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Programa de Pós – Graduação em Sociologia – PPGS

Disciplina: Teoria Sociológica I


Professor: Geovani Jacó de Freitas
Aluna: Bruna Pereira dos Santos

Um estudo sobre o tipo ideal na sociologia e na política a partir da


perspectiva weberiana e uma análise de gênero

Resumo: Nesta pesquisa realizamos uma investigação histórica acerca da vida e obra de Max
Weber, perpassando por pontos importantes deste autor, como a relação entre religião e
capitalismo, porém nos concentrando no conceito de tipo ideal o qual representa uma forma de
lidarmos com a complexidade das relações sociais. Com o objetivo de analisarmos como o tipo
ideal seja na sociologia como no campo político está relacionada ao mundo masculino. Para isso
analisamos a participação respectivamente, sociológica e política Martineau (2020) “ Como
observar moral e costumes: requisitos filosóficos” Muraro (2020), “Os seis meses em que
fui homem “. Realizado a partir de uma revisão bibliográfico.

Palavras-chave: tipo ideal, sociologia, política e gênero.

Introdução

Nesta pesquisa traçamos o percurso histórico da vida e obra de Max Weber,


citando os pontos mais relevantes como a ação social, sentido, compreensão, agente
individual, tipo ideal, relação social, legitimação e dominação. E ainda a relação entre a
religião protestante e o desenvolvimento do capitalismo. Contudo nos detivemos mais
ao conceito de tipo ideal o qual é compreendido como uma forma generalista de
compreender o mundo, já que uma análise individual exaustiva de cada ator social seria
metodologicamente improvável de ocorrer (WEBER, 1997).

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A concentração nos tipos ideais ocorreu, pois tivemos por objetivo analisar a
relação entre tipo ideal, o pesquisador em sociologia ideal, e o representante da vida
política ideal, apontando que tanto na sociologia como na vida política o homem sempre
aparece como figura ideal. Nesse sentido, buscamos compreender como essa construção
ocorreu na história, considerando que as mulheres tiveram menores possibilidades de se
desenvolver no mundo público, pois eram encarregadas das atividades domésticas,
tiveram menos acesso à educação (DAFLON, 2021).

Entretanto, ainda com todas as dificuldades enfrentadas pelas mulheres, temos


exemplos na história de mulheres como Harriet Martineau e Rose Marie Muraro que
conseguiram se destacar, respectivamente, no campo da sociologia como pesquisadora,
e na área política como candidata a deputada federal (MARTINEAU, 2020, DAFLON,
2021). Porém, quando presentes nesses locais considerados tipicamente masculinos as
mulheres muitas vezes como foi o caso de Muraro (2020) encontram dificuldades para
se adaptar, pois a forma de resolver conflitos entre homens e mulheres é diferente, e o
ponto de vista das mulheres em determinados lugares fica a margem. E para realizarmos
essa pesquisa fizemos uma revisão bibliográfica.

Max Weber vida e obra

Max Weber conhecido por ser um dos precursores da sociologia nasceu em 21 de


abril de 1864 na Alemanha, foi o primeiro de oito filhos, herdou o nome de seu pai, um
jurista que era definido como um homem pragmático e acomodado. Já de sua mãe,
Helene Weber, aprendeu sobre a concepção religiosa como forma de enxergar o mundo,
especificamente protestante, o que influenciou seus estudos posteriormente (COHN,
2003). No período em que Weber viveu “o cerne das discussões estava na caracterização
das ditas ciências da natureza e sua diferenciação em relação às chamadas ciências do
espírito (históricas, sociais, culturais) ou humanas” (MORAES, MAESTRO FILHO,
DIAS, 2003, p.59).

Weber se dedicou a pesquisa social empírica, trabalhou com várias fontes de


dados e diversas temáticas, como por exemplo, as condições agrárias, a organização do
trabalho industrial, planejou uma pesquisa sobre a imprensa com o objetivo de analisar
os jornais, apesar de não a ter realizado. Enquanto estudioso e pesquisador Weber se
destacou no campo da sociologia da religião, estudando a relação entre a religião
protestante e o capitalismo (COHN, 2003).

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Nesse sentido podemos afirmar que o campo de investigação de Weber se
concentra nos temas: ação social, sentido, compreensão, agente individual, tipo ideal,
relação social, legitimação e dominação. E para isso é apontado um método, um modo
de ser do pesquisador, de outro modo, a indicação que é necessário para realizar a
pesquisa uma postura ativa, não se tornando apenas um registrador de dados, ou uma
ferramenta para introduzir diferentes visões de mundo nos resultados da pesquisa. E
ainda assim conseguir se manter objetivo “abster-se de qualquer juízo de valor na sua
análise, precisamente porque enquanto cientista não lhe cabe reivindicar um caráter
imperativo para as suas conclusões” (COHN, 2003, p.20).

Dentro desse prisma o objetivo do sociólogo deve ser compreender a ação,


analisar o motivo que fundamenta essa ação, o que motiva os atores sociais a se
comportarem de tal modo. Porém essa analise não deve servir apenas para saber do
objetivo da ação individual, mas para o objetivo final dessa ação, o que ela causa
coletivamente (COHN, 2003). Nesse contexto Quintaneiro, Barbosa, Oliveira (2002,
p.104) pontuam que “A ação é definida por Weber como toda conduta humana (ato,
omissão, permissão) dotada de um significado subjetivo dado por quem a executa e que
orienta essa ação.”

Assim sendo, é importante observamos a presença da sociologia compreensiva,


que corresponde a uma forma de construção teórica que que está embasada na
comprovação de fatos, e que tem por finalidade identificar o conhecimento real da ação.
Desse modo, “somente as ações compreensíveis são objeto da sociologia. E para que
regularidades da vida social possam ser chamadas de leis sociológicas é necessário que
se comprove a probabilidade estatística de que ocorram na forma que foi definida como
adequada significativamente” (QUINTANEIRO, BARBOSA, OLIVEIRA, 2002,
p.102).

Já para Martineau (2020) a compreensão de um observador deve ser feita por um


viajante que não somente ativo, mas também carregado por princípios que devem servir
como um guia para o que está sendo observado para se chegar a uma interpretação
segura dos fatos. De outro modo, vemos que nessa visão não é suficiente ser objetivo,
mas está atento aos princípios que o observador deve possuir, não se trata de uma
observação fria e quantitativa, mas baseada em determinados princípios.

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Nesse sentido Martineua (2020, p.263) aponta que “o observador que parte com
uma crença mais filosófica, não apenas escapa da aflição de enxergar pecado onde quer
que haja diferença, como também evita o sofrimento gerado pelo desprezo e alienação
de sua espécie, estando, pelo contrário, preparado para o que testemunha”. Assim sendo
percebemos que este observador apresenta os componentes necessários para analisar e
compreender outras culturas e visões de mundo.

Dentro desse contexto percebemos que esse tipo de investigação cientifica


acontece baseada no desencantamento do mundo. De outro modo, em um novo
paradigma em que a humanidade não é mais regida pelo místico, pelo sagrado, mas sim
a partir da técnica, da ciência, do racionalismo e do materialismo. E nesse momento as
ações humanas são desenvolvidas embasadas nas organizações racionais e
burocratizadas tornando as relações objetivas e impessoais (QUINTANEIRO,
BARBOSA, OLIVEIRA, 2002).

O tipo ideal e a relação com o gênero

Dentro dessa conjuntura, temos ainda a presença de um conceito importante para


sociologia weberiana que é o tipo ideal, sendo este definido como “tipo, “vazios frente à
realidade concreta do histórico” e distanciados desta, mas unívocos porque pretendem
ser fórmulas interpretativas através das quais se apresenta uma explicação racional para
a realidade empírica que organiza” (QUINTANEIRO, BARBOSA, OLIVEIRA, 2002,
p.102). Sendo este conceito também possível de ser utilizado enquanto método para
compreender diversos fenômenos sociais, de cunho social, político e/ou econômico.

Ao que tange o tipo ideal, observamos segundo Quintaneiro, Barbosa, Oliveira


(2002) um exemplo deste na obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”,
quando Weber nos aponta uma forma de investigação empírica, para compreender o
objeto estudado, que no caso explicitado é o espírito do capitalismo. Dentro desse
prisma a visão weberiana relacionou “a presença acentuada de empresários e
trabalhadores qualificados protestantes nos países mais industrializados, (...) a possível
existência de uma grande afinidade particular entre alguns valores identificados à época
do surgimento do capitalismo moderno e a decantada ética calvinista” (MORAES,
MAESTRO FILHO, DIAS, 2003, p.65).

Outro exemplo de tipo ideal é visto em “O Avarento, personagem dramático de


Moliere, pode ser visto como um tipo ideal ou puro. Sua principal característica pessoal

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é a avareza, e todas as suas ações estão orientadas para a possibilidade de guardar cada
vez mais dinheiro” (QUINTANEIRO, BARBOSA, OLIVEIRA, 2002, p.105).

Para Weber (1997) o conceito de tipo ideal corresponde, para pensamento


weberiano, corresponde a um processo de conceituação que abstrai de fenômenos
concretos o que existe de particular, constituindo assim um conceito individualizante ou
um “conceito histórico-concreto”. “A ênfase na caracterização sistemática dos padrões
individuais concretos (característica das ciências humanas) opõe a conceituação típico-
ideal à conceituação generalizadora, tal como esta é conhecida nas ciências naturais”
(WEBER, 1997,p.8).

O tipo ideal se coloca como uma possibilidade para investigar as ações humanas,
assim “como não é possível a explicação de uma realidade social particular, única, por
meio da análise exaustiva das relações causais que a constituem, uma vez que são
infinitas, escolhem-se algumas delas por meio da avaliação das influências ou efeitos
que delas se costuma esperar” (MORAES, MAESTRO FILHO, DIAS, 2003, p.64).

No que se refere aos tipos ideais weberianos podemos observar a presença destes
em vários campos de conhecimento, como na sociologia e na política. Na sociologia
tivemos tipos ideais baseados na forma objetiva de conhecer o mundo, ou seja, um
pesquisador ideal, aquele que consegue vencer a pessoalidade para compreender o
mundo objetivamente. Contudo, observamos ainda que este tipo ideal historicamente
está centrado no gênero masculino (DAFLON, 2021).

No que se refere ao tipo ideal para ser um estudioso das ciências sociais,
observamos que ao longo da história o personagem central também é o homem,
principalmente o homem branco, de classe social abastada. Assim, para Daflon
(2021,p.11) “A ausência de mulheres entre os clássicos se justificaria, portanto, pelo
próprio aprisionamento de inúmeras mulheres no lar e a seu confinamento às funções de
mães e esposas, trabalhadoras precarizadas, mulheres colonizadas e, em síntese, pela
sua suposta condição de excluídas da história”. E porque quando as mulheres escreviam
seus temas não eram considerados relevantes para o desenvolvimento da sociologia.

Harriet Martineau foi uma socióloga britânica que mostrou as dificuldades das
mulheres para conseguirem estudar, e ainda com esses desafios criou um método de
investigação sociológico e empírico exposto no texto “Como observar a moral e os
costumes”. Sobre essa obra observamos que “resultou de uma viagem que Martineau

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fez durante dois anos (1834-1835) pelo país e tem sido muito comparada com Da
democracia na América, do francês Alexis de Tocqueville, produzida na mesma época”
(DAFLON, 2021, p.26).

Martineau trata ainda sobre o espaço doméstico, o que não era muito discutido
na época dela, apontando que as mulheres não são desprivilegiadas por conhecerem o
mundo doméstico, privado, mas que isso é uma vantagem para elas, pois assim,
conseguem conversar sobre temas que os homens teriam mais dificuldade, por não
estarem habituados ao universo doméstico (DAFLON, 2021).

Martineau se dedicou a divulgação popular dos princípios da economia política e


da filosofia positiva, uma pesquisa que foi considerada acessível e bem realizada. A
pesquisadora tinha o objetivo de transmitir de forma fácil o apreço que ela tinha pela
leitura e pela crítica da realidade social. E ainda se interessava pela abolição da
escravatura e pela defesa dos direitos das mulheres (DAFLON, 2021).

Desse mesmo modo observamos na política, em que o tipo ideal historicamente


está centralizado no gênero masculino. Muraro (2020) em “Nos seis meses em que fui
homem”, aponta que em 1986 se candidatou a deputada federal pelo PDT – Partido
Democrático Trabalhista, e com está experiencia pode adentrar no universo que ela
define como masculino e decisório “sem querer, eu já estava jogada dentro do mundo da
decisão que é o mundo masculino” (MURARO, 2020, p.126).

Muraro (2020) descreve sua experiência como exaustiva, pois a todo momento o
que imperava dentro das relações políticas era a disputa por poder, a dureza, a
impessoalidade características que esta descreve que a fizeram adoecer fisicamente de
um câncer. Pois, para ela este tipo de relação não era confortável para uma mulher,
aponta ainda que somente suportou tal situação devido o apoio de outras mulheres que
colaboraram inclusive com seu tratamento do câncer.

Com essa narrativa de Muraro (2020) percebemos que muitas vezes o universo
da política não se mostra atrativo para as mulheres, pois quem rege essas relações são os
homens, e o modo deles agirem, resolverem os problemas seja público ou privado,
muitas vezes diferi do modo feminino. Sobre a política a perspectiva weberiana
compreende que é o poder econômico que permite a possibilidade de alcançar o poder
político. Nesse sentido percebemos que somente a classe dominante pode atingir graus

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decisórios dentro do sistema político. (QUINTANEIRO, BARBOSA, OLIVEIRA,
2002).

Considerações finais

Diante do que foi exposto observamos a vida e alguns conceitos weberianos,


como o tipo ideal, a sociologia compreensiva, a importância da religião protestante para
a construção e manutenção do capitalismo. Apontamos ainda o modo de investigação
que o pesquisador deve ter, para Weber (1997) voltado para um olhar objetivo e
racional, e para Martienau (2020) vemos a importância do pesquisador ter não somente
um arcabouço metodológico mas princípios centrais para conseguir compreender outras
culturas.

Analisamos ainda como o tipo ideal weberiana tanto para o pesquisador em


sociologia como para participar da política está centrada na figura do homem. Desse
modo, Martineu (2020) por exemplo é uma representante da mulher como pesquisadora,
socióloga, mostrando que apesar da visão masculina se colocar como parâmetro, como
central, as mulheres são capazes de fazer pesquisa a partir de seus próprios
conhecimentos.

Da mesma forma observamos no relato de Muraro (2020) que os cargos políticos


e as decisões políticas estão centradas na figura do homem e no seu modo de
compreender e agir no mundo. Por isso as mulheres que atingem esses espaços sofrem
uma certa despersonalização por não conseguirem agir livremente, a partir de sua forma
de lidar com os problemas e questionamentos que imperam na política.

Referência
COHN, Gabriel (org.). Weber Sociologia. São Paulo: Editora ABDR, 2003.
DAFLON, Verônica Toste, SORJ, Bila (org). Clássicas do pensamento social.
Mulheres e feminismos no século XIX. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2021.
MARTINEAU, Harriet. Como observar moral e costumes: requisitos filosóficos.
Revista Eletrônica de Ciências Sociais. João Pessoa, n. 24, p. 255-274, jan./jun. 2020.
Disponível em: C:/Users/flavi/Downloads/martineau%20-%20como%20observar
%20moral%20e%20costumes%20(cap)%20(1).pdf. Acesso em: 21 de jul de 2023.
MORAES, Lúcio Flávio Renault de; MAESTRO FILHO, Antonio Del, DIAS, Devanir
Vieira. O paradigma weberiano da ação social: um ensaio sobre a compreensão do
sentido, a criação de tipos ideais e suas aplicações na teoria organizacional. Revista de
Administração Contemporânea, v. 7, n. 2, p. 57–71, abr. 2003. Disponível em:

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<https://www.scielo.br/j/rac/a/NfWKmnLVByZ4tpfwdLwzRMn/?
format=pdf&lang=p>. Acesso em 25 de jul de 2023.
MURARO, Rose Marie. Os seis meses em que fui homem. Rio de Janeiro: Rosa dos
Tempos, 2020.
QUINTANEIRO, Tania, BARBOSA, Maria Ligia de Oliveira, OLIVEIRA, Márcia
Gardênia de. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. 2ªed. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2002.
WEBER, Max. Os economistas: textos selecionados. São Paulo: Editora Nova
Cultural, 1997.

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