Este documento discute duas teorias sobre a formulação de políticas públicas: 1) A teoria dos "Múltiplos Fluxos" de Kingdon analisa três fluxos (problemas, soluções e política) que se unem para gerar mudanças na agenda; 2) A teoria do "Equilíbrio Pontual" examina como assuntos entram na agenda do governo através de subsistemas e a construção de imagens sobre problemas.
Descrição original:
Perspectivas Teóricas Sobre o Processo de Formulação de Políticas Públicas
Este documento discute duas teorias sobre a formulação de políticas públicas: 1) A teoria dos "Múltiplos Fluxos" de Kingdon analisa três fluxos (problemas, soluções e política) que se unem para gerar mudanças na agenda; 2) A teoria do "Equilíbrio Pontual" examina como assuntos entram na agenda do governo através de subsistemas e a construção de imagens sobre problemas.
Este documento discute duas teorias sobre a formulação de políticas públicas: 1) A teoria dos "Múltiplos Fluxos" de Kingdon analisa três fluxos (problemas, soluções e política) que se unem para gerar mudanças na agenda; 2) A teoria do "Equilíbrio Pontual" examina como assuntos entram na agenda do governo através de subsistemas e a construção de imagens sobre problemas.
PERSPECTIVAS TEÓRICAS SOBRE O PROCESSO DE FORMULAÇÃO DE
POLÍTICAS PÚBLICAS Ana Cláudia N. Capella
O objetivo deste trabalho é compreender como se dá o processo de formação de
políticas públicas a partir de conceitos teóricos. Para isso, o estudo parte da análise de formação da agenda de políticas governamentais, a partir dos modelos de Múltiplos Fluxos (Multiple Streams Model), de John Kingdon e o Modelo de Equilíbrio Pontual (Punctuated Equilibrium Model), de Frank Baumgartner e Brian Jones. A teoria de Kingdon consiste na observação dos estágios pré-decisórios, desenvolvidos a partir da identificação de três fluxos independentes: os fluxos dos problemas, das alternativas e da política. O fluxo dos problemas diz respeito ao processo pelo qual certas questões passam a ser percebidas e reconhecidas como fator que demande contrapartidas e passem a ocupar a agenda governamental. Como nem todos os problemas ganham atenção, Kingdon destaca que há um processo de seleção e por isso diferencia em “problemas e questões”. Uma questão (situação social) torna-se um problema quando passa a ser percebido pelos participantes de um processo decisório e desperta a necessidade de uma ação em contrapartida. No segundo fluxo, de soluções e alternativas, Kingdon considera que as ideias geradas nesse fluxo não estão necessariamente ligadas a um problema específico, ou seja, não acontecem aos pares. Nesse contexto, sobrevivem as ideias que se mostram mais viáveis do ponto de vista técnico e de custos toleráveis. A partir de um conjunto de propostas ou alternativas, uma comunidade formada por especialistas (pesquisadores, parlamentares, assessores, acadêmicos, funcionários públicos), compartilha preocupação em relação a uma área (policy area), que quando percebida como viável é difundida (soften up), por meio principalmente da persuasão e gera um efeito multiplicador, em que as ideias se espalham e ganham mais adeptos. No último fluxo, da política, é construído principalmente pelos processos de barganha e negociação. Nesse fluxo, três elementos exercem influência sobre a agenda governamental: clima ou humor nacional, forças políticas organizadas e mudança de competência. Kingdon destaca que o clima nacional e as mudanças dentro do governo como os principais elementos propulsores de transformações na agenda governamental. O autor observa que estes três fluxos designam as principais variáveis que compõem a agenda decisional. Mesmo ocorrendo de forma independente, são esses três fluxos que ao se unirem, num processo denominado de coupling, tem a competência de gerar mudanças na agenda governamental. Esse processo pode ocorrer por duas formas: quando a policy Windows se encontra aberta e se abrem a partir do fluxo de problemas e políticas ou quando acontece a atuação do policy entrepeneurs, ou seja, quando indivíduos (empreendedores de políticas) especialistas em uma determinada questão, de dentro ou fora do governo, estão dispostos a investir em uma ideia. Além da dependência dos três fluxos para a construção da agenda governamental, a análise sobre os atores envolvidos nos processos também é fundamental. Para Kingdon, alguns atores são influentes na definição da agenda e ele os divide em atores visíveis (que recebem alta atenção da imprensa e do público) e invisíveis. Além disso, destaca-se a figura do Presidente, como um ator-chave e mais forte no sistema político com capacidade de estabelecer a agenda numa dada área, mas apesar disso o presidente não tem controle das alternativas, essa função cabe a especialidades. Por isso, este ator não tem a capacidade de por si só determinar o resultado final de uma política. Outra teoria denominada de “Equilíbrio Pontual” (Punctuated Equilibrium Theory), desenvolvida por Frank R. Baumgartner e Bryan D. Jones, se mostra importante para a compreensão da entrada de determinados assuntos na agenda de Governo. Nesse modelo procura-se criar um mecanismo que permita analisar tanto os períodos de estabilidade, como aqueles em que ocorram mudanças rápidas no processo de formulação de políticas públicas, além de também dá atenção à influência institucional. Nesta concepção, considera-se que as estruturas institucionais dividem-se entre: os subsistemas políticos (comunidades de especialistas) e o macrossistema (governantes). Os autores dizem que os subsistemas de uma política pública permitem ao sistema político-decisório processar as questões de forma paralela, ou seja, os diversos temas que surgem na agenda são tratados em subsistemas “temáticos” em que se procura assegurar um entendimento comum sobre as questões com as quais estão lidando. Os subsistemas designam o espaço em que as diversas demandas políticas são processadas, as quais podem ou não ascender ao macrossistema. Dentro dos subsistemas é possível encontrar a formação de monopólios políticos, engendrados a partir de ideias gerais compartilhadas e influenciadas pelos fatores institucionais. Tais fatores incidem diretamente sobre as condições de acesso aos procedimentos decisórios. O modelo do equilíbrio pontual acrescente sobre a importância da construção de uma imagem sobre determinada decisão ou política pública (“policy image”), fortemente influenciada por valores, por instituições, atentando também para o papel da mídia nessa construção. A criação da imagem sobre um problema pode chamar atenção do governo que ficará mais propenso a identificar e gerar uma possível solução a ele. Capella afirma que: “A criação de uma imagem é considerada um componente estratégico na mobilização da atenção do macrossistema em torno de uma questão”. A análise da formação de agenda busca averiguar os mecanismos que introduzem determinado tema na agenda de governo. Assim, é possível compreender a dinâmica da política e o papel que os atores políticos desempenham na formulação de determinada política pública a partir dos modelos citados.