando a decrescer para um saldo negativo de -8,35%. A empresa
Algar, assim como a Telefônica Brasil manteve seus índices com poucas movimentações
148
obtendo o maior nível no ano de 2020, que chegou a marcar 46,49% de parcela destinada ao
tributos e o menor no ano de 2019 com 39,31%.
O Gráfico 5 representa as empresas do Agronegócio, integradas pela Minerva, Camil
Alimentos, Três Tentos Agroindustrial e SLC Agrícola.
100.00 90.73
80.00
60.00
36.21
40.00 33.44
29.98
15.36 13.8512.57 12.55 10.68
20.00 9.99
3.57
0.00
FERTILIZANTES CAMIL ALIMENTOS Três Tentos SLC AGRICOLA S.A.
-20.00 HERINGER-7.16
S.A. S.A. Agroindustrial S/A
A empresa Fertilizantes Heringer passa pelo processo de recuperação judicial, visto isso,
devido à instabilidade financeira obteve no ano de 2018 a parcela destinada ao governo de
90,73%, posteriormente em 2019 este percentual caiu para 15,36%, e por fim em 2020 marcou
-7,16%. Devido ao prejuízo dos resultados no período, os impostos federais culminaram em
saldos negativos. A Camil obteve um parâmetro estável durante os anos, marcando de 29,98%
em 2018 a 33,44% em 2020. Na SLC agrícola também manteve seus índices de parcela trituraria
em média variando de 12,55% em 2018 a 10,68% em 2020. A empresa Três Tentos chegou a
medir nos dois primeiros anos da pesquisa, já no ano de 2020 teve uma queda para 3,37%,
devido uma baixa nos tributos federais.
O Gráfico 6 contém o Carrefour, Magazine Luiza, Americanas e Grupo Mateus, e fazem
parte das empresas de Atacado e Varejo.
70.00
60.38
60.00 54.83 57.14
49.65 50.63
50.00 42.36 43.17
41.16
40.00 35.22
27.79
30.00
20.00 14.86
12.57
10.00
0.00
CARREFOUR MAGAZINE LUIZA AMERICANAS S.A. GRUPO MATEUS
S.A. S.A.
2018 2019 2020
60.00 54.65
49.46
50.00 47.80
40.00 33.30
30.74
28.42
30.00
20.00 16.89
9.20 8.45 8.85
10.00 6.11
3.21
-
MARFRIG JBS AMBEV BRF S.A.
A Marfrig marcou seu menor índice em 2019, com apenas 3,21% direcionado ao
governo e seu ponto alto em 2018 com 16,89%. A JBS manteve estabilidade durante os três
anos, onde variou de 9,20% em 2028 para 8,85% em 2020, assim como a BRF que também
teve uma pequena variação, de 28,42% a 33,30%. A indústria direcionada a produção de
bebidas, Ambev destacou-se entre as empresa analisadas devido seu índice mais alto, onde em
2018 resultou em 49,46 %; 47,80% em 2019; e marcou 54,65% em 2020. Foi perceptível que
o ano de 2021 foi marcado com os menores índices entre as entidades
No segundo momento foi analisada a média da parcela tributária entre os setores
durante os três anos, onde são apresentadas na Tabela 1.
O setor de Petróleo e Químico obteve uma média de parcela tributária entre 46,49% em
2019 a 53,62% em 2018. Foi um dos setores com índices elevados em média, visto que
praticamente a metade da riqueza gerada é destinada ao governo, e a distribuição do Valor
Adicionado é composta por cinco itens. Brasil (2017) ao consultar os mesmos parâmetros deste
setor com o auxílio da Demonstração do Valor Adicionado, constatou índices negativos no
ramo petroquímico de Equipamentos e Serviços, já na área de Refino, encontrou aumentos
gradativos entre os anos de 2014 a 2016, e semelhantes a este estudo, que variou entre 44,32%
a 60,14% respectivamente.
A Tabela 1 expõe que no setor de Siderurgia e Metalurgia obteve médias baixas entre
os anos, composta por um aumento gradual, oscilou de 15,68% em 2018 a 25,61% em 2020,
no estudo de Brasil (2017) ocupou a médias equivalentes no ano de 2014, apesar da amostra
possuir maior quantidade de empresas, ocupou a média de parcela tributária de 26,13%.
Os índices relacionados ao ramo de Energia demonstram em média com pouca variação
e um parcela tributária crescente entre os anos, que se deslocou de 40,02% em 2018 a 45,05%
151
em 2020. Uma média consideravelmente alta, visto que chega a quase 50% do Valor
Adicionado a ser distribuído. No estudo de Shafer, Konraht e Ferreira (2016) com empresas do
setor elétrico, encontraram resultados semelhantes, ressaltando a observação de que
constataram que a parcela da carga tributária tem uma relação proporcional negativa ao Valor
Adicionado.
O ramo de Telecomunicações obteve uma variação significante, pois em 2018 marcou
28,15%, e obteve sua maior variação no ano de 2019 com o percentual de 56,96%, chegou a
alcançar a média mais alta entre os setores. Miranda (2012) ao avaliar este setor de
telecomunicações detectou que as empresas marcaram em média similares, que marcam acima
da média da carga tributária nacional, que gira em torno de 33,00%.
As empresas do Agronegócio atingiram em média percentuais baixos e seguiram uma
ordem decrescente durante os anos que se deslocou de 24,03% em 2018 a 17,34% em 2020.
Gassen, Ludwig e Michels (2018) ao fazer o estudo com empresas desse setor encontrou
percentuais baixos como estes e estáveis durante os anos de 2014 a 2016 que variou
respectivamente de 11,94% a 13,61%. Os baixos níveis tributários neste segmento podem ser
justificados devido a essencialidade do setor econômico.
No setor de Atacado e Varejo encontrou-se pouca variação em média, os percentuais
de deslocaram de 39,43% em 2020 a 45,44% em 2019, resultados que se encontram acima da
média nacional, que ano de 20220 alcançou 31,64¨% do PIB segundo o Boletim de Estimativa
da Carga Tributária Bruta (2021)
Ainda sobre a Tabela 1, empresa de Alimentos e Bebidas obtiveram em média uma
variação decrescente, que oscilou de 32,39% em 2018 a 26,33% em 2020, considerando que as
empresa de alimento tem menor parcela tributária comparado a de bebidas, o resultado atingiu
quase a média da carga tributária nacional estimada. Gassen, Ludwig e Michels (2018) em seu
estudo analisou estes setores de forma individual e seus resultados apontaram maior incidência
no ramo de bebidas, que em torno alcança 50,69% de parcela tributária, nos onde de 2014 a
2016, e no ramo de alimento marca em média 22,74% nos mesmos anos.
Existem estudos que relatam que o Valor Adicionado a distribuir é desproporcional a
carga tributária, ou seja, de acordo com o aumento do Valor Adicionado, hipótese supõe que a
parcela tributária tende a ser reduzida. Visto isso, a Tabela 2 demonstra os valores do Valor
Adicionado para comparação ao valor distribuído ao governo.
152
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
GASSEN, C.; LUDWIG, M. E.; MICHELS, A. Relação entre carga tributária e valor
adicionado. REUNIR Revista De Administração Contabilidade E Sustentabilidade, v.9,
n. 2, 39-48, 2019. Disponível em:
https://reunir.revistas.ufcg.edu.br/index.php/uacc/article/view/805. Acesso em 15 ago. 2021.
155
RESUMO
Este estudo tem como objetivo analisar a percepção dos gestores sobre a contabilidade gerencial
em microempresas e empresas de pequeno porte de Mossoró-RN. Para tanto, desenvolveu-se
uma pesquisa de caráter descritivo e de natureza quali-quantitativa, a partir da aplicação de
questionários a gestores de microempresas e empresas de pequeno porte do município de
Mossoró-RN. A análise dos dados se deu por intermédio de técnicas da estatística descritiva.
De maneira geral, os resultados permitiram concluir que: (i) os recursos mais utilizados no
processo de tomada de decisão pelos gestores são a pesquisa de mercado e a própria
experiência; (ii) a maioria dos gestores considera que o profissional apropriado para avaliar e
controlar o desempenho é o contador; (iii) a área em que a informação contábil é mais útil sob
a percepção dos gestores é a área fiscal; (iv) os relatórios fiscais e trabalhistas são os principais
relatórios provenientes da contabilidade; (v) todos os gestores consideram as informações
contábeis importantes para a tomada de decisão; e (vi) apesar de demonstrarem-se satisfeitos
sobre a qualidade dos serviços contábeis, quando indagados sobre cada item específico proposto
no instrumento de pesquisa, em linhas gerais, verifica-se que a maioria destes serviços precisam
melhorar, sob a ótica dos gestores das microempresas e empresas de pequeno porte da amostra.
Palavras-Chave: contabilidade gerencial, gestores, tomada de decisão.
ABSTRACT
This study aims to analyze the perception of managers about managerial accounting in micro
and small businesses in Mossoró-RN. For that, a descriptive and qualitative-quantitative
1
Graduado em Ciências Contábeis pela Faculdade Católica do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail:
antonioraularaujo@gmail.com.
2
Doutorando e Mestre em Administração e Controladoria pela Universidade Federal do Ceará. Docente da
Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail: italocarlos25@gmail.com.
3
Doutorando e Mestre em Administração e Controladoria pela Universidade Federal do Ceará. Docente da
Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail: geisoncalyo@hotmail.com
4
Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Docente da Faculdade
Católica do Rio Grande do Norte. E-mail: wendy.bezerra@gmail.com
5
Mestrando em Administração e Controladoria pela Universidade Federal do Ceará. E-
mail:jerfersonfreitas111@gmail.com
158
research was developed, from the application of questionnaires to managers of micro and small
companies in the city of Mossoró-RN. Data analysis was carried out using descriptive statistics
techniques. In general, the results allowed us to conclude that: (i) the resources most used in
the decision-making process by managers are market research and their own experience; (ii)
most managers consider that the appropriate professional to evaluate and control performance
is the accountant; (iii) the area in which accounting information is most useful from the
perception of managers is the tax area; (iv) tax and labor reports are the main reports from
accounting; (v) all managers consider accounting information important for decision making;
and (vi) despite demonstrating satisfaction with the quality of accounting services, when asked
about each specific item proposed in the research instrument, in general terms, it appears that
most of these services need to improve, from the perspective of managers of the sample
microenterprises and small businesses.
Keywords: management accounting, managers, decision making.
1 INTRODUÇÃO
administração para que seja realizada a estruturação das empresas, onde elas seguem um
modelo de trabalho, tendo como objetivo orientar os gestores nas decisões. Embora se pense
que só as empresas de grande porte precisam de gestão, essa é uma estratégia ainda mais
importante para as pequenas empresas, já que ajuda na administração financeira, pessoal e em
momentos de crises, fazendo com que elas prosperem (CHEN, PODOLSKI;
VEERARAGHAVAN, 2015).
As empresas, em função da dinâmica do mercado, das pessoas e dos objetivos
organizacionais, sofrem mudanças continuamente, e isso exige sempre uma verificação se a
atual gestão está coerente e, com isso, a oportunidade de melhoria. Os métodos e modelos de
gestão empresarial são continuamente aprimorados, além de novas propostas que surgem, e isso
permite às empresas gerenciar de uma maneira mais atual e adequada.
Partindo desta perspectiva, levanta-se a seguinte questão de pesquisa: qual a percepção
dos gestores sobre a contabilidade gerencial em microempresas e empresas de pequeno
porte de Mossoró-RN? Desta forma, o objetivo desta pesquisa é analisar a percepção dos
gestores sobre a contabilidade gerencial em microempresas e empresas de pequeno porte de
Mossoró-RN.
Cabe ressaltar que em mercados competitivos, há a necessidade da realização assídua
de controles internos e análises externas a fim de evitar a possibilidade nociva de falência da
atividade econômica de forma prematura. Assim, este estudo justifica-se por contribuir no
entendimento dos proprietários de pequenas empresas sobre a importância da atuação e a
necessidade do profissional da gestão empresarial. Ademais, o estudo aborda a importância da
gestão dentro das pequenas empresas, evidenciando como o método de gestão é eficaz para que
as empresas possam desenvolver suas habilidades.
2.REFERENCIAL TEÓRICO
de decisões; isso tem criado dificuldades sobre a visão do mercado onde está inserido o negócio,
expondo a organização a grandes riscos de prejuízos financeiros. É nesse contexto que a
contabilidade entra em cena, tendo a contribuir fortemente para o desenvolvimento e o
andamento das atividades administrativas de uma entidade.
Para Marion (2009) a contabilidade é um instrumento que auxilia a administração a
tomar decisões; coleta todos os dados econômicos, mensurando-os monetariamente,
registrando-os e sumarizando-os em forma de relatórios ou de comunicados, que contribuem
sobremaneira para a tomada de decisões.
De acordo com Silva (2002, p. 23), “uma empresa sem Contabilidade é uma entidade
sem memória, sem identidade e sem as mínimas condições de sobreviver ou de planejar seu
crescimento”. Segundo Crepaldi (2012, p. 02), “os gestores necessitam de informações de
custos e lucratividade de suas linhas de produtos, segmentos do mercado e de cada produto e
cliente. ” Ainda de acordo com Crepaldi (2012, p. 12), “um sistema de informação contábil
adequadamente estruturado irá permitir uma gestão eficaz das informações necessárias para a
gestão econômica e financeira da empresa.”
Afim de que o empresário trace os objetivos e metas da empresa, a Contabilidade
Gerencial surge como uma ferramenta de apoio para ajudar o empresário a tomar decisões com
maior segurança. A Contabilidade Gerencial atualmente tem sido ferramenta de informações
para o andamento e continuidade das empresas, onde enfoca o planejamento, o controle e a
tomada de decisão. É aplicada dentro dos setores de uma empresa e tem por objetivo auxiliar
os empresários e gestores na tomada de decisões, sendo esse um dos maiores objetivos da
Ciência Contábil, e é o profissional contábil que fornece essas informações, que faz toda a
diferença em uma decisão (PAULO; CINTRA, 2018).
Assim, as entidades podem contar com essa ferramenta importante, que é a
contabilidade gerencial, que vem com o objetivo de fornecer informações precisas, para que os
gestores possam tomar decisões, diminuindo o risco de fracasso por uma decisão precipitada.
Segundo Camilo e Silva (2020), o mercado está se tornando mais intenso e a concorrência
aumentando a cada dia, assim é vital que os administradores das entidades possam contar com
informações e ferramentas para elaborar o planejamento e aplicar controles que resultem em
informações úteis para auxiliar na tomada de decisão.
É o profissional contábil que irá acompanhar os dados econômicos da empresa e irá
orientar o empresário na tomada de decisões, pois transformará as informações que passam
161
sempre avaliando novos meios que possam alavancar o desempenho empresarial, bem como
acompanhando as mudanças e exigências do mercado, financeira, econômica, fiscal para
garantir a atualização da empresa (MARION, 2009).
que se utilizam da análise de dados como apoio ao planejamento e à tomada de decisão (LIMA;
IMONIANA, 2008).
As Micro e Pequenas Empresas que utilizam a Contabilidade Gerencial tomam decisões
com segurança e alcançam metas e objetivos, podendo ampliar as oportunidades no mercado.
Segundo Crepaldi (2011), uma das técnicas utilizadas para auxiliar no avanço competitivo é o
uso do sistema de informações, oferecendo as empresas relatórios gerenciais com informações
que auxilie no processo de gestão criando vantagens competitivas no mercado concorrente.
Antonik (2004, p. 37) ressalta que “as pequenas e médias empresas têm capacidade
enorme de adaptação às necessidades do mercado. Podem tomar decisões rápidas e pontuais,
reagindo de imediato às suas mudanças e exigências”.
A facilidade para absorver processos inovadores é uma das características positivas mais
importantes das micros e pequenas empresas. Essas companhias são importantes fontes de
processos inovadores, produtos e serviços e podem ser mais eficientes em produzir inovação
do que as grandes empresas (USITC, 2010).
Segundo Fernandes et al. (2010) outra dificuldade enfrentada por essas empresas é o
empirismo na questão do planejamento, o que acaba fazendo com que elas não utilizem as
ferramentas de planejamento estratégico de forma adequada para uma gestão eficiente, eficaz e
efetiva.
3 METODOLOGIA
Caneca et al. (2009), Moreira et al. (2013) e de Barbosa e Santos (2019). O instrumento de
coleta foi aplicado de forma eletrônica, através da ferramenta do google forms, sendo aplicados
no mês de janeiro de 2022. Realizou-se contato com os participantes através de e-mail e rede
social (whatsapp).
A análise se deu através de técnicas da estatística descritiva, com indicação de
frequências. Os dados foram tratados com o auxílio do Microsoft Office (Excel), permitindo
assim a sua apresentação através de tabelas. Além disso, foi realizada uma interpretação das
respostas dos questionários, bem como um confronto com os achados anteriores, permitindo-
se inferir com conclusões voltadas à satisfação do objetivo proposto.
Esta seção exibe os achados da pesquisa. Para melhor visualização, foram divididos em
dois subtópicos. O primeiro apresenta a caracterização do perfil dos respondentes e empresas
da amostra; e o segundo apresenta a percepção dos gestores sobre a contabilidade gerencial em
microempresas e empresas de pequeno porte de Mossoró-RN.
Esta subseção foi delineada a partir do objetivo geral do estudo de a percepção dos
gestores sobre a contabilidade gerencial em microempresas e empresas de pequeno porte de
Mossoró-RN. Inicalmente, foi indagado aos gestores sobre quais os recursos são mais utilizados
para a tomada de decisão. As respostas podem ser visualizadas no Gráfico 1.
Tabela 3 – Área em que a informação contábil é mais útil sob a percepção dos participantes
Área Frequência %
Fiscal 6 60,0
Controle gerencial e tomada de decisão 2 20,0
Fiscal, trabalhista e contábil 1 10,0
Todas as áreas 1 10,0
Total 10 100
Fonte: Dados da Pesquisa (2022).
Conforme Tabela 3, a área em que a informação contábil é mais útil sob a percepção
dos gestores da amostra é área fiscal (60%). Destaca-se ainda que 2 gestores consideram a
168
informação contábil útil para fins de controle gerencial e tomada de decisão, como também 1
gestor considera útil tanto a informação fiscal, trabalhista e contábil, e 1 respondente considera
a importância da informação contábil para todas as áreas. Confrontando-se tal resultado aos
achados de Moreira et al. (2013), observa-se esta mesma tendência, tendo em vista que a área
de maior destaque foi a fiscal (60,7%), seguida de controle gerencial e tomada de decisão
(21,3%).
Diante disso, foi questionado sobre quais relatórios contendo informações gerenciais a
respeito do seu negócio são recebidos da contabilidade (Tabela 4). Observa-se que a maioria
dos gestores obtém da contabilidade os relatórios fiscais e trabalhistas (60%). Apenas 2 deles
recebem também o fluxo de caixa, balanço patrimonial, balancetes e demonstração do
resultado.
Opinião Frequência %
Sim 10 100
Não 0 0
TOTAL 10 100
Fonte: Dados da Pesquisa (2022).
profissional contábil precisam melhorar, tendo em vista o alto percentual indicado para as
assertivas. Ademais, em algumas circunstâncias, demonstrou-se que os serviços são feitos pelos
próprios gestores, demonstrando assim a insatisfação destes para com os contadores.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa tem por objetivo analisar a percepção dos gestores sobre a contabilidade
gerencial em microempresas e empresas de pequeno porte de Mossoró-RN. Para tanto,
desenvolveu-se uma pesquisa de caráter descritivo, de natureza quali-quantitativa e de campo
do tipo survey, por meio de aplicação de questionários, cujas análises foram realizadas mediante
técnicas da estatística descritiva. Participaram da pesquisa 10 gestores, sendo 7 de
microempresas e 3 de empresas de pequeno porte.
De maneira geral, os resultados permitiram concluir que: (i) os recursos mais utilizados
no processo de tomada de decisão pelos gestores são a pesquisa de mercado e a própria
experiência; (ii) a maioria dos gestores considera que o profissional apropriado para avaliar e
controlar o desempenho é o contador; (iii) a área em que a informação contábil é mais útil sob
a percepção dos gestores é a área fiscal; (iv) os relatórios fiscais e trabalhistas são os principais
relatórios provenientes da contabilidade; e (v) todos os gestores consideram as informações
contábeis importantes para a tomada de decisão.
Quando questionados sobre a qualidade dos serviços contábeis, a maioria dos gestores
demonstrou-se satisfeita. Entretanto, quando indagados sobre cada item específico proposto no
instrumento de pesquisa acerca dos serviços contábeis prestados, em linhas gerais, verifica-se
que a maioria destes serviços precisam melhorar, sob a ótica dos gestores das microempresas e
empresas de pequeno porte da amostra.
Desta forma, a pesquisa apresenta contribuições de cunho prático ao analisar aspectos
relacionados aos serviços oferecidos pelos contadores, como também as características desses
profissionais contábeis, demonstrando que além dos serviços tradicionais, o desempenho de
outras atribuições simples, como fazer visitas frequentes, dedicar maior atenção aos clientes e
ter um bom relacionamento pessoal com o cliente, influenciam positivamente a qualidade nos
serviços contábeis oferecidos.
Do ponto de vista teórico, a pesquisa avança na discussão do tema e evidencia a
necessidade de os profissionais contábeis buscar sempre conhecimentos para que assim se
172
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Luis Fernando Gonçalves; SANTOS, Odilanei Morais dos. O controle interno
como ferramenta gerencial nas pequenas e médias empresas: uma análise por meio da
percepção dos contadores. Pensar Contábil, v. 21, n. 74, 2019.
CREPALDI, Silvio Aparecido. Contabilidade gerencial: teoria e prática. 6 ed. São Paulo:
Atlas, 2012.
CREPALDI, Silvio Aparecido. Contabilidade Gerencial: teoria e pratica. 5. ed. São Paulo:
Atlas, 2011.
HORNGREN, C.T.; SUNDEM, G.L; STRATTON, W.O. Contabilidade gerencial. 12. ed.
São Paulo: Prentice Hall, 2004.
IUDÍCIBUS, Sergio de. Teoria da contabilidade. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
LIMA, A.N.; IMONIANA, J.O. Um estudo sobre a importância do uso das ferramentas de
controle gerencial nos micros, pequenas e médias empresas industriais no município de São
Caetano do Sul. Revista da Micro e Pequena Empresa, v. 2, n. 3, p.28-48, 2008.
MARION, José Carlos. Contabilidade Básica. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
MARION, José Carlos; RIBEIRO, Osni Moura. Introdução à contabilidade gerencial. São
Paulo: Saraiva, 2011.
MARION, José Carlos. Contabilidade empresarial. 15 ed. São Paulo: Atlas, 2009.
PAULO, Alessandro Souza de; CINTRA, Yara Consuelo. O uso de artefatos de contabilidade
gerencial no ciclo de vida de empresas do setor têxtil: o caso acr Fashion. Revista de
Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis da UERJ, v. 23, n. 1, p. 88-106, 2018.
SILVA, Daniel S.; GODOY, José A.; CUNHA, José Xavier; COELHO NETO, Pedro.
Manual de procedimentos contábeis para micro e pequenas empresas. 5. ed. Brasília:
CFC: SEBRAE, 2002. Disponível em:
http://portalcfc.org.br/wordpress/wpcontent/uploads/2013/01/ManuMicro.pdf.
SILVA, C. Qual a diferença entre micro e pequena empresa. R7 - Rádio e Televisão Record
S.A, 14 novembro. 2016. Disponível em: https://www.contabeis.com.br/noticias/30432/ qual-
a-diferenca-entre-micro-e-pequena-empresa/.
RESUMO
ABSTRACT
The objective of the research is to verify the perception of accounting sciences students
regarding the role of accounting expertise in the social context. A descriptive, survey and
quantitative research was used through a closed questionnaire with likert scale responses to
achieve the proposed objectives. As for the results of the study, it is possible to show through
the students' perception that accounting expertise has its role and relevance in the social
environment. Since it helps the judge to obtain evidence for the solution of the dispute, and thus
to do justice to the parties, through a fairer sentence given by the magistrate. It can be concluded
that the findings of this research are relevant, as it seeks to contribute to the academic, practical
and social environment that comprises the Accounting Expertise.
Keywords: Accounting Expertise. Social context. Accountant expert.
1 INTRODUÇÃO
A Ciência Contábil é uma das ciências sociais que possui diversas ramificações e áreas
de atuação para o profissional contabilista. Destacando-se a Perícia contábil como uma área em
ascensão, como auxílio da resolução de conflitos e litígio, nas esferas judiciais e extrajudiciais,
que possuem situações conflitantes que se faz necessária um parecer de um expert para ser
solucionado.
A perícia contábil é segmentada em judicial, extrajudicial, semijudicial ou pública e
arbitral, onde o perito judicial aquele nomeado pelo juiz, irá buscar a verdade de acordo com
todos os fatos levantados a respeito daquele litígio. Sua atuação é imparcial com relação ao
objetivo e as partes envolvidas na lide, característica essa que envolve natureza trabalhista,
cível, criminal e tributária. Intensificando o sentimento de justiça perante a sociedade,
demonstrando a verdade e auxiliando na melhor decisão do juiz (GONÇALVES et al., 2014).
Visando promover a justiça social, a perícia contábil vem atuando na sociedade através
das informações prestadas ao magistrado, em que sua finalidade é possibilitar que uma das
partes possa ser lesada. Dito isto, vem auxiliar aos juízes na sentença, onde os mesmos podem
chegar a uma conclusão mais justa, por meio do suporte do laudo pericial, realizado conforme
as normas deliberadas, de forma clara e objetiva (SÁ, 2011).
Diante do exposto tem-se a seguinte questão de pesquisa: Qual a percepção dos
discentes de ciências contábeis quanto ao papel da perícia contábil no contexto social? Como
objetivo geral busca verificar a percepção dos discentes de ciências contábeis quanto o papel
da perícia contábil no contexto social.
Esse estudo justifica-se pela necessidade de discutir-se a respeito da perícia contábil,
assim como a relação e o seu papel social, auxiliando não apenas na tomada de decisões do juiz,
mas como ela impacta na promoção da justiça, fazendo a verdade vir à tona, propiciando
benefícios para a sociedade através da sua atuação.
Quanto às contribuições, é relevante evidenciar a discussão e disseminação de estudos
a respeito dessa temática abordada no Brasil, tendo em vista poucos estudos trazerem essa
vertente do contexto social da perícia contábil, contribuindo com a literatura pertinente à
contabilidade com o enfoque no papel social do perito contador. Considerando a decorrência
do aumento de processos judiciais e a escassez de profissionais que atuem na área, assim, sendo
necessário se requisitar um profissional especialista. Este trabalho também vai trazer
contribuições práticas, profissionais da área e demais interessados, ou seja, a sociedade de
177
forma geral, visto que este servirá para que as pessoas tomem conhecimento do papel da perícia
contábil como meio de promover a justa solução de litígios (SOUSA, 2020).
Este estudo encontra-se dividido em 5 seções. A primeira com esta contextualização do
tema abordado, em sequência, o referencial teórico levantado por meio dos estudos já
desenvolvidos até o presente momento, em seguida a metodologia trabalhada, logo depois, os
resultados e discussões, e por último as considerações finais.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Para exercer a perícia contábil, é necessário que o profissional possua curso superior em
Ciências Contábeis e que esteja registrado no Conselho Regional de Contabilidade situado em
seu estado atuante. Para tanto, Gonçalves et al. (2014) ressaltam que a perícia contábil exige
um conhecimento técnico-científico o qual possa desenvolver uma diferença plena para que
então haja a obtenção de bons resultados nos fatos exigidos.
Para haver uma melhor desenvoltura na justiça, o perito contábil auxilia o juiz com
laudos periciais com material técnico-científica a qual o juiz não dispõe do conhecimento na
área a, qual o perito atua, portanto, esta é considerada um papel relevante de perito contábil
atuando na justiça social (XAVIER; TURUTA, 2016).
Em seu estudo Strassburg, Ortolan e Borsoi (2019) destacam que 90% dos entrevistados
possuem especialização e 10% concluíram mestrado e doutorado. Os autores ainda ressaltam
que os peritos contábeis não estagnam na graduação. Com isto, considera-se que o perito
contador dispõe deste conhecimento para auxiliar no âmbito jurídico devido a sua constância
em buscar informações técnicas-científicas em especializações, mestrados e doutorados.
O perito contador necessita de ter a ciência de sua relevância, utilizando as metodologias
contábeis cabíveis da perícia e seu conhecimento de responsabilidades para com a sociedade e
justiça. Entende-se que a perícia contábil e a contabilidade integram informações em um único
sistema para disponibilizar aos seus usufruístes noções para as tomadas de decisões (FRAGA,
2017).
Ademais, a perícia contábil reforça que é um dos apoios para que o magistrado demande
suas sentenças, neste sentido o papel do perito contábil nesta esfera é de auxiliar nos conflitos
178
para as partes interessadas. Sendo de inteira responsabilidade deste, resguardar a ética, postura
e garantir a verdade em seus laudos (VITTO et al., 2020).
3 METODOLOGIA
Essa seção apresenta os componentes que fazem parte deste estudo, como tipologia e
abordagem metodológica, universo e amostra, coleta de dados, assim como o meio de
instrumentação para a coleta e corte temporal da pesquisa. Cujo objetivou-se buscar dados que
concentrasse a percepção dos discentes de Ciências Contábeis quanto ao papel da perícia
contábil no contexto social.
Com relação aos objetivos da pesquisa, configura-se este estudo como descritivo,
objetivando a descrição das particularidades da população ou fenômeno, e suas determinantes
no meio o qual estão inseridos (MARION; DIAS; TRALDI, 2002). No que tange aos
procedimentos, realizou-se um levantamento, onde se caracteriza por indagar indivíduos com
diversos comportamentos, buscando conhecê-los, evidenciando o foco com questionamentos
pertinentes ao tema objeto de estudo da pesquisa (GIL,1999).
Considerando o problema de pesquisa, trata-se de uma pesquisa quantitativa, em que
está se distingue da qualitativa, por fazer o uso de técnicas estatísticas tanto na coleta de dados
quanto no tratamento, preocupando-se com o comportamento das ocorrências e sem se
aprofundar em conhecer a realidade dos fenômenos, possibilitando que não haja a interferência
do pesquisador (RAUPP; BEUREN, 2003). Adotou-se o uso de médias e frequência na
investigação dos dados.
Quanto ao instrumento de coleta de dados aplicou-se um questionário com perguntas
fechadas e de múltipla escolha, onde as respostas serão com a utilização da escala Likert. A
coleta ocorreu no segundo semestre do ano de 2019 com as turmas do 9° e 10° período do curso
de Ciências Contábeis de uma Universidade Pública do Estado do Rio Grande do Norte.
Obteve-se 25 questionários retornados no momento da aplicação (de forma presencial), porém
a amostra total ficou em 21 respondentes, pelo fato de quatro questionários serem invalidados
por falta de resposta a todos os questionamentos.
A amostra se limitou a essas turmas, pois todos já cursaram a disciplina de Perícia
Contábil, e já detinham conhecimento sobre a atuação do perito contador, bem como pelo fato
dos mesmos terem participado de um ciclo de palestras de um projeto de extensão da
181
universidade, que abordava a temática trabalhada nesta pesquisa. Quanto ao tempo, trata-se de
estudo transversal.
No tange o tratamento dos dados, se deu por meio do uso dos softwares Microsoft Word
e Excel (versão Windows 2010), para o auxílio da elaboração das tabelas e gráficos expostos
nos resultados da pesquisa. Com relação à análise de dados aplicou-se a técnica de análise
descritiva, com o intuito de obter as distribuições de frequências relativas e médias da amostra
alusiva à análise (SILVESTRE, 2007).
4 RESULTADOS
Inicialmente foi analisado o perfil dos respondentes, que possui como objetivo a
caracterização quando ao gênero e idade, conforme as informações obtidas ficou evidente que
a maioria dos entrevistados, são do sexo masculino 70% (14) e o sexo feminino logo em seguida
com 30% (6). Quanto a idade dos entrevistados 40% possui até 25 anos, ou seja, a idade
predominante na amostra. Seguida de 26 a 30 anos com 35%, 31 a 35 anos com 5%, 36 a 40
com 10%, 41 a 45 com 5%, e por fim, mais de 46 com 5%.
Em seguida foi investigado aspectos que os entrevistados consideram relevantes ao
exercício do perito contador e sua relevância no contexto social. Utilizou-se a escala likert, com
cinco pontos que avalia seu nível de concordância com uma afirmação, ou seja, 1) discordo
totalmente, 2) discordo, 3) indiferente (ou neutro), 4) concordo e 5) concordo totalmente.
A Tabela 1 evidencia o nível de concordância se a Perícia Contábil é composta por
conhecimentos e procedimentos técnicos e científicos.
1 0 0
2 0 0
3 0 0
4 10% 2
5 90% 18
182
TOTAL 100% 20
Esses achados corroboram com o estudo de Gonçalves et al. (2014) que a perícia
contábil exige um conhecimento técnico-científico o qual possa desenvolver uma diferença
plena para que então haja a obtenção de bons resultados nos fatos exigidos. Na Tabela 2
evidencia o nível de concordância dos respondentes se o perito contador tem que ser um
conhecedor profundo das normas jurídicas e contábeis.
Tabela 2: O perito contador tem que ser um conhecedor profundo das normas jurídicas e contábeis
Nível de concordância Percentual Frequência
1 0 0
2 0 0
3 5% 1
4 30% 6
5 65% 13
TOTAL 100% 20
Fonte: Elaborada pelo pesquisador (2021).
Tabela 3: O trabalho pericial atua como forte auxiliar na administração da justiça, logo, se está recente
seu efeito social
Nível de concordância Percentual Frequência
1 0 0
2 0 0
3 5% 1
4 25% 5
183
5 70% 14
TOTAL 100% 20
Fonte: Elaborada pelo pesquisador (2021).
Denota-se que 70% concordam totalmente e 25% concordam, ou seja, existe uma forte
relação do perito no auxílio da administração da justiça, corroborando com Gonçalves et al.,
(2014) onde a perícia contábil reforça que é um dos apoios para que o magistrado demande suas
sentenças, neste sentido o papel do perito contábil nesta esfera é de auxiliar nos conflitos entre
as partes (jurídica ou pessoas físicas). Portanto, o perito-contador é de suma importância para
a administração da justiça.
Tem-se a Tabela 4 que evidencia a concordância dos participantes no tocante ao ponto
central da função pericial é a relação da função social do conhecimento contábil.
Tabela 4: No tocante do ponto central da função pericial é a relação da função social do conhecimento
contábil
Nível de concordância Percentual Frequência
1 0 0
2 0 0
3 25% 5
4 25% 5
5 50% 10
TOTAL 100% 20
Fonte: Elaborada pelo pesquisador (2021).
Tabela 5: Cabe a perícia contábil levar a instância decisória elementos de prova vitais a subsidiar à
justa solução do litígio
Nível de concordância Percentual Frequência
1 5% 1
2 0 0
3 20% 4
4 25% 5
5 50% 10
TOTAL 100% 20
Fonte: Elaborada pelo pesquisador (2021).
1 0 0
2 0 0
3 5% 1
4 5% 1
5 90% 18
TOTAL 100% 20
sendo a desenvoltura do perito a qual não desvie a matéria que estimulou a questão da perícia.
Quanto à precisão da perícia contábil, equivale o favorecimento em respostas oportunas quanto
às questões elaboradas. A clareza dos relatórios de perícia deve seguir a linguagem coerente
para seus usuários, adequando-se a terminologia tecnologia e científica. Ademais, a
confiabilidade a qual a perícia apoia-se, compreende quanto aos elementos pertinentes
legalmente e tecnologicamente.
Já na Tabela 7, explana que no trabalho do perito contador, este servirá não só para o
auxílio em questões onde haja divergências de informações, mas também para prover a
justiça.
Tabela 7: Ainda em relação ao trabalho do perito contador, este servirá não só para o auxílio em
questões onde haja divergências de informações, mas também para prover a justiça
Nível de concordância Percentual Frequência
1 0 0
2 0 0
3 5% 1
4 25% 5
5 70% 14
TOTAL 100% 20
Fonte: Elaborada pelo pesquisador (2021).
Tabela 8: Uma das atribuições ao perito contador, é que este deve sempre priorizar pela ética, agindo
com zelo em todos os aspectos, sendo esta uma responsabilidade social
Nível de concordância Percentual Frequência
186
1 0 0
2 0 0
3 0 0
4 15% 3
5 85% 17
TOTAL 100% 20
Como destacado na tabela acima, 85% dos respondentes concordam totalmente e 15%
concordam, constato também por Vitto et al., (2020) onde o perito contador necessita utilizar
da sua ética para que não haja informações inverídicas, pois este responderá por tal atitude
diante a lei após causar prejuízos para as partes interessadas. Sendo de inteira responsabilidade
deste, resguardar a ética, postura e garantir a verdade em seus laudos.
Na Tabela 9 se constata quanto a sensibilidade da linguagem do perito contador em seus
laudos, este pode vir em suas conclusões explicar para leigos de forma mais entendível, fazendo
o uso da troca de alguns termos por outros, desde que não se mude o sentido original.
Tabela 9: Quanto a sensibilidade da linguagem do perito contador em seus laudos, este pode vir em
suas conclusões explicar para leigos de forma mais entendível, fazendo o uso da troca de alguns
termos por outros, desde que não se mude o sentido original
Nível de concordância Percentual Frequência
1 0 0
2 0 0
3 5% 1
4 10% 2
5 85% 17
TOTAL 100% 20
Fonte: Elaborada pelo pesquisador (2021).
Como visto na tabela acima, dos respondentes, 85% concorda totalmente, 10%
concordam e 5% é indiferente, corroborando com Xavier e Turuta (2016) que para obter um
laudo pericial em qualidade, o perito contábil deve possuir a capacidade técnica de desenvolvê-
lo, tal como esta capacidade se adquire durante sua prática profissional, a competência do rigor
técnico torna-se indispensável na contribuição para com a justiça e sua tomada de decisão final.
187
Portanto, uma das obrigações do perito contábil é aplicar o laudo com uma linguagem técnica,
mas que seja de fácil entendimento para leigos, assim sem privilegiar nenhuma das partes.
Já a Tabela 10, mostra que ao prestar informações inverídicas, o perito contador
responderá pelos prejuízos que causar, respondendo perante a lei.
Tabela 10: Ao prestar informações inverídicas, o perito contador responderá pelos prejuízos que
causar, respondendo perante a lei
Nível de concordância Percentual Frequência
1 0 0
2 0 0
3 5% 1
4 5% 1
5 90% 18
TOTAL 100% 20
Fonte: Elaborada pelo pesquisador (2021).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
de situações adversas, e assim fazer justiça às partes, através de uma sentença mais justa dada
pelo magistrado.
Sendo indispensável na atuação do perito, habilidades e competências técnicas, bem
como sempre priorizar pela ética, agindo com zelo em todos os aspectos, sendo esta uma
responsabilidade social. Possibilitando a levar a instância decisória elementos de prova vitais a
subsidiar à justa solução do litígio. Sendo indispensável a presença da qualidade do trabalho do
perito contador, devendo conter características indispensáveis como: objetividade, precisão,
clareza, fidedignidade, confiabilidade e plena satisfação da finalidade.
De tal maneira que a elaboração dos laudos devem explicar para leigos de forma mais
entendível, fazendo o uso da troca de alguns termos por outros, desde que não se mude o sentido
original. Sendo responsabilizado perante a lei ao prestar informações inverídicas e responderá
pelos prejuízos que causar a uma das partes.
Pode-se concluir que os achados dessa pesquisa se fazem relevantes, pois busca
contribuir para o meio acadêmico, prático e social. Destacando o papel relevante que o perito
contador possui, não apenas pela sua capacidade técnica, mas como provedor de bem-estar e
justiça social. Como limitação, pode-se destacar o número da amostra, ao qual foi limitada a
discentes somente de uma universidade, logo, como sugestão de futuras pesquisas, deixa-se a
extensão da amostra a outras universidades, inclusive instituições públicas e privadas, com o
objetivo de obter novos insights.
REFERÊNCIAS
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
159 p.
189
SÁ, Antônio Lopes. Perícia contábil. 9 ed. São Paulo: Atlas, 2010.
RESUMO
O Sistema Tributário Brasileiro consiste em um dos mais complexos e com maior carga
tributária do mundo, com cerca de 92 tributos vigentes, composto por impostos, taxas e
contribuições, podendo existir diversas interpretações, assim, sendo relevante a reflexão e a
discussão de especialistas sobre a temática. Deste modo, tem-se como objetivo, analisar a
percepção de advogados e contadores do município de Mossoró-RN sobre a reforma tributária
brasileira. Quanto aos aspectos metodológicos, realizou-se uma pesquisa descritiva, com
abordagem qualitativa, aplicando-se uma entrevista semiestrutura com especialistas graduados
em Direito e em Ciências Contábeis, recorrendo-se à análise de discurso como técnica de
análise. A partir da análise de dados, percebe-se, um consenso dos especialistas quanto a
necessidade de uma reforma tributária para atingir o desenvolvimento social e econômico,
enfatizando para uma reforma drástica, visando a distribuição de renda, geração de emprego,
transparência da arrecadação, melhorar a competitividade empresarial. Em relação a prioridade
na reforma, não se observou um consenso, os pontos mais destacados foram os impostos de
consumo e renda.
Palavras-chave: reforma tributária; impostos; recursos.
ABSTRACT
The Brazilian Tax System is one of the most complex and with the highest tax burden in the
world, with about 92 taxes in force, composed of taxes, fees and contributions, and there may
be different interpretations. The theme. In this way, the objective is to analyze the perception
of lawyers and accountants in the municipality of Mossoró - RN on the Brazilian tax reform.
As for the methodological aspects, descriptive research was carried out, with a qualitative
approach, applied a semi-structured interview with specialists graduated in Law and
Accounting, followed by a discourse analysis. From the data analysis, it is possible to see a
consensus of experts regarding the need for a tax reform to achieve social and economic
1
Graduando em Ciências Contábeis pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
carlanamorim2323@outlook.com
2
Mestre em Administração e Controladoria pela Universidade Federal do Ceará. E-mail:
jane_elly@hotmail.com
3
Mestre em Administração e Controladoria pela Universidade Federal do Ceará. E-mail:
italocarlos25@gmail.com
4
Graduado Ciências Contábeis pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
jerfersonfreitas111@hotmail.com
5
Mestre em Administração e Controladoria pela Universidade Federal do Ceará. E-mail:
geisoncalyo@hotmail.com
191
1 INTRODUÇÃO
O Sistema Tributário Brasileiro consiste em um dos mais complexos e com maior carga
tributária do mundo, composto por impostos, taxas e contribuições. O Brasil possui mais de 92
tributos vigentes, sendo eles Federais, Estaduais e Municipais, causando situações de guerra
entre eles, pois muitas vezes há uma distorção na estrutura tributária e ineficiência econômica
(ANDRADE, 2015).
Assim, para melhorar as leis e alavancar o sistema social e econômico da sociedade, o
Sistema Tributário no Brasil vem sendo objeto de debates e discussões, seja em relação aos
efeitos macroeconômicos (PAES, 2011); a função distributiva (BALTHAZAR; MACHADO,
2017), aos princípios, estrutura tributária e a reforma (SILVEIRA; PASSOS; GUEDES, 2018;
GOBETTI; ORAIR, 2018; OLIVEIRA, 2021) e a alta carga tributária para as empresas
(PITTA; MÉXAS; PEREIRA, 2018; SCHAFER; KONRAHT; FERREIRA, 2016).
No tocante a reforma tributária e as empresas, o Movimento Brasil Competitivo (MBC,
2021), publicou um estudo, mostrando que em média, 38% do lucro das empresas são para
pagamentos de tributos, cerca de 1,5 trilhão de reais anualmente, o que seria equivalente a 22%
do Produto Interno Bruto – PIB nacional. Assim, a cobrança de tributos pode impactar as
empresas e a sociedade (GALLO, 2007).
No atual cenário brasileiro foram apresentadas duas fases da reforma tributária. Na
primeira fase, tem-se o Projeto de Lei 3.887/2020 que apresenta a junção de alíquotas como
PIS e COFINS, unificando-os e criando a Contribuição de Bens e Serviços (CBS). Já na
segunda fase, o Projeto de Lei 2.337/2021 apresenta a reforma do imposto de renda pessoa
física (IRPF), a atualização do valor de imóveis e a tributação de lucros/dividendos, a reforma
do imposto de renda pessoa jurídica (IRPJ), com a proposta de uma melhor produtividade,
competitividade, investimento e tributação mais justa (BRASIL, 2021)
Neste processo de discussão sobre a reforma tributária, os especialistas têm um grande
papel no julgamento técnico, econômico e social. Para Orair e Gobetti (2018) é difícil encontrar
uma coerência e estrutura lógica do sistema tributário brasileiro, baseado em fundamentos
192
teóricos. Por isso, a importância de realizar reflexões e discussões com especialistas sobre a
temática.
Diante as explanações, tem-se a problemática: Qual a percepção de advogados e
contadores do município de Mossoró-RN sobre a reforma tributária brasileira? Desse modo,
busca-se, analisar a percepção de advogados e contadores do município de Mossoró-RN sobre
a reforma tributária brasileira, pois os profissionais do direito tributário e da contabilidade,
realizam atividades diretamente associadas ao Código Tributário Nacional (STN), sendo
referências para as reflexões da reforma tributária e das propostas apresentadas ao governo,
podendo destacar os aspectos positivos e negativos.
Quanto a metodologia, realizou-se uma pesquisa descritiva com abordagem qualitativa.
Na coleta dos dados, aplicou uma entrevista semiestrutura com profissionais especialistas sobre
Sistema Tributário Nacional, escolhido por acessibilidade. Na entrevista utilizou-se um
gravador, em seguida, as respostas foram transcritas e analisadas, utilizando a ferramenta
Microsoft Word e Excel (2017).
Este trabalho justifica-se por contribuir no avanço do debate sobre a Sistema Tributário
Brasileiro; ao se analisar a percepção dos especialistas sobre a temática é possível realizar uma
reflexão quanto as reformas tributárias e seu impacto para a sociedade. Dessa forma, o estudo
colabora para a literatura da área, uma vez que o sistema tributário brasileiro é complexo e
deficitário.
Na presente pesquisa tem-se as seguintes seções: referencial teórico, fundamentação
teórica que será a base da pesquisa, os procedimentos metodológicos, a análise e discussão, por
fim, as considerações finais.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Nesta seção faz-se uma abordagem sobre a trajetória e as evoluções do sistema tributário
brasileiro, como também indagar sobre a carga tributária brasileira assim apresentando alguns
impostos contidos nela, por fim colocando em pauta a relação entre o contador e a atual reforma
tributária.
Desde a criação dos tributos pode-se perceber sua finalidade, criados para colocar em
ordem os aspectos financeiros da sociedade como uma forma de investimento para futuras
demandas da mesma, segundo Carvalho (2000, p. 211), “a competência tributária, em síntese,
é uma das parcelas entre as prerrogativas legiferantes de que são portadoras as pessoas políticas,
consubstanciada na possibilidade de legislar para a produção de normas jurídicas sobre
tributos”.
De acordo com Souza et al. (2021) o sistema tributário brasileiro é um dos mais
complexos do mundo, a União, os estados e os municípios possuem competências distintas com
relação aos tributos, divididos em: impostos, taxas e contribuições.
O sistema tributário brasileiro data 25 de outubro de 1966 a partir da Lei N. 5.172 e é
regido pelo é regido pelo disposto na Emenda Constitucional n. 18, de 1º de dezembro de 1965,
em leis complementares, em resoluções do Senado Federal, em leis federais, nas Constituições
e em leis estaduais, e em leis municipais (BRASIL, 1966).
A Constituição Federal (BRASIL, 1988), estabelece limites para a constituição de novos
tributos, fazendo com que o poder dado ao legislador tenha parâmetros que são estabelecidos
nos artigos 150 a 152 da Magna Carta de 1988. Os princípios dados pela constituição exigem
um prazo mínimo para o início da vigência do tributo e corresponder aos seguintes critérios:
Legalidade (art. 150, I);
Isonomia (art. 150, II);
Irretroatividade (art. 150, III, "a");
Anterioridade (art. 150, III, "b");
Proibição de Confisco (art. 150, IV);
Liberdade de Tráfego (art. 150, V);
Imunidades (art. 150, VI);
Outras Limitações (art. 151 e 152).
O código tributário nacional (CTN) define tributo como “toda prestação pecuniária
compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato
ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada''.
(BRASIL, 1966, art. 3°)
O CTN define e divide os conceitos de tributos em três tipos, sendo eles impostos, taxas
e contribuições de melhoria, conforme apresentado no Quadro 1.
FUNDAMENTAÇÃO
TRIBUTO ARTIGO DEFINIÇÃO
LEGAL
"tributo cuja obrigação tem por fato
(BRASIL, Lei nº 5.172,
gerador uma situação independente de
Imposto (art. 16) de 25 de outubro de
qualquer atividade estatal específica,
1966)
relativa ao contribuinte"
"têm como fato gerador o exercício regular
do poder de polícia, ou a utilização, efetiva (BRASIL, Lei nº 5.172,
Taxa (art. 77) ou potencial, de serviço público específico de 25 de outubro de
e divisível, prestado ao contribuinte ou 1966)
posto à sua disposição"
"instituída para fazer face ao custo de
obras públicas de que decorra valorização
(BRASIL, Lei nº 5.172,
Contribuição imobiliária, tendo como limite total a
(art. 81) de 25 de outubro de
Sociais despesa realizada e como limite individual
1966)
o acréscimo de valor que da obra resultar
para cada imóvel beneficiado"
Fonte: Adaptado Código Tributário Nacional (1966).
Segundo Sant Anna (2021) o imposto é o principal financiador dos serviços públicos,
podendo ser utilizado em qualquer área desde que tenha embasamento na legislação instituída,
por exemplo temos o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e o Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). As taxas são uma grande parcela de
arrecadação do estado, são predestinadas pela legislação para se utilizar em algum serviço
público, como por exemplo de taxas são emissão de documentos e taxas de registro em juntas
comerciais. Já as contribuições sociais também são fonte de arrecadação do estado e possuem
destino certo, não sendo utilizadas de forma livre, como por exemplo o pagamento de Programa
de Integração Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
(COFINS).
Atualmente são 92 tributos vigentes no Brasil, sendo eles federais, estaduais e
municipais. Para Gusmão (2009) os elementos de obrigação tributária se caracterizam por
quatro pilares, sendo eles: sujeito ativo (pessoa jurídica de direito público ou privado com a
competência para exigir tributos), sujeito passivo (contribuinte, ou responsável, é a pessoa física
ou jurídica que cumprirá a prestação tributária), causa (a lei) e objeto (cumprimento da
prestação positiva ou negativa).
O CTN (BRASIL, Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966) classifica as obrigações
tributárias em dois tipos sendo elas principais e acessórias: a principal "surge com a ocorrência
do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se
juntamente com o crédito dela decorrente"; Já as acessórias "decorre da legislação tributária e
195
tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação
ou da fiscalização dos tributos".
A carga tributária Brasileira representa de forma ampla e no âmbito nacional a relação
entre a arrecadação tributária e o Produto Interno Bruto. No Brasil, a carga tributária também é
entendida como a relação entre receita tributária total (União, Estados e Municípios) e o Produto
Interno Bruto, indicando a participação do estado na economia nacional (SANTIAGO; SILVA,
2006).
Segundo Piscitelli (2009, p. 3) o PIB é representado pelo somatório de tributos, e o
mesmo destaca que no caso do Brasil se tem um índice bastante elevado, se comparado com
outros países mais desenvolvidos como os Estados Unidos e Japão.
De acordo com Santiago e Silva (2006) o Brasil tem uma carga tributária elevada em
relação aos outros países, seu Sistema Tributário é também um dos mais complexos. Com isso
Barbalho (2013, p. 19) afirma que com tamanha carga tributária, os futuros e atuais empresários
tendem a temer seu desenvolvimento, fazendo com que crie um obstáculo para criação de novas
empresas.
Um problema levantado com relação a carga tributária brasileira, também referente ao
sistema tributário brasileiro, diz respeito aos prejuízos à produtividade econômica do país,
causados em parte por tributos de má qualidade, com fiscalização inadequada por parte da
administração tributária (BARBALHO, 2013, p. 20)
Para Varsano (1996, p. 31) uma boa administração fiscal é capaz de melhorar a carga
tributária brasileira entre seus contribuintes, assim garantindo uma boa equidade e
progressividade, dificultando então a sonegação que é o maior inimigo da justiça fiscal.
De acordo Sant Anna (2021) o “Brasil é dotado de tributos exagerados” e que a
população não tem certeza se esses recursos recolhidos têm destinos coerentes, pois não se vê
respostas positivas para tantos investimentos, ressaltando que o não pagamento dos tributos
pode se ter punições, levando até o congelamento dos bens.
196
Portanto, para que haja necessidade de uma reforma tributária, o sistema tributário em
questão deve se encontrar em um estado desagradável a uma ou mais categorias
envolvidas no processo de tributação, o que é o caso do Brasil. Enquanto uma reforma
capaz de fazer as alterações desejadas não se consolida, os contribuintes buscam
outras maneiras de amenizar seu sofrimento com a carga tributária. Os arrecadadores,
em contrapartida, avaliam meios de cobrir as despesas públicas com as receitas
públicas. Conforme expõe o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) (1996, p. 15),
o Governo reclama que o sistema tributário arrecada recursos insuficientes para o
equilíbrio do orçamento, ao passo que, para os empresários, os tributos pesam muito,
tornando-se uma obstrução para a produção e o investimento. (BARBALHO, 2013,
p. 13)
197
No Quadro 3, que tange a PEC 45/2019, esta trará a unificação e a substituição de cinco
tributos:
Já com relação aos benefícios que a PEC 110/2019 irá trazer serão a concessão de
incentivos fiscais, prevendo benefícios destinados as operações de alimentos, medicamentos,
transporte coletivo de passageiros urbano, bens do ativo imobilizado, saneamento básico e
educação profissional, infantil, ensino fundamental, médio e superior.
Andrade et al. (2021, p. 2) dissertam que a reforma administrativa e tributária “são
medidas que propõem a alteração nas bases e alíquotas de determinados impostos e
contribuições que irão promover alterações na distribuição da carga tributária entre os setores
produtivos”.
Segundo o Plano Mais Brasil (BRASIL, 2020) a reforma tributária tem a visão de que
quando todos pagam os tributos, todos pagam tarifas menores. Por ano, as empresas gastam em
torno de 1500 horas de seu trabalho apenas para pagar seus impostos, gerando assim uma
concorrência desleal entre as empresas.
A primeira fase da reforma tributária prevê uma grande reforma para que se consiga
corrigir os problemas hoje existentes. Esta reforma está baseada nos seguintes princípios:
redução dos custos, segurança jurídica, equidade, fim dos privilégios, não aumento da carga
tributária, combate à evasão fiscal, neutralidade nas decisões econômicas e mais investimento
e emprego. Esta reforma prevê, se aplicada, produtividade e crescimento, através da junção das
alíquotas do PIS e COFINS (BRASIL, 2020).
O tributo do PIS/COFINS não é viável por questões como: complexidade do seu texto
de lei, que consta mais de duas mil páginas; por ser uma tarifa que pode ser tributada de várias
formas; não há uma definição certa para o que é insumo; o brasileiro não sabe qual o valor que
paga no somatório dos impostos; disputa administrativa e judicial (BRASIL, 2020).
Com a PL 3.887/2020 irá se findar a tributação do PIS/COFINS, irá ser disponibilizado
um crédito financeiro, imediato e monetizado, haverá uma incidência somente sobre o valor
agregado ao produto/serviço; além de mais transparência e uma alíquota de 12%. Com esse
199
novo modelo há uma redução de 52 para 9 campos na nota fiscal e de 70% nas obrigações
acessórias (BRASIL, 2020).
As pessoas jurídicas que não realizam atividade econômica não são contribuintes da
CBS. Quem será o recolhedor da CBS será o importador, através de plataformas digitais
(BRASIL, 2020).
Os efeitos da Contribuição de Bens e Serviços – CBS sobre a economia trazem impactos
como a eficiência da reorganização das atividades empresariais, impulsionando produtividade
e crescimento econômico; e a não uniformidade de impactos entre contribuintes do mesmo setor
ou porte econômico (BRASIL, 2020).
Com relação a segunda fase, os princípios que atuam nesta são, de acordo com Brasil
(2021) é a simplificação e menos custos; Segurança Jurídica e Transparência; redução de
distorções e fim de privilégios, manutenção da carga tributária global; combate à sonegação;
neutralidade nas decisões econômicas; além de mais investimento e emprego. Na primeira fase
focou-se na PL 3887/2020 com o CBS e agora na 2° fase o foco será no Imposto de Renda,
através da Lei 2.337/21, que apresenta a reforma do imposto de renda.
A reforma do imposto de renda irá abarcar três frentes de mudança: a pessoa física, a
pessoa jurídica e os investimentos financeiros, da seguinte maneira (BRASIL, 2021):
Para pessoa física haverá atualização da tabela do IRPF, a atualização do valor de
imóveis e a tributação de lucros e dividendos;
Para as empresas haverá mais produtividade, competitividade e investimento, tributação
mais justa e eliminação de brechas para não pagamento de impostos. A alíquota terá queda de
15% para 12,5% em 2022 e para 10% em 2023;
Para investimentos financeiros haverá a facilitação da vida do investidor, harmonização
do tratamento de grandes e pequenos e o corte dos privilégios dos grandes, facilitando o acesso
ao mercado e trazendo segurança de investimentos, além de uma alíquota única de 15%.
3 METODOLOGIA
2012). A pesquisa qualitativa busca uma compreensão, mais aprofundado, de um grupo social
(GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 35).
A pesquisa foi realizada com especialistas na temática, Sistema Tributário Nacional com
ênfase na Reforma tributária, graduados em Direito e em Ciências Contábeis, atuantes no
Município de Mossoró-RN. Para a escolha dos especialistas levou-se em consideração a
acessibilidade dos profissionais, além do tempo de atuação no mercado. A amostra da pesquisa
é não probabilística, composta por 4 (quatro) especialistas, sendo 2 com formação em Direito
e 2 em contabilidade.
Quanto a coleta de dados, realizou-se entrevista semiestruturada no período de junho de
2022. A entrevista foi estruturada com perguntas abertas, levando em consideração os estudos
de Machado e Balthazar (2017) e Orair e Gobetti (2018), organizada em dois blocos: I-
características dos respondentes; II- A percepção dos especialistas sobre a reforma tributária.
As entrevistas foram marcadas e realizadas de forma presencial e remota, utilizando o Google
Meet, mediante a autorização dos respondentes foram gravadas.
Na tabulação dos dados, utilizou-se as gravações para realizar as transcrições das
respostas e organizadas no Microsoft Word (2017), em seguida, analisadas e confortadas com
a literatura.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nesta seção será evidenciado todo levantamento colhido nas entrevistas realizadas,
buscando uma análise da percepção dos advogados e contadores sobre reforma tributária. As
entrevistas seguiram um roteiro, divididas em dois blocos. Inicialmente, no bloco um, foram
abordadas as características dos respondentes, elencando pontos como formação, sexo,
especialidade e tempo de experiência sobre a temática. O bloco dois se subdividiu em seis
perguntas acerca da reforma tributária e do sistema tributário.
Graduado em Ciências
Especialista 2 Contador Masculino 10 anos
Contábeis
Procuradora do
município de
Mossoró/RN. Mestre
Especialista 3 Direito Feminino em Direito. Membro 11 anos
do Tribunal
Administrativo de
Tributos Municipais
Mestre em Auditoria e
Contador e Perícia Tributária.
Especialista 4 Masculino 22 anos
Advogado Doutor em Ciências
Jurídicas.
Fonte: Elaborado pelo autor (2022).
A primeira pergunta realizada foi como o entrevistado poderia definir o que é a reforma
tributária. A partir das respostas obtidas foi montado o Quadro 5.
A reforma tributária teria que ser para simplificar, para que as empresas consigam a
retomada da economia, para que possam gerar emprego e renda. Em exemplo a isso, essa
Entrevistado 4 unificação do ICMS – o que ele acha complexo pois mexe em renda e receitas e existe as
peculiaridades de região para região - seria um grande avanço por conta da socialização
de renda, distribuição de renda e riquezas
Fonte: Elaborado pelo autor (2022)
A segunda pergunta realizada foi se era necessária uma reforma radical ou uma reforma
pragmática. A partir das respostas dos entrevistados foi montado o Quadro 6.
Teria que ser realizada uma reforma radical, para que possa diminuir a burocracia dessas
Entrevistado 2 cobranças e estimular a economia, com taxações mais simples haverá um incentivo para
o consumo e para investimentos, tanto internos quanto externos.
Afirma não acreditar em reformas radicais. Traz que uma verdadeira reforma tributária
deve enfrentar um debate amplo, com a participação de vários setores da sociedade e de
Entrevistado 3 corpo técnico, onde precisa resolver as distorções que ocorrem nas bases tributárias,
onerando mais fortemente o patrimônio e a renda e diminuindo a tributação sobre o
consumo.
Entrevistado 4 É necessária uma reforma radical pois é necessária reformular como um todo.
Fonte: Elaborado pelo autor (2022).
Três dos quatro entrevistados estão em consenso quando dizem que há uma necessidade
de uma reforma radical no estado brasileiro. Apenas a entrevistada três não concorda com essa
ideia, pois afirma não acreditar nesse tipo de reforma, devido ao fato de haver a necessidade de
um debate amplo sobre o assunto na sociedade e no corpo técnico.
A mudança radical que é citada, seria uma proposta ampla e radical de mudança na
forma de cobrança dos tributos, onde se prevê a extinção de sete tributos federais como o IPI,
o IOF, o CSLL, o PIS, o PASEP, o COFINS e o salário educação, do ICMS estadual e do ISS
municipal. Em contrapartida seriam criados três impostos para ficar no lugar dos anteriormente
citados: o Imposto sobre o Valor Agregado – IVA, o Imposto Seletivo e a Contribuição Social
sobre Operações e Movimentações Financeiras. Esses novos impostos seriam utilizados para
que houvesse uma redução das alíquotas da contribuição previdenciária paga por empresas e
pelos trabalhadores. Por fim, os impostos seriam unificados em um único tributo, o IVA,
conforme o modelo de países europeus. Entretanto, essas propostas sofreram resistência do
setor de serviços, que teme pelo aumento da carga tributária para suas empresas (KRESTON
PARTNERSHIP, 2017).
A terceira pergunta foi sobre a percepção dos entrevistados a partir de alguns pontos
(princípios) presentes na questão da reforma tributária. Tal percepção foi elencada abaixo
através da proposição do Quadro 7.
Essa percepção seria o ideal, onde quem tem mais paga mais e quem tem menos
Onerar proporcionalmente
paga menos. (Entrevistado 1)
mais aqueles que possuem
Seria uma boa opção pois tributaria quem tem menos capital e mais quem tem
maior capacidade
mais capital. Seria proporcional: tratar iguais com igualdade e desiguais com
contributiva
desigualdade, para que se tenha uma isonomia tributária. (Entrevistado 4)
Evitar arbitrariedades de
Essa percepção é necessária tendo em vista que precisa de maior rigor no controle
tratamentos tributários não
do que possui ou não isenção de tributação (Entrevistado 1)
isonômicos entre
Partiria do princípio da igualdade tributária, trazendo justiça social e uma alíquota
contribuintes, setores
progressiva – quem ganha menos paga menos, quem ganha mais paga mais.
econômicos e fontes de
(Entrevistado 4)
renda
Minimizar as distorções Simplificar a forma de tributação diminuiria os custos e facilitaria o equilíbrio
econômicas e dessas distorções (Entrevistado 1)
administrativas Um grande desafio, pois nosso modelo temos várias estruturas. Há a necessidade
relacionadas à arrecadação de tentar equalizar os sistemas e as pessoas de trabalho formal e informal.
de tributos (Entrevistado 4)
Fonte: Elaborado pelo autor (2022).
A entrevistada 3 não comentou acerca deste ponto por blocos, mas sim como um ponto
só. Ela traz que todos esses objetivos devem ser compatibilizados, sem favorecer em demasia
a elite, que já são os mais beneficiados. Dever ser buscado formas de aplicaras técnicas da
progressividade e seletividade sempre que possível, para, assim, diminuir o problema da
concentração de renda e promover o desenvolvimento mais justo do país, observando-se, assim,
as recomendações da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE,
com aplicação de acordo com as peculiaridades nacionais.
Para Orair e Gobetti (2018) os pontos elencados no Quadro 7 são princípios norteadores
de uma proposta de reforma que busca aproximar a estrutura tributária do estado brasileiro em
um sistema que possa ser considerado ideal de acordo com a teoria econômica e com as
experiências internacionais. Esse sistema ideal seria um sistema que foi desenhado para
combinar e equilibrar eficiência e equidade para que se possa promover uma maior justiça
205
tributária sobre o bem-estar social no estado brasileiro. Essa justiça seria garantida, de acordo
com o pensamento desenvolvimentista latino-americano, através de uma tributação progressiva
da renda e da propriedade, sendo assim capaz de promover uma mudança no padrão de consumo
das famílias e também promover o desenvolvimento.
A quarta pergunta foi sobre a percepção dos entrevistados a partir de algumas tendências
presentes na questão da reforma tributária. Tal percepção foi elencada abaixo através da
proposição do Quadro 8.
Deve ser priorizado o imposto sobre consumo pois pessoas de poderes aquisitivos
diferentes pagam a mesma quantidade de impostos sobre um produto.
(Entrevistado 1)
A prioridade seria em cima da tributação sobre bens e serviços pois atualmente
Tributação sobre bens e
esses impostos não têm um padrão, dificultando o entendimento sobre o que está
serviços
sendo tributado sobre aquele determinado bem ou serviço. (Entrevistado 2)
Deve ser priorizado, pois é uma tributação que reflete diretamente no consumidor.
Minimizar o impacto para ajudar o consumidor a adquirir e comercializar.
(Entrevistado 4)
Tributação sobre folha Vários tributos na folha, como por exemplo o imposto de renda – um dos fatores
de pagamentos é você contribuir com receita. (Entrevistado 4)
Deve ser priorizado o imposto sobre a renda, pois é necessário o aumento da
tributação sobre grandes fortunas. (Entrevistado 1)
Tributação direta sobre o que se ganha, em uma tentativa de auferir receita para
Tributação sobre renda
que se possa regular os ganhos – reformular para que possa criar um ambiente
mais adequado para que o consumidor pequeno não seja igualado aos grandes
consumidores. (Entrevistado 4)
Impostos sobre a São oriundos de quem possui ou detém algum título. Necessidade de rever a
propriedade reformulação como por exemplo do IPTU. (Entrevistado 4)
A entrevistada 3 não comentou esse ponto por blocos, mas sim como uma visão geral.
Ela traz que dever haver uma inversão das bases tributáveis, onde, no Brasil, a tributação sobre
consumo é proporcionalmente muito maior do que a que incide sobre patrimônio e renda e essa
lógica deve ser invertida. Segundo dados extraídos da OCDE e da Receita Federal do Brasil,
no Brasil, 43% da tributação incide sobre o consumo; 27,5% sobre folha de pagamento; 4,5%
206
sobre patrimônio e 22,5% sobre a renda. Além disso, são concedidas renúncias fiscais (gastos
tributários) em valores muito altos em favor de grupos econômicos mais fortes. Sem falar que
existe isenção de lucros e dividendos de empresas em favor de sócios e acionistas. A tabela do
imposto de renda favorece os mais ricos.
O entrevistado 4, além dos pontos presentes no quadro, fala que o Brasil precisa urgente
de uma reforma administrativa e tributária que possa contemplar os pequenos e médios
empresários para que se possa criar um ambiente que gere emprego, renda e riquezas para o
país, assim, o país só tende a crescer, o PIB aumenta e assim aumenta-se a dignidade.
Para Orair e Goretti (2018) os sistemas tributários são historicamente determinados
pelas tendências internacionais do campo da tributação, entre elas citam a homogeneização da
tributação sobre bens e serviços, com base em alíquotas diferenciadas e isenções; conceituação
ampla da base tributável do IVA para lidar com a tributação da recente economia digital; revisão
de benefícios tributários, que são fontes geradoras de desigualdades e que não propiciam
investimentos; gradual esgotamento dos modelos baseados na tributação sobre a folha salarial,
para que se haja modalidades mais flexíveis, com menos impactos sobre a competitividade
nacional; e a erosão da base tributável, através de uma pressão para a queda das alíquotas. A
essas considerações soma-se o imperativo de promover consolidações fiscais, de forma a
recuperar o crescimento do país.
Esses autores trazem ainda que sua preocupação é apontar um modelo compatível com
a redução das alíquotas do imposto de renda para as empresas, dando uma oportunidade de
revisar os benefícios tributários. Para a pessoa física, procura-se compensar através de um
modelo que a tributação traga distintas fontes de renda (ORAIR; GORETTI, 2018).
A sexta e última pergunta foi sobre quais os principais desafios que a reforma tributária
traria. Tal percepção foi elencada abaixo no quadro 10.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Economia. Plano mais Brasil. Reforma tributária quando todos
pagam, todos pagam menos. Jul. 2020. Disponível em: https://www.gov.br/economia/pt-
br/centrais-de-conteudo/apresentacoes/2020/julho/Apresentacao-Reforma-
Tributaria.pdf/view. Acesso em: 30 nov. 2021.
210
BRASIL. Ministério da Economia. Reforma Tributária 2° fase. Jun. 2021. Disponível em:
https://www.gov.br/economia/pt-br/centrais-de-conteudo/apresentacoes/2021/junho/reforma-
tributaria-jun-2021-4-1.pdf. Acesso em: 30 nov. 2021.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social / Antonio Carlos Gil. - 6. ed. -
São Paulo: Atlas, 2008.
MORENO, Ivan Netto. Guerra fiscal e os desafios da reforma tributária. Jusbrasil, 2011.
Disponível em: https://cfc.jusbrasil.com.br/noticias/2878197/guerra-fiscal-e-os-desafios-da-
reforma-tributaria. Acesso em: 15 jun. 2022.
ORAIR, Rodrigo; GOBETTI, Sérgio. Reforma Tributária no Brasil. Novos Estud. Cebrap,
São Paulo, v. 37, n. 2m p. 213-244, mai.-ago. 2018.
SANTIAGO, Marlene F.; SILVA, José L. G. da. Evolução e composição da carga tributária
brasileira [online]. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, 2006.
Disponível em: https://biblat.unam.mx/ca/revista/revista-brasileira-de-gestao-e-
desenvolvimento-regional. Acesso em: 30 nov. 2021.
SOUZA, Davi. et al. Implantação do imposto sobre valor agregado no Brasil: Percepção dos
docentes e discentes do curso de Ciências Contábeis e profissionais de contabilidade. Revista
Contabilidade e Controladoria, v. 12, n. 3, p. 20-45, set./dez. 2020.
RESUMO
O Profissional contábil tem como função informar, de maneira confiável, aos seus clientes e
usuários, a situação financeira do patrimônio das organizações, que precisam ser relacionado
em princípios éticos. A Ética é muito importante no contexto profissional, logo deve ser
conhecida e discutida no contexto acadêmico pelos futuros formandos em contabilidade. O
objetivo desse estudo é analisar qual a importância e a opinião dos discentes de uma Instituição
de Ensino Superior privada sobre esta disciplina no curso de Ciências Contábeis. Dando ênfase
sobre a influência que a disciplina de Ética profissional pode exercer na formação profissional,
sendo analisado os elementos que podem ser aderidos como reflexão sobre a manutenção dessa
disciplina no curso Ciências contábeis. Na pesquisa a metodologia utilizada foi classificada
como bibliográfica com um auxílio de um questionário que foi aplicado e o resultado foi
analisado estatisticamente numa amostra de 47 estudantes que estão cursando do terceiro ao
sétimo período. A pesquisa revelou que o aprendizado da Ética e a sua importância para o
exercício da profissão é muito relevante na visão dos formandos a disciplina Ética e Legislação
Profissional no curso de contabilidade teve impacto essencial na conduta ética dos futuros
profissionais e os seus conhecimentos irão definir o sucesso profissional.
Palavras-chaves: ética, discentes, ciências contábeis.
ABSTRACT
1
Graduanda em Ciências Contábeis pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
claudinhaalm1@gmail.com
2
Graduanda em Ciências Contábeis pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
leticiatuanne45@gmail.com
3
Graduando em Ciências Contábeis pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
matheuscostta@hotmail.com
4
Orientador: Adriana Martins de Oliveira. E-mail: adriana.oliveira@professor.catolicadorn.com.br
5
Orientador: Iriane Teresa de Araújo. E-mail: irianearaujo@hotmail.com
213
The accounting professional has the function of informing, in a reliable way, to its clients and
users, the financial situation of the patrimony of the organizations, which need to be listed in
ethical principles. Ethics is very important in the professional context, so it should be known
and discussed in the academic context by future accounting graduates. The objective of this
study is to analyze the importance and opinion of students from a private Higher Education
Institution about this subject in the Accounting Sciences course. Emphasizing the influence
that the discipline of Professional Ethics can exert on professional training, analyzing the
elements that can be adhered to as a reflection on the maintenance of this discipline in the
Accounting Sciences course. In the research, the methodology used was classified as
bibliographic with the help of a questionnaire that was applied and the result was statistically
analyzed in a sample of 47 students who are studying from the third to the seventh period.
The research revealed that the learning of Ethics and its importance for the exercise of the
profession is very relevant in the view of the trainees, the discipline Ethics and Professional
Legislation in the accounting course had an essential impact on the ethical conduct of future
professionals and their knowledge will define the professional success.
Keywords: ethics, students, accounting sciences.
1 INTRODUÇÃO
A ética é um assunto importante de ser discutido, pois é algo presente na vida de todos
os indivíduos socialmente, descriminando o caráter profissional ou pessoal de cada um. O
meio profissional, o qual deve estar inserida, possui regras, normas e princípios a serem
cumpridos, e a não contemplação deles podem causar prejuízos irreparáveis. Araújo (2020)
afirma isso quando diz que a valorização ética está se tornando cada vez mais um ponto
fundamental na contratação e exigência de um profissional, já que a realização correta da
função do profissional implica diretamente no sucesso de uma empresa.
No ambiente contábil, foi incluído a ética como característica fundamental para a
realização dos serviços profissionais e sua tomada de decisão, diante disso foi criado o Código
de ética. O Código de Ética Profissional do Contador trata-se de um guia padronizado do
comportamento profissional. Seu principal objetivo é fixar a conduta do contador no exercício
da sua profissão. O Contador deve seguir as normas estabelecidas pelo Código de ética assim
como as outras normas estabelecidas pelas Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC).
O contador tem grandes responsabilidades, seu exercício de profissão tem como
capacitação de zelar e ser leal aos seus princípios, é importante que esse profissional tenha
cuidados em cada situação, se mantendo atualizado com competência para desenvolver sua
função. O contador lida com informações que são importantes para seus usuários, portanto,
cada profissional tem o seu comprometimento de aplicar em seus atos do dia a dia o código
de ética com muita precisão assumindo suas responsabilidades (SANTOS, 2019). Entender o
214
conceito de ética, o seu princípio moral e como isso reflete perante a sociedade e a vida
profissional, no que se refere ao seu comportamento ético é de suma importância para o
contador.
Visto a relevância que é a ética profissional e o quanto o mercado passou a necessitar
fortemente disso, em 1992 o Ministério da Educação - MEC formalizou a sugestão de
adicionar esta disciplina nas estruturas curriculares de certos cursos de graduação, atenuando
a notabilidade que se devia ter na postura ética dos futuros profissionais em todas as áreas do
conhecimento. Especificamente sobre o curso de Ciências Contábeis, em 2004 o MEC
indicou as competências e habilidades que é esperado do graduando. O curso de Ciências
Contábeis possui em sua estrutura curricular a Disciplina Ética Profissional, que procura
auxiliar na formação ética dos futuros profissionais da contabilidade, fazendo com que se
intensifiquem o aprendizado dos estudantes sobre o comportamento ético profissional.
Assim, partindo do interesse de entender o conceito de ética e a percepção dos
estudantes do curso de ciências contábeis a respeito do código de ética profissional de
contabilidade, foi levantado o seguinte problema de pesquisa: Qual a importância da
disciplina de ética profissional para a formação dos futuros profissionais contábeis?
Dessa forma, esse estudo tem por objetivo geral verificar a importância e alisar a
opinião dos alunos sobre esta disciplina no curso de Ciências Contábeis.
O interesse pelo tema surgiu devido à importância que os conceitos éticos têm
ganhado atualmente. Nessa perspectiva, este estudo se justifica pelo fato de ser relevante o
conhecimento e entendimento dos estudantes, principalmente para quem vai ingressar no
mercado de trabalho.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
A seguir serão abordados os principais temas que norteiam essa pesquisa, essa seção
foi dividida em Profissional Contábil, Ética e O Contador e o Código de Ética Profissional
Contábil.
PROFISSIONAL CONTÁBIL
215
ÉTICA
acontecimentos da vida estejam em acordo com os princípios éticos. Dessa forma a ética
estará sempre relacionada ao indivíduo, tanto no trabalho quanto na sociedade (RIBEIRO,
2019).
No ambiente empresarial a conduta ética também se torna relevante, sendo que os
profissionais não podem, em nenhum momento, deixar de lado o seu valor ético, visto que a
imagem de qualidade nos serviços está associada aos comportamentos que não se desvirtuam
da sociedade. Para tanto, a ética está vinculada a todas as ações em sociedade, estando
também associada as decisões corporativas e atitudes profissionais, tornando-se relevante
absorver conhecimentos sobre o comportamento ético dos indivíduos na atuação profissional
corporativa (MAGRO; SILVA; ZONATTO, 2018).
classe; auferir qualquer provento em função do exercício profissional que não decorra
exclusivamente de sua prática lícita; assinar documentos ou peças contábeis elaborados por
outrem alheio à sua orientação, supervisão ou revisão; exercer a profissão, quando impedido,
inclusive quando for procurador de seu cliente, mesmo que com poderes específicos, dentro
das prerrogativas profissionais (CFC, 2019).
O Código de Ética do profissional da Contabilidade tem a necessidade de sempre se
manter atualizado, pois é necessário adaptar-se aos costumes da prática do mercado e a
também pela adaptação à tecnologia que está sempre em mudança.
3 MÉTODO
219
4 RESULTADO E DISCUSSÃO
O presente estudo tem como objetivo analisar a abordagem da ética e da disciplina da estica
contábil para os futuros contadores, inicialmente, buscou-se ter conhecimento sobre o perfil
dos participantes com relação ao gênero, idade, qual período está cursando e se trabalha ou
não na área contábil.
220
Total 47 100,00%
Tabela 4 - Ensino da ética nas instituições de ensino de superior para formação profissional
Apenas 2 responderam que não consideram a ética importante nas IES, o que
corresponde a 4,3% da amostra. A maioria concorda que a ética é muito importante,
representando 45 estudantes (95,7%). O resultado apurado se alinha à afirmação feita por
222
Morgan, Fonseca e Fernandes, (2019, p. 15) ao retratar que além da própria formação
profissional, o conhecimento da ética da profissão chama a atenção dos estudantes,
apresentando alta importância para a formação dos profissionais. Em razão disso, o próximo
questionamento tratou da razão para esta disciplina fazer parte do curso, o que mostra a
Tabela 5.
Tabela 5 - Razão para disciplina ética profissional fazer parte do curso de ciências contábeis
Opções Frequência Percentual
Aprimorar a educação 4 8,5%
Empregabilidade 0 0,0%
Consciência ética 12 25,5%
Formação ética profissional contábil 31 66%
Total 47 100,00%
Total 47 100,00%
Analisando a tabela 6 é possível notar que a maioria dos entrevistados dão importância
a ética, uma vez que 38,3% responderam que ela da coerência a pratica da profissão e 34%
responderam que a ética auxilia com conhecimentos sobre lealdade e integridade. Apenas 1
discente (2,4%), não considerou a ética importante, assim se alinhando aos dados obtidos por
Campos (2020) quanto à contribuição da Ética para a sua formação profissional, onde 62,90%
do total de respondentes, disseram concordar, no entanto, 37,1% não concordaram com a
contribuição da disciplina de Ética. A Tabela 7 retrata se os discentes possuem conhecimento
do novo código de ética.
Concordo 33 70,2%
Concordo totalmente 14 29,8%
Discordo 0 0,0%
Indiferente 0 0,0%
Total 47 100,00%
Tabela 11 - Fatores que levariam a uma pessoa não ser totalmente ético, de acordo com os parâmetros
estabelecidos no código de ética contábil
Opções Frequência Percentual
Alta carga tributaria 6 12,8%
Falta de credibilidade do governo 1 2,1%
Fiscalização ineficiente 10 21,3%
Falta de conhecimento do código de ética dos 30 63,8%
contadores
Total 47 100,00%
Nota-se que a falta de conhecimento do código de ética (63,8%), como mostra a tabela
11, pode levar o profissional a não ser ético. Podemos notar também uma amostra expressiva
que considera a falta de ética relacionado com a fiscalização ineficiente (21,3%).
À vista dos resultados obtidos, pode-se observar que o conhecimento e a forma ética
de agir está se tornando cada vez mais importante para a formação de um profissional contábil
qualificado, pois principalmente o mercado está exigindo isso, em qualquer área de atuação
há a necessidade de profissionais que dão segurança às empresas no que tange a
confiabilidade e comprometimento do trabalho gerado.
226
Esta subseção foi delineada a partir do objetivo geral da pesquisa para identificar os
fatores determinantes sobre a disciplina de ética profissional contábil para os discentes do
curso superior de ciências contábeis. Por tanto, procedeu-se com a aplicação da análise
fatorial, utilizou-se os seguintes índices de base, estabelecidos por Hair Jr. et al. (2009) e
Marôco (2011): (i) Alpha de Cronbach (superior a 0,6); (ii) Kaiser-Meyer-Olkin (KMO)
(igual ou superior a 0,5); (iii) Esfericidade de Bartlett (p menor que 0,5); (iv) Comunalidade
(igual ou superior a 0,5). A Tabela 1 apresenta os testes de KMO, Bartlett, Alpha de
Cronbach.
Tabela 12- Resultado dos testes de consistência das variáveis observáveis para o uso da AFE
Alpha de Cronbach Esfericidade de Bartlett KMO
Sig.
0,199 0,247 0,506
Fonte: Dados da pesquisa (2022).
Por meio da Tabela 12, observa-se que o KMO (0,506) está dentro dos parâmetros
aceitáveis; o teste de esfericidade (0,247), o Alpha de Cronbach (0,199) demonstra limitações
dos fatores de acordo com as variáveis, sendo um resultado inferior ao quanto se esperava.
Os testes apresentam resultados limitados, sendo assim verificou-se que a reformulação das
perguntas seria o caminho eficaz de uma maior confiabilidade. A tabela 13 identifica a
variância total explicada.
variância cumulativ
a
35
30 y = 0,8267x + 2,0365
R² = 0,9691
25
20
15
10
5
0
0 5 10 15 20 25 30 35
INFLUÊNCIA DA DISCIPLINA ÉTICA PROFISSIONAL NA FORMAÇÃO DO
NOVO PROFISSIONAL
Conforme o Gráfico 1, em linhas gerais podemos ver que a correlação entre a variável
profissional contábil deve agir com ética e a correlação influência da disciplina de ética
profissional do novo profissional, atribuindo o resultado de 0,984408, onde em se afirmar a
importância da ética.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As limitações que está presente pesquisa apresenta é que, por ter sido aplicado em
apenas uma instituição, ela não deve ser generalizada. Desse modo, futuros estudos podem
ampliar a pesquisa para um número maior de participantes e analisar quantitativamente os
dados obtidos. O questionário pode ser replicado para possíveis estudos comparativos.
REFERÊNCIAS
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discentes de ciências contábeis reagem á dilemas éticos da profissão? Contabilidade Vista &
Revista, v. 28, n. 3, p. 53-81, 2017
MUSSI, R.; MUSSI, L.; ASSUNÇÃO, E.; NUNES, C. Pesquisa Quantitativa e/ou
Qualitativa: distanciamentos, aproximações e possibilidades. Sustinere, v.7, n. 2, p. 414-430,
jul. /dez. 2019.
SILVA, E.; MELO, A. Ética na profissão contábil: Percepção dos alunos de Ciências
Contábeis, de uma instituição privada de João Pessoa-PB, em relação à importância da ética
para a profissão contábil. Trabalho de conclusão de curso, p. 1-20, 2019.
231
RESUMO
A presente pesquisa teve como objetivo identificar a percepção dos agentes da atividade
econômica de mobilidade urbana da cidade de Mossoró/RN, a respeito das suas operações e o
conhecimento da contabilidade gerencial e controle financeiro. O estudo possui uma
abordagem descritiva por intermédio de uma análise quantitativa. Optou-se pelo método de
pesquisa survey, aplicada através de um questionário compartilhado de forma online, através
de um link do Google Forms, onde foram disponibilizados para os motoristas de aplicativos,
para grupos de WhatsApp em que os mesmos participavam. Diante dos dados obtidos verificou-
se que a maioria dos agentes são homens e jovens, com idade entre 18 e 40 anos, exercendo o
trabalho de motorista de aplicativo de forma informal e com objetivo de complementar sua
renda, trabalham em média 4 a 6 horas diárias conciliando com uma outra atividade laboral.
Uma parte dos respondentes fazem o controle financeiro em cadernetas de papel, outros em
aplicativos de gestão, afirmam conseguir separar bem suas receitas e despesas obtidas. No
entanto, foi observada certa limitação de conhecimento contábil gerencial, além da falta de
planejamento financeiro em relação à aposentadoria, sendo assim, foi identificada a necessidade
dos mesmos terem conhecimento da contabilidade gerencial e controle financeiro para poderem
ter uma boa alfabetização financeira e assim gerir suas finanças pessoais.
Palavras-Chave: Atividade Informal. Contabilidade Gerencial. Contabilidade financeira.
Aplicativo de Mobilidade Urbana.
ABSTRACT
The present research aimed to identify the perception of the agents of the economic activity of
urban mobility in the city of Mossoró/RN, regarding their operations and the knowledge of
managerial accounting and financial control. The study has a descriptive approach through a
quantitative analysis. We opted for the survey research method, applied through a questionnaire
shared online, through a Google Forms link, where they were made available to application
drivers, to WhatsApp groups in which they participated. In view of the data obtained, it was
found that most agents are men and young people, aged between 18 and 40 years, working as
an app driver informally and with the aim of supplementing their income, they work an average
1
Graduado em Ciências Contábeis - UERN. E-mail: Victorbatista@alu.uern.br.
2
Doutoranda em Ciências Contábeis - UnB. E-mail: mariarosario@uern.com.
3
Mestranda em Ciências Contábeis - UFRN. E-mail: sabrinauern@gmail.com.
4
Mestranda em Ciências Contábeis - UFRN. E-mail: keliane.melo.14@gmail.com.
232
of 4 to 6 hours. daily allowances, reconciling with another work activity. A part of the
respondents make the financial control in paper notebooks, others in management applications,
claim to be able to separate their income and expenses obtained. However, a certain limitation
of managerial accounting knowledge was observed, in addition to the lack of financial planning
in relation to retirement, thus, it was identified the need for them to have knowledge of
managerial accounting and financial control in order to have a good financial literacy and thus
manage your personal finances.
Keywords: Informal Activity. Management/Financial Accounting. Profitability of Mobility
Application Activity.
1 INTRODUÇÃO
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Nesta seção será abordado o referencial teórico pertinente a este estudo. Adota-se como
principais tópicos, para melhor compreensão e desenvolvimento do estudo, os seguintes temas:
Atividade informal, contabilidade gerencial e financeira, rentabilidade de atividade de
aplicativo de mobilidade, na busca por informações e conhecimentos que auxiliem o
desenvolvimento do trabalho.
O termo trabalho informal teve sua gênese no ano de 1972 quando se discutia as
condições de trabalho existentes em países da África, como Gana e Quênia, em que muitos
235
trabalhadores exerciam atividades sem reconhecimento por parte do governo e, assim, sem
qualquer proteção ou regulamentação (GONDIM et al., 2006).
O trabalho informal é um fenômeno social que se encontra em praticamente todo o
mundo capitalista, e com a diminuição do emprego tradicional, o trabalho informal ou as formas
mais flexíveis de trabalho aparecem como maneiras de inserção no mercado, como alternativas
ao emprego ou mesmo como tentativas de saída de uma situação de desemprego. Cabe ressaltar
que tão relevante quanto ter um trabalho é ter um projeto de carreira, que permita atingir as
necessidades do ser humano e ingressar numa situação de auto realização em um planejamento
futuro (AGOSTINI, 2018; RIBEIRO,2009).
Ainda na visão de Ribeiro (2009), o trabalho informal surge nas formas flexíveis ou
precárias do trabalho em tempo parcial, temporário, teletrabalho, terceirização e informalidade,
exercidas por cada vez mais trabalhadores como fuga para a situação de desemprego diante da
impossibilidade de ter um emprego. Lima e Soares (2002) complementam explicando que a
característica básica da informalidade estaria na ausência de contratos e da proteção social ao
trabalhador vinculada a esses contratos. O trabalhador é responsável pelo acesso à proteção
desde que pague por ela, porém os mesmos afirmam que com o crescimento da informatização
e a valorização do trabalho autônomo e microempreendedor, acompanhados da degradação das
relações de trabalho torna o que antes era considerado desemprego disfarçado ou subemprego,
passando a ser visto como um paradigma das relações de flexibilização.
Esta progressiva flexibilidade do emprego observada atualmente na sociedade é uma
variável que pode contribuir para a precarização do trabalho. As novas relações de trabalho que
surgiram a partir da evolução da tecnologia, em sua maioria, não oferecem ao trabalhador os
direitos e compensações que leis e contratos tradicionais vinham garantindo (PIALARISSE,
2017).
Atualmente um indivíduo que possui um computador ou smartphone consegue usufruir
ou prestar de vários tipos de serviços sem qualquer contrato formal além da transação pontual.
Singer (1996) acrescenta que a vantagem disso é a flexibilidade que esse novo tipo de relação
gera a empresa, pois tudo isso faz com que o trabalhador custe menos, pois ela não terá que
pagar o pela ociosidade, ou as horas extras (quando os trabalhadores têm uma urgência de
demanda no trabalho e precisam ficar além do período habitual).
De acordo com Lisa et al. (2016), esse tipo de serviço chamado de ridesourcing (serviço
de transporte de passageiros solicitado através de um aplicativo de smartphone) nos Estados
Unidos, combina dinamicamente a oferta e a demanda pelo transporte, permitindo que os
viajantes solicitem um serviço de carro em tempo real usando um aplicativo de smartphone. De
modo a oferecer segurança e uma otimização no tempo do trajeto, as viagens são amparadas
por algum aplicativo de trânsito, fornecendo ao motorista, em tempo real, o melhor trajeto. No
Brasil as empresas que surgiram oferecendo esse tipo de serviço, destacam-se a Uber, 99 Pop,
Carbefy etc.
Logo, diante da crise de mobilidade urbana, surgiram-se os aplicativos de transportes
com o intuito de criar formas de melhorar o sistema de transporte, tendo se mostrado um modelo
muito eficiente e promissor, assim, conquistando um enorme número de usuários,
principalmente em razão do preço acessível, a segurança e o conforto (ANDRADE, 2017). No
que lhe concerne, os motoristas que utilizam os serviços do aplicativo conseguem oferecer
serviço semelhante ou até melhor por preços mais baixos que os oferecidos pelos táxis. Isto
porque, não possuem os custos da regulação estatal, como a necessidade de pagar pela emissão
de licenças e por sua fiscalização. Estes preços mais baixos são capazes de gerar, por exemplo,
ganhos de bem-estar para os consumidores na forma de excedente do consumidor tal como
mostrado em Cohen et al. (2016).
Um diferencial relevante da Uber é o seu sistema de classificação, que avalia motoristas
e passageiros. No que diz respeito aos motoristas, a avaliação das corridas envolve vários
aspectos que vão desde a qualidade do carro até a qualidade do atendimento e segurança da
corrida. Motoristas mal avaliados (nota inferior a 4,6) são excluídos do aplicativo. E costuma-
se oferecer bônus aos motoristas, por meio do pagamento de 4 valores fixos por um determinado
período de ativação ou estabelecimento da garantia de um valor mínimo de faturamento em um
determinado período. Por conseguinte, são criados incentivos para que nenhuma corrida seja
negada e mesmo que existam corridas que possam gerar prejuízo, os motoristas ganham na
média das corridas (OLIVEIRA; MACHADO, 2017).
Este aplicativo (APP) pioneiro no segmento se coloca como uma oportunidade de
emprego, ou como um novo negócio que pode melhorar a vida dos colaboradores. Seus
motoristas não são contratados, mas sim cadastrados e vinculados a um sistema próprio. Não
ganham salários fixos e são remunerados semanalmente de acordo com os trajetos realizados.
239
Os carros também não pertencem à empresa, mas sim, aos motoristas cadastrados (BARROS,
2015).
Serrano e Baldanza (2017) explicam que o sistema de pagamento é todo intermediado
pelo aplicativo, orientado por recurso do Global Positioning System (GPS), ou seja, por um
sistema de localização global e estimativas de tempo de percurso, em que, antes mesmo da
confirmação determina-se o valor que será cobrado. O pagamento no aplicativo é feito por meio
de pagamento em espécie, Uber Cash e cartão de crédito cadastrado pelo usuário, com 20% do
valor ficando com a Uber e 80% repassando para o motorista o total cobrado pela viagem.
O crescimento das empresas de serviço de transportes por aplicativo nos últimos anos
foi considerável, isso ocorreu principalmente pelo apoio e fidelidade de seus clientes (LISA et
al., 2016). Souza (2016) ressalta que já existe uma grande concorrência, a exemplo do setor de
transporte por estar constantemente na mídia e por permitir baixos investimentos, ele é visto
como um dos setores que mais permite a percepção da oportunidade de empreender, esse
sistema de transporte individual de passageiros não exige alta qualificação, a oportunidade é
imediata, há demanda de profissionais e pode ser um negócio lucrativo.
Diante do exposto Barros (2015) acrescenta que a Uber que é um aplicativo com um
sistema de fácil manuseio, com todas as informações sempre disponíveis ao usuário,
proporciona um serviço de transporte seguro e com boa experiência, possibilita informações a
respeito do passageiro e do motorista para a segurança de ambos, faz cotação do valor a ser
cobrado pelo trajeto, permite a divisão da tarifa com outros passageiros, que é um diferencial,
dentre outros serviços mais específicos para a empresa. E para os motoristas, existe uma cotação
de lucros semanais, evolução financeira, mostrando valores recebidos, carga horária gasta, entre
outros.
Marques et al. (2016) coloca que a depreciação tem como principal objetivo registrar o
desgaste efetivo dos bens pelo uso ou perda da utilidade, mesmo que seja por ação do tempo ou
por simples obsolescência. Sendo assim, os motoristas precisam ter conhecimento que essa
perda também vai estar presente ao exercer sua atividade laboral, sendo relevante ser levada em
consideração no momento de fazer o levantamento das despesas, a rentabilidade e retorno
financeiro.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
240
Nesta seção são apresentadas as análises dos dados coletados através do questionário,
que foi aplicado aos motoristas de aplicativos de mobilidade urbana na Cidade de Mossoró-RN.
Foi enviado link para os motoristas nos grupos de WhatsApp e atingimos um número de 42
respondentes. Serão demonstrados os resultados da pesquisa, que foram segregados entre perfil
do profissional (motorista de aplicativo) e as informações contábeis.
Conforme os dados da Tabela 1, observamos que 95% dos motoristas de aplicativo são
homens e apenas 5% se classificaram mulheres. Dentre os quais, a faixa de idade predominante
é de 18 a 30 anos, com um percentual de 55%. Seguido dos motoristas de idade entre 31 a 40
anos com 26%, e se atentarmos a tabela observa-se que conforme a faixa etária de idade
aumenta o percentual de motoristas diminui.
Este resultado é corroborado com a pesquisa de Rodrigues, Nicacio e Paula (2019), que
levantaram as mesmas características de pesquisa, assim há uma semelhança entre os
resultados, mesmo considerando a diferença entre as regiões, está aplicada em Mossoró-RN e
a pesquisa de Rodrigues, Nicacio e Paula (2019) realizada em João Pessoa-PB. O Gráfico 1
apresenta as informações quanto o nível de escolaridade dos respondentes.
242
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
Conforme o Gráfico 2, 60% dos respondentes declararam que não possuíam experiência
anterior como motoristas, e 40% sim. Sendo possível apontar alguns pontos positivos desta
atividade, onde não exige experiência, permitindo também total flexibilização de dias e horários
para atuação, corroborando com Oliveira e Machado (2017). Se apresentando como uma
alternativa para os trabalhadores, frente a crescente taxa de desemprego do país ou até mesmo
uma opção de segunda fonte de renda para alguns. Na região existem diversas outras
plataformas que oferecem a mesma proposta de serviço que a Uber (BARROS, 2015). Em
seguida, o Gráfico 3 estará demonstrando as plataformas mais utilizadas além da Uber.
243
Na Tabela 2, constata-se que 60% dos motoristas afirmam exercer outra atividade
para fins de complementação da renda, logo, dispõem de menos tempo para a atividade, e de
33% que usam a plataforma em média, de 4 a 6 horas por dia. Os que afirmam utilizar o
aplicativo como sua única fonte de renda, responderam em 26% que trabalham em média de 06
a 08 horas diárias. É relevante ressaltar que para uma atividade informal a carga horária é o
diferencial para que o profissional tenha mais ganhos financeiros, tendo em vista que sua
rentabilidade é proporcional a quantidade de horas trabalhadas.
No Gráfico 4, evidencia os resultados sobre a situação do veículo em relação à propriedade, se
seria próprio ou alugado, por exemplo.
244
Alugado 7%; 3
0 5 10 15 20 25 30
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
De acordo com os resultados, aponta-se que maioria os veículos utilizados são de cunho
próprio, onde 57% responderam possuir carro próprio financiado, 33% carro próprio quitado e
um percentual de 7% informou utilizar carro alugado para trabalho na atividade.
Os resultados do Gráfico 6, mostram que 100% dos motoristas estão cientes do consumo
médio de combustível do veículo utilizado para o transporte urbano, sendo um custo relevante
no que tange à avaliação do lucro. Realizar a análise da situação econômica, de acordo com
Gitman (2010), envolve a rentabilidade e lucratividade do desempenho da empresa, ou seja,
refere-se à avaliação do retorno sobre os investimentos realizados e o ganho obtido sobre as
vendas realizadas ou serviços prestados. Sendo assim, os respondentes levam em consideração
esse custo quando vão avaliar os seus ganhos obtidos.
No Gráfico 7, tem-se os resultados quando indagados se conseguem separar suas
despesas relativas à atividade empresarial das suas despesas pessoais.
O Gráfico 7, apresenta que 79% dos entrevistados afirmam conseguir separar facilmente
as suas despesas relativas à atividade empresarial das suas despesas pessoais. E este controle
de custos, despesas e demais tipos de gastos são essenciais para o gerenciamento da saúde
financeira de qualquer negócio. Logo, os respondentes reconhecem a necessidade e a relevância
de se ter o gerenciamento e controle financeiro a respeito do seu patrimônio. O papel da
contabilidade é realizar os registros dos fatos e atos, subsidiar o gestor com informações para
uma melhor tomada de decisão (CHUPEL; SOBRAL; BARELLA, 2014).
246
Pode-se observar a partir dos dados da Tabela 3 que, alguns gastos apresentam
variações, como por exemplo, o combustível que é considerado um custo essencial para
execução da atividade, e, 2% da amostra não contabilizam este custo. Ainda conforme a tabela,
29% gastam em média R$ 500,00 reais, 52% dizem gastar entre R$ 500,00 e R$1.000,00 reais
e 19% afirmam ter um gasto médio com combustível de até R$2.000,00 reais, e esta diferença,
pode ser explicada pela diversidade e potência dos veículos utilizados, carga horária de
trabalho, quantidade de corridas e o tipo de combustível utilizado (Gasolina Comum ou
Aditivada, Gás GNV, Álcool, Diesel), e consequentemente o valor. Outro gasto essencial citado
é com internet móvel, pois se utiliza um aplicativo, e neste não foi observado variações de
valores que de acordo com as respostas, os pacotes apresentam valores entre R $50,00 e
R$100,00 reais, atendem bem as necessidades para esta atividade.
Um detalhe importante seria em relação ao gasto com previdência, onde 33% afirmaram
contribuir entre R$ 50,00 e R$100,00 reais, 7% afirmam contribuir com valores entre R$100,00
a R$200,00 reais, entretanto, 60% dos respondentes não contribuem o que pode indicar uma
falta de planejamento financeiro em relação à aposentadoria. Na Tabela 4, estão apresentados
os dados dos gastos semestrais e anuais perguntados aos motoristas. Estes que atuam como uma
ferramenta de gestão, podendo ser provisionados e assim serem liquidados de forma mais
eficiente.
247
Na coluna 1 da Tabela 4, 60% dos respondentes afirmaram ter um gasto semestral com
manutenção do veículo de até R$1000,00 reais. Já 31% afirmam ter um gasto de até R$300,00
reais, 5% apontaram um gasto de R $1.000,00 a R$2.000,00 reais, porém 5% afirmaram não ter
gasto com manutenção, isso pode ser justificado pelo fato do veículo ser alugado.
Os gastos anuais elencados na coluna 2 da Tabela 4 estão sujeitos a variáveis externas,
como por exemplo: tempo de uso e valor do veículo (que influencia no valor dos encargos e
impostos), a idade do condutor que influencia no valor dos seguros, dentre outras. Com base
nos dados anuais 67% e 57% dos respondentes dizem ter gastos entre R $500,00 e R$1.000,00
com IPVA e Seguro do veículo, respectivamente. Seguindo a mesma ordem, 17% e 19%
afirmam ter gastos de R$ 1.000,00 a R$2.000,00 reais, 14% e 12% apontaram gastos de até
R$500,00 reais, e 02% e 12% afirmam não pagar IPVA nem o Seguro do veículo, o que também
pode ser explicado no caso de o veículo ser alugado.
No Gráfico 8 é demonstrado se é realizado provisionamento dos gastos futuros
mencionados anteriormente.
Os resultados expressos no Gráfico 8, demonstra que 64% dos agentes não conseguem
realizar provisões de seus gastos futuros e 36% afirmam separar mensalmente valores de suas
248
receitas para cobrir seus gastos futuros mencionados acima. Para Lima e Soares (2002) o
trabalhador é responsável pelo acesso à proteção desde que pague por ela, uma característica
básica da informalidade estaria na ausência de contratos e da proteção social ao trabalhador
vinculada a esses contratos. Portanto, observa-se o risco exposto desses profissionais
autônomos que estarão sujeitos a dificuldades em realizar seus gastos futuros tendo em vista
sua renda variável e imprevisível.
No Gráfico 9 apresenta se há conhecimento sobre a depreciação do veículo utilizado.
Sim 14%
Não 86%
0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
De acordo com o Gráfico 10, verifica-se os meios pelos quais os motoristas registram
os recursos referentes à atividade do Uber. Com 36% dizendo utilizar cadernetas, 19% preferem
usar aplicativos específicos, 14% se organizam em planilhas, 17% afirmaram tentar organizar
mentalmente, além dos 14% que dizem não organizar ou registrar. Ficando evidente o
desconhecimento, esses achados corroboram com Lima e Soares (2002), no caso das atividades
econômicas informais, o profissional autônomo de transportes de aplicativo, que é,
normalmente, o próprio agente, aufere receitas, executando algum tipo de atividade. Que muitas
vezes, encontra-se desprovido de informação contábil, ou seja, não possui uma estratégia
específica, baseado em alguma característica para gerenciar seus proventos e despesas,
acarretando numa observação incorreta do lucro exercido sobre a atividade.
O Gráfico 11 tratará sobre as receitas, questionado aos motoristas qual a média mensal
de recursos recebidos a partir da atividade do Uber.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BARROS, Ana Cirne Paes de. Uber: O Consumo Colaborativo e as Lógicas do Mercado. In:
Anais do 5º Encontro de GTs do Comunicon, São Paulo, PPGCOM ESPM, 2015, p. 1-15.
Disponível em: http://anais-comunicon2015.espm.br/GTs/GT5/24_GT5_BARROS.pdf.
Acesso em: 03 nov. 2021.
BRASIL. Lei n.° 128, de 19 de dezembro de 2008. Altera a Lei Complementar no 123, de 14
de dezembro de 2006, altera as Leis nos 8.212, de 24 de julho de 1991, 8.213, de 24 de julho
de 1991, 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil, 8.029, de 12 de abril de 1990, e dá
outras providências.
FREUND, J. E.; SIMON, G. A. Estatística aplicada. 9. ed. Porto Alegre: Bookman, 2000.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
GITMAN, L. J. Princípios da administração financeira. 10. ed. São Paulo: Person Addison
Wesley, 2004.
GONDIM, Sônia Maria Guedes et al. Carteira de trabalho, artigo de luxo: O perfil
psicossocial de trabalhadores informais em Salvador. Estudos de Psicologia (Natal), Bahia,
v. 11, n. 1, p. 53-64, 2006.
RESUMO
Diante do cenário nacional que estamos a presenciar, tomado pela instabilidade democrática,
pelo abalo das instituições através de ataques antidemocráticos, pela violência material
simbólica e psicológica, pela intolerância política e pela fome, nos pusemos a pensar questões
pontuais, relacionadas a alguns aspectos culturais brasileiros, tendo a educação popular, através
da arte, como movimento de possível ruptura e interrupção de práticas de exploração, violência
e violação de direitos e garantias fundamentais. Nossa investigação se deu através de uma
pesquisa bibliográfica e uma entrevista com o coletivo Pé de Barro, grupo de Hip hop da nossa
cidade, Mossoró-RN. Já os resultados e discussões são apresentados através uma escrita crítica,
de contornos ensaísticos (tendo o ensaio como algo que não está pronto, está sempre a se
renovar, aprimorar – não buscamos respostas prontas e fechadas), que dialoga com os materiais
colhidos na investigação, descortinando cenários de violência e demonstrando que, apesar das
dificuldades, o futuro ainda está em aberto.
Palavras chave: Educação popular. Violência. Práxis. Libertação.
ABSTRACT
Faced with the national scenario that we are witnessing, taken by democratic instability, by the
shaking of institutions through anti-democratic attacks, by symbolic and psychological material
violence, political intolerance and hunger, we started to think about specific issues, related to
some Brazilian cultural aspects. , having popular education, through art, as a movement of
possible rupture and interruption of practices of exploitation, violence and violation of
fundamental rights and guarantees. Our investigation took place through a bibliographic
research and an interview with the collective Pé de Barro, a hip hop group from our city,
Mossoró-RN. The results and discussions are presented through a critical writing, with
essayistic contours (having the essay as something that is not ready, it is always being renewed,
improving - we do not seek ready and closed answers), which dialogues with the materials
1
Licenciada em Ciências Sociais, mestranda em Ciências Sociais e Humanas pela UERN. E-mail:
amandatchu@hotmail.com .
2
Advogado especialista em Segurança Pública e Cidadania, pós-graduado em Ciências Penais, graduando em
Psicologia pela FCRN, mestrando em Ciências Sociais e Humanas pela UERN. E-mail: lulalopes02@gmail.com
3
Mestranda em Ciências Sociais e Humanas pela UERN, especialista em arte educação com ênfase no teatro pela
FVJ, especialista em educação e contemporaneidade pela IFRN. E-mail: jorianapontes@gmail.com
4
Dra. em Sociologia, professora adjunta IV da UERN e docente permanente do Programa de Pós-graduação em
Ciências Sociais e Humanas PPGCISH/UERN. E-mail: karllasouza@uern.br
257
collected in the investigation. , revealing scenarios of violence and demonstrating that, despite
the difficulties, the future is still open.
Keywords: Popular education. Violence. Praxis Release.
1 INTRODUÇÃO
A vida nos impõe inúmeros desafios, tal qual este: escrever, pondo em prática o
esperançar de Paulo Freire, em tempos de exceção. Mas, como dizia a avó do Luiz: “quem tem
vontade e fé, tem quase tudo”. E, diga-se de passagem, depois de pagar a disciplina Teorias e
Métodos de Pesquisa com Cultura Popular, no Programa de Mestrado em Ciências Sociais e
Humanas da UERN, conduzida com maestria pela professora que nos orienta, não somos as
mesmas (os), fica tudo mais fácil. Esse trabalho é fruto das reflexões levantadas durante esse
caminhar.
Escrevemos um dia depois da tragédia onde um fanático bolsonarista (apoiador do atual
presidente) executou um membro do Partido dos Trabalhadores (PT), ceifando, em razão do
fanatismo político, uma vida no auge da sua comemoração, em plena festa de aniversário.
Tragédias como essa não atingem apenas a família do violentado, mas, sim, toda a
sociedade e, ainda, serve como retrato dos tempos de opressão e estímulo a violência que temos
vivido e experimentado em nosso país. Garantias individuais são dilapidadas, grupos são
perseguidos e violentados, a fome volta com uma voracidade que há muito não víamos, 14
(quatorze) anos de políticas sociais vão pelo ralo em pouco mais de 3 (três) anos de desgoverno.
Queríamos começar o texto com uma mensagem poética, esteticamente bonita, mas
achamos pertinente trazer o retrato fidedigno da atual sociedade brasileira, digitado e relatado
por essa tragédia.
Comovidos, indignados, escrevemos. Fazemos do papel e das ideias a nossa arma.
Lutamos por uma ciência humana, justa e ao alcance de todas (os). Uma ciência que possa
recompensar, reconhecer, validar e trabalhar em sintonia com os saberes populares. Que possa
validar a potência do subalterno, dando-lhe, espaço de fala e de promoção de ideias e saberes
outrora marginais. Logicamente, ao almejar isso, não pensamos em algo novo, mas em um
resgate que retoma a divisão do protagonismo histórico.
Como bem nos ensinou Paulo Freire, cremos que a educação não muda o mundo, mas,
sim, as pessoas e, as pessoas, mudam o mundo. Ele nos ensina com maestria que: “não podemos
esquecer que a libertação dos oprimidos é libertação de homens e não de “coisas”. Por isto, não
258
é autolibertação – ninguém se liberta sozinho, também não é libertação de uns feita por outros”
(FREIRE, 1987, p.30).
Assim, para o desenrolar deste trabalho, precisamos não só nos perguntar - de que
educação estamos falando? -, mas também entender um pouco dos aspectos culturais que
permeiam a sociedade brasileira, oprimindo e tornando submisso, inoperantes, os mais diversos
sujeitos que não gozam de capital social, cultural e financeiro, ou seja, a esmagadora maioria
da população.
As causas de opressão e a efetivação da violência são multifatoriais, interseccionais.
Assim, se faz importante pensarmos um pouco sobre algumas construções tecidas por Marilena
Chauí, em seu artigo denominado Democracia e Sociedade autoritária.
Ela já começa o texto arguindo que “estamos acostumados a aceitar a definição liberal
da democracia como regime da lei e da ordem para a garantia das liberdades individuais”
(CHAUÍ, 2012, p. 149). Mas que Lei e qual ordem? Lei a serviço de quem? Quais garantias?
Democracia? Vivemos sob o manto de apoio a violência, onde o atual presidente vem a
público cobrar “ações enérgicas” dos seus seguidores e está, a todo tempo, ameaçando as
instituições. Vemos um Congresso Nacional de homens, brancos e representantes de uma elite
coronelista e autoritária. Assistimos (mesmo que aos gritos, infelizmente não faz diferença) o
sucateamento da educação pública e o emergir do apoio público a uma educação privada e
bancaria. Presenciamos reformas educacionais que visam mão de obra barata e, não, a
construção de sujeitos críticos, empoderados. Vamos existindo, como dá, tentando apenas
chegar ao próximo dia e esquecer o anterior.
Nesse modelo, a democracia de uma liberdade que ordena, surge como regime político
eficaz, em virtude, apenas, de ser possível a escolha dos nossos representantes. O medo tem
sido usado como mecanismo de condução das massas e engajamento políticos através de
discursos e ideias que permitem e validam a violência como forma de combate da violência.
Vivemos, indubitavelmente, tempos difíceis, atravessados por uma pandemia sem fim,
por um modelo econômico hegemônico e violento, afrouxamos nossas amarras com o popular,
com o local, com o tradicional. Consequentemente, abrimos mão da soberania e nos
desorganizamos politicamente, perdendo, “o poder do povo” e, também, a razão da democracia.
Necessitamos repensar o existir diante das diretrizes dos novos tempos. Se faz
necessário que criemos e/ou adaptemos formas de resistência que coadunem com as
singularidades que ainda existem em nós. Precisamos, pela educação (práxis pedagógica de
259
resistência) e através da arte, resgatar e juntar os cacos da resistência tornando audível nossa
voz.
É essa tarefa, talvez imprudente aos olhos da ciência, que propomos aqui. Somos,
seremos e devemos ser, sujeitos políticos. A ciência precisa “tomar partido”, ter um lado. Não
queremos com isso abraçar políticos e seus partidos, mas, fugir da ideia de neutralidade que
tende a nos calar e tornar mecânicos o nosso agir, o nosso brandar. Por uma educação de
resistência, inclusiva, popular e que empodere, já!
Assim se faz necessário analisarmos de fato o cenário político e a complexidade que o
engloba, percebendo qual político e/ou partido possibilita uma política democrática, que
trabalhe junto aos movimentos sociais, fortalecendo-os, e, também, esteja próxima do povo,
dialogando, acolhendo e buscando construir um Brasil mais justo e igualitário para todas(os).
Se nos voltarmos para as nossas(os) educadoras(es), pesquisadoras(es), veremos que
existe um ponto em comum entre todas(os), que deve ser considerado por nós na desenvoltura
de um projeto pedagógico transformador, que é a bagagem cultural e as vivências que elas(es)
trazem, que carregam consigo diuturnamente, essas(es) educandas(o), alunas(os) – da vida e
para à vida-, pessoas humanas e não coisas a educar, merecem e precisam de voz audível. A
educação como conhecimento e aprendizagem dialoga com o cotidiano e a vida de cada uma
dessas pessoas, nelas e com elas, devemos nos permitir construir um saber pautado na existência
plural, multidisciplinar e igualitária entre todas(os) que participam do processo.
A arte do Hip hop nasceu na periferia como resposta a opressão do sistema racista,
capitalista e hegemônico que sufoca até hoje nossas(os) jovens, especialmente as das camadas
“subalternas” do mundo, porque não se restringe só ao Brasil (O Hip hop e a opressão, talvez,
esse seja um dos motivos para a arte ser universal). Essa arte nasceu na periferia de Nova York
se espalhou para todos os lugares. É considerada revolucionaria e de resistência.
Aqui em Mossoró-RN, entrevistamos o coletivo Pé de Barro, no intuito de aprender com
eles e não de encaixá-los ao nosso saber. Segundo os entrevistados, em Mossoró-RN, o
movimento surgiu nos anos 2000 e permanece até hoje, através do coletivo Pé de Barro, que
versam entre dança do break, música do rep, discotecagem e grafite.
Essa pesquisa, parte bibliográfica e parte de campo, analisa a educação popular e o Hip
hop em Mossoró-RN, como vertentes de resistência e suporte ao deserto do real, pensando a
interseccionalidade - tão presente no cenário nacional – e alguns dos seus reflexos. Portanto,
para adentrarmos no Hip hop, se faz necessário dialogarmos um pouco com a educação popular
260
e sua possível e ensejada práxis libertadora; na sequência refletiremos sobre o Hip hop como
movimento de resistência e, posteriormente, sobre a interseccionalidade, tão necessária na
compreensão desses processos dialógicos das(os) jovens oprimidas(os). Concluiremos então,
esse trabalho de pesquisa, com uma síntese crítica, seguindo com o arcabouço bibliográfico
utilizado.
Não há como falar de educação popular sem recorrer a algumas questões que perpassam
a construção e difusão de uma pedagogia crítica e transformadora. Inicialmente, se faz
importante pensarmos sobre costumes.
Conforme leciona Thompson, “muitos costumes eram endossados e frequentemente
reforçados pela pressão e protestos populares” (THOMPSON, 1998, p. 15).
Ele ainda ensina que “[...] a educação formal, esse motor da aceleração (e do
distanciamento) cultural, ainda não se interpôs de forma significativa nesse processo de
transmissão de geração para geração” (THOMPSON, 1998, p. 18). E mais: “As tradições se
perpetuam em grande parte mediante a transmissão oral [...]” (THOMPSON, 1998, p. 18).
Ele põe a cultura popular como rebelde, demonstrando, ao que parece inicialmente um
paradoxo, a exposição de uma cultura tradicional, mas ao mesmo tempo rebelde, que reage, por
exemplo, em nome do costume, as inovações capitalistas, que é quase sempre experimentada
pela plebe como uma exploração (THOMPSON, 1998).
Entendendo parte da complexidade que nos é inerente e, através da apropriação e
domínio de saberes locais e globais, populares e científicos, ligados a psique e ao
comportamento humano, o capitalismo, em especial, o capital, e toda a teia de exploração nele
presente, passou, por meio de vários artifícios, dentre eles a propaganda, a dominar temas
chaves para conduzir algumas massas e suas potências.
Institui-se, então, um mecanismo potente de domínio e formação, a educação bancária,
rígida, restrita (tornando-se desejada), condicionante e escrita, que passa a desvalorizar e
oprimir saberes orais, locais e populares, em detrimento de um ensinamento técnico, maçante
e opressor, que encontra na palavra escrita, uma maneira firme e repressiva de dominar a
história, prescrevendo e decretando destinos. Capitalismo e conduta não econômica baseada em
261
costumes, entram em conflito, inconsciente para este e consciente para aquele. Um conflito
programado e conduzido pelas grandes corporações, massivizado e efetivado pelo político a
serviço do capital.
Nesse modelo, satisfações materiais se ampliam e galopam para tornarem-se maior que
as satisfações culturais. Na verdade, o cultural passa a ser matéria possibilitada apenas às
estirpes dominantes, tornando-se um capital desejado, além de seu acesso ser matéria de
distinção e erudição. Já o popular, toma um rumo indesejado e torna-se uma experiência da ralé,
que simboliza uma falta de qualidades, rusticidade e atraso.
Assim, como bem ensina nossa orientadora:
Numa interpretação mais economicista o popular passou a ser também a cultura feita
pelo povo e consumida pelo próprio povo; dentro das relações hierárquicas do
conhecimento, o popular está associado ao fazer desprovido de saber. Nos nossos dias,
o popular passa a se constituir como tudo o que for acessível ao povo, da massa
desaculturada aos setores desprovidos de movimentos políticos organizados
(SOUZA, 2010, p. 14).
5
Grupo de Hip hop e dança break de Mossoró-RN.
263
Por fim, cumpre-nos ressaltar que a educação popular rompe com o medo da liberdade,
que fora construído, alicerçado e trabalhado, ao longo dos tempos, pelas classes opressoras e
dominantes, porém, fica de fora da educação escrita, alimentando-se ainda mais a alienação já
tanto dissipada e evitando-se a todo custo um pensar crítico.
O Hip hop considerado como movimento social e cultural, arte que hoje já é, também,
considerada esporte, nascida nas condições sociais de luta contra o racismo, contra a falta de
igualdade na distribuição da renda percapita no mundo e, contra o sistema hegemônico, nasceu
nas camadas subalternas do Brooklyn – Nova Iorque – EUA, e tomou o mundo pela importância
do movimento de resistência que pregava, ganhando potência junto aos movimentos sociais,
por se tratar de um movimento popular, educativo, combativo, de resistência social e
pedagógica, em virtude da sua construção e constituição político-democrática.
O Hip hop, parafraseando Sergio Domingues (2014), compreende quatro pilares
importantes da arte, como a discotecagem, dança chamada de break, grafite e música rap.
Importante verificar que nenhum desses pilares tem mais importância que o outro, pelo
contrario, unidos formam o Hip hop e constroem um processo de educação popular, de
militância, que caminha para uma consciência política, antirracista e contra-hegemônica,
combativa e de resistência.
As batalhas no Hip hop são consideradas como importantes no contexto de amenizar os
conflitos existentes entre periferias e suas questões antagônicas, de princípios e disputas por
espaços e lideranças. Um recorte importante da fala dos componentes do break coletivo Pé de
Barro, indica esse aspecto como a origem real do surgimento do Hip hop, no Brooklyn, em
meio a tantas brigas que levavam os subalternos a morte.
Com o surgimento das batalhas se construiu, também, um processo de paz coletiva e a
disputa por espaço e liderança na periferia se restringiu, em sua maioria, as disputas em dança
no break, discotecagem (com os DJs) e grafite (com os artistas), que grafitavam, na sua maioria,
muros, paredes e música com os Reps.
Verificamos grande importância no movimento Hip hop enquanto processo pedagógico,
porque dialoga com os grupos subalternos de moradores periféricos e promove o processo de
264
persuasão nas relações dos grupos sociais e nos movimentos organizados, não como
propaganda, mas como práxis crítica.
A luta do movimento Hip hop visa justiça racial e social, é combativa a hegemonia em
todas as esferas sociais de controle. Os movimentos sociais conseguiram, através de diálogos
com o movimento do Hip hop, incorporar os mesmos nas suas lutas e pautas políticas e isso
possibilitou que o Hip hop fosse divulgado e reconhecido como uma arte plural, quebrando os
paradigmas da marginalidade, ao qual já fora associada.
O movimento do Hip hop tomou e atingiu outras esferas do seio social, ganhando
adeptos e a importância merecida na sociedade dos anos 2000, quando se iniciaram uma
discussão interna sobre o real papel do movimento, pensando-se o “onde ele está” e o sucesso
de cada um e cada uma, como uma contradição ética relativa ao motivo pelo qual sugira (como
um movimento de luta dos subalternos contra a falta de políticas públicas em relação aos povos
marginalizados, também como pautas contra o racismo, hegemonia do país extremamente
patriarcal, sexista, xenófobo e machista).
O Hip hop surgiu no Bronklyn, em Nova Iorque, como dito, porém ganhou o mundo
com uma velocidade incrível nas discotecas frequentadas pela sociedade capitalista e opressora,
sendo divulgado, contraditoriamente, pelos jovens burgueses que tinham acesso a viagens e
informações. Segundo Sérgio Domingues (2014, p. 41):
O hip-hop foi introduzido no Brasil por meio de “agentes sociais” da classe média
paulistana, que teriam trazido a dança break do exterior para danceterias de bairros
nobres de São Paulo, no início dos anos 1980. Somente algum tempo depois teria
chegado às camadas mais pobres da população. No entanto, há relatos que mostram
que esse contato com o gênero musical aconteceu de maneira mais difusa.
Em resumo, a violência não é percebida ali mesmo onde se origina e ali mesmo onde
se define como violência propriamente dita, isto é, como toda prática e toda ideia que
reduza um sujeito à condição de coisa, que viole interior e exteriormente o ser de
alguém, que pontue relações sociais de profunda desigualdade econômica, social e
cultural, isto é, de ausência de direitos. Mais do que isso, a sociedade brasileira não
percebe que as próprias explicações oferecidas são violentas porque está cega para o
lugar efetivo de produção da violência, isto é, a estrutura da sociedade brasileira.
Dessa maneira, as desigualdades econômicas, sociais e culturais, as exclusões
econômicas, políticas e sociais, a corrupção como forma de funcionamento das
instituições, o racismo, o machismo, a intolerância religiosa, sexual e política não são
consideradas formas de violência, isto é, a sociedade brasileira não é percebida como
estruturalmente violenta e a violência aparece como um fato esporádico da superfície
(CHAUÍ, 2021, p. 41).
desenvolvida pelas autoras acerca do domínio cultural e disciplinar do poder, que disseminam
falsas narrativas de acesso igualitário e oportunidades, o que alimenta nossa reflexão.
Segundo Collins e Bilge (2021), alguns padrões específicos de relações de poder
relativos à raça, gênero, sexualidade, são resultado de processos históricos ocorridos no Brasil,
a exemplo da escravidão, colonialismo, da ditadura militar e da redemocratização do país, o
que fez com que alguns grupos específicos tivessem dificuldades para acessar bens sociais, por
exemplo, a educação e o emprego.
A teoria da interseccionalidade consiste em uma ferramenta de investigação crítica que
pode ser utilizada em contextos globais, regionais e locais, portanto, tem o potencial para
proporcionar uma visão mais abrangente no campo educacional.
A educação, segundo Patricia Collins e Sirma Bilge (2021), também tem se constituído
como um campo aplicado da interseccionalidade. Elas destacam que “pesquisadores(as) em
educação abordam questões relativas ao modo como interações entre desigualdades sociais de
raça, classe, gênero, sexualidade e capacidade moldam as experiências e os resultados no ensino
de populações desprovidas de direitos” (COLLINS; BILGE, 2021, p. 60).
Outro fator importante trazido por Souza (2019) diz respeito a distribuição desigual de
tipos de capitais econômicos, culturais e sociais, por meio de relações pessoais que se refletem
na reprodução das desigualdades e da estratificação social.
É preciso destacar que a escola muitas vezes reproduz desigualdades sociais. Segundo
Pierre Bourdieu (1998), a escola desfavorece as classes sociais mais pobres. Em vez de
conceder oportunidades iguais para todas as classes sociais, ela perpetua essas desigualdades
excluindo os grupos mais vulneráveis da sociedade. Nas sociedades colonizadas isso se
acentua.
Questões como raça, classe, gênero e capacidade, por exemplo, podem estar interligadas
dificultando o acesso a um processo educacional mais significativo, reproduzindo-se, então,
dentro do contexto escolar situações de exclusão verificadas fora dele, consequentemente,
aqueles indivíduos com formação deficitária irão preencher vagas de emprego com vínculos e
condições de trabalho mais precários. Daí a importância da abordagem interseccional, por se
268
tratar de uma ferramenta de investigação crítica. O termo “crítica” é usado pelas autoras no
sentido de criticar, rejeitar e/ou tentar corrigir problemas sociais que surgem em situações de
injustiça social (COLLINS; BILGE, 2021).
Por outro lado é importante destacar também o processo educacional, o engajamento político
e a ciência como instrumentos eficazes de resistência contra variadas formas de opressão e
condições desiguais de existência.
Por mais que se pretenda criar uma ideia de que vivemos em democracia e que as
oportunidades são ofertadas de modo igualitário, na prática, o que vemos é a culpabilização ou
responsabilização do próprio indivíduo em relação ao seu sucesso ou fracasso social e
econômico, todavia, em uma sociedade marcada por desigualdades, como a nossa, ocorre o
acesso privilegiado de alguns grupos de indivíduos a uma educação de qualidade superior,
excluindo outros grupos do exercício pleno da cidadania. Juntem-se a isso as políticas
neoliberais de desinvestimento na educação pública em detrimento do apoio financeiro a grupos
privados.
Vivenciamos na atualidade, em nosso país, tempos sombrios, com sucessivas tentativas
de descrédito na educação e na ciência, contudo, é necessário construir, a partir disso, condições
e formas de resistência que possibilitem vislumbrarmos tempos melhores e, é sobre isso que
tentamos refletir. A crença na educação e na ciência, o engajamento político, a cultura de paz,
associados a um regime democrático bem consolidado, que se torne cultural, juntos, poderão
contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, através da criticidade que lhe seria
atinente.
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
CHAUÍ, Marilena. Sobre a violência. Organizadoras Ericka Marie Itokazu, Luciana Chaui-
Berlinck. 1ª ed. 3. reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2021.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
RESUMO
As Ciências Sociais e Humanas, como todas as ciências, buscam beleza e verdade; na leitura
de expressões e transformações sociais, dependem de imaginação criativa, prerrogativas da arte,
mas, como ciências, distinguem-se desta, nas suas formas de expressão. Tendo essa projeção
como ideia central, pensamos o contexto contemporâneo, baseando-nos em algumas questões
nacionais, para delinearmos uma investigação bibliográfica exploratória, materializada em uma
escrita ensaística, que pudesse pensar na aproximação entre ciência e arte, investigação e
criação. Para tanto, desenvolvemos um diálogo plural, entre algumas questões nacionais e
teorias de grandes pensadores contemporâneos, no intuito de, clarear, as similitudes existentes
entre a investigação científica e o processo de criação e materialização da arte, em especial a
literatura. A luta para separá-las (ciência e arte) foi preponderante para a elaboração e
aperfeiçoamento de ambas que, embora distintas, estiveram sempre a caminhar juntas, mas,
chega o momento, de uma nova e necessária aproximação, onde ambas ganham – inclusive a
sociedade em geral. Refletir sobre uma ciência que proporcione, de fato, uma transformação no
que vivemos, foi o nosso objetivo e são essas reflexões que delineamos abaixo.
Palavras chave: Arte. Ciência. Investigação. Criação.
ABSTRACT
The Social Sciences and Humanities, like all sciences, seek beauty and truth; in the reading of
expressions and social transformations, they depend on creative imagination, prerogatives of
art, but, as sciences, they differ from it in their forms of expression. Having this projection as a
central idea, we think about the contemporary context, based on some national issues, to outline
an exploratory bibliographic research that could think about the approximation between science
and art, research and creation. To this end, we developed a plural dialogue, between some
national issues and theories of great contemporary thinkers, in order to clarify the existing
similarities between scientific research and the process of creation and materialization of art.
The struggle to separate them (science and art) was preponderant for the elaboration and
improvement of both that, although distinct, were always walking together, but, the moment
comes, for a new and necessary approximation, where both win - including the society in
general. Thinking about a science that actually provides a transformation in what we live is our
goal, these are the reflections that we outline below.
Keywords: Art. Science. Investigation. Creation.
1
Advogado pós-graduado em Segurança Pública e Cidadania pela UERN, graduando em Psicologia pela FCRN,
mestrando em Ciências Sociais e Humanas pela UERN. E-mail: lulalopes02@gmail.com
2
Orientador: Licenciado em Filosofia, Mestre em Filosofia, Doutor em Sociologia. E-mail:
guilhermemartins@uern.br
272
1 INTRODUÇÃO
A vida nos impõe inúmeros desafios, tal qual este: escrever, pondo em prática o
esperançar de Paulo Freire, em tempos de exceção. Mas, como dizia minha avó: “quem tem
vontade e fé, tem quase tudo”. E, diga-se de passagem, depois de pagar a disciplina
Epistemologias das Ciências Humanas, conduzida com maestria pelo professor que aqui nos
orienta, não somos mais os mesmos. De alguma maneira, ficou mais fácil, embora ainda seja
um árduo trabalho, visto que a convulsão social que vivemos ainda nos toca e, talvez, com mais
intensidade, haja vista que agora podemos perceber o que outrora era imperceptível. Mas, como
disse, a tarefa se torna mais fácil, podemos esperançar e constituir pontes, caminhos. Esse
trabalho é fruto das reflexões levantadas durante esse caminhar.
Escrevemos pouco depois da tragédia, ainda consternados, onde um fanático
bolsonarista (apoiador do atual presidente) executou um membro do Partido dos Trabalhadores
(PT), ceifando, em razão do fanatismo político, uma vida no auge da sua comemoração, em
plena festa de aniversário.
Tragédias como essa não atingem apenas a família do violentado, mas, sim, toda a
sociedade e, ainda, serve como retrato dos tempos de opressão e estímulo a violência que temos
vivido e experimentado em nosso país. Garantias individuais são dilapidadas, grupos são
perseguidos e violentados, a fome volta com uma voracidade que há muito não víamos, 14
(quatorze) anos de políticas sociais vão pelo ralo em cerca de 3 anos de desgoverno.
Queríamos começar o texto com uma mensagem poética, esteticamente bonita, afinal,
propomos falar de arte, mas achamos pertinente trazer o retrato fidedigno da atual sociedade
brasileira, digitado, relatado e retratado por essa tragédia. Talvez, a arte que mais falasse desse
momento, seria o quadro denominado “O grito”, de Edvard Munch. Ele dizia que não pintava
o que vê, mas o que viu. Já expressava com isso, indubitavelmente, a ansiedade que
experimentaríamos no mundo líquido. Entendia que, era atributo do artista, ver além.
Comovidos, indignados, escrevemos. Fazemos do papel e das idéias a nossa arma.
Lutamos por uma ciência humana, justa e ao alcance de todos. Uma ciência que possa
recompensar, reconhecer, validar e trabalhar em sintonia com os saberes populares e locais,
mas que também não despreze os globais. Que possa validar a potência do subalterno, dando-
lhe, espaço de fala e promoção de idéias e saberes outrora marginais. Uma ciência que, assim
273
como a arte (ou se utilizando dela), possa retratar, também, emoções, subjetividades e
acontecimentos que provocam o pesquisador, trazendo à tona pessoas vivas, que respiram,
sofrem e amam, não como mera leitura nua e crua do que fora colhido, mas como elementos do
vivido.
Falar de uma ciência aliada à arte não é apenas falar de estética, mas reconhecer um
campo de saber pouco explorado, que traz consigo análises, marcas, assinaturas, dos mais
fantásticos pensadores e críticos de todos os tempos.
Como nos ensina a dádiva freiriana, cremos que a educação não muda o mundo, mas,
sim, as pessoas e, as pessoas, mudam o mundo. Assim, para o desenrolar deste trabalho,
precisamos não só nos perguntar - de que educação estamos falando? -, mas também entender
um pouco dos aspectos culturais que permeiam a sociedade brasileira, oprimindo e tornando
submisso, inoperantes, os mais diversos sujeitos que não gozam de capital social, cultural e
financeiro, ou seja, a esmagadora maioria da população.
Para a construção de um pensar crítico, julgamos importante nos questionar (até pelo
devir ético): que ciência está sendo construída? A serviço de quem está nosso pensamento? Que
emergência esses pensamentos relatam? Quais os caminhos que seguimos “em troca” do título?
Estamos a constituir uma ciência crítica?
Não quero trazer, de início, conceitos complexos sobre o que seriam as Ciências Sociais
e Humanas. A priori, se faz importante contextualizar que as Ciências Sociais visam os estudos
dos mais diversos aspectos sociais e a influência do comportamento humano no contexto social;
já as Ciências Humanas são mais voltadas a aspectos individuais, como, por exemplo, a
psicologia.
As causas de opressão e a efetivação da violência (inclusive científica) são
multifatoriais, interseccionais, locais e globais. A explicação e as reflexões pertinentes sobre o
assunto, também o são. Encontramos na arte as mais profundas reflexões sobre os mais diversos
contextos sociais (individuais e/ou coletivos).
Assim, se faz importante pensarmos um pouco sobre algumas construções tecidas por
Marilena Chauí, em seu artigo denominado Democracia e Sociedade autoritária3. Ela já
começa o texto argüindo que “estamos acostumados a aceitar a definição liberal da democracia
3
Palestra proferida pela professora Marilena Chauí, em Goiânia, no dia 14 de março de 2013, no Espaço Oscar
Niemayer, no evento Café de Idéias. O evento também se caracterizou como a Aula Inaugural do PPGCOM –
UFG turma 2013.1.
274
como regime da lei e da ordem para a garantia das liberdades individuais” (CHAUI, 2012,
p.149). Mas que Lei e qual ordem? Lei a serviço de quem? Quais garantias?
Democracia? Vivemos sob o manto de apoio a violência, onde o presidente vem a
público cobrar “ações enérgicas” dos seus seguidores correligionários e está, a todo tempo,
ameaçando as instituições. Vemos um Congresso Nacional constituído, em sua esmagadora
maioria, por homens, brancos e representantes de uma elite coronelista e autoritária. Assistimos
(mesmo que aos gritos, infelizmente não faz diferença) o sucateamento da educação pública e
o emergir do apoio público a uma educação privada. Presenciamos reformas educacionais que
visam mão-de-obra barata e, não, a construção de sujeitos críticos, empoderados. Observamos,
perplexos, ou talvez nem tanto, orçamentos secretos bilionários, contemplados com verbas que
são retiradas da saúde e educação. Vamos existindo, como dá, tentando apenas chegar ao
próximo dia e esquecer o anterior.
Nesse modelo, a democracia de uma liberdade que ordena, surge como regime político
eficaz, em virtude, apenas, de ser possível a escolha dos nossos representantes. O medo tem
sido usado como mecanismo de condução das massas e contempla engajamentos políticos
através de discursos e idéias que permitem e validam a violência como forma de combate da
violência.
Vivemos, indubitavelmente, tempos difíceis, atravessados por uma pandemia sem fim,
por um modelo econômico hegemônico e violento, por uma cultura sexista que tem se
consolidado e se fortificado, afrouxamos nossas amarras com o popular, com o local, com o
tradicional. Consequentemente, abrimos mãos da soberania e nos desorganizamos
politicamente, perdendo, “o poder do povo” e, também, a razão da democracia. E isso se reflete
na academia. Na nossa vizinhança, temos o exemplo da UFERSA, onde muitos defendem que
uma “interventora” foi nomeada reitora em virtude do descumprimento ao modelo de eleição
outrora adotado.
Necessitamos re-pensar o existir diante das diretrizes dos novos tempos. Se faz
necessário que criemos e/ou adaptemos formas de resistência que coadunem com as
singularidades que ainda existem entre nós. Precisamos, pela educação e através da arte,
resgatar e juntar os cacos da resistência, tornando audível a nossa voz.
É essa tarefa, talvez imprudente aos olhos da ciência, que propomos refletir aqui, através
de uma escrita ensaística. Somos, seremos e devemos ser, sujeitos políticos. A ciência precisa
“tomar partido”, ter um lado – e deve ser o do povo. Não queremos com isso abraçar políticos
275
e seus partidos, mas, fugir da ideia de neutralidade que tende a nos calar e tornar mecânicos e
obsoletos o nosso agir, o nosso discurso. Por uma ciência de resistência, inclusiva e que
empodere, precisamos re-pensar a ciência e suas fontes; beber em novas fontes é essencial ao
nosso evoluir e essa é a reflexão que propomos aqui.
Apresento esses escritos que são frutos de uma pesquisa bibliográfica exploratória que
ocorrera ao longo do atual semestre, no decorrer da disciplina, no intuito de pensar sobre uma
Ciência Social e Humana que proporcione, de fato, uma transformação na concepção do que
vivemos; que possa estruturar um pensamento que torne visível, por exemplo, que o medo tem
sido usado como forma de poder; que re-pense a ética como ideologia; que nos mostre que há
uma divisão social do/no medo que pode gerar um processo de desesperança, uma servidão
voluntária; que repense a si própria, demonstrando que alguns preceitos iluministas, condutores
dos caminhos sociais e científicos ao longo de quase dois séculos, são, na verdade,
enfraquecedores da formação de um corpo social verdadeiramente coletivo e que provocam
divisões, fissuras, massificando, validando e efetivando a diferença entre grandes e pequenos,
fortes e fracos, cultos e não cultos (matérias difusoras da violência no seio social).
2 A ARTE
Vemos que a arte, ao se aproximar da ciência, resgata sua popularidade e sua similitude
com o real, com o movimento vivenciado socialmente ao longo dos tempos e das modificações
dele decorrentes. Além disso, torna nosso discurso audível para o público em geral e não,
apenas, para os bancos acadêmicos.
Para esboçar o pensamento construído e materializado neste trabalho, tivemos
influência, do que constrói Vygotsky em Psicologia da Arte. Paulo Bezerra (USP – UFF), no
prefácio a edição brasileira, escreve:
A arte aparece como um fenômeno humano, que decorre da relação direta ou mediata
do homem com um cosmo físico, social e cultural, onde se constroem e se multiplicam
variedade de facetas e nuanças que caracterizam o homem como integrante desse
cosmo (VYGOTSKY, 1999, p. 10).
Boaventura, na sua obra “Um discurso sobre as ciências” (2008), argumenta sobre a
crise do paradigma dominante, uma limitação que torna infrutífera as sementes que regem o
paradigma emergente.
A arte carrega o trunfo de não ter que responder um “por que” ou um “para que”, nos
possibilitando experenciar novas fontes e formas fenomenológicas. A arte não é pragmatizada
nem pragmatiza-se. A condição de ser arte é justamente a da (im) possibilidade.
A natureza humana é fluida, indefinida. A segurança almejada por nós ultrapassa o
aspecto pessoal e resvala no social, tem cunho subjetivo. A arte é combatida (seja na política,
na ciência ou em outro campo) não apenas por ser objeto de protesto, reflexão, mudança, mas
por ser objeto de desestabilização, de confrontamento, de combate a um saber normatizado,
sexista, não visionário (no aspecto social). Ao romper com protocolos científicos,
democratizando o saber, a arte é combatida como campo de saber, tornando-se marginalizada
e constituindo-se como fonte de esperança àqueles marginalizados (que estão à margem). A
expansão por ela praticada não é interessante aos que desejam manutenir o saber ao domínio de
poucos. Nosso atual governo, por exemplo, vem dilapidando a arte, questionando-a desde a sua
essência e atacando-a com a mais eficaz das armas modernas: sufoca financeiramente.
Todorov (2011, p.321) nos ensina que a arte “representa uma advento de sua forma, sua
clarificação: a descoberta, sempre provisória, de seu sentido”. Continua:
A arte é uma revelação do ser; mesmo a arte destrutiva traz consigo forma e sentido.
Sua vantagem suplementar – a da arte compreendida no sentido amplo, incluindo
narrativas, imagens e ritmos – é de se dirigir a todas e a todos, e de incitar
discretamente cada um a se abrir para a beleza do mundo. Sua mensagem não se fixa
a um dogma religioso ou filosófico: propõe em vez de impor, respeitando a liberdade
de cada um. Os homens são matéria e vivem na matéria; a ciência lhes ensina a
conhecê-la, a técnica, a transformá-la. Mas os homens vivem também em meio a suas
representações, tanto a deles próprios quanto as da humanidade, e não tem menos
necessidade de conhecer e transformar essas representações; para esse
empreendimento, a arte é boa companheira. Não há lugar para escolher entre técnica
e arte, e de deixar uma eliminar por inteiro a outra: as duas nos são igualmente
necessárias. (TODOROV, 2011, p. 321 e 322)
A literatura, por exemplo, desde os contos infantis, nos ensina através de destinos
dolorosos, as armadilhas das quais devemos desconfiar. Nos mostra, que o passado tem um
legado a ser levado conosco para o futuro, mas não é receita, solução, tal e qual, para o que
vivemos. Isso nos demonstra que, retornar aos tempos de exceção, não é saída considerável.
“Nesses tempos obscuros e devastadores a arte é necessária” (TODOROV, 2011, p.
325), podemos pensar, re-pensar e dirigir nossa existência através do saber que a ela é inerente.
278
Gilson Iannini, no prefácio do livro O homem sem conteúdo, nos diz que: “em outros
termos, a reflexão de Agamben acerca da arte e da estética é condição para a correta
compreensão dos rumos que seu pensamento político iria tomar” (AGAMBEN, 2013, p.11).
A arte, seja através de conceitualizações e/ou como influência na edificação de teorias
e pensamentos, tem influenciado inúmeros autores. Nietzsche, Einstein, Benjamin, Freud,
defenderam a importância da arte na conjuntura social. Agamben dedica obras como O Homem
Sem Conteúdo e Gosto às interlocuções entre a arte e o social.
O inconsciente coletivo descrito por Jung, muitas das discussões Freudianas, alicerçam-
se na conjuntura artística de símbolos e literatura mítica. Einstein diz: “para mim, o papel mais
importante da arte e da ciência consiste em despertar e manter desperto o sentimento delas
naqueles que estão abertos” (2016, p.20). É essa abertura que deve ser pautada na ciência para
que possamos invocar um sentimento de apoio, comunhão e acessibilidade para com a
sociedade em geral. A arte pode tornar a ciência próxima e acessível da sociedade e ainda
contribuir no seu processo criativo e reflexivo, essa experiência, pode ser bem proveitosa para
ambas.
4
Para maior aprofundamento, ler A potência do pensamento, de Agamben, no link
https://www.scielo.br/j/rdpsi/a/N6v9wqP8ChHzLQwQNMjLNGt/?lang=pt#:~:text=O%20conceito%20de%20po
t%C3%AAncia%20tem,da%20sua%20teoria%20da%20pot%C3%AAncia.
279
vir a ser. É uma possibilidade. Para Agamben, existimos sobre o modo de potência, podendo
ser ou não ser, fazer ou não fazer, ser uma coisa ou o seu contrário. Para entendê-lo é importante
saber que ele diferencia o “não poder fazer” do “poder não fazer”. Para esse estudo, a priori,
propomos que a arte seja para a ciência um “poder não fazer” e não um “não poder fazer”.
Assim, para trabalharmos a arte como leitura do processo de saber aqui trazido, diríamos
que ser contemporâneo é apoderar-se dos ensinamentos trazidos por Saramago em seu texto “O
conto da ilha desconhecida”, onde ele diz que “é necessário sair da ilha para ver a ilha, não nos
vemos se não saímos da ilha5”.
O texto “O que é contemporâneo?” de Giorgio Agamben (2009), foi escrito a partir da
lição inaugural para o curso de Filosofia Teorética, ministrado entre 2006 e 2007. Tinha como
intenção demonstrar aos alunos que a capacidade de cada um deles de se fazer contemporâneo
ao seu tempo, assim como a de autores e textos que iriam estudar, era crucial para o sucesso do
curso. Neste contexto, ele “elaborou” um conceito mais amplo de contemporaneidade, que a
“desligava” da perspectiva temporal, como dito. Essa, a nosso ver, deve ser uma das
perspectivas do pesquisador em Ciências Sociais e Humanas da era líquida.
Agamben (2009) define:
A contemporaneidade, portanto, é a singular relação com o próprio tempo, que adere
a este e, ao mesmo tempo, dele toma distância; mais precisamente, essa é a relação
com o tempo que a este adere através de uma dissociação e um anacronismo. Aqueles
que coincidem muito plenamente com época, que em todos os aspectos a esta aderem
perfeitamente, não são contemporâneos porque, exatamente por isso, não conseguem
vê-la, não podem manter fixo o olhar sobre ela. (AGAMBEN, 2009, p. 59)
Neste sentido, o contemporâneo, tem como característica um presente que nunca pode
nos alcançar. Ser contemporâneo significa ser capaz não apenas de manter fixo o olhar no
escuro de uma época, mas também perceber nesse escuro uma luz que, dirigida para nós,
distancia-se infinitamente de nós (AGAMBEN, 2009, p. 65).
Einstein defende que “a arte, mais do que a ciência, pode desejar e esforçar-se por atingir
o aperfeiçoamento moral e estético (EINSTEIN, 2016, p. 23).
A escola de Frankfurt foi um movimento de contemporâneos. Tentavam restaurar uma
teoria social capaz de interpretar as grandes mudanças sociais que ocorriam no início do século.
Walter Benjamin (primeira geração da escola), por exemplo, foi um estudioso da arte e dos
movimentos que ela proporciona no seio social.
5
https://www.escolahenriquemedina.org/bibdigital/download/1733/O%20Conto%20da%20Ilha%20Desconhecid
a%20-%20Jose%20Saramago.pdf
280
Obras literárias como “Ensaios sobre a cegueira”, se Saramago, conseguem muito bem,
retratar as angustias de nosso tempo. Um tempo de excesso de informação, de muita clareza, de
verdades puras, apocalípticas, que se solidificam e, em um piscar de olhos, se esvaem no ar
(claridade em excesso, cega. Esse é um dos ensinamentos da obra).
Outras tantas obras literárias também nos são cruciais para entender nosso tempo: “O
médico e o monstro”, de Louis Stevenson; “O alienista”, de Machado de Assis; “A revolução
dos bicho” e “1984”, de George Orwell; “Memórias do subsolo”, “Crime e Castigo”, “Os
irmão Karamazov”, de Dostoiévski; “O mundo de Sofia”, de Jostein Gaarden; dentre outros.
René Girard foi um dos pensadores que descobriu e descortinou a potência do
pensamento literário. Da literatura, pode extrair a hipótese do desejo mimético (égide do
pensamento girardiano). “No arco temporal entre Cervantes e Proust, a recorrência de um
mesmo dado representou o elemento catalisador [...] e levou à formulação da teoria mimética”
(GIRARD, 2009, p.15). É como se os mais importantes escritores tivessem refletido sobre a
mesma e fundamental distinção (GIRARD, 2009).
O aprimorar da “descoberta literária” abriu as portas para o desenvolvimento da sua
teoria, que tem o desejo humano como fruto da presença de um mediador, ou seja, o desejo é
sempre mimético (GIRARD, 2009).
O desenvolvimento da concepção de Girard deságua em inúmeras frentes e, é hoje,
amplamente usado e capitaneado pelo marketing. Girard certamente não queria isso, procurava
demonstrar o quão nosso desejo não é autônomo e, se essa informação, fosse transferida para
as pessoas, se pudéssemos torná-la acessível, talvez, essa não fosse uma das “armas
publicitárias”. Se fôssemos conhecedores de sua teoria, os efeitos poderiam ser sentidos,
inclusive, no fenômeno complexo da violência (que assola nosso país).
Girard vem falar, com base na literatura dos romancistas, em mentira romântica e
verdade romanesca (título de uma das suas obras). Naquela, os sujeitos se relacionam
espontânea e diretamente, nesta, os sujeitos desejam através da imitação de modelos. E foi
através da leitura de romances que Girard identificou zonas sombrias no processo mimético,
que muito fala sobre a nossa sociedade e as violências praticadas em nossas ações cotidianas.
Para finalizarmos a nossa leitura sobre a potência que a arte nos empresta, nos cede, nos
proporciona, adentrando em uma contextualização cultural nossa, brasileira, já retratada por
inúmeros autores nacionais, como Jessé Souza, Chauí, etc., trazemos mais um exemplo da
construção girardiana, que baseada em textos shakesperianos, nos mostra um pouco da origem
281
Uma parte considerável das idéias que fazemos de nos mesmos, e que acreditamos
serem “genuínas” do Brasil bem brasileiro, na verdade foram propostas pelo olhar
estrangeiro, que assimilamos como se fosse nosso. Um exemplo? Dois ou três. O mito
da miscigenação como a verdadeira contribuição brasileira à civilização moderna foi
sistematizado por um alemão – Karl Friedrich Philipp Von Martius. O projeto de
representação da natureza tropical como a marca distintiva da literatura romântica
tupiniquim foi ideado por um francês – Ferdinand Denis. A fundação da mais
importante universidade brasileira, a Universidade de São Paulo, criada em 1934, teve
suas bases lançadas através de uma mítica missão francesa – cuja maior contribuição
foi a de voltar os olhos dos alunos à realidade brasileira. (GIRARD, 2009, p. 23)
Ao fim dessa citação, temos uma importante nota de rodapé (nota 11) que trago-lhes na
íntegra:
O que mudou? O quanto evoluímos? Que armas usamos para traçar nossa percepção
científica? Com quais olhos nos olhamos, os nossos ou os dos outros? A grande sacada de
Girard nos textos shakesperianos foi perceber que, muitas vezes, necessitamos de uma
autoridade externa para validar e sustentar nossas afirmações. Inclusive, as mais banais.
Os olhos shakesperianos, emprestados por Girard, pode nos possibilitar uma
compreensão renovada da cultura brasileira. Eis, aí, toda a potência que a arte tem a nos ofertar.
6
Sônia Maria de Freitas. Reminiscências. São Paulo: Maltese, 1993, p. 40.
282
Com base nas obsessões, isto é, nos temas recorrentes e nos procedimentos
estruturadores da obra de determinado autor, Girard associa organicamente vida e
literatura. Tudo se passa como se esta elaborasse as questões daquela e, por sua vez,
a experiência fosse revista à luz da escrita (GIRARD, 2010, p. 15).
Já Bauman (1925 – 2017), recorre a fala do herói Desmond Bates, o qual descreve como
“um homem de muitas fraquezas, mas um linguista de conhecimento e percepção antes
impecáveis tanto da língua quanto da fala” (BAUMAN, 2020, p. 22):
Num nível muito geral, os australianos dizem acreditar que a liberdade de expressão
é importante, e eles acreditam que nós temos liberdade de expressão. Quando você
arranha a superfície, o consenso se fratura, com relativa facilidade. As pessoas têm
uma propensão a violar os direitos de livre expressão onde eles são importantes – no
exercício real das disputas políticas e comunitárias. Há numerosos exemplos disso
(BAUMAN, 2020, p. 28).
Essas violações se dão de inúmeras formas no contexto brasileiro. Sejam pelos discursos
de ódio, pelas práticas literais de violência ou mesmo pelas Ações Judiciais estratégicas, de
governos e/ou corporações, contra a participação pública - e que, por vezes, atinge a ciência –
protocolando ações judiciais onde cobram cifras altíssimas de membros que militam e ou
pesquisadores, calando-os – em uma luta desigual, onde grupos que dispõe de tempo, estrutura
e dinheiro, massacram grupos vulneráveis ao poder político e institucional. Nesse ponto, a arte
como campo de saber, também pode ser importante instrumento de resistência e transformação,
identificando e combatendo violências simbólicas em prol de uma coletividade que pode
acessar livremente suas proposituras.
Competências, sensibilidade, imaginação/pensamento, emoções, razões práticas,
sociabilidade, habilidade em associações, são alguns dos instrumentos que dispõe a arte para
auxiliar o pesquisador em Ciências Sociais e Humanas.
284
Como dito, não visamos trazer respostas, revolucionar, renegar valores e preceitos
científicos, causar abruptamente rupturas de paradigmas, pretendemos, diga-se de passagem,
levantar reflexões críticas pertinentes que, futuramente, podem compor um caminho, uma
margem criativa de acesso ao vasto campo de saber em Ciências Sociais e Humanas. Somos rio
perene.
O reconhecimento da participação humana e do posicionamento social, da representação
social, da ideologia, entre outras, na interpretação da realidade, problematiza de maneira
perspicaz a relação entre sujeito e objeto, definindo o conhecimento como um processo, e não
como uma fotografia (DEMO, 1987).
Sensíveis aos mais diversos campos de saberes e as mais complexas perspectivas do
social, propomos a arte, como campo de instrumentalização do saber científico em Ciências
Sociais e Humanas, abrindo novas perspectivas para se pensar emergências do social,
especialmente, características da violenta sociedade brasileira.
REFERÊNCIAS
AGAMBEN, Giorgio. Gosto. Tradução, notas e posfácio de Cláudio Oliveira. 1. ed. Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
DEMO, Pedro. Introdução à metodologia da ciência. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1987.
EINSTEIN, Albert. Como vejo o mundo. Tradução H. P. de Almeida. [ed. Especial] – Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2016.
285
GIRARD, René. Dostoiévski: do duplo à unidade. Tradução Roberto Mallet. São Paulo: É
realizações, 2011.
SANTOS, Boaventura de Souza. Um discurso sobre as ciências. 5. ed. São Paulo: Cortez,
2008.
RESUMO
ABSTRACT
1
Graduado em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN. Pós-graduado em
Agronegócio e Pós-graduando em Psicopedagogia e Educação Especial pela Faculdade Integrada Instituto Souza.
talesmessioliver@gmail.com
2
Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN. Pós-graduada em Gestão
Estratégica de Pessoas e Liderança Organizacional pela Faculdade Vale do Jaguaribe - FVJ. Bacharelanda em
Direito pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – FCRN leidiane.defernandes@gmail.com
3
Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN. Pós-graduada em Gestão
Estratégica de Pessoas e Liderança Organizacional pela Faculdade Vale do Jaguaribe - FVJ. Bacharelanda em
Direito pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte -FCRN gliciarafaellat@gmail.com
4
Graduado em Licenciatura em Sociologia do 2º grau e Bacharel em Ciência Política (1996), Especialista em
Historiografia Colonial do Brasil (1998), Mestrado em História (2007) e Doutorado em Ciências Sociais (2011)
pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Pesquisador do Grupo de Pesquisa Educação e
Linguagens (GEPEL/UERN), fundamentando-se em Gaston Bachelard, na Linha de Pesquisa Ciência, Arte e
Literatura. Professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) desde 1998.
alessandronobrega@uern.br
287
The theme of the work is: The role of the pedagogue in the evaluation in non-school education
spaces: narrative of experience of professional practice. The work aims to know the role of the
Pedagogue in non-school Education, especially in Professional Education, as well as to reflect
on the experience report of professional practice in one of the non-school Education spaces.
The work has as a problem: What is the role of the Pedagogue in the evaluation of non-school
Education, especially in professional education? What are the contributions of professional
practice experiences? The work used bibliographic research, of a qualitative nature, by books,
articles and official laws. The theoretical foundation was based on authors: Libâneo (2010),
Maciel (2020), Severo (2015) and among others. From the research it was possible to conceive
that the pedagogue works helping the learner, seeking strategies and methodologies for a
meaningful learning, because the performance of this will directly interfere in the evaluation
process. The pedagogue seeks information and data to support the evaluation process. Actions
are reflexive, intentional, and critical. The evaluation considers all student growth, whether in
adding new skills/competencies, as well as detecting possible deviations. The research was
fundamental to know from the parameters of education the consolidation of non-school
education. In addition, the importance of the discussion about the evaluation and the action of
the Pedagogue in the scope of professional education, as well as reflections of the narrative of
experiences in the formation and evaluation of young apprentices.
Keywords: Non-school education. Evaluation. Pedagogue.
1 INTRODUÇÃO
A LDB - Lei das diretrizes e bases da Educação Nacional (1996), ratifica de forma sólida
a abrangência da Educação desde os processos formativos na família aos movimentos
sociais. Maciel e Carneiro (2006, p.68) ampliam a discussão afirmando que: “A Educação é
um processo social que ocorre em toda sociedade através de diferentes meios e em distintos
espaços sociais.” Além disso, a Educação é um direito social assegurado para a sociedade.
(BRASIL, 1988).
Nesse sentido, a Educação consolida-se por meio de diferentes formas, desde os
289
processos dentro de sala de aula à utilização de tecnologias digitais, conforme Franco (2008, p.
80): "[...] todas as práticas sociais exercidas, quer pelos diversos meios de comunicação, quer
por diversas instituições culturais, políticas, sociais ou por diferentes agrupamentos, […]
possuem potencial educativo.”
A partir disso, confirma-se que a Educação não se restringe a um espaço ou área,
possibilitando discussões acerca da Educação em suas diversidades. Libâneo (2010, p. 31)
ratifica defendendo que: “[…] o campo educativo é bastante vasto, porque a Educação ocorre
na família, no trabalho, na rua, na fábrica, nos meios de comunicação, na política. […].”
Gohn (2006, p. 28) amplia demarcando os campos de desenvolvimento da Educação:
Dessa forma, existe a Educação formal, informal e não formal. Os quais cada uma delas
possui sua especificidade, mas ambas têm uma importância crucial na formação cidadã,
profissional e educacional das pessoas. Entretanto, Libâneo (2010, p. 31) faz uma ressalva entre
as três modalidades: “[…] embora distintas, não podem ser consideradas isoladamente.”
Entende-se que apesar das suas diferenças uma não exclui a outra, de forma que a Educação em
todas as suas modalidades se misturam trazendo aprendizados oriundos de diversos espaços.
Mas as práticas formativas além das escolas podem influenciar na formação dos
indivíduos? Segundo Franco (2008, p. 80) argumenta que: “Todos os outros espaços, além da
escola, produzem influências formativas sobre sujeitos, produzem saberes, propõem
comportamentos e valores, estimulam ações e pensamentos. No entanto, nem sempre estão
explícitas as intencionalidades presentes nessas práticas.”
Partindo desse pressuposto, a Educação é ampla, os campos permeiam diversos espaços
sociais. Nessa conjuntura, a Educação não ocorre apenas no ambiente escolar, mas além dela.
Por isso, torna-se indispensável esticar os horizontes acerca da Educação não escolar, o seu
surgimento e possíveis campos que demarcam esse âmbito.
O processo de consolidação de práticas educativas da Educação não escolar, iniciou a
partir da década de 60, conforme Severo (2015, p. 36):
290
Compreende-se a partir do exposto que não teve apenas o avanço da consolidação, mas
também da visibilidade e atenção para as práticas educacionais para os ambientes fora da escola
ou que são desenvolvidos de forma informal. Além disso, a Educação não escolar tem uma
relação com: “[...] Práticas educativas que se desenvolvem fora do marco escolar e que são
delineadas por saberes, contextos, sujeitos e objetivos distintos do projeto escolar, [...]”
(SEVERO, 2015, p. 73). Figueiredo e Filho (2020, p. 286) em concordância confirma essa
concepção conceituando que os espaços conhecidos como Educação não escolar são realizados
fora da sala de aula.
Mas o que diz respeito à conceituação de Educação não escolar? Segundo Severo (2015,
p. 564): “A ENE corresponde a um termo cuja conceituação repousa em uma necessidade
histórica emergente, dado o atual contexto de fortalecimento do caráter estruturado de práticas
educativas para além dos limites da escola.” Posto isso, a Educação não escolar surge
emergente a necessidade histórica e social de “novos” cenários que demandam práticas
formativas.
Na visão de Franco (2008, p. 84): “à medida que nossa sociedade tem diminuído as
fronteiras entre o conhecimento formal e informal, entre espaços escolares e não escolares, urge
a ampliação da tarefa pedagógica sobre os mais diversos ambientes potenciais de aprendizagem
e formação.”
A partir do exposto, entende-se que a Educação não escolar são os espaços que estão
além da margem dos muros das escolas percorrendo diversos ambientes. Segundo Severo
(2015, p. 116) os espaços da Educação não escolar que possui ações pedagógicas são:
Libâneo (2011, p. 89) contribui nessa mesma linha ratificando os espaços de Educação
não escolar como: “[…] a Educação de adultos, a Educação sindical, a Educação profissional,
[…].” Nesse sentido, deve-se refletir a desmistificação que a Educação é apenas na escola,
como também, que os espaços de atuação do Pedagogo são restritas aos ambientes escolares,
pois conforme Libâneo (2011, p. 51): “[…] o campo de atuação do profissional formado em
Pedagogia é tão vasto quanto são as práticas educativas na sociedade.” Desse modo, entende-
se que os espaços de Educação não escolar são amplos e podem ocorrer nas empresas, hospitais,
clínicas ou em instituições sem fins lucrativos.
Mas como são constatados os desempenhos dos colaboradores? Como a avaliação é feita
no espaço de Educação não escolar de Educação Profissional? Ribeiro (2010, p. 137) afirma
que: "A avaliação estabelece um juízo de valor sobre algo realizado, a partir de um
acompanhamento constante de todo o processo desencadeado desde a concepção até a
realização/operacionalização da proposta/projeto.”
Mas esse estabelecimento de juízo de valor está relacionado às provas? Baseando-se em
Libâneo (1994, p. 198): “O mais comum é tomar a avaliação unicamente como ato de aplicar
provas, atribuir notas e classificar os alunos. O professor reduz a avaliação a cobrança daquilo
que o aluno memorizou e usa a nota somente como instrumento de controle.”
A partir dessa visão, deve-se discutir a diferença entre os exames e a avaliação: “Basta
relembrar sucintamente que o ato de examinar se caracteriza, especialmente (ainda que tenha
outras características) pela classificação e pela seletividade do educando, enquanto que o ato de
avaliar se caracteriza pelo seu diagnóstico e pela inclusão.” (LUCKESI, 2014, p. 18). Percebe-
293
se que uma é seletiva e a outra inclusiva, por isso a relevância de se discutir que atuação o
Pedagogo está procedendo na avaliação, especialmente nesta pesquisa: na Educação não
escolar, no âmbito profissional.
Dentro desse cenário, Luckesi (2014) traz uma reflexão da necessidade para “aprender
a avaliar” ampliando a discussão acerca da avaliação e processo de acompanhamento
educacional. Entretanto, o que seria “aprender a avaliar”? Dentro desse cenário, Luckesi (2014,
p. 19) explica que: “[…] Significa aprender os conceitos teóricos sobre avaliação, mas,
concomitante a isso, aprender a praticar a avaliação, traduzindo-a em atos do cotidiano […]”.
A partir dessa contribuição, entende-se que avaliar é processo contínuo, necessitando de um
investimento cotidiano onde cada progressão é válida para o desenvolvimento educacional.
Libâneo (1994, p. 197) expande trazendo uma perspectiva acerca da avaliação
diagnóstica que: “[…] permite identificar progressos e dificuldades dos alunos e a atuação do
professor que, por sua vez, determinam modificações do processo de ensino para melhor
cumprir as exigências dos objetivos.” A avaliação não se trata apenas dos alunos, mas do
professor também, pois: “[…] fornece informações sobre como ele está conduzindo o seu
trabalho: andamento da matéria, adequação de métodos e materiais, comunicação com os
alunos, adequabilidade da sua linguagem etc.” (LIBÂNEO, 1994, p. 197).
Entretanto, torna-se necessário ressaltar que existem alguns equívocos na perspectiva
avaliativo: as extremidades da avaliação apenas quantitativa ou qualitativa. Segundo Libâneo
(1994, p. 199) esses equívocos colocam em oposição às duas em relação à avaliação onde os
professores consideram apenas uma e desconsiderando a outra. Por isso deve considerar que:
“O entendimento correto da avaliação consiste em considerar a relação mútua entre os aspectos
quantitativos e qualitativos.”
Nesse sentido, é de suma importância esse entendimento para todos os profissionais
responsáveis pela mediação de práticas formativas para refletir de forma crítica, porque uma
perspectiva não remete a desconsiderar a outra, pois ambas podem contribuir para o mesmo
fim.
ocorrendo assim uma multiplicidade de conhecimentos, mas de desafios por parte do professor.
Nestes espaços a função do profissional da educação é ser mediador dos diversos
conhecimentos, facilitando a troca de experiências e atingindo ao mesmo tempo a
interdisciplinaridade dos vários aprendizados existentes.
A diversidade de pensamentos, conhecimentos e estratégias, não são vista apenas como
conteúdo a serem depositados e posteriormente diagnosticados através de avaliação tradicional,
pois mostra que o processo de ensino aprendizagem pode ser verificado de maneira qualitativa
em avaliação formativa, preocupando com todo o processo e com o sujeito deste processo.
Nesse raciocínio, os alunos não são bancos de depósitos a receber o conhecimento de forma
passiva e sem reflexão. (FREIRE, 1977).
Rodas de conversas, temas norteadores, exercícios que sejam pertinentes a realidade do
aluno são apresentados e discutidos. Sua constante participação, curiosidade e responsabilidade
geram neste indivíduo o crescimento ou não de sua trajetória. O professor passa a avaliá-lo de
forma geral, não apenas por notas e aplicação de instrumentos quantitativos - provas, testes e
testes orais - o processo é extenso e contínuo desde a sua chegada até sua finalização de contrato
especial de Aprendizagem.
A preparação vai além do ensino formal, ela conta com a marcação dos mais variados
ambientes que o jovem está inserido, e a partir deles que o professor do espaço não escolar
poderá trabalhar o processo de desenvolvimento e ensino-aprendizagem levando não só em
consideração os aspectos formais, como mencionados acima, mas a história de vida de cada um
deles.
Assim, a jornada avaliativa do profissional do espaço não escolar, vai além do
diagnóstico na atribuição de notas. O professor é em todo o tempo o mediador dos saberes que
estão sendo construídos e observador dos processos comportamentais, onde é apresentado na
avaliação por competências e habilidades.
Essa avaliação por competência e habilidade, verifica pontos cruciais, a saber:
comprometimento, comunicação, conduta ética, assiduidade e flexibilidade. Estes pontos serão
construídos em conjunto entre professor e o aluno, como também o aprendiz irá avaliar as
competências e habilidades do profissional. Seria para o espaço não escolar a avaliação 360º ou
a avaliação compartilhada, onde o objetivo é a melhoria de todos os envolvidos no processo.
É substancial pensar sobre os aspectos acerca da sua prática profissional, em especial
nesta pesquisa sobre o aspecto avaliativo do professor na formação profissional, pois o seu
296
trabalho seria objeto investigativo, de melhoria e de reflexão, conforme Libâneo (2011, p. 84)
“A ideia é de que o professor possa “pensar” sua prática, ou em outros termos, que o professor
desenvolva a capacidade reflexiva sobre sua própria prática. Tal capacidade implicaria por parte
do professor uma intencionalidade e uma reflexão sobre seu trabalho.”
Diante de uma proposta de aprendizagem que vai além do espaço escolar (salas de aula),
também se faz necessário pensar sobre sugestões relacionadas ao processo avaliativo dos
aprendentes que se encontram nos mais diversos espaços de aprendizagem. Sair do método
tradicional de avaliação, onde há a ministração de conteúdos e posteriormente aplicação de
provas avaliativas para medir o nível de conhecimento dos alunos, ainda é pouco aplicável no
espaço escolar, porém, já nos espaços não escolares, podemos perceber que o processo
avaliativo vem se configurando como um modelo de avaliação mais qualitativa do que mesmo
quantitativa.
A avaliação do desenvolvimento de habilidades e competências dos jovens aprendizes
estão sendo cada vez mais evidenciadas, principalmente em ambientes técnicos-
profissionalizantes, a fim de preparar de fato o indivíduo em questão para o mercado formal de
trabalho. Nesse modelo de avaliação, o desenvolvimento do sujeito é observado de forma
contínua, e, assim, o mediador, facilitador ou instrutor, consegue enxergar a evolução do
aprendente que se encontra no processo de aprendizagem, diferentemente da avaliação
quantitativa, onde se dá mais ênfase as notas que são obtidas através da aplicação de provas.
Durante o desenvolvimento dessas habilidades e competências, o aprendiz também
consegue perceber sua capacidade de desenvolver a escrita, a fala, o pensamento de forma mais
lógica e a interação com outras pessoas de diversas culturas e saberes, fazendo com que ele faça
reflexões sobre quem ele é/era e como esse processo de ensino-aprendizagem se faz presente
em sua vida, trazendo uma autoconfiança e melhorando as relações de trabalho e vida pessoal,
inclusive melhorando a sua autoestima. Nesse modelo de avaliação, também é permitido que
sempre que identificada uma habilidade ou competência, o instrutor, mediador ou facilitador
possa juntamente com o aprendente trabalhar estratégias para potencializá-las assim como
também ao identificar pontos que possam ser melhorados, construir um planejamento que possa
facilitar o desenvolvimento desses aspectos, trazendo um benefício substancial para a
aprendizagem desse aluno.
Ao final de toda essa trajetória, o sujeito se torna capaz de perceber e reconhecer todo o
seu processo evolutivo, fazendo então com que ele ganhe mais confiança, podendo então
297
mostrar seu diferencial competitivo e potencial no mercado de trabalho, produzindo assim uma
carreira profissional mais sólida e criando mais expectativas de futuro.
Nesse sentido, a avaliação na formação profissional não diz respeito ao conteúdo das
áreas do conhecimento Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, mas sim, de habilidades e
competências como: comprometimento, comunicação, conduta ética, assiduidade, autonomia e
flexibilidade. Apesar que a avaliação não seja propriamente das áreas dos conhecimentos, mas
os conhecimentos de português, raciocínio lógico e as demais estão presentes de forma
interdisciplinar respingando nos diversos assuntos profissionais, pois o jovem aprendiz que
trabalha no setor administrativo precisará de noções básicas das regra gramatical para elaborar
textos no envio de e-mails, realização de relatórios, registro de informações e dentre outros. O
aprendiz terá que aprender noções básicas de cálculo para compreender de forma geral os
conhecimentos acerca dos direitos trabalhistas que abrange porcentagem, regra de três,
multiplicação, subtração e dentre outros em relação aos descontos e proventos no seu
contracheque.
Além disso, aprendizes chegam tímidos, inseguros, com dificuldades na comunicação e
o instrutor na avaliação constata o fato, buscando com o aprendiz a construção da superação
dos obstáculos. Portanto, no final do contrato especial é perceptível as mudanças nos diversos
aspectos pontuados durante todo contrato que varia de um a até dois anos. Muitos dos
aprendizes que finalizam o contrato com período posterior retornam a unidade de formação
para rever os instrutores para agradecer, partilhar do sucesso, das experiências e incentivar os
outros jovens na carreira profissional. Alguns após o contrato são efetivados na empresa, outros
alcançam cargos de supervisores de loja, gerentes, analistas e tutores de outros aprendizes na
empresa.
3 METODOLOGIA
O trabalho foi conduzido a partir da escolha do tema, aspecto esse que segundo Gil
(2002, p.60) é uma das etapas do processo de pesquisa, mas não é uma tarefa, partindo do
pressuposto que: “No entanto, a escolha de um tema que de fato possibilite a realização de uma
pesquisa bibliográfica requer bastante energia e habilidade do pesquisador.”
Nesse sentido, o trabalho utilizou-se da pesquisa bibliográfica, segundo Severino (2007,
p. 106):
298
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
demarcada a partir de uma necessidade histórica emergente ligada aos movimentos sociais,
Educação de adultos e dentre outros aspectos ou espaços.
Além disso, a pesquisa colaborou para o aprofundamento da atuação do Pedagogo na
Educação Profissional e a respeito da avaliação neste espaço. A ação do Pedagogo nesse
ambiente surge a partir da necessidade de formação profissional e com objetivo de preparar as
pessoas para o trabalho, no exercício de suas atribuições nos diversos segmentos do mercado
trabalhista.
O Pedagogo atua de forma substancial nesse ambiente, na formação dos aprendizes e
colaboradores do quadro funcional da empresa. Esta formação é técnico-científica com base
humanista. O pedagogo contribui no auxílio e desenvolvimento de habilidades e competências.
Atua buscando estratégias e metodologias para garantir que possa possibilitar uma melhor
aprendizagem, seja em um treinamento a um projeto com objetivos definidos.
A atuação do Pedagogo no ambiente empresarial não é enrijecida, mas sim, reflexiva,
intencional e crítica. Busca informações e dados do desempenho do aluno para fornecer
subsídios para avaliação, bem como perceber possíveis desvios constatados. Mas de que forma
é realizada essa avaliação? Aplicar provas e questionários, conforme os conteúdos passados em
sala?
A investigação discutiu acerca da avaliação sendo um assunto primordial para
pedagogos e todos aqueles responsáveis direta e indiretamente no desempenho dos alunos. A
avaliação vai além de aplicar apenas provas e questionários, pois essa atribuição está bastante
ligada ao profissional examinador. Os exames são seletivos, classificatório e excludentes.
Portanto, a perspectiva do avaliador é considerável, pois é diagnóstica, inclusiva e que
possibilita apreciação de todo progresso, de forma contínua. Entretanto, ressalta-se que os
aspectos quantitativos e qualitativos contribuem quando alinhados ao melhor desempenho do
aprendiz. Além disso, pode-se desmistificar que deve utilizar um e desvalorizar o outro, onde
ambos podem se complementar de forma a proporcionar estratégias de acordo com as
especificidades das turmas.
Na narrativa foi possível abordar a atuação do Pedagogo no ambiente profissional e
explicar como se dá o processo avaliativo. Discutiu acerca das especificidades da ação
pedagógica nesse âmbito, quais os conteúdos trabalhados na oficina e quais as características
do processo de avaliação na Educação não escolar, especialmente na Educação Profissional.
Pode-se perceber o quanto é significativo a contribuição do Pedagogo na formação e avaliação
300
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CARNEIRO, Isabel Magda Said Pierre; MACIEL, Maria José Camelo. Pedagogia e
Pedagogos em diferentes espaços: interdisciplinaridade pedagógica. (s.a.).
CHAVES, Márcia Jaínne Campelo; BARBOSA, Elane da Silva; THERRIEN, Silvia Maria
Nóbrega. A influência da monitoria acadêmica na formação do ser docente na
enfermagem: um relato de experiência. Revista Cocar. Em Questão: Ceará, 2017.
COSTA, Marília Maia. Psicopedagogia Empresarial. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2011. Rio de
Janeiro.
FILHO, Jairo Barduni; FIGUEIREDO; Ana Clara Siqueira. A atuação do (a) pedagogo (a)
em espaços não escolares: a Pedagogia empresarial enquanto um novo campo de
atuação. Humanidades e Inovação, Minas Gerais, 2020, v. 8, n. 5, p. 286-297, 20 fev. 2020.
FRANCO, M.A.S. Pedagogia como ciência da Educação. 2. Ed. rev. amp. - São
Paulo: Cortez, 2008.
LIBÂNEO, José. Carlos. Pedagogia e Pedagogos, Para Quê?. 12ª ed. São Paulo: Cortez,
2010.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar. 1. ed. São Paulo: Cortez
Editora, 1995. 180p.
SEVERO, José Leonardo Rolim de Lima. Educação não escolar como campo de práticas
pedagógicas. In: Revista Brasileira Estudos pedagógicos, Brasileira, v.96, n. 244, p.561-576,
2015.
SEVERO, José Leonardo Rolim de Lima. Educação não escolar como campo de práticas
pedagógicas. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos RBEP-INEP, v. 96, p. 561-576,
2015.
RESUMO
A pandemia de 2020 lançou o mundo inteiro em uma crise sanitária que remodelou as
estratégias da sociedade para continuar o seu cotidiano. E a educação também sentiu o impacto
dessas mudanças utilizando a tecnologia e conhecimento para continuar seu projeto de educar
e divulgar o conhecimento, dito, cientifico. Assim, procuramos analisar a complexa interação
social entre professores e famílias e como a grande imprensa abordou essa relação.
Palavras-chave: Pandemia 2020. Educação. Grande imprensa.
ABSTRACT
The 2020 pandemic launched the entire world into a health crisis that reshaped society's
strategies to continue its daily life. And education has also felt the impact of these changes using
technology and knowledge to continue its project of educating and disseminating scientific
knowledge. Thus, we seek to analyze the complex social interaction between teachers and
families and how the mainstream media approached this relationship.
Keywords: Pandemic 2020. Education. mainstream press.
INTRODUÇÃO
1
Doutorando em Ciências da Religião, pela Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP e professor de
História da Igreja da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – FCRN
304
científicos, que registraram informações importantes sobre essa temática. Outro ponto relevante
é a questão do ensino domiciliar que é um tema recorrente e está sempre em debate nas pautas
políticas do Brasil.
Será que esse formato de ensino passou pelo crivo no contexto da pandemia? Como os
pais conseguiram suprir a ausência dos discentes na sala de aula? Acreditamos que a presença
do professor experiente, em sala de aula, é um fator fundamental para definir métodos e
estratégias para explicar os conteúdos. Outro ponto importante foram as falas do atual
presidente e a urgência da vacinação que não passaram despercebidas pela grande imprensa
brasileira.
O negacionismo, a crítica aos professores, os incentivos as aglomerações dividiram
opiniões dos brasileiros sobre as atitudes de Bolsonaro no contexto da pandemia. Essas, e outras
questões, serão de fundamental importância para refletimos o contexto da escola no período da
pandemia e quais estratégias poderemos adotar para minimizar o impacto desse triste capítulo
da nossa história.
Para Maria Inês, apesar dos pesares, o saldo das aulas online é positivo até o momento.
"Falar com os alunos a distância está sendo uma experiência difícil, marcante e
incrível. Sentimos falta da sala, do aluno, sabemos que os alunos sentem falta dessa
presença, do contato, e esperamos poder voltar com segurança o mais rápido
possível", finaliza2
A narrativa acima aponta uma condição que ocorreu com todos os professores do Brasil
e do mundo no ano de 2020: a possibilidade da ausência da afetividade entre educandos 3,
professor e outros atores que fazem parte da escola4. Os primeiros meses de 2020 marcaram a
memória coletiva5 por apresentar dias de incerteza diante da expansão do vírus mortal COVID
2
https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2020/05/21/professores-e-alunos-falam-sobre-desafios-e-
dificuldades-de-aulas-online-durante-pandemia-em-ms.ghtml
3
Utilizamos a expressão “educando” Segundo a Lei de nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 proposto na LDB
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm)
4
ALARCÃO, Isabel. A escola Reflexiva In: Escola reflexiva e nova racionalidade/organizado por Isabel
Alarcão. - Porto Alegre: Artmed editora 2001.p. 23
5
Segundo Jaques Le Goff “A evolução das sociedades na segunda metade do século XX clarifica a importância
do papel que a memória coletiva desempenha. Exorbitando a história como ciência e como culto público, ao mesmo
tempo a montante enquanto reservatório (móvel) da história, rico em arquivos e em documentos/monumentos, e a
aval, eco sonoro (e vivo) do trabalho histórico, a memória coletiva faz parte das grandes questões das sociedades
305
19 em diversos países do mundo. Era tempo de repensar estratégias que possibilitava os alunos
e professores manterem contatos diante do isolamento social.
A dinâmica cotidiana7 entre professor e aluno, que é definida pelo método tradicional
agora encontrava-se diante de uma questão crucial: será que o discente tinha possibilidade de
arcar com os custos de internet, aparelho de celular e aprender os usos das novas tecnologias? 8
Antes de nos debruçarmos sobre essa reflexão vamos procurar compreender o sentido de um
método tradicional na escola.
De acordo com Mizukami “... Ao indivíduo que está “adquirindo” conhecimento
compete memorizar definições, enunciados de leis, sínteses e resumos que lhe são oferecidos
no processo educacional formal a partir de um esquema atomístico. 9” Quadro, pincel, caderno,
entre outros componentes que constrói o espaço da sala de aula do modelo tradicional, iriam
experimentar “o fechamento das escolas que resultou de uma tentativa inicial de tentar conter a
propagação de um vírus pouco conhecido até aquele momento10.”
desenvolvidas e das sociedades em vias de desenvolvimento, das classes dominantes e das classes dominadas,
lutando todas pelo poder ou pela vida, pela sobrevivência e pela promoção” In: LE GOFF, J. História e Memória.
São Paulo: Ed. Unicamp, 1996. [Original dos ensaios: 1987-1982] [original do livro: 1982]. pp. 409 - 410
6
Nataly Moretzsohn Silveira Simões LUNARDIL, Andrea NASCIMENTO, Jeff Barbosa de SOUZA, Núbia
Rafaela Martins da SILVA Teresa Gama Nogueira PEREIRA, Janaína da Silva Gonçalves FERNANDES. Aulas
Remotas Durante a Pandemia: dificuldades e estratégias utilizadas por pais In: Educação & Realidade, Porto
Alegre, v. 46, n. 2, e106662, 2021
7
Para Heller “a vida cotidiana é a vida de todo homem. Todos a vivem, sem nenhuma exceção, qualquer que seja
seu posto na divisão de trabalho intelectual e físico. [...] a vida cotidiana é heterogenia.” p.17-18 HELLER, Agnes.
O cotidiano e a história. 11º ed. São Paulo / Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016
8
De acordo com a Vanessa Zinderski Guirado a “mudança trouxe um grande acúmulo de trabalho para os
professores, que além de não terem nenhum tipo de apoio ou instrução quanto às melhores práticas para fazer
a migração do presencial para o virtual, se viram obrigados a aprender como usar, literalmente, do dia para a
noite, essas novas ferramentas, sendo que, em muitos casos foi preciso comprar equipamentos que atendessem
às novas necessidades, ou seja, os docentes também tiveram que arcar com todos os custos referentes a essas
mudanças, sendo necessário ainda fazer a modulação das suas aulas para os novos formatos e desenvolver métodos
para ensinar aquilo que os discentes precisavam aprender, fazendo com que a jornada de trabalho virtual se
estendesse por muito mais horas do que as habitualmente direcionadas para as ações pré-aula, com o estudo,
seleção e preparo do material [...] p. 631 IN : GUIRADO Zinderski, V. (2022). A Formação de Professores
através de narrativas para o esperançar: aprendizagens, constatações e resistências. Fênix - Revista De
História E Estudos Culturais, 19(1), 623 -644. https://doi.org/10.35355/revistafenix.v19i1.1225
9
MIZUKAMI, M. G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. p.11
10
FONSECA, Rochele. SGANZELA, Giovanna Coghetto, ÉNEAS, Larissa Valency. Fechamento das escolas
na pandemia de Covid-19: impacto socioemocional, cognitivo e de aprendizagem In Paz Revista Debates em
Psiquiatria - Out-Dez 2020 P.30
306
O tempo de preparar as famílias dos educandos para ausência da vida escolar tradicional
estava chegando e agora uma nova responsabilidade estava estruturando-se: está presente na
vida do estudo das crianças.
A ausência dos pais na vida escolar dos filhos é o segundo elemento. Sabemos que
muitas são as razões que justificam a ausência dos pais na vida escolar dos filhos,
contudo, na maioria das vezes, estão diretamente vinculadas às relações familiares.
Muitas crianças moram com os avós, tios ou demais parentes; alguns pais alegam
trabalhar o dia todo e não dispor de tempo para acompanhar a vida escolar das
crianças.11
11
OLIVEIRA, Sandra Regina Ferreira de (org.). Escolas em quarentena: o vírus que nos levou para casa.
/Organizadora: Sandra Regina Ferreira de Oliveira. 1. ed. Londrina, PR: Editora Madrepérola, 2020. p.08
12
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/08/12/datasenado-quase-20-milhoes-de-alunos-deixaram-
de-ter-aulas-durante-pandemia
13
Jornal Diário do Nordeste de 24 de maio de 2022
307
jornalistas14 sinalizam que os pais estão dando “conta do recado”, mas no último parágrafo do
texto as ações dos pedagogos e professores são requisitadas para auxiliar no trabalho dos pais.
O ato de educar é uma dinâmica entre escola, família, sociedade e aluno 16 e essas
atitudes estão para além da formação dos pais. Um professor de uma área especifica dedica
anos, e as vezes décadas, para dominar o conhecimento especifico e repassar para os alunos de
forma crítica. O isolamento social apresentou possibilidades para os pais experimentarem algo
próximo a educação doméstica e as consequências dessa experiência será sentida durante anos
ou até mesmo décadas 17.
Outra questão pertinente é a tecnologia disponível para os discentes, pois de acordo com
o G1 Globo “No país, 63% dos estudantes têm acesso à banda larga, e 37% não têm. Fica difícil
se encantar pela tecnologia avançada na educação sem lembrar que ainda falta a básica: internet
na casa dos alunos e nas escolas que, segundo educadores, hoje é tão importante quanto uma
biblioteca. Eles dizem que, até que todas as regiões do país estejam conectadas, a tendência é
que as desigualdades se aprofundem18.”
14
Segundo Robert Darnton “quaisquer que sejam suas imagens e fantasias subliminares, os jornalistas têm pouco
contato com o público em geral e não recebem quase nenhum retorno deles. A comunicação pelos jornais é muito
menos intima do que pelos periódicos especializados, cujos redatores e leitores pertencem ao mesmo grupo
profissional. p. 89 IN: DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. Tradução:
Denise Bottman. - São Paulo: Cia das Letras, 2010.
15
Correio Braziliense 30/08/20
16
De acordo com Figueiredo, Lima, Queiroz e Vidal “O ato de educar em seu sentido é aprender a conviver e,
atualmente se faz necessário, pois a humanidade está perdendo o amor pelo próximo, o interesse de fazer o outro
se sentir bem com pequenas ações de bondade e gentilezas.” IN: O papel do educador no ato de cuidar e de
educar na educação infantil apresentado na V CONEDU (Congresso Nacional de Educação) de 12/09/2018⋅ a
17/09/2018. p.5
17
Para Andressa Pellanda, coordenado geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, trouxe alguns
aspectos não discutidos sobre a regulamentação da educação domiciliar durante sua participação na audiência
pública de ontem (12/4) na Câmara dos Deputados. Entre eles, a necessidade de formação no ensino superior, a
utilização de tutores, os custos da criação e da manutenção de um portal do Ministério da Educação para
acompanhar as menos de 7 mil famílias que praticam a educação domiciliar, os critérios e avaliações dos planos
pedagógicos apresentados pelos responsáveis etc.
A questão da formação dos pais e a necessidade ou não de tutores evidencia as características elitistas e de viés de
privatização da educação domiciliar. Maria Alice Junqueira reforça o papel essencial do (a) educador (a) na
garantia a uma educação de qualidade IN : https://www.cenpec.org.br/noticias/os-riscos-da-educacao-domiciliar
18
G1 Globo 12/03/2022
308
A tecnologia disponível para os educandos, por incrível que pareça, ainda é, mínima
para atender à complexidade de uma sala de aula e as orientações dos docentes. Muitos
discentes utilizam os celulares dos pais, ou de outros familiares, para desenvolver atividades e
muitas vezes esses aparelhos não estão disponíveis. A ação de enviar as atividades deve estar
baseada no LD19, pois ele é um principal suporte disponível para os alunos e professores.
De acordo com Martins e Klein
19
De acordo com Amanda Penalva Batista “...quando se fala em livro didático (LD), é natural associá-lo a todos
os impressos que circulam na escola. Isso ocorre porque o LD, por ser tão comum, e recorrente no contexto escolar,
acaba não chamando a atenção para sua singularidade no que se refere sua produção e consumo, por esse motivo
tem sido pouco utilizado como objeto de interesse de pesquisas que queiram delimitá-lo, sendo analisado
apenas enquanto revelador das práticas escolares.”. BATISTA, A. P. Uma análise da relação professor e o livro
didático. Monografia apresentada na Universidade do Estado da Bahia. Salvador, BA: UNEB, 2011.p.13
20
Jessica Viera, MARTINS e Delci Heinle KLEIN. O livro didático e sua (sub) utilização: possibilidades em
tempos de pandemia. Extensão – v. 8, n 2, julho\dezembro de 2020.p.114
309
possibilitou os alunos a fazerem uso deles através de atividades. De acordo com Atenor Soares,
“As atividades de leitura presentes nos LD devem apresentar uma grande diversidade de opções
para ajudar o aluno a desenvolver sua capacidade crítica, por exemplo, explorar bem o contexto
de produção do gênero, dados dos autores que vão auxiliar a contextualizar no texto
apresentado. Também trazer textos que circulam facilmente na sociedade, como aqueles que
estão relacionados com o que os alunos têm bastante contato: textos de blogs, de reportagens,
notícias, crônicas e sites.21” As últimas linhas do parágrafo apontam para uma nova reflexão, a
saber: Será que o saber promovido pelo livro apresenta uma linguagem acessível para o público
leitor? Diante da pandemia de 2020 como os educandos percebiam as informações do LD?
De acordo com Amanda Penalva Batista
21
SOARES, Atenor Machado da Silva. Os impactos do uso do livro didático nas práticas de ensino de leitura
em uma escola pública de João Pessoa. Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – Centro de Ciências Humanas,
Letras, Artes e Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas – Licenciatura Plena em Letras e Português, João
Pessoa, Paraíba. (2017)
22
BATISTA, A. P. Uma análise da relação professor e o livro didático. Monografia apresentada na
Universidade do Estado da Bahia. Salvador, BA: UNEB, 2011.p.13
23
Munakata define “...a adoção do livro didático, o mesmo para toda uma turma da escola, foi fundamental para
a consolidação de um dos aspectos mais arraigados da cultura escolar desde o final do século 19: o ensino
simultâneo, pelo qual o mesmo professor ensina a mesma disciplina para muitos alunos, ao mesmo tempo. ”
MUNAKATA, Kazumi: “O livro didático como indício da cultura escolar”: IN Revista História
Educação (online), v.20, n.50 (Porto Alegre) (2016), p. 119-138.
310
24
https://g1.globo.com/educacao/noticia/2020/07/08/quase-90percent-dos-professores-nao-tinham-experiencia-
com-aulas-remotas-antes-da-pandemia-42percent-seguem-sem-treinamento-aponta-pesquisa.ghtml
25
De acordo com Regina Vilella a grande imprensa foi a primeira a utilizar a Internet para transmissão de notícias.
[...] até então, os principais instrumentos desse canal de comunicação era o envio de mensagens e sons em arquivos
multimídia para os assinantes de notícias, fazendo com que os usuários ganhassem a possibilidade de ter
informações imediatas, além de receber as matérias quem mais lhes interessavam. In: VILLELA, Regina. Quem
Tem Medo da Imprensa? – Como e quando falar com jornalistas. Rio
de Janeiro, Campus: 1998. p.24
26
OLIVEIRA, Rodrigo Santos de. A relação entre a história e a imprensa, breve história da imprensa e as
origens da imprensa no Brasil (1808-1930). HIstoriae, Rio Grande, v. 2, n. 3, pp. 125-142, 2011.
27
Para Peter Burke “...já foi sugerido que os historiadores começaram a fazer novos tipos de perguntas sobre o
passado, para escolher novos objetos de pesquisa, tiveram de buscar novos tipos de fontes para suplementar os
documentos oficiais”. p.25 In: BURKE, Peter. A escrita da História, novas perspectivas. São Paulo. Editora da
Universidade Estadual Paulista, 1992.
28
https://www.brasil247.com/authors/nando-motta
311
árdua, pois agora não tem mais horário fixos para lecionar e o educador precisa estar sempre
online para atender aos questionamentos dos pais e alunos.
Sobre a imagem produzida por Nando Motta captamos ela sobre o olhar de Sandra
Jathay Pesavento que afirma “Assim, a imagem tem, para o historiador, sem dúvida, um valor
documental, de época [...] O que importa é ver como os homens se representavam, a si próprios
e ao mundo, e quais os valores e conceitos que experimentavam e que queriam passar, de
maneira direta ou subliminar, com o que se atinge a dimensão simbólica da representação. [...]
Da pintura ao cinema, da história em quadrinhos à fotografia, do desenho à televisão, tais
imagens povoam a vida e a representam, oferecendo um campo enorme às pesquisas dos
historiadores.”29
Segundo Matias e Vidal - Maia as charges representam “o principal propósito da charge
é apresentar criticamente um problema, um fato ou um acontecimento que possa interessar à
sociedade na qual se insere. Quase sempre recria, através de caricaturas, a imagem de pessoas
públicas envolvidas em eventos capazes de gerar polêmica. Para que essa leitura seja dinâmica,
o texto chárgico tem como meta satirizar, muitas vezes associando o humor satírico ao deboche
e à ironia.30
A charge de Nando conecta-se à narrativa da professora, Karina Batelli dando
visibilidade ao cotidiano dos professores e discentes sobre o contexto da pandemia de 2020.
Agora uma frase de cunho político “professores respondem a Bolsonaro” ganha visibilidade
29
PESAVENTO, S. J. História & História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.p. 87-88
30
MATIAS, Avanúzia Ferreira. ; VIDAL-MAIA Janicleide . A História da Charge e Seu uso No Pós-64. In:
XIII ECHE - III ENHIME - III SINECGEO, 2014, FORTALEZA. Educação, História e Geopolítica no Contexto
do Pós-1964, 2014.p.7
312
através dos conflitos que ocorreram registrados no jornal Agencia Pública onde Matheus
Santino e Rute Pina publicam a reportagem “Professores relatam vigilância em aulas remotas
na pandemia”
De acordo com esses repórteres, o professor “Gabriel diz que já viveu situações
constrangedoras durante as aulas online. No início deste ano, por exemplo, em um debate
organizado com outro professor, uma mãe interrompeu a discursão e disse que estava
horrorizada com os professores, que fizeram críticas à lentidão da campanha de vacinação. “A
gente teve que entrar em uma discussão com a mãe da aluna na hora da aula” 31, lembra.
As experiências sentimentais dos educadores – Maria Inês, Fátima Guerra,
Karine Batelli e Gabriel Meneses Barros – apresentam uma luta em comum, a saber: uma
tentativa de adaptar-se a tecnologias da informática, manter o padrão de ensino para os
educandos e apontar a ausência do executivo, representado aqui pelo presidente, na busca por
vacinas. De acordo com a revista Istoé de 07 março de 2021 “... O governo de Jair Bolsonaro
(sem partido) rejeitou em 2020 uma proposta da farmacêutica Pfizer que previa 70 milhões de
doses de vacinas contra a Covid-19 até junho deste ano. Dessas, 3 milhões estavam previstas
até fevereiro32.”
Outras falas do presidente na mesma revista, em 18 de dezembro de 2020,
afirmam que tomando a vacina “da Pfizer/BioNtec, [...] não há garantia de que ela não
transformará quem a tomar em “um jacaré”33. No percurso do ano de 2021 apresentou
possibilidades para o retorno das aulas em formato hibrido que de acordo com o periódico
Gazeta de São Paulo de 24 de fevereiro de 2021 uma mãe informa “Gente, o que vocês estão
achando do ensino híbrido? Aqui em casa está uma loucura! ”, “Eu me perco nos dias em que
as crianças precisam ir para a escola ou não”, “Na escola da minha filha, ela vai metade da
semana presencial e a outra metade assiste às aulas em casa, não tenho certeza se isso é seguro,
mas acho melhor do que no ano passado”.34”
CONCLUSÃO
31
https://apublica.org/2021/12/professores-relatam-vigilancia-em-aulas-remotas-na-pandemia/#Link2
32
https://istoe.com.br/governo-bolsonaro-rejeitou-70-milhoes-de-doses-da-pfizer-diz-jornal/
33
https://istoe.com.br/bolsonaro-sobre-vacina-de-pfizer-se-voce-virar-um-jacare-e-problema-de-voce/
34
313
REFERÊNCIAS
DORNELES, Beatriz Vargas. (Org) Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 46, n. 2,
e106662, 2021.
FONSECA RP, Sganzerla GC, Enéas LV. Fechamento das escolas na pandemia de Covid-
19: impacto socioemocional, cognitivo e de aprendizagem. Debates em Psiquiatria [Internet].
1º de dezembro de 2020 [citado 13º de junho de 2022];10(4):28-37.
HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. 11º ed. São Paulo / Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2016
LE GOFF, J. História e Memória. São Paulo: Ed. Unicamp, 1996. [Original dos ensaios:
1987-1982] [original do livro: 1982].
35
A pandemia da doença causada pelo novo coronavírus 2019 (COVID-19) tornou-se um dos grandes desafios do
século XXI. p.54 IN: Pires Brito, S. B., Braga, I. O., Cunha, C. C., Palácio, M. A. V., & Takenami, I. (2020).
Pandemia da COVID-19: o maior desafio do século XXI. Vigilância Sanitária Em Debate: Sociedade, Ciência
& Tecnologia, 8(2), 54-63.
314
OLIVEIRA, Sandra Regina Ferreira de (org.). Escolas em quarentena: o vírus que nos
levou para casa. /Organizadora: Sandra Regina Ferreira de Oliveira. 1. ed. Londrina, PR:
Editora Madrepérola, 2020.
SOARES, Atenor Machado da Silva. Os impactos do uso do livro didático nas práticas de
ensino de leitura em uma escola pública de João Pessoa. (UFPB) – Centro de Ciências
Humanas, Letras, Artes e Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas – Licenciatura
Plena em Letras e Português, João Pessoa, Paraíba. (2017)
VILLELA, Regina. Quem Tem Medo da Imprensa? – Como e quando falar com jornalistas.
Rio de Janeiro, Campus: 1998.
315
RESUMO
O presente trabalho visa refletir sobre a construção e difusão do medo como discurso
(mecanismo) de poder, consequentemente, político, analisando questões pontuais que
caracterizam aspectos culturais da sociedade brasileira (mito da não violência e/ou da
democracia racial, por exemplo) sobre o prisma da apropriação e manipulação de temas centrais
que fundamentam discursos paradoxais que supostamente defendem a liberdade, mas que, na
realidade, se apresentam como mecanismos de opressão, violência e manipulação das massas,
originando além da violência material, a simbólica e a psicológica, que atingem de maneira
mais cruel e evidente, as classes que não dispõe de capitais sociais, culturais e/ou financeiro. O
presente trabalho é fruto de uma pesquisa bibliográfica exploratória que transcorre da
construção da nossa dissertação de mestrado e segue parâmetros de escrita alinhados aos textos
ensaísticos.
Palavras chave: Poder. Opressão. Medo. Violência.
ABSTRACT
The present work aims to reflect on the construction and diffusion of fear as a discourse
(mechanism) of power, consequently, political, analyzing specific issues that characterize
cultural aspects of Brazilian society (myth of non-violence and/or racial democracy, for
example) on the prism of appropriation and manipulation of central themes that underlie
paradoxical discourses that supposedly defend freedom, but which, in reality, present
themselves as mechanisms of oppression, violence and manipulation of the masses, originating,
in addition to material, symbolic and psychological violence, that affect in a more cruel and
evident way, the classes that do not have social, cultural and/or financial capital. The present
work is the result of an exploratory bibliographical research that follows the construction of our
master's thesis and follows writing parameters in line with the essay texts.
Keywords: Power. Oppression. Fear. Violence.
1 INTRODUÇÃO
36
Advogado especialista em Segurança Pública e Cidadania, graduando em Psicologia pela FCRN, mestrando
em Ciências Sociais e Humanas pela UERN. lulalopes02@gmail.com
37
Orientador: Licenciado em Ciências Sociais, Mestre em Sociologia pela UFRN e Doutor em Sociologia pela
UFPB. Vanderleil58@gmail.com
316
Em resumo, a violência não é percebida ali mesmo onde se origina e ali mesmo onde
se define como violência propriamente dita, isto é, como toda prática e toda ideia que
reduza um sujeito à condição de coisa, que viole interior e exteriormente o ser de
alguém, que pontue relações sociais de profunda desigualdade econômica, social e
cultural, isto é, de ausência de direitos. Mais do que isso, a sociedade brasileira não
percebe que as próprias explicações oferecidas são violentas porque está cega para o
lugar efetivo de produção da violência, isto é, a estrutura da sociedade brasileira.
Dessa maneira, as desigualdades econômicas, sociais e culturais, as exclusões
econômicas, políticas e sociais, a corrupção como forma de funcionamento das
instituições, o racismo, o machismo, a intolerância religiosa, sexual e política não são
consideradas formas de violência, isto é, a sociedade brasileira não é percebida como
estruturalmente violenta e a violência aparece como um fato esporádico da superfície
(CHAUÍ, 2021, p. 41).
317
38
Palestra proferida pela professora Marilena Chauí, em Goiânia, no dia 14 de março de 2013, no Espaço Oscar
Niemayer, no evento Café de Idéias. O evento também se caracterizou como a Aula Inaugural do PPGCOM –
UFG turma 2013.1.
318
neutralidade científica que, diga-se de passagem, de neutra não tem nada (é só observarmos
quem estudamos, ou seja, quem tem hegemonia dentro das academias: brancos, homens e
europeus).
É crucial entender um pouco dos aspectos culturais que permeiam a sociedade brasileira,
oprimindo e tornando submissos, inoperantes, os mais diversos sujeitos que não gozam de
capital social, cultural e financeiro, ou seja, a esmagadora maioria da população.
É por esse caminho que pretendemos conduzir esses escritos. Necessitamos re-pensar o
existir diante das diretrizes dos novos tempos. Se faz necessário que criemos e/ou adaptemos
formas de resistência que coadunem com as singularidades que ainda existem entre nós.
Precisamos, pela educação e através dela, resgatar e juntar os cacos da resistência, tornando
audível a nossa voz.
É essa tarefa, talvez imprudente, mas fundamental, que propomos refletir aqui, através
de uma escrita ensaística. Somos, seremos e devemos ser, sujeitos políticos. A ciência precisa
“tomar partido”, ter um lado – e deve ser o do povo. Não queremos com isso abraçar políticos
e seus partidos, mas, sim, fugir da ideia de neutralidade que tende a nos calar e tornar mecânicos
e obsoletos o nosso agir, o nosso discurso.
Assim, apresento esses escritos, frutos de uma pesquisa bibliográfica exploratória que
ocorrera ao longo do atual semestre, se apropriando, ainda, no intuito de levantar reflexões
críticas, dos acontecimentos políticos e sociais que transcorreram no período. Pensamos aqui
uma Ciência Social e Humana que proporcione, de fato, uma transformação na concepção do
que vivemos; que possa estruturar um pensamento que torne visível, por exemplo, que o medo
tem sido usado como forma de poder; que re-pense a ética como ideologia; que nos mostre que
há uma divisão social do/no medo que pode gerar um processo de desesperança, uma servidão
voluntária; que repense a si própria, demonstrando que alguns preceitos iluministas, condutores
dos caminhos sociais e científicos ao longo de quase dois séculos, são, na verdade,
enfraquecedores da formação de um corpo social verdadeiramente coletivo e que provocam
divisões, fissuras, massificando, validando e efetivando a diferença entre grandes e pequenos,
fortes e fracos, cultos e não cultos (matérias difusoras da violência e opressão no seio social).
39
Ao longo do texto discorreremos mais sobre esse mito, pensado por Marilena Chaui.
40
https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2019-05/mais-de-70-da-violencia-sexual-contra-
criancas-ocorre-dentro-de
320
A maior parte da nossa população carcerária (39,42%) responde por crimes relacionados
às drogas, em seguida, em percentual bem próximo (36,74%), temos os crimes relacionados ao
patrimônio. Apenas 11,38% estão relacionados aos crimes contra a pessoa 41. Então, será que
queremos mesmo armar as pessoas para defender suas famílias?
Mia Couto diz que o medo foi o mestre que mais o fez desaprender 42. Ele argüia que há
nesse mundo mais medo das coisas más do que coisas más propriamente ditas. Ideologia,
política e religião passaram, ao longo do tempo, a co-habitar a mesma casa, compondo teias de
estratégias de poder que precisam urgentemente ser descortinadas.
A indústria do medo (armamento e segurança privada, por ex.) tem sido, talvez, a mais
potencialmente promissora. Não sentem as crises de mercado e projetam, cada vez mais,
investimentos, compondo organizações que zoneiam, mapeiam e criam uma psico-geografia do
medo, articulando poderes, conduzindo massas e ganhando dinheiro, muito dinheiro.
Aliado a isso temos uma política massiva de publicização do medo que, insere, em
todos, o ardente desejo de se “proteger” (ou seria proteger as coisas materiais que carregam
consigo?).
No âmbito da vida e das supostas garantias, temos, indubitavelmente, inúmeras questões
que denotam uma “sociedade das coisas e para as coisas” e não uma sociedade das pessoas e
para as pessoas. No direito, vemos, por exemplo, que o crime de latrocínio43 (roubo seguido de
morte) pune muito mais severamente que o crime de homicídio44. Aquele, crime contra o
patrimônio, este, crime contra a vida.
Será que no âmbito científico costumamos nos perguntar: Por que falamos mais de
segurança do que de justiça social? Por que compomos elaborados quadros de uma geografia
da violência em detrimento de uma geografia da exploração? Por que as áreas tidas como mais
violentas são as áreas que mais acomodam a massa da mão de obra geral (que fazem a roda
girar)?
Os estereótipos são construídos e constituídos para possamos garantir um suposto
“sossego mental”. Já pensaram como seria se não tivéssemos imagens mentais descritivas do
que seria um sujeito potencialmente ameaçador? Já perceberam que essas imagens são rotuladas
e constantemente direcionadas a pretos, pobres e periféricos? Quais as conseqüências disso?
41
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-02/brasil-tem-mais-de-773-mil-encarcerados-maioria-no-
regime-fechado#:~:text=A%20maioria%20dos%20presos%2C%2039,sexual%20representam%204%2C3%25.
42
https://www.miacouto.org/murar-o-medo/
43
Art. 157, § 3º, II, do Código Penal. Pena de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos e multa.
44
Art. 121 do Código Penal. Pena de 6 (seis) a 20 (vinte anos).
321
Somos ensinados a pensar assim desde o berço. Mas tudo isso tem um preço. Os efeitos
desse processo precisam ser reconhecidos para que possam ser gerenciados, desmuniciando
composições e tessituras políticas que usam do tema para manter exploração e subjugação de
classes e camadas sociais.
Deveria ser também, objetivo do pesquisador, denunciar o que (aqui e agora) torna
impossível o pensar e o agir livre. O curioso é que paradoxalmente essa obstacularização se dá
através de um discurso que prega a liberdade, a prática da liberdade. Compreender o mal que
tecemos entre nós é necessário para que encontremos os fundamentos originários da violência
desenfreada que nos assola (social, política e cultural). Reconhecer o mal em nós e não apenas
nos outros é retomar a viabilidade democrática.
Nessa complexa teia a violência surge como fator fundante dela mesma. É algo que se
retroalimenta, como a nossa resposta cardíaca, pressão sanguínea, taxa de respiração etc. Os
questionamentos reflexivos acima servem para que pensemos a necessidade de re-pensar
criticamente o tema, para que as massas possam ter a capacidade de refletir de forma concisa e
oportuna sobre esses estereótipos, quebrando um ciclo atualmente, supostamente necessário e
crescente de, a cada dia, como coisa, mostrarmos nosso valor, nossa distinção do demais
(prioritariamente através do consumo – grifes, carros, posses, nos tira os rótulos de ameaça), o
que, a nosso ver, alimenta uma complexa e violenta (mas muito lucrativa) cadeia de consumo,
tornando a violência um exercício da prática do poder e, consequentemente, um exercício da
política.
3 PRÁTICAS OPRESSORAS
Tais práticas de poder, conforme delineamos acima promovem uma intrínseca relação
entre direito e poder, apresentando a Lei como privilégio para alguns e como repressão para
outros. Assim, conforme delineia Chaui, através de pensamento do filósofo Espinosa: “O medo
é a causa desse poder” (CHAUI, 2021, p. 22).
Toda essa complexa teia social montada em cima do medo faz com que a violência se
instaure não porque os homens estão divididos entre opiniões diversas, mas porque estão (são)
divididos entre Grandes e Pequenos (CHAUI, 2021). Razão essa, talvez, da opressão, haja vista
que a dimensão física da violência torna-se e efetiva-se através das dimensões psíquicas e
simbólicas.
322
Com isso precisamos relatar que a ciência que se próxima do povo, como práxis
libertadora, goza de potência para a promoção e clarificação de idéias, tornando-se instrumento
que proporcionará reflexão, aprimoramento e difusão às representações sociais nela
trabalhadas.
Como instrumento de pesquisa, proporcionará ao pesquisador (a) uma visão complexa
e expandida da matéria estudada, auxiliando, uma visão contemporânea dos fatos sociais e não
apenas mera reprodutividade. Apropriamo-nos da ideia de contemporâneo trabalhada por
Agamben, intimamente ligada a condição de atemporalidade. Com ela podemos pensar na
contribuição para a redução das práticas opressoras através do nosso fazer científico.
Agamben (2009) defende que seus alunos devem ser contemporâneos, devem olhar para
o seu tempo e observar não só as luzes nele presentes, mas a escuridão que também lhe é
peculiar. Ou seja, contemporâneo não é aquele que está imerso em seu tempo, mas que consegue
se distanciar dele para observar as luzes e a escuridão nele presentes.
Retomando a questão da potência, também, nos apoiamos no que dita Agamben 45,
influenciado pela construção aristotélica. Ou seja, potência é aquilo que ainda não é, mas pode
vir a ser. É uma possibilidade. Para Agamben, existimos sobre o modo de potência, podendo
ser ou não ser, fazer ou não fazer, ser uma coisa ou o seu contrário. Para entendê-lo é importante
saber que ele diferencia o “não poder fazer” do “poder não fazer”. Para esse estudo, a priori,
propomos que o “tecer uma ciência crítica” seja para a ciência um “poder não fazer” e não um
“não poder fazer”.
Assim, tentamos fazer da ciência um meio de acesso ao saber contemporâneo,
traduzindo-se no pensar de Saramago em seu texto “O conto da ilha desconhecida”, onde ele
diz que “é necessário sair da ilha para ver a ilha, não nos vemos se não saímos da ilha 46”.
O texto “O que é contemporâneo?” de Giorgio Agamben (2009), foi escrito a partir da
lição inaugural para o curso de Filosofia Teorética, ministrado entre 2006 e 2007. Tinha como
intenção demonstrar aos alunos que a capacidade de cada um deles de se fazer contemporâneo
ao seu tempo, assim como a de autores e textos que iriam estudar, era crucial para o sucesso do
curso. Neste contexto, ele “elaborou” um conceito mais amplo de contemporaneidade, que a
45
Para maior aprofundamento, ler A potência do pensamento, de Agamben, no link
https://www.scielo.br/j/rdpsi/a/N6v9wqP8ChHzLQwQNMjLNGt/?lang=pt#:~:text=O%20conceito%20de%20po
t%C3%AAncia%20tem,da%20sua%20teoria%20da%20pot%C3%AAncia.
46
https://www.escolahenriquemedina.org/bibdigital/download/1733/O%20Conto%20da%20Ilha%20Desconheci
da%20-%20Jose%20Saramago.pdf
323
“desligava” da perspectiva temporal, como dito. Essa, a nosso ver, deve ser uma das
perspectivas do pesquisador em Ciências Sociais e Humanas da era líquida.
Agamben (2009) define:
Neste sentido, o contemporâneo, tem como característica um presente que nunca pode
nos alcançar. Ser contemporâneo significa ser capaz não apenas de manter fixo o olhar no
escuro de uma época, mas também perceber nesse escuro uma luz que, dirigida para nós,
distancia-se infinitamente de nós (AGAMBEN, 2009, p. 65).
A ciência precisa beber em novas fontes para refrescar o pensamento de uma época
como a nossa. René Girard foi um dos pensadores que descobriu e descortinou a potência do
pensamento literário, uma fonte até então pouco e usual e ainda hoje combatida. Da literatura,
pode extrair a hipótese do desejo mimético (égide do pensamento girardiano). “No arco
temporal entre Cervantes e Proust, a recorrência de um mesmo dado representou o elemento
catalisador [...] e levou à formulação da teoria mimética” (GIRARD, 2009, p.15). É como se os
mais importantes escritores tivessem refletido sobre a mesma e fundamental distinção
(GIRARD, 2009).
O aprimorar da “descoberta literária” abriu as portas para o desenvolvimento da sua
teoria, que tem o desejo humano como fruto da presença de um mediador, ou seja, o desejo é
sempre mimético (GIRARD, 2009). Talvez, por isso, tentemos imitar nossos opressores.
O desenvolvimento da concepção de Girard deságua em inúmeras frentes e, é hoje,
amplamente usado e capitaneado pelo marketing, que entendeu nele toda a potência de consumo
ofertada. Girard certamente não queria isso, procurava demonstrar o quão nosso desejo não é
autônomo e, se essa informação, fosse transferida para as pessoas, se pudéssemos torná-la
acessível, talvez, essa não fosse uma das “armas publicitárias”, muito menos de propagandas
político-opressiva. Se fôssemos conhecedores de sua teoria, os efeitos poderiam ser sentidos,
inclusive, no fenômeno complexo da violência (que assola nosso país).
Girard vem falar, com base na literatura dos romancistas, em mentira romântica e
verdade romanesca (título de uma das suas obras). Naquela, os sujeitos se relacionam
324
Uma parte considerável das idéias que fazemos de nos mesmos, e que acreditamos
serem “genuínas” do Brasil bem brasileiro, na verdade foram propostas pelo olhar
estrangeiro, que assimilamos como se fosse nosso. Um exemplo? Dois ou três. O mito
da miscigenação como a verdadeira contribuição brasileira à civilização moderna foi
sistematizado por um alemão – Karl Friedrich Philipp Von Martius. O projeto de
representação da natureza tropical como a marca distintiva da literatura romântica
tupiniquim foi ideado por um francês – Ferdinand Denis. A fundação da mais
importante universidade brasileira, a Universidade de São Paulo, criada em 1934, teve
suas bases lançadas através de uma mítica missão francesa – cuja maior contribuição
foi a de voltar os olhos dos alunos à realidade brasileira. (GIRARD, 2009, p. 23)
Ao fim dessa citação, temos uma importante nota de rodapé (nota 11) que trago-lhes na
íntegra:
O que mudou? O quanto evoluímos? Que armas usamos para traçar nossa percepção
científica, nosso fazer científico? Com quais olhos nos olhamos, os nossos ou os dos outros? A
grande sacada de Girard nos textos shakesperianos foi perceber que, muitas vezes, necessitamos
de uma autoridade externa para validar e sustentar nossas afirmações. Inclusive, as mais banais.
Os olhos shakesperianos, emprestados por Girard, podem nos possibilitar uma
compreensão renovada da cultura brasileira e de toda contextualização opressiva que a rodeia.
Eis, aí, toda a potência que a arte tem a nos ofertar e que pode ser trunfo no fazer científico
47
Sônia Maria de Freitas. Reminiscências. São Paulo: Maltese, 1993, p. 40.
325
voltado a uma práxis crítica, contribuindo para que nós, seres racionais e sensíveis, dotados de
linguagem e liberdade, possamos nos distanciar das acepções opressoras que nos coisificam,
calando nossa voz e nos impondo inércia e passividade para que sejamos manuseados como
instrumentos políticos de massivização de um poder opressor que se distancia da prática
democrática e que age em nome da manutenção de privilégios e favorecimentos.
Como bem nos ensinou Paulo Freire, cremos que a educação não muda o mundo, mas, sim, as
pessoas e, as pessoas, mudam o mundo. Ele nos ensina com maestria que: “não podemos
esquecer que a libertação dos oprimidos é libertação de homens e não de “coisas”. Por isto, não
é autolibertação – ninguém se liberta sozinho, também não é libertação de uns feita por outros”
(FREIRE, 1987, p.30).
A libertação é uma prática coletiva que passa necessariamente por um pensar crítico. Como
dizíamos no inicio do texto: escrever cientificamente é um processo árduo, difícil, se queremos
constituir um pensar crítico, uma práxis libertadora. Haverá inúmeras resistências, inclusive em
nos mesmos, já que somos resultado do “fazer cultural” que nos rodeia.
Chaui refletindo sobre o mito da não violência evidencia que “é exatamente no modo de
interpretação brasileira da violência que o mito encontra meios para conservar-se” (CHAUI,
2021, p. 38). Isso se dá por inúmeros mecanismos que podem ser estudados e levantados em
outro contexto de maior aprofundamento, mas que refletem questões simbólicas e imagéticas
que corroboram para um psicologismo da violência, delineando usos cotidianos dessa forma de
poder para justificar, homologar e massificar a opressão, contraditoriamente fundada na suposta
defesa da “liberdade”.
Essa forma de poder, baseada no psicologismo da violência, esconde, de fato, a sociedade a
qual estamos a viver, uma sociedade brutalmente violenta, oligárquica, verticalizada,
autoritária, hierarquizada, que impede a prática massiva de uma cidadania verdadeiramente
democrática.
Quais discursos têm constituído o povo brasileiro? Bauman (2020, p. 22) analisa que “discurso
é aquilo que nos faz enquanto nós o fazemos”.
326
Sabemos que nenhuma palavra pode dizer toda a verdade. Não é nossa intenção trazer discursos
sacramentados e hipóteses sensacionalistas, mas, sim, gozar de paridade de armas, fazendo com
que nossa voz e esse espaço possa ser “arma” na construção e constituição de uma práxis crítica.
O tema liberdade perpassa inúmeras questões e é constantemente usado na forma de “liberdade
de expressão” para dissipar pensamentos violentos, racistas, homofóbicos e desfazedores da
tessitura sensível e humana que deveria nos assistir.
Bauman cita o artigo “We should not take freedom for granted”, da professora do Curso de
Políticas Públicas na Universidade de Queensland, Katharine Gelber, que diz:
Num nível muito geral, os australianos dizem acreditar que a liberdade de expressão
é importante, e eles acreditam que nós temos liberdade de expressão. Quando você
arranha a superfície, o consenso se fratura, com relativa facilidade. As pessoas têm
uma propensão a violar os direitos de livre expressão onde eles são importantes – no
exercício real das disputas políticas e comunitárias. Há numerosos exemplos disso
(BAUMAN, 2020, p. 28).
Essas violações se dão de inúmeras formas no contexto brasileiro. Sejam pelos discursos
de ódio, pelas práticas literais de violência ou mesmo pelas Ações Judiciais estratégicas, de
governos e/ou corporações, contra a participação pública - e que, por vezes, atinge a ciência –
protocolando ações judiciais onde cobram cifras altíssimas de membros que militam e ou
pesquisadores, calando-os – em uma luta desigual, onde grupos que dispõe de tempo, estrutura
e dinheiro, massacram grupos vulneráveis ao poder político e institucional. Nesse ponto, a arte
como campo de saber, também pode ser importante instrumento de resistência e transformação,
identificando e combatendo violências simbólicas em prol de uma coletividade que pode
acessar livremente suas proposituras.
O homem é seu próprio lobo. Se me permite expressar isso em outros termos, eu diria
que ninguém pode se considerar a salvo de si mesmo: estamos sempre ameaçados diante da
possibilidade de nossa própria traição (BAUMAN E DESSAL, 2017, p.22).
Nos conhecer, entender o contexto que vivemos, pensar criticamente sobre uma
realidade posta, impositiva, psicologicamente manipulada, faz parte do contexto de combate da
violência que, não é combatida por ela própria, mas, sim, retroalimentada. Precisamos
desconfiar da soberania da razão e do progresso, essa é uma lição tecida por autores consagrados
como Freud, Bauman, Morin, Girard, etc.
O reconhecimento da participação humana e do posicionamento social, da representação
social, da ideologia, entre outras, na interpretação da realidade, problematiza de maneira
327
perspicaz a relação entre sujeito e objeto, definindo o conhecimento como um processo, e não
como uma fotografia (DEMO, 1987).
Sensíveis aos mais diversos campos de saberes e as mais complexas perspectivas do
social, propomos a arte, como campo de instrumentalização do saber científico em Ciências
Sociais e Humanas, abrindo novas perspectivas para se pensar emergências do social,
especialmente, características da violenta sociedade brasileira.
REFERÊNCIAS
CHAUÍ, Marilena. Sobre a violência. Organizadoras Ericka Marie Itokazu, Luciana Chaui-
Berlinck. 1ª ed. 3. reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2021.
DEMO, Pedro. Introdução à metodologia da ciência. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1987.
GIRARD, René. Dostoiévski: do duplo à unidade. Tradução Roberto Mallet. São Paulo: É
realizações, 2011.
328
SANTOS, Boaventura de Souza. Um discurso sobre as ciências. 5. ed. São Paulo: Cortez,
2008.
329
RESUMO
ABSTRACT
The present article intends to discuss the fears of pre-industrial modern society in the West, and
understand how their horror stories and symbolic figures resonate in contemporaneity. It is
justified by the possibility of promoting reflections about popular imagination, between distinct
temporalities and societies, debating the way in which they deal with the unknown. With a
qualitative, descriptive and transversal nature, it is a documental analysis based on
bibliographic, filmic and literary research. It analyzed how the modern notion of fear still
impacts contemporaneity and how it is being portrayed by popular culture in the 21st century,
emphasizing the importance of a critical look at fear and the structures that surround it.
Keywords: Fear; Modern age; Modern Horror; Pop Culture.
1 INTRODUÇÃO
A emoção mais forte e mais antiga do homem é o medo, e a espécie mais forte e mais antiga de
medo é o medo do desconhecido. (LOVECRAFT, 1987, p. 11).
1
Discente do curso de Psicologia da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte; discente do curso de História da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; membro do Grupo de Pesquisa do Pensamento Complexo
(GECOM/UERN). E-mail: debyariane310@gmail.com.
2
Discente do curso de Psicologia da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte; discente do curso de História da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail: valdirgabriel@alu.uern.br.
3
Orientador desta pesquisa, Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo; docente do curso de
História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail: lindercylins@uern.br.
330
4
Para mais detalhes, ver os trabalhos de Baptista, Carvalho e Lory (2005); Tuan (2005); Pauluk e Ballão (2019).
331
obra Macbeth (2001), de Shakespeare. Fantasmas como almas condenadas e vampiros, o guia
da danação aos poucos assumindo tons do pecado carnal (lascividade). Mansões antigas como
palco do tormento de moradores desavisados e as sombras da noite a um passo de revelar um
demônio. Contudo, as últimas décadas tem instaurado mudanças na perspectiva das histórias
que causavam terror na idade moderna, os mesmos medos estão enraizados na cultura ocidental,
aos poucos ganhando novas roupagens para se adequar aos presentes tempos.
Portanto, o presente artigo trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, descritiva e
transversal, sendo um estudo de caso baseado em pesquisas bibliográficas e documentais
(fílmicas e literárias) com base nas obras de terror e suspense da cultura pop do ocidente e
fontes históricas do período moderno e envolve-se de referências teóricas previamente
analisadas e publicadas de 24 obras entre artigos, livros e filmes, com o objetivo analisar
representações das figuras que aterrorizavam o imaginário popular na idade moderna, traçando
paralelo com a representações dos mesmos na contemporaneidade para entender a evolução
destes no inconsciente coletivo através da cultura pop. A pesquisa foi realizada no acervo
pessoal dos autores além das plataformas Google Scholar e SciELO, usando dos seguintes
descritores: Medo; Idade Moderna; Terror Moderno; Cultura Pop; Imaginário popular.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O trecho da versão brasileira da música “Lullaby Of Woe” (2015), tema do jogo The
Witcher III, ilustra de maneira poética os medos da Europa pré-industrial. Antes que a
eletricidade permitisse a apropriação das sombras, a noite era palco de tarefas e pessoas escusas,
332
terreno fertil para os tenebrosos eventos, logo atribuídos ao sobrenatural. Ainda que na idade
moderna, natural e sobrenatural tivessem barreiras mais cinzentas que na atualidade, crença e
incerteza se completavam para embasar criaturas e histórias de vivacidade mórbida até hoje.
Entre as mais diversas crenças humanas no tempo, não é incomum se deparar com
perspectivas dualistas sobre a vida - ao passo em que muito da existência é dividido entre o
bem/justo/correto e o mal/injusto/incorreto. Do politeísmo egípcio e grego ao monoteísmo
cristão e islâmico, faz-se presente figuras associadas tanto a aspectos “positivos” quanto
“negativos” da vida - muitas vezes perpassando uma relação antagônica entre divindades
benevolentes e entidades malignas. Um exemplo básico e conhecido na cultura popular
contemporânea são os anjos e demônios.
Cada época e cultura ensinou novos medos à humanidade, mas entre suas rupturas e
permanências, é notável o persistente medo de monstros. Do multicultural dragão aos variados
fantasmas e mortos-vivos, a humanidade tende a culpabilizar essas criaturas míticas pelo que
há de ruim e errado em suas vidas - visando também compreender melhor o desconhecido.
Novamente, um dos objetivos disso é oferecer sentido à existência e seus fenômenos, talvez
livrando as pessoas de parte da responsabilidade por suas ações, mas também garantindo-lhes
uma relativa “paz de espírito”.
Antes da saga literária Harry Potter (1998-2007), onde bruxos voam em vassouras e
jantam com lobisomens e fantasmas, havia um temor genuíno que cercava as ditas “criaturas
da noite”. Noite e escuridão eram os domínios de demônios e outros perigos, mas a bem da
verdade, a luz do entendimento era negada também a corujas, gatos e mulheres. Quaisquer
eventos e criaturas que os homens não pudessem explicar ou conter.
“Um rapaz vagando na noite enluarada, recita votos apaixonados no bosque, ensaiando
seu noivado. Tão logo concluiu suas palavras, os galhos se torcem e movem, revelando a mão
óssea de uma jovem morta que passa a persegui-lo para assim selarem o matrimônio”. Uma
narrativa contada à boca miúda nas feiras do início da idade moderna? Na verdade, é o primeiro
333
ato do filme A Noiva Cadáver (2005), de Tim Burton. É importante pontuar que, na idade
moderna, a crença no duplo (não divorciação do corpo e alma após a morte, que se mantinham
num estado de semi-vida) era quase hegemônica ao ponto que cadáveres eram desenterrados
para receber uma sentença judicial ou mesmo indicar seus assassinos numa prática conhecida
como cruentação (DELUMEAU, 2009).
A perspectiva dos mortos se erguendo dos túmulos era um medo palpável por toda a
Europa e inspirou criaturas no imaginário popular, bem como, mais tarde, histórias como a de
Giselle (1840), um balé trágico marcado pela presença das willis, espectros de donzelas mortas
e presentes no folclore do nordeste europeu. Para evitar que os defuntos se inclinassem a
resolver assuntos pendentes entre os vivos, erguiam-se uma cruz no local de uma morte trágica
a fim de evitar que o espírito ficasse atormentado, vagando sem saber de sua morte.
Realizavam-se missas e dedicavam orações para apaziguar suas almas — que não eram de tudo
cortadas do corpo (DELUMEAU, 2009).
Essa prática ainda resiste, uma tradição sólida no catolicismo, com o intento de garantir
que a alma encontre paz, mas também pode ser encarada como eco da crença em fantasmas.
Mesmo hoje, as pessoas parecem pouco dispostas a socializar com os espíritos dos mortos e
medo da caminhada destes fundou todo um gênero de terror na cultura pop, os zumbis. Segundo
Kronzek e Kronzek (2003, p. 301): "Seja qual for o método, a tentativa de criar um zumbi é
vista como um ato perverso [...] Pelas leis atuais do Haiti, a criação de zumbis é considerada
assassinato, sujeitando o ofensor às mesmas penas de qualquer outro tipo de homicídio".
Uma obra muito presente na cultura pop são as Crônicas de Gelo e Fogo (1996-
atualidade), que inspirou a série televisiva Game of thrones (2011-2019), e narra mortos
caminhando na noite invernal para personificar o mal encarnado. Ainda que a adaptação para a
TV tenha personificado o mal que deturpa a natureza e se apropria da morte para tornar mais
reconhecível ao público, a saga literária, até então, não deu face ao medo mundano, sendo
chamados nos livros apenas de "os Outros", numa toada mais aterradores e impactante que
"meros" zumbis. Eles são algo mais, que perseguem tudo que é vivo e quente e vem trazendo a
longa noite com frio da morte. Então tanto na saga como no mundo primário, a incompreensão
quanto a natureza destes seres instiga uma parte inconsciente que teme o desconhecido que
habita nas sombras.
Mas personificar os medos da morte e da noite não foi uma tendência criada por Martin.
De acordo com Kronzek e Kronzek (2003) o termo zumbi é de origem haitiana, mas o conceito
334
de um cadáver vagante é bem mais antigo. Por toda a Europa pré-industrial, relatos de mortos
atacando vivos eram um traço cultural, e cada região adaptou suas próprias lendas. Na Romênia
haviam os strigoi, strigon na Ístria, vampir nos Balcãs, opyr em Cárpatos; não importava, eram
defuntos que vagavam pela noite em busca de sangue e se recolhiam em caixões durante o dia
(LECOUTEUX, 2005). Uma crença comum na época era que uma estaca fincada no coração
podia mantê-los presos à terra, ou o emprego do sempre eficiente método de decapitação.
Delumeau (2009) ressalta que esses seres desempenhavam nas comunidades europeias
um papel expiatório como “costas-largas” carregando a culpa por acontecimentos fora da
compreensão natural da época. Mas não havia porque tais criaturas terem medo da morte se já
estavam mortas. Contudo, aos poucos, a criatura sanguinária de caráter violento, foi ganhando
traços mais bem definidos e refinados, até assumir a versão aristocrática e erudita no livro
Drácula (1897), que serviu como base para o imaginário atual sobre vampiros.
Parente moderno e inimigo jurado dos vampiros na cultura pop, os lobisomens
evocavam o lado bestial e primitivo do homem que se via como modelo de evolução. Deste
modo, assim como representado na saga Harry Potter (1998-2007), o lobisomem causava horror
e desconfiança no homem racional, com seus traços físicos e instintos próximos ou inteiramente
de um lobo ou animal selvagem. Durante a inquisição, homens foram torturados sob a acusação
de licantropia alcançada por meio de um pacto com o Diabo, chegando mesmo a relacionar nos
países eslavos lobisomens como a forma “viva” dos vampiros.
A Romênia tinha ainda sua espécie particular de lobisomem, o vârkolac, defuntos que
se transformavam em monstros para atacar antigas inimizades e desafortunados, mas sua
natureza não era, então, muito divergente da atribuída aos próprios vampiros (LECOUTEUX,
2005). Muitos creditavam suas circunstâncias de despertar na morte como castigo, punição por
pecados e crueldades cometidas em vida. Pouco pode ser mais assustador que consequências,
e, embora na contemporaneidade muitos acreditem numa divisão mais robusta entre vida e
morte, físico e metafísico — quando se acredita nele — como não temer o que a racionalidade
não entende?
O horror moderno pode ter nascido no passado, mas certamente não morreu lá. Casas
velhas que rangiam nas noites frias, ditas moradas de espíritos atormentados por suas vidas e
mortes; pode parecer um cenário arcaico, mas o Estado de Nova York, EUA, obriga, por lei, as
imobiliárias a informarem os compradores caso o imovel em questão seja mal-assombrado. Isso
pode constar inclusive na escritura da propriedade (ROSSINI, 2019). Obras como A Maldição
335
da Residência Hill (2018), série da Netflix baseada no romance de Shirley Jackson, são capazes
de induzir medos genuínos por trazer paralelos familiares e comuns ao nosso imaginário de
maneira palpável ao espectador. Talvez, da mesma forma como antes das grandes navegações,
retratavam monstros no oceano bravio (ALVES, 2013), a morte sempre foram águas
insondáveis em sua plenitude e o primeiro instinto humano é se preparar para o perigo.
Voltando às Crônicas de Gelo e Fogo, os Outros são criaturas associadas a tudo que é
frio e mortal, inominável; com seu eterno rival representando a luz, o fogo e a vida. Muito
embora no plano geral da obra faça críticas à dicotomia pelo caráter subjetivo que atravessa as
crenças, as tornando sempre cinzas interpretativas, como no mundo primário, aqueles imersos
nela, têm maior dificuldade de captar suas nuances. Mas esse receio e polarização não ficam só
na ficção.
Uma particularidade das casas assombradas americanas, que corrobora com o medo
tendo fonte no desconhecido, são as construções sobre cemitérios indígenas, assombradas por
entes retratados como maléficos, como em O Iluminado (1987), de Stephen King. A tendência
se repete em muitas histórias reais e fictícias, em atribuir o mal e perigo a religiões e figuras
não-cristãs. A "magia negra" por exemplo carrega a crença que não pode ser praticada durante
o dia e é largamente associada — de maneira errônea e preconceituosa — às práticas
ritualísticas do vodu (KRONZEK; KRONZEK, 2003).
No Julgamento das Bruxas de Salem (1692-1693) uma das primeiras mulheres acusadas
foi Tituba, escrava de etnia debatida, mas certamente não branca. Muito embora a cultura pop
tenha mudado a imagem das bruxas de: ameaça a ordem natural para associá-las a figuras, em
especial mulheres, que desafiam as convenções socialmente aceitas a exemplo do patriarcado.
Sendo assim, elementos de contracultura. Contudo, esse movimento de descoberta crítica na
cultura pop não tem se estendido a desmistificar as culturas de grupos não hegemônicos. Ainda
hoje é inegável o estigma direcionado ao vodu, nos EUA e no Brasil às religiões de matrizes
africanas ainda são as mais vandalizadas e vítimas de intolerância religiosa como aponta Portela
et al.(2021).
É comum ouvir adeptos de outros credos referirem-se, pejorativamente,aos
praticantes da Umbanda e do Candomblé como “macumbeiros” ou “fazedores
de macumba”.A definição da palavra “macumba” possui significados diversos,
dentre eles, a associação com um instrumento de percussão, de origem africana,
336
O peso desse estigma no imaginário popular é tão grande que no Brasil, em 1992, o
“Caso Evandro”, como ficou conhecido caso do desaparecimento e morte do garoto de seis anos
e ganhou notoriedade pela mídia ao ter dentre os acusados, duas mulheres relacionadas ao
prefeito da cidade de Guaratuba — onde aconteceu o crime — e frequentadoras de um terreiro
culto afro-brasileiro, sendo acusadas de crime ritual. A investigação concluiu que elas foram
mentoras, e junto a um pai de santo e outros homens, teriam “praticado magia negra” e
“sacrificado a criança”. A investigação foi veiculada de maneira sensacionalista pela mídia
como o caso “Bruxas de Guaratuba”, e o linchamento dos acusados era pedido pelo publico,
enquanto confições foram obtidas por meio de torutura, como mais tarde uma nova investigação
jornalistica mostrou a natureza enviezada da apuração judicial. Mas também revelando o poder
que a informação tem na construção e influência do imaginário do social (VELOSO; SOUZA,
2021).
Com a divulgação da fita não editada de confissão obtida por meio de tortura dos
acusados e a comprovoção da violação dos direitos humanos destes durante a primeira
investigação, eles foram absorvidos no ano de 2018, após mais de duas decadas de prisão. Mas
ficando a provocação de: Por que um crime — ainda hoje sem solução — foi tão facilmente
associado pela população brasileira a práticas ritualísticas de crenças não cristãs?
Não o é feito sem precedentes, de fato. O método medieval de cruentação foi empregado
inclusive na acusação judicial contra Elizabeth Ridgeway em meados do século XVII. Telfer
(2019) apura que supostamente o corpo apodrecido do marido de Elizabeth "sangrou" após o
toque desta. O que para o júri da época era o bastante para provar sua autoria do crime, com
seu desinteresse pela religião servido de augúrio de seus maus atos e prática de bruxaria. Sendo
Elizabeth inclusive retratada, nas poucas fontes sobreviventes nos dias de hoje, no familiar
arquétipo de bruxa malvada e dissimulada, como salientado: "E, apesar de ter vivido no século
XVII [...] ela é surpreendentemente reconhecível, um espírito familiar, e tudo mais" (TELFER,
p. 82 2019). Independente da veracidade de sua culpa, é curioso notar como foi fácil acreditar
por nela como culpada a realocando a uma categoria menos humana e mais “deturpada” e
“corrompida”, a de bruxa.
Então, muito embora a representação de bruxas no imaginário contemporâneo tenha se
modificado em comparação a idade moderna — com a saga literária Harry Potter tendo um
mérito expressivo em popularizar de maneira positiva a prática de magia e bruxaria — as
337
acusações de bruxaria na vida real ainda são feitas de maneira pejorativa, para criminalizar e
denegrir. “Nesse sentido, o preconceito se configura como uma opinião desfavorável, que
não é fundamentada em dados objetivos, tendo base unicamente em um sentimento hostil.”
(PORTELA et al, 2021, p.20).
Tais fatos aludem à complexidade das estruturas sociais na qual estamos inseridos e
como suas raízes podem ferir e estrangular divergentes, não sendo, de modo algum, uma tarefa
fácil, enxergá-las com olhar crítico ou mesmo modificá-las. Tarefa esta, que levaria no mínimo
uma fração do tempo de sua existência e muitas ações e pensamentos conjuntos que não
extinguem, mas lançam sobre esses conceitos e estruturas a perspectiva de sua época.
E com a explicação para o que há de "bom" e justo no mundo, também vem a explicação
para o que há de "mal" e justo. A humanidade de modo geral não parece suportar a noção de
que são responsáveis por suas ações, então encarregam anjos e demônios por seus atos. À luz
de Terry Pratchett (2008), precisamos das “pequenas mentiras”, como o Papai Noel, fantasmas
e zumbis, para acreditar nas “grandes mentiras”, como justiça, direito e deveres. Precisamos de
um monstro debaixo da cama para lembrarmos do que é certo e errado.
Prosseguindo com os casos fílmicos, A Bruxa (2015) revela que às vezes a “escuridão”
vence, e nem mesmo a fé e ordem, por muito associados à luz, são incorruptíveis. A trama
expõe os conflitos de uma família inglesa altamente religiosa, durante a ocupação das 13
colônias norte-americanas. Sofrendo de pragas na colheita e no gado, a família também aparenta
ser perseguida por uma bruxa residente da floresta circundante. Em um cenário beirando à
miséria, o patriarca e a matriarca tentam encontrar sentido nos seus desafios, ainda que precisem
culpabilizar uma figura perversa e quase invisível.
Gradualmente, os familiares conspiram entre si próprios, acusando um ao outro de
bruxaria, e eventualmente se destruindo. A forma com a qual o roteiro é apresentado pode levar
a audiência a questionar se sequer havia uma bruxa antagonista nesse contexto, ou se as crenças
da família - junto de sua paranóia afastada de quaisquer outros contatos sociais - acentuaram a
frustração gerada pelo trabalho infrutífero no campo. Novamente, a análise de uma obra como
essa pode ajudar a refletir sobre o imaginário popular, ora do passado colonial, ora do presente
contemporâneo - que inclui, naturalmente, a interpretação subjetiva de uma equipe
cinematográfica quanto ao imaginário da época.
Como expresso no texto de Delumeau (2009) e facilmente compreendido é que, as
sombras temidas na Idade Moderna e negadas com afinco pela contemporaneidade, que,
338
derramando luzes pela noite para compensar sua ausência nos céus – a verdade que, a escuridão
oferece liberdade. Noite, eterna cúmplice daquilo que não pode ser visto. E principalmente, das
histórias que não querem ser contadas.
Entendendo o desconhecido como fonte de aprendizagem e margem da descoberta, o
presente trabalho se baseia na análise das representações das figuras que aterrorizavam o
imaginário popular na idade moderna, traçando paralelo com a representações dos mesmos na
contemporaneidade para entender a evolução destes no inconsciente coletivo. Partindo da
premissa que tais conceitos e criaturas sombrias eram interpretadas por aterradoras por estarem
associadas ao que os homens da época não tinham controle e conhecimento, deste modo,
considerou-se que assim como na idade moderna, o horror é imprimido no psicológico através
do incompreendido e inexplicável.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se por muito tempo esse medo vinculado ao sobrenatural estava marcado em tinta preta
na história moderna e ecoado em contos de terror noturnos, com personagens que são a
personificação dos medos humanos; o cinema e a literatura têm narrado de maneiras diferentes
essas mesmas histórias, se perguntando qual a perspectiva e raízes desses seres. Bruxas,
lobisomens e vampiros têm se tornado os protagonistas nas últimas décadas, heróis como
Batman da DC Comics e a Feiticeira Escarlate da Marvel parecem se apropriar do medo,
escuridão e desconhecido para narrar novas perspectivas. Uma tendência que pode ser
considerada humanizadora para com as criaturas da noite, talvez porque, a atualidade não
reconhece em cenários dicotômicos e vem habitando os contornos cinzas. Mesmo os fantasmas
que assombram velhas mansões podem não ser tão perigosos quanto os vivos que os levaram
ao túmulo, como o filme de Del Toro, A Colina Escarlate (2015) mostra em tons de poesia
macabra.
Não é sem mérito associar o medo, em parte, à ignorância, e algumas das histórias
noturnas foram contadas a tal ponto que seus personagens se tornaram familiares. Neste
enquadramento, o terror ainda se mostra genuíno quando sua fonte se mantém inexplicada,
inexplorada e indizível, como era no passado, quando aqueles que não viram, eram obrigados
a acreditar no que lhes contavam. O Conto dos Três Irmãos (ROWLING, 2008) apresenta
formas diferentes de lidar com o medo e como ele é importante para a sobrevivência e
339
crescimento numa época cheia de perigos, mas sem deixar de ressaltar a sapiência em respeitá-
lo, para assim tornar a figura que personifica o medo num velho conhecido. Talvez questionar
e abraçar o desconhecido seja uma forma de evitar muitas histórias aterradoras, especialmente
as não fictícias, também renegadas às sombras.
A valor de conclusão, espera-se com esse trabalho refletir acerca do medo, e como ele
se manifesta no imaginário das pessoas ao longo da história. Sua realização parte de diálogos
interdisciplinares, entre a própria história, a psicologia e a antropologia, além dos múltiplos
meios artísticos nos quais se fazem representações do terror. Com as discussões feitas aqui,
também pretende-se abrir caminhos para trabalhos subsequentes, e tematicamente relacionados.
REFERÊNCIAS
ALVES, Américo Vidigal. MAR MEDO e UTOPIA MEDO e UTOPIA MEDO e UTOPIA,
2013.
A NOIVA CADÁVER. Direção: Tim Burton; Mike Johnson. Warner Bros. Pictures e Laika
Entertainment. 2005.
BRUSSI, Fernanda. Lullaby Of Woe (A Night To Remember). 2015. Letra completa em:
https://www.letras.mus.br/fernanda-brussi/lullaby-of-woe-a-night-to-remember-portugues/.
Acesso em: 17 de janeiro de 2022.
DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente (1300-1800). São Paulo: Cias de bolso,
2009.
FARGE, Arlete. Famílias. A honra e o sigilo. In: CHARTIER, Roger. História da vida
privada, 3: da Renascença ao Século das Luzes. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p.
559-594.
MARTIN, George R.R; As Crônicas de Gelo e Fogo. Volume 1: A Guerra dos Tronos. 1 ed.
São Paulo: Leya, 2012.
PAULUK, Luiz Ricardo; BALLÃO, Cléa Maria. Considerações sobre o medo na História e
na Psicanálise. Fractal: Revista de Psicologia, v. 31, n. 2, 2019, p. 60-66. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/fractal/a/ySXwSQFdRtjDLykX55zDsNy/abstract/?lang=pt. Acesso
em: 10 ago. 2022.
ROSSINI, Maria Clara. Nos Estados Unidos, uma casa pode ser legalmente assombrada.
Disponível em: https://super.abril.com.br/sociedade/nos-estados-unidos-uma-casa-pode-ser-
legalmente-assombrada/. Acesso em: 19 de janeiro de 2022.
ROWLING, J. K. O Conto dos Três Irmãos. Os contos de Beedle, o bardo. Tradução: Lia
Wyler. 1 ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2008.
DIREITO
343
RESUMO
ABSTRACT
The present work has as objective to investigate the aspects related to the evidentiary difficulty
to the proof of the rural activity by the special insured. To achieve the proposed objective, a
bibliographic study was adopted as methodological assumptions, based on the reading and
recording of texts in books, magazines, scientific articles, among other means that provide
1
Especialista em Direito Previdenciário e Processo do Trabalho - UNP. E-mail: kiviayngrid@hotmail.com
2
Mestre em Administração - UNP. E-mail: kellykercynogueira@unp.br
3
Mestranda em Ciências Contábeis - UFRN. E-mail: sabrinauern@gmail.com
4
Mestranda em Ciências Contábeis - UFRN. E-mail: keliane.melo.14@gmail.com
5
Mestrando em Ciências Contábeis - UFRN. E-mail: levy.silva.700@ufrn.edu.br
344
subsidies for the construction of our work. The text is didactically divided into some sections,
initially, it is necessary to conceptualize social security by discussing the legal nature of social
security and social security as a species of the social security genre. Soon after, it is weaved
about how the social assistance of the state is given, emphasizing the protection of the state as
a guarantee to the dignity of the human person, and the social risk inherent to the evidential
difficulty in proving the exercise of rural activity. Then, the social security contributions were
exemplified; in the case of retirement by rural age, rural employee and special insured.
Subsequently, the rural retirement was portrayed and its evidentiary difficulty to prove rural
activity and its reflexes and the need for flexibility of the evidentiary means to prove rural
activity. And finally, the final considerations about the theme were made.
Keywords: Social Security. Social Security. Rural retirement. Rural employee. Special
Insured.
1 INTRODUÇÃO
A luta frente à desigualdade social no Brasil é abordada há anos, se não, podemos dizer
há séculos; em decorrência da evolução socioeconômica as desigualdades acentuam-se no
coletivo social e concentra-se em diferentes grupos, conforme mencionado por Marisa Santos
(2019, p. 41), “a pobreza não é um problema apenas individual, mas, sim, social”.
Destarte, em consequência aos fatores socioeconômicos de modo a garantir o mínimo
existencial – os bens necessários e garantidor do mínimo para viver com dignidade – é que
surgiu a necessidade de fomentar a seguridade social no Brasil. A seguridade social é resultado
de profundas mudanças ocorridas no seio da sociedade e na concepção de Estado, conforme
assevera Frederico Amado (2016, p. 21), seguridade é um direito fundamental de segunda
dimensão fundada em prestações positivas e com intuito de implementar a isonometria material.
O termo seguridade social assume conceituações com abrangência mais ampla ou mais
restrita nos diferentes países. Em sua amplitude, seguridade social é um sistema complexo que
busca resguardar a sociedade contra eventos que venham a lhe causar danos. Nesse aspecto,
alude Fábio Zambitte Ibrahim (2011, p. 5) que a seguridade social concebe uma rede ampla de
proteção, formada pela união dos esforços do Estado e sociedade na totalidade, com o objetivo
de implantar ações para amparar pessoas carentes, trabalhadores em geral e seus dependentes,
para que esses grupos tenham um mínimo de dignidade.
Para Frederico Amado (2016, p. 21), a seguridade social tem a missão de proteger os
brasileiros dos riscos que podem ocasionar miséria e intranquilidade social. Essa proteção é
direcionada para pessoas em situação de vulnerabilidade social que foram empreendidas por
algum evento social que venha a comprometer sua subsistência e manutenção, assim como de
seus dependentes, como doença, idade avançada, morte, reclusão, dentre outros.
A assistência pública foi prevista pela Constituição do Império de 1824, cujo art. 179,
XXXI, garantia os socorros públicos. Conforme podemos observar, o texto faz referência no
sentido amplo da palavra, no que lhe concerne, não especificando o que seriam esses “socorros
públicos”.
347
Por sua vez, de fato, os socorros públicos não podiam ser dimensionados e resumidos
em uma só palavra, pois, muito embora não delimitado, referir-se a uma necessidade realmente
ampla e genérica. Nesse sentido, é que essa garantia consistia em um apelo mundial, na época,
em meados de 1941, o governo inglês formou uma Comissão Interministerial para o estudo dos
planos de seguro social e serviços afins e, por seu lado, nomeou como presidente da mesma o
economista britânico e notável reformista social progressista, William Beveridge.
Beveridge afirma que a miséria não seria combatida apenas quando se cessava a fome
dos necessitados; tão pouco, quando dotava de exclusividade os direitos dos trabalhadores. E
os não trabalhadores? Seja pela falta de oportunidade, pelo baixo grau de instrução ou em razão
de alguma anomalia, eles existiam e, por inúmeros motivos, não eram trabalhadores formais.
Dessa forma, o Estado não poderia se omitir com relação aos fatos, esse não era o
caminho. Então, concluiu Marisa Santos (2019, p. 49):
Por fim, o que podemos definir em suma amplitude é que, a seguridade social é gênero
que comporta variadas e importantes espécies fundamentais ao desenvolvimento social dessa e
de outras gerações. Já dizia Wladimir Novaes Martinez, “o legislador fica devendo as normas
sobre a efetivação da seguridade social, por falta de definição política e reconhecida
incapacidade de efetivamente atender às diretrizes constitucionais da ambiciosa matéria”.
Inicialmente, cumpre ressaltar que nem sempre o Estado atuou como garantidor dos
direitos individuais e coletivos em sociedade, até hoje, a missão ainda é regida de muitas falhas,
porém não se pode negar, a conquista tem sido alcançada; através de lutas incessantes,
reivindicações, bem como, da efetivação das normas jurídicas regidas por um Estado
Democrático de Direitos.
Castro e Lazzari (2020) asseguram que, foi entre o Estado Moderno e o Contemporâneo
que se efetivou a proteção social dos indivíduos, em face aos acontecimentos que lhe acarretam
dificuldades, ou, em muitos casos, ocasionam a impossibilidade de subsistência por conta
348
própria; por sua vez, vale salientar que, a referida proteção consolida-se nas políticas públicas
da Seguridade Social.
Além disso, denota que na relação de emprego – a época do Estado Moderno – o trabalho
era compensado meramente pelo salário; sem nenhuma garantia, tão pouco regulamentações
que o regesse; nesse viés, nos deparamos, por mais difícil que seja, com situações análogas às
condições de escravaturas, pois não havia intervenção do Estado para garantir sequer o mínimo.
A conjuntura dos fatos só ocasionava consequências drásticas, revoltas e reivindicações
dos trabalhadores. Surgiu daí as primeiras preocupações com a proteção previdenciária do
trabalhador, ante a inquietação dos detentores do poder nos Estados com a insatisfação popular,
o que acarretou a intervenção estatal no que diz respeito às relações de trabalho e segurança do
indivíduo quanto a infortúnios.
Como disse Bismarck, governante alemão daquela época, justificando a adoção das
primeiras normas previdenciárias: Por mais caro que pareça o seguro social, resulta menos
gravoso que os riscos de uma revolução.
Dessa forma, a partir desse aspecto é que obtivemos a evolução social por parte do
Estado no que tange a sua atuação, de suma importância para evolução e garantia dos direitos
sociais; objetivando a garantia do mínimo existencial, com a finalidade de manter a dignidade
da pessoa humana – objetivo de estudo em nosso próximo tópico – especialmente àqueles em
situação de miserabilidade.
certo ponto, possuem um núcleo no qual operam como regras, tem-se sustentado que
no tocante ao princípio da dignidade da pessoa humana esse núcleo é representado
pelo mínimo existencial. Embora existam visões mais ambiciosas do alcance
elementar do princípio, há razoável consenso de que ele inclui pelo menos os direitos
à renda mínima, saúde básica, educação fundamental e acesso à justiça (2003, p.372,
grifou-se).
Assim sendo, temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distinta
de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte
do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e
deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de
cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais
mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa
e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os
demais seres humanos. (2001, p. 60; grifou-se).
Destarte, viver com dignidade é ter a garantia do mínimo, renda mínima, saúde básica,
moradia, educação fundamental e acesso à justiça, este último na maioria das vezes sendo o
garantidor da proteção estatal.
Prontamente, Marisa Santos (2019, p. 51) conceitua e discorre de maneira sucinta o que
viria a ser o risco social, para ela no seguro social, só tinham proteção aqueles que contribuíssem
para o custeio. Era adequada, então, a noção de risco social. A relação jurídica do seguro, social
ou privado, tem como objeto o risco, isto é, a possibilidade de ocorrência futura de um
acontecimento que acarrete dano para o segurado. No seguro privado, o contrato estabelece os
riscos cobertos, conforme escolha dos contratantes. No seguro social, entretanto, os riscos são
previstos em lei, ou seja, são o objeto da relação jurídica de proteção social. “A relação jurídica
preexiste ao acontecimento danoso, e nela são previstas situações causadoras de dano, que
podem ocorrer no futuro, e que serão objeto de indenização pela parte seguradora. O interesse
na asseguração de um bem reside na possibilidade da ocorrência da contingência danosa. ”
A autora ainda destaca que a seguridade social, não está relacionada com a noção de
risco, mas, sim, na de necessidade social, visto que os benefícios não têm intuito de indenizar;
podem ser voluntários, não são necessariamente proporcionais à cotização, e destinam-se a
prover os mínimos vitais.
Dessa forma, vale destacar que:
Dessa forma, a necessidade se enquadra como social, visto que, tem importância para a
sociedade, para que todos os seus integrantes tenham os mínimos necessários à sobrevivência
com dignidade.
Com relação a entender como se insere esse risco social em se tratando de questões de
aposentadoria, Marisa Santos (2019, p. 483) assevera que:
I - Quanto ao segurado:
a) aposentadoria por invalidez;
b) aposentadoria por idade;
c) aposentadoria por tempo de contribuição;
d) aposentadoria especial;
e) auxílio-doença;
f) salário-família;
g) salário-maternidade;
h) auxílio-acidente;
II - Quanto ao dependente:
a) pensão por morte;
b) auxílio-reclusão;
III - quanto ao segurado e dependente:
a) pecúlios; (Revogada pela Lei nº 9.032, de 1995);
b) serviço social;
c) reabilitação profissional.
353
Acerca do exposto, é cabível trazer as sábias palavras dos professores, Carlos Alberto
Pereira de Castro e João Batista Lazzari, acerca do assunto:
Nada impede que o número de prestações seja ampliado, para dar ensejo à proteção
do indivíduo em face da ocorrência de outros eventos de infortunística. Todavia, a
ampliação da proteção previdenciária não pode ser feita sem que, previamente, se
tenha criado a fonte de custeio capaz de atender ao dispêndio com a concessão
(Constituição, art. 195, parágrafo 5º). Também pode ocorrer supressão de prestações,
mantido, sempre, o direito adquirido daqueles que implementaram as condições
exigidas por lei para a obtenção das mesmas (CASTRO; LAZZARI, 2006, p. 455).
a) prestações concedidas somente aos Segurados (Lei 8.213/91, art. 18, inciso I):
Aposentadorias (por invalidez, por idade, por tempo de contribuição, especial);
Auxílio-doença;
Auxílio-acidente;
Salário-família;
Salário-maternidade.
b) prestações concedidas somente aos Dependentes:
Pensão por morte;
Auxílio-Reclusão
c) prestações concedidas aos segurados e aos dependentes:
Serviço social e reabilitação profissional.
2) Benefícios de caráter substitutivo ou não-substitutivo do rendimento do
segurado
a) Substitutivos: substituem os rendimentos do segurado.
b) Não-substitutivos: não substituem os rendimentos do segurado. Apenas os
reforçam.
Destarte, é importante mencionar que há uma série de requisitos que são necessários
para a obtenção das prestações previdenciárias, estas são previstas em lei, e são: i) qualidade de
beneficiário; ii) ocorrência da contingência social legalmente prevista; ambos os requisitos são
exigidos em todos os benefícios; e iii) cumprimento do período de carência, exigido em alguns
benefícios.
Diante do exposto, compreende-se que prestações previdenciárias são os benefícios e os
serviços oferecidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social aos segurados e dependentes do
Regime Geral de Previdência Social.
O trabalhador rural que contribui têm direito à aposentadoria por idade, satisfazendo
os requisitos: idade (sessenta anos, homem, e cinquenta e cinco, mulher) e a carência,
que é a mesma do trabalhador urbano, isto é, cento e oitenta contribuições o, se estava
no sistema antes da promulgação da Lei 8.213/91, sessenta contribuições, se já havia
preenchido as condições para a aposentação. Em não tendo vertido as sessenta
contribuições ou não tendo a idade ainda, mas estando filiado, anteriormente, à
legislação aludida, é necessário perfazer um período que está descrito na regra de
transição do artigo 142 da Lei Previdenciária.
familiar, estes são isentos das contribuições à Previdência Social, seja em regime de economia
familiar, seja em regime de economia individual.
Vale ressaltar o que diz Costa (2005, p.117) acerca desses trabalhadores:
Os requisitos para sua aposentação são: idade avançada (sessenta anos, homem, e
cinquenta e cinco, mulher) e a prova do trabalho no campo, em período imediatamente
anterior ao requerimento do benefício, e em número de meses idênticos à carência
necessária ao referido benefício. Dessa feita, o bóia-fria deve provar que trabalha ou
que trabalhava no campo. Não pode ter havido afastamento da área rural, quando do
pedido de aposentadoria, posto que esta é excepcional, quando o segurado não
contribui, cujos requisitos são estabelecidos na legislação previdenciária.
Dessa forma, tanto o trabalhador urbano, como o rural, possui o bônus de quando
preenchidos os requisitos legais ter o direito da aposentadoria por idade reduzida em cinco anos,
ou seja, essa redução ocorre na idade e não nas contribuições, como percebemos, alguns tipos
de trabalhadores rurais não precisam contribuir.
Ademais, o § 1º do art. 48 refere-se expressamente aos trabalhadores rurais,
respectivamente homens e mulheres, referidos na alínea a do inc. I na alínea g do inc. V e nos
incs. VI e VII do art. 11 da lei n. 8.213/91, que são:
O art. 201, § 7º, II, da CF, garantiu a aposentadoria por idade aos trabalhadores rurais
ao completar 60 anos, se homem, e 55 anos, se mulher. No entanto, vale ressaltar a PEC n. 287-
A/2016, nas palavras de Marisa Santos (2019, p. 689):
Além dos trabalhadores rurais até aqui destacados, há também uma classe de segurados
especiais que também são destinatários da aposentadoria rural, objeto de estudo no tópico
seguinte.
no campo, possui participação para economia do país, através da sua produção, mesmo que por
meio de um regime de economia familiar.
Dessa forma, é considerado segurado especial, a pessoa física que resida em imóvel
rural ou em aglomerado urbano ou rural, que de forma individual ou em regime de economia
familiar, mesmo com o auxílio eventual de terceiros colaboradores, de forma que sejam: i)
produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgados,
comodatário ou arrendatário rurais, que explore atividade: agropecuária; ou de seringueiro ou
extrativista vegetal; ii) pescador artesanal ou a este assemelhado; e iii) cônjuge ou companheiro,
bem como filho maior de dezesseis anos de idade ou a este equiparado, trabalhem com o grupo
familiar.
Sobre esta classe previdenciária, esclarecem Folmann e Soares (2015, p. 138):
heveicultura (extração de borracha das seringueiras). Ou ainda, que seja parente dessa
pessoa, na qualidade de cônjuge ou companheiro, bem como filho ou equiparado,
desde que comprovadamente trabalhem na lide campesina.
A lei garante ao segurado especial apenas aposentadoria por idade, aposentadoria por
invalidez, auxílio-acidente e auxílio-doença. A Lei n. 8.861/94 acrescentou o
parágrafo único ao art. 39, garantindo à segurada especial o salário-maternidade. A
renda mensal desses benefícios é igual a um salário mínimo. Contudo, o auxílio-
acidente deverá ser calculado na forma do disposto no art. 86 da Lei n. 8.213/91 (v.
item 5.3.5.10, supra). Para terem direito aos demais benefícios previstos no PBPS e
com renda mensal superior ao valor mínimo, os segurados especiais têm a faculdade
de se inscreverem como segurados contribuintes individuais. Do segurado especial
não se exige o cumprimento de carência porque não existe a sua contribuição pessoal
ao RGPS, a menos que, evidentemente, esteja inscrito como contribuinte individual e,
nessa condição, pagando contribuições previdenciárias.
Ainda conforme Marisa Santos (2019), o segurado especial para ter direito aos
benefícios, deve comprovar o exercício de atividade rural, mesmo que de forma descontínua,
desde que em período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número
de meses correspondentes à carência do benefício pretendido. Ademais, os dependentes do
segurado especial, têm garantia de pensão por morte e auxílio-reclusão, estes benefícios
também de um salário mínimo.
asseguram nessa espécie, quais sejam: atividade rural ou pescador artesanal em regime de
economia familiar, sem empregados permanentes. Dessa forma, é indispensável.
Pelo exposto, é necessário aprofundar o estudo da prova. Porém, é justamente essa
análise mais profunda do estudo da prova que desencadeia dificuldade ao segurado trabalhador
rural para conseguir seu benefício, principalmente em se tratando de segurado especial em
regime de economia familiar e/ou individual.
Infelizmente, ante a ilegalidade de algumas pessoas que agem de má-fé, no momento
em que pleiteiam o benefício previdenciário cabível ao agricultor, sem exercer essa atividade,
tendo em vista a dispensa da contribuição mensalmente para adquirir um benefício, é que os
agricultores natos sofrem as consequências. Por conta disso, muitas pessoas que vivem na
miséria e sobrevivem exclusivamente da atividade rural têm mais dificuldade para conseguir
esse direito, mesmo fazendo jus ao mesmo.
Essas dificuldades decorrem devido o único e crucial requisito para requerer o benefício,
sendo este a comprovação de sua atividade rural, em caso de aposentadoria por idade rural
sendo de 180 contribuição, ou seja, 15 anos de atividade rurícola, conforme os arts. 48, §1º, da
Lei 8.213/91 e o art. 201, §7º, inciso II, da Constituição Federal.
Ademais, a dificuldade da comprovação da atividade rural ocorre, principalmente, pela
falta de instrução e apoio social. Tendo em vista que, aqueles que têm condições econômicas
mais difíceis, vivem, muitas vezes, na informalidade, o que origina a falta de documentos
probatórios – na prática, há necessidade de um vasto número de documentos – para comprovar
seus próprios direitos.
Para Ribeiro (2016) a informalidade citada, a qual o segurado é vítima, em diversas
vezes, ocasiona a impossibilidade do segurado apresentar somente um único documento dentre
os descritos no artigo 106 da Lei 8.213/91. Ainda, conforme Ribeiro (2016), muitas autoridades
só se dão por satisfeitas quando preenchido o rol deste artigo. Descrito abaixo:
Se por um lado, a lei exige o início de prova material e de faz a vedação da prova
exclusivamente testemunhal, é inescusável para assegurar os benefícios que a justiça identifique
quem realmente é detentor do direito, entretanto, há de se ressaltar considerar que há situações
excepcionais, nas quais o trabalhador rural não é possuidor de meios que produzam a prova
documental exigida e imprescindível ao exercício do direito, em consequência de sua
informalidade.
Neste caso, há de se considerar a existência das exceções e em determinados casos que
haja a reconsideração e a atenuação do rigor legal, devendo as leis, nestas ocasiões, serem
interpretadas de maneiras mais brandas e de modo que favoreça o segurado, sob pena de se
inviabilizar a proteção social e desviar a lei de sua finalidade existencial.
363
Destarte, a exigência do início de prova material, é necessária, para que o benefício seja
concedido de forma justa e segura, conquanto, esta exigência não deve ser absoluta e inviolável
de modo que prejudique a proteção social do trabalhador e distancie a lei do objetivo
constitucionalmente pretendido, de contrário, teríamos um verdadeiro retrocesso social.
A Jurisprudência do TRF1 reafirma o entendimento do STJ trazido no tópico anterior,
dispondo pela não taxatividade do art. 106, da Lei nº 8.213/91, e ainda demonstra que
documentos que contenham fé pública, como registro civil, certidão de casamento ou de
nascimento dos filhos servem para comprovar a atividade rural, vejamos:
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aliado a uma mudança técnica de flexibilização das normas conforme o caso concreto
que se apresenta, faz-se necessário também, é muito importante, buscar-se uma mudança
comportamental e cultural de toda sociedade, principalmente no que atinge as relações rurais
de trabalho, reprimindo a informalidade e proporcionando e/ou facilitando ao rural o acesso à
escola e aos seus direitos como cidadão.
Soa estranho, na atualidade, era da globalização, ainda existir esse extenso caminho a
ser percorrido em termos de evolução social, mas isto é normal em sociedades modernas que
não aceitam facilmente as mudanças implementadas pela lei quando esta aborda conceitos
culturais já consolidados.
Dessa forma, essa adaptação da legislação à realidade social é mais que necessária, posto
que possibilitará o acesso ao direito pelos segurados da previdência social, em especial os
trabalhadores rurais, até que se consiga uma efetiva mudança comportamental da sociedade.
Conclui-se, que toda problemática identificada no presente estudo, desencadeado por
meio de pesquisa bibliográfica, do aprofundamento e do confrontamento de posições entre os
diferentes atores envolvidos na pesquisa, apontam para a necessidade urgente de mudanças
profundas na interpretação legislativa, através de definições que estejam em plena consonância
com a realidade, no tocante aos segurados especiais.
Enquanto essa mudança não for realizada, faz-se necessário que ações minimizadoras,
tanto da alçada da Previdência social, como dos movimentos organizativos do campo, sejam
postas em prática, através de efetiva e consistente parceria entre as partes envolvidas,
almejando, assim, uma busca de solução dos obstáculos, com aplicação correta e justa dos
dispositivos em vigência.
REFERÊNCIAS
BERWANGER, Jane Lúcia Wilhelm. Segurado Especial: o Conceito Jurídico para Além
da sobrevivência Individual. 2ª. Curitiba: Juruá Editora, 2014.
366
HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito Previdenciário. 10. ed. São Paulo: Quartier Latien,
2014.
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 16ª ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2011.
LAZZARI, João Batista. CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. Manual de direito
previdenciário. 4ªed. São Paulo, SP. 2008.
LIRA, Rafael Pedrosa de. Os requisitos para a concessão do benefício aposentadoria por
idade rural e a problematização referente às exigências probatórias. 66f. Trabalho de
Conclusão de Curso, Universidade Federal de Campina Grande, 2015.
367
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de Direito Previdenciário. 6ª ed. São Paulo: LTr,
2014.
MARX, Karl.; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Hucitec, 1984.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 17ª ed. São Paulo:
Malheiros, 2009.
OLIVEIRA, Thiago Albani; CRUZ, Caio Cesar Nunes. A vedação ao retrocesso em direitos
sociais infraconstitucionais e o direito às férias dos agentes políticos. In: Âmbito Jurídico,
Rio Grande, XX, n. 157, fev. 2017. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=18441&revista_caderno=9).>.
Acesso em: 13 mai. 2019.
SANTOS, Marisa Ferreira dos. Direito Previdenciário Esquematizado. 9ª ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2019.
RESUMO
O presente artigo busca através dos dados franqueados pela Defensoria Pública nacional e do
Núcleo de Práticas Jurídicas da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte, oportunizar o
debate sobre as vicissitudes e os percalços consistentes na democratização do acesso à justiça.
Nessa perspectiva, a problemática desabrocha na discrepância e desigualdade concernente as
mais variadas dificuldades da população que habita nas zonas rurais, circunvizinhas dos centros
urbanos, enfrenta para conseguir o acesso à justiça, enquanto a sociedade que reside nos centros
urbanos não encontra a mesma dificuldade. A situação acima citada é vedada pela Constituição
Federal de 1988, que em seu artigo 5° ao qual versa sobre a igualdade de todos perante a lei, e
de igual forma reprime qualquer tipo de discriminação. A pesquisa em tela busca expor que a
prerrogativa legislada in pro societate não é cumprida em solo canarinho, principalmente em
terras Norte Riograndense, pois a pesquisa toma como base a cidade de Mossoró/RN e as
comunidades rurais que estão ao seu redor. Para obter os resultados dessa pesquisa foi utilizado
tipo de pesquisa bibliográfica, que por intermédio dos dados cedidos pela Defensoria Pública
Nacional e do Núcleo de Práticas Jurídicas da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte foi
possibilitado a realização do presente trabalho científico. De igual sorte, o artigo evidencia a
indispensabilidade de órgãos como a Defensoria Pública e instituições como a Prática Jurídica
da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte na evolução da democratização do acesso à
justiça, embora enfrentem inúmeros percalços levam justiça a população mais carente.
Palavras Chaves: Acesso à justiça. Democratização. Defensoria Pública. Prática Jurídica.
ABSTRACT
Through the data provided by the National Public Defender's Office and the Nucleus of Legal
Practices of the Catholic Faculty of Rio Grande do Norte; this article aims to provide an
opportunity for the debate on the vicissitudes and mishaps consistent in the democratization of
access to justice. In this perspective, the problem comprises on the discrepancy and inequality
concerning the most varied difficulties of the population that lives in rural areas, surrounding
urban centers, which struggles to obtain access to justice, while the society that resides in urban
centers does not face the same difficulty. That situation is prohibited by the Federal Constitution
of 1988, which in its fifth article, which deals with the equality of all before the law, and
likewise represses any type of discrimination. The research on screen seeks to expose that the
prerogative legislated in pro societate is not fulfilled in Brazilian lands, especially in Rio Grande
do Norte State, as the research is based on the city of Mossoró/RN and the rural communities
1
Graduando em Direito, pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte, integrante do projeto de pesquisa e
extensão Direito na Comunidade, joao.sobrinho@aluno.catolicadorn.com.br
2
Mestre e Doutorando em Direito pela Universidade de Coimbra, gabriel.junior@professor.catolicadorn.com.br
369
around it. To obtain the results of this research, a type of bibliographic research was used,
which, through the data provided by the National Public Defender's Office and the Nucleus of
Legal Practices of the Catholic Faculty of Rio Grande do Norte, made it possible to carry out
this scientific work. Likewise, the article highlights the indispensability of agencies such as the
Public Defender's Office and institutions such as the Legal Practice of the Catholic Faculty of
Rio Grande do Norte in the evolution of the democratization of access to justice, although they
face numerous mishaps to bring justice to the neediest population.
Keywords: Access to justice. Democratization. Public Defense. Legal Practice.
1 INTRODUÇÃO
A fim de que seja entendido de forma coerente do que se trata o acesso a justiça, é de
bom tom que sejam esmiuçados os aspectos históricos e os conceitos que envolveram o acesso
à justiça desde sua existência.
É salutar ao inicio do debate a menção do crescimento do acesso à justiça no Brasil, em
que pese ser um progresso dilatado e ameno, não se pode deixar de mencionar tal feito positivo
em sede nacional.
Durante sua história, o acesso à justiça teve seu surgimento registrado inicialmente na
Grécia antiga, através dos debates filosóficos que ocorriam naquela época, aos quais,
influenciados pelo jusnaturalismo, ou seja, buscavam entender a justiça como uma concepção
do que pode ser compreendido como “inerente a existência”, almejando a isonomia como
objetivo principal.
É possível a confirmação das informações supracitadas nas palavras do Dr. Pedro
Manoel Abreu:
3
ABREU, Pedro Manuel. O PROCESSO JURISDICIONAL COMO UM LOCUS DA DEMOCRACIA
PARTICIPATIVA E DA CIDADANIA INCLUSIVA. Florianópolis: TESE DE DOUTORADO. UFSC, 2008. p.
319.
4
NERY JUNIOR, Nelson. PRINCÍPIOS DO PROCESSO CIVIL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 8. ed. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais Ltda., 1999, p. 42.
371
Volvendo a cronologia do acesso à justiça, a gênese dos registros dos debates sobre o
acesso à justiça dada na Grécia, teve papel fundamental na ascensão das discussões por todo o
mundo, como por exemplo: a Itália, mais especificamente a Roma antiga, que tomou por base
as conversas sobre o acesso à justiça iniciadas na Grécia para edificação do sistema Jurídico
Romano.5
A sociedade está em constante evolução e, com esse avanço, há também um crescimento
demográfico, que acarreta inevitavelmente no aumento das demandas jurídicas. É inegável, que
o sensu individual de cada um deve ser deixado em segundo plano quando o assunto é de
interesse coletivo, e nesse sentido discorre Mauro Cappelletti e Bryant Garty:
“Do ponto de vista legislativo, até o final do século 18, pouquíssimas eram as
referências a um direito próprio e exigível de acesso à Justiça. Ordenações Filipinas,
que passaram a vigorar no Brasil, como a de 11 de janeiro de 1603, continham algumas
disposições relativas a um suposto direito de as pessoas pobres e miseráveis terem o
patrocínio de um advogado”7
5
ABREU, Pedro Manuel. O PROCESSO JURISDICIONAL COMO UM LOCUS DA DEMOCRACIA
PARTICIPATIVA E DA CIDADANIA INCLUSIVA. Florianópolis: TESE DE DOUTORADO. UFSC, 2008. p.
319.
6
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryan. Acesso à Justiça. Tradução e revisão de Ellen Gacie Northfleet.
Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1988. p. 10-11.
7
OLIVESKI, Patrícia Marques. Acesso à Justiça. Ijuí/RS, 2013. p. 72.
372
8
Ibidem. P. 73
9
OLIVESKI, Patrícia Marques. Acesso à Justiça. Ijuí/RS, 2013. p. 73.
10
Ibidem. P. 73-74.
373
Para que seja demonstrado de forma mais ilustrativa, vale a menção de um gráfico
produzido pela Defensorias Públicas dos Estados, do Distrito Federal e da União,
disponibilizado pela Pesquisa Nacional Da Defensoria Pública11, vejamos:
Fonte: Defensorias Públicas dos Estados, do Distrito Federal e da União | Pesquisa Nacional da
Defensoria Pública (2022).
11
https://pesquisanacionaldefensoria.com.br/pesquisa-nacional-2020/analise-nacional/
374
Rondônia, Rio Grande do Norte, São Paulo, Goiás, Paraná, Santa Catarina e o Amapá, que
somente tiveram acesso a uma defensoria pública em seus estados no século XXI (vinte e um).
Noutro norte, as práticas jurídicas, que assim como as defensorias públicas possuem
papel indispensáveis na facilitação do acesso à justiça, tardaram a surgir, sendo obrigatório à
graduação de direito somente a partir de 1994, como explica Eveline de Castro Correia:
A cronologia do acesso a justiça ainda não chegou ao seu momento final, pois ainda está
em desenvolvimento gradativo, e mesmo passado tanto tempo de seu surgimento, o Brasil ainda
está longe de alcançar um nível satisfatório de qualidade, isonomia e democracia no acesso à
justiça.
12
CORREIA, E. C. . Núcleo de Prática Jurídica: Um dialogo entre a teroria e a prática nos cursos de direito. In:
Conpedi - Conselho Nacioal de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito, 2012, Uberlandia. Anais do Conpedi de
Uberlandia, 2012.
375
“No Brasil, existe um defensor público para cada 33.796 habitantes. Levando em
consideração exclusivamente a população economicamente vulnerável, há um
defensor público para cada 29.730 habitantes com renda familiar de até três salários
mínimos. ”13
Nessa perspectiva, é desumano pensar que um único defensor público, independente das
pessoas que componham o seu gabinete, consiga suprir as necessidades jurídicas de quase de
30.000 (trinta mil) habitantes.
A média nacional é superada no Estado do Rio Grande Norte, que possui
aproximadamente 33.752 (trinta e três mil setecentos e cinquenta e dois) habitantes para cada
defensor público no Estado.14
Para elucidar de forma mais dinâmica os números dos defensores públicos por cada
estado, vale salientar um gráfico produzido e disponibilizado pela pesquisa nacional da
Defensoria Pública, vejamos:15
13
https://www.defensoria.rs.def.br/quase-25-da-populacao-brasileira-esta-impedida-de-reivindicar-seus-direitos-
aponta-pesquisa-nacional-da-defensoria-publica.
14
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rn/panorama
15
https://pesquisanacionaldefensoria.com.br/pesquisa-nacional-2020/analise-nacional/
376
Fonte: Defensorias Públicas dos Estados, do Distrito Federal e da União | Pesquisa Nacional da
Defensoria Pública (2022).
Destacamos que o Rio Grande do Norte é um dos estados que possui menos defensores
públicos, totalizando 101 (cento e um) defensores lotados e divididos nos núcleos de
defensorias do Estado.
O Rio Grande do Norte possui cerca de 167 (cento e sessenta e sete) municípios, e desse
total, somente 59 (cinquenta e nove) são comarcas judiciárias (somando as Entrâncias: iniciais,
intermediárias e finais), destas 59 (cinquenta e nove) comarcas, apenas 40 (quarenta) possuem
núcleos de defensorias públicas, e como mencionado acima, possui 101 (cento e um) defensores
públicos.
Evidentemente, o Estado Norte Riograndense está em caminho oposto ao almejado ao
acesso a justiça pensado, haja vista que somado os municípios do estado, somente
377
aproximadamente 35,5% destes municípios são comarcas e apenas cerca de 25% possuem um
núcleo de Defensoria Pública.
A situação torna-se ainda mais grave se for pensado na comunidade rural, que em suma
maioria não tem sequer um transporte para se locomover de sua casa para um local mais
distante. A respeito disso, surge a indagação: será que um morador da zona rural, que mora
consideravelmente distante de um polo urbano conseguirá resolver sua demanda judiciária caso
necessite? Possui o morador da Zona Rural condições financeiras para procurar ajuda do poder
judiciário?
As indagações acima não possuem difíceis respostas, tendo em vista que até mesmo
aquelas pessoas que vivem nos centros urbanos sentem dificuldade de acionar a justiça para
resolução de alguma lide, é no mínimo ingênuo crer que boa parte das pessoas que habitam na
zona rural desfrutam da regalia de poder deslocar-se de sua comunidade até um local onde
consiga acesso à justiça de forma gratuita.
Nessa esteira, um aspecto que poderia diminuir os impactos causados pela distância
entre os municípios e as comunidades que cercam seus limites seria a efetivação e melhoria da
defensoria pública itinerante.
No site da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, o projeto é explicado da seguinte
forma:
16
https://defensoria.rj.def.br/Cidadao/Programas-e-Servicos/detalhes/2882-Justica-Itinerante
378
Pode-se imaginar, que se cada núcleo de defensoria pública, ao qual encontra-se alocado
em uma determinada região do estado, se dispor a promover caravanas itinerantes de
atendimentos judiciários nos municípios de menores portes, municípios estes não detentores de
defensorias e, não executante da função de sede do poder judiciário, resultaria em uma
significativa parcela de assistência à democratização do acesso à justiça para a população que
se vê mais esquecida pelo poder judiciário.
A defensoria pública do Rio Grande do Norte possui um esboço de um projeto similar
chamado defensoria na comunidade, entretanto o site oficial do órgão não expõe maiores
detalhes de como acontece e tampouco demonstra uma programação de quais comunidades
receberão sua assistência.
Seria ideal, um calendário anual, esmiuçando a data, local e os moldes da prestação de
serviço para a comunidade. Desse modo, para que o projeto não sufocasse os poucos defensores
em exercício, poderia se fazer um rodizio entre os militantes daquele núcleo responsável por
aquela comunidade, possibilitando dessa forma até uma caravana social a cada 15 (quinze) dias,
fazendo sempre uma rotatividade das comunidades assistidas.
O acesso a justiça passa diretamente por um serviço de qualidade prestado pela
Defensoria Pública estatal, e para uma maior democratização deste acesso, é imprescindível a
atuação dos defensores nas comunidades mais afastadas dos centros urbanos, procedendo
sistematicamente como no exemplo supracitado, ou em um modelo viável ao atendimento.
Indubitavelmente, o que não se pode restar é uma parte da população brasileira esquecida pelo
poder judiciário, ensejando a reflexão sobre a veracidade do estado democrático de direito ao
qual o Brasil e o Rio Grande do Norte se autodenominam e buscam ser.
A Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN) possui uma prática jurídica de
profusa atuação na cidade Mossoró/RN desde meados do ano de 2021, ano de início de suas
atividades na seara jurídica.
379
Nota-se, que a democratização do acesso a justiça vem sendo alcançada com êxito, vide
que os dados expõem que independentemente da localidade, importância e poderio financeiro,
o NPJ da FCRN alcança os mais distintos bairros da cidade em debate.
A cidade de Mossoró/RN é a maior cidade do estado no sentido territorial, e muitos de
seus bairros são bastantes antagônicos, distantes, e por isso os dados de distribuições dos
atendidos que são alcançados se tornam surpreendentes em virtude das variedades de
localidades encontradas.
Noutro norte, há um ponto negativo a ser mencionado, a zona rural de Mossoró apenas
representa 2% nos dados estatísticos quantitativos de assistidos do NPJ da FCRN, e tal fato
demonstra uma enorme discrepância entre assistidos da zona urbana e rural, como ilustrado no
gráfico a seguir:
Urbana
98%
Urbana
Rural Rural
2%
Em recente levantamento da equipe responsável pelo censo rural, foi relatado que o
município de Mossoró possui aproximadamente 36 (trinta e seis) comunidades localizadas na
zona rural de Mossoró.17
17
https://www.prefeiturademossoro.com.br/noticia/censo-rural-ja-visitou-quase-25-mil-familias-em-36-
comunidades-de-mossoro.
381
Nesse sentido, torna-se ilógico crer que apenas 2% dos atendidos do NPJ da FCRN
representam de forma fiel as 36 (trinta e seis) comunidades da Zona Rural de Mossoró/RN.
Vislumbrando tal vicissitude, a coordenação do curso de direito e a coordenação do NPJ
da FCRN criaram um projeto denominado Direito na Comunidade, que em parceria com o
Centro de Referências da Assistência Social (CRAS) de cada comunidade, não apenas promove
ações sociais como também exerce intervenções nas comunidades em visitas diversas para
explicar algumas das leis inerentes ao cidadão, a qual ele possa não gozar de devido
conhecimento.
Não há atitude mais salutar ao processo de evolução do acesso à justiça do que levar a
justiça ao cidadão, que por motivos diversos não consegue de maneira facilitada esse acesso.
Nessa perspectiva, o projeto de extensão Direito na Comunidade da FCRN exerce papel
fundamental para o progresso do acesso a justiça para população mais carente, pois de forma
voluntária e gratuita, assiste a comunidade de maneira itinerante, com qualidade na prestação
de serviço, buscando promover a isonomia entre as comunidades rurais e o seu polo urbano.
Portanto, é evidenciado a importância das atividades exercidas pelo NPJ da FCRN, que
durante todo o seu período de existência, leia-se: um ano, segue numa busca incessante por não
se deter apenas “as quatro paredes” de um prédio e leva justiça para a comunidade, seguindo
uma conduta humanística esperada dos operadores de direito.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Como já explanado nos tópicos anteriores, a legislação é taxativa ao definir que somos
todos iguais perante a lei, e dessa forma devemos gozar de isonomia quando o tema é acesso à
justiça, promovendo contextos e o básico para que a população em sua integralidade e de forma
homogênea possa conseguir acesso ao poder judiciário sem quaisquer discriminações.
É impraticável a criação de novas leis para se regulamentar aquilo que já é
regulamentado, seria um desperdício de investimento financeiro e de tempo dos legisladores na
elaboração de novas leis para tal fim. A melhor solução que consiste para a problemática é a
execução e fiscalização das leis que já possuímos, pois dessa maneira, à democratização se daria
de forma mais célere.
382
De igual sorte, o tema acesso a justiça não pode e não deve ser esquecido dos debates,
pois somente debatendo melhores soluções para a matéria que se obterá o progresso necessário.
Por fim, o direito fundamental de acesso a justiça somente irá alcançar as proporções
almejadas quando os órgãos e instituições, leia-se: defensoria pública e prática jurídica, agirem
em conjunto, de maneira itinerante, para abrangerem o maior quantitativo de pessoas levando
a melhor qualidade no serviço possível, dessa forma a população gozará de acesso democrático
à justiça.
REFERÊNCIAS
Instituto Brasileiro De Geografia E Estatística, Rio Grande do Norte, 2017, disponível em:
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rn/panoramaAcesso em: 03/08/2022.
383
RESUMO
ABSTRACT
The research has as a problem the worrying decrease in investments of public funds destined to
education, as well as the neglect that the current government has shown when dealing with the
subject. The work is justified by the concern of those who have seen the unbridled reduction in
1
Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Pós-graduada em
Gestão Estratégica de Pessoas e Liderança Organizacional, pela Faculdade Vale do Jaguaribe (FVJ).
Bacharelanda em Direito pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
leidiane.defernandes@gmail.com
2
Bacharel em Direito pela Faculdade de Ciências e Tecnologia Mater Christi. E-mail:
lopesaraujo.dir@gmail.com
3
Doutoranda em Direito, pelo Programa de Pós-Graduação em Direito, da Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Especialista em Educação em Direitos Humanos, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Especialista em Língua Inglesa, pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
Graduada em Letras, com habilitação em Língua Inglesa, e em Direito, pela Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte. Advogada e Professora Universitária do Curso de Graduação em Direito e da Pós-Graduação
em Direito Processual Civil da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
diogenesadvocacia@hotmail.com
385
Brazilian public education, which will cause serious social and economic problems, in addition
to the stoppage of research that is capable of bringing development to the nation. The
methodology used will be the bibliography, through consultations of existing materials,
focusing on the analysis of the deductive method. As an objective, we intend to demonstrate
that the funds destined for education are insufficient to ensure the efficiency of the public
servisse provided, which has a social, economic and cultural purpose. In addition to the
guarantee of no setbacks in the established achievements, in order to guarantee the contry’s
growing development. As a fundamental right, acess to education is a significant part of social
growth, since it is from there that individuals can asn should have knowledge about their rights
and duties, thus seeking community life.
Keywords: Education, cost cutting, fundamental right.
1 INTRODUÇÃO
A educação como direito fundamental vem descrita na Carta Magna 4 de 1988, uma carta
cidadã que visa à garantia dos direitos de todos os cidadãos, entre eles o direito à educação, o
qual será foco deste trabalho, especificamente, quanto aos cortes sofridos por este direito
durante o atual governo e o seu impacto na educação do país.
A falta de incentivo apresentada pelo atual governo mostra preocupação com o
desenvolvimento educacional do país. A necessidade de investimento em educação básica e de
ensino superior é de extrema importância visto o crescimento que a educação traz à sociedade,
fazendo com que os indivíduos sejam mais conscientes dos seus direitos e conhecedores dos
seus deveres.
A pesquisa tem como problemática a atual situação em que se encontra a educação
brasileira, em que a preocupante diminuição de investimentos das verbas públicas destinadas à
educação vem sofrendo pelo descaso que o governo Jair Messias Bolsonaro tem demonstrado
quando se trata do tema e o desgaste que as instituições de ensino vêm sofrendo com a atual
gestão.
O trabalho se justifica pela preocupação daqueles que têm visto a redução desenfreada
na educação pública brasileira, que causará sérios problemas, sociais e econômicos, além da
paralisação das pesquisas que são capazes de trazer desenvolvimento à nação por meio de
projetos que lidam com temas de relevante valor social.
O incentivo ao desenvolvimento educacional do país, através da destinação das verbas
públicas, é fundamental para a prestação de serviço público na área da educação. As políticas
4
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:
Presidência da República, [2021].
386
públicas necessitam desse investimento para que possam alcançar o objetivo desejado com
eficiência, mas não deixando de ser oferecer subsídios reais para que estes objetivos sejam
alcançados de forma significativa.
Diante dessa perspectiva, o objetivo do presente artigo é demonstrar que as verbas
destinadas à educação são insuficientes para assegurar a eficiência do serviço público prestado,
que possui fim, social, econômico e cultural. Além da garantia de não retrocesso nas conquistas
estabelecidas, a fim de garantir um crescente desenvolvimento do país.
Para tanto, utilizamos como procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica, sob
uma abordagem qualitativa, a partir da leitura da doutrina, de leis e tratados internacionais,
buscando a ênfase para a construção de uma amostragem, onde se incentiva a constante busca
pelo incentivo à educação e criação de políticas públicas para o desenvolvimento dessa área.
Segundo Gil (2002) “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já
existente, como por exemplo livros e artigos científicos constituídos. ”. A pesquisa bibliográfica
é usada como fonte e fundamentação do referencial teórico abordado neste trabalho, fornecendo
bases para a construção do estudo, tendo como aplicação o método dedutivo.
5
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a
pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1988).
387
um direito social, devendo o seu acesso ser garantido pelo estado. Porém, o direito à educação
não deve estar restrito apenas ao acesso, mas deve haver esforços de todos os poderes da
república, na busca de garantir a qualidade do serviço disponibilizado ao público.
No artigo 6º6 da Constituição Federal de 1988 e apesar de disposto em nossa Carta
Magna, e em legislações infraconstitucionais, as normas de direito a educação não são normas
autoaplicáveis, pois, necessitam de intervenção do estado para que possam ser concretizadas,
sendo assim, é necessário que os órgãos e entidades públicas responsáveis tenham de políticas
públicas que deem efetividade a esse direito.
Além de constar no ordenamento jurídico brasileiro, o direito à educação é
regulamentado por tratados internacionais, como exemplo: o Pacto de São José da Costa Rica7,
também conhecido como Convenção Americana de Direitos Humanos, o qual o Brasil é
signatário, e se comprometeu perante o mundo a desenvolver formas de incentivo e
desenvolvimento da educação nacional.
Segundo o Supremo Tribunal Federal, o Pacto de São José da Costa Rica ingressa no
ordenamento jurídico com status de norma supralegal, ou seja, está em posição superior a uma
norma, observada a disposição hierárquica jurídica existente, oportunizando assim uma maior
garantia de direitos fundamentais.
Ademais, no dia 20 de novembro de 1996, foi criada a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional8 (LDB). Esta Lei cria parâmetros a serem seguidos quando se trata de
educação como ponte norteadora para políticas de incentivo educacional e políticas públicas
voltadas para o crescimento desta área, apontando ainda a necessidade de investimento, para
que além de desenvolvimento na educação básica, possa ocorrer incentivos na área da pesquisa,
por ser de extrema importância (BRASIL, 1996).
6
São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança,
a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição (BRASIL, 1988).
7
DECRETO No 678, DE 6 DE NOVEMBRO DE 1992. Promulga a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969. ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS
AMERICANOS. Convenção Americana de Direitos Humanos (“Pacto de San José de Costa Rica”), 1969. O
Pacto de São José da Costa Rica, também conhecido como Convenção Americana de Direitos Humanos,
publicado no final da década de 60, em 1969, é apontado como marco político e normativo na proteção, no
respeito e na promoção dos Direitos Humanos, especialmente, nas Américas. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d0678.htm. Acesso em: 09 set. 2021.
8
LDB - Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Brasília: MEC, 1996. BRASIL. Disponível em: L9394. Acesso em: 08 Set. 2021. A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação ou LDB é a legislação que define e regulamenta o sistema educacional brasileiro, seja ele público ou
privado.
388
educação, ciência, e cultura, e para isso é necessário que o estado brasileiro se comprometa
economicamente com essas áreas.
No artigo 26, da Convenção Americana de Direitos Humanos, encontra-se a seguinte
previsão:
Para que o país possa suprir suas as questões internas relativas à educação, é necessário
o volume de investimento suficiente para suprir as deficiências advindas de décadas de descaso
com o ensino no Brasil, ou seja, nós temos uma dívida histórica com a educação, e a simples
alegação de que os recursos utilizados são suficientes, não é o bastante para resolver o
problema. É preciso observar, no caso concreto, se houve melhoria no ensino, e em caso de
negativa, além de observar a gestão, deve ser revisto qualquer tipo de corte nos investimentos
públicos na área.
Quanto aos investimentos, o legislador deixou a critério do gestor público o quanto deve
ser destinado a essa importante área, pois LDB é explícita ao tratar de um valor mínimo de
investimento por parte da união, demonstrando que a educação é um dos pilares do
desenvolvimento do país, o que explica a legislação não impor limite máximo de investimento,
pois a educação é fundamental quando se pensa em desenvolvimento nacional.
A União será responsável, de acordo com a Constituição Federal de 1988, em seu artigo
69, por aplicar, in verbis:
Acerca dos recursos, é necessário lembrar que o Brasil apesar de destinar mais de 5%
do seu PIB9 para a educação, possui uma dívida histórica com a educação pública, pois, quando
comparada com a qualidade da educação privada, as crianças que dependem do ensino público
encontram forte desvantagem.
O país possui um déficit no investimento com o ensino, se fizermos uma analogia da
educação brasileira com uma pessoa em estado de inanição, a educação do Brasil seria uma
pessoa que necessita de uma complementação a mais de nutrientes, o que demanda maior
investimento.
A Fundação Sem Fins Lucrativos de Crédito Educacional (2019) relatou sobre o fator
histórico de crédito nos país que:
Há um fator histórico que deve ser considerado quando se compara o Brasil a países
desenvolvidos, apontam educadores ouvidos pela reportagem. Para o doutor em
Educação Gabriel Grabowski, avaliações como o Pisa precisam ser melhor
contextualizadas, pois analisam, lado a lado, países, processos, públicos, realidades
bem diferentes. O Brasil, ele argumenta, não tendo investido em educação durante
séculos, contando com grande contingente de analfabetos e baixa escolaridade de
níveis médio e superior, é “comparado a nações que, há 200 anos não têm
analfabetismo”.
9
O Produto Interno Bruto tem como referência o valor agregado, depurado das transações intermediárias e
medido a preços de mercado, de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território econômico do
país sob consideração (ROSSETTI, 1979, p.164).
10
Bolsonaro corta verbas da educação, INSS, saúde e meio ambiente no Orçamento. A segunda maior redução
foi feita no Ministério da Educação, totalizando 740 milhões de reais. Entre as áreas impactadas, está o programa
Educação Básica de Qualidade, com redução de aproximadamente 400 milhões de reais. Também foi travado um
391
O maior problema, porém, é o valor das bolsas, que não é reajustado desde 2013. No
início da série histórica pós-Plano Real, em 1995, um auxílio de doutorado do CNPq
valia R $1.073; hoje, são R $2.200. Caso o valor tivesse acompanhado o INPC – usado
normalmente para reajuste de salários –, a bolsa estaria em R$ 6.006. Muitos
doutorandos não moram originalmente nas cidades em que ficam suas faculdades, e
portanto, não têm a opção de morar com os pais: precisam arcar aluguel e outras
despesas básicas com os 2.200.
Tais cortes geram sérios riscos ao país. A sociedade está podendo presenciar a
importância das pesquisas científicas, quando nesse momento de pandemia, os pesquisadores
estão desenvolvendo vacinas capazes de salvar milhões de vidas, e em contrapartida existe um
repasse de 34,4 milhões de reais para apoio à consolidação, reestruturação e modernização das instituições
federais de ensino superior. Em relação ao funcionamento e gestão de instituições hospitalares federais,
vinculadas ao Ministério da Educação, o corte foi de 100 milhões de reais.
https://www.istoedinheiro.com.br/bolsonaro-corta-verbas-de/
11
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico responsável pelo fomento às pesquisas
científicas e tecnológicas brasileiras e pela formação de pesquisadores. O CNPq é subordinado ao Ministério da
Ciência e Tecnologia (MCT) e sua trajetória está intrinsecamente relacionada ao desenvolvimento científico
brasileiro.O CNPq oferece bolsas e auxílio à pesquisa em diferentes modalidades. As bolsas são destinadas a
pesquisadores experientes, a pessoas recém doutoradas, a alunos de pós-graduação, graduação e ensino médio.
Os valores das bolsas são variados. Existem duas categorias de bolsas: bolsas individuais (no Brasil ou no
exterior), ou bolsa por quotas. As Bolsas individuais, tanto no país, como no exterior, são de fomento científico
ou tecnológico. https://www.infoescola.com/ciencias/cnpq/
392
significativo retorno financeiro, mas em oposição aos fatos, a gestão federal vem impondo
dificuldades à área e buscando diminuir a importância do setor.
O governo federal tem feito cortes na educação, durante a campanha falava-se em
diminuir gastos com o ensino superior para investir na educação infantil, mas o que, na verdade,
está ocorrendo é um corte geral na educação, tanto na educação superior, e pesquisas, quanto
na educação infantil, que piora ainda a situação da educação do país que já precisava de mais
atenção por parte dos gestores.
Em uma reportagem a Agência O Globo (2021) descreve sobre a promoção de inscrição
do financiamento estudantil:
12
Segundo o 6º Relatório Bimestral da Execução Orçamentária do MEC, publicação lançada este mês pelo
Todos Pela Educação, a pasta encerrou o exercício de 2020 com a menor dotação desde 2011, R$ 143,3 bilhões.
Outros números demonstram a falta de priorização da Educação Básica da atual gestão, confirmado pelos cortes
no orçamento do MEC e pelo insuficiente apoio técnico e financeiro destinado ao combate à pandemia ao longo
do ano: a Educação Básica encerrou 2020 com R$ 42,8 bilhões de dotação, 10,2% menor em comparação ao ano
anterior, e R$ 32,5 bilhões em despesas pagas. Após 12 meses, o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento
da Educação) consumiu apenas 63% do seu limite de empenho e 77% do limite de pagamento das despesas
discricionárias, evidências da baixa execução e dos problemas de gestão que cercam a pasta.
https://todospelaeducacao.org.br/wordpress/wp-content/uploads/2021/02/6%C2%B0-Relatorio-Bimestral-da-
Execucao-Orcamentaria-do-MEC
13
O governo triplicou o orçamento do Ministério da Educação nos últimos oito anos, passando de R$ 17,4
bilhões em 2003 para R$ 51 bilhões em 2010. Se forem incluídos nesta conta os recursos da transferência do
Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), do salário educação e da quarta parte do
repasse estadual, o valor passa de R$ 19,1 bilhões em 2003 para R$ 59,1 bilhões em 2010. Os dados foram
divulgados neste final de semana pelo ministro da Educação, Fernando Haddad. Ele disse que os recursos estão
sendo aplicados de forma consistente para melhorar a educação no país, sobretudo na educação básica. “Isso
quer dizer que o orçamento triplicou em termos nominais e dobrou em termos reais”, disse o ministro.
O valor do investimento por aluno evolui em todas a etapas da educação básica e se mantém estável na educação
superior. O investimento por aluno, que era de R$ 1,6 mil em 2000, saltou para R$ 3 mil, e a meta é a de atingir
R$ 3,5 mil. “O aumento de 0,8% do PIB (Produto Interno Bruto) foi todo destinado à educação básica. ” Já para
o ensino médio profissionalizante, em que o investimento por aluno é mais alto, deve ser de R$ 4,5 mil por
393
governos anteriores, está em baixa, e a educação básica, que tinha promessa de investimentos,
também está sofrendo cortes.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
aluno. Os números também mostram que a distância entre o investimento na educação básica e na educação
superior vem caindo. Em 2000, essa diferença era de 11 vezes, em 2008 caiu para 5,6 vezes, o que é muito
próximo do patamar da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os
países ricos.O percentual do investimento por estudante em relação ao PIB por aluno elevou-se de 14,5% em
2002 para 19%. Na OCDE, a média é de 25%. A meta do ministério, diz Haddad, é a de acabar 2010 com o
orçamento em 5% do PIB, o que dá 1% do PIB a mais do que foi investido historicamente. Ele projeta pelo
menos mais 1% para o próximo período, com um aumento de pelo menos 0,2% ao ano.
http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/investimento-em-educacao
394
REFERÊNCIAS
Bolsonaro corta 62% da verba para educação infantil entre 2018 e 2020. Agência o
Globo, 22/08/2021. Disponível em: https://economia.ig.com.br/2021-08-22/bolsonaro-verba-
creche.html Acesso em: 02 Set. 2021.
Ciência brasileira sofre com cortes de verbas e encara cenário dramático para pesquisas
em 2021. Academia brasileira de ciência. Disponível em:
http://www.abc.org.br/2021/01/05/ciencia-brasileira-sofre-com-cortes-de-verbas-e-
encaracenario-dramatico-para-pesquisas-em-2021. Acesso em 02 Set. 2021.
GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa.4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
ROSSETTI, José Paschoal. Contabilidade Social. 7 Ed. São Paulo: Atlas, 1994.
VAIANO, Bruno. CNPq só conseguirá pagar 13% das bolsas aprovadas para cientistas
em 2021. 426 Ed. São Paulo. Disponível em: https://super.abril.com.br/ciencia/cnpq-so-
conseguira-pagar-13-das-bolsas-aprovadas-para-cientistas-em-
2021/#:~:text=O%20Conselho%20Nacional%20de%20Desenvolvimento,que%20foram%20a
provados%20para%202021. Acesso em: 27 Ago. 2021
395
RESUMO
A educação fiscal como sendo um tema transversal à legislação educacional brasileira tem
previsão na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei 9.394. O Programa Nacional
de Educação Fiscal - PNEF - tem caráter educativo e visa promover e institucionalizar a
Educação Fiscal ocasionando o exercício efetivo da cidadania, visando a melhoria contínua da
relação participativa e consciente entre o Estado e seus cidadãos, além de contribuir à defesa
permanente das garantias constitucionais. O estudo enseja e estimula o cumprimento das
obrigações tributárias pelos cidadãos a fim do bom funcionamento dos programas sociais, além
de incentivar também os cidadãos a fiscalizarem a aplicabilidade dos recursos públicos. A
temática apontou quais são os efeitos desejáveis ao sistema democrático de direito
impulsionados pelos objetivos dispostos no PNEF. Demonstrando que a base educacional sobre
educação fiscal gera efeitos diretos e indiretos sobre o Estado democrático.
Palavras-chave: Educação. Educação fiscal. Estado Democrático. Direito à educação.
ABSTRACT
Tax education as a crosscutting theme of Brazilian educational legislation has provision in the
Law of Guidelines and Bases of National Education - Law 9,394. The National Fiscal Education
Program - PNEF - has an educational character and aims to promote and institutionalize Fiscal
Education, causing the effective exercise of citizenship, aiming at the continuous improvement
of the participatory and conscious relationship between the State and its citizens, in addition to
contributing to the permanent defense of constitutional guarantees. The study encourages and
encourages the fulfilment of tax obligations by citizens in order to properly operate social
programs, and also encourages citizens to monitor the applicability of public resources. The
theme pointed out what are the desirable effects on the democratic system of law driven by the
objectives set out in the PNEF. Demonstrating that the educational base on tax education
generates direct and indirect effects on the democratic state.
Keywords: Education. Tax education. Democratic State. Right to education.
1
Acadêmica da Graduação no curso de Direito pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – FCRN,
participante do grupo de pesquisa e extensão Educação Fiscal e Controle de Gastos Públicos (EDUFISCON). E-
mail: darapraxedes@hotmail.com
2
Acadêmica da Graduação no curso de Direito pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – FCRN,
participante do grupo de pesquisa e extensão Educação Fiscal e Controle de Gastos Públicos (EDUFISCON) e
do grupo de pesquisa e extensão Galeria Jurídica. E-mail: heloisa59helena@gmail.com
3
Professora orientadora. Especialista em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários
(IBET), Vice-Presidente da Comissão de Direito Tributário da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) –
subsecional Mossoró́ /RN. Graduada pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte – UERN. E-mail:
anna.moura@professor.catolicadorn.com.br
396
1 INTRODUÇÃO
contribuir com a formação cultural. Sua importância é buscar movimentar a economia, pois
dessa forma o Estado garante a arrecadação de verbas e mantém acordos políticos culturais.
Entender a importância da educação fiscal, vai muito além de entender a tributação, pois
quando se compreende sua importância, o cidadão passa a contribuir na formação da receita e
despesa pública estatal.
Em analise a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB do ano de 1996, que
garantia a população o acesso à educação gratuita e com qualidade, onde este direito foi
assegurado mais acertadamente em 1988 com a promulgação da Constituição Brasileira onde
sua base normativa fundamenta-se em Estado democrático de direito, soberania popular,
soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, valorização do trabalho, livre iniciativa e
pluralismo político, extrai a normatização sobre a educação e sua abrangência nos mais distintos
segmentos. Em conformidade com o disposto pelo Dr. Gabriele Sapio em sua tese de doutorado
expõe:
De fato, a constituição de 1988 com suas disposições abrangentes, detidas e objetivas
veio a contemplar a educação bem como o seu respectivo direito social público
subjetivo e seu gozo de uma forma como nunca houvera sido contemplada na história
do constitucionalismo brasileiro, sendo que pelo alcance e abrangência de seus
dispositivos fez-se necessário complementar e completar o disposto na referida carta
constitucional mediante legislação complementar e ordinária. (SAPIO, 2010, p. 5)
É nesse contexto que a Educação Fiscal se alinha a um amplo projeto educativo, com
o objetivo de propiciar o bem-estar social, consequência da consciência cidadã e da
construção crítica de conhecimentos específicos sobre os direitos e deveres do cidadão
399
A criação do PNEF visa conscientização com foco cívico projetado para promover e
institucionalizar a educação fiscal. Defende-se que os cidadãos compreendam a função social
da tributação, participem ativamente das atividades sociais e participem da gestão dos recursos
públicos. Também busca melhorar a relação do indivíduo com o Estado, pois quando uma
pessoa participa das finanças públicas e acompanha seus gastos, pode contribuir na vida social,
na educação, na política, nas relações Estado-sociedade, na administração pública e na
tributação.
O PNEF anteriormente era desenvolvido e promovido pela Escola de Gestão Financeira,
que realizava um trabalho juntamente com o Grupo Estadual de Educação Fiscal e do Grupo
Municipal de Educação Fiscal. O objetivo desses grupos era formar comunicadores de educação
financeira, preparar materiais didáticos, divulgar o programa e realizar pesquisas sobre ele.
É importante destacar que a criação do Grupo Municipal de Educação Fiscal, foi partir
do interesse e da participação de cada município, afetava decisivamente a prática docente da
educação financeira, pois o assunto não era mencionado diretamente no Plano Nacional de
Educação, nos Parâmetros Curriculares ou Currículo Básico Comum por estado, apenas na
Resolução do Conselho Estadual de Educação (CNE) 7 de 2010 (Pimenta, Karen Veríssimo;
Aveliz, Rafaela Lisboa Gomes de; Pereira, Orcione Aparecida Vieira; Souza, Laércio Xavier
de; Sousa, Vera Lúcia de Jesus. 2020).
Atualmente o desenvolvimento do PNEF foi modificado pelo governo em nível
federal, onde o programa não é mais administrado por um órgão federal. Agora, o Auditor-
Geral Federal, a Secretaria de Orçamento Federal e a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional
estão envolvidos como órgãos de governo, administrados pelo CONFAZ.
401
A política passou a ser definida pelo grupo de trabalho "GT66 - Educação Fiscal" no
âmbito da Comissão Técnica Permanente do ICMS (Cotepe/ICMS). Representantes da Cotepe,
em sessão especial, aprovaram a criação de um grupo de trabalho, convênio ICMS 44/19 para
manter e fortalecer as ações em nível estadual para planejar, implementar, monitorar e avaliar
o PNEF, atuando como integrador da experiência no âmbito federal, campos e expressores
estaduais e municipais.
Neste grupo de trabalho são definidas políticas e forma de atuação, além da produção
de um relatório de ações que forneceu à Cotepe o presente contexto da Educação Fiscal no
Brasil. (CONFAZ,2021). Atualmente o PNEF sofreu uma modificação por parte do governo
em esfera federal onde o programa não é mais gerido por órgãos federais.
O PNEF atualmente tem como instituições gestoras a Controladoria-Geral da União, a
Secretaria do Orçamento Federal e a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Sua condução
é feita pelo Conselho Nacional de Política Fazendária, CONFAZ e as políticas são definidas
pelo Grupo de Trabalho “GT66- Educação Fiscal”, no âmbito da Comissão Técnica Permanente
do ICMS (Cotepe/ICMS).
Em reunião extraordinária, os representantes da Cotepe, aprovaram a criação do Grupo
de Trabalho, Protocolo ICMS 44/19 para a manutenção e fortalecimento em âmbito Estadual
que vai planejar, executar, acompanhar e avaliar as ações do PNEF, atuando como integrador e
articulador de experiências das esferas federal, estadual e municipal.
A palavra democracia tem sua origem grega formada por dois termos démos, que
significa povo ou comunidade, e krasia, que diz respeito a governo, não somente a composição
do seu nome, mas também sua essência possui berço, surgimento, grego. Primeiramente
surgindo como uma democracia direta e não representativa, como atualmente, seguindo um
pressuposto que todos são iguais perante a lei e teriam o direito de expressar suas ideias em
reuniões.
Ao falar-se de democracia é importante destacar a fala de Abraham Lincoln (1863) “o
governo do povo, pelo povo e para o povo” que coincide com o primeiro dispositivo de
Constituição Federal de 1988 “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio dos
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição” (BRASIL,1988, Art.1)
402
Mas é de grande varia ressaltar que não a uma harmonização existente em todos os
conjuntos sociais, ou seja, no Brasil, em seu território, pode haver locais em que a sociedade
esteja sempre em passividade para debates dos mais variados assuntos, mesmo que não haja
uma unanimidade sobre o assunto, mas é possível um diálogo dentre os membros.
O direito não é somente um todo, mas vários direitos que se convergem para uma forma
de participação em uma escala mundial. Nos pensamentos promovidos pelos pensadores
modernos surgem a ideia de direitos inatos, que seriam direitos de natureza humana e
posteriormente com o movimento Iluminista promovendo uma liberdade de pensar e agir.
Sendo após duas grandes guerras que resultaram com a morte de milhões de pessoas que
os direitos humanos foram firmados em 1948 com a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, sendo eles universalizáveis, mas não são universais, pois não são eternos, imutáveis,
403
O estado é composto por alguns elementos como, povo ou população onde formam uma
reunião de indivíduos, que mantém uma cultura semelhante, território onde o governo exerce
sua organização e valida suas normas jurídicas, e a soberania que compõe o conjunto de normas
404
e leis onde ela regula o convívio social. Ainda podemos especificar esses elementos como um
quebra cabeça, onde temos peças especificas que se formam e assim também se completam.
Ou seja, esses polos têm como finalidade cuidar e disponibilizar a funcionalidade dos
interesses dos cidadãos. Para que esses interesses sejam supridos, ou exercidos existem as
instituições que exercem essas funções, ao qual conhecemos como os três poderes,
independentes e harmônicos entre si. Esses três poderes são; Legislativo, Executivo e
Judiciário.
Em primeiro lugar o Legislativo onde é exercido pelo Congresso Nacional, e é composto
pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. Ainda tem como função primordial a
elaboração das leis. Em segundo lugar temos o poder Executivo, exercido pelo Presidente da
República, porém com auxílio dos Ministros de cada Estado, e dos Governadores, secretários
nos estados e prefeitos nos municípios. Sua função essencial é proceder a execução das leis.
Além do mais, sua atribuição é administrar os interesses públicos, cumprindo assim as ordens
legais.
Em característica específica sobre o poder norteador do ministério da educação, temos
o poder Executivo, sendo sua função essencial é proceder à execução das leis. Além do mais,
sua atribuição é administrar os interesses públicos, cumprindo assim as ordens legais, onde o
ministro, responsável, exerce um cargo político, atribuindo-lhe o governo responsável pela
elaboração e execução da Política Nacional de Educação, PNE.
Por fim o Poder Judiciário, composto por juízes, desembargadores e Ministros, de
acordo com suas instâncias. Vale ressaltar que todos são considerados magistrados. (Supremo
Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça, Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais,
Tribunais e Juízes do Trabalho, Tribunais e Juízes Eleitorais, Tribunais e Juízes Militares,
Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal).
Sua atribuição interpretar de forma real e concreta os sentidos das leis. Ademais, o poder
Judiciário julga os conflitos que surgem na sociedade, compete ainda interpretar as leis e aplicar
o direito de acordo com os casos a ele apresentado, através de procedimentos legais iniciados
pelas partes interessadas.
Sendo a administração pública a responsável por desenvolver atividades estatais,
visando ao bem comum. Ainda de acordo com a lei, ela compreende o conjunto de órgãos,
funções e agentes públicos, tendo como finalidade o desenvolvimento das atividades do Estado,
onde visa assim o interesse coletivo. Ainda de acordo com a constituição, as atividades da
405
Administração Pública devem sempre obedecer aos princípios ao qual conhecemos como
LIMPE.
São características da Limpe a legalidade, onde ela garante um limite para a atuação do
Estado, visando a proteção do administrado ao abuso de poder. A impessoalidade, que existem
duas situações nesse princípio, a primeira é relacionada aos administrados, ou seja, a
administração não poderá atuar discriminando pessoas de forma gratuita, a menos aquelas que
venham privilegiar o interesse público. E a segunda, se trata da própria administração, que a
responsabilidade deve ser imputada ao órgão/pessoa jurídica e não ao agente público.
A moralidade, trata dos princípios éticos de justiça, ou seja, objetivar algum tipo de
vantagem indevida, em razão do cargo por exemplo, ou mandato de emprego. A publicidade,
que é a obrigação, o dever atribuído a Administração de dar total transparência a todos aqueles
atos que praticar. E a eficiência, como o próprio nome já diz, visa buscar bons resultados e
atender o interesse público da melhor maneira possível e com maior eficiência.
A função desses princípios é de dar unidade e coerência a Administração Pública, em
relação direta com o Direito Administrativo, controlando as atividades administrativas de todos
os entes que integram a federação brasileira (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). A
administração pública exerce suas funções por meio de seus agentes, órgãos, entes e atividades
públicas, garantindo assim a direta e imediata realização plena dos fins erguidos pelo Estado.
Administrar para muitos significa também planejar, e elaborar ações no sentido de enfrentar os
problemas vividos diariamente pela sociedade, ou seja, elaborar políticas públicas que possam
orientar as ações governamentais. Em suma, podemos definir Administração Pública como toda
atividade do Estado.
Compreender a educação fiscal é fundamental para fortalecer a cidadania. Ao se
familiarizar com o assunto, os educandos ficarão mais conscientes da importância de tomar
decisões acertadas sobre questões fiscal, sendo esta como já exposta atividade financeira do
Estado.
Em construção doutrinaria professora Dra. Tathiane Piscitelli demonstra que a atividade
do Estado deve ser conhecida não somente por sua atividade já atuante, mas que a estrutura
norteadora dele, sua base de matéria constitucional juntamente com a base educacional, pois
precede o surgimento dos fatos geradores deste meio.
Mas não é só. Considerando que o exercício da atividade financeira se situa na base
da própria manutenção do Estado, naturalmente que tanto a persecução da receita
406
As reflexões que os estudos sobre a educação fiscal geram não se prendem somente a
questões de finanças ou da atividade financeira do Estado, mas se reproduzem inicialmente na
escolha participativa que integram a administração pública, ou seja a escolha dos
representantes.
Segundo a matéria publicada no jornal folha de São Paulo somente uma parte da
população tem a consciência da necessidade de participar das escolher dos representantes, votos
eleitorais, sem que este seja com qualquer meio de vantagem imprópria, votos vendidos, ou
demonstram terem ainda conhecimento sobre os representante já escolhidos e suas atividades
407
no exercício de suas funções (FOLHA DE SÃO PAULO, 2022), demonstrando assim um ato
em que pode ser entendido como um leigo-democrático, a fase que os próprios eleitores, povo
em sua capacidade política, não conhecem que o cometimento desses atos infringiram
diretamente em matéria fiscal, uma vez que esta é influenciada por escolhas eleitorais.
O não cumprimento efetivo de seu papel de controlador social dos recursos públicos
alocados por meio do pagamento de impostos diretos e indiretos abre espaço para corrupção e
desperdício. O povo elege seus representantes, dando-lhes amplos poderes para exercer a
governança sobre uma cidade, estado ou o próprio país, mas após a eleição, esses representantes
agem de forma aleatória, muitas vezes sem medo da repressão dos cidadãos que os elegeram.
É por isso que é necessário fazer amplas mudanças na cultura educacional das pessoas para que
elas compreendam as inúmeras formas de participação constante na Constituição Brasileira.
O controle social pode ser feito por qualquer cidadão ou grupo de pessoas. O Conselhos
gestores de Políticas Públicas é um exemplo de canal efetivo de participação que permite a
criação de uma sociedade em que os cidadãos não sejam mais apenas um direito, mas uma
realidade. A democracia participativa envolve a participação popular na gestão e controle dos
recursos públicos, garantindo que sejam utilizados corretamente e de acordo com os planos.
A participação e o controle social não são apenas direitos, mas também deveres de todo
cidadão garantidos pela Constituição Federal. Por isso, é importante que todos acompanhem
continuamente a aplicação dos recursos públicos, conforme expressa o próprio PNEF:
pagos pela comunidade, são limitados e devem ser utilizados de forma racional. Devido ao
tamanho do Estado brasileiro, a participação social deve ser permanentemente estimulada para
que os cidadãos controlem os gastos públicos e a gestão pública das condições de coautoria.
Em exposição do Professor Dr. Rafael Lamera Giesta Cabral (2021), refere-se que “a
constituição não está velha” e em complemento com palavras do Professor Dr. Flávio
Martins Alves Nunes Júnior (2020) “a cura para o doente não está em matá-lo, mas em
procurar um remédio” não basta apenas a norma escrita, mas experimentá-la e em caso de
distâncias busque desenvolvê-la para superar seus limites.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERENCIAS
AMORIM, Sylvia. 2022. Disponivel: < Educação fiscal: o que é, importância e principais
conceitos (enotas.com.br)> Acesso em 01 agos. 2022.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 3ª edição. São Paulo: Moderna,
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412
RESUMO
ABSTRACT
This article discusses the inheritance of slave labor in the formation of Labor Law in Brazil, in
view of how the formation of slave labor proceeded, from the period of Colonial Brazil to its
decline with the enactment of the Áurea Law. In addition, it presentes the evolution of labor
law, in Brazil and in the world, having as its initial fact the reaction to the Industrial Revolution
of the nineteeenth century. From this, we analyze how the current scenario is, and how slave
labor is still practiced today, even with several labor laws. Therefore, we can understand that
slavery practiced at the beginning of the colonization of Brazil resulted in a historical process
that culminated with the promulgation of Labor Law, guaranteeing the necessary rights for the
worker.
Keywords: Slave Labor; Áurea Law; Industrial Revolution; Labor Laws.
1
Graduanda em Direito pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte, juliana12lou@gmail.com;
2
Graduando em Direito pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte j_neto.j@hotmail.com;
3
Licenciada em História pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, com pesquisas na área
de escravidão no Império do Brasil, e graduanda em Direito pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte,
regisluany@gmail.com;
4
Graduanda em Direito pela Faculdade do Rio Grande do Norte, mariagois2310@gmail.com;
51
Professora orientadora. Advogada. Especialista em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos
Tributários (IBET), Vice-Presidente da Comissão de Direito Tributário da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB) – subsecional Mossoró́ /RN. Graduada pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte – UERN.
anna.moura@professessor.catolicadorn.com.br.
413
1 INTRODUÇÃO
Antes mesmo da escravidão passar a existir nas novas terras descobertas por Portugal e ao
redor do mundo, havia a escravização dentro do próprio continente africano. Entre as disputas
territoriais que ocorriam entre as tribos que ali residiam, o comum era que os guerreiros das
tribos que acabavam perdendo, passassem a ser prisioneiros e escravos de quem levava a vitória.
414
Com a chegada dos europeus para iniciar a colonização da África, também foi comum
observar a presença do escambo nas práticas do dia a dia, mas ao contrário dos espelhos e
bugigangas que eram distribuídos na colonização brasileira aos povos originários, algumas
tribos africanas trocavam os seus escravos por objetos supérfluos, armas e a falsa segurança
que os europeus transmitiam ao dizer que aquela prática os manteria seguros.
Apesar de ser incomum pensar em negros escravizando negros, essa era uma prática
comum dentro das civilizações residentes na África. Essas ações tornaram-se benéficas quando
passou a beneficiar as ações dos colonizadores europeus. Um claro exemplo disso é a inserção
dos negros escravizados na colonização do Brasil, colonizado pelos portugueses.
Nos primeiros anos houve a tentativa de forçar os indígenas a realizar o trabalho que
viria a beneficiar a coroa portuguesa, mas devido ao marasmo da vida destes, essa tornou-se
um a opção não viável. Desse modo, a opção do negro vindo da África foi a opção que viria
para tornar-se o principal meio de trabalho do Brasil Colônia.
Segundo Nayara Toscano de Brito Pereira e Yara Toscano Dias Rodrigues, a
manutenção do sistema escravocrata era decorrente do interesse comum entre grandes e
pequenos escravistas, ao contrário do que muitos acreditam por ser somente dos grandes
senhores:
A escravidão foi muito mais do que um sistema econômico. Ela moldou condutas,
definiu desigualdades sociais e raciais, forjou sentimentos, valores e etiquetas de
mando e obediência. A partir dela instituíram-se os lugares que os indivíduos
deveriam ocupar na sociedade, quem mandava e quem devia obedecer. Os cativos
representavam o grupo mais oprimido da sociedade, pois eram impossibilitados
legalmente de firmar contratos, dispor de suas vidas e possuir bens, testemunhar em
processos judiciais contra pessoas livres, escolher trabalho e empregador
(ALBUQUERQUE; FRAGA FILHO, 2006).
O período de escravidão no Brasil durou séculos, mas o negro sempre foi visto como
um ser inferior na sociedade, não é à toa que durante o transporte destes do continente africano
415
para as terras novas e recém-descobertas, estes eram amontoados em navios negreiros. Muitos
embarcavam em porões, mas sequer chegavam a ver a luz do sol ou terra novamente.
A taxa de mortalidade dentro dos navios negreiros era altíssima, mas a partir do século
XIX, estes números entram em declínio, passando de 9,5% para 7,1%, segundo Katia Mattoso.
Havia um embarque mais numeroso de homens do que de mulheres, afinal, a mão de obra
masculina e jovem eram priorizadas, já que se acreditava que eles eram mais fortes e resistentes
para o trabalho, além de serem comercializados por um valor mais alto. Boa parte desses negros
eram carregados para os navios mediante a disputas entre diferentes tribos africanas que
acabavam rendendo os perdedores e os trocando por algo com os europeus.
A chegada ao Brasil era marcada por feiras ao ar livre para a comercialização desses
escravos vindos do estrangeiro e as famílias, mãe e filho ou conhecidos de uma mesma tribo
que embarcavam no mesmo navio eram separados e na maioria das vezes sequer voltavam a se
ver novamente na vida. Foi entre 1831 e 1851, devido a pressões internacionais, em especial da
Inglaterra, que iniciou um processo de repreensão ao tráfico negreiro.
Em 28 de setembro de 1850 foi promulgada a Lei nº 581 de 4 de setembro de 1850, em
portaria ministral, assinada por Eusébio de Queirós Coutinho Mattoso da Câmara, resultando
no nome popular de Lei Eusébio de Queirós.
A cita Lei estabeleceu medidas para a repreensão do tráfico de negros africanos no
Império do Brasil. Apesar desta tentativa de conter a chegada de novos negros no país, passou
a haver muitos locais para o desembarque clandestino de negros. O tráfico interno passou a
crescer dentro do país, já que o saldo do século XIX foi o aumento do comercio ilegal dos
cativos.
A adaptação do escravo no Brasil era quase inexistente, já que quando estes chegavam
em terras da ex-colônia portuguesa e já eram inseridos no sistema de trabalho da época, os
engenhos de açúcar, mineração, corte do pau-brasil e cafeicultura. A dificuldade com o idioma
era um grande problema, já que era o senhor ou o capataz responsável por ensinar essa tarefa,
e a falta de progresso também era motivo de punições e chibatadas. A educação de escravos em
416
escolas era proibida, inclusive aos alforriados, e por muitos séculos, apenas a educação informal
fazia parte da vida daquelas pessoas.
Quando a Lei Eusébio de Queirós foi promulgada a fim de conter o tráfico negreiro que
transportava, em péssima qualidade, por sinal, escravos vindos do continente africano, a
alternativa encontrada pelos senhores de escravos foi incentivar e consentir que as negras da
senzala começassem a ter filhos (REGIS, 2021). Deste modo, além da mão de obra de trabalho,
a reprodução do escravo também passou a ser uma fonte de renda maior para o seu senhor, em
especial se a criança gerada resultasse em um homem forte.
A partir dos 12 anos, a criança escrava já era designada para começar a aprender o
trabalho que iria ser feito na vida adulta. Mesmo com a presença constante dos filhos dos
senhores, a idade era um marco para que o “negrinho” passasse a ser inserido no trabalho da
casa, lavoura ou engenhos. Em Patu, por exemplo, há o registro de crianças que foram vendidas
em idades próximas a esta para que fossem aprender e servir em outros núcleos familiares. O
inciso XXXII da Constituição de 1824 não incluía os cativos para receber educação, restando
apenas o aprendizado do ofício que desde cedo lhes eram impostos.
Apesar de ser incomum o estudo do instituto jurídico da escravidão negra no Brasil, foi
este um período que deixou incontáveis heranças ainda vigentes na vida cotidiana em pleno
século XXI. André Barreto Campello afirma em sua pesquisa que ao contrário de outras
localidades na América, o Brasil nunca houve um Código Negro, mas que “isso não significa
que não existia um arcabouço jurídico que viesse a regulamentar as complexas situações
decorrentes das relações humanas presentes na exploração da mão de obra escrava”.
Por muitos anos, o sistema jurídico brasileiro permitia que milhares de homens e
mulheres fossem privados dos direitos mais básicos que são previstos e conhecidos na atual
Constituição Federal: o direito a própria vida, bem como a dignidade e a liberdade. Apesar da
Constituição Imperial de 1824 excluir o cativo de pele negra de suas páginas, foram estes a
fonte da forma do trabalho que, por décadas e mais décadas, carregou a economia do país até a
Lei no 3.353, de 13 de maio de 1888, promulgada pela Princesa Isabel, que iria vir à abolir
definitivamente a escravatura. A inexistência de um Código Civil e até mesmo uma Legislação
Trabalhista daquela época dificulta arduamente na pesquisa para entender como se deu este
processo, contudo, o que foi deixado nos tempos atuais são vistos como transmissão de
costumes de épocas passadas.
417
servos: os primeiros ofereciam proteção contra ameaças externas e em troca recebiam a maior
parte da produção dos camponeses que trabalhavam em suas terras. Na Idade Moderna, o
trabalho assalariado começou a apresentar-se na sociedade.
Embora a história possa remontar às suas raízes, o ponto de partida para a evolução do
direito do trabalho foi a Revolução Industrial no século XIX. Dezoito. O nascimento do direito
do trabalho foi uma reação à Revolução Industrial, à crescente e incontrolável exploração
desumana dos empregos. É o produto de uma reação da classe trabalhadora do século XIX
contra o uso ilimitado do trabalho humano. (CASSAR, 2012). Esse período é caracterizado por
profundas mudanças no modo de produção social.
Desde o crescimento da indústria, ela teve que ser considerada por outro motivo que não
a manutenção ou a vontade de Deus para a obra. A ética do trabalho passa então a aplicar
princípios éticos e sociais àqueles que a utilizam e, como resultado, priva aqueles que nunca
praticaram esses mesmos valores. Começamos também a vivenciar novas relações entre as
pessoas, com grande diversidade: aquelas que tinham meios econômicos para manter os
negócios e aquelas que tinham seus funcionários como meio de garantir sua existência. Assim,
aparecem estatísticas de gerentes e funcionários.
As condições de vida dos trabalhadores do século XIX, seja na Inglaterra, início da
revolução industrial, ou em outros países europeus após a revolução industrial, eram
degradantes. Eles, os trabalhadores a época, ficavam expostos à fome e a uma variedade de
doenças como cólera e tifo, que encontraram terreno fértil em cidades recém-construídas,
devido ao grande fluxo de trabalhadores emergentes. Nas áreas rurais para encontrar uma nova
maneira de ganhar a vida. Essas cidades careciam de saneamento básico: os esgotos corriam a
céu aberto e homens, mulheres e crianças ocupavam a área com ratos e vários insetos.
Normalmente, duas ou mais famílias dividiam um quarto em uma área de trabalho, ocupada por
ambos os trabalhadores e garantida a dependência de inquilinos, já que as aldeias eram as
principais proprietárias da terra.
419
O trabalhador vivenciava tudo isso depois de uma jornada de trabalho árdua, às vezes
de até 16 horas, em condições anti-higiênicas, levando a sérios problemas físicos. Muitos
trabalhadores com menos de 30 anos foram desqualificados do trabalho devido a uma série de
danos à saúde provenientes da limpeza de pó de carvão, por exemplo.
Em muitos casos, esse trabalho não garantia nem o menor indício de atender às suas
necessidades básicas. Mulheres e crianças trabalham nos mesmos campos e ganhavam menos,
o que torna a produção mais barata e aumenta os lucros. Por outro lado, isso gerou desemprego
entre os homens mais velhos. Essa situação era comparável à abundância de riquezas que
existiam naquela época.
A aparente desigualdade entre as unidades produtivas não tardou a causar conflitos,
principalmente durante a revolução industrial, quando metade da força de trabalho foi
substituída por máquinas de produção, que trariam agilidade da produção. A classe trabalhadora
e os menos populares geralmente não gozavam de amparo legal, embora organizações inglesas
como o ludismo e o cartismo buscassem resolver essas questões. A fim de equilibrar essa
relação e acalmar a crescente ira dos sindicatos e outros sindicatos que se uniram às classes
mais pobres contra a classe capitalista, os governos se propuseram a estabelecer o que seria
uma nova ideologia para a reforma (por exemplo, o socialismo). Nesse sentido, o Direito do
Trabalho se desenvolve justamente como resposta a essas questões sociais.
Nos tempos antigos, uma pessoa não tinha a menor ideia de que estava trabalhando,
afinal, sem saber o que era, eles faziam apenas o essencial para sobreviver, plantando a comida
necessária para a própria subsistência. O homem da época não conhecia o conceito de trabalho
e mercadoria, e tudo isso viria depois.
Surgiu então a troca ou escambo, onde as pessoas trocavam entre si, alimentos, roupas,
entre outras coisas de subsistência, que tinham por aquelas que não tinham, agregando valor às
coisas que trocavam e criando a fonte do conceito de mercadoria e mercado de trabalho, os
quais foram desenvolvidos posteriormente. Durante o período da escravidão, ainda não se fala
em direito do trabalho, pois o escravo era como um simples objeto de propriedade de seu
“dono”, não havendo, portanto, nenhuma razão para ter ou direitos a serem garantidos. Depois
veio a servidão, pessoas ou famílias em troca de proteção trabalhavam nas terras feudais,
420
naquela época o trabalho era considerado, como a escravidão, como uma punição, não podendo
ainda falando de trabalho.
Mais tarde vieram as corporações de ofício, nesta fase há uma certa semelhança com a
concepção atual do direito do trabalho, pois, em suma, as corporações de ofício uma forma de
aprendizagem, onde um mestre ensinou ao filho os ofícios de sua "profissão", para que ele a
exercesse no futuro, com a condição de que, não sendo dele, passasse por um exame e fosse
aprovado. Existiam outras maneiras de se tornar um mestre, como por exemplo, casando-se
com a filha do seu mestre. No entanto, com o surgimento da Revolução Francesa, as
corporações se extinguiram, principalmente com o advento da lei de Le Chapelier.
Com a Revolução Francesa podemos começar a falar em direito do trabalho, pois seu
ideal de liberdade do homem fez com que paradigmas fossem quebrados, abrindo caminho para
novos conceitos e, porque não dizer: para uma nova sociedade.
A Revolução Industrial, no entanto, é a fase em que nasce, mesmo que de maneira
tímida, o direito do trabalho. Neste estágio o trabalho manual é substituído pelas máquinas,
criando, assim, diversos conflitos trabalhistas, dado que os trabalhadores começam a se associar
e surgem, dessa maneira, os sindicatos dos trabalhadores, passando-se a exigir direitos e
melhores condições de trabalho.
Assim, o Estado deixa de se abster e passa a intervir nas relações trabalhistas. Até
mesmo a igreja passa a ter interesse nas relações de trabalho, tanto que expedem diversas
encíclicas sobre o tema.
Finalmente, emerge a última fase da evolução do trabalho no mundo, a fase do
constitucionalismo social. Com a criação e implementação das constituições os países começam
a tratar sobre direitos sociais, trabalhistas e econômicos.
A primeira constituição social a ser implementada foi a Constituição do México (1917),
que estabelecia alguns direitos para os trabalhadores, como redução da jornada de trabalho,
proibição de trabalho de menores de 12 anos, salário-mínimo, proteção à maternidade etc.
Depois veio a Constituição de Weimar (1919), que deu poder ao sindicato dos trabalhadores e
estabeleceu o sistema de seguro social. Importante também foi o Tratado de Versalhes (1919),
por meio do qual foi viabilizada a criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que
imediatamente passou a emitir convenções e recomendações sobre questões trabalhistas e
previdenciárias.
421
A Carta Del Lavoro (1927), fundada na Itália, criou o sistema fascista, que inspirou
muitos outros sistemas políticos, especialmente o do Brasil, que foi projetado para organizar a
economia em torno do Estado, promover interesses sociais e fazer cumprir regras. Esta Carta
previa o sindicato único, o imposto sindical, a representação classista e a proibição da greve e
do lockout.
Então, neste momento, sim, podemos dizer que as leis trabalhistas surgiram e
começaram a se desenvolver, atingindo seu apogeu na sociedade capitalista.
De forma mais simples, o termo trabalho escravo contemporâneo é usado no Brasil para
designar a situação em que a pessoa está submetida a trabalho forçado, jornada exaustiva,
servidão por dívidas e/ou condições degradantes.
A mais notória das Leis que trouxe alguma mudança no cenário do sistema
escravocrata brasileiro à época do Império foi a Lei nº 3.353, de 13 de maio de 1888,
comumente chamada de Lei Áurea. Com ela, oficialmente foi declarada extinta a
escravidão no Brasil. [...] Todavia, há que se perceber que o trabalho escravo deixou
de ser legal, mas, na concretude da realidade social, continuou a existir
clandestinamente nos dias hodiernos. Por isso, é de suma importância,
contemporaneamente, instrumentos legais, somados à efetiva fiscalização e à atuação
dos profissionais nas instâncias judiciárias, possam inibir essa prática secular de
degradação do homem: o trabalho escravo (PEREIRA; RODRIGUES, 2014).
Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho
escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a
programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem
prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no
art. 5º (BRASIL, 1988).
Mesmo assim, é no meio rural em que mais podemos ver casos análogos a escravidão,
em especial dentro dos modelos citados no gráfico a seguir.
424
5
Gráfico extraído de reportagem do site A Pública, disponível em: https://apublica.org/2017/10/no-mapa-o-
trabalho-escravo-no-brasil/
425
cidadãos que se encontram neste cenário, permaneçam com a esperança de no futuro ter uma
renda proveniente do trabalho que já foi prestado. Para Bittencourt, o trabalho escravo é
O Brasil também ratificou diversos tratados no que diz respeito ao cenário de escravos
do século XXI no âmbito internacional, como por exemplo a Convenção 105, que passou a
vigorar a partir de 18 de julho de 1965, no qual estabelece que “todo País-membro da
Organização Internacional do Trabalho que ratificar esta Convenção compromete-se a adotar
medidas para assegurar a imediata e completa abolição do trabalho forçado ou obrigatório” em
seu art. 2º.
Já na Convenção Americana de Direitos Humanos – Pacto de São José da Costa Rica,
realizado em 6 de novembro de 1992, nos itens 1 e 2º do artigo 6º, relata que “ninguém poderá
ser submetido a escravidão ou servidão e tanto estas como o tráfico de escravos e o tráfico de
mulheres são proibidos em todas as suas formas e ninguém deve ser constrangido a executar
trabalho forçado ou obrigatório [...]”. (BRASIL, 1992, P.15562)
Desse modo, observa-se que apesar da abolição oficial da escravatura ter ocorrido a
séculos atrás, na contemporaneidade este aspecto vai muito além das leis trabalhistas, pois não
pressuposto sexo, tampouco idade, mas permite que uma série de características sejam
confundidas dentro de um jogo psicológico, principalmente de dependência, que acaba
prendendo a vítima em um sistema inescrupuloso. Afinal, “o controle abusivo de um ser
humano sobre outro é a antítese do trabalho decente” (OIT, 2001).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho escravo sofreu um grande processo de evolução ao longo dos anos. Com as
revoluções acontecendo em toda a Europa e os pensamentos abolicionistas sendo cada vez mais
presente no Brasil. Sendo assim, surgiram os primeiros direitos trabalhistas, com a finalidade
de regulamentar o direito do trabalhador baseado nos princípios da dignidade humana.
426
No primeiro momento, o presente estudo aborda a trajetória dos escravos desde sua
chegada no país, as péssimas condições em que aqui viviam, os surgimentos das primeiras Leis
que foram sendo adquiridas, até o fim da escravidão com a promulgação da Lei Áurea.
Na segunda etapa do artigo, retrata a evolução dos direitos trabalhistas no Brasil e no
mundo. Com o advento da Revolução Industrial, deu-se início às conquistas da classe
trabalhadora, tendo influência em várias partes do mundo, em especial no Brasil, até acontecer
a consolidação das Leis do Trabalho, sancionadas pelo até então presidente Getúlio Vargas.
Nesse cenário, as condições de trabalho mudaram significativamente.
Foi a partir de pequenas mudanças como estas que o trabalho escravo passou a oferecer
uma esperança para o futuro. Muitos foram os negros que morreram de exaustão no trabalho
para que no século XXI podemos disfrutar de uma jornada de horas diária e semanal que nos
assegura um bem-estar e uma qualidade de vida. Foram as rebeliões, as chibatas e as fugas das
senzalas que permitiram termos direito à liberdade, a dignidade, a educação e, em especial, o
direito de trocar os serviços que são prestados por uma quantia justa de capital para suprir as
necessidades econômicas básicas de alguém. O trabalho da criança escrava, futuramente passou
a ser inadmissível e o Estatuto da Criança e do Adolescente assegura que estes estejam dentro
de sala de aula e que até atingir a maioridade não sejam submetidos a trabalho forçado.
Levando em consideração toda a evolução que aconteceu ao longo da história e a
contribuição da escravidão para tamanha conquista, buscamos estudar o cenário atual. Que
mesmo diante de tantas leis, a escravidão ainda é bastante presente no corpo social brasileiro,
sendo praticada de diversas formas no território nacional, pelo fato de muitas das vezes os
trabalhadores não conheceriam seus direitos.
Conclui-se, então, que a escravidão teve grande influência na conquista do Direito
Trabalhista, que foi através do sofrimento de diversos negros escravizados, que conseguimos
desfrutar de direitos que possuímos na atualidade. As lutas de classes e as revoluções ocorridas
ao redor do mundo, foi outro fator de suma importância para a implantação de diversas leis,
mesmo não sendo praticadas de forma correta no século XIX, por falta de conhecimento da
classe trabalhadora, resultando em uma série de aparatos dentro da Lei para a proteção do direito
trabalhista, com foco em medidas de fiscalização e repreensiva de tais atos de abuso.
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427
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RESUMO
O presente artigo aborda a temática da adoção tardia, que se trata da adoção de crianças acima
dos 3 (três) anos de idade, tendo como objetivo analisar o processo de adoção e os desafios que
o acompanham, tendo em vista que a adoção é um ato delicado e complicado, podendo
aumentar a preocupação quando se trata de uma criança mais velha. Como procedimentos
metodológicos utilizamos pesquisas bibliográfica, documental e de campo, através de uma
abordagem quali-quatantitativa e aplicação do método dedutivo. Diante disso, quais os desafios
enfrentados na adoção tardia? Foi possível observar que os estereótipos negativos gerados
sobre essa temática é o que leva os adotantes a preferência por crianças mais novas. Portanto,
concluímos que todo meio de adoção exige paciência e dedicação no que concerne a adaptação.
Palavras-Chaves: Adoção Tardia. Crianças. Adolescentes. ECA.
ABSTRACT
This article addresses the theme of late adoption, which is the adoption of children over 3 (three)
years of age, aiming to analyze the adoption process and the challenges that accompany it,
considering that adoption is a delicate and complicated act, and may increase concern when it
comes to an older child. As methodological procedures we use bibliographic, documentary and
field research, through a quali-quatantitativa approach and application of the deductive method.
In view of this, what challenges are faced in late adoption? It was possible to observe that the
negative stereotypes generated on this theme is what leads the adores to prefer younger children.
Therefore, we conclude that every means of adoption requires patience and dedication with
regard to adaptation.
Keywords: Late Adoption, Children and Adolescents, ECA.
1 INTRODUÇÃO
1
Graduanda em Direito, pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
Joice_milena@hotmail.com.
2
Graduanda em Direito, pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
naylafernandes3@gmail.com.
3
Doutoranda em Direito, pelo Programa de Pós-Graduação em Direito, da Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Especialista em Educação em Direitos Humanos, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Especialista em Língua Inglesa, pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
Graduada em Letras, com habilitação em Língua Inglesa, e em Direito, pela Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte. Advogada e Professora Universitária do Curso de Graduação em Direito e da Pós-Graduação
em Direito Processual Civil da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
diogenesadvocacia@hotmail.com.
430
A adoção é um ato jurídico por meio do qual um indivíduo é assumido como filho por
um adulto ou casal de forma irrevogável. Tratar a temática da adoção é um ato complexo,
principalmente, se vislumbramos as complexidades envolvidas, levando em consideração o
meio cultural, econômico, psicossocial, político e moral, partindo do preceito de que a maioria
dos casos de adoção vem por meio de um abandono. Diante desse contexto, a adoção de crianças
acima dos 2 (dois) anos de idade se torna um assunto ainda mais complexo (ARNOLD, 2011).
Nesse sentido, a adoção tardia é o termo designado para a adoção de crianças acima dos
3 (três) anos de idade. No entanto, nem sempre a adoção foi tratada com tanto respeito e
delicadeza.
Nas primeiras civilizações, a adoção tinha como objetivo a continuidade do lar, no que
se refere a falta da presença masculina, adotando uma criança ou adulto para dar seguimento a
linhagem familiar ou com o objetivo de conceber filhos aos que não podiam gerar de forma
natural, não havendo, assim, preocupação com o bem-estar do adotado (ARNOLD, 2011).
Em vista disso, observamos as mudanças necessárias para a proteção da criança e do
adolescente no processo de adoção, o que, atualmente é assegurado pelo Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA), a Lei n° 12.010, de 3 de agosto de 2009 e a Lei n° 13.509, de 22 de
novembro de 2017.
Entretanto, ainda com todas as inovações e progressos acerca da adoção, é notável que
o preconceito causado pelos mitos e fantasias no que diz respeito a essa temática ainda estão
presentes na sociedade que se diz humana, mas contribui para o enfraquecimento do instituto
da adoção (ARNOLD, 2011).
Nessa perspectiva, a adoção ainda é cercada de estereótipos negativos, tendo em vista
que apesar de haver legislação disciplinando-a, ainda persiste a ausência de divulgação sobre a
sua importância, bem como sobre o seu processo e responsabilidades.
Assim, essa a ausência de informações acaba gerando mitos e preconceitos sobre o
instituto da adoção (ARNOLD, 2011), principalmente no que concerne a adoção tardia, diante
dos obstáculos enfrentados na adoção de uma criança acima dos 3 (três) anos de idade.
Nesse contexto, o presente artigo objetiva analisar a temática da adoção tardia, com esse
propósito, realizou como procedimentos metodológicos as pesquisas bibliográfica, documental
e de campo, através de uma abordagem quali-quatantitativa e aplicação do método dedutivo.
431
2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
Embora não seja possível definir com previsão quando e onde surgiu a “cultura da
adoção”, sabemos que esta já existe desde a antiguidade na sociedade e acontece em
praticamente todos os povos, o ato de adotar crianças de outras famílias como se seus
naturais, fossem.
Condiz relembrar que nos primórdios da civilização, a adoção tinha como objetivo dar
continuidade ao lar familiar, que não havendo presença masculina nesse meio, adotava um
menino ou adulto para conservar a tradição da família e assegurar filhos aos que não podiam
gerar de forma natural, dessa forma, era visado somente os maiores interesses dos adotantes e
não era pensado no bem-estar e interesse dos adotados (ARNOLD, 2011).
Tendo em vista essa pratica enraizada desde os primórdios, e os melhores interesses das
crianças e adolescentes, se fez necessário uma legislação que pudesse dispor sobre os critérios
da adoção, sendo assim, foi implementado a Lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1990, dispondo a
respeito do Estatuto da Criança e do Adolescente.
432
É nítido que esse instituto tem por objetivo assegurar os direitos das crianças e
adolescentes desemparados, sem família e sem um lar, promovendo, assim, medidas cabíveis
com o fim de amparar e promover uma vida digna aos mesmos (ARNOLD, 2011).
Desse modo, é possível perceber que a adoção visa garantir às crianças e adolescentes
desemparados a formação de um núcleo familiar, levando em consideração o impacto pertinente
que tem no desenvolvimento social e emocional de todo indivíduo, modelando singularmente
a forma de agir e pensar, além do fator ambiental, entendendo que o ambiente que uma criança
se desenvolve pode vir a definir como pessoa (SANTOS, 2022).
Nesse sentido, se faz importante considerar que a estrutura e desenvolvimento
psicossocial de uma criança precede de variados fatores, além do fator genético, atentando para
a convivência social e o ambiente que está inserida, firmando, assim a relevância da infância
como fase primordial para a formação de um indivíduo (SANTOS, 2022).
A Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990, em seu artigo 39, §1º, denomina o instituto da
adoção, como:
Art. 39.
§ 1º A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas
quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente na família
natural ou extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei (BRASIL, 1990).
Além disso, a referida lei estabelece, em seu artigo 19, o direito que toda criança ou
adolescente tem de ser criado no seio de sua família, e excepcionalmente, em família substituta,
garantindo a convivência familiar e comunitária em um ambiente que possa fornecer seu
desenvolvimento integral. Por meio deste dispositivo, as crianças e adolescente obtiveram uma
proteção maior e cuidado mais detalhado com seus interesses.
Ademais, como bem destacaram Maux e Dutra (2010, p. 6) “As leis nacionais anteriores
ao E.C.A privilegiavam os filhos biológicos em detrimento dos adotivos, valorizando o
chamado laço de sangue, dando ao fator biológico um status superior. ”.
Dessa forma, é possível evidenciar uma importante alteração proveniente do ECA, que
em seu artigo 41, dispôs que, in verbis: “A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com
os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais
e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais. ” (BRASIL, 1990).
433
3 O PROCESSO DE ADOÇÃO
4
Informação disponível em: https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/adocao/passo-a-passo-da-adocao/.
Acesso em: 03 ago. 2022.
434
seguinte é uma das mais importantes do procedimento, se tratando de uma avaliação dos
adotantes por equipe técnica multidisciplinar do Poder Judiciário, momento no qual será
averiguado tudo referente a adoção, incluindo o lar familiar e as motivações para realizar o
procedimento, além das informações sobre o perfil da criança que sejam adotar. (CNJ, 2019)
O resultado da avaliação será encaminhado ao Ministério Público e ao juiz da Vara de
Infância, a partir disso, o juiz irá proferir sua decisão, se acolherá ou não o pedido. Se a decisão
proferida por favorável, o nome do interessado será inserido no Sistema Nacional de Adoção e
Acolhimento, entrando, assim na fila. (CNJ, 2019)
A fase seguinte é participação em programa de preparação para adoção, sendo um
requisito também previsto no art. 50, § 3º, do ECA.
Em seguida, o adotante aguarda ser chamado para a apresentação da ficha da criança
e/ou adolescente disponível, devendo manifestar se têm interesse em efetivar a adoção. Em caso
positivo, será realizada uma aproximação de entre adotante e adotado, dando início ao estágio
de convivência monitorado pela Justiça e pela equipe técnica multidisciplinar, em
conformidade com o artigo 46 do ECA.
Finalizado esse processo de estágio, consoante o artigo 19-A do ECA, § 7, o adotante
tem um prazo de quinze dias para propor a ação de adoção contando do dia seguinte à data do
término do estágio de convivência, se a decisão proferida for favorável, conforme o artigo 47,
caput e seu § 1º, será realizado um novo registro de nascimento contendo o sobrenome da
família.
Conforme o ECA, em seu artigo 47, § 10, o prazo para concluir a ação de adoção é de
120 dias e só poderá ser prorrogado uma única vez.
Em contrapartida, o mesmo SNA também mostra os três estados brasileiros com menor
número de crianças disponíveis para adoção, sendo o Acre com o total de 4 (quatro) crianças
disponíveis, Roraima com 6 (seis) e Rondônia com 20 crianças disponíveis para a adoção.
O termo “Adoção Tardia”, em regra, é designado para crianças maiores de três anos de
idade (SAMPAIO, MAGALHÃES, MACHADO,2020). A grande problemática referente à essa
modalidade de adoção, que é pouco comum no Brasil, encontra-se associada a pouca
correspondência das preferências do adotantes com as crianças que estão na fila de espera para
serem adotadas, tendo em vista que os mesmos, em sua maioria, preferem adotar crianças de
até 2 (dois) anos de idade.
É possível reconhecer que adoção, no decorrer dos anos, passou por inúmeros
progressos e inovações imprescindíveis para formar a sociedade mais humanitária, no entanto,
o preconceito no que tange a adoção tardia ainda faz parte das mentes atuais, formado por mitos
e fantasias referentes ao tema, causando ao instituto da adoção uma debilidade e,
consequentemente, retrocedendo no humanitarismo social (ARNOLD, 2011).
Os institutos e legislações pertinentes a adoção representam uma conquista de direitos
para as crianças e adolescentes nesse meio. Todavia, conforme Arnold (2011, p. 6):
Gráfico 01: Crianças e Adolescentes em Processo de Adoção no Brasil, por faixa etária
5
Informação disponível em: <https://paineisanalytics.cnj.jus.br/single/?appid=ccd72056-8999-4434-b913-
f74b5b5b31a2&sheet=d2a446f2-be58-47ef-b0e6-fb35e768c976&lang=pt-
BR&opt=ctxmenu,currsel&select=clearall>. Acesso em: 07 ago. 2022.
436
Dessa forma, em conformidade com Arnold (2011, p. 4) “O fato de não se obter índices
mais altos no ato de adotar crianças com mais de dois anos de idade, revela o quanto a
civilização moderna se encontra mergulhada nos preconceitos mais descabidos e retrógrados”.
Os dados evidenciam que à medida que a idade aumenta, as chances de adoção
diminuem, este fato pode ser comprovado pelos dados de crianças disponíveis para adoção por
faixa etária, também disponibilizados pelo mesmo SNA 6. Atualmente, existem 4.061 (quatro
mil e sessenta e uma) crianças e adolescentes disponíveis para a adoção distribuídas pelas
seguintes faixas etárias, vejamos:
Gráfico 02: Crianças e Adolescentes disponíveis ou vinculados para a adoção, por faixa etária.
6
Informação disponível em: <https://paineisanalytics.cnj.jus.br/single/?appid=ccd72056-8999-4434-b913-
f74b5b5b31a2&sheet=68b8631d-d2f5-4ea1-b05a-b0256c5fb581&lang=pt-
BR&opt=ctxmenu,currsel&select=clearall>. Acesso em: 07 ago. 2022.
437
Aceitar passivamente esses tristes dados seria como dar as costas à realidade,
coroando todos os preconceitos e barreiras que envolvem a problemática da adoção
tardia com a roupagem da inconstitucionalidade por estarem ferindo frontalmente os
princípios da igualdade, da não discriminação e da dignidade a exemplo dos artigos
3º, inciso IV e 5º da Constituição Federal, bem como estaria arruinando com um dos
pilares em que se sustenta o Estado Democrático de Direito fundamentado no artigo
1º, inciso III da Constituição Federal.
Certamente a adaptação de uma criança adotada no início da vida será mais fácil, no
entanto, não é possível dizer que a mesma não terá recordações e lembranças do momento de
abandono e da vida anterior a adoção, considerando, assim, que pode vir a influenciar no
desenvolvimento da vida adulta (SANTOS, 2022).
Ademais, também se encontra disponível no SNA a relação dos pretendentes habilitados
para realizar a adoção, que, atualmente, são 18.925 (dezoito mil, novecentos e vinte e cinco)7,
e suas preferências no tocante à idade do adotado, vejamos:
Gráfico 03: Preferência dos Pretendentes em realizar a Adoção, com relação à faixa etária.
7
Informação disponível em: <https://paineisanalytics.cnj.jus.br/single/?appid=ccd72056-8999-4434-b913-
f74b5b5b31a2&sheet=f6217f68-c638-49eb-9d00-ca8591a16175&lang=pt-
BR&opt=ctxmenu,currsel&select=clearall>. Acesso em: 07 ago. 2022.
438
Assim, diante dos dados, é possível perceber a preferência por crianças mais novas. É
valido ressaltar que por uma criança ser mais velha ou mais nova, não irá tirar a mesma da
realidade de ter sido abandonada, o que pode gerar, independentemente da idade, memorias
armazenadas da vida antes de ser acolhida por sua família adotante.
Nesse contexto, conforme Sampaio, Magalhães e Machado (2020, p. 3):
Nota-se que a discrepância entre a demanda dos adotantes e dos adotados exige uma
desmistificação, no que diz respeito a adoção tardia. (SAMPAIO, MAGALHÃES,
MACHADO,2020)
Nessa perspectiva, consoante Arnold (2011, p. 6):
Gráfico 04: Preferência dos Pretendentes em realizar a Adoção com relação à etnia dos adotandos.
8
Informação disponível em: https://paineisanalytics.cnj.jus.br/single/?appid=ccd72056-8999-4434-b913-
f74b5b5b31a2&sheet=d2a446f2-be58-47ef-b0e6-fb35e768c976&lang=pt-
BR&opt=ctxmenu,currsel&select=clearall. Acesso em: 07 ago. 2022.
440
Conforme os dados acima, nota-se que a preferência predominante com relação a etnia
é indiferente, mas, além disso observa-se o favoritismo por crianças brancas ou pardas e ainda,
a pouco escolha por crianças pretas, amarela ou indígena. Assim, é possível evidenciar o maior
número de escolhas não só por crianças mais novas, como também com relação a cor de pele.
Ademais, o Sistema Nacional de Adoção mostra os dados da preferência de crianças
com ou sem irmãos9:
Gráfico 05: Preferência dos Pretendentes em realizar a Adoção com relação aos adotando possuírem
ou não irmãos.
A partir desses dados, observamos a inclinação pela adoção de crianças sem irmãos ou
com apenas um irmão, levando as crianças possuem irmãos a ficarem mais tempo em abrigos
e lares de adoção.
Ademais, outro dado de relevante conhecimento é a escolha por crianças com ou sem
deficiência, observemos10:
Gráfico 06: Preferência dos Pretendentes em realizar a Adoção com relação aos adotandos com
deficiência.
9
Informação disponível em: <https://paineisanalytics.cnj.jus.br/single/?appid=ccd72056-8999-4434-b913-
f74b5b5b31a2&sheet=d2a446f2-be58-47ef-b0e6-fb35e768c976&lang=pt-
BR&opt=ctxmenu,currsel&select=clearall>. Acesso em: 07 ago. 2022.
10
Informação disponível em: <https://paineisanalytics.cnj.jus.br/single/?appid=ccd72056-8999-4434-b913-
f74b5b5b31a2&sheet=d2a446f2-be58-47ef-b0e6-fb35e768c976&lang=pt-
BR&opt=ctxmenu,currsel&select=clearall>. Acesso em: 07 ago. 2022.
441
Desse modo, com base em todos os dados apresentados, se torna evidente o perfil de
maior escolha entre os adotantes, com relação à faixa etária (criança de até dois anos). À etnia,
sem grupo de irmãos e sem deficiência, evidenciando uma criança idealizada e,
consequentemente, levando as crianças e jovens de perfis menos desejados, a permanência em
lares de adoção e instituições.
Para tanto, é valido ressaltar que o artigo 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente,
garante para às crianças e adolescentes o direito de serem criados no seio de sua família, e,
excepcionalmente, em famílias substitutas, com o objetivo de garantir aos menores um
ambiente saudável para o seu desenvolvimento.
Art. 2º O Poder Público é responsável pela criação de serviço de apoio para garantir
moradia acessível destinada a jovens egressos de instituições que estejam em situação
de vulnerabilidade e risco pessoal e social, que tenham vínculos familiares rompidos
ou extremamente fragilizados, que estejam em processo de desligamento de
instituições de acolhimento, que não tenham possibilidade de retorno à família de
442
origem ou de colocação em família substituta e que não possuam meios para prover o
próprio sustento.
A iniciativa do projeto de lei intitulou os lares de acolhimentos como repúblicas para
jovens, além de fornecer acesso a atividades culturais, esportivas, profissionalizantes e de
aceleração da aprendizagem objetivando o preparo e autonomia, conforme o artigo 8º, § 2º do
Projeto de Lei do Senado Nº 507, de 2018:
Art. 8º [...]
§2º O adolescente em fase de desligamento de unidade de acolhimento e subsequente
transferência para república deve ter acesso a:
I – programas, projetos e serviços nos quais possam desenvolver atividades culturais,
artísticas e esportivas que propiciem a vivência de experiências positivas e
favorecedoras de sua autoestima;
II – programas de aceleração da aprendizagem, para os casos de/grande distorção entre
idade e nível escolar; e
III – cursos profissionalizantes e programas de inserção gradativa no mercado de
trabalho, especialmente com estágios e programas de adolescente aprendiz,
respeitados seus interesses e habilidades.
Acreditamos que reflexões sobre essa temática devam ultrapassar os limites do núcleo
familiar – nos casos de uma família por adoção – percorrendo as discussões e
produções científicas e culturais, possibilitando, assim, a revisão de valores e, quem
sabe, a promoção de mudanças que visem construir uma nova cultura da adoção,
pautada em atitudes como o respeito ao outro e à sua singularidade.
Portanto, toda ação que promove a cultura da adoção, contribui de forma significativa
para a desmistificação do instituto, levando a prevenção e solução do abandono de crianças e
adolescentes (ARNOLD, 2011). Assim, objetivando a redução, e consequente, a extinção dos
estereótipos negativos gerados acerca da adoção, entende-se que toda forma que tenha
11
Informação disponível em: <https://www.angaad.org.br/portal/>. Acesso em: 02 ago. 2022.
444
oportunidade de lugar fala sobre a temática se torna imprescindível para seu processo de
desmitificação.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio das pesquisas realizadas, podemos perceber que a maioria das crianças
disponíveis para adoção possuem mais de 3 (três) anos de idade, dessa forma, a adoção tardia
seria a única alternativa para que eles venham a ter uma família. Porém, o perfil procurado nem
sempre corresponde ao que está disponível, tendo como consequência a permanência das
crianças em lares e instituições de acolhimento. Nesse sentido, entendemos ser necessário o
desenvolvimento de ações, especial pelo Poder Público, que possibilitem uma reflexão acerca
das escolhas dos adotantes, principalmente, no que concerne a adoção tardia (SAMPAIO,
MAGALHÃES, MACHADO, 2020).
Portanto, para atingir bons resultado referentes a adoção tardia é necessário trabalhar a
mente humana com a finalidade de informar e educar por meio de uma equipe de profissionais
especializados, tirando dúvidas referentes ao tema com a finalidade de derrubar os estereótipos
negativos, como também, por meio de palestras e eventos promovidos no qual algumas pessoas
que realizaram a adoção tardia poderiam relatar suas experiências (ARNOLD, 2011).
Assim, com base no que foi apresentado, é passível de conclusão o pouco lugar de fala
no que diz respeito a adoção de crianças acima dos 03 (três) anos de idade, tendo em vista que
a temática ainda precede de uma preconcepção distanciada da realidade em si, sendo relevante,
a compreensão da importância do núcleo familiar para as crianças classificadas na adoção
tardia, da mesma forma, que tem para os mais novos.
Portanto, entende-se a adoção tardia uma temática precedida de muitos preconceitos
gerados em meio a uma sociedade que não abre lugar de fala para o assunto, e obtendo como
consequência, fatores negativos para jovens que tem a necessidade de crescer em um núcleo
familiar e não a oportunidade.
REFERÊNCIAS
ARNOLD, Clarice Paim. Adoção tardia: do estigma à solidariedade. Revista Amicus Curiae,
V. 5, N. 5, p. 1-9, 2011. Disponível em: https://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-
445
BR&as_sdt=0%2C5&as_vis=1&q=Ado%C3%A7%C3%A3o+tardia%3A+do+estigma+%C3
%A0+solidariedade&btnG=. Acesso em: 13 jul. 2022.
BRASIL. Projeto de Lei do Senado Federal. Brasília, DF, 2018.Acesso em: 28/07/2022
BRASIL. Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990 Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente e dá outras providências. Brasília, DF, 13 de julho de 1990. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 07 jul. 2022
MAUX, Ana Andréa Barbosa. DUTRA, Elza. A adoção no Brasil: algumas reflexões.
Estudos e Pesquisas em Psicologia, UERJ, RJ, p. 1-17, 2010. Disponível em:
http://www.revispsi.uerj.br/v10n2/artigos/pdf/v10n2a05.pdf. Acesso em: 28 jul. 2022.
SANTOS, Raimundo. Adoção tardia no Brasil. Conteúdo Jurídico, N. 2, p. 1-6, Junho, 2022.
Disponível em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/58675/adoo-tardia-no-brasil.
Acesso em: 28 jul. 2022.
446
RESUMO
Nos últimos anos os órgãos de Segurança Pública estão sistematizando as informações de forma
padronizada, o que contribui para formação da Base Nacional de Estatísticas Criminais, a qual
está sob a responsabilidade da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP). Essa base
de dados é fornecida para elaboração do Atlas da violência, que é uma análise criteriosa do
comportamento da violência nos Estados brasileiros, possibilitando a comparação entre níveis
de violência nos diversos estados e a criação de indicadores para o diagnóstico, de padrões
criminais no país, de forma que favoreça a formulação de políticas de segurança pública
nacional e local. Diante do crescimento e da gravidade do crime de estupro em especial em
relação aos vulneráveis, o objetivo do estudo foi analisar as estatísticas do crime de estupro
registrados no Brasil, com foco no Rio Grande do Norte e Mossoró. A pesquisa foi feita a partir
de material já publicado, constituído principalmente de: livros, revistas, publicações em
periódicos e artigos científicos, jornais, boletins, monografias, dissertações, teses, material
cartográfico, internet e informações fornecidas pelos órgãos oficiais de Segurança Pública. No
Brasil constatou-se recorde etário infantil das vítimas, 60,6% tinham no máximo 13 anos
quando sofreram violência. O que gera um desafio tanto em relação à responsabilização do
autor, como em relação à proteção da vítima. Entende-se ser importante garantir a crianças e
adolescentes o acesso à informação, para que conheçam seus direitos, saibam identificar
diferentes formas de violência para se proteger e pedir ajuda.
Palavras-chave: Crime contra liberdade sexual, violência, estupro, vulnerável.
ABSTRACT
In recent years, Public Security agencies are systematizing information in a standardized way,
which contributes to the formation of the National Criminal Statistics Base, which is under the
responsibility of the National Public Security Secretariat (SENASP). This database is provided
for the elaboration of the Atlas of Violence, which is a careful analysis of the behavior of
violence in Brazilian states, enabling the comparison between levels of violence in the different
states and the creation of indicators for the diagnosis of criminal patterns in the country in a
way that favors the formulation of national and local public security policies. In view of the
growth and severity of the crime of rape, especially in relation to the vulnerable, the objective
of the study was to analyze the statistics of the crime of rape registered in Brazil, with a focus
1
Mestre em Manejo de Solo e Água (UFERSA)/ Discente da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-
mail: rosana.queiroz@catolicadorn.com.br.
2
Doutora em Ciência Animal (UFERSA). Discente da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
manuella.linhares@aluno.catolicadorn.com.br.
3
Doutor em Estudos da Linguagem (UFRN)/ Professor da Faculdade Católica do Rio Grande Norte. E-mail:
cidaugusto@gmail.com
447
on Rio Grande do Norte and Mossoró. The research was based on previously published
material, consisting mainly of: books, magazines, publications in periodicals and scientific
articles, newspapers, newsletters, monographs, dissertations, theses, cartographic material,
internet and information provided by official Public Security agencies. In Brazil, there was a
record child age of victims, 60.6% were at most 13 years old when they suffered violence. This
creates a challenge both in relation to the accountability of the author and in relation to the
protection of the victim. It is understood that it is important to guarantee children and
adolescents access to information, so that they know their rights, know how to identify different
forms of violence to protect themselves and ask for help.
Keywords: Crime against sexual freedom, violence, rape, vulnerable.
1 INTRODUÇÃO
O Código Penal do Brasil em seu Título VI, trata dos Crimes Contra a Dignidade Sexual,
o qual teve sua Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009. Conforme Nucci et all (2010) a nova
legislação se preocupou, principalmente, com o respeito à dignidade da pessoa humana, pilar
do Estado Democrático de Direito, pois não há dúvidas sobre a intensidade da violação que as
vítimas dessa espécie de infração sofrem, observando-se a tentativa de combate às diversas
espécies de violência sexual, não reguladas de forma eficaz pela legislação anterior.
Nos últimos anos os órgãos de Segurança Pública estão sistematizando as informações
de forma padronizada, o que contribui para formação de uma base analítica de dados, a Base
Nacional de Estatísticas Criminais, a qual está sob a responsabilidade da Secretaria Nacional
de Segurança Pública (SENASP). Essa base de dados é fornecida para elaboração do Atlas da
violência, que é uma análise criteriosa do comportamento da violência nos Estados brasileiros,
possibilitando a comparação entre níveis de violência nos diversos estados e a criação de
indicadores para o diagnóstico, de padrões criminais no país, de forma que favoreça a
formulação de políticas de segurança pública nacional e local. No entanto a garantia da
efetivação desse trabalho depende do compromisso de cada Estado fornecer as informações
com fidelidade e de acordo com o padrão estabelecido.
Conforme CERQUEIRA (2021), 18 UFs tiveram um aumento nos registros de estupros
de mulheres em relação ao ano anterior. Os maiores destaques são os estados da Paraíba
(111,3%), Maranhão (46,3%), Alagoas (23,5%), Piauí (19,3%), Sergipe (19%) e Rio Grande
do Norte (16,9%), cujos registros superaram, em 2021, o patamar anterior à pandemia.
Em relação a violência contra criança e adolescente, segundo o Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (2021) dos 129.844 registros compilados em 12 Unidades da Federação com
448
vítimas de 0 a 17 anos, 56,6% são de estupro, com 73.442 casos identificados. A faixa etária
mais atingida por esse tipo de crime é a de 10 a 14 anos.
Diante do crescimento e da gravidade do crime de estupro em especial em
relação aos vulneráveis, o objetivo do estudo foi analisar as estatísticas do crime de estupro
registrados no Brasil, com foco no Rio Grande do Norte.
2 DA VIOLÊNCIA SEXUAL
são crimes cerceados por ambientes de coerção e intimidação, seja da relação da vítima com o
agressor ou do momento da comunicação do fato às autoridades policiais, quando a vergonha
e o medo podem ser obstáculos. Tal cenário suscita uma reflexão a respeito das condições de
possibilidade das vítimas de dizerem não a seus algozes, de modo que o consentimento não
pode ser tomado como uma ação passiva (LEITE, LIMA e CAMARGO, 2020).
3 METODOLOGIA
Mossoró possui uma rede de enfretamento à violência que é formada pelas seguintes
instituições:
a. Centro de Referência da Mulher,
b. Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS 4),
c. Unidades Básicas de Saúde (UBS) preparadas para identificação e atendimento das
vítimas de violência doméstica,
d. Polícia Civil (com a Delegacia de Atendimento à Mulher – DEAM),
e. Casa de Acolhimento Anatália de Melo Alves (AMA),
f. Projeto Olhar (CREAS) - Conjunto de procedimentos técnicos especializados para
atendimento às crianças e adolescentes vítimas de exploração, abuso e violência sexual e
suas famílias.
g. Defensoria Pública (DPE/RN) - Juizado Especial de Violência Doméstica e Familiar
contra a mulher da comarca de Mossoró-RN (atua na formação de grupos reflexivos com
homens autores de violência dentro do âmbito judicial),
h. Patrulha Maria da Penha - sob a responsabilidade e autoria da Guarda Municipal de
Mossoró, é a mais recente política implantada no município - A equipe da Patrulha está
composta por 38 guardas municipais, sendo 18 mulheres e 18 homens, que atuam
especificamente com vítimas de violência doméstica.
i. Projeto Flor de Lótus - Centro de Referência e Atendimento para Crianças e Adolescentes
Vítimas de Violência Sexual, no Hospital Maternidade Almeida Castro, implantado em
Mossoró/RN em junho de 2021. É uma iniciativa que tem parceria do Ministério Público
Estadual, UERN e Associação de Assistência e Proteção à Maternidade e à Infância de
Mossoró (Apamim). Os exames de corpo delito, laudos psiquiátricos, todos são realizados
na maternidade, para que vítima não tenha que passar pelo constrangimento de ir ao ITEP,
a Delegacia, ao Ministério Público, enfim, para que não fique peregrinando por justiça.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4
O CREAS trabalha com pessoas em que o risco já se instalou, tendo seus direitos violados, sendo
vítimas de violência física, psíquica e sexual, negligência, abandono, ameaças, maus tratos e discriminações
sociais.
452
Fonte: Secretarias Estaduais de Segurança Pública e/ou Defesa Social; Coordenadoria de Informações
Estatísticas e Análises Criminais - COINE/RN; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE);
Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
A análise do perfil racial das vítimas indica que 50,7% são negras, 48,7% brancas, 0,3%
amarelas e 0,3% indígenas. Os crimes de estupro e estupro de vulnerável são dos poucos delitos
onde não se verifica grande diferença na vitimização entre negros e brancos.
b) Estupro de LGBTQ+5
Os dados oficiais do Anuário de segurança Pública (2021) expressam aumento nos
registros de lesão corporal dolosa (20,9%), homicídio (24,7%) e estupro (20,5%) de LGBTQI+,
5
LGBTQI+ é o acrônimo para lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, travestis e intersexuais
453
Gráfico 02: Distribuição dos crimes de estupro e estupro de vulnerável - Brasil (2020)
Fonte: Análise produzida a partir dos microdados dos registros policiais e das Secretarias estaduais de
Segurança Pública e/ou Defesa Social. Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2020.
Gráfico 03: Vítimas de estupro e estupro de vulnerável, por faixa etária - Brasil (2020).
Fonte: Análise produzida a partir dos microdados dos registros policiais e das Secretarias estaduais de
Segurança Pública e/ou Defesa Social. Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2020.
A grande maioria das vítimas de violência sexual é menina – quase 80% do total. Para
elas, um número muito alto dos casos envolve vítimas entre 10 e 14 anos de idade, sendo 13
anos a idade mais frequente.
Para os meninos, os casos de violência sexual concentram-se especialmente entre 3 e 9
anos de idade. A subnotificação já característica parece ser um problema ainda maior em
relação a meninos, e alguns estudos sugerem que essa característica está ligada aos imaginários
de virilidade e iniciação sexual da sociedade em relação aos homens, e não como violência
455
(Rosa, 2020). Diante do exposto, constata-se que a possibilidade da subnotificação ser ainda
maior em homens adultos, onde as expectativas sociais sobre masculinidades pesam ainda mais.
A maioria dos casos de violência sexual ocorre na residência da vítima e, para os casos
em que há informações sobre a autoria dos crimes, 86% dos autores eram conhecidos das
vítimas.
Gráfico 04: Registros de Estupro e estupro de vulnerável em delegacias da Polícia Civil por
mês. Brasil, 2020.
Fonte: Secretarias Estaduais de Segurança Pública e/ou Defesa Social; Fórum Brasileiro de Segurança
Pública.
Embora o gráfico apresente alguma redução nos registros policiais, nos meses de março,
abril e maio, CERQUEIRA (2021) considera que apesar da redução verificada, o número de
Medidas Protetivas de Urgência concedidas cresceu, passando de 281.941 em 2019 para
294.440 em 2020, crescimento de 4,4% no total de MPU concedidas pelos Tribunais de Justiça.
Neste contexto, ainda é cedo para avaliar se estamos diante da redução dos níveis de
violência doméstica e sexual ou se a queda seria apenas dos registros em um período em que a
pandemia começava a se espalhar, as medidas de isolamento social foram mais respeitadas pela
população e muitos serviços públicos estavam ainda se adequando para garantir o atendimento
não-presencial (Cerqueira, 2021).
Fonte: Secretarias Estaduais de Segurança Pública e/ou Defesa Social; Fórum Brasileiro de Segurança
Pública.
Gráfico 06: Estupro e estupro de vulnerável, por dia da ocorrência - Brasil (2020).
Fonte: Análise produzida a partir dos microdados dos registros policiais e das Secretarias estaduais de
Segurança Pública e/ou Defesa Social. Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2020.
457
Quanto mais nova a criança, maiores são as chances de elas serem estupradas nas suas
próprias residências, o Gráfico 07 mostra que pelo menos 50% dos estupros, em todas as faixas
etárias, acontecem nas residências das próprias vítimas. Conforme as idades das vítimas
aumentam, cresce a proporção de crimes que ocorrem em espaços públicos e locais privados.
E independente de faixa etária, em 83% dos casos de estupro de 0 a 19, os agressores são
pessoas conhecidas da vítima.
Gráfico 07: Distribuição dos crimes de estupro contra crianças e adolescentes, por faixa etária
e tipo de local do crime - Brasil (2020).
Fonte: Análise produzida a partir dos microdados dos registros policiais e das Secretarias estaduais de
Segurança Pública e/ou Defesa Social. Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2020.
Fontes: 1. Brasil. Secretaria Nacional de Segurança Pública. 2. Anuário Brasileiro de Segurança Pública
2021.
Fontes: 1. Brasil. Secretaria Nacional de Segurança Pública. 2. Anuário Brasileiro de Segurança Pública
2021.
6
Tabela 2.6.1.2 - Registros de estupro e tentativa de estupro, segundo as Unidades da Federação - 2019-2020.
459
De acordo com as últimas estatísticas da Polícia Civil do Rio Grande do Norte, Mossoró
apresentou um número de denúncias maior em relação ao estupro de vulnerável em relação ao
Estupro. Verifica-se também um aumento significativo nos registros ocorridos até o mês de
maio de 2022, considerando que o número de estupro de vulnerável teve um aumento de 67%
em apenas 5 meses.
Não foi constatada denúncia de estupro de vulnerável (vítima com enfermidade ou
deficiência mental) em Mossoró, embora o Rio Grande do Norte tenha registrado 8 casos no
ano de 2021 e um aumento significativo de casos em 2022, chegando a 11 casos registrados em
apenas 5 meses do ano.
7
LGBTQI+ é o acrônimo para lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, travestis e intersexuais
460
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
8
http://www.policiacivil.rn.gov.br/Conteudo.asp?TRAN=ITEM&TARG=5517&ACT=&PAGE=0&PARM=&L
BL=Documentos. Acesso em junho 2022.
461
REFERÊNCIAS
BENEVIDES, Bruna G.; NOGUEIRA, Sayonara Naider Bonfim (Orgs). Dossiê dos
assassinatos e da violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2020. São Paulo:
Expressão Popular, ANTRA, IBTE, 2021
CERQUEIRA, D.; BUENO, S. (Coord.). Atlas da violência 2020. Brasília: Ipea; FBSP,
2020.
CERQUEIRA, D.; BUENO, S. Atlas da Violência 2021 / Daniel Cerqueira et al., — São
Paulo: FBSP, 2021.
NEVES, Anamaria Silva et al. Abuso sexual contra a criança e o adolescente: reflexões
interdisciplinares. Temas psicol., Ribeirão Preto, v. 18, n. 1, p. 99-111, 2010.
NUCCI, Guilherme de Souza; ALVES, Jamil Chaim ; BARONE, Rafael ; BURRI, Juliana;
CUNHA, Patrícia ; ZANON, Raphael . O crime de estupro sob o prisma da Lei
462
12.015/2009 (arts. 213 e 217-A do CP). Revista dos Tribunais (São Paulo. Impresso), v. 902,
p. 395-422, 2010.
SOUZA et al. Aspectos psicológicos de mulheres que sofrem violência sexual. Reprodução
& Climatério Volume 27, Issue 3, September–December 2012, Pages 98-103.
VILELLA, Wilza V., Lago, Tânia Villela. Conquistas e desafios no atendimento das
mulheres que sofreram violência sexual. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(2):471-
475, fev, 2007.
RESUMO
ABSTRACT
An educational tool for the participation of a citizen in the social context guaranteed by
the Federal Constitution becomes dormant when not practiced, trivialized, as well as
neglected. However, integral education, constitutionally in article 205 “[...] as a ri/.ght of
society and a duty of the State and the family, will be possible and encouraged with a
collaboration of society of all [...]”; But for the existence of a necessary co-responsibility for
the participation of a critical and active citizen, aware of their important role in the democratic,
so as not to put themselves at risk conquered by the past. In the direction of rights, the
exploration of didactic and informative material from the school trajectory and in collective
coexistence will be essential in order to stimulate a social participation of the individual. In this
matter, the objective of the National Program of Fiscal Education (NPFE) is to be an instrument
of humanresources awareness for the explictiation of applicability and transparency in public
relations of a satisfactory public gestion. Demystifying concepts and rules to demand social
welfare, improving the social protection system of the welfare state.
Keywords: Fiscal Education; Democracy; social context.
1 INTRODUÇÃO
1
Acadêmica de Direito na Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. Email:
maria.silva@aluno.catolicadorn.com.br
2
Mestranda em Direito na Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Email: felucena20@hotmail.com
464
2 AMPARO LEGAL
3
Educação fiscal no contexto social / Programa Nacional de Educação Fiscal- PNEF.Caderno 1. Brasília: ESAF,
2014, 5ºed, p.10
4
"Constituição da República Federativa do Brasil", Artigo 205 - A educação, direito de todos e dever do Estado
e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento
da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. ”
466
cidadania e sua qualificação para o trabalho. Porém, como explicar o índice de analfabetismo
brasileiro e a evasão escolar diante da Lei Maior e do projeto das Políticas Públicas?
Ainda que na Constituição Federal, artigo 206, VII5 mencione uma garantia de padrão
dequalidade, necessário se faz comprovar em todas as regiões deste imenso Brasil o resultado
total satisfatório, pois há onde exista uma estrutura escolar inadequada ou a falta do básico
material didático.
Portanto não basta a existência de leis, mas a essencialidade da prática acompanhar a
evolução do tempo, como defende Flávia Piovesan ao ponderar o sucesso da atuação do Estado
e de suas instituições, no que tange à consolidação da cidadania, que está absolutamente
condicionado à tarefa de repensar e reimaginar a atuação estatal, sob uma nova lógica e
referência. Essa referência é a concepção inovadora de cidadania. Entretanto não poderá o Poder
negar a responsabilidade da preparação de um cidadão diante das transformações do seu meio.
O Estado perante a iniciativa de uma formação cidadã, motivando a participação da
sociedade no início da década de 1990 desenvolveu um projeto composto por cartilhas e vídeo
que foi decidido em uma reunião do Confaz no ano de 1996. Este Programa Nacional de
Educação Tributária iniciou o trabalho nas escolas com este material pedagógico na tentativa
deinteragir socialmente desde o ensino escolar para uma conscientização tributária.
Assim também fez se a abordagem com este material didático direcionada para uma
conscientização da contribuição fiscal, pois de acordo com o art.3º6 do Código Tributário
Nacional6ao conceituar o tributo como toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou
cujo valor nela se possa exprimir, no interesse de arrecadar recursos para os cofres públicos,
para que possa ser redistribuído em benefício de um bem-estar social quando justamente
utilizado.
A gestão dos recursos públicos arrecadados continua sendo causa de entrave na
distribuição proporcional de uma eficiente aplicabilidade na educação, saúde, emprego e renda
satisfatória para uma vivência digna. Empenhando em ser um instrumento de conscientização,
fiscalização e cobrança da ação do Estado, visto o fortalecimento de uma democracia
participativa que o projeto da educação fiscal foi pensado, a fim de proporcionar um exercício
efetivo da cidadania.
5
PIOVESAN, flávia. TEMAS DE DIREITOS HUMANOS. 10º ed. São Paulo, Saraiva, 2017, p.578
6
CTN. Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir,
que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente
vinculada.
467
7
Educação fiscal no contexto social / Programa Nacional de Educação Fiscal- PNEF.Caderno 1. Brasília: ESAF,
2014, 5ºed, p.3
468
8
Art. 1º Esta Lei regula os direitos autorais, entendendo-se sob esta denominação os direitos de autor e os que
lhessão conexos. Art. 5º Para os efeitos desta Lei, considera-se: I - publicação - o oferecimento de obra
literária, artística ou científica ao conhecimento do público, com o consentimento do autor, ou de qualquer
outro titular de direito de autor, por qualquer forma ou processo; II - transmissão ou emissão - a difusão de
sons ou de sons e imagens, por meio de ondas radioelétricas; sinais de satélite; fio, cabo ou outro condutor;
meios óticos ou qualquer outro processo eletromagnético; III - retransmissão - a emissão simultânea da
transmissão de uma empresa por outra; IV - distribuição - a colocação à disposição do público do original ou
cópia de obras literárias, artísticas ou científicas, interpretações ou execuções fixadas e fonogramas, mediante
a venda, locação ou qualquer outra forma de transferência de propriedade ou posse;V - comunicação ao
público - ato mediante o qual a obra é colocada ao alcance do público, por qualquer meio ou procedimento e
que não consista na distribuição de exemplares; VI - reprodução - a cópia de um ou vários exemplares de uma
obra literária, artísticaou científica ou de um fonograma, de qualquer forma tangível, incluindo qualquer
armazenamento permanente ou temporário por meios eletrônicos ou qualquer outro meio de fixação que
venha a ser desenvolvido; VII - contrafação - a reprodução não autorizada;
9
Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer
acessório, mediante as seguintes condutas: I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades
fazendárias; II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer
469
natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal; III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata,
nota de venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável; IV - elaborar, distribuir, fornecer,
emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ouinexato; V - negar ou deixar de fornecer, quando
obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa a venda de mercadoria ou prestação de serviço,
efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação.
470
Os órgãos que estão envolvidos na operacionalização das metas fazem parte do Grupo
de Trabalho de Educação Fiscal (GET), para acompanhar e colocar em prática as diretrizes do
programa, interagindo no exercício da cidadania para uma aplicação de um controle da
fiscalização, são eles: Ministério da Educação, Ministério da Fazenda, Secretaria do Tesouro
Nacional, Escola de Administração Fazendária, Secretarias Estaduais de Educação e Fazenda.
Participando também órgãos voluntários que ajudam a promover a realização do projeto e a
10
Educação fiscal no contexto social / Programa Nacional de Educação Fiscal- PNEF.Caderno 1. Brasília:
ESAF, 2014, 5ºed, p.42
471
11
ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário esquematizado. 8a ed. São Paulo: Método, 2014.
12
CTN, Art. 5º Os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria
13
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 29ª ed. São Paulo.p.62
472
14
Art. 153.CF: Compete à União instituir impostos sobre:
I –Importação de produtos estrangeiros;
II -exportação para o exterior, de produtos nacionais ou
nacionalizados; III - renda e proventos de qualquer
natureza;
IV -produtos industrializados;
V -operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou
valores mobiliários;VI -propriedade territorial rural;
VII -grandes fortunas, nos termos de lei complementar.
15
Art.155. CF: Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)
I - Transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 3, de1993)
II - Operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual
e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; (Redação
dada pela EmendaConstitucional nº 3, de 1993)
III - propriedade de veículos automotores.
16
Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:
I - Propriedade predial e territorial urbana;
II - Transmissão "intervivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física,
e de direitosreais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição;
III - vendas a varejo de combustíveis líquidos e gasosos,
exceto óleo diesel; (Revogado)
III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar.
(Redação dada pelaEmenda Constitucional nº 3, de 1993)
IV - Serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, I, b, definidos em lei complementar.
473
A função dos tributos serem fiscais, extrafiscais e para fiscais por serem dotados de
finalidade fiscal em arrecadar os recursos de acordo com o seu objetivo como instrumento de
transferência de recursos financeiro. A função extrafiscal quando regula a atividade de um
particular e a para fiscal para a questão de ordem social sem existir a necessidade de arrecadação
monetária.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
17
Educação fiscal no contexto social / Programa Nacional de Educação Fiscal- PNEF.Caderno 1. Brasília:
ESAF, 2014, 5ºed, p.8
474
REFERÊNCIAS
ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário esquematizado. 8a ed. São Paulo: Método, 2014
Brasília: Congresso Nacional. Disponível em www.planalto.gov.br. Acesso em 15 de Abril
de2016. BRASIL.
PIOVESAN, flávia. TEMAS DE DIREITOS HUMANOS. 10º ed. São Paulo, Saraiva,
2017,p.562
476
RESUMO
A Lei de Execução Penal (LEP), Lei nº 7.210 de 1984, é um dos diplomas normativos
responsáveis por disciplinar a aplicação da pena no Brasil, objetivando proporcionar condições
para a harmônica integração social do condenado e do internado. Em seu Capítulo II, a LEP
positiva as assistências que devem ser ofertadas pelo Estado ao preso e ao internado, com o
intuito de prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade. O artigo analisa
como as assistências previstas na LEP estão materializando-se nas quatro unidades carcerárias
do município de Mossoró/RN, a partir das visitas técnicas à estas, proporcionadas pelo Projeto
Integra I da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte, utilizando-se, para tanto, do método
dedutivo, de pesquisa bibliográfica a respeito da temática estudada e da coleta de dados oficiais
fornecidos pelas unidades, bem como observados durante as visitas. Por fim, constata-se que,
embora as assistências previstas na LEP sejam de algum modo materializadas, estas ainda
acontecem de forma precária, reforçando o descaso estatal e o estigma para com os apenados.
Palavras-Chave: Lei de Execução Penal. Assistências. Sistema carcerário. Execução Penal no
Rio Grande do Norte.
ABSTRACT
1
Graduando do 6º período do curso de Direito da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN) –
Mossoró/RN. E-mail: doliveiravictor19@gmail.com.
2
Professora do curso de Direito da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN) – Mossoró/RN.
Advogada e sócia do Escritório Cabral & Cabral Advogados Associados. Doutoranda em Direito Constitucional
pela Universidade de Fortaleza. Mestre em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte (2019). Pós-graduada em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Anhanguera-Uniderp (2011) e
em Direito Constitucional pela Faculdade IBMEC São Paulo (2021). Graduada em Direito pela Faculdade de
Ciências e Tecnologia Mater Christi (2008). E-mail: danielaclg@hotmail.com.
477
The Penal Execution Law (LEP), Law nº 7.210 of 1984, is one of the normative diplomas
responsible for disciplining the application of the sentence in Brazil, aiming to provide
conditions for the harmonious social integration of the convict and the interned. In its Chapter
II, the LEP affirms the assistance that must be offered by the State to the prisoner and the
interned, in order to prevent crime and guide the return to coexistence in society. The article
analyzes how the assistance provided for in the LEP is materializing in the four prison units in
the municipality of Mossoró/RN, from the technical visits to these, provided by the Integra I
Project of the Catholic Faculty of Rio Grande do Norte, using, for that, the deductive method,
bibliographic research about the studied theme and the collection of official data provided by
the units, as well as observed during the visits. Finally, it appears that, although the assistance
provided for in the LEP is somehow materialized, it still happens in a precarious way,
reinforcing the state's neglect and stigma towards the inmates.
Keywords: Penal Execution Law. Assists. Prison system. Criminal Execution in Rio Grande
do Norte.
1 INTRODUÇÃO
O sistema prisional brasileiro tem uma historicidade marcada por um profundo descaso
das ações estatais, por constantes e polêmicas crises e por um preconceito, fruto desses fatores
e das ações midiáticas.
Mesmo a Constituição Federal de 1988 sendo responsável por inaugurar não só um
processo de redemocratização no Brasil, como também, uma nova ordem jurídica no país,
pautada no Estado Democrático de Direito e, sobretudo, no seu maior fundamento e princípio:
a dignidade da pessoa humana, ainda há uma densa discussão a respeito das pessoas privadas
de liberdade, que, muitas vezes, são desumanizadas e, por isso, não são consideradas como
sujeitos de direitos.
Essa perspectiva implica no funcionamento dos sistemas penitenciários, principalmente,
no que diz respeito ao tratamento dado aos internos. Dentro do viés legal, temos não só a Magna
Carta assegurando direitos sociais e fundamentais para toda e qualquer pessoa humana, sem
distinção, como também, a Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, conhecida como “Lei de
Execução Penal (LEP) ”, que assegura logo em seu terceiro artigo, aos condenados e internados,
todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei. Assim, a LEP tem por objetivo,
478
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Nesse sentido, em outros momentos, como a Idade Média, em consonância com o que
Magnabosco leciona, a pena apresentava caráter desproporcional ao crime cometido e não se
pensava em reeducação, a intenção era a vingança e a punição.
Diante desse cenário, surgiu a preocupação em se buscar um sistema punitivo que se
insurgisse contra a vingança, a crueldade e a desproporcionalidade. Cesare Beccaria, em Dos
delitos e das penas, sua pioneira e renomada obra quando o assunto é o sistema punitivo, já se
questionava a respeito do sistema que era aplicado e defendia mudanças neste:
Contudo, qual a origem das penas, e em que se funda o direito de punir? Quais as
punições que se devem aplicar aos diferentes crimes? A pena de morte será
verdadeiramente útil, necessária, imprescindível para a segurança e a estabilidade
social? Serão justos os tormentos e as torturas? Levarão ao fim proposto pelas leis?
Quais são os meios mais apropriados para prevenir os delitos? As mesmas penas serão
igualmente úteis em todas as épocas? Qual a influência que exercem sobre os
costumes? (BECCARIA, 2011, p. 20-21).
Como visto alhures, nem sempre as penas foram aplicadas da forma como são hoje.
Com o avanço da sociedade, buscou-se formas mais humanizadas e eficazes de aplicação da
pena, acarretando a criação, de alguns dispositivos que regulamentam tal aplicação.
Existem diversos diplomas legais que regulamentam as garantias legais previstas na
execução da pena, assim como os direitos humanos dos presos. À nível mundial, por exemplo,
existem a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Resolução da ONU que prevê as
481
Para que a pena cumpra seu caráter ressocializador, é de suma importância a assistência
destinada ao apenado. Nesse sentido, Brito (2020, p. 164) disserta:
Faz-se mister abordar cada uma das assistências previstas na Lei de Execução Penal.
3
As Regras Mínimas para Tratamento do Preso no Brasil preveem que o tratamento dispensado às pessoas que
cumprem pena privativa de liberdade deve ser realizado em condições que permitam a justa reparação do delito
cometido sem prejuízo da integridade física, mental e social do apenado, cabendo ao Estado o dever de
desenvolver, no ambiente prisional, as estruturas físicas e humanas necessárias ao cumprimento da pena
(CARDOSO, 2009, p. 109).
482
O art. 21-A da LEP, ainda sobre a assistência educacional, positiva algumas informações
que o censo penitenciário deve apurar sobre referida assistência e seus desdobramentos.
A assistência social, prevista no art. 10, V, e nos arts. 22 e 23, I – VII, é mais uma
modalidade de assistência que, se aplicada corretamente, fortalece as relações entre o
condenado e a sociedade, promovendo uma melhor reinserção e inclusão na sociedade:
Art. 22. A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e
prepará-los para o retorno à liberdade.
Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social:
I - conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames;
II - relatar, por escrito, ao Diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades
enfrentadas pelo assistido;
III - acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas temporárias;
IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação;
V - promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do
liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade;
VI - providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da Previdência Social e
do seguro por acidente no trabalho;
VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e da
vítima (BRASIL, 1984).
A assistência religiosa, conforme art. 24, §§ 1º e 2º da LEP, é prestada aos presos e aos
internados, garantindo-lhes, primeiramente, a liberdade de culto, e permitindo-lhes a
participação nos serviços organizados no estabelecimento penal, bem como a posse de livros
de instrução religiosa (BRASIL, 1984).
Por fim, a assistência ao egresso está positivada nos artigos 25, 26 e 27 da LEP, ad
litteram:
muito necessária, uma vez que, existem muitos estigmas para com pessoas que foram presas,
dificultando a inserção no mercado de trabalho e em outras instâncias da vida pessoal.
Pelo exposto, é possível notar que a Lei de Execução Penal acompanha o progresso do
sistema punitivo, preocupando-se com a dignidade do condenado, bem como, com o caráter
ressocializador da pena. Porém, na prática não é bem assim que funciona.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A primeira visita técnica foi realizada nas instalações do Presídio Federal do município
de Mossoró/RN, ocorrendo no dia 18 de outubro de 2021, no período matutino, das 09h00min
às 13h00min. Toda a visita foi acompanhada e guiada pelo Chefe de Segurança da unidade,
pelo Diretor da unidade e por um Policial Penal
Ao chegar no terreno ao redor do Presídio Federal, já foi possível perceber um sistema
de monitoramento bastante seguro e eficaz. Antes de adentrar às instalações da unidade, de fato,
passa-se por uma “guarita”, onde são conferidas as identidades, recolhidos os objetos e feita
uma primeira inspeção por detectores de metais.
Há uma série de requisitos quanto às cores, modelos e composição das vestimentas para
adentrar ao local e é proibido portar qualquer objeto, com exceção do documento de
identificação com foto ou alguma declaração de aparelho ortodôntico.
Após esse primeiro momento, as pessoas que estavam guiando a visita direcionaram-se
ao auditório da unidade para uma breve explanação a respeito do funcionamento do Presídio
Federal e a forma como se dava a materialização das assistências previstas na Lei de Execução
Penal.
O presídio abriga presos de alta periculosidade, todos do gênero masculino, e é
composto por 218 celas, divididas em 4 pavilhões, geralmente, separados por facções, para
evitar contatos de presos que possam ter algumas inimizades e, assim, evitar conflitos. Os
presos não têm mais direito a visitas, sejam elas sociais, sejam íntimas, e, portanto, não recebem
nada externo. Tudo é fornecido pelo Estado.
485
Quanto às assistências previstas na Lei de Execução Penal, foi possível constatar que:
no que diz respeito a assistência material, cada preso fica em uma cela e o próprio Governo
Federal é quem fornece a alimentação, o vestuário e os demais produtos necessários. Cada preso
tem direito a 6 refeições diárias – café, lanche, almoço, lanche, janta e ceia –, todas elas
balanceadas e com supervisão nutricional. Dentro de cada cela, já tem um banheiro, onde o
preso faz uso para banho e necessidades fisiológicas. Sendo ele, também responsável pela
organização e limpeza da sua cela.
Quanto à assistência à saúde, foi possível constatar que acontece de forma muito efetiva
dentro da unidade. Há médicos, dentistas, enfermeiros e psicólogos o tempo todo para
atendimentos e situações necessárias, bem como todo um aparato de medicações e vacinas. No
entanto, o preso, durante todo e qualquer atendimento, fica algemado com correntes presas ao
chão.
Quanto à assistência jurídica, ocorre, mas a maioria dos presos fazem uso de advogados
particulares. Há muitas restrições para as visitas dos advogados e, atualmente, ainda em
decorrência da pandemia, a maioria das visitas acontecem de forma virtual.
A assistência educacional acontece para apenas alguns presos. Com relação a isso,
também há um projeto de remissão da pena pela leitura, no entanto, não são quaisquer livros
que entram na unidade. Foi possível visitar a biblioteca da unidade e perceber alguns livros com
folhas faltosas, que quando questionados, os agentes explicaram que eram arrancadas em uma
“triagem” que os livros passavam antes de chegar à biblioteca, por entender que não seria
adequado para o ambiente.
Com relação a assistência social, não acontece em sua totalidade. Inclusive, os
servidores parecem não acreditar no processo de ressocialização para aqueles presos, por se
tratar de presos de alta periculosidade. Chegaram até a expressar que o retorno destes para o
convívio social não interessa a comunidade, por isso, não se preocupam com tanto.
A assistência religiosa acontece por meio dos grupos das diversas religiões, que se
cadastram e desenvolvem atividades com os presos, principalmente, aos domingos. A
participação é facultada ao preso. Por conta da pandemia, essas atividades seguem suspensas.
A assistência ao egresso, por fim, não acontece em nenhuma instância.
Depois da explanação, foi possível conhecer as instalações da unidade, inclusive,
algumas celas, e logo após os servidores fizeram uma demonstração do equipamento utilizado
por eles.
486
A terceira visita técnica, por sua vez, foi às instalações do Centro de Acolhimento
Socioeducativo (CASE) do município de Mossoró/RN, ocorrendo no dia 17 de novembro de
2021, no período vespertino, das 15h00min às 17h00min. Toda a visita foi guiada pelo Diretor
da Unidade e alguns membros da equipe técnica.
488
A assistência dada ao egresso existe, porém, com uma série de carências, principalmente
se tratando da ressocialização do menor fora da unidade. O Diretor relatou a deficiência nos
CRAS em atender os menores infratores, informando que, na maioria dos casos, os menores
vão ao CRAS, mas não são atendidos por “medo” ou preconceito dos próprios servidores.
Finalizando a explanação das assistências, foi possível conhecer as instalações da
unidade. O local é grande e arborizado, possui alojamentos de vivências diferentes, uma vez
que, atualmente, os menores são alocados por facções (faccionados e simpatizantes destas).
Cada alojamento é composto por três pessoas. Dentro do centro também tem uma quadra
poliesportiva e uma piscina olímpica, esta última em desuso. Com relação às visitas, os
familiares que não são do município chegam à unidade através de transportes fornecidos pelo
próprio centro e, além da visita pessoal, também tem direito a visita por chamada de vídeo.
Ainda, foi possível observar que existe um respeito notório entre os agentes e os jovens,
além dos profissionais demonstrarem uma constante busca por meios para que o menor infrator,
ao sair do centro de acolhimento, possua um cenário de vida diferente do que vivia ao chegar
na unidade.
A quarta e última visita técnica ocorreu nas instalações do Complexo Penal Estadual
Agrícola Mário Negócio do município de Mossoró/RN, ocorrendo no dia 22 de novembro de
2021, no período matutino, das 08h00min às 11h00min, sendo guiada pelo Chefe de Segurança
da unidade e por uma Policial Penal.
O Complexo Penal, atualmente, só possui detentos no regime fechado, mas também faz
a instalação e monitoramento das tornozeleiras eletrônicas dos detentos em regime semiaberto.
É o único, das quatro visitas realizadas, que possui uma ala feminina.
Inicialmente, o Chefe de Segurança e a Policial Penal possibilitaram conhecer um pouco
da unidade, sendo possível compreender a expressão “agrícola” no nome do Complexo Penal:
há alguns animais circulando o ambiente, bem como toda a estrutura, na qual alguns presos
estavam trabalhando, através de vários serviços, dentre eles, a capinagem e a limpeza. Esse
490
trabalho só é feito por presos “classificados” de acordo com uma série de requisitos e contribui
para a remissão da pena.
A parte masculina do Complexo é a maior. Passou por uma recente reforma e
encontrava-se em ótimo estado, muito parecido, inclusive, com o padrão do Presídio Federal.
A ala feminina, por outro lado, estava totalmente deteriorada, apresentando até condições um
tanto quanto insalubres para as detentas.
Com relação às assistências previstas na Lei de Execução Penal, foi possível constatar,
no geral, que: a assistência material é provida por meio das famílias no que diz respeito aos
produtos de higiene, vestuário e demais coisas que se fizerem necessárias. A alimentação é
cedida pelo Estado, por meio de uma empresa terceirizada contratada, sendo composta de cinco
refeições diárias.
No que diz respeito a assistência da saúde, a unidade não dispõe de um setor específico
e constante internamente, desse modo, os profissionais do município são cedidos e variam os
atendimentos entre o Complexo Penal e a Cadeia Pública. Há atendimentos semanais de cunho
clínico, odontológico e psicológico. Foi possível perceber também, que alguns detentos fazem
uso de psicotrópicos. Segundo os servidores, referidos medicamentos são mandados pela
família, mas não são entregues ao detento, ficando com a administração da unidade, que faz o
repasse da medicação, conforme receitado.
A assistência jurídica sofreu severas críticas dos servidores da unidade. Segundo eles, a
Defensoria Pública não presta apoio de forma adequada e os presos que não possuem condições
de contratar advogados particulares sentem-se, muitas vezes, desamparados. A maior fonte de
assistência jurídica, hoje, na unidade, se dá por meio de um Promotor de Justiça, que com seus
alunos da Prática Jurídica, promovem ações.
As assistências educacional e social caminham juntas e são as que melhor funcionam
dentro do Complexo Penal, pelo que foi observado. A unidade possui uma escola e uma
pequena biblioteca. Muitos detentos estão matriculados no ensino básico ou no ensino médio e
têm aulas na própria unidade. No entanto, devido a pandemia, as aulas estão sendo de forma
remota e a unidade garantiu os equipamentos necessários para o bom funcionamento dessa
modalidade. Há detentos que fazem o ENCCEJA (Exame Nacional para Certificação de
Competências de Jovens e Adultos). Existem também alguns dos detentos que cursam nível
superior em instituições parceiras, como o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Rio Grande do Norte (IFRN) e a Pitágoras. Os presos entram por meio do Exame Nacional
491
do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade (ENEM PPL). Paralelamente a isso,
existe também uma parceria com o SENAI, que oferta cursos profissionalizantes. Existem,
ainda, os projetos de plantio e de fabricação de mudas. Todas essas atividades contribuem para
a diminuição da pena.
A assistência religiosa acontece por meio de grupos religiosos, previamente cadastrados,
que vão até a unidade, geralmente, aos domingos. Os grupos desenvolvem algumas atividades
com os detentos no espaço do banho de sol, enquanto os detentos ficam nas celas. A maioria
dos grupos fazem parte da religião cristã protestante. Existe uma Bíblia em cada cela. As
atividades possuem bastante adesão da maioria dos detentos. Os grupos, ainda, desenvolvem
ações para arrecadação de produtos de higiene e limpeza para os presos. No período da
pandemia, para não deixarem os presos sem essa assistência, gravaram pregações e músicas e
colocaram em um pendrive, que foi colocado em um som na unidade para os presos escutarem.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com uma história marcada pelo não apoio estatal e pelas diversas crises, o sistema
penitenciário brasileiro, ainda hoje, depois de significativos avanços, apresenta-se com grandes
déficits, sobretudo, no que diz respeito a existência de políticas públicas e a efetivação de
direitos sociais e fundamentais aos privados de liberdade. Em um país como o Brasil, que possui
não só a Constituição de 1988, conhecida com a “Constituição Cidadã”, mas também
legislações específicas sobre os direitos e deveres de detentos, ainda podemos afirmar que,
infelizmente, o encarceramento continua a significar muito mais do que a privação da liberdade.
São nos complexos penitenciários que evidenciamos a precariedade desse sistema, a não
efetivação do que está positivado e uma série de violações aos direitos humanos.
As visitas às unidades do município de Mossoró/RN possibilitaram despertar o olhar
para a realidade e ver que, embora aconteça de alguma forma a materialização das assistências
previstas na Lei de Execução Penal, essas ainda acontecem de forma precária, o que não é o
objetivo da legislação. As mudanças econômicas, políticas, sociais e ideológicas no sistema
capitalista, a expansão do sistema prisional e a ausência do Estado nas realidades de cada lugar
são, sem dúvidas, os maiores contribuintes para essa realidade. Aliado a esses fatores, temos
também a mídia, que transforma toda essa precária realidade em um espetáculo, muitas vezes,
492
com programas próprios para isso, disseminando uma cultura de preconceito para aqueles que
são vítimas desse sistema.
Quando falamos de Estado, não estamos falando apenas dos representantes políticos que
encabeçam as chefias e possuem a caneta na mão, falamos da Administração Pública no geral,
sobretudo, dos Funcionários Públicos que gerem essas instituições. Existe uma vastidão de
profissionais, muitos, no entanto, não acreditam no próprio sistema. O sistema não funciona,
também, porque os profissionais que fazem o sistema não acreditam nele e, não acreditando,
colocam a culpa do mal funcionamento nos detentos, que, na verdade, em sua maioria, são
vítimas de um sistema fadado ao fracasso.
O processo de ressocialização e a socioeducação precisa partir, primeiramente, da
premissa de que os detentos que passam por eles são seres humanos, possuem histórias e
vivências e, muitas vezes, já chegam nessa situação por uma ausência do Estado. Aonde o
Estado não chega, a criminalidade tende a chegar com uma força muito maior. É preciso,
portanto, uma ação mais preventiva, fazendo com que a educação, a saúde, o lazer, a comida, o
trabalho chegue também aos mais vulneráveis e, assim, a criminalidade possa começar a
diminuir.
Cabe também, nessa análise, um recorte de gênero. As políticas hoje implementadas
afetam bastante as mulheres. Apenas uma unidade, das visitadas, possuía uma ala feminina e,
ainda assim, era a ala mais deteriorada da unidade. A discussão é bem mais ampla do que esse
espaço nos permite, mas vale salientar que, historicamente, as mulheres sofrem uma dupla
invisibilidade nos sistemas carcerários, primeiro pela invisibilidade própria enquanto sujeitos
em cárcere, depois, pelo machismo/sexismo estrutural enraizado na sociedade.
Como nação humana precisamos pensar nas prisões. Pensar que as prisões não estão
distantes de nós. Pensar com um olhar profissional, mas, sobretudo, com um olhar humanizado
para com os sujeitos privados de liberdade. É preciso pensar a prisão não como um depósito
daquilo que, socialmente, é marginalizado e negado, mas como a oportunidade de reestabelecer
o contrato social e de usar como um laboratório de vivências reais para pensar políticas públicas
preventivas eficazes, até que não mais sejam necessárias prisões, mas quando necessárias, que
estas cumpram para além do seu viés punitivista, o viés social de ressocialização que, primeiro
parte do entendimento de que cada encarcerado é também um ser humano, é também um sujeito
de direitos.
493
É importante ressaltar, no entanto, que antes de pensar nas prisões, precisamos pensar
na falta de acesso à educação e à justiça, na gritante desigualdade social, na agenda política
neoliberal de negação de direitos e na intensa criminalização do que está rodeado dessas
deficiências. Se não conseguirmos acreditar e garantir eficácia dos sistemas prisionais, não
conseguiremos, portanto, encontrar argumentos solidificados para defender a existência delas.
A presente pesquisa não pretende esgotar o assunto discutido, mas lançar luz para que
as problemáticas apontadas possam ser pensadas, questionadas e, sobretudo, resolvidas.
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http://intertemas.toledoprudente.edu.br/index.php/ETIC/article/view/7964. Acesso em 26 jun.
2022.
495
RESUMO
O presente artigo tem como designo a análise com relação ao direito à saúde e o rol da Agência
Nacional de Saúde Suplementar - ANS. Primeiramente, procurou elucidar do que se trata a
dignidade da pessoa humana voltada para o direito à saúde e o desenvolvimento de tal garantia
no ordenamento jurídico brasileiro. Conjuntamente, buscou analisar a limitação criada pela
ANS quanto aos procedimentos a partir da criação do rol pela Resolução Normativa 465/2021
e a partir disto observar se o rol sendo considerado taxativo, afetaria a dignidade da pessoa
humana e feriria o direito à saúde, desse modo cerceando o direito à vida do beneficiário do
plano de saúde e colocando em xeque a sua própria dignidade. Assim, os meios utilizados para
coleta de informações foram artigos, doutrinas, portarias, legislação vigente e, com enfoque,
nas jurisprudências dominantes do Superior Tribunal de Justiça-STJ, entre os anos de 2015 e
2022, no que concerne ao rol de prestação da saúde suplementar. Por fim, restou evidenciado
que a Corte há algum tempo não mudava a jurisprudência sobre elencar que o rol da ANS era
exemplificativo, porém suscitaram um novo debate e foi proferido a tese que a lista é taxativa,
assim ocasionando no indivíduo que possui plano de saúde uma limitação da garantia
constitucional a saúde.
Palavras-chave: Direito à Saúde. Rol da ANS. Dignidade humana.
ABSTRACT
This article is designed to analyze health law and the list of the National Agency for
Supplementary Health - ANS. First, it sought to elucidate what the dignity of the human person
is about focused on the right to health and the development of such a guarantee in the Brazilian
legal system. Together, it sought to assess whether the list being considered taxing would affect
the dignity of the human person and hurt the right to health, thereby civilly granting the right
to life of the beneficiary of the health plan. Thus, the means used to collect information were
articles, doctrines, ordinances, current legislation and, with a focus, on the dominant
jurisprudence of the Supreme Court of Justice-STJ, between the years 2015 and 2022, about
1
Graduando em direito pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – FCRN. E-mail:
davydiask13@gmail.com
2
Graduanda em psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – FCRN, Bolsista no Programa de
Educação pelo Trabalho para a Saúde – PET-saúde – 2022-2023 E-mail: Islla12@hotmail.com
3
Orientador: Mestre em Ciências Sociais e Humanas (PPGCISH-EU|RN), Especialista em Direito e Processo do
Trabalho (UNP/Esmat-21), Professor da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte, Advogado. E-mail:
kayogameleira@hotmail.com
496
the list of supplementary health provision. Finally, it was evidenced that the Court for some
time did not change its understanding about listing that the list of the ANS was exemplifying
but raised a new debate and the thesis was given that the list is exhaustive, thus causing the
individual who has health insurance a limitation of the constitutional guarantee to health.
Keywords: Right to Health. ANS list. Human dignity.
1 INTRODUÇÃO
A saúde pode ser assegurada pelos âmbitos públicos e privados, o tratamento de doenças
dos indivíduos pertence a esses institutos, tendo em vista que o ordenamento jurídico brasileiro
dispõe que é dever do Estado garantir a saúde e pode ser prestado por entes privados. Tal
proteção está ligado intrinsicamente com o direito a dignidade que a pessoa possui.
A saúde dos brasileiros é direito de todos e responsabilidade do Estado para garanti-la,
ou seja, o bem-estar físico, mental e social é dever desse como consta na Constituição Federal
de 1988, nos artigos 196 a 200, dessa forma há à assistência em saúde de maneira nacional que
aborda todo o corpo social brasileiro e para garantir esse direito constitucional de forma efetiva
existe o Sistema Único de Saúde - SUS.
Com base na Constituição Federal, a saúde no Brasil pode se dá de duas formas, cunho
público e universal, Sistema único de Saúde (SUS), e pelo viés privado adquirido pelo indivíduo
por uma atitude particular, como consta na Constituição Federal “A assistência à saúde é livre
à iniciativa privada” (BRASIL, 1988). .
Desse modo, na lei nº 8.080 de 1990 preceitua sobre as condições para promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e funcionamento dos serviços correspondentes
e em seu artigo 4º elenca que o conjunto de ações e prestações de serviços de cunho público
federal, estadual e municipal conta com administração indireta ou direta e suas fundações são
conservadas pelo Poder Púbico, o SUS, o qual é constituído por um conjunto de ações e
prestações de serviços de saúde ofertados pelas instituições (BRASIL, 1990)
Diante disso, foi de suma importância a criação e efetivação de um órgão para
regulamentar e fiscalizar as operadoras e os planos de saúde ofertados por elas, sendo assim
nos anos 2000 fundou-se a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS com a finalidade
institucional em defender os interesses públicos, regularizar os serviços de cunho privado
ofertados para a população brasileira como também as relações entre prestadores de serviços e
consumidores, como consta no artigo 3º da Lei nº 9.961/2000.
497
A dignidade da pessoa está intrinsecamente ligada a proteção dos direitos mínimos que
devem ser garantidos a todo e qualquer indivíduo, seja por meio de tratados, leis, portarias,
agências reguladoras, visando a plena convivência em sociedade e para que não ocorra uma
sobreposição do Estado sobre o povo.
Segundo Morais (2003), com o surgimento da Declaração Universal de Direitos
Humanos – DUDH DE 1948, propiciou o fortalecimento dos direitos para os indivíduos, para
que todo ser humano pudesse viver em um ambiente que contenha paz, saúde, segurança e
assim ter uma vida digna.
Deste modo, a DUDH, dispõe em seu preâmbulo que os direitos humanos, assim como
a dignidade da pessoa humana é um direito universal e que deve ser garantido a toda e qualquer
pessoa, independentemente da sua raça, cor, sexo, religião, sexualidade e/ou condição
econômica.
Em conformidade, Awad (2006) alude que a adoção da dignidade da pessoa humana
como valor basilar do Estado Democrático de Direito visa reconhecer o indivíduo como centro
e o fim do direito.
Assim, a Constituição Federal Brasileira, trata sobre a dignidade da pessoa humana,
como um dos princípios fundamentais da República Federativa do Brasil, para que seja
garantido o Estado Democrático de Direito. Se faz necessário ressaltar que para esse
fundamento ser assegurado é importante que os direitos como saúde, educação, segurança e
poder ir e vir, sejam garantidos a todo e qualquer cidadão brasileiro ou estrangeiro que se
encontre em território nacional.
Verifica-se, então, que o legislador constituinte considerou os valores da pessoa humana
de relevante importância, consagrando assim ela como um dos fundamentos que deve ser
seguido no ordenamento jurídico brasileiro.
Ademais, o conjunto de institucionalizações de direitos e garantias fundamentais, como
por exemplo o direito a saúde, tem por finalidade basilar o respeito a dignidade da pessoa
humana, por meio da proteção contra o livre arbitramento por parte das entidades estatais e o
estabelecimento de condições mínimas essenciais a proteção da vida (MORAES et. al. 2018).
Além disso, se faz importante lembrar da Teoria dos Limites dos Limites ou das
Restrições das Restrições de origem alemã, ao qual estabelece limites ao exercício da restrição
aos direitos fundamentais. Essa teoria se divide em duas ordens, formais e materiais. A primeira,
os direitos fundamentais somente poderão sofrer alguma restrição por normas elaboradas por
499
órgãos dotados de poder pela própria Constituição Federal, deste modo as restrições possíveis
já estariam na própria constituição. Já a segunda, referente a ordem material, diz respeito ao
núcleo mínimo essencial, que não podem ser limitados aos quais já são previstos expressamente
ou implicitamente na Constituição Cidadã (LOPES, 2021).
Por fim, segundo Gilmar Mendes (2016), o núcleo mínimo essencial são direitos
intangíveis dos direitos fundamentais, que deve sempre ser protegidos em quaisquer
circunstâncias, pois caso sejam negligenciados criarão uma situação clara de
inconstitucionalidade. Assim esse núcleo delimita um espaço onde a lei não pode adentrar, o
legislador não pode ultrapassar, sob pena de inconstitucionalidade da norma jurídica (LOPES,
2021). É sob esta perspectiva que será analisada a questão do Direito à Saúde.
Segundo Polignano (2005), até os anos de 1.500 o Brasil não detinha uma atenção
voltada a garantir o direito à saúde da população, o que possuíam era uma saúde limitada a
tratamentos com plantas e ervas naturais. Todavia, após a vinda da Família Real para o Rio de
Janeiro, necessitou de uma criação de uma estrutura sanitária mínima. Assim, até 1.850 a saúde
era voltada para as atribuições sanitárias, sendo dirigido aos municípios, navios e saúde dos
portos.
Posto isso, somente em 1889, que as práticas voltadas a saúde da população atingiram
um nível nacional. Com o intuito, inicial, de erradicar as epidemias urbanas foi instituído um
modelo sanitarista e desenvolvido o Código de Saúde Pública (RIBEIRO, 2019).
A lei 3.987 de 1920 criou o Departamento Nacional de Saúde Pública e reorganizou os
serviços de Saúde Pública. Assim, Polignano (2005) alude que o Departamento Nacional de
Saúde, era ligado ao Ministério da Justiça e foi com ele que houve a criação de órgãos que
visavam a luta contra a tuberculose, doenças venéreas e a lepra.
Todavia, o Brasil só veio a efetivar como prioridade a saúde, no final do século XX.
Isso ocorreu, por conta da implementação da exportação de café na região sudeste, ao qual
necessitava que as condições sanitárias, passassem de simples controle de epidemias, sendo
necessário se tornarem efetiva política do Estado (FINKELMAN, 2002).
Segundo Dalarri (2008) a Primeira Constituição Federal que constituiu competência
para todas as esferas de poder, foi a de 1934. Em seu artigo 10, inciso II, disciplinou,
expressamente, que a União e os Estados detinham a incumbência de cuidar da saúde e
assistência públicas, assim não foram estipulados deveres no que concerne à saúde aos
Municípios e ao Distrito Federal, este porquê somente foi criado no ano de 1960. No artigo 138,
em suas alíneas, relatam que os entes cabem a adoção de medidas legislativas e administrativas
que busquem a diminuição da mortalidade e morbidade infantil, de higiene social e que
impeçam a propagação de doenças transmissíveis; e em conjunto, cuidar da higiene mental e
incentivar as lutas contra os venenos sociais.
Desse modo, no ano de 1953, com a necessidade da desvinculação da saúde com o
Ministério da Justiça, foi editada a Lei nº 1.920, ao qual em seu artigo 1º, estabelece a criação
do Ministério da Saúde, ficando sobre sua responsabilidade os problemas referentes à saúde
humana (BRASIL, 1953).
O direito à saúde somente veio a ser assegurado com a promulgação da Constituição
Federal de 1988, que disciplina em seu artigo 6º que são direitos sociais o direito à saúde. Além
501
disso, em seu artigo 196, alude que a saúde é um direito de todos e dever do Estado e que deve
este instituir esses direitos por meio de políticas públicas que visem a redução de riscos de
doenças e outros agravos.
Visto isso, Dallari (2008) relata que para que esse direito fosse instituído na
Constituição, foi resultado dos movimentos populares no momento da redemocratização
política no final dos anos oitenta. Nesse momento histórico houve, até então inédito, a
participação social para a definição dos objetivos constitucionais.
Diante da efetivação do direito à saúde, o próprio texto Constitucional, elencou quais as
formas que ocorreria a efetivação dessa garantia, sendo uma delas a saúde pública, que é
universal, regionalizada, hierárquica, descentralizada de atendimento integral e com a gestão
participativa, orientada pelas diretrizes estabelecidas pelo Sistema Único de Saúde – SUS
(MACHADO, 2022).
Assim, a Lei nº 8.080 de 1990, disciplina as condições para a promoção, proteção e
recuperação da saúde, em seu artigo 4º, relata que o SUS é constituído pelo conjunto de ações
e serviços de saúde, que deve ser prestada pelos três entes da República Federativa do Brasil,
pela administração pública direta ou indireta e as fundações que são mantidas pelo Poder
Público.
Hodiernamente, a estrutura do SUS é construída pelo Ministério da Saúde, pelas
Secretaria Estadual de Saúde, Secretaria Municipal de Saúde, pela Comissão Intergestores
Tripartite e Bipartite, Conselhos de Saúde, e pelo Conselho Nacional de Secretário da Saúde,
Conselho Estadual de Secretarias da Saúde e Conselho de Secretarias Municipal de Saúde
(RIBEIRO, 2019).
Todavia, em conjunto com a prestação dos serviços referentes à saúde por parte do
Estado, a Carta Magna instituiu como possibilidade a saúde complementar, que assegura ao
Poder Público a possibilidade de prestar serviços de saúde por intermédio de uma pessoa
jurídica de direito privado, porém deve seguir as diretrizes do sistema público. Ademais, a
Constituição permitiu que a saúde também fosse prestada de forma suplementar, que consiste
nos serviços de saúde prestado diretamente por profissionais da iniciativa privada ou por
intermédio de operadoras de planos privados de assistência à saúde (MACHADO, 2022).
Por fim, com a criação Constitucional da possibilidade de a prestação da saúde ser
efetivada de forma suplementar, houve a necessidade da criação da Agência Nacional de Saúde
Suplementar – ANS, com o intuito de garantir os direitos que devem ser prestados pelos planos.
502
Assim o próximo capítulo buscará elucidar do que se trata a ANS e para quais fins veio a ser
instituída.
Com base na Constituição Federal Brasileira de 1988, é dever do Estado garantir a saúde
pública e de qualidade para toda população, para assegurar esse direito federal existe o Sistema
Único de Saúde - SUS, o qual é de cunho público, universal e gratuito à população brasileira.
Contudo o Estado também autorizou, com base na Constituição de 1988, a iniciativa privada
pelas agenciadoras de planos com assistência à saúde, sendo assim o beneficiário do plano deve
adquirir os serviços de maneira comercial com base em um contrato estabelecendo assim uma
relação de consumo indivíduo-operadora (RIBEIRO, 2019). Dessa forma fez-se necessário a
criação de um órgão responsável por averiguar essas operadoras, o qual é a Agência Nacional
de Saúde Suplementar comumente conhecida por ANS.
Após a permissão e atualização da Lei n.º 9656/1998, a qual dispõe sobre os planos e
seguros privados de assistência à saúde verificou a necessidade de esses serem regularizados,
assim surge a ANS, uma agência capaz de controlar e fiscalizar essa assistência de cunho
privado. Além disso, o seu surgimento é mediante a um contexto de privatização durante o
governo de Fernando Henrique Cardoso e uma proposta de reforma de estado (1995-2002), de
acordo com os seus dois mandatos, sendo assim uma maior privatização no território sem uma
fiscalização poderia ocasionar problemas futuros, já que não haveria um monitoramento
econômico e controle de atividades realizadas pelas operadoras privadas de saúde.
Somado a isso, nesse período histórico o Brasil percorria uma crise fiscal, em 1995,
decorrente de três grandes problemas, uma perda de crédito estatal, da maneira político-
burocrática juntamente com a administração pública e do esgotamento da estratégia de
intervenção estatal; a apresentação da criação de um autarquia fiscalizadora foi visto como uma
melhor alternativa para esse momento, já que a administração seria de forma direta e com uma
regularização efetiva, desse modo pode-se afirmar que a agência reguladora é um apoio do
poder legislativo com sua atuação dentro dos limites destinados pela lei de sua criação.
(CUNHA, 2021).
Assim surge a ANS, a qual foi fundada pela Medida Provisória nº. 1.928/1999, sofreu
uma edição pela Medida Provisória nº. 2.012/1999, sendo esta convertida na Lei nº. 9.961/2000,
503
composta por um conselho de cinco administradores temporários, essa agência tem a finalidade
de fiscalização e regular o sistema de saúde privado que ofertam assistência à saúde
suplementar, com o intuito de garantia de direitos para a população brasileira que consome tais
serviços, aliado a isso estão para combater falhas ao mercado e riscos morais, regular as
operações e os serviços deixando isentos os prestadores desse (RIBEIRO, 2019). Dentre os
serviços assegurados pela ANS os mais recentes são os de saúde mental.
Desse modo, é competência da ANS elencar quais são os procedimentos, tratamentos e
medicamentos mínimos, que os planos devem assegurar para aquele que contrata uma
prestadora de serviços de saúde suplementar. Sendo assim, a Resolução Normativa 465/2021
disciplinas o rol dos procedimentos mínimos que as operadoras são obrigadas a fornecer para
aquele que venha a contratar seus serviços. Todavia, mesmo sendo ela a responsável por elencar
os procedimentos mínimos a Lei nº 9656/ 98, artigo 10º relata que deve ser assegurado todo e
qualquer tratamento das doenças reconhecidas pela Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, da Organização Mundial de Saúde.
Com tal negativa, como visto, o Poder Judiciário é um dos responsáveis no Estado
Democrático de Direito, por solucionar os problemas da sociedade que não consigam efetuar a
autocomposição. Com a necessidade de adentrar no poder judiciário com uma ação, sendo o
magistrado o responsável por sanar os litígios, que por sua vez deve fundamentar sua decisão.
Isto posto, o Superior Tribunal de Justiça no ano de 2015, no julgamento do Agravo em
Recurso Especial nº 750.941/MG, sendo a Ministra relatora Maria Isabel Gallotti, integrante da
4ª turma do STJ, relatou que:
Saliento que não pode prosperar a alegação do réu que a ausência de previsão do
procedimento requerido no rol da ANS, ou a ausência do enquadramento às diretrizes
para cobertura elencadas pela Agência, torna legítima sua negativa de cobertura. Ora,
é sabido, que o rol de procedimentos previstos na RN 262 da ANS não é taxativo. Ao
contrário, elenca os procedimentos mínimos que devem ser colocados à disposição
dos segurados (...). (STJ – Resp. nº 750.941/MG. Relator: Maria Isabel Gallotti, data
do julgamento: 21/08/2015 – 4ª TURMA)
Como visto, decidiu que o rol da ANS consiste em referências mínimas a serem seguidas
pelos planos de saúde. Assim, mesmo que o tratamento/medicamento não esteja disciplinado
na lista da ANS, os operadores de saúde suplementar são obrigados a fornecer.
A partir disto, as turmas da Corte Especial passaram a entender que o rol da ANS é
meramente exemplificativo. As turmas usavam como fundamentação que o consumidor ocupa
uma posição de vulnerabilidade e ao contratar o plano possuía uma expectativa de serem
atendidos em qualquer demanda voltadas à saúde, uma vez que no momento da firmação do
contrato não seriam capazes de vislumbrar quais procedimentos necessitariam. Desse modo a
3ª turma no STJ no REsp 1.876.630/SP., sendo relatora Ministra Nancy Andrighi, disciplinou
que:
Assim, não pode o consumidor arcar com o risco do negócio, pois não é razoável que o
contratante saiba todos os procedimentos elencados no rol da ANS. Ademais, o adquirente do
plano de saúde, por diversas vezes não possuí entendimento científico para entender os
procedimentos que estão elencados no rol, ficando com a presunção que está assegurado por
possuir um plano.
Como disciplinado, o STJ detinha o entendimento majoritário que o rol da ANS era
meramente exemplificativo, mas em dezembro de 2019 por meio do julgamento do Recurso
Especial 1.733.013/PR de relatoria do Ministro Luis Felipe Salomão, a 4ª turma, de forma
inovadora, decidiu pela taxatividade do rol da ANS, pois segundo ele deve haver um rol mínimo
e obrigatório, como dispõe o relator:
asseguradas por lei, pois caso o faça colocará o consumidor em desvantagem acentuada em
comparação ao fornecedor.
Outro ponto suscitado no REsp 1.733.013/PR foi a questão do equilíbrio econômico-
financeiro. Segundo o Ministro relator, caso o rol seja considerado exemplificativo, o
ecossistema da saúde suplementar se encontrará prejudicado, pois colocará em desequilíbrio a
situação econômico-financeira, uma vez que o plano se encontrará obrigado a arcar com todo
tipo de demanda por parte do contratante, impossibilitando assim previsão dos impactos
gerados. De acordo com o julgado, a taxatividade do rol, proporcionará um maior acesso ao
sistema de saúde suplementar, pois os preços se encontrarão padronizados.
De mesmo modo, o Ministro Marco Aurélio Mello (2012), relata que caso seja
entendido que o plano se encontra obrigado a prestação de toda demanda levantada por parte
do consumidor, ocasiona uma ruptura no equilíbrio econômico-financeiro. Ademais aduz que
mesmo que o indivíduo consiga o tratamento/medicamento, pode vir a prejudicar o universo de
benificiários do plano, caso a seguradora não possua condições financeiras de suportar todas as
necessidades estipuladas.
Além disso, segundo Resende (2021), elucida que caso seja assegurado um rol mínimo
e obrigatório, tende a ocorrer uma popularização de acesso a saúde através de preços acessíveis,
pois segundo o próprio relator, hoje, as pessoas que possuem planos de saúde em sua maioria
são de classes média alta e alta.
Como decorrência do desequilíbrio econômico-financeiro a 4ª turma, do STJ,
argumentou que o rol não sendo taxativo, ocorre a impossibilidade de precificação da
mensalidade dos planos de saúde e com a flexibilização do rol, traz consigo um risco de
elevação exponencial dos preços, podendo levar um aumento nas mensalidades.
Todavia, mesmo sendo considerado o aspecto econômico-financeiro, a escolha pela
taxatividade ocasiona a limitação dos direitos ao beneficiário dos planos de saúde e seguro de
saúde, pois o consumidor é a parte vulnerável da relação, inclusive economicamente (LOPES,
2021)
Assim, a Ministra relatora Nancy Andrighi no REsp 1.876.630/SP, sendo a favor do rol
ser considerado exemplificativo, elucidou que a ANS considera os riscos assumidos por parte
das seguradoras de saúde, mas desconsidera que a taxatividade coloca o consumidor em posição
de desvantagem, pois não possui condições de prever do que necessitará e acredita que se
encontra assegurado pela existência do contrato. Por fim, relata que a própria ANS autoriza a
508
atualização da mensalidade, que deve ocorrer anualmente, para que não venha a ocorrer o
desequilíbrio econômico-financeiro.
Por outro prisma, o Ministro relator Luiz Felipe Salomão, no REsp 1.733.013/PR,
ressaltou que a corrente que defende a taxatividade do rol da ANS, preceitua que ela deve
garantir procedimentos mínimos obrigatórios, podendo o consumidor contratar uma cobertura
superior que venha a instituir outros tratamentos e medicamentos que vão além do rol.
De modo contrário, a 3ª turma defende que não pode o fornecedor do plano de saúde
exigir que indivíduo conheça todos os tratamentos do rol da ANS, visto que a lista é técnico
científica, para o leigo e especialmente para aquele que ocupa posição vulnerável perante a
operadora.
Nessa perspectiva a mesma turma, no julgamento do REsp 1.769.557/CE, sendo a
Ministra relatora Nancy Andrighi, aludiu que a prestadora de plano de saúde não deve negar
tratamento com indicação médica, mesmo que seu uso não seja aprovado pela Agência Nacional
de Vigilância Sanitária - ANVISA ou não esteja presente no rol da ANS.
Por fim, se mostra evidente que a 3ª e 4ª turma do STJ, se encontraram em meio a
discordância jurisprudencial no que concerne ao rol da ANS, necessitando assim a padronização
dos julgados.
saúde indicasse algum medicamento alternativo que não constasse no rol da ANS, poderia o
plano de saúde negar o pedido de imediato. Assim, ocasionando possíveis riscos à saúde e,
consequentemente, a vida dos pacientes.
Assim, fica evidenciado que a negativa injustificada pelo plano, gera no beneficiário
situação de aflição psicológica e angústia no espírito daquele que se encontra acometido por
uma doença. Desse modo, com o rol da ANS sendo considerado taxativo, pode gerar diversas
dificuldades, além da (s) doença (s) já presentes no indivíduo.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como visto, o direito à saúde se trata de uma garantia constitucional, ao qual foi
assegurado após um longo percurso sem a preocupação com a saúde dos indivíduos. Ademais,
ficou demonstrado que o direito à saúde deve ser garantido a todo e qualquer pessoa que se
encontre no território brasileiro e deve ser fornecido pelo Estado, não se tratando somente da
negativa de doenças, mas sim o ser humano deve conter um bem-estar físico, mental e social.
Desse modo, com o dever do Estado em garantir por meio de suas políticas públicas o
direito à saúde, dispõe na própria constituição que essa garantia pode ser ofertada de forma
direta, complementar ou suplementar. Como prestação direta pelo Estado, foi instituído o SUS,
ao qual compete garantir a saúde pública. Todavia, na própria constituição o legislador
possibilitou a prestação dos serviços de saúde por meio de operadoras de planos, como forma
de saúde suplementar. Assim, com a necessidade de assegurar a plena efetivação dos direitos
do consumidor, foi criada a autarquia denominada como ANS, ao qual compete a fiscalização
para que não ocorra uma sobreposição do plano sobre o consumidor, visto que este é a parte
vulnerável da relação contratual. Também é de competência da ANS a elaboração de uma lista
que deve estar presente os procedimentos que as operadoras são obrigadas a custear.
513
Nessa perspectiva, chegou até os tribunais brasileiros ações que versam sobre saúde
suplementar, ao qual é questionado se a negativa por parte do plano de saúde de procedimentos
que não se encontra no rol da ANS é devida. O entendimento do STJ era que o rol se tratava de
meramente exemplificativo. Todavia, no ano de 2019, voltaram a discutir sobre a taxatividade
ou não do rol, onde ficou evidenciado que o novo posicionamento do STJ é que a lista é taxativa,
sendo os planos de saúde obrigados a fornecerem aqueles procedimentos e, em casos
excepcionais, poderão ser obrigados a custearem tratamentos não previstos no rol.
Segundo as teses firmadas no julgamento, deve haver um equilíbrio econômico-
financeiro entre as partes. Além disso, elencou que com a taxatividade do rol os planos tendem
a padronizar os preços, pois agora está estipulado o que deve ser garantido, assim ocasionando
uma maior procura por parte da população mais vulnerável. Assim, o Ministro relator expôs
que caso o consumidor queira colocar algum procedimento que não conste no rol, poderá
adicionar em seu contrato.
No entanto, como ficou demonstrado, não é aceitável que o indivíduo no momento da
pactuação do contrato, que deve ser regido pela boa fé objetiva, saiba de todos os procedimentos
que são assegurados na lista da ANS, pois a lista é de difícil entendimento por pessoas que não
detenham conhecimento técnico científico. Ademais, não é plausível que a parte vulnerável do
contrato, no momento da pactuação saiba quais procedimentos virá a precisar futuramente, pois
acredita fielmente que se encontra assegurado no momento da firmação do contrato.
Além disso, no que concerne ao equilíbrio econômico-financeiro, como ficou
comprovado, a própria ANS, permite que os planos de saúde façam alterações nos preços das
mensalidades para que reste garantido o equilíbrio contratual. Sendo o rol taxativo, os planos
de saúde negarão de plano aquilo que não conste no rol e não estejam nas diretrizes firmadas
pelo STJ, ocasionando com isso, possíveis danos à saúde dos beneficiários e, conjuntamente,
um crescimento exponencial das ações no Poder judiciário.
É válido ressaltar que sendo o direito à saúde, seja ela prestada de forma direta pelo
Poder Público ou de forma suplementar, a limitação dessa prerrogativa constitucional, por uma
autarquia, traz consigo um forte indicativo de cerceamento da dignidade da pessoa humana, ao
qual ficará limitada somente aos tratamentos que são ofertados no rol da ANS e,
consequentemente, poderá ocorrer a limitação do próprio direito à vida.
Outrossim, nas leis que tratam sobre a saúde suplementar disciplina que deve ser
assegurado pelos panos de saúde a cobertura de todas as doenças presentes na CID, podendo
514
ser suprimido os procedimentos constantes na própria lei. Desse modo, não cabe a uma agência
reguladora disciplinar sobre a limitação do direito à saúde, sendo dever do legislador, por meio
de lei, forneça as alterações necessárias.
Nesse sentido, o Projeto de Lei nº 2033/22, foi aprovado pela Câmara dos Deputados,
seguindo agora para análise do Senado, esse projeto visa a alteração da lei nº 9656/98 para a
promoção de exames e tratamentos não constantes no rol da ANS, sendo considerado assim um
rol meramente exemplificativo.
Sendo assim, mesmo indo de encontro com o novo posicionamento jurisprudencial do
STJ, acreditamos com base nos julgados da mesma Corte, onde ficou demonstrado, por diversas
vezes, que a negativa pelos planos de saúde ao tratamento devido para salvaguardar à vida,
limita a dignidade da pessoa, sendo este um direito fundamental da República Federativa do
Brasil.
Ademais, a negativa pelo plano gera no paciente possíveis danos psíquicos, aflição e
angústia, segundo a 3ª turma do próprio Tribunal.
Desse modo, conseguimos observar que para ser assegurado o direito à dignidade da
pessoa, o rol da ANS, deve ser considerado meramente exemplificativo ao passo que disciplina
os procedimentos, tratamentos e medicamentos mínimos a serem assegurados aos beneficiários
do plano, pois sendo ele taxativo limita o direito à saúde e, consequentemente, o direito à vida.
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POLIGNANO. Marcus Vinicius. História das políticas de saúde no Brasil. Uma pequena
revisão. Disponível em: medicinadeemergencia.org . Acesso em: 28/07/2022
517
RESUMO
ABSTRACT
Considering the growing scientific interest in the burnout syndrome, a theoretical sample on
the subject was presented, as well as its possible results before the judiciary, inherent to the
rights of people affected with the syndrome in question, in the labor context. The research
1
Bacharelando em direito pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – FCRN. E-mail:
rafaelguimaraees.adv@gmail.com
2
Graduanda em psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – FCRN. E-mail:
vitoriaguimaraes202@gmail.com
3
Docente do curso de direito pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – FCRN. E-mail: olivia-
campos@hotmail.com
519
method attributed to the article was about the study in bibliographic books, theoretically based
on academic journals, legal doctrines, scientific articles, which had about the eminent theme,
shaped through research on digital platforms, with the basic purpose to enter into the generating
facts that result in the syndrome in the individual, seeking to develop a line of thought,
legitimizing helping companies in possible internal policies, as a form of prevention, making
Compliance palpable in the contemporary aspect. There is a growing demand for treatments
and claims for the rights inherent to those affected by the syndrome in question, even the
observance of companies in preventing possible psychic damage to their employees, acting in
order to prevent possible damage. The real problem that we must seek a solution is established
in how companies can avoid problems in coping with the chronic stress of their employees,
another relevant point is how workers diagnosed with burnout syndrome can hold their
employers accountable. Employers and company managers must be aware of the mental health
of their employees by adopting internal policies for prevention and confrontation. In this way,
it is concluded that the present study entered the middle of Psychology intrinsically linked to
the law, between professional burnout syndrome within the labor bias.
Keywords: Burnout – concept; mental stress; labor law; rights and duties; preventions;
compliance.
1 INDRODUÇÃO
Empregadores e gestores das empresas, devem estar atentos a saúde mental de seus
funcionários adotando políticas internas para prevenções, bem como enfrentamento ao estresse
crônico excessivo.
A real problemática que se deve buscar a solução, está estabelecido em como as
empresas podem se prevenir acerca do enfrentamento ao estresse crônico de seus funcionários,
outro ponto relevante, está em como os trabalhadores diagnosticados com a síndrome de
burnout poderão responsabilizar seus empregadores.
O fato é que, o funcionário diagnosticado poderá buscar responsabilizar a empresa por
meio de ação judicial, por ser de direito e merecida justiça. Todavia, no curso do processo, será
realizada perícia médica para uma análise geral e confirmação do caso.
Dessa forma, o presente artigo cinge a informar acerca dos pressupostos causadores da
síndrome de burnout, seus fatos geradores, sintomas, precauções, ligadas intrinsicamente em
desenvolver uma metodologia de prevenção voltada para as empresas, bem como o efetivo
cumprimento de normas trabalhistas e de regras éticas, morais, ligadas ao direito do trabalho, e
ao desenvolvimento interno de seus funcionários.
2 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
efetiva de recursos energéticos, tendo em vista que o organismo se contrapõe ativamente (o que
acarreta também um gasto adicional de energia), eventualmente resultando a uma perda
contínua. (SHIROM et al., 2005).
A doença ocorre em um conjunto de personalidade (genética) e condições ambientais
(fatores externos), ou seja, obviamente, uma pessoa com personalidade mais rígida, que não
tolera frustrações, está mais propensa a desenvolver o Burnout, ou seja, alguns indivíduos estão
mais suscetíveis de adquirirem a doença que outros.
Pessoas que se cobram muito, nos estudos, no trabalho, no ambiente familiar, sem que
haja o respeito com os limites do próprio corpo pode fazer com que a Síndrome se manifeste.
Dados de pesquisas do International Stress Management Association (ISMA Brasil, 2018),
dispõe que dos 70% de brasileiros que acabam tendo problemas com estresse, 30% podem
desenvolver o Burnout. Outro fator relevante presente na mesma pesquisa concluiu que o Brasil
ocupa o segundo lugar em nível de estresse, ficando atrás apenas para o Japão.
No tocante aos sintomas da doença, os mais comuns estão ligados as dores musculares
e de cabeça, de forma excessiva, mudança de humor, falhas de memória, isolamento (em casos
iniciais, aparentemente o indivíduo buscar evitar os meios de contato com as pessoas), a
depressão, também pode estar ligada aos sintomas inerentes as síndromes, nesse contexto, ao
ser identificado quaisquer dos sintomas deverão buscar o meio mais viável de tratamento.
saúde, policiais, advogados, são exemplos de profissões que podem provocar um enorme
desgaste mental.
Os sintomas típicos do esgotamento profissional, é facilmente identificado pela
sensação de esgotamento físico e emocional, refletindo diretamente em atitudes negativas para
o indivíduo: Agressividade; isolamento; mudança bruscas de humor; irritabilidade; dificuldade
de concentração; dores de cabeça constante, são manifestações físicas que podem estar
associadas a esta síndrome.
O Ministério da Saúde (2001) indica como tratamento o acompanhamento psicoterápico
e intervenções psicossociais (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2019). No entanto,
em alguns casos específicos, se faz viável a utilização de intervenções individuais,
organizacionais e combinadas, sendo realizadas com o objetivo de prevenir a síndrome por
meio da diminuição do estresse ocupacional.
As intervenções individuais, em tese, giram em torno de estratégias de enfrentamento e
adaptação diante aos agentes causadores do estresse. Referem-se ao treino de habilidades
comportamentais e cognitivas de coping, meditação, atividade física (MORENO, GIL,
HADDAD; VANNUCHI, 2011), bem como às práticas de autocuidado, como garantir descanso
adequado, equilíbrio entre trabalho e outras dimensões da vida e envolvimento em um hobby
(MOSS et al., 2016; SWENSEN, STRONGWATER & MOHTA, 2018).
Por outro lado, as intervenções organizacionais, também são adotados como meio de
prevenir a proliferação da síndrome, estas se referem a meios de modificações das atividades
desenvolvidas no ambiente laboral, a qual visam a melhoria da comunicação e do trabalho em
equipe. Dessa forma, incluem a realização de treinamento com os funcionários, reestruturação
de tarefas, flexibilidade de horário, participação na tomada de decisão, plano de carreira e
autonomia laboral (GARROSA et al., 2002; MELO; CARLOTTO, 2017)
Outros meios de prevenir a síndrome de burnout incluem os grupos de suporte, terapia
cognitiva-comportamental e programas voltados para a diminuição do estresse (MOSS et al.,
2016).
é classificada como “estresse crônico de trabalho”. Isso significa que, empregadores e gestores
devem estar atentos a saúde mental de seus funcionários, devendo as empresas criarem políticas
internas para enfrentamento ao estresse crônico.
Na vertente jurisdicional, o funcionário diagnosticado com a síndrome em questão, caso
queira, poderá buscar responsabilizar a empresa por meio de ação judicial, a qual no curso do
processo, será realizada perícia médica para uma análise geral e confirmar o quadro de burnout.
Muito embora, ainda não exista uma legislação própria que venha de forma especifica
proteger os trabalhadores com a síndrome de esgotamento profissional, não significa que estes
trabalhadores estejam desprotegidos. Na prática, a legislação trata a síndrome de burnout como
uma doença como qualquer outra.
Todavia, o direito trabalhista para o cidadão com a referida síndrome é previsto na
Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), a qual dispõe em seu artigo 483 que:
a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos
bons costumes, ou alheios ao contrato;
b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor
excessivo;
No mesmo sentido, a carta magna, em seu artigo 225, preceitua que “todos têm direitos
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações" (BRASIL, 1988)
Destarte, a Consolidação das Leis do Trabalho, preceitua, em seus artigos 154 a 223,
sobre a segurança e a medicina do trabalho, ou seja, dispõe de forma mais direcionada os
deveres e obrigações legais, tanto para empresas quanto para os empregados para a efetiva
aplicabilidade da lei (BRASIL, 1943)
O meio ambiente do trabalho vem abranger de forma direta não somente o local de
trabalho, mas os instrumentos pertinentes para o efetivo desenvolvimento do serviço, o modo
de execução de tarefas, o tratamento que o empregado recebe do empregador e dos outros
empregados. É de responsabilidade do empregador o dever de adotar meios para assegurar a
saúde mental do empregado, garantindo um meio ambiente sadio e equilibrado.
Nesse contexto, as questões de saúde psicológica do trabalhador repercutem em todo
meio social, partindo da premissa que, os danos causados a ele afetam diretamente não só as
relações de trabalho, mas a forma como o trabalhador age dentro da sociedade que está inserido.
Segundo Maslach e Leiter (1997)
(...) os indivíduos que estão neste processo de desgaste estão sujeitos a largar o
emprego, tanto psicológica quanto fisicamente. Eles investem menos tempo e
energia no trabalho fazendo somente o que é absolutamente necessário e faltam com
mais frequência. Além de trabalharem menos, não trabalham tão bem. Trabalho de
alta qualidade requer tempo e esforço, compromisso e criatividade, mas o indivíduo
desgastado já não está disposto a oferecer isso espontaneamente. A queda na
qualidade e quantidade de trabalho produzido é o resultado profissional do desgaste.
Dito isso, a adoção de políticas éticas e transparência nas relações de trabalho poderá
evitar enormes transtornos para as empresas, e irão repercutir diretamente na prevenção de
eventuais síndromes como disposto no artigo em questão, a síndrome de Burnout.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acerca da temática em questão, foi realizado amplo estudo por meio de livros, artigos
científicos, bem como plataformas digitais, a qual foram vastos os resultados encontrados no
que se refere a síndrome em comento, no entanto, foram poucos os resultados de politicas
internas, como meio de prevenção, a serem utilizadas pelas empresas aos seus respectivos
funcionários.
Dessa forma, conclui-se que, o presente artigo, adentrou entre as vertentes da Psicologia
e do direito, interligando a síndrome de burnout no viés trabalhista, elencando os seus resultados
perante o sistema jurídico brasileiro, abrindo-se um grande precedente para eventuais analises
sobre a temática, a qual poderá ser trabalhada diretamente no âmbito empresarial, como forma
de cautela para evitar danos futuros entre empregados e empregadores.
REFERÊNCIAS
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intervenção na síndrome de burnout: como prevenir (ou remediar) o processo
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Psychosomatic Research, v. 61, p. 59-66, 2006.
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Health, v. 78, p. 325-331, 2005.
532
RESUMO
O artigo tem como escopo analisar a ocorrência da síndrome de burnout nos obreiros da
educação em virtude da situação apresentada pela pandemia do COVID-19. Assim, iniciou-se
a pesquisa explicando do que se trata a síndrome de burnout, também conhecida como síndrome
do esgotamento profissional. Ademais, tomou-se como parâmetro artigos, doutrinas,
jurisprudências, portarias e a legislação vigente, para que ficasse demonstrado como a mudança
repentina para o teletrabalho afetou a vida de tais profissionais além disso, como forma de
coletar informações acerca da síndrome do esgotamento, foram utilizadas pesquisas feitas com
profissionais da educação, sendo coletadas por meio de estudos e pesquisas via internet. Com
isso, os educadores tiveram que suportar jornadas exorbitantes, exigências de produtividade
além das necessárias antes da pandemia e a necessidade de se adequarem, bruscamente, ao novo
formato de ensino remoto, que perdurou durante a situação epidemiológica. Por fim, restou
evidenciado que os profissionais da educação, possivelmente, sofreram esgotamento
emocional, pela situação vivenciada em meio a pandemia, sendo expostos a situações, em sua
maioria, negativas de labor.
Palavras-chaves: Síndrome de burnout. Docentes. Teletrabalho. Pandemia.
ABSTRACT
The current article aims to analyze the occurrence of burnout syndrome in education workers
due to the situation presented by the COVID-19 pandemic. Thus, research began alluding to
what burnout syndrome is about, also known as professional exhaustion syndrome. Moreover,
articles, doctrines, jurisprudence, ordinances and the current legislation were used as a
parameter, so that it was demonstrated how the sudden change to telework affected the lives of
such professionals, in addition, as a way to collect information about exhaustion syndrome,
research was used on education professionals, being collected through studies and research via
the Internet. With this, educators had to endure exorbitant journeys, productivity demands
1
Graduando em direito pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – FCRN. E-mail:
davydiask13@gmail.com
2
Graduanda em psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – FCRN, Bolsista no Programa de
Educação pelo Trabalho para a Saúde – PET-saúde – 2022-2023 E-mail: Islla12@hotmail.com
3
Orientador: Mestre em Ciências Sociais e Humanas (PPGCISH-EU|RN), Especialista em Direito e Processo do
Trabalho (UNP/Esmat-21), Professor da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte, Advogado. E-mail:
kayogameleira@hotmail.com
533
beyond those necessary before the pandemic and the need to adapt, abruptly, to the new remote
teaching format, which lasted during the epidemiological situation. Finally, it was evidenced
that the education professionals, possibly, suffered emotional exhaustion, due to the situation
experienced in the midst of the pandemic, being exposed to situations, mostly negative work.
Keywords: Burnout syndrome. Teachers. Telework. Pandemic.
1 INTRODUÇÃO
trabalho fossem suspensas ou realizadas de forma remota e na educação não foi diferente. As
tecnologias atuais foram o ponto de partida para propagar a educação, dessa forma os
professores enfrentaram grandes desafios para a adaptação nesse espaço tecnológico, o que
gerou frustração, desânimo, sentimento de despreparo para lecionar, além das jornadas de
trabalho exorbitantes com exigências de produtividade, o que provocou supostamente,
esgotamento mental nessa classe trabalhadora.
No mundo capitalista o trabalho é um mero meio de subsistência perdendo o seu real
valor formador social que seria a satisfação, valorização e bem-estar do colaborador, sendo
assim, as classes trabalhadoras que vivenciaram esse período pandêmico enfrentaram diversas
dificuldades para efetuarem suas ações, as quais sofreram com as pressões sociais frente a um
cenário inoportuno que provocou desvalorização pela sociedade e impactou os colaboradores
com um sentimento de insatisfação profissional.
Deve-se destacar que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) discute, na
convenção n.º 155, tanto a saúde física quanto mental dos colaboradores, sendo assim pode-se
considerar um avanço para a sociedade trabalhadora. Além disso é válido ressaltar o direito que
o colaborador tem caso seja acometido por uma doença ocupacional é o mesmo quando
acometido por um acidente no trabalho, podendo também chegar a receber uma remuneração
de acordo com o acontecimento.
Sendo assim, o presente estudo tem como intuito analisar com base de revisão
bibliográfica a síndrome de burnout nos docentes durante a pandemia do COVID-19, o que se
torna um estudo de suma importância já que parte da análise de pesquisas empíricas na área que
correlacionaram o conceito da síndrome, o impacto que o indivíduo sofreu e os direitos que
asseguram o trabalhador com base em leis nacionais, visto que nesse contexto houve uma série
de negligências para com esses profissionais.
Dessa maneira, o presente artigo parte de uma pesquisa interdisciplinar abordando duas
grandes áreas de conhecimento com base na psicologia e no direito para demonstrar os fatos
vivenciados pelos docentes e busca desenvolver um discurso frente às vivências do esgotamento
profissional e os direitos negligenciados durante a pandemia mundial do COVID-19.
Portanto, para realização desta pesquisa a metodologia utilizada foi o modo
bibliográfico, voltada aos conhecimentos da síndrome de Burnout nos docentes no decorrer da
pandemia global. Ademais, foram consultadas legislações vigentes no ordenamento jurídico
brasileiro, como por exemplo a Constituição Federal de 1988, Consolidação das Leis
535
Trabalhistas de 1943, Código Civil de 2002 e portarias inerentes à matéria. Além desses, foram
realizadas pesquisas em bancos de dados e consultas em trabalhos empíricos.
Dessa forma, com o cenário da pandemia global a rotina da população mundial teve que
se adequar às normas da Organização Mundial de Saúde (OMS), o uso de máscara e álcool em
gel era de suma importância, como também o contato físico era evitado.
As escolas e outros ambientes de trabalho tiveram que se adaptar para a nova
modalidade, ou seja, recorreram às tecnologias e plataformas online como Google Meet, esse
meio de comunicação serviu para dar continuidade às aulas de modo remoto. Contudo, trouxe
uma sobrecarga para os docentes, já que em sua maioria não fazia o uso desses equipamentos
em suas aulas presenciais, além da distância em um contato que era diário entre professor-aluno
que promovia uma melhor comunicação. A adaptação nas plataformas que gerou desespero
nessa classe trabalhadora desamparados de formação para lidar com o novo.
Neste cenário, o Ministério da Educação - MEC autorizou, de forma excepcional, o uso
das ferramentas tecnológicas às disciplinas, realizando assim uma troca de disciplinas
presenciais para remotas em instituições de nível superior por meio do decreto n.º 343, de 17
de março de 2020 (BRASIL, 2020).
Contudo, é possível destacar que a maioria desses profissionais não teve preparo
suficiente para atuar de forma efetiva com as tecnologias, tendo em vista que não tiveram
formação para o uso das ferramentas, além de toda essa conjuntura provocar um estresse maior
nessa classe trabalhadora. Além disso, este cenário remeteu a uma desvalorização para com
esses profissionais por parte da própria população com frases propagadas como “recebem sem
trabalhar", “é só um trabalho online" ou “ganha para ficar em casa” comentários como esses
denunciam a falta de respeito e empatia para com os professores que a cada dia tem que se
reinventar de forma efetiva para realizar suas atividades e se adequar ao modelo atual que a
diversidade mundialmente exigiu (CAPUZZO; LEITÃO, 2021).
Em virtude da Pandemia Mundial, os professores tiveram que adaptar o seu fazer
profissional passando, assim, por dificuldade nos desdobramentos inerentes e os avanços no
meio tecnológico, como a utilização da nova ferramenta de aula e planejamento, estar em
contato com os discentes por meio de uma tela, novos modelos de relatórios e reuniões, todos
os afazeres profissionais desses foram modificados na sua forma de realização.
Com base na pesquisa realizada por Alles (2021), é perceptível para os educadores a
carência de apoio psicológico nesse período de dor e adaptação, o Burnout não aparece de forma
brusca, mas sim em um processo gestado que é contínuo e que afeta diretamente o físico e o
mental, com sentimentos e sensações de cansaço, esgotamento, falta de recursos que colabore
539
O trabalho é o meio pelo qual o ser humano visa o desenvolvimento e a sua própria
subsistência. Os escravos, antes do ano de 1888, eram os responsáveis por prestarem atividades
em sua maioria de modo físico para os seus senhores, sem o direito a qualquer tipo de
remuneração pelos seus serviços. Todavia, após a Princesa Isabel assinar a Lei Áurea, que
declarou a libertação dos escravos, por meio da Lei nº 3353, em 13 de maio de 1888, houve a
necessidade de eles procurarem alguma atividade laboral que oferecesse uma contraprestação
pelos serviços. Todavia, os negros que migraram para as cidades necessitaram se submeter aos
subempregos, economia informal e artesanato. Com essa alteração houve um aumento
considerável no número de ambulantes e empregadas domésticas sem nenhum tipo de proteção
trabalhista (AGUIAR, 2017).
Em que pese a atividade laboral sempre ter existido no âmbito social, a legislação
brasileira somente veio a efetivar os direitos dos obreiros no ano de 1934, com a Constituição
540
Federal (STÜRMER, 2014). Ademais, foi em seu artigo 121, que buscou a proteção da saúde
do empregado. No § 1º, do referido artigo, buscou a proteção a jornada de trabalho máxima de
8 (oito) horas diárias, o direito a férias anuais remuneradas, o repouso semanal remunerado e,
também, ressaltou que deveria haver assistência médica e sanitária ao trabalhador e a gestante,
devendo assegurar o direito ao descanso antes e depois do parto sem prejuízo a remuneração
devida (BRASIL, 1934).
A Organização Internacional do Trabalho – OIT, por meio da convenção de nº 155 tratou
da saúde dos trabalhadores e o ambiente de trabalho, ratificada pelo Brasil pelo Decreto nº
1254/94, que posteriormente veio a ser modificado pelo Decreto nº 10.088/19, que disciplina
sobre as normas referentes a saúde e segurança do empregado no meio laboral. Em seu artigo
4º elucidou que a convenção tem como objetivo a prevenção dos acidentes e dos perigos para a
saúde do trabalhador que estejam relacionadas com o labor do empregado, reduzindo ao mínimo
as causas de riscos inerentes ao ambiente de trabalho. Desse modo, o artigo 16, por exemplo,
esclarece que o empregador deve garantir um ambiente de trabalho que não envolvam riscos
para a saúde do obreiro.
Assim, o labor não deve simbolizar meio de retirada ou o não reconhecimento para os
direitos conquistados historicamente, havendo a necessidade de observância e, caso seja
necessário, reparar a violação dos direitos do trabalhador, pois eles geram fortes consequências,
como nos casos de esgotamento profissional, pelo fato do empregado se encontrar em um
ambiente negativo de trabalho (OLIVERA; TOURINHO, 2020).
A Constituição Federal de 1988 buscando a efetivação do princípio da dignidade da
pessoa humana, que se trata de um dos fundamentos da República Federativa do Brasil – RFB.
Para garantir tais direitos, em seu artigo 7º preceitua que além dos demais direitos que visem a
melhoria da condição econômica, também deve ser assegurado ao obreiro o direito à jornada
de trabalho de 8 (oito) horas diárias não podendo extrapolar, em regra, as 44 ( quarenta e quatro)
horas semanais, o direito as férias após o período de um ano de serviço, gozar do repouso
semanal remunerado, direito a licença paternidade/maternidade, redução dos riscos inerentes a
atividade laboral, entre outros.
Ademais, a Constituição Cidadã, aduz no artigo 196 que a saúde é um direito de todos
e dever do Estado, ele deve garantir por meio de políticas sociais que visem a redução de riscos
de doenças, o acesso universal e igualitário para assegurar a promoção, proteção e recuperação.
Nesse viés, no artigo 200, alude que o Sistema Único de Saúde – SUS compete executar as
541
ações de vigilância sanitária e epidemiológica e efetivar as ações que visem a proteção da saúde
do empregado.
Em conformidade, a Consolidação das Leis Trabalhistas de 1943, aduz em seu artigo
157 que cabe as empresas cumprir ou fazer cumprir as normas de segurança e medicina do
trabalho. De mesmo modo dispõe que os empregadores devem “instruir os empregados, através
de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho
ou doenças ocupacionais”.
Visto isso a Constituição e as leis infraconstitucionais buscam assegurar ao funcionário,
sendo ele a parte hipossuficiente da relação de trabalho, uma série de prerrogativas visando
garantir o direito à desconexão do ambiente laboral, assim também garantindo a saúde do
obreiro sendo ela física ou mental.
Com relação a síndrome de burnout, em que pese a Organização Mundial da Saúde –
OMS efetivando o reconhecimento e incluindo na Classificação Internacional de Doenças –
CID 11 em 1º de janeiro de 2022, no Brasil ela foi reconhecida pelo Ministério da Saúde no
ano de 1999, por meio da portaria de Nº 1339, que instituiu a lista de agravos relacionados a
atividade laboral e dentre elas se faz presente a síndrome de burnout ou esgotamento
profissional.
Além disso, a Síndrome de Burnout está listada no Decreto nº 3.048/1999, anexo II, lista
B, que traz previsões de Transtornos Mentais e de comportamento associados ao ambiente do
trabalho. Neste documento, no que concerne as doenças do sistema nervoso relacionadas com
o trabalho – Grupo VI da CID-10 – em seu item XII, fala sobre Sensação de Estar Acabado,
dispõe que os dois agentes causadores da síndrome de esgotamento profissional são o ritmo de
trabalho penoso (Z56.3) e outras dificuldades físicas e mentais relacionadas com a atividade
laboral (Z56.6).
Deste modo, Oliveira e Tourinho (2020) relatam que mesmo havendo previsão no
ordenamento jurídico brasileiro a síndrome de burnout é considerada uma doença ocupacional,
sendo assim encontra-se dificuldade ao tentar comprovar tal dano, pois deve haver uma ligação
direta entre a doença e o meio ambiente laboral.
Assim, a legislação pátria brasileira institui mecanismos de proteção contra a síndrome
do esgotamento profissional, visando a proteção da saúde mental e física do obreiro que podem
ser causadas pelas situações negativas com o ambiente de trabalho, seja ele em virtude do
542
evidencia pelo fato de o malefício ter ocorrido em face das condições laborativas; c)
culpa empresarial, excetuadas as hipóteses de responsabilidade objetiva. Embora não
se possa presumir a culpa em diversos casos de dano moral - em que a culpa tem de
ser provada pelo autor da ação -, tratando-se de doença ocupacional, profissional ou
de acidente do trabalho, essa culpa é presumida, em virtude de o empregador ter o
controle e a direção sobre a estrutura, a dinâmica, a gestão e a operação do
estabelecimento em que ocorreu o malefício. [...]
de burnout apresentada por costureira, pois segundo laudo técnico a autora sofria constante
pressão dos seus superiores e exercia funções acima das suas condições físicas e mentais. As
atividades laborais, que segundo a Ministra relatora Delaíde Miranda Arantes, contribuíram
com a doença psiquiátrica desenvolvida na empregada.
Visto isso, segundo a atual jurisprudência que versa sobre a síndrome de burnout, poderá
haver o reconhecimento de dano causado ao empregado, caso o empregador não proporcione
um ambiente de trabalho salubre e a redução de riscos ao obreiro, mesmo que já exista indícios
de adoecimentos fora da atividade laboral, pois não pode ocorrer o afastamento somente porque
o trabalhador possui sintomas anteriores ao vínculo.
reforma trabalhista trouxe no artigo 62, que o trabalhador que prestasse serviços na hipótese do
artigo 75-B, não seria detentor da limitação de jornada.
Todavia, a Medida Provisória nº 1108 de 2022, trouxe consigo alterações sobre o
teletrabalho como a possibilidade de efetuar a contratação por tarefa ou produção, que consiste
na prestação de determinada produção/tarefa de determinado bem ou coisa. Assim, o
empregado fica condicionado a remuneração conforme sua produção desempenhada, desse
modo não se encaixará em uma jornada de trabalho, não havendo a possibilidade de horas
extras. Porém, caso o empregador e empregado, mesmo prestando o labor de forma remota
instituí no contrato de trabalho que a prestação será por jornada de labor e caso o patrão consiga
fiscalizar a jornada, terá o obreiro direito à jornada de trabalho constitucional de 8 horas diárias
ou 44 horas semanais.
Com a necessidade de proteger os direitos dos profissionais da educação, o Ministério
Público do Trabalho – MPT, divulgou nota técnica que visava a defesa da saúde e dos direitos
fundamentais dos professores em meio ao trabalho prestado de forma remota enquanto durar a
pandemia do novo coronavírus – COVID-19.
Desse modo, elencou que é necessário adequar a prestação de serviços para que não
ocorra o desgaste psicossomático e não deve ocorrer qualquer alteração salarial. Nessa mesma
perspectiva, menciona que é necessário o aumento dos intervalos de repouso entre as aulas
ministradas, ressaltando que tais repousos devem ser contabilizados como efetivo trabalho
prestado.
Ademais, dispõe que deve haver o apoio tecnológico e orientação técnica para os
docentes para realização do teletrabalho. Além disso, um ponto a ser ressaltado, é que o docente
tem direito a desconexão laboral, que deve ser estipulado período para retirar as dúvidas dos
discentes e que, preferencialmente, deverá ser no período de aula e também discorre que
plataformas digitais como WhatsApp, telegram e comunicação por celular, devem ser evitadas.
Por fim, acena que os profissionais da educação devem ser instruídos, de maneira expressa,
clara e objetiva, quanto as precauções a serem tomadas para evitar doenças ocupacionais, como
a síndrome de burnout.
De mesmo modo, a Organização Internacional do Trabalho – OIT, em seu guia prático
de Teletrabalho durante e após a pandemia da COVID-19, publicado em junho de 2020, relata
que para que o obreiro não atinja determinados níveis de desânimo, frustação e cansaço, devem
os empregadores terem cautelas com as medidas adotadas, para que tais medidas, não
546
as aulas remotas e também necessitaram lidar com a evasão dos discentes por conta da nova
metodologia enfadonha de ensino, (SANCHEZ et al., 2019).
Ademais, com o ensino remoto emergencial estabelecido, exigiu dos docentes a
necessidade de, além dos seus métodos pedagógicos, aprenderem a utilizar as ferramentas
virtuais, as Tecnologias da Informação e Comunicação – TICs e realizar gravações de conteúdo
para disponibilizar para os discentes, (BEZERRA, 2021). Assim, segundo Silva et al. (2020)
como resultado das diversas atividades atribuídas a essa classe trabalhadora, ela se enquadra
como uma das atividades laborais mais estressantes.
Deste modo, Silio et al. (2021) em sua pesquisa produzida de forma exploratória,
descritiva e quantitativa, com os professores da Universidade Privada de Porto Velho - RO, ao
qual buscou analisar a saúde mensal dos docentes em meio a pandemia do COVID-19. O estudo
contou com a participação de 25 profissionais com idades entre 25 e 65 anos, de modo anônimo,
que se submeteram a um questionário com 15 perguntas acerca do Regime Especial de
Aprendizagem Remota – REAR, que foi o meio pelo qual a universidade fornecia as aulas
durante o isolamento social. As perguntas se basearam no estudo de Brief Symptom Inventory
– BSI e demais perguntas relacionadas aos possíveis comportamentos psíquicos,
socioeconômicos e sociodemográficos.
Uma das perguntas efetuadas foi “Com que frequência os profissionais se sentiram
esgotados, físico ou mentalmente, com o labor desempenhado em meio a pandemia? ”, 32%
responderam que se sentem dessa forma frequentemente, 28% algumas vezes, 24% consideram
sempre e, somente, 16% consideraram raramente. Os mesmos profissionais foram indagados
sobre as cobranças por parte da instituição no período pandêmico, 14 participantes relataram
que as exigências eram normais, 9 descreveram como excessivas, 1 participante avaliou como
excessiva e sem nexo e o último narrou como incoerente. Ademais, quando questionados sobre
a jornada de trabalho 76% dos entrevistados alegaram que tiveram a jornada de labor ampliada.
Além disso, foi perguntado aos participantes sobre a experiência profissional de modo
remoto e sobre a saúde emocional em meio a pandemia, sendo comparado com o período
anterior a pandemia, eles deveriam responder utilizando uma escala de 0 a 10, sendo 0 péssimos
e 10 excelente. Com relação a experiencia laboral somente 10% alegaram a prestação como
excelente e 10% dos participantes deram a pior nota. Com relação a saúde emocional 20%
deram a pior nota e, em conjunto, 20% deram nota 8 para a questão emocional, havendo assim
um empate nesse parâmetro. Outrossim, quando interrogados sobre a motivação para lecionar
548
em meio a pandemia em comparação ao período anterior, 40% relataram que houve uma piora
na motivação e no cansaço.
Por fim, quando questionados se haviam procurado auxílio psicológico na instituição
durante a pandemia, 100% dos profissionais relataram que não. Todavia, 20% dos educadores
já possuíam acompanhamento psicológico externamente e 32% alegaram que não procuraram
ajuda psicológica porque não possuíam tempo para tal atividade.
Em conformidade com os dados supracitados, o pesquisador Souza et al. (2021) indica
que o esgotamento mental dos profissionais da educação possui ligação com a “escravização
digital” que foram colocados por causa da pandemia do COVID-19, assim tendo que suportar
jornadas extenuantes e a mudança repentina da metodologia que eram submetidos. Em
consonância, Sanchez et al. (2019) dispôs que a o trabalho semanal dos educadores antes da
pandemia era de 32,5 horas. Porém, durante a pandemia as horas de prestação de labor
aumentou para 45 horas semanais.
Desse modo, Santos (2020), em estudo realizado em Portugal demonstrou que as aulas
efetuadas de forma remota são experiências difíceis e negativas para os profissionais,
ocasionando esgotamento, exaustão e desmotivação em lecionar de forma remota. Assim, os
docentes universitários se encontraram inseridos em um ambiente favorável ao adoecimento
mental e físico pelos impactos da pandemia, (SANTOS et al. 2021).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
efetuadas. Além disso, tiveram que reaprender a dar aula, em um formato virtual, onde a maioria
dos profissionais somente eram submetidos ao regime presencial de labor.
Isto posto, conseguimos vislumbrar que os docentes sofreram com tal mudança e
sobrecarga no trabalho e que os profissionais em meio ao trabalho prestado na pandemia se
sentiram, em sua maioria, esgotados, com mudanças emocionais em comparação com o período
anterior. Ademais vivenciaram experiencias difíceis e danosas à saúde física e mental, como
consequência da modificação estrutural da prestação do trabalho, favorecendo, assim, a
possível aparição da síndrome de burnout.
Mesmo com a ocorrência de possíveis danos ao bem-estar, alguns obreiros disseram não
procurar ajuda de profissionais, como psicólogos ou terapeutas, por não constituírem tempo
hábil para os cuidados da saúde mental.
Além disso, como demonstrado, o Tribunal Superior do Trabalho tem entendido que
para que seja reconhecida a síndrome do esgotamento profissional deve haver o nexo de
causalidade entre o dano causado ao obreiro em virtude da prestação da atividade laborativa.
Ademais, a mesma Corte elencou que por mais que o empregado tendo indícios de adoecimento
fora do trabalho, pode vir a ser reconhecido a síndrome de burnout, caso o empregador não
venha a cumprir as medidas de segurança para saúde do obreiro.
Por fim, vale ressaltar que o surgimento da pandemia do COVID-19 trouxe uma série
de pontos negativos para os profissionais da educação, como demonstrado. Assim há a
necessidade de orientação psicológica e jurídica para compreenderem os danos que podem ter
sido gerados e os seus direitos diante de tal situação vivenciada.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério Público Do Trabalho. Nota técnica – Grupo de Trabalho COVID 19.
Nota Técnica para a atuação do Ministério Público do Trabalho na defesa da saúde e
demais direitos fundamentais de professoras e professores quanto ao trabalho por meio
de plataformas virtuais e/ou em home office durante o período da pandemia da doença
infecciosa COVID-19. novembro de 2020.
FARO, A.; BAHIANO, M. de A.; NAKANO, T. de C.; REIS, C.; SILVA, B. F.P. da; VITTI,
L. S. COVID-19 e saúde mental: A emergência do cuidado. Estudos de Psicologia. vol.37
Campinas, 2020. Disponível em:https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_artt
ext&pid=S0103-. Acesso em: 23/07/2022.
SANTOS, Geórgia Maria Ricardo Félix dos; SILVA, Maria Elaine da; BELMONTE,
Bernardo do Rego. COVID-19: ensino remoto emergencial e saúde mental de docentes
universitários. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 21, p. 237-243, 2021.1
SANTOS, Hugo Miguel Ramos. Os desafios de educar através da Zoom em contexto de
pandemia: investigando as experiências e perspectivas dos docentes portugueses. Práxis
educativa, v. 15, p. 1-17, 2020.
SILIO, Luis Felipe et. al. Análise da saúde mental dos professores de uma instituição de
Ensino Superior em meio a pandemia. Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas
em Qualidade de Vida. Vol. 13, nº. 2, 2021, p. 2
SOUZA, Katia Reis de et al. Trabalho remoto, saúde docente e greve virtual em cenário
de pandemia. Trabalho, Educação e Saúde, v. 19, 2020.
STÜRMER, Gilberto. Direito constitucional do trabalho no Brasil. São Paulo: Atlas, 2014
SÜSSEKIND, Arnaldo et al. Instituições de Direito do Trabalho. v. 2, 16. ed. atual. por
Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho. São Paulo: LTr, 1996.
553
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar a percepção de jovens entre 14 anos a 24 anos
de idade sobre a educação fiscal como instrumento de conscientização social. Como
procedimento metodológicos foi utilizado o método dedutivo, através da realização de pesquisa
bibliográfica, por meio da análise de livros e artigos acadêmicos existentes acerca do tema, e
pesquisa de campo, a partir da aplicação de formulário com 11 (onze) questões sobre a
importância do conhecimento em educação fiscal. O artigo justifica-se pela necessidade de
analisar o nível de conhecimento dos jovens sobre o pagamento de tributos, arrecadação e
gestão destes. Assim, foi possível perceber que os jovens concordam que a educação fiscal é
parte importante para o entendimento dos gastos realizados pelo Estado. É necessária a
participação e a multiplicação desse conhecimento para o desenvolvimento social, e
possivelmente a diminuição das desigualdades existentes.
Palavras-Chaves: educação fiscal, jovens, instrumento de conscientização.
ABSTRACT
The present work aims to analyze the perception of young people between 14 and 24 years old
about tax education as an instrument of social awareness. As a methodological procedure, the
deductive method was used, through bibliographic research, through the analysis of books and
1
Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN. Pós-graduada em
Gestão Estratégica de Pessoas e Liderança Organizacional pela Faculdade Vale do Jaguaribe - FVJ.
Bacharelanda em Direito pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte -FCRN E-mail:
leidiane.defernandes@gmail.com
2
Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN. Pós-graduada em
Gestão Estratégica de Pessoas e Liderança Organizacional pela Faculdade Vale do Jaguaribe - FVJ.
Bacharelanda em Direito pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte -FCRN E-mail:
gliciarafaellat@gmail.com
3
Doutoranda em Direito, pelo Programa de Pós-Graduação em Direito, da Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Especialista em Educação em Direitos Humanos, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Especialista em Língua Inglesa, pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
Graduada em Letras, com habilitação em Língua Inglesa, e em Direito, pela Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte. Advogada e Professora Universitária do Curso de Graduação em Direito e da Pós-Graduação
em Direito Processual Civil da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
diogenesadvocacia@hotmail.com
555
academic articles on the subject, and field research, from the application of a form with 11
(eleven) questions about the importance knowledge in tax education. The article is justified by
the need to analyze the level of knowledge of young people about the payment of taxes,
collection and management of these. Thus, it was possible to perceive that young people agree
that fiscal education is an important part of understanding the expenditures made by the State.
Participation and multiplication of this knowledge is necessary for social development, and
possibly the reduction of existing inequalities.
Keywords: tax education, youth, awareness instrument
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo visa analisar a percepção de jovens entre 14 anos a 24 anos de idade
acerca do conhecimento em educação fiscal. O conhecimento em educação fiscal ainda nas
instituições de ensino - públicas e privadas - da educação básica se mostra necessária para que
este conhecimento seja trabalhado cada vez mais cedo, modificando assim o preconceito social
ao se falar em pagamento de tributos.
Ao tratar sobre a relação de importância dos tributos a educação fiscal possui uma
metodologia interdisciplinar - trabalhando em todas as disciplinas de forma interligada -
caminhando por temas como o tributo e sua função social, o combate à sonegação, ao
contrabando, ao descaminho e à pirataria (PNEF, 2015).
Políticas que versam cada vez mais aproximar o contribuinte a respeito do conhecimento
sobre arrecadação, pagamento e destinação dos tributos estão sendo criadas a fim “chamar” a
sociedade a fazer parte ativamente não somente da participação pecuniária, mas como
indivíduos conscientes do seu papel de cidadãos que acompanham e fiscalizam severamente a
destinação do dinheiro.
Desta forma, o objetivo da construção deste artigo é discorrer sobre o conceito de
educação fiscal e sua importância para o desenvolvimento social e diminuição das
desigualdades existentes, bem como entender a percepção dos jovens de 14 anos a 24 anos de
idade sobre a educação fiscal como instrumento de mudança social e o processo de
conscientização desses jovens acerca do tema tratado.
Como procedimento metodológicos foram realizadas pesquisa bibliográfica, por meio
da análise de livros e artigos acadêmicos existentes acerca do tema, e pesquisa de campo, a
partir da aplicação de formulário com 11 (onze) questões sobre a importância do conhecimento
em educação fiscal, utilizando-se do método dedutivo.
556
A partir dos dados obtidos foi realizada análise descritiva, que traz como objetivo a
descrição das características populacionais, fenômeno, ou estabelecimento de relações entre
variáveis (GIL, 2010).
Assim, a pesquisa buscou analisar a percepção de jovens entre 14 anos a 24 anos de
idade sobre a importância da Educação Fiscal como instrumento de conscientização social.
Destarte, a pesquisa deste instrumento tem como justificativa a análise da percepção dos
jovens em educação fiscal, além da contribuição para ampliação do conhecimento sobre o
assunto e possíveis possibilidades de criação de projetos que possam contribuir para a
multiplicação de saberes em sociedade a fim de formar cidadãos cada vez mais conscientes e
fiscalizadores de seus tributos.
A carga tributária brasileira se divide entre impostos, sendo uma arrecadação generalista
sem o objetivo predefinido, ou seja, fato resultante em uma única necessidade, taxas e
contribuições, que por sua vez tem suas arrecadações destinadas ao desenvolvimento específico
de algum serviço público.
Dados do artigo da Contabilizei, descreve que os impostos federais são responsáveis
pela maior parte da arrecadação do país, com uma margem de contribuição em torno de 60%,
em segundo lugar os impostos estaduais que englobam um nicho de arrecadação em cerca de
28%, e, em seguida, os impostos municipais representantes de 5%. As porcentagens residuais
variam entre taxas e outros tipos de tributos.
Conforme o artigo 16º do Código Nacional Tributário4, o “imposto é o tributo cuja
obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal
específica, relativa ao contribuinte”. Esse direito a tributar se dará a União, aos Estados, ao
Distrito Federal e os Municípios, e os tributados serão os seus respectivos jurisdicionados, um
entendimento que se deriva do poder do império destes.
4
Art. 16. Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer
atividade estatal específica, relativa ao contribuinte.
557
Impostos, portanto, sob uma ótica geral, existirão nas três repartições mais básicas do
estado (União, Estado e Município), e no que tange ao entendimento da implantação de serviços
como Nota Fiscal Potiguar 5, o imposto irá se reverter em torno de um imposto estadual.
Com a finalidade de custear as necessidades públicas de responsabilidade do governo,
o imposto é a principal fonte de arrecadação monetária, sendo o ITCMD6 (Imposto sobre
Transmissão Causa Mortis e Doação), o ICMS 7 (Imposto sobre Operações relativas à
Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal
e de Comunicação) e o IPVA 8(Imposto sobre a propriedade de veículos automotores) de
responsabilidade dos estados e do distrito federal.
O Art. 155 da Constituição Federal de 1988, estabelece que:
5
A Nota Potiguar é uma ação do Programa de Cidadania e Educação Fiscal do Governo do Estado e oferece
vantagens e prêmios a quem pede para inserir o CPF na nota fiscal no momento das compras. Para participar, os
consumidores só precisam instalar o aplicativo da Nota Potiguar no smartphone, escolher uma instituição
filantrópica da área de saúde, esporte e assistência social e torcer para ser sorteado.
6
Imposto de competência estadual aplicado sobre doações, transmissões de bens e demais tipos de distribuições
não onerosas — como ocorre em um processo de herança.
7
O Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte
Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação é um imposto cobrado pela movimentação de mercadorias.
8
O IPVA (Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automotores) é uma das principais despesas que você terá
que considerar na hora de comprar um carro, seja ele novo, seminovo ou usado.
558
Nesse contexto, faz indispensável uma reflexão acerca do entendimento de como essas
políticas públicas são financiadas e de que forma elas estão chegando à população que mais
necessita de auxílio.
Muitos sabem que o que financia as políticas públicas são as verbas governamentais, as
quais são arrecadadas através dos pagamentos dos impostos e tributos de cada cidadão.
Entretanto, grande parte da população aponta duras críticas ao nosso sistema de
cobrança de impostos e tributos, provavelmente, em virtude do Brasil apresentar uma carga
tributária bastante elevada e, por sua vez, os serviços aos cidadãos não serem devolvidos da
maneira adequada.
De fato, de acordo com pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE)9, percebe-se o aumento da arrecadação de impostos ano a ano.
No ano de 2019, em comparação aos anos anteriores, o país teve um PIB na ordem de
7,3 trilhões de reais, tendo uma arrecadação para os cofres públicos de cerca de 2,7 trilhões de
reais, fazendo com que a carga tributária nesse referido ano chegasse a 36,9% do PIB 10.
Em 2020, em virtude da pandemia do novo coronavírus, essa arrecadação sofreu uma
queda, em decorrência da inadimplência no pagamento de determinados impostos 11.
A importância de acompanhar o orçamento tributário é essencial para que se possa
cobrar dos representantes uma devolutiva mais eficaz e que faça valer a pena todos os impostos
que são pagos12. Porém, essa fiscalização acaba por não existir, muitas vezes até por falta de
9
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE se constitui no principal provedor de dados e
informações do País, que atende às necessidades dos mais diversos segmentos da sociedade civil, bem como dos
órgãos das esferas governamentais federal, estadual e municipal.
10
O PIB é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos por um país, estado ou cidade, geralmente em
um ano. Todos os países calculam o seu PIB nas suas respectivas moedas. O PIB não é o total da riqueza
existente em um país. Esse é um equívoco muito comum, pois dá a sensação de que o PIB seria um estoque de
valor que existe na economia, como uma espécie de tesouro nacional. Na realidade, o PIB é um indicador de
fluxo de novos bens e serviços finais produzidos durante um período. Se um país não produzir nada em um ano,
o seu PIB será nulo.
11
Para o primeiro semestre, a queda real no Brasil foi de 5,58%. Além dos efeitos da retração econômica, outra
ameaça à receita dos estados se refere ao nível de inadimplência. Diante das dificuldades de caixa enfrentadas
pelas empresas, junto aos obstáculos para tomada de crédito, a priorização de salários e fornecedores faz da
postergação de impostos uma alternativa mais fácil para o financiamento de curto prazo. Como o referido
imposto depende em grande medida da atividade econômica, a pandemia da Covid-19 teve efeitos diretos sobre a
arrecadação estadual, com alguns estados sofrendo perdas consideráveis. Disponível em:
<http://www.auditece.org.br/blog/queda-do-icms-de-558-no-primeiro-semestre-de-2020-efeitos-da-pandemia-e-
analise-das-renuncias>. Acesso: 06 jul. 2022.
12
Após classificar como “exorbitantes” os gastos no cartão corporativo de Jair Bolsonaro (PL), o procurador
Lucas Furtado, do Tribunal de Contas da União (TCU), disse que vê indícios de improbidade administrativa e
quer que o órgão imponha sanções contra o presidente.
Em representação encaminhada à presidente do TCU, ministra Ana Arraes, ele pede que sejam estipuladas as
“medidas necessárias a verificar a legalidade, legitimidade, moralidade, economicidade, razoabilidade,
comicidade e transparência dos gastos levados a efeito pela Presidência da República na gestão de Jair
559
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Gráfico 3: A opinião dos entrevistados sobre a importância de programas que tratem sobre educação
fiscal para a formação de jovens a respeito da atividade financeira do Estado
Gráfico 5: Opinião dos entrevistados com relação à educação fiscal fazer parte do ensino básico
Ao tratar sobre a Educação Fiscal como conteúdo do ensino básico (fundamental maior
e menor e ensino médio) 80% dos jovens responderam que concordam totalmente que a
Educação Fiscal seria conteúdo importante. Já 17,5%, ou seja, 7 (sete) jovens responderam que
acreditam ser importante, mas concordando de forma parcial. E, por fim, 1 (um) jovem
respondeu que discorda parcialmente, representando 2,5%.
A sexta pergunta tratou do papel das instituições sobre a discussão nos espaços de ensino
a respeito de tributos e educação fiscal, sendo indagado o seguinte questionamento “Acredita
que as instituições de ensino deveriam discutir mais sobre os tributos e a educação fiscal? ”
Gráfico 6: O papel das instituições de ensino com relação às discussões sobre tributos e a educação
fiscal
563
Como pode-se perceber 30 (trinta) jovens, ou seja, 75% dos entrevistados, responderam
que concordam totalmente que as instituições de ensino devam discutir mais sobre tributo e
educação fiscal. Já os outros 25%, o que representa um total de 10 jovens, concordam
parcialmente que estas instituições devam discutir acerca do ensino em educação fiscal.
A sétima questão foi sobre a importância do conhecimento acerca dos tributos, sua
destinação, forma de arrecadação, sendo apresentada a seguinte pergunta “Acredita que
conhecer sobre tributos (destinação, forma de arrecadação) é importante para a formação do
jovem?
A oitava pergunta foi a respeito do conhecimento sobre o quanto é pago com tributo nas
compras, sendo apresentado o seguinte questionamento “Acredita que sabe identificar quanto é
pago de tributo nas compras que realiza? ”
Ao tratar sobre identificação do quanto é pago com tributo, 10% dos jovens informaram
não saber identificar esse pagamento, discordando totalmente do questionamento. Já 35% dos
jovens informaram que discordam parcialmente e 55% dos jovens responderam que sabem
identificar parcialmente o valor pago em tributos.
A nova pergunta foi com relação à destinação da arrecadação dos tributos pela
sociedade, sendo apresentada a seguinte a questão “Acredita que a arrecadação de tributos e sua
destinação contribuem para a manutenção da sociedade? ”
Gráfico 9: Opinião dos jovens entrevistados sobre a arrecadação de tributos e sua destinação como
forma de contribuição para a manutenção da sociedade
Quanto à destinação da arrecadação dos tributos pela sociedade, 35% dos jovens
concordam totalmente que a arrecadação retorne para a sociedade como benefícios, 47,5% dos
entrevistados concordam, mas de forma parcial, 12,5% discordam parcialmente no retorno
destes benefícios, e 5% discordam totalmente que esse retorno seja possível.
A décima é pergunta se referiu ao papel da arrecadação do tributo na diminuição da
desigualdade social, sendo realizado o seguinte questionamento “Sobre a arrecadação dos
tributos (impostos, taxas e contribuições): acredita que a mesma contribui para a diminuição
das desigualdades sociais? ”
Nesse quesito, 17,5% dos jovens concordam totalmente com o papel da arrecadação
para a diminuição das desigualdades, 40% dos jovens concordam de forma parcial, 17,5%
discordam parcialmente e 25% discordam totalmente, acreditando que a arrecadação de tributos
em nada contribui para a diminuição das desigualdades sociais.
Por fim, a última pergunta foi sobre os conhecimentos básicos acerca da educação fiscal,
em específico, o pagamento de tributos e a sua destinação, sendo apresentada a seguinte questão
“Acredita que a sociedade tem conhecimentos básicos sobre o pagamento de tributos e sua
destinação? ”
Gráfico 11: Conhecimentos básicos da sociedade sobre o pagamento de tributos e sua destinação
566
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
GIL, A.C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2010.
NOGUEIRA, Barbosa Ruy. Curso de Direito Tributário. 14. Ed. São Paulo: 1995.
568
ANEXOS
569
FORMULÁRIO
2 - Acredita que a educação fiscal contribui de forma significativa para a formação social do
indivíduo?
( ) Discordo totalmente
( ) Discordo parcialmente
( ) Concordo parcialmente
( ) Concordo totalmente
3 - Acredita que programas que tratem sobre educação fiscal preparam os jovens para que
compreendam e conheçam à atividade financeira do Estado?
( ) Discordo totalmente
( ) Discordo parcialmente
( ) Concordo parcialmente
( ) Concordo totalmente
4 - Acredita que a educação fiscal é importante para a formação profissional dos jovens?
( ) Discordo totalmente
( ) Discordo parcialmente
( ) Concordo parcialmente
( ) Concordo totalmente
( ) Concordo parcialmente
( ) Concordo totalmente
6 - Acredita que as instituições de ensino deveriam discutir mais sobre os tributos e a educação
fiscal?
( ) Discordo totalmente
( ) Discordo parcialmente
( ) Concordo parcialmente
( ) Concordo totalmente
7 - Acredita que conhecer sobre tributos (destinação, forma de arrecadação) é importante para
a formação do jovem?
( ) Discordo totalmente
( ) Discordo parcialmente
( ) Concordo parcialmente
( ) Concordo totalmente
8 - Acredita que sabe identificar quanto é pago de tributo nas compras que realiza?
( ) Discordo totalmente
( ) Discordo parcialmente
( ) Concordo parcialmente
( ) Concordo totalmente
10 - Sobre a arrecadação dos tributos (impostos, taxas e contribuições): acredita que a mesma
contribui para a diminuição das desigualdades sociais?
571
( ) Discordo totalmente
( ) Discordo parcialmente
( ) Concordo parcialmente
( ) Concordo totalmente
11 - Acredita que a sociedade tem conhecimentos básicos sobre o pagamento de tributos e sua
destinação?
( ) Discordo totalmente
( ) Discordo parcialmente
( ) Concordo parcialmente
( ) Concordo totalmente
572
RESUMO
O presente artigo trata de uma análise das dificuldades enfrentadas pelas vítimas de violência
doméstica, dando ênfase para o município de Mossoró, localizado no Rio Grande do Norte. Foi
realizada uma visita a Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher de Mossoró/RN
(DEAM) para a coleta de dados e informações ao que se refere aos desafios encontrados pelas
atendidas e pela própria delegacia. Essa pesquisa surgiu a partir do questionamento de como
são realizadas as denúncias e dos fatores que as mulheres agredidas precisam enfrentar, tais
como dependência emocional, econômica, além dos estigmas de uma sociedade culturalmente
machista e patriarcal, que mesmo de forma inconsciente perpetua o pensamento de que o papel
da mulher é de submissão ao seu companheiro. A metodologia aplicada foi a pesquisa
bibliográfica, com base em livros, artigos, legislação, reportagem que tratam desse tema e da
análise dos dados colhidos na visita à DEAM. Com esse trabalho concluímos que a violência
contra a mulher está enraizada na sociedade e é tratada como invisível, dificultando, inclusive
que a vítima realize a denúncia, já que ela encontra vários desafios desde o momento da
agressão até a formalização da denúncia.
Palavras-chaves: Violência doméstica; Mulheres; Direito; Denúncia.
ABSTRACT
1
Mestre em Ensino pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail:
eriveltonalmeida@yahoo.com.br
2
Graduanda em Direito pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
joice_milena@hotmail.com
3
Graduanda em Direito pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
naylafernandes3@gmail.com
573
This article deals with an analysis of the difficulties faced by victims of domestic violence,
emphasizing the municipality of Mossoró, located in Rio Grande do Norte. A visit was made
to the Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher de Mossoró/RN (DEAM) to collect
data and information regarding the challenges encountered by those assisted and by the police
station itself. This research arose from the questioning of how complaints are made and the
factors that battered women need to face, such as emotional and economic dependence, in
addition to the stigmas of a culturally sexist and patriarchal society, which even unconsciously
perpetuates the thought of that a woman's role is one of submission to her partner. The
methodology applied was the bibliographic research, based on books, articles, legislation,
reports dealing with this topic and the analysis of data collected during the visit to DEAM. With
this work, we conclude that violence against women is rooted in society and is treated as
invisible, making it even difficult for the victim to make the complaint, since she faces several
challenges from the moment of the aggression to the formalization of the complaint.
Keywords: Domestic violence; Women; Law; Denunciation.
1 INTRODUÇÃO
homem e que sua única função é cuidar do lar e da família. Não distante dessa lógica, Paula
Dias (2014) afirma que o sexo feminino não tinha direito a palavra e dignidade, banhada apenas
pela tradição familiar e a cultura masculina. Assim, mostra-se notório que esse crime é
estrutural e decorrente de uma sociedade patriarcal que delimita os papeis sociais (GOMES,
2020), ademais, a desigualdade social também é mais um fator que contribui para o aumento
da violência contra a mulher.
Em decorrência disso, surgiram os primeiros movimentos feministas no Brasil que
tinham como objetivo a busca pela equiparação salarial, profissional e de garantias
(PENNA,2014). Consolidando também parcerias com o Estado e conquistando direitos, tais
como a primeira Delegacia da Mulher, especifica para o atendimento das vítimas de violência
doméstica (PINAFI, 2007).
O atendimento especializado contribui para que a vítima se sinta mais encorajada e
segura para realizar a denúncia contra o agressor. Entretanto, um grande número de mulheres
no Brasil se recusam a usar dos meios legais para se defender do agressor ou desistem de realizar
a denúncia (JONG; SADALA; TANAKA, 2008). Existe um rol de possibilidades que podem
justificar a desistência por parte da vítima, sendo todas elas firmadas nas dificuldades e barreiras
que a agredida enfrenta desde o momento do crime até a ida a delegacia para formalizar a
denúncia.
Desse modo, o presente trabalho tem como objetivo realizar uma análise dos principais
obstáculos enfrentados pelas vítimas de violência doméstica para a realização da denúncia,
dando enfoque para o município de Mossoró no Rio Grande do Norte. Para tanto, analisamos
dados do Atlas da Violência, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), informações
disponibilizadas pelo Governo Federal. Revisamos bibliografia sobre violência contra a mulher,
procedimento de denúncia e as dificuldades, além da legislação que protege o direito feminino
e suas garantias. Ademais, realizamos coleta de dados na Delegacia Especializada em
Atendimento à Mulher de Mossoró/RN (DEAM) com o objetivo de analisar as principais
dificuldades encontradas pelas vítimas de violência.
4.519 mulheres foram assassinadas apenas por serem do sexo feminino no Brasil em
2018, segundo o Atlas da violência (2020), publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica
575
Aplicada (IPEA). Em menos de dez anos o país apresentou um aumento de 4,2% nos crimes de
homicídios de mulheres, dessa forma, tornando a violência contra a mulher um fator alarmante
e preocupante.
Devido a sua taxa de 4,8% de homicídios a cada 100 mil mulheres, o Brasil ocupa o 5º
lugar em um ranking com outros 83 países (IPEA, 2020). Este dado demonstra a grande
necessidade da tomada de medidas que sirvam de combate a essa violência e torne a legislação
mais efetiva e tenha a sua real aplicação, prevenindo tais crimes contra as mulheres, protegendo
a vítima de violência e punindo o seu agressor.
O grande “x” da questão da violência doméstica é como ela é vista pela sociedade, ou o
correto seria a forma em que ela não é vista? A violência contra mulher é algo que está
demasiadamente presente no meio social, principalmente devido a estrutura e hierarquia
patriarcal, tornando-se uma pratica estrutural na qual determina o papel da mulher de submissão
ao homem, devendo-lhe respeito e que lhe obedeça (GOMES, 2020).
Outro fator que contribui para esse cenário, foi a forma em que a legislação brasileira
foi formulada. No período do Brasil Colônia, as leis eram com base nos Livros das Ordenações
Filipinas, tais dispositivos tinham como princípio a diferença entre os indivíduos, tratando a
mulher como um ser desqualificado e irrelevante para a sociedade, sem direito a fala e tendo as
suas decisões tomadas pelo pai ou marido (PENNA, 2014).
Tal visão da mulher como ser submisso e sem voz perdurou nas normas jurídicas
seguintes. O Código Civil de 1916 torna isso notável ao passo em que em seu artigo 6º as
mulheres casadas eram consideradas incapazes enquanto subsistir a sociedade conjugal. Não o
bastante, o artigo 233 expressa que a mulher deveria pedir autorização ao seu marido para
exercer qualquer profissão e também deveriam pedir autorização para receber herança ou
ajuizar qualquer ação.
Após a luta das mulheres com os movimentos feministas e operários, o sexo feminino
aos poucos foi conquistando seus direitos, como em 1932 o direito ao voto feminino (PENNA,
2014). A Constituição Federal de 1988 foi um grande avanço para o direito das mulheres e
mostra um progresso para a legislação do país, tendo como um dos seus princípios a igualdade
de gênero, trazendo mudanças nas garantias de isonomia e deveres da sociedade conjugal.
Outro dispositivo criado que celebra a conquista dos direitos femininos foi a positivação
da Lei Maria da Penha, que tem como objetivo prevenir e coibir a violência doméstica e familiar
contra a mulher (PENNA, 2014). A lei 11.340 de 7 de agosto, dispõe sobre os tipos de violência
576
sendo elas física, psicológica, ação, omissão, sexual ou moral, seja no âmbito da própria
residência, familiar ou qualquer relação intima de afeto.
Mesmo com a luta feminina em busca dos seus direitos e as mudanças na legislação, a
vida da mulher ainda se mostra em risco, já que segundo o Atlas da Violência (2020), uma
mulher foi assassinada no Brasil a cada duas horas em 2018. Por este motivo, faz-se necessário
que as normas sejam aplicadas de forma mais eficiente e que a sociedade passe a condenar tais
crimes.
3 REALIZAÇÃO DA DENÚNCIA
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a
mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
I - No âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
agregadas;
II - No âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos
que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por
vontade expressa;
III - Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
A referida lei também dispõe sobre o atendimento da vítima pela autoridade policial,
em seu 10º artigo positiva que na iminência ou prática de violência doméstica, a autoridade
policial deverá tomar as providencias legais de forma imediata assim que tomar conhecimento
de tal crime. Além disso, garante como direito da mulher em situação de violência o
atendimento policial pericial “especializado, ininterrupto e prestado por servidores -
preferencialmente do sexo feminino - previamente capacitados. ” (Lei 11.340/2006)
Não menos importante, a autoridade policial também tem como dever no momento do
atendimento proporcionar a proteção, podendo comunicar ao Ministério Público e o Poder
Judiciário se necessário, deve encaminhar a vítima ao hospital ou Instituto médico legal,
fornecer transporte aos dependentes para abrigo ou local seguro, acompanhar para a busca de
pertences do local da ocorrência e por fim, orientar a vítima dos seus direitos de acordo com a
lei e também sobre a assistência judiciária.
577
Este atendimento possui duas etapas, sendo elas a primeira a denúncia ou a busca pelo
acolhimento que deve ser realizado por meio do Ligue 180, na qual as denúncias são registradas
e encaminhadas aos órgãos competentes, as ligações são gratuitas, podem ser efetuadas em todo
o Brasil e em qualquer dispositivo. A segunda etapa consiste sobre o acompanhamento da
denúncia, que após ser registrada será analisada e encaminhada aos órgãos de proteção,
responsabilização e proteção em direitos humanos. Para que seja realizado o acompanhamento
o site GOV.BR oferece o passo a passo, na qual quem prestou a denúncia deve ligar para o 180,
fornecer o número do protocolo e confirmar os dados da denúncia.
Com a Lei 14.022 de 2020, surgiu outro meio de denúncia, sendo ele a realização do
boletim de ocorrência por meio eletrônico.
Por fim, a denúncia também pode ser realizada na delegacia mais próxima de onde
ocorreu a violência ou procurar a Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM), especializada
para este tipo de atendimento.
A década de 70 no Brasil foi marcada pelos primeiros movimentos feministas, uma luta
que tinha como objetivo a defesa e garantia dos direitos das mulheres e contra o sistema cultural
já enraizado na sociedade, o machismo e patriarcalismo (PINAFI, 2007). A escritora Tânia
Pinafi reitera que a política sexista deixava muitos assassinatos de mulheres impunes. Foi a
partir desses movimentos feministas que incentivaram a parceria com o Estado e o
planejamento de políticas públicas, assim, surgindo a primeira Delegacia de Defesa da Mulher.
Mesmo após essa pequena vitória para o sexo feminino e avanço para a coibição da
violência de gênero, o Brasil voltou a ser pauta no cenário internacional durante a Declaração
de Viena, onde restou configurado que a violência contra a mulher ataca diretamente os direitos
humanos. Vale também mencionar a Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar
a violência contra a mulher, que ficou conhecida como a Convenção do Pará (Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, 1994).
Esta convenção afirma que a violência contra a mulher se configura como uma violação
aos direitos humanos e liberdades fundamentais, além de ferir os direitos, liberdade e a
dignidade humana em decorrência de uma problemática gerada por uma sociedade
historicamente desigual. A Convenção do Pará, também buscou erradicar a violência contra a
mulher por meio de uma assembleia formada por delegadas da Comissão Interamericana de
Mulheres, tendo com o objetivo prevenir, punir e erradicar tais crimes cometidos contra as
mulheres.
A Lei 11.340/2006 representa um grande marco para a proteção da integridade e dos
direitos das mulheres, positivando normas que amparam as vítimas de violência doméstica. A
Lei Maria da Penha, aborda sobre a assistência à mulher em situação de violência doméstica
e familiar, como em seu artigo 9º:
Dessa forma, compreende-se que é um direito da mulher vítima de violência doméstica o acesso
a profissionais de saúde, assistência social e segurança pública, garantindo a dignidade da
agredida e protegendo sua integridade que pode vir a ser novamente alvo do agressor. Além
disso, a assistência abrange contracepção de emergência, prevenção das Infecções Sexualmente
Transmissíveis (IST) e outros procedimentos para os casos de violência sexual. Além do mais,
o artigo 9º, § 4ºconsagra:
§ 4º Aquele que, por ação ou omissão, causar lesão, violência física, sexual ou
psicológica e dano moral ou patrimonial a mulher fica obrigado a ressarcir todos os
danos causados, inclusive ressarcir ao Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com
a tabela SUS, os custos relativos aos serviços de saúde prestados para o total
tratamento das vítimas em situação de violência doméstica e familiar, recolhidos os
recursos assim arrecadados ao Fundo de Saúde do ente federado responsável pelas
unidades de saúde que prestarem os serviços.
Não menos importante, todos os dados da vítima serão mantidos em sigilo, assim como
dos seus dependentes, somente o juiz, Ministério Público e os órgãos competentes terão acesso
a essas informações. Em sequência, a mesma lei discorre sobre as medidas protetivas de
urgência, na qual em 48 horas o juiz deverá decidir sobre as medidas protetivas, encaminhar a
vítima aos órgãos de assistência e comunicar o Ministério Público para que tome as
providências necessárias.
Em consonância com o artigo 19º, as medidas protetivas podem ser requeridas pelo
Ministério Público ou a pedido da vítima, após isso são apreciadas e concedidas pelo juiz. Já
durante a fase do inquérito policial poderá ocorrer a prisão preventiva do agressor se decretada
pelo juiz. A lei Maria da Penha ainda garante em seu texto as medidas protetivas de urgência
que obrigam o agressor, depois de confirmada a violência, o afastamento do domicilio ou
convivência com a mulher agredida, a suspensão da posse ou porte de armas, proibição de
aproximação da ofendida, familiares e testemunhas, podendo fixar distância de aproximação,
proibição de contato por qualquer meio, de frequentar alguns lugares e restringir visita aos
menores.
580
Por fim, o juiz também poderá decidir como medida protetiva que a vítima seja
encaminhada para o programa de proteção e atendimento, a recondução para o seu próprio
domicilio ou determinar que a ofendida seja afastada do lar. Além do mais, garante a proteção
dos bens patrimoniais da sociedade conjugal e também o serviço da Defensoria Pública ou
Assistência Judiciária Gratuita para que a vítima esteja acompanhada e representada nos autos
processuais.
Conforme o Relatório Mundial sobre Violência e Saúde (2022), com a evolução das
tecnologias e o maior acesso a informação, alguns tipos de violência tornaram-se mais visíveis,
como por exemplo, guerras, ataques terroristas, entre outros. Entretanto, ainda existe muitos
casos de violência que são invisíveis, tais como a agressão nos lares e doméstica. Tal documento
ainda enfatiza que alguns desses conflitos tem seus impactos rapidamente notados, enquanto a
invisível está profundamente enraizada na cultura e no histórico da sociedade.
Por este prisma, é perceptível que a vítima de violência doméstica enfrenta grandes
desafios para a realização da denúncia, principalmente por viver em uma sociedade patriarcal e
que muitas das vezes não condenam tais crimes, além de ser produto de uma construção
histórica, com base no sexismo e firmada na desigualdade de gênero (PINAFI, 2007). Dessa
forma, a vítima passa pelo medo de como será vista pela a sociedade e a possível retaliação dos
comentários transformando-a no agente errôneo da história.
A partir da coleta de dados realizada na Delegacia Especializada ao Atendimento à
Mulher (DEAM), no município de Mossoró, foram registrados os seguintes números de boletins
de ocorrência (B.O.), inquérito policial (I.P.), termo circunstanciado de ocorrência (T.C.O.) e
medidas protetivas (M.P.):
Tabela 01: Número de boletins de ocorrência, inquérito policial, termo circunstanciado de ocorrência
e medidas protetivas registrados na DEAM, Mossoró-RN.
A presente diminuição dos números não significa que os crimes contra as mulheres
tiveram uma baixa. Em contrapartida, deixa claro os efeitos causados pela pandemia e o
isolamento social onde a vítima ficou obrigada a passar mais tempo na companhia do agressor
e com fatores que contribuem para o aumento de violência, como situações de estresse,
desemprego, mudança dos papeis sociais, alcoolismo e uso de entorpecentes (Alves, 2005).
Além disso, foi possível listar alguns desafios que a vítima de violência doméstica
precisa enfrentar. Tais como a dificuldade em ir até a delegacia registrar o boletim, em virtude
de que na maioria das vezes o agressor é o principal provedor da economia da residência e a
vítima é desempregada ou desempenha a função do lar. Outra problemática é que a vítima
geralmente passa muito tempo na companhia do agressor, não tendo a permissão de sair da
residência ou medo de que o companheiro descubra sobre a denúncia e piore o ciclo de
violência.
Por este motivo, é de suma importância que haja o acolhimento nas delegacias das
mulheres que sofrem essas agressões, seja física, moral, psicológica ou sexual, com o objetivo
de que a vítima se sinta segura para realizar a denúncia, principalmente ao analisar que o
agressor é pai dos seus filhos, existe uma ligação emocional com o agressor e com família deste,
sendo uma iniciativa muito complexa. É neste momento que se mostra a importância e
necessidade dos agentes profissionais da psicologia e assistência social dentro das delegacias e
no contato direto com a mulher agredida.
Além disso, a relação entre a vítima com o agressor e a família deste dificulta para que
haja a quebra do ciclo de violência. Segundo a escrivã da DEAM de Mossoró, existe muitas
barreiras que a vítima precisa ultrapassar muito antes de chegar até a delegacia. E, não menos
importante, vale frisar que a estrutura disposta pelo estado carece de infraestrutura, um maior
número de profissionais, já que na delegacia só dispõe de uma escrivã, uma delegada, dois
policiais do sexo masculino e uma policial do sexo feminino. Por esta razão, se a delegacia
582
estiver com uma alta demanda de casos, não é possível realizar um bom atendimento com
acolhimento e o empoderamento da vítima. Não dispondo de psicólogo ou assistente social.
Outra adversidade é encontrada nos casos em que é necessário a realização do exame
de corpo delito, feito pelo Instituto Técnico-Cientifico de Perícia (ITEP), pois o mesmo se
encontra muito distante da delegacia e a maioria das mulheres não tem condições econômicas
de arcar com o transporte de uma estrutura para outra, não tendo nenhum apoio estatal. Assim,
levando a vítima a ter que enfrentar o constrangimento de andar a pé pelas ruas com marcas de
agressão.
A profissional da Delegacia Especializada ao Atendimento à Mulher, afirmou que não
existe nenhuma política pública na instituição que promova o incentivo da realização da
denúncia, mais sim somente o acolhimento dessas mulheres e o apoio para que a vítima
formalize a denúncia e posteriormente encaminhar os pedidos de medidas protetivas.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
atendimento, por meio do boletim de ocorrência eletrônico, indo até uma delegacia mais
próxima ou a Delegacia de Atendimento à Mulher. Porém, mesmo com esses caminhos para a
realização da denúncia, as vítimas muitas vezes desistem do procedimento ou não chegam a
concluir a denúncia.
A explicação para esse fenômeno está nas barreiras e dificuldades enfrentadas pela
mulher vítima de agressão doméstica, que começam desde o ciclo de violência com a agressor
quando a agredida tem medo de formalizar o boletim e se seu parceiro descobrir as agressões
possam aumentar. Vale lembrar também do vínculo que existe entre a vítima, agressor e a
família, nesses casos a mulher se vê no dilema de como a sociedade irá passar a enxergá-la e o
que irá acontecer com sua família.
A dependência emocional é uma característica da violência doméstica, por isso é de
grande importância que haja o acolhimento da vítima na delegacia da mulher por profissionais
capacitados e prontos para atender suas necessidades. Além disso, outra dificuldade para a
realização da denúncia é que a vítima geralmente fica na companhia do agressor,
impossibilitando a ligação para o Ligue 180.
A partir da entrevista realizada na Delegacia Especializada ao Atendimento à Mulher
(DEAM), no município de Mossoró, mostrou-se evidente que, além das adversidades já citadas,
a estrutura de unidade de atendimento carece de um melhor investimento estatal. Pois, a
delegacia conta com um número de profissionais reduzidos, apenas uma viatura, sem esquecer
da infraestrutura. Assim, muitas das vezes dificultando o acolhimento das vítimas.
A Lei 11.340/2006, também dispõe sobre a assistência à mulher em situação de
violência, garantindo políticas públicas de proteção, acesso a assistência social, atendimento no
Sistema Único de Saúde, contracepção de urgência e medidas protetivas. No entanto, ao
comparar o que está disposto na legislação e a realidade da delegacia de Mossoró percebe-se
um existe a falta da efetivação de tal lei, já que a instituição não possui atendimento psicológico
ou assistência social a vítima no momento de acolhimento e denúncia. Por este motivo, a
violência doméstica só será ultrapassada quando a legislação for realmente efetivada e a
população passar a repudiar tal crime.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha. Diário Oficial da
União. Brasília, DF, 7 ago. 2006.
BRASIL. Lei nº 14.022, de 07 de julho de 2020. Diário Oficial da União. Brasília, 7 de julho
de 2020. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2020/lei/L14022.htm#view>. Acesso em: 03 de agosto de 2022.
GOMES, Kyres Silva. Violência contra a mulher e Covid-19: Dupla pandemia. Revista
Espaço Acadêmico. N. 224. 2020.
GOV. Denunciar e buscar ajuda a vítimas de violência contra mulheres (Ligue 180).
2022. Disponível em: <https://www.gov.br/pt-br/servicos/denunciar-e-buscar-ajuda-a-
vitimas-de-violencia-contra-mulheres>. Acesso em: 03 de agosto de 2022
Krug EG et al., eds. World Report On Violence And Health. Geneva, World Health
Organization, 2002
VIEIRA, Pâmela Rocha; GARCIA, Leila Posenato; MACIEL, Ethel Leonor Noia.
Isolamento social e o aumento da violência doméstica: o que isso nos revela?
Universidade Federal do Espirito Santo- Vitória (ES). REV BRAS EPIDEMIOL, 2020.
586
RESUMO
This article aims to highlight the need for knowledge and claim of the rights of the parturient
in the light of the anesthesiologist's case, aiming at preventing cases of obstetric violence in the
country. For the study, the conceptualization of obstetric violence was carried out, the
demarcation of the rights guaranteed to pregnant women, the reflection of power relations based
on gender during the pregnancy-puerperal cycle and, finally, the analysis of obstetric violence,
materialized with rape, through the specific case of the anesthesiologist occurred in July 2022.
Bibliographic research was used as a methodology, with the collection of articles in the
database, from 2014 to 2021, giving preference to those that dealt with obstetric violence
through qualitative research, and the case study, through documental survey and victims' reports
made available in national online newspapers. It was concluded, at the end of the research, that
the lack of knowledge of the parturient's rights, especially the right to a companion, makes her
more vulnerable to suffering obstetric violence.
1
Graduanda em Direito pela Universidade Federal Rural do Semi Árido (UFERSA). Membro do Leituras
Críticas sobre Raça e Direito e da Ágora Consultoria Jurídica, ambos projetos de extensão da UFERSA. E-mail:
gabsslvieira@gmail.com
2
Graduanda em Direito pela Universidade Federal Rural do Semi Árido (UFERSA). E-mail:
inara15medeiros@outlook.com
587
1 INTRODUÇÃO
A gravidez, momento muito esperado por algumas das mulheres, é envolta num combo
de sensações mistas de ansiedade e expectativas quanto a saúde e bem-estar do filho. Todavia,
é também transpassada por muito receio, tendo em vista os relatos de dor extrema durante o
parto, como duração exaustiva de trabalho de parto, peregrinação nos hospitais, procedimentos
de cortes indesejados e não comunicados, além de manobras milaborantes.
Essas agressões direcionadas às mulheres grávidas ou puérperas, denomina-se violência
obstétrica, sendo a problemática ensejadora do presente estudo, compreendida como uma
questão de saúde pública intrínseca à sociedade brasileira. Isso, pois, o passado sócio-histórico
do país, permeado por relações machistas e patriarcais, acredita que o momento do parto é
essencialmente doloroso, e, em decorrência, naturaliza as agressões e sofrimentos exagerados.
Nesse sentido, a gravidez que para muitas é um sonho torna-se um pesadelo. Portanto,
o presente artigo propõe uma abordagem dessa violência direcionada às mulheres em momento
tão vulnerável, com o objetivo de que mais pessoas reconheçam seus direitos enquanto grávidas
ou acompanhantes, o que pode auxiliar na reivindicação por direitos e na eficácia daqueles que
já estão tutelados pelo Estado Democrático de Direito.
Coloca-se como norte geral da pesquisa comprovar que por meio do conhecimento dos
direitos das parturientes seria possível a prevenção de casos de violência obstétrica. Com o fito
de alcançá-lo, será necessário explanar a conceituação da violência obstétrica, a forma como
ela se materializa na vida das gestantes. Logo em seguida, abordar os direitos da parturiente, as
conquistas normativas, bem como delinear a violência obstétrica como um reflexo da violência
de gênero naturalizada na sociedade brasileira. E, por fim, apontar o estupro de vulnerável como
violência obstétrica a luz do Caso do Anestesista.
Desde 2014, quando a Organização Mundial da Saúde colocou a violência obstétrica
como uma questão de saúde pública, há um maior debate em torno dessa problemática. De
modo que existe um quantitativo de trabalhos relacionados a essa temática nas plataformas
online, entretanto, o ponto diferenciador do presente trabalho dá-se justamente na aplicação
desses conceitos e direitos da parturiente ao caso concreto. Assim, objetiva-se agregar ao debate
588
acadêmico, tornando o assunto mais divulgado para que as demais pessoas possam conhecê-lo
e reivindicar pelos direitos das parturientes.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Apesar de se tratar de uma discussão antiga, que busca visibilizar uma violência tão
recorrente nas instituições de saúde, somente em 2014 a Organização Mundial de Saúde (OMS)
reconheceu a violência obstétrica como questão de saúde pública. A organização evidencia
relatos sobre abusos durante o parto, constituídos por violência física e verbal, além de
procedimentos médicos desnecessários ao parto ou ainda não consentidos. Destaca-se que,
apesar desses abusos ocorrerem em qualquer fase da gravidez, o parto e pós-parto é o período
em que as mulheres estão mais vulneráveis e dependentes das equipes de saúde, tendo sua
confiança quebrada com os médicos que deveriam agir no intuito do cuidado com a parturiente.
Em sua declaração, a OMS (2014), lista medidas a fim de evitar e eliminar os abusos
contra as mulheres durante a assistência ao parto em todo o mundo: (I) Maior apoio dos
governos e de parceiros do desenvolvimento social para a pesquisa e ação contra o desrespeito
e os maus-tratos; (II) Começar, apoiar e manter programas desenhados para melhorar a
qualidade dos cuidados de saúde materna, com forte enfoque no cuidado respeitoso como
componente essencial da qualidade da assistência; (III) Enfatizar os direitos das mulheres a uma
assistência digna e respeitosa durante toda a gravidez e o parto; (IV) Produzir dados relativos a
práticas respeitosas e desrespeitosas na assistência à saúde, com sistemas de responsabilização
e apoio significativo aos profissionais; (V) Envolver todos os interessados, incluindo as
mulheres, nos esforços para melhorar a qualidade da assistência e eliminar o desrespeito e as
práticas abusivas.
O estudo realizado pela Fundação Perseu Abramo denominado “Mulheres brasileiras e
gênero nos espaços público e privado” (2010), apontou que uma a cada quatro mulheres no
Brasil já sofreram violência obstétrica, ou seja, 25% das mulheres já sofreram algum tipo de
violência durante as fases do parto. Em matéria, para a revista humanista da UFRGS (2018),
Amanda Hamermüller e Thayse Uchôa apresentam como a violência obstétrica se configura, a
saber:
● Violência por negligência: consiste em negar atendimento ou colocar impedimentos para
que a gestante tenha acesso aos serviços que possui direito;
590
Posteriormente, houveram outros Tratados que buscavam reiterar a função dos Estados-
parte como promotores da igualdade, da dignidade e da saúde da mulher, como a Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (1994), ratificado
pelo Brasil em 1996. Assim como o desenvolvimento de Atenção ao Parto e Nascimento (OMS,
1985), que buscava classificar as boas práticas e os atos que não deveriam ser realizados no
momento do parto.
Frente a esse cenário, o Poder Legislativo desenvolveu o reforço de garantias às
mulheres, através das normas infraconstitucionais, visando assegurar os direitos fundamentais
e uma maior segurança e conforto durante as fases da gravidez e puerpério. Uma das formas de
592
No dia 10 de julho de 2022, mais uma mulher é violentada sexualmente, e dessa vez,
durante o parto de seu filho, isto por um médico que estuprou a gestante após aplicar um
sedativo que a deixou desacordada, sem chances de resistir ao crime. O Hospital da Mulher
Heloneida Studart, no Rio de Janeiro, foi o local do crime cometido pelo anestesista Giovanni
Quintella Bezerra, que foi flagrado após algumas enfermeiras e técnicas de enfermagem da
unidade desconfiarem do seu comportamento e da quantidade de sedativo que ele havia
aplicado em outras duas grávidas no mesmo dia (10/07/2022), além de também mandar os
maridos acompanhantes se retirarem da sala logo após o nascimento dos bebês (METRÓPOLE,
2022).
A vista disso, a equipe que suspeitava da atitude do médico, colocou um celular
posicionado na direção em que o médico estava a fim de gravar e monitorar suas ações para
entender o que estava acontecendo por trás de tais comportamentos. Na madrugada do dia 11
de julho, o médico foi preso em flagrante e autuado pelo crime de estupro de vulnerável, pela
delegada Barbará Lomba da Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM).
Após a exposição do crime, outras mulheres compareceram à DEAM para denunciar
Giovanni. As pacientes reconheceram o médico, que também esteve no momento de seus
respectivos partos, com a divulgação de sua prisão em flagrante. Os relatos das vítimas e de
seus parentes são chocantes por apontarem vários comportamentos em comum, como os
acompanhantes precisarem sair da sala de cirurgia, a sedação excessiva após o nascimento dos
bebês, o anestesista ficar ao lado da cabeça das parturientes durante todo o procedimento e elas
saírem com o rosto e pescoço sujos. O site “O Globo” desenvolveu uma matéria contendo os
relatos de 4 pacientes e seus respectivos parentes, que prestaram depoimentos contra o
anestesista, e também da delegada responsável pela prisão do estuprador.
595
A primeira vítima, que vamos chamar de “paciente A”, estava grávida de gêmeos,
buscou atendimento para seu parto no dia 05 de julho, porém apenas um dos bebês nasceu de
parto normal e o outro precisaria de uma cesariana. Foi nesse momento que o criminoso entrou
em ação. Ela relata que o médico aplicou uma anestesia RAC - que a deixaria insensível na
região das partes inferiores, permitindo um procedimento menos doloroso - na sua coluna e um
remédio no braço que a deixou muito sonolenta, e que ele permaneceu sempre atrás da cabeça
dela:
“Eu não queria dormir. Queria ver o meu bebê nascer. Queria saber se ele nasceria
vivo ou morto. Mas ele disse que eu poderia dormir, ficar calma que era assim mesmo
e que eu poderia ficar tranquila. Eu não queria dormir. Infelizmente, eu vi meu filho
sair da barriga e não cheguei a pegá-lo no colo. Eu não pude pegar meu filho no colo
antes de ele falecer. Só acordei horas depois sem saber o que tinha acontecido. Não
tive o privilégio de pegar o meu bebê antes de ele falecer. Eu não sei o rosto do meu
filho. Só conheço o meu filho por foto. Eu estava dopada por esse monstro. Ele estava
me acalmando. Ele dizia que estava tudo bem. Eu tentei me controlar ao máximo para
ver o meu filho. Eu lembro de tudo do primeiro parto. Ele me ajudava e chegou até
impedir meu esposo de acompanhar. Esse médico mandou meu marido sair do centro
cirúrgico. ” (GLOBO, 2022).
O marido da paciente relatou que assistiu o parto do primeiro filho que foi normal, mas
foi impedido pelo anestesista de assistir a cesariana do segundo filho, e deixou a sala de parto
por pensar que seria um procedimento normal. O marido ressalta ainda que horas depois do
parto soube que a esposa estava com alguma coisa branca no rosto.
A paciente B teve seu filho no dia 5 de junho, com a participação de Giovanni, e relata
que chamou sua atenção receber uma anestesia geral, por já ter tido outros três filhos também
por cesariana e não ter tomado a anestesia geral. A paciente compareceu à delegacia
acompanhada de seu marido para prestar seu depoimento, e disse que ficou desesperada ao ver
as imagens do anestesista. O marido disse que também foi mandado sair da sala de parto por
Giovanni após o nascimento do filho e que sua esposa foi sedada apenas após ele sair do local:
“Eu só pude acompanhar o parto até um certo ponto. Ele mandou eu sair, porque seria
com a parte médica. Eu nunca havia saído dos partos que participei. Ele só sedou a
minha esposa após eu sair. É revoltante saber que pode acontecer com a esposa da
gente. Estou mais tranquilo porque ele foi preso. ” (GLOBO, 2022)
596
Dois dias após a prisão de Giovanni, a paciente C procurou a DEAM para prestar seu
depoimento. A paciente teve seu parto no dia 6 de junho, e relata que quando acabou o parto, o
anestesista mandou o marido dela sair da sala e aplicou-lhe um sedativo com o argumento de
que seria para que ela pudesse relaxar:
“Ele disse que estava tudo bem, para eu ficar tranquila e para eu relaxar. Quando ele
aplicou a medicação, eu apaguei. Só lembro quando ele passou, estava limpando as
mãos, não sei o movimento. Antes disso eles entregaram o bebê para meu marido. Ele
saiu, e eu fiquei. Depois fui retirada da sala pelas enfermeiras. É muito delicado dizer
o que senti. A gente não entra na sala de cirurgia e pensa que vai ser abusada. A gente
fica numa situação tão vulnerável, dependente dele. Não sei o que aconteceu comigo.
O que me deixou preocupada foi a sedação, o apagão, por eu já ter passado por uma
cesariana e não ter apagado. Não imaginava que poderia sofrer um abuso. Eu tomei
um susto quando vi a imagem dele na TV. Ele foi apresentado a mim antes da minha
cirurgia. Só quero saber se ele fez algo comigo no apagão. Será que fui abusada? ”
(GLOBO, 2022).
“Parece que foi um enfermeiro que estranhou a conduta e disse que tinha algo
estranho. A partir daí eles começam a tentar filmá-lo. Antes disso, a minha cliente
disse que o médico quem colocou a sonda de urina, que não é atribuição dele. Ele
impediu que o enfermeiro fizesse a aplicação da sonda. Antes do parto, ele foi limpar
o sangue que estava na maca. Ela ficou muito constrangida. Isso não é atribuição dele.
” (GLOBO, 2022).
597
Além das pacientes que prestaram depoimentos à DEAM, a polícia civil investiga outros
30 possíveis casos de estupro por Giovanni no Rio de Janeiro. As grávidas que foram atendidas
pelo médico são esperadas para depor na delegacia. Os relatos acima mostram um
comportamento padrão do estuprador de: retirar o acompanhante da sala e utilizar sedativo
excessivo sem necessidade após o parto. A repetição do crime com vítimas diferentes levou a
delegada Bárbara Lomba a concluir que Giovanni é um criminoso em série, conforme relata em
entrevista na DEAM: “Diante da repetição das ações criminosas, das características de
compulsividade que se observam e da possibilidade de várias vítimas feitas naquelas condições,
podemos afirmar que se trata de um criminoso em série” (LOMBA, 2022).
3 METODOLOGIA
O presente artigo utilizou-se de uma pesquisa bibliográfica, nos bancos de dados online,
Scielo e Google Acadêmico, através dos descritores: violência obstétrica, violência de gênero,
direito das mulheres. Além disso, delimitou-se o período de tempo do ano de 2014, momento
em que a OMS reconheceu a questão de saúde pública, a 2021. Foram selecionados seis artigos
dentre os resultados, sendo preferíveis aqueles que abordaram a violência obstétrica através de
uma perspectiva qualitativa-quantitativa, para que o contexto pudesse ser compreendido tanto
em teoria como em números.
Já para a apresentação do caso concreto do anestesista, desenvolveu-se um levantamento
documental, a fim de coletar dados pertinentes à construção dos fatos narrados. Isso feito com
os marcadores: anestesista, gravidez, estupro e violência obstétrica. Assim, foram consultadas
notícias veiculadas em grandes jornais, como O Globo, G1 e Metrópoles, sendo recolhidos três
matérias, sendo preferíveis pela quantidade de detalhes, para que se pudesse construir a
narrativa fática, e também daqueles que possuíssem relatos das vítimas para expressarem como
se sentiram diante do ocorrido. Prontamente, realizado o levantamento bibliográfico e
documental, fez-se a leitura exploratória visando destacar os artigos que melhor definiram e
analisaram a temática da violência obstétrica e violência de gênero, além de também realizar
leitura sistemática para fins de composição do material utilizado para análise de dados do caso
analisado.
598
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
durante todo o parto, impacta diretamente na probabilidade de ocorrer algum tipo de violência
obstétrica contra a parturiente. Apesar das próprias gestantes terem um estranhamento quanto
a aplicação do sedativo, após o parto, não foram capazes de impedir a ação do médico na
consumação do crime. Posto que, em alguns casos, os acompanhantes aceitaram sair da sala de
parto a pedidos do anestesista, por pensarem que seria o procedimento normal nos hospitais,
quando em seguida o médico aplicava a sedação na gestante, pode-se comprovar que na
presença de acompanhantes, expressão do direito legitimado por lei, o crime poderia ter sido
evitado. . Apesar disso, foi o conhecimento da equipe de enfermagem ao notar o uso de sedativo
em excesso por parte de Giovanni que tornou possível gravar o criminoso em ação.
Por fim, evidencia-se a necessidade de também alterar a lei do acompanhante de
modo a gerar uma sanção para aquele que não assegure a execução desse direito para todas as
parturientes, visto que, apesar de existir o direito, ele não está sendo eficientemente garantido.
Por mais que já tenha sido destacado a necessidade de trazer visibilidade para esse tema, não
foram criadas políticas públicas que promovam a assistência obstétrica efetiva e nem tampouco,
foram adotadas medidas significativas que viabilizem o asseguramento desses direitos,
formalizando o conhecimento desses por parte das gestantes.
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http://200.201.12.34/index.php/nupem/article/view/5580/3604 >. Acesso em: 04 ago. 2022.
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prisma dos direitos humanos. 6º Colóquio Mulher e Sociedade, Ponta Grossa, PR, 26 abr.
2019. Disponível em: <
http://177.101.17.52/jornalismo/ocs/index.php/6mulheresociedade/6mulheresociedade/paper/
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VENTURA, Giulia. Vídeos mostram momento em que médico anestesista estupra grávida no
RJ. Metrópoles, 12 jul. 2022. Disponível em: < https://www.metropoles.com/brasil/video-
mostra-momento-em-que-medico-anestesista-estupra-gravida-no-rj >. Acesso em: 04 ago.
2022.
602
FISIOTERAPIA E NUTRIÇÃO
603
RESUMO
A hidroterapia, durante muitas décadas, foi utilizada pelos seres humanos como uma alternativa
de tratamento para distúrbios musculoesqueléticos, incluindo as queixas de dores na coluna
vertebral, principalmente após a descoberta das propriedades físicas da água e seus efeitos. Este
artigo de revisão visa discutir as evidências atuais na literatura científica sobre a atuação da
hidroterapia nas algias da coluna vertebral. Foram realizadas buscas nas bases de dados
MEDLINE, Scielo e LILACS, assim como também na plataforma Google Acadêmico, usando
os descritores “hidroterapia”, “lombalgia”, “cervicalgia”, “dor torácica” e “fisioterapia”,
indexados nos Descritores em Ciências da Saúde (DECS) e Medical Subject Headings (MESH).
Após a busca, localizou-se 243 resultados que, após aplicados critérios de inclusão e exclusão,
foram reduzidos a 5 artigos. A análise dos itens indica que os pacientes, de acordo com o
diagnóstico e tolerância ao método, podem ser submetidos à hidroterapia. Diante dos achados,
observa-se que esse recurso realmente possui benefícios para várias doenças e pode ser um
aliado na prevenção de futuras patologias. Além disso, recomenda-se que ensaios clínicos
randomizados devem ser mais produzidos, de modo a contribuir na divulgação do método e
maior embasamento científico.
Palavras-chave: Hidroterapia, Fisioterapia, Algias da coluna.
ABSTRACT
1
Graduanda em Fisioterapia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
allanafreitas1811@gmail.com
2
Graduando em Fisioterapia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte.
E-mail: italo.samuel.medeiros@gmail.com
3
Graduando em Fisioterapia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte.
E-mail: jardelgomeslemos@gmail.com
4
Graduanda em Fisioterapia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte.
E-mail: leticia-eduarda2009@hotmail.com
5
Orientador. Mestre em Saúde e Sociedade pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN).
E-mail: joao.bezerra@professor.catolicadorn.com.br
604
Hydrotherapy, for many decades, has been used by humans as an alternative treatment for
musculoskeletal disorders, including complaints of pain in the spine, especially after the
discovery of the physical properties of water and its effects. This review article aims to discuss
the current evidence in the scientific literature on the role of hydrotherapy in spinal pain.
Searches were carried out in the MEDLINE, Scielo and LILACS databases, as well as in the
Google Scholar platform, using the descriptors "hydrotherapy", "low back pain", "cervical
pain", "chest pain" and "physiotherapy", indexed in the Descriptors in Health Sciences (DECS)
and Medical Subject Headings (MESH). After the search, 243 results were found which, after
applying inclusion and exclusion criteria, were reduced to 5 articles. The analysis of the items
indicates that the patients, according to the diagnosis and tolerance to the method, can be
submitted to hydrotherapy. In view of the findings, it is observed that this resource actually has
benefits for several diseases and can be an ally in the prevention of future pathologies. In
addition, it is recommended that more randomized clinical trials should be produced, in order
to contribute to the dissemination of the method and greater scientific basis.
Keywords: Hydrotherapy, Physiotherapy, Spinal pain.
1 INTRODUÇÃO
A hidroterapia, durante muitas décadas, foi utilizada pela humanidade, como possível
tratamento para distúrbios musculoesqueléticos, incluindo as queixas de dores da coluna
vertebral, após a descoberta das propriedades físicas da água e seus efeitos (NEMČIĆ et al.,
2013; KISNER; COLBY, 2009; SACCHELLI et al., 2007). Dentre os benefícios, que podem
ser citados, o calor, capaz de reduzir algias e espasmos musculares; a flutuabilidade, que
diminui parcialmente o peso do corpo; a pressão hidrostática, que auxilia no retorno venoso; e
a viscosidade, que resiste aos movimentos do corpo, contribuindo no ganho de força muscular,
a partir da intensidade e o número de repetições dos exercícios aquáticos (NEMČIĆ et al., 2013;
KISNER; COLBY, 2009).
Existem alguns métodos de hidroterapia, dentre eles, estão o Bad Ragaz, inventado por
Dr. Knupfer, no qual os pacientes passaram a ser apoiados por flutuadores em forma de anéis
nas regiões cervical, pélvica, joelhos e tornozelos para realizarem exercícios ativos resistidos,
devendo-se ter cuidados para que os pacientes não apresentassem fadigas em excesso
(ACCACIO; SACCHELL 2007).
Ademais, outro método é o Halliwick baseado no conceito da multidisciplinaridade, ou
seja, reúne informações a partir de muitas áreas de conhecimento, sendo utilizado para ensinar
pessoas com dificuldades para nadar, unindo conceitos da psicologia, pedagogia e dinâmicas
em grupo para promover independência nesse ambiente aos pacientes (CUNNINGHAM,
2000). Por fim, o método Watsu, criado por Harold Dull, firmado em conceitos da medicina
oriental e no tradicional shiatsu zen, no qual os pacientes executam alongamentos e
movimentos, estimulando o relaxamento e ganho de mobilidade (ZORNOFF, 2007).
Para alguns autores, o recurso terapêutico do meio aquático, principalmente aquecido,
pode ser um excelente aliado para os tratamentos dos fisioterapeutas, pois ao ser aplicado nos
pacientes, influenciará no sistema nervoso e metabólico dos mesmos, estimulando o aumento
do neurotransmissor dopamina, responsável pelas emoções, aprendizado, humor e atenção,
tornando a reabilitação mais agradável, reconfortante e satisfatória, principalmente para os
pacientes que possuem tensões musculares (SILVA et al., 2013).
O presente estudo trata-se de uma revisão de literatura, executada através de uma busca
nas bases de dados MEDLINE/PubMed (Medical Literature Analysis and Retrieval System
Online), Scielo (Scientific Electronic Library Online) e LILACS (Literatura Latinoamericana e
do Caribe), assim como a plataforma Google Acadêmico. Para melhor seleção dos artigos,
foram utilizados descritores indexados aos Descritores em Ciências da Saúde (DECS) e Medical
606
Subject Headings (MESH), dentre eles, hidroterapia, dor lombar, cervicalgia, dor torácica e
fisioterapia. Para o cruzamento dos descritores usados na pesquisa, foi utilizado o operador
booleano AND (intercessão de dois ou mais assuntos).
Dentre os critérios de inclusão, foram considerados artigos originais publicados, com
relevância metodológica, disponíveis no texto completo, escritos em inglês, português
espanhol, sem intervalo de publicação definido, sendo excluídos estudos em outros formatos,
como livros, cartas e capítulos de livros, assim como aqueles que não se relacionavam com o
tema proposto. A busca dos artigos foi realizada por quatro revisores durante o mês de maio de
2022. Inicialmente, os revisores leram os títulos dos trabalhos e seus respectivos resumos,
excluindo aqueles que fugiam da temática. Posteriormente, todos os estudos selecionados foram
lidos por completo, de modo a identificar e eleger aqueles que atendessem aos critérios
estabelecidos.
Desse modo, as informações selecionadas para a extração dos dados se referem aos
aspectos apresentados no Quadro 1, e os achados obtidos dos trabalhos elegíveis foram
comparados e organizados em uma tabela.
Por tratar-se de pesquisa com enfoque em análise secundária de dados, não envolvendo,
portanto, seres humanos, não houve necessidade de aprovação pelo Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP), respeitando assim, a autenticidade dos conceitos e definições dos autores.
Diante do que foi exposto, o objetivo do presente estudo foi discutir as evidências atuais
na literatura científica sobre a atuação da hidroterapia nas algias da coluna vertebral.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
A coluna vertebral é composta anatomicamente por trinta e três ossos, sendo vinte e
quatro vértebras não fundidas, cinco vértebras fundidas e quatro vértebras fundidas, as vértebras
são classificadas em sete cervicais (C1 a C7), doze torácicas (T1 a T12), cinco lombares (L1 a
L5) e cinco sacrais (S1 a S5), sendo essas fundidas para formar a região do sacro, e por fim, as
últimas quatro e cinco vértebras coccígeas, que fundem–se para formar a região do cóccix.
Diversos ligamentos unem e mantêm as vértebras em alinhamento. Os ligamentos dos corpos
vertebrais, comuns a todos os discos intervertebrais são os longitudinais anterior e posterior. Os
ligamentos dos arcos vertebrais são o ligamento amarelo, o interespinhal e o supraespinhal
(KAPANDJL, 2000; DANGELO; FATINI, 2011).
607
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
de incapacidade Roland Morris, queixas de dores intensas, pela escala visual analógica (EVA),
assim como também a capacidade funcional reduzida por meio do teste de caminhada de 6
minutos (TC6). Como resultados, notou-se que o exercício aquático com a corrida em águas
profundas alivia a dor no curto prazo quando comparado apenas com o grupo de exercícios
aquáticos (CARVALHO et al., 2020).
Além disso, foi possível identificar benefícios terapêuticos a partir do Método Bad
Ragaz, pois um estudo realizado em um grupo feminino com também diagnóstico de lombalgia
crônica, de faixa etária entre 37 a 76 anos, onde o tratamento foi realizado em uma piscina
terapêutica, aquecida a 34 graus Celsius, com profundidade de 1.15cm, as sessões foram em
grupo, sendo realizadas 30 sessões de hidroterapia por um fisioterapeuta. Os exercícios
incluíam estabilização do tronco e membros através de treinos exigindo equilíbrio e
coordenação motora (MONTENEGRO et al., 2016).
Deve-se salientar que foi aplicada novamente no estudo, um instrumento importante, a
EVA antes e após cada série de 10 sessões de aplicação da Técnica de Bad Ragaz. No terceiro
momento foi aplicada uma entrevista individual com perguntas sobre a percepção das mulheres
em relação aos efeitos da hidroterapia na lombalgia e a interferência na sua autonomia ou nas
suas atividades diárias, os relatos foram gravados pelo pesquisador para posterior análise e
interpretação das categorias analíticas. Ao final do tratamento, as pacientes afirmaram sentir
alívio das dores, melhora nas atividades diárias e qualidade de vida (MONTENEGRO et al.,
2016).
Os dados da pesquisa apontam que entre as dez mulheres entrevistadas, na faixa etária
entre 37 e 76 anos, a média de idade foi de 61,6 anos. A grande maioria gerou filhos (90%),
dentre elas 20% tem um filho, 40% tem dois e 30% tem mais de três filhos (uma das
entrevistadas tem sete filhos e passou por dez gestações). Em relação à situação conjugal, uma
grande parcela das entrevistadas era casada (80%), uma entrevistada era solteira e outra mãe
solteira. Metade das entrevistadas eram donas de casa e o restante trabalhava como costureira
(01), 01 cuidadora (enfermagem), 01 administradora e corretora, 01 educadora e freira e 01
diarista. Uma das mulheres preferiu não dizer seu nível de escolaridade, sendo que a maioria
(40%) concluiu o ensino médio, 30% cursaram o fundamental e 20% possuía nível superior.
Em relação à queixa principal, mais da metade (60%) referiu dor lombar, 30% relataram
apresentar diagnóstico de osteófito na coluna lombar e 10% relataram dor nas costas que
irradiava para a perna (MONTENEGRO et al., 2016).
609
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme o exposto, com análise desses estudos, pode-se dizer que a hidroterapia pode
proporcionar melhoras na qualidade e na perspectiva de vida dos pacientes com queixas na
coluna vertebral, como as algias, promovendo um retorno mais rápido às suas atividades da
612
vida diária, deixando-os mais independentes. Assim, como também, deve ser estimulada sua
aplicação como conduta preventiva de doenças, principalmente para os indivíduos idosos.
Outro ponto importante recomendado é que que ensaios clínicos randomizados devem
ser mais produzidos, de modo a contribuir na divulgação do método e gerar maior embasamento
científico.
REFERÊNCIAS
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http://dx.doi.org/10.1111/j.1526-4637.2003.03042.x.
RESUMO
ABSTRACT
The objective of this study is to describe the pain profile in pregnant patients in different
gestational periods, as well as highlight possible postural changes and publicize the importance
of obstetric physiotherapy. This is a quantitative, descriptive, cross-sectional study, in which a
questionnaire was applied to investigate possible morphophysiological changes, and later
guidance was given to 18 pregnant women in different periods of pregnancy, who used the
1
Discente do Curso de Graduação em Fisioterapia da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
amandadiazevedo@hotmail.com
2
Discente do Curso de Graduação em Fisioterapia da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
italo.samuel.medeiros@gmail.com
3
Discente do Curso de Graduação em Fisioterapia da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
jardelgomeslemos@gmail.com
4
Discente do Curso de Graduação em Fisioterapia da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
leticia-eduarda2009@hotmail.com
5
Docente do Curso de Graduação em Fisioterapia da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
moisescouto@gmail.com
616
prenatal service. at the Faculty of Health Sciences (FACS-UERN) in Mossoró/RN. During the
study, there was an incidence of low back pain in pregnant women, varying according to the
gestational period, pain intensity, the shift that intensifies, and many of them did not receive
the necessary guidance. Low back pain becomes a limiting factor in women's lives, requiring
the presence of a professional to provide service and guidance aimed at minimizing possible
discomforts, preparing them for childbirth.
Keywords: Pregnant Women, Backache, Physiotherapy.
1 INTRODUÇÃO
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. LOMBALGIA
2.3. MARCHA
Define-se a postura como uma disposição relativa do corpo para uma atividade
específica em determinado momento, sendo um composto de posições das diferentes
articulações. De forma geral, para alguns autores, a postura correta é a posição na qual há um
estresse mínimo imposto à articulação. Devido às alterações biomecânicas e fisiológicas
decorrentes da gravidez, observa-se que o aumento da carga (massa corpórea e variações das
suas dimensões), pode acarretar desordem articular. Essas variações musculoesqueléticas
percorrem tronco e membros inferiores, que tendem a levar a posição imperfeita dos pés,
provocando alterações da marcha e até mesmo diminuição da funcionalidade de alguns
movimentos diários (BRUNNSTROM, 1997).
Marcha caracterizada por marcha anserina, resulta nas oscilações da bacia, as pernas
afastadas, há hiperlordose lombar, como se a paciente quisesse manter o seu corpo ereto, em
equilíbrio, apesar do déficit muscular, além da inclinação do tronco para um lado e para o outro
(MANN et al., 2010).
Conforme a literatura, algumas mulheres tendem a ter suas ações restritas, devido às
dores, falta de fortalecimentos musculares das regiões lombo pélvica, lombossacral e lombo
ilíaca, gerando uma baixa flexibilidade osteomioarticular. Porém, aquelas mulheres fisicamente
619
ativas, ou seja, que praticam algum tipo de treinamento físico relatam mais vantagens, como
melhor propriocepção e até mesmo uma considerável diminuição de dores relacionadas às
demais. Portanto, é importante a manutenção dos músculos recrutados que mantém uma postura
corporal adequada, tornando os meses gestacionais sem maiores complicações devido às
alterações físicas sofridas pelo indivíduo, além de uma recuperação mais eficaz (MANN et al.,
2008).
É essencial que durante o momento gestacional, as mulheres busquem hábitos de vida
saudáveis, em busca de boa qualidade de vida, alívio do estresse, e prevenção de comorbidades.
Sendo fundamental o acompanhamento de uma equipe multiprofissional de saúde, para
orientações, consultas, exames, prática de exercícios físicos, acompanhamento nutricional, e a
preparação adequada para o parto, com o intuito de amenizar qualquer desgaste que seja
acometido durante essa fase (SURITA et al., 2014).
A partir do primeiro trimestre de gestação, estima-se que 50% das gestantes sofrem com
dores na região lombar em algum período da gravidez (CARVALHO et al., 2017). Na gravidez
é comum que as mulheres adaptem a postura para compensar a mudança do seu centro de
gravidade, essas alterações são individuais e dependem também de fatores como a força
muscular, extensão da articulação e fadiga muscular (KATZ, 1999).
Na gestação uma das principais contribuições para a postura e resistência muscular, são
exercícios orientados por um fisioterapeuta ou outro profissional da área. É perceptível a
importância da atividade física, pois traz inúmeros benefícios para uma boa qualidade de vida,
desde que a intensidade seja moderada, considerando também a parte cardíaca, respiratória e
índice de massa corpórea. No entanto, o esforço físico não controlado e em excesso aumenta a
incidência de algias, principalmente nas atividades domésticas (SANTOS et al., 2010).
2.5 METODOLOGIA
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
a presença de lombalgia, obtendo como resposta 88,90% das pacientes submetidas apresentam
algum grau de dor lombar, enquanto apenas 11,10% delas relataram não sentir nenhuma dor na
região lombar.
Quanto à intensidade da dor, identifica-se uma variação do limiar de dor das mulheres,
isso pode ser justificado, em virtude de as mulheres da amostra vivenciarem diferentes períodos
gestacionais, o Gráfico 3 expõe valores demonstrativos que 37,50% da amostra analisada refere
o grau 6, ou seja, dor moderada.
Outro aspecto verificado no Gráfico 4, é que a dor é irradiada, ao longo do avanço das
semanas gestacionais. Nas diferentes regiões, muitas vezes irradiando por mais de um local, e
com esses achados, a maior média resultou entre as regiões das pernas e abdome, sendo
respectivamente 43,80%.
Gráfico 6 - Resultados sobre quais são os profissionais que participaram desse processo de orientação
(6 Respostas).
625
Gráfico 9 - Resultados sobre qual período a dor é mais intensa (17 respostas).
627
Como exibe o Gráfico 9, o maior número das gestantes consultadas relatou que o
período em que a dor se torna mais intensa é no turno da noite (82,40%), tornando notório a
fadiga e a incidência de dor ao fim do dia como fatores.
A maioria das gestantes relataram que os afazeres domésticos são o principal agravador
da dor lombar, como é mostrado pelo Gráfico 10, tendo em vista que todo estresse
proporcionado pelas alterações hormonais e físicas, somado às atividades que requerem maior
recrutamento muscular, sobrecarregam o sistema musculoesquelético gerando dores,
acometendo a região lombar.
primíparas e multíparas, com idades entre 13 e 38 anos, alcançou dados diferentes dos
encontrados neste estudo, em alguns aspectos, evidenciando-se que o índice de dor lombar foi
superior em gestantes a partir do terceiro trimestre, e, na maioria dos casos, foi referida como
pontadas, de intensidade moderada, com duração de uma hora ou mais. Quanto ao período dos
sintomas, nota-se uma semelhança, pois sua piora também ocorreu no período noturno da
amostra estudada.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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SMITH, Laura K.; WEISS, Elizabeth L.; LEHMKUHL, L. Don. Cinesiologia clínica de
Brunnstrom. 5. ed. São Paulo: Editora Manole LTDA, 1997.
RESUMO
ABSTRACT
Parkinson's disease results from degenerative changes in the central nervous system, leading to
dysfunction in the basal ganglia, substantia nigra and dopaminergic neurons. One of
the most promising treatments is virtual reality, which provides visual, auditory and
somatosensory stimuli. The objective of this integrative review is to understand the effects of a
treatment program in virtual reality on gait and balance in individuals with Parkinson's disease,
describe the methods used in the studies and identify the differences and similarities between
them. Studies that analyzed the effects of virtual reality as a treatment on gait and balance of
individuals with Parkinson's were selected, there was no restriction regarding sex, age, duration
1
Departamento de Fisioterapia, Faculdade Católica do Rio Grande do Norte, Mossoró,Rio grande do Norte. E-
mail: cassiavieira001@outlook.com
2
Departamento de Fisioterapia, Faculdade Católica do Rio Grande do Norte, Mossoró,Rio grande do Norte. E-
mail: emillyfreitas89@gmail.com
3
Departamento de Fisioterapia, Faculdade Católica do Rio Grande do Norte, Mossoró,Rio grande do Norte. E-
mail: matheusmadson.dm@gmail.com
634
or severity of the disease. The results show that the vast majority of the samples were composed
of elderly people of both sexes, with an average age between 60 and 75 years. Of the four
studies, all showed improvement in gait and balance. It has been seen that with virtual reality
individuals can process sensory information more accurately in order to control their trunk and
limbs in response to sensory challenges. In conclusion, it is evident that virtual reality has shown
positive results in the balance and gait of individuals with Parkinson's, being an intelligent and
high-tech treatment method, making rehabilitation more fun and pleasurable.
Keywords: Virtual Reality, Parkinson's Disease, Physiotherapy, Gait and balance.
1 INTRODUÇÃO
2 MATERIAS E MÉTODOS
Caracterização do estudo
635
Trata-se de uma revisão integrativa, onde tem por finalidade sintetizar resultados
obtidos em pesquisas sobre um tema ou questão, de maneira sistemática, ordenada e abrangente.
Logo, esta revisão integrativa fornecerá conhecimentos sobre a realidade virtual no equilíbrio
e marcha de indivíduos com doença Parkinson, para que sejam analisados e incorporados na
pratica clínica.
Estratégia de busca
Foram pesquisados artigos científicos nas bases de dados PUBMED e SCIELO, sem
restrição de língua ou ano de publicação. Foi usado como termos de busca: “virtual reality in
Parkinson”; “physiotherapy in Parkinson”.
3 RESULTADOS
equilíbrio demonstraram
(futebol; bola aumento do
de gude no comprimento do
buraco; esquiare passo e estratégias
navegar pela de velocidade
bolha). durante a travessia
de obstáculos.
4 CONCLUSÃO
Diante dos estudos referenciados para fazer essa revisão, a realidade virtual mostrou
resultados positivos no equilíbrio e marcha de indivíduos com Parkinson. Por ser uma
modalidade de tratamento inteligente e de alta tecnologia, é vantajoso tê-la no tratamento
Fisioterapêutico convencional, tornando mais fácil promover reabilitação com diversão e
prazer. Pesquisas adicionais de alta qualidade são necessários para fornecer uma visão mais
profunda dos benéficos e efeitos nos diferentes estágios da doença através da RV.
REFERÊNCIAS
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644
Mendes, Karina dal Sasso; Silveira, Renata Cristina de Campos Pereira; Galvão,Cristina
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na enfermagem. Texto & Contexto - Enfermagem, [S.L.], v. 17, n. 4, p. 758-764, dez. 2008.
FapUNIFESP
645
RESUMO
O assoalho pélvico é a musculatura responsável pela sustentação dos órgãos pélvicos e atua
como um piso nessa região pélvica, também apresenta um papel importante na continência
urinária e fecal. Entre as disfunções do assoalho pélvico estão a; incontinência urinaria de
esforço (IUE) incontinência anal (IA) prolapsos dos órgãos pélvicos (POP) e a dispareunia,
essas disfunções apresentam se pelo enfraquecimento dos músculos do assoalho pélvico (MAP)
que tem como fatores de risco principais a gestação e o parto vaginal. A presente revisão tem
como objetivo geral, analisar quais os tratamentos fisioterapêuticos são mais utilizados nas
disfunções do assoalho pélvico no pós-parto e os seus resultados. O trabalho consiste em uma
pesquisa do tipo revisão bibliográfica integrativa. O tratamento fisioterapêutico com exercícios
de contrações dos MAP, tem uma grande influência na melhora dessas disfunções pélvicas,
promovendo aos músculos uma melhor funcionalidade e coordenação. A conclusão das
pesquisas mostrou que o tratamento fisioterapêutico promoveu melhora significativas nas
disfunções do assoalho pélvico, menos na incontinência anal.
Palavras-chaves: Pós-parto, fisioterapia, assoalho pélvico.
ABSTRACT
The pelvic floor is the musculature responsible for supporting the pelvic organs and acts as a
floor in this pelvic region, it also plays an important role in urinary and fecal continence. Among
the pelvic floor disorders are; stress urinary incontinence (SUI) anal incontinence (AI) pelvic
organ prolapses (POP) and dyspareunia, these dysfunctions are caused by the weakening of the
pelvic floor muscles (PFM) whose main risk factors are pregnancy and vaginal delivery. The
present review has the general objective of analyzing which physiotherapeutic treatments are
most used in postpartum pelvic floor disorders and their results. The work consists of an
integrative literature review type research. Physiotherapeutic treatment with PFM contraction
exercises has a great influence on improving these pelvic floor dysfunctions, promoting better
functionality and coordination to the muscles, the conclusion of the research showed that the
1
Graduanda em Fisioterapia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – FCRN
E-mail:tainaraalves40@gmail.com
2
Graduanda em Fisioterapia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte - FCRN
E-mail:mari.russas42@gmail.com
3
Mestre em Pesquisa em Saúde pelo Centro Universitário CESMAC. Docente do curso de Fisioterapia da
Faculdade Católica do Rio Grande do Norte- FCRN. E-mail: jugrippodantas@gmail.com
646
physical therapy treatment promoted significant improvement in the pelvic floor dysfunctions,
less in the anal incontinence.
Keywords: Postpartum, physical therapy, pelvic floor.
1- INTRODUÇÃO
fortalecimento dos músculo tanto no pré-parto para promover um períneo mais íntegro e
prevenir futuras lesões, quanto no pós parto para fortalecer esses músculos e promover uma
melhor conscientização dos mesmos (Sigurdardottir,Thorgerdur et al, 2019).
O trabalho consiste em uma pesquisa do tipo revisão bibliográfica integrativa, dessa
forma a busca por publicações foi realizada em inglês e português em duas bases de dados,
pubmed e scielo, durante o período de junho a julho de 2022.
Os critérios de seleção dos artigos foram; artigos nacionais e internacionais, referente
aos temas de incontinência urinária, disfunções do assoalho pélvico no pós-parto, no período
de 2012 a 2021.
Os critérios de exclusão foram: artigos que não abordassem o tema do presente estudo,
artigos de revisão bibliográficas.
Foram encontrados 17 artigos, onde 7 foram excluídos por não estarem dentro dos
critérios de elegibilidade do presente estudo, e 10 artigos selecionados dentro dos critérios
descritos para a revisão.
A presente revisão tem como objetivo analisar quais os tratamentos fisioterapêuticos
são mais utilizados nas disfunções do assoalho pélvico no pós-parto e os seus resultados.
2. ASSOALHO PÉLVICO
Dessa maneira torna-se imprescindível uma avaliação precisa dessa musculatura, para
promover um fortalecimento, e tratamento direcionado e assertivo para melhor conscientização
e funcionamento dos MAP.
Em um estudo realizado no Nepal com 10 mulheres onde foram questionadas sobre o
conhecimento dos músculos do assoalho pélvico e o seu fortalecimento, a maioria delas relatou
conhecer pouco ou nada sobre o assunto, algumas relataram o conhecimento apenas de algumas
disfunções como o prolapso dos órgãos pélvicos, pois no estudo citado é visto uma alta
prevalência de POP e IU principalmente nas zonas rurais do Nepal, porém foi observado a falta
de informação sobre a função e importância dos MAP. Esse assunto tem sido pouco abordado
e explicado às mulheres, e no estudo presente vemos a importância de um autoconhecimento
sobre o AP, suas disfunções para um bom tratamento, e fortalecimento desses músculos.
(Stensdotter, Ann-Katrin, et al 2021).
Dessa forma, todos esses aumentos juntamente com a elevação excessiva do IMC e à
ação dos hormônios como relaxina, progesterona e estrogênio que geram maior elasticidade dos
tecidos do AP podem chegar a causar incontinência urinária e fecal, dor e dispareunia se a
musculatura não estiver fortalecida (Monteiro, Michelly et al 2021).
O prolapso dos órgãos pélvicos é definido pela descida dos órgãos da pelve para a
vagina, alguns fatores de risco de POP são paridade, idade avançada, obesidade, raça e etnia,
anormalidades do colágeno, histerectomia, pressão intra-abdominal elevada e antecedentes
familiar. A grande parte dos fatores de risco de POP são permanentes, o que torna de extrema
importância o papel da prevenção nessa disfunção. Ainda que a ocorrência do POP aumente
com a idade, as mulheres jovens devem se prevenir para que essas condições não venham
aparecer com antecedência.
Toda mulher deve ser consciente e entender a importância da função dos músculos do
assoalho pélvico (MAP) e prevenção de disfunções do assoalho pélvico (DAP), principalmente
as gestantes, pois a gestação e o trabalho de parto são os fatores que mais influenciam para o
futuro de POP e as DAP, pois acaba gerando uma sobrecarga extrema ao AP, dessa forma é
visto a necessidade desses músculos estarem preparados desde o pré parto da gestante (Knorst,
Mara R, et al.2012).
3.3 DISPAREUNIA
4. TRATAMENTOS
fim, a incidência de IUE pós-parto foi diminuída no grupo intervenção (15,0%) em comparação
com o grupo controle (31,7%) após as intervenções (P = 0,002).
O estudo mostrou que a intervenção com o TMAP reduziu a incidência de IUE pós-
parto e melhorou as funções dos MAP das puérperas, contribuindo para a prevenção da IUE
pós-parto. (Qi, Xiaowen 2019).
Muitos estudos têm mostrado evidências significativas de melhora da função dos MAP
através do treinamento de fortalecimento, como no caso do trabalho aplicado com puérperas de
6 a 9 meses após o parto, com o objetivo de reduzir a incontinência urinaria e anal. A
intervenção consistiu em 12 sessões, com duração de 45-60 minutos, seguida por média de 3 a
7 meses. As participantes se reuniam uma vez por semana com um fisioterapeuta de saúde da
mulher.
O dispositivo de biofeedback NeuroTrac Simplex com sensores vaginais foi utilizado
para facilitar o fortalecimento dos músculos do AP, e o tratamento foi realizado com 10
contrações próximas ao máximo em períodos de espera de 7 segundos, com um descanso de 10
segundos entre as contrações.
Durante as primeiras 2 consultas, as mulheres foram orientadas a realizar 2 sessões com
um descanso e depois 3 sessões de 10 contrações, durante cada visita. As participantes foram
encorajadas a continuar usando o dispositivo de biofeedback e relaxar seus MAP associados a
respiração diafragmática entre as contrações. A partir das consultas 8 e 9, as mulheres foram
incentivadas a adicionar 3 contrações rápidas ao final de cada contração e a fazê-lo nas sessões
restantes, elas ainda foram orientadas a fazer os exercícios em casa, de 10 contrações dos MAP
próximos ao máximo, 3 séries por dia e realizar a pré-contração dos MAP antes de tossir e
espirrar.
Ao final os resultados mostraram que a intervenção teve um impacto significativo na
melhora da incontinência urinária e incômodos relacionados, também foi observado melhora
da força muscular do AP, porem sobre a incontinência anal não foi observado diferença
significativas entre os grupos de intervenção e controle. (Sigurdardottir,Thorgerdur et al, 2020)
Conforme um estudo controlado randomizado, aplicado em 58 mulheres com prolapso
de órgãos pélvicos, onde as mesmas foram divididas em três grupos, grupo um seria aplicado o
treinamento dos MAP, grupo dois exercícios hipopressivos associado ao treinamento dos MAP
e o grupo três o grupo controle. O protocolo de treinamento diário domiciliares para o GI foi
654
constituído por três séries de 8-12 contrações próximas ao máximo por dia, nas posições
deitada, sentada e em pé, e cada contração foi mantida por 6-8 segundos.
O protocolo para o GII consistiu em 10 repetições de exercícios hipopressivos nas
posições deitadas e em pé, associados a contrações dos MAP por 3 a 8 segundos. Ainda que o
número de contrações tenha apresentado diferença entre os dois grupos, os tempos excedidos
nos exercícios diários se apresentaram semelhantes.
O trabalho mostrou que houve aumentos significativos na área de secção do músculo
elevador do ânus em ambos os grupos de tratamento, em comparação com o grupo controle (P
<0,001) porém nas mulheres que realizaram treinamento específico dos MAP (grupo I)
apresentou melhora em cerca de 50% em comparação aos que realizaram o treinamento dos
MAP associado ou treino hipopressivo (grupo II) onde apresentou melhora de 20% após o
tratamento (Bernardes, Bruno Teixeira et al,2012).
Em outro trabalho realizado em Porto Alegre com 48 mulheres com IU, e POP, foi
aplicado exercícios de cinesioterapia de ativação do assoalho pélvico com o auxílio de bola e
faixa elástica. Os exercícios propostos foram os seguintes: ponte pélvica em decúbito dorsal,
abdução e adução de quadril com a paciente na posição decúbito dorsal e, após, sentada. Todos
os exercícios envolvem contrações isotônicas e isométricas sustentadas por 6 segundos, com
uma série de dez repetições para cada tipo de exercício usado, foram, por fim, realizadas duas
séries de cada exercício.
Diferente dos outros estudos abordados, este utilizou a eletroterapia, com um aparelho
modelo Dualpex 961 URO (fabricante QUARK; Piracicaba SP) conectado a um eletrodo
introduzido na vagina com intensidade de acordo com a tolerância da paciente, chegando a
corrente máxima de 60 MA, durante 10 minutos. Em comparação com os outros trabalhos, este
ainda abordou os diferentes tipos de IU, dessa forma os parâmetros da corrente elétrica
variavam de acordo com o tipo de IU apresentado pelas pacientes.
As mulheres foram divididas em dois grupos, as que apresentavam POP e aquelas que
não apresentavam POP. Os resultados dos estudos em relação a comparação da função
muscular do assoalho pélvico medida pelo perineômetro, para as pacientes sem prolapso, não
se identificou diferença estatística significativa quando comparados pré e pós-tratamento
(p=0,136). Porém nas mulheres com prolapso, foi observado um aumento significativo na
função muscular após o tratamento (p=0,048).
655
O presente estudo ainda relatou uma comparação importante, onde foi constatado de
acordo com os resultados que a Incontinência urinária mista prevaleceu em 48% da amostra.
Porém, quando comparado o tipo de IU com a presença de POP, 84,2% das pacientes
apresentavam IUE. Ao final, o estudo confirmou que mulheres multíparas e que fizeram parto
vaginal têm maior probabilidade de apresentar diminuição da função muscular do assoalho
pélvico contribuindo para IU feminina (Knorst, Mara R, et al.2012).
De acordo com um estudo realizado com 64 mulheres que apresentavam dispareunia,
onde foram divididas em dois grupos, um experimental e o outro, o grupo controle. O grupo
experimental recebeu tratamento uma vez por semana, com a duração de três meses e grupo
controle não recebeu tratamento, os dois grupos foram submetidos a avaliação inicial onde foi
feito a palpação digital para avaliar a contração e o relaxamento dos MAP, a força e a resistência
foi avaliada pela escala de oxford modificada que varia de 0 a 5 graus.
Sendo assim, o tratamento do grupo experimental consistiu em 10 sessões, cada sessão
com duração de 15 a 20 minutos de técnicas manuais, para liberar pontos-gatilho no assoalho
pélvico, usando liberação miofascial intravaginal de tecidos moles e massagem intravaginal
profunda, e 20 a 25 minutos de TENS de alta frequência usando eletrodos intravaginais (a 110
Hz para 80-80 Hz). ms duração do pulso e intensidade máxima tolerável para aliviar a dor. os
participantes também foram orientados a realizar exercícios graduados dos MAP com
instruções apropriadas do fisioterapeuta.
Por fim, o estudo obteve resultados significativos, na melhora do grupo experimental
em comparação com o grupo controle. A diferença média na força dos MAP (de acordo com a
escala Oxford de 0-5) entre os grupos foi de 2,01 e a diferença média de resistência foi de 6,26.
Todas as alterações se apresentaram estatisticamente significativas (p < 0,05). O estudo
mostrou que o programa de reabilitação aplicado melhorou a dor gênito-pélvica, a função
sexual, a força dos MAP e a resistência em mulheres com dispareunia sintomática.
(Ghaderi,Fariba 2019)
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
Cho,Sung Tae;Kim,Khae Hawn.Pelvic floor muscle exercise and training for coping with
urinary incontinence.Journal of Exercise
Rehabilitation.volume17(6);December,2021.https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC
8743604/#b40-jer-17-6-379
Monteiro,Michelly Nóbrega, et al.Pelvic floor muscle training program for women in the
puerperal period: clinical progress after intervention.Rev Assoc Med Bras
2021;67(6):851-856, June
2021.https://www.scielo.br/j/ramb/a/FWr4yStCTXq46S5H7dXPFHr/?format=pdf&lang=em
PSICOLOGIA
660
RESUMO
Este artigo apresenta uma pesquisa bibliográfica a respeito da temática dos rituais fúnebres e
como a cultura de algumas sociedades compõe o ritual de despedida, bem como a sua maneira
de lidar com a morte e o luto. Buscando entender a morte como um processo natural que
compõe a vida, podemos entender que o ritual é algo essencial para os seres humanos, sendo o
rito fúnebre também uma forma de ressignificação das relações entre vivos e mortos, que
precisa ser feita em virtude da saúde mental daqueles que estão passando pelo enlutamento,
pois é preciso retirar o investimento libidinal que antes era direcionado para a pessoa que
morreu, assim podendo vivenciar um luto doloroso, mas não patológico. Os rituais refletem
valores da sociedade, com isso a morte sendo um evento inevitável, pode-se observar que o
rito mortuário tem uma íntima ligação com as normas sociais e com a ideia de finitude.
Palavras-chaves: Rituais fúnebres; Cultura; Morte; Luto.
ABSTRACT
This paper presents a bibliographic research on the theme of funeral rituals and how the culture
of some societies composes the farewell ritual, as well as their way of dealing with death and
mourning. Seeking to understand death as a natural process and as part of life, we can
understand that ritual is something essential for human beings, and the funeral rite is also a
form of re-signification of the relationships between the living and the dead, which needs to be
done because of the mental health of those who are going through bereavement, since it is
necessary to withdraw the libidinal investment that was previously directed to the person who
died, thus being able to experience a painful but not pathological mourning. The rituals reflect
societal values, with death being an inivitable event, it can be observed that the mortuary rite
has an intimate connection with social norms and with the idea of finitude.
Keywords: Funeral Rituals; Culture; Death; Mourning.
1 INTRODUÇÃO
1
Bacharela e licenciada em Psicologia pela FCRN; Pós-granduanda em Teoria Psicanalítica – FAF; Mestranda
no programa PPGCISH - UERN. Email: raquelmfirminopsi@gmail.com
2
Mestrado em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba PPGS/UFPB; Doutorado em Sociologia pela
Universidade Federal da Paraíba PPGS/UFPB; Pós-doutorado pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Email:karllasouza@uern.br
661
A morte é um processo natural que todos os seres humanos um dia irão experienciar,
seja essa vivência através da própria morte ou de terceiros, como um ente querido, um colega
de trabalho ou até mesmo desconhecidos com mortes que podem gerar comoção popular. Freud
(1920) afirma categoricamente que o destino de toda vida é a morte. Com isso, fala sobre a
morte de forma inevitável, experiência a qual todos os seres vivos estão fadados a passar.
Embora seja tratado de forma natural, Freud (1917) fala sobre como essa experiência
pode ser dolorosa, sendo um dos mais intensos sofrimentos humanos. Ainda assim, é necessário
a elaboração dessa perda e o desinvestimento libidinal que antes era direcionado para essa
pessoa que morreu. Acredita-se que os ritos têm um papel importante para auxiliar nesse
desligamento, respeitando o sentimento sem a intenção de silenciar o enlutado.
A sociedade contemporânea, muito interessada nas ciências exatas, procura esquecer a
morte, este momento inevitável. E com isso tenta se separar das crenças e ritos antigos, porém
no dia de nossa passagem estamos desvalidos e impregnados de medo, enquanto as civilizações
passadas ficavam em estado de aceitação e contentamento por acreditarem estar seguindo para
outro mundo. Então há de ser conveniente falar sobre a morte, com o propósito de atravessar
nossa angústia? (BAYARD, 1996).
Os rituais fúnebres são um direito conquistado que tem suas reverberações sociais e
espirituais. A peça de Sófocles, Antígona conta a história de uma mulher que mesmo correndo
risco de morte, decide enterrar seu irmão, que por decreto do novo rei deveria ser privado das
honrarias fúnebres. Havia uma crença que os rituais de passagem eram necessários para que a
alma do morto não ficasse condenada a uma eternidade vagando sem destino, assim Antígona
é uma mulher subversiva que não aceitou se submeter diante de uma injustiça, decide arriscar
sua própria vida para poder sepultar seu ente querido, pois também não suportava a ideia de
não fazê-lo. Podemos perceber que esses rituais também refletem como uma sociedade lida
com a morte e suas crenças em torno da mesma.
De acordo com Han (2021, p. 9) “Rituais são ações simbólicas. Transmitem e
representam todos os valores e ordenamentos que portam uma comunidade”. Sendo assim,
662
iremos observar que cada comunidade possui sua forma de simbolizar suas perdas e honrar ou
temer seus mortos. E é isso que iremos descrever ao longo desse estudo bibliográfico.
Este artigo trata-se de pesquisa bibliográfica. De acordo com Gil (2008) a pesquisa
bibliográfica se caracteriza pela análise de conteúdos teóricos publicados, sejam eles escritos,
impressos ou eletrônicos. A pesquisa bibliográfica tem como principal vantagem a abrangência
que é proporcionada ao investigador, diante de maior cobertura de fenômenos e informações
do que aquela que poderia ser explorada diretamente (GIL, 2002).
Este trabalho tem como objetivo buscar pelo conhecimento acerca da importância dos
ritos fúnebres, conhecer algumas das variadas expressões ritualísticas, bem como observar se
esses rituais foram se transformando ao longo das décadas. Partindo da hipótese de que a
sociedade atual possui uma forma diferente de lidar com a morte, fazendo com que isso gere
uma alteração na modalidade dos rituais de despedida.
Grande mistério inominável da vida, a morte é um fenômeno que nos faltam palavras
para descrever, algo que nos deixa sem palavras para pensar e nomear. A impossibilidade de
simbolização, de compor ideias e pensamentos sobre, nos coloca em um estado amedrontador
diante da morte. A palavra Morte por si mesmo não alcança a ideia do que ela é, cabe a cada
sujeito buscar palavras outras para simbolizar o que seja, tais palavras estão impregnadas de
crenças, fantasias e ideias. Sejam elas “passagem”, “reencarnação”, “fim” essas palavras tentam
aproximar-se da explicação. Mas mesmo estas são fracas para descrever a grandeza do que se
imagina e pouco se sabe (CASSORLA, 2012).
A morte não pode ser esquecida com facilidade. Sobretudo quando se trata de uma
pessoa próxima, é talvez o golpe mais violento que a existência dirige ao homem. Ela
significa uma terrível ameaça ao grupo humano e exige alterações substanciais na
organização da vida, sobretudo quando é inesperada, A morte de uma pessoa adulta
significa normalmente dor e solidão para as pessoas que sobrevivem a ela: verdadeira
chaga que põe em risco a vida social. (RODRIGUES, 1975, p. 51-52)
663
Certo dia uma mulher que estava cuidando de tarefas domésticas, deixou seu único filho
brincando no quintal, quando de repente ouviu um grito estarrecedor e correu ao encontro de
seu menino, vi que a criança estava caída no chão e ela pode observar que uma cobra estava
se afastando dele. Ela pegou seu filho nos braços e saiu correndo desesperadamente em busca
de ajuda, o menino já estava pálido e as pessoas a quem ela digiria-se pedindo socorro,
apontavam que o menino estava morto, até que um homem compadecido da dor e desespero
que a mulher sentia, falou que a mesma procurasse o Buda, que ele sim a poderia ajudar.
Chegando ao encontro do Buda, a mulher lhe suplica que a ele desse o “antídoto” para curar
seu filho - ela não estava conseguindo entender que seu filho já estava morto - Buda então fala
para a mulher que vá até a cidade e procure por grãos de mostarda e estas sementes iriam
curar a doença de seu filho (a morte). No entanto só serviria a semente de mostarda onde as
pessoas da casa nunca houvessem encontrado a morte (não poderia ter morrido nem mães,
pais, filhos, irmãs, irmãos, avós, avôs, amigos, parentes, criados ou animais de estimação) e
assim seguiu sua saga. A cada casa que batia as pessoas lhe falavam de alguma perda que
tinham sofrido, no início acreditava que ninguém poderia compreender sua dor, mas percebe
que não havia uma só casa que os moradores não houvessem experienciado a dor de perder
alguém. Então pode entender a mensagem de Buda, que a morte é inevitável a todos os seres
vivos, sendo um ciclo natural que todos irão passar, sendo a lamentação e não aceitação desse
destino, apenas fonte de dor. Liberta da falsa esperança e angústias infundadas, segue sozinha
para o local onde dará destino ao corpo morto de seu filho, mas sentia como se tivesse
acompanhada de muitas pessoas conhecidas e desconhecidas, ofertando seu último adeus ao
seu menino.
664
Podemos compreender que a mãe da parábola está passando pela dor do luto, pois
acabara de perder seu filho e em primeiro momento não conseguiu conceber tal ideia e enfrentar
a dor de nunca mais vê-lo. Porém, ao final da parábola a mulher consegue compreender a morte
como um processo inevitável da vida, e mesmo que prematura e dolorosa, teria de haver a
aceitação para a travessia da dor.
O luto é necessariamente uma reação inevitável à perda de alguém que se ama ou de
algo que está representando esse lugar, como por exemplo um ideal, pátria, liberdade e etc. O
sujeito passando por um processo de enlutamento, perde o interesse no mundo externo, afasta-
se de qualquer realização que não esteja ligado à memória do falecido, perde também a
capacidade de eleger um novo objeto de amor naquele momento. Sendo assim, podemos
observar que o Eu está dedicando-se exclusivamente ao luto, e nada mais lhe provoca o
interesse (FREUD, 1917).
É possível compreender que essa posição não está em consonância com a realidade,
pois a mesma revela que o objeto amado não está mais disponível, exigindo do sujeito a total
retirada da libido, antes investida no objeto. Porém não é incomum que esta pessoa apresente
relutância em abandonar essa posição libidinal, mesmo já havendo um possível substituto.
Acredita-se que paulatinamente seja realizado o desinvestimento, para isso será depositado
grandes quantidades de energia e tempo para a elaboração de cada lembrança e expectativa na
qual a libido associou ao objeto perdido (FREUD, 1917).
De acordo com Nasio (1997) quando surge a recusa do reconhecimento inevitável da
perda, mesmo que haja uma temporária atenuação da dor, esse movimento beira à loucura,
como consequência, quando esses movimentos de rebelião se atenuam, a dor ressurge ainda
mais viva do que anteriormente. (NASIO, 1997).
O normal é que vença o respeito à realidade. Mas a solicitação desta não pode ser
atendida imediatamente. É cumprida aos poucos, com grande aplicação de tempo e
energia de investimento, e enquanto isso a existência do objeto perdido se prolonga
na psique. Cada uma das lembranças e expectativas em que a libido se
achava ligada ao objeto é enfocada e superinvestida, e em cada uma sucede o
desligamento da libido. Não é fácil fundamentar economicamente por que é
tão dolorosa essa operação de compromisso em que o mandamento da realidade
pouco a pouco se efetiva. É curioso que esse doloroso desprazer nos pareça
natural. Mas o fato é que, após a consumação do trabalho do luto, o Eu fica
novamente livre e desimpedido. (FREUD, 1917, p.129-130)
665
3 OS RITOS FÚNEBRES
É sabido que o homem das antigas civilizações, ao tomar consciência de sua finitude
busca a separação de seu envoltório corporal. A prática de realização dos ritos comprova a
crença na vida após a morte, e os rituais se dão como um facilitador de acesso a nova vida.
Existem uma grande variedade de ritos fúnebres, que envolvem algumas questões que estão
para além da cultura e costumes, sendo essas o sexo, idade e posição social do falecido
(BAYARD, 1996).
Sendo os rituais consolidados de forma sociocultural, proporcionam eixos de
ressonância, das quais tornam experiênciáveis os vínculos de ressonâncias verticais (ligadas à
eternidade, ao universo, ao tempo e Deus), horizontais (para com a comunidade social) e
diagonais (relacionadas às coisas) (ROSA, 2016).
No passado as pessoas tinham um afinco em preparar-se para a morte. A boa morte era
caracterizada por aquela que não pegasse de surpresa o sujeito, as atitudes de preparação eram
o acerto de débitos, orientações para o velório e destinação dos bens (REIS, 1991).
João José Reis, no quarto capítulo de seu livro A morte é uma festa trás alguns exemplos
do que seria a preparação para boa morte, segue o caso do governador Afonso Furtado de
Mendonça que pressentiu o seu fim:
Mendonça procurou “assegurar a vida eterna com uma boa partida”. Ao longo de seus
dias de agonia, o governador deu ordens, fez consultas e reuniões com muitas pessoas
que cercavam todo o tempo seu leito de morte. Ele cuidou de coisas do Estado,
indicando uma junta sucessora, de coisas privadas, garantindo o pagamento de seus
empregados, e de coisas da alma, confessando, ordenando missas, distribuindo
esmolas, orando. Em meio a muita atividade, o moribundo presidiu seu fim. (REIS,
1991, p.91)
666
No intuito de assegurar a paz e o descanso das almas dos mortos foram criados alguns
rituais. Era de extrema importância que antes da morte houvesse honras e absolvição,
constituindo-se de duas ações: purificação e benção. As pessoas rodeavam o moribundo para
fazer rezas, acreditando que estas iriam ofertar proteção contra-ataques demoníacos; eram feitos
um conjunto de ações religiosas para obter o perdão dos pecados. A absolvição era feita em três
ocasiões: o corpo em vida, morto e no túmulo (KÓVACS, 2012).
Existem algumas definições dos ritos, trarei a perspectiva de Jean-Pierre Bayard (1996)
ele expõe os ritos de oblação, retenção, purificação e de passagem:
a) Ritos de Oblação: são todas a atitudes voltadas para manifestações emocionais para
com o defunto, demonstrações de amor, respeito e afeto. Incluso o processo de
toalete mortuária, que são os atos que envolvem a promoção de higienização e
embelezamento do cadáver.
b) Ritos de Retenção: todos os ritos que são destinados para adiar a separação. (ex:
velório)
c) Ritos de Purificação: são os ritos que possuem objetivo de liberar o acesso do morto
ao mundo espiritual.
d) Ritos de Passagem: momento essencial para a separação entre vivos e mortos, dos
quais os anteriores são apenas a preparação para ele. Tem o papel de garantir o novo
status de post-mortem do cadáver.
O processo do rito se inicia na agonia, fato intrínseco da vida. Assim se inicia o cortejo
de acompanhar o moribundo (fase que se inicia o também o luto dos vivos). E assim seguem
para o velório, as exéquias, os pêsames e o luto público (para personalidades ilustres e de altos
cargos), social (uso de roupas pretas, brancas, azuis ou amarelas, dependendo da cultura que o
enlutado será inserido), e psicológico (sentimento de pesar e dor). Enfim, os cerimoniais
fúnebres se estendem até o culto aos mortos ou até as visitas ao túmulo (para alguns, dia 2 de
novembro). (BAYARD, 1996)
O funeral antigo era vivido como um ritual de descompressão tão eficaz quanto maior
fosse a difusão de signos, quantos mais gestos e obetos simbólicos fosse capaz de
produzir. E quanto mais gente pudesse acompanhá-lo. Quando Lindley o associou a
distração, captou um aspecto importante do comportamento da época. O espetáculo
667
Os ritos mortuários possuem um papel para a nova simbolização da relação entre vivos
e mortos, onde os vivos irão “teatralizar a última relação”, tocar o corpo do morto, velar por
ele, falar com o mesmo. Tudo isso recria a presença viva do defunto e nessa encenação
proporciona o tempo de aceitação para o novo estado da relação. O rito fica situado fora do
tempo, sendo vivenciado de um modo a controlar a duração. É exatamente esse efeito
estruturador que resulta em uma tranquilidade diante de uma nova situação (BAYARD, 1996).
O ritual tem como uma das características principais a repetição, se diferenciando da
rotina por conta de seu potencial para produzir uma intensidade. É justamente por essa
uniformidade e repetição que estabilizam e ancoram o sujeito, sendo este alvo de alterações
cotidianas, as coisas e os ritos realizam esse trabalho de tornar a vida suportável (HAN, 2021).
(...) sempre recorremos ao poder estruturador dos ritos quando nos vemos em
situações novas e desconhecidas. Esse poder reside no fato do o rito lidar com o
imaginário ao apresentar soluções mesmo que mágicas para dominar a realidade, tal
como a fantasiamos. (MIGLIORINI, 2009, p.25)
668
Partindo disso, podemos entender que a produção fúnebre era de interesse dos viventes,
pois através do rito poderiam expressar suas aflições e dispersar a angústia, tendo em vista que
a morte de alguém tem o poder de evocar o caos, mesmo que já fosse esperada ou desejada,
simboliza a ruptura de um cotidiano. “Mas se a ordem perdida com a festa retorna com o final
da festa, a ordem perdida com a morte se reconstitui por meio do espetáculo fúnebre, que
preenche a falta do morto ajudando os vivos a reconstruir a vida sem ele. ” (REIS, 1991, p.138)
Aquilo que é temível na morte é exatamente o quanto de morte há nela, por isso que
para o rito é dado ao defunto aspecto de vida: passando pelo banho, maquiagem e belas
vestimentas, deixando-o assim com uma aparência aprazível. As coroas que contém
homenagens, as flores que estão no caixão e as que são jogadas nas sepulturas, estão também
presentes nos ritos de vida (casamentos, nascimentos e aniversários). “O que se teme na morte
é exatamente o que ela tem de morte, e o que nela se cultua é o amor à vida. ” (RODRIGUES,
1975, p.61-62).
João José Reis (1991) em seu livro A morte é uma festa traz alguns relatos do século
XIX, conta que a maioria das pessoas morriam sem os devidos sacramentos, seja pelas
condições da morte ou pela falta de padres para realizar os rituais. A comunidade de Santana
de Serrinha em 1835 enviou uma petição exigindo que fossem nomeados padres para que os
mortos pudessem ter os sacramentos de penitências e outros.
Chama também a atenção o que alguns ilhéus das ilhas dos Frades, Bom Jesus, Vacas,
Santo Antônio, Ilhote e Itapipuca, na baía de Todos os Santos, pediram uma freguesia
independente da cidade que ficava no continente. Com a alegação de que existia a privação de
socorros espirituais, pois seus mortos estavam chegando a falecer sem os devidos sacramentos.
Os ilheús falam que as famílias sofriam duplamente, primeiro pela perda de seu ente querido e
segundo por vê-lo partir sem os sacramentos (REIS,1991).
Caso que nos lembra Antígona, que ao não suportar ver seu irmão privado das honrarias
fúnebres, prefere arriscar sua vida para poder dar destino ao corpo e a alma de seu irmão. Como
podemos observar ao longo desse trabalho, os ritos fúnebres possuem algumas funções, e essas
são essenciais para destinar algumas emoções do enlutado que então na ordem do insuportável.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
669
REFERÊNCIAS
BAYARD, J.P. Sentido oculto dos Ritos Mortuários : Morrer é morrer?. Ed. Paulus,
SP, 1996.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.
670
GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2008.
KOVÁCS, M.J. Educação para morte: temas e reflexões. São Paulo: Casa do psicológo.
2012
REIS, J. J. A morte é uma festa – ritos fúnebres e revolta popular no Brasil no século XIX.
Ed. Cia das Letras, SP, 1991
RESUMO
Os desenhos animados são detentores de um grande poder de atração principalmente para com
as crianças, por possuírem está habilidade eles são responsáveis por influenciarem direta ou
indiretamente na formação desses pequeninos. Está problemática se torna mais séria quando se
percebe que muitas vezes estas animações não estão realmente interessadas em auxiliar no
desenvolvimento infantil. É até comum encontrar em alguns desenhos traços de erotização.
Neste sentido este trabalho pretende analisar o porquê estes desenhos possuem tais traços e
como isto prejudica o desenvolvimento infantil. Será possível perceber que a ingressão do
mundo mercadológico na criação dos desenhos animados foi um dos maiores agravantes para
que ocorresse a inseminação de conteúdos eróticos nas animações. Aqui o problema central é
entender que um homem que não teve sua infância valorizada tenderá a não se valorizar, tenderá
a ser um ser humano imaturo, que perdeu as rédeas da sua vida para o mundo da efemeridade
dos sentidos. No fim será realçado que não se pretende fazer com que as crianças deixem de
assistir seus preciosos desenhos, todavia ao assistirem é necessário que elas tenham o apoio dos
educadores para poderem internalizar da melhor maneira aquilo que se assiste. Para a realização
deste trabalho é utilizado como método de pesquisa a revisão bibliográfica tendo como base de
pesquisa os textos dos autores: Rafael Lhano Cifuentes, Erik Erikson e Mariana Lemes.
Palavras-Chave: infância, desenvolvimento humano, erotização, desenhos animados.
ABSTRACT
Cartoons are holders of a great power of attraction mainly towards children, because they have
this ability they are responsible for directly or indirectly influencing the formation of these little
ones. This problem becomes more serious when one realizes that many times these animations
are not really interested in helping children's development. It is even common to find traces of
erotization in some drawings. In this sense, this work intends to analyze why these drawings
have such traits and how this harms child development. It will be possible to perceive that the
entrance of the market world in the creation of the cartoons was one of the biggest aggravating
factors for the insemination of erotic contents in the animations to occur. Here the central
problem is to understand that a man who did not have his childhood valued will tend not to
value himself, he will tend to be an immature human being, who has lost the reins of his life to
the world of the ephemerality of the senses. In the end it will be emphasized that it is not
intended to make children stop watching their precious drawings, however when watching it is
necessary that they have the support of educators so they can better internalize what they watch.
1
Graduado em filosofia pela Faculdade Católica de Fortaleza (FCF) e é graduando em teologia pela Faculdade
Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail: sandonaity@gmail.com
2
Orientador. Especialista em Transtornos alimentares e cirurgia bariátrica; docente da Faculdade Católica do
RN. E-mail: ruan.nuto@professor.catolicadorn.com.br
672
To carry out this work, the bibliographic review is used as a research method, based on the texts
of the authors: Rafael Lhano Cifuentes, Erik Erikson and Mariana Lemes.
Key-Words: childhood, human development, eroticization, cartoon.
1 INTRODUÇÃO
É comum encontrar adultos com uma vida perscrutada por eroticidade, seja através de
músicas, filmes, novelas e etc... Isto sem dúvida se caracteriza como um problema, todavia a
questão se torna mais séria quando este mundo erótico invade a infância e é tratada com
banalidade. O ingresso desses conteúdos eróticos acontece de forma tão “maquiada” que muitas
vezes se torna até difícil percebê-los. Ora, um dos meios pelo qual a criança tem contado com
essa eroticidade é através dos desenhos animados, um mundo que à primeira vista é pura
ludicidade, mas que carrega consigo uma grande carga informacional (BARBOSA; GOMES,
2013, p.330) Tendo em vista este contexto, o presente estudo pretende, primeiramente, analisar
de maneira detalhada o que é a infância e como as crianças se prendem tanto ao mundo lúdico
dos desenhos animados, depois o estudo se dirigirá à análise da relação entre a erotização e os
desenhos animados, a partir destas analises será explanado sobre quais os prejuízos para a
infância e para o desenvolvimento humano de uma relação entre eroticidade e desenhos
animados.
Também tornar-se-á presente neste estudo uma investigação acerca dos acontecimentos
históricos que mostrará que não é de hoje que as crianças vêm sendo desprezadas. Ora, a
infância é deixada, muitas vezes, aos cuidados do puro acaso, isto é, em segundo plano (ARIES,
1986). Neste sentido, o objetivo final aqui é mostrar como os educadores podem ajudar as
crianças a melhor assistirem seus preciosos desenhos animados.
Dois dos principais autores referenciados neste estudo são Erik Erikson e Max Scheler
(2003), deste virá: o conceito de valor, como algo que emana da essência das coisas, ou, neste
caso, como algo que emana da própria infância, além disso Scheler terá seu pensamento
vinculado com o de Erikson para defender a necessidade de desenvolver na criança um
pensamento crítico. Ademais Erikson será trazido ao debate para apresentar primeiramente o
conceito de criança e o conceito de integridade, conceito este extremamente necessário para
apresentar os prejuízos da erotização infantil na futura vida adulta da criança. Além de Erikson
e Scheler o presente texto buscará apoio no pensamento de Lemes e Cifuentes, para melhor
compreender o que é a experiência de uma boa infância e como se pode ajudar as crianças a
vivê-la.
673
É nítido que os desenhos animados marcam presença em quase toda infância das
crianças, este contato constante com estas animações deixa estes pequeninos sobre forte
influência dos desenhos animados e por isso é preciso expor quais as possíveis consequências
deste contato. Todavia antes de iniciar tal debate é sábio compreender primeiro o que é a
infância e o que são os desenhos animados.
O estudo acerca de tal fase do desenvolvimento humano começou a não muito tempo,
pois “foi Freud, que a pouco menos de um século, começou a estudar e problematizar a infância
como um estágio distinto da vida” (BREI; GARCIA; STREHLAU, 2008, p. 1). Segundo os
autores Vinicius Andrade, Luciana Burnett e Suzane Strehlau (2008, p. 1) esta etapa da vida
vai do “nascimento até aproximadamente o 12° ano de vida de uma pessoa”, já Erik Erikson
(1976, p. 91) afirma que a infância é marcada pela falta inicial de uma personalidade que
consiga dominar ativamente o seu meio, a criança segundo ele também não é completamente
“capaz de perceber corretamente o mundo e a ela própria”.
Deste modo Erikson não se prende necessariamente a uma definição de infância que
preza primordialmente pela análise cronológica do desenvolvimento humano, todavia não se
faz necessário desprezar a primeira definição de infância, pois as duas, de certa forma, se
complementam, na medida em que ocasionalmente as pessoas que estão entre o 1° e 12° ano de
vida são as que ainda não possui uma visão muito apurada do mundo que a circunda, entretanto
não se pode se prender a idade, pois como falava Cifuentes (2003) a maturidade não está na
idade, há tantas crianças que mesmo em tão tenra idade já demonstram ter mais maturidade do
que muitos adultos quarentões.
A mídia televisiva tenta oferecer os mais diversos tipos de entretenimento para poder
agradar os mais diversos estilos; há programas voltados para os adultos, para os jovens e, sem
dúvida, há programas focados em agradar o público infantil. Muitos desses programas de
entretenimento infantil são recheados principalmente por desenhos animados, que de algum
modo conseguem prender a atenção das crianças por várias horas (BARBOSA; GOMES, 2013,
p.330). Esta realidade se apresenta de forma tão viva ao longo de toda a infância que a autora
Sara Pereira (1996, p. 70) parafraseando Meyrowitz (1985) diz que: “a televisão hoje auxilia as
674
crianças a conhecer o mundo muito antes de serem capazes de andar pela rua” 3. Tal autora
também apresenta uma possível resposta para o porquê os desenhos animados fascinam tanto
este público. Segundo ela, as animações são um grande instrumento de satisfação, pois faz
nascer nestes pequeninos novas perguntas e interesses. Entretanto, atualmente, a mídia
televisiva não é a única a proporcionar alguma forma de entretenimento ao público infantil, pois
a mídia digital já faz parte da vida das crianças.
Muitas crianças aprendem a se relacionar com um smartphone muito antes de aprender
a ler e escrever, às vezes, até mesmo antes de aprender a falar. Deste modo o contato com os
desenhos animados não está mais restrito apenas a televisão, mas já há várias formas de acessá-
los através das mídias digitais. (ABREU, 2019, p.107)
Muitas empresas inclusive se utilizam do entretenimento infantil e do comodismo dos
educadores para manipularem socioeconomicamente as crianças (GOMES, 2018), e um dos
artifícios utilizados pelo marketing empresarial para atrair a atenção das crianças é a presença
de conteúdos eróticos nos desenhos animados (BREI; GARCIA; STREHLAU, 2008).
O autor Philippe Aries (1986, p. 119) ratifica isto dizendo que provavelmente coisas que
despertam “alguma aproximação com o universo dos adultos” chamam mais a atenção das
crianças. A presença de tais conteúdos tendo em vista uma fomentação do consumismo,
influenciam as crianças a se estereotiparem, isto é, a acharem que é preferível se parecer com
alguma personagem de desenho animado a buscar ser ela mesma. Ou seja, há aqui um desprezo
da criança perante si mesma.
Essa relação entre o consumo de produtos e as animações denota um interessante fato
exposto pela autora Aliandra Cristina (2008, p. 2): “não se consome apenas os objetos, mas
tudo aquilo que eles podem representar: ‘as crianças consomem as imagens e as materializam
em si mesmas [...]”. Deste modo se as crianças têm contato com muitos desenhos animados
erotizados elas correm o risco de se autodisciplinarem de forma a inclinar seus desejos para um
mundo hedonista, que vive em busca de um prazer inalcançável e frívolo.
A criança aqui se apresenta como sendo muito frágil, pois, por ainda está no início da
formação de sua personalidade, ela é muito suscetível a se deixar ser levada por influências do
meio em que vive. Em virtude desta suscetibilidade, os autores Maria Cristiane e Milton Tadeu
(2018, p. 3) falam que: “a criança tem normalmente uma atitude passiva assistindo os desenhos
3
(Nossa tradução). “La televisión hoy acompaña a los niños a conocer el mundo mucho antes de ser capaces de
pasear solos por la calle”.
675
animados, ficando vulnerável a influência que esses desenhos animados podem vir a interferir
em sua formação e comportamento”. Nesta perspectiva é preocupante esta relação entre a
infância e as animações, pois, geralmente, não existem filtros nos conteúdos expostos por estes
desenhos, logo as crianças correm o risco de consumirem uma gama de conteúdos eróticos, ou
que instigam a violência (CITRÂNGULO, 2009).
Quando se fala sobre o tema da violência vale destacar que a agressividade não é algo
incomum nas brincadeiras das crianças. Para Barbosa e Gomes (2013, p.333) a linha que separa
o brincar do brigar é muito tênue, além disso, o ato de brincar pode englobar também o ato de
brigar, sem que aquele perca sua característica lúdica. Ainda segundo esses autores, é nítida a
influência que os desenhos animados exercem na vida lúdico-agressiva das crianças, que, por
diversas vezes, buscam nas animações inspiração para suas brincadeiras, brincadeiras de lutas,
de guerra, de combates entre o bem e o mal. Nesta perspectiva Barbosa e Gomes (2013, p.331)
relatam o seguinte:
Isso mostra a influência que a TV exerce sobre a criança e o espaço onde a brincadeira
acontece, promovendo o desejo brincante de manifestar suas brincadeiras favoritas, e
uma delas é a brincadeira de guerra, expressando a agressividade e a temática da luta,
principalmente na escola, entre os pares.
A agressividade aqui não é tomada como algo propriamente ruim, na verdade ela é parte
constitutiva do agir e da natureza humana, ou seja, tem sua característica também simbólica e
pode ajudar o educador a perceber como está o desenvolvimento psicossocial da criança, mas
cabe aos educadores terem sempre o olhar atento para este cenário, devem saber quando a
violência saiu do plano ficcional e se tornou algo real (BARBOSA; GOMES, 2013, p.332).
Deste modo, é possível perceber que os desenhos animados são ainda importantes
veículos de informação para o público infantil, mas, então, como eles conseguiram alcançar tal
patamar? Segundo Bezerra (2012, p. 1184) “Os desenhos são recursos audiovisuais fantásticos
que resgatam de uma maneira lúdica” tanto histórias antigas, como é o caso dos contos dos
Irmãos Grimm, quanto, também, traz histórias inéditas, ligadas aos contextos contemporâneos.
Entretanto tais resgates que os desenhos animados realizam das histórias de antigamente não
trazem a história de forma tal e qual como eram contadas, até porque antigamente as histórias
eram contadas de maneira a, geralmente, repassar algum ensinamento moral, já na
contemporaneidade os desenhos, por serem animados por empresas, geralmente visão a
lucratividade, deixando essas questões morais em segundo plano.
676
está submisso aos caprichos do ser humano. Portanto se conclui que o homem deve muitas
vezes se censurar em nome de uma ordem objetiva dos valores. Assim sendo, os valores são as
qualidades que emanam da essência de um determinado ser.
Deste modo quando se fala em valorizar a infância não se trata em atribuir valor a ela,
mas em entender que a infância por si mesma é digna de ser valorizada, na medida que se
entende que está é uma das principais fases do desenvolvimento humano. Contudo esta
compreensão se apresenta nos dias atuais como uma realidade um tanto quando distante. Tal
afirmação se ratifica quando se percebe um desconexo educativo e valorativo presente na
liberdade que as crianças têm em escolher o que querem “[...] vestir e assistir motivados pelo
abandono consentido dos adultos que se auto atribuem a desresponsabilização pela formação
de filtros sociais [...]” (PLATT; OLIVEIRA, 2018, p. 23).
Por não existir tais filtros as crianças começam desde a mais tenra idade a terem contato
com uma mídia que as vezes pode trazer conteúdos erotizados. As consequências disto são
expostas pela autora Angela Beatriz (2018, p. 37), que se utilizando de uma pesquisa feita por
Slatter e Tiggemann (2016), e explana que: meninas entre 6 a 9 anos quando em contato
contínuo com conteúdo potencialmente erotizados costumam manifestar “suas preferências
pelo uso de vestuário sensual. Em consequência pode apresentar insatisfação com a sua imagem
corporal [...]”.
Em relação aos desenhos animados é possível afirmar que algumas vezes tais animações
não apresentam conteúdos eróticos propositalmente, ou ainda, pode acontecer também que
algumas cenas de desenhos animados só apresentem uma linguagem erótica apenas de forma
subliminar, todavia é indiscutível que se for possível extrair uma leitura erotizada de tais
desenhos, seja de forma direta ou indireta, então necessariamente a preocupação perante o valor
da infância entra em jogo (CITRÂNGULO, 2009).
Este descaso para com a infância atinge não só ela, mas também outras fases da vida
humana, pois é quando ainda se é criança que o homem apreende muitas de suas concepções
sobre o meio em que vive, e já que nos dias atuais a criança tem bastante contato com desenhos
animados é inteligente dizer que tais animações influenciam diretamente na apreensão de
conceitos como o de: homem, mulher, poder e beleza (CITRÂNGULO, 2009). Portanto se os
desenhos animados estiverem recheados com uma concepção banalizada do mundo, onde a
mulher considerada bonita é aquela que veste roupas curtas e é sedutora, então a criança pode
compreender que seja certo copiar tais comportamentos (FABRI, 2018).
678
processo de estereotipação passam a tratar os seus corpos como estando em Um constante vir
a ser, como se fosse corpos-rascunhos, que perseguem a perfeição sempre fugida: ‘o corpo
exaltado não é o mesmo que vivemos, mas um retificado e redefinido para atender padrões
sociais estabelecidos como ideais (pag. 133).
Bronzatto et al (2018, p. 139) também acrescentam que “a redução do homem aquilo
que nele pode ser observado e medido ‘[...] empobrece enormemente o mundo humano, pois
deixa de capitar toda a riqueza do seu ser, ocultando sua verdadeira essência”’. Por fim tal autor
utilizasse da filosofia de Platão para dizer que o que realmente é importante não está nas
aparências físicas, mas sim em sua alma, sua essência, a única coisa que é imutável segundo
Platão.
Essa imersão das animações no mundo mercadológico que fora citado anteriormente se
desemboca em um deixar de zelar pelo valor que está contido na criança, valor este que não
pode ser considerado desprezível ou insignificante, pois como afirma Max Scheler (2003, p.
63): os seres mais impotentes e mais baixos são na verdade os mais importantes, pois “em
relação as formas de ser mais baixa, toda e qualquer forma de ser mais elevada é relativamente
desprovida de força”. Em outras palavras, para que possa existir pessoas adultas que segundo
Erikson (1976) tenham desenvolvido uma personalidade bem estruturada, isto é, que ao longo
de cada etapa do seu desenvolvimento tenha conseguido resolver de forma satisfatória ou
positiva as suas crises, é necessário que primeiramente se tenha um apreço para com a criança,
pois são nas fases inicias da vida onde o homem passa por crises importantíssimas para a
formação da sua personalidade, dois desses conflitos iniciais que se destacam são: Iniciativa X
Culpa e a crise de identidade.
É necessário deixar claro que para Erikson (1976) as crises ou conflitos são etapas do
desenvolvimento psicossocial de uma pessoa, esses conflitos abarcam toda a vida do ser
humano e são divididos em oito estágios, dentre esses os quatro primeiros são os responsáveis
por dá início a formação da identidade, que tem seu ápice na adolescência. É preciso também
esclarecer que uma crise que teve um desfecho negativo pode ser retomada em qualquer fase
ulterior para ser reanalisada.
Por fim para não se esticar muito nessa reflexão, que não é necessariamente o propósito
desse estudo, uma última coisa deve ser dita quando se fala em crises psicossociais: ao se falar
em uma resolução positiva de algum conflito traduz-se numa virtude, que é um ganho
psicológico, emocional e social: uma qualidade, um valor, um sentimento, em suma, uma
680
A pressa toma conta da sociedade contemporânea: os pais têm presa e as crianças são
estimuladas a crescerem rapidamente. A preocupação com a vida é necessária, mas é
preciso respeitar cada fase do desenvolvimento. Quando pressionadas a agir como
adultos, de alguma forma, a infância se encerra mais cedo.
681
Ainda segundo tal autora, da mesma maneira que uma criança recém-nascida demora
meses para poder andar sozinha, e que não se pode esperar que ela já saia do ventre tendo tal
capacidade locomotora, o ser humano também necessita de um bom tempo para poder se
desenvolver ao ponto de estar preparado psicologicamente para adentrar em um mundo adulto,
mundo este que por muitas vezes se apresenta extremamente erotizado. Além disso “pular” a
fase da infância se desemboca na perca de uma das melhores partes de ser criança: correr,
descobrir, brincar, conviver com seus iguais e etc., esta convivência com outras crianças,
segundo a escritora Beatriz (2018) é um fator importantíssimo para o desenvolvimento de laços
afetivos. Neste sentido Erikson (1976, p. 136) acrescenta que quando não se instiga o
desenvolvimento de tais laços afetivos ainda durante a infância e na juventude, provavelmente
quando se chegar à vida adulta as relações interpessoais serão sumamente estereotipadas, fato
este que gera nesta pessoa um profundo sentimento de isolamento.
Este sentimento de isolamento não é causado apenas em pessoas que vivem ingressadas
em um mundo estereotipado, mas também em pessoas que encontraram no hedonismo a
fundamentação de suas vidas, não que o prazer seja algo ruim, mas deve-se entender que quem
centra sua vida no puro prazer está manifestando também um profundo egocentrismo, pessoas
assim buscam se aproximar de outras pessoas, mas acabam ficando sozinhas, pois “ninguém
quer submeter-se ao seu pegajoso egocentrismo, ninguém quer ser apenas um instrumento da
felicidade alheia.” (CIFUENTES, 2003, p. 94-95)
Quando o período do desenvolvimento infantil não é bem aproveitado, isto é, quando a
criança perde sua infância por ingressar em um mundo hedonista, onde o erótico é ovacionado,
provavelmente este pequeno ser humano sofrerá com estes problemas de egocentrismo, se
tornará um homem imaturo e frustrado. O imaturo nesta perspectiva é aquele homem que
mesmo aos 30, 40 e até 50 anos ainda não aprendeu a superar o mundo dos sentidos, “se
orientam pelo que é mais atrativo e gostoso, mais chamativo e cativante” (CIFUENTES, 2003,
p. 33). No fim uma infância maculada gera um adulto infantil, que não tem o controle da própria
vida.
Erikson (1976, p. 139) por sua vez apresenta o significado de integridade, que se mostra
bem relevante quando se debate sobre este assunto, para este escritor um ser humano integro é
aquela pessoa que: “[...] em progressivo amadurecimento com a idade, [...] zelou pelas coisas e
pessoas e se adaptou aos triunfos e desapontamentos de ser, necessariamente, a originadora de
outras e a geradora de coisas e ideias [...]”. Nesta perspectiva como é possível que o contato
682
Não se pode esperar que as crianças deixem de assistir os desenhos animados e isto
também não se faz necessário, pois o problema não está simplesmente só no que elas assistem,
mas também como elas assistem. Nesta perspectiva é interessante que os educadores estejam
com as crianças no momento que elas estiverem assistindo às animações captando suas
impressões e ajudando-as a fazerem interpretações que enriqueçam o aprendizado desses
pequeninos. Tentar fazer com que ainda na infância haja os fundamentos de um pensamento
crítico também é essencial, o própria Max Scheler (2003) afirma que ensinar a uma pessoa a ter
uma reflexão crítica acerca do mundo é ensiná-la a ser essencialmente humano.
Com relação a essa vigilância por parte dos educadores Philippe Aries (1986, p. 146)
alega ser fundamental a presença dos educadores na vida das crianças, mas “é preciso que essa
vigilância [...] seja feita com doçura e com uma certa confiança, que faça a criança pensar que
é amada, e que os adultos só estão ao seu lado pelo prazer de sua companhia”, isto fará com
que a criança não tema essa companhia, mas a ame. Neste mesmo sentido um ex-monge de
Goussault ensina uma incrível lição: “as crianças são plantas jovens que é preciso cultivar e
regar com frequência: alguns conselhos dados na hora certa, algumas demonstrações de ternura
e amizade feitas de tempos em tempos comovem e conquistam” (ARIES, 1986, p. 163).
Outro ponto crucial apresentado pela autora Sara Pereira (1996) sobre o modo como as
crianças devem assistir as animações é que elas precisam colocar sentido no que estão
assistindo, e os principais responsáveis por ajuda-las a fazerem isto são geralmente os pais, pois
estes são os que normalmente estão mais presentes durante a infância dos seus filhos. Erikson
(1976, p. 104) acrescenta que os pais e os educadores de um modo geral também devem colocar
sentido nas suas atitudes, seja atitudes de permissão ou de proibição. Para este mesmo autor os
educadores “[...] devem não só ter certos métodos de orientação por proibição e permissão; eles
devem também estar aptos a representar para a criança uma convicção profunda, quase
somática, de que existe um significado no que estão fazendo”.
A autora Angela Beatriz (2018) ratifica a necessidade da explicação por parte dos
educadores às crianças do porque estes, às vezes, não consideram adequado que elas assistam
certos programas de TV, ou desenhos animados, ao invés de dizer simplesmente e
imperativamente para as crianças: “não veja”. Ainda, nesta mesma perspectiva, a autora
684
Adriana Dulcina Platt (2018, p. 22), parafraseando Hanna Arent (2013), explana que os
educadores devem “conduzir as crianças pelo caminho que elas desconhecem”, pois ainda são
novos e não apreenderam o suficiente para poderem caminham sozinhos, isto implica também
em impor limites às crianças, todavia tal imposição deve não se resumir a uma coerção moral
ou ética, mas acima de tudo deve mostrar para as crianças a beleza do valor da infância, que é
único e insubstituível. Tal imposição de limites implica algumas vezes em ser seletivo na hora
de assistir aos desenhos animados, Sara Pereira (1996, p.3) faz uma bela reflexão sobre isto
explanando que: Ser seletivo na hora de assistir
[...] não implica necessariamente que o prazer e a satisfação que as crianças sentem
ao ver televisão sejam menores, mas pelo contrário com o conhecimento e
capacidades que adquiriram, poderão apreciar e valorar muito mais seus programas
preferidos, e vê-los com mais satisfação 4
Ou seja, desenvolver tal amor é ainda entender que o outro não é um meio para um fim.
Continuando tal discursão em relação ao amor Marina Lemes (2015, p. 81) assegura que esse
sentimento “é um fenômeno originário, é um ato que caracteriza a existência humana no que
4
(Tradução nossa). “[...] no implica necesariamente que el placer y satisfaccion que los niños sienten al ver
televisión sion menores, sino por el contrário con los conocimientos y capacidades que adquieran, podrán
apreciar y valorar mucho mejor sus programas preferidos, y verlos con más satisfacción”.
685
ela tem de humano, é um ato existencial, mas também é coexistencial, porque é relação pessoa-
pessoa”, isto pode ser apreendido pelas crianças aos poucos com o auxílio dos educadores.
Prezar pela dignidade e pelo valor do próprio corpo é ter a capacidade de exprimir o
amor através dele, e um dos modos como a criança pode compreender isso é mostrando que
mesmo que alguns personagens dos desenhos animados hajam com despudor isto não deve ser
imitado, além disso se faz necessário também explicar que o pudor não se restringe a cobrir
uma parte do corpo, mas é, acima de tudo, uma preservação do uso “indiscriminado,
desrespeitoso, manipulador e possessivo de suas forças criativas” (LEMES, 2015, p. 140), em
outras palavras, o pudor protege a pessoa de torna-se um objeto, principalmente sexual, além
de evidenciar “ o corpo como portador de uma personalidade, não de uma corporalidade; oculta
o que sendo belo e bom, não deve ser revelado em qualquer momento ou para qualquer pessoa”
(LEMES, 2015, p. 140). Em suma é importante que a criança entenda que quem ama a si próprio
e ao outro busca ser simples “na presença e aparência corporal. A ênfase na beleza corporal
nem sempre permite capitar o Tu e amá-lo como é” (LEMES, 2015, p. 134).
A relação entre pudor e amor se desenvolve em uma educação sexual que preza pelo
desenvolvimento saldável da sexualidade, empenha-se para auxiliar a criança nesse
desenvolvimento da sexualidade pautada no amor é fomentar uma formação de uma criança
menos erotizada. Marina Lemes (2015, p. 99) afirma que não é fácil trabalhar com as crianças
esses assuntos, todavia é necessário, ela apresenta seu pensamento fazendo uma comparação
com a história dos três porquinhos e a casa de tijolos:
O que tem sentido nem sempre é o mais fácil, nem o mais rápido, nem o mais
agradável, mas é o que salva! Precisamos aprender ‘a construir a casa de tijolos’, a
construir nossa vida nossa sexualidade sobre a rocha, para que nenhuma adversidade
possa impedir a experiência e a vivência do amor pleno.
Sobre esse mesmo assunto a autora Thais Santiago (2018, p. 158) ratifica com base no
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que mesmo não sendo fácil educar as crianças
para um mundo de valor “[...] a humanidade deve à criança o melhor de seus esforços”.
No fim o que deve ser deixado claro é que a criança deve ser educada para poder tomar
suas próprias decisões, decisões livres, responsáveis e coerentes, deve ser educada ainda para
ser uma pessoa autentica e integra.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
686
REFERÊNCIAS
BREI, Vinicius A., GARCIA, Luciana B., STREHLAU, Suzane. A influência do Marketing
na Erotização Precoce Infantil. In: XXXII Encontro da ANPAD. Rio de Janeiro, 10 set.
2008. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/diversos/down_zips/38/MKT-A1766.pdf>.
Acesso em: 05 mar. 2020.
ERIKSON, Erik. Identidade: Juventude e crise. 2° Ed. Trad.: CABRAL, A. Rio de Janeiro:
Zahar, 1976, 322p.
em:
<https://www.revistacomunicar.com/index.php?contenido=detalles&numero=31&articulo=31
-2008-08>. Acesso em: 05 de mar de 2020.
_______, Sara. Educar para un uso crítico de la televisión en Educación Infantil. Revista
Comunicar, Huelva, v. 4, n 6, p.69-72, 1 mar. 1996. Disponível em:
<https://www.revistacomunicar.com/index.php?contenido=detalles&numero=6&articulo=06-
1996-14>. Acesso em: 27 de fevereiro de 2020.
PISCINATO, Milton Tadeu; SILVA, Maria Cristiane Contente da. Desenho Animado
Erotizado e sua Influência no Comportamento Infantil. Revista de Pós-graduação
Multidisciplinar, Campos Sales, v. 1, n. 5, p. 85-98, dec. 2018. Disponível em:
<https://www.fics.edu.br/index.php/rpgm/article/view/799>. Acesso em: 05 mar. 2020.
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo evidenciar a importância da promoção da saúde mental
em profissionais da enfermagem atuantes no contexto da urgência e emergência hospitalar.
Justifica-se frente às variadas situações estressoras frequentemente presentes no âmbito
hospitalar, capazes de prejudicar a saúde daqueles lá atuando, quando carecem do preparo e
apoio devido. Para isso, optou-se pela modalidade de revisão narrativa de literatura com o
objetivo de proporcionar relações com produções anteriores para consolidar novas perspectivas
que embasam a afirmativa proposta pela temática. Pôde-se compreender que o funcionamento
da urgência e emergência e o papel do enfermeiro nesse contexto trata-se de uma interação que
está diretamente ligada à qualidade de vida ou não do profissional da enfermagem, mostrando-
se essencial a promoção da saúde mental dos mesmos. Isso, por sua vez, ajuda a evitar prejuízos
tanto mentais quanto físicos durante o desempenho das funções hospitalares. Portanto, faz-se
relevante uma remodelação do cenário abordado, para assegurar o bem-estar de tais
profissionais e seus pacientes subsequentes. Para isso, constata-se como solução, a necessidade
da abertura de um diálogo acerca da importância da inserção da interação e trabalho
interdisciplinar entre a Psicologia Organizacional e Psicologia Hospitalar, tecendo diálogo
mútuo e promovendo assim a saúde mental dos profissionais em questão.
Palavras-Chave: Saúde mental e trabalho; Enfermagem; Urgência e emergência.
ABSTRACT
The present work aims to show the importance of promoting mental health in nursing
professionals active in the context of hospital urgency and emergency. It is justified in face of
varied stressor situations often present in the hospital environment, capable of damaging the
health of those that act there, when lacking the due preparation and support. For that, the
narrative review of literature modality was chosen, with the objective of providing dialogue
with previous productions to consolidate new perspectives that base the affirmative proposed
1
Graduanda em psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
wiviny.rodrigues61@gmail.com
2
Graduanda em psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
estelaregina16@outlook.com
3
Graduanda em psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
monicabarra.psi@gmail.com
4
Professor orientador pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN), especialista em Gestão e
Psicologia Organizacional, mestrando pelo programa de pós-graduação em Saúde e Sociedade pela Universidade
Estadual do Rio Grande do Norte (UERN). E-mail: luanmartinspsi@gmail.com
690
by the theme. It was possible to understand that the functioning of urgency and emergency and
the nurse's role in this context is an interaction directly tied to the quality of life, or lack thereof,
of the nursing professional, proving to be essential to promote their mental health. This, in turn,
helps to avoid both mental and physical harm while performing hospital functions. Therefore,
a remodeling of the addressed scenario is relevant, to ensure the well-being of such
professionals and their subsequent patients. For this, it is observed as a solution, the need to
open a dialogue about the importance of the insertion of interaction and interdisciplinary work
between Organizational Psychology and Hospital Psychology, weaving mutual dialogue and
thus promoting the mental health of the professionals in question.
Keywords: Mental health and work; Nursing; Urgency and emergency.
1 INTRODUÇÃO
Dentre tantos conceitos de saúde mental, é possível dizer que esta pode ser denominada
como a capacidade de se recuperar do estresse do dia-a-dia, identificar limites pessoais, lidar
com conflitos, traumas e as cobranças que são impostas no decorrer da vida, de acordo com
Silva e Robazzi (2019), e, como consequência, ameniza as possibilidades de se desenvolver
adoecimentos mentais. É importante destacar que, conforme afirma Silva et al. (2017), os
problemas relacionados à saúde mental não devem ser observados de forma isolada, pois são
fatores amplos relacionados ao contexto social e à saúde pública, ou seja, de direito de todos.
O ambiente de trabalho é um dos contextos que pode estar intimamente ligado à saúde
mental, tendo em vista que esse cenário é onde o indivíduo passa maior parte do seu tempo, e,
de acordo com Silva (2015), é nele que pode se encontrar motivos de prazer e sofrimento da
rotina diária. O estresse, por exemplo, pode ser resultado de uma dessas tensões entre saúde e
trabalho, originada de determinados fatores de risco, como, carga horária excessiva, situações
de conflitos e riscos, que exigem uma sobrecarga física e mental, por exemplo. Assim, pode-se
dizer que as equipes de enfermagem que trabalham na urgência e emergência hospitalar,
ambiente repleto de tais fatores de riscos já citados, são, possivelmente, as mais expostas ao
estresse ocupacional.
Novaes Neto, Xavier e Araújo (2020) apontam que os profissionais de enfermagem
estão expostos a vivenciar momentos de sofrimento e dor como consequência de doenças
graves, provocando situações de estresse ocupacional em suas rotinas diárias. Com o passar do
tempo e da experiência adquirida esses profissionais podem passar a conseguir enfrentar com
mais facilidade ou não, podendo aumentar as consequências negativas somando-se também
muitas vezes com situações não favoráveis de trabalho como falta de equipamentos necessários,
insalubridade, desvalorização profissional, entre outros fatores.
691
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Conforme Shimizu e Ciampone (1999, p. 95), embora seja uma função muito apreciada
pela maior parcela desses colaboradores, o papel desempenhado pelo profissional de
enfermagem dentro do contexto da unidade de terapia intensiva (UTI), pode ser definido como
693
Sebastian (2000 apud Marcon 2004), afirma que a psicologia foi inserida no contexto
hospitalar nos anos de 1954 e 1957 com a implantação do Serviço de Psicologia no Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Marcon (2004) discorre
que o trabalho era desenvolvido para preparar psicologicamente as crianças para realização de
cirurgias. O autor também apresenta que mudanças no cenário da saúde pública brasileira,
como mobilização política nacional junto com ações do governo brasileiro desde a década de
70, fizeram com que favorece a ampliação da inserção do psicólogo na rede de assistência
básica à saúde e contribuiu para o fortalecimento do trabalho dele na área da saúde mental.
695
desenvolve o mesmo dentro da organização, sua relação com os diretores, o ambiente em que
trabalham, e demais fatores que possam vir a influenciar seu bem-estar, e com isso desenvolver
um diagnóstico organizacional com possíveis colocações do que precisa ser alterado em prol
da saúde dos trabalhadores.
A psicologia organizacional e do trabalho tem um papel fundamental na humanização
hospitalar iniciando pela relação entre o hospital com os pacientes, os familiares e os seus
colaboradores. Conforme um estudo de Vaghetti (2012) trago por Santucci et al. (2022), é
possível observar em instituições da saúde uma desvalorização dos trabalhadores e um fator
que leva a esse contexto é a pouca participação na gestão dos serviços prestados.
O direcionamento do psicólogo organizacional no contexto hospitalar é ser um
facilitador e conscientizador nas atribuições das equipes que compõe a organização,
despertando para a dinâmica do ambiente e a subjetividade do indivíduo. (CAMPOS, K. C. de
L. et al, 2011)
Santucci et al. (2022) também traz Yamamoto e Rodrigues (2013), que expõem sobre o
compromisso ético e social do psicólogo organizacional que busca ações que promovem a
conscientização para lidar com o sofrimento psíquico e entre outros trabalhos voltados à saúde
mental dos colaboradores. Santucci et al (2022) confirma através da fala de Martins (2003) que
o bem-estar dos profissionais de saúde está sendo ignorado nas instituições hospitalares.
A cultura organizacional tem um papel muito importante dentro das instituições, assim
como também é primordial destacar que o hospital é uma organização onde deve sobretudo
buscar a garantia de um trabalho e um ambiente humanizado, Santucci et al (2022) defende
com a fala de Fachada (1991) que há um conjunto de valores e crenças necessários para as
relações dentro de uma organização focados em corresponder às expectativas dos indivíduos e
que busque a solução de problemas organizacionais favorecendo a permanência dos
colaboradores no trabalho.
Ainda sobre as atribuições do psicólogo organizacional e do trabalho e o psicólogo
hospitalar nos hospitais, é possível haver um desacordo na definição dos papeis de ambas os
profissionais. De acordo com Mota, Araújo e Barbosa (2021), o psicólogo hospitalar atua de
forma incisiva auxiliando nos benefícios da saúde e nos cuidados paliativos realizando
atendimentos com os pacientes, com seus familiares e com a equipe de saúde, podendo o mesmo
auxiliar até o na atuação organizacional na elaboração de artifícios que busquem a saúde mental
dos trabalhadores.
697
3 METODOLOGIA
Como foi enfatizado no referencial teórico, Filho e Almeida (2016) apontam diversas
questões que contribuem para o adoecimento dos enfermeiros. Situações que envolvem a alta
demanda hospitalar, as exigências e burocracias da organização, a falta de comunicação
intersetorial, baixa remuneração, problemas interpessoais, falta de apoio social e estrutura física
precária. Partindo disso, pôde-se notar a necessidade de inserção da Psicologia dentro do
contexto hospitalar para garantir a promoção à saúde mental dos profissionais de enfermagem.
Sabendo disso, conforme Simonetti (2015), a psicologia hospitalar detém-se ao tratamento
focado nos aspectos psicológicos envolvidos no processo de adoecimento e suas nuances, com
isso, visa promover intervenções sobre indivíduos que estão hospitalizados, amenizando os
fatores que possivelmente possa acometer ou deturpar o processo de interação saúde-doença de
forma negativa. O autor destaca que, possuindo o hospital como “setting terapêutico'', seu
público embarca os pacientes, os seus familiares, como também, a equipe de saúde.
Logo, embora a psicologia hospitalar tenha suas ações voltadas também a equipe de saúde,
o trabalho unificado dela não permite uma visualização total do contexto, fazendo-se necessário
uma ação conjunta e interdisciplinar com a psicologia organizacional e do trabalho (POT), que
também é de suma importância no âmbito hospitalar. Segundo Mota, Araújo e Barbosa (2021),
um profissional da área de POT dentro do contexto hospitalar é encarregado de selecionar
profissionais qualificados para setores e cargos dentro da organização, diminuir as questões
estressoras decorrentes da jornada de trabalho, proporcionar vínculos entre os diferentes setores
e o desenvolvimento de ações com a equipe multidisciplinar, com o intuito de construir um
ambiente organizacional saudável e prevenindo danos futuros.
Dessa forma, evidenciou-se que após uma análise crítica dos estudos coletados, podemos
confirmar que os profissionais da saúde sofrem impactos significativos à saúde mental,
principalmente aqueles que atuam diretamente nas unidades de urgência e emergência
hospitalar. Identificamos que dentro dessas revisões há uma prevalência de estudos com os
profissionais da enfermagem, por ser um ambiente que requer mais atenção e cuidado desses
trabalhadores. Por vivenciarem cotidianamente situações estressantes e condições precárias de
trabalho, as pesquisas indicaram elevados índices de estresse ocupacional, síndrome de burnout
699
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
COSTA, Mariana Monique Gurgel; ALVES, Maria da Conceição Silva; ALVES, Débora
Viviany Braga; SOUZA, Luan Martins de. O PAPEL DO PSICÓLOGO
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https://www.scielo.br/j/rlae/a/w9NCQg8m73Tz4xcLjTkTRnB/?format=pdf&lang=pt. Acesso
em: 13 ago. 2022.
RESUMO
O trabalho da(o) psicóloga(o) na Atenção Primária à Saúde (APS) não deve consistir na
transposição do modelo hegemônico de atuação nos consultórios particulares, pois os serviços
públicos de saúde, especialmente a APS, recebem casos em que o diagnóstico está intimamente
ligado a condições de fragilidade socioeconômica, o que exige criatividade para, subvertendo
as opressões do sistema capitalista, desenvolver formas efetivas de cuidado e promoção de
saúde. À vista disso, o presente trabalho tem como objetivo, por meio de uma revisão narrativa
da literatura, identificar o processo de inserção da Psicologia na APS, além de discorrer sobre
o estágio como instrumento essencial para uma formação comprometida com a luta e o
compromisso ético-político por uma saúde pública e de qualidade. Percebeu-se que há uma falta
de pesquisas sobre essa temática, principalmente com enfoque em experiências de estágios na
APS, bem como a necessidade de inserção de disciplinas sobre saúde pública nos cursos de
graduação em Psicologia, além do incentivo à pesquisa e extensão nessa área.
Palavras-Chave: estágio, atenção primária à saúde, formação em psicologia.
ABSTRACT
The psychologist work at the primary health care is not supposed to be like the hegemony model
of the therapy done in a private office, because the public health services, especially the primary
health care, receive some cases where the diagnostics is connected to a fragile socioeconomic
condition. So, it requires a creative work to subvert the oppressions caused by capitalism
through the development of effective ways of care and health promotion. Then, the present
article has as objective through a narrative literature review to identify how psychology is
inserted in primary health care and discourse about the internship as a essencial way to a training
that is politically ethical to a commitment with a quality public health. For a conclusion, it was
noticed that there are missing researches about this theme, especially about the experience of
internships at primary health care, the necessity of including matters about public health at the
psychology undergraduate courses and the incentive for researches and extension projects.
Keywords: internship. primary health care, psychology formation.
1
Graduanda do curso de Psicologia na Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
saramxvr@gmail.com
2
Graduanda do curso de Psicologia na Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
mrasblso@gmail.com
3
Psicóloga, pós graduanda em Psicologia Hospitalar na UNOPAR. E-mail: psipaularolim@hotmail.com
4
Orientador. Psicólogo, especialista em Gestão e Psicologia Organizacional e mestrando em Saúde e Sociedade
na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). E-mail: luanmartinspsi@gmail.com
704
1 INTRODUÇÃO
A Atenção Primária à Saúde (APS) ou Atenção Básica (AB) trabalha com ações em
saúde, de modos individuais e coletivos, que buscam pôr em prática a atenção integral à saúde
da população, visando minimizar as conjunturas de vulnerabilidade dos sujeitos, na busca por
706
que o olhar psicológico não esteja ausente nas construções dos trabalhos com as equipes
multiprofissionais, afinal, “não há saúde sem saúde mental” (CREPOP, 2019, p.35).
A APS é um lugar potente para o cuidado em saúde mental, pois está enlaçada com os
sujeitos, as famílias, a comunidade e os demais equipamentos que compõem a RAS. Para isso,
o acolhimento deve estar situado na porta de entrada do serviço, onde os sujeitos devem ser
escutados e orientados independente de suas “condições de vida”, com um olhar de modo
singular, sem excluir o contexto social em que os mesmos estão inseridos, pensando em um
manejo clínico adequado e a construção de um Projeto Terapêutico Singular (PTS) (CREPOP,
2019). A partir dessas questões, torna-se possível entender o papel de um profissional da
Psicologia na Atenção Básica, atuando a partir de uma política antimanicomial, promovendo
saúde e prevenindo agravos à saúde mental.
Em referência à inserção da Psicologia na APS, é importante que se pense na dimensão
da formação desses profissionais. É imprescindível que estes estejam abertos a ampliar suas
práticas e construir saberes, principalmente por meio da fala e da escuta. A aproximação prática
e vivencial de alunos/profissionais com o modo de funcionamento da RAS e as pessoas
atendidas no SUS potencializa a construção de práticas de cuidados mais próximas às reais
necessidades (CREPOP, 2019).
Trabalhar com inserção nesse contexto não deve se dar de modo fácil ou simples, pois
por vezes é um trabalho rodeado de violências diversas. Por mais que conste na Constituição
Brasileira de 1988 que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado, diariamente é
escancarada a precarização do trabalho e de alguns serviços, ou até mesmo o modo como alguns
profissionais (des) tratam populações por vezes vulneráveis. Por isso, é importante se firmar
parcerias de trabalho nos espaços (inclusive com a população) para que se fortaleçam os laços
sociais e a construção e sustentação de políticas que voltem suas ações para sujeitos que,
frequentemente, têm seus direitos negados e violados, como por exemplo idosos, pessoas
negras, mulheres, crianças, população em situação de rua e população LGBTQIA+ (CREPOP,
2019).
Esses são exemplos de questões que estão para além da teoria e que a prática de trabalho
escancara diariamente nos serviços, por esse motivo é importante apoiar e investir em estágios
nos equipamentos de saúde, bem como a inserção de disciplinas teórico-práticas nas grades
curriculares dos cursos de Psicologia e o contato das(os)s estudantes com o trabalho
708
multiprofissional para a construção de saberes na APS, pois é nesse contexto que podem surgir
descobertas e contribuições inovadoras para a realidade dos serviços.
O CREPOP (2019) adverte sobre a importância de incluir nos currículos das Instituições
de Ensino Superior disciplinas como Saúde Coletiva, e não só nos cursos de Psicologia, como
também nos demais que tenham possibilidade de trabalho com o SUS. A luta pelo cuidado em
saúde mental é uma pauta coletiva, que perpassa a Psicologia, mas não deve parar nela pois é
um trabalho construído de forma democrática e participativa, a partir da Rede de Atenção à
Saúde, dos profissionais que a compõem e dos saberes e questões da população.
uma lacuna no processo de formação pela falta de problematização, participação social crítica
e atuação interdisciplinar. Por essa razão que há a tentativa, ao longo dos anos, da criação de
iniciativas que estejam comprometidas com a realidade das comunidades, pois a singularidade
do SUS está, principalmente, em uma das suas diretrizes, que é a participação popular na
construção da saúde, promovendo uma boa articulação entre o quadrilátero da formação para a
área da saúde, que é ensino-gestão-atenção-controle social (CECCIM; FEUERWERKER,
2004).
Segundo Carvalho e Ceccim (2006), para que haja efetivamente a construção de um
processo formativo, é basilar que existam espaços de aprendizagem que estejam concomitantes
com o desenvolvimento das (os) acadêmicas (os) nas habilidades para a gestão, atenção à saúde
e controle social, por meio de metodologias ativas de ensino que estejam direcionadas para o
trabalho multiprofissional e interdisciplinar, que fazem parte dos princípios do trabalho do SUS.
Adentrando um pouco sobre o processo formativo das instituições acadêmicas, desde o
final da década de 90 que já se discutia sobre o currículo do curso de Psicologia. De acordo
com Boarini (1996), deveria haver a inserção de disciplinas que abordem a questão da saúde
pública brasileira com enfoque no SUS e a inclusão do estágio nas UBS como forma de
enriquecer a formação profissional. Complementando essa ideia, para Ceccim e Feuerweker
(2004, p. 44), a formação
primeira coisa que acontece quando uma/um estagiária(o) adentra nesse território é o espanto
com a realidade daquele local, a falta de entendimento sobre a sua gestão e funcionalidade, a
falta de saber como construir os prontuários e a dificuldade de fazer e entender um trabalho
multiprofissional e interdisciplinar, tendo em vista que a(o) profissional de Psicologia ainda é
orientada(o) a trabalhar de forma individualizada, com foco somente nas psicopatologias.
Tendo como ponto de partida o que foi posto, já se pode afirmar a relevância de um
estágio na APS para a (o) estudante de Psicologia, pois faz com que esta (e) veja na prática
como é estar atuando na realidade do contexto brasileiro de saúde. Para além de aplicar
conhecimentos aprendidos em sala de aula, o estágio em UBS possibilita o aprendizado para
formar novas práticas de cuidado em saúde e uma nova forma de firmar o trabalho da Psicologia
nesse lugar, pois ainda é muito engessado o pensamento de que a (o) psicóloga (o) realiza
apenas atendimentos individuais visando um psicodiagnóstico.
Em relação ao estágio em si na APS, uma coisa que é valiosa para a (o) estagiária (o) é
o fato de que há uma liberdade para que esta (e) possa realizar o seu estágio de forma autêntica.
No artigo “Psicologia e atenção básica: vivências de estagiários na Estratégia de Saúde da
Família” de Sousa e Cury (2009, p. 1434), os autores trazem que um dos relatos feitos pelas e
pelos estudantes da pesquisa sobre o estágio na APS é que “para os estagiários, a formação em
um contexto de atenção básica é vivenciada como algo que os torna profissionais de fato, e não
apenas aprendizes, em razão da autonomia, das responsabilidades e das tarefas de estágio serem
idênticas àquelas dos profissionais de saúde”.
Esse ponto em específico é de grande preciosidade para a constituição da
responsabilidade da (o) estagiária (o) frente ao trabalho da Psicologia, pois exige que a sua
compreensão ética do trabalho esteja muito bem embasada política e socialmente, afirmando o
seu compromisso com a comunidade. Além disso, desenvolver autonomia no espaço de
construção de saber é uma forma de propiciar a importância de se ter metodologias ativas no
ensino e no serviço, pois são elas que abrem espaço para o diálogo, sustentando que o saber
circula pelas pessoas, não estando fixado apenas nas figuras estereotipadas do saber na saúde,
que seriam destinadas aos médicos.
Portanto, estar na APS é uma forma de entrar em contato com as mais diversas
categorias profissionais. Isso possibilita tanto a observação se há, de fato, um trabalho
interdisciplinar, e a problematização caso não haja, já que essa é, infelizmente, uma realidade
nas UBS. A (o) estudante, por sua vez, tem por direito levantar questionamentos, problematizar
711
e sugerir mudanças no trabalho, pois isso faz parte da sua construção formativa. Ademais,
sugerir mudanças no trabalho implica não apenas a mudança na lógica de como se organiza a
Atenção Básica, mas na lógica subjetiva de como cada profissional realiza o seu trabalho.
Retomando à pesquisa de Sousa e Cury (2009, p. 1436), os autores trazem como
resultado que
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
MELLO, R.; TEO, C. Psicologia: entre a Atuação e a Formação para o Sistema Único de
Saúde. In: Psicologia: Ciência e Profissão, v. 39, 2019.
Míriam Câmara1
Ingridy Vitória Dantas de Lira2
Maria Cecília Azevedo Ferreira3
Amanda Carolina Claudino Pereira4
RESUMO
Durante décadas houve uma forte dicotomia entre razão e emoção, em que se valorizava a
primeira em detrimento da segunda. O psicólogo Howard Gardner instituiu a existência de 9
tipos de inteligência, consolidando a Teoria das Inteligências Múltiplas, afirmando que cada
sujeito possui habilidades distintas. No entanto, a educação tradicional valoriza o
conhecimento lógico-matemático, medindo a inteligência a partir de números, logo, passa a
não incluir e desenvolver os demais tipos de habilidades dos alunos, gerando frustrações. A
partir disso, compreendendo, também, que a escola é um lugar de socialização, entende-se que
surgem conflitos que causam abalos emocionais nos educandos. Em vista disso, o presente
trabalho buscou desenvolver a importância da educação emocional nas escolas, trabalhando o
desenvolver da inteligência emocional, compreendida como a capacidade de lidar com os
sentimentos e conflitos emocionais. Para isso, desenvolveu-se a partir de uma revisão narrativa
de literatura, de caráter exploratório e qualitativo. Nota-se a necessidade de repensar a
educação tradicional em busca de desenvolver e estimular os diversos tipos de inteligências,
além de, auxiliar os discentes a lidarem com suas questões emocionais, proporcionando um
cuidado a saúde mental.
Palavras-Chave: inteligência emocional; educação; educação emocional.
ABSTRACT
For decades there was a strong dichotomy between reason and emotion, in which the former
was valued at the expense of the latter. The psychologist Howard Gardner established the
expense of the latter. The psychologist Howard Gardner established the existence of 9 types of
intelligence, consolidating the Theory of Multiple Intelligences, stating that each subject has
different abilities. However, traditional education values logical-mathematical knowledge,
measuring intelligence from numbers, so it does not include and develop other types of students'
skills, generating frustrations. From this, also understanding that the school is a place of
1
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
miriancamara1@hotmail.com
2
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
ingridydll@gmail.com
3
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
ceciliazevedo.13@gmail.com
4 4
Professora de Psicologia na Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
amanda.pereira@professor.catolicadorn.com.br
716
socialization, it is understood that conflicts arise that affect the emotions of the students. In
view of this, the present work sought to develop the importance of emotional education in
schools, working on the development of emotional intelligence, understood as the ability to deal
with feelings and emotional conflicts. For this, it was developed from a narrative review of the
literature, with an exploratory and qualitative character. There is a need to rethink traditional
education in order to develop and stimulate the different types of intelligence, in addition to
helping students to deal with their emotional issues, providing mental health care.
Keywords: emotional intelligence; education; emotional education.
1 INTRODUÇÃO
que a criança efetue qualquer atividade ou ação. Já John Dewey, afirmava que a educação seria
um processo de reconstrução da experiência e que objetiva promover o crescimento físico,
intelectual e emocional dos estudantes, planejando-os para o trabalho e para a atividade prática
(RACY, 2012).
Desse modo, a Inteligência Emocional (IE) envolve a capacidade de perceber, avaliar e
expressar as emoções, além da capacidade de controlá-las para promover o crescimento
emocional e intelectual (MAYER; SALOVEY, 1997). Dessa maneira, Goleman, Boyatzis e
McKee (2002) dividiram-na em quatro aspectos: autoconsciência (compreensão das próprias
emoções), autogestão (capacidade de gerenciamento das emoções), consciência social
(habilidade de entender o que se passa com o outro) e administração de relacionamentos (saber
lidar com as emoções alheias, a partir da autoconsciência).
Porém, mesmo após o surgimento dessas teorias, há uma valorização do conhecimento
lógico-matemático, utilizando testes de inteligência, como o teste de QI, com o intuito de medir
a inteligência das pessoas através dos conhecimentos cristalizados (RÊGO; ROCHA, 2009).
Esse cenário leva a seguinte reflexão: como possibilitar aos alunos um conhecimento e domínio
sobre seus aspectos emocionais de tal forma que desenvolva suas habilidades e competências
para além do âmbito escolar?
Logo, tendo em vista que as emoções são um fator determinante na qualidade de vida,
surge a necessidade do trabalho com a inteligência emocional na escola, em busca de romper
com a dicotomia entre afetividade e cognição, visando o aprendizado efetivo, através das
interações e relações mais saudáveis, uma vez que as instituições de ensino são um dos
principais agentes socializadores.
No processo de ensino-aprendizagem há a emergência de emoções e comportamentos
que, exteriorizadas de forma positiva, contribuem para a educação e o fortalecimento do vínculo
entre alunos e professores. Para isso, a educação emocional atua na gênese das relações, levando
os indivíduos à compreensão de seus aspectos emocionais, bem como, das pessoas ao seu redor,
gerando interações mais saudáveis, uma vez que, se tornam capazes de avaliar, expressar e
adequar as suas emoções, comportamentos e atitudes frente às adversidades.
Alzina (2003) explana que a educação emocional é um processo que se dá de maneira
contínua, atuando até mesmo na prevenção de vulnerabilidades em diversas situações, o que
facilita a promoção de ações construtivas. Contudo, se ressalta ainda, que todos estão expostos
a cometer ações de caráter destrutivo, inserindo o indivíduo em contextos desfavoráveis,
718
da noção da construção social das realidades em estudo, está interessada nas perspectivas dos
participantes, em suas práticas do dia a dia e em seu conhecimento cotidiano relativo à questão
em estudo”.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.2 INTELIGÊNCIAS
Durante toda a história da Psicologia houve vários teóricos que procuraram formas de
explicar a inteligência. No início do século XX, o psicólogo Alfred Binet aplicou testes de
aptidão escolar em crianças para identificar possíveis dificuldades dentro do ambiente
educativo, os testes eram realizados de modo a medir a inteligência e se davam por meio de
várias tarefas, em que cada uma delas tinha uma idade mínima para ser realizada. Portanto, a
criança executava as tarefas relativas à sua idade inicialmente e, posteriormente, aquelas
relativas às outras idades que conseguisse realizar, sendo definida a sua idade mental pela idade
relativa a última tarefa que ela executou. Os testes de Binet foram altamente criticados devido
ao seu caráter classificatório, causando uma segregação racial, pois aqueles que não atingissem
o QI médio dos americanos eram deixados a parte da sociedade. (BINET, 1890)
O psicólogo Howard Gardner foi um crítico aos testes de Alfred Binet, afirmando que
os mesmos mediam somente as inteligências lógico matemática e linguística e que eram usados
como meio de classificação dos indivíduos (GOLIN, 2003). Gama (2014) afirma que Gardner
propôs meios alternativos de entender o desenvolvimento das aptidões dos sujeitos,
consolidando, assim, sua teoria denominada “Teoria das Inteligências Múltiplas”, que trouxe
uma visão ampliada do conceito de inteligência, se diferenciando da definida pelos testes de QI
que se limitava as duas inteligências citadas anteriormente. A teoria de Gardner buscava,
também, esclarecer a suposição de que uma pessoa poderia ser mais inteligente que outra, pois,
para o teórico, todos tem um potencial, o que diferencia é se o meio será propício para o
722
Platão, quando definiu como virtude a liberação e troca de todas as paixões, prazeres e
valores individuais pelo pensamento, assim como, Immanuel Kant quando afirma que se Deus
tivesse feito o homem para ser feliz não o teria dotado de razão, fomentam um ideal dicotômico
de afetividade e cognição. Isso se mostra ainda presente nos dias atuais, sendo reproduzido no
cotidiano através da concepção de que para tomar-se uma boa decisão é preciso se desvincular
de todo e qualquer aspecto emocional ou afetivo, exaltando o processo racional. Essa
idealização está presente nas vertentes filosóficas, bem como, na Psicologia, através das teorias
psicológicas que estudaram separadamente os processos cognitivos e afetivos. Essa separação
parece ter nos conduzido a uma visão parcial e distorcida da realidade, com reflexos nas
investigações científicas e no modelo educacional ainda vigente (ARANTES, 2002).
Contudo, em 1953, o biólogo e epistemólogo Jean Piaget publica um trabalho que seria
considerado o primeiro a questionar o aspecto emocional e cognitivo de maneira distinta, esse
que foi intitulado "Les relations entre l'intelligence et l'affectivité dans le développement de
l'enfant", onde o autor afirma que toda ação e pensamento comportam um aspecto cognitivo,
representado pelas estruturas mentais, e um aspecto afetivo, representado por uma energética,
que é a afetividade. Assim, de acordo com Piaget, não existem estados afetivos sem elementos
cognitivos, assim como não existem comportamentos puramente cognitivos (ARANTES, 2002)
Quando discute os papéis da assimilação e da acomodação cognitiva, Piaget afirma que
724
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
gerar resultados.
Portanto, há uma necessidade de repensar a educação tradicional, buscando valorizar
as diferentes inteligências existentes e desenvolvê-las, compreendendo que cada aluno é um
ser único e que, assim, possui diferentes interesses. Logo, as dificuldades escolares podem
gerar conflitos emocionais nos educandos, além de, a escola ser um espaço socializador e,
nessas relações, podem surgir conflitos. Assim, é necessária uma educação emocional, que
auxilie os discentes a compreenderem suas emocões, de modo que, possam identifica-las e
traçar possibilidades de lidar com as mesmas. Para isso, as instituições de ensino necessitam
proporcionar o ensino sobre a inteligência emocional, para que se possa mediar conflitos e
dificuldades insurgentes no processo escolar.
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RESUMO
O consumo de medicamentos vem sendo banalizado nos últimos anos, ao ponto do Brasil ser
um dos países que mais consomem ansiolíticos e antidepressivos no mundo, e o público jovem
faz parte dessa realidade. O processo de medicalização na adolescência inicia quando os
adolescentes apresentam comportamentos e características de personalidade diferentes dos
considerados normais, sendo assim rotulados com algum tipo de transtorno. A partir deste
contexto o presente artigo tem por objetivo compreender os motivos do uso crescente de
medicamentos na adolescência de forma a alertar para o uso excessivo como tratamento
paliativo para problemas comportamentais nessa fase, apontando as possíveis consequências
dessa prática. A metodologia adotada foi uma revisão bibliográfica em publicações
relacionadas ao tema disponíveis no Google Acadêmico e Scientific Eletronic Library Online
(SciElo) publicados entre 2012 a 2022. Nesse estudo foi abordado a fase transitória da
adolescência, com seus desafios envolvendo mudanças tanto físicas, como emocionais,
apresentando certos comportamentos muitas vezes analisados incorretamente, rotulando-os e
patologizando-os. A medicalização passa a ser vista como uma forma de solucionar os
problemas de comportamento juvenil, cumprindo um papel de controlar e submeter esses
adolescentes aos padrões aceitos, escondendo questionamentos e desconfortos. Conclui-se que
a medicalização pode acarretar sérios riscos a saúde mental dos adolescentes, ocasionando
danos imprevisíveis, necessitando de uma abordagem mais detalhada. Sugere-se que possam
ser adotados medidas e programas de incentivo por parte do poder público e da escola como
também ações ou atividades de conscientização para minimizar possíveis consequências físicas
e mentais com o descontrole da medicalização.
Palavras-chave: medicalização; adolescência; família; escola.
ABSTRACT
1
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
antonia.mendes@aluno.catolicadorn.com.br
2
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
analuizarochavit@gmail.com
3
Graduada em Gestão Empreendedora pela Universidade Potiguar. Graduanda em Psicologia pela Faculdade
Católica do Rio Grande do Norte. E-mail: elania.roseno@aluno.catolicadorn.com.br
4
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
gercineide.oliveira@aluno.catolicadorn.com.br
5
Docente da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte e Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
Doutora em Administração pela PUCPR. E-mail: adriana.oliveira@professor.catolicadorn.com.br
731
The consumption of medicines has been trivialized in recent years, to the point that Brazil is
one of the countries that most consume anxiolytics and antidepressants in the world, and the
young public is part of this reality. The process of medicalization in adolescence begins when
adolescents present behaviors and personality characteristics different from those considered
normal, thus being labeled with some type of disorder. From this context, this article aims to
understand the reasons for the increasing use of drugs in adolescence in order to alert to
excessive use as a palliative treatment for behavioral problems at this stage, pointing out the
possible consequences of this practice. The methodology adopted was a bibliographic review
of publications related to the topic available on Google Scholar and Scientific Electronic
Library Online (SciElo) published between 2012 and 2022. In this study, the transitional phase
of adolescence was addressed, with its challenges involving both physical and emotional
changes, presenting certain behaviors that are often incorrectly analyzed, labeling and
pathologizing them. Medicalization starts to be seen as a way to solve the problems of juvenile
behavior, fulfilling a role of controlling and submitting these adolescents to accepted standards,
hiding questions and discomforts. It is concluded that medicalization can pose serious risks to
the mental health of adolescents, causing unpredictable damage, requiring a more detailed
approach. It is suggested that measures and incentive programs can be adopted by the
government and the school as well as awareness actions or activities to minimize possible
physical and mental consequences with the lack of control of medicalization.
Keywords: medicalization; adolescence; family; school
1 INTRODUÇÃO
A busca por soluções rápidas para seus problemas tem sido a ênfase da sociedade
moderna, envolvendo diversas vezes a utilização de medicamentos para resolver determinados
comportamentos e atitudes. A Política Nacional de Medicamentos (BRASIL, 1998) conceitua
o uso racional de medicamentos como o processo que compreende a prescrição de
medicamentos eficazes, seguros e de qualidade, a preços acessíveis; dispensados em condições
adequadas e oportunas; e o consumo nas doses, intervalos e período de tempo indicadas.
Entende-se por medicalização o processo que traz a solução mais rápida para suprir as
carências do ser humano dos problemas de diferentes ordens, tais como: social, emocional,
cognitiva e outros, que em contrapartida, pode desencadear problemas mais graves no
indivíduo. De acordo com Dunker (2020, p. 74) “A maior parte dessas substâncias não são
receitadas por psiquiatras, mas por cardiologista, ginecologistas ou clínicos gerais, respostas
por anos sem acompanhamento”. O uso desses medicamentos vem ocupando os espaços das
terapias que tem o objetivo de intervir na origem do problema.
Diante dessa realidade, muito se tem discutido pela sociedade o processo do aumento
de consumo de fármacos, que se tornou um fenômeno social complexo, ocorrendo há mais de
732
dois séculos e sofrendo muitas transformações até chegar ao atual cenário de vulgarização do
consumo de medicamentos (FERREIRA, 2017).
Conforme salienta Moysés e Colares (2013 apud MOREIRA; COUTINHO, 2018) as
questões inerentes à vida em sociedade, tais como: a cultura, a organização social com suas
desigualdades, os valores e diversos outros fatores, estão cada vez mais sendo deslocados para
o campo médico, embasados no conceito de biologização, em que há um conjunto de fatores
que determinam as ações do sujeito, não interagindo com o contexto em que ele vive. Nesse
sentido Viégas e Freire (2015 apud FIRBIDA; VASCONCELOS, 2019) nos ensina que o fato
de individualizar questões complexas, sem considerar os múltiplos fatores que os constituem,
mostra uma relação entre o processo de medicalização com os conceitos de patologização e
psicologização dos problemas de ordem social.
Conforme o art. 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera-se
adolescente indivíduo entre 12 e 18 anos de idade. Esse período é marcado por diversas
transformações tanto físicas quanto emocionais, influenciando diretamente no comportamento
dos adolescentes (PASSOS; COSTA; SILVA, 2017). Diante dessa realidade, é comum
professores e familiares relacionarem as dificuldades de aprendizagem dos adolescentes, bem
como os comportamentos fora dos padrões aceitos pela sociedade a algum transtorno que
necessite de tratamento médico. Nesse sentido, a medicalização apresenta-se como opção para
solucionar esses problemas, o que nem sempre é o mais indicado, uma vez que essa abordagem
possa ter consequências imprevisíveis a esses indivíduos.
O presente trabalho tem por objetivo compreender os motivos do uso crescente de
medicamentos na adolescência de forma a alertar para o uso de medicamentos como tratamento
paliativo para problemas comportamentais nessa fase, apontando as possíveis consequências
dessa prática.
2 MÉTODO
O presente trabalho adotou o método de pesquisa bibliográfica, que de acordo com Gil
(2002) é uma pesquisa desenvolvida com base no material teórico já publicado sobre o assunto.
Utilizou-se a abordagem qualitativa, por não haver medição numérica, mas sim, a compreensão
dos motivos do uso crescente de medicamentos como forma paliativa de tratamento de
problemas comportamentais, apontando possíveis consequências.
733
3 DESENVOLVIMENTO
FERREIRA, 2017). Essa medida tem a visão de promover à saúde de qualidade na esfera social,
por meio de políticas públicas que atendam às necessidades populacionais, que vão desde os
apoios terapêuticos, pois partem do consumo medicamentoso, até a união dos agentes sociais
do indivíduo que é a família e instituições de aprendizagem desses adolescentes.
O termo medicalização é utilizado para definir o processo que transforma questões
sociais da vida em problemas médicos, interferindo assim, na construção de conceitos, normas,
costumes e comportamentos sociais, com consequente efeito na sociedade (SILVA, 2022).
Dessa forma, Tavares e Rodrigues (2022, p. 63) salientam que “questões de origens
socioculturais ou próprias da existência humana são descritas por meio de termos e conceitos
médicos, dando ensejo a propostas de intervenção”. Outrossim, toda a bagagem que a sociedade
adquiriu no decorrer dos anos, está atrelada a “punição” desses sujeitos com o diagnóstico
precipitado e prescrição de medicamentos que são denominados a única solução para um
“tratamento mais adequado” para os transtornos. Além disso, tratarem na raiz do problema no
quesito de repensarem a realidade e subjetividade do adolescente e como os contextos podem
influenciar nas suas emoções, comportamentos e aprendizados, de certa forma são vítimas da
padronização do consumo de compostos.
De acordo com o Comitê Nacional para Promoção do Uso Racional de Medicamentos
– CNPURM do Ministério da Saúde (2019), as populações mais suscetíveis a sofrer o processo
de medicalização, levando em consideração o debate sobre comportamentos não aceitos
socialmente, passando a ser vistos como patologias, são as crianças em idade escolar,
adolescentes, adultos privados de liberdade, usuários que necessitam de atenção em saúde
mental e idosos com mais de 60 anos.
Tavares e Rodrigues (2022) destacam que há um processo crescente de medicalização
em todas as fases da vida contemporânea, na tentativa de nomear dores, conflitos e demais
experiências através de um diagnóstico médico. Ressaltam ainda que essa expansão se dá por
meio da patologização dos sofrimentos cotidianos e dos fenômenos socioculturais, políticos e
econômicos em questões individuais e biológicas. É um processo complexo irregular que pode
ser positivo ou negativo, tendo muitas vezes como principais atores diferentes grupos sociais e
atores não médicos, onde a própria família tem uma postura ativa na ampliação e diversificação
das ações médicas.
Na visão de Brzozowski e Caponi (2013, p. 211)
735
se destacam o grupo familiar e escolar que a jovem partilha; as relações grupais e culturais que
está inserido e, também como o jovem vivencia essas experiências.
De acordo com Moreira e Coutinho (2018) adolescência é um momento em que o
indivíduo passa a ter um convívio social mais amplo, com intenso trabalho psíquico de
subjetivação. Carvalho (2019) destaca que a adolescência é considerada um período de intensas
transformações, a puberdade coloca o jovem diante de situações ainda incompreendidas
totalmente, mas que marca a perda da condição de criança. Os jovens, por não saber lidar muito
bem com essas mudanças e com as expectativas criadas pela família e pela sociedade, acabam
por apresentar certos comportamentos considerados “inadequados”, como: agitação, estresse,
reclusão, perda de interesse na aprendizagem, entre outros. Dessa forma, acabam sendo
enxergados como “adolescentes problemáticos” que necessitam de acompanhamento médico.
Percebe-se que há uma busca frenética por categorizar certos comportamentos
considerados fora dos padrões da sociedade, buscando uma solução pronta no campo da
medicina, sem se preocupar em encontrar o verdadeiro sentido para tais comportamentos. Dessa
forma, cria-se uma perspectiva de que todos os problemas vividos pelo jovem no âmbito
emocional, comum nessa fase, devem ser tratados como patologias. Nesse sentido, esvazia a
responsabilidade dos diversos atores sociais (escola, família, comunidade, etc.) como
importantes interlocutores na construção de sua identidade e seu papel na sociedade.
Por não proporcionar um ambiente acolhedor para seus filhos adolescentes as famílias
tendem a medicalizar suas atitudes e comportamentos, sem procurar entender as dificuldades e
o contexto em que o adolescente está vivendo, analisando somente os aspectos negativos e
deixando de lado os aspectos positivos, desta forma acabam promovendo no adolescente uma
autoimagem irreal de si mesmo (RIBEIRO, 2009 apud ALVES; CARDOSO, 2021). Portanto,
os autores destacam que os adolescentes são forçados muitas vezes a agirem de uma forma que
esses jovens não concordam e este esforço acaba gerando conflitos e comportamentos
disfuncionais, como agressividade, ansiedade e angústia.
Por conta de diagnósticos equivocados, esses rótulos causam grandes problemas na
autoimagem do jovem e na forma como os outros se relacionam com eles, sendo que por causa
desses rótulos, muitos jovens tendem a sofrer, entristecer e até revoltar-se, agravando ainda
mais a imagem que a sociedade tem deles (MARTINHAGO, 2017).
Nesse sentido, por não entender ou não saber lidar com conflitos inerentes a fase
adolescente e a medida que alimentam ou esperam por parte desses jovens certos
comportamento e atitudes que eles devem desenvolver, muitas famílias acabam procurando
ajuda na medicina, na tentativa de “concertar” o jovem, preparando para os desafios da
sociedade.
Conforme destaca Carvalho (2019), os adolescentes que apresentam comportamentos e
características de personalidade diferentes dos considerados normais, acabam sendo rotulados
com algum tipo de transtorno (depressão, ansiedade, hiperatividade, etc.). Dessa forma, o
processo de subjetivação do indivíduo é substituído pelo sintoma de uma doença, pois qualquer
que seja a “patologia”, sempre haverá uma “pílula milagrosa” a ser receitada.
No estudo realizado por Tavares e Rodrigues (2022), que se discute o processo de
medicalização infantil, aponta que os diferentes atores nos processos de medicalização
incentivam os indivíduos e família a tratar suas questões como demandas médicas e
consumirem intervenções terapêuticas e medicamentosas, constituindo assim uma lógica
consumista e medicalizante.
Gesser e Souza (2019) não há um consenso por parte dos pesquisadores que estudam o
transtorno, tais como: opções de terapia, condutas éticas e até a convicção da existência desse
transtorno. Sobre a medicalização neste tratamento do TDAH pode-se destacar que o mesmo
cresceu em larga escala no Brasil, sendo o metilfenidato, comercializado sob o nome comercial
Ritalina e Concerta, os medicamentos mais prescritos.
Observando a questão pelo aspecto físico, o uso do psicotrópico como a Ritalina produz
o efeito do aumento da concentração e da produção, sendo responsável pela sensação de prazer
no uso dessa droga. Conforme aponta Moysés e Colares (2010 apud LEONARDO; SUZUKI,
2016) essa droga possui o mesmo efeito da cocaína, uma vez que ambas possuem um
mecanismo de ação estimulante intensificando a atenção e a produtividade do indivíduo. A
pesquisa desses autores identificou que ocorre de fato uma melhora na capacidade de
concentração e produtividade, no entanto, há de se refletir qual é o custo dessa “falsa melhora”,
uma vez que percebe-se que o aluno torna-se apático e isolado do ambiente escolar e convívio
com os colegas de classe, o que nos alerta para os efeitos desconhecidos a longo prazo, levando-
nos a questionar essa prática.
Em uma pesquisa qualitativa realizada por Ribeiro (2020) foi analisada a realidade dos
adolescentes que enfrentam esse drama dos desvios de aprendizagem e comportamentais. Por
isso, destacam-se o ponto comum entre os protagonistas: o déficit no rendimento escolar que
pode ser resultante no fator de realização das avaliações periódicas escolares para obter
comprovação na instituição. Vale salientar que não se trata somente de problemáticas escolares,
mas também de questões biológicas e sociais dos indivíduos e onde eles estão inseridos.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O controle das nossas emoções pelos fármacos vem sendo banalizado nos últimos anos,
ao ponto do Brasil ser um dos países que mais consomem ansiolíticos e antidepressivos, e o
público jovem não fica fora dessa realidade. Conforme encontrado nesse breve estudo a
adolescência é uma fase transitória de grandes desafios, engloba várias mudanças tanto física,
como emocional, e essas mudanças acabam por gerar sentimentos de insegurança, ansiedade e
angústia. Com isso, por não saber lidar com essas transformações, o jovem passa a apresentar
certos comportamentos, como agitação, estresse, reclusão, entre outros, que muitas vezes não
são corretamente analisados.
740
Nesse interim, a medicalização passa a ser vista como uma forma de solucionar os
problemas de comportamento desses jovens. Na tentativa de legitimar o processo de
medicalização, podemos perceber que tanto os pais como a escola, tratam com viés médico as
dificuldades escolares, os comportamentos incompreendidos, os conflitos e questões aos quais
eles não querem encarar. Sendo assim, a medicalização apresenta-se como uma ferramenta de
controle que molda o comportamento de forma mais adequada para aquele grupo. Pode-se
perceber que o uso da medicalização implica em tirar justamente as condições que o jovem tem
de reagir e responder em relação a sua própria vida.
Se por um lado encontrar um “diagnóstico” atenua a angústia do jovem de ser visto de
forma pejorativa, imprimindo o estereótipo de doente, por outro, a medicalização dos problemas
de comportamento e aprendizado pode mascarar outras dificuldades que os adolescentes
enfrentam no contexto familiar, social, cultural, entre outros. A rotulação gera uma
consequência grave que é a de facilitar um parâmetro de segregação rígido quase impossível de
ser ultrapassado.
Baseado no que foi exposto, conclui-se que a medicalização pode acarretar sérios riscos
a saúde mental dos adolescentes, ocasionando danos imprevisíveis, necessitando de uma
abordagem mais detalhada do sujeito, passando a construir um diagnóstico ao longo do tempo
que pode sofrer alterações quando se tratar de adolescente.
Sugere-se que possam ser adotadas medidas e programas de incentivo por parte do poder
público e da escola como também ações ou atividades de conscientização necessária para
minimizar possíveis consequências físicas e mentais com o descontrole da medicalização. O
tema exposto é bastante amplo e pode ser analisado com mais profundidade, com isto não é um
trabalho que dita como verdade absoluta a temática, além de que ela pode ser pesquisada e
aprofundada por outros autores, pois ainda não foram pesquisadas mais possibilidades de
análises.
REFERÊNCIAS
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medicalização da infância e edução: Uma revisão de literatura. Psicologia em Estudo,
Maringá/PR, v. 24, e42566, 2019. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/pe/a/3JxP7Jzq5JCwpN76rQFwVDp/abstract/?lang=pt Acesso em: 25
maio 2022.
BRZOZOWSKI, Fabiola Stolf; CAPONI, Sandra Noemi Cucurullo de. Medicalização dos
desvios de comportamento na infância: aspectos positivos e negativos. Psicologia: Ciência e
Profissão, Florianópolis/SC: v. 33, n. 1, p 208-211, 2013. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/pcp/a/nsyXmyxCm5p5JFHzymj9tLm/?lang=pt Acesso em: 27 abr
2022.
CARVALHO, Viviane Pereira. “O que não tem remédio, medicalizado está”: A incidência
da medicalização na adolescência e os impactos da cultura contemporânea. Trabalho de
Conclusão de Curso – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul,
Ijuí/RS, 2019. Disponível em:
https://bibliodigital.unijui.edu.br:8443/xmlui/handle/123456789/6575. Acesso em: 14 maio
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FONSECA, Luciana Renata Moreira; ASSIS, Raquel Martins de; SANTIAGO, Ana Lydia
Bezerra. Problemas escolares, Medicalização e Singularidades de Adolescentes. Revista
Educação Temática Digital, Campinas, SP, v. 23, n. 4, p. 926-944, out./dez. 2021.
Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=8160880. Acesso em 16
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GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002.
SARTI, Cynthia Andersen. A família como ordem simbólica. Escola Paulista de Medicina –
UNIFESP. São Paulo/SP. 2004. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/250047276_A_familia_como_ordem_simbolica
Acesso em: 25 maio 2022.
SILVA, Silvaneide Maria da; Medicalização das questões sociais no cotidiano escolar:
Uma perspectiva do educador. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.
Instituto de Biociências. Rio Claro/SP. 2022. Disponível em:
https://repositorio.unesp.br/handle/11449/216550. Acesso em: 27 abr. 2022.
https://www.scielo.br/j/fractal/a/Q3VWBKKgBXr9PkbGh49THmm/?format=html&lang=pt.
Acesso em: 21 maio 2022.
744
RESUMO
ABSTRACT
In the current modernized and competitive economic scenario, due to the constant changes that
have occurred in the labor market, companies have been looking for various strategies as a way
to leverage their incomes. Through this context, Organizational Psychology begins to gain
prominence within the Sector of People Management within companies, because they seek a
better way to extract and allocate the potential of employees so that the goals can be achieved
successfully and without harming the health of the worker. Thus, Professional and
Technological Education (PTS) has contributed greatly to the development of this scenario with
the supply of skilled labor, because it has the purpose of preparing the individual to practice his
profession. Thus, the present work aims to analyze the curricular proposal of the discipline of
People Management of the integrated technical course in Administration of IFRN, from the
perspective of organizational psychology. The methodology developed is based on descriptive
and exploratory research, in which bibliographic and documentary research was used as a
1
Graduando em Psicologia, pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
s.augusto@academico.ifrn.edu.br
745
research tool that underlies the theme. Therefore, it was possible to observe that the
bibliographic collection is outdated and that Organizational and Work Psychology besides
updating the curricular proposal can contribute significantly to its curriculares proposal of the
discipline according to the literature.
Keywords: Organizational Psychology. People management. Professional and Technological
Education. IFRN.
1 INTRODUÇÃO
2 REFERENCIAL TEÓRICO
A partir deste breve resgate histórico passa-se a discutir o foco desta pesquisa que é o
curso técnico de nível médio de Administração oferecido pelo Institutos Federais de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), especificamente o componente
curricular de Gestão de Pessoas. Com isso, o Projeto Pedagógico do Curso (PPC) em análise
foi aprovado pela Resolução nº 21/2011-CONSUP/IFRN, de 09/09/2011, sendo referente ao
eixo tecnológico Gestão e Negócios do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos e oferecido de
maneira presencial nos campi Natal-Central e Nova Cruz do IFRN.
Ainda de acordo com o PPC do curso de Administração sua estrutura curricular opera
nas bases legais do sistema educativo nacional e nos princípios norteadores do modelo da
educação profissional e tecnológica brasileira, explícitos na LDB nº 9.394/96 e atualizada pela
Lei nº 11.741/08, bem como, nas resoluções e decretos que normatizam a Educação Profissional
Técnica de Nível Médio ofertados pelos institutos e as demais referenciais curriculares (IFRN,
2011).
Vale salientar que o IFRN no cenário da EPT, inova pedagogicamente ao integrar a
Educação Profissional ao Ensino Médio, onde em seu currículo integrador desenvolve conteúdo
do mundo do trabalho e da prática social dos estudantes, isto é, envolvendo a teoria e prática
refletindo o diálogo entre o conhecimento de diferentes áreas de atuação (IFRN, 2011).
Sendo assim, na perspectiva de Aguiar e Pacheco (2017, p. 14) concordam com a
atuação e ofertas dos IF’s e “como projeto inovador, ele enfrentou - e enfrenta até hoje - grandes
desafios para sua implementação integral e apropriação, tanto para os trabalhadores da EPT
quanto para a sociedade como um todo.” Ou seja, não é só oferecer uma educação que o sujeito
saia com uma profissão, mas, além disso ele possa exercer suas tarefas com excelência.
Em sua proposta curricular, o curso Integrado de Administração busca ampliar a
necessidade e a possibilidade da formação de indivíduos que possam ser capazes de
acompanhar o avanço tecnológico, principalmente com a finalidade de prepará-los para inserir-
se em um mundo contemporâneo e no mercado de trabalho que está cada vez mais exigente.
749
EMENTA
A gestão de pessoas nas organizações; relações interpessoais nas organizações; planejamento estratégico de
pessoas recrutamento e seleção de pessoas; políticas de remuneração e programas de incentivo; avaliação de
desempenho.
OBJETIVOS
Proporcionar aos participantes o acesso aos novos aportes teóricos e metodológicos;
Conceituar a área de gestão de pessoas nas organizações e apresentar seus objetivos;
Apresentar as contribuições da gestão de pessoas para o ambiente organizacional atual;
Conceituar e apresentar as técnicas de recrutamento e seleção de pessoas; e
Conceituar e apresentar as técnicas e desenvolvimento de pessoas.
Bases Científico-Tecnológicas (Conteúdos)
1. Origem, conceito e evolução da gestão de pessoas nas organizações;
2. Relações interpessoais nas organizações;
3. As diferenças individuais;
4. Processo de Socialização;
5. Sentimentos e Emoções no trabalho;
6. Inteligência Emocional/Competência Interpessoal;
7. Percepção Social;
8. A gestão de pessoas no ambiente organizacional atual;
9. Cultura e clima organizacional;
10. Planejamento estratégico de gestão de pessoas;
11. Recrutamento de Pessoas;
12. Seleção de pessoas;
13. Descrição de cargo;
14. Políticas de remuneração e programas de incentivo;
15. Treinamento de pessoas;
16. Desenvolvimento de pessoas;
17. Avaliação de desempenho;
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
1. CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas. 3 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
2. CHIAVENATO, Idalberto. Administração de recursos humanos: fundamentos básicos. 5 ed. São Paulo:
Atlas, 2003.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
1. DUBRIN, A. J. Fundamentos do Comportamento Organizacional. São Paulo: Pioneira Thompson,
2008
2. ROBBINS, S; JUDJE, T.; SOBRAL, F. Comportamento Organizacional. São Paulo: Prentice
Hall, 2010.
3. HITT, M. A.; MILLER, C. C., & COLELLA, A. Comportamento Organizacional. Rio de
Janeiro: LTC, 2008.
Fonte: Adaptado do PPC do Curso Técnico Integrado em Administração/ IFRN (2011)
751
A área de atuação da “Gestão de Pessoas” tem a função gerencial que visa à cooperação
das pessoas que atuam nas organizações para o alcance dos objetivos tanto organizacionais
quanto individuais. Quando algumas pessoas começaram a empregar outras para a realização
de determinadas tarefas, mediante algum tipo de pagamento, iniciou-se, a rigor, a Gestão de
Pessoas. As relações entre pessoas nas organizações variaram significativamente em função das
revoluções tecnológicas e sociais (GIL, 2016).
É importante salientar, que a área de Gestão de Pessoas deve estar apta para promover
ações de treinamento e desenvolvimento voltadas a todos os membros da organização, e até
mesmo para integrantes de grupos externos cujo comportamento possa influenciar a qualidade.
3 METODOLOGIA
numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um contexto social, para que
assim possa analisar e apresentar os resultados obtidos.
4 RESULTADO E DISCUSSÃO
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
758
CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas
organizações. 4. ed. São Paulo: Manole, 2014.
759
FIORELLI, José Osmir. Psicologia para Administradores: Integrando teoria e prática.4. ed.
São Paulo: Atlas, 2004.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
GIL, Antônio Carlos. Gestão de Pessoas: Enfoque nos papéis estratégicos. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2016.
GONDIM, Sonia Maria Guedes; SOUZA, Janice Janissek de; PEIXOTO, Adriano de Lemos
Alves. Gestão de Pessoas. In: BORGES, Livia de Oliveira; MOURÃO, Luciana (Org.). O
trabalho e as organizações: atuações a partir da psicologia. Porto Alegre: Artmed, 2013.
SPECTOR, Paul E. Psicologia nas organizações. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
RESUMO
ABSTRACT
The homeless population is a heterogeneous group who lives in extreme poverty, where their
family ties are broken and have no access to a convencional home. This phenomenon is related
to oppressions and inequality that are built by the primitive accumulation process of capitalism.
Historically, the State has adopted a hygienist perspective to treat the necessity of the homeless
1
Graduanda do curso de Psicologia na Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
saramxvr@gmail.com
2
Graduanda do curso de Psicologia na Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
mrasblso@gmail.com
3
Graduando do curso de Psicologia na Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
azvdogab@gmail.com
4
Psicóloga, pós-graduanda em Psicologia Hospitalar na UNOPAR. E-mail: psipaularolim@hotmail.com
5
Graduado em Psicologia (PUCRS), Especialista na Modalidade Residência em Saúde da Família e Comunidade
(ESP-CE), Mestre em Psicologia (PUCRS). E-mail: esequiel.pagnussat@professor.catolicadorn.com.br
761
population. Because of this, it is possible to say that the public politics that are directed to this
group are a popular accomplishment of the National Homeless Population Moviment.
Psychology must use its ethical and political commitment against the rights violation of the
homeless population and do a creative job taking care of their mental health. With all sad, this
article has as an objective to understand how collage can contribute for the reception and the
take care of mental health, through an experience report about a workshop done at the
Temporary Shelter for Homeless Population at Mossoró/RN and a literature review about this
theme. It was concluded that, although it was difficult to find research, the workshop succeeded
as a wonderful health practice, because it allows a subjective immersion, a space to talk and
listen and collectivity.
Keywords: homeless population, collage workshop, psychology, mental health.
1 INTRODUÇÃO
“Nós necessitamos, urgentemente, fazer pesquisa, não tanto para ser publicada, mas para ser
utilizada como instrumento de mudança social.”
(Martín-Baró, 2017a, p. 110)
pedinte (15%), sendo estes trabalhadores que, de algum modo, se inserem na economia
informal.
Dos participantes da pesquisa, 48,8% estavam há mais de 2 anos morando nas ruas e/ou
dormindo em serviços de acolhimento, e 60% destes já haviam transitado por abrigos, orfanatos,
casas de detenção e tinham histórico de internação em hospital psiquiátrico. Apesar do
histórico, apenas 6% citaram problemas relacionados à saúde mental. A pesquisa notou que os
sujeitos buscavam em primeiro lugar hospitais gerais/emergências e como segunda opção, as
Unidades Básicas de Saúde (UBS), o que deixa notória a necessidade de atenção à saúde das
PSR por parte da Rede de Atenção à Saúde (RAS) e da Assistência Social, de modo articulado.
Esta pesquisa destacou, ainda, que essas pessoas sofrem discriminação nos serviços
públicos, como nos de saúde e transporte coletivo (CNMP, 2015). É recorrente escutar dessa
população a recusa em ir para a UBS em decorrência dos modos em que são tratadas, inclusive
hospitais e UBS que negam os direitos desde a entrada dos usuários ao serviço. Esse trabalho
de modo articulado entre os equipamentos e trabalhadores que atuam com a PSR se coloca
como fundamental diante do cenário supracitado. Para isso é necessário criar modos de
comunicação entre a rede, gerando diálogo entre os profissionais (BRASIL, 2014), podendo
haver assim atividades de formação, capacitações sobre modos de cuidado e acolhimento
humanizado para com essa população, trabalhando a sensibilização e o dever de assegurar os
direitos destes, inclusive com os profissionais da Segurança Pública, em todas as esferas de
cuidado.
A grande maioria (95,5%) dos participantes da pesquisa afirmaram que não
participavam de movimentos sociais, o que nos leva a pensar sobre a importância de avivar a
luta dos movimentos sociais, os quais podem contribuir para o fortalecimento e criação de
novos vínculos para a PSR, podendo vir a fazer surgir uma consciência crítica sobre o lugar que
está ocupando na sociedade, ofertando cada vez mais possibilidades para que possam lutar pelos
seus direitos e, para além disso, que possam ter seus direitos assegurados pelo estado (CNMP,
2015). O Ministério da Saúde (BRASIL, 2014) já destaca a importância do controle social e da
participação popular, em que as(os) usuárias(os) devem ter um espaço de fala e escuta. Outras
iniciativas que podem promover a participação social e contribuir para a melhora e o
asseguramento das políticas de saúde e assistência à PSR são a criação de Comitês Técnicos
Estaduais ou Municipais de Saúde da PSR, e ter a presença de representantes do Movimento da
População De Rua nos Conselhos de Saúde.
765
A Política Nacional para a População em Situação de Rua (PNPSR) foi instituída pelo
decreto n°7.053 de 23 de dezembro de 2009, em que podemos destacar alguns de seus objetivos:
assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços e programas que integram as
políticas públicas de saúde, educação, previdência social, assistência social, moradia,
segurança, cultura, esporte, lazer, trabalho e renda; garantir a formação e a capacitação
permanente de profissionais e gestores para atuação no desenvolvimento de políticas públicas;
criar meios de articulação entre o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e o Sistema
Único de Saúde (SUS) para qualificar a oferta de serviços e disponibilizar programas de
qualificação profissional para as PSR, com o objetivo de propiciar o seu acesso ao mercado de
trabalho (BRASIL, 2009). A criação dessa Política foi um marco para o cuidado da PSR, a qual
deve resguardar uma prática que supere a exclusão e o estigma que rodeiam essa população,
fortalecendo os modos de cuidado que resgatem as dimensões subjetivas dos sujeitos,
colaborando assim com a diminuição dos sofrimentos (CFP, 2019).
A partir das questões já citadas, considerando também a Política de Saúde Mental com
base na Reforma Psiquiátrica, e o Código de Ética Profissional da/o Psicóloga/o, cabe pensar
como a Psicologia pode colaborar de forma ativa e efetiva para com essas questões e com
relação ao acolhimento dos sujeitos inseridos nesses contextos, colaborações estas que devem
ir para além dos atendimentos clínicos individualizados e das lógicas biologizante e/ou
psicologizantes do fenômeno. Pensar a prática da(o) psicóloga(o) nesses espaços é ir de acordo
com as políticas públicas que respeitam os Direitos Humanos e trabalham para dar autonomia
aos sujeitos, incentivando práticas democráticas, questionando ações que se pautem na tentativa
do controle de corpos e tutela moral, indo na contramão de práticas que venham a reproduzir
formas de violência para com trabalhadores e usuários do serviço (CFP, 2019).
Alguns equipamentos que fazem parte da rede de proteção e podem vir a acolher a PSR
são: Consultório na Rua (CnR), O Centro de Referência Especializado de Assistência Social
(CREAS), O Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) e o Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS). Logo, coloca-se importante que todos esses trabalhem de modo articulado
com a Política de Saúde Mental e a Atenção Primária à Saúde (APS), e também junto com
outras políticas, de modo intersetorial. O trabalho da(o) psicóloga(o) nesses equipamentos deve
dar-se junto às equipes, visando a perspectiva de atenção e prevenção de situações de
vulnerabilidade, assim como proteção e promoção da saúde e fortalecimento da autonomia dos
sujeitos (CFP, 2019).
766
Dentre esses, o CnR trabalha especificamente com a PSR, usuários de álcool e outras
drogas, que possuem dificuldades de acesso à rede de saúde e que não são assistidos pelos
serviços. É um modo de fazer com que os cuidados cheguem até essa população, promovendo
acessibilidade e exercício do direito e da cidadania. O CnR é constituído por uma equipe
multidisciplinar mínima, composta por médico, assistente social, psicólogo, redutores de danos,
técnicos de enfermagem e educadores sociais. O trabalho é construído extramuros (nas ruas) de
forma participativa entre profissionais e usuários atendidos, e são realizados através de
inúmeras estratégias de cuidado integrados aos programas de saúde já existentes no território
(CFP, 2019).
Um dos grandes desafios da Psicologia nesses contextos é trabalhar a partir de uma
prática emancipatória, de forma ético-política, ofertando espaço para que a população tenha seu
protagonismo, a partir dos espaços de fala, recursos terapêuticos que acolham as subjetividades
dos sujeitos, trabalhos artísticos e luta por direitos, fortalecendo assim a autonomia e autogestão
coletiva daqueles que se encontram em condições de vulnerabilidade social. É por essa razão,
portanto, que traz-se-á a colagem como uma possibilidade de trabalho da Psicologia com a PSR.
Buscando uma finalidade terapêutica por meios alternativos aos tradicionais, a arte
terapia utiliza de recursos artísticos e inaugura uma nova área de atuação profissional
(CARVALHO, 1995). Segundo a Associação Brasil Central de Arte terapia (ABCA), o método
é definido pelo seu modo de trabalhar utilizando a linguagem artística como ponto basilar da
comunicação entre usuário e profissional no campo, tendo como eixo a criação e a elaboração
artística em prol da saúde. Consoante com a Associação, a arte terapia é uma especialização
destinada a profissionais com graduação na área da saúde, como Psicologia, Enfermagem e
Fisioterapia, porém também é reconhecida a utilização pelas (por) profissionais do campo da
educação e das artes, além de educadoras (es) populares.
Logo, usa-se essa atividade artística como instrumento de intervenção profissional para
a promoção de saúde e qualidade de vida, abrangendo as mais diversas linguagens e formas de
expressão – sendo ela plástica, sonora, literária, dramática ou corporal – para que, através de
técnicas expressivas diversas (como desenho, pintura, música, poesia, dramatização, dança,
767
colagem e outros trabalhos manuais e corporais), possa se possibilitar uma nova forma de fazer
e apostar na produção dos sujeitos (REIS, 2014).
Por ser uma prática muito abrangente e adaptável, o campo de atuação da arte terapia e
suas possibilidades interventivas são tão incontáveis quanto suas técnicas. Tendo em vista que
o fazer estará ligado à formação da(o) profissional e o público com quem ela(e) trabalha – veja-
se, ligado porém não restrito – podendo ser aplicado à contextos de avaliação, prevenção,
acolhimento, tratamento e reabilitação voltados para a saúde, bem como de forma pedagógica
na educação, além do desenvolvimento (inter)pessoal pela via da criatividade em oficinas nos
contextos grupais e de troca (REIS, 2014). Assim, o campo de atuação da arte terapia tem se
expandido e se consolidado para além do contexto clínico de consultório, chegando nos espaços
ampliados em saúde, nos educacionais, comunitário-assistenciais e organizacionais.
Essas oficinas têm partida no âmbito da saúde mental pelos saberes da Terapia
Ocupacional, que foram desenvolvidas nas instituições psiquiátricas, revolucionando o campo
de atividades, pois são mais do que simples ocupações e passatempos, mas sim trabalhos que
se conectem e têm uma dimensão significativa para a história do sujeito, com finalidades
essencialmente terapêuticas, gerando um espaço inédito de convivência, aprendizagem e
desenvolvimento (KASTRUP, 2012).
As oficinas de artes podem ser compreendidas como tecnologia social, uma tecnologia
que acontece através das relações e é mediada por atividades artísticas que atuam diretamente
na/com produção e expressão de subjetividades, se constituindo assim como espaços
multilaterais de aprendizagem, que são, simultaneamente, lugar de pesquisa e intervenção 6,
numa ação ao mesmo tempo ética, estética e política, uma vez que é permeada por valores, pela
sensibilidade criativa e subjetiva, cujos efeitos vão além do próprio agente (REIS; ZANELLA,
2015).
Efeitos que surgem no seio dessas práticas educacionais, informais e populares, pois se
apresentam justamente como alternativa às estratégias hegemônicas engendradas nos
serviços/equipamentos. Nesse lugar de diferença, as oficinas promovem outras possibilidades
de subjetivação, trabalhando o grupo e sua gestão de forma criativa e coletiva, pois, por meio
6
Essas oficinas ampliaram as possibilidades de comunicação e a rede de relacionamento social dos participantes,
transportando-lhes para fora do contexto institucional e, assim, contribuindo à virtualização de novas
perspectivas. Oficinas podem ser, portanto, ao mesmo tempo dispositivo de intervenção e pesquisa, sendo esta
compreendida como prática social que envolve relações entre pessoas na busca por (re)conhecer e/ou formular
soluções a uma situação específica (REIS; ZANELLA, 2015, p. 26).
768
Trazendo novas possibilidades de criação a partir (não só) da cola e papel, se destaca o
valor da colagem não só como parte do processo de criação de algo, mas como uma forma
significativa, pouco discutida quanto ao resultado poético na composição das obras. Produções
essas que, feitas de formas descomplicadas, expandem as margens de quem/o quê é capaz de
criar arte, aproximando e democratizando novas expressões artísticas e seus – também –
resultados psicoterapêuticos, reflexivos e resolutivos, além de simbólicos e afetivos (VARGAS;
SOUZA, 2011).
Ganhando seu espaço na cena popular, o ato de colar se expande frente à necessidade
de criar e veicular o novo, uma linguagem artística autônoma; um “faça você mesmo” que
viabiliza margens para uma aprendizagem libertadora, na contramão de práticas hegemônicas
do fazer artístico, e no caso, em saúde também. Assim, partindo da máxima de criar algo com
conteúdo que já existem, a colagem pode ser justamente um “fazer com sua história/questão".
Logo, com o auxílio de palavras e/ou temas geradores(as), dar-se-á início ao processo de
recortar imagens, escolhê-las e repicá-las, selecionando a imagem como um todo ou em partes,
por vezes até mesmo subvertendo a imagem e usando-a para moldar uma figura totalmente nova
e surrealista, que será única e puramente subjetiva.
Reconhecer a importância da arte é apostar na potência da criatividade e seu poder
gerador/transformador, tanto para o sujeito como para o grupo em que seja
oportunizada/mediada (REIS, 2014). Afinal, na produção de uma obra artística podem emergir
novas-outras formas e sentidos no que tange ao mundo e a si mesmo, apresentando aos sujeitos
alternativas variadas e múltiplas de subjetivação/singularização, brincando com a polissemia
da criação à uma realidade multifacetada – de vivência, prática, trabalho e afeto (GUATTARI;
ROLNIK, 1986. ZANELLA, 2004).
Trazendo a discussão deste artigo para a prática, relatar-se-á sobre uma experiência
vivenciada na cidade de Mossoró/RN por graduandas(os) do curso de Psicologia que são
extensionistas do projeto de extensão Núcleo de Estudos em América Latina, Insurgências e
Sociedade (NUCAIS), da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN), realizada no
Abrigo Temporário para Pessoas em Situação de Rua da cidade.
770
A priori, faz-se necessário explicar como surgiu o NUCAIS. O presente projeto emergiu
no semestre 2020.2, através da inquietação de discentes em relação à falta de estudos na
faculdade que fossem críticos e que trouxessem a realidade brasileira para poder pensar sobre
qual o lugar da Psicologia nesse espaço. Sendo assim, no início, devido à pandemia ocasionada
pela COVID-19, o projeto se configurava como um grupo de estudos, no qual teve como
primeira discussão a leitura do livro Pele negra, máscaras brancas de Frantz Fanon (2008).
Essa leitura se desenvolveu por dois semestres, no qual ocorriam encontros quinzenais de forma
remota. Ao longo das discussões, sempre estava presente o desejo por realizar intervenções
práticas na sociedade em nome do projeto, afirmando a luta pela elaboração de uma Psicologia
crítica e com compromisso social.
A partir disso, então, que no semestre de 2022.2, em que as aulas estavam de volta para
a modalidade presencial, bem como os projetos de extensão estavam retomando suas atividades,
o NUCAIS pensou em elaborar um novo cronograma para o seu desenvolvimento. Teve por
definição que para esse semestre afirmar-se-ia como um projeto de extensão e não mais como
um grupo de estudo apenas. Sendo assim, foi estruturado que haveria encontros para debater
algum texto e, posteriormente, ocorreria uma ação com base no tema do texto. Os temas
pensados foram “Medicalização e Diagnóstico”, “Gênero e Sexualidade” e “Cansaço e
Trabalho”.
Especificamente no dia da discussão sobre “Medicalização e Diagnóstico”, surgiu o
debate sobre Redução de Danos (RD), que é um modelo de tratamento que surge a partir da
Reforma Psiquiátrica para contrapor o modelo hospitalocêntrico de cuidado em saúde mental,
com a premissa de que as pessoas em tratamento não fiquem fora do convívio familiar e social
(TAGLIAMENTO et al, 2020). Dentro do debate, apareceu a proposta feita por uma psicóloga
residente da Residência Multiprofissional em Atenção Básica e Saúde da Família e Comunidade
da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), que estava participando do
encontro, para que o NUCAIS fosse ao Abrigo Temporário para Pessoas em Situação de Rua
realizar uma ação que visasse o diálogo sobre a RD.
O Abrigo Temporário para Pessoas em Situação de Rua da cidade de Mossoró/RN está
inserido no âmbito da Política de Assistência Social, através da Gerência de Proteção Social
Especial da Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania, no qual tem a capacidade
máxima de atendimento imediato e emergencial. A equipe do abrigo é formada por uma técnica
de nível superior e uma de nível médio; cozinheiras e a equipe de residência multiprofissional,
771
bem como de residência médica. Lá, são ofertados acolhimento temporário, alimentação,
cuidados em higiene pessoal, atendimentos pelas equipes de residências e articulações com
Unidades Básicas de Saúde (UBS), CnR e Centros de Referência Psicossocial (CAPS) 7.
Partindo para o dia em que foi realizada a ação, esta aconteceu da seguinte forma:
primeiramente, as(os) extensionistas foram apresentadas(os) ao local, acompanhadas(os) pela
equipe de residência multiprofissional; em seguida, as(os) abrigadas(os) chegaram para
participar da oficina, no qual aconteceu na área externa da casa. A priori, foi feita uma pequena
roda de apresentação para que elas e eles pudessem falar o nome, a idade e de onde vinham.
Posteriormente, os dois extensionistas que estavam como responsáveis por conduzir a oficina,
explicaram o que seria uma colagem e pediram para a psicóloga residente falar um pouco sobre
como funcionava a perspectiva da RD. Logo, foi pedido para que cada pessoa, dentro desse
contexto, procurasse nas revistas por imagens, frases, palavras ou até mesmo desenhassem e/ou
escrevessem coisas que a marcavam dentro da temática proposta.
Ao longo do processo, foi possível perceber a profundidade subjetiva que o ato de fazer
uma colagem propõe: o de ir alinhando, à maneira de cada sujeito, as vivências que marcam a
sua própria trajetória. Enquanto colavam, as(os) abrigadas(os) iam contando suas histórias,
falando sobre suas dores, representando, através das imagens, palavras e desenhos, algo do seu
íntimo. Para além de realizar uma atividade proposta, o ato de fazer a colagem proporciona um
momento de partilha em grupo, no qual as pessoas vão se ajudando, conversando, vivenciando
juntas a experiência de passar para a colagem algo da sua subjetividade.
Ao final da oficina, foi pedido para que, quem se sentisse à vontade, mostrasse o seu
trabalho de colagem e falasse um pouco sobre o que tinha feito. Pôde-se ouvir, então, algumas
exposições e histórias de quem se propusera a falar. Depois, houve um momento de
encerramento com música, sendo tocadas aquelas pedidas pelas(os) abrigadas(os).
Logo abaixo, tem-se duas imagens que representam o momento dessa experiência. Na
imagem 1, pode-se ver o momento em que estava acontecendo a colagem, com muitos materiais
à mesa. Foi formado um espaço grande, onde todo mundo (extensionistas, equipe da Residência
Multiprofissional e as(os) abrigadas(os)) estavam juntas(os) para realizar as colagens. Nesse
momento, todas(os) puderam conversar, trocar ideias e experiências, compartilhar materiais,
ajudar quem estava ao lado a procurar as ideias para a colagem, enfim. Foi um momento de
7
Todas as informações referentes ao abrigo foram retiradas de um documento oficial da Prefeitura Municipal de
Mossoró e do relato escrito no dia da ação no abrigo por uma das extensionistas do NUCAIS.
772
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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2021.
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775
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(UFSC). http://dx.doi.org/10.5007/2178-4582.2015v49n1p17. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/article/view/2178-4582.2015v49n1p17. Acesso
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Bauru, SP, v. 6, n. 3, p. 51–70, 2011. Disponível em:
https://www2.faac.unesp.br/comunicacaomidiatica/index.php/CM/article/view/316. Acesso
em: 13 ago. 2022.
RESUMO
Este trabalho possui como principal objetivo analisar como a representação da adoção na
dramaturgia brasileira influencia as concepções do meio social acerca do tema. Para isso, foi
utilizado o método dedutivo junto à pesquisa documental e bibliográfica. Dessa forma, foram
selecionados filmes e novelas brasileiros que mencionam o processo de adoção e tiveram
destaque nacional e, em adição a isso, utilizamos o apoio de artigos científicos e livros sobre a
temática, a fim de subsidiar a construção deste trabalho e trazer discussões importantes, levando
em conta que a mídia e a televisão brasileira têm grande influência na vida dos brasileiros e na
forma como a informação chega a cada um. Por fim, o presente artigo possui ainda o intuito de
desmistificar preconceitos enraizados acerca do processo de adoção e esclarecer
desinformações comumente repassadas dentro do corpo social sobre esse tema, a partir da
apresentação das informações corretas e atualizadas sobre o processo adotivo no Brasil.
Palavras-chave: Adoção; Psicologia; Dramaturgia; Políticas; Família.
ABSTRACT
The main objective of this paper is to analyze how the representation of adoption in Brazilian
dramaturgy influences the conceptions on the social environment about this subject. With that
goal, the deductive method along with a documentary and qualitative research were used. In
this way, Brazilian movies and soap operas that mention the adoption process and were
highlighted nationwide were selected and, in addition to that, we used the support of scientific
articles and books on the subject, in order to support the construction of this work and bring
important discussions, considering that Brazilian media and television have a great influence
on the lives of Brazilians and on the way information reaches each one. Finally, the article also
aims to demystify rooted prejudices about the acquisition process and clarify misinformation
commonly spread within the social body on this theme, based on the presentation of correct and
updated information about the adoption process in Brazil.
1
Acadêmica do curso de psicologia. E-mail: yasmin.bezerra@aluno.catolicadorn.com.br
2
Acadêmica do curso de psicologia. E-mail: roberta.cruz@aluno.catolicadorn.com.br
3
Especialista em avaliação psicológica, e docente da FCRN. E-mail:
ana.marques@professor.catolicadorn.com.br
4
Acadêmica do curso de psicologia. E-mail: juliana.queiroz@aluno.catolicadorn.com.br
5
Acadêmica do curso de psicologia. E-mail: clenia.soares@aluno.catolicadorn.com.br
777
A Organização Mundial Saúde (OMS) coloca que o conceito de família não pode ser
limitado a laços de sangue, casamento, parceria sexual ou adoção. Família é o grupo cujas
relações são baseadas na confiança, suporte mútuo e um destino comum. Dessa maneira, por
meio do método utilizado, o trabalho pretende demonstrar a adoção como um ato de amor e de
direito a ter uma família, não devendo ser associado a uma solução de abandono.
Valério (2014) acredita na construção de significados sobre o que é a adoção, tendo isso
em vista, ela destaca uma tensão constante entre a cultura coletiva de construção de
significados, que envolve mitos e histórias sobre adoção que acabam atuando como guias e
reguladores, e a construção da cultura pessoal, onde o indivíduo constrói e reconstrói o
significado de adoção tendo que lidar com questões exteriores.
Há muitos aspectos que podem ser observados em famílias adotivas, Maux (2010) cita
que apesar da singularidade presente na experiência de cada família, características como
adoção e infertilidade, problemas de aprendizagem, além dos mitos e medos em relação a
revelar a adoção para o filho são percebidos com grande frequência em mães e pais adotivos.
Dentre as principais formas de adoção a serem apresentadas, estão: a adoção unilateral,
conjunta, de maiores e a brasileira. Além disso, iremos apresentar os diversos fatores que
envolvem o processo de adoção, como o psicológico, jurídico e ético, trazendo dados e
estatísticas acerca do tema, e suas diversas questões.
Este trabalho possui como principal objetivo analisar como a representação da adoção
na dramaturgia brasileira influencia as concepções do meio social acerca do tema. Para isso, foi
utilizado o método dedutivo e a pesquisa documental e bibliográfica, dessa forma, foram
selecionadas novelas brasileiras que possuem menção ao processo adotivo e tiveram destaque
em âmbito nacional e junto a isso utilizamos do apoio de artigos científicos e livros sobre o
assunto, com a finalidade de embasar a construção deste trabalho, a fim de trazer discussões de
importantes, levando em consideração que a mídia e a televisão brasileira tem grande influência
na vida dos brasileiros e na forma como a informação chega a cada um.
Por fim, o presente artigo possui ainda como intuito desmistificar preconceitos
enraizados acerca do processo de adoção e esclarecer desinformações comumente repassadas
778
dentro do corpo social sobre esse tema, a partir da apresentação das informações corretas e
atualizadas sobre o processo adotivo no Brasil.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Segundo Weber (2001), a prática ilegal de registrar como filho uma criança nascida
de outra pessoa sem passar pelos trâmites legais, ou seja, o registro feito diretamente
em cartório, conhecida como adoção à brasileira, até os anos 80 do século XX,
constituía cerca de 90% das adoções realizadas no país.
Lopes (2018) acredita que, após o modelo de família patriarcal extensa as famílias
passaram a se organizar como família patriarcal nuclear, abrangendo somente pai, mãe e filhos
e não mais todos os parentes e empregados como acontecia na família patriarcal extensa.
Atualmente, os arranjos familiares já possuem outras diversas formas de organização. Diversos
fatores sociais influenciaram as mudanças ocorridas, nas últimas décadas, nos modelos
780
adoção legal. Assim como a barriga solidária, não existe uma lei que regulamente o casamento
homoafetivo, mas, em 2011, o STF (Supremo Tribunal Federal) reconheceu a união estável
entre esses casais. A novela abordou, em horário nobre da rede nacional, assuntos que ainda
são considerados tabus no meio social, impulsionando a discussão sobre o tema ao apresentar
o assunto a um grande número de telespectadores.
filho(a) alheio como sendo seu, o ECA não reconhece esse tipo de vínculo e a adoção à
brasileira constitui crime.
Em se tratando de um contexto brasileiro, os dois tipos de adoção mais discutidos, são:
a adoção à brasileira e a adoção por meios legais. A adoção à brasileira, como já mencionado,
é quando uma pessoa, seja ela membro da família ou não (considerado família extensa), “pega
para criar” sem envolver meios jurídicos. De acordo com o guia de adoção Instituto Geração
Amanhã (2020), parentes de linha direta (avós e irmãos) não são autorizados a adotar uma
criança, apenas podem pedir a concessão da guarda.
Contudo, atualmente, além da continuidade da adoção à brasileira, que tornou-se tão
comum ao ponto de muitas pessoas não possuírem conhecimento acerca da sua ilegalidade ou
de como funciona ou como recorrer a um processo legal de adoção, também é muito enraizada
a visão de que casais só devem buscar adotar caso não consigam ter filhos biológicos, pois a
primeira vez que a adoção apareceu em nossa legislação foi em 1828, e tinha como função
solucionar o problema dos casais sem filhos (PAIVA, 2004). Assim, a adoção passou a ser vista
culturalmente como uma segunda opção, ou até mesmo terceira em casos que a fertilização in
vitro também não pode ser considerada. Logo, a construção social brasileira contribuiu e
contribui fortemente para a popularização da adoção “à brasileira”.
Um exemplo da dramaturgia brasileira que representa bem essa situação, é a novela “A
Vida da Gente'', escrita por Lícia Manzo, exibida na televisão pela primeira vez no ano de 2011.
A protagonista Ana Fonseca, logo após ter a sua filha, sofre um acidente de carro e passa anos
em coma, assim, sua irmã Manuela passa a cuidar da sobrinha como se fosse mãe dela, levando
a criança a acreditar que a sua tia é na verdade a sua mãe, e assim causando conflitos nas
concepções de relação familiar da criança.
Esse tipo de prática ainda é muito comum em algumas regiões do país, pois já é um
costume naturalizado na nossa cultura, e que por falta de conhecimento e regulamentação das
leis sobre adoção, ainda vem sendo reproduzido. Como em situações em que algum familiar
tenha mais condições financeiras e psicológicas de cuidar de uma criança, do que os próprios
pais. Tendo como exemplo, casos de gravidez na adolescência, ou de pessoas em situação de
vulnerabilidade social, mesmo que o ECA assegure que “a falta ou carência de recursos
materiais não constitui motivo para a perda ou a suspensão do pátrio poder familiar”.
Ampliar a imagem social sobre a adoção, possibilitando uma desmistificação de ideias
enraizadas somente acontecerá quando o assunto deixar de ser preocupação somente
das famílias por adoção e de alguns profissionais que trabalham com a temática, e
passar a se constituir em interesse da sociedade geral. (MAUX, 2010, p. 356)
783
O processo de adoção legal é muito bem retratado na novela Amor de mãe, escrita pela
autora Manuela Dias, seu primeiro episódio foi exibido no ano de 2019. A personagem Vitória
Amorim tem o sonho de ser mãe, porém ela acabou perdendo 2 filhos durante a gestação e
resolveu entrar com o processo de adoção de Tiago, um menino de 7 anos, e apesar dos
problemas que surgiram ela conseguiu adotá-lo de forma legal.
Apesar da ampla representatividade na televisão brasileira, a adoção nem sempre é
retratada a partir do seu processo legal, como no exemplo da novela Amor de mãe, assim a
adoção está tornando-se um tema mais discutido, mas não legalmente conhecido, pois, por
exemplo, as diversas representações, trazidas pela dramaturgia, de adoções “à brasileira” faz
com que muitas pessoas ainda desconheçam a sua ilegalidade. Ou seja, embora o brasileiro
esteja há décadas rodeado por novelas e filmes que tratam acerca da adoção no país, a maior
parte dessas produções artísticas focam no drama e no enredo da história, muitas vezes
exagerando a realidade ou apresentando formas ilegais do processo.
O procedimento para adoção de uma criança com Síndrome de Down ou outra
deficiência é o mesmo que o de crianças típicas, se fazendo até mais rápido pela menor
demanda. A representação desse tipo adotivo se fez presente na exibição da novela “Páginas de
Vida”, em 2006, escrita por Manoel Carlos. A trama apresenta uma criança com Síndrome de
Down que acaba perdendo a mãe ao nascer e sendo rejeitada pela avó, que alegava não ter
condições de criá-la. “Clarinha” interpretada por Joana Mocarzel na novela, acaba sendo
adotada de forma legal pela médica Helena, vivida por Regina Duarte. A dramaturgia abordou
temáticas importantes, como a adoção de crianças atípicas, o preconceito presente na sociedade
e na própria família, assim como oportunidade inclusiva.
Cada uma das novelas nacionais que tratam acerca do processo de adoção no Brasil
apresenta ao telespectador uma trama diferente que gira em torno desse processo, assim como
meios e formas diferentes de adoção. Vieira (2019) escreveu uma matéria dentre as novelas
mais conhecidas que são:
AMOR DE MÃE - A novela trata a história de Lourdes, uma mulher nordestina que
enfrenta grandes dificuldades financeiras para manter seus filhos. Ela descobre que seu marido
vendeu o seu filho, então o mata e foge. No caminho ela encontra uma recém nascida dentro de
um cesto, então ela decide adotá-la. Em contraponto a essa história, a novela nos mostra o outro
lado, pois conta a história de Thelma, que perdeu o filho biológico em um incêndio, e em uma
784
medida desesperada para ter outro filho, acaba comprando o filho de Lurdes, que cresce sendo
enganado por Thelma. A dramaturgia traz debates acerca da descoberta da adoção, além de
abordar importantes temáticas que podem gerar discussões muito ricas, como a adoção à
brasileira, realizada por Lourdes, criticando o quão comum é de acontecer no nosso país, e leva
a considerar a desigualdade socioeconômica em que o país se encontra, já que o pai precisou
vender o próprio filho para poder pagar as dívidas.
A VIDA DA GENTE - A novela se inicia com um acordo entre Ana, que engravidou
de forma não planejada e não tinha desejo de ser mãe naquele momento, e Eva, mãe de Ana,
que também não apoiou a ideia da filha ser mãe tão jovem, pois ela desperdiçaria a sua carreira
de tenista que estava em ascensão, dessa forma, Eva entra em contato com uma rede clandestina
de adoção e é a partir desse contato que acorda-se que após o nascimento a criança será entregue
a Verônica para que ela adote a recém nascida de forma ilegal. Contudo, após ouvir o choro da
bebê e amamentá-la pela primeira vez, Ana desiste de entregar a filha para a adoção.
A novela em questão acaba abordando questões psicológicas, como, por exemplo, o fato
de que muitas vezes, a adoção acaba sendo o único meio legal para uma mulher que não pode,
ou não quer manter um filho, pois apesar de Ana ter de início concordado com a entrega da
filha por meio de uma adoção ilegal, o ECA, em 2017, incluiu a Lei da Entrega Voluntária que
assegura que mães ou casais que por alguma razão não podem ou não desejam manter a criança
possuem a opção de fazer a entrega voluntária logo após o nascimento, dessa maneira, Ana
poderia ter procurado maneiras legais para realizar a entrega da filha.
Além disso, é abordado o sofrimento psicológico de manter uma gravidez indesejada, e
o arrependimento de última hora de Ana, que apesar de ter um acordo com Eva e Verônica, não
conseguiu prosseguir com a adoção, mostrando o direito de arrependimento na entrega, o ECA
prevê que a mãe possui até 10 dias para manifestar arrependimento após a entrega legal, passado
esse prazo a mãe ou o casal que realizou a entrega não pode mais ter contato com a criança. A
novela também aborda o outro lado, mostrando o sofrimento psicológico de Verônica, que se
preparou durante toda a gestação da criança para tê-la como filha e, de último momento, teve
seus sentimentos frustrados, pois, devido à falta de legalidade do acordo feito com Ana, não
pode fazer nada além de aceitar a vontade da mãe biológica.
CHIQUITITAS - É uma telenovela infantil de grande sucesso, possui versões em vários
países. O Brasil possui duas versões da novela, a mais recente foi transmitida no ano de 2013 e
assim como nas versões anteriores conta a história de um grupo de crianças órfãs que convivem
785
envolvidas, pois ao passar pelo Sistema Nacional de Adoção, dá-se a garantia de que o adotante
é agora pai ou mãe da criança ou adolescente, enquanto a adoção direta garante apenas a guarda
provisória. Um exemplo real dessa situação é o caso de Carol Nakamura. Carol era a guardiã
do menino Wallace, de 11 anos, mas após dois anos de convívio o menino retornou a morar
com a mãe biológica, o caso ganhou grande repercussão midiática, principalmente, após a
professora e doutora Carolina Pinho levantar a discussão sobre o título de mãe adotiva dado a
Carol (DESTAQUES PSICOLOGIAS DO BRASIL, 2022).
O que a Carol Nakamura fez não é adoção. Ela não era mãe adotiva da criança. Pegar
criança de uma família pobre não é adoção. Espero que fique a lição: mães pobres têm
direito a maternar, portanto, não peguem filhos dos outros para ‘ajudar’. Usem o
trâmite legal e evitem transtornos (DESTAQUES PSICOLOGIAS DO BRASIL,
2022).
aborda o interesse e a busca pela origem, quando a criança vítima do tráfico cresce e passa a
investigar o próprio passado.
“Na década de 80 várias crianças de Santa Catarina e do Paraná foram traficadas para a
Europa, Estados Unidos e principalmente para Israel. Após alguns anos essas crianças
cresceram e estão em busca de suas famílias biológicas” (SILVA¹ E SILVA², 2017, p. 35).
A adoção ilegal de crianças e adolescentes a partir do tráfico humano apresentado na
presente dramaturgia retrata uma realidade brasileira pouco discutida, a partir da falsificação
de documentos, disfarce dos traficantes como sendo assistentes sociais e promessas à família
biológica, todo o trâmite adotivo é facilitado, tornando a família adotiva e as crianças vítimas
desse crime. O Brasil não possui número exato de crianças e adolescentes traficados com o
intuito adotivo, os números são registrados de acordo com as denúncias das vítimas.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das obras e pesquisas analisadas acerca dos processos de adoção no Brasil,
concluímos que as dramaturgias brasileiras possuem uma grande influência no conhecimento
popular sobre o processo de adoção. Mas devido ao lado fantasioso de como as obras são
apresentadas, elas acabam muitas vezes ignorando as partes legais dos processos da adoção, e
principalmente os problemas burocráticos que o sistema brasileiro de adoção enfrenta.
Assim, é importante destacar que apesar da representatividade que esses programas de
televisão trazem para esse tema, abrindo portas para discussões bastante relevantes, ainda sim,
acontecem de serem repassadas informações equivocadas para a população, devido a
romantização novelesca do tema, e a falta de informação legal acerca da temática.
Portanto, após analisarmos as literaturas acerca do assunto, chegamos a conclusão de
que o tema abordado no seguinte artigo, precisa ser abordado com mais frequência e de forma
crítica, para que a população possa ter acesso a informações corretas. Apesar das dramaturgias
brasileiras fazerem um ótimo trabalho trazendo visibilidade para o tema, a adoção precisa ser
retratada de forma séria, tanto em meios de comunicação, como em estudos. Fazendo assim,
com que a temática ganhe uma maior visibilidade e reconhecimento, facilitando o acesso a essa
informação, para que assim, a adoção se torne algo mais acessível à comunidade.
REFERÊNCIAS
789
Instituto Fazendo História. ORG (SP). Orfanatos não existem!. [S. l.], 25 abr. 2017.
Disponível em: https://www.fazendohistoria.org.br/blog-geral/2017/4/25/orfanatos-no-
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grandes novelas. In: Observatório da TV. [S. l.], 16 abr. 2019. Disponível em:
https://observatoriodatv.uol.com.br/noticias/assim-como-em-malhacao-toda-forma-de-amar-
adocao-e-tema-de-grandes-novelas-confira. Acesso em: 29 jul. 2022.
791
RESUMO
ABSTRACT
these conditions is expected. In this context, the psychologist is inserted in order to provide
support to patients and their families, as well as to raise awareness of the team that works
directly with this demand. From the bibliographic survey built, with references from the last 10
years, it is possible to observe that there are many materials that guide the psychologist's
performance in situations of pregnancy loss. The emphasis that the authors have been giving to
the emotional impact of grief is evident, however, without major contributions to the
possibilities of psychological interventions, thus requiring the constant reading and synthesis
of existing materials, for reflection and construction of new publications. that may suggest
activities or even publicize the different forms and opportune moments for the performance of
the Psychology professional in the face of this invisible loss.
Keywords: Fetal death; Perinatal grief; Psychology.
1 INTRODUÇÃO
2 METODOLOGIA
Os autores Carvalho et al. (2019) alegam que as pesquisas possuem em comum a busca
pelo conhecimento. Assim, afirmam ainda que o ato de pesquisa pode acontecer em diferentes
espaços e por variadas pessoas, por isso é fundamental que seja exposto os métodos e
procedimentos utilizados no trabalho, tendo em vista uma melhor compreensão acerca do
percurso seguido no desenvolvimento do estudo.
Sendo assim, esse trabalho tem como base uma revisão de literatura, realizada através
de leituras e resumos. Partindo desse ponto, desenvolve-se uma pesquisa qualitativa, que não
requer o uso de técnicas e dados estatísticos, mas possui no ambiente pesquisado o instrumento-
chave, onde os processos vivenciados e seus significados são o foco (KUARK, MANHÃES,
MEDEIROS, 2010). De acordo com Diehl (2004), esse tipo de pesquisa possibilita um
entendimento variado das particularidades e características de determinados grupos ao qual se
propõe investigar. Sendo então, o tipo de pesquisa pertinente para o estudo realizado. Os dados
coletados foram interpretados e unificados para a compreensão da temática estudada.
Para além disso, orientando-se na proposta de Gil (2008) a modalidade de pesquisa aqui
utilizada foi desenvolvida a partir de materiais já elaborados, como livros e artigos científicos,
procedimento técnico conhecido como pesquisa bibliográfica. Isso posto, as buscas ocorreram
utilizando as palavras chaves “óbito fetal” e “luto perinatal'', bem como uso do operador lógico
na intersecção “Psicologia AND óbito fetal”, a fim de obter o conjunto dos documentos que
contêm os termos usados.
Por fim, determinamos o filtro temporal nas buscas por materiais, selecionando os
artigos e documentos publicados nos últimos dez anos, entre 2012 e 2022. Foram utilizadas
obras que ultrapassam essa referência, dado o valor histórico para as produções na área
pesquisada e lacuna de materiais publicados. No que diz respeito aos critérios de inclusão,
foram observados os temas e objetivos dos trabalhos, sobre os critérios de exclusão,
desconsiderou-se aqueles que estavam em língua estrangeira e não tinham relação entre as
palavras chaves. As buscas supracitadas ocorreram nas bases de dados SciELO - Scientific
Electronic Library Online, PePSIC – Periódicos Eletrônicos em Psicologia e OasisBR.
Após reflexões e análises acerca da realidade exposta, foi possível perceber a
necessidade em desenvolver conhecimentos na área, com intuito de qualificar a atuação do
795
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A gestação é uma etapa complexa na vida da mulher, constituindo-se como um momento
de transição, período de crise que envolve intensas transformações hormonais, físicas,
emocionais, psicológicas, socioeconômicas, familiares e sociais. Nessa circunstância a mulher
pode se deparar com situações que geram tensão e desequilíbrio, mas com a possibilidade de
também solucionar conflitos psíquicos, amadurecimento e expansão da personalidade
(MALDONADO, 2005).
A maneira como as mudanças ocorridas na gestação serão vivenciadas pela mulher
possui influência de diversos fatores como: se foi planejada ou não, se é desejada, se ocorreu
dentro ou fora de um vínculo estável de relacionamento, a qualidade do relacionamento
conjugal; as características da personalidade dos pais, história de vínculos afetivos com as
famílias de origem, relação da mãe com a gravidez, se foi originada após um episódio de aborto,
se é uma gestação normal ou de risco, as condições socioeconômicas da família, existência ou
não de rede de apoio (BORTOLETTI, 2007)
Maria Tereza Maldonado (2005) costuma abordar a gestação através da separação em
três trimestres: primeiro, segundo e terceiro. Nessa divisão são abordados aspectos comuns de
cada período, mas a autora faz uma ressalva de que nem todos os elementos apontados em cada
fase são vivenciados por todas as mulheres, e a intensidade em que são percebidos varia
significativamente.
O primeiro trimestre é, em geral, o que marca a descoberta da gestação, e independente
de ter sido planejada ou não, nessa etapa é comum a percepção do sentimento de ambivalência,
relacionada a simultaneidade de aceitação e rejeição da gravidez. Para Maldonado (2005), não
existe uma gestação totalmente aceita ou totalmente rejeitada, podendo surgir ao mesmo tempo
sentimentos de alegria, raiva, amor, apreensão, ansiedade, prazer, medo, insegurança e
realização.
796
As alterações corporais nos primeiros três meses ainda são discretas e é comum a mulher
não se sentir grávida, mesmo após a confirmação clínica. Nesta fase, iniciam-se sintomas de
náuseas, vômito, hipersonia, aversão, aumento do apetite e oscilações de humor, esse quadro
pode trazer incômodos e aumentar significativamente os níveis de ansiedade na gestante,
justificando então os sentimentos ambivalentes em relação a descoberta da gestação. É nesse
período também que há um maior risco de ocorrência de abortos espontâneos em decorrência
de problemas no desenvolvimento fetal, desencadeando a presença de um luto perinatal
(MALDONADO, 2005; COLMAN e COLMAN, 1994).
Já o segundo trimestre é caracterizado por um momento de diferenciação, de modo que
o feto passa a ser visto como um ser autônomo distinto do corpo da mãe, período importante na
formação do vínculo mãe-bebê e família. Essa é a fase mais estável, sob o ponto de vista
emocional, de acordo com Maldonado (2005) a possibilidade de enxergar o bebê através do
ultrassom, bem como a percepção dos movimentos fetais, possuem importante papel na
construção do vínculo entre a família e a criança, favorecendo a aceitação da gravidez e
ajudando a mãe na personificação do filho.
Finalmente, no último trimestre ocorre a preparação para o momento do parto.
Novamente são comuns os sentimentos de ambivalência entre a vontade de ver o filho e a de
continuar grávida, bem como adiar as mudanças previstas com o final da gestação. Começam
a surgir medos relacionados à dor do parto, medo da morte, receio de não conseguir amamentar
ou do leite não ser suficiente e temores quanto a saúde do bebê. Nesse momento é primordial
que a gestante tenha acesso a informações que ajudem a desfazer mitos, fantasias e inseguranças
relacionadas com a chegada do bebê (MALDONADO, 2005).
Muitas vezes, o modo de gestação apresentado acima é violado pelo que chamamos de
intercorrências do ciclo gravídico puerperal, que envolve desde doenças gestacionais até o óbito
fetal. Esse último, quando ocorre, contrapõe a imagem da gravidez como uma experiência de
nascimento e vida, resultando no aparecimento de conflitos psíquicos e desencadeando o
processo de luto. A morte do feto rompe com a possibilidade do exercício da maternidade e
constitui a frustração de sonhos, desejos e fantasias relacionados com a chegada de um bebê
(BORTOLETTI, 2007).
De acordo com Bortoletti (2007), embora a mulher saiba da existência de riscos
relacionados ao não desenvolvimento gestacional, sobretudo no primeiro trimestre, é comum a
presença de um comportamento de negação referente à possibilidade de um óbito fetal ocorrer.
797
Ademais, os temores e receios manifestados pela grávida tendem a ser pouco valorizados e
considerados sem fundamentos. Então, quando o óbito fetal se concretiza, é possível observar
a instalação de uma crise emocional na mãe e na família.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
pode se dar através da improvisação, é fundamental que exista um saber acerca do luto e
habilidades para manejar a situação. Sendo assim minimamente possível o gerenciamento dos
atravessamentos subsequentes.
A intervenção do psicólogo oferece suporte emocional e social para os pacientes e
familiares, uma vez que esse profissional pode propiciar um espaço de fala e expressão dos
sentimentos vivenciados diante da perda. É importante o psicólogo atuar também com a equipe,
promovendo espaços de discussões e reflexões, trazendo para esses profissionais os aspectos
emocionais dessa perda, para a mulher e família, como também, trazendo reflexões sobre
algumas condutas que favoreçam o apoio e o processo do luto.
Face ao exposto e a partir do levantamento bibliográfico construído, com referências
dos últimos 10 anos, é possível observar que não existem muitos materiais que direcionam a
atuação do psicólogo nas situações de perdas gestacionais, apesar de ser um campo riquíssimo
de investigação. É evidente o destaque que os autores vêm dando ao impacto emocional do luto,
no entanto, sem grandes contribuições para as possibilidades de intervenções psicológicas.
Entendemos, portanto, a relevância da pesquisa nessa temática, assim como constante
leitura e síntese dos materiais já existentes. Pois assim, podemos instigar a reflexão e construção
de novas publicações que possam sugerir atividades ou mesmo divulgar as diversas formas e
momentos oportunos para a atuação do profissional de Psicologia diante dessa perda
invisibilizada. Visando contribuir assim para a comunidade social que pode ser beneficiada
pelos saberes teóricos e práticos dos profissionais, bem como impulsionando a construção de
novos caminhos.
REFERÊNCIAS
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e neonatal. Research, Society and Development, v. 9, n.11. 2020.
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nacer: vivencias de los padres del equipo de salud. 2 ed. Montevideo, Roca Editorial, 1992.
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MUZA, J. C. et al. Quando a morte visita a maternidade: atenção psicológica durante a perda
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2008.
SOIFER, R. Psicologia da gravidez, parto e puerpério. 6. ed. Porto Alegre: Artes Médicas,
1992. 124 p.
RESUMO
O trabalho trata a relação Família e Escola em tempo de pandemia Covid-19, quando as escolas
interromperam as aulas e fecharam suas portas em todo o mundo. Sendo assim, essa pesquisa
tem como objetivo discutir a relação família-escola diante dos desafios educacionais vividos
durante a Pandemia da COVID-19, e as contribuições da Psicologia Escolar. Além de pesquisar
o papel da família na educação, apresentando essa relação dentro de um cenário da educação
no período da pandemia pela Covid-19, descrevendo as práticas da Psicologia Escolar que
contribuíram para os alunos e profissionais da educação no enfrentamento das dificuldades de
um contexto pandêmico. A metodologia utilizada foi uma revisão bibliográfica da literatura, de
abordagem qualitativa, adotando-se os pressupostos da pesquisa bibliográfica do tipo narrativa,
em vários sites acadêmicos de pesquisa como: Google Acadêmico, Scielo e PePSIC, utilizando
trabalhos relacionados à temática encontradas no espaço de tempo entre 2020 e 2022, que
ocorreram nos meses de Fevereiro a Junho de 2022. As pesquisas apontaram para as
dificuldades dos docentes em relação ao trabalho remoto, e a necessidade de estabelecer um
vínculo saudável com as famílias. Também foi apresentado que a família e escola, necessitam
caminhar juntas, estabelecendo uma relação de parceria, com respeito, tendo em vista o
desempenho educacional das crianças. Concluiu-se ao final a importância do Psicólogo Escolar
no ambiente escolar com intervenções voltadas para o fortalecimento dos vínculos entre a
família e a escola, bem como a construção de possibilidades e soluções, promovendo saúde
mental e bem-estar.
Palavras-chave: família; escola; psicologia escolar; pandemia.
ABSTRACT
The work deals with the relationship between Family and School in the time of the Covid-19
pandemic, when schools interrupted classes and closed their doors all over the world. Therefore,
this research aims to discuss the family-school relationship in the face of the educational
challenges experienced during the COVID-19 Pandemic, and the contributions of School
Psychology. In addition to researching the role of the family in education, presenting this
relationship within an education scenario in the period of the Covid-19 pandemic, describing
the practices of School Psychology that contributed to students and education professionals in
facing the difficulties of a context pandemic. The methodology used was a bibliographic review
of the literature, with a qualitative approach, adopting the assumptions of bibliographic research
of the narrative type, in several academic research sites such as: Google Scholar, Scielo and
PePSIC, using works related to the theme found in the between 2020 and 2022, which took
place from February to June 2022. Research pointed to the difficulties of teachers in relation to
remote work, and the need to establish a healthy bond with families. It was also presented that
805
the family and school need to walk together, establishing a relationship of partnership, with
respect, in view of the children's educational performance. In the end, it was concluded the
importance of the School Psychologist in the school environment with interventions aimed at
strengthening the bonds between the family and the school, as well as the construction of
possibilities and solutions, promoting mental health and well-being.
Keywords: family; school; school psychology; pandemic.
1 INTRODUÇÃO
Família e escola são duas instituições essenciais para a formação do homem e possuem
papel relevante neste processo, pois são dois pilares que estão nos primeiros grupos sociais dos
quais crianças e adolescentes fazem parte. Nesse sentido, a educação possui caráter formal e
socializador e, tanto a família como a escola, estão presentes de forma marcante na vida das
pessoas.
Essa parceria é um dos principais elementos para o sucesso da educação, o que requer
uma sintonia entre família e a instituição de ensino que se faz presente desde cedo na vida das
crianças em que juntos buscam o alcance do mesmo objetivo que é a formação das crianças e
jovens e seu pleno desenvolvimento.
Os processos de educação que ocorrem nos ambientes familiares e escolares, estão
vinculados essencialmente ao contexto em que vivem os seres humanos o que define como
ocorrem os processos formativos atuando diretamente na realização dos projetos e propostas
pedagógicas e seu desenvolvimento nas duas instituições.
Em dezembro de 2019, foi descoberto um novo virus, denominado SARS-CoV-2.
Surgiu inicialmente na cidade de Wuhan na China, e se espalhou rapidamente por todo o
mundo. Já em 30 de de Janeiro de 2020, a OMS reconheceu o surto dessa nova doença como
uma emergência de saúde pública de importância internacional, que é considerado o maior nivel
de alerta. Posteriormente no dia 11 de Março de 2020, a OMS caracterizou a COVID-19 como
uma Pandemia.
Até o dia 08 de julho de 2020, no mundo, foram registrados 11.994.182 casos da
COVID-19 e 547.931 óbitos no Brasil. Nessa mesma data, já haviam sido confirmados
1.716.196 casos da doença e 68.055 óbitos. O virus é transmitido através de gotículas
respiratórias, do contato direto ou objetos e de superficies contaminadas. Ou seja, a doença
possui múltiplas vias de transmissão fato que justifica a grande necessidade de distanciamento
social. A COVID 19, causada pelo coronavirus da SARS-CoV-2 no sistema respiratório, que
806
alterou de forma decisiva a vida das pessoas e especialmente nessas instituições. Impactou ainda
na forma de conhecer e agir nas relações família e escola.
No Brasil, desde 17 de março de 2020 as aulas na modalidade presencial ficaram
suspensas. Caminhamos alguns meses impedidos de frequentar a escola. Embora que aos
poucos os programas de combate à COVID-19 tenham começado a sinalizar um possivel
retorno, caminhos para pequenas adesões ou implantação de um ensino remoto e posteriormente
o híbrido, no qual estudantes terão suas atividades escolares acontecendo virtualmente e
presencialmente.
A pandemia reforçou ainda mais a necessidade de participação da família no
acompanhamento da vida escolar dos filhos, principalmente porque agora, a educação estava
dentro de suas casas, os responsáveis conseguem ver quais as atividades desenvolvidas e, por
isso, o envolvimento familiar tornou-se maior.
Na vivência dos autores na área da educação, muitos desafios são lançados no sentido
de procurar entender atitudes que contribuam para uma melhoria de qualidade da relação
família e escola. Essa questão sempre suscita diferentes perspectivas, concepções e
representações acerca dos papéis desempenhados por cada sujeito que faz parte do processo
educativo.
Durante esse período da Pandemia COVID - 19, pudemos acompanhar a exigência do
isolamento social, e a família foi introduzida em novo cenário para assumir a gestão pedagógica
da sala de aula dos filhos em casa. Especialmente quanto à responsabilidade de acompanhar em
suas atividades escolares, o que antes ficava a cargo do professor e toda a estrutura escolar que
o assessora.
Esse desafio gerou um desconforto para os pais que se viram frente ao desafio de ser
professor sem a minima formação pedagógica. Em função desta necessidade, se estrutura o
empenho em valorizar e fortalecer práticas de respeito e confiança, no exercicio de empatia,
pois o diálogo se apresenta como a melhor via para formação humana, essa é uma habilidade
imprescindivel para criar uma relação que une participação e ação. É fundamental
considerarmos que, estamos ainda estamos atravessando a pandemia Covid-19, vivendo
situações nunca experimentadas, com exigências de novas formas de se comportar, de interagir,
de viver e de se cuidar.
A motivação para este estudo, parte de uma tentativa de contribuição à educação para a
construção de um ambiente melhor para todos, aprendendo sobre o mundo, respeito ao próximo,
807
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Segundo Racy (2010), fortalece a ideia acima que a familia contemporânea é uma
instituição na qual os componentes tem uma individualidade maior do que nas familias
existentes anteriormente. Cada vez mais essas divergências individuais se acentuam, se
consolidam, e como elas são a essência da personalidade individual, esta vai necessariamente
se desenvolvendo.
Até boa parte do século passado a família era composta de pai, mãe e filhos.
Eventualmente, fazia parte da familia, morando na mesma casa, um ou dois dos pais desse casal.
O homem tinha função básica de promover o sustento e ser responsável pela familia. À mulher
cabia os afazeres domésticos e os cuidados e educação dos filhos, Com a emancipação da
mulher e a necessidade de esta se inserir no mercado de trabalho, essa situação começou a se
modificar. Atualmente, as mulheres buscam a realização profissional e tentam conciliar suas
carreiras com as atividades domésticas e maternas.
“Uma das transformações mais significantes na vida doméstica e que redunda em
mudanças na dinâmica é a crescente participação do sexo feminino na força de trabalho, em
consequencia das dificuldaedes enfrentadas pelas familias” ( ROMANELLI, 2005, p. 77).
Voltemos a cerca do conceito de familia, agora no sentido do dicionário, significa pessoas
aparentadas que vivem geralmente, na mesma casa, particularmente o pai, a mãe e os filhos.
Ao mesmo tempo, a estrutura familiar também vem sofrendo outros tipos de alterações.
É comum existirem famílias organizadas apenas por mães e filhos, cujos pais, além de viverem
afastados, não participam da vida dos filhos.
“É na familia que a criança aprende desde o nascimento o que é o amor, empatia, o
carinho, o respeito, e também a cumprir as leis, a torcer por um time de futebol, adotar uma
religião. O primeiro contato com o mundo se dá no ambiente familiar” (RACY, 2010, p. 106).
Outras situações são encontradas em nossa sociedade, como casais que se separam e se
810
organizam em outros núcleos familiares, gerando outros filhos. Assim, é comum existirem
crianças com “dois pais” e “duas mães" e, ainda, irmãos oriundos do segundo casamento dos
pais. Encontramos, ainda, mães que, por opção, desejam e criam seus filhos sozinhas, além de
homossexuais que constituem uma familia, homens que vivem com mais de uma mulher e vice
versa.
Assim, as novas concepções familiares têm gerado mudanças no comportamento,
principalmente o masculino. Muitos pais começaram a participar da administração e tarefas da
casa e dos cuidados com os filhos, em parte porque as mulheres se tornaram economicamente
fundamentais para o sustento da familia, o que as impede de estar o dia todo em casa, e em parte
para não serem acusados de conservadores e, eventualmente, porque realmente acreditam que
as funções podem e devem ser divididas. Da parte das mulheres, também encontramos aquelas
que, mesmo com suas atividades de trabalho, ainda se julgam responsáveis pelos cuidados da
casa e dos filhos e se desdobram para cumprir todas as obrigações (RACY, 2010).
Depois de passar por diversas literaturas nos deparamos com a afirmação de que a
familia é considerada como a primeira instituição da qual o ser humano faz parte e o seu
principal papel é a socialização. Ou seja, a transmissão da cultura, dos costumes e valores
sociais.
Em vários momentos da história, diversos tipos de sociedade criaram diferentes
caminhos para percorrer em lidar com o saber e os poderes que ele carrega consigo.
As atuais percepções concebem a escola como instituição social, com funções
socialmente definidas, mas também como uma organização especialmente dedicada à formação
das crianças e jovens, e também como um espaço benéfico que tem vida própria, um organismo
vivo que interage com o ambiente social extraindo dele estímulos e energia necessários para o
desenvolver a sua proposta pedagógica.
A escola deve ser entendida como uma instituição portadora de uma estrutura
multifuncional composta pelo edifício, professores, alunos e outros funcionários. Esta
instituição é formalmente existente para orientar o processo de ensino e aprendizagem, pois tem
como objetivo educar as diferentes gerações no processo de desenvolvimento da humanidade.
Segundo o autor espanhol, Péres Gómez (2001, p. 17) ”a escola, é o sistema educativo
em seu conjunto, pode ser considerada como uma instância de mediação cultural entre os
significados, sentimentos e as condutas da comunidade social e o desenvolvimento humano das
novas gerações”.
811
pensamentos e opiniões críticas para se viver bem na sociedade, ou seja, possibilitar a formação
de sujeitos com autonomia de pensamentos, visão crítica a respeito de si e da sociedade em que
está inserido, capaz de colaborar para a construção de um mundo social mais justo.
O papel da escola na vida de crianças e jovem é proporcionar a formação acadêmica,
intelectual e cognitiva, bem como promover o desenvolvimento de competências e habilidades
necessárias para atuarem na sociedade.
Já o papel da família é oferecer uma base para o desenvolvimento humano, como a
transmissão de valores e princípios, acolhimento, orientação e todo apoio necessário, inclusive
para a vida. Nos dias de hoje, com a rotina agitada das famílias, muitas vezes, a educação dos
filhos recebe pouca atenção ou menos do que deveria, o que sobrecarrega a escola e o trabalho
de professores e coordenadores. “A escola nunca educará sozinha, de modo que a
responsabilidade educacional da familia jamais cessará. Uma vez escolhida a escola, a relação
com ela apenas começa. É preciso o diaálogo entre a escola, pais e filhos” (REIS, 2007, p. 6.).
Portanto, é de grande importância relacionar educação e família, pois são peças
fundamentais na vida da criança, é na familia que ela busca apoio, compreensão, carinho, amor
e atenção, e na escola, ela busca o conhecimento, mas ambas são instâncias que irão colaborar
conjuntamente para formação humana da criança. Educar é promover o crescimento e o
amadurecimento da pessoa humana em todas as dimensões material, intelectual e moral.
Para Oliveira (1993, p. 92) “uma das principais funções da familia é a função
educacional e, que esta é a responsável por transmitir a criança os valores e padrões culturais
do meio social em que está inserido”. É importante ressaltar que o papel família é atribuir
valores que constituem a cultura e educar as novas gerações. Tradicionalmente, a familia tem
sido apontada como parte fundamental do sucesso ou fracasso escolar de crianças e
adolescentes.
Melo (2017) afirma que existem problemas relacionados a esta questão, seja devido à
falta de acompanhamento de alguns pais na educação dos seus filhos, seja na ausência de ações
e projetos por parte de determinadas escolas. O papel básico da escola é promover a
aprendizagem de conhecimentos, habilidades e valores necessários à socialização do individuo.
Estas aprendizagens se constituem em instrumentos para que o aluno entenda melhor a
realidade que o cerca, beneficiando sua participação em relações sociais cada vez mais aberta,
possibilitando a leitura e interpretação das mensagens e dados que hoje são amplamente
difundidas.
813
Segundo Racy (2010) é papel fundamental da escola trabalhar com boas estrategias de
planejamento e uso de metodologias apropriadas, para facilitar o aprendizgem da criança. É
necessário que a escola propicie o dominio dos conteúdos culturais fundamentais, da leitura e
da escrita, das informações, das artes, das letras. Sem estes conhecimentos dificilmente ele
poderá exercer seus direitos de cidadania.
É indispensável a cada momento propor ao aluno raciocinar, refletir, criticar. Para isso
é preciso que a gestão trabalhem com metodologias participativas , desafiadoras,
problematizando conteúdos e instigando o aluno a pensar, a formular hipoteses, a trocar
informações com o grupo de sala, defendo e argumentando seu ponto de vista.
Segundo Forquim (1993, p. 167) “a escola é, também, um mundo social que tem suas
caracteristicas de vida próprias, seus ritmos, sua linguagem, seu imaginário, seus modos
próprios de regulação e de transgressão, seu regime próprio de produção e de gestão de
simbolos”. Tem também uma função social que se refere a proporcionar um ambiente de
interação social e crescimento pessoal. O processo de socialização, que se inicia no nascimento,
continua na escola. “Faz parte da função da escola oferecer ambiente seguro e garantir e
observar se os direitos das crianças e jovens são respeitados” (RACY, 2010 p. 112).
Cabe a escola desenvolver alunos pensantes, que saibam refletir, sejam autônomos como
também, venham entender os seus direitos e deveres da vida ecônomica, social e politica do
pais e aptos a fazer parte para a construção de uma sociedade mais justa.
Dessa forma, para garantir o isolamento social em todo o mundo, as escolas foram
fechadas, locais de entretenimento, de lazer, bares e comércios que não são considerados
essenciais, pois a necessidade de contenção da contaminação do Coronavírus forçou a
815
Segundo Dalben (2020, p. 23) “O principal problema das escolas fechadas para as
crianças e adolescentes é o problema da sociabilidade e socialização, incluindo aí, as
criancinhas muito pequenas que passam a conhecer o mundo a partir do convívio na escola”.
Muitos desafios e expectativas surgiram durante o planejamento das disciplinas. Escolas
particulares e públicas sentiram o impacto e o desafio de ensinar ao aluno, principalmente os
da primeira infância, em frente a telas de celulares e computadores. Essas ferramentas
tecnológicas se tornaram viáveis no momento estratégico de retomada com o ensino remoto.
Com isso as aulas presenciais foram substituídas por aulas remotas, sendo essa
alternativa encontrada para que alunos não fossem prejudicados com a interrupção repentina e
por tempo inderterminado das atividades escolares.
A atividade não presencial por mídia digital requer uma estrutura bem mais complexa
que a presencial, pois necessita que cada família disponha de computador com a cesso
à internet ou celular com disponibilidade de dados móveis para acessar a plataforma,
link, vídeo e ou orientações escolares. (MASCARENHAS; FRANCO, 2020, p.5)
Um outro grande desafio trazido pelo ensino remoto adotado durante a pandemia é não
deixar que a desigualdade entre alunos de escolas públicas e particulares cresça ainda mais. A
desigualdade social ficou mais evidente com a pandemia e colocou os alunos de escolas
públicas e regiões mais carentes em desvantagem educacional.
situação jamais imaginada e que nunca presenciaram, o que afetou drasticamente o processo de
ensino aprendizagem.
O nível e a quantidade de aprendizado não serão os mesmos que o aluno teria fora da
pandemia, o aluno aprenderá menos conteúdo da estrutura curricular, mas haverá um
aprendizado, inclusive de habilidades e competências que são fundamentais para o resto da vida
de estudantes para estas crianças e adolescentes que estão em casa.
Para tanto, a educação passou por uma constante metamorfose, conforme ressalta Nóvoa
(2015), por isso mudanças ocorridas devido ao isolamento social, colocou nas famílias uma
grande missão: ensinar os seus filhos. Nesse sentindo, “para que haja uma boa pedagogia, ou
seja, um bom ensino e uma boa aprendizagem, os alunos, a instituição de ensino, a direção, os
professores e as famílias devem caminhar juntos, visando à realidade do aluno” (TELEKEN;
RESSLER, 2020, p. 31).
Dessa forma, reforça-se a importância desse vínculo entre família e escola nesse período
de pandemia e suspensão das aulas presenciais, sempre em busca de uma relação de respeito e
harmonia, colocando como prioridade o desempenho e processo de aprendizagem das crianças.
Além disso, nesse momento, coube às famílias a busca por se envolver e se comprometer no
processo, para que seus filhos pudessem dar continuidade aos estudos durante as aulas on-line.
(TELEKEN; RESSLER, 2020).
Para Dalben (2019), as famílias precisaram de adaptações na sua rotina como também
nos espaços comuns das suas residências. Os pais transferiram seus escritórios para os quartos
e continuaram suas atividades profissionais em home office, espaços coletivos das suas casas
precisaram de adequações, ficando “amontoados”, dificultando cada vez mais a convivência e
privando as crianças de espaços para brincar.
Além das questões estruturais, as famílias enfrentaram o desemprego, as percas de
familiares vítimas de Covid, o processo de luto, pessoas adoecidas mentalmente pela ansiedade
e receio da pandemia. E ainda, aqueles familiares que por exercerem alguma atividade
considerada essencial, precisavam sair de casa para trabalhar, o que atormentava os demais
818
pobreza extrema, vícios na família, muitas pessoas morando na mesma casa, falta dos
recursos como espaço adequado em casa, computadores e internet para a realização
das atividades, além dos “descasos de algumas famílias” por não se preocuparem ou
se interessarem pelo aprendizado de seus filhos, porque os pais estão tendo que
realizar as atividades com seus filhos ou por terem dificuldades de realizá-las de forma
colaborativa (TELEKEN; RESSLER, 2020, p. 29).
Na mesma pesquisa, foi destacado que mesmo diante das dificuldades e da falta de
interesse de algumas famílias, muitas delas estiverem bem presentes e sempre em contato com
819
Nesse sentido, as famílias tem a responsabilidade, de através do diálogo com seus filhos,
orientá-los sobre hábitos de higiene, métodos de prevenção da Covid-19 e educação sanitária,
como forma de evitar o aumento de casos e propagação do vírus.
Frente ao cenário pandêmico, a psicologia escolar tem sido convocada a oferecer suporte
emocional a professores, estudantes e demais atores que fazem parte da escola, abordam
(PEDROZA; MAIA, 2021). E ainda, com esse novo contexto, alguns profissionais tiveram que
repensar e modificar sua atuação, assim como os professores, os psicólogos escolares também
fizeram parte desse grupo de profissionais que tiveram que se adaptar ao novo cenário.
No Brasil, em 26 de março de 2020, foi publicada a Resolução do CFP - Conselho
Federal de Psicologia Nº 4/2020, que “Dispõe sobre regulamentação de serviços psicológicos
prestados por meio de Tecnologia da Informação e da Comunicação durante a pandemia do
COVID-19”. Portanto, passou a ser autorizada a prestação de serviços psicológicos por meios
de tecnologia da informação e da comunicação a pessoas e grupos em situação de urgência,
emergência e desastre, bem como de violação de direitos ou violência, buscando minimizar as
implicações psicológicas diante da COVID-19 (CFP, 2020).
Ainda de acordo com Pedroza e Maia (2021, p. 96): “a atuação da psicóloga e do
psicólogo escolar, em uma perspectiva crítica, na qual acreditamos, busca a construção, de
forma colaborativa junto aos diferentes atores escolares, visando uma educação de qualidade e
uma escola mais democrática”.
Nesse sentido se fez necessário uma atuação de forma colaborativa, cabendo ao
psicólogo um trabalho que lhe permitiu dá suporte e atenção ao bem-estar das pessoas, inclusive
os docentes, alunos e famílias, que são atores principais do processo educativo (PEDROZA;
MAIA, 2021).
Com efeito, segundo Noal et al. (2020), podem vir sofrer alguma alteração
psicopatológica, entre um terço e metade da população que passa por uma epidemia, entretanto,
será o grau de vulnerabilidade a qual a pessoa está exposta que influenciará o impacto
psicossocial sofrido pela mesma. Portanto, o autor pontua em seu trabalho, algumas
características intensificadas no comportamento das pessoas devido ao isolamento social como:
tédio, solidão, tristeza, irritação, sentimento de impotência; medo de contrair o vírus, morrer;
821
3 METODOLOGIA
com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o
universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que
corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos
que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 1994, p.
21-22).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
evidência a participação dos pais no acompanhamento pedagógico dos seus filhos. Com as
escolas fechadas, as aulas foram transferidas para os lares dos alunos, o que provocou diversas
preocupações e dificuldades, constatando-se nas leituras realizadas para essa pesquisa, que
tanto as escolas e seus respectivos professores, quanto os familizares, precisaram se reorganizar
frente a nova rotina imposta pela pandemia.
Entretanto, faz-se necessário levar em consideração, as dificuldades enfrentadas por
ambos os lados. Os professores precisaram reinventar seu método de ensino, aprender a usar
tecnologias, e adquirir equipamentos para que tornasse viável a realização das suas aulas,
fazendo da sua casa também espaço reservado para desenvolver suas aulas. Fato esse que não
foi fácil, e principalmente da forma abrupta com a qual foi imposta aos docentes, e isso se
tornou um fator de adoecimento mental, provocando sofrimento e doenças ligadas a aspectos
psicológicos decorrentes do ambiente gerado pela Covid-19.
Além disso, os professores tiveram muitas dificuldade no relacionamento com os pais,
e na execução das atividades dos alunos. Muitas famílias, advinham de contextos socias
fragilizados, de pobreza, vícios na família, desemprego, adoecimento mental e falta de recursos
para a realização das atividades como internet e computador. Além desses fatores, algumas
famílias demonstraram desinteresse e pouca preocupação no processo de aprendizagem de seus
filhos.
Diante disso, têm-se falado muito no insucesso escolar dos alunos durante o ensino
remoto e suas, portanto, constata-se como uma das causas a falta de participação das famílias
na vida escolar dos seus filhos. Mas, corroborando as pesquisas realizadas, compreende que a
relação família e escola, facilita o trabalho do professor e oportunizam uma melhor
aprendizagem dos alunos.
Sendo assim, em virtude de tudo que foi mencionado, percebe-se que as o ensino remoto
devido ao isolamento social, surge como um agravante de saúde mental em todos os envolvidos
no contexto escolar: educadores, família e aluno. E é nessa conjuntura que ressaltamos o papel
da Psicologia Escolar, pois ela contribuirá na orientação a pais e professores, bem como como
no gerenciamento de crises, com o objetivo de reduzir os impactos do atual contexto.
Nessa perspectiva, é de essencial importância, visibilizar o papel do Psicólogo Escolar
e sua contribuição na construção de um espaço escolar harmonioso, preservando além das
habilidades educacionais, também as habilidades socioemocionais de todos os envolvidos
(professores, alunos e pais). Portanto, esse novo contexto vivenciado na educação devido a
826
REFERÊNCIAS
827
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escolares em contexto de pandemia: análise de práticas profissionais. Onde está a psicologia
escolar no meio da pandemia, p. 91-117, 2021.
RESUMO
Este trabalho busca compreender através do olhar da psicologia o impacto psicológico sofrido
pela adolescente durante sua gestação, levando em consideração todos os aspectos
psicossociais. Buscou-se entender se há relação direta ou indireta do meio externo para a
contribuição de prejuízos e ganhos para o desenvolvimento psicológico da gestante. Trata-se
de uma pesquisa bibliográfica através de um levantamento de trabalhos publicados no Scielo e
Google Acadêmico, dentro da data de publicação de 2014 a 2019, tendo exceções de trabalhos
que serviam como base para o assunto, posteriormente foram submetidos a uma revisão de
conteúdo dentro do tema abordado, usando como critério de exclusão aqueles que não estavam
alinhados com o objetivo da pesquisa ou fora da data estabelecida. Constatou-se no resultado
da pesquisa que é de grande importância o investimento na educação sobre a saúde, onde deve
haver politicas públicas voltadas ao planejamento reprodutivo, além de planejamento de ações
educativas.
Palavras-Chave: Adolescência, Gravidez, Educação.
ABSTRACT
This work seeks to understand through the perspective of psychology the psychological impact
suffered by the teenager during her pregnancy, taking into account all psychosocial aspects. We
sought to understand whether there is a direct or indirect relationship between the external
environment and the contribution of losses and gains to the psychological development of the
pregnant woman. This is a bibliographic research through a survey of works published in Scielo
and Google Scholar, within the publication date from 2014 to 2019, with exceptions of works
that served as a basis for the subject, later submitted to a content review within the topic
addressed, using as exclusion criteria those that were not aligned with the research objective or
outside the established date. It was found in the result of the research that it is of great
importance to invest in health education, where there must be public policies aimed at
reproductive planning, in addition to planning educational actions.
Keywords: Adolescence, Pregnancy, Education.
1 INTRODUÇÃO
1
Graduanda em Psicologia. Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail: druscillarnm@gmail.com.
2
Graduando em Psicologia. Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
joseealvesnetoo2014@gmail.com.
3
Graduanda em Psicologia. Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail: larasuiane@hotmail.com.
4
Orientador. Docente em Psicologia. Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
extensão@católicadorn.com.br.
831
A adolescência tem seu início de idade muito relativo. Para a Organização Mundial da
Saúde (OMS) o indivíduo é considerado adolescente a partir dos 10 aos 19 anos completos, já
para o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) pela lei 8.069 de 1990 no artigo 2º, é
considerado adolescente o indivíduo com 12 anos completos a 18 anos de idade, contudo a
Organização das Nações Unidas (ONU) considera como adolescente aquele que tem de 15 a 24
anos de idade.
Nesse contexto, Eisenstein (2005) e Ferreira e Nelas (2006) explicam que a adolescência
é marcada pela transição entre infância e vida adulta, um período que se caracteriza pelos
prenúncios do desenvolvimento físico, sexual, emocional, social e mental. O período da
adolescência tem como início as transformações corpóreas da puberdade, e a mesma apenas
termina quando o indivíduo consolida seu crescimento e a sua personalidade, dessa forma busca
gradativamente independência financeira, além do pertencimento a um grupo social. Apesar
disso, pode haver oscilação da juventude pelas diferenças de sexo, lugar, etnias, condições
econômicas e culturais, diante desses fatores o indivíduo pode ter sua juventude retardada ou
precoce.
É nesta fase que os adolescentes começam a se relacionar sexualmente e sem uma
orientação necessária, tornam-se suscetíveis a engravidarem (RODRIGUES, et al., 2018).
Consoante os dados divulgados em 2017 pelo Fundo de População das Nações Unidas
(UNFPA) pertinentes ao lapso de 2006 a 2015, o Brasil tem índices de 65 gestações para 1 mil
adolescentes de 15 a 19 anos, em conformidade com a agência da ONU, um em cada cinco
bebês é filho de mãe adolescente.
A gestação na adolescência era vista como uma demanda fora do campo de
responsabilidade da saúde pública, até por volta de meados do século XX, e os pesquisadores
também não tinham tanto interesse quanto nos dias atuais. (DIAS; TEIXEIRA, 2010).
Destarte, na contemporaneidade é notória a expansão do estudo de diversos temas
atrelados à gravidez na adolescência, como é visto na pesquisa de Bernardo e Monteiro (2015)
realizada com 40 adolescentes, com as idades gestacionais de 1 (uma) a 40 (quarenta) semanas,
dentre essa amostra 15 (37%) adolescentes tinham idades de 13 a 15 anos, e 25 (63%) tinham
16 ou 17 anos. Mostrando a escolaridade dessas adolescentes, no qual é observado que 19 (47%)
das pesquisadas haviam cursado de 4 a 9 anos de estudos escolares, enquanto 21 (53%) haviam
concluído ou iniciado o ensino médio, com 10 a 12 anos de estudos. A maioria delas 24 (60%)
não estava estudando no momento da pesquisa, e as outras 16 (40%) estudavam, ou pelo menos
832
2 REFERENCIAL TEÓRICO
34,2% baixo nível de resiliência (NRB) (p <0,05). Mostrando que os fatores psicoemocionais
ainda não estruturados revelam a fragilidade psicológica das adolescentes grávidas.
De acordo com uma pesquisa realizada por Ximenes Neto et al. (2007) a sexarca precoce
é um motivo gerador da gravidez devido ao desconhecimento de práticas preventivas e também
o possível não amadurecimento emocional da adolescente, que é coagida por chantagens do
parceiro, que na maioria das vezes é mais velho, e pede provas que comprovem o amor da
adolescente por ele. Essas provas se dão desde o defloramento do hímen, até o sexo sem
preservativo, com o intuito de usá-la sexualmente. Em contrapartida, também é mostrado que
se destaca como motivo impulsionador da gravidez, o desejo de ser mãe em 44,9% das
adolescentes entrevistadas, na qual a percepção em relação a gravidez se relaciona com
felicidade e realização pessoal.
Porém em uma pesquisa produzida no Programa de Assistência Multidisciplinar à Mãe
e à Gestante Adolescente, em 1996, foi visto que 42% das gravidezes foram intencionais, e 58%
acidental, corroborando o estudo de Moreira et al. (2008), na qual apresenta-se como um dos
resultados dos conflitos vivenciado pela grávida, o fato da gravidez ser indesejada, em que a
entrevistada de 15 anos relatou que sofre muito porque não achou que aconteceria com ela, a
de 16 anos entrou em desespero e pensou até em matar o bebê por causa da turbulência em sua
cabeça, e a de 18 anos teve ideias suicidas pelo fato do seu namorado não querer morar com ela
e por não poder dizer nada aos pais.
A gravidez na adolescência, induz em quase todos os casos, ao adiamento de sonhos, à
desistência de planos, colocando a mulher adolescente numa condição de desajuste social,
familiar e escolar, fazendo com que a mesma possa ter momentos de crises, na qual dependendo
do grau de ajuste da personalidade da adolescente, ela pode sair da crise resistente e fortalecida
ou pode entrar em uma depressão, tentar o aborto ou suicídio (ALVES et al., 2016; XIMENES
NETO et. al., 2007).
Em um estudo realizado com 12 gestantes adolescentes (15-19) que visitavam os
serviços pré-natais de uma unidade de saúde em Nairóbi, no Quênia, por Osok et al. (2018),
revelou-se em seus resultados que as adolescentes grávidas enfrentam quatro grandes áreas de
desafio, incluindo depressão, ansiedade e estresse por causa da gravidez, negação da gestação
e falta de cuidados. Esses desafios estavam ligados tanto a normas sociais e culturais vigentes
quanto a gênero e estrutura familiar tradicional. E em consequência dessas preocupações e
barreiras, ocorreu agravos negativos na saúde mental das adolescentes grávidas, como por
835
exemplo se sentirem inseguras sobre o futuro, sentirem-se sem forças e tristes por estarem
grávidas e sem apoio para cuidarem dos bebês.
De acordo com um estudo de abordagem mista realizado por Wilson-Mitchell, Bennett
e Stennett (2014), com adolescentes grávidas entre 12 e 17 anos, no qual foram aplicadas
entrevistas semiestruturadas com 30 adolescentes e grupos focais com 2 jovens, concluiu-se
que 23% apresentavam sofrimento psicológico e 6,6% ideação suicida. Observou-se também
que maioria das gestantes apresentou-se resiliente no momento da gestação, e essa capacidade
possuía forte relação com o apoio social recebido de suas mães.
Em contrapartida alguns resultados da literatura mostram que o apoio familiar nem
sempre se faz presente no período gestacional e que o relacionamento com os seus parceiros,
juntamente com o fator anterior, desencadeia muitas vezes o adoecimento mental da
adolescente grávida.
Para analisar o quadro psicológico e de que forma a gravidez afeta a adolescente gestante
e a sua saúde mental neste período, precisamos entender suas relações no âmbito familiar e com
o seu parceiro, entendendo que estas relações podem trazer aspectos positivos ou negativos.
De acordo com Costa et al. (2014) em pesquisa de ordem qualitativa descritiva e
exploratória com 11 casais, os resultados foram que as mães passaram a se considerar com
maior responsabilidade e relataram preocupação sobre os cuidados diretos com o bebê,
enquanto os pais também expressaram aceitação de responsabilização, porém, com maior
ênfase quanto ao provimento dos recursos materiais para a nova família constituída. Necessário
destacar que tal pesquisa foi realizada com casais que permaneceram juntos durante todo o
curso da gestação e, por conseguinte ao nascimento do bebê, contudo, essa realidade não
perpasse por todos os jovens pais, sendo observado, ocasionalmente um certo distanciamento
tanto emocional quanto de seus papéis sociais.
Acerca da reação tanto do parceiro quanto dos familiares à descoberta da gravidez, de
acordo com os resultados de Nascimento, Xavier e Sá (2011) pode-se comprovar que, no início,
geralmente trata-se de uma reação perturbadora por se tratar de um fato inesperado, mas que
com o tempo passa a ser melhor compreendido.
836
A falta de apoio dos familiares também é um assunto a ser observado e foi encontrado
em pesquisa realizada no Rio de Janeiro que 14,2% das adolescentes que não receberam suporte
familiar apresentaram quadro depressivo durante a gravidez. Neste mesmo estudo foram
coletados dados que 7,5% das adolescentes relataram ter sofrido violência física dos pais e 8,3%
temiam sofrer essa violência também por parte deles (PEREIRA et al., 2010).
A violência psicológica caracteriza-se por palavras e atitudes que venham a interferir de
forma negativa na vida da vítima, e mesmo não sendo de forma física, mas através de
humilhações, ameaças e insultos, essa se constitui como uma violência que pode ser praticada
pela família da adolescente, principalmente os pais, como uma forma de rejeitar a gravidez da
jovem, culpando-a pelo acontecimento inesperado. E como consequência disso, ao ser vítima
de constante repressão, a jovem pode acabar se excluindo, se reprimindo, diminuindo sua rede
de apoio.
Mediante pesquisa conduzida em São Paulo com adolescentes gestantes tem-se como
resultado um percentual de 47,5% das participantes sofreram violência psicológica
principalmente pelos pais (BARRIENTOS et al., 2013). O que permitiu associar esse evento da
gravidez à um evento desastroso que ocasionaria dificuldades intrafamiliares no futuro,
causando-as desde então um sofrimento psíquico.
Em conjunto com o sofrimento psíquico advindo da não aceitação da gravidez dessa
adolescente no âmbito familiar e conjugal, encontram-se também outros fatores como o da
evasão escolar precoce, associado a variáveis socioeconômicas e culturais.
Alguns autores em seus trabalhos feitos com a visão voltada para a gravidez na
adolescência denotaram que um dos principais fatores atrelados à gestação adolescente era o
baixo nível de escolaridade dos jovens.
Os resultados de Vargas et al. (2014) em uma pesquisa no Hospital Maternidade
Oswaldo Nazareth – RJ, mostram que 50% das entrevistadas tinham ensino fundamental
incompleto; 37,5% tinha o ensino médio incompleto e somente 12,5% tinha concluído o ensino
médio, mostraram também que a maioria das entrevistadas cursaram menos de 7 anos de estudo,
o que considera-se um baixo nível de escolaridade.
838
Divergente aos resultados citados precedentemente, outro estudo realizado por Nogueira
e Mendonça (2015) em seis unidades de Estratégia da Saúde da Família (ESF) em Ceres-GO
com 12 adolescentes gestantes com idades entre 10 e 19 anos, foi visto que 6 das 12
adolescentes possuem ensino médio incompleto e as outras 6 possuem nível médio completo,
logo os níveis de escolaridade das adolescentes era conciliável as suas idades.
Para Arceo-Gomez e Campos-Vazquez (2015) em um estudo feito no México os
números colhidos em seus resultados mostram que as mães adolescentes não são diferentes das
adolescentes que não são mães, desse modo, a baixa escolaridade pode não ser completamente
responsável pela gravidez precoce, porém mostram que pode haver uma redução de 1 e 1,2 anos
de escolaridade.
Alves, Muniz e Teles (2015) mostram que a média de frequência das adolescentes na
escola em sua pesquisa, foi de oito anos. Destacaram que 67,3% das jovens não estavam
estudando no momento da entrevista; 60,2% relacionaram a deserção da escola à gravidez e
65,4% das entrevistadas haviam abandonado durante o ano letivo. Em relação a renda familiar,
apresentaram que 82,2% das entrevistadas pertenciam às classes C e D sendo que 68% delas
tinham sua renda mensal familiar de até 4 salários mínimos, e a principal fonte de sustento
emanava dos companheiros ou pais.
Nogueira e Mendonça (2015) apontam em seus resultados que 7 das 12 entrevistadas
tem sua renda familiar igual a 1 salário mínimo, enquanto 3 delas disseram que sua renda
familiar mensal era de 1 á 2 salários mínimos e somente 2 relataram ter mais de 2 salários
mínimos mensal, deixando evidente um maior número de gestantes com baixa renda.
Em estudos realizados em Jeremoabo-Ba mostrou em dados que 24 (37) das
adolescentes entrevistadas tinham uma renda inferior a um salário mínimo, e em um ensaio
realizado no Rio de Janeiro, mostrou que nas áreas com as rendas mais baixas tem um maior
número de adolescentes grávidas. Parece ter um consenso em correlacionar a gravidez precoce
à condição socioeconômica. (RIBEIRO; SANTOS; SANTOS, 2015).
Perante os artigos analisados durante o desenvolvimento do trabalho, foi visto que além
de seus níveis escolares e suas rendas familiares, apontou uma maior predominância de gravidez
precoce entre mães de cor parda ou negra. É sabido que a etnia negra no Brasil retrata suas
situações socioeconômicas desfavorecidas em comparação com as demais etnias.
Vargas et al. (2014) identificaram que dentre as grávidas adolescentes havia uma
predominância de gravidez precoce entre negras (37,5%) e pardas (25%), enquanto havia uma
839
porcentagem de 37,5% entre brancas. Pode-se assim perceber que somando pardas e negras terá
uma porcentagem de 62,5% demonstrando uma predominância em mulheres “não brancas”. Os
dados socioeconômicos indicam que maior parte das negras está abaixo da linha de pobreza,
consequentemente a taxa de analfabetismo comparado as brancas é o dobro, estas tem um
acesso mais precário à saúde de qualidade.
Em um estudo feito em Caxias no estado do Maranhão. Silva, Silva e Menegon (2017)
mostraram que das 21 adolescentes grávidas 18 eram de cor parda (15/74,8%) e 3 eram de cor
negra (3/15,1%), esse resultado está de acordo com a realidade brasileira, onde a gravidez
adolescente atinge demasiadamente a população parda.
Diante dos três principais fatores apontados como possíveis causas da gravidez precoce
Ximenes Neto et al. (2007) trazem que a o baixo nível escolar ou nenhum escolaridade tem uma
influência na não consecução de práticas preventivas. A adolescente que opta por abandonar a
escola tem uma maior vulnerabilidade à gravidez precoce, sendo essa evasão um fator de risco
peculiar e importante para a gravidez adolescente. Pode existir uma unanimidade
correlacionada à baixa escolaridade e gravidez na adolescência.
3 METODOLOGIA
dentro da área de pesquisa do tema foram estudados e usados, utilizou-se também trabalhos que
não faziam parte da temática abordada.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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XIMENES NETO, F.R.G.; DIAS, M.S.A.; ROCHA, J.; CUNHA, I.C.K.O. Gravidez na
adolescência: motivos e percepções de adolescentes. Revista Brasileira de Enfermagem.
Brasília, v. 60, n. 3, p. 279-285, jun. 2007.
844
RESUMO
ABSTRACT
The pregnancy-puerperal period is seen as a time of intense transformations that requires care
for the woman, understanding all the aspects that envolve pregnancy and the importance of
multiple professional assistance to the various needs. This article aims to report a practical
experience of multidisciplinar work with pregnant women. Configuring itself as a descriptive
study of the Experience Report type, it exposes the experience of a group of pregant women
formed through an extension project and conducted by professionals from the Residency in
Maternal and Child Health. Four meetings were held by a team composed of nutritionists,
1
Assistente Social, residente em Saúde Materno-Infantil pela UFRN. E-mail: leticiiakarolline@hotmail.com
2
Nutricionista, Residente em Saúde Materno-Infantil pela UFRN. E-mail: lisbarboza@outlook.com
3
Psicóloga, Residente em Saúde Materno-Infantil pela UFRN. E-mail: yasminfalc@gmail.com
4
Nutricionista, Residente em Saúde Materno-Infantil pela UFRN. E-mail: isabellymtr@gmail.com
5
Orientadora, Enfermeira assistencial do HUAB. E-mail: andrea.barbara@ebserh.gov.br
845
nurses, psychologists and a social worker, targeting pregnant women aged between 20 and 38
years. It was possible to perceive the relevance of university extensions and multiprofissional
work, recognizing the need for health education actions during the gestational period and to
build moments of theoretical and practical experience that enable new forms of care and health
care. The meetings were important for the empowerment of women by providing access to
information and dialogue with the health team. Realizing the diverse needs and demands of
pregnant women it is important to highlight the importance of comprehensive care that
considers the social determinants of health.
Keywords: Multiprofessional team. Pregnancy. Women's Health.
1 INTRODUÇÃO
A maternidade se configura como uma realidade que exige adaptações, visto que é um
período de intensas transformações. Essas mudanças estão relacionadas à pluralidade e
integralidade da vida, que correspondem ao social, psicológico e físico, envolvendo muitas
vezes cuidados essenciais e específicos para essa fase, como acompanhamento nutricional,
apoio psicológico, realização de exercícios físicos, fortalecimento de rede de apoio familiar e
social, questões observadas através do acompanhamento de rotina no pré-natal (VIEIRA,
2013).
Ao levar em consideração essa importância do cuidado à mulher no período gravídico-
puerperal e entendendo a totalidade dos aspectos que envolvem a gestação, é imprescindível
prestar assistência múltipla às diversas necessidades. Isso pois, em razão da complexidade desse
momento, demanda-se da gestante uma organização quanto às questões relacionadas a tempo e
rotina, bem como articulação de acesso aos serviços de saúde e rede de apoio social e
profissional.
Logo, os profissionais de saúde que trabalham com gestantes devem possuir essa
perspectiva integral, para proporcionar satisfação e bem-estar à mulher. Norteados por essa
ideia, Falcone et al (2005) estabelecem a atuação multiprofissional como uma forma de
estimular o respeito e a confiança entre os envolvidos, desenvolvendo crescimento mútuo e uma
assistência de qualidade às necessidades apresentadas e seus significados singulares.
Sendo assim, o acompanhamento multiprofissional pode tornar-se uma ferramenta de
intervenção em grupos de gestantes. Com a presença de profissionais de distintas áreas, como
psicólogos, enfermeiras, nutricionistas, assistentes sociais e outros ligados à saúde, existe
potência para o surgimento de um ambiente acolhedor, onde as mulheres possam tirar dúvidas,
846
2 REFERENCIAL TEÓRICO
3 METODOLOGIA
dúvidas e necessidades demandadas. Encerrando com uma visita aos setores de acolhimento,
pré-parto, parto e puerpério e alojamento conjunto da maternidade, com a finalidade de
demonstrar o caminho a ser percorrido pela gestante e o seu futuro filho, aproximando-as do
serviço do qual em breve elas dariam entrada.
Ao final dos encontros sempre era realizado um momento de socialização entre os
profissionais e as gestantes, como espaço para que pudessem descrever suas opiniões sobre as
apresentações e os assuntos abordados, além de possíveis dúvidas.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como produto das atividades vivenciadas pelos profissionais de saúde, foi possível
perceber a relevância das extensões universitárias e reconhecer a necessidade das ações de
educação em saúde durante o período gestacional. Compreendeu-se, principalmente, a
importância da promoção da saúde na prática e observaram-se algumas limitações das ações
em grupo, como a adesão, visto que o número de participantes foi bastante limitado. Contudo,
o comportamento atencioso e ativo das participantes envolvidas, foi compreendido como ponto
de sucesso das atividades, entendendo que houve uma aceitação da ideia.
No primeiro momento, foi realizada a “dinâmica do espelho” com as participantes,
conduzido pelas psicólogas. A partir disso, foi possível colocar o serviço dos profissionais
presentes à disposição das mulheres, estabelecendo as diferentes formas de auxílio, bem como
conhecê-las, ouvindo a história da gestação, suas expectativas, compreendendo a realidade
social e familiar, construindo dessa forma um vínculo inicial entre os membros do grupo.
No segundo dia de execução das atividades, a equipe de nutrição ministrou uma
dinâmica educativa, denominada “Mitos e Verdades” na forma expositiva e dialogada sobre
alimentação saudável na gestação. Foram elaboradas afirmativas com as principais
problemáticas sobre a temática, descritas no quadro abaixo.
MITOS VERDADES
“O ferro não é importante para a formação “Posso tomar café durante toda a gestação”
do bebê”
“Quando estou enjoada devo comer menos” “Não posso comer doce todo dia”
As afirmativas foram expostas de forma visual e verbal e após cada uma delas as
gestantes deveriam indicar se, a mesma, era verdade ou mentira, e então era destinado um
espaço de fala para que compartilhassem as suas opiniões e conhecimentos prévios acerca da
temática, além de tirar dúvidas.
Sabe-se que a importância do ferro durante a gravidez é uma dúvida frequente, mesmo
que a necessidade da sua suplementação seja bastante conhecida, a justificativa para sua
exigência é um questionamento constante. Dessa forma, foi esclarecido que o ferro é um
nutriente fundamental para o transporte de oxigênio para a mãe e para o feto, por isso é essencial
na formação do bebê, além de ajudar na prevenção de anemia ferropriva, comum entre gestantes
(BRASIL, 2021).
Sobre o café, é importante que a gestante saiba que nada deve ser consumido de forma
exagerada, e o ideal é sempre manter o equilíbrio, seja na quantidade ou na frequência. Assim,
foi orientado o consumo de até uma xícara pequena de café ou chá com cafeína (como chá mate,
chimarrão, chás preto e verde, etc.) por dia, já que a cafeína em excesso pode aumentar o risco
de abortos, partos prematuros, baixo peso da criança ao nascer e natimorto (BRASIL, 2021).
Além disso, uma das intercorrências mais comuns da gravidez é a náusea, definida como
uma sensação desagradável da necessidade de vomitar, podendo ser acompanhada de outros
sintomas como sudorese, sialorréia e refluxo gastroesofágico. As medidas alimentares é uma
das abordagens não farmacológicas, tendo como orientações: adotar dietas mais leves, com
menos gorduras e em intervalos menores, e evitar a ingestão de líquidos nas primeiras duas
horas do dia (DUARTE, 2018).
Ainda, foram apresentados os 10 passos para uma alimentação saudável na gestação,
fundamentado em uma alimentação equilibrada e variada, recomendado pelo Guia Alimentar
para População Brasileira que considera o cenário da evolução da alimentação e das condições
de saúde da população (BRASIL, 2014), e distribuído o “planner da gestante”, material
complementar produzido com o objetivo de reforçar as informações e recomendações.
855
Durante toda a apresentação foi notório o entusiasmo das gestantes ao falar sobre
dúvidas acerca da alimentação que surgem durante o período gestacional, as quais não foram
possíveis sanar anteriormente com outros profissionais, devido à proximidade, o que facilitou
o aprendizado.
Posteriormente, no terceiro encontro, a equipe de psicologia propôs aos participantes
uma vivência prática utilizando um recurso terapêutico. A ideia inicial foi a construção de uma
linha de tempo, onde deveria ser exposta a percepção das mudanças decorrentes da gestação,
sejam aquelas visíveis ou não, como as mudanças físicas, hormonais, nos relacionamentos ou
no humor.
Desse modo, foi realizada psicoeducação sobre as mudanças relacionadas à maternidade
e os impactos na vida das mulheres, a qual envolve instrumentos psicológicos e pedagógicos,
com o intento de realizar prevenção, promoção e educação em saúde (LEMOS, 2017). Seu uso
se mostra de grande relevância pois auxilia que os pacientes/usuários compreendam seu
processo de saúde.
Utilizando o procedimento supracitado, o encontro foi conduzido com foco na temática
acerca das alterações emocionais significativas na gestação e puerpério e seus atravessamentos.
Paralelo a isso, foi destacado a importância do cuidado com a saúde mental e a busca por
profissional especializado quando necessário, além de reflexões sobre o novo papel social
relacionado ao ser mãe e a capacidade de articular a rede de apoio social e familiar.
Já a equipe de enfermagem, abordou a importância do aleitamento materno através do
uso de dinâmica de mitos e verdades, estimulando a fala das opiniões e conhecimento
preliminar das gestantes. As perguntas utilizadas estão descritas no quadro 2.
MITOS VERDADES
“Existe uma única posição ideal para “O bebê pode ser amamentado só no peito
amamentar?” por 6 meses e, depois disso, além de receber
outros alimentos, pode ser amamentado até
2 anos ou mais?”
“Criança que nasceu antes do tempo ou “O leite materno é o alimento completo para
muito pequena não pode mamar?” o bebê, pois tem todos os nutrientes que ele
precisa?”
Logo em seguida à cada pergunta, era realizada discussão detalhada dos temas
abordados, demonstração das técnicas de posicionamento e pega do bebê ao seio materno com
auxílio de mama didática e boneco, além de solucionar outras dúvidas que iam surgindo no
decorrer da dinâmica.
A escolha deste método, possibilitou uma ação consistente para enfatizar a importância
do AM, o que resultou em uma maior interação, resolução de questionamentos e
compartilhamento de pensamentos entre as gestantes, demonstrando boa aceitação desta
técnica.
Assim, permitiu-se que fosse realizado o aconselhamento em amamentação, que é uma
prática tão necessária, em seu âmbito individual ou coletivo, para estimular a continuidade da
amamentação através do apoio dado às mulheres, possibilitando por sua vez, a promoção de
saúde através da quebra de barreiras socioculturais que prejudicam o aleitamento materno
(ROLLINS, 2016).
A utilização de atividades educativas durante o período de pré-natal desponta como uma
estratégia relevante para o preparo das mulheres para o momento da amamentação. Segundo
Alves (2020), algumas mulheres afirmaram que enfrentaram dificuldades e complicações
durante o período do AM, aludindo que essas situações não foram discutidas satisfatoriamente
no período gestacional, dificultando a adaptação da mãe a este momento, prejudicando na
qualidade e no tempo de amamentar a criança.
Cabe destacar que a presença da enfermeira ou outro profissional de saúde no processo
de amamentar não deve se deter somente às dificuldades, mas deve ser ampliado ao
857
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BORGES, T.S; ALENCAR, G.; Metodologias ativas na promoção da formação crítica do
estudante: o uso das metodologias ativas como recurso didático na formação crítica do
estudante do ensino superior. Cairu em Revista, n. 4, p. 119-143, 2014.
JALAL, M. et al. The relationship between psychological factors and maternal social support
to breastfeeding process. Electron Physician. v. 9, n.1, p. 3561-9, 2017.
ROLLINS, N. C. et al. Why invest, and what it will take to improve breastfeeding practices?
Epidemiol Serv Saúde, v. 25, n. 1, p. 491-504, 2016.
RESUMO
ABSTRACT
1
Graduando em psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail: caiubi.gabriel@icloud.com
2
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail: rayanne-
paiva@hotmail.com
3
Graduando em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail: lucasvmc18@gmail.com
4
Professor orientador pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte, especialista em Gestão e Psicologia
Organizacional e mestrando no Programa de Pós-graduação em Saúde e Sociedade pela Universidade Estadual
do Rio Grande do Norte. E-mail: luanmartinspsi@gmail.com
862
analysis of the correlation between the two themes. Although unable to prolong the questions,
the article aims to guide further work that should address practical questions about the
knowledge discussed.
Keywords: telework, home office, burnout, mental exhaustion.
1 INTRODUÇÃO
Para Vasconcelos e Faria (2008), as relações entre trabalho e saúde psíquica são
estudadas por pesquisadores de distintas áreas como psicologia, administração, antropologia e
sociologia. Inicialmente as pesquisas sobre o tema foram realizadas pelo psiquiatra Christophe
Dejours a partir da Psicodinâmica do Trabalho, cujo objetivo estava pautado no estudo das
implicações psíquicas geradas pelo trabalho e pela rotina laboral.
A partir da Quarta Revolução Tecnológica iniciada no século XXI, a sociedade precisou
se modificar a uma nova realidade, assim, nesse período foram implementadas novas
tecnologias como a inteligência artificial, nanotecnologia e robótica, com o objetivo de inovar
e democratizar o acesso à internet, aos meios digitais. Com isso, Oliveira e Tourinho (2020)
afirmam que a zona social que anteriormente era física e presencial passou a ser remota, sendo
necessário, a partir disso, alterar o modo de funcionamento existente na sociedade.
As modalidades de trabalho e o trabalhador foram diretamente impactados com o
avanço tecnológico. Para Nilles (1976 apud Araújo e Lua, 2021), o teletrabalho se utiliza dos
meios digitais como computador e celular para ser realizado, é uma modalidade de trabalho que
não necessita de um envolvimento físico do colaborador. De acordo com a legislação brasileira
(Lei 13.467/17), o teletrabalho acontece fora do ambiente laboral e sem o controle da jornada
de trabalho por parte da empresa. Em contrapartida, o termo home office é popularmente
utilizado como um sinônimo para o teletrabalho, porém, a primeira expressão corresponde ao
trabalho em casa, contemplando, dessa forma, a realização das atividades laborais no ambiente
doméstico (OIT, 2016).
A partir da democratização do meio digital, as empresas passaram a aderir ao
teletrabalho devido a facilitação da realização das atividades, visto que podem ser feitas de
qualquer lugar e contribui para a redução de custos para a empresa. Porém, na mesma medida,
o colaborador sofre com a precarização do trabalho e com o aumento das jornadas de
expediente, fatores estes que, quando somados ao estresse, falta de motivação e qualidade de
vida no trabalho, influenciam de forma direta para o desenvolvimento de adoecimentos mentais
863
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O presente tópico contém as informações centrais da pesquisa, separadas nos pontos a
seguir.
3 METODOLOGIA
Para atingir os objetivos do presente trabalho, optou-se pela realização de uma revisão
bibliográfica. Tal método é utilizado para obter dados científicos precisos que possam delimitar
867
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Embora burnout e trabalho seja um tema recorrente nas discussões envolvendo saúde
mental e atividades laborais, poucos trabalhos se dedicam de fato ao tema proposto pelo
presente artigo. Entretanto, é possível estabelecer relações entre o home office e a síndrome de
burnout através das pesquisas realizadas.
De acordo com Oliveira e Tourinhos (2020), a democratização da tecnologia trouxe
mudanças sociais significativas para o trabalho. O home office, ou teletrabalho, por exemplo, é
868
resultado desse fenômeno, uma vez que a atividade trabalhista é desempenhada fora da empresa
utilizando tecnologias de informação/comunicação. Os autores ainda argumentam que embora
o home office permita uma maior flexibilidade dos horários de trabalho, o trabalhador acaba
confundindo os espaços de ambiente de trabalho com a própria moradia. Tais mudanças podem
acarretar o aumento de doenças relacionadas à atividade laboral, intimamente relacionadas à
síndrome de Burnout.
As manifestações físicas e mentais relacionadas à síndrome do esgotamento profissional
relatadas por Gonçales e Gonçales (2017) - insônia, fadiga, cefaléia, dores musculares, abuso
de álcool e outras drogas -, se mostram presentes também no espaço de trabalho remoto.
Uma pesquisa de Bouziri (2020) corrobora com os argumentos de Oliveira e Tourinhos.
A autora indica que o trabalho remoto pode desenvolver riscos ligados à alimentação, sono e
vícios. Além disso, alerta sobre a acentuação desses traços durante a pandemia da COVID-19.
Nesse aspecto, convém salientar que, segundo Rothe et. al. (2020), alterações no sono são
comumente associadas em indivíduos com Síndrome de Burnout. Dessa forma, se confirma a
ligação entre esgotamento mental e o trabalho online.
A desorganização dos ambientes, explicitada por Oliveira e Tourinhos, apresenta
concordância na obra de Araújo e Lua (2021). Para os autores, as interações familiares em casa
influenciam diretamente na execução do trabalho. Além disso, a maioria das casas não tem
suporte para as necessidades do trabalhador, afetando na qualidade de vida do trabalho
(ARAÚJO E LUA, 2021; BARROS E SILVA, 2010). De acordo com Fonseca e Pérez-Nebra
(2012) a modificação do local de trabalho induz à reflexão acerca da organização do tempo e
das atividades realizadas e dos conflitos entre trabalho e família. Dessa forma, compreende-se
que o trabalho remoto influencia no estabelecimento de limite entre o local de trabalho e de
descanso, já que a partir dessa nova modalidade tem-se a unificação desses ambientes fator
responsável pela expansão da jornada de trabalho (OLIVEIRA E TOURINHOS, 2020;
ARAÚJO E LUA, 2021).
As relações sociais também são afetadas pelo teletrabalho. De acordo com Rocha e
Amador (2018), a substituição dos encontros diretos com momentos à distância podem afetar
inclusive a motivação do trabalhador para realizar pausas na atividade. Ou seja, o funcionário
em home office gasta menos tempo com conversas alheias ao espaço de trabalho. Se no quesito
de produtividade esse é um aspecto bem-vindo, os autores argumentam que esse espaço é
importante tanto para o sentimento de pertencimento do sujeito dentro da organização como
869
para seu bem-estar mental, devido a manutenção das amizades e redes de apoio. Para Diehl e
Carlotto (2015), situações dessa natureza podem afetar o estado de espírito do sujeito que, aos
poucos, entra em desequilíbrio.
Segundo Rocha et. al. (2021), a pressão e o aumento das responsabilidades colocam em
xeque a saúde física e mental de sujeitos no trabalho remoto. O trabalhador, ao não conseguir
responder às atividades exigidas à altura, se frustra e deixa de lado o sentido do trabalho
(CASTRO, 2013; FRANCO, DRUC E SELIGMANN-SILVA, 2010). Oliveira e Tourinhos
(2020) concordam, argumentando que a cobrança exagerada das metas e o rigor no uso das
tecnologias da informação acabam por ocasionar a exaustão física e mental, que caracterizam
o burnout.
É evidente que a síndrome de burnout não é um adoecimento em virtude do teletrabalho.
As manifestações psíquicas e físicas da doença também podem acontecer em ambientes de
trabalho convencionais. Entretanto, as condições do trabalho online acentuadas pela pandemia
da COVID-19, podem acentuar os sintomas alusivos ao adoecimento (BOUZIRI, 2020).
De acordo com Santos e Baracat (2021) para que o esgotamento não seja concretizado,
o trabalhador necessita descansar e se desconectar do trabalho. Porém, o trabalho remoto pode
se tornar uma barreira para essa desconexão, causando ainda mais estresse ao sujeito.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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GÓES, G.; ANTÔNIO, J.; NASCIMENTO, S.; et al. Trabalho remoto no Brasil em 2020
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ago. 2022.
RESUMO
O presente artigo acerca da divisão sexual do trabalho numa perspectiva feminista na educação
básica teve como objetivo descrever e discutir a relevância da divisão sexual do trabalho para
a sociedade moderna, investigar como a divisão sexual do trabalho é abordada na educação
básica atualmente e apresentar formas mais adequadas de tratar o tema no âmbito escolar. A
presente pesquisa baseou-se no método de revisão bibliográfica narrativa e a seleção de artigos
foi feita através da análise temática. Nos resultados, observou-se que a construção histórica
acerca dos deveres de homens e mulheres moldou grande parte das relações sociais e tem forte
relevância ao considerar a divisão de tarefas domésticas e seus desdobramentos. Além disso, a
não preocupação de abordar o tema numa perspectiva feminista de gênero igualitária na
educação básica mostrou-se uma das principais problemáticas acerca disso, considerando a
educação como uma instituição geradora de opiniões. Assim, conclui-se que diante esse
contexto, a educação deve ter uma perspectiva libertadora e contribuir para a desconstrução de
estereótipos de gênero e a formação de sujeitos conscientes.
Palavras-chave: Trabalho. Educação. Mulher. Feminismo. Divisão
ABSRACT
This article on the sexual division of labor from a feminist perspective in basic education aimed
to describe and discuss the relevance of the sexual division of labor for modern society,
investigate how the sexual division of labor is addressed in basic education today and present
more appropriate ways of dealing with the theme in the school environment. This research was
based on the method of narrative literature review and the selection of articles was made
through thematic analysis. In the results, it was observed that the historical construction about
the duties of men and women shaped a large part of social relations and has strong relevance
when considering the division of domestic tasks and its consequences. In addition, the lack of
concern to address the issue from a feminist perspective of equal gender in basic education
proved to be one of the main problems regarding this, considering education as an institution
that generates opinions. Thus, it is concluded that in this context, education must have a
liberating perspective and contribute to the deconstruction of gender stereotypes and the
formation of conscious subjects.
1
Graduanda de Licenciatura em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte- E-mail:
jordanafeitosa2@gmail.com
2
Mestre em Psicologia Cognitiva, Especialista em Psicopedagogia e Neuropsicologia, docente da Faculdade
Católica do Rio Grande do Norte. E-mail: amanda.pereira@professorcatolicadorn.com
3
Docente da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte, graduada em Psicologia pela Universidade Estadual
da Paraíba (UEPB), com MBA em Gestão de Pessoas pela Universidade Potiguar (UnP). – E-mail:
maria.miranda@professor.catolicadorn.com.br
875
1 INTRODUÇÃO
2 METODOLOGIA
Dessa forma, a presente pesquisa foi realizada amparada pelo referencial teórico de
descrever e discutir a relevância da divisão sexual do trabalho para a sociedade moderna,
investigar como a divisão sexual do trabalho é abordada na educação atualmente e como esse
tema deve ser abordado no âmbito escolar, com enfoque textual no debate da educação básica.
Para Oakley (1987,p.43.), “o status moderno das tarefas domésticas é o de não serem
trabalho”. Dito isso, fica escancarada a problemática da divisão sexual do trabalho na sociedade
moderna aparece de forma contundente nas relações sociais atuais, visto que esse modo de
trabalho foi responsável por sustentar grande parte do sofrimento de mulheres ao redor do
mundo.
Acrescentando, (WOLF, 2018 e pg. 46 apud WARRING.s.d) diz que “os homens não
renunciarão facilmente a um sistema em que metade da população do mundo trabalha por quase
nada” e assim dispõe de uma forte critica sobre a dupla jornada cansativa e mal remunerada
que as mulheres enfrentam como uma forma de desvalorização de sua mão de obra e diligencia.
Assim, para começar a discutir sobre como a divisão sexual do trabalho afeta as relações
sociais existentes, é preciso pontuar sobre o conceito de trabalho dentro de uma sociedade
capitalista, considerando os papeis dos gêneros, já construídos, feminino e masculino. Nesse
sentido, Kehl (2016,p.53) constrói um solido entendimento sobre como a feminilidade foi
criada a partir de uma estratégia de conter as mulheres e reserva-las ao espaço privado, assim
como coloca em os deslocamentos do feminino que:
Essa construção diretiva de onde mulheres e homens devem estar, modulou o modo
como as relações sociais acontecem por muito tempo e suas ressonâncias podem ser vistas até
hoje. Visto que, a dicotomia entre o espaço público e privado ainda é uma questão. (SOUZA;
GUEDES; 2016)
878
Assim, homens são vistos como provedores e mulheres como cuidadoras. Realidade
essa que começa a ser questionada a partir de novas configurações sociais reivindicadas pelas
mulheres. Porém, essa divisão sexual do trabalho ainda permeia o elo entre homens e mulheres,
já que a noção de trabalho, seja remunerado ou não, permanece a mesma em sua essência.
Para Sorj, Fontes e Machado (2004), a definição do que é trabalho remunerado ou não
é perpassada pelos diferentes princípios da sociedade daquilo que é rentável para o mercado. O
trabalho doméstico seria sempre posto pela sociedade como o sustento pelo seu casamento,
portanto, seu dever. E é a partir dessa concepção de remuneração, que impera a noção de que
as tarefas domésticas são obrigações femininas, resultando também em salários mais baixos e
menor qualidade de empregos, isso quando articulado à esfera econômica pública
(BRUSCHINI, 2006).
Gurgel (2010) coloca a jornada intensiva de trabalho como uma das pautas feministas
de maior importância, destacando a discussão dessa problemática como um dos elementos para
a emancipação de mulheres a partir de uma ótica feminista de transformação social e, além
disso, reconhece a articulação histórica de mulheres que se mobilizaram a construir espaços de
lutas políticas.
Nesse sentido, o advento das Guerras Mundiais veio como um fator de renovação a essas
relações de trabalho; já que a partir dessa, as mulheres começaram a ocupar espaços na esfera
pública. A diminuição da mão de obra masculina nas fabricas corroborou para a inserção das
mulheres nesses espaços, configurando-se como um evento simbólico na luta feminina por
equidade de direitos. Porém, esse acontecimento histórico também revela a discussão de tripla
jornada da mulher na sociedade atual onde essa assume múltiplas funções de mãe na casa,
cidadã na polis e trabalhadora no mercado. (HOMEM, 2019)
Essa temática começou a ser estudada em diversos países, inclusive na França nos
inícios dos anos 70, servindo como objeto de estudo que serviu como potencializador do
movimento feminista, debate esse que o destacou como um problema e questionou esse lugar
de reprodução social gratuita pelas mulheres (CASTRO, 1992).
Dessa forma, Segundo Duarte, Spinelli (2019), entende-se que a divisão sexual do
trabalho é um fenômeno construído historicamente e bastante enraizado na sociedade atual.
Essa construção baseia-se principalmente em estereótipos de gênero criados estrategicamente
para subjugar a mulher em um papel de inferioridade. Esses estereótipos se dividem em uma
879
dada divisão sexual do trabalho diferenciou as tarefas que homens e mulheres deveriam realizar
fazer esse que rumina por toda uma experiência de vida e relação com o capital desses
trabalhadores. Essa força de trabalho pautada em grande desigualdade entre os gêneros serviu
como forte impulso a acumulação capitalista. Fator esse apenas possível devido a cumplicidade
dos homens nesse processo, que tinham o interesse convicto em dominar essas mulheres.
Assim, desenvolvendo a compreensão que o trabalho feminino não necessita de remuneração,
enquanto o deles usa dessa acumulação para lucrar.
Trazendo a discussão para a sociedade moderna, é possível recorrer ao paradoxo “tudo
muda, mas nada muda” das autoras Kergoat e Hirata (2007,p73), sobre a divisão sexual do
trabalho e suas nuances, pois segundas elas, as relações sociais de sexo entre homens e mulheres
formam a divisão do trabalho a partir de uma lógica de antagonismo, dominação e exploração.
Com base nisso, as autoras inserem o debate da consubstancialidade e da coextensividade. Esse
primeiro seria sobre a intersecção de classe, gênero e raça dentro de uma ótica de nível da
análise sociológica e o segundo sobre como essas relações se desenvolvem mutuamente. Assim,
as autoras colocam em pauta um ponto crucial ao pensar a divisão sexual do trabalho de forma
a reiterar que as mulheres continuam sendo as principais responsáveis pelo trabalho doméstico
e do cuidado a princípio da hierarquização dessa sociabilidade.
Segundo Biroli; Quintela (2020) o tempo de dedicação a tarefas domésticas é
inversamente proporcional a renda. Essa colocação resume de forma concreta as modificações
que a divisão sexual do trabalho pode assumir ao considerar, de modo coextensivo, as relações
de poder existentes nos quesitos sociais, raciais e de classe. Assim, é de unanimidade
estabelecer o vínculo entre mulheres no trabalho (remunerado ou não) e a precarização social,
levando em conta o debate de consubstancialidade e da coextensividade que as autoras colocam
em cheque. Os dados existentes acerca disso esclarecem um pouco sobre essas relações.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) DE 2015
(IBGE, 2016), a média de dedicação semanal dos homens a tarefas domestica é de 10,8 horas,
menos que o dobro das 24,4 de horas dedicadas pelas mulheres. Tendo uma variação entre
negros e brancos.
Ainda, ao falar sobre a divisão de tarefas domesticas e seu vínculo com a construção de
uma feminilidade, é de extrema relevância recorrer a Friedan (1971), pois a autora conceitua a
Mística Feminina como a realização da feminilidade sendo o maior valor na vida de uma
mulher. Preservando a imagem de intuitiva e próxima a criação da vida, remetendo a
881
maternagem como o destino. E nisso também, o papel de dona de casa e esposa-mãe que detém
as tarefas de passar, lavar, cozinhar, cuidar dos filhos e da casa. Durante sua obra, a autora
critica veementemente esses papeis construídos e suas palavras inspiraram a revolta das
mulheres americanas numa perspectiva de não mais aceitação desse lugar.
Freire (2017), um dos maiores educadores da história, critica veemente a educação não
relacionada à realidade dos sujeitos, considerando que para uma transmissão de conteúdo
significativa, essa interlocução é imprescindível. Isto é, ao falar sobre educação libertadora, é
de extrema valia associar o conteúdo com a vida dos estudantes, assim fazendo uma educação,
de fato, significativa.
Dessa maneira, é possível articular esse aparato histórico com os dizeres de Freire
(2017) acerca da educação à medida que se entende o tema da divisão sexual do trabalho como
um atravessador da realidade brasileira. Assim, perpassando também a vida de estudantes
meninos e meninas da educação básica. Através do que o autor expõe com sua tese a partir da
frase “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si,
mediatizados pelo mundo” (FREIRE,2017, p.95), o tema da divisão sexual do trabalho torna-
se mais urgente. Visto que esse é uma das temáticas que passam pelas vivências desses sujeitos.
Além disso, Freire (2017) nos convoca a pensar a educação como uma dialógica entre a sala de
aula e as relações como o mundo.
Segundo Roussau (1995), a educação está associada, a partir de uma compreensão
moderna, a perfectibilidade do ser humano. Ou seja, o autor coloca a educação como o caminho
possível para o avanço do ser humano como tal. E que isso reflita na sociedade de forma a ser
um fator determinante para o progresso da ciência e da democracia, tal qual a erradicação de
problemas sociais.
Portanto, nota-se que um dos caminhos possíveis para a transformação da sociedade é
pelo modo educacional, partindo desde a educação básica. E ao tratar-se da divisão sexual do
trabalho, entendendo como as tarefas domésticas devem ser compartilhadas dentro de casa, a
proposta não seria diferente. É nessa lógica da educação, que a construção histórica sob a
relação de homens e mulheres, começa a transformar-se. Isso porque, assim como traz Kramer
(2006), é imprescindível compreender o contexto social de uma criança para poder refletir sobre
o papel da educação e como essa atua de forma direta nas relações dessas famílias com a
sociedade de classes.
Ademais, segundo Beauvoir (2020,p.17) “além dos poderes concretos que possuem,
revestem-se de um prestígio cuja tradição a educação da criança mantém: o presente envolve
passado, e no passado toda a história foi feita pelos homens.” Assim, o autor escancarava a
educação como mais uma estrutura dominada pelo sexo masculino. De acordo com ela, a classe
dominante que detém o poder sobre essas estruturas molda a sociedade de forma que a mulher
continue no lugar de Outro; não tendo assim, suas demandas ouvidas e esclarecidas.
Pensando nisso e entendendo a forma como a educação pode atuar de maneira a
colaborar para a manutenção social de valores já estabelecidos, é importante que se veja a escola
como um lugar de transformação, põe a escola como o lugar mais apropriado para se trabalhar
as diferenças e diversidade, visto que nesse espaço, por ser inserido dentro de uma sociedade
883
binária, vai reproduzir esses estereótipos de gênero, corroborando para esse pensamento em
comum. Porém, é em consenso que se discute a escola como um potencial espaço de
transformação social, gerador de meninos e meninas dentro do princípio da isonomia
(OLIVEIRA; SANTOS, 2019).
Historicamente excluídas da educação, meninas e mulheres enfrentaram intensos
percalços para serem inseridas no processo de escolarização. Só a partir de alterações
sociopolíticas de democratização do ensino no Brasil do século XX, mudanças passam a
perpassar a realidade do País, contexto social conhecido como “hiato de gênero” que veio como
uma tentativa para reverter essas desigualdades no âmbito escolar (ROSEMBERG,
MADSEN,2011, p.11).
Essa realidade traz a luz todo um contexto de negligência e negação de direitos que essas
meninas e mulheres suportaram no processo de escolarização. De acordo com (Vianna, 2001
e p.93 apud Scott, Wallach) vivência essa alicerçada pela escola como objeto de manutenção
de significados masculinos e femininos a partir de uma lógica sexista das relações de poder,
afetando o corpo docente, tal como os estudantes; corroborando para uma demarcada divisão
sexual do trabalho. Assim, é observável de forma prática, a escola como um local que por muito
tempo, não se interessou em dar de conta de demandas reais dos estudantes.
Acerca dessa problemática, Rosemberg (2011), escancara sua gênese a partir da não
discussão desses aspectos dentro de espaços escolares, acadêmicos e da própria comunidade
cientifica. De acordo com a autora, até 1980 esse debate era escasso dentro da educação e se
concentrava apenas em aspectos de classe, desconsiderando gênero, geração e raça. A discussão
acerca de feminilidade e masculinidades vem como algo novo e tenta se estabelecer como
prático dentro do âmbito da educação, afim de problematizar como essas relações acontecem
dentro de escolas e repercutem para a sociedade de forma geral.
Nessa mesma lógica, Brites (2013), indaga sobre a recente inserção do debate acerca da
divisão das tarefas domésticas nas produções acadêmicas brasileiras. A autora traz à tona a
importância dessa discussão dentro das escolas e como uma estratégia de implicar a
comunidade a refletir sobre como essa divisão é feita entre homens e mulheres, meninos e
meninas. Reconhecendo o diálogo dessa pauta como conquista de lutas feministas, a autora
corrobora para uma nova forma de se pensar essa divisão do trabalho doméstico a partir da
educação.
884
A autora Hooks (2017), elucida a discussão acerca de uma educação que não colabore
com a manutenção do status quo e seja transformadora no sentido de direcionar a teoria junto à
população de maneia libertária. Assim, “a teoria não é intrinsicamente curativa, libertadora e
revolucionaria, só cumpre essa função quando lhe pedimos que o faça e dirigimos nossa
teorização para esse fim” (HOOKS,2017,p. 86).
Com isso, entende-se a necessidade de repensar os valores da educação no tocante a
assuntos que de fato, façam parte do contexto social dos educandos, partindo do pressuposto
que essa transmissão do saber deve ser dialógica e direcionada para a transformação da
realidade.
Congruente a isso, Foucault (2013) problematiza as relações de poder que constroem a
noção de conhecimento diante os sujeitos. De acordo com ele, as relações de poder
estabelecidas dentro da sociedade é que vai, intencionalmente, definir o conhecimento e o
acesso desse as pessoas. O autor, ainda enfatiza que esse saber é algo inventado pelo homem, e
não intrínseco a ele. Então, os valores sociais construídos são, de fato, voláteis e passiveis de
mudança, visto que são as relações entre os sujeitos que definem os discursos que os circulam.
Ainda, Foucault (2013) afirma que esses discursos, aferidos como verdade, são
formados a partir de comportamentos, linguagens e valores, refletindo diretamente nas relações
de poder, de forma simultânea. Discursos esses que podem, inclusive, aprisionar os indivíduos;
à medida que se percebe a formação desse saber como uma forma de controle da sociedade. Tal
conhecimento, sempre amparado pelas relações de poder entre os sujeitos, deve atentar-se a ir
de encontro a essa lógica de controle, trabalhando de forma a construir espaços de saber
libertadores e cientes das novas demandas da sociedade atual.
Afunilando a discussão para o papel da educação básica, Sandro; Tania (2019) colocam
a importância dos educadores estarem atualizados acerca dos construtos sociais e como esses
886
interferem na pratica de educação. De acordo com os autores, a escola deve ser um ambiente
que trabalhe a partir de aprendizagens significativas e esclarecimento de dúvidas consciente no
tangente a identidade e sexualidade, por exemplo. Visto que esses são temas que perpassam a
realidade dos educandos, sendo primordiais em seu processo de formação. Nesse sentido, a
escola deve se colocar como um espaço livre de julgamentos e preconceitos, servindo como
acolhimento a crianças e suas questões.
Além disso, Louro (2011), alerta os educadores, de maneira geral, a considerar de forma
mais enfática os processos históricos, econômicos, políticos e culturais nos processos
educacionais, entendendo a escola como um local importante no quesito de formação dessas
estruturas. Louro amplia a discussão sobre escola, gênero e sexualidade pois levanta essa pauta
no sentido de estabelecer um vínculo direto e indissociável entre essas questões e os sujeitos
educandos, que por passarem grande parte de seu tempo nas escolas, tem seus corpos e mentes
atravessados por essa.
Ainda nessa lógica, Louro (1999), traz à tona o debate sobre como as escolas podem ser
espaços de controle e massificação dos corpos. Conteúdos, brincadeiras e padrões culturais
perpetuados dentro do ambiente escolar servem como parâmetros daquilo que seria aceito pela
sociedade, sendo delimitador da liberdade e senso crítico dessas crianças.
Essas práticas, construídas pela sociedade, são reproduzidas nas escolas de maneira
espontânea, tendo em vista que essa instituição também é formadora desses conceitos. Bordieu
(2010), aponta para a escola como um lugar de interiorização cultural, já que se localiza como
espaço para a socialização desses sujeitos, onde eles aprendem e reaprendem como estabelecer
vínculos e estar em sociedade.
Levando em consideração os aspectos supracitados, (SILVA; SANTOS 2019 apud
LIMA; ZANLOEWNZI, PINHEIRO; 2012) trazem a influência que as crianças sofrem nas
escolas como fator primordial ao se pensar a formação de cidadãos críticos e conscientes.
Enxergando o cenário escolar como espaço de formação, tem-se a responsabilidade de exercer
uma função social consciente e responsável com esses sujeitos por meio de uma educação
científica e humanizada.
Ao compreender a escola como uma instituição de extrema relevância para a
manutenção ou não do conhecimento estabelecido pela sociedade, faz-se necessário articular
esse saber com o contexto social e as atuais demandas desse. Como já colocado anteriormente,
a divisão sexual do trabalho edificou-se a partir de uma construção sócio-histórica das relações
887
entre homens e mulheres. Santana (2012) traz, nessa perspectiva, que ainda hoje, o imaginário
social baseia-se na concepção de a responsabilidade de cuidar de filhos e da casa é inerente as
mulheres. Construção essa que serve de alicerce para todas as outras formas de convivência
entre os sujeitos.
Dessa maneira, como coloca Freire (2017), só a partir da situação presente e das
aspirações do povo, deve ser organizado o conteúdo programático desses sujeitos. Ou seja, a
educação deve estar interligada a realidade do povo. Furlan (2013), traz que uma das tradições
mais predominantes nas relações de mundo dos sujeitos se dá a partir das brincadeiras das
crianças, considerando esse fazer como crucial no processo de formação desses sujeitos. De
acordo com o autor, são nessas brincadeiras que meninos e meninas aprendem a como se
comportar no futuro, pois há a naturalização desse fazer desde a infância. As meninas
reservadas a brincadeiras de cozinhar, passar e cuidar da casa. Enquanto meninos passeiam
livremente por brincadeiras com aviões, carros, super-heróis.
Ademais, Silva (2016), enfatiza que é por meio da educação que essas brincadeiras são
naturalizadas, criando estereótipos do que seria certo para meninos e meninas, já que são nesses
espaços de convívio que há a maior parte da socialização. Assim, é na escola também que esses
papeis de gênero são mantidos, sendo corresponsabilidade dessa instituição junto com a
sociedade em ser um espaço de transformação desses conceitos, já que funciona como
importante meio de convivência formativa de sujeitos cidadãos.
Concordante a isso, Santos, Araújo e Reis (2018), enfatizam como as instituições
escolares podem servir como estruturas violentas ao colaborarem com a manutenção de
desigualdades entre meninos e meninos. E isso se dá desde as cores usadas nas crianças, as
leituras, brinquedos e até mesmo as funções ocupadas por elas dentro das escolas.
Em uma pesquisa qualitativa com abordagem de estudo de caso, Machado; Brenda; Solange
(2017) avaliaram o que as professoras da educação básica sabiam sobre a temática de gênero e
como essas educadoras respondiam essa questão na pratica docente.
A pesquisa foi realizada em uma instituição pública de ensino municipal da cidade de
Fortaleza no Ceará com seis professoras de ensino fundamental e infantil. As perguntas eram
baseadas em temáticas de gênero, incluindo a formação de meninos e meninas e a divisão de
tarefas entre eles dentro da escola.
Nos resultados, as autoras encontraram uma realidade de não saber diante do tema. Nas
respostas, deu-se unanimidade no que diz respeito a consciência das docentes sobre não saber
888
como lidar quando demandas relacionadas a gênero apareciam entre os alunos. De acordo com
os professores, nunca houve nenhuma formação nesse sentido e essa falta reverbera na prática
educacional, já que essas demandas chegam nas escolas através do comportamento, interação e
discurso dos alunos. Sobre os conteúdos programáticos, o observado foi que essa questão nunca
foi mencionada dentro de uma abordagem social, apenas biológica e corroborando para a lógica
predominante biologizante e binária dos corpos.
Além disso, em outra pesquisa qualitativa realizada por Machado; Brenda; Genifer
(2015), o objetivo foi analisar as concepções acerca do feminismo e machismo entre as
professoras de uma Escola Municipal em Fortaleza no Ceará. A pesquisa foi realizada através
de entrevistas semiestruturadas e eram baseados no que essas educadoras entendiam por
machismo e feminismo e como esses construtos sociais perpassam pela educação básica.
Considerou-se interessante abordar os resultados dessa pesquisa por entender que a
divisão sexual do trabalho se dá como uma temática intrínseca ao movimento feminista, como
já citado anteriormente. Assim, os resultados dessa pesquisa se mostraram consoantes ao da
supracitada. Quase em unanimidade, as professoras demonstraram insegurança ao tratar do
tema e relataram sentir o despreparo acerca desse, já que nunca houve nenhum tipo de
direcionamento dessa ordem. Também relataram situações práticas onde necessitaram abordar
esse assunto e contam que o fizeram dentro de suas possibilidades a partir de vivencias pessoais
e dentro daquilo que consideraram o ideal. Para mais, as próprias professoras propõem um
momento de formação continuada onde possam aprender mais sobre a temática e abordá-la de
maneira responsável entre alunos meninos e meninas.
Portanto, através dessas pesquisas é possível obter uma amostragem sobre como a
educação básica trata sobre a temática de gênero, inclusive a divisão sexual do trabalho; debate
esse que escancara as formas de relações entre meninos e meninas desde cedo. Congruente a
isso, Gomes e Silva (2002), problematizam os currículos escolares que silenciam os sujeitos e
impõem um modo normativo e desigual entre esses. Entendendo assim, que a escola deve ser
um local que se implique nesse debate de forma consciente, não corroborando para a
manutenção de preconceitos enraizados.
Hooks (2019), de forma a crítica a educação não libertadora, coloca a teoria como um
conhecimento que pode ser usada para silenciar, censurar e desvalorizar vozes teóricas
feministas. Porém, esse mesmo conhecimento teórico pode servir como fonte de disseminação
de importantes ideias, pensamentos e visões que podem ter função de cura e libertação. Assim,
889
entende-se que a educação não se coloca como algo neutro da sociedade, sendo sempre
intencional estratégica. E quando usada com fins conscientes de transgressão, funciona como
uma potente força motriz para a transformação social.
“O que distingue a liderança revolucionária da elite dominadora não são apenas seus
objetivos, mas o seu modo de atuar distinto.” (FREIRE,2017,p. 226). Portanto, com essa
elucidação do educador Paulo Freire, fica imprescindível compreender a educação libertadora
como a alternativa possível a construir outra realidade. No que diz respeito a temática de gênero
e a divisão sexual do trabalho, não seria diferente. A abordagem desses assuntos dentro da
educação básica deve ser pautada nesses princípios libertários e dialógicos de compreensão e
respeito. Assim, entendendo a relevância dessa temática na vida dos educandos e como essa é
abordada atualmente na educação básica, torna-se possível apresentar formas mais equivalentes
de tratar essa realidade dentro do meio educacional.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
formação adequada acerca disso. Assim, o ideal seria trabalhar de forma continuada e assertiva
esses pontos na educação básica numa perspectiva de elucidar alunos e professores.
Por fim, considerando a importância da divisão sexual do trabalho para a sociedade atual
e como essa temática é abordada na educação básica, é importante que sejam pensadas
estratégias compatíveis com essa realidade para trabalhar o tema com educadores e educandos.
Sendo assim, com os princípios de educação libertadora, o debate da divisão sexual do trabalho
deve ser inserido nas grades curriculares da educação básica partindo do pressuposto do diálogo
e construção partilhada de saberes, repensando as funções entre meninos e meninas dentro da
escola, como o gênero é retratado nas aulas e até mesmo se a transmissão dos docentes são
estratégias ideais para que se pense uma nova realidade.
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894
RESUMO
1
Artigo monográfico Científico à disciplina de Trabalho de conclusão de curso, como requisito necessário para
obtenção do título de Licenciado em Psicologia, pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte.
2
Graduando em Psicologia, pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
s.augusto@academico.ifrn.edu.br
3
Bacharelado e licenciado em Psicologia pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Mestrando no
Programa de Pós-graduação em Saúde e Sociedade pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte
(UERN). Docente no curso de Psicologia da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
luan.souza@professor.catolicadorn.com.br.
895
1 INTRODUÇÃO
Hoje existe uma proposta empregada por algumas organizações voltadas à educação
corporativa como uma estratégia que envolve as competências organizacionais e as
competências humanas, isto é, um processo de aprendizagem que envolve planos, metas e
resultados nas estratégias empresariais, aumentando seus rendimentos através da valorização
do capital humano.
A educação corporativa consiste no desenvolvimento do conhecimento dos
colaboradores promovido dentro do ambiente de trabalho como estratégia em busca do
diferencial competitivo no mercado. Esse conceito, dentro do espaço empresarial, tem seu
objetivo voltado para um aprendizado contínuo em que o capital humano esteja sempre em
constante processo de aprendizagem.
Na conjuntura atual do mercado de trabalho, a psicologia organizacional tem se
consolidado cada vez mais dentro desse cenário, pois tem exercido um papel fundamental em
virtude das constantes mudanças globalizadas que acarretam novas demandas e novos desafios
no empreendedorismo, por isso várias empresas e instituições tem buscado estratégicas como
essa uma alternativa de alavancar seus rendimentos.
Nesse sentido, a psicologia organizacional e do trabalho (POT) traz uma discussão
envolvendo o psicológico e o comportamento humano, visando a analisar suas relações no
âmbito de trabalho. Essa questão organizacional busca trabalhar as questões relativas aos
colaboradores de forma em geral em busca do crescimento empresarial. Enquanto o trabalho é
voltado para a questão do trabalhador em específico no seu ambiente ocupacional.
Para implementação da POT dentro de uma empresa, é necessário um profissional de
psicologia especializado na área dentro do quadro colaborativo de recursos humanos (RH), com
isso essa atuação em conjunto visa a analisar o sistema atuante da organização, o
comportamento e atuação dos colaboradores de forma geral e individual.
No setor de RH, essa crescente inserção da psicologia, em seu espaço de atuação, tem
sido uma ferramenta indispensável nas estratégias empresárias, objetivando estudar o
comportamento humano, gerenciamento, liderança, motivação, treinamento, processo de
seleção, recrutamento dentre outras atribuições que podem alavancar melhores níveis
qualitativos e quantitativos nas organizações.
Nesse contexto, surgem as seguintes indagações que fundamentam o desenvolvimento
deste estudo: Qual a importância da psicologia organizacional e do trabalho para uma empresa?
896
Qual a função do psicólogo nesse campo de atuação? Como a educação corporativa pode
beneficiar o desenvolvimento da empresa?
Através dessas problemáticas, o presente trabalho tem como objetivo geral analisar a
importância da Educação Corporativa e atuação da Psicologia Organizacional e do Trabalho
dentro das instituições.
Como base nesse objetivo inicial do artigo, foram definidos os seguintes objetivos
específicos:
a) Analisar a educação corporativa como estratégia de desenvolvimento empresarial;
b) Descrever o papel do psicólogo dentro das organizações.
Justifica-se a escolha pela temática, inicialmente, de caráter pessoal, em virtude da
familiaridade e o contato com a prática profissional e educacional relacionados aos assuntos
envolvendo a área de recursos humanos em torno da psicologia organizacional e do trabalho. A
motivação pelo desenvolvimento no meio acadêmico e social está relacionada com a
participação ativa da psicologia organizacional dentro das empresas, através de uma educação
corporativa, além do diferencial competitivo como uma ação que desenvolve melhores
condições de trabalho e uma valorização do capital humano.
Dessa forma, com a produção deste, estudo pretende-se contribuir na literatura com uma
bibliografia, trazendo um assunto de fácil entendimento e compreensão, sendo abordada a
importância de uma cultura educacional corporativa que está cada vez mais consolidada no
âmbito empresarial e, como um importante elemento estratégico explorado através da POT,
analisando as relações envolvendo colaborador-trabalho-organização.
Os processos metodológicos desenvolvidos neste estudo se pautaram numa pesquisa
bibliográfica, percorrendo um caminho qualitativo, com base nas concepções e conceitos de
autores como: Eboli (2004, 2008); Fiorelli (2004); Esteves e Meiriño (2015); Gondim, Souza e
Peixoto (2013); Meister (1999); Mastey (2020); Pereira (2016); Quartiero e Bianchetti (2005;
Spector (2009); Zanelli e Bastos (2004); entre outros citados ao decorrer do trabalho.
Assim, este trabalho encontra-se organizado em três seções. A primeira, visa a introduzir
o conteúdo abordado sobre a temática. A segunda, por sua vez, é o desenvolvimento da
pesquisa, isto é, a abordagem bibliográfica, que busca falar sobre a educação corporativa e sua
importância dentro das instituições, como também a consolidação da psicologia organizacional
e do trabalho, sua importante atuação como parte do RH das empresas e qual o papel do
psicólogo dentro desse cenário empresarial. Por fim, as considerações finais abordam os
897
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 MÉTODOS
O presente estudo trata-se de uma pesquisa descritiva e explicativa, segundo Gil (2008,
p. 28), a primeira tem como “[...] objetivo primordial a descrição das características de
determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis.”
Enquanto que explicativa, como o próprio nome já diz, conforme Gil (2008), busca identificar
os fatores que contribuem para a ocorrência determinadas situações.
Como ferramenta de busca e coleta de dados, teve como delineamento a pesquisa
bibliográfica, segundo Gil (2008), é uma pesquisa baseada em matérias já realizadas, como
livros, dissertações, trabalhos de conclusão de curso, artigos, revistas entre outras fontes
literárias. Na visão de Lakatos e Marconi (2005, p. 158), “[...] a pesquisa bibliográfica é um
apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem
capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados com o tema”.
Com base na investigação literária, a pesquisa foi dividida em dois momentos. O
primeiro momento destinou-se à busca de matérias literários que abordam a temática, a qual
teve como auxilio o Google Acadêmico, Revistas Periódicas, Anais e Bibliotecas
Universitárias, utilizando buscas com palavras-chaves como: Educação Corporativa; A
importância da Educação Corporativa dentro das organizações, Características e Competências
da Educação Corporativa; Psicologia Organizacional e do Trabalho; O papel do psicólogo nas
organizações.
O segundo momento da pesquisa são a parte da organização e a seleção dos materiais
disponíveis, fazendo a leitura e analisando de forma avaliativa, adotando critérios e exigências
como as principais obras que tratam da temática e obras que trazem uma argumentação objetiva
898
e de fácil compreensão. Com isso, fazendo uma revisão bibliográfica através de Livros, Artigos
e Trabalhos de Conclusão de Curso.
Nesse contexto, a abordagem deste estudo caminhou para uma pesquisa de cunho
qualitativo, tendo como foco a representatividade que não pode ser quantificada, isto é,
descrever, compreender e interpretar a temática investigada.
No ano de 1950, nos Estados Unidos, começa a surgir uma nova abordagem no cenário
empresarial como diferencial competitivo, na qual a Educação Corporativa começa a ganhar
destaque como estratégias das empresas que estavam dispostas a obter a liderança do mercado
com objetivo de ganhar vantagem no mercado (QUARTIERO; BIANCHETTI, 2005).
Com o passar dos anos, foram criadas instituições (universidade e centros de ensino)
corporativas, que tinham como missão capacitar colaboradores para um melhor
desenvolvimento de suas atribuições diárias e para uma perspectiva futura. Dessa forma, “[...]
as empresas perceberam que toda a força de trabalho deveria ser qualificada, pois o aumento da
produtividade deveria ser responsabilidade de todos os funcionários” (CARVALHO, 2014, p.
70)
Contudo, no Brasil, essa proposta educativa empresarial só veio aparecer em meados do
final do século XX, com as novas mudanças de posturas e práticas por parte das organizações
como diferencial competitivo, influenciada também por ser uma proposta que já era realidade
nos países desenvolvidos como o Estados Unidos, conforme pode ser visto por Mastey (2020,
p. 13):
O termo Educação Corporativa surgiu com mais propriedade a partir da metade do
século XX, consolidou-se nas décadas de 1980 e 1990, e no começo do século XXI,
tratando-se de uma prática voltada ao que se refere à formação, treinamento e
desenvolvimento das pessoas dentro das empresas.
Com isso, para sua implementação no cenário brasileiro teve como reflexo cinco
princípios, como medidas a curto prazo, conforme podemos ver na Quadro 1, uma atuação
flexível por parte das organizações, que foram de encontro as suas posturas tradicionais, uma
perspectiva de conhecimento como a nova estratégia empresarial e a emergência de
implementação desse novo pensamento no âmbito empresarial, que movimentou a
empregabilidade com novas oportunidades e a perspectiva de um conhecimento para a vida
toda.
899
Segundo Eboli (2004), o principal motivo da adoção desse conceito no Brasil se deu em
virtude do mercado cada vez mais globalizado que resultou numa pressão as organizações para
investirem em qualificações para seus funcionários e, consequentemente, criando uma nova
cultura e pensamento educativo como elemento essencial no diferencial competitivo.
Sobre essa ascensão da proposta da educação corporativa no cenário brasileiro, segundo
Meister (1999), muitas empresas não esperaram que as instituições educacionais trouxessem
para dentro das empresas essa realidade, de modo que fizeram o caminho inverso, deram o
900
ponta pé inicial e buscaram trazer a educação de forma autônoma para dentro de seu espaço em
busca de melhorias ocupacionais, que acarretariam em melhores retornos de rentabilidade.
Nesse contexto, vale salientar, na perspectiva de Esteves e Meiriño (2015), a Educação
Corporativa não se trata de um treinamento ou qualificação do colaborador, mas está
relacionada a um novo pensamento e a nova forma de trabalhar, ressignificando sua visão para
uma aprendizagem contínua com base nas metas e objetivos organizacionais, agregando valor
ao negócio.
Na perspectiva de Meister (1999), essa proposta educativa é um pilar estratégico que
envolve a todos (colaborador, cliente, comunidade), à medida que o colaborador busca
conhecimento, o retorno é satisfatório devido à rápida troca de informações quando o cliente é
alcançado com excelência. Sobre essa questão, Carvalho (2014, p. 68) aponta que:
Nesse contexto, a educação corporativa tem sido aplicada como estratégia empresarial
capaz de promover vantagem competitiva, contribuindo com o objetivo de
transformar oportunidades em negócios por meio do conhecimento desenvolvido e
compartilhado continuamente entre as pessoas que fazem parte ou estão em contato
com as organizações [...].
No campo empresarial, a perspectiva educacional está cada vez presente e vem sendo
também um critério avaliativo como diferencial no quadro de funcionários de muitas
instituições diante da competitividade. Em pleno século XXI, essa proposta tornou-se uma das
principais ações estratégicas da equipe de Recursos Humanos das instituições, em que a
901
valorização do capital humano vai mais além do que objetivos empresariais, é uma proposta
que intensifica os objetivos profissional e pessoal dos colaboradores, pois a qualificação do
colaborador como profissional vai acarretar em níveis de excelência de atuação que
proporcionará êxito nas metas alcançadas e essas metas atingidas refletirá em melhores
condições de trabalho em virtude da valorização do colaborador.
Nesse contexto, segundo Parente e Lima (2013), as empresas buscam desenvolver uma
educação corporativa e organizam toda uma rede de conhecimento, a qual estabelece elos com
todos os segmentos da empresa, como buscar convênios técnicos e qualificativos com outras
instituições educativas para auxiliar no desenvolvimento profissional do seu colaborador.
Dito isso, atualmente se pode ver várias instituições que ajudam e apoiam as empresas,
como, por exemplo, o SEBRAE e SESI, que trabalham uma perspectiva empreendedora e
industrial com serviços de consultoria e qualificações, dentre outras instituições. Na conjuntura
atual da educação brasileira, pode-se ver as instituições técnicas e federais, que especializam o
estudante com mão de obra qualificada no mercado e com conhecimento tecnológico.
Por isso, sobre esse pensamento, os autores Cruz (2010) e Esteves e Meiriño (2015)
discutem sobre o desenvolvimento de uma educação empresarial que tenha um pensamento
singular e contínuo. Através disso, sendo objetivos principais a excelência das funções
colaborativas, melhores condições de trabalho e principalmente que essas valorizações tragam
melhores condições de vida aos trabalhadores.
A Educação Corporativa nos dias atuais significa que treinamento para qualificação
das funções dos gestores/colaboradores ficou restrita ao passado. Hoje, é necessário
investir no desenvolvimento destes novos perfis para uma maneira totalmente nova
de agir e pensar dos seres humanos que compõem os quadros funcionais das
organizações, onde a valorização do capital humano na gestão do conhecimento e
gestão de competências é o diferencial para desempenhar e se antecipar as mudanças
do mercado para alcançar a vantagem competitiva. (ESTEVES; MEIRIÑO, 2015, p.
1).
Com isso, hoje a educação corporativa trouxe um pensamento através de uma cultura
de aprendizagem, que continuam em virtude das constantes atualizações que a globalização e o
desenvolvimento tecnológico proporcionam, trazendo novas demandas e a instituições que
estão atualizadas ganham a vantagem nessa competitividade empresarial, acompanhado a isso,
fazendo com que o capital humano seja se aperfeiçoe e se valorize.
902
Diante do que já foi discutido até aqui, a educação corporativa, em sua característica,
abrange três competências: a competência organizacional, competência profissional e a
empresarial. A primeira como o próprio nome já diz, é caracterizada como os recursos
organizacional e como a alocação desses recursos podem trazer rentabilidade para as empresas.
Já a segunda pode ser descrita também como competência individual ou humana,
independentemente de sua nomenclatura, é caracterizada pelo desenvolvimento da capacidade
e potencialidade dos colaboradores. Por fim, a última é definida como aquela que identifica o
negócio, tendo uma melhor visão do segmento e sua atuação empresarial (EBOLI, 2008).
Dessa forma, outra característica da educação corporativa está relacionada à extração de
potencialidades do colaborador como: a) conhecimento: fundamentando os aspectos conceitos
e técnicos; b) habilidades: a capacidade de saber fazer e, por fim, a atitude, isto é, a proatividade
de agir (EBOLI, 2008).
Conforme já discutido, a preocupação em desenvolver o conhecimento dos
colaboradores parte do princípio de buscar reduzir tipos de gastos operacionais e intelectuais,
como também preparar o trabalhador para novas eventualidades em detrimento das atualizações
tecnologias, que estão cada vez mais inseridas na vida de todos, assim buscando resultados
positivos conforme pode-se ver por Mastey (2020, p. 10):
Nos últimos anos, devido à, evolução das rotinas laborais dentro das organizações e
do avanço das tecnologias, se faz necessária a capacitação dos colaboradores que
compõem o corpo técnicos das empresas. Ao ser implantada dentro das empresas, a
prática da educação corporativa se torna cada vez mais efetiva para capacitar a equipe
e, dessa forma, buscar diminuir a rotatividade de colaboradores da empresa,
diminuindo os custos e aumentando os resultados previstos.
organizacionais, ou seja, nada mais é do que uma nova postura por parte das empresas como
também por parte dos colaboradores, tendo uma visão mais humanista (PARENTE; LIMA,
2013).
Portanto, pode-se finalizar esta seção trazendo uma concepção entendida que a educação
corporativa é uma proposta de conhecimento dentro do âmbito empresarial, que auxilia no
desempenho e nas formulações estratégicas que vem sendo desenvolvidas em busca do
diferencial competitivo entre as organizações, como também uma medida que impõe a
valorização profissional do trabalhador e seu crescimento pessoal.
904
Atualmente uma educação corporativa tem se tornado uma cultura adotada pela maioria
das empresas, com isso a estratégia de utilizar a Psicologia Organizacional e do Trabalho
envolvendo o ambiente de trabalho e o trabalhador tem sido um tema de destaque no âmbito
acadêmico e empresarial, sendo uma área em constante movimento e desenvolvimento, que já
viveu momentos distinto em sua história.
Segundo Zanelli e Bastos (2004), a primeira aparição dessa abordagem envolvendo a
psicologia foi no período da Segunda Revolução Industrial, no fim do século XIX e início do
século XX, em alguns países na Europa e no Estados Unidos. Enquanto que Bertoldi (2013, p.
21) descreve que “A Psicologia Organizacional e do Trabalho surge na metade do século XIX.
Visava atender a uma demanda que surgiu na sociedade com o advento da Revolução Industrial:
a de encontrar homens adequados para os novos postos de trabalho que estavam surgindo.”.
Ainda segundo Zanelli e Bastos (2004), é nesse período que a psicologia voltada ao
trabalho surge no território brasileiro, essa época foi marcada pelas tentativas de racionalização
com uma procura de conhecimento técnico e inovador nos processos produtivos.
Nos dias atuais, é eminente o grande interesse de estudos voltados para a psicologia
organizacional e do trabalho – POT – em virtude dos resultados positivos ao incrementar esse
método dentro do espaço empresarial. Com isso, segundo Spector (2009), um dos grandes
autores que trata sobre essa temática, aponta que a Psicologia Organizacional está relacionada
à produção de conhecimentos psicológicos e à sua aplicação na realidade organizacional, ou
seja, “[...] a Psicologia Organizacional refere-se ao desenvolvimento e à aplicação de princípios
científicos no ambiente de trabalho” (SPECTOR, 2009, p. 5).
Desse modo, fazendo uma separação da nomenclatura Psicologia Organizacional e do
Trabalho, pode-se então considerar que o termo organizacional está preocupado com a força
ocupacional, isto é, sua atuação, sua potencialidade, seu pensamento e sua motivação.
Conforme define Visc, Vasconcelo e Pellicioli (2017, p. 95):
De modo geral, a psicologia do trabalho tem como seu principal objetivo o ser humano
e o ambiente de trabalho, pode-se complementar que leva em consideração a personalidade,
aptidões e diferenças do colaborador com foco no seu conhecimento e como é sua execução das
atividades diárias, promovendo a qualidade de vida no espaço onde trabalha, assim
proporcionando o interesse em tornar o ambiente prazeroso e mais produtivo.
Nesse contexto, a POT abrange dimensões que caminha no campo da gestão de pessoas
como também na organização da empresa. Com isso, esse é o momento no qual são discutidas
as questões burocráticas, as condições, metas e objetivos.
Vale salientar, o ramo da psicologia é uma área bem eclética que, ao longo de sua
história, incrementou conceitos, ideias, técnicas e teorias de muitas outras disciplinas. Com
base nesse pensamento, a POT é uma área que adota conhecimentos envolvendo as áreas como
administração, psicologia e sociologia (SPECTOR, 2009).
Sobre essas áreas de conhecimento analisadas por Spector, autores como Zanelli e
Bastos (2009) descrevem que essa interação desses múltiplos conhecimentos é a estratégia para
pensar no aumento dos rendimentos das empresas, cuidando do bem-estar das pessoas,
conforme pode ser visto abaixo:
Nesse contexto, a POT está ligada ao comportamento humano (ações) e aos fenômenos
psicológicos (reações) que acontecem dentro das organizações, tendo também como foco
analisar as implicações no ambiente de trabalho. Isto é, “A Psicologia Organizacional e do
Trabalho procura gerar conhecimento que possa ser aplicado para melhorar o funcionamento e
o desenvolvimento das organizações ao longo do tempo.” (PEIXOTO; CAETANO, 2013, p.
529).
Dessa maneira, Schmidt, Krawulki e Marcondes (2013, p. 346) retratam sobre a área da
psicologia organizacional e do trabalho sendo importante “A construção de estratégias e
906
Diante do que foi argumentado até o presente momento, pode então finalizar esse
tópico com a visão de que a Psicologia Organizacional e do Trabalho atua de forma
significativa em virtude de seus campos de atuação nas empresas, buscando compreender
o comportamento humano, ambiente de trabalho e os objetivos empresariais.
Nos dias atuais, ainda existe um debate entorno do que faz exatamente o psicólogo
dentro de empresa, de antemão, esse é um questionamento que contém um gama de respostas
em virtude das diferentes atividades desempenhada pelo profissional de psicologia dentro das
organizações.
Diante do que foi discutido nos tópicos anteriores, esta seção visa a detalhar o papel do
psicólogo dentro das organizações, pois “As definições do que fazer, como fazer e porque fazer
do psicólogo organizacional e do trabalho varia conforme o enforque adotado.” (BORGES-
ANDRADE; MORAIS, 2005, p. 105).
Os autores discutem esses enfoques em três contextos de atuação: a) o contexto
socioeconômico que está relacionado com as novas demandas do mercado e a social; b) o
contexto do tipo de gestão atuante dentro da empresa voltada para os líderes da forma como
dirigem a empresa e; c) por último a equipe de colaboradores, sendo chamado de análise de
unidade, em que é discutido as ações de forma focalizadas. (BORGES-ANDRADE; MORAIS,
2005).
Antes de tudo, é preciso deixar claro que as atividades do psicólogo organizacional e do
trabalho é entrelaçado às questões administrativas, mudando o pensamento de ações
tradicionais dentro da empresa e ajustando o elo entro o colaborador de forma que proporcione
uma motivação através do bem-estar no ambiente de trabalho, enquanto que para as
organizações proporcione uma excelência nos resultados.
Segundo Spector (2009), o profissional de psicologia no ambiente empresarial se
preocupa com questões relativas à eficiência das tarefas, das seleções, do treinamento, da
avaliação e do desempenho, desenvolvendo a parte organizacional a partir de ações internas
dentro das instituições. Ainda segundo o autor, o psicólogo tende a se preocupar com o
comportamento dos colaboradores, como também uma visão para aumentar o bem-estar deles
no ambiente de trabalho.
910
Por outro lado, Campos et al. (2011) entendem que o papel do psicólogo no âmbito
empresarial deve ser como facilitador de medidas e estratégias da instituição, considerando a
dinâmica da empresa e a saúde dos colaboradores. Na perspectiva de Pereira e Cruz (2016, p.
8), caso o profissional de psicologia atue como gestor de RH, em seu papel “[...] deve oferecer
uma atenção maior a todos os setores da organização, facilitando os processos, e, indo para
além das atividades tradicionais de recrutamento e seleção.”.
Com isso, a agregação das competências do profissional de psicologia que atua dentro
das empresas torna-se importantíssima, pois contribui de forma direta para aumento da
rentabilidade das empresas e amplia novas possibilidades como diferencial competitivo.
Assim, segundo Iema (1999), o profissional dessa área deve desenvolver sua função de
forma criativa e úteis para o desenvolvimento das empresas, o autor relata que, para a execução
desse embasamento metodológico, o psicólogo deve ter um senso crítico e proativo de interesse
pelo trabalho.
Hoje, torna-se comum ver um psicólogo dentro de grandes organizações tornando-se
um agente de transformações organizacionais no que tange à coletividade e principalmente em
pontos que façam diferenças tanto para os objetivos individuais quanto para os objetivos
empresarias. Dessa forma, Campos et al. (2011, p. 705) descrevem, de forma detalhada, sobre
as principais práticas desse profissional.
Segundo Pereira e Cruz (2016), o papel do psicólogo pode ser subdivido em três
característica, sendo elas:
Vale ressaltar uma questão importante e menos discutidas até o momento é a relação
psicólogo em considerar os valores e a cultura da empresa, estabelecendo questões de ética e
prática.
Nesse contexto, é preciso deixar claro que os psicólogos nas organizações não tratam
direto com os problemas pessoais e emocionais dos colaboradores, esse tipo de atividade é de
caráter clínico, a qual é encaminhada para o devido profissional a fim auxiliarem em sua
recuperação. Portanto, pode-se concluir que é fundamental, nos dias atuais, a atuação do
psicólogo dentro das organizações, pois este profissional tem desempenhando papeis que
englobam a administração, estratégias, tomada de decisões, ambiente de trabalho e
colaboradores.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que foi desenvolvido ao longo do trabalho, pode-se concluir que a Educação
Corporativa é de suma importância dentro do ambiente empresarial, pois traz um pensamento
diferenciado e novos olhares para seus colaboradores como estratégias para alcançar melhores
rendimentos e acompanhar as novas exigências do mercado.
Com a adoção dessa nova cultura empresarial, pode-se atingir a melhoria dos
rendimentos e desenvolvimento das habilidades dos funcionários, aliada aos objetivos
empresariais, com as novas demandas do mercado, surge então o conceito de atuação da
Psicologia Organizacional e do Trabalho dentro das instituições como diferencial competitivo.
Com isso, essa perspectiva na atualidade tem se consolidado dentro do cenário
empresarial como uma das principais estratégias utilizadas pelas organizações para alcançar
melhores níveis de rentabilidade e lucro. De maneira geral, tem como foco o capital humano e
como ele pode ajudar no crescimento da empresa, adotando uma metodologia voltada para
melhores condições de trabalho e cuidando da saúde e bem-estar do trabalhador.
Ao alcançar aos objetivos específicos, foi possível observar, através da literatura, que a
implementação da Educação Corporativa aconteceu de forma estratégica e necessária em
virtude do desenvolvimento tecnológico e as novas exigências do mercado, que trouxeram
novas demandas voltadas para o interesses do capital humano, isto é, os colaboradores, dando
foco no processo de aprendizado continuo dentro da empresa a fim de melhorar a execução de
suas tarefas e acompanhar as tecnologias, como também visando ao processo de valorização do
colaborador com objetivo de refletir em melhores rendimentos.
913
Conforme foi discutido, pode-se concluir que, nos dias atuais, o psicólogo tem um papel
essencial dentro das organizações em seus planejamentos estratégicos, atuando de forma direta
nos processos de seleção, recrutamento, treinamento, estratégias avaliativas e organizacional
entre outras. Por isso, a POT tem se destacado no cenário atual, pois busca analisar o
comportamento e o psicológico do colaborador em seu ambiente de trabalho, buscando extrair
o melhor e para potencializar os rendimentos de forma lucrativa, sem deixar de destacar
principalmente o estímulo ao bem-estar no trabalho.
REFERÊNCIAS
BORGES, Livia de Oliveira; OLIVEIRA, Andrea Carla Ferreira de; MORAIS, La Thude
Wolvua Almeida de. O exercício do papel profissional na Psicologia Organizacional e do
Trabalho. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, v. 5, n. 2, p. 101-139, 2005.
FIORELLI, José Osmir. Psicologia para Administradores: Integrando teoria e prática.4. ed.
São Paulo: Atlas, 2004.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2008.
GONDIM, Sonia Maria Guedes; SOUZA, Janice Janissek de; PEIXOTO, Adriano de Lemos
Alves. Gestão de Pessoas. In: BORGES, Livia de Oliveira; MOURÃO, Luciana (Org.). O
trabalho e as organizações: atuações a partir da psicologia. Porto Alegre: Artmed, 2013.
IEMA, Carlos Roberto Dias. Um estudo teórico sobre a formação do psicólogo organizacional
no Brasil. Revista Psicologia-Teoria e Prática, v. 1, n. 1, 1999.
PEREIRA, Nathália Lopes; CRUZ, Sarah Aparecida da. O papel do psicólogo nas
organizações. II Congresso Internacional do Grupo Unis, Fundação de Ensino e Pesquisa
do Sul de Minas, 2016.
915
SPECTOR, Paul E. Psicologia nas organizações. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
RESUMO
A presente pesquisa tem como objetivo discorrer sobre o transtorno obsessivo compulsivo –
TOC com seus pensamentos e impulsos incontroláveis e indesejáveis a partir de uma
investigação acerca do diagnóstico e dos possíveis tratamentos do transtorno. Recorrendo ao
método de revisão bibliográfica, com leituras de artigos sobre a temática e a análise do curta
metragem Mr. Hublot, buscar-se-á, considerar a urgente necessidade de pesquisar e refletir
acerca deste tema que versa sobre a realidade do sujeito e a ocupação de si mesmo,
possibilitando um caminho do encontro de si com suas próprias ações.
Palavras-Chave: Transtorno Obsessivo Compulsivo, Diagnóstico, Tratamentos.
ABSTRACT
The present research aims to discuss obsessive compulsive disorder with its uncontrollable and
undesirable thoughts and impulses from an investigation about the diagnosis and possible
treatment of the disorder. Using the bibliographic review method, with readings of articles on
the subject and the analysis of the short film Mr. Hublot, will look for, consider the urgent need
to research and reflect on this theme that deals with the reality of the subject and the occupation
of himself, enabling a path of meeting oneself with one's own actions.
Keywords: Obsessive Compulsive Disorder, Diagnosis, Treatments.
1 INTRODUÇÃO
1
Discente do 8º período do curso de Psicologia da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – FCRN.
2
Professora doutora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN e discente do 8º período do
curso de Psicologia da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – FCRN.
917
2 REFERENCIAL TEÓRICO
3
Nesse processo de subjetivação, o próprio Mr. Hublot se depara com o outro. Nesse sentido, esse
processo implica sempre em relações com outros seres.
918
expostos na parede e cuidar da casa de forma minuciosa, de modo a mantê-la na mais perfeita
ordem e organização, esta parece ser sua única preocupação e ocupação.
Contudo, dentre os muitos sons do exterior, aquele som especial se interiorizara em sua
mente. Mr. Hublot maquinava e, segundo a segundo, pensava: - algo tem que ser feito!
Observava vez por outra pela janela, percebia muitos transeuntes, mas nenhum deles absorvia
e percebia o som que o atingia. A noite caiu, chuva, trovoada e aquele ser pequenino encontra
uma caixa e nela se recolhe – o que tranquiliza Mr. Hublot. As luzes se apagam e ele se dirige
à máquina que emite o cupom fiscal, mas em sua mente o som de alguém que estava a passar
além do frio, da fome, da sede, também uma situação de desespero lhe importunava e ele lutava
e se debatia consigo mesmo pelo que o mundo exterior lhe apresentava.
Nesse momento, não era mais o interruptor a apagar e acender, mas a sirene do carro do
lixo que, além de apagar e acender, emitia o bip que indicava o recolhimento dos dejetos da
lixeira. Mr. Hublot entrou em desespero, demorou muito a retirar os ferrolhos e alavancas que
bloqueavam a abertura da porta. Quando chegou ao local, o carro de recolhimento havia partido,
e ele, em uma profunda tristeza, emitindo um grande mal-estar, culpa e dor. Mas de repente
alguém o observava, estava parado ao seu lado como que o esperando: aquele ser pequenino
superou todas as adversidades para estar naquele momento ali, ao lado de Mr. Hublot. Ele o
abraçou, o afagou e juntos caminharam para casa.
Na manhã seguinte, Mr. Hublot percebe o quanto sua rotina mudara: ao arrumar a
estante, ao certificar-se de que os quadros da parede estavam em ordem se debatia
constantemente com aquele minúsculo ser, por vezes tropeçava nele e pisava-o. Uma atitude
fora tomada e agora restavam-lhe as adaptações, as estratégias e novos dispositivos a serem
acionados. Assim, da mesma forma que o interruptor era ligado para iluminar a casa a cada
anoitecer, a mente de Mr. Hublot se iluminava a cada instante com várias resoluções, de modo
que não foi difícil: Mr. Hublot conseguiu adaptar o seu pequeno amigo à sua rotina e tudo na
casa parecia continuar na mais perfeita ordem, os livros, os quadros, o cuco, o relógio, a
máquina com o cupom fiscal. Um belo dia! Os dois já adaptados e inseparáveis, Mr. Hublot se
depara com uma nova situação, um novo acontecimento, o seu amigo havia crescido em
demasia, quebrava os pequenos objetos delicadamente organizados na estante, derrubava seus
livros, seus quadros pendiam agora desorganizados e, mesmo, caíam da parede. Era o fim da
sua vida metódica e organizada.
920
Mr. Hublot passou a ter pesadelos constantes sendo assassinado por seu amigo. Então,
não sabendo o que fazer, estava a escolher entre sua vida e a do seu amigo, entre voltar à sua
vida rotineira e ousar na criação de novos dispositivos a fim de preservar a amizade adquirida
que deu sentido à sua própria vida. A constatação era a de que os dois não poderiam viver mais
sob o mesmo teto, a casa ficara pequena em demasia para Mr. Hublot e seu amigo. Restava-lhe
como saída abandonar o amigo ou sacrificá-lo.
O interruptor a apagar e a acender e outra possibilidade aparece. Daí, agora dois
caminhos: a possível solução e uma escolha a ser feita por Mr. Hublot. Primeiro, sacrificar a
vida do amigo; segundo, buscar mecanismos para driblar a situação. A escolha foi a de adquirir
um novo prédio, um que se encontrava em frente ao imóvel de Mr. Hublot, mas ignorado por
ele, posto que ele se encontrava cernido em sua cotidianidade.
Mr. Hublot está numa realidade presente, a vivencia livremente e, a cada momento, se
subjetiva movido pelo bem próprio da sua ação. Nesta realidade, ele desenvolve práticas e
exercícios diários, modifica ações, ao mesmo tempo em que preserva determinadas rotinas,
além de estabelecer um diálogo na relação. Embora o filme não apresente uma só palavra
sonora, há um diálogo na ação que é audível.
Esse diálogo é o que o movimenta, na ludicidade da edição cinematográfica, todos os
mecanismos corpóreos e receptores de imagens do telespectador. Eis aí o que poderíamos
propor como liberdade de palavra e franqueza na fala, isto é, aquela que fala por si.
Assim, encontramos nesse curta metragem de Laurent Witz e Alexandre Espigares,
introduzido de forma figurativa e exemplar, o TOC, os embates próprios do indivíduo em suas
relações de poder e força, aliadas à noção de atitude-limite e sobre as práticas de si. Quando
Mr. Hublot ousa na atitude de adoção ao seu amigo, ele assume todos os riscos presentes nesta
ação.
De acordo com Cordioli (2014) o TOC é um transtorno pouco conhecido e de grande
subjetividade em sua sintomatologia, a fase da obsessão-compulsão, inicialmente, não faz com
que o indivíduo que está desenvolvendo o transtorno vá à procura de ajuda, pois no início é
difícil a identificação dos sintomas, mas a vida numa perspectiva de uma vida criativa, com
suas condições, formas e modos do sujeito se constituir em seu processo de subjetivação
identifica o movimento próprio no indivíduo nas formas de práticas de si, na interpretação de
diagnóstico e dos possíveis tratamentos.
Para que possa diagnosticar o paciente com TOC é necessário que as obsessões ou
compulsões causem desconforto clinicamente significativo, comprometendo a vida social,
ocupacional, acadêmica ou outras áreas importantes do funcionamento do indivíduo. Assim, os
critérios de diagnóstico do TOC de acordo com DSM-V (APA 2013; DSM 5), são denominados
pela presença de obsessões, compulsões ou ambas.
que esses pacientes pareciam não ter nenhuma esperança de qualquer outro tratamento, a
cirurgia merece ser considerada como último recurso.
3 METODOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A EPR, com ou sem a droga, produz resultados superiores à droga sozinha, com 86%
respondendo à EPR versus 48% ao medicamento. A combinação dos tratamentos não
produziu nenhuma vantagem adicional. Da mesma forma, as taxas de recaída foram
altas no grupo de medicação isolada, quando a droga foi retirada (BARLOW;
DURAND, 2015, p. 166).
Destacamos o argumento de Leite, (2020, p.527) que afirma que a presença da família no
tratamento do TOC se faz necessário e funciona como peça fundamental ao abandono de alguns
comportamentos disfuncionais da pessoa com TOC. Se faz, neste contexto de tratamento, que
a família se inteire e fique a par do que é o TOC, pois, a família tendo o conhecimento, do que
925
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se concluir que é difícil a obtenção de um diagnóstico, bem como, deve-se apostar
no bom relacionamento paciente-terapeuta. Em alguns casos é preciso a intervenção
medicamentosa além do imprescindível apoio de familiares, de amigos e uma rotina
estabelecida de exercícios físicos como transição fundamental para a evolução do tratamento.
Os portadores de TOC possuem alguns rituais e comportamentos repetitivos. Por causa
dessas compulsões, tendem a evitar encontros com a família e a prática de diferentes atividades.
Algumas atitudes que podem acarretar atritos nas relações por serem feitas excessivamente, a
saber: lavar as mãos, checar se a porta está trancada, organizar objetos, entre outros. Apesar de
todos os fatores, é importante que a família acolha e auxilie o paciente. Devido às dependências
que os portadores costumam possuir, a rotina das pessoas com quem convive é geralmente
modificada e adaptada.
Estudos têm investigado sua relação com os sintomas obsessivo-compulsivos
apresentados pelos pacientes e, não raro, por pessoas da família. Ao compreender como a
acomodação familiar ocorre e quais os comportamentos dos familiares que estão contribuindo
para a manutenção dos sintomas, os terapeutas podem adequar estratégias de intervenção e
psicoeducação de modo a conduzir o sujeito a uma vida efetiva, assim como, o que acentua na
trama de Mr. Hublot que da condição de desprezo e isolamento no primeiro momento da trama,
se deu o surgimento de novas situações, estratégias criadas para superação e, em certo sentido,
comportar essa nova realidade, esses novos fatos.
REFERÊNCIAS
34822010000200007#:~:text=A%20Associa%C3%A7%C3%A3o%20Psiqui%C3%A1trica%
20Americana%20classifica,de%20obsess%C3%B5es%20e%2Fou%20compuls%C3%B5es.
WITZ, Laurent; ESPIGARES, Alexandre. Mr. Hublot. Curta metragem: Luxemburgo, 2013.
Disponível em:
<https://www.google.be/search?q=M.+Hublot&oq=M.+Hublot&aqs=chrome..69i57.10575j0j
7&sourceid=chrome&es_sm=93&ie=UTF-8>. Acesso em: 20 de Abril de 2022.
927
Este trabalho científico é um relato de experiência que teve como objetivo descrever a prática
da disciplina de Estágio Supervisionado I e II do curso de Licenciatura, no ensino fundamental
I, compartilhar suas adequações, possibilidades e dificuldades na atuação pelo modelo de ensino
remoto. A experiência ocorreu no formato online devido ao isolamento social causado pela
pandemia do Coronavírus (COVID-19), sendo a primeira parte do estágio realizada no semestre
de 2021.1 e a segunda, no semestre de 2021.2. Na prática inicial foram feitas observações pelo
modelo remoto em uma turma de 4º ano em uma escola municipal da cidade de Mossoró e na
segunda, lecionada as aulas de psicologia para essa turma, também de forma online. Durante a
ministração das aulas houve algumas dificuldades com os recursos utilizados e na comunicação,
também se percebeu a diferença que existe na teoria e na prática. Porém, de modo geral as aulas
foram eficientes e não houve barreiras com relação ao contato com os profissionais da escola.
Palavras-Chave: estágio remoto, licenciatura, psicologia.
ABSTRACT
This scientific study is a experience report which aims to describe the practice of the discipline
of Supervised Internship I and II of the Licentiate course, in elementary school, to share its
adaptations, possibilities and difficulties in acting through the remote education. The experience
happened online because of the social isolation caused by the Coronavirus (COVID-19)
pandemic, the first part of the internship being held in the semester of 2021.1 and the second,
in the semester of 2021.2. In the initial practice, the observations were made online in a 4th
grade class of a municipal school in the city of Mossoró and in the second, psychology classes
were taught to this class, also online. During the teaching of the classes there were some
difficulties with the resources used and in the communication, it was also noticed the difference
that exists in theory and in practice. However, in general the classes were efficient and there
were no barriers to contact with school professionals.
Keywords: remote internship, degree, psychology.
1 INTRODUÇÃO
1
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Rio Grande do Norte. Email:
clara.rego@hotmail.com.
2
Orientadora. Mestre em Psicologia Cognitiva pela Universidade Federal de Pernambuco. Email:
amanda.pereira@professor.catolicadorn.com.br
928
remoto. Antes desse contexto, as escolas brasileiras nunca haviam atuado de maneira online,
segundo Novelli (2021), até as universidades e cursos de graduação que já possuíam em seus
currículos uma prática que contemplava ações docentes voltadas ao Ensino Digital encontraram
novos desafios para sua execução.
Desse modo, a suspensão das aulas presenciais e o fechamento das escolas foram
algumas medidas adotadas pelo governo brasileiro, com vista a proteger as crianças e os jovens
e, assim, reduzir as chances de que eles se tornassem vetores do vírus para suas famílias e
comunidades, para os idosos e demais grupos de risco (CARDOZO; TREICHEL;
MARQUEZAN, 2020).
Nesse momento, esses profissionais vivenciaram novas experiências das suas atividades
laborais, com um pouco mais de complexidade, visto que, requer operações mentais mais
completas para excelência da prestação de serviço. Sendo assim, tanto professores como alunos,
de certa forma, identificaram e/ou apresentaram algumas dificuldades em todo o processo
(BARBOSA; VIEGAS; BATISTA, 2020).
A Educação Básica e o Ensino Superior precisaram se reinventar e planejar ações para
dar continuidade às atividades. Além disso, os acadêmicos dos cursos de Licenciatura também
sofreram profundos impactos na execução da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado
(NOVELLI, 2021).
De acordo com a lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a formação dos profissionais
da educação, atendendo às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos
objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica, tem como um dos
fundamentos a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados e
capacitação em serviço.
Com relação à prática de estágio, a Lei 11.788/2008 compreende o estágio como ato
educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, o qual visa à
preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular
em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação
especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de
jovens e adultos. O estágio visa ao aprendizado de competências próprias da atividade
profissional e à contextualização curricular, objetivando o desenvolvimento do educando para
a vida cidadã e para o trabalho.
Segundo Stahl e Santos (2012), o estágio é uma inserção na realidade escolar, é
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vivenciar o que é ser professor assumindo esta responsabilidade, e por este motivo, é uma
atividade essencial na formação do professor. Este é um momento da formação em que o
graduando pode vivenciar experiências, conhecer melhor sua área de atuação, a fim de que sua
formação se torne mais significativa, além de proporcionar momentos de discussões, de
reflexão crítica, de indagações que por sua vez possibilitam a construção de uma identidade
pessoal e profissional (SANTOS; FLAVIANO, 2016).
Conforme Silva e Gaspar (2018), é inquestionável, a importância desse componente
para o currículo de formação docente inicial, por possibilitar o diálogo entre a teoria e a prática,
mas esse olhar que se entrecruza possui estreita relação com a forma de compreender a
dimensão formadora do componente, que não se deu por acaso, mas a partir das inquietações
de quem pratica, pensa e teoriza a educação, demandando diretrizes e regulamentações para os
cursos de formação de professores.
No espaço/tempo do estágio são reveladas as inquietações, descobertas e incertezas da
escolha profissional, momento em que se descortinam as problematizações de um cenário
complexo e de busca de soluções, num movimento de reflexão-ação-reflexão (SHON, 2000
apud SILVA; GASPAR, 2018). Os alunos interagem com a realidade, refletem sobre as ações
observadas e partilhadas no contexto em que estão inseridos, criando suas próprias formas de
ser e agir, como futuros professores. Trata-se de um momento fundamental da formação, capaz
de explorar as demandas impostas na sala de aula (SILVA; GASPAR, 2018).
No contexto da pandemia, essa vivência foi limitada aos espaços digitais, sendo
necessário repensar a atuação no campo de estágio e lidar com as dificuldades do momento.
Assim, o presente artigo é um relato das atividades realizadas nos semestres do ano 2021, na
disciplina Estágio Supervisionado em Prática de Ensino em Psicologia I e Estágio
Supervisionado em Prática de Ensino em Psicologia II, do curso de Psicologia e pretende
apresentar a atuação de uma estagiária em uma escola municipal com o público do Ensino
Fundamental. Neste período da formação, o acadêmico realiza duas etapas do estágio, iniciando
pela observação, seguindo com a etapa da atuação no período seguinte.
O objetivo desta pesquisa é demonstrar como ocorreu a prática de um estágio
profissionalizante na área da licenciatura, compartilhar suas possibilidades e dificuldades na
atuação pelo modelo remoto. Sendo necessárias publicações de como foi essa atuação para
entender como essa prática ocorreu e embasar estágios futuros.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO
2 METODOLOGIA
O relato de experiência é um texto que descreve precisamente uma dada vivência que
possa contribuir de forma relevante para uma área de atuação. É a descrição que um autor ou
uma equipe fazem de uma experiência profissional tida como exitosa ou não, mas que contribua
com a discussão, a troca e a proposta de ideias para a melhoria do cuidado na saúde. Ele traz as
motivações ou metodologias para as ações tomadas na situação e a impressão que a vivência
trouxe para quem está descrevendo (UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA, 2016).
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De acordo com Daltro e Faria (2019), o Relato de Experiência (RE), é construído para
responder como produto científico, coloca ao pesquisador o desafio de articular teoricamente
conhecimentos que marcam seu pertencimento coletivo, ao mesmo tempo em que ativam suas
competências de percepção e interpretação. Configura-se como narrativa que, simultaneamente,
descreve experiência, lugar de fala e seu tempo histórico, tudo isso articulado a um arcabouço
teórico, legitimador da experiência enquanto fenômeno científico.
O relato é uma possibilidade de criação de narrativa científica, especialmente no campo
das pesquisas, capazes de englobar processos e produções subjetivas, como é o caso da
psicologia e das ciências humanas aplicadas, não mais enquanto operador neutro, mas atuante
e atravessado de forma relacional, que age e interage, abrindo-se para se afirmar como
particularidade, participante e ativa (DALTRO; FARIA, 2019).
Nesse sentido, a relevância de um relato de experiência/estudo de caso está na
pertinência e importância dos problemas que nele se expõem, assim como o nível de
generalização na aplicação de procedimentos ou de resultados da intervenção em outras
situações similares, ou seja, serve como uma colaboração à práxis metodológica da área à qual
pertence (SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO, 2021).
O relato com experiências na educação, é uma apresentação de experiências em que é
possível analisar aspectos que são considerados significativos na evolução da prática docente,
indicando os aspectos positivos e as dificuldades identificadas na organização e no
desenvolvimento da aula, os resultados e outros elementos que julgar pertinentes. De forma
geral, deverá conter informações sobre a aula que foi realizada, conforme informações do
planejamento, e resultados alcançados fazendo a relação entre teoria e prática, conhecimentos
desenvolvidos no curso e aplicados na prática da aula (ESCOLA NACIONAL DE
FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE MAGISTRADOS, 2016). O relato é feito de
modo contextualizado, com objetividade e aporte teórico. Mesmo quando as vivências revelam
dificuldades, os relatos são importantes para alertar profissionais e indicar novos caminhos.
segunda etapa, na metade do semestre, os estagiários vão à campo para observação. Nesse
momento, a participação do estudante é para perceber o clima da sala de aula, a interação e
participação dos alunos, tipos de atividades que eles fazem, manejo do professor frente a essas
situações e para construção dos planos de aulas para serem executados no semestre seguinte.
A parte da observação é considerada importante, pois é nesse período que é construído
o primeiro vínculo com os alunos. Além disso, é também de suma importância, o momento da
elaboração dos planos de aulas a partir do que foi observado como pertinente para aquela turma,
tanto com relação aos conteúdos, quanto nos recursos e metodologias a serem utilizadas.
Ademais, os planejamentos são cruciais para um norteamento esclarecedor e propício
para as aulas serem realizadas de maneira eficaz, um bom planejamento faz com que todo o
conteúdo flua de acordo o horário previsto, e sendo algo positivo tanto para os alunos como
para o educador. No planejamento escolar dentro das instituições de ensino estão presentes os
objetivos, os métodos, os recursos e as ferramentas de avaliação escolhidas para serem
empregadas especificamente ao longo das aulas (DIAS JÚNIOR, 2020).
Ainda, de acordo com Stahl e Santos (2012), o planejamento, deve se estruturar a partir
de objetivos claros, que, por sua vez, dialoguem com as exigências dos currículos e regimentos
que sustentam o processo educacional, levando em consideração o nível de desenvolvimento
dos estudantes assim como, a realidade na qual a escola está inserida.
Uma sala de aula é composta por crianças diferentes com dificuldades diversas e
aprendizados em ritmos próprios, portanto, observar o professor neste momento de estágio,
oferece a oportunidade de conhecer metodologias, e constatar aspectos básicos da atuação do
coordenador, do diretor e outros profissionais que compõem a equipe da escola (SANTANA;
ABREU, 2020).
O campo de estágio é uma escola municipal, em que a Estrutura Física é composta pelo
prédio próprio da prefeitura, com piso único, nove salas de aula, uma biblioteca, uma sala de
Atendimento Educacional Especializado (AEE), secretaria, direção, sala de multimídia
(televisão, computadores), banheiros, cozinha, refeitório, pátio com parte coberta, áreas de
esporte, água filtrada nos bebedouros e coleta de lixo.
A equipe de Recursos Humanos/Equipe de Trabalho é composta por: diretora, sem vice-
diretora, vinte professores, sete pessoas na equipe da secretaria incluindo a diretora e a
supervisora, sete pessoas na equipe de apoio e uma supervisora.
As Potencialidades observadas foram: Equipe bastante comprometida, a escola é situada
em um local acessível para os alunos e profissionais, nunca houve situação de assalto na escola,
oferecimento do AEE a alunos da escola e do bairro. Há uma grande participação das famílias
no modelo presencial, presença do Conselho Escolar, recebe recursos financeiros federais e
municipais para manter as funcionalidades da escola.
Com relação às limitações: a escola com suporte para duas supervisoras, entretanto
somente há uma; houve dificuldade de adaptação, inicialmente, ao modelo remoto; dificuldade
de planejamentos estratégicos e de recursos para o modelo remoto; muitos alunos sem acesso
às ferramentas necessárias para conseguir assistirem às aulas; laboratório de informática
inutilizado por falta de computadores novos.
2.4 ADAPTAÇÕES
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
própria experiência da estagiária nas suas aulas do Ensino Superior. A quantidade de estudantes
também foi uma surpresa, pois esperava-se que mais alunos estivessem presentes. Nessa aula a
professora utilizou um texto para ser lido e interpretado pelos alunos, após isso foi proposto que
os estudantes desenhassem algo específico com o que foi ensinado. Durante a observação foi
percebido que as crianças participavam bastante e perguntavam o que já tinha sido dito várias
vezes, a internet também não estava contribuindo. Já nesse momento, foi observado que a
estagiária deveria usar metodologias mais ativas e atividades em sala para eles participarem.
Outro ponto visto, é que algumas mães acompanham os filhos durante a aula, e muitas
vezes fazem as tarefas que a professora pede para os alunos fazerem, ou diziam como fazer,
mesmo a professora deixando claro que os alunos poderiam fazer da forma que sabiam. Assim,
observou-se que a autonomia de alguns alunos quase não existe, pois até mesmo para virar às
páginas do caderno as mães quem faziam.
Já a segunda observação aconteceu durante uma aula de português, na qual se percebeu
que sempre é necessário aguardar dez minutos para começar a aula, pois alguns alunos utilizam
o celular dos pais e estes chegam às 13 horas em casa.
Isso pode ser explicado em virtude das famílias terem que se adaptar à nova realidade,
além de cuidar da casa, algumas com trabalho remoto, precisam acompanhar e auxiliar nas
atividades prescritas pelos educadores. Alguns responsáveis estão tendo dificuldades para
acompanhar seus filhos, pois muitos continuam trabalhando e não tem experiência em ensinar.
Vale salientar que alguns alunos não possuem acesso à internet ou acesso a TV e não estão
acompanhando as aulas (CORDEIRO, 2020).
Ainda na segunda observação, a professora já havia passado o texto que seria utilizado
no dia pelo grupo do whatsapp e atividades anteriores relacionadas ao assunto. Ao entrarem na
aula online, esse texto foi lido pelos alunos, por meio da leitura coletiva, cada um leu um
parágrafo. Depois, foi pedido que eles respondessem questões do livro, deu-se um tempo e
depois as respostas foram discutidas em conjunto. Eles participaram bastante, alguns liam a
pergunta e outros a resposta. Nessa aula, seis crianças participaram, quatro delas com a câmera
aberta. Foi notado que os alunos não se incomodaram com a presença da estagiária, e
participaram mais ativamente do que da aula anterior.
A terceira observação ocorreu durante uma aula de geografia, nessa aula participaram
dez alunos, nove com a câmera ligada. Tendo em vista ao mês de junino, a escola estava
comemorando-o com desafios, o desafio da segunda-feira foi uma foto com roupa junina, o da
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terça-feira para fazer um desenho junino para postar em uma rede social. Foi visto que sempre
era reforçado que eles deveriam fazer, e não os pais, e era sempre dito que eles tinham
capacidade ao mesmo tempo em que faziam elogios. Nesse dia também houve uma
recapitulação do que já foi estudado. Foi feita uma leitura coletiva, em que a professora também
leu e respondidas questões sobre o assunto explicado. Observou-se que nas atividades sempre
é necessário dar de dois a quatro minutos para eles responderem, dando orientações e
explicando quando eles não entendem.
Foi nessa observação onde se iniciou a construção dos planos de aula para o estágio
seguinte, começando a pensar nas metodologias possíveis para a modalidade remota e que fosse
diversificada, para as aulas não ficarem monótonas. Ainda, os alunos não teriam livros para
acompanhar os conteúdos, então seria necessário que a estagiária levasse algo mais concreto
para a aula, como slides ou vídeos. Além disso, foram escolhidas as temáticas que a estagiária
iria lecionar.
Nesse sentido, o professor sempre buscará o desenvolvimento dos alunos com a
utilização de ferramentas educacionais que facilitará a compreensão do conteúdo, priorizando
a ludicidade, a dinamicidade e a valorização do cotidiano da comunidade escolar. Um bom
planejamento deve convergir com as necessidades e interesses do aluno, e o sucesso do projeto
a ser desenvolvido depende da sintonia entre o profissional formador (supervisor) e seu
formando na elaboração do planejamento do trabalho a ser apresentado à unidade escolar. A
postura do supervisor nessa fase, têm relevante destaque, pois vai influenciar diretamente não
só nos resultados obtidos no projeto aplicado na escola, como também em toda a vida docente
do seu aluno, e consequentemente, nas suas experiências com seus futuros alunos após formado
(DIAS JÚNIOR, 2020).
A última observação aconteceu durante a aula de ciências, na qual participaram dez
alunos, oito com a câmera ligada. A professora pediu para lerem um parágrafo e explicou
partedo assunto, depois pediu para outra pessoa ler, fazendo uma leitura coletiva. Viu-se que é
importante essa leitura, pois eles ficam atentos, participam e ainda exercitam a leitura.
Após lerem o texto, a professora pediu pra responder uma questão, destinou um minuto
para esse fim e depois pediu que respondessem oralmente, questionando se eles concordavam
com as respostas dos outros colegas. Mas, durante a aula, a internet caiu e depois de alguns
minutos voltou, e assim foram concluídas as outras questões.
Diante disso, observou-se novamente que os alunos possuem gosto pela leitura e
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editar e postar o vídeo em outra plataforma digital, pois o arquivo fica grande e não é possível
enviar pelo Whatsapp, apenas o link do vídeo.
Além disso, há barulhos externos no ambiente em que são gravados e que atrapalham a
filmagem e era preciso parar a gravação para começar novamente. Nessa aula, apenas oito
estudantes acessaram o vídeo, ficando todo o restante sem assistir, sendo prejudicados, pois não
estão tendo o mesmo ensino que os outros.
Diante de tantas metodologias fundamentais para esse processo de aprendizado, são
necessários muitos dispositivos habilitados, como equipamentos eletrônicos com espaço para
armazenamento e conexões da internet, visando também a segurança de dados e informações.
Pensou-se em colocar os vídeos e materiais usados em plataformas como “Google Drive” e
“Google Classroom”, mas os estudantes não conseguem ter acesso a essas, pois necessita de
auxílio dos pais, e muitos destes, não sabem instalar nem utilizar essas plataformas, além de
que os dispositivos não suportam as instalações nos equipamentos celulares.
É neste mesmo momento que, em muitas vezes, ocorre um choque entre o idealizado
nas literaturas e a realidade do ambiente escolar, exigindo dos atores envolvidos no processo
educacional a capacidade de adaptação e flexibilização para permear a relação entre teoria e
prática em sala de aula. Para tanto é preciso investigar e valorizar as habilidades e competências,
bem como a realidade socioeconômica e cultural da comunidade escolar (DIAS JÚNIOR,
2020).
Na segunda aula ministrada, a temática foi sobre emoções e durou uma hora, começando
às 13:15 e concluída às 14:15, participaram dez alunos. A aula começou com a pergunta de se
eles sabiam o que eram emoções, nesse momento vários alunos responderam da forma como
entendiam e dando exemplos. Logo após foi colocado um trailer de um filme e pedido para que
eles prestassem atenção nas expressões dos personagens. Depois foi explicado o que eram
emoções e sentimentos, e as ramificações das emoções.
Em seguida, colocou-se outro vídeo para que os alunos identificassem as emoções que
os personagens estavam apresentando. Nessa aula utilizou-se de slides e a metodologia foi
expositiva dialogada. Por fim, a turma fez uma tarefa em sala para desenharem algo que
representasse alguma emoção e dizer qual. E uma para casa, para descrever e desenhar uma
situação que as crianças sentem uma das cinco emoções básicas e um sentimento.
Para os outros alunos que não assistem à aula nesse momento, foi enviado slides, fotos
das atividades e o vídeo explicando o conteúdo. Observou-se que as crianças que assistiram a
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aula pelo Meet conseguiram compreender bem quais as cinco emoções primárias, porém
tiveram bastante dificuldade de entender a diferença de emoções e sentimentos, misturando os
dois na maioria das vezes, inclusive nas atividades. Foi percebido também que os estudantes
que não assistem aula pelo meet não assistiram os vídeos que foram gravados e enviados para
o WhatsApp e nem feita as atividades, mesmo mandando recados de que deveriam ser
entregues.
Ainda, apenas cinco alunos enviaram a foto da atividade de sala e da tarefa de casa,
apenas um. Nesse dia um estudante enviou uma atividade de outra disciplina por engano para
a estagiária, mas não mandou a da disciplina da mesma. Notou-se que é mais efetivo fazer a
tarefa no horário da aula e só receber a foto depois. Além disso, deduziu-se que devido ao
desenvolvimento cognitivo, eles não conseguiram entender a diferença entre emoções e
sentimentos tão facilmente, por ser algo que exige um entendimento mais abstrato. E, nesse
estágio de desenvolvimento segundo Piaget, a criança em idade escolar apresenta uma
capacidade de raciocinar sobre o mundo de uma forma mais lógica, embora adquira a habilidade
de realizar essas operações apenas no concreto, pegando e experimentando (RODRIGUES;
MELCHIORI, 2014).
Com relação à metodologia, acredita-se que foi eficaz, pois conseguiu chamar a atenção
dos alunos, como também os recursos, visto que eles souberam relacionar os vídeos com o
conteúdo. Os estudantes sempre participam e usam muito de exemplos para explicar o que
entendem, ainda, a mãe de um deles fez uma pergunta direcionada a atuação do psicólogo
clínico, sendo necessário ter manejo para não confundir essa atuação com a do professor de
psicologia.
Na terceira aula ministrada, a temática foi sobre consequências e importância das
emoções e durou cinquenta minutos, começando às 13:10 e concluída às 14:00 horas, apenas
seis alunos participaram. A aula começou com a recapitulação do que eram emoções e quais as
emoções básicas. Logo após, foi feita uma leitura coletiva do livro "Quando me sinto triste",
em que cada aluno leu uma parte. Esse livro fala sobre formas de lidar com a emoção da tristeza
e como é estar triste.
Foi questionado o que eles mais gostaram no livro e começou-se a trabalhar a
importância das expressões das emoções e a função de cada uma, mostrando que todas são
essenciais, mesmo as que não parecem, como: medo, nojo e raiva. Utilizou-se um exemplo de
emoções em animais, e os alunos começaram a falar sobre os animais que tinham, foi
940
fundamental ouvi-los, mas também perceber o melhor momento para voltar ao assunto da aula.
A atividade passada foi a mesma da semana anterior, pois muitos alunos ainda não
tinham respondido. Nessa terceira aula, já era possível saber o nome dos alunos mesmo que
estivessem cadastrados com o email dos pais. Foi enviado slides e o livro usado para a aula no
grupo de Whatsapp, e comunicado que os alunos que tivessem dúvida poderiam falar com a
professora. Nessa terceira aula, além da importância das emoções, seria retratado também os
efeitos fisiológicos e como eles influenciavam na tomada de atitude frente às emoções.
Porém, pela experiência das outras aulas, foi observado que estava em um nível de
compreensão que eles ainda não desenvolveram, sendo o conteúdo e plano de aula remodelado
apenas para falar sobre a importância e consequência das emoções no sentido prático e não
fisiológico. De acordo com Stahl e Santos (2012), o planejamento pode ser modificado em
detrimento de acordo com o retorno e o interesse dos estudantes ao que foi proposto. Assim, o
planejamento é flexível.
Ainda assim, foi percebida uma dificuldade de compreender a importância das emoções
que geralmente são associadas como ruins. Outra dificuldade é com relação à leitura de alguns
alunos, que já havia sido percebida durante as observações, um dos estudantes ainda não sabe
ler, então não conseguiu participar da leitura coletiva. Nesse momento da aula pelo Meet,
apenas cinco crianças ficaram até o final, havendo uma defasagem maior que nos outros dias.
Na penúltima aula, o conteúdo foi sobre empatia, em que o objetivo principal da aula
foi associar os conhecimentos anteriores sobre emoção, entender o que é empatia e a
importância de tê-la. Para isso, foi discutido sobre sentimentos associados à empatia, o que ela
provoca no outro e como desenvolvê-la. A quarta aula durou uma hora, das 13:15 às 14:15, foi
utilizado slides e um vídeo exemplificando o que é ser empático.
Além disso, no começo das aulas sempre é perguntado se eles têm conhecimento acerca
do tema que será estudado, para a estagiária ter a percepção de quando é necessário aprofundar
mais. Nesse dia houve a presença de onze estudantes, e muita participação. Eles se
disponibilizaram para ler os slides e para falar sobre o vídeo, então a metodologia foi
considerada eficiente.
Durante essa aula, na qual falou-se sobre sentimentos, muitos já tinham ouvido falar
sobre empatia mas não sabia o significado, e uma estudante confundiu com “simpatia e
antipatia”, porém facilmente conseguiram compreender o real significado. Para mais, como
havia sido percebido que as atividades passadas para casa tinham pouca adesão, a avaliação
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desse dia foi na sala. Os dez alunos conseguiram entender o que foi explicado, e responder a
atividade que consistia em ler três exemplos de situações do cotidiano e pensarem como agir
de modo empático frente a elas: Joana chega em casa e percebe que sua irmã está irritada; Paulo
percebe que sua colega de sala está chorando; Gustavo chega para Augusto, seu amigo, e diz
que está chateado com uma brincadeira que ele fez.
Nesse dia foi necessário explicar todo o conteúdo novamente de uma maneira diferente
para que um aluno compreendesse, esse, não conseguiu fazer a atividade escrita por não saber
ler, mas a atividade foi adaptada para ele, pedindo que falasse um exemplo oralmente de como
agir de modo empático.
No momento da leitura das atividades alguns estudantes queriam ler todas as respostas
e não daria tempo de todos falarem caso fosse feito assim, além de que essa tarefa seria entregue
para a estagiária pelo Whatsapp e seria corrigida. Sendo essencial que a estagiária demonstrasse
o limite da quantidade de respostas que eles deveriam falar. Com relação aos alunos que não
estavam no Meet, foi enviado os slides, mas como em todas as outras aulas, não procuraram a
estagiária para tirar dúvidas nem entregar as atividades.
De acordo com Rodrigues e Melchiori (2014), o desenvolvimento de comportamentos
pró-sociais (aqueles que promovem interações sociais que oportunizam a aprendizagem de
outros comportamentos) ajudam as crianças a tornarem-se mais empáticas em situações sociais
e enfrentar os problemas de maneira mais construtiva. Por conseguinte, trabalhar em sala de
aula com estratégias de encenação de situações do cotidiano e que também envolvem a troca
de papéis, auxilia na compreensão do problema sob o ponto de vista do outro, um passo decisivo
para o desenvolvimento da empatia. Com relação à última aula, também começou às 13:10h e
teve duração de uma hora. Foi feita uma revisão de todos os conteúdos anteriores e um jogo
pela plataforma “Kahoot”, em que foram adicionadas perguntas para serem respondidas entre
verdadeiro ou falso e outras de múltipla escolha. Entre essas perguntas: Qual a opção que mostra
duas emoções básicas? a) Surpresa e felicidade b) Tristeza e medo c) Medo e angústia d)
Bondade e saudade; O que é empatia? a) é ajudar sem julgar b) é não ficar triste c) é ofender as
pessoas d) é não compartilhar nada.
Das questões de verdadeiro ou falso: Todas as emoções são importantes. a) verdadeiro
b) falso; Emoções e sentimentos são a mesma coisa. a) verdadeiro b) falso. Das questões de
múltiplas escolhas com mais de uma alternativa correta: Como podemos desenvolver a
empatia? a) Falando mal das pessoas b) Não se preocupando com ninguém c) Respeitando
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Quanto à interferência da família, esta aconteceu algumas vezes, em que algumas mães
que acompanhavam as aulas do filho faziam perguntas com relação à psicologia, exigindo
manejo da estagiária, pois aquela atuação era como professora. Sobre o planejamento de aulas,
foi percebido que precisa ser flexível, pois mesmo havendo a observação no primeiro estágio,
foi necessário mudar algumas coisas nos planos de aula para melhor entendimento dos
estudantes, e à medida que havia as aulas, percebia-se melhores formas de lecionar nas aulas
seguintes.
O estágio foi proveitoso devido ao engajamento dos alunos, mesmo sendo poucos
estudantes que participaram ativamente. Acredita-se que caso fosse presencial teria maior
participação, pois foi percebido que essa é uma caraterística marcante da turma. Diferente do
que foi constatado em um relato de experiência de Silva e Gaspar (2018), em uma turma do 5°
ano da rede pública, que era notória a falta de interesse dos alunos pelas atividades propostas e
muitos afirmavam que só frequentavam as aulas por obrigação e que ao atingir a maioridade
pretendiam abandonar a sala de aula. Uma problemática que faz parte do cenário educacional
brasileiro: a evasão escolar.
Com relação à abertura da escola e a boa relação com a professora, diretora e supervisora
favoreceu o planejamento e execução das aulas, pois a escola se mostrou disponível em
substituir as aulas fixas da professora para a estagiária, sendo disponibilizado o horário de uma
hora para cada dia em que foi lecionado. De modo geral, notou-se que os objetivos dos cinco
planos de aulas foram alcançados.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
profissionais do local. Acredita-se que o modelo remoto fez muita diferença no formato das
aulas, pois sempre era necessário fazer algo mais dinâmico e lúdico para facilitar a fixação da
atenção e não se tornar cansativo. Mas considerou-se um processo de maior entendimento de
como ocorre a aprendizagem, do relacionamento professor-aluno, teoria e prática.
O estágio trouxe uma percepção maior de como é o trabalho do educador, dos limites
necessários em sala, adaptação de tarefas e manejo com os pais. Também trouxe uma
perspectiva do quanto a internet pode ser essencial nos meios educacionais, pois caso não
existisse, as aulas teriam ficado mais tempo paralisadas e os alunos com mais déficits. Foi
percebido que o formato online trouxe um relacionamento mais próximo e direto com a família
desses alunos, pois eles os auxiliavam nos momentos da aula e mandavam as atividades dos
filhos, algo que provavelmente não aconteceria caso fosse de forma presencial.
Ademais, proporcionou aprendizados que somente no campo da teoria não seria possível
e provocou o senso crítico de quanto o social influencia nos demais processos dos sujeitos, pois
mesmo com possibilidades das aulas serem online, muitos alunos não puderam participar
devido aos determinantes sociais já citados.
REFERÊNCIAS
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Aparecida Dantas. O uso da tecnologia e as dificuldades enfrentadas por educadores e
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(re)Existência: mudanças, conscientização e conhecimentos. Maceió: Alagoas. Disponível
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DALTRO; Mônica Ramos; FARIA, Anna Amélia de. Relato de experiência: Uma narrativa
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Acesso em: 20 nov. 2021.
STAHL, Luana Rosalie; SANTOS, Camila Fleck dos. O estágio nos cursos de licenciatura:
reflexões sobre as práticas docentes. Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul,
2012. Disponível
em:http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/1351/46
2. Acesso em: 29 set. 2021.
RESUMO
ABSTRACT
The psychology course covers different contexts and fields of activity. As the training of
psychologists is characterized today in Brazil as generalist, the basic internships within the
course help to reduce the impact of this general view of psychology and allow the student to
experience in a practical way the theoretical and technical background, observing and
intervening in the fields of action. professional. The present research aimed to report the
experience within the field of basic internship in school psychology of psychology students
from the 5th and 10th period, which took place in a State School of basic education. The
research relies on the students' experience report and their main observations, as well as the
description of their interventions with 8th grade students, along with an integrative bibliography
1
Graduando em Psicologia. Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
nickamaraloliveira@outlook.com
2
Graduanda em Psicologia. Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail: fernandafbmp@hotmail.com
3
Graduando em Psicologia. Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
pedro.queiroz@aluno.catolicadorn.com.br
4
Mestre em Educação pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Docente da Faculdade
Católica do Rio Grande do Norte. E-mail: mayccon@yahoo.com.br
948
research. All this is configured in a material rich in information that will contribute to the
academic community to know the performance of the psychology student within the school.
Keywords: School psychology, Experience report, Basic internship
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho é referente a prática da disciplina de estágio básico II, em Psicologia
Escolar, nele contém a descrição das vivências do grupo que frequentou uma escola pública de
ensino fundamental, focando nas interações e desafios enfrentados pelos integrantes. O estágio
teve como principais fundamentos a prática dos saberes construídos teoricamente em sala de
aula no período conceitual da disciplina, a aquisição da experiência na prática do psicólogo
educacional, além da possibilidade de descobrir a capacidade dos estagiários de identificar as
demandas da instituição, selecionando, tais como suas dificuldades, fragilidades, competências
e potencialidades, como também, definir quais desses aspectos seriam utilizados para o
planejamento e execução de uma intervenção.
Em vista disso, é necessário afirmar que para ser possível a saída a campo na disciplina
de Estágio, foi necessário uma série de outras disciplinas voltadas a Psicologia escolar e
educacional e desenvolvimento humano, disponibilizadas pela Faculdade Católica do Rio
Grande do Norte (FCRN), com intuito de preparar teoricamente os alunos para os prováveis
contratempos que tendem a surgir no meio do percurso, para que assim seja possível entender
os processos fundamentais para o desenvolvimento infantil saudável, bem como a importância
e os impactos da relações entre família-criança, família-escola e família-criança-escola.
Nesse sentido, Francischin (2016) fala sobre a Psicologia Escolar como uma
especialidade, acrescentando que dentre as principais funções do psicólogo na escola, está
presente um trabalho multidisciplinar e interdisciplinar, a intervenção ativa no clima
educacional, identificação de problemáticas e a realização dos objetivos educacionais para/com
os alunos no âmbito de ensino-aprendizagem, podendo envolver através disso, mediação junto
com a família, com os professores, diretamente com a instituição de ensino ou com os próprios
estudantes, de forma a criar ambientes confortáveis dentro da instituição, não restringindo seu
papel como diagnosticador ou o aluno a um diagnóstico, procurando promover a saúde e o bem-
estar para todos os colaboradores responsáveis para o crescimento da escola e os lecionandos,
complementa Guzzo (2012).
Assim sendo, ao se depararem com o campo, os estagiáriarios puderam vivenciar na
prática o trabalho de dismistificar a ideia do psicólogo na escola, expicar seu trabalho e
949
experimentar o trabalho com a equipe pedagógica, objetivando a análise das queixas e propondo
um projeto de intervenção que auxiliasse na melhoria das relações de ensino e aprendizagem.
E na tentativa de aliviar o máximo de sofrimentos no período em que se propunham.
Em vista disso, este artigo busca evidenciar o trabalho do psicólogo escolar, a partir do
relato de experiência do estágio básico em psicologia e processos educacionais, realizado
durante ano de 2022, entre março e junho, por alunos do quinto e décimo períodos, do curso de
Psicologia, da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte, Localizada em Mossoró-RN.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Silva et al (2017) conclui em sua pesquisa que o psicólogo escolar deve sempre estar
engajado aos processos pedagógicos e contribuir para o suporte da equipe e todos que estão
envolvidos com o processo. O autor pontua que é importante que todos tenham clareza do seu
verdadeiro papel e função dentro da escola para que esse trabalho alcance todos os objetivos e
o sucesso da aprendizagem.
Nesse sentido, entendendo a importância do psicólogo dentro da escola, o Congresso
Nacional decretou a Lei 13935/19 obrigando que todas as escolas das redes públicas contem
com uma equipe multiprofissional na presença de um assistente social e um psicólogo (Brasil,
2019). Sendo assim, o profissional da psicologia dentro da escola deve sempre olhar para a
integralidade do aluno, entender que ele está inserido em um contexto social, além de olhar para
as questões emocionais desse aluno, pois a educação se faz na união de todos esses fatores
(MOURA, 2021).
3 METODOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No centro da estrutura havia um pátio a céu aberto e outro coberto, ambos consistem em
um espaço de interação. A instituição ainda conta com uma quadra poliesportiva coberta,
utilizada apenas para aulas educação física e passa o restante do tempo fechada, sendo liberada
apenas pelo professor da matéria.
Mais à frente dos aspectos físicos, a instituição dispõe de um professor para cada
disciplina, exceto pela disciplina de matemática, que dispõe de dois profissionais. Um dos
pontos observados pelo grupo foi a alta demanda de ausências desses, junto com a falta de
docentes para suprir a ausência dos mesmos e de uma das professores que se encontrava de
licença, em virtude disso, as aulas ficavam vagas ou eram utilizadas para responder atividades
disponibilizadas pela diretora da escola.
Além disso, os alunos são vistos como indisciplinados pela maior parte do corpo
docente. Foi relatado por vários professores que os alunos davam muito trabalho e os causavam
estresses além de deixá-los cansados e desmotivados, eles frequentemente apresentavam falas
como “eles não querem nada com a vida”, “eles só funcionam na base do grito”. Entrando em
consenso com a afirmação de que a função do professor vem mudando, as responsabilidades e
exigências sobre esse profissional tem aumentado cada vez mais, de modo que ele precisa
apresentar, além das competências pedagógicas, habilidades sociais e emocionais (JENNINGS
E GREENBERG, 2009).
Dessa forma Lecionar vem se tornando uma atividade desgastante, que apresenta
repercussões evidentes na saúde física, mental e no desempenho profissional dos professores
(REIS ET AL., 2006).
Para Mello; Rubio (2013), a aprendizagem está associada a fatores que vão além do ato
de ensinar, de aplicar metodologias novas e criativas, para estes autores o afeto é determinante
para a aprendizagem e Goldane(2010) traz que o aprender ocorre por interações sociais que tem
sua origem em vínculos afetivos. Durante visitas e através dos relatos de alunos e professores,
foi possível perceber uma fragilidade socioambiental, que a maior parte dos alunos enfrenta
diariamente. Esta fragilidade afeta diretamente a vida escolar e a aprendizagem dos alunos.
pirulito, alguns conseguiram sozinhos, outros disseram que pensaram na possibilidade de ajudar
o colega, mas como ele não havia pedido então não ofereceu ajuda.
Ao final foi feita uma reflexão sobre tudo o que havia sido vivenciado nesses dias e eles
disseram que gostaram muito, se sentiram amados e gostaram de refletir sobre si, suas
potencialidades e também conhecer os colegas de sala, entendendo que podem contar uns com
os outros.
Após as dinâmicas os estagiários leram uma cartinha feita por eles para os alunos,
agradecendo por terem se aberto e em resposta a todas as cartinhas produzidas por eles.
Concluiu-se desse momento que foi possível plantar esperança no processo de aprendizagem e
suscitar a busca pela autoestima, espírito de equipe e coletividade, e conhecimento da
importância do profissional da psicologia no contexto escolar.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
DIAS, Ana Cristina Garcia, PATIAS, Naiana Dapieve e ABAID, Josiane Lieberknecht
Wathier Psicologia Escolar e possibilidades na atuação do psicólogo: algumas reflexões.
Psicologia
Escolar e Educacional [online]. 2014, v. 18, n. 1 [Acessado 14 Agosto 2022] , pp. 105-111.
Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1413-85572014000100011>. Epub 13 Maio
2014. ISSN 2175-3539. https://doi.org/10.1590/S1413-85572014000100011.
FRANCISCHINI, Rosângela; VIANA, Meire Nunes. Psicologia Escolar: que fazer é esse?/
Conselho Federal de Psicologia. - Brasília: CFP, 2016. 215p
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
GUZZO, Raquel de Souza Lobo (org.). Psicologia Escolar: LDB e educação Hoje. 4. ed.
Campinas: Alínea, 2012.
JENNING, P. A., & Greenberg, M. T. (2009). The prosocial classroom: Teacher social and
emotional competence in relation to student and classroom outcomes. Review of Educational
Research, 79(1), 491-525.
Reis, E. J. F. B., Araújo, T. M., Carvalho, F. M., Barbalho, L., & Silva, M. O. (2006).
Docência e exaustão emocional. Educação e Sociedade, 27(94), 229-253. doi: 10.1590/S0101-
73302006000100011
ideia e acabaram escrevendo uma carta, onde é evidenciado a importância dos estudantes e um
pouco da opinião do grupo.
959
RESUMO
Esse artigo tem por objetivo apresentar e discutir sobre as atividades terapêuticas realizadas
com as mães acompanhantes de uma UTI Neonatal. O presente trabalho foi construído por meio
de uma revisão bibliográfica de materiais já publicados e o relato da experiência das
profissionais sobre atividades terapêuticas realizadas. Os materiais utilizados para
fundamentação teórica da revisão foram coletados nas plataformas LILACS e SciELO,
filtrando aqueles publicados nos últimos dez anos, entre 2012 e 2022. Os resultados foram
categorizados em três grupos temáticos que subsidiaram a discussão: A hospitalização em uma
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal; Aspectos psicológicos da mulher acompanhante; e
Atividades terapêuticas realizadas na UTIN. Diante disso, foi possível observar que um longo
período de permanência hospitalar pode significar prejuízos ao desenvolvimento do bebê, como
também, ocasionar repercussões psicológicas na mãe acompanhante. A notícia da necessidade
de internação e de cuidados intensivos é um momento marcante, pois além do nascimento de
um bebê de risco, que desperta sentimentos ambíguos na mulher, no cenário intensivo neonatal,
os fios e equipamentos necessários para o tratamento e manutenção da vida, também despertam
sentimentos de angústia e ansiedade relacionados à fragilidade do bebê e possível perda. Nesse
contexto, grupos de verbalização, oficinas de trabalhos manuais, atividades ocupacionais e de
autocuidado são algumas das atividades terapêuticas facilitadas pela equipe da assistência na
tentativa de minimizar as possíveis consequências emocionais a essas mulheres, fortalecendo
também, o vínculo entre o binômio e promovendo ambiente seguro durante o período da
internação.
Palavras-chave: UTI Neonatal; Atividades terapêuticas; Psicologia.
ABSTRACT
This article aims to present and discuss the therapeutic activities performed with accompanying
mothers in a Neonatal ICU. The present work was built through a bibliographic review of
materials already published and the report of the experience of professionals on therapeutic
1
Psicóloga residente em Saúde Materno-Infantil (UFRN/HUAB). E-mail: camilatuane.neuro@gmail.com
2
Psicóloga residente em Saúde Materno-Infantil (UFRN/HUAB). E-mail: yasminfalc@gmail.com
3
Psicóloga residente em Saúde Materno-Infantil (UFRN/HUAB). E-mail: dayanebarbosasil@gmail.com
4
Psicóloga hospitalar no Hospital Universitário Ana Bezerra (EBSERH/UFRN). Especialista em Psicologia da
Saúde: desenvolvimento e hospitalização (UFRN). E-mail: daniella.linhares@ebserh.gov.br
5
Psicóloga hospitalar no Hospital Universitário Ana Bezerra (EBSERH/UFRN). Especialista em Terapia
Intensiva Neonatal (UFRN/MEJC). E-mail: mayra.batista@ebserh.gov.br
960
activities performed. The materials used for the theoretical basis of the review were collected
on the LILACS and SciELO platforms, filtering those published in the last ten years, between
2012 and 2022. The results were categorized into three thematic groups that supported the
discussion: Hospitalization in an Intensive Care Unit Neonatal; Psychological aspects of the
accompanying woman; and Therapeutic activities performed in the NICU. In view of this, it
was possible to observe that a long period of hospital stay can mean damage to the baby's
development, as well as causing psychological repercussions on the accompanying mother. The
news of the need for hospitalization and intensive care is a remarkable moment, because in
addition to the birth of a baby at risk, which arouses ambiguous feelings in the woman, in the
neonatal intensive scenario, the wires and equipment necessary for the treatment and
maintenance of life, they also arouse feelings of anguish and anxiety related to the baby's
fragility and possible loss. In this context, verbalization groups, manual work workshops,
occupational and self-care activities are some of the therapeutic activities facilitated by the
assistance team in an attempt to minimize the possible emotional consequences for these
women, also strengthening the bond between the binomial and promoting an environment
insurance during the period of hospitalization.
Keywords: Neonatal ICU; Therapeutic activities; Psychology.
1 INTRODUÇÃO
É possível observar que o ambiente hospitalar é carregado de tabus, medos e crenças
relacionados ao adoecimento, vida e morte, o que impacta direta ou indiretamente quem
frequenta tal cenário. A fragilidade da condição humana diante de um processo de
hospitalização impacta diretamente naquilo que o paciente pode fazer de si mesmo em termos
de realidade existencial, levando cada sujeito a um processo de revisão da própria vida
(CAMON et al., 2003).
Dentro de um cenário de hospitalização infantil a presença de um familiar ou
responsável é indispensável para acompanhamento em leito. Levando em consideração a
internação de crianças recém-nascidas (RN) dentro de uma unidade de terapia intensiva
neonatal (UTIN), a presença materna torna-se necessária, em razão da oferta do
desenvolvimento do vínculo afetivo, cuidado ao binômio mãe-bebê e aleitamento materno.
Para Maldonado (2017), a gestação não é um fenômeno igualitário nas mulheres,
famílias e sociedades, dessa forma, o seu percurso intra, inter e pós-gestacional também não
será vivenciado homogeneamente. Ao gestar uma criança, expectativas e desejos podem ser
construídos, e estes irão estar interligados a diversos fatores que não estão relacionados apenas
ao ser mãe. O percurso histórico, contexto social e situação socioeconômica da mulher e sua
família, nível instrucional, questões relacionadas à saúde materna, relação com o (a)
companheiro (a) e existência ou não deste (a) companheiro (a) em sua vida, são alguns fatores
que devem ser levados em consideração ao se analisar o gestar e seu puerpério.
961
Compreendendo que cada mulher pode vivenciar o puerpério de uma maneira única, é
possível perceber que a internação de um bebê em um contexto de UTIN pode repercutir
singularmente nessa mãe, que possui uma história pessoal, uma trajetória de vida, e questões
sócio familiares particulares.
De acordo com Silva, Pinto e Alencar (2018), um cenário de hospitalização prolongada
ocorre quando a média de permanência hospitalar ultrapassa 24 horas. Estas autoras relatam
que a média de dias em que um paciente fica hospitalizado no Brasil é de 6,6 dias, e na região
Nordeste é de 5,7 dias. Em observância a isso, é necessário refletir que quando há a necessidade
de internação de um bebê, a mulher e mãe além de vivenciar o puerpério em um hospital,
possivelmente estará inserida em um cenário de hospitalização prolongada.
Apesar de o foco do cuidado em uma UTIN ser o recém-nascido, é importante
direcionar o olhar também para um sujeito cuja fala muitas vezes não é ouvida - a mãe
acompanhante. Uma mulher que, apesar de não ser a paciente internada, pode estar
experienciando o puerpério, o sofrimento por não estar em sua residência, a preocupação com
possíveis outros filhos que ficaram em sua residência, a hospitalização de um bebê, e tantos
outros fatores que podem ser observados.
Dessa forma, surge a noção da importância de perceber essa mulher, vivenciando um
novo cenário e abrindo mão de suas atividades e rotina para acompanhar o seu filho. Logo, faz-
se fundamental que a equipe de saúde seja cuidadosa, resiliente, flexível, e criativa, para
desenvolver estratégias de cuidado com foco no binômio mãe-bebê.
O objetivo deste artigo, então, é apresentar possibilidades e discutir como as atividades
terapêuticas, realizadas durante a internação de recém-nascidos em UTIN, podem atuar como
agentes minimizadores dos possíveis impactos e repercussões de cunho emocional e
psicológico que essa hospitalização possa ocasionar.
2 METODOLOGIA
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
filho, sem que esteja preparada para essa mudança, quase sempre permeada por muito
sofrimento (FRELLO; CARRARO, 2012).
Um longo período de permanência hospitalar pode significar prejuízos ao
desenvolvimento do bebê, como também, ocasionar repercussões psicológicas na mãe
acompanhante, em decorrência de diversos fatores, dentre eles, a relação em construção com o
bebê que acaba de nascer, o distanciamento de sua família, e o papel social atribuído à mulher
(VASCONCELOS; LEITE; SCOCHI, 2006; MELO et al, 2016; SILVA et al., 2020).
Montanhaur et al. (2020), e Silva et al. (2020) nos mostram que a notícia da
necessidade de internação e de cuidados intensivos é um momento marcante, pois além do
nascimento de um bebê de risco, que desperta sentimentos ambíguos na mulher, tanto negativos
como positivos, no cenário intensivo neonatal, os fios e equipamentos necessários para o
tratamento e manutenção da vida dos bebês também despertam sentimentos de angústia e
ansiedade relacionados à fragilidade do bebê e possível perda.
Rolim et al. (2016) nos fazem refletir que o impacto negativo causado pela vivência
da hospitalização pode ser atenuado pela confiança que as mães venham a desenvolver, ao
longo da hospitalização do seu filho, no trabalho da equipe e na permissão pela equipe da
participação dos cuidados do filho. O cuidado ofertado pelos profissionais com a escuta e
identificação de demandas, com divulgação das notícias sobre os bebês de forma
compreensível, e o apoio da equipe aos pais também podem atuar como fatores de facilitação e
enfrentamento das situações adversas decorrentes da internação (MONTANHAUR et al.,
2020).
Em sua pesquisa sobre a vivência de mães de bebês prematuros durante a internação,
Baseggio et al., (2017) observaram semelhança entre os sentimentos descritos pelas mães, como
a culpa por sentirem-se responsáveis pela internação e nascimento prematuro, angústia, medo,
estranhamento com a aparência e incerteza sobre a sobrevivência do bebê.
Vasconcelos, Leite e Scochi (2006) realizaram um estudo com mães acompanhantes
de seus RNs, cuja internação variou de 26 a 83 dias; nesse contexto, foi verificado que a saudade
da família foi um sentimento marcante entre as mulheres que estavam acompanhando os bebês,
principalmente com relação aos familiares mais próximos. Vale salientar que o contexto
familiar e social da mulher que está acompanhando o seu filho é um panorama importante a ser
verificado e problematizado, uma vez que algumas dessas mulheres podem não ter um suporte
familiar ou rede de apoio eficaz. Diante disso, o sentimento de solidão e abandono pode também
ser uma característica presente nesse contexto, em que o foco da assistência é o bebê.
Na construção da sua tese de doutorado, Tinoco (2013) buscou conhecer as
experiências vividas por mães de RNPT e entender as repercussões da prematuridade na
maternidade e na construção do vínculo entre mãe e filho. A autora afirma que, dentre as
participantes, a vivência de acompanhar seus filhos na UTIN “foi acompanhada por diferentes
967
O Manual Técnico do Método Canguru (2017) orienta que devem haver espaços e
atividades que favoreçam a estadia da mulher e mãe no hospital, e que contribuam para uma
melhor ambientação. Atividades ocupacionais, grupos de verbalização, oficinas de trabalhos
manuais facilitadas por profissionais de saúde, são estratégias que favorecem também o
desenvolvimento de identidade de grupo entre as mulheres que estão compartilhando o mesmo
ambiente (BRASIL, 2017).
Tais estratégias são nomeadas neste artigo como atividades terapêuticas, tendo em vista
os seus objetivos e execuções. Sobre isso, Nascimento (1990) afirma que as atividades tornam-
se terapêuticas quando, através da sua realização, cria-se uma relação terapêutica entre o
profissional, os sujeitos participantes, o grupo e a atividade.
A equipe multiprofissional inserida na UTIN pode ser a mediadora do cuidado materno,
fortalecendo a importância da existência de atividades que tenham objetivo terapêutico. Santos
et al (2020) apontam para a necessidade de a equipe estimular as mulheres na participação de
atividades de autocuidado no período da hospitalização, pois, de acordo com os resultados
obtidos no seu estudo, o cuidado multidimensional favorece o enfrentamento desse período de
internação para mãe e para o RN.
Pensando em outros benefícios que as atividades terapêuticas podem gerar, Baltazar
(2010) aponta que, atividades manuais que as mães confeccionam para os seus bebês, podem
auxiliar no fortalecimento do vínculo entre o binômio e o trabalho com a expectativa da alta
hospitalar.
Em pesquisa realizada sobre a rotina da mãe acompanhante, Almeida et al (2018),
perceberam que o dia-a-dia dessas mulheres é permeado de ociosidade. Sendo assim, atividades
968
como musicoterapia, oficinas de artesanatos, dia de beleza, dentre outros, são sugeridos pelos
autores como forma de possibilitar uma hospitalização mais acolhedora e sensível.
Ao refletirmos sobre essas mães acompanhantes, entendemos que estas estão totalmente
distantes de suas vidas fora das paredes do hospital. É inesperada e intensa a vivência de uma
mulher que acompanha seu filho na UTIN, pois são muitas as emoções provocadas durante toda
essa experiência (FONSECA; RESENDE, 2021). Por isso, as atividades realizadas com elas no
período da hospitalização, além de buscar atingir efeito terapêutico, tem por objetivo promover
um ambiente seguro e facilitador de cuidados. A mãe que cuida, que amamenta e que se coloca
disponível aos cuidados com seu RN, também necessita de assistência integral e humana à sua
saúde.
A equipe de Psicologia do hospital, cenário deste relato, é composta por três
profissionais da Psicologia Hospitalar. Além disso, por ser vinculado a uma instituição de
ensino superior federal, recebe anualmente psicólogos integrantes do Programa de Residência
Multiprofissional em Saúde Materno-Infantil, uma pós-graduação Lato Sensu, cuja duração é
de 2 anos.
As atividades terapêuticas elaboradas pela equipe de Psicologia do hospital, para as
mães acompanhantes são construídas pelos profissionais, que se propõem a alcançar uma
variedade possível de recursos, atingindo a linguagem escrita, a linguagem verbal, estimulam
habilidades manuais, possibilitam a expressão do subjetivo, procuram promover relaxamento,
e celebração de datas comemorativas.
Tais atividades são variadas, indo de recursos pré-construídos, como caça-palavras e
desenhos para colorir; passando por alguns itens lúdicos como bingos, exposição de filmes e
musicoterapia; até atividades que promovam a expressão da linguagem e subjetividades das
usuárias, como as atividades manuais de produção, o Livrinho das emoções, e a Carta para meu
bebê.
No que se refere à promoção do autocuidado, já apontada pela literatura como um
facilitador de impacto da hospitalização, é promovido para as mulheres o acesso a objetos de
autocuidado, como esmaltes, lixas de unha e acetona, a fim de fortalecer a autoestima e
identidade dessas mães, que se encontram em uma internação prolongada com seus filhos.
Importante salientar que as atividades planejadas para as mães dependem da rotina da
UTIN. Para que estas ocorram, é importante observar quais as demandas do dia em que a
atividade será realizada, e principalmente, levar em consideração as intercorrências que podem
969
aparecer nesse contexto. É importante que a equipe esteja atenta às repercussões de uma
atividade não realizada, ou até mesmo nos impactos que determinada intercorrência pode gerar
no grupo de mães. A equipe da UTIN precisa está afinada com o cuidado humanizado, a escuta
e o acolhimento dessas mulheres (ZANFOLIM et al, 2018).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O nascimento de um bebê prematuro e/ou baixo peso não raro está associado a um
período de longa hospitalização. Dessa forma, faz-se necessário a presença de uma figura
responsável por acompanhar o bebê nesse período. Frequentemente essa figura é a mãe, que em
razão da condição de saúde do filho, acaba se afastando de suas atividades, família e rotina para
se dedicar a esse momento.
Ainda que na literatura atual e na política de humanização dos cuidados ao bebê
prematuro e/ou baixo peso fique clara a importância de espaços e atividades que favoreçam a
estadia da mulher e mãe no hospital, é possível observar, a partir do levantamento bibliográfico
construído, a escassez de material que discuta a respeito de atividades que envolvam e
promovam cuidado à mãe acompanhante de um bebê que vivencia longa hospitalização.
Compreende-se que por vezes a tensão do ambiente, a rotina e a sobrecarga de trabalho
em muitas instituições podem dificultar a promoção de momentos como os que foram
discutidos no decorrer do presente trabalho. No entanto, se faz necessário e urgente identificar
espaços de reflexão e momentos de delineamento de estratégias entre as equipes. Com a
finalidade de que seja possível realizar intervenções que ampliem o cuidado ao recém-nascido
prematuro e/ou baixo peso, envolvendo seus familiares e mais especificamente as mães
acompanhantes, na tentativa de minimizar as possíveis consequências emocionais da
hospitalização a essas mulheres, fortalecendo também, o vínculo entre o binômio e promovendo
ambiente seguro durante o período da internação.
REFERÊNCIAS
SILVA, A. G., da et al. Principais causas de internações em uma unidade neonatal no extremo
Norte do Brasil. Brazilian Journal Of Health Review, Curitiba, v. 3, n. 5, p. 12416-12430,
set. 2020.
VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. 224
p.
972
RESUMO
ABSTRACT
This article is a man educated in a humanitarian way, following the consideration of Paulo
Freire, who knows how to train XX teachers, pedagogue, philosopher, writer, "citizen of the
world". In addition, or objective is related to the importance of the sensitive look on the
competence of the Freiriana teacher by some fundamental perspectives in his work: education,
freedom, human and love.With a methodology of bibliography, qualitative, explanatory and
analytical, supported by Gadotti (2003), Vasconcellos (2007) and Zitkosky (2006), retracting a
thought that an education should be directly linked to the subject, with its competence to
humanize the world, taking its simple and educating as something free, considering that the
individual, in the consciousness of his individual construction, has the need to elaborate his
1
Artigo Científico apresentado à disciplina Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura), como requisito
necessário para obtenção do título de Licenciada em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do
Norte, dezembro, 2021
2
Graduanda do curso de licenciatura em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – 2021
E-mail: lara.maia1@hotmail.com
3
Graduanda do curso de licenciatura em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – 2021 E-
mail:georgiajrosado@gmail.com
4
Graduanda do curso de licenciatura em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – 2021 E-
mail: flaviakamila14@hotmail.com
5
Professora Especialista da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – E-mail:
ana.marques@professor.catolicadorn.com.br
974
INTRODUÇÃO
diálogo e pelo desejo das palavras, assim, o interesse surgido pelo o assunto proporciona uma
alfabetização rápida e significativa. Para ele é necessário priorizar o igualitarismo entre
professor e aluno e seus princípioshumanistas que contribuem para a libertação que não retrata
somente dos desfavorecidos, mas da escola em si que existem normas ligadas aos interesses
que estão contra o controle da parte externa.
Por fim, a escola deveria ser um processo de ensino com o foco na aprendizagem e o
saber seriam construídos a partir do amor e da mente, mas na verdade, a maioria continua
visando apenas conteúdos e sem nenhuma preocupação com o ser humano, com o olhar mais
humanizado dentro da educação.
DESENVOLVIMENTO
Freire, ficou conhecido como um dos maiores educadores do século XX assim com
sua, “[...]valiosa contribuição pedagógica [...] iluminando a necessidade de desenvolver uma
‘pedagogia ética’e ‘utópica’, na perspectiva da superação de situações limitadoras” (ECCO,
2010, p. 79). Enfatizava que além do aluno aprender pela docência, era necessário um
aprendizado humanizador. Uma mensagem deixada por um prisioneiro de campo de
concentração nazista, também, registrada por Gadotti, suplica aos professores que “[...]
ajudem seus alunos a tornarem-se humanos. [...] Ler, escrever e aritmética só são importantes
para fazer nossas crianças mais humanas” (GADOTTI, 2003,p.13).
Considerando os apontamentos registrados anteriormente, reafirmamos que “[...] cabe,
também, à educação a responsabilidade de abrir as portas da mente e do coração e de apontar
horizontes de construção partilhada de sociedades humanas mais humanizadas” (BRANDÃO,
2002,
p. 22) Com isso, Paulo Freire aponta para a educação humanizadora, pois como afirma
Gadotti (1997,
p. 07): “Paulo nos encantou com sua ternura [...]. Suas palavras e ações foram palavras
e ações de luta por um mundo menos feio, menos malvado, menos desumano.”
A educação e a Humanização que Paulo Freire tem como objetivo transformar o sujeito
em seres humanos, sabendo que educar-se é um imperativo ontológico, pois pertence à sua
própria natureza e se empenha em concretizar a potencialidade e a possibilidade, que lhe é
peculiar, do vir aser humano, uma vez que nasce incompleto. Assim, o educar e seus processos
são condições para a hominização6, pois ao nascer, o ser humano, não passa de um projeto.
pensando assim, apresentou a escola como iminência da sociedade. Reconhecendo o dever que
tem o educandário parahomens e mulheres sabendo que esta não é a única responsável pelas
transformações da sociedade, pois são estabelecidas para a prevenção das estruturas sociais e
econômicas dominantes, que impedema própria mudança.
Assim, Paulo Freire apresenta para a escola o princípio da relação entre professor e
aluno, quemuitas vezes é envolvida pelo autoritarismo além da ausência do diálogo. A partir
de Paulo Freire compreende-se a importância a de uma aprendizagem que aconteça através do
diálogo entre alunos, pais e professores, modificando a vida escolar, ao transforma-la em um
assunto de todos osenvolvidos nesta rede.
Citado por Moacir Gadotti (1991, p. 84), é nesse sentido que Paulo Freire é enfático ao
afirmar que “a transformação da educação não pode antecipar-se à transformação da
sociedade, mas esta transformação necessita da educação”. Esse pensar expressa um desejo
de uma pratica pedagógica, não somente ao ponto da escola, mas da comunidade e da inclusão
desse sujeito, assim, a valorizaçãoda vivencia cotidiana como forma de mudança na medida
em que se torna digno de debater sobre asnecessidades das próprias culturas existentes.
Dessa forma a educação é vista como ferramenta a serviço da democratização,
contribuindo com as experiencias comunitárias dos grupos sociais e através da comunicação
para formar pessoas participativas. A reforma da educação, junto com a sociedade, é parte do
mesmo processo, nesse caminho, Freire enfatiza o educador que ao refletir o homem, a
sociedade e seus laços, atentou-se emdiscutir a educação brasileira e pensar formas de torna-
la melhor diante da participação de todos, na visão de uma educação libertadora com a força
do educando poder se tornar sujeito de seu próprio desenvolvimento.
HUMANISMO
O ser humano, para Freire é um ser inacabado e, consciente disso, aspira “Ser Mais”.
E por ser inconcluso, busca seu aprimoramento através da educação, pois “Educar é
substancialmente formar” (FREIRE, 1996, p. 32), considerando o inacabado como condição
ontológica dos humanos, bem como a questão antropológica freiriana, compreende-se que: a
concepção antropológica de Freire é marcada pela ideia de que o ser humano é um ser
inacabado; não é uma realidade pronta, estática, fechada. Somos um ser por fazer-se; um ser
no mundo e com os outros envolvidos num processo contínuo de desenvolvimento intelectual,
moral, afetivo. Somos seres insatisfeitos com o que já conquistamos (TROMBETTA, 2008,
p. 228).
Na verdade, diferentemente dos outros animais, que são apenas inacabados, mas não
são históricos, os homens se sabem inacabados. Têm a consciência de sua
inconclusão. Assim encontram as raízes da educação mesmo, como manifestação
exclusivamente humana. Isto é, na inconclusão dos homens e na consciência que
dela têm (FREIRE, 2005, p. 83-84).
Assim sendo, para o autor, humanismo é representado por um proposito dos seres
humanos com a sua própria humanidade, caminhando por um sentir mais real. Ao notar-se um
ser no mundo eviver coletivamente, é importante para a conscientização de que o processo só
fará sentido se o papeltransformador a ser dirigido por homens e mulheres for com o intuito
de realizar seus sonhos e desejos.
Ademais, a humanização se faz perante o contexto de realidade de cada pessoa, esse
processoé algo permanente e inacabado tendo consciência da naturalidade da incompletude
humana. Por fim,esse pensamento quer apontar uma transformação de uma realidade, a ideia
é que não exista classe privilegiada querendo adestrar uma outra, mas que com uma mudança
de pensamento poderá abriruma nova forma do que se diz sobre Inclusão e humanização.
Se, para uns, o homem é um ser da adaptação ao mundo (tomando-se o mundo não
apenas em sentido natural, mas estrutural, histórico-cultural), sua ação educativa, seus
métodos, seusobjetivos, adequar-se-ão a essa concepção. Se, para outros, o homem é
um ser de transformação do mundo, seu quefazer educativo segue um outro caminho.
Se o encararmos como uma “coisa”, nossa ação educativa se processa em termos
mecanicistas, do que resulta uma cada vez maior domesticação do homem. Se o
encararmos como pessoa, nosso quefazer será cada vez mais libertador (FREIRE,
1967, p. 124).
Essa falsa concepção evita essa inquietação, freia a impaciência, mistifica a realidade
980
e tudo isso a fim de adaptar o homem. A compreensão crítica de Freire, (1967) sobre a inserção
do homemé denominada como “classificação da realidade”, assim, entende que tudo isso é
uma tarefa demoníaca, absurda, que a concepção bancária não pode suportar. Concluindo a
interpretação dos educandos como sendo inquietos, criadores e refratários a coisificação, eles
são vistos por essa concepção desumanizante como inadaptados, desajustados ou rebeldes.
A educação para Freire, segundo afirma Zitkoski (2006, p. 28), “deve ser trabalhada
intencionalmente para humanizar o mundo por meio de uma formação cultural e da práxis
transformadora de todos os cidadãos sujeitos da sua história”. Educar é uma relação interativa
entre pessoas, isto é, sujeito-sujeito na perspectiva de “ler” e transformar realidades. “A
educação é um atode amor, por isso um ato de coragem. Não pode temer o debate” (FREIRE,
1983b, p. 104), logo, umarelação sujeito-mundo.
Você, eu, um sem-número de educadores sabemos todos que a educação não é a chave
das transformações do mundo, mas sabemos também que as mudanças do mundo são
um quefazer educativo em si mesmas. Sabemos que a educação não pode tudo, mas
pode algumacoisa. Sua força reside exatamente na sua fraqueza. Cabe a nós pôr sua
força a serviço de nossos sonhos. (FREIRE, 1991, p. 126)
Nas palavras de Paulo Freire (2004, p 329), ele “gostaria de ser lembrado como um
sujeito que amou profundamente o mundo e as pessoas, os bichos, as árvores, as águas, a vida”,
diante disso,o educador compreendia que o amor está no interior do ser, bem como na sua
essência, essa compreensão carrega profundas raízes para a educação, principalmente para
quem luta pela inclusão,defende e assume a humanização como a grande tarefa da escola.
McLaren (2001, p. 194), comentando a presença desta característica na obra de Freire,
afirma:“O que distingue Freire da maioria dos outros educadores de esquerda nestes tempos
de razão cínicaé a sua insistência, sem a mínima vergonha de fazê-lo, na importância do poder
do amor”.
Além disso, Paulo em sua trajetória desfoca sobre os conteúdos para centrar-se nos
sujeitosque estão inseridos na ação educativa. Ao se preocupar com o processo educacional,
registra na sua obra Pedagogia do Oprimido (1983), que a educação deve partir dos níveis e
das compreensões dos educandos e não a partir das interpretações do educador, considerando
982
qualquer realidade a ser conhecida. Com isso, Freire (1983) exibiu um dos problemas
encontrados na educação formal, como já trabalhado nessa pesquisa, é a inexperiência do
exercício democrático e a centralização no verbalismo, nos programas. Portanto, para superar
as limitações da Educação Bancária, a solução seria o desfoco dos programas, dos conteúdos
inertes e centra-se nos seres humanos envolvidos na ação educativa, nos processos de
aprendizagens. Contudo Freire (1983) reafirma-se a defesa e a vivência de procedimentos
interativos no ato educativo, notório na teoria freireana.
Para Paulo Freire, educar sempre será uma relação de gente com gente, de adultos com
crianças, conforme expressa Arroio (2001):
[...] Para Paulo Freire, o caráter renovador da educação está no caráter intrinsicamente
renovado de toda a relação humana, entre humanos. Formamo-nos no diálogo, na
interação com outros humanos, não nos formamos na relação com o conhecimento.
Este pode ser mediador dessa relação como pode também suplantar essa relação
(ARROYO, 2001, p. 47).
Paulo Freire parte dos educandos. Não se firmou como educador pelas análises
sociológicas ou antropológicas, políticas ou econômicas que nos legou, mas pela sua
sensibilidade afinada, pedagógica para com os processos de poder ou não poder sermos
humanos nessa realidade, por vezes tão desumana (ARROYO, 2010a, p. 48).
Ninguém começa a ser educador numa certa terça-feira às quatro a tarde. Ninguém
nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se
forma, como educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre a prática.
(FREIRE, 1991, p. 58)
Pela postura de professor entendemos aquele sujeito que está inserido no processo de
humanização, que faz a educação por meio do ensino, que está implicado na tarefa de propiciar
a apropriação crítica, criativa, duradoura e significativa da herança cultural como mediação
para a construção da consciência, do caráter e da cidadania plena de cada um e de todos, então,
certamente,estamos diante de uma das atividades mais complexas do ser humano, que exige
uma competência muito maior.
No processo de aprendizagem a interação social junto com a mediação do sujeito tem
total importância, já na escola há um dever que haja a interação entre professor-aluno, pois
não existiria uma outra forma de aprender sem essa conexão para que ocorra o sucesso no
caminho do ensino aprendizagem Por fim, compreende-se a existência de tantos trabalhos e
pesquisas na área da educação pelos assuntos, os quais buscam destacar a interação social e o
papel do professor mediador, como caminhos básicos para qualquer prática educativa
competente. Com as obras de Paulo Freire, observa-se vários pensamentos sobre esse tema e
um forte reconhecimento do diálogo como um marcante instrumento na constituição dos
sujeitos. No entanto, Freire defende a ideia de que só é possível uma prática educativa
dialógica por parte dos educadores.
Essa exclusão pode surgir através de inúmeros fatores, como algum tipo de deficiência, a
orientação sexual, cor da pele, gênero, entre outros, que leva sujeitos e sujeitas que se incluam
nesses fatores a serem excluídosda sociedade. A inclusão social serve, assim, para despertar
debates para que esses cidadãos e cidadãs excluídos pela ignorância social tenham mais
oportunidades em todas as áreas sociais.
Tal discussão, então, despertou os alunos e alunas para refletirem acerca da
importância da inclusão social, fazendo com que alguns ainda abrissem espaço para dar
exemplos, partilharem experiências e complementarem afirmações em sala de aula. Dito isso,
essa aula foi pensadajustamente para que esse debate permitisse a participação de todos e de
todas, fazendo com que os alunos trouxessem para a sala de aula suas vivências e partilhas.
Partindo da perspectiva freiriana de ensino e da educação problematizadora e
humanizada, é relevante citar Soares (2020) novamente quando essa autora aponta que a
formação de professores deve se voltar justamente para que esses tenham o discernimento de
formar alunos e alunas que consigam e queiram fazer leituras de mundo acerca da realidade
que os cerca; ou, como bem pontuaa autora, que “[...] consigam fazer uma leitura crítica do
mundo, do [seu] contexto [...]”.
Trazendo os conceitos de Arroyo (2001) para essa análise e discussão, é propício
retomar o que ele conceitua quando afirma que educar é ‘construir gente’, trazer para o foco
do 33 ensino a lutaem denunciar e superar elementos desumanizadores, como foi citado no
estudo. Assim, essa primeiraaula conseguiu se concentrar nesse aspecto ao fazer com que os
alunos se atentassem para essa discussão acerca da importância da inclusão social.
Na medida em que educar é permitir aos sujeitos e sujeitas, também, fazer a
interpretação acerca dos contextos em que eles estão inseridos, a fim de que eles e elas
busquem transformações, isso está dentro dos aspectos que preconizam a educação
humanizadora e os ideais de Paulo Freire.
Outrossim, o debate foi realizado como em uma espécie de mesa redonda, como é
possível perceber na Figura 01, de maneira que até a disposição dos alunos foi pensada
para que todos se sentissem incluídos nas discussões e ficassem à vontade para questionar e
acrescentar, o que se intui que vai contra a concepção de educação bancária, em que o educando
não tem espaço para pensar porsi mesmo, tornando a educação mecanicista.
988
Figura 01: disposição dos alunos durante aula sobre 'inclusão social'.
Na aula seguinte, ainda se observou a demora para iniciar a aula devido a uma certa
dispersãodos alunos, contudo, diante do silêncio proposital da professora, esta pesquisadora,
foi explicado quea espera pelo silenciar dos alunos para que a aula se iniciasse partia da ideia
da atitude esperada por eles, a tomada de consciência acerca da presença da professora em
sala, no que os alunos fizeram uma reflexão acerca da existência de um grau de igualdade entre
aluno e professor, em que ambos oslados devem prestar respeito mútuo um ao outro.
Tal concepção inicial foi vista como positiva, pois os alunos e alunas puderam perceber
que todos ali tinham os mesmos objetivos em comum: a educação conjunta. Diante disso, e
utilizando Trombetta (2008), autor já destacado ao longo do estudo, a ideia de educação
humanizadora de Freireaponta para uma questão relativa ao fato de que o ser humano é um ser
inacabado, como foi bastantediscutido no decorrer da pesquisa.
Isso constrói a ideia de que, ao estar no mundo, e ao nos voltarmos para os conceitos
de humanização, o processo de ensinar deve ser visto justamente a partir desse
desenvolvimento intelectual, moral e afetivo, que leve os alunos e alunas a pensarem acerca
de suas atitudes e comportamentos, mas sem desrespeitar suas formas de se expressar. É
possível fazer educação sem embates e sem retirar dos alunos a noção de que eles são
responsáveis por suas maneiras de agir e comportamentos.
Nessa aula, também foi feito um círculo e a discussão girou em torno do tema
‘Emoções’. Também foi disseminado um debate para que eles apresentassem seus pontos de
vista com relação aoconteúdo, e cada um buscou expressar suas emoções e compartilhar mais
ideias e experiências. Na terceira aula e última aula, percebeu-se que já existia uma interação
enorme com todos os âmbitos daescola. Isso demonstrou a importância de uma escola conjunta,
989
Tal disposição também pode se atentar para o fato de a escola poder ser enxergada
como umambiente de acolhimento, onde os alunos se sintam confortáveis para se expressarem
da maneira quedesejarem. A aula ministrada foi sobre ‘saúde mental’ e, feita a discussão e o
debate, foi realizada uma dinâmica que proporcionou ainda mais interação entre todos. No
final, foi disposta uma caixa e instruído aos alunos que escrevessem em um papel acerca do
que eles queriam para o futuro, como épossível observar na Figura 03, a seguir.
A maioria dos relatos se voltavam para a realização de desejos e anseios diante das
realidades de cada um, e na esperança depositada na educação a partir disso. Para muitos,
estudar é justamente um ato de liberdade na medida em que pode lhes permitir realizar seus
sonhos e objetivos.
Nisso, pode-se recorrer a Freire quando o autor frisou, quando dos pressupostos
teóricos, quejamais compreendeu a educação como “[...] experiência fria, sem alma, em que
os sentimentos e as emoções, os desejos, os sonhos devessem ser reprimidos por uma espécie
de ditadura racionalista”, mas como uma experiência humanizadora, que enseje a liberdade de
todos os sujeitos que fazem partedela.
Assim, espera-se que esse relato de experiência tenha ajudado na compreensão do
quanto a humanização na educação é importante, assim como todos os processos ligados a
essa humanização.É preciso buscar novas concepções, entender os anseios dos alunos e dos
sujeitos e sujeitas que fazem parte do processo educativo, pois é justamente nas mentes dos
educandos que está o segredo de comotornar o fazer educativo parte deles e parte de todos.
METODOLOGIA
O artigo elaborado teve por objetivo desenvolver uma reflexão a partir da visão do
grande pensador Paulo Freire, que implantou obras que retratam sobre a “Educação e
Humanização” com base na revisão bibliográfica, em que sua fundamentação teórica foi
originada por artigos publicados.A revisão bibliográfica consiste em um método voltado para
991
qualitativa, procura abranger os fenômenos e suas complexidades, além de trabalhar com fatos
e processos que podem ser mais característicos.
Dessa maneira, a abordagem qualitativa trata-se do estudo das relações sociais e está
vinculada a sociedade e sua pluralização, levando em consideração suas antecipadas
mudanças, fato que é considerado uma consequência. (FLICK,2004). Assim, torna-se
fundamental uma análise baseada nas normas bibliográfica, principalmente no que tange às
ciências sociais, sendo de suma importância,seu uso de forma particular na educação.
Conforme Silva e Menezes (2005), a pesquisa qualitativa considera que existe uma
afinidadeentre o mundo real e o sujeito, que não pode ser traduzido em números, pois há um
vínculo intrínsecoentre o mundo que é mais prático e a intangibilidade do sujeito. Assim, “a
interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa
qualitativa” (SILVA; MENEZES, 2005, p. 20).
Assi , diante do objetivo dessa pesquisa que é refletir juntamente com as ideias de
Freire, no que se trata da Educação, sobre a ação docente no processo de ensino e de
aprendizagem, favorecendoum lugar para a releitura sobre o papel social da escola, a formação
docente, a proposta pedagógica eas avaliações, tendo como representativo os previstos teóricos
do educador Paulo Freire, nesse estudo bibliográfico, reunimos as principais teorias e
considerações de Gadotti(2003), Zitkoski(2006) e Vasconcellos(2007), tratando das
concepções de escola para Freire, além de fatos sobre o Humanismo e ainda a concepção
Bancária x Educação. Além disso, através das perspectivas desses autores abordamos sobre a
concepção humanista e libertadora da educação e por fim tratamos da postura do educar com
o intuito de humanizar.
CONCLUSÃO
Finalizamos essa pesquisa com o pensamento construtivo sobre a educação por base
da humanização a partir do olhar amplo de Paulo Freire que traz o conceito de educação
diretamente associado, interligado ao conceito de ser humano e dentro das suas obras,
compreende o ser na sua totalidade, isto é: entende-o “não apenas como razão. Sua concepção
antropológica converge para uma visão dinâmica da existência humana, ao valorizar de forma
equilibrada, todas as dimensões da nossa vida” (ZITKOSKI, 2006, p. 25).
O ser humano, para Freire (1983), é um ser inacabado e, consciente disso, aspira “Ser
Mais”. E por ser inconcluso, busca seu aprimoramento através da educação, pois “Educar é
993
REFERÊNCIAS
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transformadora. In: BOTO, C., ed. Clássicos do pensamento pedagógico: olhares
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Paulo. Educação e Mudança, 3a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981a.
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PauloFreire. Belo Horizonte: Autêntica, 2008a. p. 150-152.
RESUMO
O trabalho apresentado traz uma visão baseada nos possíveis fatores emocionais e sociais que
influenciam o comer transtornado. Esse conta com um olhar crítico acerca do que reforça este
comer não intuitivo e quais causas estão inseridas nessa realidade, começando desde a causa
principal, onde tudo começou, como se organizam os modelos sociais para o que define como
certo ou errado, e como toda essa conjuntura exerce poder no agir e pensar dos sujeitos, fazendo
com que muitos regrem o que comem, devido às regras sociais. Se traz um olhar a respeito da
influência do capitalismo em cima dos corpos, principalmente, os femininos que sofrem
diretamente com o poder desse modelo de produção que busca lucrar com qualquer
oportunidade e dentro disso estão as cirurgias estéticas. As mídias sociais também exercem
grande influência atualmente sobre como as pessoas devem ser, estar e até se vestir, causando
no sujeito o sentimento de querer possuir tais produtos ali publicados pelas figuras midiáticas.
As pesquisas foram realizadas através da plataforma do google acadêmico e através de livros
de referências sobre o assunto, pois muitas das pesquisas nesta área são de realidades
internacionais. Por fim, busca promover um olhar crítico para os olhares acerca do comer
disfuncional e realizações de apontamentos teóricos e críticos para que seja ainda mais
pesquisado e investigado cientificamente.
Palavras-Chave: Comer Disfuncional. Transtornos Alimentares. Padrões Sociais. Terapia
Cognitivo Comportamental
ABSTRACT
The work presented brings a view based on the possible emotional and social factors that
influence eating disordered. This has a critical look at what reinforces this non-intuitive eating
and what causes are embedded in this reality, starting from the main cause, where it all started,
how social models are organized for what defines as right or wrong, and how all this conjuncture
exerts power in the acting and thinking of the subjects, causing many to regulate what they eat,
due to social rules. It takes a look at the influence of capitalism on bodies, especially women
who suffer directly from the power of this production model that seeks to profit from any
opportunity and within that are aesthetic surgeries. Social media also exert a great influence
nowadays on how people should be, be and even dress, causing the subject to feel that they
want to have such products published there by media figures. The research was carried out
through the academic google platform and through reference books on the subject, as much of
the research in this area is from international realities. Finally, it seeks to promote a critical look
at the views on dysfunctional eating and achievements of theoretical and critical notes so that
it is even more researched and scientifically investigated.
997
1 INTRODUÇÃO
2 METODOLOGIA
se o que está sendo posto ali de fato vai agregar o seu trabalho, o investigador precisa ser
criterioso e averiguar se a informação lhe vai ser útil ou não. O trabalho do pesquisador vai
muito além do que apenas ir em uma plataforma e pesquisar um artigo de forma rápida, é preciso
tempo e leitura para que não se contente apenas com uma forma de abordar o seu assunto e
acaba perpetuando uma fala indevida, é preciso ter cuidado com o que está sendo posto por
terceiros (DE SOUSA; OLIVEIRA; ALVES, 2021).
Diante do que já foi colocado, para compreender e buscar contribuir de forma
significativa para os futuros trabalhos no âmbito do comportamento alimentar e do comer
transtornado, foi realizado através de palavras chaves como “comer transtornado”,
“comportamento alimentar”, “transtornos alimentares”, “Psicologia Cognitiva
Comportamental”, “mídias sociais”, dentro do que será posto e baseado nos objetivos deste
trabalho seguindo a linha de raciocínio da pesquisa. Para os critérios de exclusão foram
descartados trabalhos já publicados com mais de 5 anos, pois se configura como uma pesquisa
já não tanto atualizada o que pode comprometer a veracidade deste trabalho, assim também foi
preferível utilizar uma quantidade maior de artigos científicos do que em seu quantitativo de
livros. Para os de inclusão foi utilizado a preferência em trabalhos mais atuais e com número
de citações boas, baseado no que já foi lido e discutido em livros que são referência no assunto
como “A Prática da Terapia Cognitivo-Comportamental nos Transtornos Alimentares e
Obesidade” e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), utilizados
assim como parâmetros para as pesquisas e explorações no assunto.
Vale salientar de que artigos, livros, teses, foram utilizados dos anos de 2017 até 2022,
porém, alguns livros por terem grande relevância teórica no tema ultrapassaram esse período
de tempo, mas contribuíram de forma significativa para que esse trabalho fosse realizado de
forma verídica e que colaborasse para pesquisas futuras na área. Além dos livros virtuais e
físicos, foram utilizadas as plataformas do Google Acadêmico e Scielo- Scientific Electronic
Library Online para contribuir de forma significativa e relevante para esta pesquisa.
Com as pesquisas realizadas foi possível notar que existe um déficit nesta área que
permeia bastante esta sociedade, muitas vezes adoecida e permeada pela falta de informação e
buscas da mesma. Muitos dos trabalhos achados foram de anos como 2008/2010 onde se
encontram grande parte dos trabalhos publicados, porém vem sendo bastante discutido
atualmente acerca dos transtornos alimentares e comportamento alimentar devido ao estilo de
vida mais saudável de que está sendo pregado dentro das mídias sociais.
1000
Muito se discute a respeito dos modelos sociais e o que regem ou determinam o que será
seguido ou não. No período da Grécia antiga, surgiu a necessidade de se organizar a sociedade
e começar a definir o que ditava o certo ou errado a ser seguido e que isso seria colocado para
o bem comum daqueles em sua sociedade, dessa forma, as pessoas começaram a seguirem
normas e a definir esses modelos sociais como corretos e quem não o seguisse estaria “ferindo”
a sociedade (FIGUEIREDO, 2008).
1001
A ética deriva do grego ethos que significa morada do homem, ou seja, é ali onde o
sujeito vai se guiar e se basear, assim estar na natureza humana e estudar seu modo de agir.
Esses conceitos são construídos desde o período grego onde iniciavam as discussões do agir
humano, por onde ele seria regido e quem determina o que é certo ou errado? A ética se baseia
no princípio em que as ações normativas da sociedade devem ser questionadas e refletidas e a
moral é baseada no agir humano, ou seja, as decisões que são tomadas baseados nessas reflexões
do certo e errado para a sociedade (CREMONESE, 2019).
A internet desde a sua criação exerce sua importância e atualmente ganhou seu espaço
de não apenas em quesito de conteúdo e informação, mas onde muitas pessoas adquirem sua
renda principal através delas, ou seja, através das mídias sociais. As mídias sociais ocupam
grande espaço no quesito das influências a qual exercem seu grande poder dentro da cultura
brasileira, pois através das exposições e altos índices de engajamento dos influenciadores
digitais criou-se o hábito de se passarem horas diante do smartphone, sendo assim o Brasil hoje
ocupa o segundo lugar onde os habitantes ocupam mais tempo do seu dia na internet
(ROSOLEN, 2021).
Esta rotina de acesso nas mídias sociais promove muito mais do que apenas acessos,
promove um deslocamento de realidade do indivíduo que assiste para aquele que está
produzindo o conteúdo. Estes meios acabaram sendo utilizados como principais meios de
propagandas de produtos, pois existia um alcance maior nas pessoas que poderiam consumir
esse produto, assim as propagandas expressam muito bem (COSTA et al, 2019).
O que está sendo dito é que mesmo em um meio guiado por série de normas, é possível
encontrar algo que não se encaixe dentro desses ideais pré-estabelecidos, o que põe em
evidência o questionar se de fato aquele agir é correto para todos. Quando se define algo
socialmente nem sempre é levado em consideração outros fatores como questões biológicas,
financeiras, muito do que é colocado é baseado em uma ideia de compra (DE ALMEIDA;
GOMES, 2021).
Dentro dessa perspectiva pode-se perceber que existe um padrão corporal instaurado na
sociedade, ou seja, a sociedade tem a necessidade de definir um molde como correto, com essa
visão passam a observar demais realidades externas como inspiração a ser ou não a ser seguido,
assim com necessidades totalmente diferentes como as realidades europeias e estadunidenses
que culturalmente estão em corpos e situações distintas da realidade brasileira. Os biótipos
1002
brasileiros estão em formas e construções biológicas diferentes do que as que podem ser vistas
no exterior (COSTA et al, 2019).
A ideia ou imagem corporal contribui muito para que as pessoas comecem a comprar a
ideias vendidas por essa indústria que a anos lucra através do modo de produção capitalista. O
comércio viu uma oportunidade para ganhar dinheiro e girar o mercado com as cirurgias
estéticas, fazendo com que assim as pessoas chegassem de forma rápida e fácil aos resultados
tão colocados pela sociedade (DE ALMEIDA; GOMES, 2021).
Um ramo que vem lucrando crescentemente é o ramo das cirurgias estéticas, aos quais
vem sendo fortemente evidenciado pelas mídias sociais e seus influenciadores, que muitas
vezes colocam essa ideia como algo aparentemente tranquilo, rápido, fácil e de que todos que
querem podem conseguir, mas o que se pode colocar como um empecilho é que nem todas as
pessoas têm poder aquisitivo para custear uma cirurgia como essa (MALHEIROS et al, 2021).
E como o comer transtornado e os transtornos alimentares se encaixam aqui? As
normativas sociais em seu modo geral são instauradas e colocadas de maneiras impositivas, de
tal forma que o sujeito ao qual a sociedade o põe no lugar de ser criticado fortemente acaba
sendo alvo de possíveis consequências derivados da sociedade, fazendo com que sua relação
com a comida seja prejudicada, dessa forma causando uma disfuncionalidade. O comer
transtornado ou disfuncional não é colocado como um transtorno alimentar, mas pode ser
através dele que o sujeito se porte desta maneira que de tal forma é algo disfuncional para o
sujeito que pratica (GONÇALVES, 2022).
As dietas restritivas são um fenômeno colocado em prática em virtude de um padrão
social corporal onde as pessoas que não conseguem resultados satisfatórios em um curto espaço
de tempo acabam optando como uma alternativa viável para chegar a tal lugar. A sociedade
acaba buscando uma alternativa viável e mais rápida, onde popularmente é dita como correta e
acaba aderindo e agregando ao seu dia a dia, idealizando ser a melhor iniciativa (SOIHET;
SILVA, 2019).
A utilização deste método vem se tornando cada vez mais frequente quando se fala de
emagrecimento, tais práticas para chegar ao seu resultado podem ser vistas de formas restritivas,
pois muitas vezes a comida é posta como um vilão na vida do brasileiro, assim fazendo com
que esta alimentação seja realizada de maneira não tão saudável quanto a intenção de quem a
tem. Estas cobranças por emagrecimento são derivadas das normas sociais citadas no início
deste capítulo, onde a maioria dessas normas são instauradas em cima das mulheres que
1003
historicamente sofrem com críticas sociais em tudo que fazem, são e vão realizar (GOIS; DE
FARIA, 2021).
As dietas em sua ideia não é um problema, visto que a ideia é que promova qualidade
de vida e saúde para aquele sujeito, a questão de fato está quando as formas com a qual se usa
para emagrecer a torna nociva para o seu corpo. Fazendo com que se pratique comportamentos
compensatórios daquilo que acredita ser mais fácil e rápido para emagrecer. O cuidado com a
alimentação se consolidou de forma bastante positiva pela sociedade e as pessoas começaram
a cuidar da saúde, com isso muitas dietas, práticas de atividades físicas foram se instaurando na
sociedade (FERREIRA,2018).
Estas maneiras optativas de comer mais saudável, foi uma alternativa guiada pelo
aumento considerável e preocupante do sobrepeso e obesidade mundial. Fazendo com que
alguns modos alimentares fossem vistos com maus olhos, assim como tudo em nossa sociedade,
cria-se a ideia do certo ou errado, quando algo posto como incorreto, as pessoas passaram a
distribuir alimentos que apesar de gostosos e atrativos são vistos como grandes vilões das
refeições saudáveis, o que põe o sujeito em um lugar de se sentir extremamente culpado quando
ingerem tais alimentos (SILVA, 2020).
Quando o sujeito passa a ser guiado por uma dieta restritiva, há uma chance maior de
que quando ele coma, ganhe ainda mais peso do que se fizesse uma reeducação alimentar. Isso
porque quando se restringe um alimento em que o sujeito acha muito gostoso e tem maior
fascínio por ele, quando for comer em pequenas quantidades para saciar aquele longo tempo
que passou sem ele, o come de forma exagerada e em grandes quantidades para suprir essa falta,
é o que pode se chamar de comer transtornado (LEITE; FREITAS, 2021).
É preciso lembrar que nem todas as dietas restritivas irão causar este comer disfuncional
e de forma exagerada, mas é algo que pode aumentar as chances de que este efeito ocorra. Existe
o comer consciente, que auxilia nesse processo disfuncional, que seria uma psicoeducação para
que seja uma alimentação boa para o corpo, que o sujeito saiba de fato que está com fome e
saber também do que o seu corpo precisa, pois muitas vezes este comer é guiado pelo emocional
(LIMA et al, 2020).
A questão com a imagem corporal afeta em sua maioria mulheres, pois socialmente são
mais cobradas para obterem corpos magros e com tamanhos de busto e bumbum adequados e
bem vistos aos olhos da sociedade. O questionamento é que, quais as consequências de tantas
cobranças em cima de um sujeito para que ele supra todos esses quesitos impostos? Os
transtornos alimentares em sua maioria são resultados de padrões sociais impostos pela
sociedade a serem seguidos, seja possível ou não para você, assim surgem como respostas
emocionais ao molde social tão inacessível para todos, fazendo com que muitos achem
alternativas sejam elas em sua maioria maléficas para o corpo e saúde desse ser humano
(SANTOS, 2020).
As questões corporais são colocadas em cima de um ideal que se construiu ao qual o
gordo é feio, ruim e o magro é bonito e saudável. Assim as pessoas consideradas gordas são
colocadas de maneira excluída da sociedade, e pelas acessibilidades das cidades, pois em sua
maioria são projetadas para pessoas magras, igualmente as roupas que são pensadas e
idealizadas em cima do corpo já pré colocado como ideal (MENEZES; FERREIRA; MELO,
2020).
As emoções estão diretamente interligadas com os hábitos alimentares, ao qual a forma
como irá se alimentar às vezes é um fator determinante para a quantidade e o tipo de comida
que será ingerida, por exemplo, se estiver nervoso, angustiada, pode ser que procure comidas
mais doces. A ansiedade e a depressão são temas bastantes colocados em pauta e eles estão
intimamente ligados com os transtornos alimentares. (ANDRADE et al, 2021)
A contemporaneidade está abraçando fielmente um social que cotidianamente está
impossibilitando o seu viver de maneira livre e possível. Com isso, os sujeitos estão adoecendo
e ficando cada vez mais com critérios de ansiedade, as questões sobre o corpo por sua vez não
ficam para trás. O físico é algo que se carrega todos os dias e que está 24 horas dentro dos
olhares sejam eles de terceiros ou do próprio sujeito, fazendo com que se questione: será que
está bom? Será que meu corpo é bonito? e são esses questionamentos que podem trazer
sintomas de ansiedade (COPETTI; QUIROGA, 2018).
Esta por sua vez segue-se com a “aversão a comida” trazendo para o que já foi dito sobre
o comer transtornado e como o mesmo não se encaixa como um transtorno, mas sim como um
meio para o qual apareçam os TAs como a anorexia que põe em evidência a visão distorcida da
comida, ou seja, a ver como um vilão do seu dia a dia, a qual evita está ingerindo (DA CUNHA
BREJO; MATHIAS, 2021).
1005
O emocional está diretamente ligado com o alimento, que por sua vez reforça a ideia de que se
come muitas vezes aquilo que se sente e na mesma intensidade, os transtornos alimentares que
trazem comer transtornado ou comer disfuncional como um dos critérios diagnósticos, este está
presente em todos os TAs como por exemplo a bulimia segundo o APA (2014):
“Existem três aspectos essenciais na bulimia nervosa: episódios recorrentes de
compulsão alimentar (Critério A), comportamentos compensatórios inapropriados
recorrentes para impedir o ganho de peso (Critério B) e autoavaliação indevidamente
influenciada pela forma e pelo peso corporal (Critério D). Para se qualificar ao
diagnóstico, a compulsão alimentar e os comportamentos compensatórios
inapropriados devem ocorrer, em média, no mínimo uma vez por semana por três
meses (Critério C)” .
Partindo dessa ideia pode-se concluir que são um conjunto de fatores que contribuem
para que a bulimia ela venha a existir, assim o relação disfuncional com a comida vem em forma
da compulsão alimentar e das atividades que influenciam nesse ganho de peso, pois a pessoa
começa a ver de forma em que na maioria das vezes pode ser distorcida a comida e começa a
realizar uma série de atividades para queimar essas calorias que o que foi ingerido possui. A
visão distorcida do corpo representada pelo ideal que o indivíduo tem como correto faz com
que o sujeito ele possa vir com um reforçador da compulsão e a purgação (CARVALHO et al,
2019).
É importante que se tenha consciência sobre os efeitos psicológicos resultantes da causa
que seria a pressão estética em sua maioria no público feminino, que historicamente é cobrado
que a mulher tenha seus comportamentos controlados pelo sistema machista. Refletindo sobre
isso, é possível perceber que historicamente as mulheres são mais cobradas para responder a
expectativas sociais, seja de corpo, seja de forma de ser, agir e pensar (ROCHA; SANTOS;
MAUX, 2019).
Dessa forma, expressa de forma a que essas mulheres acabam internalizando essas
expectativas como algo que seja possível de ser realizado, quando se deparam com uma gama
de impossibilidades como custos altíssimos em alimentação, médicos, nutricionistas, a solução
que logo lhes vem à cabeça é deixar de comer ou pôr para fora e até muitas vezes tomar
remédios que inibem o seu apetite (SANTOS, 2020).
É socialmente instaurado que as pessoas precisam corresponder a um padrão corporal,
seja ele possível ou não. O que está posto como ideal é de fato imposto pela sociedade, assim
as pessoas quando não conseguem ou não estão dentro desse padrão começam a buscar
alternativas de como chegar ali de forma mais rápida e prática o que pode incluir dietas
1006
extremamente restritivas e privações de agrados pessoais para se chegar ao que aos olhos da
sociedade é considerado ideal (ALVARES; DE SANTANA, 2020).
Muito do que se é colocado como ideal não se define um limite para como alcançar
aquele objetivo que está posto, assim muito do emocional dos sujeitos começaram a ser afetados
ali por conta de um social que cobra resultados das pessoas. Recorrentemente se ver pessoas
que acabaram emagrecendo por conta de doenças, processos de enfrentamento pessoal como
uma perda muito importante, problemas com a saúde seja ela mental ou física e muito do que a
sociedade enxerga é o emagrecimento daquele sujeito e que agora ele/ela está mais bonito
(GODOI, 2019).
A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) surgiu em 1964, quando Aaron Beck era
professor assistente de psiquiatria na Universidade da Pensilvânia, na época Beck era
psicanalista e lutava para que a teoria fosse reconhecida pela academia científica, assim
esperava, mas com os seus estudos e investigações nas pessoas com depressão, Beck percebeu
um padrão que existiam cognições negativas e crenças que acontecem majoritariamente em
indivíduos com depressão (BECK, 2021).
Esta abordagem é de cunho estruturado, colaborativo, objetiva, que busca identificar e
questionar pensamentos que são disfuncionais para o sujeito, pois existe uma série de
acontecimentos que influenciam uns aos outros que dentro da tcc, existe uma estrutura de que
se guia que são os pensamentos que influenciam as emoções que geram comportamentos,
propondo que as emoções exercem forte papel nos comportamentos, pois os pensamentos
geram as mesmas e são nesses pensamentos e após eles que a abordagem irá atuar, quesito que
o sujeito precisa se questionar se de fato aquela situação que está pensando é verídica ou não
(GONÇALVES; DE ALMEIDA, 2021).
A TCC se baseia no princípio de que existem esquemas e estes são responsáveis por
guiar as opiniões dos sujeitos de acordo com os assuntos que irão surgir e se formar ao decorrer
da vida, esses esquemas podem ser definidos como pastas que são separadas de acordo com
cada tema e abertas quando necessárias para o sujeito. Dessa forma esses esquemas, também
1007
possuem o sistema de crenças que são responsáveis pela visão de si, do mundo e dos outros
(WRIGHT et al, 2018).
A TCC, tem em sua formação teórica compreende que o sujeito possui uma formulação
cognitiva a ideia de que através de crenças e padrões comportamentais. O modelo cognitivo
refere-se ao modo em que o pensamento disfuncional induz como o paciente sente e age
conforme o acontecido e foca em ensinar o paciente a questionar seu pensamento de uma forma
mais funcional e assim, conseguem ter uma melhora em seu emocional e no seu comportamento
(ZAMANA, 2021).
Dentro dessas várias definições existem os erros cognitivos também colocados por Beck
como Distorções Cognitivas, que são visões distorcidas da realidade, ou seja, é um erro que
acontece nesse sistema de esquemas e crenças que afetam a interpretação dos fatos e
consequentemente a resposta com a qual será emitida diante da situação (POWELL et al, 2008).
A terapia cognitiva comportamental utiliza um dos princípios mais bem conhecidos
como a psicoeducação, pois é importante que o sujeito tenha ciência do que está acontecendo e
aprenda sobre para que assim o tratamento ele possa de fato ser significativo pro paciente,
fazendo com que assim aumentar as possibilidades de engajamento do mesmo nesse processo
(STTALARD, 2021).
É necessário que durante o tratamento o terapeuta trabalhe o que na TCC chama como
prevenção de recaídas, que promove ao sujeito alternativas para que ele não venha a repetir com
altas probabilidades os antigos comportamentos, fazendo com que este sujeito questione seus
pensamentos, emoções e entenda sobre isso e acabe por ter essa regulação e como o comer
disfuncional que reforça os transtornos alimentares, principalmente, em momentos de extremo
estresse (LEANDRO; VIDAL, 2021).
A prática Psicológica parte do princípio de acolher o sujeito que está em sofrimento
emocional, considerando além do que é posto por aquele que está falando e a partir disso traçar
metas e estratégias para guiá-lo de uma forma mais saudável promovendo uma prática de saúde
mental. Além disso, é desse olhar para além que se constrói o sujeito com uma visão
biopsicossocial, ou seja, como completo (DINIZ; LIMA, 2017).
É importante enfatizar que o comer transtornado ou disfuncional, não considerado um
transtorno alimentar, mas está presente como um critério diagnóstico em todos os Transtornos
Alimentares, permite que fique em alerta acerca do que pode está acontecendo e não o ignorar,
1008
pois o mesmo se apresenta como resultado de outras causas que podem está implícitas
(GONÇALVES, 2022).
A partir destas causas implícitas, pode-se enfatizar que o olhar para si quando de forma
não saudável, pode ocasionar comportamentos que entrem como reforçador deste processo
como a questão da auto-imagem que segundo Lima e Maynard (2019, p.1):
“A autoimagem é a imagem que se faz ou se imagina sobre si mesmo. É o princípio
da autoestima, visto que é internalizado no conhecimento da individualidade de si
mesmo e na expansão intrínseca das competências, na percepção dos sentimentos,
atitudes e ideias relacionadas à dinâmica pessoal.”
Partindo dessa visão, é importante enfatizar que o paciente com o comer disfuncional,
ele tenha dentro dos seus esquemas e dentro de sua formação de sistema crença, uma ideia de
que a comida em algum momento ela possa lhe trazer prejuízos visuais do seu corpo, pois
engordar para essa pessoa pode de fato ser algo ruim e indicar que se caso ela venha a comer
este alimento, possa de fato começar a subir de peso (DA SILVA, 2021).
Com isso, pode-se inferir que existe um reflexo do impacto social para esses sujeitos
que acabam reproduzindo e atendendo a esses discursos de que a magreza é sinônimo de beleza,
saúde e bem estar, mas não se sabe ao certo o quesito de saúde que se está usando para poder
ter e corresponder esse corpo bonito. Fazendo com que assim, os sujeitos queiram atender a
qualquer custo essa expectativa social gerada por normativas idealizadas pelo mercado
(NASCIMENTO, 2019).
Como mencionado o modelo cognitivo retrata como a maneira a qual interpretamos o
fato, quer dizer muito mais do que o próprio fato em si, assim o comer transtornado pode muitas
vezes ser associado a essa má interpretação dos fatos como a ideia de que aquele corpo não está
bom, então começa a utilizar de algumas alternativas que segundo Silva et al (2018) são:
Gráfico 01- Dados relativos colhidos sobre atitudes para Transtornos Alimentares das alunas do
primeiro período em 2019
1010
“Cada questão é composta por seis alternativas de resposta. Para cada alternativa
são conferidos pontos que variam de 0 a 3 (sempre=3; muito frequentemente
= 2; frequentemente = 1; às vezes= 0; raramente = 0; nunca=0). A única questão
que apresenta pontos em ordem invertida é a 4, onde as respostas “sempre”,
“muito frequentemente” e “frequentemente”, pontuam zero, e as alternativas
“ás vezes”, “raramente” e “nunca” são conferidos 1, 2 e 3 pontos, respectivamente. O
resultado do teste é o somatório de todos os pontos, sendo considerado
um indicador de risco para o desenvolvimento de transtorno alimentar o
ponto de corte igual ou superior a 20.” (GUIMARÃ et al, 2018)
Com isto, fica mais evidente durante os períodos de avaliações o que está se passando
diante do que o sujeito traz para o consultório, a qual não é tão transparente como aparenta ser.
Exige fases de grandes avaliações para que possa se identificar ou não, pois muitas vezes estas
questões podem passar despercebidas ou camufladas em outras questões mais aparentes
(FINGER; OLIVEIRA, 2016).
Esses pacientes desenvolvem algumas crenças acerca do peso, do seu corpo,
alimentação e do seu valor pessoal, que dessa forma ajuda a reforçar manter o transtorno, porém
uma das crenças principais presentes é que esses pacientes igualam o que eles são no âmbito
1011
pessoal e corporal , ignorando ou não valorizando outros fatores. Assim, para esses pacientes a
magreza estaria associada à competência, beleza e saúde (DA SILVA, 2021).
Para evidenciar estes fatos, um relato de experiência feito por Broering, Scherer (2022),
a paciente B, 19 anos, é modelo e tem se auto sabotando quando chamada para fazer trabalhos,
a terapeuta falou que a mesma se demonstrou bastante extrovertida e chorou muito, mas estava
com bastante roupas largas. Muitos dos seus discursos eram com relação a não aguentar sentir
como se sentia, que a vida era um peso, falou que se alimentava pouco, com a ideia de que
gordo era infeliz. Dessa forma, pode-se perceber que muitos dos discursos dos pacientes com
transtornos alimentares, não vem de maneira aparente, eles aparecem de uma maneira mais
sutil, mas carregada de um construto de ideias sociais e culturais.
A mídia tem sido um forte aliado para a perpetuação e estabelecimento dos ideais de
beleza e saúde a respeito dos corpos das pessoas e da sociedade que é o corpo magro e muitas
vezes até esquelético que com resultado tem marcado a hipervalorização das relações dos
sujeitos com seu peso e consequentemente com a comida que vem ingerindo durante o dia a dia
(NASCIMENTO, 2019)
Partindo do pressuposto da TCC, é importante que se fortaleça o vínculo com o paciente
para que as intervenções e questionamentos comecem a fazer sentido para ele, pois as
intervenções se feitas ainda sem o vínculo bem estabelecido pode haver uma não adesão do
paciente na terapia, fazendo com que aumente as chances deste paciente desistir e não voltar
mais (BECK, 2021).
Assim, é importante que se trabalhe a psicoeducação do modelo cognitivo para que o
paciente consiga entender seus pensamentos, o que eles significam, de onde vêm, pois
entendendo o seu processo fica mais fácil com que ele adquira maior engajamento na sua
jornada terapêutica. Ao trabalhar este modelo coloca o paciente na posição de ser seu próprio
terapeuta no sentido de que, aprendendo a maneira com a qual funciona, pode-se questionar se
é verídico tais pensamentos (STALLARD, 2021).
Com pacientes que possuem Transtornos Alimentares é de suma importância que esse
vínculo seja estabelecido e que a família participe ativamente do processo do sujeito, pois a
mesma possui um papel ativo e necessário para a possível melhora do paciente. É preciso que
o terapeuta vá construindo a conceitualização do paciente para que possa ficar atento às
possíveis crenças, pensamentos automáticos, estratégias compensatórias, pois é a partir daí que
1012
o terapeuta entende como vai funcionar este sujeito e quais possíveis ações deste (DUCHESNE;
CAMPOS; PEREIRA, 2019).
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES
COSTA et al Corpo e saúde: reflexões sobre 2019 Trazer uma análise sobre
a influência das mídias sociais corpo e saúde e quais
nos padrões corporais da critérios se usam atualmente.
sociedade
De acordo com os artigos utilizados, percebe-se que as pesquisas na área apontam para
um recente aumento na investigação científica, mas poucos trabalhos brasileiros. Durante a
pesquisa é bastante presente alguns termos em inglês, o que traz uma grande importância para
investigações e trabalhos nessa área. Muito do foco nessa área são estudos fora do país que
acabam representando outras realidades diferentes do país.
Durante as investigações é possível perceber um olhar ainda maior para intervenções
multiprofissionais, com o objetivo de olhar para o sujeito além do que apenas uma área, o que
aumenta a probabilidade de adesão ao tratamento. É preocupante que a área de maior foco do
tratamento ainda não tenha tantos detalhes como as redes de apoio e a importância de seu
fortalecimento quando relacionados a transtornos alimentares, existem trabalhos em outros
transtornos como depressão, ansiedade, mas com o TA não foi possível encontrar com grande
facilidade e quando encontrados eram superficiais.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista o campo teórico prático apresentado, se trata de uma área muito rica,
mas que recentemente começou a ser mais explorada, pois ainda existe uma naturalização dos
processos alimentares dos sujeitos e suas relações com a comida. Atualmente, ainda existe a
ideia de que o gordo é visto como algo feio e remete sempre a falta de saúde e cuidado, levando
para o lado de que autocuidado e a autoestima estão ligados ao peso.
Assim, o trabalho vem propor um questionamento e um olhar crítico aos caminhos e
fatores que levam aos possíveis transtornos. O olhar social para os corpos dos sujeitos são de
que existe um modelo e um ideal a ser seguido fielmente, mas o que poucos não se questionam
é se tudo isso é capaz de existir, muitos sujeitos sofrem com esse processo, pois é uma realidade
que não está acessível de maneira saudável para todos.
O principal ponto deste trabalho é colaborar para intervenções futuras e posteriores, pois
foi de uma certa forma difícil de encontrar pesquisas científicas nacionais relativos a este tema,
já que como citado ao decorrer deste trabalho as intervenções elas precisam ser cautelosas e
1016
criteriosas, pois muitos destes comportamentos estão entrelaçados ou até camuflados por outros
tipos de transtornos como a ansiedade.
Uma das grandes dificuldades foi trazer dados estatísticos para enriquecer o trabalho,
pois muitas vezes existem pesquisas no campo quantitativo que falam a mais do que pesquisas
qualitativas, trazendo uma variedade ainda maior para o trabalho. Outro ponto pouco
investigado foi os arquivos científicos, muitos eram enxutos, com poucas informações,
argumentações pouco desenvolvidas e assim as pesquisas ficavam mais difíceis, por isso a
importância ainda maior deste trabalho para a academia.
Este trabalho foi construído a partir de um conjunto de pesquisas já publicados na área
baseado nos critérios de inclusão. Os trabalhos quando pesquisados eram pegos e colocados
com citações em sua maioria indiretas para dar uma argumentação ao que está sendo dito, as
tabelas e gráficos foram retirados também de artigos científicos em sua maioria da própria
autoria dos pesquisadores, o que só reforça a falta de investigação nesta área.
A maioria das alternativas estéticas estão ligadas diretamente aos modelos norte-
americanos, o brasileiro se baseia em uma realidade não vivenciada em seu país. Valores, ideais
e cultura são totalmente diferentes, então consequentemente os sujeitos irão tentar e não irão
conseguir de maneira natural. O Brasil é um país onde as pessoas são bastante imediatistas,
assim procuram soluções rápidas para que esse problema seja resolvido, porém não é medido
quão longe essas soluções podem ir.
As cirurgias estéticas são procedimentos que foram naturalizados no Brasil para fins
rápidos e propagados como soluções viáveis para esse sujeito. Alguns contam com chás e
remédios emagrecedores como maneira que brilham os olhos de quem ver, o que ressalta ainda
mais esse brilho é a internet que ocupa um lugar de grande influência atualmente, onde muitos
influenciadores digitais acabam fazendo propaganda de tais fins como se fossem acessíveis e
possíveis para todas as pessoas e que esta realidade pode ser vivida se com muito esforço.
Ao falar sobre essas lógicas estéticas pode-se discutir sobre o modelo de produção
capitalista que cerca as realidades brasileiras, ao qual, diante de qualquer oportunidade, uma
delas para lucrar com isso e ofertar sua venda, colaborando para esses processos pode-se incluir
o modelo de práticas médicas, pois muito dos procedimentos estéticos realizados, são feitos
pois no Brasil existe uma força avassaladora dos médicos como detentores do saber .
Após toda essa discussão seguindo a lógica, se traz o comer transtornado ou comer
disfuncional como consequência dos ideais sociais propostos pela sociedade que se propõem a
1017
REFERÊNCIAS
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RESUMO
ABSTRACT
This paper aims to present and discuss the work of the psychology professional in the Reference
Center for Social Assistance (CRAS) from an experience report given in a CRAS in the city of
Mossoró/RN through a basic training in psychology. Thus, the CRAS, as an equipment
responsible for providing assistance in areas of vulnerability and social risk, has the
psychologist as a fundamental part of its team. Thus, in view of the psychologist's work,
reflections about the work of this member in the field of social assistance are raised by the
contexts experienced. Therefore, it is understood the importance and the need for the presence
of the psychologist in the social welfare equipment, as well as the value of the trainees for the
promotion of an actual work through new visions, bringing and providing a renewal and
motivation for an ethical and socially committed work with the people who live there.
Keywords: CRAS; psychology; representation.
1
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail para contato:
ingridydll@gmail.com
2
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail para contato:
ceciliazevedo.13@gmail.com
3
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail para contato:
miriancamara1@hotmail.com
4
Orientador(a): Amanda Carolina Claudino Pereira. Professora da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte
(FCRN). E-mail: profamandaclaudino@gmail.com
1023
INTRODUÇÃO
Para isso, faz-se necessário que o psicólogo inserido no CRAS possa acessar o território,
percorrendo os caminhos e entrando em contato com a população. Compreendendo as questões
sociais através de um olhar crítico, considerando os aspectos sociais, culturais, territoriais,
históricos e políticos, colocando-se, assim, ao lado do povo na luta pelos direitos, assumindo o
compromisso social e ético com o território. Este compromisso é posto como princípio
fundamental do Código de Ética Profissional do Psicólogo (2005, p. 7), que diz que: “II. O
psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das
coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. ”
A partir deste referencial, desenvolve-se este relato de experiência como uma via de
apresentação e descrição de vivências e práticas que têm a finalidade de ampliar e fomentar os
saberes teóricos já desenvolvidos e de suscitar o desenvolvimento de novas hipóteses, teorias e
modos de fazer mediante uma ciência. Exposto isso, o relato aqui desempenhado apoia-se sobre
o estágio básico em Psicologia Social, desenvolvido durante o semestre letivo 2019.1, na
Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). Ressalta-se ainda que o mesmo fora
experienciado e desempenhado pelas autoras deste produto e que encontra-se fundamentado
pelo relatório de estágio e diário de campo apresentados e entregues na conclusão da disciplina
de Estágio Básico I.
Além de tanto, este estudo encontra-se fundamentado pela realização de uma pesquisa
bibliográfica nas plataformas Scielo e PEPSIC no intuito de enriquecer e fortalecer as
informações relatadas. Deste modo foram selecionados artigos que compõem as referências
desta pesquisa, tendo por exceção apenas as orientações técnicas que são de suma importância
e valor quando falamos sobre a atuação profissional do psicólogo no CRAS.
Objetiva-se, portanto, relatar os fatos e vivências experienciados no estágio em um
CRAS da cidade de Mossoró, ao qual nomeou-se como CRAS-Bom Jesus, proporcionando uma
interrelação das descrições com reflexões que partem do papel e da atuação do psicólogo, bem
como do serviço que é ofertado no Centro de Referência da Assistência Social.
da comunidade. Sendo assim, havendo ainda estratégias adotadas à fim de proteger tais famílias
das ameaças e proagir da melhor forma e com antecedência mediante qualquer suspeita de
violência. Com isso, Oliveira e Dantas et al (2011) ressaltam que “cabe aos profissionais do
CRAS atuar frente às situações de vulnerabilidade em que se encontram as famílias-alvo de tais
programas, de forma a fortalecer os vínculos sociais e comunitários dessas”.
Imediatamente, o matriciamento sociofamiliar atua diretamente com a família, sendo
essa compreendida como núcleo social fundamental para efetivação das políticas sociais. Para
isso, considera-se família um conjunto de indivíduos unidos por laços de sangue ou afeto,
efetivada em um ambiente único de autonomia, representação social, acolhimento e sendo ainda
permeada por diversos conflitos. Entende-se família como um núcleo para além dos modelos
tradicionais, homogêneos e idealizados da sociedade, no qual as intervenções partirão da
subjetividade dos sujeitos, da forma que se organizam entre si, de seus valores, costumes,
cultura, identidades e potencialidades; objetivando, por fim, o fortalecimento da família e dos
vínculos estabelecidos, garantindo seu acesso às políticas ofertadas.
Além desses serviços, o CRAS também oferta benefícios como o de transferência de
renda, Benefícios de Prestação Continuada (BPC), benefícios eventuais, entre outros; e
programas e projetos de capacitação e promoção da inserção produtiva, de enfrentamento à
pobreza, à fome e geração de trabalho e renda.
Portanto, o psicólogo pode participar das ações do CRAS em conjunto com a equipe
interdisciplinar, de maneira que essas ações se articulem com as já existentes no território, sendo
necessária a realização de intervenções voltadas para os movimentos sociais. A atuação do
psicólogo deve ser fundamentada em investigações sobre o público-participante no seu
território de abrangência, que se encontra em situação de vulnerabilidade social e privação e/ou
fragilização de vínculos e de pertencimento social (CFP, 2007, p. 28). Caso seja necessárias
intervenções que não são ofertadas pelo CRAS, o psicólogo deve buscar auxílio em outros
equipamentos públicos que possam atender essa demanda, garantindo, desse modo, o direito
dos sujeitos ao acesso de serviços de qualidade.
Para nortear o trabalho do psicólogo nesse campo, o Centro de Referência em Psicologia
e Políticas Públicas (CREPOP) estabeleceu alguns princípios gerais, sendo esses: 1) Atuar de
acordo com as diretrizes e objetivos das PNAS e da Proteção Social Básica, cooperando para a
efetivação das Políticas Públicas e de desenvolvimento social; 2) Atuar de forma
interdisciplinar, buscando a interação de saberes e a complementação de ações; 3) Atuar a partir
do contexto local, baseado nos aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais; 4) Atuar
baseado na leitura e inserção, para melhor compreendê-la e possibilitar intervenções junto aos
seus moradores; 5) Atuar para identificar e potencializar os recursos psicossociais individuais
e coletivos, com intervenções nos âmbitos familiar, grupal, individual e comunitário; 6) Atuar
apoiado no diálogo entre o saber popular e o saber científico da Psicologia; 7) Favorecer
processos e espaços de participação e mobilização social e organização comunitária; 8) Manter-
se em permanente processo de formação profissional, construindo, desse modo, práticas
contextualizadas e coletivas; 9) Atuar com prioridade de atendimento aos casos de
vulnerabilidade e risco social; 10) Atuar para além das configurações convencionais, em
espaços adequados ao desenvolvimento das ações (CFP, 2007, p. 20-21).
Sendo assim, o trabalho do psicólogo no CRAS tem como objetivo a atenção e a
prevenção a situações de risco, o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, o
conhecimento das vulnerabilidades existentes no território, a integração das famílias nos
serviços ofertados pela proteção social, a redução dos descumprimentos das regras do PBF e o
desenvolvimento das potencialidades dos sujeitos, de modo que eles conheçam os seus direitos
(ARAÚJO, 2014).
RELATO DE EXPERIÊNCIA
1028
Sendo uma comunidade ainda bastante ruralizada, o Bom Jesus teve a promoção de
energia à sua população em ano recente, estando afastado da zona urbana da cidade de Mossoró,
trazendo grandes dificuldades para seus moradores, por isso, era inevitável tais fatores na fala
das pessoas que se sentiam tocadas ao ver lampiões5, relembrando suas histórias e dificuldades.
A dinâmica foi vista e avaliada de maneira positiva pelos participantes, contudo foi ainda
notado durante o momento o surgimento de uma grande onda de empatia, pela identificação
gerada pelos contos exprimidos. Notou-se que proporcionando a fala e trazendo à tona aspectos
do passado, foi possível a reanimação do grupo, uma vez que a atividade se traduziu de forma
lúdica e interessante, ofertando oportunidade de suscitar a subjetividade de cada um, gerando
identificação e empatia entre o grupo, e percepção de ocupação do sujeito sobre sua realidade.
Imagem 2 – Objetos disponíveis no baú
5
Dispositivo/objeto a base de querosene utilizado como fonte de iluminação. Também conhecido como
lamparina.
1031
reinventar diante de nossas atuações tendo em vista um compromisso ético com o que nos
propomos realizar e com as vidas que apostam em nosso fazer.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Miriam Esperidião de. Referências para a atuação do psicólogo no CRAS. In:
ARAÚJO, Miriam Esperidião de. A atuação do psicólogo no CRAS e o enfrentamento da
situação de vulnerabilidade social. São Paulo: Instituto de Psicologia da Universidade de
São Paulo, 2014. p. 1-285. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-20102014-115827/es.php>. Acesso
em: 29 set. 2019.
1034
AZEVÊDO, Adriano Valério dos Santos; PARDO, Maria Benedita Lima. Formação e atuação
em psicologia social comunitária. Psicologia em Pesquisa, v.8, n. 2, p. 200-210. 2014.
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1982-
12472014000200009. Acesso em: 09. ago. 2022.
FLOR, Tatyanne Couto; Goto, Tommy Akira. Atuação do Psicólogo no CRAS: uma
Análise Fenomenológico-empírica. Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological
Studies, vol. XXI, núm. 1, enerojunio, 2015, pp. 22-34 Instituto de Treinamento e Pesquisa
em Gestalt Terapia de Goiânia Goiânia, Brasil.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
OLIVEIRA, Isabel Fernandes de; DANTAS, Candida Maria Bezerra; SOLON, Avrairan
Fabrícia Alves Caetano; AMORIM, Keyla Mafalda de Oliveira. A prática psicológica na
proteção social básica do SUAS. Psicologia & Sociedade [online]. 2011, v. 23, n. spe
Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0102-71822011000400017>. Epub 29 Mar 2012.
ISSN 1807-0310. https://doi.org/10.1590/S0102-71822011000400017. Acesso em: 09 ago
2022.
RESUMO
ABSTRACT
1
Graduando de Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. Email:
nickamaraloliveira@outlook.com
2
Doutora em Ciências (UFERSA)/Professora da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. Email:
extensao@catolicadorn.com.br
1036
the exercise of academic monitoring of the Research Methods discipline, a discipline provided
by the Catholic Faculty of Rio Grande do Norte. Therefore, in a pragmatic understanding, it
seeks to establish the teaching/learning points of the subject and the magnitude of the
monitoring exercise, through bibliographic research with sources from Google Scholar, Scielo,
Portal de Periódicos CAPES and in the Fixa norms of organization and functioning of teaching.
higher. Making it relevant to discuss the demands linked to monitoring in higher education, its
challenges, its competences and qualifications.
1 INTRODUÇÃO
3 METODOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Número de dias Data dos dias Número de dias Data dos dias
DIAS HORÁRIOS
DIAS HORÁRIOS
Segunda-feira 16:00 às 19:00
2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
uma relevante notoriedade no currículo acadêmico, sendo este um fator de destaque para
processos seletivos dentro e fora do mundo universitário.
É importante destacar o descontentamento em relação a pouca procura dos alunos
para/com a monitoria, mesmo o serviço estando disponível semanalmente, todas as procuras
por auxílio foram apenas realizadas dias antes da entrega de atividades avaliativas
extremamente relevantes para a nota final, dessa forma é essencial fundamentar discussões,
dentro e fora de sala de aula, no que se refere a importância da monitoria da disciplina de
métodos de pesquisa, no sentido de incentivar a procura do monitor para colaboração em todo
o período, posto que, no panorama geral, é uma disciplina inteiramente prática.
REFERÊNCIAS
OLIVEIRA, L. A.; ROCHA, J. E.; PEREIRA, V. S. Fatores que levam o aluno a engajar-se
em programas de monitoria acadêmica de uma instituição de ensino superior. Revista
Interfaces: Saúde, Humanas e Tecnologia. v. 2, 2014.
RESUMO
Considerando a relevância do estudo sobre os diversos impactos que as redes sociais trazem na
vida das mulheres, este artigo tem como objetivo compreender e relacionar os problemas de
autoimagem feminina com a construção de padrões estéticos do meio digital e as suas
consequências. Trata-se de uma revisão bibliográfica em que foram analisados 15 artigos,
pesquisados no Google Acadêmico, Scielo e Periódico Capes. Dentre os principais resultados,
destaca-se a urgência de análise para compreender em que momento exato as redes sociais
começam a atingir a autoimagem feminina e gerar gatilhos para doenças físicas e mentais. A
conclusão desse trabalho evidencia que quanto mais as mulheres são expostas as mídias digitais,
mais estão sujeitas e vulneráveis a problemas relacionados a autoestima e insegurança, devido
ao grande índice de comparação com os “corpos perfeitos” visualizados diariamente na internet,
fazendo com que a busca por procedimentos estéticos como: lipoescultura, silicone,
abdominoplastia entre outros, sejam cada vez maior e os problemas como o esgotamento mental
e os transtornos alimentares sejam mais acionados. Por fim, a psicologia possui como grande
objetivo minimizar os sofrimentos psíquicos dos sujeitos, especificamente das mulheres, que
sofrem com a pressão do “belo”, trabalhando com o seu autoconhecimento, fazendo com que a
autoestima e autoconfiança sejam pilares para uma melhora na vida pessoal e que a pressão
social e midiática não haja somente como papel negativo pra sua vida.
ABSTRACT
Considering the relevance of the study on the various impacts that social networks bring to
women's lives, this article aims to understand and relate the problems of female self-image with
the construction of aesthetic standards in the digital environment and its consequences. This is
a bibliographic review in which 15 articles, which were available on Google Scholar, Scielo
and Periodical Capes. Among the main results, there is an urgent need for analysis to understand
at what exact moment social networks begin to affect women's self-image and generate triggers
1
Graduanda em Psicologia na Faculdade Católica do Rio Grande do Norte.
2
Graduando em Psicologia na Faculdade Católica do Rio Grande do Norte.
3
Graduanda em Psicologia na Faculdade Católica do Rio Grande do Norte.
4
Docente da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte e Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
Doutora em Administração pela PUCPR. E-mail: adrianaoliveira@professor.catolicadorn.com.br
1047
for physical and mental illnesses. The conclusion of this work evidences that the more women
are exposed to digital media, the more they are subject and vulnerable to problems related to
self-esteem and insecurity, due to the high rate of comparison with the "perfect bodies" viewed
daily on the internet, making the search for aesthetic procedures such as: liposculpture, silicone,
abdominoplasty and others, are increasing and the problems with mental exhaustion and eating
disorders are more triggered. Finally, psychology has as its main objective to minimize the
psychic sufferings of the subjects, specifically women, who suffer from the pressure of the
“beautiful”, working with their self-knowledge, making self-esteem and self-confidence pillars
for an improvement in life. and that social and media pressure does not only play a negative
role in your life
Keywords: Social mídia; womens; pressure; self esteem.
1 INTRODUÇÃO
imagem, são desenvolvidos justamente pelo fato das mulheres se sentirem pressionadas a se
enquadrarem em padrões preestabelecidos pela sociedade contemporânea e por terem receio de
serem discriminadas, julgaras ou até excluídas por serem quem são, desencadeando assim
diversos impactos negativos na sua vida pessoal (LOBATO, 2021).
Não é prejudicial a busca pela beleza, mas a obsessão para se chegar em um padrão
inatingível impulsiona essas sequelas presentes na saúde física e mental das mulheres. É
possível ser saudável e não seguir padrões estéticos, como é possível seguir e não ter saúde
(LOBATO, 2021).
Ademais, as cirurgias plásticas no Brasil se tornaram um dos maiores motivadores para
a busca inatingível do padrão de beleza imposto pela sociedade, visto que esse processo se
tornou um dos meios mais rápidos e “eficazes” para quem deseja alcançar esse objetivo.
(CAMPANA; FERREIRA; TAVARES, 2012).
A psicologia estuda os transtornos mentais, suas causas, sintomas, tratamentos e
intervenções, e que cada sujeito é singular e deve ser escutado e tratado de forma individual e
particular. Por isso o psicólogo contribui tanto para a saúde dessas pessoas obcecadas por
padrões de beleza, uma vez que ele busca promover a aceitação e ressignificação do corpo do
paciente (LOBATO, 2021).
Segundo Kalb (2017), independente da atuação do psicólogo sua maior preocupação
deve ser minimizar o sofrimento psíquico do sujeito, trabalhando a aceitação como é dito no
estudo, seja através de dinâmicas, conversas, terapias de grupo, alternativas que vão de encontro
com a dor do paciente. Dessa maneira, os psicólogos realizam psicoeducação por meio de
diálogos, com a finalidade de alertar as pessoas de como os meios de comunicação interferem
nas escolhas e na singularidade da população, tornando os indivíduos “marionetes” dos veículos
comunicativos.
Este estudo conduz à clássica discussão sobre a relação das redes socias e a sociedade
feminina no mundo atual, na medida em que relaciona a autonomia dos indivíduos com a
imposição ditada no meio social e midiático. Sendo assim, pode-se justificar a importância do
debate acerca do tema, uma vez que o objetivo do estudo é compreender e relacionar os
problemas de autoimagem das mulheres com a construção de padrões estéticos do meio digital.
Além disso, o estudo se faz de grande relevância, visto que as pesquisas sobre a relação de
mídia-sociedade contribuem para entender alguns fenômenos sociais.
1049
2 METODOLOGIA
3 DESENVOLVIMENTO
As redes sociais conquistaram ao longo dos últimos anos um espaço fiel na vida das
pessoas, atendendo aos diferentes assuntos, gostos, padrões e discussões possíveis. De acordo
com (SILVEIRA, 2004), os meios de comunicação em geral, atingem e influenciam grande
parcela dos indivíduos. Além disso, o termo mídia também está vinculado às redes sociais, uma
vez que engloba diversos veículos de notícias e o campo da rede virtual mais conhecida, que se
chama internet.
1050
Dessa forma, é possível verificar os impactos que as mídias digitais possuem sobre a
subjetividade dos indivíduos, visto que a redes sociais possuem poder e influência persuasiva.
Nesse sentido, para (MEGALE, TEXEIRA, 1998, p. 49) com o atual mundo virtual surge um
novo modelo de relações interpessoais, extremamente marcado pela prevalência da imagem das
pessoas e por um desinteresse pelas relações afetivas, produzindo um tipo de subjetividade
marcado pela individualidade dos sujeitos e pela aparência.
Com a facilidade do bombardeamento de informação através da internet pelas mídias
digitais, a necessidade de estar inserido naquele determinado momento e padrão social, faz com
que os indivíduos sintam a precisão de se encaixarem ao que está inserido para a sociedade
(LELES, 2019). Nesse sentido, pode-se considerar que as redes sociais exercem influência em
determinados padrões estéticos vistos como ideias, gerando um discurso que tormenta a pressão
estética dos jovens. Desse modo, os meios de comunicação acabam por interferir nas escolhas
feitas pelos indivíduos, bem como na sua subjetividade e singularidade (TEO, 2010).
Além disso, o processo de massificação das redes sociais na contemporaneidade
impulsiona a crescente preocupação com o corpo, uma vez que produzem um discurso que é
dito o tempo todo que beleza, estética, sedução e sucesso são inseparáveis e que viver sem esses
elementos te torna desconforme e infeliz, tornando-se assim, a mulher como componente do
mercado cultural e objeto de consumo para os demais (CAMARGO, 2019).
Assim, é válido afirmar que a mídia é um importante meio de transmissão de padrões
estéticos hegemônicos pelo qual influencia mulheres a possuir corpos e estilos de vida
considerados como desejáveis, influenciando o comportamento e a personalidade das figuras
femininas ao longo da vida.
Estratégias essas que podem ser de várias formas, sejam com procedimentos estéticos,
dietas exageradas, grande esforço físico, vômito forçado. Todos esses exemplos acarretam
problemas mentais como estado depressivo e crises de ansiedade, além de transtornos
psicológicos como anorexia, distúrbios como a bulimia, vigorexia e ortorexia nervosa
(LOBATO, 2021).
De acordo com o estudo do IMC e crença alimentar por indivíduo, é preocupante a
obediência aos padrões estéticos, uma vez que grande parte da população tem o índice de massa
corporal abaixo de 25 quilogramas por massa ao quadrado, que facilita a instalação de
transtornos alimentares, já que as tensões estão voltadas ao alimento. Desencadeando, assim,
obsessão pelos padrões impostos, levando a autoimagem distorcida, favorecendo o
aparecimento de crenças negativas, tornando um terreno fértil para constituir distúrbios
alimentícios. (BOTELHO, 2005).
A anorexia é uma doença mental predominante nessas situações de busca pelo corpo
perfeito, uma vez que o indivíduo tem um distúrbio de imagem e se vê acima do seu peso real,
fazendo, assim, com que o mesmo deixe de se alimentar, abuse de dietas e passe a tomar
inibidores de apetite (VIANNA, 2005).
A bulimia é bem frequente também, na qual as pessoas após fazer ingestão de alimentos
tomam produtos termogênicos, laxante ou vomitam para reduzir imediatamente as calorias
consumidas. Já a vigorexia é mais comum em homens, porém muitas mulheres sofrem com esse
distúrbio, que assim como a anorexia os doentes vêem sua imagem alterada, eles se enxergam
mais atróficos de como verdadeiramente são, consequentemente passam a utilizar
anabolizantes, suplementos alimentares, drogas com o mesmo efeito e treinam exaustivamente,
não respeitando os limites corporais, ocasionando em lesões e desidratação. Ainda há a
ortorexia nervosa, que é o comportamento obsessivo patológico pela alimentação saudável,
quando o indivíduo não consegue comer nada que esteja fora do seu plano alimentar, causando
crises ansiosas e sentimento de incapacidade e de fraqueza. (CASTRO; CATIB, 2004)
Além das práticas que as mulheres usam para serem aceitas na sociedade que acabam
ficando doentes, incluem-se os tratamentos e cirurgias estéticas. A mídia potencializa essas
ações desenfreadas pelo fato das pessoas perceberem ídolos e celebridades dentro dos padrões
hegemônicos e bem-sucedidos, assim o desejo de “ajustar” o corpo se intensifica. Diante disso,
esses procedimentos muitas vezes estimulam sentimentos de insatisfação e de que sempre tem
algo que mudar no corpo, por conseguinte, doenças psicológicas como depressão e ansiedade
1052
podem ser desencadeadas, além das cirurgias ou tratamentos colocarem em risco a vida do
paciente (GRACINDO, 2015).
Surgery, o Brasil é o terceiro país do mundo em números de cirurgias plásticas, ficando atrás
apenas dos Estados Unidos da América e da China. (CAMPANA; FERREIRA; TAVARES,
2012).
Constata-se que o paciente busca o cirurgião plástico quando não está satisfeito com
algo do seu corpo, que essa insatisfação, inclusive, pode ocasionar abalos psíquicos no sujeito.
Desse modo, o sentimento negativo pode vir antes ou depois da cirurgia, podendo, assim,
acarretar consequências físicas ou mentais. Logo, vale salientar a importância e as contribuições
dos cuidados e estudos da psicologia, porque toda e qualquer mudança no corpo físico a mente
também é transformada, tendo vista que os dois são totalmente interligados. (GRANATO;
COSTA, 2015).
sua própria aceitação e imagem, fazendo com o que a pressão das redes sociais não gere
impactos maiores para sua vida pessoal. (KALB, 2017).
Desse modo, é evidente que a manipulação e a influência das redes sociais na vida das
pessoas produzem uma cultura de “corpo perfeito”, podendo causar transtornos à saúde mental,
uma vez que, de acordo com Bauman (2008), a tarefa de cumprir com as regras impostas pelo
mercado e pela sociedade resulta em um estilo de viver muito conturbado que proporciona
insegurança, baixa autoestima, ansiedade e depressão. Tornando-se cada vez mais necessário o
auxílio de um profissional capacitado a debater e ajudar nesses problemas.
Por fim, é importante salientar que a psicologia auxilia de forma positiva e ajuda no
equilíbrio emocional, na saúde mental e na autoestima das mulheres que enfrentam a pressão
social diariamente. É imprescindível desconstruir as regras sociais e o padrão cultural imposto
pela sociedade às mulheres humanas que só precisam ser livres e respeitadas.
4 CONCLUSÃO
Neste trabalho foi observado que a valorização do corpo cresce exageradamente, muito
por causa do forte impacto que a mídia vem trazendo principalmente para o público feminino.
E apesar dos avanços que os meios de informação e comunicação trouxeram para a sociedade,
muitos problemas foram desencadeados pelo fato das pessoas serem extremamente
influenciáveis pelos padrões de beleza construídos socialmente.
Essa forte influência que pessoas famosas e bem-sucedidas têm na população faz com
as mulheres façam de tudo para parecerem o máximo possível com seus espelhos sociais, ações
essas que podem pôr em risco a própria saúde física e mental. Desse modo, percebe-se que a
importância com a estética corporal aumenta com o passar dos anos, e que o sistema vende às
mulheres que qualquer sacrifício é válido para pertencer a um determinado grupo social e se
encaixar na padronização de “corpo perfeito”.
Sob tal contexto, foi percebido que esses sacrifícios são realizados de diferentes
maneiras, seja com cirurgias e procedimentos estéticos, ou com práticas de extremo esforço
físico, dietas rígidas, uso de drogas e anabolizantes. Com isso, uma série de complicações físicas
e psicológicas podem ser afloradas, são exemplos os distúrbios vigorexia, ortorexia nervosa,
bulimia e anorexia, doenças psicossomáticas como ansiedade e depressão, além de sequelas
corporais e risco de morte em casos de cirurgias e implantes.
1055
Além disso, as cirurgias estéticas têm uma enorme procura e realização mesmo com
altos números de indivíduos insatisfeitos com os procedimentos. Diante disso, a sociedade
contemporânea, principalmente as mulheres, são apontadas como uma das principais fontes de
normas e regras relacionadas à beleza, uma vez que elas associam à magreza com sucesso,
atratividade, investimento e aceitação. O culto feminino ao corpo magro conduz a um grande
sofrimento psíquico, pelo fato das mulheres buscarem soluções imediatas a fim de mitigar seus
problemas mentais.
As abordagens da psicologia podem ressignificar e reconquistar os valores e o papel da
beleza feminina na sociedade, trabalhar a diversidade humana e contribuir para as mulheres
terem maior autonomia em relação a suas dores e sofrimentos. Em suma, não será de forma
imediata que haverá uma desconstrução desses espelhos sociais, pois eles estão enraizados na
população.
Sem ter a pretensão de esgotar o tema, este trabalho tem a intenção de promover diálogos
e críticas construtivas para que os primeiros passos sejam dados, a fim de tornar o conceito de
beleza mais inclusivo e heterogêneo, sem afastar a necessidade de serem aprofundados estudos
por meio de diversos teóricos das áreas da saúde e das ciências humanas que se dedicam a
entender cientificamente essa problemática.
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Leeds: Zahar, 2008.
199 p.
BENTO, Antônio V. Como fazer uma revisão da literatura: considerações teóricas e práticas.
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GRACINDO, Giselle Crosara Lettieri. A moralidade das intervenções cirúrgicas com fins
estéticos de acordo com a bioética principialista. Revista Bioética, [S.L.], v. 23, n. 3, p. 524-
534, dez. 2015. FapUNIFESP (SciELO).
1056
LOBATO, Lívia Raquel Fernandes. Os impactos dos padrões estéticos impostos pela sociedade.
2021. 33 f. TCC (Graduação) - Curso de Psicologia, Faculdade Católica do Rio Grande do
Norte, Mossoró-Rn, 2021.
OLIVEIRA, Leticia Langlois; HUTZ, Claúdio Simon. Transtornos alimentares: o papel dos
aspectos culturais no mundo contemporâneo. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 15, n. 3, p. 1-
8, set. 2010. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/pe/a/MGVrVGGrjn8VPDYyCqdmNLj/abstract/?lang=pt. Acesso em:
25 abr. 2022.
TEO, Carla Rosane Paz Arruda. Saúde e Sociedade. Discursos e A Construção do Senso
Comum Sobre Alimentação A Partir de Uma Revista Feminina, São Paulo, v. 19, n. 2, p. 1-14,
jun. 2010.
VIANNA, Cynthia Semíramis Machado. Da imagem da mulher imposta pela mídia como uma
violação dos direitos humanos. Revista da Faculdade de Direito Ufpr, [S.L.], v. 43, n. 0, p. 2-6,
31 dez. 2005. Universidade Federal do Paraná.
1057
RESUMO
Os jogos eletrônicos/online estão cada vez mais fazendo parte das relações sociais, entrando
nas casas das famílias, como um elemento quase indispensável para o entretenimento e lazer,
décadas depois de seu surgimento. Com investimentos bilionários esses jogos vêm sendo a
terceira atividade de lazer mais rentável do mundo, perdendo apenas para a indústria bélica e
automobilística, fazendo sucesso em todos os grupos etários, principalmente na categoria jovens
e adultos. Ao longo dos anos, pesquisadores sobre o tema vêm observando que existem tanto
impactos sociais, econômicos e culturais, quanto ao uso dessas mídias digitais, não havendo um
concesso absoluto na classe científica, de como dosar a utilização dessas tecnologias com
ganhos apenas satisfatórios, afinal, viu-se que a prática excessiva destes pode ser considerada
um transtorno mental conforme a classificação da Organização Mundial de Saúde - OMS. O
objetivo deste artigo é debater sobre quais são os aspectos positivos e negativos dos jogos online
nas relações sociais. Também se propõe a apresentar situações de violência causadas pelo uso
dos jogos de RPG e MMORPG em ambientes virtuais contra as mulheres. Uma revisão da
literatura elaborada a partir de artigos já publicados que envolvem a discussão sobre o tema,
autores como Dias (2019), IBGE, (2019), Wenge e Campbell (2018) dentre outros estudiosos
na temática são discutidos neste artigo. Sendo assim, a pesquisa referente ao tema jogos
eletrônicos/online e seus impactos nas relações sociais, de grande relevância social, pois a
temática ainda não está sendo discutida como uma questão de saúde e política pública.
Palavras-chaves: jogos online, relações sociais, transtorno mental.
1
Graduada em Serviço Social pela Faculdade União Metropolitana de Educação e Cultura Ciências Social-
UNIME/BA. Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – RN. E-Mail:
priscilaalbuquerque21@hotmail.com
2
Graduada em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – RN. E-Mail:
grasydiogenes@hotmail.com
3
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – RN. E-Mail:
katiasouza.psico@gmail.com
4
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio de Norte - RN. E-Mail: luziaericafrn@gmail.com
5
Doutora em Administração pela PUC PR. Docente do curso de Psicologia da Faculdade Católica do Rio Grande
do Norte – RN. E-Mail: adriana.oliveira@professor.catolicadorn.com.br
1058
ABSTRACT
Electronic/online games are increasingly becoming part of social relationships, entering the
homes of families, as an almost indispensable element for entertainment and leisure, decades
after their emergence. With billion-dollar investments, these games have been the third most
profitable leisure activity in the world, second only to the arms and automobile industry, being
successful in all age groups, especially in the youth and adult category. Over the years,
researchers on the subject have observed that there are so many social, economic and cultural
impacts as to the use of these digital media, with no absolute consensus in the scientific class
on how to dose the use of these technologies with only satisfactory gains, after all. , it was seen
that the excessive practice of these can be considered a mental disorder according to the
classification of the World Health Organization - WHO. The purpose of this article is to discuss
what are the positive and negative aspects of online games in social relationships. It also
proposes to present situations of violence caused by the use of RPG and MMORPG games in
virtual environments against women. A literature review based on already published articles
that involve the discussion on the topic, authors such as Dias (2019), IBGE, (2019), Twenge
and Campbell (2018) among other scholars on the subject are discussed in this article. Thus, the
research on the topic of electronic/online games and their impacts on social relations, of great
social relevance, as the theme is not yet being discussed as a matter of health and public policy.
Keywords: online games, social relationships, mental disorder.
1 INTRODUÇÃO
Nesse aspecto, a comunicação passou a ser efetuada de forma mais rápidas, tendo os
aparelhos digitais papéis importantes nas atividades do dia a dia. Vale ressaltar, que o avanço
dos jogos eletrônicos teve um crescimento nos últimos anos com um investimento de bilhões
conforme Antoniolli (2020) o que nos traz a luz do debate sobre o poder que se gera a partir
desses jogos no processo de construção e desenvolvimento da cultura, bem como das relações
1059
sociais e familiares, podendo tais objetos de lazer exercer um papel positivo e em outros
aspectos negativos, dos quais avaliamos melhor no desenvolvimento deste trabalho.
Dados mais recentes realizados pelo IBGE de 2019 em Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios Contínua (PNAD), ao analisar as faixas etárias de 10 anos a 60 ou mais,
evidenciaram que a busca pelo uso da internet vem crescendo em todos os grupos etários, no
entanto foi mais acelerado nas idades mais elevadas, o que pode ter sido apresentado pelo
crescimento nas facilidades para uso destas tecnologias e na sua disseminação no cotidiano em
sociedade. A pesquisa ainda cita que os aparelhos mais utilizados são telefone móvel celular,
microcomputador, televisão e tablets (IBGE, 2019).
Os jogos online junto a outras formas de lazer digital se tornaram muito utilizados no
mundo fazendo com que essas tecnologias se transformassem em empreendimentos lucrativos
e prósperos com seu surgimento no século XX se expandindo no século XXI, mais
especificamente na década de 70 nos EUA, de acordo com Oliveira e Mota Filho (2017), a
origem se dá com o surgimento das seguintes modalidades: Multiuser Massive Online Role
1061
Playing Game - MMORPG e Role Playing Game - RPG no que se refere aos jogos online em
rede local ou em internet.
Inicialmente, os jogos online eram textos recebidos pelos usuários com informações
sobre o seu personagem. Com o desenvolvimento das tecnologias de suporte a internet, os jogos
online começaram a se tornar mais complexos, sendo que em 1997 a Origin Systems lança um
jogo inovador o primeiro Multiuser Massive Online Role Playing Game MMORPG lançado
comercialmente que em 2003, o mesmo alcançou a marca de 250 mil jogadores ( LESNIESKI,
2008).
Com relação a origem dos jogos online MMORPG se faz necessário pontuar também
sobre o precursor de todos os jogos de interpretação ao introduzir o imaginário na sua execução
o chamado role playing game RPG, este por sua vez, também possui os avatares (personagens)
que caracterizam cada jogador(a) e tem como função de envolver o número de 4, 5 ou mais
jogadores interagindo em rede (OLIVEIRA; MOTA FILHO, 2017).
Diante do exposto, viu-se em Oliveira e Mota Filho (2017) que o início do século XXI
demarcou um boom global do consumo e comércio dos jogos eletrônicos. Os videogames e
jogos online deixaram de ser um entretenimento simples e momentâneo para se transformarem
em negócio lucrativo para diversos setores industriais, como empresas computacionais, de
publicidade, distribuidoras e produtoras de jogos, tornando-se rapidamente um dos três pilares
econômicos atuais do entretenimento mundial.
Para se ter uma ideia do papel que os jogos eletrônicos estão desempenhando na
cultura humana deste início do terceiro milênio basta dizer que a movimentação
financeira de sua indústria é a primeira na área de entretenimento, superior à do
cinema, e a terceira do mundo, perdendo apenas para a indústria bélica e
automobilística (SANTAELLA, 2007, p. 407)
Ao expressar os pontos anteriores, entende-se que tais ferramentas podem ser utilizadas
tanto para o desenvolvimento humano, como elemento de controle social, ainda para uma
1062
mudança de cultura e no processo das relações sociais. As contribuições dos estudos de Santana,
Duarte e Lacerda (2020) aportaram que em 2018 a Organização Mundial de Saúde (OMS), após
pesquisas realizadas, chegou à conclusão de que a dependência nos jogos eletrônicos e sua
influência no cotidiano dos jovens com o uso abusivo passaria a ser reconhecido como uma
doença real, especificamente, um distúrbio mental, entrando oficialmente para Classificação
Internacional de Doenças (CID) sendo esta por sua vez, uma das principais ferramentas
epidemiológicas do cotidiano médico.
Além disso, uma das questões que o artigo mencionado traz é que a dependência nos
jogos eletrônicos não para de suscitar debater e mudanças de comportamentos e condutas
sociais em crianças, jovens e adultos tendo problemas atrelados ao limite de tempo gasto nesses
jogos e frequência com o uso abusivo, fazendo dos usuários desses jogos dar prioridade mais
as telas do que a atividades consideradas essenciais como se relacionar com amigos, familiares,
viajar, podendo também atrapalhar no ambiente de trabalho (SANTANA; DUARTE;
LACERDA, 2020).
Já na pesquisa elaborada por Real e Flores (2018) pela universidade do Rio Grande do
Sul viu-se um ponto de vista diferente dos autores citados até aqui, a partir da aplicação de um
questionário com os próprios jogadores, as autoras levantaram que existiam algumas
características importantes que justificassem que essa seria uma fonte de entretenimento e lazer,
onde os mesmos encontravam uma sensação de integração e aprendizado: aprende-se o processo
da competição, estratégia, trabalho em equipe, prazer e superação, sendo a amizade um fator
extremamente motivador.
[...] Os jogadores socializam com seus amigos e também fazem novas amizades,
vencendo as barreiras geográficas. Consideram que os jogos online alcançam um
grupo de adolescentes e jovens bastante significativo na sociedade atual,
independentemente de classe social e econômica, pois grande parte deles têm acesso
a esse tipo de jogo. É raro encontrar alunos que não tenham interesse em fazer uso das
tecnologias (REAL; FLORES, 2018, p.2).
Após este primeiro passo, surgiram outros teóricos levantando novas e relevantes
reflexões sobre os games, como Loftus e Loftus (1984), James Paul Gee (2009), David
Buckingham (2010), entre outros. Loftus e Loftus, em seu livro publicado em 1983, “Mind at
Play: The Psychology of videogames”, discutiram temas inovadores sobre os jogos
eletrônicos, como seu possível estímulo a melhorar as memórias de longo e curto prazo, bem
como a capacidade de percepção e interação social (LOFTUS; 1983; OLIVEIRA; MOTA
FILHO, 2017).
É importante frisar após amplos debates e estudos, que o vício em vídeo games passou
a ser considerado oficialmente pela OMS em 2018, como transtorno mental6 afetando usuários
em todo o mundo, entrando para o CID 11 (SANTANA; DUARTE; LACERDA, 2020). Os
autores ainda apontam ao realizarem buscas em estudos da OMS que existem três
comportamentos que auxiliam no diagnóstico para identificar se há dependência no uso dos
jogos eletrônicos, tais são: o primeiro deles é a falta de controle no uso dos jogos, não existindo
uma hora específica de parar para realizar atividades consideradas essenciais, podendo passar
noites em claro. O segundo é a prioridade crescente: aqui ocorre o isolamento social dos amigos,
família e trabalho. O terceiro e último se refere a questão da toxicidade no uso dos jogos online,
o indivíduo se encontra em um nível de dependência elevado não sabendo mais como obter o
controle da situação com relação ao uso dos jogos online (SANTANA; DUARTE; LACERDA,
2020).
Já Mendes e Silva trazem em no ano de (2017) em seu estudo onde os mesmos aplicaram
questionário sociodemográfico com aproximadamente 265 adultos com idades compreendidas
entre 18 e 65 anos onde 75% eram do sexo feminino, majoritariamente e frequentavam o ensino
superior, revelou-se que o uso problemático da internet está associado a sintomas clínicos de
ansiedade, de stress e depressão, e associado com o nível do autoconceito (autoconhecimento).
Em outros termos, os autores trazem em seu estudo que o uso em excesso na vida do indivíduo
com relação às mídias/jogos online podem estar atreladas a sintomas ou doenças como as
citadas anteriormente. Além disso, foi observado neste que o uso dessas mídias tem se tornado
cada vez mais cedo na infância e adolescência, causando o distanciamento social.
6
O transtorno mental dos jogos pela internet está associado a classificação (DSM – 5) e a Dependência em
Videogames ao (CID11) são associados aos transtornos Não relacionados a Substâncias, portanto, possuem
essencialmente como características o abuso, a dependência, a tolerância e a abstinência (cada uma com suas
especificidades) (SANTANA; DUARTE; LACERDA, 2020).
1064
Até aqui foi encontrado que os mais diferentes tipos de jogos eletrônicos, conforme visto
nas conclusões dos estudos de Santana, Duarte e Lacerda (2020) foi que ao mesmo tempo o uso
dos jogos online pode trazer tantos aspectos positivos como malefícios aos seus usuários, como
em qualquer outra atividade em excesso. O diferencial no estudo desses autores foi destacar
episódios que se tornaram conhecidos por terem terminado de forma trágica, sendo esses
episódios, supostamente influenciados por alguns jogos eletrônicos.
Um casal da cidade de Reno, no estado americano de Nevada, pode passar até 12 anos
atrás das grades. Viciados em internet e jogos on-line, eles deixaram os filhos em
estado de inanição e com outros problemas de saúde. As crianças de 2 anos e 11 meses
foram levadas por agentes de segurança e assistentes sociais a um hospital, de onde
sairão para um abrigo do estado. Eles tinham comida, mas simplesmente não a deram
às crianças porque estavam muito distraídos jogando vídeo games [...] (SANTANA;
DUARTE; LACERDA, 2020, p.7)
Diante do exposto, se faz necessário cada vez mais discutir sobre o tema em questão a
fim de buscar alternativas de saúde pública que possam nos dá um norte de como proceder com
relação a episódios como o mencionado anteriormente. Essa questão de saúde mental é tão
emergente que já existem clínicas privadas para tratar várias doenças relacionas a dependência
em decorrência do uso excessivo dos jogos eletrônicos, como é o caso de clínicas já
estabelecidas para responder a preocupações individuais, familiares e comunitárias, como em
países, China, Japão e Coreia do Sul (SAUNDERS et al., 2017).
No Brasil esse distúrbio já é tratado em diversas unidades do Sistema Único de Saúde
(SUS), e em clínicas particulares ou sem fins lucrativos, Fernandes (2022) ainda cita centro de
ajuda, tais são:
Ambulatório de Dependências do Comportamento do Prod/Unifesp (Programa de
Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo).
Telefone (11) 5579-1543.
Programa Ambulatorial do Jogo (PRO-AMJO) DO IPq-HC-FMUSP (Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Telefone: (11) 2661-7805.
Jogadores Anônimos: www.jogadoresanonimos.org.br
No ano de 2018 especificamente nos meses entre julho e novembro nos municípios de
Juazeiro do Norte e Crato, Ceará, Brasil Bezerra et al. (2020) dedicou-se em seu estudo a
identificar através de entrevistas processadas no software IRAMUTEQ, identificar a percepção
1065
jogadoras relatam em seus discursos a falta de atuação efetiva dos organizadores a condutas de
violência dirigidas a elas, a falta de efetividade também dos canais de denúncias e as falhas nas
penalidades e punições que são ineficientes aos jogadores agressores (BEZERRA, et al., 2020)
Em dados coletados em estudos anteriores se percebeu a importância de frisar debates e
estudos, que o vício em jogos passou a ser considerado oficialmente pela OMS em 2018, como
transtorno mental. Seguindo esta linha de pensamento afirma-se ser necessário cada vez mais
discutir sobre a temática em questão a fim de buscar alternativas de saúde pública que possam
servir de norte de como proceder, com relação a episódios nesse contexto
Na perspectiva de contribuir e a conscientização sobre os jogos eletrônicos e seus
impactos nas relações sociais é necessária uma conscientização na intenção de amenizar e
combater possíveis danos à saúde, a relação entre aspectos de baixo bem estar psicológico está
atrelada ao uso severo das telas digitais, isso exige buscar ajuda profissional da saúde no âmbito
da psicologia para que possa ser feito um trabalho de reorganização desse sujeito.
Sendo assim, refletir sobre a temática como um elemento quase indispensável para o
entretenimento e lazer é fundamental. Entende-se que os estudos encontram-se ainda em
momento inicial de sua produção e obter resultados satisfatórios requer provocar debates como
este, como forma de prevenção onde o sujeito precisa se conscientizar do uso em excesso de
jogos, pode acometer sua saúde. Afinal, viu-se que as práticas excessivas destes jogos podem
ser consideradas um transtorno mental conforme a classificação da Organização Mundial de
Saúde - OMS.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo identificou com a pesquisa em diversos autores sobre a temática que
existem tanto impactos positivos como negativos no que se diz respeito ao uso dos jogos
eletrônicos/online nas relações sociais, ainda que esse instrumento se usado em excesso pode
causar doenças físicas e mentais, porém o estudo ainda apresentou algumas limitações, se
fazendo necessário ampliar através de um estudo de campo a complementação desta pesquisa
no sentido mapear possíveis redes locais, e afim de se buscar entender como familiares e redes
de apoio estão lidando com a realidade dessa problemática.
Outro ponto que chamou atenção foi com relação a existência da violência contra as
mulheres no ambiente virtual, sendo essa uma temática ainda pouca abordada no estudo foi que
a violência, afeta negativamente a qualidade vida dessas mulheres, uma vez que fragiliza sua
1067
REFERÊNCIAS
SAUNDERS, J. B. et al. Distúrbio do jogo: Seu delineamento como condição importante para
diagnóstico, manejo e prevenção. Jornal de vícios comportamentais. v. 6, n. 3, pág. 271279,
2017. Disponível em: https://akjournals.com/view/journals/2006/6/3/articlep271.xml.DOI:
https://doi.org/10.1556/2006.6.2017.039. Acesso em: 27 maio. 2022.
RESUMO
Tomando como forma de reflexão conforme o modo de que o olhar sobre perdas é discutido e
trazido para o cotidiano de cada indivíduo. O luto como uma maneira de expressão de um misto
de emoções com referência a perda, dada como um evento árduo e doloroso, mesmo com esses
efeitos ainda é pouco reconhecido como um temática para ser verbalizada liberalmente. O modo
de fantasiar, acobertar e desviar sobre o luto para o indivíduo que está em fase de
desenvolvimento infantil, reflete como sem muita significância para quem o acompanha.
Impactos no desenvolvimento podem ser consequências para a criança se não houver o diálogo.
O método utilizado nessa pesquisa foi a revisão integrativa, sendo dada como uma interação de
resultados e discussões de autores pesquisados, contabilizando com a pesquisa bibliográfica
como procedimento técnico. As pesquisas foram realizadas através das plataformas SciELO -
Scientific Electronic Library Online; BVS - Biblioteca Virtual em Saúde ; Portal Capes - Portal
de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e BDTD -
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, incluindo também livros técnicos-
científicos, analisando as maiorias das obras publicadas com um tempo dos últimos 10 (dez),
entre 2012 e 2022. Com resultados que apresentam uma relevância em trazer o luto para a
criança de maneira mais transparente e lúdica. Diante dos estudos e das pesquisas referentes a
essa temática, resultam para um desenvolvimento de novos estudos e particularidades Com isso,
com o intuito de debater um ponto importante para a criança, a relevância do falar sobre o luto,
a forma como as redes de apoio vai mediar para si mesma.
Palavras-chave: Luto. Morte. Infância
ABSTRACT
Taking as a form of reflection according to the way in which the look on losses is discussed and
brought to the daily life of each individual. Mourning as a way of expressing a mix of emotions
with reference to loss, given as an arduous and painful event, even with these effects is still little
recognized as a theme to be verbalized liberally. The way of fantasizing, covering up and
diverting about grief for the individual who is in the child development phase, reflects as
without much significance for those who accompany him. Developmental impacts can be
consequences for the child without dialogue. The instrument used as research was the
integrative review, being given as an interaction of results and discussions of researched
authors, counting with the bibliographic research as a technical procedure. The researches were
carried out through the platforms SciELO - Scientific Electronic Library Online; VHL - Virtual
Health Library; Capes Portal - Portal of Periodicals of the Coordination for the Improvement of
1070
Higher Education Personnel and BDTD - Brazilian Digital Library of Theses and Dissertations,
also including technical-scientific books, analyzing most of the works published with a time of
the last 10 (ten), between 2012 and 2022. With results that present a relevance in bringing grief
to the child in a more transparent and playful way. In view of the studies and research related
to this theme, they result in the development of new studies and particularities. With this, in
order to discuss an important point for the child, the relevance of talking about grief, the way
in which support networks will mediate for themselves.
Keywords: Mourning. Death. Childhood
1 INTRODUÇÃO
O luto pela perda de uma pessoa amada é a experiência mais universal e, ao mesmo
tempo, mais desorganizadora e assustadora que vive o ser humano. O sentido dado à
vida é repensado, as relações são refeitas a partir de um avaliação de seu significado,
a identidade pessoal se transforma. Nada mais é como costumava ser. E ainda assim
há vida no luto, há esperança de transformação, de recomeço. Porque há um tempo de
chegar e um tempo de partir, a vida é feita de pequenos e grandes lutos, através dos
quais, o ser humano se dá conta de sua condição de ser mortal (FRANCO et aL, 2007,
p. 2).
Já se tornou algo natural de acontecer quando alguém conceitualiza luto ou quando está
falando sobre o assunto, se traz logo uma referência para a perda de alguém pela morte. Porém
vai além desse ponto, desde ao um término de um relacionamento, a uma perda de objeto que
tenha um valor sentimental muito forte, alguma perda da parte do corpo em decorrência de
algum acidente ou por cirurgia, perda de algum animal de estimação, separações de pais, são
todas possibilidades de perda e luto. Podendo ser percebido que o luto se varia e não é apenas
concretizado a um direcionamento de perdas de pessoas pela morte. Sendo assim, todas as
1071
situações que se relacionam com alguma perda, é preciso que se tenha um manejo para se ter
uma conduta favorável no processo de luto, já que esse processo tem uma visão negativa para
a sociedade (RAMOS, 2016).
Quando se fala sobre o luto se traz uma reflexão que persiste negativamente na realidade
da sociedade. A construção de uma ideia que se relaciona o luto a uma variedade de fatores que
se estabelecem como uma forma ruim de se ver aquele momento, seja por um período de tempo
mais curto ou mais longo, os questionamentos perante a esse tipo de processo se torna constante
para quem está vivenciando. Fatores estes que podem estar relacionados a crenças, a atitude, a
cultura familiar, dentre outros. A perda de algo ou alguém significante, pode ocasionar uma
influência grande na dinâmica do viver, seja no familiar, no social, e atinge fortemente o
pessoal. Sendo, então obrigados a reorganizar todo um sistema que já era seguido para a
realidade daquele indivíduo, se tendo modificações drásticas para tentar organizar uma logística
que se adeque ao novo contexto, de acordo com Ramos (2016).
A perspectiva dada para o luto diante as circunstâncias que são pontuadas, se dão por
uma conduta que a sociedade impõe perante a uma construção questionável. Quando se trata do
luto envolvendo a criança, se torna uma questão que se tem um tabu concretizado por um longo
período de tempo. Podendo ser uma experiência mais difícil para se elaborar uma perda tão
importante para aquele indivíduo. Para o adulto, que se encontra em um estado de
desorganização psíquica diante a situação do processo de luto já é uma vivência difícil, e para
a criança já se torna uma desorganização psíquica e emocional mais complicada por estar em
fase de desenvolvimento e não se ter uma noção tão sólida perante as demandas que estão
presentes ( LEANDRO E FREITAS, 2015).
Segundo Hoffmann (1993), a sociedade tem como uma prática estabelecida no estilo de
vida em que é evitado a aproximação ao tema morte e consequentemente o luto, tendo então
como forma errônea a privação e também a proteção a ser dada à criança, com ideações de que
contribuirá para um melhor desenvolvimento e se ter conforto psíquico a esta. Ao se direcionar
ao luto infantil, existem alguns pontos a serem repensados e discutidos diante todo um patamar
construtivo. Kübler-Ross (1991), traz que ao relacionar o luto as reações emocionais e
comportamentais da criança de uma maneira que não são proporcionais às dos adultos. Com
isso, atribuindo uma construção a uma ideia de que o luto na infância se torna banal para o
desenvolvimento psíquico daquele indivíduo.
1072
forma natural, mas por ainda existir limitações do sujeito lidar com o luto. Nesse âmbito existem
várias vivências de crianças e pouca referência para possibilitar um diálogo relevante e plausível
sobre o luto, não sendo colocado em um patamar de significância para a criança. Quanto aos
objetivos específicos, estão relacionados a discutir sobre o luto na infância e refletir os impactos
do não falar sobre perdas com crianças
Ressalta-se que os questionamentos e curiosidades sobre o luto, a perda, a morte e o
luto são presentes de modo frequente, e logo após a disciplina de tanatologia, foi despertado um
maior interesse sobre toda a temática. Já que as leituras, estudos, pesquisas, passadas em sala
de aula não tinham muita relação com a morte, a vivência do luto na fase da infância aumentou
a curiosidade. E também na disciplina de desenvolvimento em que é apresentado desde o gerar
até a fase final do adulto. O que por consequência gerou um questionamento de saber que é algo
presente mas não é tão visto, explanado, e que terá implicações que são refletidas desse ato.
Sendo um conteúdo despertador. E em relação ao tema, foi algo que analisei em pontos como
o quanto os sentimentos da criança se tornam banalizados por terem pensamentos e
comportamentos que levam ao não dizer, também sobre a enfatização desse motivo.
2 METODOLOGIA
Segundo Netto (2010), a metodologia pode ser definida como um das partes mais
relevantes para fornecer detalhes importantes e suficientes para uma escolha restritiva de um
processo científico. Tendo então, uma estratégia de informações que são reconhecidas perante
as alternativas desejadas. Tomada como um caminho de desdobramento na construção de uma
pesquisa, como cita Kauark; Manhães e Medeiros (2010).
A caracterização da pesquisa presente se dá por meio da pesquisa qualitativa, em que a
mesma tem um viés referente a um processo de origem de descrição, tendo um objetivo
relacionados aos fenômenos sociais e suas predominâncias. Com isso, a pesquisa desenvolvida
compreende-se como uma linha seguida pela a qualitativa.
A pesquisa a ser categorizada como uma qualitativa como define Moresí et al ( 2003, p.
8):
Considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um
vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode
ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de
significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de
métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados
e o pesquisador é o instrumento-chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a
1074
Com isso se faz parte de uma conjuntura que se constrói, de acordo, com as pesquisas
científicas que são realizadas através de uma procura constante de sabedoria e também de
aprendizagem para uma perspectiva generalista ampliada, diante a cada particularidade
referente a pesquisa qualitativa.
Quando se fala de pesquisa científica de bibliografia se propõe a ter uma estratégia
logística diante as condutas a serem realizadas de acordo com as perspectivas pesquisadas e
analisadas, com cautela. A partir do referenciamento apontado se dá escolhas de pesquisas que
se relacionam com o ponto principal a ser discorrido bibliograficamente, na construção de ser
ter argumentos científicos comprovados teoricamente a depender do caso. A pesquisa
bibliográfica traz um pensamento crítico acerca do assunto que foi discutido. É necessário que
haja uma confiabilidade dos trabalhos pesquisados para esse artigo para assim se ter um
resultado plausível perante as diretrizes tomadas em questão de uma conduta ética e com
responsabilidade. Assim, por meio da utilização de uma metodologia de avaliação se estabelece
uma prontificação para grandes possibilidades de produções científicas, como é citado por
Treinta et al (2014).
A partir de Souza, Silva e Carvalho (2010), com um direcionamento para a revisão
integrativa como uma definição de um método que está relacionado a se ter uma síntese de
conhecimentos com informativos de aplicabilidade eficaz para os estudos em prática.
Considerando aspectos relevantes de inclusão para a compreensão completa dos estudos. Sendo
analisado com uma significância das discussões de resultados.
Em vista disso, com um adendo as análises de adequações sobre uma pesquisa com um
intuito de construir uma ligação de compreensão e reflexão perante a uma pesquisa de cunho
colaborativo. As buscas realizadas foram utilizadas descritores como “Luto”, “ Morte”, “
Infância” e palavras-chaves como “ Luto na infância” e “ Morte na infância", como modo de
relevância para a contribuição da pesquisa.
Com relação aos critérios de exclusão, foi desconsiderado de forma gradual as obras que
não tinham como fator a tradução para a língua portuguesa ou estava em outro tipo de idioma
tal qual do Brasil, sem atribuição daqueles que não tinham uma relação indireta com o tema
discorrido, aqueles que não correspondem de certa forma as palavras-chave e os descritores. E
quanto aos critérios de inclusão, foram considerados os resumos que estivessem condizentes ao
1075
tema, temas que tivessem relevância para a pesquisa, inclusão da base de dados. Utilizando os
filtros tanto para a exclusão quanto para a inclusão da pesquisa.
A prevalência para um espaço temporal é dos últimos 10 (dez) anos, entre 2012 e 2022,
mas se torna necessário ter uma abertura para o espaço de pesquisa, pois existem algumas obras
que vão além dos 5 anos e que tem uma importância para a contribuição. Alguns livros
utilizados que fazem relação de maneira direta com o tema, tendo como um valor significativo
para o desenvolver da pesquisa. As buscas foram realizadas através das plataformas BVS -
Biblioteca Virtual em Saúde; SciELO - Scientific Electronic Library Online; Portal Capes -
Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e BDTD
- Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações.
No decorrer das buscas, foi percebido que existe uma certa rigidez para escrever sobre
o tema, o que torna um pouco mais difícil o desenvolvimento de materiais como estes. Alguns
se tornam referência, devido a esse ponto supracitado que detém de um processo delicado para
quem enfrenta. E quando é direcionado para a fase da infância, as obras tendem a diminuir um
tanto quanto. Destacando um ponto que de certa forma é preocupante, mas pouco discutido e
descrito.
Tendo em vista, uma discussão que se perpetua por diversas gerações, mas que não se
tem uma abertura ampla para um desenvolvimento completo de uma jornada que pode ser
considerada rígida pelo o decorrer dos anos. E com essa abertura, ter possibilidades de novas
perspectivas de referência de uma área de trabalho pouco explorada em comparação a tantas
outras , que se encontra com diversos desafios.
Uma perspectiva diferenciada para auxiliar e também completar as lacunas acerca do
assunto, mas de maneira aprofundada na fase infantil. Na qual, tem uma carência em obras de
pesquisas sobre como manejar naquele momento, como a família/pais possam explicar e definir
de um modo mais simples e prático, porém sem fantasias, o lidar com esses momentos em que
possa ter um espaço de longo prazo ou curto. Com isso, irá depender de como está sendo
manejado para aquela criança.
3 LUTO NA INFÂNCIA
A vida pode ser considerada como um fenômeno. Nela tem vários eventos. E a morte
pode ser dada como um evento desse fenômeno. Como consequência e também como evento,
o luto. Sendo assim, como Chagas (2018) cita, durante a trajetória da humanidade o homem,
criou representações predominantes para o enfrentamento desse fenômeno, que está cada vez
mais inevitável não ter uma discussão crescente sobre.
O temor da morte foi naturalmente construído por causas existentes de um delineamento
atribuído às impressões de povos antigos. Perpetuando com pensamentos questionáveis de uma
dimensão considerada ainda ameaçadora para muitos. A Kübler-Ross (1981) cita em um dos
capítulos do livro “Sobre Morte e Morrer” que tem como um dos seus objetivos tentar traçar
mudanças perante a uma demanda questionadora e retrocedente. Mudanças essas que são
responsáveis pelo crescente medo da morte, oriundas de uma ideia restrita e decorrentes de um
aumento de problemas emocionais, grande necessidade de compreensão e a forma de lidar com
a morte, o morrer e todo o processo do luto.
De acordo com o que Chagas (2018, p. 29) discute em dos seus capítulos do livro "A
Morte e suas representações" traz um posicionamento sobre a morte diante do entender da
sociedade:
O luto segue uma linha de entendimento e de aceitação bem semelhante ao que foi
supracitado. Se detém de uma ideia construída de medo em que acontece a morte - já relaciona-
se luto constantemente ao morrer - e banaliza as outras formas de como se vem e sente o luto.
Segundo Baptista, Carvalho e Lorry (2005) o medo se encontra como um estado
emocional mais evidente diante situações que coloquem o indivíduo a alguma ameaça ou
incerteza. Apesar de ser um mecanismo de defesa para uma representação de comportamento,
onde se vê vulnerável a enfrentamentos, pode ser também considerado como psicossomático,
desencadeando resposta que influi na qualidade de vida daquele indivíduo. Com isso, o medo
pode ser considerado como uma adaptação para aquele sujeito, de acordo com uma perspectiva
evolutiva e desenvolvimentista.
1077
Baseado no que foi supracitado, é evidente que temos medo da dor, pois a partir do
momento em que ela está perante a situações de fragilidades, tem uma sensação psíquica que
torna-se um sofrimento imediato para o indivíduo. Com isso, tomando como uma relação
mínima, é o estado emocional do medo e o fenômeno do luto que se atravessam de maneira
inerente (CHAGAS,2018).
É perceptível que torna-se evidente a preocupação em relacionar-se de maneira direta
com a discussão do luto e da morte. Traz uma ideia de que esse fato é regulamentado, embora
se encontre de uma maneira longe de ser institucionalizada pela a sociedade, por carregar um
pensamento delimitado. Como cita Chagas (2018), sendo “esse sinistro fenômeno", que
influencia na qualidade de vida, contribui significativamente com a perturbação de pensar sobre.
De uma maneira para a atribuição positiva, proporcionar um melhor entendimento para uma
evolução intrapessoal e interpessoal.
Como discute Ramos (2016), apesar das diversas situações em que é apresentado o luto,
a sociedade tende a cingir o luto associado apenas a morte. E quando é rebatido para a realidade,
vai além da morte, desde um momento de separação a uma perda de emprego. Existe um luto
que está sendo escondido ou não reconhecido pelo o indivíduo que está vivenciando esse
evento. Analisando assim, percebe-se que a ideia de luto mantém apenas a uma demanda,
quando é vista como parâmetro da realidade da sociedade.
Percorrendo diversos caminhos para dois fenômenos que refletem para além da realidade
(PARKES, 1998).
Ao analisar, a moral e a ética se põem como resposta para tal ato. A moral é social, faz
parte da coletividade, se resume às regras sociais instituídas, variando de cultura, tempo e
espaço. Já a ética, parte da moral, é uma reflexão da moral, e estar para a individualidade de
cada indivíduo e de como irá interpretar, tendo modificações, de acordo com Vásquez (1999).
Com isso, faz analisar se de como é a forma que é tratado a morte e o luto dentro de culturas
como o Brasil, e o que se reflete para cada indivíduo.
Fantasiar significa: criar fantasia (s) obra(s) de imaginação; devanear, imaginar, de
acordo com a definição de Oxford Languages (2022). A partir dessa palavra que envolve
questões relacionadas ao luto e que está interligado ao contexto histórico que influencia até os
tempos atuais. Influência essa que relaciona-se diretamente do modo de agir perante a um
assunto que equivale a estratégias para fantasiar um ato natural. Mas mesmo diante das
discussões levantadas para desmistificar o luto, a sociedade se encontra como rígida. Embora
também não seja necessário ter conhecimentos científicos para poder discutir sobre o luto e suas
particularidades.
As queixas que se tornam presentes no dia a dia da sociedade, se deixam levar para um
lado que é caracterizado como sem necessidade. Sem necessidade de discutir sobre a morte,
sem necessidade de falar como lidar com luto, sem necessidade de tirar dúvidas de como é o
luto. Muitas das indagações que perduram a um longo caminho e que ainda em pleno século 21
com grande parte das inovações e discussões avançadas, o luto juntamente com a morte ainda
se encontram encobertos por uma sociedade que está presa a um tabu. Agora lhe pergunto:
“Como um ser irá enfrentar e conviver com algo que não é dito abertamente ?”
O termo luto vem da deriva do latim Luctus, que significa morte, perda, dor e mágoa
(PEREIRA, 2008) e tem como uma definição dada como “o processo de sentir ou expressar
tristeza após a morte de um ente querido, ou o período durante o qual isto ocorre''. Envolve
tipicamente sentimentos de apatia e abatimento, perda de interesse no mundo exterior, e
diminuição na atividade e iniciativa. Essas reações são semelhantes à depressão, mas são menos
persistentes e não são consideradas patológicas” (APA, 2010, p. 568).
1080
A morte e o luto nos fazem sentir desconfortáveis perante a uma situação que deixa
angustiado, aflito, perdido, com receio do que possa vim. Com isso, é construído a partir da
situação uma visão negativa para a morte, e que então é repassada de geração para geração,
crenças que vão sendo elaboradas de acordo com o fenômeno. E é nesse último ponto
mencionado, que a criança está para a morte e o luto se calcula como improvável.
A educação sobre esses dois fatores se tornam imensamente importantes para como
aquela criança poderia conviver com outras dificuldades. Não se resume apenas ao fato de uma
morte, vai para além desse evento. Trazendo para a realidade, pode perceber que existem muitas
pessoas que se negam a dizer, informar, educar sobre um fenômeno inevitável. Um tabu que
percorre por toda a sociedade.
Quando é mencionado luto e criança, se tem um atributo de que essas palavras tornam-
se contraditórias diante a uma realidade que ver a criança como um ser indefeso e sem
autonomia e compreensão para tal ato, de acordo com Torres (1996). Construído de forma que
a morte e o luto não tivessem um lugar para ser ocupado a fase da infância, sendo que a partir
do momento do nascimento daquele ser, vem se tratando de forma direta ou indireta sobre o
luto.
Como muitos pensam, o luto não parte apenas após uma morte. Vai muito além desse
evento. Desde o desmame do mamar, para o deixar de usar a chupeta, adentrado também para
a perda de animais, separações de pais, mudança de casa e de escola, distanciamento de alguém
muito próximo de seu conviver. São algumas das situações que o luto está presente para aquela
criança que está em desenvolvimento.
Essas reflexões diante das situações supracitadas, trazem um respaldo de que há um
receio de que a criança não possa ter uma aproximação de forma livre do luto. Como cita
Vendruscolo (2005, p. 29):
Essa concepção errônea favorece atitudes inadequadas dos adultos com as crianças
que vivenciam situações relacionadas à morte, tais como: evitar o assunto, minimizar
o sofrimento que eles próprios estão sentindo para poupar a criança, utilizando
eufemismos que confundem ainda mais a criança e até mesmo a criação de mentiras
que venham substituir a situação que envolve a morte.
A forma como é vista através de um olhar com perspectiva de que não é necessário que
na fase infantil tenha um diálogo sobre assuntos que contribuirão para o desenvolvimento
daquele ser, se diz muito de crenças construídas e que seguem fortemente na sociedade. Tem
1081
como modo de fantasiar situações. Com isso, a criança questiona e as respostas se tornam vazias
para o entender dela.
“Ao não falar, o adulto crê estar protegendo a criança, como se essa proteção
aliviasse a dor e mudasse magicamente a realidade. O que ocorre é que a criança se sente
confusa e desamparada sem ter com quem conversar” (KOVÁCS, 1992, p. 33). Pode ser
considerado medo, como o não dialogar sobre possa ocasionar e com resposta se tem a proteção
da criança. Uma visão do adulto que pode prejudicar o desenvolvimento da criança sem o
entendimento plausível ( BAPTISTA; CARVALHO; LORY, 1997)
O ponto chave não é forçar para que aquela criança tenha algum convívio, está mais
para que se tenha uma noção e conhecimento sobre o luto. E não atribuindo consequências no
seu desenvolvimento afetivo, social, cognitivo, comportamental. Atribuições estas que são
refletidas perante ao fenômeno como positivas para o crescimento de pilares da vida da criança
(LOTTERMANN, 2010)
Na infância, a criança tem como referência os pais ou aqueles que estão no seu convívio
de modo frequente. Então, a partir do momento que estes fantasiam ou acobertam a morte e o
luto, deixam de acrescentar peculiaridades que podem ser importantes para a compreensão da
criança. Tendo como consequência um desafio intelectual e emocional para lidar com o luto,
como diz Torres (1996).
As investigações para a compreensão da morte na visão da criança vem sendo realizada
em meados dos anos de 1934, com um intuito de saber como a morte e também o luto refletem
para a fase infantil e se influencia o desenvolvimento global destas, de acordo com Torres
(1996). Em que a mesma cita as dimensões presentes diante o evento (p. 36):
"A educação sobre a morte e o luto é sobre educar e contribuir para ampliação e
transformação das atitudes que se referem sobre morte, morrer e o processo de luto”
(TINOCO,2003, p. 1). A oportunidade e liberdade de educar sobre o luto, pode ser considerada
como um fator difícil, pois não depende de uma só pessoa, e das pessoas de convivências e
também da sociedade. Mas a partir dessa ação pode-se trabalhar essa questão que implica tanto
para quem tem uma visão negativa sobre.
1082
Tinoco (2003, p. 2), retorna como ideia que é o tanto quanto plausível para uma
construção de relevância significativa perante de reflexões que impactam negativamente:
Se por um lado é crescente o número de pessoas que se interessa por este assunto, é
grande o número de pessoas que demonstra atitudes de negação ou evitação quando o
assunto é morte. A morte ainda é um tema desconfortável na nossa e em muitas
culturas. A atmosfera de negação da morte que se instala nessas culturas influencia
novas gerações, resultando numa compreensão pobre tanto da vida quanto da morte.
A interpretação que se tem quando é mencionada a palavra criança, se retém a uma visão
construída de que a mesma é um ser indefeso. Compactuando uma idealização de que não é
necessário apresentar e discutir assuntos que são relevantes para a construção dos seus próprios
pilares." A criança é criativa, imaginativa e tem uma curiosidade natural que a faz descobrir o
mundo, a vida e seus mistérios. Para tudo busca um porquê, não havendo diferença em relação
à morte" ( PAIVA, 2011, p. 22). Com isso, conforme o crescimento, a mesma adquire novas
formas de conhecimentos e compreende através do buscar e experimentar o mundo.
A morte e o luto estão presentes, inclusive, nos desenhos animados dos quais as crianças
tanto gostam ( PAIVA, 2011). A ideia mágica da imortalidade aparece quando, por exemplo, o
Pica-Pau é atropelado por um trem, fica completamente estendido no chão como folha de papel
1084
e, em questão de instantes, toma sua forma original e assim sai como fosse a sua rotina normal.
Ou no filme O Rei Leão quando aconteceu a morte de Mufasa e todos do reino enfrentaram um
processo de luto. Ou quando no filme Up - Altas Aventuras, em que Carl perdeu a esposa, e
para matar a saudade dela decidiu encarar uma viagem com centenas de balões amarrados à sua
casa em que morava com a esposa para um lugar que era o sonho do casal.
Alguns dos exemplos supracitados estão presentes cotidianamente na fase da infância,
pois onde há uma procura e desejo maior das crianças e também dos pais em apresentar filmes
infantis. Em que a maioria das vezes é mostrado para o filho tal filme, desenho ou jogo com um
objetivo principal uma distração, para ficar quieto, e não com um intuito de poder educar,
aprender algo positivo para aquela criança (PAIVA, 2011).
No entanto, cenas, como foram citadas, podem servir como uma maneira de ensinar
sobre diversas temáticas que são importantes para o desenvolvimento emocional,
comportamental, social, cognitivo de crianças que estão em uma fase de experimentar, descobrir
e ativar pensamentos. A capacidade de entendimento varia de idade para idade com relação à
fase da infância. Assim, de acordo com Schirmann et al (2019), o desenvolvimento da
aprendizagem está diretamente ligado aos estímulos ambientais em que o ambiente está para
oferecer e como o organismo da criança se adapta aos mesmos.
As fases de desenvolvimento estão em uma passagem de estágios que estão relacionadas
ao processo de aprendizagem do indivíduo. Piaget foi um dos autores que trouxe uma discussão
fortemente para os estudiosos e também para os leigos, apresentando as fases de estágios de
desenvolvimento da criança ao decorrer da idade. Piaget (1999) elenca quatro estágios que
precedem o desenvolvimento infantil: sensório motor, pré-operacional, operacional concreto e
operações formais.
No estágio sensório motor, Papalia ( 2006), traz que é o primeiro dos estágios dentro do
desenvolvimento infantil, iniciando desde o nascimento até aproximadamente os 2 anos de
idade, cita que Piaget defende a ideia de que os bebês aprendem sobre si e sobre o seu ambiente.
Em seguida, é definido como pré-operacional, acontecendo entre dois a sete anos de idade, é
chamado assim porque a criança carrega significações do período anterior, tendo conceitos
iniciais confusos, mas em constante construção de ideias lógicas (RAPPAPORT, 1981). O
operacional concreto é categorizada como:
problemas concretos (reais). As crianças são então capazes de pensar com lógica
porque podem levar múltiplos aspectos de uma situação em consideração (PAPALIA,
2006, p.365).
O não falar com a criança sobre o ocorrido – morte – para protegê-la, pode ter efeito
contrário e provocar mais sofrimento, pelo fato da criança ainda não saber o que está
1086
acontecendo e nem possuir experiências de como lidar com os sentimentos que surgem
diante da perda.
Kovacs (2007) traz que o trabalho psicoterapêutico, seja em qual for a abordagem,
aponta que a criança percebe toda a maneira de como é dada a movimentação acerca da morte
e do luto e se expressa seus sentimentos e angústias a partir das brincadeiras ou atividades
gráficas.
Quando relaciona os estágios de desenvolvimento da infância com perdas - morte
e luto, há uma distinção no decorrer destas. Segundo Fernandes (2011), na fase sensório motor
(0 a 2 anos), pode ser sentido como uma forma de aniquilação e abandono. Já no estágio pré-
operacional (2 a 7,8 anos) acontecem as principais descobertas sobre o fenômeno morte.
Durante este momento, há a representação do pensamento mágico onipotente e a morte é
percebida como reversível, como relata Kovacs (2007).
Por sua vez, no período operacional concreto (8 a 11 anos), onde ocorre uma busca mais
detalhada das explicações lógicas, como o caso indagar sobre as perdas, “faz se necessário
explicar o que está acontecendo, nomear as doenças, suas possíveis causas e tratamentos,
proporcionar conhecimentos à criança através de livros, filmes” (FERNANDES, 2011). E por
fim, na fase das operações finais (11+), Fernandes (2011, p. 8) finaliza com:
Adolescente já possui uma compreensão ampla sobre a morte e pode falar sobre o
tema, mas apesar de possuir certa experiência/ciência do que venha a ser a morte,
acredita ser imortal como um super herói. as consequências das doenças nesta fase,
pode levar o adolescente/jovem à revolta, ao isolamento e a tristeza.
De acordo com Torres (1999), as reações mais frequentes da criança frente às perdas -
morte- no processo de luto são: manifestações somáticas, reações hostis em relação ao morto
por se sentir abandonada por este (sobretudo se foi um dos progenitores que morreu), reações
hostis aos outros, idealização das qualidades do ente perdido, identificação com ele, pânico
decorrente da vivência do desamparo e culpa. Em que leva em consideração de como essa
criança está ciente sobre algo referente a perda e o processo de elaboração de luto.
Quanto à sintomatologia, Weller e Weller (1992), ao realizarem estudo com crianças
recentemente enlutadas, constataram que estas apresentaram sintomas depressivos como
disforia, perda de interesse, tristeza, culpa, desempenho escolar diminuído, retardo psicomotor
e ideação mórbida mais frequentemente que crianças não enlutadas. Contudo, desperta uma
relevância para o diálogo, mas também é realista ao ponto de que falar sobre perdas, morte e o
1087
processo de luto irá fazer com que a criança enlutada tenha comportamentos e emoções mais
controlados. É muito mais voltado para desmistificar a inocência e deixá-la ciente.
Harris (1991) verificou que crianças manifestam sintomas físicos e psíquicos,
apresentando problemas na escola quando estão em um processo elaborativo da perda daquelas
pessoas próximas. Crianças que viveram perdas podem apresentar disfunções sociais, baixa
autoestima e ansiedade. O que ressalta a necessidade de os professores saberem desses fatos
para compreender e acolher seus alunos. Com isso, se tornando plausível um diálogo pertinente
para possíveis impactos causados nessas crianças, para encontrar modos funcionais de se
conduzir.
Portanto, é necessário que seja importante dar um espaço. Para que a criança possa
expressar seus sentimentos diante o diálogo, e ao perceber que a mesma esteja confortável e
demonstra uma curiosidade, percorrer um caminho de clareza sobre as informações que estão
sendo expostas para ela, a respeito de perdas. Contado com uma rede de apoio que tenha a
somar para a construção daquela criança.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Falar sobre morte, luto, perda que são significativas para o aquele ser, se tornam um
grande desafio e tanto. A pesquisa, o manejo para seguir uma linha de raciocínio concreta que
seja abrangente mas focada, estudos, discussões, se tornaram barreiras, mas ao mesmo tempo
um caminho de novas perspectivas, um olhar que vai além do que vivenciar e ler, ativando o
modo crítico.
A relevância demonstrada para sociedade sobre um tema que é fantasiado entre a grande
maioria, se denomina como algo pouco discutido em diversos âmbitos. Quando se fala sobre
morte e luto, extrapola o incômodo para aquelas que se afastam ou acobertam. O incômodo, o
desconforto é válido, porém a validez para uma temática que fala sobre si e também alguém de
vinculação particular, apresenta-se como um cuidado.
A criança é um indivíduo que está em fase de desenvolvimento, isso já é perceptível,
porém, a idealização de que a criança não tem entendimento, não está ali apenas para aprender
além de matemática ou português ou está em uma fase de brincar, é enganosa. A fase infantil é
o momento em que o indivíduo se constrói, onde vai surgindo suas crenças, aparecimento de
distorções, nomeando, brincando e aprendendo, reconhecendo as suas emoções, a fase que está
1088
Em seguida, levantou-se os impactos que o não dialogar sobre o luto pode interferir no
desenvolvimento da criança, em que a mesma esteja sendo ou não na situação. A reflexão se
sobressai sobre a maneira que elas podem interpretar o fenômeno e como influenciará.
Denominada por estágios em devidas idades e a possível forma de manifestar e lidar com um
misto de emoções perante a uma situação nova para elas. O impacto está relacionado às
manifestações de sintomas físicos, emocionais, comportamentais, cognitivos, dependendo de
cada contexto.
Com isso, a importância do desenvolvimento de pesquisas e estudos referentes a área
sobre perdas e a elaboração de luto para o público infantil. Visto que é uma temática pouco
valorizada e discutida pela a sociedade acadêmica. Em conclusão, a atribuição de novas
perspectivas para a temática se faz necessária para as dificuldades na forma do manejo com a
criança.
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VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Trad. João Dell ́ Anna. 19.ed. Rio de Janeiro:
civilização brasileira, 1999.
RESUMO
Este trabalho tem o intuito de discutir as formas que o mito da beleza influencia o cotidiano
feminino, principalmente seus impactos sociais, econômicos e psicológicos. Por meio da
revisão bibliográfica do livro “O Mito da Beleza” de Naomi Wolf e diversos outros artigos
sobre o tema, foi possível relacionar os efeitos que a discriminação de gênero tem na vida dos
sujeitos, bem como entender a origem de alguns comportamentos associados a homens e
mulheres e porque eles se sustentam. Cinco pontos principais de impacto foram analisados, o
contexto histórico, a questão trabalhista, a disseminação de ideais a partir das mídias sociais, a
cultura do estupro e a repercussão na saúde mental das mulheres. Foi identificado que o ideal
de beleza impõe às mulheres uma pressão social gigantesca que afeta todos os âmbitos da sua
vivência, e lhes deixa em posição de desvantagem aos demais sujeitos, numa tentativa bem-
sucedida de manter uma das hierarquias de poder que sustentam o sistema capitalista.
Palavras-chave: mito da beleza; cultura do estupro; saúde mental; mídias sociais; diferenças
de gênero.
ABSTRACT
This paper has the intention of discussing the ways in which the beauty myth influences the
female daily life, especially the social, economic and psychological impacts. Through a
bibliographical review of the book “O Mito da Beleza” by Naomi Wolf and several other
scientific articles on the same topic, it was possible to relate the effects that gender
discrimination has peoples on the lives, as well as understand the origin of some behaviors
associated with men and women and why they support themselves. Five main topics were
analyzed, the historical context, the labor issue, the dissemination of those ideals through social
media, the rape culture and the repercussion it has on womens mental health. We were able to
identify that the ideal of beauty puts women under a huge social pressure that affects all areas
of their experience, and puts them at a disadvantage to other people, in a successful attempt of
keeping one of the power hierarchies that supports the capitalistic system.
Keywords: beauty myth; rape culture; mental health; social media; gender differences.
1 INTRODUÇÃO
A sociedade patriarcal e capitalista tem seu foco voltado ao corpo da mulher, em vários
aspectos, como a reprodução, os estereótipos de beleza, até o quanto de trabalho o corpo da
mulher pode aguentar e lhe ser útil, mesmo ganhando menos do que os homens; todos esses
1
Bacharel em Psicologia pela Universidade Potiguar - UNP. Email: elisastefani01@gmail.com
2
Bacharel em Psicologia pela Universidade Potiguar - UNP. Email: marianamelo161296@gmail.com
1094
pontos têm algo em comum, são formas de controle social, uma maneira que as instituições
encontraram para atrasar os avanços da emancipação das mulheres. Naomi Wolf, no livro “O
mito da beleza” (2018), afirma que cultuar a beleza, a juventude feminina, são estímulos que o
patriarcado utiliza para reforçar tal controle sobre esses corpos. Há um objetivo em evitar que
os ideais feministas de emancipação, conquistados nos anos 1970, continuem sendo exercidos
e possam evoluir. Pois, a evolução desses ideais poderia desestabilizar o sistema capitalista.
Em sua obra, Wolf apresenta como se desenvolveu o mito da beleza ao longo das
décadas, como o ideal de dona de casa se transformou e chegou ao ideal de beleza que afeta
tantas mulheres até o presente momento. Expõe a opressão causada por esse mito através das
indústrias, do mercado de trabalho, da mídia e da cultura como um todo. E apresenta as
consequências físicas e psicológicas que foram geradas nessas mulheres, ansiedades
decorrentes da aparência, do envelhecimento, transtornos alimentares causados pela obsessão à
magreza, dentre outros impactos sociais e econômicos também. Assim, Wolf desenvolve sua
ideia de como o patriarcado, reforçando esses estereótipos, se fortalece enfraquecendo as
mulheres.
Como eu tinha tido a sorte de estudar a história do feminismo, percebi que, a cada
geração que houvesse um forte avanço por parte das mulheres, algum ideal surgia para
sugar as energias e assim garantir que elas não progredissem demais. (WOLF, 2018,
p. 4/5).
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Nesta seção, serão discutidos, de acordo com o que se pode encontrar na literatura,
assuntos relacionados ao feminismo e a psicologia acerca do papel da mulher na sociedade. A
princípio, será debatido sobre o conceito de “mito da beleza”, na visão da autora estudada para
realizar este artigo. Nos tópicos seguintes, será abordado, de acordo com a psicologia e a
1096
vertente feminista, sobre o impacto do comportamento machista, reforçado pela mídia, para
fortalecer o capitalismo e enfraquecer as mulheres de diversas formas.
3 METODOLOGIA
A presente pesquisa inicia com a revisão bibliográfica do livro "O Mito da Beleza”
(2018) da autora Naomi Wolf, com o intuito de apresentar a problemática acerca da construção
da imagem da mulher na sociedade patriarcal e capitalista. Utiliza-se argumentação decorrente
de como surgiu o mito da beleza, que é o principal fator interferente na autoimagem feminina,
e quais os danos físicos, psicológicos, econômicos e sociais causados por esse mito. Além de
explicar como a simbologia da “mulher ideal” prejudica a emancipação das mulheres.
Pesquisou-se também, através de artigos científicos referentes à correlação entre o feminismo
e a psicologia, quais são os principais impactos dos mitos, que a mídia desenvolve para controlar
a liberdade das mulheres, na atualidade. Utilizou-se da visão analítico-comportamental para
contextualizar como os mitos se desenvolvem e interferem no comportamento humano. Assim,
concluindo qual seria o papel da psicologia para a construção social, em desmistificar essas
crenças, amenizar os impactos no cotidiano das mulheres, através de um acolhimento adequado.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
social, que a inserção delas no mercado de trabalho viabilizou. Ser vista significa ser julgada e
há, sim, um peso maior quanto ao julgamento que as mulheres sofrem, em relação aos homens.
“Quanto mais numerosos foram os obstáculos legais e materiais vencidos pelas
mulheres, mais rígidas, pesadas e cruéis foram as imagens da beleza feminina a nós impostas.”
(WOLF, 2018, p. 16). Apesar de que muitas percebam o que acontece com elas, como o avanço
coletivo foi e está sendo retardado, em relação às épocas passadas, na atualidade existe um
sentimento de exaustão, confusão e a sensação de que as mulheres foram separadas pelo sistema
para que se tornem fracas demais para lutar contra essa maré gerada pelo mito.
Em “O Mito da Beleza”, Naomi Wolf aborda a existência de uma relação entre a
conquista de direitos das mulheres e seus problemas com autoimagem. A ditadura da beleza
seria uma forma remanescente de exercer sobre as mulheres o controle que a lei já não permitia
mais; a forma mais recente de manipulação que o patriarcado encontrou para “manter-lhes na
linha”.
Ainda que o número de mulheres poderosas, que possuem mais dinheiro, e
reconhecimento social, tenha aumentado, mesmo assim, em termos de como elas se sentem do
ponto de vista físico, podem, de fato, estar em uma situação pior do que suas avós não liberadas.
Pesquisas recentes apontam com consistência que, no mundo ocidental, entre a maioria das
mulheres que trabalham, têm sucesso, são atraentes e equilibradas, existe uma “subvida” secreta
que lesa sua liberdade através de conceitos de beleza que aguçam o ódio a elas mesmas, criam
obsessões com o físico, pânico de envelhecer e pavor de perder o controle. Existe uma violenta
reação contra o feminismo, nesse cenário, que emprega imagens da beleza feminina como uma
arma política contra a evolução da mulher, esse é o mito da beleza.
A beleza se torna moeda de troca, aquilo único que as mulheres têm a oferecer, um
sistema monetário e político, determinado por instituições masculinas e pelo poder institucional
dos homens.
As qualidades que um determinado período considera belas nas mulheres são apenas
símbolos do comportamento feminino que aquele período julga ser desejável. O mito
1098
domésticos. Elas representam também mais da metade da população do mundo. Ainda assim,
com todos os empecilhos colocados em seus caminhos, as mulheres conseguem se sobressair e
conquistar algum poder.
“No Quênia, com recursos agrícolas desiguais, as mulheres colheram o mesmo que os
homens. Com recursos iguais, elas produziram maiores colheitas com maior eficiência.”
(WOLF, 2018, p. 29). Dadas as oportunidades às mulheres, elas se sobressaem, pois estão
condicionadas a trabalharem em dobro, mesmo ganhando menos.
O sistema vigente tem medo da força das mulheres, e para minar suas tentativas de
ascensão utilizam de estratégias diversas: o mito da beleza, a crença de que o trabalho doméstico
não é de fato um trabalho, o não fornecimento de creches para que as mães trabalhadoras tenham
onde deixar seus filhos durante a jornada de trabalho, etc.
A beleza da mulher era sua função e sua culpa. Após Christine Craft - repórter que foi
demitida por ser considerada muito velha, feia e desrespeitosa com os homens em seu ambiente
de trabalho - ter perdido o caso contra sua empresa, diversos outros casos surgiram e diversas
outras mulheres perderam. Casos de discriminação sexual, em que mulheres eram demitidas
por sua aparência, ou mesmo de assédio sexual, em que a vítima era culpabilizada por sua
agressão devido seus atributos físicos. Wolf (2018, p. 41) afirma que a mulher “é examinada de
todos os ângulos para que se descubra de que forma o que lhe aconteceu foi sua culpa.”
Não ocorre o mesmo entre os homens, pois existe uma cultura que os favorece nessas
situações, tanto no âmbito jurídico, quanto profissional, eles não são submetidos às mesmas
1101
avaliações quanto a aparência e, com certeza, não são responsabilizados pela maneira que
assediam as mulheres no local de trabalho e fora dele.
De acordo com Wolf (2018, p. 49), “elas recebem a responsabilidade total pelas
vantagens e desvantagens do encanto físico no local de trabalho, podendo, do ponto de vista
legal, ser punidas ou promovidas, insultadas ou até mesmo estupradas de acordo com essa
responsabilidade.” A lei estava do lado do sistema em vigor, não das mulheres. Existir era uma
sentença de culpa. Não se pode ser “feia”, que é demitida, e não se pode ser “bonita”, que é
assediada ou pode perder a credibilidade em relação a sua capacidade. Muitas mulheres se
perguntam se são valorizadas apenas por sua beleza e se sentem inseguras quanto às suas
habilidades profissionais. Portanto, não importa em qual categoria esteja, se não estiver no
limite do que é exigido, estaria errada.
A QBP além de desqualificar e desrespeitar a integridade das mulheres, lhes toma tempo
e boa parte do dinheiro que elas ganham. Muitas passam horas se preocupando com os cuidados
com a beleza e gastando de forma exorbitante em cosméticos, roupas e procedimentos estéticos
como um todo, para que tenham a aparência desejada, o que amplia o nível de desigualdade,
pois além de receberem menos que os homens, ainda são coagidas a investir seu dinheiro em
algo que serve para agradar o sistema. É uma forma de manter a exploração, usando outros
meios. “As mulheres sempre receberam menos do que os homens pelo mesmo trabalho, e a
QBP fornece a esse fato uma nova justificativa racional ali onde a antiga se tornou ilegal”
(WOLF, 2018, p. 51)
A aparência se tornou fator decisivo na contratação, promoção e no pagamento. As
inseguranças femininas tem valor financeiro - mas não somente pelo gasto que proporciona às
mulheres com a tentativa de se encaixar num padrão físico irreal -, pois o mito da beleza causa
a diminuição da autoestima das mulheres, que acreditam merecer menos que os demais e, por
isso, aceitam menos. E assim, o sistema sai ganhando, mais uma vez. As mulheres não sabem
o valor que tem e não esperam por muita coisa.
Existe uma tripla jornada, exaustiva, que desmerece o trabalho e a capacidade da mulher
em detrimento da sua aparência física, fazendo com que a mesma se preocupe mais com a
beleza, além de se preocupar com a tarefa que está exercendo, e, chegando em casa, preocupa-
se com os afazeres domésticos. Naomi Wolf enfatiza que não há espaço para revolução nessa
dinâmica, pois não há energia para que isso aconteça, assim, o mercado continua se
aproveitando de mão de obra barata, através da insegurança feminina.
1102
Com isso, a maioria das mulheres da modernidade relata um cansaço excessivo. E é esse
o objetivo da QBP, pois o cansaço e os danos psicológicos gerados pela opressão, barra o
progresso, e não permite às mulheres que lutem pelos seus direitos da forma necessária. A
maioria gasta muita energia tentando correr contra o tempo, contra o envelhecimento, pois, para
as mulheres, é sinônimo de perda de valor, algo velho e obsoleto, que não serve mais. O
contrário acontece com os homens, seu envelhecimento é sinônimo de poder e experiência.
Esse padrão, que descarta as mulheres enquanto indivíduos, se estende desde a cultura
de elite até a mitologia popular. Os homens olham as mulheres. As mulheres se
observam sendo olhadas. Isso determina não só as relações entre os homens e as
mulheres, mas também a relação das mulheres consigo mesmas (WOLF, 2018, p. 61).
Isso não significa que mulheres possuem identidades fracas ao ponto de se influenciarem
com qualquer imagem, mas existe um apelo muito forte na mídia, que afeta a forma em que
essas mulheres se enxergam. Para a cultura, mulheres que demonstram personalidade são mal
vistas, não são desejáveis como a figura da “ingênua sem malícia". Por isso há uma contradição
quanto a imagem de heroína, que geralmente é escrita por mulheres, enquanto os homens
preferem apresentar a configuração da “mulher ideal”, assim, cria-se um estereótipo da mulher
perfeita e da mulher que deve ser desprezada por não ter tais atributos.
“A cultura estereotipa as mulheres para que se adequem ao mito, nivelando o que é
feminino em beleza-sem-inteligência ou inteligência-sem-beleza. É permitido às mulheres uma
mente ou um corpo, mas não os dois ao mesmo tempo” (WOLF, 2018, p. 62).
Nas obras escritas por homens, tem-se duas mulheres opostas uma à outra, a “bonita” -
tem sucesso - e a “feia” – é a fracassada. Já nas obras escritas por mulheres, há uma virada nessa
perspectiva, a heroína por vezes é a moça desvalorizada, pouco atraente, mas cheia de vida. E,
1103
como coloca Wolf (2018, p. 63), “As obras escritas por mulheres estão repletas das injustiças
perpetradas pela beleza — tanto por sua presença quanto por sua ausência.”
Quando uma jovem lê os livros da cultura masculina, porém, o mito corrompe o que
essas histórias parecem contar, e o seu valor moral. Wolf (2018, p. 63) afirma que “histórias
contadas a crianças como parábolas de valores corretos perdem o sentido para as meninas à
medida que o mito inicia seu trabalho”. Pois, na cultura as crianças aprendem, em seu processo
de socialização, que os homens se lançam em aventuras pela sua audácia intelectual, pelo
progresso e pelo bem comum. No entanto, como uma futura mulher, a menina aprende que a
mulher mais linda do mundo foi criada pelo homem, e que a audácia intelectual dela trouxe aos
homens perigo e morte. O mito torna a menina que lê desacreditada no que diz respeito à
coerência moral das histórias de sua cultura, e muitas não se sentem representadas nas histórias
de “belas mulheres”.
Outro ponto que a autora aborda é sobre a ascensão das revistas femininas, que ocorreu
com o objetivo de democratização da beleza, e que foi possível devido a grandes investimentos
de capital, a expansão da alfabetização e ao aumento do poder aquisitivo das mulheres.
As revistas passaram a acompanhar as mudanças de status das mulheres, mudando o
tom de acordo com a função social ocupada pelo seu público. Na primeira guerra mundial, por
exemplo, as revistas serviram de propaganda política, incentivando - de forma charmosa - a
participação das mulheres na guerra, o que aumentou o alistamento na época. É o mito da beleza
servindo aos propósitos do governo e do sistema econômico. Apesar da necessidade da força
feminina em papéis geralmente executados por homens, as mulheres ainda eram influenciadas
a prezar por suas aparências.
Entretanto, após a guerra, as mulheres não queriam largar seus empregos e voltar à vida
doméstica. Para que isso ocorresse, as revistas femininas tiveram papel de grande importância,
publicando constantemente sobre a alegria e realização desse papel. Não se pode deixar de notar
o quanto os conteúdos midiáticos sempre tiveram influência e poder na modulação da
sociedade. Mais do que reflexo da realidade existente, eles criam um ideal de vida que deve ser
seguido a todo custo; e esse custo normalmente é a liberdade e autonomia femininas.
Os anunciantes vendem, como “terapêutico” e religioso”, a vida de dona de casa e a
compra de produtos para manter a imagem de perfeição em todos os papéis que lhes são
permitidos. Porém, quando as mulheres começaram a trabalhar e perdeu-se o público alvo da
maioria dos anúncios existentes na época (produtos de limpeza, de cozinha, do lar, etc), foi
1104
necessário criar uma nova insegurança que gerasse lucro. É aí que atua o mito da beleza e a
indústria de cosméticos. Wolf (2018) coloca perfeitamente quando diz que “alguém em algum
lugar deve ter imaginado que elas comprarão mais se forem mantidas no estado de ódio a si
mesmas, de fracasso constante, de fome e insegurança sexual em que vivem como aspirantes à
beleza” (p. 68).
O mito da beleza é sustentado pelo sistema capitalista em todas as instâncias possíveis,
pois o alimenta de forma abundante. Tudo é feito para manter a mulher em estado de prisão,
seja presa a sua função de dona de casa e aos afazeres e cuidados com a família, seja presa à
ideia de que seu corpo nunca será bonito o suficiente, e que, por isso, ela nunca será suficiente.
Todas essas prisões têm como pivô a culpa por não atingir um ideal inalcançável de perfeição.
O de mulher, mãe, dona de casa, profissional e esposa perfeita.
Como forma de desmerecer os movimentos feministas, que lutam pelos direitos e
emancipação das mulheres, a mídia as colocava em lugares de repúdio, às representando como
“menos mulheres”, figuras masculinizadas e feias, e assumia que sua luta partia de um lugar de
inveja daquelas que eram exemplos de mulheres. “Quando se atrai a atenção para as
características físicas de líderes de mulheres, essas líderes podem ser repudiadas por serem
bonitas demais ou feias demais. O resultado líquido é impedir que as mulheres se identifiquem
com as questões” (WOLF, 2018, p. 70).
As revistas possuíam, em determinadas épocas, tanto poder e influência sobre as
mulheres porque era nelas que a maioria encontrava apoio e um lugar de pertencimento, uma
mentoria e ajuda em diversos aspectos da vida. Era uma comunidade, que proporciona
participação da cultura feminina, que as mulheres não conseguiam encontrar em quase nenhum
outro lugar.
Entretanto, essa mídia é diretamente motivada pelos anunciantes, de uma forma incisiva,
a produzir de modo a persuadir essas mulheres, seja removendo conteúdo indesejável para esses
anunciantes, sejam expondo certos modelos em excesso, como o uso de cosméticos, mesmo que
esses não tenham comprovado efeito algum na pele, mas, a forma que é capitalizada, transforma
a revista em um mercado, elas dependem do patrocínio para que continuem em circulação.
Assim, criou-se diversas formas de marketing que se utilizam do apelo religioso, em algumas
épocas, e do apelo psicológico, que recentemente é um dos principais métodos de venda.
Sobre a incitação religiosa, “as revistas transmitem o mito da beleza como o evangelho
de uma nova religião. Ao lê-las, as mulheres participam da recriação de um sistema de crenças
1105
tão poderoso quanto o de qualquer das igrejas cuja influência sobre elas se desfez tão
rapidamente,” afirma Wolf (2018, p. 86). Para Wolf, essa seria a “igreja da beleza”, que teria
surgido para suprir o vazio espiritual que se alastrou quando a tradicional relação das mulheres
com a autoridade religiosa se rompeu. Com tanto vigor quanto a religião anterior, a ordem social
a impõe para dominar a autoridade religiosa como uma força de controle sobre a vida das
mulheres.
Enquanto as mulheres se prendem a mais um sistema medieval de crenças, os homens
abandonaram essa forma de pensar ainda na Idade Média. O que lhes dá mais uma vantagem
em relação às mulheres, já que o mundo opera na modernidade. É a forma de as manter longe
da concorrência.
O Rito é defendido como verdade absoluta por toda a sociedade, bem como o sistema
de “castas” que o mito da beleza impõe. Não existe ceticismo na modernidade quanto ao
assunto, apesar de ser uma ideia determinada por seres mortais, moldada pela política, pela
história e pelo mercado. Com a perda do direito de controlar as mulheres por diversos outros
meios, os homens passaram a utilizar com severidade o julgamento da beleza, para manter o
poder que lhes é ameaçado.
Segunda a autora, essa crença é vista como Deus costuma ser visto – “no alto de uma
hierarquia, com sua autoridade o ligando a Seus representantes na Terra: jurados de concursos
de beleza, fotógrafos e, em último lugar, o homem comum.” (WOLF, 2018, p. 87). O homem
seria a imagem de Deus na terra, por isso teria uma parte da autoridade “divina” para julgar as
mulheres. Pois, partindo do ponto de vista ocidental, que tem o cristianismo como religião
principal, a mulher é ensinada, desde o berço, que o homem é criado a imagem de Deus,
portanto, perfeito, e a mulher é criada a partir do homem, de uma parte do seu corpo que é
dispensável, uma coisa secundária, para estar à sua disposição e lhe servir e, por isso, é
imperfeita.
As semelhanças entre o culto à beleza e o catolicismo, por exemplo, são diversas. Tem-
se algo sagrado, que as mulheres devem procurar alcançar, que é aprendido desde o nascimento;
é uma instituição que vive dos “dízimos” dos seus adoradores e exige fé incondicional e
incontestável, e por isso não perdoa hereges e pecadores, aqueles que não acreditam em sua
divindade ou não a seguem à risca.
Wolf (2018) fala em seu texto ainda sobre os métodos de diversas religiões de base cristã
que foram adotados para manter o rito da beleza funcionando de forma opressora e eficaz.
1106
Dentre eles, ela cita o luteranismo, que rege as modelos como aquelas escolhidas e, portanto,
belas, e aquelas que não se encaixam nessa categoria são as "amaldiçoadas", e que a forma de
alcançar o “céu” seria através das exigências do consumismo. Cita também o judaísmo
ortodoxo, que prega compulsões de pureza e é ditado aqui pelas leis que o mito impõe sobre o
que comer, vestir, o que fazer no corpo e quando. “Eles estão literalmente reconstituindo uma
nova fé a partir de antigas crenças, recorrendo a técnicas tradicionais de mistificação e controle
do pensamento para transformar as mentes femininas de forma tão radical quanto qualquer onda
evangélica do passado.” (WOLF, 2018, p. 88).
É uma religião que abrange as partes mais controladoras das demais existentes e as
impõe sobre as mulheres como verdade absoluta, a todos os momentos, tornando quase
impossível escapar pois o mundo inteiro a cultura, ao mesmo tempo que finge que ela não existe.
É impossível escapar de amarras que você não sabe que estão te prendendo. “A enorme catedral
em cuja sombra elas vivem nem chega a ser mencionada” (WOLF, 2018, p. 89).
O rito da beleza usa dessa crença de imperfeição natural para forçar as mulheres na
busca pela melhoria constante, pois elas já nascem com algo precisando ser consertado. E, em
cima disso, se cria uma indústria que lucra com todas as inseguranças existentes nas mulheres
e faz de tudo para lhes manter insatisfeitas com a sua aparência.
Cirurgiões plásticos são vistos como a nova divindade, capaz de reparar aquilo que está
errado nas mulheres. Enquanto isso, homens acreditam serem deuses, que não tem seu valor
definido pela aparência que tem e de quem não é cobrado a eterna juventude.
O rito da beleza surge em contrapartida aos movimentos feministas da época, que
causaram a decadência da autoridade religiosa e da necessidade de se enquadrar em
determinados papéis para ser considerada uma “boa moça”. Ele se instala após a destruição
desse pedestal, e antes das mulheres terem acesso a poder e autoridade genuínos. Aparece para
preencher uma “lacuna” deixada pelas antigas formas de controle e opressão e se apresenta
como comunidade para essas mulheres, lhes permitindo manter um vínculo que lhes dizem já
não existir mais.
relação com seu corpo e sua imagem. Esses fatores, por vezes, são capazes de desencadear
problemas psicológicos mais graves, como transtornos alimentares, depressão e ansiedade.
Na modernidade, o maior difusor desses ideais são as redes sociais, que promovem e
glamorizam a vida e o corpo de mulheres magras, sejam elas modelos, influenciadoras digitais,
atrizes, cantoras, etc; lhes é vendido que a felicidade reside no corpo padrão, o corpo magro.
Entretanto, estudos apontam o contrário. De acordo com Zimmerman (2018 apud Rocha, 2021),
houve um aumento nos casos de depressão e ansiedade com o crescimento das redes sociais, e
os transtornos alimentares são, atualmente, as doenças relacionadas à saúde mental que possuem
a maior taxa de mortalidade.
A ideia de emagrecimento é nutrida em todos os âmbitos da vivência feminina, e uma
das formas mais fortes pela qual se apresenta é na disseminação do corpo magro enquanto corpo
saudável. É a culpabilização e crucificação do corpo feminino amparado na ciência; o que
permite, inclusive, que mulheres gordas sejam ignoradas em ambientes hospitalares e tenham
seus problemas de saúde todos atribuídos ao seu peso e percentual de gordura - mesmo quando,
na realidade, não existe relação alguma.
Com as redes sociais, as pessoas passaram a consumir e criar conteúdo de forma
avassaladora. O nicho fitness de redes como o instagram, atingem as mulheres com inúmeras
imagens e textos que procuram inspirar a perda de peso e a obtenção de um condicionamento
físico; duas coisas que isoladas não causam mal algum, mas aliadas aos ideais de corpo perfeito
e o culto a magreza, tem impactos diversos. Além de que não existe fiscalização rigorosa da
veracidade dos procedimentos e técnicas divulgados, o que significa que pessoas sem a
qualificação necessária passam informações incorretas, estimulando restrições alimentares e
práticas de exercícios em níveis perigosos. Suas mensagens induzem culpa em relação ao peso
ou ao corpo, estigmatizam a gordura, objetificam o corpo feminino e promovem a cultura da
dieta. Tudo isso enquanto se vende como prática saudável e necessária.
O ideal fitness pretende ser uma alternativa mais saudável que o ideal de magreza [...]
através da promoção de uma alimentação saudável e de exercícios. No entanto, a
literatura atual apoia que essas imagens podem ser igualmente prejudiciais, pois
continuam a incitar maior insatisfação corporal devido à natureza inatingível de tais
fotos (ROCHA, 2021).
O mito da beleza não é sobre saúde feminina, do contrário a sociedade não pressionaria
as mulheres a fazerem cirurgias plásticas desnecessárias como forma instantânea de obter o tão
desejado corpo “perfeito”. A nova moda entre as celebridades, por exemplo, é a Lipoaspiração
1108
de Alta Definição (LAD) ou Lipo HD, que é uma evolução da lipoaspiração convencional; ela
é feita em camadas mais superficiais do corpo, para definir a musculatura de pessoas que já
possuem percentual de gordura baixo (GOMES E NICOLAU, 2021). Esse procedimento tem
sido divulgado em mídias sociais como banal e sem riscos, apesar de não ser o caso.
É comum que a sociedade se reinvente em suas tecnologias, aperfeiçoando-as de forma
a garantir maior comodidade e melhor experiência para o usuário. Junto dessa evolução
tecnológica, evoluem também os meios de opressão contra diferentes minorias sociais. O ataque
às mulheres ocorre primeiramente de forma psicológica, e é a instabilidade emocional delas que
- por vezes - permite os ataques físicos, muitos deles auto infligidos.
As mídias sociais estimulam a comparação entre as pessoas, desde os corpos aos estilos
de vida, pois são publicadas apenas as melhores imagens, editadas e manipuladas para
apresentarem uma realidade que não existe. A comparação social é utilizada pelo sujeito como
forma de entender o mundo ao seu redor e a si mesmo, baseando-se em informações externas;
assim, quando a referência disponível é irreal, os sujeitos nunca obtêm a validação externa
necessária para sua vivência, pois são incapazes de alcançar aquilo que lhes é apresentado, o
que pode causar maior insatisfação corporal, desvalorização do corpo e humor negativo
(ROCHA, 2021; CARVALHO, FREITAS E FERREIRA, 2016).
O impacto negativo das mídias sociais tem sido frequentemente atribuído ao processo
de comparação social. Além disso, as redes sociais permitem uma maior comparação
dos corpos em relação aos meios de comunicação de massa já que o conteúdo
divulgado atinge um maior número de pessoas e com mais velocidade (ROCHA, 2021,
p. 25).
O movimento Body Positive foi divulgado nas redes sociais como uma maneira de
disseminação e aceitação do corpo fora dos padrões sociais, uma forma de reverter essa
narrativa e dar voz às pessoas oprimidas pelo mito da beleza. É uma ação que tem diversos
impactos positivos, pois fornece uma referência de corpo mais dentro da realidade e permite
uma identificação maior dos sujeitos. A positividade corporal e a valorização do corpo é fator
de melhoria da imagem corporal e da saúde mental e emocional (ROCHA, 2021).
O movimento não é livre de falhas, entretanto, nem da pressão social imposta às
mulheres de outras formas. Rocha (2021) afirma que o Body Positive tenta expandir as
concepções de beleza da sociedade para que inclua, também, corpos fora dos padrões atuais, ao
invés de acabar com essas concepções que atribuem valor às mulheres baseado no seu nível de
beleza sem levar em conta suas demais características.
desenvolver, ainda que haja exceções. Aos poucos, isso seleciona um amplo conjunto de
atividades femininas não apenas diferente do masculino, mas desigual em termos de acesso a
reforçadores, como dinheiro e prestígio social.
Os costumes anteriormente mencionados contribuem para a manutenção da dominação
masculina, do patriarcado. “Cultura do estupro, por sua vez, são comportamentos e práticas
culturais produzidas neste contexto patriarcal.” (FREITAS e MORAIS, 2019, p. 6). A divisão
de papéis de gênero perpetuada pelos membros da cultura patriarcal manipula diversas formas
de opressão das mulheres, e não apenas de caráter sexual. Nesse sentido, embora essa prática
seja relevante para a existência da cultura do estupro, suas consequências não são limitadas
apenas a esse propósito.
Entretanto, a forma que o patriarcado normaliza o estupro, causa efeitos extremamente
danosos às mulheres, podendo causar diversos transtornos físicos e psicológicos. A sociedade
normaliza o estupro quando - além de exibir imagens violentas, que vunerabilizam o corpo
feminino à submissão, transformando a imagem de submissão em algo “comum”-, na mídia,
essa palavra é excluída, não dando nome a essa violência. Utilizando-se de floreios verbais
para diminuir o impacto gerado por essa palavra, pois usar a palavra estupro, pode gerar repúdio
e ansiedade nas pessoas. Na cultura, esse termo foi verbalmente relacionado a uma série de
estímulos desagradáveis. Assim, a imagem dos homens - que, por estatística, cometem esse
crime com maior frequência, tornando-o uma violência de gênero - é protegida, reduzindo sua
responsabilidade e as consequências morais e jurídicas por estuprar uma mulher.
Em contrapartida, existe, na perspectiva do pensamento coletivo, uma exacerbada
culpabilização da vítima. Há, na sociedade, um mito no qual as mulheres são consideradas
culpadas pela violência por causa da forma que se vestem e de como se comportam, são
consideradas permissivas, caso aconteça violência sexual praticada, principalmente, por alguém
conhecido. Pois, também existe um mito de que o estupro acontece, apenas, em lugares escuros,
ambientes propícios, e por desconhecidos agressivos. Então, se uma mulher denuncia que foi
violentada por um colega, pelo marido, pelo pai, ou qualquer homem conhecido, ela geralmente
não será validada, justamente por existir esses estereótipos que excluem, da visão social, outras
formas de abuso. Causando, assim, um problema alarmante, mas como pouca visibilidade,
aumentando o prejuízo na vida das mulheres.
Os efeitos desses estereótipos, nos homens, estão relacionados a concordância deles com
o mito do estrupo (de ser um evento isolado), assim, muitos deles violentaram uma mulher sem
1112
ao menos saberem que estão cometendo um crime. “A ideia é que, se ele nega a existência da
violência, ele violentaria porque não consideraria que o que ele praticou foi um estupro”
(FREITAS e MORAIS, 2019, p. 8). Como, por exemplo, muitos homens não sabem que tirar o
preservativo durante o ato sexual, sem o consentimento da parceira, é considerado abuso sexual.
Muitos maridos acreditam que podem forçar, mesmo que por persuasão, ou chantagem, a fazer
sexo com suas esposas, pois há uma ideia internalizada sobre o matrimônio, em que a esposa
deva servir aos desejos do marido. Muitas mulheres também não possuem o conhecimento
acerca desses abusos “sutis”.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A primeira teoria feminista publicada data de 1720, mais de 300 anos atrás, então pode-
se acreditar que as discriminações de gênero - a crença de que homens e mulheres possuem
características próprias aos seus gêneros e, por essas diferenças, uns seriam superiores aos
outros - existe há muito mais tempo. Como em todas as outras esferas da sociedade, a psicologia
também foi afetada por essa ideia de superioridade masculina, que defendia que os papéis
sociais deveriam ser empenhados conforme seus traços primordiais, de expressividade para
mulheres e instrumentalidade para homens (NOGUEIRA, 2001).
Foi somente por volta dos anos 70 que o conceito de androginia surgiu para desafiar
esse ideal, sugerindo uma combinação desses traços e a eliminação da dualidade de gêneros. A
androginia psicológica, por sua vez, implica que é possível que o sujeito apresente ambos os
tipos de “personalidade” e, ainda, que pode executá-los ao mesmo tempo. Como diz Nogueira,
(2001, p. 13) “é possível para um indivíduo ser ora compassivo ora assertivo, ser expressivo e
instrumental, ser masculino e feminino dependendo das circunstâncias apropriadas a estas
várias modalidades”.
A teoria da androginia, entretanto, apresentava uma desvantagem para as mulheres, pois
ainda partia do pressuposto de diferentes características naturais atribuídas a gêneros diferentes,
no qual a mulher era inferior. Eagly (1987 apud Nogueira, 2001) defendia uma teoria que
apontava o caminho contrário, afirmando que as diferenças sexuais seriam meramente produto
dos papéis que os indivíduos ocupam na sociedade, não baseadas em fatores biológicos mas na
socialização do sujeito durante a infância.
Esses papéis se desenvolvem a partir das expectativas existentes nos indivíduos, que
geram competências, atitudes e crenças diferentes e, como diz Nogueira (2001),
1113
acontece porque essas pessoas, assim como agressores e vítimas, também fazem parte da
comunidade verbal que ensina mitos sobre estupro, oferece modelos de papéis sexuais e reforça
diferencialmente comportamentos em homens e mulheres (FREITAS E MORAIS, 2019). Por
isso, há uma necessidade, a nível de saúde pública - mesmo que pouco discutida na grande
mídia - em disponibilizar acolhimento e psicoeducação para que essas mulheres possam nomear
suas dores, tenham tratamento adequado, e a população também possa ter conhecimento dessas
situações, para que saibam como interferir.
Entretanto, para Mayorga (2014), mudanças sociais não acontecem sem a presença de
figuras que tenham autoridade para atuar no cenário público, que possam tencionar, de forma
incisiva, instituições que pareçam ser invariáveis, mesmo que de maneira imparcial, como o
campo dos direitos, da cidadania e da política. Para isso, a psicologia, juntamente com
instituições governamentais e com o feminismo, precisa intervir na esfera pública, para que o
assunto chegue à população, assim, chegando nas pessoas que precisam desse atendimento,
sejam vítimas de abuso sexual, mulheres que sofram de transtornos alimentares, dismorfia
corporal, ou todo e qualquer dano causado pelos mitos sobre “ser” mulher.
Com os estudos realizados entende-se que a construção de gênero pode variar, haver
modificações, mas não é uma desconstrução que vá ocorrer facilmente, visando a importância
da imposição de ideologias para a manutenção do patriarcado. Mas, com um trabalho de
conscientização a respeito dos prejuízos causados pelo mesmo, no cotidiano das mulheres,
pode-se evoluir na maneira que elas, e as pessoas que apoiam a causa, as enxergam e possam
entender que seu valor não pode ser medido por um regimento machista.
Desenvolvendo autonomia, através do apoio de outros e do autoconhecimento, as
mulheres podem reivindicar seu espaço na sociedade, não desconsidera-se que é uma luta
constante, mas, com conhecimento e facilitadores na política e na mídia, o movimento feminista
pode ganhar mais força contra a dominação masculina, consequentemente, melhorando a
qualidade de vida das mulheres. Portanto, também observa-se a necessidade no investimento
do governo em creches para que as mães possam trabalhar e deixar seus filhos seguros; e investir
em mais espaços terapêuticos para mulheres, principalmente vítimas de violência, já que é um
problema tão urgente.
1115
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Pedro Henrique Berbert; FREITAS, Luciana Gomes; FERREIRA, Maria Elisa
Caputo. Comparação Social, Insatisfação Corporal e Comportamento Alimentar em Jovens
Adultos. Interação Psicol., Curitiba, v. 20, n. 2, p. 219--225, maio/ago. 2016
Em média, mulheres dedicam 10,4 horas por semana a mais que os homens aos afazeres
domésticos ou ao cuidado de pessoas. Agência IBGE Notícias. 16, julho, 2020. Estatísticas
Sociais. Disponível em: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-
imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/27877-em-media-mulheres-dedicam-10-4-horas-
por-semana-a-mais-que-os-homens-aos-afazeres-domesticos-ou-ao-cuidado-de-
pessoas#:~:text=Em%202019%2C%20146%2C7%20milh%C3%B5es,homens%20(78%2C6
%25)>. Acesso em 05 de julho de 2022.
PERET, Eduardo. Mulher estuda mais, trabalha mais e ganha menos do que o homem.
Disponível em: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-
noticias/noticias/20234-mulher-estuda-mais-trabalha-mais-e-ganha-menos-do-que-o-
homem>. Acesso em 05 de julho de 2022.
ROCHA, Claudia Burlamaqui Lima. Body positive & Instagram: Performances online do
corpo feminino. Orientador: José Manuel Pereira Azevedo. 2021. 70 f. Dissertação
(Mestrado) - Curso de Ciências da Comunicação, Faculdade de Letras, Universidade do Porto,
Porto, 2021.
WOLF, Naomi. O Mito da Beleza. 1. ed. Rio de janeiro: Rosa dos Tempos, 2018.
1116
O QUE FICA DEPOIS DO AMOR?: estudo sobre o trabalho de luto das separações
amorosas
RESUMO
O trabalho de luto advindo de uma separação amorosa pode ser uma vivência muito dolorosa
para o sujeito, por mais que esse trabalho psíquico não seja respeitado pela sociedade ou pelo
próprio sujeito em alguns casos, é necessário que seja realizado. Para estar sujeito à perda de
um grande amor basta amar, nenhum amor está imune à dor da separação. Diante desse
contexto, este estudo buscou trazer conhecimentos de base psicanalítica acerca de como
acontece esse luto e quais são os mecanismos que estão presentes nesse processo. Este estudo
é uma pesquisa bibliográfica tendo como embasamento teórico a teoria psicanalítica, bem como
autores importantes para a temática do luto. Foi possível chegar ao conhecimento de que a
ruptura amorosa é um processo doloroso, que necessita de tempo e apoio para ser elaborada de
maneira proveitosa, proporcionando ao sujeito novas perspectivas e possibilidades.
Palavras-chaves: Luto. Psicanálise. Separação amorosa. Separação.
ABSTRACT
The work of mourning stemming from a loving separation can be a very painful experience for
the subject, even though this psychic work is not respected by society or by the subject itself in
some cases, it is necessary that it be done. To be subject to the loss of a great love it is enough
to love, no love is immune to the pain of separation. In this context, this study sought to bring
psychoanalytic-based knowledge about how this mourning happens and what are the
mechanisms that are present in this process. This study is a bibliographic research with
psychoanalytic theory as its theoretical basis, as well as important authors on the topic of
mourning. It was possible to reach the knowledge that the break-up is a painful process, which
needs time and support to be elaborated in a profitable way, providing the subject with new
perspectives and possibilities.
Keywords: Mourning. Psychoanalysis. Loving separation. Separation.
1
Bacharela e licenciada em Psicologia pela FCRN; Pós-granduanda em Teoria Psicanalítica – FAF; Mestranda
no programa PPGCISH - UERN. Email: raquelmfirminopsi@gmail.com
2
Especialista em Psicologia Clínica com formação psicanalítica – UNPESI (PB); Mestre em Saúde e sociedade
– UERN; Doutora em Psicologia – UNIFOR. Email: juhsena@hotmail.com
1117
1 INTRODUÇÃO
A relação com o outro vem sendo uma base para sustentação social desde os primórdios,
e deste surgiu o contato com o sentimento que chamamos de amor. O amor é uma temática,
palco de grandes reflexões filosóficas, poéticas e psicológicas, devido ao seu caráter abstrato e
singular, surge margem para diversas observações.
O amor e a perda estão conectados, não se dispõe a um sem estar à mercê do outro.
Existem pessoas que acreditam ser um preço alto demais e preferem se esquivar da construção
de um laço, outras preferem ignorar essa equação, iludindo-se que elas e aquelas às quais
direcionam seu amor são imortais e inseparáveis. Chegam a acreditar que o amor está garantido
e inabalável, e se sentem insultadas se o amor for posto em perigo ou perdido (PARKES, 2009).
O sofrimento pode atingir o ser humano por três vias: o sofrer proveniente do próprio
corpo, pela sua fragilidade e efemeridade, esse sentimento, isto é, o sofrimento à mercê de
doenças e do tempo; do mundo, que pode fazer recair sobre o humano forças poderosas,
aniquiladoras e implacáveis; do contato interpessoal com outros seres humanos. O sofrimento,
oriundo dessa derradeira via, é sentido de forma mais dolorosa do que qualquer um
anteriormente citado. Todos esses três vieses da dor são inevitáveis (FREUD, 1930).
O trabalho tem como problemática a busca do conhecimento sobre como se dá o trabalho
do luto diante de uma ruptura amorosa. Partindo disso, a presente pesquisa teve como objetivo
geral compreender como se dá o trabalho de luto diante de uma ruptura amorosa. Diante da
inquietação e busca de conhecimento sobre o assunto, foram desenvolvidos três objetivos
específicos, sendo eles: identificar como o luto se apresenta após a separação amorosa;
investigar quais mecanismos são acionados pelo trabalho psíquico no processo de luto e por
fim, analisar as discussões psicanalíticas em torno do luto por separação amorosa.
O presente trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica. De acordo com Gil (2008),
a pesquisa bibliográfica se caracteriza pela análise de conteúdos teóricos publicados, sejam eles
escritos, impressos ou eletrônicos. O teórico ainda afirma que as pesquisas exploratórias
possuem como objetivo fornecer maior conhecimento sobre o problema proposto, tendo como
fim torná-lo mais evidente e proporcionando um aperfeiçoamento da ideia.
A pesquisa bibliográfica tem como principal vantagem a abrangência que é
proporcionada ao investigador, diante de maior cobertura de fenômenos e informações do que
aquela que poderia ser explorada diretamente (GIL, 2002).
1118
2 O LUTO DA RELAÇÃO
O luto é importante para você não se vingar no próximo amor (Fabrício Carpinejar)
De acordo com Freud (1917), em seu emblemático texto Luto e melancolia, O luto é
uma reação natural à perda de alguém que se ama ou de algo que está em seu lugar, como, por
exemplo, um ideal, pátria, liberdade e entre outros. O enlutado apresenta-se como um
desinteresse pelo mundo externo, a incapacidade de eleger um novo amor, bem como o
distanciamento de toda e qualquer atividade que não esteja em consonância com a memória do
objeto perdido.
Freud (1917) exemplifica que diante da realidade em que o objeto de amor não está mais
disponível, é necessário que haja uma retirada total da libido outrora direcionada para o objeto
de amor, entretanto é comum que o ser humano apresente uma oposição a essa ação, pois reluta
em abandonar a posição libidinal, mesmo quando um substituto se candidata. Acredita-se que
paulatinamente seja realizado o desinvestimento, para isso será depositado grandes quantidades
de energia e tempo para a elaboração de cada lembrança e expectativa na qual a libido associou-
se ao objeto perdido. Enquanto isso, o objeto perdido segue vivo na psique do enlutado.
Portanto, ao surgir a recusa da admissão irremediável da perda, por mais que haja uma
atenuação da dor, essa ação avizinha-se à loucura, sendo também possível considerar que uma
vez abrandado esses movimentos de rebelião, a dor ressurge ainda mais viva do que
anteriormente. No processo de separação amorosa, existe um eu debilitado e uma imagem
excessivamente viva do desaparecido. O eu conserva-se dedicado a manter a imagem do objeto
perdido, havendo assim um superinvestimento dessa figura psíquica. O desinvestimento precisa
ser efetuado, se não o Eu ficará imobilizado e com a vida paralisada, desenvolvendo assim um
estado crônico do luto (NASIO, 1997).
Não é tarefa fácil quantificar o nível de dor que o enlutado irá sentir para que o trabalho
de luto seja realizado, tal procedimento exige dedicação e comprometimento. Freud afirma que
o luto não deve ser considerado patológico e muito menos deve ser impedido de ser vivenciado,
pois isso seria prejudicial ao sujeito, e também porque se acredita que as reações a essa
1119
experiência iriam cessar com o passar do tempo, e assim o Eu ficaria novamente livre para
novos investimentos (FREUD, 1917).
A princípio a ruptura amorosa é vivida como um prejuízo ao sujeito, sem possibilidade
de restauração, e isso causa indignação, é justamente essa revolta contra a indignação que tem
como objetivo manter latente a ruptura e seria justamente a não separação. Na separação dos
amantes, ocorre um fenômeno que pode ser definido como a presença da morte na vida. Desta
maneira, na ruptura que não ocorreu a morte concreta do cônjuge, existe uma morte
compartilhada, pois, ao passo que é preciso matar esse outro que vive no sujeito para sobreviver,
também é necessário que haja a aceitação da própria morte na mente do outro (CARUSO,1989).
“Embora o divórcio possa ser às vezes a melhor solução para o casal [...] o tempo de
elaboração do luto pela separação é quase sempre maior do que o luto pela morte” (FÉRES-
CARNEIRO, 2003, p.5).
Desse modo, o rompimento pode ser vivenciado como algo na ordem do insuportável,
fazendo com que o sujeito sinta de forma muito intensa. A dor não vem da perda, mas sim da
continuidade desse amor que vive junto com a presença do outro na psique, essa presença viva
que é confrontada pela constatação da ausência real do objeto causa de amor (NASIO, 1997).
Caruso (1989), enfatiza que a separação reverbera na psique humana como a morte real,
na ruptura, o sujeito torna-se um morto na mente do outro, pode não estar mais disponível como
objeto amoroso. Alguns desses enlutados são vítimas de suicídio para que a dor seja cessada. A
ruptura amorosa para o autor é considerada uma tragédia na vida dos amantes, e a passagem ao
ato, pelo suicídio ou assassinato do ex-cônjuge, pode ilustrar a inaptidão do sujeito de se
defender-se do caráter mortal envolto na separação.
Podemos considerar que o objeto pode ser renunciado, mas o amor por ele não, quando
esse amor se refugia em identificação narcísica, o ódio entra em cena degradando esse
objeto substitutivo e satisfazendo-se sadicamente de seu sofrimento. Esse sadismo
pode justificar a tendência ao suicídio por parte do melancólico (FERREIRA, 2010,
p.72).
Caruso (1989) apresenta quatro mecanismos de defesa do Ego que são acionados quando
acontece a ruptura amorosa. O primeiro é a agressividade e por meio dela o objeto de amor
perdido será desvalorizado, permitindo que o amor seja transformado em ódio, para que possa
ser realizada a desidentificação com o objeto perdido. Pois mesmo que a consciência veja os
defeitos do objeto, este correspondia às expectativas do Ideal de Ego. Sendo assim, a
depreciação é a estratégia mais segura para a aceitação da morte do objeto perdido na psique.
1121
É necessário ressaltar que, tanto os mecanismos de defesa expostos pelo autor Caruso,
quanto as fases são descritas por Bowlby, possuem o objetivo de promover maior compreensão
acerca do assunto, mas elas não acontecem de forma evolutiva ou linear, com duração
determinada e intensidade padrão. Cada sujeito irá vivenciar o processo de luto de forma
singular, assim como cada elaboração tem sua particularidade.
A separação amorosa pode ser facilmente classificada como um luto não franqueado.
Partindo do princípio que cada sociedade possui um conjunto de regras e normas vigentes que
irão determinar como o luto deve ser vivido, e nelas estão contidas, quem, quando, onde,
duração do pesar. No entanto, essas regras podem não fazer jus aos sentimentos dos enlutados
(DOKA, 1989).
Essa variação do luto que é muito comum em nossa sociedade, pois esta é marcada pela
evitação e negação, os pensamentos e sentimentos conflitantes não têm espaço para expressão,
então, sem o reconhecimento social e profissional para a reorganização, o sujeito fica
susceptível ao luto não reconhecido. É comum o entendimento de que um termino precisa ser
superado, e deve-se seguir adiante o mais rápido possível. Algumas frases que podem
demonstrar invalidações e minimização do sofrimento do enlutado são essas: “bebe que passa”,
“deixa de besteira, tem muita gente no mundo”, “você ainda é jovem”, “um amor se cura com
outro”.
Diante das sociedades líquido-modernas, é possível inferir que existe um imediatismo
em todos os âmbitos da vida. São cobranças para a produtividade exacerbada e modernização,
a vida não pode parar, “tempo é dinheiro”. Segue-se essa lógica ou está sujeito a perecer uma
vida precária, com alicerces na incerteza e insegurança constante, ou com demasiados reinícios
(DA COSTA SALLES; CECCARELLI, 2012).
Os enlaces subjetivos frouxos e ausência de compromissos são as características mais
presentes nas ligações entre os sujeitos. Vivemos em uma “sociedade de valores voláteis,
descuidada do futuro, egoísta e hedonista, onde a velocidade e não a duração é o que importa”
(BAUMAN, 2007 p.10). O autor exemplifica que as relações estão embasadas em ligar-se
rapidamente a qualquer coisa e se desvincular é o que vale. Viver com intensidade o presente e
pelo o momento, extraindo o máximo de satisfação, rechaçando sofrimentos, envolvimentos
profundos, inquietações, privilegiando fins rápidos e indolores, pois assim é mais fácil
recomeçar.
1123
A vivência do luto pode se tornar ainda mais difícil quando se trata de uma perda que
envolve ambivalência. Perda ambíguas são aquelas que se caracterizam pela falta de
clareza com relação ao que foi perdido, sobre quem perdeu, ou ainda envolve a perda
ou não. Com a incerteza sobre como reagir nessas situações, as pessoas
frequentemente não fazem nada, ou melhor, não expressam nenhum tipo de reação.
Nesse sentido, a perda que envolve ambivalência gera luto não reconhecido uma vez
que passa a ser considerada “pequena e superável”, principalmente quando comparada
a perdas por morte após determinada convivência e vinculação com a pessoa amada
(CASELLATO, 2005).
Os casais são criados por causa do amor. Eu estou sempre à espera de entender o que é.
(Valter Hugo Mãe)
velado e um tanto doloroso. Bem como o homossexual que está saindo de um relacionamento
hétero para assumir sua sexualidade. Para além das dificuldades desse reconhecimento, que essa
pessoa pode enfrentar, ele, o homossexual, também está sujeito a sentir culpa por deixar o
conjugue e filhos, se os tiver. O social reafirma o fracasso do casamento mal sucedido e o
culpabiliza pela confusão nas escolhas amorosas. Essa falta de apoio provoca o isolamento do
sujeito, mas quando se tem o apoio da família o processo é menos doloroso (CASELLATO,
2005).
No envolvimento dos amantes, também é construída uma relação e estas precisam ser
consideradas também. Apesar de que em 2005 com a Lei n. 11.106/05 o adultério tenha deixado
de ser crime no Brasil, o laço dos amantes pode ainda provocar repúdio social, por ser
considerado um envolvimento amoroso indigno e relacionado à infidelidade. Desta forma, o
relacionamento não é reconhecido. As relações são sigilosas e sem privilégios sociais, e se por
um lado a proibição provoca o desejo, a desaprovação social leva o sujeito à exclusão. Como
consequência disso, o sofrimento pela separação também não é válido, na tentativa da interdição
do seu direito à dor e ao sofrimento (CASELLATO, 2005).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sociedade que dita regras para a expressão e sentido desse luto pode prejudicar a vida
do sujeito, acreditando que todo relacionamento dessa ordem pode ser facilmente substituído.
Consequentemente, essa atitude pode gerar nos enlutados profundas angústias pela invalidação
de sua perda, tanto por parte da sociedade como por sua própria, gerada pelo sentimento de
desamparo e vergonha.
Buscou-se exemplificar qual a importância do trabalho de luto por separação amorosa,
mostrando que o sofrimento pela perda é normal, e que é preciso que esse processo de dor não
seja mascarado, fazendo com que o sujeito fique preso àquela dor sem perceber, ligado a uma
pessoa que não está mais disponível para o amor. A travessia do luto é importante para que o
sujeito possa permitir-se a novas vivências, e envolvimentos amorosos sem ficar à sombra do
amor antigo, podendo assim, amar livremente uma nova pessoa.
Ressalta-se ainda a importância de serem produzidos mais estudos acerca desta temática,
que é de valor único, levando também em consideração a maior ocorrência das separações na
sociedade contemporânea. Assim sendo, a tentativa de obter conhecimento sobre o tema apenas
abre um leque de novas questões e possibilidades para que sejam elaborados mais estudos,
trabalhos e pesquisas, para que haja maiores esclarecimentos sobre este que é um dos maiores
sofrimentos que atingem aos seres humanos.
Ao discutir sobre a presente temática, esta pesquisa mostra o seu grau de relevância
observando como se dá esse processo de rompimento amoroso, partindo da observância de que
é um processo incontestavelmente singular e buscando reconhecer a importância da elaboração
desse luto, para que seja possível proporcionar melhor continuidade da vida e das relações
desses sujeitos.
REFERÊNCIAS
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2004.
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Cortez, 1989.
1127
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enlutados e sociedade. Campinas: Livro Pleno, 2005.
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Companhia das Letras.
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GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2008.
PARKES, C.M. Luto estudos sobre a perda na vida adulta. Summus editorial, 1998..
RESUMO
O presente estudo trata-se de uma revisão de literatura e objetivou analisar de que forma a
orientação profissional voltada para indivíduos com TEA pode vir a ser um mecanismo
propulsor do desenvolvimento pessoal e profissional, além de promover discussões em relação
ao processo de inclusão e práticas capacitistas que impedem o sujeito desse espectro de
ocuparem espaços trabalhistas. Para isso foram realizadas buscas, no primeiro semestre de
2021, entre os meses de Abril e Maio, nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do
Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scielo, Pepsic, Periódicos CAPES e Google
Acadêmico operacionalizada através do cruzamento dos descritores “Autismo” e “Orientação
profissional e “Orientação vocacional”, articulados por meio do operador booleano “AND” em
ambas as pesquisas. Os achados científicos apontaram para a importância do processo de
orientação profissional como ferramenta facilitadora frente às capacidades, preferências e
motivações do sujeito no espectro autista, ressaltando-se a importância de compreender o
indivíduo em sua totalidade. Assim, dada a escassez de estudos voltados a essa temática, é
possível frisar a importância dessa pesquisa e suas contribuições para a comunidade científica,
uma vez que as indagações levantadas aqui, proporcionam reflexões quanto ao lugar social da
pessoa com autismo, somando novas perspectivas de se pensar a inclusão destes.
Palavras-Chave: Autismo; Orientação Profissional; Orientação Vocacional; Revisão de
Literatura.
ABSTRACT
This study is a literature review and aimed to analyze how professional guidance for individuals
with ASD can become a propulsion mechanism for personal and professional development, in
addition to promoting discussions regarding the inclusion process and enabling practices that
prevent the subject of this spectrum from occupying labor spaces. For this, searches were carried
out in the first half of 2021, between the months of April and May, in the databases Latin
American & Caribbean Health Sciences Literature (LILACS), Scielo, Pepsic, CAPES
Periodicals and Google Scholar operationalized through the crossing of the descriptors
“Autism” and “Professional guidance”, “Autism” and “Vocational guidance”, articulated
1
Graduanda pelo Curso de Psicologia da Faculdade Nova Esperança de Mossoró - FACENE/RN.
marianalaracv@gmail.com
2
Graduanda pelo Curso de Psicologia da Faculdade Nova Esperança de Mossoró – FACENE/RN.
gessicabezerra1@gmail.com
3
Graduanda pelo Curso de Psicologia da Faculdade Nova Esperança de Mossoró – FACENE/RN.
karenliviacarvalho@gmail.com
4
Mara de Souza Leal. Profa. Dra. e Coordenadora do Curso de Psicologia da Faculdade Nova Esperança de
Mossoró – FACENE/RN. E-mail:marasleal@alumni.usp.br
1129
through the boolean operator “AND” in both surveys. The scientific findings pointed to the
importance of the professional guidance process as a facilitating tool in the face of the subject's
abilities, preferences and motivations on the autistic spectrum, emphasizing the importance of
understanding the individual as a whole. Thus, given the scarcity of studies focused on this
theme, it is possible to emphasize the importance of this research and its contributions to the
scientific community since the questions raised here provide reflections on the social place of
the person with autism, adding new perspectives to think about their inclusion.
Keywords: Autism; Professional guidance; Vocational guidance; Literature review.
1 INTRODUÇÃO
estabeleceram com formalidade recursos e estruturas de serviços para que tais políticas fossem
implantadas, deste modo, torna-se limitado os resultados que garantem os direitos relacionados
à atuação profissional.
Assim, percebe-se a necessidade de um olhar que se concretiza em mudanças quanto a
essa realidade, já que, não dispor de possibilidades e recursos para que esses indivíduos ocupem
o mercado de trabalho, é um manifesto implícito de negação, uma recusa de tornar os espaços
acessíveis. Quanto a isso, aponta-se o conceito de capacitismo, que “também está nas ideias,
práticas, instituições e relações sociais que presumem corpos como capazes e, ao fazê-lo, as
pessoas com deficiência como marginalizadas e, em grande parte, como invisíveis “outros”.”
(IVANOVICH; MARIVETE, 2020, p. 7).
Dessa forma, a Orientação Profissional surge como um mecanismo importante para esse
público em questão como uma prática necessária para indivíduos em determinados momentos
de sua carreira, como também para estudantes que desejam ingressar à carreira universitária e
no ambiente laboral (MELO-SILVA, LASSANCE, SOARES, 2004). A definição desta prática
sugere a possibilidade de o sujeito ser orientado por profissionais qualificados e ainda a
possibilidade da própria pessoa se orientar, ou seja, “reconhecer a situação do lugar onde se
acha, para guiar-se pelo caminho" (FERREIRA, 1986, p. 1233). De acordo com Martins (1978),
as expressões mais utilizadas que fazem referência ao mesmo trabalho, são: vocacional,
profissional e educacional, para nos restringirmos ao campo do comportamento vocacional. O
primeiro citado, o termo vocacional está ligado a vocação que no latim significa “vocatione”,
ato de chamar, escolha, chamamento, predestinação, tendência, disposição, talento, aptidão. O
conceito profissional tem como conceito “pertencente à profissão”, “que exerce uma atividade
por profissão ou ofício”. Já o conceito de orientação profissional, na perspectiva da psicologia
tem como conceito a ajuda prestada a uma pessoa que almeja à solução de problemas relativos
à escolha de uma profissão ou a carreira profissional, considerando as características da pessoa
e as possibilidades de emprego no mercado de trabalho (BRASIL, s/d). Os modelos de
intervenção implementados foram e são influenciados pela estratégia de Bohoslavsky, com
influência da psicanálise freudiana e kleiniana. Para o referido autor, ela pode ser aplicada para
o autoconhecimento, investigação, compreensão, modificação do comportamento, atuando
tanto no âmbito individual como no grupal, bem como no comunitário ou institucional
(Bohoslavsky, 1991).
1131
2 METODOLOGIA
O presente artigo trata-se de uma revisão de literatura, que de acordo com Gerhardt e
Silveira (2009) é o momento da pesquisa em que se revisita os conhecimentos já reunidos sobre
determinada temática. Sendo que, o conceito de literatura nesta sentença está relacionado ao
conjunto de documentos científicos que dizem respeito a um determinado assunto.
Dessa forma, valendo-se desse percurso metodológico escolhido, a pesquisa foi
realizada durante o primeiro semestre do ano de 2021, no período de Abril a Maio, por meio
das bases de dados científicas Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS), Scielo, Pepsic, Periódicos CAPES e Google Acadêmico operacionalizada através
do cruzamento dos descritores “Autismo” e “Orientação profissional”, “Autismo” e
“Orientação vocacional”, articulados por meio do operador booleano “AND”.
Foram selecionados como critérios de inclusão os estudos publicados entre 2011 a 2021,
a fim de retratar a produção dos últimos 10 anos, em qualquer idioma, dos quais surgiram Inglês,
Espanhol, Francês, Alemão, Português, Sueco, Chinês, Norueguês, Russo, Indonésio, Eslavo,
Dinamarquês, Persa, Italiano, Japonês, Turco, sendo artigos, teses e dissertações disponíveis
como trabalhos completos e gratuitos. Em relação aos critérios de exclusão, foram delimitados
aqueles trabalhos pagos, incompletos e que fogem da temática proposta. A seleção dos trabalhos
foi realizada por meio da leitura dos títulos e dos resumos para a composição da amostra.
1132
Por meio do cruzamento dos descritores foram identificados 21.282 publicações nas
quais para a seleção seguiu-se da seguinte forma, verificou-se os artigos disponíveis na íntegra
e por meio do título selecionou-se os trabalhos que se encaixam mediante critérios
estabelecidos, após isso, foi realizado uma leitura prévia dos resumos, resultando na seleção de
13 trabalhos, sendo 3 destes teses de mestrado, e 10 artigos científicos, onde 3 se repetem.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
profissional caso seja necessário. A autora enfatiza também que a conjuntura familiar se
apresenta enquanto um “porto seguro” da pessoa com deficiência, sendo assim, uma rede de
apoio essencial nessas situações.
Dessa forma, acerca dos condicionantes da aprendizagem, Filipe (2014), enfatiza a
importância de se considerar e identificar quais os que interferem no funcionamento cognitivo
dos clientes com Perturbações do Espectro Autista (PEA). Onde destaca-se a tendência para o
estabelecimento de rotinas, para fazer generalizações, a dificuldade para transferências, a
linguagem utilizada, as dificuldades na compreensão de conceitos simbólicos, interação social,
problemas com questões motivacionais e foco de atenção, dificuldades a nível sensorial
podendo apresentar hiper ou hipo sensibilidade a determinados estímulos, e ainda a ausência de
empatia e cumplicidade. Estas são consideradas as que mais prevalecem no indivíduo com PEA,
porém, estas variam de pessoa para pessoa, considerando cada ser como único e singular.
Além disso, nota-se que o processo de orientação profissional é considerado complexo,
pois neste, não deve-se considerar somente o indivíduo em si, mas sim a interação de variados
aspectos que se fazem presentes na vida do indivíduo, a citar os aspectos físicos, psicossociais,
educacionais, culturais que envolve o ser, e ainda as dimensões presentes no contexto do
trabalho onde está inserido. O estudo ainda cita que a OP busca utilizar estratégias que auxilie
no trabalho de aceitação das limitações, que vise facilitar o autoconhecimento dos indivíduos
envolvendo o seu Perfil de Competências e habilidades, identificando os mecanismos de defesa
e as suas expectativas e também a dos seus familiares com o objetivo de as tornar o mais
realistas possível e assim colaborar com o processo de melhor forma. (FILIPE, 2014).
Nesse sentido, Melo e Barbosa (1998) apresentam um panorama análogo quanto a essa
questão, inferindo que dada a sua complexidade, a orientação vocacional em jovens com
necessidades educativas especiais não pode ser limitada no tempo, disponibilizando uma gama
de atividades que permitam aos indivíduos demonstrarem o seu potencial livremente. Com isso,
os resultados obtidos se apresentam de forma mais fidedigna, diminuindo o risco de serem
taxados enquanto vocacionalmente incapazes.
Ademais, os autores Lorenz et al. (2016) discutem portanto, que há uma baixa taxa de
emprego direcionada para esse público e uma possível explicação para isso são as barreiras
estruturadas por estereótipos na sociedade. Indo de acordo com Filipe (2014), esses
estereótipos, por vezes, surgem por parte dos empregadores que acabam por considerar que
pessoas com PEA no ambiente de trabalho envolve custos maiores e ainda podem provocar
1134
problemas a nível de baixa produtividade, comunicação e também na aceitação deste frente aos
demais colaboradores. Sobre isso, Frank et al (2018) problematizam no estudo, o estereótipo de
que o trabalho para adultos com TEA é orientado para uma atuação mais técnica e não social,
o que por sua vez, não vai de acordo com a amostra de seu trabalho onde é possível visualizar
uma alta área de ocupação nos setores de saúde, social, ensino e educação.
Com relação a essa questão, é possível discutir sobre a forma como os estereótipos e
preconceitos refletem na negação de direitos de indivíduos com autismo, corroborando com
ideias capacitistas que alocam pessoas com deficiência no lugar de “problema”, podendo gerar
uma culpabilização por parte desses sujeitos, aflorando sentimentos de incapacidade, gerando
sofrimento nestes. Com base nisso, percebe-se a importância de investigar essas barreiras para
que assim possa analisar estratégias de enfrentamento, e ainda se faz necessário sensibilizar
empregadores e empregados acerca dessa problemática, em busca de uma melhor inclusão,
qualidade de vida e de trabalho (FILIPE, 2014).
Outro aspecto identificado nessa revisão, diz respeito a esse processo de inclusão da
pessoa com deficiência, perpassando contextos educacionais e adentrando no cenário do
sucesso profissional. Sendo assim, considerando o estudo realizado na Holanda por Büscher-
Touwen, Groot e van Hal (2018), observa-se que a lacuna entre o ensino superior e o mercado
de trabalho ainda se apresenta como uma circunstância problemática, já que, esses indivíduos
embora apresentem um índice educacional elevado, não dispõem de oportunidades
empregatícias ou estágios. Os autores apontam que o apoio nessa fase transicional é
fundamental, constatando essa premissa a partir de falas de pessoas com deficiência,
observando a necessidade de uma atenção maior para orientação profissional voltada a esse
público.
Dessa forma, corroborando com esse aspecto, um estudo realizado na Alemanha
(FRANK et al., 2018) oferece-nos uma perspectiva similar, pois, mediante os resultados
encontrados na pesquisa, os autores informam que apesar de um nível de educação geral acima
da média, pessoas com diagnóstico tardio de TEA estão em desvantagem no quesito
participação no mercado de trabalho. Essa questão se desdobra a partir de uma ótica que
engloba diversos setores da sociedade, visto que, nessa corrida que se direciona a ascensão
social por meio do trabalho, esses indivíduos são excluídos dentro de uma perspectiva
depreciativa. Assim, pensar verdadeiramente em práticas inclusivas, significa unir a instituição
familiar, acadêmica e empregadores, que devem dispor ferramentas para a contratação de um
1135
corpo de funcionários diverso, como também estruturas e dinâmicas que mantenham essas
pessoas no trabalho, de modo a incluí-las verdadeiramente.
Assim, se vivemos em uma sociedade baseada nos distintos padrões de distribuição de
oportunidades, é preciso pensar em estratégias que modifiquem esse cenário, dando os
primeiros passos rumo à socialização daqueles que costumeiramente foram colocados à
margem. Nesse sentido, as mudanças necessárias são feitas com ações participativas,
deslocando-se do lugar de silêncio para outro de protagonismo. A pesquisa sistemática realizada
por Maciver et al., (2019), oferece-nos uma projeção acerca dos fatores psicossociais e
ambientais relacionados à participação de crianças com deficiência na escola, resultando em
mecanismos como identidade, competência e experiência mente e corpo. Esses resultados
indicam a importância de valorizar e considerar significativamente os interesses, as motivações
e as preferências das crianças, pois assim é possível compreender a percepção de si mesmo que
se relaciona diretamente com a auto estima de si mesmo, além de observar as relações
estabelecidas e o sentimento de pertencimento e respeito da comunidade escolar.
De acordo com isso, percebe-se que se a participação ativa está ligada também às
preferências e interesses em determinadas atividades na escola, a orientação profissional pode
vir a ser um mecanismo capaz de proporcionar um processo inclusivo, fornecendo
oportunidades de desenvolvimento tanto pessoal como acadêmico. Em consonância com esse
aspecto, Ravenscroft, Wazny, Davis (2017) assinalam que participar de atividades educacionais
e de recreação permite às crianças o desenvolvimento das habilidades sociais, além da expressão
do potencial criativo, alcançando saúde física e mental. Como reforça o estudo de Maciver et
al. (2017), o método utilizado para inclusão do aluno deve estar focado em estratégias que
envolvem não somente este, mas toda a comunidade escolar. Bem como no ambiente em que
está inserido e aspectos físicos e sociais do mesmo, além da identificação de características
positivas e pontos que necessitam de apoio.
Levando em consideração as ferramentas que venham a agregar no processo de
orientação profissional voltado para pessoas com autismo, o estudo realizado por Tokarskaia,
Bystrova e Valieva (2021), apontam o uso da realidade virtual como sendo uma tecnologia que
pode auxiliar no desenvolvimento de habilidades comunicativas, além da autodeterminação
profissional, simulando alguma situação específica e monitorando interesses e emoções
positivas. Embora seja um aparelho de custo elevado, a pesquisa amplia o quadro de
possibilidades e pode vir a oferecer uma assistência efetiva nesse quesito.
1136
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
psicológica quanto a assistência a esse público, assumindo seu papel contra o capacitismo e
rompendo com noções excludentes.
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1139
RESUMO
ABSTRACT
The theme of rurality is a subject of great theoretical interest in the area of psychology,
nowadays this discussion has been decentralizing the field of action of the psychologist, today
having as a new possibility the rural environment, thus requiring a transformative academic
training to act in this context. Thus, this work has the following objective was defined, to
understand how psychology in the context of rurality helps in reducing damage to workers with
1
Graduando em Psicologia, pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
s.augusto@academico.ifrn.edu.br
2
Possui graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2011), mestrado
em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2014) e Especialização na
modalidade de Residência em Saúde da Família e Comunidade pela Residência Integrada em Saúde da Escola de
Saúde Pública do Ceará (2017). E-mail: esequiel.pagnussat@professor.catolicadorn.com.br
1140
multicomorbidities that can be acquired in the field activity. Regarding the specific objectives:
a) to make a bibliographic survey on psychology in the rural context; b) to highlight the
importance of primary health care in rural areas; c) identify the main comorbidities of rural
workers. The methodological path adopted in this work is descriptive and explanatory, using
bibliographic research as an instrument of investigation, having a quali-quantitative approach.
In addition to the research in literary sources, primary data from the rural community Areias
Alvas provided by the Basic Health Unit of the municipality of Grossos/RN were used.
Therefore, with the accomplishment of the research it was possible to observe the scarcity of
studies involving psychology and ruralities, as well as the importance that the psychologist
makes within this context. It was also possible to verify through the literature consequences as
a result of the rural activity developed by the worker throughout his life and being expressed
through the main comorbidities found in Areias Alvas, with diabetes and hypertension being
the most frequent and another important factor was women who are most affected in these
diseases.
Keywords: Psychology. Ruralities. Comorbidities. Alvas sands.
1 INTRODUÇÃO
saúde, destacando-se principalmente a sua intervenção nos diversos contextos que abordam o
trabalhador rural sobre as perspectivas biológicas, psicológicas e sociais.
Além desta introdução e das considerações finais, a pesquisa está dividida em mais 3
seções. A primeira é destinada aos procedimentos metodológicos da pesquisa. A segunda é o
desenvolvimento teórico que está fundamentado em três momentos, a) trazendo uma discussão
entre a ciência psicológica, psicologia social e o processo de subjetividade de Foucault; b) a
psicologia no contexto da ruralidade; c) saúde do trabalhador e a importância da atenção
primaria. Enquanto que a terceira seção é a parte do resultado e discussão buscando analisar as
principais comobirdade da população situadas na comunidade rural Areias Alvas/ RN.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
da ciência não é mais somente o domínio específico dos problemas, dos obstáculos a
resolver, é também a intenção e o alvo do sujeito da ciência; é o projeto específico que
constitui como tal uma consciência teórica. (CANGUILHEM, 1973, p. 104),
Neste sentido, a psicologia enquanto ciência caminhou para outros horizontes de base
teóricas, assim, formando um conjunto de componentes com objetivo de compreender o
comportamento humano e as funções mentais, para que seja capaz de trazer soluções tangíveis
que tragam melhorias as pessoas.
Em suma, o campo da psicologia social atua na análise dos fenômenos sociais que
podem ser observados, de forma clara e concisa, ajuda a compreender o comportamento do
sujeito em um determinado grupo ou na sociedade, como também seu estado mental.
Diante do que foi explanado até aqui, firmando uma compreensão sobre a ciência que
estuda o comportamento e a função da mente, torna-se valido trazer uma breve discussão sobre
um conceito de suma importância dentro da psicologia, a subjetividade. Assim, de acordo com
Spink, Figueiredo e Brasilino, (2011, p. 79), a “Subjetividade tem sido um termo bastante
utilizado pelas Ciências Humanas e Sociais, particularmente pela Psicologia, para indicar a
configuração psíquica do sujeito, a internalização do eu a partir dos processos sociais.”.
Outro autor traz a menção sobre essa característica da subjetivação, abordando aspectos
sobre o mundo interno do sujeito, conforme cita Oliveira (2021):
Michel Foucault foi um filosofo francês que trouxe importantes contribuições para o
campo da psicologia, principalmente pelas suas narrativas desenvolvidas de forma crítica sobre
questões contemporâneas, tendo como uma de suas principais teorias os processos de
subjetivação, para o autor:
[...] ao se interrogar sobre os modos de subjetivação do sujeito, não o faz por meio das
condições formais nem tampouco destaca as condições empíricas que, num
determinado momento da história, permitiram ao sujeito tomar ciência de um objeto
já dado na realidade. Foucault analisa a constituição do sujeito a partir de certo tipo
de conhecimento, ou seja, dos seus modos de subjetivação em um determinado tempo
e lugar. ( SPINK; FIGUEIREDO; BRASILINO, 2011, p. 80).
Portanto, pode-se então definir que a subjetividade discute sobre a existência do sujeito
e na teoria de Foucault esse processo decorre da experiência do sujeito em se relacionar consigo
mesmo. Enquanto que a psicologia social tem grandes contribuições para a área das ruralidades,
tema esse desenvolvido na seção seguinte, tendo como os estudos de grupos que influenciam o
meio social em que vivem e convivem no mesmo grupo, podendo o psicólogo contribuir de
forma construtiva e descontruir o que afeta negativamente o grupo ou a comunidade.
No contexto cientifico, grande parte literatura no campo da psicologia tem seus
interesses de investigação voltados para as localidades urbanas, esse enfoque dá-se em virtude
da globalização que impulsa a modernização de vários setores para poder acompanhar esse
desenvolvimento, pois essa “[...] centralização das ações da Psicologia em cidades com
1145
Contudo, mesmo com essa visão direcionada à comunidade rural ainda é presente uma
lacuna referente a esse debate dentro do campo da psicologia em virtude das questões sociais
enraizada a esse grupo. De acordo com Silva e Macedo (2019), está “questão social” associada
ao contexto rural está relacionada a desigualdade, pobreza, miséria, fome, como também a
ausência de políticas e serviços públicos voltadas para essa população.
Segundo Martins (2010), a ruralidade é enxergada como um espaço social de construção
de valores de processo histórico, quando se fala de população rural traz a reflexão sobre uma
diversidade cultural como: as lutas por terra, condições financeiras, trabalho árduo, princípios
e família. Assim, não se limitando apenas ao próprio território, mas, buscando entender todos
os fatores e efeitos construídos ao longo de sua vida no campo.
Fazendo um paralelo com o autor supracitado anteriormente, Silva e Macedo (2017),
destaca a ruralidade como um lugar de vida e de trabalho, sendo desenvolvido acerca de sua
1146
diversidade e potencialidade que essa territorialidade pode oferecer, estando relacionados aos
aspectos sociais, econômicos e culturais.
De acordo com Silva e Macedo (2017), os autores trazem uma discussão inerente as
condições precárias que a população situada no espaço rural estão inserias com menores índices
de qualidade de vidas. Em contrapartida Lopes, Ferreira e Friedrich (2018), retratam a
ruralidade não apenas como um modo de característica do espaço rural, mas, sim diversificadas
expressões de subjetividade existente neste ambiente.
Assim, a ruralidade possui suas especificidades com suas dimensões próprias, dentre
elas pode-se ver as dificuldades de acesso a serviços básicos, seja por falta de condições
financeira ou seja pela sua localização que o impossibilita, especialmente de serviços de caráter
público. A história da comunidade rural tem a premissa enraizada em um menor índice de
escolaridade, trabalho infantil para sua subsistência, dependência de programas sócias e de
transferência de renda, desemprego, pouco acesso a serviços da saúde, dentre outros.
(MARTINS, 2010; SILVA; MACEDO, 2017; 2019).
Neste contexto, a identidade do povo rural é marcada pela ideia de território, processo
de produtivo agrícola, meio de subsistência e diferente interesses sociais e políticos a qual estão
inseridos, conforme pode-se ver abaixo:
de Psicologia (CFP), discorre que a psicologia “[...] com as questões sociais se sustenta pela
exigência ética de que onde houver seres humanos sendo explorados, humilhados,
desqualificados, discriminados, aí está a real demanda para esses profissionais.” (CFP, 2019, p.
27).
Ainda de acordo com Leite e Dimenstein (2013), os autores discutem a respeito do
exercício da profissão do Psicólogo, trazendo a ideia que sua atuação no contexto rural traz uma
estruturação de serviços ligados a bem-estar e às funções comportamentais dentro de sua
realidade.
Enquanto que para Lopes, Ferreira e Friedrich (2018), a Psicologia atuando nas
comunidades rurais busca entender os problemas que originam o sofrimento psicológico e do
comportamento frente a sua realidade de vida, sendo assim a atuação profissional colabora
buscando fortificar os indivíduos em atitudes mais conscientes para sua saúde.
Dentro dessa demanda da ruralidade, o Centro de Referências Técnicas em Psicologia e
Políticas Públicas (CREPOP) criado em 2006, é responsável por elaborar referencias técnicas e
promover a qualificação da atuação do psicólogo em diversas políticas públicas. Desta forma,
“O CREPOP tem como uma de suas finalidades oferecer à categoria documentos que norteiem
o fazer profissional nos serviços, programas e políticas, demarcando também o papel ético e
político deste fazer” (CFP, 2019, p. 17).
De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (2019), discutir essa temática da
psicologia com questões relacionada a terra não é uma tarefa fácil como muitos pensam, é
preciso ter um compromisso ético e de descoberta através da sua cultura e história que
fundamenta os aspectos sociais que marca a construção de nossas subjetividades.
Entretanto, de acordo com Leite e Dimenstein (2013) mesmo que não exista uma política
pública que regulamenta a participação do psicólogo dentro dessas questões rurais, mas existe
um leque de possibilidades para o exercício dessa profissão, sendo expressadas dentro de campo
através de viés da saúde, assistência social, extensão rural, Organizações Não Governamentais
(ONG’s), cooperativas com serviços voltados a agricultura, sem deixar de destacar os
movimentos sociais agrários, como exemplo o Movimento Sem Terra (MST) e o Movimento
dos Pequenos Agricultores (MPA).
Ainda de acordo com os autores supracitados, mesmo com esses inúmeros meios de
atuação tem sido por ações de políticas voltadas para a saúde que o psicólogo tem efetivado sua
atividade dentro desse contexto das ruralidades. Conforme expressam os autores:
1148
No entanto, tem sido por meio da Política de Saúde, com a implantação de serviços
da atenção primária em saúde e saúde mental (Unidades Básicas de Saúde/UBS,
Núcleos de Apoio a Saúde da Família/NASF e Centros de Atenção
Psicossocial/CAPS), e da Política de Assistência Social, com os Centros de Referência
em Assistência Social (CRAS), nos municípios de médio e pequeno porte, que a
população do campo tem tido acesso de maneira mais efetiva aos serviços dos
psicólogos. (LEITE; DIMENSTEIN, 2013, p .37-38)
Por outro lado, os autores Lopes, Ferreira e Friedrich (2018) discute a respeito da relação
à campo de políticas voltadas ao Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), sendo
este responsável pela proteção social básica, sendo considerada o ponta pé inicial da população
de regiões de risco e de vulnerabilidade social para a disponibilidade de outros serviços
necessários.
Portanto, os profissionais de psicologia que atua dentro desse contexto rural devem
compreender primeiramente os fenômenos que inter-relacionado a sua história e cultura que são
enfrentados subjetivamente por cada indivíduo. Assim, possibilitando ações que não se limite
somente ao atendimento programado, mas que cause efeito para efetivação no dia a dia de cada
pessoa.
A discussão sobre a saúde do ser humano não é um assunto recente e principalmente de resposta
fácil quando o assunto é voltado a população do meio rural, que grande maioria é marcada por
questões econômicas e social ao longo de sua vida. Miranda, Duraes e Vasconcellos (2018),
enfatiza que “O debate sobre a saúde do homem ganha contornos especiais quando se trata da
saúde do homem trabalhador rural.”
De acordo com Menegat e Fontana (2010), descrevem alguns possíveis riscos
relacionados à saúde do trabalhador rural está sujeito em decorrência da vida no campo.
Podendo-se listar: acidentes com animais, ferramentas ou equipamentos, exposição a produtos
agrotóxicos, vibrações e a radiações solares, infecções, dentre outros. Assim, ocasionando
doenças ou agravos de forma física ou psicológica, como câncer de pele, envelhecimento
precoce, lombalgias, lesões musculares, problemas ortopédicos como tendinites e bursites,
hipertensão, diabetes, distúrbio psíquicos, insônias, problemas respiratórios e pulmonar,
depressão, ansiedade e diferentes tipos de cânceres em alguns casos.
Fazendo paralelo com argumentação acentuada na seção anterior ao retratar sobre a
escassez de estudos voltados a psicologia no contexto rural. Por sua vez, Dimenstein et al.
(2017), complementa a narrativa que além da necessidade acadêmica de estudos voltados a
saúde mental do trabalhador rural, pois os enfoques das questões rurais estão na maioria das
1149
vezes voltados para questões produtivas, agricultura familiar e políticas públicas. Já em relação
a saúde do trabalhador, as problemáticas são direcionadas as morbidades em decorrências ao
trabalho do campo.
Ainda de acordo com os autores supracitados Dimenstein et al. (2017), descreve a
relação das vulnerabilidades e dos problemas relacionados a saúde mental. Esses agravos têm
sido associados ao estresse, fadigas, falta de apoio social, falta de tempo e de lazer, perspectiva
de melhores condições de vida, como exemplo: condições precárias de moradia, baixo poder
aquisitivo, desemprego e também relacionado a educação, como exemplo pouca escolaridade.
Conforme relata Dimenstein et al. (2017, p. 153),
Neste contexto, diante do que foi argumentado até o presente momento, vale destacar a
importância que o profissional de psicologia pode trazer para o cenário rural. De acordo com
Zimath et al. (2020, p. 264), “A psicologia é uma ciência de grande relevância para a prevenção
e a promoção da saúde1 das pessoas, seu campo de atuação é extenso, essencialmente no que
se refere à saúde mental”.
Assim, fazendo uma relação entre as ideias de Dimenstein et al. (2017) e Zimath et al.
(2020, p. 265), com objetivo de alterar essa realidade da comunidade rural, foi produzida no
setor do Sistema Único de Saúde (SUS), com implementação da Portaria de nº 2.866 no ano de
2011 foi instituída “[...] a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da
Floresta (PNSIPCF) para auxiliar no bem-estar das comunidades em conjunto com as atividades
de saneamento e meio ambiente, evitando riscos à saúde”. Sendo está medida necessária
também relacionada a saúde mental desta população.
Ainda referente a essa política, Menegat e Fontana (2010, p. 1520) essa medida tem
como objetivo central:
[...] melhorar o nível de saúde dessas populações, por meio de ações e iniciativas que
reconheçam as suas especificidades, objetivando o acesso aos serviços de saúde; a
redução de riscos à saúde, decorrentes dos processos de trabalho e das inovações
tecnológicas agrícolas e a melhoria dos indicadores de saúde e da sua qualidade de
vida.
No entanto, nas abordagens discutidas pelo CFP (2019) e pelos autores Leite e
Dimenstein (2013), a população rural tem em seu processo histórico tem dificuldade de acesso
1150
a serviços básicos a saúde, mesmo com alguns avanços ocorrentes ao longo do ano, ainda é uma
parte social que necessita de mais atenção das entidades públicas, não ficando somente em
discurso e documentos, mas sim em efetivação de ações que tragam benefícios a essa
comunidade social.
Até o presente muito se tem debatido sobre os riscos e vulnerabilidade de doenças e
agravos referentes a trabalho rural. Por isso, torna-se importante trazer uma breve discussão
importância da Atenção Básica a Saúde (ABS) e das Unidades Básicas de Saúde (UBS).
Neste contexto, promover a saúde não se restringe somente a espaços isolados para
procura do bem-estar físico ou mental, mas uma ação que busque a equidade, igualdade e
dignidade do ser humano, que muitas das vezes são afetadas pelos interesses políticos,
econômicos e social conforme pode se ver abaixo:
As Unidades Básicas de Saúde são de extrema importância para o acesso a saúde, pois
são instaladas em diferentes localidades de forma estratégica para atender de forma eficiente
aquele perímetro com atendimento e serviços básicos da saúde de forma gratuita. Dessa forma,
“As Unidades Básicas de Saúde – instaladas perto de onde as pessoas moram, trabalham,
estudam e vivem – desempenham um papel central na garantia à população de acesso a uma
atenção à saúde de qualidade.” (BRASIL, 2012a, p. 9).
Uma das principais características das UBS’s, é a equipe de multiprofissionais que
compõe seu campo de atuação e principalmente de acordo com a necessidade local apresentada.
1151
Pois, em seu processo de trabalho desenvolve ações aos grupos de riscos e os fatores de riscos
clínicos e comportamentais, tendo o objetivo de prevenir doenças ou evitar a agravamento de
danos evitáveis. Assim, atuando com planejamento e organização em conformidade as
demandas locais e ações intersetoriais em casos de atuação domiciliar (BRASIL, 2012a).
Por tanto, tecendo a discussão para o povo do campo, tendo em vista a exigência de
cuidados nas atividades laborais buscando prevenir contra futuros problemas à saúde, a
implementação desses pontos de apoio pode trazer vários benefícios a comunidade rural na
prevenção de possíveis riscos à saúde e agraves que podem ser evitados em virtude da
disponibilidade e o acesso a serviços importantes para sua vida.
3 METODOLOGIA
momento, como critério de seleção dos arquivos para leitura e análise foi realizado a leitura do
título e resumo dos arquivos científicos que contém estas palavras-chaves.
O campo de análise da pesquisa é a comunidade rural Areias Alvas no município de
Grossos/RN, tendo como delimitação amostral os trabalhadores rurais desta comunidade.
Assim, o segundo momento da coleta de dados é realizado um levantamento de dados primários,
sendo repassadas informações sobre a saúde dos trabalhadores rurais em forma de porcentagem
pela Secretaria Municipal de Saúde do município de Grossos/RN disponibilizada pela Unidade
Básica de Saúde da comunidade Areias Alves.
Assim, quanto sua abordagem a pesquisa percorreu um caminho de cunho quali-
quantitativo. Na perspectiva qualitativa sendo discutido a respeito da realidade dos
trabalhadores rurais da comunidade Areis Alves, enquanto que o lado quantitativo foi
apresentado as principais comorbidades apresentadas através da coleta de dados.
4 RESULTADO E DISCUSSÃO
De acordo com Rebouças (2000), a comunidade rural Areias Alvas passou a ser habitada
por escravo aproximadamente em 1988, quando os escravos foram expulsos das cidades de
Mossoró e Grossos do Rio Grande do Norte. Em sua história, é marcada as famílias residentes
dessa comunidade sobreviviam se deslocando atrás de recursos na cidade de Mossoró, pois a
cidade de Grossos não tinha o que eles precisavam.
A comunidade Areias Alvas está localizada no município de Grossos/RN conforme
pode-se ver na figura 1.
1153
COMORBIDADES
Hipertenso (a)
Diabético (a)
0 5 10 15 20 25 30 35 40
1156
Diante disto, através do gráfico 01 foi possível perceber que o maior número apresentado
foi a do pessoal que tem hipertensão, em contrapartida outro fator intrigante é o nível do pessoal
que são diabéticos e hipertensos de forma conjunta. De acordo com Menegat e Fontana (2010),
dentro do espaço rural é bem comum consequências decorridas do trabalho do campo ao longo
da vida do sujeito devido as suas exposições físicas e mentais. Ainda segundo os autores, o seu
contexto social através da necessidade de subsistência por vezes força maiores intensidades que
podem afetar sua saúde a médio e longo prazo, sendo a hipertensão e diabete causas frequentes
dessa decorrência.
A partir dessa narrativa, torna-se interessante investigar sobre o sexo que mais é afetado
por esses agravos decorridos ao longo dos anos mediante o trabalho e a vida do campo. Com o
gráfico 02 pode-se ver o sexo das pessoas que possuem mais comorbidades dentro da
comunidade rural Areias Alvas.
30
25
20
%
15
F
10
M
5
0
Diabético (a) Hipertenso (a) Hipertenso (a)
Diabético (a)
COMORBIDADE
do campo, conforme expressa Herreira (2013), além do serviço doméstico que muitas vezes são
intituladas e assumida sua responsabilidade, as mulheres também realizam atividades
produtivas agrícolas e, além disso é principal cuidadora da família, triplicando sua jornada de
serviço, que além das comorbidades pode ocasionar problemas mentais, como estresse elevado,
ansiedade e depressão.
Em suma, o trabalho desordenado da população do campo traz consequências futuras a
sua saúde, as condições de trabalhos que são expostos podem trazer inúmeras agravantes
referentes ao manuseio de produtos químicos, máquinas e equipamentos e a extensa carga
horaria de atividade e esforço físico que são exaustivas. Ao contrário da carga física, os lados
psíquicos são fortemente afetados, por exemplo a necessidade de garantir o meio de subsistência
e de sustento seu e de sua família.
De acordo com Costa Neto e Dimenstein (2017, p. 1656), em relação aos efeitos
psicossociais em decorrência a ruralidade, os autores descrevem alguns fatores que norteiam a
compreensão, como: “A fome, violência, traumas, dor, humilhação, e falta de reconhecimento
vividos por segmentos sociais subalternizados podem se configurar como fatores mediadores
de sofrimentos variados.”.
Desta forma, a saúde do trabalhador não deve ser considerada apenas como mais caso
decorrente do trabalho do campo, mas considerar os fatores que fundamenta esse adoecimento.
Segundo Costa Neto e Dimenstein (2017, p. 1657), “Considerar o cuidado em uma perspectiva
psicossocial implica no alargamento do conceito de saúde, contemplando a variedade de
determinações que produzem os processos de saúde-doença.
Neste contexto, Silva e Macedo (2019), desenvolve o argumento que essa complexidade
envolvendo o campo ruralista está associado as subjetividades dessa população frente a sua
realidade de vida. Conforme complementa Silva e Macedo (2010, p. 10):
Na mesma proporção que Lopes, Ferreira e Friedrich (2018), falam que essa questão
social apresentada pela população rural não deve se limitar apenas em casos específicos, mas,
1158
principalmente na coletividade. Exemplo disso é o campo de atuação que tem seus enfoques
voltados a área urbana, que segundos os autores em raciocínio com Leite e Dimenstein (2013)
existe ainda uma necessidade de aprofundamento teórico e investigativo as questões
relacionadas a ruralidade e principalmente a atua do campo da psicologia neste contexto, sendo
foco de investigação.
Assim, a atuação do campo da psicologia em situações apresentadas como essa da
comunidade rural Areias Alvas, pode ser entendida através do olhar do psicólogo na
conscientização, orientação e da saúde física e da procura cotidiana do bem-estar. Vale salientar,
de modo nenhum, o psicólogo vai trazer a cura para esses efeitos decorrentes ao trabalho do
campo, pois são consequências geradas ao longo de sua trajetória. Mas, sua atuação ajudara em
novas práticas saudáveis e conscientes do seu corpo e da sua mentalidade.
De acordo com o direcionamento do Conselho de Psicologia, o campo de atuação do
psicólogo no espaço rural torna-se necessário na busca de melhorias e benefícios a qualidade
de vida desses sujeitos, que ao longo de sua vida e até nos dias contemporâneos são parcelas
sociais excluídas e abandonados.
A atenção básica em análise, são compostas por ações em saúde, tanto no contexto
coletivo e individual, propõe um olhar integral de efeito positivo nas demandas de saúde da
população, buscando diminuir as circunstâncias das pessoas em vulnerabilidade, determina e
decide de forma precisa, o importante papel do (a) psicólogo (a) nesse contexto de atuação,
como traz um dos princípios fundamentais do código de ética do psicólogo: II. O psicólogo
trabalhará visando a promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e
contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão (CFP, 2019).
O serviço de atenção primária a saúde conforme foi vista no capítulo anterior, traz
melhorias no acesso a saúde do cidadão e quando voltamos os olhares para a população rural,
vários benefícios correspondem a assistência frente as demandas por diferentes serviços de
saúde, conforme expressa Costa Neto e Dimenstein (2017, p. 1661),
Diante disso, segundo Dimenstein et al. (2017), no que remete a políticas públicas
destinadas a saúde mental, não existe nenhuma regulamentação legislativa ou normativa que
1159
aborda a atenção e o cuidado a população rural. Como parte social coletiva, essa população
possui necessidade particulares associadas à sua saúde que requer atendimentos especializados.
Por fim, a psicologia social tem grandes contribuições para essa área das ruralidades,
como os estudos de grupos que influenciam o meio social em que vivem e convivem no mesmo
grupo, podendo o psicólogo contribuir de forma construtiva e descontruir o que afeta
negativamente o grupo ou a comunidade. A observação do psicólogo diante da influência de
sindicatos, grupos rurais e comunitários, na UBS com intervenções sociais para determinado
público, movimentos sociais em prol de causas necessárias e a busca constante do bem-estar
biopsicossocial, são algumas das contribuições positivas associadas ao contexto rural.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que foi exposto até aqui, o presente trabalho buscou compreender como a
psicologia no contexto da ruralidade contribui na redução de danos aos trabalhadores com
multicomorbidades que podem/são adquiridos na atividade do campo. Desta forma, com a
realização da pesquisa através dos dados fornecidos da UBS da comunidade rural Areias Alvas
e a relação qualitativa fundamental na bibliografia selecionada, foi possível alcançar ao objetivo
principal onde a psicologia e o trabalho do psicólogo traz significantes benefícios para essa
comunidade através da transformações e desconstrução de contextos que afetam o meio
biopsicossocial.
Em relação as propostas específicas, fazendo um levantamento teórico da psicologia no
contexto rural, foi possível observar ainda a necessidade de desenvolver estudo mais eficazes e
frequentes do campo da psicologia com esse território de possibilidades que é a psicologia nos
contextos rurais e relativas as questões da terra. Assim, a atuação psicológica se caracteriza pelo
acolhimento individual ou comunitária e independente disso, sua ocupação traz importantes
intervenções para essa população que são carentes de serviços especializado a saúde mental.
Desta forma, ao analisar a importância da atenção da saúde primaria nas áreas rurais, foi
possível observar a relevância dos mesmos em virtude da facilidade de acesso a serviços básicos
relacionados a saúde de forma gratuita, tendo em vista que antes essa população acabava sendo
excluída em virtude das dificuldades de locomoção, condições financeiras dentre outros
problemas associados as questões rurais.
Com o tratamento das informações coletadas da comunidade rural, foi identificado as
principais comorbidades apresentadas entre as mais presentes a diabetes e a hipertensão, como
1160
também foi possível ver que as mulheres são as que mais sofrem com esses reflexos do trabalho
rural. Alguns autores na literatura descrevem outros agravantes associados a condição de
trabalho do campo, como exemplo lesões musculares e problemas ortopédicos, questões
relacionada a saúde mental em decorrência a preocupação da vida sofrida que muitos passam,
a vulnerabilidade e riscos de acidentes, exposição a produtos tóxicos, ambiente e infecções.
Contudo, levando em consideração o a literatura abordada, juntamente com o Centro de
Referências Técnicas em psicologia e Políticas públicas (CREPOP) que lançou no ano de 2019
o livro de referências técnicas para atuação de psicólogas (os) em questões relativas à terra, a
psicologia contribui com diversos fatores que possibilitam a psicoeducação sobre o trabalho e
as precariedades que podem ser resolvidas diante de movimentos sociais com as associações
dos trabalhadores rurais, que os mesmos pagam mensamente para obter a aposentadoria por lei,
psicoeducar sobre os problemas que relacionam a saúde mental, dando suporte de escuta e
orientação para os (as) trabalhadores (as) do campo, fazer intervenções que possam contribuir
não somente para o trabalho que já se faz presente na vida dessas pessoas, e sim, trazer
contribuições benéficas de bem-estar nos fatores psicológico, biológico e social.
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1161
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RESUMO
ABSTRACT
With the spread of the use of social networks, in the sharing of information, the result of a new
model of sociocultural relationship arising from the contemporary society we live in, in which
1
Graduanda do curso de Psicologia da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
camilla.tereza@hotmail.com
2
Graduanda do curso de Psicologia da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
lenajales2013@hotmail.com
3
Graduanda do curso de Psicologia da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
marina.clarah@gmail.com
4
Doutora em Ciências/Professora da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
extensão@catolicadorn.com.br
1164
values have been changed, thus parents see themselves in the right to publish images and videos
of the child in his routine, even his most intimate and private moments. The new definitions of
success have been incorporated into the exaggerated consumerism, a reflection of the media's
appeal in this space of exhibitionism, which was soon noticed by companies and parents who
opted to professionalize their children for financial return, putting them at the center of this
capitalist gear. Thus, through this study we sought to identify the possible damage to child
development that actually occurs due to excessive exposure of children's image on social
networks. We used bibliographic research to scientific articles, books and texts available online
for the elaboration of this document. We visualize the close relationship between the visibility
of children on Instagram and practices related to consumption, where those who should offer
protection, end up exposing the child to dangers ranging from child adulthood, which can cause
damage to the delicate process of building personality, and may represent a threat to intimacy,
privacy, image rights, damage in other spheres of child development and even be subject to the
action of pedophiles. Finally, it is up to the parents to be more responsible when exposing their
children, in order to guarantee their right to a healthy development, with lots of play,
imagination, and creativity.
Key words: social networks; child development; child adulthood; parents; consumerism.
1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento humano se atém aos processos de mudanças e estabilidade por todos
os períodos do ciclo da vida, ou seja, o ser humano está em um processo contínuo de
desenvolvimento, em constante evolução (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Os domínios do
desenvolvimento se encontram no campo físico, cognitivo e psicossocial. Neste distinto estudo,
vamos utilizar de base teórica-metodológica o amadurecimento típico do período de
desenvolvimento na primeira infância (0 aos 3 anos) e segunda infância (3 aos 6 anos) ainda de
acordo com os autores já citados.
Com o crescimento do uso das redes sociais pela população, onde há o
compartilhamento de sua vida íntima por meio de fotos, vídeos e mensagens e assim, acabam
por compartilhar a vida de seus filhos. Para Monaquezi (2021) em muitas ocasiões os pais
passam a ver os seus filhos como propriedades, confundindo autoridade de pais, como direito
de posse. Sem o consentimento dos filhos, que ainda não tem cognição para compreender o
nível de exposição, e que, todo este material compartilhado estará à disposição dos usuários por
toda a sua vida. A sociedade brasileira de pediatria (SBP, 2021) faz um alerta: “Pais que optam
por não compartilhar conteúdos de seus filhos na internet preservam a saúde mental futura dos
menores”. A publicação de fotos e vídeos nas redes online, podem até ser realizadas na
inocência, mas nunca se sabe o que os indivíduos que estão tendo acesso a este conteúdo irão
fazer. A malícia existe no mundo, então cabe aos responsáveis pelos pequenos resguardar e
assegurar a sua proteção.
1165
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Vivemos em uma sociedade conectada. As redes sociais são uma realidade para as
diferentes camadas sociais, a facilidade em compartilhar informações, imagens, conteúdos e o
dia a dia é algo que se tornou rotina para boa parte das pessoas.
Todas as gerações estão conectadas a internet e sua grande maioria está presente nas
redes sociais. Atualmente já temos a geração denominada de Nativos Digitais, expressão criada
pelo educador Prensky (2001), que são os jovens que já nasceram em um ambiente digital e
estão cercados por aparelhos tecnológicos como celulares e tablets. Para Prensky essa geração
são “falantes nativos” da linguagem digital dos computadores, videogames e internet.
Costumamos ver como é comum as crianças com pouca idade já saberem usar dispositivos
eletrônicos de forma tão eficaz e resolutiva. Isso é o resultado de uma geração que nasceu em
uma era que o mundo já se encontrava totalmente digital.
Já para a geração que vivenciou a mudança para a era digital, o autor chama de
“imigrantes digitais”, que são as pessoas que precisaram se adaptar ao ambiente digital e
aprender como se usa as tecnologias. Geralmente é a geração de quando a internet e os
dispositivos digitais começaram a surgir tiveram que se adaptar para conseguir sobreviver a um
mundo digital.
Os pais atuais estão encaixados na ideia dos imigrantes digitais. Com o acesso às redes
sociais, compartilham o dia a dia e o que é muito comum de acontecer também é o registro dos
primeiros anos dos filhos através de perfis. Já era comum aos pais registrar o desenvolvimento
de seus filhos e organizar essas informações em álbuns de família, e mostrar para todas as visitas
a intimidade de seu filho com certo orgulho das conquistas e crescimento da criança, deste
modo, ainda que não tivesse a autorização da criança para tal exposição, mas se tratava de um
ambiente controlado. No ambiente digital, o alcance dessas imagens é bem mais amplo, em
que podemos observar alguns pais que criam perfis para recém-nascidos e passam a filmar a
rotina da criança. Tal prática chega a ser polemizada, pois a criança não tem a escolha de
resguardar a sua imagem e muitas vezes não é medido quais consequências essa ação de
compartilhamento pode trazer. Costumamos ver na mídia e principalmente na internet a
espetacularização que alguns pais fazem de seus filhos. Alguns passam a ser forçados a tomar
1167
certas atitudes para que o vídeo ou foto saiam bons, e assim cometendo atitudes abusivas com
a criança.
Diante de tais atitudes cabe lembrar a sociedade que desde 1990, ano de criação do
Estatuto da criança e do adolescente (ECA), onde se é reconhecidos e resguardados por lei no
qual estabelece como dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à dignidade, o respeito, estar a salvo de
qualquer tipo de negligência, exploração, violência, crueldade e opressão. Onde cabe a seus
responsáveis a sua proteção, por se tratar de sujeitos que estão vivendo um intenso processo de
desenvolvimento físico, psicológico, moral e social. (BRASIL, 1990)
Essa prática dos pais fazerem compartilhamento de imagens dos filhos nas redes sociais
ganhou o nome de “shareting” que é a junção das palavras “share” que significa “compartilhar”
e “pareting” que significa “parentalidade”. O termo foi criado por um jornalista do veículo
americano The Wall Street Journal em 2012 (ORESTEIN, 2017).
O termo surgiu com as redes sociais e coloca a ideia do compartilhamento que os pais
fazem com o desejo de exibir o que os filhos representam no ambiente familiar. As postagens
realizadas são diversas, do momento do nascimento, introdução alimentar, primeiros passos,
aniversários, viagens, relação com os animais de estimação, entre outros. Esse formato ajuda os
amigos e familiares que estão distantes a participarem através do meio digital do crescimento
da criança.
De acordo com reportagem publicada pela Revista Crescer, uma pesquisa realizada pela
AVG, empresa fabricante de softwares de segurança, diz que 81% dos bebês com menos de 2
anos já têm algum tipo de perfil na rede com imagens disponíveis.
O estudo foi feito com 2200 mães que vivem nos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra,
França, Alemanha, Itália, Espanha, Austrália, Nova Zelândia e Japão. Entre os dados
da pesquisa, destaca-se o alto índice de presença online dos menores de dois anos nos
Estados Unidos: 93%. Já na União Europeia, esse percentual cai para 73%. Outros
dados que também chamaram a atenção: 7% dos bebês e crianças pequenas têm um
endereço de e-mail criado pelos pais e 5% tem perfil em rede social (CRESCER, 2015,
n. p.).
A maioria dessas exposições acontecem na rede social “Instagram”, uma ferramenta que
permite compartilhamento de fotos e vídeos. A própria rede social determinou em suas
1168
diretrizes um controle de idade para o uso, e os perfis infantis precisam ser monitorados pelos
pais. Com essa política de acesso muitos perfis de milhões de seguidores foram extintos. Apesar
da atitude da rede social, na qual demonstra sua posição diante de resguardar a imagem do
público infantil, o mesmo, não acontece por parte dos pais e/ou responsáveis, já que eles criam
perfis com os seus dados, mas as publicações ainda são de conteúdo que expõe a intimidade de
seus filhos, dando continuidade ao problema.
Em muitos casos a exposição começa mesmo na fase intrauterina, no qual a criança
começa a ser exposta mesmo antes de ter nascido. Esse compartilhamento a partir do conteúdo
dos pais geralmente atinge a um público adulto que tem interesse em acompanhar todos os
passos da maternidade. A rotina, o dia a dia da criança e até mesmo momentos restritos a família
é compartilhada nesse espaço. Os pais detêm do poder de escolha de como a criança irá
aparecer. Tornando a sua rotina planejada para ser exibida nas redes sociais.
A imagem e o tipo de conteúdo são moldados a partir do que o público deseja consumir,
buscando sempre bons resultados em números e até lucros a partir do que postam em suas
páginas. A exposição acaba se tornando profissionalizada, pois essa exibição e conteúdo
produzido começa a trazer benefícios e atrair marcas que desejam fazer publicidades com a
imagem da criança, que acaba se inserindo num ambiente adulto e tendo responsabilidades
incompatíveis com a sua idade.
A profissionalização do trabalho nas redes sociais é mais conhecida como “influencer
digital”, no qual o influenciador tem seu conteúdo voltado para um público determinado e a
partir disso, empresas fecham trabalhos para divulgação em seus perfis. As crianças não podem
ser consideradas influenciadores digitais, pois não são elas que manipulam as suas imagens e a
sua presença neste mundo digital, na verdade, elas têm a suas imagens utilizadas por seus pais
para angariação e visibilidade pelos meios publicitários:
O menor torna-se uma “ferramenta comercial” para o progenitor que deseja monetizar
a exposição do dia a dia dos filhos na Internet. Nesse sentido, a exposição de crianças
em tenra idade é ainda mais preocupante, pois elas não possuem discernimento
suficiente para identificar possíveis arbitrariedades cometidas por seus pais, os quais,
podem chegar a submeter os filhos a incidentes humilhantes e vexatórios (MARUM,
2020, p. 96).
O discernimento do conteúdo é totalmente controlado pelos pais, mas vale salientar que
o exercício das responsabilidades parentais não constitui um direito subjetivo dos pais, mas
antes um dever funcional a eles incumbido, através do qual os progenitores têm a obrigação de
1169
garantir o desenvolvimento integral dos filhos menores. Porém, a criança não tem poder de
decisão em muitos casos sobre aparecer ou não, e algumas acabam se levando pelo mundo
adultizado e glamourizado que a influência digital proporciona.
A adultização é a aceleração das fases da vida, como o próprio nome diz, adultizar é o
ato de dar ou tomar caráter de adulto, não dando a criança a oportunidade de vivenciar de forma
adequada todas as etapas do desenvolvimento infantil. Faz a criança atravessar as etapas de seu
desenvolvimento de forma a antecipar seus aprendizados, dando-lhe uma estimulação
inadequada, levando-a a entrar no mundo adulto, antes de estar com o desenvolvimento físico
e psicológico completo. Uma criança é submetida à adultização em muitos contextos e de
muitas formas distintas, tanto de forma planejada e intencional quanto de forma não proposital.
O desenvolvimento humano ocorre a partir do nascimento e percorre toda a vida do
indivíduo até a sua morte (PAPALIA; FELDMAN, 2013). É necessário entender a importância
de viver cada fase, a infância é a primeira etapa do desenvolvimento de uma pessoa. Em sua
obra O Desaparecimento da Infância, Postmam (1999, p. 18) alega que “Para onde quer que a
gente olhe, é visível que o comportamento, a linguagem, as atitudes e os desejos - mesmo a
aparência física - de adultos e crianças se tornam cada vez mais indistinguíveis”. Em que as
fronteiras entre o mundo adulto e o mundo infantil estão desmoronando.
Sendo um fenômeno social, a adultização infantil é reforçada por várias tendências que
rouba das crianças uma etapa da vida que não volta mais (POSTMAM, 1999). Essa exposição,
ainda na infância, a ambientes, experiências e conteúdo que pertencem a um universo que não
corresponde a idade da criança (CHILDHOOD BRASIL, 2016), faz com que ela pule fases da
vida, mesmo que não esteja preparada para tais experiências. A infância que já é um período
curto de desenvolvimento, com esses novos comportamentos adotados, pode se passar
despercebida, uma vez que se antecipe a fase adulta (KALAMAR; CASTILHOS, 2020). Talvez
as razões não estejam sendo percebidas pela sociedade e nessa ausência de percepção, a
adultização é alimentada e a infância roubada (POSTMAM, 1999). Esses acontecimentos são
preocupantes, e essa problemática está intrinsecamente ligada ao modelo de sociedade em que
vivemos hoje.
1170
Todas as etapas em que uma pessoa vive, desde o seu nascimento, irá lhe promover
experiência e preparação para uma vida adulta. Não vivenciar a experiência de uma infância
verdadeira traz consequências negativas ao desenvolvimento emocional infantil. A criança que
não vivenciou a experiência de conquistas e derrotas, de uma vida social comum a este período
de sua vida, pode vir a acarretar na fase adulta sentimentos de angústia, estresse, depressão,
ansiedade, sentimentos de inadequação e crise de identidade (CHILDHOOD BRASIL, 2016).
Além de que, uma criança que não aproveita a infância de forma adequada ao seu
desenvolvimento, pode se tornar um adulto infantilizado. Por não ter experimentado alguns
processos necessários na infância, quando adulto sente a falta desta vivência a qual não teve
acesso e acaba a ter comportamentos infantis e uma baixa inteligência emocional.
Amadurecer no tempo certo é essencial para uma vida adulta com a saúde mental
preservada. Mas as crianças são expostas a experiências as quais não estão prontas
emocionalmente para lidar com elas. São apressadamente forçadas a lidar com artifícios de
questões físicas, psicológicas e sociais da vida adulta, mesmo não estando prontas para enfrentar
essas situações (BUCKINGHAM, 2006).
A exposição ao consumismo exacerbado, encabeçados por atores sociais como
publicidade infantil, sociedade do consumo, e até mesmo por seus próprios responsáveis que
expõe a criança a reproduzir padrões inapropriados para sua idade (LUNETAS, 2018). Muitas
crianças vivem com a agenda lotada, como mini adultos, as vezes com mais compromissos que
os próprios adultos. Essa adultização precoce faz as crianças crescerem com valores morais
distorcidos, vemos crianças com muitos compromissos e responsabilidades, assim como
crianças preocupadas com cuidados com o corpo e aparência (WEBER, 2016), frequentando
salão de beleza, usando salto alto, se vestem com fantasias de adultos em miniatura, roupas
sensuais, muitas vezes de marcas famosas e caras, são um reflexo destes estímulos. Tomando
espaço na sociedade a nova ditadura da moda e dos padrões adultos sobre a infância. De acordo
com a Childhood Brasil:
O modo que a sociedade atual vive, está atrelada a uma quantidade enorme de
informação, marcado pela tecnologia cada vez mais avançada. É notável quando uma criança
1171
tem a fase adulta introduzida precocemente, tem o mesmo acesso às informações que os adultos,
apresentam interesses pelos mesmos gostos e frequenta os mesmos círculos sociais. Já dizia
Postmam (1999), quando a criança é adultizada, não há mais distinção entre elas e os adultos
na orientação social, na linguagem e nos interesses. E os meios de comunicação com suas
propagandas encantadoras despertam um grande interesse do público infantil em relação ao
consumismo (KALAMAR; CASTILHOS, 2020). Esse marketing voltado para as crianças, faz
com que elas se imaginem naquele mundo de fantasia a que foi apresentada, e como não tem
maturidade para distinguir que o que está sendo vinculado, não é real, se instaura a falsa
necessidade por possuir tais produtos, ocorrendo a hipervalorização do consumismo.
As crianças são estimuladas a comportamentos que não condizem com sua idade e que
se ocupam de uma rotina de responsabilidades antecipadas e que desconsidera marcos
importantes para o seu crescimento e desenvolvimento, como o brincar. Os pequenos não têm
tempo para fantasiar e experimentar o mundo e perdem a noção do que é ser criança, é preciso
satisfazer também a sede de brincar:
também foi fortalecido pela Convenção dos Direitos da Criança de 1989 e também está presente
no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) (BRASIL, 1990).
Ainda para Padilha (2015) o cinema, os vídeos e os jogos de computadores desenham
novos ídolos infantis, que passaram a representar a criança e consequentemente passa a ter uma
grande influência na construção de sua identidade. Esses personagens juntamente com
indústrias especializadas em produtos infantis, como os de brinquedos, exploram essa forte
representação na vida da criança, induzindo ao consumismo, e que estão sempre se
reformulando para permanecer presente no cotidiano infantil.
Por meio da mídia as crianças têm acesso mais fácil às informações, ela é atrativa por
ser colorida, interessante e convidativa. Como a mídia faz parte do dia a dia das crianças, elas
acabam sendo influenciadas por ela, imitando o que veem (HENSEL, 2015, p. 16). “Esse
deslumbramento com a tela e a máquina faz com que a criança se adapte a uma nova
configuração de brincar”.
Na atualidade, os problemas contemporâneos, desencadeou uma ansiedade nos pais em
relação à violência e ao alto tráfego de veículos nas ruas, o que fez a liberdade infantil diminuir
drasticamente. A educação, por sua vez, passou a ser o “trabalho” da infância. Um ofício e
obrigação a serem cumpridos. (BUCKINGHAM, 2006) Assim, as crianças encontram-se mais
confinadas em casa, com mais compromissos e obrigações, com atividades extracurriculares
que preenchem todo o seu dia. Segundo o mesmo autor, nas classes mais favorecidas é comum
que as crianças tenham rotinas rígidas com aulas de inglês, esportes e música. A educação
parece ser, portanto, o trabalho da infância, e não se pode permitir que este se interrompa quando
as crianças saem da sala de aula. Postmam (1999, p. 167) nos lembra “Não é concebível que
nossa cultura esqueça que precisa de crianças. Mas está a caminho de esquecer que as crianças
precisam de infância”.
Seja qual for o modelo que funciona em cada família, cabe avaliar que essas decisões
são sempre tomadas pelos adultos que cercam a criança, afinal, enquanto ser em
desenvolvimento, os pequenos têm pouco ou nenhum poder de escolha, Ou seja, todo o processo
de adultização que prejudica as etapas do desenvolvimento infantil, principalmente por ocorrer
o afastamento de exercícios essenciais para a evolução das relações afetivas, processos
cognitivos, habilidades motoras e de linguagem, são ações que partem das escolhas do
responsável pela criança. Portanto, é preciso considerar os impactos desses processos em seu
1173
desenvolvimento, já que as crianças estão o tempo todo sujeitas ao que os outros decidam por
ela.
último, em sua forma única recebeu 34.411 denúncias, o que representa a maior incidência de
crime praticado na interne (MORAIS, 2018, p. 19).
A internet ainda é um espaço de comunicação que infelizmente é utilizada de forma
negativa, para violação dos direitos humanos. A Ong SaferNet (associação civil de direito
privado) (2005) é uma instituição de referência de âmbito nacional e internacional que atua no
enfrentamento das violações dos direitos humanos na internet. Como já mencionado
anteriormente, o mundo online é gigante e as práticas criminosas realizadas neste ciberespaço
só crescem ano após ano, não só no Brasil como no mundo. O Ministério Público Federal se
uniu a SaferNet, por sua capacidade de mobilização e articulação, na produção de conteúdos e
tecnologias de enfrentamento a crimes cibernéticos. A internet não é maléfica, mas o uso
inadequado pode trazer prejuízos.
3 MÉTODO
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
1175
abusiva, pois o discernimento do conteúdo é totalmente controlado pelos pais que acabam
inserindo a criança em um ambiente adulto com obrigações incompatíveis com a sua idade.
Essas atividades que as crianças acabam sendo inseridas, podem colocá-las em um
processo de adultização. Neste presente estudo, foi esclarecido sobre o que se configura a
adultização infantil, que seria a aceleração de fases e a criança vivenciar de forma inadequada
as suas etapas de desenvolvimento infantil. Com isso, podemos concluir que diante de toda a
problemática apresentada, a criança que passa por todo o risco de integridade com os perigos
da exposição, os danos que o consumo é capaz de trazer, pode tirar o seu direito de brincar que
é uma etapa importante para socialização, e reflete diretamente também em sua criatividade,
habilidades cognitivas e motoras.
A família deve reconhecer o seu papel no desenvolvimento da criança, como o indivíduo
responsável pela compreensão do mundo e da significação das situações. Assim, apresentamos
a nossa preocupação com a exposição infantil nas redes sociais, nos questionamos a respeito da
influência que esta prática pode acarretar nas relações familiares, entre pais e filhos. E quando
esta, tem o intuito do retorno financeiro, as relações são construídas de forma forjada, visando
as publicações e os likes.
Com o presente estudo não temos a intenção de vetar o uso das redes sociais ou proibir
que os pais utilizem esses meios, para publicarem imagens de seus filhos, infligindo os seus
direitos de expressão e informação, pois compreendemos a importância do uso da internet no
meio de vida atual. Mas queremos ressaltar que essas atitudes são uma via de mão dupla, ou
seja, há uma colisão nos direitos de personalidade e não temos o intuito de violar os direitos de
nenhuma das partes, nem da criança e nem dos pais. A intenção é de propor e direcionar
caminhos para uso das redes sociais de forma mais consciente por parte dos familiares, o uso
responsável da internet por parte destes é crucial, podendo-se dizer que o anonimato é uma
alternativa eficaz aos problemas suscitados pelo sharenting. Como já pontuado os impactos
desse tipo de exposição da imagem da criança em seu desenvolvimento, vale salientar que o
universo pesquisado foi significativamente pequeno e limitado, mas o suficiente para
propormos a adoção de políticas públicas centradas na proteção da criança e na educação dos
progenitores acerca do significado e das implicações legais, morais e sociais decorrentes desta
exposição, uma vez que a literatura indica que poucos pais têm consciência dos danos que as
suas ações podem causa na vida de seus filhos.
1177
REFERÊNCIAS
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CARAMIGO, Denis. Pedofilia não é um crime, mas, sim, uma doença. Revista Consultor
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Erotização infantil: o que é perigo real e o que é mito?. Portal Lunetas, 2018. Disponível
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LIRA, Cynthia Ferreira de; FERREIRA, Hugo Monteiro. Adultização infantil e o possível
desaparecimento da infância: percepções transdisciplinares. In: COLÓQUIO
INTERNACIONAL: EDUCAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE. 9., 2015, Aracaju. Anais
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MARTINS, Renata Soares. Entre curtidas no Instagram: a exposição de crianças nas redes
sociais e as possíveis consequências ao desenvolvimento infantil. 2019. 92 f. Dissertação
(Mestrado em Psicologia: Processos Psicossociais) - Programa De Pós-Graduação Em
Psicologia, Universidade Federal Do Amazonas, Manaus, 2019. Disponível em:
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ORENSTEIN, José. O que é sharenting. E qual o limite da prática na era do Instagram. Nexo
Jornal. 2020. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/06/11/O-que-
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17 de mar. de 2022.
PAPALIA, Diane E.; Feldman, Ruth Duskin. Desenvolvimento Humano. 12. ed. Porto
Alegre: AMGH Editora, 2013.
Sociedade Brasileira de Pediatria, SBP (2021): Grupo de Trabalho Saúde na Era Digital
#Sem abusos # Mais Saúde. Disponível em:
<https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/_22969c-GPA-_SemAbusos__MaisSaude>.
Acesso em: 17 de mar. de 2022.
1180
RESUMO
O cenário pandêmico trouxe inúmeras mudanças na rotina de alunos e educadores, bem como
de toda a equipe escolar, pela mudança abrupta do ensino presencial ao 100% on-line. Alunos
com deficiência tiveram sua realidade ainda mais prejudicada, visto que perderam parcial ou
completamente a assistência que recebiam. Assim, essa pesquisa teve como objetivo
compreender o ensino-aprendizagem e as modificações implicadas pela pandemia da COVID-
19, com foco nos alunos com deficiência. Os métodos utilizados envolveram entrevistas
estruturadas com oito professores e entrevista semiestruturada com uma coordenadora, que são
responsáveis pelo ensino dos alunos das séries dos 6º ao 9º em uma escola de rede pública
municipal. Assim, como resultado é perceptível que houveram grandes prejuízos quanto à
aprendizagem das crianças típicas e, principalmente, das crianças atípicas. A partir dessa nova
realidade, buscam-se novas alternativas e soluções para diminuir os danos, unindo os âmbitos
escolar e familiar, para que seja possível atingir o nível de aprendizado adequado desses alunos.
Palavras-chave: COVID-19; Assistência; Ensino à distância; Alunos com deficiência.
ABSTRACT
The pandemic scenario brought numerous changes in the routine of students and educators, as
well as the entire school team, due to the abrupt change from face-to-face teaching to 100%
online. Students with disabilities had their reality even more impaired, as they lost partially or
completely the assistance they received. Thus, this research aimed to understand teaching-
learning and the changes implied by the COVID-19 pandemic, focusing on students with
disabilities. The methods used involved structured interviews with eight teachers and a semi-
structured interview with a coordinator, who are responsible for teaching students from 6th to
9th grades in a municipal public school. Thus, as a result, it is noticeable that there was great
damage to the learning of typical children and, especially, of atypical children. Based on this
new reality, new alternatives and solutions are sought to reduce the damage, uniting the school
and amily spheres, so that it is possible to reach the appropriate level of learning for these
students.
Keywords: COVID-19; Assistance; Distance learning; Students with disabilities.
1
Estudante de Psicologia pela Universidade Potiguar - UNP. Email: barbosarael308@gmail.com
2
Estudante de Psicologia pela Universidade Potiguar - UNP. Email: ecarolynes@gmail.com
3
Estudante de Psicologia pela Universidade Potiguar - UNP. Email: maelyyara@outlook.com
4
Estudante de Psicologia pela Universidade Potiguar - UNP. Email: nielly.stefanny@gmail.com
5
Psicólogo. Mestrando em Saúde e Sociedade pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte - UERN. Email:
alv.micael@gmail.com
1182
1 INTRODUÇÃO
2 REFERENCIAL TEÓRICO
A escola é uma instituição que existe com a finalidade de promover, além do ensino
pedagógico e outros, o aprendizado de habilidades socioemocionais, considerando as
especificidades de cada sujeito. A psicologia é inserida nesse contexto como a perspectiva de
colaborar com os processos educativos por meio de uma visão ampla frente aos fenômenos
vigentes. (CAMARGO; CARNEIRO, 2020, p. 3)
As instituições de ensino são essenciais no processo de aprendizagem e
desenvolvimento dos alunos, pois se trata de um ambiente mediador na etapa de construção do
saber historicamente constituído, assumindo um espaço de grande relevância no processo de
1184
inclusão, pois compreende-se como um local com base social e de ensino (FERREIRA; LIMA;
GARCIA, 2015).
O Atendimento Educacional Especializado (AEE) destinado aos alunos com
deficiências, tem como objetivo promover acessibilidade e suporte no contexto da Educação
básica, minimizando as barreiras que dificultam a comunicação, mobilidade e inserção do
estudante no ambiente escolar (CURY et al., 2020).
Com a pandemia, o distanciamento das salas de aula e o ensino remoto, mais da metade
dos estudantes do mundo foram prejudicados com o atual modelo de ensino. Tal fator torna-se
ainda mais agravante quando é explorado o âmbito adaptativo das crianças que necessitavam
de Educação Especial (NEE), onde, de acordo com RIBEIRO; OLIVEIRA (2021), esse cenário
teve grande impacto nos alunos com deficiência, que perderam o acesso a acessibilidade,
considerando que necessitam de recursos extras para garantir a participação e o aprendizado nas
aulas. Sem os meios tecnológicos adequados, sem a intensificação do manuseio, muitas vezes
sem internet e sem orientação dos familiares ou cuidadores, muitas crianças, que em contexto
presencial tinham um apoio escolar individual, no contexto pandêmico podem ter ficado parcial
ou totalmente desassistidos desse tipo de auxílio que é de extrema importância para o
aprendizado e desenvolvimento das suas habilidades sociais e motoras.
Além da falta de assistência aos alunos, atrelada ao modelo emergencial de ensino
ocasionado pela COVID-19, as mães se viram em um novo cenário, o de acompanhamento
educacional. Na tentativa de suprir a ausência de uma assistência pedagógica assertiva, as
famílias tiveram as suas demandas duplicadas, pois com a orientação apenas remota tiveram
que prestar assistência, orientação e explicação do conteúdo, evidenciando uma defasagem no
processo de ensino-aprendizagem das crianças e adolescentes no período pandêmico (ARAÚJO
et al., 2022).
Vivenciar tantas mudanças repentinas gerou grandes impactos em toda a comunidade
escolar, produzindo consequências físicas e, principalmente, emocionais. Essa realidade
evidenciou a importância do cuidado com a saúde mental, fazendo com que os profissionais
atuantes na psicologia escolar tivessem um grande aumento nas suas demandas, tendo que
construir novos espaços de acolhimento, escuta e troca, diante a realidade vigente (PEDROZA;
MAIA, 2021, p. 92).
Salientando a noção de perda no processo de ensino aprendizagem dos alunos com
necessidades educacionais especiais, de acordo com Ferreira, Lima e Garcia (2015), o
1185
profissional que atende de modo direcionado aos alunos com o AEE, deve possuir formação
especializada na sua área de atuação, com a finalidade de promover caminhos novos e
concernentes a uma educação inclusiva e satisfatória. Embora o AEE possua caráter
suplementar ou complementar ao ensino regular, é de extrema importância para a formação do
aluno, pois por meio dele são explorados os temas trabalhados em sala de aula de um modo
mais amplo, com a intenção de intervir na necessidade de cada aluno que utiliza desse serviço.
3 METODOLOGIA
Após a pesquisa bibliográfica que foi realizada sobre a atual situação no contexto
escolar, modalidade EAD, partiu-se para a parte prática pelo meio do estudo de caso, aonde foi
realizado na Unidade Escolar Municipal Amor. Tendo como alvo de análise, 19 crianças com
deficiências ou com características semelhantes, que são assistidas no âmbito escolar. Para o
desenvolvimento do seguinte trabalho, na parte prática, foi necessária uma visita a Instituição
de Ensino para uma conversa com a Coordenadora Pedagógica da escola, para que pudéssemos
conhecer o ambiente escolar, e as demandas sobre as dificuldades de aprendizagens dos alunos.
3.2 INSTRUMENTOS
1186
Para isso utilizaremos o tipo de entrevista semiestruturada que traz em sua estrutura
clareza quanto aos objetivos que buscamos alcançar, por meio da utilização de um roteiro
previamente elaborado para o tema a ser investigado, complementadas por outras questões
inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista, nos possibilitando o máximo de
informações e compreensão quanto ao desenvolvimento das crianças. No qual confeccionamos
um questionário com perguntas principais específicas aos professores para que, a partir dessas
respostas possa emergir informações pertinentes a investigação e assim atingirmos os objetivos
pretendidos. Como também, para nos aproximarmos da realidade vista da perspectiva dos
educadores, bem como da rotina escolar de forma remota.
3.3 PROCEDIMENTO
Para a prática, inicialmente realizamos uma visita na instituição de ensino, com o intuito
de recolher dados sobre a realidade e as demandas existentes, na qual iremos desenvolver todo
nosso processo de investigação. Para analisarmos se ocorre suporte adequado para os alunos,
como pontuamos nos objetivos específicos, elaboramos uma entrevista semiestruturada e
realizamos com a coordenadora escolar. Nela foi possível colher dados a respeito dos alunos,
das suas necessidades específicas e do suporte oferecido a eles nas aulas presenciais, antes do
período pandêmico, e nas aulas remotas. Ainda na perspectiva de analisar o ensino
aprendizagem desses alunos, faremos um questionário com perguntas a serem realizadas com
os professores. O questionário irá avaliar a qualidade das aulas remotas, a realização das
atividades, o engajamento e motivação dos alunos.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O questionário abordou perguntas que abrange tanto alunos típicos como os atípicos, do
turno vespertino, com alguma dificuldade no processo de ensino-aprendizagem. O intuito deste
questionário e seu método comparativo é identificar algum possível desnível entre os alunos
diante do novo cenário educacional.
A investigação deu-se por meio de um questionário do Google Forms com cinco (5)
perguntas investigadoras. Através das informações coletadas pelo corpo docente, foi
identificado que na escola no turno vespertino constam 8 (oito) alunos com algum tipo de
deficiência matriculados nas aulas. Antes da pandemia a participação e o rendimento dos alunos
era de 100%, contudo após a migração para o ensino remoto, esse rendimento baixou. Não se
podia mensurar como poderia ser a participação dos alunos em um contexto remoto, uma vez
que o contexto nunca foi vivenciado por tanto tempo antes.
Observou-se então, que o rendimento varia de acordo com a disciplina ministrada. Não
foi possível apurar o porquê dessa defasagem de participação, mas imagina-se que possa haver
uma forte relação com a atividade prática trazida por essas disciplinas antes, e que, em contexto
remoto tornou-se inviável executá-las do mesmo modo. A professora P5 relata sobre o
engajamento dos alunos: “Não muito, sabemos que é um desafio que enfrentamos.”
O registro de uma fala da professora P7 a respeito da adaptação mostra muito bem sobre
o processo: “No início encontrei algumas dificuldades para me adaptar ao ensino remoto, mas
com a ajuda dos colegas, estudo, paciência, planejamento e dedicação tudo foi se adequando.”
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, após um
ano desde o início da pandemia, grande parte dos estudantes do mundo ainda são afetados pelo
fechamento parcial ou total das redes de ensino, onde mais de 100 milhões de crianças
adicionais cairão abaixo do nível mínimo de proficiência no âmbito da leitura como resultado
do processo de adaptação dentro da crise de saúde que tem sido a COVID-19 (UNESCO 2021).
Os professores relataram que não há participação dos alunos com deficiência nas aulas.
Ocorreu uma queda substancial desse grupo nas disciplinas: alguns alunos não participam mais,
outros deixam para tirar dúvidas apenas no fim da aula e de forma isolada. Constatou-se ainda
a falta de apoio da família no que tange à presença e participação nas atividades, contudo não
se constatou se esses alunos, que representam um público numeroso dentro da escola, tem
aparelhos eletrônicos e internet para a continuidade dos estudos. “Com o distanciamento
imposto por este período da pandemia, alguns alunos se afastaram, inclusive parte dos alunos
com deficiência.” Registro da fala da professora P7 sobre o distanciamento dos alunos no
contexto escolar.
Assim como na participação, as devolutivas dos alunos com algum tipo de deficiência
também sofreram uma queda. Muitas não ocorrem e quando ocorrem são fora do prazo
estabelecido pelo docente. Os dados não poderiam ser diferentes, uma vez que, não ocorre a
participação dos alunos nas aulas, logo as devolutivas seguirão o mesmo quantitativo. O
professor P4 relata que houve uma queda significativa nas devolutivas das atividades e que o
prazo quase sempre não é cumprido: “Os prazos nem sempre são respeitados. Demoram na
devolutiva.”
Esses resultados abrem portas para uma discussão ainda maior se pensarmos que um dos
motivos pelos quais as devolutivas sofreram grande queda pode ser as desigualdades sociais.
Sabe-se que o momento pandêmico afrouxou as estruturas econômicas e sociais de diversos
países e de milhares de famílias em todo o mundo. Famílias que não têm acesso à internet, aos
meios tecnológicos, ao trabalho assegurado em lei logo são vítimas da desigualdade e das
formas avulsas de trabalho inserindo muitas vezes os alunos com dificuldades educacionais
nesse processo perverso e escancaradamente desigual (MARTINS, p. 2, 2020).
1189
pobre. Se as crianças que deveriam estar na escola/ assistindo aula em casa não estão; existe um
porquê e existe além de tudo um questionamento: onde estão? E esse questionamento quando
pensamos nas crianças atípicas, torna-se ainda mais preocupante; se não estão na escola
interagindo, desenvolvendo várias habilidades e ninguém está se questionando onde estão, o
fato se torna mais preocupante ainda se não nos perguntarmos onde estarão no futuro próximo.
Por meio dessas ferramentas foi possível analisar, juntamente do corpo escolar, como
ocorre o acompanhamento no processo de aprendizagem dos alunos com deficiência.
Possibilitando, assim, um melhor suporte à classe discente e um melhor direcionamento aos
professores e funcionários.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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RESUMO
O presente artigo é uma revisão bibliográfica e tem como objetivo apresentar a necessidade e a
importância da psicoeducação do luto. Será exposto o que é luto e como alguns autores a
dividem, as consequências de não o vivenciá-lo e dá tentar evitá-lo e será apresentado alguns
dos motivos que levou a sociedade a necessitar de uma psicoeducação para o luto.
Palavras-chave: Luto; psicoeducação;
ABSTRACT
This article is a literature review and aims to presente the need for and importance of
psychoeducation in griel. It will be exposed what gried is and how some leaders divide it, the
consequences of not experiencing it and trying to avoid it, and some of the reasons that led
society to need a psychoeducation for grief will be presented.
Keywords: Mourning, psychoeducation.
INTRODUÇÃO
Discutir sobre o luto e a morte é evitado, e isso se dá pelo fato de que não vemos como
algo presente no nosso dia a dia ou algo que não pode acontecer com a gente. Muitas vezes
acreditasse que existe uma maneira correta de sentir o luto ou de que a maneira de outra pessoa
de vivenciá-lo é errada. Isso acontece principalmente por acreditarmos que existe apenas uma
maneira de sentir o luto ou por só uma maneira ser válida.
Sanders (1999; pág. 3) fala o seguinte sobre a dor que vem com o luto: "A dor de uma
perda é tão impossivelmente dolorosa, tão semelhante ao pânico, que têm que ser inventadas
maneiras para se defender contra a investida emocional do sofrimento. Existe um medo de que
se uma pessoa alguma vez se entregar totalmente à dor, ela será devastada - como que por um
maremoto enorme - para nunca mais emergir para estados emocionais comuns outra vez". Isso
faz com que o luto seja visto como ruim, a ser evitado, mas isto está claramente errado, pois
como Parkes (1972) afirmou: “É necessário ao enlutado passar pelo sofrimento do luto para ter
1
Discente de Psicologia. E-mail: pedro.queiroz@aluno.catolicadorn.com.br
2
Especialista em Gestão de Pessoas e docente pela Faculdade Católica do RN. E-mail:
maria.miranda@professor.catolicadorn.com.br
1194
a resolução deste, qualquer coisa que continuamente permita que a pessoa evite ou suprima a
dor pode prolongar o curso do luto” (p. 173).
Para Kovács (2003), as dificuldades que temos para lidar com a perda e realização do
luto em nossa sociedade atual são, em sua maior parte, o resultado de uma mentalidade que
mantém a morte como um tema a ser evitado, e o caminho para desfazê-la passa por uma
educação para a morte. Assim como Kovács acredito que é necessário que tenhamos uma
educação para a morte, não com o intuito de ficar acostumado ou insensível a ela, mas sim, com
o intuito de aceitá-la como algo natural que todos iremos passar.
METODOLOGIA
O LUTO
Em seu livro WORDEN (2003) diz que os antropólogos que estudaram às diversas
sociedades, suas culturas e como eles reagem às perdas de um ente querido, expressão que,
independentemente da sociedade estudada, em qualquer local do mundo, há uma tentativa,
quase universal, para recuperar o objeto amado perdido e/ou existe a crença de além-morte, em
que se possa reencontrar a pessoa amada. Isso mostra que independente da cultura ou da vida
que as pessoas levam, ainda se tem o sentimento de perda e a necessidade de se ter uma
continuidade.
Isso acontece, pois, as pessoas não querem perder a sua fonte de apego, e por causa disso
procura-se maneiras de manter esse objeto de apego mesmo após a sua morte. De acordo com
Bowlby (1977b), o apego surge da necessidade de segurança, desenvolvem-se normalmente no
1195
início vida, costumam ser direcionados a alguns indivíduos específicos e tendem a resistir por
grande parte da vida. Essas pessoas muitas vezes são alguém da nossa família já que na maioria
dos casos são eles que nos dão apoio, alimento e proteção durante a nossa infância.
Para Stroebe (1992), o luto é um processo cognitivo que envolve confrontação e
reestruturação do pensamento acerca da pessoa morta, da experiência da perda e do mundo sem
a pessoa morta, no qual agora, o enlutado precisa viver. Esse processo varia de pessoa para
pessoa, como Bromberg (2000) aponta o luto a um conjunto de reações de uma perda
significativa e pontua que nenhum é igual ao outro, pois não existem relações significativas
idênticas. De acordo com Parkes (1998) isso acontece, pois, o grau de parentesco, o gênero, o
tipo de morte, os vínculos e os recursos internos disponíveis a cada indivíduo influenciam na
sua forma de vivenciar a tristeza e o luto. Mas o impacto do luto acaba por se intensificar de
acordo com a intensidade do sentimento de apego que se tinha com a pessoa perdida.
É importante sempre ressaltar que o luto é um processo inevitável e atinge todos os
indivíduos que cercam o enlutado, inclusive aqueles que não conheciam a pessoa falecida. Mas,
que tem um impacto maior nos membros da família que estão passando pelo processo de luto,
mas de forma distinta (MELO, 2004). Por exemplo no que refere à relação com o enlutado,
verifica-se que a morte de um filho se relaciona com um Luto mais intenso e persistente do que
a morte de um esposo, pai ou irmão (Nolen-Hoeksema & Larson, 1999; Sanders, 1999).
George Engel (1961) levantou a seguinte questão “luto é uma doença?”, para ele o luto
representa o afastamento do estado de saúde do sujeito, e da mesma forma que a cura se faz
necessária no campo fisiológico para levar o corpo de volta ao equilíbrio, é igualmente
necessário um período para o enlutado retornar ao estado similar de equilíbrio psicológico.
Embora o luto apresenta diversos sintomas e de ser considerado por alguns autores como uma
doença, ainda é importante lembrar que Freud (1915) nos diz que, embora o luto envolva graves
afastamentos daquilo que constitui uma atitude normal para com a vida, jamais nos ocorre
considerá-lo como uma condição patológica a ser submetido a tratamento medicamentoso.
Mas não é necessário que aconteça uma morte para que se tenha um processo de luto,
Howarth e Leaman (2004:321), definem o luto como uma resposta psicológica a morte ou a
qualquer outra perda. Anteriormente foi apresentada a relação entre o apego e o luto e apesar
de ter sido apresentado exemplos de relações entre pessoas, a relação de apego não
necessariamente é entre duas pessoas. O luto nada mais é que um processo de adaptação após
1196
uma perda, esta perda pode ser uma relação que chegou ao seu fim, uma ideia, um plano que
não deu certo ou até mesmo a perda de um objeto.
O luto é um processo que apresenta diversos comportamentos, tanto na ordem do pensar
e do sentir, quanto na ordem comportamental. As pessoas podem passar a se sentir sozinhas,
ansiosas, culpadas e até mesmo aliviadas, os comportamentos podem ser evitação social,
evitação de lembranças e do que possa causá-las ou pode até chegar a haver uma
supervalorização das lembranças e objetos da pessoa morta, choro frequente, dentre outros. A
intensidade do luto é influenciada diretamente pelo grau de parentesco, o gênero, o tipo de
morte, os vínculos e os recursos internos disponíveis a cada indivíduo influenciam na sua forma
de vivenciar a tristeza e a situação do luto (Parkes, 1998). Um recurso que acaba por ser
extremamente utilizado é a religião, que muitas vezes acaba por ter uma função protetora sobre
o indivíduo, permitindo que ele incorpore uma perda ou tragédia ao seu sistema de crenças. Um
bom exemplo é uma pessoa que tem forte crença de que todas as coisas fazem parte de um
grande plano de Deus, pode apresentar menos estresse após uma perda, do que uma pessoa que
não tem essa crença (Wortman e Silver, 2001).
Pôr o luto apresentar uma quantidade tão elevada de “sintomas”, os pesquisadores
dividem o luto, em estágios, outros de fases, não por ele ter elas em específico ou mesmo segui-
las, mas sim, para facilitar a compreensão sobre o processo que é o luto. A seguir, será exposto
melhor a ideia de tarefas e de estágios que foram desenvolvidas por J. William Worden e
Elizabeth Kübler-Ros respectivamente. Vale lembrar que, o enlutado não irá necessariamente
cumprir as tarefas ou passar pelos estágios na ordem em que eles são apresentados.
OS ESTAGIOS DO LUTO
a aceitarem a sua condição. Enquanto desenvolvia seu estudo percebeu que não só indivíduos
que estão em estado terminal passam por esses estágios, mas, também aqueles que sofrem a
perda (OLIVEIRA, 2014, p. 12).
A mesma teoriza que na primeira fase a pessoa tenta inconscientemente ou
conscientemente lutar ou se proteger contra a dor da perda, este estágio funciona como um
amortecedor para o grande impacto que é a notícia da perda, o paciente muitas vezes cria
situações ilógicas, mas que para eles ainda podem acontecer. O isolamento pode ser visto como
parte do processo de negação já que em muitos casos o enlutado se isola para evitar contato
com pessoas ou lugares que o lembrem-se do falecido e assim da sua perda.
O segundo estágio que é a raiva, a pessoa começa a se expressar e a mostrar os
sentimentos conflituosos que veio com a perda. O enlutado começa perguntar-se o motivo de
isso ter acontecido e a olhar em volta e a se perguntar como isso é justo. Neste estado não há
muito que se possa fazer além de entender que essa raiva é normal, como diz Fagundes (2012,
p. 20), “a raiva deve ser encarada como parte natural do processo, pois, é necessário ao paciente
que ela seja extravasada de alguma forma”.
A terceira fase, a barganha surge principalmente por causa da crença que temos que a
morte é um castigo, uma forma de nos punir ou o karma agindo. Isso faz que tanto os pacientes
quanto sua família tentem negociar a morte com promessas, ou tentem realizar uma “troca”, na
qual, Kübler -Ross (1996, p. 95) explica da seguinte forma:
Estamos acostumados com este tipo de reação porque acontece o mesmo com nossos
filhos: primeiro exigem, depois pedem por favor. Podem não aceitar nosso “não”
quando querem passar uma noite em casa de algum amigo. Podem se zangar e bater
os pés. Podem se trancar no quarto e demonstrar sua raiva nos rejeitando por algum
tempo. Mas sempre terão outros pensamentos. Podem pensar em outra forma de
abordar o problema. Podem se oferecer para executar algum trabalho em casa que, em
circunstâncias normais, jamais conseguiríamos que fizessem.
A fase da depressão ou a quarta fase traz um grande impacto, pois, é neste estágio que
o sujeito entra em contato com a perda sem nada para amortecê-la. Kübler -Ross (1996 apud
FAGUNDES, 2012, p. 21) diz: “seu alheamento ou estoicismo, sua revolta e raiva cederão lugar
a um sentimento de grande perda”. Esta fase pode ser dividida em dois, a depressão reativa que
é quando surgem outras perdas devido à perda primária, como por exemplo perdas financeiras
e perda de apoio e companhia e a depressão preparatória que é quando o enlutado começa a
aceitar a sua perda, ficando normalmente mais silencioso e reflexivo.
1198
TAREFAS DO LUTO
O espiritismo afirma ajudar pessoas enlutadas na procura pela pessoa morta, e sete dos
indivíduos enlutados incluídos nos meus diversos estudos, referiram visita a sessões
espíritas ou a templos espíritas. Suas reações foram mistas - alguns sentiram que
obtiveram algum tipo de contato com a pessoa morta e alguns ficaram assustados com
isto. No geral, essas pessoas não ficaram satisfeitas com a experiência e nenhuma
delas se tornou participante regular de reuniões espíritas, (p. 55-56).
Geoffrey Gorer (1965) traz o termo “mumificação” para descrever a forma de negação
onde o sujeito enlutado manter o falecido, ou mais comumente os seus bens de maneira que
quando o indivíduo “voltar” ele possa fazer uso. Um bom exemplo disso são pais que perdem
1199
um filho e mantêm o quarto como era antes da morte. Isto não é incomum em período inicial,
mas se torna negação se permanece por muitos anos. Outra forma de negação.
A segunda tarefa é a de processar a dor do luto, antes de falar da importância desta fase,
é bom deixar claro que embora seja quase impossível não ter sofrimento após uma perda, as
pessoas dificilmente têm a mesma intensidade de sofrimento e não necessariamente o seu
sofrimento irá se apresentar da mesma forma. Uma das grandes dificuldades desta tarefa se dá
quando o enlutado interage com a sociedade e ela acaba por não reconhecer a sua dor, pois
como Geoffrey Gorer (1965) expeça: “Dar lugar ao luto é estigmatizado como mórbido, doentio
e desmoralizante. A ação considerada adequada a um amigo é a de distrair o enlutado de seu
processo de luto” (p. 130).
A terceira tarefa que é a de se ajustar a um mundo sem a pessoa morta, se divide em
três áreas que precisarão ser ajustadas após uma perda, que são elas: Externa, que é como aquela
perda irá afetar o funcionamento diário do sujeito; internos, que é como a perda influência na
forma como o enlutado se ver e os ajustes espirituais, que é como a morte irá influenciar os
valores, as crenças e a visão que o enlutado tem sobre o mundo. Se faz necessário tantos ajustes
pois o indivíduo muitas vezes não sabe qual a importância ou o tamanho da influência que o
falecido tinha sobre a sua vida. Attig (1996) diz que a morte pode chegar a destruir o propósito
central de vida do enlutado, e é fundamental descobrir e inventar novos significados diante da
perda.
A quarta tarefa é reposicionar em termos emocionais a pessoa que faleceu e continuar
a vida, para Klass, Silverman e Nickman (1996) as pessoas não se separam da pessoa que
morreu, mas sim, encontram formas de desenvolver laços continuados com ela. Volkan (1985)
fala o seguinte:
Um enlutado nunca esquece completamente a pessoa morta que era tão valiosa em sua
vida e nunca retira totalmente o investimento em sua representação. Jamais podemos
extirpar aqueles que têm sido próximos de nós, de nossa própria história, exceto por
atos psíquicos prejudiciais à nossa própria identidade, (p. 326
A quarta tarefa é sobre isso, entender que embora a pessoa morta ainda seja importante
e que o sujeito ainda a ame, está tudo bem seguir com a vida, amar outras pessoas e ter novos
relacionamentos, isto não é errado ou fara o enlutado amar menos a pessoa que foi perdida. A
quarta tarefa do luto só é concluída quando o enlutado encontra um lugar para a pessoa morta
1200
que permitirá ao sujeito ficar conectado a ela, mas de um modo que não o impedirá de seguir o
rumo de sua vida (WORDEN, 2003).
A não vivência do processo de luto pode ser extremamente prejudicial para o sujeito,
mas antes de ser apresentado as consequências da não vivência do luto, será apresentados três
dos vários fatores que podem levar uma pessoa a evitar o processo de luto.
De acordo com Worden (1998) tem pessoas que não conseguem aguentar extremos de
sofrimento emocional e assim se afastam, como mecanismo de defesa do próprio sujeito, com
a finalidade de se defender de sentimentos tão fortes. Esse mecanismo de defesa muitas vezes
acontece sem a percepção do sujeito, ou o sujeito percebe e não quer voltar para aquela situação
de extremo sofrimento.
Um dos grandes motivos que fazem as pessoas evitarem o processo de luto é a forma
como a tristeza e o luto são vistos socialmente. O sujeito quando a frente da sociedade é
“proibida” de mostrar seu sofrimento, pois ele é “feio” e deixa um “clima ruim”. E como diz
Freud (1929), desde os primórdios os homens esforçam-se para obter a felicidade, eles querem
ser felizes, e para isso o sofrimento e a tristeza são evitados e muitas vezes desprezados.
O terceiro, que será apresentado, que pode levar uma pessoa a não vivenciar o seu
processo de luto é quando o sujeito é eleito pela família ou grupo como o “mais forte”, e a partir
deste momento o sujeito precisa agir como tal, mostrando que está tudo bem e colocando o
sofrimento dos outros acima do seu, normalmente é o “homem da família” que fica nesta
posição.
Trazendo novamente as palavras de John Bowlby (1980) quando ele afirma que “Mais
cedo ou mais tarde, alguns desses indivíduos que evitam a consciência plena do luto vão
esmorecer - geralmente, com alguma forma de depressão” (p. 158). E complementando com
Birman (1997) trazendo que quando um excesso não encontra o caminho de saída, o efeito vai
se dar através do corpo, manifestando-se por situações de estresse, pânico e outras perturbações
psicossomáticas. Como expressado, o luto não é um processo que possa ser evitado ou que deva
ser evitado, agora irá ser apresentado algumas das consequências da não vivência do luto.
A casos em que a pessoa fica “presa” em negação e com isso pode acontecer o que
Geoffrey Gorer (1965) denomina “mumificação”, que é quando o enlutado preservar os objetos
1201
ou em casos raros o próprio morto, de forma que eles fiquem a uso para quando a pessoa falecida
voltar. Um exemplo disso são os pais que preservam o quarto dos seus filhos em perfeito estado
após a morte deles ou começa a ver o morto incorporado em um dos seus outros filhos.
Outro exemplo é quando a pessoa não consegue fazer os ajustes necessários para
continuar a sua vida sem o morto e acaba acreditando que nunca mais será amada da mesma
forma. O enlutado pode ainda acreditar que é incapaz de cumprir as funções que eram
desempenhadas pelo falecido e assim começar a perder a sua autoestima, isso fará com que a
eficácia pessoal seja desafiada e a pessoa pode atribuir qualquer sucesso ao acaso ou ao destino,
e não às suas próprias forças e habilidades (Goalder, 1985). A pessoa pode chegar a “lutar”
consigo mesma, fazendo com que ela não consiga fazer tarefas consideradas simples, o enlutado
passa a promover a sua própria impotência e pode acabar se afastando da sociedade, por não
conseguir cumprir as exigências do ambiente.
O sujeito ainda pode chegar a desenvolver um processo de luto complicado, que
acontece quando o processo de luto diverge do que é culturalmente normativo, quanto à
duração, sintomas e intensidade do luto (Prigerson et al.,1995). Prigerson (1995) ainda afirma
que o luto complicado normalmente começa seis meses após uma perda significativa e
caracteriza-se por uma diminuição de interesse em uma ou mais atividades importantes para o
indivíduo, ou períodos intensos de emoções, recordações espontâneas e sentimentos de solidão
ou vazio.
De acordo com Zisook e Shuchter (1993) alguns indivíduos enlutados desenvolvem
episódios de depressão após uma perda. Dorpat (1973) afirma que para alguns indivíduos a
depressão pode acabar servindo como uma forma de defesa contra a dor do luto, e completa
dizendo raiva quando dirigida para si mesmo e desviada da pessoa morta, pode dificultar que o
sobrevivente lide com os sentimentos que existem em relação à pessoa morta e a sua perda.
Além dos exemplos citados acima a não vivência do luto ou uma tentativa de evitação
do mesmo pode trazer outras consequências ao enlutado. A potência dessa consequência varia
dependendo da pessoa que foi perdida, das crenças e principalmente do sujeito que vivenciou a
perda.
LUTO E DEPRESSÃO
1202
complicado quando ele afeta a capacidade funcional do indivíduo, de modo que o enlutado não
consiga voltar ao seu funcionamento normal anterior à perda. Neste sentido, quando o processo
de Luto se desvia da norma cultural do indivíduo relativamente à duração, intensidade e
sintomas específicos e gerais do Luto, considerasse que o indivíduo se encontra a vivenciar um
processo de Luto Complicado (Prigerson, Frank et al., 1995). Nas palavras de Horowitz o luto
complicado é:
Embora a maioria das depressões no processo de luto seja passageira e não exija
atenção profissional, há observação crescente de que alguns tipos de depressão,
sobretudo aquelas que perduram no primeiro ano do luto, são clinicamente
significativas (1987, p. 501).
Com os dados expostos é possível compreender que embora a depressão e o luto não
sejam as mesmas coisas e que eles tenham que ser diferenciados para que o acompanhamento
psicológico possa ser feito de forma efetiva, ainda é importante não apenas entender como eles
com trabalhar eles individualmente, mas também em um contexto onde eles aparecem juntos.
1204
Além do que dos motivos que já foram apresentados, a psicoeduçação ainda ajudaria a
combater o grande número de pessoas que evitam o processo de luto ou que o temem por causa
da dor e da grande carga emocional que vem com ele. Pois como já foi dito por Worden (1998)
tem pessoas que não conseguem aguentar extremos de sofrimento emocional e assim se afastam,
como mecanismo de defesa do próprio sujeito, com a finalidade de se defender de sentimentos
tão fortes.
Não é esperado mudar a forma como a sociedade vê a morte ou a dor causada pela
mesma, o que se espera com a psicoeducação é mudar a forma como o enlutado encara a morte
e o processo de luto. Esta necessidade surge do fato de não vermos a morte como algo presente
ou provável de acontecer no nosso dia a dia, isto faz com que não estejamos prontos para a
realidade da perda e nem para o que vem após ela que é o processo de luto.
A partir dessas mudanças que se espera que as pessoas parem de temer o luto e os seus
sintomas, isso fará com que as pessoas estejam mais abertas a vivenciar este processo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que foi exposto neste artigo através de uma revisão bibliográfica acredito que
os objetivos propostos tenham sido alcançados, já que foi possível apresentar o luto como um
processo necessário, foi mostrado algumas das possíveis consequências de não o vivenciar e
acima de tudo foi apresentado os motivos que nos levam a necessitar de uma psicoeducação
para o luto, além do porquê necessitamos da mesma. Porém acredito que se faz necessário uma
aplicação pratica desta teoria para que se possa de fato comprovar o efeito de uma
psicoeducação para o luto.
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Stroebe, R. O. Hansson, W. Stroebe, & H. Schut (Eds.). Handbook o f bereavement research:
Consequences, coping, and care (pp. 405-429). Washington, DC: American Psychological
Association.
Zisook, S., & Shear, K. (2009). Grief and bereavement: What psychiatrists need to know.
World Psychiatry, 8(2), 67-74.
1209
RESUMO
A Psicologia Escolar no Brasil remonta ao período colonial do país, no qual eram usados
instrumentos psicológicos para medir e classificar indivíduos em instituições educacionais e
médicas em grande escala. Ao longo da história da Psicologia foram necessárias muitas batalhas
para sua regulação como profissão, além da constante luta voltada à inserção no espaço
educacional. O presente trabalho tem como objetivo expor a experiência vivida durante o
período de estágio em uma escola da rede municipal de ensino de Mossoró/RN. Trata-se de um
relato de experiência que descreve as intervenções realizadas por três estudantes do curso de
Psicologia da Faculdade de Enfermagem Nova Esperança de Mossoró (FACENE/RN), no
semestre letivo de 2022.1, fruto da disciplina de Estágio Supervisionado II. Foi possível entrar
em contato com diversos desafios da práxis da Psicologia Escolar, muitos deles também
presentes no discurso de toda a equipe, frequentemente voltado para as dificuldades encontradas
na rede pública de ensino - desde a falta de estrutura e de recursos à desvalorização do professor
e do ensino. Conclui-se que a experiência foi extremamente engrandecedora para o processo de
formação do grupo de estágio, assim como exitosa no tocante ao trabalho desenvolvido, uma
vez que grande parte dos objetivos propostos foi alcançada.
Palavras-Chave: Psicologia escolar; Estágio profissionalizante; Relato de experiência.
ABSTRACT
School Psychology in Brazil dates back to the country's colonial period, in which psychological
instruments were used to measure and classify individuals in educational and medical
institutions on a large scale. Throughout the history of Psychology, many battles have been
necessary for its regulation as a profession, in addition to the constant struggle aimed at insertion
in the educational space. The present work aims to expose the experience lived during the
internship period in a school in the municipal education network of Mossoró/RN. This is an
experience report that describes the interventions carried out by three Psychology students at
the Faculdade de Enfermagem Nova Esperança de Mossoró (FACENE/RN), in the semester of
2022.1, as a result of the Supervised Internship II discipline. It was possible to get in touch with
several challenges of the praxis of School Psychology, many of them also present in the
discourse of the entire team, often focused on the difficulties encountered in the public school
system - from the lack of structure and resources to the devaluation of the teacher and of
teaching. It is concluded that the experience was extremely enriching for the formation process
1210
of the internship group, as well as successful in terms of the work developed, since most of the
proposed objectives were achieved.
Keywords: School psychology; Internship; Experience report.
1 INTRODUÇÃO
compreensão das demais esferas de sua vida. Nesse sentido, esse saber diz respeito às
subjetividades envolvidas no processo de ensino aprendizagem, valendo-se de temáticas
relacionadas ao desenvolvimento, ideias, comportamentos, além de sentidos e identificações
que permeiam as relações ambientadas na escola (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA,
2019).
Como modo de garantir uma formação capaz de desenvolver as competências e
habilidades necessárias para uma atuação de excelência, o estágio supervisionado se faz
indispensável para o estudante de graduação em Psicologia. Por meio dele, torna-se possível
colocar em prática conhecimentos teóricos construídos em sala de aula, proporcionando ao
estudante o contato com a comunidade e reafirmando cada vez mais suas potencialidades para
além da prática clínica em consultórios (ANTUNES, 2008), como é o caso da atuação
hospitalar.
Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo relatar a experiência de estágio
profissionalizante de estudantes do curso de Psicologia em uma escola pública do município de
Mossoró, interior do Rio Grande do Norte. Sua relevância é justificada pelo potencial de inspirar
novas discussões e práticas que aliem as teorias psicológicas aos saberes psicopedagógicos em
prol da construção e manutenção de um ambiente escolar capaz de promover bem-estar, saúde
mental e autonomia.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
80 até o amplo espaço conquistado nos dias atuais, muito se remodelou do fazer do psicólogo.
No meio do percurso, observou-se ainda a diferença existente entre Psicologia Escolar e
Psicologia Educacional. Enquanto o primeiro termo se refere à atuação prática na escola, o
segundo seria a área que se dedica a refletir, problematizar e pesquisar acerca dos processos
educacionais em geral, não somente na escola. Pode-se dizer, portanto, que esta seria uma área
na qual o profissional produz conhecimento e subsídios para que o psicólogo escolar os utilize.
Trata-se então de um trabalho em conjunto e complementar (GUZZO, 2001; MARINHO-
ARAÚJO; ALMEIDA, 2005).
A luta pela obrigatoriedade do profissional da Psicologia nas escolas tem como marco
inicial o ano 2000, com o ex-deputado José Carlos Elias, que deu início ao Projeto de Lei 3688
‒ tornando-se posteriormente a Lei 13935/2019. O ex-deputado, junto às equipes de
profissionais da Psicologia e de Serviço Social, levantou a proposta de atender os estudantes
dos ensinos fundamental e médio, com o objetivo de colaborar com melhorias no processo de
aprendizagem, nas relações entre alunos, educadores e a comunidade escolar no geral, além de
estabelecer uma parceria com profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS), caso houvesse
necessidade de demanda de atendimentos nesses espaços (BRASIL, 2019).
Com a aprovação da Lei 13935/2019, as redes públicas de educação básica passam a
contar com serviços de Psicologia e Serviço Social para atender as necessidades da população,
além das prioridades definidas pelas políticas públicas de educação através de equipes
multidisciplinares. Dessa forma, o Art. 1º institui que tais equipes desenvolvam atividades
propulsoras de melhorias na qualidade do processo de ensino-aprendizagem, viabilizando a
participação da comunidade escolar e mediando as relações sociais circunscritas nesse espaço.
3. METODOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A intervenção ocorreu com a turma do 5º ano e foi realizada em sala de aula, com auxílio
de papel e canetas e sem a presença da professora. A dinâmica teve o objetivo de conhecer e
conectar-se com a turma. Para a sua efetivação, as estagiárias entregaram pedaços de papel para
os alunos e solicitaram que eles registrassem algo que os apresentasse ‒ letras de músicas,
frases, desenhos, poesias. Em seguida, pediu-se que cada um deles mostrasse seu registro e
falasse sobre o significado da produção, justificando o porquê daquilo o apresentar de maneira
fidedigna. Foi possível observar a utilização de objetos do cotidiano, animais de estimação,
versos de livros e até mesmo desenhos da própria escola, acompanhados da narrativa da
importância de estudar.
1214
Contudo, o desenho destacou-se como a forma mais utilizada pelos alunos. Este, além
de uma expressão artística, pode ser uma forma ampla e diversa de se comunicar. Nos desenhos
podem ser expressos e ressignificados sentimentos e sensações não alcançados por meio da fala.
Para Souza (2011, p. 03), “A produção de imagens é uma forma de comunicação de afetos que,
a partir daquele que a produz, estimula aquele que as observa a entrar em contato com elas,
como uma espécie de linguagem”.
O mês de maio é marcado por uma campanha de trabalho árduo e contínua. Trata-se do
mês de conscientização contra o abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. Segundo
o Art. 227 da Constituição Federal do Brasil (1988),
questionamentos e situações de possíveis abusos, além da reflexão do que fazer a partir disso.
Foi enfatizada, durante toda a discussão, a importância de pedir ajuda, discutindo sobre com
quem falar e o que fazer. Para finalizar, foram distribuídos papéis para que pudessem registrar
em desenhos pessoas de sua confiança.
A segunda alternativa utilizada foi a construção de um painel interativo. O objetivo foi
explorar uma atividade denominada “semáforo do toque”, que mostra dois corpos infantis
cisgêneros, representando os gêneros feminino e masculino, e os lugares permitidos, não
permitidos e que demandam atenção/cuidado quanto ao toque. Para isso, utilizou-se as cores
verde, vermelho e amarelo, respectivamente. Ademais, foram adicionadas informações como
nove sinais de alerta que podem indicar o abuso infantil e como denunciá-lo. O painel ficou
exposto no pátio, local onde pais, alunos e funcionários têm livre acesso.
Sabe-se que ao dialogar sobre autoestima é importante caminhar para além do elemento
beleza, pois, de acordo com Galindo (2020), autoestima trata-se de um aspecto da personalidade
humana, conferindo um juízo de valor e estando relacionada à valorização de si e apreciação do
modo de ser e viver.
Considerando a relevância dessa questão, a vivência foi realizada com alunos do 3º ano
do ensino fundamental. Nela, foi utilizada a “dinâmica do dado”, recurso construído pelas
estagiárias que continha seis frases atreladas à temática da autoestima. Para melhor discussão
do assunto, inicialmente foram feitos e esclarecidos alguns questionamentos, tais como: “Vocês
sabem o que significa autoestima?”; “E qualidades?”; “E valor?”. As respostas foram
exemplificadas com situações/expressões vivenciadas no cotidiano. Além disso, as diferenças
entre alta autoestima e baixa autoestima foram abordadas, pontuando os elementos que
potencializam uma e outra.
diário a ser trabalhado. Para Sampaio et al. (2013), esse conceito refere-se ao acesso dos
indivíduos às questões de seus pares, envolvendo elementos da cognição e dos afetos, fazendo-
os experimentar de maneira congruente os reflexos obtidos a partir do contato com o outro.
Com base nisso, utilizou-se duas dinâmicas para a intervenção realizada na turma do 5º
ano. Inicialmente, a dinâmica de apresentação solicitava que os alunos se juntassem em duplas,
conversassem e, posteriormente, um falasse da história do outro como se contasse a sua. A partir
disso, uma reflexão acerca de como se sentiram colocando-se no lugar do colega para contar
sua história foi realizada.
Em seguida, a “dinâmica do feiticeiro” solicitou-se que cada um dos alunos escrevesse
uma prenda para o colega ao seu lado. Ao final, os escritos foram lidos e as prendas pagas pelos
próprios criadores. No decorrer das dinâmicas, as conversas envolveram a importância de tratar
bem o próximo, com respeito e empatia.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
uma prática capaz de compreender em suas invenções alunos, equipe escolar e a esfera
familiar/comunitária.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 13.935, de 11 de dezembro de 2019. Institui o Código Civil. Diário Oficial
da União: seção 1, Brasília, DF, ano 198, 11 dez. 2019.
BRASIL. Lei nº 4.119, de 27 de agosto de 1962. Institui o Código Civil. Diário Oficial da
União: Brasília, DF, ano 141, 14 dez. 1962.
Del Prette, Z.; Del Prette, A. (2013). Psicologia das Habilidades Sociais na Infância: Teoria
e Prática. Petrópolis: Vozes.
RESUMO
A Psicologia Hospitalar é uma área em contínuo crescimento que se faz em conjunto com o
trabalho multiprofissional de modo a contribuir com o cuidado nos âmbitos psíquicos e sociais
dos pacientes atendidos. Em vista disso, o decorrente trabalho de pesquisa bibliográfica visa
discutir a atuação do psicólogo nos diversos espaços hospitalares em que se faz presente e
necessário, perpassando por ambulatórios, hospitais gerais e psiquiátricos, UBSs, dentre outros.
Desse modo, o psicólogo encontra-se em função da promoção, prevenção e garantia de saúde
do paciente, realizado a partir da escuta e cuidado ao paciente, à família e também da equipe,
viabilizando estratégias de enfrentamento decorrentes da hospitalização e a compreensão do
sujeito em uma perspectiva ampla e digna de cuidado.
Palavras-Chave: Psicologia Hospitalar; Atuação Profissional; Práticas de cuidado.
ABSTRACT
1
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
ceciliazevedo.13@gmail.com.
2
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
miriancamara1@hotmail.com
3
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte (FCRN). E-mail:
ingridydll@gmail.com
4
Orientador(a): Amanda Carolina Claudino Pereira. Professora da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte
(FCRN). E-mail: amanda.pereira@professor.catolicadorn.com.br
1222
1 INTRODUÇÃO
Deste modo, no cuidado com pacientes diagnosticados com doenças crônicas o trabalho
do psicólogo tem como foco promover a autonomia do sujeito quanto às informações acerca de
seu diagnóstico e tratamento, dar suporte na adaptação quanto à mudança de rotina, observar o
modo como o paciente está reagindo à doença, ainda, visa auxiliar a família a lidar com o
contexto atual e, quanto à equipe, busca oferecer assistência nas perdas e questões emocionais
(ANGERAMI-CAMON et al, 1996).
A Psicologia Hospitalar abrange ainda a pediatria, onde o profissional atua com extrema
delicadeza, dando suporte ao infante e à família, visando ainda a amenização de prejuízos no
desenvolvimento dessa diante de longos períodos de internação (BAPTISTA; DIAS;
BAPTISTA, 2018).
Por último, o psicólogo em atendimentos realizados em Centros de Terapia Intensiva
(C.T.I) tem a função de acolher o paciente, a família e a equipe visando compreender o
sofrimento do sujeito de forma integral a fim de alcançar enfretamentos a partir de uma visão
ampla e interdisciplinar. Logo, sendo analisado o quadro psico-reativo, distúrbios
psicossomáticos, quadros conversivos, fantasias mórbidas, angústias e ansiedades frente ao
quadro clínico, além de propiciar ações de estímulo e possibilidades de contato em casos de
pacientes comatosos e prestar o devido cuidado em pacientes depressivos e em pacientes
suicidas (ANGERAMI-CAMON et al, 2010).
É possível destacar que historicamente o compromisso hospitalar seguiu o modelo
biomédico hegemônico e a psicologia adentra esse campo com o intuito de trazer um cuidado
além da dimensão físico-biológica e estabelecê-lo também no contexto psíquico e social
(TEXEIRA, 2022). O presente trabalho está caracterizado como uma pesquisa de cunho
bibliográfico e foi produzido para compor o portfólio da disciplina de Psicologia Hospitalar,
visando discutir de modo mais abrangente a atuação do psicólogo nesses diversos espaços que
seu trabalho se faz possível e necessário. Pretende-se ainda enunciar a importância que o
profissional de psicologia possui nos ambientes ambulatoriais, de cuidados paliativos e psico-
oncológicos, de pediatria, nos Centros de Terapia Intensiva, nos cuidados de pacientes com
doenças crônicas e no trabalho em equipes multiprofissionais, discorrendo sobre a sua prática
em cada uma delas.
também em qualquer doença crônica ou degenerativa, visando a qualidade de vida dos pacientes
e seus familiares com um enfoque holístico, sendo recomendado desde o início do diagnóstico.
Esta prática se refere a uma ideia de acolhimento e proteção que valorize o cuidado integral do
sujeito na realização da prevenção e alívio do sofrimento durante o enfrentamento das doenças,
com o intuito de proteger o paciente da medicina curativa quando esta já não consegue acolher
da forma mais adequada (BEZERRA; TAURISANO; PREBIANCHI, 2018). Os autores
indicam ainda que o objetivo que se procura alcançar é de conforto e suporte e não de cura da
doença, minimizando dores e outros sintomas desagradáveis com o uso de terapias integrativas.
Durante o processo de cuidados ao paciente é necessário que haja a escuta, para que as
demandas possam ser acolhidas e os aspectos espirituais e psicológicos do sujeito sejam
integrados; que o psicólogo e a equipe encoraje-o para que participe das decisões e mantenha
sua autonomia, oferecendo um sistema de suporte que possibilite-o viver da forma mais ativa
possível, auxiliando, ainda, na criação de estrategias de enfretamento, como a busca de apoio
social e psicológico e realizando o encaminhamento da família para a psicoterapia caso seja
necessário; explicar sobre os cuidados paliativos e deixá-lo ciente de que a equipe o está
acompanhando e dar abertura para os familiares a fim de que também se sintam acolhidos e
tenham espaço de fala, assim, podendo expressar seus sentimentos e emoções junto ao paciente,
compreendendo quais as dúvidas e reforçando os recursos adaptativos e o enfretamento de
possíveis processos de luto, dessa forma, estimulando o autocuidado de todos os envolvidos
(BEZERRA; TAURISANO; PREBIANCHI, 2018)..
Os princípios na prática dos cuidados paliativos são: aliviar a dor física e psicológica,
além de outros sintomas desagradáveis; afirmar a vida e resgatar a morte como um processo
natural; respeitar o momento do paciente, sem adiar ou acelerar a morte; integrar os aspectos
psicológicos e espirituais no cuidado; oferecer suporte para que o paciente viva ativamente na
medida do possível; proporcionar suporte aos familiares durante o tratamento e nos processos
de luto; focar nas necessidades do sujeito e da família a partir de uma abordagem
multiprofissional; melhorar a qualidade de vida do paciente e influenciar positivamente o curso
da doença, de modo que respeite seus desejos e necessidades; e iniciar o mais precocemente
possível para que o paciente seja cuidado durante diferentes etapas da doença, possibilitando
compreensão e um maior controle de situações estressantes (ROSA; RODRIGUES, 2018).
O serviço pode ser executado de três maneiras, sendo elas: em uma Unidade de Cuidados
Paliativos, localizada em uma das áreas do hospital com um conjunto de leitos que trabalha com
1228
profissionais capacitados e que seguem os ideais das práticas em cuidados paliativos; com uma
equipe interdisciplinar que é acionada quando o paciente precisa, em casos de hospitais que não
possuem leitos específicos de cuidados paliativos; ou por uma equipe itinerante, que também é
acionada quando dada a necessidade de atendimento ao paciente, com o caso podendo ser
acompanhado em conjunto ou não com o médico (ROSA; RODRIGUES, 2018).
2.3 CUIDADOS A PACIENTES DIAGNOSTICADOS COM DOENÇAS CRÔNICAS
contexto atual e, quanto à equipe, busca oferecer assistência nas perdas e questões emocionais
(SEBASTIANE; OLIVEIRA, 2011).
Por fim, Barreto et al. (2015) expõe os desafios quanto ao trabalho com pacientes
crônicos, estando esses voltados para a dificuldade em estabelecer o diagnóstico, devido a
complexidade dessas doenças, que podem acarretar um diagnóstico tardio e com maiores
complicações; o longo período de tratamento que gera gastos no sistema de saúde; além da
resistência de alguns pacientes na adesão ao tratamento, com a possibilidade de agravamento
dos sintomas.
desse processo na família, levando ainda em conta que afetará diretamente o manejo adequado
das necessidades do infante (MACEDO; RIBEIRO; DIAS, 2018).
Por meio do trabalho com a família, compreende-se que o contato permanente dos
familiares com o paciente infantil durante o internamento é um importante meio de cuidado de
manutenção dos vínculos. Através disso, a atuação com esses membros se propõe a discussão
do quadro do paciente, manejo do tratamento, desenvolvimento de estratégias para
enfrentamento de dificuldades, trabalho das relações, vínculos e emoções; além da exposição
de normas e regras do ambiente hospitalar, bem como dos direitos e deveres impostos no local
(MACEDO; RIBEIRO; DIAS, 2018).
Como um dos métodos de trabalho do psicólogo, a avaliação psicológica nesse âmbito,
desde que bem realizada e de maneira completa, pode contribuir para redução do tempo de
hospitalização. A avaliação pode acontecer em diversos momentos (leito, pré-procedimentos,
momento do brincar) e através da utilização de diversos instrumentos (escalas, testes,
entrevistas), a depender do que é disponibilizado pela instituição e da demanda do caso. Com
isso, há a possibilidade de investigar e conhecer aspectos gerais, como os impactos nos aspectos
de vida do paciente e família, sendo no próprio cuidado com a saúde, na escola, emprego, rotina,
e etc (MACEDO; RIBEIRO; DIAS, 2018).
Logo, pode ser realizada com o paciente, visando a participação do mesmo nos
processos que tratam de seu estado de saúde, bem como do enfrentamento emocional diante dos
medos, angústias e expectativas e da realização de encaminhamento conforme a necessidade;
com a família, de forma a coletar informações que o paciente é incapaz de fornecer, oferecer
suporte, orientação e incentivar no cuidado e participação ativa no processo, além de também
encaminhar quando é preciso; com a equipe, em função de otimizar o trabalho, tornando-o mais
direcionado e, logo efetivo, auxiliando na identificação de comportamentos, sintomas e
orientando condutas em busca da diminuição de prejuízos ao paciente (MACEDO; RIBEIRO;
DIAS, 2018).
Ao tratar da amenização desses prejuízos, é necessário avaliar o impacto trazido pela
alteração da rotina da criança, sendo assim importante a adoção de estratégias para viabilizar a
inserção de aspectos desse cotidiano na internação. A existência de brinquedoteca no ambiente
hospitalar se faz de grande importância, levando em consideração que o brincar atua na vida da
criança de forma terapêutica, auxiliando na elaboração de experiências, permitindo que a
criança seja posta diante do processo como sujeito ativo através do controle do ambiente,
1231
um profissional importante para compor a equipe. Além disso, as práticas em equipe são
realizadas, ainda, de modo a separar o indivíduo por partes biológicas e psicológicas,
restringindo ao profissional da psicologia o espaço de escuta e acolhimento, que pode distanciar
o paciente de outros membros da equipe que atuam com neutralidade (SILVA et al, 2017).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BAPTISTA, Makilim Nunes; DIAS, Rosana Righetto; BAPTISTA, Adriana Said Daher.
Psicologia Hospitalar: Teoria, Aplicações e Casos Clínicos. 3. Ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2018. 340 p. ISBN 978-85-277-3354-0.
1235
CARVALHO, Denis Barros de; SOUZA, Leylanne Martins Ribeiro de; ROSA, Lourena
Silva; GOMES, Máyra Laís de Carvalho. Como se escreve, no Brasil, a História da
Psicologia no contexto hospitalar?. Estudos e Pesquisas em Psicologia, v. 11, n. 3, p. 1005-
1026, 2011.
MEDINA, Maria Guadalupe; AQUINO, Rosana; VILASBÔAS, Ana Luiza Queiroz; MOTA,
Eduardo; PINTO JÚNIOR, Elzo Pereira; LUZ, Leandro Alves da; ANJOS, Davllyn Santos
Oliveira dos; PINTO, Isabela Cardoso de Matos. Promoção da saúde e prevenção de
doenças crônicas: o que fazem as equipes de Saúde da Família?. Saúde em Debate, v. 38,
p. 69-82, 2014. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/sdeb/2014.v38nspe/69-82/.
Acesso em: 19 mai. 2021.
SILVA, Carla Souza Ramos da; ALMEIDA, Mariana Lisbôa; BRITO, Soraia Silva;
MOSCON, Daniela Campos Bahia. OS DESAFIOS QUE OS PSICÓLOGOS
HOSPITALARES ENCONTRAM AO LONGO DE SUA ATUAÇÃO. XVI SEPA -
Seminário Estudantil de Produção Acadêmica, UNIFACS, 2017.
RESUMO
O presente estudo visa explorar a Diversidade e Inclusão dentro das organizações e como o
tema impacta nos seus resultados. Buscou-se identificar se existe uma relação direta ou indireta
da Diversidade e os resultados financeiros, assim como explanar os benefícios gerados pela
inclusão dessas minorias. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica através de um levantamento
de trabalhos publicados no Scielo e Google Acadêmico, constando a data de publicação de 2020
a 2022, posteriormente foram submetidos a uma análise de conteúdo dentro da temática,
excluindo aqueles que não estivessem dentro do objetivo da pesquisa. Constatou-se no resultado
da pesquisa que a Diversidade vem sendo debatida dentro das organizações, através de politicas.
Foi compreendido que essas inclusões impactam nos resultados financeiros das empresas, além
de contribuir para o desenvolvimento dos seus colaboradores, resulta numa clima
organizacional de motivação e inovação, além de gerar uma diferenciação mercadológica das
organizações que abordam esse tema e uma identificação com a sociedade em sua maioria.
Palavras-Chave: Diversidade, Minorias, Organizações.
ABSTRACT
The present study aims to explore Diversity and Inclusion within organizations and how the
theme impacts their results. We sought to identify whether there is a direct or indirect
relationship between Diversity and financial results, as well as explaining the benefits generated
by the inclusion of these minorities. This is a bibliographic research through a survey of works
published in Scielo and Google Scholar, with the publication date from 2020 to 2022, later they
were subjected to a content analysis within the theme, excluding those that were not within the
objective. of the search. It was seen in the result of the research that Diversity has been debated
within organizations, through policies. It was understood that these inclusions have an impact
on the financial results of companies, in addition to contributing to the development of their
employees, it results in an organizational climate of motivation and innovation, in addition to
generating a market differentiation of organizations that address this topic and an identification
with society in most.
Keywords: Diversity, Minorities, Organizations.
1 INTRODUÇÃO
A diversidade no Brasil não é algo tão novo assim, ela está presente desde o processo
de colonização do nosso povo, e até mesmo antes disso, essa pluralidade é perceptível através
do fenótipo dessa população, onde não há uma aparência física que caracterize a população
brasileira fazendo a diferente de outros continentes e países, como Ásia, Europa e África.
1
Bacharelando e Licenciando em Psicologia. Joseealvesnetoo2014@gmail.com
1237
Entretanto esse assunto vem ganhando debates bem mais fortes desde as últimas décadas, para
que essas diferenças possam ser reconhecidas e respeitadas na sociedade, de maneira que todos
possam ter acesso às mesmas oportunidades.
O mundo corporativo exerce um papel de grande relevância nesse assunto, e o interesse
por promover diversidade e inclusão tem crescido de forma expressiva no nesse meio, sejam
em termos fenótipo e biológicos, como em termos subjetivos. De acordo com o estudo
Oldiversity (2020) 70% acreditam que empresas e marcas devem integrar o tema de diversidade,
esse levantamento também mostra uma alta porcentagem na percepção dos entrevistados em
relação ao preconceito de contratação de minorias (LGBTQIA+ - lésbicas, gays, bissexuais,
travestis, transexuais e transgêneros, intersexuais, queers, assexuais e qualquer outra forma não
representada no acrônimo -, Pretos, Pessoas Com Deficiência, Mulheres e Idosos). No presente
trabalho iremos explorar e compreender os conceitos de diversidade e como as organizações
são impactadas por esse assunto.
Torres e Pérez-Nebra (2014) afirmam que a inserção da diversidade e inclusão dentro
das organizações está ligada diretamente a motivos econômicos, focando na perspectiva que a
diversidade e inclusão podem trazer benefícios financeiros, além de cumprir com legislação e
responsabilidade social.
Apesar de muitas empresas visarem lucros financeiros através do tema algumas outras
não consideram tal assunto relevante e impactante para os resultados, tendo isso em vista, surge
o questionamento: O quanto a diversidade pode impactar nos resultados de uma organização?
Buscando sanar essa dúvida e a carência do tema da pesquisa, o presente estudo tem
como finalidade contribuir para produção do assunto, assim como evidenciar o impacto da
temática abordada nos resultados das organizações, além de colaborar para o fazer de estratégias
de diversidades nas empresas.
Estudos que tem como base a diversidade e inclusão abrem espaço para debates que
possibilitam que as pessoas minorizadas dentro das empresas possam ser vistas e ouvidas como
pertencente ao meio coorporativo, oportunizando uma melhora no ambiente empresarial e o
crescimento dessas pessoas nos cargos de lideranças. Para atingir o objetivo desse trabalho foi
utilizado o método de Pesquisa Bibliográfica.
2 REVISÃO DE LITERATURA
1238
LGBTQIA+, 77% têm esse preconceito na contratação de pessoas pretas, 78% têm preconceito
em contratar pessoas mais velhas e 71% dos entrevistados acreditam que as organizações tem
preconceito em contratar PCDs.
Em um perfil traçado pelo mesmo estudo mostra expressivamente o estereótipo hétero
branco cristão de 21 a 40 anos de idade não sendo portador de nenhuma deficiência.
(OLDIVERSITY, 2020).
O Interesse das empresas brasileiras pelo tema ainda é bem recente, surgiu nos anos 90.
A maioria das empresas que estão desenvolvendo programas de inclusão são norte-americanas
(FLEURY, 2000)
Em uma pesquisa realizada pela Organização Internacional do Trabalho mostra que 87%
das empresas brasileiras se interessam por ampliar a pluralidade, todavia, esse número cai 27%
quando se fala em programas de inclusão dentro da corporação. 55% dos entrevistados relatam
que as empresas onde trabalham estão preocupadas com essa inserção. (GUEDES, 2021).
É nítido o interesse das organizações em diversificar o âmbito corporativo, mas quando
se parte para a gestão de diversidade existe uma carência significativa, transformando assim
essa vontade de inclusão apenas em algo utópico.
Alves e Galeão-Silva (2004) em sua pesquisa conseguiu encontrar duas categorias que
são de grande relevância para o estudo da diversidade: ‘’Gestão de Diversidade’’ e ‘’Ação
Afirmativa’’, tendo como conceito de Gestão de Diversidade a prática gerencial que busca
substituir ações afirmativas e ações de acesso igualitário ao trabalho, e as Ações Afirmativas
são compreendidas como fenômenos sociais não naturais que são resultados da interação social,
e que necessita de políticas exclusivas para membros de grupos minoritários que são atingidos
pela exclusão social.
A Gestão de Diversidade surge em 1980, mas as primeiras pesquisas nacionais
realizadas e publicadas referente à Gestão de Diversidade são datadas do início dos anos 90
(BARBOSA; CABRAL-CARDOSO, 2007; TORRES; PÉREZ-NEBRA, 2014).
Na atualidade o interesse das empresas em trazer uma pluralidade para dentro das
organizações é bem ostensivo, Moreira, Cappelle e Carvalho-Freitas (2015) acreditam que o
comportamento do indivíduo frente ao diferente vai retratar não somente a conduta que a
1240
empresa espera, mas também sua visão em quanto ao mundo. Se caso a diversidade não for
efetiva dentro na corporação isto é resultado dos indivíduos que ali estão e também da cultura
organizacional.
O papel da Gestão de Diversidade dar-se como um meio de transformar o mercado mais
equilibrado, contribuindo na aceitação das diferenças e reduzindo o preconceito dentro do meio
corporativo. O interesse dessa forma de Gestão em olhar para o assunto está muito interligado
aos benefícios no desempenho das equipes e no aumento de resultados. (SANTOS et al., 2021).
Na contemporaneidade, os starkeholders estão olhando muito além da obrigação
econômica da organização de dar retorno a seus sócios. Em meio aos fatores que afetam a
imagem interna e externa da empresa está o fator social, que deriva da conclusão que aquela
corporação não se limita a metas e ao financeiro. Atualmente vem sendo exigido que diante da
atuação econômica também seja esperado um desenrolar diante aos problemas sociais do
contexto atual e futuro. (SANTOS, 2020).
Em seu trabalho, Santos (2020) traz algumas empresas que tiveram iniciativas pró-
diversidade no meio organizacional. A proposta da Pepsico é realocar as pessoas que estão fora
do mercado, compreendendo que a recolocação dentro do mercado é mais difícil desenvolvendo
o programa ‘’Ready to Return’’. A empresa também assinou um acordo da ONU chamado ‘’He
for She’’, que tem como objetivo o empoderamento feminino. Outra marca é a Natura com o
programa chamado Politica da Valorização da Diversidade, que trata da inclusão de PCDs. O
Itaú compartilhou, em 2017, a Carta de Compromisso com a Diversidade, o banco promove a
Semana da Diversidade focada em quatro temas de prioridades: LGBTQIA+, Gênero, PCD e
Raça. Outras marcas como Netflix, Doritos, Uber, Avon, Skol são fortes defensoras da luta
LGBTQIA+.
Esses programas voltados para a pluralidade nas organizações são chamados de Ações
Afirmativas. As ações afirmativas são politicas sociais voltadas ao combate da discriminação
seja ela étnica, de gênero, religiosa, capacitista e outras, afim de que promova a participação
desses grupos. (INSTITUTO FEDERAL DO SUL DE MINAS GERAIS, 2020), de modo geral
ações afirmativas elas possuem efeito instantâneo e de baixa duração, é bem mais usada dentro
de organizações que querem resolver algum conflito velado ou ganhar confiança de um setor
especifico de mercado. Essas ações não deveriam ser praticada pelas organizações, apesar de
breve é uma ação pouco ética e irá gerar consequências, como o retorno do problemas e uma
talvez desestabilização emocional nos membros. (LEITE, 2018).
1241
abarcando as principais indústrias com sede no Brasil, Panamá, Chile, Peru, Colômbia e
Argentina, a pesquisa foi realizada com 3.900 funcionários.
A pesquisa mostrou que empresas comprometidas com a diversidade têm 80% de
promoção de confiança e diálogo aberto por parte da liderança, e 73% maior a probabilidade de
ter uma cultura de liderança com foco em trabalho em equipe.
Os colaboradores dessas empresas além de relatar altos índices de inovação e
colaboração que seus pares, esses colaboradores também têm probabilidade: 152% maior de
afirmar que podem propor novas ideias e tentar inovar no modo de execução das coisas, 77%
maior de concordar que a organização aplica ideias externas para melhorar seu desempenho,
76% maior de afirmar que a organização faz repasse de feedback clientes para que haja uma
evolução no atendimento ao público.
O estudo citado anteriormente também mostra o impacto da diversidade na felicidade
dos colaboradores e na saúde mental da organização. A pesquisa da Castilho, Callegaro e
Szwarcwald (2020) que práticas de lideranças eficazes criam uma organização saudável, e uma
capacidade maior de entregar um desempenho superior em longo prazo. A diversidade é um
poderoso capacitador de práticas saudáveis e bons resultados. 63% dos funcionários dizem
estarem felizes nas empresas que tem a diversidade como um de seus focos, comparando com
31% das empresas que não abordam a diversidade, essas empresas têm até uma vez e meia mais
probabilidade de colaboradores realizados em seu ambiente de trabalho, além de 36% dos
membros desejarem permanecer três anos ou mais, e 15% almejarem cargos superiores. Ainda
dentro dessa pesquisa, as empresas com saúde organizacional no quartil superior tem retorno
total dos acionistas três vezes mais que as empresas do quartil inferior.
As empresas percebidas pelos seus colaboradores como diversa tem 93% mais de
probabilidade de superar o desempenho financeiro de seus concorrentes, assim como em termos
de diversidade de lideranças há uma probabilidade de 25% maior de uma melhor performance
financeira, Pialarissi (2019) em um estudo realizado afirmou que é possível ver a partir dos
resultados a redução de custos com absenteísmo e com rotatividade dentro da organização, além
de um aumento em inovação, retenção de talentos e maior capacidade de resolução de
problemas e mediação de conflitos.
É de concordância entre teóricos que abordam o tema de diversidade que essas e muitas
outras vantagens de adotar o tema para dentro das organizações, alguns estudiosos trazem que
com um ambiente diversificado a possibilidade de haver uma redução de conflito é expressiva,
1243
3 METODOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
O impacto da Diversidade e Inclusão (D&I) está bem além das vantagens financeiras
como mostrado no presente trabalho, apesar de ter grande impacto nos resultados lucrativos
também deve ser considerados os ganhos nos aspectos do social e de relacionamentos.
A D&I dentro do ambiente corporativo é a representatividade de vários grupos
minoritários de uma sociedade, que envolve identidade de gênero, gênero, sexualidade, etnia,
condição física e psicológica, classes sociais, religiosidade e vários outros fatores, contudo é
perceptível através do estudo o quanto ainda existem empresas que não vêm importância em
abordar práticas voltadas ao tema, sendo ainda uma organização homogênea.
Dentro do mercado de trabalho a competição para superar seus pares ocorre a todo o
momento, as corporações que não têm um quadro de colaboradores que represente a pluralidade
social acabam ficando um pouco para trás nessa corrida, em contrapartida aquelas que adotam
politicas voltadas para inclusão dessas pessoas tem sempre mais possibilidades de performance
superior, como vimos na pesquisa da McKinsey & Company onde nessas empresas existem
152% chance dos colaboradores sugerirem novas ideias e inovar no método de execução das
coisas, além de 72% está em constante aprimoramento processual e 64% dos colaboradores
estarem de alinhados com as ideias de seus lideres, é perceptível que quando a diversidade
chega nos cargos de lideranças existem ações inovadoras e voltadas para a equipe.
Foi visto no presente trabalho que em um time onde há diversidade de personalidade, de
fenótipos e mentes, têm uma grande desenvoltura na criatividade de elaboração de produtos e
propostas inovadoras, além do que há uma redução de conflitos, existe uma maior retenção de
talentos e diminuição da rotatividade, uma imagem mais alinhada com a sociedade e com
resultados acima da meta.
As empresas precisam de profissionais muito bons e quando se deixar passar esses
funcionários por não se encaixarem em um padrão ela está tendo uma perda significativa em
seus resultados e na desenvoltura de seus membros, além de quê uma economia produzida por
iguais e gerando exclusão em diferentes acaba por ficar parada, já que muita das vezes aqueles
que fogem do padrão dessa organização não se sente representado por ela.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
1245
A atual pesquisa teve como objetivo principal explanar o quanto que a diversidade e
inclusão podem impactar nos resultados de uma organização, além de contar com objetivos
específicos como compreender a realidade das empresas frente a essa temática, e como elas têm
abordados ações e programas para que atingissem o objetivo de incluir essas minorias em seu
espaço de trabalho, outro objetivo especifico era compreender o cenário empresarial brasileiro
diante do tema, visto que o Brasil é uma país extremamente miscigenado e diverso, esse objetivo
não foi atingido no presente artigo por se tratar de um eixo do tema que é carente em pesquisa
e produção de materiais, todos os trabalhos encontrados voltados para o tema dentro do Brasil
não se encaixava nos critérios de inclusão ficando impossibilitado de serem usados na pesquisa,
ademais o objetivo principal foi atingido visto que o explanado trouxe diversos dados que
comprovam o impacto que a Diversidade e Inclusão tem nos resultados, seja eles de forma
financeira, como no clima organizacional e desenvolvimento dos membros.
Este artigo buscou contribuir para os materiais produzidos dentro da temática, foi
percebida uma carência quando se trata do Brasil deixando assim um espaço de pesquisa para
o aprofundamento da temática em território nacional, assim como levantar ações de inclusão
efetivas.
REFERÊNCIAS
production.s3.amazonaws.com/0000061489/c6a8e4cc-8591-4e08-a0a4-8e17c2f95685.pdf.
Acesso em: 03 Jul. 2022
GUEDES, M. ONU: empresas se preocupam com diversidade, mas não promovem inclusão
efetiva. CNN Brasil, 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/onu-
empresas-se-preocupam-com-diversidade-mas-nao-promovem-inclusao-efetiva/. Acesso em:
25 de Maio de 2022.
RESUMO
Dibs em busca de si mesmo narra a trajetória de uma criança no isolamento e, após processo
terapêutico, sua abertura para o mundo. Na escola ele recuava até o canto da sala, e lá
permanecia agachado, cabeça baixa, braços dobrados e firmemente cruzados sobre o peito,
ignorando o mundo à sua volta. Em casa, vivia uma vida desequilibrada, por vezes, em um
mutismo e em outras, na agitação. O primeiro contato da psicóloga com Dibs foi o convite para
levá-lo a uma espécie de brinquedoteca. Ela afirma: "Queria que a iniciativa de tecer os laços
de nossas relações fosse dele". Muitas vezes, essa abertura da criança pela comunicação é
realizada pelos adultos, em sua ansiedade, privando-a de construí-la. Nesse sentido, um dos
objetivos da psicóloga no estabelecimento dessa relação com Dibs era ajudá-lo a conseguir
independência emocional e autonomia. A autora do livro, Dibs em busca de si mesmo, Virginia
Mae Axline, tornou-se autoridade reconhecida internacionalmente, ao desenvolver a técnica de
ludoterapia no tratamento de crianças com distúrbios emocionais.
Palavras-Chave: Processo terapêutico, Ludoterapia, Distúrbios emocionais.
ABSTRACT
Dibs in search of himself narrates the trajectory of a child in isolation and, after a therapeutic
process, his opening to the world. At school he would retreat to the corner of the room, and
there he would crouch, head down, arms folded and tightly crossed over his chest, ignoring the
world around him. At home, he lived an unbalanced life, sometimes in silence and at other times
in agitation. The psychologist's first contact with Dibs was the invitation to take him to a kind
of toy library. She says: "I wanted the initiative to weave the bonds of our relationships to be
his." Often, this opening of the child to communication is carried out by adults, in their anxiety,
depriving them of building it. In this sense, one of the psychologist's goals in establishing this
relationship with Dibs was to help him achieve emotional independence and autonomy. The
author of the book, Dibs in Search of Himself, Virginia Mae Axline, has become an
internationally recognized authority for developing the technique of play therapy in the
treatment of children with emotional disorders.
Keywords: Therapeutic process, Play therapy, Emotional disorders.
1 INTRODUÇÃO
1
Discente do 8º período do curso de Psicologia da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – FCRN.
2
Professora doutora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN e discente do 8º período do
curso de Psicologia da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte – FCRN.
1249
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Iniciamos nossa pesquisa realizando algumas reflexões sobre o livro, Dibs: Em busca
de si mesmo, partindo do entendimento de que o livro é um auxílio ao terapeuta aprendiz. Dessa
forma, passamos a relatar a narrativa da obra e a perceber como se desenvolve a trajetória de
uma criança no isolamento que após processo terapêutico obtêm uma abertura para o mundo.
1250
Dibs vai ao seu primeiro dia no Centro, lá inicia suas primeiras comunicações através
dos brinquedos, das tintas, dos lápis de cor, da caixa de areia. Sentiu dificuldades para tirar o
casaco, as luvas, o chapéu e, principalmente, os sapatos quando entrou na caixa de areia, para
tanto, necessitou da ajuda da psicóloga. Na verdade, aquela criança estava não somente pronta
para emergir, mas já começando a longa aventura do desabrochar. Qualquer que fosse seu
problema, podíamos agora retirar-lhe o rótulo de retardado mental. A psicóloga enfatiza ainda
que: Seria um ato de violência invadir seu mundo para tentar arrancar-lhe respostas. Se
conseguisse fazê-lo sentir-se confiante e uma pessoa que tem verdadeiras razões para suas
atitudes, se pudesse transmitir-lhe a convicção de que não há respostas preestabelecidas, e nem
pressa para fazer qualquer coisa - Dibs poderia conquistar, mais e mais, um sentimento de
segurança em si mesmo, para entender e aceitar suas próprias emoções.
No decorrer dos atendimentos fica claro para a psicóloga que Dibs tinha um vocabulário
rico, embora não o usasse. Dibs desenhou uma casa e deu de presente a psicóloga, foi quando
ela chega a uma primeira conclusão de que "Ali estava uma criança muito capaz, de um alto
nível intelectual, cujas habilidades estavam dominadas por seu distúrbio emocional."
Dibs se sentia tão bem na sala de ludoterapia que não queria sair após o término da
sessão. Foi quando a psicóloga começou a pôr limites de tempo, "quando este tempo termina,
não importa como você se sente sobre a questão, não importa como eu me sinta ou como
qualquer pessoa se sinta sobre isso, o tempo se esgotou e nós dois temos que deixar a sala de
brinquedos. Agora, está na hora de sairmos".
Para a psicóloga, o processo terapêutico bem-sucedido depende do equilíbrio mantido
entre o que a pessoa traz para a sessão e o que ela leva. Dibs oscilava muito no início da terapia,
com comportamentos ora muito intelectualizados, ora infantilizados. A psicóloga não desejava
confinar Dibs a um tipo restritivo de comportamento. Ela queria que Dibs aprendesse que era
uma pessoa com seus variados aspectos, e fazê-lo lidar com isso era um dos objetivos.
A primeira referência que Dibs fez de sua escola, foi sobre o coelhinho da escola que
havia observado em uma jaula. Ali foi o indício de que, embora não fosse um aluno ativo e
participante do grupo, estava observando, aprendendo, refletindo, extraindo conclusões,
enquanto sondava, à margem dos acontecimentos ao seu redor.
Dibs agora que começou a entender seu medo e a descobrir verdades, ele ia crescendo e
desabrochando ao longo das sessões. Estava trocando seu pavor, sua raiva e suas angústias pela
esperança, confiança e alegria. Sua profunda tristeza e seu sentimento de derrota estavam se
1251
dissolvendo. O pai de Dibs se mostrou uma pessoa com um autocontrole elevado, pois quando
foi buscá-lo não deixou transparecer qualquer agressividade, apesar de não deixar Dibs falar.
A mãe de Dibs ligou para a psicóloga e marcou uma sessão, ela se mostrou preocupada
com Dibs. Como a mãe de Dibs foi quem marcou a sessão, a psicóloga se manteve em silêncio,
para que a mãe do garoto pudesse justificar sua ida. A mãe de Dibs com muita dificuldade,
relata que tem tentado com todas as suas forças entendê-lo, mas sente-se como quando ele ainda
era apenas um bebê. “Nunca havia cuidado de nenhuma criança antes dele, nunca pude entender
Dibs. Ele foi um desgosto... um desapontamento desde seu nascimento”. Ela não havia
planejado ter uma criança, em sua concepção sua gravidez foi um acidente, no qual, fez
desmoronar todos os planos do casal, incluindo, sua vida profissional. Relatou que antes de
Dibs era um casal muito feliz. Afirmou que seu marido ressentiu-se com sua gravidez. “Sempre
achou que deveria tê-la evitado, [..] eu também me ressenti com o fato”. Ela afirmou que seu
marido se afastou dela, enterrando-se em seu trabalho. E acaba justificando ao dizer que, “ele é
cientista. Um homem brilhante, mas fechado. E muito, muito sensível”.
Ela era cirurgiã, eu que adorava meu trabalho, disse ela. O casal tinha um círculo seleto
de amizade, pessoas intituladas por ela como brilhantes. O sentimento dela era que Dibs ao
nascer destruiu tudo, ela afirma que o menino sofria de esquizofrenia ou de autismo, se não
fosse retardado mental.
Relatou ainda, que investigou se Dibs realmente teria algum desses transtornos, mas não
obteve a resposta que procurava. Disse ela, “[...] fomos advertidos pelas assistentes sociais de
que nossa reação expressava hostilidade e resistência. [...] O psiquiatra falou-nos que,
considerando nossas experiências, seria muito franco conosco”. Para o médico, Dibs não
apresentava traços de deficiência intelectual, nem psicopatia, nem lesão cerebral, para o
psiquiatra Dibs é apenas a criança mais rejeitada e emocionalmente carente que até então havia
conhecido, e falou que quem necessitava de ajuda clínica era o casal, sugerindo assim,
tratamento para os dois. A mãe de Dibs teve uma segunda filha, Dorothy, nasceu um ano depois
de Dibs, ele achou que uma outra criança poderia ajudá-lo a se relacionar melhor.
Dibs teve sarampo e por isso, não pode ir a uma das sessões, na sessão seguinte ele
demonstrou autoconfiança ao fazer uma pergunta e dizer que iria verificar por si mesmo. Na
terapia, a formulação de perguntas é tão importante quanto a obtenção de respostas precisas e
honestas. Se mostrou muito curioso quando indagou a psicóloga, “Que é terapia? - Terapia?”
Deixando-a surpresa com tal pergunta.
1252
Com o tempo a psicóloga notou que Dibs estava sendo tratado com mais consideração,
respeito e compreensão, em sua casa. Seu pai estava permitindo que suas potencialidades
desaparecessem, possivelmente os pais estariam modificando-se para melhor entender Dibs, ou
seria Dibs quem havia mudado em sua capacidade de relacionar-se com os pais e por isso podia
aceitar a aproximação de ambos mais naturalmente, a psicóloga se indagou.
Em uma das sessões Dibs começou a falar, “há muitas crianças em minha classe na
escola, eu gosto delas, gaguejando, quero que elas gostem de mim”, mas o menino não as queria
ali na sessão com ele e a psicóloga.
A mãe de Dibs faz revelações sobre o novo comportamento de Dibs dizendo que ele está
muito melhor, está mais calmo e mais feliz. Que nunca mais foi acometido de acessos de raiva,
dificilmente chupa o polegar, olhava-os nos olhos, responde a maior parte das vezes, quando
lhe fazem perguntas. Mostrou-se interesse pelo que está ocorrendo com sua família. Começou
a brincar com sua irmã, quando ela estava em casa, demonstra um pouco de afeição. Sua mãe
afirmou, que em certas ocasiões, Dibs tem-se aproximado dos pais para fazer comentários sobre
si próprio. A mãe do menino fala à psicóloga que agora sente-se livre desse medo, pois ele está
começando a comportar-se de uma maneira mais normal.
Miss Jane e Hedda são as professoras de Dibs, encontram-se com a Psicóloga e
explanam o quanto estão felizes em comunicar que notaram uma grande mudança em Dibs,
uma transformação gradativa, ele responde as perguntas, em várias ocasiões é ele próprio quem
inicia uma conversa, está calmo, feliz e demonstrando interesse pelas outras crianças, sua
linguagem quase sempre é correta, mas quando algo o aborrece, ele retrocede a seu modo
abreviado, imaturo, de falar. Geralmente, refere-se a si próprio como "eu", gradualmente, ele
foi se aproximando do grupo. De início, respondia com breves palavras às questões que lhe
eram dirigidas.
A maior mudança ocorreu por ocasião de seu aniversário, relatou uma das professoras,
[...] "No dia em que anunciamos o aniversário de Dibs, não imaginávamos qual seria sua reação,
anteriormente ele não participava. Dibs cantou, "Parabéns, querido Dibs, parabéns para mim!"
Ele distribuiu cada pedaço de bolo com um grande sorriso no rosto. Continuava cantando: "Hoje
é o meu aniversário. Meu aniversário. Estou completando seis anos."
Em uma das sessões relata que Dibs começou a se abrir para criar vínculo com seu pai.
"Bom dia, papai. Que você tenha um dia feliz hoje". O pai de Dibs colocou seu jornal de lado e
respondeu-me: "Bom dia, Dibs. Tenha um dia muito feliz também". E sabe que tive? Foi, de
1253
fato, um dia feliz o de hoje, disse Dibs a sua psicóloga. Dibs caminhava em volta da sala,
mantendo no semblante a luz do seu sorriso.
Na escola Dibs faz um livro para mamãe, e conta como foi confeccionar. “Assim,
recortei algumas folhas de um catálogo de sementes. Preguei-as num papel colorido e escrevi o
nome de cada flor sob a gravura. Juntei todas as páginas e costurei-as com linha verde”. Vou
fazer alguma coisa para papai disse ele, e estou tentando imaginar um presente para Dorothy,
“Darei para vovó um pedacinho do final do ramo de minha árvore favorita, “estou crescido
agora”, continuou, encontrei meus inimigos e lutei contra eles. Então, descobri que já não estava
amedrontado, descobri que já não era infeliz e senti amor. Agora, sou forte, grande e corajoso”.
Então sua psicóloga conclui como Dibs havia mudado, aprendendo como ser ele próprio, a
acreditar em si, a libertar-se. Estava tranqüilo e feliz, estava apto a ser uma criança agora.
A auto-regulação que Dibs veio a desenvolver foi sem dúvida fundamental para seu
“ajustamento criativo”. É por isso que Dibs é um menino criativo, pois implica sua ação no
mundo a fim de torná-lo o mais assimilável possível, ficando com aquilo que o nutre e recusando
e/ou transformando aquilo que não lhe serve.
Conforme Aguiar (2014, p. 62) os ajustamentos criativos podem ser entendidos então
como a expressão, a cada momento, da melhor forma possível de esse indivíduo autorregular-
se no contato com o mundo, caracterizando o processo de desenvolvimento como uma sucessão
contínua de ajustamentos criativos ao longo do tempo, citando Perls, (1977).
1254
3 METODOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
1255
Dibs era uma criança inteligente forte e corajosa, mas não possuía o estímulo necessário
para desenvolver suas habilidades. Desse modo, vivia amedrontado e infeliz. Também não
havia por parte dos pais a compreensão necessária para que o filho viesse a desenvolver suas
potencialidades, sendo rotulado, na maioria das vezes como retardado mental, o que complicava
a evolução do quadro de desgosto e infelicidade de Dibs.
Com o processo terapêutico as diferentes potencialidades de Dibs foi se desenvolvendo
num tempo e espaço capazes de aderir ao que é visualizado ou escutado por intermédio da
própria criança, adentrando ao processo de aprendizagem que aprofunda a participação dos
sujeitos da aprendizagem numa constante interação e diferenciação capaz de fortalecer
capacidades próprias e desenvolve-las.
O processo terapêutico utilizado foi o da ludoterapia, a qual se concentra na criança,
conduzindo-a a buscar por si mesma sua própria compreensão de mundo, de si e do que o rodeia.
A ludoterapia é uma técnica psicoterápica de abordagem infantil que se baseia no fato de que
brincar é um meio natural de auto-expressão da criança. O brincar terapêutico tem sido objeto
de estudo da corrente humanista da psicologia, pois é considerada como mais uma possibilidade
diagnóstica e terapêutica nos atendimentos.
Desse modo, durante as sessões de ludoterapia é dada a oportunidade da criança de
libertar os seus sentimentos e problemas através da brincadeira. Na ludoterapia a criança tem o
brinquedo e a brincadeira para exprimir os seus sentimentos. Assim, os distúrbios emocionais
foram paulatinamente sendo superados e Dibs na busca de si mesmo, foi reencontrando-se e
harmonizando-se consigo próprio, com seus familiares e integrantes da escola, passando a ter
uma vida mais saudável.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
1256
Como o desenvolvimento de Dibs e suas formas de contato foram reprimidas, ele não
pode expressar-se de maneira natural, de modo a se comportar como um bebê. Aguiar (2014, p.
79), os adultos reprimem as crianças de maneira que elas aprendem desde muito cedo que olhar
para os outros “é feio”, que não se deve “encarar” os adultos, pois se trata de um sinal de
insubordinação, que não se deve olhar para “pessoas diferentes” e que a curiosidade pode ser
punida. Isso pode vir a prejudicar seus ajustamentos criativos criando uma forma de fuga que é
natural do ser humano, temos uma tendência de fugir de coisas que não nos trazem satisfação
ou prazer.
Outro aspecto a ser considerado é que muitas vezes uma criança não é aceita para terapia
se seus pais se recusam a participar do tratamento. Ninguém pode imaginar o número de
crianças que retornam a seus lares bloqueados e sem apoio profissional. Mas o que ocorre é
que, apesar da aquiescência consciente de certos pais em tentar solucioná-los, permanecem eles
em tal nível de resistência, que muito pouco pode ser conseguido. Se, de fato, não estão prontos
para tal experiência, dificilmente poderão tirar proveito dela.
Quantas crianças superdotadas desenvolveram-se de uma maneira desequilibrada e
ficaram aprisionadas em seu mundo solitário! Tal inteligência superior cria sérios problemas de
ajustamento pessoal e social (AXLINE, p.152).
"Dibs - Em Busca de si mesmo", aborda um tema que instiga o leitor a querer chegar
até o final e desvendar a trama de Dibs na busca por si mesmo. Esta obra nos chamou bastante
atenção, como uma criança atípica e um diagnóstico pode mudar a vida de uma família, os
temas abordados como: comportamentos de Dibs com sua família, na escola e nas sessões de
ludoterapia vão sendo transformados no decorrer da história. Este livro será de suma
importância e irá proporcionar aos leitores, grandes contribuições, para a vida e prática de
qualquer um que se propor a ler, em especial aos profissionais de psicologia, entre outros que
possam se deleitar com as peculiaridades de Dibs.
REFERÊNCIAS
AGUIAR, Luciana. Gestalt-terapia com crianças: teoria e prática. São Paulo: Summus,
2014.
1257
AXLINE, Virgínia M. Dibs Em busca de Si Mesmo. Rio de janeiro: Círculo do livro, 1986.
KIYAN, Ana Maria Mezzarana. E a Gestalt Emerge - Vida e Obra de Frederick Perls. Col.
Identidades. 2. ed. São Paulo: Altana, 2006.
1258
RESUMO
O presente trabalho objetivo compreender a relação entre o movimento feminista e a saúde
mental da mulher contemporânea, entendendo como esse movimento se articula na promoção
de saúde. Tem-se como objetivos compreender as contribuições da sociedade no adoecimento
das mulheres e revisar a construção histórica do feminismo e sua relevância para as mulheres.
O método de pesquisa utilizado foi o de revisão integrativa de literatura a fim de correlacionar
os temas de maneira integrada e organizada. Através dessa revisão, foi possível verificar as
nuances de adoecimento mental das mulheres a partir da influência violenta da sociedade e
também observar como o movimento feminista se constitui historicamente como uma
articulação de potência em promoção de saúde, inclusive saúde mental às mulheres. Conclui-se
a escassa produção de trabalhos científicos que abordem essas temáticas concomitantemente e
a urgência em trabalhar neste resultado, visto que é uma temática relevante e pouco analisada.
Palavras-chaves: Saúde mental. Mulher. Feminismo.
ABSTRACT
The present work aims to understand the relationship between the feminist movement and the
mental health of contemporary women, understanding how this movement is articulated in
health promotion. The objective is to understand the contributions of society in the illness of
women and to review the historical construction of feminism and its relevance to women. The
research method used was the integrative literature review in order to correlate the themes in an
integrated and organized way. Through this review, it was possible to verify the nuances of
women's mental illness from the violent influence of society and also to observe how the
feminist movement is historically constituted as an articulation of power in health promotion,
including mental health for women. It concludes the scarce production of scientific works that
approach these themes concomitantly and the urgency to work on this result, since it is a relevant
theme and little analyzed.
Keywords: Mental health. Women. Feminism.
1 INTRODUÇÃO
Ao considerar o feminismo como um movimento sociopolítico de construção histórica
pautada em ideais de libertação e justiça social, é possível fazer uma interlocução entre este fato
1
Graduanda de Licenciatura em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte- E-mail:
jordanafeitosa2@gmail.com
2
Docente da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte, graduada em Psicologia pela Universidade Estadual da
Paraíba (UEPB), com MBA em Gestão de Pessoas pela Universidade Potiguar (UnP). – E-mail:
maria.miranda@professor.catolicadorn.com.br
1259
com elementos pertinentes a vivências de mulheres, tanto as que o viveram quanto as que
experimentam os desdobramentos deste feito. Nesse sentido, Kehl (2016, p. 50) afirma que:
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Adichie (2017) tem como uma de suas maiores contribuições à literatura a demarcação
do movimento feminista como um lugar de todos. Ou seja, homens, mulheres e todas as pessoas
devem se implicar no feminismo a partir de uma visão igualitária de direitos e possibilidades.
Para a autora, é inconcebível pensar a construção de uma sociedade sem fazer o recorte de
gênero. Assim, ela aborda o assunto de maneira sólida, perspicaz e acessível.
Nesse sentido, a autora questiona alguns paradigmas sociais e como estes são destrutivos
às mulheres e ainda implica o movimento feminista nessas questões de maneira direta. “O
problema da questão de gênero é que ele prescreve como devemos ser em vez de reconhecer
como somos. Seriamos bem maia felizes, mais livres para sermos quem realmente somos se não
tivéssemos o peso das expectativas de gênero” (adichie, 2017 p 36). Com isso, ela nos alerta
para como a divisão de tarefas e ideais acerca de homens e mulheres causam sofrimento nesses
sujeitos.
Em contrapartida, Butler (2019) rompe as barreiras de sexo e gênero ao pensar que uma
das pautas do movimento feminista seria transgredir a binaridade entre esses conceitos. A autora
inicia a discussão de que os ideais de sexo e gênero são plurais e diversos à medida que ambos
foram construídos socialmente a partir de discursos científicos alicerçados em interesses
políticos de manutenção do status quo. Compreendendo a imutabilidade desse discurso entre a
sociedade, deve-se pensar como esse discurso foi criado e mantido, visto que os conceitos de
sexo e gênero sempre foram vistos como duais e opostos.
Para a autora, falar de sexo e gênero como destoantes é limitar a discussão e supor que
esse sistema binário é natural, quando não o é. O gênero e o sexo estão culturalmente inscritos
no discurso e não são conceitos estáveis. (Butler, 2019). Nesse sentido, ela implica o
movimento feminista à medida que coloca em pauta o termo “mulheres” e suas limitações. A
escritora problematiza a suposição feminista de que esse conceito determine uma unidade entre
esses sujeitos. Dessa forma, inaugura o debate feminista político da não identidade comum entre
as mulheres.
1261
Com isso, para entender um pouco melhor a importância de analisar esses conceitos da
discursividade, é possível recorrer a Salih (2002), em que a autora coloca que, mesmo
parecendo sutil e despretensiosa, a linguagem é sempre intencional, parecendo algo que
simplesmente descreve o corpo, para a autora, ele o constitui.
Ao prosseguirmos o raciocínio acerca do discurso e da linguagem, Bordin (2014) afirma
que, para Foucault, o discurso é um conjunto de ideais que entram em consenso entre os
indivíduos a partir das relações de poder entre eles, visto porque, já que para esse teórico, o
conhecimento cientifico é baseado também nessa relação hegemônica.
Ainda para Foucault, os ditos “discursos de verdade” são formados e validados entre os
sujeitos através de suas relações e a partir dos elementos de comportamentos, valores e a própria
linguagem. Bordin (2014) resgata os conceitos daquele autor para valer a necessidade de se
pensar as relações a partir de uma norma de produção da linguagem, escancarando a
importância de se pensar esse elemento e como ele atravessa os sujeitos.
Ao considerarmos a importância de resgatar conceitos incipientes, Homem, Caligaris
(2019) debatem um pouco sobre o ódio à mulher e como isso se tornou um fenômeno
contemporâneo. Os autores abordam que, na cultura ocidental, a misoginia começou por duas
vias: Pandora e Eva. A primeira, a que por curiosidade, permitiu que toda a maldade do mundo
fosse liberada. E a segunda, que cometeu o primeiro pecado, amaldiçoando todas as outras
mulheres.
De acordo com esses autores, essas figuras representam todo o desejo sexual atribuído
a essas mulheres e que os homens não podem conter, assim se frustram e se revoltam. Essas
figuras, vistas como tentadoras, revelam como a sociedade enxerga as mulheres e como isso
reverbera na vida desses sujeitos.
Ao aproximar-se um pouco da contemporaneidade, Kehl (2016) pontua a participação
das mulheres na Revolução Francesca como um grande marco de contribuição política. A
principal motivação para esse fato se deu pela influência dos ideais filosóficos do Iluminismo -
liberdade individual e autonomia do sujeito. Esses conceitos fizeram as mulheres europeias
começarem a se questionar sobre submissão, maternidade e casamento.
Congruente a isso, Friedan (1971) problematiza o estilo de vida das mulheres à medida
que o entende como limitante, uma vez que, de acordo com a escritora feminista, a noção de
que as mulheres são as únicas responsáveis pela manutenção domiciliar, cuidado aos filhos e
afins aprisiona-as em um falso ideal de autonomia. A autora relaciona essa vivência desigual
1262
ainda ao casamento e à maternidade, visto que são elementos lidos socialmente como inerentes
às mulheres.
Nesse sentido, Adichie (2017) em seu manifesto feminista provoca
Já que pertenço ao sexo feminino, espera-se que almeje me casar, espera-se que faça
minhas escolhas levando em conta que o casamento é a coisa mais importante do
mundo, o casamento pode ser bom, uma fonte de felicidade, amor e apoio mútuo. Mas
por que ensinamos as meninas a aspirar o casamento, mas não fazemos o mesmo com
os meninos? (ADICHIE, 2017, p. 32).
ressaltando nomes como Bertha Luz, Cecilia Guimarães e Alzira Soriano. Em 1932, no governo
de Getúlio Vargas, as mulheres conseguiram o direito ao voto.
Por fim, a autora coloca quarta onda como a revolução sexual e literária na história das
mulheres. Iniciou-se nos anos 1970 e teve como principal marco a pioneira discussão acerca de
sexualidade, métodos contraceptivos e aborto. Além disso, as brasileiras tiveram que demarcar
seu lugar na política através da luta contra a ditadura militar, que pairava nesses tempos de
maneira violenta e institucionalizada. Foi também nessa época que debates como amamentação,
discriminação contra mulheres negras e população feminina periférica vieram à tona.
Especificamente sobre a discriminação contra mulheres negras, pauta crucial para o
movimento feminista, Ribeiro (2019) afirma que conhecer a história do feminismo negro é
crucial para entender as opressões sofridas por essas mulheres, que além de vivenciarem o
machismo, passam pelo racismo estrutural.
A autora também alerta sobre o racismo no Brasil pautado na neutralidade racial,
elemento que alicerça essa violência contra a população negra. De acordo com ela, o sistema
racista perpassa basicamente todos os âmbitos da vida social comum e, em muitos deles, passa
desapercebido. Assim, torna-se urgente a responsabilização de toda a sociedade civil afim da
construção de uma sociedade consciente de seus sistemas de opressão e disposta a lutar contra
eles.
Tomado como base esse aparto histórico, De Jesus e Almeida (2016) colocam que o
movimento feminista foi crucial para o progresso das mulheres diante a história, sendo a
pesquisa feminista responsável por reavaliar o poder das mulheres e subverter o ponto de vista
de dominação em que esses sujeitos foram colocados.
As autoras supracitadas definem que o movimento feminista se refere às lutas das
mulheres como um todo e que seus objetivos estão alicerçados na superação da hierarquia
masculina e na desigualdade de gênero. Além disso, as autoras definem as Grandes Guerras
como acontecimentos históricos de extrema relevância para as mulheres, já que foi nesse
momento que as elas foram inseridas de maneira institucional e regular no mercado de trabalho.
Assim, corroborando com isso, Zirbel (1998) coloca o movimento sufragista como um
ponto crucial para entender a luta das mulheres no Brasil. De acordo com a autora, o movimento
das mulheres brasileiras foi organizado a partir de um levante popular, visto que o período
vigente era o do Estado Novo e depois a Ditadura Militar. Assim, as mulheres foram sujeitos
1264
políticos responsáveis por demarcar um lugar de luta e resistência frente aos moldes de governos
autoritários do país.
Ainda, Zirbel (1998) afirma que as principais demandas do feminismo dizem sobre
reinvindicações acerca da desigualdade nos direitos civis, políticos e trabalhistas, tentando
subverter a cultura instaurada, desde a religião, sistema jurídico e vida social comum como um
todo.
No Brasil, de acordo com Goldenberg (2001), o feminismo foi um movimento social de
extrema importância ao se pensar a formação histórica do país. Desenvolvido a partir de uma
colonização europeia violenta e influenciada pela Igreja Católica, o Brasil foi construído a partir
de um modelo patriarcal e conservador, não havendo espaço para outras formas de construir
família, religião e sociedade. Assim, o feminismo tornou-se um elemento crucial para subverter
um pouco dessa lógica no Brasil, sendo um movimento político indispensável.
Nessa perspectiva, Otto (2004) define que o movimento feminista no Brasil assume
múltiplas facetas e identidades, assumindo papel diverso na sociedade. A autora justifica essa
analise a partir da movimentação política ativa em que as mulheres assumiram desde o Golpe
de 1937 até a Ditadura Militar, que foram marcos históricos de enfraquecimento democrático.
Com isso, percebe-se a relevância do movimento feminista para a emancipação das
mulheres, tanto a nível Brasil quanto internacionalmente. Assim, Gurgel (2010) propõe que o
feminismo no mundo teve sua primeira expressão datada em 1978 a França, que, pela influência
da Revolução Francesa, as mulheres começaram a romper as estruturas de dominação já
instauradas. Foi nesse momento que as mulheres, de forma incipiente, reivindicaram seus
direitos políticos.
Kehl (2016) fortalece essa discussão e acrescenta que a participação política das
mulheres na Revolução Francesa foi influenciada principalmente pelos ideais filosóficos do
iluminismo, que pautavam a autonomia e liberdade dos sujeitos. Destarte, foi o conhecido
pensamento das Luzes que motivou as primeiras movimentações feministas na Europa, isso
porque valorizava a emancipação individual, recusando qualquer forma de submissão dos
indivíduos políticos.
Desse modo, compreende-se a luta feminista como um movimento social globalizado
influenciado por ideais filosóficos, políticos e culturais da época. Contudo, alguns elementos
acerca desse movimento foram também construídos a partir de seu momento histórico, não
1265
conseguindo romper algumas barreiras. Uma delas foi a inserção de mulheres negras em suas
movimentações (Davis, 2016).
A partir disso, essa autora aponta a fragilidade histórica em que o movimento sufragista
se deu por excluir mulheres negras de suas organizações. Nas convenções populares acerca do
sufrágio feminino, as únicas aceitas eram mulheres brancas de classe média que colocavam
apenas seus interesses em pautas, excluindo mulheres negras do debate.
A autora, enfim, ressalta o discurso de uma companheira negra em uma das convenções
pelo sufrágio feminino nos Estados Unidos. Durante a primeira Convenção Nacional pelos
Direitos das Mulheres, a mulher negra Sojourner Truth proferiu um dos discursos mais
marcantes da história do feminismo. Ao ser questionada sobre a força das mulheres em
sustentarem o direito ao voto, ela respondeu:
Arei a terra, plantei, enchi os celeiros, e nenhum homem podia se igualar a mim! Não
sou eu uma mulher? Eu podia trabalhar tanto e omer tanto quanto um homem – quando
conseguia comida- e aguentava chicotes da mesma forma! Não sou eu uma mulher?
Dei luz à treze crianças e vi a maioria ser vendida como escrava e, quando chorei em
meu sofrimento de mãe, ninguém, exceto Jesus, me ouviu! Não sou eu uma mulher?
(DAVIS, 2016, p. 71).
No prosseguir da reunião, ao ser questionada sobre o suposto princípio cristão que está
em detrimento da supremacia dos homens, respondeu: “Aquele homenzinho de preto ali, ele diz
que as mulheres não podem ter os mesmos direitos do que os homens porque Cristo não era
uma mulher. E de onde veio Cristo? De onde veio seu cristo? De Deus e de uma mulher! O
homem não teve nada a ver com ele.” (DAVIS, 2016, p.71)
Sobre o feminismo negro, Ribeiro (2018) acrescenta que esse movimento em especifico
começou a ser articulado a partir da segunda onda do feminismo, entre os anos de 1960 e 1980,
nos Estados Unidos, influenciado principalmente pela fundação National Black Feminist. Já no
Brasil, o feminismo negro começou a criar potência nos anos 1980 e tem como objetivo
principal inserir o debate da negritude no movimento feminista, dando voz e vez às demandas
das mulheres negras, já que essas mulheres são acometidas pelas consequências do machismo
e racismo combinados.
Com isso, aplica-se o conceito de interseccionalidade. De acordo com Akotirene (2019),
essa ideia impede reducionismos e se implica compreender as estruturas modernas mais afundo,
investigando os contextos e fazendo intersecções entre as discriminações e violências. Isso
1266
culturais que permitam a existência de outras narrativas, ultrapassando a lógica dual e binária
estabelecida. Assim, complementa:
Além disso, mesmo que os sexos pareçam não problematicamente binários em sua
morfologia e constituição (ao que será questionado), não há razão para supor que os
gêneros também devam permanecer em número de dois. A hipótese de um sistema
binário dos gêneros encerra implicitamente a crença numa relação mimética entre
gênero e sexo, na qual o gênero reflete o sexo ou é por ele escrito (BUTLER, 2019, p.
26).
a propaganda midiática acerca dos perigos que essas mulheres poderiam causar. Ou seja,
durante a maior perseguição de pessoas da história, uma das estratégias utilizadas foi a
manipulação em massa a fim de criar uma imagem de que mulheres seriam loucas e perigosas,
gerando uma onda de medo, revolta e perseguição.
Foucault (1978) estabelece fortemente a relação da loucura como uma estratégia social
de manutenção de controle. Esse fenômeno foi a forma encontrada pela burguesia de eliminar
aqueles que fugiam a regra dentro da sociedade, aprisionando-os em um grupo marginalizado.
Daí a supor que o sentido do internamento se esgota numa obscura finalidade social
que permite ao grupo eliminar os elementos que lhe são heterogêneos ou nocivos, há
apenas um passo. O internamento seria assim a eliminação espontânea dos "a-sociais";
a era clássica teria neutralizado, com segura eficácia — tanto mais segura quanto cega
— aqueles que, não sem hesitação, nem perigo, distribuímos entre as prisões, casas de
correção, hospitais psiquiátricos ou gabinetes de psicanalistas. (FOUCAULT, 1978,
p. 28)
compreendendo o adoecimento mental como algo individual, é preciso que o mal-estar coletivo
também seja levado em perspectiva, já que esse fator vai ser crucial para entender a forma como
as relações humanas se estabelecem. A autora também coloca essa intersecção como necessária
ao pensar o campo da saúde mental e do gênero, pois esses elementos se tornam indissociáveis.
Na perspectiva da saúde mental, Kohen (2001) afirma que, ao pensar a saúde mental da
mulher especificamente, alguns elementos são imprescindíveis. Cuidado pré e pós-natal, saúde
dos filhos, comorbidades, distúrbios mentais, violência doméstica, saúde reprodutiva e afins são
alguns desses temas. Assim, é necessária uma reforma na maneira em que a saúde aborda esses
temas, visto que são de suma importância para compreender a vivência de mulheres
relacionadas à saúde mental.
Assim, sejam tomadas pelo lugar da loucura, depressão ou outros diagnósticos, as
mulheres tomadas pela inconformada desse lugar na sociedade são rechaçadas, marginalizadas
e violentadas. Segundo Garcia (1995), pelo fato de as mulheres serem atravessadas por essa
imposição, é mais comum que esses sujeitos vivenciem sentimento de culpa pelos seus desejos
e colocações. Com isso, explica-se a grande incidência de internação de mulheres por tentativa
de suicídio, depressão pós-parto, desmaios e cefaleias.
Com isso, entende-se que dado o nome de histeria à condição de repressão sexual das
mulheres, fato esse que ao longo da história sempre admitia nomes diferentes e se relacionava
ao patológico, porém não era explicado apenas pelo fisiológico. As conhecidas “histéricas de
Freud” explicitavam essa relação desigual que se colocava sobre as mulheres da época. A
repressão sexual de desejo, sentido e corpo afetavam esses sujeitos de maneira visceral.
3 METODOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
1272
Ainda, a autora chama atenção para como esse panorama da saúde está implicado
diretamente na cultura e política, pois respondem também às vulnerabilidades socioeconômicas
que pautam o processo saúde-doença Lima (2022).
Logo, entende-se que a questão da saúde não pode ser desvinculada dos processos
sociais vigentes, e assim funciona para a saúde mental. Fonseca (1985) aponta justamente para
a influência de multifatores ao tratar-se da saúde mental. Fatores biológicos, sociais, fase de
desenvolvimento, antecedentes genéticos e estilo de vida devem ser considerados para abordar
o assunto de maneira mais abrangente.
Consonante isso, Martins (2004) salienta que a relação entre saúde mental e
sociabilidade é estreita e deve ser levada em consideração. Com isso, fatores de riscos
psicossociais são os mais alarmantes ao pensar saúde mental: como o sujeito se relaciona com
o ambiente externo, por exemplo, pode ser um fator de risco à saúde mental por tratar-se do
contexto social em que está inserido.
Apesar de abordar o tema da saúde mais especificamente no âmbito educacional,
algumas contribuições de Hoffmann et al (2017) são importantes serem colocadas. De acordo
com os autores, a desigualdade de gênero são elementos agravantes no que diz respeito à saúde
mental das mulheres, visto que essas passam por mais situações de vulnerabilidade tanto no
ambiente de trabalho quanto na esfera privada.
Nessa perspectiva, Souza et al (2021) acrescentam que as desigualdades de gênero no
ambiente de trabalho se tornam mais alarmantes por escancarem uma tripla jornada enfrentada
pelas mulheres, em que são determinadas a darem conta tanto da esfera produtiva quanto
reprodutiva da sociedade, sobrecarregando esses indivíduos de maneira significativa. Com isso,
demonstra-se a influência do meio social para o adoecimento mental de mulheres e a pressão
descomedida que essas sofrem.
Mais especificamente voltada à saúde, Mendonça e Gonçalves (2020) implicam que a
respeito da saúde coletiva no Brasil, as manifestações populares de resistência foram
1274
fundamentais na luta do povo, principalmente no que se refere a não colocar essas pessoas em
papel de espectador e sim de protagonista.
Os autores também chamam atenção para o papel do feminismo negro nessa perspectiva.
“O feminismo negro vem sendo o verdadeiro responsável pela grande teoria de tudo unificada
coo jamais a esquerda ousou conceber: interseccionalidade/encruzilhada” (MENDONÇA e
GONÇALVES, 2018, p. 7), ressaltando assim, a importância de se pensar os movimentos
sociais como parte atuante na luta sobe direitos em saúde.
Além disso, Oliveira et al (2021) assinala que um grande equívoco nos debates em saúde
é não considera questões de trabalho, relações de classe e violência. Especificamente sobre as
mulheres, as autoras consideram de suma importância ressaltar que violência doméstica é tema
importante no que diz respeito àsaúde das mulheres. Nisso, como já debatido anteriormente, o
movimento feminista implica em estudar e combater, demonstrando a necessidade dessa
organização em assuntos voltados a saúde da mulher.
Silveira, Paim, Adrião (2019) acrescentam que, durante o período da Ditadura Militar
no Brasil, os movimentos feministas tiveram papel de protagonismo no que diz respeito à luta
pela educação, cidadania e inclusive, saúde. De acordo com os autores, esse período foi marcado
pela extrema instabilidade e precarização dos serviços públicos no país e que, diante disso, o
movimento feminista foi um dos agentes de luta em defesa da saúde.
Nesse sentido, os autores ainda acrescentam a participação de militantes feministas nos
movimentos populares de bairro em cuidado a saúde. Pela ausência do Estado em época de
instabilidade político-social, organizações não governamentais e movimentos sociais se
implicaram em práticas de cuidado à saúde ao redor do país; a partir de criação de grupos e uma
ampla movimentação popular de mulheres com ideais feministas. Isso, mais uma vez,
demonstra o papel histórico que o feminismo ocupa em lugar de resistência a saúde das
mulheres.
Abers, Silva, Tatagiba (2018) afirmam que os movimentos sociais têm ligação direta e
indissociável com a criação de manutenção de políticas públicas numa realidade de Estado
Brasileiro. Tal conexão relaciona a dependência da formulação dessas políticas atrelada ao
posicionamento dos movimentos sociais atuantes.
Concordante a isso, Lavalle et al (2018) pontua que, mais que uma relação próxima, as
políticas públicas e os movimentos sociais mantêm uma relação de dependência mútua. Ou
seja, ambos dependem um do outro para atuarem na sociedade civil, de modo que os
1275
Desse modo, tendo em vista que o lugar ocupado pelas mulheres na sociedade é
estruturalmente adoecedor, Beauvoir (2016) afirma que, ao longo da história, o lugar reservado
às mulheres é de Outro, de um segundo sexo.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
do papel das mulheres na sociedade incita uma revolução além de política, fenomenológica,
pois, ao questionar esse lugar no mundo, muitas questões podem vir à tona.
Ao olhar as produções acerca desses elementos, entende-se que a arte também assume
papel importante nos movimentos sociais. E no movimento feminista não seria diferente. Diante
dessa urgência em subverter a lógica vigente e das reflexões internas causadas pela participação
no movimento, a arte aparece como refúgio e momento de trabalho. Depositando energia
naquilo que é feito, as mulheres usam desse recurso para expressar aquilo que vivem dentro e
pelo movimento. Música, dança, poesia, comédia, teatro e afins surgem como um lugar de
refúgio a esses sujeitos adoecidos que encontram no movimento feminista, um lugar de luta,
vínculo e afeto.
Com isso, a psicologia como ciência e profissão também deve se implicar na resolução
dessa problemática. Visando o sujeito em sua totalidade, considerar os aspectos sociais é de
suma importância para a atuação de psicólogos e psicólogas éticas. Assim, ao trabalhar
juntamente com uma mulher, aspectos socioculturais devem ser pensados, pois sua dor também
é perpassada por essa realidade. Pensar na mulher como um sujeito autônomo, digno e livre é
dever da psicologia.
A comunidade estudantil e profissional da ciência psicológica deve tecer possibilidades
de experiências dessas mulheres além da violência sofrida, e também dar voz e vez a esses
sujeitos. Escutando a dor sofrida e criando espaço seguro para a elaboração dessa dor.
Como está pautado no Código de Ética do profissional de psicologia, os profissionais dessa área
devem trabalhar juntamente com a comunidade a fim de não corroborar com qualquer tipo de
violência, servindo como um instrumento contrário a isso. Desse modo, o psicólogo deve
trabalhar na promoção de saúde e contra as desigualdades sociais estabelecidas, sendo um ponto
de acolhimento a esses sujeitos tão vulneráveis.
Dessa forma, demandam-se mais trabalhos científicos acerca dessa relação, que se
apresenta como extremamente significativa e importante para esse corpo no mundo. Olhar para
como o movimento feminista contribui para a saúde mental das mulheres; é olhar para essas
mulheres; é olhar para essa renúncia ao lutar; é olhar para vivências silenciadas; é olhar para
um círculo de cuidado que se estabelece; é olhar de perto tudo aquilo que não se vê no dia a dia,
mas que está ali, e graças a essas mulheres.
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2015.
RESUMO
O presente artigo discute a saúde mental de estudantes negros em razão dos efeitos das
manifestações racistas, das desigualdades étnico-raciais e do racismo institucional. Segundo a
OMS (Organização das Mundial de Saúde), o Brasil ocupa elevado número de casos de
depressão na América Latina, ou seja, cerca de 12 milhões de pessoas são afetadas pela doença.
A ansiedade é outro transtorno que atinge vários brasileiros, principalmente os jovens negros.
Este trabalho apoia-se na leitura, sobretudo, de Carone; Bento (2002), Tavares (2017), Munanga
(2005). Como metodologia, adotou-se uma discussão bibliográfica sobre a situação de
estudantes negros, cuja luta antirracista tem o envolvimento de grupos organizados por homens
e mulheres comprometidos com o combate ao racismo e à discriminação racial que visa à
persecução da igualdade racial. A partir dos dados obtidos na investigação, os resultados
contribuíram para um panorama condizente com a realidade das práticas de combate ao racismo
racial cotidiano na escola básica.
Palavras-Chaves: Racismo, saúde mental, estudantes negros, manifestações antirracistas.
Abstract
This article discusses the mental health of black students due to the effects of racist
manifestations, ethnic-racial inequalities and institutional racism. According to the WHO,
Brazil has a high number of cases of depression in Latin America, that is, about 12 million
people are affected by the disease. Anxiety is another disorder that affects many Brazilians,
especially young black people. This work is based on the reading, above all, of Carone; Bento
(2002), Tavares (2017), Munanga (2005). As a methodology, a bibliographical discussion was
adopted on the situation of black students, whose anti-racist struggle has the involvement of
groups organized by men and women committed to fighting racism and racial discrimination
aimed at the pursuit of racial equality. Based on the data obtained in the investigation, the results
contributed to a panorama consistent with the reality of practices to combat everyday racial
racism in elementary schools.
Keywords: Racism, mental health, black students, anti-racist demonstrations.
1 INTRODUÇÃO
1
Artigo Científico apresentado à disciplina Trabalho de Conclusão de Curso, como requisito necessário para
obtenção do título de Licenciatura em Psicologia, pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte, em 2021.
2
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte, e-mail:
clara.dantas@aluno.catolicadorn.com.br
3
Psicólogo pela UEPB, Mestre em Educação pela UERN, Docente do Curso de Psicologia da Faculdade
Católica do Rio Grande do Norte, E-mail: francisco.costa@professor@catolicadorn.com.br
1286
2 REFERENCIAL TEÓRICO
suicidas em adolescentes (10-19 anos) de natureza psicológica, tais como aqueles relacionados
ao processo de luto, os conflitos excessivos e de humor. Sofrimentos e angústias que fomentam
a ideação suicida podem alcançar alto grau de intensidade e resultar na prática do ato. (Silva;
Feitosa; Machado, 2019, p. 9)
São muitos os prejuízos no desempenho escolar dos alunos negros devido às práticas
racistas vivenciadas na escola, em que muitas pesquisas atuais revelam cotidianamente. Nelas,
encontram-se altos índices, a evasão escolar do aluno negro acompanhada por sentimentos de
não pertencimento do espaço escolar em relação a sua identidade étnica, além dos processos de
avaliação de aprendizagem desiguais e o despreparo de professores frente às questões de
racismo e discriminação que fazem parte da vida dos alunos negros na escola.
De acordo com Valverde e Stocco (2009), o estudo realizado com a educação infantil
por Eliane Cavalleiro identificou ausência da população negra no espaço escolar como:
cartazes, fotos, informativos, omissão de professores diante das situações de discriminação
sofridas por crianças negra, práticas de realização desumanizadora sofridas por elas, também
por professores: estimulo e efetivação a criança branca.
O escravo nos livros didáticos é geralmente representado como ser invisível na
sociedade, omitem seus costumes, resistência e tradições, enquanto os brancos são sempre
representados como heróis, protagonistas, salvador da história. Ele é retratado com um ar de
superioridade, em prejuízo do negro como ser indiferente, sem expressão nem humanidade.
No curta metragem “Dudu e o lápis cor da pele’’, no Youtube, observa-se a prática
racista da professora que em bom tom pede para os alunos pintarem as gravuras de pessoas da
cor de pele e entrega um lápis de cor clara para os alunos e Dudu fica entristecido pois percebe
que a cor do lápis não é a cor de sua pele.
Há a questão dos fenótipos negros e o branqueamento, fatores que devem ser
considerados, pois a assimilação da suposta hegemonia da brancura: a pressão da população
branca para que o negro negue seus traços para ser aceito na sociedade. Isso interfere na sua
autoestima, levando a uma valorização da cultura e traços da pessoa branca e a desvalorização
da população negra. O que causa consequências sérias, pois o negro se sente insatisfeito e
considera que as características brancas são as mais bonitas. (CARONE et al., 2016).
Por sua vez, muitas escolas não abordam projetos temáticos sobre racismo, o silêncio é
predominante, ou seja, muitos dos professores se calam acerca do assunto sobre preconceito
racial, apelam para a omissão, como também na maioria das vezes tomam atitudes passivas.
1289
Alguns docentes diferenciam os alunos negros conforme suas características raciais e/ou cor da
pele, tais como aquela bronzeada, moreninha, a menina de cor. Além de comentários
pejorativos, eles não reconhecem a discriminação e muito menos os efeitos prejudiciais. Desse
modo, a escola e a família ajudadas pelas diversas formas de mídia, acabam retrocedendo sobre
a discriminação racial e o decorrente sofrimento vivenciados pela população brasileira.
As instituições de ensino refletem sobre a pluralidade da população brasileira quanto
suas desigualdades socias. Assim é seu papel fundamental combater toda e quaisquer formas de
discriminação, intolerância e preconceito. Através do ensino da diversidade e das diferenças as
crianças aprendem a valorizar a pluralidade étnico-racial, desde o início de sua formação. Com
isso, o resultado de uma educação com cidadãos mais empáticos, respeito, críticos e consistentes
de responsabilidade torna o mundo melhor.
Muitas pessoas são vítimas de preconceitos e discriminações em razão a sua pele,
gênero, orientação sexual, aparências, religiões, condições socioeconômicas entre outros fatores
de identidades sociais. Tais situações de desigualdades atingem o ambiente escolar, por isso as
instituições de ensino têm o incentivo de combater à violência, adotando o aspecto cultural de
inclusão, visando a condições igualitárias.
Algumas ações para serem aplicadas e ter resultados positivos e transformadores exigem
que se fortaleça a autoestima sobre representatividade em livros, músicas, produção culturais.
Deve-se promover a integridade com dinâmicas e trabalhos em grupos, a construção de
campanhas contra o racismo, devem ser revisto o projeto Político Pedagógico (PPP) da
instituição para tornar as propostas educativas e ambientes acolhedores, além da capacitação de
professores a fim de que não se reproduzam discriminações e preconceitos.
Os educadores precisam usar argumentos para formação dos grupos, pois crianças e
adolescentes costumam estabelecerem seus próprios grupos de afinidade. É fundamental que os
familiares, professores, comunidade escolar entre outros evolvidos nessa tarefa reflitam sobre
as ações vivenciadas no ambiente escolar por eles, procurarem a melhor forma do trabalho
voltado a inclusão das atividades escolares.
Quando os estudantes negros sofrem bullying, possuem mais chances de apresentar
ansiedade, baixa autoestima ou até se tornarem futuros agressores. Suas vivências de opressão
e condições de vitimização se refletem intensamente na construção de sua identidade, em seu
sentimento de pertencimento racial.
1290
que na prática sua formação acadêmica não era suficiente para acolher, cuidar ou atender as
questões trazidas por muitas dos adolescentes pretos e pardos que frequentava a casa.
Segundo Lucas a psicologia preta oferece uma série de ferramentas que em meio às
violências do racismo ajuda a promover saúde mental para população negra. Ele, pesquisou
também a obras de autoras brasileiras como Virginia Leone Bicudo, Neusa Santos pioneiras
nos estudos sobre raciais no Brasil. Socióloga, Virginia foi a primeira acadêmica a escrever uma
dissertação de mestrado sobre relações raciais no país, atitudes racistas de pretos e mulatos em
São Paulo, em 1945.
Já Neusa tornou-se famosa pela publicação do livro Torna-se Negro – As vicissitudes
da identidade do negro brasileiro em ascensão social (1983).
Foi aliado a leitura de autores negros e estudo sobre questões raciais a sua experiência
clínica, Veiga montou um curso a introdução a Psicologia preta. Teve mais 500 pessoas – 90%
deles psicólogos e estudantes de psicologia negros e negras, finalidade do curso pensar o
impacto do racismo na subjetividade negra, mas que isso pensar formas de promoção em saúde
mental.
Lucas atende pacientes em seu consultório, no Rio de Janeiro. E alguns pacientes
preferem psicólogos negros, pois a pessoa negra não se ver no poder, inteligência e beleza que
predomina na sociedade. Um dado triste é que Neusa Santos uma das pensadoras que inspirou
esse psicólogo na criação do seu curso, cometeu suicídio se atirando da janela do apartamento
onde morava. Apenas setes meses antes no dia 13 de maio, Neusa publicar um artigo contra o
Racismo: com muito orgulho e amor no jornal correio da baixada.
Nela a psicanalista se perguntava abolição da escravatura quer dizer libertação. Será que
acabamos mesmo com a injustiça, com a humilhação e com o desrespeito que a sociedade
brasileira ainda nos trata. Nos
Em uma outra pesquisa conduzida pelo psicólogo Alessandro de Oliveira dos Santos
(2016), professor de Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia
(IP) da USP trata-se do estudo de atuação do psicólogo no tema das relações étnico raciais: um
estudo na Região Metropolitana de São Paulo.
“Minha familiaridade com o tema começou, por assim dizer no nível da pele, porque
em meus anos de estudo universitário, fui um estudante negro em uma classe de
professores brancos. E agora, sou um professor negro em classe de alunos brancos’’,
disse isso a agência Fapesp. Alessandro (2016).
1292
A realidade desde fato nos mostra que os negros são minorias que chegam a realizar
suas conquistas, pois diante de seus obstáculos, alguns desistem de seus sonhos.
Apesar do mito da democracia racial a sociedade brasileira se estruturou sobre o regime
escravista, com a escravização do indígena primeiro e do africano depois, mais de três séculos
de escravidão deixaram marcas profundas.
Na década de 1990, estudos adquiridos faz uma comparação mais política, associando
às lutas semelhantes contra o preconceito. Pesquisadores brancos entenderam que o estudo da
cultura negra e indígena estava produzindo no outro um olhar para si mesmos, colocando a
autoimagem do branco em questão. O livro que o psicólogo se baseou foi o Psicologia Social
do Racismo, de Maria Aparecida Bento e Iray Carone, (2002), que mostra a importância do
psicólogo social no enfrentamento do racismo e tenta propor soluções para combater o processo
de branqueamento social cometido pela sociedade brasileira. Quanto à atuação dos psicólogos,
Santos entrevistou profissionais de diversas áreas clinicas, recursos humanos, atendimento à
saúde, relações étnicas-raciais.
Os psicólogos clínicos precisam lidar com sua própria raça, na maioria com sua
branquitude. Já os psicólogos organizacionais deparam com despeito da legislação, raça
continua a ser um dado importante na decisão de contratação, enquanto os relacionados a área
de atendimentos em saúde lidam com questões que são específicos para os diferentes segmentos
da população: brancos, negros, indígenas, asiáticos.
O pesquisador Alessandro diz que os psicólogos entrevistados tinham pouco
conhecimento dos aspectos históricos e sociais das relações étnico-raciais. Quanto a psicologia
considera o ser humano como fonte de seu próprio sofrimento ou considera esse sofrimento
parte de sua existência, com o qual se deve aprender a conviver, no meio social na criação de
modos de ser, pensar e agir.
3 METODOLOGIA
negros, cujo envolvimento de homens e mulheres resulta numa luta antirracista de combate ao
racismo e à discriminação racial, além de persecução à igualdade racial.
Ademais, algumas leituras de artigos comprometidos com os danos psicológicos sobre
as vítimas do preconceito racial negro contribuem para um quadro preocupante sobre a saúde
mental de estudantes negros. Tomando-se por base os trabalhos anteriores sobre a temática
empreendida, seus dados serviram para o perfil dos estudantes negros, bem como de sua saúde
mental em virtude dos danos do preconceito sofrido. Os dados obtidos pela pesquisa
predominante através da revisão bibliográfica contribuíram para a análise qualitativa e o traçado
do padrão do fenômeno observado, e suas manifestações segundo as características teórico-
práticas.
A principal motivação do estudo, surgiu pela perda de um amigo jovem negro, estudante
de escola pública que teve sua saúde comprometida pelo sofrimento psicológico, depressão e
que cometeu suicídio. Diante dessa situação, resolvi estudar a saúde mental dos estudantes
negros e a luta antirracista, buscando compreender os fatores de risco para o desenvolvimento
dos diversos transtornos psicológicos advindo do racismo vivenciado na escola e na sociedade
em que vivemos.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A exibição movimento negro, de acordo com Goulart (2007), Tannús (2007), Mattar
(2008), refere-se ao grupo de organizações e instituições dedicados a resguardar e a
proporcionar os direitos de mulheres e homens negros na luta contra o racismo. O Movimento
Social Negro um conjunto de estabelecimentos, incluindo as associações como escolas de
samba, grupos de capoeira, casas e terreiros de religiões de matriz africana, grupos culturais,
organizações não governamentais antirracistas. Esses grupos têm como metas o combate ao
racismo, discriminação racial, a valorizar a cultura negra, a igualdade de direitos e a inclusão
social.
De acordo com Gomes (2005, p. 59), a expectativa do Movimento Negro e de todos
aqueles que se posicionam contra o racismo e a favor da luta antirracista é de construir um país
que, de fato, apresente e crie condições dignas de vida e oportunidades iguais para toda a
sociedade, principalmente para os grupos sociais e étnico-raciais que vivem um histórico
comprovado de discriminação e exclusão. Aí, sim, estaremos construindo uma sociedade
realmente democrática que respeite e valorize a diversidade.
Segundo Munanga (2005) não tem lei, cultura que consiga eliminar atitudes racistas ou
preconceituosas presente na mente das pessoas. Porém acredita na colaboração em que a
educação pode oferecer para questionar e descontruir mentiras de superioridade e inferioridade
entre os humanos que foram colocados neles essa cultura racista onde houve a sociabilização.
A constituição de 1988 tipificou o racismo como crime inafiançável e imprescindível,
sujeito à pena de reclusão. A lei Nº 10.639 de 2003 e a lei Nº 11.645 de 2008 estabeleceram o
ensino obrigatório da história e cultura afro-brasileira e indígena nos estabelecimentos de ensino
fundamental e médio públicos e privados. Mas o avanço da legislação não tem impedido que
discriminações e ofensas raciais ocorram diariamente no Brasil.
Por isso, não é novidade dizer aqui que, a partir da abolição, os sobreviventes da
escravidão e seus descendentes de ontem e de hoje foram simplesmente submetidos a
um sistema educacional monocultura, eurocêntrico, que nada tinha a ver com sua
história, sua cultura e visão do mundo. Essa submissão subentende uma violência
cultural simbólica tanto significativa quanto física, sofrida durante a escravidão.
(MUNANGA, 2013, p. 38)
A identificação das crianças com seu meio social e com expoentes importantes
contribuem no processo de interiorização da concepção do mundo a sua volta, ou seja, a
aprendizagem se dá pelo repasse de significados no mundo, através da socialização a criança
tem contato e tem uma forte ajuda na sua aprendizagem.
“Ainda em casa, a criança negra vai para a escola sem saber sobre as suas diferenças
e conhecendo apenas aquele mundo no qual todos como ela são seus semelhantes”, no
entanto, ao se deparar com o racismo individual e institucional frequentes no ambiente
escolar, tais como, conceitos negativos sobre a população negra, o uso de forma aberta
ou velada de “expressões utilizadas para depreciar pessoas negras, qualificando-as
como inferiores, violentas, indolentes, perigosa”. (NETO; FREIRE, 2020, p. 6),
africana na escola, o educador pode utilizar um recurso como uma atividade que referencie
pessoas negras como as escritoras Kiusam de Oliveira, a filósofa Djamila Ribeiro, a partir das
quais as crianças possam desenhar, escrever sobre essas negras fazendo a representação com
quem se identificam, tomando tais pessoas como ícones também da sociedade. Isso no contexto
da escola ajuda em nossa sociedade os alunos a conhecer os traços negros e ver como algo
bonito, sintam orgulho e admiração. (BERTH, 2019).
É um deslize por parte da escola não tratar as questões raciais no seu dia a dia, dado que
são questões que se mostram tão urgentes e são, como evidenciam os relatos das crianças,
geradoras de sofrimento. Ao avaliar um sub grupo envolvendo o racismo institucional faz
menção a dinâmica de ensino relacionado tanto ao currículo, a prática docente que tem como
educação apoio pedagógico e antirracista. (LIMA e SOUSA, 2014; GOMES, 2017).
Há na escola a presença do racismo envolvendo o uniforme, quando os alunos utilizam
os acessórios que são específicos da subjetividade negra em sua maioria chama atenção de
outros alunos brancos reproduzindo o preconceito.
Estudos mostram que o racismo, a discriminação e o preconceito no ambiente escolar causam
as pessoas negras: baixa auto-estima, a falta de capacidades próprias, rejeição ao outro do
mesmo pertencente racial, timidez, pouca ou nenhuma participação nas aulas, dificuldades de
aprendizagem, recusa de ir à escola o que pode levar a evasão.
A realidade atual mostra que o Brasil faz pouco para superar o racismo presente nas
escolas. Apesar de suas graves consequências não tem dado sua devida atenção, à medida que
as crianças são cometidas pelas experiências do racismo ela tornam sujeitas preocupantes. Os
xingamentos realizados pelas crianças brancas às crianças negras não são tratados com a mesma
gravidade que merecem, isso mostra como a escola tem limitações para lidar com os conflitos
raciais. Cavalheiro (2005) descreve a situação de um professor ao presenciar um aluno
apelidado mostra que ele não liga, pode associar ao racismo como também dificulta sua
eliminação, o que de forma nenhuma deve negar ou silenciar porque cabe ao docente o combate
da prática racista.
E quando o racismo envolve a parte escrita dos alunos os professores tornam aliados ao
sistema racista e pactuam com a falta de capacidade das crianças que retomam a silenciar o
corpo em suas expressões aprisionadas pelos fatores racistas na escola, influenciando os alunos
a diminuir a escrita para evitar ser observado comentários sobre os erros ortográficos e pobreza
de vocabulário.
1297
Quando a escola esconde situações como estas passas a conviver com questões étnico-
raciais, há o aparecimento de conflitos que influenciam no bem-estar das crianças. É observado
também que ao presenciar atitudes racista sendo por parte de outro colega negro também causa
desfechos negativos para saúde emocional e psicológica, apesar de ser não ser a vítima direta
do racismo, o que na literatura isso é conhecido como racismo vicário quando se ouve falar
sobre ou ver a experiencia vindo de outra pessoa. (MANSOURI; JENKINS, 2010; HARRELL,
2000).
O que causa na criança sentimentos de medo, vergonha, tristeza sendo que a
discriminação é partilhada por eles, o que pode ter relação com o cabelo, pele, estrutura facial,
etc. Outros estudos mostram os efeitos do racismo vicário, causa o aumento da solidão em
crianças e jovens e problemas emocionais relacionada a sociedade de crianças com verbalização
devagar e a dificuldade relacionada ao se falar com superioridade.
Considerando a existência real e nociva do racismo neste espaço, é necessário que as
escolas executem urgentemente medidas antirracistas. Para assim seguir, há algumas
considerações, sugerindo como a comunidade escolar deveria se envolver nessa forma de
educação, o trabalho dos professores assume um papel fundamental na desconstrução de um
ideário racista e segregador que está introduzido nas pessoas da nossa sociedade, incluindo eles
próprios que também são sujeitos em construção nessa mesma sociedade. Por essa razão, o
educador precisa ter um olhar cauteloso para seus educandos, buscando identificar sinais que
possam denunciar atos discriminatórios.
Desse modo, requer um sistema educacional de qualidade para todos, onde a identidade
deve ser valorizada e respeitada em sua dimensão sociocultural, a fim de implementar a luta
antirracista nesse cenário como forma de combater a exclusão.
1300
objetivando priorizar profissionais qualificados para atender sob um olhar acolhedor as questões
raciais.
Sob esse viés, no que tange ao acesso à educação de qualidade como previsto
constitucionalmente para todos é de suma relevância principalmente para desenvolvimento
psicossocial compreender as raízes da problemática que envolvem o adoecimento mental dos
estudantes negros, haja vista o poder transformador da educação no meio social. Nessa
perspectiva, respaldado em teorias e fundamentos como de Munanga, Iray Carone e Cida Bento
será uma alternativa para construção dessa discussão, buscando fomentar a luta antirracista.
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1305
RESUMO
RESUMEN
El presente estudio tiene como objetivo abordar la formación psicosocial del 'sentimiento de
pertenencia al lugar' y cómo puede impactar la promoción de la salud colectiva en la ciudad de
Mossoró/RN, considerando las especificidades relacionadas con los pueblos indígenas del
potiguar semiárido, habitantes del bioma caatinga. Los procedimientos metodológicos
consistieron en la investigación bibliográfica y la revisión de la literatura narrativa desde una
perspectiva interdisciplinaria. El proyecto fue premiado con el financiamiento de la Fundación
de Apoyo a la Investigación del Estado de Rio Grande do Norte (FAPERN) y se encuentra en
etapa de desarrollo, donde será realizado por el autor hasta la etapa final del inventario. Los
resultados parciales indican que la memoria social es la base para la formación del sentimiento
de pertenencia al lugar, proporcionando una referencia (identidad) a la subjetividad humana
desde los grupos sociales en los que se constituye.
Palabras-clave: Emergencia étnica. Memoria social. Pueblos indígenas.
1
Estudante de psicologia da Faculdade Católica do rio Grande do Norte/ Bolsista de pesquisa da FAPERN. E-
mail: pedro.azevedo@aluno.catolicadorn.com.br
2
Doutora em Ciências (UFERSA)/Professora da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte/ Coordenadora
Técnica de pesquisa FAPERN.E-mail: extensao@catolicadorn.com.br
1306
1 INTRODUÇÃO
Cavignac (2003) aponta que para entender as faltas deixadas pela produção acadêmica
nas representações coletivas, é necessário fazer um estudo crítico da literatura e uma revisão da
história indígena no semiárido, desviando dos estigmas e categorias genéricas aos quais estes
grupos foram submetidos ao longo dos séculos. As pistas deixadas pela tradição oral indicam
caminhos para a pesquisa, ao passo de que é preciso compreender os muitos modos de se
perceber indígena. Nesse contexto, os relatos e a cultura dos povos sertanejos, principalmente
daqueles que habitam as áreas rurais mais distantes da urbanização e mantêm vivas as tradições
ancestrais, ou até mesmo daqueles que assistiram as transformações ocorridas pela grande
expansão das cidades, devem protagonizar os debates sobre o tema da presença indígena no
bioma.
O silenciamento das origens e a contestação de uma diferença étnica foram estratégias
de sobrevivência, utilizadas por remanescentes indígenas na região, o que faz com que os grupos
que reivindicam uma identidade diferencial no século XXI, fazendo isso nos moldes da
sociedade brasileira e dos órgãos administrativos oficiais, precisam se apropriar de marcas
históricas, por vezes desagradáveis, e estigmas coloniais, visando a retomada e o direito sobre
os territórios que antes foram ocupados pelas missões jesuíticas ou por comunidades em que
possuem algum vínculo de parentesco (CAVIGNAC, 2003).
Embora o semiárido brasileiro disponha de porções litorâneas e possa ter sido ocupado
por grupos tupis, a caracterização étnica mais evidente na literatura sobre os indígenas da
caatinga, trata-os a partir do conceito de “Tapuia”. Um grupo genérico que engloba diferentes
povos. Posteriormente, estes passaram a ser designados como “Caboclos” ou “Caboclos
Brabos”, mestiços de ‘brancos’ e ‘índios’ que habitam principalmente as zonas rurais no interior
do Nordeste, subsistindo da agricultura e pecuária desde as primeiras inserções europeias na
América Latina (OLIVEIRA, 2014).
Mossoró, lócus da pesquisa, é uma cidade de médio porte localizada no semiárido à
cerca de 35 quilômetros de distância da costa atlântica, exercendo uma forte influência política
e econômica na região Oeste do Rio Grande do Norte, por servir de entreposto comercial para
as capitais Natal-RN e Fortaleza-CE, como também entre o sertão e o litoral do estado. Há pelo
menos duas hipóteses em relação ao significado original do nome da cidade, a primeira
pressupõe que ele representa algo em torno de “rasgão” e “ruptura”, relativas a presença do rio
em solo predominantemente seco, sendo a segunda e a mais aceita entre o povo, a de que o
topônimo guarda uma relação com o povo indígena Monxoró, antigos habitantes da margem do
1308
rio Apodi, pertencentes à etnia Cariri, dado que o componente humano fora possivelmente o
principal responsável pela popularização do termo e construção do nome do espaço, em
detrimento dos fenômenos naturais (COSTA, 2011).
Diante o exposto, este trabalho apresenta como problemática: Como o sentimento de
pertencimento ao lugar pode influenciar a promoção de saúde coletiva em Mossoró/RN,
considerando a história e a cultura dos povos indígenas do semiárido potiguar? Buscando
resolver a problemática, o objetivo do trabalho se deteve a investigar, a partir de levantamentos
bibliográficos e de uma revisão narrativa de literatura, bem como, entender qual o papel
desempenhado pela afetividade, as memórias e o inconsciente na formação do sentimento de
pertencimento ao lugar.
o lugar também pode ser caracterizado não apenas como um cruzamento de coordenadas
geográficas, mas uma construção histórica de múltiplas camadas simbólicas e de significações,
além de um espaço de intimidade onde as pessoas se relacionam afetivamente e
subjetivamente. Nessa direção, o lugar apresenta atributos que são bases para o discorrer desta
pesquisa, como por exemplo, identidade, afetividade, pertencimento, entre outros.
Considera-se que as formas de expressar o amor pela terra e o pertencimento diferem
umas das outras em intensidade e modos de conduta, influenciadas pelos grupos sociais dos
quais os sujeitos fazem parte, determinados a partir da classe socioeconômica, raça/etnia,
gênero, religião, lugar de origem etc.:
A casa, o bairro e a aldeia, pela familiaridade que as pessoas têm com esses ambientes,
caso não provoquem sentimentos desagradáveis estimulados por traumas ou experiências
negativas vivenciadas neles, podem envolver os seres humanos, protegendo-os do mundo
exterior. Além dessa sensação recorrente de bem-estar, o amor pelo lugar carece de uma
consciência do passado. O argumento patriota, por exemplo, utiliza, entre outros, o mecanismo
da modificação da paisagem, tornando a história visível nos monumentos heroicos, museus e
memoriais, com a função de tornar o solo da pátria sagrado. Até mesmo povos iletrados, como
diversas comunidades nativas do semiárido brasileiro, sustentam esse sentimento no passado,
associando os laços afetivos com a natureza, a “mãe-terra”, aos ancestrais. Nesse sentido, a
história é responsável pelo amor à terra (TUAN, 1974).
A fala de Liderjane Kaxixó, em um dos debates promovidos pelo Conselho Regional
de Psicologia de São Paulo em 2016, junto ao movimento indigenista, ajudam a ilustrar melhor
essa dinâmica do sentimento de pertencimento ao lugar. Quando questionada por um professor
sobre o motivo pelo qual o povo Kaxixó tem resistido ao etnocídio cotidiano promovido por
fazendeiros e igrejas no território indígena (TI) tradicional, ela respondeu:
1310
O que nos faz ficar firme e não deixar nos abater? É isso: a memória,
amor à terra, árvore, lugar, não há um amor a um ser. É a um lugar,
estado. Tudo. Então, se você tem amor à terra, sempre vai querer ficar
ali, contar para seu filho: “filho, sua mãe passou nessa árvore. Eu era
assim, desse tamanho. Era grande, pequena. Eu sentia isso nessa árvore.
E o meu filho vai crescer, sabendo onde era uma mangueira,
bambuzeiro que eu passei e tirei bambu. Então, ele vai levar aquilo na
memória dele: que aquele lugar, para mim, era sagrado. E, a partir
daquele momento que eu passo para meu filho, aquilo se torna sagrado
para ele também. Porque a memória que ele terá de um lugar que foi
especial para mim. Então, ele, quando crescer, se passar por lá, pode
estar destruído, bonito, vai passar: “eu passei aqui com minha mãe”.
Vamos dizer que passe com o filho dele: “passei com minha mãe. Disse
que era a infância dela, lembrança dela. Então, é minha também, filho”.
Então, o filho dele vai passar. Isso perpetua. É essa origem que não
deixamos morrer (CRP-SP, 2016, p. 80-81).
A partir desse ponto, faz-se necessário refletir sobre o conceito de “memória”, buscando
entender as funções que ela exerce sobre o pertencimento étnico-ambiental e a constituição das
identidades territoriais e comunitárias. Por muito tempo essa foi uma categoria relacionada
estritamente à capacidade individual de recordar ao passado, no sentido de reconstituir
parcialmente uma experiência vivida. Porém, foi a partir de uma pesquisa do sociólogo Maurice
Halbwachs (1877-1945) que a noção de memória coletiva foi elaborada. A inovação do termo
dá-se justamente na compreensão de que os contextos sociais nos quais os sujeitos se inserem
são fundamentais para o fenômeno da recordação e das lembranças, não havendo possibilidade
de estas existirem isoladas do grupo social (SILVA, 2016b).
De acordo com a concepção de Halbwachs (1990), a lembrança precisa de uma
comunidade afetiva para existir e se constitui através das relações sociais estabelecidas com
outras pessoas ou comunidades, os denominados “grupos de referência” (família, escola, igreja,
partido político, ambiente de trabalho etc.). Além disso, para o autor elas se distinguem entre
memória individual e coletiva, ou “memória autobiográfica” e “memória histórica”, sendo a
primeira um ponto de vista da segunda, pois mesmo que o sujeito vivencie uma experiência de
forma individual, para recordar dela não é necessário que haja um testemunho material do
ocorrido (SILVA, 2013).
memória coletiva pode ser lembrada (ou esquecida) conforme o interesse do grupo que a
produziu. Ampliando ainda mais a reflexão, a memória autobiográfica se apoia na memória
histórica porque as histórias de vida fazem parte da história geral. Tomando como exemplo a
memória nacional, que Maurice classifica a própria como sendo uma “memória emprestada”,
considera-se que esta foi construída pelos outros, através dos veículos de comunicação de
massa, da qual não se pode confirmar as próprias lembranças e são as únicas fontes daquilo que
se deseja repetir (HALBWACHS, 1990).
Compreendendo as categorias de memórias citadas acima, é possível aprofundar-se
ainda mais na investigação do tema. Uma outra dimensão deste conceito diz respeito à
mobilização dos sentimentos e desejos humanos direcionados a um objeto, ela corresponde à
memória afetiva. Bressan Junior (2017; 2019) elaborou um estudo consistente acerca da
formação afetiva da memória a partir da análise da televisão enquanto um espaço de revisitação
social para construção desta e, desse modo, os caminhos empreendidos pelo autor podem ser
relacionados ao objetivo proposto neste capítulo, a fim de entender como o ‘sentimento de
pertencimento ao lugar’ se constitui.
A memória desempenha uma função sociocultural relevante, é o parâmetro para
assimilar as mudanças e permanências das sociedades, reconstruindo reminiscências
intermediadas pelo momento presente. Assim, pensando no papel dos lugares nesse processo,
considera-se que a apreciação estética deles podem provocar nas pessoas recordações de
momentos únicos, ligando-as afetivamente aos coletivos que compartilham percepções
semelhantes sobre o mesmo espaço, onde sentimentos de amor, raiva e saudade podem
constituir o laço social de um grupo (BRESSAN JUNIOR, 2017).
Isso acontece porque as emoções que são evocadas instigam mecanismos inconscientes,
como afirma Ferrés (1998). De acordo com Bressan Junior (2019), os lugares podem suscitar
recordações que são transferidas para outras memórias, como por exemplo: estar na zona
histórica do centro de Mossoró-RN, observando os prédios construídos no século XX, pode
fazer um ancião lembrar-se, emocionado, de um momento vivido em família numa antiga lagoa,
hoje aterrada, na região periférica da cidade. Em ambas as imagens aparecem elementos de um
passado distante, perdido, onde as emoções são intensificadas pelo luto. Essa correlação só é
possível pela atividade associativa dos pensamentos, proporcionada pelo contato com o lugar.
No processo de transferência afetiva, as sensações nem sempre são agradáveis e as
recordações manifestam emoções direcionadas aos acontecimentos, personagens, lugares e
1313
coisas. As pessoas são movidas por sentimentos e temores inconscientes, onde há um prazer em
revisitar o passado pela possibilidade de reestabelecer um laço social “esquecido”, reconstruído
com as reminiscências e experiências, individuais e coletivas, atualizadas. Os grupos de
referência atuam na construção das memórias desde a infância, intervindo sobre o
desenvolvimento dos afetos e do sistema de crenças e valores morais, ou seja, a coletividade e
a socialização são determinantes nesse processo em que o laço social traz de volta o “estar
com”, fazendo com que a recordação aconteça somente por intermédio de outras pessoas
(BRESSAN JUNIOR, 2019).
A problemática do inconsciente enquanto constituinte da memória é uma preocupação
desta pesquisa, por isso ela será abordada com maior profundidade no tópico seguinte. Contudo,
ao se tratar da memória social indígena do semiárido norte-rio-grandense, vale salientar que
esta resiste ao ‘desaparecimento’ com inúmeras dificuldades. A bibliografia local tradicional
disseminou a ideia de extinção das identidades diferenciais no estado e muitos acontecimentos
motivaram o deslocamento das populações remanescentes para outras localidades. A
distribuição desigual de terras, o acesso restrito à água salubre e as experiências de violência
física ou simbólica, como o preconceito com a cultura autóctone, configuram-se como os
principais fatores que influenciaram essa mobilidade (CAVIGNAC, 2003).
Na Caatinga, as chuvas são intermitentes e os recursos hídricos escassos. Além disso,
os povos originários tiveram o trânsito nas terras tradicionais limitado pelas fronteiras agrícolas
da colonização, disputando o espaço com latifundiários e ficando submetidos ao regime de
trabalho escravo, a fome, doenças, castigos físicos, catequização forçada e morte frequente. Em
síntese, a miscigenação, que é considerada um dispositivo de extermínio das diferenças étnicas,
também pode se constituir como uma via para expressar os traços ancestrais que resistiram ao
processo colonial. Uma maneira de “(re)existir”, resultante no que hoje se compreende como
“cultura popular”, “sincretismo religioso”, entre outas manifestações mais aceitas pelo projeto
nacional de construção da identidade brasileira e um tanto menos perigosas para ela.
3 METODOLOGIA
que priorizasse a articulação entre os principais conceitos teóricos de cada área dos
conhecimentos abordados e propiciasse o diálogo entre as diferentes ciências e formas de
expressão, que vão desde a antropologia e a poesia de cordel, aos estudos freudianos sobre a
psicanálise e o inconsciente, a geografia humanista e a historiografia. De acordo com Soares,
Picolli e Casagrande (2018, p. 318):
Para seleção dos materiais, os resumos dos artigos, teses e livros (quando existentes)
foram lidos, sendo avaliados para sua inclusão ou exclusão, de acordo com o escopo e objetivos
da pesquisa. A partir daí foram feitas as pontes entre discussões dos mais diversos autores,
caracterizando o estudo como sendo de base interdisciplinar com o intuito de alcançar um olhar
múltiplo sobre o “sentimento de pertencimento ao lugar”, integrando uma diversidade saberes,
desde a poesia popular de Antônio Francisco (2012) e a antropologia de Cavignac (2003), aos
estudos culturais contemporâneos de Silva (2000), a geografia de Tuan (1974) e Felipe (2001)
e a psicanálise de Freud (2011ª, 2011b); e Bairrão (2016).
1315
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Psicólogas(os) também podem optar por compor equipes de saúde coletiva através da
clínica ampliada, por exemplo, em que a concepção de cuidado é apreendida de maneira mais
horizontalizada e não se reduz ao binômio “saúde/doença”, em que as(os) profissionais ocupam
uma posição de autoridade frente aos sujeitos por supostamente possuírem um conhecimento
sobre a condição de sofrimento do Outro. Mas, diferente desta perspectiva, a atenção integral
deve ser feita através do princípio da cooperação, onde a comunidade exerce o protagonismo
das ações e nas definições das próprias demandas (CFP, 2019).
Uma das colaborações mais eficazes que a psicologia crítica pode fazer nesse sentido
está em assimilar as determinantes sociais (de gênero, raça, classe etc.) como fatores que
condicionam o sofrimento psíquico e a situação de vulnerabilidade. Mas, essa também não é
uma atribuição reservada às(aos) psicólogas(os), e quando associada ao déficit nas grades
curriculares dos cursos de graduação sobre o papel social desempenhado pela psicologia, pode
se constituir como um desafio prático para a atuação destas(es) profissionais.
Contextualizando o trabalho com as populações autóctones, pode-se considerar que os
povos indígenas representam um movimento de resistência política em todo o planeta,
articulando pautas transversais principalmente no âmbito da cultura, meio ambiente e direitos
humanos. Mas, no semiárido brasileiro, onde mais recentemente essas identidades diferenciais
vêm sendo novamente reconhecidas, pois tinham sido dadas como extintas, essas populações
sobrevivem ao extermínio físico e simbólico cotidianamente, e quando não, são massacradas
pelo poder econômico juntamente com a flora e a fauna nativa.
Além dos mecanismos de apagamento da memória social indígena no Nordeste, lugar-
símbolo da miscigenação brasileira produzida por Gilberto Freyre, a Caatinga (que ocupa a
maior parte dessa região) sofre com a falta de reconhecimento autêntico em âmbito nacional e
mundial, pelo estigma de ser um lugar pobre, seco e de pouca diversidade socioambiental,
fazendo com que o bioma seja o mais vulnerável aos processos erosivos, como a desertificação,
do Brasil (CAATINGA, 2019). Esse argumento também é usado para justificar o extrativismo
compulsório e a exploração do trabalho humano.
A política de patrimônio cultural e a educação patrimonial (IPHAN, 2016) também se
apresentam, nesse contexto, como alternativas para unir a valorização das identidades étnicas
diferenciais e a preservação ambiental dos aldeamentos, sob o prisma de favorecer a autonomia
dos sujeitos e melhorar qualidade de vida comunitária, garantindo a manutenção dos modos de
vida tradicionais e o benefício econômico através de práticas como o ecoturismo.
1317
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Até aqui foi possível traçar um caminho de discussão teórica acerca da formação do
sentimento de pertencimento ao lugar, considerando que o mesmo se constitui a partir da
memória coletiva, uma representação do passado que é partilhada por uma comunidade afetiva.
E do laço social, que une emocionalmente os grupos através das pulsões de prazer e/ ou
agressividade, pois fazem parte da natureza humana. Essa energia psíquica é arranjada em um
contexto histórico, geográfico e político, no qual o desenvolvimento das relações de poder
acontece, sendo assimiladas pela sociedade de forma consciente ou não.
Nessa perspectiva, pode-se dizer que o sofrimento psíquico e a própria ideia de saúde
mental consistem numa complexa dinâmica do convívio social. Sendo assim, a intervenção
psicológica estritamente individualizada e direcionada às camadas dominantes corrobora com
a manutenção da ordem social hegemônica, excluindo os grupos étnicos minoritários da
possibilidade de elaborar o bem-estar e autonomia comunitária. A articulação entre o
patrimônio cultural indígena e a saúde coletiva aparece então como um lugar propício para
promover atividades de valorização dos saberes tradicionais e desfazer antigos estereótipos
acerca das populações autóctones do semiárido potiguar.
Os resultados do presente trabalho são parciais, pois o projeto integral ainda se encontra
em fase de desenvolvimento. Os próximos passos se darão no sentido de construir uma
explanação mais consistente acerca do trauma colonial em Mossoró, e no sertão do Rio Grande
do Norte, como também abordar a perspectiva da saúde coletiva dos povos indígenas da
Caatinga, podendo contribuir para o devir étnico e a promoção do bem viver. Após a execução
da pesquisa bibliográfica, é pretendido realizar o inventário participativo de um patrimônio
cultural indígena na microrregião de Mossoró, na categoria dos bens culturais de natureza
imaterial, como uma possibilidade para compor o Livro de Registro dos Lugares, administrado
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Como avaliar o impacto socioambiental da política de patrimônio cultural direcionada
aos indígenas do sertão nordestino? Quais serão as estratégias empreendidas para articular o
campo e a cidade, como também o litoral e o interior, visando qualificar a salvaguarda da
memória dos índios no Rio Grande do Norte? E, quais são os principais desafios e possibilidades
1318
REFERÊNCIAS
COSTA, Bruno Balbino Aires da. “Mossoró não cabe num livro”: Luís da Câmara Cascudo
e a produção historiográfica mossoroense”. 2011. Dissertação (Mestrado em História) –
Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Natal, 2011.
KRENAK, Ailton. Paisagens, territórios e pressão colonial. Espaço Ameríndio, Porto Alegre,
v. 9, n. 3, p. 327- 343, jul./dez. 2015.
1319
OLIVEIRA, Jailma Nunes Viana de. "Ser índio" e" ser caboclo" potiguar: história indígena e
o processo identitário na comunidade dos Caboclos do Assú. Mneme - Revista de
Humanidades, v. 15, n. 35, p. 166-190, 2014.
SILVA, Giuslane Francisca da. A memória coletiva. Revista Aedos, [S. I.], v. 8, n. 18, p.
247–253, 2016b.
1320
RESUMO
ABSTRACT
Autism, also called Autism Spectrum Disorder (ASD), is a neurodevelopmental disorder. This
means that some neurological functions have not developed as they should in the respective
brain areas of people affected by it. Due to the high rate in the diagnosis of children with ASD,
1
Graduada em Nutrição pela Universidade Potiguar e Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do RN.
E-mail: josilanapatricia@hotmail.com
2
Graduada em Serviço Social pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e Graduanda em Psicologia
pela Faculdade Católica do RN. E-mail: y.mineamaral@hotmail.com
3
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do RN. E-mail: alaneiasmin1909@gmail.com
4
Graduado em Gestão Empreendedora de Negócios pela Universidade Potiguar e Graduando em Psicologia pela
Faculdade Católica do RN. E-mail: fabiohenriquemf@gmail.com
5
Docente da Faculdade Católica do RN e Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Doutora em
Administração pela PUCPR. E-mail: adriana.oliveira@professor.catolicadorn.com.br
1321
studies are increasingly detailed and abundant, where it has already been scientifically proven
that the main causes of the disorder are related to genetic, hereditary and environmental factors.
This study is a bibliographic review that made it possible to analyze the information through
the reading of the material found, in a qualitative approach, and aims to clarify what autism is,
its characteristics, causes and the importance of therapeutic interventions as early as possible.
Studies and research indicate that the sooner interventions are initiated, the better the chance of
preventing or minimizing developmental delays for those who already have the diagnosis of
autism or are in the risk group, thus making this initial period of the child's life very important.
and decision-making, since it is at this time that faster and more intense neural connections
occur, leading the brain to expand and multiply its capacities and abilities, thus contributing to
a better response to treatment. Therefore, the early diagnosis of ASD is a differential for
children, since through appropriate interventions and effective actions, the damage will be
smaller and, as a consequence, they will acquire greater autonomy and independence in their
lives in the future.
Key words: infantile autism, early signs, early intervention, TEA.
1 INTRODUÇÃO
Após o nascimento, é esperado que todas as crianças desenvolvam uma série de habilidades
físicas, cognitivas, sociais e emocionais que contribuirão em sua adaptação ao mundo. Estas
habilidades envolvem aspectos como a comunicação de suas necessidades, locomoção,
autonomia e independência, compreensão de rotinas, entre outras. É uma fase bastante
adaptativa, onde a plasticidade neural (capacidade do cérebro de se adaptar, construir e refazer
conexões) está em ascensão (MARTINS; PIRES, 2020). Os primeiros sinais de alerta a respeito
de algum marco de desenvolvimento não alcançado naturalmente pela criança e que esteja
dentro do quadro de características do TEA surgem na primeira infância.
Tais sinais e características podem ser observados em diversos ambientes: em casa, na
escola, nas atividades cotidianas, nas brincadeiras e momentos de lazer, nas rotinas familiares,
enfim, a observação do desenvolvimento neuropsicomotor de uma criança é fundamental para
levantar um alerta sobre possíveis transtornos de desenvolvimento. “Aprender a identificar cedo
o autismo e a trabalhar corretamente com a criança é a principal estratégia para promover os
avanços almejados” (BRITES, 2019. p. 30).
Estudos e pesquisas apontam que o quanto antes as intervenções forem iniciadas, melhor
será a chance de prevenir ou minimizar atrasos no desenvolvimento de quem está no grupo de
risco, tornando assim esse período inicial da vida da criança bastante importante e decisório,
uma vez que é nesse tempo que ocorrem conexões neurais mais velozes e intensas, levando o
cérebro a ampliar e multiplicar suas capacidades e habilidades, contribuindo assim para uma
melhor resposta ao tratamento (ARAUJO; ISRAEL, 2017).
Com o início do tratamento, é fato que grande parte das crianças com TEA apresentam
progressos nas interações sociais, na socialização com os ambientes, na comunicação,
linguagem e no autocuidado. Sendo assim, o diagnóstico precoce do TEA é um diferencial
para as crianças, já que por meio das intervenções adequadas e ações eficazes, menores serão
os danos e como consequência elas irão adquirir maior autonomia e independência em suas
vidas no futuro (STEFFEN et al., 2022).
Diante dos estudos bibliográficos feitos e analisados, o objetivo geral desta pesquisa é
ressaltar a importância do diagnóstico precoce do TEA, demonstrando a relevância da
percepção dos primeiros sinais de alerta, bem como a influência positiva que, após esse processo
de observação, as intervenções feitas pela equipe interdisciplinar terão para um adequado
desenvolvimento cognitivo e social da criança.
1323
2 MÉTODO
3 DESENVOLVIMENTO
dessa prevalência. Alguns estudos apontam que essas evidências estão relacionados a fatores
genéticos, associado aos cromossomos X e Y, a partir de presunções ligadas a teoria
autossômica de penetrância reduzida, ou seja, as meninas abrigam menos mutações
relacionadas com o autismo nos cromossomos autossômicos e que um provável mecanismo
biológico, como efeito masculinizante da testosterona fetal (FT) estaria relacionado com esses
índices (LEITE, 2015).
A incidência de casos de autismo tem aumentado nos últimos anos. Todavia, não está claro
o porquê desse aumento e suas causas ainda são desconhecidas. Acredita-se que se pode
identificar uma causa genética em cerca de 40% dos casos. Os 60% restantes estão associados
a fatores externos. Os fatores ambientais influenciam o organismo em períodos mais
vulneráveis do desenvolvimento, no período gestacional e podem funcionar como gatilhos para
desencadear o TEA. Os fatores que estão sendo pesquisados e estão relacionados com o TEA
são: o déficit de vitamina D materna, uso de antidepressivos durante a gestação, a idade
avançada dos pais na concepção do bebê, prematuridade do parto, gripe ou febre persistente,
tabagismo e poluição do ar (SANCHES, 2017).
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP, 2019) o bebê pode apresentar
sinais do autismo desde os primeiros meses de vida, tais como: o atraso para obter e demonstrar
o sorriso social, o interesse em objetos determinados e sua interação com eles, seja sorrindo ou
não; os movimentos do corpo em relação a alguma situação ou contexto; pouco interesse pela
face humana, não conseguindo sustentar o olhar ou ficando ausente; irritabilidade e resistência
ao toque alheio; a ausência de emoções em determinados momentos; a indiferença quando os
pais se ausentam, entre outros. Estes sinais são indicadores de alerta em relação ao
desenvolvimento da criança e que necessita de atenção e avaliação caso observados.
Apesar do surgimento dos sintomas ser precoce em alguns casos, a família atenta-se mais a
essa demanda após os dois anos de vida da criança, pois nesta idade é esperado que ela exerça
um maior nível de interação social e desenvolva comportamentos que sejam compatíveis aos
pares da mesma faixa etária (MANSUR, 2017; MARTINS; PIRES, 2020).
Nesse aspecto, Brites (2019) complementa que há marcos no desenvolvimento que precisam
ser atingidos: com dois meses de vida o bebê já deve fixar o olhar nas pessoas, e responde aos
1326
estímulos delas. Aos 3-4 meses, direcionam os olhos e a cabeça e percebem os que estão ao seu
redor. Compartilham objetos, experiências e adquirem novas habilidades. Nessa idade, fazem
burburinhos e balbucios com a boca. Aos 8 meses devem pedir colo e aos 9 já apontar para
objetos. Com 1 ano já devem fazer e responder a gestos sociais (beijos, tchau, fazer gracinhas).
Podem ser vistos também como características precoce do transtorno o uso excessivo e
repetitivo de objetos, dificuldade com jogos de faz-de-conta, assim como a ausência ou
nenhuma capacidade de iniciar e manter interações sociais e compartilhar emoções
(ADURENS; MELO, 2017). Dentro desse contexto, Mansur (2017) também aponta que um dos
primeiros sinais de alerta identificado pelas famílias e que os levam a procurar uma avaliação
médica em crianças é o atraso na linguagem, fator que influencia diretamente na dificuldade da
socialização. É esperado que, dos 18 meses aos 2 anos de vida da criança ocorra o
desenvolvimento da fala e ela tenha um repertório de 180 a 250 palavras (BRITES, 2019).
Segundo Siqueira et al. (2020) os familiares identificam outros diversos sintomas precoces
do autismo em crianças, como comportamentos repetitivo, pouco contato visual, sensibilidade
a luz ou ao som, disfunções sensoriais, isolamento e falta de interação, ecolalias (repetição de
palavras sem funcionalidade), hiperatividade, choro excessivo, deambulação na ponta dos pés,
grafismo, hiperfocos e interesses restritos, como por exemplo a fixação em letras e números,
entre outros. É de tamanha importância que as queixas dos pais sejam sempre acolhidas,
explicando a eles sobre o transtorno, ensinando a fazer testes rápidos e sempre procurar um
profissional da área quando houver uma possível suspeita.
Existe uma gama de testes que são utilizados para auxiliar e basear as informação dos pais
e ou cuidadores, e são eles: The Autism Diagnostic Interview™ Revised (ADI- -R); Modified
Checklist for Autism in Toddlers (M-CHAT-R) para as crianças de 16 até 30 meses; Gilliam
Autism Rating Scale (GARS) e outros utilizados a partir da observação clínica em ambientes
terapêuticos; Observation Schedule (ADOS); Childhood Autism Rating Scale (CARS)
(MANUAL DE ORIENTAÇÃO, SBP, 2019).
Dentre esses instrumentos, o mais utilizado pelos pediatras e neuropediatras é o M-CHAT,
pois ele é de fácil acesso, além de ser recomendado pela SBP e pode ser aplicado em todas as
crianças, inclusive aquelas que não apresentam sintomas, mas possuem fatores de risco para o
TEA (MAIA; PRAZERES; SIQUEIRA, 2020).
O M-CHAT é uma entrevista estruturada realizada com os pais das crianças, não requer
treinamento para sua aplicação, e apesar de ser muito utilizado existe uma taxa bastante alta de
falso-positivo (90% não são diagnosticados subsequentemente como tendo TEA), sendo
necessária uma complementação da avaliação (MANUAL DE ORIENTAÇÃO, SBP, 2019).
A SBP recomenda atualmente que seja realizado o M-CHAT modificado, revisado e com
entrevista de seguimento, que é o M-CHAT-R/F, um questionário online, autoexplicativo de 20
questões, com resposta sim e não, ao final do teste é exibido um resultado indicando baixo risco:
pontuação total de 0-2, risco moderado: pontuação total 3-7 e alto risco: pontuação total 8-20.
Importante mencionar que mesmo com um M-CHAT-R/F positivo, ainda não se pode fechar
um diagnóstico de TEA, porém com um resultado positivo significa que a criança apresenta
risco elevado de outros transtornos de desenvolvimento ou atrasos (SBP, 2019).
A lei n. 13.438, sancionada no ano de 2017 exige a obrigatoriedade da aplicação de
instrumentos de avaliação formal do neurodesenvolvimento a todas as crianças nos seus
primeiros dezoito meses de vida. Alinhada com a Lei e para fins de instrumentalização das redes
locais, tem-se o uso da Caderneta de Saúde da Criança (CSC), como instrumento de maior
alcance para a vigilância do desenvolvimento na puericultura (SBP, 2019).
Dessa forma cabe aos profissionais de saúde a avaliação atenta e responsável acerca do
desenvolvimento da criança, bem como preencher corretamente a CSC e aplicar o M-CHAT-
R/F entre os 16 e 30 meses de vida, para que identificadas com resultado positivo, estas possam
iniciar rapidamente o tratamento adequado, melhorando seu prognóstico (SBP, 2019).
1329
Comportamental Aplicada; o ESDM, Early Start Denver Model, que significa Método Denver
de Intervenção Precoce; o TEACCH, Tratamento e Educação de Crianças Autistas e com
desvantagens na Comunicação (ALBERTI; SPONCHIADO 2020).
Todos as intervenções existentes são abordagens com comprovação científica e que
otimizam o desenvolvimento das crianças com autismo, especialmente na faixa etária entre 1 a
5 anos de idade. Priorizam a construção das interações sociais, o processo da espontaneidade e
socialização, o que possibilita a construção de vínculos afetivos de maneira positiva e natural.
Ajudam a criança a aprender em todas as situações do dia a dia, explorando de forma ativa as
oportunidades de aprendizagens (GAIATO, 2018).
O aprimoramento dessas diversas habilidades são trabalhados durante todo o processo
terapêutico e contribuem também como pré-requisito da escrita, leitura, interpretação e
matemática, além da redução de comportamentos estereotipados, autolesões e agressões.
(ALBERTI; SPONCHIADO 2020).
Segundo revisão da literatura pesquisada, os critérios de consolidação e eficácia das
intervenções variam de acordo com a natureza da atividade e o repertório comportamental da
criança. O critério da emissão do comportamento ensinado com frequência, constância e nas
ocasiões certas tem aproveitamento entre 90% ou em até 100% das vezes, considerando a
quantidade de tentativas com a criança. Após o alcance do critério de aprendizagem
consolidado, o comportamento-alvo é posto em manutenção, devendo ser monitorado e
reavaliado periodicamente, garantindo que a criança mantenha o seu desempenho adequado e
funcional ao longo do tempo, em diferentes contextos e com diferentes pessoas (ESTEVES et
al. 2021).
Portanto, a intervenção precoce exerce funções essenciais e primordiais na redução de
aspectos prejudiciais ao desenvolvimento da criança bem como agem diretamente na
otimização de oportunidades de crescimento. Para tanto, a precocidade é fundamental e a
qualidade da intervenção é o diferencial (VIEIRA, 2019).
6 CONCLUSÃO
volta dos 3 anos a criança já tenha apresentado boa parte das características relacionadas ao
transtorno. Com os avanços nos estudos sobre autismo e a maior abrangência a respeito do
diagnóstico, torna-se imprescindível que as intervenções terapêuticas sejam feitas de forma
precoce, para que os resultados sejam mais expressivos e eficazes, visto que o maior
desenvolvimento cerebral se dá nos primeiros anos de vida da criança. Quando houver qualquer
suspeita a respeito dos sinais de autismo a criança deve ser encaminhada para especialistas da
área, a fim de maiores esclarecimentos e instruções aos pais e familiares sobre a intervenção
precoce e seus benefícios para um melhor convívio social da criança e consequentemente maior
qualidade de vida para a família envolvida, já que faz parte de um processo multidisciplinar
constante. É de suma importância para a detecção precoce do autismo analisar todas as
características abordadas no DSM-V, bem como utilizar as escalas de avaliação do
comportamento e da linguagem, os testes neurológicos, para assim obter um resultado eficaz
no tratamento tanto da criança com a equipe interdisciplinar, quanto da família, que tem um
papel valioso no seu desenvolvimento e monitoramento.
Existe ainda muita dificuldade na identificação desses sinais, tanto dos familiares como dos
profissionais da área da saúde, acarretando em um atraso nas intervenções.
Independente do diagnostico, após a identificação de alguma característica relacionada ao
autismo, as intervenções devem ser iniciadas, para que haja a possibilidade de um
desenvolvimento saudável e funcional da criança, levando em consideração a neuroplasticidade
que está em desenvolvimento até os 3 anos de idade.
Diante dos expostos, esta revisão bibliográfica tem a intenção de contribuir com a ampliação
dos conhecimentos a respeito do autismo, já que a ausência ou dificuldade em obter informações
locais dificultou a análise mais concreta sobre as incidências nos casos do transtorno a nível de
Brasil, tornando o estudo baseado em sua maioria por dados internacionais. Mais estudos são
necessários, para que a temática seja abordada com mais ênfase e relevância, bem como
observar a necessidade e a importância de intervenções precoces no processo terapêutico de
crianças com TEA, ampliando cada vez mais as possibilidades de estratégias de tratamento e
orientação aos familiares e profissionais, visto que o autismo não tem cura e o surgimento de
novas informações e propostas intervencionistas se mostram promissoras e necessárias.
REFERÊNCIAS
1332
BRITES, Luciana; BRITES, Clay. Mentes Únicas. São Paulo: Editora Gente, 2019. 192 p.
CARLEIAL, Germana Maria de Alcântara. Identificação dos Primeiros Sinais de Autismo:
Um Estudo Retrospectivo no Brasil. Tese de Mestrado em temas de psicologia, neurocognição
e linguagem. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade do Porto,
2020.
CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Prevalência e características
do transtorno do espectro autista entre crianças de 8 anos — Autism and Development
Disabilities Monitoring Network, 11 Sites, Estados Unidos, 2018. Disponível
em:https://www.cdc.gov/ncbddd/autism/index.html. Acessado em: 14 abr.2022.
ESTEVES, Hellen Aparecida; et al. Diagnóstico e intervenção precoce no autismo: relatos de
práticas profissionais. Artigo cientifico. Revista da Sociedade de Psicologia do Rio Grande
do Sul-SPRGS. Porto Alegre, v. 10, jan/jun 2021.
GAIATO, Mayra. SOS Autismo: Guia completo para entender o Transtorno do Espectro
Autista. nVersos, 2018.
SEIZE, M.M; BORSA, J.C. Instrumentos para Rastreamento de Sinais Precoces do Autismo:
Revisão Sistemática. Psico-USF. 2017.
SILVA, A. B. B. Mundo Singular: entenda o autismo. São Paulo: Editora Objetiva, 2012.
RESUMO
Considerando o crescente caso de adoecimento mental e físico de policiais, este artigo tem como
objetivo compreender a relação de trabalho entre as causas e fatores da síndrome de burnout na
saúde de policiais, mostrando assim a relevância sobre o estudo onde o meio em que esses
profissionais da segurança pública estão inseridos afetam diretamente em seu comportamento
não somente laboral como pessoal. Trata-se de uma revisão bibliográfica em que foram
analisados 22 artigos, pesquisados nas bases de dados: Google Acadêmico, Scientific Eletronic
Library Online (SciElo) e no Periódicos Capes. Dentre os principais resultados destaca-se a
urgência de análise para compreender o momento em que os fatores estressores de trabalho
estão intervindo diretamente com a vida desses policiais, demonstrando o déficit na falta de
cuidado da saúde mental e valorização dessa profissão. O resultado evidencia que quando os
policiais estão sujeitos a longas horas de trabalho, circunstâncias de risco e estresse contínuo,
ocorre uma série de fatores que podem ser visualizados em baixo desempenho no trabalho,
despersonalização, perda de memória e entre outros fatores que são características da síndrome
de burnout, mas que podem ser confundidas com outras doenças tornando o diagnóstico mais
difícil. Isso favorece para que os policiais cheguem ao esgotamento mental, já que estão
inseridos em um ambiente de trabalho nocivo e que reduz cada vez mais o seu tempo de lazer
e familiar para que consigam alcançar um reconhecimento não retornável, tornando assim esses
profissionais da segurança pública totalmente vulneráveis a desenvolver a síndrome de burnout.
Palavras-chave: causas; síndrome de burnout; policiais; estresse.
ABSTRACT
Considering the growing case of mental and physical illness among police officers, this article
aims to understand the working relationship between the causes and factors of burnout
syndrome in the health of police officers, thus showing the relevance of the study where the
environment in which these professionals of public safety are inserted directly affect their
behavior not only at work but also personal. This is a literature review in which 22 articles were
1
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
marinafiuza1801@gmail.com
2
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail: aieslyts@hotmail.com
3
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
vitoriamoura.live@gmail.com
4
Graduando em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail: erick36uzl@gmail.com
5
Docente da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte e Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
Doutora em Administração pela PUCPR. E-mail: adriana.oliveira@professor.catolicadorn.com.br
1335
analyzed. The results were analyzed using these articles as a source of in-depth research. Among
the main results, we highlight the urgency of analysis to understand the moment when work
stressors are directly intervening in the lives of these police officers, demonstrating the deficit
in the lack of mental health care and appreciation of this profession. The result shows that when
police officers are subjected to long hours of work in circumstances of risk and continuous
stress, there are a number of factors that can be seen in low performance at work,
depersonalization, memory loss and among other factors that are characteristic of the syndrome
of burnout, but that can be confused with other diseases making the diagnosis more difficult,thus
causing the police to reach mental exhaustion since they are inserted in a harmful work
environment and that increasingly reduces their leisure and family time so that they can achieve
non-returnable recognition, thus making these public security professionals totally vulnerable
to developing the syndrome of burnout.
Keywords: causes; burnout syndrome; cops; stress.
1 INTRODUÇÃO
Para Carvalho et al. (2020) a primeira fase tem ocorrência quando o sujeito se encontra
tomado pelos fatores estressores em que é submetido no seu ambiente de labor, desempenhando
assim, o desânimo para exercer suas funções, juntamente atrelado ao sentimento de esgotamento
físico e mental desse indivíduo. A despersonalização está relacionada com a insensibilidade
emocional do trabalhador, que passa a ter um forte sentimento de apatia pelos seus colegas de
trabalho e passa a distorcer o seu próprio eu. Já a última fase a ‘‘baixa realização pessoal no
trabalho’’, está estritamente relacionada com as anteriores, uma vez que, o indivíduo passa a ter
uma visão amplamente criteriosa e analisa os muitos pontos negativos que encontra em sua
situação atual.
Ascari et al. (2016) chamam a atenção ainda para as doenças que permeiam o campo
relacionado ao trabalho, visto que essas, tendem a ser percebidas tardiamente, e expressam
sintomas e sinais muito próximos aos de outras doenças. De certa forma, isso acaba repercutindo
negativamente na saúde dos trabalhadores, uma vez que cria uma ‘‘máscara’’ e dificulta a
identificação e diagnóstico.
Conforme Carneiro (2021) algumas profissões têm um nível de estresse elevado por
parte de seus trabalhadores, sendo os policiais uma das mais estressoras. O autor pontua que
isso ocorre pelo fato do objetivo principal ser garantir a segurança da sociedade, obrigando-os
a constantemente estarem inseridos em longas jornadas de trabalho, estado de alerta, violência
e perigo e vivências em situações de morte. Sendo esses alguns fatores que acarretam no
desenvolvimento da síndrome de burnout em policiais.
No estudo desenvolvido por Chaves e Shimizu (2018), foi utilizado os questionários do
Maslach Burnout Inventory (MBI) e Índice da qualidade do sono de Pittsburgh (PSQI), sendo
composto por 32 policiais militares do sexo masculino. Foram encontrados resultados
preocupantes, em que 43,75% dos policiais militares apresentaram um alto grau de exaustão
emocional, 56,25% apresentaram despersonalização e a pontuação para baixa realização
profissional correspondeu a 75%. Nesse sentido, o estudo demonstra que essas dimensões
apresentam fatores significativos na vida desses profissionais.
Diante do cenário exposto, o presente estudo, teve como objetivo geral compreender as
relações de trabalho e as causas e fatores da síndrome de burnout em policiais. Essa proposta,
torna-se propícia por representar de maneira especial, a necessidade de um acompanhamento e
avaliação biopsicossocial dos policiais, que constantemente obtém abalos na saúde mental. Tal
estudo, torna-se importante, visto que vai oferecer uma ampla visão sobre os fatores que a
1337
síndrome de burnout causa nos policiais, permitindo uma análise mais cuidadosa da saúde
mental desses indivíduos, além de gerar contribuição para o meio científico
2 MÉTODO
Para o presente estudo, optou-se por realizar uma revisão de literatura, de caráter
integrativa. A pesquisa desenvolvida por Botelho, Cunha e Macedo (2011) aponta que esse
método de pesquisa permite analisar conteúdos já publicados e construir novos conhecimentos
embasados nos resultados de pesquisas anteriores.
Os dados foram coletados em artigos disponíveis no Google Acadêmico, Scientific
Eletronic Library Online (SciElo) e no Periódicos Capes. A tática utilizada na coleta de dados
foi a leitura e a análise dos artigos que estavam correlacionados ao tema e se enquadravam nos
critérios de inclusão.
Foram utilizadas como palavras chaves: Burnout, ‘‘Síndrome de Burnout’’, Policiais,
Segurança Pública. Com a busca ‘‘Síndrome de Burnout’’ AND Policiais, encontrou-se 2.720
artigos no Google Acadêmico, 49 no Periódicos Capes e 5 no SciElo. No intuito de delimitar a
pesquisa no Google Acadêmico foram utilizados os outros descritores na busca: Estresse,
Traumas, Exaustão, Fatores e verificou-se 329 artigos. Após isso, foram lidos os títulos e
resumos, a fim de obter apenas os que se encaixam na temática dessa pesquisa. Com um total
de 383 artigos, dos quais 132 foram vistos e foram selecionados um total de 22 artigos que
possuíam uma aderência maior a temática.
Os critérios de inclusão e exclusão foram: artigos gratuitos, com o recorte cronológico
de 2015 a 2022 e restrição linguística para o português. Também foram incluídos artigos com
dados relevantes, bem como definições, fatores e consequências da Síndrome de Burnout em
policiais.
3 REFERENCIAL TÉORICO
A seguir serão apresentadas pesquisas científicas sobre a temática que mais se adequa
ao objetivo desse estudo. Esta seção contempla discussões sobre o estresse, em seguida foi
argumentado sobre os fatores estressores em policiais, e logo após foi exposto os estudos
1338
3.1 ESTRESSE
Segundo Silva, Lima e Caixeta (2010), o conceito de síndrome de burnout que tem sua
origem inglesa, traduz-se como a ação de queimar-se, pegar fogo, algo que tem ocorrência
gradual e lenta. Eles ainda expõem que o desenvolvimento da síndrome ocorre devido algumas
causas e fatores como: tempo de instituição, relação entre colegas de trabalho, sobrecarga, alta
responsabilidade, progressão no trabalho, horários de ofício incertos, baixa capacitação, baixo
índice de valorização, conflitos e percepção de inequidade.
Consoante a isso, Ascari et al. (2016) e Carneiro (2021) afirmam que a síndrome de
burnout tem grande incidência em profissionais da saúde, como enfermeiros, médicos,
fisioterapeutas, farmacêuticos, contudo também se encontram casos em outras profissões, entre
elas: professores, bombeiros e policiais. Os pesquisadores ainda expõem que as doenças
relacionadas ao trabalho são as mais difíceis de serem identificadas, uma vez que já fazem parte
do cotidiano dessas pessoas, dificultando o diagnóstico e principalmente a prevenção.
Não obstante, segundo Bianchi (2001), não é todo estresse que pode ser considerado
prejudicial. De acordo com o autor, existem aqueles que adotam sentidos favoráveis, como
casos em que a pessoa tem um outro olhar sob aquele momento ou fator estressante e passa a
vê-lo como algo inspirador ou um desafio a ser resolvido. Tal estudo se liga a pesquisa feita por
Margis et al. (2003), que defendem que o estresse é resultado das individualidades do sujeito,
que podem trazer em suas respostas, a prova de que cada um possui suas particularidades,
relacionadas ao meio externo e interno de cada um.
De acordo com Guimarães et al. (2014), o exercício desses profissionais da segurança
abarca duas variáveis: o perigo e a autoridade, estas, causam uma enorme onda constante de
pressão por eficiência e resultados rápidos. Além disso, os autores colocam a incessante
presença de perigo no ambiente laboral como um alerta, visto que, os isola das demais parcelas
da sociedade, sendo dessa forma, um forte causador de desconfiança, gerando sentimentos de
medo, ansiedade, e posteriormente, podendo vir a causar a síndrome de burnout.
Segundo Corrêa et al. (2018), a síndrome de burnout está sustentada na qualidade do
trabalho, entretanto, a constatação dos sintomas da síndrome em um profissional de determinada
organização, não implica na conclusão que as demais pessoas também tenham, uma vez que o
desenvolvimento do burnout efetua-se de maneira singular e individual em cada ser humano,
sendo necessário também, muito tempo para que se perceba os efeitos da síndrome.
Conforme o estudo desenvolvido por Maslach (1999) os métodos de resolução não
devem ter foco nos indivíduos, mas sim para o espaço de trabalho das organizações, de forma
1341
a tentar prevenir esses problemas, e não apenas tratá-los quando a situação já está agravada,
dessa forma, pretende-se evitar que mais pessoas possam vir a adquirir essa síndrome, visto que
ela está relacionada ao trabalho, que se encontra no cotidiano de todos, deixando uma vasta
gama de profissionais suscetível a ela.
Dessa forma, para Souza e Bezerra (2019), a psicoeducação expressa-se em identificar
os sintomas, compreendendo a situação e reconhecendo os fatores causadores que os
conceberam, fazendo um monitoramento dos pensamentos que surgem automaticamente, e uma
diferenciação entre as associações já existentes entre a emoção, pensamento e comportamento.
Eles também descrevem que ao examinar esses pensamentos automáticos, e desprendendo
desses pensamentos que se distorcem do real, a psicoeducação pode ser uma ótima auxiliadora
para o acompanhamento de pessoas com a síndrome.
visto que como exposto, eles muitas vezes exercem mais do que suas funções previamente
estipuladas e ainda assim não ganham nada a mais por isso, gerando sentimento de indignação
e insatisfação.
Consoante ao estudo de Prado (2016), a qualidade de vida no trabalho (QVT) recebe
diversos títulos, no entanto, já se tem a ideia de que existem relações diretas com a qualidade
de vida, entre elas: o aumento da saúde e bem-estar do trabalhador, maior humanização, bem
como uma maior participação desses profissionais em solução de problemas relacionados a
empresa. A QVT engloba tanto os fatores extrínsecos como os intrínsecos da função, que afetam
ações comportamentais e pessoais. Não distante do exposto pela autora, ela ainda pontua que o
entendimento e avaliação dessa qualidade de vida, está intrinsicamente relacionada com a
síndrome de burnout, podendo a partir desse ponto traçar caminhos para o entendimento e
tratamento do profissional.
Segundo Fonseca et al. (2020), ao criar uma relação entre qualidade de vida e estresse
em policiais, foi constatado uma ligação negativa e considerável entre a qualidade de vida com
a ausência de controle sobre o labor e a presença de estresse, evidenciando que quanto maior o
nível de estresse, menor a qualidade de vida, sendo uma ponte para a síndrome de burnout, caso
os policiais não estejam em observação de suas rotinas e as situações que os circundam.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo teve como objetivo central compreender a partir de uma revisão de
literatura, a relação de trabalho entre as causas e fatores que permeiam a síndrome de burnout
em policiais. Concluiu-se que os policiais, comparados ao restante da população, encontram-se
em uma posição de maior vulnerabilidade a apresentação de transtornos relacionados ao
sofrimento psíquico.
Os dados encontrados ressaltam o desgaste do profissional da polícia relacionado ao seu
ambiente laboral, os deixando ainda mais suscetíveis a desenvolver síndrome de Burnout.
Levando em consideração que a sua atuação está em constante exposição a fatores de riscos, a
altos níveis de tensão, pressão, e cobranças advindas não somente do meio institucional, como
também por parte da sociedade. Além de outros fatores como: longas horas de trabalho,
exaustão emocional, redução de tempo para lazer e família, e o sentimento de impotência frente
as atividades a serem realizadas.
1343
Observou-se que o estado ainda não fornece o apoio necessário a estes profissionais,
tendo em vista a inexistência de métodos de enfretamento voltado ao cuidado com a saúde
mental destes indivíduos, deixando essa condição mais fragilizada. No entanto, a falta de apoio
do estado contribui cada vez mais no desenvolvimento de outros agravantes, podendo favorecer
o aumento na incidência de transtornos mentais nesses indivíduos.
Dessa forma, esse estudo vem contribuir para futuras pesquisas acerca da saúde mental
dos policiais. Percebe-se a extrema necessidade em abordar temáticas que desmistifiquem a
imagem social que se construiu do policial ao longo dos anos, a fim de conscientizar a população
a ter um olhar mais empático para essa classe trabalhadora. Além da urgência na elaboração de
programas preventivos voltados ao cuidado da saúde mental desses profissionais, com o intuito
de minimizar o índice da síndrome de burnout, proporcionando-lhes qualidade de vida, saúde
física e mental.
Portanto, é necessário ressaltar as limitações encontradas na literatura, pois pouco se
encontra referente a medidas para amenizar esse empasse, acarretando em uma estaticidade nas
temáticas referentes aos fatores e as causas da síndrome de burnout entre policiais. Ademais, é
sugerido para futuras pesquisas, adentrarem na temática de como a visão social deturpada desses
profissionais, influência no desânimo dos agentes de segurança pública em realizar suas
funções.
REFERÊNCIAS
ASCARI, A. R.; DUMKE M.; DACOL, P. M.; MAUS JUNIOR, S.; DE SÁ C. A.; LAUTER,
L. Prevalência de risco para síndrome de burnout em policiais militares. Cogitare
enfermagem, v. 21, n. 2, jun. 2016. ISSN 2176-9133. Disponível em:
https://revistas.ufpr.br/cogitare/article/view/44610. Acesso em: 26 abr. 2022. DOI:
http://dx.doi.org/10.5380/ce.v21i2.44610.
BIANCHI, E. R. F. Escala Bianchi de Stress. Revista da escola de enfermagem da USP, v.
43, p. 1055-1062, 2009. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/reeusp/a/nSnqCJ7wDFdHwh88gqcTRTB/?format=pdf&lang=pt
Acesso em: 26 maio 2022 DOI: https://doi.org/10.1590/S0080-62342009000500009
RESUMO
ABSTRACT
1
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
ana.braz@aluno.catolicadorn.com.br
2
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
camille.sousa@aluno.catolicadorn.com.br
3
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
manuella.oliveira@aluno.catolicadorn.com.br
4
Graduanda em Psicologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail:
luiz.fernandes@aluno.catolicadorn.com.br
5
Docente da Faculdade Católica do Rio Grande do Norte e Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
Doutora em Administração pela PUCPR. E-mail: adriana.olveira@professor.catolicadorn.com.br
1348
1 INTRODUÇÃO
2 RESULTADOS
Os tiques simples são caracterizados pela contração dos músculos e ocorrem de forma
repetitiva, rápida e sem propósito como por exemplo tossir, contrair pescoço, gritar, piscar os
olhos, levantar os braços, fazer careta e outros. Os tiques complexos são mais lentos que os
tiques simples e são caracterizados pela contração de grupos musculares que não estão
relacionados entre si, como por exemplo a gesticulação das mãos, bater no próprio corpo ou em
outras pessoas, a ecolalia (repetição de sons), coprolalia (verbalização de palavras obscenas) e
outros (LOUREIRO, et al., 2005, TERRA; RONDINA, 2014,).
A ST é uma síndrome que acomete pouca parcela da população, até 1984 apenas 0,5%
de 1000 pessoas tinham ST, porém tem se notado o crescimento de pessoas acometidas pela ST
nos últimos anos, tendo uma variação de 1% a 2,9%, e estudos também apontam que a síndrome
de Tourette é encontrada de três a quatro vezes mais no sexo masculino do que no feminino
(LOUREIRO, et al., 2005).
É perceptível que existem outros distúrbios e transtornos que tem alguns sintomas
parecidos, como o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e o transtorno de déficit de atenção
e hiperatividade (TDAH) e por esse motivo o índice de erro no diagnóstico de ST é
consideravelmente alto (SANTOS; MOREIRA,2015).
O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é caracterizado primeiramente por
obsessões, compulsões, pensamentos impulsivos, imagens mentais aversivas e tiques, por esse
motivo, muitos acabam confundindo com ST. A diferença entre esses transtornos é que na ST
o paciente apresenta tiques motores e pelo menos um tique vocal em um período de um ano, já
no TOC o paciente apresenta os tiques com mais frequência expressando obsessões de
agressividade e sexuais (LOUREIRO, et al., 2005, ROSARIO-CAMPOS; MERCADANTE;
2000).
É importante lembrar que a simples ocorrência de sintomas do TOC ou de ST não
significa um diagnóstico de algum desses transtornos, pois pode indicar o início de outras
comorbidades como esquizofrenia, demência e depressão. Embora o TOC possa ser relacionado
a outras comorbidades, outras patologias podem ocorrer independente disso, então é possível
encontrar pacientes com duas ou mais patologias (PETRIBU; 2001, TORRES; SMAIRA,
2001,).
1352
É necessária uma análise nos meios de convivência da criança com ST, pois eles são de
extrema importância para o desenvolvimento infantil. Quando se nota que que há uma
dificuldade para os indivíduos na socialização por falta de políticas inclusivas e sociais,
percebe-se o surgimento de outros distúrbios como o de reclusão social, assim gerando diversos
problemas no período da adolescência e infância, que por ser uma fase muto importante para o
desenvolvimento social, e a ausência da socialização da criança pode acarretar diversos
problemas no futuro. (VINOCUR; PEREIRA, 2011)
No caso dos adolescentes, a evasão escolar e a entrada deles no mundo das drogas
devido aos problemas enfrentados é outro fator a ser resolvido. E como há atualmente um índice
elevado de crianças e adolescentes com distúrbios comportamentais e mentais como o da ST,
juntamente a falta de investimentos nesse meio de inclusão social e educacional gera um grande
déficit na socialização e educação dos indivíduos afetados pela síndrome. (GOMES; SOUZA,
2012).
1353
Dessa forma, se faz necessário uma análise nos meios de convivência da criança com
ST, pois eles são de extrema importância para o desenvolvimento do mesmo. Inicialmente
temos o meio escolar que atualmente é responsável pela educação inclusiva de qualquer aluno
(FARIA; CAMARGO, 2018). Porém, atualmente, há um alto número de crianças e
adolescentes que possuem algum tipo de distúrbio e necessitam de algum auxílio no âmbito
escolar. E devido a esses números elevados de alunos nessas situações e sua grande diversidade
de necessidades diferentes acaba gerando uma sobrecarga no sistema escolar (TEIXEIRA,
2013).
E juntamente a uma sobrecarga do sistema escolar, temos a falta de grandes
investimentos nas escolas, por meios de estruturas adequadas e capacitação para os funcionários
(GOMES; SOUZA, 2012). E especificamente na ST existe um baixo índice de debates e
divulgações acerca do assunto, assim gerando ainda mais desinformação. Atualmente a
Associação Brasileira de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtornos Obsessivos Compulsivos
disponibiliza um “Guia para professores sobre a Síndrome de Tourette”, que possuem maneiras
de se lidar com as inúmeras situações que a ST pode acarretar. Porém esse guia não é
amplamente divulgado nas grandes mídias, dificultando ainda mais a disseminação do
conhecimento sobre a síndrome. A associação Também criou diversos núcleos voltados para
dialogar sobre a síndrome e abriu espaço para os órgãos da educação procurarem entender o
assunto, porém é algo que não foi explorado adequadamente.
Então essa junção de fatores determinantes deixa muito claro um grande déficit sobre
as informações acerca ST e por não ser uma síndrome mais conhecida e assim vindo até a
dificultar o diagnóstico e seu tratamento pois é comumente confundida com outros distúrbios
(GOMES, 2008). E como já foi dito anteriormente tudo isso corrobora para um elevado nível
de problemas na efetivação do processo educacional, assim dificultando ainda mais a
convivência social no meio escolar. (GOMES; SOUZA, 2012).
Outro ponto de grande apoio para os indivíduos portadores da ST, é a família, pois é por
meio do ambiente familiar que eles acabam se tornando uma grande base que serve de apoio
emocional e psicológico. Por outro lado, essa presença parental é mais comum atualmente,
distanciando-se de antigamente onde a maioria das pessoas acometidas por qualquer tipo de
doenças mentais passavam a maior parte do dia em clínicas para o seu tratamento. Já hoje em
dia a família se faz presente no dia a dia da criança portadora da ST e torna-se um dos pilares
mais fortes pois é por ela onde se começa a vivência social do cotidiano (NAVARINI; HIRDES,
2005).
Apesar do meio familiar ser de suma importância para um bom desenvolvimento da
criança, na prática eles acabam ficando extremamente perdidos pela falta de conhecimento e
informações sobre a ST, tanto pelo lado da família como no meio medico, assim gerando não
só um tratamento ineficiente como tendo a possibilidade de piorar o quadro do paciente
(CALIMAN; 2008). E tudo isso leva também a um baixo rendimento escolar e diversos
problemas no meio social, no quais essas pessoas são taxadas de incomodas pois é pensado
devido à falta de informação que os tiques, gritos, gestos são intencionais (TEIXEIRA, et al.,
2010).
ser aplicado inicialmente em pequenas doses, variando entre 0,5 a 40 mg por dia e
gradativamente serem aumentadas visando chegar no melhor resultado possível
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SÍNDROME DE TOURETTE, TIQUES E
TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO, 2004, SANDOR, 2003, TERRA; RONDINA,
2014).
Além disso, os remédios mais indicados nas situações de crises intensas dos tiques são:
o Haloperidol, Tofranil e Orap, no entanto, eles apenas servem para reduzir os sintomas da ST,
podendo gerar consequências, dentre elas, sonolência, depressão, falta de atenção e em casos
mais graves a cinesia tardia a qual consiste em um transtorno de movimento irreversível.
Ademais, com o uso em excesso pode gerar dependência medicamentosa e até mesmo danificar
o quadro clínico, por isso, exige muito cuidado ao indicar esse tipo de intervenção
(LOUREIRO, et al., 2005, TERRA; RONDINA, 2014).
Já o tratamento psicológico é chamado de psicoterápico, o qual trabalha com dois tipos
de abordagem voltada para a ST, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a Terapia
Ocupacional (TO). A TCC estuda como os fenômenos diários afetam o cognitivo de cada
indivíduo e como as visões de mundo e pensamentos interferem no comportamento e crenças
deles. A abordagem citada foi uma das primeiras na área da psicologia a provar, por meio de
pesquisas científicas de alto rigor, a influência que o pensamento pode proporcionar na vida das
pessoas, como o comportamento, a biologia, o ambiente e os laços afetivos (FERNANDES;
CARVALHO, 2016, GONÇALVES; SILVA; ESTEVAM, 2019, SHAW; SEGAL, 1999)
Diferentemente da TCC que trabalha com técnicas de diminuição de tensão e
biofeedback, método para definir o nível de ansiedade do indivíduo, por meio da produção de
suor e pressão arterial (TERRA; RONDINA, 2014), a Terapia Ocupacional utiliza técnicas de
relaxamento e distinção do que é o corpo tensionado e o que é o corpo descontraído,
possibilitando a redução da frequência e intensidade dos tiques. Além disso, a TO também é
conhecida por trabalhar com momentos de recreação, uma vez que faz o uso de diversas
atividades dinâmicas para estimular o comportamento do paciente (GALHEIGO, 2003, REIS;
PALHARES, 2006, TERRA; RONDINA, 2014).
Por ser uma Síndrome de difícil intervenção e conhecimento, os profissionais da
educação encontram adversidades nos momentos de aplicar assistência estudantil, assim como
os pais que acreditam muitas vezes ser um método para chamar a atenção e não compreendem
o real caso do filho (HOUNIE; PETRIBÚ, 1999, TERRA; RONDINA, 2014,).
1356
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa revisão de literatura teve como objetivo ampliar os artigos sobre a ST e disseminar
informações para facilitar a convivência das pessoas com essa síndrome. Foram utilizados para
a produção dessa revisão 28 artigos coletados nas plataformas Google acadêmico e Scielo,
sendo selecionados de 1999 até 2021. Tem-se observado um crescimento de diagnósticos da
doença, mas ainda assim afeta pouca parcela da população. A síndrome ainda é confundida com
outros transtornos como o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e o Transtorno de Déficit
de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Diante das circunstâncias, a semelhança com os
transtornos citados dificulta o diagnóstico da ST apresentando empecilhos para o tratamento.
Socialmente a ST não é bem aceita, impedindo a socialização do paciente, o que
consequentemente dificulta a sua vida escolar, tendo em vista o despreparo das escolas para
receber alunos diagnosticados com a ST.
Após análise de artigos, constatou-se a dificuldade da vivência em sala de aula e de
interação social das pessoas com a ST, e da falta de apoio do corpo escolar e familiar, o que
prejudica o tratamento. Diante disso é importante que o Estado financie por meio de verbas
governamentais, capacitações para as escolas poderem preparar professores e psicólogos e todo
o corpo escolar para receber os alunos diagnosticados com ST e com outros transtornos.
Essa pesquisa contribui para aumentar a literatura a respeito da Síndrome de Tourette
devido termos percebido a falta de pesquisas acerca dessa temática, e para assim disseminar as
informações corretas e desmitificar os paradigmas da sociedade.
REFERÊNCIAS
GOMES, M. C. Quando a gente não entende das coisas, a gente não sabe lidar com elas:
Estudo de caso de um aluno com Síndrome de Tourret cursando o ensino público regular. São
Paulo, 2008. 82 p. Monografia (Programa de pós-graduação em distúrbios do
desenvolvimento) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, Centro de Ciências Biológicas e
da Saúde.
MAMEDE, W. Tique e toc na escola: mais que um problema de saúde, uma questão social e
pedagógica. Revista Quadrimestral. Porto Alegre, v. 40, n. 1, p. 97-105, 2017. Disponível
em: https://doi.org/10.15448/1981-2582.2017.1.25457. Acesso em: 26 abr. 2022.
SANTOS, B. T.; ALVES, F. R. F.; A educação física como fator de intervenção nos tiques
motores na síndrome de tourette. 2015. Grupo Educacional UNIS. Disponível em:
http://repositorio.unis.edu.br/handle/prefix/1728. Acesso em: 09 maio. 2022.
TEOLOGIA
1361
RESUMO
O amor por Cristo leva o cristão a anunciar a Boa Nova em todos os lugares e de diversas
formas. Isto acontece como consequência da experiência do encontro com o Ressuscitado, que
faz nascer uma alegria dentro dele, alegria essa que instiga e entusiasma o catequista a se
disponibilizar para preparar uma catequese que dialoga com a realidade de cada catequizando
ou catecúmeno. Deste modo, a pesquisa deste artigo tem como objetivo demonstrar que dentro
da formação catequética com as crianças e os jovens é possível e interessante a utilização dos
desenhos animados, animes e filmes, como ferramenta formativa, já que tais expressões
artísticas fazem parte da realidade deles. Trazer para a catequese o dia-a-dia dos jovens e das
crianças leva o catecúmeno a desenvolver um verdadeiro interesse de participação na vivência
do processo de iniciação à vida cristã. Isto só é possível, também, porque a catequese deixou
de ser apenas uma formação doutrinal e passou a ser vivência humanizadora dentro da realidade
dos catecúmenos, para tanto é apresentado que o catequista deve ajudar os jovens catequizados
a identificar dentro do seu mundo as possibilidades de sua própria formação, deve mostrar que
a vida, em todos os seus momentos, inclusive no momento do assistir alguma coisa, é
possibilidade formativa. Para o desenvolvimento deste trabalho foi utilizado o método da
revisão bibliográfica.
Palavras-Chaves: Animações. Filmes. Catequese. Humanização. Experiência.
ABSTRACT
Love for Christ leads the Christian to proclaim the Good News everywhere and in different
ways. This happens as a consequence of the experience of the encounter with the Risen One,
which gives birth to a joy within him, a joy that instigates and excites the catechist to make
himself available to prepare a catechesis which dialogues with the reality of each catechist or
catechumen. In this way, the research of this article aims to demonstrate that within the
2
Possui graduação em Filosofia pela Faculdade Católica de Fortaleza (2021) e é graduando em Teologia pela
Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail: isaackmontes@gmail.com
3
Graduanda em Teologia pela Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail: costam.leda@gmail.com
4
Possui graduação em Filosofia pela Faculdade Católica de Fortaleza (2021) e é graduando em Teologia pela
Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. E-mail: sandonaity@gmail.com.
5
Orientadora. Possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido
(2003), Mestrado em Ciências pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (2006) e Doutorado em Ciências
pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (2009). Possui Pós-doutorado em Desenvolvimento Sustentável.
E-mail: extensao@catolicadorn.com.br.
1362
catechetical training with children and young people it is possible and interesting to use
cartoons, anime and films as a training tool, since such artistic expressions are part of their
reality. Bringing the daily life of young people and children into catechesis leads the
catechumen to develop a real interest in participating in the experience of the process of
initiation into the Christian life. This is only possible, too, because catechesis is no longer just
a doctrinal formation and has become a humanizing experience within the reality of
catechumens, for this it is presented that the catechist must help the young catechized to identify
within their world the possibilities of their own formation, they must show that life, in all its
moments, including the moment of watching something, is a formative possibility. For the
development of this work, the method of literature review was used.
Keywords: Animations. Films. Catechism. Humanization. Experience.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo busca refletir sobe a utilização de desenhos animados, filmes e animes
inseridos na formação catequética direcionado para crianças e jovens. Com o objetivo de
apresentar tais expressões artísticas como uma ferramenta pedagógica de grande valia para o
processo da formação humano-espiritual do catequizando. Para tanto, será demonstrado como
relacionar as animações e os filmes no processo catequético de educação da fé.
Um dos pontos importantes desses tipos de produções artísticas para a catequese se
encontra nas possibilidades pedagógicas que elas carregam consigo, pois, muitas vezes,
possibilita com que haja um diálogo muito mais fecundo entre a catequese e o catequizando, já
que os animes, filmes e desenhos animados fazem parte do dia-a-dia dos jovens e das crianças.
Abrindo assim um caminho entre o catequista e o catequizando, onde a catequese não se
apresenta mais apenas em sua antiga estrutura constituída de formações doutrinárias, mas indo
além, e tentando se fazer presente dentro das próprias vivências cotidianas dos catequizados.
O texto é metodologicamente uma revisão bibliográfica que se divide em duas partes.
Na primeira é trabalhada a compreensão do que são animes, desenhos animados e filmes, e
como estes podem ser utilizados como ferramenta formativa na catequese. Já a segunda parte
pretende, primeiro, demonstrar a evolução da compreensão do objetivo da catequese após o
Concílio Vaticano II (1964), evolução essa que trouxe novas perspectivas, novos modos de ver
a relação entre catequese e catequizando. Por fim, o texto termina apresentado os filmes e as
animações como uma ponte segura entre a catequese e a vida dos jovens e das crianças. Ponte
esta que pode ser usada para trabalhar temas socioculturais, políticos e teológicos.
1363
Desde a mais tenra idade as crianças são postas de frente a uma tela de televisão ou de
celular, segundo Abreu (2019, p.108) há estudos recentes que “constataram que de 64 a 100%
de todos os bebês e crianças que estão começando a andar assistem à televisão antes dos 2 anos
de idade.” Isto se dá pelo fato de que as crianças enquanto estão sendo ludibriadas pelo brilho
e pelo movimento das telas, deixam seus educadores realizarem outras tarefas.
Este contato com as mídias não tende a diminuir quando as crianças vão ficando mais
velhas, na verdade os desenhos animados, os animes e os diversos filmes que essas crianças
assistem, com o passar do tempo, vão se tornando parte da cultura delas, ou seja, vão se tornando
parte fundamental na construção de seu mundo simbólico. Deste modo, é possível perceber que
é através da interação com as animações e os filmes, na contemporaneidade, que as crianças
constroem “sua personalidade, seus valores, [...] seu repertório lúdico e seu caráter de Homo
ludens” (BARBOSA; GOMES, 2013, p. 327). Sendo assim, não há como falar nas crianças e
não trazer para o debate o papel formativo desses filmes e animações.
É certo que nem todas essas formas de entretenimento auxiliam verdadeiramente na
educação desses pequeninos. Mesmo dentre os desenhos animados e animes há uma gama de
produções que não são destinadas ao público infantil. Além disso, Abreu (2019) lembra,
também, que até os programas que são apresentados como educativos para as crianças podem
não o serem, pois, cerca de três quartos desses programas nunca foram realmente avaliados
quanto a suas potencialidades educativas. Sendo assim, se faz necessária a presença constante
dos educadores na vida das crianças, seja na hora de escolher quando e quais animações ou
filmes elas irão assistir, mas acima de tudo, a presença dos educadores é fundamental para
auxiliar esses pequeninos a desenvolverem uma reflexão crítica sobre aquilo que estão
assistindo, ao ponto de poderem, juntos com seus educadores, extraírem reais valores
educativos daquilo que, a princípio, era só entretenimento (PLATT, 2018).
Entender a distinção entre animes e desenhos animados é fundamental para ajudar a
desenvolver qualquer reflexão crítica acerca das obras de animação. A distinção principal, e
mais evidente, é que os animes são oriundos da cultura oriental enquanto os desenhos animados
são produtos da cultura ocidental (FARIA, 2008). Outro ponto que merece destaque é o fato de
que os heróis apresentados nos animes são “desenhados a partir do mundo real. Neste aspecto
1364
incide a diferença fundamental em relação aos personagens ocidentais – são pessoas comuns
na aparência e de conduta modesta” (p. 154).
É comum ver os heróis sendo retratados nos animes mais como anti-heróis, ou seja, são
heróis que, por vezes, têm dúvidas, sofrem e erram. Diferentemente dos super-heróis das
animações ocidentais, que quase nunca têm sua conduta ética questionada, nos desenhos
animados a distinção entre o bem e o mal é bem acentuada, é possível perceber claramente
quem é o “mocinho” e quem é o inimigo. Já nas animações orientais a cultura do yin-yang é
muito forte, o conflito entre o bem e o mal ocorre dentro do próprio herói. Por conter essa
característica, os animes conseguem com mais facilidade do que os desenhos animados,
trabalhar profundos temas filosóficos e existenciais. É importante ainda ressaltar um traço
visual característico dessas animações: os olhos grandes, que têm relação direta com essa
dimensão reflexiva dos animes, pois colocar olhos grandes nos personagens facilita a
transmissão de “emoções sinceras e psicologicamente profundas” (FARIA, 2008, p. 151).
Um dos animes mais conhecidos e que traz esse substancial traço oriental do herói que
possui conflitos internos é Naruto do autor Kishimoto. Sobre este anime Vieira (2016, p. 847)
relata o seguinte:
Naruto é uma obra recheada por conflitos emocionais e pela discriminação sofrida
pelo protagonista e por diversos outros personagens que compõem a trama. O autor
leva os leitores/espectadores a aproximarem-se desses sofrimentos do jovem ninja e,
em muitos casos, a enfrentar seus próprios conflitos diante do que a história narra.
A catequese sempre se manteve como uma das principais tarefas da Igreja Católica
Apostólica Romana. Isso porque Cristo ressuscitado, antes de subir para o Pai, deu aos seus
apóstolos a missão: “ide e anunciar o evangelho entre todas as nações” (Mt 28,19). Observando
seus ensinamentos, suas palavras, atos e mandamentos, sinais, fazendo novos discípulos. Com
isso a catequese abrange toda a vida do ser humano, ela é vista desde os primórdios da Igreja,
onde Cristo confia a seus discípulos homens e mulheres a missão de anunciar a Boa Nova a
todos, tudo o que viram e ouviram, e tocaram com suas próprias mãos.
A Igreja no Brasil, especificamente a partir do Concilio Vaticano II, compreendendo
sua caminhada de missão evangelizadora foi fazendo algumas “[...] adaptações necessárias, que
refletiam a caminhada da Igreja e o movimento catequético brasileiro.” (DNC, 2002), o
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encontro da Assembleia Geral dos Bispos, no ano de 2002, foi um momento muito rico de
debate sobre a caminhada da catequese no território brasileiro. A partir desse encontro foi
realizada a elaboração do documento Diretório Nacional de Catequese (DNC). Mais tarde,
depois de adaptações e revisões, o texto foi aprovado na quadragésima terceira (43°)
Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em agosto de 2005.
O diretório tem como objetivo apresentar a natureza e a intenção da catequese, proporcionando
os critérios de ação catequética, em orientar, organizar e encorajar para atividade da ação
catequética nas devesas regiões do Brasil.
Desta forma, proporcionou uma grande inspiração, impulsionando novos passos na ação
catequética em suas diversas abordagens: bíblica, litúrgica, tentando fortalecer a fraternidade e
comunhão. O diretório abordou também a participação de adultos na catequese somando como
grande carga de transformação da sociedade, segundo a Doutrina Social da Igreja.
A especificidade da catequese, distinta do primeiro anúncio do Evangelho que suscita
conversão, visa o duplo objetivo de fazer amadurecer a fé inicial e de educar o verdadeiro
discípulo de Cristo, mediante um conhecimento mais aprofundado e sistemático da Pessoa e da
mensagem de Nosso Senhor Jesus Cristo (CT 19).
Em suma, a catequese abrange toda a vida humana, buscando sempre o amadurecimento
espiritual na fé, proporcionando uma verdadeira vida crista. Nisto a catequese se torna
responsável e essencial na preparação das pessoas que buscam receber os sacramentos da
iniciação da Igreja católica, que são o Batismo, a Confirmação (Crisma) e Eucaristia. Assim
essa preparação tem o nome de Iniciação à Vida Crista (IVC), que parte desde o seio familiar
até a própria confirmação pessoal de quem busca seguir a Cristo. Sendo que essa formação não
tem o objetivo de finalizar, mas de se expandir por toda vida cristã.
É fundamental olhar para alguns destaques fortes da catequese. Em primeiro lugar,
como fala o Padre Luiz Alves de Lima em uma entrevista para o site da Comissão Episcopal
para Animação Biblico-Catequetica da CNBB: é importante observar como a catequese era
entendida nos primeiros séculos da Igreja: o nome catequese que já surgiu com a contexto
catecumenato marcado por uma ritualidade e mistagogia, que proporcionava um ensino da
doutrina cristã ( LIMA, 2022).
Diante dessas últimas décadas no caminhar da catequese pode-se dizer que se formou
um novo modo de entender a catequese e sua metodologia. Se antes era direcionada apenas ao
catecismo com fórmulas de memorização. O Concílio vaticano II, dá uma nova orientação
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para ajudar a desenvolverem uma forma de pensar mais humana, ajudando-os, neste sentido, a
agirem e se posicionar com facilidade e clareza perante aos diversos dilemas que surgem nos
dias atuais, agregando em si a responsabilidade de decidir pelo que é certo e errado (VIEIRA,
2016).
A utilização de filmes e animações como possibilidade pedagógica no processo
formativo da catequese também auxilia o próprio catequizando a transmitir de forma mais
dinâmica e prática aquilo que ele apreendeu na catequese para as pessoas que estão a sua volta:
amigos, familiares e etc., ou seja, as crianças e os jovens conseguem exercer sua função de
evangelizadores com mais facilidade no seu dia-a-dia, já que elas terão apreendido com muito
mais profundidade aquilo que lhes foi ensinado. O catequisando se torna, assim, ao mesmo
tempo um ser discípulo-missionário. Mas isso só é possível se o catequista praticar sua docência
de forma dócil e responsável utilizando sempre como base para o diálogo a própria vida do
catequizando. Sobre este ponto Viera (2016, p.849) diz o seguinte: “a prática docente só pode
ser realizada com responsabilidade quando se reflete sobre o contexto em que ela se
materializa.”
Os filmes e as animações auxiliam o catequista principalmente quando este realiza
debates sobre temas complexos e que estão carregados de tabus e preconceitos, tais como:
bulling, homofobia, empoderamento feminino, violência doméstica e etc. (FARIA, 2008).
Assuntos estes que muitas vezes são trabalhados de forma superficial ou simplesmente não é
trabalhado nem na escola, nem no ambiente familiar.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entre as reflexões nessa pesquisa, conclui-se que a catequese vai além do que qualquer
tarefa e possui um objetivo central: ajudar com que as pessoas desenvolvam em si mesmas a
experiência de uma vida em Cristo. Para tanto, tem a necessidade de utilizações de expressão
artísticas pedagógicas, que enriquece o processo formativo humano-espiritual do catequizando
ou catecúmeno.
Encontra-se a necessidade na formação do catequista. Não apenas em um conteúdo
doutrinal, mas um olhar no mundo que a própria criança ou jovem vivem. Nisso coloca o
catequista a conhecer mais essa realidade, e despertar em cada criança e jovens um verdadeiro
interesse na vida crista. Deste modo, utilizando os desenhos animados, filmes e animes, como
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REFERÊNCIAS
LIMA, Luiz. Oficina: Catecismo da Igreja Católica e iniciação a vida Cristã. Assessor: Pe.
Luiz Alves de Lima. Youtube, Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=_Huc7hxBA9Y&t=58s>. Acessado em: 20 de maio de
2022.
FARIA, Mônica Lima. História e narrativa das animações nipônicas: algumas características
dos animês. Revista Actas de Diseño. Palermo, n. 5, p. 150-157, ago. 2008. Disponível em:
<https://doi.org/10.18682/add.vi5>. Acesso em: 18 de mai. de 2022.
JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Catechesi Tradendae. Vaticano: 1979. In:
https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_exhortations/documents/hf_jp-
ii_exh_16101979_catechesi-tradendae.html Acesso em: 02 de mai. de 2022.