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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELAÇÕES


INTERNACIONAIS

TEMA: Realismo

Discentes:
Caró Jaime Muianga

Nildo Salvador Roberto Sevene

Ana chanandra Chimene

Kelly Roberto Viegas

Sirate Hussein

Hassaina Jorge

NAMPULA,2023
Discentes:
Caró Jaime Muianga

Nildo Salvador Roberto Sevene

Ana chanandra Chimene

Kelly Roberto Viegas

Sirate Hussein

Hassaina Jorge

TEMA: Realismo

Trabalho de caráter avaliativo do


curso de Ciências Políticas e
Relações Internacionais,
disciplina de Teoria das
Relações Internacionais, como
requisito para obtenção de nota
classificativa.
Docente: MA. Tehssin Ikbal

NAMPULA, 2023

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Índice
Introdução ......................................................................................................................... 4
ORIGEM DO REALISMO (O movimento) .................................................................... 5
Contexto histórico do realismo ......................................................................................... 5
Características do Realismo ............................................................................................. 5
Comparação com o Romantismo...................................................................................... 6
Principais Autores e Obras ............................................................................................... 7
Característica do movimento realista ............................................................................... 7
REALISMO LITERÁRIO................................................................................................ 8
REALISMO NA ARTE ................................................................................................... 8
REALISMO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS .................................................... 8
Teoria Realista .................................................................................................................. 8
O Realismo Clássico......................................................................................................... 9
Conceitos Realistas ........................................................................................................... 9
Neorrealismo .................................................................................................................. 10
Autores Realistas e Neorrealistas ................................................................................... 11
A perspectiva realista na teoria das relações internacionais ........................................... 11
Pressuposto central do Realismo nas RI ......................................................................... 16
Composição do poder político ........................................................................................ 17
Princípios de Realismo Político...................................................................................... 17
Seis Princípios do Realismo Político .............................................................................. 18
Conclusão ....................................................................................................................... 19
Referências Bibliográficas .............................................................................................. 20

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Introdução

Desde o surgimento das principais correntes teóricas no campo das Relações


Internacionais no início do XX, o realismo vem desempenhando um papel bastante
relevante para o entendimento da política Internacional. De acordo com Edward Carr
(1946) a perspectiva se consolida com a obra de Hans Morgenthau, política entre nações
publicada em 1948. De lá para cá, vários autores e teorias vem sendo agregadas á
discussão realista conferindo a corrente novas dimensões e formas com realidade
internacional. O presente trabalho irá trazer vários aspectos relacionadas com o
realismo. Desde a sua origem, características, baseadas em diversos autores.

Em suma, a perspectiva Realista na Teoria das Relações Internacionais compartilha


pressupostos similares no tangente à política internacional e possui um temário
específico: a centralidade do Estado como ator unitário e racional, circundado por uma
estrutura de permanente conflito e um sistema anárquico. Para os adeptos desse modelo
analítico, a ausência de uma força supranacional, capaz de conter os agentes individuais,
deixa uma lacuna que limita a possibilidade de que esses agentes obtenham a assistência
de um terceiro para dirimirem seus litígios.

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ORIGEM DO REALISMO (O movimento)

O realismo surge na França em 1850 com a publicação do romance Madame Bovary, de


Gustave Flaubert. O s escritores realistas propunham uma representação mais objetiva e
fiel da vida social, negavam-se a encarar a literatura apenas como uma forma de
entretenimento e fazer dela um instrumento de denúncia dos vícios e da corrupção da
sociedade burguesa, para além denúncias das péssimas condições de vida do povo, a
exploração dos operários, a influência da religião e das práticas supersticiosas que ela
apoia, e a hipocrisia do relacionamento humano no casamento burguês.

Segundo Eça de Queiros o Realismo é uma reação contra o Romantismo, o


Romantismo era a apoteose do sentimento; o Realismo é a anatomia do caráter. É a
crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos ‐ para condenar o que
houve de mau na nossa sociedade.

Contexto histórico do realismo

O realismo no período histórico e social foi caracterizado por momentos conturbados


uma vez que foi uma época de transformação e revolução a forma de se relacionar com
as pessoas. Após a intensificação do modelo capitalista a classe burguesa passou a ter
maior poder de decisão, onde gerou desigualdades sócias com destaque para a
exploração da classe trabalhadora. Onde culminou com a segunda Revolução Industrial
e o crescimento da urbanização, assim como da poluição nas grandes cidades e demais
problemas urbanos.

O movimento realista reflete seu tempo, na busca por uma linguagem mais clara e
verosímil, ao passo que questiona os princípios e padrões burgueses. A revolução
Industrial trouxe consigo vários ganhos como por exemplo: avanços tecnológicos,
como a lâmpada e o carro movido à gasolina. É ainda nesse contexto que surgem teorias
científicas que objetivavam interpretar e explicar o mundo, como o Evolucionismo de
Darwin e o Positivismo de Auguste Comte.

Características do Realismo

• Engajamento social – compromisso com a sociedade.

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• Retrato da sociedade e das suas relações sem idealização. Exclui ‐se da obra tudo o
que vier da sorte, do acaso, do milagre. Tudo é regido por leis naturais.

• Cientificismo – uso de teorias científicas e filosóficas, como o determinismo, o


evolucionismo, a psicologia, o positivismo.

• Linguagem- simples e direta.

• Tempo da narrativa – preferencialmente o presente, o que faz com que a literatura


sirva de denúncia dos aspectos sociais e políticos.

• Personagens caricaturados das pessoas do dia‐a‐dia, retratando‐se ou o aspecto


psicológico ou o biológico desses.

• Preferência pela individualidade dos personagens.

• Romance documental.

• Observação direta e interpretação crítica da realidade.

• Objetividade.

• Análise psicológicas dos personagens.

• Materialismo.

• Crítica às instituições burguesas, à monarquia, a religiosidade, às crendices populares.

Comparação com o Romantismo

ROMANTISMO REALISMO

Subjetividade Objectividade

Imaginação Realidade circundante

Sentimento, emoção Inteligência, razão

Verdade individual Verdade universal

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Fantasia Fotos observáveis

Mulher idealizada, anjo de pureza e Mulher mostrada, mostrada com seus


perfeição defeitos e qualidade

Linguagem culta, em estilo metafórico e Narrativa culta e direta


poético

Narrativa lenta, acompanhando o tempo Narrativa de ação e aventura


psicológico

Principais Autores e Obras

 Machado de Assis: A Cartomante, O Alienista, Memórias Póstumas de


Brás Cubas
 Raul Pompéia: O Ateneu
 Aluísio Azevedo: O cortiço, O Mulato, Casa de pensão
 Inglês de Souza: O missionário
 Adolfo Caminha: A normalista, Bom ‐Crioulo
 Honoré de Balzac: Comédia Humana
 Gustave Flaubert: Madame Bovary
 Eça de Queiroz: O Crime do padre Amaro, Primo Basílio
 Antero de Quental: Odes Modernas, Sonetos
 Guerra Junqueiro: Os Simples Análise de uma.

Característica do movimento realista

 Oposição ao romantismo;
 Objectividade, trazendo cenas e situações de forma directa;
 Carácter descritivo;
 Análise de traços de personalidade e da psique das personagens;
 Tom crítico sobre as instituições e a sociedade, sobretudo a elite;
 Exibição de falhas de carácter, derrotas pessoais e comportamentos duvidosos;
 Interesse em incitar questionamentos no público;
 Valorização da colectividade;

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 Valorização de conhecimentos científicos propostos em teorias como o Darwinismo,
Socialismo Utópico e Científico, Positivismo, Evolucionismo;
 Enfoque em temas contemporâneos e quotidianos;
 Na literatura desenvolveu-se mais intensamente na prosa e no conto;
 Carácter de denúncia social.

REALISMO LITERÁRIO

O realismo literário teve seu início na Franca em 1857 com o lançamento do romance
inaugural do realismo, Madame Bovary, de Gustave Flaubert. A obra teve destaque na
época, sendo considerada um ícone da literatura francesa.

REALISMO NA ARTE

O realismo nas artes plásticas floresceu com mais intensidade em 1819-1877 com as
pinturas de Gustav Coubert através das suas pinturas como forma de expressar suas
ideias e concepções realistas. Gustav Coubert, abordava em suas telas cenas de trabalho,
buscando a denúncia social. Jean François outro pintor francês de destaque na arte
realista que também se valia do universo do trabalho, principalmente do campo, como
inspiração para sua pintura.

REALISMO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

É uma das teorias dominantes nas relações internacionais e busca explicar o


comportamento dos Estados no sistema internacional. Para os realistas, o principal ator
nas relações internacionais é o Estado, que age de maneira racional e egocêntrica em
busca de seus próprios interesses e segurança. O Estado é considerado o principal
responsável pela manutenção da ordem internacional e da estabilidade.

Teoria Realista

O pensamento das Relações Internacionais buscou na linguagem acadêmica referências


clássicas que explicassem o internacional. Sendo assim, destacaram-se vários autores
em que o poder é o elemento central de suas teorias, como Tucídides, Maquiavel,
Hobbes, Sun Tzu e Richelieu.

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O Realismo Clássico

Tradicionalmente, porém, se considera que o primeiro esforço sistematizado em pensar


as relações internacionais ocorreu em 1917 com a fundação na Escócia do primeiro
departamento de Relações Internacionais da história. Pensando numa forma de evitar os
males da guerra (tendo em vista os desastres da Primeira Guerra Mundial) os cientistas
dessa escola debateram formas de normatizar as relações internacionais.

Na véspera do início da Segunda Guerra Mundial, contudo, um estudioso chamado


Edward Carr criticou pela primeira vez os postulados desses primeiros cientistas em seu
livro “Vinte Anos de Crise”, denominando-os como idealistas, por pensarem o mundo
na forma como ele deveria ser ao invés de pensarem o mundo como ele efetivamente
era. O realismo se define, sobretudo, baseado na oposição de Carr aos idealistas, ou
seja, como uma teoria que se define por ver o mundo da forma como ele realmente é,
desvinculado de princípios morais. Não obstante, a expressão mais consolidada do
realismo toma forma apenas após a Segunda Guerra Mundial, com a publicação do livro
“Política Entre as Nações” de Hans Morgenthau.

Conceitos Realistas

Muitas vezes os Estados são obrigados a cooperar e fazer alianças para sobreviverem,
sobretudo em função de um equilíbrio de poder, isto é, buscando manter um equilíbrio
na distribuição de poder no plano internacional. Logo, se um estado se torna muito
poderoso, os outros podem formar um bloco para neutralizar seu poder e reduzir seu
perigo para a segurança de cada nação.

No pensamento realista, a ética ocupa espaço reduzido, uma vez que, buscando a
sobrevivência, os Estados podem quebrar qualquer acordo e desobedecer qualquer regra
moral. A Realpolitik, do alemão “Política Real”, prática da política externa definida
como maquiavélica, é normalmente associada a esse pensamento de cunho realista.
Autoajuda é, para os realistas, a noção de que os Estados só podem contar com a sua
própria capacidade no que diz respeito às relações internacionais. Em suma, os realistas
enxergam o sistema internacional como um espaço de disputa pelo poder, motivada por
um tema saliente em suas exposições: a segurança.

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Neorrealismo

Com as mudanças no campo das ciências humanas e a transformação do meio


internacional (guerra fria e degelo, expansão das organizações internacionais e
aceleração do processo de globalização, etc.), muitos autores, realistas ou não,
começaram a criticar e rever a obra de Morgenthau, oferecendo visões muito diversas de
realismo, como o realismo estruturalista de Kenneth Waltz, cuja obra Teoria Da Política
Internacional, de 1979, teve um impacto profundo nas ciências políticas.

As RI passavam assim a ser a disciplina do estudo do mundo real, sendo que, através
dos resultados desta investigação e da transferência do conhecimento do mundo
científico para o público em geral, poder-se-ia eventualmente atenuar as consequências
negativas de um sistema internacional marcado pelos constrangimentos da estrutura
anárquica (Waltz, 1979). Do “falar a verdade” ao “poder” de Morgenthau, o
neorrealismo pretendia agora passar a “provar a verdade ao poder”, através da pretensa
cientificidade da sua análise.

A dificuldade em replicar nas ciências sociais as práticas das ciências exatas, o fracasso
do neorrealismo em prever acontecimentos tão relevantes como o fim da guerra Fria,
assim como a necessidade de encontrar respostas para desafios concretos no campo da
ética e da política levantados, por exemplo, pelo 11 de setembro, levaram vários autores
a olhar para as origens do realismo.

Em boa verdade, o Realismo foi tanto beneficiário como vítima do chamado segundo
debate das RI, em que uma visão behaviorista, na senda de uma tendência geral de
estruturação das ciências sociais norte-americanas em torno da obtenção de resultados
exatos à medida das ciências naturais, acabou por vingar em detrimento de abordagens
empiricamente “menos sofisticadas”, mais viradas para a análise qualitativa da história e
para a história das ideias (Schmidt, 2007).

Com o Neorrealismo de Kenneth Waltz, esse corte viria a ser oficializado, passando os
autores do Realismo – O a partir de então “Realismo clássico” – como Hans
Morgenthau, Reinhold Niebuhrou John Herz, a fazer parte de uma narrativa que fazia
recuar o pensamento realista a Tucídides, passando por Thomas Hobbes e Maquiavel e
terminando em Waltz (1979) ou, mais recentemente, em John Mearsheimer (2001).

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Autores Realistas e Neorrealistas

Tucídides
Sun Tzu
Richelieu
Thomas Hobbes
Nicolau Maquiavel
Edward Hallet Carr
Hans Morgenthau
Reinhold Niebuhrou
John Herz
Kenneth Waltz
John Mearsheimer

A perspectiva realista na teoria das relações internacionais

Este clássico Direito Internacional consistiu de um conjunto de regras com uma


parcialidade geográfica (era um Direito europeu), com uma inspiração ético-religiosa
(era um Direito cristão) e com objetivos políticos (era um Direito imperialista)
(BEDJAOUI, 1985, p. 145 apud OTTO, 1999, p. 148).

A arena das Relações Internacionais, de acordo com esse esquema interpretativo,


reproduz o cenário hobbesiano de incerteza e guerra perpétua de todos contra todos, no
pré-civilizacional estado de natureza. Essa sociedade anárquica conduz ao vigente
padrão comportamental patológico, em que cada unidade atua de forma egoística/não-
cooperativa para obter/preservar mecanismos de detenção das capacidades de agressão
das outras unidades do sistema. Além de remeter os fundamentos filosóficos à Thomas
Hobbes, os Realistas repartem, com Nicolau Maquiavel, a dissociação entre
ética/moralidade e política. Nessa espiral de incerteza e insegurança, um recinto sem
comportamentos éticos e princípios morais, não há espaço para a cooperação ou mútua
assistência para a promoção de seus interesses (BAYLIS & SMITH, 2006; CARR,
1939; KEOHANE, 1986; MEARSHEIMER, 2001; MORGENTHAU, 2006; WALTZ,
1979).

A ideia da anarquia no sistema jurídico-político internacional é um dos seus


pressupostos fundamentais, permeando todas as Teorias das Relações Internacionais.

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No que concerne à genealogia da palavra, essa encontra raízes no grego, denotando a
ausência de autoridade política. O conceito de anarquia utilizado na Teoria Política
Internacional é diferente do uso comum, como caos ou desordem. Ao contrário, a
ausência de uma autoridade política superior não significa que não há ordem nas
Relações Internacionais – há uma ordem, mas não há um claro governo global com o
objetivo de criar ou facilitar condições harmônicas. Essa anarquia é, no mais, um
conceito completamente dissociado do anarquismo político, baseado nos ideários de
Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), Mikhail Bakunin (1814-1876), Piotr Kropotkin
(1842-1921) ou Enrico Malatesta (1853-1932).

Como já versado, a corrente dos Realistas na Teoria das Relações Internacionais,


lançando seus baseamentos filosóficos a Thomas Hobbes (1578-1679), veicula a noção
da anarquia internacional ao estado de natureza, à condição na qual o homo homini
lupus – “o homem é lobo do próprio homem”. Esse estado primitivo da humanidade,
como um arranjo pré-societário, é marcado pela ausência de autoridade ou regulação
social. Nessas condições, os indivíduos não têm garantia alguma de sobrevivência uma
vez que, sem nenhum comando político superior, os integrantes da pré-citada
organização, não podem apelar a ninguém para garantir o seu bem-estar e segurança
contra as ameaças dos outros integrantes.

Nessas condições, a incerteza e a precária segurança prevalecem. Consequentemente,


antevendo uma premente agressão e considerando que todos os atores sociais têm
capacidades plenas de promover a destruição do outro em uma bellum omnes erga
omnes, “a guerra de todos contra todos”, todos os indivíduos agem pensando
egoisticamente e puramente na própria sobrevivência.

Na teoria de Hobbes, essa situação cessa com a instituição do Leviathan, que é capaz de
asseverar, pela força, um comportamento ético e socialmente desejável. Apenas com a
existência de uma autoridade superior e soberana (e, para Hobbes, capaz de mesclar o
[i] poder religioso, significando a moralidade e o Direito Natural, e [ii] a força militar,
simbolizada pela habilidade de coerção) os homens irão atuar de forma moral. Dito de
outro modo, o medo da punição, impingida por uma força superior, implementada
contra o indivíduo, é que irá afiançar o respeito pelos outros e a observância de regras
básicas, sobrepondo o estágio natural de violência e paixões.

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Em outras palavras:

A tradição hobbesiana descreve as relações internacionais como uma guerra de todos


contra todos; uma arena de combates em que cada Estado está em preso contra o outro.
As relações internacionais, em uma perspectiva hobbesiana, representam o puro conflito
entre Estados e se assemelha a um jogo que é inteiramente distributivo ou uma soma-
zero: os interesses de cada Estado excluem os de quaisquer outros (BULL, 2002, p. 23).

Como mencionado por Hobbes, todos esses pré-citados elementos (e a inclinação


natural do homem ao egoísmo) trabalham conjuntamente e, ao fim, a incerteza direciona
ao medo da destruição. Esse cenário cria uma situação de instabilidade em que todos os
atores tentam se antecipar da iminente agressão que, evidentemente, gera um
interminável ciclo vicioso. Portanto, as Teorias Realistas das Relações Internacionais
incorporaram o postulado hobbesiano de modo extremado, aceitando a violência estatal
como instrumental para preservar a existência continuada do Estado.

Para Edward Hallet Carr (1939) “a política não pode ser divorciada do poder” e ignorar
esse princípio básico pode ser não apenas imaturo, como fatal. Embora reconheça a
dimensão ética e moral como fatores cardeais, elementos inseparáveis da política, é o
poder o seu componente essencial e decisivo. Carr defende que o poder não é um
fenômeno abnormal, mas um componente necessário de todo sistema político. A
importância do “instrumento militar reside no fato de que a ultima ratio do poder nas
relações internacionais é a guerra” (CARR, 1939, p. 139).

Embora não seja uma arma desejável, a guerra é uma “ferramenta” que pode ser
necessária. Assim sendo, para esse fundador do Realismo na Teoria Política
Internacional, a ausência de uma autoridade superior ou, em outros termos, a anarquia
estrutural, condiciona uma situação potencial de guerra permanente. A guerra será,
outrossim, um fator dominante e elemento essencial na vida do Estado.

Acompanhando Carr, na Escola Realista, Hans Joachim Morgenthau (2006) prescreveu,


como princípio supremo no reino da moralidade, o princípio da sobrevivência nacional.
Roborando o posicionamento de Carr, Morgenthau advogou que a prudência é a única
virtude suprema na política e, as relações internacionais, sendo relações políticas, “são
uma luta por poder”. Considerando o poder como um objetivo imediato, para
Morgenthau, todos os fenômenos políticos irão intentar para ampliar, manter ou

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demonstrar o poder. Todas as disputas por poder podem ser reduzidas em esforços para
a mantença ou a alteração da alocação desse poder, por meio do qual um Estado pode (i)
distribuir benefícios ou (ii) proporcionar desvantagens aos demais integrantes dessas
relações políticas.

Morgenthau (2006) aproxima-se de Carr (1934), quando o último assevera que as


noções de Estado-Nação e Governo Internacional são uma contradição. Morgenthau
preleciona que a multiplicidade de Estados em antagonismo entre si são elementos no
fundamento da própria ideia de Sociedade Internacional. Para ambos os autores, o poder
é um elemento central com o propósito de garantir a continuidade das unidades políticas
que se entregam em constante embate por sua parcela de controle na política mundial.

Ainda na tradição Realista, John Mearsheimer (2001), intitulado de “realista ofensivo”,


vê a maximização do poder, que irá acarretar a busca por hegemonia, como a força
motriz da política internacional:

A meta central de cada Estado é maximizar sua parcela de poder mundial, o que implica
na obtenção de poder às expensas de outros Estados. Mas as Grandes Potências não
apenas disputam para serem as mais poderosas de todas entre elas, embora essa seja
uma resultante bem-vinda. O objetivo derradeiro é se tornar um hegemon – isto é, a
única grande potência no sistema (MEARSHEIMER, 2001, p. 2).

De acordo com Mearsheimer, uma situação estacionária, em que os Estados se


mantenham inativos, não pode ser real. Essa interrupção na competição denota apenas a
dominância de um Estado hegemônico mantendo sua posição, situação em que,
simultaneamente, os outros Estados aguardam condições mais favoráveis para sitiá-lo e
destronarem-no de sua posição. Antes, é cabível uma breve categorização do autor sobre
Poder. Mearsheimer estipula uma diferença entre Poder Potencial (ou latente) e Poder
Real (ou material), sendo o primeiro o resultado da (i) população disponível e (ii)
riqueza e, o segundo, o Poder Real, decorrência de (i) recursos militares e (ii) território.
Ainda, o Poder é formado por ingredientes económico-sociais, como dinheiro,
tecnologia, pessoal e matéria-prima (MEARSHEIMER, 2001).

Em suma, três razões originam a busca por poder, que será utilizado para a segurança do
(s) Estado (s) envolvido (s). Primeiramente, a inexistência de uma autoridade central
apta a afiançar a proteção das unidades constitutivas desse sistema internacional. Em

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segundo lugar, a existência de capacidades ofensivas mútuas, em termos militares,
implicando na potencial ameaça de todos os atores contra os demais. Finalmente, a
incerteza sobre as intenções dos outros atores origina a preocupação com a
sobrevivência.

Essas variáveis, em sinergia e simultaneidade, motivam uma competição perpétua por


Poder, suscitando um sistema repleto de medo/ameaças (em que todos atores são
ameaças, ao menos em potência). Isso ocasiona, em última instância, um instável
arranjo de self-help (cada unidade só pode contar consigo mesma para defender-se e
sobreviver).

Todos esses elementos compõem fatores estruturais, influências externas que limitam a
liberdade de ação dos atores. Essas características intrínsecas do sistema, a repisar, a
anarquia e a busca por (re) distribuição de poder, na Teoria Realista, modelam o
comportamento dos agentes estatais. O poder permite a efetivação da meta primária nas
Relações Internacionais, que é, como já mencionado, a continuação desse agente estatal
no sistema. De outra maneira, o “poder é a moeda da política das grandes potências e os
Estados competem por ele entre eles” (MEARSHEIMER, 2001, p. 12).

Em síntese, essa arquitetura constantemente anárquica que formata a estrutura do


sistema internacional, provoca um dilema para a segurança (security dilemma) das
unidades individuais (cada passo para amplificar a segurança de um ator, reduz a
segurança d’outro). Pari passu, dá-se uma lógica de soma-zero (o que um ator ganha,
outro irá perder, em acirrada competição).

Esses fenômenos estruturais, normais no sistema político internacional, levam à


incessante busca por poder, retroalimentando a lógica da busca pela hegemonia
mundial. Alfim, essa disputa por poder é uma grande fonte de conflitos armados: a
segurança individual é fundamental nesse sistema de self-help, induzindo a uma
eviterna busca por maiores capacidades de dissuasão e deterrência (MEARSHEIMER,
2007). Em uma abordagem diferente, Kenneth Waltz (1979; 1986), um neorrealista
defensivo, consigna que a centralidade dos Estados, preocupados prioritariamente com
sua segurança e sua Auto preservação, configura o sistema internacional. Em oposição a
Mearsheimer, Waltz arrazoa que esse sistema tem uma tendência à estabilidade e
equilíbrio, sem, entretanto, abrir mão da tese da perene competitividade e antagonismo

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entre os atores estatais, motivada pela não existência de uma organização com
legitimidade e capacidade de coerção de maneira a coibir eficazmente o self-help e a
busca por ampliação de poder.

Essa limitação estrutural confina as possibilidades de cooperação intraestatal e


desencoraja a solidariedade econômica, reduzindo os eventuais ganhos que poderiam
ser auferidos. Por fim, as expectativas de auxílio socioeconômico são subordinadas aos
interesses políticos, no caso, às necessidades de segurança estatal (WALTZ, 1986). Para
Waltz, o sistema internacional tem uma disposição a punir os atores que intentam alterar
a distribuição de poder, restabelecendo o equilíbrio anterior. Destarte, as tentativas de
maximizar o poder individual seriam imprudentes. Exemplificando esse ponto,
Mearsheimer (2007) apresenta três situações históricas em que Estados se tornaram
hegemônicos e o “sistema” operou contra esses: na França Napoleônica, na Alemanha
Imperial e, novamente, na Alemanha Nazista.

Desse modo, em virtude da interação entre (i) o egoísmo dos agentes estatais e (ii) a
anarquia internacional, o Poder assume função nuclear nas Relações Internacionais,
obstando as tentativas de cooperação, desprezadas como idealistas e pueris sonhos.
Evidentemente, essa noção de conflito permanente, iniciada na Teoria Realista das
Relações Internacionais, influenciou sobremaneira o Direito Internacional e a Política
Externa de vários Estados, embaraçando a absorção de outros temas como movimentos
sociais transnacionais, participação popular nos processos de elaboração de políticas
externas, ajuda humanitária e o eurocentrismo/etnocentrismo teórico nas Relações
Internacionais. De toda forma, a despeito das novas contribuições teóricas, o Realismo
ainda mantém-se com relevância no mainstream acadêmico.

Pressuposto central do Realismo nas RI

 Tem-se uma visão pessimista da natureza humana, convicção de que as relações


internacionais são, necessariamente, conflituosas.
 Os indivíduos não mudam e são, na essência, egoístas a racionalidade leva à
prevalência da desconfiança.
 (Visão da I Guerra) – o estado de guerra é inevitável porque os Estados sempre
querem maximizar o poder.

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 A Convivência de Estados soberanos com interesses diversos leva à busca pela
maximização do poder e, consequentemente, ao conflito.
 Interesse nacional: Objetivo: sobrevivência individual (no limite, é necessário
eliminar o outro). Instrumento: guerra
 Sistema internacional: anarquia permanente (jogo de soma zero).
 Não há mudança progressiva na política internacional (como na política
doméstica) O Estado é o ator central (que tem como premissa a defesa do
interesse nacional) as relações internacionais relações entre Estados
 A política Internacional tem como tendências os conflitos, prevalece a anarquia
momentos de “não anarquia” (paz). São instáveis.
 Maquiavel (O Príncipe) tem como pergunta central: como conservar o poder e
não como agir de acordo com um padrão ético universal, pelo que sugere um
novo padrão de avaliação para a ação política: A conservação do Estado e a
conservação do poder.

Composição do poder político

Poder militar: a guerra é necessária para garantir a sobrevivência do Estado, armar-se é


um recurso essencial da política externa (PE – orienta-se pela sua força militar).

Poder econômico: instrumento do poder político (quanto mais recursos, mais


capacidade de incrementar o poder político na busca de aliados a partir do aumento da
dependência dos países menores).

Poder político Poder sobre a opinião política contemporânea depende da opinião das
massas (democracias). O controle sobre a opinião pública passa a ser um instrumento de
política externa.

Princípios de Realismo Político

 O Realismo Político acredita que a política é governada por leis objetivas.


 Devemos analisar o Estado como ator racional tem de ser capaz de julgar
racionalmente, objetivamente, distinguir o que é subjetivo/desejo.
 Teoria sobre RI = a verificação dos fatos para dar sentido à ação dos Estados.
 Princípios de Realismo Político = Interesse nacional definido em termos de
poder.

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 Política é uma esfera autônoma de ação (separada da ética, da religião, da
economia) e é possível identificar uma continuidade da política externa
(autônoma das preferências ideológicas e das qualidades morais dos
governantes).
 Ética da responsabilidade – Estado age em função do interesse nacional (poder).
 ‘Boa’ política externa = política racional (maximiza vantagens e minimiza
riscos);
 Os Estados são unidades iguais do ponto de vista das funções que desenvolvem
ou também atores unitários e racionais. O Líderes que governam um Estado ou a
sua burocracia sempre atua em nome do Estado, agindo de forma homogênea,
em nome do interesse nacional e a complexidade dos processos internos não é
levada em consideração.

Seis Princípios do Realismo Político


Primeiro princípio: a política é governada por leis objetivas que refletem a natureza
humana. Ênfase no conceito de lei e objetividade. Lei é uma repetição consistente dos
eventos Objetividade caráter imutável dos fenômenos da política para entender e
analisar a política é necessário referir-se à natureza humana, com o que é imutável no
ser humano, a sua essência.
Segundo princípio: os interesses são definidos em termos de poder não pode ser
baseado em motivações pessoais ou preferências ideológicas (“bons motivos não
necessariamente levam ao sucesso das políticas). Todos os Estados têm o mesmo
objetivo a conquista do poder propõe-se a autonomia da esfera política em relação às
demais esferas sociais a razão caracteriza a esfera política.
Terceiro princípio: poder é um conceito universalmente definido. Mas a expressão do
poder vária com o contexto e o lugar nos quais este poder é exercido.
Quarto princípio: os princípios morais são importantes como guias da ação política,
mas devem estar subordinados aos interesses da ação política o estadista tem de ter claro
que a segurança e os interesses do Estado não estão ameaçados.
Quinto princípio: os princípios morais não são universais, mas sim particulares.
Sexto princípio: autonomia da esfera política em relação às demais esferas, como a
política, a jurídica e religiosa, a política estuda fenômenos específicos e que a tornam
total e legitimamente autônoma em relação às demais esferas sociais.

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Conclusão

Neste presente trabalho concluímos que o realismo é uma corrente literária que se
destaca por retratar a realidade de forma objectiva e critica surgindo no final xix, o
movimento realista valoriza a verossimilhança a descrição detalhada e o retrato fiel da
sociedade e do ser humano. De referir que o Realismo também é considerado o
paradigma dominante das Relações Internacionais; O ponto de referência para todas as
propostas alternativas, quer estejamos a falar do Liberalismo, do Marxismo, do
Feminismo, do Construtivismo, do Pós-colonialismo ou do Pós-estruturalismo. Segundo
Jack Donnelly, o realismo “enfatiza os constrangimentos impostos pela natureza
humana e pela ausência de um governo internacional sobre a política. Em conjunto,
estes dois elementos fazem com que as relações internacionais sejam, em larga medida,
o campo do poder e do interesse” (2000: 9).

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Referências Bibliográficas

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