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Literatura Clássica
Latina
9º
Período
José Ernesto de Vargas
Thais Fernandes
Florianópolis - 2013
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Governo Federal
Presidência da República
Ministério de Educação
Secretaria de Ensino a Distância
Coordenação Nacional da Universidade Aberta do Brasil
Comissão Editorial
Tânia Regina Oliveira Ramos
Silvia Inês Coneglian Carrilho de Vasconcelos
Cristiane Lazzarotto Volcão
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Ficha Catalográfica
V297l Vargas, José Ernesto de
Literatura clássica latina: 9º período / José Ernesto de Vargas, Thais
Fernandes. - Florianópolis : UFSC/CCE/LLV, 2013.
144 p. : il., grafs, tabs.
Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-61482-62-6
Sumário
Unidade A............................................................................................. 9
Introdução..............................................................................................................11
1 História de Roma...........................................................................................13
1.1 A religião...............................................................................................................13
1.2 História Política...................................................................................................17
1.3 A Sociedade Romana.......................................................................................28
2 Cultura de Roma............................................................................................33
2.1 A Cultura que Não Morre(u)...........................................................................33
Unidade B............................................................................................49
Introdução..............................................................................................................51
3 Poesia................................................................................................................59
3.1 A Poesia Épica.....................................................................................................60
3.2 A Poesia Dramática...........................................................................................67
3.3 A Poesia Lírica......................................................................................................84
3.4 A Poesia Satírica...............................................................................................109
3.5 A Poesia Didática..............................................................................................118
4 Prosa......................................................................................................131
Apresentação
Carissimi discipuli,
P
or motivos de tempo e, em parte, de distância entre nós,
mas não necessariamente de espaço, uma vez que o cibe-
respaço é infinito, o conteúdo a ser focalizado nesta dis-
ciplina é a Literatura Latina, tomada aqui stricto sensu. Ou seja,
a literatura que mais interessa num curso de Letras, a ficcional, a
poesia e a prosa latina. Delimitando um pouco mais este vasto uni-
verso, o período enfocado será o de quatro séculos, de II a.C, mo-
mento ainda de formação da literatura latina, até II d.C, quando se
inicia a derrocada das artes e da própria cultura romana. Dentro
desse corpus encontraremos os principais autores e obras latinas,
aqueles que compõem a era clássica romana e que se tornaram mo-
delos para os escritores posteriores e para outras literaturas.
Thais Fernandes
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Unidade A
História e Cultura Romanas
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Introdução
Nesta unidade iremos relembrar os principais elementos da História de
Roma para um melhor aproveitamento dos conteúdos de literatura, tanto da
crítica quanto da ficcional, para que o aluno perceba a permanência e a im-
portância da cultura latina no mundo ocidental.
1 História de Roma
1.1 A religião
“A religião nunca deixou de ser o laço mais forte da cidade romana; com
esta identificou-se a tal ponto que foi uma forma de patriotismo. Os interes-
ses de uma eram os da outra. Tanto para o cidadão quanto para o Estado,
o temor dos deuses era o princípio da sabedoria e o ponto de partida para
toda a atividade política. O serviço dos deuses e o da República eram uma
só e mesma coisa. O espírito prático dos romanos, pouco preocupados
com coisas abstratas, conduziu-os a uma concepção apenas administrati-
va e formalista das relações do homem com a divindade. Era um contrato
que ligava as duas partes. Nada de fantasia nem de interpretação entregue
ao arbítrio individual, mas um ritual minucioso, obrigatório, verdadeiro ins-
trumento de terror, que assegurava pelo medo a docilidade popular”.
Mas esse processo de adoção de deuses estrangeiros, segundo Bran- Quirite era o nome dado
dão (1993), nunca foi uniforme: “o perfilhamento se realizou e se concre- aos antigos cidadãos de
Roma.
tizou entre os quirites em planos diversificados, em dosagem e velocidade
desiguais. Os aristocratas e plebeus nem sempre cultuaram os mesmos
deuses e estes tampouco recebiam tratamento análogo” (p.7-8).
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cada homem tinha seu gênio que olhava por ele, tomava parte em suas
alegrias e tristezas; do mesmo modo, cada lugar, cada Estado, tem seu
gênio, intimamente unido à própria existência. O gênio acaba por assi-
milar-se completamente à pessoa em certas expressões, como genium
curare ou indulgere genio, ‘embriagar-se’. Nos dias de festa faziam-se sa-
crifícios ao gênio.
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História de Roma Capítulo
Asclépio Esculápio
Crono Saturno
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Deméter Ceres
Eros Cupido
Géia Terra
Hebe Juventude
Hefesto Vulcano
Héstia Vesta
Leto Latona
Moira Fado
Posídon Netuno
Tânato Morte
Úrano Céu
1.2.1 A Monarquia
Esta foi a primeira experiência que Roma viveu como forma de fazer
política. Certamente você estudou esse conteúdo na escola, assim vamos
apenas relembrar as questões mais importantes. A monarquia foi vivencia-
da desde a fundação da cidade, em 753, mesmo que não comprovada his-
toricamente, até o ano de 509 a.C. É um período de que não se tem muito
conhecimento, nem os próprios romanos tinham, razão pela qual as lendas
falam mais alto. Uma delas muito famosa, a qual certamente você já ouviu Rômulo e Remo
alguma vez, a dos irmãos gêmeos Rômulo e Remo, que foram amamenta-
dos por uma loba. Outra, se você não conhece, o fará quando do estudo da
poesia épica romana, a Eneida, ou a epopéia de Eneias, o troiano.
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Literatura Clássica Latina
“Onde a História hesi- Tito Lívio, um dos principais historiadores romanos, também de-
ta, a lenda continua.” monstra clareza no que diz respeito ao que é lenda e história. Podemos
dizer que ele é um dos responsáveis pela tradição de iniciar a História
de Roma pela lenda da loba e dos gêmeos, comum até os nossos dias,
basta lembrar nossos livros didáticos. Entretanto, ele aponta, embora
não afirme categoricamente (e quem ousaria?), que a loba poderia não
ter sido quadrúpede, mas antes bípede, uma prostituta, como podemos
ver através de suas próprias palavras:
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História de Roma Capítulo
1.2.2 A República
No ano de 390 a.C, Roma foi invadida pelos gauleses, com certeza
os antepassados de nossos famosos personagens Asterix, Obelix e com-
panhia. Invadida não, em verdade foi quase que destruída. Foi o sinal
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História de Roma Capítulo
Era quase impossível não recuar diante da carga daqueles enormes ani-
mais, que soltavam ruídos agudos, agitando, entre seus dois dentaços,
a tromba imensa, em forma de serpente, e atacando vigorosamente,
apesar das setas que se eriçavam em seus corpos. Os cavalos que não
haviam sido preparados para enfrentá-los não podiam suportar sua sim-
ples presença ou seu odor forte.
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História de Roma Capítulo
Segundo o vocabulário
(MENDES, 1988, p. 11) crítico, no livro da autora
(p. 78), Comitatus Maxi-
mus “era uma reunião do
Assim, o Senado era uma assembleia formada por homens mais ve- exército para deliberar ou
lhos. A própria raiz da palavra já indicava, a mesma de senex, que significa receber ordens” e foi “con-
siderado o embrião da
velho. O número de senadores variou muito ao longo dos tempos. Tito Assembléia Centuriata”.
Lívio fala no aumento para trezentos logo no processo de instauração do
novo sistema, visto que Tarquínio havia diminuído a quantidade desses
em seu governo. Para o final da era republicana, na época de Cícero eram
seiscentos, tendo atingido a cifra de novecentos, posteriormente.
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Literatura Clássica Latina
Os questores,
Os edis tinham como função cuidar das ruas, dos mercados, edi-
fícios públicos e templos, do abastecimento e preço dos alimentos, bem
como dos jogos públicos. Atribuições próprias de nossa edilidade, ou da
câmara de vereadores no Brasil atual.
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1.2.3 O Império
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1.3.1 Os Escravos
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História de Roma Capítulo
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1.3.3 Os clientes
[...]
Acontece que um
dispute as eleições
com outro menos virtuoso e com menos fama.
Acontece que um
concorra com número maior de clientes
do que outro [...]
A guerra criou também uma nova classe de cidadãos ricos que não
pertenciam à classe dos senadores. Já falei dos fornecedores do
exército, comissários e vivandeiros. Esse tipo de negócio, impróprio
a um senador e contrário às tradições da aristocracia, não era apro-
vado pelo Estado, que graças a uma lei claudiana aprovada em 220
a.C. acabou proibindo aos senadores se dedicarem ao comércio ou
fazerem contratos com o Estado. Este, à medida que enriquecia, tinha
necessidade cada vez maior de pessoas experimentadas em negócios.
Após as guerras púnicas e orientais, Roma acumulara uma quantidade
imensa de bens de raiz – florestas, minas, pedreiras, direito de pesca,
salinas, pastagens. Essas propriedades precisavam ser usadas, e o úni-
co método de conservá-las em atividade era transferi-las a terceiros,
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Cultura de Roma Capítulo
2 Cultura de Roma
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Cultura de Roma Capítulo
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O Direito Romano
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Cultura de Roma Capítulo
A Filosofia
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Cultura de Roma Capítulo
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Cultura de Roma Capítulo
Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos
aos prazeres dos intemperantes ou aos que consistem no gozo dos
sentidos, como acreditam certas pessoas que ignoram o nosso pensa-
mento, ou não concordam com ele, ou o interpretam erroneamente,
mas ao prazer que é ausência de sofrimentos físicos e de perturbações
da alma. Não são, pois, bebidas nem banquetes contínuos, nem a pos-
se de mulheres e rapazes, nem o sabor dos peixes ou das outras igua-
rias de uma mesa farta que tornam doce uma vida, mas um exame
cuidadoso que investigue as causas de toda escolha e de toda rejeição
e que remova as opiniões falsas em virtude das quais uma imensa per-
turbação toma conta dos espíritos. De todas essas coisas, a prudência
é o princípio e o supremo bem, razão pela qual ela é mais preciosa do
que a própria filosofia; é dela que originaram todas as demais virtudes;
é ela que nos ensina que não existe vida feliz sem prudência, beleza
e justiça, e que não existe prudência, beleza e justiça sem felicidade.
Porque as virtudes estão intimamente ligadas à felicidade, e a felicida-
de é inseparável delas.
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Cultura de Roma Capítulo
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Cultura de Roma Capítulo
De uita beata (Sobre a vida feliz), De tranquilitate animi (Sobre Os textos em espanhol
a tranqüilidade do espírito), De prouidentia (Sobre a providên- ao longo deste material
foram traduzidos pelo
cia), Quaestiones naturales (Questões naturais), Ad Lucilium Prof. Dr. José Ernesto de
epistolae (Cartas a Lucílio). Para Jacques Gaillard, Vargas.
A Historiografia
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Cultura de Roma Capítulo
• Tito Lívio
Titus Liuius (59 a.C – 17 d.C) é, sem dúvida, o mais importante his-
toriador romano. Viveu sob o governo de Augusto e dele se beneficiou.
Sua extensa e grandiosa obra propõe abarcar desde a fundação de Roma
(por isso é reconhecida como História de Roma Ab Urbe Condita) até
a sua contemporaneidade. São cento e quarenta e dois livros, dos quais De acordo com Pöppel-
apenas trinta e cinco chegaram até nós. O francês Jacques Gaillard o dis- mann, “Ab urbe condita
(Desde a fundação da
tingue como o “Virgílio da História”, já que sua obra pode ser colocada cidade – Roma) é o
no mesmo nível da Eneida. título da maior epopeia
histórica de Roma, que
Tito Lívio (c. 59 a.C.-17
• Públio Cornélio Tácito d.C.) escreveu em 142
volumes. Apresenta a
história de Roma desde
As datas em que Tácito nasceu e morreu não são precisas, mas se a lendária origem até o
ano 9 a.C. Mas ‘Ab urbe
acredita que entre os anos de 55 e 120 da nossa era. Além de história, condita’ foi também o
o autor escreveu também sobre retórica, Dialogus de oratoribus, uma ponto de partida de uma
época, estabelecido pelo
biografia, um ensaio sobre a geografia física e humana da Germânia. erudito Varrão. Colocou
Seus textos historiográficos são Anais (Annales), em que narra os acon- a fundação de Roma
no ano de 753 a.C., 440
tecimentos políticos durante os governos de Tibério, Calígula, Cláudio e anos depois da suposta
Nero, e Histórias (Historiarum libri), que faz referência ao período entre queda de Troia, no ano
1193 a.C., portanto, 440
as mortes de Nero (68 d.C.) e Domiciano (96 d.C.). anos como um perío-
do de renascimento e
Roma era vista como um
• Caio Suetônio Tranquilo renascimento de Troia.
Se, no caso de Troia, se
pudesse calcular com
De Suetônio igualmente não se sabe precisamente as datas de nas- mais exatidão sua idade,
cimento e morte, costuma-se citar os anos de 69 e 141 da nossa era. Foi Roma poderia ser, na
verdade, de duzentos
secretário do imperador Adriano. Escreveu Homens ilustres (De uiris a trezentos anos mais
illustribus), obra que se perdeu em grande parte e Vidas dos doze Césares, antiga. A cronologia de
Varrão ‘ab urbe condita’
ou seja, a vida dos doze primeiros imperadores, livro que o imortalizou. foi estabelecida apenas
por volta do ano 400. Na
Antiguidade, contava-se
E assim encerramos aqui o nosso Capítulo sobre a literatura lato o ano segundo os cônsu-
sensu, bem como a primeira Unidade, a História do mundo romano. A les reinantes.” (PÖPPEL-
MANN, 2010, p. 5)
literatura latina strictu sensu, por oposição, é a que diz respeito à pro-
dução de caráter ficcional, objeto central de todo curso de Letras, e do
nosso próximo capítulo.
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Unidade B
Literatura Latina
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Introdução
Nessa segunda unidade faremos uma leitura panorâmica da Literatura
Latina apresentando rapidamente os principais autores e obras da literatura
latina em latu sensu. Observaremos, igualmente, a manifestação dos gêneros
literários em Roma e também as heranças e a permanência de ideias
e temas na literatura, nas artes e na cultura do Ocidente.
Grécia vencida
venceu seu feroz vencedor:
trazendo as artes ao agreste Lácio.
Assim desapareceu aos poucos
aquele verso horrível e saturnino
e a limpeza levou a sujeira nociva.
Contudo ficaram por muito tempo
e perduram ainda alguns traços rústicos daquele mau gosto.
Tarde, muito tarde, chegamos a apreciar os escritos gregos.
Apenas depois de feita a paz com Cartago,
descobrimos o que de útil nos trazem Sófocles, Tespis e Ésquilo.
Foi então que os traduzimos para o latim
e o trabalho agradou a todos:
talento temos para o sublime,
o patético não nos falta,
temos inspiração para o trágico,
nossos atrevimentos têm êxito feliz:
naturalmente, temos preguiça para o trabalho de lima
e consideramos a lima desnecessária e até vergonhosa.
3 Poesia
Aut insanit homo, aut versus facit. Horatius
(Ou o homem faz versos, ou enlouquece. Horácio)
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(Virgílio, En., I, 1)
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Poesia Capítulo
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Poesia Capítulo
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Literatura Clássica Latina
riador Tito Lívio, por falta de dados comprobatórios, deixa que as len-
das falem mais alto e se estabeleçam. Entretanto, o histórico também
se faz presente na obra, seja de forma ficcional, seja como projeção de
um futuro distante. A história ficcionalizada pode ser vista no episódio
recém mencionado, o do amor entre Dido e Eneias. Apesar da existência
histórica da rainha, a relação amorosa é criação virgiliana. Por outro
lado, não há como esquecer o enfrentamento entre Roma e Cartago. A
respeito disso, Gaillard diz o seguinte:
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Poesia Capítulo
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Poesia Capítulo
Aqui, pela primeira vez na grandiosa obra, Virgílio mostra aos seus
contemporâneos e conterrâneos o espelho para que esses se mirem e
se vejam, aqui ele justifica para o mundo a grandeza dos romanos e os
motivos da escritura: propagar os ideais da pátria e igualar-se aos gregos
neste gênero literário.
(Nei Duclós)
Se para os gregos a poesia dramática foi como que a menina dos olhos,
a ponto de Aristóteles enxergar na tragédia um gênero superior a todos os
demais, Sófocles o seu maior nome e Édipo o melhor texto, o mesmo não
podemos falar da poesia dramática em Roma. Nem o teatro teve tanto su-
cesso, e tampouco a tragédia foi representativa naquele solo. R. M. Rosado
Fernandes (1984) afirma a respeito da Arte Poética que Horácio, cultor da
poesia lírica, formula regras para a poesia dramática e o que ele acha mais
estranho é que isso acontece numa cidade “onde o teatro não fazia parte
integrante da vida social, como na Grécia” (FERNANDES, 1984, p. 27).
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Poesia Capítulo
Isto é, para Aristóteles, uma das diferenças entre a poesia épica e a que
hoje determinamos como dramática (para ele comédia e tragédia), diferen-
ça esta que reside na natureza da ação: enquanto que, na epopeia, a ação
é descrita por um narrador, na arte que atualmente denominamos drama
é representada e mostrada in loco por atores. Outra variação entre os dois
tipos diz respeito ao tempo, ou extensão segundo o pensador grego, “[...] a
tragédia procura, o mais que é possível, caber dentro de um período do sol,
ou pouco excedê-lo, porém a epopeia não tem limite de tempo – e nisso
diferem, ainda que a tragédia, ao princípio, igualmente fosse ilimitada no
tempo, como os poemas épicos.” (ARIS- TÓTELES, 1984, p. 205).
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Poesia Capítulo
Gaillard, por sua vez, nos ajuda a entender o porquê de ter restado
tão pouco da produção teatral latina:
Por efeito, como ocorria na Grécia, as obras são escritas para uma re-
presentação “oficial”, teoricamente única. É uma questão fundamental
saber em que medida estas obras voltavam a ser representadas pos-
teriormente. Na maioria das vezes os textos não eram editados, salvo
no caso dos melhores autores, o que permite deduzir que havia “repo-
sições” oficiais ou privadas, parciais pelo menos, e que, à falta de dis-
por de um repertório no sentido moderno da palavra, as companhias
(greges) de atores, em seus “giros” (por exemplo, por províncias e mu-
nicípios) propunham, senão reestreias, pelo menos adaptações. Mas
a regra geral era que a obra de teatro, ingrediente de uma cerimônia,
é utilizada somente uma vez: marca o acontecimento, e somente se
dissocia dele raras vezes por uma conservação literária.
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A Comédia
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• Plauto
Comum à época e ainda aos nossos dias, Plauto não somente escre-
veu como experimentou a direção, atuação e outras funções do meio.
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EUCLIÃO: Fora daí, minhoca! que saíste agora debaixo da terra. Há bo-
cado nem aparecias, mas agora, apareces para morrer. Por Pólux! meu
feiticeiro! vou dar-te um tratamento desgraçado.
ESTRÓBILO: Mas que fúria te agita! Que tenho eu que ver contigo, ve-
lho? Por que é que me insultas? Por que é que me puxas? Por que é que
me bates?
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Poesia Capítulo
tradução literal, nada prática nem produtiva, seria “o que por qual”, ou
“isto por aquilo”, insinuando a idéia de troca. São inúmeras as ocor-
rências nos textos de Plauto, das quais citaríamos algumas. Em As Bá-
quides, as duas irmãs, de mesmo nome, são gêmeas. Só isto já é motivo
para muitas confusões... Em Anfitrião, enquanto Anfitrião se encontra
na guerra, o deus Júpiter toma a forma deste, a fim de fazer amor com
sua esposa, por quem se apaixonara. Por sua vez, Mercúrio, fiel escu-
deiro do deus supremo, se transforma em Sósia, escravo de Anfitrião.
Resultado: muita confusão. Imagine as cenas, ou melhor, leia, se pos-
sível e, com sorte, veja-as como espectador, no teatro, ou quem sabe
reproduza-as para os colegas do pólo, para a escola em que você traba-
lha ou para a sua comunidade: imagine Sósia encontrando-se consigo
mesmo em frente de sua casa, apanhando de outro Sósia, igualzinho a
ele e tendo que explicar tudo isso ao amo!
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Literatura Clássica Latina
já se descobriu a coisa. Creio que a filha dele já deve ter tido o menino.
E agora estou aqui sem saber o que hei de fazer: vou ou fico? Aproximo-
me ou fujo? Por Pólux, não sei que hei de fazer, por Pólux!
EUCLIÃO: Mas ouve, moço, que mal te fiz eu para procederes assim e me
perderes a mim e aos meus filhos?
LICÔNIDAS: Foi um deus que me impeliu, foi ele que me atraiu a ela
LICÔNIDAS: Confesso que errei, e sei que mereço castigo, mas venho
pedir-te que tenhas a bondade de me perdoar.
EUCLIÃO: Mas como é que tu ousaste fazer isto? Tocar no que não te
pertencia?
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Poesia Capítulo
EUCLIÃO: Não gosto dos homens que depois de terem feito o mal vêm
pedir desculpa. Tu sabias que ela não te pertencia, não lhe devias ter
tocado.
LICÔNIDAS: Eu não a exijo contra tua vontade. O que eu acho é que deve
ser minha. Tu mesmo vais concordar, Euclião, que ela deve ser minha.
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LICÔNIDAS: Por Pólux! Eu nunca disse isso, nem fiz uma coisa dessas. [...]
• Terêncio
Públio Terêncio Afer teve uma vida curta. Embora não se tenha
certeza do ano de seu nascimento, os dados são desencontrados, de
todo modo não chegou a viver quarenta anos (De 185? a 159 a.C.).
Mesmo assim teve tempo de produzir seis obras: A moça de Andros
(Andria), Os Adelfos (Adelphoe), A sogra (Hecyra), O eunuco (Eu-
nuchus), O au- topunidor (Heautontimoroumenos) e Fórmio (Phor-
mion). Assim como Lívio Andronico, foi também escravo, trazido da
África, possivelmente de Cartago. Por conta de sua habilidade com
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Poesia Capítulo
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tro para [assistir] palhaçadas, ou para satisfazer seu paladar estético com
os sabores intolerantemente picantes dos mimos, ou para os combates
de gladiadores.
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A Tragédia
• Sêneca
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Medeia
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• Catulo
Caio Valério Catulo teve uma breve vida entre as décadas de oitenta
e cinquenta antes de Cristo, não se sabe com precisão as datas. Nasceu
em Verona junto a uma família da alta burguesia. Fez parte, e foi um dos Poetae noui, ou neote-
roi, em grego.
mais importantes nomes, de uma geração denominada “poetas novos”.
Gaillard (1997, p. 60) observa que esta geração se mostra nova não
somente naquilo que propunha, poesia lírica em confronto com as poe-
sias mais nobres, coletivas e coletivistas até então, mas também pelo fato
de muitos virem da Itália setentrional. Antes disso, a grande maioria dos
autores provém do sul, da Magna Grécia.
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• Horácio
O termo mecenato é co- Mas, ao mesmo tempo, a Fortuna, a sorte para os antigos, lhe sorri.
mum até os nossos dias
para designar proteção Por esta época ele conhece os poetas Vário e Virgílio, que o apresentam
às artes. a Mecenas, o grande colaborador de Otávio Augusto em sua política de
incentivo e prestígio às artes, principalmente à literatura.
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Poesia Capítulo
[...]
Quem dignamente pintará a Marte,
da adamantina túnica coberto?
E Meríone negro ao pó de Tróia?
E o filho de Tideu, graças a Palas,
aos próprios deuses súperos erguido?
Os banquetes e os prélios, onde as virgens,
unhas cortadas, contra os jovens lutam,
é que, ociosos, cantamos, quando, acaso,
ao coração leviano, como sempre,
algo de fogo as fibras lhes aquece.
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Poesia Capítulo
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Poesia Capítulo
• Ovídio
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Poesia Capítulo
aos infernos buscar sua amada Eurídice, já morta. É ele que proporciona
o longo definhar de Narciso, apaixonado por si mesmo, e a posterior
transformação em flor.
Poeta do corpo, eis o que ele é. Quem sabe não fosse por isto que des-
contentasse tanto Augusto. Não sabemos o que aconteceu, é verda-
de, e o método de Augusto que consiste em fingir reger os costumes
para melhor reduzir o espaço da palavra se revelou, com o tempo,
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Literatura Clássica Latina
O termo “elegia” aparece pela primeira vez com o poeta Clonas, mas
considera-se Calinos (século VII a.C.) o mais antigo autor de po-
esia elegíaca, de assunto bélico. A elegia melancólica e sombria,
introduziram-na Arquíloco e Simônides de Ceos, nos séculos VII e
VI a.C., respectivamente. Derivada da poesia épica, e com ela man-
tendo apreciável semelhança, a elegia, na sua origem, girava em
torno dos mais variados assuntos: em realidade, consistia numa das
fôrmas líricas “onde a pessoa do poeta mais francamente se põe
em cena. Ele queixa-se e louva; moraliza; geralmente exorta. Qua-
se atua como orador: seja o orador político e popular, que busca
desencadear nas almas sentimentos belicosos e patrióticos; seja o
orador filósofo, que disserta acerca da vida humana, seus prazeres
e males; sempre voltado para a prática e pressuroso de concluir. A
elegia é, freqüentemente, como uma primeira manifestação do gê-
nio oratório” entre os gregos (Alfred Croiset, Histoire de la litérature
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Poesia Capítulo
grecque, t.2, Paris, 1890, pp. 90-91). Outras vezes, o poeta demo-
rava-se a carpir sua mágoa pelo passamento de alguém ilustre ou
seu amigo. Todavia, quer glosando temas festivos, quer meditando
gravemente, a elegia identificava-se por seu caráter sentencioso,
ou, como diziam os gregos, gnômico: encerrava conceitos e máxi-
mas morais que visavam fornecer aos ouvintes regras de bem servir
e suportar os transes da fortuna.
A Gruta do Sono
(Livro XI, 592-645)
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• Virgílio
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MELIBEU
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TÍTIRO
Para Gaillard,
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Poesia Capítulo
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TÍTIRO
• Marcial
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Poesia Capítulo
16 (Livro I)
[...]
40 (Livro I)
[...]
63 (Livro I)
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Literatura Clássica Latina
[...]
91 (Livro I)
8 (Livro 3)
[...]
38 (Livro 2)
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Poesia Capítulo
22 (Livro 4)
DA SÁTIRA
(Mario Quintana)
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Poesia Capítulo
É preciso, porém, fazer uma distinção entre as sátiras literárias que che-
garam até nossos dias, trazendo preciosas informações sobre a vida
cotidiana do romano, e a satura dramática da época primitiva. As sáti-
ras literárias, produzidas por diversos autores, são composições poéti-
cas narrativo-dissertativas ou dialogadas, que, apresentando fatos ou
pondo pessoas em foco, ridicularizam os vícios e defeitos de maneira
jocosa ou indignada e assumem não raro um tom filosófico-moral; a
satura dramática, à qual já nos referimos, é uma modalidade teatral
rudimentar, que nunca encontrou expressão escrita e resulta da com-
binação de cantos fesceninos com danças mímicas.
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• Horácio
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Poesia Capítulo
Eupolis,
Cratino,
Aristófanes
e todos os poetas da antiga comédia
descreviam com muita liberdade
a quem merecia ser descrito
por ser mau, ladrão, adúltero, assassino
ou famoso por outra qualquer infâmia.
[...]
e arremata
[...]
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HORÁCIO
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Poesia Capítulo
IMPORTUNO
HORÁCIO
IMPORTUNO
Deverias conhecer-me...
Sou também um grande letrado.
HORÁCIO
Estimo...
enquanto me esforçava desesperadamente para livrar-me dele:
ora caminhando mais depressa,
ora parando,
ora dizendo qualquer coisa ao ouvido de meu servo,
com o suor a correr-me até os tornozelos.
Pensava, então, com os meus botões:
“Ó Bolano, feliz de ti que tens um gênio explosivo”...
enquanto ele tagarelava qualquer bobagem,
louvando os bairros e a cidade...
Como eu nada lhe respondesse, disse-me em tom magoado:
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IMPORTUNO
Queres esquivar-te?
Já estou percebendo...
Não vai adiantar nada!
Não te largarei, ficarei sempre a teu lado...
Para onde vais agora?
• Juvenal
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Poesia Capítulo
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ARTE POÉTICA
(Mário Quintana)
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Poesia Capítulo
• Lucrécio
• Horácio
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Mas Horácio não toma partido por qualquer posição extremista: não
é arcaizante, mas tão-pouco é modernizante em todo o sentido. Se
é helenizante, é porque julga que a cultura refinada dos Helenos po-
derá trazer algum bem ao talento agreste dos Romanos. Quanto à
função do poeta na sociedade, acha que este lhe pode ser útil, sem
que, contudo, perca todo o seu individualismo. Tudo o que apregoa,
já Horácio pusera em prática na poesia até então publicada e isto
era a garantia de que os princípios que teorizava levavam, de facto, a
uma poesia cuidada e de excelente nível, qualidades que ele prezava.
Sobre a poesia dramática ele salienta a famosa lei dos cinco atos,
regra que os estudiosos supõem ter surgido no período helenístico e que
se faz presente muitas vezes até os dias de hoje: “Que a peça nunca tenha
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Poesia Capítulo
mais do que cinco actos nem menos do que esse número, se acaso dese-
jar que voltem a pedi-la e tornar à cena depois de estreada” (HORÁCIO,
1984, p. 83). Sobre o papel do coro Horácio afirma:
Da poesia lírica ele apenas cita alguns tipos, como a elegia. E o ob-
jeto da Lírica: “A Musa concedeu à lira o cantar deuses e filhos de deu-
ses; o vencedor no pugilato e o cavalo que, primeiro cortou a meta nas
corridas, os cuidados dos jovens e o vinho que liberta dos cuidados”
(HORÁCIO, 1984, p. 67-68). Observe, discipule, que, tal como Aristóte-
les, o autor não define o que é poesia lírica.
• Fedro
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Poesia Capítulo
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Literatura Clássica Latina
Para ilustrar, aí vão duas fábulas de nosso amigo Fedro, que talvez
você já conheça em versões modernas de La Fontaine, Monteiro Lobato
ou, quem sabe, em versão mais irônica e debochada de Millôr Fernan-
des, autores que também cultuaram o gênero:
O Lobo e o Cordeiro
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Poesia Capítulo
Tal como a anterior, a próxima também trata do poder cruel dos que se
julgam superiores sobre os mais fracos. Entretanto, não é só para este vício
que as fábulas apontam, mas para muitos que são próprios da humanidade.
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• Ovídio
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Poesia Capítulo
Só para você ter uma ideia, temos a seguir uma amostra do texto,
a abertura, com o mês de Janeiro. A palavra é derivada de Januarium,
homenagem a Janus, o deus de duas faces, uma voltada para a entrada,
outra para a saída, ou para o começo e para o fim. Ele era a divindade
que protegia as portas de entrada de Roma, por isso o deus que abre e
fecha o ano. Em discurso direto, sem intermediários nem musas, Janus
fala de si para o poeta Ovídio:
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Literatura Clássica Latina
(OVÍDIO, p. 109-110).
• Virgílio
Várias foram as fontes de que Virgílio se valeu para compor seu poe-
ma. É sensível a influência de Hesíodo (Os trabalhos e os dias), Aris-
tóteles (História dos animais e História das plantas), Aratos (Fenôme-
nos), Catão (Sobre a agricultura), bem como em menor escala, das
obras de Teofrasto, Nicandro, Magão e Varrão. A criatividade artística
do poeta, entretanto, permitiu-lhe que inserisse, entre os versos in-
formativos, belas descrições, elogios e quadros. São famosos, entre
os versos outros, o elogio da Itália, a descrição do inverno na Cítia, a
da peste que acometeu os rebanhos do Nórico, a evocação do ve-
lho de Tarento e, sobretudo, no final do livro IV, o epyllion de sabor
nitidamente alexandrino, onde Virgílio relata a história do deus rústi-
co Aristeu, o primeiro que conseguiu restaurar um enxame, fazendo
nascer abelhas de uma carcaça de um boi oferecido em sacrifício.
Tal epyllion não constava da primeira versão do poema. Virgílio o
colocou na segunda, a fim de substituir um elogio a Cornélio Galo,
retirado das Geórgicas quando o poeta, pessoa de confiança do im-
perador, caiu em desgraça perante o Senado, acusado de alta traição.
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Prosa Capítulo
4 Prosa.
O amor é prosa, sexo é poesia.
Rita Lee
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• Petrônio
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Prosa Capítulo
– Roubar tudo bem – me disse Ascilto –, mas sem sangue, por favor.
Ele conhecia bem o interior da casa, e nos levou direto para os lugares
onde coisas preciosas estavam nos esperando. Só passamos a mão
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Literatura Clássica Latina
– O que vocês estão falando não tem pé nem cabeça. A fome ronda
em nossa volta. Não, por Hércules!, hoje, o dia inteiro, não consegui
um pedaço de pão para comer. Sabem por quê? A seca prossegue.
Faz um ano que eu passo fome. Malditos os vereadores que fazem
lá seus pactos com os padeiros. Você livra a minha, que eu livro a
sua, e o povo miúdo que se foda, enquanto as mandíbulas desses
sanguessugas mastigam banquetes. Ah, se tivéssemos ainda entre
nós aqueles homens fortes como leões, que encontrei aqui, quando
vim da Ásia! Aquilo que era viver. A Sicília estava seca, os campos sem
gota d’água, como se Júpiter a tivesse amaldiçoado. Me lembro de
Safinium, ele morava perto do aqueduto velho, eu, criança, ele, uma
verdadeira fera. Por onde ele passava, a terra tremia. Mas era gente
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Prosa Capítulo
fina, limpo, amigo do amigo, o tipo de gente com quem você pode
tranqüilamente jogar par ou ímpar no escuro. E no tribunal? Precisa-
va vê-lo! Ele moía seus adversários. E não falava por esquemas, não.
Dizia direto. Quando falava no tribunal, sua voz crescia como uma
tuba que vai subindo de tom. Não suava, nem cuspia. Tinha alguma
coisa de asiático. E como era bem-educado! Cumprimentava, lem-
brava do nome de todo mundo, como se fosse um de nós. Naquele
tempo, não havia fome. Enquanto era edil, dois homens esfomeados
não conseguiam comer um pão que custava um centavo. Agora, por
esse preço, você compra um pão do tamanho de um olho de boi.
Ai, ai, ai, cada dia pior! Esse país cresce que nem cauda de vaca, para
baixo! E por que não? Temos um edil de meia pataca que dá mais
valor a um centavo do que a nossa vida. Em casa, vive na maior abun-
dância. Ganha num dia mais do que você vai ganhar em toda a sua
vida. Sei de uma negociata dele que, num dia, lhe rendeu mil dená-
rios de ouro. Se nós tivéssemos vergonha na cara, uma coisa dessas
não acontecia. Mas agora o povo é assim, em casa, uns leões, na
rua, rabo entre as pernas, como as raposas. Quanto a mim, já vendi
todas as minhas roupas para poder comer e, se a seca perdurar, vou
ter que vender a roupa do corpo. Que futuro nos aguarda, se nem
os deuses, nem os homens fizerem alguma coisa por nossa terra?
Os deuses que me perdoem, mas acho que é a vontade dos céus.
Hoje em dia, ninguém mais acredita em nada, ninguém observa os
dias de jejum, ninguém está dando a mínima se existe um Júpiter ou
não. Todos, olhos bem abertos, ficam contando seu dinheiro. Antiga-
mente, as mulheres iam descalças, cabelos soltos, um véu no rosto,
a alma pura, para orar a Júpiter que mandasse chuva. Logo, chovia
a cântaros, e todo mundo ficava com um sorriso de orelha a orelha.
Assim era então, hoje, jamais. Como os ratos, os deuses caminham
com os pés calçados em lã. É porque não temos mais fé nos céus que
não chove mais nos campos.
Que discurso mais estranho, não? Deve ser pela distância de quase
dois mil anos. Por acaso não parece o discurso de uma pessoa mais velha,
de um conservador e passadista? Um avô ou um tio nosso? Não parece
os nossos discursos enraivecidos contra os políticos de hoje, de sempre?
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• Apuleio
Lúcio Apuleio viveu entre os anos 125 e 170 da nossa era, mais
uma vez não são precisas as datas. Nasceu de uma família rica em
Madaura, na Numídia (atual Argélia). Fez seus estudos superiores na
Grécia, retornando depois ao continente africano, para Cartago. Con-
forme Bayet, foi um homem singular e muito representativo de sua
época, apesar de estar acima dela. Viajou bastante e como bom obser-
vador esteve atento a tudo, de obras de arte do passado a costumes do
presente, ávido por detalhes, curioso pelas ciências, as naturais em es-
pecial, mas também pela magia, que vai estar muito presente no livro
que o fez notável. Sua obra comprova a diversidade e a curiosidade.
Ainda seguindo o raciocínio e as palavras do autor francês,
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Prosa Capítulo
XXI. Ainda falando, abriu a caixa. Mas naquele cofre não havia nada. De
beleza nem sinal. Nada senão um sono infernal, um verdadeiro sono do
Estige, que, libertado de sua caixa, a tomou toda, infundindo em todos
os seus membros uma espessa letargia, e estendendo-a, em colapso, no
caminho, no próprio lugar onde pousara o pé. Ei-la, pois, jacente, imóvel,
como um cadáver adormecido.
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Literatura Clássica Latina
fensiva picada de uma de suas flechas, disse-lhe: ‘És vítima uma vez mais,
desgraçada criança, da curiosidade que já te perdeu. Agora vai, acaba a
missão de que te encarregou minha mãe. O resto compete a mim.’ Com
estas palavras, o amante alado retomou o vôo e Psiquê se apressou a
levar a Vênus o presente de Prosérpina.
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Referências
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Referências Bibliográficas
APULEIO. O asno de ouro. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d.
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Literatra Clássica Latina
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Referências
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LONGINO. “Do sublime”. In: A arte poética. São Paulo: Cultrix, 1997.
NOVAK, Maria da Glória (org.); NERI, Maria Luiza. Poesia lírica lati-
na. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
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Literatra Clássica Latina
PENHA, João da. Períodos filosóficos. 4.ed., São Paulo: Àtica, 1998.
Série Princípios.
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Referências
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