INFRAESTRUTURA CULTURA HISTÓRIA

Novo PAC já Saiba como DNOCS Estudos mudam

construiu resiliência versão de Potiguaras
projeta mudanças

A FORÇA DA
ÁGUA
SAIBA COMO A TRANSPOSIÇÃO DO SÃO FRANCISCO
TEM MUDADO A REALIDADE DOS ESTADOS
 IRRIGAÇÃO TEM AMPLIADO  INVESTIMENTOS NA
NOVIDADES ATÉ COM
VINÍCOLAS NO SERTÃO INFRAESTRUTURA
REFORÇAM
 CENAS DE TERRAS NOVA FASE
ESTURRICADAS ESTÃO
TENDO OUTRO TRATAMENTO
Índice
OS NOVOS DESAFIOS DA CIÊNCIA E
TECNOLOGIA NO PAÍS
Presidente do CNPQ avalia
conjuntura, identifica universidades
como vetor do conhecimento
8 EM PROJETOS ANTERIORES À
A RECONSTRUÇÃO DA
INFRAESTRUTURA
Novo PAC deve triplicar
investimentos em infraestrutura
12
16. IMPACTO DOS
INVESTIMENTOS
CNI considera o novo PAC um avanço
22. A SECA E A RESISTÊNCIA
Estudiosos unem Universidades,
governos e instituições em Foro que
documenta como o DNOCS garantiu
fixação de gerações no Semiárido do
Nordeste
O NOVO NORDESTE COM
A TRANSPOSIÇÃO
Estados beneficiados já administram
liberação de águas para uso
humano, irrigação e projetos
estruturantes
26
32. VINHO APÓS IRRIGAÇÃO
Vinícola em Sousa, no Alto Sertão da
Paraíba, consolida antigo sonho do
paraibano ex-governador Antônio
Mariz
35. SOUSA, A TERRA DOS
DINOSSAUROS
Município dispõe de sítios
paleontológicos diferenciados e
tem nas várzeas irrigadas grande
Editorial
ATÉ ONDE A ENERGIA LIMPA
GERA DIFICULDADE PARA AS
COMUNIDADES ORIGINÁRIAS?
Eis o resumo do passivo social dos A nova fase
parques eólicos em Caetés
construindo
o futuro do
Nordeste
38
46. ABEEÓLICA BUSCA SOLUÇÕES
PARA IMPACTOS CAUSADOS
RESOLUÇÃO CONAMA
Com base em um estudo iniciado,
em curso, pela FIOCRUZ, em
Pernambuco, e a Universidade
Estadual de Pernambuco (UPE)
56. NOVO TEMPO A CONSOLIDAR
BANCO BRASÍLIA
BRB amplia rede no Nordeste e
agora já atende prefeitura de João
Pessoa
UMA OUTRA LEITURA
DA HISTÓRIA
Estudioso afirma: Primeiros político,
diplomata, chefe religioso e heroína
do Nordeste eram indígenas

para a infraestrutura brasileira
DESENVOLVIMENTO
NO NORDESTE
Números provam que novo PAC
contempla segurança hídrica,
logística e transição energética nos
9 estados
18
potencial
36. PORTUGAL TAMBÉM INOVA
Wine Concept apresenta La Belle
de Jour, um vinho do Tejo em
homenagem ao pernambucano
Alceu Valença
37. VILA GALÉ ANUNCIA NOVO
HOTEL EM CUMBUCO-CE,
ESPANHA E CUBA; CEO QUER
BRASIL INVESTINDO MAIS
NO TURISMO
Líder Jorge Rebelo construindo
novos investimentos fora de
Portugal
O
mês de agosto conclui sua etapa cronológi-
ca temporal registrando no ano de 2023 uma
fase diferenciada em torno dos 9 estados do
Nordeste afetando de forma incisiva diversos
segmentos da conjuntura econômica e social com padrão
58 diferenciado.
Sejamos objetivos e diretos: a região com 72% de sua
Colunas área geográfica afetada pelo clima semiárido é a mesma
que já está sendo impactada por diversas ações e investi-
6. Leitor mentos a pauta a energia limpa, hidrogênio verde, obras
7. Opinião Adary Oliveira de impacto nos 9 estados com os efeitos também das
31. Direto do Poder José Natal políticas sociais de segurança alimentar.
50. Negócios e Intercâmbio Em que pesem todos os prováveis investimentos nos
Rui Coelho diferentes segmentos da economia se faz muito impor-
52. Atualidade & Futuro
César Rocha
tante em plena fase atual de cuidados sobre queixas e/ou
problemas em torno das instalações de equipamentos da
energia éolica a merecer zelo e superação em caso de efe-
tivas dificuldades.
A atual edição da Revista NORDESTE traz de forma
responsável situações registradas em torno do assunto,
mesmo com a atenção devida visando impedir distorções
no trato da narrativa na abordagem da questão.
A edição traz na verdade um conjunto de grandes infor-
mações sobre a natureza do que está sendo projetado nos 9
estados de forma minuciosa e ainda abordando temáticas
como o histórico da estiagem expondo a alta importância
do DNOCS ao longo das últimas décadas como respon-
sável pela contenção do Êxodo rural no Nordeste.
Walter Santos
PUBLISHER da Revista NORDESTE
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4 Revista NORDESTE Agosto/2023 Foto: freepik.com Agosto/2023 Revista NORDESTE 5


Ano 17 | Número 199 | Agosto | 2023
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não refletem a visão da linha editorial da
Revista NORDESTE
6 Revista NORDESTE Agosto/2023
Leitor
O universo do Nordeste em curso
precisa inserir nas abordagens
contemporâneas muito além dos
efeitos das políticas sociais, que
não podemos ignorar, mas se faz
muito importante entender como os
estados em sintonia com o governo
federal estão construindo no campo
da inovação tecnológica a partir da
educação básica.
EDILEUZA MARIA SOARES
Professor / Aracaju / SE
Minha impressão é de que essa
importante revista insiste em não
dar dimensão de grande valor ao
tema do futebol praticado por
times como o Fortaleza atingindo
grande performance, também os
times da Bahia e Pernambuco mas
sem uma abordagem bem apurada
por parte da publicação. Isso
preciso existir.
SINEZIOS AMAIM
Administrador / Recife / PE
Conheci a pouco a Revista
NORDESTE, fiquei bastante
satisfeito por encontrar uma
publicação cujo conteúdo e
totalmente voltado para o povo do
Nordeste. Isso é uma vitória!!!!
RAFAEL SILVANO DE ARAÚJO
Comerciante / Fortaleza / CE
Com base nas notícias publicadas,
a Paraíba está se projetando como
grande polo de cinema onde outras
capitais nordestinas também se
inserem, entretanto a versão 2023
do Festival Aruanda impulsiona
a condição dos organizadores
com apoio da Revista construir a
presença das autoridades da cultura
neste novo momento
JUSSARA SILVEIRA
Jornalista / Brasília / DF
Precisamos saber e acompanhar o
importante seminário na Paraíba
sobre gestão das águas da
Transposição do Rio São Francisco
no futuro do Nordeste pela alta
relevância nas situações de
incremento ao futuro dos diversos
estados. É vital estar informados.
JOSÉ LUÍS BRAGA
Engenheiro / Campina Grande / PB
Nos últimos tempos há uma
realidade permanente a
inquietar setores do interior
com tantas máquinas em cima
das comunidades em nome da
modernidade e essa tal energia
limpa. Procurem saber mais da
realidade.
MARIA EUNICIA
Prfª / Mossoró / RN
A vida brasileira anda muito
impactada com os maus exemplos
de lugares como Rio e São Paulo
com cenas degradáveis mas ao que
parece produzir cenários de horror
entre nordestinos.
JONAS ERNESTO
Comerciante / Salvador / BA
Capa da Edição 198/Julho
Adary Oliveira
É PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DA BAHIA
Coisas arriscadas que fiz
Q
uando muito moço costumava dizer para meus ami-
gos, que como eu procuravam um encaminhamento
para a vida, que a estabilidade inibia o progresso
das pessoas. De fato, conheci muitos indivíduos
que procuravam um emprego estável num serviço público,
conseguido através de um concurso ou de um político, e se
acomodavam numa vida estável, muitas vezes abdicando de
um talento incrível para artes, ensino, empreendedorismo e
política. Peço licença aos meus leitores para contar um pouco
de minha experiência de vida, já que estou com 81 anos e
não vou ficar para semente, como dizia meu pai.
Na minha vida assumi muitos riscos e, por sorte, sobrevivi a
muitas situações de perigo. Quando meu pai, microempresá-
rio do comércio de cidade pequena do interior me confiden-
ciou que não poderia encaminhar seu quarto filho (éramos
seis) para Salvador para cursar o ginásio, não instalado ainda
na cidade onde morávamos, procurei um jeito de ajudá-lo
ingressando na Escola Preparatória de Cadetes do Ar (EP-
CAr) da Força Aérea Brasileira (FAB), abrindo uma vaga
para esse irmão na Capital. Cursei o segundo e terceiro ano
científico, primeiro em Barbacena, Minas Gerais, e depois
no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Neste último
aprendi a pilotar o Fokker T21, monomotor fabricado na
Holanda e montado numa oficina no Galeão. Com 18 anos
de idade já pilotava o aviãozinho, acompanhado de instrutor.
Por sorte ou não, não fui avaliado para ser um bom piloto
militar e meu nome figurou na lista dos que seriam desli-
gados da academia da FAB. Muitos de meus colegas ainda
estariam vivos se não tivessem seguido a carreira militar.
De volta para a Bahia me submeti às provas do vestibular
de engenharia, na Escola Politécnica. O curso da EPCAr
era de excelente qualidade e fui aprovado na primeira ten-
tativa. Quando me graduei em engenharia química obtive
emprego numa fábrica de cimento, com bom salário, mas
com um futuro que eu projetava com limitações, longe do
que eu desejava para minha vida. Quando fui comunicar
ao gerente que eu estava de saída, que aceitara um convite
para um novo emprego em uma repartição do governo, ele
comentou: “eu gostaria de ter tido a tua coragem há 12 anos
atrás”. Percebi que eu estava certo. Pouco tempo depois eu
Opinião
era Diretor Geral de uma importante repartição pública.
Novamente, depois de seis anos, achei que eu ia virar “bar-
nabé”, peça de repartição. Saí para cursar mestrado em Ad-
ministração de Empresas em São Paulo. Meu irmão mais
velho me disse: “você está maluco, vai deixar um emprego
desse por uma aventura?”
Em São Paulo fui convidado para ser professor da Escola
de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação
Getúlio Vargas (FGV). Ministrei por um semestre um
curso intitulado “Seminário de Administração Pública” e
montei um plano na forma de um congresso onde eu con-
vidava dirigentes de empresas para contar suas experiências
como administrador. Foi quando acenei meu amigo Luiz
Sande, Diretor do Banco Nacional da Habitação (BNH)
par proferir uma das palestras. Pouco tempo depois Sande
foi nomeado Presidente do Banco Nacional do Desenvol-
vimento Econômico e Social (BNDES) e sabedor de meu
bom desempenho na FGV me convidou para ser diretor da
BNDESPar, uma das subsidiárias do BNDES. Foi assim
que trilhei um caminho que poderia ter sido penoso, mas
que me trouxe de volta para a Bahia como presidente de uma
das empresas do Polo Petroquímico de Camaçari. Valeu a
pena ter arriscado.
Não significa que durante minha vida eu não tenha dado
algumas derrapadas e que em algumas vezes tive de andar
para trás. Entretanto, fiz muitas coisas boas e uma delas foi
ter seguido a profissão de professor, tendo obtido o título
de Doutor na Universidade de Barcelona, na Espanha, e de
ter lecionado mais de vinte disciplinas pelas universidades
por onde perambulei. Se hoje minha escrita é apreciada por
muitos, baseada na minha experiência de vida, é que a melhor
maneira de se aprender é ensinando e procurando colocar
habilidades ao lado dos conhecimentos. Não me arrependo
de ter deixado de ser químico da fábrica de cimento, apesar
de ter parecido na época uma escolha aventureira.
Não escrevi este texto para me autopromover ou por ca-
botismo, mas para encorajar aos mais jovens a serem donos
de seus destinos, sujeito, e não objeto, das histórias de suas
vidas, escolhendo fazer o que gosta, sempre com seriedade
e determinação.
Agosto/2023 Revista NORDESTE 7
 Entrevista
“POLARIZAÇÃO

OS NOVOS
no país e a colaboração Brasil-China
para desenvolvimento de satélites de ENTRE CHINA E EUA
observação da Terra, que completou
VAI SE INTENSIFICAR

DESAFIOS
30 anos em 2018, é considerado pela
UNOOSA (United Nations Office NOS PRÓXIMOS
for Outer Space Affairs) um exemplo
paradigmático de sucesso na colabora- ANOS E NÃO

DA CIÊNCIA E
ção científica Sul-Sul. Portanto temos
bons exemplos de colaborações exito-
DEVEMOS TOMAR
sas multipolares que certamente deve- PARTIDO”
rão ser expandidas neste novo cenário

TECNOLOGIA
multipolar que está se configurando.

NORDESTE - Vivemos entre efeitos

NO PAÍS
Presidente do CNPQ avalia conjuntura,
identifica universidades como vetor do
conhecimento e cita professor Lynaldo
Cavalcanti de Albuquerque
Por WALTER SANTOS
to bipolar entre Ocidente e Oriente
da Hawei x Vale do Sicílio com vitó-
ria estratégica dos chineses sobre os
americanos via 5G. Que efeitos tudo
isso têm no futuro do nosso País e
como investir para melhorar nosso
ranking?
Ricardo Galvão - Creio que essa po-
larização China – Estados Unidos
vai intensificar nos próximos anos
e não devemos tomar partido, mas
sim escolher nossas colaborações de
acordo com nossas prioridades estra-
tégicas. O próprio Estados Unidos já
se conscientizou do erro que levou à
concentração da produção tecnológi-

O
da atualidade. Na sua opinião, como ca de ponta na China, devido a uma

presidente do CNPQ, Ri-
cardo Galvão, estudioso e
professor reconhecido in-
ternacional, convive com a
atual conjuntura focado em desen-
volver políticas públicas para forta-
lecer a ciência e tecnologia de forma
consistente e continuada. Ele prevê
maior conflito entre EUA e China no
âmbito da área de TI mas defende que
o Brasil não se envolva em defesa de
alguma parte. Ele destacou a história
do professor Lynaldo Cavalcanti de
Albuquerque.
Revista NORDESTE - O mundo como
realidade global convive com cenas
a projetar futuro universal à base
multipolar, portanto, sem o confron-
isso tudo interfere na ciência e tec-
nologia do Brasil, país de base oci-
dental?
Ricardo Galvão - Embora inicialmen-
te a ciência brasileira tenha sido forte-
mente influenciada pela colaboração
com países ocidentais, primeiramente
França e Inglaterra, no final do século
dezenove e início do século vinte, e
depois Alemanha, Estados Unidos e
Itália, nos últimos quarenta anos foi
gradualmente alargando suas colabo-
rações internacionais. Por exemplo,
cientistas indianos desempenharam
um importante papel na criação e
consolidação do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais, físicos argentinos
deram importante contribuição para o
desenvolvimento da física de fronteira
Foto: reproducao-instagram
visão economicista míope das grandes
empresas americanas. E reagiu com
o lançamento do Chips and Science
Act, pelo Governo Biden. Diante do
novo cenário da economia do conhe-
cimento, não teremos desenvolvimen-
to sustentável e socialmente justo sem
políticas públicas estratégicas forte-
mente baseadas no avanço científico
e tecnológico de nosso país.
NORDESTE - E então, o que aguar-
dar ?
Ricardo Galvão - Por isso, para me-
lhorar nossa posição no cenário inter-
nacional, temos que concentrar esfor-
ços no aprimoramento de nosso siste-
ma de CT&I, não somente garantindo
os recursos necessários, orçamentários
e de pessoal, para um avanço robusto
da ciência feita no país, mas também
utilizando plenamente o novo Marco
Legal de Ciência e Tecnologia para
promover e fortalecer a interação en-
tre instituições de ciência e tecnologia
e empresas. A neo-industrialização
advogada pelo governo tem que estar
fortemente voltada à inovação aciona-
da pela ciência.
NORDESTE - O Sr com a condição
de líder do CNPQ, qual sua avalia-
ção sobre o nível brasileiro na ciência
e tecnologia atual diante da conjun-
tura global?
Ricardo Galvão - Gosto de dizer que
nossa ciência tem um nível bastante
alto, mas pouca profundidade. Ou seja,
produzimos resultados científicos na
fronteira do conhecimento, em várias
áreas, que são respeitados internacio-
nalmente. Mas não temos capacidade
de produzir no país a instrumentação
científica necessária para realização
de nossos experimentos. Ou seja, não
somente a maior parte do que produ-
zimos cientificamente não se reverte
em inovação tecnológica em nossas
empresas, como também temos ca-
pacidade insuficiente de produzir os
equipamentos utilizados internacio-
nalmente na ciência de fronteira. E a
interação entre ciência e tecnologia é
uma via dupla, muitas vezes descober-
tas científicas promoveram avanços
tecnológicos e outras vezes avanços
tecnológicos permitiram novas des-
cobertas científicas. Portanto, sob este

8 Revista NORDESTE Agosto/2023 Agosto/2023 Revista NORDESTE 9

ponto de vista, ainda temos muito a
desenvolver no país para colocar nossa
ciência na vanguarda internacional.
NORDESTE - No seu entendimento,
quais os mais fortes desafios da nos-
sa ciência de agora em diante com a
força da IA na vida nacional e global?
Ricardo Galvão - Não tenho uma
avaliação consolidada sobre o efeito
da IA. Muito tem saído na imprensa,
mas creio ter visto mais especulações
sensacionalistas do que análises mais
profundas e racionais.
NORDESTE - O Brasil viveu nos últi-
mos tempos uma série de políticas
de retrocessos a estimular o desma-
tamento e políticas de degradação.
Qual a realidade comparativa e com-
provada de agora?
Ricardo Galvão - De 2004 a 2012,
aproximadamente, o Brasil foi uma
referência internacional na questão
de monitoramento e combate ao des-
matamento em nossas grandes flo-
restas, mesmo com o avanço de uma
parcela do agronegócio que tem uma
visão capitalista predatória. O siste-
ma PRODES de monitoramento do
desmatamento da Amazônia, desen-
volvido pelo INPE a partir de 1988,
é considerado talvez a melhor série
histórica do monitoramento do des-
matamento em florestas tropicais em
todo o mundo. Infelizmente, a partir
de 2014, o desmatamento na Amazô-
nia, e também no Cerrado, retornou
a aumentar, especialmente no último
governo. Mas, felizmente, desde ja-
neiro deste ano o Governo conseguiu
reduzir o desmatamento na Amazô-
nia em cerca de 33%. Infelizmente no
Cerrado continua a aumentar; mas o
Governo está tomando as medidas
corretas para coibir a degradação deste
bioma importantíssimo para nossos
rios centrais.
NORDESTE - O que representa a base
de reprodução da estrutura de TI dos
10 Revista NORDESTE Agosto/2023
9 estados para fortalecer a futura
fase do segmento nacional?
Ricardo Galvão - Não estou familia-
rizado com esta base e, portanto, não
tenho condições de responder esta
pergunta.
NORDESTE - o que o futuro reser-
va à ciência e tecnologia do Brasil
diante das disputas mercadológicas
pelo conhecimento? Qual o papel de
nossas universidades?
Ricardo Galvão - Nossas universida-
des são essenciais para a formação de
pessoal qualificado, para elevar o nível
de “alfabetização científica” de nossa
sociedade, e para promover pesquisas
básicas e aplicadas. A maior parte das
“universidades de pesquisa” brasileiras
são públicas, com notáveis exceções de
algumas universidades confessionais.
Julgo que esta é uma característica de
destaque de nosso sistema científico.
As universidades voltadas ao chamado
“mercado do conhecimento” podem
existir, mas devem restringir-se à for-
mação de profissionais para o mercado
direto e não para a pesquisa científica
financiada por recursos públicos.
“NOSSAS
UNIVERSIDADES
SÃO ESSENCIAIS
PARA FORMAÇÃO
DE PESSOAL
QUALIFICADO”
NORDESTE - No seu entendimento,
qual a representação estratégica da
fase pioneira do professor Lynal-
do Cavalcanti de Albuquerque na
história da ciência e tecnologia do
Brasil? O que ele, na sua opinião,
representa de legado?
Ricardo Galvão - O Professor Ly-
naldo Cavalcani desempenhou um
papel seminal no avanço e consolida-
ção do sistema de ciência e tecnologia
do país. Tinha uma visão pragmática
da importância de fazer com que o
avanço da ciência brasileira levasse
ao avanço da inovação tecnológi-
ca do país. Assim, como Presidente
do CNPq, de 1980 a 1985, criou
o primeiro parque tecnológico do
país com incubadora de empresas.
Também foi um paladino da criação
de secretarias estaduais de ciência e
tecnologia. Nós, cientistas brasilei-
ros, devemos muito a pioneiros como
o Professor Lynaldo.
Foto: Divulgação
 Infraestrutura
A RECONSTRUÇÃO
DA INFRAESTRUTURA
Novo PAC deve triplicar investimentos em infraestrutura
Foto: DNIT
Por SABRINA CRAIDE
Repórter da Agência Brasil
O
governo federal lançou
na sexta-feira (11) a ter-
ceira edição do Programa
de Aceleração do Cres-
cimento (PAC). Com o desafio de
focar em obras de infraestrutura
que promovam a sustentabilidade, o
Novo PAC deve prever investimen-
tos públicos federais de R$ 240 bi-
lhões para os próximos quatro anos
em áreas como transportes, energia,
infraestrutura urbana, inclusão digi-
12 Revista NORDESTE Agosto/2023
Foto: Marcelo Camargo (Agência Brasil)
a gente dispõe atualmente não será tão
fácil assim”, avalia Carlos Eduardo
Lima Jorge, presidente da Comissão
de Infraestrutura da CBIC.
Segundo ele, a retomada dos inves-
timentos públicos e a previsão da in-
clusão de empreendimentos de menor
porte no PAC estão animando o setor
de infraestrutura do Brasil.
Além dos recursos do orçamento
da União, o novo PAC contará com
recursos das estatais, financiamento
dos bancos públicos e do setor priva-
do, por meio de concessões e parcerias
tal, infraestrutura social inclusiva e público-privadas. A previsão é que o
água para todos. Outras áreas como Investimentos em total investido chegue a R$ 1 trilhão
infraestrutura nos
defesa, educação, ciência e tecnolo- em quatro anos, incluindo os investi-
diversos estados do País
gia também devem estar incluídas simbolizam nova fase mentos da Petrobras.
no novo programa. A primeira etapa do PAC será com-
A implementação do PAC deverá posta por empreendimentos propos-
triplicar os investimentos públicos tos pelos ministérios e pelos governa-
Foto: Ricardo Botelho/Ministério da Infraestrutura
federais em infraestrutura nos pró- dores. Uma segunda etapa iniciará em
ximos anos. Segundo a Câmara Bra- setembro, com uma seleção pública
sileira da Indústria da Construção para estados e municípios.
(CBIC), o valor investido por ano no Os principais objetivos do novo
setor pelo governo federal deverá sal- PAC são incrementar os investimen-
tar dos atuais R$ 20 bilhões para R$ tos, garantir a infraestrutura eco-
60 bilhões. nômica, social e urbana, melhorar a
“É claro que a gente torce para que competitividade e gerar emprego de
isso aconteça. Mas triplicar o valor que qualidade.
Agosto/2023
O ministro da Casa Civil, Rui
Costa, aponta o novo PAC como
a grande oportunidade de o
Brasil receber investimentos
internacionais
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva diz que o PAC será uma nova
política de desenvolvimento de inves-
timento em obras de infraestrutura e
desenvolvimento industrial.
“Vai ser um grande programa de
investimento e, combinado com a
política de inclusão que já coloca-
mos em prática, acho que vamos
voltar a surpreender os analistas eco-
nômicos do FMI [Fundo Monetário
Internacional], que vão se enganar
todas as vezes que nivelaram por
baixo as perspectivas de crescimen-
to econômico do Brasil”, disse o
presidente Lula, em conversa com
correspondentes estrangeiros na úl-
tima semana.
A cerimônia de lançamento do
Novo Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) está marcada
para a próxima sexta-feira (11), às
10h, no Theatro Municipal do Rio
de Janeiro.
Revista NORDESTE 13
Ministro da Casa Civil
avalia significado do PAC 3
A
primeira versão do PAC foi
anunciada pelo presidente Lula
em janeiro de 2007, com o ob-
jetivo de superar os gargalos de in-
fraestrutura do país. Primeiramente, o
programa previu investimentos de R$
503,9 bilhões em ações de infraestru-
tura nas áreas de transporte, energia,
saneamento, habitação e recursos hí-
dricos, entre 2007 e 2010.
Uma segunda etapa do programa,
o PAC 2, foi anunciada em 2011 pela
então presidenta Dilma Rousseff, com
investimentos previstos em R$ 708
bilhões em ações de infraestrutura
social e urbana.
DESAFIOS
Um dos principais desafios do novo
PAC será evitar os mesmos erros das
edições anteriores, que resultaram
em descontinuidade e paralisação de
obras.
“As experiências do passado têm
que ser levadas em conta agora. Por
exemplo, na assinatura de convênios
com prefeituras, a gente espera que
as regras estejam bem definidas, que
haja uma projeção para frente, quais
serão as contrapartidas dos municí-
pios. Há uma grande preocupação de
aproveitar o que deu certo e o que deu
errado no passado para não repetir o
erro, a expectativa toda é essa”, diz o
representante da CBIC.
O Tribunal de Contas da União
(TCU) aponta que, no final de 2022,
o país tinha mais de 8,6 mil obras
paralisadas, o que representa cerca de
38,5% dos contratos pagos com recur-
sos da União. Segundo o TCU, o mau
planejamento dos empreendimentos
é o principal fator de paralisação das
obras.
14 Revista NORDESTE Agosto/2023
SOCIAL E SUSTENTABILIDADE
Além de incluir investimentos em
áreas como transporte, infraestrutu-
ra e saneamento básico, o PAC terá
como novidade o incentivo a projetos
de geração de energia limpa. “Va-
mos anunciar muitos investimentos
na questão energética, na energia eó-
lica, solar, biodiesel, etanol, hidrogê-
nio verde, e tudo isso vamos fazer na
perspectiva de produzir energia mais
barata para o povo brasileiro”, explica
o presidente Lula.
O ministro da Casa Civil, Rui Cos-
ta, aponta o novo PAC como a gran-
de oportunidade de o Brasil receber
investimentos internacionais. Foto:
Marcelo Camargo/Agência Brasil
O PAC prevê uma transição ecoló-
gica, com incentivos ao uso de com-
bustíveis de baixa emissão de carbono,
o uso de materiais sustentáveis no
setor de construção civil, incentivo
para a gestão de resíduos e logística
sustentável.
O ministro da Casa Civil, Rui Cos-
ta, aponta o novo PAC como a grande
oportunidade de o Brasil receber in-
vestimentos internacionais, promo-
vendo obras alicerçadas na sustenta-
bilidade ambiental.
“O Brasil quer voltar a crescer, pro-
mover inclusão social, tendo como
pilar central a sustentabilidade e o
cuidado com o meio ambiente”, afir-
mou Rui Costa.
Para o ministro da Fazenda, Fer-
nando Haddad, o novo Programa de
Aceleração do Crescimento será um
“PAC verde” e vai representar um
novo ciclo de desenvolvimento sus-
tentável no país.
“Precisamos destravar o investi-
mento público com responsabilidade
fiscal, no âmbito do novo marco fiscal
que vai ser aprovado nas próximas
semanas pela Câmara dos Deputados
em caráter terminativo. Isso repactua
as relações federativas de maneira que
presidente da república, governadores
e prefeitos se tornam parceiros para
que a gente alcance os objetivos de
gerar emprego e renda e terminar mais
de 14 mil obras paradas que estão sen-
Robson
Formica,
membro da
Coordenação
Nacional do
MAB
Foto: Arquivo pessoal
do retomadas, como escolas, creches,
postos de saúde e hospitais. Isso sem
falar em toda a infraestrutura do país
que ficou muito prejudicada por falta
de investimentos.”
A CBIC também aposta que o novo
PAC deverá ter um viés social mais
forte que os dois anteriores, especial-
mente porque a escolha dos projetos
contou com a participação de gover-
nadores e prefeitos. “Acho que boa
parte delas é relacionada à mobilidade
urbana, que é muito deficiente ainda
no país, mas deverá ter muita coisa em
infraestrutura social”, diz Jorge.
GESTÃO DE RISCOS
Os projetos de infraestrutura que
serão incluídos no PAC devem vir
acompanhados de instrumentos de
gestão de riscos e impactos sociais
e ambientais a longo prazo, avalia o
Instituto Socioambiental (ISA).
“Estamos aguardando o lançamen-
to e também o que vai acompanhar
esse lançamento. Qual será o acom-
panhamento e a gestão de risco e de
impactos que o governo vai realizar
para acompanhar esses empreendi-
mentos?”, questiona a economista e
assessora do ISA, Mariel Nakane.
A entidade não governamental
elaborou uma nota técnica com um
conjunto de critérios para a análise
e classificação de empreendimentos
de infraestrutura do governo, que foi
encaminhado à Casa Civil e a outros
ministérios setoriais envolvidos na
elaboração do PAC. Segundo o estu-
do, também assinado pelo Instituto
Brasileiro de Auditoria de Obras Pú-
blicas (Ibraop), Transparência Inter-
nacional - Brasil, Instituto de Energia
e Meio Ambiente (IEMA) e GT In-
fraestrutura e Justiça Socioambiental,
o planejamento das obras deve evitar
intervenções que levem ao desper-
dício de recursos públicos, práticas
Agosto/2023
ilegais e atividades que causem danos
socioambientais, inclusive desmata-
mento e violações dos direitos de co-
munidades locais.
Para o Movimento dos Atingidos
por Barragens (MAB), as obras pre-
vistas no PAC não podem deixar de
lado os direitos das populações que vi-
vem nos locais dos empreendimentos.
“Consideramos que o crescimento
econômico é importante, as grandes
obras também. Mas é preciso dar
um salto de qualidade nesse sentido,
isso não pode servir para legitimar
direitos de populações e comunida-
des. O desenvolvimento econômico,
a soberania nacional e o interesse
público não são contraditórios com
o reconhecimento e a garantia dos
direitos da população que vivem nos
territórios em que os impactos são os
mais graves”, diz Robson Formica,
membro da Coordenação Nacional
do MAB.
Revista NORDESTE 15
Economia
IMPACTO DOS
INVESTIMENTOS
CNI considera o novo PAC um avanço para a
infraestrutura brasileira. Programa reúne obras
inacabadas e empreendimentos prioritários
elencados por entes subnacionais. Governo
quer parcerias público-privadas para viabilizar
parte dos projetos
A
Confederação Nacional da
Indústria (CNI) conside-
ra o lançamento do novo
Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), anunciado nesta
sexta-feira (11), no Rio de Janeiro, um
passo importante na direção do avan-
ço da infraestrutura brasileira.
A iniciativa tem como objetivo
principal expandir os investimentos
no setor, priorizando parcerias com o
setor privado e a conclusão de obras
pelo país.
O presidente da CNI, Robson Bra-
ga de Andrade, afirma que os inves-
timentos e parcerias com o setor pri-
vado previstos no novo PAC são im-
prescindíveis para a reversão do déficit
de infraestrutura no Brasil.
O Brasil investiu em média menos
de 2% do PIB ao ano na última déca-
da – isto é, menos de R$ 200 bilhões
anuais. A CNI projeta que seria pre-
ciso pelo menos dobrar esse montan-
te de investimento no setor, por um
período de duas décadas, para que o
país consiga manter sua atual infraes-
trutura e superar os gargalos.
“O desenvolvimento do país exige
que o setor produtivo conte com in-
16 Revista NORDESTE Agosto/2023
fraestrutura moderna e eficiente para
que o Brasil possa competir no mer-
cado global”, destaca Andrade.
OBRAS PARADAS
DESPERDIÇAM RECURSOS
E IMPEDEM MELHORA DE
VIDA DA POPULAÇÃO
Na avaliação da CNI, o governo
acerta ao priorizar no novo PAC a
retomada das obras de infraestrutura
interrompidas. A CNI fez um diag-
nóstico, publicado no documento
Propostas da Indústria para as Elei-
ções 2022, segundo o qual cerca de 4
em cada 10 obras públicas federais se
encontravam paralisadas no país.
Robson Andrade alerta que as pa-
ralisações ocorrem de modo geral por
problemas de gestão e governança.
“O Brasil investe pouco em infraes-
trutura e parte do que investe acaba
preso em obras paralisadas, que con-
somem recursos e não trazem be-
nefícios para a economia ou para a
população. As paralisações não são
necessariamente consequência da
complexidade dos empreendimentos,
mas de falhas básicas na forma como
o setor público executa seus projetos
de infraestrutura”, pontua o presiden-
te da CNI.
NOVO PAC ESTIMULA
CONCESSÕES E PARCERIAS
PÚBLICO-PRIVADAS
Conforme anunciado, o Banco Na-
cional de Desenvolvimento Econô-
mico e Social (BNDES), a Caixa Eco-
nômica Federal, o Banco do Brasil e
o Banco do Nordeste (BNB) devem
reforçar o papel de bancos de inves-
timento no país. O novo PAC segue
voltado majoritariamente para pro-
jetos de infraestrutura social, como
escolas e hospitais, e deve priorizar
concessões e Parcerias Público-Pri-
vadas (PPPs).
O novo PAC segue estruturado em
nove áreas principais: transporte efi-
ciente e sustentável; cidades susten-
táveis e resilientes; água para todos;
educação, ciência e tecnologia; saúde;
inclusão digital e conectividade; tran-
sição e segurança energética; infraes-
trutura social inclusiva; e inovação
para a indústria da defesa.
O estímulo para a realização de
obras por meio de concessões e PPPs
permitirá a ampliação da interlocução
do governo com o setor privado e deve
servir como propulsor para superação
do déficit de infraestrutura no país.
“O setor público vem enfrentando
nos últimos anos um quadro de dete-
rioração da capacidade de investimen-
to. Parcerias público-privadas e novos
modelos de concessão de ativos de
infraestrutura contribuem para supe-
ração do problema”, enfatiza Robson
Andrade.
Foto: Divulgação Portal da Indústria
O investimento privado já corres-
ponde a dois terços do montante in-
vestido em infraestrutura no país, mas
ainda existe espaço para ampliação.
A CNI defende novos desenhos lici-
tatórios, como no caso das rodovias,
com modelos de concessões federais
simplificados, voltados para a manu-
tenção de trechos, com menos exi-
gências de investimentos e redução
de barreiras à entrada de novos ope-
radores.
INVESTIMENTOS
PRECISAM SER OTIMIZADOS
A CNI entende ser relevante que
algumas estratégias de análise sejam
adotadas para contribuir na eficiência
logística e na otimização dos investi-
mentos no PAC:
Governança: Aprimorar a gover-
nança dos empreendimentos de
forma a contemplar os proje-
tos de engenharia, cronogra-
mas, orçamentos, fontes de
financiamento e avaliação de
riscos.
Nessa etapa, também
deveriam estar con-
templadas as ne-
cessidades de
desapropr ia-
ções, o encami-
nhamento das
licenças am-
bientais, a alo-
cação dos riscos
do projeto entre os diferentes atores e executora um retorno uniforme nas Robson Andrade:
a coordenação com os demais órgãos várias etapas da obra, de forma a evi- presidente da CNI
públicos intervenientes, seja para o tar que a empresa realize a parte mais avalia efeitos do
equacionamento de interferências, rentável do contrato para, em seguida, novo PAC
seja para a coordenação de atividades, abandoná-lo, contribuindo na redu-
como no caso das desapropriações; ção do número de obras paralisadas
Fortalecer as equipes técnicas: Pro- por “abandono pela empresa”; garantir resultados melhores para
ver apoio e recursos para conceber, Controle interno: Fortalecer órgãos os projetos; e Continuidade/Des-
planejar, executar e acompanhar os de controle interno das instituições continuidade do empreendimento:
projetos de infraestrutura, em ter- executoras, permitindo a identificação Considerar na análise a viabilidade
mos de recursos humanos, softwares prévia dos problemas e facilitando a econômica das obras (em execução/
e equipamentos; interação dessas instituições. Com paralisadas), de modo a promover a
Equilíbrio contratual: Elaborar isso, os órgãos de controle externo devida otimização dos investimentos
contratos que gerem para a empresa poderiam focar mais diretamente em em infraestrutura.
Agosto/2023 Revista NORDESTE 17
Economia
se adaptem às mudanças climáticas nas e Rio da Caixa; a Adutora da Fé;

Foto: onlyyouqj (freepik.com)

e ofereçam melhor qualidade de vida e moradias do Minha Casa Minha

DESENVOLVIMENTO
para a população, o eixo Cidades Sus-
tentáveis e Resilientes vai construir
novas moradias do Minha Casa Mi-
nha Vida e financiar a aquisição de
Vida.
O eixo de Transição e Segurança
Energética que garante a diversidade
da matriz energética receberá a maior

NO NORDESTE
imóveis, além modernização da mo-
bilidade urbana, em urbanização de
favelas, esgotamento sanitário, gestão
de resíduos sólidos, contenção de en-
costas e combate a enchentes. O in-
vestimento em Alagoas é de R$ 13,8
Números provam que novo PAC contempla bilhões.
segurança hídrica, logística e transição
BAHIA
energética nos 9 estados. Sergipe é o Segundo maior estado do Nordeste
estado com maior volume de recursos a ser contemplado com recursos, a
Bahia investirá R$ 119,4 bilhões no
provisionados entre os nove que compõem Novo PAC.
a região, seguido da Bahia, Maranhão e Entre as obras previstas e conside-
Pernambuco. No total, serão radas importantes para o desenvolvi-
mento do estado estão as duplicações
investidos R$ 700,4 bilhões das BR-101, da divisa de Sergipe a
Feira de Santana; 116, de Serrinha a
Por LUCIANA LEÃO com Feira de Santana; 242, de Barreiras a
Luís Eduardo Magalhães; Contorno
Secom da Casa Civil
Norte de Feira de Santana; a Ferrovia
de Integração Oeste-Leste (FIOL);
Duplicação da Estrada do Derba –
BRT Águas Claras até o Subúrbio;
Barragens Catolé, Morrinhos, Baraú-
parte dos recursos, com R$ 36,3 bi-
lhões, seguido dos investimentos em
rodovias, ferrovias, portos, aeroportos
e hidrovias, com R$ 27,8 bilhões, en-
tre as quais, a Ferrovia de Integração
Leste Oeste (Fiol), que vai ligar o
Porto de Ilhéus, na Bahia, a cidade de
Figueirópolis, no estado do Tocantins,
na região de Matopiba, e se integrará
a Ferrovia Norte-Sul.
Moradia e esgotamento
O Novo PAC investirá também na
modernização da mobilidade urbana
de forma sustentável, em urbaniza-
ção de favelas, esgotamento sanitário,
gestão de resíduos sólidos e contenção
de encostas e combate a enchentes. A
Bahia terá o terceiro maior orçamento
neste eixo: R$ 16,3 bilhões.
Ferrovia de Integração Oeste
Leste (Fiol) , na Bahia receberá
investimentos no novo PAC

D
os R$ 1,7 trilhão a serem
investidos em todos os esta-
dos do Brasil, sendo mais de
R$ 1,3 trilhão até 2026 e R$
300 bilhões pós 2026, os nove estados
do Nordeste serão contemplados com
R$ 700,4 bilhões.
moradia, investimentos em educação,
ciência e tecnologia , transição e segu-
rança energética.
Por ordem alfabética por estados,
a Revista Nordeste traz os principais
projetos e obras de cada um e recursos
a serem investidos.
nordestinos, com previsão de investir
R$ 47 bilhões no Novo Programa de
Aceleramento, o novo PAC.
No conjunto de obras de infraestru-
tura, entre as principais, destacam-se
a duplicação da BR-101; a duplicação
do Arco Metropolitano de Maceió; o
Outra fatia que receberá parte dos
recursos é o eixo de desenvolvimento
do novo PAC ligado à construção de
creches, escolas de tempo integral e
a modernização e expansão de Ins-
titutos e Universidades Federais. O
investimento em Alagoas é de R$

Foto: Governo da Bahia

A maior parte dos recursos previstos Canal do Sertão Alagoano - Trecho 14,8 bilhões.
serão alocados para obras de infraes- ALAGOAS 5, o Novo Hospital Metropolitano
trutura, com prioridade para segu- Em volume de recursos, Alagoas fi- do Agreste – Arapiraca e moradias do Cidades Sustentáveis
rança hídrica, transportes, logística, cou na sexta posição entre os estados Minha Casa, Minha Vida. Para que os municípios alagoanos

18 Revista NORDESTE Agosto/2023 Agosto/2023 Revista NORDESTE 19

Saiba os investimentos,
inclusive no Ceará
N
o conjunto de obras do novo
PAC para o Ceará destacam-se
a duplicação da BR-116 - Paca-
jus - Boqueirão do Cesário - Tabuleiro
do Norte; a Transnordestina; a dupli-
cação do Eixão das Águas do Ceará; o
Cinturão das Águas do Ceará - Trecho
I e o Ramal do Salgado, além de mo-
radias do Minha Casa, Minha Vida.
Serão R$ 73,2 bilhões em recursos,
quinto maior orçamento da região,
sendo o volume maior destinado a
educação, ciência e tecnologia, com
R$ 21 bilhões, seguido de mobilida-
de urbana e moradia com R$ 15,1
bilhões e no eixo do programa Água
para Todos os investimentos em re-
cursos hídricos serão de R$ 12,9 bi-
lhões.
O eixo Transporte Eficiente e Sus-
tentável, que reúne os investimentos
em rodovias, ferrovias, portos, aero-
portos e hidrovias,o investimento no
Ceará é de R$ 11,2 bilhões, incluindo
a duplicação da BR 116 e o trecho
que liga a Transnordestina, de Currais
Novos, no Sul do Piauí, ao Porto de
Pecém.
MARANHÃO
O Maranhão terá o terceiro maior
orçamento do novo PAC, na região
Nordeste, com R$ 93,9 bilhões em
obras.
Entre as obras elencadas para o de-
senvolvimento do estado estão a ade-
quação da BR-135/316 - Miranda
do Norte – Timon; a duplicação da
BR-010 - Imperatriz-Açailândia; a
universalização do abastecimento de
água em Barreirinhas, São Luís e Im-
peratriz e moradias do Minha Casa,
Minha Vida.
Para atender ao desafio da transição
e segurança energética, por meio do
20 Revista NORDESTE Agosto/2023
programa Luz para Todos, o Novo
PAC no Maranhão tem a maior des-
tinação dos recursos, com R$ 30,5 bi-
lhões, seguidos de Educação, Ciência
e Tecnologia com R$ 21,1 bilhões e
rodovias, ferrovias, portos, aeroportos
e hidrovias com R$ 15 bilhões.
PARAÍBA
O estado paraibano foi o menor
contemplado na divisão orçamentária
do novo PAC, com R$ 36,8 bilhões
para obras e serviços.
Entre as principais obras a dupli-
cação da BR 230 (Campina Grande
- Farinha); a Adequação da BR 230
(Cabedelo - Oitizeiro), Vertentes Li-
torâneas da Paraíba (Trechos I e II),
e os Hospitais de Clínicas e Trauma-
tologia do Sertão Paraibano - Patos,
e moradias do Minha Casa, Minha
Vida.
A construção de creches, escolas de
tempo integral e a modernização e ex-
pansão de Institutos e Universidades
Transnordestina, em Pernambuco
e no Ceará, estão incluídas nos
investimentos do novo PAC
Federais são prioridades na educação,
ciência e tecnologia, onde o programa
prevê a maior fatia de investimento
com R$ 14,8 bilhões.
A segurança hídrica vem em segui-
da com o programa Água para Todos,
com investimentos de R$ 6,3 bilhões.
Transição e Segurança Energética
vem em terceiro com R$ 4,9 bilhões.
PERNAMBUCO
Em Pernambuco, o programa vai
investir R$ 91,9 bilhões, quarto maior
orçamento do Nordeste para obras e
serviços.
Com destaque no conjunto das
obras estão a Transnordestina, tre-
cho que liga a cidade de Salgueiro,
no sertão pernambucano ao Porto de
Suape, na Região Metropolitana do
Recife, estimado em R$ 5 bilhões; a
Adequação da BR 423 (São Caetano -
Lajedo); a Adequação da BR 104 (Ca-
ruaru - Divisa PB), além de obras de
segurança hídrica como a Adutora do
Fotos: Divulgação
Pajeú (2ª Fase), a Adutora do Agreste
Pernambucano (1ª Etapa) e moradias
do Minha Casa, Minha Vida.
Os eixos com maior volume de re-
cursos do novo PAC para Pernambu-
co foram Educação, Ciência e Tecno-
logia, com R$ 21,1 bilhões; Transição
e Segurança Energética com 16,8 bi-
lhões; Cidades Sustentáveis e Resi-
lientes, com 14,8 bilhões e Transporte
Eficiente e Sustentável, que garante os
investimentos em rodovias, ferrovias,
portos, aeroportos e hidrovias em Per-
nambuco de R$ 11,2 bilhões.
PIAUÍ
Com R$56,5 bilhões no novo PAC
previstos para o Piauí com objetivo de Projeto
acelerar o crescimento e gerar empre- Sergipe Águas
go e renda, o estado ficou na sétima Profundas ,
colocação orçamentária do Nordeste,
capitaneado
pela Petrobras,
atrás apenas do Rio Grande do Norte foi um dos
e da Paraíba. contemplados
Estão previstas entre as principais no novo PAC
obras para o estado a Duplicação da
BR 343 (Teresina - Altos); a Constru-
ção da BR 330 (Divisa MA - Entron-
camento PI 392 - Entroncamento PI
397 e Ponto de Ribeiro Gonçalves); a
Adutora de Jaicós, a Barragem Nova
Algodões e moradias do Minha Casa,
Minha Vida. Duplicação da BR 304 - Entronca- ção no Nordeste do Novo Programa
O eixo Educação,Ciência e Tecno- mento RN 120 – Entroncamento BR de Aceleração do Crescimento, com
logia foram contemplados com R$ 226, e investimentos em segurança R$136,6 bilhões.
14,6 bilhões, seguidos de Cidades hídrica para população potiguar como Entre as obras e serviços mais im-
Sustentáveis e Resilientes, com R$ a Barragem Oiticica, Ramal do Apodi, portantes para Sergipe, registram-se a
11,5 bilhões e investimentos em ro- além do Novo Hospital de Urgências duplicação da BR-101 - Sul e Norte;
dovias, ferrovias, portos, aeroportos e Emergências em Trauma e Neuro- o gasoduto do Projeto Sergipe Águas
e hidrovias a fim de reduzir os custos cirurgia Parnamirim e moradias do Profundas e moradias do Minha Casa,
da produção nacional para o mercado Minha Casa, Minha Vida estão entre Minha Vida.
interno e elevar a competitividade do as prioridades. Dos R$ 136,6 bilhões para o estado
estado com R$ 10,5 bilhões. Entre os eixos destacam-se Educa- sergipano, o eixo Transição e Segu-
ção, Ciência e Tecnologia, com R$ 14,8 rança Energética terá a maior parte
RIO GRANDE DO NORTE bilhões, seguidos da segurança hídrica dos investimentos, com R$ 109,7 bi-
Novo PAC vai investir R$ 45,1 bi- por meio do programa Água para To- lhões, seguido de Educação, Ciência
lhões no Rio Grande do Norte, sendo o dos com R$ 6,5 bilhões; Saúde com R$ e Tecnologia com R$ 10,5 bilhões e
penúltimo estado da Região em volume 6,3 bilhões e Inovação para a Indústria investimentos em rodovias, ferrovias,
de recursos ficando atrás da Paraíba. da Defesa, com R$ 6,3 bilhões. portos, aeroportos e hidrovias de R$ 7
Obras como a Duplicação da BR bilhões, seguido de segurança hídrica,
304 - Reta Tabajara; Duplicação da SERGIPE por meio do programa Água para To-
Mossoró - Entroncamento RN 016; Sergipe ficou com a maior dota- dos, com R$ 4,7 bilhões.
*Com informações da Assessoria de Imprensa da Casa Civil Agosto/2023 Revista NORDESTE 21
Sociedade

A SECA E A RESISTÊNCIA
Estudiosos unem Universidades, governos e instituições em Foro, que
documenta como o DNOCS garantiu fixação de gerações no Semiárido
do Nordeste diante da ameaça do Êxodo rural. Projeto prevê ainda
exposição de trabalhos na Espanha e no Peru

“N
ordestino, antes rencia pela sua originalidade. Esta é
de tudo, um for- a síntese de forte Movimento atual
te”, já dizia Eu- envolvendo estudiosos, Universida-
clides da Cunha, des, Governos e instituições proje-
precisamente por sua capacidade tando campanha atraindo banco de
para enfrentar as intempéries da es- dados históricos provando como o
tiagem, sobreviver e ser capaz de DNOCS permitiu a sobrevivência
criar uma cultura única, que se dife- de diversas gerações no Nordeste
brasileiro, sem suas obras tudo seria
deserto.
A síntese do projeto prevê não só
estudos como catalogação histórica
de documentos existentes em torno
do DNOCS, como a exposição do
imenso acervo visando até exposi-
ções na Espanha e Peru.

22 Revista NORDESTE Agosto/2023 Foto: freepik.com Agosto/2023 Revista NORDESTE 23

A história que se impõe
U
ma cultura que inicia na culiná-
ria de convivência com a aridez
da terra e uma histórica e ciclica
ausência de chuvas e vai do artesanato,
à música, teatro, cinema, literatura e
artes plásticas, manifestações religio-
sas. É este resumo a ser catalogado
sabendo-se que em tudo, a tenacidade
dos nordestinos está impregnada com
sua identidade cultural.
Segundo o professor universitário
e escritor Helder Moura, idealizador
e um dos responsáveis pelo trabalho,
“uma cultura também que só se es-
tabeleceu, porque algumas técnicas
de enfrentamento, ações e manuseio
do que a natureza oferece permitiu
a sua permanência
nessa terra de desa-
fios. Sem essas in-
cansável luta contra
os elementos, não
haveria uma cultu-
ra, talvez apenas um
imenso e vazio de-
serto”.
E acrescenta:
“Por isso, é im-
portante observar
como o fenômeno
da seca, que, ao tem-
po que tornou tão
inóspita a vida das
pessoas da região, também fomentou
a formação de uma gnose única, tonou
o Nordeste brasileiro uma região de
grande potencial turístico e cultural,
um verdadeiro patrimônio do Brasil
e do mundo”, frisou.
E acrescenta: “o Nordeste, sob esse
prisma, apresenta uma peculiaridade
singular em termos de formação de
sua gente, com forte influência ibéri-
ca e até moura. Compreender como
essa gente tem resistido por séculos à
inclemência da seca será também ter
a percepção de sua gênese.
24 Revista NORDESTE Agosto/2023
Obras realizadas pelo DNOCS
permitiram manutenção das
Pessoas no semiárido
A partir dessa perspectiva, tornou-se
premente o estabelecimento de uma
experiência pedagógica e científica
dessa, que podemos chamar de cultura
da seca, como fenômeno particular do
Nordeste brasileiro, envolvendo distin-
tos atores, além de se buscar consignar
a ligação entre as representações sociais,
as ações e as relações existentes entre os
vários agentes, a partir, inclusive de suas
históricas ligações temáticas”.
INÍCIO E IDEALIZAÇÃO
Segundo ele, “ assim surgiu a idéia
seca e as formas de enfrentamento, brasileiro, a diversidade cultural como a em colaboração técnica para a Uni-
algo talvez único no mundo, dada as base na multiplicidade de identidades, versidade Federal, com o propósito de
peculiaridades regionais e geográficas de idiomas e tradições. implantar um projeto de internacio-
e, especialmente, sociais. nalização da literatura paraibana, além
O QUE É - O projeto foi concebi- SEMANA de outras iniciativas culturais.
do, como um foro capaz de estabelecer Para a realização do evento no ex- Foi, então, estabelecido, inicialmen-
parcerias com várias instituições, como terior já foram realizados os primei- te, uma parceria com o Dnocs, para
o Instituto Guimarães Rosa, também ros contatos em Barcelona (Espanha), a implantação dos projetos do Bioss
o Instituto IberoAmerica (OEI), uni- através do Instituto Guimarães Rosa, e (Biblioteca de Obras Sobre a Seca),
versidades, e outras entidades. também em Lima (Perú), com o debate o Muse (Museu da Seca) e Cami-
Neste sentido, a realização do evento do projeto, visando seu aprimoramento nhos da Seca, uma rota pela Paraíba,
deve contemplar a difusão da cultura e aperfeiçoamento. que apresenta a possibilidade de uma
da seca através de oficinas com diversos Como primeiro passo, a realização imersão nessa perpectiva da cultura
atores, cursos visando também apre- de uma 1ª Semana Cultura da Seca, da seca.
sentar a cultura nordestina e técnicas no âmbito da semana cultura da Proex A parceria também irá compreen-
de enfrentamento da seca, estimular (Pro-Reitoria de Extensão) da UFPB, der, e tratativas já foram iniciadas, com
o intercâmbio objetivando a troca de entre os dias 16 a 20 de outubro. Nesse a Universidade Estadual da Paraíba,
experiências com outras culturas. sentido, já foram iniciadas tratatidas Governo do Estado, a prefeitura de
Também prevê o fomento às con- como o Instituto Moreira Salles, obje- João Pessoa, A Academia Paraibana
dições para a realização de cursos re- tivando a projeção de documentários de Letras, a Confraria Sol das Letras,
gulares e até defesas de mestrado e sobre a seca produzidos pelo IMS. e deve se estender ainda à Universi-
doutorado sobre o tema, de forma a po- dade Federal de Campina Grande e
desse projeto de um evento capaz de pularizar o conhecimento na área, no ACORDO E CESSÃO ao INSA (Instituto do Semi-Árido),
reproduzir, no espaço de uma semana, âmbito de uma cultura de valorização O professor Hélder Moura, do Ins- afora Sebrae e Famup com total apoio
o espectro de suas vocações e poten- da experiência oferecida pelo Nordeste tituto Federal da Paraíba, foi cedido da Revista NORDESTE.
cialidades culturais e econômicas que
tornaram possível o desenvolvimento
sustentável da região, só a égide da
cultura da seca.
Ele ainda observa: “Também uma
busca pelos arranjos socioeconômicos
e culturais, através dos pontos estraté-
gicos, como obras que minimizem os
efeitos da seca mantendo o homem na
terra, bem como a percepção de como
se desenvolveu essa cultura em função
da seca, suas manifestações religiosas
e culturais, também de expressivo va-
lor histórico, artístico, paisagístico, ar-
queológico, paleontológico e científico.
NO EXTERIOR
Ele explicou que “quando, prelimi-
narmente, a ideia foi apresentada em
Barcelona, durante evento, no Insti-
tuto Guimarães Rosa, o projeto ga-
nhou um foro de contemporaneidade
e, sobretudo, universalidade. Por fim,
o projeto apresenta-se com potencial
para fomentar também uma cultu-
ra de pesquisas sobre o fenômeno da
Fotos: Divulgação
Infraestrutura
O NOVO NORDESTE
COM A TRANSPOSIÇÃO
Estados beneficiados já administram liberação de águas
para uso humano, irrigação e projetos estruturantes,
como em Sousa/PB, já produzindo Vinhos
F
alta pouco, muito pouco para
o Governo Federal anunciar
como conclusiva toda a obra
de transposição do Rio São
Francisco para dois eixos leste (Per-
nambuco-Paraíba) e norte (Ceará e
Rio Grande do Norte) gerando nova
realidade nos estados nordestinos mu-
dando, em especial a agenda econô-
mica da região. Para se ter uma ideia,
a cidade de Sousa no alto sertão da
Paraíba já está produzindo uvas, por-
tanto, engarrafando vinhos.
A Revista NORDESTE nesta edi-
ção traz detalhes de como investido-
res de Sousa já fazem história, como
idealizava o ex-governador Antonio
Mariz, também ex-prefeito em 1963
gerando o Canal da Redenção de
Coremas a Sousa, embora seu pro-
jeto original tenha se modificado por
governos posteriores aprendendo a
grandes proprietários, ao invés de pe-
quenos produtores do município.
O fato é que a Transposição já mo-
difica a cena ambiental e econômica,
como acontece na Paraíba onde deze-
nas de pedidos já foram consolidados
para uso da agua visando a irrigação
no Cariri paraibano.
O QUE É O PROJETO
REVOLUCIONÁRIO
Conforme dados comprovados, o
Megaprojeto de R$ 12 bilhões dedica
R$ 1 bi para mitigação dos danos na
natureza. Isso depende de pesquisa
científica e monitoramento de longo
prazo.
26 Revista NORDESTE Agosto/2023
A obra da transposição do Rio São
Francisco está perto da conclusão após
mais de 12 anos de trabalho e 7 de atra-
so, o investimento estimado é de R$
12 bilhões, segundo o Ministério do
Desenvolvimento Regional (MDR) e
destina desde o início, R$ 1 bilhão para
mitigar impactos ambientais.
Pesquisadores defendem que é pre-
ciso monitoramento de longo prazo
para determinar o impacto na fauna
e na flora das áreas envolvidas, mas
alegam que cortes de verbas públicas
já estão limitando essa ação.
O COMEÇO
A transposição do Rio São Francis-
co, projeto do governo Lula lançado
pelo então ministro da Integração Na-
cional Ciro Gomes, é a construção de
dois grandes canais (um Eixo Norte
Foto: Secom/PB
e um Eixo Leste, totalizando 477 km
em obras) que levam águas desse rio
essencial para o Nordeste brasileiro
até outra área, tradicionalmente bem
mais seca. A previsão, ao fim das obras,
é abastecer 11,6 milhões de pessoas (4,
5 milhões vão ser atendidas pelo Eixo
Leste e 7,1 milhões pelo Eixo Norte).
Se faz importante deatacae que já
se sabe ser importante definir os im-
pactos na região de influência do São
Francisco, rio que passa por cinco es-
tados brasileiros e, numa extensão de
2.800 km, abrange diferentes ecos-
sistemas.
DESDOBRAMENTOS
De acordo com informações, há
Silva conseguiu aprová-la, em 2005, do litoral para o centro do país, prin- vinham tocando o gado, nos séculos 17
iniciando as obras em 2007. cipalmente por meio de estradas e da e 18, à beira do São Francisco", recorda
No Brasil colonial, o rio hoje apelida- criação de gado. o pesquisador Luiz César Pereira, coor-
do de "Velho Chico" era também co- E foi aí que começaram os impactos denador do Centro de Conservação e
nhecido como "Rio dos Currais". Suas da ação humana no São Francisco. Manejo de Fauna da Caatinga (Cema-
margens foram um eixo de expansão, "Chamava-se Rio dos Currais porque fauna), ligado à Universidade do Vale
do São Francisco (Univasf ). A univer-
Na Paraíba, projeto
sidade é a principal encarregada de atuar
na mitigação dos impactos, também por
hídrico Acauã/Araçagi
atrai ministro do meio do Núcleo de Ecologia e Monito-
ramento Ambiental (Nema).
Desenvolvimento
Regional, Valdez Goes, "O gado chegava ali em Cabrobó
e governador João (PE) e ia impactando o solo. Depois,
Azevedo visitando obra com o tempo, sai o gado – o 'pé duro'
como a gente chamava – e entra uma
nova forma de pecuária que se adapta à
caatinga, que são os ovinos e caprinos,
que também trazem impacto, pois se
alimentam da caatinga." – Luiz César
Pereira, do Cemafauna/Univasf.
Bodes se alimentam de plantas ras-
teiras, folhas de árvores e até dos cactos
mais secos na caatinga. A competição
pela água contrapõe grandes e pequenos
produtores agropecuários, indústrias,
comunidades ribeirinhas, pescadores,
mineradores, governos, cidades e qua-
tro barragens de usinas hidrelétricas
(Três Marias, Sobradinho, Itaparica e
Paulo Afonso). Alguns recebem mais
água do que outros, alguns pagam mais
pela água do que outros e alguns são
mais beneficiados ou prejudicados pela
transposição do que outros.
Nessa disputa, perde um bioma rico,
Com a chegada da água mas naturalmente frágil: a caatinga.
preocupação ainda com Deslocamen- em face da irrigação, a "Na Mata Atlântica e na Amazônia,
to e desmate: os impactos da transpo- realidade no semiárido se eu cortar a vegetação você vê, aos pou-
sição do São Francisco nas comunida- nordestino tem se cos, um processo natural de sucessão da
modificado
des rurais e indígenas. vegetação, de regeneração. Na caatinga
falta umidade para isso", explica Pereira.
A ORIGEM A soma de tantas atividades em tor-
A ideia da transposição é antiga: no do São Francisco impacta as bacias
nasceu ainda no século 19, quando ligadas a ele desde os lençóis freáticos
políticos e intelectuais recomendaram e nascentes, onde já há relatos de água
ao imperador Dom Pedro II a cons- "funda", ou seja, é preciso perfurar mais
trução de um canal que levaria água para chegar até ela. Isso ocorre também
até o Sertão. Após uma série de es- nos afluentes, os rios que alimentam
Foto: freepik.com
tudos realizados nos governos Itamar o São Francisco. As barragens das hi-
Franco e Fernando Henrique Cardo- drelétricas alagaram grandes áreas e,
so, o governo de Luiz Inácio Lula da hoje, também controlam a vazão do rio.
Agosto/2023 Revista NORDESTE 27
OUTRA LEITURA
"Esses canais são como estradas que
recortam o Nordeste. Os impactos
para a fauna e flora são imensuráveis",
comenta Siqueira. "Precisamos deixar
de ter uma visão imediatista e ter uma
visão de longo prazo. O que vamos
fazer para monitorar esses impactos
e mitigá-los?"
FUTURO
Atualmente, o Ministério do De-
senvolvimento Regional dedica 38
programas aos impactos ambientais
previstos pelo projeto.
Mas, mesmo entre funcionários en-
Ao longo do tempo, volvidos nesses programas, há ques-
tionamentos sobre a continuidade da
a não prejudicar o nível normal do rio.
Mas grupos envolvidos na transposição
debatem e discordam entre si sobre os
impactos causados pelo desvio da água.
Se, por um lado, os grandes empreen-
dimentos trazem benefícios, levando
eletricidade e água para novas partes
do Nordeste brasileiro, por outro, há
também o deslocamento forçado de
populações e a destruição do habitat
natural de animais e plantas.
José Alves Siqueira avalia que mui-
tos dos impactos da transposição são
silenciosos. "É preciso ter uma visão
sistêmica do São Francisco. Priorizar
as áreas de conservação da caatinga,
diminuir o impacto da desertificação,
e autor de artigos sobre os impactos so-
cioambientais no Eixo Leste da trans-
posição, todo empreendimento dessa
grandeza tem consequências positivas
e negativas.
Entre os impactos negativos, a retira-
da da vegetação para a construção dos
canais é um dos mais graves. "Isso por
si só é um problema, pois deixa o solo
desprotegido", diz Vilar.
É possível restaurar essas áreas de-
gradadas pela transposição? Pesquisa-
dores do Núcleo de Ecologia e Moni-
toramento Ambiental (Nema) estão
recompondo a vegetação nativa desde
2014 nas margens dos canais.
"Em nosso primeiro monitoramen-
O projeto também resgatou 270 mil
plantas da caatinga na área que seria
escavada para construção dos canais,
de acordo com o ministério. Cerca de
14,2 toneladas de sementes de espécies
nativas da caatinga foram coletadas e,
deste total, 4 toneladas foram semeadas
para recuperação do solo nas áreas do
empreendimento e mais 5 toneladas
serão até janeiro de 2020. Aproxima-
damente 40 mil mudas de árvores na-
tivas já foram plantadas e outras 68,7
mil serão plantadas até março de 2020.
O assoreamento é outra consequên-
cia da retirada da vegetação na caatin-
ga. As chuvas no semiárido são pouco
frequentes, mas, quando chove, chove

Foto: Divulgação
produziu-se informação
sobre uso da água do destinação de verbas públicas para mo- garantindo a preservação da água e da to, em maio de 2017, a maior parte das forte. Sem plantas, "o sedimento re-
São Francisco nitoramento e pesquisa no São Fran- biodiversidade", diz o pesquisador. áreas onde interviemos tinha cobertura tirado do solo nas áreas desmatadas

A
o longo da Transposição hou-
ve muita resistência de Mi-
nas, Bahia, Sergipe e Alagoas,
inclusive inventando narrativas, que
diz: Estudos mostram que, como o
rio chega fraco ao mar, a água salgada
já começa a invadir o São Francisco
na foz – entre Sergipe e Alagoas. "O
mar está entrando 40 km rio adentro.
Os peixes desapareceram. Na verdade,
você já encontra peixes do mar a 200
km rio acima", conta José Alves Siquei-
ra, professor da Univasf e coordenador
do Centro de Referência para Recu-
peração de Áreas Degradadas (Crad).
A VERDADE DOS FATOS
O agrônomo paraibano José Luiz,
um dos mais importantes estudiosos
do projeto, desmente os argumentos
de personalidades contestadores da
transposição.
- Existem estudos comprovando
que o uso da Agua do São Francisco
corresponde a apenas 1,4% da vazão
do rio, portanto é uma inverdade con-
tinuada essa argumentação infundada
- afirmou.
O QUE É
A transposição se somou, portan-
to, a um cenário ambiental já Com a
transposição, a água do rio é levada
para lugares onde, antes, não chegava.
A obra cria dois sistemas indepen-
dentes de captação de água: são os
chamados Eixo Norte e Eixo Leste
(veja no mapa).
Em nota, o Ministério do Desen-
volvimento Regional, responsável pe-
las obras, afirma que, ao todo, já foram
investidos R$ 10,7 bilhões na trans-
posição. "Com os serviços remanes-
centes e complementares, a previsão
é que as obras sejam concluídas com
investimento final de R$ 12 bilhões",
acrescenta.
As obras do Eixo Leste foram con-
cluídas em março de 2017 e, segundo
o governo federal, a água já abastece
1 milhão de pessoas.
Já o Eixo Norte, ainda em constru-
ção, está 97% executado.
Esses canais captam a água entre as
barragens de Sobradinho e Itaparica,
no estado de Pernambuco. Por meio
de estações de bombeamento, reser-
vatórios e pequenas usinas hidrelétri-
cas para alimentar as máquinas, eles
abastecerão cidades do semiárido, do
agreste pernambucano e da região
metropolitana de Fortaleza.
cisco após a conclusão da obra. Neste Área degradada por construção de do solo inferior a 10%. Após dois anos, vai ser carregado para os canais, para
ano, dezenas de pessoas contratadas estrada e estruturas de irrigação à beira a maioria tinha cobertura superior a os rios e principais reservatórios de
para trabalhar nos programas do São dos canais do Segundo o geógrafo José 50%. Além disso, mais de 80% das água. Isso vai causar a diminuição da
Francisco foram demitidas por causa Antônio Vilar Pereira, membro de um mudas que plantamos sobreviveram", capacidade desses reservatórios, que
dos cortes de verba do governo federal. grupo de pesquisa da Universidade diz o coordenador do projeto, Renato precisam ser limpos com frequência",
Federal de Campina Grande (UFCG) Garcia Rodrigues, da Univasf. afirma Vilar.
GESTÃO DAS AGUAS
O fato é que organismos como o
Fórum Celso Furtado já projetam se-
minários sobre a gestão das águas pelos
vários atores do projeto.
O impacto mais óbvio da transpo-
sição é, justamente, a retirada de água
de um rio já bastante sobrecarregado,
segundo Castro. "Antes das barragens,
na década de 1970, a vazão do rio ao
longo do ano mudava de forma mais
considerável. Tinha os períodos de
cheia, com inundação das margens, e,
quando baixava, tinha a agricultura de
várzea", recorda o especialista em po-
líticas públicas.
Por causa das hidrelétricas, o São
Francisco já tem o seu fluxo limitado,
pois elas retêm a água para poder passar
com força pelas turbinas. "Principal-
mente Sobradinho e Três Marias segu-
ram a vazão do rio. É uma água con-
trolada", diz Pereira, do Cemafauna.
A lógica da transposição é parecida.
A ideia é que a vazão de água do rio
para os canais seja limitada, de modo

28 Revista NORDESTE Agosto/2023

IMPACTOS BENÉFICOS
C
om a água do São Francisco,
espera-se que também peixes e
outras espécies aquáticas e ter-
restres consigam chegar a áreas onde
antes não existiam. A interação entre
espécies pode ter consequências im-
previsíveis sobre a biodiversidade do
cerrado e da caatinga. "Só agora que o
Eixo Leste está entrando em operação
é que começamos a ter avaliações em-
píricas do que está acontecendo", ex-
plica César Nunes de Castro, do Ipea.
Luiz César Pereira, do Cemafauna,
diz que ainda é incerto, por exemplo,
qual será o comportamento de aves
migrantes. "Algumas aves da América
do Norte vão até Minas Gerais e de-
pois voltam. Agora elas têm dois eixos
do São Francisco para entrar, e já vi-
mos alguns bichos nos canais", conta.
Também Vilar diz que a mudan-
ça nas características dos ecossiste-
mas influencia fortemente as espécies.
"Temos espécies que estão adapta-
30 Revista NORDESTE Agosto/2023
das a águas paradas e outras de águas
correntes. A transposição pode fazer
com que espécies de águas correntes
tomem espaço de espécies de águas
paradas", afirma o geógrafo.
Especialistas alertam, ainda, para a
difusão de espécies invasoras ao lon-
go dos canais, algo que já está acon-
tecendo. A algaroba, por exemplo, é
uma planta peruana que foi trazida ao
Nordeste nos anos de 1940, mas sua
difusão ficou descontrolada. "Temos a
invasão desse e de muitos outros or-
ganismos. Eles são mais flexíveis, mais
resistentes e fazem uma competição
química para inibir as espécies nati-
vas", diz José Alves Siqueira.
Para Pereira, a supressão das áreas
naturais de animais é um dos impactos
de maior peso, causados diretamente
pela transposição (com a construção dos
canais) e indiretamente (com as ativida-
des que usam a água do São Francisco,
como as grandes plantações). Por isso,
diz ele, já foram resgatados quase 170
mil animais em áreas da transposição,
por meio do programa do Cemafauna.
O desafio, agora, é manter os recur-
sos para continuar o trabalho. Para o
resgate de animais, por exemplo, são
necessárias centenas de funcionários.
"A construção da obra teve uma boa
gestão, mas é preciso que essa parte da
pesquisa e mitigação dos impactos nas
áreas social e biológica também seja
estendida", comenta Pereira. "Não
adianta monitorarmos só por mais um
ano depois da conclusão da obra", diz.
SOUSA COMO EXEMPLO
O fato é o volume de AGUA da
Transposição já é monitorado pelos
órgãos de controle, como a Agência
de Águas da Paraíba controlando toda
a estrutura do uso da AGUA sem
permitir excessos pelos que convivem
com o canal.
Em Sousa, já há plantação de uvas
e produção de vinhos com base no
exemplo de Petrolina. Eis um antigo
sonho de Antônio Mariz, ex governa-
dor da Paraíba.
Fotos: José Vieira Neto
Em Sousa, a irrigação
de água já abriga
produção de uvas
Conjuntura x futuro: Novos rumos da
política da capital do País
A
no que vem, que já está
bem ali, acontece mais
uma eleição municipal
em todo o País. Eleição
municipal é de vital importância
para o mundo político, muitas ve-
zes marco definitivo, para o bem ou
para o mal de candidatos.
O municipalista Orestes Quér-
cia, que foi vereador, deputado, se-
nador e governador de São Paulo,
preconizava que o sucesso de um político depende do que
ele faz pelo município. Quercia morreu aosB 73 anos em
dezembro de 2010, e até hoje sua tese é tida como verdadei-
ra. O antigo PMDB, hoje MDB, está aí pra comprovar isso.
Aos 63 anos, Brasília, Capital da República, sede de to-
dos os poderes, não tem eleição municipal. Ano que vem,
enquanto todos os políticos estarão se estrebuchando Brasil
afora em busca de votos pelas pefeituras, os políticos da ci-
dade estarão à procura de definições para o pleito de 2026.
Ibaneis Rocha, bolsonarista filiado ao MDB, está no se-
gundo mandato como governador, e já sinaliza que a meta
seguinte é a disputa por uma cadeira no Senado. Para seu
lugar no Palácio do Buriti, há um mundo de incertezas, e
poucos se arriscam a apontar favoritos. Izalci Lucas, se-
nador tucano, Leila Barros, do PDT (aquela do volei), e
Keka Bagno do Psol bateram cabeças na eleição passada,
e poucos acreditam que eles possam voltar com alguma
chance de disputa no próximo pleito.
Eleita para o Senado, com o apoio total, e apaixonada por
Bolsonaro, Damares Alves talvez seja indicada candidata
do PL para a vaga de Ibaneis Rocha. Segundo pesquisas,
também estão nessa possível lista de indicados a deputada
Celina Leão, atual vice-governadora e filiada ao PP.
Com justa e insistente campanha de fortalecer as in-
dicações para que se tenha mais mulheres nas disputas
eleitorais, a deputada Paula Belmonte, do Cidadania, tam-
bém entra nesse rol de prováveis candidaturas. Belmon-
Direto do Poder
José Natal
JORNALISTA
te, também bolsonarista, transita
facilmente na alta sociedade, tem
um discurso elitista e conservador,
e não figura entre os nomes que as
pesquisas indiquem entre possíveis
vencedores.
O candidato do PT na eleição
Foto: Divulgação
passada, Leandro Grass, teve um
desempenho considerado apro-
priado e competitivo. Na campa-
nha foi prejudicado pelo fato de,
a época, ser desconhecido e também pela acachapante
votação bolsonarista na capital, em que Lula foi derrotado.
O empresário Paulo Octávio, filiado ao PSD, talvez tenha
nas próximas eleições evidenciados méritos que possivel-
mente nem ele ainda tenha se dado conta. Ético e vitorioso
em suas atividades junto a sociedade, adquiriu ao longo do
tempo uma crediblidade que até os adversários partidários
reconhecem. Tem um passado político de superação, e hoje
está de bem com a justiça eleitoral em todos os sentidos.
Casado com Ana Cristina Kubitschek, neta de JK , o polí-
tico ainda não se declarou candidato nas próximas eleições,
mas quem o conhece acredita ser essa a sua escolha. Tem
73 anos, uma história integralmente ligada à vida da ci-
dade e seus habitantes. Aos amigos têm revelado que essa
pode ser a sua chance de tornar realidade alguns anseios,
visto que no passado, o ambiente político era negativo às
suas pretensões.
Brasília de Roriz, Lamaison, José Aparecido, Pithon
Farias, Rollemberg, Abadia, Arruda e outros mais, agora é
sexagenária e já merece um digno tratamento de senhora
e respeitável Capital Fedeal, com homenagens sim senhor.
Já que no cerrado não há eleições municipais, que nos
presentearia com um prefeito e uma prefeitura pra chamar
de nossa, atentemos para que os eleitos daqui cuidem bem
do nosso rebanho.
Com a seriedade e apreço que uma jovem senhora
merece.
Agosto/2023 Revista NORDESTE 31
Economia
VINHO APÓS IRRIGAÇÃO
Jarismar Segundo e Herta
Sônia concretizam ousado
projeto inserindo Sousa como
produtora de vinho
Vinícola em Sousa, no Alto Sertão da Paraíba,
consolida antigo sonho do paraibano ex-
governador Antônio Mariz; Implantação
por médicos inovadores atrai tecnologia de
Petrolina significando geração de novo patamar
econômico e mercadológico no Sertão
Por WALTER SANTOS com WALLYSON COSTA
O
ex-governador da Paraíba
Antônio Mariz conseguiu
gerar as condições, em mar-
ço de 1995, como gestor
maior do estado, para implantar o fa-
moso projeto de levar água do açude
32 Revista NORDESTE Agosto/2023
de Coremas para fertilizar as várzeas
de Sousa, cuja ação se efetivou poste-
riormente, após sua morte, mas con-
solida em 2023 com o ousado projeto
de Jarismar Segundo e Herta Sônia,
da existência de produção de vinhos
no município com padrão nacional e
internacional.
O sonho de Mariz persiste pois
sempre considerou as várzeas para se
transformar em referência de produ-
ção agrícola.
VINÍCOLA É LANÇADA EM
PLENO SERTÃO
Em 2023, a Vinícola Chateau HS
surge como um projeto pioneiro e
ambicioso em Sousa, no Sertão da Pa-
raíba, trazendo consigo o espírito do
enoturismo e a busca pela excelência
na produção vinícola. Fundada pelo
casal Jarismar
Segundo Herta Sônia, a viníco-
la promete introduzir os padrões de
qualidade do renomado Vale do São
Fotos: José Vieira Neto
Francisco em uma região de similar
características climáticas.
O sonho de criar uma vinícola no
Sertão da Paraíba ganhou força após
uma entrevista do canal Vidaretada,
de Roberta Formiga Vieira e José
Vieira Neto, com José Figueiredo, o
Roberta e José Vieira Neto são
os responsáveis pelo vídeo
documentário sobre o fato novo
proprietário da Vinum Sancti Bene-
dictus (VSB), situada no Vale do São
Francisco.
A semelhança de solos, clima e índi-
ce pluviométrico entre as duas regiões
impulsionou o casal Segundo e Sônia
a embarcar nessa jornada.
Agosto/2023
CAUSA E EFEITO
“Nós somos amantes do vinho há
um bom tempo. Dessa curiosidade
pelo vinho começamos a fazer enotu-
rismo. Começamos a andar o mundo,
visitamos as principais áreas vinícolas
da Itália, da França, Portugal, Uruguai
sempre com o olhar do turista. Mas
em uma visita em Bordeaux, vimos a
enorme quantidade de vinícolas pe-
quenas, a gente voltou da viagem pen-
sando, por que que a gente não pode
ter uma vinícola pequena? Pode ter,
tem cervejaria artesanal, por que que
não tem vinícolas artesanais? E tem,
já existia, mas isso que foi que come-
çou a martelar na cabeça da gente. O
amor pelo vinho e essa curiosidade de
saber como era produzido, e a coisa foi
deslanchando de uma forma que hoje
está se concretizando”, disse Jarismar.
PIONEIRISMO
A vinícola Chateau HS pode ser
apontada como um projeto que abra-
ça o pioneirismo. O plantio inicial de
duas mil mudas de quatro variedades
de uva - Malbec, Syrah, Touriga Na-
cional e Tannat - representa o primei-
ro passo concreto rumo à produção de
vinhos finos na Paraíba.
Jarismar Segundo enfatizou, em en-
trevista ao Vidarretada, que a busca
por trazer José Figueiredo, um pro-
dutor respeitado do Vale do São Fran-
cisco, foi fundamental para dar credi-
bilidade ao projeto e garantir os altos
padrões de qualidade.
“Figueiredo foi a chave para isso
tudo se concretizar na verdade. Antes
disso a chave foi um canal no You-
Tube chamado Vidarretada. Durante
15 dias eu estava vendo lá YouTube
e de repente vi o canal de vocês e vi
uma entrevista com Figueiredo que
eu nunca tinha ouvido falar. Achei
interessante, procurei outras coisas
do Vale do São Francisco, por ter si-
milaridade de solo, clima, índice plu-
viométrico. Em 15 dias estava na casa
dele”, continuou.
Revista NORDESTE 33
 Turismo

E AGORA?

Foto: José Vieira Neto

Entrada principal
de Sousa dispõe de

O
réplicas de dinossauros
desafio de enfrentar a natureza
e adaptar as vinhas a um clima
tão diferente do tradicional é
algo que o casal e os colaboradores
da Chateau HS encaram. O sonho
de trazer vinhos de alta qualidade à
região é impulsionado por uma crença
na qualidade do solo e nas condições Foto: José Vieira Neto
climáticas favoráveis.
“Dá um frio na barriga, porque você
tá lidando com a natureza, a natureza

SOUSA, A TERRA
ninguém manda nela. A gente ajuda
um pouquinho aqui acolá, mas a gen-
te tem que ver como a natureza vai que eu disse não só pode ser a mão CONCEITO E FUTURO

se comportar e como as videiras vão
se comportar, mas é um desafio que a
gente resolveu encarar e tem tudo para
dar certo, por que não?”, questionou.
Herta também comentou a expecta-
tiva: “No primeiro momento em que
pensamos na realização neste sonho
foi um marco na nossa vida, porque eu
de Deus aqui. Porque as coisas foram
crescendo numa proporção e foram de
maneira rápida, porque a ideia surgiu
o ano passado, 2022, e um ano depois
estarmos aqui no primeiro plantio, é
um acontecimento, para nós, histó-
rico”.
José Figueiredo, que já tem uma
DOS DINOSSAUROS
“Acredito muito na qualidade do
solo. Isso é fato corrente na boca de
todo mundo, que os solos daqui dessa
região são os melhores e os mais fér-
teis. Tudo que se plantando dá, peço Município dispõe de sítios paleontológicos
as bençãos de Deus para que nossas
videiras também sejam abençoadas
diferenciados e tem nas várzeas irrigadas grande Antônio Mariz:
ex-governador, ex-
tanto quanto as tantas outras planta- potencial; comércio também é forte prefeito, relator do

E
acredito que Deus colocou a mão e as trajetória consolidada no mundo vi- ções que existem”, disse. Impeachment de
Collor e idealizador
coisas foram se desenvolvendo, desen- nícola, expressou sua confiança na Ele ainda falou sobre sua experiên- m Sousa, cidade há 423 km do programa
rolando de uma rapidez tão grande, empreitada. cia fora do Vale às margens do rio São da capital João Pessoa, abriga de irrigação
Francisco: o Vale dos Dinossauros re- transformador nas
“Aqui de perto de certa forma es- cebendo muitos turistas para Várzeas de Sousa
conhecer um dos sítios paleontológi-
PARAÍBA PREMIADA tamos na margem do canal de Trans-
posição. As águas que banham, eu cos mais importantes do mundo. A
Figueiredo ainda pontuou que “não é só um brinco, essas águas já passaram por área fica localizada no sítio Passagem
bom vinho né, é a Paraíba entrar nos vinhos Curaçá. Realmente é um desafio, mas das Pedras.

Foto: José Vieira Neto

premiados. Daqui a pouco, daqui a dois, três,
quatro, cinco anos, não sei quando, mas a condição climática é muito seme- Recentemente, as pontes e as pas-
lhante ao Vale do São Francisco, isso sarelas passaram por reformas para Pegadas fazem
certamente no futuro assim, muito próximo, parte do acervo
os grandes vinhos do Brasil passarão me dá uma confiança muito grande. que pudessem oferecer mais conforto paleontológico
também pela Paraíba e os grandes concursos Agora natureza é natureza, mas eu e segurança aos visitantes.
certamente”, destacou. O lançamento oficial estou muito certo, muito convicto O local possui bagagem histórica respeito das espécies que habitaram bém senador da República quando
do Chateau HS ocorreu em agosto com que nós teremos assim algumas ale- por guardar, até hoje, pegadas de di- a região. foi relator do impeachment do pre-
convidados plantando uma videira que, em
dois anos, poderá dar origem ao vinho que grias muito grande com os meninos nossauros de cerca de 80 espécies que O Vale dos Dinossauros fica aberto sidente Fernando Collor e ex deputa-
eles próprios colheram e plantaram. A daqui porque a proposta não é se habitavam uma área de 704 quilôme- ao público de terça-feira a domingo, do federal considerado Constituinte
Vinícola, além de um projeto comercial, pode elaborar qualquer vinho, vamos di- tros na Bacia do Rio do Peixe, ainda sempre das 8h às 12h e das 14h às 17h. nota 10.
ser considerada um testemunho da paixão zer assim, o que fez eu ser convidado no período pré-histórico. Quando prefeito em 1963 ele pre-
pelo vinho, pela natureza e pelo potencial pelo Chateau HS, o Jarismar e Her- Quem visitar o Vale dos Dinossau- TERRA DE MARIZ serva contas diariamente em difusora
de transformação de uma região e conta
com a expertise de José Figueiredo e a ta, para fazer parte do projeto, estar ros terá acesso às passarelas e mirantes O município tem na atualidade e introduziu a Carteira de Trabalho
determinação dos seus proprietários para na frente do projeto, é exatamente que levam às trilhas formadas pelas como prefeito o empresário Fábio para os funcionários e patrocinava a
Foto: freepik.com

chegar ao sucesso e se consolidar no mapa pela qualidade do vinho, e essa mes- pegadas, além também de um museu Tyrone produzindo diversas obras cultura, como o filme “País de São
dos vinhos finos do Brasil. ma qualidade que eu pretendo trazer com materiais de pesquisa paleon- e serviços. A cidade é terra natal do Saruê”. A cidade abriga entre várias
para cá”, definiu. tológica, que levam informações a ex-governador Antonio Mariz, tam- famílias famosas a dos Gadelha.

34 Revista NORDESTE Agosto/2023 Agosto/2023 Revista NORDESTE 35

Economia
PORTUGAL
TAMBÉM INOVA
Wine Concept apresenta La Belle de Jour,
um vinho do Tejo em homenagem ao
pernambucano Alceu Valença
O
cantor e compositor Alceu
Valença acaba de ganhar
uma homenagem mui-
to especial. Um dos seus
maiores sucessos, La Belle de Jour, dá
nome a um vinho produzido na região
do Tejo, em Portugal, e por uma viní-
cola fundada no século XIV. O rótulo
– criado especialmente para o artista
e importado e distribuído pela Wine
Concept Brasil – poderá ser degusta-
do pelos brasileiros a partir do dia 15
de agosto.
O vinho é resultado da parceria entre
Alceu, a Wine Concept e a Quinta da
Atela, uma vinícola fundada em 1346
e hoje pertencente a um dos maiores
grupos industriais de Portugal, o Val-
Grupo. “A estratégia da Wine Con-
cept, tanto no Brasil quanto em Por-
tugal, tem sido a de garimpar vinhos
de alta qualidade, com uma excelente
relação custo-benefício e levá-los aos
brasileiros”, explica Tavinho Vieira,
sócio da empresa. “Queríamos home-
nagear Alceu com um produto muito
especial e isso nos levou à Quinta da
Atela, uma vinícola com 677 anos”,
complementa.
Inicialmente criada sob o nome de
Quinta da Goucha, no século XIV,
a Quinta da Atela concentra-se na
produção vitivinícola com castas de
elevado potencial, adaptadas ao solo
e ao clima da região, transmitindo aos
vinhos a melhor da essência das vinhas
e do terroir. No total, são 580 hectares,
36 Revista NORDESTE Agosto/2023
onde o cultivo das vinhas ocupa uma
área de 130 hectares.
O La Belle de Jour chega nas opções
tinto, branco e rosé. A criação ficou a
cargo do conceituado enólogo portu-
guês Antônio Ventura. “Pedimos a ele
que se inspirasse nas notas musicais de
Alceu para criar uma bebida com notas
aromáticas tão apaixonantes quanto
as canções do artista”, brinca Tavinho
Vieira. O artista acompanhou todo o
processo de perto. Sugeriu, inclusive, a
arte do rótulo, uma bailarina, opinando
ainda nas cores e no layout final.
Tavinho explica que a escolha des-
sa música para dar título ao rótulo
tem, obviamente, a ver com o sucesso
alcançado (uma das versões tem de
mais 263 milhões de visualizações no
Youtube, por exemplo), mas também
diz que o “blend” de histórias sobre
as musas inspiradoras da canção aca-
ba dando um charme a mais. “Teria
Turismo
VILA GALÉ
ANUNCIA
NOVO HOTEL
EM CUMBUCO-
CE, ESPANHA
sido Catherine Deneuve, Jaqueline
E CUBA; CEO
Bisset ou a bailarina da praia de Boa
Viagem?”, provoca. A resposta pode
estar na biografia do artista – “Pelas
QUER BRASIL
Ruas Que Andei”, do jornalista Julio
Moura, recém-lançada pela CEPE.
OS VINHOS
O La Belle de Jour tinto é obtido a
partir do blend de uvas touriga nacional
INVESTINDO
(30%), syrah (30%), castelão (20%) e ali-
cante bouschet (20%), oriundo de uma MAIS NO
TURISMO
vinha com cerca de 20 anos de idade.
Apresenta uma cor rubi, aromas de fru-
tas vermelhas maduras, notas de menta, A Vila Galé é a maior rede de
com boca suave e taninos sedosos. do Brasil e o segundo maior Resorts
O La Belle de Jour branco é com- Líder Jorge Rebelo construindo hoteleiro em Portugal. O gru grupo
posto pelas uvas Fernão Pires (40%), composto por diversas sociedpo é
novos investimentos das quais se destaca, pela suaades,
Foto: Divulgação (Site Diário do Turismo)
arinto (35%), sauvignon blanc (15%)
dimensão e importância, a
e gewurztraminer (10%). Produzido fora de Portugal – Sociedade de Empreendim Vila Galé
a partir de uma vinha com cerca de Turísticos, S.A. A rede de ho entos
20 anos de idade, instalada em solos Vila Galé conta atualmente téis
arenosos de "charneca" pobres e bem unidades hoteleiras: 31 em com 41
drenados. Possui aroma que revela no- (Algarve, Beja, Évora, Elvas,Portugal
do Chão, Oeiras, Cascais, SinAlter
tas de frutas de polpa amarela, ligeiro, Ericeira, Estoril, Lisboa, Coimtra,
E
floral, algumas nuances de lichias, com Serra da Estrela, Porto, Bra bra,
um final fresco e equilibrado. XCLUSIVO – O CEO Jor- novo empreendimento defronte ao Açores e Madeira) e 10 no Bra ga, Douro,
Já o La Belle de Jour Rosé foi obtido ge Rebelo (foto) revelou à já existindo e nos preparando para (Rio de Janeiro, Fortaleza, Cu sil
a partir de uvas castelão (100%) pro- Revista NORDESTE que o novos investimentos na Espanha e Salvador, Guarajuba, Perna mbuco,
venientes de uma vinha velha com 70 grupo português Vila Galé em Cuba”. Touros, Angra dos Reis, Sãombuco,
Alagoas). Paulo e
anos de idade e apresenta-se com cor está em dedicada ação para concluir Confirmando investimentos em
salmão aberta, tem aromas elegantes em Cumbuco, no Ceará, novo hotel Ouro Preto/MG e em São Luís/MA,
de frutas vermelhas e pequenas bagas, defronte ao já existente e vai chegar Jorge Rebelo defendeu que o governo tores do governo buscando incentivar
com algumas notas frescas de men- na Espanha e em Cuba nos próximos brasileiro possa investir mais no tu- na direção de mais investimentos no
ta, na boca tem excelente frescura e tempos. rismo como incremento nesta fase da turismo brasileiro como importância
equilíbrio com acidez viva e final bem “Estamos de fato em execução de economia nacional. muito especial nesta fase econômica
balanceado. obras em Cumbuco, no Ceará, com “Temos conversado com interlocu- do país”, concluiu.
Foto: Divulgação Agosto/2023 Revista NORDESTE 37
ATÉ ONDE A ENERGIA LIMPA
GERA DIFICULDADE PARA AS
COMUNIDADES ORIGINÁRIAS?
P
Eis o resumo do or falta de regulação quan-
do foram instalados, ante-
passivo social dos rior portanto a resolução
CONAMA 462/2014, os
parques eólicos projetos implantados em 2014 pela
em Caetés; outros Ventos de São Clemente VII Ener-
gias Renováveis S.A e, desde 2018,
estados enfrentam adquiridos pela Echoenergia Parti-
cipações S.A ergueram suas torres
o drama eólicas com uma distância de 150
metros de algumas casas na zona
Por LUCIANA LEÃO rural da cidade do Agreste pernam-
bucano. A legislação atual no Brasil,
a distância mínima deve ser de 400
metros das casas.
Na época, gerou empregos e a pro-
messa de melhoria na qualidade de
vida da comunidade como um todo.
Mas, na realidade, enfrenta hoje um
desafio maior: os danos sociais, ma-
teriais, ambientais e, principalmen-
te, na saúde pública.
Equipes da Universidade de Per-
nambuco (UPE) Campus em Gara-
nhuns, Comissão Pastoral da Ter-
ra (CPT-NE) sob coordenação da
38 Revista NORDESTE Agosto/2023
FioCruz-PE realizam estudos dos
impactos sociais e ambientais causa-
dos pelo considerado maior parque
eólico em Pernambuco, com uma
capacidade instalada de 233 Mega-
watts (MW), com geração atual de
216 MW.
CAETÉS (PE) - A chegada de
dois parques eólicos entre os anos de
2014 e 2016, na zona rural da cidade
de Caetés, no Agreste pernambuca-
no, mudou por completo a vida da
família do senhor Simão Salgado da
Silva, 75 anos, agricultor e presiden-
te do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Caetés.
A mudança, entretanto, como ele
mesmo afirma à reportagem da Re-
vista NORDESTE, poderia ter sido
bem-vinda, em meio às dificuldades
sociais e econômicas. No entanto, a
realidade é inversa.
Foto: freepik.com
Em recente levantamento pelo
Instituto Cidades Sustentáveis, com
base no Índice de Desenvolvimen-
to Sustentável das Cidades (IDSC-
-BR), seguindo os preceitos dos 17
ODS, Caetés teve uma pontuação
geral baixa, de 41,19, colocando-se
na 4462 posição dos 5570 municí-
pios brasileiros.
A pontuação mede o progresso to-
tal das cidades para a realização de
todos os 17 ODS (Objetivos de De-
senvolvimento Sustentável). Uma
pontuação 100 indica a realização
ótima dos ODS.
A HISTÓRIA DE SIMÃO
SALGADO DA SILVA
Proprietário do sítio Pau Ferro,
a 17 Km da cidade de Caetés, teve
sua base de produção na agroecolo-
gia, onde a natureza e a agricultura
conversam entre si. Anteriormente,
a propriedade era uma referência
na região em se tratando do uso da
agroecologia como fomento à pro-
dução animal e da agricultura fa-
miliar.
No entanto, após alguns anos da
implantação dos Parques Eólicos na
região próxima ao seu sítio, senhor
Simão teve que deixar para trás anos
décadas de trabalho na terra, no cul-
tivo de animais para enfrentar outra
grande luta: os problemas de saúde
causados pelas turbinas eólicas tanto
para as pessoas como para os ani-
mais de sua propriedade e dos seus
vizinhos.
“Estamos lutando desde 2016 na
Justiça, por uma indenização pelos
danos causados à saúde de minha
família e de outras pela implanta-
ção desses parques eólicos em nos-
sa região. Além da saúde de minha
mulher, dos animais, a proximidade
dos aerogeradores de nossas terras
ocasionou também redução em nos-
sa produção na agricultura”, revelou
o agricultor.
Sua esposa, dona Edite Maria
da Silva, 74 anos, foi diagnostica-
da pelos médicos o que se intitula
a Síndrome das Turbinas Eólicas,
causando estresse, depressão, insô-
Agosto/2023
nia e ansiedade. Ele e a família se
mudaram para a cidade, longe dos
ruídos, das sombras e da fuligem ex-
pelida pelas pás eólicas. Apenas, um
dos seus oito filhos, permaneceu na
propriedade.
“Eu tive que abandonar a proprie-
dade porque minha esposa entrou
em uma depressão triste, um estado
de nervos, ansiedade, tanta coisa, e
ela ficava mais nos hospitais e nos
médicos do que em casa. Aí, eu tive
que vir para a cidade para facilitar
justamente os tratamentos dela, os
acompanhamentos médicos. E gra-
ças a Deus, depois que saiu de debai-
xo dos ruídos, ela teve um resultado
positivo. Está tranquila, vivendo, se
alimentando e dormindo bem. Sua
doença está controlada, mas não po-
demos voltar mais pro sítio. E aí eu
fiquei nesse beco sem saída. Estou
com o sítio lá, uma propriedade de
referência abandonada”, declara o
agricultor.
Revista NORDESTE 39
Famílias aguardam decisão
da Justiça
E
le e mais um grupo de sete famílias
enfrentam agora o embate jurídico
com a atual administradora dos
parques: a Echoenergia Participações
S.A. Desde 2016, tramita em 1ª ins-
tância no Fórum Tabelião Luiz Quiri-
no dos Santos, uma ação indenizatória
onde eles pedem ressarcimento pelos
danos materiais, morais e ambientais
causados pelos empreendimentos.
Uma das profissionais representan-
tes das ações, a advogada Emanuela
Moraes, disse à Nordeste que, até o
momento, não houve acordo por am-
bas as partes do processo. Aguardam
o resultado de uma perícia física rea-
lizada pelo promotor Reus Alexandre,
da Comarca de Caetés, do Ministério
Público de Pernambuco.
40 Revista NORDESTE Agosto/2023
“Acompanhei a perícia e é clara-
mente perceptível a mudança nas pes-
soas, principalmente no campo audi-
tivo. As pessoas não falam. Simples-
mente gritam, porque não conseguem
ouvir com nitidez, diante dos ruídos.
Quem mora na zona rural, opta pela
tranquilidade. Hoje, a região mudou.
Causou danos aos moradores, ao meio
ambiente, ao sustento das famílias”,
relata a advogada.
“Estamos nessa luta até quando
Deus tocar no coração desse pessoal
que resolva me indenizar por danos
morais, ambientais e perturbação de
sossego. Eu vou até o fim. A minha
história é essa. São muitas famílias
atingidas”, relata o agricultor Simão
Salgado da Silva.
to, prometendo emprego, prometendo foram beneficiados e mesmo essas “Não ajuda. Não gerou emprego.
renda, prometendo um valor mensal pessoas que foram beneficiadas com Os empregos que foram gerados na
que, com certeza, ajudaria a resolver o esse dinheiro dessas torres eólicas, região, eles foram momentâneos e,
problema das pessoas”, lembra.
No entanto, na opinião do historia-
com essas indenizações e tudo mais,
hoje percebem que foram ludibriadas,
basicamente, nos processos de cons-
trução, porque, para os trabalhos mais
dor, aqueles proprietários que recebe- elas percebem que foram enganadas e técnicos e tudo mais, por mais que
TESE DE DOUTORADO ram as torres eólicas direto nas suas que não valeu a pena”, afirma. exista gente qualificada aqui
Os efeitos da implementação das propriedades, se encantaram com a Outro aspecto a ser levantado em no município, essas pessoas
torres eólicas nas comunidades rurais, possibilidade de recebimento do di- sua tese de doutorado é com relação, não foram consultadas, não
como as pessoas atribuem sentido e li- nheiro destinado ao arrendamento. segundo ele, a falsa imagem de gera- foram contratadas. Os téc-
dam, ou não, com esses impactos levou “Só que as populações em volta, em ção de empregos, de que isso ajuda no nicos, engenheiros vinham
o historiador, antropólogo e apicultor torno dessas propriedades em nada desenvolvimento local. sempre de fora”, acentua.
Alexandre Teixeira a se aprofundar
mais sobre a problemática e motivou
a defender sua tese de doutorado em
Antropologia, pela Universidade Fe-
deral de Pernambuco. Estudo está
sendo realizado na região de Caetés e
deve ser concluído até março de 2025.
Alexandre Teixeira também é pro-
prietário de um sítio, em Caetés, dis-
tante cerca de 1,5 km dos aeroge-
radores de dois parques eólicos do
Complexo Ventos de São Clemente.
Apesar de não estar tão próximo do
que outras famílias, ele afirma perce-
ber alguns impactos em sua proprie-
dade, o sítio Serrote. “Além do ruído e
de problemas estruturais na casa, per-
cebo deficiência na produção de aves,
ovos e nos produtos agrícolas”, relata.
PROJETOS MAIS
HUMANIZADOS
Na avaliação do historiador, as tran-
sições energéticas podem ser mais
humanizadas, já que os impactos são
previstos em qualquer tipo de em-
preendimento. O também antropólo-
go defende que tais projetos precisam
ser erguidos com um olhar para a
emancipação das comunidades locais.
“Quando essas empresas chegaram,
a população não se identificou com
esse processo de implementação. Mas
a região ainda estava em um período
de seca muito intenso, o pessoal tinha
sofrido prejuízos enormes, fazia acho
Agricultor Simão Salgado em seu sítio
que há 3 ou 4 anos que a produção Pau Ferro, zona rural de Caetés, Agreste
agrícola estava prejudicada. Aí, quan- pernambucano. Pás eólicas são vistas numa
do chega um grande empreendimen- distância de 150 metros do sítio
Fotos: Arquivo pessoal Agosto/2023 Revista NORDESTE 41
Problemas centrais
C
om base nos relatos até então
ouvidos para sedimentar sua
tese, o antropólogo pontua que
existem dois problemas que precisam
ser encarados pelos gestores públi-
cos e privados: o sofrimento psíquico,
pelo fato de as pessoas desenvolverem
ansiedade e depressão a partir da im-
plementação dessas torres eólicas. O
outro são as questões culturais.
“Existe um sistema do lugar, um
sistema de perceber a realidade, um
sistema de viver nessa realidade que
foi completamente alterado. Você tem
a agricultura extremamente prejudi-
cada, a forma que o agricultor tinha de
perceber e de ler os sinais da natureza
para iniciar o processo de plantio, para
saber a época de preparação do solo
para esse plantio, a época de colheita.
Tudo isso foi modificado porque a
biodiversidade local foi alterada, so-
frendo esses impactos. Então, quando
você soma o sofrimento psíquico à
essa alteração dos ecossistemas locais,
42 Revista NORDESTE Agosto/2023
Alexandre Teixeira, historiador,
antropólogo e apicultor em
seu sítio Serrote, em Caetés,
Pernambuco
você quebra com esse sistema local
de produção, você quebra com esse
sistema local de vivência”, acrescenta
Alexandre Teixeira.
Para o estudioso da causa, o proble-
ma não se resume às torres eólicas, vai
além disso, como as vias de transmis-
são que passam dentro dos roçados,
dentro dos cercados, próximos das ca-
sas, o que gera ruído e impacta o solo.
E, além disso, continua o historiador,
outros problemas surgem “que a gente
não vê e não ouve”.
“Então, radiação, emissão de ultra
som, infrasson. Tudo isso afetou a
produção rural, principalmente na
Torres eólicas próximo à casa no
Sítio Sobradinho, em Caetés
Fotos: Arquivo pessoal
reprodução animal, na sanidade ani-
mal. Então, você quebra uma cadeia Assembleia em comunidade
rural em Caetés. Detalhe
produtiva local, que visa realmente o da proximidade das torres
desenvolvimento local, que visa não das casas
só a subsistência, mas a circulação de
produtos locais, de ovos, de carne, de
leite em detrimento de quê? De uma
produção energética que nem fica aqui
e nem dá nenhum tipo de retorno para
as comunidades locais”, questiona .
SOLUÇÕES
Em sua visão, tanto como estudioso
e morador na região, a percepção para
o futuro é bem pessimista. Ele defen-
de soluções para a problemática, que
avalia ser muito complexa. Teixeira
sugere também que as autoridades, os
responsáveis, pensem em formas de
compensação.
“Não há como tirar essas pessoas de
suas casas. Elas não querem. Presenciei
famílias que saíram da região, saíram da
sua localidade, e das duas uma ou adoe-
ceram mais, ou retornaram, e aí retor-
naram com essa perspectiva pessimista,
porque são pessoas que trabalham na
produção agrícola, são pessoas rurais,
são pessoas que têm toda uma história
aqui nessa região, e essas pessoas vão
se deslocar daqui para a cidade para
trabalhar onde? Vão sair daqui para
um outro sítio, onde elas não conhe-
cem as dinâmicas locais, onde não tem
o mesmo tipo de solo, de floresta, de
ambientes em que essas pessoas estão
acostumadas a trabalhar”, alerta.
“A grande alternativa seria frear isso
aí, que é uma coisa praticamente im-
pensável, mas que pelo menos não haja
ampliação desses empreendimentos
e que o Estado consiga intervir para
realmente compensar as famílias que
estão aqui e que não irão sair, até por-
que estavam aqui antes dessas torres e
vão permanecer. Realmente não consi-
go perceber uma forma de convivência
porque é desumano, ela continua cau-
sando impactos e fala-se inclusive em
ampliação, não existe ampliação, não
existe manutenção disso dessa forma”.
Agosto/2023 Revista NORDESTE 43
Estudo coordenado por
pesquisadores da FioCruz
analisa impactos
C
om financiamento da Fio-
Cruz e parcerias com o Cam-
pus da UPE, em Garanhuns,
e da Comissão Pastoral da
Terra, pesquisadores e estudantes de
residência em saúde coletiva e agroe-
cologia estão in loco em processo de
coleta de dados nas regiões que cir-
cundam o Complexo Ventos de São
Clemente.
A pesquisa terá duração de três anos
e foi iniciada há cerca de oito meses,
sob a coordenação de André Mon-
teiro, engenheiro de Saúde Pública
e pesquisador da FioCruz/ PE. O
objetivo é que esses dados formais
sejam utilizados pelo SUS, do Sistema
Único de Saúde de Caetés.
Segundo o coordenador, há na lite-
ratura vários estudos que caracterizam
a Síndrome das Turbinas Eólicas e
que se relacionam principalmente ao
modelo implementado nos parques
eólicos em Caetés e municípios vi-
zinhos. Na Alemanha, por exemplo,
os aerogeradores só podem ser im-
plementados com uma distância mí-
nima de dois quilômetros e meio das
residências.
A PERMANÊNCIA DO
NEOEXTRATIVISMO
A primeira questão, segundo o
coordenador da pesquisa da FioCruz,
UPE e CPT é uma característica des-
ses grandes empreendimentos, sejam
eles quais forem, que se constitui e está
relacionado a um contexto do próprio
Brasil, da América Latina, em relação
ao que se chama neoextrativismo.
“Ainda vivemos num contexto que
nós somos exportadores de commodi-
44 Revista NORDESTE Agosto/2023
André Monteiro Costa,
engenheiro de Saúde
Pública, pesquisador da
FIOCRUZ/PE
ties, commodities agrícolas, minerais,
sobretudo, essas duas. E essa produção
de commodities, a exportação, impac-
ta profundamente o ambiente, ou seja,
a partir de desmatamentos, e impacta
também as comunidades tradicionais,
os povos de comunidades tradicionais,
indígenas, quilombolas, e uma diversa
gama de comunidades tradicionais”,
pontua o especialista.
SAÚDE MENTAL
Em sua visão, como estudioso e es-
pecialista em Engenharia de Saúde
Pública e Ambiental nas comuni-
dades tradicionais, qualquer processo
que incida nos territórios já deflagra
um processo de sofrimento mental.
“Temos a sabedoria de que a comu-
nidade tradicional possui outra carac-
terística que seria a autonomia. Mas
essa autonomia é relativa no sentido
de que, em geral, elas não têm o título
da terra, elas têm o usufruto. Então,
as empresas, ou seja, os grandes em-
preendimentos, ou em extensão, como
o agronegócio, e infraestrutura impac-
tam profundamente e geram o que a
gente chama de processos de vulne-
rabilização, sobretudo o sofrimento
mental”, destaca Monteiro.
“Há de se relevar que esses proble-
mas relacionados ao sofrimento men-
tal das comunidades tradicionais se
dispersam em vários estados do Bra-
sil, conforme estudos precedidos pela
Comissão Pastoral da Terra. Enfim, é
um processo que a gente vê que é ge-
Foto: Arquivo pessoal
neralizado e que produz muitos efei-
tos negativos para essas comunidades,
para a saúde das pessoas”, pontua.
A TERRA
Outro aspecto é a questão territo-
rial. Na avaliação de André Monteiro,
existe a insegurança do ponto de vista
da terra. Isso porque, muitas famílias
têm a sua terra formalmente registra-
da, mas em outras situações não.
“Quando as empresas de usinas
eólicas vão se instalar, elas fazem ne-
cessariamente um arrendamento do
terreno, da área dessas comunidades,
e as pessoas perdem o acesso e o uso
da terra nesses arrendamentos. Então
as pessoas basicamente ficam rece-
bendo algum recurso mensal entre 3
a 4 mil reais, mas deixam de trabalhar
na terra, então essa é uma questão
também muito violenta para essas
comunidades, porque na prática eles
deixam de ser agricultores’ , acres-
centa o coordenador da pesquisa da
FioCruz.
O resultado, diz ele, é que tem acon-
tecido um êxodo rural. “Essa migração
do rural para o urbano é outro grande
problema, e que gera também uma
apatia, porque eles deixam de ser pro-
dutores rurais, trabalhadores rurais, e
fazem esse contrato por 30 anos, 35
anos, então esse é um grande proble-
ma também”, alerta o especialista.
O EFEITO NA SAÚDE MENTAL
Uma outra questão são os ruídos
provocados nas paredes das casas pelas
pás das eólicas e os efeitos na saúde.
“Em relação a isso, identificamos no
Agreste meridional residências com
cerca de 140, 150 metros e isso já gera
diversos efeitos para a saúde. Um dos
efeitos é a questão da luz tremelosente
das paredes sombreando permanente-
mente as casas, os telhados das casas,
o terreiro das pessoas. Isso gera efeitos
na saúde muito grandes”.
Um outro efeito relacionado é a
questão dos infrassons. As turbinas
eólicas produzem infrassons e es-
ses, apesar de não serem audíveis
para os humanos, provocam impactos
sem que as pessoas se dêem conta
de doenças, de sofrimento mental,
da necessidade do uso de medica-
mentos.
“Então, o consumo de medicamen-
tos nessas comunidades que a gente
tem trabalhado no Agreste meridio-
nal é impressionante. Temos relatos
gravados em documentários, inclusi-
ve, em casas que visitamos com sacos
enormes de medicamentos”.
Na pesquisa, inclusive, será feito
a medição dos infrassons com equi-
pamentos específicos para isso, para
estimar o quanto que está afetando
diretamente as pessoas. O estudo pre-
vê inicialmente, a análise de impactos
causados de 60 a 80 famílias, incluin-
do, mais recentemente, comunidades
em Paranatama, onde uma obra de
um parque eólico está sendo iniciada.
“Vamos acompanhar o desenrolar e
os problemas gerados no início de um
parque eólico, para ver exatamente as
características dos problemas relacio-
nados à implantação”.
CONTRADITÓRIO
André Monteiro pontua também a
controvérsia do que seria a produção
de energia limpa.
“A máxima de ser uma energia lim-
pa, nesse sentido, não se sustenta por-
que você não tem energia limpa atra-
vessando e passando por cima da vida
das pessoas, das comunidades.
Além disso, você tem uma destrui-
ção ambiental, uma destruição dos
modos de vida, você tem pessoas dei-
xando a área rural para ir para a cidade,
então, realmente, para mim é uma tra-
gédia. E, como eu disse, isso é reflexo
dessa característica de como que no
Brasil, na América Latina, as comu-
nidades, as pessoas e as comunidades,
elas são tratadas pelos gestores e pelas
empresas que implementam esses ti-
pos de empreendimentos”.
Agosto/2023
FAUNA
Segundo o pesquisador, outro
efeito tão importante relaciona-se
à fauna do bioma Caatinga, onde
está inserido o município de Caetés.
Os infrassons emitidos pelas
turbinas eólicas afetam diretamente
pássaros, morcegos e outros
animais que são polinizadores.
“O morcego é um grande
polinizador, as abelhas são
polinizadoras. E o que é que
acontece? Com os infrassons esses
animais somem. E tem havido, e
tem sido dito pelos camponeses, de
que a produção agrícola caiu muito
depois da implantação desses
parques por conta disso. Ou seja,
tais anomalias fazem com que os
pássaros, as abelhas, morcegos,
percam a noção de navegação
deles. Muitos pássaros têm colidido
com as pás dos aerogeradores
e gerado problemas, enfim, de
forma geral para o ambiente que
as comunidades estão. Ou seja,
alterando de forma muito intensa”,
alerta.
_“Não há nada de energia limpa,
isso seria o desejável. Mas isso
não é energia limpa, no sentido
de que a forma como o Estado,
as empresas lidam com essas
comunidades, as pessoas tratam
essas comunidades tradicionais,
pessoas que não têm, que não
são sujeitos de direitos, então
isso, acontece em todas as áreas
relacionadas ao neoextrativismo,
seja uma hidrelétrica, seja uma
ferrovia, seja uma grande barragem,
uma transposição de São Francisco,
que eu estudei bastante, porque
essa é a característica e a lógica
que vem lá de 1500, de que o
Estado está a serviço do capital, de
uma elite, e que as comunidades
tradicionais não fazem parte desse
contexto, então atravessam a vida,
atravessam essas comunidades, a
vida das pessoas, gerando esses
processos que a gente chama
de vulnerabilização, que inclui
sofrimento mental, e outras perdas
simbólicas, que fazem com que
essas pessoas e comunidades
sejam, atravessadas _”.
Revista NORDESTE 45
Economia

ABEEÓLICA BUSCA SOLUÇÕES

PARA IMPACTOS CAUSADOS
EM PROJETOS ANTERIORES À
RESOLUÇÃO CONAMA
Com base em um estudo iniciado, em curso, pela FIOCRUZ, em Pernambuco,
e a Universidade Estadual de Pernambuco (UPE), envolvendo pesquisadores e
especialistas em diversas temáticas de saúde pública e ambiental, constata-
se que, em algumas comunidades e, especialmente, no município de Caetés,
no Agreste pernambucano, existe um impacto negativo na saúde das pessoas,
provocado, ao que se intitula a “Síndrome da Turbina Eólica”

Por LUCIANA LEÃO Revista NORDESTE - Como a enti- latando os problemas com barulho

E
m diversos depoimentos co-
lhidos pela reportagem da
Revista Nordeste, com fa-
mílias e pesquisadores da
FIOCRUZ revelam-se um quadro
preocupante, mesmo reconhecendo a
importância das energias renováveis
frente à necessidade urgente do pla-
neta à transição energética limpa.
A Nordeste entrevistou, com ex-
clusividade, a presidente Executiva
da ABEEólica Elbia Gannoum acer-
ca dos problemas relatados nas re-
portagens e afirma que a entidade
representativa do setor privado no
país está ciente e “busca soluções no
sentido de reparar, adaptar e mitigar
os impactos”.
Ela acrescenta que tais problemas
são anteriores à Resolução CONA-
MA, 262/2014, que estabeleceu dire-
trizes gerais para os estados definirem
a sua legislação. Nesta resolução, a
distância mínima de um parque eólico
para as residências é de 400 metros.
46 Revista NORDESTE Agosto/2023
dade vem trabalhando para mitigar
os efeitos causados em algumas
pessoas e comunidades pela “sín-
drome das turbinas eólicas”?
Elbia Gannoum - A associação tem
recebido as primeiras queixas deste
tipo de problema há menos de dois
anos e, desde então, estamos traba-
lhando no sentido de fazer o diag-
nóstico dos problemas e buscar as
soluções no sentido de reparar, adap-
tar e mitigar os impactos. Sendo a
principal delas, coordenar com as em-
presas associadas e responsáveis pelos
projetos nas regiões apontadas. Algu-
mas providências já foram tomadas
pelas empresas que atualmente são
responsáveis pelos parques eólicos na
região. Uma delas fez acordos com os
moradores e já realocou residências
com distâncias superiores a 600m,
fizeram reparos nas casas e mantém
um canal de comunicação contínuo
com os moradores que aceitaram es-
sas reparações. É importante ressal-
tar, que as comunidades que vêm re-
na região de Caetés, convivem com
parques que foram construídos antes
da Resolução CONAMA, 462/2014,
que estabeleceu diretrizes gerais para
os estados definirem a sua legislação.
Nesta resolução, a distância mínima
de um parque eólico nas residências é
de 400 metros de distância. A maioria
dos parques no país têm uma distân-
cia superior a 400 metros de distância
das residências e têm uma boa rela-
ção com a comunidade. Embora a
regulação do passado permitisse par- “EMBORA A REGULAÇÃO
ques com distanciamento menores, DO PASSADO PERMITISSE
as reclamações dos moradores nos
trouxeram a necessidade de mitigar PARQUES COM
problemas relativos ao passado, ou DISTANCIAMENTO MENORES,
seja, anteriores à legislação. O que
tem sido um importante esforço por AS RECLAMAÇÕES DOS
parte das empresas. Hoje os aeroge- MORADORES NOS TROUXERAM
radores são implantados respeitando
uma distância de afastamento de re-
A NECESSIDADE DE MITIGAR
sidências definida pela legislação per- PROBLEMAS RELATIVOS
tinente (a resolução Conama 2014),
para evitar eventuais impactos que
AO PASSADO, OU SEJA,
possam ser ocasionados pelo ruído dos ANTERIORES À LEGISLAÇÃO”
Foto: Elbia Gannoum Agosto/2023 Revista NORDESTE 47
 “A REVISÃO DE LEIS
E NORMAS SE FAZ
CONSTANTE E NECESSÁRIA,
SOFRENDO ALTERAÇÕES
À MEDIDA EM QUE NOVOS
FATOS SÃO VERIFICADOS
E CIENTIFICAMENTE
COMPROVADOS. COMO
TODO SETOR DA ECONOMIA,
É PRECISO ESTAR EM
CONSTANTE ADAPTAÇÃO E
CORREÇÃO DE ROTA”
equipamentos. Também é realizado
o monitoramento da emissão de ruí-
dos, com vistas a garantir o conforto
acústico dos habitantes das regiões
onde são implantados os parques eó-
licos. Além da questão específica de
Caetés, a ABEEólica acompanha a
discussão de maneira mais ampla e
tem um grupo de trabalho dedicado
a endereçar essas questões. Um dos
resultados desse grupo é o desenvol-
vimento de um manual de boas prá-
ticas que prioriza o relacionamento
com as comunidades do entorno dos
parques eólicos e recomenda ações
como o distanciamento de residências
para além do previsto na lei. Também
vamos incorporar boas práticas inter-
nacionais, com resultados positivos
comprovados.
NORDESTE - O que dizer sobre essa
problemática na saúde pública,
diante do que seria um empreendi-
mento sustentável, de governança
com as pessoas, com o social, com
a economia no entorno?
Elbia Gannoum - A indústria eóli-
ca comparativamente a outras fontes
é algo novo no país e relativamente
novo em todo o mundo. Neste sen-
tido um processo de aprendizagem
48 Revista NORDESTE Agosto/2023 Foto: Elbia Gannoum
vem se fazendo ao longo dos anos,
além disso estamos percebendo uma
forte participação da pauta de ESG
nos processos produtivos de forma
geral, o que é muito positivo para
a sociedade como um todo. Neste
sentido, tanto a tecnologia quanto as
políticas de ESG seguem em desen-
volvimento e em constante adequa-
ção e evolução, de modo a atender as
demandas da sociedade. A revisão de
leis e normas se faz constante e ne-
cessária, sofrendo alterações à medida
em que novos fatos são verificados e
cientificamente comprovados. Como
todo setor da economia, é preciso estar
em constante adaptação e correção de
rota, sempre com o propósito de pro-
movermos uma transição energética
justa, respeitando todas as esferas da
sociedade. Estamos trabalhando bas-
tante para isso.
NORDESTE - Outro dado pesquisa-
do é em relação aos animais poli-
nizadores da região do Semiárido,
como morcegos, abelhas, pássaros
etc. Com os infrassons provocados
pelas turbinas, ocorre um êxodo
desses animais, que simplesmente
somem do habitat natural. Perdem
a noção de navegação….. Muitos
pássaros têm colidido com as pás
dos aerogeradores…..
Elbia Gannoum - A implantação de
um parque eólico requer a obtenção
de licenciamento ambiental, que con-
templa uma série de procedimentos e
pesquisas, bem como a realização de
reuniões e audiências (tecnicamente
são chamadas de Reuniões Técnicas
Informativas ou Audiências Públi-
cas). Nestas ocasiões, comunidades e
sociedade civil em geral participam
com o objetivo de fornecer infor-
mações do empreendimento, ouvir
a população e dirimir dúvidas. Esse
processo inclui uma cuidadosa ava-
liação da fauna local. Somente após o
cumprimento de todos os ritos, com
suas devidas validações, é que a licen-
ça ambiental é aprovada. Os animais
em questão estão inclusos nestes mo-
nitoramentos. Todos são mapeados
e monitorados pelas empresas que
fazem reportes aos órgãos ambientais
estaduais. Ao longo deste monitora-
mento, pode ocorrer pedido de novos
estudos e pausas nas operações, quan-
do necessário. Ou seja, são os órgãos
ambientais que fiscalizam e fazem
esse controle com as empresas. No que
se refere especificamente a pássaros e
morcegos, a mencionada Resolução
Conama/2014, não permite a cons-
trução de parques eólicos nas rotas
migratórias de pássaros e morcegos.
NORDESTE - Enfim, a existência de
problemas é uma realidade, mas
queremos também mostrar as so-
luções que a entidade apresenta,
os investidores, para mitigar es-
ses efeitos danosos às comunida-
des locais, à saúde das pessoas,
ao ecossistema como um todo.Há
relatos também em municípios do
Rio Grande do Norte, um dos maio-
res produtores de energia eólica e
solar do Brasil.
Elbia Gannoum - Todos os estados
produtores de energia eólica estão sob
nossa atenção e os mecanismos de mi-
tigação estão sendo adotados. É muito
importante, porém, separar os parques
que foram construídos em legislações
diferentes, como o caso da Resolução
Conama, o que o setor tem feito é jus-
tamente corrigir o passado, fazer bem
o presente com o que é conhecido e
melhorar cada vez mais para o futuro.
Por outro lado, é muito importante
ressaltar que não existe atividade eco-
nômica sem impacto, seja esta qual for,
e a produção de energia eólica é, entre
as formas de produção de energia, a
de menor impacto, embora o tenha,
restando a nós buscarmos mitigá-los.
É notória a contribuição da fonte eóli-
ca para o desenvolvimento das regiões,
bem como a melhoria da qualidade
de vida de muitas famílias, sobretu-
Agosto/2023
do nos ambientes rurais, onde há a
convivência harmônica do setor com
o homem do campo. Dentre as ma-
trizes de energia elétrica conhecidas,
a energia eólica se constitui numa das
mais sustentáveis, diante das moda-
lidades em desenvolvimento no país,
não inviabilizando o uso das áreas para
outras finalidades, por exemplo.
Salto de qualidade
Sobre o Rio Grande do Norte, é im-
portante destacar que seus municípios
deram um salto nos últimos anos em
criação de negócios e geração de em-
prego e renda. O estudo encomendado
pela ABEEólica mostra que, nos 10
municípios analisados, que concen-
tram 76% da geração eólica no estado
e 84% dos parques, o crescimento no
conjunto chegou a ser quase o dobro
do verificado nas demais regiões poti-
guares. A instalação de parques eólicos
contribui para o aumento do Produto
Interno Bruto (PIB) e do Índice de
Desenvolvimento Humano do Muni-
cípio (IDHM). Foi realizado um com-
parativo entre grupo de municípios que
receberam parques eólicos com outros
que não receberam no Rio Grande do
Norte. Por meio dessa comparação,
identificamos que nos municípios que
receberam a sua instalação:
• O PIB real aumentou 21,15% (pe-
ríodo de 1999 a 2017)
• O IDHM cresceu cerca de 20% en-
tre 2000 e 2010
• O PIB, ou a soma das riquezas ge-
radas na economia, cresceu a uma
taxa média de 70% nesses municípios,
acima da média do estado — estimada
em 54%.
• A Cada R$ 1,00 investido em par-
ques eólicos elevou o PIB brasileiro
em cerca de R$ 2,93.
• De 2011 a 2020, a construção dos
parques eólicos criou quase 196 mil
postos de trabalho ou 10,7 empregos
por MW instalado.
Revista NORDESTE 49
 DIRETO DE LISBOA
Negócios e Intercâmbio
Rui Coelho
ruicoelho@6graus.pt
É EXECUTIVO DE POLITICAS PÚBLICAS E PRIVADAS
O Papa Francisco em Lisboa
Foto: Rui Ochoa (Presidência da República)
A Jornada Mundial da Juventude, que decorreu de 1 a 6 de
Agosto em Lisboa, foi um grande sucesso. A cidade encheu-
-se com mais de um milhão de jovens e alegres peregrinos
que, de todo o mundo, vieram ouvir e celebrar as palavras
do Papa Francisco.
Havia receios de que Lisboa, uma cidade com cerca de
550.000 habitantes (três milhões na área metropolitana) e
muitos turistas, onde os transportes e outros serviços públi-
cos, por vezes, não dão a melhor resposta à procura, ficas-
se, não católica, mas caótica... Ainda para mais quando se
anunciavam greves das polícias, dos comboios e de outros
serviços que, cada vez mais, aproveitam os eventos de grande
dimensão para chamar a atenção para os seus problemas. E
o receio era ainda maior quanto a juntar um milhão e meio
de pessoas num evento entre o Rio Trancão e o Rio Tejo,
debaixo do calor tórrido de Agosto.
Muitos Lisboetas saíram da cidade para fugir à presu-
mível confusão do evento e outros apenas porque era o
início das férias. Felizmente não houve problemas de maior,
nem de segurança nem de mobilidade e, para surpresa de
muitos, o evento despertou emoções mesmo de quem, não
sendo católico, não ficou imune à visão das multidões de
jovens crentes inundando a cidade e, principalmente, aos
apelos do Papa.
Este Papa, Francisco, é a personificação do Bem. O Papa
50 Revista NORDESTE Agosto/2023
do perdão e da inclusão. O Papa que veio pedir perdão, pes-
soalmente e em nome da igreja, às vítimas de abusos sexuais,
falando com cada uma, sem pressas, e que declarou que a
Igreja é de “todos, todos, todos”.
O Papa fez várias intervenções deixando muitas mensagens
importantes. Entre elas, disse aos jovens para não terem medo
e alertou-os para as ilusões e os perigos do mundo virtual e
das redes sociais, mas talvez a mensagem mais forte que nos
deixou tenha sido a de que “o único momento em que é lícito
olhar uma pessoa de cima é para a ajudar a levantar-se”. Num
mundo inundado por conflitos e intolerância só por esta men-
sagem já teria valido a pena. Procuremos todos, católicos ou
não, seguir os ensinamentos do Papa Francisco!
Foto: Rui Coelho
A POLÍTICA DOS EVENTOS
Depois de terem organizado tudo à pressa, com dis-
cussões públicas sobre quem eram os responsáveis pela
implementação do projecto e custos muito para além do
razoável devido à urgência (um evento que estava marcado
há anos…), de terem justificado que o investimento era in-
significante face ao acréscimo de receitas do Turismo, (que
terão sido muito menores do que o que esperavam, pois,
muitos peregrinos foram acolhidos por famílias e institui-
ções e o evento afastou os normais turistas de Lisboa), os
políticos portugueses estavam radiantes…
É uma pena que estes políticos não dediquem a energia, o
foco e os recursos que investem nestes eventos para resolver
os problemas graves e estruturais da população.
Para os eventos há uma data, gasta-se o que for preciso e
faz-se o que for preciso (nem é necessário cumprir as leis)
para resolver os problemas surjam – é uma missão nacional
e vale tudo para não fazer má figura perante os estrangeiros,
e assegurar que são cumpridos os compromissos assumidos
pelo país (pelos políticos…).
Já para a habitação, saúde, transportes públicos, seguran-
ça, pobreza extrema de alguns, não há urgência, não há pra-
zos, não há missão, não há dinheiro, não há vontade. Vai-se
fazendo sim, mas pouco e devagar… Não há compromissos
com estrangeiros… e, portanto, muitos continuam a dormir
na rua e a passar mal…
Aprendam com os eventos: Ponham uma data ambiciosa
à frente do objectivo; assumam-no frontal e publicamente;
tratem-no como uma emergência, que de facto é; criem
uma equipa competente; removam os obstáculos “legais”;
e atinjam o objectivo.
E depois repitam com outro problema…
Para já, para a cidade, para além de alguns momentos
maravilhosos, fica um parque com muito poucas árvores,
um palco grande de mais e uma ponte pedonal sobre o rio
Trancão.
DE OLHÃO AO BRASIL
Agosto é mês de férias em Portugal e, para muitos por-
tugueses, que podem tirar férias, o destino é a região do
Algarve.
Nós temos a sorte de poder passar uma semana em
Olhão, uma cidade no coração da Ria Formosa, que tem
uma história muito interessante com ligação ao Brasil.
Em 27 de Novembro de 1807 a família real portuguesa
parte de Lisboa para o Brasil, para fugir aos exércitos de
Napoleão, deixando instruções para o Povo não resistir
ao exército invasor, que se julgava invencível, para evitar
a perca de vidas.
Quando, cinco meses depois de chegar a Lisboa, o exérci-
to francês chega a Olhão, como todos os exércitos invasores
que proclamam trazer a liberdade… começaram os abusos,
os roubos, os maus-tratos e os aumentos de impostos, a uma
população que vivia principalmente da pesca…
A revolta foi crescendo e explode cerca de dois meses
depois: homens, mulheres, rapazes, raparigas e até alguns
padres, pegam nas poucas armas que tinham e expulsam o
exército invasor. A revolta alastra-se rapidamente à vizinha
cidade de Faro e depois ao resto do Algarve, que se liberta
totalmente dos invasores dez dias depois.
Dezassete pescadores de Olhão decidem levar a boa nova
da libertação do Algarve ao príncipe D. João e fazem-se ao
mar, no dia 7 de Julho, num barco de 18 metros chamado
Bom Sucesso (hoje existe uma réplica desse barco junto ao
Mercado de Olhão – na foto), chegando ao Rio de Janeiro
76 dias depois. São recebidos por D. João que, entre muitas
felicitações e honrarias, eleva Olhão a vila e designando-a
de Vila de Olhão da Restauração.
PRATA COM SABOR A OURO
Diogo Ribeiro é órfão de pai desde os quatro anos. Co-
meçou muito novo a praticar natação, desporto em que
se revelou um prodígio tendo vencido uma medalha de
prata nos Europeus Júnior, aos 16 anos. Uns dias depois
o nadador teve um acidente de mota, perdeu parte de um
dedo, fraturou um pé, deslocou um ombro e fez hematomas
pelo corpo todo. Pensou que a sua carreia de desportista
tinha acabado….
Recuperou e mudou-se de Coimbra para Lisboa onde
passou a treinar no Benfica sob a orientação do seleciona-
dor nacional, o luso-brasileiro Alberto Silva.
Recentemente obteve o melhor resultado de sempre de
um nadador português num mundial de natação e a primei-
ra medalha (Prata) nos 50 metros mariposa em Fukuoka.
É considerado um exemplo para as gerações mais jovens
por ter conseguido vencer grandes dificuldades e por con-
ciliar a alta competição com os estudos.
O MUNDO DEPENDE DO BRASIL
O Mundo está a aquecer cada vez mais. Hoje o termó-
metro do nosso carro, no interior do Algarve, assinalava
47 graus (foto). Todas as desgraças ambientais que vão
ocorrendo um pouco por todo o lado são prova disso.
Dizem que ainda não passámos o ponto de não retor-
no… espero que seja verdade.
Os países desenvolvidos investem cada vez mais em
energias alternativas e outras soluções tecnológicas e
fecham as maiores fontes de poluição, como as centrais
a carvão. Mas têm de fazer muito mais. E a guerra na
Ucrânia não ajuda nada…
Mas a grande floresta Amazónica é certamente uma
das chaves do problema. Se conseguirmos suster a sua
devastação talvez consigamos sobreviver, mas se conti-
nuarmos o ritmo de desmatação e matarmos o pulmão
do planeta, é o fim. Para todos. Brasil incluído…
O Brasil tem todo o direito de exigir e receber apoio
internacional para a preservação da Amazónia, mas deve
começar por protege-la até para ter poder negocial.
Acorda Brasil antes que seja tarde de mais…
Agosto/2023 Revista NORDESTE 51
 O BRASIL VISTO DE PORTUGAL GRANDE TESTE
Atualidade & Futuro
César Rocha
cesar@wcomportugal.com
É JORNALISTA E SÓCIO DA CAISNOVO ESTRATÉGIA E CONTEÚDO.

Três anos de tensão em Portugal

Os sinais estão por toda parte e
apontam para um período relativa-
mente longo de instabilidade, turbu-
lências e tensões entre os portugue-
ses, mas sobretudo entre setores da
sociedade portuguesa e a crescente
comunidade brasileira no país. Entre
setembro deste ano e setembro de
2026 teremos seis processos eleitorais
para escolha dos dirigentes portugue-
ses em todos os níveis.
Serão disputas com muita emoção Maior expectativa há em relação às eleições para
em jogo. De um modo geral, os por- o parlamento europeu. Serão o teste maior do novo
tugueses empobreceram por causa da
inflação e da alta dos juros, frutos de
líder do PSD, Luís Montenegro, para as eleições se- SUCESSÃO DE MARCELO
guintes das autarquias locais, que são as prefeituras,
uma conjunção terrível de pandemia, base de todo o sistema político-partidário.
guerra e subida dos combustíveis. Ao
mesmo tempo em que empobrecem,
há uma elevação surpreendente de
fluxos migratórios para o país. Levas
E OS RADICAIS?
enormes de estrangeiros que chegam Marcelo conduziu o país nos últimos anos sem sobressal-
para trabalhar, para investir, para comprar imóveis e abrir mento da população local, falta de oportunidades e chegada tos, nutrindo uma relação de muito afeto com os socialis-
as portas da Europa. de estrangeiros. Como isso vai se refletir nas eleições, ainda tas. Tem força para eleger o sucessor. O problema é que a
Nas escolas, por exemplo, faltam vagas para muitas não se sabe. Mas de certeza temos um enfraquecimento dos extrema direita, comandada pelo Chega e André Ventura,
crianças, mas 16% das inscrições para o pré-escolar e 1º setores partidários mais moderados. Estes não conseguem saiu do zero para a terceira maior força política de Portugal
Ciclo já são de estrangeiros; 30 mil inscrições, das quais dar respostas à altura dos problemas. em menos de três anos. E ninguém sabe como chegará. Mas antes das eleições à Assembleia da República, que
metade de brasileiros. É assim em praticamente todas as poderão manter os socialistas no poder ou levar Monte-
áreas. Novos alunos que chegam, milhares de portugueses negro e o PSD ao governo, haverá no início de 2026 a
que foram embora por causa da crise, e o resultado disso PRIMEIRO VOTO sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da
são tensões entre nativos e estrangeiros. O calendário eleitoral mais forte em Por- República (PSD).
A ordem dos advogados portugueses tinha convênio tugal começa agora em setembro, com a
com a OAB brasileira, mas rompeu. Portugal está cheia
de advogados do Brasil. Com a falta de médicos no SNS
eleição do governo da região autônoma SEGUNDA FASE
da Ilha da Madeira. O governo so-
(Sistema Nacional de Saúde), o governo luso decidiu abrir cial-democrata deve ser reeleito, Se o PSD conseguir se firmar na disputa pelo PE e pe-
vagas para médicos brasileiros. Resultado: protestos da di- mas há dúvidas sobre o tamanho las Câmaras Municipais (prefeituras), credencia-se com
reita e extrema direita, indignada. a ser conquistado pela extrema força para chegar à chefia do executivo nacional, que é a
As manipulações politicas fazem crescer a direita mais direita. função de primeiro-ministro e a maioria da Assembleia
reacionária, associando de maneira distorcida empobreci- da República.

52 Revista NORDESTE Agosto/2023 Fotos: Divulgação Agosto/2023 Revista NORDESTE 53

 PARAÍBA
DE FUTURO
PBGÁS investe em construção de redes de gasodutos
e chegará ao Polo Turístico Cabo Branco e Cabedelo
O
governo da Paraíba, por meio da Compa-
nhia Paraibana de Gás (PBGÁS), investirá
R$ 58,6 milhões em ampliação de rede de
gás canalizado, segurança e conexão de no-
vos clientes até 2026. Esse é o foco da PB-
GÁS para fornecer infraestrutura energética para áreas
estratégicas e polos de desenvolvimento no Estado.
Dentre os projetos prioritários da PBGÁS estão a
construção de gasoduto para o Polo Turístico Cabo
Branco, projeto do governo do Estado que após muitos
anos começa a se tornar realidade. As obras previstas
para o primeiro semestre de 2024 será iniciada com a
construção de 15 km de rede, saindo da Avenida Hil-
don Souto Maior, nas proximidades do Mangabeira
Shopping, até a área em que resorts e parques aquáticos
que estão sendo construídos. Os investimentos serão
de R$ 8,7 milhões.
Já no 2º semestre de 2024 está prevista a construção
do gasoduto Cabedelo, incluindo Intermares, Ponta de
Campina, Poço, Camboinha, Formosa até o Porto de
Cabedelo, com a ligação do Moinho Dias Branco, cujo
contrato com a PBGÁS foi assinado em julho deste
ano. No projeto Cabedelo serão investidos R$ 7 mi-
lhões para construção de 19 km de rede de gasodutos.
Neste mês de agosto, em que a cidade de João Pes-
soa completou 438 anos, a PBGÁS chegou com o gás
natural aos bairros do Centro e Tambiá, ampliando sua
rede de distribuição na Capital do Estado. As obras de
ampliação da rede de gás possibilitarão a interligação
de restaurantes, hospitais e do Shopping Tambiá ao
gás natural.
Foram mais 2 km de rede de gasodutos em dois dos
bairros mais tradicionais da Capital paraibana. As obras
54 Revista NORDESTE Agosto/2023
Presidente Jailson
Galvão prevê
resultados muito
acima da média
Vetor: Freepik.com
Foto: Divulgação
incluíram o trecho, que parte do início da avenida Epitácio
Pessoa (próximo ao colégio Lourdinas), passando pela Praça
da Independência, avenida Odon Bezerra até o Shopping
Tambiá, que ganhou um ramal para fornecimento de gás
para atender aos restaurantes da Praça de Alimentação.
O diretor-presidente da PBGás, Jailson Galvão, in-
formou que este ano mais de R$ 7 milhões estão sendo
investidos na ampliação de mais 12 km de rede de gás em
João Pessoa e mais 4 km em Campina Grande. “Estaremos
levando a infraestutura de gás canalizado para áreas estra-
tégicas, possibilitando que restaurantes, hospitais, prédios
e clientes com alto volume de consumo como shoppings,
PUBLIEDITORIAL
REDE DE GÁS EM JOÃO PESSOA
A rede de gasodutos de 363 km está distribuída em 16
municípios (João Pessoa, Campina Grande, Cabedelo,
Conde, Alhandra, Santa Rita, Bayeux, Mamanguape,
Queimadas, Ingá, Caldas Brandão (Cajá), São Miguel de
Taipú, Gurinhém, Sobrado, Mogeiro e Pedras de Fogo).
• Em João Pessoa, o gás canalizado está presente em
19 bairros da Capital Aeroclube, Manaíra, Tambaú, Cabo
Branco, Altiplano, Miramar, Brisamar, Tambauzinho, Torre,
Jardim Oceania, Bessa, Bancários, Bairro dos Estados,
Distrito Industrial, João Agripino, Pedro Gondim, Jardim
Veneza, Tambiá e Centro.
• Em Campina Grande, a rede contempla o bairro do Catolé,
Sandra Cavalcanti, Liberdade, Itararé, Quarenta, Bodocongó,
Distrito Industrial. O Condomínio Aluísio Campos e Centro
também ganharão rede de gás ainda este ano.
Foto: Divulgação
possam usufruir das vantagens como fornecimento
contínuo e sem a necessidade de abastecimento por
caminhões, segurança, economia e o respeito ao meio
ambiente”, frisou.
Jailson ressaltou que está dentro da estratégia da
companhia levar infraestrutura energética aos polos
de desenvolvimento do governo do Estado, a exemplo
de polos industriais e do Polo Turístico Cabo Branco,
que ganhará resorts e parques aquáticos com grande
capacidade de consumo de gás canalizado.
O diretor Técnico Comercial da PBGÁS, Fábio
Mariz Maia, informou que as obras de ampliação de
rede estão sendo realizadas com uso de equipamentos
modernos, como máquinas de furo direcional que re-
duzem significativamente os danos nas ruas e avenidas
e os transtornos como o trânsito, já que inclui áreas de
grande fluxo de veículos. Ele acrescentou que as obras
de extensão de rede estão concentradas neste momento
nos bairros do Bessa, Altiplano, Tambiá e Centro e no
Centro de Campina Grande atendendo aos mercados
residencial e comercial.
Agosto/2023 Revista NORDESTE 55
Economia

NOVO TEMPO
A CONSOLIDAR
BANCO BRASÍLIA
BRB amplia rede no Nordeste e agora já
atende prefeitura de João Pessoa

O
BRB passa a gerir, a partir
do pagamento de agosto,
a folha de pagamento dos
mais de 33 mil servidores
da Prefeitura de João Pessoa. O Banco
chegou oficialmente à capital paraiba-
na no mês passado e já ocupa posição
de destaque em financiamento imobi-
liário na região.
O BRB é um Banco completo, tem
7,8 milhões de clientes e já está inse-
rido no dia a dia da capital da Paraí-
ba, tanto por meio de financiamento
imobiliário quanto por meio de fi-
nanciamento de obras importantes de BRB expande estrutura no Nordeste e
infraestrutura de João Pessoa.
“Estamos felizes em passar a gerir a
passa a gerir folha de pagamento dos
folha de pagamento dos servidores da servidores da Prefeitura de João Pessoa
Prefeitura de João Pessoa, capital de
um dos mais importantes Estados do
Nordeste. Vamos trabalhar para ofere-
cer as melhores condições e colaborar

Prefeito de João Pessoa

e presidente do BRB
consolidam nova fase

com o desenvolvimento econômico,
social e humano local”, afirma o presi-
dente do BRB, Paulo Henrique Costa.
TAMANHO DA ESTRUTURA
Atualmente, o BRB está presente
em 39 países e 93% de todo o territó-
rio nacional, seja por meio de atendi-
mento físico e ou digital.
Em João Pessoa, o Banco terá 9
agências, 4 já em funcionamento. Na
próxima segunda-feira (21), o BRB
vai divulgar um calendário especial de
atendimento para todos os servidores
ativos, aposentados e pensionistas.
Os clientes da capital paraibana terão
à disposição condições diferenciadas
de mercado em taxas e serviços, e um
vasto portfólio de produtos, que inclui
crédito pessoal pré-aprovado, crédito
consignado, financiamento imobiliá-
rio, além de diversas opções de seguri-
dade, cartões e previdência. Os novos
correntistas terão, ainda, isenção de
tarifas do pacote de serviços e da anu-
idade do cartão de crédito.
Para saber mais informações sobre
o BRB em João Pessoa, acesse
joaopessoa.brb.com.br.
Outros canais disponíveis para
atendimento são o internet banking
(brbbanknet.brb.com.br/), a central
telefônica 0800613030, opção 8, e
ainda o número 4000-2215

56 Revista NORDESTE Agosto/2023 Fotos: Divulgação Agosto/2023 Revista NORDESTE 57

Cultura
UMA OUTRA
LEITURA DA
HISTÓRIA
Estudioso afirma: Primeiros político, diplomata, chefe
religioso e heroína do Nordeste eram indígenas e foram
quase todos omitidos pela historiografia oficial
Por ADEMILSON JOSÉ
Q
uem pensa que os primeiros
políticos e diplomatas do
Nordeste usavam gravatas,
que os primeiros chefes re-
ligiosos usavam batinas e que a pri-
meira heroína da região vestia longo
e calçava sapato alto, está completa-
mente enganado. As primeiras auto-
ridades invasoras realmente usavam
esses argumentos e coisas, mas, junta-
mente com elas, o Nordeste também
teve autoridades que eram nativas, que
pintavam o rosto e que não relaxavam
o cocá.
Fazendo um ajuntamento ligeiro,
relacionamos facilmente mais de vin-
te entre Pernambuco, Paraíba e Rio
Grande do Norte, e isso, claro, falando
somente dos dois primeiros séculos do
Brasil Colonial. E para resumir uma
boa amostragem de alguns deles, A
REVISTA NORDESTE preparou
esta matéria, uma espécie de home-
nagem ao Dia dos Povos Originários
comemorado no dia 9 de agosto. Veja!
A TRAGÉDIA DO 1º POLÍTICO
EM PERNAMBUCO
A Paraíba oficial começou no dia 5
58 Revista NORDESTE Agosto/2023
de agosto de 1585 e, pela lógica insti-
tucional e dos registros históricos, teve
o primeiro governador João Tavares
como seu primeiro político. Mas antes
dele, no entanto, foi um indígena poti-
guara paraibano da Serra da Copaoba
(hoje município de Serra da Raiz, a
94nkm de João Pessoa) quem, em
confronto com portugueses instalados
em Pernambuco, agiu e se destacou
como primeiro político paraibano.
É que, antes de comandar a tropa
potiguara/francesa que provocou a
conhecida Tragédia de Tracunhaém
em 1574, Iniguaçú primeiro se dirigiu
à Olinda para conversar com o Go-
vernador Geral que se encontrava em
Pernambuco e, com ele, tratar do res-
gate de sua filha, Iratembé, sequestra-
da pelo cristão novo Diogo Dias, dono
do engenho que deu nome à tragédia.
“Apesar de ser um silvícola, Ini-
guaçú, da Serra da Copaobaagia de
forma mais civilizada do que mui-
tos homens civilizados do seu tem-
po”, afirma Gusto Oliveira, autor da
plaquete “Iniguaçu e a Tragédia de
Tracunhaém”, registro literário com
Foto: Divulgação
informações compartilhadas da His-
tória do Brasil, de Frei Vicente de Sal-
vador, e de pesquisas de Luiz Gonzaga
de Oliveira, autor de livros que tratam
das origens da cidade de Serra da Raiz.
Gusto Oliveira lembra que, como
Foto: freepik.com
nos comandos das capita-
nias só existiam europeus
(portugueses, principal-
mente) ou descendentes, o
nativo Iniguaçú foi mes-
mo o primeiro paraibano a,
além da condição de caci-
que e guerreiro, agir como
político em várias situações.
“É verdade que não con-
seguiu resolver à base da
negociação e da política,
INIGUAÇÚ - o paraibano que comandou a Tragédia de
Tracunhaém em Pernambuco e que é estátua e nome da
principal praça da cidade de Serra da Raiz
Agosto/2023
mas tentou”, observa Gusto Oliveira,
ao explicar que Iniguaçú só não resol-
veu porque, como o Governo Geral
estava se renovando entre Antônio
Salema e Luiz de Brito, houve prote-
lação na solução e, consequentemente,
a tragédia que terminou com mais
de 600 mortos, entre eles, o dono e
até mesmo empregados e escravos do
engenho.
Iniguaçu resgatou a filha e, junta-
mente com os aliados franceses, re-
tornou à vida normal na Serra da Co-
paoba, mas, em Lisboa, a repercussão
continuou. Irritado com a demora
que as tropas portuguesas estavam
levando para dominar os potiguara (as
tentativas vinham
desde 1534), Dom Sebastião (Rei
de Portugal) assinou decreto criando
a capitania da Paraíba, mesmo que
a conquista e ocupação só viessem a
ocorrer de fato onze anos depois, em
5 de agosto de 1585.
Como os personagens indígenas
eram bem menos registrados pelos
escribas dos colonizadores e, conse-
quentemente, pelos historiadores, Ini-
guaçú (rede grande, em tupi) termi-
nou na condição de ilustre desconhe-
cido da História do Brasil, até hoje,
inclusive, sem ao menos uma biografia
que estabeleça garantia sobre datas
precisas de nascimento e morte.
Em todo caso, devido aos resgates
mais recentes da Tragédia de Tracu-
nhaém, Iniguaçú virou estátua e dá
nome à principal praça pública de
Serra da Raiz, o mesmo ocorrendo
com sua filha, Iratembé (lábios de
mel), que vai dar nome a um parque
que está sendo construído no centro
da cidade.
Ademilson José é jornalista, formado
em Filosofia pela UFPB e membro do
Grupo de Pesquisa em História do Bra-
sil-holandês do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico do Estado da Paraíba
(IPHAEP)
Revista NORDESTE 59
PIRAGIBE E AS “ORGANIZAÇÕES
TABAJARAS”
D
epois de criarem as Capitanias
de Pernambuco e Itamaracá em
1534, os portugueses bem que
tentaram sequenciar e, naquele mes-
mo ano,já fundarem também a da
Paraíba, mas não conseguiram, não.
Comeram o pão que o diabo amassou
com a resistência dos indígenas poti-
guara concentrados em Cabedelo. Ti-
veram quatro expedições derrotadas
e a conquista só acabou acontecendo
mesmo 51 anos depois, em 5 de agosto
de 1585, e graças a ajuda dos índios
Tabajara que, à época, eram chefiados
pelo pernambucano Piragibe (braço
de peixe, em tupi).
Hoje homenageado com um mo-
numento no bairro da Ilha do Bispo
em João Pessoa, Piragibe nasceu no
período em que seu povo (meio nô-
made) vivia no litoral pernambucano,
quando inclusive chegou a manter
boa convivência com os portugueses
na criação daquela capitania. Como
não aceitavam ser escravizados, os
Tabajara entraram em conflito com
os lusitanos, abandonaram a região e
foram viver no Vale do São Francisco.
Por volta de 1570, eles novamente
se movimentaram e vieram viver às
margens do Rio Paraíba, especial-
mente nas imediações dos municí-
pios de Pilar, Espirito Santo e Santa
Rita. Aqui, acabaram reencontrando
os portugueses que, por volta de 1580,
passavam a fazer investidas de con-
quista da Paraíba pelo interior, pelo
rio, e não mais pelo mar, por Cabede-
lo onde suas expedições eram sempre
derrotadas.
Por esse período, Piragibe já era o
chefe tabajara, a quem os portugueses
procuraram para propor um tratado
de paz que os ajudasse a vencer os
potiguara da Paraíba. Como também
60 Revista NORDESTE Agosto/2023
CASAL CAMARÃO (Felipe e
Clara) do Rio Grande do Norte
comandavam os índios e as
índias contra os holandeses
viviam de atritos com os potiguara-
por ocupações de espaços, os tabajara
aceitaram e o acordo se deu no dia 5
de agosto de 1585 (data que se tor-
nou oficial da fundação do Estado),
às margens do Sanhauá, onde existe
hoje o momento em homenagem a
Piragibe. Quem conta a história é o
vencedor e, como nesse caso, sempre
conta errado porque, como se ver, a
conquista da Paraíba não foi mérito
somente dos portuguesese/ou espa-
nhóis (vivia-se o período Ibérico).
Foi fruto também da negociação e
da habilidade política de Piragibe, o
chefe tabajara natural de Pernambuco.
Isso para os invasores porque, para os
nativos potiguara, tudo não passou
deuma baita traição das “organizações
tabajaras” comandadas por Piragibe.
UM CASAL CAMARÃO
BEM ANTI-HOLANDÊS
Entre os indígenas do nordeste
brasileiro, ninguém deu mais traba-
lho a Maurício de Nassau e ao Bra-
PIRAGIBE - o pernambucano que o chamado Brasil-holandês já
que se aliou aos se estendia do estado de Sergipe aos
portugueses para vencer os confins do Maranhão.
potiguara e fundar a Paraíba Relatos disso podem ser conferidos
nos livros “Tempo dos Flamengos”,
de José Gonsalves de Mello, e “Igre-
sil-holandês do que o Por seu heroísmo, Clara também ja e Estado no Brasil Holandês”, de
casal, Felipe e Clara foi agraciada com o hábito de Cristo Frans Leonardo Schalkwijk. Quase
Camarão. Como atua- e também recebeu o título de “Dom”, todos os demais pesquisadores daque-
vam do lado português, concedido por Felipe IV, da Espanha. le período também tratam do assunto,
tornou-seo casal indí- Todos os anos, as mulheres que se sen- inclusive Horácio de Almeida, autor
gena mais conhecido tem herdeiras repetem homenagens às do melhor relato sobre as condições
do Brasil colonial e até guerreiras de Clara e do Tejucupapo. que Poti retornou da Holanda, para
chegou a ter naturali- onde foi levado com outros potiguara
dade disputada entre O CHEFE RELIGIOSO em 1625 e de onde voltou em 1630.
Paraíba e Pernambuco. QUE FALAVA TUPI Diz Horácio na página 170 do seu
Confirmou-se depois Os dois primeiros séculos de co- livro “História da Paraíba”: “Pedro Poti,
que tanto ele quanto lonização foram marcados pela pre- natural da Baía da Traição, esteve na
ela nasceram mesmo na sença de vários religiosos que ficaram Holanda, tendo recebido aprimorada
Aldeia Velha Igapó, às conhecidos na história do Brasil - educação, tanto no conhecimento da
margens do rio Potengi, basta citar os jesuítas José Anchieta e língua que falava e escrevia corretamen-
no Rio Grande do Norte. Manoel da Nóbrega te, quanto da religião
Filho de Potiguaçu, Felipe Cama- prestados pelo bravo índio, o rei Fili- -, mas como todos reformada da qual
rão foi educado pelos jesuítas, conhe- pe de Espanha e Portugal agraciou-o eram europeus ou se tornou fervoroso
cia o latim e falava fluentemente o com o hábito de Cristo, o título de descendentes, o pri- adepto. Retornando
holandês. Assim que estes invasores “Dom’’, além ainda da patente de ca- meiro paraibano a se ao Brasil, prestou re-
desembarcaram em Pernambuco, ele pitão-mor de todos os índios da costa tornar chefe religioso levantes serviços aos
apresentou-se a Matias Albuquer- do Brasil, desde o Rio São Francisco foi Pedro Poti, pena holandeses e foi, mais
que para lutar. Logo quando Olinda até as costas do Maranhão. que como os demais tarde, na célebre as-
foi invadida pelos holandeses (1630) A HEROÍNA -Vítima de febre indígenas que eram sembleia de Tapessi-
como daí em diante. Lutava a pon- maligna, Camarão morreu durante a inimigos dos por- rica, eleito pregador
to de assombrar os adversários. Em I Batalha dos Guararapes emfevereiro tugueses, terminou dos índios (...) A cor-
1636, assustado com Camarão, o go- de 1648. Sua mulher, Clara, não dei- completamente omi- respondência trocada
verno holandês mandou contra ele o xava por menos. Segundo o livro “O tido pela historiogra- entre Pedro Poti e Fe-
general Arrichofsk. Travou-se ferre- Valeroso Lucideno“, do frei Manoel fia oficial. lipe Camarão, escrita
nha peleja que terminou com a reti- Calado que presenciou as batalhas Nascido em 1608 em tupi e vertida na
rada do estrangeiro. luso-holandesas, ela mostrou sua bra- na Baía da Traição e época para o holan-
Em 1637, ao lado do preto Henri- vurasobretudo na batalha de Porto primo de Felipe Ca- dês, revela excelente
que Dias, também viveu encarniçado Calvo em 18 de fevereiro de 1637 marão, Poti não foi nível cultural, com-
combate contra cinco mil holandeses quando, montada no seu cavalo e de somente o primei- preendendo inclusi-
comandados pelo próprio conde de espada em punho, incitava às mulhe- ro brasileiro nato a ve as ideias de Pátria,
Nassau, em Porto Calvo, sem vencido res indígenas. ser missionáriocal- religião e liberdade”.
nem vencedores. Em 1638, dirigiu Em 1648, ela vivia em Tejucupa- vinista potiguara. PEDRO POTI da Baía da Poti foi preso na II
Traição foi o primeiro
uma guerrilha na Bahia e tomou parte po, perto do Recife,onde as mulheres Também foi chefe Indígena missionário e Batalha dos Guarara-
na defesa de Salvador sitiada e atacada conquistaram o tratamento de heroí- religioso na Aldeia chefe religioso calvinista no pes em 1649 e, como
pelos soldados de Nassau. Auxiliou na nas por terem, com suas armas, repeli- de Mussurepe, per- Brasil-holandês não aceitava mudar
insurreição pernambucana de 1645 do cerca 600 holandeses que recuaram to do Recife, e elei- de religião, foi tor-
e em 1648 cobria-se de glórias ao derrotados.As comandadas de Clara to Regente-mor dos turado durante três
lado do paraibano André Vidal de usaram paus, panelas, água fervente, índios brasileiros. A função era reco- anos e deportado em 1652 para ser
Negreiros. pimenta e tudo que tinham em mãos nhecida e remunerada pelo Governo julgado em Lisboa, onde não se tem
Em reconhecimento aos serviços contra as tropas de Nassau. de Maurício de Nassau, numa época notícia de ter chegado.
Fotos: Divulgação Agosto/2023 Revista NORDESTE 61
O PRIMEIRO DIPLOMATA
DO NORDESTE
O
ficialmente, o Brasil-holan-
dês só acabou em 1654, mas
logo depois da II Batalha dos
Guararapes e da prisão de Pedro Poti
em 1649, os holandeses começaram a
deixar o norte/nordeste do país e os
indígenas do litoral de Pernambuco,
Paraíba e Rio Grande do Norte que
haviam se tornado calvinistas ficaram
num mato sem cachorro.
Quem (re)abraçasse a religião do
Papa era perdoado, mas, quem não
aceitasse isso era perseguido e mal-
tratado. Como é na hora de crise que
sempre surgem os grandes líderes, foi
aí que surgiu Antônio Paraupaba, ou-
tro potiguara paraibano que também
estava entre os indígenas levados pelos
holandeses da Baía da Traição para
Amsterdã em 1625.
Para tirar seu povo do jugo lusitano,
Paraupaba levou os índios calvinistas
(mais de 2 mil) para a Serra de Ibia-
paba, no sertão do Ceará. Os relatos
disso estão detalhados nas teses de
mestrado e doutorado da professora
cearense, Francisca Jaquelini de Sou-
za Viração. Mas o grande feito desse
outro potiguara não foi político e nem
precisamente religioso.
Como vivia-se um período de saídas
de muitas embarcações holandesas do
litoral do norte/nordeste, com a mu-
lher e os filhos, ele embarcou numa
delas, desta vez para exercer um papel
de verdadeiro diplomata, isso num
período (meados do século 17) que
esse tipo de função ainda demoraria
muito a existir formalmente no Brasil.
É, porque, além das inúmeras visitas
que fez à Companhia das Índias Oci-
dentais, Paraupaba preparou um docu-
mento epelo menos por duas vezes fa-
lou no parlamento holandês em defesa
dos índios calvinistas que os holandeses
62 Revista NORDESTE Agosto/2023
haviam abandonado no Brasil. E o seu
pedido de ajuda, segundo a professora “HISTÓRIA DE MÃOS
Jaquelini de Souza, é interessantíssimo
porque ele tenta convencer os Estados BRANCAS”
Gerais Holandeses de que ajudar os Mas quase todos esses
índios era uma obrigação holandesa. personagens não foram omitidos
“Como irmãos de fé e membros pela História à toa não. Os escribas
portugueses - e a história que
convertidos da Igreja Reformada Ho- bebeu na fonte deles - davam pouca
landesa, os índios são súditos do Rei importância aos povos originários
da Holanda e não do Rei de Portugal”, (inclusive aos seus líderes) e
afirmava Paraupaba, dando provas de preferiam destacar o “triunfalismo”
conhecedor do entrelaçamento legal dos europeus. As exceções são
igreja/estado que à época predomi- raras e se limitam a alguns
indígenas que não eram inimigos
nava na Holanda. E sem esquecer a como foi o caso de Felipe Camarão.
questão da terra: “Com a restaura- A história é contada pelos
ção, os índios podiam ser acusados de vencedores e como disse Breno
duplamente criminosos, pois já que (o líder Celta, quando venceu
todas as terras voltavam novamente os romanos e se negou a dividir
barras de ouro): “Ai dos vencidos!”.
para orei dePortugal, juridicamente A história não é feita somente de
falando, eles não teriam mais terra lutas e sangue. É feita também
nenhuma”, resume Jaquelini de Sousa. de discriminação, preconceito de
Depois da segunda viagem fazendo raça e tudo isso junto. É como já
essas tentativas, Paraupaba morreu em disse o antropólogo paraibano/
1657 na Holanda e sua esposa, Pau- pernambucano com quase três
décadas de morada na Alemanha,
lina, recebeu uma pensão vitalícia dos Carlos Alberto Azevedo:
Estados Gerais e permaneceu na Ho- “A verdade é que, infelizmente,
landa. O que aconteceu com ela e com nós temos uma história de mãos
seus filhos depois disso não se sabe, brancas”.
mas como os holandeses não voltaram
nem atenderam aos apelos diplomáti-
cos de Paraupaba, os milhares de indí-
genas calvinistas refugiados no sertão
do Ceará terminaram se dispersando
na chamada “Guerra dos Bárbaros”,
nome que foi dado aos conflitos da
interiorização da colonização portu-
guesa, no final do século 17.
Como o pai ( Joaquim) era cearense,
Foto: Divulgação
Antônio Paraupaba já chegou a ter
sua naturalidade questionada. O fato,
no entanto, é que, em 1625, vivia na
Baía da Traição quando, ao lado de CARLOS AZEVEDO é o antropólogo
Pedro Poti e de outros potiguara, foi sem papas na língua que tem a
história como preconceituosa e de
levado pelos holandeses e educado em "mãos brancas
Amsterdã.
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