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Universidade Rovuma
Nampula
2021
Abilio Anastacio Mauá
Universidade Rovuma
Nampula
2021
Introdução
Os ritos de iniciação são instituições culturais praticadas nas zonas centro e norte de
Moçambique. Portanto, é comum afirmar-se que são constituintes dos direitos culturais,
que são uma das importantes dimensões dos direitos humanos.
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Ritos
Ritos sãos experienciam vividas para garantir a maturidade das crianças, os ritos podem
ser quentes ou frios. Quentes são aqueles que repetem muitas vezes durante a vida e
frios são aqueles que não se repetem ou seja acontece apenas uma vez.
A análise ritual está sempre relacionada a acção social e à comunicação. Estas buscam
estabelecer a forma estrutural de realização de um rito. Neste processo é possível
observar a maneira como os indivíduos classificam o mundo e constroem a realidade em
que vivem. Nessa realidade, inserem-se as instituições, que nada mais são do que os
meios em que o homem propaga a sua existência e projecta a sua forma de existir. E
nesse poder de uniformização e de padronização, as instituições servem para estabelecer
uma ligação entre o passado e o presente.
Entende-se que, no bojo das mudanças que as diferentes sociedades passaram no último
século, os rituais - também definidos como rituais de mudanças - não ficaram à margem
das transições. Os rituais utilizados nas cerimónias incorporaram novos formatos e
novos movimentos, como foram definidos por PEIRANO (2003, p. 12): “ritual não é
algo fossilizado, imutável, definitivo”. Diferente é a análise de Rivière, que vê o ritual
como um fato social, no qual a realização de um ato ritualístico busca ser o fato para as
pessoas estarem juntas.
Para o autor (1996, p.16), “o rito busca renovar ou refazer a identidade, a personalidade
do grupo e da sociedade”. Nos grupos sociais, sempre existem os participantes e os
excluídos, porém os símbolos ritualísticos como o canto, a música, o vestuário, são
vistos como uma linguagem específica que serve para afirmar a identidade colectiva que
identifica uma cultura própria e reafirma a estrutura social, mesmo com as
desigualdades existentes.
Os rituais são as sínteses dos valores em evidência numa determinada cultura, e que vão
sendo transferidos de geração a geração. As razões da conservação dos ritos e rituais
podem ser confirmadas nas ideias de LEACH (1978, P.25), que afirma que “o primitivo
e o moderno são iguais. Não apenas pensamos de forma similar. Embora haja diferenças
entre sociedades, existe um repertório básico de acções que partilhamos. Somos
semelhantes e diferentes ao mesmo tempo”. Neste lançar de olhares que o pesquisador
faz, sobre a aplicação da estrutura ritual na análise dos fenómenos sociais, o desafio
reside não somente na observação e interpretação dos rituais e suas manifestações, mas
vai além. Encontra-se no cerne do que expressam as representações colectivas que
chegaram até nós por meio de várias gerações. É a palavra, o sentido, o gesto, a
narrativa - elementos inseridos no mito.
SEGALEN (2002, p. 31). Destaca a capacidade que os ritos e rituais têm em assumir
formatos adequados a cada circunstância social. Para ela: O rito ou ritual é um conjunto
de actos formalizados, expressivos, portadores de uma dimensão simbólica. O rito é
caracterizado por uma configuração espácio-temporal específica, pelo recurso a uma
série de objectos, por sistemas de linguagens e comportamentos específicos e por signos
emblemáticos cujo sentido codificado constitui um dos bens comuns do grupo. A
conotação dada por Selagem permite afirmar que o ritual é uma linguagem, uma forma
de dizer coisas e de representar situações, na medida em que expressa valores sociais,
religiosos, políticos e económicos como valores importantes para a sociedade que o
pratica.
Na visão de CIPIRE (op, cit: 23), no dia desligado acompanhada pelo seu tutor parte
para a mata, segurando uma perna de galinha com shima de milho ou mapira que foi lhe
Dada pela mãe. Perto do loca ajustado pelo chefe tradicional, o tutor tapa lhe os olhos e
os tambores e os apitos rufam para que ele não oiça o grito dos outros circuncidados. O
tutor obriga lhe a sentar ao colo e prende lhe as suas pernas. Por vezes mate lhe um
pauzinho nos dentes para melhor suportar a dores.
Nisto o Namuco (aquele que corta) aproxima se do garoto á relâmpago corta o prepúcio
dos circuncidados duma só vez, mesmo que não o atinge, não repete. A navalha
tradicional nesta operação é levada para o fogo para evitar a infecção. O prepúcio
cortado é obrigatoriamente enterrado e só eventualmente queimado.
As tarefas de um bom pai, como encarar-se com a mulher sexualmente, são transmitidos
na base de adágios, provérbios e sempre acompanhados com cantares e danças
processadas durante as noites da sua permanência.
Onde o jovem é também ensinado a comportar-se na sociedade e relacionar-se com
outros. Aprende as lendas, os contos, regras de moral e os vários costumes da sua tribo
como verdadeiras riquezas patrimoniais que realmente são transmitidos de geração para
geração
Ritos de Iniciação Feminina
Estes, têm como objectivo a formação de mulheres dóceis, obedientes, que mesmo
quando humilhadas desumanamente tratadas continuam a sorrir. Durante a realização
das cerimónias dos ritos de iniciação feminina, as mestres ensinam lhe que a
menstruação nada tem de anormal, antes pelo contrário é um sinal do que em breve
pode criar. Ensinam-na utilizar um trapo como tampão, o primeiro deve ser enterrado á
noite por ela própria. Só ela pode lavar as roupas manchadas. Depois abrirá uma cova
onde despejará as águas utilizadas.
Durante, o processamento de ritos de iniciação, mulher iniciada sujeita-se a operação de
estender lábios vaginais, que podem a medir 10 cm de comprimento.
Nas meninas é deixado como marca de iniciação uma pequena incisão no clítoris (nada
chocante), são testadas suas capacidades em relação a encontrar algumas plantas
medicinais, e as inicia sexualmente explicando a anatomia de ambos os sexos,
especificações técnicas, a proibição do incesto e a regra da exogamia (proibição de casar
com pessoas da mesma linhagem); Cumpre a prática de alongamento dos lábios da
vulva através de massagem feita com óleos vegetais e unguentos, que na verdade se
começa a fazer nas meninas desde pequenas, porque acredita-se que aumenta o prazer
dos homens. Atenção! Porque as mulheres Macua são muito orgulhosas de todas essas
práticas e crenças, porque elas se sentem mulheres completas, que conhecem o seu
próprio corpo, com o qual têm uma relação profunda, e sabem como dar e sentir prazer.
A este respeito a mulher assim, preparada para mãe e esposa é imbuída várias regras que
poderá seguir no seu futuro lar. Assim, depois do casamento ela abstém se de comer
várias coisas, porque acarretam várias doenças á criança que deve nascer, como ovos,
certos peixes e animais.
Os ritos de iniciação são também muito violentos para os rapazes, em que com castigos
inomináveis eles aprendem a ser dominadores, aprendem que depois de iniciados devem
começar a preparar-se para serem homens e para proverem uma família. Para as
raparigas os ritos de iniciação autorizam os pais a “casarem-nas” prematuramente. Com
muita frequência este “casamento” foi combinado com anos de antecedência, sendo a
sua realização determinada pelo aparecimento da primeira menarca e pela realização
dos ritos.
As consequências são normalmente o abandono da escola, a gravidez precoce e o
surgimento de doenças e de lesões graves, como a fístula obstétrica. A sexualidade é
assim vivida de forma violenta, fazendo parte do vasto conjunto de deveres que a
mulher tem que cumprir. Nos ritos as jovens aprendem a subordinar-se, seja pela
instrução em estratégias de apaziguamento do homem, seja através da relação sexual e
da aplicação das técnicas aprendidas, seja através da paciência e da tolerância nos casos
em que, mesmo ignorando as razões da zanga masculina, devem “aceitar.
Conclusão
Depois de uma análise breve da cultura relativamente aos ritos de iniciação podemos
concluir que a ida aos ritos é feita para os rapazes após os primeiros sinais de puberdade
biológica e para as raparigas depois da primeira menstruação. Contudo, constata-se em
todos os grupos etno linguísticos uma diminuição da idade, tanto para as raparigas como
para os rapazes (embora menos para estes), devido ao facto de que, tal como muitas
matronas e mestres nos afirmaram, haver o perigo de que quanto mais velhos os
meninos e mais velhas as meninas entrarem nos ritos, menos garantia haverá de que
escutem e obedeçam aos conselhos recebidos. Portanto quando estudamos os ritos de
iniciação constatámos que pelo que ensinam e pelo modo como são transmitidas as
aprendizagens, as crianças do sexo feminino e do sexo masculino aprendem a
distinguirem-se e a adoptar práticas que lhes condicionam o acesso a direitos. Ou seja,
os ritos de iniciação têm uma primeira função que é de formar identidades, de nos dizer
o que está certo e errado no nosso comportamento. Neste sentido, os ritos são
apresentados como verdades que não podemos questionar sob pena de estarmos a violar
“a nossa cultura
Bibliografia