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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS (UNISINOS)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Arqueologia do ódio: A Nova Direita Francesa entre a mídia, a lei e sala de aula

Trabalho de conclusão do semestre,


Seminário de Técnicas de Análise de
Dados do Programa de pós graduação
em Ciências Sociais da Universidade
do Vale dos Sinos - coordª.
Professora Miriam Steffen Vieira

mestrando: Dorian Luiz Borges


Moreira Filho

SÃO LEOPOLDO-RS, 16 DE JANEIRO DE 2023


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INTRODUÇÃO

Como já é sabido dentro do nosso PPGCS, minha dissertação analisará a emergência da


Nova Direita (ND) na França e a construção por esta corrente de pensamento de extrema direita
(ED) de uma matriz discursiva que justifica e defende o nacionalismo do tipo étno-diferencialista
(racismo étno-cultural ou étno-diferencialista), sua difusão pelos meios de comunicação de massa,
particularmente pelas páginas do Le Figaro Magazine, que, conforme teorizado pelos intelectuais
fundadores dessa corrente, se insere em uma estratégia de “guerra cultural”, ou “metapolítica”,
dizem eles, de inspiração gramscista, pela disputa e conquista da hegemonia cultural (DE
BENOIST, 1982). E isso não mudou. O que mudou foram as perguntas. Como estas mudaram, de
uma certa forma, o corpus, em parte foi mantido, mas em parte está em fluxo, pendendo
aprofundamento no próximo encontro com a orientação deste estudo. A metodologia, no entanto,
não muda muito.

UNIVERSO EMPÍRICO

Como descrevemos*: “O último relatório do instituto suéco independente de pesquisas


Varyeties of Democracy Institute (VDem) cujo principal projeto Democracy Report 1 mede o
nível de democratização do planeta foi taxativo: “Os últimos 30 anos de avanços democrático
estão agora erradicados (...) Ditaduras aumentam em quantidade e abrigam 70% da população
global - 5.4 bilhões de pessoas”. E essa é uma tendência que já data. De acordo com VDem,
no mesmo relatório anual, em dez anos, 30 países sofreram deteriorações notáveis na
qualidade das instituições que sustentam o modelo dito liberal de democracia.
Outro respeitado instituto independente, o estadunidense Freedom House, de acordo
com o seu último relatório, fala, com alarme de “tipping point” ou ponto culminante deste
processo no mundo onde, sem reação dos atores globais comprometidos com regimes de
liberdades individuais, o “modelo autoritário se imporá”.
De acordo com a métrica do Freedom House, foram 16 anos de declínio da proposta
liberal pelo mundo. De fácil demonstração, e baseado em dados próprios, o relatório Freedom
in the World 2 classifica os diferentes Estados do planeta como Livres, Parcialmente Livres e
Não Livres. De 2005 para cá, ponto inicial deste monitoramento e ano em que, de acordo
com o instituto norte-americano, 46% dos países monitorados entrariam na categoria “Livres”

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https://www.v-dem.net/democracy_reports.html - visto em 6 de julho de 2022
2
https://freedomhouse.org/report/freedom-world/2022/global-expansion-authoritarian-rule - visto em 6
de julho de 2022
* http://www.guaritadigital.com.br/casaleiria/acervo/cienciassociais/viiisiddpp/190/index.html

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- ápice de “liberdade” no mundo - este índice cai pela metade estando hoje em magros 21.3%
das nações descritas como Livres.
Curiosamente, o número de Estados caracterizados como Não Livres não aumentou
significativamente no período - passando de 36.1% das nações monitoradas pelo Freedom
House para 38.4% em 2021. A categoria que teve crescimento exponencial foi a de países em
diversos graus de democratização que caem na coluna das nações “Parcialmente Livres”. Em
2005 elas eram 17.9%, conforme os dados do instituto estadunidense e, 16 anos depois,
representariam 41.3% dos regimes conhecidos pelo globo.
Uma representação estatística do Estado da democracia pelo mundo que corrobora os
achados de VDem que vê avanço de regimes híbridos com tendência “autocratizante” para
falar como os autores do estudo suéco, no qual o Brasil está incluso como um dos que mais
periclitavam no momento do fechamento do relatório. O que está em jogo nesta crise política
global é a perenidade da Democracia Liberal em particular. Mas a ideia mais geral de uma
sociedade onde o populus ou a plebis possam decidir de forma mediada ou direta os destinos
da polis é atacada indiretamente em favor de, na melhor da hipóteses, um regime cesarista
onde um povo se exprimiria de maneira plebiscitária.
Isso tudo resume bem o que se costuma hoje chamar, seja, crise da democracia, ou
backsliding democracies, ou ainda de 3ª Onda de Automatização
(HUNTINGTON/LÜHRMANN/LINDBERG, 1991/2019). Esse fenômeno, ainda que tenha
seus agentes à esquerda do espectro político, se passa preponderantemente à ED
(LINDBERG/OUTROS, 2022). Mas do que isso, há inúmeras evidências, de fontes
acadêmicas como jornalísticas, de que há concatenação entre todos este movimentos, seja
financeiro (SAINT-ANDRÉ, 2022) ideologico (MOREIRA/PERRIN, 2019), de troca de
experiências e modelos de combate e de inspiração entre o que eu estou aqui chamando de
nebulosa populista/reacionária que é um movimento que por nacionalista não tem um
posicionamento universalista sobre como todos os países deveriam se regir mas se vêem, uns
e outros, membros de um movimento dos “povos enraizados” para falar como um dos pais da
Nova Direita Alain de Benoist. Logo, eles vêem interesse em trabalhar juntos para que,
geopoliticamente, o modelo liberal tão detestado seja derrotado no maior número de nações.
Na prática, a nebulosa coordena diversos agentes estatais e não estatais em prol de uma
desestabilização e, in fine, constante autocratização da sociedade global. São “agentes
autocratizantes” participando de uma forma de coordenação transnacional non binding quer
dizer, sem compromissos rígidos.

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O que a maior parte desses agentes autocratizantes têm em comum? Quatro traços
genéricos os unem: 1) Ideologicamente, variantes do que se pode chamar de
étno-nacionalismo cultural e/ou Diferencialista; 2) O projeto político se inscreve dentro de
uma tradição sócio-histórica anti-iluminista que é autoritária e anti-democrática, ou, na
versão menos autoritária, é cesarista; 3) Todos investem seus esforços em variações
vagamente gramscianas de “guerra cultural” que seria condição sine qua non para a vitória
desse projeto político; 4) Retoricamente, todos esses movimentos se servem do populismo
reacionário para mobilizar afetos e manter um clima de guerra existencial permanente.
O primeiro desses traços nos fornece uma cosmovisão, o segundo os âncora em uma
tradição sócio-histórica e discursiva longa e também mais recente, o terceiro nos dá a
estratégia geral e o quarto nos fornece a tática preferencial.

OBJETO E HIPÓTESE INICIAL DE TRABALHO

Nossa hipótese sempre foi que, sobre os escombros do Nazi-fascismo, como estratégia
geral de saída o impasse político que a extrema direita Neo-fascista/Neo-Nazista se
encontrava, impasse que os levou do ostracismo à ultra-violência de rua dos anos 1960, a
Nova Direita Francesa (ND), composta de intelectuais nacionalistas frustratados com as
batalhas infrutíferas das duas primeiras décadas do pós-guerra, procurou remodelar o
conteúdo ideológico do nacionalismo radical para que ele pudesse circular pelas instituições
que ao final da Grande Guerra lhes fechavam as portas (CAMUS/LEBOURG, 2015). Conexo
com esta re-roupagem ideológica, toda uma nova estratégia de “gramscismo de direita” ou
“metapolítica” - uma guerra cultural à livrar com à academia e com formadores de opinião
através dos meios de comunicação de massa - foi teorizado (DE BENOIST/OUTROS, 1982).
Esta dupla reflexão, que se estendeu da fundação da ND até meados dos anos 80,
segundo nossa hipótese de trabalho, foram passos seminais na construção de uma matriz
discursiva que se esconde por trás da cultura para dar um salvo conduto à uma cosmovisão
racista da nação, em particular francesa mas também das nações ditas “indo-europeias”, e
com isso fazer circular uma palavra anti-sistêmica que contesta o paradigma democrático e
liberal dominante desde a derrota do nazi-fascismo e, de modo geral, dos nacionalismos
integralistas e racistas. É à gênese também do cada um em sua casa para o bem de todas as
culturas ancestrais enraizadas (KEUCHEYAN, 2017).
O segundo pressuposto de nosso problema inicial de pesquisa é que esta matriz - por
abarcar o espaço cultural europeu de modo extensivo à branquitude global com origens no

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colonialismo - se difundiu pela Europa e pelo globo, alimentando até mesmo no sul global
um discurso neo-nacionalista similarmente baseado na cultura essencial de cada nação que o
Estado precisa favorizar mas, evidentemente, baseado na realidade sócio-histórica de cada
país. Podemos estar errados, mas unicamente o exame do corpus escolhido - o acervo da
revista le figaro magazine, de 1978 à 1985, fundada por intelectuais da ND - poderá
corroborar, ou, ampliar nossa percepção inicial ou desmentir.
Sobretudo, visto a similitude de certos enunciados de diferentes dirigentes, intelectuais
ou ativistas de ED pelo mundo nesse momento de paroxismo do avanço desse movimento
hoje transnacional, nos pareceu urgente ir ao que nos aparenta ser a fonte desta trama
discursiva que tem tornado a governança democrática instável demolindo ou, no mínimo,
enfraquecendo as antigas coalizões políticas que davam sustentação ao consenso político
liberal que imperava desde o fim da 2ª Guerra Mundial pelo menos no Norte global
(PRZEWORSKI, 2019).
Ao nos apropriarmos da literatura científica que tentou dar conta desse desafio nos seus
primórdios (TAGUIEFF, TARNERO, DURANTON-CRABOL, KRIKORIAN), lamentamos
que estes trabalhos iniciais tenham sido abandonados por outros objetos de estudo no amplo
campo da ED que, na nossa percepção, não são que reverberações do que a ND produziu. Um
esforço renovado nos parecia pertinente e víamos este projeto de genealogia do discurso da
ND como uma forma de pesquisa de base.
No entanto, não só devido ao que aconteceu tem uma semana em Brasília, que é a
culminação de algo que vem se gestando há mais tempo, mas porque, desde a ascensão de
Donald J. Trump à presidência dos Estados Unidos da América do norte, o tempo parece ter
se acelerado, por assim dizer. Os atos golpistas de 8 de janeiro último só reforçam esta
intuição.
Por esta razão, diferentemente do que nos propúnhamos no projeto de pesquisa
originalmente oferecido à avaliação da banca de admissão deste PPGCS, pensamos que, ao
invés de passar pelo teste da eficácia deste estratégia de comunicação e de batalha pela
hegemonia cultural, onde procuraríamos aferi-la, exclusivamente, no discurso parlamentar
que discutiu e, por fim, aprovou a lei proibindo o uso do lenço dito islâmico no contexto
escolar da França, devemos abandonar esta parte do corpus e nos confrontar à um corpus
mais amplo, não necessariamente institucional e codificado, mas em publicações e conteúdo
audiovisual ou circulante em redes sociais em um país como o Brasil que está passando pelo
mesmo fênomeno de recrudescencia do populismo reacionário de ED e/ou de autocratização
verificado no Norte e no Sul globais.

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Todos os 4 traços comuns da nebulosa populista/reacionária que já é possível identificar


através do exame liminar do corpus mas também da revisão da bibliografia específica sobre o
assunto geral das EDs pelo mundo, nos leva a pensar que a há grande similaridade ideológica
e grande concatenação de esforços entre estes agentes autocratizantes e, sobretudo, um
grande mimetismo retórico.

PERGUNTAS DE PARTIDA , DETALHAMENTO E PROBLEMA DE PESQUISA

A hipótese da polarização populista como instrumento tático

Este mimetismo retórico, sobretudo, repousa sobre o uso por eleição de uma retórica
populista e reacionária. Isso, que infiro na frase anterior, não é só fruto do acaso mas é, de
fato, como mostra Vegetti (2018), uma escolha cientemente feita, no caso na Hungria, mas
que pode ser observada em todos os movimentos dessa liga transnacional oficiosa, para
poder mobilizar o debate público em torno de temáticas culturais e morais mais afeitas à
causa etno-diferencialista intrinsecamente hostil ao debate tecnocrático ou acadêmico.
A retórica populista, acima de tudo, em um mundo afetado pelo neoliberalismo mas
também em profunda transformação social graças à crítica pós-colonial, decolonial e
identitária (FRASER, 2019), é extremamente poderosa em uma conjuntura de crescente
ressentimento à ser mobilizado, seja entre as categorias que ganharam muito, pela inclusão
pelo consumo do New Deal, ou que perdem micropoderes graças às vitórias políticas e
sociais de grupos até então marginalizados e excluídos da normatividade dominante das
nações.
Se focarmos no caso brasiliero, por exemplo, não exclusivamente, mas
convincentemente, Christian Lynch (2022) classifica o fenômeno ressurgente da ED que
levou Bolsonaro ao poder como uma consequência do que ele identifica como “populismo
reacionário”. Outros autores estrangeiros vêem no populismo como a ferramenta mais
poderosa na “guerra cultural” (MUDDE/VEGETTI/ENYEDI,MCKENZIE,MOFFITT) - na
nossa hipótese de trabalho lançada pela ND tem mais de 40 anos.
Isso porque a equação mais simples do populismo (MUDDE, 2017) faz sempre dois
recortes básicos: o “povo” versus a “elite”. Em primeiro lugar, cada uma dessas categorias
são preenchidas de sentido e de materialidade a partir do que a matriz discursiva ideológica
específica de um movimento político historicamente situado determina. Todo movimento é
capaz de fazer esse mesmo recorte e produzir sentido e materialidade diferentes.

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Em segundo lugar, no caso que nos interessa mais, o que o populismo faz, na sua mais
simples expressão, como nos mostra Cas Mudde (2017), é essencializar o povo que é sempre
puro e a elite que é sempre corrupta. Enfim, uma, a elite, é sempre a inimiga existencial da
outra, o povo (PRZEWORSKI, 2019).
Nessa configuração, uma outra categoria, que, mesmo que saída do povo, ainda que
nem sempre, não faz parte da elite mas foi empoderada ou estimulada pela elite, surge na
nova língua populista que é a categoria dos “usurpadores” que, como a elite, são os inimigos,
do Estado, da nação e do povo .
Mais especificamente, no que nos interessa, a radicalidade anti-iluminista da tradição
de ED (STERNHELL, 2006), que é onde enraizamos sócio-historicamente a ND e seus
congeneres mais recentes, sempre acaba nisso: colocando todos os outros como a anti-nação.
Esse mecanismo, rudimentar mas poderoso, é o que permite uma forma de
transpolinização entre agentes anti-sistema em um sentido largo que, em uma outra
configuração e conjuntura, não seriam parceiros naturais.
Essa transpolinização se dá dentro das EDs entre republicanos autoritários mas laicos,
religiosos, anticomunistas radicais, neoliberais e, evidentemente, nacionalistas, etno-culturais
diferencialistas. Mas não para aí. No seio da esquerda, o desejo de “chacoalhar o sistema”
idêntico ao da ED populista e reacionária faz muitas vezes com que os discursos, na sua
acepção literal não contextualizada, se assemelhem ao ponto que alianças de fato ou tácitas se
formem. Um exemplo é o caso do programa de Tucker Carlson da Fox News estadunidense,
vedete do supremacismo branco televisivo, que recruta regularmente ex-militantes, jornalistas
e personalidades da esquerda radical ou dita “patriótica” para servir de caução à esquerda
para um discurso anti-sistema reacionário.
Além disso, o femonacionalismo (FARIS/VERGES, 2017,2019) e o homonacionalismo
(PUAR/REBUCINI, 2007,2013) são um outro exemplo paradigmático dessa trasnpolinização
que essa coalisão nacionalista, populista e reacionária é capaz de produzir de contraintuitivo.
Feministas e ativistas LGBTQI+ universalistas eurocêntricos abstratos, calcado no velho
paradigma do progresso moderno, se aliam à partidos e intelectuais de ED cultural
diferencialista contra o patriarcado oriental ou sul-americano que estaria, graças aos fluxos
migratórios, ameaçando as conquistas feministas e/ou pela igualdade sexual alcançadas desde
os anos 70 em diante. Esse fenômeno é particularmente rico e interpela, por exemplo, em
1989 no início da polêmica que levou, mais de dez anos depois, à interdição do uso do lenço
dito islâmico em sala de aula na França, quando a filósofa feminista Elizabeth Badinter
qualificou, em carta aberta ao minsitro da Educação de época, Lionel Jospin, os homens

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orientais vivendo legalmente naquele país como “o patriarcado mais rįgido do planeta”, de
uma certa forma, validando a tese de que o patriarcado, em particular na Europa, havia sido
derrotado. Em outras palavras: o homem branco ocidental já seria desconstruído. Há mais
complexidade no femonacionalismo, mas o efeito de poder que isso provoca é esse ai mesmo;
é o de dar um selo de excelência feminista aos seus companheiros e maridos em detrimento
do “outro” essencial vindo do exótico oriente.
Por essa razão, por este poder de mobilização popular em modo populista em torno de
teses reacionárias e de aglutinação heteróclita em torno de variações de temáticas que foram
pioneiras no desenvolvimento intelectual da ND, nos parece fundamental, além de extrair a
matriz ideológica que faz reviver e recircular as bi-centenárias teses anti-iluministas dessa
família política sempre contra-revolucionária e seguidamente populista, é importante, em
analisando o corpus original e os adendos a serem definidos o quanto antes em concerto com
a orientação desta pesquisa, responder estas questões:
1) Qual a cosmovisão que se pode inferir dos editoriais e reportagens exclusivamente
produzidos por membros da ND e publicados em Figaro Magazine? 2) Como a ND define o
povo e como ela define o sistema? 2) Quem são os atores do Sistema? 3) Como ela pensa que
estes atores operam contra o povo?
Essas respostas poderão nos ajudar a compreender melhor a trajetória e intelectual e o
funcionamento geral dessa nebulosa global que tem tido sucesso - ainda que graus diferentes
- em vender um projeto de nação reacionária e autoritária como a melhor alternativa ao
liberalismo político e ao pluralismo; Provocando grande violência simbólica e física,
instabilidade e conflitos intercomunitários e seccionais pelo globo.

METODOLOGIA - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

De modo geral, não há grande mudança de um ano para cá. Para repisar, a metodologia
que será utilizada é a Análise do Discurso (AD) francesa, da linha arqueológica foucaultiana, que
investiga a formação e a mutação das práticas discursivas. Sobretudo a partir da produção
jornalística do Grece difundida pelo Le Figaro Magazine como um evento enunciativo que se
oferece à repetição, à transformação e à reativação e é ligado às situações que provocaram e às
consequências que ele incitou a produzir (FOUCAULT, 1994, 2001 p.707).
Pretende-se utilizar aqui, os instrumentos da linha sócio-histórica da AD, conforme
definida por Gérard Noiriel (2006), e que, entre outros aportes metodológicos, também é marcada
pela linha foucaultiana da análise genealógica, no seu objetivo de realizar a genealogia do
conjunto de condições, em uma cultura determinada, de surgimento de um evento enunciativo,

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das regras de dispersão, e como ele é apropriado pela prática das instituições com as quais o
evento se relaciona. A articulação entre os aportes da AD sócio-histórica e da genealogia em AD
permitirão realizar uma análise do discurso dentro do seu contexto sócio-histórico. (FOUCAULT,
1994, 2001 p.708).

PROPOSTA DE SUMÁRIO PROVISÓRIA

1. INTRODUÇÃO
1.1 A Nova Direita - uma alternativa nacionalista sobre os escombros do Nazi-fascismo
1.2 Delimitação
1.3 Metodologia
1.4 As origens sócio-históricas e filosóficas da Nova Direita
1.5 Paradoxo nacional, nacionalismo, paradigma moderno do progresso o Estado-nação
Racismo étno-cultural ou étno-diferencialista, definições e características
2. A metapolítica, gramsci e a “revolução cultural” da Nova Direita pelas páginas do
Figaro Magazine
2.1Para além da metapolítica a política produzida pelo populismo reacionário - mola da
revolução nacional contra os globalistas
3 Análise do corpus constituído
4 Conclusões

REFERÊNCIAS

BOESE, Vanessa A., ALIZADA, Nazifa, LUNDSTEDT, Martin , MORRISON, Kelly,


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