Sumário

APRESENTAÇÃO...................................................................................................................................................... 5
BANCADA FEDERAL (2019-2023)........................................................................................................................ 7
BREVE SÍNTESE DO BALANÇO............................................................................................................................ 9
CAPÍTULO 1 - UMA CONJUNTURA ADVERSA: 02 ANOS DE BOLSONARO...........................................11
CAPÍTULO 2 - O DESMONTE E A RESISTÊNCIA.............................................................................................19
CAPÍTULO 3 - SAÚDE............................................................................................................................................. 25
CAPÍTULO 4 - EDUCAÇÃO E CULTURA ........................................................................................................ 32
ENEM.............................................................................................................................................................. 34
FIES.................................................................................................................................................................
34
MP 934/2020 sobre educação na pandemia............................................................................................... 34
Autoritarismo e perseguição às Universidades e Institutos Federais...................................................... 35
FUNDEB permanente................................................................................................................................... 35
O ataque à cultura.......................................................................................................................................... 38
CAPÍTULO 5 - ECONOMIA E TRIBUTAÇÃO....................................................................................................39
A ECONOMIA NO ANO DE 2020.............................................................................................................40
Medidas com impacto direto sobre os trabalhadores................................................................................ 40
Medidas emergenciais voltadas para as empresas...................................................................................... 42
O tamanho do esforço fiscal brasileiro no enfrentamento à emergência................................................43
A situação da atividade econômica............................................................................................................. 44
Contas externas.............................................................................................................................................. 44
Mercado de trabalho..................................................................................................................................... 46
Inflação.............................................................................................................................................................
46
Cenário do próximo ano............................................................................................................................... 46
TRIBUTAÇÃO................................................................................................................................................47
CAPÍTULO 6 - TRABALHO, EMPREGO E RENDA........................................................................................... 51
CAPÍTULO 7 - MEIO AMBIENTE......................................................................................................................... 58
Desmatamento................................................................................................................................................ 61
Focos de queimadas no pantanal – 1998 a 2020........................................................................................ 61
CAPÍTULO 8 - AGRÁRIO E RURAL...................................................................................................................... 63
CAPÍTULO 9 - PRIVATIZAÇÕES E CONCESSÕES............................................................................................68
A liquidação das empresas estatais.............................................................................................................. 69
CAPÍTULO 10 - POLÍTICAS CRIMINAIS E SEGURANÇA PÚBLICA............................................................72
As gestões desastrosas do Ministério da Justiça e Segurança Pública..................................................... 73
O retorno do crescimento nos índices de mortes violentas intencionais............................................... 74
Uso excessivo das forças policiais e a violência institucional................................................................... 74
Flexibilização do Estatuto do Desarmamento e a política genocida de armar a população................ 75
Sistema carcerário........................................................................................................................................... 76
CAPÍTULO 11 - RELAÇÕES EXTERIORES.......................................................................................................... 77
CAPÍTULO 12 - GÊNERO E RAÇA.........................................................................................................................82
Desmonte das políticas de gênero................................................................................................................ 83
Política do preconceito racial........................................................................................................................ 84
CAPÍTULO 13 - INDÍGENAS E QUILOMBOLAS ............................................................................................87
CAPÍTULO 14 - ESTRUTURA DO ESTADO E TRANSPARÊNCIA................................................................. 89
A afronta à soberania e a submissão do Estado aos interesses particulares........................................... 90
Alteração na estrutura do Estado................................................................................................................. 93
Falta de transparência.................................................................................................................................... 94
CAPÍTULO 15 - CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO, COMUNICAÇÕES E INTERNET.................. 96
CAPÍTULO 16 - PERSPECTIVAS PARA 2021..................................................................................................... 101
ANEXO 1 - PRINCIPAIS INICIATIVAS DO PT...................................................................................................104
ANEXO 2 - BALANÇO JURÍDICO........................................................................................................................108
Ações Populares.............................................................................................................................................110
2
 Atuação no Supremo Tribunal Federal....................................................................................................... 112
Denúncias à Procuradoria Geral da República e ao Ministério Público............................................... 118
Atuação no Tribunal de Contas da União.................................................................................................. 124
Atuação nas Comissões de Ética.................................................................................................................. 126
Atuação no Conselho Nacional do Ministério Público............................................................................. 127
Requerimentos de Informação (via Lei de Acesso à Informação)...........................................................127
Consultas Eleitorais....................................................................................................................................... 128
Mandados de Segurança................................................................................................................................ 128

EQUIPE TÉCNICA E COLABORADORES........................................................................................................... 132

3
4
 APRESENTAÇÃO
“Precisamos vencer a fome, a miséria e a exclusão social.
Nossa guerra não é para matar ninguém é para salvar vidas!."
Luiz Inácio Lula da Silva

Não sei se 2020 foi o pior ano de nossas vidas, mas fomos mais castigados do que outros
países porque enfrentamos dois flagelos de dimensões incalculáveis: a pandemia da Covid-19 e
o Bolsonaro ainda presidente. O ano parece que ainda não terminou...
Morte, dor, medo, destruição, desmonte, contingenciamento, perdas, autoritarismo, ne-
gacionismo, violência, mentira, ódio, obscurantismo. Infelizmente, o vocabulário é insuficiente
para descrever os efeitos da pandemia e as consequências da gestão de Bolsonaro.
Embora seja o presidente com pior desempenho legislativo após a redemocratização,
Bolsonaro, paradoxalmente, vem infligindo o maior ataque aos direitos consignados na Cons-
tituição de 1988 – isso apesar de ter o maior número de vetos derrubados, o maior número de
Medidas Provisórias rejeitadas e com iniciativas legislativas em quantidade inferior às do pró-
prio parlamento.
O Brasil detém o título de vice-campeão mundial em mortes pela Covid-19, com 210 mil
mortos e quase 9 milhões de infectados. Mas a situação seria muito pior se o Supremo Tribu-
nal Federal e o Congresso Nacional, Câmara e Senado, não tivessem assumido o protagonismo
e, por meio de decisões judiciais e propostas legislativas, enfrentado a omissão do governo no
enfrentamento da crise.
É nesse contexto que eu quero destacar a atuação da bancada do Partido dos Trabalha-
dores - PT na Câmara Federal. Um novo desafio estava colocado: fazer oposição no ambiente
virtual, afinal, a Câmara também precisava cumprir o isolamento social, mas ao mesmo tempo
precisava aprovar toda uma legislação que permitisse combater a pandemia, proteger os vul-
neráveis, o emprego e as empresas. Passamos, então, a trabalhar em um plenário virtual com a
mesma intensidade e empenho.
As vídeo conferências com a bancada, com o Partido, com as bancadas que compõem a
minoria foram quase diárias, assim como a articulação entre os líderes.
Sem comissões funcionando, para cada projeto ou cada MP era designado um relator,
que conduzia uma intensa negociação com as demais bancadas. Era necessário distribuir tare-
fas e responsabilidades. A bancada participou, intensamente, deste esforço que assegurou um
importante protagonismo, em plenário, para todos os deputados e deputadas.
Lutamos e resistimos em todas as frentes, de todas as formas, com a mesma disposição.
Disputamos no parlamento, no judiciário e na sociedade. Obstruímos, votamos não, construí-
mos consensos, defendemos substitutivos, derrubamos vetos, mas também aprovamos projetos
de interesse do povo brasileiro e de nossa autoria. Foram 16 projetos em que aparecemos como
autor ou coautor, um recorde para bancadas de oposição. Entre eles, a Lei Assis Carvalho´, Lei
Aldir Blanc, Lei de proteção às comunidades indígenas e quilombolas e a Lei sobre medidas de
enfrentamento à violência doméstica. A bancada apresentou 705 projetos, 340 requerimentos
de informação e 161 decretos legislativos.
Recorremos à Comissão de Ética, aos Tribunais, à Procuradoria Geral da República, ao
Conselho Nacional do Ministério Público, ao Tribunal de Contas da União e, quando necessário,
ao Supremo Tribunal Federal. Nenhuma omissão, inconstitucionalidade, retirada de direitos,
nenhuma Medida Provisória, projeto de lei, decreto ou portaria deste governo fascista, que
penalizasse os trabalhadores, as minorias ou os mais vulneráveis ficaram sem resposta, seja da
bancada ou de algum dos nossos deputados.
O presente documento, mais do que uma prestação de contas estatística, busca resgatar
e analisar o comportamento do governo, do Congresso e da nossa bancada em um dos perío-
dos mais turbulentos da história do país, bem como tenta emoldurar o cenário político que, de
5
forma inquestionável, acabou contribuindo para a propagação do vírus no Brasil.
Lutamos e vencemos unidos. Enfrentamos a difícil perda do companheiro Assis, come-
moramos com orgulho a Margarida tornar-se Prefeita de Juiz de Fora, vivemos e vibramos com
a recuperação do Célio, torcemos e valorizamos a garra dos companheiros e companheiras que
disputaram as eleições municipais, vimos a justiça prevalecer com a primeira decisão totalmen-
te unânime do colegiado do STF pela absolvição de réus políticos da Lava Jato, caso do deputa-
do Vander Loubet.
Deixamos aqui um relato da trajetória da bancada do Partido dos Trabalhadores - PT na
Câmara dos Deputados para que possamos recordar, no futuro, o ano de 2020, que ainda não
terminou. Enquanto escrevo, assisto a primeira brasileira ser vacinada contra o coronavírus,
com o imunizante produzido no Butantan, e sei que fazemos parte deste momento, com a nossa
bancada e com milhões de brasileiros e brasileiras que lutaram muito para que esse dia che-
gasse.
Para facilitar a leitura de todos, apresentamos o índice inteligente, de modo que o leitor
possa clicar em um capítulo específico e acessar o tema de seu interesse.
Boa Leitura!

Líder da Bancada do Partido dos Trabalhadores

Câmara dos Deputados

BANCADA FEDERAL (2019-2023)

BANCADA FEDERAL ( 2019-2023)

6
 BANCADA FEDERAL (2019-2023)

Afonso Florence (BA)

Airton Faleiro (PA)
Alencar Santana (SP)
Alexandre Padilha (SP)
Arlindo Chinaglia (SP)
Benedita da Silva (RJ)
Beto Faro (PA)
Carlos Veras (PE)
Carlos Zarattini (SP)
Célio Moura (TO)
Elvino Bohn Gass (RS)
Enio Verri (PR) – Líder do PT
Erika Kokay (DF)
Frei Anastácio (PB)
Gleisi Hoffmann (PR)
Helder Salomão (ES)
Henrique Fontana (RS)
João Daniel (SE)
José Airton Cirilo (CE)
Jorge Solla (BA)
José Guimarães (CE)
José Ricardo (AM)
Joseildo Ramos (BA)
Léo de Brito(AC)
Leonardo Monteiro (MG)
Luizianne Lins (CE)
Marcon (RS)
Margarida Salomão (MG)
Maria do Rosário (RS)
Marília Arraes (PE)
Merlong Solano (PI)
Natália Bonavides (RN)
Nilto Tatto (SP)
Odair Cunha (MG)
Padre João (MG)
Patrus Ananias (MG)
Paulão (AL)
Paulo Guedes (MG)
Paulo Pimenta (RS)
Paulo Teixeira (SP)
Pedro Uczai (SC)
Profa.Rosa Neide (MT)
Reginaldo Lopes (MG)
Rejane Dias (PI)
Rogério Correia (MG)
Rubens Otoni (GO)
Rui Falcão (SP)
Valmir Assunção (BA)
Vander Loubet (MS)
Vicentinho (SP)
Waldenor Pereira (BA)
Zé Carlos (MA)
Zé Neto (BA)
Zeca Dirceu (PR)
7
 Roberto Parizotti/Fotos Públicas

8
 BREVE SÍNTESE DO BALANÇO
Roberto Parizotti/FotosPublicas
Desde que assumiu a presidência, Bolsonaro iniciou um verdadeiro ataque aos direitos
básicos do povo brasileiro, abusando de argumentos delirantes direcionados ao seu eleitorado
conservador, elitista e retrógado. Em 2020 – em meio ao maior caos na saúde nacional desde
a gripe espanhola, agravada pela pior administração federal já vista nesse país - o presidente
optou pelo jogo político pragmático, abandonou parcialmente o discurso paranoico e assumiu
a tentativa de criar uma base política, tudo com vistas a impedir a instauração do processo de
seu impeachment ou evitar a prisão de seus filhos.
O final do ano de 2020 coincidiu com uma agressiva “segunda onda” de transmissão do
coronavírus e os discursos contraditórios do presidente genocida sobre a vacina só aumen-
taram a angústia da população. O Plano Nacional de Operacionalização da Vacina Contra a
Covid-19, lançado pelo Ministério da Saúde no final do ano após críticas de vários setores da
sociedade, é vago e impreciso. O governo falha até na simples compra de seringas para a vaci-

nação em massa.
O presidente da República mantém uma postura de contrapropaganda, desencorajando
os cidadãos a se imunizarem e elogiando medicamentos sem comprovação científica contra o
coronavírus. Não há exagero algum, portanto, em afirmar que Bolsonaro é diretamente respon-
sável pelas mortes de milhares de pessoas no Brasil.
O desprezo pela vida não é de hoje – faz parte do passado autoritário de Bolsonaro, que
sempre apreciou armas e torturadores. Em 2020, Bolsonaro diminuiu impostos sobre a compra
de armamentos, ao mesmo tempo em que deixou de investir mais de R$ 30 bilhões da dotação
orçamentária aprovada pelo Congresso Nacional para saúde, educação e assistência social. Em
plena pandemia, o governo tentou até mesmo privatizar as Unidades Básicas de Saúde. Para
2021, o orçamento do SUS é ainda menor que o do ano passado, o que coloca em risco as medi-
das de enfrentamento à pandemia.
Durante a crise sanitária, o auxílio emergencial estabelecido pelo Parlamento – uma vi-
tória política da oposição, liderada pelo PT – dinamizou parcialmente a economia e evitou que
a queda no PIB fosse ainda mais profunda. Além de recompor a renda, os R$ 600 resultaram em
alívio para milhões de famílias em meio à crise. Em 2021, no entanto, sem uma política efetiva
de proteção social por parte do governo federal, poderemos ter o maior desemprego jamais
visto no país, atingindo quase 24% da força de trabalho ampliada (que inclui a força de trabalho
potencial) – ou seja, cerca de 26 milhões de trabalhadores.
O contingente de pessoas desalentadas — que não buscaram trabalho, apesar de esta-
rem desempregadas — atingiu recorde em 2020 e alcança quase 6 milhões. Entre especialistas,
há poucas dúvidas de que o fim do auxílio emergencial e o desemprego elevado aumentarão
em níveis históricos a pobreza da população brasileira nos próximos meses.
Bolsonaro faz mal para o povo e também para nossa terra. O Brasil, antes respeitado no
mundo todo pela preservação de seu ambiente, virou agora referência mundial de destruição
da natureza. Batemos recordes de desmatamento, não somente na Amazônia, como em pratica-
mente todos os biomas. Nunca houve tantas liberações de agrotóxicos (alguns deles proibidos
nos próprios países produtores), nunca houve tantas invasões em terras indígenas, nem tanta
grilagem de terras. Em um gesto baixo, Bolsonaro acusou os próprios indígenas de desmatar
suas terras, e as populações ribeirinhas de incendiar a Amazônia.
Como resposta descarada às críticas, Bolsonaro diz que “não pode fazer nada”, pois o
país está quebrado. Sem argumentos consistentes, tenta ensaiar uma disputa política desorde-
nada com o Congresso, misturando ideologia de ultradireita e liberalismo econômico.
Em 2020, no enfrentamento político natural entre os Poderes Executivo e Legislativo, o
Congresso Nacional saiu vitorioso. Bolsonaro é o presidente da República com o maior núme-
ro de iniciativas do Executivo derrubadas pelo Congresso, como medidas provisórias, vetos e
decretos. Assistimos o Parlamento apresentar medidas proativas, resistindo ao desmonte do
9
 patrimônio público, aos ataques do capital internacional e buscando a manutenção e amplia-
ção dos direitos essenciais dos cidadãos – não por acaso as principais bandeiras de luta da
bancada do PT.
Bolsonaro não tem nenhum plano para enfrentar verdadeiramente esses grandes proble-
mas nacionais. Sua proposta é uma só: aprofundar a política neoliberal, privatizar tudo, invia-
bilizar a empresa nacional, acabar com o que sobrou de direitos, desmontar completamente
com educação e saúde públicas, liquidar com todo o tipo de assistência pública. O PIB deve
retrair em níveis históricos em 2020, o que torna mais urgente a ação do Congresso Nacional
no enfrentamento ao governo de Bolsonaro nos próximos 2 anos, com o resgate das políticas
públicas de proteção social, pela retomada do emprego, o apoio à população mais vulnerável e
disponibilizar recursos para as micro e pequenas empress.
Este é um dado de conjuntura fundamental, com o qual o Parlamento brasileiro, e em
particular a bancada do PT, terão que confrontar-se e formar a linha de frente da resistência
ao desmonte do nosso país, enfrentando a política genocida, entreguista e antidemocrática de
Bolsonaro.

Jade Azevedo
Fotos Públicas

10
 UMA CONJUNTURA ADVERSA:
02 ANOS DE BOLSONARO
CAPÍTULO 1

11
 C
hegamos ao fim do segundo ano de man-
dato do governo Bolsonaro com 200 mil
mortos, quase oito milhões de infecta-
dos e um incalculável custo social. O ano
de 2020 foi marcado pela Covid-19, pelo
estado de calamidade pública e pela incapacidade
do governo Bolsonaro de reconhecer a gravidade
da situação, incompetência em liderar o país no
enfrentamento da crise e, sem dúvida, inoperância,
negligência e responsabilidade pelo assombroso
número de mortos.
Apesar da devastadora estatística de infectados e
óbitos em decorrência do vírus, números que não
param de crescer, o presidente e seus ministros
seguem deliberadamente ignorando a necessidade
de se elaborar um plano de vacinação consistente,
que inclua a compra de vacinas e de seringas.
O comportamento criminoso, as ações fora do
tempo e as omissões frequentes do governo brasi-
leiro em resposta ao crescimento da contaminação
e das mortes foi tão imutável ao longo do ano que
nos permite apresentar uma radiografia do que é o
governo Bolsonaro:
um governo negacionista, que faz ouvidos de
mercador ao escolher não escutar o que cientistas,
pesquisadores, médicos e organismos nacionais e
internacionais de saúde sugerem como medidas de
prevenção e combate ao vírus; incompetente para
enxergar que não estamos enfrentando uma “gri-
pezinha”;
arrogante a ponto de não querer aprender com a
experiência daqueles países que foram afetados
antes ou que conseguiram implantar medidas mais
eficazes;
inepto no que se refere a planejamento e gestão,
deixando de prever a estrutura física necessária
para o atendimento dos enfermos, a logística para
distribuição e compartilhamento de equipamentos
e as compras de todo material e vacinas em quan-
tidade suficiente para atender toda população no
menor prazo possível;
incapaz de coordenar a imprescindível articulação
entre união estados e municípios tanto nas ações
preventivas quanto na elaboração e execução de
um plano nacional de vacinação em massa;
inábil para articular união e superar divergências,
12
animosidades ou diferenças de qualquer
natureza com o objetivo de enfrentar
um inimigo comum e fatal – a Covid-19;
insensível no que se refere à dor e ao
sofrimento de milhares de brasileiros
que tiveram a vida de parentes e amigos
ceifadas pela Covid-19.
Bolsonaro nunca declarou “guerra ao
vírus”, como fizeram outros governantes
e autoridades nas demais instâncias fe-
derativas. Portanto, não se podia esperar
que viesse dele, com urgência e priorida-
de, a gestão e mobilização nacional para
qualquer reação que dissesse respeito à
pandemia gerada pelo novo coronavírus.
A omissão e o descaso foram de tal
ordem que o Congresso Nacional e o
Supremo Tribunal Federal acabaram
assumindo o protagonismo em âmbito
nacional e tomaram as principais inicia-
tivas nas ações de combate aos efeitos
da pandemia que assolou o mundo e
que parece sem controle no Brasil.
Não ter tido uma postura ativa no com-
bate à pandemia já seria, por si só, uma
negligência grave. Mas Bolsonaro, foi
além. Promoveu, de forma permanente e
ostensiva, o boicote à adoção das medi-
das sanitárias necessárias à redução da
contaminação e de controle do vírus.
Quando promove atos de aglomeração,
conclama seus seguidores a sair do iso-
lamento e abandonar o uso da máscara,
estimula o uso de medicamentos con-
traindicados pelos Comitês Científicos,
quando, por motivação exclusivamente
político-ideológica, suscita dúvidas so-
bre a capacidade de imunização pelo uso
das vacinas, Bolsonaro trilha o mesmo
caminho dos genocidas que promovem a
morte deliberada de parcela da popula-
ção, a qual juraram cuidar e proteger.
O fracasso no combate à pandemia, e
mesmo na simples elaboração de um
plano nacional de vacinação, não é um
fato isolado, mas algo que se repete nas
mais diversas áreas de atuação do Exe-
cutivo.
Jair Bolsonaro assumiu a Presidência da República
há 24 meses. Não conseguiu construir nenhum perí-
odo de estabilidade e já enfrentou crise no núcleo
do governo, no Congresso e nas ruas. Mesmo assim,
sobreviveu à tentativa de impeachment costurada
por antigos aliados, ao parlamentarismo de opor-
tunidade e a uma gestão desastrosa na condução
do combate à pandemia, ainda assim, ostentando
improváveis índices de aprovação popular.
Optou por buscar apoio na ala mais radical e ide-
ológica de seu governo, ao mesmo tempo em que
confrontava o Legislativo, o Judiciário e até parte
dos militares que formavam sua equipe.
A total falta de noção do ritual, dos limites, da pos-
tura que o cargo de presidente exige, o permanente
estado de beligerância, associados à luta entre as
diversas facções que compõem o governo Bolsona-
ro inviabilizaram qualquer perspectiva de retomada
do crescimento no curto prazo e, em 2020, com a
Covid-19 e a vigência do estado de calamidade, a
economia afundou de vez.
Em meio a idas e vindas do presidente, Paulo Gue-
des tenta viabilizar sua agenda econômica com
as privatizações, autonomia do Banco Central, Re-
forma do Estado, fim da vinculação de recursos e,
se der, com a volta da CPMF, disfarçada de “imposto
digital”, conforme a ela se refere o ministro.
Quando começou o governo Bolsonaro, a expectati-
va do mercado financeiro era de que o Produto In-
terno Bruto (PIB) cresceria mais de 2,5% no ano. Em
maio de 2019, contudo, a previsão caiu para 1,24%,
segundo o boletim Focus, do Banco Central. O ano
fechou com o PIB em 1,1 %, número muito abaixo do
que o mercado esperava.
Mais de 300 bilhões de reais em reservas foram
queimadas e, ainda assim, a moeda americana
chegou a R$ 5,97 e a saída de capitais do país, que
havia sido de R$ 44,9 bilhões em 2019 – a maior
desde 2006 –, quase dobrou em 2020, passando
para R$ 87,5 bilhões e sinalizando uma desconfiança
e aversão crescente dos investidores internacionais
com relação às medidas de Bolsonaro e seu minis-
tro Paulo Guedes.
O descaso e a falta de planejamento já provocaram
um apagão e o isolamento por vários dias do es-
tado do Amapá e a expectativa dos especialistas é
que teremos um apagão elétrico, no país, se a ativi-
dade econômica voltar ao normal.
Ao contrário, de todas as expectativas
do mercado e de apoiadores, a agenda
política atropelou a agenda econômica,
reduzindo os espaços de saída da crise.
Diuturnamente, o governo trabalha para
desmontar as políticas de proteção
social no momento em que o brasileiro
mais precisa delas. A omissão em pror-
rogar o auxílio emergencial quando há
um recrudescimento na contaminação
pelo novo coronavírus e a necessidade
de retomada das medidas de isolamento
é uma das ausências mais graves que
marcaram o descaso do governo com
os efeitos da pandemia. São mais de 60
milhões de brasileiros sem perspectiva
de uma renda mínima que garanta a sua
sobrevivência.
No que diz respeito à política agrária
e de meio ambiente, em apenas dois
anos de governo, Bolsonaro cumpriu
as promessas e ameaças feitas durante
Carolina Antunes/Fotos Públicas
a campanha eleitoral. Os setores mais
atrasados da base primária da economia
do agronegócio alcançaram a glória nes-
se curto período. As ações e omissões do
governo abriram caminho para os crimes
ambientais e de apropriação da terra; o
aviltamento do trabalho rural; e o ataque
sistemático aos territórios e direitos de
indígenas e quilombolas.
A agricultura familiar foi desalojada
dos espaços institucionais, incluindo a
perda do seu tradicional ‘plano safra’, e
deslocada da competição pelos recur-
sos orçamentários da União mediante o
corte raso nas dotações para a reforma
agrária e de todos os instrumentos de
apoio público a esses trabalhadores e
trabalhadoras.
O desmonte e contingenciamento de
recursos dos órgãos responsáveis pelas
políticas agrária, ambiental e indígena é
tão criminoso quanto a liberação indis-
criminada de agrotóxicos proibidos em
outros países. O descaso com a produção
de alimentos levou o país a zerar seus
estoques reguladores e estratégicos.
13
 Bolsonaro, Guedes e Tereza Cristina conseguiram
o que parecia impossível: o popular prato de arroz
com feijão virou comida de rico e transformaram o
óleo de soja - aumento de 94,1% entre janeiro e no-
vembro - no líder da inflação dos alimentos, sendo
o Brasil, o maior produtor de soja do mundo.
A negação política para os setores vulneráveis e o
incitamento ao crime no campo nesses dois anos
do governo Bolsonaro irradiaram efeitos perversos
para o conjunto da sociedade brasileira. Enquanto
a Argentina proibiu exportações de produtos es-
tratégicos, em defesa do seu mercado doméstico,
a ministra da Agricultura tem pautado a sua atua-
ção exclusivamente na busca incessante de novos
mercados externos para os produtos do agronegó-
cio, sem qualquer trava em razão das necessidades
do mercado interno, e por pressões sem tréguas
por mais desonerações e subvenções à cadeia do
agronegócio, à revelia das restrições do quadro
fiscal brasileiro. Especificamente em decorrência
da compulsão exportadora, uma forte crise no
abastecimento de produtos essenciais da dieta da
população se estabeleceu no país, acompanhada
de persistente, significativo e inusitado processo
de carestia dos alimentos que ampliou a fome e,
Luiz Costa/Fotos Públicas
assim, violou direitos fundamentais, promovendo a
degradação das condições de vida da maioria dos
brasileiros.
Ainda como consequência das ações do governo
Bolsonaro para o campo, com graves implicações
para toda a população brasileira, é digno de desta-
que o aumento do ‘veneno na mesa’. Em dois anos
o governo deferiu 907 novos registros de produtos
agrotóxicos, quantidade maior que a observada em
sete anos do governo Lula (2003-2009) período no
qual foram liberados 889 produtos agrotóxicos. Nos
cinco anos do governo Dilma foram registrados 711
agrotóxicos, ou seja, 196 produtos a menos do que
nos dois primeiros anos de Bolsonaro.
A devastação estimulada da floresta amazônica
para a incursão da grande exploração agropecuária
e a manutenção protocolar dos Acordos sobre o
clima, sem qualquer tradução prática, juntamente
com a estratégia geral do ‘estouro da boiada’ na
área ambiental comprometem o presente e o futu-
ro do país.
Sinalizando o emblemático desprezo do governo
dispensado a agricultores familiares, indígenas,
quilombolas e demais povos e comunidades tradi-
14
cionais, já durante a pandemia, Bolsona-
ro vetou praticamente na íntegra a cha-
mada Lei Assis Carvalho (Projeto de lei
da bancada do PT). Com esse ato, além
de ignorar uma proposição de consen-
so no parlamento brasileiro, Bolsonaro
deixou esses segmentos sem qualquer
estímulo produtivo ou amparo social du-
rante a pandemia. Com isso, não apenas
decretou ampliação da miséria no cam-
po, mas aprofundou a crise no abaste-
cimento alimentar de toda a população
brasileira.
A imagem do Brasil no exterior é a pior
possível e manifestações do chanceler e
do presidente, frequentemente, são mo-
tivo de chacotas. O alinhamento incondi-
cional aos EUA, o descaso com os com-
promissos ambientais internacionais, a
decisão de declarar diplomatas vene-
zuelanos 'persona non grata' e participar
de uma ameaça de guerra ao país, além
dos ataques ao nosso principal parceiro
comercial, a China, são sinais de que o
Itamaraty perdeu a razão.
Se a sucessão ininterrupta de erros polí-
ticos do governo Bolsonaro surpreendeu,
não deveria. Todos os governos, eviden-
temente, erram. Este governo da extrema
direita construiu uma Torre de Babel
para governar e, por isso, erra mais. A
ampla maioria dos absurdos nos dois
primeiros anos decorre, evidentemente,
do impressionante despreparo daqueles
que estão à frente do governo, a começar
pelo próprio Bolsonaro.
A extrema-direita que chegou ao poder
com Bolsonaro não é um bloco coeso,
mas uma aliança circunstancial de dife-
rentes linhas de pensamento, diferentes
grupos de interesse e diferentes projetos
de nação. O governo passa a ser vítima
de suas brutais contradições internas,
em função dos interesses muito distintos
dos grupos que o compõe.
Os filhos do presidente travam uma
guerra própria contra o vice-presidente
e os militares. Os Olavistas mais criam
confusão do que contribuem. A guerra interna,
estabelecida desde a posse, entre os militares e os
ideólogos acabou pendendo para o lado dos milita-
res, que viram seus espaços crescerem.
O ex-partido do presidente é um capítulo à par-
te. Um partido de ocasião, construído em cima da
candidatura Bolsonaro, com quadros sem nenhuma
vivência política e desqualificados, muitos eleitos
com o voto da legenda, pouco ou nada podiam con-
tribuir para solucionar a crise. Ao contrário, estimu-
laram os conflitos e aprofundaram o isolamento do
governo.
O conflito é a expressão de um mandato que não
conseguiu criar uma identidade ou unidade diante
da diversidade dos setores do campo antipetista
que acabaram, de um jeito ou de outro, apoiando-o
na eleição e participando do governo.
Foram 14 mudanças de ministros em 24 meses de
governo. Algumas por denúncia contra os ocupan-
tes dos cargos, outras para atender os partidos da
coalizão e, ainda, para aprofundar o clima de pola-
rização ideológica.
Com isso, alguns ministérios sofreram mais do que
outros. Os que tiveram mais mudanças foram o da
Saúde e o da Educação. Apesar disso, a saída do
ex-ministro Sergio Moro do Ministério da Justiça e
Segurança Pública também foi bastante barulhenta
em razão das denúncias contra o presidente.
As investigações de corrupção, enriquecimento ilí-
cito e lavagem de dinheiro envolvendo o filho 01 e
o ex-assessor e amigo de longa data Queiroz, inclu-
sive com potencial de chegar nas contas da pri-
meira-dama ou estabelecer um elo econômico com
as milícias, levaram o presidente a gestos graves e
extremos a fim atrapalhar e inibir a apuração pela
polícia.
Sérgio Moro foi demitido e a Abin passou a ser usa-
da como auxiliar na defesa do filho. Somadas ao
inquérito do Gabinete do Ódio, envolvendo Carlos,
o filho 03, as investigações teriam o poder de levar
ao afastamento do presidente.
Neste quadro, os setores que apoiaram Bolsonaro
- a mídia, o capital financeiro e as grandes corpora-
ções - já não acreditam que ele tenha condições de
entregar as reformas prometidas, e mais, poderia
colocar em risco o objetivo maior de afastar defini-
tivamente o PT do Planalto.
Depois de flertar com a tentativa frus-
trada de afastar Bolsonaro, tucanos, a
grande mídia e parte do judiciário opta-
ram por manter o desgaste e, ao mesmo
tempo, a tutela do presidente até as
eleições de 2022, quando o grupo deve
lançar candidatura própria.
A grande imprensa conservadora mudou
e hoje dedica-se a atacar o governo dia-
riamente, enquanto os partidos tradi-
cionais de centro e centro-direita, que
estiveram juntos com Bolsonaro desde o
golpe de 2016, agora se afastam e ten-
tam construir um bloco parlamentar de
oposição.
A falta de disposição do presidente para
o diálogo, a inabilidade e inexperiên-
cia de seus interlocutores no Congresso
transferiram para o legislativo o protago-
nismo político.
Rodrigo Maia, presidente da Câmara,
começa a agir como se o eixo de poder
estivesse se deslocando do Planalto para
o Congresso. Derrota o governo quando
lhe convêm, como foi no caso do COAF,
na Comissão de Constituição e Justiça.
Em parceria com o Senado, começou a
construir uma agenda à margem do Exe-
cutivo, anuncia um projeto de reestru-
turação do Estado e aposta na Reforma
Tributária. Mesmo que ocorram desmen-
tidos, como é comum, as articulações
não deixam dúvida.
Maia assumiu o papel de um interlocutor
confiável aos agentes econômicos.
O espaço conquistado por ele se deve
também a enorme perda de protagonis-
mo, na Câmara, do PSDB e MDB. Come-
çou a se esboçar um “parlamentarismo
de oportunidades”.
Bolsonaro respondeu com a reedição
do Centrão. Cercado por investigações
e pedidos de impeachment que podem
levar o Congresso a debater seu possível
15
 afastamento, avançou na retórica bélica para infla-
mar os radicais de extrema direita.
Ao mesmo tempo, porém, mergulhou na “velha po-
lítica” do “toma-lá-dá-cá” com o Centrão, buscando
blindar-se contra processos que devem passar pela
Casa, e de futuras CPIs, e retoma a iniciativa em re-
lação ao protagonismo do presidente da Câmara.
A distribuição
de ministérios,
cargos e verbas
funcionou como
um bálsamo
para enterrar o
impeachment
e viabilizar no
Congresso os
projetos de inte-
resse do gover-
no.
Ainda há ameaças não superadas e sob escrutínio.
As manifestações contra o Congresso e o STF, por
parte dos simpatizantes do presidente, tornaram-se
mais frequentes.
A presença de Jair Bolsonaro na manifestação em
frente ao QG do Exército pedindo o AI-5, o fecha-
mento do Congresso e do STF, e partindo para o ata-
que físico a jornalistas repudiados pelo presidente,
desafiou os demais Poderes da República, afrontan-
do o Estado Democrático de Direito.
Uma segunda manifestação, também ilegal, se-
gundo vários juristas, ocorreu depois de aberto o
inquérito no STF para investigar quem organizou o
evento antidemocrático do dia 19 de abril em frente
ao QG do Exército com a participação do presidente.
Bolsonaro não apenas repetiu o evento, mas ainda
tentou passar a ideia de que tem o apoio dos mili-
tares nas provocações ao Congresso e ao STF.
Além da investigação sobre a manifestação – na
qual foi incluído a pedido do ministro Celso Mello -,
Bolsonaro ainda enfrenta o inquérito que investiga
as declarações de Moro, de que tentou interferir na
Polícia Federal.
Outra fonte de problemas para o presidente é a
Comissão Parlamentar Mista de Investigação (CPMI),
que apura o envolvimento de Carlos e Eduardo Bol-
sonaro com notícias falsas contra adversários, além
16
da possibilidade de abertura de uma
segunda CPMI, a das denúncias sobre
a tentativa de interferência na Polícia
Federal. O presidente também é alvo de
54 pedidos de impeachment. Em que
pese a conjuntura do segundo ano de
mandato ser completamente diferente
de 2019, devido a pandemia, Bolsonaro
manteve-se fiel aos seus métodos e a
sua estratégia
de comunica-
ção, investin-
do no uso de
mídias sociais,
descontro-
ladamente,
inclusive com
discursos que
alimentam a
discórdia na
sociedade e
constrangem o
cenário político.
Mantém uma guerra imaginária contra os
comunistas, petistas, esquerdistas e uma
obsessão em banir a cor vermelha (sím-
bolo da perseguição ao PT e ao socia-
lismo), enterrar a “ideologia de gênero”
e impor a “escola sem partido”. Todas
as áreas que supostamente são domi-
nadas ou influenciadas por “esquerdis-
tas” sofrem as mais variadas formas de
perseguição com o fim de programas,
redução e contingenciamento orçamen-
tário, alterações de atribuições, entre
outros. É o caso das Universidades, da
área da cultura, dos movimentos sociais
e órgãos ligados à terra, como veremos
ao longo deste relatório.
Com tudo isso, o que vemos é um gover-
no em guerra permanente contra adver-
sários reais e inimigos imaginários. Fica
claro que não tem interesse em estabe-
lecer qualquer trégua ou diálogo com
aqueles que pensam diferente. O episó-
dio de paralisação das Universidades,
quando o presidente chamou os mani-
festantes de “idiotas e imbecis”, é um
exemplo didático. Chamar de maricas,
aqueles que tentam manter o isolamen-
to social, é outro.
Nesses dois anos, Jair Bolsonaro – que é um ho-
mofóbico declarado e aliado da direita religiosa
radical – declarou guerra à cineastas, artistas,
jornalistas e ao meio ambiente, colocou seguido-
res de teorias da conspiração à frente das relações
exteriores, e permitiu uma nova era de repressão
policial e destruição da floresta tropical, do panta-
nal, enfim dos nossos principais ecossistemas.
Deixou o combate a pandemia sem comando e, o
que é pior, ironizou, desqualificou e atacou todos
os mecanismos de proteção definidos por cientis-
tas e organismos internacionais, levando o país a
ocupar o segundo lugar em número de mortos por
coronavírus. Mesmo com tudo isso, as suas falas
ainda têm eco em uma parte da população, que se
reflete em apoio atestado por diversas pesquisas.
Portanto, é um erro ver o presidente brasileiro ape-
nas como acidente de percurso. Seria subestimar o
personagem e o que ele representa. Ele se mostra
um líder influente e agressivo, não hesita em fazer
um discurso beligerante que objetiva, unicamente,
fidelizar seu eleitorado. Mentiras em série, comen-
tários racistas e homofóbicos, piadas escatológi-
cas e misóginas, delírios conspiratórios, defesa da
tortura e da ditadura, insultos a líderes estrangeiro.
O suficiente para fazer Trump e Johnson parecerem
símbolos de gentileza e comedimento.
De modo surpreendente, Bolsonaro tem consegui-
do se consolidar no poder e tem passado incólume
a erros e discursos inaceitáveis em qualquer demo-
cracia que se preze. No entanto, é importante ana-
lisar que o ano que se inicia não promete caminho
fácil ao presidente de extrema-direita, ao contrário.
Seja pelos dados da conjuntura e imposição da re-
alidade, seja pelo trabalho implacável que partidos
e base sociais deverão fazer em oposição ao gover-
no nos próximos meses.
Importante também observar os resultados das
eleições de 2020, marcada por um expressivo
avanço do voto conservador, com altos índices de
abstenção, chegando a 35%, e pela mobilidade de
votos ao Partido dos Trabalhadores em direção às
grandes cidades. Essa eleição transcendeu o anti-
-petismo, embora estivesse presente nos discursos
de candidaturas concorrentes, infelizmente tam-
bém de partidos ditos de esquerda, como clara-
mente ocorreu em Recife.
O recado das urnas é muito mais grave: o ideário
conservador tem capturado mentes e
usado sem pudor a máquina pública.
As urnas, em 2020, marcam um expres-
sivo avanço da direita via PP, PSD, os
demais partidos do centrão e o DEM,
portadores de uma agenda, sabidamen-
te, conservadora, inclusive elegendo
“bolsonaristas”, em legendas irrigadas
com recursos do Tesouro, via emendas
parlamentares liberadas pelo governo.
Por sua vez, o PT estancou as perdas de
2016 e apesar de não eleger nenhum
prefeito de capital, foi o partido de es-
querda com menores perdas e, mesmo
que de forma incipiente, melhorou seu
desempenho nas médias e grandes cida-
des, manteve quase o mesmo número de
vereadores, venceu em cidades maiores
do que nas eleições anteriores e cresceu
nas cidades com mais de 500 mil habi-
tantes. No entanto, precisamos muito
mais do que isso, isoladamente não su-
peraremos a nova realidade imposta pe-
las urnas ao campo da esquerda, sendo
fundamental analisarmos os resultados
eleitorais e a forma como ela se desen-
volveu como elemento de formação do
projeto do partido e da bancada para o
próximo período, considerando que a
história e atuação da legenda importa
em qualquer articulação de candidatura
com viabilidade eleitoral.
Para construir 2022 não podemos mais
ponderar tantas variáveis somente de
forma intuitiva, precisamos nos debruçar
sobre os dados e estatísticas eleitorais,
sobre pesquisas, mobilizar o uso das fer-
ramentas tecnológicas disponíveis com
elaboração do diagnóstico e da estraté-
gia que nos permitirá superar este mo-
mento de prevalência da direita e ultra-
-direita nos espaços de poder nacionais
e regionais.
Do ponto de vista conjuntural, a situação
econômica e social do país, infelizmente,
tende a se agravar no próximo período.
Ao que tudo indica, ao menos num pri-
meiro momento, Bolsonaro deve seguir
insistindo nas políticas de fanatismo ne-
17
 oliberal de Paulo Guedes, com mais austeridade,
ataques ao Estado e políticas públicas, retirada de
direitos, com as conhecidas propostas regressivas
de reformas institucionais no país.

Não haverá bem-estar e crescimento sustentado

possível num cenário como esse. Haverá, sim, de-
salento, carestia, desemprego, aumento da pobre-
za e crise social. Difícil mensurar desde já com
exatidão, mas parece pouco provável que se possa
vislumbrar manutenção ou crescimento de popu-
laridade de qualquer governo nessas condições.

Resta saber quais rumos serão tomados a partir

daí, se é que decisões políticas relevantes serão
tomadas na escuridão do projeto atual que pre-
side o país. Se é que tal projeto possa mesmo
sobreviver sem o apoio (mais ou menos explícito,
mais ou menos envergonhado) do “mercado”, a
despeito de sua marca explícita de caráter medie-
val.

De qualquer maneira, sejam quais forem em 2021

as opções daqueles que atualmente governam e
daqueles acostumados a impor sua agenda regres-
siva ao país, cabe ao Partido dos Trabalhadores e
demais partidos de esquerda intensificarem, como
nunca, sua atuação política. Não haverá futuro
possível sem fortíssima atuação na sociedade
e nas instituições do país, simultaneamente. O
próximo período demandará, enfim, mobilização
contínua das nossas bases sociais tradicionais e
de mais amplos setores, combate sem tréguas às
medidas neoliberais, defesa inarredável dos di-
reitos dos trabalhadores, construção da máxima
união possível dos setores populares e, por últi-
mo, mas não menos importante, apresentação de
propostas. De um projeto político que possa fincar
as bases de um novo governo no Brasil. Para todas
e para todos.
Lula Marques

18
 O DESMONTE E A RESISTÊNCIA
CAPÍTULO 2

19
 A
eleição de Bolsonaro representou o en-
cerramento de um ciclo democrático e de
estruturação de um estado de bem-estar
social no país impondo uma derrota sig-
nificativa para os setores excluídos, bem
como para os setores democráticos da sociedade
brasileira.
Desmonte, contingenciamento, restrição, destruição
são as palavras que melhor simbolizam este gover-
no. O próprio presidente já disse várias vezes que
a missão dele é desconstruir o que tinha sido feito
no passado. O nosso dever é resistir a essa obra de
destruição e, ao mesmo tempo, lançar as bases e
um novo projeto de desenvolvimento.
O governo Bolsonaro é declaradamente antidemo-
crático, autoritário, extremamente reacionário em
relação aos costumes e, na sua principal contradi-
ção, apresenta uma agenda ultra neoliberal e uma
equipe econômica vinculada ao capital financeiro.
Tem, na construção de sua hegemonia, setores con-
servadores que se caracterizam por atitudes reacio-
nárias, machistas, racistas e, por vezes, fanatizadas.
Ruralistas, militares, evangélicos e importantes
setores da segurança pública representados pela
chamada “bancada da bala” disputam suas contra-
dições na definição das políticas e ações a serem
priorizadas.
As declarações ao longo da campanha eleitoral, os
discursos da posse e as primeiras medidas foram
sinais claros de que viveríamos com perseguições
àqueles que enfrentam seu autoritarismo, apa-
relhamento do estado, restrição das liberdades
e supressão dos mecanismos de proteção social,
promoção e garantia de direitos.
Os temas centrais da bancada ruralista e da bala e
a pauta conservadora na educação começaram a
ser implantados sem a busca de qualquer media-
ção dentro do próprio governo, restando claro que
teríamos um governo da anti-agenda petista.
George Marques/Fotos Públicas
O fim do Programa “Mais Médicos”, da política de
valorização do salário-mínimo, dos Ministérios do
Trabalho e da Cultura, das conferências com partici-
pação da sociedade civil, da demarcação de terras
indígenas e quilombolas. O aumento descontrolado
do desmatamento e das queimadas, o alinhamen-
to automático e subserviente aos Estados Unidos,
20
o corte dos recursos para a agricultura
familiar e reforma agrária. A tentativa
de interditar a pauta de gênero, aca-
bar com a eleição para reitor nas Uni-
versidades e implantar o “Escola sem
Partido”. O esquartejamento e venda
da Petrobras - a maior empresa públi-
ca do país - a liberação indiscriminada
de agrotóxicos. Todos estes, exemplos
contundentes de que a agenda é de
desmonte e destruição.
Por mais paradoxal que possa parecer, o
governo Bolsonaro tem sido o mais efe-
tivo em desmontar e destruir políticas,
projetos e ações anteriormente implan-
tadas, apesar do pior desempenho, no
Congresso, entre os últimos presidentes.
A efetividade de um governo é avaliada,
entre outros critérios, pela capacidade
de manter controle sobre sua agenda
política. Para medir o controle da agen-
da, podemos avaliar o número de leis
aprovadas, o número de medidas provi-
sórias que perderam eficácia ou foram
rejeitadas e a quantidade de vetos der-
rubados pelo Congresso Nacional.
Considerando os quatro últimos Presi-
dentes da República, o governo Bolso-
naro foi o único em que o número de
leis ordinárias de iniciativa do Poder
Legislativo superou as de iniciativa do
Poder Executivo, numa clara demonstra-
ção de incapacidade de relacionamento
com o Congresso Nacional. Quanto ao
número de Medidas Provisórias conver-
tidas em lei, foi também o governo Bol-
sonaro quem teve o pior desempenho.
Em relação ao número de vetos derru-
bados pelo Congresso Nacional, igual-
mente, foi no governo Bolsonaro que
houve a maior quantidade, 24 só no pri-
meiro ano. A comparação com governos
anteriores mostra que a derrubada de
um veto presidencial era algo raro. Na
gestão Lula, por exemplo, foram derru-
bados apenas dois dos 357 itens vetados
(0,56%). Até então, Michel Temer, que
ficou pouco mais de dois anos no cargo,
era o presidente que mais registrava
derrotas deste tipo, com 21 reveses (16,4% do total).
Com a decretação do estado de calamidade pública
em razão da pandemia gerada pelo novo corona-
vírus, ocorrida em 20 de março, uma nova agenda
e uma nova dinâmica, mutável e ainda em cons-
trução, impôs um enorme desafio aos deputados,
assessores e funcionários da Casa.
A nova rotina de sessões virtuais mudou signifi-
cativamente a dinâmica de trabalho, com menos
conflito e mais centralizada nos líderes. As reuni-
ões virtuais das diferentes bancadas tornaram-se
usuais. As bancadas conversam com os líderes e os
líderes conversam entre si.
apresentou 705 projetos de lei, o que
corresponde a 15% do total das matérias
apresentadas no ano. Foram apresenta-
dos 161 Projetos de Decretos Legislativos,
ou 34% do total. Foram 420 Requerimen-
tos de Informação, representando 25%
do total.
O gráfico abaixo demonstra que tanto
a quantidade de projetos apresenta-
dos pela bancada, quanto a de projetos
aprovados durante o ano de 2020, é
sensivelmente maior do que a de anos
anteriores.

Esta dinâmica foi facilitada, em um primeiro mo-

mento, pela decisão do presidente da Câmara de
colocar para votação em plenário somente as ma-
térias que tivessem acordo para aprovação e fos-
sem relacionadas à pandemia do coronavírus.

Mas, com o passar do tempo, a pauta tornou-se

mais diversificada, mais polêmica e foi retomada a
agenda de desmonte, criando um clima de conflito
entre a base e a oposição. Neste período, a mino-
ria soube aproveitar a disputa entre as agendas
do Palácio, de Paulo Guedes e do presidente da
Câmara para aprovar uma série de projetos do seu
interesse.
De qualquer forma, ficou claro que o importante
instrumento da obstrução perde muito da sua po-
tência no modelo de plenário virtual.
Foram 16 projetos aprovados com a
marca da nossa bancada na condição de
autores ou co-autores. Além disso, foi in-
cansável a disposição dos parlamentares
em construir substitutivos que eliminas-
sem ou reduzissem os efeitos perversos
da maioria dos projetos do Executivo.

Não obstante todas as dificuldades, a bancada do Adicionalmente, centenas de decretos le-

PT na Câmara atuou incansavelmente em todos os gislativos sustando portarias, instruções
espaços, utilizando os instrumentos legislativos normativas, artigos e decretos aguardam
disponíveis e também instrumentos jurídicos e a disposição do presidente da Casa para
de denúncia a cada
passo dado pelo go-
verno em direção ao
desmonte. O mesmo
ocorreu com relação
a ações propositivas,
o que se demonstra
pela quantidade de
projetos apresenta-
dos e aprovados ao
Gustavo Bezerra

longo do ano.

Em 2020, a banca-
da do PT na Câmara
21
 serem levados à votação. Alguns deles, mesmo sem
nem terem sido pautados, surtiram o efeito dese-
jado e levaram o governo a retirar suas propostas,
como ocorreu com a tentativa de usurpar a autono-
mia universitária.
As dezenas de ações judiciais, particularmente
aquelas contra a venda da PETROBRAS e CEF, apesar
das inúmeras inconstitucionalidades e ilegalida-
des apontadas, conseguiram no máximo atrasar o
programa de privatizações. Isto porque o Judiciário
e o Tribunal de Contas da União aderiram, explicita-
mente, à agenda neo-liberal.
Além das diversas contribuições individuais, mere-
cem destaque os três projetos estruturantes apre-
sentados pela bancada e que foram o fio condutor
das propostas construídas pela minoria.
A bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara
apresentou o PL Nº 1031/2020 Programa de Renda
Cidadã Emergencial ou “Seguro Quarentena”. Esse
PL garantia às famílias em vulnerabilidade so-
cial o recebimento de um benefício mensal de,
no mínimo, um salário-mínimo e, no máximo, dois.
Também criava benefício mensal de um salário-mí-
nimo para todo microempreendedor individual
que teve o seu cadastro ativo em algum momento
nos últimos 12 meses.
22
O governo Bolsonaro foi derrotado na
sua proposta de um benefício de R$
200 para o Auxílio Emergencial. O pro-
jeto aprovado, que se tornou a Lei Nº
13.982/2020, fixou um benefício de R$
600 (R$ 1.200 para mulheres de famí-
lias monoparentais), por três meses,
chamado “Renda Básica da Cidadania
Emergencial”. Posteriormente, o benefí-
cio foi prorrogado por mais dois meses
no seu valor original (R$ 600). Uma nova
prorrogação estendeu o benefício até o
final do ano, com o pagamento de mais
quatro parcelas extras, porém, em me-
nor valor (R$ 300). No total, foram pagas
9 parcelas.
As informações sistematizadas sobre o
recebimento do auxílio evidenciaram
que essa renda foi de grande impor-
tância para a subsistência das famílias,
sendo ainda mais significativa para os
trabalhadores informais e domicílios de
renda muito baixa.
Desta forma, tornou-se ainda mais re-
levante o PL 4086/20, apresentado pela
bancada, que propõe o aprofundamen-
to do Mais Bolsa Família, expandindo
o alcance e aumentando o valor dos benefícios
do programa para reduzir a pobreza e combater a
miséria no país. Também preocupado com a classe
trabalhadora empregada, o PT apresentou proposi-
ções para assegurar suporte a empresas de maneira
e evitar demissões.
Neste sentido, a bancada apresentou o PL
1323/2020 - Programa Emergencial de apoio às
empresas ou “Salário Quarentena”. Destinado às
empresas alcançadas por medidas compulsórias de
suspensão total ou de redução significativa de suas
atividades em razão da situação de emergência de
saúde pública, o PL garantia aos empregados ma-
nutenção no emprego por 6 meses após o fim do
estado de calamidade pública.
Ainda, merece destaca o PL 1321/2020 - Linha de
Garantia de Capital de Giro e Emprego (LGCGE) tam-
bém apresentado pela nossa bancada. A medida
autorizava o Banco Central a implantar linha de cré-
dito de até R$ 300 bilhões com garantia de carteiras
de créditos oriundos de novas operações de em-
préstimo, de financiamento e de direitos creditórios
de instituições financeiras. Taxa de juros limitada
à Selic, com carência mínima de 12 meses e prazo
mínimo de 60 meses.
No que se refere à temática trabalhista, o governo
atuou editando duas Medidas Provisórias – 927 e
936 – mas que continham previsões na contramão
do que o mundo vinha fazendo e distantes das
necessidades emergenciais do Brasil. A resistência
da oposição, com destaque para a forte atuação da
nossa bancada, impediu que a MP 927 fosse adiante
e desvirtuasse as relações de trabalho em momento
tão sensível como o da pandemia, bem como miti-
gou os impactos negativos trazidos pela MP 936 ou
Programa Emergencial de Manutenção do Emprego
e da Renda.
O governo editou, ainda, a MP 944/2020 para fi-
nanciamento, exclusivamente, da folha, atendendo
apenas custeio para folha de pagamento, significan-
do um alto custo futuro para as empresas. A medida
foi insuficiente e não atende a necessidade das em-
presas de ter alguma forma subsidiada de recursos.
A bancada do Partido dos Trabalhadores apresen-
tou diversos projetos de lei de caráter federativo,
dentre os quais o que assegura que Estados e Mu-
nicípios não sofreriam reduções nas transferências
constitucionais nesse momento de baixa arrecada-
ção de tributos. Foram apresentadas di-
versas emendas em medidas provisórias
e projetos de leis votados na Câmara
dos Deputados, sempre visando manter
as medidas sanitárias e ao mesmo tem-
po proteger, financeira e socialmente, a
população mais vulnerável em tempo de
redução da atividade econômica.
Merecem destaque projetos setoriais
contemplando cultura, proteção às mu-
lheres e crianças em situação de violên-
cia doméstica, estruturação de projeto
de apoio e segurança às comunidades
indígenas e quilombolas, trabalhadores
por aplicativos e da agricultura familiar.
Assim, foram apresentados e aprovados:
• PL 1075/20 que aborda o setor
da cultura e que foi convertido na Lei
Aldir Blanc;
• PLs 886 e 735, para segurança
alimentar e proteção da agricultura fa-
miliar (convertida na Lei Assis Carvalho),
que amparava agricultores, extrativistas,
assentados e outros. Ao sancionar o pro-
jeto, Bolsonaro vetou, praticamente na
íntegra, aspectos estruturantes da pro-
posta;
• PL 1142/2020 (transformado na
Lei 14.021/2020), sobre medidas de pro-
teção social para prevenção do contá-
gio e da disseminação da Covid-19 nos
territórios indígenas. Cria o Plano Emer-
gencial nos territórios indígenas; esti-
pula medidas de apoio às comunidades
quilombolas, aos pescadores artesanais
e aos demais povos e comunidades tra-
dicionais para o enfrentamento à pan-
demia e assegurava aporte de recursos
adicionais nas situações emergenciais e
de calamidade pública. Infelizmente, di-
versos dispositivos foram também veta-
dos por Bolsonaro, reduzindo de forma
grave o que o Congresso assegurava;
• PL 1291/2020 (transformado na
Lei 14.022/2020), que torna essenciais
os serviços de combate e prevenção à
violência doméstica, impedindo sua sus-
23
 pensão durante a pandemia de Covid-19, dispondo Como se verifica, diferentemente do
ainda sobre medidas de enfrentamento à violência presidente da República, a Bancada do
contra a mulher, crianças, adolescentes, pessoas Partido dos Trabalhadores na Câmara
idosas e pessoas com deficiência durante a emer- Federal, tem priorizado a vida, a saúde
gência de saúde pública. e a segurança do povo brasileiro, por
acreditar que são os bens mais precio-
Destaca-se, ainda, a participação decisiva da ban- sos a serem protegidos nesse momento
cada na alteração de dois projetos do governo, de dificuldades.
a PEC 10/20, na qual foram reduzidos os poderes
excessivos que originalmente concedia ao gover-
no, em especial ao Banco Central, e o PLP 149/19,
que de um programa de renegociação das dívidas
dos entes federados que exigia pesados ajustes,
foi transformado em um programa emergencial de
auxílio para que esses entes possam enfrentar a
situação de pandemia.

Vale registrar, por fim, que diversas denúncias con-

tra o presidente da República foram encaminhadas
a diversos organismos internacionais, especialmen-
te por suas condutas que ofereceram risco à saúde
pública: OMS, Alto Comissariado das Nações Unidas
para os Direitos Humanos e a Comissão Interameri-
cana de Direitos Humanos.
Lula Marques

24
 CAPÍTULO 3

SAÚDE

25
 N
a saúde, são incontáveis os retrocessos
que se iniciaram ainda no começo de
2019. A ruptura diplomática que acar-
retou no envio de médicos cubanos que
atuavam no Programa Mais Médicos de
volta à Cuba, sob o pretexto estapafúrdio de Bol-
sonaro de que estes eram emissários do governo
cubano para implantar o comunismo no país, dei-
xou milhões de brasileiros, em especial aqueles
que vivenciam situações de iniquidades em territó-
rios vulnerabilizados, sem assistência médica, uma
vez que Bolsonaro não conseguiu preencher pro-
ficuamente as vagas deixadas pelos profissionais
cubanos.
No percurso de desconstrução do arcabouço das
políticas que vinham sendo cunhadas na perspec-
tiva do fortalecimento do SUS, uma série de retro-
cessos foram implementados, como na política de
saúde mental, na política de atenção básica, nas
políticas de promoção da equidade e no financia-
mento da saúde pública, que têm sido bandeiras de
luta cruciais do controle social atualmente.
Mas foi em 2020 – ano em que a saúde ocupou a
centralidade no contexto internacional, devido ao
advento da pandemia causada pelo novo coronaví-
rus que colocou como prioridade global a proteção
da vida e da saúde da população – que o governo
Bolsonaro demonstrou seu total descaso e despre-
zo pelos brasileiros e brasileiras. A todo momento,
Bolsonaro minimizou os efeitos da Covid-19, além
de contrariar as orientações das autoridades in-
ternacionais de saúde: promoveu e participou de
aglomerações, criticou o uso de máscaras e reco-
mendou o uso de medicamentos sem comprovação
científica.
Durante a maior crise de saúde pública do país e do
mundo, Bolsonaro, ao invés de fortalecer a gover-
nança do SUS no processo de enfrentamento da
disseminação da doença, promoveu uma dança de
ministros da Saúde, buscando apenas diminuir a
resistência às suas bravatas e narrativa de superva-
lorização da economia frente às milhares de vidas
que estavam e continuam sendo perdidas.
Governo de SP/Fotos Públicas
A troca de ministros esteve sempre cercada de
polêmicas: a primeira foi a de Luiz Henrique Man-
detta (DEM-MS) por Nelson Teich, após extensas
divergências sobre as medidas de isolamento para
o enfrentamento do novo coronavírus. Embora
Mandetta, desde o início do governo, estivesse
26
alinhado e se tornado um dos principais
defensores de Bolsonaro, liderando, in-
clusive, a fase inicial de implementação
do projeto de desconstrução do SUS,
em relação à pandemia, a dupla trocava
farpas veladas em entrevistas à impren-
sa e nas redes sociais.
Substituto de Mandetta, outro fiel de-
fensor do projeto bolsonariano, o onco-
logista Nelson Teich, também não teria
vida longa no governo pelos mesmos
motivos de seu antecessor. Nos 29 dias
que esteve à frente da pasta, Teich
divergiu de Bolsonaro sobre o uso da
cloroquina para tratar infectados pela
Covid-19. O medicamento não obteve
eficácia comprovada pela Organização
Mundial da Saúde (OMS), sendo inclusi-
ve contraindicada pela entidade. Assim,
no dia de sua saída, Teich se despede
do MS com a frase ‘A vida é feita de es-
colhas e eu decidi sair”.
Atualmente, após quatro meses como
interino, está à frente do Ministério da
Saúde o general Eduardo Pazuello que,
como credencial para assunção na pasta
de maior relevância para o país na atual
conjuntura, apenas apresentava uma
dita experiência em “logística”. Já em
seus primeiros dias no “comando” do
Ministério da Saúde, Pazuello, compro-
metido com a política negacionista de
seu mandatário, deixou de divulgar os
números acumulados e os índices pro-
porcionais dos contágios e mortes em
decorrência do coronavírus, a fim de
camuflar o caos do governo Bolsonaro
no enfrentamento da crise. Somente
após determinação do Supremo Tribu-
nal Federal, o órgão voltou a divulgar os
dados completos. A falta de confiança
nos dados divulgados pelo Ministério da
Saúde, levou à formação de um consór-
cio de veículos de imprensa, que passou
a consolidar os dados por conta pró-
pria, com base nos boletins das secreta-
rias estaduais de saúde.
É preciso registrar que, desde o iní-
cio da pandemia, o governo deixou de
lado medidas para manter um contro-
le mínimo na gestão da crise de saúde. A falta de
coordenação nacional e a omissão do governo, fez
com que estados e municípios tivessem que to-
mar as medidas necessárias para a contenção da
disseminação do vírus de forma isolada e desam-
parada. Nesse sentido, o próprio Supremo tribunal
Federal decidiu que estados e municípios, além da
União, poderiam
determinar regras
de isolamento,
quarentena e
restrição de cir-
culação em razão
da pandemia, em
julgamento de
ação contra uma
medida provisória
para concentrar
no governo fe-
deral o poder de
editar uma norma
geral. Essa falta de
comando, soma-
da ao negacionismo encampado por Bolsonaro e
pelo governo federal, colocou em extrema tensão a
relação dos gestores estaduais e municipais com a
sociedade.
Um exemplo explícito foi o que aconteceu em Ma-
naus no período recente e que vem culminando
no recrudescimento da pandemia, uma verdadeira
catástrofe no SUS estadual, com centenas de vidas
sendo perdidas diariamente entre tantas outras
consequências.Para tirar de seu governo qualquer
tipo de responsabilidade sobre as vítimas da pan-
demia, Bolsonaro fez um fatídico pronunciamento
criticando prefeitos e governadores por medidas de
distanciamento, essenciais na redução da dissemi-
nação do vírus.
O presidente pediu ainda a "volta à normalidade"
e o "fim do confinamento em massa". Denominou
a Covid-19 como “gripezinha”. Gripezinha essa que
matou, até o dia 7 de janeiro de 2021, 200 mil pesso-
as e contaminou quase 8 milhões de brasileiros.
Importante resgatar que o primeiro caso brasilei-
ro de Covid-19 foi confirmado no País no dia 26 de
fevereiro, com a primeira morte em 12 de março.
Em julho, o país teve o número mais alto de mortes
em toda a pandemia, sendo que a média móvel de
cerca de mil mortes por dia perdurou durante os
meses de junho a agosto.
Somente no final de agosto teve início
uma redução no número de óbitos. No
entanto, a partir de novembro, verificou-
se novo crescimento do número de
óbitos e contaminações que está prestes
a atingir, infelizmente, patamares iguais
e possivelmente superiores aos dos
meses de pico da pandemia no país.
Mesmo diante desse trágico cenário, a
inoperância do governo foi demonstrada
ao longo de todo o ano de 2020.
Enquanto os outros países realizavam
testagens em massa a fim de possibilitar
a adoção de um planejamento
estratégico para enfrentamento da
crise, o Ministério da Saúde, que previu
24,2 milhões de exames RT-PCR no
SUS até dezembro, tinha realizado, até
novembro, somente 20% dos testes. A
pasta prometeu também insumos para
a entrega de kits completos a estados
e municípios, mas os negócios foram
travados por suspeita de irregularidades,
sob análise do Tribunal de Contas da
União (TCU). Com meta de alcançar 115
mil testes diários no SUS, o Ministério
registrou, em outubro, média de apenas
27,3 mil na rede pública.
Como era de se esperar, pelo fato
de não terem sido distribuídos e
utilizados, em novembro verificou-se
que quase 7 milhões de testes para
o diagnóstico do novo coronavírus
comprados pelo Ministério da Saúde
perderiam a validade entre dezembro
de 2020 e janeiro de 2021. Para se ter
27
 ideia, o SUS tinha aplicado cinco milhões de testes
RT-PCR até novembro. Ou seja, o País poderia
acabar descartando mais exames do que já havia
realizado. Ao todo, a Saúde investiu R$ 764,5
milhões em testes e as unidades que estavam para
vencer custaram R$ 290 milhões.
Também em novembro, a Consultoria de Orçamen-
to da Câmara dos Deputados revelou que, em mais
de oito meses de pandemia, o governo Bolsonaro
deixou de gastar o dinheiro reservado para con-
tratar médicos, reestruturar hospitais e comprar
testes de Covid-19 para presídios. Segundo os da-
dos do órgão, são pelo menos dez ações da gestão
Bolsonaro que não avançaram, apesar da abertura
imediata de créditos extraordinários, gerados den-
tro do chamado Orçamento de Guerra.
No entanto, para a cloroquina, medicamento sem
eficácia cientifica comprovada contra o corona-
vírus e amplamente divulgado para o tratamento
de Covid-19 por Jair Bolsonaro, não houve falta de
investimento. Ao contrário, o insumo foi adquirido
da Índia em 2020 sem licitação e custou seis vezes
mais que o valor pago pelo Ministério da Saúde no
ano anterior. A produção da droga, finalizada no
Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército,
aumentou em 84 vezes nos últimos meses de 2020
em relação ao mesmo período do ano anterior, se-
gundo o Ministério Público que, atualmente, apura
indícios de superfaturamento na compra de insu-
mos para a fabricação de cloroquina pelo Exército.
O pedido de investigação afirma que a fabricação
do remédio em quantidades excessivas é um des-
perdício de dinheiro público que deve ser apurado.
A bancada do PT ajuizou ação perante o STF a fim
de que seja averiguado o cometimento de crime de
improbidade e sejam, os agentes públicos envolvi-
dos, responsabilizados por este ato irresponsável e
criminoso frente ao cenário de escassez enfrentado
pelo SUS. Além disso, deputados da bancada entra-
ram com pedido de investigação junto ao tribunal
de Contas da União.
Alex Pazzuelo/Fotos Públicas
Diversos países no mundo já iniciaram a vacinação
contra a Covid-19. Na primeira semana de janeiro
de 2021, mais de 17 milhões de doses de vacinas
contra o novo coronavírus já haviam sido aplicadas
em todo o mundo e mais de 50 países já tinham
iniciado a vacinação contra a Covid-19, dentre os
quais Reino Unido, Estados Unidos, Rússia, Itália,
28
França, Argentina, Chile, China e México.
No dia 8 de dezembro de 2020, o Rei-
no Unido se tornou o primeiro país do
Ocidente a vacinar a população contra
o novo coronavírus. O imunizante apro-
vado para o uso emergencial foi o de-
senvolvido pela parceria entre a farma-
cêutica americana Pfizer e a empresa de
biotecnologia alemã BioNTech. Pouco
tempo depois, a aprovação também
ocorreu nos Estados Unidos, no Canadá,
na União Europeia e assim por diante.
O começo da vacinação deveria trazer
esperanças para um país que já apre-
senta mais de 200 mil mortos pela
Covid-19, entretanto, se transformou em
um jogo político, devido à negligência
do chefe do Executivo que vem imple-
mentando uma verdadeira campanha
contra a vacinação e estimulando a
disseminação de notícias falsas sobre a
vacina. As fake news em circulação têm
forte lastro nas manifestações esta-
pafúrdias daquele que deveria ser o
líder da nação, como foi o caso da fala
proferida em meados de dezembro de
2020 orientando os brasileiros a não
tomarem a vacina sob o risco de virarem
“jacarés”.
A expressão da política criminosa de
Bolsonaro e seu governo tem provoca-
do a queda na adesão dos brasileiros
à campanha de imunização contra a
Covid-19, de 89% em agosto para 73%
em dezembro. O PT, junto com outros
partidos de oposição, ingressou com
ação no STF pleiteando que o ministro
da Saúde se abstenha de dificultar ou
impedir a adoção das medidas necessá-
rias ao prosseguimento das pesquisas
relacionadas à vacina contra a Covid-19.
Foi em razão de decisão proferida nessa
ação que o Poder Executivo foi obrigado
a apresentar os planos e o programa do
governo federal relativos à vacinação e
medicamentos contra a Covid-19. Ainda
assim, no dia 16 de dezembro de 2020, o
país assistiu à divulgação de um arre-
medo de plano, mal feito e sem funda-
mentação técnica, incapaz de garantir
segurança sanitária e de se constituir em um efeti-
vo Plano Nacional de vacinação para a população
brasileira.
O Plano de Vacinação apresentado pelo governo
não apresenta, em momento algum, como objetivo,
a vacinação de toda a população brasileira. Além
disso, não informa a data prevista para início da
vacinação, nem cronograma da campanha.
Em agosto, quando foram iniciadas as tratativas
para aquisição e produção de vacina, o governo
federal apostou, equivocadamente, todas as suas
fichas em um único fabricante, um erro fatal que já
está custando milhares de vida.
O Brasil tinha acordo firme apenas com a AstraZe-
neca/Oxford, que visava o fornecimento de 100,4
milhões de doses e transferência de tecnologia.
O Sistema Único de Saúde (SUS), maior sistema
público do mundo, extremamente robusto e ca-
pilarizado, é responsável por um dos principais e
maiores programas de imunização do mundo, o
Programa Nacional de Imunização, reconhecido
internacionalmente. Por tudo isso, o Brasil deve-
ria estar se inspirando no que ocorreu em 2010 na
pandemia de H1N1, quando liderou mundialmente
o programa de vacinação, sendo o país que mais
imunizou no mundo.
No entanto, o governo federal, até o final de 2020,
seguia reiterando sua lentidão para incorporação
de vacinas, martelando em apenas um tipo e esta-
belecendo guerra a um conjunto de outros imuni-
zantes em desenvolvimento, como a CoronaVac, do
Instituto Butantan, a da Pfizer, do Reino Unido, ou
a russa Sputnik V. Além disso, o governo não pre-
parou o país para compra de insumos necessários
para aplicação dos imunizantes. A falta de planeja-
mento da gestão federal para o início da vacinação
contra o coronavírus é manchete constante em
noticiários de diversos países.
O Ministério da Saúde, embora muito atrasado e
após diversos conflitos causados por Bolsonaro,
finalmente resolveu mudar seu posicionamento em
10 de janeiro de 2021, quando assinou um acordo
com o Instituto Butantan de distribuição exclusiva
da CoronaVac, vacina contra a Covid-19 produzida
em parceria com a chinesa Sinovac. Com isso, todos
os 10,8 milhões de doses que estavam, desde de-
zembro, em posse do governo paulista serão repas-
sados ao governo federal.
A decisão do Ministério da Saúde de
incluir a CoronaVac no plano de vacina-
ção se dá após uma enfática aposta de
Doria e uma longa rejeição de Bolsonaro
pelo imunizante a ser produzido pelo
Butantan, o que só prejudicou a popula-
ção brasileira, pelo adiamento na ob-
tenção da vacina e início da imunização.
Em 2020, o presidente não só rejeitou
a CoronaVac como impediu sua compra
por parte do governo. Em outubro, o Mi-
nistério chegou a emitir um documento
de intenção de compra dos mesmos 46
milhões de doses da CoronaVac mas, no
dia seguinte, o presidente desautorizou
publicamente o acordo e afirmou que
o povo brasileiro não seria "cobaia" da
"vacina chinesa de João Doria".
O Ministério da Saúde afirmou que tem
354 milhões de doses garantidas para
2021. A maior parte (210,4 milhões) é do
imunizante desenvolvido pela AstraZene-
ca e Oxford. Vale ressaltar que a produ-
ção e garantia desta vacina somente tem
materialidade pela competência técnica
da Fundação Oswaldo Cruz que, destoan-
do do descompromisso do governo fede-
ral, estabeleceu um acordo com a bio-
farmacêutica AstraZeneca para produzir,
no Brasil por meio da Bio-Manguinhos, a
vacina contra o novo coronavírus desen-
volvida pela Universidade de Oxford.
Os pronunciamentos do ministro da Saú-
de, entretanto, continuam evasivos, de-
monstrando total falta de planejamento
e compromisso com a saúde da popula-
ção. Em declaração no dia 11 de janeiro
de 2021, o ministro afirmou que a vacina
irá acontecer “no dia D, na hora H”. En-
quanto isso, a população brasileira sofre
com o aumento do número de contami-
nações, internações e mortes por coro-
navírus. A vacinação para todos e todas,
independentemente da origem da vaci-
na, desde que comprovada sua eficácia e
segurança, é meta central da bancada do
PT no enfrentamento à pandemia.
Assim, no ano de 2021, o partido continu-
ará a perseguir esse objetivo, atuando de
forma a derrubar o veto de Bolsonaro à
Emenda apresentada por deputados do
29
 PT e de outros partidos de oposição ao Projeto de
Lei de Diretrizes Orçamentárias que coloca, como
meta para 2021, a vacinação de toda a população
brasileira, assegurando aquilo que não é um favor
deste governo, mas sim sua obrigação: garantir o
direito à saúde dos brasileiros e brasileiras.
Além disso, a bancada Petista continuará sua luta
pelo fortalecimento e por mais recursos para o Sis-
tema Único de Saúde que, devido à sua capacidade,
abrangência, compromisso de seus trabalhadores e
por seu sistema de gestão tripartite, impediu que a
tragédia causada pela pandemia e pelo negacionis-
mo de Bolsonaro fosse ainda maior.
No cenário de pandemia, a relevância do SUS ficou
ainda mais explícita. Historicamente subfinanciada,
a saúde sofreu um duro golpe com a Emenda Cons-
titucional 95, que congelou por 20 anos e diminuiu
substancialmente os recursos para políticas sociais.
Desde a vigência da referida Emenda, o SUS já dei-
xou de receber R$ 22,5 bilhões, conforme dados do
Conselho Nacional de Saúde. Para 2021, o cenário
é ainda mais trágico, uma vez que a regra do orça-
mento emergencial para enfrentamento à pande-
mia não existirá mais, ou seja, o SUS perderá R$ 35
bilhões em comparação aos recursos do Ministério
da Saúde em 2020.
Isso em um contexto de pós-pandemia em que o
SUS precisará ter orçamento para a aquisição de
vacinas, bem como para atenuar a demanda repri-
mida de 2020, decorrente do adiamento de cirur-
gias eletivas e exames de maior complexidade e
das consequências da interrupção do tratamento
de doenças crônicas.
Importante ressaltar que, em meio à necessidade
urgente de se iniciar a imunização da população,
o governo ainda continuou seu ataque a outras
políticas fundamentais na área da saúde. No início
de dezembro, o Ministério da Saúde apresentou ao
CONASS e CONASEMS o projeto de desconstrução
Fernando Vivas- GOVBA/Fotos Públicas
da política de saúde mental.
Trata-se da revogação de cerca de 100 portarias,
de 1991 e 2014, instituídas com base em décadas
de discussão entre secretários de saúde e quatro
conferências nacionais de saúde mental, as quais
formaram as bases de uma política de saúde men-
tal que respeita a dignidade e os direitos humanos,
imprimindo uma rede de serviços de base comuni-
tária no SUS.
30
A proposta coloca em risco toda a Rede
de Atenção Psicossocial para pessoas
com sofrimento ou transtorno mental e
com necessidades decorrentes do uso de
crack, álcool e outras drogas, bem como
o programa anual de reestruturação da
assistência psiquiátrica hospitalar no
SUS; as equipes de Consultório na Rua;
o Serviço Residencial Terapêutico; e a
Comissão de Acompanhamento do Pro-
grama De Volta para Casa. Essa medida
simboliza a retomada cruel e doentia do
modelo manicomial na atenção em saú-
de mental.
Além disso, o governo ainda tentou dar
o primeiro passo para a privatização
do Sistema Único de Saúde, por meio
da publicação do Decreto nº 10.530/20,
que autorizava a criação de grupos de
estudos para a concessão de Unidades
Básicas de Saúde (UBS) à iniciativa priva-
da através do Programa de Parcerias de
Investimentos da Presidência da Repú-
blica. Diversos movimentos, entidades da
área da saúde e a bancada do PT se ma-
nifestaram fortemente contra tal medida.
Além disso, deputados do PT também
apresentaram projetos de Decreto Legis-
lativo com o objetivo de sustar o decreto.
Em razão da forte repercussão negativa, a
Secretaria-Geral da Presidência da Re-
pública acabou revogando o decreto no
mesmo dia de sua publicação.
Visando combater as ilegalidades perpe-
tradas pelo governo na área da saúde, o
Partido dos Trabalhadores e deputados
da bancada ajuizaram diversas ações no
Judiciário. Destaca-se a ADPF 756 em que
se requer o reconhecimento da incons-
titucionalidade da omissão do Poder
Executivo em promover a campanha de
vacinação contra a Covid-19, bem como
se requer a abstenção do presidente da
República e de qualquer outra autorida-
de brasileira de adotar medidas ideoló-
gicas que prejudiquem a imunização da
sociedade, além da apresentação de um
Plano Nacional de Vacinação.
E também a ADPF 676 objetivando o re-
conhecimento da inconstitucionalidade da postura
omissiva do governo Federal frente a pandemia da
Covid -19, provocada pelo novo coronavírus, no que
tange a falha na divulgação dos dados e da me-
todologia de apuração do número de infectados,
provocado pelo ínfimo número de testagens e, con-
sequentemente, manutenção de dados absoluta-
mente subnotificados, que promovem a adoção de
medidas de saúde pública precárias e descoladas
da realidade.

A ação foi motivada, ainda, pela divulgação, por

parte do governo, de informações sem embasa-
mento científico, pondo em dúvida e risco toda a
população brasileira, sobretudo diante da eviden-
te promoção e incentivo ao uso de medicamentos
cuja eficácia para tratamento da Covid -19 não têm
qualquer comprovação científica e com potencial
de gerar efeitos colaterais graves à saúde pela sua
utilização indevida.

31
 EDUCAÇÃO E CULTURA
CAPÍTULO 4

32
L
ogo no terceiro dia do ano de 2020, Bolsona-
ro declarou para seus apoiadores do “cer-
cadinho” do Palácio da Alvorada: "Os livros
hoje em dia, como regra, é um montão, um
amontoado... Muita coisa escrita, tem que
suavizar aquilo". A observação era dirigida, prin-
cipalmente, ao conteúdo dos livros didáticos. Na
mesma ocasião, o presidente reforçou as críticas
que já vinha fazendo à educação brasileira e a seu
mais ilustre expoente, o renomado e mundialmente
aclamado educador Paulo Freire: “Tenho de buscar
meios para tirar 12 milhões, 13 milhões do desem-
prego no Brasil. Diminuir a pobreza. Consertar esse
sistema educacional lixo que está aí, baseado em
Paulo Freire". Foi aplaudido pela claque.
O notório desprezo do presidente pela Ciência e
pelo Conhecimento não poderia promover uma
gestão do Ministério da Educação condizente com
o tamanho da necessidade do país. Como vem
ocorrendo em diversas outras áreas, a Educação
tem sido vítima de um processo de desmonte e de
frequentes ataques.
A troca de ministros da pasta marcou os dois pri-
meiros anos de governo. Ricardo Vélez, indicação
do escritor Olavo de Carvalho (considerado guru do
governo de Bolsonaro), ocupou o cargo por apenas
três meses. Mesmo curta, sua gestão foi marcada
por sugestões polêmicas como a leitura de uma
carta com o slogan da campanha presidencial de
Bolsonaro nas escolas seguida da execução do
hino nacional. Vélez declarou, ainda, que "as uni-
versidades devem ficar reservadas para uma elite
intelectual”, advogando que “a ideia de universida-
de para todos não existe”.
Defendeu, ainda, que eram necessárias alterações
nos livros didáticos de modo a que fosse revisado
o entendimento sobre a ditadura e o golpe de 1964
pois, de acordo com ele, “não houve golpe em 31
de março de 1964, nem o regime que o sucedeu foi
uma ditadura”.
Ocupante seguinte da pasta, o economista
Abraham Weintraub não arrefeceu as polêmicas
durante os 14 meses que ocupou o cargo. Em um
dos episódios mais emblemáticos, ocorrido na reu-
nião ministerial de 22 abril, Weintraub sugeriu que
os ministros do STF deveriam ser presos. Na oca-
sião, participou também de uma manifestação com
bolsonaristas em Brasília, onde reiterou as ofensas.
Dando continuidade aos ataques às uni-
versidades federais iniciados por seu an-
tecessor, o ex ministro afirmou que elas
eram “antros de maconheiros e vagabun-
dos” e sugeriu que as universidades que
apresentassem desempenho acadêmico
baixo sofreriam contingência de gastos.
Com o início da crise sanitária gerada
pela disseminação, no país, do novo
coronavírus, a educação foi diretamen-
te afetada e milhares de crianças e de
adolescentes ficaram sem aulas. O Minis-
tério da Educação, ainda comandado por
Weintraub, um negacionista da situação
pandêmica, não encaminhou qualquer
ação junto aos sistemas de ensino para
enfrentamento da situação. E, para com-
pletar o cenário de descaso do governo
pela área, em junho de 2020, em plena
primeira onda da pandemia, Weintraub
deixou o cargo e o Ministério ficou sem
comando por 20 dias.
A escolha do substituto de Weintraub se
deu de forma atrapalhada. O primeiro
nome indicado, Carlos Decotelli, chegou
a ser nomeado, mas seu currículo acadê-
mico apresentava inconsistências. Sem
sequer ser empossado, pediu demissão
após uma semana.
Em julho, o pastor Milton Ribeiro assumiu
o comando da pasta. O novo ministro,
oriundo do setor privado, mostrou-se
alinhado com o governo, dando continui-
dade às posições e opiniões polêmicas.
Em entrevista, Milton Ribeiro disse que
a homossexualidade é fruto de "famílias
desajustadas" e que o autor de um crime
de feminicídio “confundiu paixão com
amor”. Em cultos que foram gravados,
pregou que as novas universidades ensi-
nam “sexo sem limites”. Defendeu castigo
físico na educação de crianças, usando
como referência o versículo de Provérbios
19:18 que diz: “Castiga o teu filho enquan-
to há esperança, mas não te excedas a
Lula Marques
ponto de matá-lo”. Culpou a ausência do
pai em casa afirmando que “quando o
homem não impõe a direção que a fa-
mília vai tomar”, a coisa desanda, pois,
33
 segundo a Bíblia, o homem é a “cabeça do lar, que
aponta o caminho que a família vai”.
Ao longo de todo o período de enfrentamento da
pandemia do novo coronavírus, o crucial papel que
o Ministério da Educação deveria desempenhar na
coordenação e articulação das ações entre os entes
federados para minimização dos impactos da crise
sanitária na área simplesmente não aconteceu. En-
contra-se no comando da pasta um pregador e não
um gestor.
Diante do completo descaso e falta de comando do
governo federal, a resistência e iniciativas na área
da Educação, assim como em diversas outras, fo-
ram protagonizadas pelo Legislativo, mobilizado na
aprovação de propostas para o enfrentamento dos
problemas do setor.
ENEM
O isolamento necessário para conter o avanço do
contágio do coronavírus impactou severamente os
alunos, principalmente das redes públicas, deixan-
do uma parcela significativa deles sem aulas. De
acordo com dados do Censo da Educação Básica
(2019), existem aproximadamente 7,46 milhões de
estudantes matriculados no ensino médio, dos
quais 6,53 milhões estão matriculados em escolas
das redes públicas (87%), e pouco mais de 930 mil
estudantes matriculados em escolas privadas (13%).
A retomada das aulas de forma virtual ou por ativi-
dades não presenciais não foi suficiente para evitar
prejuízo aos alunos que pretendem prestar a prova
do ENEM. Muitos desses estudantes sequer têm
acesso à internet. Dos que têm, para uma parcela
significativa, a qualidade do acesso não permite o
acompanhamento das aulas/atividades escolares
online.
Deputados da bancada do PT ajuizaram ação popu-
lar com pedido liminar contra Alexandre Lopes, no
exercício da Presidência do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacional Anísio Teixeira –
INEP, e Abraham Weintraub, à época, ainda ocupan-
te do cargo de ministro da Educação, em razão da
manutenção do ENEM, a despeito da pandemia da
Covid-19, da inviabilidade dos estudos e, em muitos
casos, até mesmo conclusão do ano letivo ou for-
matura para milhões de estudantes.
A medida judicial buscava suspender todos os edi-
tais referentes ao exame até que houvesse normali-
34
zação da situação de pandemia vivencia-
da pelo País, com retorno das atividades
escolares de todos os alunos, possibi-
lidade de frequência às aulas e/ou es-
tudos para esgotamento da totalidade
dos conteúdos programáticos para que,
só então, em igualdade de condições, ao
menos formal, pudessem os interessa-
dos realizar o referido exame e assegurar
seus projetos de vidas, com o ingresso
no ensino superior.
Com pressão dos movimentos e a apre-
sentação de vários PDLs pelos parlamen-
tares da oposição visando sustar o edital
que mantinha as datas do ENEM ainda
em 2020, houve adiamento do exame
para o final de janeiro de 2021.
FIES
Diante da dificuldade enfrentada por
inúmeras famílias para pagar as par-
celas dos contratos de Financiamento
Estudantil, decorrente dos impactos
econômicos por elas sofrido em razão
da pandemia da Covid-19, foi necessária
uma ação para evitar a inadimplência. O
PL 1079/2020, de autoria do Dep. Denis
Bezerra do PSB, e outras proposições a
ele apensadas de autoria de deputados
do PT e oposição promoveram a veda-
ção da cobrança de juros de mora, multa
ou correção monetária em decorrência
de atraso no pagamento de parcelas no
âmbito dos contratos do Fundo de Finan-
ciamento Estudantil (FIES e P-FIES) e a
suspensão das parcelas durante a pan-
demia.
MP 934/2020 sobre educação na pande-
mia
As iniciativas propostas pelo governo de
Jair Bolsonaro para enfrentamento da
grave crise sanitária que se abateu sobre
o país foram parcas e risíveis em todas
as áreas. Na educação, não foi diferente,
resumindo-se a ação do governo à publi-
cação de uma Medida Provisória tímida
diante do tamanho do problema. Uma
medida meramente protocolar.
A MP 934/20 estabelecia apenas a dis-
pensa, pelos estabelecimentos de edu-
cação básica e superior, em caráter
excepcional, da obrigatoriedade de cumprimento
do mínimo de dias de efetivo trabalho escolar e
acadêmico, sem que a carga horária mínima anual
fosse alterada. Ainda, autorizava a abreviação da
duração dos cursos de medicina, farmácia, en-
fermagem e fisioterapia, observadas as regras do
respectivo sistema de ensino.
O mais preocupante na proposta era que a adoção
de atividades não presenciais para cumprimento
da carga horário mínima promovesse a exclusão de
alunos, demissões de trabalhadores e atividades
de baixa qualidade. Portanto, era necessário garan-
tir o uso responsável e comedido dessa medida. As
atividades não presenciais são importantes como
forma de manter viva a relação aluno-escola mas,
diante da tamanha desigualdade social e conse-
quentemente educacional presente no país, as me-
didas devem buscar diminuir o abismo já existente
e ampliado pela pandemia.
A bancada do PT apresentou várias emendas que
tratavam de questões consideradas importantes
como o ENEM, FIES, apoio técnico e financeiro, além
da coordenação e plano de ação pela União com
entes federados, proteção de empregos dos traba-
lhadores da educação, manutenção dos programas
de apoio estudantil e bolsa estudantil.
O texto da MP 934/2020 foi ampliado, tendo sido
acolhidos diversos pleitos da oposição. Novamen-
te, a atuação do Congresso foi fundamental para
garantir melhores condições para ajudar na traves-
sia da crise econômica e social proporcionada pela
pandemia.
Autoritarismo e perseguição às Universidades e
Institutos Federais
Com a edição de Medidas Provisórias (MP 914/2019
e MP 979/2020), o governo Bolsonaro tentou inter-
ferir no processo de nomeação de reitores das uni-
versidades federais. Sem amparo legal e rompendo
a tradição de respeito aos processos democráticos,
o presidente nomeou reitores fora da lista tríplice
(como ocorreu na Universidade Federal da Grande
Dourados) e, em vários casos, não escolheu o pri-
meiro dos três nomes da lista encaminhada pelas
instituições de ensino. A escolha do primeiro nome
indicado pelo colegiado eleitoral era uma forma de
respeitar a autonomia das instituições e garantir
valores democráticos às nomeações.
No governo Bolsonaro, a escolha da direção das
instituições federais de ensino é marcada por au-
toritarismo e ideologização. A narrativa
de que as universidades públicas têm
plantação de maconha e são “ninhos de
vermelhos” é a justificativa utilizada para
as ações autoritárias.
O governo e seus seguidores atacam as
áreas de humanas e adjetivam os alu-
nos das universidades como “idiotas” ou
“inocentes úteis”.
Mostrando seu desapreço pelas insti-
tuições públicas de ensino superior, em
2019, o governo promoveu corte de re-
cursos em três universidades federais
que, nas palavras do ministro Weintraub,
promoviam “balbúrdia”. Depois de sofrer
críticas por perseguição ideológica, o go-
verno estendeu a redução no orçamento
para as demais instituições. Os cortes
foram de R$ 1,5 bilhão, 30% dos recur-
sos discricionários das universidades, e
atingem os gastos com água, luz, terceiri-
zados, obras, equipamentos e realização
de pesquisas. Este corte prejudica a con-
tinuidade do ensino das universidades
e coloca em risco a pesquisa de 202 mil
mestrandos e doutorandos.
Ainda em 2019, publicou decreto que ex-
tinguiu 21 mil cargos, funções comissio-
nadas e gratificações do serviço público
federal, dos quais quase 14 mil eram des-
tinados a instituições federais de ensino,
dificultando e interferindo na gestão das
universidades.
FUNDEB permanente
A Proposta de Emenda à Constituição
nº15 foi apresentada ainda no ano de
2015 tendo como orientação estratégica
fundamental tornar o Fundo de Manu-
tenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais
da Educação (Fundeb) permanente e
ampliar o volume de recursos destinados
ao financiamento do direito à educação
básica. Proposta, portanto, absolutamen-
te meritória e que vinha sendo objeto de
atenção e de inúmeros debates e audiên-
cias públicas, especialmente na Câmara
dos Deputados.
35
 No dia 21 de julho de 2020, a PEC do “novo Fundeb”
foi votada na Câmara dos Deputados. Na votação
em 1º turno, foram 506 deputados votantes, dos
quais 499 favoráveis ao texto apresentado pela
relatora, Dep. Professora Dorinha Seabra. Apenas
7 votos contrários, sem qualquer abstenção. No 2º
turno, 499 deputados votaram, sendo a favor 492,
contrários 6 e apenas 1 abstenção.
Muitas foram as tentativas do governo de protelar a
votação, dentre elas, a apresentação, na véspera da
sessão, de uma carta aos líderes contendo propos-
tas despropositadas, tais como: alterar a obrigato-
riedade, de mínima para máxima, de destinação de
70% ao pagamento dos profissionais da educação;
a retirada do custo aluno qualidade como referên-
cia para o padrão mínimo de qualidade; derrubar
a vedação de uso dos recursos do FUNDEB para
pagamentos de aposentados da educação; incluir
o programa renda básica retirando 5% do repasse
da União para educação e que fossem utilizados
para transferência direta de renda, descaracterizan-
do o Fundo e burlando o teto de gastos. Ademais,
o governo apresentou uma proposta que deixava
um vácuo financeiro na medida em que alterava o
início do repasse para em 2022, sem estabelecer
como ficaria 2021. Por fim, o governo tentou inserir
o repasse de recursos, nos três primeiros anos, para
rede privada, para custeio de vagas em creches e
pré-escolas.
Gabriel Paiva
36
Como a tentativa de obstrução da maté-
ria não logrou êxito, o governo acabou
por incluir uma única proposta, por
meio da relatora: destinar 5% dos re-
cursos novos para a educação infantil.
Para isso, a participação da União nos
recursos do FUNDEB foi aumentada de
20% para 23%. No fim, pressionado e
avaliando que adotar posição contrária
resultaria em derrota, o governo votou
pela aprovação.
A promulgação da EC 108/2020 foi uma
vitória da educação pública, mas as
tentativas de desnaturar a função pri-
mordial do fundo seguiram. Em dezem-
bro, quando da votação de sua regula-
mentação, o novo Fundeb sofreu mais
um ataque da bancada governista, que
tentou aprovar propostas que previam
destinação de boa parte dos recursos do
fundo aos setores privados. A noite de
10 de dezembro de 2020 foi de horrores
para a educação pública brasileira.
Após o processo difícil de construção
de um texto que dialogasse com o da
EC 108/2020, mantendo seu sentido e
objetivo, chegou-se a um acordo entre
os partidos da oposição e o relator, Dep.
Felipe Rigoni. Porém, ao longo da votação, o acordo
não prevaleceu.
Destaques foram apresentados e desconstruíram
todo o texto consensuado. A oposição levou um
golpe. Os recursos da educação básica, também.
A matéria seguiu para votação no Senado que,
fortemente pressionado pela sociedade organizada,
principalmente pela Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Educação – CNTE, retoma o texto
acordado com a oposição na Câmara. Perdem força
as propostas de destinação de recursos ao setor
privado e de ataque aos profissionais da educação.
Após muita luta, vitória da educação pública.
A aprovação do Novo Fundeb tornou o fundo cons-
titucional permanente e garantiu avanços impor-
tantes para a educação básica pública, dentre eles,
a subvinculação de
70% para pagamento
de profissionais da
educação e a inser-
ção do conceito Custo
Aluno Qualidade.
Dispositivos que con-
templam uma me-
lhor fiscalização dos
recursos da educação
e maior participação
da sociedade na for-
mulação, monitoramento, controle e avaliação das
políticas educacionais também foram inseridos no
texto. A proposta ficou mais justa no que concerne
à distribuição dos recursos e ampliação de atendi-
mento aos municípios de maior vulnerabilidade.
Apesar das investidas contra a educação por este
governo, 2020 foi palco de uma grande conquista
para a educação básica do país.
O Núcleo de Educação do PT no Congresso Nacional
teve participação fundamental nesse processo, atu-
ando e articulando propostas na luta pelo direito à
educação em período tão atípico e desafiador para
o setor e para o país. Em 2021, enfrentaremos temas
que estão sempre na pauta dos conservadores e
dos interesses privados, dentre eles:
Escola sem Partido – Tramita desde o início de 2019
um resgate da proposta anterior no PL 246/2019, de
autoria da deputada Bia Kicis do PSL/DF e demais
deputados do PSL. O projeto de lei quer
estabelecer condutas e vigilância sobre
os professores, proibir a discussão em
sala de temas como sexualidade, gênero,
etc e que os materiais didáticos e proje-
tos pedagógicos sigam o que está pre-
senta na proposta.
Esta proposta fortalece o diálogo ideoló-
gico entre o governo e seus apoiadores
ultraconservadores, atacando a liberda-
de dos professores e estudantes.
Future-se – Oriunda do governo federal,
a proposta institui o Programa Univer-
sidades e Institutos Empreendedores e
Inovadores. Uma proposta com caráter
privatista do Ministério da Educação que
agride a autonomia das universidades e
dos institutos
federais de
educação e
condiciona a
liberação de
recursos ao
cumprimen-
to de metas
estabelecidas
pelo MEC.
Além disso,
ameaça a
produção
científica e tecnológica em nosso país.
Educação domiciliar (homeschooling) – O
PL 3179/2012 do deputado Lincoln Por-
tela (PL-MG) tem como relatora a Dep.
Professora Dorinha Seabra (DEM-TO) e
tramita na Comissão de Educação. Com a
pandemia, a proposição ficou paralisada,
mas o tema da educação domiciliar tem
sido aventado e comentado por alguns
parlamentares. Trata-se de matéria
polêmica. Especialistas na área da edu-
cação ressaltam a importância da escola
na formação e desenvolvimento integral
das crianças e adolescentes, nos seus
múltiplos aspectos, sendo direito público
subjetivo a garantia de acesso e perma-
nência na escola.
Escolas cívico-militares - A proposta de
Escolas cívico-militares do governo Bol-
37
 sonaro faz parte de um projeto conservador e con-
tra a democracia. A frase que expressa a motivação
da criação da subsecretaria no MEC explicita seus
objetivos - mudar a nação por meio da educação
é a missão e a responsabilidade da Subsecretaria
de Fomento às Escolas Cívico-Militares. A política
de militarização das escolas agride as diretrizes e
bases da educação nacional e diversos princípios
constitucionais, além de ignorar a discussão sobre
a descaracterização do caráter público de escolas
conveniadas ou “transformadas”, com gestão mili-
tar, na medida em que cobram taxas de alunos ou
responsáveis e ferem o princípio da universalidade
do acesso, entre outras características. O MEC sina-
liza como um dos eixos principais da sua atuação,
o fomento a um suposto modelo bem-sucedido das
escolas militares/militarizadas e/ou privadas, como
se não houvesse escolas públicas ofertando edu-
cação de qualidade. O Parlamento precisa atuar na
garantia da educação pública, universal e gratuita,
bem como os processos democráticos no âmbito da
educação.
O ataque à cultura
A área da Cultura foi atacada desde o início do go-
verno Bolsonaro. O Ministério da Cultura foi extinto,
ficando na guarda do Ministério da Cidadania como
Secretaria Especial da Cultura. Posteriormente, a
Secretaria de Cultura é transferida para o Ministério
do Turismo, perdendo parte dos funcionários de
sua estrutura, que ficam no Ministério da Cidada-
nia.
Além do ataque à sua importância e organização
institucional, várias polêmicas e substituição de
secretários marcaram os dois anos de governo.
Houve cinco trocas de secretários, com destaque
para Roberto Alvin que, além de pedir a "artistas
conservadores" para criarem uma "máquina de
guerra cultural", atacou a atriz Fernanda Montene-
gro, chamando-a de sórdida e mentirosa e plagiou
discurso do nazista Joseph Goebbels.
Agência Brasil
Regina Duarte ocupou o cargo de secretária da Cul-
tura por pouco mais de 2 meses. Em entrevista ao
canal CNN Brasil enquanto ainda ocupava a posição
de secretária, Regina falou sobre a ditadura militar,
minimizando os assassinatos e mortes que aconte-
ceram naquele período.
perío Foi substituída por Mario
Frias, uma escolha dos filhos do presidente. Tam-
bém ator, o atual ocupante do cargo já se envolveu
em brigas nas redes sociais com o humorista Adnet
38
e com a atriz e apresentadora Fernanda
Paes Leme.
Os ataques do governo Bolsonaro à
Cultura se dão em diversas frentes.
Com isso, IPHAN, Fundação Palmares,
Fundação Biblioteca Nacional (FBN),
Fundação de Rui Barbosa, FUNARTE e
ANCINE estão todos sofrendo tanto por
estarem sob a direção de pessoas pou-
co qualificadas para a atuação, quanto
em razão de cortes nos seus orçamen-
tos. No IPHAN, por exemplo, ocorreram
nomeações ilegais, com desvio de fina-
lidade, colocando em risco a preserva-
ção do patrimônio cultural brasileiro. A
Lei Rouanet passou de um limite de 60
milhões para 1 milhão por obra e, após
fortes críticas, o limite ficou estabeleci-
do em 10 milhões.
A ANCINE, em especial, sofreu corte no
orçamento e foi ameaçada de ter sua
sede transferida do Rio de Janeiro para
Brasília. O governo cancelou um edi-
tal da agência que incluía incentivo a
projetos para TVs públicas com temáti-
ca LGBT. Persegue propostas que falam
sobre regimes autoritários, sexualidade
e questões de gênero.
Em plena pandemia, quando o setor
cultural sofre um forte impacto em
razão das necessárias medidas de
isolamento para contenção da dissemi-
nação do coronavírus, uma importante
vitória para o setor foi alcançada com
aprovação da chamada lei Aldir Blanc.
De iniciativa da Dep. Benedita da Silva,
a medida destinou 3 bilhões de reais
para repasse aos Estados e Municípios
apoiarem a área em três formas de
acesso.
A Cultura, assim como a Educação e a
Ciência, foi tratada como ameaça pelo
governo Bolsonaro, teve rebaixamento
de importância na estrutura, queda de
orçamento, mudanças de secretários,
mudanças de ministérios e direções
desqualificadas técnica e politicamen-
te.
 ECONOMIA E TRIBUTAÇÃO
CAPÍTULO 5

39
 A
A ECONOMIA NO ANO DE 2020
pesar do discurso do governo e do entu-
siasmo de setores da mídia, 2019 termi-
nou com a economia brasileira estagnada.
Havia 11,6 milhões de desempregados, 4,6
milhões de trabalhadores desalentados,
nas contas externas registravam déficit das transa-
ções correntes da ordem 3% do PIB, a ociosidade
da indústria estava acima de 25%. Portanto, 2020
iniciou com baixo dinamismo da indústria, restrição
no balanço de pagamentos, fuga de capitais, níveis
elevados de desemprego, novos empregos de baixa
qualidade e ambiente institucional confuso.
Neste cenário nos encontrou a pandemia que, na
ausência de uma reação articulada do governo
Bolsonaro, levou o país a uma situação econômica
delicada lançando muitas dúvidas sobre como será
2021. De maneira geral, fica evidente que o gover-
no Bolsonaro se omitiu diante da disseminação do
coronavírus e de seus efeitos sobre a saúde pública
e a economia.
Algumas das principais medidas que contribuíram
para que o cenário atual não fosse muito pior não
decorrem de propostas formuladas pelo governo,
mas sim da intervenção parlamentar, com grande
destaque para a posição do Partido dos Trabalha-
dores.
A decretação do estado de calamidade pública pelo
Congresso Nacional em função da pandemia, aliada
à PEC 10/20 transformada na Emenda Constitucio-
nal nº 106/20, denominada de orçamento de guerra,
permitiram flexibilizar as regras fiscais vigentes – a
chamada regra de ouro, o teto do gasto e a meta de
resultado primário, entre outros dispositivos. Isso
deu as condições para que houvesse uma inflexão
na política fiscal de 2020 de forma a viabilizar a ex-
pansão significativa dos gastos públicos no ano.
Essa flexibilização se deu por pressão e iniciativa
do Congresso, em especial pela Câmara dos Depu-
tados, com um protagonismo da bancada do PT que
propôs, logo no início da pandemia, vários projetos
de lei no sentido de promover uma política fiscal
anticíclica.
César Itiberê/Fotos Publicas
Dentre as proposições estavam, por exemplo, proje-
tos que previam a instituição de uma renda básica
para a população atingida pelos efeitos econômicos
da pandemia - como a instituição de 1 salário míni-
mo por mês, depois foi incorporada pelo Congresso
em outra iniciativa que gerou a instituição do au-
40
xílio emergencial. Também foram pro-
postas iniciativas que:
i) previam apoios às empresas para
manterem os empregos;
ii) previam auxílios financeiros aos
estados e municípios para compensar
as perdas de arrecadação dos tributos
sob suas responsabilidades, assim
como para compensar possíveis perdas
decorrentes dos repasses do Fundo de
Participação dos estados (FPE) e dos
Municípios (FPM);
iii) postergavam o pagamento de dívi-
das dos entes com a União;
iv) promoviam o diferimento do pa-
gamento de tributos pelas empresas;
dentre outras que geraram impacto
fiscal positivo. Estas propostas, apen-
sadas a outras de teor similar, foram
transformadas em leis e tiveram impor-
tância crucial para minimizar a queda
da atividade econômica em 2020.
Se as medidas resultantes deste pro-
cesso evitaram uma grande crise so-
cial, elas se mostraram insuficientes. A
maioria dos setores da economia, ain-
da hoje, apresenta nível de atividade
inferior ao registrado antes do início da
pandemia e a situação do mercado de
trabalho, estagnado há anos, continuou
a se deteriorar. Com o fim, em janeiro,
do auxílio emergencial, que se mostrou
absolutamente vital para sustentar a
renda das famílias e a demanda interna
e, assim, evitar uma queda ainda maior
da atividade, as PERSPECTIVAS são
sombrias.
Medidas com impacto direto sobre os
trabalhadores.
O governo começou 2020 fixando o
valor do salário mínimo (MP 919/20)
apenas de modo a repor a inflação do
ano anterior, sem qualquer aumento
real, ao contrário do que ocorria nos
governos do PT. Para 2021 (MP 1021/20),
a fixação do valor observou o mesmo
critério do ano anterior, ou seja, por
mais um ano, o salário mínimo não terá
aumento real. Especialmente em abril,
mas com ajustes e regulamentação
publicadas ao longo do ano, foram edi-
tadas medidas para combater os efeitos da pande-
mia, dentre as quais, destacam-se as seguintes:
O governo se viu obrigado a sancionar a lei aprova-
da no Congresso que instituiu o auxílio emergencial
de três parcelas (estendidas posteriormente para
cinco) de R$600 para pessoas de baixa renda ins-
critas no Cadunico e sem emprego formal. A trans-
ferência de renda por este mecanismo contemplou
mais de 60 milhões de trabalhadores e trabalhado-
ras.
Quando as cinco parcelas se encerraram, o gover-
no editou a MP 1000/20 prevendo o pagamento de
quatro parcelas adicionais, porém, pela metade do
valor e com novas exigências que excluíram parte
relevante dos beneficiários que havia recebido as
primeiras cinco parcelas. Mesmo assim, dezenas de
milhões de trabalhadores ainda receberam paga-
mentos em dezembro (com saques em dinheiro a
partir de janeiro), último mês do benefício que,
apesar dos pedidos da sociedade e dos partidos
de oposição, não foi renovado nem substituído à
altura, deixando parte da população sem nenhu-
ma fonte de renda e criando o risco de crise social
generalizada.
A edição da MP 946/20 permitiu a todo trabalhador
o saque de até R$1.045 das contas vinculadas do
FGTS, repetindo estratégia já usada por Temer que,
de fato, injeta recursos na economia especialmente
úteis durante a pandemia, quando muitos trabalha-
dores viram sua renda cair.
Após vários países terem adotado medidas pare-
cidas, o Executivo editou MP (936/20) criando pro-
grama pelo qual o governo paga parte do salário
(equivalente ao valor que seria recebido como se-
guro-desemprego) dos trabalhadores com contrato
de trabalho suspenso ou jornada de trabalho redu-
zida (neste caso, proporcional à redução). A medida
foi fundamental e ajudou cerca de 10 milhões de
trabalhadores a manter o emprego, mas reduziu
fortemente os rendimentos de muitos deles, já que
o valor pago se limitava a R$1.813, e deixou a maio-
ria sem proteção previdenciária. Além disso, sua va-
lidade se encerrou em 31/12/20, em meio à segunda
onda da pandemia no país, em que muitos contra-
tos podem não ser retomados, deixando milhões de
empregos em risco.
Ainda, publicou MP (944/20) que abria linha de
crédito com recursos principalmente da União para
que as empresas custeassem o paga-
mento da folha de salários de seus
empregados, linha que acabou tendo
alcance limitado, já que muitas em-
presas possíveis usuárias do crédito
preferiram suspender os contratos de
trabalho e reduzir suas atividades no
período.
A bancada do PT atuou intensamente
para melhorar as propostas, aumentan-
do seu alcance e evitando ataques aos
trabalhadores como os incluídos em
emendas à MP 927 que retomavam dis-
positivos prejudiciais da reforma tra-
balhista. Além disso, apresentou várias
propostas legislativas que vão além do
que o governo propunha. As principais
são as seguintes:
Foram apresentados vários projetos
para proteger a saúde dos trabalha-
dores que, pela natureza de suas fun-
ções, mais têm se exposto ao risco de
contágio da Covid-19, não apenas os
profissionais de saúde, mas também
motoristas de transporte coletivo e
trabalhadores vinculados a aplicativos
e outros em atividades essenciais, bem
como vários projetos para garantir a
renda de trabalhadores que atuam nas
atividades mais fortemente afetadas
pelos impactos da pandemia, como
muitos MEIs e trabalhadores informais
em geral.
Ainda em março, apresentou o PL
926/20 que criava o Seguro Emergencial
de Renda no valor de um salário míni-
mo pago enquanto durasse a pandemia
às famílias beneficiárias do Bolsa Famí-
lia e às cadastradas no Cadastro Único,
aos trabalhadores informais de baixa
renda, às pessoas em situação de rua e
sem teto, aos trabalhadores da econo-
mia familiar, assentados e acampados
em áreas rurais. Ainda, no âmbito da
minoria, participou da elaboração do
PL 1031/20 que criava a Renda Cidadã
Emergencial, para garantir renda para
famílias, urbanas e rurais, em condi-
ção de vulnerabilidade social durante
a pandemia. Assim, teve atuação cen-
41
 tral nas discussões que levaram à aprovação do PL
1066/20 que finalmente criou o Auxílio Emergencial,
propondo também, ao longo do ano, vários proje-
tos para ampliar sua duração e alcance, para que
ninguém que dele precisasse ficasse de fora, e para
evitar a redução de seu valor determinada pelo
governo.
Apresentou, ainda, o PL 1321/20, que criava a Li-
nha de Garantia de Capital de Giro e Emprego para
fornecer crédito em condições vantajosas para que
as empresas pudessem continuar suas atividades,
pagando salários e fornecedores no momento em
que o crédito bancário secava com a incerteza pro-
vocada pela pandemia. A proposta ia ao encontro
da necessidade manifestada pelas empresas em
todo o país, especialmente as micro e pequenas,
que enfrentaram enormes dificuldades ao longo do
ano para obter o crédito que precisavam.
Ainda para ajudar as empresas a manterem os em-
pregos quando os pesados impactos sobre a econo-
mia eram claros, a bancada apresentou o PL 1323/20
que criava o Programa Emergencial de Apoio às
Empresas, pelo qual o governo pagava a totalidade
dos salários de valor de até 3 salários mínimos dos
empregados das micro e pequenas empresas (e 75%
do salário dos empregados das demais) afastados
do trabalho em razão das medidas de combate à
pandemia.
Com intenção semelhante ao programa criado pela
MP 936, a proposta do PT era muito mais ampla.
Apresentou o PL 4086/20 que criava o Mais Bolsa
Família, alterando as condições de elegibilidade
para expandir o alcance e aumentar o valor dos
benefícios do programa que tem sido fundamen-
tal para reduzir a pobreza e combater a miséria no
país.
Ainda, foi apresentado o PL 4943/20 que criava o
programa Trabalho e Renda para Todos, por meio
do qual a União arcaria com a maior parte do custo
relacionado a postos de trabalho criados nos muni-
cípios por órgãos governamentais e entidades cre-
denciadas a serem ocupados por toda pessoa que
estiver desempregada, dando concretude à ideia
constitucional do direito ao trabalho.
Além destas medidas com impacto direto sobre os
trabalhadores, outras iniciativas estiveram mais
diretamente voltadas as empresas.
42
Medidas emergenciais voltadas para as
empresas
Em razão da crise provocada pela pan-
demia do novo coronavírus, o ano de
2020 foi muito difícil para as empresas
em todo o mundo e muitos governos
fizeram vultosos aportes de recursos a
fundo perdido para garantir a manuten-
ção de empresas e empregos em seus
países. No Brasil, a estratégia central do
governo federal foi prover linhas de cré-
dito para financiamento, sempre com
previsão de cobrança de juros e spread.
Como observou nota publicada no site
ptnacâmara, “enquanto as empresas de
maior porte se refugiaram no mercado
de capitais e no crédito facilitado para
manter sua liquidez em 2020, as meno-
res penaram para sobreviver. Números
do Banco Central (BC) mostram que,
entre 31 de dezembro de 2019 e 30 de
novembro de 2020, houve aumento do
saldo de crédito para as grandes em-
presas de R$ 110 bilhões (12%). No início
da pandemia, entre março e abril, esse
saldo já começara a crescer, com as em-
presas acessando linhas especiais de
crise nos bancos.
O saldo de crédito para médias e pe-
quenas companhias também aumentou:
R$ 179 bilhões (32,9%) até novembro. Do
total, R$ 40 bilhões referentes a estí-
mulos específicos como o Pronampe ou
o Programa Emergencial de Acesso ao
Crédito (Peac). A diferença é que o salto
do crédito para as empresas menores
só começou a crescer de junho para
julho, e o volume não foi suficiente para
suprir as necessidades do total dessas
empresas.”
Este “salto do crédito” a que se refere
o texto, só foi possível a partir do mo-
mento que o BACEN se comprometeu
a ficar com até 85% dos riscos, mudou
regras de provisionamento e deu mais
liberdade de balanço para bancos aten-
derem essas empresas.
Ao longo do ano foram sancionadas
poucas leis específicas visando garantir
a sobrevivência de empresas e negócios, dentre as
quais destacamos:
Lei 13.999 de 2020, oriunda do PL nº 1282/2020,
oriundo do Senado Federal - Institui o Programa
Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de
Pequeno Porte (Pronampe), para o desenvolvimento
e o fortalecimento dos pequenos negócios; e altera
as Leis n os 13.636, de 20 de março de 2018, 10.735,
de 11 de setembro de 2003, e 9.790, de 23 de março
de 1999 .
sil em 35º lugar no ranking que contabi-
liza os estímulos à economia - seja por
intermédio da política fiscal, seja pela
política monetária que envolve também
a oferta de crédito para as empresas.
Os quadros a seguir mostram uma com-
paração entre países dos estímulos
fiscais em bilhões de dólares e como
percentual do PIB estimados em 2020 e

Lei 14.025 de 2020, convertida da Medida Provisó-

ria 932 - Altera excepcionalmente as alíquotas das
contribuições aos serviços sociais autônomos que
especifica e ao Fundo de Desenvolvimento do Ensi-
no Profissional Marítimo.

Lei 14.042 de 2020, convertida da Medida Provisó-

ria 975 - Institui o Programa Emergencial de Acesso
a Crédito (Peac); altera as Leis nºs 12.087, de 11 de
novembro de 2009, e 13.999, de 18 de maio de 2020;
e dá outras providências.

Observando que ambas as leis originadas de Medi-

das Provisórias apresentam condições melhores de
crédito do que as proposições legislativas das quais
derivaram em função de aperfeiçoamentos introdu-
zidos no Congresso Nacional. medidos pelo critério do poder de pari-
dade de compra:
O tamanho do esforço fiscal brasileiro no enfrenta-
mento à emergência
Quando se avalia o esforço fiscal promovido pelo
governo por intermédio dos orçamentos da União
em 2020, verifica-se que houve um incremento
significativo nos gastos públicos. Foram autorizados
cerca de R$ 625 bilhões a mais (cerca de 8,5% do
PIB) para ações de combate aos efeitos da pande-
mia, tendo como principais itens: R$ 321,8 bilhões
para o Auxílio Emergencial e R$ 60,2 bilhões para
Auxílio Financeiro aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios.

O déficit primário do governo central (União menos

estatais federais) poderá alcançar 10,9% do PIB e a
dívida bruta do governo geral (DBGG), 93,1% no final
de 2020, segundo o Ministério da Economia.

Embora ainda não haja, de forma consolidada, esta-

tísticas oficiais que permitam uma comparação dos
gastos entre as nações para 2020, um levantamento
feito pelo Bank of America com 97 países além da
União Europeia, no final de dezembro, coloca o Bra-
Também no âmbito do G20, a compara-
ção do esforço fiscal feito pelo Brasil, a
43
 partir da análise do percentual do PIB, foi bem
abaixo da maioria dos países que compõem
o grupo. Vale lembrar que, se dependesse da
área econômica do governo federal, esse es-
forço seria significativamente menor.
Para 2021, o Projeto de Lei Orçamentária, que
ainda não foi votado no Congresso, prevê uma
redução do gasto primário de 27,6% em 2020
para 19,8% do PIB.
A situação da atividade econômica
Apesar do esforço fiscal feito e das medidas
adotadas, podemos observar nos indicadores
de atividade econômica que a situação é pre-
ocupante. Iniciando pela produção acumulada
da indústria 1, de janeiro a outubro de 2020,
vemos que ela está abaixo da registrada no
mesmo período de 2019.
Produção Física Industrial por
categorias econômicas
índice acumulado no ano (base: igual período
do ano anterior = 100) (número índice)
Gdes Categorias Econômicas Jan a out/de
2020
Bens de capital 84,40
Bens intermediários 97,60
Bens de consumo 89,00
Bens não especificados
anteriormente 80,70
Fonte: IBGE - Pesquisa Industrial Mensal - Pro-
dução Física. Elaboração Raul Ristow Krauser
A produção física de bens de capital, indicador
chave do investimento, foi equivalente a 84,4%
do total produzido no mesmo período de 2019,
e a de bens de consumo foi de 89%. Esses
dados indicam, portanto, que sobre a base de
2019, já estagnada em relação a 2018, ainda
houve importante redução.
No comércio varejista ampliado 2, o volume
de vendas acumulado de janeiro a outubro foi
2,6% menor que no mesmo período de 2019,
apesar do volume inédito de renda transferida
a dezenas de milhões de trabalhadores duran-
1 Pesquisa Industrial Mensal, IBGE. 4 Levantamento sistemático da produção
2 Pesquisa mensal do Comércio, IBGE. agrícola, IBGE.
44
te meses no âmbito do auxílio emergen-
cial.
Já o setor de serviços, no período de
janeiro a outubro de 2020, apresentou
uma retração de 8,7% em relação a 2019
3
, já considerado um ano ruim, de baixo
crescimento do setor.
Dos setores econômicos, o único que
apresentou dados positivos foi a agri-
cultura, em função da demanda externa.
Com seu impulso, no ano de 2020 houve
expansão da área plantada em 2,52% .4
O aumento das exportações, dos pre-
ços internacionais e do dólar provocou
a forte elevação da rentabilidade dos
produtores, que registraram um ano ex-
cepcional, e levou ao forte aumento de
preços dos alimentos no mercado inter-
no, elevando o custo de vida das classes
populares.
A retração da atividade econômica foi
acompanhada pela redução importante
nos níveis já muito baixos de investi-
mento dos anos anteriores. Conforme
indicador de formação bruta de capital
fixo do IPEA, no acumulado de 2020 até
o mês de setembro (último dado dis-
ponível), houve um recuo da ordem de
4,7% em relação a 2019.
Portanto, do ponto de vista da ativida-
de econômica, 2020 foi um ano difícil,
e somente não foi pior em função do
auxílio emergencial que manteve um
nível básico de renda para um expressi-
vo contingente sustentando um patamar
mínimo de consumo.
Contas externas
No que se refere à balança comercial,
em função da queda na produção in-
dustrial, comércio e serviços, houve
uma redução de 13,9% das importações
no acumulado de janeiro a novembro
de 2020 em relação ao mesmo perío-
do do ano anterior. Como o recuo das
3 Pesquisa mensal de Serviços, IBGE.
exportações no período foi menor, de 7,2%, houve
um superávit comercial de 44,3 bilhões de dólares
nos onze primeiros meses de 2020, ante US$ 35,4
bilhões do mesmo período de 2019.
Na conta de serviços, o déficit acumulado de janei-
ro a novembro reduziu 40,29%, caindo de US$ 31,52
bilhões, em 2019, para US$ 18,82 em 2020. Con-
tribuiu de forma importante para essa redução o
menor gasto com viagens decorrente das restrições
impostas pela pandemia.
Na conta de renda primária, entre janeiro e novem-
bro de 2019, havia saído do Brasil US$ 51,174 bilhões.
Em 2020, no mesmo período, houve nova saída de
US$ 35,132 bilhões.
Com o aumento do superávit comercial, redução
dos déficits de serviços e renda primária, houve
uma melhora no conjunto das transações correntes
até novembro de 2020, conforme gráfico abaixo.
Os investimentos em portfólio (ações,
fundos de investimentos, títulos de
dívida, etc) tiveram de janeiro a novem-
bro de 2020 saídas líquidas de US$14,8
bilhões, muito maiores que as saídas
líquidas de US$2,4 bilhões no mesmo
período do ano anterior.
Conforme gráfico abaixo, o panorama
até julho era mais grave, com saídas
acumuladas em 12 meses próximas de
US$ 54 bilhões. Contudo, a melhora no
otimismo do mercado externo e a elei-
ção de Biden nos EUA, associada aos
pacotes de estímulo econômico, implica-
ram em entradas de capitais nos países
emergentes nos meses seguintes.

O gráfico evidencia que, até março de 2020, havia

tendência de aumento dos déficits, a qual se rever-
teu em função dos efeitos da pandemia. O déficit
acumulado nas transações correntes de janeiro a
novembro de 2020 foi de 0,56% do PIB, ante um
déficit de 2,68% do PIB em 2019.

Se em 2019 os investimentos diretos no Brasil fica-

ram estagnados, em 2020 eles caíram. O ingresso
líquido acumulado de janeiro a novembro de 2020
somou US$ 33,43 bilhões, queda de 49,62% ante
os 66,35 bilhões de dólares do mesmo período de
2019.

O investimento direto nos onze primeiros meses

de 2020 somou 2,52% do PIB, enquanto no mesmo
período de 2019 havia somado 3,86%.
45
 Mercado de trabalho
Conforme dados da PNAD-Contínua do IBGE re-
ferentes ao trimestre móvel – agosto, setembro e
outubro – e apresentados no quadro abaixo, veri-
fica-se que o total de pessoas na força de trabalho
potencial e desocupados somavam 26,09 milhões
de pessoas, um crescimento de 29,54% em relação
aos 20,14 milhões registrados em 2019. A população
ocupada total caiu 10,37%, de 94,05 milhões de pes-

Mídia Ninja
soas para 84,30, ao passo que a população fora da
força de trabalho cresceu 19,01% no período de
1 (um) ano.

Situação da população economicamente ativa em relação à força de trabalho – trimestre móvel

agosto-setembro-outubro 2019 e 2020

Fonte: PNAD Contínua – IBGE trimestre móvel – agosto, setembro e outubro.

Elaboração Raul Ristow Krauser.

Inflação Cenário do próximo ano

O índice geral de preços – mercado (IGPM)5 apre-
sentou variação de 23,14% em 2020 ante 7,30% em
2019, refletindo os impactos da pandemia sobre a
restrição de insumos para a produção e também
os efeitos da desvalorização do real. Dada a baixa
demanda e a retração do consumo, o preço dos ser-
viços cresceu muito menos, e mesmo no caso dos
bens a elevação dos custos de produção não foi
repassada ao consumidor final na sua totalidade.
Com isso, os preços ao consumidor capturados pelo
IPCA cresceram 4,23% em 2020, com destaque para
o grupo de alimentação com 14,36%, de aumento
seguido pelos artigos de residência com 5,29%.
5 Medido pela Fundação Getúlio Vargas e utilizado para
reajustes de telefonia, energia elétrica, planos de saúde,
educação e para reajustes de aluguéis, é calculado com base
no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), no
índice de preços ao consumidor (IPC) e no índice nacional
de custo da construção (INCC), sendo fortemente
influenciado pela inflação das matérias primas.
46
A indústria, o comércio e o setor de
serviços foram impactados diretamente
pela pandemia. As contas externas apre-
sentaram melhora como efeito da queda
das importações no contexto recessivo,
não do aumento e da melhora do perfil
das exportações. No mercado de traba-
lho a situação é dramática: o número de
pessoas desocupadas e das que sequer
procuraram trabalho e estão na força de
trabalho potencial cresceu 29,54% até
outubro de 2020.
Sem previsão de aumento da deman-
da interna, o investimento privado não
deve deslanchar, com a exceção de ni-
chos. Um forte impulso ao investimento
público, fundamental para induzir a re-
tomada, está descartado pela restrição
imposta pelo teto de gastos. O investi-
mento privado em infraestrutura, espe-
rado ansiosamente há anos, tampouco
deve ocorrer de forma significativa, e
deve se restringir à transferência de ativos públicos
ao setor privado, com impacto muito baixo sobre o
investimento e negativo sobre o emprego. Com con-
sumo estagnado e sem investimento, a economia
será totalmente incapaz de gerar emprego e renda
para a população, aumentando a tensão social.
Com essa situação cada vez mais clara, é possível
que o governo proponha alguma expansão (peque-
na) do Bolsa Família ou até, negando as últimas
afirmações, crie outro programa. Também é pos-
sível que promova alguma manobra contábil para
criar espaço fiscal para realizar algum investimento
público, politicamente demandado. Ambos os mo-
vimentos devem ocorrer em pequena escala e serão
provavelmente insuficientes para induzir a retoma-
da do crescimento da economia. Contudo, devem
evitar uma catástrofe social e, assim, dar tempo
para o governo.
Nesse ínterim, medidas exigidas pelo mercado fi-
nanceiro como a autonomia do Banco Central, além
da continuidade da liberalização do mercado cam-
bial, devem entrar na pauta, bem como ataques a
direitos dos trabalhadores e ao serviço e ao patri-
mônio público. Mais que possíveis, propostas de re-
formas em programas sociais, de redução do custo
do funcionalismo e de privatização são prováveis.
Enquanto muitos países continuam tomando medi-
das de estímulos fiscais para auxiliar as famílias e
melhorar a solvência das empresas a fim de garan-
tir melhores condições de retomada do crescimento
econômico pós-pandemia, o presidente afirma que
o país está quebrado e não pode fazer nada.
O crescimento da relação dívida/PIB no Brasil em
2020 não deve ser justificativa para a austeridade
fiscal proposta para 2021. Esse crescimento ocorreu
em menor ou maior escala em todas as economias
e elas não quebraram por isso. Nesse contexto,
faz-se necessário a prorrogação do estado de cala-
midade pública e do chamado orçamento de guerra
para permitir a continuidade de uma política fiscal
proativa e anticíclica em 2021.
Tributação
Passada a reforma da previdência no final de 2019,
o ano de 2020 iniciou com uma grande expectativa
em torno da capacidade do governo de entregar as
outras reformas vendidas como fundamentais para
a retomada do crescimento do país, dentre elas, a
reforma tributária.
Logo no início de março, foi instalada
a Comissão Mista Especial do Congres-
so Nacional (CMRT) cujo propósito era
analisar e consolidar os textos das PEC
110/2019 (de iniciativa do senador Davi
Alcolumbre e outros) e PEC 45/2020 (de
autoria do Dep. Baleia Rossi). Com a
chegada da pandemia, os trabalhos da
Comissão, que nem bem tinham sido
iniciados, foram suspensos, sendo reto-
mados apenas no mês de julho.
A despeito da reforma tributária apa-
recer na agenda econômica do governo
como uma prioridade, demorou para
que o Poder Executivo finalmente en-
trasse na discussão. E quando o fez, foi
de forma tímida, propondo simples-
mente a unificação de dois tributos
federais incidentes sobre o consumo,
o PIS/PASEP e a Cofins, em uma única
contribuição denominada Contribuição
Social sobre Operações com Bens e Ser-
viços – CBS (PL nº3.887/2020).
Paulo Guedes anunciou, na oportuni-
dade, que aquela era a primeira fase da
reforma do governo, composta, ainda,
por outras três etapas que seriam apre-
sentadas, de acordo com ele, logo na
sequência: a segunda abrangeria a CIDE
e o IPI; a terceira, reformaria a tributa-
ção sobre a folha com compensação via
nova CPMF (chamada pelo ministro de
“imposto digital”); e a quarta, a reforma
da tributação direta que incluiria nova
tabela do imposto de renda da pessoa
física (IRPF), tributação sobre lucros e
dividendos e possível imposto sobre
grandes heranças.
2020 encerrou sem que o governo con-
seguisse apresentar qualquer das três
fases seguintes da reforma tributária,
o que não é de se surpreender, dada a
falta de coordenação e o desentendi-
mento interno que marcam o atual go-
verno, evidenciado nas muitas vezes em
que o presidente desdisse seu ministro
da Economia – as diversas idas e vindas
em relação à volta da CPMF é exemplar
neste sentido.
47
 No que se refere às PECs em tramitação no Con-
gresso Nacional, bem como ao PL nº3.887/2020
(CBS), sob a alegação da necessidade de simplifica-
ção do sistema tributário nacional, essas proposi-
ções focam exclusivamente na reforma da tributa-
ção sobre o consumo (tributação indireta).
Nenhum dos textos originais propõe a necessária
reforma dos tributos diretos, aqueles incidentes
sobre renda e patrimônio que, por terem caráter
pessoal, levam em consideração a capacidade
contributiva do contribuinte e, neste sentido, têm
caráter progressivo, razão pela qual não apenas
podem, como devem ser usados como instrumento
de justiça fiscal.
O risco de se reformar apenas a tributação indireta
reside no potencial de majoração da carga tribu-
tária atrelado a essa mudança e no consequente
recrudescimento da regressividade do sistema,
o que prejudicaria ainda mais a população mais
vulnerável e contribuiria para aprofundar as desi-
gualdades sociais.
Para corrigir essa distorção, a bancada do PT
na Câmara trabalhou fortemente na constru-
ção de emendas, tanto à PEC 45, quanto ao PL
nº3.887/2020, que visam trazer para as proposições
a necessária alteração na tributação sobre renda e
patrimônio. Como ressaltado, essa modificação é
fundamental para tornar o sistema tributário mais
progressivo e, com isso, fazer dele um instrumento
de mitigação das desigualdades tão profundamen-
te presentes em nosso país.
No caso da PEC 45, em 2019, em conjunto com os
demais partidos da minoria, o PT apresentou a
Emenda Substitutiva Global nº178 que ficou conhe-
cida como Reforma Justa, Solidária e Sustentável.
A Emenda propõe alterações na Constituição que
visam a promoção não apenas de um sistema tri-
butário mais progressivo, mas também mais sus-
tentável do ponto de vista ambiental.
Mantendo a mesma diretriz que norteou a elabo-
ração de emendas à PEC 45 e acolhendo suges-
tões contidas no documento intitulado “Tributar
os Super Ricos para Reconstruir o País”, trabalho
coordenado pelo prof. Eduardo Fagnani, emendas
ao projeto de lei da CBS também foram elaboradas
pela bancada. O prazo para apresentação de emen-
das ao PL, contudo, ainda não foi aberto.
48
As emendas já elaboradas ao PL da CBS
versam sobre:
• tributação de lucros e dividendos e
fim da dedução dos juros
sobre capital próprio;
• majoração da Contribuição Social so-
bre Lucro Líquido (CSLL) para institui-
ções financeiras e mineradoras;
• vedação de deduções tributárias
na exploração do petróleo (“MP do
trilhão”);
• incentivo a sistemas agroflorestais
na Amazônia;
• incentivos para a conversão de pas-
tagens degradadas;
• Imposto Territorial Rural;
• incentivos a projetos ambientais;
• vedação de desoneração de agrotóxi-
cos e alimentos ultraprocessados;
• alíquota reduzida da CBS para bens
industriais ambientais;
• alíquota zero de IPI para bens indus-
triais ambientais;
• CIDE Agrotóxicos;
• isenção de entidades que aderirem
PROUNI;
• isenção das Organizações da Socie-
dade Civil (OSC);
• apoio a produção de alimentos pela
Agricultura Familiar;
• desoneração efetiva da cesta básica;
• desoneração efetiva do ato coopera-
tivo;
• garantia dos recursos destinados à
seguridade;
• garantia de acesso ao abono salarial;
• desoneração dos livros.
Com a retomada das atividades da
Comissão Mista da Reforma Tributária
(CMRT), a bancada do PT na Câmara
manteve intenso diálogo junto ao rela-
tor da PEC 45, Dep. Aguinaldo Ribeiro,
e ao presidente da Câmara, Rodrigo
Maia, a fim de que as medidas de justiça
fiscal propostas na Reforma Justa, So-
lidária e Sustentável fossem acolhidas
pelo relator, que se mostrou inclinado a
concordar com a tributação de lucros e
dividendos.
O prazo para conclusão dos trabalhos
da CMRT foi estendido até 31 de março
de 2021 e, vale lembrar, Baleia Rossi, candidato à
presidência da Casa, é autor da PEC 45.
2020, como se sabe, foi marcado pela pandemia do
novo coronavírus.
No que se refere ao socorro às empresas, duramen-
te afetadas pela necessária paralisação das ativi-
dades como forma de controle da propagação do
vírus, as iniciativas do governo federal limitaram-
-se, pode se dizer, mais a medidas de administra-
ção tributária (como redução temporária de alíquo-
tas de alguns impostos, prorrogação de medidas de
cobrança administrativa de dívida ativa da União,
suspensão de exclusões de parcelamentos por ina-
dimplência, prorrogação de prazo para enquadra-
mento no SIMPLES Nacional; entre outras) do que
propriamente de ações de política tributária.
Embora representem 99% do total de empresas
no Brasil e empreguem 54% do total de carteiras
assinadas no país, conforme dados do Sebrae 6, as
micro e pequenas empresas não receberam, por
parte do governo federal, qualquer atenção espe-
cial durante a pandemia.
Essa ausência não se deu por um mero descuido,
mas por deliberada negligência. Evidenciando seu
despreparo para o cargo que ocupa, disse Paulo
Guedes na assombrosa reunião ministerial de 22 de
abril de 2020: “vamos perder dinheiro salvando em-
presas pequeninhas”. Se esta é a visão do chamado
“super” ministro, nenhuma surpresa acompanha a
falta de medidas em socorro das micro e pequenas
empresas.
O governo de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes não
conseguiu articular, no Congresso Nacional, a vo-
tação da reforma tributária, como já comentado. O
mesmo governo também não demonstrou disposi-
ção para propor medidas de política tributária que
pudessem amenizar os impactos da pandemia do
novo coronavírus sobre a economia. A esse despei-
to, não faltou vontade, nem empenho, para ajudar
dois setores específicos: o de jogos eletrônicos e o
de armas.
Em outubro, Jair Bolsonaro, pela segunda vez, re-
duziu a alíquota do IPI incidente sobre os videoga-
mes – Jair Renan, seu filho 04, é o que se denomina
6 Disponível em: https://portaldodesenvolvimento.se-
brae.com.br/sebrae-aponta-que-pequenas-empresas-ge-
rammais-
empregos-no-brasil/. Acesso em 13.01.2021.
de “gamer”. Só nos meses de novembro
e dezembro passados, estima-se que
renúncia fiscal decorrente da redução da
alíquota girou em torno de R$5,4 mi-
lhões. Para os anos de 2021 e de 2022, foi
estimada em R$36 milhões e R$39 mi-
lhões, respectivamente.
Considerada a renúncia fiscal até 2022 e
usando o valor do auxílio emergencial
de R$300, o montante de que o governo
abriu mão poderia beneficiar 268 mil
famílias 7.
Em dezembro, foi a vez do comércio de
armas ser contemplado com a sanha do
governo de fomentar o setor: a alíquota
do imposto de importação foi zerada.
Incitado, o STF suspendeu a medida.
Na justificativa, o ministro Edson Fachin
afirmou que era “pouco evidente” o obje-
tivo da redução dos impostos para esse
setor. Com isso, a alíquota permaneceu
em 20%.
Quinze dias depois de ter zerado a alí-
quota de importação de revólveres e
pistolas, no dia 24 de dezembro, o go-
verno de Jair Bolsonaro determinou a
volta da tributação sobre a importação
de cilindros de oxigênio, equipamento
absolutamente imprescindível no socor-
ro às vítimas da Covid-19, como já era
sabido desde o início da pandemia, nove
meses antes. A alíquota do imposto de
importação desse equipamento havia
sido zerada em março (para cilindros de
ferro) e em abril (para cilindros de alu-
mínio), juntamente com a de diversos
outros itens e produtos havidos como
necessários para o enfrentamento à
pandemia e socorro às vítimas infecta-
das pelo coronavírus. Embora já houves-
se uma expectativa de recrudescimento
da contaminação após as festas de final
de ano – quando se sabia que seriam
ignoradas as recomendações de manu-
tenção do distanciamento social e uso
7 Disponível em: https://economia.uol.com.br/
colunas/carla-araujo/2020/10/27/ipi-bolsona-
ro-games-zero-4-filhojair-
renan-auxilio-emergencial.htm. Acesso em
13.01.2021.
49
 de máscaras por parte da população - o governo,
um notório negacionista da gravidade da situação e
incompetente na gestão da crise avassaladora que
se estabeleceu no país – que, aliás, se tornou avas-
saladora principalmente em razão da postura de
Bolsonaro - decidiu excluir os cilindros de oxigênio
da lista de produtos contemplados com a manuten-
ção da alíquota zero do imposto de importação.

A importação de cloroquina, vale destacar, foi man-

tida desonerada.

O zeramento da alíquota do imposto de importação

sobre armas e a volta da taxação de cilindros de
oxigênio em plena pandemia do novo coronavírus
são exemplos emblemáticos das prioridades do
governo de Jair Bolsonaro na condução do país.
José Cruz/Fotos Publicas

50
 TRABALHO, EMPREGO E RENDA
CAPÍTULO 6

51
 P
recarização e destruição do mercado de
trabalho em razão das desastrosas medidas
neoliberais adotadas pelos governos des-
de o golpe de 2016 foram aprofundadas no
ano de 2020, marcado pela pandemia, que
deslocou prioridades e paralisou atividades econô-
micas. São marcas do ano passado: a incapacidade
do governo Bolsonaro em liderar o país no enfren-
tamento da crise, de encontrar soluções diante da
gravidade da situação, a existência de um propósi-
to permanente de eximir-se da responsabilidade,
numa postura deliberada de tumultuar e potencia-
lizar os problemas, a tragédia, usando a confusão
como método para o aprofundamento do desmonte
dos direitos e justificação para nova rodada de re-
tirada de direitos, notadamente diante dos assom-
brosos números de trabalhadores e trabalhadoras
desocupados, desalentados e em situação de infor-
malidade nas relações de trabalho, além da asfixia
dos movimentos sindicais.
Soma-se a isso a complexidade do sistema neolibe-
ral globalizado, que já impunha mudanças na mo-
delagem de formas de trabalho e de contratações,
incluindo o uso de novas formas de utilização dos
aparatos tecnológicos, transformando o setor pro-
dutivo, exaltando o capitalismo imaterial e mudan-
do a ideia de que os sujeitos não são mais referen-
ciados como trabalhadores/trabalhadoras, mas são
“prestadores de serviços”. Essa desproletarização
do trabalho, em versões empreendedoras e isoladas
nos indivíduos supostamente detentores das forças
produtivas (mesmo que seja uma bicicleta alugada)
tem conduzido a uma complexa precarização da
forma de trabalhar, com perdas de direitos e das
soluções baseadas no diálogo coletivo.
Sem dúvida, o cenário de pandemia, da necessi-
dade de distanciamento social, do fechamento
de empresas (em especial das micro e pequenas)
evidenciaram os problemas e exigiram adoção de
medidas específicas. O mundo do trabalho e seus
atores sociais foram protagonistas e, naturalmente,
o conflito entre capital e trabalho ficou mais uma
vez escancarado na sociedade brasileira.
A importante migração para as formas telepre-
senciais de trabalho fez com que a realização de
eventos, reuniões e atividades diárias laborais
passassem a ocorrer em ambientes virtuais e, ao
Agência Brasil
que tudo indica, essas novas formas de interação
perdurarão para além do período da pandemia. Tal
alteração impactou sobremaneira o mercado de
52
trabalho, com ênfase nas mulheres, que
costumam gerenciar tarefas domésti-
cas e passaram a fazer isso no mesmo
ambiente em que estavam exercendo
suas atividades laborais. Isso exige
uma pactuação especial e adequação
normativa para essa transição e para
que as funções possam ser exercidas
nesta modalidade, a fim de evitar a
ocorrência de: aumento das despesas
do trabalhador por sua permanência
em casa, em especial com serviços de
energia, internet, além dos desgastes
com equipamentos, muitas vezes usa-
dos os particulares e não fornecidos
pelas empresas e, em especial, afe-
tadas as condições de saúde do/da
trabalhador/a.
Também o trabalho por aplicativos se
mostrou ainda mais desafiador. Essa
faceta do “capitalismo de plataforma”
reforça uma lógica de que as pesso-
as devem focar em seu desempenho
individual, quando na verdade estão
esvaziando de sentido a autonomia
sobre seu próprio tempo, sua tão rei-
vindicada liberdade e que encerra a
pessoa trabalhadora a uma dependên-
cia de contratantes ocultos, sem face e
sem endereço real, aprisionando a sua
subsistência a algoritmos que nem são
compreendidos por quem os utiliza.
Infelizmente, as medidas legislativas
adotadas pelo governo para enfrenta-
mento da crise fizeram recair o ônus
das restrições para a classe trabalhado-
ra que, além de sobreviver aos efeitos
nefastos da pandemia, vendo os postos
de trabalho serem fechados, teve que
resistir a uma série de ataques aos
seus direitos já conquistados.
Dados recentes da PNADContínua/
IBGE (ago-set-out) indicam para 14,06
milhões de pessoas desocupadas,
somado a 12,03 milhões de pessoas
que poderiam trabalhar, mas que não
buscaram emprego no momento da
pesquisa (força de trabalho potencial) e
6,46 milhões de ocupados em situação
de subutilização (jornada e renda infe-
rior ao que desejam e necessitam).
As medidas precarizantes não apenas atingiram as
relações de trabalho no âmbito da iniciativa priva-
da, mas também alcançam o setor público. Iniciati-
vas de privatização de empresas estatais rentáveis,
retirada de direitos conquistados por via de nego-
ciação coletiva, envio de propostas de emendas
constitucionais para retirada de direitos dos ser-
vidores públicos, adoção de amplos programas de
demissão estimulada, perseguição institucional,
dentre outras ofensivas do governo também foram
e são verificadas, conforme consta no Capítulo XVI
(Estrutura do Estado e Transparência).
Resumidamente, os dois anos do governo Bolso-
naro foram marcados por duas fortes perspectivas
que, embora sejam aparentemente contraditórias,
guardam um comum propósito: ação para restringir
e vilipendiar conquistas x omissão severa na reso-
lução de graves problemas. Tudo leva a medidas/
ausências visando depreciar direitos, fragilizar
relações e condições de trabalho, desestruturar a
responsabilidade estatal de elaboração, acompa-
nhamento, fiscalização e implementação das po-
líticas públicas no campo trabalhista, além de um
intuito escancarado de reduzir e mesmo perseguir
as entidades sindicais de representação da classe
trabalhadora.
Destacam-se os feitos do governo federal, por suas
iniciativas adotadas e omissões
a) extinção do Ministério do Trabalho e Empre-
go e da Previdência Social, que nem a ditadura foi
capaz de propor;
b) contingenciamento orçamentário para po-
líticas de fiscalização do trabalho, aí incluídos de
combate ao trabalho escravo e exploração do tra-
balho infantil; c) adoção de uma reforma da
previdência que impede o acesso ao sistema de
proteção, limita renda dos contribuintes e exclui
os mais vulneráveis, consubstanciada na Emenda
Constitucional 103;
c) implementação de um programa de revi-
são do cadastramento da agricultura familiar, que
dificulta a comprovação da atividade rural e, como
consequência, exclui integrantes dos grupos fa-
miliares e atinge a inserção previdenciária desses
grupos (Lei 13.846/2019 convertida da MP 871/2019);
d) edição da Medida Provisória, convertida
na Lei 13.874/2019, conhecida como da “liberdade
econômica”, mas que inaugurava o pro-
pósito da exclusão do Estado no acom-
panhamento das atividades econômicas
e com práticas de livre estruturação e
exploração de atividades e contratações
desreguladas;
e) no final de 2019, edição da MP
905 – com uma proposta de contrato
“verde e amarelo” para juventude, em
condições precárias e que propunha
também uma minirreforma trabalhista.
Alterações constantes da MP aprofun-
davam espaços de negociação direta
“patrão x empregado”, em acordos indi-
viduais e sem assistência sindical, seja
sobre jornada, banco de horas, folgas
e mesmo nos aspectos rescisórios, em
momento de alta de desemprego, in-
formalidade e subocupações. Além de
ser palco para a precarização, também
afronta dispositivos constitucionais
inscritos nos artigos 7º e 8º sobre a de-
finição dessas condições de trabalho via
instrumentos coletivos. O desastre trazi-
do nesta MP 905 chegou a ser aprovado
na Câmara, porém, após forte mobiliza-
ção e trabalho de contato individualiza-
do das entidades sindicais e demais ins-
tituições do mundo do trabalho, mesmo
de modo remoto, os Senadores foram
convencidos de desistir da apreciação
da MP e a matéria perdeu vigência;
f) o ano de 2020 inicia com a extin-
ção da política nacional de valorização
do salário mínimo (MP 916 e MP 919),
com definição do valor do salário para
2020 de modo a apenas reporá inflação,
sem qualquer aumento real (convertida
na Lei 14.013, de 10 de junho de 2020).
Deve ser frisado que o salário mínimo
repercute na maioria das relações de
trabalho, na concessão de benefícios
assistenciais e da maioria dos direitos
previdenciários e como uma política de
Estado, voltada à distribuição de renda,
impulsiona o incentivo ao desenvolvi-
mento econômico com respaldo social,
especialmente em tempos de restrição
de direitos para a classe trabalhadora,
decorrente da implantação das reformas
trabalhista e previdenciária recentes e
53
 da crise de paradigmas no mundo do trabalho, além
da variação das formas de contratação sem garantia
do salário mínimo (no contrato intermitente ou por
jornada parcial);
g) edição da MP 922 que pretendia, de forma
escancarada, promover a contratação de pessoas
físicas por órgãos públicos, em nítida substituição
ao trabalho realizado pelos servidores públicos,
entretanto, a iniciativa só vigorou pelo prazo da MP,
sem conversão definitiva;
h) o governo inventou formas temporárias de
contratações diretas de militares inativos para tra-
balhos civis, sem um desenho institucional e visan-
do a apropriação do Estado por grupos de militares.
O primeiro ato foi consubstanciado no Decreto
i) 10.210, de 23 de janeiro de 2020 – que alega
regulamentar o art. 18 da Lei nº 13.954, de 16 de
dezembro de 2019, quanto à contratação de militar
inativo para o desempenho de atividades de natu-
reza civil na administração pública federal direta,
autárquica e fundacional. O segundo ato foi a Porta-
ria 49, de 30 de janeiro de 2020, que cria regras para
a mobilização de reservistas das Forças Armadas
para ingresso na Força Nacional de Segurança Públi-
ca;
j) no período da pandemia: edição das MPs 927
e 936 que apenas dialogavam com o setor empresa-
rial, alijando a presença e impedindo a atuação sin-
dical e das negociações coletivas, ofertando super-
poderes para os empregadores disporem do tempo
e da remuneração de seus empregados, em típica
autorização da expropriação da força de trabalho
humana em condições indignas.
Na MP 927, o governo oferecia ao empregador a
exclusiva decisão de definir como, quando e em que
circunstâncias haveria o uso da força de trabalho
humana para o desenvolvimento das suas ativi-
dades. Estabeleceu o laissez-faire para resolver as
questões das relações de trabalho nos tempos de
pandemia. A MP foi alvo de algumas ações diretas
arguindo inconstitucionalidades:
ADIs 6342, 6344, 6346, 6348, 6349, 6352 e 6354. Ini-
cialmente, o relator, min. Marco Aurélio indeferiu
o pedido liminar, mas no dia 24 de abril, o STF
declarou inconstitucionais e afastou a vigência
dos artigos 29 e 31 da MP 927. Uma vitória parcial,
mas animadora no campo do debate sobre saúde
54
e segurança no trabalho, indicando
que, nesse tema, o Supremo ainda tem
sensibilidade para garantir a proteção à
classe trabalhadora.
Após intensa mobilização social e forte
resistência de entidades e personali-
dades do mundo do trabalho, os par-
lamentares de oposição conseguiram
atrasar a apreciação da matéria, que
foi votada na Câmara dos Deputados,
mas, após forte intervenção individual
perante os/as senadores/as, não foi
votada no Senado, perdendo validade
sem ser convertida em lei.
Editada a MP 936 (Lei 14.020, de 2020),
na noite do simbólico dia 1º de abril,
dispondo sobre medidas de suspensão
do contrato de trabalho ou de redução
de jornada e de salário para o setor
privado, a que se denominou Programa
Emergencial de Manutenção do Empre-
go e da Renda, prevendo que o Estado
pagasse ao trabalhador certo valor,
como ajuda no complemento de renda,
chamado de “Benefício Emergencial de
Preservação do Emprego e da Renda”.
As declarações do governo apontavam
para o alcance de 24,5 milhões de con-
tratos de trabalho com carteira assina-
da pelas medidas instituídas.
O Ministério da Economia credita que
foram celebrados quase 18.372 milhões
de acordos, alcançando mais de 9.734
milhões de trabalhadores e 1.449 mi-
lhão de empregadores
(https://servicos.mte.gov.br/bem/);
k) edição da MP 945, versando so-
bre o trabalho portuário, com restrição
de renda e forte impedimento da frui-
ção do direito de greve pelos trabalha-
dores do setor;
l) outras medidas foram verificadas
para facilitar o saque de FGTS e do PIS/
PASEP, com uma visão oportunista, para
disposição de recursos para o consumo
da parte trabalhadora, mas com risco
de redução da importância e finalida-
des do FGTS para o momento de maior vulnerabili-
dade do trabalhador, a exemplo do caso de desem-
prego, adoecimento ou velhice;
m) adoção de normas infra legais para contrata-
ções indevidas de substitutos de auditores fiscais
do trabalho e do setor agropecuário, em combina-
ção com a indústria alimentícia, no curso da pan-
demia, notadamente para afastar o rigor fiscaliza-
tório; e
n) proposta emenda à Constituição com a cha-
mada “reforma administrativa” que afronta o mo-
delo de contratação no serviço público, desviando
o modelo constitucional para afastar a atuação
do Estado para atender aos interesses públicos e
sociais, conforme está retratado no Capítulo XVI
(Estrutura do Estado e Transparência).
Dentre as omissões do governo que também con-
tribuem para a precarização do trabalho reside o
não apontamento de medidas efetivas para garan-
tia e manutenção dos empregos, além da inope-
rância ou medidas que negligenciaram as neces-
sidades que deveriam ser adotadas para evitar
impacto ainda mais negativo nas formas de contra-
tação, grave omissão na normatização da saúde e
segurança do trabalho nas atividades que perma-
neceram em funcionamento na pandemia. Outros
retrocessos também são verificados, sempre em
detrimento da fruição dos direitos de trabalhado-
res e trabalhadoras, no atendimento à
vontade unilateral ou preponderante do
empregador.
Verifica-se a ausência de efetivas políti-
cas de financiamento para autônomos,
profissionais liberais, de microempre-
endedores e microempresas, conforme
retratado no Capítulo VI (Economia e
Tributação).
Do mesmo modo, uma forte negligência
e ausência notável de políticas e ini-
ciativas de atendimento às demandas
dos trabalhadores e trabalhadoras por
aplicativos, omissão na normatização da
saúde e segurança desse tipo de traba-
lho tão exacerbadamente destacado no
período de restrição social de circulação
na pandemia.
Nesse campo de proteção ao trabalho,
emprego e renda, a atuação da bancada
do PT foi intensa, como pode ser verifi-
cado no Anexo 1 deste documento, no
Paulo Pinto/Fotos Públicas
qual constam as principais propostas
apresentadas. Valendo destacar propos-
tas aprovadas pelo Congresso, como foi
o caso do PL 1409/2020, transformado na
Lei 14.023/2020, de autoria do Dr. Zacha-
rias Calil (DEM-GO) em co-autoria com
55
Algumas empresas não vão reabrir
 Dep. Alexandre Padilha e Jorge Solla que determi-
nou a adoção de medidas imediatas que preservem
a saúde e a vida de todos os profissionais conside-
rados essenciais ao controle de doenças e à manu-
tenção da ordem pública, durante a emergência de
saúde pública decorrente do coronavírus responsá-
vel pelo surto de 2019.
Ainda vale o destaque do PL integralmente veta-
do pela Presidência da República, mas aprovado
pelo Congresso: o PL 1.826/2020 de autoria Dep.
Reginaldo Lopes – PT/MG, que dispunha sobre
compensação financeira a ser paga pela União aos
profissionais e trabalhadores de saúde que, durante
o período de emergência de saúde pública de im-
portância nacional decorrente da disseminação do
novo coronavírus (SARS-CoV-2), por terem trabalha-
do no atendimento direto a pacientes acometidos
pela Covid-19, ou realizado visitas domiciliares em
determinado período de tempo, no caso de agentes
comunitários de saúde ou de combate a endemias,
tornarem-se permanentemente incapacitados para
o trabalho, ou ao seu cônjuge ou companheiro, aos
seus dependentes e aos seus herdeiros necessá-
rios, em caso de óbito; e altera a Lei nº 605, de 5 de
janeiro de 1949. Ali como apensados estavam o PL
1967/2020, de autoria do Dep. Alexandre Padilha,
Jorge Solla e Jandira Feghali e outras; PL 2.007/20,
de autoria da Dep. Fernanda Melchionna, Margarida
Salomão, Natália Bonavides, Gleisi Hoffmann, Re-
jane Dias, Maria do Rosário, Luizianne Lins e outras
deputadas e o PL 2.200/2020, de autoria do Dep.
Jorge Solla.
É preciso reconhecer o protagonismo de nossa
bancada na obstrução de matérias contra a classe
trabalhadora, intensa produção de emendas, re-
querimentos, discursos, enfim, uma postura e um
conjunto de iniciativas parlamentares denunciando
as inconstitucionalidades, por exemplo aquelas
presentes nas MP 905 e MP 927, inclusive perante
o presidente do Congresso Nacional, ao requerer a
devolução de iniciativas por causa do descumpri-
mento dos requisitos constitucionais da urgência
e relevância, bem como pela afronta a princípios e
normas constitucionais que instituíram um sistema
de garantias de direitos, mas também pela apresen-
tação de soluções e da defesa intransigente e pro-
teção dos interesses da classe trabalhadora.
O percurso sombrio das recentes mudanças legis-
lativas no âmbito trabalhista e a pandemia de 2020
podem intensificar a ruptura dissociativa entre a
56
ação estatal e a materialização dos di-
reitos individuais e sociais, ampliando
a precarização das relações e o empo-
brecimento da classe trabalhadora.
Pensando na diversidade que nos cons-
titui e nos impactos da pandemia que
afetaram as pessoas de formas dife-
rentes, exacerbando as desigualdades
preexistentes, especialmente quanto
às dimensões de classe, renda, gêne-
ro e raça é fundamental refletir – para
mudar/transformar – sobre os riscos de
(re)alimentação dos antigos estereóti-
pos.
Os impactos desse cenário pandêmico
na vida das mulheres são ainda maio-
res. Os dados catastróficos indicam
que as trabalhadoras são ainda mais
afetadas: no 2° trimestre de 2020, a
cada 10 mulheres com mais de 14 anos
de idade, apenas 4 estavam ocupadas,
enquanto a de cada 10 homens, quase
6 estavam ocupados. Com a imposição
do isolamento social, a retenção da
vida doméstica, neste ano de pande-
mia, suspensão das atividades escola-
res, foi reacendidos discursos e práticas
de reforço aos estereótipos clássicos,
associados a estrutura patriarcal que
persiste em determinar um “papel da
mulher”.
Seja na imposição patriarcal de pre-
ponderância ao ambiente privado,
doméstico/familiar, que promoveu a
limitação das mulheres na esfera públi-
ca por tanto tempo, somada à perspec-
tiva da clássica análise sobre a divisão
sexual do trabalho, em nome da qual
se atribuiu à mulher a responsabilida-
de sobre os afazeres domésticos, os
cuidados com a prole, com idosos e do-
entes da família, enfim, todo o trabalho
que foi cunhado como de “reprodução
social”, acumulada ao longo dos anos
com a jornada do chamado “trabalho
produtivo”, os padrões e estereótipos
que vinham sendo rompidos ao lon-
go de décadas, visando eliminação da
ideia hierarquizante entre as pessoas,
em razão do sexo, novamente é acio-
nada neste momento histórico, com o risco dessa
medida que sempre foi cruelmente justificadora de
tantas práticas violentas contra as mulheres.

São muitos os desafios em 2021 para o mundo do

trabalho. Infelizmente, o ano começou com a notí-
cia do encerramento da produção da Ford no país,
mesmo aqui estando há mais de 100 anos o que,
segundo o DIEESE, gera um impacto muitíssimo
superior: "As 5.000 demissões anunciadas pela Ford
significam uma perda potencial de mais de 118.864
mil postos de trabalho, somando diretos, indiretos
e induzidos. Essas demissões podem resultar em
perda potencial de massa salarial da ordem de R$
2,5 bilhões/ano, considerando-se os empregos dire-
tos e indiretos.” (Nota à imprensa, de 15/01/2021).

Todavia, a saída da crise do cenário atual, com suas

diversas implicações, somente poder ser construída
com envolvimento e comprometimento de toda a
sociedade, governantes, congressistas, empresaria-
do. A força de resistência democrática, rompendo
uma paralisia política da população oprimida pelas
desigualdades materiais, aprofundada na atualida-
de, é a saída para transformação e eficiência posi-
tiva nos espaços deliberativos, tanto no âmbito do
Legislativo quanto do Executivo.

Mário Tama/Getty Images

57
 MEIO AMBIENTE
CAPÍTULO 7

58
E
m meio a tantos outros, a gestão ambien-
tal está entre os maiores desastres deste
governo. Em dois anos, Bolsonaro esvaziou
órgãos que cuidam das questões ambien-
tais, indígenas e agrárias.
Para Bolsonaro atender os compromissos de cam-
panha com a bancada ruralista e o Agronegócio,
tornava-se imprescindível a flexibilização da pro-
teção ao meio ambiente, incluindo o incitamento
e acobertamento de crimes ambientais. A fim de
propiciar as melhores condições institucionais para
tal, após crivo fino do governo cujo último aval
foi dado pela ministra da Agricultura, foi nomea-
do como ministro do Meio Ambiente o advogado
Ricardo Salles, ex-secretário de Meio Ambiente do
governo de São Paulo, condenado por improbida-
de administrativa com direitos políticos suspensos
por três anos. Constituído o tripé institucional da
‘terra arrasada’, o célebre flagra do ministro do
Meio Ambiente recomendando ‘passar a boiada’
serviu para reposicionar os incautos que duvi-
davam que a destruição ambiental efetivamente
representava política de governo e para deixar
explícito que a estratégia setorial seria a ampla
flexibilização/desregulação da política ambiental.
Nada mais, até porque alguma coisa além disso
seria inserir na Norma comando liberando expres-
samente o crime ambiental!
Sob qualquer referencial analítico, no que se re-
fere à proteção ao meio ambiente, em dois anos
de governo Bolsonaro o Brasil retrocedeu em tudo
o que foi construído após a Constituição de 1988.
Retrocedeu nos aspectos legais e institucionais,
mas também no que diz respeito à participação da
sociedade nos espaços de formulação e controle,
na descentralização, no acesso à informação e na
construção de um senso comum em torno de valo-
res socioambientais.
Com efeito, ao longo das últimas décadas o Estado
brasileiro logrou constituir um arcabouço jurídico e
institucional compatível com os desafios próprios
impostos pelos graves problemas ambientais de-
correntes do seu modelo de desenvolvimento. Os
principais momentos desse processo de institucio-
nalização ambiental foram marcados pela criação
de um conjunto de políticas, normas, órgãos, re-
crutamento de recursos humanos e competências
de planejamento e gestão ambiental. Cingidos pelo
Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA,
dotado de espaços participativos como
o Conselho Nacional de Meio Ambien-
te - CONAMA, essa esfera institucional
não apenas aperfeiçoou o marco legal de
proteção ambiental como desempenhou
um papel estratégico no debate sobre o
projeto de desenvolvimento do país. O
governo Bolsonaro, contudo, tem bus-
cado deslegitimar e desmantelar essa
arquitetura institucional, sob o pretexto
de remover obstáculos ao crescimento
econômico do país.
Além de confrontar ONGs e ativistas
ambientais, chegando ao extremo de
acusá-los de responsáveis pelas queima-
das, Bolsonaro e seu ministro do Meio
Ambiente, Ricardo Salles, adotaram uma
série de medidas com objetivo claro de
desmontar as principais políticas e meca-
nismos de proteção ambiental.
Neste sentido, as competências e atri-
buições do Ministério do Meio Ambiente
foram esvaziadas, sendo transferidos
para outras pastas órgãos como a Agên-
cia Nacional de Águas (ANA) e o Serviço
Florestal Brasileiro (SFB). Foram extintas
a Secretaria de Mudanças Climáticas e
Florestas do MMA e a Subsecretaria Ge-
ral de Meio Ambiente, Energia e Ciência
e Tecnologia do Ministério das Relações
Exteriores. Na mesma linha, a capacidade
de intervenção do IBAMA e do ICMBio foi
restringida, sendo-lhes retirada a auto-
nomia que uma autarquia detém legal-
mente.
No plano normativo, foram dezenas de
canetadas revogando, alterando e fragili-
zando regulações e procedimentos infra
legais. Apenas algumas dessas medidas
puderam ser revertidas no âmbito do
judiciário, já que no âmbito do Parla-
mento nenhum PDL – Projeto de Decreto
Legislativo, muitos deles apresentados
pela bancada do PT com o fim de sustar
mídia ninja/Fotos Públicas
os atos do Executivo - foi colocado para
deliberação.
Com o CONAMA esvaziado, os órgãos do
SISNAMA enfraquecidos e desarticulados,
a participação da sociedade negada e
59
 com o rebaixamento de normas, regras e da auto-
nomia de ação dos órgãos ambientais federais, so-
mados ao permanente ataque ideológico ao legado
institucional que herdou, Bolsonaro vem impondo
uma reversão importante ao arcabouço institucio-
nal construído historicamente para tratar das ques-
tões ambientais. Com isso, o meio ambiente fica
cada vez mais à deriva, sem a proteção do Estado e
à mercê de toda sorte de ilicitudes e depredação.
O presidente desativou, no plano interno, as prin-
cipais políticas públicas, programas e projetos que
vinham sendo implementadas à luz dos Objetivos
do Desenvolvimento Sustentável – ODS - da Agenda
de Paris e dos demais tratados e convenções volta-
dos para a reversão das crises ambientais, climáti-
cas, da biodiversidade, hídrica, enfim, voltados para
evitar o colapso dos ecossistemas que ameaça e
compromete o futuro da sociedade brasileira e de
toda a humanidade.
Os dois maiores órgãos de fiscalização ambiental
do país, o Instituto Chico Mendes de Conservação e
Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama), foram alvo de uma reestruturação devas-
tadora já na chegada do ministro Ricardo Salles no
governo, no início de 2019. Ele adotou um alinha-
mento completo a reivindicações e ideias do agro-
negócio.
Ricardo Salles exonerou 21, dos 27 superintenden-
tes do Ibama. Dois meses depois, foi exonerado
José Olímpio Augusto Morelli, servidor do Ibama
que havia cumprido a lei e multado o então depu-
tado Jair Bolsonaro por pescar em uma unidade de
conservação de proteção integral em Angra dos Reis
(RJ).
Cinco meses após o início da gestão, o próprio
governo anunciou, em um misto de orgulho e ci-
nismo, uma redução de 34% no número de multas
aplicadas por desmatamento ilegal no país. As
consequências não tardaram: como todos lembram,
as chamas que consumiram parte da Amazônia em
2019 tornaram o Brasil alvo de espanto e censura no
mundo inteiro.
Em maio deste ano, foi a vez do ICMBio. A reestru-
turação do órgão que cuida das unidades de con-
servação e dos centros de pesquisas teve suas 11
coordenações regionais simplesmente fechadas.
Os chefes das gerências regionais passaram a ser
60
todos militares e, junto com eles, vie-
ram equipes prontas e montadas que
substituíram os profissionais de carrei-
ra, desalojando-os de suas funções e
em alguns casos até mesmo do próprio
local de trabalho. Entra a farda, sai a
transparência. O Inpe e a Nasa (institu-
tos aeroespaciais do Brasil e dos EUA,
respectivamente) haviam informado
ao governo que teríamos uma estação
atipicamente mais seca em 2020 e que
as consequências poderiam ser catas-
tróficas. Apesar do alerta, o ano termi-
nou com o ministro Salles deixando de
executar R$ 3,3 bilhões do orçamento da
sua pasta, nada menos do que 39% do
total.
A crise na gestão ambiental é tão gran-
de que chegou ao STF. O Supremo Tribu-
nal Federal realizou uma audiência pú-
blica inédita para discutir a atual crise
ambiental brasileira e suas implicações
para a emergência climática. É a primei-
ra vez na história do Brasil que a crise
do clima chega à Corte, mas o debate
vai além: estará em avaliação o desmon-
te da gestão ambiental no governo de
Jair Bolsonaro.
A audiência foi convocada pelo ministro
Luís Roberto Barroso, relator de uma
ação de quatro partidos (Rede, Psol,
PSB e PT) que questiona a omissão do
Ministério do Meio Ambiente ao deixar
parado, desde o início de 2019, o Fundo
Nacional sobre Mudança do Clima, um
dos principais instrumentos de financia-
mento na luta contra o aquecimento global. Bolso- De acordo com o projeto PRODES Cer-
naro tenta justificar o estímulo que dá ao desma- rado/INPE, o desmatamento no bioma
tamento afirmando que é "cultural no Brasil" e não Cerrado para o ano de 2020 totalizou
acaba. Mentira. O Brasil vinha implementando uma 7.340 km2, correspondente ao período
série de medidas que reduziram as áreas desmata- de agosto de 2019 a julho de 2020. Esse
das. valor representa um aumento de 13%
em relação ao igual período anterior,
Desmatamento
Considerando o ano civil, após o crescimento de
85,3% no desmatamento da Amazônia no primeiro
ano do governo Bolsonaro, conforme os dados do
DETER/INPE (alertas de desmatamento), em 2020
houve uma redução de 8,3%, tendo sido contabi-
lizados 8,4 mil Km2 de floresta desmatada. Ainda
assim, os dados do desmatamento em 2020 foram
70% superiores aos de 2018 e o segundo maior da
série desde 2015 disponibilizada pelo INPE para
os alertas. A figura a seguir retrata a evolução dos
dados do DETER desde 2015:

Já os dados do PRODES / INPE sobre o desmata- fruto da expansão da agricultura

mento da Amazônia, que abarcam o período de
agosto a julho, são os apresentados na figura abai-
xo. No último período, o desmatamento da Amazô-
nia alcançou o nível negativamente impressionante
de 11 mil Km2:
do agronegócio. A figura abaixo apre-
senta a série história desde 2016 do
desmatamento no bioma Cerrado.
Focos de queimadas no pantanal – 1998
a 2020
Desde 1998, quando teve início a pes-
quisa sobre focos de queimadas no
Pantanal, jamais verificouse um número
próximo ao constatado em 2020.

Bruno Kelly/Fotos Públicas

61
 Reproduzindo a indiferença com que vem tratando
a crise no abastecimento e a carestia, a Ministra Te-
reza Cristina debochou dos incêndios nesse bioma,
atribuindo sua ocorrência à falta do ‘boi bombeiro’.
Em 2019 foram 10 mil focos:

Demonstrando que todos os biomas passaram a

estar ainda mais ameaçados durante o governo
Bolsonaro, a figura abaixo apresenta a evolução do

número de focos de queimadas na Mata Atlântica,

de 2017 a 2020:

No âmbito internacional, completamente alienado

em relação ao estado de riscos efetivos e poten-
ciais do planeta, Bolsonaro segregou o país dos
esforços da maioria das nações para reposiciona-
rem a própria ordem do capital em uma nova base
formada pelo imperativo ecológico, indissociável e
dependente do resgate e realização das promessas
da modernidade.
Bruno Kelly/Fotos Públicas

62
 AGRÁRIO E RURAL
CAPÍTULO 8

63
 C
om as elites rurais retomando o pleno con-
trole setorial após o golpe de 2016, cuidou-
-se de restabelecer a velha ordem político-
-institucional marcada pelo rebaixamento
da presença da agricultura camponesa.
De imediato, foi extinto o Ministério do Desenvol-
vimento Agrário (MDA). Na sequência, teve início
a escalada de retrocessos nas ações conquistadas
pelos trabalhadores rurais principalmente durante
os governos do PT.
Para as classes patronais rurais, em particular, se
impunha não apenas a ‘assepsia’ dos espaços ins-
titucionais mas, também, o reposicionamento dos
camponeses nas franjas das disputas pelos recur-
sos orçamentários da União. Adicionalmente às
razões de classe, não se descartam motivações de
represália política pelo engajamento das entidades
dos trabalhadores rurais contra o golpe.
De todo o modo, até pelo reconhecimento da fun-
cionalidade da ‘agricultura familiar integrada’ aos
interesses do agronegócio, o governo Temer mante-
ve uma referência institucional para esses setores,
sem o status de Ministério, no âmbito da Presidên-
cia da República. Vale destacar que no contexto dos
retrocessos em consideração, no caso da reforma
agrária, mesmo com o STF revogando decisão do
TCU que mantinha o programa paralisado desde
2015, o governo Temer ignorou o programa.
No ambiente acima, teve início o governo Bolsonaro
que já antes da posse deixou explícito, entre outras
‘ameaças’ para os camponeses, que não demarcaria
terras indígenas e quilombolas; que trataria como
criminosos os “invasores de terra” e, antecipando
nas entrelinhas, que a ‘boiada iria passar’ no tema
do meio ambiente.
Assim, impregnado por uma retórica (e prática) obs-
curantista, intolerante, e anticomunista obsessiva,
o novo governo incluiu entre os múltiplos alvos dos
seus ataques organizações representativas dos tra-
balhadores rurais, ONGs ambientalistas e de defesa
Fernando Frazão/Fotos Públicas
dos indígenas; todas, indistintamente, carimbadas
como ‘de esquerda’, com vínculos com o PT, portan-
to, a serem tratadas como ‘inimigas do governo’.
O combate aos ‘inimigos’ passou a se dar em três
frentes: (i) nos atos concretos restritivos e de ne-
gação das políticas correspondentes; (ii) na intensa
disseminação de uma narrativa de criminalização
64
de organizações como o MST, e do es-
forço de desqualificação de ONGs, em
particular, das ambientalistas e de de-
fesa dos indígenas, tratadas, também,
como impatriotas; e (iii) da prioridade
plena e absoluta ao agronegócio expor-
tador, com permissividades diferencia-
das para os extratos mais conservado-
res da base primária desse segmento.
Em resumo, para um governo desorien-
tado por perturbação ideológica, igno-
rar e mesmo atacar as causas das lutas
dos seus ‘inimigos’, ainda que das mais
legítimas e centrais para os interesses
nacionais, passou a significar agregação
de vitórias políticas e, ao mesmo tem-
po, ‘a entrega’ do que fora prometido
para as suas bases rurais mais retrógra-
das.
Como exemplos concretos dessa pos-
tura, cite-se: estimular ou desconhecer
os crimes ao meio ambiente; negar a
legitimação/acesso à terra pelos indíge-
nas, quilombolas e sem-terra; ou tratar
a ‘pão e água’ a agricultura familiar.
Pelas diferenças de modulação e ve-
locidade na erosão dessas políticas;
pela negligência ao princípio da função
social da propriedade; e pelo ataque a
direitos constitucionais das minorias
étnicas do campo, é possível afirmar
que, com o governo Temer, a realidade
agrária brasileira retrocedeu para o pe-
ríodo anterior ao primeiro governo Lula.
Com Bolsonaro, o Brasil rural retroce-
deu para posição anterior à CF de 1988.
Pode-se afirmar que, no aspecto con-
ceptivo, não há ingredientes novos no
projeto dominante para o campo. A
grande diferença com o governo Bolso-
naro tem sido o ‘estouro da boiada’ em
todos os níveis, mediante a revogação
ou o amplo afrouxamento das medidas
de contenção e mitigação dos desastro-
sos efeitos colaterais desse projeto que,
mesmo de forma insuficiente, vigora-
vam nos governos do PT. Como agra-
vante, o fato ocorre num contexto de
pressões crescentes do mercado inter-
nacional pelas commodities do Brasil.
Juntou a ‘fome com a vontade de comer’ e assim
resultando em ameaças ainda mais severas para a
integridade de UCs, de terras indígenas e quilom-
bolas e dos assentamentos de reforma agrária. Foi
rompida a relativa parcimônia na liberação de pro-
dutos agrotóxicos, ao mesmo tempo em que foram
represados os instrumentos efetivos de comando e
controle na política ambiental.
Após a MP 870 (Lei nº 13.844, de 2019), que organi-
zou a arquitetura para a nova ordem institucional
orientada para garantir a plenitude do projeto
do agronegócio exportador, o governo Bolsonaro
editou a MP nº 871, de 2019 (Lei nº 13.846, de 2019)
com o suposto propósito de combater irregularida-
des na concessão de benefícios previdenciários. Na
realidade, consistente com o projeto, a legislação
constituiu instrumento de subtração e cassação de
direitos, em particular, dos trabalhadores rurais e
segurados especiais.
Conforme admitiu a própria líder do governo no
Congresso, à época, com a MPV 871 teve início a
reforma da previdência justamente pelos segurados
especiais e trabalhadores rurais em geral. Desde
então, foi eliminada a participação subsidiária dos
sindicatos dos segurados especiais e das colônias
de pescadores em qualquer fase do processo da
previdência social para esses trabalhadores. Em
resumo, com a Lei, o indeferimento de pedidos de
aposentadoria e de outros benefícios da seguri-
dade para os segurados especiais passaram a se
acumular.
A liberação massiva
de agrotóxicos, além
de atender os inte-
resses das empresas,
visa ampliar a oferta
desses produtos para
baratear os custos de
produção para fins de
enfrentamento das
margens nas fazendas.
Em dois anos, o go-
verno Bolsonaro de-
feriu 907 registros de
produtos agrotóxicos,
quantidade maior que
a observada em sete
anos do governo Lula
(2003-2009), período
no qual foram liberados 889 produtos
agrotóxicos. Nos cinco anos do governo
Dilma foram registrados 711 agrotóxicos,
ou seja, 196 produtos a menos que nos
dois primeiros anos de Bolsonaro.
De 2018 para 2019 o mercado de agro-
tóxicos saltou 18,5%, passando de 10,52
bilhões de dólares para 12,47 bilhões de
dólares (MAPA); um gasto extraordinário
com venenos agrícolas no Brasil. Ainda
não há a disponibilidade dos dados de
mercado desses produtos para 2020.
Não é possível, com os dados atualmen-
te disponíveis, a mensuração do agrava-
mento da pobreza e da miséria nas áreas
rurais do país nos anos de 2019 e 2020.
Mas os indicadores a seguir expõem as
dramáticas consequências das ações
e omissões do governo para os vários
extratos da agricultura familiar, o meio
ambiente e a segurança alimentar e nu-
tricional da população brasileira com-
binada com o forte processo de carestia
dos alimentos que se instalou no país. A
propósito, no rol das ações do governo
que simbolizaram as vulnerabilidades,
em curso, do abastecimento alimentar,
vale enfatizar a extinção do Consea (na
prática).
Tema bastante explorado ao longo do
ano de 2020 refe-
re-se à diversida-
de de fatores que
estão na origem
da inflação da
comida, a depen-
der da categoria
dos alimentos e
de circunstâncias
específicas. En-
tre os produtos
mais impactados
encontram-se
o arroz, feijão e
subprodutos da
mandioca, por
exemplo, os quais,
sob a influência de
fatores estruturais,
sofrem o encolhi-
65
 mento histórico das áreas plantadas e da produção
em favor do avanço das culturas nobres do agro-
negócio exportador. Por outro lado, as exportações

Fernando Frazão/Fotos Públicas

excessivas, mesmo da soja, produto do qual o Bra-
sil é o maior produtor e exportador, transformam o
óleo de soja no líder da inflação no acumulado de
janeiro a novembro de 2020.

A figura a seguir apresenta o IPCA da alimentação

no domicílio, acumulado de janeiro a novembro na
série histórica de 2006 a 2020. O segundo ano Bol-
sonaro foi o líder absoluto da inflação da comida
no período em consideração.

Na sequência, duas figuras que exibem os alimentos com as maiores variações no IPCA de janei-
ro a novembro de 2020, e a inflação no período por categorias de produtos.
Instrumento que já teve papel importante no abastecimento, no atendimento a populações em

66
situação de vulnerabilidade, e no apoio à agricul-
tura familiar, o PAA está sendo conduzido de forma
célere para a extinção mesmo em um ano com pan-
demia e com séria crise no abastecimento de ali-
mentos. A figura seguinte apresenta a evolução das
dotações do programa executadas pela Conab, de
2006 a 2020 (acumulado até novembro). Observem
que os dados estão nos seus valores históricos, o
que significa que a queda real tem sido muito mais
severa desde o golpe de 2016. Consistente com os
pontos anteriores, o AGF, instrumento histórico
utilizado para a aquisição de alimentos para fins
de estoques e outras finalidades, da mesma forma
enfrenta processo de definhamento acentuado. Os
recursos efetivamente despendidos pelo Tesouro
para essas operações, de 2018 a 2020, estão retra-
tados na figura abaixo:
Muito do quadro de insuficiência do abastecimento
alimentar no Brasil decorre da transformação do
Pronaf em instrumento do agronegócio exporta-
dor. Em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro,
a participação da soja no custeio com recursos do
Pronaf subiu para 40% do total, enquanto arroz,
feijão e mandioca responderam por 5% dos recur-
sos aplicados no custeio agrícola. Um ano depois
(2020) essas proporções passaram respectivamente
para 41% e 4.7%. De outra parte, foi significativa
a redução no número de contratos de
crédito firmados com recursos do Pronaf
nos dois últimos anos. Há rigor, trata-se
de tendência imanente ao Pronaf, acen-
tuada desde o golpe de 2016 e que no
governo Bolsonaro deverá levar à exclu-
são total dos agricultores familiares da
base.
A figura a seguir apresenta a execução
do Pronaf em número de contratos, total
e por região, permitindo a comparação
da safra 2014/15 (última antes do gol-
pe) com a safra 2019/20. Nesse período,
o número de contratos firmados com
recursos do Pronaf foi reduzido em 470.7
mil (-25%), lembrando que neste número
acham-se incluídos dois ou mais contra-
tos firmados por um mesmo mutuário.
Porém, cada vez mais o Tesouro se afas-
ta do financiamento do Pronaf. Mesmo
com os problemas das finanças públi-
cas, em 2015, o Tesouro aplicou mais de
R$ 100 milhões no financiamento direto
ao programa. Em 2020, na posição de 30
de dezembro, o Tesouro aplicou R$ 14.3
milhões, conforme demonstra a figura
seguinte. Nesse quadro de restrições da
oferta, também concorre para o fenô-
meno da inflação dos alimentos o au-
mento do consumo alimentar por conta
dos efeitos do auxílio emergencial.
É bem provável que, com o fim dessa as-
sistência, ocorra algum nível de inflexão
nessa curva.
67
 PRIVATIZAÇÕES E CONCESSÕES
CAPÍTULO 9

68
P
A LIQUIDAÇÃO DAS EMPRESAS ESTATAIS
ara a história, o ano de 2020 ficará mar-
cado como o ano do desmonte das em-
presas públicas e do avanço da venda a
preços módicos do patrimônio dos bra-
sileiros. Foi um ano extremamente triste
e difícil para todos – um ano em que tivemos que
lidar com pandemia e milhares de mortes resul-
tantes do desgoverno Bolsonaro, cada vez mais
sem rumo.
Também batemos recordes em desemprego, agra-
vado por uma economia cada vez mais fragiliza-
da, onde só ecoam promessas de “reformas” cujo
modelo é simplesmente a entrega de nossas ri-
quezas naturais. Logo no início do ano, Bolsonaro
e Paulo Guedes anunciaram a intenção de “vender
tudo”, se referindo a empresas públicas. Enquanto
no mundo todo os governos fortalecem e investem
em suas estatais, como forma de enfrentar a crise
econômica e gerar riqueza e empregos, no Brasil
da dupla Bolsonaro/Guedes assistimos a uma cor-
rida desvairada para fatiar e vender nossas empre-
sas públicas, principalmente em áreas estratégicas,
como produção e refino de petróleo, geração de
energia elétrica, serviços postais e outros serviços
públicos essenciais à população.
No setor de exploração de petróleo e derivados,
por exemplo, a estratégia de desmonte da nossa
principal empresa atingiu seu ápice. A Petrobrás,
uma das cinco maiores empresas do mundo no
setor, praticamente vendeu toda a sua capacida-
de de refino, com a conclusão da alienação de 8
de suas 13 refinarias. Assim, além do desemprego
dos trabalhadores dessas refinarias, passaremos
a importar derivados, pagando os produtos em
dólar e gerando empregos no exterior. Em 2020,
a Petrobras também concluiu a venda de campos
de petróleo rentáveis, principalmente no Nordeste
brasileiro. Somente nessa região, a venda resultou
na perda de 100 mil postos de trabalho.
Na área de gás natural, a Petrobras se desfez da
totalidade de suas ações na Transportadora As-
sociada de Gás S.A. (TAG), de 90% da Nova Trans-
portadora do Sudeste (NTS) e de 49% da Gaspetro
– o processo para alienação dos outros 51% já foi
iniciado. Também concluiu a venda da Transporta-
dora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG), que
controla o Gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol). Assim,
o ano de 2020 marca a saída da estatal brasileira
da cadeia da logística, gasodutos de escoamento,
instalações de tratamento e processa-
mento de gás natural e terminais de gás
liquefeito no país. Como a estatal ainda
precisa utilizar as redes de dutos para
transportar o gás natural produzido em
seus campos de petróleo no mar, a Pe-
trobras passará a pagar pela utilização
da infraestrutura dutoviária – ou seja,
gastará bilhões de reais para utilizar a
logística que vendeu a preço de banana.
Muitos dos novos donos das redes de
gasodutos são controlados por estatais
estrangeiras, o que demonstra a estupi-
dez da estratégia do atual governo. Em
2020, a política do governo Bolsonaro
de reajustar os preços dos derivados em
dólar, de acordo com o mercado inter-
nacional, atingiu fortemente os consu-
midores brasileiros. Só naquele ano,
o gás de cozinha foi reajustado nove
vezes, acumulando 25% de aumento nas
refinarias, cuja capacidade de produção
foi reduzida pela direção da estatal, que
colocou à venda metade do seu parque
de refino. O preço do gás de cozinha ba-
teu recordes, ultrapassando R$ 105 por
botijão em algumas cidades brasileiras.
Na área de fertilizantes, Bolsonaro con-
cluiu em 2020 o fechamento das fábri-
cas de fertilizantes (Fafens) da Petrobrás
na Bahia, em Sergipe e no Paraná. Com
isso, praticamente voltamos a ser inte-
gralmente dependentes de fertilizantes
importados.
No entanto, a Petrobras serve – e mui-
to – aos interesses dos novos donos.
Os investimentos da empresa, que em
2014 atingiram U$ 48 bilhões, despenca-
ram para pouco mais de U$ 10 bilhões
esse ano. Entretanto, a partir de 2020,
deverão ser distribuídos mais de U$ 35
bilhões em dividendos aos acionistas,
majoritariamente fundos estrangeiros,
resultantes das grandes vendas de ati-
vos da empresa esse ano.
Gustavo Bezerra
Para o setor elétrico, o governo Bolso-
naro também estabeleceu um modelo
de privatização acelerado em 2020, que
enfrentou resistência no Parlamento.
69
 A privatização de um setor estratégico como o
de energia garante lucro para os compradores e
prejuízos para a população, que sofre com que-
da de energia, piora na prestação dos serviços e
aumento de tarifas. Os serviços privatizados redu-
zem investimentos, cobram caro pela energia, não
entregam a qualidade do serviço prometido e com
o tempo, o sistema entra em colapso.
Em 2020, os aumentos de tarifas de energia elétri-
ca autorizados para as empresas de distribuição
privatizadas, principalmente no Norte e Nordeste
do país, atingiram valores recorde. Nessas em-
presas, houve aumentos de até 25,3% nas tarifas,
como é o caso da Centrais Elétricas de Rondônia.
A Eletroacre, vendida para a Energisa, teve au-
mento de tarifa concedido de 21,3% e a Amazo-
nas Energia, negociada para o consórcio Oliveira
Energia, teve aumento de tarifa de 15% somente
nos seis primeiros meses do ano. Esses aumentos
tarifários foram aplicados em 2020 pela agência
reguladora após a privatização e não incluem os
custos extras oriundos dos empréstimos autori-
zados durante a pandemia, que certamente irão
agravar ainda mais o cenário de “tarifaços”.
No caso do apagão no Amapá, quem socorreu a
população desesperada foram justamente empre-
sas estatais, no caso a Eletronorte, mesmo não
sendo sua a responsabilidade pelo conserto dos
equipamentos – as mesmas estatais que Bolsona-
ro alega serem “ineficientes” e “incapazes” para
fornecer energia à população.
Infelizmente, o Amapá não é o primeiro estado a
sofrer as consequências das privatizações calami-
tosas das empresas de fornecimento de energia
elétrica. Um dos casos mais negativos envolve a
empresa italiana Enel, que adquiriu distribuidoras
em vários estados. Em Goiás, os serviços de forne-
cimento de energia pela empresa privada são tão
ruins e precários que o próprio governador já pe-
70
diu que a concessão fosse cassada. No
interior do estado de São Paulo, a mes-
ma empresa responde a processo pela
baixa qualidade dos serviços prestados,
além de já ter sido multada inúmeras
vezes por não atingir os indicadores de
qualidade.
No Mato Grosso do Sul, a Energisa li-
dera o ranking de empresas com maior
número de reclamações no Procon em
2020. No Mato Grosso, a mesma empre-
sa também é a campeã em reclamações,
principalmente pelo alto custo das tari-
fas e a baixa qualidade dos serviços.
Em Rondônia, onde também é respon-
sável pela distribuição de energia elé-
trica, a empresa foi alvo de uma CPI na
Assembleia Legislativa, no início desse
ano, que constatou inúmeros prejuízos à
população e recomendou a extinção de
sua concessão.
Vale lembrar que a Eletrobras obteve
um lucro líquido consolidado de R$ 10,7
bilhões somente em 2019, sendo, por-
tanto, uma estatal de alta rentabilidade
e potencial para investimentos futuros,
inversamente do que vem apregoando
o governo. Em 2020, a expectativa é de
continuar a obter uma receita elevada,
acima de R$ 7,3 bilhões, lembrando que
a estimativa de arrecadação do governo
Bolsonaro com a venda da empresa é de
apenas R$ 12 bilhões.
Outra estatal muito importante para a
sociedade que sofre tentativa de priva-
tização é os Correios. O governo Bolso-
naro apresentou, em 2020, duas opções
para vendêla.
Uma das possibilidades é transformar a
empresa em uma sociedade de econo-
mia mista e ofertar ações dela na Bolsa
de Valores, sem participação do gover-
no.
A outra opção é "desverticalizar" os
serviços prestados pela companhia e
vendê-los separadamente à iniciativa
privada.
Em qualquer das opções, o maior risco da Tabela 1 – Comparativo entre a receita estimada com a venda de
algumas estatais e a capacidade de lucro dessas empresas.
privatização é a falta da garantia da universa-
lização do atendimento postal, ou seja, a falta
de atendimento aos municípios considerados
menos rentáveis pela iniciativa privada. Além
dessas empresas, o governo Bolsonaro ace-
lerou em 2020 o seu programa de parceria de
investimentos (PPI) e autorizou uma lista de
nove estatais e 115 ativos de infraestrutura
que pretende privatizar ou oferecer em con-
cessão no próximo ano.

A agenda entreguista de Bolsonaro inclui o lei-

lão da Companhia Brasileira de Trens Urbanos
(CBTU), Emgea (gestora de ativos), Ceasaminas,
Porto de Vitória (Codesa) e Nuclep (indústria
de componentes relativos a usinas nucleares),
além de estudos para a liquidação da Agên-
cia Brasileira Gestora de Fundos Garantidores
de Garantias (ABGF). Também estão previstos
leilões do 5G e de 24 aeroportos, como os de
Santos Dumont (RJ) e Congonhas (SP).

O governo ainda pretende entregar para em-

presas privadas 16 terminais portuários, seis
rodovias, três ferrovias, oito terminais pes-
queiros, três blocos de óleo de gás, três áreas
de mineração, 24 projetos subnacionais de
saneamento, iluminação pública e resíduos
sólidos e até seis parques e três florestas no
Amazonas.

Este ano de 2020, o governo realizou 27 leilões.

Só em dezembro foram leiloados 6 arrenda-
mentos de terminais portuários e antecipada * Valor estimado pelo governo com futura venda ou arrecadado
a renovação do contrato de concessão de 3 em leilão, conforme o caso.

ferrovias. Essa agenda de privatizações é parte da es-

A estratégia falaciosa das privatizações no Bra-
sil de Bolsonaro e Paulo Guedes pode ser vista
facilmente quando analisamos os números,
mais do que qualquer tentativa de contrapor o
discurso oficial. De fato, quando comparamos
as receitas estimadas produzidas pelas alie-
nações das empresas públicas e comparamos
com as possíveis receitas operacionais das
empresas (Tabela ao lado), é possível perceber
que somente um discurso barato de “inefici-
ência” e uma gestão que sabota internamente
a atuação das empresas mantêm alguma base
para justificar a venda das estatais.
tratégia de desmonte do Estado que Bolso-
naro e Guedes tentam implementar desde
o início do mandato. Alinha-se, assim, à
redução dos investimentos em saúde, edu-
cação e em outros setores fundamentais.
No geral, os argumentos do governo para
privatizar as empresas estatais são a re-
petição de falsas incapacidades gerenciais
e pretensas melhorias concorrenciais na
economia, quando a realidade mostra que
a venda das empresas públicas de áreas
estratégicas resulta em aumento de tari-
fas, precarização na qualidade dos serviços
prestados, desemprego de trabalhadores e
maior dependência aos produtos e serviços
importados.
71
 POLÍTICAS CRIMINAIS
E SEGURANÇA PÚBLICA
CAPÍTULO 10

72
O
AS GESTÕES DESASTROSAS DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E
SEGURANÇA PÚBLICA
Ministério da Justiça – que, logo no iní-
cio do governo de Jair Bolsonaro, teve
incorporada à sua estrutura o antigo
Ministério da Segurança Pública pas-
sando a ser designado por Ministério
da Justiça e Segurança Pública - sempre foi uma
das pastas com maior relevância da Esplanada.
Sob Bolsonaro, o Ministério perdeu protagonismo
e credibilidade, mesmo no período em que esteve
chefiado por uma figura “ilustre”, Sergio Moro.
O juiz-ministro, prisioneiro da sua agenda “la-
vajatista” e dos compromissos que o presidente
assumiu com a “bancada da bala”, teve sua gestão
marcada pela omissão em relação às inúmeras
denúncias contra os filhos e assessores de Jair
Bolsonaro e aos atos anti-democracia que incluí-
ram ataques diretos ao Supremo Tribunal Federal
e ao Congresso Nacional, pedindo o fechamento
de ambos, além da apologia à tortura e brados
pela volta da ditadura.
Sob o comando de Moro, o Ministério da Justiça e
Segurança Pública deixou de realizar debates am-
plos e programáticos, com a participação da so-
ciedade, acerca dos rumos da segurança pública
para o enfrentamento da violência e criminalida-
de, cedendo espaço à sanha populista, ideológica
e eleitoreira expressadas nos arroubos inconse-
quentes de Bolsonaro. As medidas propostas para
a área foram pífias.
O pacote anticrime de Moro, apresentado ao Con-
gresso, trazia o gene da lava jato e pouco tratava
de Segurança Pública.
Como resultado da parca política de segurança,
houve aumento significativo nas taxas de homi-
cídios em 2020, o crescimento vertiginoso dos
índices de violência doméstica durante a pande-
mia, recrudescimento da violência no campo e
contra negros e grupos de minorias, traduzindo
uma política de governo orientada pelo ódio e
incivilidade, muitas vezes expressadas e incitadas
publicamente por Bolsonaro.
Foram sucessivas as intervenções indevidas do
presidente na atuação da pasta. Bolsonaro re-
quisitou relatórios extraoficiais à Polícia Federal
com o fito de obter informações privilegiadas de
eventuais ações e investigações do órgão, visando
proteger a si, sua família e seus correli-
gionários. A bancada do PT representou
ao Ministério Público para que fossem
investigados o ministro, o diretor geral da
PF e o presidente por quebra de sigilo e
abuso de poder.
As tentativas, por parte do presidente, de
nomeação de aliados para superinten-
dências estaduais da Polícia Federal pre-
cipitaram a saída de Moro do Ministério
da Justiça. Na ocasião, o ex-juiz acusou
Bolsonaro de interferência na nomeação
de delegados para atender a interesses
pessoais. O episódio foi denunciado pelo
Partido dos Trabalhadores e foi determi-
nada, pelo STF, a abertura de inquérito
para investigação dos fatos.
Em mais uma investida contra princípios
republicados, Bolsonaro tentou nomear,
para o cargo de diretor geral da Abin, o
delegado de Polícia Federal Alexandre
Ramagem. O desvio de finalidade e inob-
servância dos princípios constitucionais
da impessoalidade, da moralidade e do
interesse público eram tão evidentes que
o STF, em decisão liminar dada pelo mi-
nistro Alexandre de Moraes, suspendeu a
nomeação de Ramagem.
Lamentavelmente, para além do enfra-
quecimento das instituições e do des-
monte observado em todas as áreas deste
governo, a imagem do Ministério da Justi-
ça vem perdendo credibilidade na relação
com os demais órgãos de segurança pú-
blica dos entes federados, especialmente
porque fica cada vez mais evidente que as
ações da pauta estão fortemente captu-
radas para atender objetivos escusos da
família Bolsonaro.
A atuação do substituto de Sergio Moro
no cargo, André Mendonça, também não
se pauta pela observância e cumprimento
dos princípios constitucionais e apreço
Martin Vorel - LibreShot
à democracia. Num episódio marcante
de sua gestão, Mendonça movimentou o
aparato do Ministério para o monitora-
mento e produção de relatórios contra
servidores públicos e segmentos con-
trários ao governo, episódio que ficou
73
 conhecido como “dossiê antifascista”. O caso foi
levado ao STF. Em votação com placar de 9 a 1, os
ministros condenaram o uso de órgãos de inteli-
gência para fins alheios às finalidades da pasta e
para atender a interesses próprios. Os documen-
tos sigilosos foram produzidos pela Secretária de
Operações Integradas (SEOPI) e, na ocasião, foram
monitorados 579 servidores federais, estaduais e
professores.
O retorno do crescimento nos índices de mortes
violentas intencionais
No primeiro ano de governo Bolsonaro, Sergio
Moro costumava propagandear a redução nos
números de mortes violentas intencionais sem, no
entanto, indicar as iniciativas do governo federal
que efetivamente tivessem sido determinantes
para a festejada redução. O que se tinha à ocasião,
por óbvio, eram resultados decorrentes de esfor-
ços realizados pelos entes federados no enfren-
tamento à criminalidade violenta, e, apesar desse
esforço, já no final do ano de 2019, os índices de
homicídios iniciavam nova trajetória de alta, con-
trariando queda observada desde 2018.
Segundo o Anuário do Fórum Brasileiro de Segu-
rança Pública, no primeiro semestre de 2020, os ín-
dices de mortes violentas intencionais voltaram a
crescer no Brasil. No acumulado do semestre a que
se faz referência, houve um crescimento de 7,1%.
Houve, portanto, 25.712 mortes nos seis primeiros
74
meses de 2020, contra 24.012 no mesmo
período de 2019. Isso sem contar que
em 2019 já havia registros de redução na
casa de 17,7% em relação a 2018. O cres-
cimento apontado nos dados ocorreu
em vários Estados das cinco regiões. Ou
seja, a ausência de políticas de segu-
rança pública do atual governo não nos
permitiu avançar na redução sistemática
desses números, deixando para trás uma
oportunidade valiosa de poupar vidas
e converter a queda observada em uma
tendência.
Uso excessivo das forças policiais e a
violência institucional
O publicamente conhecido posiciona-
mento de Bolsonaro e seu governo em
relação aos padrões de atuação das
polícias no Brasil indicam sua predileção
por comportamentos agressivos com
a adoção do uso da força e letalidade.
Portanto, levando em conta as constan-
tes incitações do presidente, reverbera-
das por parlamentares alinhados com
o governo, não há surpresa no fato de
termos tantas mortes decorrentes de in-
tervenção policial. O presidente, afinal, é
um histórico defensor das milícias e dos
grupos de extermínio.
O estímulo ao enfrentamento bélico,
via de regra, é uma prática deliberada-
mente produzida dentro das instituições
policiais com a chancela dos gestores
ou sem o controle destes. Esse modelo
ganhou robustez no governo Bolsona-
ro e asfixia métodos racionais como os
trabalhos de inteligência e investigações
científica das polícias. Não por acaso, o
Brasil registra o absurdo número apro-
ximado de 6 mil mortes decorrentes de
confrontos policiais por ano. Esse nú-
mero supera em muitas vezes o obser-
vado em países com população e forças
policiais muito maiores do que as brasi-
leiras.
Nesse contexto, de um lado, o número
de mortes causadas por intervenção
policial registrou significativo aumento.
Foram 6.357 homicídios por intervenções
da polícia em 2019, o sexto ano conse-
cutivo de crescimento neste dado, revelando
uma tendência. Durante todo o ano passado,
os policiais brasileiros foram responsáveis por
13,3% das mortes violentas em todo o país.
Os negros são a população mais vitimada pe-
los confrontos bélicos com a polícia.
Enquanto a taxa de brancos assassinados por
policiais é de 1,5 a cada 100 mil habitantes, na
população negra essa taxa é de 4,2.
De outro lado, o número de morte de policiais
também registrou aumento, particularmente
no primeiro semestre de 2020. Para se ter uma
ideia, entre janeiro e junho, 172 policiais
foram assassinados no Brasil, sendo 62 em
serviço e 110 fora de serviço.
No mesmo período de 2019, foram 92, o que
revela um incremento de 19,6%.
Flexibilização do Estatuto do Desarmamento
e a política genocida de armar a
população
Uma das propostas do então candidato à
presidência, Jair Bolsonaro, era a reformula-
ção do estatuto do desarmamento, medida
que, segundo ele, garantiria aos cidadãos o
direito à legítima defesa. De acordo com os
dados estatísticos apresentados pelo anuá-
rio brasileiro de Segurança Pública de 2020,
verifica-se que a cada 10 mortes violentas
intencionais, 07 são causadas por armas de
fogo, conforme quadro abaixo:
Uma das obsessões do presidente Jair
Bolsonaro é a flexibilização do estatuto do
desarmamento de modo a permitir o acesso
cada vez mais fácil às armas de fogo pela
população. Essa intenção foi materializada
nas Portarias COLOG nº46, 60 e 61, de março
de 2020, e na Instrução Normativa 174-DG/
PF. A alteração promovida na legislação per-
mitiu a redução dos mecanismos de fiscali-
zação, aumentou a quantidade de armas e
munições e favoreceu determinados grupos
como os chamados Caçadores, Atiradores e
Colecionadores – CACs, o que provocou um
explosivo aumento de 120,3% no número de
registros de arma de fogo ao longo do ano
de 2020.
Além de afrouxar as regras para facilitar
o acesso às armas, o governo Bolsonaro
também tem enfraquecido a regulamenta-
ção para rastrear a circulação de armas e
75
 munições. Recentemente, o ministro da Justiça e
Segurança Pública, André Mendonça, revogou parte
da portaria que obrigava que determinados arma-
mentos de porte dos agentes da Força Nacional
tivessem elementos de identificação sigilosa, o que
significa um obstáculo a mais no rastreio das armas
e o seu uso indevido em confrontos letais contra
cidadãos.
mento de penas para diversos tipos de
delitos. Bolsonaro é um defensor desse
recrudescimento, tanto que tinha como
mote de campanha a mudança na legis-
lação para evitar a progressão de regime
na execução da pena, o que estenderia
ainda mais o tempo de permanência do
sentenciado no sistema.

O Partido dos Trabalhadores e demais partidos de

oposição questionaram no Supremo Tribunal Fede-
ral as medidas de degradação do Estatuto do De-
sarmamento e o descontrole deliberado do governo
na proliferação de armas de fogo no Brasil.

Sistema carcerário
O Ministério da Justiça e Segurança Pública tem um
papel fundamental na articulação e compilação
dos dados referentes ao sistema carcerário nacio-
nal a partir do levantamento feito pelas secretarias
estaduais de Administração Prisional. Sem essa
articulação, não há garantia de fidedignidade nos
números, fundamental para elaboração de políticas
públicas para o sistema.

Neste sentido, observa-se que o Ministério tem fa-

lhado em conseguir manter atualizado os números
sobre a realidade do sistema prisional brasileiro.

Os últimos dados produzidos pelo Departamen-

to Penitenciário Nacional (Depen) são referentes
ao primeiro semestre de 2019 e apontam que, em
junho de 2019, o país já contava com 731 mil pesso-
as encarceradas nas unidades prisionais em todo o
Brasil. Se considerado o número de pessoas presas
em regime aberto (27 mil) e em delegacias (14 mil),
esse número salta para 773 mil pessoas.

Os dados mais atualizados disponíveis sobre o

sistema prisional são do Banco Nacional de Moni-
toramento de Prisões (BNMP), ligado ao Conselho
Nacional de Justiça (CNJ). De acordo com o banco,
o número de pessoas presas no Brasil, em fevereiro
de 2020, era de 862.292. Esse sistema é uma ferra-
menta integrada ao trabalho cotidiano dos tribu-
nais e alimentado por juízes e servidores do Poder
Judiciário, em todo o país, a partir da compilação
dos dados gerados pelas informações relativas à
execução penal e à qualificação da pessoa presa.

No que se refere a políticas voltadas para o sistema

Pixabay

prisional, amontoam-se propostas legislativas no

sentido de encarcerar ainda mais, com o endureci-
76
 RELAÇÕES EXTERIORES
CAPÍTULO 11

77
 O
mundo ainda não sabia, mas 2020
– quiçá o século XXI – teve início
em meados de dezembro de 2019,
na cidade chinesa de Wuhan, onde
se registraram os primeiros casos
de contaminação pelo novo coronavírus (Sar-
s-Cov-2). Em 31 de dezembro de 2019, a China
emitiu alerta à Organização Mundial da Saú-
de (OMS). Em 11 de março de 2020, diante da
propagação global da doença, a OMS declarou
a pandemia que se revelaria a maior crise sa-
nitária mundial enfrentada pela humanidade
nos últimos 100 anos.
O vírus não tem nacionalidade, cor, ideologia,
não respeita fronteiras. Desafio transnacional
dessa magnitude exige, por óbvio, a concerta-
ção política da comunidade internacional em
foros multilaterais, a conjugação de esforços
(científicos, logísticos, sanitários e outros) por
todos os países afetados.
Arte: Dario Castillejos
Contrariando, porém, a racionalidade, Chefes
de Estado como Donald Trump e, por mime-
tismo, Jair Bolsonaro, optaram por seguir o
irracional caminho do negacionismo científico,
78
do revisionismo histórico, da xenofobia, do
nacionalismo, das teorias da conspiração e
da divulgação de fake news. A diplomacia
brasileira que, desde o início do mandato
de Bolsonaro, já optara pelo alinhamento
automático aos EUA, sucumbiu peremptoria-
mente ao governo Trump, não se limitando
a aplaudir seus passos, mas seguindo-os,
imitando bravatas e posicionamentos que
não correspondem aos reais e pragmáticos
interesses do país. Tudo isso com a expecta-
tiva de que o Brasil obtivesse vantagens que,
até aqui, jamais se concretizaram.
Não foram poucos os episódios em que, para
agradar aos EUA ou por puro sectarismo,
representantes do Estado brasileiro hostili-
zaram países como China, Argentina
– nossos primeiro e terceiro maiores parcei-
ros comerciais – e França. Às patacoadas do
presidente da República e de seu chanceler,
somam-se a bazófia e os desatinos do filho
‘03’, Eduardo Bolsonaro, presidente da Co-
missão de Relações Exteriores e de Defesa
Nacional da Câmara dos Deputados – com
mandato estendido graças à pandemia – e
ex-postulante ao cargo de Embaixador do
Brasil em Washington. Fracassou a tentativa
de nepotismo em nível internacional, mas
não arrefeceu o animus injuriante e beli-
gerante do clã Bolsonaro nem seus efeitos
deletérios.
O país passou a ostentar a imagem de nação
que desrespeita minorias, desdenha da ciên-
cia e do meio ambiente. Aos poucos, a credi-
bilidade externa do Brasil foi-se dissolvendo
em constrangimento, seguido pela perda de
mercados e fuga de investimentos. Um “pária
com orgulho”, como viria a declarar ninguém
menos que o ministro das Relações Exterio-
res, Ernesto Araújo.
A condução obscurantista de Araújo – diplo-
mata inexperiente indicado ao posto pelo
youtuber Olavo de Carvalho – tem causado
perplexidade na comunidade internacional e
seu isolamento dos próprios pares no Itama-
raty. A diplomacia brasileira sofreu, nos últi-
mos dois anos, a maior ruptura de sua his-
tória com a flagrante corrosão dos princípios
que moldaram a trajetória do Itamaraty, uma
das mais tradicionais e respeitadas instituições do
Estado brasileiro. Princípios consuetudinários e
positivados, alguns deles assentados na Constitui-
ção Federal desde 1988.
Sob o comando bolsonarista, a política externa
avançou contra os direitos das mulheres e da po-
pulação LGBTQIA+; atacou o multilateralismo; re-
tirou o país do Pacto de Migração da Organização
das Nações Unidas (ONU); renunciou à condição
de país emergente na OMC (Organização Mundial
do Comércio) sem qualquer garantia em troca;
aderiu tardia e precariamente à aliança mundial
COVAX, coordenada pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) para, no enfrentamento da pande-
mia, acelerar a produção de uma vacina; ameaçou
desligar-se da OMS; ensaiou envolver-se em con-
flito armado com a Venezuela. Neste momento,
o país enfrenta a sua maior crise de reputação
global, turvado e aparvalhado sobretudo pela
abordagem negacionista e anticientífica ao lidar
com a pandemia.
A relação com a Venezuela foi das mais afetadas.
O país vizinho enfrenta profunda crise político-
-institucional, desdobrada em desordem econô-
mica agravada por gravosos embargos comerciais
impostos pelos Estados Unidos. Mais de 5 milhões
de venezuelanos já emigraram, inclusive em busca
de refúgio. Desde dezembro de 2016, o país está
suspenso do exercício de membro do Mercosul.
Já em 2017, ainda no governo de Michel Temer,
iniciou-se o processo de rompimento das rela-
ções diplomáticas entre Brasil e Venezuela, o que
está longe de justificar a decisão do Itamaraty de
expulsar os diplomatas venezuelanos que ain-
da atuavam no Brasil em abril de 2020, portanto
em plena pandemia. A expulsão foi suspensa
em maio, por decisão do STF em sede de habeas
corpus impetrado pelo deputado Paulo
Pimenta, com validade enquanto durar
o estado de calamidade pública e emer-
gência sanitária reconhecido pelo Con-
gresso Nacional.
A mesma sorte não tiveram refugiados
venezuelanos. A Portaria Interministerial
nº 340 1, dispondo sobre restrições ao in-
gresso de estrangeiros no país durante a
pandemia, dispensa tratamento discrimi-
natório a migrantes – refugiados ou não
– procedentes da Venezuela, impedindo-
-lhes a entrada em território brasileiro,
embora o próprio governo reconheça a
crise humanitária naquele país. Aliás, a
Venezuela foi alvo da primeira medida de
restrição migratória, já em 17 de março,
somente depois estendida a outros paí-
ses vizinhos.
A portaria constitui flagrante ofensa à
Constituição e a normas de proteção in-
ternacional dos Direitos Humanos incor-
poradas ao ordenamento jurídico pátrio.
Historicamente, em especial a partir de
1988, os governos brasileiros democráti-
cos sempre demonstraram grande preo-
cupação com a integração sul-americana.
Todos os ex-presidentes de alguma forma
priorizaram o processo de integração
regional, mediante políticas formuladas
com base nos princípios constitucionais
da não intervenção e da autodetermi-
nação dos povos. Trata-se de política de
Estado, conforme prescreve a Carta Mag-
na ao determinar que o Brasil “buscará
a integração econômica, política, social
e cultural dos povos da América Latina,
visando à formação de uma comunidade
latino-americana de nações” (CF, art. 4º,
parágrafo único).
Agora, pela primeira vez, não por acaso,
a Política Nacional de Defesa submetida
pelo Executivo ao Congresso, em julho de
2020, conjectura, no item 2.3.10, a possi-
bilidade de o Brasil “ver-se motivado a
Deposit Photos
1 Disponível em: https://www.in.gov.br/en/
web/dou/-/portaria-n-340-de-30-de-junho-
-de-2020-
264247695).
79
 contribuir para a solução de eventuais controvér-
sias regionais ou mesmo para defender seus inte-
resses” em caso de “conflitos armados na América
do Sul”. Tais orientações contrariam mais de um
século de relacionamento pacífico e cooperativo do
Brasil com os nossos vizinhos e abrem precedentes
alarmantes.
Também não por acaso, o Exército brasileiro reali-
zou a Operação Amazônia, exercício de simulação
de guerra fronteiriça que teve lugar naquela região
entre os dias 8 e 22 de setembro de 2020. Ao custo
de R$ 6 milhões somente em combustível, horas
de voo e transporte, houve lançamento de mísseis
com alcance de 80 km, disparo de foguetes Astros,
emprego de viaturas, aeronaves, embarcações re-
gionais, ferry-boats, peças de artilharia, canhões,
metralhadoras, ‘obuseiro’, entre outros.
O período do exercício militar coincidiu com a visita
do Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, que
esteve em Roraima em 18 de setembro, acompanha-
do pelo ministro Ernesto Araújo. O chanceler norte-
-americano passou ainda por outros países, todos
em fronteira com a Venezuela: Colômbia, Guiana e
Suriname. A presença de Pompeo na fronteira do
Brasil com a Venezuela, em especial nas instalações
da Operação Acolhida (a refugiados venezuelanos),
recebeu críticas de ex-chanceleres brasileiros que
reconheceram na visita “provocação e hostilidade
contra uma nação vizinha”, bem como de nossos
parlamentares.
Convém lembrar que, em março de 2020, os De-
partamentos de Justiça e de Estado dos EUA prati-
camente colocaram a prêmio a cabeça de Nicolás
Maduro, ao apresentarem contra ele acusações
formais por narcoterrorismo e oferecerem a recom-
pensa de US$ 15 milhões pela captura do presiden-
te venezuelano.
O Partido dos Trabalhadores apresentou Requeri-
mento de Informação ao Ministério da Defesa sobre
a Operação Amazônia e Moção de Repúdio à visita
de Mike Pompeo naquele contexto.
A manifestação de ex-chanceleres em setembro de
2020 não foi a primeira. Em maio do mesmo ano,
Celso Amorim, Fernando Henrique Cardoso, Aloysio
Nunes Ferreira, Celso Lafer, Francisco Rezek, José
Serra, Rubens Ricupero e Hussein Kalout assinaram
artigo intitulado “A reconstrução da política externa
brasileira”, publicado na Folha de São Paulo, em que
80
alertavam para o descompasso entre
os ditames constitucionais e a “anti-
-diplomacia” característica da gestão
Bolsonaro Outro desafeto dos EUA que
passou a sentir o peso do alinhamento
de Brasília com Washington foi Cuba.
Já em 2019, o Brasil cedeu às pressões
norte-americanas e, rompendo tradi-
ção de 27 anos, não condenou na ONU
o embargo à ‘ilha’. O voto brasileiro
contrariou o posicionamento históri-
co do Itamaraty de condenar medidas
unilaterais econômicas contra países,
vetadas pela legislação internacional
e pelas Nações Unidas. Na ocasião, o
Embaixador brasileiro na ONU, Mauro
Vieira, advertiu, em vão, que aquele
voto poderia vir a prejudicar interesses
brasileiros se, eventualmente, forem
propostas sanções econômicas contra
o Brasil devido à política ambiental na
Amazônia. O alerta foi solenemente
ignorado pelo Itamaraty.
No total, foram 187 votos a favor da re-
solução que condena o embargo ame-
ricano a Cuba, que já dura 50 anos, e
apenas três votos contra a condenação:
EUA, Israel e Brasil. A resolução contou
com o voto até mesmo da Guatemala,
único país que, seguindo os EUA, trans-
feriu sua embaixada em Israel de Tel
Aviv para Jerusalém. Aliás, a transferên-
cia da Embaixada do Brasil para Jerusa-
lém era outra promessa de Bolsonaro a
Trump – essa ainda não cumprida.
Às servis deferências de Bolsonaro e
entourage, o governo norte-americano
responde com indiferença. Trump rei-
vindicou a presidência do Banco Inte-
ramericano de Desenvolvimento (BID),
vaga pleiteada pelo Brasil. A iniciativa
do presidente americano ofende uma
regra não escrita na história dos orga-
nismos multilaterais. Desde 1958, o BID
é presidido por um latino-americano,
da mesma forma que a presidência do
Banco Mundial cabe a um americano
e a do FMI, a um europeu. Jamais os
EUA haviam sequer disputado a vaga.
Enquanto Ernesto Araújo bateu con-
tinência, afirmando que “recebeu positivamente”
a reivindicação dos EUA, cinco ex-presidentes de
países da região protestaram.
Nunca o Itamaraty atuou de forma tão ideologizada
e subserviente. Soberania e submissão são inconci-
liáveis.
A eleição do democrata Joe Biden para a Presidên-
cia dos EUA delegou à derrota de Donald Trump a
missão de ilustrar seus asseclas Jair Bolsonaro e
Ernesto Araújo com a lição de John Foster Dulles:
“Um país não tem amigos, tem interesses”.
Bolsonaro apostou no devaneio da suposta ami-
zade que manteria com Trump, em detrimento da
realpolitik. Em derradeiro ato de apoio ao republi-
cano, endossou infundadas acusações trumpistas
de fraude nas eleições dos EUA, ou seja, atacou
a democracia norte-americana. Não satisfeito, o
“Trump dos Trópicos” tentou justificar os ataques
ao Capitólio ocorridos em 6 de janeiro de 2021 –
data trágica que entrou para história americana ao
lado do 11 de setembro de 2001 – com o argumen-
to da falta de transparência no processo eleitoral
americano.
Bolsonaro deveria escolher melhor suas amiza-
des, conquanto imaginárias. Donald Trump iniciou
o último ano de mandato sofrendo impeachment
na Câmara dos Deputados e sendo absolvido pelo
Senado em fevereiro de 2020. Em 13 de janeiro de
2021, a apenas uma semana do último dia de Trump
no poder, a Câmara aprovou o segundo impeach-
ment do ainda presidente, desta vez por insuflar
atos de insurreição que culminaram na invasão ao
Capitólio.
Antes mesmo de desacreditar a vitória de Biden,
Bolsonaro já havia cometido gafe diplomática de
igual ou maior magnitude.
Ao comentar fala em que o então candidato demo-
crata cogitou impor sanções econômicas ao Brasil
em resposta à política ambiental brasileira e ao
desmatamento e queimadas na Amazônia, o presi-
dente desafiou a maior potência nuclear e militar
do planeta com mais uma bravata vazia e insana:
“Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora”.
Além de indicar que o Itamaraty deveria ter ouvido
o alerta de nosso Embaixador na ONU, o vexatório
episódio prova, mais uma vez, que o “presidente-
-capitão” não entende de política exter-
na, geopolítica, diplomacia, protocolo,
cerimonial, defesa nacional, artilharia,
direito constitucional, direito internacio-
nal, direitos humanos, história, geografia,
economia, química, física...
Se a disposição de Jair Bolsonaro para
envergonhar o Brasil parece não ter limi-
tes, talvez o Direito Internacional possa
impingir-lhe um fim. Em 16 de dezembro
de 2020, o escritório da procuradoria do
Tribunal Penal Internacional (TPI) infor-
mou à Comissão Arns e ao Coletivo de
Advocacia em Direitos Humanos (CADHu)
que a corte aceitou analisar preliminar-
mente a denúncia contra Bolsonaro, feita
pelas duas entidades em novembro de
2019, pela qual o acusam de incitar o
genocídio e promover ataques sistemáti-
cos contra os povos indígenas do Brasil.
É a primeira vez que o TPI realiza a análi-
se de jurisdição em denúncia contra um
presidente da República brasileiro.
Caso seja aberto inquérito e se confir-
mem os fatos, Bolsonaro pode ir a jul-
gamento e ser condenado por crimes
previstos no Estatuto de Roma. Seria um
fim merecido para um mandatário que
enaltece a tortura, desdenha da vida e
cuja “especialidade é matar”.
Núcleo do PT Lisboa realiza ato contra o governo Bolsonaro
Victor Vila Real/PT Lisboa
81
 GÊNERO E RAÇA
CAPÍTULO 12

82
D
DESMONTE DAS POLÍTICAS DE GÊNERO
iferentemente da dança das cadeiras
observada em outros ministérios, à frente
do Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos permanece Damares Al-
ves, empossada em 02 de janeiro de 2019.
A ministra tem um discurso articulado e inteligível,
carregado de simbolismos e de suas concepções re-
ligiosas e ideológicas. No primeiro ano de governo,
episódios como a declaração de que “menino veste
azul e menina veste rosa”1 e a divulgação do vídeo
no qual ela relata que, na infância, fora vítima
de abusos frequentes e que, em razão deles, teria
subido em uma goiabeira para cometer suicídio,
contudo, tendo visto a figura de Jesus, foi conven-
cida por ele a desistir,2 levaram Damares a ser vista
como uma figura pitoresca, recreativa, lida como
alguém que talvez não devesse ser levada a sério e
que possivelmente não sobreviveria no posto por
muito tempo.
O segundo ano do governo Bolsonaro mostrou
que a impressão inicial, porém, estava equivocada.
Damares é um esteio, é uma das principais repre-
sentantes da ala ideológica do governo e, junto
com Bolsonaro, vem travando uma guerra à políti-
ca de igualdade de gênero. A postura da ministra,
que assume sua origem religiosa e de vinculação à
ideologia que combate o feminismo e que conside-
ra a homossexualidade como patologia, vem sendo
do desvirtuamento da política de enfrentamento à
violência contra a mulher, na medida em que re-
toma os estereótipos de submissão feminina ao
espaço doméstico e de uma condição de fragilidade
da mulher.
No Dia Internacional para Eliminação da Violência
Contra a Mulher, celebrado em 25 de novembro, a
ministra fez uma transmissão ao vivo em sua conta
na rede social Instagram e, fantasiada de confeitei-
ra, vestida na cor rosa, num cenário também rosa,
enquanto decorava um bolo com chantilly rosa,
repetia o número de whatsapp da entidade que
atende vítimas de violência de gênero e estimula-
va mulheres vítimas de violência a buscarem sua
1 Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noti-
cia/2019/01/03/em-video-damares-alves-diz-que-nova-era-
comecou-no-brasil-meninos-vestem-azul-e-meninas-ves-
tem-rosa.ghtml. Acesso em 06 de janeiro de 2021. anteriores, bem como dificultando o
2 Disponível em: https://catracalivre.com.br/cidadania/mi-
nistra-damares-garante-que-conversou-com-jesus-numpe-
de-goiaba/. Acesso em 06 de janeiro de 2021. das políticas públicas nessa área.
independência financeira fazendo bolos,
roupas ou trabalhando com maquiagem.
Uma abordagem completamente inade-
quada para a seriedade do tema, espe-
cialmente considerando a gravidade dos
dados disponíveis: no Brasil, uma mulher
é assassinada a cada duas horas (dados
da OMS); um estupro ocorre a cada onze
minutos (conforme o FBSP 2017) e uma
mulher é vítima de feminicídio a cada
sete dias, de acordo com os dados divul-
gados pelo Instituto de Segurança Públi-
ca - ISP do Rio de Janeiro. O aumento do
feminicídio e dos altos índices de violên-
cia contra mulheres coloca o Brasil em
5º lugar entre os países que mais matam
mulheres.
O envolvimento pessoal de Damares
na tentativa de impedir a realização de
aborto legal por uma criança, de apenas
10 anos de idade, vítima de reiterados
abusos sexuais cometidos por seu tio,
é apenas um dos exemplos que eviden-
ciam a determinação da ministra na im-
plementação de pautas ultraconservado-
ras e, com isso, desmonte das conquistas
progressistas nas áreas que comanda,
inclusive com a destruição de políticas
públicas voltadas à equidade de gênero.
No tema da violência sexual, Dama-
res adota uma postura aparentemente
infantilizada, entre falas e gestos bestia-
lizados, mas que esconde uma obscura
pretensão de sonegação e condescen-
dência com a misoginia violenta que
acomete as meninas, adolescentes e
mulheres deste país.
Desde que assumiu Ministério da Mulher,
da Família e dos Direitos Humanos vem
reduzindo o orçamento do órgão. Em
2020, visando esconder o desmonte das
políticas públicas e o corte de recursos
do Ministério, foram mudados os nomes
das ações até então existentes, atravan-
Ronnie Chua/Getty Images
cando, assim, a comparação quanto ao
aporte de recursos em relação a anos
exercício do controle social pelas enti-
dades que realizam o acompanhamento
83
 Ainda sobre o corte de recursos, a proposta orça-
mentária, enviada pelo governo para o ano de 2020,
praticamente ignorou as ações setoriais. Para a Casa
da Mulher Brasileira e para os Centros de
Atendimento às Mulheres foi destinado apenas
R$ 2 milhões e para a Política de Igualdade e En-
frentamento à Violência contra a Mulher nada foi
previsto. Foram as emendas incluídas no Congresso
que garantiram R$ 72 milhões para a primeira e R$
24 milhões para o segundo, respectivamente. Para
o ano de 2021, conforme o PLOA, a estimativa é de
destinação ainda menor de recursos. Para a Casa da
Mulher Brasileira e para os Centros de Atendimento
às Mulheres, por exemplo, a previsão é de metade
do montante autorizado no ano anterior.
O protagonismo na atuação pelo combate à violên-
cia contra as mulheres durante a pandemia, período
no qual se observou um aumento significativo de
ocorrências, foi do Congresso Nacional. A bancada
do PT na Câmara atuou fortemente neste sentido,
merecendo destaque a aprovação do PL nº1.291/20
de autoria da Dep. Maria do Rosário, sancionado
sem qualquer veto (Lei nº14.022/2020), e que, entre
outras medidas importantes, assegura a continuida-
de de atendimento às mulheres vítimas de violência
doméstica e familiar, bem como às crianças, adoles-
centes, idosos e pessoas com deficiência vítimas de
violência, durante o período de vigência do estado
de emergência decorrente da pandemia no novo
coronavírus.
Política do preconceito racial
Muito antes de ser presidente, Bolsonaro já expli-
citava o seu racismo sem qualquer melindre. Ainda
era deputado federal quando, em abril de 2017,
proferiu uma palestra no Clube Hebraica, em
Laranjeiras, zona sul do Rio de Janeiro e, na ocasião,
falou: “Fui num quilombo. O afrodescendente mais
leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu
acho que nem para procriador ele serve mais. Mais
de R$ 1 bilhão por ano é gastado com eles”.
Em razão desses comentários, o MPF (Ministério
Público Federal) ajuizou ação civil pública contra o
deputado por danos morais às comunidades qui-
Leonardo Leon/Mídia Ninja
lombolas e à população negra.
Dia 15 de maio de 2019, quando Bolsonaro já era
presidente, o Tribunal Região Federal da 2ª Região
declarou-o inocente, aceitando o argumento de que
ele apenas usara “piadas e bom humor”. Não faltam
84
na história do Brasil exemplos de como
a lei e a ordem não são as mesmas para
negros e brancos.
Aos gritos de “mito, mito!”, o então
deputado afirmou, em outra oportuni-
dade, que não haveria um centímetro de
demarcação de terra indígena e quilom-
bola, caso fosse eleito presidente.
Mas não se tratava apenas de um discur-
so, uma “piada e bom humor”: o racismo
de Bolsonaro se tornou política pública
colocada em prática logo no seu pri-
meiro ano de governo. As promessas de
candidato, nesse caso, estão sendo cum-
pridas. O apoio federal a comunidades
quilombolas vem diminuindo desde as
políticas de austeridade fiscal adotadas
pelo governo de Michel Temer, quando a
garantia de direitos históricos foi amea-
çada pela PEC do teto de gastos.
Em 2019, o governo federal cortou ainda
mais a verba destinada para comunida-
des quilombolas. Isso prejudica políti-
cas públicas que auxiliam na garantia
da titulação das terras ocupadas e na
sustentabilidade e qualidade de vida
dos quilombos. Houve uma redução
substancial do financiamento ao pro-
grama de Enfrentamento ao Racismo e
Promoção da Igualdade Racial: em 2019,
a verba foi cerca de R$ 15 milhões, valor
70% menor do que os R$ 46 milhões de
2016.
No mesmo ano, o governo federal des-
continuou o programa Juventude Viva,
destaque em prevenção e combate ao
homicídio de jovens - cuja maioria dos
casos envolve negros - e também deixou
de implementar a Política Nacional de
Saúde Integral da População Negra.
Ainda em 2019, a Secretaria Nacional
de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial executou R$ 800 mil, contra R$ 5
milhões em 2012. Bolsonaro extinguiu o
Comitê de Articulação e Monitoramen-
to do Plano Nacional de Promoção da
Igualdade Racial.
Com o corte de gastos, a Fundação Palmares execu-
tou R$ 837,7 mil em 2019, contra R$ 6,5 milhões em
políticas do órgão em 2012. Até setembro de 2020,
de acordo com a própria fundação, menos de 50%
dos recursos disponíveis para 2020 haviam sido gas-
tos.
Em junho de 2020 o ex-ministro da Educação,
Abraham Weintraub, por meio da Portaria nº
545/2020, revogou a Portaria normativa nº 13/2016
que trata das ações afirmativas na Pós-Graduação
em Instituições de Ensino Federal.
A obrigatoriedade de ações afirmativas nos cursos
de pós-graduação começou a colorir os cursos de
pós, até então frequentados quase que exclusiva-
mente por brancos. Bolsonaro, em um gesto mes-
quinho, retira um direito recém conquistado, au-
mentando o fosso que separa brancos e negros no
nosso país.
Na noite do dia 19 de novembro, véspera do Dia da
Consciência Negra, uma morte abalou o Brasil, mas
não o presidente. As declarações do presidente da
República e de seu vice com referência ao assas-
sinato de um soldador negro no estacionamento
de uma unidade do Carrefour, em Porto Alegre, por
dois seguranças brancos do estabelecimento leva-
ram a ONU a cobrar do governo Bolsonaro posicio-
namento contra "racismo persistente”.
Após o assassinato, o presidente Jair Bolsonaro
não falou diretamente sobre o caso, mas em seu
discurso na cúpula do G20, três dias após o ocorri-
do, disse que o Brasil é um país miscigenado e que
enxerga "todos com as mesmas cores: verde e ama-
relo”. Já o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB)
afirmou que, no Brasil, não existe racismo.
O Partido dos Trabalhadores requereu a constitui-
ção de Comissão Externa para acompanhar e fiscali-
zar as investigações.
Na sequência de atos do governo contra as estru-
turas de diálogo institucional, a ministra Damares
Alves anulou 14 mandatos, entre titulares e suplen-
tes, do Conselho Nacional de Promoção da Igualda-
de Racial (CNPIR) que eram ocupados por membros
indicados pelos movimentos negros.
As entidades que foram excluídas do Conselho
faziam parte, “coincidentemente”, da Coalizão Negra
por Direitos, coletivo que protocolou um pedido de
impeachment contra o presidente em razão da mor-
te de mais de 100 mil pessoas vítimas da Covid-19.
A Coalizão é um movimento composto
por mais de 100 outras entidades que
representam o movimento negro em
diversos estados do país.
A nomeação, por Bolsonaro, do jornalista
Sérgio Nascimento de Camargo para a
presidência da Fundação Cultural Palma-
res - órgão responsável pela promoção
da cultura afro-brasileira - é mais uma
afronta à luta histórica do combate ao
racismo e pela igualdade social no país.
Sua posse chegou a ser suspensa por
decisão judicial, em razão de sua postu-
ra que nega a existência de racismo no
Brasil, defende o fim do feriado da Cons-
ciência Negra, critica manifestações cul-
turais ligadas à população negra e ataca
diversas personalidades negras, a quem
sugere que sejam "mandadas para a Áfri-
ca”. Escreveu que a escravidão foi "terrí-
vel, mas benéfica para os descendentes"
porque negros viveriam em condições
melhores no Brasil do que na África.
Artistas negros, consagrados nacional
e internacionalmente, que deveriam
ser promovidos pela Fundação, são
atacados, de forma grotesca e vil, por
Camargo. Disse ser favorável a que "al-
guns pretos sejam levados à força para a
África", e cita Lázaro Ramos e Taís Araújo
(classificada de "rainha do vitimismo")
como exemplo. "Sugiro o Congo como
destino. E que fiquem por lá!". O sambis-
ta Martinho da Vila é outro que, na visão
de Camargo, deveria "ser mandado para
o Congo", por ser um "vagabundo".
O presidente da Fundação Palmares clas-
sifica o funk como "macumba" e o "funk
carioca" de "desgraças do mundo" e dis-
se que o hip-hop faz "apologia da maco-
nha e do crime". Todas essas declarações
e iniciativas institucionais demonstram
a incompatibilidade dos escolhidos pelo
Nadia Nicolau/Mídia Ninja
governo para o exercício dos cargos e
para atender à responsabilidade pública
com as políticas de enfrentamento ao ra-
cismo, de combate à desigualdade racial
e de promoção de ações afirmativas de
reparação.
85
 O Partido dos Trabalhadores encaminhou repre-
sentação à Procuradoria da República pedindo
que o presidente da Fundação Palmares respon-
da na Justiça por improbidade administrativa.
A iniciativa foi tomada depois de Camargo ter
determinado, no dia 13 de maio – data em que a
abolição da escravatura completou 132 anos –, a
publicação de uma série de artigos depreciativos
sobre Zumbi, símbolo do movimento negro no
Brasil, no site oficial da instituição e nas redes so-
ciais. A ação pedia também a retirada dos artigos
do site da Fundação.
Em mais um episódio de cunho ideológico e pro-
vocativo, Sérgio Camargo divulgou lista oficial de
nomes excluídos da lista de Personalidades Ne-
gras da Fundação Palmares.
Ao todo, foram 27 nomes retirados da lista. Entre
os nomes retirados estão o da Dep. Benedita da
Silva (PT-RJ), Conceição Evaristo, Elza Soares, Gil-
berto Gil, Leci Brandão, Marina Silva, Martinho da
Vila, Milton Nascimento, o do senador Paulo Paim
(PT-RS), Sandra de Sá, entre outros. O Senado
aprovou, por 69 votos a 3, dois projetos de Decre-
to Legislativo que suspendem os efeitos desta re-
ferida portaria. Os PDLs 510/2020 e 511/2020 foram
apresentados pelos senadores Alessandro Vieira
(Cidadania-SE) e Humberto Costa (PT-PE), respec-
tivamente. Deputados da bancada do PT também
apresentaram representação à PGR a fim de que
fossem apuradas irregularidades decorrentes da
transferência da sede e de todo o acervo da Fun-
dação Cultural Palmares.
Bolsonaro finge não saber que o racismo estru-
tural, a discriminação e violência sofridos por
negros no Brasil são documentados por dados
oficiais e trata-se de uma realidade para a popu-
lação brasileira. O Atlas da Violência 3, documento
produzido pelo Ipea, aponta que de cada 100 pes-
soas assassinadas, 75 são negras (relativo a dados
de 2018).
Ainda, de acordo com o Instituto Brasileiro de Ge-
ografia e Estatística (IBGE), os negros representam
75,2% do grupo formado pelos 10% mais pobres
do país.
Estudos divulgados pelo Observatório de Edu-
3 https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/19/
atlas-da-violencia-2019 de
86
cação do Instituto Unibanco 4 informam,
ainda, que apesar da queda do abandono
no ensino médio observada nos últimos
anos, tanto entre estudantes brancos
quanto negros, a informação precisa ser
complementada com a observação de
que a distância nos últimos anos pouco
se alterou (permanece estável entre 2,5 e
3 pontos percentuais), mantendo a de-
sigualdade. Além disso, o último dado,
de 2018, mostra que a queda segue entre
os estudantes brancos, ao contrário do
índice entre os alunos negros (subiu de
7,7% em 2017, para 7,8% em 2018), com
possibilidade de agravamento diante da
pandemia do coronavírus.
Embora tanto os dados quanto o dia a
dia da população nas cidades e no cam-
po deixem claro a seriedade do racismo
que a população negra brasileira enfren-
ta, as políticas públicas ou instâncias de
deliberação para garantia de direitos da
população negra foram descontinuadas,
desidratadas ou não implementadas pelo
governo de Jair Bolsonaro.
Para 2021, o cenário é desolador, quase
como se não tivessem mais direitos a
serem retirados. Por isso é preciso resistir
ainda mais, utilizar os espaços de poder
para dar amplitude às vozes negras, além
de colocar à disposição todos os instru-
mentos legislativos e jurídicos disponíveis
contra os ataques promovidos pelo go-
verno. O Parlamento é um destes espaços
qualificado de debate que poderá con-
tribuir para a resistência na luta contra o
racismo.
4 https://observatoriodeeducacao.institutouni-
banco.org.br/em-debate/desigualdade-racial-
-naeducacao?
utm_source=google&utm_medium=sear-
ch&utm_campaign=professores_desigualda-
 INDÍGENAS E QUILOMBOLAS
CAPÍTULO 13

87
 A
lém de vir cumprindo sua promessa
de não demarcar um centímetro de
terra indígena, à semelhança do que
fez com os processos de obtenção
de terras para a reforma agrária, o
governo Bolsonaro, através do Ministério da
Justiça, devolveu, para revisão, vários proces-
sos à Fundação Nacional do Índio (Funai). É
importante mencionar que, após dois anos
de sucateamento de vários órgãos públicos,
dentre eles a FUNAI, 60% das terras indígenas
foram devastadas por focos de incêndios. Em
comparação com 2019, houve um aumento de
38% no número de focos.
Também merece destaque a situação extre-
mamente preocupante em que se encontram
os indígenas no contexto da atual pandemia
do novo coronavírus. Até janeiro de 2021, 43
mil indígenas já haviam sido contaminados
e houve 899 falecimentos, em 161 povos dife-
rentes. Com maior vulnerabilidade a doenças
infectocontagiosas e dependentes de um
subsistema médico que apresenta problemas
de articulação com as secretarias estaduais e
municipais de Saúde, a mortalidade dos po-
vos originários chegou a ser 16% maior que a
média nacional. Em decorrência de tais ações
e de falas racistas direcionadas aos povos
indígenas, Bolsonaro é hoje o primeiro presi-
dente brasileiro a ser examinado pela procu-
radoria do Tribunal Penal Internacional (TPI).
A denúncia ocorreu ainda em 2019, quando
Jair Bolsonaro foi acusado por algumas ins-
tituições de crimes contra a humanidade e
incitação ao genocídio de povos indígenas.
o cronograma. A bancada do PT ajuizou
ação popular com pedido de medida limi-
nar contra Marcelo Augusto Xavier da Silva,
presidente da Fundação Nacional do Índio
- FUNAI, e a União Federal, requerendo a
nulidade ou a suspensão dos efeitos da Ins-
trução Normativa nº 9/2020 – FUNAI, a fim
de preservar as mais de 237 terras indígenas
pendentes de homologação que poderão
ser vendidas, loteadas desmembradas e até
invadidas.
Com relação à proteção dos indígenas e
quilombolas no que diz respeito à dissemi-
nação e contágio pelo coronavírus, o Partido
dos Trabalhadores também atuou por meio
do ajuizamento de ações junto ao STF.
A ADPF 709 requereu a adoção de medidas
pelo Poder Executivo no combate à conta-
minação pelo novo coronavírus às comuni-
dades indígenas. ADPF 742 foi ajuizada em
conjunto com outras agremiações e a Coor-
denação Nacional de Articulação das Comu-
nidades Negras Rurais Quilombolas – CONAQ
requerendo a adoção de providências de
combate à Covid-19 no âmbito dos quilom-
bos. Também foi ajuizada a ADI 6622 em face
da Lei nº14.021/2020 para coibir a entrada e
permanência de missionários em áreas de
indígenas isolados.

Dados da Coordenação Geral de Regulariza-

ção de Territórios Quilombolas mostram que
foram abertos 16 processos de titulação de
quilombos em 2019. Entre janeiro e maio de
2020, apenas um. Os números são bem infe-
riores à média de 77 novas análises territoriais
entre 2016 e 2018, durante o governo Temer, e
apenas uma fração dos 148 processos anuais
abertos pelo Incra entre 2004 e 2009, durante
o governo Lula.

Segundo levantamento da Terra de Direi-

tos, no atual ritmo, o país levaria 1.170 anos
Lula Marques

até que todos os processos abertos no Incra

fossem concluídos. O cálculo não levava em
conta a pandemia, que atrasou ainda mais
88
 ESTRUTURA DO ESTADO
E TRANSPARÊNCIA
CAPÍTULO 14

89
 O
governo federal adotou a postura
de negar princípios basilares e de
retroagir com as noções elemen-
tares de soberania do povo brasi-
leiro, de autonomia do Estado, de
preservação das responsabilidades estatais e
dos bens públicos. São diversos fatos e atos
que comprovam essa fragmentação do Estado
e da privatização, por conveniência, das tare-
fas governamentais, sempre para usurpação
de poderes, estratégias e riquezas para bene-
ficiamento de pessoas, grupos ou interesses
privados e particulares.
A afronta à soberania e a submissão do Estado
aos interesses particulares
Ao longo dos últimos 02 anos, as vagas dei-
xadas por aliados afastados de cargos rele-
vantes e/ou estratégicos no governo foram
preenchidas por militares. Foi assim que
chegamos a 11 ministros militares, de um total
de 23, circundados por um verdadeiro exér-
cito composto por 6.157 oficiais da ativa e da
reserva que ocupam postoschave em vários
níveis do governo federal.
O próprio presidente e seu vice são ex-mi-
litares, um capitão reformado e um general
da reserva. A militarização da estrutura de
governo se dá de forma indiscriminada, cujo
único critério é ser militar. O general Eduardo
Pazuello segue ministro da Saúde, sem enten-
der qualquer tema pertinente à área, mesmo
no momento de maior demanda da pasta, o
ministro segue sem noção de como enfrentar
uma pandemia, nem de planejamento, nem
Fernando Frazão/Fotos Públicas
90
de logística, esses últimos anunciados como
seus atributos.
Tão ou mais nocivo do que o processo de
crescente militarização é a tentativa de Bol-
sonaro de se apropriar do aparelho de Esta-
do em seu benefício e de terceiros (familia-
res) ou para perseguir inimigos políticos.
O ano de 2020 também foi marcado pela
elaboração de dossiês e relatórios sobre
supostos opositores, produzidos no seio
ou a pedido do governo. Trata-se de outra
gravíssima, antidemocrática e nada republi-
cana prática, eivada de desvio de finalidade
de recursos públicos (financeiros, humanos
e patrimoniais).
Os episódios como o dos dossiês de mili-
tantes antifascistas dentro do Ministério da
Justiça deram alguma luz do que se opera
nos gabinetes da Esplanada dos Ministérios.
Em julho de 2020, veio a público a infor-
mação de que a Secretaria de Operações
Integradas (Seopi), do Ministério da Justiça
e Segurança Pública (MJSP), produziu, em
caráter sigiloso, relatório contendo nomes e,
em alguns casos, até fotografias e endereços
de perfis em redes sociais de 579 servidores
federais e estaduais de segurança identi-
ficados como integrantes do "movimento
antifascismo", além de professores universi-
tários. Tratando de “Ações de Grupos Antifa
e Policiais Antifascismo”, o relatório foi ela-
borado após o manifesto “Policiais antifas-
cismo em defesa da democracia popular”, assinado
por 503 servidores da ativa ou aposentados de
órgãos de segurança pública de todo o país e divul-
gado no dia 5 de junho, em meio a manifestações
antifascistas no país, sobretudo nas redes sociais.
Segundo reportagens do jornalista Rubens Valente,
a partir das 503 subscrições naquele manifesto, a
Seopi passou a investigar servidores de segurança e
professores universitários, chegando aos 579 nomes
listados no relatório, que foi distribuído a diversos
órgãos federais e estaduais: Casa Civil da Presidên-
cia da República, Agência Brasileira de Inteligên-
cia (Abin), Centro de Inteligência do Exército (CIE),
Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF)
e Força Nacional, além de três "centros de inteli-
gência" vinculados à Seopi nas regiões Sul, Norte
e Nordeste do país e que permitem o intercâmbio
de informações entre o Ministério e policiais civis e
militares estaduais.
A Seopi recebeu atribuições de “atividades de inte-
ligência" por meio do Decreto nº 9.662, de 2019, um
dos primeiros atos do presidente Jair Bolsonaro já
no dia da posse, entre as quais “estimular e induzir
a investigação de infrações penais, de maneira inte-
grada e uniforme com as polícias federal e civis”.
Ora, nem investigação de infração penal se quali-
fica como atividade de inteligência de segurança
pública, nem os arrolados no relatório praticaram
atos delituosos. Ainda que se pudesse considerar
correta a pouca intelecção do Ministério da Justi-
ça do conceito legal e doutrinário de atividade de
inteligência, é óbvio que condutas antifascistas
não configuram crime no Brasil – cuja Constituição
Cidadã consagra princípios democráticos e valores
humanitários incompatíveis com o fascismo.
Manifestações ou manifestos por escrito, assinados
– portanto, não anônimos – e que respeitam a or-
dem constitucional também não configuram crime.
Oposição ao governo tampouco é crime contra o
Estado democrático, o povo, o país, a lei. Ao contrá-
rio: são todos atos legítimos e democráticos.
Já o relatório da Seopi consubstancia a utiliza-
ção do aparelho do Estado para o monitoramento
e constrangimento de legítimos e democráticos
opositores ao governo Bolsonaro, incorrendo em
flagrante desvio de finalidade de órgãos públi-
cos – inerente ao crime contra a administração
pública - e risco de violação de direitos e garantias
individuais dos cidadãos monitorados.
Em agosto, o ministro da Justiça e Segu-
rança Pública, André Mendonça, demitiu
Gilson Libório de Oliveira Mendes da Di-
retoria de Inteligência (Dint), subordina-
da à Seopi/MJSP. Isso não foi o suficien-
te para evitar que Mendonça prestasse
esclarecimentos aos Poderes Legislativo
e Judiciário.
Inicialmente, perante o Supremo Tri-
bunal Federal, o MJSP não negou a
existência do relatório “de rotina”, mas
intentou minimizar a caracterização do
documento como dossiê, ao passo que
recusou entregar o suposto relatório ao
STF. A ministra Cármen Lúcia, relatora da
Arguição de Descumprimento de Precei-
to Fundamental (ADPF) 722, determinou,
em caráter cautelar, a suspensão de atos
do Ministério que objetivassem produ-
zir ou compartilhar informações sobre
a vida pessoal, as escolhas pessoais e
políticas, as práticas cívicas de cida-
dãos e de servidores públicos federais,
estaduais ou municipais identificados
como integrantes do movimento político
antifascista, professores universitários
e quaisquer outros que exerçam seus di-
reitos políticos de se expressar, se reunir
e se associar, dentro dos limites da
legalidade. “O uso ou abuso da máquina
estatal, mais ainda para a colheita de
informações de servidores com postura
política contrária a qualquer governo,
caracteriza, sim, desvio de finalidade,
pelo menos em tese”, asseverou a rela-
tora.
A Comissão Mista de Controle das Ati-
vidades de Inteligência (CCAI), do Con-
gresso Nacional, ouviu o ministro André
Mendonça, em reunião secreta realizada
em 7 de agosto. Ao fim e ao cabo, pre-
mido pelas evidências, o ministro André
Mendonça entregou o dossiê à CCAI em
11 de agosto.
Diante do ocorrido, a bancada do Par-
tido na Câmara apresentou uma série
de Requerimentos de Informação e de
Convocação, além de Projeto de Decreto
Legislativo.
91
 Mais recentemente, em dezembro, a mira do go-
verno voltou-se diretamente para amplo grupo de
formadores de opinião, na forma de documento
que se tornou publicamente conhecido como “De-
tratores”, lista que incluía jornalistas, intelectuais,
articulistas, YouTubers, influenciadores digitais e
outros profissionais contrários à política econômica
do ministro Paulo Guedes. Mais uma vez, matéria de
Rubens Valente revelou em plena atividade a práti-
ca de monitorar, mapear, perscrutar, rotular oposi-
tores do governo.
No caso “Detratores”, a empresa BR+ Comunica-
ção foi contratada pelo governo federal – contrato
com Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações
e Comunicações (MCTIC), no valor total de R$ 2,7
milhões, que é aproveitado pelo Ministério da Eco-
nomia (ME) – para, entre outros serviços, orientar
como a pasta, sob o comando de Paulo Guedes, de-
veria lidar com um grupo de 77 jornalistas e outros
formadores de opinião considerados influenciado-
res em redes sociais – divididos em “detratores”,
“neutros” e “favoráveis”.
O levantamento intitulado "Mapa de influenciado-
res" sugeria ações variadas: "monitoramento pre-
ventivo das publicações da influenciadora"; "envio
de esclarecimentos para eventuais equívocos que
ele publicar"; "propor parceria para divulgar ações
da Pasta". É fato que o acompanhamento do que é
publicado sobre determinado órgão ou autoridade
é uma prática corriqueira. Contudo, o “mapa” não
se limitava à análise quantitativa e objetiva. Mais
do que isso, transmitia ao governo impressões
sobre os profissionais listados. Ademais, sabe-se,
o rótulo “detratores” foi amplamente utilizado por
órgãos de repressão da ditadura militar.
Trata-se não apenas de ofensa à honra objetiva e
subjetiva de jornalistas e afins citados no tal re-
latório, mas de ameaça à livre imprensa, ao livre
exercício do jornalismo, ao direito à informação e à
liberdade de expressão, todos pilares da democra-
cia.
Mas o aparelhamento do Estado não para na mi-
litarização e na fiscalização e perseguição de ser-
vidores, jornalistas, professores e influenciadores
que divergem do governo. As violações ao Estado
Democrático de Direito são mais profundas.
A busca de nomes para ocupar os cargos de direção
dos órgãos de segurança, com o intuito de blindar
92
parentes e amigos, também já foi ex-
posta pela fala do próprio presidente,
conhecida pela divulgação do vídeo da
reunião ministerial no dia 22 de abril
de 2020. O presidente queria nomear
um diretor para a Polícia Federal que
blindasse as investigações sobre seu
filho mais velho, o senador pelo Repu-
blicanos (RJ) Flávio Bolsonaro, alcu-
nhado de 01.
Alexandre Ramagem, o delegado es-
colhido por Bolsonaro para a missão
de proteger a família presidencial,
teve sua nomeação ao cargo suspensa
pelo ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal (STF).
No entanto, continuou diretor-geral
da Abin e, ao que tudo indica, à dis-
posição de prestar o mesmo serviço
que faria na PF. A revelação do uso da
agência para produzir relatórios para
a defesa do filho do presidente é de
uma gravidade espantosa. Pelo que foi
revelado, há uma estrutura paralela,
montada dentro do órgão para atu-
ar conforme os interesses da família
Bolsonaro, alicerce aperfeiçoado por
meio do Decreto 10.445/2020.
Reportagem da Revista Época afirma
que a Abin produziu pelo menos dois
relatórios para orientar advogados
de Flávio Bolsonaro, em uma tentati-
va de anular o inquérito que apura o
cometimento, pelo senador, dos cri-
mes de peculato, lavagem de dinheiro,
organização criminosa e apropriação
indébita. Em um dos relatórios consta,
especificamente: “Finalidade: defender
FB no caso Alerj demonstrando a nuli-
dade processual resultante de acessos
imotivados aos dados fiscais de FB”.
O Partido dos Trabalhadores apre-
sentou um mandado de segurança ao
Supremo Tribunal Federal solicitando
a exoneração de Alexandre Ramagem,
o mínimo que se pode solicitar em um
escândalo dessa proporção, e a aber-
tura de investigação de sua atuação e
do presidente da República.
Assédio moral, pressões indevidas, fim da merito-
cracia na escolha de cargos de chefia, nomes sem
qualificação controlando áreas técnicas, critérios
ideológicos na definição das ações, estímulo à divi-
são interna, clima de caça às bruxas — com direito
a ameaças de processos administrativos e monito-
ramento de redes sociais dos servidores: essa é a
política do desmonte em plena execução.
O Brasil assistiu atônito à discussão que tomou
conta do processo de pesquisa da vacina Corona-
Vac. Por mais que a Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) tenha se esforçado na expli-
cação técnica sobre os procedimentos internos,
não parece razoável que, em um momento de grave
pandemia como o que vivemos, a burocracia se
sobreponha aos interesses da sociedade.
Além de comemorar o pseudo fracasso da vacina,
Bolsonaro ainda encaminhou para o Congresso o
nome do tenente-coronel Luiz Kormann para ocu-
par o cargo de diretor da Anvisa. Mais um militar
que não atende aos critérios legais para ocupar o
cargo.
No Twitter, o militar endossa mensagens contrárias
à OMS (Organização Mundial da Saúde) e também
críticas à CoronaVac, vacina contra a Covid-19 que
está em processo de desenvolvimento pelo labo-
ratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto
Butantã, de São Paulo.
Aquilo que já era uma suspeita, se reforça ainda
mais: Bolsonaro está disposto a usar todos os ins-
trumentos do Estado brasileiro para impedir que
o povo brasileiro tenha acesso a um direito que é
seu, o uso da vacina. Bolsonaro quer ter o controle
da Agência de Estado para satisfazer os seus dese-
jos políticos de xenofobia, de buscar evitar a coo-
peração com outros países e da sua disputa parti-
dária eleitoral dentro do nosso país.
Alteração na estrutura do Estado
Ao longo dos dois últimos anos, o governo vem
atuando através de atos, edição de medidas pro-
visórias e propostas de emendas constitucionais
de forma a alterar substancialmente a estrutura
do Estado como agente de promoção da igualdade
social. O pacto social baseado na solidariedade e
na ideia de seguridade social, construído em 1988,
depois de mais de 20 anos de luta, começou a ser
alterado já em 2016, com a implantação do teto dos
gastos, com o aumento da DRU (Desvinculação de
Receitas da União), com as reformas
trabalhista e da previdência. Agora, tex-
tos apresentados por Jair Bolsonaro ao
Congresso, apesar de pontuais, impli-
cam em alterações profundas no espí-
rito que embalou a nossa Constituição
de 1988. Além das ofensivas legislati-
vas, também o discurso do presidente
viola as balizas estruturantes do Estado
Democrático de
Direito, fundado com o pacto social
pós-ditadura.
No que diz respeito a estrutura do Esta-
do, sua conformação por agentes e fun-
cionários públicos e sua participação
ativa no fomento de políticas públicas,
Bolsonaro vem tentando implantar mu-
danças significativas.
O esvaziamento das carreiras do fun-
cionalismo público, com a consequente
degradação do serviço público gratuito
e de qualidade, a privatização de es-
tatais, a transformação de autarquias
necessárias a promoção de políticas na
área da saúde e cultura em entidades
privadas são exemplos das transforma-
ções que o governo vem operando no
Estado brasileiro.
Um exemplo do ataque aos funcioná-
rios públicos é a LC 173/2020, através da
qual a União se comprometeu a conce-
der auxílio financeiro aos Estados, Dis-
trito Federal e Municípios afetados pelo
enfrentamento à pandemia da Covid-19.
Em contrapartida, o art. 8º da referida
lei complementar previu vedações, até
31 de dezembro de 2021, relacionadas a
gastos com pessoal e encargos sociais
a fim de orientar o controle das despe-
sas dos entes.
Sobre o tema, o Partido dos Trabalha-
dores ajuizou a Ação Direta de Incons-
titucionalidade (ADI) 6447 contra os
dispositivos que proíbem a concessão
de reajustes para servidores públicos
federais, estaduais e municipais e de-
terminam o congelamento da contagem
do tempo de serviço para fins de adi-
cionais até 31/12/2021.
93
 Para o PT, a lei, ao proibir o aumento salarial e
a concessão de auxílios até final de 2021, viola o
princípio da irredutibilidade remuneratória do
funcionalismo público e, ao impedir a contagem de
tempo de efetivo exercício para fins de concessão
de adicionais a ele vinculados, afronta o direito ad-
quirido. Na avaliação do Partido, houve, ainda, vício
de iniciativa, pois a lei se originou de projeto de
autoria de um senador, quando cabe ao Executivo
legislar sobre o regime jurídico de servidores públi-
cos de todos os Poderes.
Ainda sobre o tema dos servidores públicos, im-
portante vitória foi a mobilização da bancada para
que a Medida Provisória nº 922 transcorresse sem
qualquer regulamentação, até perder vigência. A
MP, que foi editada com a justificativa de atender
demanda emergencial em razão das filas e re-
presamento dos pedidos de benefícios no INSS e
também no Bolsa Família, operava uma verdadeira
minirreforma administrativa que inverte a lógica
constitucional do ingresso no serviço público. O
texto tratava de ampliar hipóteses de contratação
de temporários pelo serviço público, fazendo com
que a regra do ingresso por concurso público fosse
flexibilizada.
Foram também editadas medidas provisórias que
reforçam esforços privatistas, com fragilização das
instituições e das políticas públicas, como por
exemplo a MP 915/2019 que facilita a alienação de
imóveis da União, autorizando a contratação de
bancos e empresas para a gestão destes bens pú-
blicos, e a MP 917/2019, que promove a alteração de
natureza jurídica da Embratur de autarquia espe-
cial, ente vinculado à administração pública indire-
ta e com personalidade jurídica de direito público,
para ente de cooperação na forma de serviço social
autônomo, pessoa jurídica de direito privado.
Reforçando o esvaziamento da estrutura do Esta-
do brasileiro, diversas empresas estatais de áreas
estratégicas para a soberania nacional foram incluí-
das na lista de privatizações.
A estratégia de fatiamento das empresas estatais
para venda dos seus ativos principais sem autoriza-
ção legislativa se tornou uma constante.
Ao longo destes dois anos assistimos a venda da
BR Distribuidora, das refinarias da Petrobras e de
outros ativos da maior estatal brasileira.
Verdadeiro ataque aos bancos públicos se efetivou
94
através da MP 995/2020 que permitiu o
desmembramento da Caixa Econômica
Federal com vistas à alienação de seus
ativos. Contra essa MP foram apresenta-
das grande número de emendas parla-
mentares e uma ação direta de incons-
titucionalidade pela bancada, a ADI nº
6537.
Para além das medidas privatizantes e
de ataques aos direitos de funcionários
públicos, o governo apresentou a PEC
32/2020, da Reforma Administrativa,
impondo uma perspectiva de alteração
ampla e estrutural do Estado que gera
graves prejuízos ao sistema constitucio-
nal vigente, riscos de precarização das
relações de trabalho no serviço público
(à similitude da depreciação das nor-
mas no âmbito da iniciativa privada feita
na “reforma trabalhista”) e subordina o
Estado aos interesses do mercado. Tal
afronta à estrutura do Estado se coloca
como prioridade no horizonte de luta
para 2021, uma vez que o texto propos-
to pela PEC da Reforma Administrativa
transforma a atual Constituição Cidadã
em uma Constituição liberal, orientada
para o mercado. No mesmo horizonte de
luta estão os atos privatizantes que des-
montam o Estado brasileiro, colocando o
governo federal à serviço do mercado em
detrimento da promoção da igualdade
social e dos direitos fundamentais orien-
tadores da República.
Falta de transparência
Um governo construído em cima de fake
news tem dificuldade em conviver com
a verdade. O grave é que a estratégia de
omitir ou manipular informações vem
obtendo a conivência de órgãos públicos.
O governo federal, por meio do Ministério
da Saúde, deveria ser a fonte natural dos
números da Covid-19, mas as informa-
ções divulgadas por autoridades e pelo
próprio presidente colocaram em dúvida
a disponibilidade dos dados e sua preci-
são.
Em maio, o Brasil vinha registrando um
aumento dramático no número de mor-
tes e novos casos de Covid-19, num ritmo
que chegava à casa de 1.000 mortos/dia.
Cabe ao Ministério da Saúde consolidar e divulgar
os dados fornecidos pelas secretarias estaduais
sobre o avanço da pandemia. Mas, a partir do início
de maio, na medida em que os impactos da doença
se intensificaram, o Ministério passou a atrasar a
divulgação e esvaziar as coletivas de imprensa.
A divulgação dos boletins com o número de mor-
tos e contaminados, por sua vez, desapareceu das
redes sociais da pasta. Os dados passaram a ser
publicados com atrasos cada vez mais constantes,
muitas vezes depois da 20h, para não pautarem
os telejornais da noite. As mudanças na forma da
divulgação dos dados coincidiram com novos recor-
des de mortes.
Em resposta à decisão do governo Jair Bolsonaro
de restringir o acesso a dados sobre a pandemia de
Covid-19, alguns veículos de comunicação formaram
uma parceria para buscar as informações necessá-
rias nos 26 estados e no Distrito Federal.
Através de dispositivos legais e de algumas ações,
o governo Bolsonaro começa a dificultar o acesso a
informações públicas. Foram ao menos 4 atos legais
contra a transparência:
Decreto 9.960/2019 - ampliou o grupo de agentes
públicos autorizados a colocar informações públi-
cas nos mais altos graus de sigilo: ultrassecreto (25
anos, renováveis por mais 25) e secreto (15 anos).
Foi revogado após pressão da sociedade civil e pos-
sibilidade concreta de derrota no Congresso, que
mostrava tendência de derrubar o decreto.
Decreto 9.759/2019 - extinguiu colegiados federais
(conselhos, comitês, grupos de trabalhos, entre ou-
tros), reduzindo a participação social e, consequen-
temente, a transparência no governo. O presidente
vetou trecho da Lei 13.853/2019 (Lei Geral de Prote-
ção de Dados) que assegurava a proteção de dados
das pessoas que apresentassem pedidos de acesso
a informações.
A Medida Provisória 928/2020 suspendeu os pra-
zos de atendimento a pedidos de informação de-
terminados na Lei de Acesso a Informações, sem
possibilidade de recurso contra tais negativas de
atendimento. Na prática, suspendeu a transparên-
cia passiva garantida pela LAI. Teve os efeitos sus-
pensos após liminar deferida pelo ministro do STF
Alexandre de Moraes e confirmada pelo
plenário do Supremo.
Em fevereiro/2019, o Ministério da Justi-
ça negou um pedido por informações
sobre eventual encontro do então mi-
nistro Sergio Moro com representantes
de fabricante de armas e munições sob
o argumento de “direito à privacidade”.
Em abril/2019, o Ministério da Econo-
mia decretou sigilo sobre estudos e
pareceres técnicos que embasaram a
PEC da reforma da Previdência. Após
indicativo de derrubada do sigilo no
Congresso, o governo abriu parte dos
dados.
Em agosto de 2019, o presidente da
República e ministro do Meio Ambiente
contestaram e desqualificaram dados
públicos do INPE (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais) sobre desma-
tamento e queimadas no país. O então
diretor do INPE, Ricardo Galvão, foi exo-
nerado após defender as informações.
A Presidência da República se recusou
a divulgar exames segundo os quais
o presidente Bolsonaro teria testado
negativo para o novo coronavírus. Os
exames só foram divulgados após bata-
lha judicial com o jornal O Estado de S.
Paulo.
Desde junho, o Ministério do Meio Am-
biente e o Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente) omitem dados de áreas
embargadas por crime ambiental.
O Ibama também deixou de fornecer
informações sobre autuações, multas e
apreensões feitas contra desmatadores
na região amazônica, sob a justificativa
de que a competência de divulgação de
dados da Amazônia Legal é da vice-pre-
sidência da República.
A CGU transformou os pareceres jurí-
dicos usados para embasar a sanção
e vetos presidenciais a projetos de lei
aprovados no Congresso em sigilosos.
95
 CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO,
COMUNICAÇÕES E INTERNET
CAPÍTULO 15

96
O
governo de extrema-direita de Jair Bol-
sonaro, desde seu primeiro dia, colocou
em marcha um claro projeto de ataque e
tentativa de destruição do nosso Siste-
ma de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Sistema esse construído a duras penas, durante dé-
cadas, por gerações de brasileiras e brasileiros que,
desde sempre, acreditaram no potencial do Brasil
e na indissociabilidade entre soberania nacional
e nosso desenvolvimento científico, tecnológico e
industrial.
Para além da retórica agressiva, negacionista e
obscurantista (são frequentes os ataques ao conhe-
cimento, às universidades e aos estudantes), extre-
mamente grave por si só, o governo atuou na prá-
tica. Dentre outras ações, candidatos derrotados e
desprezados pelas comunidades acadêmicas foram
nomeados como reitores. Na contramão de países
soberanos, acentuou-se um processo de drásti-
cos cortes orçamentários no setor de CT&I. Cortes
esses, diga-se de passagem, iniciados já no período
após o golpe contra a Presidenta Dilma. Dados do
Ipea (gráfico 1) revelam que o orçamento agregado
dos principais fundos de apoio à pesquisa científica
e tecnológica no Brasil (FNDCT, CNPq e CAPES) des-
pencaram de 13,97 bilhões de reais, em 2015, para
4,4 bilhões em 2020. Já os recursos discricionários
para investimento do Ministério da Ciência, Tecno-
logia e Inovação, segundo apuração da assessoria
técnica do PT SF (gráfico 2), caíram de 6,9 bilhões de
reais em 2013, para 3,6 bilhões em 2020. Para 2021,
no que se refere a todas essas instituições, o pro-
jeto orçamentário apresentado pelo governo prevê
novos e significativos cortes, num cenário dramáti-
co para a ciência brasileira.
Gráfico 1:
Gráfico 2:
Durante o ano legislativo de 2020, a
bancada do PT no parlamento atuou
fortemente em defesa do nosso siste-
ma de CT&I, sendo que alguns pontos
merecem destaque.
Ainda no início do ano, contribuímos
decisivamente para retirar o Fundo
Nacional de Desenvolvimento Cientí-
fico e Tecnológico - FNDCT do âmbito
de aplicação da PEC de extinção dos
Fundos (187/19), que tramitou na CCJ do
Senado. Na Câmara, além das disputas
pela recomposição dos orçamentos das
agências federais, a aprovação da proi-
bição do contingenciamento do FNDCT
(PLP 135/20) teve nosso apoio (o proje-
to depende ainda de sanção presiden-
cial, com alto risco de vetos). Durante a
tramitação do Marco Legal das Startups
(PLP 146/19) a bancada obteve êxito
para retirada de capítulo inteiro preca-
rizando direitos dos trabalhadores. De
qualquer maneira, a despeito de con-
tribuições relevantes para crescimento
de empresas nascentes e inovadoras
no país, o projeto seguiu para sanção
ainda com problemas, principalmente
no que se refere a princípios neolibe-
rais e demasiada amplitude do escopo
de startups que poderão receber incen-
tivos.
A bancada também protocolou reque-
rimentos de informação e PDL´s im-
portantes nos últimos meses, travando
permanentemente a disputa política
com o governo. São exemplos a serem
97
 registrados os requerimentos a respeito de compras
de imagens e satélites pelos Ministérios da Justiça
e da Defesa (em detrimento das funções do INPE/
MCTI); sobre a parceria estabelecida entre o MCTI e
a empresa estadunidense Cisco Systems (sem pro-
cesso licitatório); sobre os contratos firmados entre
a Petrobras e gigantes como Microsoft e Facebook
(colocando em potencial risco dados estratégicos
do país). Merece registro PDL apresentado para
buscar interromper o processo absurdo e ilegal de
dissolução, via decreto, do Centro Nacional de Tec-
nologia Eletrônica Avançada S.A. - CEITEC, empresa
pública criada por Lei durante nossos governos,
visando a soberania do país na produção de equi-
pamentos e componentes microeletrônicos.
Como perspectiva para 2021, não há dúvidas de que
duras batalhas terão de ser travadas para recom-
posição dos orçamentos na área de CT&I, sob pena
de grave comprometimento do funcionamento do
setor. Trata-se de ameaça clara à soberania e ao de-
senvolvimento do país, mais grave ainda no cenário
de pandemia que, por razões óbvias, demandaria
crescentes e decisivos investimentos na ciência
brasileira. Para além do conjunto de medidas estru-
turais do governo (anunciadas ou já em tramitação)
que atacam e precarizam de maneira geral o funcio-
namento do Estado, será importante atentar para
dispositivos da chamada “Reforma Administrativa”
(PEC 32/20) que constitucionalizam proibição de
que sejam promovidas políticas públicas na área
econômica que interfiram na “livre concorrência”,
impedindo assim a utilização de ferramentas funda-
mentais ao nosso desenvolvimento, como políticas
industriais, valorização do conteúdo nacional, com-
pras governamentais, subsídios financeiros, explo-
ração soberana do pré-sal, etc, além de colocarem o
Estado numa posição secundária, meramente sub-
sidiário a espaços em que a iniciativa privada não
atua. das medidas provisórias, que tiveram
O governo anuncia, também, alterações nas polí-
ticas de propriedade intelectual, que podem nos
submeter ainda mais aos interesses estratégicos
dos países centrais, notadamente na área de ciên-
cia, tecnologia e inovação.
Nas áreas de Comunicações (radiodifusão e tele-
comunicações), bem como nos temas envolvendo
a arquitetura da Internet no Brasil (universalização
Freepik
do acesso, regulação, desinformação, proteção de
dados, etc), o governo federal seguiu linha mestra
que, em linhas gerais, como não poderia deixar de
98
ser, guiou-se por arroubos ideológicos
e/ou buscou atender primordialmente
os interesses do “mercado” e do setor
privado, em detrimento das prerrogati-
vas do Estado e do desenvolvimento de
políticas ancoradas no interesse e nos
orçamentos e fundos públicos.
Nesse sentido, no que se refere a po-
líticas públicas, é preciso inicialmente
registrar ter ocorrido baixo investimen-
to em programas estratégicos, muitos
deles iniciados ainda durante os gover-
nos Lula e Dilma, tais como: utilização
plena, por meio da Telebrás, do Satélite
Geoestacionário para acesso à internet
em áreas remotas; instalação de cabos
fluviais na região norte do país, tam-
bém para acesso à internet; desenvolvi-
mento de políticas de inclusão di-
gital para setores de mais baixa renda;
incentivos aos pequenos provedores
de internet, responsáveis pelo atendi-
mento de regiões de menor interesse
econômico das grandes empresas. A
pandemia escancarou nossas históricas
desigualdades, em vários setores. Nas
comunicações, ficaram à deriva - apar-
tados não somente de um sem número
de atividades profissionais e pessoais,
mas também de direitos essenciais
como educação - setores expressivos
da sociedade brasileira, que contavam
(e seguiram contando) com nenhum ou
precário acesso à internet.
No Congresso Nacional em 2020, o
governo atuou nas áreas de Comuni-
cações e internet por meio de segui-
atuação e acompanhamento direto da
bancada do PT. Logo no início da pan-
demia, como primeiro ato, o governo
editou texto (MP 952/20) em socorro
das teles, prorrogando prazo para pa-
gamento de tributos incidentes sobre a
prestação de serviços, sem quaisquer
contrapartidas beneficiando trabalha-
dores e usuários. A bancada apresentou
emendas, o texto acabou gerando seus
efeitos nos 120 dias seguintes, perden-
do eficácia posteriormente.
Na sequência, foi publicada a MP 954/20, que previa
compartilhamento indiscriminado e generalizado,
sem as mínimas salvaguardas e com grandes riscos
de vazamento, dos dados de milhões de brasilei-
ros, das teles ao IBGE. A medida foi objeto de forte
oposição política e de ação no STF, também per-
dendo sua eficácia. Já a MP 959/20, reforçando, para
dizer o mínimo, o desprezo com que o governo trata
o tema da proteção de dados, bem como sua es-
treita vinculação aos interesses privados, buscava,
dentre outros temas, adiar uma vez mais a entrada
em vigor da LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados,
(mesmo já tendo sido aprovado o PL 1179/20, deslo-
cando as sanções previstas na lei para o ano se-
guinte). A bancada na CD atuou em diversas frentes
para evitar esse adiamento, sendo que a matéria
sofreu derrota regimental no SF, com entrada em
vigor da LGPD na data prevista.
Ainda no que se refere às medidas provisórias no
setor, com indisfarçáveis interesses políticos e alto
risco da existência de sérios conflitos de interesse,
mesmo com forte atuação da minoria, o governo
conseguiu aprovar a MP 980/20, que recriou o Mi-
nistério das Comunicações, oferecendo a cadeira de
ministro ao centrão, na figura do genro do empre-
sário de TV Silvio Santos. Como se não bastasse, a
MP subordinou a Secretaria responsável pela asses-
soria de imprensa, propaganda e gestão de recur-
sos publicitários milionários do governo federal (a
Secom) ao Ministério responsável, por sua vez, pela
regulação, fiscalização e desenvolvimento de polí-
ticas públicas do Estado brasileiro para o setor de
Comunicações (o Minicom). Finalmente, também em
dissonância evidente com o interesse público, sem
mínimos debates e buscando atender estritamente
a interesses políticos imediatos do governo, foi edi-
tada e acabou perdendo eficácia a MP 984/20, que
teria potencial de afetar profundamente o setor
audiovisual e o futebol no país.
De outra parte, tendo em vista a completa inação
do governo, uma vez mais por articulação do Con-
gresso Nacional, foi aprovado na CD já no final do
ano o PL 3477/20, de autoria do deputado Idilvan
Alencar (PDT-CE) e da deputada Rosa Neide (PT-MT),
dentre outros. O projeto prevê ajuda de R$ 3,5 bi-
lhões da União para estados e municípios, visando
garantir o acesso à internet para alunos e professo-
res das redes públicas de ensino básico, em decor-
rência da pandemia. A bancada do PT negociou com
a relatoria importantes melhorias no texto, como
a possibilidade de contratação de internet fixa/
pequenos provedores e doação em
caráter permanente de equipamentos
a beneficiários (pertencentes ao Ca-
dÚnico). Também no final do ano, o SF
aprovou o PL 172/20 (aprovado na CD
em 2019), de autoria do nosso ex-se-
nador Aloizio Mercadante.
O projeto, enfim, libera os recursos do
Fust para serem utilizados no acesso à
internet. No entanto, Bolsonaro vetou
pontos importantes, a serem disputa-
dos proximamente, como: obrigatorie-
dade de garantir, até 2024, que a inter-
net banda larga fosse implementada
em toda a rede pública de educação;
trecho que privilegiava a destinação
dos recursos para financiar programas
e iniciativas de telecomunicações em
regiões, rurais ou urbanas, com baixo
Índice de Desenvolvimento Urbano
(IDH).
Diversos outros temas deverão ser ob-
jeto de atenção permanente da ban-
cada do PT em 2021, sendo que alguns
deles merecem aqui breve referência.
(i) leilão do 5G, será fundamental
acompanhar de perto o processo,
buscando rejeitar qualquer pressão
externa para acesso a esta nova tecno-
logia, que deve se assentar exclusiva-
mente em parcerias tecnológicas que
respeitem integralmente os interesses
soberanos do Brasil, bem como possi-
bilitar novos investimentos em redes
para regiões e populações ainda não
atendidas;
(ii) conclusão dos processos de migra-
ção das concessões para autorizações
em telecom, com definição do devido
cálculo dos chamados “bens reversí-
veis” pela Anatel;
(iii) propostas do governo para mu-
danças na Lei do Seac (TV paga), há
fortes interesses das empresas, com
riscos para o financiamento do setor
audiovisual brasileiro;
(iv) ofensivas para privatização de
99
 empresas estratégicas, como Correios, Serpro
e Dataprev;
(v) rádios comunitárias e processos de conces-
são/permissão dos serviços de radiodifusão;
(vi) gastos publicitários em geral e interferên-
cia política do governo na EBC, além da pre-
carização da empresa e do sistema público de
comunicação como todo:
(vii) tramitação da PEC 17/2019, com inclusão
na CF de proteção de dados como direito fun-
damental e ANPD independente.
cidadãs às informações confiáveis e diver-
sas. Essas medidas devem estar baseadas
em uma concepção integral de liberdade de
expressão, que inclui o acesso à informa-
ção, e equilibrar as ações com a proteção de
dados pessoais.
O processo não poderá estar guiado por
definição vaga de desinformação nem legiti-
mar remoção de conteúdo ou cancelamento
de contas por julgamentos privados sobre a
verdade”. (p. 121).

Por último, importante mencionar, como rele-

vante desafio durante o próximo ano, a trami-
tação do PL 2630/20, também conhecido como
“PL das Fake News”. Com oposição declarada
do governo, contrário a qualquer tipo de regu-
lação que possa dificultar ou ameaçar a atua-
ção do chamado “gabinete do ódio” e das in-
dústrias de desinformação nas redes sociais, a
matéria foi a aprovada com brevidade no SF e
vem tendo tramitação mais lenta na CD, ainda
sem relator oficialmente designado. Conforme
esteve claro em reunião da bancada realiza-
da em 2020, exclusivamente sobre o tema, há
convergências e divergências dentro do campo
progressista a respeito de alguns dispositivos.
Não cabe aqui maior detalhamento da discus-
são, porém, vale destacar, à guisa de conclu-
são, o disposto no Plano de Reconstrução e
Transformação do Brasil, do PT/FPA:

“Defendemos estabelecer a corregulação da

moderação de conteúdo (...), pois as platafor-
mas digitais abertas (como Facebook e Twitter)
falham duplamente (...). De um lado, abusam
da aplicação de seus termos de uso, pratican-
do muitas vezes censura privada sobre o usuá-
rio, sem garantir sequer o devido processo. De
outro lado, são negligentes com discurso de
ódio e violência racial e de gênero, permitindo
crimes online de forma recorrente. É preciso
estabelecer parâmetros públicos, transparen-
tes e democráticos para a ação de modera-
ção de conteúdo das plataformas, e garantir
o acompanhamento do cumprimento dessas
obrigações. Propomos combater a desinforma-
ção nas redes abertas e fechadas, promoven-
do medidas que combatam a desinformação,
de forma a garantir o direito dos cidadãos e Baixo investimento nas políticas de inclusãodigital
Wikimedia Commons
100
 PERSPECTIVAS PARA 2021
CAPÍTULO 16

101
 O
ano de 2021 tem início sem o go-
verno ter tomado a iniciativa de
prorrogar o estado de calamidade
e o auxílio emergencial, mesmo
com o recrudescimento da pande-
mia gerada pelo novo coronavírus. Diante da
ausência de iniciativas do governo Bolsonaro,
coube ao STF, através do ministro Lewan-
dowski, prorrogar o estado de calamidade.
Além do estado de calamidade, a decisão de
Lewandowski mantém as medidas sanitá-
rias decorrentes dele até que a Organização
Mundial da Saúde (OMS) ou o governo federal
confirme que a pandemia acabou. O que não
deixa de ser, de certa forma, uma ajuda ao
governo.
Com o fim do auxílio emergencial, em um ce-
nário desolador, de recrudescimento da ação
do vírus, de indefinição sobre a vacinação, do
aumento do desemprego e da pobreza, in-
tensificou-se a discussão em relação a novos
gastos públicos, capazes de mitigar os efeitos
das crises econômica e social.
A economia do país sairá bastante fragiliza-
da da crise, com um mercado de trabalho em
situação precária de alto desemprego e infor-
malidade. Com o fim do auxílio emergencial,
que beneficiou em torno de 66 milhões de
pessoas, os índices de pobreza devem se ele-
var drasticamente. O fim repentino do auxílio,
na atual conjuntura, empurrará milhões de
brasileiros para uma situação de pobreza ou
extrema pobreza.
Não é o que pensa o governo. Os sinais emi-
tidos e os projetos em estoque, na Câmara e
Senado, para votação no início do próximo
ano, mostram o cenário de um brutal ajuste
fiscal. Ainda na última semana de votação de
2020, Guedes fez questão de aprovar o Projeto
de Lei Complementar 101/20, que muda as re-
Prefeitura de Caruaru/Fotos Públicas
gras para os estados refinanciarem suas dívi-
das em troca de ajustes fiscais em suas contas
e, na prática, impõe o “teto de gastos” a Esta-
dos e Municípios que participarem do Progra-
ma de Reestruturação e de Ajuste Fiscal.
Como parte do Plano “Mais Brasil”, o governo
já enviou o Projeto de Reforma Administrati-
va e apresentou três PECs (emergência fiscal,
102
fundos e pacto federativo) para reestruturar
o Estado e reduzir serviços públicos da União,
Estados e Municípios com redução de salá-
rios, suspensão de concursos e promoções,
entre outros, de modo a abrir espaço fiscal
no orçamento. Ao todo, as três PECs (186, 187
e 188/2019) alteram a Constituição Federal
visando: (i) a sustentabilidade do teto de
gastos federal, que reduz o gasto público fe-
deral em % do PIB, da receita e da população
por 20 anos; (ii) a flexibilização do orçamento
com a desvinculação de recursos das políticas
sociais; e (iii) nova rodada de cortes de des-
pesas em Estados e Municípios em troca de
ampliação de repasses federais. Caso apro-
vadas, representarão a mais brutal retirada
de direitos e transferência de renda da área
social para o capital financeiro.
Vale relembrar que Guedes pretende inserir
no capítulo seis da Constituição Federal, o
qual dispõe sobre os direitos sociais, o se-
guinte parágrafo: “será observado, na promo-
ção dos direitos sociais, o direito ao equilíbrio
fiscal intergeracional”. Com a inclusão deste
parágrafo, o governo está propondo subordi-
nar a noção de direito, e, no limite, a cidada-
nia, ao que ele julgar ser compatível com o
equilíbrio fiscal ‘intergeracional’. Assim, qual-
quer pleito que não se mostre sustentável
fiscalmente poderá, com base na Constituição,
ser negado.
O roteiro, infelizmente, é conhecido apesar de
indigesto para a sociedade. Mais uma vez –
como na PEC do teto de gastos, ou na reforma
trabalhista ou ainda na reforma previdenciá-
ria – as autoridades econômicas evocam a ló-
gica da austeridade e do minimalismo estatal
para justificarem cortes indiscriminados de
despesas e fragilização de direitos que pre-
judicam a gestão pública e o atendimento às
necessidades da população, além de não re-
presentarem estímulos à atividade econômica
e ao investimento. No plano econômico são
estas as medidas que deverão estar na mira
do governo para 2021. Mas não é somente a
pauta econômica que preocupa. A escalada
de retirada de direitos deve continuar. Exclu-
dente de ilicitude, flexibilização das normas
ambientais, usurpação das terras indígenas e
quilombolas, desmonte da agricultura fami-
liar. As áreas da cultura e educação serão foco
permanente de conflito. Há poucos anos seria im-
pensável imaginar que enfrentaríamos retrocessos
civilizatórios e que estes seriam ativamente apoia-
dos por uma parcela expressiva da população.
Mas é o que aconteceu e continuará acontecendo.
Como superar? Provavelmente resistindo, como
estamos fazendo. Não é possível que a barbárie
se consolide entre nós. Convictos de que o remé-
dio para superação da crise é o oposto da receita
apresentada por Bolsonaro e Guedes, as bancadas
do Partido dos Trabalhadores na Câmara e Senado
têm apresentado projetos que garantam dignidade
aos trabalhadores. Foi assim logo que a pandemia
da Covid-19 começou a fazer as primeiras vítimas
entre homens e mulheres do nosso país.
2021 não será muito diferente de 2020. A chegada
da vacina representa um alento para toda huma-
nidade - a vitória da ciência e da capacidade do
homem de superar desafios. Será um marco da
história contemporânea. Mas o flagelo Bolsonaro
permanece e os problemas não se restringem a so-
lução da crise sanitária. São muito maiores e suas
relações mútuas, mais complexas.
Se a agenda Guedes-Bolsonaro for implantada, de
fato, devemos esperar um agravamento da desi-
gualdade e uma enorme e acelerada deterioração
das condições e perspectivas de vida das classes
médias e populares, o que restringe as perspecti-
vas e possibilidades de reconstrução de um esta-
do nacional desenvolvimentista e de bem-estar
social como o que precisaríamos para enfrentar a
transição pós-pandemia para um novo modelo de
desenvolvimento. Nesta perspectiva, dois cenários
são colocados: o afastamento do presi-
dente ou o aumento da resiliência, da
nossa capacidade de resistir o que im-
plica, necessariamente, na ampliação da
base de oposição ao governo, na socie-
dade e no Congresso.
O afastamento, que seria o melhor cami-
nho, depende pouco de nós por mais que
denunciemos e fustiguemos o governo.
Aqueles que levaram esse facínora a pre-
sidência detêm a maioria necessária para
afastá-lo.
A resistência pode sim ser potencializada
e ampliada a partir do rompimento no
próprio consórcio que o elegeu. Também
não devemos subestimar o desgaste do
governo e de Bolsonaro pelo fato do
Brasil não iniciar a vacinação quando
o mundo todo já o fez. O fim do auxílio
emergencial, quando vivemos o recru-
descimento da pandemia, é um outro fa-
tor de desgaste que ainda não podemos
dimensionar.
É uma nova conjuntura que deve impac-
tar a popularidade do presidente com
reflexos no Congresso. Mas, diante do
que já vimos, não podemos desprezar a
capacidade de destruir do presidente.
Neste momento, a omissão e o silêncio
não são opções, qualquer dissidência no
Lula Marques
Bolsonarismo é importante no esforço de
pôr fim à barbárie.
103
 PRINCIPAIS INICIATIVAS DO PT
anexo 1

104
Mais Bolsa Família
PL 4086/2020 - Ementa: Altera a Lei n. 10.836, de
9 de janeiro de 2004, que cria o Programa Bolsa
Família, e a Lei n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993,
que dispõe sobre a organização da Assistência
Social, e dá outras providências, para ampliar as
condições de superação da vulnerabilidade econô-
mica (Mais Bolsa Família).
Resumo: A proposta amplia o alcance do atual
Bolsa Família, assegura acesso a mais famílias e
ainda amplia o valor dos benefícios já concedidos,
garantindo que todas as famílias com renda por
pessoa até R$ 600 passem a ser atendidas pelo
Bolsa Família. Todas as famílias com renda até R$
600/mês por pessoa (bem acima da linha de po-
breza de US$5,5 ppp – paridade poder de compra,
R$ 434,00) e que tenham gestantes, nutrizes, crian-
ças ou jovens teriam direito a um benefício fixo de
R$ 300 para cada um deles.
As famílias com renda por pessoa até R$ 300/mês
(acima da linha de extrema pobreza definida pelo
Banco Mundial de US$ 3,2 ppp, RS 253,00) será
assegurado uma complementação de renda, adi-
cional aos benefícios para crianças, jovens nutri-
zes e gestantes, de forma a garantir que nenhum
brasileiro viva com menos que uma renda mínima
de R$ 300,00. Além disso, faz integração do CadÚni-
co, para garantir uma inclusão eficiente, a partir da
comprovação da elegibilidade pelo critério “renda”
e funcionaria em moldes similares ao Seguro-De-
semprego, de acesso imediato a quem dele precisa.
Ademais, para avaliar e assegurar o contínuo aper-
feiçoamento destes novos mecanismos, o projeto
propõe a criação de uma instância de avaliação
das políticas de combate à pobreza e inclusão so-
cial vinculada ao Congresso Nacional e com partici-
pação da sociedade, em formato similar à existente
no Canadá, país referência neste tema.
Resgate da política de valorização
salário-mínimo
PL 370/2019 - Dep. Gleisi Hoffmann e outros - Dis-
põe sobre a política de valorização do salário-míni-
mo para o período de 2020 a 2023.
Resumo: Nos mesmos moldes adotados pelos go-
vernos do PT e que trouxe dignidade para a maior
fonte de renda da classe trabalhadora e a referên-
cia para aposentados/as, pensionistas e beneficiá-
rios da Assistência Social, como o BPC.
Trabalho e Renda para todos/to-
das
(PL 4943/2020)
Resumo: O Programa proporciona a
todas as pessoas que estão fora do mer-
cado formal de trabalho e que se dis-
põem a ter acesso a cursos de formação
e qualificação profissional pertinentes,
usando metade da jornada para desem-
penhar atividades, ocupando postos de
trabalho criados e monitorados por ór-
gãos públicos e organizações da socie-
dade civil nos municípios e recebendo,
como contrapartida, o pagamento de
metade de um salário mínimo e outros
direitos de proteção social do trabalho
(contribuição previdenciária, licença,
auxílio transporte, etc.).
A proposta envolve um compromisso
Inter federativo, com execução local e
financiamento da União. Se apoia na
capilaridade das unidades do Sistema
Nacional de Emprego - SINE e dos ór-
gãos gestores das políticas públicas de
emprego e renda que existem em todos
os municípios e compõem uma corren-
te de informações e iniciativas sobre a
força de trabalho ociosa no local e as
ofertas de trabalho e cursos de qualifi-
cação profissional. A estimativa do custo
bruto anual do Programa é de cerca de
R$70 bilhões para cada 10 milhões de
trabalhadores, a serem custeados por
recursos específicos alocados no orça-
mento da União.
Carestia e Alimentos
PL 4614/2020 - Dispõe sobre medidas
emergenciais para a regularização da
oferta de alimentos da dieta básica da
população brasileira e dá outras provi-
dências.
Resumo: Visando garantir a segurança
alimentar interna, a proposição prevê:
i) a proibição, nas safras 2020/2021
e 2021/2022, do financiamento de cus-
teio, investimento e comercialização
105
 para as culturas da soja e cana de açúcar, e
para a bovinocultura de corte, com recursos do
Programa Nacional de Fortalecimento da Agri-
cultura Familiar – PRONAF.
ii) nestas safras, as operações de financia-
mento de custeio e comercialização das cultu-
ras do arroz, feijão, mandioca, e hortigranjeiros,
com recursos do Pronaf, teriam taxas de juros
de zero por cento ao ano e prazos de carência
e amortização duplicados em relação aos regu-
larmente previstas para essas atividades;
iii) em eventuais momentos de baixa dos
preços de mercado desses alimentos, seriam
fixados preços mínimos especiais para esses
produtos originários da agricultora familiar, em
patamares que remunerem efetivamente os
custos regionalizados de produção, acrescidos
de 15% (quinze por cento) a título de estímulo
pela segurança alimentar.
iv) Autoriza o Poder Executivo, median-
te processos simplificados, com dispensa de
licitação, a adquirir os volumes mantidos em
estoques privados, de arroz, feijão, milho, e
farinha de mandioca, que deverão ser destina-
dos à recomposição dos estoques públicos e à
regulação dos respectivos mercados. Para via-
bilizar tais operações, seriam adotados preços
com ágio de até 25% em relação às cotações
vigentes dos respectivos preços mínimos dos
produtos considerados.
v) institui tarifas aduaneiras, ad valorem,
que garantam a equalização dos preços inter-
nacionais aos domésticos, nas operações de
exportações de arroz, milho, soja em grãos, fa-
relo de soja e óleo de soja, para países de fora
do Mercosul, com vigor até a normalização do
abastecimento interno desses produtos confor-
me Ato do Poder Executivo.
PLP 263/2019 - Modifica o Art. 3º da Lei Com-
plementar nº 87, de 13 de setembro de 1996, e
dá outras providências.
Resumo: Por razões de segurança alimentar
da população brasileira a proposição prevê
alteração na Lei Kandir de modo a suspender
os benefícios dessa Lei aos produtos da dieta
básica cujos estoques públicos estejam regis-
trem níveis abaixo do correspondente a 10%
106
das estimativas oficiais do consumo interno
desses produtos.
Prorrogação do seguro-desemprego
PL 3618/2020 - Bohn Gass e outros - Dispõe
sobre adoção de medidas temporárias em
relação ao seguro-desemprego de que trata
a Lei nº 7.998, de 11 de janeiro de 1990 para
enfrentamento do estado de calamidade
pública reconhecido pelo Decreto Legislati-
vo nº 6, de 20 de março de 2020, e da emer-
gência de saúde pública de importância
internacional decorrente do coronavírus.
Resumo: para aquelas pessoas que tive-
ram vínculos de emprego formal encerrado
ao longo do ano de 2020, propõe o acesso
ou a ampliação das parcelas do segurode-
semprego, independente do cumprimento
dos requisitos exigidos ordinariamente na
lei, respeitando deliberação do Conselho
Deliberativo do Fundo de Amparo ao Traba-
lhador – CODEFAT. Transferir novos créditos
para o FAT viabilizar o pagamento das novas
parcelas
Auxílio emergencial
PL 2632/2020 - Ementa: Altera a Lei nº
13.982, de 2 de abril de 2020, para tornar
permanente o período de concessão do
auxílio emergencial.
Resumo: tornar o auxílio emergencial
previsto na Lei 13.982, de 2 de abril de 2020,
em um benefício permanente, consideran-
do que é esperada uma queda na renda de
toda a sociedade para o período pós pan-
demia,
Contra privatização
PL 2715/2020 - Ementa: Dispõe sobre a pa-
ralisação de processos de desestatização e
desinvestimentos realizados pela Adminis-
tração Pública até doze meses após o fim
do estado de calamidade pública instituído
pelo Decreto Legislativo nº 6, de 2020, e dá
outras providências.
Resumo: impedir o avanço de quaisquer
procedimentos referentes às privatizações
de estatais durante e após 12 meses de fin-
do a decretação do estado de calamidade
por causa da pandemia.

No final de agosto, seguindo o que determina a

legislação, o governo federal apresentou o Projeto
de Lei Orçamentária Anual para 2021. Pela primeira
vez a despesa foi estimada no limite dado pelo teto
de gasto. Dessa forma, as restrições fiscais ficaram
mais do que nunca expostas, evidenciando a invia-
bilidade de acomodar novas despesas e revelando
que apesar da crise, o ajuste fiscal é a prioridade.

Henrique Medeiros/Mídia Ninja

Camile Domingues/Fotos Públicas

107
 BALANÇO JURÍDICO
anexo 2

108
E
m um ano marcado pelo coronavírus e pela
inabilidade do governo federal de lidar
com as consequências da crise gerada pela
pandemia, assistimos, em muitas ocasiões,
os centros de decisão sobre questões ge-
renciais se deslocarem para o Congresso Nacional e
para o Supremo Tribunal Federal. Sem coordenação
centralizada do Executivo federal no gerenciamento
da crise, Legislativo e Judiciário ditaram os parâme-
tros que passaram a ser observados em nível esta-
dual e municipal.
Exemplos do peso dos poderes Legislativo e Judiciá-
rio no desenrolar da pandemia são o valor do au-
xílio emergencial, as regras para auxílio financeiro
aos estados, normas sobre contratação simplificada
e autonomia dos estados para estabelecer regras de
distanciamento social.
Nesse cenário de instabilidade, para além da já
demonstrada incapacidade do governo de manter
controle de sua agenda política, que se reflete nos
números de leis, medidas provisórias e vetos der-
rubados no Congresso Nacional, também são signi-
ficativas as decisões do STF que sustam efeitos ou
declaram inconstitucionais as medidas provisórias e
atos emanados pelo governo federal.
Na resistência pela manutenção dos direitos funda-
mentais consagrados pela Constituição, o aciona-
mento do Judiciário e dos órgãos de controle, com
responsabilidade técnica e estratégica, são também
ferramentas através das quais a bancada do Partido
dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados vem
atuando.
Cientes da crescente judicialização da política, do
ativismo judicial e das forças conservadoras atu-
antes nestes espaços de poder e controle, operar
nestas frentes sempre com responsabilidade social
também é parte da estratégia de resistência levada
a cabo pela bancada.
Diante dos diversos fatos, normas, atos do governo
descritos ao longo deste balanço em retrospectiva,
nas mais diversas áreas – saúde, educação, cultura,
meio ambiente – e também diante das evidentes
ilegalidades praticadas por Bolsonaro, seus familia-
res e apoiadores durante o ano, a assessoria técnica
da bancada atuou de forma a dar consistência e
embasamento jurídico às dezenas de denúncias e
ações judiciais protocolizadas pela bancada.
Durante o ano foram protocolizadas,
a partir de articulação da bancada,
37 ações judiciais, das quais 24 dire-
cionadas ao STF e 13 ao judiciário de
primeira instância. Diante dos atos
praticados pelo presidente, ministros
e apoiadores, foram apresentadas ao
Ministério Público 40 denúncias, além
de 6 representações à Comissão de
Ética da Presidência da República e da
Câmara dos Deputados. Também foram
apresentadas13 denúncias ao Tribunal
de Contas da União.
Na área da educação destaca-se a ação
ajuizada em razão do não adiamento
do ENEM, mesmo diante da pandemia,
em prejuízo de milhares de estudantes.
Essa ação ajudou a pressionar o gover
no pelo adiamento do exame.
Na área do meio ambiente, diante dos
ataques através de atos, revogações
e edições de decretos, foram ajuiza-
das diversas ações no STF e na justiça
comum, além de dezenas de requeri-
mentos e denúncias, dentre os quais
destacam-se ações contra a liberação
de agrotóxicos, pela retomada e des-
congelamento dos fundos da Amazô-
nia e do Clima, pela implementação
do Plano de Prevenção e Controle de
Desmatamento na Amazônia (PPCDAm),
bem como suspensão das resoluções
do CONAMA que operaram revogação
de resoluções protetivas ao meio am-
biente e à saúde da população brasi-
leira.
Ações diversas judiciais e administrati-
vas, bem como denúncias ao Tribunal
de Contas da União visaram a manu-
tenção do patrimônio público brasilei-
ro contra medidas de privatização de
empresas públicas – Petrobras, Caixa
Econômica Federal, Banco do Brasil,
Correios, Companhia Energética de
Brasília, dentre outras, inclusive com
relação a privatização de unidades de
conservação ambiental.
Destacam-se ainda diversas denún-
109
 cias em razão dos atos antidemocráticos como
publicação de vídeos, promoção e participação em
carreatas e manifestações durante a pandemia e
em desrespeito às medidas restritivas de circulação
de pessoas pedindo fechamento do STF e do Con-
gresso Nacional. Nesta seara, também foram toma-
das providências com relação aos evidentes atos
de perseguição política e ideológica de servidores
federais identificados como integrantes do “movi-
mento antifascismo”.
O combate as fake news e manifestações de au-
toridades incitando a prática de crimes e em
desrespeito à discriminação étnica e racial foram
incessantes durante o ano, com denúncias, reque-
rimentos de informações e pedidos de investigação
visando evidenciar as práticas imorais e ilegais dos
agentes públicos do governo e seus apoiadores.
Assim como o combate aos diversos atos de impro-
bidade administrativa através de requerimentos e
denúncias com relação a gastos em cartões corpo-
rativos, dispêndio de verbas públicas em campa-
nhas publicitárias falaciosas e que incitavam viola-
ção de medidas restritivas impostas pela pandemia
e atacam as instituições democráticas e adversários
políticos do presidente.
A bancada também provocou a abertura de inves-
tigação sobre a pretensão do MPF/PR juntamente
com a ONG Transparência Internacional, de apro-
priar-se de vultosos recursos decorrentes de paga-
mento efetuado pela empresa JBS (em acordo de
leniência) para criar uma Fundação, supostamente
dedicada ao combate à corrupção. Também na
temática da corrupção, atuou para levantamento
de diversas irregularidades na Operação Lava Jato
e contra atos praticados pelo presidente e por seus
filhos e apoiadores que indicam associação com
milícias e utilização de seu poder político e contro-
le das agências para beneficiamento próprio.
Na área dos direitos humanos, diversos requeri-
mentos e denúncias foram protocolizados com rela-
ção a adoção de medidas a respeito de anistiados,
mortos e desaparecidos políticos, com relação à
proteção da infância e juventude, políticas de pro-
moção de igualdade racial e proteção às mulheres.
Getty Images
A bancada também atuou fortemente com relação
à fiscalização da transferência dos recursos or-
çamentários e a transparência na divulgação dos
dados da pandemia, bem como tomou providências
110
a respeito da testagem e imunização da
população através de vacinas e contra a
adoção de políticas públicas de compras
de medicamentos cuja comprovação de
eficácia não fora atestada pelos órgãos
científicos.
Todas as medidas judiciais e denúncias
apresentadas pela bancada e menciona-
das ao longo deste balanço foram pensa-
das e executadas pela assessoria técnica
no intuito de resistir aos ataques e ame-
aças aos direitos fundamentais da po-
pulação brasileira, e também de modo a
fortalecer a atuação política e social das
Deputadas e Deputados do Partido dos
Trabalhadores, dentro e fora do Congres-
so Nacional, na luta por esses direitos.
Segue abaixo a lista com as ações movi-
das pela bancada do PT tanto em âmbito
judicial, quanto em âmbito administrati-
vo.
Ações Populares
1) Ação Popular com pedido de
liminar contra Alexandre Lopes, presi-
dente do Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacional Anísio Teixeira
– INEP e Abraham Weintraub, Ministro de
Estado da Educação
Aponta condutas lesivas à legalidade,
isonomia, igualdade e dignidade huma-
na, entre outras violações, consistente na
manutenção, a despeito da Pandemia de
Covid-19 e da inviabilidade de estudos
e, em muitos casos, conclusão do ano
letivo ou formatura para milhões de es-
tudantes, do Exame Nacional do Ensino
Médio – ENEM. A Medida busca suspen-
der todos os editais, em função das suas
nulidades, que dizem respeito ao Exame
nacional do ensino médio do corrente
ano até que haja normalização da situ-
ação de pandemia vivenciada pelo País,
com retorno das atividades escolares de
todos os alunos, possibilidades de frequ-
ência às aulas e/ou estudos para esgota-
mento da totalidade dos conteúdos pro-
gramáticos para, só então, em igualdades
de condições, ao menos formal, possam
todos os interessados realizar o referido
exame e assegurarem seus projetos de vidas, com o
ingresso no ensino superior; condenação dos Réus
a indenizar, todo e qualquer prejuízo que tenha sido
ou venha a ser causados ao erário público; encami-
nhamento de cópia da sentença ao Ministério Pú-
blico federal, para que promova a responsabilização
dos réus, se houver, inclusive por ato de improbi-
dade administrativa, com base no artigo 11, caput, e
inciso I, da Lei nº 8.429, de 2 junho de 1992.
2) Ação Popular Constitucional com pedido
de medida liminar contra Marcelo Augusto Xavier da
Silva, presidente da Fundação Nacional do Índio -
FUNAI e a União Federal
Em consequência da Instrução Normativa nº 9/2020,
mais de 237 terras indígenas pendentes de homolo-
gação que poderão ser vendidas, loteadas desmem-
bradas e até invadidas. Desse modo, pela siste-
mática pretendida com o ato, nada impedirá que,
posteriormente, a área ilegal seja legalizada junto
ao Incra (conforme artigo 3º da IN), bastando para
tanto, que se recorra ao cadastro auto declaratório,
pois, soma-se ao ato impugnado os efeitos da Me-
dida Provisória nº 910/2019, vulgarmente apelidada
de “MP da grilagem”, ainda em análise no Parlamen-
to Federal.
Requer nulidade ou a suspensão dos efeitos da
Instrução Normativa nº 9/2020 – FUNAI, até o jul-
gamento do mérito da presente demanda, encami-
nhamento dos Autos ao Ministério Público Federal,
a fim de que seja eventualmente impetrada a com-
petente ação civil por ato de improbidade adminis-
trativa
3) Ação Popular Constitucional com pedido
de medida liminar contra Jair Messias Bolsonaro,
presidente da República, Tereza Cristina Corrêa da
Costa Dias, Ministra de Estado da Agricultura, Pe-
cuária e Abastecimento, Ricardo de Aquino Salles,
Ministro de Estado do Meio Ambiente e União Fede-
ral
Em consequência do Decreto n° 10.347, de 13 de
maio de 2020, dispondo sobre as competências para
a concessão de florestas públicas, em âmbito fede-
ral. Que transfere as competências atribuídas pelo
art. 49, da Lei nº 11.284, de 2 de março de 2006 para
o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimen-
to (MAPA). As competências referidas pelo decreto
dizem respeito aos órgãos responsáveis pela gestão
e fiscalização das florestas públicas, estabelecendo
conforme extração do art. 49 ao Poder
Concedente.
Requer nulidade do Decreto n° 10.347,
de 13 de maio de 2020, em razão de
tratarse de medida atentatória aos
princípios da finalidade pública, im-
pessoalidade, eficiência e moralidade
administrativa, encaminhamento dos
Autos ao Ministério Público Federal, a
fim de que seja eventualmente impe-
trada a competente ação civil por ato
de improbidade administrativa.
4) Ação Popular na Justiça Fede-
ral do Estado do Amazonas pelos Parti-
dos PSOL, PSB, PT e Rede – Ricardo
Salles
Trata do congelamento de verbas des-
tinadas à preservação ambiental e ex-
portação de madeira sem fiscalização.
5) Ação Popular com pedido de
liminar, contra Paulo Roberto Nunes
Guedes, Ministro da Economia, Waldery
Rodrigues Júnior, Secretário Especial
da Fazenda e União
A ação pede a nulidade da Portaria nº
13.474, de 04 de junho de 2020, pela
qual o Ministério da Fazenda abriu ao
Orçamento Fiscal da União de 2020,
em favor da Secretaria Especial de
Comunicação Social da Presidência da
República, crédito suplementar no va-
lor de R$ 83.904.162,00 (oitenta e três
milhões, novecentos e quatro mil, cen-
to e sessenta e dois reais) – montan-
te retirado da dotação orçamentária
originalmente destinada à transferên-
cia de renda diretamente às famílias
em condição de pobreza e extrema
pobreza (Programa Bolsa Família - Lei
nº 10.836, de 2004) especificamente
da região Nordeste. Pede-se ainda
seja vedado corte orçamentário, pela
União, do referido Programa enquanto
durar a pandemia de Covid-19 no país.
6) Ação Popular com pedido de
liminar, contra Damares Regina Alves,
Ministra da Mulher, da Família e dos
111
 Direitos Humanos e União
A ação pede a declaração de existência de ofensa
aos princípios da legalidade, publicidade (trans-
parência) e a abusividade da determinação de
sonegação dos dados sobre violência policial do
balanço anual sobre violação de direitos humanos
de 2020, afastando-se, consequentemente, sua apli-
cabilidade, restituindo-se a transparência a bem do
interesse público.
7) Ação Popular com pedido de liminar,
contra Ricardo De Aquino Salles, Ministro do Meio
Ambiente, Eduardo Fortunato Bim, presidente do
IBAMA e União
A ação pede a declaração de nulidade do ato omis-
sivo e a obrigação de fazer da Administração Públi-
ca, restabelecendo as adequações necessárias e o
retorno imediato do SICAFI, bem como a inserção
de todos os autos lavrados a partir de 8 de outubro,
em razão de tratar-se de medida atentatória aos
princípios da finalidade pública, eficiência, morali-
dade administrativa e publicidade.
8) Ação Popular dos Deps. Gleisi Hoffmann,
Enio Verri e Nilto Tatto, contra Ricardo Salles, CONA-
MA e UNIÃO
Suspender a 135ª reunião do CONAMA com pauta
para revogação de resoluções protetivas ao meio
ambiente e à saúde da população brasileira.
9) Ação Popular dos Deps. Nilto Tatto, João
Daniel e Beto Faro, contra Antônio Barra Torres, AN-
VISA e Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias
Consiste na liberação pela ANVISA, de estoques
de agrotóxicos nocivo à saúde humana e ao meio
ambiente.
10) Ação Popular dos Deps. José Guimarães,
Enio Verri, Gleisi Hoffmann, Afonso Florence e
Sen. Humberto Costa, contra Luiz Eduardo Ramos,
Ministro-Chefe da Secretaria de Governo e Fábio
Wajngarten, Secretário-executivo do Ministério das
Comunicações
Suspender a vigilância sistemática dos parlamenta-
res realizados pela Secretaria de Governo da Presi-
dência da República e pela Secretaria de Comuni-
cação Social, bem como, a suspensão do contrato
com a empresa responsável pelos relatórios de
monitoramento, atividade não compreendida nas
competências dos citados órgãos
112
11) Ação Popular contra Luiz Anto-
nio Nabhan Garcia, Secretário Especial
de Assuntos Fundiários, do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento –
MAPA e Geraldo José Da Camara Ferreira
De Melo Filho, presidente do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma
Agrária – INCRA.
Apurar a edição de Portaria do INCRA,
que transfere, sem qualquer critério
técnico ou científico, para a iniciativa
privada, uma função pública do INCRA,
deixando à mercê das conveniências
e forças políticas vigentes nas mais de
5.500 Urbes brasileiras, a “vistoria/fisca-
lização” para fins de titulação de terras
no País
12) Ação Popular contra presiden-
te da República, Jair Messias Bolsonaro,
Alexandre Ramagem, atualmente no
exercício do cargo de DiretorGeral da
Agência Brasileira de Inteligência – ABIN
e União Federal
Afastamento de Alexandre Ramagem da
ABIN.
Atuação no Supremo Tribunal Federal
1) Notícia Crime no STF contra Bia
Kicis, Hélio Lopes, Carla Zambelli e Edu-
ardo Bolsonaro
Pela participação ato ocorrido no dia
03de maio de 2020, em frente ao Palácio
do Planalto pregando o fechamento do
Congresso e do STF, defendendo a volta
da ditadura Ato contra a Democracia e a
Constituição.
2) Notícia Crime no STF em des-
favor da pessoa conhecida nas redes
sociais (Facebook) como Paulo Felipe
Pela convocação de ato em Brasília no
dia 08 de maio de 2020, com previsão de
arregimentação de 300 caminhões e res-
pectivos ocupantes, além de militares
da reserva, civis, homens, mulheres e
crianças para “dar cabo a essa patifaria
estabelecida no País e representada (a
patifaria) por aquela CASA MALDITA do
Supremo Tribunal Federal - STF, com seus 11 (onze)
gângsteres, que têm destruído a Nação”.
Pede-se que liminarmente, seja determinado à Po-
lícia Rodoviária Federal e à Polícia Federal que con-
firmem a existência da organização dessa carreata/
manifestação, para ocorrer em Brasília, que tem
como alvo principal esse Supremo Tribunal Federal
e seus Ministros, e impeça a sua ocorrência, inclusi-
ve com a prisão dos envolvidos; sejam os fatos aqui
articulados acrescidos ao Inquérito já instaurado
nesse Supremo Tribunal Federal, sob a relatoria do
Ministro Alexandre de Moraes, que investiga Atos
em Favor do AI-5 e do fechamento das
Instituições Democráticas;
3) Notícia Crime ao STF, pelo Deputado Bohn
Gass
Vídeo contendo acusações, difamações e ações
inconstitucionais e antidemocráticas, contra os
Poderes Legislativo e Judiciário, além de pregar a
supressão de garantias fundamentais e a interven-
ção militar.
4) Representação no STF pelo Deputado
Alencar Santana contra Roberto Jefferson Monteiro
Francisco, presidente do Partido Trabalhista Brasi-
leiro – PTB
Divulgou em sua conta na rede social Twitter ima-
gens e frases que extrapolam em grande medida o
direito à livre manifestação do pensamento, ata-
cando e ameaçando frontalmente o Estado Demo-
crático de Direito, o STF, a liberdade de imprensa,
além de incitar a violência. Em uma postagem ele
aparece em fotografia portanto um fuzil, arma de
grosso calibre de uso restrito das forças armadas.
Nenhuma dúvida que o representado suplanta em
muito o direito à livre manifestação do pensamen-
to.
Requer seja anexada aos inquéritos em curso a pre-
sente representação, a fim de apurar a participação
do representado nos atos de afronta ao Estado De-
mocrático de Direito e na possível prática de outros
delitos
5) Representação no STF - Inquérito 4.781
(Fake News - direcionamento de navegação twitter
e aplicativo oficial do Ministério da Saúde)
A rede social Twitter Brasil, por intermédio de apli-
cativo oficial do Ministério da Saúde
(denominado Coronavírus SUS), está
permitindo, facilitando e/ou direcio-
nando os usuários que navegam no
referido aplicativo para as páginas e
redes sociais de pessoas e autoridades
(ligadas ao Poder Executivo Federal ou
apoiadoras deste) que são ou poderão
ser objeto de investigação nesse Supre-
mo Tribunal Federal e que estão a vei-
cular, em reiteração criminosa, ataques
às instituições, autoridades (do Legisla-
tivo) e do Judiciário, além de pregarem
iniciativas contrárias às orientações
sanitárias das autoridades de saúde do
País e do Mundo, sem qualquer preocu-
pação com a ilegalidade e inconstitu-
cionalidade de suas condutas.
Ao se consultar (e instalar) o aplicati-
vo “CORONAVÍRUS SUS”, vinculado ao
Ministério da Saúde, o usuário que não
possui conta no “twitter” é direcionado,
automaticamente, a partir do momento
em que escolhe navegar de forma mais
amiúde pelo aplicativo, ou seja, clican-
do a trilha - “dicas oficiais – “ver mais”
(ícone à direita) para as páginas oficiais
de pessoas e ativistas (de direita) que
fazem parte do grupo político que co-
manda o Poder Executivo Federal atu-
almente ou, que lhes dão sustentação
política, na mesma linha ideológica, no
âmbito do Poder Legislativo Federal e
na sociedade civil.
6) Representação no STF - Inqué-
rito 4.828 (investigação à atos antide-
mocráticos em afronta à Lei de Segu-
rança Nacional)
Ocorre um acampamento em Brasília,
na Esplanada dos Ministérios, onde
várias barracas idênticas foram mon-
tadas, o que, evidencia indícios de um
possível financiamento aos atos ilegais
ora debatidos.
Que sejam imediatamente investigados
os crimes cometidos pelo grupo “300
do Brasil”, bem como a participação e
apoio do presidente da República em
atos antidemocráticos e em afronta à
113
 legislação e à Carta Magna.
Requer que oficie a Procuradoria Geral da Repú-
blica para que esta apure: a efetiva participação e
as responsabilidades do presidente da República,
Sr. Jair Messias Bolsonaro, no apoio e participação
dos atos contra o sistema democrático brasileiro,
no âmbito do inquérito 4828/DF e as denúncias
relacionadas ao grupo “300 do Brasil”, também no
âmbito do Inquérito 4828/DF, com diligências no
sentido de verificar a existência de ilegalidades
cometidas pelo movimento e seus responsáveis
contra setores da imprensa e da política brasileira,
além de supostos crimes contra o Estado Demo-
crático de Direito e da Lei de Segurança Nacional,
inclusive em relação a possível financiamento dos
atos do grupo supramencionado.
7) Representação no STF - Inquérito 4.828
(investigação à atos antidemocráticos em afronta à
Lei de Segurança Nacional - novos fatos)
O chamado “300 do Brasil”, no último sábado, dia
30 de maio de 2020, realizou um ato em frente ao
Supremo Tribunal Federal (STF), claramente simu-
lando uma marcha da já conhecida Ku Klux Klan
(KKK), um grupo supremacista dos EUA, notório
perseguidor de negros e minorias.
No local, novamente foram vistas diversas faixas e
cânticos contra as instituições democráticas brasi-
leiras, inclusive pleiteando o fechamento do STF e
com sérias ameaças
Requer que oficie a Procuradoria Geral da Repúbli-
ca para que esta apure, bem como, de ofício, tome
as medidas preventivas cabíveis para a apuração e
punição dos organizadores do movimento “300 do
Brasil”, em especial sua líder, Sr. Sara Winter, no âm-
bito do inquérito 4828/DF e para que apure a par-
ticipação do presidente, Sr. Jair Messias Bolsonaro,
nos atos supramencionados.
8) Representação no STF - Inquérito 4.828
(investigação à atos antidemocráticos em afronta à
Lei de Segurança Nacional - novos fatos)
O grupo chamado “300 do Brasil”, na noite do sá-
bado 30 de maio de 2020, realizou ato em frente ao
STF, simulando uma marcha da Ku Klux Klan (KKK),
grupo supremacista dos EUA, notório perseguidor
de negros e minorias. Houve faixas e cânticos con-
tra as instituições democráticas brasileiras, inclusi-
ve pleiteando o fechamento do STF.
114
Assim, requer-se à PGR investigar no
mesmo inquérito: (a) organizadores do
grupo “300 do Brasil”, em especial sua
líder, Sra. Sara Winter, e (b) a participa-
ção do presidente Jair Bolsonaro nos
atos supramencionados.
9) Representação no STF - In-
quérito 4.781 (investigações de notícias
fraudulentas, falsas comunicações
de crimes, denunciações caluniosas,
ameaças e demais infrações cometidas
contra a segurança deste Tribunal e de
seus membros) – Pelos Deps. Rogério
Correa, Alencar Santana, Padre João,
João Daniel e Paulo Pimenta, contra Sr.
Abraham Weintraub
Que o STF recolha o passaporte do
investigado, Sr. Abraham Weintraub, e
evite uma possível evasão, o que invia-
bilizaria ou dificultaria as investigações
e possíveis responsabilizações.
10) Representação no STF - In-
quérito 4.871 (fake news) – pelo Dep.
Célio Moura, contra Sr. Abraham Wein-
traub
Que o STF recolha o passaporte do
investigado, Sr. Abraham Weintraub, e a
comunicação de vedação de expedição
de novo documento de viagem, inclusi-
ve passaporte diplomático.
11) Representação no STF - In-
quérito 4.781 (investigações de notícias
fraudulentas, falsas comunicações
de crimes, denunciações caluniosas,
ameaças e demais infrações cometidas
contra a segurança deste Tribunal e
de seus membros) – pelo Dep. Rogério
Correa, contra Dep. Carla Zambelli
Ameaças recebidas, iniciadas através
da conduta da Deputada Carla Zam-
belli, sendo comprovada a existência,
autoria e materialidade do esquema de
divulgação de ‘fake news’.
12) Representação no STF – ban-
cada do PT contra Bolsonaro
Entrevista à imprensa sem máscara.
Que o STF admita a presente notícia
crime com a consequente intimação da Procu-
radoria-Geral da República para promover o
oferecimento da denúncia pela prática dos cri-
mes perpetrados pela conduta do indigitado,
apurando-se ao final, suas responsabilidades.
13) ADI 6537 no STF pelo PT, PSB, PDT,
PSOL, PCdoB e Rede
Contra a Privatização da Caixa Econômica
Federal, foi ajuizada ADI em face da MP nº
995/2020 que permite o fatiamento da CEF
com vistas a facilitar a venda dos ativos do
banco.
14) Representação no STF – pelos Deps.
Enio Verri, Helder Salomão, João Daniel e
Rogério Correia, contra decisão proferida pelo
Excelentíssimo Desembargador Amorim Si-
queira da colenda 9ª Câmara Civil do egrégio
Tribunal de Justiça de Minas Gerais, nos autos
do Agravo de Instrumento n. 1.0000.15.088929-
3/004
Análise da reclamação (Rcl 4272) de despejo
Campo do Meio (MG).
15) ADI 6622 pelo PT e Articulação dos
Povos Indígenas do Brasil - APIB
ADI em face da Lei nº14.021/2020, que versa
sobre a entrada e permanência demissioná-
rios em áreas de indígenas isolados. Ação em
parceria com a APIB e com a Dra. Carolina. O
Ministro Relator, Luís Roberto Barroso, pe-
diu informações no prazo de 5 (cinco) dias. Já
durante o recesso forense de 2020/21, houve
nova petição requerendo a concessão da limi-
nar, mas o Ministro Luiz Fux entendeu não ser
o caso de atuação da Presidência.
16) ADI 6447 pelo PT
A Ação Direta de Inconstitucionalidade objeti-
va a declaração de inconstitucionalidade dos
artigos 7º e 8º da Lei Complementar nº 173
de 27 de maio de 2020. A referida Lei estabe-
lece o Programa Federativo de Enfrentamen-
to ao Coronavírus SARS-CoV-2(Covid-19) e os
dispositivos impugnados visam a proibição
da concessão de aumentos às remunerações
dos servidores públicos de todos os entes da
Federação. O processo, após 60 pedidos de
ingresso na condição de amicus curiae, está
concluso ao Ministro Relator.
17) ADI 6573 pelo PT
Ação Direta de Inconstitucionalidade
ajuizada em detrimento do art. 4º, inci-
so IV, alíneas ‘a’ e ‘b’, e dos arts. 5º a 16,
todos da Lei Complementar Estadual de
Alagoas nº50, de 15 de outubro de 2019
que cria a RMM (Região Metropolitana de
Maceió) e permitia a privatização da rede
de saneamento.
18) ADI 6370 pelo PT, PCdoB e PSOL
Ação Direta de Inconstitucionalidade
contra a Medida Provisória nº 936, acer-
ca de direitos trabalhista em tempos de
Covid-19. Em que pese o Ministro Rela-
tor seja responsável por todas as ações
que tratam da MP 936, apenas levou a
ADI 6363 a julgamento, outrora ajuizado
pela REDE, após a concessão da medida
liminar, que foi revertida pelo Plenário
do STF. A ação está conclusa ao Relator
para julgamento.
19) ADI 6536 pelo PT, PCdoB, PSOL
e PSB
Ação Direta de Inconstitucionalidade
em face da nova lei que regulamenta o
marco civil sanitário (Lei n. 14.026, de 15
de julho de 2020). O Ministro Luiz Fux en-
caminhou os autos para AGU e PGR para
manifestação e parecer.
20) ADI 6466 pelo PT
Ação Direta de Inconstitucionalidade
contra a interpretação dada ao Estatuto
do Desarmamento que autoriza a aqui-
sição de número grande de munições,
pautando a discussão a partir do argu-
mento que a arma para o cidadão co-
mum apenas pode servir para proteção
pessoal em suas estritas proporções, não
podendo haver inundação de munições
na sociedade brasileira, tendo em vista
sua relação direta como número de víti-
mas fatais.
21) ADPF 709 pelo PT, Articulação
Dos Povos Indígenas Do Brasil (APIB),
115
 PSB, PSOL, Rede, PDT, PCdoB
ADPF requerendo a adoção de medidas pelo Poder
Executivo no combate à contaminação pelo novo
coronavírus às comunidades indígenas. O Ministro
Luís Roberto Barroso concedeu a medida limi-
nar, posteriormente referendada pelo Plenário do
Supremo Tribunal Federal, de modo a estabelecer
um gabinete de crise para análise das medidas de
segurança a serem implementadas em prol das
comunidades indígenas.
22) Amicus Curiae na ADPF 663 pelo PT
Pedido de ingresso na ação na qualidade de ami-
cus curiae, pelo Partido dos Trabalhadores, na
Arguição de Descumprimento de Preceito Funda-
mental que buscava a prorrogação da vigência das
Medidas Provisórias enquanto o Congresso Nacio-
nal não estivesse em reuniões presenciais. Houve a
apresentação, pelo Congresso Nacional, de modelo
de votação virtual, o que foi acatado pelo Ministro
Relator e, posteriormente, referendado pelo Plená-
rio do STF. Agora a ação está aguardando julgamen-
to do mérito.
23) Amicus Curiae na ADPF 661 pelo PT
Pedido de ingresso na ação na qualidade de ami-
cus curiae, pelo Partido dos Trabalhadores, na
Arguição de Descumprimento de Preceito Funda-
mental que buscava a prorrogação da vigência das
Medidas Provisórias enquanto o Congresso Nacio-
nal não estivesse em reuniões presenciais. Houve a
apresentação, pelo Congresso Nacional, de modelo
de votação virtual, o que foi acatado pelo Ministro
Relator e, posteriormente, referendado pelo Plená-
rio do STF. Agora a ação está aguardando julgamen-
to do mérito.
24) ADPF 746 pelo PT
Ação ajuizada pelo Partido dos Trabalhadores em
detrimento da inação do Poder Executivo em face
das queimadas, cada vez mais crescentes, na Ama-
zônia e no Pantanal brasileiros, pedindo a conde-
nação da União à adoção de esforços operacionais
para combater as referidas queimadas, a elabora-
ção de estudos a respeito do impacto das queima-
das, a instituição de projeto de tratamento médico
veterinário aos animais silvestres atingidos, a
criação de comissão multidisciplinar para servir de
observatório acerca do desenvolvimento dos esfor-
116
ços acima mencionados, além da ordem
de explicação detalhada por parte do
MMA sobre a execução do orçamento
direcionado ao combate a queimadas .
O Ministro Marco Aurélio intimou a AGU
e a PGR para manifestação e parecer.
Aguarda-se decisão ou pauta.
25) ADPF 769 pelo PT, PSOL, PC-
doB, PSB e REDE e CONTAG
ADPF proposta em face da omissão do
Poder Executivo em dar prosseguimen-
to às ações que vissem concretizar a
reforma agrária.
Entrada em conjunto com demais par-
tidos de oposição (PSOL, PCdoB, PSB e
REDE) com a CONTAG. Distribuída ao Mi-
nistro Marco Aurélio, houve o despacho
para intimação da AGU e da PGR para
manifestação e parecer.
26) ADPF 708 pelo PT, PSB, PCdoB
e Rede
Arguição de Descumprimento de Precei-
to Fundamental ajuizada pelo Partido
dos Trabalhadores, em conjunto com
outros partidos de oposição (PSB, PC-
doB e REDE), em detrimento da omissão
da União Federal no que tange à utiliza-
ção do Fundo Clima.
Inicialmente, a ação foi apresenta-
da como Ação Direta de Inconsti-
tucionalidade por Omissão (ADO 60),
mas o Ministro Relator ordenou a sua
autuação como ADPF, por compreender
se tratar de violação a preceitos funda-
mentais. Posteriormente, foi promovida
Audiência Pública e, agora, se encontra
concluso ao Relator.
27) ADPF 744 pelo PT e PSB
Arguição de descumprimento de pre-
ceito fundamental em face do decreto
presidencial que reinstituiu o Conselho
da Amazônia, arguindo violação aos
princípios da participação social, da ve-
dação ao retrocesso social, da proteção
ao meio-ambiente. Ação articulada pelo Dep.
Federal Airton Faleiro do PT/PA, em conjunto
com movimentos sociais dos povos da Amazô-
nia.
28) ADPF 742 pelo PT, PSB, PSOL, PCdoB,
Rede e Coordenação Nacional de Articulação
das Comunidades Negras Rurais Quilombolas
– CONAQ
Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental ajuizada em conjunto com ou-
tras agremiações e a Coordenação Nacional de
Articulação das Comunidades Negras Rurais
Quilombolas – CONAQ requerendo a adoção
de providências de combate à Covid-19 no âm-
bito dos quilombos. Apesar da relevância da
matéria o processo foi remetido à PGR apenas
no dia 28/12/2020.
29) ADPF 756 pelo PT, PCdoB, PSOL, PSB,
Cidadania
Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental ajuizada pelo Partido dos Traba-
lhadores em conjunto com outros partidos de
oposição em que se requer o reconhecimento
da inconstitucionalidade da omissão do Poder
Executivo em promover a campanha de vaci-
nação contra a Covid-19, de modo a requerer
a ordem de abstenção do presidente da Repú-
blica e de qualquer outra autoridade brasileira
de adotar medidas ideológicas que prejudi-
quem a imunização da sociedade, além da
apresentação de um Plano Nacional de Vaci-
nação. Distribuído ao Ministro Ricardo Lewan-
dowski, houve de ofício o pedido que a União
explicasse as causas de interrupção dos testes
da vacina CoronaVac, o que foi atendido pelo
Ministério da Saúde. Posteriormente o proces-
so foi incluído em pauta, havendo divulgação
prévia do voto do Relator no sentido de or-
denar a apresentação do Plano Nacional da
Vacinação. Em que pese o processo tenha sido
retirado de pauta logo nas primeiras horas do
julgamento em razão do pedido de vista do
Ministro Luiz Fux, o Ministério da Saúde apre-
sentou voluntariamente o Plano Nacional de
Vacinação aos autos. A liminar ainda aguarda
devolução à pauta para ter continuidade de
julgamento.
30) ADPF 747 pelo PT
Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental em detrimento da Resolução
nº 500/2020 do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA) que extinguiu outras
resoluções que garantiam proteção ao meio
ambiente. Em decisão liminar, a Ministra
Rosa Weber acolheu o pedido formulado
pelo Partido dos Trabalhadores, de modo a
suspender os efeitos da mencionada norma,
e disponibilizou o processo para o Plenário
Virtual que, por unanimidade, confirmou a
suspensão.
31) ADPF 755 pelo PT, PSB, PSOL, Rede
Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental ajuizada pelo Partido dos Tra-
balhadores em conjunto com outros partidos
de oposição em que se pugna pelo da etapa
obrigatória de mediação em sede de multas
administrativas arbitradas pela Adminis-
tração em matéria ambiental. Segundo a
ação, desde a implementação dessa etapa
processual, houveram audiências de media-
ção, de sorte que os processos não tiveram
prosseguimento e estão se aproximando
da prescrição. Após ouvidas as autoridades
competentes, o processo está concluso para
a Ministra Relatora.
32) ADPF 718 pelo PT
ADPF em face do segundo veto presidencial
ocorrido sobre o inciso III do art. 3º-A, ao §
5º do art. 3º-B e ao art. 3º-F, todos da Lei nº
13.979, de 6 de fevereiro de 2020, alterados
pelo Projeto de Lei nº 1.562/2020. Alegamos
a violação ao direito à saúde e ao ato jurí-
dico perfeito. A liminar foi concedida pelo
Ministro Relator e posteriormente referenda-
da pelo plenário do STF.
33) ADPF 760 pelo PT, PSB, REDE, PDT,
PV,PSOL, PCdoB
Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental ajuizada pelo Partido dos Tra-
balhadores em conjunto com outros partidos
de oposição (PSB, REDE, PDT, PV, PSOL, PC-
doB) e com outras instituições da sociedade
civil em prol da obrigatoriedade da União
voltar a implementar o Plano de Prevenção e
117
 Controle de Desmatamento na Amazônia (PPCDAm)
a partir de alguns parâmetros descritos na petição
inicial. Ação foi distribuída a Ministra Cármem Lúcia
por prevenção à ADO 54.
34) ADPF 716 pelo PT
ADPF contra Portaria da Secretaria de Emprego e
Previdência Social do Ministério da Economia que
estabelecer prazo certo para que os demais entes
federativos adotassem as medidas trazidas pela
Emenda Constitucional da reforma da previdência.
O processo se encontra concluso ao relator após a
manifestação contrária ao provimento pela Advoca-
cia-Geral da União e do parecer pelo não conheci-
mento da ação pela Procuradoria-Geral da Repúbli-
ca.
35) ADPF 676 pelo PT
ADPF contra a omissão do governo federal objeti-
vando o reconhecimento da inconstitucionalidade
da postura omissiva do governo federal frente a
pandemia de Covid-19, provocada pelo “novo co-
ronavírus”, no que tange a falha na divulgação dos
dados e da metodologia de apuração do número
de infectados, provocado pelo ínfimo número de
testagens e, consequentemente, manutenção de
dados absolutamente subnoticados, que promovem
a adoção de medidas de saúde pública precárias e
descoladas da realidade, bem como da divulgação
de informações sem embasamento científico, pon-
do em dúvida e risco toda a população, sobretudo
diante da evidente promoção e incentivo ao uso de
medicamentos cuja eficácia para tratamento da Co-
vid-19 sem comprovação científica e com potencial
de gerar efeitos colaterais graves à saúde pela sua
utilização indevida. Após manifestação da Advo-
cacia-Geral da União e da Procuradoria-Geral da
República, o Ministro Relator julgou improcedente
monocraticamente sob o argumento de se tratar
de uma tentativa de indevida de interferência do
Poder Judiciário no Poder Executivo. Deliberado por
não opormos qualquer recurso.
36) ADO 59 pelo PT, PSB, PSOL, Rede
Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão
a UNIÃO quanto à adoção de providência de índole
administrativa objetivando a suspensão da parali-
sação do “FUNDO AMAZÔNIA. A Ministra Rosa Weber
realizou Audiência Pública e o processo se encontra
concluso para o relator.
118
37) ADO 60 pelo PT, PSB, PSOL,
Rede
Ação Direta de Inconstitucionalidade
por Omissão da UNIÃO ao não adotar
providências de índole administrati-
va objetivando o funcionamento do
“FUNDO CLIMA”. O Ministro Relator, em
análise da matéria, ordenou a autuação
como Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental (ADPF 708).
Denúncias à Procuradoria Geral da Re-
pública e ao Ministério Público
1) Notícia Crime no Ministério
público do DF contra Paulo Felipe (Co-
mandante Paulo) e Marcelo Stachin
Pede-se a adoção de providências
legais, inclusive junto à Polícia Rodo-
viária Federal e à Polícia Federal, com
vistas a reprimir a prática 12 criminosa
que se anuncia, em seu nascedouro e,
se for o caso, a prisão dos envolvidos
(crimes permanentes) e a instauração
das ações penais e civis pertinentes,
para a devida responsabilização de
todos os envolvidos nessas práticas
delituosas;
2) Representação Criminal à PGR
contra Evandro de Araújo Paula, Sara
Fernanda Giromini (Sara Winter), Desiré
Queiroz, Wagner Cunha, Cibelle Rodova-
lho, Lúcia Ottoni
Organizadores de uma carreata, finali-
zada com manifestação na esplanada
dos Ministérios e Praça dos Três Pode-
res, tudo em detrimento das medidas
sanitárias de distanciamento social e
vedação às aglomerações de pessoas,
e cujo lema, ilícito, mais uma vez era
o fechamento do Congresso Nacional,
do Supremo Tribunal Federal e volta da
ditadura militar.
3) Representação na PGR contra
Onyx Lorenzoni, Ministro da Cidadania
Fernando Azevedo e Silva, Ministro de
Estado da Defesa, Paulo Guedes, Minis-
tro de Estado da Economia, e Pedro Guimarães,
presidente da Caixa Econômica Federal - CEF
Tendo em vista a prática de ato ilegal e crimino-
so, consistente em fraude no recebimento do au-
xílio emergencial, por militares da ativa. Pede-se
a instauração de inquérito civil e criminal, ofi-
ciando inclusive ao Ministério Público Militar, se
for o caso, para apurar os fatos relatados e, cau-
telarmente, avaliar a adoção de medidas admi-
nistrativas e/ou judiciais, com vistas à imediata
devolução dos recursos percebidos ilicitamente
por esse contingente de militares (identifican-
doos/as) e, ao final, promova as responsabiliza-
ções devidas.
4) Representação na PGR do PT e PSOL
contra Sr. Sérgio Nascimento de Camargo, de pre-
sidente da Fundação Cultural Palmares – FCP
No dia 13 de maio de 2020, de forma reinciden-
te, discrimina, induz e incita a prática de crime
e a discriminação étnica, racial contra cidadãos
e cidadãs brasileiras e movimentos sociais. O
presidente da Fundação Palmares publicou no
site oficial da instituição artigos depreciativos a
Zumbi .Também ao longo do dia, Sergio Camargo
fez uso de suas redes sociais para a postagem de
conteúdos nos quais afirma que Zumbi é “herói
da esquerda racialista; não do povo brasileiro.
Repudiamos Zumbi!", em clara violação ao pro-
pósito de resgate dos valores da influência negra
no Brasil.
Apresentada a denúncia criminal, busca-se a
prestação jurisdicional do Estado através da con-
denação de Sérgio Camargo prosseguindo-se o
processo até final decisão; seja requisitado todos
os textos ofensivos publicados no site oficial da
Fundação Cultural Palmares, no dia 13 de maio de
2020, em reforço aos fatos acima descritos, assim
como outros meios de comunicação.
5) Representação na PGR contra Jair Mes-
sias Bolsonaro, presidente da República e Sérgio
Moro, ex-Ministro da Justiça e Segurança Pública
Divulgação de reunião ministerial do dia 22 de
abril de 2020, em que tem ameaça clara (no
sentido de que a população faça uma oposição
armada) aos Governadores e Prefeitos que es-
tão enfrentando com seriedade a pandemia da
Covid-19. E no dia seguinte à realização da citada
reunião Ministerial, o ex-Min., editou a Portaria
Interministerial nº 1.634/GM-MD, de 22
de abril de 2020, publicada no DOU de 23
de abril de 2020, que consistiu na am-
pliação (de 200 para 550) do número de
munições que poderão ser adquiridas
pelas pessoas autorizadas ao porte e
posse de armas de fogo.
Pede-se a imediata adoção de providên-
cias legais, com vistas à responsabiliza-
ção, seja no campo político administrati-
vo, seja na seara criminal.
6) Representação na PGR contra
Ricardo de Aquino Salles, Ministro de
Estado do Meio Ambiente
Divulgação de reunião ministerial do dia
22 de abril de 2020, em que declarou
estar adotando medidas contrárias aos
interesses da própria pasta que podem
redundar, por exemplo, em sérios prejuí-
zos ao meio ambiente, como é o caso do
aumento no desmatamento da Amazô-
nia, que em 2019 foi o maior nos últimos
dez anos, ocasião que admitiu, inclusive,
que a marca pode ser superada durante
este ano.
Atos ilícitos e absolutamente danosos ao
meio ambiente, à legalidade, à impesso-
alidade, à moralidade da administração
pública e ao decoro da função pública, a
imperiosa e imediata averiguação, pelo
Ministério Público Federal, de prática
de crime de responsabilidade e/ou de
ilícitos e a tomada de medidas visando a
responsabilização.
7) Representação na PGR contra
Jair Messias Bolsonaro, presidente da
República, Rolando Alexandre De Souza,
atual Diretor-Geral da Polícia Federal,
Tácio Muzzi, Superintendente da Polícia
Federal no Estado do Rio de Janeiro e os
Delegados responsáveis pela Operação
Placebo, Deputada Federal Carla Zam-
belli, ex-ministro Sergio Moro e o ex-Di-
retor-Geral da Polícia Federal, Maurício
Valeixo
A Dep. Carla Zambelli (PSL/SP) afirmou
em entrevista à Rádio Gaúcha (25/5), que
119
 a Polícia Federal investigava governadores sobre
irregularidades na Saúde durante a pandemia do
novo coronavírus. Informação que se confirmou,
na manhã do dia seguinte (26/5), com a operação
da corporação (Operação Placebo) na residência
oficial do governo do Rio de Janeiro. A antecipa-
ção da ação pela parlamentar, levantou a suspeita
para políticos e autoridades, de que a deputada,
bem próxima ao presidente Jair Bolsonaro e ao
ex-ministro Sergio Moro, teve acesso privilegiado e,
portanto, ilegal, a informações de investigações da
corporação.
Pede-se imediata adoção de providências legais,
instaurando os procedimentos de investigação
pertinentes, com vistas à responsabilização dos Re-
presentados, seja no campo político administrativo
(inclusive improbidade), seja na seara criminal.
8) Representação Criminal ao MPF (PB) pelo
Deputado Frei Anastácio contra contra vídeo pedin-
do intervenção militar pelo Vlog do Pascoal
O Vlog publicou um vídeo que teceu inúmeras acu-
sações, difamações e ações inconstitucionais que
objetivam, numa toada de aniquilação de Poderes
(Legislativo e Judiciário) e supressão de garantias
fundamentais e pedindo intervenção militar.
9) Representação na PGR contra Jair Mes-
sias Bolsonaro, presidente da República e Eduardo
Nantes Bolsonaro, Deputado Federal pelo Estado de
São Paulo
Vieram a público, novamente, para reiterar seu
desapreço pela ordem constitucional, ameaçan-
do tanto o Ministro Relator, Alexandre de Moraes,
(inquérito que investiga a divulgação e propagação,
ilegal e inconstitucional, de fake news, contra auto-
ridades, cidadãos, Poderes da República e Institui-
ções democráticas), os demais Ministros da Corte
Suprema e, sobretudo, o próprio Estado Democrá-
tico de Direito, com a possibilidade, em construção
de rompimento da ordem constitucional vigente
(golpe militar).
Pede-se imediata adoção de providências legais,
instaurando os procedimentos de investigação cri-
minal e adoção de providências para levar adiante
a responsabilização por crime de responsabilidade
e por improbidade administrativa.
10) Representação Criminal ao MPF (DF) pelo
Deputado Bohn Gass
120
O vídeo teceu inúmeras acusações, di-
famações e ações inconstitucionais que
objetivam, numa toada de aniquilação
de Poderes (Legislativo e Judiciário) e
supressão de garantias fundamentais e
pedindo intervenção militar.
11) Representação ao MPF (DF)
pelo Deputado Pelo Teixeira
O Banco do Brasil decidiu suspender a
destinação de recursos para canais que
veiculam notícias falsas e, numa rápida
articulação do Filho do presidente da
República e do Secretário de Comuni-
cação da Presidência da República, os
dirigentes do BB foram pressionados a
voltar atrás.
O TCU decidiu suspender contratos de
publicidade da espécie, até que sejam
formatadas regras em que as verbas
estatais atendam ao interesse público e
não aos desideratos de eventuais orga-
nizações criminosas.
Conforme matéria divulgada pelo Jornal
O Globo (31.5.2020), indica que a reali-
dade vigente nos contratos de publici-
dade do Banco do Brasil, é reproduzida
também em diversas outras empresas
públicas e sociedades de economia
mista (Petrobras, Eletrobrás etc.), de
modo que também se faz necessário
obstar essas transferências de recursos
públicos (verbas publicitárias) para fi-
nanciar redes sociais (canais, blogs, vi-
deoblog etc) que pregam diuturnamen-
te contra as instituições democráticas e
se especializaram em atacar cidadãos,
macular biografias e destruir adversá-
rios políticos do Chefe da Nação, num
desvio vergonhoso, ilegal e imoral na
aplicação dos recursos públicos.
De acordo com o periódico, canais e
sites já comprovadamente criminosos
(de acordo com o Ministro Alexandre
de Moraes) receberam de empresas
públicas e/ou sociedades de economia
mistas, vultosos recursos (de verbas
publicitárias) para continuarem suas
pregações ilegais e inconstitucionais,
em grave desvio de finalidade na aplicação do
patrimônio.
Requer a adoção de providências legais, seja
para sustar cautelarmente (assim como se fez
em relação ao Banco do Brasil, pelo TCU) qual-
quer tipo de financiamento publicitário, direto
ou indireto, a todas as redes sociais com pau-
tas ilegais, imorais e inconstitucionais, seja
para adotar providências legais com vistas
a responsabilizar, se for o caso, os diretores,
gerentes e quaisquer outros responsáveis pela
irregular destinação de recursos públicos.
12) Representação no MPF pela Deputa-
da Erika Kokay contra Pedro Duarte Guimarães,
presidente da Caixa Econômica Federal, dos
vicepresidentes membros da Diretoria Cole-
giada e dos Diretores Executivos membros do
Comitê de Investimento e Desenvolvimento
A presente representação pretende apontar
irregularidades no processo de privatização
da CEF, notadamente relacionados com: (i)
ausência de autorização legislativa; (ii) dis-
pêndio de verbas públicas para contratação
de consultoria com vistas à avaliação dos
ativos sem a devida autorização; (iii) ausência
de procedimento licitatório ou que respeite
regras de concorrência, bem como ausência
de publicidade e impessoalidade na contrata-
ção da consultoria com vistas à avaliação dos
ativos; (iv) indícios de conflito de interesses
entre o presidente do Banco e empresa parti-
cipante do consórcio vencedor; (v) indícios de
superfaturamento na contratação da consul-
toria com vistas à avaliação dos ativos para a
privatização; (vi) ausência de necessidade e
conveniência da privatização devido a eviden-
te flutuação de mercado que gerará prejuízo
ao erário.
13) Representação MPF, pelos Deps. Enio
Verri e Paulo Teixeira, contra Frederick Wassef,
Flávio Nantes Bolsonaro e Jair Messias Bolso-
naro
Investigar as regularidades dos aditivos e
contratos firmados entre a Administração Pú-
blica Direta e Indireta e a empresa Globalweb
Outsourcing e, se for o caso, adotar as provi-
dências legais em face de eventuais irregulari-
dades.
14) Representação ao MPF, pelos Deps.
Arlindo Chinaglia e Paulão
Investigar as possíveis e graves irregularida-
des na condução e administração da Força
Nacional de Segurança Pública (Instituição
criada pelo Decreto nº 5.289, de 29 de no-
vembro de 2004), que envolve diretamente,
por ação e omissão, o atual Diretor-Geral,
Coronel Antônio Aginaldo de Oliveira.
15) Representação à PGR, pelo Dep.
Paulo Pimenta, contra Deltan Dallagnol,
Thaméa Danelon, Vlaldimir Aras, Paulo Ro-
berto Galvão, Carlos Bruno Ferreira e todos
os demais integrantes da Força Tarefa da
Lava Jato
Matéria publicada pelo The Intercept Brasil.
16) Representação à PGR, pela ban-
cada e Deps. André Figueiredo, Alessandro
Molon, Wolney Queiroz, Fernanda Melchion-
na, Perpétua
Almeida e Joênia Batista, contra Bolsonaro
Em matéria publicada na imprensa nacional,
o Representado divulgou uma grande e grave
fake news acusando a esquerda (Deputados,
partidos, cidadãos e cidadãs brasileiros) de
“buscar meios de descriminalizar a pedofi-
lia”.
17) Representação à PGR, pelos Deps.
Paulo Pimenta e Enio Verri, a partir de infor-
mações prestadas por Rodrigo Tacla Duran
Iniciar ou dar continuidade às investigações
das práticas de fatos gravíssimos, descober-
tas a partir de informações prestadas pelo
Representado, que teriam sido perpetradas
pelos Procuradores da República em Curiti-
ba, integrantes da ForçaTarefa da Operação
Lava-Jato, com a conivência, omissão ou ação
e orientação do então Juiz Sérgio Moro.
18) Representação ao MPF (DF), pela
bancada
Venda de ativos Petrobrás, em fraude à deci-
são do STF.
19) Representação à PGR, pelos Deps.
Enio Verri, Gleisi Hoffmann, Paulo Teixeira
121
 e Rogério Carvalho, contra André Luiz De Almeida
Mendonça (Ministro de Estado da Justiça e Segu-
rança Pública), Jeferson Lisboa Gimenes, (Secretário
de Operações Integradas – SEOPI, do Ministério da
Justiça) e Gilson Libório De Oliveira Mendes (Diretor
de Inteligência – DINT, da SEOPI)
Perseguição política na vida de 579 servidores fe-
derais e estaduais da área de segurança pública
e alguns professores universitários, identificados,
segundo a ação de perseguição realizada, como in-
tegrantes do “movimento antifascismo” e, por con-
seguinte, como defensores da ordem democrática e
das instituições republicanas e críticos do governo
federal. (dossiê MJ)
Pede-se a abertura de procedimento investigatório
criminal com vistas a apurar as condutas perpetra-
das pelos Representados.
20) Representação à PGR, pelo Dep. Paulo
Teixeira, contra René Ariel Dotti
Possíveis irregularidades administrativas e eventu-
ais prejuízos ao erário, perpetrados no âmbito da
Petróleo Brasileiro S.A – PETROBRAS, em decorrência
da contratação sem licitação do escritório do Repre-
sentado, ocorrido no entorno da operação Lava-jato.
(conflito de interesses)
21) Representação à PGR, pelo Dep. Alexandre
Padilha, contra Eduardo Pazuello (Ministro de Estado
interino da Saúde)
Proceder à abertura de procedimento pela conduta
do Representado, que se recusou a prestar informa-
ções (acesso a dados sobre a publicação de proto-
colo para uso da substância cloroquina) solicitadas
pelo Requerente, através da Mesa Diretora da Câma-
ra dos Deputados.
Ao final das apurações, oferte junto ao Supremo
Tribunal Federal, a correspondente DENÚNCIA por
crime de responsabilidade contra o Ministro Repre-
sentado.
22) Representação à PGR, contra Sr. Humberto
Eustáquio Soares Martins
Tentativa de constranger e calar (censurar) a livre
manifestação democrática de Magistrados/as pro-
gressistas e comprometidos com a defesa da socie-
dade e das instituições democráticas.
A abertura de procedimento investigatório, inclusive
122
criminal com vistas a apurar as condu-
tas perpetradas pelo Corregedor Nacio-
nal em relação à liberdade democrática
dos Magistrados/a atingidos e adotar
as providências legais cabíveis.
23) Representação à PGR, pela
bancada, contra Procuradores Federais
com atuação na denomina Força Tarefa
da Operação Lava-Jato em Curitiba, es-
pecialmente o seu Coordenador, Procu-
rador Deltan Dallagnol
Possíveis irregularidades na condução
dos trabalhos no âmbito da denomi-
nada Operação Lava Jato, observadas
nos últimos anos, especialmente em
face das revelações feitas pelo Procu-
rador-Geral da República no último dia
28/07/2020.
24) Representação ao MPF (DF)
pelos Deps. Enio Verri, Zé Carlos e João
Daniel, contra Banco do Brasil e Rubem
de Freitas Novaes, expresidente do
Banco do Brasil
O Banco do Brasil vendeu para o banco
privado BTG Pactual, pelo valor de R$
371 milhões, uma Carteira de Crédito
estimada em R$ 2,9 bilhões, ou seja,
o Banco do Brasil vendeu para BTG
Pactual essa gigantesca Carteira de
Crédito por apenas 12,8% (doze vírgula
oito por cento) do seu valor estimado.
Transação foi uma das últimas ações da
gestão do Sr. Rubem de Freitas Nova-
es, que no último dia 24 entregou seu
pedido de demissão do cargo de pre-
sidente do Banco do Brasil ao Ministro
da Economia.
25) Representação Criminal ao
MPDFT pelo Dep. Célio Moura, contra
Sara Winter
Apurar a conduta grave e criminosa da
Representada em relação a divulgação
de dados pessoais e dos endereços de
uma menina de 10 anos que, após ter
sido violentada durante cerca de qua-
tro anos, por um tio e, eventualmente,
outros parentes próximos, resultou
uma gravidez decorrente dos reiterados estu-
pros que a vitimava.
Na mesma ocasião a representada iniciou uma
campanha convocando as pessoas a evitar e
se posicionar contrariamente à intervenção
médica autorizada pela legislação brasileira.
26) Representação à PGR, Erika Kokay,
Benedita da Silva, Gleisi Hoffmann, Luizianne
Lins, Maria do Rosário, Margarida Salomão,
Marília Arraes, Natália Bonavides, Rosa Neide
e Zenaide Maia, contra Damares Alves
Apurar a conduta da Representada em relação
a sua eventual participação na apropriação
e uso de dados pessoais e dos endereços de
uma menina de 10 anos que, após ter sido
violentada durante cerca de quatro anos, por
um tio e, eventualmente, outros parentes pró-
ximos, resultou uma gravidez decorrente dos
reiterados estupros que a vitimava.
27) Representação à PGR, Deps. Enio
Verri, Nilto Tatto, João Daniel, Beto Faro, Valmir
Assunção, Marcon, Frei Anastácio, Padre João,
Bohn Gass, Rogério Correia, Pedro Uczai, Célio
Moura, Carlos Veras, Natália Bonavides, Patrus
Ananias, Airtin Faleiro, Zé Neto, Zé Carlos e
Afonso Florence.
Denunciando a alta no preço dos alimentos
em razão da omissão do Executivo.
28) Representação (aditamento) à
PGR, Erika Kokay, Benedita da Silva, Gleisi
Hoffmann, Luizianne Lins, Maria do Rosário,
Margarida Salomão, Marília Arraes, Natália
Bonavides, Rosa Neide e Zenaide Maia, contra
Damares Alves
Apurar a conduta da Representada em relação
a sua eventual participação na apropriação
e uso de dados pessoais e dos endereços de
uma menina de 10 anos que, após ter sido
violentada durante cerca de quatro anos, por
um tio e, eventualmente, outros parentes pró-
ximos, resultou uma gravidez decorrente dos
reiterados estupros que a vitimava.
29) Representação à PGR, Deps. Enio
Verri e Benedita da Silva, contra Mario Luís
Frias, Secretário Especial da Cultura
Apurar a conduta do Representado em re-
lação as eventuais irregularidades e abu-
sos contidos no Ofício Circular nº 3/2020/
SECULT – “instruções de pessoal e procedi-
mentos administrativos”.
30) Representação à PGR, Dep. Paulo
Pimenta
Adoção de medidas com vistas declarar
a inaplicabilidade do referido Decreto
10.502/2020 (sobre escola especial e educa-
ção inclusiva).
31) Representação à PGR, Senadores
Humberto Costa, Rogério Carvalho e Deps.
Rui Falcão e Natália Bonavides, contra Brasil
Opcões De Mercado Eireli, Housoft Software,
Automasense Automoção Industrial Ltda,
Agência Minds Pesquisas E Treinamentos
S/S Ltda, Solução E Tecnologia Ltda, Face-
book, Instagram, Whatsapp e Google
Apurar as condutas dos Representados por
disparos em massa de mensagens eleitorais.
32) Representação à PGR, Deps. Enio
Verri, Gleisi Hoffmann, Nilto Tatto, Paulo
Pimenta, Rui Falcão, Alindo Chinaglia, Paulo
Teixeira, Margarida Salomão, Alencar Santa-
na, Afonso Florence, Rogério Correia, Ale-
xandre Padilha, Rosa Neide, Paulão, Rubens
Otoni e Padre João, contra Ministro Ricardo
Salles
Apurar eventuais irregularidades decor-
rentes da contratação sem licitação de 20
mil litros de retardante de fogo para usar
em áreas de queimadas no Mato Grosso,
com riscos de contaminação alertados pelo
Ibama.
33) Representação à PGR, Dep. Paulo
Teixeira, contra Min. Ricardo Salles
Prática de crime de responsabilidade –
ofensas ao presidente da Câmara dos Depu-
tados.
34) Representação à PGR, bancada
Apurar condutas pela Diretoria do Banco
Central e Ministro da Economia contra o sis-
tema financeiro e mercado de valores mobi-
123
 liários (BACEN – informações privilegiadas).
35) Representação à PGR, Deps. Paulo Teixei-
ra e Enio Verri
Apurar a condutas dos Representados (diretores da
ANVISA) – CORONAVAC – crime de responsabilidade.
36) Representação à PGR, Deps. Erika Kokay,
Enio Verri, Benedita da Silva, Valmir Assunção, Vi-
centinho, Beto Faro e Paulão
Apurar eventuais irregularidades decorrentes da
transferência da sede e de todo o acervo da Funda-
ção Cultural Palmares.
37) Representação à PGR, Dep. Paulo Teixeira
Portaria MEC – volta às aulas presenciais em janei-
ro.
38) Representação à PGR, contra Ministro-
-chefe do Gabinete de Segurança institucional,
General Augusto Heleno, o Diretor-geral da Agência
Brasileira de Inteligência – ABIN, Alexandre Rama-
gem e o Senador Flávio Bolsonaro
Relatórios preparados pela ABIN na defesa Flávio
Bolsonaro.
39) Representação à PGR, contra Eduardo
Pazuello, Ministro da Saúde, Sr. André Mendonça
Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sr. Braga
Netto, Ministro da Casa Civil, e Sr. Tarcísio Gomes de
Freitas, Ministro da Infraestrutura
Sobre a pandemia gerada pela Covid-19 em relação
a portaria de controle de voos.
40) Representação ao MPDFT, Deps. Erika
Kokay, Enio Verri, Benedita da Silva, Valmir Assun-
ção, Vicentinho, Beto Faro e Paulão
Apurar eventuais irregularidades decorrentes da
transferência da sede e de todo o acervo da Funda-
ção Cultural Palmares.
Atuação no Tribunal de Contas da União
1) Representação no TCU pelo Deputado Pelo
Teixeira sobre verbas publicitárias Banco do Brasil
O Banco do Brasil decidiu suspender a destina-
ção de recursos para canais que veiculam notícias
falsas e, numa rápida articulação do Filho do pre-
sidente da República e do Secretário de Comuni-
124
cação da Presidência da República, os
dirigentes do BB foram pressionados a
voltar atrás.
O TCU decidiu suspender contratos de
publicidade da espécie, até que sejam
formatadas regras em que as verbas
estatais atendam ao interesse público e
não aos desideratos de eventuais orga-
nizações criminosas.
Conforme matéria divulgada pelo Jornal
O Globo (31.5.2020), indica que a reali-
dade vigente nos contratos de publici-
dade do Banco do Brasil, é reproduzida
também em diversas outras empresas
públicas e sociedades de economia
mista (Petrobras, Eletrobrás etc.), de
modo que também se faz necessário
obstar essas transferências de recursos
públicos (verbas publicitárias) para fi-
nanciar redes sociais (canais, blogs, vi-
deoblog etc) que pregam diuturnamen-
te contra as instituições democráticas e
se especializaram em atacar cidadãos,
macular biografias e destruir adversá-
rios políticos do Chefe da Nação, num
desvio vergonhoso, ilegal e imoral na
aplicação dos recursos públicos.
De acordo com o periódico, canais e
sites já comprovadamente criminosos
(de acordo com o Ministro Alexandre
de Moraes) receberam de empresas
públicas e/ou sociedades de economia
mistas, vultosos recursos (de verbas
publicitárias) para continuarem suas
pregações ilegais e inconstitucionais,
em grave desvio de finalidade na apli-
cação do patrimônio.
Requer a adoção de providências
legais, seja para sustar cautelarmente
(assim como se fez em relação ao Ban-
co do Brasil) qualquer tipo de financia-
mento publicitário, direto ou indireto,
a todas as redes sociais com pautas
ilegais, imorais e inconstitucionais, seja
para adotar providências legais com
vistas a responsabilizar, se for o caso,
os diretores e gerentes responsáveis
pela irregular destinação de recursos
públicos.
 2) Representação no TCU pelo Deputado
Paulo Teixeira sobre Startups
A Associação Brasileira de Profissionais Au-
tônomos de Startups e de Desenvolvimento
de Tecnologias, trouxe possível ilegalidade
perpetrada no âmbito do Ministério da Ciên-
cia, Tecnologia, Inovações e Comunicações,
indicando acordo do governo brasileiro, com
empresa norte americana sem qualquer trans-
parência e, portanto, violando princípios do
artigo 37 da Constituição Federal.
Requer-se a instauração de investigação (au-
ditoria) para auscultar todos os termos e me-
andros da referida parceria, de modo a verifi-
car sua legalidade e atendimento do interesse
público nacional. Ao final, sejam adotadas, as
providências legais, inclusive no sentido de
suspensão, por eventual ilegalidade, do trato
firmado entre a empresa estrangeira e o go-
verno brasileiro.
3) Representação no TCU pela Deputada
Erika Kokay, contra Pedro Duarte Guimarães,
presidente da Caixa Econômica Federal, os vi-
cepresidentes membros da Diretoria Colegiada
e os Diretores Executivos membros do Comitê
de Investimento e Desenvolvimento
A representação pretende apontar irregula-
ridades no processo de privatização da Caixa
Econômica Federal, notadamente relacionados
com: (i) ausência de autorização legislativa; (ii)
dispêndio de verbas públicas para contrata-
ção de consultoria com vistas à avaliação dos
ativos sem a devida autorização; (iii) ausência
de procedimento licitatório ou que respeite
regras de concorrência, bem como ausência
de publicidade e impessoalidade na contrata-
ção da consultoria com vistas à avaliação dos
ativos; (iv) indícios de conflito de interesses
entre o presidente do Banco e empresa parti-
cipante do consórcio vencedor; (v) indícios de
superfaturamento na contratação da consul-
toria com vistas à avaliação dos ativos para a
privatização; (vi) ausência de necessidade e
conveniência da privatização devido a eviden-
te flutuação de mercado que gerará prejuízo
ao erário.
4) Representação ao TCU, pelos Deps.
Arlindo Chinaglia e Paulão – Irregularidades
Força Nacional
Requer a instauração de tomada de contas
(auditoria) para adotar as providências le-
gais, inclusive cautelares, em face de even-
tuais irregularidades na condução admi-
nistrativa da Força Nacional de Segurança
Pública.
5) Representação ao TCU, pelos
Deps. Rogério Correa, Enio Verri, Waldenor
Pereira, Alencar Santana, Helder Salomão,
Padre João, João Daniel, Zeca Dirceu, José
Guimarães, Margarida Salomão, Natália Bo-
navides, Paulo Pimenta, Pedro Uczai, Rosa
Neide, Patrus Ananias, contra MEC e FNDE
A suspensão do edital (prevê a compra de
livros didáticos e literários para crianças
da educação infantil (dos 0 aos 5 anos)
matriculadas na rede pública) e imediata
instauração de procedimento de auditoria
(investigação).
6) Representação ao TCU, pela ban-
cada
Requer investigação sobre irregularidades
apontadas na venda de ativos Petrobrás,
em fraude à decisão do STF.
7) Representação ao TCU, pelos Deps.
Enio Verri, Gleisi Hoffmann, Paulo Teixeira
e Rogério Carvalho, Contra André Luiz De
Almeida Mendonça (Ministro de Estado
da Justiça e Segurança Pública), Jeferson
Lisboa Gimenes, (Secretário de Operações
Integradas – SEOPI, do Ministério da Justiça)
e Gilson Libório De Oliveira Mendes (Diretor
de Inteligência – DINT, da SEOPI)
Perseguição política na vida de 579 servido-
res federais e estaduais da área de segu-
rança pública e alguns professores univer-
sitários, identificados, segundo a ação de
perseguição realizada, como integrantes
do “movimento antifascismo” e, por con-
seguinte, como defensores da ordem de-
mocrática e das instituições republicanas e
críticos do governo federal. (dossiê SEOPI)
Pede-se a auditoria dos fatos e apuração
de responsabilidade pelos Representados.
8) Representação ao TCU, pelo Dep.
125
 Paulo Teixeira, contra René Ariel Dotti
Possíveis irregularidades administrativas e eventu-
ais prejuízos ao erário, perpetrados no âmbito da
Petróleo Brasileiro S.A – PETROBRAS, em decorrên-
cia da contratação sem licitação do escritório do
Representado, ocorrido no entorno da operação
Lava-jato. (conflito de interesses)
9) Representação ao TCU, pela bancada, con-
tra Força-Tarefa Lava-Jato
Possíveis irregularidades na condução dos traba-
lhos levados a cabo pela Força Tarefa do Ministério
Público Federal no âmbito da denominada Opera-
ção Lava Jato, observadas nos últimos anos, espe-
cialmente em face das revelações feitas pelo Procu-
rador-Geral da República no último dia 28/07/2020.
10) Representação no TCU, pelos Deps. Enio
Verri e Paulo Teixeira, contra Frederick Wassef,
Flávio Nantes Bolsonaro e Jair Messias Bolsonaro –
contratos GlogalWeb
Investigar as regularidades dos aditivos e contra-
tos firmados entre a Administração Pública Direta
e Indireta e a empresa Globalweb Outsourcing e, se
for o caso, adotar as providências legais em face de
eventuais irregularidades.
11) Representação (aditamento) ao TCU – pe-
los Deps. Enio Verri e Paulo Teixeira, contra Frede-
rick Wassef, Flávio Nantes Bolsonaro e Jair Messias
Bolsonaro – contratos GlogalWeb
Investigar novas irregularidades apontadas.
12) Representação ao TCU Deps. Enio Verri,
Gleisi Hoffmann, Nilto Tatto, Paulo Pimenta, Rui
Falcão, Alindo Chinaglia, Paulo Teixeira, Margarida
Salomão, Alencar Santana, Afonso Florence, Rogé-
rio Correia, Alexandre Padilha, Rosa Neide, Paulão,
Rubens Otoni, Padre João, contra Ministro Ricardo
Salles
Apurar eventuais irregularidades decorrentes da
contratação sem licitação de 20 mil litros de retar-
dante de fogo para usar em áreas de queimadas no
Mato Grosso, com riscos de contaminação alertados
pelo Ibama.
13) Representação ao TCU, Dep. Paulo Teixeira
Instaurar investigação sobre a pretensão do MPF/
126
DF juntamente com a ONG Anistia In-
ternacional, apropriar-se de vultosos
recursos decorrentes de pagamento
efetuado pela empresa JBS (em acordo
de leniência) para criar uma Fundação,
supostamente dedicada ao combate à
corrupção.
Atuação nas Comissões de Ética
1) Representação na Comissão De
Ética Pública da `Presidência da Repú-
blica contra o Sr. Onyx Lorenzoni, atual-
mente no exercício do cargo de Ministro
de Estado da Cidadania
No dia 03/05/2020 participou de mani-
festações antidemocráticas que ocor-
reram na Esplanada dos Ministérios
em Brasília, em apoio ao governo do
presidente Jair Bolsonaro (sem partido),
contrariando a todas as orientações
dos órgãos de saúde nacional e inter-
nacional em razão da pandemia mun-
dial da Covid-19. As pautas de extrema
direita reafirmavam posicionamentos
declarados anteriormente pelo governo,
contrário às instituições democráticas,
exigindo o fechamento do Supremo Tri-
bunal Federal (STF) e do Congresso Na-
cional. Alguns jornalistas também foram
agredidos durante a manifestação.
2) Representação na Comissão De
Ética Pública da Presidência da Repú-
blica contra Regina Duarte, Secretária
Especial da Cultura
Lamentável postagem em rede social
há poucos dias, onde de forma irres-
ponsável e criminosa, dissemina notícia
falsa (fake news) e ofensiva à honra de
pessoa falecida e seus familiares, Dona
Marisa Leticia.
3) Representação Ao Conselho De
Ética, pelo PT e Dep. Jorge Solla, contra
Márcio Labre, Deputado Federal PSL/RJ
Pede abertura de processo ético disci-
plinar, pela apologia à ditadura, ameaça
ao STF, por quebra de decoro parlamen-
tar.
 4) Representação Ao Conselho De Éti-
ca, pelo PT, Deps. Enio Verri e Rogério Correa,
contra Dep. Carla Zambelli.
Pede abertura de processo ético disciplinar,
pelas ameaças recebidas, iniciadas através da
conduta da Deputada Carla Zambelli, e esque-
ma de divulgação de ‘fake news’.
5) Representação ao Conselho de Ética,
pelo PT e Dep. Rosa Neide, contra Carla Zam-
belli
Apurar a condutas da Representada por divul-
gar notícias falsas e agressões ao PT e a Dep.
Rosa Neide.
6) Representação ao Conselho de Ética
da Câmara dos Deputados, contra o Dep. Bibo
Nunes
Apurar a condutas do Representado no dia 03
de dezembro, em sessão extraordinária remo-
ta da Casa, proferiu palavras que atentaram
contra a dignidades das deputadas federais.
Atuação no Conselho Nacional do Ministério
Público
1) Representação ao CNMP, pela banca-
da, contra Procuradores Federais com atuação
na denomina Força Tarefa da Operação Lava-
-Jato em Curitiba, especialmente o seu Coor-
denador, Procurador Deltan Dallagnol
Possíveis irregularidades na condução dos
trabalhos no âmbito da denominada Operação
Lava Jato, observadas nos últimos anos, espe-
cialmente em face das revelações feitas pelo
Procurador-Geral da
2) Representação ao CNMP, pelo Dep.
Paulo Pimenta, contra Deltan Dallagnol,
Thaméa Danelon, Vlaldimir Aras, Paulo Rober-
to Galvão, Carlos Bruno Ferreira e todos os de-
mais integrantes da Força Tarefa da Lava Jato
Matéria publicada pelo The Intercept Brasil.
3) Representação no CNMP, por Alexan-
dre Padilha, Carlos Zarattini, Enio Verri, Érika
Kokay, Gleisi Hoffmann, Humberto Costa, Ja-
ques Wagner, Jean Paul, José Guimarães, Mar-
garida Salomão, Paulo Paim, Paulo Rocha,
Paulo Pimenta, Rogério Carvalho e Zenaide
Maia, contra Soraya Taveira Gaya
A Procuradora de Justiça, integrante do Gru-
po de Atuação Especializada no Combate à
Corrupção do Ministério Público do Estado
do Rio de Janeiro (GAECC/MPRJ), teria atua-
do em prejuízo à instituição Ministerial, em
sede de processo judicial, praticando ato
processual em desvio de finalidade e sem
devida articulação e a devida ciência do
grupo de atuação estratégica responsável
por investigações sobre indícios de práticas
contra a administração pública por parla-
mentares e ex-parlamentares da Assembleia
Legislativa do Rio de Janeiro, especialmente
o hoje Senador Flávio Bolsonaro.
Requerimentos de Informação (via Lei de
Acesso à Informação)
1) Requerimento de Informação (LAI e
via mesa) à Secretaria-Geral da Presidência,
ao Gabinete de Segurança Institucional –
GSI, Agência Brasileira de Inteligência – ABIN
e Ministério das Relações Exteriores
Requer informações detalhadas acerca dos
gastos da atual Presidência da Repúbli-
ca, bem como do Gabinete Presidencial e
Vice-Presidência e, ainda, do Gabinete de
Segurança Institucional, Agência Brasileira
de Inteligência e Ministério das Relações
Exteriores, efetuados através dos cartões
corporativos, na vigência do atual mandato
presidencial.
2) Requerimento de Informação (LAI)
Do Deputado Alencar Santana
Solicita ao presidente da República e ao
Ministro da Defesa informações sobre des-
vio de munição e a revogação das portarias
nº 46, 60 e 61, de março de 2020, do COLOG
(Comando Logístico). Referidas portarias
tinham por objeto o rastreamento, identi-
ficação e marcação de armas, munições e
demais produtos controlados pelo Exército
Brasileiro
3) Requerimento de Informação – LAI
ao Ministério da Justiça e Segurança Pública,
127
 pelos Deps. Arlindo Chinaglia e Paulão – Irregulari-
dades Força Nacional
Requer informações detalhadas sobre a Adminis-
tração de Pessoal da Força Nacional de Segurança
Pública.
compatibilizarem da função pública, no
prazo legal, mantendo o vínculo com a
Administração Pública respectiva? Sen-
do positiva, esses servidores temporá-
rios terão assegurada a remuneração do
cargo durante o afastamento?

4) Requerimento de Informação (LAI) ao Mi- Mandados de Segurança

nistério de Infraestrutura, pelo Dep. Paulo Teixeira
1) Mandado de Segurança, Deps.
Solicita informações sobre uso do nitrato de amô- Erika Kokay e outros
nia no Brasil.
Questiona a Privatização da Companhia
5) Requerimento de Informação (LAI) ao Energética de Brasília.
CNMP, pelo Dep. Paulo Pimenta
Solicita a relação dos gastos e despesas com diá-
rias e passagens aéreas nacionais e internacionais,
no período compreendido entre o mês de janeiro
de 2012 a agosto de 2020, do Senhor Procurador
Federal Antônio Carlos Welter, lotado na Procurado-
ria Regional da República da 4ª Região, atualmente
exercendo a função de coordenador substituto.

6) Requerimento de Informação (LAI) à Pre-

sidência da República e ao Ministério da Justiça e
Segurança Pública, pelo Dep. Alencar Santana

Solicita explicações sobre a revogação da Instrução

Normativa 131-DG/PF, de 14 de novembro de 2018.
Referida Instrução tinha por objeto o estabeleci-
mento de uma série de parâmetros para o registro,
posse, porte e comercialização de armas e muni-
ções, além de permitir um limite de até dois arma-
mentos do tipo por pessoa.

7) Requerimento de Informação (LAI) ao pre-

sidente do Banco do Brasil

Solicita informações sobre a venda do prédio do

Banco do Brasil (Rua Senador Dantas – RJ) e mu-
dança da logomarca.

Consultas Eleitorais

1) Consulta Eleitoral ao TSE, pelo Dep. Pedro

Uczai

Professores temporários, admitidos com base no

inciso IX, do art. 37 da Constituição Federal e res-
pectiva legislação municipal, estadual ou federal
regulamentadora, para concorrerem a cargo eletivo
podem, à luz do previsto na alínea ‘l’, inciso II, do
art. 1º da Lei Complementar nº 64/1990, se desin-
128
 MEDIDAS ECONÔMICAS NA PAUTA
DO CONGRESSO NACIONAL EM 2021
anexo 3

129
 D
efendida pelo ministro Paulo Guedes e
abraçada pelos presidentes da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi
Alcolumbre (DEM-AP), a agenda econô-
mica será o desafio do Congresso Nacio-
nal em 2021. Parte dos projetos avançou em 2020
mesmo com a pandemia da Covid-19, mas muitos
projetos ainda esperam por votação das duas Ca-
sas Legislativas.
A incerteza sobre os nomes dos próximos presi-
dentes da Câmara e do Senado, bem como dú-
vidas sobre seu compromisso com a priorização
das matérias econômicas mantém a expectativa
até fevereiro. Serão os eleitos em 1º de fevereiro
que definirão o ritmo das reformas estruturan-
tes, do plano de privatizações e, em especial, das
matérias consideradas urgentes do ponto de vista
fiscal.
O JOTA mapeou as pautas econômicas prioritárias
para o governo que esperam por votação no Sena-
do e na Câmara em 2021, as quais passamos tam-
bém a listar.
Senado
PEC 186/2019 - PEC Emergencial
Ementa: Altera o texto permanente da Constitui-
ção e o Ato das Disposições Constitucionais Tran-
sitórias, dispondo sobre medidas permanentes
e emergenciais de controle do crescimento das
despesas obrigatórias e de reequilíbrio fiscal no
âmbito dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade
Social da União.
Situação: Espera por apresentação de parecer.
No final de 2020, o relator Márcio Bittar (MDB-AC)
desistiu da apresentação do parecer formal que
reuniu em uma só proposta de emenda constitu-
cional a chamada “agenda federativa” do governo
de 2019.
PL 3178/2019 - Mudança do regime de exploração
do pré-sal (permite contratos pelo regime de con-
cessão)
Ementa: Revoga o direito de preferência para a
Petrobras nas licitações no regime de partilha de
produção e garante ao Conselho Nacional de Po-
lítica Energética, assessorado pela Agência Nacio-
nal do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, a
decisão sobre qual é o melhor regime jurídico de
exploração e produção de petróleo e gás natural a
ser adotado nos leilões do pré-sal.
Situação: Aguarda novo parecer do relator, Rodri-
130
go Pacheco (DEM-MG), na Comissão de
Serviços de Infraestrutura do Senado.
PLS 261/2018 - Marco Legal Ferroviário
Ementa: Define regras para a exploração
indireta pela União do transporte fer-
roviário em infraestruturas de proprie-
dade privada entre portos brasileiros e
fronteiras nacionais, que transponham
os limites de Estado ou Território, ou
que se conectem às ferrovias federais;
as atividades desempenhadas pelas ad-
ministrações ferroviárias privadas; a au-
torregulação ferroviária; e a segurança
do trânsito e do transporte ferroviário.
Situação: Aguarda votação pela Comis-
são de Infraestrutura. Em dezembro de
2020, houve avanços nas negociações
entre o relator Jean Paul Prates (PT-RN)
e a liderança do governo, mas o tema
não foi levado a voto diretamente no
plenário porque senadores questiona-
ram a “pressa” na tramitação.
PL 1538/2019 - Excedente da Cessão
Onerosa
Ementa: Estabelece regras para dis-
tribuição dos recursos obtidos com o
bônus de assinatura dos volumes exce-
dentes da cessão onerosa das ativida-
des de pesquisa e lavra de petróleo, de
gás natural e de outros hidrocarbonetos
fluidos em áreas não concedidas locali-
zadas no pré-sal.
Situação: Aguarda novo parecer do rela-
tor, Otto Alencar (PSD-BA), na Comissão
de Assuntos Econômicos.
PLS 232/2016 - Portabilidade do setor
elétrico
Ementa: Dispõe sobre o modelo comer-
cial do setor elétrico, a portabilidade da
conta de luz e as concessões de geração
de energia elétrica.
Situação: Foi aprovado pela Comissão
de Infraestrutura em caráter terminati-
vo em março. Regimentalmente, o prazo
para recurso em plenário foi superado,
mas a adoção do Sistema Deliberativo
Remoto também em março deixou o
projeto em uma espécie de “limbo”.
PL 4199/2020 - Lei da Cabotagem
Ementa: Institui o Programa de Estímulo ao
Transporte por Cabotagem (BR do Mar)
Situação: Aguarda parecer do relator Nelsinho
Trad (PSD-MS).
PLP 137/2020 - Fundos Públicos
Ementa: Cria fonte de recursos para o en-
frentamento de calamidade pública nacional
decorrente de pandemia por meio do uso de
recursos do superávit verificado em fundos
públicos.
Situação: Aguarda indicação de relator. A
eventual definição se haverá retomada do
trabalho das comissões ou se o sistema de-
liberativo remoto será mantido com modelo
exclusivo de votações será determinante para
definir a velocidade da votação do tema.
PLP 146/2019 - Marco Legal das Startups
Ementa: Institui o marco legal das startups e
do empreendedorismo inovador.
Situação: Aguarda indicação de relator no
Senado.
Câmara dos Deputados
PEC 45/2019 - Reforma Tributária
Ementa: Altera o Sistema Tributário Nacional e
dá outras providências.
Situação: Aguarda parecer do relator da ma-
téria na comissão mista especial, deputado
Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
PEC 32/2020 - Reforma Administrativa
Ementa: Altera disposições sobre servidores,
empregados públicos e organização adminis-
trativa.
Situação: Aguarda despacho da presidência
da Câmara.
PL 5877/2019 - Privatização da Eletrobras
Ementa: Dispõe sobre a desestatização da
Centrais Elétricas Brasileiras S.A (Eletrobras).
Situação: Aguarda despacho da presidência
da Câmara.
PLP 19/2019 - Autonomia do Banco Central
Ementa: Define os objetivos do Banco Central
do Brasil e dispõe sobre sua autonomia e so-
bre a nomeação e a exoneração de seu presi-
dente e de seus diretores.
Situação: Aprovado pelo Senado em novem-
bro, espera por despacho do presidente da
Câmara. Se alterado pela Câmara, nova análi-
se da matéria pelos senadores será neces-
sária antes do envio à sanção.
PL 2963/2019 - Venda de terras a estrangei-
ros
Ementa: Regulamenta a aquisição, posse e
o cadastro de propriedade rural por pessoa
física ou jurídica estrangeira.
Situação: Aguarda despacho da presidência
da Câmara. Apenas se for alterado pela Câ-
mara precisará de retorno ao Senado antes
do envio da matéria à sanção presidencial.
PL 4476/2020 - Regulamentação do Gás
Natural
Ementa: Dispõe sobre o transporte, a im-
portação, a exportação, a estocagem sub-
terrânea de gás natural. Altera atribuições
do Conselho Nacional de Política Energéti-
ca e da Agência Nacional do Petróleo. Esta-
belece punições para o descumprimento de
normas relativas à regulação e à comercia-
lização de gás natural.
Situação: Aguarda entendimento em tor-
no da pauta da Câmara para ser pautado
para deliberação final pelos deputados em
plenário.
PL 5387/2019 - Modernização da Lei Cambial
Ementa: Dispõe sobre a modernização do
mercado de câmbio brasileiro, o capital
brasileiro no exterior, o capital estrangeiro
no País e a prestação de informações ao
Banco Central do Brasil.
Situação: Tramita com urgência e aguarda
votação em plenário. Ainda será necessária
análise do tema pelo Senado.
Prazo: Matéria deverá retornar à votação
após início dos trabalhos em 2021.
PLP 295/2016 - Nova Lei de Finanças Públi-
cas
Ementa: Estabelece normas gerais sobre
planejamento, orçamento, fundos, contabi-
lidade, controle e avaliação na administra-
ção pública.
Situação: Necessária análise do tema pelo
Senado.
 
131
 LÍDER - Enio Verri

VICES - LÍDERES
Airton Faleiro 
Alencar Santana Braga
Alexandre Padilha 
Bohn Gass
Gleisi Hoffmann
Helder Salomão
Maria do Rosário 
Natália Bonavides
Odair Cunha
Patrus Ananias
Pedro Uczai 
Rogério Correia  
Rui Falcão 
Vicentinho
EQUIPE TÉCNICA E COLABORADORES
Giles Azevedo (Coordenação)
Alan Wellington
Alberto Rodrigues
Andréa Ventura
Arthur Policarpo Bruno Gaspar
Clara Lis Coelho
Dayse Magalhães
Emilio Chernavsky
Eneida Vinhaes Bello Dultra
Fabiana Lazzarini
Gerson Teixeira
Lizete Kagami
Luiz Gonzaga
Márcia Azevedo
Pedro Noblat
Raul Krauser
Roberto Vizentin
Sara Oliveira
Telton Correa
Desireé Sousa
Frank Varela
COORDENAÇÃO DE COMUNICAÇÃO
Misiara Oliveira
CAPA, PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Claudia Barreiros

FOTOS DA CAPA
Gabriel Paiva
Lula Marques
Clarice Lissovsky - Mídia Ninja
Alcides Burn via Afã Comunicação Cidadã
Agência Brasil
Governo de SP
 PT NA CÂMARA
BRASÍLIA - FEVEREIRO/2021