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O NEOLIBERALISMO NOS GOVERNOS COLLOR, FHC E LULA:

REFLEXOS PARA A POLÍTICA EDUCACIONAL

Lorena Mariane Santos Rissi e Soraia Kfouri Salerno, e-mail:


lorena.peduel@gmail.com.

Universidade Estadual de Londrina, Centro de Educação e Ciências


Aplicadas.

Área e subárea do conhecimento: Educação/ Políticas Educacionais.

Palavras-chave: Neoliberalismo; Corrente Político-Econômica; Política


Educacional.
.

Resumo

Este trabalho busca através do levantamento de fontes primárias dos


precursores neoliberais, identificar a corrente político-econômica – o
neoliberalismo – nos governos de Fernando Collor de Melo (Collor), Fernando
Henrique Cardoso (FHC) e Luis Inácio Lula da Silva (Lula) e os reflexos para a
política educacional. Optou-se por estudar a corrente político-econômica
neoliberal, disseminada como doutrina, suas raízes teóricas que se difundiram
nas políticas governamentais com reflexos para a política educacional a partir
das últimas décadas do século XX. Como procedimento metodológico utilizou-
se a pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo, numa análise histórico e crítica
de precursores desta corrente, como Ludwig von Mises (1881-1973), Friedrich
von Hayek(1899-1992) e Milton Friedman (1912-2006). O governo Collor
introduz tal corrente, que se formalizou com o governo de FHC, através da
elaboração do Plano Diretor de Reforma do Estado e consequente reforma no
campo educacional, cujo ideário era transferir para o setor privado as
atividades conduzidas pelo Estado.Com o advento do governo esquerdista no
poder, tem se a continuidade de políticas neoliberais seja pela omissão e até
aprofundamento das políticas empreendidas por FHC. Evidencia-se que a
materialização da ideologia neoliberal no Brasil, passa pelo impacto com o
contexto identitário do país, impacto este em processo.

Introdução

Este trabalho visa o estudo das raízes teóricas da corrente político-econômica


neoliberal através das fontes primárias dos precursores do neoliberalismo ou

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como eles se denominam defensores do liberalismo em seu sentido originário
do século XIX, cujos preceitos se caracterizam pela completa abertura dos
mercados mundiais, a retomada dos discursos de meritocracia, bem como a
interferência mínima do Estado acarretando em estímulo à iniciativa privada
Essa corrente político-econômica é atrelada as desigualdades sociais, o
acúmulo de capital de muitos em detrimento da maioria da população e tem
influenciado as políticas educacionais que estão a serviço do grande capital,
atrelando a educação para formação de sujeitos para o mercado de trabalho e
passivo diante das injustiças sociais produzidas pela classe detentora do
controle dos modos de produção.
O ideário neoliberal é difundido no Chile antes de serem legitimados pelo
Consenso de Washington o que culminou para que esse país fosse
considerado um modelo de sucesso para os países latino-americanos, inclusive
para o Brasil, sendo geradas políticas inspiradas nesta corrente político-
econômica.
No Brasil tal hegemonia se difundiu a partir da década de 1990 através
do governo de Fernando Collor de Mello, mas se formalizou com o governo de
Fernando Henrique Cardoso, no qual ocorre a elaboração do Plano Diretor de
Reforma do Estado e ampla reforma no campo das políticas educacionais e
manteve continuidade no governo de Luis Inácio Lula da Silva

Métodos

Como procedimento metodológico utilizou-se a pesquisa bibliográfica de cunho


qualitativo, numa análise histórico e crítica de precursores desta corrente, como
Ludwig von Mises(1881-1973), Friedrich von Hayek(1899-1992) e Milton
Friedman (1912-2006), com vistas ao reconhecimento da estrutura do
pensamento econômico para a política educacional.

Resultados e Discussão

Evidencia se que essa corrente político-econômica a partir da década de 1990,


tornou-se a base teórica para a definição de políticas na maioria dos países,
que passaram a seguir as orientações do que se denominou Consenso de
Washington.
A importância deste tema, para o campo da educação é devido à
influência desta ideologia, a saber, a neoliberal nas políticas educacionais, pois
como se sabe a educação é influenciada pela concepção de Estado
subjacente, logo a proposta e a defesa neoliberal do Estado Mínimo também
abrange o campo educacional.
De acordo com Moraes (2001) o que se denomina neoliberalismo é uma
corrente de pensamento que surgiu após a segunda guerra mundial, tendo
como precursores Ludwig von Mises e Friedrich von Hayek este se destacou

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pelo seu texto “ O Caminho da Servidão”, escrito em 1944. Tal livro foi uma
critica aos socialistas e ao Estado intervencionista.
O neoliberalismo sofre influência do liberalismo clássico,
especificamente com os discursos de Adam Smith sobre a limitação do Estado
perante a economia. Os precursores neoliberais pregavam a diminuição do
Estado perante as atividades que podem ser exercidas pelo Mercado, alegando
que o mesmo era mais eficiente em realizar tais funções, inclusive na educação
por se tratar de investimento em capital humano, além da liberdade de escolha
que deve ser oportunizada para os pais escolherem onde matricularem seus
filhos (FRIEDMAN, 2014).
O discurso de maior liberdade é um dos valores pregados pelos
defensores dessa corrente que proporciona um embasamento convincente a
ideologia neoliberal de acordo com Harvey (2005). Entretanto apesar da defesa
de liberdade individual o primeiro país a implantar a ideologia neoliberal foi o
Chile num contexto de ditadura, com o General Pinochet, uma contradição,
considerando uma proposta liberal num contexto ditatorial, sofreu influência
direta da escola de Chicago, com Milton Friedman.
Pinochet inspirado pelas doutrinas de Milton Friedman, realizou reformas
na educação de cunho neoliberal prevalecendo o predomínio do mercado no
campo educacional, se antes o Estado tinha a principal responsabilidade pela
oferta da educação, o controle da mesma passa a ser gerida pela livre
iniciativa, prevalecendo o princípio da liberdade de escolha que servirá de
justificativa para o processo de descentralização e privatização que privilegia a
iniciativa privativa com recursos públicos.
A partir do Consenso de Washington os organismos internacionais
estabelecem aos países latino-americanos uma série de reformas com vistas a
estabelecer na economia e na política o predomínio da corrente político-
econômica neoliberal enfatizando o Chile como um modelo a ser copiado pelos
demais países da América Latina, inclusive para o Brasil.
A conjuntura de implantação da política neoliberal no Brasil se deu
através da gestão governamental de Collor, porém foi com Fernando Henrique
Cardoso que ocorre um aprofundamento dessa doutrina através da elaboração
do Plano Diretor de Reforma do Estado cujo objetivo é tornar “as decisões do
não mercado” mais próximas das “decisões do tipo mercado”
Com o advento do Presidente da República Luis Inácio Lula da Silva, um
ex-operário e líder sindical que representava uma esperança de ruptura, pelo
fato de sua atuação no movimento sindical ter sido a favor da luta da classe
trabalhadora brasileira, ocorre na realidade a intensificação de programas de
cunho neoliberal para a surpresa de muitos. O que demonstra que o
neoliberalismo não se limitou em aplicar seus programas a países que se
diziam de direita, mas a qualquer governo, “inclusive os que se
autoproclamavam e se acreditavam de esquerda” (ANDERSON, 1995, p.3).

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Considerações finais

Dado o exposto evidencia-se que a doutrina neoliberal tem se apresentado


maleável, assim como o camaleão que se camufla em diferentes ambientes,
assim é a corrente neoliberal em diferentes contextos, como ditatorial, liberais
democráticos como em governos de declarada posição esquerdista.
As políticas educacionais de cunho neoliberal não são rompidas de um
governo a outro, dando continuidade as orientações dos organismos
internacionais, tais como: políticas compensatórias com intuito de controle da
pobreza, regulação da qualidade, como as avaliações de sistema da Educação
Básica e Superior e expansão da educação superior, predominantemente pelo
forte estímulo a iniciativa privada.

Referências

ANDERSON, Perry. O balanço do neoliberalismo. In: SADER, Emir; GENTILI,


Pablo. (Orgs.). Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado
democrático. 7. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.9-23.

ARAÚJO, Emílio. A educação sob a avalanche liberal que desce dos Andes. In:
ADRIÃO, Theresa;GIL, Juca (Org.). Educação no Chile: olhares do Brasil. São
Paulo: Xamã.2009, p.61-77.

FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e Liberdade. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC,


2014.208 p.

GENTILI, Pablo. A falsificação do consenso: simulacro e imposição na


reforma educacional do neoliberalismo. Petrópolis RJ. Vozes, 1998.141 p.

HARVEY, David. O neoliberalismo história e implicações. São Paulo:


Loyola, 2005.124p.

HAYEK, Friedrich August von. O caminho da servidão. 5. ed. Rio de


Janeiro:Vide Editorial, 2013. 221 p.

MISES, Ludwig von. A mentalidade anticapitalista. 2. ed. Campinas, SP:Vide


Editorial, 2015. 158 p.

MORAES, Reginaldo C. Neoliberalismo - de onde vem, para onde vai? São


Paulo: editora Senac, 2001. 88p.

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