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A palavra "identidade" deriva do latim e tem o significado de "mesmo", logo, pode ser
entendida sob uma perspectiva de unicidade, ou seja, aspectos individuais que tornam algo
único, singular, próprio. O documento de identidade, por exemplo, diferencia os indivíduos a
partir daquilo que lhes torna únicos, a digital, algo que é particular daquela pessoa. Porém,
em um sentido mais amplo, a identidade também evoca o conceito de identificação,
entendido pelo processo de reconhecer, distinguir ou caracterizar algo ou alguém. Dessa
forma, a identidade está simultaneamente relacionada a caraterísticas de semelhança e
alteridade que permitem ao indivíduo se aproximar ou afastar de determinados agentes
sociais (ideologias, grupos, etc). De acordo com Cardoso de Oliveira (1976), o que demarca a
identidade é seu caráter contrastivo e seu teor de oposição, o que possibilita a afirmação de
um indivíduo em relação a outros indivíduos e de um grupo em relação a outros grupos.
Nesse sentido, o conceito de identidade social, ao longo do tempo, foi alvo de muitos
estudos dentro de diferentes campos do saber, como a sociologia, antropologia e psicologia,
tendo em vista sua importância para compreender fenômenos micro e macro, individuais e
socias. Dessa maneira, com a ascensão da Psicologia Social, surgiram muitos estudos sobre
identidade dentro desse campo, e assim como o próprio conceito de Psicologia Social é
múltiplo, as perspectivas sobre a identidade também mudam a depender da base
epistemológica. Assim, é possível explorar esse objeto social a partir das três principais
vertentes: Psicologia Social Psicológica, Psicologia Social Sociológica e Psicologia Social-
Crítica.
A priori, é certo que a Psicologia Social Psicológica apresenta uma análise mais individual
e com uma abordagem cognitivista, o que reflete na forma como investigam a identidade.
Dentro dessa vertente, a identidade é entendida como a concepção que um indivíduo tem de
si mesmo, incluindo características físicas, traços de personalidade, habilidades, papéis
sociais e experiências pessoais. Essa identidade, é moldada por fatores internos, como
percepções, emoções e pensamentos individuais, bem como por influências externas, como
interações sociais, contextos culturais e normas sociais. Nessa abordagem, também
investigam a relação da identidade com determinadas funções cognitivas, em especial a
memória, uma vez que as lembranças autobiográficas contribuem para a narrativa pessoal de
uma pessoa e ajudam a definir quem ela é. Existe, portanto, um enfoque em compreender
quais aspectos cognitivos influenciam na maneira em que a pessoa cria conceitos sobre si
mesma, o que ela pensa de si. Dito isso, devido à forte influência das tendências cognitivistas
e seu paralelo zelo pela validação científica, a maior parte dos estudos nessa área são
realizados por pesquisas empíricas de cunho quantitativo, a fim de construir hipóteses
testáveis e mensuráveis. Sob tal lógica, um nome representativo desse movimento é o
psicólogo social polonês Henri Tajfel, responsável por conduzir experimentos focados no
entendimento da identidade social. A exemplo, é possível mencionar seu experimento
conhecido como "Mínimos Grupos", o qual visava entender como as pessoas formam
preferências e demonstram comportamentos favoráveis em relação ao seu próprio grupo em
detrimento de grupos externos, ou seja, quais fatores influenciam o processo de identificação.
Ademais, existem pesquisadores mais atuais como o psicólogo americano Dan P. McAdams,
que se dedicam a compreender a influência da memória autobiográfica sobre a identidade
social, utilizando-se inclusive de questionários e escalas.
Por outro lado, a Psicologia Social Sociológica apresenta uma perspectiva mais voltada
para os contextos sócio-históricos que influenciam a construção dessa identidade,
articulando-se com estudos da antropologia e sociologia. Nessa vertente, um nome muito
importante é o do psicólogo social George Mead, o qual elaborou muito sobre o tema em seu
livro Mind, Self, and Society (Mead, 1934, 1934/2010). Nesse contexto, o autor construía
suas ideias a partir dos pressupostos do interacionismo simbólico, uma teoria sociológica que
enfoca a importância dos significados simbólicos compartilhados e das interações sociais na
construção da realidade social. Postula-se que os seres humanos atribuem significados aos
objetos, eventos e situações com base em suas interações sociais, e que a ação humana é
guiada por interpretações desses significados, logo, pessoas aprendem e negociam
significados simbólicos por meio de suas interações sociais com os outros. Assim, a
identidade (a qual ele denomina de self) se constrói a partir das relações sociais, Mead
desenvolve esta ideia quando afirma que a condição humana é inerente à constituição do self.
O self constitui a dimensão da personalidade composta pela consciência que o indivíduo tem
de si mesmo ou autoconsciência que, por sua vez, edifica-se a partir da incorporação das
atividades sociais, possibilitando a socialização através da compreensão acerca dos símbolos
compartilhados e a consequente reprodução de gestos e valores comuns. Nessa perspectiva, o
importante sobre a identidade é compreender os aspectos sociais que a constroem e como ela
se relaciona com a linguagem. Dessa forma, a maior parte dos estudos são teóricos e focam
em realizar reflexões filosóficas, porém também se utiliza de estudos de campo e análises de
grupos focais.
Referências:
Mead, G. H. (1934/2010). Mente, Self e sociedade (M. S. Mourão, trad.). Aparecida, SP:
Ideias & Letras.
Torres, C. V., & Neiva, E. R. (2022). Psicologia social: principais temas e vertentes. Artmed
Editora.