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Sumário

Módulo 1 - Uso da força pelos agentes de segurança pública ............................. 5

Apresentação do Módulo ......................................................................................... 5

Objetivos do Módulo ................................................................................................ 5

Estrutura do Módulo ................................................................................................ 6

Aula 1 – Uso da força: conceitos e definições ......................................................... 7

Aula 2 – Uso da força ............................................................................................ 12

Aula 3 – Legislação sobre o uso da força .............................................................. 15

Código de Conduta para Encarregados da Aplicação da Lei (CCEAL) ............. 15

Objetivo do CCEAL ............................................................................................ 23

Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo (PBUFAF) ............. 24

Legislação brasileira .......................................................................................... 28

O agente de segurança pública e o uso da força ............................................... 34

Necessidade do Uso da Força ........................................................................... 37

Responsabilidades pelo uso da força ................................................................ 38

Finalizando... ......................................................................................................... 40

Módulo 2 – Modelos de uso diferenciado da força .............................................. 41

Apresentação do Módulo ....................................................................................... 41

Objetivos do Módulo .............................................................................................. 41

Estrutura do Módulo .............................................................................................. 41

Aula 1 – Propostas de modelos de uso diferenciado da força ............................... 43

Modelos de Uso Diferenciado da Força ............................................................. 43

Aula 2 – Descrição dos modelos ........................................................................... 46

Modelo FLETC ................................................................................................... 46

Modelo GILlESPIE ............................................................................................. 47

Modelo REMSBERG .......................................................................................... 48

Modelo CANADENSE ........................................................................................ 50

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Modelo NASHVILLE. .......................................................................................... 52

Modelo PHOENIX .............................................................................................. 53

Aula 3 – Análise comparativa dos modelos apresentados..................................... 54

Aula 4 – Proposta de um modelo básico do uso diferenciado da força ................. 56

Finalizando... ......................................................................................................... 58

Módulo 3 – Princípios básicos do uso da força ................................................... 59

Apresentação do Módulo ....................................................................................... 59

Objetivos do Módulo .............................................................................................. 59

Estrutura do Módulo .............................................................................................. 60

Aula 1 – Princípios básicos sobre o uso da força .................................................. 61

Aspectos gerais .................................................................................................. 61

Uso da força: questões preliminares .................................................................. 63

Usar ou Empregar Arma de Fogo ...................................................................... 70

Atirar ou Disparar Arma de Fogo ....................................................................... 72

Uso da Força: ações indispensáveis .................................................................. 73

Princípios Básicos sobre o uso da Força e Armas de Fogo pelos Funcionários


Responsáveis pela Aplicação da Lei .................................................................. 79

Circunstâncias especiais para disparo de arma de fogo .................................... 81

Disparos de armas de fogo: Agentes de Segurança Pública x infratores........... 88

Aula 2 – O Triângulo da Força ............................................................................... 89

Finalizando... ......................................................................................................... 92

Módulo 4 – O Uso Diferenciado da Força.............................................................. 93

Apresentação do Módulo ....................................................................................... 93

Objetivos do Módulo .............................................................................................. 95

Estrutura do Módulo .............................................................................................. 95

Aula 1 – Uso Diferenciado da Força ...................................................................... 96

Aula 2 – Níveis de força diferenciada .................................................................... 98

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Níveis de resistência da pessoa abordada......................................................... 98

Aula 3 – Estudo das Reações Fisiológicas .......................................................... 111

Direcionamento dos disparos realizados por agentes de segurança pública ... 113

Aula 4 – Roteiro de Relatórios e de Apuração Referentes ao Uso de Força e Arma


de Fogo................................................................................................................ 114

RELATÓRIOS (conforme Diretriz nº 24 da Portaria nº 4226)........................... 114

Procedimentos após o disparo de arma de fogo .............................................. 115

Relatório básico para apuração de situações de uso da força pelo Agente de


Segurança Pública ........................................................................................... 117

Roteiro básico para apuração de situações de uso de força potencialmente letal


(disparo de arma de fogo), pelo Agente de Segurança Pública ....................... 118

Finalizando... ....................................................................................................... 120

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Módulo 1 - Uso da força pelos agentes de
segurança pública

Apresentação do Módulo

Antes de iniciar seus estudos, reflita sobre as seguintes questões:

Você, como agente de segurança pública, tem uma opinião clara sobre o uso
legítimo da força?
Como você vê os limites do uso da força?

Conhecer a teoria não é suficiente para se ter um controle efetivo diante de


situações adversas que implicam a atuação do agente de segurança pública; é preciso
também prática, isto é, saber agir. A proposta aqui apresentada objetiva criar
condições para que vocês, agentes de segurança pública, possam estudar os
“caminhos norteadores”, isto é, posturas adequadas de como usar a força em variadas
situações, aplicando-a de modo eficaz sem romper com o princípio ético e moral da
corporação pertencente, bem como com seus próprios direitos e deveres, não apenas
como agente público a serviço da sociedade, mas também como pessoa, cidadão.

As Nações Unidas consideram que qualquer ameaça à vida e à segurança dos


funcionários responsáveis pela aplicação da lei deve ser encarada como uma ameaça
à estabilidade da sociedade em geral.

Objetivos do Módulo
Ao final deste módulo, você será capaz de:
• Compreender os principais conceitos relacionados ao estudo do Uso da Força;

• Conceituar o significado do uso da força e arma de fogo pelos agentes de


segurança pública;
• Identificar a legislação internacional e nacional que trata do uso da força e arma

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de fogo;

• Apontar as atitudes adequadas do agente da área de segurança pública ao


realizar uma abordagem policial em uma dada circunstância;
• Aplicar, em situações-problema, de maneira correta, o uso diferenciado da força
nas intervenções policiais; e
• Listar os procedimentos técnicos e táticos a serem seguidos antes, durante e
depois do uso da força e arma de fogo.

Estrutura do Módulo
O conteúdo deste módulo está dividido em 3 aulas:

Aula 1 – Uso da força: conceitos e definições

Aula 2 – Uso da força

Aula 3 – Legislação sobre o uso da força

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Aula 1 – Uso da força: conceitos e definições

Uma das grandes dificuldades ao tratar da temática do Uso da Força era


sempre a unificação de conceitos que regem a matéria. Assim sendo, desde a
publicação da Portaria Interministerial nº 4226 de 31 de dezembro de 2010, que
estabelece Diretrizes Sobre o Uso da Força pelos Agentes de Segurança Pública,
alguns desses conceitos foram consolidados e padronizados como meio de facilitar o
entendimento uniforme por todos os profissionais envolvidos.

Conheça alguns conceitos básicos:

Ética: é o conjunto de princípios morais ou valores que governam a conduta de um


indivíduo ou de membros de uma mesma profissão.

Armas de menor potencial ofensivo: Armas projetadas e/ou empregadas,


especificamente, com a finalidade de conter, debilitar ou incapacitar temporariamente
pessoas, preservando vidas e minimizando danos à sua integridade.

Equipamentos de menor potencial ofensivo: Todos os artefatos, excluindo armas


e munições, desenvolvidos e empregados com a finalidade de conter, debilitar ou
incapacitar temporariamente pessoas, para preservar vidas e minimizar danos à sua
integridade.

Equipamentos de proteção: Todo dispositivo ou produto, de uso individual (EPI) ou


coletivo (EPC) destinado à redução de riscos à integridade física ou à vida dos agentes
de segurança pública.

Força: Intervenção coercitiva imposta a pessoa ou grupo de pessoas por parte do


agente de segurança pública com a finalidade de preservar a ordem pública e a lei.

Instrumentos de menor potencial ofensivo: Conjunto de armas, munições e


equipamentos desenvolvidos com a finalidade de preservar vidas e minimizar danos
à integridade das pessoas.

Munições de menor potencial ofensivo: Munições projetadas e empregadas,

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especificamente, para conter, debilitar ou incapacitar temporariamente pessoas,

preservando vidas e minimizando danos à integridade das pessoas envolvidas.

Nível do uso da força: Intensidade da força escolhida pelo agente de segurança


pública em resposta a uma ameaça real ou potencial.

Princípio da Conveniência: A força não poderá ser empregada quando, em função


do contexto, possa ocasionar danos de maior relevância do que os objetivos legais
pretendidos.

Princípio da Legalidade: Os agentes de segurança pública só poderão utilizar a força


para a consecução de um objetivo legal e nos estritos limites da lei.

Princípio da Moderação: O emprego da força pelos agentes de segurança pública


deve, sempre que possível, além de proporcional, ser moderado, visando sempre
reduzir o emprego da força.

Princípio da Necessidade: Determinado nível de força só pode ser empregado


quando níveis de menor intensidade não forem suficientes para atingir os objetivos
legais pretendidos.

Princípio da Proporcionalidade: O nível da força utilizado deve sempre ser


compatível com a gravidade da ameaça representada pela ação do opositor e com os
objetivos pretendidos pelo agente de segurança pública.

Técnicas de menor potencial ofensivo: Conjunto de procedimentos empregados


em intervenções que demandem o uso da força, através do uso de instrumentos de
menor potencial ofensivo, com intenção de preservar vidas e minimizar danos à
integridade das pessoas.

Uso diferenciado da força: Seleção apropriada do nível de uso da força em resposta


a uma ameaça real ou potencial visando limitar o recurso a meios que possam causar
ferimentos ou mortes.

No estudo da Segurança Pública verifica-se que surgem três ideias principais


com relação ao trabalho dos agentes de Segurança Pública:
• Uma ideia de proteção da paz social e da ordem pública e a segurança dos
cidadãos;

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• Uma ideia de investigação ou de informações na investigação criminal;
• A noção de que a aplicação da lei se faz pela força, se necessário.

Segurança Pública deve estar a serviço do direito.

Os Órgãos de Segurança Pública, de modo geral, têm por missão garantir a


paz e a segurança de uma comunidade, bem como a segurança de cada cidadão,
impondo-lhe a força, caso seja necessário, para o respeito e para cumprimento das
leias.

Disso se extrai que as prerrogativas dos Órgãos de Segurança Pública podem,


em casos extremos, levar ao uso da força e de armas de fogo para garantir o
cumprimento da lei, ao reconhecimento e ao respeito dos direitos e das liberdades de
todos e para satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-
estar de uma sociedade democrática. (artigo 29 da Declaração Universal dos Direitos
Humanos – DUDH)

Importante!
É importante ressaltar que o Uso da Força e de armas de
fogo deve ser limitado por leis e regulamentos, colocando
sempre em evidência a questão do serviço e do interesse
público.
O exercício do poder para usar a força e armas de fogo não
é uma questão individual, mas sim uma questão de função.
Qualquer uso que não esteja dentro do marco legal estará sujeita
a uma crítica por excesso, desvio, abuso de autoridade ou poder.
É aqui, precisamente, que os valores éticos são fundamentais.

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No estudo da doutrina do Uso da Força muitos autores já se pronunciaram sobre
o tema, veja o que já foi dito e compares com a nossa doutrina brasileira:

“Toda intervenção compulsória sobre o indivíduo ou grupos de indivíduos, quando


reduz ou elimina sua capacidade de auto decisão.” (BARBOSA & ANGELO 2001,
p.107)

“Os países outorgam suas organizações de aplicação da lei à autoridade legal para
usarem a força, se necessário, para servirem aos propósitos legais de aplicação da
lei.” (ROVER 2000, p. 275)

“O Estado intervém, com violência legítima, quando um cidadão usa a violência para
ferir, humilhar, torturar, matar outros cidadãos, de forma a garantir a tranquilidade. É
a lógica da violência legítima contendo a violência ilegítima.” (SILVA 1994, p. 48)

Autores clássicos como Max Weber introduzem a expressão “monopólio da


violência” (do alemão Gewaltmonopol des Staates) referindo-se à definição de Estado
atribuindo-lhe o “monopólio do uso da força física dentro de um determinado território.

Tal monopólio, segundo o autor, pressupõe um processo de legitimação. Esse


é um princípio de todos os Estados modernos. Portanto, o Estado soberano moderno
se define pelo “monopólio do uso da força”.

O “monopólio da força” significa que o emprego da coerção é função de


exclusiva competência de certos Agentes do Estado – de uma Organização ou de uma
“máquina” institucional – e não de outros agentes da sociedade.

Entretanto, na atividade de Segurança Pública, prefere-se utilizar o termo Uso


da Força ao invés do termo uso da violência, pois este último nos leva a uma ideia de
abuso, de ilegalidade e de atitudes não profissionais, ideias essas que não coadunam
com a atividade de serviço e proteção pelos Agentes de Segurança Pública.

Portanto, se o Agente de Segurança Pública deixar de cumprir tais requisitos,


o Uso da Força será caracterizado como ilegítimo, sendo então, apontado como
violência1, truculência, abuso do poder, entre outras formas de desvio de

1 Violência Diretriz 14: Combate à violência institucional, com ênfase na erradicação da tortura e na redução da

letalidade policial e carcerária. BRASIL, Decreto nº 7.037 de 21 de dezembro de 2009. Programa Nacional de
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procedimentos não concebíveis ao Agente da área de Segurança Pública, integrante
de uma Organização promotora de paz social e como tal deve seguir os parâmetros
legais e éticos.

Na próxima aula, você estudará as ideias sobre o uso da força e atividade


profissional dos agentes de segurança pública.

Direitos Humanos- PNDH 3. Publicado no Diário Oficial da União, de 22 de dezembro de 2009.

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Aula 2 – Uso da força

Você deve ter notado que o simples conhecimento de um texto não é suficiente
para que um profissional tenha uma conduta adequada. É necessário o entendimento
de que sua profissão deriva dos ideais legais e democráticos do nosso país. Assim
sendo, você já deve ter percebido a importância de estudar sobre Segurança Pública
e sobre o Uso da Força e de armas de fogo no desempenho da sua atividade.

Parte dos problemas enfrentados hoje com relação ao abuso de autoridade, e


sua expressão última que é a brutalidade e a violência do Agente da área de
Segurança Pública, resultam da ausência de uma substantiva sobre o emprego
qualificado e comedido da força.

Refletindo sobre a questão...

Reflita sobre sua experiência e vivência como Agente de


Segurança Pública. Você acredita que tais Agentes tem
consciência da importância do Uso da Força? Do contrário, a
que atribuiria o uso indevido da força no desempenho da função
da Segurança Pública?

Os órgãos de segurança pública brasileiros recebem uma série de meios legais


para capacitar seus integrantes a cumprir seus deveres de aplicação da lei e
preservação da ordem, sempre em busca da paz. Sem estes e outros poderes, tal
como aquele de privar as pessoas de sua liberdade, você não conseguiria
desempenhar a sua missão constitucional em defesa da sociedade.

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Agente de segurança pública!

Você recebe do Estado a autorização para usar a força quando atua em


nome do próprio Estado.

Sobre esse pensamento Rover (2000) lembra que:

“Os Estados não negam a sua responsabilidade na proteção do


direito à vida, liberdade e segurança pessoal quando outorgam
aos seus encarregados de aplicação da lei a autoridade legal
para a força e arma de fogo”.

O agente de segurança pública tem o dever de aplicar a lei e de reprimir com


energia a sua transgressão em defesa da sociedade, a mesma sociedade da qual ele
faz parte e de onde ele foi escolhido para se juntar à Força de Segurança Pública.

“A tarefa do agente de segurança pública é delicada na medida


em que se reconhece como inteiramente legítimo o uso de força,
para resolução de conflitos, desde que esgotadas todas as
possibilidades de negociação, persuasão e mediação.” (FARIA,
1999)

Os órgãos de segurança pública existem para servir à sociedade e para


proteger os seus direitos mais fundamentais. Cerqueira (1994, p. 1), acrescenta
essa ideia ao relatar que:

“O sistema de justiça criminal, no qual se inclui a polícia, atua


fundamentalmente para garantir os direitos humanos, em
sentido estrito, e, portanto, a lógica de uso da força para conter
a violência é perfeitamente compreensível”.

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A Força Pública de Segurança, por intermédio dos seus Agentes, atua para
assegurar que os direitos fundamentais dos cidadãos, individual e coletivamente,
sejam protegidos. O direito à vida e à segurança pessoal devem ter a mais alta
prioridade.

Art. 3º DUDH – Todo ser humano tem direito à vida, à


liberdade e à segurança pessoal.

Art. 4º Convenção Americana do Direitos Humanos: Artigo


4(1). Direito à vida – Toda pessoa tem o direito de que se
respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei.

Neste ponto do seu estudo, pense como o Agente de Segurança Pública


(funcionário responsável pela aplicação da lei) tem responsabilidade pela proteção de
todas as pessoas da sociedade.

Se a sua conclusão foi a de que o Agente tem um grau muito elevado de


responsabilidade para a proteção à vida das pessoas da comunidade, então
certamente ele, como funcionário do Estado, é um protetor de vidas, é um protetor do
direito fundamental de todas as pessoas, é um protetor do maior bem jurídico
protegido: A VIDA.

O Agente de Segurança Pública é, assim, um protetor e promotor dos direitos


fundamentais, é um protetor e promotor dos Direitos Humanos.

Na próxima aula, estudaremos três importantes instrumentos de Direitos Humanos


relacionados ao uso da força pelos agentes de segurança pública. Esteja atento.

Compare-os com o mais novo instrumento nacional, a Portaria Interministerial nº


4.226/2010, que estabelece as Diretrizes sobre o Uso da Força pelos Agentes de
Segurança Pública.

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Aula 3 – Legislação sobre o uso da força

Vamos estudar, a partir de agora, algumas Diretrizes sobre o Uso da Força


pelos Agentes de Segurança Pública.

Código de Conduta para Encarregados da Aplicação da Lei (CCEAL)

É o código adotado por intermédio da resolução 34/169 da Assembleia Geral


das Nações Unidas, em 17 de dezembro de 1979. É um instrumento internacional,
com o objetivo de orientar os Estados-membros quanto à conduta dos agentes de
segurança pública.

Embora o Código não seja um tratado com força legal, o Código é um


documento de orientação aos Estados que busca criar padrões para que as práticas
de aplicação da lei estejam de acordo com as disposições básicas dos direitos e das
liberdades humanas.

É um código de conduta ética e baseia-se no exercício da atividade de


segurança pública nos seus aspectos éticos e legais. Consiste em oito artigos, cada
um acompanhado de comentários explicativos.

ARTIGO 1.º
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem cumprir, a todo o
momento, o dever que a lei lhes impõe, servindo à comunidade e protegendo todas
as pessoas contra atos ilegais, em conformidade com o elevado grau de
responsabilidade que a sua profissão requer.

Funcionários responsáveis pela aplicação da lei

Conforme o considerando da Portaria 4.226, de 1 de dezembro de 2010,


que diz sobre “a necessidade de orientação e padronização dos

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procedimentos da atuação dos agentes de segurança pública aos
princípios internacionais sobre o uso da força”, o termo “funcionários
responsáveis pela aplicação da lei” é aplicável a este curso, quando se trata
dos a gentes de segurança pública.

Comentário
a) A expressão “funcionários responsáveis pela aplicação da lei” inclui todos os
agentes da lei, quer nomeados, quer eleitos, que exerçam poderes de polícia,
especialmente poderes de prisão ou detenção.
b) Nos países onde os poderes policiais são exercidos por autoridades militares,
quer em uniforme, quer não, ou por forças de segurança do Estado, a definição
dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei incluirá os funcionários de
tais serviços.
c) O serviço à comunidade deve incluir, em particular, a prestação de serviços de
assistência aos membros da comunidade que, por razões de ordem pessoal,
econômica, social e outras emergências, necessitam de ajuda imediata.
d) A presente disposição abrange não só todos os atos violentos, destruidores e
prejudiciais, mas também a totalidade dos atos proibidos pela legislação penal.
É igualmente aplicável à conduta de pessoas não suscetíveis de incorrerem em
responsabilidade criminal.

ARTIGO 2.º
No cumprimento do seu dever, os funcionários responsáveis pela aplicação da
lei devem respeitar e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os direitos
fundamentais de todas as pessoas.

Comentário
a) Os direitos do homem em questão são identificados e protegidos pelo direito
nacional e internacional. Entre os instrumentos internacionais relevantes contam-se
a Declaração Universal dos Direitos do Homem, o Pacto Internacional sobre os

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Direitos Civis e Políticos, a Declaração sobre a Proteção de Todas as Pessoas
contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou
Degradantes, a Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação Racial, a Convenção Internacional sobre a Supressão e
Punição do Crime de Apartheid, a Convenção sobre a Prevenção e Punição do
Crime de Genocídio, as Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos e a
Convenção de Viena sobre Relações Consulares.
b) Os comentários nacionais a essa cláusula devem indicar as provisões regionais
ou nacionais que definem e protegem esses direitos.

ARTIGO 3.º
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem empregar a força
quando tal se afigure estritamente necessário e na medida exigida para o
cumprimento do seu dever.
Portaria Interministerial nº 4226/2010. (Ver em materiais complementares).

Comentários
a) Essa disposição salienta que o emprego da força por parte dos funcionários
responsáveis pela aplicação da lei deve ser excepcional. No entanto, admite que
esses funcionários possam estar autorizados a utilizar a força na medida em que tal
seja razoavelmente considerado como necessário, tendo em conta as circunstâncias,
para a prevenção de um crime ou para ajudar na detenção legal de delinquentes ou
de suspeitos – ou evitá-la. Qualquer uso da força fora desse contexto não é permitido.
b) A lei nacional restringe normalmente o emprego da força pelos funcionários
responsáveis pela aplicação da lei, de acordo com o princípio da proporcionalidade.
Deve-se entender que tais princípios nacionais de proporcionalidade devem ser
respeitados na interpretação dessa disposição. A presente disposição não deve ser,
em nenhum caso, interpretada no sentido da autorização do emprego da força em
desproporção com o legítimo objetivo a atingir.
c) O emprego de armas de fogo é considerado uma medida extrema. Devem fazer-se
todos os esforços no sentido de excluir a utilização de armas de fogo, especialmente
contra as crianças. Em geral, não deverão utilizar-se armas de fogo, exceto quando
um suspeito ofereça resistência armada, ou quando, de qualquer forma, coloque em

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perigo vidas alheias e não haja medidas menos extremas para dominá-lo ou detê-lo.
Cada vez que uma arma de fogo for disparada, deverá informar-se prontamente as
autoridades competentes.

ARTIGO 4.º
As informações de natureza confidencial em poder dos funcionários
responsáveis pela aplicação da lei devem ser mantidas em segredo, a não ser que
o cumprimento do dever ou as necessidades da justiça estritamente exijam outro
comportamento.

Comentário
Devido à natureza dos seus deveres, os funcionários responsáveis pela
aplicação da lei obtêm informações que podem relacionar-se com a vida particular
de outras pessoas ou ser potencialmente prejudiciais aos seus interesses e
especialmente à sua reputação. Deve-se ter a máxima cautela na salvaguarda e
utilização dessas informações, as quais só devem ser divulgadas no desempenho
do dever ou no interesse. Qualquer divulgação dessas informações para outros fins
é totalmente abusiva.

ARTIGO 5.º

Nenhum funcionário responsável pela aplicação da lei pode infligir,


instigar ou tolerar qualquer ato de tortura ou qualquer outra pena ou tratamento
cruel, desumano ou degradante, nem invocar ordens superiores ou
circunstanciais excepcionais, tais como o estado de guerra ou uma ameaça à
segurança nacional, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência
pública como justificação para torturas ou outras penas ou tratamentos cruéis,
desumanos ou degradantes.

Comentário
a) Esta proibição decorre da Declaração sobre a Proteção de Todas as Pessoas
contra a Tortura e outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou

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Degradantes, adotada pela Assembleia Geral, de acordo com a qual: tal ato é uma
ofensa contra a dignidade humana e será condenado como uma negação aos
propósitos da Carta das Nações Unidas e como uma violação aos direitos e
liberdades fundamentais afirmados na Declaração Universal dos Direitos do Homem
(e noutros instrumentos internacionais sobre os direitos do homem).
b) A Declaração define tortura da seguinte forma: Tortura significa qualquer ato pelo
qual uma dor violenta ou sofrimento físico ou mental é imposto intencionalmente a
uma pessoa por um funcionário público, ou por sua instigação, com objetivos tais
como obter dela ou de uma terceira pessoa informação ou confissão, puni-la por um
ato que tenha cometido ou se supõe tenha cometido, ou intimidá-la a ela ou a outras
pessoas. Não se considera tortura a dor ou sofrimento apenas resultante, inerente
ou consequência de sanções legítimas, na medida em que sejam compatíveis com
as Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos*.
c) A expressão “penas ou tratamento cruéis, desumanos ou degradantes” não foi
definida pela Assembleia Geral, mas deve ser interpretada de forma a abranger uma
proteção tão ampla quanto possível contra abusos, quer físicos quer mentais.
Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997 – Define os crimes de tortura e dá outras
providências.

ARTIGO 6.º
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem assegurar a
proteção da saúde das pessoas à sua guarda e, em especial, devem tomar
medidas imediatas para assegurar a prestação de cuidados médicos sempre que tal
seja necessário.

Veja o que a Portaria Interministerial nº 4226/2010, diz, em seus itens 10 e 11, que:

10. Quando o uso da força causar lesão ou morte de pessoa(s), o agente de


segurança pública envolvido deverá realizar as seguintes ações:
a. facilitar a prestação de socorro ou assistência médica aos feridos;

b. promover a correta preservação do local da ocorrência;

c. comunicar o fato ao seu superior imediato e à autoridade competente; e

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d. preencher o relatório individual correspondente sobre o uso da força, disciplinado
na Diretriz n.º 22.

11. Quando o uso da força causar lesão ou morte de pessoa(s), o órgão de


segurança pública deverá realizar as seguintes ações:
a. facilitar a assistência e/ou auxílio médico dos feridos;

b. recolher e identificar as armas e munições de todos os envolvidos, vinculando-


as aos seus respectivos portadores no momento da ocorrência;
c. solicitar perícia criminalística para o exame de local e objetos bem como exames
médico-legais;
d. comunicar os fatos aos familiares ou amigos da(s) pessoa(s) ferida(s) ou
morta(s);
e. iniciar, por meio da Corregedoria da instituição, ou órgão equivalente,
investigação imediata dos fatos e circunstâncias do emprego da força;
f. promover a assistência médica às pessoas feridas em decorrência da intervenção,
incluindo atenção às possíveis sequelas;
g. promover o devido acompanhamento psicológico aos agentes de segurança
pública envolvidos, permitindo-lhes superar ou minimizar os efeitos decorrentes do
fato ocorrido; e

h. afastar temporariamente do serviço operacional, para avaliação psicológica e


redução do estresse, os agentes de segurança pública envolvidos diretamente em
ocorrências com resultado letal.

Comentário
a) "Cuidados Médicos”, significando serviços prestados por qualquer pessoal
médico, incluindo médicos diplomados e paramédicos, devem ser assegurados
quando necessários ou solicitados.
b) Embora o pessoal médico esteja geralmente adstrito aos serviços de aplicação
da lei, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem tomar em
consideração a opinião de tal pessoal, quando este recomendar que deve
proporcionar-se à pessoa detida tratamento adequado, através ou em colaboração
com pessoal médico não adstrito aos serviços de aplicação da lei.

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c) Subentende-se que os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem
assegurar também cuidados médicos às vítimas de violação da lei ou de acidentes
que dela decorram.

ARTIGO 7.º
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem cometer
qualquer ato de corrupção. Devem, igualmente, opor-se rigorosamente e combater
todos os atos dessa índole.

Comentário
a) Qualquer ato de corrupção, tal como qualquer outro abuso de autoridade, é
incompatível com a profissão de funcionário responsável pela aplicação da lei. A lei
deve ser aplicada na íntegra em relação a qualquer funcionário que cometa um ato
de corrupção, dado que os Governos não podem esperar aplicar a lei aos cidadãos
se não a puderem ou quiserem aplicar aos seus próprios agentes e dentro dos seus
próprios organismos.
b) Embora a definição de corrupção deva estar sujeita à legislação nacional, deve-se
entendê-la como tanto a execução ou a omissão de um ato, praticadas pelo
responsável, no desempenho das suas funções ou com estas relacionado, em virtude
de ofertas, promessas ou vantagens, pedidas ou aceites como a aceitação ilícita
desses atos, uma vez a ação cometida ou omitida.
c) A expressão “ato de corrupção”, anteriormente referida, deve ser entendida no
sentido de abranger tentativas de corrupção

ARTIGO 8.º
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar a lei e o
presente Código. Devem, também, na medida das suas possibilidades, evitar e opor-
se vigorosamente a quaisquer violações da lei ou do Código.
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que tiverem motivos para
acreditar que se produziu ou irá produzir uma violação desse Código, devem
comunicar o fato aos seus superiores e, se necessário, a outras autoridades com
poderes de controle ou de reparação competentes.

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Comentário
a) Este Código será observado sempre que tenha sido incorporado na legislação ou
na prática nacionais. Se a legislação ou a prática contiverem disposições mais
limitativas do que as do atual Código, devem observar-se essas disposições mais
limitativas.
b) O presente artigo procura preservar o equilíbrio entre a necessidade de disciplina
interna do organismo do qual, em larga escala, depende a segurança pública, por um
lado, e a necessidade de, por outro lado, tomar medidas em caso de violações dos
direitos humanos básicos. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem
informar das violações os seus superiores hierárquicos e tomar medidas legítimas
sem respeitar a via hierárquica somente quando não houver outros meios disponíveis
ou eficazes. Subentende-se que os funcionários responsáveis pela aplicação da lei
não devem sofrer sanções administrativas ou de outra natureza pelo fato de terem
comunicado que se produziu ou que está prestes a produzir-se uma violação deste
Código.
c) A expressão “autoridade com poderes de controle e de reparação competentes”
refere-se a qualquer autoridade ou organismo existente ao abrigo da legislação
nacional, quer esteja integrado nos organismos de aplicação da lei quer seja
independente destes, com poderes estatutários, consuetudinários ou outros para
examinarem reclamações e queixas resultantes de violações deste Código.
d) Em alguns países, pode considerar-se que os meios de comunicação social (mass
media) desempenham funções de controle, análogas às descritas na alínea anterior.
Consequentemente, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei poderão,
como último recurso e com respeito pelas leis e costumes do seu país e, ainda, pelo
disposto no artigo 4.º do presente Código, levar as violações à atenção da opinião
pública através dos meios de comunicação social.
e) Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que cumpram as disposições
deste Código merecem o respeito, o total apoio e a colaboração da comunidade em
que exercem as suas funções, do organismo de aplicação da lei no qual servem e dos
demais funcionários responsáveis pela aplicação da lei.

O artigo 3º do CCEAL trata diretamente do uso da força pelos agentes


de segurança pública. Ele estipula que os encarregados da aplicação

22
da lei só podem empregar a força quando estritamente necessário e
na medida exigida para o cumprimento do seu dever.

É enfatizado pelo documento que o uso da força deve ser excepcional


e nunca ultrapassar o nível razoavelmente necessário para se atingir
os objetivos legítimos de aplicação da lei. Nesse sentido, entende-se
que o uso da arma de fogo é uma medida extrema.

Refletindo sobre a questão...

Tendo em vista o contido no Código de Conduta sobre o uso de


arma de fogo, qual é sua ideia a respeito? Pense na sua
realidade e na sua experiência profissional. Você acredita que o
uso da arma de fogo é uma medida extrema?

Objetivo do CCEAL

O código objetiva sensibilizar os integrantes das organizações


responsáveis pela aplicação da lei, ou seja, sensibilizar você, agente de
segurança pública, para a enorme responsabilidade que o Estado lhes outorga.

Você é um sujeito de autoridade do Estado e como tal está investido de poder


de grande alcance, e a natureza de seus deveres coloca-o em situações de corrupção
e violência em potencial. O documento afirma ainda que expor abertamente esses
perigos escondidos é o primeiro passo para combatê-los efetivamente.

A atitude de autoridade tem uma forte relação com a imagem e percepção da


organização como um todo; carrega assim, alta expectativa com relação aos padrões
éticos mantidos dentro dos órgãos de segurança pública.

23
Importante!

Um agente de segurança pública que excede no uso da força ou


que seja corrupto pode fazer com que todos os agentes sejam
vistos como violentos ou corruptos, porque o ato individual
reflete como ato coletivo da organização.

O agente de segurança pública protege e socorre a sociedade e, nesse


sentido, exige-se um grau de confiança muito grande entre o órgão de segurança
pública e a comunidade como um todo. Essa confiança nasce no momento da
abordagem, quando a imagem do protetor dos direitos fundamentais das pessoas,
conhecedor da sua posição no tecido social e, principalmente, da imagem que tem
das pessoas com quem fala e interage, e as quais aborda, adverte, socorre e captura
ou prende em flagrante delito.

Os padrões estabelecidos pelo código devem fazer parte da crença do agente


de segurança pública, e isto significa que esses valores devem estar conscientemente
incorporados na sua atuação cotidiana de segurança pública.

Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo (PBUFAF)

É o segundo instrumento internacional mais importante sobre o uso da


força e arma de fogo. Esses princípios foram adotados no oitavo congresso das
Nações Unidas sobre a “Prevenção do Crime e o Tratamento dos Infratores”, realizado
em Havana, Cuba, de 27 de agosto a 7 de setembro de 1990.

Embora os Princípios Básicos não sejam um documento considerado como


tratado, isto é, com força legal, é um documento de orientação aos Estados,
proporcionando normas orientadoras na tarefa de assegurar e promover o papel
adequado dos agentes de segurança pública. Neste curso, será tratado somente do
Uso da Força nos níveis que antecedem a letalidade.

24
Os PBUFAF estabelecem parâmetros a serem considerados e respeitados
pelos governos no contexto da legislação e da prática nacional, e levados ao
conhecimento dos agentes de segurança pública, assim como de magistrados,
promotores, advogados, membros do executivo, legislativo e do público em geral.

O preâmbulo dos PBUFAF reconhece a importância e complexidade do


trabalho dos agentes de segurança pública, além de destacar seu papel de vital
importância na proteção da vida, liberdade e segurança de todas as pessoas.
Acrescenta que ênfase especial deve ser dada à eminência da preservação da ordem
pública e paz social, bem como da importância das qualificações, treinamento e
conduta dos encarregados da aplicação da lei.

São 26 Princípios (PB) divididos da seguinte maneira:

• Disposições gerais: PB 1 a 8;
• Disposições específicas: PB 9 a 11.
• Policiamento de reuniões ilegais: PB 12 a 14.
• Policiamento de indivíduos sob custódia ou detenção: PB 15 a 17.
• Habilitação, formação e orientação: PB 18 a 21
• Procedimentos de comunicação e revisão: PB 22 a 26.

ATENÇÃO!!!
Veremos a explicação dos pontos mais importantes dos PBUFAFs, mas
convém que você leia todo o seu conteúdo.

Perceba que, nos PB 1 e 2, estão as atribuições dos governos com relação à


adoção de normas reguladoras no Uso da Força e armas de fogo e na obrigação de
dotar seus Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei com variedade de tipos
de armas e munições que permitam o Uso Diferenciado da Força e de armas de fogo,
bem como a inclusão de armas incapacitantes não-letais e equipamentos de legítima
defesa e proteção.

25
O PB 4 ressalta a importância de se recorrer ao Uso da Força e de armas de
fogo.
Os PB 5 e 6 indicam o dever dos funcionários responsáveis pela aplicação da
lei sempre que o Uso da Força e de armas de fogo for inevitável. Perceba que o
princípio consagrado é sempre agir com moderação, diminuir a quantidade de danos
ou lesões e dar assistência e preservar a vida humana e comunicar oficialmente os
atos ocorridos. Lembre-se dos Princípios da Legalidade, Necessidade e
Proporcionalidade e os demais Princípios também consagrados na Portaria
Interministerial 4226/2010 no Brasil.

Os PB 7 e 8 nos recordam que o uso arbitrário ou abusivo é um delito. Lembre-


se: nenhum agente de segurança pública está acima da lei.

ATENÇÃO!

Os PBs 9 e 10 são importantíssimos para a atividade de Segurança


Pública e devem ser lidos e relidos com muita atenção para evitar uma falsa
interpretação dos Princípios. A Portaria Interministerial 4226 aborda muito
claramente as questões colocadas nesses dois Princípios Básicos. Busque
a informação e compare!

É por isso que os treinamentos e as instruções dos Agentes de Segurança


Pública são fundamentais para evitarem-se erros na atuação operacional. Os
treinamentos que você deve levar a efeito são aqueles que guardam semelhança com
a realidade do serviço de proteção da sociedade. Ex: técnicas de abordagem, técnicas
adequadas de tiro, técnicas de verbalização, negociação, mediação, resolução de
conflitos, entre outras.

Veja que as técnicas de Segurança Pública são importantes, mas importantes


também são os valores ético profissionais e a observância dos direitos fundamentais
das pessoas. Isso tudo é um conjunto indissociável que faz parte da sua profissão. A
sociedade requer um Agente profissional e preparado para a sua defesa e que não
viole as normas que todos temos de cumprir. Se o Agente se Segurança Pública
recorre a violações da lei com a desculpa de que tem de fazê-lo para manter a ordem

26
pública, ele não é muito diferente do infrator que está combatendo. As violações por
parte dos Órgãos de Segurança Pública só reduzem a sua autoridade e a sua
confiabilidade.

O PB11 diz respeito ao conteúdo das normas e regulamentos sobre o Uso da


Força e armas de fogo.

Os PBs 12, 13 e 14 fazem referência à atuação do Agente de Segurança


Pública em reuniões públicas. Fazem referência ao direito de reunião pacífica previsto
em instrumentos internacionais de direitos humanos. Verifique os Princípios de
Moderação do emprego dos meios estão sempre presentes.

Os PBs 15, 16 e 17 fazem referência à segurança do cidadão em relação a


Indivíduos sob custódia ou detenção. Aqui também se repetem os Princípios já
elencados anteriormente.

Os PBs 18, 19, 20 e 21 dizem respeito à habilitação, formação e orientação dos


profissionais encarregados pela aplicação da lei. São mencionados os processos
seletivos para o ingresso nos Órgãos de Segurança Pública, as qualidades esperadas
de cada pessoa que ingressa no serviço de Segurança Pública e a necessidade da
formação contínua no decorrer da carreira. Os treinamentos específicos para cada
tipo de arma a ser utilizada e os elevados padrões profissionais desejados com o
estudo de várias áreas do conhecimento humano, entre eles a ética e os direitos
humanos.

Por fim, menciona ainda a necessidade de acompanhamento psicológico, quando


necessário.

De igual maneira a Portaria Interministerial 4226 aborda muito claramente as


questões colocadas nestes quatro Princípios Básicos. Busque a informação e
compare!
Os PBS 22, 23, 24, 25 e 26 dizem respeito à necessidade de se estabelecer
procedimentos eficazes de comunicação e revisão, aplicáveis e incidentes que
envolvam o uso da força e de armas de fogo. Eles também mencionam a
responsabilidade dos funcionários em função de mando caso obtenham conhecimento
de que incidentes tenham acontecido e não tomaram as medidas administrativas
adequadas. Por fim, mencionam a questão na inexigibilidade do cumprimento de

27
ordens ilegais para o uso da força e de armas de fogo.

Aqui também a Portaria Interministerial 4.226 aborda muito claramente as


questões colocadas nestes cinco Princípios. Busque a informação e compare!

Além desses instrumentos internacionais, existem os instrumentos nacionais


que corroboram com eles e devem ser de conhecimento de todos os agentes de
Segurança Pública.

Legislação brasileira

São vários os instrumentos que regulam o Uso da Força e arma de fogo pelos
Agentes de Segurança Pública. Confira!

IMPORTANTE!
A Constituição da República Federativa de 1988, no art. 144,
estabelece que a “Segurança Pública, dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”,
por intermédio de vários órgãos dos Órgãos de Segurança. (grifo
nosso)

Código Penal

O Código Penal contém justificativas ou causas de exclusão da antijuridicidade


relacionadas no artigo 23, ou seja, estado de necessidade, legítima defesa, estrito
cumprimento do dever legal e exercício regular de direito, como se vê:

Exclusão de ilicitude
Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato:
I. em estado de necessidade;

28
II. em legítima defesa;
III. em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício
regular de direito.

Código de Processo Penal

O Código de Processo Penal contém em seu teor dois artigos que permitem o
emprego de força pelos agentes de segurança pública no exercício profissional, são
eles:

Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo a


indispensável no caso de resistência ou tentativa de fuga do
preso(...).

Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com segurança,


que o réu entrou ou se encontra em alguma casa, o morador
será intimado a entregá-lo, à vista da ordem de prisão. Se não
for obedecido imediatamente, o executor convocará duas
testemunhas e, sendo dia, entrará à força na casa, arrombando
as portas, se preciso; sendo noite, o executor, depois da
intimação ao morador, se não for atendido, fará guardar todas
as saídas, tornando a casa incomunicável, e logo que
amanheça, arrombará as portas e efetuará a prisão.

Código Penal Militar

O Código Penal Militar contém em seu teor o artigo 42 relacionado com a


Polícia Militar, no tocante ao emprego de força, como se vê:

Exclusão de crime

Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato:


I. em estado de necessidade;

29
II. em legítima defesa;
III. em estrito cumprimento do dever legal;
IV. em exercício regular de direito.

Código de Processo Penal Militar

O Código de Processo Penal Militar contém, em seu teor, artigos


relacionados com o emprego de força na ação policial. Veja esses artigos a
seguir.

Artigo 231 - Captura em domicílio

Se o executor verificar que o capturando se encontra em alguma casa,


ordenará ao dono dela que o entregue, exibindo-lhe o mandado de prisão.

Parágrafo único. Se o executor não tiver certeza da presença do capturando na casa,


poderá proceder à busca, para a qual, entretanto, será necessária a expedição do
respectivo mandado, a menos que o executor seja a própria autoridade competente
para expedi-la.

Artigo 232 - Caso de busca

Se não for atendido, o executor convocará duas testemunhas e procederá da


seguinte forma: sendo dia, entrará à força na casa, arrombando-lhe a porta, se
necessário; sendo noite, fará guardar todas as saídas, tornando a casa incomunicável,
e, logo que amanheça, arrombar-lhe-á a porta e efetuará a prisão.

Artigo 234 - Emprego de força

O emprego da força só é permitido quando indispensável, no caso de


desobediência, resistência ou tentativa de fuga. Se houver resistência da parte de
terceiros, poderão ser usados os meios necessários para vencê-la ou para defesa do
executor e seus auxiliares, inclusive a prisão do ofensor. De tudo se lavrará auto
subscrito pelo executor e por duas testemunhas.

30
Emprego de algemas

O emprego de algemas deve ser evitado, desde que não haja perigo de fuga
ou de agressão da parte do preso, e de modo algum permitido, nos presos a que se
refere o art. 242.

Uso de armas

O recurso do uso de armas só se justifica quando for absolutamente necessário


para vender e resistência ou para proteger a incolumidade do executor da prisão ou
de auxiliar seu. (art. 234, 2º, do CPPM).

STF Súmula Vinculante nº 11- Sessão Plenária de 13/08/2008 –


Dje nº 157/2008, p. 1, em 22/08/2008 – DO de 22/08/2008, p. 1.

Uso de Algemas – Restrições – Responsabilidades do Agente


e do estado - Nulidades

Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado


receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia,
por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade
por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinas, civil e penal
do Agente e da Autoridade e de nulidade da prisão ou do ato
processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil
do Estado.

31
Portaria 4.226, de 31 de dezembro de 2010

A Portaria Interministerial nº 4.226, de 31 de dezembro de 2010, estabelece as


diretrizes sobre uso da força pelos agentes de segurança pública. É importante neste
momento fazer algumas considerações quanto ao uso da arma de fogo, com base
nessas diretrizes. Veja a seguir:

Diretriz 7
O ato de apontar arma de fogo contra pessoas durante os procedimentos de
abordagem não deverá ser uma prática rotineira e indiscriminada.

Diretriz 17
Nenhum agente de segurança pública deverá portar armas de fogo ou
instrumento de menor potencial ofensivo para o qual não esteja devidamente
habilitado e, sempre que um novo tipo de arma ou instrumento de menor potencial
ofensivo for introduzido na instituição, deverá ser estabelecido um módulo de
treinamento específico com vistas à habilitação do agente.

Diretriz 23
Os órgãos de segurança pública deverão criar comissões internas de controle
e acompanhamento da letalidade, com o objetivo de monitorar o uso efetivo da força
pelos seus agentes.

Diretriz 24

Os agentes de segurança pública deverão preencher um relatório individual


todas as vezes que dispararem arma de fogo e/ou fizerem uso de instrumentos de
menor potencial ofensivo, ocasionando lesões ou mortes. O relatório deverá ser
encaminhado à comissão interna mencionada na Diretriz n.º 23 e deverá conter no
mínimo as seguintes informações:

a. circunstâncias e justificativa que levaram ao uso da força ou de arma de fogo por


parte do agente de segurança pública;

b. medidas adotadas antes de efetuar os disparos/usar instrumentos de menor

32
potencial ofensivo, ou as razões pelas quais elas não puderam ser contempladas;

c. tipo de arma e de munição, quantidade de disparos efetuados, distância e pessoa


contra a qual foi disparada a arma;

d. instrumento(s) de menor potencial ofensivo utilizado(s), especificando a


frequência, a distância e a pessoa contra a qual foi utilizado o instrumento;

e. quantidade de agentes de segurança pública feridos ou mortos na ocorrência,


meio e natureza da lesão;

f. quantidade de feridos e/ou mortos atingidos pelos disparos efetuados pelo(s)


agente(s) de segurança pública;

g. número de feridos e/ou mortos atingidos pelos instrumentos de menor potencial


ofensivo utilizados pelo(s) agente(s) de segurança pública;

h. número total de feridos e/ou mortos durante a missão;

i. quantidade de projéteis disparados que atingiram pessoas e as respectivas


regiões corporais atingidas;

j. quantidade de pessoas atingidas pelos instrumentos de menor potencial ofensivo


e as respectivas regiões corporais atingidas;

k. ações realizadas para facilitar a assistência e/ou auxílio médico, quando for o
caso; e
l. . se houve preservação do local e, em caso negativo, apresentar justificativa.

Importante!

Você sabia que a Polícia Militar de Minas Gerais publicou no ano de


1984 a Nota de Instrução nº 001/84 – que trata de maneira bem objetiva
e clara sobre “O uso de força no exercício do poder de polícia”?

33
Saiba mais...

A Polícia Militar de Minas Gerais publicou no ano de 1984 a Nota de


Instrução nº 001/84 – que trata de maneira bem objetiva e clara sobre “O
uso de força no exercício do poder de polícia”.

Esse documento apresenta um rol de orientações ao preservador da


ordem pública mineiro em suas intervenções legítimas com o emprego de
força e as consequências do excesso, senão veja:

“O policial militar pode e deve fazer uso da força, no desempenho de sua


missão, de forma tal que esse uso não vá além do necessário e chegue a
configurar o excesso ou uma ação policial violenta.” (PMMG, 1984).

Outro documento produzido pela PMMG de importância para o uso da força


são as Diretrizes Auxiliares de Operações nº 1, de 1994, nos seus itens “4.
m. 2)”, que descrevem doze orientações aos policiais militares sobre o uso
da força. Na verdade, são orientações dirigidas aos policiais militares do
estado de Minas Gerais, mas podem e devem ser aplicadas por todos os
policiais brasileiros.

O agente de segurança pública e o uso da força

Ao fazer uso da força, o agente de segurança pública deve ter


conhecimento da lei e estar preparado tecnicamente, por meio da formação e do
treinamento, bem como ter princípios éticos solidificados que possam nortear
sua ação. Ao ultrapassar qualquer desses limites, não se esqueça de que suas
ações infringirão a lei.

O agente de segurança pública é um cidadão que porta a singular permissão


para o uso da força e das armas de fogo, no âmbito da lei, o que lhe confere natural e
destacada autoridade para a construção social ou para sua devastação (Ricardo
Balestreri, adaptado).

O uso legítimo da força não se confunde com truculência, como assevera

34
Balestreri:

A fronteira entre a força e a violência é delimitada, no campo


formal, pela lei; no campo racional pela necessidade técnica e,
no campo moral, pelo antagonismo que deve reger a
metodologia de agentes de segurança pública e criminosos.

“A aplicação da lei não é uma profissão em que se possa utilizar


soluções padronizadas para problemas padronizados que
ocorrem em intervalos regulares.” (ROVER 2000, p. 274)

Espera-se que você tenha a compreensão do espírito e da forma da lei, bem


como saiba como resolver as circunstâncias únicas de um problema particular. Trata-
se de uma arte na aplicação de palavras como negociação, mediação, persuasão e
resolução de conflitos. No entanto, existem situações em que, para se obter os
objetivos da legítima aplicação da lei, ou você deixa como está e o objetivo não será
atingido, ou você decide usar a força para alcançá-lo.

Seja profissional e decida adequadamente conforme a ocorrência, partindo


sempre de sua conduta legal.

Em algumas intervenções, o agente de segurança pública tem o dever de fazer


o uso da força para que os objetivos da aplicação da lei sejam alcançados, desde que
não haja outro modo de atingi-los. Um caso típico é quando um cidadão infrator coloca
em risco a vida de pessoas atirando em suas direções. Nessa situação, o agente de
segurança pública deve fazer o uso da força para neutralizar a ação do infrator.

Os países não apenas autorizaram seus encarregados da


aplicação da lei a usar a força, mas alguns chegaram a obrigar
os encarregados a usá-la.” (ROVER 2000, p. 275)

35
As dificuldades que os chefes e dirigentes das organizações de segurança
pública enfrentam referem-se ao desenvolvimento de atitudes pessoais dos agentes
de segurança pública que demonstrem a incorporação de valores éticos, morais e
legais, fazendo diminuir o comportamento impulsivo, substituído por reações
tecnicamente sustentadas que não colocarão em risco a população atendida, a
imagem pública da organização e do próprio agente de segurança pública.

É importante que você faça uma avaliação individualmente quando houver uma
situação em que surja a opção de uso da força. O agente de segurança pública
somente recorrerá ao uso da força quando todos os outros meios para atingir um
objetivo legítimo tenham falhado, justificando o seu uso.

Somente será permitido ao policial empregar a quantidade de força necessária


para alcançar um objetivo legítimo.

O agente de segurança pública pode chegar à conclusão de que as implicações


negativas do uso da força em uma determinada situação não são equiparadas à
importância do objetivo legítimo a ser alcançado, recomendando-se, neste caso, que
os policiais se abstenham de prosseguir.

A autoridade legal para empregar a força, incluindo o uso letal de armas de


fogo em situações em que se torna necessário e inevitável para os propósitos legais
da aplicação da lei, ROVER (2000, p. 271) lembra que isso cria uma situação na qual
o policial e membros da comunidade se encontram em lados opostos, o que pode
influenciar na qualidade do relacionamento entre a Força de Segurança e a
comunidade como um todo. No caso de uso da força ilegal e indevida, esse
relacionamento será ainda mais prejudicado.

Importante!
O não atendimento a qualquer desses princípios caracteriza
uso indevido da força pelo órgão de segurança pública. Não
esqueça isso, agente de segurança pública!

Fica fácil concluir que o uso da força é uma das atividades

36
desempenhadas pelo órgão de segurança pública, mas, o
agente de segurança pública deve estar cônscio da
importância da sua atividade para as políticas de segurança
pública. É necessário que o órgão de segurança pública
tenha mecanismos de controle da atuação de seus
integrantes para evitar dissabores quanto ao abuso de
poder.

Necessidade do Uso da Força

Quando você perceber a necessidade de usar a força para atender o objetivo


legítimo da aplicação da lei e manutenção da ordem pública, responda a algumas
questões importantes que lhe servirão como guias.

A primeira é se a aplicação da força é necessária.

Para responder, o agente de segurança pública precisa identificar o objetivo a


ser atingido. A resposta adequada atende aos limites considerados mínimos para que
se torne justa e legal a ação. Caso contrário, o agente de segurança pública cometerá
um abuso e poderá ser responsabilizado.

A segunda refere-se a um questionamento se o nível de força a ser utilizado é


proporcional ao nível de resistência oferecida.

Esse questionamento sugere verificar se todas as opções estão sendo


consideradas e se existem outros meios menos danosos para se atingir o objetivo
desejado. Neste momento, verifica-se a proporcionalidade do uso da força e, caso não
haja, estará caracterizado o abuso de poder.

37
O terceiro e último questionamento verifica se a força a ser empregada será por
motivos sádicos ou maléficos.

Busca-se verificar a boa-fé por parte do agente de segurança pública e os seus


princípios éticos. A boa-fé demonstra a intenção do agente, embora ele possa errar
ao adotar uma opção equivocada, decorrente de uma análise também equivocada.

Como já foi exposto anteriormente, vale ressaltar as consequências drásticas


que a violência ilegítima do agente de segurança pública pode acarretar, levando a
uma séria desordem pública, pela qual o órgão de segurança pública tem, então, que
responder, podendo assim expô-lo a situações perigosas e desnecessárias, fazendo
com que ele se torne mais vulnerável aos contra-ataques, conduzindo a uma falta de
confiança na própria polícia por parte da comunidade.

E ainda, o agente de segurança pública será responsabilizado civil e


criminalmente pelo uso abusivo da força.

Responsabilidades pelo uso da força

Na rotina do órgão de segurança pública, os agentes agem individualmente ou


em equipes. Para cada intervenção existe o potencial de se fazer necessário o
exercício de sua autoridade e poderes. Procedimentos adequados de supervisão e
revisão servem para garantir a existência de um equilíbrio apropriado entre o poder
discricionário exercido individualmente pelos policiais e a necessária responsabilidade
legal e política das organizações de segurança pública como um todo. (ROVER 2000,
p. 272)

A responsabilidade cabe tanto aos agentes de segurança pública envolvidos


em um incidente particular com o uso da força e armas de fogo como a seus
superiores. Os chefes têm o dever de zelo, o que não retira a responsabilidade
individual dos encarregados por suas ações. (ROVER, 2000, p. 286)

É importante a compreensão de que o reconhecimento, pelo Estado, de sua


responsabilidade, apontando o erro de seu representante, não implica postura
subalterna ou desvalorização do agente da polícia (BARBOSA & ANGELO, 2001).
Mas sim, assume a mais nobre das suas funções, que é a proteção da pessoa, célula

38
essencial de sua existência abstrata, além de cumprir importante papel
exemplificador, fator de transformação e solidificação.

39
Finalizando...

Neste primeiro módulo, você estudou os principais conceitos relacionados ao


uso da força e os aspectos legais, internacionais e nacionais, que devem nortear a
ação do policial (agente de segurança pública). No próximo módulo, você estudará
sobre os principais modelos existentes, utilizados pelas diversas polícias pelos órgãos
de segurança pública do mundo, sobre a diferenciação do uso da força.

40
Módulo 2 – Modelos de uso diferenciado da
força

Apresentação do Módulo

Nesta aula, você estudará e analisará vários modelos gráficos de Uso da Força.
São modelos amplamente utilizados em diversos Órgãos de Segurança Pública do
mundo, com o objetivo de ajudar nos conceitos, planejamento, treinamento e
comunicação dos critérios da política institucional sobre o emprego da força nas
Corporações de Segurança Pública. Os modelos permitirão que você constate as
diferentes possibilidades de Uso da Força na atividade de segurança Pública, com
suas características, vantagens e desvantagens.

Objetivos do Módulo

Ao final deste módulo, você será capaz de:

• Identificar os modelos que orientam o uso diferenciado da força;


• Identificar os componentes de cada escala e a forma como estão relacionados;
• Analisar o modelo proposto para a utilização do uso diferenciado da força; e
• Elaborar sugestões para aplicação de um modelo de uso diferenciado da força
em sua organização de segurança pública.

Estrutura do Módulo

O conteúdo deste módulo está dividido em 4 aulas:


Aula 1 – Propostas de modelos de uso diferenciado da força
Aula 2 – Descrição dos modelos

41
Aula 3 – Análise comparativa dos modelos apresentados
Aula 4 – Proposta de um modelo básico do uso diferenciado da força

42
Aula 1 – Propostas de modelos de uso diferenciado da força

Modelos de Uso Diferenciado da Força

Um modelo de Uso da Força é um recurso visual padrão, traduzido


normalmente num gráfico, esquema ou desenho de configuração bastante simples,
que vem ilustrado, ou não, em diferentes cores, indicando aos Agentes de Segurança
Pública o tipo e a quantidade de força legal a ser utilizada contra uma pessoa que
resista a uma ordem, abordagem ou intervenção de um Agente de Segurança Pública.
Por ser uma questão de muita discussão, ainda não existe um consenso entre
as Corporações de Segurança sobre um modelo ideal e padrão para todos. Desse
modo, vemos a multiplicidade de formas e conteúdo desses modelos que você
passará a estudar. Os modelos de Uso da Força são estruturas que abrangem os
elementos da utilização da força na atividade de prestação de serviços de Segurança
Pública. Nos modelos são também apresentadas as alternativas táticas
potencialmente disponíveis ao Agente de Segurança Pública para ganhar e/ou manter
o controle em determinadas situações em que tenha que atuar.
A configuração dos modelos deve ser simples, facilitando o entendimento do
agente durante a instrução inicial e reforçando a capacidade de lembrança
instantânea durante uma confrontação real.
Portanto, um modelo é por natureza “genérico”, e sua adaptação deve ser
possível a todas, ou pelo menos à grande maioria, das instruções e ações dos
Organismos de Segurança Pública.
Em um modelo o que seve é a aplicação diferenciada da força, com a
possibilidade da seleção adequada de opções dessa força em resposta ao nível de
acatamento/submissão do indivíduo a ser controlado, isto é, o Agente de Segurança
Pública deve perceber o grau de risco oferecido quando se depara com pessoas que
deve abordar.
Dessa forma, a percepção desse risco é que vai permitir ao Agente de
Segurança Pública escolher pelo aumento ou pela diminuição do grau de força a ser
empregado em cada situação específica. Isto requer muito treinamento e experiência
profissional.
Como normalmente se fala na linguagem dos Agentes de Segurança Pública:

43
“nenhuma ocorrência é igual a outra”. Cada decisão de emprego da força depende
das circunstâncias e dos fatos que se apresentam ao Agente.

São elementos dos modelos de Uso Diferenciado da Força:


Instrumentos
Tópicos disponíveis no currículo dos programas de treinamento.
Ex: armas, procedimentos, comportamento, entre outros;

Táticas
É a incorporação dos instrumentos a estratégia de ação.

Tempo
É a presteza da ação do Agente de Segurança Pública em faze à reação do
indivíduo.

Mas, o que é um modelo?

Um modelo é um esquema que contém linhas gerais sobre determinado


assunto, sobre determinadas ações, sobre determinados procedimentos e que pode,
quando utilizado, orientar a execução de algo.
Os modelos de uso diferenciado da força surgiram para orientar o policial sobre
a ação a ser tomada a partir das reações da pessoa flagrada cometendo um delito, ou
até mesmo em atitude suspeita quando questionada.
Alguns países e estudiosos sobre o assunto criaram diversos modelos que
explicam e exemplificam a escala de gradação necessária à utilização da força.

Cada modelo criado possui um nome que geralmente está associado ao nome
do autor que o apresentou ou à sua origem, como se vê a seguir:

Modelo FLETC: Aplicado pelo Centro de Treinamento da Polícia Federal de Glynco


(Federal Law Enforcement Training Center), Georgia, Estados Unidos da América
(EUA).
Modelo GILIESPIE: Apresentado no livro Police – Use of Force – A Line Officer’s

44
Guide, 1998.
Modelo REMSBERG: Apresentado no livro: The Tactical Edge – Surviving High – Risk
Patrol – 1999.
Modelo CANADENSE: Utilizado pela polícia canadense.

Modelo NASHVILLE: Utilizado pela Polícia Metropolitana de Nashville, EUA.


Modelo PHOENIX: Utilizado pelo Departamento de Polícia de Phoenix, EUA.

A seguir você estudará, especificamente, cada um deles.

45
Aula 2 – Descrição dos modelos

Modelo FLETC

É um modelo gráfico em degraus com cinco camadas e três painéis. Em um


dos painéis está a percepção do agente de segurança pública em relação à atitude do
suspeito. Em outro painel, a percepção de risco para o agente, simbolizado por
números em algarismos romanos e cores, que também correspondem às camadas.
No terceiro painel, encontramos as respostas (reação) de força possíveis em relação
à atitude dos suspeitos e percepção de riscos.

As setas duplas descrevem o processo de avaliação e seleção de alternativas.


De acordo com a atitude do suspeito e percepção de risco, haverá uma reação do
agente de segurança pública na respectiva camada. Os níveis são crescentes de
baixo para cima.

Comentário
O autor não considera a “presença do agente” como um nível de força,
vinculando o primeiro nível com comandos verbais. Trata-se de um modelo de fácil
adaptação a todas as organizações policiais e pode ser utilizado perfeitamente pelo
órgão de segurança pública.

Veja a figura 1, que mostra o modelo FLETC.

Figura 1: Modelo "FLETC de uso diferenciado da força.


Fonte – GRAVES & CONNOR (1994, p.8); BARBOSA & ANGELO (2001, p.126).

46
Modelo GILlESPIE

É um modelo gráfico em forma de tabela, com cinco colunas graduadas por cor
e seis linhas básicas, divididas em comportamento do agente e ação-resposta do
policial, mas aplicável a qualquer agente de segurança pública. A atitude do suspeito
é dividida em quatro colunas que estão subdivididas respectivamente em situações
diferentes sobre a percepção do policial em relação a ele.

Para a progressão de força, possui cinco níveis, com subdivisões crescentes


de respostas do agente de segurança pública, que interagem entre si. O modelo
correlaciona a atitude do abordado com a avaliação de risco, condição mental do
agente de segurança pública e resposta de força a ser utilizada.

Comentário
Para o autor, a verbalização é uma graduação de força que se interage com
outros níveis. Inicia-se no segundo nível de força e prossegue até o penúltimo, antes
de se usar a força letal. É um modelo complexo, porém bem completo em suas opções
de ação e reação.
O agente de segurança pública que compreende a sua dinâmica está apto a
fazer o uso correto da força. Pode ser adaptado para uso nos órgãos de segurança
pública brasileiros, com o devido treinamento, dada a sua complexidade.

47
Figura 2: Modelo Giliespie

Modelo REMSBERG

Esse modelo é concebido em forma de degraus em elevação. Os degraus mais


baixos simbolizam os níveis de força mais baixos; e os mais altos, os níveis de força
mais altos. O modelo não faz correlações do nível de força com a ação da pessoa em
atitudes suspeitas ou percepção de risco por parte do policial agente de segurança
pública, embora o autor observe esse fato na sua teoria explicativa.

São cinco níveis de força e cada um é subdividido em subníveis que também


estão em ordem crescente de baixo para cima. Para utilizar esse modelo, o agente de
segurança pública utiliza o degrau correspondente ao nível de força de resposta que
julgar melhor para a situação vivida. Em caso de mudanças de situação, deve-se subir
ou descer os níveis.

48
Comentário.
É muito simples e de fácil assimilação pelos agentes de segurança pública. No
entanto, não é um modelo completo. Faz apenas a diferença do uso da força.

Figura 3: Modelo "REMBERG" de uso diferenciado da força.


Fonte – REMSBERG (1999, p.433)

49
Modelo CANADENSE

É composto por círculos sobrepostos e subdivididos em níveis diferentes. O


círculo interno central corresponde a situação ou ocorrência (SITUATION). As três
setas formando um círculo nos lembram o que o Agente de Segurança Pública sempre
deve fazer quando se depara com situação de risco: ASSESS (Avaliar) PLAN
(Planejar) e ACT (Agir). Esse modelo demonstra que o processo de avaliação é um
ciclo constante e que nunca termina na intervenção do Agente de Segurança Pública.
O processo de contínua avaliação por parte do Agente ajuda a entender que o
comportamento do suspeito, assim como a ação do Agente, pode alterar muito
rapidamente, o que também requerer uma mudança de tática no emprego da força.

O próximo círculo representa as diversas categorias de comportamento dos


suspeitos: COOPERATIVE (cooperativo), PASSIV RESISTANT (resistente passivo),
ACTIVE RESISTANT (resistente ativo), ASSAULTIVE (agressivo), GRIEVOUS
BODILY HARM OR DEATH (pode causar lesões graves ou morte).

O próximo círculo representa a percepção do Agente de Segurança Pública


(Perception) e as considerações táticas (tactical considerations) que estão interligadas
e contidas na mesma área do modelo.

O círculo externo corresponde às opções de ação e de resposta do Agente de


Segurança Pública, graduadas em sete níveis diferentes. Cada nível interage com o
outro meio de mudanças de cores. A mudança não é estanque, ou seja, onde termina
um nível de força, outros ainda estão disponíveis. São usadas cores para cada uma
das graduações de força. As opções vão desde a presença do Agente de Segurança
Pública (officer presence), habilidades de comunicação e verbalização
(communication skills), técnicas de controle físico (SOFT- HARD physical control
techniques), armas intermediárias ou não letais (intermediate weapons), e força letal
(lethal force).

A presença do Agente de Segurança Pública e as habilidades de comunicação


não são consideradas como sendo opções de uso da força física, mas foram incluídas
no modelo para ilustrar a gama de fatores que têm impacto sobre o comportamento
de pessoa.

50
Lembre-se: o Agente de Segurança Pública constantemente avalia a situação e age
de maneira apropriada para preservar a segurança dele mesmo e da comunidade.

Comentário.
É um modelo muito prático, de fácil entendimento e memorização por parte do agente
de segurança pública.

Figura 4: Modelo "CANADENSE" de uso diferenciado da força.

51
Modelo NASHVILLE.

Este modelo possui um formato gráfico em forma de “eixo de coordenadas”. O


eixo “x” corresponde à atitude dos suspeitos e é dividido em cinco níveis. O eixo “y”
corresponde aos quatro níveis de força. A utilização do modelo é feita através da
análise do gráfico formado pelo cruzamento dos dois eixos “x e y”, que pode ser feita
de duas formas: uma mais severa e outra menos severa. Fazendo parte do gráfico,
como orientação, são colocados os fatores e circunstâncias que podem influenciar o
policial para a escolha do nível de força a ser utilizado.

Comentário
É um modelo simples. Possui duas variáveis para o uso da força, não estando
presente a avaliação do risco proporcionado pela presença do agente de segurança
pública.

Figura 5: Modelo NASHVILLE de uso diferenciado da força.


Fonte – Metropolitan Nashville Police (1996).

52
Modelo PHOENIX

É o mais simples dos modelos estudados. Foi elaborado no formato de tabela,


com duas colunas. A primeira coluna corresponde à ação do agente de segurança
pública, e a segunda coluna à atitude da pessoa em atitudes suspeitas. O modelo
divide os níveis de força e atitude dos suspeitos em sete graduações diferentes. O
primeiro nível é a ausência de força e a ausência de resistência pelo suspeito.

Comentário
É de fácil assimilação e pode ser adaptado por qualquer órgão de segurança pública.

Figura 6: Modelo PHOENIX de uso diferenciado da força.


Fonte – Phoenix Department Police (1996).

53
Aula 3 – Análise comparativa dos modelos apresentados

Em essência, os modelos estudados são semelhantes entre si. Eles relacionam o uso
diferenciado da força pelo órgão de segurança pública à atitude demonstrada pela
pessoa em atitudes suspeitas.

54
Alguns, como os modelos “FLETC” e “GILIESPIE”, colocam uma avaliação de
risco como parte integrante do gráfico, e outros não. Dos modelos estudados, três são
interessantes para serem utilizados pelos órgãos de segurança pública, por terem um
conteúdo mais completo e reproduzirem bem a realidade operacional da Força de
Segurança Pública: modelos “FLETC”, “GILIESPIE” e “CANADENSE”. Considera-se,
porém, o modelo “CANADENSE”, o mais indicado, por apresentar facilidade de
aprendizagem e riqueza de conteúdo de forma gráfica.

A adoção de um modelo é perfeitamente viável. Servirá para orientar os


agentes de segurança pública em seu dia a dia operacional, dando-lhes um parâmetro
mais perceptivo sobre quando, onde, como e por que fazer o uso da força. Além do
mais, uma vez utilizada a força, fornece- se um bom fundamento para a avaliação e
acompanhamento do processo por parte da organização de segurança pública,
facilitando o planejamento, treinamento, supervisão e a revisão sobre o assunto.

Importante!
A divulgação ampla do modelo escolhido é o segredo para o
sucesso de seu emprego. Na prática, o uso de um modelo é
realizado por meio da distribuição de cartões plastificados para
agentes de segurança pública, de cartazes colocados em locais
de reuniões, em salas de aula, durante o treinamento de
abordagens, estudos de casos, entre outros.

55
Aula 4 – Proposta de um modelo básico do uso diferenciado

da força

Sabendo que um “modelo de uso da força” é um recurso visual, destinado a


auxiliar na conceituação, planejamento, treinamento e comunicação dos critérios
sobre o uso da força pelos policiais, deve-se seguir um modelo:

Figura 7: Modelo básico do uso diferenciado da força.

O modelo apresentado é um gráfico em forma de trapézio com degraus em seis


níveis, representados por cores. De um lado (esquerdo) há a percepção do agente de
segurança pública em relação à atitude do suspeito. Do outro lado (direito), as
respostas (reações) de forças possíveis em relação à atitude do suspeito.

A seta, que é dupla, descreve o processo de avaliação e seleção de


alternativas. De acordo com a atitude do suspeito, haverá uma reação do agente de
segurança pública, na respectiva camada. Os níveis são crescentes de baixo para
cima.

É importante relembrar que o uso efetivo da força depende da compreensão


sobre as relações de causa e efeito entre agente de segurança pública e o suspeito,
o que gera uma avaliação prática e consequente resposta. Observam-se as ações da

56
pessoa em atitudes suspeitas dentro de um contexto de confrontação, e o agente de
segurança pública escolhe o nível mais adequado de força a ser usado ou não.

Na prática, sua resposta como agente de segurança pública será orientada pelo
procedimento do suspeito. Ele decide o que quer de você, e, com suas próprias ações
ou pelo modo como se comporta, esse suspeito justificará a utilização de certo nível
de força pelo órgão de segurança pública. Você deve empregar apenas a força
necessária para controlá-lo.

Da base para o topo, cada nível representa um aumento na intensidade de


força. Isso é, a escala se move daquelas opções que são mais reversíveis para
aquelas que são menos reversíveis; daquelas que oferecem menor certeza de
controle para aquelas que oferecem maior certeza. Assim, quanto mais você sobe na
escala de nível, maior será a necessidade de se justificar posteriormente.

Uma vez que existam resistências e agressões em variadas formas e graus de


intensidade, o agente de segurança pública terá que adequar sua reação à
intensidade da agressão, estabelecendo formas de comandar e direcionar o suspeito
provendo seu controle. Em contato com um suspeito que está atentando contra sua
vida, é claro que você não terá que progredir nível por nível sua escala de força até
você alcançar alguma forma de fazê-lo parar. O ideal é que você fale antes e use a
força somente se sua habilidade de negociar falhar. Existem, entretanto,
circunstâncias em que você não poderá dizer nada além de: “Pare!”.

Você pode mentalmente percorrer toda a escala de força em menos de um


segundo e escolher a resposta que lhe parecer mais adequada ao tipo de ameaça que
enfrenta. Se sua manobra falha ou as circunstâncias mudam, você pode aumentar
seu poder, ampliando o nível de força de um modo consciente, ao invés de agir com
raiva ou medo. Essa avaliação entre as opções para a abordagem ajuda você a
manter seu equilíbrio tático.

57
Finalizando...

Não se pode falar em melhor modelo e nem em único modelo. Cada um dos modelos
apresentados foi criado para representar como cada estudioso, ou órgão de
segurança pública, observa e orienta a gradação do uso da força.

No próximo módulo, seu estudo terá como foco os princípios básicos do uso da força.

58
Módulo 3 – Princípios básicos do uso da força

Apresentação do Módulo

Caro aluno,

O documento intitulado “Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas


de Fogo” (PBUFAF) foi instituído no Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre a
Prevenção do Crime e o Tratamento dos Infratores, realizado em Havana, Cuba, de
27 de agosto a 7 de setembro de 1990.

Mas quais são esses princípios?

O que é indispensável a um agente de segurança pública saber e


fazer em relação à aplicação desses princípios?

Neste módulo você estudará sobre estas questões, abordando também a


responsabilidade pelo Uso da Força e sobre o Triângulo da Força Potencialmente
Letal.

Objetivos do Módulo

Ao final deste módulo, você será capaz de:


• Enumerar os princípios básicos que orientam o uso diferenciado e legal da
força;
• Identificar as questões práticas que envolvem o Uso de Armas de fogo;
• Aplicar, em situações-problema, de maneira correta, o Uso Diferenciado da
Força;
• Utilizar o Triângulo da Força nas decisões a serem tomadas, frente à situação
apresentada.

59
Estrutura do Módulo

O conteúdo deste módulo está distribuído em:

Aula 1 – Princípios básicos sobre o uso da força

Aula 2 – O Triângulo de Uso da Força

60
Aula 1 – Princípios básicos sobre o uso da força

Aspectos gerais

Os Princípios sobre o Uso da Força e Armas de Fogo têm como objetivo


proporcionar normas orientadoras aos Estados-membros da ONU sobre o
desempenho dos profissionais de Segurança Pública no tema: Uso da força.

Os Princípios sobre o Uso da Força e Armas de Fogo pelos Funcionários


Responsáveis pela Aplicação da Lei, adotados por consenso em 7 de setembro de
1990 por ocasião do Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do
Crime e o Tratamento dos Delinquentes, entre outras recomendações, no item 2 do
Preâmbulo recomenda:

2. “... os Princípios Básicos para adoção e execução nacional,


regional e inter-regional, levando em consideração as
circunstâncias e as tradições políticas, econômicas, sociais e
culturais de cada país;”

Em resposta a essas recomendações, o Brasil editou, em dezembro de 2010,


a PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 4.226, que Estabelece Diretrizes sobre o Uso
da Força pelos Agentes de Segurança Pública.

É reconhecida a importância e a complexidade do trabalho dos Agentes de


Segurança Pública, no qual se destaca seu papel na proteção da vida, liberdade e
segurança de todas as pessoas. Ênfase especial deve ser dada à qualificação,
treinamento e conduta desses Agentes de Segurança Pública, tendo em vista seu
contato direto com a sociedade quando das suas intervenções operacionais.

As Organizações de Segurança Pública recebem uma série de meios legais


que as capacitam a cumprir seus deveres de aplicação da lei e preservação da ordem.
Sem estes e outros poderes, tal como aquele de privar as pessoas de sua liberdade,
não seria possível aos Agentes de Segurança Pública desempenhar sua missão

61
constitucional.

As organizações de segurança pública devem equipar seus integrantes com


vários tipos de armas e munições, permitindo um uso diferenciado da força,
procurando ainda disponibilizar armas incapacitantes não letais e equipamentos de
autodefesa que possam diminuir a necessidade do uso de armas de fogo de qualquer
espécie.

Diretriz nº 8, da Resolução 4226/2010

8. Todo agente de segurança pública que, em razão da sua


função, possa vir a se envolver em situações de uso da
força, deverá portar no mínimo 2 (dois) instrumentos de
menor potencial ofensivo e equipamentos de proteção
necessários á atuação específica, independentemente de
portar ou não arma de fogo.

62
Uso da força: questões preliminares

Refletindo sobre a questão...


Antes de prosseguir, pare e reflita: quais os questionamentos que um
agente de segurança pública deve fazer a si mesmo antes de fazer o
uso da força?

Antes de fazer o uso da força em uma intervenção, responda aos seguintes


questionamentos:

1. O emprego da força é legal?

Neste primeiro questionamento, o agente de segurança pública deve buscar


amparar legalmente sua ação, devendo ter conhecimento da lei e estar preparado
tecnicamente por meio da sua formação e do treinamento recebidos. Cabe ressaltar
que vários são os casos em que ocorrem ações legítimas decorrentes de atos ilegais.

Como exemplo, podemos citar o caso do agente de segurança pública que,


durante uma abordagem, tenta conseguir uma “confissão” do suspeito, à força, e, em
virtude disso, esse agente é desacatado. A prisão por desacato é uma ação legítima,
contudo, ela ocorreu em virtude de um ato ilegal, portanto o uso da força pelo órgão
de segurança pública é questionável, posto que ele próprio provocou a situação.

2. A aplicação da força é necessária?

Para responder, é preciso identificar o objetivo a ser atingido:


• Se a ação atende aos limites considerados mínimos para que se torne justa e
legal sua intervenção;
• Verificar se todas as opções estão sendo consideradas e se existem outros
meios menos danosos para se atingir o objetivo desejado.
Você entenderá melhor sobre o “Princípio da Necessidade” nas próximas aulas.

63
3. O nível de força a ser utilizado é proporcional ao nível de resistência
oferecido?

Para verificar a proporcionalidade do Uso da Força, deve-se observar se houve


equilíbrio entre a ação do agressor e a reação do Agente se Segurança Pública.
Por outro lado, verifica-se a moderação quando o Agente interrompe o Uso da
Força, imediatamente após dominar o agressor, ou seja, o Agente de Segurança
Pública soube dosar a quantidade de força aplicada.
Como exemplo, pode-se citar a atuação de um Agente de Segurança Pública
que reage a uma agressão da pessoa abordada e não sabe a hora de parar de usar
a força, ou seja, a pessoa já se encontra dominada e ainda assim é submetido ao uso
da força que naquele momento passará a ser considerada desproporcional.

Você entenderá melhor o “Princípio da Proporcionalidade” e o “Princípio da


Moderação” nas próximas aulas.

4. O uso da força é conveniente?

O aspecto referente à conveniência do uso da força diz respeito ao momento e


ao local da intervenção do agente de segurança pública. Por exemplo, não seria
conveniente reagir a uma agressão por arma de fogo, se você estivesse em um local
de grande movimentação de pessoas, tendo em vista o risco que sua reação
ocasionaria naquela circunstância, ainda que fosse legal, proporcional e necessário.
O Uso da Força pelos Agentes de Segurança Pública deve ser norteado pela
preservação da vida, da integridade física e da dignidade de todas as pessoas
envolvidas em uma intervenção e, ainda, pelos princípios essenciais relacionados
seguir:

• Princípio da Legalidade;
• Princípio da Necessidade;
• Princípio da Proporcionalidade;
• Princípio da Moderação
• Princípio da Conveniência.

64
Veja, a seguir, cada um deles!

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Constitui na utilização de força para a consecução de um objetivo legal e nos


estritos limites do ordenamento jurídico.
Este princípio deve ser compreendido sob os aspectos do:

Resultado
Considera a motivação ou a justificativa para a intervenção da polícia. O objeto
da ação deve ser sempre dirigido a alcançar o objetivo legal. Deste modo, a lei protege
o resultado da ação do agente de segurança pública. (Interpretação dos Princípios 5
do PBUFAF).

Exemplo: O princípio da legalidade não está presente se o agente de segurança


pública usa de força física (violência) para extrair a confissão de uma pessoa. A tortura
é vedada em qualquer situação e não justifica o objetivo a ser alcançado por meio de
mecanismos que infringem o direito humano de não produzir prova contra si mesmo
ou declarar-se culpado.

Processo
Considera que os meios e métodos utilizados pelo agente de segurança pública
devem ser legais, ou seja, em conformidade com as normas nacionais (leis,
regulamentos, diretrizes, entre outros) e internacionais (acordos, tratados,
convenções, pactos entre outros). (conforme artigo 1º do CEAL)
Exemplo: O agente de segurança pública não cumpre o princípio da legalidade se
durante o seu serviço, usar arma e munições não autorizadas pela Instituição, tais
como armas sem registro, com numeração raspada, calibre proibido, munições
particulares, dentre outras.

65
PRINCÍPIO DA NECESSIDADE

O uso de força num nível mais elevado é considerado necessário quando, após
tentar outros níveis menos contundentes (negociação, persuasão e mediação) para
solucionar o problema, torna-se o último recurso a ser utilizado pelo agente de
segurança pública (Interpretação do princípio 4 do PBUFAF)

Um determinado nível de força só pode ser empregado quando outros níveis


de menor intensidade não forem suficientes para atingir os objetivos legais
pretendidos.

Exemplo: o agente de segurança pública pode utilizar a força potencialmente letal


(disparo de arma de fogo), para defender a sua vida ou de outra pessoa que se
encontra em perigo iminente de morte, provocado por um infrator, sempre que outros
meios não tenham sido suficientes para impedir a agressão.

PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE

O nível de força utilizado pelo agente de segurança pública deve ser


compatível, ao mesmo tempo, com a gravidade da ameaça representada pela ação
do infrator, e com o objetivo legal pretendido.

Gravidade da Ameaça
Para ser avaliada, deverão ser considerados, entre outros aspectos, a
intensidade, a periculosidade e a forma de proceder do agressor, a hostilidade do
ambiente e os meios disponíveis ao agente de segurança pública (habilidade técnica
e equipamentos). De acordo com a evolução da ameaça (aumento ou redução) o
agente de segurança pública readequará o nível de força a ser utilizado, tornando-o
proporcional às ações do infrator, o que confere uma característica dinâmica a este
princípio.
Exemplo: não é considerada proporcional a ação agente de segurança pública, com
o uso de força potencialmente letal (disparando sua arma de fogo) contra um

66
cidadão que resiste passivamente, com gestos e questionamentos, a uma ordem de
colocar as mãos sobre a cabeça, durante a busca pessoal. Neste caso, a
verbalização e/ou controle de contato corresponderão ao nível de força indicada
(proporcional).

Objetivo Legal Pretendido


Consiste em aferir se o resultado da ação agente de segurança pública está
pautado na lei. Visa à proteção da vida, integridade física e patrimônio das pessoas
que estejam sofrendo ameaças; além da manutenção da ordem pública e a
restauração da paz social. Guarda correlação direta com o princípio da legalidade no
que se refere ao aspecto “resultado”.

O princípio da proporcionalidade aplicado na ação bélica tipicamente


militar (Forças Armadas) em situações de guerra. De acordo com as
normas do Direito Internacional Humanitário (DIH) – também chamado de
Direito Internacional dos Conflitos Armados – a proporcionalidade é o
princípio destinado a limitar os danos causados (colaterais ou incidentais)
por operações militares em situações de conflito armado. Neste caso, não
se leva em consideração outros aspectos como a gravidade da agressão
ou ameaça do inimigo. Assim, os possíveis danos causados às pessoas e
aos bens civis, decorrentes das operações militares, com o fim de
neutralizar ou destruir as forças inimigas, não são proibidos pelo DIH,
desde que tais danos sejam proporcionais à vantagem militar a ser
alcançada. A proporcionalidade militar exige que o efeito dos meios e
métodos de guerra utilizados considere, principalmente, a vantagem militar
pretendida. Os artigos 51 e 57 do Protocolo Adicional, comuns às
Convenções de Genebra, proíbem que sejam lançados ataques que
causem vítimas entre a população civil e danos aos bens de caráter civil.

67
PRINCÍPIO DA MODERAÇÃO

O emprego de força pelos agentes de segurança pública deverá ser dosado,


visando reduzir possíveis efeitos negativos decorrentes do seu uso ou até evitar que
se produzam.

O nível de força utilizado pelo agente de segurança pública na intervenção


deverá ter a intensidade e a duração suficientes para conter a agressão. Este princípio
visa evitar o excesso no uso de força.

Considera-se imoderada a ação do agente de segurança pública que após


cessada ou reduzida a agressão, continua empregando o mesmo nível de força.

Exemplo: O agente de segurança pública que continua disparando, mesmo quando


o agressor que atirou contra ele já estiver caído ao solo, sem qualquer outro tipo de
reação. O agente de segurança pública que após quebrar a resistência física do
infrator utilizando o bastão, gás/agente químico ou mesmo técnicas de imobilização,
persistir fazendo o uso desses meios. (Interpretação do princípio 5 “a” dos PBUFAF)

PRINCÍPIO CONVENIÊNCIA

O princípio da conveniência diz respeito à oportunidade e à aceitação de uma


ação agente de segurança pública em um determinado contexto, ainda que estejam
presentes os demais princípios.

As consequências do uso de força serão avaliadas de maneira dinâmica, pois


se estas forem consideradas mais graves do que a ameaça sofrida pelas pessoas,
será recomendável aos agentes de segurança pública reverem o nível de força
utilizado. É adequado reavaliar os procedimentos táticos empregados, inclusive
considerar a possibilidade de abster-se do uso de força.

A força não será empregada quando houver possibilidade de ocasionar danos


de maior relevância em relação aos objetivos legais pretendidos.

68
Exemplo: Não é adequado ao agente de segurança pública repelir os disparos de um
agressor em uma área com grande movimentação de público devido à possibilidade
de se vitimar outras pessoas, mesmo que estejam sendo observados os princípios da
legalidade, necessidade e proporcionalidade naquela ação.

Atenção: O Agente de segurança pública deverá considerar que, quando as


consequências negativas do uso de força forem superiores ao objetivo legal
pretendido e à gravidade da ameaça ou agressão sofrida, é recomendado que não
prossiga com o uso de força.

A seguir você estudará com detalhes as referências técnicas sobre o uso de arma de
fogo, que se caracteriza como sendo o nível máximo do uso da força.

• Conforme previsto na Diretriz nº 3, da Portaria nº 4226, o Agente de Segurança


Pública não deve usar arma de fogo, exceto em casos de legítima defesa
própria ou de terceiros, contra perigo iminente de morte ou lesão grave.
• Na atividade operacional, a ação de usar ou empregar armas de fogo tem um
entendimento prático e específico que a diferencia, em termos de nível de força
aplicado, em relação à ação de disparar ou atirar.
• Os verbos usar ou empregar arma de fogo, devem ser entendidos como
sinônimos e correspondem às ações do Agente de Segurança Pública de
empunhar ou apontar sua arma na direção da pessoa abordada, com efeito
dissuasivo, no entanto, dispará-la.
• Os verbos atirar ou disparar arma de fogo, devem ser entendidos como
sinônimos e correspondem ao efetivo disparo feito pelo Agente de Segurança
Pública na direção da pessoa abordada. Ele disparará (atirará) contra essa
pessoa, como último recurso, em caso de legítima defesa própria ou de
terceiros, contra perigo iminente de morte ou lesões graves.

69
Usar ou Empregar Arma de Fogo

As ações de empunhar ou apontar a arma durante a intervenção do Agente


de Segurança Pública de uma verbalização adequada constitui demonstração de força
que implicará em forte efeito intimidativo no abordado, além de estar em condições de
apresentar uma reposta rápida, caso necessário. Servirá também como fator de
autoproteção do Agente, uma vez que ele estará com sua arma em condição de
disparo. As posições adotadas com a arma correspondem a níveis diferentes de
percepções de uso de força pelo abordado. Exemplo: localizar, empunhar e apontar a
arma de fogo.

O Agente de Segurança Pública no seu cotidiano operacional poderá empregar


a sua arma com o objetivo de preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas
e do patrimônio. (Inciso V do artigo 144 da Constituição Federal Brasileira, no exercício
pleno do seu poder de polícia).

Importante!
O fato do Agente de Segurança Pública somente portar a arma no coldre,
como parte do seu equipamento profissional, não será considerado “uso”
ou “emprego” de arma de fogo. Do mesmo modo conduzir armas longas
em posição de bandoleira não será interpretado como “uso” ou “emprego”.

A ação do Agente de Segurança Pública em levar a mão até a arma (arma


localizada) enquanto verbaliza, demonstra ao abordado em grau de força mais
elevado do que se estivesse falando com as mãos livres. A posição com a arma de
fogo empunhada, como uma demonstração de força, permite que o Agente de
Segurança Pública também esteja pronto para defender-se caso necessite dispará-
la contra uma eventual agressão letal. De igual maneira, efeito fortemente dissuasivo
pode ser obtido quando, durante a intervenção, já com a arma empunhada, decide
apontá-la na direção da pessoa abordada.

70
Possibilidades de uso ou emprego de armas de fogo:

Posição 1 – arma localizada


Com a arma ainda no coldre, leva a mão até o punho, como se estivesse pronto
para sacá-la.
Posição 2 – arma em guara baixa
Com a arma, já empunhada, fora do coldre, posicionada na altura do abdome
e com o cano dirigido para baixo.
Posição 3 – arma em guarda alta
Com a arma, já empunhada, fora do coldre, posicionada na altura do peito, com
o cano dirigido, numa angulação de aproximadamente 45º, pronto para apontá0la para
o alvo.
Posição 4 – arma em pronta resposta
Com a arma apontada diretamente para o abordado.

O Agente de Segurança Pública deve se preocupar em não banalizar o uso da


posição 4 (arma apontada) durante a abordagem e, logo que possível, conforme a
evolução da situação, deverá retornar à posição 2 ou 3, mantendo ativa a verbalização
e o controle do abordado. Sempre que o critério de segurança indicar, deve evitar
iniciar a abordagem com a arma na posição 4, porque além de demonstrar
agressividade, não há flexibilidade de evolução para um nível superior de força que
não seja efetuar o disparo, correndo-se ainda o risco de disparo acidental com graves
consequências.

Importante!
Mantenha o dedo fora do gatilho enquanto empunhar o
armamento. O controle da direção do cano também é
fundamental como aspecto de segurança no uso do armamento.

71
Atirar ou Disparar Arma de Fogo

Os verbos atirar ou disparar, quando relacionado com arma de fogo, devem


ser entendidos como sinônimos e correspondem ao efetivo disparo feito pelo Agente
de Segurança Pública na direção da pessoa abordada. Ele disparará (atirará) contra
esta pessoa, como último recurso, em caso de legítima defesa própria ou de terceiros,
contra perigo iminente de morte ou lesões graves.

O disparo de arma por Agentes de Segurança Pública contra uma pessoa


constitui a expressão máxima de uso da força devido ao efeito potencialmente letal
que representa, devendo ser considerada uma medida extrema.

Para fazer o uso da arma de fogo, você deverá:

Identificar-se como agente de segurança pública.

Avisar prévia e claramente sua intenção de usar armas de fogo, com tempo
suficiente para que o aviso seja levado em consideração.

A NÃO SER QUE

Tal procedimento represente risco indevido para os agentes de segurança


pública ou acarrete risco de dano grave ou morte para terceiros.

OU

Seja totalmente inadequado ou inútil, dadas as circunstâncias da ocorrência.

72
Uso da Força: ações indispensáveis

Ao utilizar sua arma de fogo durante uma intervenção operacional, o Agente de


Segurança Pública deve lembrar-se de:

• Verificar se as características técnicas de alcance do armamento e munições


utilizados, enquadram-se nos padrões adequados à situação real em que o tiro
está sendo realizado;
• Identificar-se como Agente de Segurança Pública de forma clara e inequívoca,
advertindo o agressor sobre sua intenção de disparar, usando o comando
verbal:
- Polícia!
- Solte sua arma!
- NÃO reaja, posso disparar!

• Considerar o tempo necessário ao acatamento do comando, de forma que seja


dada ao agressor a oportunidade de desistir do seu intento.

Sobre o disparo de arma de fogo, deverá considerar:

a) Não disparar sua arma de fogo quando o agressor descartar, ou retrucar, ou


ponderar a ordem, ou ainda, quando este tentar empreender fuga;
b) Providenciar imediato socorro médico à pessoa ferida. Procurar minimizar os
efeitos lesivos dos disparos;
c) Providenciar para que seja informado à família e às instituições encarregadas
de tutelar os Direitos Humanos sobre o estado de saúde da pessoa ferida e
onde ela será socorrida. A transparência da ação no âmbito da Segurança
Pública consolida a credibilidade e a legitimidade quando se torna necessário
o emprego da força;
d) Relatar detalhadamente o fato ocorrido, registrando as providências adotadas
antes e após o uso da arma de fogo e mencionado a quantidade de disparos,
as armas que atiraram e seus detentores.

73
Saiba mais...
Assistência psicológica e jurídica

Leia o documento Princípios Básicos sobre o uso da Força e Armas de


Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei - Princípios
nº 21;
Leia a Diretriz nº 11, letras “g” e “h”, da Portaria nº 4226;
Portaria Interministerial nº 2, de 15 de dezembro de 2010 (Estabelece as
Diretrizes Nacionais de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos dos
Profissionais de Segurança Pública.)
(...)
19) Desenvolver programas de acompanhamento e tratamento destinados
aos profissionais de segurança pública envolvidos em ações com resultado
letal ou alto nível de estresse.

Comentários:

Comentário 1
Treinamento prático
O treinamento deve guardar semelhança com as situações vivenciadas na
atividade de proteção da sociedade e ser mais prático do que estático, devendo ainda
ser contínuo e meticuloso, colocando os policiais aptos ao desempenho de suas
funções. As técnicas e táticas vivenciadas no treinamento são os instrumentos que
você tem para utilizar e fazer a diferença, para tornar o confronto desigual a seu favor,
ajudando-o a solucionar os mais diversos tipos de intervenções do agente de
segurança pública.

Assim, você deve dominar técnicas que lhe proporcionem o máximo de controle
com o mínimo de esforço, e dentro de uma estrutura tática e legal que se ajustem
(taticamente aplicável e legalmente aceita).

Saiba mais...
Leia o documento Princípios Básicos sobre o uso da Força e
Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela
Aplicação da Lei - Princípios nº 19;
Leia as Diretrizes nº 14,15, 16 e 17 da Portaria nº 4226;

74
Comentário 2
Questões éticas
É importante salientar as questões de natureza ética, que, juntamente com os
princípios dos direitos humanos, devem ser parte importante no treinamento, sendo
que essa qualificação deve preparar os agentes de segurança pública também para o
uso de alternativas de força, incluindo a solução pacífica de conflitos, compreensão
do comportamento de multidões e métodos de persuasão, que podem reduzir
consideravelmente a possibilidade de confronto.

Utilização de arma de fogo


Sobre a utilização de arma de fogo, os agentes de segurança pública precisam
estar devidamente treinados para tal mister, devendo ainda, estarem orientados sob
o ponto de vista emocional acerca do estresse que envolve situações dessa natureza.
O treinamento deve conter ainda aspectos relacionados aos fatos ocorridos no
cotidiano do agente de segurança pública, aspectos que servem como exemplos
quando da realização dessa atividade, para facilitar o trabalho dos agentes de
segurança pública em novas intervenções de natureza semelhante.

Saiba mais...
Leia o documento Princípios Básicos sobre o uso da Força e
Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela
Aplicação da Lei - Princípios nº 1 e 20.

Comentário 3
Responsabilidade pelo Uso da Força
A responsabilidade direta pelo uso da força poderá recair sobre o autor, os
superiores ou a equipe de Agentes de Segurança Pública. Vale lembrar que é de
nossa responsabilidade a proteção do bem maior: a vida e a integridade das pessoas.

75
Os agentes de segurança pública só podem empregar a força quando
estritamente necessária e na medida exigida para o cumprimento do seu dever,
devendo evitar e opor-se, com rigor, a quaisquer violações da lei (Conforme artigo 3º
e 8º do CCEAL).

A responsabilidade direta pelo uso de força será:

a) DO AUTOR: é individual e, portanto, recai sobre o agente de segurança pública


que a empregou (Interpretação do princípio 26 dos PBUFAF).
b) DOS SUPERIORES OU CHEFES: igualmente serão responsabilizados quando
agentes de segurança pública sob suas ordens tenham recorrido ao uso
excessivo de força e estes superiores não adotarem todas as medidas
disponíveis para impedir, fazer cessar ou comunicar o fato (Interpretação do
princípio 24 dos PBUFAF).
O cumprimento de ordens superiores não será justificado quando os
agentes de segurança pública tenham conhecimento de que uma determinação
para usar de força ou armas de fogo, foi manifestamente ilegal e que estes
agentes de segurança pública tenham tido oportunidade razoável de se
recusarem a cumpri-la. Em qualquer caso, a responsabilidade caberá também
aos superiores que tenham dado ordens ilegais (Interpretação do princípio 26
dos PBUFAF).
c) DA EQUIPE DE AGENTES DE SEGURANÇA PÚBLICA: Qualquer agente de
segurança pública que suspeite que outro agente de segurança pública esteja
fazendo ou tenha feito o uso da violência, deve adotar todas as providencias,
ao seu alcance, para prevenir ou opor-se rigorosamente a tal ato. Na primeira
oportunidade que tenha, deve informar o fato aos seus superiores e, se
necessário, a qualquer outra autoridade com competência para investigar os
fatos. (Conforme artigo 3º e 8º. do CCEAL).

Nos casos em que houver emprego de força os agentes de segurança pública


preencherão, além do Auto de Resistência, o respectivo boletim de ocorrência,
constando informações sobre:

76
• tipo de força, equipamento ou armamento utilizado;
• motivação e justificativa para a utilização do tipo de força;
• tipo de resistência oferecida pelo abordado;
• meios que o agente de segurança pública dispunha para emprego da força;
• providências adotadas pelo agente de segurança pública após a prisão do
abordado;
• dados da equipe, agente de segurança pública, presente no momento da ação;
• lesões produzidas;
• detalhes do evento;
• no caso de armas de fogo: distância de utilização e quantidade de munição
empregada e região do corpo atingida.

Objetivo do Disparo

O dever funcional do Agente de Segurança Pública é entendido como servir e


proteger a sociedade, preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do
patrimônio, garantindo a vida, a dignidade e a integridade de todos.
Quando um Agente de Segurança Pública dispara sua arma de fogo em
cumprimento do seu dever, como último recurso na escala de uso de força, não o faz
para advertir, assustar, intimidar ou ferir um agressor, ele o faz para interromper, de
imediato, uma ação que atente contra a própria vida ou à de outra pessoa.

Algumas variáveis que estão presentes na intervenção do Agente de Segurança


Pública nas quais o confronto armado pode resultar na morte do agressor:

a) Controladas pelo Agente de Segurança Pública: características balísticas


da arma utilizada, distância e quantidade dos disparos, tipo de munição
(calibre, potência, alcance);

b) Parcialmente controladas pelo Agente Segurança Pública: direcionamento


do disparo (local do corpo do agressor em que se dará impacto). Em situação
de ambiência operacional (teatro de operações), a precisão da pontaria pode
sofrer graves reduções, mesmo para atiradores experientes, devido a situações

77
diversas tais como fatores ambientais (periculosidade do local, luminosidade,
chuva, entre outros), condições psicomotoras do Agente de Segurança
Pública (cansaço, agitação, nervosismo, batimento cardíaco, tremores, entre
outros) e o próprio dinamismo do alvo (movimentação do agressor).

c) Compleição física, estado emocional e resistência orgânica da pessoa atingida.

A letalidade (morte do agressor) nunca será entendida como objetivo final da


ação de disparar a arma pelo Agente de Segurança Pública. Contudo, o resultado
“morte” poderá ser decorrente dos efeitos lesivos próprios do instrumento utilizado
(arma de fogo). Tais efeitos, sujeitos ainda às variáveis apresentadas nos objetivos
do disparo, não são plenamente controlados pelo Agente de Segurança Pública.

Portanto, quando o Agente de Segurança Pública atira contra um agressor,


considera-se o uso da força potencialmente letal (e não de força letal), reafirmando
a intenção de controlar a ameaça (e não de produzir um resultado morte). Mesmo
porque, logo após efetuar o disparo, estando a pessoa ferida, o Agente de segurança
Pública obrigatoriamente providenciará, de imediato, todo o socorro necessário para
minimizar os efeitos dos ferimentos, visando salvar-lhe a vida.

Diretriz nº 10, letra “a”, da Portaria nº 4226.

Quando o uso da força causar lesão ou morte de pessoa(s), o


agente de segurança pública envolvido deverá realizar as
seguintes ações:
a. facilitar a prestação de socorro ou assistência médica aos
feridos;

78
Princípios Básicos sobre o uso da Força e Armas de Fogo pelos
Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei

Princípio nº 5, letra “c”

(...) 5. Sempre que o uso legítimo da força e de armas de fogo


for inevitável, os responsáveis pela aplicação da lei deverão: (c)
Assegurar que qualquer indivíduo ferido ou afetado receba
assistência e cuidados médicos o mais rápido possível; (...)

Importante!
O Agente de Segurança Pública disparará (atirará) a arma de
fogo contra uma pessoa, no exercício das suas atividades, como
último recurso (medida extrema de Uso da Força), em caso de
legítima defesa própria ou de terceiros, contra perigo iminente
de morte ou ferimentos graves.
Ver Diretriz nº 3, da Portaria nº 4226.

Nos casos em que o Agente de Segurança Pública dispara sua arma de fogo
contra uma pessoa é importante considerar as diversas circunstâncias que poderão
interferir na precisão do tiro, conforme descrição anterior contida no tópico “Objetivo
do Disparo” (item “parcialmente controladas pelo Agente de Segurança Pública”).

Sempre que as circunstâncias permitirem o Agente de Segurança Pública


deverá, desde que não coloque em risco a própria vida ou a terceiros, disparar nas
partes do corpo do agressor que minimizem o risco de morte. A capacitação para a
realização com efetividade de disparos “menos ofensivos” deverá fazer parte do
treinamento com armas de fogo aplicado aos Agentes de Segurança Pública que já
superaram o nível básico do treinamento.

O Agente de Segurança Pública deverá evitar atirar quando as consequências

79
do disparo puderem ser piores que as ameaças sofridas pelas pessoas que estiverem
sendo defendidas. Os agressores, ao contrário dos Agentes de Segurança Pública,
não levam em consideração os efeitos negativos do seu disparo e nem se dão conta
de alguma consequência técnica como a “bala perdida” que possa vir a atingir
inocentes. Ao contrário, eles se valem de tal oportunidade, a de acertarem pessoas
do povo, por saberem que os Agentes de Segurança deixarão de persegui-los para
prestarem socorro a essas possíveis vítimas.

O Agente de Segurança Pública é qualificado profissionalmente para seguir as


regras do ordenamento jurídico sob os preceitos da ética profissional, baseada na
premissa de proteger a integridade física das pessoas, promovendo a dignidade
humana e Direitos Humanos.

A prioridade na ação do Agente de Segurança Pública é a preservação de


vidas. Essa é a diferença marcante sobre as consequências em relação aos disparos
de amas de fogo efetuados por um Agente de Segurança Pública e os desferidos por
um agressor.

Código de Conduta para Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei:

(...) Artigo 2º No cumprimento do seu dever, os funcionários


responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar e proteger a
dignidade humana, manter e apoiar os direitos fundamentais de
todas as pessoas (...)

Os Agentes de Segurança Pública devem ter pleno conhecimento sobre os


aspectos éticos e legais que envolvem a sua ação profissional.

Para tanto, deverão atualizar-se sobre a doutrina, além de treinar,


regularmente, as técnicas de uso do seu armamento e equipamento de trabalho.

80
Diretrizes nº 16, 17 e 18, da Portaria nº 4226
(...) 16. Deverão ser elaborados procedimentos de habilitação para o uso de cada
tipo de arma de fogo e instrumento de menor potencial ofensivo que incluam
avaliação técnica, psicológica, física e treinamento específico, com previsão
de revisão periódica mínima.
17. Nenhum agente de segurança pública deverá portar armas de fogo ou
instrumento de menor potencial ofensivo para o qual não esteja devidamente
habilitado e sempre que um novo tipo de arma ou instrumento de menor
potencial ofensivo for introduzido na instituição deverá ser estabelecido um
módulo de treinamento específico com vistas à habilitação do agente.
18. A renovação da habilitação para uso de armas de fogo em serviço deve ser
feita com periodicidade mínima de 1 (um) ano(...).

Circunstâncias especiais para disparo de arma de fogo

Existem algumas circunstâncias especiais, típicas do serviço


operacional, que requerem atenção diferenciada por parte do Agente de
Segurança Pública.
Vejamos a seguir:

1. Distúrbio civil e outras situações de aglomeração de público;


2. Vigilância de pessoas sob custódia do Agente de Segurança Pública;
3. Disparos com munições de menor potencial ofensivo;
4. Disparos táticos;
5. Disparos de dentro da viatura de Segurança Pública em movimento ou contra
veículos em fuga;
6. Disparos de advertência;
7. Disparos contra animais.

Veja a seguir cada um deles!

81
1. Distúrbio civil e outras situações de aglomeração de público:

A REGRA GERAL É NÃO DISPARAR A ARMA DE FOGO NESSES TIPOS DE


INTERVENÇÃO.

Excepcionalmente, o Agente de Segurança Pública que estiver encarregado da


segurança da equipe (grupo ou pelotão) poderá disparar sua arma de fogo nos casos
de legítima defesa própria ou de terceiros, contra ameaça iminente de morte ou
ferimento grave. Esses disparos devem ser dirigidos a um alvo específico (agente
causador da ameaça) e na quantidade minimamente necessária para fazer cessar a
agressão. Somente serão utilizados quando não for possível empregar outros meios
menos lesivos.

Antes de atirar, deverá dedicar especial atenção à segurança do público e


empregar munições ou armas adequadas (tipo, potência e alcance).

Importante!

Sobre o controle de distúrbio civil é necessário considerar que:

A presença de aglomeração de pessoas reforça a regra de que o Agente


de Segurança Pública somente poderá disparar sua arma quando for
estritamente necessário para proteger vidas. Sob nenhuma circunstância,
será aceitável atirar indiscriminadamente contra uma multidão, como
recurso para dispersá-la.

2. Vigilância de pessoas sob custódia policial:

A REGRA GERAL É NÃO DISPARAR A ARMA DE FOGO.

Todavia, seu emprego está autorizado, quando outros meios menos lesivos se
mostrem ineficazes e seja estritamente necessário o disparo, nos casos de legítima

82
defesa própria ou de outrem, quando o indivíduo, durante a fuga, provocar ameaça
iminente de morte ou ferimento grave.

Importante!

NÃO É JUSTIFICÁVEL DISPARAR ARMA DE FOGO CONTRA UMA


PESSOA EM FUGA, que esteja desarmada ou que, mesmo possuindo
algum tipo de arma, não represente risco iminente ou atual de morte ou de
grave ferimento aos policiais ou a terceiros. Veja Diretriz 02, Portaria 4226.

3. Disparos com munições de menor potencial ofensivo:

São disparos com equipamento apropriado ou arma de fogo, em que se utiliza


munição especial (elastômero - projétil de látex macio ou similar). Normalmente, são
empregadas em operações de manutenção da ordem pública e controle de distúrbios.
As regras para o disparo com essas munições não são tão restritivas como as que se
aplicam às munições convencionais (somente em defesa da vida). Contudo, suas
características e finalidades permitem seu emprego em situações como a de
manutenção da ordem pública e de controle de distúrbios, quando o nível de força a
ser aplicado for menor ao que se aplicaria nos disparos de armas de fogo com
munições convencionais.

Nessas situações, o Agente de Segurança Pública deve considerar as


possíveis consequências (riscos) de atirar e a sua responsabilidade pela proteção da
vida de outras pessoas, devendo observar:

• as especificações técnicas para seu uso, sistemas de disparo, distância em que


podem atirar com segurança, alcance e trajetória de projéteis, efeitos em
ambientes fechados, entre outros;

• que os disparos efetuados com esse tipo de munição têm pouca precisão;

• que devem ser evitados os disparos diretos contra as partes mais sensíveis do
corpo, principalmente locais de risco de lesões graves: cabeça, olhos, ouvidos,

83
entre outros. Os disparos devem ser dirigidos para a região dos membros
inferiores;

• mesmo quando utilizado dentro das regras citadas, o risco de um possível


efeito letal ou de graves lesões continua existindo, mas em um nível
bastante inferior, quando comparado ao uso de munições convencionais para
arma de fogo;

• os disparos devem ser seletivos e realizados, especificamente, contra as


pessoas que estejam causando as ameaças.

4. Disparos táticos:

São realizados para obter uma vantagem tática, para dar mais segurança ao
reposicionamento da equipe de Agentes de Segurança Pública no terreno. Não devem
ser dirigidos contra pessoas. São aqueles normalmente efetuados pelo Agente de
Segurança para dar cobertura a companheiros durante confrontos armados (“fogo e
movimento”), também, para diminuir a luminosidade de um ambiente, romper a
fechadura de uma porta ou de outros obstáculos. O Agente de Segurança Pública que
o realiza deve estar devidamente treinado, para não colocar em risco a sua integridade
física e a de outras pessoas.

5. Disparos de dentro da viatura de segurança pública em

movimento ou contra veículos em fuga (similaridade com uso de

embarcações):

A REGRA GERAL É NÃO ATIRAR!

Nas situações de perseguição veicular (ou barco/lancha) existem algumas


circunstâncias em que a vida do Agente de Segurança Pública ou a de terceiros se
encontra em grave e iminente risco, como nos casos de atropelamentos ou acidentes

84
intencionais provocados pelo veículo em fuga (o motorista utiliza o veículo como
“arma”). Esses disparos representam a única opção do Agente de Segurança para
detê-lo. Ver Diretriz nº 04, Portaria 4226.
Nessas situações, antes de efetuar o disparo, devem ser consideradas as
possíveis consequências (riscos) do tiro, e sua responsabilidade na proteção da vida
de outras pessoas. Para isso, deve-se observar o contido a seguir:

• Estes disparos têm pouca eficácia para fazer um veículo e os projetos podem
ricochetear (no motor ou pneus) ou atravessar o veículo ou, até mesmo não
atingi-lo, convertendo-se em “balas perdidas”;
• Se o condutor for atingido, existe um risco elevado de que ele perca o controle
do veículo e cause acidentes graves;
• Estes disparos têm pouca precisão, o disparo fica prejudicado pelo movimento
do veículo e o balanço provocado por ele, inclusive quando efetuados por
atiradores experientes;
• Existe a possibilidade de que vítimas (reféns) estejam no interior do veículo
perseguido inclusive dentro do porta-malas;
• Os disparos efetuados pelos Agentes de Segurança Pública podem provocar
um revide por parte dos abordados, incrementando ainda mais o risco para
outras pessoas, principalmente em áreas urbanas (balas perdidas). O mais
recomendável é distanciar- se do veículo em fuga e, sem perdê-lo de vista,
adotar medidas operacionais para efetuar o cerco e bloqueio. Recomenda-se,
ainda, solicitar reforço para que a intervenção possa ser realizada com mais
segurança.

Importante!

Os Agentes de Segurança Pública não deverão disparar contra


veículos que desrespeitem o bloqueio de via pública, a não ser que
ele represente um risco imediato à vida ou à integridade dos Agentes
ou de terceiros, por meio de atropelamentos ou acidentes intencionais
(o motorista utiliza o veículo como “arma”).

Veja o que a Diretriz nº 5 da Portaria 4.226 diz:

85
(...)5. Não é legítimo o uso de armas de fogo contra veículo que
desrespeite bloqueio policial em via pública, a não ser que o ato
represente um risco imediato de morte ou lesão grave aos
agentes de segurança pública ou terceiros. (...)

6. Disparos de advertência:

A REGRA É NÃO DISPARAR a arma de fogo com esta finalidade.

Quando o Agente de Segurança Pública atira com sua arma, não o faz para
advertir ou para assustar, o faz para interromper, de imediato, uma agressão contra a
sua vida ou a de terceiros. Considerando as possíveis consequências desse tipo de
ação, os Agentes de Segurança Pública não devem atirar para fazer valer sua
advertência:
• nos disparos feitos para cima, o projétil retorna ao solo com força suficiente
para provocar lesões ou morte. Nos disparos feitos contra o solo ou contra
paredes, ele pode ricochetear e provocar lesões ou morte;
• esses disparos podem fazer com que outros Agentes de Segurança Pública
que estejam atuando nas proximidades pensem, de maneira equivocada, que
estão sendo alvos de tiros de agressores, o que pode provocar neles reação
indevida;
• os disparos efetuados pelos Agentes de Segurança Pública podem provocar
revide por parte dos agressores, incrementando ainda mais o risco contra a
equipe e contra outras pessoas.

Saiba mais...

86
Portaria nº 4226, Princípio nº 6

(...) 6. Os chamados "disparos de advertência" não são


considerados prática aceitável, por não atenderem aos
princípios elencados na Diretriz n.º 2 e em razão da
imprevisibilidade de seus efeitos. (...)

7. Disparo contra animais

Poderá ocorrer após serem tentados outros meios de contenção e quando o animal:

• encontrar-se fora de controle, agressivo, ou representar grave e iminente perigo


contra as pessoas ou ao patrimônio;

• encontrar-se agonizante e numa situação de ferimentos ou enfermidade na


qual necessite ser sacrificado para evitar sofrimento desnecessário e não
estiver próximo a veterinário que possa realizar esta tarefa e não houver
condições de atendimento por outros órgãos responsáveis.
Exemplo: animal atropelado, ferido, agonizante e caído em rodovia deserta em
situação de penúria. É importante considerar que quaisquer tratamentos cruéis
cometidos contra animais poderão constituir em crime previsto na legislação
brasileira. Sobre isso existem dispositivos legais que estabelecem a proteção deles.
Caberá, portanto, ao Agente de Segurança Pública, antes de disparar, avaliar os
possíveis resultados dessa ação, seus reflexos na segurança do público em geral e
dos prejuízos ou danos materiais ao proprietário do animal.

LEMBRE-SE:

O treinamento e a avaliação constantes do uso da arma de fogo propiciarão


melhor capacidade técnica ao Agente de Segurança Pública, resultando em
credibilidade e legitimidade junto à população.

87
Disparos de armas de fogo: Agentes de Segurança Pública x infratores

Faz-se necessário distinguir claramente, sob o enfoque prático, as diferenças


existentes entre os disparos de armas de efetuados pelos Agentes de Segurança
Pública em resposta aos tiros contra eles realizados pelos agressores. Observe
atentamente o quadro a seguir:

LOCAL DE PREOCUPAÇÃO COM


CATEGORIA OBJETIVOS
ATUAÇÃO TERCEIROS

• Defender a vida TOTAL: Qualquer pessoa


das pessoas. do público atingida ou
Junto à sociedade
ferida é extremamente
• SERVIR E
POLICIAIS grave e comprometedor.

• PROTEGER
NENHUMA: O público
CIDADÃOS atingido facilita a fuga,
INFRATORES • Delinquir Junto à sociedade pois ocupará a Polícia
com o socorro.

Fonte: MINAS GERAIS. Polícia Militar. Manual de Prática Policial, volume I. Belo Horizonte, 2002.

88
Aula 2 – O Triângulo da Força

O triângulo da força letal é um modelo de


tomada de decisão designado para desenvolver
sua habilidade para responder a encontros de
força, permanecendo dentro da legalidade e de
parâmetros aceitáveis.
Os três lados de um triângulo equilátero
representam três fatores: habilidade,
oportunidade e risco.

Habilidade
Capacidade física do suspeito de causar danos, em um agente de segurança
pública ou em outra pessoa inocente. Isso significa, em outras palavras, que o
suspeito possui uma arma capaz de provocar morte ou lesão grave, como uma arma
de fogo ou uma faca. Habilidade pode ainda incluir a capacidade física, através de
arte marcial ou de força física, significativamente superior à do agente de segurança
pública.

Oportunidade
Diz respeito ao potencial do suspeito em usar sua habilidade para matar ou ferir
gravemente. Um suspeito desarmado, mas muito alto e forte, pode ter a habilidade de
ferir seriamente ou matar uma outra pessoa menor e menos condicionada. A
oportunidade, entretanto, não existe se o suspeito está a 20 metros de distância, por
exemplo. De igual modo, um suspeito armado com uma faca tem habilidade para
matar ou ferir seriamente, mas pode faltar oportunidade se você aumentar a distância
entre as partes – no caso, você e ele – ou na busca de um abrigo.

Risco
Existe quando um suspeito toma vantagem de sua habilidade e oportunidade
para colocar agente de segurança pública ou outra pessoa inocente em um iminente
perigo físico. Uma situação onde um suspeito de roubo, recusa-se a soltar a arma
quando acuado após uma perseguição a pé, pode-se constituir em risco.

89
Comentário.
Raciocinar sobre o triângulo da força letal pode auxiliá-lo a decidir. Além disso,
ao lidar com um suspeito não cooperativo que está armado, você deve, em primeiro
lugar, buscar um abrigo para, então, lidar com ele. Em seguida, você deve aumentar
a distância entre você e o agressor, o que dificultará o ataque. Em terceiro lugar,
solicite cobertura. Não tente resolver a situação isoladamente.
Aumentar o número e qualidade (equipes especializadas) dos agentes de
segurança pública no local pode desencorajar o agressor. Em último caso, havendo
risco demasiado para você e para a comunidade, avalie a possibilidade de se retirar
do local ou facilitar a fuga do agressor, pois “uma prisão sempre pode aguardar uma
nova oportunidade”, mas a perda de uma vida é irreversível! Estando protegido e
sendo possível, utilize a negociação e a persuasão, determinando ao suspeito que se
renda. Quando a situação permitir, a verbalização deve ser combinada com a
demonstração de força. O suspeito deve entender a sua disposição e firme resolução
em controlá-lo utilizando-se, inclusive, de força potencialmente letal.

Avaliação de riscos

Toda intervenção envolve algum tipo de risco potencial que deverá ser
considerado pelo Agente de Segurança Pública. O risco é a probabilidade de
concretização de uma ameaça contra pessoas e bens; é incerto, mas previsível. Cada
situação exigirá que ele se mantenha no estado de prontidão compatível com a
gravidade dos riscos que identificar. Uma ponderação prévia irá orientar o Agente de
Segurança Pública sobre a necessidade e sobre o momento de iniciar a intervenção,
escolhendo a melhor maneira para fazê-lo.

Toda ação do Agente de Segurança Pública deverá ser precedida de uma


avaliação dos riscos envolvidos, que consiste na análise da probabilidade da
concretização do dano e de todos os aspectos de segurança que subsidiarão o
processo de tomada de decisão em uma intervenção.

O Agente de Segurança Pública deverá ter em mente que, em qualquer


processo de tomada de decisão em ambiente operacional, precisa levar em conta as

90
atribuições do Órgão de Segurança Pública a que pertence. Em geral, pode-se resumir
como sendo o dever funcional de servir e de proteger a sociedade, preservar a ordem
pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio, garantindo a vida, a dignidade
e a integridade de todos.

Aplicação da avaliação de risco

A avaliação possibilita o uso de técnicas e de táticas adequadas às diversas


formas de intervenção do Agente de Segurança Pública. Para cada nível de risco
determinado deverá haver uma conduta operacional correspondente, como referência
para a ação do Agente de Segurança Pública, cabendo-lhe selecionar os
procedimentos mais adequados a cada situação.

Cada atuação do Agente de Segurança Pública é cercada de particularidades.


Não existem intervenções iguais, contudo, é possível desenhar um conjunto de
“situações básicas” que podem servir de modelos aplicáveis ao treinamento.

A sistematização das respostas esperadas a partir da identificação e da


classificação de riscos em uma intervenção viabiliza a seleção e a aplicação de
procedimentos adequados à solução de problemas.

LEMBRE-SE:
Às vezes não é possível afastar completamente o risco em uma intervenção,
mas o preparo mental, o treinamento e a obediência às normas técnicas garantem
uma probabilidade maior de sucesso!

91
Finalizando...

As implicações do uso (letal) de armas de fogo podem ser, é claro, limitadas


nos termos legais. No entanto, é bom que as consequências pessoais para os policiais
envolvidos sejam destacadas. Embora existam regras gerais de como os seres
humanos reagem a acontecimentos estressantes, a reação específica de cada pessoa
depende, em primeiro lugar, da própria pessoa, sendo após ditada pelas
circunstâncias particulares e únicas do acontecimento.

O fato de que haja aconselhamento psicológico disponível ao policial quando


do acontecimento não elimina a profunda experiência emocional que esse policial
sofre em consequência dos disparos de armas de fogo por ele realizado, mas deve
ser visto como a aceitação da gravidade do incidente. É preciso evitar a vulgarização
operacional de ações dessa natureza.

Nos casos de morte, ferimento grave ou consequências sérias, um relatório


pormenorizado deve ser prontamente enviado às autoridades competentes,
responsáveis pelo controle e avaliação administrativa e judicial. (DIRETRIZ 10, letra
“d”, Portaria 4226)

O abuso não deve ser tolerado. A atenção deve estar voltada para a prevenção
desses atos, mediante formação e treinamento regular apropriado e procedimentos
de avaliação e supervisão adequados. Sempre que existir uma situação de abuso
legado ou suspeitado, deve haver uma investigação imediata, imparcial e total.

Sempre que houver uma suspeita ou denúncia de abuso, deve haver imediata
investigação, profissional e imparcial, por parte do respectivo Órgão de Segurança
Pública.

92
Módulo 4 – O Uso Diferenciado da Força

Apresentação do Módulo
Espera-se que o encarregado de aplicação da lei tenha a capacidade de
distinguir entre inúmeras tonalidades de cinza, em vez de apenas fazer a distinção
entre o preto e branco, certo ou errado (C. ROVER).

Ao agente de segurança pública exige-se um alto grau de profissionalismo,


inteligência e percepção. Diante de uma intervenção, poderá ser exigido a ele que
trate com cortesia, dignidade e respeito humano todas as pessoas, e,
paradoxalmente, ser-lhe-á exigida precisão ao efetuar um disparo letal de arma de
fogo para proteger a vida de um cidadão.

Este módulo oferece as condições necessárias para que você possa discutir
sobre este assunto: uso diferenciado da força.

Antes de continuar seus estudos saiba mais, lendo o texto a seguir.

Uso Diferenciado da Força2

Entende-se por uso diferenciado de força, o resultado escalonado das


possibilidades da ação agente de segurança pública, diante de uma potencial ameaça
a ser controlada. Essas variações de níveis podem ser entendidas desde a simples
presença e postura correta do agente de segurança pública em uma intervenção, bem
como o emprego de recurso de menor potencial ofensivo e, em casos extremos, o
disparo de armas de fogo.

É importante considerar que este texto trata do uso de força de forma


individualizada, ou seja, de um agente de segurança em relação a um ou mais
abordados, ou de uma equipe de agentes de segurança pública em face de um grupo
de pessoas. O uso de força é um tema que engloba muitos tópicos, dentre eles, o uso
de arma de fogo, que é qualificado como sendo último recurso ou medida extrema de

2 Texto elaborado por Marcelo Vladimir Corrêa – Tenente Coronel da PMMG.

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uma intervenção realizada pelo agente de segurança pública.

É necessário ter um conceito claro e objetivo de "força". A palavra tem


significados diferentes dependendo do contexto. Geralmente força representa
energia, ação de contato físico, vigor, robustez, esforço, intensidade, coercitividade,
dentre outros.

A força, no âmbito da segurança pública, é definida como sendo o meio pelo


qual a agência de segurança controla uma situação que ameaça à ordem pública, a
dignidade, a integridade ou a vida das pessoas. Sua utilização deve estar
condicionada à observância dos limites do ordenamento jurídico e ao exame
constante das questões de natureza ética. (Interpretação do princípio 1 dos Princípios
Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários
Responsáveis pela Aplicação da Lei –PBUFAF)

A força implementada por um agente de segurança pública é um ato


discricionário, legal, legítimo e profissional, que pode e deve ser usada em seu
cotidiano, sem receio das consequências advindas de seu emprego, desde que
cumpra com os princípios éticos e legais.

O Estado detém o monopólio do uso de força que é exercida por intermédio


dos seus órgãos de segurança. Assim, o agente de segurança pública, no
cumprimento de suas atividades, poderá usá-la para repelir uma ameaça à sua
segurança ou de terceiros e à estabilidade da sociedade como um todo (uma violência
contra o agente de segurança pública é um atentado contra a própria sociedade).
(Texto adaptado do Preâmbulo dos PBUFAF)

Deve ficar claro para o agente de segurança pública que o uso de força não se
confunde com violência, haja vista que esta última é uma ação arbitrária, ilegal,
ilegítima e não profissional. O uso excessivo de força também se configura ato de
violência e abuso de poder.

O Agente de segurança pública poderá usar a força no exercício das suas


atividades, e para tanto, não é necessário que ele ou outrem seja atacado primeiro,
ou exponha-se desnecessariamente ao perigo, antes que possa empregá-la. É
essencial que ele se aperfeiçoe constantemente em procedimentos para a solução
pacífica de conflitos, estudos relacionados ao comportamento humano, conhecimento

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de técnicas de persuasão, negociação e mediação, dentre outros que contribuam para
a sua profissionalização nesse tema. (Interpretação do princípio 20 dos PBUFAF e
conforme artigo 3º. do Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela
Aplicação da Lei (CCEAL)

Objetivos do Módulo

Ao final deste módulo, você será capaz de:


• Identificar os níveis de utilização da força e a ação do agente de segurança
pública adequada a cada nível;
• Identificar os níveis de submissão dos suspeitos para exercer melhor controle
nas situações que exigirem uso da força;
• Identificar as reações fisiológicas que afetam o corpo humano nas situações de
sobrevivência; e
• Reconhecer a importância do preenchimento do Roteiro de Relatórios e de
Apuração Referente ao Uso da Força e da Arma de Fogo.

Estrutura do Módulo

O conteúdo deste módulo está dividido em 7 aulas:


Aula 1 – Uso diferenciado da força
Aula 2 – Níveis de força
Aula 3 – Estudo das reações fisiológicas
Aula 4 – Roteiro de Relatórios e de Apuração Referente ao Uso da Força e da Arma
de Fogo

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Aula 1 – Uso Diferenciado da Força

Ao trabalhar na atividade de agente de segurança pública, é necessário trazer


consigo um leque de respostas variadas para situações de enfrentamento. Ter apenas
uma ou duas respostas não será suficiente para enfrentar uma agressão.

Uma vez que existam resistências e agressões em variadas formas e níveis de


intensidade, o agente de segurança pública terá que adequar sua reação à
intensidade da agressão, estabelecendo formas de comandar e direcionar o suspeito,
provendo seu controle. (MOREIRA, 2001).

ROVER (2000) afirma que:

“Os governos deverão equipar os responsáveis pela aplicação


da lei com uma série de meios que permitam uma abordagem
diferenciada ao uso da força e armas de fogo”.

Ver Diretriz nº 8, da Portaria 4226.

Lembre-se:

O uso legítimo da força pressupõe, como já foi dito, além dos princípios éticos, que
seja baseado na legalidade, na necessidade, na proporcionalidade, moderação e na
conveniência.

Ver Diretriz nº 2, da Portaria 4.226.

Cada encontro entre o agente de segurança pública e o cidadão deve fluir em


uma sequência lógica e legal de causa e efeito, baseada na percepção do risco por
parte do agente de segurança pública e na avaliação da atitude daquele que é o
suspeito.

Esse fluxo deve ser uma constante, como um medidor de suas ações: aumento

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ou intervenção, assim como de diminuição ou não intervenção durante um confronto.
Essa sequência é chamada de uso progressivo da força.

Todo Agente de Segurança Pública deverá utilizar


equipamentos de proteção individual (EPI) específicos para a sua
atuação, além de alternativas de armamentos e tecnologias, inclusive
os de menor potencial ofensivo, para propiciar opções de Uso
Diferenciado de Força (Interpretação do Princípio nº 2, dos PBUFAF).
(Ver Diretriz nº 2, da Portaria 4226).
Não portar tais materiais no momento oportuno, muitas vezes
por negligência do Agente, pode levá-lo a fazer uso de técnicas que
contrariam os Princípios do Uso de Força.
Especial atenção deve ser dada aos Agentes que não trabalham
fardados, ostensivamente, e que necessitam fazer uso dos
armamentos e equipamentos.

Exemplo: O Agente de Segurança Pública que não se equipou com bastão


Tonfa, em que pese estar disponível, e usa arma de fogo para dar
coronhadas.

O uso diferenciado da força consiste na avaliação de três situações distintas:

I. Percepção do agente de segurança pública em relação ao indivíduo suspeito;


II. Alternativas do uso da força legal; e
III. Resposta do policial, agente de segurança pública.

Importante!

O agente de segurança pública decide a respeito da utilização de força com


base em sua percepção do indivíduo suspeito, dentro de circunstâncias que
são tensas, incertas e rapidamente envolventes.

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Aula 2 – Níveis de força diferenciada

A escolha do nível adequado de força a ser usado depende muito de como


o Agente de Segurança Pública está equipado e como está treinado. A opção
variada de uso de equipamentos como cassetetes (tonfa), spray de pimenta ou
lacrimogêneo, armas com menor potencial ofensivo, coletes à prova de balas,
conhecimento de técnicas de defesa pessoal, possibilita um aumento da confiança do
Agente de Segurança Pública.

Para atuar em uma intervenção em que seja necessário o uso da força, o


Agente de Segurança Pública precisa estar equipado com opções variadas de força.
Caso o Agente de Segurança Pública chegue a uma intervenção, somente com sua
arma de fogo, sem conhecimento de técnicas de defesa pessoal, lhe restará como
única opção o uso da arma de fogo, na eventual falha da verbalização.

Níveis de resistência da pessoa abordada

A pessoa abordada durante a intervenção do Agente de Segurança Pública


pode atender ou não às determinações por eles dadas, ou seja, ela poderá colaborar
ou resistir à abordagem. O seu comportamento é classificado em níveis que devem
ser entendidos de forma dinâmica, uma vez que podem subir, gradual ou
repentinamente, do primeiro nível até o último, ou terem início em qualquer nível e
subir e descer.

O abordado pode apresentar os seguintes níveis de resistência:


Cooperativo
A pessoa acata todas as determinações do Agente de Segurança durante a
intervenção, sem apresentar resistência.

Exemplo: o motorista que apresenta, prontamente, toda a documentação solicitada e


atende às orientações do Agente de Segurança durante a operação do tipo Blitz.

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Resistência passiva
A pessoa abordada não acata, de imediato, às determinações do Agente de
Segurança Pública, ou o abordado opõe-se as ordens, reagindo com o objetivo de
impedir a ação legal. Contudo, não agride o agente nem lhe direciona ameaças.

Exemplo 1: o abordado reage de maneira espalhafatosa, acalorada, falando alto,


procurando chamar a atenção e conseguir a simpatia dos transeuntes, colocando-os
contra a atuação do Órgão de Segurança Pública, assumindo, assim, a posição de
vítima da intervenção.

Exemplo 2: a pessoa, durante uma abordagem, corre na tentativa de empreender


fuga para frustrar a ação de busca pessoal.

Resistência ativa

Apresenta-se nas seguintes modalidades:

• Com agressão não letal – O abordado opõe-se à ordem, agredindo os


Agentes de Segurança ou as pessoas envolvidas na intervenção, contudo, tais
agressões, aparentemente, não representam risco de morte.
Exemplo: o agressor que desfere chutes contra o agente, quando este tenta
aproximar- se para efetuar a busca pessoal.
• Com agressão letal - O abordado utiliza-se de agressão que põe em perigo
de morte o Agente de Segurança ou as pessoas envolvidas na intervenção.
Exemplo: o agressor, empunhando uma faca, desloca-se em direção ao
agente e tenta atacá-lo.

Veja modelos propostos na aula 2, módulo 2, deste curso.

A seguir, você acompanhará as possíveis reações do Agente de Segurança


Pública frente ao comportamento do abordado.

A decisão entre as alternativas de força se baseará na avaliação de riscos e,


como já visto, é importante considerar a relevância da formação e do treinamento de

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cada Agente de Segurança Pública. Assim, ele observará a seguinte classificação dos
níveis para o Uso Diferenciado de Força:
• Nível primário - Presença do agente de Segurança Pública / Verbalização.

• Nível secundário – Técnicas de menor potencial ofensivo - Controle de


contato/ contato físico/ controle com instrumentos de menor potencial ofensivo
(IMPO)/ Uso dissuasivo de armas de fogo.

• Nível Terciário – Força potencialmente letal - Controle de contato ou controle


de mãos livres.

Veja a seguir a conceituação de cada um dos itens que compõem os níveis para o
Uso da Força pelo Agente de Segurança Pública.

Nível primário - Presença do Agente de Segurança Pública:

É a demonstração ostensiva de autoridade. O efetivo do Órgão de Segurança


Pública, corretamente uniformizado, armado, equipado em postura e atitude
diligentes, geralmente inibe o cometimento de infração ou delito naquele local.

Verbalização
É o uso da comunicação oral (falas e comandos) com entonação apropriada e
o emprego de termos adequados e que sejam facilmente compreendidos pelo
abordado.
As variações da postura e do tom de voz do Agente de Segurança Pública
dependem da atitude da pessoa abordada. Em situações de risco é necessário o
emprego de frases curtas e firmes. A verbalização deve ser empregada em todos os
demais níveis de uso de força. O treinamento continuado e as experiências
vivenciadas proporcionam melhoria na habilidade de verbalização.

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Verbalização
A comunicação é um processo de interação estabelecida no mínimo entre
duas pessoas, construindo entre ambas um intercâmbio de sentimentos e
ideias. Esse processo, por si só, já remete a uma série de interpretações
diferenciadas, pois, com características únicas que temos, podemos
entender distintamente as mensagens (...).

Importante!

Esse nível de força pode e deve ser utilizado em conjunto com qualquer
outro nível de força sempre que possível.

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O treinamento e a experiência melhoram a capacidade do agente de segurança
pública para verbalizar. As palavras-chaves na aplicação da lei serão negociação,
mediação, persuasão e resolução de conflitos. A comunicação é o caminho preferível
para se alcançar os objetivos de uma aplicação da lei legítima (ROVER).

Você deve procurar reduzir as possibilidades de confronto pela adequada


utilização da verbalização antes, durante e após o emprego de força. Veja alguns
exemplos.

Exemplo 1

Um agente de segurança pública foi chamado a um bar para separar uma briga
entre dois homens. Ele acalmou a todos e preparava-se para sair quando alguém
gritou: “Eles começaram de novo!”. O agente de segurança pública correu até o balcão
do bar e, quando dava a volta, viu um dos balconistas caído no chão e um jovem em
cima dele. Um brilho metálico na mão do jovem parecia ser uma arma de fogo, ou
uma faca no pescoço do balconista.
O agente de segurança pública, que já tinha sacado seu revólver e estava
pronto para atirar (uma reação parecia ser urgente), teve tirocínio suficiente para fazer
uma verbalização antes de usar sua arma de fogo. Foi uma decisão da qual ele jamais
se arrependeria. O balconista sofria uma crise epiléptica e o jovem era o cozinheiro
do bar, que tentava, com uma colher, desenrolar a língua de seu colega.

Comentários sobre o exemplo 1:


• Ao proceder à abordagem verbal, explique, através de comandos, cada ação
que o suspeito deve realizar. Trate-o com dignidade e respeito, utilizando
linguagem profissional. Entenda que o fato de o suspeito olhar para você não
é uma ofensa ou desafio.
• Esteja sempre preparado, pois é difícil prever o que pode acontecer quando se
ordena ao suspeito: “PARADO! NOME DA SUA ORGANIZAÇÃO DE
SEGURANÇA PÚBLICA!”. Ele pode obedecer imediatamente a sua ordem, ou
sair correndo feito um louco, ou, imediatamente, atirar. Qualquer que seja a
reação, o momento é tenso, crítico e cheio de riscos. Ao abordar verbalmente
um suspeito, esteja preparado para tudo.
• Seja firme! Um comando enérgico pode evitar uma tragédia, impedindo o uso

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da força física ou letal. A abordagem verbal estabelece quem você é e o que
você quer que o suspeito faça. Se o suspeito segue as suas ordens, sua
segurança, a princípio, estará garantida e o controle será mantido sem que haja
necessidade do uso de arma de fogo.
• Aborde verbalmente para que você não seja abordado.

Importante!
Caso o suspeito desobedeça, não encerre os comandos. De preferência,
com cobertura (reforço) de outros Agentes de Segurança Pública, tente
dominá-lo. Insista nos comandos! Há chance de que o suspeito não esteja
ouvindo por estar no meio do barulho da rua, ou dentro de um automóvel
com o rádio ligado, ou ainda pode ser que ele tenha deficiência auditiva ou
esteja sob efeito de álcool e outras drogas. Estando em supremacia de
força, juntamente com os colegas, em trabalho de equipe, tente dominá-lo
fisicamente. Enquanto procedem ao domínio físico, não interrompa os
comandos, para que ele pare de resistir e se entregue!

Outros pontos importantes sobre a verbalização

1. Atenção à linguagem

Uma atenção especial deve ser dada à linguagem. Alguns policiais agentes de
segurança pública acreditam que, utilizando uma linguagem vulgar, “chula” e
ameaçadora, desencorajam a resistência do suspeito. Diálogos dessa natureza
causam espanto e demonstram falta de profissionalismo. Além disso, uma “ameaça
verbal” pode desencadear uma reação e propiciar o agravamento da situação. O que
se busca, ao realizar a abordagem verbal, é a redução do uso da força e o controle
do suspeito.

Considere ainda que a sua linguagem pode angariar antipatizantes que,


possivelmente, testemunharão contra você em qualquer processo, afirmando que

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houve agressão desnecessária e uso abusivo da força (despreparo do agente de
segurança pública).

2. Use sua autoridade.

Seja firme e controle a situação. Dirija comandos claros, curtos e audíveis para
cada atitude que o suspeito deva tomar. Em geral, apenas um agente deve falar:

“Parado! NOME DA ORGANIZAÇÃO!... Coloque as mãos na cabeça!... Entrelace


os dedos!... Vire de costas para mim!... Ajoelhe-se! .... Cruze a perna ...”.

3. Importância do contato visual

Procure sempre manter o contato visual com o abordado. Fique abrigado, mas
sem perdê-lo de vista. Diga frases usando os verbos no modo imperativo, em tom alto
de voz; demonstre convicção e determinação no que está fazendo.

4. Nível da voz

Lembre-se de flexionar o nível de voz sempre que houver acatamento, abaixe


o tom, conquiste a confiança da pessoa abordada. Mas fique sempre atento ao recurso
de elevar bruscamente o tom de voz, caso perceba algo errado.

A posição em que o policial, agente de segurança pública, empunha sua arma


também ajuda na verbalização, no sentido de que ele tenha o recurso de apontá-la ou
não, conforme o desenrolar do caso, buscando sempre partir do nível mínimo de força
e evoluir gradativamente.

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5. Não entre em discussão.

Caso o suspeito não acate, repita os comandos, insista com firmeza e procure
não ficar nervoso caso não seja acatado de imediato. Continue insistindo, mantenha
seu profissionalismo e não se exponha a riscos.

Procure o diálogo, contudo, evite discutir, não entre em “bate-boca”, resista à


tentação de ficar disputando na voz com o suspeito. Deixe que ele fale e após
mantenha-se calmo, insistindo em seus comandos firmes e imperativos,
demonstrando sua determinação. Faça perguntas como: “O que está acontecendo
aqui? Por que você não acata minhas ordens?”.

Razões para reações passivas do suspeito

Considere as possíveis razões pelas quais o suspeito estaria resistindo


passivamente, entre outras:

• Ele não te escuta ou não compreende (por deficiência auditiva, por efeito de
álcool ou outras drogas);

• Ele não acata o seu comando como forma de meramente desafiar ou


desmerecer a ação do órgão de segurança pública, atitude que visa provocar
o agente de segurança pública, conduzindo-o a uma situação vexatória ou de
abuso de força (por vezes buscando angariar simpatia de transeuntes);
• Ele tem algo a esconder e tenta ganhar tempo e distrair a atenção dos agentes
de segurança pública (por vezes com a presença de comparsas);
• Ele tenta ganhar tempo para empreender fuga ou reagir fisicamente contra
agentes de segurança pública.

Quaisquer que sejam as possibilidades, procure pensar taticamente; priorize a


sua segurança e evite cair na armadilha das provocações. Conduza o desfecho com
isenção e profissionalismo.

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Existe agente de segurança pública que leva esse tipo de situação para o
campo pessoal e perde o controle mediante a mínima ponderação do suspeito. Esse
tipo de conduta faz com que o agente corra sérios riscos de expor
desnecessariamente sua vida e as de seus companheiros, ou ainda, de cometer atos
de violência.

Faça o que deve ser feito. Adote todas as medidas legais que couberem ao
caso em particular, conduza sua atuação conforme preconizado no escalonamento do
uso da força. Seja firme e seja justo. Aja com ética, técnica e legalidade.

Saiba mais...

Leia os Princípios Básicos sobre o uso da Força e Armas de Fogo pelos


Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei Princípios nº 1 e 20.

Não ameace o suspeito.

Nem diga nada que não possa cumprir, como: “Vou lhe dizer pela última vez!”.
Se ele resolver testar seu blefe, você perderá sua credibilidade. Por outro lado, se ele
obedecer, esteja preparado, não relaxe sua segurança! Esse pode ser o momento
mais perigoso da abordagem.

Controle sobre as mãos do suspeito

Em todo o tempo, mantenha o controle sobre as mãos do suspeito. Elas são o


local mais provável de onde pode surgir uma agressão. Mantenha o controle sobre o
suspeito, não permita que ele se mova sem sua autorização. Se ele se movimentar
levemente, a sua tendência será acostumar-se com a movimentação e relaxar,
aumentando os riscos. Saiba em todo o tempo a localização exata do suspeito.

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Nível Secundário – Técnicas de menor potencial ofensivo

Controles de contato

Trata-se do emprego de técnicas de defesa pessoal aplicadas ao abordado


resistente passivo (não agride a Agente de Segurança Pública), para fazer com que
ele obedeça às ordens dadas. Técnicas de mãos livres poderão ser utilizadas.

Saiba mais...
Posturas de abordagem com as mãos livres
São técnicas em que o Agente de Segurança Pública faz a
intervenção sem recorrer a quaisquer armamentos, instrumentos ou
equipamentos. São estabelecidas para cada nível de risco, orientando a
distância e a angulação de aproximação, bem como a posição de mãos e
de braços do Agente de Segurança Pública. Estando preliminarmente com
as mãos livres e visíveis, o agente transmitirá ao abordado a mensagem de
que deseja dialogar ou resolver pacificamente o conflito. Para todas as
posturas a mãos livres, o Agente de Segurança Pública deverá adotar a
posição de “base”, utilizada nas artes marciais, variando-se apenas a
posição das mãos e dos braços. Essa posição permite ao Agente de
Segurança equilíbrio e melhores possibilidades de defesa e de contra-
ataque. Também permite maior proteção da arma de fogo do Agente de
Segurança Pública, haja vista que os braços e as pernas mais fortes e,
consequentemente, o coldre (geralmente colocado do lado da mão mais
forte) ficam ligeiramente projetados para a retaguarda. Logo, mais distantes
do raio de ação do abordado.

Controle Físico

É o emprego das técnicas de defesa pessoal, com um maior potencial de


submissão, para fazer com que o abordado resistente ativo (agressivo) seja
controlado, sem o emprego de instrumentos. Visa a sua imobilização e condução,

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evitando, sempre que possível, que resulte lesões pelo uso da força.

Controle com instrumentos de menor potencial ofensivo (IMPO)

É o emprego de instrumentos de menor potencial ofensivo (IMPO), para


controlar o abordado resistente ativo (agressivo). Visa a sua imobilização e condução,
evitando, sempre que possível, que resulte em lesões pelo uso de força.

Neste nível, o Agente de Segurança recorrerá aos instrumentos disponíveis,


tais como: bastão, tonfa, gás/agentes químicos, algemas, elastômeros (munições de
impacto controlado), “stingers” (armas de impulso elétrico), entre outros, com o fim de
anular ou controlar o nível de resistência

Ver Diretrizes nº 19, 20, 21 e 22 da Portaria nº 4226.

Uso dissuasivo de armas de fogo

Trata-se de opções de posicionamento que o Agente de Segurança Pública


poderá adotar com sua arma, para criar um efeito que remova qualquer intenção
indevida do abordado e, ao mesmo tempo, estar em condições de dar uma resposta
rápida, caso necessário, sem, contudo, dispará-la. As posições adotadas implicam
percepções diferentes pelo abordado, quanto ao nível de força utilizado pelo agente.
A ostensividade da arma de fogo tem um reflexo sobre o abordado que pode ter sua
ação cessada pelo impacto psicológico que a arma provocar.

Exemplo: localizar a arma de fogo no coldre, empunhá-la fora do coldre ou apontá-la


na direção da pessoa correspondem a uma demonstração direta de níveis diferentes
de força que tem forte efeito no controle do abordado e, ao mesmo tempo, propicia ao
agente condições de repetir agressões contra a própria segurança.

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Nível Terciário – Força Potencialmente letal

Consiste na aplicação de técnicas de defesa pessoal, com ou sem o uso de


equipamentos, direcionadas a regiões vitais do corpo do agressor. Deverão somente
ser empregadas em situações extremas que envolvam risco iminente de morte ou
lesões graves para o Agente de Segurança Pública ou para terceiros, com o objetivo
imediato de fazer cessar a ameaça.

São técnicas utilizadas em circunstâncias inevitáveis, quando a força


potencialmente letal representada pelo disparo de arma de fogo torna-se inviável.

Exemplo: agressor atracado ao Agente de Segurança Pública rolando ao solo,


tentando tomar-lhe a arma. Consiste no disparo de arma de fogo efetuado pelo Agente
de Segurança Pública contra um agressor, devendo ocorrer em situações extremas,
que envolvam risco iminente de morte ou lesões graves, com o objetivo imediato de
fazer cessar a ameaça.

Ver Diretrizes nº 2 e 3, da Portaria nº 4226.

Proposta de Modelo do Uso da Força

É um recurso visual, destinado a auxiliar na conceituação, no planejamento,


treinamento e na comunicação dos critérios sobre o uso de força. A sua utilização
aumenta a confiança e a competência do agente de segurança pública, na
organização e na avaliação das respostas práticas adequadas.

Figura – Proposta de Modelo de uso de força.

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O modelo apresentado é um quadro dividido em quatro níveis que representam
os possíveis comportamentos do abordado. O lado esquerdo é representado pela
atitude (ação) do abordado em relação ao agente de segurança pública (Policial), e, o
lado direito, encontram-se as respostas (reação) correspondentes aos níveis
diferenciados de força pelo agente de segurança. Cada nível representa uma
intensidade de força que possibilitará um controle adequado.

A seta dupla centralizada (sobe e desce) indica o processo dinâmico de


avaliação e seleção das alternativas bem como reforça o conceito de que o emprego
da verbalização deve ocorrer em todos os níveis. De acordo com a atitude do
abordado haverá uma ação do agente de segurança pública, no respectivo degrau.

O uso de força depende da compreensão das relações de causa e efeito entre


as atitudes do abordado e as respostas do agente de segurança pública. Isto
possibilitará uma avaliação prática e tomada de decisão pelo nível mais adequado de
força.

Mentalmente, o agente de segurança pública percorre toda a escala de força


em um tempo curto e escolhe a resposta mais adequada ao tipo de ameaça que
enfrenta (observar os princípios do uso de força). Se ao escolher uma das alternativas
contidas em um determinado degrau do modelo do uso de força e esta vier a falhar
ou as circunstâncias mudarem, ele poderá aumentar ou diminuir o grau de submissão
do agressor, elevando ou reduzindo o nível de força empregado.

Esta dinâmica entre os níveis do uso de força deve ser realizada de um modo
consciente, nunca prevalecendo sentimentos como a raiva, preconceito ou retaliação.
A avaliação dessas variáveis propiciará ao agente de segurança pública o equilíbrio
de suas ações.

Lembre-se
Apesar da “VERBALIZAÇÃO” constar como um dos níveis de intensidade de força,
o agente de segurança pública deverá empregá-la durante todo o processo.

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Aula 3 – Estudo das Reações Fisiológicas

O corpo humano sofre reações fisiológicas involuntárias que afetam as


habilidades motoras quando confrontado com situações de sobrevivência. Muitas
dessas reações provocam efeitos negativos na capacidade do agente de segurança
pública de se defender em situações de vida ou morte.

As habilidades motoras combinam processos cognitivos e ações físicas que


capacitam a pessoa a realizar tarefas físicas, como disparar uma arma.

Conheça os tipos de coordenação motora:

• Coordenação motora grossa;


• Coordenação motora fina;
• Coordenação motora complexa.

Estude a seguir sobre cada uma delas.

Coordenação motora grossa


Envolve a ação de grandes grupos musculares, preparando a pessoa para lutar
ou fugir. Essas tarefas dependem de grande força e são provocadas em situações de
alto estresse, nas quais o organismo processa adrenalina e outros hormônios.

Coordenação motora fina


Utiliza pequenos grupos musculares como os das mãos e dedos. Essas
habilidades sempre envolvem coordenação das mãos com os olhos, como atirar. Essa
tarefa requer um nível baixo ou não existente de estresse para se obter um resultado
ótimo. Em situações de alto estresse, não é a mais indicada.

Coordenação motora complexa


Envolve múltiplos componentes, como coordenação olho/mão, tempo de
reação, equilíbrio e localização de alvo móvel. Técnicas de defesa pessoal que

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envolvem defesa de faca, projeções ao solo e posições de tiro defensivo são exemplos
de coordenação motora complexa. Para atingir um resultado ótimo nessas
habilidades, os níveis de estresse devem estar baixos. Por isso, o alto estresse
encontrado em situações de sobrevivência, reduz a habilidade do agente de
segurança para executar ações que demandem coordenação motora complexa.

Durante situações que envolvam o uso de força potencialmente letal, agentes


de segurança pública experimentam aceleração do batimento cardíaco e deterioração
da coordenação motora fina e complexa, o que dificulta o manuseio de arma ou a
adoção de posições de tiro.

A elevação do batimento cardíaco afeta o sistema nervoso de tal modo que


prejudica a respiração e outras funções vitais involuntárias. O organismo produz
hormônios poderosos como a adrenalina e outras substâncias similares, que
aumentam o batimento cardíaco, a pressão do sangue e redirecionam o sangue das
extremidades (dedos) para os grandes grupos musculares (peito, pernas e braços).

A coordenação e destreza das mãos reduzem drasticamente com a


vasoconstrição. Ocorrem ainda a redução da visão periférica e a visão se ajusta para
focalizar objetos próximos. Tudo isso dificulta a visão em profundidade e fazem com
que o policial agente de segurança pública atire para baixo. Mantidas todas essas
reações descontroladas, o agente de segurança pública entrará em estado de pânico.

Uma das chaves para lidar com o estresse em situação de sobrevivência é


controlar o batimento cardíaco, o que pode ser feito respirando profundamente
algumas vezes enquanto tenta “relaxar” e manter o controle.

A respiração tática, como é chamada, proporciona mais oxigênio ao


organismo, reduzindo os batimentos cardíacos. A partir disso, percebe-se que as
habilidades são melhoradas consideravelmente e a ansiedade diminuída.

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Direcionamento dos disparos realizados por agentes de segurança
pública

Em situação de ambiência operacional “teatro de operações”, a precisão da


pontaria pode sofrer graves reduções, mesmo para atiradores experientes, devido a
situações diversas, tais como fatores ambientais (periculosidade do local,
luminosidade, chuva, entre outros), condições psicomotoras do Agente de Segurança
Pública (cansaço, agitação, nervosismo, aumento da frequência cardíaca, palpitações
e sudorese) e o próprio dinamismo do alvo (movimentação do agressor).

Sempre que as circunstâncias permitirem, e desde que não exponha a risco


a segurança de terceiros ou a dele próprio, o Agente de Segurança poderá disparar
em outras áreas do corpo (principalmente pernas), com a finalidade de reduzir ao
mínimo os ferimentos (ainda assim, permanece o risco de provocar graves lesões ou
morte). Esse procedimento de disparar em outras áreas do corpo será influenciado
pela habilidade do atirados, por reações fisiológicas em situações de estresse
extremo, pelo tempo disponível para o disparo e pela proximidade do alvo (curtíssima
distância). A capacitação para realizar esses disparos com efetividade deverá fazer
parte do Treinamento com Armas de Fogo, aplicado aos Agentes de Segurança que
já superaram o nível básico de treinamento.

Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo pelos Funcionários


Responsáveis pela Aplicação da Lei

Princípio nº 5, letra “b”

(...) 5. Sempre que o uso legítimo da força e de armas de fogo for inevitável, os
responsáveis pela aplicação da lei deverão:

(b) Minimizar danos e ferimentos, e respeitar e preservar a vida humana (...)

Veja as Diretrizes nº 16, 17 e 18, da Portaria nº 4.226

113
Aula 4 – Roteiro de Relatórios e de Apuração Referentes ao

Uso de Força e Arma de Fogo

RELATÓRIOS (conforme Diretriz nº 24 da Portaria nº 4226)

Os Agentes de Segurança Pública deverão preencher um relatório individual


de menor potencial ofensivo, ocasionando lesões ou mortes. O relatório deverá ser
encaminhado à comissão interna mencionada na Diretriz nº 23 (Portaria 4226) e
deverá conter no mínimo as informações a seguir:

a) circunstâncias e justificativa que levaram o uso da força ou de arma de fogo


por parte do agente de segurança pública;
b) medidas adotadas antes de efetuar os disparos/usar instrumentos de menor
potencial ofensivo, ou as razões pelas quais elas não puderam ser
contempladas;
c) tipo de arma e de munição, quantidade de disparos efetuados, distância e
pessoa contra a qual foi disparada a arma;
d) instrumento(s) de menor potencial ofensivo utilizado(s), especificando a
frequência, a distância e a pessoa contra a qual foi utilizado o instrumento;
e) quantidade de agentes de segurança pública feridos ou mortos na ocorrência,
meio e natureza da lesão;
f) quantidade de feridos e/ou mortos atingidos pelos disparos efetuados pelo(s)
agente(s) de segurança pública;
g) número de feridos e/ou mortos atingidos pelos instrumentos de menor potencial
ofensivo utilizados pelo(s) agente(s) de segurança pública;
h) número total de feridos e/ou mortos durante a missão;
i) quantidade de projéteis disparados que atingiram pessoas e as respectivas
regiões corporais atingidas;
j) quantidade de pessoas atingidas pelos instrumentos de menor potencial
ofensivo e as respectivas regiões corporais atingidas;
k) ações realizadas para facilitar a assistência e/ou auxílio médico, quando for o
caso; e

114
l) se houve preservação do local e, em caso negativo, apresentar justificativa.

Procedimentos após o disparo de arma de fogo

O Agente de Segurança Pública que disparou sua arma de fogo em serviço,


intencionalmente ou não, deverá reportar tal fato ao seu superior imediato.

Esse superior deverá adotar os procedimentos abaixo, quando esse disparo


causar lesões, morte de pessoas e danos patrimoniais, sem se descuidar das medidas
de socorro e assistenciais imediatas pertinentes:

• Promover a preservação do local;


• Acionar a perícia (Diretriz nº 11, letra c, da Portaria nº 4226);

• Recolher as amas e munições de todos os Agentes de Segurança Pública


envolvidos (Diretriz nº 11, letra b, da Portaria nº 4226);

• Relatar formalmente o fato à autoridade judicial competente conforme a


respectiva esfera de atuação (letra f do Princípio 11 dos PBUFAF);

• Determinar uma imediata investigação dos fatos e das circunstâncias, por meio
de um Agente de Segurança Pública encarregado para proceder à apuração,
preferencialmente que não seja membro da equipe envolvida no disparo da
arma (Princípio 22 e 23 dos PBUFAF);
Veja os Princípios 22 e 23 dos PBUFAF!
• Promover a assistência médica e psicológica, em atenção às possíveis
sequelas que os Agentes de Segurança Pública posam sofrer em
consequência da intervenção, para que superem possíveis efeitos traumáticos
decorrentes do fato vivenciado no incidente (Princípio 21 dos PBUFAF e
Diretriz nº 11, itens g e h, e nº 25 Portaria nº 4226);
Veja os Princípios 21 dos PBUFAF e a Diretriz 25 da Portaria nº 4226!
• Designar um Agente de Segurança Pública com habilidade para contatar com
a família das pessoas atingidas, inclusive com a dos Agentes de Segurança
Pública, se for o caso. Preferencialmente, tal atribuição dever recair em pessoa
que não seja membro da equipe envolvida no incidente (Princípio 05, letra d e
Princípio 23 dos PBUFAF, e Diretriz nº11, letra d, da Portaria nº 4226

115
Veja Princípios nº 5d e 23 dos PBUFAF e Diretriz 11, letra d, da Portaria nº
4226!
• Atenuar a tensão da comunidade do local onde se deu o fato, mantendo contato
permanente e esclarecedor com os familiares das pessoas envolvidas e com a
mídia (transparência e profissionalismo);
• Providenciar relatório logístico específico para descarga patrimonial de
munições.

Saiba mais...

Portaria nº 4226, Diretriz nº 11

11. Quando o uso da força causar lesão ou morte de pessoa(s), o


órgão de segurança pública deverá realizar as seguintes ações:

a. facilitar a assistência e/ou auxílio médico dos feridos;

b. recolher e identificar as armas e munições de todos os envolvidos,


vinculando-as aos seus respectivos portadores no momento da ocorrência;

c. solicitar perícia criminalística para o exame de local e objetos bem como


exames médico-legais;

d. comunicar os fatos aos familiares ou amigos da(s) pessoa(s) feridas(s)


ou morta(s);

e. iniciar, por meio da Corregedoria da instituição, ou órgão equivalente,


investigação imediata dos fatos e circunstâncias do emprego da força;

f. promover a assistência médica às pessoas feridas em decorrência da


intervenção, incluindo atenção às possíveis sequelas;

g. promover a assistência médica às pessoas feridas em decorrência da


intervenção, incluindo atenção às possíveis sequelas;

h. afastar temporariamente do serviço operacional, para avaliação


psicológica e redução do estresse, os agentes de segurança pública
envolvido diretamente em ocorrência com resultado letal.

Sempre que o uso de força pelo Agente de Segurança Pública causar lesões,

116
morte de pessoas e danos patrimoniais, seu superior imediato deve determinar uma
investigação objetivando verificar se os princípios que o regem foram respeitados:

• O uso da força foi necessário?


• Os Agentes de Segurança Pública tinham outras opções de intervenção e as
consideraram?
• O nível de força utilizado foi moderado e proporcional ao nível de resistência
encontrado?
• A força foi aplicada de forma profissional?

Para responder a estas perguntas é necessário verificar cada situação de forma


específica e analisar todas as circunstâncias envolvidas no fato. Os roteiros a seguir
facilitam a investigação sobre tipos de intervenção do Agente de Segurança Pública.

Relatório básico para apuração de situações de uso da força pelo Agente


de Segurança Pública

a) O uso da força foi necessário? Qual foi a motivação da intervenção do Agente


de Segurança Pública que resultou em uso da força? O objetivo pretendido pelo
agente de Segurança Pública tinha embasamento legal? Qual era a gravidade
do delito cometido pelo agressor? (Ver Diretriz nº 2 da Portaria nº 4226)

b) Os Agentes de Segurança Pública realizaram alguma ação, ou adotaram


alguma atitude a qual teria contribuído para provocar o uso da força? A falta
de treinamento do Agente de Segurança Pública, ou emprego de técnicas
inadequadas poderia ter sido a causa do uso de força? (Ver Diretriz nº 14, 15,
16, 7 da Portaria nº 4226)

c) A ação do Agente de Segurança Pública foi influenciada, de alguma forma, por


atitudes preconceituosas relacionadas a cor, orientação sexual, religião,
antecedente criminal e condição social do agressor ou outros relacionados às
minorias?

d) Era possível atingir o objetivo da intervenção usando outros meios que não o
emprego de força? Foram consideradas todas as opções? Foram tentadas
outras opções antes do uso de força? Quais? O uso de força foi a última opção

117
utilizada?

e) Os agentes de segurança pública advertiram o agressor quanto ao uso de


força, antes de empregar a técnica? Caso negativo, por que não fizeram?

f) O uso de força foi proporcional ao nível de resistência do agressor? A avaliação


de risco e a decisão quanto ao tipo de intervenção realizada pelo agente de
segurança pública foram adequadas? No caso de resposta negativa, foi devido
à falta de treinamento, treinamento inadequado ou por outra razão? Qual era o
nível de força necessário para cessar aquela ameaça? As lesões causadas no
agressor estão compatíveis com o nível de força empregado e o tipo de
resistência oferecida?

g) Houve uso excessivo de força? Os agentes de segurança pública cessaram o


uso de força no momento, em que a resistência do agressor foi controlada?

h) Os agentes de segurança pública prestaram socorro imediato e adequado para


os feridos? Os agentes de segurança pública tiveram a preocupação de
diminuir os danos causados durante a intervenção? (Ver Diretriz nº 10, item a,
da portaria nº 4226)

i) Os agentes de segurança pública fizeram relatório pormenorizado com todas


as informações sobre o uso de força? (Ver Diretriz nº 10, item d, da Portaria nº
4226)

j) As famílias das pessoas atingidas foram cientificadas do resultado da


intervenção agente de segurança pública? (ver Diretriz nº 11, item d, da Portaria
nº 4226)

Roteiro básico para apuração de situações de uso de força


potencialmente letal (disparo de arma de fogo), pelo Agente de Segurança
Pública

a) Quantos e quais agentes de segurança pública dispararam as suas armas?


Quantos disparos foram realizados por cada um dos agentes de segurança

118
pública?
b) Quantos e quais agressores dispararam as suas armas? Quantos disparos
foram realizados por cada um dos agressores?
c) Os agentes de segurança pública dispararam a que distância do agressor?
Para onde foram direcionados os disparos efetuados pelos agentes de
segurança pública? (Ver Diretriz nº 3 da Portaria nº 4226)
d) Os disparos foram realizados em defesa da própria vida ou de terceiros? Citar
de quem. O risco contra a vida era atual e iminente? Por quê?
e) Os agentes de segurança pública ou terceiros estavam expostos
desnecessariamente ao risco em decorrência de técnicas ou táticas agentes
de segurança pública indevidas?
f) Havia outras opções de defesa da vida que não o disparo de arma de fogo?
g) Antes de disparar, os agentes de segurança pública se preocuparam com a sua
própria proteção e das pessoas envolvidas?
h) Os agentes de segurança pública advertiram o agressor quanto ao uso de força
potencialmente letal, antes de efetuar o disparo? Caso negativo, por que não
fizeram?
i) As armas utilizadas pelos agentes de segurança pública pertenciam da carga
da corporação?

Quando é verificado que a intervenção foi necessária e


justificada para a proteção da vida contra injusta agressão,
a ação será considerada ação legítima.

119
Finalizando...

• O Agente de Segurança Pública necessita possuir alto grau de


profissionalismo, pois, ao lidar com a proteção de vida humana, pode deparar
com situações de risco nas quais deve julgar se fará uso da força contra
eventual agressor.

• A graduação da força que usará depende de uma série de fatores que, em


frações de segundos, terão que ser analisados pelo Agente de Segurança, daí
podendo advir consequências indesejáveis.

• Cada intervenção é singular e exige padrões bem definidos que ofereça,


sustentação às ações do Agente de Segurança Pública, mesmo considerando
essa versatilidade.

• Diante dessa realidade, caracterizada por tantas variáveis, é imprescindível


respeitar os princípios legais e éticos que conferem identidade e legitimidade à
sua atuação e aplicar técnicas e procedimentos já consolidados, de acordo com
documentos internacionais da proteção aos Direitos Humanos (Ver Diretriz nº
1 da Portaria nº 4226).

• A evolução dos conceitos de Uso da Força pelas Organizações de Segurança


Pública, balizados pelas modernas doutrinas internacionais, tem conduzido os
profissionais que atuam neste setor a uma incessante busca pelo
aperfeiçoamento dos mecanismos que possibilitam a capacitação adequada,
integrando técnicas e tática, defesa pessoal, equipamentos e armamentos,
instrumentos de menor potencial ofensivo, dentre outros, sempre permeado
pelos consagrados conceitos de Direitos Humanos e pela premissa da
segurança voltada para a cidadania.

• Assim, os Órgãos de Segurança Pública, visando otimizar cada vez mais a


prestação dos serviços à população, necessitam, como fator inicial e de base,
aprimorar seus sistemas de acesso, de forma a contemplar critérios de
recrutamento e de seleção para seus Agentes levando em consideração o perfil
psicológico necessário para lidar com situações de estresse e uso da força e
arma de fogo (Diretriz nº 12 da Portaria nº 4226).

120
• Sobre este mesmo enfoque, na continuidade do processo de formação dos
Agentes de Segurança Pública, é necessário destacar que, de acordo com os
PBUFAF, cabe aos Estados e aos Órgãos Defensores da Lei assegurar que
todos os seus profissionais recebam treinamento contínuo e profundo, devendo
estar perfeitamente preparados para agir conforme os padrões de perfil
apropriado ao uso da força.

• A correta compreensão e a efetiva aplicação das doutrinas de Uso Diferenciado


da Força devem perpassar o aprendizado teórico de uma base curricular atual,
realista, científica e única, culminando na capacitação exaustiva em torno de
um processo que possibilite a mobilização de saberes (conhecimentos,
habilidades e atitudes) visando preparar os agentes de Segurança Pública para
agir frente a diferentes situações reais.

• O fundamental é o estabelecimento de um novo modelo de capacitação


contínua, em que se ressalte a atividade de segurança pública enquanto um
serviço público destinado à proteção da cidadania e dos Direitos Humanos
fundamentais, além de estar estruturado em casos reais, o que tornaria o
Agente de Segurança apto a avaliar adequadamente a melhor forma de
atuação no seu cotidiano (CORDEIRO, 2009).

• Qualificar o uso da força como sendo diferenciado importa em uma nova


filosofia, na qual existe a flexibilidade na utilização desse recurso, a força com
o objetivo maior de buscar sempre a preservação da vida e a integridade física
de todas as pessoas.

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