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Universidade Federal de Sergipe

Departamento de Relações Internacionais


Política Externa Das Grandes Potências
Docente: Bárbara Vasconcelos de Carvalho Motta
Discentes: Aanne Karolinne Santos da Cruz

HERMANN, M., “How Decision Units Shape Foreign Policy: A Theoretical Framework”,
International Studies Review, vol. 3, no. 2, 2001, pp. 47-81

A autora busca compreender de que forma e por quem são tomadas as decisões em
matéria política externa e quais os esses formuladores de política externa têm sobre essa
política, uma vez que suas decisões são elaboradas por uma extensa cadeia de entidades
contemplada por tomadores de decisão, incluindo órgãos governamentais posicionados dentro
e ao entorno dos países.
Partindo dessa premissa principal de que em qualquer governo ou partido existe um
líder ou um conjunto de indivíduos com capacidade e autoridade de comprometer ou tomar
uma decisão sobre um determinado assunto, sendo que essa decisão não pode ser revertida
imediatamente, a autora classifica isso como uma 'unidade de decisão'. Assim, Hermann
busca caracterizar modelos de tomadas de decisão que avaliam essas unidades de decisão e
com isso entender o processo de elaboração da política externa, quando uma ação é tomada,
considerando que a unidade de decisão pode moldar a natureza dessa política.
Além disso, com essa caracterização, a estrutura desenvolvida pela autora, ele
pretende facilitar o estudo de política externa e da tomada de decisão, fornecendo uma
estrutura capaz de ser aplicada para diversas ocasiões e diferentes países. Dessa maneira, a
problemática central do texto considera que, apesar dos muitos aspectos domésticos e
internacionais que induzem a política externa, ela ainda é executada por indivíduos
engendrados de várias maneiras, que obedecem a ordenação e o mecanismo político daquele
governo, a reconhecendo e instituindo como entender mais conveniente.
Primeiramente, a unidade de decisão deve ser entendida como o exame dos modelos
de decisão que são encontrados na maioria dos governos, seria a explicação de como a
política externa é feita e como as decisões são tomadas. A unidade de decisão autorizada diz
respeito ao grupo de atores presentes em todos os governos ou partidos governamentais
responsáveis pela elaboração da política externa , enquanto, a autoritária se refere à
capacidade de comprometer os recursos do governo nas relações exteriores e o poder de
impedir outras entidades dentro do governo de inverter abertamente sua posição. Logo, os
principais pressupostos apresentados pela autora entendem que todos os modelos de tomada
de decisão são importantes para o compreendimento do processo cognitivo de deliberação na
política externa, independente do indivíduo ou conjunto de pessoas responsável, assim como
sugerem, de acordo com a situação predominante, qual a estrutura governamental e o tipo de
adversidade a ser enfrentado. Em suma, para cada unidade de decisão, há um atributo de
resposta comum (suscetível a variação entre as nações) dado à política externa em função de
seu sistema político e encargos nacionais.
Posto isso, a autora define quando essas unidades de decisão podem agir, o que ocorre
somente quando uma determinada situação é compreendida, subjetivamente, pelos
formuladores de política externa como um problema. Problemas são definidos como uma
anormalidade percebida entre o que se deseja e a realidade, entendendo que deve ser dada
uma resposta a tal situação ou aproveitá-la para ganhos pessoais ou políticos.
Dessa maneira, governos utilizam seu aparato burocrático para analisar temas e
regiões diversas para quando problemas surgirem respostas sejam dadas, a exemplo disso a
autora cita o Escritório do Sul da Ásia. Assim, quando problemas são identificados, os
formuladores elaboram perguntas e buscam alguém para respondê-las, surgindo, desse modo,
uma ocasião para tomar decisões. Uma ocasião para tomar decisão proporciona meios de
analisar de que maneira os políticos, formuladores e governos lidam com os problemas em
política externa, uma vez que as decisões a respeito de tal problema são categorizadas em
partes, como se tal situação fosse necessita de uma ação, se ela declarações políticas devem
ser feitas para estabelecer metas e objetivos e quais recursos devem ser comprometidos.
Para compreender melhor as decisões dos Estados, a autora enfatiza que há diferentes
Unidades de decisão, existem três tipos possíveis de authoritative decision unit, que, caso
concordarem, têm a capacidade de comprometer os recursos do governo nas relações
exteriores e o poder de impedir outras entidades dentro do governo de inverter abertamente a
sua posição (HERMANN, 2001, p. 56). São eles: o predominant leader (líder predominante),
que é um único indivíduo que tem a capacidade de sufocar toda oposição e dissidência, bem
como o poder de tomar uma decisão sozinho; o single group (grupo único), classificado como
um conjunto de indivíduos, membros de um único órgão, que coletivamente agem para
minimizar um problema de política externa; e a coalition of autonomous actors (coalizão de
atores autônomos), que são grupos ou representantes de instituições que, se alguns ou todos
concordarem, podem agir em nome do governo, mas nenhum dos quais, por si só, tem a
capacidade de decidir e forçar o cumprimento dos demais.
Caso haja uma centralização de poder considerável, ou até mesmo um regime
totalitário, há uma maior possibilidade de que naquela sociedade haja um líder predominante
(presidente, monarca, ditador) que coordene as decisões de política externa. No entanto, um
grupo único (OI, Congresso, Senado, etc) se destaca ao determinar decisões em necessidades
situacionais, nas quais o governo possui uma dificuldade de administrar uma crise. E, no caso
das coalizões, destaca-se sua maior eficácia em contextos de anarquia, no qual os membros
dessa coalizão (Estados, OIs, etc) são capazes de garantir suas prioridades por causa do poder
concentrado.
Desse modo, quanto ao predominant leader como autoridade final para tomar decisão:
se o regime tiver um indivíduo em sua liderança que está investida da autoridade, seja pela
constituição, lei, ou prática geral, comprometer ou reter os recursos do governo em relação a
problemas de política externa; ou se a máquina de política externa do governo estiver
organizada hierarquicamente com uma pessoa localizada no topo da hierarquia que, em última
análise, é responsável por quaisquer decisões que sejam feitas (HERMANN, 2001, p. 58).
Quando uma decisão final é tomada pela unidade de decisão, a autora sugere que
surgem os resultados do processo que explicam quais posições foram levadas em conta e
quais ações foram tomadas realmente. Os resultados do processo indicam quais preferências
das pessoas envolvidas no processo decisório após decisão, a autora elenca seis delas: a) a
quando a posição de uma (ou algumas) das partes prevalece; b) uma concordância, ou seja
um senso comum de decisão que indica o que todos desejavam foi representado e problema
foi resolvido por completo; c) um compromisso/consenso mútuo que indica que todas as
partes envolvidas tiveram parcialmente suas preferências atendidas; d) um compromisso
desequilibrado em que a posição de uma das partes prevalece, mas ela teve que ceder um
pouco para chegar a tal resultado; e) um impasse em que não há concordância entre as partes
ou então uma situação em que “concordam em discordar”, sendo assim nenhuma decisão foi
de fato estabelecida e; f) uma ação simbólica fragmentada que indica um tipo de impasse em
que as discordâncias extrapolam a unidade de decisão e cada parte envolvida busca agir por
conta própria ou contestando o comportamento dos demais envolvidos na unidade de decisão,
essa situação confunde quem está externo a unidade de decisão quanto a saber quem de fato
tomas as decisões.
A autora conclui que seja qual for a unidade decisória que esteja envolto na
formulação da política externa, é capaz de modelar a natureza da mesma. Com base nisso,
aponta-se que seja um líder, um único grupo ou uma coalizão de atores autônomos, os
caminhos para as decisões governamentais no âmbito internacional podem obter grandes
diferenças. A autora ainda reafirma a dependência do comportamento das unidades atreladas
diretamente a um conglomerado de fatores-chave que auxiliam na explicitação da prioridade
do acontecimento, seja em âmbito internacional ou nacional, e como isso implicará no
processo de tomada de decisão. Por fim, Hermann afirma que as contingências são
catalisadoras no processamento da decisão, ajudando, assim, na criação de um mecanismo de
integração que abrange noções dicotômicas, porém, necessárias que apontam os envolvidos e
todo o processo decisório na formulação da política externa.

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