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Resumão

Escolas Literárias
PARTE 8
1. CONTEXTO HISTÓRICO: A publicação da obra A origem das espécies, de Charles Darwin, em 1859, revolucionou a ciência do século XIX, pois revelou que o
ser humano, assim como outras espécies, em estado natural, é o produto de um processo de adaptação e consequente evolução natural. Com isso, a ciência e
a racionalidade ficaram em evidência e passaram a nortear a vida de artistas e intelectuais. Nesse período, a Europa empreendia sua expansão imperialista na
África, Ásia e Oceania, e a ciência era usada para entender e justificar as ações políticas, sendo vista como algo capaz de resolver todos os problemas de uma
sociedade. A partir da segunda metade do século XX, as concepções estéticas que nortearam o ideário romântico começaram a perder espaço. Uma nova
tendência, baseada na trama psicológica e em personagens inspirados na realidade, toma conta da literatura ocidental. Estava inaugurado o Realismo-
Naturalismo. No Brasil, vive-se um período de mudanças econômicas, políticas e sociais, entre as quais se destacam: o enfraquecimento do governo de D.
REALISMO & Pedro II - intensificação dos ideais republicanos; o crescimento da campanha abolicionista; uma economia agrária - concentração da renda nas mãos dos
fazendeiros do açúcar e do café; na década de 80 - comícios e passeatas de intelectuais e estudantes em prol das campanhas abolicionista e republicana; em
NATURAISMO 1888, a Abolição da Escravatura; em 1889, a Proclamação da República; o início do processo de modernização da sociedade brasileira - dinamização da vida
INÍCIO: 1881- Publicação social e cultural, principalmente no Rio de Janeiro, sede do governo; surgimento da iluminação elétrica e do cinema; aumento do número de estradas de ferro;
de O Mulato (de Aluísio chegada de outras religiões, além do Catolicismo - vinda dos anglicanos, metodistas e presbiterianos - fundação das primeiras escolas protestantes, a partir de
Azevedo) e Memórias 1870; clima propício à absorção, pelas artes, das novas ideias vindas da Europa e lá já consolidadas - o liberalismo, o socialismo e as teorias cientificistas.
Póstumas de Brás Cubas
( de Machado de Assis) 2. CARACTERÍSTICAS DO REALISMO: 3. CARACTERÍSTICAS DO NATURALISMO:
 Radicalização do realismo  Temas sociais, obscuros e polêmicos
FIM: 1893 – Publicação Retrata crítica à burguesia e seus valores Oposição aos ideais românticos  Personagens patológicas
 Cientificismo e Determinismo
de Missal e Broquéis, de Personagens comuns e não idealizados Retrato fidedigno da realidade  Foco nos comportamentos humanos
 Positivismo e Darwinismo
Alphonsus Guimaraens  profundidade psicológica das personagens Busca do objetivismo
 Linguagem coloquial, clara/objetiva  Explicação pelas forças da natureza
Temas urbanos, sociais e cotidianos Veracidade e contemporaneidade  Condicionamento social e hereditário
 Descrições minuciosas
Romance documental Linguagem descritiva e detalhada
JOSÉ DE FRANÇA JÚNIOR (1838 – 1890) e ARTHUR
O TEATRO REALISTA, em oposição ao movimento
romântico,  surgiu na Europa e se propagou pelo mundo
durante o século XIX. Em 1855 surge o teatro
realista no Brasil, deixando de lado os dramalhões para
problemas sociais e conflitos

adúltero, a falsidade e o egoísmo humanos. As peças


trazem como personagens os trabalhadores e as pessoas
psicológicos que revelem o cotidiano da sociedade, o amor

mais simples. Nesse período, destacaram-se JOAQUIM

 Visão mecanicista do homem  tipos populares do submundo social


NABATINO GONÇALVES DE AZEVEDO (1855 – 1908).

Arte desinteressada, impassibilidade Foco na classe social dominante  Zoomorfização das personagens
 Romance experimental
 Documentos para retratar a realidade Preferência pela narração  Preferência pela descrição
 Sensualismo e erotismo
Fotografa a realidade – vida real Foco nos aspectos psicológicos  Mundo visto como laboratório
 Didatismo, denúncia social
 Preocupações estéticas  Detém-se nos aspectos degradantes
 Foco nos aspectos
patológicos ,biológicos e sociais  Valorização do instinto: selvageria
 Realismo  Machado de Assis (1839-1908) - foi o principal autor do movimento literário Realismo no Brasil. Entre suas obras destacam-se:  Memórias
Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires..
 Aluísio Azevedo (1857-1913) - a publicação de O Mulato, em 1881, do autor Aluísio Azevedo, marca o início do Naturalismo no Brasil.
Azevedo também publicou Casa de Pensão (1884) e O Cortiço (1890).
4.Principais
 Raul Pompeia (1863-1895) destaca-se com sua obra O Ateneu
autores e
 Adolfo Ferreira Caminha (1867-1897) - a obra de Caminha que merece destaque é A Normalista (1893).
obras
 Realismo  Manuel de Oliveira Paiva (1861 – 1892) - não publicou nenhuma obra em vida, mas seus principais romances, Dona Guidinha do Poço e A
Naturalismo Afilhada, foram editados postumamente.
 Domingos Olímpio (1851 – 1906) - foco na força das personagens flageladas pela seca. Sua principal obra é Luzia-Homem (1903).
focar no debate de

 Herculano Marcos Inglês de Sousa (1853-1918) - publicou “O Coronel Sangrado” (1877), mas em 1891 foi reconhecido pela obra “O
Missionário”, que trata sobre a influência do meio sobre o indivíduo.
 Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) – cronista, romancista e dramaturga, participou da fundação da Academia Brasileira de Letras. O
romance A Falência (1901) é sua obra mais considerada.
Nota: O marco inicial do Realismo foi a publicação da obra Madame Bovary (1857), de Gustave Flaubert. Já o Naturalismo, tem início em 1867 quando foi publicado
o romance Thérèse Raquin, de Émile Zola. Tanto o Realismo quanto o Naturalismo, contrários ao Romantismo, negam a fuga da realidade; resgatem o objetivismo
com descrições detalhadas; sugerem a representação fiel da realidade; pontam falhas e propõem mudanças de comportamentos humanos e das instituições;
substituem os heróis românticos por pessoas limitadas e comuns
O REALISMO/NATURALISMO NO BRASIL
 
O período realista naturalista foi o primeiro em nossa literatura a apresentar um panorama completo de vida
literária, com todos os gêneros florescendo, com as instituições culturais se multiplicando, com os numerosos os
jornais sendo relativamente lidos. A literatura passa a ser aceita pelos setores instruídos das classes dominantes e
das camadas médias. Elemento marginal que era, o escritor foi-se tornando aceito, considerado parte integrante da
vida social. Esse processo é simbolizado pela Fundação da Academia Brasileira de Letras ( 1897),  que veio, de
certo modo, a oficializar a literatura. A importância desse período é completada pelo relevo adquirido pela oratória
civil, os estudos históricos, a gramática, a crítica literária etc.
Figura mais expressiva da corrente realista foi Machado de Assis, pela excelência da obra, pela contribuição
pessoal que apresentou aos postulados realistas, pelos caminhos que descortinou para nossa literatura,
determinando um salto qualitativo que marca a maturação das nossas letras. Realista não ortodoxo, acesso a todos
os modistas, Machado inaugura procedimentos literários, cujos desdobramentos ainda hoje se podem perceber.
A vertente naturalista, capitaneada por Aluísio Azevedo, tem como representantes típicos, além dele, Inglês de
Sousa, Júlio Ribeiro, Domingos Olímpio, Adolfo Caminha, Manuel de Oliveira Paiva. Quanto a Raul Pompéia,
veremos a seu tempo que sua classificação como naturalista é problemática.
No Brasil, ao contrário do que ocorreu na Europa, o Realismo e o Naturalismo desenvolvem-se simultânea e
não sucessivamente, batizados por estes limites cronológicos:
 
INÍCIO:  1881 -  Memórias Póstumas de Brás Cubas,  de Machado de Assis funda o Realismo e no mesmo
ano
O Mulato, de Aluísio Azevedo Funda o naturalismo.
TÉRMINO:  1893 - Início do simbolismo, com o aparecimento de Missal e Broquéis,  obras de Cruz e Sousa..
A GERAÇÃO DO MATERIALISMO

O desenvolvimento científico da época galvanizou a intelectualidade, que, das cátedras


universitárias aos bares boêmios, adere ao Cientificismo, ao Materialismo, opondo-se à metafísica,
à religião e a tudo que escapasse aos limites da matéria. Algumas doutrinas científico-filosóficas da
época deixaram marcas visíveis na produção literária:

 O POSITIVISMO
 
Designa a doutrina de augusto Comte e John Stuart Mill, que abrange vários campos, da Teoria do
Conhecimento à Sociologia. O positivismo defende a ideia de que o conhecimento científico é a única
forma de conhecimento verdadeiro. De acordo com os positivistas somente pode-se afirmar que uma
teoria é correta se ela foi comprovada através de métodos científicos válidos. Os positivistas não
consideram os conhecimentos ligados as crenças, superstição ou qualquer outro que não possa ser
comprovado cientificamente. Para eles, o progresso da humanidade depende exclusivamente dos
avanços científicos.
 
 O EVOLUCIONISMO
 
É uma teoria elaborada e desenvolvida por diversos cientistas para explicar as alterações sofridas pelas diversas
espécies de seres vivos ao longo do tempo, em sua relação com o meio ambiente onde elas habitam. O principal
cientista ligado ao evolucionismo foi o inglês Charles Robert Darwin (1809-1882), que publicou, em 1859, a
obra Sobre a origem das espécies por meio da seleção natural ou a conservação das raças favorecidas na luta
pela vida, ou como é mais comumente conhecida, A Origem das Espécies.
Essa teoria deu à Biologia um papel fundamental , e o domínio desse campo do conhecimento passa a
influenciar vários outros (Psicologia, Sociologia, etc.). O homem passa a ser visto especialmente sob o aspecto
biofisiológico, tomado como ser animal, regido pelo instinto biológico, pelas mesmas leis que regem todos os
animais. Dessa noção, decorre o gosto de autores do Naturalismo pela zoomorfização, que consiste na
aproximação, através de semelhanças, entre o homem e o animal, com o propósito de depreciar o humano.
Observemos o exemplo:
 
"E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar,
a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro,
a multiplicar-se como larvas no esterco." (O Cortiço, de Aluísio Azevedo, cap. III)
 
Aqui ocorre a aproximação entre a população do cortiço e o estado larval, enfatizando, por hipérbole negativa, o
primitivismo da condição de vida do homem (larva, verme, minhoca) na habitação coletiva.
 
“ Leandra... a ‘Machona’, portuguesa feroz berradora pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do campo.” (O
Cortiço)
 O DETERMINISMO
 
Sistematizado por Hypolyte Taine, propõe que o comportamento humano seja
determinado por forças biológicas (o instinto, a herança genética), sociológicas e
ambientais (ecologia, meio social) e históricas. Todos os fatos psicológicos e sociais
são manifestações naturais que nada têm de transcendência. As circunstâncias
externas determinam rigidamente a natureza dos seres vivos, inclusive do homem;
nem a razão nem a vontade escapam desse condicionamento. Toda a realidade
passa por um processo evolutivo, dentro de um sistema de leis naturais
absolutamente definidas. Portanto, o comportamento humano está totalmente
predeterminado pela natureza, e o sentimento de liberdade não passa de uma
ilusão subjetiva.
 OUTRAS TEORIAS RELEVANTES
 
No campo dos estudos políticos e sociais , o interesse volta-se para os mecanismos
econômicos e para as massas trabalhadoras (Proudhon - um dos mais influentes teóricos e
escritores do anarquismo, sendo também o primeiro a se autoproclamar anarquista, Marx,
Engels); na medicina surge o experimentalismo de Claude Bernard; o determinismo
geográfico é fundamentado por Ritter e Ratzel, com a Antropogeografia; o materialismo
psicológico tem em wundt (considerado um dos fundadores da
moderna psicologia experimental junto com Ernst Heinrich Weber e Gustav Theodor
Fechner) e Lombroso (criador da antropologia criminal. Suas ideias inovadoras deram
nascimento à Escola Positiva de Direito Penal, mais precisamente a que se refere ao
positivismo evolucionista, que baseava sua interpretação em fatos e investigações
científicas.) a sua fundamentação; Renan, Feuerbach (reconhecido pelo ateísmo humanista
e pela influência que o seu pensamento exerce sobre Karl Marx.) e David Friedrich Staruss
(teólogo alemão) investigam as origens sociais, históricas e psicológicas do Cristianismo,
municiando o anticlericalismo; Hegel fundamenta a sua dialética no processo racional que
opera pela união incessante de contrários – tese e antítese – numa categoria superior, a
síntese.
CARACTERÍSTICAS DO REALISMO-NATURALISMO
 
 Personagens esféricas
 
Enquanto no romantismo as personagens tende a ser lineares,  construídas ao redor de uma única
ideia ou qualidade,  bem x mal,  herói X vilão,  com atitudes plenamente previsíveis e infensas a
qualquer evolução,  produzindo-se a tipos (o mocinho pobre bem intencionado, a mocinha casadoira,
o pai tirano, a tia bisbilhoteiras, o arrivista fulminante, no final desmascarado) o realismo valoriza as
personagens esféricas, que apresentam simultaneamente várias qualidades ou tendências; são
complexas multiformes e repelem qualquer simplificação. São dinâmicas porque evoluem e tem
profundidade psicológica. (Observa-se, no entanto, que em grandes obras do Romantismo também se
encontram personagens esféricas, ou seja, dotadas de complexidade, profundidade e evolução
psicológica.)
 
 Objetivismo
 
Caracteriza-se pela preocupação com a verdade, não apenas o verossímil, mas com a verdade
exata, a que se chega através de observação e análise. Na recriação artística da realidade, os autores
da época põem em primeiro plano as impressões sensoriais, através da descrição objetiva. Os
detalhes são da maior importância e nada é desprovido de interesse.
 
 Impassibilidade
 
O autor procura uma posição neutra, ausentando-se da narrativa, desinteressado pelo destino das
personagens, que são fotografadas por dentro ( Machado de Assis)  ou por fora ( Aluísio Azevedo).  Procura-se
obedecer a uma lógica rigorosa entre as causas que determinam o comportamento humano;  nenhuma atividade da
personagem realista é gratuita, há sempre uma explicação lógica e científica mente aceitável para o seu
comportamento.
 
 Temas contemporâneos
 
A obra Realista e naturalista centra-se no presente, no momento vivido pelo autor. são frequentes a crítica social,
 que busca desnudar as mazelas da burguesia e do clero, e a análise psicológica, voltada para a investigação dos
motivos das ações humanas.
 
 Exaltação sensorial

O romântico   aprendi a o mundo com o coração, com o sentimento, com uma atitude espiritualizante.  o realista
é, acima de tudo, sensorial: precisa ver, apalpar, experimentar fisicamente.  a sensação é elemento fundamental no
conhecimento do mundo. Assim, no realismo, o amor perde a conotação espiritualizante para restringir-se ao
espectro físico: ocorre o que chamaríamos de sexualização do amor. Ao invés do casamento como epílogo, teremos
o adultério como ponto de partida. O sexo torna-se praticamente obrigatório.
 Elementos da narrativa realista naturalista
 
 A narrativa é lenta, minuciosa e ação e o enredo perdem a importância para a caracterização das
personagens.
 Predomina a denotação e a metáfora é colocada em segundo plano, cedendo lugar à metonímia.
 Preocupação formal. busca-se a clareza, o equilíbrio, a harmonia da composição, além da correção
gramatical.
 
O Realismo teve duas consequências imediatas:

a) Naturalismo - É um realismo que se apresenta reforçado pelo cunho científico, ou seja, "é a teoria segundo a
qual, na literatura, a arte deve conformar-se com a natureza, utilizando-se dos métodos científicos de
observação e experimentação no tratamento dos fatos e das personagens".

b) Parnasianismo - Corresponde, na poesia, ao Realismo e ao Naturalismo da prosa. O nome foi tomado a


publicação, feita em França, de antologias poéticas subordinadas ao título Le Parnasse Contemporain, num
movimento de que participaram com destaque Leconte de Lisle e Theodore de Banvile. Parnaso era o monte
onde, segundo a lenda, habitavam as Musas, na Grécia. O Parnasianismo pretendia a arte pela arte e
procurou lutar contra a banalização da poesia, feita pelo Romantismo, defendendo dois princípios: 1) pureza
da forma poética, com elevação da técnica e da metrificação; 2) elevação da ideia, com objetividade científica,
positivismo filosófico, maior ação descritiva e pintura de incidentes históricos.
ROMANCE REALISTA  
 

Cultivado no Brasil por Machado de Assis, é uma narrativa mais preocupada com a análise psicológica, fazendo a crítica à
sociedade a partir do comportamento de determinados personagens.  É interessante constatar que os cinco romances da fase
realista de Machado apresentam nomes próprios em seus títulos – Brás Cubas; Quincas Borba; D. Casmurro; Esaú e Jacó; Aires
–, revelando clara preocupação com o indivíduo.
O romance realista analisa a sociedade “por cima”, ou seja, seus personagens são capitalistas, pertencem à classe
dominante; mais uma vez nos voltamos para a obra de Machado e percebemos que Brás Cubas não produz, vive do capital, o
mesmo acontecendo com Bentinho; já Quincas Borba era louco e mendigo até receber uma herança; o único dos personagens
centrais de Machado que trabalhava era Rubião (professor em Minas), mas recebe a herança de Quincas Borba, muda-se para o
Rio e não trabalha mais, vivendo do capital. O romance realista é documental, retrato de uma época. Observe o trecho abaixo:
 

“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com
certeza, a mais voluntariosa.  Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é
romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe
maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não.  Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço,
precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.  Era isto Virgília, e era clara, muito
clara, faceira, ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e alguma devoção, - devoção, ou talvez medo;
creio que medo.”  (ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo, Scipione, 1994. p. 45)
Podemos notar todo o estilo irônico do autor, aqui com suas baterias voltadas contra as idealizações românticas que haviam
moldado o gosto do público leitor. Repare que Machado parte de uma adjetivação que nos leva a montar um perfil da heroína
romântica (a mais atrevida, a mais voluntariosa, bonita, fresca, carregada de feitiço, faceira) para só num segundo momento
provocar a ruptura:  ignorante, pueril, preguiçosa.
ROMANCE NATURALISTA 
 
Cultivado no Brasil por Aluísio Azevedo, Júlio Ribeiro, Adolfo Caminha, Domingos Olímpio, Inglês de Souza e
Manuel de Oliveira Paiva; o caso de Raul Pompéia é muito particular, pois seu romance O Ateneu ora apresenta
características naturalistas, ora realistas, ora impressionistas. 
A narrativa naturalista é marcada pela forte análise social a partir de grupos humanos marginalizados,
valorizando o coletivo; interessa também notar que os títulos dos romances naturalistas apresentam a mesma
preocupação: O mulato, O cortiço, Casa de pensão, O Ateneu.  Há inclusive, sobre o romance O cortiço, a tese
de que o principal personagem não é João Romão, nem Bertoleza, nem Rita Baiana, nem Pombinha, mas sim o
próprio cortiço ou, como afirma Antônio  Candido, “o romance é o nascimento, vida, paixão e morte de um
cortiço”.  Sob um certo ponto de vista, o mesmo poderia ser dito sobre o colégio Ateneu (os dois romances se
encerram com a destruição dos prédios, abrigos coletivos).
Por outro lado, o naturalismo apresenta romances experimentais; a influência de Darwin se faz sentir na
máxima naturalista segundo a qual o homem é  um animal; portanto, antes de usar a razão, deixa-se levar pelos
instintos naturais, não podendo ser reprimido em suas manifestações instintivas, como o sexo, pela moral da
classe dominante.  A constante repressão leva às taras patológicas, tão ao gosto naturalista; em consequência,
esses romances são mais ousados e erroneamente tachados por alguns de pornográficos, apresentando
descrições minuciosas de atos sexuais, tocando, inclusive, em temas então proibidos, como o homossexualismo: 
tanto o masculino, como em O Ateneu, quanto o feminino, em O cortiço.
Observe o texto abaixo:

“Ana Rosa, com efeito, de algum tempo a essa  parte, fazia visitas ao quarto de Raimundo,
durante a ausência do morador.
Entrava disfarçadamente, fechava as rótulas da janela, e, como sabia que o morador não aparecia
àquela hora, começava a bulir nos livros, a remexer nas gavetas abertas, a experimentar as
fechaduras, a ler os cartões de visita e todos os pedacinhos de papel escrito, que lhe caíam nas
mãos.  Sempre que encontrava um lenço já servido, no chão ou atirado sobre a cômoda, apoderava-
se dele e cheirava-o sofregamente, como fazia também com os chapéus de cabeça e com a 
travesseirinha da cama.
Estas bisbilhotices deixavam-na caída numa enervação voluptuosa e doentia, que lhe punha no
corpo arrepios de febre.”  

(AZEVEDO, Aluísio.  O mulato.  19. ed. São Paulo, Martins Fontes, 1974. p. 121)
 
Observamos  que a personagem Ana Rosa, criada segundo alguns “caprichos românticos e fantasias
poéticas”, não resiste à força da atração física que Raimundo lhe desperta, chegando a invadir o quarto do rapaz. 
O importante é notar como a moça é dominada pelos instintos; como se fosse um animal, “lê” o mundo por meio
dos sentidos (ela “conhece” o rapaz pelo cheiro que ele imprimiu nos objetos); a excitação provoca reações físicas
(enervação voluptuosa, febre), transformando-se num caso patológico, doentio.
DIFERENÇAS DIRETAS ENTRE O ROMANCE REALISTA E O ROMANCE NATURALISTA
NATURALISMO: CONCEITOS

 Condicionamento social e hereditário do comportamento.


 Aprofundamento de alguns traços realistas.
 Cientificismo baseado nas ideias deterministas de Taine, na teoria evolucionista de Darwin e no positivismo
defendido por Comte.
 Preferência por ambientação da narrativa em tipos populares, do submundo social.
 Linearidade narrativa, com predominância do foco narrativo em 3a. pessoa do discurso.
 Crítica às instituições: clero, casamento, sexualidade, sociedade exploradora da força do trabalho operário,
preconceito racial.
 Didatismo.
 Zoomorfização das personagens.
Os vizinhos de Luís assomaram à janela atraídos pelo grosseiro canto dos africanos; o cortiço inteiro
agitou-se; as lavadeiras abandonaram as tinas e os coradouros e vieram ruidosamente ao portão da
estalagem, com os braços nus, saias arrepolhadas no quadril, mostrando pernas sem meias e grossos
pés metidos em tamancos... O homem da venda acudiu em camisa de meia, o peito muito cabeludo
aparecendo... Todos falavam ao mesmo tempo. (O homem – Aluísio de Azevedo)
NATURALISMO: CONCEITOS

• Especialmente, a mulher é apresentada como presa fácil dos instintos e das necessidades
fisiológicas.
• O amor passa a ser tratado como instinto, sujeito às contradições humanas, às necessidades
fisiológicas e ao jogo de interesses sociais e econômicos.
• Os tipos femininos criados pelo Realismo e Naturalismo dão sinais de fragilidade,
inconstância,debilidade de caráter.

Era Magdá. Estranho abalo punha-lhe nos sentidos aquela escandalosa exibição de cama em
pleno ar livre. Vendo-a, como a viu, publicamente armada e feita, afigurava-se-lhe ter defronte dos
olhos um altar que se trazia de longe, para acruenta e religiosa cerimônia do desfloramento de uma
virgem. Havia alguma coisa de pagão e bárbaro em tudo aquilo; alguma coisa que a levava de
rastros, puxada pelos cabelos, para a vermelha sensualidade dos seus delírios...
No meio daquela áspera gente do trabalho, gente de honestidade feroz, a figura da tal D. Helena
destacava-se mais do que uma nódoa de lama no meio de uma camisa de algodão lavado. Mal
acabou de jantar, foi para casa vomitar as tripas, que estômagos daqueles já não resistem à forte
comida dos que se levantam antes do sol e trabalham doze horas por dia.
(O homem – Aluísio de Azevedo)
VISÃO DE MUNDO: SOCIETÁRIA E CIENTIFICISTA

Objetividade: embasa a observação e análise da sociedade.


Racionalismo: a razão é fundamental na observação e interpretação da
realidade.
Materialismo: a verdade está na matéria e não na idealização.
Contemporaneidade: preocupação com o presente e não com o passado.
Insatisfação: inadaptação à realidade circundante; traço de continuidade em
relação ao Romantismo.
REALISMO: CONCEITOS

O Realismo fixa-se na realidade do homem em sociedade e seus problemas


cotidianos. O foco de atenção é a realidade social, e não apenas o indivíduo.
Ruptura com alguns traços românticos: ao invés de subjetivismo, objetividade; ao
invés de emoção, a razão, no lugar de indivíduo isolado, a sociedade .
A finalidade artística é a representação da realidade.
Detalhismo na descrição dos fatos e do comportamento humano.
Narrativa lenta, crônica da vida das personagens.
Análise psicológica do comportamento.
Incorporação do cotidiano à literatura.
PRINCIPAIS AUTORES DO REALISMO-NATURALISMO DO BRASIL

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Machado de Assis
ENTENDENDO MELHOR A IMPORTÂNCIA DA OBRA MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS
 
Memórias Póstumas de Brás Cubas foi publicado pela primeira vez em folhetim, na “Revista
Brasileira”, do Rio de Janeiro e, em volume, apareceu, em 1881, impresso  pela Tipografia Nacional.
           É considerada uma obra inovadora e de ruptura com o estilo tradicional: apresenta, além
de um narrador já falecido ( um defunto autor),uma estrutura narrativa fragmentada que rompe com a
linearidade dos fatos cronológicos.
           A partir da análise de Memórias Póstumas de Brás Cubas, observa-se que sua
importância não se limita ao seu enredo, mas sim à novação: da temática, da estrutura e da
linguagem.
 
DEDICATÓRIA DO LIVRO
 
          “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa
lembrança estas memórias póstumas”
           A obra apresenta, logo no início, um autor já falecido, chamado Brás Cubas. Sob a forma
de um epitáfio, a dedicatória do livro mostra ao leitor que Brás Cubas está morto e que, assim, está
livre para falar sem preconceito de sua vida e da vida das pessoas com quem conviveu.
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS
ANÁLISE
 
           Memórias Póstumas é uma espécie de antimodelo, de personagem-símbolo da ironia machadiana quanto ao
ideal burguês de vencer na vida, a figura de Brás Cubas constitui uma inversão da travessia dos heróis burgueses,
tematizados pela literatura realista. Esses heróis, que aparecem nos romances de Stendhal e Balzac, conseguem
ascensão social e econômica, pagando por ela o preço do fracasso, no plano afetivo. Com eles o romance realista
tem como temática o velho dilema burguês o amor ou o dinheiro, utilizando um processo narrativo de caráter
documental, fotográfico, racionalista.
       Machado de Assis, ao escolher a situação fantástica de um morto que conta histórias, e que mesmo estando
do outro lado da vida procura mais PARECER do que SER, isto é, que mente, ilude e distorce os fatos, escondendo
suas misérias para que sejam vistas como superioridades, questiona tanto a forma quanto o conteúdo do Realismo
tradicional.
        Em relação à forma, põe em xeque o mito racionalista da neutralidade do sujeito, da sua isenção perante o
que narra, mostrando a parcialidade implícita no ato de narrar.
        Quanto ao conteúdo, transcende os modelos literários consagrados de sua época, vendo no homem burguês
um ser humano, com todas as suas imperfeições, complexidade, contradições.
       Portanto, pode-se afirmar que em Memórias Póstumas de Brás Cubas o autor varreu, ousadamente, de um só
golpe o sentimentalismo, o moralismo superficial, a fictícia unidade de pessoa humana, as frases piegas, o receio
de chocar preconceitos, a concepção do predomínio do amor sore todas as outras paixões. A independência
literária, que tanto se buscara, só com esse livro foi selada. Independência que não significa, nem poderia significar,
autossuficiência, e sim o estado de maturidade intelectual e social que permite a liberdade de concepção e
expressão. Criando personagens e ambientes brasileiros. Machado, nesse quesito, não se julgou obrigado a fazê-
los pitorescamente típicos, porque a consciência de nacionalidade, já sendo nele total, não carecia de elementos
decorativos. Por todas essas inovações, Machado de Assis pôde ser universal sem deixar de ser brasileiro.
A partir dos contos de “Papéis Avulsos”, Machado começa
a cunhar a fórmula mais permanente de seus contos: a
contradição entre parecer e ser, entre a máscara e o
desejo, entre a vida pública e os impulsos escuros da
vida interior, desembocando sempre na fatal capitulação
do sujeito à aparência dominante.
Machado procura roer a substância do eu e do fato moral
considerados em mesmos; mas deixa nua a relação de
dependência do mundo interior em face da conveniência do
mais forte. É dessa relação que se ocupa, enquanto narrador.

É a móvel combinação de desejo, interesse e valor

social que fundamenta as estranhas teorias do


comportamento expressas nos contos: “O
Alienista”, “Teoria do Medalhão”, “O Segredo
do
Bonzo”, “A Sereníssima República”, “O
O MULATO – OBRA QUE INAUGURA O NATURALISMO NO BRASIL

Aluísio Azevedo traz no seu texto uma aproximação com a sintaxe


lusitana, e neste livro naturalista, aponta alguns vícios de linguagem do
Nordeste brasileiro. Há em “O Mulato” uma forte crítica à hipocrisia da vida
provinciana de São Luís, caricaturada aqui na forma de anticlericalismo(o
padre, depois cônego Diogo é devasso, mentiroso e assassino), denuncia do
preconceito racial (eixo da trama), foco no aspecto sexual (a paixão do
protagonista, Raimundo, e Ana Rosa, sua prima, é “carnal”) mas, o golpe
final é exibir ao leitor o triunfo da maldade e mostrar que o “mulato”, não era
também tão inocente assim, afinal era preconceituoso e tinha lá suas “taras”.
Mas o autor também o idealiza: “Raimundo tem olhos azuis, cabelos
lustrosos, tez amulatada , mas fina, apesar da mãe dele ser ‘negra retinta’ e
o pai ‘branco’.” Aluísio, como sabemos é determinista e atribui ao meio, raça
e ao momento, uma força irresistível.
A trama parece com as do Romantismo: uma história de amor que as
tradições e o preconceito impedem de se realizar. A diferença está na
“despreocupação” com a moralidade, na literatura “engajada”, na observação e
análise da realidade, nos temas da patologia social(taras, vícios, problemas
sociais/familiares, miséria, adultério, criminalidade, desequilíbrio psíquico,
problemas ligados ao sexo).
Com a publicação de “O Mulato”(1881) teve início o Naturalismo no
Brasil(vindo da França, Emile Zola). Aluísio também sofre influência de Eça de
Queiroz.
Azevedo vivia do que escrevia(depois tornou-se diplomata) e escreveu tanto
dramalhões quanto romances “engajados”. O protagonista Raimundo ignora a
própria cor e condição de filho de escrava(Domingas), não entende porque
sofre o preconceito da sociedade de São Luís, ele, que era um doutor formado
na Europa!
A família de Ana Rosa o humilha. No final os namorados planejam fugir e ele
é assassinado e Ana Rosa casa com um homem de “bem” (o caixeira Dias,
assassino de Raimundo).
Há uma sátira aos maranhenses: o rico grosseiro, a beata mau-caráter, o
padre depravado e conivente. O autor era contra a sociedade reacionária de
sua cidade, que ao se identificar na trama que ele criou fica chocada.
A narração em 3ª pessoa (onisciente) exibe Domingas (ex-escrava de José
Pedro, pai de Raimundo) como vítima dos ciúmes de Quitéria (mulher de José)
que mandou queimar as “partes sexuais” da antiga escrava.
Pressionado pela mulher, José não vê outra saída a não ser entregar o filho
bastardo para que Manuel Pescada, que “apadrinhou” o rapaz, o criasse. Um
dia José Pedro encontrou sua mulher mantendo relações sexuais com o padre
Diogo na sua cama. Matou a esposa. O padre viu e calou para escapar do
escândalo. Mas o tal vigário trama a posterior morte do José. O tempo passa e
Raimundo forma-se e pretende casar-se com Ana Rosa. O caixeiro Dias
ajudado pelo (já) cônego Diogo, assassina, com um tiro pelas costas, o mulato
Raimundo. A família da moça (que estava grávida, do primo mas fez aborto),
principalmente sua avó, fica mais tranquila quando a menina faz o casamento
de conveniências e gera “três filhinhos”.
OBRAS DE JÚLIA LOPES DE ALMEIDA:
 Traços e iluminuras — contos (1887).
 A família Medeiros — romance (1892).
 A viúva Simões — romance (1897).
 Memórias de Marta — romance (1899).
 A falência — romance (1901).
 Ânsia eterna — contos (1903).
 A intrusa — romance (1908).
 A herança — teatro (1909).
 Cruel amor — romance (1911).
 A Silveirinha — romance (1913).
 Correio da roça — romance (1913).
 Era uma vez… — contos (1917).
 A isca — novelas (1922).
 Pássaro tonto — romance (1934).
 O funil do diabo — romance (1934).
 A caolha — conto (s. d.).
 O caminho do céu — teatro (s. d.).
 A última entrevista — teatro (s. d.).
 A senhora marquesa — teatro (s. d.).
 O dinheiro dos outros — teatro (s. d.).
 Vai raiar o sol — teatro (s. d.).
Peças cujo texto não se preservou ou é desconhecido:
OBRAS TEATRAIS •A República Modelo 
•O Beijo de Judas 
Peças cujo texto é conhecido: •Três candidatos (comédia em um ato - s/d)
•Meia Hora de Cinismo (1861) •O Trunfo às Avessas (opereta com música de Henrique
•Tipos da Atualidade (ou O barão de Cutia) (1862) Mesquita - s/d)
•Ingleses na Costa (1864) •Bendito Chapéu
•O Defeito da Família (1870) •Duas pragas familiares 
•Amor com Amor se Paga (1871) •Portugueses às Direitas (1890)
•Direito por Linhas Tortas (1871) •Um Carnaval no Rio de Janeiro ("comédia cintilante de espírito
•Maldita Parentela (comédia em um ato - 1871) e verve"] - 1882)
•O Tipo Brasileiro (comédia em um ato - 1872)
•Entrei para o Clube Jácome (comédia em um ato - 1877)
•Como se Fazia um Deputado (1882)
•De Petrópolis a Paris (1882)
•Caiu o Ministério! (1882)
•Dois Proveitos em um Saco (1883)
•A Lotação dos Bondes (1885)
•As Doutoras (peça teatral - 1889)

Outras obras
Em uma Gôndola (novela publicada pelo Correio Mercantil - 1868)
Os Candidatos (tradução da comédia, em um ato, de Fogliani - 1881)
BIBLIOGRAFIA

Teatro:
•Carapuças, 1871;
•Amor por anexins, 1872;
•A filha de Maria Angu, 1875;
•Uma véspera de reis, 1876;
•Um dia de finados, 1877;
•A joia, 1879;
•O escravocrata, em colaboração com Urbano Duarte, 1884;
•A almanjarra, 1888;
•A Capital Federal, 1859;
•O retrato a óleo, 1902;
•O Mambembe, 1904;
•O dote, 1907;
•Vida alheia, 1929. Contos e poesias:
•Sonetos, 1876;
•Contos possíveis, 1889;
•Contos fora de moda, 1894;
•Contos efêmeros, 1897;
•Contos em verso, 1898;
•Rimas, 1909;
•Contos cariocas, 1928;
•Histórias brejeiras, 1962.
Questão 1- (Unifesp-2003) – 
O cortiço
Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo. Homens e mulheres corriam de cá para lá com os tarecos ao
ombro, numa balbúrdia de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem
nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Barão saíam clamores apopléticos; ouviam-se os guinchos
de Zulmira que se espolinhava com um ataque. E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se
despejavam sobre as chamas.
Os sinos da vizinhança começaram a badalar.
E tudo era um clamor.
A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha,
reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria
saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia
a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca.
Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, que abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas.
(Aluísio Azevedo. O cortiço)
O caráter naturalista nessa obra de Aluísio Azevedo oferece, de maneira figurada, um retrato de nosso país, no final do século XIX. Põe em
evidência a competição dos mais fortes, entre si, e estes, esmagando as camadas de baixo, compostas de brancos pobres, mestiços e
escravos africanos. No ambiente de degradação de um cortiço, o autor expõe um quadro tenso de misérias materiais e humanas.
No fragmento, há várias outras características do Naturalismo. Aponte a alternativa em que as duas características apresentadas são
corretas.
a) Exploração do comportamento anormal e dos instintos baixos; enfoque da vida e dos fatos sociais contemporâneos ao escritor.
b) Visão subjetivista dada pelo foco narrativo; tensão conflitiva entre o ser humano e o meio ambiente.
c) Preferência pelos temas do passado, propiciando uma visão objetiva dos fatos; crítica aos valores burgueses e predileção pelos mais
pobres.
d) A onisciência do narrador imprime-lhe o papel de criador, e se confunde com a ideia de Deus; utilização de preciosismos vocabulares,
para enfatizar o distanciamento entre a enunciação e os fatos enunciados.
e) Exploração de um tema em que o ser humano é aviltado pelo mais forte; predominância de elementos anticientíficos, para ajustar a
narração ao ambiente degradante dos personagens.
Questão 2 – (PUC – PR/2007)
Assinale a alternativa que contém a afirmação correta sobre o Naturalismo no Brasil.
a) O Naturalismo, por seus princípios científicos, considerava as narrativas literárias exemplos de demonstração de teses e
ideias sobre a sociedade e o homem.
b) O Naturalismo usou elementos da natureza selvagem do Brasil do século XIX para defender teses sobre os defeitos da
cultura primitiva.
c) A valorização da natureza rude verificada nos poetas árcades se prolonga na visão naturalista do século XIX, que toma a
natureza decadente dos cortiços para provar os malefícios da mestiçagem.
d) O Naturalismo no Brasil esteve sempre ligado à beleza das paisagens das cidades e do interior do Brasil.
e) O Naturalismo do século XIX no Brasil difundiu na literatura uma linguagem científica e hermética, fazendo com que os
textos literários fossem lidos apenas por intelectuais.

Questão 3 – (ENEM 2001)


No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro estilo de época: o romantismo.
“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com
certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não
é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe
maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço,
precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.”
(ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas.Rio de Janeiro: Jackson, 1957.)
A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao romantismo está transcrita na alternativa:
a) … o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas…
b) … era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça…
c) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, …
d) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos…
e) … o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.
Questão 4 – (PUC-PR 2007)
Sobre o Realismo, assinale a alternativa INCORRETA.
a) O Realismo surgiu na Europa, como reação ao Naturalismo.
b) O Realismo e o Naturalismo têm as mesmas bases, embora sejam movimentos diferentes.
c) O Realismo surgiu como consequência do cientificismo do século XIX.
d) Gustave Flaubert foi um dos precursores do Realismo. Escreveu Madame Bovary.
e) Emile Zola escreveu romances de tese e influenciou escritores brasileiros.

Questão 5 – (UFPR)
Eça de Queirós afirmava:
“O Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para
nos conhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para condenar o que houver de mau na
nossa sociedade.”
Para realizar essa proposta literária, quais os recursos utilizados no discurso realista? 
Selecione-os na relação abaixo e depois assinale a alternativa que os contém:
1. Preocupação revolucionária, atitude de crítica e de combate;
2. imaginação criadora;
3. personagens fruto da observação; tipos concretos e vivos;
4. linguagem natural, sem rebuscamentos;
5. preocupação com mensagem que revela concepção materialista do homem; a) 1, 2, 3, 5, 7, 8.
6. senso de mistério; b) 1, 3, 4, 5, 8.
7. retorno ao passado; c) 2, 3, 4, 6, 7,
8. determinismo biológico ou social. d) 3, 4, 5, 6, 8.
e) 2, 3, 4, 5, 8.
Questão 6 – (FGV-SP)
Há, no romance brasileiro do século XIX, um filão que se caracteriza por criar quadros da sociedade carioca, com visão crítica
dessa sociedade, e “perfis femininos”, que foram inicialmente esboços de análise psicológica. Nele podemos incluir autores de
momentos diferentes como:
a) Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar e Machado de Assis.
b) Joaquim Manuel de Macedo, Martins Pena e Manuel Antônio de Almeida.
c) José de Alencar, Machado de Assis e Álvares de Azevedo.
d) Martins Pena, Machado de Assis e Álvares de Azevedo.
e) Manuel Antônio de Almeida, Martins Pena e José de Alencar.

Questão 7 – (UFPR)
“Marcas de lona suspensas em varais de ferro, umas sobre as outras, encardidas com panos de cozinha, oscilavam à luz
moribunda e macilenta das lanternas. Imagine-se o porão do navio mercante carregado de miséria. No intervalo das peças, na
meia escuridão dos recôncavos moviam-se corpos seminus, indistintos. Respirava-se um odor nauseabundo de cárcere, um
cheiro acre de suor humano diluído em urina e alcatrão. Negros, de boca aberta, roncavam profundamente, contorcendo-se na
inconsciência do sono.”
Com relação a esse fragmento da obra Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha, é correto afirmar que apresenta a(s) seguinte(s)
característica(s) naturalista(s):
I. Tentativa de impessoalidade em relação à voz narrativa.
II. Despreocupação com pormenores descritivos, o que torna o ritmo narrativo extremamente rápido.
III. Subjetividade na descrição do espaço.
IV. Valorização de ambientes exóticos, objetivando a recuperação estética das figuras marginalizadas socialmente.
V. Preferência por espaços miseráveis e socialmente inferiores.

Está correta a sequência:


a) I, II e V. d) I, II, III, IV. e V.
b) I, IV e V. e) II, III e V.
c) II, III e IV.
Questão 8 – (FUVEST-SP)
“E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, e esfervilhar, a
crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, a
multiplicar-se como larvas no esterco.”
O fragmento de O cortiço, romance de Aluísio Azevedo, apresenta uma característica fundamental do Naturalismo.
Qual?
a) Uma compreensão psicológica do Homem.
b) Uma compreensão biológica do Mundo.
c) Uma concepção idealista do Universo.
d) Uma concepção religiosa da Vida.
e) Uma visão sentimental da Natureza.

Questão 9 – (FEI-SP)
“Desnudam-se as mazelas da vida pública e os contrastes da vida íntima; e buscam-se para ambas causas
naturais (raça, clima, temperamento) ou culturais (meio e educação), que lhes reduzem de muito a área de
liberdade. O escritor tomará a sério as suas personagens e se sentirá no dever de descobrir-lhes a verdade, no
sentido positivista de dissecar os móveis do seu comportamento.” (Alfredo Bosi)
O texto refere-se ao:
a) Romantismo
b) Realismo.
c) Simbolismo.
d) Parnasianismo.
e) Modernismo.
Questão 10 –  (USF-SP)
Pode-se entender o Naturalismo como uma particularização do Realismo que:
a) se volta para a Natureza a fim de analisar-lhe os processos cíclicos de renovação.
b) pretende expressar com naturalidade a vida simples dos homens rústicos nas comunidades primitivas.
c) defende a arte pela arte, isto é, desvinculada de compromissos com a realidade social.
d) analisa as perversões sexuais, condenando-as em nome da moral religiosa.
e) estabelece um nexo de causa e efeito entre alguns fatores sociológicos e biológicos e a conduta das personagens.

Questão 11 – (MACK-SP)
Assinale a alternativa incorreta sobre a prosa naturalista:
a) As personagens expressam a dependência do homem às leis naturais.
b) O estilo caracteriza-se por um descritivismo intenso, capaz de refletir a visualização pictórica dos ambientes.
c) Os tipos são muito bem delimitados, física e moralmente, compondo verdadeiras representações caricaturais.
d) Tem como objetivo maior aprofundar a dimensão psicológica das personagens.
e) Comportamento das personagens e sua movimentação no espaço determinam-lhe a condição narrativa.
Questão 12 – (MACK-SP) 
Várias características do Realismo estão intimamente ligadas ao momento histórico, refletindo, dessa forma,
as posturas:
a) nacionalista e positivista.
b) positivista e evolucionista.
c) evolucionista e sentimentalista.
d) neoclassicista e socialista.
e) bucólica e antropocêntrica.
GABARITO
Exercício resolvido da questão 1 –
Alternativa correta: a) Exploração do comportamento anormal e dos instintos baixos; enfoque da vida e dos fatos sociais
contemporâneos ao escritor.
Exercício resolvido da questão 2 –
Alternativa correta: a) O Naturalismo, por seus princípios científicos, considerava as narrativas literárias exemplos de
demonstração de teses e ideias sobre a sociedade e o homem.
Exercício resolvido da questão 3 –
Alternativa correta: a) … o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas…
Exercício resolvido da questão 4 –
Alternativa correta: a) O Realismo surgiu na Europa, como reação ao Naturalismo.
Exercício resolvido da questão 5 –
Alternativa correta: b) 1, 3, 4, 5, 8.
Exercício resolvido da questão 6 –
Alternativa correta: a) Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar e Machado de Assis.
Exercício resolvido da questão 7 –
Alternativa correta: b) I, IV e V.
Exercício resolvido da questão 8 –
Alternativa correta: b) Uma compreensão biológica do Mundo.
Exercício resolvido da questão 9 –
Alternativa correta: b) Realismo.
Exercício resolvido da questão 10 –
Alternativa correta: e) estabelece um nexo de causa e efeito entre alguns fatores sociológicos e biológicos e a conduta das
personagens.
Exercício resolvido da questão 11 –
Alternativa correta: d) Tem como objetivo maior aprofundar a dimensão psicológica das personagens.
Exercício resolvido da questão 12 –
Alternativa correta: b) positivista e evolucionista.

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