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ESCOLA ESTADUAL PRESIDENTE CASTELO BRANCO

PROFESSOR (A):
DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA II
SÉRIE: 2º ANO
SEQUÊNCIA 01 – 3º BIMESTRE ENSINO REMOTO
(16 A 27/08/2021)

LEITURA DA IMAGEM
REALISMO 1. Observe o retrato da camponesa. Que
impressão essa mulher provoca no
Segunda metade do século XIX observador?
2. Que aspectos da imagem podem causar
impacto no observador do quadro?
A segunda metade do século XIX testemunha 3. Você diria que esse é um retrato idealizado
um grande avanço das ciências. Testemunha de uma camponesa?
também os efeitos da revolução industrial,
que mudou definitivamente a relação entre os
seres humanos. Realismo: a sociedade no centro da obra
Esses eventos transformam o modo como a literária
arte e, em particular, a literatura representam
o mundo. Os sentimentos dão lugar a um A realidade das máquinas, dos transportes e das
olhar mais objetivo para a sociedade. É sob novas teorias sociais torna inviável a visão de
essa lente que o Realismo analisa de perto as mundo romântica, que projetava o indivíduo e
atitudes, comportamentos, instituições. Essa seus dramas sentimentais o centro do universo.
objetividade se acentua no Naturalismo, Os artistas, como pessoas do seu tempo,
gerando distorções construídas com o procuraram um novo parâmetro de interpretação
propósito de deixar mais claro aquilo que se da realidade. Foi assim que a objetividade
pretende denunciar e criticar. ocupou o lugar do subjetivismo romântico e a
Bem vindos ao Realismo e Naturalismo... valorização desmedida da emoção foi
abandonada. Em lugar de tratar dos dramas
individuais o olhar realista focalizará a sociedade
e os comportamentos coletivos. Como estética
literária, o Realismo procura analisar a nova
organização social e econômica, detectando suas
causas e denunciando suas consequências.

Os objetivos que norteiam toda a literatura


realista: produzir, por meio da arte, uma
representação da realidade que permita
condenar o que há de mau na sociedade. O
desejo de pintar a anatomia do caráter humano
se explica pela necessidade de compreender a
origem de práticas e comportamentos sociais
negativos. Para fazer essa análise, os escritores
realistas adotarão a razão e a objetividade como
lentes através das quais observam a realidade. O
que revelam é uma burguesia hipócrita e fútil,
que explora o proletariado enquanto professa o
amor à justiça e à igualdade. Esse
comportamento será denunciado em boa parte
CLAUSEN, G. Busto de uma camponesa. 1882.
dos romances escritos nesse período.
Nessa tela, o pintor procura registrar a vida rural
com um realismo quase fotográfico. O Realismo vive a realidade das máquinas, dos
transportes e das novas teorias que tornava
Riqueza e miséria, crescimento desordenado dos inviável a visão de mundo romântica. Os artistas,
centros urbanos, mudança radical nos meios de
como pessoas de seu tempo procuravam um novo
transporte e comunicação, grandes avanços
científicos. A Revolução Industrial transformou a face
parâmetro de interpretação da realidade, ele
da Europa e trouxe consigo a urgência de uma nova buscavam uma linguagem simples para todo
estética, capaz de refletir esse processo. O mundo entender, e era abordado as coisa do
REALISMO responde a essa necessidade cotidiano.
O projeto literário do Realismo
Em uma conferência intitulada “A literatura nova (o
realismo como nova expressão da arte)”, o escritor
português Eça de Queirós define, em linhas
gerais, o projeto literário da nova estética:

“o Realismo é a anatomia do caráter”.


É a critica do homem. É a arte que nos pinta a
nossos próprios olhos – para condenar o que
houver de mau na nossa sociedade.
Eça de Queirós.

Eça resume os objetivos que norteiam toda a


literatura realista; uma representação da realidade
que permita entender a origem de práticas e
comportamentos sociais negativos.
Para realizar a análise, os escritores realistas
adotarão a razão e a objetividade de como lentes
através das quais observam a realidade. O que
revelam é uma burguesia hipócrita e fútil, que
explora o proletariado enquanto professa o amor à
justiça e à igualdade.

Assista essa lindo filme produzido por


As condições de produção e de circulação dos
Sophie Barthes, em 2014. Com base na
romances realistas são essencialmente as
mesmas que vimos para a narrativa romântica. obra Gustave Flaubert.
Os folhetins continuam sendo o principal veículo
https://www.youtube.com/watch?v=0CFOOyHObkk
de divulgação das novas obras, tanto na Europa
quanto no Brasil.

O realismo e o público

Quando Madame Bovary apareceu em folhetins, CARACTERÍSTICAS DO REALISMO


despertou admiração e escândalo ao tratar de
modo direto e franco do adultério de uma legítima
representante do universo burguês. O desejo de
compreender as transformações sociais levava o
público a procurar obras em que a idealização
romântica fosse substituída por uma postura
racional. O que esse leitor não esperava era
encontrar uma condenação do seu modo de vida.
Por esse motivo, a reação do público foi de
desqualificar os autores mais incisivos, como
Gustave Flaubert e Eça de Queirós, acusados de
abordar temas imorais.

No Brasil, Machado de Assis também espantou o


público após a publicação de seu romance mais
ousado, Memórias póstumas de Brás Cubas. A
causa do espanto, porém, era outra: a estrutura
dessa narrativa rompia todas as expectativas de
um leitor acostumado aos romances românticos.
A história não trazia nenhum dos ingredientes
folhetinescos destinados a conquistar o público
da época. Não tinha um protagonista de caráter
admirável, não contava uma história de amor,
não apresentava aventuras ou criava situações Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo
de suspense. das vinte apólices que lhe deixei. E foi assim que
cheguei à cláusula dos meus dias; foi assim que
A reação dos leitores — críticos e leigos — me encaminhei para o undiscovered country de
registra o impacto dos romances realistas em um Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço
público habituado às narrativas românticas. príncipe, mas pausado e trôpego, como quem se
retira tarde do espetáculo. [...]
Para enfrentar esse problema, Machado de Assis Morri de uma pneumonia; mas se lhe disser
estabelece desde o início de suas obras um que foi menos a pneumonia, do que uma ideia
diálogo constante com o leitor. Por trás desse grandiosa e útil, a causa da minha morte, é
jogo de cena há um objetivo: conquistar os possível que o leitor me não creia, e todavia é
leitores ao criar uma espécie de identidade entre verdade. Vou expor-lhe sumariamente o caso.
eles, as personagens e os narradores dos Julgue-o por si mesmo.
romances que escrevia.
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas.
LEIA AGORA O CÁPITULO I DE MEMÓRIAS
QUESTÃO 1.
PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, DE MACHADO
DE ASSIS
Assinale a afirmativa que não corresponde ao
texto de Machado de Assis.
Capítulo 1
A) Este narrador em primeira pessoa é uma
Óbito do Autor alternativa ao narrador intimista tradicional, que
tem seu ponto de vista absolutamente limitado
Algum tempo hesitei se devia abrir estas pelas circunstâncias e pelo que o narrador-
memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se personagem pode conhecer a partir delas.
poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a
minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar B) Este narrador em primeira pessoa é uma
pelo nascimento, duas considerações me alternativa ao narrador onisciente, tradicional do
levaram a adotar diferente método: a primeira é Realismo.
que eu não sou propriamente um autor defunto, C) Memórias póstumas de Brás Cubas foi
mas um defunto autor, para quem a campa foi publicado depois que Machado de Assis morreu,
outro berço; a segunda é que o escrito ficaria razão pela qual Machado declara que não é
assim mais galante e mais novo. Moisés, que propriamente um autor defunto, mas um defunto
também contou a sua morte, não a pôs no autor, para quem a campa foi outro berço.
intróito, mas no cabo; diferença radical entre este
livro e o Pentateuco. D) A hesitação expressa pelo narrador (pôr em
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de primeiro lugar seu nascimento ou sua morte) não
uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na faz parte do repertório tradicional de autores
minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns realistas ou naturalistas.
sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era E) O narrador declara que é um defunto autor,
solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui para quem o túmulo foi um outro berço porque
acompanhado ao cemitério por onze amigos. somente depois de morto ele resolveu produzir a
Onze amigos! Verdade é que não houve cartas narrativa que o vai transformar em autor.
nem anúncios. Acresce que chovia -peneirava-
uma chuvinha miúda, triste e constante, tão
constante e tão triste, que levou um daqueles QUESTÃO 2
fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa
idéia no discurso que proferiu à beira de minha De acordo com o início do primeiro capítulo
cova: -«Vós, que o conhecestes, meus senhores, de Memórias póstumas de Brás Cubas, assinale
vós podeis dizer comigo que a natureza parece a alternativa correta.
estar chorando a perda irreparável de um dos
mais belos caracteres que tem honrado a A) O romance é narrado em primeira pessoa, e
humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do Brás Cubas pode ser compreendido como autor-
céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o personagem das memórias.
azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor
B) O fato de o autor das memórias ser Brás
crua e má que lhe rói à natureza as mais Cubas impede que ele seja reconhecido como
íntimas entranhas; tudo isso é um sublime personagem do romance.
louvor ao nosso ilustre finado.»
C) O uso do narrador em primeira pessoa faz-se completamente da máxima de Flaubert, pois seus
apenas nesse capítulo inicial; depois, o romance narradores deixam claro o tempo todo que os
passa a ser narrado em terceira pessoa. leitores estão diante não de uma segunda
natureza, mas de uma narração.
D) A primeira pessoa que se manifesta no trecho
é Machado de Assis, o que reforça a E) Se o realismo de Flaubert está ancorado num
verossimilhança do romance. narrador “presente em toda parte e visível em
parte nenhuma”, o realismo de Machado, por sua
E) Quando o narrador se refere a “autor defunto”, vez, embora em grau menor, também se baseia
o autor referido é Machado de Assis, o que num narrador que, por conta de sua condição de
permite distingui-lo de Brás Cubas. defunto, se distancia dos fatos narrados,
tornando-se de certa forma “invisível”.
QUESTÃO 3.
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS,
(PUC-PR) Leia o seguinte excerto de Flaubert, MACHADO DE ASSIS
iniciador do realismo literário.
O autor, em sua obra, deve ser como Deus no LIVRO:
universo, presente em toda parte, e visível em
parte nenhuma. A arte sendo uma segunda https://www.baixelivros.com.br/literatura-
natureza, o criador dessa natureza deve agir com brasileira/memorias-postumas-de-bras-cubas
o procedimento análogo. Que se sinta em todos
os átomos, em todos os aspectos, uma
FILME:
impassibilidade escondida e infinita. O efeito,
para o espectador, deve ser uma espécie de
assombro. Como tudo isto foi feito? É o que se
deve dizer, e sentir-se, esmagado sem saber por
quê.
(FLAUBERT, Gustave. Cartas exemplares. Rio de Janeiro: Imago,
2005, p. 83.)

A partir dessa afirmação e levando em conta a


obra madura de Machado de Assis, sobretudo
Memórias Póstumas de Brás Cubas, é
CORRETO afirmar:

A) Memórias Póstumas de Brás Cubas está para


a literatura brasileira assim como Madame
Bovary está para a francesa: ambas as obras
iniciaram o realismo em seus respectivos países
e em ambas as obras o narrador/autor se
ausenta da narração, fazendo a narrativa parecer
uma “segunda natureza”.
https://www.youtube.com/watch?v=YyjDzpjWR8w
B) Machado de Assis soube se apropriar como
ninguém dos procedimentos inventados ou
desenvolvidos por Gustave Flaubert, como o RESUMINDO:
discurso indireto livre e a invisibilização do
narrador.

C) O narrador de Machado de Assis,


em Memórias póstumas de Brás Cubas, toma
emprestado de Flaubert não somente a forma de
narrar linear e objetivista, mas também a “pena
da galhofa e a tinta da melancolia”, mencionadas
na abertura do livro, inaugurando assim o
realismo no Brasil, com fortes traços de
pessimismo e ceticismo.

D) Embora considerado o inaugurador do


realismo no Brasil, Machado de Assis destoa

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