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RELATÓRIO DO GRUPO TÉCNICO DE

Relações
Exteriores
Produto 2 | Relatório Final

Comissão de Transição Governamental 2022


Brasília, dezembro de 2022
COMISSÃO DE TRANSIÇÃO GOVERNAMENTAL
Coordenador-Geral do Gabinete de Transição Governamental
Geraldo Alckmin
Coordenação Executiva
Floriano Pesaro
Coordenação de Articulação Política
Gleisi Hoffmann
Coordenação de Organização da Posse
Rosângela Lula da Silva
Coordenação de Grupos Técnicos
Aloizio Mercadante

Coordenação do Grupo Técnico de Relações Exteriores


Aloysio Nunes Ferreira
Audo Faleiro
Celso Amorim
Cristovam Buarque
Mônica Valente
Pedro Abramovay
Romênio Pereira

Integrantes do Grupo Técnico de Relações Exteriores


Adriana Abdenur
Alessandra Nilo
Ana Lobato
Arlindo Chinaglia
Fátima Mello
Karine de Souza Silva
Maria Elisa Teófilo de Luna
Maria Regina Soares de Lima
Maria Silvia Portela de Castro
Michel Szurkalo
Pedro da Silva Barros
Saulo Kalunga
Silvio Albuquerque

Apoio Técnico ao GT de Relações Exteriores


Antonio Cottas de Jesus Freitas
Bruno Henrique Neves Silva
Bruno Santos de Oliveira
Ciro Eduardo Ferreira
Fabiana Radtke Schwarz
Frederico Assis
Juliana Cardoso Benedetti
Juliana de Moura Gomes
Livia Oliveira Sobota
Marcelo Almeida Cunha Costa
Marcelo Zero

1 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Pedro Marcos de Castro Saldanha
Rafaela Rodrigues
Roberta Maria Lima Ferreira
Victoria Balthar de Souza Santos

Relator:
Audo Faleiro
Assessor Administrativo:
Frederico Coutinho
Equipe de monitoramento:
Janira Borja
Assessora Jurídica:
Isabela Marques Seixas

2 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Sumário
Sumário 2
Sumário Executivo 4
1. Introdução: desmonte da política externa 8
2. Balanço dos principais programas e ações 12
3. Sugestão de ações e medidas prioritárias 56
4. Gestão e área de suporte 57
5. Colegiados de participação social 73
6. Pontos de Alerta 76
7. Sugestões sobre Emergências Orçamentárias 84
8. Sugestões sobre revogações e alterações de atos normativos 89
9. Sugestão de Estrutura Organizacional do Ministério 98
10. Conclusões 106
Anexos 108

3 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Sumário Executivo
O relatório do Grupo Técnico de Relações Exteriores (GT-RE)
apresenta balanço sobre aspectos substantivos da política
externa promovida pelo governo Jair Bolsonaro, além de
diagnóstico sobre temas orçamentários, administrativos e
estruturais no âmbito do Ministério das Relações Exteriores
(MRE).
Para a sua produção, foram realizadas reuniões com a atual
gestão do Itamaraty, que transmitiu extensa lista de documentos
analisados pelo GT, e foi mantido contato com entidades como o
Grupo de Mulheres Diplomatas, a Associação e Sindicato de
Diplomatas Brasileiros, o Sindicato dos Servidores do
Ministério das Relações Exteriores, a Associação de Familiares
de Servidores do Itamaraty, além de grupo de diplomatas negras
e negros, grupo de servidores com deficiência e responsáveis
por dependentes com deficiência, entre outros. Realizaram-se
reuniões, adicionalmente, com entidades da sociedade civil como
a Conectas Direitos Humanos, a Comissão Arns, a Coalizão Negra
por Direitos e a Rede Brasileira pela Integração dos Povos
(REBRIP); com organismos internacionais, como a Organização
Internacional para as Migrações (OIM); e com representantes do
setor privado, como o Conselho Empresarial Brasil-China. Em
8/12, foi promovida reunião virtual de oitiva da sociedade
civil, que reuniu 95 participantes, além de sete integrantes do
GT-RE e uma representante da coordenação política do Gabinete
de Transição. Vale notar, ademais, a valiosa interação
estabelecida com outros grupos técnicos do Gabinete de
Transição.
Foram realizadas cinco reuniões, em formato virtual, do conjunto
de integrantes do GT-RE: a primeira reunião com a presença de
todos os coordenadores ocorreu no dia 21/11; as demais, com
coordenadores e convidados, deram-se nos dia 29/11, 5/12, 7/12
e 10/12.
Desse esforço de pesquisa e avaliação podem ser destacadas as
seguintes conclusões, devidamente substanciadas nas páginas
seguintes:
- a combinação entre o desmonte de políticas públicas, em
nível interno, e o predomínio de visão isolacionista do mundo,
no nível externo, afetou a imagem do país e prejudicou a
capacidade brasileira de influir sobre temas da agenda global.
Ao assumir posturas negacionistas, o Brasil perdeu protagonismo
na diplomacia ambiental, colocou em xeque esforços
multilaterais de contenção da pandemia e promoveu visão dos
direitos humanos inconsistente com o ordenamento jurídico

4 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


doméstico. Em seu entorno, o país passou de catalisador de
processos de integração a fator de instabilidade regional. A
política para a África foi abandonada e pouca atenção foi
dedicada a comunidades brasileiras no exterior.
- as dez medidas prioritárias elencadas para os 100
primeiros dias de governo visam a restaurar posicionamentos e
recuperar espaços de atuação. As medidas abrangem o regresso à
UNASUL e à CELAC, a organização da cúpula dos países amazônicos,
a retomada da política externa para a África, a preparação para
a presidência brasileira do G20, o retorno ao Pacto Global para
Migrações, a revisão das normativas de concessão de vistos
humanitários a haitianos e afegãos, a formulação de marco legal
para a cooperação técnica brasileira, a normalização do
relacionamento com a Venezuela, a retirada do Brasil do Consenso
de Genebra e, finalmente, a reposição de recursos humanos para
viabilizar a execução da nova política externa brasileira pelo
MRE.
- o atual quadro de funcionários do Serviço Exterior
Brasileiro (SEB) é insuficiente para alavancar a retomada do
protagonismo internacional do país e a composição atual do corpo
de servidores não reflete adequadamente a diversidade da
população brasileira. Nos últimos dez anos, houve redução
líquida na força de trabalho do Ministério de mais de 700
servidores administrativos. O déficit de servidores é de 538
diplomatas, 1116 oficiais de chancelaria e 761 assistentes de
chancelaria. A perspectiva de estagnação em níveis
intermediários da carreira, causada por gargalo no fluxo de
promoções, pode resultar em evasão de servidores e agravar o
cenário. Essa drástica redução de pessoal ocorre de forma
inversamente proporcional ao crescimento das representações
diplomáticas brasileiras ao redor do mundo, que evoluíram de
136, em 2003, para 216, em 2022, e ao mesmo tempo em que o
panorama geopolítico se torna mais complexo. A respeito da
composição do SEB, não há dados sobre a proporção de negro/a/s
entre servidores e, em um universo de 1500 diplomatas, apenas
23% são mulheres. O Programa de Ação Afirmativa do MRE foi
afetado pela perda de parcerias com SEPPIR, CNPq e Fundação
Palmares. Apenas 30% das mulheres diplomatas atingem o topo da
carreira, em comparação com 53,8% dos homens;
- existe demanda pelo estabelecimento de mecanismos
institucionalizados de participação social na formulação e
execução da política externa. Diversas modalidades de diálogo
podem ser consideradas a fim de aumentar a legitimidade interna
e externa da atuação do MRE, levando em conta a diversidade de
atores e interesses da sociedade civil;
- da Lista de Alerta de Risco (LAR) da Administração
Pública federal, elaborada pelo Tribunal de Contas da União,

5 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


duas medidas merecem atenção especial por responderem a dois
aspectos complementares da política externa brasileira: (i)
qualidade, compartilhamento e transparência de dados
governamentais; e (ii) segurança da informação e segurança
cibernética. A primeira constitui peça central na implementação
da política de transparência do Itamaraty, órgão que foi
submetido a insulamento institucional que contribuiu de forma
decisiva para o descolamento do seu corpo funcional dos grandes
temas que marcam o cotidiano do país. O ministério é, hoje,
ator solitário, impermeável ao intercâmbio com as organizações
da sociedade civil, com os partidos políticos, com a academia
e com os entes federativos. A consequência prática desse
processo é fosso entre as necessidades do país e sua diplomacia.
Levar adiante o Plano de Dados Abertos amplia o controle social,
facilita a formulação de política pública e a produção de
conhecimento científico e acadêmico. A segunda medida está
vinculada à necessidade de uma nova política de segurança da
informação, que esteja em sintonia com a Estratégia do Governo
Digital, com a Política Nacional de Segurança da Informação e
com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais. Estima-se que o
Itamaraty, pela natureza das suas atividades, produza 80% do
volume de informações sigilosas do governo federal, com destaque
para as comunicações entre a sede do MRE e os postos no exterior
(embaixadas, consulados e missões diplomáticas). Em razão
disso, enfrenta recorrentes ataques cibernéticos sofisticados,
que põem em risco atividades de inteligência, planejamento e
formulação da política externa;
- a dívida com organizações internacionais representa
grave prejuízo à imagem do país e à sua capacidade de atuação
e compromete severamente sua política externa. O Brasil deve
atualmente cerca de R$ 5,5 bilhões de reais. Se um valor mínimo
dessa dívida não for pago ainda no atual exercício, haverá perda
de voto em organizações como a ONU, a Organização das Nações
Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização
Internacional do Trabalho (OIT), entre outras. A situação é,
ainda, politicamente crítica no caso da Organização Mundial do
Comércio (OMC), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o
Tribunal Penal Internacional (TPI), para citar alguns exemplos
de lista que engloba mais de uma centena de organismos
internacionais, fundos, bancos de fomento, entre outros. O TCU
tem alertado para a lacuna entre os compromissos financeiros
com organizações internacionais e as dotações orçamentárias. O
Acórdão 1437/2020 também questiona a atual classificação dessas
despesas como discricionárias já que decorrem de compromissos
assumidos pelo chefe do Poder Executivo e referendados pelo
Congresso Nacional;
- a Portaria Interministerial (MJSP/MRE) nr. 7 de
19/08/2019 do governo Bolsonaro, que impede a entrada no Brasil

6 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


de altos funcionários do governo venezuelano, e o Decreto 10.086
de 05/11/2019, que retira o Brasil da UNASUL, requerem revisão
imediata em virtude dos prejuízos que acarretam ao diálogo
construtivo que deve marcar relação do país com seus vizinhos.
No primeiro caso, a medida faz parte de iniciativas que visaram
isolar a Venezuela e cujo resultado foi o de transformar o país
vizinho em palco de disputas geopolíticas alheias à região. A
retirada do pessoal diplomático de Caracas privou Brasília de
informações essenciais e deixou milhares de brasileiros sem
assistência consular. Reconhecer Juan Guaidó como presidente
interino sepultou a capacidade de o Brasil atuar como mediador
de crise cuja saída negociada e política sempre foi preconizada
como a única possível pelo Itamaraty até 2018. No segundo caso,
além de abandonar qualquer protagonismo no seu entorno imediato,
o Brasil contribuiu ativamente para desorganizar o edifício
institucional pré-estabelecido, abandonando a UNASUL e a CELAC
e buscando flexibilizar o MERCOSUL como união aduaneira, em
dissonância com o artigo 4º, parágrafo único da Constituição
Federal;
- a atual estrutura do MRE não permite levar a cabo as
diretrizes do programa de governo do Presidente eleito. A Lei
13.844/2019, em vigor, teve como ponto positivo manter a APEX
vinculada ao Itamaraty. Representa, contudo, retrocesso de
quase 16 anos, ao reduzir o número de secretarias ao que previa
a Lei 11.314/2006. Esta redução não se fez por acaso. Temas
atuais e de enorme relevo para a inserção internacional do
Brasil - como clima e meio ambiente, a integração regional e o
atendimento das comunidades brasileiras no exterior - tiveram
sua importância diminuída na estrutura do ministério, em linha
com o retrocesso com que essas políticas foram tratadas na
política externa do governo Bolsonaro. Recuperar essa
capacidade de ação está no cerne do programa do Presidente
eleito e das manifestações que fez em sua primeira viagem ao
exterior, por ocasião da COP-27 do clima em Sharm el Sheikh,
que, além dos itens citados acima, terá entre suas prioridades
relançar ativa política com o continente africano.
Registre-se, por fim, a atitude cooperativa e o diálogo
construtivo que foi possível estabelecer com a atual gestão do
Ministério das Relações Exteriores, que foi essencial para que
o diagnóstico que integra este relatório pudesse ser realizado.

7 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


1. Introdução: desmonte da
política externa
A política externa brasileira sob o governo Bolsonaro pode
ser resumida a uma palavra: retrocesso. Ninguém foi capaz de
descrever tão bem a nossa atual situação no mundo quanto o
próprio ex-chanceler Ernesto Araújo, ao reivindicar a
condição de pária para o Brasil. Essa opção pelo isolamento
foi ainda mais perniciosa se comparada ao período de maior
prestígio internacional, com os governos Lula e Dilma. O
universalismo assertivo, que buscava no mundo as
oportunidades para a superação dos passivos socioeconômicos
do país, foi substituído por isolamento reacionário, que vê
no meio externo a fonte de conspirações que justificam
posturas negacionistas e rupturas com a tradição diplomática
brasileira no pós-redemocratização.
A política externa não existe sem outras políticas públicas
que lhe dão conteúdo. Assim, a combinação entre uma visão
isolacionista do mundo e o desmonte de políticas públicas
internas foi fatal para a imagem do país. Os prejuízos aos
interesses brasileiros ficam evidentes em várias áreas, como
demonstrado nas seções seguintes deste relatório, das quais
se destacam de forma ilustrativa, pelo seu simbolismo, as de
meio ambiente e clima, saúde, integração regional e direitos
humanos.
Meio ambiente e clima
O Brasil levou décadas para consolidar sua liderança nos temas
de governança ambiental. Em 1992, sediou a Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92),
na qual foram criadas as três convenções que hoje orientam os
debates mundiais sobre clima, desertificação e
biodiversidade. A organização da Rio+20, em 2012, foi o ponto
de partida para a aprovação dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável da ONU. Em 2015, atuou decisivamente em prol da
Agenda 2030 e do Acordo de Paris, confirmando sua condição de
ator imprescindível para a superação dos obstáculos nos foros
ambientais internacionais. A diplomacia brasileira
conquistou, assim, o respeito tanto dos países desenvolvidos
quanto daqueles em desenvolvimento.
Esse legado foi dilapidado. Ao discursar na ONU, Bolsonaro
insistiu na tese de que o país é "vítima de uma guerra de
desinformação sobre Amazônia e Pantanal" e responsabilizou
“índios e caboclos” pelas queimadas. O Brasil passou a
hostilizar parceiros tradicionais como a Alemanha e a Noruega,
por conta de desentendimentos na gestão do Fundo Amazônia,

8 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


além de desistir de sediar a COP 25 do clima, prevista para
ocorrer no Brasil em 2019. Houve, ademais, inúmeras
manifestações de autoridades brasileiras colocando em dúvida
a gravidade da crise ambiental, na contramão da comunidade
científica representada pelo Painel Intergovernamental sobre
a Mudança do Clima (IPCC). Compromissos anunciados pelo Brasil
foram recebidos com ceticismo, à luz da deterioração dos
indicadores ambientais do país.
Saúde

Durante a pandemia de COVID-19, o governo Bolsonaro negou sua


gravidade e questionou sistematicamente a capacidade da
Organização Mundial da Saúde como coordenadora dos esforços
multilaterais de contenção da crise sanitária. Ao hostilizar
ostensivamente a China, criou constrangimentos desnecessários
com nosso principal parceiro comercial e país produtor de
produtos hospitalares essenciais, vacinas e seus insumos
básicos. Ao deixar de apoiar a proposta de Índia e África do
Sul pela suspensão de patentes para a produção de medicamentos
essenciais no combate à Covid-19, o Brasil abandonou sua
posição tradicional em favor do acesso a medicamentos, em
prejuízo dos interesses de nossa própria população.
O governo Bolsonaro optou por não adquirir tempestivamente
vacinas suficientes para efetuar campanha massiva de
imunização e apostou na obtenção de hidroxicloroquina, sem
respaldo científico. A ausência de estratégia organizada e
centralizada deixou os entes da federação abandonados à
própria sorte. Sem coordenação federal, prefeitos e
governadores se viram forçados a buscar diretamente
fornecedores externos, em contexto de extrema competição por
insumos, para manter o suprimento regular de material de saúde
junto a estados e municípios. O Brasil tornou-se uma ameaça
sanitária global e quase 700 mil vidas foram perdidas, das
quais se estima que 400 mil poderiam ter sido poupadas.
Integração regional

O estímulo a processos de integração política, comercial e de


infraestrutura com os países vizinhos sempre foi uma marca da
diplomacia brasileira, além de um preceito constitucional.
MERCOSUL, UNASUL e CELAC são produtos desse esforço conjunto,
do qual o Brasil foi protagonista, e compunham visão
estratégica que buscava promover a inserção da América do Sul
como ator coletivo no mundo multipolar, como atestam as
reuniões de cúpula América do Sul – Países Árabes e América
do Sul – África. No governo Bolsonaro, predominou postura
diametralmente oposta, que redundou no desmonte da UNASUL, na
saída da CELAC e no crescimento de forças favoráveis ao
desmantelamento do MERCOSUL enquanto união aduaneira.

9 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Ao apostar no isolamento da Venezuela, o Brasil cometeu erro
estratégico de transformar a América do Sul em palco da
disputa geopolítica entre EUA, Rússia e China. A inserção
regional do Brasil foi ainda marcada pelo esfriamento das
relações com a Argentina e, mais recentemente, o Chile e a
Colômbia, pela ingerência em assuntos internos da Bolívia e
pela reversão, na ONU, do voto sobre a necessidade de se pôr
fim ao embargo norte-americano a Cuba, medida coercitiva
unilateral sem respaldo no direito internacional. De
catalisador de processos de integração, o país passou a ser
fator de instabilidade regional.
Direitos humanos
Nos últimos quatro anos, o Brasil se distanciou de algumas de
suas posições históricas em matéria de direitos humanos e do
próprio mandato constitucional que determina que as relações
internacionais do Brasil devem reger-se pelos princípios “da
prevalência dos direitos humanos; da não-intervenção, do
repúdio ao terrorismo e ao racismo”. Desde a redemocratização,
o país se pautava pela defesa da universalidade e
indivisibilidade dos direitos humanos e denunciava a
seletividade do uso político dessa agenda. Adotava,
também, atitude equilibrada e construtiva que favorecia a
cooperação e o diálogo como ferramentas para a promoção e a
proteção dos direitos humanos.
O governo Bolsonaro abandonou o protagonismo em agendas
internacionais caras aos interesses de desenvolvimento
nacional, como direito à saúde, direito à alimentação
adequada, igualdade de gênero e racial, e enfrentamento a
todas as formas de violência e de discriminação. A mudança no
discurso diplomático e a participação desastrada em alianças
ultraconservadoras caminharam de mãos dadas com o desmonte de
políticas públicas domésticas, em especial no que se refere
a igualdade de gênero, direitos sexuais e reprodutivos e
direito de minorias. A gestão atual também promoveu visão
enviesada do direito à liberdade religiosa e de crença, que
falhou no enfrentamento à discriminação religiosa,
principalmente contra religiões de matriz africana.
Repercussões sobre o Itamaraty

O Ministério das Relações Exteriores não ficou imune à


ofensiva do bolsonarismo contra as instituições do Estado
brasileiro. A ausência de motivação e o medo estão presentes
nos corredores do ministério. Instaurou-se atmosfera de “caça
às bruxas” já nos primeiros dias da gestão Bolsonaro, pautada
pela intolerância e pela aversão ao contraditório no seio do
órgão.

10 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Sob a égide de fundar um “novo Itamaraty”, toda uma geração
de experientes embaixadores foi colocada de lado ou enviada
para órbitas mais externas da ação diplomática brasileira. Os
diplomatas mais jovens tampouco foram poupados. São vários os
casos de perseguição motivados por critérios completamente
alheios ao desempenho funcional, como a participação em
governos anteriores, simpatia por partidos progressistas,
parentesco com integrantes de legendas de oposição, postagens
em redes sociais consideradas críticas às políticas atuais,
entre outros.
O insulamento a que foi submetido o MRE tem contribuído de
forma decisiva para o descolamento do seu corpo funcional dos
grandes temas que marcam o cotidiano do país. O ministério é,
hoje, ator solitário, impermeável ao intercâmbio com as
organizações da sociedade civil, com os partidos políticos,
com a academia, com os entes federativos e com toda a
diversidade de forças que compõem o Poder Legislativo.
Reverter essa situação será tarefa árdua que tem início com
a recuperação de um dos principais patrimônios do Estado
brasileiro: o resgate de uma diplomacia profissional,
retirando-a do clima de apatia e conformismo, por meio do
retorno à arena pública, do fim das perseguições de seus
membros e da maior diversidade de seu corpo funcional.
QUADRO RESUMO:
 A política externa do governo Bolsonaro pautou-se por
decisão deliberada de isolamento, justificada por postura
de negacionismo frente a desafios globais.
 Considerando que a política externa deriva da agenda
interna, o desmantelamento de políticas internas afetou a
substância e o alcance da atuação externa.
 A combinação entre o desmantelamento de políticas internas
e o isolamento na política externa abalou a imagem
internacional do país, que perdeu capacidade de fazer
avançar seus interesses.
 Houve rompimento com posições tradicionais e, em alguns
casos, foram promovidas pautas inconsistentes com
mandamentos de ordem constitucional e legal;
 Esse processo foi especialmente grave em áreas como meio
ambiente, saúde, direitos humanos e integração regional;
 O funcionamento do Itamaraty caracterizou-se por clima de
perseguição interna e de insulamento em relação a outros
atores.

11 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


2. Balanço dos principais
programas e ações
Esta seção reflete contribuições recebidas pelo Grupo Técnico
ao longo dos trabalhos sobre os principais temas sob a
responsabilidade do Ministério das Relações Exteriores.
GOVERNANÇA GLOBAL

A governança global, tradicionalmente imperfeita e inadaptada


aos desafios do atual contexto geopolítico, vem se tornando
ainda mais engessada e pouco democrática às vésperas do início
do novo governo. Desde 2015, ano simbólico pela adoção de
marcos cuja negociação contou com intensa participação
brasileira, como a Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável, o Acordo de Paris e a reforma da arquitetura de
paz e segurança, o multilateralismo sofreu os impactos
sucessivos decorrentes do acirramento da competição
geopolítica EUA-China; do desengajamento dos EUA entre 2016
e 2020; das consequências do aquecimento global; da pandemia
de COVID-19; e do conflito russo-ucraniano. Todos esses
eventos se descortinaram em novo espaço informacional, no qual
plataformas digitais e a emergência do fenômeno da
desinformação alteraram os parâmetros do debate público em
todas as esferas.
Esses choques transformaram a dinâmica do multilateralismo.
Nenhum foro, do Conselho de Segurança da ONU a organizações
setoriais de cunho técnico, deixou de ser atravessado pela
polarização que dificulta avanços concretos. A concertação
política fragmenta-se em sistemas de alianças, as quais
deslocam a convivência e o diálogo entre países da arena
multilateral para ambientes exclusivos e organizados em torno
de interesses mútuos. Mesmo entre as maiores economias
globais, o G20, espaço mais propício para impulsionar agendas
condizentes com a multiplicidade de atores e de desafios
globais da atualidade, perde impulso político.
O Brasil, cuja sólida tradição diplomática tem como um de
seus fundamentos a defesa e a promoção do multilateralismo,
deixou, durante o governo Bolsonaro, de agir nesse sentido,
com algumas exceções. Em diversos temas, o país atuou para
enfraquecer o sistema multilateral, apequenando-se no
conjunto dos países em desenvolvimento e, de modo geral, no
mundo.

12 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Observa-se, portanto, expectativa de que o Brasil volte a
desempenhar papel positivo na promoção de governança global
mais justa e inclusiva, o que deve ser feito – visto que esse
tema é atravessado por assimetrias de poder – em linha com o
necessário reposicionamento geopolítico do país para fazer
frente a um novo contexto.
Esse reposicionamento deve ter como premissa a manutenção de
autonomia no cenário internacional, preservando postura
universalista e sempre ancorada na análise de cada tema
concreto em função dos princípios e dos interesses do país,
não em alinhamentos automáticos de qualquer tipo. Não
interessa ao Brasil o discurso que caracteriza o momento atual
como o de uma “nova Guerra Fria”. Tal movimento deveria
compreender (i) o imediato reengajamento com o entorno sul-
americano e, de modo mais amplo, latino-americano e caribenho;
(ii) a retomada, em novas bases, da política externa para a
África; (iii) a reafirmação, em parceria com aquele
continente, da prioridade conferida à preservação do
Atlântico Sul como espaço livre de competições estrangeiras;
(iv) a construção das prioridades para a presidência
brasileira de foros como o Mercosul, G20, Foro Índia-Brasil-
África do Sul (IBAS) e BRICS, ademais das perspectivas de
sediar uma cúpula de países amazônicos e a COP 30.
Enquanto o diagnóstico dos temas específicos que compõem a
agenda internacional será tratado em outras partes do
relatório, identificaram-se aspectos transversais a todos
eles que requerem do MRE visão sistêmica. São exemplos (i) a
necessidade de democratização dos órgãos de governança
global, relacionada à definição de quem exerce o poder de voz
e voto e onde se insere, como objetivo prioritário, a reforma
do CSNU; (ii) o aprimoramento da coordenação no sistema ONU
internamente e deste com outros atores internacionais (como
o sistema Bretton-Woods e organizações regionais); (iii)
visão estratégica sobre candidaturas e presença brasileira
nos secretariados de organismos internacionais; e (iv) a
abertura para a participação de atores não estatais,
respeitado o caráter intergovernamental de processos com essa
natureza e sem subordinar o interesse público a interesses
privados.
Medidas prioritárias para os primeiros 30 dias:

- Quitar, em caráter emergencial, o débito com organismos


internacionais em que o Brasil perdeu ou perderá em breve o
direito a voto.
Medidas prioritárias para os primeiros 100 dias:

13 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


- Proceder ao realinhamento dos posicionamentos brasileiros,
em sua integralidade, aos princípios gerais da política
externa consagrados na Constituição Federal e amparados pelo
direito internacional;
- Elaborar calendário de negociações relacionadas a temas de
governança da ONU, de suas agências e outros organismos
internacionais, incluindo reformas previstas;
- Instituir processo de coordenação permanente entre unidades
da Secretaria de Estado das Relações Exteriores que instruem
a participação do Brasil nesses foros, com o objetivo de
preparar adequada e tempestivamente a estratégia de
participação brasileira na discussão de temas complexos e
transversais;
- Iniciar exercício de reflexão sobre a evolução conceitual
do arcabouço multilateral (incluindo o direito
internacional), tanto para proteger conceitos caros ao Brasil
quanto para analisar e reagir a tentativas de introdução de
novos conceitos que possam não atender aos seus interesses;
- Fortalecer a capacidade de coordenação do governo brasileiro
para assegurar os aportes de recursos necessários para honrar
as obrigações financeiras decorrentes de compromissos
internacionais do Brasil.

AMERICA LATINA E CARIBE


América Latina e o Caribe - Integração
Com objetivo de minar processo de integração regional, o
governo Bolsonaro denunciou o Tratado Constitutivo da UNASUL.
Engajou-se, ademais, em iniciativas fragmentadoras da
institucionalidade regional (Grupo de Lima e Prosul) e
suspendeu sua participação na CELAC. A Organização do Tratado
de Cooperação Amazônica (OTCA), sediada no Brasil, não realiza
reuniões de suas instâncias políticas desde 2018, em razão de
impasse sobre a participação da Venezuela. Viés
ultraliberalizante do Ministério da Economia de Bolsonaro
colocou em risco o Mercosul como projeto estratégico da ação
externa brasileira. O Brasil é o único país cujo parlamento
ainda não aprovou o Protocolo de Adesão da Bolívia ao bloco.
Providências críticas ou emergenciais para os primeiros 30
dias

● Reincorporar-se à CELAC e participar da Cúpula de janeiro


de 2023, como marco simbólico do retorno do Brasil ao
agrupamento e da diplomacia presidencial brasileira para
a região.

14 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


● Retomar o relacionamento com a Venezuela. Trata-se de passo
essencial para o processo de integração sul-americana, o
qual deve incluir todos os países da região.
● Tomar as medidas necessárias ao regresso à UNASUL e
dialogar no mesmo sentido com países que formalizaram saída
do mecanismo (Argentina, Chile, Colômbia, Equador,
Paraguai e Uruguai).
● Formalizar a saída do PROSUL, mecanismo de integração
criado paralelamente ao desmonte da UNASUL, ao qual o
Brasil aderiu em março de 2019.
● Anunciar a reabertura das embaixadas em São Cristóvão e
Névis, São Vicente e Granadinas, Dominica, Granada e
Antígua e Barbuda.
Medidas prioritárias para os primeiros 100 dias

● Fortalecer o MERCOSUL e revalorizar seu caráter


estratégico para a inserção externa brasileira,
favorecendo a recuperação do intercâmbio comercial
intrabloco e inserção externa qualificada e dinâmica.
Quitar dívidas orçamentárias com o bloco; internalizar a
norma que permitirá as contribuições ao FOCEM II; e dar
novo impulso à adesão da Bolívia ao MERCOSUL, pendente de
aprovação apenas pelo Congresso brasileiro.
● Reativar a agenda regional de saúde e vigilância sanitária
e o Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde (ISAGS),
sediado na Fiocruz.
● Estabelecer diálogo com o Banco Central no sentido de rever
a saída do Brasil do Convênio de Créditos Recíprocos (CCR)
da ALADI e anunciar o engajamento do país na modernização
e atualização dos instrumentos de fomento ao comércio
intrarregional.
● Retornar ao Sistema Econômico Latinoamericano (SELA) e
quitar pagamentos atrasados.
● Convocar reuniões das instâncias políticas da OTCA e
proceder à renovação da Diretoria da Organização.
● Refletir sobre a importância crescente de aspectos
territoriais, ambientais, raciais e de gênero nos
processos de integração regional.
● Avaliar a reativação das Cúpulas América do Sul-África
(ASA) e América do Sul-Países Árabes (ASPA) e sobre a
possibilidade de Cúpulas Brasil-África e Brasil-Países
Árabes.

15 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


América Latina e o Caribe - Dimensão bilateral

Bolsonaro deixou de exercer a diplomacia presidencial por


motivos ideológicos e isolou o Brasil politicamente de seu
entorno regional. Rompendo com a tradição de bom diálogo com
todos os vizinhos, não visitou a Argentina de Alberto
Fernández, a Bolívia de Luis Arce, o Chile de Gabriel Boric,
a Colômbia de Gustavo Petro e o Equador do ex-presidente Lenín
Moreno. Tampouco realizou visita bilateral à América Central
e o Caribe ou ao México. Fechou cinco postos no Caribe, sem
dotar a embaixada em Bridgetown de meios para fazer frente às
obrigações ampliadas. Como exemplo da perda de relevância do
Brasil naquela região, a Jamaica fechou sua embaixada em
Brasília.
As relações com a Venezuela foram, na prática, rompidas. O
Brasil reconheceu a autoproclamada presidência de Juan Guaidó
(2019) e fechou a embaixada em Caracas e demais postos
consulares na Venezuela (2020).
A atuação no contexto do afastamento do ex-presidente
boliviano Evo Morales em novembro de 2019 não condiz com a
tradição diplomática brasileira e requer esclarecimentos.
O Brasil dificultou diálogo com Cuba e alterou sua posição
histórica em votações nas Nações Unidas. Houve default cubano
no pagamento da dívida com o Brasil.
Providências críticas ou emergenciais para os primeiros 30
dias
● Revogar a Portaria Interministerial nº 7, de 19/8/19, que
proibiu o ingresso em território nacional de altos
funcionários venezuelanos.
● Aceitar o convite da Colômbia para participar da mesa de
negociação com o ELN e engajar-se ativamente no apoio
internacional à política de “paz total” naquele país.
● Avaliar a concessão de agrément ao embaixador do Chile,
indicado em março de 2022.
● Elevar novamente as relações com Cuba ao nível de
embaixadores acreditados.
● Adotar medidas emergenciais em atenção ao funcionamento da
embaixada do Brasil no Haiti, agravado pela deterioração
das condições de segurança, e definir política de vistos
humanitários para haitianos.
Medidas prioritárias para os primeiros 100 dias

16 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


● Retomar o diálogo com todos os países da região,
independentemente da orientação ideológica de seus
governos. Realizar visitas de alto nível aos países do
Mercosul, ao Chile e à Bolívia.
● Iniciar o processo de reabertura da embaixada em Caracas
e dos postos consulares na Venezuela. Desenvolver agenda
bilateral propositiva.
● Realinhar a relação com o Uruguai a partir de visão
estratégica da importância do vizinho para o Brasil e para
o processo de integração regional.
● Proceder a nova análise sobre a participação brasileira
nos eventos que resultaram na queda do ex-presidente
boliviano Evo Morales.
● Retomar contatos de alto nível com o México, convocando a
Comissão Binacional Brasil México (nível de chanceler); e
com a América Central, por meio do engajamento com o
Sistema de Integração Centro-Americana (SICA).
● Restabelecer as relações diplomáticas com Cuba, atualmente
no nível de encarregado de negócios, e sinalizar a retomada
da posição histórica brasileira contra o embargo norte-
americano.
● Definir política para o Haiti, coordenada internamente e
amparada na adequada alocação de recursos financeiros e
humanos.
● Desenvolver política para o Caribe, em substituição a
movimentos pontuais e irregulares, que inclua o
planejamento de visitas periódicas e a formalização de
mecanismo de diálogo político com a CARICOM. Adotar medidas
de atração de quadros profissionais, inclusive para postos
situados em capitais-sede de organismos regionais e
multilaterais.

CLIMA E MEIO AMBIENTE

Em meio à crise climática e ambiental, o governo Bolsonaro


patrocinou o desmonte das instituições e políticas nacionais
para clima e meio ambiente, as mesmas que fizeram o Brasil
ser reconhecido como potência e liderança diplomática nesses
temas. Apesar de esforços isolados para preservar posições
tradicionais, a atuação brasileira perdeu caráter
construtivo, quando não teve de ceder a interesses de forças
políticas e econômicas engajadas nas negociações.

17 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


À exceção do agronegócio e, pontualmente, de outros setores,
foi interrompida a interlocução regular com parcela mais ampla
do setor privado, academia e sociedade civil. Com a extinção
de órgãos colegiados e outros canais de diálogo, cessaram-se
os aportes de dados, ideias e insumos de setores mais
diversificados da sociedade. O Brasil assumiu tom defensivo,
revestido de nacionalismo primário, e passou a insistir em
financiamento externo, sem oferecer contrapartida de
resultados.
O Brasil enfrenta crise de credibilidade nos foros
internacionais devido ao processo de “cupinização” da
política ambiental. Ao não agir internamente em prol da defesa
do meio ambiente e do combate à mudança do clima, o país perde
legitimidade para exigir maiores compromissos de outros
atores. De acordo com as diretrizes do novo governo, a agenda
ambiental e climática deverá tornar-se ponto central, cabendo
papel de liderança nessa agenda. Com esse propósito, anunciou-
se a realização de cúpula de países amazônicos e a intenção
de sediar a COP30 de Clima, em 2025. A questão climática será
prioritária na presidência brasileira do G20 (2024). A
organização desses eventos deve ser iniciada o quanto antes,
com alocução de recursos, capacidades e coordenação intra e
interministerial.
Na condição de país mais biodiverso do mundo, o Brasil possui
ativo cronicamente mal aproveitado e deliberadamente
desperdiçado nos últimos anos. No governo que se inicia, terá
oportunidade para tratar a biodiversidade como recurso
estratégico para o desenvolvimento nacional e para o bem do
planeta e da humanidade, preenchendo, assim, lacuna de
liderança na agenda global sobre o tema. Contudo, é preciso
restabelecer e aprofundar diálogo com academia e sociedade
civil.
Temas para análise e possível revisão de posição
Crédito de carbono florestal: avaliar o tratamento de
florestas nos mercados de crédito de carbono. A posição
brasileira sempre foi refratária à inclusão de florestas em
mercados de carbono por razões de integridade ambiental e de
preservação do esforço de mitigação nacional. No governo que
se encerra, o país passou a promover a utilização de créditos
florestais, incluindo os de padrões privados fora da
Convenção. Uma nova posição requer reflexão interna sobre como
utilizar o mercado de carbono, sem prejudicar o cumprimento
das metas nacionais no Acordo de Paris.
Financiamento climático: o Brasil não poderá contar com
recursos externos para cumprimento das metas de redução de
emissões e não terá acesso a recursos para iniciativas de

18 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


adaptação, tampouco perdas e danos, reservados aos países mais
vulneráveis. É ainda possível receber recursos para
mitigação, sob o argumento de que traz benefícios globais,
mas isso deve ocorrer apenas em iniciativas bilaterais para
florestas, particularmente baseadas em pagamento por
resultados. O Brasil não deveria condicionar suas ações a
recursos externos, tampouco se comprometer a ir além do que
pode fazer com meios próprios. Há expectativa de que o país
reforce o seu apoio a outros países em desenvolvimento (PEDs).
Seria interessante mapear e ampliar iniciativas de cooperação
sul-sul que possam ser caracterizadas como apoio ao combate
à mudança do clima, de forma a criar agenda positiva, ainda
que não seja aceitável ter a obrigação legal de assumir o
papel de doador.
Revisão do cálculo das NDCs brasileiras: a contribuição
nacionalmente determinada (NDC) foi apresentada em 2015,
antes da COP21 em Paris. O país se propôs a reduzir suas
emissões em 37% em 2025 em relação aos níveis de 2005. Para
2030, estabeleceu meta indicativa de 43% de redução. Esses
níveis seriam “consistentes” com emissões líquidas de 1,3
bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2e) em
2025 e 1,2 bilhão em 2030. No entanto, em dezembro/2020, o
governo atualizou e substituiu a NDC. O novo compromisso
confirma a meta para 2030, mas apresenta novo cálculo de
emissões para o ano-base, o que eleva as emissões líquidas a
1,76 bilhão de toneladas em 2025 e 1,6 bilhão em 2030. A
estratégia de contabilidade criativa está sendo questionada
na Justiça Federal. Pelo precedente internacional que abre,
caberia rever os cálculos e reapresentar a NDC brasileira.
Providências críticas ou emergenciais para os primeiros 30
dias:
 Promover ajustes no discurso, em linha com as diretrizes
do programa de governo.
 Refletir na estrutura do MRE a centralidade do tema do
clima, considerando, inclusive, a futura presidência
brasileira da COP30, bem como a questão do meio ambiente
marinho.
 Considerar candidaturas a órgãos relevantes de clima e
meio ambiente.
 Iniciar a organização da cúpula de países amazônicos.
 Trabalhar pela ratificação do Acordo de Escazú (Acordo
Regional sobre Acesso à Informação, Participação Pública
e Acesso à Justiça em Assuntos Ambientais na América Latina
e no Caribe) e informar o avanço obtido por ocasião da COP
2 (Argentina, abril/2023).

19 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Medidas prioritárias para os primeiros 100 dias
 Elevar perfil e capacidade de participação nos foros e
grupos negociadores de temas ambientais e climáticos.
 Mobilizar países megadiversos em prol do avanço de marco
global de biodiversidade, e fomentar as sinergias entre as
"Três Convenções do Rio” (clima, diversidade biológica e
desertificação).
 Iniciar planejamento para sediar e presidir a COP30.
 Retomar a organização de espaços inclusivos nas COPs, que
incorporem e acolham atores não governamentais, bem como
facilitar o credenciamento dessas entidades. Estreitar
laços com especialistas da academia de da sociedade civil,
por meio de consultas preparatórias a processos de
negociação e nos próprios foros multilaterais.
 Analisar possíveis vícios de origem do Pacto de Letícia
(2019) e da Iniciativa Amazônica do BID (2021) e propor
correções.

 Elaborar calendário de negociações relacionadas a temas de


governança da ONU, de suas agências e outros organismos
internacionais, incluindo reformas previstas.
 Instituir processo de coordenação permanente entre
unidades da Secretaria de Estado das Relações Exteriores
que instruem a participação do Brasil nesses foros, com o
objetivo de preparar adequada e tempestivamente a
estratégia de participação brasileirana discussão de temas
complexos e transversais.
 Iniciar exercício de reflexão sobre a evolução conceitual
do arcabouço multilateral (incluindo o direito
internacional), tanto para proteger conceitos caros ao
Brasil quanto para analisar e reagir a tentativas de
introdução de novos conceitos que possam não atender aos
seus interesses.
 Fortalecer a capacidade de coordenação do governo
brasileiro para assegurar os aportes de recursos
necessários para honrar as obrigações financeiras
decorrentes de compromissos internacionais do Brasil.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
A Década de Ação sobre os Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável - ODS (2020-2030) sinaliza compromisso
internacional renovado para acelerar a implementação da

20 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Agenda 20301. Os membros da ONU têm ajustado suas políticas
públicas aos ODS e reportado regularmente o progresso no plano
doméstico em foros internacionais, sobretudo o Fórum Político
de Alto Nível sobre o Desenvolvimento Sustentável (HLPF).
O Brasil, no entanto, sofreu desmonte das instituições e
políticas criadas ou fortalecidas para aquele fim. O governo
Bolsonaro atingiu especialmente aquelas de natureza social e
ambiental que compunham, com os órgãos econômicos, os três
pilares do desenvolvimento sustentável. Corolário desse
processo foi a decisão de extinguir a Comissão Nacional dos
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (CNODS), provocando
esvaziamento da pauta e desarticulação entre as diferentes
esferas do governo, e destas com a sociedade.
O desmonte provocou "apagão" de dados para medir o progresso
no cumprimento dos ODS e, hoje, menos da metade das metas e
indicadores da Agenda 2030 internalizados pelo Brasil são
mensurados. Desde 2017, o país não reporta o cumprimento dos
ODS. O “Relatório Luz 2022” elaborado pela sociedade civil –
único a monitorar, atualmente, o estado de implementação dos
ODS no país – constatou não ter havido avanço em 80% das 168
metas analisadas para a obtenção dos 17 ODS. Em apenas uma
delas (15.8) houve progresso satisfatório. A baixa
performance se explica pela ausência de mecanismo de
governança, financiamento e monitoramento dos ODS e pela
dificuldade de identificar e financiar políticas públicas.
A Agenda 2030 e seus ODS são marco conceitual para a
reconstrução e/ou reorientação da política externa. Retomar
a Agenda 2030 permitiria reorganizar o discurso sobre
desenvolvimento sustentável, contribuindo para recuperar o
ritmo de implementação dos ODS. Propõe-se a retomada da defesa
do desenvolvimento sustentável amparada em análise política,
econômica e geoestratégica do atual contexto internacional.
O próximo Relatório Nacional Voluntário (VNR) sobre o
cumprimento da Agenda 2030 poderá demarcar novo “marco zero”
para medir o progresso dos ODS.
Começam a surgir, no HLPF e em outros foros internacionais,
movimentos que buscam esvaziar ou substituir a Agenda 2030.
A participação em alto nível na Cúpula dos ODS, por ocasião
da próxima Assembleia Geral da ONU (setembro/2023),
sinalizaria a renovação do compromisso com o tema. Trata-se,
ainda, de oportunidade para divulgar eventos importantes da

1 Fruto de processo iniciado na Rio+20 em 2012 e que teve o Brasil como


protagonista para a sua aprovação pela AGNU em 2015, a Agenda 2030 estabelece 17 ODS
e 169 metas a eles associadas, cobrindo temas centrais e urgentes para o
desenvolvimento econômico, a proteção ambiental e a inclusão social.

21 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


agenda de desenvolvimento sustentável a serem sediados no
Brasil.
Providências críticas ou emergenciais para os primeiros 30
dias:
● Reforçar a estrutura do MRE para a Agenda 2030 e a
implementação dos ODS.
● Iniciar a organização da cúpula de países amazônicos.
● Estudar possibilidade de apresentar candidatura para
sediar a IV Conferência sobre o Financiamento para o
Desenvolvimento (FfD), em 2025.
Propostas para os primeiros 100 dias do governo:
● Atualizar-se sobre a evolução do tema desenvolvimento
sustentável.
● Recriar a Comissão Nacional dos Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável (CNODS).
● Iniciar preparação de Relatório Nacional Voluntário (VNR)
sobre o cumprimento da Agenda 2030 e seus ODS, para
apresentá-lo no próximo HLPF (julho/2023).2
● Promover Agenda 2030 por meio da participação em bancos de
desenvolvimento.

DIREITOS HUMANOS E TEMAS SOCIAIS


A chamada “pauta de costumes” foi um dos eixos do governo
Bolsonaro. A política externa para direitos humanos serviu
como parte do instrumental à disposição para induzir e
justificar medidas no plano interno em marco de projeto
ultraconservador. O governo se propôs a catalisar
retrocessos, buscando diluir compromissos e consensos.
A adesão a alianças internacionais conservadoras serviu à
projeção da ideia de não isolamento. Ao mesmo tempo, o Brasil
se distanciou do tradicional protagonismo em agendas de
direito à saúde, igualdade de gênero e racial, do
enfrentamento à violência contra LGBTIs, entre outros temas
caros aos interesses de desenvolvimento nacional.
É urgente retomar posições históricas, fundamentadas na
Constituição (artigo 4º.) e no direito internacional dos

2 IPEA e IBGE poderiam prestar assessoramento técnico à produção dos


relatórios de avaliação e do VNR.

22 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


direitos humanos. O país deve voltar a contribuir para a
implementação da Declaração e Plano de Ação de Durban e da
Década Internacional de Afrodescendentes, que se encerrará em
2024. Instrumentos de cooperação bilateral no combate ao
racismo devem ser retomados. É, também, fundamental atualizar
o posicionamento nacional à luz de novos desdobramentos e
desafios, com nova ênfase aos direitos dos povos indígenas,
ao direito ao meio ambiente e à biodiversidade e às
negociações de instrumento internacional sobre empresas e
direitos humanos.
Nos últimos anos, a participação em foros internacionais foi
marcada por enfrentamento, devendo ser recuperada postura
construtiva e de liderança. A tradição de, com base no convite
permanente a procedimentos especiais do CDH, receber visitas
de titulares de mandatos deve ser reavivada, assim como deve
ser considerada a realização de sessões da Comissão e da Corte
Interamericana de Direitos Humanos.
É fundamental adequar a estrutura do MRE aos crescentes
contenciosos, com vistas ao seu melhor exercício de
coordenação, elaboração e revisão de respostas, bem como de
representação do estado brasileiro. É preciso, igualmente,
fortalecer estruturas internacionais de proteção de direitos
humanos por meio da institucionalização de mecanismo para
controle de convencionalidade de sentenças emitidas por
cortes internacionais, para sua aplicação no plano interno,
bem como a realização de contribuições voluntárias para
diferentes órgãos.
Um dos atos mais simbólicos de ruptura do governo Bolsonaro
foi a decisão de desassociar-se do Pacto Global para
Migrações. Sob pretexto de afirmar sua soberania em temas
migratórios, o Brasil rejeitou marco que, além de alinhado à
legislação nacional, corrobora o interesse de resguardar
direitos de brasileiros no exterior. Essa postura não impediu,
contudo, a continuidade e a expansão de políticas de vistos
de acolhida humanitária, impulsionadas por atores da
sociedade civil. Além de retornar ao Pacto, caberá ao Brasil
conjugar essas políticas com medidas mais robustas de
acolhimento, de modo a criar condições para a integração
local.
A situação de haitianos e afegãos é crítica. No caso do Haiti,
a sustentabilidade da política de vistos, nos primeiros meses
de governo, dependerá da situação de segurança para
funcionamento da embaixada e do volume de demandas
relacionadas a pedidos de reunião familiar, que têm prioridade
legal. No caso do Afeganistão, será necessária atenção à
capacidade de processamento de pedidos e de acolhida local.

23 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Providências críticas ou emergenciais para os primeiros 30
dias:
 Saída do Consenso de Genebra, que vai na contramão dos
compromissos assumidos nas Conferências Mundiais do Cairo
e de Pequim e representa retrocesso histórico.
 Posicionar-se até FEV/2023 sobre as 306 recomendações
recebidas no 4º RPU. Cabe analisar a manutenção da não
aceitação de 17 recomendações.
 Iniciar, com prioridade, campanha ao Conselho de Direitos
Humanos (mandato 2024-2026) em eleição que ocorrerá em
outubro/23. Cuba, República Dominicana e Peru disputam com
o Brasil 1 das 3 vagas disponíveis.
 Preparação da participação em audiência pública da Corte
Interamericana de Diretos Humanos sobre o caso Caso Airton
Honorato e outros Vs. Brasil (violência policial), em 8/2,
em São José da Costa Rica.
 Formalizar o retorno do Brasil ao Pacto Global para
Migrações.
 Revisar portarias sobre vistos e autorização de residência
para fins de acolhida humanitária.
Medidas prioritárias para os primeiros 100 dias:

 Examinar a conveniência de continuar na Aliança


Internacional sobre Liberdade de Crença e de Religião, bem
como decidir sobre a manutenção da oferta de sede para
Cúpula no 2º semestre de 2023. Seria possível favorecer a
perspectiva da diversidade religiosa e do combate ao
racismo religioso, sobretudo contra religiões de matriz
afrodescendente.
 Retomar a posição tradicional em matéria de direitos
sexuais e reprodutivos e igualdade de gênero.
 Reengajar-se na implementação da Década Internacional dos
Afrodescendentes (2015-2024) e do Fórum de
Afrodescendentes.
 Anunciar visitas de procedimentos especiais do CDH. Estão
pendentes pedidos de visita da relatora especial sobre a
violência contra a mulheres e meninas, da relatora especial
sobre racismo, do Mecanismo Internacional de Peritos
Independentes para a Promoção da Justiça e Equidade Racial
na Aplicação da Lei, do relator sobre liberdade de religião
ou crença, da relatora especial sobre o direito à
privacidade, do relator especial sobre extrema pobreza e
direitos humanos, do Grupo de Trabalho de Peritos sobre

24 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Pessoas Afrodescendentes e do Grupo de Trabalho de Peritos
sobre Mercenários.
 Refletir sobre a adoção, a exemplo de outras chancelarias,
de política externa antirracista e feminista.
 Preparar a avaliação do Brasil por três comitês do sistema
internacional de direitos humanos: Comitê de Combate à
Tortura (abril/maio); Comitê de Direitos Humanos
(junho/julho), e Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais (setembro/outubro).
 Avaliar candidaturas à Comissão sobre o Estatuto da Mulher
(CSW), mandato 2024-2028 e à CIDH, mandato 2024-2028.
 Ratificar de tratados de direitos humanos, aproveitando o
momentum gerado pelo início do governo para destravar a
tramitação de acordos importantes.
SAÚDE GLOBAL

A agenda de saúde global tem crescido de importância na


política externa, em especial pelas consequências geradas por
pandemias, a mais recente de COVID-19, com consequências em
termos humanos e econômicos, entre outras dimensões. A
pandemia de COVID-19 reforçou a necessidade de ampliar a
transversalidade dos debates sobre saúde global, e o Brasil,
tradicionalmente considerado ator relevante em fóruns
multilaterais de saúde, precisa atualizar sua atuação
diplomática, de modo a responder às necessidades de país que
garantiu, em nível constitucional, o Sistema Universal de
Saúde.
A atuação em mais alto nível do MRE em relação à pandemia de
COVID-19, especialmente na gestão do Ministro Ernesto Araújo,
foi fartamente documentada no relatório final da Comissão
Parlamentar de Inquérito da Pandemia do Senado Federal[1].
Iniciativas não baseadas em evidências cientificas, como as
relacionadas à falta de prioridade para a compra de vacinas,
à promoção de medicamentos sem eficácia, inclusive por meio
de seminários da Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), e à
atuação na OMC em temas de propriedade intelectual, afastada
dos pleitos de países em desenvolvimento, são exemplos de
como o país abdicou de histórico protagonismo em defesa da
saúde pública em foros multilaterais e em suas relações
bilaterais.
O Brasil tem de retomar sua tradição de atuar, de forma ativa,
com base em evidências científicas, para o reforço de
arquitetura global da saúde que promova a prevenção,
preparação e resposta a pandemias e o correspondente
fortalecimento dos sistemas de saúde, assim como no que diz

25 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


respeito aos determinantes sociais da saúde e suas
consequências na equidade no acesso à saúde. Cabe ainda
revitalizar a atuação brasileira na promoção da ciência,
tecnologia e inovação. O tema também reforça sua dimensão
estratégica para a política externa por sua inter-relação com
outras agendas prioritárias do próximo governo, como mudança
do clima/meio ambiente, combate à fome/segurança alimentar,
agricultura (saúde única), propriedade intelectual,
enfrentamento das desigualdades, paz e segurança e revolução
digital.
Ações emergenciais para os primeiros 30 dias

 Preparar, em coordenação com o Ministério da Saúde, a


participação brasileira na reunião do Conselho Executivo
da OMS (30/01 a 7/02).

 Preparar, em coordenação com o Ministério da Saúde, a


participação brasileira na reunião do G20-Saúde (18 a
20/01).

 Atuar, em coordenação com o Ministério da Saúde, na


definição das posições brasileiras para a próxima reunião
negociadora do instrumento para prevenção de pandemias
(20-22/02).
Sugestões de linhas de ação

 Reforçar iniciativas de cooperação internacional na área


de saúde, sejam elas nas vertentes sul-sul e/ou
triangulares, inclusive as desenvolvidas pela Fundação
Oswaldo Cruz (FIOCRUZ).

 Ampliar projetos de cooperação com países do sul global,


nos continentes africano e asiático e em âmbito
regional.

 Aproveitar as recentes eleições de brasileiros para a


direção da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e
para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
para estimular a promoção de agendas de saúde pública,
em prol de todos os países do continente.

 Reassumir a liderança em foros multilaterais de saúde,


com a recuperação de sua legitimidade e credibilidade.

 Retomar o protagonismo brasileiro como articulador de


atores do Sul Global, inclusive da sociedade civil, para
reforçar suas posições tradicionais em negociações
multilaterais em curso, como as do “tratado de

26 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


pandemias” e no Grupo de Trabalho sobre as Emendas ao
Regulamento Sanitário Internacional (RSI).

 Reforçar a estrutura do MRE na área de Diplomacia da


Saúde para dar reposta adequada às discussões do sistema
ONU/OPAS e de organizações do ecossistema de saúde
global, como UNITAID e GAVI, e em outras agendas
emergentes que envolvam discussões de saúde global (G20,
UNASUL, MERCOSUL, etc).

 Aperfeiçoar a coordenação das diversas áreas do MRE e


demais órgãos do governo federal nos diferentes foros
de saúde em que o país exercerá a presidência pro-
tempore no próximo mandato, como MERCOSUL em 2023, G20
em 2024 e BRICS em 2025.

 Aliar as discussões em foros econômicos (G20, OCDE,


Banco Mundial) com as preocupações de saúde pública, com
coordenação de posições entre as áreas do Itamaraty e
os diversos órgãos do governo federal.

 Adequar a atuação da rede de postos no exterior à


crescente prioridade da agenda de saúde global.

 Desenvolver ações de formação continuada e a atualização


para os funcionários do serviço exterior, inclusive por
meio de cursos, em parceria com instituições como a
FIOCRUZ, e de formação de rede de conhecimento.

ASSISTÊNCIA CONSULAR
O número de expatriados cresceu 22%, saltando de 3,5 milhões
em 2018 para 4,4 milhões em 2021. Sua grande maioria (77%) se
encontra na América do Norte e na Europa. Apesar do aumento,
o tema teve importância reduzida em 2019, com a extinção da
Secretaria dedicada ao assunto e sua fusão com a de temas
multilaterais. Embora a estrutura vigente (2022) tenha
logrado separar os temas, a pauta não retomou centralidade.
A atual gestão colocou em marcha medidas de dispensa
unilateral de vistos para turistas (Austrália, Canadá, EUA e
Japão), que não trouxeram retorno. Alguns dos principais
problemas do serviço consular são (i) a baixa atratividade
dos postos consulares, incluindo os de países como os EUA,
(ii) a defasagem dos salários de funcionários locais (em
particular em Portugal e em parte dos EUA) e (iii) a baixa
lotação da área em Brasília.
Também foram desativados o consulado-geral em Caracas, o
consulado em Ciudad Guayana, o vice-consulado em Puerto

27 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Ayacucho e o vice-consulado em Santa Elena do Uairén.
Adicionalmente, extinguiu o consulado-geral na Cidade do
México. Ao mesmo tempo, foram criados os consulados-gerais em
Chengdu (China), Edimburgo (Reino Unido) e Marselha (França).
Converteu em vice-consulados o consulado em Orlando (EUA) e
as representações em Cusco e Iquitos (Peru). O consulado-
geral em Chengdu e o vice-consulado em Iquitos ainda não foram
abertos.
No relacionamento bilateral, três países merecem especial
atenção em relação à pauta consular:
- Venezuela: a comunidade brasileira tem cerca de 10 mil
cidadãos (dados de 2018). Desde o fechamento das repartições
no país (fevereiro de 2020), a prestação de serviços
consulares e a assistência aos nacionais têm sido realizada
a partir da embaixada em Bogotá e de maneira pouco
satisfatória e onerosa para os consulentes;
- EUA: a crise migratória sem precedentes que atinge, em
particular, a fronteira sul teve reflexo direto no número de
brasileiros deportados dos EUA, com envio mensal de
aproximadamente 5 mil nacionais em voos fretados de
repatriação. Merecem especial atenção a) o uso de algemas em
brasileiros homens maiores de 18 anos (determinação das
autoridades americanas) e b) a emissão de atestados de
nacionalidade, à revelia dos nacionais brasileiros, para
possibilitar o embarque de indocumentados;
- México: desde 18/8/2022, o país revogou o Acordo de
Supressão de Vistos em Passaportes Comuns com o Brasil (em
vigor desde 2004) e voltou a exigir vistos para brasileiros
portadores de passaportes comuns em viagens de turismo ou de
negócios. A medida unilateral tem prejudicado o fluxo de
turistas e empresários brasileiros, além de aumentar a
vulnerabilidade dos migrantes.
Desafios presentes e linhas de ação possíveis/propostas

 Recriação da Secretaria de Comunidades Brasileiras e


Assuntos Consulares e Jurídicos.
 Reforço de pessoal com política de incentivo de lotação na
área consular.
Medidas prioritárias que devem ser adotadas nos primeiros 100
dias
 Avaliar a recriação do Conselho de Representantes dos
Brasileiros no Exterior, bem como a institucionalização e
o funcionamento dos Conselhos de Cidadãos.

28 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


 Reativar os postos consulares na Venezuela: consulado-
geral em Caracas, consulado em Ciudad Guayana, e vice-
consulado em Santa Elena do Uairén.
 Revogar as concessões unilaterais de visto para nacionais
de Austrália, Canadá, EUA e Japão (Decreto 9.731/2019 -
MJSP, MRE, MTUR).
 Avaliar a manutenção do Decreto 10.268/2020 (MJSP, MECON),
que dispõe sobre a implementação e o acompanhamento da
participação do Brasil no programa Global Entry dos EUA de
trâmite imigratório simplificado para viajantes pré-
aprovados.
 Avaliar a manutenção do Decreto 10.721/2021 (MRE), que
extingue o consulado-geral na Cidade do México e transfere
os serviços consulares para a embaixada no México. Medida
especialmente relevante se o Brasil vier a exigir visto
para mexicanos portadores de passaporte comum, como medida
de reciprocidade.
 Renegociar termos da cooperação com os EUA no combate ao
contrabando de migrantes, incluindo os aspectos
relacionados aos protocolos de repatriação.
 Definir protocolos de atuação e capacitação de servidores
lotados na área consular, em temas como atendimento em
situações de emergência, técnicas de mediação, escuta
qualificada e ativa, bem como para a prevenção de estresse
e “burnout” de agentes consulares.
Providências críticas ou emergenciais para os primeiros 30
dias
 Recriar a Secretaria de Comunidades Brasileiras e Assuntos
Consulares e Jurídicos.

NAÇÕES UNIDAS

A política externa do governo Bolsonaro teve como tônica,


sobretudo em seus dois primeiros anos, a crítica ao suposto
“globalismo”, entendido como ideologia que constrangeria o
sentimento nacional e valores morais tradicionais. A
Organização das Nações Unidas (ONU) passou a ser encarada
como “instrumento” para “substituir as nações independentes”
e “promover o totalitarismo sub-repticiamente”, nas palavras
do ex-chanceler Ernesto Araújo.
Essa nova visão traduziu-se em retração do país em pautas da
agenda do Sistema ONU. Embora em órgãos como a Assembleia
Geral (AGNU) e o Conselho de Segurança das Nações Unidas

29 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


(CSNU) não tenha havido reformulação abrangente de
posicionamentos brasileiros, houve mudanças significativas em
temas-chave. Entre essas mudanças, sobressaem a decisão de
desassociar-se do Pacto Global para Migração e a alteração do
padrão de votação em resoluções diversas, que passou a pautar-
se por considerações alheias ao direito internacional.
O Brasil alterou seu padrão de voto em resoluções sobre os
dossiês Israel-Palestina e sírio na Assembleia Geral das
Nações Unidas e no Conselho de Direitos Humanos. No que diz
respeito à resolução sobre o embargo imposto pelos EUA a Cuba,
que é aprovada sempre com maioria esmagadora de votos
favoráveis, o Brasil votou contra em 2019 (junto apenas de
EUA e Israel) e absteve-se em 2021 e 2022.
O engajamento renovado do Brasil na ONU deve levar em
consideração transformações ocorridas em pautas dos três
pilares da Organização.
No pilar de paz e segurança, o acirramento da competição
geopolítica nos últimos anos, de que o conflito russo-
ucraniano é exemplo pungente, atribuiu centralidade ao tema
da segurança internacional, com impacto em toda a agenda da
ONU. São exemplos a elevação do risco nuclear; a percepção de
falência do CSNU (e consequente impulso à discussão de temas
de sua agenda na AGNU); e o amplo uso de sanções unilaterais
adotadas fora do marco onusiano, agravando a fragmentação da
economia mundial e gerando precedentes preocupantes para a
ordem internacional.
Prioridade deve ser conferida ao segundo ano do atual mandato
brasileiro no CSNU. Em 2023, haverá oportunidade para elevar
o perfil de atuação do país, especialmente durante a
presidência brasileira (outubro). O Brasil deverá iniciar, o
quanto antes, processo de reflexão interna para responder a
eventuais demandas de maior envolvimento em dossiês na agenda
do Conselho e de contribuição com tropas em operações de paz.
Sobre esse último tema, o Brasil necessita levar em
consideração (i) a evolução recente do panorama das missões
de paz, cujo modelo dá sinais de esgotamento em meio a riscos
de segurança, dificuldades orçamentárias e oposição de países
anfitriões; e (ii) reflexão sobre os resultados alcançados
pela participação brasileira nessas operações, tanto nos
países anfitriões quanto no Estado brasileiro.
O Brasil tem a oportunidade, ademais, de intensificar a
implementação da Agenda de Mulheres, Paz e Segurança; e de
fortalecer capacidades para atuar em processos de mediação,
prevenção de conflitos, construção da paz e cooperação
humanitária.

30 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


O pilar de desenvolvimento, por sua vez, viu seus principais
marcos ao lado do Acordo de Paris – a Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável e a Agenda de Ação Adis Abeba
sobre financiamento ao desenvolvimento – perderem impulso no
contexto do enfraquecimento do multilateralismo e dos graves
retrocessos econômicos e sociais ocorridos durante a pandemia
de COVID-19.
Esses documentos seguem sendo, contudo, o mapa do caminho
mais relevante, abrangente e representativo a orientar a ação
da ONU e dos Estados nos próximos anos. Restabelecer sua
centralidade no discurso internacional e acelerar sua
implementação em todos os níveis são pré-condição para
preparar, com alguma legitimidade, as futuras discussões
sobre a agenda que a sucederá. Nesse contexto, a reinserção
inequívoca do Brasil nas pautas de interesse dos países em
desenvolvimento é fundamental.
No pilar de direitos humanos, identificou-se a necessidade de
ajuste imediato das posições do Brasil no tema e, com base
nesse movimento de retomada de credibilidade, de
intensificação de sua campanha para voltar ao Conselho de
Direitos Humanos a partir de 2024. A ausência do Brasil no
Conselho no ano de 2023 deve ser aproveitada para promover
reflexão sobre as prioridades para um futuro mandato.
Em síntese, o novo governo deve intensificar a defesa da Carta
da ONU (que segue atual, apesar do envelhecimento da
composição e modus operandi das instituições) e do
multilateralismo, tendo como norte os interesses dos países
em desenvolvimento (inclusive criação e promoção de conceitos
do Sul Global), bem como realinhar suas posições aos
princípios constitucionais e ao direito internacional.
Providências críticas ou emergenciais para os primeiros 30
dias:

 Formalizar o retorno ao Pacto Global para Migração;


 Rever padrões de voto motivados por razões político-
ideológicas;
 Definir prioridades para a atuação no CSNU, incluindo
programa para o mês em que ocupará a presidência
(outubro/2023);
 Iniciar a elaboração de novo plano nacional de ação sobre
mulheres, paz e segurança.
Medidas prioritárias para os primeiros 100 dias:

31 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


 Recuperar a prioridade atribuída pelo Brasil a agendas
acordadas multilateralmente, como a Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável;
 Consolidar posicionamento brasileiro em negociações
relativas à “Nova Agenda Comum” proposta pelo Secretário-
Geral das Nações Unidas (SGNU) e à Cúpula do Futuro
(setembro/2024), que inclua a avaliação conjunta das
propostas realizadas até o momento, a identificação de
aspectos que possam não se alinhar com o interesse
brasileiro, e a definição de prioridades a serem avançadas
pelo Brasil;
 Desenvolver estratégia para fortalecer a capacidade de
atuar em processos de mediação;
 Recriar a Comissão Nacional para Difusão e Implementação
do Direito Internacional Humanitário, extinta pelo governo
Bolsonaro;
 Rever a política de vistos humanitários e aperfeiçoar a
Operação Acolhida;
 Reforçar a estrutura do MRE para coordenar candidaturas a
órgãos internacionais e desenvolver estratégia para
incrementar a presença brasileira nos secretariados de
organizações internacionais;
 Concluir as negociações do marco de planejamento da atuação
do Sistema de Desenvolvimento das Nações Unidas no Brasil
(UNSDPF).

ASSUNTOS DE SEGURANÇA

Desdobramentos geopolíticos recentes, como o conflito na


Ucrânia e a escalada de tensões entre EUA e China, acenderam
alerta sobre o incremento dos riscos de segurança atuais. Não
houve no Itamaraty reflexão sistemática e aprofundada sobre
o lugar do Brasil nesse novo contexto. Em cenário de
polarização, o Brasil está em condição privilegiada para atuar
de forma construtiva e equilibrada.
Desde 2020, o Brasil considera proposta dos EUA para tornar-
se “parceiro global” da OTAN. Cabe reavaliar a continuidade
desse processo de aproximação à luz da posição que o país
deseja ocupar nessa nova paisagem geopolítica.
Em contexto de competição estratégica, tem-se ampliado o
interesse de potências mundiais sobre espaços marítimos. O
momento é propício para a revitalização da Zona de Paz e
Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS), aproveitando a

32 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


realização, por Cabo Verde, de reunião ministerial em 17 e
18/04/2023.
A retomada do Conselho de Defesa Sul-Americano é fundamental
para a formulação de agenda estratégica regional. Será
importante retraçar a linha divisória entre defesa e outras
questões de segurança (como combate ao terrorismo e a crimes
transnacionais).
Nos últimos anos, o tratamento de temas de defesa, assuntos
estratégicos e desarmamento foi unificado em uma mesma unidade
no Itamaraty, o que contribuiu para conferir maior coerência
e centralizar o canal de diálogo com o Ministério da Defesa.
A área também foi fortalecida com a criação de divisão
dedicada à segurança cibernética. Apesar desse esforço, o
aumento do protagonismo do MD ocorreu sem a desejável
coordenação com o MRE, cujo papel é garantir que entendimentos
estejam alinhados a estratégia geopolítica mais abrangente e
consistente.
A recuperação da credibilidade do Brasil contribuirá para
aprofundar a cooperação em defesa com parceiros tradicionais,
como a França, com os quais o relacionamento político
encontra-se estremecido.
A atuação em matéria de não-proliferação e desarmamento
nuclear experimentou retração nos últimos anos. Diante da
emergência de ameaça nuclear, abre-se oportunidade para
retomar a liderança, o que poderia ser realizado por meio da
“New Agenda Coalition” (NAC), grupo de países que atua em
prol do desarmamento nuclear.
Por fim, será necessária cautela na abordagem de temas
emergentes, em particular a discussão de normas para limitar
o uso ofensivo de capacidades de cibernéticas por Estados e
a relação entre clima e segurança. Com relação a este último,
cabe sublinhar que a securitização da pauta climática deve
ser evitada, uma vez que os instrumentos existentes na área
de segurança (como sanções e o uso da força) não oferecem
respostas adequadas aos desafios impostos pela mudança do
clima, que demandam ações de mitigação, adaptação, perdas e
danos e financiamento.
Providências críticas ou emergenciais para os primeiros 30
dias:

 Fortalecer a coordenação entre MRE e MD;


 Aprofundar o diálogo em matéria de defesa com parceiros
tradicionais.
Medidas prioritárias para os primeiros 100 dias:

33 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


 Revitalizar a ZOPACAS e apoiar a realização de reunião
ministerial por Cabo Verde (17-18/04);
 Retomar o Conselho de Defesa Sul-Americano;
 Atuar em favor da ratificação do Tratado para a Proibição
das Armas Nucleares (TPAN);
 Retomar o protagonismo em não-proliferação e desarmamento
nuclear.

COOPERAÇÃO SUL-SUL

Durante o governo Bolsonaro, registrou-se queda vertiginosa


no estoque de projetos de cooperação técnica firmados e
executados pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC). Entre
2018 e 2020, apenas 22 novos projetos foram firmados. Não há
registro de retomada nos dois últimos anos.
O governo privilegiou iniciativas de cooperação humanitária.
Foram 18 executadas em 2016 e 29 em 2017. O número aumentou
para 101 em 2022. Embora a cooperação humanitária constitua
importante instrumento para oferecer alívio a crises e a
situações de emergência, a execução de iniciativas desse tipo
em detrimento de projetos de cooperação técnica privilegia
tratamento imediatista da cooperação em comparação à
construção de capacidades no país receptor e a cooperação
considerada “estruturante”. Além disso, a execução da
cooperação humanitária foi conduzida sem coordenação
estruturada e sistemática com atores pertinentes, tendo
presente as prioridades em matéria de assistência humanitária
junto a organizações internacionais.
Cumpre ressaltar, ainda, que o Brasil não conta com quadro
normativo adequado para a prestação da cooperação
internacional. A ausência de marco legal impõe desafios para
a execução de projetos de cooperação pelos órgãos da
administração pública federal.
A cooperação internacional sul-sul deverá se orientar pelas
novas prioridades da política externa. Essa mudança pode ser
operacionalizada por meio de redirecionamento dos recursos
técnicos e humanos da ABC.
Principais desafios

i) enfrentar percepção desfavorável de setores da sociedade


sobre a importância da cooperação para a inserção
internacional do Brasil e a promoção do
desenvolvimento;

34 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


ii) coordenar a multiplicidade de atores domésticos
envolvidos na implementação da cooperação e a relativa
autonomia desses atores em sua execução;
iii) fortalecer a capacidade institucional de implementar a
cooperação, inclusive com adoção de marco legal que estabeleça
instrumentos para a execução da cooperação; e
iv) dotar a ABC de orçamento compatível com a importância
estratégica da cooperação.
Medidas prioritárias para os primeiros 100 dias
 Anunciar a intenção de dar início à construção de programa
estruturado de cooperação sul-sul, por meio de consultas
com a sociedade e com os órgãos competentes do governo
brasileiro, com o objetivo de colher contribuições e
granjear apoio para a implementação da agenda de
cooperação;
 Promover reuniões com órgãos competentes do governo para
obter subsídios sobre a retomada da cooperação e
eventualmente constituir conselho nacional ou sistema
brasileiro de cooperação;
 Promover avaliação sobre necessidades orçamentárias da
cooperação internacional;
 Enviar ao Congresso Nacional projeto de lei sobre
planejamento, coordenação e execução da cooperação
internacional;
 Promover coordenação entre atores pertinentes na tomada de
decisões em matéria de cooperação humanitária.

ÁFRICA

Bolsonaro foi o primeiro presidente brasileiro desde a


redemocratização a não visitar a África, abandonou o amplo
leque de interesses do Estado e da sociedade brasileiros com
o continente em prol de interesses privados de grupos
religiosos e fechou as embaixadas brasileiras na Libéria,
Serra Leoa e Malawi. No mesmo período, fecharam suas
embaixadas em Brasília o Benin, o Burundi e a Etiópia.
Desafios presentes e linhas de ação possíveis/propostas:
Desafio: recolocar a África como prioridade da política
externa brasileira, em novas bases.
Linhas de ação propostas: realizar exercício de reflexão para
atualizar o discurso sobre o continente e identificar

35 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


possíveis novas sinergias. Considerar: lições aprendidas em
experiências passadas de engajamento; abordagem mais precisa
do tema da “relação histórica” Brasil-África; e diagnóstico
atualizado do estado do continente e de suas relações intra
e extrarregionais. Definir objetivos e identificar os
instrumentos e recursos necessários para alcançá-los.
Desafio: enfrentar o problema da sublotação crônica de postos
na África. Das 33 embaixadas brasileiras, 26 estão com lotação
incompleta (78,7% do total). Há 9 postos com apenas um(a)
diplomata (36% do total). Há 2 postos sem embaixadores (Acra
e Libreville). Há carência em todas as vagas de servidores,
sobretudo nas vagas administrativas. Nesse quadro, o tempo
dos diplomatas acaba sendo direcionado para tarefas
administrativas do posto, em prejuízo das atividades
finalísticas, limitando a capacidade de execução da política
externa, bem como a disponibilidade e qualidade das
informações produzidas.
Linhas de ação propostas: adotar medidas concretas de
incentivo e valorização do servidor que atue na política
externa na África, incluindo em termos de progressão na
carreira, remoções posteriores, estímulo financeiro e
melhoria do apoio à saúde e à segurança do servidor e de seus
familiares.
Desafio: Aprimorar a cobertura de embaixadas no continente.
Linha de ação proposta: estudar a reabertura de embaixadas em
Libéria, Malauí e Serra Leoa e a abertura de embaixada em
Ruanda, garantindo os recursos necessários para que cumpram
a função desejada e estabelecendo agenda substantiva para cada
uma delas. Elevar o perfil de diálogo com a União Africana
(UA), estabelecendo grupo robusto e qualificado que
acompanhe, in loco e sistematicamente, seus trabalhos.
Definir critérios mais objetivos de distribuição de
cumulatividades e garantir os meios necessários para o
acompanhamento efetivo dos países.
Desafio: fortalecer a qualificação dos servidores que atuam
na política externa para a África.
Linha de ação proposta: capacitar funcionários que sejam
removidos para postos na África, bem como lotados nas áreas
correlatas em Brasília, sobre a cultura local e a conduta
esperada do servidor e de suas famílias nesse contexto.
Envolver especialistas afrobrasileiros e africanos em
processos de formação de funcionários do SEB, inclusive no
IRBr. Dialogar continuamente com a academia e a sociedade
civil.

36 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Providências críticas ou emergenciais para os primeiros 30
dias:
 Sinalizar politicamente, com reflexo na estrutura do
Itamaraty, a retomada, em novas bases, da política externa
brasileira para o continente africano;
 Cumprir com compromissos financeiros na CPLP.
Medidas prioritárias que devem ser adotadas nos primeiros 100
dias:

 Estabelecer calendário para o biênio 2023-2024, que inclua


(i) a participação de altos funcionários nas Cúpulas da UA
e da CPLP, bem como de três mecanismos de que a África do
Sul é membros - IBAS (cúpula no Brasil), BRICS (na África
do Sul) e G20 (na Índia, onde será apreciado pedido
sulafricano de que a UA tenha assento no Grupo); (ii)
visitas bilaterais; (iii) encontro com embaixadores
africanos em Brasília no Dia da África (25 de maio);
 Realizar levantamento de instrumentos disponíveis
(acordos, memorandos, consultas políticas, comissões
mistas, projetos de cooperação) e estabelecer prioridades
para sua reativação;
 Iniciar, em diálogo com parceiros sul-americanos e
africanos, reflexão sobre reativação das Cúpulas América
do Sul-África (ASA), após análise dos resultados
alcançados e lições aprendidas, e sobre eventual criação
de Cúpula Brasil-África;
 Retomar reflexão sobre meios e formas de retomar a
cooperação trilateral envolvendo países africanos;
 Reavaliar dívidas bilaterais remanescentes dentro de
estratégia mais ampla para impulsionar os laços com o
continente africano, que conta com algumas das economias
de maior crescimento do mundo.

ORIENTE MÉDIO

O Oriente Médio se caracteriza por dinâmicas voláteis e passa


por realinhamentos políticos que podem trazer desafios e
oportunidades para a atuação do Brasil. Os últimos anos
assistiram à instabilidade trazida pela “Primavera Árabe”; ao
fortalecimento relativo de Turquia, Irã e Israel; e à
assinatura dos “acordos de Abraão” para normalização de
relações entre Israel e alguns países árabes (EAU, Bahrein,
Marrocos e Sudão). Esses processos, associados à expansão e
consolidação da política israelense de assentamentos nos

37 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


TPOs, concorreram para reduzir a centralidade da questão
palestina na política regional e prejudicaram as perspectivas
de avanço do processo de paz israelo-palestino com base nos
parâmetros internacionais estabelecidos.
No pós-2010, atores antes relevantes, como Egito, Iraque,
Líbia e Síria, tiveram que se voltar para questões internas,
com diferentes desfechos. Eixo emergente, envolvendo Israel
e as monarquias do Golfo, ganhou proeminência, mas não foi
capaz de contribuir para a estabilização regional. As crises
na Líbia, no Iêmen e na Síria permanecem sem solução e
contribuem para a instabilidade e para a atuação de grupos
terroristas.
A partir de 2019, as relações do Brasil com Israel estiveram
associadas à inflexão nas posições históricas do Brasil acerca
da questão do Oriente Médio, refletida em votos favoráveis a
posicionamentos israelenses em organismos internacionais,
notadamente na AGNU e no CDH, mas com reflexo também na AIEA.
Tal curso de ação, adotado sem contrapartida, contribuiu para
minar a credibilidade e o papel do Brasil como ator com
influência nos dossiês médio-orientais e não resultou em
benefícios na relação com Tel Aviv, que já era intensa antes
dessa inflexão.
Ao contrário, os padrões de votação e a possibilidade de
transferência da embaixada em Israel para Jerusalém,
anunciada durante a campanha presidencial pelo então
candidato Bolsonaro, provocaram atrito junto à Autoridade
Palestina e outros países árabes. Motivaram, também, moções
condenatórias da Liga dos Estados Árabes (LEA) e o
cancelamento, pelo Egito, de visita que o então chanceler
Aloysio Nunes faria ao Cairo, logo após as eleições de 2018.
A exclusão da Palestina do roteiro das duas viagens
presidenciais ao Oriente Médio também gerou mal-estar com os
palestinos.
Houve, ainda, aprofundamento das relações com países do Golfo.
No caso dessa aproximação, o investimento político (duas
missões presidenciais) não se traduziu na atração de
investimentos alardeada pelo governo Bolsonaro. Com a Arábia
Saudita, os investimentos não se concretizaram e as
exportações brasileiras têm enfrentado restrições, sobretudo
no setor de proteína animal. A atração de investimentos
emiratis e cataris, por outro lado, mostrou-se mais bem-
sucedida. Os EAU são nosso principal parceiro comercial na
região, com pauta diversificada, além de apresentarem volume
importante de investimentos no Brasil.
Para além dos vínculos socioculturais e demográficos, a
relação com os países árabes reveste-se de importância

38 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


estratégica, tendo em conta as parcerias vigentes nos campos
de comércio, defesa e sobretudo agricultura (exportação de
commodities e importação de fertilizantes, especialmente
relevante no contexto do conflito na Ucrânia). Em 2021, os
membros da LEA constituíram, em seu conjunto, o terceiro maior
mercado mundial para exportações brasileiras (US$ 24,2
bilhões). Autoridades árabes manifestaram em algumas ocasiões
interesse na recuperação de canais estruturados de diálogo e
cooperação com o Brasil.
Medidas prioritárias que devem ser iniciadas nos primeiros
100 dias:

 Iniciar com os parceiros sul-americanos e árabes reflexão


sobre a reativação da Cúpula América do Sul - Países
Árabes, ou de outro mecanismo estruturado de cooperação
birregional/Brasil-Países Árabes, após análise de
resultados alcançados e lições aprendidas.
 Examinar a recalibragem da política externa brasileira
para o Oriente Médio, com destaque para a questão Israel-
Palestina e atenção a parceiros tradicionais como Egito,
Irã, Síria, Iraque e Líbano, corrigindo o padrão de votação
com relação ao dossiê médio-oriental (Israel - Palestina
e Golã Sírio) em diversas resoluções na AGNU e no CDH e
retomando posição histórica de condenação a ataques contra
civis e a violações de direitos humanos e direito
humanitário, bem como de apoio à solução de dois estados.
 Retomar o mecanismo de consultas políticas com a Palestina,
em nível de vice-chanceleres, bem como examinar o pleito
palestino de elevação da representação brasileira para
embaixada e de apoio ao ingresso do país como membro pleno
da ONU.
 Considerar a retomada das contribuições brasileiras à
Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da
Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), que nos últimos
três anos totalizaram apenas US$ 75 mil. O Brasil é o único
país latino-americano e único membro dos BRICS a integrar
a comissão consultiva do UNRWA, e, no passado, chegou a
doar em bases frequentes montantes na casa dos milhões de
dólares ao funcionamento da agência.
 Adotar estratégia universalista e equilibrada para os
países da região, sem alinhamentos automáticos e
conferindo ênfase aos relacionamentos bilaterais segundo
interesses claros, sejam eles comerciais ou político-
estratégicos. Resgatar o princípio da não-seletividade no
tocante a críticas e posicionamentos políticos. Observar
oportunidades que se abrem com a estabilização de Síria,

39 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Iraque e Líbia, reconhecendo que outros parceiros
relevantes já estão engajados na reconstrução desses
países. O Brasil assumirá, em 2023, a relatoria do dossiê
humanitário sírio no CSNU, o que reflete as credenciais do
país para assumir papel construtivo no tratamento do tema.
 Analisar o estado das relações com o Irã, reconhecendo a
importância do país para a pauta comercial agrícola
brasileira. Em 2023 serão celebrados 120 anos de
relacionamento bilateral. Por outro lado, a aproximação
política deve levar em conta o atual recrudescimento da
repressão à oposição ao regime, em especial no contexto de
violações aos direitos das mulheres no país. Caberia ter
presente, ainda, a possibilidade de o Brasil retomar sua
posição de interlocutor no que diz respeito ao dossiê
nuclear, tanto no CSNU quanto na AIEA, bem como no âmbito
das tratativas em torno do Plano de Ação Conjunto
Abrangente (JCPoA), para o qual o Brasil poderia servir de
facilitador informal.
 Estudar a situação do escritório comercial da APEX em
Jerusalém, que atualmente se encontra em operação.

ÁSIA
O crescente peso político-econômico da Ásia transformou em
quase lugar-comum, nos últimos anos, o diagnóstico de que
estaria em curso deslocamento do eixo geopolítico mundial para
o leste. Essa avaliação respalda-se, factualmente, em
projeções socioeconômicas3, na consolidação de novos arranjos
plurilaterais4 e no adensamento de iniciativas de países
ocidentais na região5.
O relacionamento Brasil-Ásia possui dimensão econômica
inescapável. A maior fatia do saldo positivo da balança
comercial advém do intercâmbio com países da Ásia e o volume
de investimentos tem crescido significativamente. A pauta
comercial carece de diversificação, para a qual poderiam
contribuir estratégias de promoção orientadas ao acesso de
novos produtos e serviços brasileiros a mercados asiáticos.
Ao mesmo tempo, há potencial para canalizar novos

3 Espera-se que China, Índia e Indonésia aumentem sua participação no PIB global e que outros países da
região graduem-se como países de renda média nos próximos anos. Estima-se, ademais, que a emergente
classe média asiática seja responsável por significativa parcela do crescimento da demanda global no
médio prazo.
4 Destaca-se, por exemplo, a “Regional Comprehensive Economic Partnership”, acordo de livre comércio

que reúne 15 países, abrangendo 30% da população mundial e 30-% do PIB global.
5 Incluem-se, entre essas iniciativas, o lançamento de estratégias para o chamado “Indo-Pacífico”, o

surgimento de novos arranjos políticos, como o QUAD, e a negociação de acordos comerciais, como os
acordos de livre comércio celebrados pela União Europeia com países do Sudeste Asiático.

40 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


investimentos para áreas estratégicas para a inserção do país
na nova economia mundial, como tecnologias digitais e energias
renováveis.
Do ponto de vista geopolítico, países da América Latina e do
Sudeste Asiático partilham de posição privilegiada para
traçar caminho alternativo à polarização EUA-China. Sua
aproximação responderia a interesse comum de conter riscos à
segurança de seu entorno regional. Há potencial de
convergência em diversos temas da agenda global, incluindo
meio ambiente, saúde e segurança alimentar. No último ano,
iniciativas foram tomadas no sentido de estreitar o
relacionamento entre o Brasil e o Sudeste Asiático, com
destaque para a celebração de parceria de diálogo setorial
com a ASEAN e para a criação de delegação junto à ASEAN em
Jacarta e de coordenação dedicada ao bloco na estrutura do
Ministério. Para irem além de seu aspecto simbólico, essas
medidas precisarão ser respaldadas por ações concretas de
colaboração. Será necessário, ademais, dotar os Postos nesses
países de recursos humanos e financeiros suficientes para
fazer frente a novas demandas.
No relacionamento com China e Índia, testemunharam-se, nos
últimos anos, movimentos de afastamento e aproximação
fundados em motivações ideológicas. A cooperação poderá
retomar como base a existência de interesses concretos em
comum. Áreas que merecem ênfase são: diplomacia da saúde,
energias renováveis e ciência, tecnologia e inovação.
Providências críticas ou emergenciais para os primeiros 30
dias:

Não há
Medidas prioritárias para os primeiros 100 dias:
 Iniciar preparativos para visita do presidente à China;
 relançar a cooperação em CTI com parceiros como China e
Índia (com foco em resultados voltados para o mercado e
aplicações práticas, como IA, biotecnologia);
 avaliar a possibilidade de retomar a cooperação espacial
com a China;
 fortalecer cooperação na área de energias renováveis,
incluindo biocombustíveis;
 fortalecer a diplomacia da saúde voltada à Ásia, por meio,
entre outros, de apoio a iniciativas conjuntas de produção
de imunizantes, medicamentos e insumos farmacêuticos em
geral;
 formular agenda concreta de cooperação com a ASEAN;

41 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


 lotar adequadamente postos na Ásia.

DIPLOMACIA CULTURAL E COOPERAÇÃO EDUCACIONAL


As ações brasileiras de diplomacia cultural, cooperação
educacional e promoção da língua portuguesa se caracterizam
por linhas de continuidade mantidas por várias décadas. Por
isso, muito do que deve ser revisto e aprimorado decorre de
condicionantes estruturais, que não estão circunscritos aos
últimos anos. O Itamaraty carece de uma estratégia coerente
de política externa cultural, e de práticas modernas de gestão
para executá-la. É equivocada a ideia de que diplomacia
cultural se faz custeando eventos aleatórios no exterior. Sem
diretrizes claras de formulação e sem critérios definidos de
execução, essas ações costumam ser dominadas por preferências
individuais e desprovidas de perspectiva de longo prazo. O
tratamento hostil dado pelo governo Bolsonaro às agendas de
cultura e educação em nada favoreceu o progresso necessário
à política externa cultural. Portanto, os avanços pontuais
identificados na gestão da área no MRE devem ser inteiramente
creditados a esforços individuais, sobretudo no departamento
e nas divisões afetas.
A criação (março/22) do Instituto Guimarães Rosa (IGR),
sucessor do Departamento de Cultura e Educação (DCE), é
resultado de reflexão que já vinha ocorrendo no Ministério.
O IGR é responsável pela divulgação do país no exterior,
inserindo-se no contexto mais amplo da diplomacia pública.
Este ano, apoiou cerca de 550 atividades culturais em 130
postos, com destaque às áreas de música (30%), artes visuais
(17%), audiovisual (14%) e literatura (10%) – não incluídas
300 ações de promoção da língua portuguesa em quase 100
postos. O IGR também administra 30 centros e cerca de 40
leitores no exterior, com público anual potencial de 20 mil
alunos. As ações incluem os Programas de Estudante-Convênio
de Graduação (PEC-G) e de Pós-Graduação (PEC-PG).
O orçamento anual do DCE/IGR, da ordem de R$ 36,3 milhões
(excluídos gastos fixos com os centros no exterior), foi
plenamente executado nos últimos 6 anos. 6 Apesar do aumento
em valor nominal, a conversão em dólares demonstra que houve
redução orçamentária real desde 2014. Em 2022 e 2023,
verifica-se recomposição parcial do valor disponível em
dólares, retornando-se ao patamar de 2009-2014. No entanto,
a aprovação tardia do orçamento no Congresso Nacional limita
a capacidade de planejamento e administração de projetos. A

6 Aproveitou até recursos não utilizados em outras áreas.

42 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


atual moldura institucional não oferece a desejável
previsibilidade orçamentária e de gestão.
O IGR deve atuar também, e principalmente, como articulador
institucional, estabelecendo parcerias sobretudo com atores
e entidades de referência em cada segmento. Para tanto,
precisa ainda divulgar sua marca e dispor de estrutura
apropriada, com meios operacionais modernos para coordenar e
administrar eficientemente diversificada carteira de
atividades.
Na UNESCO, o Brasil deixou de apresentar candidaturas aos
comitês do Patrimônio Mundial e do Patrimônio Cultural
Imaterial e não tem obtido financiamento para seus projetos
de economia criativa, no âmbito do comitê da Diversidade
Cultural. Já no comitê de Prevenção e Combate ao Tráfico
Ilícito de Bens Culturais, o país poderia se posicionar como
ator chave entre países de origem e de destino desse comércio
ilegal. A importância da UNESCO e a diversidade de temas
multilaterais culturais demandam reflexão sobre o tratamento
do tema na estrutura do MRE.
Houve redução e descontinuidade da participação em
iniciativas internacionais de cooperação e fomento cultural,
como o CPLP Audiovisual e os programas ibero-americanos. No
audiovisual, especialmente, o Brasil atua de forma tímida,
perdendo oportunidades para estimular e apoiar a
internacionalização do conteúdo para cinema e televisão,
alinhando-os com o objetivo de promover a imagem no exterior.
As coproduções internacionais deveriam obter atenção especial
por atrair investimentos, promover o turismo, empregar
profissionais brasileiros e acessar novos mercados. Pode ser
melhor apoiada a participação de produções, bem como de
diretores, produtores e atores em festivais internacionais.
Cabe retomar iniciativas como o licenciamento de conteúdo da
Empresa Brasil de Comunicação (EBC) para os países da CPLP.
Ademais, é preciso retomar tratativas com a Ancine
(interrompidas em 2016) a fim de obter autorização prévia que
permita ao MRE exibir filmes que tenham sido financiados com
recursos públicos.
Linhas de ação

● Retomar e fortalecer a coordenação com os demais


ministérios e desenvolver parcerias institucionais nas
áreas de indústria criativa, língua portuguesa em sua
vertente brasileira e intercâmbio educacional como vetores
da inserção internacional e do desenvolvimento do país,
com inovação e inclusão social;

43 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


● Resgatar o protagonismo nos foros culturais multilaterais,
em especial nos regimes consolidados, como os das
convenções da UNESCO, onde se deve retomar as candidaturas
a Patrimônio Mundial e Patrimônio Cultural Imaterial;
● Apresentar estratégia de atuação do IGR como articulador
institucional para política de promoção do poder brando
brasileiro calcada na sua diversidade cultural;
● Aperfeiçoar os métodos de trabalho do IGR, com novas
práticas de gestão.
Providências críticas ou emergenciais para os primeiros 30
dias:

● Atualizar a normativa que rege os Programas de Estudante-


Convênio (PECs) para superar impasse que impede compra de
passagens para alunos; 7
● Recriar as comissões nacionais da UNESCO e do Instituto
Internacional da Língua Portuguesa (IILP/CPLP), e
reestruturar o tratamento dos temas multilaterais
culturais no MRE;
● Assegurar a preservação do orçamento do IGR, em valores
reais;
● Atuar junto à CAPES para o lançamento do edital de processo
seletivo ao cargo de diretor da "Maison du Brésil",
definindo a fonte de sua remuneração salarial. 8
Medidas prioritárias para os primeiros 100 dias:

● Dinamizar os canais de colaboração interministerial;


● Estudar meios de prover o IGR de maior previsibilidade
orçamentária;
● Criar e fortalecer redes de estrangeiros egressos da
educação brasileira;
● Desburocratizar os processos de revalidação e
reconhecimento de diplomas;
● Avançar no estabelecimento da rede de universidades do
BRICS;

7 Há dois anos o DCE/IGR não consegue adquirir as passagens para enviar ex-
bolsistas de volta a seus países de origem - e o MRE corre o risco de ver o assunto
judicializado. Não faltam recursos, mas mandato legal para pagar, o que pode ser
resolvido com portaria interministerial a substituir o presente protocolo com o MEC.
8 A Maison está sem Diretor desde o final de 2020. A atual diretora, servidora
Angela Maria Santana Carvalho, da CAPES, está em Paris a título interino e encerra
seu mandato em 28/02/2023.

44 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


● Apoiar a ratificação do Acordo Educacional Brasil-
Palestina;
● Avaliar a possível abertura de unidades do IGR na Índia e
na China;
● Criar oportunidades para a promoção do português, em sua
variante brasileira, em foros multilaterais (CPLP, UNESCO,
SEGIB e OEI);
● Retomar protagonismo em programas internacionais de
cooperação e fomento cultural;
● Definir critérios para apoios institucionais no exterior;
● Formular estratégia de apoio à internacionalização do
conteúdo audiovisual brasileiro e negociar com a Ancine
autorização prévia para exibir filmes dotados de
financiamento público;
● Estabelecer parceria com a APEX, sobretudo na área de
promoção das indústrias criativas;
● Estudar meios que permitam negociar a concessão de bolsas
e formação de parcerias locais.

ECONÔMICO, FINANCEIRO E COMERCIAL


O conflito na Ucrânia e sanções econômicas e tecnológicas
paralisam negociações e promovem novas barreiras ao comércio,
causando desabastecimento e aumento de preços. O FMI alerta
para desaceleração da economia global em meio à necessidade
de combater a inflação. A UNCTAD ressalta que os mercados
seguem insuficientemente regulados, com lógicas de curto-
prazo atreladas a modelos de desenvolvimento insustentáveis.
Nesse contexto, dois aspectos contribuíram para o quadro de
emergência social no Brasil: (i) falta de projeto coerente e
inclusivo, agravada pela pandemia de COVID-19, e (ii) desmonte
da integração regional. O país realizou negociações de maneira
apressada e com pouca transparência. Descartou antigos
parceiros guiando-se por ideologias que prometem resultados
que nunca chegam. É preciso reavaliar o conjunto de medidas
tomadas ao longo dos últimos quatro anos enquanto o governo
Lula reorienta a presença brasileira no mundo.
Na OMC, deve-se trabalhar para destravar a Organização e
reverter o isolamento brasileiro, revendo prioridades
temáticas e parceiros. No governo Bolsonaro, o Brasil optou
por atuar, em diversos casos, alinhado aos países da OCDE,
destoando das posições de países em desenvolvimento, a exemplo

45 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


da proposta de “waiver” de normativas do acordo de TRIPS para
equipamentos e medicamentos de combate à COVID. Ainda no
âmbito da OMC, cabe ressaltar necessidade de revisão da oferta
ao Acordo de Compras Governamentais, pouco debatida
internamente.
Os últimos anos foram marcados pelo açodamento em alinhar a
legislação nacional às recomendações da OCDE. Uma vez que
países da OCDE estão no centro da tendência de segmentação da
economia global, com impacto direto sobre arranjos
bilaterais, regionais e grupos dos quais o Brasil é membro,
recomenda-se que a Secretaria-Executiva do Conselho Brasil-
OCDE volte a fazer parte da estrutura do MRE, que tem mandato
e capacidade para avaliar decisões à luz da política
internacional e do relacionamento com países em
desenvolvimento e parceiros do G20 que não fazem parte da
Organização.
A agenda extrarregional também mudou. Negociações com a União
Europeia e com Cingapura avançaram em ritmo artificialmente
acelerado e com pouca transparência. O benefício setorial
agregado destes acordos é questionável. Mesmo no setor
agroexportador, permanecem restrições quantitativas nas
linhas de maior performance exportadora, bem como barreiras
sanitárias e fitossanitárias.
Regionalmente, a decisão do Uruguai de iniciar tratativas
bilaterais com a China e solicitar adesão à Parceria
Abrangente Transpacífico (CPTPP) dificulta a retomada da
integração. Será preciso refletir sobre novos eixos para
integração e os termos de negociações extrarregionais.
Reconstruir os pilares institucionais da UNASUL e atuar na
CELAC são alternativas para redinamizar a região,
desencorajando dispersão.
Diante da devastação institucional, desafio adicional será
reconstruir estrutura coesa de atuação em diferentes fóruns.
O cenário de policrises requer também atualização da agenda:
temas como economia de dados, sustentabilidade da produção e
resiliência nas cadeias de suprimentos, tributação da
economia digital, cooperação para mudança climática e renda
básica universal são prementes. Frente aos desafios que a
tendência à segmentação apresenta, a retomada da posição do
Itamaraty como coordenador de posições, em consulta com órgãos
do Executivo e atores não estatais, é instrumental.
Providências críticas ou emergenciais para os primeiros 30
dias:

46 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Valorizar o multilateralismo e o alinhamento com parceiros em
desenvolvimento, e reengajar o Brasil com seus parceiros
regionais.
Devolver a coordenação das tratativas sobre OCDE para o MRE.
Fortalecer equipe e estrutura organizacional para apoiar os
anos em que o Brasil comporá a troika do G20 (2023 a 2025),
em particular durante a presidência em 2024.
Decidir sobre a participação no Fórum de Davos (16-20 de
janeiro), preparar agenda econômica para Cúpula da CELAC (24
de janeiro) e para reuniões ministeriais econômico-
financeiras e de chanceleres do G-20 que ocorrerão no 1º
trimestre.
Medidas prioritárias para os primeiros 100 dias:

Sugere-se criação de grupos de trabalho interministeriais,


sob coordenação do Itamaraty, para reflexão sobre acordos que
condicionam a inserção internacional brasileira. Não se
recomenda revogação, mas eventual avaliação dos custos do
realinhamento diante da nova conjuntura de policrises, dos
processos de integração regional e dos compromissos com
crescimento, empregos de qualidade e desenvolvimento
tecnológico do novo governo.

AGRICULTURA
Desde 2016, realizou-se realinhamento na inserção
internacional do Brasil, o que se acentua a partir da visita
de Bolsonaro aos EUA, em março de 2019. Na ocasião, registrou-
se a disposição do Brasil de renunciar ao status de país em
desenvolvimento na OMC. Embora sem efeito direto em Genebra,
essa autograduação se efetivou na escolha dos parceiros e na
reorientação de posicionamentos, com preferência em temas
agrícolas pelo Grupo de Cairns em detrimento do G20-agrícola.
Essa mudança se deve tanto à dimensão doméstica, quanto ao
fortalecimento do G33 (grupo de países em desenvolvimento -
PEDs com posições contrárias ao livre comércio agrícola).
Concorre para este cenário o aumento de subsídios de PEDs,
sobretudo China e Índia, à agropecuária. Embora o Grupo de
Cairns contenha parceiros latino-americanos, sua agenda tende
a ser refratária a temas sociais e ambientais e a concentrar
críticas ao pilar de segurança alimentar. Reflexo desta
posição foi a proposta limitadora da capacidade de
constituição de estoques públicos de alimentos para efeitos
de segurança alimentar, assumindo posição de confrontação com
o G33, sobretudo a Índia.

47 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Uma vez que o realinhamento não contribuiu para avançar a
agenda agrícola na OMC, recomenda-se revisão do
posicionamento recente tanto no sentido de recuperar o
equilíbrio da posição brasileira e, com isso, a liderança
entre os PEDs (sem necessariamente antagonizar a Índia),
quanto na necessidade de atualizar os temas da agenda
negociadora, para além do tripé tradicional de apoio
doméstico, acesso a mercados e segurança alimentar.
O Brasil tem sido refratário, tanto na OMC quanto na FAO,
tratar de forma estruturada a relação entre os regimes de
comércio e de clima. O mesmo posicionamento se repete nas
negociações do Marco Pós-2020 da Biodiversidade, no âmbito da
CDB, e na COP de Clima, sobretudo na COP-26 quando o País
assinou o compromisso de metano sem consulta ao setor
produtivo nacional e sem ciência das diferentes métricas
existentes para medir o impacto das emissões deste gás. A
omissão não impede que as negociações avancem, mas favorece
tendência de que evoluam em detrimento dos produtores
nacionais e à revelia das características da agricultura
tropical.
O governo brasileiro trata de forma estanque as discussões de
comércio e de meio ambiente. Não obstante, com o Acordo de
Paris, houve aumento de pressões por compromissos mais
robustos de redução e neutralidade de emissões. Uma vez que
a matriz energética brasileira é limpa, a principal fonte de
emissões encontra-se na mudança do uso da terra (desmatamento)
e na agricultura. Como 4º maior exportador de commodities
agrícolas, abrigando a maior floresta tropical e 22% da
biodiversidade do planeta, essa agenda de demandas sobre o
Brasil não vai desaparecer. O sistema multilateral de comércio
tem refletido essas pressões em prol de maior vínculo entre
os regimes de comércio e meio ambiente.
Um dos principais desafios na discussão sobre
sustentabilidade é a ausência de métricas acordadas para
definir o que é sustentável. Essas definições estão sendo
feitas pelo setor privado, com aumento vertiginoso de
ingerência na definição de padrões técnicos. Essa dinâmica
acaba por privilegiar o lado da demanda (seja das sociedades
consumidoras no Norte, seja das grandes “traders” que operam
o mercado internacional). Dois movimentos diretos vêm sendo
observados como resultado: no caso da exportação de bens
agropecuários, há crescente aumento da necessidade do uso de
certificações privadas para acessar mercados internacionais
que pagam melhor pelo produto brasileiro. O custo desta
certificação é alto e muitas vezes não compensa. Cria-se, com
isso, bifurcação na cadeia produtiva brasileira: de um lado,
produtores certificados que conseguem comprovar seu status
regularizado; de outro, aqueles que – seja por falta de

48 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


incentivos econômicos, seja pelos custos da certificação
privada em relação ao tamanho da propriedade – ficarão à
margem do mercado. O Soft Commodities Fórum (grupo que reúne
as seis grandes traders de grãos) busca excluir de suas
cadeias de valor produtores que desmatam, mesmo que este
desmate seja feito dentro das normas. A definição e
comprovação de quem está regular ou não será feita pelo setor
privado.
O segundo movimento que vem se consolidando em detrimento dos
produtores brasileiros diz respeito à falta de critérios
objetivos para definir sustentabilidade e métricas para medir
o sequestro de carbono pela agricultura. Nesse caso, para
fins de obtenção de créditos de carbono comercializáveis, hoje
o mercado brasileiro (e mundial) é dominado por uma única
certificadora, a Verras. Os padrões para certificar o que é
sustentável e os métodos de sequestro de carbono e aferição
de adicionalidade estão sendo definidos por agentes distantes
das condições de cultivo da agricultura tropical praticada no
Brasil e na maioria dos países em desenvolvimento.
Medidas a serem adotadas nos primeiros 30 dias de governo

É preciso reforçar o multilateralismo e a aproximação com


países em desenvolvimento, reconhecendo que há diferenças
importantes entre alguns deles na área agrícola.
A estrutura governamental deveria prever maior interação
entre as equipes que negociam os regimes ambientais e os
responsáveis pelos temas afins na área econômico-comercial.
Medidas a serem adotadas nos primeiros 100 dias de governo

Engajar as diferentes áreas da Esplanada, assim como a


academia e sociedade civil, na discussão de sustentabilidade
da produção.
Montar base de dados única sobre a produção agropecuária
brasileira, em portal que contenha métricas harmonizadas
sobre técnicas de produção e sugestões de métricas de
mensuração de emissões e de capacidade de sequestro de carbono
adaptadas à agricultura tropical.

PROMOÇÃO COMERCIAL E DE INVESTIMENTOS

O governo Bolsonaro causou constrangimentos à imagem


internacional do Brasil, o que contamina produtos e serviços,
além de afastar investimentos e turistas. É central esforço
de reconstrução a partir de medidas efetivas no nível interno
que indiquem real intenção de combater flagelos, como o
desmatamento.

49 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


A APEX-Brasil conta com apenas nove escritórios no exterior.
Desde 2016, passou a ser vinculada ao MRE, com quem apresenta
evidentes sinergias e complementaridades importantes. O
Itamaraty e sua ramificada rede no exterior, que inclui 121
setores de promoção comercial, estão próximos dos mercados-
alvo. É crescente a coordenação entre a APEX e a rede de
postos do MRE. A presença da APEX na estrutura do Ministério
facilita, ainda, a articulação intergovernamental e do
governo com o setor privado.
Permanecem os desafios de remover barreiras, simplificar e
desburocratizar o comércio exterior e o ambiente de negócios,
promover acesso a crédito e parcerias para identificar
oportunidades em mercados dinâmicos, de maior valor agregado.
Cabe reforçar o apoio a pequenas e médias empresas e setores
com potencial de geração de empregos e desenvolvimento
tecnológico, inclusive incubadoras.
Em 2021, o comércio exterior atingiu US$ 500 bilhões. O
recorde será superado em 2022. As principais causas são a
alta nos preços de matérias-primas a partir da pandemia, do
conflito na Ucrânia, da retomada da economia mundial e de
variações cambiais, além de esforços de governo e do setor
privado. O aumento da corrente de comércio é positivo, mas
não tem se refletido na renda do trabalhador, em
desenvolvimento industrial, redução de desigualdades e da
vulnerabilidade externa.
Em 2021, aprofundou-se a precarização da pauta exportadora.
A concentração dos três principais produtos (soja, minério de
ferro e petróleo bruto) subiu para 40%. A participação da
indústria de transformação nas exportações, que ultrapassou
80% em fins da década de 1990, se situa em pouco mais de 50%.
No âmbito regional, caberia estudar formas de estimular
integração via complexo agroindustrial, de energia, de
transportes e de setores de serviços.
Providências críticas ou emergenciais para os primeiros 30
dias:
Sugere-se que MRE, APEX, Ministério do Turismo, Comunicações
e outros órgãos. preparem “roadshow” para o primeiro semestre
para resgate da imagem do Brasil.
Medidas prioritárias para os primeiros 100 dias:

Sugerem-se estudos para abertura de cinco novos escritórios


da APEX em regiões ainda não cobertas pela agência: ASEAN,
Índia, Austrália, África e América Central/Caribe.

50 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


A cúpula de países da Amazônia no 1º semestre é oportunidade
para ações de promoção comercial e de investimentos e de apoio
a pequenas e médias empresas, inclusive agricultura familiar
e cooperativas de pesca e extrativismo.
Pode-se avaliar desenvolver plataforma comum entre APEX, SERE
e Postos, além de possível reformulação e unificação dos
portais Invest&Export Brasil e o da APEX.
Cabe readequar o orçamento do Departamento de Promoção
Comercial do MRE que hoje, em dólares, representa menos de
50% do valor atribuído em 2016. O número de setores de
promoção comercial em postos no exterior subiu cerca de 20%,
com importante aumento em 2018.

ENERGIA

Um dos principais desafios do Brasil na área energética é


fazer valer sua visão de transição energética em meio a debate
global fragmentado. As características do Brasil o distinguem
da maior parte das economias desenvolvidas e de muitos países
emergentes: a) país mais avançado em energias limpas entre as
grandes economias do mundo; b) grande êxito em bioenergia e
hidroeletricidade; c) alto potencial de crescimento em fontes
limpas, porém com necessidade de multiplicar sua oferta
energética total; e d) liderança em bioeconomia avançada. É
importante que os limites e soluções para a questão da
transição energética sejam compatíveis com a realidade e
potencial brasileiros. No plano regional, o desafio será
reativar e buscar consistência técnica aos projetos de
integração energética.
A atuação externa do Brasil manteve continuidade nas últimas
duas décadas. Uma área que se enfraqueceu durante o governo
Bolsonaro, porém, foi a integração energética regional. As
diferenças políticas e mudanças de governos travaram avanços
em projetos importantes com Argentina, Bolívia, Guiana,
Suriname, Uruguai e Venezuela que preveem desde o intercâmbio
de energia firme, a longo prazo, até a construção de novas
linhas de transmissão, gasodutos e projetos hidrelétricos
binacionais. Juntamente com os projetos e comissões
bilaterais de integração, minguaram as perspectivas de
acordos-quadro regionais que facilitem a integração e os
investimentos. Para retomar a força dos projetos de integração
em novo contexto político na América do Sul, seria preciso
reforçar essa área no MRE.
Com relação ao gás boliviano, o contrato de compra e venda
foi renovado pela Petrobrás em agosto, com acompanhamento
satisfatório do MRE e de outros órgãos. Itaipu é um caso à

51 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


parte. Seu peso na geração elétrica faz que o resultado da
revisão do Anexo C do Tratado de Itaipu possa, se mal
conduzida, reforçar fragilidades que afetarão todo o sistema
elétrico brasileiro. No âmbito do MRE, e apesar da natureza
política e sensível do tema, caberia concentrar na área de
energia, em estreita coordenação com a área geográfica, os
temas relativos à Itaipu e seu Conselho, assim como a atuação
em mecanismos energéticos regionais em que a participação
brasileira tem sido inadequada nos últimos anos, incluindo
OLADE, SIESUR, MERCOSUL e, eventualmente, na UNASUL, que
contava com um Conselho de Energia.
Cabe recordar, finalmente, que, nos próximos anos, o Brasil
deverá sediar importantes reuniões de energia e clima, e
presidir o G20. Será oportunidade de projetar credenciais na
área e fazer valer a perspectiva brasileira no debate
internacional.
Medidas para os primeiros 30 dias de governo
Será preciso garantir recursos e logística, além de
estabelecer a coordenação com as autoridades e funcionários
do governo, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e Itaipu
Binacional, tendo em vista a realização, no Brasil, na semana
de 20/03, de reunião de altos funcionários da Clean Energy
Ministerial e da Mission Innovation, dois dos principais foros
internacionais de energia limpa.
Medidas prioritárias para os primeiros 100 dias de governo

Reformulação da estrutura da área de energia do MRE.


Reflexão sobre a retomada dos projetos de integração regional.

CIÊNCIA E TECNOLOGIA – DIPLOMACIA DIGITAL


A pandemia de COVID-19 pôs em evidência a temática da economia
digital. Exacerbou, ainda, hiatos digitais entre os países em
termos de infraestrutura de conectividade, capacidades,
habilidades e acesso a dados, além da concentração da produção
de componentes para a indústria de tecnologia da informação
e de comunicações (TICs). Igualmente, demonstrou a
importância da segurança cibernética para aprofundar o
processo de transformação digital. Adiciona-se a esse quadro
a atuação global e tecnológica das “big techs” e das grandes
plataformas digitais, bem como desafios de governança do uso
ético e responsável da inteligência artificial (IA).
A governança e os fluxos transfronteiriços de dados também se
apresentam como desafio. A transição digital foi identificada
como um dos temas centrais para o Brasil a ser continuamente

52 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


monitorado pelo novo governo, inclusive no que tange à
inserção desses temas com parceiros-chave. Recentemente,
pulverizaram-se os foros de discussão sobre governança
digital. O Brasil atua nos fóruns internacionais (G20, BRICS,
UIT, ONU, OCDE) buscando defender a redução de hiatos digitais
e o multilateralismo no tratamento da governança digital, de
preferência no âmbito das Nações Unidas, evitando
fragmentação da internet. É importante superar desafios em
termos de capacidades nacionais e coordenação nacional para
construção de posições sobre temas prementes da economia
digital.
Igualmente, o país tem mobilizado o ecossistema de inovação,
integrando pesquisadores e empreendedores na área, através do
Programa de Diplomacia da Inovação (PDI), que também visa a
consolidar imagem do Brasil como país que produz conhecimento
em setores de fronteira. O Brasil aderiu recentemente à
Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN); à Rede
Internacional para o Bambu e o Ratã (INBAR). Caberia explorar
a cooperação entre a INBAR e a OTCA, uma vez que haveria
convergência de visões entre as organizações quanto ao
desenvolvimento sustentável.
O recrudescimento da competição espacial em escala global tem
ressaltado a importância de o programa espacial brasileiro
desenvolver veículo lançador de satélites próprio. Serão
necessários avanços em tecnologia satelital para aperfeiçoar
o monitoramento do desmatamento na Amazônia. Paralelamente,
a militarização do espaço exterior é uma realidade, e cabe a
países como o Brasil buscar assegurar seu uso pacífico. Não
obstante, o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas assinado com
os EUA pode apresentar óbices à cooperação com outros países
na área de satélites, além de não favorecer transferência de
tecnologia.
Há quatro processos negociadores que correm em paralelo na
ONU com potencial de determinar o futuro da arquitetura global
da governança digital: as negociações em torno do Pacto
Digital Global (GDC), a ser adotado pela “Cúpula do Futuro”,
em 2024; os preparativos para a II revisão da Cúpula Mundial
da Sociedade da Informação (WSIS+20), em 2025; o Comitê Ad
Hoc para Elaboração de uma Convenção Internacional Abrangente
sobre Combate ao Uso de TICs para Fins Criminais (em curso
até 2025); e, as negociação dos resultados do Grupo de
Trabalho de Composição Aberta da AGNU sobre TICs no contexto
da segurança internacional - OEWG (em curso até 2025). É
estratégico construir posição brasileira e recuperar o
protagonismo. O desafio será conciliar os processos, de forma
a reforçar o mandato multilateral no setor para fazer avançar
temas que permitam usar as TICs para promoção dos Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável, sem abandonar o modelo

53 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


multissetorial, no qual se insere o Marco Civil da Internet.
Resultado positivo quanto ao GDC e a WSIS+20 exigirá
articulação complexa entre parceiros do “Sul Global”, bem como
construção de pontes entre EUA e União Europeia, de um lado,
e China e Rússia, de outro. Tendo hospedado duas vezes o Fórum
de Governança da Internet (IGF) e articulado a NETMundial, em
2014, o Brasil é ator-chave nesse processo.
É preciso fortalecer o papel do MRE como coordenador nas
negociações na matéria, reforçar o diálogo com órgãos
governamentais e sociedade civil e consolidar a posição do
Brasil no tema da governança digital. Diálogo com os diversos
órgãos (MCTI, MCOM, ANPD, ANATEL, CGI.br, MECON) deverá
balizar a atuação internacional visando ao fortalecimento das
capacidades nacionais: em termos de infraestrutura de
conectividade, recursos computacionais, mas também de acesso
a base de dados, resguardadas a privacidade e a proteção de
dados; políticas para o melhor posicionamento na cadeia global
de semicondutores; capacitação e aprimoramento das
habilidades digitais, contribuindo para que o Brasil se
posicione como inovador tecnológico e não adaptador de
tecnologias; internacionalização de “startups”; aprimoramento
das capacidades nacionais em termos de segurança cibernética;
recomposição da comunicação pública internacional do Brasil;
inserção do país no debate internacional sobre radiodifusão
e serviços de ondas curtas.
Prioridades para os 100 dias

- engajamento na Conferência Global da UNESCO sobre regulação


de plataformas digitais (21-23/02), que visa a criar marco
regulatório, não vinculante, focado na proteção da informação
como “bem público”;
- Fórum da Cúpula Mundial da Sociedade da Informação - WSIS
(13-17/03). A conferência terá como mote a rediscussão da
WSIS como facilitadora dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável. A ocasião é oportunidade de troca de informações
e de melhores práticas, bem como de identificação de
tendências emergentes.
- 26ª sessão da Comissão de Ciência e Tecnologia para o
Desenvolvimento (CSTD) da ONU (27-31/03), foro-chave para o
Brasil avançar suas prioridades de desenvolvimento
sustentável no contexto da 4ª Revolução Industrial. A CSTD
também é responsável pelo acompanhamento da implementação dos
resultados da WSIS, moldura que, apesar de insuficiente, seria
o que mais se aproximaria a regime internacional de governança
digital. Será essencial engajamento na Comissão, com vistas
à segunda revisão decenal (WSIS+20, 2025), que decidirá pela
extensão – ou não – da Cúpula e do IGF. Na 26ª sessão da CSTD,

54 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


o GRULAC assumirá a Presidência da CSTD. O Brasil vem sendo
sondado para ocupá-la, o que pode ser estratégico para
fortalecer as credenciais do país nas futuras negociações sob
a ONU para governança digital, em torno do GDC e da WSIS+20.
- Em março/2023 expira o prazo para a ratificação do Acordo
de Associação do Brasil ao CERN. Tendo em vista a previsão no
regulamento da organização da possibilidade de extensão do
prazo para ratificação, caberá verificar se atual gestão
formalizou o pedido.
- Acelerar a finalização interna do processo de adesão à
INBAR, com vistas à plena participação no organismo e ao
pagamento dos passivos.
- Retomada do Programa CBERS (Satélite Sino-Brasileiro de
Recursos Terrestres), mais favorável em termos de
transferência de tecnologia e capacitação para os
brasileiros.
- OMPI: (i) 6 a 8/fevereiro: Grupo de Trabalho do Tratado de
Cooperação de Patentes (PCT) (16ª sessão); (ii) 22 e
23/fevereiro: União do IPC (Classificação Internacional de
Patentes) - Comitê de Especialistas (54ª sessão); (iii)
27/fevereiro a 3/março: Comitê Intergovernamental de
Propriedade Intelectual, Recursos Genéticos, Conhecimentos
Tradicionais e Folclore (46ª sessão), que tratará, entre
outros temas, da realização de Conferência Diplomática para
instrumento sobre PI e Recursos Genéticos; (iv) 13 a 17/março:
Comitê Permanente de Direito de Autor e Direitos Conexos (43ª
sessão), que discutirá, entre outros temas, texto do Tratado
das Organizações de Radiodifusão.

55 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


3. Sugestão de ações e medidas
prioritárias

Órgão/Entidade Prazo (até 100


Medidas prioritárias responsável dias)

Tomar as medidas necessárias ao regresso à UNASUL MRE 30 dias


e à CELAC, e formalizar a saída do PROSUL

Iniciar a organização da Cúpula de países amazônicos MRE 30 dias

Elaborar plano de retomada da polítca externa para a MRE 60 dias


África

Iniciar coordenação política e preparação logística para MRE 60 dias


a presidência brasileira do G20

Retornar ao Pacto Global para Migração MRE 30 dias

Revisar as normativas de concessão de vistos MRE 30 dias


humanitários para cidadãos haitianos e afegãos

Formular marco legal sobre planejamento, MRE 90 dias


coordenação e execução da cooperação internacional
sul-sul brasileira

Restabelecer o relacionamento com a Venezuela MRE 60 dias

Retirar-se do Consenso de Genebra MRE 30 dias

Dotar o Itamaraty de recursos humanos necessários à MRE 90 dias


execução da nova Política Externa Brasileira

56 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


4. Gestão e área de suporte
CONTRATOS
4.1 Indicação de contratos, termos de colaboração e de parceria
que vencem até 30/04/2023 e que impliquem em paralisação de
serviços
Tendo como base informação obtida junto à atual gestão do MRE,
verificou-se que os contratos de prestação de serviços que
vencem até 30/04/2023 estão em processo de prorrogação, ou serão
objeto de licitações e procedimentos de dispensa.

Lista completa de contratos que vencem até o final de abril de


2023 segue como anexo ao presente relatório. Há, contudo, risco
de paralisação de serviços essenciais caso ocorra atraso,
questionamento, impugnação ou outros contratempos na realização
dos processos licitatórios previstos para os seguintes
contratos:

Área responsável: DINFRA


Contratada: Santa Clara Engenharia
Número do contrato: DINFRA Nº 24/2021
Objeto: Serviços contínuos de operação e manutenção predial,
com dedicação exclusiva de mão de obra, bem como serviços de
manutenção sob demanda, incluindo todas as despesas com mão de
obra, peças, materiais, ferramentas e equipamentos necessários,
nas edificações do MRE, em Brasília/DF.
Vencimento: 17/02/2023.
Status da nova licitação: Pregão eletrônico previsto para ser
realizado em dezembro.
Implicações da descontinuidade do serviço: trata-se de contrato
essencial para manutenção predial do MRE e tem reflexo tanto no
funcionamento propriamente do ministério quanto na segurança
dos colaboradores. A ausência de tal manutenção coloca em risco
o funcionamento regular do MRE.

Área responsável: DLOG


Contratada: FORT GAS LTDA
Número do contrato: DLOG Nº 12/2022
Objeto: Fornecimento de gás em botijões
Vencimento: 31/12/2022
Status da nova licitação: Dispensa eletrônica a ser publicada
em breve.
Implicações da descontinuidade do serviço: compromete o
funcionamento das atividades de cerimonial no Palácio
Itamaraty.

57 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Área responsável: DLOG
Contratada: ECOPENSE COLETA DE RESIDUOS
Número do contrato: DLOG Nº 28/2017
Objeto: Coleta de resíduos sólidos indiferenciados.
Vencimento: 01/01/2023
Status da nova licitação: Pregão eletrônico DLOG/MRE Nº 9/2022
será aberto em 10/12/2022.
Implicações da descontinuidade do serviço: paralisação da
coleta de lixo no MRE, com acúmulo de resíduos, atraindo animais
e pragas.

Área responsável: DLOG


Contratada: CALEVI MINERADORA E COMÉRCIO
Número do contrato: DLOG Nº 8/2022
Objeto: Fornecimento de água mineral em garrafões
Vencimento: 07/02/2023
Status da nova licitação: Pregão eletrônico a ser publicado em
breve.
Implicações da descontinuidade do serviço: indisponibilidade de
água potável para servidores, colaboradores em geral e
visitantes.

Área responsável: DTIC


Contratada: SIMPRESS
Número do contrato: 43101
Objeto: Solução integrada de “outsourcing” de impressão,
digitalização e cópia
Vencimento: 30/01/2023
Status da nova licitação: Aguarda parecer da CONJUR para que se
façam ajustes em conformidade com as recomendações jurídicas.
Essa etapa precede encaminhamento à CGLC, unidade competente
pela realização do pregão.
Implicações da descontinuidade do serviço: paralização dos
serviços impressão, digitalização e cópias em todas as unidades
do MRE.

Área responsável: DTIC


Contratada: ISH TECNOLOGIA
Número do contrato: 42948
Objeto: Solução de software de proteção de dados (backup) para
os sistemas de armazenamento do MRE, com instalação,
configuração, garantia de suporte técnico e atualização de
versão por 48 meses, conforme condições, quantidades e
exigências estabelecidas no Edital e seus anexos. Sistema de
Prevenção de Intrusão - IPS.
Vencimento: 07/12/2022
Status da nova licitação: Licitação substitutiva (softwares de
backup) está em curso.
Implicações da descontinuidade do serviço: graves riscos à
segurança da informação.

58 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


4.2 Indicação de contratos, termos de colaboração e de parceria
considerados “sensíveis”

A avaliação das informações fornecidas pela atual gestão


permitiu identificar os seguintes instrumentos que, apesar de
permanecerem vigentes para além de abril de 2023 ou serem
passíveis de renovação, podem considerados sensíveis em razão
de suas atuais circunstâncias e cuja descontinuidade pode causar
prejuízos consideráveis ao MRE:

Área responsável: DLOG


Tipo de instrumento: contrato continuado de prestação de
serviços
Parceiro/contratada: VISAN SERVICOS TECNICOS EIRELI
Número do contrato: DLOG Nº 17/2020
Objeto: Motoristas (terceirização)
Situação: processo de penalização em curso por violação de
direitos trabalhistas, em fase recursal, com possibilidade de
rescisão unilateral pela Administração.
Risco: paralização de serviços de motorista e observância dos
direitos trabalhistas para os funcionários terceirizados.
Mitigação do risco: segundo lugar no pregão será convidado a
assumir os termos do contrato.

Área responsável: DLOG


Tipo de instrumento: contrato continuado de prestação de
serviços
Parceiro/contratada: ZK CONSERVAÇÃO E LIMPEZA EIRELI
Número do contrato: DLOG Nº 9/2022
Objeto: Copeiragem (terceirização)
Situação: reincidência no descumprimento de normas trabalhistas
em novembro de 2022. Será aberto novo processo de penalização
em desfavor da empresa e, a depender de sua conduta nas próximas
competências, pode vir a ser aplicável a hipótese de rescisão
unilateral.
Risco: paralização de serviços de copeiragem e observância dos
direitos trabalhistas para os funcionários terceirizados.
Mitigação do risco: segundo lugar no pregão será convidado a
assumir os termos do contrato.

Área responsável: DINFRA


Tipo de instrumento: Acordo de Cooperação Técnica entre o
Comando da Marinha e o MRE
Parceiro/contratada: Diretoria de Obras Civis da Marinha
Número do contrato: n/d
Objeto: assessoria para a elaboração de programas para
contratação de projetos e análises dos referidos projetos, no
que diz respeito à modernização das instalações elétricas do

59 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Palácio do Itamaraty, de seus anexos I e II e do edifício do
Instituto Rio Branco, sem transferência de recursos
financeiros/orçamentários.
Situação: em implementação. Marinha entregou produtos relativos
à primeira fase do acordo, que irão subsidiar a realização de
processo licitatório que dará início ao planejamento da reforma
da rede elétrica do MRE. Ainda são esperados produtos relativos
a outras duas fases do acordo de cooperação técnica.
Risco: rede elétrica do MRE exige modernização urgente. Trata-
se de reforma complexa, que depende de assessoria especializada
para seu planejamento e execução. Na ausência de quadro técnico
competente na matéria no MRE, a parceria com a Marinha mostrou-
se a solução mais econômica para levar adiante a licitação.
Mitigação do risco: sinalização junto à Marinha do Brasil a
respeito da importância da continuidade da parceria, tema
prioritário para a conservação do patrimônio nacional.

4.2.1 Situação dos funcionários terceirizados

O Ministério das Relações Exteriores dispõe de 12 contratos


continuados com dedicação exclusiva de mão-de-obra. Atuam
aproximadamente 660 trabalhadores terceirizados de diversas
categorias, tais como agentes de limpeza, arquitetos,
auxiliares administrativos, brigadistas, carregadores,
contadores, copeiros, engenheiros, marceneiros, motoristas e
vigilantes.
Em atenção à legislação vigente, o MRE tem fiscalizado a
execução dos contratos de terceirização de serviços, inclusive
o pagamento de salários e benefícios trabalhistas. Em caso de
irregularidades, o Ministério tem atuado em coordenação com os
sindicatos das categorias afetadas para solucionar eventuais
problemas. O Ministério do Trabalho e a Receita Federal são
comunicados de eventuais descumprimentos da legislação pelas
empresas e a administração do MRE tem aplicado as penalidades
previstas em lei.
Não obstante velarem pelo estrito cumprimento dos contratos com
dedicação exclusiva de mão-de-obra, as áreas competentes do
Ministério (DLOG e DINFRA) enfrentam problema de grave carência
de pessoal, que limita as atividades de gestão e fiscalização
de contratos e obriga as unidades responsáveis a priorizarem as
demandas emergenciais. O MRE conta atualmente com apenas um
servidor para velar pelos direitos de cada um dos 660
trabalhadores terceirizados.
A carência de pessoal é obstáculo não só para aperfeiçoar as
ações de fiscalização administrativa, mas também para que sejam
implementadas melhorias em temas relacionados ao bem-estar dos
trabalhadores. É imprescindível, por exemplo, dar início, o

60 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


quanto antes, a reforma de vestiários, refeitórios, áreas de
convivência e guaritas.
RECURSOS HUMANOS
4.3 Diversidade e inclusão no Ministério das Relações Exteriores
Raça: Como o Ministério das Relações Exteriores não mantém
cadastro dos seus servidores baseado no critério de raça, cor
ou etnia, não há informação oficial nem dados precisos sobre o
número de diplomatas negras e negros. Essa lacuna somente poderá
ser preenchida com o pleno engajamento da Administração na
realização de censo/mapeamento étnico-racial da diplomacia.
O Programa Bolsa Prêmio de Vocação Para a Diplomacia para
Afrodescendentes (negros) - PAA, criado em 2002, tem tido
resultados satisfatórios no sentido de reforçar as chances de
aprovação de candidatos/as negros/as (pretos/as e pardos/as) no
Concurso de Admissão à Carreira Diplomática (CACD). Até o
momento, 49 bolsistas foram aprovados. Com a aplicação, a partir
de 2015, da reserva de 20% das vagas do CACD para candidatos/as
negros/as, conforme a Lei 12.990/2014, outro passo importante
foi dado em favor da maior diversidade racial no Itamaraty.
Entre 2015 e 2022, em sete edições do concurso, 40 vagas de um
total de 195 foram ocupadas por candidatos/as negros/as.
Apesar da ampliação da diversidade, diagnóstico feito por grupo
de diplomatas negras e negros aponta a necessidade de esforços
complementares no que diz respeito ao ingresso, à formação e à
progressão funcional desses servidores.
De início, em relação à fase de ingresso, ajustes propostos
incluem, entre outros, o aperfeiçoamento da integração entre o
PAA e a política de cotas raciais (o que exigiria redesenho
financeiro do programa que permita seu alinhamento ao calendário
do CACD); o retorno do processo seletivo ampliado dos candidatos
a bolsistas (isto é, não limitado a candidatos aprovados na
primeira fase do CACD); o restabelecimento dos vínculos com
parceiros tradicionais do programa (CNPq, SEPPIR e Fundação
Palmares); e o estabelecimento de parcerias com o setor privado.
No que diz respeito à formação, são necessárias atualizações no
Concurso de Admissão e na grade curricular do Instituto Rio
Branco, com igual reflexo no corpo permanente e eventual de
professores e palestrantes, para que incorporem autores,
mestres e o pensamento negro brasileiros.
Por fim, o tema da progressão funcional inclui ações para
normalizar o fluxo de carreira, em particular no que se refere
aos limites de idade e de tempo de classe do Quadro Especial,
tendo presente seu impacto diferenciado sobre negros e negras,
e para promover a participação de diplomatas negros e negras

61 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


nas diversas áreas de atuação da política externa brasileira,
no Brasil e no exterior, com ênfase em postos-chave da política
externa brasileira.
Gênero: No universo dos mais de 1500 diplomatas brasileiros,
apenas 23% são mulheres. Nos últimos seis anos, não houve
crescimento da participação de mulheres na carreira
diplomática. A representatividade feminina diminui conforme a
carreira avança: no topo da carreira, entre ministros de
primeira classe, há apenas 19,14% de mulheres. Entre os chefes
de postos de representações diplomáticas brasileiras no
exterior, somente cerca de 17% são mulheres, que têm sido
designadas majoritariamente para postos com menor visibilidade
política. Atualmente, há apenas uma mulher ocupando cargo DAS
6 no Ministério e somente 9 dos 38 DAS 5 do Ministério são
ocupados por mulheres. No momento da aposentadoria, apenas 30%
das mulheres diplomatas atingiram o topo da carreira (ministra
de primeira classe), em comparação com 53,8% dos homens. Metade
das mulheres (exatos 50%) aposentam-se como conselheiras, em
comparação com 22,1% dos homens.
O Grupo de Mulheres Diplomatas, criado em 2013, tem apresentado
sugestões de medidas concretas para enfrentar esse
desequilíbrio, como: a) garantir a paridade de gênero em todos
os órgãos colegiados do Ministério, nas comissões de avaliação
de projetos e de teses de CAE, entre palestrantes em eventos e
conferências do MRE, da FUNAG, do IPRI e do IRBr e no corpo
docente dos cursos de formação e de aperfeiçoamento de
diplomatas; e b) publicar lista de antiguidade com dados
desagregados por gênero e relatório anual com a distribuição
das mulheres diplomatas por cargo (DAS), Posto e nível na
carreira, com comparação gráfica com anos anteriores.
Além disso, o grupo tem propugnado, como ponto de partida
mínimo, que o MRE zele para que a proporção de mulheres na
carreira seja respeitada nos cargos de chefia, com a designação
de mulheres em pelo menos 25% dos cargos de comando no Brasil
e no exterior e com a necessária correção da sub-representação,
em todos os níveis, e em postos-chave da política externa
brasileira. Sugere, ainda, que avanços nas políticas de promoção
da igualdade de gênero no Itamaraty sejam institucionalizados,
a fim de que a desejada paridade tenha sustentabilidade e seja
protegida de retrocessos como os observados no atual governo.
Orientação Sexual e Identidade de Gênero: No plano
administrativo, apesar dos avanços experimentados por
servidores e familiares homoafetivos em relação ao status
funcional (inclusão na lista de dependentes, concessão de
passaporte diplomático e carteira funcional, e inclusão no
seguro de saúde), o Ministério das Relações Exteriores ainda
não leva em conta, nas políticas de remoção de servidores/as e

62 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


cônjuges homoafetivos, o fato de que 37 países da atual rede de
postos ainda criminalizam a homossexualidade. Tampouco há
reflexão sobre a inclusão de pessoas trans no ministério, nem
a implementação de programas de treinamento para combater a
discriminação contra pessoas LBTQIA+ e valorizar diversidade no
ambiente de trabalho.
Pessoas com deficiência: O governo Bolsonaro extinguiu, em 2019,
o Comitê para a Promoção dos Direitos das Pessoas com
Deficiência (CPPD) do MRE, criado pela Portaria 655/2014 para
aprimorar o atendimento às necessidades dos servidores PCDs ou
com dependentes PCDs, bem como do público em geral (incluindo
comunidades brasileiras no exterior). A extinção do órgão
prejudicou a consideração do tema em processos de remoção e
lotação e de reforma ou adaptação de chancelarias, bem como a
resolução de problemas relacionados à cobertura do seguro-
saúde. Antigos membros demandam a reativação do CPPD.
Pessoas indígenas: O Grupo Técnico identificou a inexistência
de dados acerca da presença de pessoas indígenas no Serviço
Exterior Brasileiro e ressaltou a necessidade de refletir sobre
como incluí-las, em participar, na Carreira diplomática.
Institucionalização das políticas e do diálogo sobre
diversidade e inclusão

Em todos os casos, converge-se na urgência de se


institucionalizarem as políticas de inclusão, bem como os
mecanismo(s) de diálogo vinculado(s) diretamente ao gabinete da
Secretaria-Geral das Relações Exteriores, com competência para
encaminhar temas afetos a raça e etnia, gênero, orientação
sexual e identidade de gênero, e pessoas com deficiência, em
formato a ser definido juntamente com os grupos.
4.4 - Insuficiência de recursos humanos e concursos para as
carreiras de diplomata, oficial de chancelaria e assistente de
chancelaria
O Serviço Exterior Brasileiro conta com quadro de pessoal
majoritariamente formado por servidores de carreira, que
totalizam atualmente 2978 servidores na ativa. O Ministério das
Relações Exteriores conta com 1561 diplomatas, 777 oficiais de
chancelaria e 394 assistentes de chancelaria, além de 246
funcionários do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo
(PGPEs).
Ao longo dos últimos anos, o MRE tem enfrentado redução
significativa do número de servidores, especialmente
administrativos, o que impõe sérios desafios para assegurar o
atendimento das crescentes demandas institucionais do
Ministério. A Secretaria de Gestão Administrativa do Itamaraty

63 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


estima que o déficit de servidores é de 538 diplomatas, 1116
oficiais de chancelaria e 761 assistentes de chancelaria.
Nesse sentido, cumpre observar que, nos últimos dez anos, houve
redução líquida na força de trabalho do Ministério de mais de
700 servidores administrativos. Essa drástica redução do número
de servidores ocorre de forma inversamente proporcional ao
crescimento das representações diplomáticas brasileiras ao
redor do mundo. Em 2003, havia 136 postos no exterior, ao passo
que atualmente há 216 representações.
4.4.1 Concurso para novas vagas de diplomata
Com vistas a equacionar o déficit de diplomatas, seria essencial
utilizar as vagas criadas pela lei 12.601/12, cujo provimento
ainda carece de regulamentação. Segundo a referida lei, o
preenchimento dessas vagas depende de “autorização do
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, observada a
disponibilidade orçamentária”. O artigo 5 determina, ainda, que
a criação dos cargos está condicionada “à sua expressa
autorização em anexo próprio da lei orçamentária anual”.
Sobre o assunto, a atual gestão negociou, com o Ministério da
Economia, o provimento de cargos da lei 12.601/12 para oferecer
solução paliativa para o problema do fluxo de promoções da
carreira de diplomata (vide item abaixo).
4.4.2 Concurso para novas vagas de Oficial e Assistente de
Chancelaria

O déficit das carreiras de Oficial de Chancelaria e Assistente


de Chancelaria poderia ser imediatamente equacionado com o
preenchimento de vagas disponíveis. Há, hoje, nas classes
iniciais, 208 cargos vagos de Oficial de Chancelaria e 275
cargos vagos de Assistente de Chancelaria. A fim de atender
minimamente ao grave quadro de carência de pessoal no MRE, foi
solicitada ao Ministério da Economia, em maio último,
autorização para realização de concursos para preencher 50 vagas
da carreira de oficial de chancelaria e 50 vagas da carreira de
assistente de chancelaria. Segundo informação da atual gestão
do MRE, a demanda teria sido bem acolhida por representantes do
Ministério da Economia.
Além disso, a lei 12.601/12 criou 893 cargos adicionais de
Oficiais de Chancelaria que poderiam também ser regulamentados
e preenchidos nos próximos anos. A exemplo dos concursos para
a carreira de diplomata, os concursos para as carreiras
administrativas devem ser realizados anualmente, a fim de
assegurar fluxo de entrada e de movimentação de servidores entre
o Brasil e o exterior.
4.5 Fluxo de carreira

64 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


4.5.1 Da carreira de diplomatas

O fluxo de promoções da carreira de diplomata encontra-se


gravemente obstruído. A natureza hierárquica e piramidal da
carreira exige que vagas em classes superiores sejam abertas
para permitir a progressão funcional de classes inferiores.
Essa característica tem gerado forte estagnação funcional em
todos os níveis, com reflexos nas perspectivas profissionais e
na motivação do corpo de diplomatas brasileiros.
A tabela abaixo ilustra a previsão inicial de promoções para o
período de 2023 a 2026.

Promoções 1/2023 2/2023 1/2024 2/2024 1/2025 2/2025 1/2026 2/2025 Média Média
Semestral Anual

A MPC 5 5 0 1 4 5 0 0 2,5 5

A MSC 14 8 6 4 7 5 0 1 5,625 11,25

AC 17 10 6 5 8 6 0 1 6,625 13,25

Com a finalidade de avaliar alternativas para possível reforma


da carreira de diplomata, com vistas à regularização de seu
fluxo, a atual gestão criou, em fevereiro de 2022, Grupo de
Trabalho sobre Fluxo da Carreira de Diplomata (GT-FCD). Os
resultados da avaliação GT-FCD ainda não foram divulgados.
Após negociações com o Ministério da Economia, logrou-se a
inclusão, no Projeto de Lei Orçamentária para 2023 (PLOA—2023),
de recursos necessários para o provimento, no próximo exercício
financeiro, de um primeiro contingente dos cargos criados pela
Lei n° 12.601/12.
A solução negociada com o Ministério da Economia previu a
criação de novas vagas de conselheiro, ministro de segunda
classe e ministro de primeira classe, sem implicar o ingresso
de novos terceiros secretários, ou seja, sem aumentar o
contingente de servidores da carreira de diplomata.
Em 2023, essa solução permitirá ao provimento de 11 vagas (2
MPC, 4 MSC e 5 C) dentre as 400 criadas pela Lei nº 12.601/2012,
em adição às vagas resultantes do fluxo previsto de
aposentadorias e transferências para o Quadro Especial.
Paralelamente, foram feitas gestões suplementares junto ao
Ministério da Economia para garantir o provimento de 84 cargos
adicionais até o ano de 2026, distribuídos entre as classes de

65 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


conselheiro (33), ministro de segunda classe (26) e ministro de
primeira classe (25).
4.5.2. Da carreira de oficial de chancelaria

Para além da realização de concursos periódicos e do ingresso


de novos servidores, é necessário refletir sobre o fluxo da
carreira de Oficial de Chancelaria. A ausência de perspectiva
de promoção desmotiva os servidores, incentivando, inclusive,
o abandono da carreira.
Segundo estudo do Sinditamaraty, em anexo, a ausência de
aposentadorias compulsórias de Oficiais de Chancelaria no
biênio 2022-2023 produzirá estagnação, por mais de 15 anos, de
servidores no estágio inaugural da carreira. Gargalos
adicionais se produzem, igualmente, em outros estágios da vida
profissional deste grupo de servidores.
Uma solução mais duradoura proposta pelo sindicato, tanto para
a questão de reposição de pessoal quanto de fluxo na carreira,
passaria pela regulamentação das 893 vagas ociosas criadas há
10 anos, pela lei 12.601/2012, juntamente com o
redimensionamento do quadro de vagas. Dado que as vagas já foram
criadas por lei, um decreto presidencial seria suficiente para
a sua redistribuição nas categorias já existentes. Proposta do
sindicato para redistribuição das vagas é a que segue:
SITUAÇÃO ATUAL (DESDE 27.05.2009)

Diferença de Vagas ante a Percentual / Total de Vagas da


Classes Total de Vagas
classe anterior Carreira
Especial 170 30 17%
C 200 30 20%
B 230 170 23%
A 400 N/A 40%
TOTAL 1.000 N/A 100%

READEQUAÇÃO DA ESTRUTURA DE CLASSES (PÓS-REGULAMENTAÇÃO DAS 893 VAGAS)

Diferença de Vagas ante a Percentual / Total de Vagas da


Classes Total de Vagas
classe anterior Carreira
Especial 380 55 20%
C 435 65 23%
B 500 78 26%
A 578 N/A 31%
TOTAL 1.893 N/A 100%

4.5.3. Da carreira de assistente de chancelaria


Não se observam entraves no fluxo da carreira de assistente de
chancelaria, uma vez que, em 30/09/2021, já contava com 740
vagas ociosas, equivalentes a 64% do total.

66 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Ainda segundo estudo do Sinditamaraty, em horizonte de 20 anos
(2022-2041), considerando apenas as aposentadorias
compulsórias, a soma de vagas ociosas chegará a 1.043, mais de
90% do total da categoria. Se fatoradas outras possibilidades
de vacância, estima-se que a carreira estará praticamente
extinta no prazo de duas décadas.
Classes Total de Vagas Vagas Ocupadas Vagas Ociosas
Especial 352 282 70
C 251 86 165
B 277 47 230
A 275 0 275
TOTAL 1.155 415 740

4.6 Remuneração
4.6.1 Defasagem no Brasil

A defasagem remuneratória das carreiras do Serviço Exterior


Brasileiro em relação a outras carreiras do Poder Executivo é
fator adicional de preocupação e contribui tanto para a evasão
como para dificuldade de atrair novos quadros. É importante
destacar que as carreiras do SEB precisam ser analisadas
individualmente, com correções remuneratórias específicas para
cada uma delas, sem aplicação de revisões lineares, a fim de
corrigir as atuais distorções. As tabelas abaixo exemplificam
essa defasagem.

DIPLOMATAS

Patamares legais atuais de subsídio, por nível na carreira (em BRL)

Ápice da carreira

Diplomata (MPC) Carreiras da AGU Delegado da PF ou Perito Criminal


(Anexo IX da Lei 13.464/2017) (Anexo XXV da Lei 13.327/2016) Federal
(Anexo I da Lei 13.371/2016)

R$ 27.303,70
(não inclui os honorários sucumbenciais dos
R$ 27.369,67 arts. 29-31 da Lei 13.327/2016) R$ 30.936,91

Início da carreira

Diplomata (TS) Carreiras da AGU Delegado da PF ou Perito Criminal


Federal

R$ 19.199,06 R$ 21.014,49 R$ 23.692,74

OFICIAIS DE CHANCELARIA

67 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Patamares legais atuais de subsídio, por nível na carreira (em BRL)

Ápice da carreira

Oficial de Chancelaria Agente da PF Oficial-Técnico de Inteligência


(E-V) (Especial) (E-III)
(Anexo X da Lei 13.464/2017) (Anexo I, b da Lei 13.371/2016) (Anexo II, b da Lei 13.324/2016)

R$ 18.651,79
R$ 13.653,48 R$ 21.233,48
Início da carreira

Oficial de Chancelaria Agente da PF Oficial-Técnico de Inteligência


(A-I) (3ª classe) (T-I)

R$ 9.330,06 R$ 12.522,50 R$ 15.312,74

ASSISTENTE DE CHANCELARIA

Patamares legais atuais de subsídio, por nível na carreira (em BRL)

Ápice da carreira

Assistente de Chancelaria Agente de Inteligência Técnico do


(E-V) (E-III) Banco Central do Brasil
(Anexo XI da Lei 13.464/2017) (Anexo II, c da Lei 13.324/2016) (Anexo XXXI da Lei 13.327/2016)

R$ 10.830,39
R$ 9.863,36 R$ 12.514,58

Início da carreira

Assistente de Chancelaria Agente de Inteligência Técnico do


(A-I) (T-I) Banco Central do Brasil

R$ 4.642,71 R$ 6.302,23 R$ 7.283,31

4.6.2 Apuração do limite remuneratório no exterior


Em razão de ausência de regulamentação sobre a matéria, o
Itamaraty passou a aplicar o limite remuneratório
constitucional (abate-teto) sobre os vencimentos dos
funcionários a serviço no exterior a partir de agosto de 2013,
em cumprimento ao acórdão 2054/13 do Tribunal de Contas da União
(TCU). O limite remuneratório no exterior passou a ser calculado
mediante conversão em reais pelo valor médio das taxas de câmbio
do Banco Central no período de seis meses anteriores,
posteriormente modificado para valor médio das taxas de câmbio
nos 12 meses anteriores.
Em razão da volatilidade cambial, esse critério gerou grande
redução dos vencimentos dos servidores no exterior, em flagrante
violação do princípio constitucional da irredutibilidade de

68 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


vencimentos, e gerando instabilidade e imprevisibilidade de
salários, considerando as diferenças nos custos de vida em cada
país. Por exemplo, em 2020, cerca de 250 servidores do MRE foram
atingidos pelo limite remuneratório, ao passo que, em 2022, se
calculado pelo câmbio nominal, o abate-teto teria atingido cerca
de 800 pessoas e suas famílias, quase 50% do total de servidores
no exterior. É importante frisar que, desde 2013, não houve
qualquer reajuste da remuneração no exterior. O aumento do
impacto dos cortes deve-se exclusivamente à variação cambial do
período.
Nesse sentido, o MRE propôs de adoção do índice de câmbio por
“paridade do poder de compra” (PPC) como critério para cálculo
do abate-teto com o objetivo de garantir segurança jurídica e
previsibilidade à remuneração dos servidores lotados no
exterior. O TCU, em seu acórdão 2897, considerou admissível a
adoção do índice de câmbio por PPC até que aquela Corte
deliberasse em definitivo sobre a consulta formulada pelo MRE
ou que sobreviesse lei sobre a matéria. Como consequência da
decisão do TCU, o MRE passou a adotar, a partir de dezembro de
2021, o índice de câmbio por paridade do poder de compra
publicado pela OCDE como critério para cálculo do limite
remuneratório (portarias nº 368 e nº 369, de 9/12/2021).
Atualmente, há dois projetos de lei em tramitação no Congresso
Nacional que propõem a adoção do índice de câmbio por PPC para
calcular o limite remuneratório no exterior: i) projeto de Lei
2.721 no Senado Federal (aprovado na Câmara dos Deputados como
PL 6.726; e ii) projeto de Lei 2.500 na Câmara dos Deputados,
de autoria do deputado Aécio Neves.
O TCU pautou o julgamento do processo relativo ao abate-teto
para a sessão plenária do próximo dia 13/12. Uma decisão
contrária à aplicação do índice PPC e a retomada do câmbio
nominal como critério para cálculo do limite remuneratório dos
salários no exterior poderá impedir a permanência de servidores
do MRE em seus postos no exterior e, na prática, inviabilizar
o serviço exterior brasileiro, com graves consequências aos
interesses nacionais.
4.7 Formação de servidores das carreiras do serviço exterior
Apesar da longa tradição de excelência na formação e capacitação
de seus quadros, o MRE enfrenta o desafio comum aos demais
órgãos da administração pública federal de promover capacitação
continuada e oferecer aos servidores os instrumentos
necessários para exercerem suas atividades em ambiente de
constantes inovações e mudanças, inclusive na legislação.
Pesquisa sobre Qualidade de Vida no Trabalho, realizada no MRE,
indicou que 72,6% das pessoas que a ela responderam estão

69 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


insatisfeitos em relação aos incentivos que recebem para se
capacitar.
Algumas propostas poderiam ser consideradas para o
aperfeiçoamento dos programas de formação das carreiras do
serviço exterior, que poderiam ser incorporadas tanto pelo
Instituto Rio Branco (IRBr), quanto pela unidade responsável
por capacitação no MRE:

 Estimular cultura e ambiente de aprendizagem para o


desenvolvimento de competências, com o objetivo de
aperfeiçoar a atuação e os resultados do serviço exterior
brasileiro, inclusive com a concessão de licenças para
capacitação e afastamento para estudos;
 Promover ações de formação continuada para desenvolver as
capacidades e competências necessárias em gestão e
liderança, em parceria com instituições nacionais e
internacionais.
 Promover a divulgação das carreiras do serviço exterior de
forma ampla para a sociedade, com apoio dos escritórios
regionais, com ênfase em grupos sub-representados, como
mulheres, pessoas negras, indígenas e pessoas com
deficiência.
 Desenvolver ações de formação continuada em temas
específicos, em preparação para o exercício profissional
antes de assunção de nova função, seja no exterior, seja
na Secretaria de Estado.
 Promover iniciativas de formação para os funcionários do
Serviço Exterior para a promoção da diversidade, equidade
e inclusão no ambiente de trabalho.
 Promover diálogo sistemático com outras instituições
públicas nacionais e internacionais, que têm atuação
estratégica para o aperfeiçoamento funcional e de
políticas públicas.
4.7.1. Formação de diplomatas
O recrutamento, a seleção, a formação, o treinamento e o
aperfeiçoamento dos diplomatas são realizados pelo Instituto
Rio Branco. A academia diplomática é a escola de governo mais
antiga do país e é reconhecida internacionalmente por suas
congêneres, que a procuram em iniciativas de cooperação.
O diplomata passa, atualmente, por três cursos para ascensão na
carreira: Curso de Formação de Diplomatas (CFD), Curso de
Aperfeiçoamento de Diplomatas (CAD) e Curso de Altos Estudos
(CAE). Há a previsão legal de Curso de Atualização em Política
Externa (CAPE), que ainda necessita de regulamentação

70 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Ainda que os requisitos para a aprovação no concurso de admissão
tenham sido alterados, o modelo de formação e aperfeiçoamento
ao longo da carreira foi pouco modificado. A atualização da
grade curricular e das disciplinas de cada um dos cursos é
regular, mas não há, de forma sistemática, política de
desenvolvimento de pessoal e de incentivo à formação continuada.
Além disso, o diálogo com a academia, que sempre foi tímido,
foi cerceado no último governo, com poucos
professores/palestrantes nos cursos do IRBr e na FUNAG oriundos
de universidades e/ou think tanks relevantes.
Aspecto fundamental é atualizar o currículo dos cursos
oferecidos pelo IRBr, de forma a incluir os debates
epistemológicos mais recentes em âmbito acadêmico e na sociedade
brasileira, sobretudo em temas como história e cultura afro-
brasileira e indígena; formação cidadã e participação social;
de forma transversal, contínua e permanente.
Propostas específicas:

 Ampliar a diversidade na oferta de temas, autores e


professores nos cursos oferecidos pelo IRBr, de modo que
o estudo do Brasil e de sua política externa inclua a
contribuição intelectual de mulheres e pessoas negras.
 Desenvolver plano de implementação da Lei 11.645/08, que
versa sobre o estudo da história e cultura afro-brasileira
e indígena, da perspectiva da formação brasileira e de sua
política externa, bem como das relações internacionais.
 Desenvolver plano de implementação da Resolução nº 4/2017
do Conselho Nacional de Educação (CNE), que versa sobre as
relações étnico raciais e histórias e culturas afro-
brasileira, africana e indígena nas diretrizes
curriculares de cursos de relações internacionais, de modo
transversal, contínuo e permanente.
 Ampliar diálogo sistemático do IRBr e da FUNAG com a
academia, think tanks e sociedade civil, em prol de melhor
formação dos diplomatas e da melhor formulação da política
externa.
 Promover mentoria para diplomatas em início e ao longo da
carreira para estimular iniciativas de acolhimento e de
formação de lideranças futuras.
 Promover ações de formação continuada para desenvolver
capacidades e competências necessárias em gestão e
liderança, em parceria com instituições nacionais e
internacionais.
4.7.2 Formação de Oficiais e Assistentes de Chancelaria

71 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


A formação continuada de oficiais e assistentes de
chancelaria é desafio a ser enfrentado pela área de recursos
humanos do MRE. Em realidade cada vez mais dinâmica e
automatizada, torna-se necessário desenvolver, de maneira
constante, novas competências desses servidores, sobretudo nas
áreas de administração, serviços consulares e contabilidade.
Devem ser oferecidas oportunidades (para além dos cursos
específicos para promoção) de especializações mais aprofundadas
em temas relativos às atribuições de cada carreira.
4.8 Saúde, segurança e bem-estar do servidor
4.8.1 Apoio à saúde e segurança do servidor no exterior
É essencial fornecer estrutura adequada e assegurar padrões
mínimos de segurança aos servidores removidos para locais
considerados difíceis. Ademais de estrutura físicas adequadas
no terreno, é fundamental poder contar com estrutura
administrativa na SERE dedicada ao acompanhamento das condições
de vida em países em situação de fragilidade em segurança e
saúde.
A criação da Divisão de Saúde e Segurança do Servidor
representou passo importante nesse sentido. A divisão deve
fortalecer sua atuação de modo a poder orientar postos e
servidores sobre situação de segurança e eventuais emergências
de saúde pública. Além disso, deve-se oferecer serviço de
medicina do viajante (via SAMS ou outra instituição, como
FIOCRUZ) aos servidores removidos para países africanos (e
outros), incluindo consulta e vacinações necessárias pré-
remoção, conforme o quadro epidemiológico de cada país.
Deve-se, ademais, considerar a possibilidade, com respectiva
previsão legal e orçamentária, de o servidor manter a família
em posto diferente daquele em que está servindo, em casos em
que a situação de segurança ou a estrutura de saúde impliquem
em risco para a integridade física dos
Apoio ao transporte ativo

Adequar a infraestrutura física do MRE para uso de bicicletas


pelos servidores, incluindo a oferta de estacionamento de
bicicletas e de vestiários bem equipados, com armários com
altura adequada para acomodar trajes de trabalho; garantir o
acesso desimpedido de servidores de todas as carreiras e classes
a essas instalações (não apenas a cargos de chefia, como ocorre
hoje); e estabelecer, em linha com os objetivos do MRE para a
sustentabilidade e a saúde do servidor, política institucional
sobre o uso da bicicleta como meio de transporte ao local de
trabalho, levando em consideração também orientações e ações
voltadas para a rede de postos no exterior.

72 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


5. Colegiados de participação
social
O tema da participação social esteve no centro dos debates do
Gabinete de Transição de forma geral, e, no âmbito do GT de
Relações Exteriores, em particular. A necessidade de
aprimoramento da participação social na política externa foi
discutida em todas as cinco reuniões do GT e em diversos
encontros com interlocutores da sociedade civil.
Observou-se que o decreto 9.759/2019, do presidente Bolsonaro,
que extinguiu diversos mecanismos de participação social do
governo, também atingiu o Ministério de Relações Exteriores.
Além disso, durante os 4 anos do atual gestão, os movimentos
sociais e a sociedade civil organizada foram excluídos dos
debates e de iniciativas relacionados à agenda da política
externa, deixando, inclusive, de ser incorporados às delegações
oficias em fóruns multilaterais, rompendo prática tradicional
da diplomacia brasileira. Nesse contexto adverso, é essencial
reconhecer a contribuição histórica desempenhada pela sociedade
civil, em prol de temas como a Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável; meio ambiente e mudança do clima;
segurança alimentar e combate à fome; população e
desenvolvimento; e direitos humanos, entre outras.
Avaliou-se, no entanto, que, mesmo antes do retrocesso liderado
pelo atual governo, em administrações anteriores a participação
social, ainda que tenha contado com iniciativas relevantes, se
deu quase sempre de maneira “ad hoc”, motivada por eventos
internacionais específicos, como no caso do processo
preparatório para a Rio+20, por meio de Comissão Nacional criada
exclusivamente para esse fim. Verificou-se, dessa forma, a
necessidade de considerar a retomada e a ampliação dos espaços
de diálogo, com vistas à institucionalização de sistema de
participação social na política externa.
Com o propósito de colher subsídios nesse sentido, o GT de
Relações Exteriores participou das iniciativas do Conselho de
Participação Social do Gabinete de Transição e levou a cabo
amplo processo de diálogo com organizações da sociedade civil
e com grupos de interesses que atuam no âmbito do MRE, além de
debates com outros GTs. Esses encontros culminaram em reunião
abrangente de escuta (08/12), realizada em formato virtual, com
cerca de 100 representantes da sociedade civil, acerca de temas
diversos da política externa, inclusive mecanismos de
participação social .
9

9 Atas das reuniões do GT com a sociedade civil constam como anexos ao relatório.

73 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Tendo em conta o diagnóstico sobre a necessidade de
institucionalização da participação social na discussão e
formulação da política externa, como política de estado, sugere-
se exercício de reflexão acerca da criação de mecanismos que
garantam maior diálogo, com vistas à democratização e à
transparência da política exterior. Esse processo terá de levar
em conta a diversidade de atores e interesses da sociedade civil
para, inclusive, aumentar a legitimidade interna e externa da
atuação do MRE.
Devem-se analisar, nesse sentido, as diversas possibilidades de
incentivo ao diálogo social, como foros de diálogos temáticos,
conferências e mesmo a possibilidade de criação de um Conselho
de Política Externa, de caráter consultivo e não vinculante,
conforme propostas já apresentadas por coalizões de
organizações da sociedade civil a gestões anteriores do
Ministério. Outro aspecto relevante seria a demanda pela criação
de estrutura no MRE para esse diálogo, que possa coordenar a
interlocução com a sociedade civil e outros atores.
Cabe registrar, por fim, que colegiados anteriormente situados
na estrutura do MRE, como o Conselho de Representantes dos
Brasileiros no Exterior (CRBE), e colegiados internos como o
Comitê Gestor de Gênero e Raça10 e o Comitê para a Promoção dos
Direitos das Pessoas com Deficiência11 também foram
descontinuados pelo decreto 9.759/2019. Cabe reflexão da
próxima administração a respeito da conveniência de retomá-los
e, eventualmente, reformulá-los.
Providências críticas ou emergenciais para os primeiros 30 dias:

 Revogação imediata do Decreto 9.759/2019.

 Analisar a possibilidade de criar estrutura no MRE para


facilitar a interação e o diálogo com a sociedade civil e
outros atores não estatais em temas de política externa.

 Retomar e buscar institucionalizar o processo de


credenciamento da sociedade civil como parte das
delegações brasileiras em foros internacionais,
facilitando, inclusive, a interação entre esses
representantes e os negociadores oficiais.

 Apoiar a recriação de colegiados de participação social


relevantes para a consecução da política externa, como a

10 Portaria MRE nº 491, de 12 de setembro de 2014, reestruturado pela Portaria MRE nº 554, de 21 de
setembro de 2015; revogado pela Portaria MRE nº 336, de 29 de setembro de 2020, em decorrência do
Decreto 9.759, de 2019.
11 Portaria MRE nº 363, de 25 de julho de 2014; revogado pela MRE nº 336, de 29 de setembro de 2020,

em decorrência do Decreto 9.759, de 2019

74 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Comissão Nacional para os Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável.
Medidas prioritárias para os primeiros 100 dias:

 Iniciar debates junto à sociedade civil e a outros órgãos


do governo sobre a criação de mecanismos
institucionalizados para garantir a participação social na
discussão e formulação da política externa.

 Analisar o melhor formato para recriação de mecanismos


como o Conselho de Representantes dos Brasileiros no
Exterior (CRBE) e suas respectivas conferências; o Comitê
Gestor de Gênero e Raça; o Comitê para a Promoção dos
Direitos das Pessoas com Deficiência.

75 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


6. Pontos de Alerta
Pontos de alerta - TCU
A primeira edição da Lista de Alto Risco (LAR) da Administração
Pública federal, elaborada pelo Tribunal de Contas da União,
consolidou 29 áreas que representam riscos que podem comprometer
a qualidade dos serviços ofertados pelo governo federal e,
portanto, afetar a implementação de políticas públicas.
Muito embora esses alertas não digam respeito a programas e ações
específicos do Ministério das Relações Exteriores, o Grupo
Técnico da Transição Governamental identificou pontos de alerta
referentes à realidade da Pasta que tangenciam algumas das áreas
apontadas pelo relatório da Corte de Contas e que, portanto,
merecem atenção da futura gestão.
Abaixo, segue a relação de alertas do Tribunal de Contas da União
pertinentes e a respectiva associação com alertas identificados
no âmbito do Itamaraty:
1) Conformidade dos pagamentos de pessoal e benefícios sociais

A folha de pagamentos do MRE é subdividida entre a Folha Brasil,


que agrega cerca de 1/3 dos servidores ativos, e a Folha Exterior,
em que estão registrados os restantes 2/3. Essa dualidade gera
diversas dificuldades operacionais, em especial com relação à
adequação aos sistemas e rotinas de controle de pagamentos do
Ministério da Economia.
Como os registros funcionais dos servidores lotados no exterior
não são absorvidos pelo Sistema Integrado de Administração de
Pessoal (SIAPE), há a necessidade de implementação de controles
adicionais pelo MRE para garantir a coerência entre os dados da
Folha Exterior e da Folha Brasil. Dentre as questões que merecem
atenção, podem-se destacar as seguintes:
- Instauração rotineira de processos de reposição ao erário
devido à constante migração dos servidores entre folhas de
pagamento (tema acompanhado pelo TCU no âmbito do processo TC
031.337/2015-5);
- Adequação da implementação da plataforma do e-Social
(Ministério da Economia, Receita Federal e INSS), uma vez que
não possui previsão de registros da Folha do Exterior, o que gera
dificuldades no estabelecimento de rotinas de recolhimento da
contribuição de seguridade social para funcionários não
estatutários no exterior, assim como o processamento de
informações para fins de declaração do imposto de renda;

76 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


- Dificuldades futuras no lançamento das aposentadorias dos
servidores que aderiram ao Regime de Previdência Complementar,
uma vez que o SIAPE não contempla o período de vida funcional no
exterior.
2) Gestão do patrimônio imobiliário público federal

Os imóveis que abrigam a Secretaria de Estado das Relações


Exteriores, em Brasília, demandam intervenções estruturais para
garantir a sua integridade patrimonial e adequação à legislação
e aos protocolos mais atualizados sobre segurança e saúde no
trabalho. Dentre as medidas que devem ser adotadas, mencionam-
se, prioritariamente, (i) a modernização das instalações
elétricas (objeto do Acordo de Cooperação Técnica n° 01/2022,
celebrado pelo MRE com a Marinha do Brasil); (ii) a reforma do
sistema de combate a incêndio (que se encontra em fase final de
planejamento); e (iii) a recuperação da estrutura dos espelhos
d'água do Palácio Itamaraty (em fase inicial de planejamento).
Outra questão que demanda atenção é a reforma e a revitalização
do Complexo do Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro. O MRE
avalia alternativas para a futura manutenção/preservação do
complexo, as quais poderão ser levadas a cabo por meio dos
recursos orçamentários e outras fontes de recursos.
3) Qualidade, compartilhamento e transparência dos dados
governamentais
O Plano de Dados Abertos constitui uma das peças-chave na
implementação da política de transparência do Itamaraty. Por meio
desse Plano, o órgão disponibiliza aos cidadãos suas bases de
dados, em formato aberto, com finalidade de facilitar o controle
social, a formulação de políticas públicas e a produção de
conhecimento científico ou acadêmico.
Com vistas a atender à Instrução Normativa TCU nº 84 e à Decisão
Normativa TCU nº 187, ambas de 2020, encontra-se em andamento
projeto estratégico para a elaboração de portaria sobre o tema
“Transparência e Prestação de Contas”. O texto tem por objetivo
definir as competências das unidades na disponibilização de
informações de transparência ativa e prestação de contas, como,
por exemplo, sobre estrutura organizacional, competências,
legislação aplicável, principais cargos e seus ocupantes,
endereço e telefones das unidades e horários de atendimento ao
público; relatórios de gestão; repasses ou transferências de
recursos financeiros; execução orçamentária e financeira
detalhada; ações de correição adotadas para a garantia da
legalidade, legitimidade, economicidade e transparência na
aplicação dos recursos públicos; remuneração e subsídio recebidos
por ocupante de cargo, posto, graduação, função e emprego
público, entre outros.
4) Segurança da informação e segurança cibernética

77 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


A Política de Segurança da Informação e Comunicações (POSIC),
instituída no MRE pela Portaria nº 43, de 2015, encontra-se em
processo de revisão. Uma nova Política de Segurança da Informação
(POSIN), em sintonia com a Estratégia de Governo Digital, com a
Política Nacional de Segurança da Informação e com a Lei Geral
de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), foi submetida à
consideração do Comitê Estratégico de Tecnologia da Informação
(CETI-MRE).
Quanto à governança da segurança cibernética, o MRE atualizou a
Equipe de Tratamento e Resposta a Incidentes em Redes
Computacionais (ETIR-MRE), por meio da Portaria DTIC de 5 de
julho de 2022. A ETIR-MRE visa ao atendimento das normas ISO
NBR/IEC 27001:2013 e 27002:2013, além das Normas Complementares
05/IN01/DSIC/GSIPR e 08/IN01/DSIC/GSIPR.
Estima-se que o MRE produza mais de 80% do volume de informações
sigilosas do governo federal, com destaque para a série
telegráfica (comunicação entre a Secretaria de Estado das
Relações Exteriores e os Postos no Exterior). Em razão disso, o
Itamaraty é alvo de ataques cibernéticos sofisticados, do tipo
Advanced Persistent Threat (APT), os quais têm como origem tanto
atores estatais estrangeiros, quanto grupos de cibercriminosos.
O MRE tem adotado ações para mitigar os riscos à segurança
cibernética, entre as quais: i) a contratação de serviço
especializado em segurança cibernética, com alocação dedicada de
recursos humanos (Security Operations Center – SOC); ii) a adoção
universal de segundo fator de autenticação (2FA); iii) a migração
de informações intermediárias e ostensivas e do serviço de e-
mail para a nuvem, diminuindo a superfície de ataque da rede do
MRE; e iv) a adoção do conceito de segurança Zero-Trust nos
sistemas mais modernos do MRE.
5) Gestão e integridade nas contratações públicas

A estrutura de aquisições do MRE, no Brasil, é, em sua maior


parte, descentralizada. As unidades requisitantes são
responsáveis pela fase de planejamento do processo licitatório e
a Coordenação Geral de Licitações e Contratos responsabiliza-se
pela condução da sessão licitatória. Findo o certame, as unidades
voltam a ser responsáveis pela gestão e fiscalização das compras
e contratos.
No exterior, a estrutura de aquisições tem grau de
descentralização mais acentuado do que na Secretaria de Estado
(SERE), uma vez que as fases de planejamento, seleção de
fornecedores e gestão contratual são realizadas pelas repartições
no exterior, incumbindo à SERE apenas a normatização das
diretrizes de contratação, por meio do Guia de Administração dos
Postos.

78 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


A falta de estrutura central pode impactar na gestão dos recursos
públicos, uma vez que facilita a ocorrência das seguintes
situações: (i) não racionalização do emprego de recursos
públicos; (ii) impossibilidade de emprego de ações estratégicas
e de governança; (iii) ausência de controle interno de gestão e
uniformização de processos; e (iv) organização deficiente da
cadeia de licitação.
À luz dos desafios apresentados, propõe-se a alteração da
estrutura de governança, redimensionando o nível de centralização
de contratações no Brasil e no exterior, com criação de unidade
específica com atribuição de centralizar a gestão das
contratações públicas. Essa proposta encontra obstáculo de
implementação em razão da lotação insuficiente e estruturação
inadequada para o aprimoramento da governança de modo mais
abrangente.

Pontos de alerta - outros órgãos de controle (CGU)

A Controladoria-Geral da União (CGU), diante da auditoria


das atividades da Corregedoria do Serviço Exterior referente ao
biênio 2020-2022, realizada no contexto da Avaliação e
Acompanhamento da Gestão Correcional do Ministério das Relações
Exteriores, sugere a adoção pelo Itamaraty do Sistema Eletrônico
de Informações (SEI). Trata-se de ferramenta de gestão de
processos eletrônicos, implementada por todos os Ministérios,
que visa à obtenção de maior celeridade, economicidade,
transparência, segurança e agilidade na tramitação dos
expedientes.

Alertas adicionais: O Grupo Técnico de Relações Exteriores


sinaliza ao Gabinete de Transição a existência de instrumentos
normativos e compromissos internacionais cuja revogação/retirada
poderá ser igualmente avaliada, quais sejam:

1. Decreto nº 11.120/2022 (MME)Ementa: Permite as operações


de comércio exterior de minerais e minérios de lítio e de seus
derivados.

Justificativa: revisão técnica à luz da definição de ações


estratégicas da nova gestão.

2. Portaria Interministerial nº 678/2022


(CCIVIL/MJSP/MS/MINFRA)

Ementa: Dispõe sobre medidas excepcionais e temporárias para


entrada no País, nos termos da Lei nº 13.979, de 06 de fevereiro
de 2020.

Justificativa: Será necessária revisão da Portaria, à luz da nova


realidade epidemiológica. Adicionalmente, será necessário

79 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


avaliar se, na prática, os procedimentos de verificação dos
pedidos de ingresso humanitário poderiam ensejar questionamentos
sobre tratamento discriminatório.

80 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Pontos de Alerta
Program Fonte Critic
Risco
a (política Alerta (Situação do Alerta idade (Alto, Medidas para mitigação
(Descrever o
pública/ preocupante) (TCU, CGU ou médio e (Descrever ações recomendadas)
risco envolvido)
iniciativa) outro) baixo)
Gestão Conformidade dos TCU Dificuldades Médio Adequação dos sistemas e rotinas
de pessoas pagamentos de pessoal e operacionais em razão de controle de pagamento do Ministério da
benefícios sociais da existência de folhas Economia com a realidade do Ministério das
de pagamento no Relações Exteriores (MRE)
Brasil e no Exterior
(registros funcionais
dos servidores lotados
no exterior não são
absorvidos pelo
SIAPE)
Instauração
rotineira de processos
de reposição ao erário
devido à constante
migração dos
servidores entre folhas
de pagamento
Patrimôni Gestão do patrimônio TCU Imóveis em Médio - Modernização das instalações
o público federal Brasília e no Rio de elétricas e reforma do sistema de combate a
Janeiro demandam incêndio dos imóveis do Itamaraty, em
intervenções Brasília - Recuperação da estrutura dos
estruturais para espelhos d'água do Palácio do Itamaraty,
garantir a integridade em Brasília - Reforma e revitalização do
patrimonial Complexo do Palácio do Itamaraty, no Rio

81 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


de Janeiro

Transpar Qualidade, TCU Aprimorament Médio Elaboração de portaria sobre o


ência pública compartilhamento e o da implementação de tema 'Transparência e Prestação de
transparência dos dados política de Contas', com o objetivo de definir as
governamentais transparência do competências das unidades na
Itamaraty, disponibilização de informações de
especialmente da transparência ativa e prestação de contas
transparência ativa
Política Segurança da TCU MRE produz Alto - Contratação de serviço
de Segurança da informação e segurança mais de 80% do especializado em segurança cibernética,
Informação e cibernética volume de informações com alocação dedicada de recursos
Comunicações sigilosas do governo humanos
federal, com destaque - Adoção universal de segundo fator
para a série telegráfica de autenticação
(comunicação com o - Migração de informações
Exterior) intermediárias e ostensivas e do serviço de
Itamaraty é e-mail para a nuvem
alvo de ataques - Adoção do conceito de segurança
cibernéticos Zero-Trust nos sistemas mais modernos do
sofisticados MRE
Planejam Gestão e integridade nas TCU Estrutura de Média Alteração da estrutura de
ento e contratações públicas aquisições, tanto no governança, com criação de unidade
gerenciamento Brasil como no específica com atribuição de centralizar a
das contratações exterior, é gestão das contratações públicas
públicas descentralizada, o que
impacta a gestão dos
recursos públicos

82 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Gestão Avaliação e CGU Utilização de Alto Adoção do Sistema Eletrônico de
de processos Acompanhamento da Gestão papel como suporte Informações (SEI), como ferramenta de
Correcional do MRE físico para documentos gestão de processos eletrônicos, que visa à
e formação de obtenção de maior celeridade,
processos economicidade, transparência e agilidade
na tramitação dos expedientes

83 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


7. Sugestões sobre Emergências
Orçamentárias
8.1 Contribuições a Organismos Internacionais

O Brasil tem cerca de R$ 5,5 bilhões em dívidas acumuladas de


exercícios anteriores referentes a contribuições a organismos
internacionais e integralizações junto a fundos e bancos de
fomento (OIs). O valor apresenta tendência de aumento devido a
variações cambiais e, por vezes, insuficiência dos montantes
previstos nas leis orçamentárias para saldar as contribuições
dos exercícios anuais.
A Lei Orçamentária Anual (LOA 2022) prevê R$ 985 milhões para
pagamentos de contribuições e integralizações. Cumpre ressaltar
que este valor já não era suficiente para honrar as obrigações
brasileiras em organismos em que há risco de perda de votos. Até
21 de novembro, apenas pouco mais da metade do valor havia sido
efetivamente alocado.
Uma análise preliminar sobre a definição dos valores devidos a
OIs na LOA, bem como sobre a execução dos pagamentos pelo governo
brasileiro, sugere que esses processos podem ser aperfeiçoados.
Atualmente, o valor proposto no PLOA é de responsabilidade do
Ministério da Economia, que define sua proposta baseado em
informações recebidas por diversos órgãos do governo federal,
com pouca interação com o MRE a respeito do valor final incluído
no projeto de lei. Além disso, o valor proposto no PLOA tem
sofrido cortes no parlamento, o que denota a importância de
sensibilizar os congressistas sobre a relevância do tema. Por
exemplo, em 2022, os valores foram reduzidos de R$ 2,2 bilhões
no PLOA para os R$ 985 milhões aprovados na LOA.
Aprovada a LOA, cabe ao Ministério da Economia a efetivação dos
pagamentos aos Organismos Internacionais. Ao tratar do tema, o
Ministério da Economia nem sempre considera como prioritários os
pagamentos a OIs em que há a possibilidade de sanções ou perda
de votos. A situação de inadimplência causa prejuízos políticos
e efeitos deletérios sobre a capacidade de atuação internacional
do Brasil.
No atual cenário, há perspectiva de perda de voto, na ausência
de pagamentos até o final deste ano, nas seguintes organizações:
ONU (Assembleia-Geral), Agência Internacional de Energia Atômica
(AIEA), Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO), Organização Internacional do Trabalho (OIT),
Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI),
Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial
(UNIDO).

84 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


A situação é politicamente crítica nas seguintes organizações:
ONU (orçamento regular, missões de paz e tribunais
internacionais), Organização Mundial do Comércio (OMC), Agência
Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais
Nucleares (ABACC), Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB),
Tribunal Penal Internacional (TPI), Organização Mundial da Saúde
(OMS), Organização Internacional para as Migrações (OIM). Há
também uma dívida importante com a Organização dos Estados
Americanos (OEA) e valores significativos devidos para
integralização de capital na Corporação Andina de Fomento, Banco
Interamericano de Desenvolvimento, Fundo Financeiro para o
Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fonplata) e Agência
Internacional de Desenvolvimento (AID - Banco Mundial).
Registre-se que, para além do problema político, o TCU tem
alertado (Acórdão 1437/2020) que o hiato entre as projeções de
obrigações com organismos internacionais e as respectivas
dotações orçamentárias representa potencial risco de
descumprimento do artigo 167, inciso II, da Constituição Federal
de 1988, que veda “a realização de despesas ou a assunção de
obrigações diretas que excedam os créditos orçamentários ou
adicionais”. Na análise, questiona-se também a classificação
destas contribuições como despesas discricionárias, já que
procedem de compromissos derivados de manifestação do Presidente
da República e referendados pelo Congresso Nacional.
Assim, sugere-se que pagamentos emergenciais, estimados pelo
atual governo em pouco mais de R$ 1 bilhão (cerca de US$ 188
milhões), sejam efetivados ainda em 2022. Cabe à Junta de
Execução Orçamentária (JEO), composta pelo Ministério da
Economia e pela Casa Civil, a deliberação sobre o assunto. O
novo governo poderá avaliar alternativas que evitem os
recorrentes atrasos e contemplem também as preocupações do TCU.

A tabela a seguir estima os valores devidos mais urgentes,


convertidos em reais, a OIs das quais o Brasil é parte.

85 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


moedas convertidas pelo câmbio de 25/11 R$ milhões R$ milhões R$ milhões
Pagto
Organismo Divida Total Organismo Integralizações
mínimo
recomendado devidas
Risco de perda de voto em 2023
ou outras penalidades
ONU (inclui Missões de Paz +
Tribunais Internacionais) 452 1.617 CAF 1.053
FAO 72 219 BID - CII 67
OMS 65 217 FONPLATA 374
UNESCO 45 64 AID 88
OIT 54 184
AIEA 58 161 SUBTOTAL 1.583
OMPI 1 1
Convenção de Basiléia 1 3 Outras dívidas 286
TPI 56 123 junto a demais OIs
OPAQ 10 29
OACI 11 11 TOTAL RS 5,5 bilhões
UNDROIT 0,3 0,5
CHDIP 0,1 0,5
IICA 21 44
OIA 0,4 0,4
UNIDO 10 48 Pagto mínimo
SUBTOTAL 855 2.722 recomendado R$ 1,006 bilhões
sem integralizações
Penalidades já aplicáveis
OIM 15 34
OMC 5 16
CMS 1 4
OIC 0,2 0,2
SUBTOTAL 22 55

Outras dívidas mais urgentes


OEA 43 108
CDB 2 5
ABACC 12 24
AIEA 13 27
CPLP 3 8
FOCEM (Mercosul) 0 531
SMercosul 1 1
CIC 0,3 0,7
UNFCCC 5 10
Kioto 1 1
Convenção de Viena 0,2 0,3
Convenção de Estocolmo 1 1
Protocolo de Montreal 0,4 0,4
Protocolo de Cartagena 1 1
Convenção de Roterdã 1 1
IPPDH 5 5
PARLASUL 5 12
OTCA 3 8
OPAS 29 104
SELA 1 1
IILP 1 1
ISBA 2 3
CCAMLR 1 1
CIB 0,04 0,04
SUBTOTAL 129 854

86 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Relação de Organismos Internacionais

Sigla Nome

ONU Organização das Nações Unidas

FAO Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura

OMS Organização Mundial de Saúde

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a


UNESCO
Cultura

OIT Organização Internacional do Trabalho

AIEA Agência Internacional de Energia Atômica

OMPI Organização Mundial da Propriedade Intelectual

Convenção da Convenção de Basileia sobre o Controle de Movimentos


Basiléia Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu Depósito

TPI Tribunal Penal Internacional

OPAQ Organização para a Proibição de Armas Químicas

OACI Organização da Aviação Civil Internacional

UNIDROIT Instituto Internacional para a Unificação do Direito Privado

CHDIP Conferência da Haia de Direito Internacional Privado

IICA Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura

OIA Organização Internacional do Açúcar

UNIDO Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial.

OIM Organização Internacional para as Migrações

OMC Organizição Mundial do Comércio

Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de


CMS
Animais Silvestres,

OIC Organização Internacional do Café

OEA Organização dos Estados Americanos

CDB Convenção Sobre Diversidade Biológica

Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de


ABACC
Materiais Nucleares

87 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Sigla Nome

CPLP Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

Fundo para a Convergência Estrutural e o Fortalecimento da


FOCEM
Estrutura Institucional do Mercosul

Smercosul Secretaria do Mercosul

CIC Comissão Intergovernamental dos Países da Bacia do Prata

UNFCCC Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima

Protocolo Protocolo de Kyoto para o Controle da Emissão de Gases de Efeito


de Kyoto Estufa na Atmosfera

Conveção
Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio
de Viena

Convenção
Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes
de Estocolmo

Protocolo Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada


de Montreal de Ozônio

Protocolo
Protocolo da Cartagena sobre Biossegurança
de Cartagena

Convenção de Roterdã sobre Procedimento de Consentimento


Convenção
Prévio Informado para o Comércio Internacional de Certas
de Roterdã
Substâncias Químicas e Agrotóxicos Perigosos

IPPDH Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos do MERCOSUL

PARLASUL Parlamento do MERCOSUL

OTCA Organização do Tratado de Cooperação Amazônica

OPAS Organização Pan-Americana da Saúde

SELA Sistema Econômico Latino-Americano

IILP Instituto Internacional da Língua Portuguesa

ISBA Autoridade Internacional de Fundos Marinhos

Comissão para a Conservação da Fauna e da Flora Marinhas da


CCAMLR
Antártida

CIB Comissão Internacional das Baleias

88 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


3.2 – Orçamento da Pasta – valores mínimos para
funcionamento no primeiro quadrimestre

No Projeto de Lei Orçamentária para 2023 (PLOA 2023), o


Ministério das Relações Exteriores foi contemplado com R$
2.221.602.156,00 em despesas discricionárias (custeio e
capital). O orçamento total do MRE corresponde a apenas 0,1% do
Orçamento Geral da União.

A evolução do orçamento do MRE no período de 2014 a 2023 indica


que houve estabilidade no gasto real, conforme demonstram os
gráficos da Figura 1. Não obstante essa estabilidade, a dotação
atual é cerca de R$ 700 milhões inferior ao orçamento empenhado
em 2015, quando os valores são corrigidos pela inflação. Além
disso, cerca de 80% das despesas do Ministério são executadas no
exterior e estão, portanto, sujeitas à variação cambial. A
depreciação cambial nos últimos anos, com expressiva queda do
real frente ao dólar (e.g. taxa de câmbio média de 2014 foi de
R$ 2.35/USD; de 2019 foi de R$ 3,94/USD e em 2022 está em torno
de R$ 5,15/USD) indica, na prática, desde 2014, redução de cerca
de 25% no orçamento do MRE em dólares.

Cumpre ressaltar que a maior parte do orçamento do MRE é


destinado a despesas inadiáveis de funcionamento dos postos no
exterior (por exemplo, salários de auxiliares locais contratados
pelas missões no exterior, manutenção das missões diplomáticas
e repartições consulares e contratos de prestação continuada) e
de administração geral no Brasil, que não admitem cortes ou
contingenciamento. Ademais, é essencial assegurar fluxo mensal
de recursos para atender às despesas de cerimonial, que abrangem
as viagens presidenciais, e de atendimento consular no Brasil e

89 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


no exterior. No caso do atendimento consular, deve-se assegurar,
para o primeiro quadrimestre de 2023, R$ 3 milhões para
assistência a brasileiros no exterior (ação orçamentária 20I5,
plano orçamentário 002) para evitar que brasileiros e situações
emergenciais fiquem desassistidos ou que não se possa honrar
contratos de assistência jurídica e psicológica.
Considerando a natureza das despesas do MRE, é essencial
assegurar orçamento mínimo para o funcionamento da pasta nos
primeiros meses do ano. A estimativa mínima de despesas para o
primeiro quadrimestre de 2021, apenas com contratos continuados
e assistência consular, é de R$ 608.498.174,00.

A tabela ao final desta seção identifica as ações orçamentárias


prioritárias e a previsão de orçamento mínimo para o primeiro
quadrimestre de 2023. O funcionamento do MRE poderá ser
significativamente afetado com eventual contingenciamento
orçamentário e financeiro.
No contexto da aprovação do PLOA 2023, ressalte-se ter a bancada
estadual do Rio de Janeiro aprovado emenda de 16,2 milhões
(emenda 71200016) para a revitalização do Complexo do Itamaraty
na capital fluminense. Foram aprovados R$ 6,2 milhões em despesas
impositivas (RP7) e R$ 10 milhões em despesas discricionárias
(RP2). Considerando que o Palácio Itamaraty no Rio de Janeiro e
o Museu Histórico e Diplomático do Itamaraty abrigam patrimônio
de interesse nacional, é essencial assegurar, junto ao relator-
geral do orçamento, a manutenção do orçamento discricionário de
R$ 10 milhões na LOA 2023.
Ademais, prevê-se a necessidade de complementação orçamentária
em 2023 para viabilizar a reabertura de postos fechados pelo
atual governo. Entre 2020 e 2022, foram extintas as Embaixadas
em Basseterre (São Cristóvão e Névis), Freetown (Serra Leoa),
Kingstown (São Vicente e Granadinas), Lilongue (Maláui),
Monróvia (Libéria), Roseau (Dominica), Saint George´s (Granada)
e Saint John (Antígua e Barbuda). Além disso, foram desativados
os cinco postos que o Brasil mantinha em funcionamento na
Venezuela, a saber, a Embaixada em Caracas, o Consulado-Geral em
Caracas, o Consulado em Ciudad Guayana, o Vice-Consulado em
Puerto Ayacucho e o Vice-Consulado em Santa Elena do Uairen. Foi
também extinto o Consulado-Geral na Cidade do México.
Finalmente, eventual revogação do Decreto 9.731/19, que dispensa
visto de visita para os nacionais da Austrália, do Canadá, dos
EUA e do Japão, demandará adaptação das repartições consulares
nesses países e, por conseguinte, reforço orçamentário para
esses postos. Prevê-se aumento imediato de carga de trabalho nos
consulados dos países listados no Decreto e a necessidade de
contratação de novos auxiliares locais e de reforço das dotações
de manutenção dessas repartições consulares.

90 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Primeiro
Ação Orçamentária PLOA 2023 Impacto/Consequência
Quadrimestre

20I5 - Serviços Consulares e de Assistência a 17.250.502 4.646.633 Despesas inadiáveis / contratos continuados e consular
Brasileiros no Exterior (LOC 0002 - Exterior)
20WW - Relações e Negociações Bilaterais (LOC 0002 - 1.053.259.672 335.980.686 Despesas inadiáveis / contratos continuados e consular
Exterior)
20WX - Relações e Negociações Multilaterais (LOC 86.791.820 28.769.900 Despesas inadiáveis / contratos continuados e consular
0002 - Exterior)
20WY - Difusão Cultural e Divulgação do Brasil no 55.668.375 7.286.298 Despesas inadiáveis / contratos continuados e consular
Exterior (LOC 0002 - Exterior)
216H - Ajuda de Custo para Moradia ou Auxílio-Moradia 154.754 51.585 Despesas inadiáveis / contratos continuados e consular
a Agentes Públicos (LOC 001 Nacional)
216H - Ajuda de Custo para Moradia ou Auxílio-Moradia 411.814.417 137.271.472 Despesas inadiáveis / contratos continuados e consular
a Agentes Públicos (LOC 002 Exterior)
2000 - Administração da Unidade (LOC 0001 - Nacional) 289.285.234 83.756.199 Despesas inadiáveis / contratos continuados e consular
2000 - Administração da Unidade (LOC 0002 - Exterior) 100.704.896 6.840.000 Despesas inadiáveis / contratos continuados e consular
2367 - Análise e Divulgação da Política Externa 5.751.292 1.145.067 Despesas inadiáveis / contratos continuados e consular
Brasileira, de Relações Internacionais e da História
Diplomática do Brasil (LOC 0001 - Nacional)
2536 - Demarcação de Fronteiras (LOC 0001 - Nacional) 2.647.000 850.333 Despesas inadiáveis / contratos continuados e consular
8495 - Realização de Eventos Internacionais Oficiais 5.700.000 1.900.000 Despesas inadiáveis / contratos continuados e consular
(LOC 0001 - Nacional)
TOTAL 2.029.027.962 608.498.174

91 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


8. Sugestões sobre revogações e alterações
de atos normativos

Sugestão de atos normativos a serem revogados

Tipo de
ato normativo a
Autoridad Necessida
ser revogado/
e que editou o de de edição de Nível de
alterado Objeto do Revogação
Número do Data de ato (Presidente, outro ato urgência
(Decreto, ato (explicar em parcial ou
Ato edição do ato Ministro, normativo (além (Imediata, 1 mês
Portaria, poucas palavras) integral
Secretário, da revogação e 100 dias)
Instrução
Outro) simples)
Normativa,
Resolução, Outro)
Portaria 7 19/08/19 A Portaria Integral MRE e MJ Não Imediata
Interministerial estabelece regras
para impedir o
ingresso no Brasil
de altos
funcionários do
governo
venezuelano

92 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Decreto 10.086 05/11/19 O inciso Parcial President Sim Imediata
CCIII do artigo 1º e
do Decreto
10.086/2019
revoga o Decreto
7.667/2012, que
promulgava o
Tratado
Constitutivo da
UNASUL
Decreto 10.948 26/01/22 O Decreto Integral President Não Imediata
10.948/2022 cria o e
Escritório do
Ministério da
Economia em
Washington (EUA)
Decreto 11.084 27/05/22 O Decreto Integral President Não Imediata
11.084/2022 e
dispõe sobre a
missão logística
do Ministério da
Justiça e
Segurança Pública
em Washington
(EUA)
Portaria 29 25/04/22 A Portaria Vigência MRE e MJ Nova Imediata
Interministerial estabelece regras até 31/12/22 regulação do tema
para acolhida
humanitária para
nacionais
haitianos

93 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Portaria 24 03/09/21 A Portaria Integral MRE e MJ Sim 1 mês
Interministerial estabelece regras
para acolhida
humanitária para
nacionais afegãos
Decreto 9.731 16/03/19 O Decreto Integral President Não 100 dias
9.731/2019 e
dispensa visto de
visita para os
nacionais da
Austrália, do
Canadá, dos EUA
e do Japão

94 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


MOTIVAÇÃO DA PROPOSTA DE REVOGAÇÃO/ALTERAÇÃO DE ATOS NORMATIVOS

1. PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº7 DE 19/08/2019 (MJSP/MRE)

- Objeto da norma: A Portaria estabelece regras para impedir o


ingresso no Brasil de altos funcionários do governo venezuelano.

- Extensão da revogação/alteração proposta: Ato inteiro.

- Fundamentação: O restabelecimento das relações com o governo


de Nicolás Maduro não justifica a manutenção da proibição de
entrada, no Brasil, de autoridades venezuelanas.

- Urgência: Imediata - a manutenção da portaria impediria a


realização de visitas de alto nível ao Brasil no início do novo
governo.

- Necessidade de edição de outro ato normativo: Não há.

2. DECRETO Nº10.086 DE 05/11/2019

- Objeto da norma: O inciso CCIII do artigo 1º do Decreto


10.086/2019 revoga o Decreto 7.667/2012, que promulgava o
Tratado Constitutivo da UNASUL.

- Extensão da revogação/alteração proposta: Parcial.

- Fundamentação: O Presidente eleito manifestou intenção de


reforçar a integração sul americana, em consonância com o artigo
4º, parágrafo único da Constituição Federal. A
institucionalidade, a experiência acumulada e a abrangência da
atuação da UNASUL em áreas como defesa, infraestrutura, saúde,
combate a ilícitos transnacionais indicam ser essa organização
a que melhor cumpre o papel de catalisador da integração sul-
americana.

- Urgência: Imediata - Além do aspecto simbólico, a revogação


imediata permitirá a adoção de medidas para a retomada da
participação brasileira na organização.

- Necessidade de edição de outro ato normativo: Sim - Faz-se


necessária a edição de decreto que revogue o inciso CCIII do
artigo 1º do Decreto 10.086/2019 e determine expressamente a
restauração da vigência do Decreto 7.667/2012.

3. DECRETO Nº10.948 DE 26/01/2022

- Objeto da norma: O Decreto 10.948/2022 cria o Escritório do


Ministério da Economia em Washington (EUA).

95 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


- Extensão da revogação/alteração proposta: Ato inteiro.

- Fundamentação: O escritório, localizado nas dependências da


embaixada do Brasil em Washington, duplica esforços já
empreendidos pelo posto e implica custos injustificados ao
erário. Ademais, a embaixada em Washington já conta com
Adidância da Receita Federal. Finalmente, a manutenção do
escritório em seu atual formato gerará dificuldades
burocráticas, tendo em vista a reformulação da estrutura do
atual Ministério da Economia.

- Urgência: Imediata - Além de eliminar custos injustificados


ao erário, a extinção imediata do escritório seria revestida de
simbolismo ao sinalizar a retomada de política externa
implementada pelo Ministério das Relações Exteriores, sempre em
coordenação com as demais pastas.

- Necessidade de edição de outro ato normativo: Não há.

4. DECRETO Nº11.084 DE 27/05/2022

- Objeto da norma: O Decreto 11.084/2022 dispõe sobre a missão


logística do Ministério da Justiça e Segurança Pública em
Washington (EUA).

- Extensão da revogação/alteração proposta: Ato inteiro.

- Fundamentação: A missão duplica esforços já empreendidos pela


embaixada e implica custos injustificados ao erário. Ademais,
a embaixada em Washington já conta com Adidância da Polícia
Federal nas suas dependências.

- Urgência: Imediata - Além de eliminar custos injustificados


ao erário, a extinção imediata da missão logística seria
revestida de simbolismo ao sinalizar a retomada de política
externa implementada pelo Ministério das Relações Exteriores,
sempre em coordenação com as demais pastas.

- Necessidade de edição de outro ato normativo: Não há.

5. PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº29 DE 25/04/2022

- Objeto da norma: A Portaria estabelece regras para acolhida


humanitária para nacionais haitianos.

- Extensão da revogação/alteração proposta: Ato inteiro, a


partir da edição de nova Portaria.

- Fundamentação: O término da vigência da Portaria em 31/12/2022


não impediria a continuidade do fluxo de haitianos para o
Brasil, que passaria a ocorrer de forma irregular. Além disso,

96 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


a maior parte da demanda de vistos não advém da portaria, mas
de pedidos de reunião familiar de pessoas que já estão no
Brasil. Na mesma linha, grande parte das ações judiciais que
solicitam isenção de visto ou prioridade no processamento versam
sobre situações de reunião familiar. Caso o atual governo não
prorrogue os efeitos da Portaria ou estabeleça novo regime,
será necessária a edição urgente de nova Portaria instituindo
regra de transição para os pedidos de visto já em processamento
e restabelecendo o regime de vistos humanitários para haitianos,
com eventual atualização do fundamento utilizado (“situação de
grave instabilidade institucional”, conforme previsto na Lei de
Migrações) e estabelecimento de cota anual de emissão de vistos,
que seja compatível com a capacidade de processamento.

- Urgência: Imediata - A vigência da atual Portaria termina em


31/12/2022.

- Necessidade de edição de outro ato normativo: Sim - Faz-se


necessária a edição de nova Portaria que dê termo ao regime
anterior e estabeleça o novo regime de acolhida no país de
haitianos.

6. PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº24 DE 03/09/2021

- Objeto da norma: A Portaria estabelece regras para acolhida


humanitária para nacionais afegãos.

- Extensão da revogação/alteração proposta: Ato inteiro, a


partir da edição de nova Portaria.

- Fundamentação: O Brasil é o único país que continua a emitir


vistos humanitários em grande escala para afegãos. Em razão da
escassez de opções de acolhida em terceiros países, a demanda
pelo visto brasileiro tem sido bem superior ao que se havia
estimado. Apenas na Embaixada em Teerã há 7 mil agendamentos
pendentes. Além das dificuldades de processamento de pedidos de
visto, a acolhida impõe desafios à União e aos entes federados,
de modo que se torna necessária a edição de novo instrumento
mais adequado às realidades brasileira e do refugiado.

- Urgência: Imediata - A demanda de vistos torna a manutenção


do atual regime insustentável.

- Necessidade de edição de outro ato normativo: Sim - Faz-se


necessária a edição de nova Portaria que dê termo ao regime
anterior e estabeleça as novas regras de entrada no país de
refugiados afegãos.

7. DECRETO Nº9.731 DE 16/03/2019

- Objeto da norma: O Decreto 9.731/2019 dispensa visto de visita

97 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


para os nacionais da Austrália, do Canadá, dos EUA e do Japão.

- Extensão da revogação/alteração proposta: Ato inteiro.

- Fundamentação: A norma vigente vai de encontro ao princípio


da reciprocidade. Ademais, não há dados que indiquem qualquer
tipo de ganho com o atual regime de isenção. Ao contrário, o
decreto implica perda significativa de recursos de renda
consular.

- Urgência: 100 dias - a revogação da medida demandará adaptação


das repartições consulares atingidas.

- Necessidade de edição de outro ato normativo: Não há.

9. Sugestão de Estrutura
Organizacional do
Ministério
ESTRUTURA

Sumário
I - Análise das competências do Ministério das Relações
Exteriores
II - Análise da estrutura organizacional das áreas do
Ministério das Relações Exteriores e de suas competências
1. Análise da estrutura atual do Ministério das Relações
Exteriores
2. Sugestão de organograma
3. Sugestão de competências para as áreas da estrutura
organizacional do Ministério das Relações Exteriores

I - Análise das competências do Ministério das Relações


Exteriores

Antes de avaliar as competências das diferentes áreas da


estrutura organizacional do Ministério das Relações Exteriores,
cabe analisar as competências gerais atribuídas à pasta, como
um todo, em face de outros ministérios, à luz da Lei n ֯
13.844/2019.

Ao longo dos últimos governos, tais competências variaram em


alguma medida, mas um conjunto de funções permaneceu inalterado
nos últimos 20 anos. São elas: i) a condução da política
internacional; ii) relações diplomáticas e serviços consulares;

98 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


iii) participação nas negociações comerciais, econômicas,
técnicas e culturais com governos e entidades estrangeiras; iv)
programas de cooperação internacional; v) apoio a delegações,
comitivas e representações brasileiras em agências e organismos
internacionais e multilaterais (ver Anexo).

Não obstante, a Lei n° 13.844/2019 acrescentou novas


competências ao leque de responsabilidades do Itamaraty, a saber
a “assistência direta e imediata ao Presidente da República nas
relações com Estados estrangeiros e com organizações
internacionais”, “a participação em negociações financeiras”
(em complementação à participação em negociações comerciais,
econômicas, técnicas e culturais com governos e entidades
estrangeiras), o “apoio ao Gabinete de Segurança Institucional
da Presidência da República no planejamento e coordenação de
deslocamentos presidenciais no exterior” e a “coordenação das
atividades desenvolvidas pelas assessorias internacionais dos
órgãos e das entidades da administração pública federal”.

Paralelamente às novas competências atribuídas ao MRE, há que


se registrar que tanto a Lei n° 13.844/2019 como os diferentes
Decretos de Estrutura Regimental dos demais Ministérios
acabaram por consignar a outros órgãos da Administração Federal
Direta atribuições na esfera internacional dentro de suas
respectivas temáticas. A tendência é natural na medida em que
a burocracia nacional se profissionaliza, bem como na medida em
que cresce o engajamento internacional do Brasil.

Esse cenário demanda, no entanto, estreita coordenação desses


órgãos com o MRE a bem da coerência da execução da Política
Externa Brasileira. A natureza cada vez mais transversal dos
temas atuais e a necessidade de síntese entre os interesses das
diferentes pastas e grupos de interesse da sociedade brasileira
reforça a vocação do Ministério das Relações Exteriores como
porta-voz do chefe do Executivo na condução da política externa
nacional. A consagração do papel do MRE na “coordenação das
atividades desenvolvidas pelas assessorias internacionais dos
órgãos e das entidades da administração pública federal” pela
Lei n° 13.844/2019 é bem-vinda nesse sentido.

Para além de preservar a coordenação, pelo Itamaraty, nas


negociações internacionais nos mais diversos temas bilaterais,
regionais e multilaterais, cumpre reforçar o papel do Itamaraty
na análise de atos negociados por outras pastas, ainda que esses
não requeiram aprovação congressual, como costuma ocorrer no
caso de Memorandos de Entendimentos e Acordos de Cooperação
Interinstitucionais. Tal papel, fundamental para conferir
coerência à atuação externa do país, poderia ser consolidado na
próxima edição da Lei que estabelecerá a organização básica dos
órgãos da Presidência da República e dos Ministérios do novo

99 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


governo. Cabe ponderar, ainda, eventual referência legal ao
papel do Itamaraty em temas como a política nacional de
imigração e o apoio ao funcionamento da CAMEX.12

Proposta de competências do Ministério das Relações Exteriores

Propõe-se que a futura lei consolide as seguintes áreas de


competência do Ministério das Relações Exteriores:

- assistência direta e imediata ao Presidente da República


nas relações com Estados estrangeiros e com organizações
internacionais;

- política internacional;

- relações diplomáticas e serviços consulares;

- coordenação da participação do governo brasileiro em


negociações comerciais, econômicas, financeiras, técnicas e
culturais com Estados estrangeiros e com organizações
internacionais, em articulação com os demais órgãos
competentes;

- coordenação, em articulação com os demais órgãos


competentes, da defesa do Estado brasileiro em litígios e
contenciosos internacionais e representação do Estado
brasileiro em cortes internacionais e órgãos correlatos;

- programas de cooperação internacional;

- apoio a delegações, a comitivas e a representações


brasileiras em agências e organismos internacionais e
multilaterais;

12 Criada em 1995, a Camex estava originalmente vinculada ao Conselho de Governo da Presidência


da República, porém ainda sem poderes deliberativos ou operacionais. Possuía um conselho de ministros
composto pelos principais ministérios que tratavam de temas afins ao comércio exterior e era presidida pelo
chefe da Casa Civil. Em 1998, com a criação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a
Câmara passou a integrar sua estrutura. O Decreto nº 8.807, de 12 de julho de 2016, mudou um aspecto
importante na institucionalidade da Camex, que passou então a ser presidida pelo Presidente da República,
enquanto a Secretaria Executiva passou ao Ministério das Relações Exteriores (MRE). Em 2017 a Camex foi
transferida novamente do MRE para o MDIC, que passou a indicar o secretário-executivo da Câmara. Hoje, a
Camex faz parte da estrutura administrativa do Ministério da Economia (ME) e dispõe de um conjunto de
colegiados e órgãos, que juntos são responsáveis por coordenar discussões e deliberações em torno dos
principais pilares da política de comércio exterior brasileira. Já a Secretaria-Executiva da Camex (SE-Camex) é o
órgão responsável por coordenar e apoiar os colegiados da Câmara e compõe a estrutura organizacional da
Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do MECON.

100 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


- planejamento e coordenação de deslocamentos presidenciais
no exterior, com o apoio do Gabinete de Segurança Institucional
da Presidência da República;

- coordenação das atividades desenvolvidas pelas


assessorias internacionais dos órgãos e das entidades da
administração pública federal, inclusive a negociação de
tratados, convenções, memorandos de entendimento e demais atos
internacionais;

- promoção do comércio exterior, de investimentos e da


competitividade internacional do País, em coordenação com as
políticas governamentais de comércio exterior, incluídos o
apoio à execução dos trabalhos da Câmara de Comércio Exterior
(CAMEX), a supervisão do Serviço Social Autônomo Agência de
Promoção de Exportações do Brasil (Apex-Brasil) e a presidência
do Conselho Deliberativo da Apex-Brasil;

- apoio à formulação e execução da Política Nacional de


Migrações, Refúgio e Apatridia.

II - Análise da estrutura organizacional das áreas do


Ministério das Relações Exteriores e de suas competências

1. Análise da estrutura atual do Ministério das Relações


Exteriores

A estrutura básica atual do Ministério das Relações Exteriores,


tal como estabelecida pela Lei n֯ 13.844/2019, conta com os
seguintes órgãos:

- Secretaria-Geral das Relações Exteriores, com até


sete Secretarias;
- Instituto Rio Branco;
- Secretaria de Controle Interno;
- Conselho de Política Externa;
- Missões diplomáticas permanentes;
- Repartições consulares;
- Unidades específicas no exterior.

Nos governos do presidente Lula, a estrutura básica do


Ministério das Relações Exteriores foi alterada, por duas vezes,
para fazer frente às demandas resultantes da maior projeção
internacional alcançada pelo país. O número de secretarias
elevou-se de cinco para sete, em 2006, e de sete para nove, em
2010. Esse número foi preservado por quase uma década, ao longo
das gestões Dilma e Temer. Em 2019, contudo, o número de
secretarias regrediu ao patamar de 2006, caindo para sete. Além
disso, houve redução do “status” do Instituto Rio Branco na

101 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


estrutura do MRE, uma vez que o cargo de Diretor-Geral do IRBr
foi rebaixado de DAS-6 para DAS-5.

Base Le L L Le Le L
legal i ei ei i i ei
13.844/ 13.502 13.341 10.683/ 10.683/ 10.683
20 / / 20 20 /
19 2 2 03, 03, 2
(vigent 017 016 alterad alterad 003
e) ( (Gestã a pela a pela (Gestã
Gestão o Lei Lei o Lula)
Temer) Temer) 12.280/ 11.314/
20 20
10 06
(Gestõe (Gestão
s Lula Lula)
e
Dilma)
Núme 7 9 9 9 7 5
ro de
Secretari
as

Com a eliminação dessas Secretarias, algumas áreas perderam


proeminência na estrutura da pasta, entre as quais se assinalam
clima e meio ambiente, integração regional e comunidades
brasileiras no exterior. Trata-se de temas que, por terem
adquirido especial relevância nos últimos anos, foram elencados
como prioritários nas Diretrizes para o Programa de Reconstrução
e Transformação do Brasil da candidatura Lula-Alckmin (ver os
parágrafos 10, 101 e 102) e mereceriam voltar a figurar com
maior destaque no desenho administrativo do ministério.

Por outro lado, cabe notar que algumas alterações promovidas


nos últimos anos permitiram ao Itamaraty aprimorar sua atuação
em algumas frentes. É o caso, por exemplo, da área de promoção
comercial, que se beneficiou da vinculação da Apex-Brasil à
estrutura do ministério. MRE e ApexBrasil apresentam
complementaridade única. A Apex tem forte conexão com o setor
privado brasileiro e relevante capacidade de operação e de
produção de inteligência comercial (a agência conta com cerca
de 400 funcionários). O MRE e sua ramificada rede de postos no
exterior oferecem proximidade com os mercados-alvo e capacidade
de interlocução com agentes relevantes desses mercados para

102 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


identificar oportunidades e respaldar atividades de promoção no
exterior de produtos e serviços brasileiros dos mais variados
setores.

No que diz respeito às unidades de nível inferior ao de


secretaria, cabe ressaltar que o número de cargos em nível de
diretor (departamentos e outros órgãos similares) manteve-se
relativamente estável, mas também sofreu ligeira redução ao
longo do tempo, caindo de 39, em 2015, para 36, em 2022:

Base Atua Perío Perí Perío


legal l - 2022 do 2019- odo 2016- do 2010-
Decr 2021 2018 2015
eto Decre Decr Decre
11.024/20 to eto to
22 9.683/2019 8.81 7.304/2010
, 7/2016 (alterado
(alterado (alterado pelo
pelos pelos Decreto
Decretos Decretos 7.557/2011
10.021/201 8.823/16 )
9 e e
10.598/202 9.110/201
1) 7)

Número 36 35 38 39
de cargos em
nível de
diretor

2. Sugestão de Organograma

O organograma vigente foi introduzido em 2022, após reforma


realizada pela gestão do chanceler Carlos França. As alterações
conferiram à pasta maior racionalidade em comparação com o
primeiro organograma adotado pelo governo Bolsonaro, em 2019,
por separar temas multilaterais tratados no âmbito das Nações
Unidas de assuntos consulares associados à assistência de
brasileiros no exterior. No organograma de 2019, esses dois
conjuntos de competências – que não guardam afinidade
substantiva entre si, mas geram, ambos, enorme demanda de
trabalho –, haviam sido fundidos em uma única Secretaria, o que
revelava a menor importância relativa atribuída, pela gestão do
chanceler Ernesto Araújo, à atuação do Brasil em foros
multilaterais e ao apoio a comunidades brasileiras no exterior.

Outras mudanças que implicaram ganho de racionalidade, nos


últimos anos, além do deslocamento da Apex para a pasta (já
mencionado acima), foram a fusão de ações de promoção comercial

103 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


com temas econômicos em geral (sob a mesma secretaria) e a
separação de temas multilaterais e temas bilaterais afetos à
Europa e à América do Norte (os quais, até 2018, eram tratados
em uma mesma secretaria). A reforma de 2022, contudo, não
restaurou as duas secretarias eliminadas em 2019 e, portanto,
manteve estrutura que não atribui relevância adequada a assuntos
que gozavam de atenção prioritária em gestões anteriores, nos
organogramas relativos aos períodos de 2016-2018 e de 2010-
2015. Entre as áreas que perderam visibilidade, destacam-se:
América Latina e Caribe e integração regional; África; clima,
energia e meio ambiente; e comunidades brasileiras no exterior.

Organograma vigente (apenas Secretarias):

Gabinete

Secretaria-
Geral

Secretaria das Américas

Secretaria de Oriente Médio, Europa e África

Secretaria de Ásia, Pacífico e Rússia

Secretaria de Comércio Exterior e Assuntos


Econômicos

Secretaria de Assuntos Multilaterais Políticos

Secretaria de Assuntos Consulares, Cooperação


e Cultura

Secretaria de Gestão Administrativa

Organograma relativo ao período 2019-2021 (apenas Secretarias):

104 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Gabinete

Secretaria-
Geral

Secretaria de Negociações Bilaterais e Regionais nas


Américas

Secretaria de Negociações Bilaterais no Oriente Médio,


Europa e África

Secretaria de Negociações Bilaterais na Ásia, Pacífico e


Rússia

Secretaria de Comércio Exterior e Assuntos Econômicos

Secretaria de Assuntos de Soberania Nacional e


Cidadania

Secretaria de Comunicação e Cultura

Secretaria de Gestão Administrativa

Organograma relativo ao período 2016-2018 (apenas Secretarias):

Gabinete

Secretaria-
Geral

Subsecretaria-Geral Política I (Multilateral, Europa,


EUA e Canadá)

Subsecretaria-Geral Política II (Ásia)

Subsecretaria-Geral Política III (África e Oriente


Médio)

Subsecretaria-Geral de América do Sul, Central e


Caribe

Subsecretaria-Geral de Assuntos Econômicos e


Financeiros

Subsecretaria-Geral do Meio Ambiente, Energia,


Ciência e Tecnologia

Subsecretaria-Geral das Comunidades Brasileiras no


Exterior

Subsecretaria-Geral de Cooperação, Cultura e


Promoção Comercial

Subsecretaria-Geral do Serviço Exterior

105 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


À luz dos organogramas acima, sugere-se que a estrutura da
pasta seja ajustada com vistas a reorientar a atuação do
Itamaraty às prioridades do novo governo estabelecidas nas
diretrizes. Entre os ajustes, propõe-se a criação de três novas
Secretarias, que se somariam às sete hoje previstas, de modo
que o desenho da pasta se aproxime daquele existente em 2010-
2015 e respalde a retomada do protagonismo internacional do
país em frentes de atuação que voltarão a ser estratégicas.

As dez Secretarias seriam organizadas em torno dos


seguintes grandes temas:
1) Relacionamento com América Latina e Caribe e
integração regional
2) Relacionamento com Europa e América do Norte, exceto
México
3) Relacionamento com África e Oriente Médio
4) Relacionamento com Ásia e Pacífico
5) Assuntos multilaterais políticos
6) Promoção comercial e assuntos econômicos e
financeiros
7) Clima, energia e meio ambiente
8) Ciência, tecnologia e inovação, cultura e cooperação
9) Comunidades brasileiras no exterior e assuntos
consulares e jurídicos
10) Gestão administrativa
Essa proposta implicaria a redistribuição dos
Departamentos atualmente existentes entre as novas Secretarias.
Estima-se que seria necessária, ademais, a criação de um
departamento adicional (ou seja, de um cargo de nível de
diretor), para que seja possível dedicar unidades separadas às
áreas de clima e de meio ambiente em geral, dividindo melhor a
carga de trabalho. O organograma completo, até o nível de
diretor, seria o seguinte:

106 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


107 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR
108 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR
No nível de divisão/coordenação-geral, houve inovações
pertinentes nos últimos anos, como a criação de divisões
dedicadas a áreas como temas digitais, defesa e segurança
cibernética e assuntos humanitários. Além de manter essas novas
unidades, considera-se necessária a criação de unidades
adicionais, com vistas a suprir lacunas ou fortalecer a atuação
do país em algumas áreas. Entre elas, destacam-se:

● Candidaturas: a responsabilidade pelo lançamento e


pela campanha em prol de candidaturas brasileiras a órgãos
internacionais encontra-se, hoje, dispersa por várias
unidades, o que cria graves problemas de coordenação.
● UNESCO: a divisão dedicada à UNESCO foi extinta e
hoje o tema é acompanhado de forma dispersa no Ministério.
● Segurança Alimentar: não existe mais, na estrutura do
Ministério, unidade dedicada a acompanhar as chamadas
agências de Roma (FAO, PMA e FIDA), com o que temas afetos
à segurança alimentar (que ganharam relevância no contexto
da crise alimentar global) restaram sob a alçada de divisão
que já se encontra sobrecarregada por outras demandas.
● Desenvolvimento Sustentável: o acompanhamento da
implementação da Agenda 2030 e dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável é realizado, hoje, por divisão
que se ocupa de diversos outros temas da área ambiental.
● Assuntos Parlamentares e Federativos: atualmente
ambos os temas são tratados no âmbito da AFEPA. No entanto,
com o adensamento das agendas de política externa nas
esferas parlamentar e federativa nos últimos anos e tendo
em conta a diferença de natureza entre eles, sugere-se
considerar a criação de unidades independentes para cada
um desses dois conjuntos de assuntos na próxima gestão.
● Participação Social - Não existe atualmente na
estrutura do MRE unidade que se ocupe de coordenar a
relação das diferentes áreas do Ministério com
organizações da sociedade civil brasileira e internacional
nos mais diferentes temas em que essas organizações atuam.
A criação de estrutura com essa finalidade estaria também
em consonância com orientação geral do novo governo de
buscar institucionalizar mecanismos de participação social
para a construção de políticas públicas.
● Contenciosos de Direitos Humanos: a atual estrutura
do MRE está adequada para tratar o aumento exponencial de
casos envolvendo o Brasil na Corte e na Comissão
Interamericana de Direitos Humanos. Há, atualmente, mais
de duzentos casos relativos ao Brasil em tramitação perante
a Comissão Interamericana, e nove casos perante a Corte
Interamericana. A atual estrutura não se mostra adequada
para que o MRE faça frente às crescentes demandas no âmbito

109 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


do SIDH e exerça seu papel de coordenação, elaboração e
revisão de respostas do estado brasileiro, bem como de
representação do estado em audiências perante cortes
internacionais.

Além disso, a atual gestão criou uma coordenação-geral voltada


à diplomacia da saúde, que poderia ter suas competências
expandidas para contemplar todos os temas afetos à saúde global,
incluindo a negociação do tratado sobre pandemias.

No que diz respeito às as áreas da estrutura organizacional da


pasta, hoje disciplinadas no Decreto n° 11.024/2022, propõem-
se os seguintes ajustes:
● retomada da subordinação do Instituto Rio Branco à
Secretaria-Geral (e não mais ao Gabinete), tendo em vista
as competências da SG para a organização interna do
Ministério, bem como as estruturas regimentais do MRE nos
governos anteriores;
● vinculação da Inspetoria e da Ouvidoria do Serviço
Exterior diretamente à Secretaria-Geral (e não mais à
Secretaria de Gestão Administrativa), já que a unidade
trata de temas transversais que dizem respeito a todas as
Secretarias e sua chefia integra, como membro suplente, a
Comissão Mista de Reavaliação de Informações Sigilosas
(cujo membro titular, por lei, é o Ministro de Estado);
● ampliação do número de Secretarias, de sete para dez,
com consequente remanejamento de Departamentos.

SÍNTESE DAS PROPOSTAS DE ALTERAÇÃO:


No que diz respeito à lei 13.844/2019:
● ajustes nas competências atribuídas ao MRE (ver
proposta na Seção I e Anexo I);
● ampliação do número de secretarias na estrutura
básica do MRE, de sete para dez.
No que diz respeito ao decreto 11.024/2022:
● retomada da subordinação do Instituto Rio Branco à
Secretaria-Geral;
● vinculação da Inspetoria e da Ouvidoria do Serviço
Exterior diretamente à Secretaria-Geral;
● acréscimo de três Secretarias;
● acréscimo de um Departamento;;
● possivelmente, acréscimo de três a cinco
Divisões/Coordenações-Gerais;
● ajustes nas competências de Secretarias e
Departamentos (ver proposta na Seção II, número 3).

110 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Anexos
ANEXO I - LISTA DE ATAS DE REUNIÃO DO GRUPO TÉCNICO DE
RELAÇÕES EXTERIORES

1ª Reunião do GT
2ª Reunião do GT
3ª Reunião do GT
4ª Reunião do GT
5ª Reunião do GT
Reunião do GT com Sociedade Civil
Reunião com GT de Ciência, Tecnologia e Inovação
Reunião com GT de Comunicações e de Comunicação Social
Reunião com GTs de Direitos Humanos, Mulheres, Igualdade
Racial e de Povos Originários
Reunião com GTs de Economia, Planejamento, Industria,
Comércio e Serviços, Agricultura, e Desenvolvimento Agrário
Reunião com Conectas Direitos Humanos, Comissão Arns e
Coalizão Negra Por Direitos
Reunião com Conselho Empresarial Brasil China
Reunião com Rede Brasileira Pela Integração dos Povos
(REBRIP)
Reunião com Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB)
Reunião com Associação dos Familiares de Servidores do
Itamaraty (AFSI)
Reunião com Associação Nacional dos Oficiais de
Chancelaria do Serviço Exterior Brasileiro (ASOF)
Reunião com Programa Renascença
Reunião com Servidores Ciclistas
Reunião com Sinditamaraty
Reunião com Organização Internacional para as Migrações
(OIM)

111 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


ANEXO II - CONTRIBUIÇÕES ENVIADAS AO GRUPO TÉCNICO

A - Contribuições de Integrantes do Grupo Técnico de


Relações Exteriores
Adriana Abdenur, Alessandra Nilo e Fatima Mello – Memo
Participação Social
Adriana Abdenur – Reforma da ONU / Paz e segurança
Fátima Mello – Contribuições sobre participação social
Adriana Abdenur – Contribuições sobre a biodiversidade
como agenda estratégica para a política externa brasileira;
Adriana Abdenur - Participação da sociedade civil, clima
e meio ambiente
Alessandra Nilo – A participação da sociedade civil na
Agenda 2030 da ONU e
a política externa brasileira: um exercício de democracia nas
relações internacionais
Alessandra Nilo - VI Relatório Luz da Sociedade Civil
Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável Brasil
Cristovam Buarque – Artigo “Doutrina Lula”
Cristovam Buarque – Artigo “Um Estadista para o Mundo”
Pedro Barros – Texto para discussão: “Brasil-Venezuela:
Evolução das relações bilaterais e implicações da crise
venezuelana para a inserção regional brasileira (1999-2021)”
Silvio Albuquerque – Contribuições sobre direitos
humanos; promoção da diversidade e inclusão dos
afrodescendentes na carreira diplomática; Combate à
discriminação contra pessoas com base na orientação sexual
ou identidade de gênero; Política externa para a África

B - Contribuições Individuais

Emiko Aparecida de As Políticas de Ações


Castro Matsuoka e Leonardo Afirmativas no Concurso de
Passinato e Silva Admissão à Carreira de
Diplomata: experiências e
desafios

Eugênia Barthelmess Integração Regional

112 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Gustavo Westmann (PS) Contribuição para agenda
de transição em PEB

Henrique Rabello de Direitos LGBTI+ e gênero


Carvalho (Pesquisador e
doutorando em ciência
política do IESP/UERJ)

Karin Costa Vazquez Os ODS como pontes para a


reconstrução e transformação
do Brasil

Brasil, China e o mundo em


transformação

Manuela Carneiro da Povos Tradicionais e


Cunha biodiversidade

Marcela Sena Braga, Policiais Civis nas


Cristiane Pinto Cutrim e missões internacionais de paz
Helena Ferraz Monteiro

Michelle Morais de Sá e South–South cooperation


Silva (PHD) resilience in Brazil:
presidential leadership,
institutions and
bureaucracies

Paulo Gustavo Iansen de Reestruturação das áreas


Sant`Ana (Chefe da DIM/MRE - de migração e refúgio do
MSC) Itamaraty

Vanessa Dolce de Faria e Uma política externa


Viviane Rios Balbino feminista: desafios e
possibilidades

Viviane Rios Balbino Cessão de servidores para


ONU

113 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


C - Contribuições de ONGs e outros coletivos da sociedade
civil e da academia

ABGLT - Associação Brasileira Direitos Humanos


de Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis, Transexuais e
Intersexos

Animal Equaliy Brasil Direitos dos animais

Associação das Vítimas e de Covid-19 – Reparação e


Familiares de Vítimas da Responsabilização
Covid-19 - AVICO Brasil

Associação Nacional dos Campo de atuação do


Profissionais de Relações Internacionalista
Internacionais (ANAPRI)

ASUL - centro de estudos Cooperação Técnica


e articulação da cooperação
Sul-Sul

Articulação contra o Saída do Consenso de Genebra


Ultraconservadorismo

Articulação pela Atuação internacional dos


Paradiplomacia governos locais

APIB - Articulação dos Povo palestino e o


Povos Indígenas do Brasil, apartheid israelense
Articulação
Internacional, Movimento de
Favelas RJ e outras
organizações.

Programa Renascença Construção coletiva de


política externa humanista,
democrática e laica, baseada
na Constituição Federal

AFIPEA – Associação dos Subsídios para transição


Funcionários do IPEA (apresentação + 3 anexos)

Ultraconservadorismo

114 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Conectas Direitos Humanos Pacto de Letícia e
e outras organizações Iniciativa Amazônica
signatárias
Sistema Internacional de
Direitos Humanos - Grupo de
trabalho “Direitos Humanos” no
Comitê de Transição do Governo
Eleito

Retirada do Brasil da
Declaração de Consenso de
Genebra.

Migrações

Defensoria Pública da Contribuições gerais (5


União - DPU anexos)

FIOCRUZ Desafios Agenda 2030 – pós


COVID

GT Biodiversidade da Biodiversidade
Articulação Nacional de
Agroecologia – ANA

Grupo de Trabalho da Agenda 2030


Sociedade Civil para a Agenda
2030 / Alessandra Nilo

Grupo de Estudos e Pesquisa em Migração


Direito Internacional –
GEPDI/CNPq/UFU e Assessoria
Jurídica para Migrantes em
Situação Irregular ou de Risco
– AJESIR/UFU

Human Rights Watch Política externa em direitos


humanos

Instituto Igarapé Cooperação Internacional,


Clima e Segurança

115 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Caio Galvão de França com Contribuições sobre
as contribuições de Adoniram política internacional para o
Sanchez, Francesco Pierri, Grupo de Trabalho
Desenvolvimento Agrário -
Guilherme Brady, Lautaro
Viscay, Pedro Boareto, Thomas Transição Governo Lula
Patriota e Vicente Marques.

Movimento Nacional dos Carta sobre o


ODS restabelecimento da Comissão
ODS

Movimento Brasileiros Comunidades Brasileiras


Emigrados no Exterior (5 docs)

Movimento de Reintegração Hanseníase (Carta e


das Pessoas Atingidas pela anexos 1 a 5)
Hanseníase

Núcleo do PT em Roma Comunidades Brasileiras


no Exterior

Observa China 观中国 e Relação Brasil China

Shūmiàn 书面

Comunidade árabe- Palestina Brasil


palestina no Brasil e outros

Instituto Vladmir Herzog Memória e Verdade

Instituto Cidades Agenda 2030 / ODS


Sustentáveis

Instituto de Educação em Direitos


Desenvolvimento e Direitos Humanos
Humanos

Redes Processo de Cooperação Alemanha e


Articulação e Diálogo (PAD) e Brasil
Kooperation Brasilien (KoBra)

116 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


Internacional de Serviços Pandemia de COVID
Públicos (PSI)

Rede Brasileira Pela 10 Motivos para dizer não


Integração dos Povos (REBRIP) ao Acordo MERCOSUL-UE

Rede ODS Brasil ODS

D - Contribuições de Grupos de Interesse

Sinditamaraty Levantamento de vagas e de


fluxos de promoção de oficiais
de chancelaria

Associação de Familiares Carta


dos Servidores do Itamaraty -
AFSI

Associação Nacional dos Cartas


Oficiais de Chancelaria do
Serviço Exterior – ASOF

Grupo de Diplomatas Negras Contribuições de


e Negros Diplomatas Negras e Negros à
Política Externa Brasileira

Carta do Grupo de Mulheres


Diplomatas à Equipe de
Grupo de Mulheres Transição
Diplomatas

Sugestões Grupo de
Mulheres Diplomatas Anexo 1

Sugestões Grupo de
Mulheres Diplomatas Anexo 2

Grupo de servidores com Cópia da Portaria que


deficiência e responsáveis por criou o Comitê

117 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


dependentes com deficiência Carta do Comitê
(Comitê para a Promoção dos
Direitos das Pessoas com
Deficiência)

Grupo de ciclistas do Carta


Itamaraty

Mentoria Mônica de Menezes Informação sobre a


Campos Mentoria Mônica Menezes

E - Contribuições de Organismos Internacionais

Agência da ONU para Refugiados


Refugiados (ACNUR)

Organização Internacional Migrações


para Migrações (OIM)

Fundo das Nações Unidas para Infância


a Infância (UNICEF)

118 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


ANEXO III - COLEGIADOS, INTERNOS OU COM PARTICIPAÇÃO
INTERMINISTERIAL, INTERINSTITUCIONAL OU SOCIAL, QUE FORAM
DESCONTINUADOS, QUE FORAM FORMALMENTE EXTINTOS OU QUE TIVERAM
ALTERAÇÃO DA COMPOSIÇÃO E DA FINALIDADE

COLEGIADOS ADMINISTRADOS PELO MRE


Extinto:

● Conselho de Representantes dos Brasileiros no Exterior


(CRBE) (Decreto nº 7.987, de 17 de abril de 2013) –
revogado pelo Decreto nº 10.810, de 27 de setembro de 2021.

Extintos, de coordenação interna:

● Comitê Gestor de Gênero e Raça (Portaria MRE nº 491, de 12


de setembro de 2014, reestruturado pela Portaria MRE nº
554, de 21 de setembro de 2015) – revogado pela Portaria
MRE nº 336, de 29 de setembro de 2020, em decorrência do
Decreto 9.759, de 2019 (que extingue conselhos).
● Comitê para a Promoção dos Direitos das Pessoas com
Deficiência (Portaria MRE nº 363, de 25 de julho de 2014)
– revogado pela MRE nº 336, de 29 de setembro de 2020, em
decorrência do Decreto 9.759, de 2019 (que extingue
conselhos).

Extintos, de coordenação interministerial:

● Comissão Nacional para Difusão e Implementação do Direito


Internacional Humanitário no Brasil - Extinta, em
decorrência do Decreto 9.759, de 11 de abril de 2019 -
presidido pelo MRE.

Ativos, de coordenação interministerial:

● Conselho Deliberativo da APEX-BRASIL (CDA) (Decreto nº


8788, de 21 de junho de 2016) - presidido pelo MRE.
● Conselho Fiscal da APEX-BRASIL (CFA) (Decreto nº 8788, de
21 de junho de 2016.)

Ativos, de coordenação interna:

● Comissão de Prevenção e Enfrentamento do Assédio Moral,


Sexual e da Discriminação no Ambiente de Trabalho (CPADIS)
(Portaria nº 921, de 10 de novembro de 2017) – revogado

119 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


pela Portaria nº 382, de 11 de abril de 2022. Reeditada a
Comissão por meio da Portaria nº 389, de 7 de abril de
2022.
● Conselho Editorial da FUNAG (Portaria FUNAG nº 66, de 9 de
fevereiro de 2022) – referida Portaria recriou o Conselho
Editorial, que foi extinto pela Portaria nº 118, de 6 de
dezembro de 2019.
● Comitê de Governança, Integridade, Riscos e Controles -
CGIRC (a Portaria de 27 de fevereiro de 2019 atualizou a
composição do comitê e incluiu a gestão da integridade
entre suas competências)
● Comissão Permanente de Avaliação de Documentos Sigilosos
- CPADS (Atualmente regulada pela Portaria nº 370, de 14
de dezembro de 2021)
● Equipe de Tratamento e Resposta a Incidentes em Redes
Computacionais - ETIR (atualmente regulada pela Portaria
DTIC de 24 de junho de 2022).

COLEGIADOS COM PARTICIPAÇÃO DO MRE


Extintos:

● Comissão Nacional para os Objetivos do Desenvolvimento


Sustentável (Decreto nº 8.892, de 27 de outubro de 2016)
– revogado pelo Decreto nº 10.179, de 2019.
● Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
(CONSEA) - extinto pela Medida Provisória nº 870, de 1º de
janeiro de 2019/Lei 13.844, de 18/6/2019.
● Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção
dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais (CNCD/LGBT) - Extinto pelo Decreto 9.759, de
11 de abril de 2019.
● Conselho da Autoridade Central Administrativa Federal
contra o Sequestro Internacional de Crianças (Decreto nº
3.951, de 04 de outubro de 2001) – Decreto nº 10.179, de
18/12/2019, revoga o art. 3º.
● Comissão Nacional de Biodiversidade (Decreto nº 5.312, de
15 de dezembro de 2004, Decreto nº 4.703, de 21 de maio de
2003) – revogado pelo Decreto nº 10.473, de 2020.
● Fundo Amazônia – BNDES (Decreto nº 6.527, de 1º de agosto
de 2008) – revogado pelo Decreto nº 10.223, de 2020.
● Comitê de Articulação Federativa (CAF) (Decreto nº 6.181,
de 3 de agosto de 2007) – revogado pelo Decreto nº 9.784,
de 2019.
● Comissão Nacional de População e Desenvolvimento (Decreto
nº 8.009, de 15 de maio de 2013) – revogado pelo Decreto
nº 10.087, de 2019.
● Comissão Nacional de Segurança Química (CONASQ) - Extinta
por força do decreto nº 10.179/2019.

120 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


● Comitê Executivo Interministerial para a Proteção da
Camada de Ozônio - Extinto pelo Decreto 10.223/2020, que
revogou o Decreto de 6 de março de 2003 (não numerado).
● Comitê Técnico de Implementação do Software Livre - Criado
por Decreto de 29 de outubro de 2003, foi revogado pelo
Decreto 8.638/2016 (governança digital) e novamente
revogado em 2020 (Decreto 10.332/2020 - governança
digital).
● Comissão de Coordenação da Política Econômica Exterior,
Grupo Interno de Coordenação da Execução da Política
Econômica Exterior e Secretariado Técnico de Análise e
Planejamento da Política Econômica Exterior (criado pelo
Decreto Nº 47.297, de 28 de novembro de 1959) – revogado
pelo Decreto 10.087, de 2019.
● Conselho de Transparência Pública e Combate à Corrupção
(Decreto nº 4.923, de 18 de dezembro de 2003) – alterado
pelo Decreto nº 9.468, de 2018, que passou a não incluir
o MRE no Colegiado.
● Conselho Nacional do Trabalho (Decreto nº 9.028, de 6 de
abril de 2017) – alterado pelo Decreto nº 9.944, de 2019,
que, por sua vez, foi revogado pelo Decreto nº 10.905, de
2021, que recriou o Colegiado, porém, sem conter o MRE na
composição.
● Comissão Intersetorial de Enfrentamento à Violência Sexual
contra Crianças e Adolescentes (Decreto de 11 de outubro
de 2007) – alterado pelo Decreto nº 10.482, de 2020, que
retirou o MRE do Colegiado. Esse Decreto, por sua vez, foi
revogado pelo Decreto nº 10.701, de 2021, que manteve o
MRE fora do Colegiado. Esse último Decreto foi revogado
pelo Decreto nº 11.074, de 2022, que manteve a configuração
sem o MRE.
● Conselho Nacional de Combate à Discriminação (Decreto nº
7.388, de 9 de dezembro de 2010) – alterado pelo Decreto
nº 9.883, de 2019, que retirou o MRE do Colegiado.
● Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
(Decreto nº 9.579, de 22 de novembro de 2018) – alterado
pelo Decreto nº 10.003, de 2019, que retirou o MRE do
Colegiado.
● Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (Decreto nº 5.109,
de 17 de junho de 2004) – alterado pelo Decreto nº 9.893,
de 2019, que retirou o MRE do Colegiado.
● Conselho Nacional de Política Cultural (Decreto nº 5.520,
de 24 de agosto de 2005, Decreto nº 8.611, de 21 de dezembro
de 2015) – alterado pelo Decreto nº 9.891, de 2019, que
retirou o MRE do Colegiado.

Ativos, com participação do MRE:

121 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


● Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) (Lei n°
12.986, de 2 de junho de 2014).
● Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima
Substituída pelo Comitê Interministerial sobre Mudança do
Clima e Crescimento Verde – CIMV, estabelecido pelo Decreto
10.845, de 25 de outubro de 2021.
● Comissão Técnica do Comitê Interministerial sobre a
Mudança do Clima e o Crescimento Verde - CT-CIMV (Resolução
CIMV nº 2, de 20 de abril de 2022 - Aprova o Regimento
Interno da Comissão Técnica do Comitê Interministerial
sobre a Mudança do Clima e o Crescimento Verde).
● Comissão Nacional da Organização do Tratado de Cooperação
Amazônica – extinta pelo decreto 9.759, de 11 de abril de
2019, recriada sob o guarda-chuva do Conselho Nacional da
Amazônia Legal (Decreto no. 10.450, de 10 de agosto de
2020).
● Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (Decreto nº
8.898, de 9 de novembro de 2016) – alterado pelo Decreto
nº 10.057, de 2019, que manteve o MRE no Colegiado.
● Conselho Nacional de Recursos Hídricos (Decreto nº 4.613,
de 11 de março de 2003) – alterado pelo Decreto nº 10.000,
de 2019, que manteve o MRE no Colegiado.
● Conselho Nacional da Amazônia Legal (Decreto Nº 10.239, de
11 de fevereiro de 2020).
● Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos contra
a Propriedade Intelectual (Decreto nº 5.244, de 14 de
outubro de 2004) – alterado pelo Decreto nº 9.875, de 27
de junho de 2019, que manteve o MRE no Colegiado.
● Conselho Nacional de Imigração (Decreto nº 840, de 22 de
junho de 1993) – alterado pelo Decreto nº 9.873, de 2019,
que manteve o MRE no Colegiado.
● Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Decreto nº
5.912, de 27 de setembro de 2006) – alterado pelo Decreto
nº 9.926, de 2019, que manteve o MRE no Colegiado.
● Comissão Nacional para Redução das Emissões de Gases de
Efeito Estufa Provenientes do Desmatamento e da Degradação
Florestal, Conservação dos Estoques de Carbono Florestal,
Manejo Sustentável de Florestas e Aumento de Estoques de
Carbono Florestal (Decreto nº 8.576, de 26 de novembro de
2015) – alterado pelo Decreto nº 10.144, de 2019, que
manteve o MRE no Colegiado.
● Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (Decreto nº 9.082, de
26 de junho de 2017).
● Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (Decreto
nº 8.154, de 16 de dezembro de 2013) – alterado pelo
Decreto nº 9.831, de 2019, que manteve o MRE no Colegiado.
● Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial - CNPIR
(Decreto nº 4.885, de 20 de novembro de 2003).

122 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


● Conselho Nacional dos Direitos da Mulher - CNDM (Lei nº
7.353, de 29 de agosto de 1985 e Decreto nº6.412, de 25 de
março de 2008).
● Conselho Nacional de Juventude (Decreto nº 9.024, de 5 de
abril de 2017) – alterado pelo Decreto nº 10.069, de 2019.
A versão original do Decreto não continha o MRE no
Colegiado. Com a edição do Decreto nº 10.069, de 2019, o
MRE foi incluído no Colegiado.
● Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência
(Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999) – não previa
a composição do Conselho. O Decreto nº 10.177, de 2019,
incluiu o MRE no Colegiado.
● Comitê Nacional para os Refugiados - CONARE (Lei nº 9.474,
de 22 de julho de 1997).
● Comissão Permanente para o Desenvolvimento e a Integração
da Faixa de Fronteira (CDIF) - Reinstituída pelo Decreto
nº 9.961, de 8 de agosto de 2019.
● Conselho para a Preparação e o Acompanhamento do Processo
de Acessão da República Federativa do Brasil à Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - Conselho
Brasil – OCDE, coordenado pela Casa Civil, estabelecido
pelo Decreto 9.920 de 18/07/2019.
● Comitê Gestor do Conselho Brasil-OCDE (Decreto 10.044, de
4 de outubro de 2019).
● Conselho Econômico Comercial da CAMEX (Decreto 10.044, de
4 de outubro de 2019).
● Grupo de Trabalho Interministerial do Ponto de Contato
Nacional para a Implementação das Diretrizes da OCDE para
Empresas Multinacionais (GTI-PCN) (Decreto nº
11.105/2022), coordenado pela Casa Civil.
● Seção Nacional do Grupo Mercado Comum (recriada pelo
Decreto nº 10.036/2019).
● Grupo de Trabalho Interministerial sobre Assistência
Humanitária Internacional - GTI-AHI (recriado pelo Decreto
nº 9.860/2019).
● Conselho Deliberativo da Política do Café (Decreto nº
4.623, de 21 de março de 2003) – alterado pelo Decreto nº
10.071, de 2019, que manteve o MRE no Colegiado.
● Comitê de Investimentos e Negócios de Impacto (Decreto nº
9.244, de 19 de dezembro de 2017) – alterado pelo Decreto
nº 9.977, de 2019, que manteve o MRE no Colegiado.
● Comitê Nacional de Investimentos (Decreto nº 9.855, de 27
de junho de 2019).
● Comitê Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas
(Decreto nº 7.901, de 4 de fevereiro de 2013) – Com a
edição do Decreto nº 9.833, de 2019, o MRE foi incluído no
Colegiado.

123 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


● Conselho Superior do Cinema (Decreto nº 4.858, de 13 de
outubro de 2003, Decreto nº 9.919, de 18 de julho de 2019)
– alterado pelo Decreto nº 10.553, de 2020, que manteve o
MRE no Colegiado.
● Comissão Nacional do Instituto Internacional da Língua
Portuguesa (Portaria Interministerial nº 12, de 15 de
agosto de 2013) – a Portaria nº 413, de 14 de outubro de
2022, indica que referida norma ainda estaria vigente.
● Seção Nacional do Grupo Mercado Comum (recriada pelo
Decreto nº 10.036/2019).
● Conselho de Governo (Lei nº 8.028, de 12 de abril de 1990).
● Conselho de Aviação Civil - CONAC (Decreto nº 3.564, de 17
de agosto de 2000).
● Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio (Lei
nº 11.105, de 24 de março de 2005).
● Conselho de Gestão do Patrimônio Genético - CGen (Lei nº
13.123, de 20 de maio de 2015 e Decreto nº 8.772, de 11 de
maio de 2016).
● Comitê Nacional de Zonas Úmidas - CNZU (Decreto nº 10.141,
de 28 de novembro de 2019).
● Comitê Federal de Assistência Emergencial - CFAE (Lei nº
13.684, de 21 de junho de 2018 e Decreto nº 10.917, de 29
de dezembro de 2021).
● CFAE - Subcomitê de recepção (Decreto nº 10.917, de 29 de
dezembro de 2021).
● CFAE - Subcomitê de interiorização (Decreto nº 10.917, de
29 de dezembro de 2021).
● Comitê de Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro
- CDPNB (Decreto nº 9.828, de 10 de junho de 2019).
● Comissão Interministerial de Controle de Exportação de
Bens Sensíveis - CIBES (Decreto nº 4.214, de 30 de abril
de 2002).
● Comissão Interministerial para a aplicação dos
dispositivos da Convenção Internacional sobre a Proibição
do Desenvolvimento, Produção, Estocagem e Uso das Armas
Químicas e sobre a Destruição das Armas Químicas existentes
no mundo - CIAD/CPAQ (Decreto nº 2.074, de 14 de novembro
de 1996).
● Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro -
SISPRON (Decreto nº623, de 4 de agosto de 1992).
● Grupo de Trabalho de acompanhamento da elaboração dos
Projetos Básico e Executivo de construção do Laboratório
Nacional de Máxima Contenção Biológica - NB4 (Resolução
GSI/PR Nº 17, de 29 de março de 2022).
● Grupo Técnico da Câmara de Relações Exteriores e Defesa
Nacional do Conselho de Governo - GT-SIC-BIO (Decreto nº
9.819, de 3 de junho de 2019, artigos 7 a 9).

124 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


● Conselho de Defesa Nacional - CDN (Lei nº 8.183, de 11 de
abril de 1991 e Decreto nº 893, de 12 de agosto de 1993).
● Conselho Deliberativo do Sistema de Proteção da Amazônia
- Consipam (Decreto nº 9.829, de 10 de junho de 2019).
● Comissão Coordenadora para os Assuntos da Organização
Marítima Internacional - CCA-IMO (Decreto nº 9.878, de 27
de junho de 2019).
● Comissão Interministerial para os Recursos do Mar - CIRM
(Decreto nº 74.557, de 12 de setembro de 1974 e Decreto nº
9.858, de 25 de junho de 2019).
● Subcomissão para o Programa Antártico Brasileiro
(PROANTAR), Subcomissão para o Plano de Levantamento da
Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC) e Subcomissão
para o Plano Setorial para os Recursos do Mar (Artigo 7 do
Decreto nº 9.858, de 25 de junho de 2019).
● Comitê Executivo para o Programa de Prospecção e Exploração
de Recursos Minerais da Área Internacional do Atlântico
Sul e Equatorial - PROAREA (Decreto nº 10.544, de 16 de
novembro de - Aprova o X Plano Setorial para os Recursos
do Mar).
● Comitê Executivo para o Programa de Avaliação da
Potencialidade Mineral da Plataforma Continental Jurídica
Brasileira - REMPLAC (Decreto nº 10.544, de 16 de novembro
de - Aprova o X Plano Setorial para os Recursos do Mar).
● Comitê Executivo Planejamento Espacial Marinho - PEM
(Decreto nº 10.544, de 16 de novembro de - Aprova o X Plano
Setorial para os Recursos do Mar).
● Comitê Executivo AQUIPESCA (Decreto nº 10.544, de 16 de
novembro de - Aprova o X Plano Setorial para os Recursos
do Mar).
● Grupo de Avaliação Ambiental - GAAm (Portaria MB nº 318,
de 27 de dezembro de 2006 - Aprova o Programa Antártico
Brasileiro, Anexo).
● Grupo Técnico sobre Atividades no Ártico (Portaria Nº
121/MB, de 1º de junho de 2022 - Recria o Grupo Técnico
sobre Atividades no Ártico).
● Grupo Técnico Prevenção e Combate à Pesca Ilegal, Não
Declarada e Não Regulamentada (Portaria Nº 127/MB. de 15
de junho de 2022 - Cria o Grupo Técnico "Prevenção e
Combate à Pesca Ilegal, Não Declarada e Não Regulamentada).
● Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro
- CDPEB (Decreto nº 9.839, de 14 de junho de 2019).
● Conselho Superior da AEB (Decreto nº 11.192, de 8 de
setembro de 2022, Secção IV).

125 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


● Controle de Atividades Financeiras - COAF (Lei nº 9.613,
de 3 de março de 1998 e Decreto nº 2.799, de 8 de outubro
de 1998).
● Comissão Nacional de Segurança Pública nos Portos,
Terminais e Vias Navegáveis - Conportos (Decreto nº 9.861,
de 25 de junho de 2019).
● Conselho Consultivo do Sistema Brasileiro de Inteligências
- Consisbin (Decreto nº 4.376, de 13 de setembro de 2002).
● Comitê Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas -
CONATRAP (Decreto nº 9.833, de 12 de junho de 2019).
● Comitê Executivo do Programa de Proteção Integrada de
Fronteiras - CEPPIF (Decreto nº 8.903, de 16 de novembro
de 2016).
● Comitê Nacional de Facilitação do Comércio - CONFAC
(Decreto nº 10.373, de 26 de maio de 2020).
● Conselho de Estratégia Comercial da CAMEX (Decreto 10.044,
de 4 de outubro de 2019).
● Comitê-Executivo de Gestão da CAMEX – GECEX (Decreto nº
10.044, de 4 de outubro de 2019)
● Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) (Decreto
3.520, de 21 de junho de 2019).
● Conselho Consultivo do Setor Privado (Decreto 10.044, de
4 de outubro de 2019).
● Comitê Interministerial para a Transformação Digital
(Decreto 9.804, de 23 de maio de 2019).
● Comissão de Financiamentos Externos (Decreto 9.075, de 6
de junho de 2017).
● Comitê de Avaliação e Renegociação de Créditos ao Exterior
(Decreto 10.040, de 3 de outubro de 2019).
● Comitê Gestor do SEM Barreiras (Decreto 10.098, de 6 de
novembro de 2019)
● Comitê de Financiamento e Garantia de Exportações (Decreto
9.798, de 22 de maio de 2019).
● Comissão de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal
(Portaria-PR 46, de 16 de abril de 2020).
● Câmara de Inovação (Decreto 10.534, de 28 de outubro de
2020).
● Comitê Gestor da Sala de Inovação (Decreto 9.869, de 27 de
junho de 2019).
● Grupo Executivo do Complexo Industrial da Saúde (Decreto
11.185, de 1 de setembro de 2020).
● Comitê de Crise COVID-19 (Frente Parlamentar Mista de
Comércio Internacional e Investimento - FrenComEx)
(Requerimento Câmara dos Deputados 801/2020).
● Conselho Nacional de Turismo (Decreto 6.705, de 19 de
dezembro de 2008).

126 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR


● Conselho Nacional de Classificação (Portaria de Pessoal
SE/ME n. 07 de junho de 2022).
● Grupo Interministerial de Propriedade Intelectual (Decreto
Nº 9.931, de 23 de julho de 2019).
● Comitê Nacional de Iniciativas de Apoio a Startups
(Portaria MCTI 1583, de 9 de abril de 2020).
● Conselho Consultivo FINEP (Decreto n. 1.808, de 7 de
fevereiro de 1996).
● Comitê Organizador do Programa Startout Brasil (Acordo de
Cooperação Técnica MRE-MRE-APEX-SEBRAE, 20/12/2007).
● Comissão Regular de Coordenação, Seguimento e Avaliação do
Contrato de Licença de Patente e de Transferência de
Informação Técnica e Fornecimento da Eritropoietina Humana
Recombinante (Portaria Interministerial MRE-MS-ANVISA-
FIOCRUZ Nº 1, de 10 de novembro de 2022).
● Comitê Gestor da Internet no Brasil (Decreto Nº 4.829, de
3 de setembro de 2003).
● Comitê Gestor da Infraestrutura de Chaves Públicas
Brasileira (Decreto nº 6.605, de 14 de outubro de 2008).
● Comitê de Governança da EBIA (Portaria MCTI nº 4.979, de
13 de julho de 2021 e Regimento Interno aprovado em 30 de
setembro de 2021).
● Grupo Assessor do Ombudsman de Investimentos Diretos
(Resolução CAMEX Nº 43, de 4 de maio de 2020).
● Grupo Técnico do CONINV (Resolução CONINV Nº 5, de 20 de
setembro de 2022 - Aprova o Regimento Interno do Comitê
Nacional de Investimentos).
● Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de
Dinheiro (ENCCLA).

ANEXO IV – PLANILHA DE CONTRATOS DO MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES


EXTERIORES

Planilha que identifica os contratos vigentes do MRE e medidas


a serem tomadas pode ser acessada pelo link:
https://docs.google.com/spreadsheets/d/1IIzijsJILQae6W7yHrw5yS
G06_A_oD8e/edit?usp=share_link&ouid=109135425886113120408&rtpo
f=true&sd=true

127 RELATÓRIO DIAGNÓSTICO PRELIMINAR

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