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“No volume 2 de Teologia Sistemática Reformada, Joel Beeke e seu Barnabé teo-

lógico, Paul Smalley, continuam sua imensa exposição da doutrina cristã. Como
o primeiro volume, este é marcado pelo uso constante da Escritura associado a
referências a grandes teólogos e é escrito para todo o povo de Deus, em linguagem
que é mais pastoral que metafísica. Este segundo volume cobre as áreas vitais de
Antropologia e Cristologia e mantém o estilo de uma verdadeira ‘dogmática ecle-
siástica’ que lembra a obra dos grandes pastores-teólogos da igreja. Um modelo
de clareza, esta obra promoverá doxologia, maturidade e mais pesquisa. Eis aqui
o melhor do ensino cristão, instruindo o estudante de Teologia, fornecendo aos
pastores um manual que enriquece o sermão e dando aos cristãos em crescimento
uma fonte de consulta que os informará e nutrirá, além de lhes proporcionar infin-
dável prazer teológico!”
Sinclair B. Ferguson, Professor de Teologia Sistemática, Reformed
Theological Seminary; Professor associado de Ligonier Ministries

“A erudição e a devoção deste volume são verdadeiramente impressionantes e


refletem o resultado de muitos anos de estudo rigoroso e ensino cuidadoso dos
temas analisados. Não tinha lido uma teologia sistemática que tivesse me impres-
sionado tanto. Esta é uma obra que não apenas instrui, mas também fala ao cora-
ção. É uma apresentação de teologia reformada ortodoxa que reflete a tradição
puritana, mas também apresenta essa tradição no contexto do fluxo da teologia
cristã a partir da Bíblia, através dos Pais da Igreja, dos expositores medievais e
dos desafios da igreja até o cenário contemporâneo.”
Robert Oliver, Pastor Emérito, Old Baptist Chapel, Bradford on Avon,
Reino Unido; palestrante emérito em História da Igreja e Teologia Histórica,
London Theological Seminary

“Escrito com grande clareza e total simplicidade, este volume é totalmente con-
fiável para estudo e ensino. É assim que a teologia sistemática deve ser feita –
tendo em mente o pastor no púlpito e o povo nos bancos. Os autores devem ser
elogiados por nos darem este volume de alto gabarito, acadêmico, mas acessível
e que honra a Deus.”
Rob Ventura, Pastor, Grace Community Baptist Church, North Providence,
Rhode Island; coautor de A Portrait of Paul e Spiritual Warfare

“Este volume continua a abordagem agradável do volume 1. Admiro particu-


larmente a exposição criteriosa e escrupulosamente justa que os autores fazem
de posições das quais discordam. Sua obra oferece uma abordagem totalmente
abrangente a diferentes leituras ao longo da história dos temas que discute.”
Jonathan F. Bayes, Diretor para o Reino Unido de Carey Outreach
Ministries; Pastor, Stanton Lees Chapel, Derbyshire, Inglaterra; autor de
Systematics for God’s Glory e The Weakness of the Law

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“Teologia Sistemática Reformada não apenas leva os leitores às profundezas do
nosso Deus trino, mas também mostra o que essas grandes verdades têm a ver com
a vida cristã. Nenhuma outra teologia sistemática contemporânea leva o leitor a
um entendimento maior de como a teologia floresce em doxologia.”
Matthew Barrett, Professor associado de Teologia Cristã, Midwestern
Baptist Theological Seminary

“Teologia Sistemática Reformada é o fruto do engajamento de Joel Beeke como


pregador e mestre de pregadores durante a vida inteira. Esta não é uma teologia
sistemática escrita por um teólogo em uma torre de marfim, mas por um pregador
experiente, para quem as doutrinas que expõe se tornaram, pela graça de Deus,
uma realidade experimental.”
Bartel Elshout, Pastor, Heritage Reformed Congregation, Hull, Iowa;
tradutor de The Christian’s Reasonable Service e The Christian’s Only
Comfort in Life and Death

“Beeke e Smalley escreveram uma obra útil para a igreja em geral que ensina aos
cristãos o que eles devem crer e como devem amar, mas não sacrificaram o rigor
acadêmico para alcançar esses objetivos.”
J. V. Fesko, Professor de Teologia Sistemática e Histórica, Reformed
Theological Seminary, Jackson, Mississippi

“Joel Beeke continua suas décadas de serviço a Cristo e sua igreja apresentando suas
reflexões maduras sobre a natureza da teologia sistemática. Esta obra é totalmente
confiável, bem escrita, facilmente compreensível e minuciosamente pesquisada.”
Richard C. Gamble, Professor de Teologia Sistemática, Reformed
Presbyterian Theological Seminary

“Joel Beeke é um raro dom à igreja, um líder cristão notável que combina as habi-
lidades de um teólogo culto, um mestre, um grande historiador e, além disso, de
um pastor amoroso. Teologia Sistemática Reformada é uma mina de ouro virtual
de doutrina bíblica que é sistematicamente organizada, cuidadosamente analisada,
historicamente investigada e pastoralmente aplicada.”
Steven J. Lawson, Presidente, OnePassion Ministries; Professor
de Pregação, The Master’s Seminary; Professor associado de
Ligonier Ministries

“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria quanto do conhecimento de Deus!


A expressão de louvor da grande doxologia de Paulo é uma resposta adequada à
leitura desta maravilhosa obra de doutrina e devoção. Embora a fé reformada seja
frequentemente caricaturada como meramente intelectual, esta obra demonstra

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que a teologia reformada também é profundamente experiencial, pois nenhum
capítulo deixa de fazer o movimento da teologia para a doxologia.”
John MacArthur, Pastor, Grace Community Church, Sun Valley, Califórnia;
Chanceler emérito, The Master’s University and Seminary

“Aqui a teologia está funcionando como deve funcionar – chamando-nos à adora-


ção. Você não precisa concordar com os autores em cada ponto para crer e esperar
que esta obra servirá à igreja de Cristo em nossa geração e nas próximas.”
Jeremy Walker, Pastor, Maidenbower Baptist Church, Crawley,
Reino Unido

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Teologia Sistemática Reformada – O Homem e Cristo – Volume 2 © 2023 Editora Cultura Cristã. Traduzido
de Reformed Systematic Theology, Man and Christ Copyright © 2019 by Joel R. Beeke and Paul M.
Smalley. Publicado pela Crossway, ministério de publicações da Good News Publishers, Wheaton, Illinois
60187, USA. Esta edição foi publicada por acordo com a Crossway. Todos os direitos são reservados.
1ª edição – 2023

Conselho Editorial
Cláudio Marra (Presidente)
Christian Brially Tavares de Medeiros Produção Editorial
Filipe Fontes Tradução
Heber Carlos de Campos Jr Vagner Barbosa
Joel Theodoro da Fonseca Jr Revisão
Misael Batista do Nascimento Alan Rennê Alexandrino Lima
Tarcízio José de Freitas Carvalho Filipe Delage
Victor Alexandre Nascimento Ximenes Mauro Filgueiras Filho
Editoração e capa
OM Designers Gráficos

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Beeke, Joel R.
B414t Teologia Sistemática Reformada / Joel R. Beeke,
Paul M. Smalley. –- São Paulo: Cultura Cristã, 2023.
v. 2: 1136 p.
Título original: Reformed Systematic Theology
ISBN: 978-65-5989-249-5
1. Teologia sistemática. 2. Doutrina cristã. 3. Vida
devocional. I. Smalley, Paul M. II. Título.
CDU-230.1
Sueli Costa - Bibliotecária - CRB-8/5213
(SC Assessoria Editorial, SP, Brasil)

A posição doutrinária da Igreja Presbiteriana do Brasil é expressa em seus “símbolos de fé”, que apresentam o modo Reformado e Presbiteriano de compreender
a Escritura. São esses símbolos a Confissão de Fé de Westminster e seus catecismos, o Maior e o Breve. Como Editora oficial de uma denominação confessional,
cuidamos para que as obras publicadas espelhem sempre essa posição. Existe a possibilidade, porém, de autores, às vezes, mencionarem ou mesmo defenderem
aspectos que refletem a sua própria opinião, sem que o fato de sua publicação por esta Editora represente endosso integral, pela denominação e pela Editora, de todos
os pontos de vista apresentados. A posição da denominação sobre pontos específicos porventura em debate poderá ser encontrada nos mencionados símbolos de fé.

EDITORA CULTURA CRISTÃ


Rua Miguel Teles Júnior, 394 – CEP 01540-040 – São Paulo – SP
Fones: 0800-0141963 / (11) 3207-7099
www.editoraculturacrista.com.br – cep@cep.org.br
Superintendente: Clodoaldo Waldemar Furlan
Editor: Cláudio Antônio Batista Marra

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Para
Stephen Myers, Adriaan Neele,
Greg Salazar e Daniel Timmer,
irmãos, colegas e amigos queridos,
professores no programa de PhD do
Puritan Reformed Theological Seminary,
que vivem o lema:
“(...) o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas,
isso mesmo transmite a homens fiéis
e também idôneos para instruir a outros” (2Tm 2.2).
—Joel R. Beeke

E para
Tom Nettles e John Woodbridge,
dois professores de seminário que me ensinaram a amar a história cristã
e a ler os grandes livros de teólogos
que exaltam a Cristo desde séculos passados;
e
John Owen (1616–1683),
o primeiro teólogo puritano cujos escritos eu li,
arauto da glória de Cristo, nosso Profeta, Sacerdote e Rei.
“Que formosos são sobre os montes os pés
do que anuncia as boas-novas,
que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas,
que faz ouvir a salvação,
que diz a Sião: o teu Deus reina!” (Is 52.7).
—Paul M. Smalley

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Sumário

Abreviaturas........................................................................................................ 13
Tabelas................................................................................................................ 15
Prefácio............................................................................................................... 17

PARTE 3: ANTROPOLOGIA: A DOUTRINA DO HOMEM

Esboço analítico: Antropologia........................................................................... 21


1 Introdução à Antropologia............................................................................ 35

Seção A: A doutrina da criação


2 A criação do mundo, Parte 1: Deus, o Criador............................................. 51
3 A criação do mundo, Parte 2: Questões históricas e teológicas................... 69
4 A criação do mundo, Parte 3: Questões exegéticas...................................... 81
5 A criação do mundo, Parte 4: Questões científicas...................................... 94

Seção B: A doutrina da criação e da natureza do homem


6 A criação do homem por Deus................................................................... 111
7 A controvérsia sobre o Adão histórico....................................................... 127
8 A imagem de Deus, Parte 1: Teologia bíblica e exegética......................... 143
9 A imagem de Deus, Parte 2: Teologia histórica e polêmica....................... 156
10 A imagem de Deus, Parte 3: Teologia sistemática e prática....................... 171
11 O gênero e a sexualidade do homem.......................................................... 183
12 A constituição do homem, Parte 1: Unidade e dualidade........................... 202
13 A constituição do homem, Parte 2: Corpo e alma...................................... 215
14 A aliança de Deus com Adão, Parte 1: Ensino bíblico............................... 233
15 A aliança de Deus com Adão, Parte 2: Teologia histórica e sistemática.... 249
16 A aliança de Deus com Adão, Parte 3: Implicações práticas..................... 267

Seção C: A doutrina do pecado


17 Introdução à doutrina do pecado................................................................ 283
18 A queda do homem em pecado e miséria................................................... 301

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10 Teologia Sistemática Reformada

19 O estado de pecado, Parte 1: Teologia histórica do pecado original.......... 317


20 O estado de pecado, Parte 2: Pecado universal,
culpa imputada e falta de justiça................................................................ 335
21 O estado de pecado, Parte 3: Depravação e incapacidade totais................ 347
22 A livre escolha da vontade......................................................................... 361
23 Pecados atuais: os diversos e venenosos frutos do pecado original........... 376
24 A punição do pecado por Deus................................................................... 389
25 O pecado e o crente.................................................................................... 403
26 O sofrimento e o crente.............................................................................. 416

PARTE 4: CRISTOLOGIA: A DOUTRINA DE CRISTO

Esboço analítico: Cristologia............................................................................ 431

Seção A: A doutrina da aliança da graça


27 Introdução à aliança da graça..................................................................... 451
28 Perspectivas históricas sobre as alianças de Deus...................................... 465
29 A perpétua continuidade do evangelho de Deus........................................ 487
30 A aliança eterna com o Filho de Deus e aqueles que estão
em união com ele........................................................................................ 503
31 As diversas administrações da aliança da graça de Deus,
Parte 1: Noé, Abraão e Moisés................................................................... 525
32 As diversas administrações da aliança da graça de Deus,
Parte 2: Davi e a nova aliança.................................................................... 545
33 A unidade essencial da aliança da graça de Deus....................................... 562
34 O dever permanente de obedecer à lei moral de Deus............................... 581
35 A união da igreja com seu Deus pactual pela fé......................................... 600

Seção B: A doutrina da pessoa de Cristo


36 Introdução ao estudo da pessoa e obra de Cristo....................................... 617
37 Os nomes de Cristo.................................................................................... 632
38 A divindade de Cristo................................................................................. 647
39 A encarnação de Cristo, Parte 1: A vinda do Filho encarnado................... 669
40 A encarnação de Cristo, Parte 2: Humanidade e relações.......................... 689
41 A encarnação de Cristo, Parte 3: Desenvolvimento histórico
da Cristologia ortodoxa.............................................................................. 702

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Sumário 11

42 A encarnação de Cristo, Parte 4: Questões teológicas


e aplicações práticas................................................................................... 720

Seção C: A doutrina da obra de Cristo


43 O triplo ofício do único Mediador.............................................................. 743
44 Os dois estados do nosso Profeta, Sacerdote e Rei.................................... 763
Excurso: “Desceu ao inferno”........................................................................... 779
45 O ofício profético de Cristo, Parte 1: Introdução e tipologia..................... 790
46 O ofício profético de Cristo, Parte 2: Revelação pela Palavra................... 807
47 O ofício profético de Cristo, Parte 3: Iluminação para
seu povo profético...................................................................................... 826
48 O ofício sacerdotal de Cristo, Parte 1: Introdução ao ofício
sacerdotal de Cristo.................................................................................... 842
49 O ofício sacerdotal de Cristo, Parte 2: Substituição penal
para a satisfação da justiça de Deus........................................................... 858
50 O ofício sacerdotal de Cristo, Parte 3: A obediência
sacrificial de Cristo..................................................................................... 880
51 O ofício sacerdotal de Cristo, Parte 4: As perfeições da
realização sacrificial de Cristo.................................................................... 901
52 O ofício sacerdotal de Cristo, Parte 5: Intercessão por um
povo sacerdotal........................................................................................... 926
53 O ofício real de Cristo, Parte 1: Introdução, vitória e triunfo.................... 945
54 O ofício real de Cristo, Parte 2: Poder, graça e glória................................ 965
55 O ofício real de Cristo, Parte 3: O povo real de Cristo.............................. 983
56 Conclusão prática da Cristologia: A centralidade de Cristo....................... 993

Bibliografia..................................................................................................... 1003
Índice geral...................................................................................................... 1051
Índice de textos da Escritura........................................................................... 1077

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Abreviaturas

ACCS/OT ODEN, Thomas, org. Ancient Christian Commentary on


Scripture, Old Testament. 15 vols. Downers Grove, IL:
InterVarsity Press, 2001–2005.
ANF ROBERTS, Alexander; DONALDSON, James, org. The
Ante-Nicene Fathers. A. Cleveland Coxe (rev.). 9 vols.
Nova York: Charles Scribner’s Sons, 1918.
LW PELIKAN, Jaroslav et al, org. Luther’s Works. 79 vols. St.
Louis, MO: Concordia, 1958–2016.
NIDNTTE SILVA, Moisés, org. The New International Dictionary
of New Testament Theology and Exegesis. 5 vols. Grand
Rapids, MI: Zondervan, 2014.
NIDOTTE VANGEMEREN, Willem A., org. The New International
Dictionary of Old Testament Theology and Exegesis. 5
vols. Grand Rapids, MI: Zondervan, 1997.
NPNF1 SCHAFF, Philip, org. A Select Library of Nicene and Post-
Nicene Fathers of the Christian Church, Primeira Série. 14
vols. Nova York: Christian Literature Co., 1888.
NPNF2 SCHAFF, Philip; WACE, Henry, org. A Select Library of
Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian Church,
Segunda Série. 14 vols. Nova York: Christian Literature
Co., 1894.
The Psalter The Psalter, with Doctrinal Standards, Liturgy, Church
Order, and Added Chorale Section. Prefácio de Joel
R. Beeke e Ray B. Lanning. 1965; reimpressão. Grand
Rapids, MI: Eerdmans para Reformation Heritage Books,
2003.
RCS/OT GEORGE, Timothy, org. Reformation Commentary on
Scripture, Old Testament. 15 vols. Downers Grove, IL: IVP
Academic, 2012–.
Reformed DENNISON, James T. Jr., comp. Reformed Confessions of
Confessions the 16th and 17th Centuries in English Translation: 1523–
1693. 4 vols. Grand Rapids, MI: Reformation Heritage
Books, 2008–2014.

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14 Teologia Sistemática Reformada

RST BEEKE, Joel R.; SMALLEY, Paul M. Reformed Systematic


Theology. 4 vols. Wheaton, IL: Crossway, 2019–.
TDNT KITTEL, Gerhard; BROMILEY, Geoffrey W.;
FRIEDRICH, Gerhard, org. Theological Dictionary of the
New Testament. 10 vols. Grand Rapids, MI: Eerdmans,
1964.
The Three Forms of The Three Forms of Unity. Introdução por Joel R. Beeke.
Unity Birmingham, AL: Solid Ground, 2010.
Trinity Hymnal— Trinity Hymnal—Baptist Edition. David Merck (rev.).
Baptist Edition Suwanee, GA: Great Commission Publications, 1995.
WJE The Works of Jonathan Edwards. 26 vols. New Haven, CT:
Yale University Press, 1957–2008.

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Tabelas

Tabela 11.1. Uma comparação de Gênesis 1 e 2–3


sobre gênero e sexualidade..................................................... 193
Tabela 18.1. O padrão triplo do desejo pecaminoso................................... 304
Tabela 34.1. Distinções inerentes à lei mosaica.......................................... 589
Tabela 41.1. Erros cristológicos primitivos................................................ 710
Tabela 41.2. A Cristologia católica ortodoxa dos concílios........................ 716
Tabela 45.1. Paralelismo na promessa de Moisés
de um profeta (Dt 18.15-19)................................................... 795

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Prefácio ao volume 2

Jesus veio para que pessoas conhecessem a verdade (Jo 8.31-32; 18.37). Quando
a cruz despontou no horizonte, nosso Senhor Jesus orou ao seu Pai: “(...) a vida
eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a
quem enviaste” e intercedeu pelo povo que o Pai lhe tinha dado: “Santifica-os na
verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.3,17). Cristo nos trouxe a verdade – o
conhecimento de Deus que dá vida e produz santidade. Por meio dessa palavra
verdadeira, Deus aplica à nossa vida a obra salvadora de Cristo na cruz.
O trabalho de um teólogo sistemático é reunir a verdade da Sagrada Escritura
e apresentá-la de um modo que, pelo poder do Espírito Santo, ilumine a mente
e inflame o coração para dirigir toda a vida para a glória de Deus. A publicação
deste segundo volume marca o meio do caminho de nossa tentativa de produzir
uma teologia sistemática que seja bíblica, doutrinária, experiencial e prática. Aqui
discutimos os tópicos da criação, natureza humana, pecado e alianças de Deus e
a pessoa e obra de Cristo.
Somos profundamente gratos ao Senhor por sua bênção sobre este projeto.
Nunca poderíamos ter produzido esta teologia sistemática sem a ajuda de outros
homens e mulheres que são instrumentos nas mãos do Senhor. Somos devedores
a muitos pastores e teólogos (do passado e do presente) cujos ensinos têm alimen-
tado nossa alma ao longo dos anos. Agradecemos a Justin Taylor, por seu apoio ao
projeto, a Greg Bailey, por sua habilidosa edição dos manuscritos, e ao restante
da equipe de Crossway por sua ajuda na publicação e promoção deste conjunto de
livros. Nossa escrita foi frequentemente esclarecida pelas sugestões editoriais de
Ray Lanning e Scott Lang. Também queremos agradecer aos seguintes teólogos
por sugerirem refinamentos de porções deste livro: Robert Oliver, Steve Wellum
e Stephen Myers. E somos muitos devedores ao amor e às orações de nossas que-
ridas esposas, Mary Beeke e Dawn Smalley, as quais são mulheres que colocam
em prática a teologia cristã.
Acima de tudo, damos graças ao Deus trino pelo Mediador. Escrever sobre a
pessoa e a obra de Jesus Cristo nos mostrou novamente que Deus habita em luz
inacessível e que nossa tentativa de descrever a glória de Cristo é apenas o balbu-
ciar de crianças. Soli Deo gloria!

Joel R. Beeke e Paul M. Smalley

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PARTE 3

ANTROPOLOGIA:
A DOUTRINA
DO HOMEM

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Esboço analítico: Antropologia

I. Introdução à Antropologia
A. O que é Antropologia teológica?
B. Por que estudar Antropologia?
1. Sua importância na Bíblia
2. Sua relação integral com outras doutrinas
3. Seu valor para outras disciplinas acadêmicas
4. Suas implicações para crises existenciais contemporâneas
5. Seu impacto no ministério prático
C. Como o mundo aborda a Antropologia?
1. O homem definido pelo idealismo filosófico
2. O homem definido pela biologia física
3. O homem definido por desejos sexuais
4. O homem definido pela prosperidade material
5. O homem definido pela liberdade individual
6. O homem definido pelos relacionamentos sociais
7. O homem definido pela saúde emocional
8. O homem indefinido pelo absurdo existencial
D. Como a Bíblia aborda a Antropologia?
1. O estado original de inocência
2. O estado de natureza caída
3. O estado de graça
4. O estado de glória

Seção A: A doutrina da criação


II. A criação do mundo
A. Falsas teorias das origens
1. Politeísmo
2. Panteísmo
3. Panenteísmo
4. Materialismo
B. A obra divina da criação
1. A singularidade da obra de criação
2. A universalidade da obra de criação
C. Criação e a glória de Deus
1. A singularidade do Criador
2. A Trindade do Criador

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22 Antropologia

3. O poder do Criador
4. A autoridade do Criador
5. A sabedoria do Criador
6. A bondade do Criador
7. Conhecendo e celebrando a glória do Criador
D. Questões sobre a doutrina da criação
1. Gênesis 1 é um mito?
2. Gênesis 1–2 é uma narrativa histórica?
a. Narrativa histórica versus poesia
b. Genealogias
c. Cristo
3. Deus criou ex Nihilo?
a. Gênesis 1.1
b. Deus criou todas as coisas
c. Hebreus 11.3
d. Colossenses 1.16
e. Romanos 4.17
f. Visão bíblica de Deus
4. Como devemos interpretar os seis dias de criação?
a. Agostinho: criação instantânea, dias alegóricos, Terra jovem
b. A visão da lacuna: longas eras em Gênesis 1.1-2
c. A visão do dia-era: seis dias como uma sequência de seis
longas eras
d. A visão da estrutura: seis dias como metáfora estruturada
e. A visão do dia do calendário: seis dias literais em
sequência cronológica
5. A ciência prova que o mundo tem bilhões de anos de idade?
6. A Bíblia é compatível com a evolução neodarwinista?
a. Problemas racionais e empíricos com a evolução
b. Evolução e verdade bíblica
i. Criação em seis dias
ii. Criação por fiat divino sobrenatural
iii. Criação de cada ser vivo “segundo a sua espécie”
iv. A ordem dos dias da criação
v. Sofrimento e morte de animais antes da queda
vi. Gênesis 2.7
vii. Gênesis 2.21-23
7. O dilúvio foi global ou local?
a. Destruição total
b. Dando sentido ao texto
c. Uma perturbação geológica

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Esboço analítico 23

d. Antigos relatos de dilúvio


e. A autoridade da Palavra de Deus
f. A mensagem teológica
g. A confiabilidade das alianças de Deus

Seção B: A doutrina da criação e da natureza do homem


III. A criação do homem por Deus
A. A honra especial do homem no cosmos de Deus (Gn 1.26–2.3)
1. O clímax do relato da criação
2. O conselho de Deus
3. A imagem de Deus (introdução)
4. A delegação de domínio
5. A consagração da adoração
B. O relacionamento especial do homem na aliança de Deus (Gn 2.4-25)
1. “O Senhor Deus”: da perspectiva cósmica para a pactual
2. O Senhor da nossa vida: a criação sobrenatural do homem
por Deus
3. O Senhor da nossa localização: a rica provisão de Deus
para o homem
4. O Senhor da nossa lei: a comunicação pessoal de Deus
com o homem
5. O Senhor do nosso amor: a instituição do casamento
para o homem por Deus
IV. A controvérsia sobre o Adão histórico
A. Objeções à historicidade de Adão
1. Adão significa “todo homem”
2. Gênesis 1–3 fala sobre Israel
3. Gênesis 2 contradiz Gênesis 1
4. Serpentes não falam
B. Adão e a doutrina bíblica
1. O Adão histórico é a base da nobreza da humanidade
2. O Adão histórico é a raiz da unidade da humanidade
3. O Adão histórico é o fundamento dos relacionamentos de gênero
4. O Adão histórico é o agente da queda da humanidade
5. O Adão histórico é um tipo do Salvador da humanidade
C. Adão e a autoridade bíblica
1. O perigo de submeter a Palavra de Deus ao ceticismo humano
2. O perigo de subordinar a Palavra de Deus à ciência humana
3. O perigo de reduzir a Palavra de Deus à experiência humana
V. A imagem de Deus
A. Teologia bíblica e exegética

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24 Antropologia

1. A imagem criada de Deus


a. Imagens dos atributos de Deus
b. Imagens para a adoração a Deus
c. Imagens do reino de Deus
d. Imagens para a família de Deus
2. A continuação da imagem de Deus
3. A imagem encarnada de Deus
4. A imagem renovada de Deus
5. A imagem completada de Deus
B. Teologia histórica e polêmica
1. Perspectivas constitucionais da imagem de Deus
a. Uma imagem física
b. Uma imagem mental
c. Uma imagem mental versus uma semelhança moral
d. Uma imagem moral
2. Perspectivas funcionais da imagem de Deus
a. Uma imagem real
b. Uma imagem relacional
c. Uma imagem justa-dinâmica
C. Teologia sistemática e prática
1. Sumário da teologia exegética e bíblica
2. Uma teologia reformada holística da imagem de Deus
a. Ensinos reformados clássicos sobre a imagem holística
b. William Ames: um modelo de reflexão sistemática
sobre a imagem
c. A unidade da imagem holística
3. Implicações práticas do homem como imagem de Deus
a. Santidade
b. Espiritualidade
c. Racionalidade
d. Dignidade
e. Integridade
f. Igualdade
g. Benevolência
h. Autoridade
i. Mordomia
j. Moralidade
k. Atrocidade
l. Destino
VI. O gênero e a sexualidade do homem
A. Controvérsias modernas sobre gênero e sexualidade

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Esboço analítico 25

1. Feminismo
2. Movimento pelos direitos dos homossexuais
3. Transgenerismo
B. Ensino bíblico básico sobre gênero
1. Identidade de gênero e os dois sexos biológicos
2. O homem como líder autoritativo, a mulher como
ajudadora capacitadora
C. Ensino bíblico básico sobre sexo
1. Atividade sexual e reprodução
2. Atividade sexual e relacionamento conjugal
D. Ensino bíblico básico sobre homossexualidade
1. Ensino do Antigo Testamento sobre homossexualidade
2. Ensino do Novo Testamento sobre homossexualidade
3. O conceito moderno de orientação sexual
VII. A constituição do homem
A. Unidade e dualidade
1. Terminologia bíblica para aspectos da constituição humana
a. Fôlego (hebraico n#sh~m~h)
b. Alma (hebraico n#Ph#sh; grego psych)
c. Espírito (hebraico r%~h; grego pneuma)
d. Coração (hebraico l#B ou l#B~B; grego kardia)
e. Rins (hebraico K!ly~h; grego nefros)
f. Mente (grego nous; cf. hebraico l#B ou l#B~B)
g. Carne (hebraico B~sh~r; grego sarx)
h. Osso (hebraico ‘#Ts#m; grego osteon)
i. Corpo (grego swma; cf. hebraico b~sh~r)
2. A unidade funcional da pessoa humana
3. A dualidade de corpo e espírito (vs. monismo antropológico)
4. Objeções à dualidade da constituição humana
a. A dualidade bíblica é meramente funcional
b. O holismo bíblico deve controlar toda a doutrina do homem
c. Dualidade leva a uma visão de mundo dividida
d. Uma combinação de unidade e dualidade não é plausível
5. A constituição humana contrastada com a dos anjos e animais
a. Homens e anjos
b. Homens e animais
B. O corpo humano
1. A bondade do corpo como criação de Deus
2. A importância do corpo para a santidade
3. A salvação do corpo na esperança cristã
C. A alma humana

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26 Antropologia

1. A imortalidade da alma humana


2. A imaterialidade e espiritualidade da alma humana
3. A unidade da alma humana (vs. tricotomia)
4. As faculdades da alma humana
5. A origem da alma humana
6. A centralidade da alma humana para agradar a Deus
VIII. A aliança de Deus com Adão
A. Objeções à doutrina da aliança das obras
1. O termo aliança não aparece em Gênesis 2
2. Nenhum juramento formal é feito entre Deus e Adão
3. Ela não é legal e meritória, mas paternal e graciosa
4. Ela não é redentiva
B. Os elementos essenciais e comuns das alianças
1. Elementos essenciais
a. Uma promessa solene
b. Um instrumento verbal e legal para definir um relacionamento
de lealdade
2. Elementos comuns (mas não essenciais)
a. Subordinação ao senhorio de outro
b. Leis a obedecer
c. Autorização para o cumprimento de um ofício
d. As partes representam um grupo maior em união com elas
e. Um sinal observável
C. Os elementos essenciais de uma aliança em Gênesis 2
1. Uma revelação solene, legal e verbal
2. Uma promessa implícita
3. Lealdade e amor mútuos
D. Outros elementos pactuais comuns em Gênesis 2
1. Um nome de senhorio pactual
2. O ofício de profeta, sacerdote e rei
3. A representação adâmica de seus descendentes naturais
4. Sinais observáveis de fidelidade
E. Outras passagens da Escritura que revelam a aliança das obras
1. Oseias 6.6-7
2. Isaías 24.5-6
3. Romanos 5.12-19
F. A posição fundamental das alianças nas relações de Deus
com o homem
G. Raízes históricas da doutrina reformada ortodoxa
1. Teologia Patrística, Medieval e da Contrarreforma
2. Teologia Reformada no século 16

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Esboço analítico 27

H. Análise sistemática da doutrina reformada ortodoxa


1. Alianças em geral
a. A centralidade doutrinária das alianças
b. Uma variedade de tipos de aliança
c. O requisito da resposta humana
d. Fidelidade pessoal e amorosa
2. Introdução à aliança com Adão
a. A revelação implícita de uma aliança com Adão
b. Os diversos nomes para a aliança com Adão
c. Sumário da primeira aliança
3. A aliança das obras e a lei
a. Lei positiva, simbólica e sacramental
b. Lei moral natural
c. A exigência de obediência perfeita e perpétua
d. A transgressão de toda a lei
4. A parte humana da aliança das obras
a. Adão como representante federal de seus descendentes naturais
b. Nenhum mediador da graça
5. As consequências da aliança das obras
a. A ameaça de morte no sentido mais pleno
b. A recompensa da vida eterna
c. A soberania de Deus na concessão de uma recompensa
6. A aliança das obras e a glória de Deus
a. Atributos de Deus em geral
b. A bondade de Deus em particular
c. A graça de Deus a Adão
d. Não é a aliança da graça
I. Implicações práticas da aliança das obras
1. A aliança das obras revela o Senhor da aliança
a. O Senhor da nossa vida
i. Admire a abundante generosidade de Deus
ii. Tema a severa justiça de Deus
b. O Senhor da nossa localização
i. Submeta-se à vocação providencial de Deus
ii. Persevere sob a instrução paternal de Deus
c. O Senhor da nossa lei
i. Obedeça às ordens autoritativas de Deus
ii. Creia na fiel Palavra de Deus
d. O Senhor do nosso amor
i. Admire a amorosa condescendência de Deus
ii. Aceite o vínculo amoroso de Deus

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28 Antropologia

2. A aliança das obras envolve o servo da aliança


a. O servo profético
i. Ouça e medite na Palavra de Deus
ii. Fale a Palavra de Deus aos outros
b. O servo sacerdotal
i. Adore ao santo Senhor
ii. Mantenha santa a adoração a Deus
c. O servo real
i. Use sua liberdade para desfrutar do mundo de Deus
ii. Nossa responsabilidade em fazer a vontade de Deus
3. A aliança das obras explica a apostasia do Servo do Senhor
a. A apostasia adâmica
i. Reconheça a mutabilidade humana no seu melhor
ii. Reconheça nossa solidariedade com Adão no pecado
b. A apostasia legal
i. Entenda a busca humana por justiça legal externa
ii. Humilhe-se sob o justo veredito da lei
c. A horrível apostasia
i. Lamente a gravidade da ingratidão e da traição do homem
ii. Renuncie a todas as falsas esperanças de salvar
a si mesmo
4. A aliança das obras prenuncia o Senhor Redentor e Servo
a. O Senhor e Servo da nossa vida
i. Creia em Cristo como o Senhor e Doador de vida
ii. Creia em Cristo como o último Adão, Doador de vida
b. O Senhor e Servo da nossa localização
i. Sirva ao Senhor Cristo em suas vocações diárias
ii. Siga a Cristo através das provações deste mundo
c. O Senhor e Servo da nossa lei
i. Obedeça a Cristo como o Legislador
ii. Descanse em Cristo como o Fiador de seu povo
d. O Senhor e Servo do nosso amor
i. Alegre-se no amor de Cristo como o Marido de sua noiva
ii. Viva em liberdade cristã, não sob a aliança das obras

Seção C: A doutrina do pecado


IX. Introdução à doutrina do pecado
A. Verdades teológicas fundamentais sobre o pecado
1. O pecado não é uma ilusão
2. O pecado não é uma realidade eterna
3. O pecado não é uma substância

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Esboço analítico 29

4. O pecado não é um mal físico


5. O pecado não é meramente ação externa
6. O pecado não é meramente ferir outra pessoa
B. A terminologia bíblica do pecado
1. Terminologia do Antigo Testamento
a. Pecado (Kh~TTa~h, Kh~T~a)
b. Transgressão/rebelião (P#sh~‘, P~sh~‘)
c. Iniquidade/culpa/castigo (‘~von)
d. Não ouvir (sh~m~‘)
e. Falta de resposta/dureza (‘ozn~y]m, ‘#n~y]m, Kh~z~q,
q~sh~h, K~B~D)
f. Mal (r~‘ ou r~‘~H, r~‘~‘)
g. Impiedade (r]sh‘~h, r~sh~‘)
h. Rebelião (m~r~h, m~r~D, s~r~r)
i. Traição (m~‘~l)
j. Ofensa/culpa (~sh~m)
k. Ignorância/pecado não intencional (sh#G~G~h, sh#G~G)
l. Erro (‘~w#l, ‘~w~l)
m. Violação/transgressão (‘~B~r)
n. Perambulação/desvio (T~‘~h, sh~G~h)
o. Impureza/contaminação (T~m#‘, n]DD~h)
2. Terminologia do Novo Testamento
a. Pecado ($amartia, $amartanw)
b. Injustiça (adikia)
c. Iniquidade (anomia)
d. Maldade/mal (kakia, ponhria)
e. Transgressão (parabasis, parabainw)
f. Desobediência/não dar ouvidos (parakoh, parakouw,
apeiqhs, apeiqew)
g. Erro/desvio (planh, planaw)
h. Escorregar/cair (paraptwma)
i. Impureza (akaqarsia, akaqartos)
3. Um resumo conceitual da terminologia bíblica para pecado
a. Recusa a dar ouvidos à Palavra divina – consequência: dureza
b. Errar o alvo divino – consequência: contaminação
c. Rebelião contra a autoridade divina – consequência: culpa
C. Definições teológicas do centro e da raiz do pecado
1. Sensualidade versus racionalidade
2. Orgulho versus humildade
3. Egoísmo versus amor
4. Idolatria versus adoração a Deus

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30 Antropologia

5. Incredulidade versus fé na Palavra de Deus


6. Rebelião contra a lei de Deus versus obediência
D. Uma reflexão sobre o complexo significado do pecado
E. Uma aplicação experiencial da definição de pecado: O que eu fiz?
X. A queda do homem em pecado e miséria
A. A transgressão das criaturas contra seu Deus
1. A rebelião do diabo e seus anjos
2. O engano de Satanás a respeito da Palavra de Deus
a. Dúvida sobre a Palavra de Deus
b. Distorção da Palavra de Deus
c. Negação da Palavra de Deus
3. O desafio do homem à Palavra de Deus
B. A justiça de Deus aos pecadores
1. O silêncio de Deus durante a tentação
2. Os juízos secretos de Deus sobre os pecadores
a. Amarga vergonha
b. Culpa e medo
3. A paciente confrontação de Deus aos pecadores
4. Os juízos de Deus pronunciados sobre os pecadores
a. Deus pronunciou sua maldição suprema sobre Satanás
b. Deus afligiu a mulher em seus relacionamentos domésticos
c. Deus puniu o homem com trabalho duro e morte
C. A severidade e a bondade de Deus
1. A sanção de Deus à tripla morte pelo pecado
a. Morte espiritual
b. Morte física
c. Morte eterna
2. A promessa divina do descendente vitorioso
a. A aplicação da salvação
b. A realização da salvação
c. O agente da salvação
XI. O estado de pecado
A. Teologia histórica do pecado original
1. A igreja primitiva e a igreja medieval
a. A igreja primitiva sobre o pecado original
b. A igreja medieval sobre o pecado original
2. Igrejas da Reforma
a. As igrejas luteranas sobre o pecado original
b. As primeiras igrejas reformadas sobre o pecado original
c. Catolicismo romano tridentino e moderno sobre o
pecado original

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Esboço analítico 31

d. Outras correntes de pensamento do século 16


i. Socinianos
ii. Anabatistas
3. Igrejas da pós-Reforma
a. Arminianismo sobre o pecado original
b. Ortodoxia reformada sobre o pecado original
c. Ataques modernos à doutrina do pecado original
4. Resumo da reflexão sobre a doutrina histórica do pecado original
B. Ensino bíblico sobre o pecado original
1. O estado universal de pecado
2. As dimensões mortais do pecado original
3. A imputação do pecado: a culpa do primeiro pecado de Adão
a. A doutrina do apóstolo Paulo sobre Adão e Cristo
b. A justiça de Deus e a culpa do homem com relação a Adão
4. A ausência de vida: a falta de justiça original
5. Depravação total: a corrupção de toda a natureza humana
a. A depravação do coração
b. A depravação de toda a vida
6. Incapacidade total: o domínio do pecado
7. A surpreendente paciência e misericórdia de Deus pelos pecadores
C. A livre escolha da vontade
1. A terminologia e o conceito de livre-arbítrio
a. A terminologia bíblica de liberdade e vontade
b. O conceito filosófico e teológico de livre-arbítrio
2. Livre-arbítrio no estado quádruplo do homem
a. O estado de inocência: capacidade mutável de escolher Deus
b. O estado de pecado: incapacidade de escolher Deus
c. O estado de graça: capacidade renovada, mas imperfeita,
de escolher Deus
d. O estado de glória: capacidade perfeita e imutável de
escolher Deus
D. Implicações práticas da liberdade e da escravidão da vontade
1. Ofereça Cristo como o suficiente Salvador aos pecadores
2. Aponte para os pecadores a fidelidade de Deus em sua aliança por
intermédio de Cristo
3. Confie em Deus para reunir pecadores ao seu Profeta e
Rei glorificado
4. Chame pecadores, como agentes morais responsáveis, a se
voltarem para Deus e à justiça
5. Submeta-se à Palavra de Deus naquelas questões que você
não entende

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32 Antropologia

6. Tenha confiança na Palavra de Deus como o instrumento soberano


da nova vida
7. Tenha esperança na liberdade e na glória eterna de Cristo
XII. Pecados atuais: os diversos e venenosos frutos do pecado original
A. Dimensões do pecado atual
1. Pecados contra Deus e o próximo
2. Pecados de omissão e comissão
3. Pecados em pensamentos, palavras e atos
B. Domínios do pecado atual
1. Pecados contra a glória exclusiva de Deus
2. Pecados contra a adoração prescrita a Deus
3. Pecados contra o maravilhoso nome de Deus
4. Pecados contra o dia santo de Deus
5. Pecados contra a autoridade humana legítima
6. Pecados contra a sagrada vida humana
7. Pecados contra a fiel sexualidade humana
8. Pecados contra a legítima propriedade humana
9. Pecados contra o verdadeiro testemunho humano
10. Pecados contra o submisso contentamento humano
C. Diversas circunstâncias do pecado atual
1. Pecados em público e em secreto
2. Pecados de indivíduos e sociedades
3. Pecados de opressores e vítimas
D. Graus de pecado atual
XIII. A punição do pecado por Deus
A. Os dois aspectos da punição do pecado
1. O pecado rompe a comunhão com Deus
2. O pecado provoca a ira de Deus
B. As operações temporais da punição do pecado
1. O pecado é punido por meio de juízos sobre a alma
a. Abandono judicial ao pecado
b. Endurecimento judicial em incredulidade
2. O pecado é punido por meio de juízos sobre o corpo
C. Os meios humanos de punição do pecado
1. O pecado é julgado internamente pela consciência
2. O pecado é julgado externamente pelo governo civil
D. O cumprimento eterno da punição do pecado
1. O pecado é totalmente punido após a morte e especialmente
após a ressurreição
2. O pecado é totalmente punido por meio de sofrimentos de perda
e de sentido

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Esboço analítico 33

a. A punição de perda
b. A punição de sentimento
3. O pecado é totalmente punido com ira absolutamente justa
XIV. O pecado e o crente
A. A humilde resposta do crente ao pecado
1. Confissão de pecados
2. Arrependimento para com Deus
3. Fé em Cristo
4. Oração pela graça do Espírito
5. Vigilância contra a tentação
6. Combate contra o pecado e Satanás
7. Ação de graças ao Pai
B. A paradoxal experiência de pecado do crente
1. Perdão da culpa, mas com a devida vergonha
2. Libertação do domínio do pecado, mas com corrupção remanescente
3. Certeza de salvação, mas com temor ao Senhor
a. A santidade do nosso Pai
b. O preço da nossa redenção
c. A condição da nossa certeza
C. A fervente esperança do crente por completa purificação do pecado
XV. O sofrimento e o crente
A. A participação dos santos nas aflições de um mundo caído
1. Sofrimento em solidariedade com sua raça caída
2. Sofrimentos dos juízos de Deus contra sua nação
B. Os propósitos paternais de Deus para a aflição dos seus santos
1. Deus os humilha profundamente
2. Deus expõe seus pecados
3. Deus purifica sua corrupção
4. Deus os atrai para si
5. Deus os conforma a Cristo
6. Deus expande sua alegria
7. Deus aumenta sua fé
8. Deus os desacostuma deste mundo
9. Deus os prepara para sua herança celestial
C. A comunhão dos santos com Cristo na aflição
1. A piedade de Cristo
2. A perseverança de Cristo
3. O poder de Cristo
4. As orações de Cristo
5. A presença de Cristo
6. O plano de Cristo

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1

Introdução à Antropologia

Era parte da sabedoria cristã que “ele mesmo sabia o que era a natureza humana”
(Jo 2.25). Esse conhecimento capacitou o nosso Senhor Jesus a lidar habilido-
samente com pessoas que variavam de fariseus a prostitutas. Cristo entendia as
pessoas. Sendo a luz do mundo, ele se revelou a nós e nos revelou a nós mesmos
(Jo 3.19; cf. 15.22). Nosso Senhor Jesus não apenas fez declarações “Eu sou”, mas
também fez algumas afirmações muito importantes “vós sois”.1
Uma verdadeira Antropologia é fundamental para decisões éticas corretas e
sábias. Grande parte da confusão de nossa época surge de falsas antropologias.
Stephen Wellum estrutura a questão de maneira provocativa: “Somos criaturas
de dignidade porque somos criados à imagem de Deus? Ou somos meramente
animais, subprodutos de um processo evolutivo impessoal, coisas que podem ser,
tecnologicamente falando, manipuladas e refeitas para quaisquer fins que consi-
deremos melhores?”2
Claro, o homem não é o maior assunto para nossa mente contemplar. Há uma
razão para que o primeiro locus considerado na teologia seja a doutrina de Deus
(teologia propriamente dita). Contudo, a Bíblia reflete de volta uma imagem de
nós mesmos, assim como um espelho reflete a face do homem, de maneira que
olhemos para nós mesmos e façamos as mudanças necessárias (Tg 1.23-24). Esta é
a função da Antropologia: usar a Palavra de Deus como um espelho no qual vemos
o que somos para que, pela graça, nos tornemos o que devemos ser.

O que é Antropologia teológica?


“O que é o homem?” Essa é a pergunta feita por mais de um escritor. Essa é uma
pergunta que tem provocado o coração de homens, mulheres e crianças desde
os primeiros dias. Quem sou eu? O que somos e por que estamos aqui? Os seres
humanos são únicos entre as criaturas que andam sobre este mundo por sua auto-
consciência e reflexão sobre o significado de sua identidade. Os antigos filósofos
consideravam “conhece-te a ti mesmo” uma máxima da filosofia.3

1
Mateus 10.31; Lucas 16.15; João 8.23,44,47; 10.26.
2
WELLUM, Stephen J. “Editorial: The Urgent Need for a Theological Anthropology Today”, Southern Baptist
Theological Journal 13, nº 2 (verão, 2009): p. 2 (artigo completo, p. 2-3).
3
Essa é uma das máximas inscritas em Delfos e frequentemente citada por filósofos gregos. Veja PAUSA-
NIAS. Description of Greece. W. H. S. Jones e H. A. Ormerod (trad.). Cambridge, MA: Harvard University Press;
Londres: William Heinemann Ltd., 1918, 10.24.1, Perseus Digital Library, http://www.perseus.tufts.edu/hopper/
text?doc=Paus.+10.24&fromdoc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0160.

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36 Antropologia

Há muitas maneiras legítimas de se estudar a vida humana. Por exemplo, um


médico estuda a anatomia do corpo humano para entender seu funcionamento e
curar suas enfermidades. Um preparador de atletas pode estudar o desempenho
das pessoas em um esporte para ajudar seus clientes a terem o melhor desempe-
nho possível. Da mesma forma, podemos estudar o comportamento de grupos de
pessoas que se relacionam umas com as outras como um exercício de sociologia
e ciência política.
Quando os escritores bíblicos perguntam “o que é o homem?”, é notável que
dirijam a pergunta a Deus. Jó disse, em sua dor: “Que é o homem, para que tanto
o estimes, e ponhas nele o teu cuidado, e cada momento o ponhas à prova?”
(Jó 7.17-18). Maravilhado, Davi contemplou as estrelas e perguntou: “Que é o
homem, que dele te lembres? E o filho do homem, que o visites?” (Sl 8.4; cf.
144.3). Na perspectiva bíblica, a questão da identidade do homem não pode ser
separada de Deus e de nosso relacionamento com ele. João Calvino (1509–1564)
disse: “Quase toda a sabedoria que possuímos, a verdadeira e boa sabedoria, con-
siste de duas partes: o conhecimento de Deus e de nós mesmos. Mas, embora
estejamos unidos por muitos vínculos, qual precede e produz o outro não é fácil
de discernir.”4
A disciplina teológica da Antropologia procura discutir esta questão: O que é o
homem, especialmente em relação a Deus? O termo Antropologia deriva de uma
combinação da palavra grega “homem” ou “ser humano” (anqropos) e o termo
para “discurso”, “pensamento” ou “palavra” (logos). A Teologia, em geral, é o
conhecimento e sabedoria derivados da meditação sobre a Palavra de Deus e da
obediência a ela.5 Portanto, Antropologia teológica é o estudo submisso da Palavra
de Deus para aprendermos sobre nós mesmos.

Por que estudar Antropologia?


A teologia é uma disciplina acadêmica e uma disciplina espiritual. Por essa razão,
requer muito de nós. É interessante, portanto, começar nosso estudo da Antropo-
logia perguntando por que esse labor merece nosso tempo e empenho. Por que
devemos estudar a doutrina do homem?6

Sua importância na Bíblia


O Senhor dedica grande parte da Bíblia a nos ensinar sobre quem e o que nós
somos. Louis Berkhof (1873–1957) escreveu “que o homem ocupa um lugar de
importância central na Escritura e que o conhecimento do homem em relação a

4
CALVIN, John. Institutes of the Christian Religion. John T. McNeill (org.); Ford Lewis Battles (trad.). 2 vols.
Filadélfia: Westminster, 1960, 1.1.1. [Publicado no Brasil pela Editora Cultura Cristã sob o título As Institutas, 3ª ed.
Edição Clássica. São Paulo: Cultura Cristã, 2022 (N. do T.)].
5
Para um estudo do que é a Teologia e de como ela é feita corretamente, veja RST, 1:39-173 (capítulos 1–9).
6
Somos devedores, por várias ideias presentes neste capítulo, a ERICKSON, Millard J. Christian Theology. 3ª ed.
Grand Rapids, MI: Baker, 2013, p. 424-35.

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Introdução à Antropologia 37

Deus é essencial para seu entendimento correto”, pois “o homem não é somente a
coroa da criação, mas também o objeto do cuidado especial de Deus”.7
Visto que é bom estudar as obras de Deus (Sl 92.4-5; 111.2), muito mais
devemos estudar o clímax da obra criadora de Deus, que é a criação do homem
(8.4), a quem ele colocou acima de todas as suas outras obras (v.6). Esse estudo
nos permite exclamar com adoração: “Ó Senhor, Senhor nosso, quão magnífico
em toda a terra é o teu nome!” (v. 1,9). Calvino disse sobre o estudo do homem:
“Entre todas as obras de Deus, eis aqui o mais nobre e mais notável exemplo de
sua justiça, sabedoria e bondade.”8
A Palavra de Deus serve de modelo para nós de uma atenção saudável à Antro-
pologia. Grandes porções da Escritura consistem em narrativas históricas e esbo-
ços pessoais que expõem para nós o caráter de homens e nações. Livros inteiros,
como Rute e Ester, não descrevem milagres e não contêm revelações proféticas
(embora a secreta providência de Deus esteja no pano de fundo), mas relatam
somente as ações fiéis de pessoas piedosas, seja de uma camponesa ou de uma
rainha. Provérbios foca muito na vida humana no mundo de Deus, fornecendo
declarações piedosas que iluminam a natureza humana e identificam diferentes
tipos de pessoa. A Bíblia também contém grandes declarações doutrinárias sobre
o homem, como “Façamos o homem à nossa imagem” (Gn 1.26) e “estando vós
mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef 2.1).
Precisamos de autoconhecimento para nossa salvação. Considere a Carta aos
Romanos, talvez a maior exposição do evangelho na Sagrada Escritura. Ela está
cheia de ensinos sobre a obra de Jesus Cristo, sobre como Deus aplica essa obra
pelo Espírito e pela fé e sobre qual resposta devemos dar em amor agradecido.
Contudo, a maior parte dos três primeiros capítulos de Romanos consiste das
terríveis verdades sobre o pecado humano e suas consequências. Evidentemente,
a Antropologia é uma parte crucial do evangelho. Devemos apreciar seu lugar na
Bíblia e estudá-la cuidadosamente.

Sua relação integral com outras doutrinas


Grande parte da Teologia Sistemática consiste em ligar verdades bíblicas especí-
ficas de modo que desenvolvamos um sistema bíblico de pensamento. A Antropo-
logia é parte dessa rede de conhecimento. Ela lança luz sobre a doutrina de Deus,
pois o homem foi criado à sua imagem (Gn 1.26). Entender a humanidade nos
ajuda a entender a pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo, pois o Filho de Deus se
tornou “semelhante aos irmãos” em todas as coisas, exceto no pecado (Hb 2.17;
4.15). O modo como Deus nos fez originalmente aponta para frente, para o que
nos tornaremos se estivermos unidos a Cristo, pois a nova criação será como o
paraíso – só que melhor, por causa do Cordeiro de Deus (Ap 22.1-5).

7
BERKHOF, Louis. Systematic Theology. Edimburgo: Banner of Truth, 1958, p. 181. [Publicado no Brasil pela
Editora Cultura Cristã sob o título Teologia Sistemática. 4ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2012 (N. do T.].
8
CALVIN. Institutes, 1.15.1.

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38 Antropologia

Nossa origem como criação de Deus reforça a nossa obrigação moral de obe-
decer aos seus mandamentos. A Antropologia, portanto, lança um fundamento
sobre o qual edificar a nossa ética. O que é certo ou errado no modo como lidamos
com os outros depende muito de quem eles são. Assassinato, adultério, roubo,
mentira – essas violações dos Dez Mandamentos são pecados por causa da natu-
reza daqueles contra os quais os cometemos. O mesmo é verdade sobre questões
éticas a respeito de engenharia genética, clonagem, aborto, eutanásia, racismo e
opressão econômica.
A doutrina da Antropologia interage com todos os grandes ensinos da fé cristã.
Perspectivas corretas em Antropologia fortalecem significativamente o nosso sis-
tema geral de crenças. Perspectivas erradas em Antropologia fazem desmoronar
esse sistema de crenças e podem enfraquecer o próprio evangelho da salvação.

Seu valor para outras disciplinas acadêmicas


A Antropologia aborda o mais terreno dos tópicos da Teologia, por isso ela se
sobrepõe, em certo grau, a disciplinas acadêmicas fora do campo da Teologia, tais
como Biologia, Psicologia e Sociologia. Na Medicina, os cientistas estão cada vez
mais reconhecendo a estreita relação entre saúde mental e saúde física – e a boa
saúde mental nasce do funcionamento de acordo com a nossa natureza humana
como Deus nos criou para ser.
A Antropologia responde a questões importantes sobre as raízes da maldade e
do sofrimento humano e nos permite formar uma visão de mundo prática pela qual
podemos viver sabiamente neste mundo. Ela nos impede de tratar pessoas como
meros animais ou como lixo. Calvino citou Bernardo de Claraval (1090–1153):
“Como pode ser absolutamente nada aquele a quem Deus engrandece?”9 No
entanto, a Antropologia também nos impede de ver ingenuamente os seres huma-
nos, como se fossem anjos sobre a terra – apesar de quão fofos podem ser os bebês
ou do quanto possamos parecer justos aos nossos próprios olhos. Calvino disse:

Sempre parecemos a nós mesmos justos e retos, sábios e santos – esse orgulho
é inato em todos nós, a menos que, por provas claras, sejamos convencidos
de nossa própria injustiça. [...] Não somos convencidos disso se olharmos
meramente para nós mesmos e não também para o Senhor, que é o único
padrão pelo qual essa avaliação deve ser feita.10

Uma visão bíblica do homem fará de nós não apenas cristãos melhores, mas
também pais, filhos e amigos melhores, vizinhos, cidadãos, empregados e empre-
gadores melhores.
A doutrina do homem aborda uma questão de interesse vital para todas as
pessoas, porque se refere a cada um de nós. Millard Erickson escreve: “A doutrina
da humanidade é um ponto em que é possível obter um ponto de contato na mente

9
Citado em CALVIN. Institutes, 3.2.25.
10
CALVIN. Institutes, 1.1.2.

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Introdução à Antropologia 39

da moderna pessoa secular.”11 Quer estejamos pregando ou tendo uma conversa


pessoal com um incrédulo, a Antropologia oferece maneiras de abordar pessoas
através de questões que elas valorizam muito e, depois, conduzi-las a Deus, a fim
de que encontrem respostas que uma visão de mundo incrédula não pode oferecer.

Suas implicações para crises existenciais contemporâneas


Como as nações na Europa e na América do Norte colhem o fruto amargo de
rejeitarem sua herança cristã, vemos uma desintegração da cultura humana ao
nosso redor, quer consideremos moralidade pública, educação, crime e segurança
ou mídia e artes. Essa desintegração produz considerável ansiedade e, às vezes,
desespero. Forças culturais corroem nosso senso de identidade pessoal e dissol-
vem relacionamentos em superficialidade. Anthony Hoekema (1913–1988) disse:
“A crescente supremacia da tecnologia; o crescimento da burocracia; o aumento
dos métodos de produção em massa; e o impacto cada vez maior da mídia de
massa [...] tendem a despersonalizar a humanidade.”12
Questões profundas e penetrantes perturbam aqueles que não conseguem dor-
mir por causa de prazer, recreação e entretenimento, como:

y Quem sou eu? Quais são minhas raízes? Pertenço a algo maior que
eu mesmo?
y Por que minha vida é tão dolorosa e confusa?
y O que significa ser humano? Como somos diferentes dos animais?
y Como posso saber o que é certo e o que é errado? Todas as coisas são
meramente relativas?
y Por que estamos na confusão que estamos?
y Por que é que, apesar de nossa notável tecnologia e sistemas de
informação, não conseguimos resolver problemas básicos, como justiça
social e paz mundial?
y Por que pessoas que não são tão diferentes de nós cometem atrocidades
como genocídio, terrorismo, tráfico humano e opressão étnica?
y Para onde nosso mundo está indo? Temos algum motivo para
termos esperança?

A Bíblia nos oferece uma perspectiva sobre a vida humana que responde a
essas questões de um modo que é realista (de modo que podemos lidar sabia-
mente com nós mesmos e com outras pessoas), idealista (de modo que podemos
ter objetivos elevados e dignos) e otimista (de modo que podemos continuar nos
esforçando pelo que é certo com a sólida esperança de fazer diferença).

11
ERICKSON. Christian Theology, p. 427.
12
HOEKEMA, Anthony A. Created in God’s Image. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1986, p. 2. [Publicado no Brasil
pela Editora Cultura Cristã sob o título Criados à Imagem de Deus, 3ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2018 (N. do T.)].

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40 Antropologia

Seu impacto no ministério prático


Os pastores precisam entender e crer naquilo que a Bíblia lhes ensina sobre as
pessoas a quem servem. Os pastores devem conhecer o seu rebanho (Pv 27.23).
Embora isso requeira relacionamentos pessoais como pastores que cuidam das
almas que lhes foram confiadas (Hb 13.17), também requer um profundo conheci-
mento da Palavra de Deus, que é suficiente para capacitar os servos de Deus para
o seu trabalho (2Tm 3.17).
Como Erickson observa, uma visão desequilibrada da natureza humana pode
distorcer o modo como ministramos.13 Se virmos as pessoas apenas como mentes,
focaremos no ministério intelectual e esperaremos que o ensino por si mesmo as
transforme. Se crermos que as pessoas são orientadas por emoções, procuraremos
motivá-las aconselhando-as por meio de experiências passadas e criando novas
experiências emocionais. Se reduzirmos as pessoas aos seus relacionamentos,
nosso ministério pode minimizar a doutrina e maximizar a comunhão. Se espi-
ritualizarmos demais o nosso entendimento das pessoas, trataremos problemas
físicos como falhas morais. Precisamos de uma perspectiva bíblica equilibrada do
homem para exercermos um ministério sábio, equilibrado e holístico.
A Antropologia beneficia a todos os cristãos no ministério. A Palavra de Deus
revela muita coisa sobre a natureza humana que nos orienta sobre como nos relacio-
narmos com outras pessoas. Como podemos servir às pessoas em nome de Cristo, se
não soubermos quem elas são e quais são suas necessidades e problemas mais pro-
fundos? Nunca devemos nos esquecer que, quando servimos à humanidade, cuida-
mos “da obra prima da criação inferior”, como disse Thomas Boston (1676–1732).14

Como o mundo aborda a Antropologia?


A única coisa mais perigosa que a igreja estar no mundo é o mundo estar na igreja.
Os cristãos devem resistir aos esforços deste mundo ímpio para nos conformarmos
à sua mentalidade (Rm 12.2). Portanto, antes de começarmos o nosso estudo do
que a Bíblia ensina sobre a humanidade, devemos rever como as pessoas deste
mundo comumente definem o homem, para que nos examinemos, a fim de verifi-
car como o mundanismo pode ter se infiltrado em nossa mente.
1. O homem definido pelo idealismo filosófico. Nesta perspectiva, a coisa mais
real sobre os seres humanos é sua mente ou espírito. O corpo físico é menospre-
zado e visto, na melhor das hipóteses, como uma casca em volta de uma pessoa e,
na pior, como um mal a ser evitado. Hoekema escreveu: “Encontramos essa visão
na antiga filosofia grega; segundo Platão [427–347 a.C.], por exemplo, o que é real
sobre o homem é seu intelecto ou razão, que é, na verdade, uma centelha do divino
dentro da pessoa, que continua a existir depois que o corpo morre.”15 O idealismo

13
ERICKSON. Christian Theology, p. 429.
14
BOSTON, Thomas. An Illustration of the Doctrines of the Christian Religion. In: M’MILLAN, Samuel, org.
The Complete Works of the Late Rev. Thomas Boston, Ettrick, 1853. Reimpressão, Stoke-on-Trent, Inglaterra: Tent-
maker, 2002, 1:177.
15
HOEKEMA. Created in God’s Image, p. 2.

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Introdução à Antropologia 41

pode resultar em uma ênfase não saudável no intelecto, no mal tratamento ascético
do corpo ou na indulgência descuidada dos desejos físicos. Embora não sejam
tão comuns em nossa presente sociedade materialista, essa elevação do espírito e
degradação do corpo persistem em alguns grupos hoje e podem infectar a igreja.
Paulo escreve que o Espírito Santo predisse a apostasia de pessoas seguindo dou-
trinas demoníacas “[...] que proíbem o casamento, exigem abstinência de alimen-
tos, que Deus criou para serem recebidos, com ações de graças, pelos fiéis e por
quantos conhecem plenamente a verdade” (1Tm 4.3; cf. Cl 2.20-23).
2. O homem definido pela biologia física. O naturalismo, com sua negação
do mundo invisível, reduz todas as coisas à sua existência cientificamente men-
surável e física. Os seres humanos, então, consistem totalmente do material e dos
processos de seu corpo físico, e sua mente é apenas o intercâmbio eletroquímico
do cérebro. Essa crença tem a implicação prática de que nossos problemas estão
todos arraigados na biologia e são resolvidos pela física mecânica e pela química.
Em uma cultura dominada pela teoria da evolução, é comum as pessoas verem
os seres humanos apenas como animais altamente desenvolvidos ou, no caso de
alguns ambientalistas radicais, como o pior dos animais. O homem é nada mais,
nas palavras de Desmond Morris, que “o macaco nu”.16 Aqueles que tratam a vida
humana em um nível meramente biológico nutrem o corpo, mas negligenciam a
alma. Cristo advertiu: “Que aproveita ao homem, ganhar o mundo inteiro e perder
a alma?” (Mc 8.36).
3. O homem definido por desejos sexuais. Esta forma de naturalismo, desen-
volvida especialmente pelo psicanalista Sigmund Freud (1856–1939), afirma que
o conflito psicológico interior geralmente nasce da frustração dos desejos de satis-
fação sexual da pessoa.17 Se o homem é essencialmente um animal desenvolvido,
então, segundo se alega, sua orientação primária é a libido ou energia que busca
sobrevivência e satisfação sexual. Como Erickson observa, essa teoria é adotada
em sua forma mais crua pela indústria da prostituição e da pornografia, que trata as
pessoas como animais que existem somente para dar e receber prazer sexual.18 Na
mídia popular, a falta de satisfação sexual é frequentemente tratada como a mais
miserável de todas as condições. Em tempos mais recentes, as pessoas também
têm se definido por sua “orientação sexual” percebida, de modo que qualquer crí-
tica às suas práticas sexuais é vista como um ato de violência contra a sua própria
pessoa. Essa definição do homem é usada para justificar viver buscando satisfazer
a “concupiscência da carne” (1Jo 2.16).
4. O homem definido pela prosperidade material. Ninguém pode negar que
alimento, roupas e outras coisas básicas são essenciais para a vida ou que o desejo
de ter dinheiro e posses motiva fortemente as pessoas (cf. Mt 6.24-26). Contudo,
nesta perspectiva, os homens são explícita ou implicitamente definidos por aquilo
que possuem. As pessoas geralmente medem umas às outras por suas posses ou

16
MORRIS, Desmond. The Naked Ape: A Zoologist’s Study of the Human Animal. Londres: Jonathan Cape, 1967.
17
FREUD, Sigmund. A General Introduction to Psychoanalysis. G. Stanley Hall (trad.). Nova York: Horace
Liveright, 1920, p. 259-60,267-68.
18
ERICKSON. Christian Theology, p. 431.

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42 Antropologia

por sua utilidade para aumentar sua própria riqueza – o tipo de atitude repreen-
dida pelo apóstolo Tiago (Tg 2.1-5). Essa é a perspectiva teórica do marxismo,
que interpreta a história segundo fatores econômicos e a luta por riqueza, embora
também possa ser a perspectiva prática do capitalismo. O Senhor Jesus advertiu:
“Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um
homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Lc 12.15). Somente
Deus pode ser aquela porção que nos satisfaz na vida e na morte (Sl 73.24-28).
Thomas Brooks (1608–1680) disse: “Quanto mais aumenta o dinheiro, mais
aumenta o amor pelo dinheiro; e quanto mais aumenta o amor pelo dinheiro, mais
a alma fica insatisfeita. É somente um Deus infinito e um bem infinito que podem
preencher e satisfazer a preciosa e imortal alma humana.”19
5. O homem definido pela liberdade individual. Os reformadores tentaram
restaurar a liberdade cristã, livrando-a da escravidão das leis religiosas e doutri-
nas do homem. Mais tarde, os puritanos e vários outros movimentos lutaram pela
liberdade contra aquilo que percebiam ser tirania política. Contudo, na cultura
moderna, a liberdade foi redefinida como a permissão para o indivíduo fazer tudo
o que quiser sem constrangimento, restrição ou repreensão, desde que não cause
dano a outros. Como disse Jean-Jacques Rousseau (1712–1778), “obediência a
uma lei autoprescrita é liberdade”.20 Opressão, então, é a imposição de um padrão
que não escolhemos pessoalmente. William Ernest Henley (1849–1903) capturou
ousadamente o espírito dessa afirmação em seu poema “Invicto”:

Da noite que me cobre,


Negra como o abismo de polo a polo,
Agradeço por tudo que os deuses podem ser
Para minha alma invencível...

Não importa quão estreita a porta,


Quão cheio de punições o rolo,
Eu sou o senhor do meu destino:
Eu sou o capitão da minha alma.21

O relativismo e o pós-modernismo levam esse princípio ao seu fim lógico,


afirmando que cada pessoa tem o direito de construir sua própria realidade e que
ensinar verdade e moralidade absolutas é uma forma de ódio. Na realidade, ensi-
nar verdade e moralidade absolutas é uma forma de amor (1Co 13.6; Ef 4.15).

19
BROOKS, Thomas. London’s Lamentations: or, a Serious Discourse Concerning that Late Fiery Dispensation
that Turned Our (Once Renowned) City into a Ruinous Heap. Londres: para John Hancock e Nathaniel Ponder, 1670,
p. 194; cf. The Works of Thomas Brooks. Edimburgo: Banner of Truth, 1980, 6:259.
20
ROUSSEAU, Jean-Jacques. The Social Contract, or Principles of Political Right. H. J. Tozer (trad.). Words-
worth Classics of World Literature. Ware, Hertfordshire, Inglaterra: Wordsworth, 1998, 1.8 (p. 20). Rousseau reconhe-
ceu que a liberdade ideal pode ser limitada pelas necessidades da vida em sociedade.
21
HENLEY, William Ernest. “Invictus”. In: UNTERMEYER, Louis, org. Modern British Poetry, 1920, http://
www.bartleby.com/103/7.html.

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Introdução à Antropologia 43

6. O homem definido pelos relacionamentos sociais. Nesta perspectiva, o


homem é menos como aves que voam sozinhas e mais como aves que voam em
bando, seja como gansos que voam em formação V ou como estorninhos que
voam como uma nuvem. A dinâmica familiar e as estruturas sociais determinam
quem somos e como agimos. Encontramos essa ideia ilustrada de uma forma
extrema e especulativa na série de livros escrita pelo autor de ficção científica
Isaac Asimov (1920–1992), que postulava um mundo em que os cientistas predi-
riam a história futura por meio de um modelo matemático do comportamento de
grandes grupos de pessoas.22 A Escritura reconhece que os relacionamentos afetam
o comportamento (Pv 22.24; 1Co 15.33), mas enfatiza a responsabilidade pessoal
diante de Deus (2Co 5.10).
7. O homem definido pela saúde emocional. Em nossa presente cultura, que é
penetrantemente influenciada pela psicologia terapêutica, as pessoas comumente
creem que “o objetivo central da vida é ser feliz e se sentir bem consigo mesmo”.23
Essa mentalidade aparece nas linhas cantadas por Whitney Houston (1963–2012):
“Aprender a amar a si mesmo – esse é o maior amor de todos.”24 Pessoas com essa
mentalidade procuram trabalhos e relacionamentos que proporcionem satisfação
emocional e creem que o princípio mais importante da vida é aceitarem a si mes-
mas e seguirem o seu coração. A visão de mundo cristã reconhece o lugar central
da alegria na vida (Ne 8.10), mas subordina a satisfação pessoal imediata ao arre-
pendimento pelo pecado, à autonegação e ao serviço sacrificial por amor a Deus e
aos outros na esperança de vida e alegria máximas na glória de Deus (Lc 9.23-26).
8. O homem indefinido pelo absurdo existencial. Algumas pessoas veem a
vida humana com profundo agnosticismo e até cinismo. Consideram a vida como
sem sentido e sem propósito (niilismo). Nas palavras de Macbeth, de William
Shakespeare (1564–1616):

A vida é uma sombra que passa, um pobre ator


Que se escora e se aflige em seu momento no palco,
E depois não é mais ouvido; é um conto
Narrado por um idiota, cheio de som e fúria
Que nada significa.25

O existencialismo ateu aceita essa perspectiva niilista e irracionalmente chama


as pessoas a construírem seu próprio significado, sendo autênticas para si mesmas.
Contudo, o homem é pequeno demais e transitório demais para agir como seu
próprio criador. Ele deve encontrar seu ponto de referência no Senhor que criou

22
ASIMOV, Isaac. The Foundation Trilogy: Three Classics of Science Fiction. Garden City, NY: Doubleday,
1951–1953. Asimov era um humanista ateu criado no judaísmo.
23
SMITH, Christian; DENTON, Melina Lundquist. Soul Searching: The Religious and Spiritual Lives of American
Teenagers. Oxford: Oxford University Press, 2005, p. 163.
24
HOUSTON, Whitney. “The Greatest Love of All”, letra de Linda Creed, música de Michael Masser, Whitney
Houston. Arista Records, 14 de fevereiro, 1985.
25
SHAKESPEARE, William. Macbeth, ato 5, cena 5.

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44 Antropologia

todas as coisas para seu prazer e faz todas as coisas segundo o conselho da sua
vontade (Ef 1.11; Ap 4.11).
Em cada uma dessas definições, um real componente da vida humana foi
elevado a uma posição que não pode sustentar. Até mesmo o existencialismo
reflete a noção humana de mistério e alienação em um mundo caído. Isso explica
por que cada definição ressoa conosco em certa medida e, no entanto, por fim
não consegue explicar quem somos. Hoekema observou: “Uma forma de avaliar
essas perspectivas seria dizer que são unilaterais, isto é, enfatizam um aspecto do
ser humano à custa dos outros.” Contudo, ele perceptivamente notou o problema
mais profundo: “Já que cada uma dessas perspectivas do homem mencionadas
acima considera um aspecto do ser humano como o principal, sem qualquer
dependência de Deus ou responsabilidade diante de Deus como Criador, cada
uma dessas Antropologias é culpada de idolatria: adora um aspecto da criação
em lugar de Deus.”26

Como a Bíblia aborda a Antropologia?


A Palavra de Deus tem uma Antropologia bem desenvolvida. Podemos resumir
a abordagem da Bíblia à pergunta “o que é o homem?”, com os termos teológico
e histórico-redentivo. É Antropologia teológica porque entende o homem de um
modo inseparável do seu relacionamento com Deus. O propósito do homem está
inextricavelmente ligado ao Deus que o criou. O Breve Catecismo de Westminster
afirma isso de maneira bela, em sua primeira pergunta e resposta: “Qual é o fim
principal do homem? O fim principal do homem é glorificar a Deus (1Co 10.31;
Rm 11.36) e gozá-lo para sempre (Sl 73.25-28).”27 Samuel Willard (1640–1707)
explicou que, embora não possamos aumentar a glória essencial de Deus, “glo-
rificar a Deus é anunciar sua glória, declarar que ele é o mais glorioso”. Glori-
ficamos a Deus pensando corretamente sobre ele e tendo corações de adoração,
temor e confiança nele, com submissão aos seus mandamentos e serenidade em
sua providência.28
A Antropologia da Bíblia também é histórico-redentiva, porque considera a
condição humana segundo os estágios da existência humana desde a criação e
a queda até a redenção e a nova criação. Agostinho de Hipona (354–430 d.C.)
contrastou o primeiro estágio com o último dizendo que, no paraíso, o homem
era capaz de pecar ou não pecar contra Deus, mas na glória ele não será capaz
de pecar.29 Agostinho apresentou quatro estágios para a condição humana após a
queda: (1) “antes da lei”, quando o pecador vive de modo contente na impiedade;
(2) “sob a lei”, quando o pecador é agitado pela lei, mas apenas para maior culpa
e pecado; (3) “sob a graça”, quando Deus concede fé e amor para que a pessoa

26
HOEKEMA. Created in God’s Image, p. 4.
27
Reformed Confessions, 4:353.
28
WILLARD, Samuel. A Compleat Body of Divinity in Two Hundred and Fifty Expository Lectures on the Assem-
bly’s Shorter Catechism. Boston: B. Green e S. Kneeland para B. Eliot e D. Henchman, 1726, p. 5-6.
29
AUGUSTINE. Enchiridion, cap. 105. In: NPNF1, 3:271. Veja também AUGUSTINE. On Rebuke and Grace,
cap. 33. In: NPNF1, 5:485; e The City of God, 22.30. In: NPNF1, 2:510.

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Introdução à Antropologia 45

lute contra a luxúria e cresça em santidade; e (4) “plena e perfeita paz”,30 que é a
própria glória.
Posteriormente, os teólogos reformularam esse esquema, seguindo o padrão
histórico-redentivo de criação, queda, redenção e consumação. Os teólogos
medievais consolidaram o primeiro e o segundo passo de Agostinho, “antes da
lei’ e “sob a lei”, em um estado espiritual de pecado e incluíram o estado do
homem antes da Queda em seu esquema. O resultado, apresentado nas Sentenças
de Pedro Lombardo (c. 1096–1160)31 e encontrado nos escritos de teólogos como
Johannes Wollebius (1586–1629) e François Turretini (1623–1687), foi a doutrina
da natureza humana em seu estado quádruplo.32 Sua mais famosa exposição pode
ter sido feita por Boston.33 Em resumo, essas afirmações são:
1. O estado original de inocência. Deus criou o homem à sua imagem, o que
fez dele o pináculo e o governante do mundo que era muito bom (Gn 1.26,31).
Nesse estado, o homem era livre para fazer o bem que agradava a Deus e tinha
a capacidade de não pecar (latim posse non peccare). Contudo, ele também era
capaz de pecar (posse peccare) contra Deus.
2. O estado de natureza caída. Depois do pecado de Adão, o coração do
homem continuamente gera mal moral e nada além de mal moral em todos os seus
movimentos (Gn 6.5). Consequentemente, “não há quem faça o bem” (Sl 14.1). A
humanidade caída, sem Cristo, não tem a capacidade de fazer algo que agrade a
Deus, e, portanto, é incapaz de não pecar (non posse non peccare).
3. O estado de graça. Aqueles pecadores unidos a Cristo pela fé produzida
pelo Espírito foram salvos do poder dominador do pecado (Rm 6), mas não de
sua presença em sua alma (Rm 7.14-25). Consequentemente, são capazes de não
pecar, (posse non peccare) e livres para fazer o bem, mas não perfeitamente.
4. O estado de glória. Quando Cristo vier para conduzir seu povo à sua glória,
o cristão se tornará como ele e o verá como ele é (1Jo 3.2). Sua completa salvação
e perfeita comunhão com ele o tornarão incapaz de pecar (non posse peccare).
Nós nos referiremos aos quatro estados, mas nosso foco estará nos estados
de inocência original e de natureza caída, pois são o núcleo da Antropologia.34
Calvino disse: “Esse conhecimento de nós mesmos é duplo: a saber, conhecer
o que éramos quando fomos criados e qual se tornou nossa condição depois da
queda de Adão.”35

30
AUGUSTINE. Enchiridion, cap. 118. In NPNF1, 3:275. Observamos aqui a importância de convicção legal na
teologia agostiniana, um tema retomado na teologia luterana e reformada.
31
LOMBARD, Peter. The Sentences. Giulio Silano (trad.). 4 vols. Toronto: Pontifical Institutes of Mediaeval
Studies, 2007–2010, 2.25.5–6 (2:118).
32
WOLLEBIUS, Johannes. Compendium Theologiae Christianae, 1.8.xii. In: BEARDSLEE, John W., org. e trad.
Reformed Dogmatics, A Library of Protestant Thought. Nova York: Oxford University Press, 1965, p. 65. Daqui por
diante citado como WOLLEBIUS. Compendium, 1.8.xii (65). Veja também TURRETIN, Francis. Institutes of Elenctic
Theology. George Musgrave Giger (trad.); James T. Dennison Jr. (org.). 3 vols. Phillipsburg, NJ: P&R, 1992–1997,
8.1.9 (1:571).
33
BOSTON, Thomas. Human Nature in Its Fourfold State. Edimburgo: Banner of Truth, 1964.
34
O estado de graça é o tema da Soteriologia, e o estado de glória, da Escatologia.
35
CALVIN. Institutes, 1.15.1; cf. 2.1.1.

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46 Antropologia

Passemos, então, ao nosso estudo de Antropologia para a glória de Deus. Muito


frequentemente temos pensado em nós mesmos sem pensar em Deus. David Dick-
son (c. 1583–1662) disse: “Ó, quão grande é nosso ateísmo! Que o Senhor o
apague! Meditemos em nossa criação, para que possamos amar nosso Criador!”36
Antes de continuar a leitura, pare e ore a Deus pedindo que ele se revele a você,
enquanto aprende mais sobre si mesmo e seus companheiros humanos e o faça
amar seu Criador.

Cantai ao Senhor
O ensino e orientação de Deus para aqueles que confiam nele
A ti elevo minha alma,
Em ti ponho minha confiança;
Meu Deus, ó, não me envergonhes
Perante inimigos triunfantes.

Não envergonhes também


Aqueles que humildemente esperam em ti,
Mas aqueles que deliberadamente transgridem,
Sobre eles venha a vergonha.

Mostra-me teus caminhos, ó Senhor,


Ensina-me teu caminho perfeito,
Ó, guia-me em tua verdade divina,
E conduze-me dia após dia.

Pois tu és Deus que


Envias para mim salvação,
E pacientemente ao longo de todo o dia
Atento a ti.

Lembra-te de tuas misericórdias, Senhor,


Tua ternura inaudita,
E toda a tua benignidade,
Pois existem desde os tempos antigos.

Salmo 25
Música: Dennis
The Psalter, No. 60

36
DICKSON, David. Exposition of the Tenth Chapter of Job. In: Select Practical Writings of David Dickson.
Edimburgo: The Committee of the General Assembly of the Free Church of Scotland for the Publication of the Works
of Scottish Reformers and Divines, 1845, 1:37.

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Introdução à Antropologia 47

Perguntas para meditação ou discussão


1. O que é Antropologia teológica?
2. Quais são as várias razões pelas quais devemos estudar Antropologia
teológica?
3. Como o entendimento da Antropologia teológica pode nos ajudar a
ministrar às pessoas?
4. Quais são algumas maneiras como o mundo nos define meramente
por coisas físicas?
5. Dessas, quais são as que você pessoalmente aceitou ou encontrou?
Como essa forma de enxergar as pessoas afeta a vida de alguém?
6. Quais são algumas outras maneiras (não físicas) como o mundo tende
a nos definir?
7. Escolha uma das maneiras listadas em sua resposta à pergunta 6 e
explique como ela pode moldar a cultura de uma nação se for aceita
por muitas pessoas.
8. Qual é o quádruplo estado do homem? Qual é a relação de cada estado
com o pecado?
9. Em qual estado você acredita estar? Por quê?

Perguntas para reflexão mais profunda


10. O que queremos dizer quando afirmamos que a Antropologia bíblica é
(1) teológica e (2) histórico-redentiva? Por que isso é importante?
11. Com relação aos quatro estados do homem, que dano pode ser causado
se enxergarmos e tratarmos
y uma pessoa no segundo estado como se estivesse no primeiro?
y uma pessoa no segundo estado como se estivesse no terceiro?
y uma pessoa no terceiro estado como se estivesse no segundo?
y uma pessoa no terceiro estado como se estivesse no quarto?

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