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OS FUNDAMENTOS TEOLÓGICOS

DA ESPIRITUALIDADE REFORMADA
EM MARTYN LLOYD-JONES

Por
DIEGO SANTOS BLANCO
ORIENTADOR: Marco Antônio Carvalho

RIO DE JANEIRO
2021
OS FUNDAMENTOS TEOLÓGICOS
DA ESPIRITUALIDADE REFORMADA
EM MARTYN LLOYD-JONES

Por
DIEGO SANTOS BLANCO

Trabalho de Conclusão de Curso, aprovado pela


Coordenação Acadêmica como requisito parcial para
a obtenção do certificado do Curso Avançado de
Teologia da Escola Teológica Reformada - ETR.

Orientador(a): Marco Antônio Carvalho

RIO DE JANEIRO
2021
AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, ao amado Deus da minha alma, que me amou


desde a eternidade, antes mesmo de eu me perder em mim mesmo. Louvo ao Pai,
ao Filho e ao Espírito Santo pelo amor e graça recebidos, além da minha própria
existência.
Também agradeço à minha amada esposa Maitê. Quis Deus que eu
conhecesse alguém que fosse imprescindível à minha vida, com todo o seu apoio,
incentivo e suporte. Nela, pude encontrar alguém a quem a minha alma amasse
verdadeiramente.
À minha amada mãe, que foi chamada por Deus neste ano de 2021.
O maior ensinamento que eu poderia receber veio de seus atos: temor a Deus.
Algumas vezes, as palavras redigidas neste trabalho foram acompanhadas por
lágrimas, mas a firme convicção da sua vida nos braços do Senhor Jesus têm sido
força para minha vida. Além dela, agradeço ao meu amado pai. Homem humilde,
sempre me mostrou a beleza do caráter íntegro. Um herói desconhecido, amado por
Deus.
Também agradeço às minhas irmãs e aos meus sobrinhos, sangue do meu
sangue. Deus sempre nos fortaleceu nas batalhas da vida, nos fazendo um exemplo
de superação nas adversidades.
Agradeço aos grandes homens de Deus que puderam passar pela minha vida
deixando um rastro de temor, sabedoria e santidade. Posso dizer que aprendi e
aprendo com homens que amam a Cristo mais que a si mesmos.
À Igreja Presbiteriana Alvorada que, mesmo com pouco tempo de membresia,
pude encontrar um meu lar espiritual e uma família.
Também aos professores da ETR, que sempre estiveram disponíveis para me
auxiliar quando necessário. Seus ensinamentos foram de grande valia. Sentirei
saudades, como já sinto, das aulas que me fizeram alguém cada vez mais
apaixonado pela Teologia e pelo Deus da Teologia.
Agradeço ao grande professor, amigo e irmão Marco Antônio, orientador
deste trabalho. Sua simplicidade reflete o caráter de Cristo. Agradeço também, em
especial, ao grande amigo, professor e irmão Fernando Khouri, diretor da ETR, pois
viabilizou meu retorno em ao seminário tempos difíceis. Sou bastante grato pelo
apoio concedido.
RESUMO

O presente estudo propõe-se a analisar o conceito de espiritualidade cristã,


bem como suas particularidades dentro do contexto da Teologia Reformada,
em resposta ao desequilíbrio dos aspectos teóricos e práticos característicos do
evangelicalismo atual. Considera-se então o conceito de piedade dentro do
Cristianismo Reformado, bem como o desenvolvimento desta doutrina pelo
Puritanismo, resultando na teologia expositiva e pastoral de David Martyn Lloyd-
Jones, no séc. XX. Para tal objetivo, são abordados os fundamentos da pregação
bíblica expositiva e vida piedosa de Lloyd-Jones. Com base em pregações e
preleções transcritas, posteriormente publicadas, é possível conceber o conceito de
vida cristã incentivado por Martyn Lloyd-Jones, propondo uma mudança de
paradigma em relação a conceitos modernos de pregação, evangelismo e missões.
O modelo de vida cristã apresentado e defendido por Lloyd-Jones é uma proposta
biblicamente segura, pois encontra fundamentação em toda a tradição da Teologia
Reformada histórica.

Palavras-chave: Teologia Reformada; Martyn Lloyd-Jones; Puritanismo; Piedade;


Vida Cristã; Avivamento
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................... 6

1. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS SOBRE A VIDA E A OBRA DE MARTYN


LLOYD-JONES ......................................................................................................... 9

1.1. Sua conversão e vocação ao ministério da palavra ....................................... 9

1.2. Influência puritana na teologia da Martyn Lloyd-Jones ............................... 16

2. TEOLOGIA E ESPIRITUALIDADE REFORMADA: O LEGADO DE MARTYN


LLOYD-JONES ATRAVÉS DA PREGAÇÃO .......................................................... 21

2.1. Espiritualidade Reformada: uma introdução ao conceito na tradição


protestante dos puritanos ..................................................................................... 21

2.2. Teologia e Piedade: a importância da mente e do coração na exposição


bíblica de Martyn Lloyd-Jones .............................................................................. 24

2.3. A contribuição pastoral e teológica dos puritanos Richard Baxter e John


Owen ....................................................................................................................... 30

3. TEOLOGIA EXPERIENCIAL EM MARTYN LLOYD-JONES E SUA


RELEVÂNCIA PARA A IGREJA EVANGÉLICA DO SÉCULO XXI ....................... 37

3.1. A natureza do verdadeiro avivamento segundo Martyn Lloyd-Jones ......... 37

3.2. A importância do verdadeiro avivamento para a igreja ................................ 41

4. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 46

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E ELETRÔNICAS....................................... 47


6

INTRODUÇÃO

O Cristianismo exige de seus seguidores um comprometimento genuíno e


integral de suas vidas como forma de autenticação da fé. No Evangelho de Lucas
é encontrada a asseveração de Jesus Cristo sobre a necessidade de amar a Deus
de “todo o coração, de toda alma, de todas as forças e com todo entendimento”.1
Por toda a história cristã, a espiritualidade é vista de maneira singular no que tange
ao senso de comunhão com a Divindade.
A espiritualidade recebeu diversos conceitos e ênfases surgidos das mais
variadas tradições teológicas. Joel Beeke (2014) afirma que o Catolicismo Romano,
por exemplo, desenvolveu a ênfase da espiritualidade ritualista e dependente da
estrutura eclesiástica. Já o Pentecostalismo e o Movimento Carismático surgiram
com menos aparato cerimonial, contudo, com grande apelo às abordagens
emocionalistas e subjetivistas.2 Com o objetivo de apresentar uma opção saudável
de espiritualidade cristã em face a estes extremos, o autor supracitado indica a
espiritualidade proveniente da Reforma Protestante3. Beeke (2014) afirma também
que esta espiritualidade tem um conceito teológico própriamente seu, determinada a
desenvolver suas bases nas Escrituras Sagradas, além de promover uma
espiritualidade nos moldes doutrinários da Bíblia.4 Fazendo integração do
conhecimento teológico à vida piedosa, o Puritanismo5 é um dos exemplos mais
notórios de espiritualidade cristã reformada.
De acordo com LOPES (1995), o Puritanismo foi um movimento que causou
impacto não somente em seu terreno eclesiástico, mas também na ciência e na

1
BÍBLIA de Estudo da Reforma. O bom samaritano. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017.
p.228 Novo Testamento.
2
BEEKE, Joel R. Espiritualidade Reformada. São José dos Campos: Fiel, 2014. p.17.
3
A Reforma Protestante foi um movimento religioso com desdobramentos sociais e políticos,
irrompido por Martinho Lutero, que tinha como um dos objetivos principais o retorno às antigas
práticas cristãs, em oposição à forma de governo da Igreja Católica Romana.
4
BEEKE, Joel R. Espiritualidade Reformada. São José dos Campos: Fiel, 2014. p.18.
5
Movimento protestantista do séc. XVI, oriundo da Inglaterra e alinhado com as igrejas calvinistas da
Europa continental que rejeitavam a Igreja Católica Romana e a Igreja Anglicana; esta considerada
pelo segmento puritano como apenas uma reforma parcial em relação à igreja romana.
7

sociedade.6 O desejo de viver uma vida digna, integral e profundamente bíblica não
só trouxe resultados evangelísticos, mas também reavivou a tradição da genuína
espiritualidade. Segundo BEEKE e JONES (2016), o Puritanismo pode ser
denomidado de “vigoroso Calvinismo”.7 Considerado por muitos como o maior
pregador do séc. XX8, David Martyn Lloyd-Jones, de acordo com COSTA (2012),
“resgatou a tradição calvinista de teologia e vida cristã... sendo um autêntico
pregador reformado que deixou sua geração marcada pelo resgate que fez de uma
de espiritualidade que não pode ser ignorada”.9
Este trabalho tem como objetivo expor o conceito bíblico de espiritualidade
reformada, bem como seus traços específicos, além de sua influência no
pensamento deste pregador galês. Em vista da grande importância de
Martyn Lloyd-Jones no Cristianismo Reformado do séc. XX, ao resgatar as bases
essenciais da teologia calvinista, se faz necessária a avaliação de como estes
elementos ainda podem ser relevantes no atual cenário evangélico, em grande parte
desprovido de profundidade doutrinária e compreensão madura da espiritualidade
cristã.
O presente texto será divido em três partes: primeiramente, será apresentada
uma breve biografia de Lloyd-Jones, além da exposição de como a mentalidade
puritana veio a ser seu referencial doutrinário e prático de Cristianismo.
Em seguida, se desenvolverá o conceito de espiritualidade cristã reformada e como
ela serviu de fundamento para seu legado como pastor e expositor bíblico.
Por fim, serão tratados aspectos de espiritualidade e avivamento na
contemporaneidade, bem como a contribuição que Martyn Lloyd-Jones pode
oferecer para a discussão destes elementos, de maneira bíblica, saudável e
equibrada.

6
LOPES, Augustus Nicodemus. Puritanismo. Disponível em:
http://www.monergismo.com/textos/puritanos/puritanismo_augustus.html. Acesso em 17.mai.2021.
7
BEEKE, Joel R.; JONES, Mark.Teologia Puritana: Doutrina Para a vida. São Paulo: Vida Nova,
2016. p.29.
8
BEEKE, Joel R. Pregação Reformada: Proclamando a Palavra de Deus do Coração do
Pregador Para o Coração do Povo de Deus. São Paulo: Fiel, 2019. p.500.
9
COSTA, Antônio Carlos. As Dimensões da Espiritualidade Reformada. Goiânia: Primícias, 2012.
p.18-19.
8

Estes temas são fundamentais, pois a herança de Lloyd-Jones é vista por


muitos teólogos como uma resposta bíblica, autêntica e histórica de vida piedosa.
Seu zelo pela doutrina e incentivo à vida cristã prática são diretrizes para o
Cristianismo de qualquer geração.
9

1. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS SOBRE A VIDA E A OBRA DE MARTYN


LLOYD-JONES

1.1. Sua conversão e vocação ao ministério da palavra

David Martyn Lloyd-Jones nasceu no dia 20 de dezembro de 1899, na cidade


Cardiff, no País de Gales. Foi o segundo dos três filhos do casal Henry e Magdalene
Lloyd-Jones. Seus irmãos chamavam-se Harol e Vincent. A família, de origem
humilde, era caracterizada pela simplicidade e trabalho árduo. 10 Em 1906, se
mudaram para Llangeitho, uma pequena cidade em Cardiganshire, no sul de Gales,
onde seu pai era gerente de armazém.11 Em Llangeitho, a família Lloyd-Jones se
tornou membro da Igreja Calvinista Metodista, estabelecida por Daniel Rowland 12.
Iain Murray relata a importância de Rowland para a região ao fundar a congregação:

“[a igreja] não tinha fama nos anais da história de


Gales até quando um certo Daniel Rowland tornou-se
pároco adjunto ali na década de 1730. Depois disso,
tornou-se o centro de uma série de avivamentos
evangélicos que transformaram grandes áreas do
principado e que deram nascimento ao Metodismo
Calvinista”. (MURRAY, 2014, p.14)

Apesar do referencial de seu fundador, o estado espiritual da congregação em


Llangeitho, bem como da família de Lloyd-Jones, era de letargia espiritual. Ele
testemunha acerca de seu pastor que, posteriormente, marcaria profundamente seu
ministério:

10
LAWSON, Steven J. A Pregação Apaixonada de Martyn Lloyd-Jones: Um Perfil de Homens
Piedosos. São José dos Campos: Fiel, 2016.p.19.
11
MURRAY, Iain H. A Vida de D. Martyn Lloyd-Jones 1899-1981: Uma Biografia. São Paulo: PES,
2014. p13.
12
Daniel Rowland (1711-1790), juntamente com Howell Harris (1714-1773) e William Willians
(1717-1791) foram notórias figuras dentre os responsáveis pelo Grande Avivamento Galês, em 1735.
10

“O nosso ministro era um homem moral,


legalista – um velho mestre-escola. Não me lembro de
ele ter pregado o evangelho alguma vez, e nenhum de
nós tinha qualquer ideia do evangelho. Ele e o líder dos
diáconos, John Rowlands, se consideravam eruditos.
Nenhum deles teve simpatia alguma pelo avivamento de
1904-1905, e os dois não somente se opunham a
qualquer destaque ou ênfase espiritual, mas também se
opunham a toda e qualquer inovação popular... Nunca
tivemos reuniões anuais de pregação em nossa capela, e
os pregadores eminentes da época nunca eram
convidados... Apesar de haver uma estátua de Daniel
Rowland na cidade, havia muito tempo sua influência
tinha desaparecido do lugar.” (MURRAY, 2014, p.15)

MURRAY (2014) destaca que não havia interesse dele pela leitura. O futebol
e outras atividades eram mais atraentes. Ainda assim, o menino Martyn era
brilhante, bastante prático e com inclinação para os negócios. 13 À mesma época,
recebeu o convite para ser bolsista em Tregaron, uma cidade vizinha, na Tregaron
County Intermediate School. Por conta dos problemas financeiros familiares,
necessitava obter boa nota para esturar gratuitamente no ano letivo seguinte, o que
aconteceu. Desde então, tomou consciência da sua genialidade.14
Na trajetória acadêmica, Martyn Lloyd-Jones frequentou a escola masculina
St. Marylebone Grammar School, onde concluiu os estudos preparatórios.
Ao final destes estudos, optou pela medicina, sua paixão. Em 1916, com dezesseis
anos, foi aceito no renomado programa de treinamento do Hospital St. Bartholomew,
em Londres, um dos mais famosos hospitais-escolas da Inglaterra.
Aos vinte e um anos de idade, Lloyd-Jones recebeu o bacharelado em medicina e
cirurgia. Tornou-se então membro do Real Colégio de Cirurgiões, em 1921, e
licenciado pelo Real Colégio de Médicos, também em 1921.15 LAWSON (2016)
atesta que, para Lloyd-Jones, a vida permanecia instável e vazia. Sua vida

13
MURRAY, Iain H. A Vida de D. Martyn Lloyd-Jones 1899-1981: Uma Biografia. São Paulo: PES,
2014. p. 26.
14
Ibid. p 27.
15
Ibid. p.49.
11

moralmente correta era apenas uma fachada, sendo profundamente necessário


viver um relacionamento verdadeiro com Jesus Cristo. 16
Não há uma data precisa para definir a conversão de Martyn Lloyd-Jones,
porém é certo afirmar que sua decisão de seguir a Cristo aconteceu por volta dos
vinte e cinco anos de idade. A respeito deste acontecimento, Lloyd-Jones
o descreveu da seguinte maneira:

“Por muitos anos eu pensava ser cristão, quando


de fato eu não era. Foi somente mais tarde que percebi
que nunca fora cristão e então, converti-me... Eu
precisava de pregação que me convencesse de meu
pecado... mas nunca ouvira isso. A pregação era sempre
baseada na suposição de que todos nós éramos
cristãos”. (LAWSON, 2016, p.23)

MURRAY (2013) concorda com Lawson ao afirmar que a conversão de


Lloyd-Jones não teve uma data definida: “Ele não atribuiu data à sua conversão. Foi
algo progressivo”.17 Não obstante, o autor supracitado indica algumas influências
que se tornaram fundamentais no processo em que levou Martyn Lloyd-Jones
à fé cristã. Passando pela convicção da instabilidade da vida, que percebeu ainda
na infância, até à crença do destino por trás dos acontecimentos, estas convicções
foram definitivas para a certeza da predestinação divina em sua vida.18 No entanto,
a maior influência foi “o fato do pecado, a prova de que algo está profundamente
errado com o homem”.19 Lloyd-Jones observou isto entre os pobres que precisou
lidar enquanto trabalhava no hospital de St. Bartholomeu; observava o problema do
pecado também dentro da classe alta de Londres, na Rua Harley, pacientes de
Thomas Horder, seu professor de medicina. A mesma doença, por assim dizer, era
diagnosticada por Lloyd-Jones entre pobres e ricos. Por conta disto, concluiu que o

16
LAWSON, Steven J. A Pregação Apaixonada de Martyn Lloyd-Jones: Um Perfil de Homens
Piedosos. São José dos Campos: Fiel, 2016. P.23.
17
MURRAY, Iain H. A Vida de D. Martyn Lloyd-Jones 1899-1981: Uma Biografia. São Paulo: PES,
2014. p.62.
18
Ibid. p. 57.
19
Ibid. p. 59.
12

problema humano não era de ordem educacional ou econômica, mas de vazio


moral e de falsidade espiritual.20
COSTA (2012) afirma que, devido à urgente necessidade da pregação
do evangelho para o homem, Lloyd-Jones abriu mão da carreira de médico.21 Martyn
Lloyd-Jones descreveu esta experiência da seguinte maneira:

“No instante em que se considera a necessidade


real do homem, como também a natureza da salvação
anunciada e proclamada nas Escrituras, chega-se
forçosamente à conclusão de que a tarefa primordial da
igreja consiste em pregar e proclamar a Verdade,
consiste em apontar a verdadeira necessidade do ser
humano, e demonstrar qual o único remédio, a única cura
para tal necessidade.” (COSTA, 2012, p.40)

O autor acima mencionado ressalta que, desde o início de seu ministério, era
observada a ênfase na pregação expositiva do texto bíblico e na aplicação vívida
desta mensagem.22 A este tipo de pregação, Lloyd-Jones deu-lhe a definição que
marcaria seu ministério: “... lógica pegando fogo! É raciocínio eloquente”.23
Iniciado seu trabalho na nova igreja, Lloyd-Jones manteve uma estrutura
simples. As atividades eclesiásticas tinham dois objetivos claramente estabelecidos:
o crescimento espiritual dos convertidos, com base nas Escrituras, além da
pregação evangelística, tendo em vista a conversão dos não crentes. Bethan, sua
própria esposa, revela que havia se convertido nesta época: “Estive por dois anos
sob o ministério de Martyn antes que eu realmente compreendesse o que era o
evangelho... pensei que tinha de ser um bêbado ou uma prostituta para ser
convertido.” 24

20
Ibid. pp. 59-60.
21
COSTA, Antônio Carlos. As Dimensões da Espiritualidade Reformada. Goiânia: Primícias, 2012.
p.40.
22
COSTA, Antônio Carlos. As Dimensões da Espiritualidade Reformada. Goiânia: Primícias, 2012.
p.45.
23
LLOYD-JONES , David Martyn. Pregação e Pregadores. São José dos Campos: Fiel, 2008. P.95.
24
LAWSON, Steven J. A Pregação Apaixonada de Martyn Lloyd-Jones: Um Perfil de Homens
Piedosos. São José dos Campos: Fiel, 2016.p. 26.
13

De acordo com LAWSON (2016), somente aqueles com sincera profissão de


fé em Cristo foram permitidos a permanecer como membros da igreja de
Lloyd-Jones. Os vazios de confissão foram retirados dentre o rol da membresia.25
Em determinada ocasião, ele afirmou:

“A igreja sempre alcançou seus maiores trunfos


quando pregou a mensagem dupla da depravação da
natureza humana, e da necessidade absoluta da
intervenção direta de Deus para a sua salvação... uma
igreja que prega essa mensagem vai atrair ou repelir; ou
nos unimos a ela, ou a odiamos e perseguimos. Uma
coisa é certa: não podemos ignorá-la, porque sua
mensagem não vai nos ignorar; ela machuca, transtorna,
condena, enfurece, ou então convida e atrai”. (JONES,
1996, p.13)

Durante os onze anos de Lloyd-Jones em Sandfields, muitas pessoas se


achegaram a Cristo tornarando-se membros da igreja. Foi o resultado de uma
grande transformação, resultante pela Palavra de Deus e através da paixão do
grande pregador. MURRAY (2014) relata o que aconteceu nos primeiros anos de
ministério:

“... ele [Lloyd-Jones] parecia estar interessado


exclusivamente na parte puramente ‘tradicional’ da vida
da igreja, que consistia dos cultos regulares de domingo
(às 11 da manhã e às 6 da tarde), uma reunião de oração
nas segundas-feiras, e uma reunião de meio de semana
nas quartas. Tudo mais podia ser deixado de lado e,
assim, as atividades particularmente designadas para
atrair os de fora logo tiveram fim. O fechamento da
sociedade teatral postou um problema prático, qual seja:
Que fazer com o palco de madeira que ocupava uma
parte do salão da igreja? ‘Vocês podem aquecer a igreja
com isso’, disse o novo ministro ao Comitê... A igreja iria
avançar, não por aproximar-se do mundo, mas por
representar no mundo a verdadeira vida e privilégio dos
filhos de Deus”.(MURRAY, 2014, p.100)

25
LAWSON, Steven J. A Pregação Apaixonada de Martyn Lloyd-Jones: Um Perfil de Homens
Piedosos. São José dos Campos: Fiel, 2016.p. 26.
14

COSTA (2016) corrobora a transformação que a pregação apaixonada de


Lloyd-Jones operou, fazendo com que pessoas aparentemente impenitentes
tivessem um encontro com Deus e o profundo sentimento de arrependimento dos
seus pecados:

“O mais impressionante para os que


testemunharam aqueles anos iniciais em Abaveron foram
os relatos de conversão de pessoas aparentemente
incorrigíveis... O tipo de cristão que estava surgindo como
resultado do trabalho de MLJ também chamava a
atenção de muitos. Eram pessoas que conseguiam
permanecer duas horas num culto e que pareciam não ter
mais gosto para nada, a não ser os encontros cristãos.”
(COSTA, 2012, p.16)

No ano de 1935, um encontro com o Dr. Campbell Morgan (ministro da


Capela de Westminster) foi crucial para a mudança de Lloyd-Jones de Abaveron, no
País de Gales, para Londres, a capital inglesa. Morgan se impressinou com o
trabalho a ponto de pedí-lo que se juntasse a ele. A oferta foi recusada, pois Martyn
Lloyd-Jones recebera uma proposta de trabalho na área de ensino da faculdade
teológica de sua denominação em Bala, norte de Gales. Curiosamente, a vaga foi
destituída e Lloyd-Jones aceitou o convite para pastorear em Westminster. Havia
chegado à conclusão de que seu trabalho em sua terra natal tivera terminado. Numa
carta enviada ao seu grande amigo Sr. E. T. Rees, expressou seus sentimentos em
relação aos primeiros anos de ministério em Abaveron:

“Ainda me parece totalmente impossível dar-me


conta de que não sou mais ministro em Sandfields,
Abarevon... o que o futuro nos reserva não sabemos,
mas não há a mínima possibilidade de que seja mais feliz
do que nos anos recém-passados” (MURRAY, 1996,
p.45)

Em setembro de 1938, Lloyd-Jones realizou o seu primeiro culto em Londres


na posição de pastor auxiliar de Morgan. Sua mensagem profundamente evangélica,
15

chamando os ouvintes ao arrependimento, logo tomou a atenção de todos. Murray


relata a surpreendente harmonia existente entre o Dr. Campbell e Lloyd-Jones, pois
havia grande diferença entre eles, tanto no aspecto pessoal quanto no púlpito:

“Morgan embora evangélico em sua lealdade à


Bíblia, tinha uma estrutura doutrinária pouco precisa para
seu pensamento, que era arminiano em suas afinidades”.
Warren W. Wiesbe concorda com Murray: ‘Ele [Campbell
Morgan] foi basicamente um pregador dos quatro
evangelhos, mas nunca expôs, verso por verso, as
grandes epístolas doutrinárias, Romanos, Efésios e
Hebreus. ‘Ele as deixou para mim’, Lloyd-Jones falou-me
um dia, ‘e eu estou feliz por ele ter feito assim’. Penso
que uma razão pela qual Morgan evitou essas cartas é
que ele foi basicamente um pregador devocional, não um
pregador doutrinário” (COSTA, 2012, p.49)

COSTA (2012) afirma que, diante de um cenário pós-guerra e temores quanto


à possibilidade de existência da igreja, sendo recorridas estratégias para atrair
pessoas, Lloyd-Jones foi irredutível. Permanecia fiel à pregação e, aos poucos, a
igreja retornou ao número de frequentadores antes da Segunda Guerra. Insistia em
exposições de livros da Bíblia inteiros.26 Os cultos eram simples, com poucos hinos
e avisos. LAWSON (2016) resume a logística da Capela de Westminster nos tempos
de Lloyd-Jones: aos domingos, pela manhã, pregava sobre o cristianismo
experiencial (experimental) para os convertidos. À noite, pregava mensagens
evangelísticas aos não-crentes. Às sextas-feiras, pela noite, pregava mensagens
doutrinárias de teologia sistemática e mensagens expositivas da carta aos
Romanos.27
O ano de 1979 marcou o fim das atividades de Lloyd-Jones. Três anos antes,
passou por procedimento operatório a fim de retirar a próstata, mas o câncer
reincidiu. Em 7 de novembro do mesmo ano foi o dia de sua última pregação na
Capela de Westminster. No dia 8 de junho de 1980 pregou seu último sermão, na

26
COSTA, Antônio Carlos. As Dimensões da Espiritualidade Reformada. Goiânia: Primícias, 2012.
p. 52-53.
27
LAWSON, Steven J. A Pregação Apaixonada de Martyn Lloyd-Jones: Um Perfil de Homens
Piedosos. São José dos Campos: Fiel, 2016. p.31.
16

Igreja Batista de Barcombe. Dois dias antes de sua morte, escreveu à sua esposa e
filhos: “Não orem pedindo que eu seja curado. Não me privem da glória”. 28
No dia 1° de março de 1981, justamente treze anos após ter pregado seu último
sermão em Westminster, morria Martyn Lloyd-Jones, a quem John Stott afirmou: “A
mais poderosa e persuasiva voz da Grã-Bretanha por uns trinta anos, está agora
silenciosa”.29

1.2. Influência puritana na teologia da Martyn Lloyd-Jones

Ao citar o Movimento Puritano, COSTA (2012) como o principal elemento de


inspiração.30 O contato de Lloyd-Joncom a autobiografia de Richard Baxter, pastor e
telólogo puritano, e depois com o livro “A Vida de Richard Baxer”, escrito por
F. J. Powick, mudou radicalmente sua trajetória ministerial, levando-o a um grande
interesse pelos reformadores ingleses:

“O meu real interesse surgiu em 1925, quando, de


um modo que não necessito explicar agora, sucedeu que
eu li uma nova biografia de Richard Baxer, recém-
publicada na época. Eu tinha lido uma resenha dessa
obra no então British Weekly, e me senti tão atraído que
a comprei. Desde aquele tempo, um verdadeiro interesse
pelos puritanos e suas obras me prendeu, e sou franco
em confessar que todo o meu ministério tem sido
governado por isso” (LLOYD-JONES, 2016, p.278)

A preponderância da mentalidade puritana era claramente perceptível


em seu ministério. Notas periódicas a respeito das pregações de Lloyd-Jones
testemunhavam a semelhança entre ele e os pregadores puritanos: “Personalidade
dominante, intensidade de convicção, clareza de pensamento e o caráter direto do

28
LAWSON, Steven J. A Pregação Apaixonada de Martyn Lloyd-Jones: Um Perfil de Homens
Piedosos. São José dos Campos: Fiel, 2016. p.36.
29
Quarta capa do livro de MURRAY, Iain H. A Vida de D. Martyn Lloyd-Jones 1899-1981: Uma
Biografia. São Paulo: PES, 2014.
30
COSTA, Antônio Carlos. As Dimensões da Espiritualidade Reformada. Goiânia: Primícias, 2012.
p. 59.
17

seu discurso, com inteira ausência de empenho em produzir efeito oratório, retratam
este puritano moderno” (MURRAY, 2014, p.179).”31 Além de Richard Baxer, Martyn
Lloyd-Jones cita também Jonathan Edwards, o notável pastor norte-americano do
Primeiro Grande Avivamento.32 De linha teológica calvinista, Edwards foi outro
teólogo que influenciou grande parte do seu ministério pastoral.33

COSTA (2012) reitera, resumidamente, que para Lloyd-Jones “o puritanismo


veio a ser a vertente do calvinismo que viria a governar todo o seu ministério” e que
ele deveria “ser visto acima de tudo como um pregador, calvinista-puritano.”34 Além
da biografia e dos escritos dos puritanos, outro tema de grande interesse para Lloyd-
Jones era a história dos avivamentos:

“Outra coisa muito boa que há para fazermos é ler


sobre os avivamentos. Esse é combiustível de que o fogo
gosta. Leiam sobre a vida dos santos; leiam sobre a vida
dos grandes pregadores que pregaram nos
avivamentos... depois da Bíblia, não há nada que seja
mais proveitoso, mais estimulante, mais revigorante, do
que ler tais narrativas... Quando fico cansado ou
desanimado e com preguiça, até hoje nunca li alguma
coisa sobre Whitefield, os Wesley e Jonathan Edwards
que não me deixasse imediatamente restaurado e com a
chama reavivada”. (LLOYD-JONES, 2003, pp.449-450)

No campo do desenvolvimento teológico, um conceito fundamental entre os


reformados e puritanos adotado por Lloyd-Jones foi a supremacia autoritativa que
a Bíblia deve exercer na vida cristã. A Confissão de Fé de Westminster35 defende

31
MURRAY, Iain H. A Vida de D. Martyn Lloyd-Jones 1899-1981: Uma Biografia. São Paulo: PES,
2014. p.179.
32
Também conhecido como Primeiro Grande Despertamento, foi um período de grande
transformação espiritual, ocorrido principalmente no Reino Unido e nos Estados Unidos, entre os
anos de 1730 e 1740.
33
LLOYD-JONES , David Martyn. Os Puritanos – Suas Orígens e Seus Sucessores. São Paulo:
PES, 2016. p.278.
34
Ibid.
35
A Confissão de Fé de Westminster é parte dos documentos chamados “Padrões de Westminster”,
elaborado em 1649 pela Assembleia de Westminster, com mais de mil sessões. De autoria
majoritariamente puritana, teve o intuito de estabelecer uma maior unidade teológica entre as igrejas
reformadas inglesas e escocesas.
18

que esta autoridade se fundamenta na compreensão basilar da autoria divina das


Sagradas Escrituras:

“A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela


qual deve ser crida e obedecida, não depende do
testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende
somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu autor;
tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de
Deus.”36

Comentando este trecho da Confissão de Fé de Westminster,


VAN DIXHOORN (2017) afirma que “precisamos de uma razão adequada para
obedecer e acreditar na Santa Escritura... [e] a única autoridade suficiente para
ordenar nosso comprometimento com a Escritura é o próprio Deus”.37 Assim sendo,
o comprometimento às Sagradas Escrituras jamais deve se basear na influência que
elas exercem sobre outras pessoas, nem por conta do mandamento de uma
instituição. O fator determinante de sua autoridade é sua procedência. Esta
formulação de soberania por conta da sua natureza divina é encontrada desde a
formulação da Teologia Calvinista. A respeito disto, Lloyd-Jones testemunha sobre
João Calvino:

“O aspecto principal de Calvino é que ele baseia


tudo na Bíblia... é nas “Institutas” que se obtém teologia
bíblica pela primeira vez, em vez de teologia dogmática.
Calvino não arrazoa de modo indutivo, como os católicos
romanos, mas em vez disso, extrai conclusões e elabora
de maneira dedutiva aquilo que é ensinado na Bíblia.”
(COSTA, 2012, p.128)

36
ASSEMBLEIA DE WESTMINSTER. Símbolos de Fé: contendo a Confissão de Fé, Catecismo
Maior e Breve. São Paulo: Cultura Cristã, 2005. p.11.
37
VAN DIXHOORN, Chad. Guia de Estudos da Confissão de Fé de Westminster. São Paulo:
Cultura Cristã, 2017. p.38.
19

Calvino, de fato, definiu a Bíblia como Palavra irrevogável e única fonte


autoritativa para o cristão quando afirma que “... o Senhor quis que somente a
Escritura conservasse a perpétua memória de sua verdade... ouvindo-se nela a voz
viva do próprio Deus.”38 O Puritanismo, seguindo o princípio de Calvino, também
salienta esta concepção de autoridade. RYKEN (2013) cita John Owen, puritano do
séc. XVI, quando afirmou que “toda a autoridade da Escritura... depende unicamente
de sua origem divina... A Escritura tem toda autoridade de seu Autor.” 39
Além disto, outro fator de grande importância do pensamento puritano para a
teologia de Martyn Lloyd-Jones, subjacente à autoridade bíblica, foi
o reconhecimento das doutrinas contidas nela. Em sua Teologia Sistemática,
GRUDEM (1999) afirma que “uma doutrina é o que a Bíblia como um todo nos
ensina [...] acerca de algum tópico específico.”40 Sendo a teologia sistemática
a compilação e organização de verdades doutrinárias com base em versículos, se
torna de vital importância a familiarização deste tipo de organização para instrução
e amadurecimento espiritual. Lloyd-Jones compreendia esta importância, pois
afirmou que “... nada é mais importante para um pregador do que o fato que ele
deve ter uma teologia sistemática, deve conhê-la profundamente e arraigar-se
nela”.41
O sentimento puritano a respeito da pregação, em geral, era de que Deus
edifica a Sua igreja principalmente por intermédio da pregação. Como o texto do
apóstolo Paulo afirma, a exposição bíblica é eficiente “... para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na justiça”42, e esta instrução
só se torna possível a partir do momento em que a pregação tem caráter doutrinário.
PACKER (2016) descreve a convicção dos puritanos sobre a necessidade

38
CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã, Tomo I, Livros I e II. São Paulo: UNESP, 2008.
p. 71.
39
REYKE, Leland. Santos no Mundo: Os Puritanos Como Realmente Eram. São José dos
Campos: Fiel, 2012. p. 239.
40
GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999. p. 4.
41
LLOYD-JONES , David Martyn. Pregação e Pregadores. São José dos Campos: Fiel, 2008. p.66.
42
BÍBLIA de Estudo da Reforma. A inspiração, valor e utilidade das Santas Escrituras. Barueri:
Sociedade Bíblica do Brasil, 2017. p.2073. Novo Testamento.
20

doutrinária nos sermões: “À pergunta ‘devemos pregar doutrina?’, a resposta dos


puritanos teria sido: ‘Ora, o que mais existe para pregarmos?’.43
Martyn Lloyd-Jones elevou a importância da pregação doutrinária em um
período em que grande parte das lideranças cederam ao pragmatismo religioso,
a fim de atrair às congregações o maior numero possível de pessoas.
Na contramão dos ministros de seu tempo, Lloyd-Jones defendia a primazia
da Bíblia, além da presença de princípios morais e éticos contidos nela, afim de
aplica-las à vida do cristão, com base na argumentação e persuasão do Espírito
Santo.44 COSTA (2012) assevera, de forma suscinta, que Lloyd-Jones deve ser
considerado “um pregador doutrinário”45.

43
PACKER, J. I. Entre os Gigantes de Deus: Uma Visão Puritana da Vida Cristã. São José dos
Campos: Fiel, 2016. p. 468.
44
LLOYD-JONES , David Martyn. Pregação e Pregadores. São José dos Campos: Fiel, 2008. p.71.
45
COSTA, Antônio Carlos. As Dimensões da Espiritualidade Reformada. Goiânia: Primícias, 2012.
p. 102.
21

2. TEOLOGIA E ESPIRITUALIDADE REFORMADA: O LEGADO DE MARTYN


LLOYD-JONES ATRAVÉS DA PREGAÇÃO

2.1 . Espiritualidade Reformada: uma introdução ao conceito na tradição


protestante dos puritanos

Ao falar sobre espiritualidade, MCGRATH (2010) a classificou como “algo


relacionado à uma experiência com Deus e à transformação de vidas resultantes
desta experiência”.46 A partir deste princípio, a teologia da Reforma Protestante se
interessa em responder às questões que surgem a partir do relacionamento com
o Deus Triuno e o que se sucede deste relacionamento. COSTA (2012) reafirma
este conceito ao dizer que a espiritualidade “... vem a ser a relação do homem
integral com Deus através de Cristo no Espírito Santo”.47
CALVINO (2008), ao afirmar o propósito de escrever “As Institutas da Religião
Cristã”, produziu-as com o intuito de “ensinar alguns rudimentos pelos quais seriam
formados para a verdadeira piedade os que tivessem experimentado algum zelo da
religião”.48 Ao escrever “As Institutas”, João Calvino desenvolveu o que, para muitos,
foi a primeira grande sistematização das doutrinas reformadas (inclusive, sendo
também a opinião de Lloyd-Jones). Com o objetivo primário de dar sustentação à
piedade prática, a obra magna de Calvino ofereceu muito mais do que uma
organização lógica das verdades cristãs.
BEEKE (2014) afirma que, para João Calvino, “a compreensão teológica e
piedade prática, verdade e utilidade, são inseparáveis” e assim, antes de tudo, “a
teologia trata do conhecimento – conhecimento de Deus e de nós próprios”.49
Portanto, a teologia calvinista enfatizava tanto o coração quanto a mente. O conceito
de pietas (piedade) é um dos temas mais importantes da teologia calvinista.

46
McGRATH, Alister E. Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma Introdução à Teologia
Cristã . São Paulo: Shedd Publicações, 2010. p.186
47
COSTA, Antônio Carlos. As Dimensões da Espiritualidade Reformada. Goiânia: Primícias, 2012.
p.33.
48
CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã, Tomo I, Livros I e II. São Paulo: UNESP, 2008.
p. 13.
49
BEEKE, Joel R.Espiritualidade Reformada. São José dos Campos: Fiel, 2014. p.24.
22

Para o reformador genebrino, pietas designa a atitude correta do homem para com a
Divindade.50 Este posicionamento diante de Deus é tema fundamental para a
Teologia Reformada. No Catecismo Maior de Westminster, a primeira questão trata
sobre a finalidade do homem: “O fim supremo e principal do homem e glorificar a
Deus e gozá-lo para sempre”.51
Historicamente, o Puritanismo é considerado a segunda geração da
Reforma Protestante, que aconteceu na Alemanha e na França de Lutero e Calvino
respectivamente, assim como em outros países da Europa continental.
Martyn Lloyd-Jones afirma que a manifestação do espírito puritano começou com
William Tyndale, por volta de 1524, através do desejo de traduzir a Bíblia para
a língua inglesa, que fosse acessível às pessoas comuns, num período em que
a igreja da Inglaterra adotava os mesmos moldes da Igreja Romana.52
Posteriormente, Henrique VIII, rei da Inglaterra, rompeu com Roma por
um motivo excuso: ter o direito de se casar novamente, o que era intolerável aos
olhos de Roma. Debaixo de pretextos doutrinários, estabeleceu a Igreja Anglicana e
se tornou o chefe supremo eclesiástico, viabilizando um novo matrimônio para si
mesmo. Por se tratar de um desejo não genuíno de reformar a Igreja, aspectos
essenciais da liturgia católica permaneceram na Igreja Anglicana, como imagens e
cultos ministrados em latim. Mais uma vez, Lloyd-Jones afirma que tudo isto
reacendeu o espírito puritano, uma década depois.53 Alguns permaneceram no
Anglicanismo, desejando mudá-la de dentro para fora; já outros foram para a Europa
Continental, onde puderam aprender sob a tutela de João Calvino e Ulrico Zwinguio.
Um vento de esperança soprou para os cristãos dissidentes da Igreja
Anglicana quando o rei Eduardo VI, com apenas 9 anos, subiu ao trono. Apesar de
ser apenas uma criança, Eduardo era entusiasta da teologia reformada protestante.

50
BEEKE, Joel R. Espiritualidade Reformada. São José dos Campos: Fiel, 2014. p.24.
51
O Catecismo Maior de Westminster. Disponível em:
http://www.monergismo.com/textos/catecismos/catecismomaior_westminster.html. Acesso em
27.abr.2021.
52
LLOYD-JONES , David Martyn. Os Puritanos – Suas Orígens e Seus Sucessores. São Paulo:
PES, 2016. p.281.
53
Ibid.
23

O que poderia significar liberdade religiosa na Inglaterra logo veio ao fim:


o rei Eduardo VI morre com apenas 15 anos, dando lugar à sua meia-irmã, Maria
Tudor, conhecida também como “A Sanguinária”. Sendo uma devota católica,
reverteu as reformas implantadas por seu irmão e passou a perseguir os cristãos
que rejeitaram os ensinamentos da Igreja de Roma. Novamente, os cristãos
protestantes se viram obrigados a fugir para o continente, para os países onde a
Reforma encontrava-se estabelecida. Segundo LOPES (2017), após a morte de
Maria Tudor, em 1558, os puritanos retornam à Inglaterra, sob decreto de
Elizabeth I, exigindo uma reforma completa na Igreja Anglicana, através de “teologia
pura, liturgia pura, governo puro e vida pura”.54
Ao definir as particularidades da espiritualidade Puritana, BEEKE (2020)
sugere quatro pontos essenciais que os disntinguem como um movimento histórico:
a busca pela compreensão da natureza trinitária de Deus, a igreja como agente
essencial para os propósitos de Cristo, a conversão individual e verdadeira de cada
crente e a pregação perene da Palavra de Deus.55 Ao unir estes pontos
fundamentais, o Puritanismo exerceu grande influência nas diversas áreas da vida
dos cristãos de seu tempo.
Conforme RYKEN (2013) argumenta, esta compreensão de integralidade na
espiritualidade foi uma das grandes forças dos puritanos. O autor supracitado
considera que a piedade, anteriormente elaborada por João Calvino, fez com que
eles frequentemente colocassem Deus em primeiro lugar e o valorizassem em tudo
o mais.56 Para os puritanos, Deus não era tão somente o centro da vida, Ele também
era visto como o doador de toda a vida. Ao desenvolver este conceito, uma das
consequências foi o reconhecimento da presença e atuação divina nos eventos
cotidianos. J. I. Packer afirma que:

54
LOPES, Hernandes Dias Lopes. Reforma Protestante – Hernandes Dias Lopes. Youtube, 2017.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=YoujvnpbBLY
55
Puritanos: Toda a Vida Para a Glória de Deus. Direção: Joel Beeke. Produção: John Snyder.
New Albany: Media Gratiae, 2020.
56
REYKE, Leland. Santos no Mundo: Os Puritanos Como Realmente Eram. São José dos
Campos: Fiel, 2012. p.337.
24

“Como parte da tradição reformada, os puritanos


lutaram para glorificar a Deus em todas as esferas da
sociedade: no estudo das Escrituras, no trabalho, no
casamento, na família, na pregação, na igreja e no culto,
na educação e na ação social. Em todo esse esforço,
eles viam Deus no dia a dia e nas coisas simples da vida,
evidenciando um extraordinário senso da presença de
Deus.” (PACKER, 2016, p.8)

2.2 . Teologia e Piedade: a importância da mente e do coração na exposição


bíblica de Martyn Lloyd-Jones

Na introdução do seu livro “Espiritualidade Reformada”, BEEKE (2014)


assevera que “o problema com grande parte da espiritualidade atual [...] é que ela
não está atada solidamente à Escritura”.57 Em seguida, o autor acima mencionado
sugere a necessidade da dupla ênfase do amadurecimento tanto da mente quanto
da alma como forma de solucionar esta situação, pois assim “de um lado,
confrontamos o problema da ortodoxia árida... [e] do outro lado, um cristianismo
pentecostal e carismático não radicado solidamente na Escritura”.58 É observado no
Puritanismo este equilíbrio saudável em seu conceito de espiritualidade, que
envolvia não somente o intelecto como também um estímulo às emoções. Quanto
a isto, RIKEN (2012) afirma que “os puritanos valorizaram uma apreensão espiritual
da doutrina cristã, mas ao mesmo tempo perseveravam o lado emocional da
experiência religiosa”.59
Ao estabelecerem o equilíbrio destas partes, os puritanos moldaram
uma espiritualidade prática que COSTA (2012) denominou como a “simetria” que
deve “caracterizar a vida cristã”60, pois eles haviam equilibrado esta vida em três

57
BEEKE, Joel R. Espiritualidade Reformada. São José dos Campos: Fiel, 2014. p.18.
58
Ibid.
59
RYKEN, Leland. Santos no Mundo: Os Puritanos Como Realmente Eram. São José dos
Campos: Fiel, 2012. p.355.
60
COSTA, Antônio Carlos. As Dimensões da Espiritualidade Reformada. Goiânia: Primícias, 2012.
p. 109.
25

perspectivas, harmoniosamente distribuídas: intelectual, experimental e prática.61


Esta compreensão considerava aspectos da mente e da vivência. BEEKE (2019)
amplia e concorda com Costa ao dizer que a fé cristã tem que ser “experimentada,
desfrutada e vivida”.62 O autor supracitado menciona John Newton (1725-1807),
puritano anglicano, que afirmou a questão nos seguintes termos: “a doutrina é o
tronco; a experiência, os ramos; a prática, o fruto”.63
BEEKE (2021) declara que o movimento puritano (chamado de “era de outro
da pregação”) entendia que era por meio da dela e também da publicação de
sermões que os puritanos procuravam reformar a igreja e a vida diária das
pessoas.64 Para que isto acontecesse, a pregação, como meio de graça (um
intermédio pelo qual Deus comunica seus benefícios aos crentes), precisou envolver
um outro aspecto tríplice: exposição, doutrina e aplicação do texto bíblico. Leland
Ryken (2012) relata que esta fórmula homilética é atribuída a William Perkins
(puritano inglês do séc. XVI), esboçada em seu livro “A Arte de Profetizar”, que dá
estrutura ao método costumeiramente nomeado de “sermão de três pontos”,
bastante utilizado entre ministros reformados: (1) interação com o sentido superficial
do texto, (2) dedução de princípios doutrinários e morais e (3) demonstração de
como aqueles princípios podem ser aplicados à vida cristã diária”. 65 BEEKE (2019)
corrobora com Ryken sobre como era esta forma: “a primeira parte de um sermão
puritano era exegético e expositivo; a segunda, doutrinária e didática; e a terceira
era a aplicação”.66 Martyn Lloyd-Jones, considerado um “puritano do séc. XX”,
seguiu diligentemente aos seus antecessores.
A característica preliminar da pregação de Martyn Lloyd-Jones, oriunda da
tradiçã puritana, é a primazia da Bíblia como autoridade única e final em lugar de

61
COSTA, Antônio Carlos. As Dimensões da Espiritualidade Reformada. Goiânia: Primícias, 2012.
p. 21.
62
BEEKE, Joel R. Pregação Reformada. São Paulo: Fiel, 2019. p.46.
63
Ibid. p. 47.
64
Puritanos: Toda a Vida Para a Glória de Deus. Direção: Joel Beeke. Produção: John Snyder.
New Albany: Media Gratiae, 2020.
65
RYKEN, Leland. Santos no Mundo: Os Puritanos Como Realmente Eram. São José dos
Campos: Fiel, 2012. p.178.
66
Ibid. p. 225
26

filosofias e considerações sobre um assunto por parte do pregador. Ele, ao realizar


uma de suas palestras sobre o tema da pregação, afirmou que ela é “tarefa
primordial da igreja, [e] está alicerçada na evidência das Escrituras”.67 Em outra
ocasião, afirmou:
“... o método anglicano consistia em tomar um
assunto, às vezes teológico ou ético, ou algum tema
geral, e então pregar uma dissertação sobre esse
assunto particular. É isso que se vê nas homilias e em
outros lugares. A ideia puritana, por outro lado, se
preocupava mais com a exegese exata de um texto
bíblico. Você parte de uma palavra, de um versículo ou
parágrafo, e a sua primeira tarefa é descobrir o seu
sentido exato.” (LLOYD-JONES, 2016, p.440)

De acordo com LAWSON (2016), “Lloyd-Jones cria na inspiração das


Escrituras de modo específico. Ele afirmava a inspiração verbal da Bíblia. Ou seja,
insistia que cada palavra da Bíblia é produto infalível do próprio Deus.” 68
Sendo assim, Lloyd-Jones acreditava não somente que a mensagem bíblica era
divina, mas até as palavras escolhidas pelos autores bíblicos eram inspiradas pelo
Espírito Santo. Cria que cada palavra se tratava de um resultado infalível do próprio
Deus. Crendo na particularidade do texto até em porções menores, Lloyd-Jones
defendia a também o conceito de inspiração plenária das Escrituras.
Além da inspiração bíblica, Martyn Lloyd-Jones também advogava para as
verdades (doutrinas) contidas no texto exposto, extraindo um princípio que pudesse
solucionar problemas de qualquer ordem na vida cristã. LLOYD-JONES (2016)
afirma que “depois, tendo descoberto o sentido exato do texto escolhido, você
encontra a doutrina nesse texto”.69 Estas verdades que emergiam do texto davam o
sentido à pregação. Como forma de confirmar que o texto surgia do correto trabalho
de interpretação da Bíblia, os puritanos elaboravam razões que justificavam a

67
LLOYD-JONES, David Martyn. Pregação e Pregadores. São José dos Campos: Fiel, 2008. p.28.
68
LAWSON, Steven J. A Pregação Apaixonada de Martyn Lloyd-Jones: Um Perfil de Homens
Piedosos. São José dos Campos: Fiel, 2016. p.55.
69
LLOYD-JONES, David Martyn. Puritanos: suas origens e seus sucessores. São Paulo: PES,
2016. p.440.
27

descoberta desta doutrina, além de relacioná-la com outros textos, confirmando a


ideia em questão. 70
Adiante, o ensino doutrinário de Lloyd-Jones o levava à aplicação.
À aplicação destes princípios bíblicos, os puritanos a chamavam de “usos do texto”.
O alvo deste ponto, segundo Richard Baxter, era “fixar a verdade em suas
mentes”.71 Martyn Lloyd-Jones adotou o método puritano de pregação. Certa vez,
a respeito da pregação, falou que: “...a primeira metade... é doutrinária, e a segunda
parte é prática ou aplicativa”72. Com isso, LAWSON afirma que:

“Lloyd-Jones enfatizou a necessidade do expositor


incorporar tanto o doutrinário quanto o prático, em sua
pregação. Tem de haver ambos: ensino e aplicação da sã
doutrina. Tal ênfase dupla distingue um sermão de uma
palestra. A palestra só tem ensino, enquanto o sermão
tem o ensino e a aplicação, junto com a exortação.”
(LAWSON, 2016, pp.82-83)

No período ministerial de pregação de Martyn Lloyd-Jones, o conceito


puritano de pregação expositiva era encontrada em pouca estima.
O próprio Lloyd-Jones afirmou que os pregadores deixaram de ser mensageiros para
se tornarem “pulpireiros”, meros profissionais. 73 LAWSON (2016) afirma que,
contrariamente, Lloyd-Jones era “um puritano nascido fora do seu tempo, que
resistia fortemente ao clamor das atrações entranhadas no homem”74. Apesar do
ceticismo de muitos, Lloyd-Jones não somente adotou a pregação expositiva como
também realizada de maneira sequencial, versículo por versículo, outra
característica tipicamente puritana.75

70
Ibid.
71
BEEKE, Joel R. Pregação Reformada: Proclamando a Palavra de Deus do Coração do
Pregador Para o Coração do Povo de Deus. São Paulo: Fiel, 2019. p.227.
72
LLOYD-JONES, David Martyn. Pregação e Pregadores. São José dos Campos: Fiel, 2008. p.?
73
LLOYD-JONES, David Martyn. Pregação e Pregadores. São José dos Campos: Fiel, 2008. p.19.
74
LAWSON, Steven J. A Pregação Apaixonada de Martyn Lloyd-Jones: Um Perfil de Homens
Piedosos. São José dos Campos: Fiel, 2016.p.52.
75
Ibid.
28

A quantidade de pregações palestras realizados por Martyn Lloyd-Jones,


dentre as quais muitas foram redigidas por membros da Capela de Westminster
e publicados originalmente pela editora Banner of Thuth Trust se tornou um vasto
material de exposições bíblicas, utilizado em países de língua inglesa como também
em outros idiomas pelo mundo inteiro. BEEKE (2016) resume o trabalho homilético
de Lloyd-Jones:

“A mais famosa série de exposições de Lloyd-Jones, de


domingo pela manhã, foi de sessenta sermões
consecutivos sobre o Sermão do Monte. Esta série
começou em outubro de 1950 e foi até 1952. Outras
séries matinais de domingo incluíram treze sermões em
João 17 (1952), onze sermões no Salmo 73 (1953), e
vinte e um sermões sobre depressão espiritual (1954). A
sua série mais longa de domingo pela manhã foi do livro
de Efésios, versículo por versículo, compreendendo 260
sermões (outubro 1954 a julho 1962). Em meio a Efésios,
Lloyd-Jones fez uma pausa para pregar vinte e seis
sermões sobre avivamento (1959). A série sobre Efésios
foi seguida por uma série mais curta de catorze sermões
em Colossenses (1962). Sua série final de pregações aos
domingos pela manhã foi no evangelho de João, em que
pregou os primeiros quatro capítulos (1962 a 1968), até o
dia em que se aposentou.” (BEEKE, 2016, pp.72-73)

O autor supracitado complementa planejamento expositivo de Lloyd-Jones


durante os trinta anos de pregação na Capela de Westminster, sua congregação,
além de palestras realizadas em outros locais:

“Tendo esse foco intensamente bíblico, Lloyd-


Jones entregou mais de quatro mil sermões do púlpito da
Capela Westminster, durante os seus trinta anos de
pastorado ali. De 1938 até 1968, ele geralmente pregava
duas vezes aos domingos—uma pela manhã e outra à
noite. Além disso, começando em 1952, ele também
pregava nas sextas-feiras à noite, até sua aposentadoria
em 1968. Nesses dezesseis anos, ele pregava às sextas-
feiras, de setembro a maio. Durante a semana, também
conduzia regularmente turnês de pregação por todo o
interior da Inglaterra. Nestas viagens, frequentemente
pregava múltiplas vezes, além dos seus deveres em
Westminster. Além disso, ele pregou em muitas
conferências na Inglaterra e no País de Gales.
29

Acrescentado a isso havia responsabilidades ocasionais


de pregação em numerosas conferências de pastores
nos Estados Unidos, onde ele estava se tornando
conhecido tanto quanto o era na Inglaterra.” (BEEKE,
2016, pp. 82-83)

Aliado à compreensão da autoridade bíblica, à busca pela doutrina do texto


e ao entendimento de que o texto precisa ser aplicado, um elemento fundamental da
pregação de Lloyd-Jones, que converge em todos estes os pontos, é a capacitação
e dependência do Espírito Santo na pregação. LAWSON (2016) afirma sobre esta
subordinação ao dizer que “Lloyd-Jones estava cônscio de sua completa
dependência no Espírito Santo... Sua total dependência de Deus era necessária
para a iluminação divina em seu estudo e para sua energia sobrenatural no
púlpito.”76 BEEKE (2019), ao falar sobre o assunto, concorda com Lawson,
pois advoga que o “cristianismo experiencial não é apenas um resultado de
pregação; é uma qualificação essencial para o pregador.” 77
Sem sombra de dúvidas, Lloyd-Jones era um defensor desta abordagem a
respeito da pregação eficiente. Certa vez, citou 1ª Coríntios 2:4 como forma de
argumentar esta “cooperação misteriosa”: “A minha palavra e a minha pregação não
consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do
Espírito e de poder.”78 Lloyd-Jones enxergava na pregação o ofício mais elevado
que alguém poderia ter, o que não significava o trabalho mais importante, pois isto
iria contra à compreensão puritana do chamado universal de todos os cristãos.
O status concedido por Lloyd-Jones à exposição bíblica se dava pela grande
urgência da “pregação autêntica”, necessária à igreja do seu tempo:

“Quero dizer, essencialmente, que o instante em


que consideramos a necessidade real do homem, bem
como a natureza da salvação anunciada e proclamada

76
LAWSON, Steven J. A Pregação Apaixonada de Martyn Lloyd-Jones: Um Perfil de Homens
Piedosos. São José dos Campos: Fiel, 2016.p.149.
77
BEEKE, Joel R. Pregação Reformada: Proclamando a Palavra de Deus do Coração do
Pregador Para o Coração do Povo de Deus. São Paulo: Fiel, 2019. p.507.
78
LLOYD-JONES, David Martyn. Discernindo os Tempos. São Paulo: PES, 1994. p.273.
30

nas Escrituras, chegamos obrigatoriamente à conclusão


de que a tarefa primordial da igreja consiste em pregar e
proclamar a verdade, a fim de mostrar a verdadeira
necessidade do homem e demonstrar o único remédio, a
única cura, para essa necessidade.” (LLOYD-JONES,
2008, p.29)

Este tipo de pregação, considerada por Lloyd-Jones como verdadeira,


apostólica e evangélica, é mais um fruto oriundo do puritanismo. PACKER (2016)
cita o Westminster Directory for the Public Worship of God (Diretórito para Culto
Público a Deus), um dos documentos dos “Padrões de Westminster” , quando afirma
que “a pregação da Palavra, sendo o poder de Deus para a salvação e uma das
maiores e mais excelentes obras que cabem ao ministro... deve ser feita de tal modo
que o obreio não fique envergonhado, mas venha a salvar a si mesmo e aos seus
ouvintes”.79

2.3 A contribuição pastoral e teológica dos puritanos Richard Baxter e John


Owen

Em sua obra “Teologia Puritana: Doutrina Para a Vida”, Joel Beeke (2016)
argumenta que o movimento puritano foi mais diversificado do que podia parecer aos
olhos de quem o enxergava.80 Para comprovar esta tese, ele afirma que
Richard Baxter (1615-1691) não poderia ser considerado um puritano nos mesmos
moldes que John Owen (1616-1683), por exemplo. Ademais, o autor supracitado
assevera que “debates teológicos vigorosos entre Baxter e Owen revelam que suas
diferenças iam bem além de questões semânticas”.81 Mesmo assim, estes dois
homens, bem como muitos outros, eram considerados verdadeiramente parte do
movimento teológico mais abrangente denominado “ortodoxia reformada” puritana.

79
PACKER, J. I. Entre os Gigantes de Deus: Uma Visão Puritana da Vida Cristã. São José dos
Campos: Fiel, 2016. p.456.
80
BEEKE, Joel R., JONES, Mark. Teologia Puritana: Doutrina Para a Vida. São Paulo: Vida Nova,
2016. p.24.
81
Ibid.
31

Mesmo existindo grandes divergências entre Baxter e Owen, eles serviram de


inspiração e referência para muitos teólogos e pastores. A respeito disto, MURRAY
(2014) corrobora este testemunho na vida de Martyn Lloyd-Jones:

“... sua descoberta de Richard Baxter em 1925


tinha sido acompanhada por outras aquisições de obras
do século dezessete, compradas em livrarias e sebos em
Londres... Presentes de casamento dados por amigos
tinham incluído coleções de obras de segunda mão de
John Owen e de Richard Baxter. No transcurso do tempo,
Owen ganhou sua preferência, mas ele sempre valorizou
muito o livro Christian Directory, de Baxter.” (MURRAY,
2014, P. 115)

Richard Baxter nasceu em 12 de novembro de 1615, em Rowton, Shropshire,


Inglaterra. Sua educação, em grande parte, foi informal. De acordo com Beeke
(2010), ele recebeu grande influência de William Perkins e Richard Sibbes.82 Após a
morte de sua mãe, estudou por quatro anos a teologia escolástica - particularmente
Tomás de Aquino, Guilherme de Ockham e Duns Scotus.83 Na Guerra Civil inglesa,
foi capelão do exército parlamentar de Oliver Cromwell. Trabalhou como pastor em
Kidderminster durante 13 anos, o que lhe rendeu muitos frutos. Após ser expulso da
igreja da Inglaterra pelo Ato de Uniformidade de 1662, retonou a pastorear no ano
de 1689 por conta do Ato de Tolerância emitido pelos reis William e Mary. Baxter
morreu em 1691 devido à uma grave doença e, de acordo com Beeke (2010), deixou

82
BEEKE, Joel R., PEDERSON, Randall J. Paixão Pela Pureza: Conheça os Puritanos. São Paulo:
PES, 2010. p.123.
83
Ibid. p.125.
32

cerca de 150 tratados teológicos, como também centenas de cartas e ensaios não
publicados.84
Algumas características de Baxter ressaltam do seu legado como pastor
e teólogo. De acordo com Joel Beeke, ele carregava um grande senso de urgência e
solenidade em suas pregações.85 A respeito disto, Baxter afirmou que ele era como
um “homem morrendo pregando para homens morrendo”.86 Por conta desta
necessidade, considerava cada sermão como o último que pregaria, além de
entender que a exposição do evangelho era o único meio para salvar os pecadores
e santificar os santos. A obra “Call to the Unconverted” (Chamado ao Não-
Convertido), em que se baseia num texto de Ezequiel 33:11, revela o apaixonado
interesse de Baxter pela evangelização. Outra caracterísca que Beeke destaca
é o ensino catequético realizado com os membros de sua igreja, de casa em casa,
comprovando o zelo pelo ministério pastoral.87 Da necessidade de direcionar os
esforços para o trabalho de visita aos membros das suas igrejas e também em
preparar pastores para esta dura tarefa, Baxter escreveu “The Reformed Pastor”
(Manual Pastoral de Discipulado, Cultura Cristã, 2008), na tentativa de corrigir
a negligência pastoral de seus dias, detalhando o zelo e a supervisão que ministros
deveriam exercer sobre eles mesmos e suas igrejas. Sobre este cuidado que
os pastores deveriam ter sobre si mesmo, BAXTER (2008) afirma, nesta obra, que:

“A incoerência entre vida e pregação é um erro


tangível na experiência de muitos pastores. Estudam
para pregar com exatidão, mas não estudam para viver
com retidão. A semana toda é pouca para estudar como
falar por uma ou duas horas; no entanto, uma hora
parece muita coisa para estudar sobre como viver
durante a semana.” (BAXTER, 2008, p.46)

84
Ibid.
85
BEEKE, Joel R., THOMPSON, Nicholas J. Puritanos: lições sobre o puritanismo. Franca:
Defesa do Evangelho, 2021. p.41.
86
Ibid.
87
Puritanos: Toda a Vida Para a Glória de Deus. Direção: Joel Beeke. Produção: John Snyder.
New Albany: Media Gratiae, 2020.
33

Ainda que Baxter defendesse algumas questões bastante controversas


em sua teologia a ponto de não serem consideradas “reformadas”, ele exerceu
grande influência em Martyn Lloyd-Jones, como já dito, através de sua exercício
ministerial e o cuidado em transmitir doutrinas sólidas para sua congregação.
Da mesma maneira em que é possível reconhecer a importância do caráter
pastoral de Baxter no ministério de Lloyd-Jones, também é perceptível a influência
de outro grande puritano na compreensão teológica do Doutor: John Owen.
Considerado por muitos como o maior acadêmico do Puritanismo a ponto de ser
chamado por Charles Spurgeon de “príncipe dos teólogos ingleses”88, Owen nasceu
em 1616, em Stadhampton, perto de Oxford. Vindo de uma família cristã, seu pai,
Henry Owen, era ministro da Igreja Anglicana. Mesmo Henry sendo anglicano,
Sinclair Ferguson afirma que nele havia tendências teológicas que se tornariam
princípios defendidos pelo movimento Puritano89. Com apenas doze anos, Owen
ingressou no Queen’s College, em Oxford, e com apenas dezenove anos já havia
recebido o título de Mestre em Artes. Ao sair de Oxford, se tornou capelão particular,
o que lhe proporcionou considerável tempo para se dedicar à produção literária.
Com grande fama na década de 1640 por conta dos seus escritos a favor do
Calvinismo e refutações contra o Arminianismo, além de um convite para pregar
para o Parlamento Inglês, Owen recebeu a oferta para ser capelão de Oliver
Cromwell (assim como Richard Baxter). No ano de 1651, Owen recebeu o título de
vice-chanceler da Universidade de Oxford (o equivalente à presidência da
faculdade). Mesmo com todo o reconhecimento de Owen, ele foi deposto do seu
cargo eclesiástico após Richard Cromwell assumir a liderança do parlamento após a
morte de seu pai, Oliver. Assim, John Owen se retirou para sua terra natal. Após um
período em Stadhampton, iniciou em 1665 uma pequena congregação em Londres,
que se juntaria com outra igreja maior. John Owen faleceu no dia 24 de agosto de
1683.

88
BEEKE, Joel R., PEDERSON, Randall J. Paixão Pela Pureza: Conheça os Puritanos. São Paulo:
PES, 2010. p.558.
89
Puritanos: Toda a Vida Para a Glória de Deus. Direção: Joel Beeke. Produção: John Snyder.
New Albany: Media Gratiae, 2020.
34

Owen foi um profícuo escritor. Sua maior produção literária (“Works”) é


composta por dezesseis volumes, divididos em três partes: os cinco primeiros
volumes tratam de questões doutrinárias, os volumes seis a nove falam a respeito da
prática cristã e os últimos seis tratam de controvérsias. A respeito dos cinco
primeiros volumes, Spurgeon afirmou que dominá-los é se tornar “um teólogo
profundo”.90 Outro trabalho de grande destaque é sua exposição do livro de
Hebreus, que é considerada o comentário definitivo sobre a epístola.91
Sobretudo, a teologia de John Owen encontra o seu âmago na compreensão
trinitária do Deus cristão. Em sua obra sobre a Pessoa do Espírito Santo, OWEN
(2012) afirma que “o ser e a natureza de Deus são o fundamento de toda verdadeira
religião e de todo santo culto no mundo”92 e, além disto, que “a revelação que ele
nos concede de si mesmo é o padrão de todo verdadeiro culto”.93 Sendo assim, é
fundamental que o adoremos como Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.
Martyn Lloyd-Jones, a respeito deste fato, afirma que “o ensino de Owen sobre a
comunhão com a Trindade nos impele a buscar a face de ‘Deus em três Pessoas’ e
nos alimentar no rico alimento de sua ‘casa de banquetes’”.94 O interesse de Lloyd-
Jones por Owen era perceptível desde o seu início de ministério. MURRAY (2014)
relata sobre o registro de Packer, onde Martyn, sua esposa Elizabeth e outros
amigos se reuniam para conversar sobre avivamento, além de Calvino e Owen e
também sobre os puritanos.95 Um dos seus livros favoritos era “The Glory of Christ”
[A Glória de Cristo], de Owen.96
Um aspecto marcante no ministério de pregação expositiva de Lloyd-Jones
que remete ao “príncipe dos puritanos” é a capacidade de tratar de um problema não

90
BEEKE, Joel R., PEDERSON, Randall J. Paixão Pela Pureza: Conheça os Puritanos. São Paulo:
PES, 2010. p.565.
91
BEEKE, Joel R., REEVES, Michael. Puritanos: toda a vida para a glória de Deus. Franca:
Defesa do Evangelho, 2021. p.45.
92
OWEN, John. O Espírito Santo. Recife: Os Puritanos, 2012. p.15.
93
Ibid.
94
FERGUSON, Sinclair B. A Devoção Trinitária de John Owen: Um Perfil de Homens Piedosos.
Campos: Fiel, 2015. p.37.
95
MURRAY, Iain H. A Vida de D. Martyn Lloyd-Jones 1899-1981: Uma Biografia. São Paulo: PES,
2014. p.299.
96
Ibid. p.470.
35

por seus sintomas, por assim dizer, mas por pelo seu princípio. LLOYD-JONES
(2016) comenta a respeito de como Owen tratou da controvérsia entre
independentes e presbiterianos em seus dias:

“Começamos com o método de Owen, sua


abordagem em geral; e estou realmente mais interessado
nisso do que em qualquer coisa específica que ele disse.
Owen nunca tratou de um problema, por assim dizer,
imediata e diretamente; sempre o colocou em seu
contexto.... ao tratar de algum problema, parece que
sempre a sua primeira pergunta era: ‘Pois bem, qual é o
princípio envolvido aqui? Onde que isto entra na doutrina
e no ensino geral da Bíblia? Estabeleçamos isso
primeiro’”. (LLOYD-JONES, 2016, p.97)

Em sua exposição sobre o quinto capítulo da Carta aos Efésios, onde o


apóstolo Paulo estabelece um critério a respeito participação das mulheres na igreja,
Martyn Lloyd-Jones faz um panorama a respeito de como era construída a
argumentação. LLOYD-JONES (2014) emprega “o método de Owen” como chave
interpretativa do texto ao dizer que “quando somos confrontados por algum
problema, nunca o abordamos diretamente, nunca iniciamos considerando a coisa
‘per se’, a coisa propriamente dita” e continua: “devo primeiro inquirir: há algum
princípio, alguma doutrina nas Escrituras que governe este tipo de problema?”. 97
Concluindo, Martyn Lloyd-Jones afirma o seguinte:

“Em outras palavras, antes de começar a tratar do


problema individual, que, por assim dizer, está na sua
frente, diga: bem, a que família ele pertence? Você
poderá ampliar mais a investigação e dizer: a que nação
ele pertence? Obtenha uma classificação ampla, e, tendo
descoberto a verdade sobre o grupo ou classe ou
comunidade maior, parta desse ponto e aplique o
princípio a esse caso ou exemplo particular. É o que o
aposto faz aqui. Ele vai do geral para o particular.”
(LLOYD-JONES, 2014, p.13)

97
LLOYD-JONES, David Martyn. Vida no Espírito: no casamento, no lar e no trabalho:
Exposição sobre Efésios 5.18-6.9. São Paulo: PES, 2014. p.99.
36

Conforme registrado por Iain Murray, por mais que houvesse uma preferência
de Lloyd-Jones à teologia de John Owen em comparação com Richard Baxter98,
estes dois puritanos contemporâneos tiveram grande influência em seu
empreendimento pastoral e expositivo da Palavra.

98
MURRAY, Iain H. A Vida de D. Martyn Lloyd-Jones 1899-1981: Uma Biografia. São Paulo: PES,
2014. p.301.
37

3. TEOLOGIA EXPERIENCIAL EM MARTYN LLOYD-JONES E SUA


RELEVÂNCIA PARA A IGREJA EVANGÉLICA DO SÉCULO XXI

3.1. A natureza do verdadeiro avivamento segundo Martyn Lloyd-Jones

No ano de 1959, em comemoração ao centenário do avivamento britânico99,


Martyn Lloyd-Jones realizou uma série de pregações na Capela de Westminster
sobre o assunto. Posteriormente, seus sermões foram compilados e editados com
o nome de “Avivamento” (publicado no Brasil pela editora PES). Além destas
pregações, no mesmo ano de 1959, foram inauguradas por ele as
“Conferências Puritana e Westminster”, realizadas anualmente, até 1978.
Sob a mesma ocasião do centenário, a primeira delas tratou também de
avivamentos. No prefácio de “Avivamento”, Packer (2017) fala sobre o interesse do
Doutor pelas ocorrências avivalistas, bem como sua frustração por ter visto
tão poucas manifestações delas durante sua vida.100 Ainda na parte introdutória do
livro, Packer diz também que avivamento, segundo Lloyd-Jones, “significava mais do
que evangelismo que resulta em conversões, mais do que entusiasmo... o que ele
estava buscando era a nova qualidade de vida espiritual que vem através do
conhecimento da grandeza e da proximidade do nosso Criador”.101
Ao se deter sobre o assunto, LLOYD-JONES (2017) o abordava com grande
urgência, além de compreendê-lo como um fator evidente da maturidade cristã que
os crentes deveriam buscar:

99
Também conhecido como o Segundo Grande Despertamento, que ocorreu em alguns países da
Europa e nos Estados Unidos. Sucedeu ao Primeiro Despertamento, do século anterior. Neste,
nomes como Jonathan Edwards, John Wesley e George Whitefield tiveram grande proeminência.
100
LLOYD-JONES, David Martyn. Avivamento e sua urgente necessidade na igreja hoje. São
Paulo: PES, 2017. p.11.
101
Ibid.
38

“Não hesito em afirmar que, a não ser que nós,


individualmente como cristãos, sintamos uma
preocupação séria acerca da condição da Igreja e do
mundo hoje em dia, então somos cristãos muito
medíocres... meras crianças em Cristo. Se
experimentamos crescimento em nossa vida cristã, então
devemos ter uma preocupação a respeito da situação,
uma preocupação a respeito da condição da sociedade,
(e) uma preocupação a respeito da condição da Igreja.”
(LLOYD-JONES, 2017, p.15)

Os dias de Lloyd-Jones se assemelham bastante com a atualidade:


uma geração pós-moderna, que não mais considerava a realidade de Deus,
a necessidade da religião, a salvação do homem e tudo o que pertence à esfera da
igreja. Todas estas questões deveriam ser postas de lado para cederem lugar
ao homem moderno com seu conhecimento científico.102 Para ele, o grande
problema era esse “estado da sociedade”, onde as pessoas “estão numa posição de
fartura... capazes de obter tudo o que querer, e estão despreocupadas quanto a
coisas espirituais: não têm interesse na alma, nem nas coisas mais elevadas da
vida”.103
Da mesma maneira em que os problemas da sociedade do século anterior
eram parecidos com os atuais, não é de se surpreender que as tentativas da igreja
ser relevante nos tempos de Lloyd-Jones sejam bem parecidas com os métodos que
proliferam nos últimos tempos, de evangelismos e busca por avivamento.
Ao citar alguns destes aparatos, o autor acima mencionado afirma que
os métodos não eram em si ruins, mas sim que eram insuficientes para uma
pregação eficaz.104 Classificando alguns destes, ele cita a grande utilização do rádio
e da televisão, além do massivo evangelismo popular105. De acordo com David Allen
Bledsoe (2012), estes mesmos instrumentos foram largamente adotados no Brasil
desde a década de 1960 pelas igrejas da tradição pentecostal de segunda onda e

102
LLOYD-JONES, David Martyn. Avivamento e sua urgente necessidade na igreja hoje. São
Paulo: PES, 2017. p.21.
103
Ibid. p.23.
104
Ibid.
105
Ibid. pp.26-27.
39

neopentecostais, sendo estas práticas utilizadas até hoje.106 Em resposta ao


secularismo do seu tempo, Lloyd-Jones afirmava que a postura correta sobre
avivamentos não se tratava dos inúmeros aparatos evangelísticos, mas sim
da impotência dos crentes diante do cenário de necessidade de avivamento na
dependência do Espírito Santo.107 Em outro momento, LLOYD-JONES (2017)
assevera que:

“Precisamos compreender que necessitamos ser


cheios do Espírito Santo de Deus... o que precisamos
não é de mais conhecimento, mais compreensão, mais
apologética, mais reconciliação entre filosofia, ciência,
religião e todas as técnicas modernas; não, precisamos
de um poder que pode entrar nas almas dos homens
para quebranta-las, esmaga-las, humilhá-las e então
restaurá-las. Precisamos do poder do Deus vivo.”
(LLOYD-JONES, 2017, p.28)

Martyn Lloyd-Jones resumiu, em termos suscintos, que avivamento significa


“uma experiência na vida da Igreja quando o Espírito Santo realiza uma obra
incomum”108, além de suas consequências: “[um] extraordinário revigoramento
dos membros da Igreja e... a conversão de multidões que até então estiveram fora
dela na indiferença do pecado”.109 Sendo assim, o verdadeiro avivamento jamais
poderá surgir da vontade humana; pelo contrário, depende estritamente do mover
sobrenatural de Deus. Um antídoto aos empreendimentos de inovação dentro das
igrejas, citado por Lloyd-Jones em diversas ocasiões, como também no tema do
avivamento, é a leitura da história da igreja e o estudo do passado. Para ele, “nada,
certamente, é mais importante... do que ler a história do passado e descobrir a sua

106
BLEDSOE, David Allen. Movimento Neopentecostal Brasileiro: IURD: um estudo de caso. São
Paulo: Hagnos, 2012. pp.34-35.
107
LLOYD-JONES, David Martyn. Avivamento e sua urgente necessidade na igreja hoje. São
Paulo: PES, 2017. p.28.
108
LLOYD-JONES , David Martyn. Os Puritanos – Suas Orígens e Seus Sucessores. São Paulo:
PES, 2016. p.16.
109
Ibid.
40

mensagem”.110 Isto porque Martyn Lloyd-Jones compreendia que o homem é


o mesmo desde sempre: “Vemos que os interesses principais do homem ainda são
comer, beber, guerras, sexo e prazeres de vários tipos”.111 Desta maneira, os
avanços da humanidade não são fatores impeditivos para que o avivamento
aconteça. Muito pelo contrário, Lloyd-Jones estava convicto de que o impedimento
do avivamento, mesmo que ele aconteça por uma decisão divina, passava também
pela negligência a respeito de causas há muito conhecidas, biblicamente falando.
Ao tratar sobre estes obstáculos do verdadeiro avivamento, Lloyd-Jones
enumera, em suas pregações proferidas em 1959, os seguintes motivos:
incredulidade, impureza doutrinária, ortodoxia defeituosa, ortodoxia morta e inércia
espiritual. Abordando o tema da incredulidade, Lloyd-Jones afirmou que
“o encobrimento e a negligência de certas verdades... sempre tem sido a principal
característica de cada período de decadência na longa história da Igreja cristã”.112
Continuando, ele afirma que há certas verdades que são absolutamente essenciais
ao avivamento e, caso essas verdades sejam rejeitadas ou ignoradas, esperar por
avivamento será inútil.113 Martyn Lloyd-Jones seleciona, primordialmente, o
conhecimento do Deus vivo, soberano e transcendente que age história e na vida da
igreja, bem como na vida de indivíduos. Além do conhecimento verdadeiro de Deus,
outro fator fundamental procede do primeiro: a Bíblia e sua revelação.
LLOYD-JONES (2017) conclui sobre este tópico afirmando que:

“Se vocês lerem a história de todos os


avivamentos do passado, verão que foram períodos em
que homens e mulheres creram que este livro (a Bíblia) é
a Palavra de Deus. Creram nela literalmente,
considerando-na a revelação de Deus e a verdade com
respeito a Ele e ao relacionamento do homem com Ele, e
tudo o que está envolvido nisto.” (LLOYD-JONES, 2017,
p.53)

110
LLOYD-JONES, David Martyn. Avivamento e sua urgente necessidade na igreja hoje. São
Paulo: PES, 2017. p.35.
111
Ibid. p.36.
112
Ibid. p.45.
113
Ibid.
41

Uma terceira verdade fundamental à fé cristã na concepção de Lloyd-Jones é


a percepção de o homem é pecador e está sob a ira de Deus. Inclusive,
ele assevera que é totalmente abominável à mente moderna a afirmação sobre duas
verdades basilares do Cristianismo: a ira de Deus e a doutrina do pecado. 114
O verdadeiro avivamento, segundo esta concepção, revela acima de tudo a
soberania de Deus, a iniquidade do homem e o meio por qual ele pode se reconciliar
com Deus, através de Jesus Cristo, apresentado pela Bíblia.
Para Martyn Lloyd-Jones, o objetivo final do avivamento é a manifestação da
glória de Deus no meio do seu povo. Para este fim, ele cita o texto de Josué 4.24:
“... para que todos os povos da terra saibam que a mão do Senhor é poderosa” 115
Mesmo não tendo vivenciado nenhum mover em termos nacionais ou globais,
certamente sua literatura fornece bases firmes para a correta compreensão
do assunto, eliminando deturpações relacionadas ao tema, além de ressaltar o
verdadeiro processo do avivamento: a realidade de Deus, a realidade do homem
e a necessidade de arrependimento. A respeito disto, conclui: “Tratemos de nos
agarrar a Deus, reinvindicando a Sua própria verdade e as doutrinas que são tão
preciosas aos nossos corações, para que a Igreja venha a reviver e multidões sejam
salvas.”116

3.2. A importância do verdadeiro avivamento para a igreja

114
LLOYD-JONES, David Martyn. Avivamento e sua urgente necessidade na igreja hoje. São
Paulo: PES, 2017. p.56.
115

LLOYD-JONES , David Martyn. Os Puritanos – Suas Orígens e Seus Sucessores. São Paulo:
116

PES, 2016. p.40.


42

Ao avaliar o crescimento evangélico no Brasil, Franklin Ferreira (2015) atesta


que o aumento no número de denominações não se traduziu em transformação da
sociedade. Inclusive, autor acima citado afirma que não são poucos os casos
em que acontece justamente o oposto: as comunidades de fiéis acabam vivendo
na companhia da corrupção, do adultério e de outros pecados hediondos. 117
A associação entre a grande quantidade de conversões nominais com pouco
impacto causado à sociedade torna evidente que não se trata de um verdadeiro
avivamento. LOPES (2021), ao explicar o significado de avivamento, complementa
com a informação de que o Brasil jamais passou por este acontecimento:

“Se o Brasil já passou por um avivamento só pode


ser respondido se nós entendermos avivamento como
sendo esse retorno a Deus em arrependimento, mudança
de vida, trazendo impacto para a sociedade e para a
nação ou cidade onde ele acontece. E a história da igreja
no Brasil não nos permite dizer que já houve um grande
avivamento em grande escala no Brasil, mas nós não
podemos negar que Deus tem estado presente na vida
da igreja brasileira, na história da igreja do Brasil”.
(LOPES, 2021).

Certamente, uma explicação plausível para a quantidade de conversões em


massa e pouca efetividade na vida prática cristã se encontra na promessa da
conversão sem, de fato, ter havido uma transformação do indivíduo. A falsa
esperança para pessoas que jamais se converteram pode ser compreendida como
subproduto das ferramentas provenientes dos métodos evangelísticos modernos,
onde a ênfase na salvação está na decisão humana. BEEKE (2011) assevera que a
evangelização moderna tem seu início com Charles Grandison Finney (1792-1875),
considerado por muitos o “pai do reavivalismo moderno”.118 De família calvinista,
Finney nasceu em Warren, Connecticut, na Nova Inglaterra, poucos anos antes da

117
FERREIRA, Franklin. Avivamento para a igreja: o papel do Espírito Santo e da oração na
renovação. São Paulo: Vida Nova, 2015. p.50.
118
BEEKE, Joel R. O Método da Evangelização Puritana. Disponível em:
https://bereianos.blogspot.com/2011/06/o-metodo-da-evangelizacao-puritana.html. Acesso em
29.set.2021.
43

Guerra Civil Americana. Anteriormente, a colônia inglesa foi palco do Primeiro


Grande Despertamento – citado nesta monografia – recebendo grande influência de
Jonathan Edwards e George Whitefield. Segundo HANKO (2005), apesar de Charles
Finney ter nascido em lar presbiteriano, considerava a pregação reformada como
“doutrinariamente seca”.119
HORTON (2000) assevera que, ao considerar o pragmatismo praticado por
Finney, uma pergunta se torna fundamental para ele: “Isto é bom para converter
pecadores?”120 Como resposta a esta questão, Finney estabelece as “Novas
Medidas” evangelísticas como o “banco dos ansiosos”121 e táticas emocionais, além
de outros incentivos. Todas estas práticas estavam fundamentadas sobre alguns
conceitos essenciais da teologia soteriológica de Charles Finney: uma compreensão
totalmente diferente a respeito da justificação e do pecado original em relação à
concepção defendida pelos reformadores que o antecederam. HORTON (2000),
mais uma vez, considera o arcabouço de Finney a respeito do processo de salvação:
“[ele] acreditava que Deus exige perfeição absoluta, mas, ao invés de levar as
pessoas a buscarem a perfeita justiça em Cristo, ele (Finney) concluiu que ‘a plena
obediência no presente é a condição da justificação’”.122 Adiante, o autor supracitado
afirma que este conceito estava alicerçado em outra consideração de Finney, a
saber: a negação da doutrina do pecado original.123 Por conta disto, a teologia de
Finney negava a morte substitutiva e a justificação forense. Cristo não passava de
um modelo a ser seguido.

119
HANKO, Herman. Charles Grandison Finney: Reavivalista (1). Disponível em:
http://www.monergismo.com/textos/biografias/finney-reavivalista_h-hanko.pdf. Acesso em
29.set.2021.
120
HORTON, Michael. O Legado de Charles Finney. Disponível em:
https://ministeriofiel.com.br/artigos/o-legado-de-charles-finney. Acesso em 29.set.2021.
121
O banco dos ansiosos era um método no qual a primeira fileira de cadeiras nas pregações de
Finney ficavam vazias com o objetivo de que as pessoas ansiosas com os apelos de Finney
pudessem assentar-se e recebessem uma ministração pessoal. Esta prática deu origem à chamada à
frente do altar, tão utilizada nos dias atuais.
122
HORTON, Michael. O Legado de Charles Finney. Disponível em:
https://ministeriofiel.com.br/artigos/o-legado-de-charles-finney. Acesso em 29.set.2021.
123
Ibid.
44

Mais do que a “controvérsia arminiana versus calvinista”, HORTON (2000)


afirma que Finney pode ser considerado herdeiro do Pelagianismo. Pelágio, nascido
no séc. IV, argumentou sobre a parcialidade dos efeitos do pecado original ao
afirmar que depois da queda, o homem ainda mantinha resquícios de bondade
suficientes para optar pela salvação sob seus próprios méritos. Em oposição,
Agostinho de Hipona (que lançou alicerces para o calvinismo a respeito da
depravação total) defendia a herança do pecado de Adão para toda a humanidade e
a incapacidade natural de o homem ir ao encontro de Deus, devido à escravidão do
pecado. O autor anteriormente citado resume a concepção reavivalista ao dizer que:

“na teologia de Finney, Deus não é soberano, o


homem não é pecador por natureza, a expiação
realmente não é um pagamento pelo pecado, a
justificação por meio da imputação é um insulto à razão e
à moralidade, o novo nascimento é apenas o resultado da
utilização de técnicas bem-sucedidas, e o avivamento é o
resultado natural de campanhas inteligentes.” (HORTON,
2000, p.19)

Em contrapartida à concepção pelagiana de Finney e seus sucessores,


Lloyd-Jones entendia o avivamento de acordo com os moldes puritanos reformados.
Ao concluir sua primeira palestra nas Conferências Puritana e Westminster no ano
de 1959, sobre os avivamentos, considerou alguns pontos que tratam de sua
importância para a igreja, através das ênfases que o qualificam como verdadeiro.
Em primeiro lugar, ele afirmou que poucas coisas como os avivamentos demonstram
o fato de que a igreja é uma instituição de Deus, argumentando que caso ela fosse
apenas uma instituição humana, já teria desaparecido da história.124 Em segundo,
Martyn Lloyd-Jones falou sobre a dependência humana no processo de avivamento.
Por maiores que sejam os esforços e empenho por parte das pessoas, Lloyd-Jones
estava convicto de que apenas a atividade sobrenatural de Deus poderia produzir o
avivamento, fazendo com que a igreja exerça influência de forma plena para qual foi

LLOYD-JONES , David Martyn. Os Puritanos – Suas Orígens e Seus Sucessores. São Paulo:
124

PES, 2016. p.34.


45

chamada.125 No terceiro argumento sobre a importância do verdadeiro avivamento


para a igreja, Martyn Lloyd-Jones fala a respeito da primazia do Espírito Santo na
obra de salvação, em detrimento da persuasão moral ou da argumentação humana.
Aqui, Lloyd-Jones faz dura crítica a Charles Finney, dizendo que “embora [seu
método] aparentemente sirva ao Espírito Santo, virtualmente exclui o Espírito”.126
Adiante, afirma também que “o erro e defeito culminante do argumento arminiano, e
de tudo o que dele provém, é que ele exclui o Espírito Santo da real decisão e
assevera que o homem é capaz de se converter”.127 Em quarto lugar, Lloyd-Jones
atesta que o verdadeiro avivamento é importante ao demonstrar a soberania de
Deus. Para isto, disse que se trata de um fenômeno inesperado, o qual disse não
haver produção humana (mais uma vez se opondo a Finney).128 Por fim, Martyn
Lloyd-Jones afirma a importância do verdadeiro avivamento pelo fato de que através
dele se demonstra o caráter irresistível da graça de Deus129, e assim sendo, o
verdadeiro avivamento, segundo ele, tem como objetivo principal a glória de Deus.130

125
Ibid.
126
Ibid. p.35.
127
Ibid.
128
Ibid.
129
Ibid.
130
LLOYD-JONES, David Martyn. Avivamento e sua urgente necessidade na igreja hoje. São
Paulo: PES, 2017. p.240.
46

4. CONCLUSÃO

O deselvolvimento deste presente trabalho possibilitou uma observação a


respeito da importância de fundamentos da espiritualidade na Teologia Reformada.
Desde o século XVI até o cenário atual, foi possível observar que o mesmo conceito
de vida cristã estabelecido pelo Calvinismo, e ainda mais elaborado pelo
Puritanismo, continua relevante para os dias atuais.
Através da observação da biografia de Martyn Lloyd-Jones, sobretudo a respeito
do seu dilema sobre o mal da humanidade, é seguro afirmar que as verdades
bíblicas defendidas pelos puritanos que o antecederam e o inspiraram foram
relevantes para o seu tempo, bem como também necessárias para os dias atuais.
Em um período de subjetivismo religioso, onde fontes de autoridade não são a
Bíblia, observar o ministério pastoral e a pregação de Lloyd-Jones se tornam
fundamentais.
O que pode ser concluído a partir deste trabalho é que a redescoberta da
Teologia Reformada pode ser ainda mais endossada pelo aprofundamento do
método expositivo de Martyn Lloyd-Jones, bem como a abordagem bastante lúcida a
respeito do tema do avivamento, tão evocado nestes nos últimos tempos, mas
carente de embasamento teológico.
O próprio tema do avivamento sob uma perspectiva de Lloyd-Jones poderá,
futuramente, se tornar um contraponto na discussão a respeito de como o
evangelicalismo compreende os movimentos avivalistas, baseados (propositalmente
ou não) nos métodos de Charles Finney, mundo afora.
47

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E ELETRÔNICAS

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