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RESOLUÇÃO N.º 4115, DE 08 DE NOVEMBRO DE 2.010.

Aprova o Caderno Doutrinário 1 –


Intervenção policial, verbalização e uso de
força.

O COMANDANTE-GERAL DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS, no


uso das atribuições que lhe são conferidas pelo inciso I, alínea I do artigo 6°, item V, do
Regulamento aprovado pelo Decreto n° 18.445, de 15Abr77 – (R-100), e à vista do
estabelecido na Lei Estadual 6.260, de 13Dez73, e no Decreto n° 43.718, de 15Jan04,
RESOLVE:

Art. 1° Aprovar o Caderno Doutrinário 1 – Intervenção policial, verbalização


e uso de força.

Art. 2° Esta Resolução entra em vigor no ato de sua publicação

Art. 3° Revogam-se as disposições em contrário.

QCG em Belo Horizonte, 08 de novembro de 2.010

(a) RENATO VIEIRA DE SOUZA, CORONEL PM


COMANDANTE-GERAL
Caderno Doutrinário 1

Intervenção Policial,
Verbalização e
Uso de Força
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA
Caderno Doutrinário 1
INTERVENÇÃO POLICIAL,
VERBALIZAÇÃO E USO DE FORÇA
Missão

Assegurar a dignidade da pessoa humana, as liberdades e os


direitos fundamentais, contribuindo para a paz social e para
tornar Minas o melhor Estado para se viver.

Visão

Sermos excelentes na promoção das liberdades e dos direitos


fundamentais, motivo de orgulho do povo mineiro.

Valores

a) Respeito aos direitos fundamentais e Valorização das pes-


soas.

b) Ética e Transparência.

c) Excelência e Representatividade Institucional.

d) Disciplina e Inovação.

e) Liderança e Participação.

f ) Coragem e Justiça.
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA
Caderno Doutrinário 1
INTERVENÇÃO POLICIAL,
VERBALIZAÇÃO E USO DE FORÇA

Belo Horizonte
2010
Direitos exclusivos da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG)

Reprodução proibida – circulação restrita.

Comandante-Geral da PMMG: Cel.PM Renato Vieira de Souza


Chefe do Gabinete Militar do Governador: Cel.PM Luis Carlos Dias Martins
Chefe do Estado-Maior: Cel.PM Márcio Martins Sant´ana
Comandante da Academia de Polícia Militar: Cel.PM Fábio Manhães Xavier
Chefe do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação: Ten.-Cel.PM Antônio L. Bettoni da Silva
Tiragem: 2.000

MINAS GERAIS. Polícia Militar de. Intervenção Policial, Verbalização e Uso de Força

M663i - Belo Horizonte: Academia de Polícia Militar, 2010.

120 p. (Prática Policial Básica. Caderno Doutrinário 1)

1. Intervenção policial. 2. Uso de força. 3. Atuação policial. 4. Técnica e tática policial militar.
5. Verbalização policial. I. Título. II. Série

CDU 355.014

CDD 363.22

Ficha catalográfica: Rita Lúcia de Almeida Costa – CRB – 6ª Reg. n.1730

ADMINISTRAÇÃO:

Centro de Pesquisa e Pós Graduação


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Belo Horizonte – MG
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Fax: (0xx31) 2123-9512
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SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2 PREPARO MENTAL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

2.1 Estados de prontidão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2.1.1 Classificação dos estados de prontidão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2.2 Estados de prontidão e a atuação policial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

3 AVALIAÇÃO DE RISCOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

3.1 Metodologia de avaliação de riscos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3.2 Aplicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

4 PENSAMENTO TÁTICO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

4.1 Quarteto do pensamento tático. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

4.1.1 Leitura do ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

4.1.2 Alinhamento do estado de prontidão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

4.2 Processo mental da agressão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

5 INTERVENÇÃO POLICIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

5.1 Níveis de intervenção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

5.2 Etapas da intervenção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

5.3 Abordagem policial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

5.3.1 Fundamentos da abordagem policial à pessoa em atitude suspeita. . . . . . . . . . . 50


6 VERBALIZAÇÃO POLICIAL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53

6.1 Comunicação na abordagem policial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

6.2 Verbalização do policial face ao comportamento do abordado. . . . . . . . . . . . . . . 62

6.2.1 Abordado cooperativo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

6.2.2 Abordado resistente passivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

6.2.3 Abordado resistente ativo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

6.2.4 Verbalização no caso de prisão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

6.3 Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

7 USO DE FORÇA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

7.1. Princípios do uso de força. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

7.1.1 Níveis de resistência da pessoa abordada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

7.1.2 Uso diferenciado de força . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

7.1.3 Modelo do uso de força . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

7.1.4 Responsabilidade pelo uso de força. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

7.2 Uso da arma de fogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89

7.2.1 Regras gerais de controle. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89

7.2.2 Normas de segurança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

7.2.3 Usar ou empregar arma de fogo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

7.2.4 Atirar ou disparar arma de fogo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93


7.2.5 Objetivo do disparo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93

7.2.6 Procedimentos para o disparo da arma de fogo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

7.2.7 Circunstâncias especiais para o disparo de arma de fogo. . . . . . . . . . . . . . . . . . 98

7.2.8 Procedimentos após o disparo de arma de fogo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

7.3 Relatórios sobre o uso de força e arma de fogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

7.3.1 Confeccionados pelo policial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

7.3.2 Roteiro básico de apuração referente ao uso de força e arma de fogo . . . . . . . . . 106

GLOSSÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109

REFERÊNCIAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
SEÇÃO 1

APRESENTAÇÃO
Caderno Doutrinário 1
1 APRESENTAÇÃO

Os fundamentos aplicados neste “Caderno Doutrinário” estão em conformidade


com a legislação brasileira e com os documentos oriundos da Organização das
Nações Unidas (ONU), no que forem aplicáveis à função policial, quais sejam:
Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Fun-
cionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (PBUFAF), o Código de Conduta
para os Encarregados pela Aplicação da Lei (CCEAL), o Pacto Internacional sobre
Direitos Civis e Políticos (PIDCP), o Pacto Internacional dos Direitos Sociais, Eco-
nômicos e Culturais (PIDSEC) e a Convenção Contra a Tortura e outros Trata-
mentos ou Penas Cruéis, Desumanas ou Degradantes1.

Expressar toda a complexidade da atividade policial em um conjunto de textos


é desafiador. Cada intervenção é singular e exige flexibilidade do profissional.
Mas é necessário ter parâmetros bem definidos que deem sustentação às ações
policiais, mesmo considerando essa versatilidade. Diante dessa realidade,
caracterizada por tantas variáveis, é imprescindível respeitar os princípios legais
e éticos que conferem identidade e legitimidade à profissão policial e aplicar
técnicas e procedimentos consolidados pela experiência de seus integrantes. A
construção do escopo doutrinário declara o que esta atividade tem de essen-
cial, constante e estável; uma estrutura sólida que servirá de guia sobre o qual a
criatividade, quando necessária, deverá se referenciar.

A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) apresenta um conjunto de “Cadernos


Doutrinários” que estabelecem métodos e parâmetros que propiciam suporte à
sua prática profissional e, por isso, consistem em instrumentos educativos e de
proteção, tanto para o policial quanto para o cidadão.

Este Caderno Doutrinário 1 – Intervenção Policial, Verbalização e Uso de


Força tem como finalidade apresentar orientações básicas para a efetividade
das intervenções policiais e deve ser tomado como referencial obrigatório para
os demais “Cadernos Doutrinários”.

1 Ressalta-se que as normas internacionais em que o Brasil é signatário, se incorporam ao ordenamento jurídico brasileiro, via de regra,
com força de lei ordinária.

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PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

A seção 2 trata do preparo mental e dos estados de prontidão, ressaltando


a importância de o policial ensaiar possibilidades para antecipar respostas e
observar sua capacidade de reação para as diferentes situações do cotidiano
operacional.

A seção 3 traz a metodologia para proceder à avaliação de riscos, ferramenta


necessária para diagnosticar as diversas situações de ameaça e as condições de
segurança para uma intervenção.

O pensamento tático é outro recurso importante para o diagnóstico de cada


ocorrência, fornece elementos para analisar e controlar as diferentes áreas do
“teatro de operações” e buscar interferir no processo mental do agressor, subsi-
diando o planejamento da intervenção. Será desenvolvido na seção 4, em com-
plemento à seção anterior.

A seção 5 aborda o tema intervenção policial, suas etapas e classificação em


três níveis diferentes, em função dos objetivos e riscos avaliados. A abordagem
policial, como exteriorização da intervenção, também é tratada nesta seção,
contudo, de forma introdutória, pois será retomada mais detalhadamente nos
outros “Cadernos Doutrinários”, devido à sua importância na atividade policial.

A verbalização policial é tema da seção 6, destacando a importância dos ele-


mentos verbais e não verbais do processo de comunicação, como instrumento
facilitador em qualquer intervenção, aplicável em todos os níveis de uso de
força pela polícia.

Finalizando, a seção 7 dispõe sobre o uso de força, seus diferentes níveis, além
de trazer considerações e orientações sobre o uso de arma de fogo e de força
potencialmente letal, consistindo num referencial para que o policial tenha
segurança em utilizá-la, desde que em conformidade com os princípios éticos
e legais que regem seu emprego. É importante acrescentar que a elaboração
desta seção contou com a colaboração destacada de instrutores formados no
âmbito do projeto de integração das normas de Direitos Humanos à prática
policial, promovido pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

12
Caderno Doutrinário 1
Este conjunto de “Cadernos Doutrinários” operacionais denomina-se Prática
Policial Básica e será composto pelos seguintes documentos:

Caderno Doutrinário 1 – Intervenção Policial, Verbalização e Uso de Força

Caderno Doutrinário 2 – Tática Policial, Abordagem a Pessoas e Tratamento às


Vítimas

Caderno Doutrinário 3 – Blitz Policial

Caderno Doutrinário 4 – Abordagem a Veículos

Caderno Doutrinário 5 – Cerco, Bloqueio e Interceptação

Caderno Doutrinário 6 – Escoltas Policiais

Caderno Doutrinário 7 – Abordagem a Edificações

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SEÇÃO 2

PREPARO MENTAL
Caderno Doutrinário 1
2 PREPARO MENTAL

É fato que cada ocorrência policial possui um conjunto de variáveis que a torna
única. Cada intervenção é singular, exigindo que o policial seja versátil e capaz
de adaptar-se às peculiaridades de cada situação do cotidiano operacional.
Nesse contexto, a segurança do policial, na execução das suas tarefas, está dire-
tamente relacionada ao seu preparo mental2.

Considera-se preparo mental o processo de pré-visualizar e ensaiar mental-


mente os prováveis problemas a serem encontrados em cada tipo de inter-
venção policial e as possibilidades de respostas. Essa antecipação desencadeia
um conjunto de alterações fisiológicas e psicológicas, colocando o policial num
estado de prontidão que ampliará sua capacidade de resposta a cada situação.

A falta do preparo mental do policial durante uma intervenção prejudicará o


seu desempenho, levando a um aumento de seu tempo de resposta à agressão
e, assim, o uso de força poderá ser inadequado (excessivo ou aquém do neces-
sário para contê-la). Num cenário mais grave, o policial pode ser levado a uma
paralisia ou a um bloqueio na sua capacidade de reagir, comprometendo, con-
sequentemente, a segurança e os resultados da ocorrência.

Visualizar as situações e respostas possíveis prepara o policial para a tomada


de decisões. Mesmo em circunstâncias adversas (por exemplo, ferido ou sob
estresse), o policial bem treinado terá como responder adequadamente, dentro
dos padrões técnicos, legais e éticos.

O treinamento policial baseado em situações práticas que se aproximam do


cotidiano profissional, somado à análise crítica de erros e acertos vivenciados
na experiência real contribuem para o desenvolvimento da habilidade do poli-
cial pensar sobre como ele agiria nas diversas situações, visualizando mental-
mente suas respostas e definindo previamente o seu procedimento básico.
Dessa forma, ele criará rotinas seguras para sua atuação.

Por isso, o treinamento policial deve ser contínuo, valorizando o preparo


mental, tanto quanto todas as atividades da capacitação profissional.

2 No Manual de Prática Policial – Geral / Volume 1 (2002), o termo utilizado no Título do Capítulo II é “condicionamento mental”.

17
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

LEMBRE-SE: ao desenvolver o preparo mental, o poli-


cial antecipa-se, fazendo uma avaliação preliminar das
ameaças e considerando possibilidades de atuação.

2.1 Estados de prontidão3

Na atividade profissional, o policial lida com diversas situações caracterizadas


por diferentes níveis de risco e complexidade. Cada momento exigirá dele uma
habilidade de se antecipar e reagir ao perigo e atuar em um estado de pron-
tidão diferente.

Os estados de prontidão são definidos por um conjunto de alterações fisio-


lógicas (frequência cardíaca, ritmo respiratório, dentre outros) e das funções
mentais (concentração, atenção, pensamento, percepção, emotividade) que
influenciam na capacidade de reagir às situações de perigo. É importante des-
tacar que os estados de prontidão dependem de fatores subjetivos, tais como
experiências anteriores, domínio técnico e relacionamento com a equipe de
trabalho, que influenciam no modo como cada policial percebe e responde a
um mesmo estímulo.

2.1.1 Classificação dos estados de prontidão

Os diferentes estados de prontidão são classificados da seguinte forma:

a) Estado relaxado (branco)

É caracterizado pela distração em relação ao que está acontecendo ao


redor, pelo pensamento disperso e pelo relaxamento do policial. Pode ser
ocasionado por crença na ausência de perigo ou mesmo por cansaço.

O policial encontra-se despreparado para um eventual confronto e, caso


uma intervenção seja necessária, aumentará consideravelmente os riscos
e comprometerá a sua segurança individual e a de sua guarnição.

3 No Manual de Prática Policial – Geral / Volume 1 (2002) são chamados de “estados de alerta”. De um modo geral é tratado
internacionalmente como “Early Warning System”, ou seja, sistema de alarme prévio, utilizado em várias atividades, principalmente em
Defesa Civil.

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Caderno Doutrinário 1
Exemplo: o policial de folga almoçando com sua família pode se encon-
trar no estado relaxado. Por outro lado, num patrulhamento, escutando
música com fone de ouvido ou conversando ao celular assuntos diversos
do policiamento ora executado, colocará a sua segurança e a de seu grupo
em risco, caso tenha que fazer sua própria segurança e de sua equipe
numa intervenção inesperada.

ATENÇÃO! Na atividade operacional ou em desloca-


mento fardado, o policial NÃO pode estar no estado
relaxado (branco).

b) Estado de atenção (amarelo)

Neste estado de prontidão, o policial está atento, precavido, mas não está
tenso. Apresenta calma, porém, mantém constante vigilância das pessoas,
dos lugares, das coisas e ações ao seu redor por meio de uma observação
multidirecional e da atenção difusa (em 360º).

No estado de atenção (amarelo), o policial estará preparado para


empregar ações de respostas adequadas às situações de normalidade. Não
há identificação de um ato hostil e, embora não haja um confronto imi-
nente, o policial está ciente de que uma agressão seria possível. Percebe
e avalia constantemente o ambiente, atento a qualquer sinal que possa
indicar uma ameaça em potencial.

Exemplos: o policial, realizando patrulhamento em sua área de responsa-


bilidade e interagindo com comerciantes, orientando-os quanto a dicas de
segurança e, ao mesmo tempo, estando atento a toda a movimentação de
pessoas dentro e fora do estabelecimento comercial; o deslocamento do
policial fardado durante sua folga.

c) Estado de alerta (laranja)

Neste estado de prontidão, o policial detecta um problema e está ciente


de que um confronto é provável. Embora ainda não haja necessidade ime-
diata de reação, o policial se mantém vigilante, identifica se há alguém que
possa representar uma ameaça que exija uso de força e calcula o nível de
resposta adequado (ver Uso de força – seção 7).

19
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Manter-se no estado de alerta (laranja) diminui os riscos do policial ser


surpreendido, propiciando a adoção de ações de resposta, conforme a
situação exigir. Deve-se avaliar se é necessário pedir apoio de outros poli-
ciais e identificar prováveis abrigos (proteções) que possam ser utilizados.

Exemplos: o policial acionado pelo rádio (CICOP) para atender a uma


ocorrência de uma briga entre vizinhos devido à perturbação do sossego
(barulho de música e conversa alta), em um local considerado zona quente
de criminalidade ou de um roubo à mão armada ocorrido na sua região de
patrulhamento, desloca-se a fim tentar realizar a prisão dos agentes.

d) Estado de alarme (vermelho)

Neste estado de prontidão, o risco é real e uma resposta da polícia é


necessária. É importante focalizar a ameaça (atenção concentrada no pro-
blema) e ter em mente a ação adequada para controlá-la, com intervenção
verbal, uso de técnicas de menor potencial ofensivo ou força potencial-
mente letal, conforme as circunstâncias exigirem.

O preparo mental e o treinamento técnico recebido possibilitarão ao poli-


cial condições de realizar sua defesa e a de terceiros e, mesmo em situa-
ções de emergência, decidir adequadamente.

Exemplos: o policial intervindo no atendimento de uma ocorrência, como


num conflito entre vizinhos, e um deles ameaça o outro com uma arma de
fogo; ou quando se depara com um veículo que acaba de ser tomado de
assalto, iniciando-se um acompanhamento a veículo em fuga.

e) Estado de pânico (preto)

Quando o policial se depara com uma ameaça para a qual não está pre-
parado ou quando se mantém num estado de tensão por um período de
tempo muito prolongado, seu organismo entra num processo de sobre-
carga física e emocional.

Nesse caso, podem ocorrer falhas na percepção da situação, comprome-


tendo sua capacidade de reagir adequadamente à ameaça enfrentada.
Isso caracteriza o estado de pânico (preto).

O pânico é o descontrole total que produz paralisia ou uma reação des-


proporcional, portanto ineficaz. É chamado assim porque a mente entra

20
Caderno Doutrinário 1
em uma espécie de “apagão”, o que impossibilita ao policial dar respostas
apropriadas ao nível da ameaça sob a qual estaria exposto.

Durante o estado de pânico (preto), poderá ocorrer o retorno parcial e


momentâneo ao estado de alarme (vermelho), o que até poderá propi-
ciar alguma capacidade de reação. Contudo, é importante interpretar essas
oscilações dos estímulos fisiológicos (percepção, atenção ou pensamento)
como um grave sinal de perigo e esgotamento mental, e não como indica-
tivos de que o policial suporta bem o estresse oferecido pela situação.

Exemplo: o policial poderá abandonar um abrigo e atracar-se fisica-


mente com um agressor, utilizar a arma de fogo sem controle, atirando de
maneira instintiva e descontrolada, ou, até mesmo, entrar em uma situ-
ação de letargia física ou paralisia momentânea, deixando de acompanhar
sua guarnição, quando em deslocamento no local da ocorrência.

2.2 Estados de prontidão e a atuação policial

O estado de atenção (amarelo) é o estado de prontidão no qual o policial


deve operar durante uma situação de normalidade (exemplo: patrulhamento
ordinário), dando prioridade para a identificação de possíveis riscos. Durante
uma intervenção, policiais podem ser feridos em decorrência de situações de
riscos que não anteciparam, não viram ou não estavam mentalmente prepa-
rados para enfrentar. No transcorrer da ação, quando uma mudança de estado
de prontidão é exigida, aumentando o nível de atenção e concentração do poli-
cial (para o estado de alerta - laranja ou alarme - vermelho), a partida do
estado de atenção (amarelo) é muito mais fácil do que um salto do estado
relaxado (branco). Como já foi dito anteriormente, nesse último caso, partindo
do estado relaxado (branco), o policial estaria tão despreparado que poderia
até entrar numa situação de pânico (preto).

Ressalta-se que o estado de atenção (amarelo) pode ser mantido por um


período mais prolongado sem sobrecarregar as funções físicas e mentais. Con-
tudo, o estado de alerta (laranja) e o estado de alarme (vermelho) podem
ser mantidos pelo organismo e pela mente apenas por períodos de tempo rela-
tivamente curtos, pois exigem um dispêndio maior de energia. Operar conti-
nuamente nesses avançados níveis de prontidão pode desencadear reações
adversas, tanto no âmbito físico quanto psicológico, levando a síndromes de
esgotamento (estresse crônico)

21
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Caso a ocorrência tenha exigido atuação no estado de alarme (vermelho),


quando cessada a situação de ameaça, é importante incentivar o policial a
retornar ao estado de atenção (amarelo), se as condições de segurança do
ambiente assim permitirem. Essa medida favorece o retorno do organismo às
condições de funcionamento normal, sem muito desgaste.

Esse processo pode ser conduzido, logo após o desfecho da ocorrência, pelo
próprio comandante da guarnição, incentivando o grupo a conversar sobre a
experiência vivida. A manutenção do espírito de equipe e da confiança entre
líder e liderados são fatores importantes para minimizar o desgaste do profis-
sional.

Posteriormente, durante os horários de folga, os policiais devem ser incenti-


vados a buscar um repouso (estado de relaxamento – branco), a participação
em atividades junto à família ou amigos, a prática de esportes ou em atividades
culturais, e até mesmo, o contato com profissionais da área da psicologia4.

Caso não haja preocupação com essas medidas, o policial estará mais pro-
penso a desenvolver um quadro de estresse crônico. Comportamentos de irri-
tabilidade, intolerância e impaciência são sintomas comuns e, agindo sobre os
efeitos deste quadro, o policial poderá responder de forma impulsiva quando
se deparar com situações de ameaça e perigo, ou ainda, com reações exage-
radas mesmo em ocorrências com baixo nível de risco e complexidade (nível
de força incompatível com a análise de risco e reação do abordado). Tudo isso
pode favorecer o surgimento de estados de pânico (preto) durante o serviço
operacional. Medidas que incentivam o retorno ao estado relaxado (branco)
e de atenção (amarelo) são, portanto, estratégias que contribuem tanto para a
prevenção da saúde mental do profissional de segurança pública quanto para
evitar a banalização de atos de violência nas intervenções policiais.

Assim, o estado de prontidão do policial é considerado tão fundamental


quanto os equipamentos e armamentos colocados à sua disposição no serviço
ou patrulhamento, pois, juntamente com o domínio técnico e o condiciona-
mento físico, é ele que determinará sua condição de resposta à situação apre-
sentada.

4 Interpretação institucional da PMMG do princípio 21 dos Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos
Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (PBUFAF) e em conformidade com o Memorando 10.162/ 98 – EMPM/ PMMG que
recomenda o encaminhamento de policial militar envolvido em ocorrências com mortos e feridos ao psicólogo.

22
Caderno Doutrinário 1
Quanto melhor preparado mentalmente, melhor condição o policial terá para:

• detectar sinais de riscos e ameaças;

• colocar-se no estado de prontidão apropriado a cada situação;

• ter autodomínio para passar para um nível mais alto ou mais baixo de
prontidão, de acordo com a evolução da intervenção.

23
SEÇÃO 3

AVALIAÇÃO
DE RISCOS
Caderno Doutrinário 1
3 AVALIAÇÃO DE RISCOS

Toda intervenção envolve algum tipo de risco potencial que deverá ser consi-
derado pelo policial. O risco é a probabilidade de concretização de uma ameaça
contra pessoa e bens; é incerto, mas previsível. Cada situação exigirá que ele se
mantenha no estado de prontidão compatível com a gravidade dos riscos que
identificar. Uma ponderação prévia irá orientar o policial sobre a necessidade e
o momento de iniciar a intervenção, escolhendo a melhor maneira para fazê-lo.

Toda ação policial deverá ser precedida de uma avaliação dos riscos envol-
vidos, que consiste na análise da probabilidade da concretização do dano e
de todos os aspectos de segurança que subsidiarão o processo de tomada de
decisão em uma intervenção, formando um componente importante do pen-
samento tático (ver Pensamento Tático - seção 4).

O policial deverá ter em mente que, em qualquer processo de tomada de


decisão em ambiente operacional, a polícia tem o dever funcional de servir e
proteger a sociedade, preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas
e do patrimônio, garantindo a vida, a dignidade e a integridade de todos5.

3.1 Metodologia de avaliação de riscos

Esta metodologia compreende cinco etapas, sendo elas:

a) Etapa 1 - identificação de direitos e garantias6 sob ameaça: consiste


em identificar quais são os indivíduos expostos ao risco, os bens móveis e
imóveis sujeitos a algum tipo de dano, as circunstâncias e o histórico dos
fatos, o comportamento das pessoas envolvidas, o tipo de delito e a possi-
bilidade de evolução do problema.

b) Etapa 2 - avaliação das ameaças: consiste em avaliar as características


dos fatores que ameaçam direitos e garantias, identificar pontos de foco e
pontos quentes (ver Pensamento Tático – seção 4) e selecionar o nível de
força adequado para controlá-los (ver Uso de Força – seção 7). Para tanto,
o policial deve:

5 Inciso V do artigo 144 da Constituição Federal Brasileira e Identidade Organizacional da PMMG.


6 Os direitos e garantias são os previstos na legislação internacional e na Constituição Federal de 1988.

27
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

• obter informações sobre o agressor em potencial e dos envolvidos


(idade, sexo, compleição física, estado emocional e psicológico, moti-
vação para o ato, armas empregadas, trajetória criminal, registro ante-
rior de agressão ou da ação contra policiais, entre outros);

• estar atento às condições do ambiente e a geografia urbana que


possam interferir diretamente na intervenção policial, à presença de
árvores, postes, caçambas, pontos de ônibus em alvenaria, hidrantes,
rochas (podem servir como abrigos), à concentração de residências,
presença de becos e vielas, às características do terreno (curvas e
colinas, descampados e grandes retas) e ao fluxo de pessoas.

c) Etapa 3 – classificação de risco: a classificação de risco permite ao poli-


cial agir dentro de padrões de segurança, auxilia na escolha do comporta-
mento tático mais adequado, além de lhe propiciar melhores condições
para assegurar os direitos e proteger todos os envolvidos. A classificação
de risco está estruturada em 3 níveis:

• risco nível I: caracterizado pela reduzida possibilidade de ocorrerem


ameaças que comprometem a segurança. Este nível de risco está pre-
sente em situações rotineiras do patrulhamento e intervenções de
caráter educativo e assistencial. O estado de prontidão coerente com
o risco de nível I é o estado de atenção (amarelo);

• risco nível II: caracterizado pela real possibilidade de ocorrerem ame-


aças que comprometem a segurança. São situações nas quais o risco é
conhecido, mas que a intervenção policial ainda é de caráter preven-
tivo. O estado de prontidão coerente com o risco de nível II é o estado
de alerta (laranja);

• risco nível III: caracterizado pela concretização do dano ou pelo grau


de extensão da ameaça. São situações nas quais a intervenção policial
é de caráter repressivo7. O estado de prontidão coerente com o risco
de nível III é o estado de alarme (vermelho).

d) Etapa 4 – análise das vulnerabilidades: consiste em analisar os recursos


que existem para responder à ameaça, dentre eles:

• competências profissionais dos policiais e da equipe como um todo


para agir no cenário em função das técnicas e táticas adequadas aos
tipos de ameaças;

7 A palavra “repressivo” admite conotação depreciativa relacionada, principalmente, a fatores históricos, políticos, culturais e ideológicos
referentes à tríade classe, raça e gênero. Contudo, no âmbito da atividade policial, o termo é empregado para caracterizar ações de cunho
técnico e profissional voltadas a coibir de atos ilícitos que ameaçam direitos fundamentais.

28
Caderno Doutrinário 1
• efetivo policial suficiente para atuar com supremacia de força;

• meios de que o policial dispõe para intervir de forma efetiva e segura


(armamento, colete balístico, equipamento para comunicação, veí-
culos, entre outros);

• reação da população local diante da intervenção policial (positiva ou


negativa).

e) Etapa 5 - avaliação de possíveis resultados: é a análise da relação custo-


-benefício da intervenção policial diante de cada situação de risco. Cabe ao
policial calcular quais serão os resultados de suas ações e seus reflexos na
defesa da vida e das pessoas, no reforço de um cenário de paz social e na
imagem da PMMG.

Ao fazer a avaliação de risco, o policial tem subsídios para avaliar a oportuni-


dade e a conveniência de uma intervenção e decidir sobre a ação e o nível de
força adequado para controlar a ameaça, seja por meio da verbalização, força
física ou mesmo a força potencialmente letal, conforme as circunstâncias assim
exigirem8 (ver Uso de força – seção 7).

3.2 Aplicação

A avaliação e classificação de risco possibilitam o uso de técnicas e táticas


adequadas às diversas formas de intervenção policial (ver Intervenção policial
– seção 5).

Para cada nível de risco determinado, haverá uma conduta operacional esta-
belecida como referência para a ação policial, cabendo-lhe selecionar os proce-
dimentos mais adequados a cada situação.

Cada atuação da polícia é cercada de particularidades. Não existem ocorrên-


cias iguais, contudo é possível desenhar um conjunto de “situações básicas” que
podem servir de modelos aplicáveis ao treinamento.

8 Interpretação institucional da PMMG do princípio 4 dos Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos
Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (PBUFAF) e em conformidade com o artigo 3º do Código de Conduta para os Encarregados
pela Aplicação da Lei (CCEAL).

29
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

A sistematização das respostas esperadas a partir da identificação e classifi-


cação de riscos em uma intervenção policial viabiliza a seleção e a aplicação de
procedimentos adequados à solução de problemas, como será visto na seção
seguinte.

LEMBRE-SE: não é possível afastar completamente


o risco em uma intervenção policial, mas o preparo
mental, o treinamento e a obediência às normas téc-
nicas garantem uma probabilidade maior de sucesso.

30
SEÇÃO 4

PENSAMENTO
TÁTICO
Caderno Doutrinário 1
4 PENSAMENTO TÁTICO

Pensamento tático é o processo de análise do cenário da intervenção poli-


cial (leitura do ambiente). Consiste em mapear as diferentes áreas do “teatro de
operações” em função dos riscos avaliados, identificar perímetros de segurança
para atuação, priorizar os pontos que exijam maior atenção e tentar interferir
no processo mental do agressor.

Enquanto o preparo mental ocorre antes da intervenção e consiste numa aná-


lise de possibilidades, o pensamento tático consiste num diagnóstico que uti-
liza os dados e informações concretas obtidas por meio da avaliação de riscos
de um “teatro de operações” específico. Num processo dinâmico, atualiza-se em
função da evolução da ocorrência.

AVALIAÇÃO DE RISCOS + PENSAMENTO TÁTICO =

DIAGNÓSTICO DA INTERVENÇÃO

4.1 Quarteto do pensamento tático

O pensamento tático é norteado pelo quarteto: área de segurança, área de


risco, ponto de foco e ponto quente.

FIGURA 1 – Quarteto do pensamento tático

33
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Ao aplicar esses conceitos, o policial terá melhores condições para avaliar e


reagir adequadamente aos riscos que possa vir a enfrentar, mesmo sob estresse.

O emprego do pensamento tático permite ao policial:

• dividir em diferentes níveis de perigo o local onde se encontra ou para


onde se dirige (“teatro de operações”);

• formular um plano de ação;

• estabelecer prioridades para dirigir a atenção e determinar pontos que


devam ser controlados;

• manter a segurança individual e da equipe no desenrolar da ocorrência;

• controlar ameaças que possam surgir.

Os conceitos que se seguem devem ser entendidos de maneira ampla e sistê-


mica, sendo adaptáveis às diversas situações operacionais.

a) Área de segurança

É a área na qual as forças policiais têm o domínio da situação, não havendo,


presumidamente, riscos à integridade física e à segurança dos envolvidos. É o
espaço onde o policial deve, primeiramente, se colocar durante a intervenção,
evitando se expor a perigos desnecessários.

Exemplo: arredores de uma residência onde, no seu interior, se encontra o sus-


peito da prática de um delito.

b) Área de risco

Consiste num espaço físico delimitado, no “teatro de operações”, onde podem


existir ameaças, potenciais ou reais, que ponham em perigo a integridade física
e a segurança dos envolvidos. É a área na qual o policial não detém o domínio
da situação, por ainda não ter realizado buscas, sendo portanto, uma fonte de
perigo para ele ou terceiros, e por isso requer que os riscos envolvidos sejam
rigorosamente avaliados (ver Avaliação de Riscos – seção 3).

34
Caderno Doutrinário 1
Exemplo: a residência onde se encontram suspeitos da prática de um delito.

ATENÇÃO! O policial somente deverá transpor a área


de segurança e adentrar na área de risco, depois
de certificar-se de que tem o controle das fontes de
perigo que lá se encontram.

c) Ponto de foco

Os pontos de foco são partes dentro da área de risco que requerem moni-
toramento específico e demandam imediata atenção do policial, uma vez que
deles podem surgir ameaças que representem risco à segurança dos envol-
vidos. Portas, janelas, escadas, corredores, veículos, obstáculos físicos, escava-
ções, uma pessoa, ou qualquer outro elemento no local de atuação que possa
oferecer ameaça, mesmo que não imediatamente visível ou conhecida, podem
ser considerados como pontos de foco.

Seguindo o exemplo do item “b) Área de Risco”, os pontos de focos poderão ser
as janelas da residência onde se encontram suspeitos da prática de um delito.

d) Ponto quente

Os pontos quentes são partes do ponto de foco que possuem um maior


potencial de se tornarem fontes reais de agressão e que, por isso, devem ser
cautelosamente monitorados para garantir a segurança de todos os envolvidos.
O policial direcionará sua atenção, energia e habilidade para essas fontes a fim
de responder adequadamente, considerando os princípios e as regras para o
uso de força (ver Uso de Força – seção 7) .

Seguindo o exemplo do item “c) Ponto de Foco”, o ponto quente será o suspeito
da prática de um delito, que está posicionado numa das janelas da residência.

É necessário compreender que a definição do que será ponto de foco e ponto


quente ocorre de maneira contínua e dinâmica, decorrente da avaliação de

35
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

riscos. Isso permite ao policial reclassificá-los à medida que os locais de onde


podem partir as ameaças vão sendo identificados e/ou controlados, mais espe-
cificamente.

No exemplo anterior, no primeiro momento, o suspeito na janela foi definido


como um ponto quente. Contudo, quando o policial identifica que ele está
com uma arma de fogo, a partir de então, o abordado será considerado como
um ponto de foco e suas mãos passam a ser o ponto quente.

Outro exemplo: um veículo suspeito será considerado ponto de foco e um indi-


víduo que está em seu interior o ponto quente. Esse mesmo indivíduo poderá
tornar-se o ponto de foco e suas mãos serão definidas como o ponto quente.
Igual atenção deverá ser dada às janelas, portas e porta-malas, pois são locais
prováveis para o surgimento de ameaças (pontos quentes).

4.1.1 Leitura do ambiente

Existem três questões chaves para uma correta leitura do ambiente, que levam
à identificação dos riscos presentes numa intervenção policial:

• Onde estão os riscos potenciais nesta situação?

Ao se aproximar de uma residência para atendimento de uma ocorrência,


uma mulher sai correndo de dentro da casa na direção do policial. Consi-
dere: a mulher, em si mesma, é uma ameaça? Onde estão as portas e janelas
das quais o policial pode ser visto e atingido por alguém que se encontre
dentro da residência? Que outros locais podem abrigar um agressor que
não foi visto?

• Esses riscos estão controlados?

Na cena descrita, existem locais de ameaça que o policial ainda não con-
trola. Qualquer foco de ameaça que não esteja sob o controle visual de
pelo menos um policial é um risco que não se controla. No exemplo, o
policial não deve se colocar parado no passeio em frente à residência,
exposto a tais pontos de foco, pois aumenta o perigo potencial de sofrer
um ataque.

36
Caderno Doutrinário 1
• Se esses riscos não estão controlados, como fazê-lo?

Nesse exemplo, o policial pode considerar os possíveis abrigos próximos:


uma grande árvore, uma coluna de varanda, um carro estacionado, uma
caçamba ou outro meio de proteção. Abrigado numa área de segurança,
o policial utiliza a verbalização para identificar e direcionar a mulher
para uma posição segura e, simultaneamente, checa, periodicamente, o
ambiente em sua volta, avalia a área de risco, identifica os pontos de foco
e visualiza os pontos quentes.

LEMBRE-SE: ao se colocar num estado de prontidão


adequado, passando do estado de atenção (ama-
relo) para o estado de alerta (laranja) ou para o
estado de alarme (vermelho), quando necessário,
o policial estará melhor preparado para identificar os
pontos de foco e seus pontos quentes.

4.1.2 Alinhamento do estado de prontidão

É possível alinhar os conceitos do pensamento tático com o estado de pron-


tidão. Quando o policial se aproxima da área de risco e começa a analisá-la, o
seu estado de prontidão deve ser o de alerta (laranja), precavendo-se contra
situações adversas e estando consciente de que o perigo pode estar presente.

Ao chegar ao local de intervenção, é necessário avaliar a área de risco, proce-


dendo à identificação dos pontos de foco e seus pontos quentes. O policial
deve questionar se é possível controlar todos os pontos (todas as pessoas e suas
mãos, casas e suas janelas e portas, dentre outros).

Ao identificar um ponto de foco, o policial deverá esforçar-se ainda mais para


manter o controle visual da situação. O estado de prontidão poderá subir
para o estado de alarme (vermelho), conforme o caso. O policial deverá estar
atento e preparado para fazer uso de força diante de uma possível agressão.

Quando localiza um ponto quente, o estado de prontidão deverá atingir, defi-


nitivamente, o estado de alarme (vermelho), contribuindo para que o policial
esteja em condições de controlar a ameaça.

37
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Em algumas situações, a avaliação de riscos leva o policial à conclusão de que


não possui condições suficientes (efetivo de policiais, armamento, treinamento,
entre outros.) para agir imediatamente (etapa 4 da avaliação de riscos). Nesse
caso, recomenda-se ao policial não adentrar a área de risco.

O objetivo do policial em uma ocorrência é, de modo geral, impedir o agrava-


mento de qualquer situação e solucionar os problemas. Quando o policial não
se expõe a perigos desnecessários e trabalha sem invadir a área de risco, iden-
tificando e controlando os pontos de foco, ele possui mais chances de evitar
confronto direto e terá mais tempo e maior segurança para decidir quando e
como agir.

Em situações em que há mais de um policial, é possível dividir os pontos de


foco de uma área de risco. O número de policiais empregados em uma inter-
venção deve ser, sempre que possível, capaz de proporcionar o controle de
todos os pontos de foco e seus pontos quentes.

Algumas vezes, policiais se concentram em um mesmo ponto de foco deixando


outros sem controle. Todos os pontos de foco devem estar sob vigilância e,
para isso, deverá ocorrer uma ação coordenada por parte dos policiais. Jamais
um ponto de foco pode ser desconsiderado.

O policial que verbaliza manterá contato visual com o abordado, sempre


olhando para ele. Isso interferirá no processo mental do agressor, reduzindo
sua capacidade de reação.

Se uma ameaça real surge de um ponto de foco, a habilidade e o preparo


mental para entender e controlar os seus pontos quentes serão os suportes
para a resposta correta do policial. Nesse sentido, duas considerações são
importantes:

• Não dispersar e não dividir a ATENÇÃO!

Pode ser possível monitorar mais de um ponto de foco, ao mesmo tempo,


pelo policial, dependendo da situação, da distância em que se encontram
e do tempo necessário para a reação. Mas ele não conseguirá controlar,
plenamente, mais de um ponto quente por vez. O estado de alarme

38
Caderno Doutrinário 1
(vermelho) demanda muita atenção quando um ponto quente é identifi-
cado, sendo necessário avaliar qual ameaça é a mais séria e imediata e nela
concentrar esforços. Estando ela dominada, a probabilidade de agressão
diminui.

• Não confundir atenção concentrada com “visão em túnel”:

Em uma situação de risco iminente, o policial deve concentrar toda a


sua força e energia para controlar a ameaça o mais rápido possível. Por
outro lado, a “visão em túnel” ocorre quando o policial fixa seu olhar e sua
atenção em apenas um ponto, perdendo a capacidade de percepção do
que se encontra à sua volta. Como conseqüência, poderá eleger um obje-
tivo incorreto ou um conjunto de ações inadequadas para atingi-lo.

O policial, na sua prática operacional diária, deve lidar com a probabilidade


de riscos, preparando-se para enfrentar ameaças onde quer que elas possam
ocorrer. Não é possível eliminar todos os riscos da sua atividade, mas, usando
corretamente os princípios do pensamento tático, haverá uma redução subs-
tancial do perigo.

4.2 Processo mental da agressão

Consiste nas etapas percorridas por uma pessoa que intenciona agredir o poli-
cial, da seguinte maneira:

• identificar: captar o estímulo por meio da visão, dos sons, da intuição ou


de outra forma de perceber a presença do policial;

• decidir: definir o que fazer, isto é, preparar-se para o ataque ou ocultar-se;

• agir: colocar em prática aquilo que decidiu.

Conhecer esse processo é identificar os estágios de pensamento que uma


pessoa seguirá para agredir o policial. Utilizar essa informação no contexto das
ações e operações possibilita minimizar ou evitar uma ameaça direta.

Usualmente, as etapas do processo mental da agressão percorridas pelo sus-


peito ocorrem nesta sequência (IDENTIFICAR, DECIDIR E AGIR), porém, oca-
sionalmente, podem não ocorrer nesta ordem. Exemplo: o suspeito pode estar

39
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

com a arma pronta para disparar, apontada para a esquina de um beco em um


aglomerado urbano, antes mesmo de identificar um alvo.

Qualquer que seja a ordem, um provável agressor tem apenas esse processo
de pensamento para percorrer. Isso coloca o policial em desvantagem, pois,
enquanto o agressor passa por TRÊS passos para executar o ataque, o policial
terá, necessariamente, QUATRO fases, a fim de responder a ameaça.

IDENTIFICAR – CERTIFICAR – DECIDIR – AGIR

Após identificar a provável agressão, o policial terá, obrigatoriamente, que se


certificar de que o agressor está, de fato, iniciando um ataque, para depois
decidir e agir em consonância com os princípios do uso de força (legalidade,
necessidade, proporcionalidade, moderação e conveniência), e com os parâme-
tros éticos (ver Uso de força – seção 7.1).

O conhecimento do processo mental do agressor propicia a construção de


ideias em um pequeno espaço de tempo para antecipar o perigo, identificar
e entender o ato de agressão que está ocorrendo. Sabendo que o tempo para
reagir é curto, a melhor maneira de trabalhar com essa desvantagem é alongar
e manipular o processo mental do agressor.

Cinco fatores são úteis na tentativa de compensar as possíveis desvantagens


entre os processos mentais do agressor e do policial:

a) ocultação: se o agressor não sabe exatamente onde o policial está, ele


terá dificuldades em IDENTIFICÁ-LO para um ataque. Assim, poderá atirar
ou atacá-lo a esmo, em um esforço cego para atingi-lo, mas, muito prova-
velmente, sua tentativa será inútil, caso o policial se encontre devidamente
abrigado e coberto (oculto) na área de segurança.

b) surpresa: evitar que o agressor possa antecipar suas ações. Surpresa, por
definição, anda lado a lado com a ocultação. É, em outras palavras, agir sem
ser percebido diminuindo as possibilidades de ser agredido. Se o policial
pode ocultar-se ou mover-se de modo imperceptível, diminuirá a possibili-
dade de ser identificado e sofrer a ação decorrente de um plano de ataque.

40
Caderno Doutrinário 1
c) distância: de uma maneira geral, o policial deverá manter-se a uma dis-
tância que dificulte qualquer tipo de ação por parte do abordado. Certa-
mente, se um ataque físico é a preocupação, quanto maior a distância a
ser percorrida pelo agressor para atacar, mais tempo ele demorará para
atingir o policial que, por sua vez, terá mais tempo para identificar, cer-
tificar, decidir e repelir a ameaça. Quanto mais próximo de um agressor,
maiores são as chances do policial ser atingido. O policial estará mais
seguro, quando permanecer a uma distância adequada e sob a proteção
de um abrigo.

d) autocontrole: na ânsia de ver o êxito de suas atuações, os policiais, fre-


quentemente, abreviam boas táticas ou se lançam dentro da área de risco
na presença de um suspeito potencialmente hostil. Por outro lado, se o
policial faz com que ele venha até a área de segurança, que está sob seu
controle, estará provavelmente interferindo em todo o processo de pensa-
mento do agressor, desarticulando, desse modo, suas ações.

e) proteção: este princípio é, sem dúvida, o mais importante entre todos. Se


o policial pode posicionar-se atrás de algo que verdadeiramente o proteja
dos tiros e, ao movimentar-se utiliza abrigos, um agressor terá muita difi-
culdade em atacá-lo com sucesso. O abrigo também lhe dará mais tempo
para identificar qualquer outra ameaça que se apresente.

Em resumo, o policial deve procurar aumentar o tempo de decisão do agressor,


enquanto simplifica e encurta o seu próprio processo mental. Entender este
processo ajudará a avaliar as áreas de risco, estabelecendo perímetros de
segurança e determinando corretamente as prioridades, segundo os respec-
tivos pontos de foco que se apresentarem.

ATENÇÃO! O policial deve adentrar a área de risco


somente depois de se certificar de que detém o con-
trole de todas as ameaças que ela possa oferecer,
transformando-a em uma área de segurança.

41
SEÇÃO 5

INTERVENÇÃO
POLICIAL
Caderno Doutrinário 1
5 INTERVENÇÃO POLICIAL

Entende-se por intervenção policial, a ação ou a operação que empregam


técnicas e táticas policiais, em eventos de defesa social, tendo como objetivo
prioritário a promoção e a defesa dos direitos fundamentais da pessoa. Toda
intervenção policial deve ser transformadora da realidade, objetivando, de
modo geral, a prevenção e a resolução de conflitos, em conformidade com os
princípios do policiamento comunitário e os ditames dos direitos humanos.

Uma intervenção da polícia pode ter como objetivos: o esclarecimento de


dúvidas ou o fornecimento de informações junto a um transeunte; a realização
de uma busca pessoal, em um veículo ou em uma edificação; uma ação de
auxílio a uma pessoa acidentada ou perdida; o cumprimento de mandado de
prisão; a imobilização, a algemação e a condução de pessoas; disparar arma de
fogo de acordo com os princípios do uso de força e outras formas de contato do
policial com a sociedade.

Ao iniciar uma intervenção, o policial deve observar os aspectos éticos, nor-


mativos e técnicos que regulam e orientam a sua execução. O conhecimento
do conjunto normativo, somado ao treinamento diuturno, garantirá o sucesso
dessas ações.

5.1 Níveis de intervenção

Os níveis de intervenção são classificações em função da respectiva avaliação


de risco (ver Avaliação de Riscos – seção 3), que podem ser adotadas como
referência para a atuação policial. Estão estruturados em três níveis:

a) Intervenção - nível 1: adotada nas situações de assistência e orientação. A


finalidade das ações policiais neste nível é promover um ambiente seguro
por meio de contatos com a comunidade, para orientar e/ou educar e,
dificilmente, implicam realizar buscas em pessoas ou bens (risco nível I).
No entanto, é sempre necessário lembrar que as situações rotineiras não
podem provocar diminuição no nível de atenção do policial. O estado de
prontidão, neste tipo de intervenção, deverá ser o estado de atenção
(amarelo). O policial deve estar preparado para o caso da situação evoluir
e ser necessário o uso de força (ver Uso de força – seção 7).

45
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

b) Intervenção - nível 2: adotada nas situações em que haja a necessidade


de verificação preventiva. Neste caso, a avaliação de risco indica que
existe indício de ameaça à segurança (do policial ou de terceiros). Assim,
o policial deverá manter-se em condições de respondê-la. (risco nível II
e estado de alerta - laranja). Neste tipo de intervenção, além das ações
descritas no nível 1, podem ser realizadas buscas em pessoas, veículos ou
edificações, pois as equipes envolvidas iniciam suas ações com algum risco
já conhecido (indício) e o policial deverá estar pronto para enfrentá-lo.

Exemplo: abordagem a pessoa ou veículo com características semelhantes


às de envolvidos em delitos; execução de patrulhamento e verificações em
locais com histórico de violência.

c) Intervenção - nível 3: adotada nas situações de fundada suspeita ou cer-


teza do cometimento de delito, caracterizando ações repressivas. Neste
caso, a avaliação de riscos indica a iminência de algum tipo de agressão
(risco nível III e estado de alarme - vermelho). Os policiais deverão estar
prontos para o emprego de força, quando assim a situação exigir, sempre
com segurança, e observando os princípios da legalidade, necessidade,
proporcionalidade, moderação e conveniência (ver Uso de força - seção 7).

Exemplo: um infrator avistado no momento de uma ameaça direta à vítima


ou que, logo após, empreende fuga e é acompanhado pela polícia; um
agente de crimes procurado pela Justiça e que é identificado pelo policial.

5.2 Etapas da intervenção

Uma intervenção policial deve ser dividida em etapas para garantir o seu
sucesso:

a) Etapa 1 - diagnóstico: elaborado a partir das informações sobre o motivo,


o abordado e o ambiente, obtidas por meio da avaliação de risco, da aná-
lise de cenário feitas a partir do pensamento tático.

b) Etapa 2 - plano de ação: consiste na decisão, acerca das atribuições de


cada policial, dos métodos e procedimentos para alcançar objetivos da
intervenção. Os policiais, trabalhando em equipe, devem ter atitudes coe-
rentes entre si, fruto de uma mesma avaliação de risco e um consequente
escalonamento da força. É imprescindível considerar os dados que subsi-
diaram o diagnóstico, os fundamentos da abordagem, os princípios do uso
de força e os recursos disponíveis (pessoas e equipamentos). O plano de

46
Caderno Doutrinário 1
ação deve ser elaborado de forma simples e verbal, ou exigir maior estru-
turação, conforme a avaliação da complexidade (ver Avaliação de riscos
– seção 3).

O policial precisa responder às seguintes perguntas:

• Por que estamos intervindo?

• Quem, ou o que iremos abordar?

• Onde se dará a intervenção?

• O que fazer?

• Como atuar?

• Qual a função e posição de cada policial?

• Quando intervir?

c) Etapa 3 - execução: é a ação propriamente dita, resultante das fases


anteriores. Consiste na aplicação prática do plano de ação, bem como
da adoção de medidas decorrentes da própria intervenção (prestação de
auxílio ou orientação, busca pessoal, prisão e/ou condução do agente e o
registro do fato em BO/REDS).

d) Etapa 4 - avaliação: as condutas individuais e do grupo, os resultados


alcançados e as falhas notadas em cada intervenção devem ser, posterior-
mente, discutidas e analisadas, e possíveis correções devem ser apresen-
tadas, visando aperfeiçoar as competências profissionais.

47
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

FIGURA 2 – Etapas da intervenção policial

5.3 Abordagem policial

Na relação cotidiana entre a polícia e a comunidade, a abordagem policial é


a forma de intervenção policial mais comum, sendo executada em todos os
níveis, como veremos a seguir.

Trata-se de um conjunto de ações policiais ordenadas e qualificadas para que


o policial possa se aproximar de pessoas, veículos ou edificações com o intuito
de orientar, identificar, advertir, realizar buscas e efetuar detenções. Para tanto,
utiliza-se de técnicas, táticas e meios apropriados que irão variar de acordo com
as circunstâncias e com a avaliação de risco.

Qualquer contato do policial com as pessoas, decorrente da atividade profis-


sional, é considerada abordagem. Exemplos: orientações diversas, coleta de
informações, contatos comunitários, medidas assistenciais, buscas pessoais,
imobilizações físicas, prisão e condução.

48
Caderno Doutrinário 1
O contato físico, necessário e inevitável em alguns tipos de abordagem (aquelas
que geram busca pessoal, principalmente), se torna um momento crítico, tanto
para os policiais quanto para os envolvidos. Por um lado, o abordado pode se
sentir constrangido pela intervenção à qual foi submetido e, por outro, pode
oferecer riscos ao policial. Por isso, ao realizar este procedimento, deve-se atuar,
respeitando a dignidade e os direitos fundamentais, sem descuidar-se das
medidas de segurança.

Na abordagem policial, a busca pessoal, prevista e fundamentada no Código


de Processo Penal, é realizada de ofício a partir de circunstâncias de fundada
suspeita e que se impõe, independentemente, de concordância da pessoa (ver
Caderno Doutrinário 2).

A posição em que o policial sustenta sua arma durante a abordagem depen-


derá da avaliação de riscos da intervenção. O policial deve manter-se sempre
atento ao comportamento do abordado e não descuidar da sua segurança.

Quando, inicialmente, o abordado não apresentar indícios de suspeição, como


nos casos de orientação ou assistência, a abordagem deverá ser iniciada com a
arma no coldre.

ATENÇÃO! Em relação às posições das armas 1, 2, 3 e 4, des-


critas na seção 7.2.3 sobre o uso de arma de fogo, LEMBRE-
-SE SEMPRE:
ARMA LOCALIZADA: possibilidade de ruptura da norma-
lidade, sensação que a situação pode agravar-se – RISCO
NIVEL II;
ARMA EM GUARDA BAIXA OU ALTA: possibilidade de
risco à segurança do policial e terceiros (análise subjetiva)
– RISCO NIVEL II;
ARMA EM PRONTA RESPOSTA: está ocorrendo ameaça
real à segurança do policial e terceiros (percepção objetiva)
– RISCO NÍVEL III.

49
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

5.3.1 Fundamentos da abordagem policial à pessoa em atitude


suspeita

Ao realizar este tipo de abordagem, o policial deverá observar os fundamentos


que seguem, para potencializar suas ações e assegurar que o objetivo proposto
seja alcançado:

a) segurança: caracteriza-se por um conjunto de medidas adotadas pelo


policial para controlar, reduzir ou, se possível, eliminar os riscos da inter-
venção policial (ver Avaliação de Riscos - seção 3). Antes de agir, o policial
deverá identificar a área de segurança e a área de risco, monitorar os
pontos de foco, controlar os pontos quentes e certificar-se de que o perí-
metro está seguro (ver Pensamento tático - seção 4). Sempre que possível,
o policial deverá agir com supremacia de força;

d) surpresa: é a percepção do abordado quanto à ação policial. O planeja-


mento da ação permitirá ao policial surpreender o abordado, reduzindo o
tempo de sua reação. O policial deve considerar que, quanto menos espe-
rada for sua ação, maior será a chance de interferir no processo mental da
agressão, aumentando o tempo de resposta do abordado;

c) rapidez: é a velocidade com que a ação policial é processada, o que con-


tribui substancialmente para a efetivação da “surpresa”. Não se pode con-
fundir rapidez com afobamento ou falta de planejamento. Em uma abor-
dagem que resulta em busca pessoal, o policial deve usar todo o tempo
necessário para uma verificação exaustiva por objetos ilícitos ou indícios
de crime;

d) ação vigorosa: é a atitude firme e resoluta do policial na ação, por meio


de uma postura imperativa, com ordens claras e precisas. Não se confunde
com truculência. O policial deve ser firme e direto, porém cortês, sereno,
demonstrando segurança, educação e bom senso adequado às circuns-
tâncias da intervenção;

e) unidade de comando: é a coordenação centralizada da intervenção poli-


cial que garante o melhor planejamento, fiscalização e controle. Da mesma
forma, cada policial envolvido na abordagem deve conhecer sua tarefa e
qual a sua função específica naquela intervenção, interagindo de forma
harmônica, sabendo a quem recorrer, respeitando a cadeia de comando.

50
Caderno Doutrinário 1

LEMBRE-SE: o treinamento constante propicia


condições ao policial para agir com rapidez, sem
descuidar dos princípios da segurança.

A aplicação dos conceitos apresentados nesta seção e a observação das etapas


da intervenção e dos fundamentos da abordagem são essenciais para o resul-
tado satisfatório das intervenções policiais.

A educação e a polidez devem sempre ser observadas nas abordagens, uma vez
que alguns desfechos são agravados pela postura inadequada adotada pelo
policial.

51
SEÇÃO 6

VERBALIZAÇÃO
POLICIAL
Caderno Doutrinário 1
6 VERBALIZAÇÃO POLICIAL

A comunicação é um processo de interação estabelecida no mínimo entre duas


pessoas, construindo entre ambas um intercâmbio de sentimentos e ideias.
Este processo, por si só, já remete a uma série de interpretações diferenciadas,
pois, com características únicas que temos, podemos entender distintamente
as mensagens.

A maior dificuldade de interpretação está em fatores como a escolha de pala-


vras utilizadas na fala e na escrita, gestos e postura corporal, bem como o meio
pelo qual a mensagem é transmitida e estabelecida. Este canal também pode
estar sujeito aos ruídos (celulares que tocam em hora errada, barulho do trân-
sito, tom de voz alto ou baixo demais) e tantos outros problemas que atrapa-
lham a compreensão da mensagem enviada. A falta de clareza e a adequação
para o tipo de público, a impropriedade da técnica, a urgência com que a men-
sagem é transmitida, e outros fatores, podem dificultar ou mesmo impossibi-
litar a compreensão.

ATENÇÃO! Para que a comunicação atinja o seu


objetivo, o melhor caminho é a simplicidade.

Simplicidade quer dizer que o emissor transmite uma mensagem para o


receptor de forma clara, fácil e possível de ser entendida.

• Emissor é aquele que fala, escreve, desenha, faz mímica; é o ponto de onde
parte a mensagem.

• Receptor é aquele que quer ou precisa ouvir e apreender; é o destinatário


da mensagem.

• Mensagem é o conteúdo do que se quer dizer e comunicar.

O processo de comunicação, como um dos fatores mais importantes das inter-


venções policiais, se bem realizado, é um grande facilitador para o sucesso da
abordagem. Por isso, o policial deve dar atenção a este processo, para maxi-
mizar resultados positivos na sua atividade profissional.

55
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Uma das formas da comunicação é a verbalização. Verbalizar9 significa


expressar ou exprimir algo na forma de palavras. Na técnica policial, o conceito
de verbalização diz respeito ao uso da fala e de comandos verbais que, apesar
de constituírem um dos níveis de uso de força, conforme seção 7, estarão pre-
sentes em todo tipo de intervenção policial.

LEMBRE-SE: a comunicação eficaz é útil, persuasiva e


convincente. Portanto, deve ser utilizada na prática poli-
cial em todos os níveis de uso diferenciado de força.

Além da palavra falada, as pessoas transmitem uma gama significativa de infor-


mações por meio da postura, gestos, atitudes, aparência e até mesmo vesti-
mentas. Consequentemente, parte dos resultados de uma comunicação vem
do comportamento não verbal. Corre-se o risco de uma idéia ser expressa em
discordância com o que o locutor desejaria, por interferência de outros indica-
tivos físicos e psicológicos (elementos não verbais). Portanto, no processo de
comunicação, não pode haver preocupação apenas com as palavras de forma
isolada, mas também com toda a mensagem veiculada.

Nas teorias de comunicação, diz-se que, uma informação somente é eficaz


quando apresenta, dentre outras, duas características fundamentais:

a) clareza: utilização de linguagem de fácil compreensão;

b) precisão: grau de detalhamento suficiente para produzir o resultado dese-


jado (ser prático, objetivo, direto).

As técnicas de comunicação estabelecem que antes mesmo de haver a troca de


palavras propriamente dita entre as pessoas, existem elementos verbais e não
verbais que interagem entre o emissor e receptor.

Os elementos verbais estão ligados aos conteúdos falados, envolvem escolha


das palavras que vão compor a mensagem. Os não verbais dizem respeito à
entonação da voz, gestos e posturas.

9 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.

56
Caderno Doutrinário 1
6.1 Comunicação na abordagem policial

O policial não deve alimentar a expectativa de que o abordado sempre se dis-


ponha a colaborar de forma espontânea. Assim, deve buscar o controle da situ-
ação por meio de uma verbalização adequada, emitindo ordens legais, claras,
objetivas e pertinentes.

Para potencializar o uso da comunicação nas intervenções policiais, serão


apresentadas, a seguir, algumas orientações baseadas em áreas específicas do
conhecimento (fonoaudiologia, psicologia e neurolinguística).

O primeiro contato com o abordado é de fundamental importância, haja vista


que irá construir mentalmente uma imagem do policial (e da Polícia), por meio
da análise da postura, apresentação pessoal e, principalmente, da fala e gestos.
Esses fatores contribuem para a credibilidade, legitimidade e confiança na
autoridade.

A APRESENTAÇÃO PESSOAL
É O CARTÃO DE VISITA DO POLICIAL.

Uma boa imagem é representada por detalhes importantes


como: fardamento limpo e adequado e cuidados com a higiene
pessoal, dentro dos padrões estabelecidos pelas normas da
PMMG. Outros comportamentos como o uso irregular de cober-
tura e de acessórios exóticos ou extravagantes transmitem a
ideia de descaso e relaxamento.

Algumas atitudes contribuem para a solução pacífica dos conflitos e o alcance


dos objetivos institucionais e, consequentemente, para a boa imagem e a legi-
timidade de suas intervenções. Dentre elas, o policial deve ser:

a) firme: agir de forma segura, estável, constante, comunicando por meio de


comandos firmes, de maneira polida e sem truculência. É preciso que fique
claro ao receptor que a melhor opção para ele é obedecer;

57
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

b) justo: atuar de acordo com o ordenamento jurídico e em conformidade


com os princípios éticos, a filosofia dos direitos humanos e da polícia
comunitária, respeitando a dignidade da pessoa;

c) cortês: o policial deve ser educado, atencioso e solícito. A seriedade e a


firmeza necessárias não podem ser confundidas com indiferença ou gros-
seria.

Durante a abordagem, o policial deve explicar os motivos da intervenção e o


comportamento que se espera do abordado.

O diálogo entre o policial e o abordado pode ser prejudicado e sofrer interfe-


rências diante de uma postura que denote agressividade, arrogância ou des-
caso. Exemplo: o policial que aponta o dedo indicador para o abordado, ou se
lhe apresenta com os braços cruzados ou com o rosto sisudo.

Ao dirigir-se às pessoas, o policial não deve fazer uso de gírias ou palavras vul-
gares porque transmitem uma má impressão e afetam a credibilidade junto
aos envolvidos. Mantendo uma linguagem firme e cordial, o policial demonstra
profissionalismo e controle da situação.

Outro aspecto importante da comunicação é o volume da voz. O policial deve


atentar para este aspecto, a fim de facilitar sua comunicação, adequando-o às
diversas situações, podendo modificá-lo para alcançar melhor acatamento dos
seus comandos. O volume da voz deve se adaptar ao nível de cooperação do
abordado, devendo aumentar ou diminuir, conforme o nível de força empre-
gado. O som da voz deve chegar claramente ao ouvinte, para que ele possa
entender e interagir com o policial.

Dessa forma, a entonação da voz do policial poderá se tornar mais enérgica e o


volume mais alto, demonstrando a seriedade da situação e impondo a autori-
dade, caso o abordado demonstre resistência ao acatamento das ordens.

Cabe ao policial fazer uma leitura do ambiente, para adequar o uso da voz a
cada situação, lembrando que o volume muito baixo inviabiliza a comunicação,
por dificultar o entendimento, e o volume muito alto, quando desnecessário,
pode se tornar agressivo, incômodo e deseducado. Devem ser levadas em con-
sideração as possíveis interferências sonoras (ruídos) presentes em um deter-
minado ambiente.

58
Caderno Doutrinário 1
Outros fatores como o timbre (qualidade sonora que identifica a voz de uma
pessoa), a dicção (pronúncia correta dos sons das palavras) e a velocidade com
que se fala são determinantes para a qualidade da comunicação estabelecida.
Nos treinamentos, o policial deve buscar o timbre em que sua voz fique mais
clara, pronunciar as palavras com calma e correção e em velocidade que pos-
sibilite ao interlocutor compreender exatamente o que está sendo dito. A fala
confusa ou vagarosa causa a impressão de indecisão ou desânimo, gera des-
crédito e insegurança. Em contrapartida, falar muito rápido denota ansiedade,
dúvida e desatenção.

O silêncio também pode transmitir mensagens não verbais. O policial, ao se


comunicar, deve utilizar-se de pausas em suas falas, verificando o nível de coo-
peração do abordado, proporcionando tempo para que este entenda e cumpra
o que lhe foi determinado. Pausas eficazes na interlocução e um processo de
perguntas e respostas logicamente ordenadas podem ser determinantes para
o sucesso da verbalização.

O diálogo deve ter uma sequência lógica. A fala do policial deve ser concisa,
expressa por meio de comandos simples, de fácil compreensão e execução e
que poderão ser repetidos se necessário. Conforme o quadro 1.

Quadro 1 – Elementos da comunicação em relação à postura do policial

Postura do Policial
Elementos de Comunicação
ENÉRGICO FIRME AMENO
Expressão Verbal
Voz Alta Moderada Branda
Pausada e solicita
Fala Rápida e Imperativa Fluente e persuasiva
colaboração
Interpelação Sentença exclamatória Frases declarativas Pedido ou apelo
Expressão Facial
Olhos/Olhar Determinado e Repreensivo Firme e Confiante Ameno e Pacífico
Músculos faciais Tensos (contraídos) Normais Relaxados

Expressão Corporal

Ver Posturas Táticas (Caderno Doutrinário 2)

59
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Outro aspecto a ser considerado é que toda pessoa tem um espaço (área física
em seu entorno) que considera psicologicamente reservado para aqueles que
são íntimos a ela. Ao aproximar-se demasiadamente de uma pessoa, o policial
invade este “espaço pessoal” e pode provocar, no abordado, o desejo incons-
ciente de afastar, fugir, ou defender-se. Qualquer palavra dita nessa situação
poderá soar agressivamente. Ao abordar, não aponte o dedo indicador para
a face do abordado, nem toque no seu corpo, salvo nos casos em que se faz
necessário o controle de contato, o controle físico e a busca pessoal (ver Uso
de Força - seção 7). Respeitando seu espaço pessoal, será mais fácil obter sua
cooperação.

Assim sendo, o policial deverá estabelecer o contato inicial com o abordado, a


uma distância segura (ver Caderno Doutrinário 2), para criar um vínculo verbal e
de confiança, explicando o que será realizado, antes de se aproximar. Exemplo:
“Fique parado! Vamos realizar uma busca pessoal. Você me entendeu?”.

O policial precisa preocupar-se com a autoridade que representa, dar à sua fala
um conteúdo imperativo, proporcional ao nível de cooperação do abordado,
e primar pelo bom tratamento dispensado às pessoas. O policial modificará
e adequará os elementos da comunicação (volume, timbre, entonação e pos-
tura) de acordo com a necessidade, caso o abordado demonstre algum tipo de
resistência.

É importante ressaltar que os elementos não verbais utilizados na comunicação


durante a abordagem influenciam na percepção que policial e abordado cons-
troem um do outro. Por isso, os policiais devem estar atentos aos efeitos que
suas mensagens não verbais provocam e, ao mesmo tempo, observar e retirar
conclusões dos elementos emitidos pelo abordado.

A comunicação bem trabalhada pode evitar o emprego de níveis de força supe-


riores, facilitando o desenrolar das intervenções policiais. O policial passa a ter
um maior controle da situação, minimizando, em grande parte dos casos, a pos-
sibilidade de uma reação indesejada. O modo de agir, de se postar e falar com
o abordado interfere diretamente na sua reação, auxilia no nível de cooperação
e no acatamento das ordens. Dessa forma, a postura do policial militar, durante
a abordagem, pode evitar manifestações de descontentamento que exijam a
adoção de medidas coercitivas pela polícia, como os controles de contatos e

60
Caderno Doutrinário 1
os controles físicos, as técnicas de menor potencial ofensivo e, como medida
extrema, o uso da arma de fogo.

ATENÇÃO! A verbalização pode e deve ser empre-


gada em conjunto com todos os outros níveis do uso
de força. Deve estar presente durante toda a inter-
venção policial (ver Uso de força, seção 7).

O policial deve manter o equilíbrio e o autocontrole, mesmo se o abordado


não obedecer, se fizer comentários ofensivos, ignorar a sua presença ou atrair a
atenção de pessoas em volta. A linguagem que deve prevalecer é a do policial
e não a do abordado. Manter um diálogo claro, direto, não emocional e sem
abusos, demonstra profissionalismo e domínio da situação. Dessa forma, o poli-
cial ganha credibilidade junto à população e atrai a confiança de testemunhas,
que poderão confirmar que foram dadas todas as chances ao abordado para
cooperar, sem utilizar a força, mas que ele se recusou a acatar.

O policial deve transmitir ao abordado uma mensagem clara, de que poderá


agir em resposta às suas agressões ou à falta de cooperação. Por meio de
um diálogo moderado e incisivo, o policial deve explicar que seus comandos
são ordens legais e que o descumprimento pode configurar infração penal e
resultar no uso de força.

Deve ser considerada a possibilidade da pessoa abordada ter dificuldade na


compreensão e no cumprimento da ordem, por tratar-se de pessoa portadora
de necessidades especiais (físicas e/ou mentais) ou por estar sob efeito de subs-
tâncias como álcool, drogas ou medicações específicas, que alteram a capaci-
dade cognitiva.

O policial deve ter consciência da existência de uma insatisfação natural das


pessoas quando são abordadas. O policial se apresenta como autoridade, inter-
vindo momentaneamente no direito de ir e vir, podendo ainda causar uma
exposição constrangedora do abordado perante seus familiares ou o público
presente. Exemplo: possibilidade de se gerar atraso em deslocamentos para
compromissos, devido a operações do tipo Blitz.

61
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Um grande número de pessoas não gosta de ser parado pela polícia, ainda que
seja para uma simples verificação de rotina, visto que, na maioria das vezes,
seja de senso comum a ideia de que foi “escolhido” por ter sido considerado
suspeito. Nesses termos, é razoável que o abordado, nas diversas intervenções,
tente argumentar ou questionar a forma ou a legalidade da ação policial, não
cumprindo de imediato as recomendações, alegando não admitir ser tratado
como “infrator”. É importante diferenciar essa compreensível sensação de incô-
modo vivenciada pelo abordado, de outra conduta mais séria que configure os
crimes de resistência, desobediência e/ou desacato.

Dessa forma, o policial deve iniciar a comunicação, sabendo que os elementos


de empatia, na maioria das vezes, estarão ausentes. Por isso, deve aumentar sua
preocupação com os aspectos não verbais, de forma a garantir que suas men-
sagens sejam claras e precisamente transmitidas.

Para evitar percepções equivocadas por parte do abordado e prejuízo na comu-


nicação, o policial deve treinar constantemente, de preferência diante de um
espelho, analisando a sua imagem, considerando todos os elementos verbais e
não verbais, enquanto pratica os comandos típicos de uma abordagem policial.

6.2 Verbalização do policial face ao comportamento do


abordado

O policial deve variar sua comunicação, de acordo com as diferentes formas de


reação do abordado. Seguem abaixo, exemplos de diálogos que podem servir
de referência.

6.2.1 Abordado cooperativo

Mantendo-se no estado de alerta (laranja), após realizar a avaliação dos


riscos e decidir por executar a abordagem, o policial inicia o contato verbal.

- Bom dia! Eu sou o “Sargento ... (dizer o posto / a gradu-


ação e o nome)”, da Polícia Militar. Tudo bem?

(utilize o complemento POLÍCIA MILITAR DE MINAS


GERAIS, caso esteja em operação próximo à divisa / fron-
teira do Estado).

62
Caderno Doutrinário 1
Deve utilizar pausas e interromper a sua fala, aguardando a resposta do abor-
dado, para verificar se houve entendimento da sua mensagem e qual é o nível
preliminar de cooperação demonstrado.

Utilizando comandos simples e sequenciais, o policial explica para a pessoa o


que está ocorrendo e, se possível, o que motivou a abordagem.

- Esta é uma operação policial preventiva. O procedi-


mento tomará apenas alguns minutos. Para a sua segu-
rança, siga as minhas orientações, OK...?

Por se tratar, a princípio, de abordado cooperativo, o policial dá sequência às


ordens, pausadamente, dando tempo para que o abordado cumpra as determi-
nações, mantendo-se atento aos elementos verbais e não verbais do abordado,
para facilitar o processo de análise de riscos.

- Qual é o seu nome?

- Permaneça parado, coloque as mãos para cima. (ou


...lentamente, levante os braços ou... coloque as mãos
sobre a cabeça e entrelace os dedos).

- Pare! Vire-se de frente para a parede. (ou Vire-se de


frente para mim).

- Pare! Preste atenção! Lentamente, tire sua mão do


bolso (sacola, mochila ...).

É conveniente fazer perguntas ao abordado e mantê-lo constantemente com a


atenção voltada para o policial que verbaliza. Isso contribuirá para reduzir sua
capacidade de reação (ver Processo mental da agressão - seção 4).

Terminada a abordagem, explique ao cidadão sobre a importância da pesquisa


pós-atendimento.

- Senhor (nome)! A Polícia Militar realiza uma pesquisa


de pós-atendimento para verificação da qualidade e
aperfeiçoamento do nosso trabalho.

63
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

- Preciso que indique o dia da semana, o horário e o


número de telefone, para que possamos entrar em con-
tato, sem que cause incômodo.
(Aguarde, anote a resposta, agradeça e despeça-se)

- Agradeço pela colaboração e conte com o nosso ser-


viço. Tenha um bom dia!

6.2.2 Abordado resistente passivo

Caso o abordado descumpra algum comando, agindo de forma passiva, morosa,


apática ou indiferente (mas que não constitua agressão), o policial deve, ini-
cialmente, alertá-lo sobre as consequências da desobediência à ordem legal.
Persistindo tal comportamento, deve agir com superioridade de força, usando
os meios necessários e moderados para compeli-lo ao cumprimento da deter-
minação legal.

O estado de prontidão, nesses casos, deverá ser o de alerta (laranja).


A desobediência do abordado e a resistência em cumprir as ordens deverão
ser entendidas como indicativos de ameaça. Nesse caso, o policial deve estar
pronto para responder a algum tipo de agressão.

O policial deverá verificar, por meio de verbalizações, se o abordado compre-


ende o que está sendo dito:

- Você está me entendendo?

ou

- O que está acontecendo? Por que você não me obe-


dece?

ou

- Está tudo bem? Você está com algum problema?

Se o abordado demorar a responder ou a acatar as determinações, mas não


estiver esboçando algum tipo de agressão, o policial deverá insistir na reco-

64
Caderno Doutrinário 1
mendação dada, repetindo a mesma ordem por duas ou três vezes. Esse
procedimento de repetição literal da ordem, de forma pausada, sistemática e
firme, reforça a autoridade profissional da polícia, demonstrando determinação
e convicção, além de contribuir para que as eventuais testemunhas possam
confirmar a legalidade da ação.

Utilize expressões que facilitem a aproximação com o abordado. Não seja rís-
pido ou impaciente. Procure alcançar o receptor com seu discurso. Ao invés de
responder com negativas, use afirmativas que desestimulem a sua falta de coo-
peração:

- Entendo o seu ponto de vista! Mas é uma questão de


segurança.

ou

- Entenda, é o meu dever. Se você obedecer, será mais


seguro para todos.

Caso o abordado continue descumprindo as ordens, deverá ser advertido


quanto a este comportamento, esclarecendo tratar-se de infração penal (deso-
bediência).

- Obedeça! Desobediência é crime!

ou

- Cidadão, isto é uma ordem legal! Faça o que estou


mandando!

ou

- Isto é uma advertência de uso de força!

O policial deve considerar que poderão existir diversas razões para que o
abordado possa resistir de maneira passiva às ordens dadas pelo policial, por
exemplo:

• quando não compreende a ordem emanada pela autoridade;

65
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

• quando não acata, simplesmente porque quis desafiar a autoridade ou


desmerecer a ação policial, tentando, assim, expô-lo a uma situação humi-
lhante frente ao público, ou ainda, provocar o uso excessivo de força;

• quando busca conseguir a simpatia de pessoas a sua volta, colocando-as


contra a atuação da polícia, assumindo assim uma posição de vítima;

• quando tem algo para esconder (armas, drogas, outros) e busca distrair a
atenção do policial;

• quando quer ganhar tempo para fugir ou enfrentar fisicamente os poli-


ciais, isto é, com resistência ativa.

O policial procura, então, identificar no comportamento do abordado, as possí-


veis causas da sua resistência, devendo estar atento para não se deixar levar
por provocações do abordado, o qual procura fazer-se de vítima, diante da
intervenção.

Nesses casos, o policial deve se resguardar, sempre que possível, por meio do
testemunho de pessoas presumidamente idôneas que estejam próximas ao
local, acionando-as para que presenciem a repetição da ordem legal emitida e
o descumprimento, ou resistência/relutância do abordado em cumpri-la.

- Ei! Você! Por favor, me acompanhe! Preciso que o


senhor presencie esta situação.

(Repita a ordem ao abordado diante da testemunha).

- A polícia está dando uma ordem legal a este cidadão.


Ele se recusa a colaborar / foi advertido de que será
usada força contra ele / foi alertado de que poderá ser
preso por desobediência.

Os recursos tecnológicos (aparelhos telefônicos celulares que tiram fotos,


filmam, gravam áudio, ou outros similares) que estejam acessíveis para com-
provar a atuação legítima do policial e a resistência do abordado, podem ser uti-
lizados. Nesse caso, o policial deve proceder com especial atenção, com relação
a sua postura e segurança, de forma que não se torne vulnerável durante este
procedimento, e alertar formalmente ao interlocutor que estará registrando a
intervenção.

66
Caderno Doutrinário 1

ATENÇÃO! Cuidado com o uso e a destinação do


material registrado. O direito à imagem é parte da
dignidade humana e cabe ao policial protegê-la.
Esses registros eletrônicos só poderão ser utilizados
de maneira oficial, sendo vedada a divulgação ou a
distribuição à imprensa ou a outros órgãos10.

6.2.3 Abordado resistente ativo

Caso a ação por parte do abordado se materialize em algum tipo de agressão,


caracterizando a resistência ativa, a ação policial deve prosseguir na reação, uti-
lizando o nível de força proporcional sem, contudo, interromper a verbalização.

Nos casos de resistência física, o policial deve mensurar e avaliar as atitudes do


abordado, adaptando a verbalização, sendo mais imperativo e impositivo, aler-
tando imediatamente o restante da equipe sobre essa resistência do abordado,
com foco na segurança dos policiais e de terceiros. Diante da agressão, o policial
reagirá com controle de contato e reforçará o volume de voz, emitindo ordens
diretas, devendo advertir o abordado de que tal procedimento implica crime
(desacato ou resistência).

- Parado! Não se aproxime!

- Não faça movimentos bruscos. Obedeça à ordem poli-


cial!

- Vou empregar a força!

O estado de alarme (vermelho) é o mais indicado. Nesse caso, o abordado já


iniciou algum tipo de agressão e o policial deve estar pronto para reagir (ver
Uso de força – seção 7).

10 Conforme artigo 4º do Código de Conduta para os Encarregados pela Aplicação da Lei (CCEAL).

67
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

6.2.4 Verbalização no caso de prisão

Após a constatação de uma situação que se configure em prisão do abordado,


são adequadas as seguintes frases:

- Fulano ... (citar o nome da pessoa presa). Sou o ... (citar


o posto ou a graduação e o nome do policial condutor da
prisão).

- Você está preso pelo cometimento do crime de (citar o


delito).

- Você têm o direito de permanecer calado.

- Você tem direito a assistência da sua família e de


advogado.

- Você será encaminhado à delegacia... (citar o local


onde será feito o encerramento do BO/REDS)

- Na delegacia, sua família ou a pessoa indicada por


você poderá ser comunicada.

É conveniente fazer perguntas à pessoa presa, na presença de testemunhas,


tais como:

- Por favor, confira seus pertences!

- Quer registrar algum fato referente a esta ação poli-


cial?

68
Caderno Doutrinário 1
6.3 Considerações finais

Algumas atitudes por parte do policial podem contribuir para tornar a comu-
nicação simples, rápida e eficaz, por abrangerem pontos importantes para o
sucesso em uma abordagem, dentre elas:

a) saber ouvir e compreender a mensagem do abordado, sendo capaz de


responder ao que foi perguntado;

b) adaptar a mensagem a cada tipo de público, sem perder a clareza e a obje-


tividade;

c) escolher o momento certo para realizar a comunicação;

d) ser paciente, pois cada pessoa tem um ritmo, um modo e uma capacidade
de internalizar e compreender a mensagem;

e) demonstrar segurança e confiança.

Uma das principais funções do policial moderno é a resolução pacífica de con-


flitos11. A verbalização é uma ferramenta fundamental colocada à disposição do
policial na resolução de conflitos. O uso correto das técnicas aqui apresentadas
aumenta a segurança nas intervenções policiais e diminui, consideravelmente,
a necessidade do uso de força em níveis mais elevados.

11 Interpretação institucional da PMMG do princípio 20 dos Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos
Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (PBUFAF).

69
SEÇÃO 7

USO DE FORÇA
Caderno Doutrinário 1
7 USO DE FORÇA

É necessário ter um conceito claro e objetivo de “força”. A palavra tem signi-


ficados diferentes dependendo do contexto. Geralmente, força representa
energia, ação de contato físico, vigor, robustez, esforço, intensidade, coercitivi-
dade, dentre outros.

A força, no âmbito policial, é definida como sendo o meio pelo qual a polícia
controla uma situação que ameaça a ordem pública, a dignidade, a integridade
ou a vida das pessoas. Sua utilização deve estar condicionada à observância
dos limites do ordenamento jurídico e ao exame constante das questões de
natureza ética12.

O presente conteúdo deverá ser aplicado como referência de doutrina institu-


cional da PMMG para todas as intervenções policiais que exijam o uso de força.
As particularidades referentes ao uso de força pela polícia de forma coletiva
(formações de tropa), tais como ações de controle de distúrbio civil, rebeliões
em presídio, eventos com grandes públicos e outras operações típicas de polícia
de choque, além do conteúdo desta seção, serão complementadas em Caderno
Doutrinário próprio.

O uso de força é um tema que engloba muitas variáveis e possibilidades de


ação. De acordo com as circunstâncias, sua intensidade pode variar desde a
simples presença policial até o emprego de força potencialmente letal como
o disparo da arma de fogo contra pessoa, sendo, neste caso, considerado
como o último recurso e de medida extrema de uma intervenção policial.

O Estado detém o monopólio do uso de força que é exercida por intermédio


dos seus órgãos de segurança. Assim, o policial, no cumprimento de suas ativi-
dades, poderá usá-la para repelir uma ameaça à sua segurança ou à de terceiros
e à estabilidade da sociedade como um todo (uma violência contra o policial é
um atentado contra a própria sociedade).13

12 Interpretação institucional da PMMG do princípio 1 dos Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos
Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (PBUFAF).

13 Texto adaptado do Preâmbulo dos PBUFAF.

73
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

A força aplicada por um policial é um ato discricionário, legal, legítimo e profis-


sional. Pode e deve ser usada no cotidiano operacional, sem receio das conse-
quências advindas de seu emprego, desde que o policial cumpra com os princí-
pios éticos e legais que regem sua profissão.

Deve ficar claro para o policial que o uso de força não se confunde com vio-
lência14, haja vista que esta última é uma ação arbitrária, ilegal, ilegítima e não
profissional. O uso excessivo de força configura ato de violência e abuso de
poder.

O policial poderá usar a força no exercício das suas atividades, não sendo neces-
sário que ele ou outrem seja atacado primeiro, ou exponha-se desnecessaria-
mente ao perigo, antes que possa empregá-la. O seu emprego eficiente requer
uma análise dinâmica e contínua sobre as circunstâncias presentes, de forma
que a intervenção policial resulte num menor dano possível. Para tanto, é essen-
cial que ele se aperfeiçoe, constantemente, em procedimentos para a solução
pacífica de conflitos, estudos relacionados ao comportamento humano, conhe-
cimento de técnicas de persuasão, negociação e mediação, dentre outros que
contribuam para a sua profissionalização nesse tema15.

14 O assunto foi discutido no artigo “Uso de Força e a Ostensividade na Ação Policial”, de Jacqueline Muniz, Domício Proença Junior e
Eugênio Diniz, publicado no periódico Conjuntura Política. Boletim de Análise - Departamento de Ciência Política da UFMG, BELO
HORIZONTE, pp:22-26, 20 de abril de 1999.

15 Interpretação institucional da PMMG do princípio 20 dos PBUFAF e conforme artigo 3º. do Código de Conduta para os Encarregados
pela Aplicação da Lei (CCEAL).

74
Caderno Doutrinário 1

CÓDIGO DE CONDUTA PARA OS


ENCARREGADOS PELA APLICAÇÃO DA LEI
Adotado pela Assembléia Geral das Nações Unidas,
no dia 17 de Dezembro de 1979, através da Resolução nº 34/169.

Artigo 1º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem sempre cumprir


o dever que a lei lhes impõe, servindo a comunidade e protegendo todas as pessoas
contra atos ilegais, em conformidade com o elevado grau de responsabilidade que a
sua profissão requer.

Artigo 2º No cumprimento do dever, os funcionários responsáveis pela aplicação


da lei devem respeitar e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os direitos
humanos de todas as pessoas.

Artigo 3º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem empregar a


força quando estritamente necessária e na medida exigida para o cumprimento do
seu dever.

Artigo 4º Os assuntos de natureza confidencial em poder dos funcionários responsá-


veis pela aplicação da lei devem ser mantidos confidenciais, a não ser que o cumpri-
mento do dever ou necessidade de justiça estritamente exijam outro comportamento.

Artigo 5º Nenhum funcionário responsável pela aplicação da lei pode infligir, instigar
ou tolerar qualquer ato de tortura ou qualquer outro tratamento ou pena cruel, desu-
mano ou degradante, nem nenhum destes funcionários pode invocar ordens supe-
riores ou circunstâncias excepcionais, tais como o estado de guerra ou uma ameaça
de guerra, ameaça à segurança nacional, instabilidade política interna ou qualquer
outra emergência pública, como justificativa para torturas ou outros tratamentos ou
penas cruéis, desumanos ou degradantes.

Artigo 6º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem garantir a proteção


da saúde de todas as pessoas sob sua guarda e, em especial, devem adotar medidas
imediatas para assegurar-lhes cuidados médicos, sempre que necessário.

Artigo 7º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem cometer


quaisquer atos de corrupção. Também devem opor-se vigorosamente e combater
todos estes atos.

Artigo 8º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar a lei e


este Código. Devem, também, na medida das suas possibilidades, evitar e opor-se
com rigor a quaisquer violações da lei e deste Código.

Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que tiverem motivos para acreditar
que houve ou que está para haver uma violação deste Código, devem comunicar o
fato aos seus superiores e, se necessário, a outras autoridades competentes ou órgãos
com poderes de revisão e reparação.

75
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

7.1 Princípios do uso de força

Os Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos


Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (PBUFAF) foram adotados
no “Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e o Tra-
tamento dos Infratores”, realizado em Havana, Cuba, de 27 de agosto a 7 de
setembro de 1990, e constituem em 26 comandos que descrevem as diretrizes
referentes às disposições gerais e específicas sobre o uso de força, o policia-
mento de reuniões ilegais e de indivíduos sob custódia, a habilitação, formação
e orientação de funcionários com funções policiais, e os procedimentos de
comunicação e revisão de incidentes. Essas normas genéricas foram desdo-
bradas pela PMMG, em consonância com os oito artigos do Código de Con-
duta para os Encarregados pela Aplicação da Lei (CCEAL), em atenção à reco-
mendação da ONU de transformá-las em normas procedimentais aplicáveis à
função policial, tomando-se em conta as peculiaridades regionais referentes a
fatores sociais, econômicos e culturais. Essas regras devem ser respeitadas em
todas as circunstâncias de intervenção operacional da PMMG, não sendo justi-
ficativa para descumpri-las, situações excepcionais ou de emergência pública16.

O uso de força pelos policiais deve ser norteado pela preservação da vida, da
integridade física e da dignidade de todas as pessoas envolvidas em uma inter-
venção policial e, ainda, pelos princípios essenciais relacionados a seguir:

a) Legalidade

Constitui-se na utilização de força para a consecução de um objetivo legal e nos


estritos limites do ordenamento jurídico.

Este princípio deve ser compreendido sob os aspectos do:

• RESULTADO: considera a motivação ou a justificativa para a intervenção


da polícia. O objeto da ação deve ser sempre dirigido a alcançar o objetivo
legal. Deste modo, a lei protege o resultado da ação policial17.

16 Interpretação institucional da PMMG do princípio 8 dos PBUFAF e em conformidade com o artigo 5º do CCEAL.

17 Interpretação institucional da PMMG do caput do princípio 5 dos PBUFAF.

76
Caderno Doutrinário 1
Exemplo: o princípio da legalidade não está presente se o policial usa de
força física (violência) para extrair a confissão de uma pessoa. A tortura é
vedada em qualquer situação e não justifica o objetivo a ser alcançado, por
meio de mecanismos que infringem o direito do indivíduo de não produzir
prova contra si mesmo ou declarar-se culpado.

• PROCESSO: considera que os meios e os métodos utilizados pelo policial


devem ser legais, ou seja, em conformidade com as normas nacionais (leis,
regulamentos, diretrizes, entre outros) e internacionais (acordos, tratados,
convenções, pactos, entre outros)18.

Exemplo: o policial não cumpre o princípio da legalidade se, durante o seu


serviço, usar arma e munições não autorizadas pela Instituição, tais como
armas sem registro, com numeração raspada, calibre proibido, munições
particulares, dentre outras.

b) Necessidade

Um determinado nível de força só pode ser empregado quando outros de


menor intensidade não forem suficientes para atingir os objetivos legais pre-
tendidos. Contudo, sendo necessário utilizar imediatamente um nível de força
mais elevado, o policial não precisa percorrer os demais níveis.

O uso de força num nível mais elevado é considerado necessário quando, após
tentar outros meios (negociação, persuasão, entre outros) para solucionar o
problema, torna-se o último recurso a ser utilizado pelo policial19.

Exemplo: o policial pode utilizar a força potencialmente letal (disparo de


arma de fogo), para defender a sua vida ou de outra pessoa que se encontra
em perigo iminente de morte, provocado por um infrator, sempre que outros
meios não tenham sido suficientes para impedir a agressão.

c) Proporcionalidade

O nível de força utilizado pelo policial deve ser compatível, ao mesmo tempo,
com a gravidade da ameaça representada pela ação do infrator, e com o obje-
tivo legal pretendido.
18 Conforme artigo 1º do CCEAL.

19 Interpretação institucional da PMMG do princípio 4 dos PBUFAF.

77
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

• GRAVIDADE DA AMEAÇA: para ser avaliada, deverão ser considerados,


entre outros aspectos, a intensidade, a periculosidade e a forma de pro-
ceder do agressor, a hostilidade do ambiente (histórico e fatores que
indiquem violência do local de atuação) e os meios disponíveis ao poli-
cial (habilidade técnica e equipamentos). De acordo com a evolução da
ameaça (aumento ou redução) o policial readequará o nível de força a ser
utilizado, tornando-o proporcional às ações do infrator, o que confere uma
característica dinâmica a este princípio.

Exemplo: não é considerada proporcional a ação policial, com o uso de


força potencialmente letal (disparando sua arma de fogo) contra um
cidadão que resiste passivamente, com gestos e questionamentos, a uma
ordem de colocar as mãos sobre a cabeça, durante a busca pessoal. Neste
caso, a verbalização e/ou o controle de contato corresponderão ao nível
de força indicado (proporcional).

• OBJETIVO LEGAL PRETENDIDO: consiste em aferir se o resultado da ação


policial está pautado na lei. Visa à proteção da vida, da integridade física e
do patrimônio das pessoas que estejam sofrendo ameaças, além da manu-
tenção da ordem pública e da restauração da paz social. Guarda correlação
direta com o princípio da legalidade, no que se refere ao aspecto “resul-
tado”.

ATENÇÃO! Na atividade policial, o marco legal apli-


cável são as normas nacionais e internacionais de
DDHH. Na atividade bélica típica de Forças Armadas,
quando envolvidas em conflito armado, o marco
legal aplicável são as normas internacionais do
Direito Internacional Humanitário ou do Direito Inter-
nacional dos Conflitos Armados. Os diferentes docu-
mentos normativos acarretam em interpretações dis-
tintas dos respectivos princípios de uso de força.

78
Caderno Doutrinário 1

O princípio da proporcionalidade aplicado na ação bélica


tipicamente militar (Forças Armadas) em situações de
guerra.

De acordo com as normas do Direito Internacional Humani-


tário (DIH) – também chamado de Direito Internacional dos
Conflitos Armados – a proporcionalidade é o princípio desti-
nado a limitar os danos causados (colaterais ou incidentais) por
operações militares em situações de conflito armado. Neste
caso, não se levam em consideração outros aspectos como a
gravidade da agressão ou a ameaça do inimigo. Assim, os pos-
síveis danos causados às pessoas e aos bens civis, decorrentes
das operações militares, com o fim de neutralizar ou destruir
as forças inimigas, não são proibidos pelo DIH, desde que tais
danos sejam proporcionais à vantagem militar a ser alcançada.
A proporcionalidade militar exige que o efeito dos meios e
métodos de guerra utilizados considere, principalmente, a van-
tagem militar pretendida. Os artigos 51 e 57 do Protocolo Adi-
cional, comuns às Convenções de Genebra, proíbem que sejam
lançados ataques que causem vítimas entre a população civil e
danos aos bens de caráter civil.

d) Moderação

O emprego de força pelos policiais deverá ser dosado, visando reduzir possíveis
efeitos negativos decorrentes do seu uso ou até evitar que se produzam.

O nível de força utilizado pelo policial na intervenção deverá ter a intensi-


dade e a duração suficientes para conter a agressão. Este princípio visa evitar o
excesso no uso de força.

Considera-se imoderada a ação do policial que, após cessada ou reduzida a


agressão, continua empregando o mesmo nível de força.

79
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Exemplo 1: o policial que continua disparando, mesmo quando o agressor que


atirou contra ele já estiver caído ao solo, sem qualquer outro tipo de reação.

Exemplo 2: o policial que, após quebrar a resistência física do infrator, utilizando


o bastão, gás/agente químico ou mesmo técnicas de imobilização, persistir
fazendo o uso desses meios20.

e) Conveniência

O princípio da conveniência diz respeito à oportunidade e à aceitação de uma


ação policial em um determinado contexto, ainda que estejam presentes os
demais princípios.

As consequências do uso de força deverão ser avaliadas de maneira dinâmica,


pois, se estas forem consideradas mais graves do que a ameaça sofrida pelas
pessoas, será recomendável ao policial rever o nível de força utilizado. É ade-
quado reavaliar os procedimentos táticos empregados, inclusive considerar a
possibilidade de abster-se do uso de força.

A força não deverá ser empregada quando houver possibilidade de ocasionar


danos de maior relevância em relação aos objetivos legais pretendidos.

Exemplo: não é adequado ao policial repelir os disparos de um agressor em


uma área com grande movimentação de público, devido à possibilidade de se
vitimar outras pessoas, mesmo que estejam sendo observados os princípios da
legalidade, necessidade e proporcionalidade, naquela ação.

ATENÇÃO! O policial deverá considerar que, quando


as consequências negativas do uso de força forem
superiores ao objetivo legal pretendido e à gravidade
da ameaça ou da agressão sofrida, é recomendado
que não prossiga com o uso de força.

20 Interpretação institucional da PMMG do princípio 5 “a” dos PBUFAF.

80
Caderno Doutrinário 1
7.1.1 Níveis de resistência da pessoa abordada

A pessoa abordada durante a intervenção policial, pode atender ou não às


determinações dadas pelo policial, ou seja, ela poderá colaborar ou resistir à
abordagem. O seu comportamento é classificado em níveis que devem ser
entendidos de forma dinâmica, uma vez que podem subir, gradual ou repen-
tinamente, do primeiro nível até o último, ou terem início em qualquer nível e
subir ou descer.

Nesse sentido, o abordado pode apresentar os seguintes níveis de resistência:

a) Cooperativo

A pessoa abordada acata todas as determinações do policial durante a inter-


venção, sem apresentar resistência (classificação de risco nível I).

Exemplo: o motorista que apresenta, prontamente, toda a documentação soli-


citada e atende as orientações do policial durante operação do tipo Blitz.

ATENÇÃO! O nível de risco deverá ser reclassificado quando o


policial identificar, pelo menos, uma das seguintes situações:
- presença da arma;
- comportamento simulado (aparente cooperação);
- indicativo de fundada suspeita ou qualquer outra ameaça.

b) Resistência passiva

A pessoa abordada não acata, de imediato, as determinações do policial, ou o


abordado opõe-se a ordens, reagindo com o objetivo de impedir a ação legal.
Contudo, não agride o policial nem lhe direciona ameaças (classificação de
risco nível II).

Exemplo 1: o abordado reage de maneira espalhafatosa, acalorada, falando


alto, procurando chamar a atenção e conseguir a simpatia dos transeuntes,

81
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

colocando-os contra a atuação da polícia, assumindo assim, a posição de vítima


da intervenção policial.

Exemplo 2: a pessoa, durante uma abordagem, corre na tentativa de empre-


ender fuga para frustrar a ação de busca pessoal.21

c) Resistência ativa

Apresenta-se nas seguintes modalidades (classificação de risco nível III):

• Com agressão não letal

O abordado opõe-se à ordem, agredindo os policiais ou as pessoas envol-


vidas na intervenção, contudo, tais agressões, aparentemente, não repre-
sentam risco de morte.

Exemplo: o agressor que desfere chutes contra o policial quando este tenta
aproximar-se para efetuar a busca pessoal.

• Com agressão letal

O abordado utiliza-se de agressão que põe em perigo de morte o policial


ou as pessoas envolvidas na intervenção.

Exemplo: o agressor, empunhando uma faca, desloca-se em direção ao


policial e tenta atacá-lo.


7.1.2 Uso diferenciado de força

Caracteriza-se pelo uso de força de maneira seletiva. Trata-se de um processo


dinâmico, no qual o nível de força pode aumentar ou diminuir, em função de
uma escolha consciente do policial, de acordo com as circunstâncias presentes
em uma determinada intervenção. Este dinamismo denomina-se uso diferen-
ciado de força. Não é conveniente utilizar a terminologia uso progressivo de
força, porque o termo progressivo nos remete à ideia somente de elevação (de
escalada, de subida, atitude ascensional), sendo que, em muitos casos, o uso
“regressivo” de força é apropriado, quando verificada a diminuição da violência
do agressor.
21 O Manual de Prática Policial – Geral / Volume 1 (2002, p.78) traz uma interpretação diferente do comportamento de fuga da pessoa,
classificando essa situação como resistência ativa. Esta interpretação fica revogada pela interpretação deste Caderno Doutrinário.

82
Caderno Doutrinário 1
Todo policial deverá utilizar equipamentos de proteção individual (EPI) espe-
cíficos para sua atuação, além de alternativas de armamentos e tecnologias,
inclusive os de menor potencial ofensivo, para propiciar opções de uso dife-
renciado de força22. Não portar tais materiais no momento oportuno, muitas
vezes por negligência do policial, pode levá-lo a fazer uso de técnicas que con-
trariam os princípios do uso de força. Exemplo: o policial que não se equipou
com bastão Tonfa, em que pese estar disponível, e usa a arma de fogo para dar
coronhadas.

Entende-se por uso diferenciado de força o resultado escalonado das possibili-


dades da ação policial, diante de uma potencial ameaça a ser controlada. Essas
variações de níveis podem ser entendidas desde a simples presença e postura
correta do policial militar (devidamente fardado, armado e equipado) em uma
intervenção, bem como o emprego de recurso de menor potencial ofensivo e,
em casos extremos, o disparo de armas de fogo.

O emprego de todos os níveis de força nem sempre será necessário em uma


intervenção. Na maioria das vezes, bastará uma verbalização adequada para
que o policial controle a situação. Por outro lado, haverá situações em que,
devido à gravidade da ameaça, o uso de força potencialmente letal (disparo
de arma de fogo) deverá ser imediato. É fundamental que o policial mantenha-
-se atento quanto às mudanças dos níveis de resistência do abordado, para que
selecione corretamente o nível de força a ser empregado.

A decisão entre as alternativas de força se baseará na avaliação de riscos e,


como já visto, é importante considerar a relevância da formação e do treina-
mento de cada policial. Assim, ele observará a seguinte classificação dos níveis
para o uso diferenciado de força:

a) Nível primário

• Presença policial:

É a demonstração ostensiva de autoridade. O efetivo policial corretamente


uniformizado, armado, equipado, em postura e atitude diligente, geral-
mente inibe o cometimento de infração ou delito naquele local.

22 Interpretação institucional da PMMG do princípio 2 dos PBUFAF.

83
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

• Verbalização:

É o uso da comunicação oral (falas e comandos) com a entonação apro-


priada e o emprego de termos adequados que sejam facilmente compre-
endidos pelo abordado.

As variações das posturas e do tom de voz do policial dependem da ati-


tude da pessoa abordada. Em situações de risco é necessário o emprego
de frases curtas e firmes. A verbalização deve ser empregada em todos os
demais níveis de uso de força. O treinamento continuado e as experiências
vivenciadas proporcionam melhoria na habilidade de verbalização.

b) Nível secundário - técnicas de menor potencial ofensivo

• Controles de contato:

Trata-se do emprego de técnicas de defesa pessoal, aplicadas no abordado


resistente passivo (não agride o policial), para fazer com que ele obedeça
à ordem dada. Técnicas de mãos livres poderão ser utilizadas (ver Posturas
Táticas – Caderno Doutrinário 2).

• Controle físico:

É o emprego das técnicas de defesa pessoal policial, com um maior poten-


cial de submissão, para fazer com que o abordado resistente ativo (agres-
sivo) seja controlado, sem o emprego de instrumentos. Visa a sua imobi-
lização e condução, evitando, sempre que possível, que resulte lesões do
uso de força.

• Controle com instrumentos de menor potencial ofensivo (IMPO):

É o emprego de instrumentos de menor potencial ofensivo - IMPO, para


controlar o abordado resistente ativo (agressivo). Visa a sua imobilização
e condução, evitando, sempre que possível, que resulte em lesões do uso
de força. Neste nível, o policial recorrerá aos instrumentos disponíveis, tais
como: bastão tonfa, gás/agentes químicos, algemas, elastômeros (muni-
ções de impacto controlado), “stingers” (armas de impulso elétrico), entre
outros, com o fim de anular ou controlar o nível de resistência.

84
Caderno Doutrinário 1

ATENÇÃO! Considere que, quando utilizar o IMPO,


o risco de morte ou de graves lesões continua exis-
tindo, mas em um nível significativamente inferior,
quando comparado ao emprego de nível de força
potencialmente letal.

• Uso dissuasivo de armas de fogo: (ver parágrafo 7.2.3 a seguir)

Trata-se de opções de posicionamento que o policial poderá adotar com


sua arma, para criar um efeito que remova qualquer intenção indevida do
abordado e, ao mesmo tempo, estar em condições de dar uma resposta
rápida, caso necessário, sem, contudo, dispará-la. As posições adotadas
implicam percepções diferentes pelo abordado, quanto ao nível de força
utilizado pelo policial. A ostensividade da arma de fogo tem um reflexo
sobre o abordado que pode ter sua ação cessada pelo seu impacto psico-
lógico, que a arma provocar (ver Caderno Doutrinário 2). Exemplo: loca-
lizar a arma de fogo no coldre, empunhá-la fora do coldre ou apontá-la
na direção da pessoa correspondem a uma demonstração direta de níveis
diferentes de força que tem forte efeito no controle do abordado e, ao
mesmo tempo, propicia ao policial condições de repelir agressões contra a
própria segurança.

c) Nível terciário - força potencialmente letal

• Consiste na aplicação de técnicas de defesa pessoal policial, com ou sem o


uso de equipamentos, direcionados a regiões vitais do corpo do agressor.
Deverão somente ser empregados em situações extremas que envolvam
risco iminente de morte ou lesões graves para o policial ou para terceiros,
com o objetivo imediato de fazer cessar a ameaça23.

• Consiste no disparo de arma de fogo efetuado pelo policial contra um


agressor, devendo somente ocorrer em situações extremas, que envolvam
risco iminente de morte ou lesões graves, com o objetivo imediato de fazer
cessar a ameaça.

23 Tais técnicas são utilizadas em circunstâncias em que o seu uso for inevitável e a força potencialmente letal representada pelo disparo
de arma de fogo torna-se inviável. Exemplo: agressor atracado ao policial, rolando ao solo, tentando tomar-lhe a arma.

85
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

LEMBRE-SE: antes de empregar as técnicas previstas,


sempre que possível e desde que não coloque em
risco a segurança, o policial deve:

(a) identificar-se como policial24,

(b) advertir o agressor quanto à possibilidade ou o


emprego de uso de força, proporcionando-lhe tempo
suficiente para que entenda e desista da agressão,
acatando as ordens policiais.

Essas regras serão aplicadas quando:

* disparar munição de impacto controlado / dis-


parar arma de impulso elétrico (controle de IMPO);
* disparar arma de fogo (força potencialmente
letal).

24 Interpretação institucional da PMMG do princípio 10 dos PBUFAF.

86
Caderno Doutrinário 1
7.1.3 Modelo do uso de força

É um recurso visual, destinado a auxiliar na conceituação, no planejamento, no


treinamento e na comunicação dos critérios sobre o uso de força. A sua utili-
zação aumenta a confiança e a competência do policial, na organização e na
avaliação das respostas práticas adequadas.

FIGURA 3 – Modelo de uso de força

O modelo apresentado é um quadro dividido em quatro níveis, que repre-


sentam os possíveis comportamentos do abordado. Do lado esquerdo, tem-se
a percepção do policial em relação à atitude do abordado, e, do lado direito,
encontram-se os possíveis níveis diferenciados de resposta. Cada nível repre-
senta uma intensidade de força que possibilitará um controle adequado.

A seta dupla centralizada (sobe e desce) indica o processo dinâmico de ava-


liação e de seleção das alternativas, bem como reforça o conceito de que o
emprego da verbalização deve ocorrer em todos os níveis.

O uso de força depende da compreensão das relações de causa e efeito entre as


atitudes do abordado e as respostas do policial. Isto possibilitará uma avaliação
prática e a tomada de decisão sobre o nível mais adequado de força.

87
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Mentalmente, o policial percorre toda a escala de força em um tempo curto e


escolhe a resposta mais adequada ao tipo de ameaça que enfrenta (observar
os princípios do uso de força). Se, ao escolher uma das alternativas contidas
em um determinado degrau do modelo do uso de força e esta vier a falhar ou as
circunstâncias mudarem, ele poderá aumentar ou diminuir o grau de submissão
do agressor, elevando ou reduzindo o nível de força empregado. Isso significa
que a correspondência dos degraus (ameaça do abordado e nível de força poli-
cial) poderá sofrer alterações em função de variáveis, tais como: conveniência,
porte físico do abordado, supremacia numérica de agressores, dentre outros.

Essa dinâmica, entre os níveis do uso de força, deve ser realizada de um modo
consciente, com ética e profissionalismo, nunca prevalecendo os sentimentos
como a raiva, o preconceito ou a retaliação. A avaliação dessas variáveis propi-
ciará, ao policial, o equilíbrio de suas ações.

Lembre-se: apesar da “VERBALIZAÇÃO” constar


como um dos níveis de intensidade de força, o poli-
cial deverá empregá-la durante todo o processo (ver
seção 6 – Verbalização Policial).

7.1.4 Responsabilidade pelo uso de força

Os policiais só podem empregar a força quando estritamente necessária e na


medida exigida para o cumprimento do seu dever, devendo evitar e opor-se,
com rigor, a quaisquer violações das leis e normas de conduta profissional25.

A responsabilidade direta pelo uso de força será:

a) do autor: é individual e, portanto, recai sobre o policial que a empregou26 ;

O cumprimento de ordens superiores não será justificado quando os poli-


ciais tenham conhecimento de que uma determinação para usar de força
ou armas de fogo, foi manifestamente ilegal e que esses policiais tenham
tido oportunidade razoável de se recusarem a cumpri-la. Em qualquer

25 Interpretação institucional da PMMG dos artigos 3º e 8º do CCEAL.

26 Interpretação institucional da PMMG do princípio 26 dos PBUFAF.

88
Caderno Doutrinário 1
caso, a responsabilidade caberá também aos superiores que tenham dado
ordens ilegais27;

b) dos superiores: os superiores imediatos, igualmente, serão responsabili-


zados quando os policiais sob suas ordens tenham recorrido ao uso exces-
sivo de força e esses superiores não adotarem todas as medidas disponí-
veis para impedir, fazer cessar ou comunicar o fato28 ;

c) da equipe de policiais: qualquer policial que suspeite que outro policial


esteja fazendo ou tenha feito o uso da violência, deve adotar todas as pro-
vidências ao seu alcance, para prevenir ou opor-se, rigorosamente, a tal
ato. Na primeira oportunidade que tenha, deve informar o fato aos seus
superiores e, se necessário, a qualquer outra autoridade com competência
para investigar os fatos29 .

7.2 Uso da arma de fogo

7.2.1 Regras gerais de controle

Os policiais em serviço só utilizarão armas de fogo e munições autorizadas e


pertencentes à carga da PMMG30, disponíveis nas respectivas intendências de
material bélico, e definidas no Manual de Armamento Convencional da PMMG.

As armas de fogo e munições utilizadas não devem causar danos ou lesões des-
necessárias. Assim, não é permitido alterar as armas e munições com este fim
(diminuição do cano da arma, corte nas pontas dos projéteis, alteração na carga
das munições, entre outras)31.

Os policiais devem obedecer, rigorosamente, às normas da PMMG sobre o con-


trole, o armazenamento e a distribuição de material bélico, podendo utilizar
cada tipo de arma de fogo somente após a respectiva habilitação.

27 Interpretação institucional da PMMG do princípio 26 dos PBUFAF.

28 Interpretação institucional da PMMG do princípio 24 dos PBUFAF.

29 Interpretação institucional da PMMG dos artigos 3º e 8º do CCEAL.

30 Interpretação institucional da PMMG do princípio 11 “b” dos PBUFAF.

31 Interpretação institucional da PMMG do princípio 11 “b” dos PBUFAF.

89
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Cada policial é responsável pela guarda, pelo destino e pela utilização da arma
e da munição recebidas32 (ver Manual de Administração do Armamento e
Munição da PMMG).

ATENÇÃO! O chefe direto de qualquer policial dis-


pensado do uso de arma de fogo por questões de
saúde deve buscar assessoramento do profissional
da respectiva área (QOS), quanto às medidas admi-
nistrativas decorrentes.

Os militares que não obtiverem, no mínimo o con-


ceito “D” até a última reavaliação, após submissão ao
Treinamento Especial com Arma de Fogo (TESCAF),
não poderão ser empregados em serviço opera-
cional, nas atividades que exijam o uso de arma de
fogo (DEPM33).

7.2.2 Normas de segurança

Para garantir a segurança de todos os envolvidos em uma intervenção, onde


são utilizadas armas de fogo, é importante observar as seguintes recomenda-
ções:

• leia cuidadosamente todas as instruções e recomendações de segurança


de cada arma ou munição a ser utilizada;

• considere e manuseie todas as armas de fogo, como se estivessem carre-


gadas;

• ao receber uma arma de fogo, tenha como rotina verificar se ela está ou
não carregada e em perfeitas condições de funcionamento;

• direcione o cano da arma de fogo para a “caixa de areia”, ou outra direção


segura, durante o manejo;

32 Interpretação institucional da PMMG do princípio 11 “d” dos PBUFAF.

33 Diretrizes de Educação de Policia Militar.

90
Caderno Doutrinário 1
• mantenha a arma de fogo apontada em direção segura, com o dedo fora
do gatilho, até que esteja em condições de disparo;

• no interior de viaturas, durante o patrulhamento ordinário, é recomen-


dado manter a arma no coldre, evitando conduzi-la no colo ou sobre o
banco da viatura;

• as armas de fogo devem ser guardadas descarregadas e em locais seguros,


não sendo permitido o acesso de pessoas sem autorização.

7.2.3 Usar ou empregar arma de fogo

Na atividade operacional de polícia, a ação de usar ou empregar armas de fogo


tem um entendimento prático específico que a diferencia, em termos de nível
de força aplicado, da ação de disparar ou atirar.

Os verbos usar ou empregar arma de fogo devem ser entendidos como sinô-
nimos e correspondem às ações do policial, de empunhar ou apontar sua arma
na direção da pessoa abordada (com efeito dissuasivo), sem, contudo, dispará-
-la.

As ações de empunhar ou apontar a arma durante a intervenção, acompa-


nhada de uma verbalização adequada, constitui demonstração de força que
implicará forte efeito dissuasivo no abordado. Além disso, proporciona ao
policial condições para apresentar uma resposta rápida, caso necessário, ser-
vindo como fator de auto-proteção, uma vez que ele estará com sua arma em
condição de disparo. As posições adotadas com a arma correspondem a níveis
diferentes de percepções de uso de força pelo abordado. Exemplo: localizar,
empunhar e apontar a arma de fogo.

O policial, no seu cotidiano operacional, poderá empregar a sua arma, com o


objetivo de preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patri-
mônio34, no exercício pleno do seu poder de polícia.

34 Inciso V do artigo 144 da Constituição Federal Brasileira.

91
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

ATENÇÃO! O fato de o policial somente portar a arma


no coldre, como parte do seu equipamento pro-
fissional, não será considerado “uso” ou “emprego”
de arma de fogo. Do mesmo modo, conduzir armas
longas, em posição de bandoleira - arma não será
interpretado como “uso” ou “emprego”.

A ação do policial em levar a mão até a arma (arma localizada) enquanto verba-
liza demonstra ao abordado um grau de força mais elevado do que se estivesse
falando com as mãos livres. A posição com a arma de fogo empunhada, como
uma demonstração de força, permite que o policial também esteja pronto para
defender-se, caso necessite dispará-la contra uma eventual agressão letal. De
igual maneira, efeito fortemente dissuasivo pode ser obtido quando, durante a
intervenção, já com a arma empunhada, decide apontá-la na direção do corpo
da pessoa abordada.

Possibilidades de uso ou emprego de armas de fogo:

a) Posição 1 - arma localizada: com a arma ainda no coldre, leva a mão até a
coronha, como se estivesse pronto para sacá-la;

b) Posição 2 - arma em guarda baixa: com a arma, já empunhada, fora do


coldre, posicionada na altura do abdome e com o cano dirigido para baixo;

c) Posição 3 - arma em guarda alta: com a arma, já empunhada, fora do


coldre, posicionada na altura do peito, com o cano dirigido para baixo,
numa angulação de aproximadamente 45º, pronto para apontá-la para o
alvo;

d) Posição 4 - arma em pronta resposta: com a arma apontada diretamente


para o abordado35.

O policial deve se preocupar em não banalizar o uso da posição 4 (arma em


pronta resposta) durante a abordagem e, logo que possível, conforme a
evolução da situação, deverá retornar à posição 2 ou 3, mantendo ativa a

35 As posições de uso ou emprego de armas de fogo serão tratadas no Caderno Doutrinário 2 - Tática Policial, Abordagem a Pessoas e
Tratamento às Vítimas.

92
Caderno Doutrinário 1
verbalização e o controle do abordado. Sempre que o critério de segurança
indicar, deve evitar iniciar a abordagem com a arma na posição 4, porque além
de demonstrar agressividade, não há flexibilidade de evolução para um nível
superior de força que não seja efetuar o disparo, correndo ainda o risco de dis-
paro acidental com graves consequências.

LEMBRE-SE: mantenha SEMPRE o dedo fora do


gatilho enquanto empunhar o armamento. O con-
trole da direção do cano também é fundamental,
como aspecto de segurança.

7.2.4 Atirar ou disparar arma de fogo

Os verbos atirar ou disparar arma de fogo devem ser entendidos como sinô-
nimos e correspondem ao efetivo disparo feito pelo policial na direção da
pessoa abordada. Ele disparará (atirará) contra essa pessoa, como último
recurso, em caso de legítima defesa própria ou de terceiros, contra perigo imi-
nente de morte ou lesões graves36.

O disparo da arma por policiais contra uma pessoa constitui a expressão


máxima de uso de força, devido ao efeito potencialmente letal que repre-
senta, devendo ser considerada uma medida extrema.

7.2.5 Objetivo do disparo

O dever funcional do policial é entendido como servir e proteger a sociedade,


preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio37,
garantindo a vida, a dignidade e a integridade de todos.

Quando um policial dispara sua arma de fogo no exercício das suas atividades,
como último recurso na escala de uso diferenciado de força, não o faz para
advertir, assustar, intimidar ou ferir um agressor. Ele o faz para interromper, de

36 Interpretação institucional da PMMG do princípio 9 dos PBUFAF.

37 Inciso V do artigo 144 da Constituição Federal Brasileira e Identidade Organizacional da PMMG.

93
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

imediato, uma ação que atente contra a vida ou ameace uma pessoa de feri-
mento grave.

Desta forma, a intenção do policial não é matar o agressor, o que afasta de


pronto o conceito de uso de força letal. Se o disparo de sua arma de fogo for o
meio necessário empreendido contra uma agressão injusta atual ou iminente,
que atente contra a sua própria vida ou a de terceiros, o comportamento do
policial não será de ação e sim, como regra, de reação, o que evidencia o pro-
pósito de defesa, consolidando como lícita a sua conduta. O policial não busca,
nem aceita, o resultado morte, o que caracteriza a adequação da terminologia
uso de força potencialmente letal. O disparo da sua arma de fogo tem por fim
a defesa da vida ameaçada.

Ao repelir a agressão, de modo a fazer cessar a ameaça à vida ou à integridade


física (ferimentos graves), o policial deverá se preocupar para que não ocorra
excesso na sua conduta. Assim, o resultado advindo do disparo de sua arma
de fogo não tem por fim causar ao agressor, propositadamente, maior lesão do
que seria necessário para a defesa pretendida. Nesse sentido, atenção especial
deve ser dada para evitar o emprego exagerado da força potencialmente letal,
decorrente da inobservância do dever de cuidado38. Assim, o policial preparado
técnica e mentalmente não excede na sua reação, mesmo sob a influência do
medo, da pressão ou da fadiga.

ATENÇÃO! O policial disparará (atirará) a arma de fogo


contra uma pessoa, no exercício das suas atividades,
como último recurso (medida extrema de uso da força),
em caso de legítima defesa própria ou de terceiros,
contra perigo iminente de morte ou ferimentos graves.

Portanto, quando o policial atira contra um agressor está fazendo uso de força
potencialmente letal (e não o uso de força letal), reafirmando sua intenção
de controlar a ameaça e não a de produzir um resultado morte.

38 A inobservância do dever de cuidado existe quando, mesmo o policial não querendo, o resultado ocorre por imprudência, negligência
ou imperícia, podendo ser punido pelo excesso culposo.

94
Caderno Doutrinário 1

ATENÇÃO! Imediatamente após efetuar o disparo,


restando pessoa ferida, o policial, obrigatoriamente,
providenciará todo o socorro necessário para mini-
mizar os efeitos dos ferimentos, visando resguardar-
-lhe a vida.

O policial não deve atirar quando as consequências decorrentes do disparo de


sua arma de fogo forem mais graves do que as ameaças sofridas pelas pessoas
que estão sendo defendidas (objetivo legal pretendido). Os agressores, ao con-
trário dos policiais, quando disparam suas armas de fogo, não levam em con-
sideração o número de pessoas que podem resultar feridas, nem se dão conta
de alguma limitação técnica (“balas perdidas”). Eles, inclusive, se aproveitam do
fato da polícia ter que prestar atendimento às pessoas atingidas, para facilitar
a sua fuga.

O fiel cumprimento do ordenamento jurídico e dos preceitos da ética profis-


sional policial é a diferença entre o disparo de arma de fogo efetuado por um
policial e o disparo desferido por um agressor.

Os policiais devem dominar as normas de segurança, os fundamentos de tiro


e os aspectos éticos e legais para que possam utilizar adequadamente o arma-
mento, com segurança e precisão. Para tanto, deverão treinar, regularmente, as
técnicas que melhorem o manejo das diversas armas de fogo disponíveis para
o serviço operacional.

LEMBRE-SE: durante a capacitação com armas de


fogo, os policiais deverão ser treinados a verbalizar,
antes de efetuar os disparos nos alvos39.

Algumas variáveis que estão presentes na intervenção policial onde o con-


fronto armado pode resultar em morte do agressor:

39 Interpretação institucional da PMMG do Princípio 10 dos PBUFAF.

95
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

a) variáveis controladas pelo policial: características balísticas da arma


utilizada, distância e quantidade dos disparos, tipo de munição (calibre,
potência, alcance);

b) variáveis parcialmente controladas pelo policial: direcionamento do


disparo, ou seja, local do corpo do agressor em que se dará o impacto. Em
situação de ambiência operacional (“teatro de operações”), a precisão da
pontaria pode sofrer graves reduções, mesmo para atiradores experientes,
devido a situações diversas, tais como fatores ambientais (periculosidade
do local, luminosidade, chuva, entre outros), condições psicomotoras do
policial (cansaço, agitação, nervosismo, frequência cardíaca, tremores,
entre outros) e o próprio dinamismo do alvo (movimentação do agressor);

c) variáveis não controladas pelo policial: compleição física, estado emo-


cional e resistência orgânica da pessoa atingida.

Nos casos em que o policial dispara sua arma de fogo contra uma pessoa, é
importante considerar as diversas circunstâncias que poderão interferir na pre-
cisão do tiro, conforme descrição contida nas “variáveis parcialmente contro-
ladas pelo policial”. Tomando-se em conta essas variáveis e, para assegurar que
este disparo seja efetivo (atinja seu objetivo de interromper imediatamente o
ataque), o policial apontará sua arma para a parte central do corpo (região torá-
cica) do agressor.

Sempre que as circunstâncias permitirem e desde que não exponha a risco a


segurança de terceiros ou a dele próprio, o policial poderá disparar em outras
áreas do corpo (principalmente pernas), com a finalidade de reduzir ao mínimo
os ferimentos (ainda assim, permanece o risco de provocar graves lesões ou
morte). Esse procedimento de disparar em outras áreas do corpo será influen-
ciado pela habilidade do atirador, por reações fisiológicas em situações de
estresse extremo, pelo tempo disponível para o disparo e pela proximidade
do alvo (curtíssima distância). A capacitação para realizar esses disparos com
efetividade deverá fazer parte do Treinamento com Armas de Fogo (TCAF),
aplicado aos policiais que já superaram o nível básico de treinamento.

A letalidade (morte do agressor) nunca será entendida como o objetivo finalís-


tico do policial ao disparar sua arma de fogo em uma ação operacional. Contudo,
o resultado “morte” poderá ser decorrente dos efeitos lesivos, próprios do ins-
trumento utilizado (arma de fogo). Esses efeitos estão sujeitos ainda às diversas
variáveis descritas, as quais não são plenamente controladas pelo policial.

96
Caderno Doutrinário 1
7.2.6 Procedimentos para o disparo da arma de fogo

a) O policial, antes de disparar sua arma de fogo, deve, sempre que dispo-
nível, abrigar-se imediatamente, e seguir o protocolo40:

• identificar-se como policial, mesmo estando fardado:

- Aqui é a Polícia Militar!

- Parado! Não reaja!

• advertir o abordado sobre a possibilidade de disparar sua arma de fogo,


proporcionando-lhe tempo suficiente para que entenda e desista da
agressão, acatando as ordens do policial. Desta forma, adotará a sequência
de verbalização, no que for cabível:

- Estamos armados, podemos atirar!

- Coloque sua arma no chão!

Este procedimento não deverá ser executado quando:

- o fator tempo (ameaça iminente) colocar os policiais ou outras pessoas em


risco de morte ou puder causar-lhes ferimentos graves;

- a advertência for, evidentemente, inadequada ou inútil, dadas as cir-


cunstâncias dos fatos41. Exemplo: agressor, aparentemente sob efeito de
drogas, está atirando ininterruptamente contra várias pessoas.

b) O disparo de arma de fogo contra a pessoa é um procedimento excep-


cional. A regra geral é não atirar. Constitui a última opção e ocorrerá
quando os outros meios se mostrem ineficazes e não garantirem, de
nenhuma maneira, que a vida em risco possa ser preservada42.

40 Interpretação institucional da PMMG do princípio 10 dos PBUFAF.

41 Interpretação institucional da PMMG dos princípios 10 e 11 “e” PBUFAF.

42 Interpretação institucional da PMMG do princípio 9 dos PBUFAF.

97
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

ATENÇÃO! O policial está autorizado a disparar sua


arma de fogo contra pessoas, em caso de legítima
defesa própria ou de terceiros, contra ameaça imi-
nente de morte ou ferimento grave.

c) O perigo de morte a que se refere a regra deve ser iminente, atual, impe-
rioso e urgente, portanto, não corresponde a uma ameaça remota, poten-
cial, distante, presumida ou futura.

Exemplos: o policial não pode disparar contra um agressor, simplesmente


baseado no seu histórico criminal (“delinquente perigoso”). Também não é
justificável disparar arma de fogo contra uma pessoa em fuga, que esteja
desarmada ou que, mesmo possuindo algum tipo de arma, não a utilize
de forma a representar um risco iminente ou atual de morte ou de grave
ferimento aos policiais ou a terceiros.

d) Havendo feridos (inclusive policiais), em consequência do disparo de arma


de fogo, proceder-se-á ao socorro imediato. O comandante responsável
pela Unidade ou Fração, onde servem os policiais, deverá empregar todos
os esforços para comunicar o fato aos familiares dos feridos ou mortos
(inclusive policiais), no menor tempo possível43.

e) O policial que disparou sua arma de fogo deverá comunicar o fato ver-
balmente e imediatamente aos seus superiores (comandante responsável
pela Unidade ou Fração) e confeccionará o Relatório de Eventos de Defesa
Social (REDS) ou o Boletim de Ocorrência (BO) e o respectivo Auto de Resis-
tência (AR), detalhando todos os motivos de sua intervenção e suas con-
sequências, assim como as medidas decorrentes adotadas (ver roteiro de
relatório a ser confeccionado pelo policial no item 7.3.1 b).

7.2.7 Circunstâncias especiais para o disparo de arma de fogo

Existem algumas situações típicas do serviço operacional, em que o policial


pode disparar sua arma de fogo:

a) Controle de distúrbio civil: a regra geral é não disparar a arma de fogo


nesses tipos de intervenção. Excepcionalmente, o policial que estiver encar-

43 Interpretação institucional da PMMG do princípio 5 “d” dos PBUFAF.

98
Caderno Doutrinário 1
regado da segurança da equipe (grupo ou pelotão) poderá disparar sua
arma de fogo, nos casos de legítima defesa própria ou de terceiros, contra
ameaça iminente de morte ou ferimento grave. Esses disparos devem ser
dirigidos a um alvo específico (agente causador da ameaça) e na quanti-
dade minimamente necessária para fazer cessar a agressão. Somente serão
utilizados quando não for possível empregar outros meios menos lesivos.
Antes de atirar, deverá dedicar especial atenção à segurança do público e
empregar munições ou armas adequadas (tipo, potência e alcance)44.

ATENÇÃO! O policial só poderá disparar sua arma


quando for estritamente necessário para proteger
vidas e, sob nenhuma circunstância, será aceitável
atirar indiscriminadamente contra uma multidão,
como recurso para dispersá-la.

b) Vigilância de pessoas sob custódia policial: a regra geral é não disparar a


arma de fogo. Todavia, seu emprego está autorizado, quando outros meios
menos lesivos se mostrem ineficazes e seja estritamente necessário o dis-
paro, nos casos de legítima defesa própria ou de outrem, quando o indi-
víduo, durante a fuga, provocar ameaça iminente de morte ou ferimento
grave45.

ATENÇÃO! Não é justificável disparar arma de fogo


contra uma pessoa em fuga, que esteja desarmada
ou que, mesmo possuindo algum tipo de arma, não
represente um risco iminente ou atual de morte ou
de grave ferimento aos policiais ou a terceiros.

c) Disparos com munições de menor potencial ofensivo (impacto con-


trolado): são disparos com equipamento apropriado ou arma de fogo, em
que se utiliza munição especial (elastômero - projétil de látex macio ou
similar). Normalmente, é empregada em operações de manutenção da
ordem pública e controle de distúrbios. Suas características e finalidades
permitem seu emprego em situações como as mencionadas, quando o
nível de força a ser aplicado for menor ao que se aplicaria nos disparos de
44 Interpretação institucional da PMMG do princípio 14 dos PBUFAF.

45 Interpretação institucional da PMMG do princípio 16 dos PBUFAF.

99
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

armas de fogo com munições convencionais (ver Manual de Tecnologia de


Menor Potencial Ofensivo).

Nessas situações, o policial deve considerar as possíveis consequências (riscos)


de atirar e sua responsabilidade na proteção da vida de outras pessoas, devendo
observar:

• as especificações técnicas para seu uso, sistemas de disparo, distância em


que podem atirar com segurança, alcance e trajetória de projéteis, entre
outros;

• que os disparos efetuados com esse tipo de munição têm pouca precisão;

• que devem ser evitados os disparos diretos contra as partes mais sensíveis
do corpo, principalmente locais de risco de lesões graves: cabeça, olhos,
ouvidos, entre outros. Os disparos devem ser dirigidos para a região dos
membros inferiores;

• mesmo quando utilizado dentro das regras citadas, o risco de um possível


efeito letal ou de graves lesões continua existindo, mas em um nível bas-
tante inferior, quando comparado ao uso de munições convencionais para
arma de fogo;

• os disparos devem ser seletivos e realizados, especificamente, contra pes-


soas que estejam causando as ameaças.

d) Disparos táticos: são realizados para obter uma vantagem tática, para dar
mais segurança ao reposicionamento da equipe de policiais no terreno.
Não devem ser dirigidos contra pessoas. São aqueles normalmente efetu-
ados pelo policial, para dar cobertura a companheiros durante confrontos
armados (técnica de “fogo e movimento”), também, para diminuir a lumi-
nosidade de um ambiente, romper a fechadura de uma porta ou outros
obstáculos. O policial que o realiza deve estar devidamente treinado, para
não colocar em risco a sua integridade física e a de outras pessoas.

e) Disparos de dentro da viatura policial em movimento ou contra veí-


culos em fuga: a regra é não atirar. Todavia, existem algumas circunstân-
cias em que a vida do policial ou a de terceiros se encontra em grave e
iminente risco, como nos casos de atropelamentos ou acidentes intencio-
nais provocados pelo veículo em fuga (o motorista utiliza o veículo como
“arma”). Esses disparos representam a única opção do policial para detê-lo.

100
Caderno Doutrinário 1
Nessas situações, ele deve considerar as possíveis consequências (riscos)
de disparar, e sua responsabilidade na proteção da vida de outras pessoas.
Para isso observará:

• esses disparos têm pouca eficácia para fazer parar um veículo e os projé-
teis podem ricochetear (no motor ou nos pneus) ou atravessar o veículo
ou, até mesmo, não atingi-lo, convertendo-se em “balas perdidas”;

• se o condutor for atingido, existe um risco elevado de que ele perca o con-
trole do veículo e cause acidentes graves;

• esses disparos têm pouca precisão, a pontaria fica prejudicada pelo movi-
mento do veículo e pelo balanço provocado por ele, inclusive quando efe-
tuados por atiradores experientes;

• existe a possibilidade de que vítimas (reféns) estejam no interior do veí-


culo perseguido, inclusive dentro do porta-malas;

• os disparos efetuados pelos policiais podem provocar um revide por parte


dos abordados, incrementando ainda mais o risco para outras pessoas,
principalmente em áreas urbanas (balas perdidas). O mais recomendável é
distanciar-se do veículo em fuga e, sem perdê-lo de vista, adotar medidas
operacionais para efetuar o cerco e o bloqueio. Recomenda-se, ainda, soli-
citar reforço policial para que a intervenção possa ser realizada com mais
segurança.

ATENÇÃO! Policiais não deverão disparar contra veí-


culos que desrespeitem um bloqueio de via pública,
a não ser que ele represente um risco imediato à vida
ou à integridade dos policiais ou de terceiros, por
meio de atropelamentos ou acidentes intencionais (o
motorista utiliza o veículo como “arma”).

f) Disparos de advertência: a regra é não disparar a arma de fogo com esta


finalidade. Quando o policial atira com sua arma, não o faz para advertir ou
assustar, o faz para interromper, de imediato, uma agressão contra a sua
vida ou a de terceiros. Considerando as possíveis consequências desse tipo
de ação, os policiais não devem atirar para fazer valer suas advertências:

101
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

• nos disparos feitos para cima, o projétil retorna ao solo com força sufi-
ciente para provocar lesões ou morte. Nos disparos feitos contra o solo ou
paredes, ele pode ricochetear e também provocar lesões ou morte;

• esses disparos podem fazer com que outros policiais que estejam atuando
nas proximidades pensem, de maneira equivocada, que estão sendo alvos
de tiros de agressores, provocando neles uma reação indevida;

• os disparos efetuados pelos policiais podem provocar um revide por parte


dos agressores, incrementando ainda mais o risco contra outras pessoas.

g) Disparo contra animais: poderá ocorrer, após serem tentados outros


meios de contenção46, e quando o animal:

• encontrar-se fora de controle, agressivo, ou representar grave e iminente


perigo contra as pessoas ou ao patrimônio;

• encontrar-se agonizante e numa situação de ferimentos ou enfermidade


na qual necessite ser sacrificado para evitar sofrimento desnecessário e não
estiver próximo a veterinário que possa realizar esta tarefa e não houver
condições de atendimento por outros órgãos responsáveis. Exemplo:
animal atropelado, ferido, agonizante e caído em rodovia deserta em
situação de penúria. É importante considerar que quaisquer tratamentos
cruéis cometidos contra animais poderão constituir em crime previsto na
legislação brasileira. Sobre isso existem dispositivos legais47 que estabe-
lecem a proteção deles. Caberá, portanto, ao policial, antes de disparar,
avaliar os possíveis resultados desta ação, seus reflexos na segurança do
público em geral e dos prejuízos ou danos materiais ao proprietário do
animal.

LEMBRE-SE: o treinamento e a avaliação constante


do uso da arma de fogo propiciarão melhor capaci-
dade técnica ao policial, resultando em credibilidade
e legitimidade junto à população.

46 Interpretação institucional da PMMG do princípio 4 dos PBUFAF.

47 Constituição Federal art. 225, § 1º, inciso VII; Lei nº 9.605/98 que trata dos crimes ambientais, em especial o que dispõe o seu art. 32,
caput; Decreto Federal nº 24.645/34; Contravenção penal (art. 64 da LCP).

102
Caderno Doutrinário 1
7.2.8 Procedimentos após o disparo de arma de fogo

O policial que disparou sua arma de fogo no serviço operacional, intencional-


mente ou não, deverá reportar tal fato ao seu superior imediato (coordenador
de policiamento, comandante de unidade ou subunidade).

Este superior deverá adotar os procedimentos abaixo, quando este disparo


causar lesões, morte de pessoas e danos patrimoniais, sem se descuidar das
medidas de socorro e assistenciais imediatas pertinentes:

• promover a preservação do local;

• acionar a perícia;

• recolher as armas e munições de todos os policiais envolvidos;

• relatar formalmente o fato à autoridade judicial competente, conforme a


respectiva esfera de atuação (Inquérito Policial Militar - IPM, Auto de Prisão
em Flagrante – APF)48;

• determinar uma imediata investigação dos fatos e das circunstâncias, por


meio de um encarregado para proceder à apuração, preferencialmente
que não seja membro da equipe envolvida no disparo da arma (seguir
roteiro previsto no item 7.3.2 b);

• promover a assistência médica e psicológica, em atenção às possíveis


sequelas que os policiais possam sofrer em consequência da intervenção,
para que superem possíveis efeitos traumáticos decorrentes do fato viven-
ciado no incidente49;

• designar um policial para contatar com a família das pessoas atingidas,


inclusive com a dos policiais, se for o caso. Preferencialmente, tal atribuição
dever recair em pessoa que não seja membro da equipe envolvida no inci-
dente50;

48 Interpretação institucional da PMMG da letra “f” do Princípio 11 dos PBUFAF.

49 Interpretação institucional da PMMG do Princípio 21 dos PBUFAF.

50 Interpretação institucional da PMMG da letra “d” do Princípio 5 dos PBUFAF.

103
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

• atenuar a tensão da comunidade onde se deu o fato, mantendo contato


permanente e esclarecedor com os familiares das pessoas envolvidas e
com a mídia local;

• providenciar relatório logístico específico para descarga de munições (ver


Manual de Administração de Armamento e Munições da PMMG).

7.3. Relatórios sobre o uso de força e arma de fogo

7.3.1 Confeccionados pelo policial

a) Situações de uso de força:

Nos casos em que houver emprego de força, o policial lavrará o Relatório de


Eventos de Defesa Social (REDS) ou o Boletim de Ocorrência (BO) e o respectivo
Auto de Resistência (AR), constando todos os fatos e as providências:

• tipo de força, equipamento ou armamento utilizado;

• motivação e justificativa para a utilização do tipo de força;

• tipo de resistência oferecida pelo abordado;

• meios que o policial dispunha para o emprego da força;

• providências adotadas pelo policial após a prisão do abordado;

• dados da equipe policial presente no momento da ação;

• lesões produzidas;

• detalhes do evento;

• no caso de armas de fogo: distância de utilização e quantidade de munição


empregada e a região do corpo atingida.

104
Caderno Doutrinário 1
b) Situações de uso de força potencialmente letal – disparo de arma de
fogo:

Quando o policial disparar sua arma de fogo, no desempenho de suas funções


(havendo ou não pessoas atingidas) lavrará o Relatório de Eventos de Defesa
Social (REDS) ou o Boletim de Ocorrência (BO) e o respectivo Auto de Resis-
tência (AR), constando todos os fatos e as providências51:

• as circunstâncias que o levaram a disparar a arma de fogo (entre outras:


intensidade e perigo da agressão, a forma de agir do agressor, descrever as
ameaças e as vulnerabilidades vivenciadas pelo policial);

• quem disparou (policiais/agressores) e as respectivas quantidades de tiros;

• quais foram os policiais participantes do fato (independentemente de


terem efetuado ou não disparos), suas Unidades e viaturas policiais, se for
o caso;

• que tipos de armas de fogo (identificação) e munições foram disparadas


pelos policiais e agressores(quando possível);

• quais medidas foram tentadas pelos policiais, antes de dispararem suas


armas;

• se foram feitas advertências, antes de disparar e quais foram elas;

• quem era a pessoa protegida pelos disparos realizados pelo policial;

• a quantidade de pessoas feridas, mortas e os danos materiais, em decor-


rência dos disparos;

• as ações adotadas para o imediato socorro e a assistência médica às pes-


soas atingidas;

• as ações realizadas para comunicar o fato ocorrido oportunamente às


famílias das pessoas atingidas (policias e agressores).

51 Interpretação institucional da PMMG do princípio 11 “f” dos PBUFAF.

105
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

7.3.2 Roteiro básico de apuração referente ao uso de força e


arma de fogo

a) Situações de uso de força:

Sempre que o uso de força pelo policial causar lesões, morte de pessoas e danos
patrimoniais, seu superior imediato deve determinar uma investigação, objeti-
vando verificar se os princípios essenciais foram respeitados. O roteiro a seguir
facilitará o trabalho de apuração sobre esses tipos de intervenção policial.

• Ao ser abordado, o agressor foi cooperativo? O uso de força foi necessário?


Qual foi a motivação da intervenção policial que resultou em uso de força?
O objetivo pretendido pelo policial tinha embasamento legal? Qual era a
gravidade do delito cometido pelo agressor?

• Houve pessoas feridas ou danos ao patrimônio?

• Os policiais realizaram alguma ação, ou adotaram alguma atitude a qual


teria contribuído para provocar o uso de força? A falta de treinamento
do policial, ou o emprego de técnicas inadequadas poderiam ter sido as
causas do uso de força?

• A ação policial foi influenciada, de alguma forma, por atitudes preconcei-


tuosas relacionadas à cor, orientação sexual, religião, antecedente criminal
e condição social do agressor ou outros relacionados às minorias?

• Era possível atingir o objetivo da intervenção usando outros meios que


não o emprego de força? Foram consideradas todas as opções? Foram ten-
tadas outras opções, antes do uso de força? Quais? O uso de força foi a
última opção utilizada?

• Os policiais advertiram o agressor quanto ao uso de força, antes de


empregar a técnica? Caso negativo, porque não o fizeram?

• O uso de força foi proporcional ao nível de resistência do agressor? A ava-


liação de risco e a decisão quanto ao tipo de intervenção realizada pelo
policial foram adequadas? No caso de resposta negativa, foi devido à falta
de treinamento, treinamento inadequado ou por outra razão? Qual era o
nível de força necessário para cessar aquela ameaça? As lesões causadas
no agressor estão compatíveis com o nível de força empregado e o tipo de

106
Caderno Doutrinário 1
resistência oferecida?

• Houve uso excessivo de força? Os policiais cessaram o uso de força no


momento em que a resistência do agressor foi controlada?

• Os policiais prestaram socorro imediato e adequado para os feridos? Os


policiais tiveram a preocupação de diminuir os danos causados durante a
intervenção?

• Os policiais fizeram relatório pormenorizado com todas as informações


sobre o uso de força?

• As famílias das pessoas atingidas foram cientificadas do resultado da inter-


venção policial?

b) Situações de uso de força potencialmente letal – disparo de arma de


fogo:

• Quantos e quais policiais dispararam as suas armas? Quantos disparos


foram realizados pelos policiais (individualizado)?

• Houve pessoas feridas ou danos ao patrimônio?

• Qual tipo de arma foi utilizado pelo agressor? Quantos e quais agressores
dispararam as suas armas? Quantos disparos foram realizados por cada um
dos agressores?

• Os policiais dispararam a que distância do agressor? Para onde foram dire-


cionados os disparos efetuados pelos policiais?

• Os disparos foram realizados em defesa da própria vida ou de terceiros?


Citar de quem. O risco contra a vida era atual e iminente? Por quê?

• Os policiais ou terceiros estavam expostos desnecessariamente ao risco,


em decorrência de técnicas ou táticas policiais indevidas?

• Havia outras opções de defesa da vida que não o disparo de arma de fogo?

• Antes de disparar, os policiais se preocuparam com a sua própria proteção


e das pessoas envolvidas?

107
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

• Os policiais advertiram o agressor quanto ao uso de força potencialmente


letal, antes de efetuar o disparo? Caso negativo, porque não fizeram?

• As armas utilizadas pelos policiais pertenciam à carga da corporação?

ATENÇÃO! Quando for devidamente constatado que


a intervenção policial foi realmente necessária, e esta
foi justificada para a proteção da vida contra injusta
agressão, a ação será considerada ação policial legí-
tima52.

52 MANUAL DE PROCESSOS E PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS-DISCIPLINARES DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS: art. 101
- Entende-se por ação policial legítima a intervenção (resposta) ou desempenho do servidor da PMMG, isolada ou em conjunto, em
ocorrência policial-militar, quer por determinação, solicitação ou iniciativa própria, desde que tal atuação se faça comprovadamente
necessária e se paute nos estritos parâmetros autorizados pela lei.

108
GLOSSÁRIO
Abordado cooperativo – pessoa que acata todas as determinações do policial
durante a intervenção, sem apresentar resistência.

Abordado resistente – pessoa que não aceita a intervenção policial e tenta


impedi-la. Ver resistência passiva e resistência ativa.

Abordagem policial - conjunto ordenado de ações policiais para aproximar-


-se de uma pessoa, veículo ou edificação, com o intuito de orientar, identificar,
advertir, realizar buscas, efetuar detenções, entre outros, utilizando-se de téc-
nicas, táticas e meios apropriados.

Abrigos – são proteções físicas utilizadas pelo policial para se proteger de dis-
paros de arma de fogo ou de quaisquer objetos que possam atingi-lo.

Ação policial-militar - é o desempenho isolado de fração elementar ou consti-


tuída, com autonomia para cumprir missões rotineiras. Podem ter caráter opera-
cional, administrativo ou de treinamento.

Ação vigorosa – fundamento da abordagem, que se caracteriza pela atitude


firme e resoluta do policial, por meio de uma postura imperativa, com ordens
claras e precisas.

Ameaça - ato delituoso pelo qual alguém, verbalmente ou por escrito, por gesto
ou por qualquer outro meio simbólico e inequívoco, faz injustamente um mal
grave a determinada pessoa.

Área de risco – é a área na qual a polícia não detém o domínio da situação, consis-
tindo na parte do “teatro de operações” de onde podem surgir ameaças durante
uma intervenção.

Área de segurança – é a área na qual a polícia tem o domínio da situação, não


havendo, presumidamente, riscos à integridade física e à segurança dos policiais.

Armas de menor potencial ofensivo - são as projetadas e/ou empregadas,


especificamente, para conter, debilitar ou incapacitar, temporariamente, pessoas,
minimizando ferimentos e número de mortes.
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Avaliação de riscos – análise da probabilidade de concretização de dano a pes-


soas e bens, e de todos os aspectos de segurança que subsidiarão o processo de
tomada de decisão em uma intervenção.

Busca – ação policial que se pratica com o objetivo de descobrir e apreender pes-
soas e coisas.

Captura – diligência de prisão ou cerco à foragido ou fugitivo, impedindo sua


fuga, por ordem judicial ou durante uma diligência policial.

Cobertas – são proteções visuais usadas pelo policial, como meio de preservar o
princípio da surpresa, durante uma intervenção.

Cobertura – proteção dada a um policial durante uma ação por outro(s) policial(is).

Controle de contato – emprego de técnicas de defesa pessoal policial, que visa


fazer com que o abordado resistente passivo, obedeça à ordem dada pelo policial.

Controle físico – emprego de técnicas de defesa pessoal policial, com um maior


potencial de submissão do abordado, visando ao seu controle, sua imobilização
e condução.

Conveniência – o uso de força deve considerar a oportunidade e a aceitação de


uma ação policial em um determinado contexto, evitando ocasionar danos de
maior relevância do que os objetivos legais pretendidos.

Deslocamento tático – movimentação do policial em determinado espaço/local


(“teatro de operações”) seguindo padrões de segurança específico.

Dever policial – servir e proteger a sociedade, preservar a ordem pública e a


incolumidade das pessoas e do patrimônio, garantindo a vida, a dignidade e a
integridade de todos.

Disciplina tática – comportamento policial ordenado e executado, com base em


procedimentos específicos, devidamente orientados pela doutrina institucional.

Encarregado da aplicação da lei (EAL) – é o agente público, civil ou militar,


integrante das instituições policiais, nacionais ou internacionais, com poderes
especiais de captura, detenção, uso de força e investigação criminal, para servir a
sociedade e protegê-la contra atos ilegais.

110
Caderno Doutrinário 1
Equipamentos de menor potencial ofensivo - compreende todos os artefatos,
excluindo as armas e munições, desenvolvidos e empregados com a finalidade de
minimizar ferimentos e número de mortes.

Equipamentos de proteção - todo dispositivo ou produto, de uso individual ou


coletivo, destinado à redução de riscos, à segurança ou à integridade física dos
policiais.

Estado de alarme (vermelho) – estado de prontidão em que o policial está


sob risco real e uma resposta é necessária, focalizando a ameaça e mantendo a
atenção concentrada no problema.

Estado de alerta (laranja) – estado de prontidão em que o policial detecta um


problema e está ciente de que um confronto é provável e, embora ainda não
haja uma necessidade imediata de reação, mantém-se vigilante, identifica se há
alguém que possa representar uma ameaça que exija uso de força e calcula o
nível de resposta adequado.

Estado de atenção (amarelo) – estado de prontidão em que o policial está


atento, precavido, mas não tenso. Apresenta calma, porém, mantém constante
vigilância das pessoas, dos lugares, das coisas e ações ao seu redor, por meio de
uma observação multidirecional e atenção difusa.

Estado de pânico (preto) – estado de prontidão em que o policial não está pre-
parado para reagir a uma situação de perigo, caracterizado por um descontrole,
que produz paralisia ou uma reação desproporcional.

Estado de prontidão – conjunto de alterações fisiológicas (frequência cardíaca,


ritmo respiratório, dentre outros) e das funções mentais (concentração, atenção,
pensamento, percepção, emotividade) que influenciam na capacidade de reagir
às situações de perigo.

Estado relaxado (branco) – estado de “não-prontidão”, caracterizado pela dis-


tração do policial, em relação ao que está acontecendo ao seu redor, pelo pensa-
mento disperso e relaxamento.

Força – ato discricionário, legal, legítimo e profissional, pelo qual a polícia con-
trola uma situação que ameaça a ordem pública, a dignidade, a integridade ou a
vida das pessoas, observados os princípios legais.

111
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Força potencialmente letal - consiste no disparo de armas de fogo, outros meios


ou procedimentos, por parte de policiais, contra um agressor, em situações que
envolva risco iminente de morte ou lesões graves, com o objetivo de fazer cessar
a agressão.

Gestão de riscos – processo utilizado para identificar, analisar e eliminar ou


mitigar, a um nível aceitável, os perigos e os conseguintes riscos, decorrentes
das ameaças e a viabilidade de uma intervenção.

Infrator – pessoa que infringe a lei, viola as regras, não obedece à norma ou à
ordem legal.

Instrumentos de menor potencial ofensivo (IMPO) - conjunto de armas,


munições e equipamentos, que possibilitam preservar vidas e minimizar danos
à integridade das pessoas envolvidas.

Intervenção policial – ação ética e legal realizada por profissionais capacitados


para empregar técnicas e táticas policiais, em eventos de defesa social, tendo
como objetivo prioritário a promoção e a defesa dos direitos fundamentais da
pessoa.

Intervenção policial nível 1 - intervenções características de situações de


assistência e orientação.

Intervenção policial nível 2 – intervenções características de situações em


que haja a necessidade de verificação preventiva.

Intervenção policial nível 3 – intervenções características de situações de


fundada suspeita ou certeza de cometimento de delito, demandando ações
repressivas.

Legalidade – utilização de força para a consecução de um objetivo legal e nos


estritos limites da lei.

Moderação – o emprego da força pelos policiais deverá ser dosado, visando


não produzir, ou reduzir, os efeitos negativos decorrentes do seu uso, devendo
ter intensidade e duração suficientes para conter a agressão.

112
Caderno Doutrinário 1
Modus operandi – modo de ação, geralmente associado a conduta de infra-
tores.

Munições de menor potencial ofensivo - são as projetadas e empregadas,


especificamente, para conter, debilitar ou incapacitar temporariamente pes-
soas, minimizando ferimentos e número de mortes.

Necessidade – determinado nível de força só pode ser empregado quando


níveis de menor intensidade não forem suficientes para atingir os objetivos
legais pretendidos.

Nível de força – representa uma intensidade de força que possibilita ao policial


agir com menor ou maior controle sobre o abordado.

Ocorrência policial-militar - é todo fato que exige intervenção policial militar,


por intermédio de ações ou operações.

Operação policial-militar - é a conjugação de ações, executada por fração de


tropa constituída, que exige planejamento específico. Pode ter caráter estraté-
gico, tático ou operacional, combinadas com outras forças policiais ou militares,
para o cumprimento de missões específicas, com a participação eventual de
outros órgãos de apoio da Corporação e de órgãos integrantes do sistema de
Defesa Social. Exige alto grau de coordenação e controle.

Pensamento tático – é o processo de análise do cenário da intervenção policial


(leitura do ambiente), consistindo em mapear as diferentes áreas do “teatro de
operações”, em função dos riscos avaliados, identificar perímetros de segurança
para atuação, priorizar os pontos que exijam maior atenção e tentar interferir no
processo mental do agressor.

Perigo - situação em que a existência ou a integridade de uma pessoa ou de uma


coisa está ameaçada.

Pessoa detida – é aquela pessoa privada de sua liberdade, no aguardo de julga-


mento.

Pessoa presa – pessoa privada de sua liberdade, como resultado da condenação


pelo cometimento de delito.

113
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Poder de polícia – é a capacidade legítima que o agente da administração


pública, devidamente constituída, tem para limitar direitos individuais em prol
da coletividade.

Ponto de foco – é a localização exata dentro da área de risco de onde podem


surgir ameaças.

Ponto quente – é uma ameaça clara e presente que deve ser imediatamente con-
trolada pelo policial, para garantir a segurança a todos os envolvidos.

Preparo mental – é o processo de pré-visualizar e ensaiar mentalmente, os pro-


váveis problemas a serem encontrados em cada tipo de intervenção policial, e as
possibilidades de respostas.

Presença policial – apresentação ostensiva da força policial.

Processo mental da agressão – etapas percorridas por uma pessoa que inten-
ciona agredir o policial (identificar, decidir e agir).

Proporcionalidade – o nível da força utilizado deve sempre ser compatível com


a gravidade da ameaça representada pela ação do opositor e com os objetivos
pretendidos pelo agente da lei.

Rapidez – fundamento da abordagem, que se caracteriza pela velocidade com


que a ação policial é processada, garantindo a “surpresa” por parte do abordado,
diminuindo-lhe suas possibilidades de reação.

Resistência ativa sem agressão física – resistência por parte do abordado que
reage fisicamente, com o objetivo de impedir a ação legal, contudo, não agride e
nem direciona ameaças ao policial.

Resistência ativa com agressão não letal – resistência por parte do abordado
agredindo os policiais ou pessoas envolvidas na intervenção, contudo, tais agres-
sões, aparentemente, não representam risco de morte.

Resistência ativa com agressão letal – resistência por parte do abordado que
utiliza de agressão, que põe em perigo de morte o policial ou as pessoas envol-
vidas na intervenção.

114
Caderno Doutrinário 1
Resistência passiva – resistência por parte do abordado em que ele apenas
retarda a intervenção, não acata, de imediato, as determinações do policial, entre-
tanto não reage e nem o agride fisicamente.

Ricochetear – desvio da trajetória do projétil, após chocar-se contra determi-


nadas superfícies.

Risco – é a probabilidade de concretização de uma ameaça contra pessoa e bens.


É incerto, mas previsível.

Risco nível I – reduzida possibilidade de ocorrerem ameaças que comprometam


a segurança.

Risco nível II – real possibilidade de ocorrerem ameaças que comprometam a


segurança.

Risco nível III – concretização do dano ou decorrente do grau de extensão da


ameaça.

Segurança – fundamento da abordagem, que se caracteriza por um conjunto de


medidas adotadas pelo policial, para controlar, reduzir ou, se possível, eliminar os
riscos da intervenção.

Surpresa – fundamento da abordagem, que se caracteriza pela ação do policial,


não prevista pelo abordado, surpreendendo-o e reduzindo seu tempo de reação.

Suspeito – aquele que se apresenta duvidoso quanto ao seu modo ou maneira


de agir, inspirando no policial certa desconfiança ou opinião desfavorável.

Tática policial - arte de aplicar, com eficácia, os recursos técnicos de que se


dispõe ou de explorar as condições favoráveis, visando ao alcance de determi-
nados objetivos.

Técnica policial - conjunto dos métodos e processos relativos à execução da ati-


vidade policial.

Técnicas de menor potencial ofensivo - é o conjunto de procedimentos utili-


zados pelos policiais em intervenções que demandam o uso de força, de modo a
preservar vidas e minimizar danos à integridade das pessoas envolvidas.

115
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Unidade de comando - fundamento da abordagem, que se caracteriza pela


coordenação centralizada da intervenção policial, que garante o melhor planeja-
mento, a fiscalização e o controle.

Uso diferenciado de força – processo dinâmico e escalonado das possibilidades


do emprego de força, podendo aumentar ou diminuir, diante de uma potencial
ameaça a ser controlada, e de acordo com as circunstâncias em que se dão a inter-
venção policial.

Varredura – verificação policial em um determinado espaço físico.

Verbalização policial – é o uso da comunicação oral, com entonação apropriada


e o emprego de termos adequados, que sejam facilmente compreendidos.

Violência policial – ação arbitrária, ilegal, ilegítima, amadora, ou que utiliza,


excessivamente, a força.

Visão em túnel – é a convergência da visão do policial para um determinado


ponto, proporcionando a sua vulnerabilidade quanto a outros ambientes.

Vítimas – pessoas que, individual ou coletivamente, sofreram danos, inclusive


sofrimento físico, mental ou emocional, perdas econômicas ou violações subs-
tanciais de seus direitos fundamentais, mediante atos ou omissões, que cons-
tituem transgressão das leis criminais e das que proíbem o abuso criminoso de
poder.

116
REFERÊNCIAS
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