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RESOLUÇÃO N.º 4116, DE 08 DE NOVEMBRO DE 2.010.

Aprova o Caderno Doutrinário 3 – Blitz


policial.

O COMANDANTE-GERAL DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS, no


uso das atribuições que lhe são conferidas pelo inciso I, alínea I do artigo 6°, item V, do
Regulamento aprovado pelo Decreto n° 18.445, de 15Abr77 – (R-100), e à vista do
estabelecido na Lei Estadual 6.260, de 13Dez73, e no Decreto n° 43.718, de 15Jan04,
RESOLVE:

Art. 1° Aprovar o Caderno Doutrinário 3 – Blitz policial.

Art. 2° Esta Resolução entra em vigor no ato de sua publicação

Art. 3° Revogam-se as disposições em contrário.

QCG em Belo Horizonte, 08 de novembro de 2.010

(a) RENATO VIEIRA DE SOUZA, CORONEL PM


COMANDANTE-GERAL
Caderno Doutrinário 3

Blitz Policial
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA
Caderno Doutrinário 3

blitz POLICIAL
Missão

Assegurar a dignidade da pessoa humana, as liberdades e os


direitos fundamentais, contribuindo para a paz social e para
tornar Minas o melhor Estado para se viver.

Visão

Sermos excelentes na promoção das liberdades e dos direitos


fundamentais, motivo de orgulho do povo mineiro.

Valores

a) Respeito aos direitos fundamentais e Valorização das pes-


soas.

b) Ética e Transparência.

c) Excelência e Representatividade Institucional.

d) Disciplina e Inovação.

e) Liderança e Participação.

f ) Coragem e Justiça.
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA
Caderno Doutrinário 3

blitz POLICIAL

Belo Horizonte
2010
Direitos exclusivos da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG)

Reprodução proibida – circulação restrita.

Comandante-Geral da PMMG: Cel.PM Renato Vieira de Souza


Chefe do Gabinete Militar do Governador: Cel.PM Luis Carlos Dias Martins
Chefe do Estado-Maior: Cel.PM Márcio Martins Sant´ana
Comandante da Academia de Polícia Militar: Cel.PM Fábio Manhães Xavier
Chefe do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação: Ten.-Cel.PM Antônio L. Bettoni da Silva
Tiragem: 2.000

MINAS GERAIS. Polícia Militar de. Blitz Policial - Belo Horizonte:

M663b Academia de Polícia Militar, 2010.

92 p. (Prática Policial Básica. Caderno Doutrinário 3)

1. Abordagem policial. 2. Abordagem a veículo. 3.Técnica e tática policial militar. 4.


Equipamentos policiais. I. Título II. Série

CDU 351.746

CDD 352.935

Ficha catalográfica: Rita Lúcia de Almeida Costa – CRB – 6ª Reg. n.1730

ADMINISTRAÇÃO:

Centro de Pesquisa e Pós Graduação


Rua Diábase 320 – Prado
Belo Horizonte – MG
CEP 30410-440
Tel.: (0xx31)2123-9513
Fax: (0xx31) 2123-9512
E-mail: cpp@pmmg.mg.gov.br
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIT Auto de Infração de Trânsito
BO Boletim de Ocorrência
BOS Boletim de Ocorrência Simplificado
BPM Batalhão de Polícia Militar
CEPOLC Central de Operações da Polícia Civil
CG Comando-Geral
CICOp. Centro Integrado de Comunicações Operacionais
Cmt. Comandante
CP Código Penal
CPCia. Coordenador de Policiamento da Companhia
CPP Código de Processo Penal
CPU Coordenador de Policiamento da Unidade
CRLV Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo
CTB Código de Trânsito Brasileiro
DEPM Diretriz de Educação de Polícia Militar
DIAO Diretriz Auxiliar das Operações
DPSSP Diretriz para a Produção de Serviços de Segurança Pública
EAL Encarregados da Aplicação da Lei
HT Hand Talk (Rádio Transceptor Portátil)
IMPO Instrumentos de menor potencial ofensivo (armas, munições e equipamentos)
LCP Lei das Contravenções Penais
PAC Patrulha de Atendimento Comunitário
Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela
PBUFAF
Aplicação da Lei
PEPRACO Plano Especial de Prevenção e Repressão de Assalto a Coletivos
PMAmb. Polícia Militar Ambiental
PMMG Polícia Militar de Minas Gerais
POP Patrulha de Operações
PPA Patrulha de Prevenção Ativa
ROTAM Rondas Táticas Metropolitanas
RPM Região de Polícia Militar
SEDS Secretaria de Estado de Defesa Social
TM Tático-Móvel
Vtr. Viatura
ZQC Zona Quente de Criminalidade
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

1 APRESENTAÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2 CONCEITO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

2.1 Blitz policial – categorias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

2.2 Procedimentos operacionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

3 PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

3.1 Pessoal e logística. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

3.2 Distribuição de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

3.3 Montagem do dispositivo (boxes) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3.4 Vias Públicas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

3.5 Padrões de procedimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

3.5.1 Montagem do dispositivo com dois policiais e uma viatura. . . . . . . . . . . . . . . . 31

3.5.2 Montagem do dispositivo com três policiais e uma viatura. . . . . . . . . . . . . . . . . 34

3.5.3 Montagem do dispositivo com cinco policiais e duas viaturas. . . . . . . . . . . . . . . 37

3.6 Comunicações operacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

3.7 Busca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

3.8 Procedimento para utilização do etilômetro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

3.9 Evasão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.10 Emprego de armas de fogo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

4 PROCESSO DE COMUNICAÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

4.1 Sinalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

4.2 Verbalização policial durante a blitz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

4.2.1 Linguagem policial face ao comportamento do abordado. . . . . . . . . . . . . . . . . 63

4.2.1.1 Abordado cooperativo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

4.2.1.2 Abordado resistente passivo ou ativo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

4.3 Procedimentos específicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .71

4.3.1 Abordagem a autoridades. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

4.3.2 Procedimento policial diante de tentativa de corrupção . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

4.4 Orientações gerais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

5 SITUAÇÕES ESPECÍFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

5.1 Abordagem a motocicletas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

5.2 Blitz noturna. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

Anexo “A” – Modelo de Relatório do Comandante da Operação. . . . . . . . . . . . . . . . . 85

Anexo “B” – Modelo de Relatório da Supervisão da Operação . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

REFERÊNCIAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
SEÇÃO 1

APRESENTAÇÃO
Caderno Doutrinário 3
1 APRESENTAÇÃO

O policial militar representa o Estado, sendo a ele outorgado poder legal para
agir por meio de intervenções voltadas para a promoção, a prevenção e a
repressão em segurança pública. A sociedade que legitima esse poder espera,
em contrapartida, ética, legalidade e competência nas ações desses profissio-
nais.

O escopo doutrinário apresentado no álbum Prática Policial Básica objetiva


fornecer respaldo à prática profissional e, por isso, é ponto norteador das ações
e operações desencadeadas pelos policiais. Este Caderno Doutrinário 3 – Blitz
Policial é o resultado de uma construção teórica, elaborada a partir de labo-
riosa pesquisa e estudos do cotidiano operacional.

Embora as operações do tipo blitz sejam frequentemente realizadas nas uni-


dades operacionais da Instituição, a falta de uniformidade na sua condução
tem dificultado o alcance de seus objetivos e, por isso, geram desgastes para
o policial e para a imagem da Instituição. Devido à ausência de planejamento
ou do correto emprego da técnica e da tática policiais, muitos militares podem
colocar em risco a sua vida e a de outras pessoas.

Durante o período de elaboração deste Caderno, foram colhidas, analisadas e


utilizadas sugestões e contribuições1 enviadas por policiais de todas as Regiões
da Polícia Militar (RPM) do Estado de Minas Gerais. As valiosas manifestações,
além de reconhecerem a importância do assunto em pauta e demonstrarem
o anseio dos policiais por uma doutrina padronizadora de ações, permitiram
estruturar e elaborar um trabalho que contempla as necessidades e as reali-
dades dos grandes centros e dos destacamentos das pequenas cidades, cujas
disponibilidades de policiais e de recursos diferem-se substancialmente.

O Caderno Doutrinário 3 - Blitz Policial traz orientações para o planejamento,


a distribuição de policiais, viaturas e equipamentos nas vias públicas, em ope-
rações desta natureza. Sua leitura deve ser, obrigatoriamente, precedida do
Caderno Doutrinário (CD) 1 (Intervenção Policial, Verbalização e Uso de Força)
e do CD 2 (Tática Policial, Abordagem a Pessoas e Tratamento às Vítimas) e

1 Sugestões enviadas através da rede interna de informações da PMMG denominada Intranet.

11
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

complementadas pela leitura do CD 4 (Abordagem a Veículos) e do CD 5 (Cerco,


Bloqueio e Interceptação).

A seção 2 introduz o tema por meio da conceituação de blitz policial


e distingue seus diferentes níveis em função dos objetivos, e as categorias,
com base na estrutura logística e no aparato policial necessários para cada situ-
ação, bem como os respectivos procedimentos operacionais.

Na seção 3, são apresentadas as variáveis que devem ser consideradas


na fase de planejamento de uma blitz policial além de orientações e proce-
dimentos importantes que devem ser observados em sua execução, a saber:
descrição das funções e responsabilidades de cada integrante envolvido na
operação; orientações para a montagem do dispositivo, em função de suas
diferentes categorias; embasamento legal para realizar a busca veicular; reco-
mendações para atuar em caso de evasão da blitz pelo condutor, e a forma
correta de empregar a arma de fogo.

A seção 4 aborda o tema verbalização policial aplicada às operações


dessa natureza, enfatizando a importância do processo da comunicação para
o alcance dos objetivos pretendidos. Considerações teóricas são complemen-
tadas por sugestões de diálogos diante dos diversos tipos de comportamento
do abordado e em situações específicas de abordagem a autoridades.

Os conteúdos tratados nas seções anteriores são retomados na seção


5, considerando algumas situações peculiares que podem ocorrer no decorrer
de operações policiais do tipo blitz, tais como abordagem a motocicleta (tipo
de intervenção que vem ganhando cada vez mais destaque no cotidiano ope-
racional) e blitz noturna.

E, por fim, há que se ressaltar que vários assuntos tratados aqui serão
complementados e aprofundados nos demais Cadernos Doutrinários que com-
põem esse álbum Prática Policial Básica, principalmente nos Cadernos Dou-
trinários 4 e 5 que tratam, respectivamente, de Abordagem a Veículos e Cerco
e Bloqueio e Interceptação.

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SEÇÃO 2

CONCEITOS
Caderno Doutrinário 3
2 CONCEITO

Operação Policial2 do tipo blitz é uma interrupção parcial e temporária, do fluxo


de pessoas ou veículos em vias urbanas, rurais e rodoviárias, por meio de sinali-
zação física, visual e sonora, para abordar veículos e seus ocupantes, realizando
checagens e vistorias em geral.

Pode ser executada por uma equipe composta somente por policiais militares
ou por policiais militares em conjunto com os integrantes de diversos órgãos,
conforme o tipo de policiamento envolvido, tais como:

• policiamento ostensivo geral – ênfase na identifi-


cação de pessoas procuradas, busca de armas, drogas,
veículos roubados, dentre outros;

• trânsito urbano e rodoviário - ênfase na verificação


de documentos e condições do condutor e do veículo;

• meio ambiente – ênfase na verificação de documentos


e fiscalização de transporte de produtos e animais prote-
gidos por legislação específica;

• apoio a fiscalizações realizadas por outros órgãos


(municipal, estadual e federal) - fazendárias, sanitárias,
dentre outros.

De acordo com os objetivos, as operações do tipo blitz policial se dividem em


três níveis3:

a) nível 1 - educativo: visa informar, orientar e conscientizar as pessoas sobre


temas de interesse público;

b) nível 2 - preventivo: visa realizar verificações após a ocupação prévia de


locais onde há incidência significativa ou a possibilidade de ocorrerem
infrações e delitos;

2 Operação policial: é a conjugação de intervenções, executadas por uma tropa ou suas frações constituídas, que exige planejamento
específico. Pode ter caráter estratégico, tático ou operacional, administrativo ou de treinamento, a ser desenvolvida por Comandos
Intermediários, Unidades, Subunidades ou outras frações isoladas ou em conjunto. Pode envolver, ainda, intervenções conjugadas de força
policial-militar, combinadas com outras forças, para o cumprimento de missões específicas, com a participação eventual de órgãos de apoio
da Corporação e de órgãos integrantes do Sistema de Defesa Social. (PMMG, 2009).

3 Os três níveis de blitz correspondem aos três níveis de intervenção policial, descritos na seção 5 do Caderno Doutrinário 1.

15
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

c) nível 3 - repressivo: visa restaurar o quadro de tranquilidade pública, após


a constatação de prática de atos contrários à segurança.

Serão efetivadas por ações devidamente planejadas e coordenadas e, como


toda intervenção policial, tem como objetivo genérico servir e proteger a socie-
dade, preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio,
garantindo a vida, a dignidade e a integridade de todos4.

Atendendo ao princípio da universalidade5, na execução de uma operação do


tipo blitz, em qualquer nível, o policial pode se deparar com qualquer irregu-
laridade (penal ou administrativa) que, ainda que não seja o escopo primordial
da operação, nem a situação específica da atividade, a equipe deverá tomar
providências que o caso demandar.

ATENÇÃO! Os procedimentos específicos para ope-


rações tipo blitz policial de trânsito urbano e rodo-
viário, bem como meio ambiente, serão tratados nos
Cadernos Doutrinários referentes à prática policial
especializada, acrescidos do conteúdo deste Caderno
Doutrinário, no que for pertinente.

2.1 Blitz policial – categorias

A blitz policial poderá ser desencadeada em três categorias que se diferem


basicamente quanto à estrutura de pessoal e ao material necessário para a sua
execução (apoio logístico e aparato policial), conforme tabela 1.

4 Inciso V do artigo 144 da Constituição Federal Brasileira e Identidade Organizacional da PMMG.


5 O policiamento ostensivo se desenvolve para a preservação da ordem pública, tomada no seu sentido mais amplo. A natural, e às
vezes imposta, tendência à especialização, não constitui óbice à preparação do PM ser capaz de dar tratamento adequado aos diversos
tipos de ocorrências. Aos PM especialmente preparados para determinado tipo de policiamento, caberá a adoção de medidas, ainda que
as preliminares, em qualquer ocorrência policial-militar. O cometimento de tarefas policiais-militares específicas não desobriga o PM do
atendimento de outras ocorrências, que presencie ou para as quais seja chamado ou determinado. (PMMG. Diretriz para produção de
serviços em segurança pública nº 1 – Emprego da Polícia Militar de Minas Gerais na segurança pública).

16
Caderno Doutrinário 3
TABELA 1 – Previsão de efetivo, viaturas e armamento/equipamento na blitz policial

EFETIVO VIATURAS Armamento /


CATEGORIA
POLICIAIS 4 RODAS Equipamento
1 2 ou 3 1 Convencional e para balizamento da pista

2 4 ou mais 2 ou mais Convencional e para balizamento da pista

Específico, reforçado, incluindo o bloqueio


3 Mínimo 3 1*
de pista, se for o caso
*Serão acrescido de motocicletas, veículos blindados, apoio aéreo e outros reforços, conforme necessidade e complexidade da ocorrência.

A classificação em categorias das diversas estruturas não guarda vínculo direto


com os objetivos específicos de uma determinada operação do tipo blitz. A
mesma estrutura pode ser utilizada para diferentes objetivos.

Exemplo 1: pode ser realizada uma operação que exija uma estrutura cor-
respondente à categoria 2, envolvendo todo o efetivo de um pelotão, com
uma ou duas viaturas em apoio, realizando uma operação do tipo blitz de
caráter educativo (nível 1), por ocasião da semana do meio ambiente.

Exemplo 2: por outro lado, pode ser realizada uma operação do tipo blitz,
com estrutura correspondente à categoria 1, quando dois ou três policiais
de um destacamento no interior do Estado fazem a interrupção de uma
rodovia, utilizando uma viatura PM, com o objetivo de capturar fugitivos
de uma cadeia pública de um município vizinho (nível 3).

Da mesma maneira, os objetivos inicialmente planejados (educativo, preven-


tivo ou repressivo), poderão variar, ainda que temporariamente, em função
dos riscos que se apresentarem no desenvolvimento da operação, podendo
implicar até mudança de categoria, mediante reforço logístico e de efetivo poli-
cial.

Exemplo 3: alteração de nível de risco – durante uma blitz preventiva, com


estrutura correspondente à categoria 1 ou 2, os policiais constatam entre
os ocupantes do veículo, que um deles porta, ilegalmente, arma de fogo
e tem prontuário por prática criminosa. Isto determinará a mudança ime-
diata do estado de prontidão (laranja para vermelho) e o correspondente
nível de força aplicado.

Exemplo 4: alteração de categoria em função do nível de risco - instalada


uma operação com estrutura correspondente à categoria 2, voltada para

17
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

a fiscalização de trânsito rodoviário, de caráter preventivo, é noticiado via


rede-rádio, um assalto a banco com tomada de reféns, sendo o local da
blitz uma possível rota de fuga. A operação poderá migrar para a categoria
3 e assumir caráter repressivo, caso receba reforço de pessoal e de logística
(tropa especializada, equipamentos de bloqueio de via, dentre outros).

2.2 Procedimentos operacionais


Nessas operações do tipo blitz, a equipe responsável deve adotar as seguintes
orientações:

a) durante a operação, manter-se no estado de atenção (amarelo). Esteja


precavido e considere que a sua segurança deve ser priorizada, tanto em
relação ao fluxo do trânsito, quanto a uma possível reação por parte do
abordado ou de outras pessoas no veículo. Use sempre os equipamentos
de segurança;

b) no momento da abordagem, esteja no estado de alerta (laranja) e consi-


dere as etapas da avaliação de riscos e o quarteto do pensamento tático.
Identifique quais as ações de respostas para o caso de uma ameaça e qual
nível de força será necessário. Identifique, preliminarmente, os possíveis
locais de abrigo que sejam facilmente acessíveis e próximos ao local da
intervenção (ver Caderno Doutrinário 1);

c) procure atuar sempre privilegiando a segurança da equipe, evitando


abordar veículos com quantidade de ocupantes adultos em número supe-
rior ao de policiais na operação (inclusive motocicletas);

d) caso ocorra a parada de um veículo com número de ocupantes adultos


superior ao de policiais e ainda estejam presentes outros fatores da análise
de risco que indiquem falta de segurança para a guarnição PM seguir na
intervenção, é recomendável liberar imediatamente o veículo sem abordá-
-lo, e recorrer a outros procedimentos técnicos e táticos, como apoio de
outras guarnições ou cerco e bloqueio, para que a ação de resposta seja
efetiva. Tal procedimento traduz-se em profissionalismo, com ênfase na
segurança da equipe e não em fragilidade da equipe;

e) se, em função da segurança da equipe, optar pela liberação do veículo,


alerte ao Centro Integrado de Comunicação Operacional (CICOp.) ou
correspondente, sobre o ocorrido, transmitindo os dados (local, caracte-
rísticas do veículo/ocupantes e rota de deslocamento), para uma possível
abordagem posterior por uma guarnição PM reforçada;

18
Caderno Doutrinário 3
f) no caso específico de operação categoria 1, não aborde 2 (dois) veículos ao
mesmo tempo;

g) caso ocorra alguma eventualidade relevante, atualize rapidamente sua


avaliação de risco e decida por continuar a abordagem, ou não, e pedir
reforços;

h) nos casos de fuga, a operação será mantida no local e um integrante da


equipe deverá repassar as informações ao CICOp. ou correspondente, via
rede-rádio, sobre o ocorrido, transmitindo os dados (local, características
do veículo/ocupantes e rota de deslocamento), para fins de rastreamento
e abordagem, com maior segurança, por policiais de outras viaturas (ver
Evasão – seção 3).

i) operação cerco, bloqueio e interceptação (ver Caderno Doutrinário 5):


trata-se de uma intervenção policial de nível 3 e, ao mesmo tempo, aplica
a estrutura da categoria 3. Nesses casos, existe uma probabilidade maior
de resistência por parte dos abordados. Dessa forma, os policiais devem
considerar a hipótese do uso de força em níveis mais elevados, perma-
necendo no estado de prontidão adequado (estado de alerta – laranja,
ou alarme - vermelho), conforme avaliação de riscos, para garantir uma
resposta de polícia adequada e, ao mesmo tempo, a segurança da equipe
e a de terceiros. (Ver Caderno Doutrinário 1).

19
SEÇÃO 3

PLANEJAMENTO E
DESENVOLVIMENTO
Caderno Doutrinário 3
3 PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

A blitz policial deve ser precedida de planejamento elaborado pela Seção


de Operações da RPM, CPE, UEOp., Seção de Operações da Unidade (SOU) ou
Comandante da Fração (nos diversos níveis), por meio de ordens de serviço ou
outros instrumentos, nos quais estejam presentes todos os aspectos que, direta
ou indiretamente, venham contribuir para o sucesso da operação.

O local e o horário de instalação da blitz policial são aspectos importantes a


serem observados no planejamento da operação. O local não pode ser esco-
lhido aleatoriamente. Deve ser definido a partir de dados obtidos na análise
criminal e em conformidade com as metas estabelecidas, tomando-se por base:

• a segurança da via;

• as condições de tráfego (aclives, declives, curvas,


pontes, cruzamentos, túneis e viadutos);

• a visibilidade e iluminação do local;

• os índices de criminalidade no local;

• o tipo de veículo a ser parado e abordado conforme


o objetivo da operação, principalmente em relação ao
horário. Exemplos: táxi, ônibus, motocicleta, etc;

• o objetivo principal a ser atingido de acordo com a


característica da operação;

• a possibilidades de evasão (rotas de fuga);

• a necessidade de apoio de outros órgãos públicos ou


privados;

• a interferência no fluxo de trânsito;

• a proximidade de locais de risco (ZQC)6.

6 Zona Quente de Criminalidade: local onde, estatisticamente, ocorre concentração de crimes violentos.

23
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Se o local e horário escolhidos para a execução da operação influenciarem no


desenvolvimento normal do tráfego, tornando-o intenso, devido ao estrangu-
lamento do fluxo de veículos, deverá ser avaliada a possibilidade de realizar a
operação em local e horário diversos, sem contudo perder o foco e o objetivo
principal da operação.

ATENÇÃO! Em caso de operações que necessitam ser


montadas em vias, rodovias ou locais de grande fluxo
de veículos pesados, elas deverão ser precedidas de
rigorosa análise de riscos, observada a segurança
dos policiais e do tráfego da via (Ver procedimentos
operacionais específicos tratados nos Cadernos Dou-
trinários referentes à prática policial especializada de
trânsito).

Caso o comandante da operação decida pela alteração do local e do horário,


solicitará autorização ao coordenador do policiamento, dará ciência à Sala de
Operações da Unidade e fará constar no relatório quais os fatores que contribu-
íram para a tomada de tal decisão, remetendo-o à Seção de Operações para pla-
nejamentos posteriores. Deverão ser consideradas as etapas da avaliação de
riscos e priorizar o quesito “segurança” dos policiais e do público (ver Caderno
Doutrinário 1).

Em caso de condições climáticas adversas, a operação será adiada ou cance-


lada, pois nessa situação, o quesito segurança poderá ser comprometido, pela
dificuldade de visibilidade, pela frenagem e pela possibilidade da ocorrência de
acidentes de trânsito. Nesses casos, é recomendável que o efetivo da operação
permaneça em patrulhamento nas imediações do local e cumpra parcialmente
os objetivos estabelecidos.

O PM Comandante evitará a longa permanência em um mesmo local. O tempo


previsto para a execução da blitz policial deverá ser o suficiente para alcançar
o objetivo sem comprometer a qualidade das operações policiais. Esse tempo
poderá ser definido de forma diversa mediante determinação do setor de
planejamento do Comando da Região ou da Unidade respectiva. Conforme a
avaliação feita pelo PM Comandante da operação no local, esse tempo poderá
ser redefinido desde que anunciado ao CICOp. ou correspondente.

24
Caderno Doutrinário 3
Durante o Treinamento Tático7, serão transmitidas todas as informações e orien-
tações aos policiais envolvidos, de acordo com os objetivos e as características
de cada operação.

3.1 Pessoal e logística

a) Efetivo: de acordo a função das categorias de cada operação, definidos na


seção 2;

b) Viaturas: de 4 (quatro) ou 2 (duas) rodas, na quantidade definida, conforme


a categoria da operação;

c) Armamentos e equipamentos:

• armas de porte para todos os policiais;

• arma portátil com bandoleira para o PM Segurança,


quando disponível;

• rádios portáteis – HT, quando disponível;

• coletes balísticos para os policiais;

• coletes refletivos ou japona dupla-face com faixas


refletivas;

• instrumentos de menor potencial ofensivo (armas,


munições e equipamentos), quando disponíveis;

• etilômetro, quando disponível;

d) Acessórios:

• cones de sinalização (mínimo de oito cones);

• cavalete de sinalização, quando disponível;

• apitos de trânsito;

7 Treinamento realizado em chamadas de lançamento de turno conforme Diretrizes da Educação de Polícia Militar (DEPM)

25
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

• pranchetas, caneta e papel para anotações;

• planilha para registro da relação de veículos e dos con-


dutores;

• bloco de Auto de Infração de Trânsito (AIT);

• lanternas (mesmo durante o dia) para vistoria no veí-


culo;

• fita zebrada;

• luz sinalizadora;

• kit de biossegurança.

3.2 Distribuição de funções

Para melhor entendimento e detalhamento das ações, são atribuídas funções


específicas aos policiais envolvidos na operação:

a) PM Comandante: é o militar de maior posto ou graduação ou o mais


antigo, responsável direto pela coordenação e controle da operação. Faz
cumprir o planejamento, orienta a equipe para que sejam atingidos os
resultados propostos e corrige as falhas que porventura possam ter ocor-
rido. É o responsável pelas comunicações via rede-rádio e pela definição
das funções de cada um dos policiais, dentre elas, quem será o responsável
pelo Box de Registro;

b) PM Selecionador: é o policial responsável por “escolher” os veículos que


serão vistoriados e fiscalizados, de acordo com os objetivos da operação.
Estará com a atenção voltada para o trânsito e para o comportamento dos
condutores e, sinalizará através de gestos e silvos de apito, previstos no
Código de Trânsito Brasileiro, para que transitem em velocidade de segu-
rança, para onde o veículo deverá seguir ou em qual local estacionar no
caso de vistoria;

c) PM Vistoriador: é quem procede à abordagem e mantém contato visual e


verbal com o condutor do veículo e seus passageiros. Deve ser firme e edu-

26
Caderno Doutrinário 3
cado no momento da abordagem, transmitindo segurança e tranquilidade,
atuando em conformidade com os preceitos da verbalização policial e dos
princípios e critérios de emprego dos níveis do uso de força. É também o
policial encarregado de sinalizar para que os veículos vistoriados retornem
à corrente de tráfego (ver Caderno Doutrinário 1);

d) PM Segurança: é o policial responsável pela integridade e segurança dos


componentes da equipe. Sua posição não é fixa no dispositivo, varia de
acordo com a quantidade de policiais envolvidos e o tipo de via em que
a operação é realizada. Mantém escuta ininterrupta da rede-rádio. Poderá
utilizar arma portátil, dotada de bandoleira, de acordo com a situação.

ATENÇÃO! Um policial poderá acumular duas ou mais


funções descritas no item anterior, conforme a cate-
goria da operação blitz, os objetivos a se atingir, ou
devido ao número de policiais integrantes da equipe.

3.3 Montagem do dispositivo (boxes)

Na montagem do dispositivo, de acordo com o nível da intervenção, serão pre-


vistos locais, denominados Box de Abordagem e Box de Registro, destinados
para a atuação dos policiais.

O Box de Abordagem é o local demarcado na via de trânsito, por meio de


sinalização física, pelo posicionamento de viaturas, pela utilização de cones ou
cavaletes, para onde os policiais direcionarão os veículos que serão abordados.

Após a verificação do veículo, caso nenhuma irregularidade seja constatada, o


condutor será liberado do Box de Abordagem pelo PM Vistoriador e retor-
nará à via de trânsito, observando-se todas as regras de segurança (fluxo de
veículos e pedestres).

No caso de o PM Vistoriador detectar alguma irregularidade que exija a


adoção de providências imediatas, deverá encaminhar o condutor e o veículo
para o Box de Registro, local definido na via para efetuar, dentre outros, as

27
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

autuações de trânsito, o registro de ocorrências, as retenções e as remoções de


veículo, apreensões e prisões de infratores, se for o caso. Nesses casos, deverá
ser aumentada a atenção em relação ao veículo para evitar evasão. Depen-
dendo da avaliação do risco e do tipo de infração constatada, como exemplo
uma visível embriaguez, na medida do possível, o veículo permanecerá parado
onde estiver e os registros serão feitos mesmo fora do Box destinado a esse fim.

Uma ou mais viaturas poderão ser acionadas para apoio ao Box de Registro,
nas situações de risco ou no acúmulo de registros de defesa social (REDS).

Nas operações de blitz policial – CATEGORIA 1, serão instalados 1 (um) Box


de Abordagem e 1 (um) Box de Registro. Nas operações de blitz policial –
CATEGORIA 2, poderão ser instalados 2 (dois) ou mais Boxes de Abordagem
e 1 (um) ou mais Boxes de Registro, analisando as condições de segurança,
de acordo com a avaliação de riscos, o número de policiais disponíveis e os
objetivos a serem atingidos.

O PM Comandante deverá observar permanentemente a organi-


zação do dispositivo da operação, primando sempre pela segurança de todos
(policiais, motoristas, passageiros, pedestres e veículos). Em caso de acúmulo
de pessoas no Box de Abordagem, o PM Selecionador deverá interromper
a parada de veículos enquanto o comandante da operação reorganizará os
espaços. Ocorrendo igual situação no Box de Registro, os motoristas e seus
veículos que aguardam as providências cabíveis devem ser encaminhados
para um local seguro próximo à blitz, fora do dispositivo, ficando as chaves dos
carros sob a guarda do policial responsável pelo prosseguimento da ocorrência.

3.4 Vias Públicas

As vias públicas, rurais ou urbanas, possuem pistas que são sujeitas às blitz
policiais.

Via é uma superfície por onde transitam veículos, pessoas e animais, compre-
endendo a pista, a calçada, o acostamento, ilha e canteiro central.

Vias rurais são estradas e rodovias.

28
Caderno Doutrinário 3
Vias urbanas são ruas, avenidas, vielas ou caminhos e similares abertos à circu-
lação pública, situados na área urbana, caracterizados principalmente por pos-
suírem imóveis edificados ao longo de sua extensão.

A faixa de rolamento corresponde ao corredor de tráfego com velocidade e


sentido (direção) definido por onde os veículos circulam. Uma pista pode ter
uma ou mais faixas, de acordo com sua largura.

A pista compreende parte da via, normalmente utilizada para a circulação


de veículo, identificada por elementos separadores por diferença de nível em
relação às calçadas, ilhas ou aos canteiros centrais.

As pistas podem ser classificadas como:

a) pista simples ou única: possui faixa(s) de rolamento com dimensões que


permitem a passagem de veículo em cada sentido de tráfego (único ou
duplo);

b) pista dupla: caracterizada pela presença de canteiro central ou outro tipo


de barreira física dividindo-a.

O local escolhido para realização de blitz policial deve permitir a montagem


da operação sem prejuízo substancial ao fluxo do trânsito, com atenção à segu-
rança dos policiais e à de terceiros, conforme avaliação de riscos.

3.5 Padrões de procedimentos

Durante a montagem do dispositivo da blitz, os policiais deverão dar especial


atenção quanto à segurança do fluxo de trânsito da via, dos transeuntes e da
própria equipe.

Importante ressaltar que, neste momento, o policial dispõe de condições favo-


ráveis ao contato e à interação com a população do local onde a operação está
sendo instalada, dentro dos princípios da polícia comunitária. Procure informar
aos cidadãos residentes, ou que exerçam atividades comerciais nas proximi-
dades, sobre a importância e os benefícios da operação para a promoção da
segurança pública e da prevenção da criminalidade.

29
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

O policial não deve fornecer dados de caráter reservado que possam ser prejudi-
ciais ao bom andamento do serviço, porém, pode prestar informações básicas,
simples e objetivas sobre a duração do empenho e a finalidade da operação.
Tais ações servem como forma de estreitar os laços entre a PM e a comunidade
local, demonstrando educação e cordialidade, porém sem permitir a aglome-
ração de pessoas no local de realização da blitz.

A distribuição dos materiais e do efetivo na via pública obedecerá ao previsto


nos croquis estabelecidos a seguir, contemplando também os procedimentos a
serem adotados por cada policial na operação, de acordo com sua função.

30
Caderno Doutrinário 3
3.5.1 Montagem do dispositivo com dois policiais e uma viatura

FIGURA 1 – Dispositivo com dois policiais e uma viatura – uma faixa

31
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

FIGURA 2 – Dispositivo com dois policiais e uma viatura – duas faixas

32
Caderno Doutrinário 3
Montado o dispositivo, o PM Selecionador postado à retaguarda dos cones 4
e 5, sinalizará para o veículo e o orientará a seguir para o Box de Abordagem
(ver figuras 1 e 2).

O PM Comandante, que está sobre o passeio ao lado do cone 7, fará o veículo


parar próximo desse cone.

Após a parada, o PM Comandante se deslocará para a retaguarda do veículo,


ficará sobre o passeio e passará a atuar, também, como PM Segurança.

O PM Selecionador deslocará o cone 5 diagonal ao cone 4, fechando a entrada


do Box de Abordagem. Nesse momento, passará a atuar como PM Vistoriador,
se aproximará do condutor pela esquerda, fará a abordagem e iniciará a vistoria.

Se houver necessidade de busca, esta será feita pelo PM Vistoriador, primeira-


mente em todos os ocupantes (ver Caderno Doutrinário 2), e depois no interior
do veículo (ver Caderno Doutrinário 4).

Encerrada a fiscalização, o PM Vistoriador orientará o tráfego para fazer o veí-


culo retomar ao seu deslocamento com segurança, olhando para a pista e sina-
lizando ao condutor para que siga em frente.

Assim que o veículo sair do Box de Abordagem, o PM Vistoriador recolocará


o cone 5 na posição descrita nas figuras 1 e 2 e retornará à sua posição inicial,
para novamente atuar como PM Selecionador.

33
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

3.5.2 Montagem do dispositivo com três policiais e uma viatura

FIGURA 3 – Dispositivo com três policiais e uma viatura – uma faixa

34
Caderno Doutrinário 3

FIGURA 4 - Dispositivo com três policiais e uma viatura – duas faixas

35
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Montado o dispositivo, o PM Selecionador, postado à retaguarda dos cones 4 e


5, sinalizará para o veículo, orientando-o a se dirigir para o Box de Abordagem
(ver figuras 3 e 4).

O PM Comandante, que está sobre o passeio ao lado do cone 7, no caso de


pista simples, e do cone 8, em pista dupla, fará o veículo parar próximo ao res-
pectivo cone.

Após a parada, o PM Comandante se deslocará para a retaguarda do veículo,


ficando sobre o passeio e passa a atuar também como PM Segurança.

O PM Selecionador deslocará o cone 5 diagonal ao cone 4, fechando a entrada


do Box de Abordagem, e permanecerá próximo ao cone 5, com a atenção vol-
tada para o trânsito e para a abordagem.

O PM Vistoriador, que se encontrava sobre o passeio no centro do Box de


Abordagem, contornará o veículo por trás, abordando o condutor e proce-
dendo à vistoria.

Se houver necessidade de busca, será feita pelo PM Vistoriador, primeira-


mente em todos os ocupantes (ver Caderno Doutrinário 2) e depois no veículo
(ver Caderno Doutrinário 4).

Encerrada a fiscalização, o PM Vistoriador orientará o tráfego, fazendo o veí-


culo retomar seu deslocamento tão logo as condições estejam seguras, olhando
para a pista e sinalizando ao condutor para que siga em frente.

Assim que o veículo sair do Box de Abordagem, o PM Selecionador recolocará


o cone 5 em sua posição inicial, conforme apresentado nas figuras 3 e 4, e ficará
pronto para selecionar outro veículo.

36
Caderno Doutrinário 3
3.5.3 Montagem do dispositivo com cinco policiais e duas viaturas

FIGURA 5 – Dispositivo com cinco policiais e duas viaturas – uma faixa

37
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

FIGURA 6 – Dispositivo com cinco policiais e duas viaturas – duas faixas

38
Caderno Doutrinário 3
Montado o dispositivo, o PM Selecionador, postado à retaguarda dos cones 4
e 5, sinalizará para o veículo e o orientará para o Box de Abordagem (figuras
5 e 6).

O PM Comandante, que está sobre o passeio ao lado do cone 8 fará o veículo


parar próximo desse cone.

O PM Comandante se deslocará para a retaguarda do primeiro veículo, ficando


sobre o passeio e atuando como PM Segurança do PM Vistoriador do Box de
Abordagem 1.

O PM Vistoriador do Box de Abordagem 1 contornará o veículo por trás, abor-


dando o condutor e procedendo à vistoria.

O PM Vistoriador do Box de Abordagem 2 permanecerá no passeio, aguar-


dando o próximo veículo.

O PM Segurança permanecerá no passeio (ou em outra posição mais ade-


quada) com a atenção voltada para os dois Boxes de Abordagem, bem como
para todo o perímetro da operação.

O PM Selecionador sinalizará para um segundo veículo e o orientará para a


entrada no Box de Abordagem 2.

O PM Vistoriador do Box de Abordagem 2 fará o balizamento para a parada


do segundo veículo, de modo que este pare a aproximadamente 3 (três) passos
do primeiro.

O PM Selecionador deslocará o cone 5 para a diagonal ao cone 4, fechando a


entrada dos Boxes de Abordagem; permanecendo próximo ao cone 5 com a
atenção voltada para o trânsito e para a abordagem do veículo.

O PM Vistoriador do Box de Abordagem 2 contornará o segundo veículo por


trás, abordando o condutor e procedendo à vistoria.

Se houver necessidade de busca, esta será feita pelo PM Vistoriador; primeiro


em todos os ocupantes (ver Caderno Doutrinário 2) e depois no veículo (CD 4).

39
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Encerrada a fiscalização, o PM Vistoriador orientará o condutor que foi abor-


dado, para fazer com que o seu veículo retorne à faixa de rolamento em segu-
rança. Verificará, através de contato visual com o PM Selecionador, as condi-
ções do fluxo de tráfego e, no melhor momento, sinalizará para que o condutor
siga em frente.

Assim que o veículo sair do Box de Abordagem, o PM Selecionador recolocará


o cone 5 em sua posição inicial, conforme apresentado nas figuras 5 e 6, e sele-
cionará outro veículo.

3.6 Comunicações operacionais

Montado o dispositivo, o PM Comandante comunicará, via rede-rádio, ao


Centro Integrado de Comunicação Operacional (CICOp.) ou correspondente e
ao Coordenador de Policiamento da área de atuação, o local, horário de início,
efetivo e objetivo da operação.

O PM Comandante deverá ainda avaliar se o local escolhido para a montagem


do dispositivo interfere na qualidade das transmissões, a fim de evitar preju-
ízos das ações, principalmente aquelas relacionadas à segurança. Constatada a
falha na comunicação via rede-rádio, transferir a operação para outro local em
condições ideais.

O PM Segurança deverá manter escuta ininterrupta das comunicações opera-


cionais, de modo a captar informações importantes para a segurança do pes-
soal empregado, tais como: notificação sobre veículos roubados ou furtados,
veículos que se evadiram de outras intervenções policiais ou sobre envolvidos
em crimes. Essas informações serão repassadas, de imediato, a todos os mili-
tares envolvidos na operação.

As comunicações administrativas que dispensem urgência, como o registro de


ocorrências, a relação de pessoas e de materiais apreendidos, a solicitação de
reboque, dentre outras, serão realizadas com o CICOp.. ou correspondente, pre-
ferencialmente, via telefone, para não sobrecarregar as comunicações na rede-
-rádio.

40
Caderno Doutrinário 3
Eclodindo alguma situação adversa, como desobediência, resistência, tentativa
ou consumação de fuga, o PM Comandante cientificará, imediatamente, via
rede-rádio, o CICOp. ou correspondente e o Coordenador do policiamento, e
fornecerá informações para que as medidas de proteção sejam adotadas, como
o envio de unidades de apoio para o local, ou para que sejam implementadas
ações de cerco e bloqueio. No caso de detenções, estas deverão ser executadas
dentro dos parâmetros legais e com a preservação da integridade física e dig-
nidade do detido8.

O cuidado e a serenidade são essenciais ao realizar as comunicações na rede-


-rádio. Muitos exemplos de ações mal sucedidas, já divulgadas na PMMG, foram
decorrentes de informações incompletas ou inadequadas transmitidas por poli-
ciais de serviço. As mensagens alarmistas estimulam correria. Alardes em casos
como simples evasões de veículos já provocaram tensão exasperada e uso
inadequado de força, em situações não caracterizadas como crime, tais como
motoristas inabilitados ou sem documentação e outras infrações de trânsito.

Para essas situações de veículos em fuga, o PM Comandante da blitz comuni-


cará na rede-rádio as informações, seguindo uma sequência lógica a ser trans-
mitida:

− Atenção rede, atenção rede!

− Comunicação de veículo em fuga

− Veículo (marca, cor, modelo) evadiu da rua ..., sentido


...

− Veículo com 1 (2, 3 ...) ocupante(s)

(citar as características observadas dos ocupantes).

8 Conforme artigos 5º e 9º da Declaração Universal dos Direitos Humanos; artigos 4º, 5º e 7º da CADH (Convenção Americana de Direitos
Humanos); artigos 9º e 10 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos – PIDCP. Devem ser observadas, ainda, as prescrições
relativas à detenção e guarda de pessoas e uso da força que são descritas no Código de Conduta para os Encarregados pela Aplicação da
Lei – CCEAL.

41
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

ATENÇÃO! A disciplina nas comunicações por rádio é


responsabilidade compartilhada de todos os policiais
de serviço. Trata-se de requisito indispensável para
garantir a qualidade da informação transmitida e a
legalidade das ações realizadas. Não seja alarmista! A
segurança dos demais policiais depende do seu pro-
fissionalismo em comunicar-se pela rede-rádio.

O encerramento da blitz será realizado via rede-rádio ou por telefone (190),


devendo seu comandante comunicar ao CICOp. ou correspondente e ao coor-
denador do policiamento a finalização e os resultados alcançados.

Nas operações das Unidades Especializadas, deve-se atentar para a utilização


de um Rádio Portátil HT na frequência da área de atuação, além do acompanha-
mento da rede-rádio da unidade específica.

3.7 Busca

A realização de busca pessoal ou veicular na operação é uma decisão do poli-


cial quando vislumbrar uma fundada suspeita, observando-se a discricionarie-
dade e o pleno exercício de sua autoridade legal.

A fundada suspeita constitui em pressuposto e requisito necessário à busca vei-


cular e pessoal realizada durante a blitz policial. A disposição inserta no artigo
181 do Código de Processo Penal Militar (CPPM) com correspondência seme-
lhante no artigo 244 do Código de Processo Penal (CPP) determina a busca pes-
soal diante da existência de fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse
de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou
quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar9.

Conforme preconiza o artigo 180 do Código de Processo Penal Militar10, “a


busca pessoal consistirá na procura material feita nas vestes, pastas, malas e
outros objetos que estejam com a pessoa revistada e, quando necessário, no
próprio corpo”.
9 Artigo 244 do Decreto-Lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal).

10 Artigo 181 do Decreto-Lei nº 1.002, de 21 de outubro de 1969 (Código de Processo Penal Militar).

42
Caderno Doutrinário 3
O policial tem uma grande margem de análise subjetiva para identificar essas
situações. Não pode, entretanto, desprezar a existência de elementos concretos
e plausíveis para justificar uma busca. A decisão é tomada por meio do desen-
volvimento de competências, do tirocínio, da experiência e do discernimento
adquiridos pelo policial durante a sua carreira.

Procure ser discreto, oriente o cidadão, explique o que está fazendo, seja com-
preensivo e procure contornar os eventuais conflitos, sem descuidar-se de sua
segurança e dos seus companheiros.

Com a finalidade de manter a postura mais técnica quanto ao emprego de


armas e evitar a exposição desnecessária durante a operação, apenas o PM
Segurança deverá empunhar o armamento portátil, ou de porte, de forma
ostensiva. Ressalva-se que todo policial deve ter atenção especial ao princípio
da segurança e manter-se focado nos pontos de risco.

Após decidir pela realização da busca nos ocupantes no veículo, evite posicioná-
-los na pista de rolamento. Realize a busca de forma a evitar constrangimentos e
esteja atento às determinações do Caderno Doutrinário 2.

A busca veicular consiste na verificação interna e externa do veículo abordado,


por meio de revistas nos compartimentos suscetíveis a serem utilizados para
esconder objetos ilícitos. A busca estende-se a veículos automotores e a quais-
quer outros objetos que estejam com a pessoa, salvo se constituírem domicílio.
Veículos não são domicílios, por isso devem ser alvo de revistas toda vez que
houver fundada suspeita11.

A revista no veículo deverá ocorrer somente após o desembarque e a busca


pessoal de todos os ocupantes do veículo. É Iniciada pelo porta-malas, pros-
segue pela parte interna e finaliza-se na região do motor (se for o caso).

Esteja atento para as seguintes orientações e procedimentos a serem adotados


nas buscas veiculares:

a) antes de iniciar a revista no veículo, pergunte aos ocupantes se há objetos


de valor, carteira, talões de cheques, joias, entre outros. Se necessário, o
11 A abordagem em ônibus, caminhões, trailers, motocicletas será tratada no Caderno Doutrinário 4
Abordagem a Veículos.

43
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

policial recolherá os objetos na presença do proprietário, repassando-


-o em seguida. Deverá ser mantida a atenção para que o indivíduo não
acesse armas ocultas;

b) convide o condutor, outro ocupante ou uma testemunha para acompa-


nhar a busca. Inicie pela porta dianteira direita do veículo e solicite ao PM
Segurança que se mantenha atento;

c) solicite ao condutor que destranque e abra vagarosamente o porta-malas,


e proceda à busca, observando o assoalho, as laterais, qualquer indício de
pintura mal encoberta nos cantos, o compartimento do guarda-estepe,
entre outros;

d) para realizar a vistoria externa, inicie pela porta dianteira direita e, após,
a lateral traseira direita, traseira, lateral traseira esquerda, porta dianteira
esquerda, capô. Esteja atento para verificar:

• se existem avarias que indiquem a ocorrência de aci-


dente de trânsito recente;

• outras peculiaridades externas como o lacre rompido


da placa, contornos irregulares das perfurações da placa,
perfurações na lataria por disparos de arma de fogo,
entre outros.

e) com procedimento idêntico em todas as portas, ao começar pela dianteira


direita, a vistoria interna será realizada como segue:

• levante o vidro (se estiver abaixado), coloque uma


folha de papel atrás da numeração do chassi (gravada
no vidro), e confira o número existente com o do docu-
mento;

• abra a porta ao máximo e verifique nos cantos a exis-


tência, ou não, de pintura encoberta do veículo;

• balance levemente a porta para verificar, pelo barulho,


se existe algum objeto solto em seu interior;

• verifique se existe algum objeto escondido no forro das


portas. Siga o critério de bater com as mãos para escutar
• se o som é uniforme;

44
Caderno Doutrinário 3
• verifique o porta-luvas, quebra-sol, tapetes, embaixo
do banco, entradas de ar, cinzeiros, lixeiras, e todos os
compartimentos que possam esconder objetos ilegais;

• inicie a vistoria na parte interna traseira do veículo,


dividindo-a imaginariamente em lado direito e lado
esquerdo. Observe os assentos dos bancos, encostos,
assoalho, lateral do forro;

• saia para vistoriar o lado esquerdo e verifique o assento


do condutor em todo o seu compartimento (assoalho,
lateral, teto, atrás do assento);

• localize o número do chassi, confronte-o com a docu-


mentação e verifique se existem indícios aparentes de
adulteração;

• caso localize qualquer objeto ilícito no interior do veí-


culo, avise os demais policiais.

Deve-se proceder a busca com respeito ao patrimônio do abordado e com o devido


cuidado, para não danificar objetos ou partes do veículo, sendo que os materiais
retirados deverão ser recolocados no mesmo local, sempre que possível.

Caso haja necessidade de uma busca mais minuciosa, outros recursos poderão
ser acionados, se disponíveis, tais como emprego de cães farejadores.

FIGURA 7: Posicionamento a ser adotado no momento da vistoria veicular

45
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

3.8 Procedimento para utilização do etilômetro12

O teste em aparelho de ar alveolar pulmonar (etilômetro) é um dos recursos


utilizados para fins de aferição técnica se o condutor de um veículo automotor
encontra-se sob efeito de álcool em nível acima do permitido pela legislação
vigente. Caso o exame configure crime de trânsito, o policial deverá adotar
medidas administrativas (apreensão do veículo, confecção de AIT, recolhimento
da CNH) e criminais (prisão do condutor).

No caso de recusa do condutor a ser submetido ao teste de alcoolemia, a


infração poderá ser caracterizada mediante a obtenção de outras provas acerca
dos notórios sinais de embriaguez. Tais sinais deverão ser descritos na ocor-
rência ou em termo específico. O policial deverá registrar a recusa do condutor
em se submeter aos exames previstos no ordenamento jurídico e descrever os
sintomas que demonstram efeitos de álcool ou substância entorpecente, tais
como:

• envolveu-se em acidente de trânsito;

• declara ter ingerido bebida alcoólica (ou outra subs-


tância entorpecente);

• quanto à aparência, se o condutor apresenta sono-


lência, olhos vermelhos, vômito, soluços, desordem nas
vestes, odor de álcool no hálito;

• quanto à atitude, se o condutor apresenta agressivi-


dade, arrogância, exaltação, ironia, falante, dispersão;

• quanto à orientação, se o condutor apresenta desor-


ganização espacial e temporal (exemplo: não sabe onde
está, horário ou data);

• quanto à capacidade motora e verbal, se o condutor


apresenta dificuldade no equilíbrio, fala alterada.

Os procedimentos descritos neste item recepcionarão eventuais mudanças do


ordenamento jurídico.

12 Texto adaptado da Resolução do CONTRAN nº 206, de 20 de Outubro de 2006. Procedimentos específicos deverão ser observados por
meio dos documentos normativos expedidos pela PMMG.

46
Caderno Doutrinário 3
3.9 Evasão13

Durante a operação, situações de evasão podem ocorrer, geralmente, de três


maneiras diferentes:

a) Quem evitou a blitz

Ao visualizar a operação, o condutor pode evitar o bloqueio, simplesmente,


fazendo conversão na via anterior ao dispositivo policial. Nesse caso, se o poli-
cial perceber uma postura do condutor que mereça uma atenção especial, deve
transmitir as características que foram observadas do veículo, via rede-rádio,
para possível abordagem por outras viaturas. Evite mensagens com conteúdo
alarmista na rede. Procure mobilizar somente os policiais necessários para rea-
lizar a abordagem posterior. Alerte-os para procedimentos de segurança, mas
considere que pode ser apenas um condutor inabilitado.

Todavia, se ao visualizar a operação, o condutor evitar o bloqueio, evadir em


marcha a ré, atravessar o canteiro central ou cometer outra infração de trânsito,
deverão ser tomadas as seguintes providências e precauções:

• peça prioridade de comunicação e transmita as infor-


mações, via rede-rádio, com tranquilidade. Evite alar-
mismo que possa confundir e colocar em risco as outras
guarnições;

• mantenha a operação no mesmo local e não efetue


disparos de qualquer natureza. A tentativa de interceptar
o veículo por meio de disparos na direção dos pneus
e motor é uma prática perigosa e ineficiente, pois as
chances de êxito são mínimas, consideradas as condições
em que ocorrem, e a possibilidade de atingir uma pessoa
inocente é muito grande (vítima no porta-malas ou tran-
seuntes);

• atente para o fato de que a evasão pode estar atre-


lada a diversos fatores, inclusive condutor inabilitado ou
embriagado;

13 Devem ser observados, em paralelo, os procedimentos prescritos pela Instrução Geral nº 3005/90 EMPM, principalmente no que se
refere aos cuidados indispensáveis para a realização das perseguições e acompanhamentos.

47
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

• se possível, adote posteriormente os procedimentos


de Auto de Infração de Trânsito (AIT).

b) Quem não respeitou a ordem de parada

Esteja bem atento com esta situação. Se o condutor não respeitou a ordem de
parada e empreendeu fuga, a possibilidade de estar em conflito com a lei é
grande. Por isso, a equipe deve transmitir rapidamente as características do veí-
culo (local, direção de fuga, marca, modelo, cor, placa e características dos ocu-
pantes) para o CICOp. ou correspondente, no intuito de que sejam realizadas as
ações de cerco, bloqueio e interceptação, nas principais rotas de fuga e vias de
acesso do local. Nesses casos, as providências e precauções devem ser tomadas
conforme a alínea anterior, no que for pertinente.

c) Quem parou e resolveu fugir em seguida

Além de observar as orientações constantes do tópico anterior, neste caso, o


risco de atropelamento de militares da blitz é maior por ser uma atitude nor-
malmente inesperada por parte do condutor. Mantenha-se atento, mesmo que
o veículo abordado esteja parado e desligado.

Caso seja possível identificar antecipadamente esta predisposição do abordado


de fugir ou dizer que simplesmente não permanecerá no local (autoridades,
pessoas alcoolizadas, entre outros), todos os policiais deverão atentar para este
evento, interromper as abordagens realizadas e adotar posturas preventivas,
tais como:

• apoderar-se das chaves de ignição de maneira discreta


e rápida;

• reposicionar as viaturas policiais no dispositivo,


parando próximo dos para-choques do veículo abor-
dado;

• bloquear fisicamente a saída com veículos, cavaletes,


tambores, dentre outros;

• adotar as demais providências policiais que o caso


exigir (Auto de Resistência, AIT, prisão, entre outros).

48
Caderno Doutrinário 3
Diante de uma evasão ou agressão armada, os policiais deverão estar prontos
para rapidamente buscarem um abrigo, a fim de não serem atropelados ou
alvos dos disparos. A conduta apropriada é abrigar-se e, posteriormente, avaliar
o risco potencial (ver Caderno Doutrinário 1) de danos a terceiros no caso de
fogo cruzado entre agressor e policiais. As vidas dos policiais e dos cidadãos
sempre serão prioridade.

Esse tema será retomado de forma mais detalhada no Caderno Doutrinário 4 -


Abordagem a Veículos e CD 5 - Cerco, Bloqueio e Interceptação.

ATENÇÃO! Veículos que passam repetidamente ou


que estacionam voluntariamente nas proximidades
do local da blitz devem gerar suspeição. Os infratores
podem utilizar carros “escolta” para protegerem-se
da ação da polícia. Considere que o perigo também
pode vir de outro veículo diferente daquele que esta
sendo parado na pista pelo selecionador.

3.10 Emprego de armas de fogo

Durante as operações, os policiais devem ter cuidados especiais com o uso dife-
renciado de força, principalmente no que se refere à utilização de armas de
fogo (dissuasivo e disparo), quando o emprego dos demais níveis de força não
forem suficiente para solucionar a intervenção. Observando preceitos legais e
técnicos (ver Caderno Doutrinário 1), a utilização de armas de fogo durante a
blitz deverá seguir as seguintes orientações:

a) situação de normalidade (abordado cooperativo):

A pessoa abordada acata todas as determinações do policial durante a inter-


venção, sem apresentar resistência (Classificação de risco nível I).

Os policiais com armamento de porte deverão manter suas armas nos coldres,
em condições de serem sacadas quando necessário. Somente o PM Segurança

49
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

manterá o seu armamento em posição de arma localizada ou guarda baixa,


conforme a categoria da blitz e as características do local.

O PM responsável pela resposta imediata nos casos em que a situação se agrave


deverá ser qualquer membro da equipe que estiver em melhor posicionamento
tático e em condição de agir prontamente. É importante, portanto, que o PM
Segurança, considerando sua função específica, procure sempre a melhor
posição para prover a proteção da equipe.

b) situação de resistência passiva

A pessoa abordada não acata, de imediato, as determinações do policial, ou o


abordado opõe-se a ordens, reagindo com o objetivo de impedir a ação legal.
Contudo, não agride o policial nem lhe direciona ameaças (classificação de risco
nível II).

Caso seja necessário empregar controle de contato, essa reação deverá ser
do policial que estiver melhor posicionado e que possua maior domínio das
técnicas de defesa pessoal policial. Assim como na situação de normalidade,
somente o PM Segurança manterá o seu armamento em posição de arma loca-
lizada, guarda baixa ou guarda alta, conforme avaliação de risco. Os demais
deverão estar com as mãos livres para emprego de outros níveis de força e alge-
mação, se a situação se agravar.

c) situação de resistência ativa

Apresenta-se nas seguintes modalidades (Ver Classificação de risco nível III,


Caderno Doutrinário 1):

• Com agressão não letal

O abordado opõe-se à ordem agredindo os policiais ou


pessoas envolvidas na intervenção, contudo, tais agres-
sões, aparentemente, não representam risco de morte.

Exemplo: o agressor que desfere chutes contra o policial


quando este tenta aproximar-se para efetuar a busca pes-
soal.

50
Caderno Doutrinário 3
Em caso de reação do abordado que, em princípio, não
coloca em risco a vida dos policiais, a resposta imediata
será do PM que estiver mais próximo, ou em melhor
posicionamento tático. Apenas o PM Segurança
estará com a arma de fogo empunhada em condições
de uso. Desta forma, os demais policiais permanecerão
com as mãos livres para efetuarem a imobilização e alge-
mação do agressor.

• Com agressão letal

O abordado utiliza de agressão que põe em perigo de


morte o policial ou pessoas envolvidas na intervenção.
Exemplo: o agressor, empunhando uma faca, desloca-se
em direção do policial e tenta atacá-lo.

Neste caso, a resposta imediata será do PM Segurança,


que estará com a arma em pronta resposta. A primeira
reação dos policiais deve ser voltada para a preservação
de suas vidas e dos cidadãos, por isso, deverão procurar
abrigo e somente disparar quando presentes as condi-
ções elencadas na seção 6 sobre uso de armas de fogo do
Caderno Doutrinário 1.

Essas orientações são fundamentais para:

• evitar a demonstração desnecessária de força e a con-


sequente vulgarização do impacto desejado quando
todos os policiais retiram as armas do coldre e as empu-
nham, ou quando as apontam para o abordado;

• propiciar ao policial opções de uso diferenciado desse


nível de força aplicado a cada situação (arma na posição
1, 2, 3 ou 4) (ver Caderno Doutrinário 1);

• proporcionar a presença de policiais com as mãos livres


para ações (revistar, algemar, imobilizar, entre outros)
necessárias aos trabalhos da equipe;

• evitar o risco de disparo acidental quando existem


várias armas apontadas em um determinado local de
abordagem;

• evitar a possibilidade de fogo cruzado entre os compo-


nentes da equipe quando da eventual ação dos policiais,
disparando suas armas para se defenderem.

51
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Especial atenção deve ser dada quanto à direção dos disparos realizados contra
o agressor, bem como quanto às características técnicas do armamento e da
munição (calibre, potência e alcance) que é utilizado pelo PM.

O PM Segurança da blitz, caso seja necessário, poderá estar equipado com


uma arma portátil, dotada de bandoleira. Terá como benefício da utilização
desse armamento, o seu aspecto de impacto psicológico, inibindo uma possível
reação. A escolha desse armamento deve ser baseada nas suas características
técnicas de emprego, alcance útil e calibre da munição, obedecendo às restri-
ções de disparos principalmente no ambiente urbano.

Em relação às posições das armas 1, 2, 3 e 4, descritas na seção 7.2.3 sobre o uso


de arma de fogo, descritas no CD 1:

ATENÇÃO! Em relação às posições das armas 1, 2, 3 e 4, des-


critas no Caderno Doutrinário 1, na seção 7.2.3 sobre o uso
de arma de fogo, LEMBRE-SE SEMPRE:
ARMA LOCALIZADA: possibilidade de ruptura da norma-
lidade, sensação que a situação pode agravar-se – RISCO
NIVEL II;
ARMA EM GUARDA BAIXA OU ALTA: possibilidade de
risco à segurança do policial e terceiros (análise subjetiva)
– RISCO NIVEL II;
ARMA EM PRONTA RESPOSTA: está ocorrendo ameaça
real à segurança do policial e terceiros (percepção objetiva)
– RISCO NÍVEL III.

Em caráter complementar, proceder, conforme letra “e” da Seção 7.2.7 do


Caderno Doutrinário 1, no que for pertinente, como se segue:

Disparos de dentro da viatura policial em movimento ou contra veículos


em fuga: a regra é não atirar. Todavia, existem algumas circunstâncias em que
a vida do policial ou a de terceiros se encontra em grave e iminente risco, como
nos casos de atropelamentos ou acidentes intencionais provocados pelo veí-

52
Caderno Doutrinário 3
culo em fuga (o motorista utiliza o veículo como “arma”). Estes disparos repre-
sentam a única opção do policial para detê-lo. Nestas situações, ele deve consi-
derar as possíveis consequências (riscos) de disparar, e sua responsabilidade na
proteção da vida de outras pessoas, para isto observará:

• estes disparos têm pouca eficácia para fazer parar um


veículo e os projéteis podem ricochetear (no motor ou
nos pneus) ou atravessar o veículo ou, até mesmo, não
atingi-lo, convertendo-se em “balas perdidas”;

• se o condutor for atingido, existe um risco elevado de


que ele perca o controle do veículo e cause acidentes
graves;

• estes disparos têm pouca precisão, a pontaria fica


prejudicada pelo movimento do veículo e pelo balanço
provocado por ele, inclusive quando efetuados por atira-
dores experientes;

• existe a possibilidade de que vítimas (reféns) estejam


no interior do veículo perseguido, inclusive dentro do
porta-malas;

• os disparos efetuados pelos policiais podem provocar


um revide por parte dos abordados, incrementando
ainda mais o risco para outras pessoas, principalmente
em áreas urbanas (balas perdidas). O mais recomendável
é distanciar-se do veículo em fuga e, sem perdê-lo de
vista, adotar medidas operacionais para efetuar o cerco
e o bloqueio. Recomenda-se, ainda, solicitar reforço poli-
cial para que a intervenção possa ser realizada com mais
segurança.

ATENÇÃO! Policiais não deverão disparar contra veí-


culos que desrespeitem um bloqueio de via pública,
a não ser que ele represente um risco imediato à vida
ou à integridade dos policiais ou de terceiros, por meio
de atropelamentos ou acidentes intencionais (o moto-
rista utiliza o veículo como “arma”).

53
SEÇÃO 4

PROCESSO DE
COMUNICAÇÃO
Caderno Doutrinário 3
4 PROCESSO DE COMUNICAÇÃO

O processo de comunicação é um dos fatores mais importantes nas interven-


ções policiais. Se bem realizado, constitui um importante facilitador do sucesso
da abordagem e evita o emprego de níveis de força superiores, facilitando o
desempenho operacional.

A comunicação entre as pessoas é expressa por meio da linguagem falada ou


escrita (verbal) e por meio de gestos, sinais, expressões faciais, postura, dentre
outros (não verbal).

O policial deve estar sempre atento à sua forma de se comunicar, preocupar-


-se com as palavras utilizadas para que possa transmitir suas intenções, e com
sua postura na condução das ocorrências. Deve lembrar-se que o conjunto de
condutas coerentes aos preceitos doutrinários (Polícia Comunitária, Direitos
Humanos e valores institucionais elencados na Identidade Organizacional)
traduz profissionalismo e transmitem segurança ao abordado. A boa comuni-
cação favorece a interação entre a polícia e a comunidade e auxilia na condução
das ocorrências policiais.

Por outro lado, posturas mais agressivas como apontar o dedo indicador,
manter olhar sisudo, sustentar o bastão tonfa nas mãos de forma ameaçadora,
apontar ou empunhar a arma de fogo, desnecessariamente, causam uma sen-
sação de medo, ideia de brutalidade, falta de profissionalismo, arbitrariedade,
abuso, além de serem incoerentes com os princípios doutrinários da PMMG.

4.1 Sinalização

Na orientação do trânsito, os policiais utilizam sinais regulamentares para con-


duzir o veículo na direção do Box de Abordagem.

Os sinais de orientação são sonoros e gestuais e devem ser executados com


firmeza, correção, determinação e objetividade, qualidades obtidas por meio
de repetições e de treinamento. Uma sinalização executada de maneira correta
evitará que os condutores tenham uma interpretação equivocada ou duvidosa
quanto à obediência às ordens emitidas durante a fiscalização. Desta forma, o

57
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

PM Sinalizador não pode apresentar timidez, embaraço ou dúvida na sua atu-


ação. Deve utilizar a comunicação como ferramenta que o auxilia na expressão
da sua autoridade policial.

a) Sinais sonoros

Os sinais sonoros emitidos por meio de silvos de apito estão descritos no


quadro 1 abaixo, conforme previsto no Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Os
sinais sonoros devem ser utilizados em conjunto com os sinais gestuais.

Quadro 1: Sinais sonoros.

Sinal Significado Utilização


Um silvo breve Atenção SIGA. Liberar o trânsito em direção/sentido indicado pelo agente

Dois silvos breves PARE. Indicar parada obrigatória

Quando for necessário fazer diminuir a marcha dos


Um silvo longo Diminua a marcha.
veículos.

Fonte: Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, instituiu o Código de Trânsito Brasileiro.

b) Sinais gestuais

Os gestos correspondem a movimentos convencionais de braço, para orientar


e indicar o direito de passagem dos veículos.

As ordens emanadas por meio das sinalizações feitas pelos policiais prevalecem
sobre as regras de circulação e sobre as normas definidas por outros sinais de
trânsito, conforme quadros 1 e 2.

58
Caderno Doutrinário 3
Quadro 2: Sinais gestuais previstos no Código de Trânsito Brasileiro (CTB).

Sinal Significado

Ordem de parada obrigatória para todos os veículos. Quando executada em


interseções, os veículos que já se encontrem nela não são obrigados a parar.

Ordem de parada para todos os veículos que venham de direções que cortem
a direção indicada pelos braços estendidos, qualquer que seja o sentido do seu
deslocamento.

Ordem de parada para todos os veículos que venham de direções que cortem
a direção indicada pelo braço estendido, qualquer que seja o sentido do seu
deslocamento.

59
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Ordem de diminuição da velocidade.

Ordem de parada para os veículos aos quais a luz é dirigida.

Fonte: Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, instituiu o Código de Trânsito Brasileiro.

Os procedimentos para a parada do veículo no Box de Abordagem e seu


retorno à via são os seguintes:

• escolhido o veículo a ser abordado, o PM Selecio-


nador levanta o braço direito e, como advertência, emite
um silvo longo para que os veículos diminuam a marcha;

• quando o veículo estiver próximo, o PM Selecionador


efetua dois silvos breves e aponta para o local onde ele
deverá parar (Box de Abordagem).

Para fazer o veículo retornar à via com segurança, o PM Vistoriador deverá:

• observar bem o fluxo de trânsito e decidir sobre o


momento mais seguro para que o veículo inicie seu des-
locamento;

• emitir um silvo breve, olhar para o condutor, apontar


para o sentido do fluxo de trânsito e indicar: “SIGA EM
FRENTE”.

60
Caderno Doutrinário 3
4.2 Verbalização policial durante a blitz

Verbalizar significa expressar ou exprimir algo. A verbalização é a técnica utili-


zada pelo policial militar durante sua atuação em intervenções, abordagens a
pessoas e vistorias de veículos, com a finalidade de emitir orientações e ordens.
Para cada tipo de operação e, dependendo do contexto no qual ela ocorre, a
verbalização varia em alguns aspectos, porém sempre com o objetivo de possi-
bilitar uma comunicação efetiva entre a polícia e o cidadão.

Verbalizar corretamente minimiza os riscos e maximiza os resultados, durante


uma abordagem (ver Caderno Doutrinário 1). Para uma verbalização eficiente
durante uma blitz policial, é imprescindível observar os seguintes aspectos:

• expressar sua intenção de forma firme e segura,


demonstrando domínio técnico e influenciando para que
o cidadão acate as ordens e aceite as orientações rece-
bidas durante a abordagem;

• utilizar linguagem clara, precisa e objetiva, facilitando


a compreensão do cidadão acerca dos objetivos da ação
policial;

• verbalizar em tom de voz firme e respeitoso;

• falar de forma pausada, permitindo à pessoa a interpre-


tação da sua mensagem;

• avaliar se o cidadão compreendeu a mensagem;

• fazer uma breve leitura da situação, avaliando as carac-


terísticas do abordado e adotando linguagem coerente
às condições dele, pois, você poderá abordar um estran-
geiro, ou pessoas com dificuldades auditivas ou de fala.
Nesses casos, deve atentar-se para a utilização de gestos
e sinais que favoreçam a compreensão de sua intenção;

• CUIDADO! Algumas “expressões” podem ser desconhe-


cidas para determinadas pessoas ou podem ter signifi-
cados diferentes em outras regiões, por isso seja flexível;

• jamais utilize gírias, apelidos ou termos que possam


sugerir preconceito.

61
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

LEMBRE-SE: a utilização adequada da verbalização


ao longo de toda a intervenção policial reduz as pos-
sibilidades de confronto.

Em circunstâncias especiais:

• CRIANÇAS: onde haja crianças no interior do veículo, o


policial, sem descuidar da segurança, deve verbalizar de
forma a evitar que os pais sejam constrangidos perante
os filhos. Evitar exposição ostensiva desnecessária de
armas de fogo (armas empunhadas ou apontadas). Além
disso, deve observar a capacidade de entendimento e
interpretação das recomendações e a própria ação poli-
cial em função das características emocionais e psicoló-
gicas típicas de cada faixa etária (criança e adolescente)14.

• IDOSOS: na presença ou na abordagem a pessoas


idosas, o policial deve observar as possíveis dificuldades
de compreensão, locomoção, auditivas, visuais, entre
outras, tratando-os com consideração e respeito15.

• GRUPOS VULNERÁVEIS: além de crianças e idosos,


diante de outros integrantes de grupos vulneráveis e
minorias, o policial deve considerar as características
individuais no processo de verbalização, evitando situa-
ções que provoquem discriminações e abusos, visando à
proteção e prevenção à violação de direitos (ver Caderno
Doutrinário 2).

14 Conforme Estatuto da Criança e do Adolescente.

15 Conforme Estatuto do Idoso

62
Caderno Doutrinário 3
4.2.1 Linguagem policial face ao comportamento do abordado

De modo geral, os tipos de comportamento a serem observados em um indi-


víduo, ao ser abordado, são:

• cooperativo;

• resistente passivo;

• resistente ativo.

É importante observar que o abordado pode iniciar sua atitude com diferentes
tipos de comportamento e, a partir de determinado momento ou evento,
poderá variar da forma resistente, para a cooperativa (ou o inverso), exigindo
do policial uma readaptação da sua linguagem, imediatamente (ver Caderno
Doutrinário 1).

Para otimizar a segurança e potencializar as ações, os policiais deverão manter


contato gestual entre si, sempre quando pertinente. Durante a realização de
uma busca, por exemplo, se for preciso um policial passar na frente da mira da
arma de quem executa a segurança ou cobertura, será necessário gesticular, a
fim de indicar a sua intenção. Somente após verificar a correta compreensão
da mensagem é que o policial se deslocará e o outro direcionará sua arma para
uma posição segura.

4.2.1.1 Abordado cooperativo

O abordado cooperativo é aquele que acata a todas as determinações do poli-


cial durante a intervenção, sem apresentar resistência (ver Caderno Doutrinário
1). Nesse caso, o policial deve atentar para os elementos da comunicação já
descritos. Sugere-se, como referencial, o seguinte diálogo:

- Bom dia! Eu sou o “Sargento ... (dizer posto / graduação


e o nome)”, da Polícia Militar (utilize o complemento
POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS, caso esteja em
operação próxima à divisa/ fronteira do Estado).

63
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

- Tudo bem? Desligue o veículo e coloque suas mãos


sobre o volante (Os outros ocupantes também devem
colocar as mãos em local visível)

Aguarde a resposta do abordado, verifique se houve entendimento de sua


mensagem e qual o nível de cooperação demonstrado. Caso o abordado man-
tenha-se cooperativo, dê continuidade ao diálogo:

- Esta é uma operação policial preventiva. O procedi-


mento durará apenas alguns minutos. Para a sua segu-
rança, siga minhas orientações, OK...?

Novamente, aguarde a resposta. No caso do abordado manter-se cooperativo,


mantenha-se no estado de alerta (laranja), advirta os demais integrantes da
guarnição e prossiga na abordagem, até que seja assegurada a minimização do
risco de porte de armas ou de possíveis reações do abordado.

Nesse momento da abordagem, a equipe policial deverá estar atenta para os


seguintes aspectos:

• verificar, rapidamente, se existem outras pessoas e


objetos no interior do veículo;

• utilizar o tirocínio policial e atualizar a avaliação de


riscos para identificar possíveis práticas delituosas;

• decidir sobre a necessidade de verbalizar com outras


pessoas no interior do veículo, a fim de certificar-se
de que não esteja ocorrendo condução coercitiva de
algumas dessas pessoas por parte do motorista ou dos
ocupantes, a exemplo de sequestro, abuso de inocência
nos casos de crianças ou deficientes mentais ou outras
condutas criminosas mais graves.

Caso não haja indícios das situações acima, dê sequência à abordagem ao


motorista:

- Qual o seu nome...?

(Aguarde a resposta. Caso o abordado não forneça o

64
Caderno Doutrinário 3
nome, trate-o por cidadão. Se o abordado fornecer o
nome passe a tratá-lo da seguinte forma:)

- Senhor ... (nome), está portando a carteira de habili-


tação e o documento do veículo?

(Aguarde a resposta.).

- Senhor ... (nome), lentamente, pegue os documentos e


me entregue. Não faça movimentos bruscos.

Apenas os documentos devem ser aceitos pelo policial, ou seja, caso estejam
dentro de carteiras, bolsas ou outros porta-documentos que possam conter
dinheiro ou objetos desnecessários deve ser determinado ao condutor que lhe
entregue somente o que foi solicitado.

Após a entrega dos documentos, certifique-se de que o motorista recolocou


as mãos sobre o volante. Caso não o tenha feito, oriente-o novamente. Em
seguida, confira os documentos e solicite informações ao CICOp. ou correspon-
dente sobre prontuário e queixa-furto. Para isso, alerte o abordado sobre seu
procedimento, dizendo:

- Aguarde! Vou conferir os dados.

Durante a conferência dos dados, o PM Segurança estará no estado de alerta


(laranja) e manterá vigilância sobre os ocupantes.

Não será necessário realizar busca pessoal e veicular, se:

• as informações repassadas pelo CICOp. ou correspon-


dente confirmarem os dados da documentação;

• se nada consta em relação ao veículo e seus ocupantes;

• se a vistoria inicial e avaliação de riscos indicar que não


há indícios de fundada suspeição. Nesse caso, dirija-se
ao motorista, devolva-lhe a documentação e informe-o
sobre o andamento da abordagem.

65
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

- Senhor... (nome ou o trate por “cidadão”) a documen-


tação está correta. (tratar a pessoa pelo nome que
consta na identidade apresentada)

Caso haja criança(s) no veículo, cumprimente-a(s) com amabilidade e cortesia:

- Oi, tudo bem?

- Qual o seu nome?

- Quantos anos você tem?

Caso haja animais no interior do veículo, aproxime-se com cuidado e solicite ao


condutor que o controle.

Terminada a abordagem, explique ao cidadão sobre a importância da pesquisa


pós-atendimento que se seguirá:

- Senhor (nome)! A Polícia Militar realiza uma pesquisa


de pós-atendimento para verificação da qualidade e
aperfeiçoamento do nosso trabalho.

- Preciso que indique o dia da semana, horário e número


de telefone, para que possamos entrar em contato, sem
que cause incômodo.

(Aguarde, anote a resposta, agradeça e despeça-se)

- Agradeço pela colaboração e conte com o nosso ser-


viço. Tenha um bom dia!

Na hipótese da verificação preliminar e avaliação de riscos levantar fundada sus-


peita baseada na experiência e o tirocínio do policial, alertarem para a necessi-
dade de efetuar a busca no veículo ou no condutor e em seus ocupantes, sinalize
para o PM Segurança (gesto com as mãos simbolizando “suspeito”), que apoiará
o desembarque e a busca pessoal e veicular (ver Cadernos Doutrinários 2 e 4).

Logo após, verbalize com os ocupantes:

- Senhor... (nome), será necessário que desça do veículo.

66
Caderno Doutrinário 3
- Vamos dar sequência à abordagem policial.

- Retire lentamente o cinto de segurança e desem-


barque.

- Abra a porta e desça em direção à calçada/acosta-


mento.

Nesse momento, afaste-se, de modo a permitir que o cidadão abra a porta do


carro. Mantenha constante monitoramento dos suspeitos (principalmente das
mãos). A seguir, proceda conforme preceitua o Caderno Doutrinário 1 – Inter-
venção Policial, Verbalização e Uso de Força. Para isso, verbalize conforme a
necessidade. Sugere-se como exemplo:

- Será necessário realizar uma busca pessoal.

Se houver mais de uma pessoa no veículo, explique que todos deverão desem-
barcar do veículo, um a um, para maior segurança.

Indique, a cada uma das pessoas embarcadas no veículo, quando deverão


descer e quais procedimentos deverão seguir, conforme os preceitos da técnica
policial. Todos os movimentos deverão ser orientados, seguindo a sua verbali-
zação.

Nos casos de busca pessoal, o PM Vistoriador, dialogará com o abordado, de


forma pausada e conforme a seguinte sequência:

- Coloque as mãos sobre a cabeça. Cruze os dedos. Fique


de costas para mim. Afaste os pés e permaneça parado!

Se nada for constatado com a pessoa ou no veículo, encerre a abordagem e


inicie o procedimento para liberar o abordado.

Solicite ao cidadão seus dados para que possa ser realizada posterior pesquisa
de pós-atendimento, conforme já sugerido anteriormente.

67
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

4.2.1.2 Abordado resistente passivo ou ativo

O abordado resistente passivo é aquele que não acata, de imediato, as deter-


minações do policial, ou opõe-se a ordens, reagindo com o objetivo de impedir
a ação legal. Contudo, não agride o policial nem lhe direciona ameaças. Por
sua vez, o abordado resistente ativo opõe-se à ordem com comportamentos
agressivos que podem representar risco de morte para o policial ou pessoas
envolvidas na intervenção (ver Caderno Doutrinário 1).

No caso do abordado resistente, após realizar avaliação de riscos, o policial deve


mensurar e avaliar as atitudes e adaptar sua linguagem, sendo mais imperativo
e impositivo. Comunique imediatamente com seus companheiros sobre o nível
de reação do abordado, para que a força empregada seja adequada, coerente
com os princípios para uso de força, com foco na segurança dos envolvidos na
intervenção.

Considere que poderão existir diversas razões que levarão o abordado a resistir
de maneira passiva ou ativa às ordens dadas, por exemplo:

• quando não compreende a ordem emanada pelo poli-


cial;

• quando não acata simplesmente porque quis desafiar


a autoridade ou desmerecer a ação policial, tentando,
assim, expô-lo a uma situação humilhante frente ao
público, ou ainda, provocar o uso excessivo de força;

• quando busca conseguir a simpatia de pessoas a sua


volta, colocando-as contra a atuação da polícia, assu-
mindo assim uma posição de vítima;

• quando tem algo para esconder (armas, drogas, outros)


e busca distrair a atenção do policial;

• quando quer ganhar tempo para fugir ou enfrentar fisi-


camente os policiais, isto é, com resistência ativa.

68
Caderno Doutrinário 3
O policial deverá verificar por meio de verbalizações se o abordado compre-
ende o que está sendo dito:

- Você está me entendendo?

ou

- O que está acontecendo? Por que você não me obe-


dece?

ou

- Está tudo bem? Você está com algum problema?

Caso o abordado demonstre que entendeu as ordens, mas não as acatou, o poli-
cial deverá adverti-lo quanto ao seu comportamento, esclarecendo tratar-se de
crime (desobediência, art. 330 do Código Penal Brasileiro) e que, evoluindo o
conjunto de recusa por sua parte, pode redundar em outros crimes, tais como
desacato, resistência ou agressão contra policiais.

- Obedeça! Desobediência é crime!

ou

- Cidadão, isto é uma ordem legal! Faça o que estou


mandando!

Caso o abordado resista, passiva ou ativamente, ao ser submetido à busca, alerte-


-o sobre as consequências da desobediência à ordem legal. Persistindo a deso-
bediência, aja com superioridade numérica, isole-o dos demais, e use o nível de
força, conforme o nível da resistência, para compeli-lo a cumprir a determinação
legal (seguir os procedimentos contidos no Caderno Doutrinário 1).

Se detectar algum objeto ilícito durante a busca pessoal ou constatar indícios


de infração penal, imediatamente, separe o suposto infrator dos demais ocu-
pantes do veículo e inicie uma busca minuciosa. Confirmada a situação infra-
cional e decidido pela condução, siga os procedimentos previstos no Caderno

69
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Doutrinário 2 quanto ao uso de algemas (se necessário), verbalização da ação e


condução até o interior da viatura policial.

Os policiais responsáveis pela condução deverão relacionar os objetos ilícitos


encontrados, qualificar o infrator e conferir o prontuário (caso ainda não o
tenha feito).

LEMBRE-SE: arrole e qualifique as testemunhas


da prisão efetuada, preferencialmente oriundas do
público presente que tenha visto o incidente ou acom-
panhado a ação policial. Evite relacionar policiais como
testemunhas.

Conforme o artigo 5º da Constituição Federal sugere-se que sejam fornecidas


as seguintes informações para o caso de prisão em decorrência de flagrante
delito ou de mandado judicial:

- (Citar o nome da pessoa presa). Sou o ... (citar o posto ou


graduação e nome do policial condutor da prisão).

- Você está preso pelo cometimento do crime de ... (citar


o delito).

- Você têm o direito de permanecer calado.

- Você tem direito a assistência da sua família e de


advogado

- Você será encaminhado à delegacia... (citar o local


onde será feito o encerramento do BO/REDS)

- Na delegacia, sua família ou pessoa indicada por você


poderá ser comunicada.

É conveniente fazer perguntas ao revistado, tais como:

- Por favor, confira seus pertences!

- Quer registrar algum fato referente a esta ação poli-


cial?

70
Caderno Doutrinário 3
No caso do abordado descer do veículo ou caminhar em direção à guarnição, o
policial deverá avaliar a situação conforme os preceitos de técnica policial para
conter e controlar a situação. Nessa hipótese, sugere-se como verbalização:

- Parado! Não se aproxime!

- Acate minhas ordens! Mantenha suas mãos onde eu


possa ver (Coloque suas mãos para cima!)

- Não faça movimentos bruscos. Obedeça à ordem poli-


cial!

- Vou empregar a força!

4.3 Procedimentos específicos

Diante da diversidade de situações com as quais o policial pode se deparar nas


abordagens, é importante atentar para algumas especificidades de ocorrências
envolvendo autoridades ou tentativa de corrupção16 por parte do abordado.

4.3.1 Abordagem a autoridades

Caso o abordado se apresente como autoridade titular de prerrogativas ou imu-


nidades, proceda da seguinte forma:

• estabeleça um diálogo inicial respeitoso e amistoso e


utilize, de imediato, os pronomes de tratamento ade-
quados ao cargo ou à função alegados por ele;

• identifique-se, diga seu nome, posto ou graduação, e


explique que se trata de uma operação policial;

• diga-lhe que por não conhecê-lo pessoalmente será


necessário que apresente a identidade funcional corres-
pondente.

16 Conforme artigo 7º do Código de Conduta para os Encarregados pela Aplicação da Lei – CCEAL e o previsto no artigo 308 do Código
Penal Militar (Crime de Corrupção).

71
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Nesse caso, é sugerida a seguinte verbalização:

- Senhor, (Embaixador, Juiz, Promotor, Deputado,


General, Delegado, etc.) eu sou o (posto ou graduação,
seguido de nome) estamos realizando uma operação
preventiva para a sua segurança.

- Necessito que o senhor apresente sua carteira fun-


cional.

Constatada formalmente a identificação da autoridade, segundo o grau de


imunidades e prerrogativas, o policial avaliará as circunstâncias, para ver se é
o caso de:

a) não prosseguir na abordagem;

b) prosseguir na abordagem, acionar quem de direito e adotar as providên-


cias cabíveis, conforme cada circunstância observada.

Havendo indícios de suspeição, solicite a colaboração do abordado no sentido


de apresentar os demais documentos do veículo ou facultar a busca veicular.

Caso a autoridade se negue a apresentar sua carteira funcional, ou diante situa-


ções mais graves de fundada suspeição, comunique o fato ao CPCia./CPU, soli-
citando ao CICOp. ou correspondente a presença de representante do órgão a
que pertence a autoridade, para as medidas decorrentes. Nesse caso, deverá
dizer:
- Senhor... (nome com declinação do cargo alegado),
necessito que aguarde no local, pois o coordenador de
policiamento já está a caminho para solucionar esta
situação.

Na solução dos conflitos ou desentendimentos que porventura possam surgir,


o policial buscará atuar com comedimento e profissionalismo, evitando:

• discussões acaloradas (provocativas), corporativistas e


que se exponham ao público ou à imprensa;

• imposição de autoridade sobre autoridade, em uma


disputa desgastante para ambos.

72
Caderno Doutrinário 3
Conforme evolua a gravidade do incidente, as ações de contatos físicos ou uso
de equipamentos serão restritos à contenção da pessoa e à defesa dos policiais.

Numa situação de descontrole emocional da autoridade envolvida, que poderá


utilizar a arma que porta para ameaçar a equipe ou empreender fuga, deverá
ser dada atenção especial à segurança dos policiais, do público presente no
local da ocorrência e do abordado, observando-se o uso diferenciado de força
(ver Caderno Doutrinário 1 – Intervenção Policial, Verbalização e Uso de Força).

Em caso de envolvimento de policial civil, federal ou militar em ocorrência poli-


cial de qualquer natureza, o centro de operações, o Centro Integrado de Comu-
nicações Operacionais (CICOp.) ou correspondente e a Central de Operações da
Polícia Civil (CEPOLC), ou correspondentes às forças armadas e à polícia federal,
deverão ser imediatamente acionados e o(s) envolvido(s) apresentado(s) à
autoridade competente.

As eventuais escoltas e conduções posteriores serão realizadas por inte-


grantes da própria Instituição a que pertencer o abordado. Na impossibilidade,
mediante prévia solicitação formal da respectiva chefia ou comando, a con-
dução poderá ser realizada em viatura da PMMG.

Na situação da autoridade querer forçar a saída da blitz antes da solução final


da ocorrência, deverão ser adotadas as medidas previstas no item 3.9 – Evasão.

A divulgação dos fatos aos órgãos de imprensa obedecerá aos preceitos estabe-
lecidos pelas normas da PMMG.

4.3.2 Procedimento policial diante de tentativa de corrupção

Existem situações em que o abordado, para se ver livre de prisão ou sanção


administrativa, oferece alguma vantagem para o policial. Essas tentativas
podem ser feitas de inúmeras formas, mas o policial deve agir com profissio-
nalismo.

Em outros casos, a experiência policial nos mostra que o abordado, por se sentir
nervoso, ou por descrédito com os órgãos responsáveis pela aplicação da lei,
empregue termos, palavras ou gestos, de maneira que possam gerar interpre-

73
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

tações que configurem situação semelhante à citada acima, ou seja, tentativa


de corrupção.

Desse modo, pode ocorrer, por exemplo, a entrega de documentos pessoais


(carteira de habilitação, Certidão de Registro de Veículo), com alguma van-
tagem econômica, como quantia em dinheiro “deixada” intencionalmente junto
à documentação e entregue ao policial.

Nesses casos, o PM deverá confirmar sua suspeita, podendo manter o seguinte


diálogo:

- Senhor, por favor, retire os pertences particulares e


me entregue somente os documentos solicitados.

Há também os casos de insinuações feitas pelo abordado, utilizando falas do


tipo:

- É para o cafezinho!

ou

- Dá para resolver de outra forma esta situação!

ou

- Como podemos administrar esse problema!

ou

- Como forma de agradecer pelo seu serviço!

ou

- O senhor merece!

ou

- Pela sua educação!

74
Caderno Doutrinário 3
ou

- Este dinheiro estava aí dentro para o senhor!

ou

- Eu nem lembrava desse dinheiro, pode ficar com ele!

ou

- É só um agrado seu guarda!

Nessas situações, o policial pode usar as seguintes frases:

- Senhor, não estou entendendo sua pergunta/colo-


cação, por favor, repita!

ou

- Senhor, o que está propondo?

ou

- Senhor, o que está me dizendo?

ou

- Senhor, para que é este dinheiro?

Caso a conduta do abordado enquadre-se em crime de corrupção17, o poli-


cial deve fazer valer os valores cultuados pela Polícia Militar, sobretudo o da
ética, transparência e justiça, devendo arrolar testemunhas idôneas e adotar as
medidas legais.

17 Conforme artigo 333 do Código Penal Brasileiro.

75
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

4.4 Orientações gerais

Em uma abordagem, o policial deve considerar:

a) diversas condições podem gerar insatisfação em uma pessoa abordada


em uma blitz policial; seja pelo atraso para comparecer a algum compro-
misso, seja pelo constrangimento frente ao público do local (às vezes vizi-
nhos) ou aos demais passageiros do veículo (às vezes familiares), ou ainda,
pelo fato de o colocar na condição de suspeito. Diante dessas situações,
pode ser que o abordado tente argumentar ou questionar a ação policial,
o que não configuraria necessariamente resistência, ou desacato. Nesse
caso, seja tolerante, prudente e sempre atento a sua segurança, avalie cada
situação para melhor definir suas ações;

b) nem todo cidadão se dispõe a colaborar espontaneamente. Mantenha o


controle da situação através da verbalização adequada e busque identi-
ficar as possíveis razões pelas quais ele pode estar sendo resistente. Fique
atento para não se deixar levar por provocações e cair em armadilhas do
abordado que procura se vitimar diante da ação do policial;

c) o abordado poderá ter dificuldades de escutar suas ordens, em decorrência


de barulho na rua, por estar com o aparelho de som ligado, por ter pro-
blemas auditivos ou ainda por ser estrangeiro. Nessa situação, determine
a ele que desligue o som do veículo, seja tolerante e expresse novamente
sua intenção;

d) pessoas sob efeito de álcool ou drogas poderão ficar confusas e ter dificul-
dades de entender suas colocações. Fique atento às reações do abordado
e com a segurança dele, da sua equipe e das pessoas próximas da ocor-
rência;

e) a sua segurança e a da sua equipe são fundamentais. Assim, esteja atento


às diversas peculiaridades do ambiente no qual se desenrola a operação
policial e proceda sempre à avaliação de riscos (ver Caderno Doutrinário 1);

f) se o abordado demorar a responder ou a acatar as determinações, mas não


manifestar resistência ativa, você deverá insistir na recomendação dada, e
repetir a ordem ou a pergunta por três ou mais vezes. A repetição firme das
ordens é uma técnica que demonstra a determinação do policial e poderá
superar a resistência inicial com profissionalismo;

76
Caderno Doutrinário 3
g) caso o abordado não responda e se torne resistente, mantenha-se atento
e proceda da seguinte maneira:

• utilize a comunicação verbal e não verbal como forma


de auxiliar na verbalização;

• adeque o volume da voz e emita ordem direta aler-


tando ao abordado quanto à prática de crime;

• resguarde suas ações arrolando se possível, testemu-


nhas que estejam próximas ao local;

• utilize recursos tecnológicos que estejam à dispo-


sição para comprovar a atuação legítima do policial e a
resistência do abordado. É o caso de aparelhos telefô-
nicos celulares que tiram fotos, filmam, gravam áudio,
ou outros equipamentos similares. Na utilização desses
recursos, o policial deve ter cuidado de maneira especial
com relação à postura e segurança, de maneira que não
se torne vulnerável na intervenção. Esses registros eletrô-
nicos só poderão ser utilizados de maneira oficial, sendo
vedada a divulgação ou distribuição à imprensa ou a
outros órgãos.

Quaisquer desses fatores, mal trabalhados, podem levar o responsável pela


abordagem a fragilizar sua demonstração de autoridade.

77
SEÇÃO 5

SITUAÇÕES
ESPECÍFICAS
Caderno Doutrinário 3
5 SITUAÇÕES ESPECÍFICAS

Esta seção trata de duas situações que, em função de suas especificidades,


exigem orientações procedimentais específicas além das demais contidas
neste Caderno Doutrinário, a saber: a abordagem a motocicletas e a realização
de operação do tipo blitz policial em horário noturno.

5.1 Abordagem a motocicletas

Durante a realização da operação, inevitavelmente, será necessário efetuar


abordagem a motocicletas e seus ocupantes. Este procedimento será alvo de
maior atenção pela equipe, pois a experiência operacional mostra que este
tipo de veículo é largamente utilizado por infratores para a prática de assaltos,
devido à sua mobilidade, agilidade no trânsito das grandes cidades e dificul-
dade de identificação do rosto da pessoa devido ao uso de capacetes.

Ao proceder à abordagem a motocicletas, o policial agirá de maneira análoga


à apresentada para a abordagem de veículos de 4 (quatro) rodas e deverá estar
atento às seguintes orientações especificas:

a) o PM Selecionador deverá proceder com cautela e avaliar o risco desta


abordagem, considerando que a motocicleta tem sido o meio mais utili-
zado para auxiliar na prática de delitos (ver Caderno Doutrinário 1);

b) no momento da parada, ordenará ao condutor que desligue a motocicleta,


retire a chave da ignição e permaneça com as mãos para cima, apoiadas no
capacete;

c) controle as mãos do passageiro e ordene que mantenha as mãos para


cima, ou apoiadas no capacete (muita atenção, pois geralmente esta é a
pessoa que porta a arma de fogo);

d) ordene que o passageiro desça primeiro e se desloque para a parede ou


viatura (área de segurança), proceda a uma busca ligeira na região de sua
cintura; ordene que retire o capacete e o coloque em local afastado de seu
corpo e da moto. Mantenha vigilância constante do abordado;

e) em seguida, ordene que o condutor desça, com as mãos para cima, ou


apoiadas no capacete e se desloque para a parede ou viatura (área de

81
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

segurança), e da mesma forma proceda a uma busca ligeira na região de


sua cintura; ordene que retire o capacete, em local afastado de seu corpo e
da moto e então finalize a busca pessoal;

f) com segurança, você procederá então à checagem da documentação da


motocicleta, e dos passageiros (via rede-rádio); verifique, inclusive, as con-
dições do veículo, o lacre da placa, sob o assento, o compartimento do
filtro de ar e outras partes desmontáveis da motocicleta (comumente utili-
zados para o transporte de produtos ilícitos).

5.2 Blitz noturna

O período noturno propicia um ambiente favorável à ocorrência de crimes,


visto que a noite oferece uma sensação de camuflagem para os infratores, os
quais acreditam que a escuridão amplia a possibilidade de êxito de uma fuga
diante da ação policial.

ATENÇÃO! Não é recomendável, exceto em casos


extraordinários, a realização de operações tipo blitz
policial no período noturno com dois PM.

Por isso, a blitz, neste período deve ser planejada e executada com adoção de
procedimentos já descritos para a blitz diurna, porém com alguns cuidados
especiais, apresentados a seguir de modo a atender às peculiaridades inerentes
à uma operação noturna:

a) deve ser montada preferencialmente em local com boa iluminação arti-


ficial e que proporcione segurança tanto no aspecto de visualização do
dispositivo montado, quanto nas condições de controle de perímetro.
Os locais que, diante uma situação adversa, poderão ser fatores compli-
cadores à atuação policial, devem ser evitados como aqueles próximos a
desfiladeiros, pontes, aglomerados urbanos, rios, locais de grande concen-
tração de pessoas, dentre outros;

b) a sinalização da via poderá sofrer algumas alterações para aumentar a


segurança dos envolvidos, pois desta forma é possível dar maior visibili-
dade à blitz e evitar acidentes que envolvam a equipe policial e os pedes-

82
Caderno Doutrinário 3
tres. Cones com dispositivo luminoso e balizadores manuais luminosos
poderão ser utilizados como meios de sinalização. Em casos emergenciais,
excepcionalmente, poderão ser utilizadas tochas ou latas com material
combustível para queima, dentre outros;

c) os sistemas luminosos tipo giroflex garantem maior efetividade visual, à


distância, se as viaturas estiverem posicionadas longitudinalmente em
relação à mão de direção e de passagem dos veículos; logo, poderá haver
adaptação do posicionamento transversal descrito nos croquis e a adoção
de posição paralela ao meio-fio da rua, o que propiciará maior visibilidade
ao dispositivo da operação;

d) durante a abordagem noturna, tenha atenção redobrada, pois a baixa


luminosidade interfere diretamente na segurança do trânsito e na iden-
tificação de possíveis ameaças; o policial deverá manter-se no estado de
prontidão adequado (ver Caderno Doutrinário 1) para esta situação, o que
é uma medida de prevenção decisiva para a segurança da equipe;

e) a utilização de lanternas e dispositivos de iluminação manuais para esta


operação é imprescindível, seja para a correta iluminação dos abordados e
monitoramento dos pontos de foco e pontos quentes (ver Caderno Dou-
trinário 1) durante a abordagem, seja para efetuar a busca no interior dos
compartimentos do veículo;

f) ao proceder à abordagem no período noturno, o policial deve agir de


maneira análoga às situações apresentadas para as abordagens citadas
anteriormente, sempre atento às seguintes orientações particulares:

• quando não houver indício de suspeição, dialogue e


tranquilize o abordado de forma a evitar uma expectativa
negativa em relação à atuação policial;

• ao proceder à parada do veículo, solicite ao condutor


que apague os faróis, acenda a luz interna do veículo e
mantenha as mãos em local visível, preferencialmente
sobre o volante;

• se o veículo possuir película de proteção (Insul-film),


afaste-se e, sem bater no vidro, solicite que o condutor
abra a janela lentamente. Informe ao condutor que este
procedimento será necessário para segurança dos ocu-
pantes e do próprio policial;

83
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

• utilize uma lanterna para melhor visualizar o interior do


veículo, evitando apontar o foco da luz diretamente para
os olhos do condutor ou dos passageiros;

• evite expor sua visão aos locais de forte iluminação


(faróis), isto poderá interferir fisiologicamente na sua
percepção visual e identificação rápida de um provável
perigo.

84
Caderno Doutrinário 3
Anexo “A” – Modelo de Relatório do Comandante
da Operação

POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS


XXX BPM
RELATÓRIO DE OPERAÇÃO - blitz POLICIAL

1 Local (Rua/Av.):__________________________________Número:__________

Bairro: ______________________ Referência: ____________________________

2 Ordem de Serviço: __________________ Número BO / BOS: ________________

3 Data/hora início: _________________ Data/hora término: _________________

4 Efetivo:

Número PM Nome – Posto/Graduação Função

5 Viaturas:

Prefixo Modelo Motorista

85
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

6 RECURSOS LOGÍSTICOS (Viaturas, armamento, rádios portáteis, coletes balís-


ticos, coletes refletivos, cavaletes, cones, apitos, pranchetas, planilhas para
registro, Lanternas, Bloco de AIT).

_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________

7 MONTAGEM DO DISPOSITIVO (Escolha do local, Condições de visibilidade,


posicionamento das viaturas, cavaletes e cones no dispositivo, segurança dos
policiais com relação ao trânsito, previsão de abrigos para policiais nos casos de
eventual emergência).

_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________

8 ABORDAGEM POLICIAL (Posicionamento, verbalização, Integração comuni-


tária, Postura e compostura dos policiais; preenchimento dos formulários espe-
cíficos da Operação).

_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________

86
Caderno Doutrinário 3
9 EXECUÇÃO OPERACIONAL

Quantidade de veículos abordados: ___________________________________

Quantidade de veículos vistoriados: ___________________________________

Quantidade de buscas pessoais realizadas: _______________________________

10 OCORRÊNCIAS REGISTRADAS (BO e BOS)

Número Natureza Resumo do fato Resistência Prisão

11 OBSERVAÇÕES E SUGESTÕES

_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________

______________________________________________________
ASSINATURA COMANDANTE DA OPERAÇÃO

87
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

Anexo “B” – Relatório da Supervisão da Operação

____________________________________________
ASSINATURA SUPERVISOR

88
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 9.503, 23 set. 1997. Institui o Código de Trânsito Brasileiro. Diário
Oficial (da República Federativa do Brasil), Brasília, 1997.

FRANÇA, Júnia Lessa. Manual para normalização de publicações técnico-cientí-


ficas. 8 ed. Belo Horizonte, Ed. UFMG, 2009.

POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS. Manual de Prática Policial nº 1: Abordagem,


Busca e Identificação. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1984.

__________________________________. Comando Geral. Diretriz Auxiliar das


Operações (DIAO). Belo Horizonte. 1994.

__________________________________. Manual de Prática Policial, Volume 1.


Belo Horizonte/MG, 2002.

__________________________________.Diretriz para a produção de serviços


de segurança pública nº 1 de 27 de março de 2002. Emprego da Polícia Militar
de Minas Gerais na Segurança Pública. Belo Horizonte, 2002.

__________________________________. Diretriz nº 3.02.01/2009 – Regula Pro-


cedimentos e Orientações para a Execução com Qualidade das Operações na
Polícia Militar de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2009 a.

__________________________________. Plano Estratégico da PMMG 2009-


2011. Belo Horizonte: Comando Geral, Assessoria da Gestão para Resultados,
2009 b.

__________________________________. Intervenção Policial, Verbalização e


Uso de Força (Prática Policial Básica – Caderno Doutrinário 1). Belo Horizonte,
2010 a.

__________________________________. Tática Policial, Abordagem a Pessoas


e Tratamento a Vítimas (Prática Policial Básica – Caderno Doutrinário 2). Belo
Horizonte, 2010 b.
PRÁTICA POLICIAL BÁSICA

__________________________________. Abordagem a Veículos. (Prática Poli-


cial Básica – Caderno Doutrinário 4). Belo Horizonte, 2010 c.

__________________________________. Cerco, bloqueio e interceptação.


(Prática Policial Básica – Caderno Doutrinário 5). Belo Horizonte, 2010 d.

ONU. Organização das Nações Unidas. Código de Conduta para os Encarre-


gados pela Aplicação da Lei (CCEAL). Res. 34/169, 1979.

Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcio-


nários Responsáveis pela Aplicação da Lei (PBUFAF), 8º Congresso das Nações
Unidas – Havana, Cuba, 1990.

ROVER, Cees de. Princípios básicos sobre o uso da força e armas de fogo. In:
ROVER, Cees de. Para servir e proteger. Direitos Humanos e Direito Internacional
Humanitário para Forças Policiais e de Segurança: Manual para Instrutores. 4 ed.
Belo Horizonte: Polícia Militar de Minas Gerais, 2009.

90

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