CONTEMPORÂNEA RICHARD SENNETT E O DECLÍNIO DO HOMEM PÚBLICO 08 DE MAIO DE 2021
DRA. MONALISA TORRES
M ONA LI S A . TO R RE S @ UE C E . B R P RO FE S S O R A DE T E O RI A P O L Í T I C A ( FAC E D I /UE C E ) P E S Q UI S AD O RA D O L AB O RAT ÓR I O D E E S T U DO S S OB R E E LE I Ç Õ E S , P O LÍ T I C A E M Í D I A ( L E P E M /U FC ) C OLUN I S TA D O B E M D I TO QUAIS AS TRANSFORMAÇÕES PRODUZIDAS PELA MODERNIDADE NO QUE DIZ RESPEITO AO ESPAÇO PÚBLICO E PRIVADO? O DECLÍNIO DO HOMEM PÚBLICO Clássico da Sociologia Contemporânea
• Richard Sennett, professor da London
School of Economics e no Massachusetts Institute of Technology, professor de humanidades na Universidade de Nova York e diretor fundador do Instituto de Humanidades de Nova York • O Declínio do Homem Público: As Tiranias da Intimidade (1974) • aponta contra a personalização da política, a intimidade enquanto mestra da vida e o retraimento de uma cultura cosmopolita em micro-comunidades bairristas. O DECLÍNIO DO HOMEM PÚBLICO
• Os principais males da sociedade, do
narcisismo clínico à apatia política (desdobramento do declínio da vida pública) • Recuperar as razões dessa perda de sentido do espaço público ao longo da história do mundo ocidental • Hipótese: “Multidões de pessoas estão agora preocupadas, mais do que nunca, apenas com as histórias de suas próprias vidas e com suas emoções particulares; esta preocupação tem demonstrado ser mais uma armadilha do que uma libertação” (visão íntima da sociedade) O DECLÍNIO DO HOMEM O objetivo é detectar os PÚBLICO motivos que ocasionaram o surgimento de um espaço público morto.
• "foi a geração nascida após a
Segunda Guerra Mundial que se voltou para dentro de si ao se libertar das repressões sexuais. É nessa mesma geração que se operou a maior parte da destruição O prejuízo de uma confusão física do domínio público” entre vida pública e privada em • Queda do Antigo Regime e que os assuntos pessoais são emergência de uma cultura levados a público, tornando íntimo também o domínio urbana, secular e capitalista público. O DECLÍNIO DO HOMEM Na medida em que alguém, PÚBLICO por exemplo, sente que deve se proteger da vigilância dos outros no âmbito público, por meio de um isolamento silencioso, compensa isso expondo-se para aqueles com quem quer fazer contato. Escritório sem paredes • Os seres humanos precisam Aumentem o contato íntimo manter certa distância da e diminuirão a sociabilidade (todos vigiam-se observação íntima por parte mutuamente). do outro para poderem sentir- se sociáveis. OS MODERNOS LÍDERES CARISMÁTICOS Sennett chega à concepção do que é a sociedade intimista: • As teorias acerca do carisma são visitadas e surpreendidas com novas formulações sobre as relações do carisma de líderes que atacam o sistema por puro ressentimento e do carisma moderno como um indício de "incivilização". • O carisma secular não passa de um Mas o que é comunidade streap-tease psíquico onde "o fato da revelação (sobre a vida íntima do líder incivilizada? carismático) é o que incita: nada de Ela é, basicamente, "um modo de claro ou de concreto (sobre seus ser, mais do que um modo de projetos políticos) é revelado" (p. 330). crer", que se mantém por "paixão interna e retraimento externo" (p. • Esta realidade é reforçada pela 374), isto é, cada comunidade se eletrônica e pelo sistema do estrelato, enxerga como a "verdadeira" essenciais ao carisma incivilizado, que comunidade. torna a comunidade incivilizada. Ex: as bolhas OS SINTOMAS DESSA SOCIEDADE INTIMISTA SÃO DOIS: 1. A ascensão de uma cultura narcísica, em que o político se resigna das ações políticas para embasar-se em sua personalidade, que era entendida como o único referencial que transmitisse credibilidade e legitimidade de sua figura enquanto político. Isso acabou por tornar as pessoas mudas frente á essa política pessoal. A personalidade individual havia triunfado sobre as organizações sociais mais amplas, como as classes. 2. As formações de “comunidades destrutivas”, em que os homens temerosos a construir relações sociais se enclausuram em micro círculos sociais fechados, essa visão de comunidade exclui a possibilidade de se pensar em uma sociedade política ampla, para cerrar os integrantes nesse pequeno circulo indenitário. Somente os indivíduos que compartilham dos mesmos códigos de caráter são vistos com simpatia, isso corrompe com uma política que vise o bem social
“A procura por interesses comuns é destruída pela busca de uma
identidade comum” (SENNETT, 1999: 319) Tal organização comunitária legou dois problemas contemporâneos:
1. As pessoas internas às comunidades passam a compreenderem as
pessoas externas ao grupo como ameaças à integridade desta identidade forjada, ou seja: inimigos 2. Os estreitos os laços de uma pequena comunidade são potencialmente propensos a condicionarem um fratricídio dentro dessa mesma comunidade.
O mundo passara a primar o caráter e a motivação pessoal,
independentemente da ação política. Os indivíduos são estereotipados e tais estereótipos são mistificados a ponto das pessoas acreditarem que “a mascara revela um rosto comum” (SENNETT, 1999: 307).
Motivação pessoal como legitimador do novo político carismático:
Ex: Bolsonaro e sua política de destruição institucional DESDOBRAMENTOS DESSA SOCIEDADE INTIMISTA NO SÉCULO XX • Se formou uma ideologia da intimidade, em que as pessoas crêem que as relações interpessoais íntimas são as formas de resolver os problemas sociais, políticos e psicológicos edificados por uma sociedade moderna e modernista. Nisso provém o credo do poder do amor entre as pessoas, criando expectativas inalcançáveis: de que relações impessoais poderiam gerar significações pessoais. • O campo da política passa a ser abandonado graças á crença na personalidade enquanto signo de credibilidade incontestável, “a personalidade em público [...] levada às últimas consequências, destruía o poder público” (SENNETT, 1999: 319-320). Nessa confusão entre o público e o privado há uma recusa do individuo em participar das decisões públicas, retraindo-se à esfera do intimo, do privado. Nega-se qualquer relação interpessoal com sujeitos estanhos na mesma medida que se hipervalorizam as relações impessoais.