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Abilio Anastacio Maua

Eduardo Correa Mendes

Jordina Sebastião Carimo

Ritos como Moçambicanos de reprodução social

Ritos de passagem ( ritos de iniciação masculino e feminino)

(Licenciatura em Sociologia com Habilitações em Desenvolvimento Rural)

Universidade Rovuma

Nampula

2021
Abilio Anastacio Mauá

Eduardo Correa Mendes

Jordina Sebastião Carimo

Ritos como Moçambicanos de reprodução social.

Ritos de passagem (Ritos de iniciação masculino e feminino)

(Licenciatura em Sociologia com Habilitações em Desenvolvimento Rural)

Trabalho de carácter avaliativo, da disciplina


Antropologia Cultural de Moçambique,
leccionado no curso de Sociologia 2 ano,
pelo docente: MSC Namuera

Universidade Rovuma

Nampula

2021
Introdução

Os ritos de iniciação são instituições culturais praticadas nas zonas centro e norte de
Moçambique. Portanto, é comum afirmar-se que são constituintes dos direitos culturais,
que são uma das importantes dimensões dos direitos humanos.

As instituições culturais organizam os lugares e os papéis e as funções sociais que cada


um deve ocupar na sociedade. Nesse sentido, a cultura é determinante para a construção
das identidades sociais. Isto é, numa determinada cultura as pessoas aprendem a
reconhecer-se e a reconhecerem os outros em termos de partilha de representações e
práticas, desde a forma como se cumprimentam, como mostram hospitalidade, como
partilham uma refeição e, para ir mais a fundo, como pensam acerca da vida, do amor e
amizade.

.
Ritos

Ritos sãos experienciam vividas para garantir a maturidade das crianças, os ritos podem
ser quentes ou frios. Quentes são aqueles que repetem muitas vezes durante a vida e
frios são aqueles que não se repetem ou seja acontece apenas uma vez.

Iniciação Masculina e Feminina

Para Martinez, com o nascimento e os ritos correspondente a criança não fica


completamente integrado na sociedade. o seu verdadeiro nascimento social ocorrera
com a partição nos ritos de iniciação em macua ( WINELIWA)

A sociedade macua ritualiza a passagem da adolescência a para o estado adulto em


ambos sexos havendo ritos próprios para os rapazes (OCILEWA), para as raparigas
(EMWALI)

Ritos como reprodução social

A análise ritual está sempre relacionada a acção social e à comunicação. Estas buscam
estabelecer a forma estrutural de realização de um rito. Neste processo é possível
observar a maneira como os indivíduos classificam o mundo e constroem a realidade em
que vivem. Nessa realidade, inserem-se as instituições, que nada mais são do que os
meios em que o homem propaga a sua existência e projecta a sua forma de existir. E
nesse poder de uniformização e de padronização, as instituições servem para estabelecer
uma ligação entre o passado e o presente.

Entende-se que, no bojo das mudanças que as diferentes sociedades passaram no último
século, os rituais - também definidos como rituais de mudanças - não ficaram à margem
das transições. Os rituais utilizados nas cerimónias incorporaram novos formatos e
novos movimentos, como foram definidos por PEIRANO (2003, p. 12): “ritual não é
algo fossilizado, imutável, definitivo”. Diferente é a análise de Rivière, que vê o ritual
como um fato social, no qual a realização de um ato ritualístico busca ser o fato para as
pessoas estarem juntas.

Para o autor (1996, p.16), “o rito busca renovar ou refazer a identidade, a personalidade
do grupo e da sociedade”. Nos grupos sociais, sempre existem os participantes e os
excluídos, porém os símbolos ritualísticos como o canto, a música, o vestuário, são
vistos como uma linguagem específica que serve para afirmar a identidade colectiva que
identifica uma cultura própria e reafirma a estrutura social, mesmo com as
desigualdades existentes.

Os rituais são as sínteses dos valores em evidência numa determinada cultura, e que vão
sendo transferidos de geração a geração. As razões da conservação dos ritos e rituais
podem ser confirmadas nas ideias de LEACH (1978, P.25), que afirma que “o primitivo
e o moderno são iguais. Não apenas pensamos de forma similar. Embora haja diferenças
entre sociedades, existe um repertório básico de acções que partilhamos. Somos
semelhantes e diferentes ao mesmo tempo”. Neste lançar de olhares que o pesquisador
faz, sobre a aplicação da estrutura ritual na análise dos fenómenos sociais, o desafio
reside não somente na observação e interpretação dos rituais e suas manifestações, mas
vai além. Encontra-se no cerne do que expressam as representações colectivas que
chegaram até nós por meio de várias gerações. É a palavra, o sentido, o gesto, a
narrativa - elementos inseridos no mito.

SEGALEN (2002, p. 31). Destaca a capacidade que os ritos e rituais têm em assumir
formatos adequados a cada circunstância social. Para ela: O rito ou ritual é um conjunto
de actos formalizados, expressivos, portadores de uma dimensão simbólica. O rito é
caracterizado por uma configuração espácio-temporal específica, pelo recurso a uma
série de objectos, por sistemas de linguagens e comportamentos específicos e por signos
emblemáticos cujo sentido codificado constitui um dos bens comuns do grupo. A
conotação dada por Selagem permite afirmar que o ritual é uma linguagem, uma forma
de dizer coisas e de representar situações, na medida em que expressa valores sociais,
religiosos, políticos e económicos como valores importantes para a sociedade que o
pratica.

Principais Ritos da Vida

A sociedade tradicional em Moçambique pratica ritos de passagem de uma fase de vida


para a outra preparando desta forma o adolescente a encarar ao problemas que lhe
esperam nesse outro estádio de vida. As principais fases são aquelas em que se prepara
o jovem para enfrentar a vida adulta. Na sociedade macua, os principais ritos são: ritos
de iniciação masculina e feminina.

Ritos de Iniciação Masculina

De acordo com CIPIRE (1992:22), na sociedade macua, os ritos de iniciação masculina


subscrevem se em realização da circuncisão e todas as actividades a ela inerentes. A
circuncisão é um costume que como força de lei e aquele que não for circuncisado é
excluído de todas as danças falqueadas sendo considerado de efeminado e dificilmente
consegue mulher para casar. Como o desenvolvimento masculino não é notado por
sinais externos como na puberdade feminina, a escolha dos meninos ou jovens para a
prática dos ritos de iniciação baseia se frequentemente na vivacidade espiritual e no
desenvolvimento físico que os mais velhos lhes reconhecem. A data da circuncisão é
grande cerimónia da passagem para a vida adulta.
Escolhida a data, o evento é anunciado pelo arrufar dos tambores e por grupos que
percorrem os aglomerados mais próximos (otómola ecoma). As festas iniciam se alguns
dias antes de os jovens partirem para a floresta (orapatani). Em volta de uma grande
fogueira a população canta e dança e um ajudante do chefe tradicional (numuko)
considerado co poder mágico e deve, alem disso, ser dançarino exímio, mostra as suas
habildades, tal com ko atravessar o fogo sem se queimar. Na véspera da partida te,m
lugar uma despedida da crença que parte para alvorada de uma nova vida. O jovem rapa
obrigatoriamente o cabelo e queima as roupas, símbolo de infância que deixa. O corpo é
esfregado com unturas que os preservam dos maus espíritos. Mata se um galo que se
assa uma perna para levar consigo. Até partir para mata, a criança ignora tudo o que vai
lhe acontecer se bem que desde há muito lhe fale “festa do mel” que ele próprio irá
escolher o néctar.

Processamento dos Ritos

Na visão de CIPIRE (op, cit: 23), no dia desligado acompanhada pelo seu tutor parte
para a mata, segurando uma perna de galinha com shima de milho ou mapira que foi lhe
Dada pela mãe. Perto do loca ajustado pelo chefe tradicional, o tutor tapa lhe os olhos e
os tambores e os apitos rufam para que ele não oiça o grito dos outros circuncidados. O
tutor obriga lhe a sentar ao colo e prende lhe as suas pernas. Por vezes mate lhe um
pauzinho nos dentes para melhor suportar a dores.
Nisto o Namuco (aquele que corta) aproxima se do garoto á relâmpago corta o prepúcio
dos circuncidados duma só vez, mesmo que não o atinge, não repete. A navalha
tradicional nesta operação é levada para o fogo para evitar a infecção. O prepúcio
cortado é obrigatoriamente enterrado e só eventualmente queimado.

Uma Educação Completa

As tarefas de um bom pai, como encarar-se com a mulher sexualmente, são transmitidos
na base de adágios, provérbios e sempre acompanhados com cantares e danças
processadas durante as noites da sua permanência.
Onde o jovem é também ensinado a comportar-se na sociedade e relacionar-se com
outros. Aprende as lendas, os contos, regras de moral e os vários costumes da sua tribo
como verdadeiras riquezas patrimoniais que realmente são transmitidos de geração para
geração
Ritos de Iniciação Feminina
Estes, têm como objectivo a formação de mulheres dóceis, obedientes, que mesmo
quando humilhadas desumanamente tratadas continuam a sorrir. Durante a realização
das cerimónias dos ritos de iniciação feminina, as mestres ensinam lhe que a
menstruação nada tem de anormal, antes pelo contrário é um sinal do que em breve
pode criar. Ensinam-na utilizar um trapo como tampão, o primeiro deve ser enterrado á
noite por ela própria. Só ela pode lavar as roupas manchadas. Depois abrirá uma cova
onde despejará as águas utilizadas.
Durante, o processamento de ritos de iniciação, mulher iniciada sujeita-se a operação de
estender lábios vaginais, que podem a medir 10 cm de comprimento.

Nas meninas é deixado como marca de iniciação uma pequena incisão no clítoris  (nada
chocante), são testadas suas capacidades em relação a encontrar algumas plantas
medicinais, e as inicia sexualmente explicando a anatomia de ambos os sexos,
especificações técnicas, a proibição do incesto e a regra da exogamia (proibição de casar
com pessoas da mesma linhagem); Cumpre a prática de alongamento dos lábios da
vulva através de massagem feita com óleos vegetais e unguentos, que na verdade se
começa a fazer nas meninas desde pequenas, porque acredita-se que aumenta o prazer
dos homens. Atenção! Porque as mulheres Macua são muito orgulhosas de todas essas
práticas e crenças, porque elas se sentem mulheres completas, que conhecem o seu
próprio corpo, com o qual têm uma relação profunda, e sabem como dar e sentir prazer.
A este respeito a mulher assim, preparada para mãe e esposa é imbuída várias regras que
poderá seguir no seu futuro lar. Assim, depois do casamento ela abstém se de comer
várias coisas, porque acarretam várias doenças á criança que deve nascer, como ovos,
certos peixes e animais.

Desvantagem dos ritos de iniciação

Os ritos de iniciação são também muito violentos para os rapazes, em que com castigos
inomináveis eles aprendem a ser dominadores, aprendem que depois de iniciados devem
começar a preparar-se para serem homens e para proverem uma família. Para as
raparigas os ritos de iniciação autorizam os pais a “casarem-nas” prematuramente. Com
muita frequência este “casamento” foi combinado com anos de antecedência, sendo a
sua realização determinada pelo aparecimento da primeira menarca e pela realização
dos ritos.
As consequências são normalmente o abandono da escola, a gravidez precoce e o
surgimento de doenças e de lesões graves, como a fístula obstétrica. A sexualidade é
assim vivida de forma violenta, fazendo parte do vasto conjunto de deveres que a
mulher tem que cumprir. Nos ritos as jovens aprendem a subordinar-se, seja pela
instrução em estratégias de apaziguamento do homem, seja através da relação sexual e
da aplicação das técnicas aprendidas, seja através da paciência e da tolerância nos casos
em que, mesmo ignorando as razões da zanga masculina, devem “aceitar.
Conclusão

Depois de uma análise breve da cultura relativamente aos ritos de iniciação podemos
concluir que a ida aos ritos é feita para os rapazes após os primeiros sinais de puberdade
biológica e para as raparigas depois da primeira menstruação. Contudo, constata-se em
todos os grupos etno linguísticos uma diminuição da idade, tanto para as raparigas como
para os rapazes (embora menos para estes), devido ao facto de que, tal como muitas
matronas e mestres nos afirmaram, haver o perigo de que quanto mais velhos os
meninos e mais velhas as meninas entrarem nos ritos, menos garantia haverá de que
escutem e obedeçam aos conselhos recebidos. Portanto quando estudamos os ritos de
iniciação constatámos que pelo que ensinam e pelo modo como são transmitidas as
aprendizagens, as crianças do sexo feminino e do sexo masculino aprendem a
distinguirem-se e a adoptar práticas que lhes condicionam o acesso a direitos. Ou seja,
os ritos de iniciação têm uma primeira função que é de formar identidades, de nos dizer
o que está certo e errado no nosso comportamento. Neste sentido, os ritos são
apresentados como verdades que não podemos questionar sob pena de estarmos a violar
“a nossa cultura
Bibliografia

CIPIRE, Felizardo. (1992) Educação Tradicional em Moçambique. Maputo: Edimel.

MARTINEZ, Lerma.(2008). O Povo Macua e a Sua Cultura.2ª edição. Maputo:


Editora Paulinas.

ROCHA, Aurélio.(2006) Moçambique: História e Cultura. Maputo: Texto Editora.

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