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SEMANA 01

PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Sumário
META 1 .............................................................................................................................................................. 8
DIREITO PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS ............................................................................................... 8
1. CONCEITO, CARACTERÍSTICAS, OBJETO, FUNÇÕES E DIVISÕES DO DIREITO PENAL ..................................... 8
2. ENCICLOPÉDIA DAS CIÊNCIAS PENAIS ......................................................................................................... 14
2.1 Direito Penal X Criminologia X Política Criminal ..................................................................................................... 15
2.2 Seletividade - Criminalização Primária e Secundária (Zaffaroni) ............................................................................ 15
3. DIREITO PENAL DO AUTOR E DIREITO PENAL DO FATO .............................................................................. 16
4. GARANTISMO PENAL (FERRAJOLI)............................................................................................................... 17
4.1 Conceito ................................................................................................................................................................. 17
4.2. Garantias primárias e secundárias ........................................................................................................................ 17
4.3 Máximas do garantismo ......................................................................................................................................... 18
5. DIREITO PENAL DO INIMIGO ....................................................................................................................... 19
5.1 Velocidades do Direito Penal (Jesús-Maria Silva Sánchez) ..................................................................................... 20
6. FONTES DO DIREITO PENAL ........................................................................................................................ 21
7. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL ................................................................................................................... 26
7.1 Princípios Relacionados com a Missão Fundamental do Direito Penal .................................................................. 27
7.1.1 Princípio da Exclusiva Proteção de Bens Jurídicos ........................................................................................... 27
7.1.2 Princípio da Intervenção Mínima ..................................................................................................................... 28
7.1.3 Princípio da Insignificância ou da Bagatela ...................................................................................................... 32
7.2 Princípios Relacionados com o Fato do Agente ..................................................................................................... 49
7.2.1 Princípio da Ofensividade/Lesividade .............................................................................................................. 49
7.2.2 Princípio da Alteridade .................................................................................................................................... 50
7.2.3 Princípio da Exteriorização ou Materialização do Fato .................................................................................... 51
7.2.4 Princípio Da Legalidade Estrita Ou Reserva Legal ............................................................................................ 51
7.2.5 Princípio da Anterioridade ............................................................................................................................... 53
7.2.6 Princípio da Vedação ao Bis In Idem ................................................................................................................ 54
7.2.7 Princípio da Adequação Social ......................................................................................................................... 54
7.3 Princípios Relacionados com o Agente do Fato ..................................................................................................... 55
7.3.1 Princípio da Responsabilidade Pessoal / Da Pessoalidade / Da Intranscendência Da Pena ............................ 55
7.3.2 Princípio da Responsabilidade Subjetiva ......................................................................................................... 56
7.3.3 Princípio da Culpabilidade ............................................................................................................................... 56
7.3.4 Princípio da Proporcionalidade ........................................................................................................................ 56
7.3.5 Princípio da Limitação das Penas ou da Humanidade ..................................................................................... 57
7.2.6 Princípio da Confiança ..................................................................................................................................... 58
META 2 ............................................................................................................................................................ 60
DIREITO PROCESSUAL PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS ....................................................................... 60
1. PROCESSO PENAL CONSTITUCIONAL........................................................................................................... 61
2. PRETENSÃO PUNITIVA ................................................................................................................................. 62
3. SISTEMAS DO PROCESSO PENAL ................................................................................................................. 63
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

4. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO PENAL ................................................................................... 68


4.1 Princípios Constitucionais Explícitos....................................................................................................................... 68
4.1.1 Princípio da Presunção da Inocência ............................................................................................................... 68
4.1.2 Princípio da Igualdade Processual ou Paridade de Armas ............................................................................... 74
4.1.3 Princípio da Ampla Defesa ............................................................................................................................... 74
4.1.4 Princípio da Plenitude da Defesa ..................................................................................................................... 77
4.1.5 Princípio do In Dubio Pro Reo .......................................................................................................................... 77
4.1.6 Princípio do Contraditório ou Bilateralidade da Audiência ............................................................................. 79
4.1.7 Princípio da Publicidade................................................................................................................................... 81
4.1.8 Princípio da Vedação das Provas Ilícitas .......................................................................................................... 83
4.1.9 Princípio da Economia Processual, Celeridade Processual e Duração Razoável Do Processo ......................... 84
4.1.10 Princípio do Devido Processo Legal ............................................................................................................... 85
4.1.11 Juiz Imparcial ou Natural ............................................................................................................................... 85
4.2 Princípios Constitucionais Implícitos ...................................................................................................................... 87
4.2.1 Princípio do Nemo Tenetur Se Detegere (Princípio De Que Ninguém Está Obrigado A Produzir Prova Contra Si
Mesmo) ..................................................................................................................................................................... 87
4.2.2 Princípio da Iniciativa das Partes ..................................................................................................................... 95
4.2.3 Duplo Grau de Jurisdição ................................................................................................................................. 95
4.2.4 Princípio da Oficialidade .................................................................................................................................. 95
4.2.5 Princípio da Oficiosidade ................................................................................................................................. 95
5. OUTROS PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL ................................................................................................ 96
5.1 Princípio da Oralidade ............................................................................................................................................ 96
5.2 Indivisibilidade da Ação Penal Privada ................................................................................................................... 96
5.3 Comunhão da Prova ............................................................................................................................................... 96
5.4 Impulso Oficial ........................................................................................................................................................ 96
6. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL ................................................................................................................. 96
6.1 Aplicação da Lei Processual no Tempo................................................................................................................... 97
6.2 Aplicação da Lei Processual no Espaço:.................................................................................................................. 98
6.3 Aplicação da Lei Processual em Relação às Pessoas .............................................................................................. 99
7. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL ........................................................................................... 103
8. FONTES ...................................................................................................................................................... 105
8.1 Fonte Material, Substancial ou de Produção ....................................................................................................... 105
8.2 Fonte Formal, Cognitiva ou de Cognição .............................................................................................................. 105
META 3 .......................................................................................................................................................... 107
DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS (PARTE I) ......................................... 107
1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS.................................................................................................................. 108
2. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS .................................................................................................. 116
2.1 Direitos x Garantias x Remédios Constitucionais ................................................................................................. 116
2.2 Direitos Fundamentais x Direitos Humanos ......................................................................................................... 117
2.3 Geração dos direitos fundamentais ..................................................................................................................... 118
2.4 Características dos direitos fundamentais ........................................................................................................... 124
2.5 Dimensão dos Direitos Fundamentais .................................................................................................................. 126
2.5.1 Desdobramentos da dimensão objetiva dos Direitos Fundamentais ............................................................ 127
2.6 Direitos individuais implícitos e explícitos ............................................................................................................ 129
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SEMANA 01/21

2.7 Destinatários ........................................................................................................................................................ 130


2.8 Os Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988................................................................................ 132
2.8.1. Não taxatividade dos direitos fundamentais e tratados de direitos humanos............................................. 132
2.8.2. Hierarquia dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos ..................................................................... 133
2.9 Deveres Fundamentais ......................................................................................................................................... 134
2.10 Alguns direitos individuais – rol do art. 5º da CF/88 .......................................................................................... 135
META 4 .......................................................................................................................................................... 157
DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS (PARTE II) ........................................ 157
3. DIREITOS SOCIAIS ...................................................................................................................................... 176
DIREITOS HUMANOS: INTRODUÇÃO E TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS ....................................... 186
1. INTRODUÇÃO E TEORIA GERAL ................................................................................................................. 186
1.1 Conceito ............................................................................................................................................................... 186
1.2 Direitos Humanos X Direitos do Homem X Direitos Fundamentais ..................................................................... 187
2. FONTES DOS DIREITOS HUMANOS ............................................................................................................ 187
3. FUNDAMENTAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS .......................................................................................... 187
3.1 Jusnaturalismo...................................................................................................................................................... 188
3.2 Positivismo ........................................................................................................................................................... 188
3.3 Jusinternacionalista .............................................................................................................................................. 189
4. MARCOS FUNDAMENTAIS DOS DIREITOS HUMANOS............................................................................... 189
5. INTERNACIONALIZAÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS .................................. 194
6. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS............................................................................................ 195
6.1 Historicidade ........................................................................................................................................................ 195
6.2 Universalidade ...................................................................................................................................................... 195
6.3 Limitabilidade ou Relatividade ............................................................................................................................. 196
6.4 Irrenunciabilidade ................................................................................................................................................ 196
6.5 Inalienabilidade ou Indisponibilidade .................................................................................................................. 196
6.6 Imprescritibilidade................................................................................................................................................ 196
6.7 Vedação ao retrocesso ......................................................................................................................................... 197
6.8 Essencialidade ...................................................................................................................................................... 198
6.9 Inerência ou Essencialidade ................................................................................................................................. 198
6.10 Interdependência ou Inter-relação ou Complementariedade ........................................................................... 198
6.11 Inexauribilidade .................................................................................................................................................. 199
7. UNIVERSALISMO CULTURAL X RELATIVISMO CULTURAL (PIOVESAN, 2019) ............................................ 199
8. DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS ..................................................................................................... 201
8.1 Introdução ............................................................................................................................................................ 201
8.2 1ª Dimensão (Liberdade) ...................................................................................................................................... 201
8.3 2ª Dimensão (Igualdade) ...................................................................................................................................... 202
8.4 3ª Dimensão (Fraternidade ou Solidariedade) ..................................................................................................... 202
8.5 4ª Dimensão ......................................................................................................................................................... 203
8.6 5ª Dimensão ......................................................................................................................................................... 203
8.7 6ª Dimensão ......................................................................................................................................................... 203
8.8 Quadro sinóptico – Segundo Paulo Bonavides ..................................................................................................... 203
9. A TEORIA DOS QUATRO STATUS DE JELLINEK ........................................................................................... 204
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

META 5 .......................................................................................................................................................... 206


DIREITO ADMINISTRATIVO: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS ........................................................................ 206
1. ORIGEM, NATUREZA JURÍDICA E OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO ................................................ 207
2. EVOLUÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO ............................................................................................... 207
3. INFLUÊNCIAS DO DIREITO ESTRANGEIRO .................................................................................................. 208
4. CRITÉRIOS DA ADMINISTRAÇÃO ................................................................................................................ 208
5. SENTIDOS DA ADMINISTRAÇÃO ................................................................................................................ 210
5.1 Administração Pública Extroversa e Introversa .................................................................................................... 211
5.2 Tendências atuais do Direito Administrativo ....................................................................................................... 211
5.3 Transadministrativismo ........................................................................................................................................ 212
6. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO..................................................................................................... 212
7. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO ...................................................................................... 214
8. SISTEMAS DE CONTROLE DA ATUAÇÃO ADMINISTRATIVA ....................................................................... 215
9. REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO ........................................................................................................ 215
9.1 Princípios x Regras ................................................................................................................................................ 217
9.2 Princípios Explícitos do Direito Administrativo .................................................................................................... 217
10. PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO ............................................................................................. 218
10.1 Legalidade (Juridicidade) .................................................................................................................................... 218
10.2 Princípio Da Impessoalidade .............................................................................................................................. 220
10.3 Princípio da Moralidade ..................................................................................................................................... 221
10.4 Princípio da Publicidade ..................................................................................................................................... 225
10.5 Princípio da Eficiência ......................................................................................................................................... 228
11. OUTROS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS ................................................................................................ 231
11.1 Princípio da Razoabilidade e Proporcionalidade ................................................................................................ 231
11.2 Princípio da Supremacia do Interesse Público Sobre o Privado (Princípio da Finalidade Pública) ..................... 232
11.3 Princípio da Autotutela ou Sindicabilidade ........................................................................................................ 232
11.4 Princípio Da Continuidade Do Serviço Público ................................................................................................... 236
11.5 Princípio da Motivação ....................................................................................................................................... 241
11.6 Princípio da Ampla Defesa e Contraditório ........................................................................................................ 242
11.7 Princípio da Segurança Jurídica e Legítima Confiança ........................................................................................ 243
11.8 Princípio da Intranscendência Subjetiva das Sanções ........................................................................................ 244
META 6 – REVISÃO SEMANAL........................................................................................................................ 248
DIREITO PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS ........................................................................................... 248
DIREITO PROCESSUAL PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS ..................................................................... 249
DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ......................................................... 250
DIREITO ADMINISTRATIVO: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS ........................................................................ 252
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA SEMANA 01


META DIA ASSUNTO
1 SEG DIREITO PENAL: Noções Iniciais e Princípios
2 TER DIREITO PROCESSUAL PENAL: Noções Iniciais e Princípios
3 QUA DIREITO CONSTITUCIONAL: Direitos e Garantias Fundamentais (Parte I)
DIREITO CONSTITUCIONAL: Direitos e Garantias Fundamentais (Parte II)
4 QUI
DIREITOS HUMANOS: Introdução e Teoria Geral dos Direitos Humanos
5 SEX DIREITO ADMINISTRATIVO: Noções Iniciais e Princípios
REVISÃO SEMANAL
6 SÁB
CADERNO DE JURISPRUDÊNCIA (Anexo)

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

META 1

DIREITO PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, II
⦁ Art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV, XLV e XLVII
⦁ Art. 5º, XXXIX
⦁ Art. 5º, §3º
⦁ art. 7º, X
⦁ Art. 22, I e §único
⦁ art. 227, § 4º

CP
⦁ Art. 1º
⦁ Art. 59
⦁ Art. 71

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 8°, itens 2 e 5, CADH
⦁ Art. 8º, item 4 do Pacto de São José da Costa Rica

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

⦁ Art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV, XLV e XLVII, CF/88


⦁ Art. 5º, XXXIX, CF/88
⦁ Art. 22, I e §único, CF/88
⦁ Art. 1º, CP

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 599-STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública.

1. CONCEITO, CARACTERÍSTICAS, OBJETO, FUNÇÕES E DIVISÕES DO DIREITO PENAL

A) CONCEITO
Conjunto de normas que objetiva definir os crimes, proibindo ou impondo condutas, sob a ameaça
de imposição de pena ou medida de segurança, e a criar normas de aplicação geral.
Segundo o autor Cleber Masson (2017, p. 3) é “o conjunto de princípios e regras destinados a
combater o crime e a contravenção penal, mediante a imposição de sanção penal”.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Importa salientar que “sanção penal” é gênero, do qual são espécies as penas e as medidas de
segurança.

DICA DD: Diz-se que a pena é a 1ª via do direito penal, a medida de segurança é a 2ª e a reparação do dano
é a 3ª.

É um ramo do Direito Público, vez que suas normas são indisponíveis, impostas e dirigidas a todas as
pessoas. Além disso, o Estado é o titular do direito de punir e por isso sempre figura como sujeito passivo
das infrações penais, ainda que de forma mediata.
Ainda sobre o conceito de direito penal:
● Aspecto Formal: o direito penal é um conjunto de normas que qualifica certos comportamentos
humanos como infrações penais, define os seus agentes e fixa as sanções a serem aplicadas.
● Aspecto Material: o Direito Penal se refere a comportamentos considerados altamente reprováveis
ou danosos ao organismo social, afetando bens jurídicos indispensáveis à própria conservação e
progresso da sociedade.
● Aspecto Sociológico: o direito penal é mais um instrumento do controle social de comportamentos
desviados, visando a assegurar a necessária disciplina social. Em suma, sob aspecto dinâmico, o
Direito Penal é mais um instrumento de controle social visando assegurar a necessária disciplina para
a harmônica convivência dos membros da sociedade (TJ/PR).

Aprofundando o enfoque sociológico


A manutenção da paz social demanda a existência de normas destinadas a estabelecer diretrizes
(regras).
Quando violadas as regras de conduta, surge para o Estado o dever de aplicar sanções civis ou penais
(infrações).
Nessa tarefa de controle social atuam vários ramos do Direito.
Quando a conduta atenta contra bens jurídicos especialmente tutelados, merece reação mais severa
por parte do Estado, valendo-se do Direito Penal (soldado de reserva).
O que diferencia a norma penal das demais é a espécie de consequência jurídica (pena privativa de
liberdade).

B) CARACTERÍSTICAS
De acordo com Cleber Masson (2017, p. 5), o Direito Penal é uma ciência cultural, normativa,
valorativa, finalista, de natureza predominantemente sancionatória, e fragmentária. Esquematizando:

⦁ I – Ciência: suas regras estão contidas em normas e princípios que, por sua vez, formam a dogmática
jurídico-penal;
⦁ II – Cultural: o Direito Penal é uma ciência do “dever ser”, ao contrário das ciências naturais, que
cultuam o “ser”;
⦁ III – Normativa: o objeto principal é o estudo da lei penal (Direito positivo);

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SEMANA 01/21

⦁ IV – Valorativa: sua aplicação não está pautada em regras matemáticas de certo ou errado, mas sim
em uma escala de valores que são sopesados a partir de critérios e princípios próprios do Direito
Penal. Dessa forma, esse ramo do direito valoriza hierarquicamente as suas normas;
⦁ V – Finalista: o objetivo do direito penal é a proteção de bens jurídicos fundamentais, o que torna a
sua missão prática, e não simplesmente teórica;
⦁ VI – Sancionatória: o Direito Penal é predominantemente sancionador porque não cria bens
jurídicos, mas acrescenta proteção penal aos bens jurídicos disciplinados por outros ramos do
Direito. No entanto, é possível que ele seja também constitutivo, quando protege interesses não
regulados por outras áreas do Direito;
⦁ VII – Fragmentária: o Direito Penal não tutela todos os valores ou interesses, mas somente os mais
importantes para a manutenção e o desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade.

C) OBJETO DE PROTEÇÃO DO DIREITO PENAL


Bens Jurídicos penais

“é a coisa, o valor, o atributo espiritual ou intelectual cujo usufruto e gozo são


reconhecidos como significativamente relevantes. Primeiro, para o efetivo
desenvolvimento pessoal de seu titular e, depois e em consequência, para todo o
corpo social, de que é exemplo o meio ambiente ecologicamente equilibrado”.
(PACELLI, 2017, p. 61)

O legislador seleciona os bens jurídicos a serem defendidos pelo Direito Penal. No entanto, NÃO se
pode falar em discricionariedade ampla e irrestrita, pois os bens jurídicos mais importantes são tratados na
Constituição. Logo, a Constituição possui a seguinte missão:
⦁ Orienta o legislador, ao eleger valores considerados indispensáveis à manutenção da sociedade;
⦁ Impede que o legislador viole direitos fundamentais atribuídos a toda pessoa humana (Visão
Garantista Do Direito Penal).

D) FUNÇÕES DO DIREITO PENAL


Na atualidade, a doutrina divide a missão do direito penal em duas, quais sejam:

a) Missão mediata:
● Instrumento de Controle Social ou de preservação da paz pública (Papel intimidador);
● Limitação ao poder de punir estatal ou Função de Garantia – garantia dos cidadãos contra o arbítrio
estatal, vez que só podem ser punidos por atos previstos como infração penal e por pena também
determinada em lei.
☞ Para Franz Von Liszt “o Código Penal é a Magna Carta do delinquente”.

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Obs.: Se, de um lado, o Estado controla o cidadão, impondo-lhe limites para a vida em sociedade, de outro
lado, é necessário também limitar o seu próprio poder de controle, evitando a punição abusiva (fugindo da
hipertrofia da punição).

b) Missão imediata:
Aqui, é necessário lembrar do funcionalismo penal, que trará as duas correntes de mais destaque
acerca do tema (anote esses nomes na testa):
● Funcionalismo teleológico (moderado) – Claus Roxin (Predomina)
⋅ A missão do Direito Penal é a proteção dos bens jurídicos mais relevantes;
⋅ Se a proteção de determinado bem jurídico não é indispensável ao indivíduo e à manutenção
da sociedade, não deve incidir o direito penal, mas outros ramos do direito;
⋅ Para Roxin, o Direito Penal não veio para trazer valores éticos, morais;
⋅ Ele entende que essa seria a função exclusiva;
⋅ É chamado teleológico porque busca a finalidade do direito penal.

Caiu em prova Delegado SP/2023! A função do direito penal é proteger bens jurídicos relevantes para a
sociedade (item correto).

● Funcionalismo sistêmico (radical) – Günter Jakobs


⋅ A missão do Direito Penal é assegurar a vigência do sistema, protegendo o império da
norma;
⋅ Ele discorda de Roxin por entender que, quando o indivíduo é punido pela infração penal
praticada, o bem jurídico já foi violado, ou seja, não está protegido, não sendo esta, portanto,
a função do direito penal. Sua função seria a de demonstrar que a norma continua vigorando
e deve ser obedecida;
⋅ Assim, “o bem não deve ser representado como um objeto físico ou algo do gênero, e sim,
como norma, como expectativa garantida”. (Direito Penal e Funcionalismo, 2005, p. 33-34);
⋅ E, ainda, entende ele que quem deliberada e reiteradamente viola a lei penal, de forma grave
e duradoura, deve ser tratado como “não-cidadão”, como inimigo da sociedade, por não
cumprir sua função no corpo social, não fazendo jus às garantias previstas pela norma a qual
tal sujeito infringe;
⋅ Ao delinquente-cidadão, seria aplicado o direito penal do cidadão, ao passo que ao
delinquente inimigo, seria aplicado o Direito Penal do Inimigo (tópico específico mais à
frente).

APROFUNDANDO: vamos a uma tabelinha com mais características das duas vertentes do
funcionalismo para fixar as diferenças?

FUNCIONALISMO PENAL

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SEMANA 01/21

● Finalidade do Direito Penal: proteção de bens


jurídicos indispensáveis. Não veio para trazer
valores éticos, morais;
● Moderado: o direito penal tem limites impostos
FUNCIONALISMO pelo próprio direito penal e demais ramos do
TELEOLÓGICO direito;
(Características: Moderado, ● Dualista: convive em harmonia com os demais
dualista, de política criminal ramos do Direito. Reconhece o sistema jurídico em
ou racional teleológico) geral;
ROXIN ● De política criminal: aplica a lei de acordo com os
anseios da sociedade. Se adapta à sociedade em que
ele se insere;
● Racional teleológico: movido pela razão e em busca
de sua finalidade.
● Finalidade do Direito Penal: é a proteção das
normas penais, assegurar o império da norma. É
punir. Aplicar a lei;
● A sociedade que deve se ajustar ao Direito Penal;
● Para ele, o Direito Penal é:
FUNCIONALISMO SISTÊMICO - Radical: só reconhece os limites impostos por ele
(Características: mesmo;
Radical, monista e sistêmico) - Monista: é um sistema próprio de regras e de
JAKOBS valores que independe dos demais;
Direito Penal do Inimigo - Sistêmico: é autônomo (independe dos demais
ramos), autorreferente (todas as referências e
conceitos que precisa buscar do próprio direito
penal) e se autoproduz;
● Quem viola reiterada e deliberadamente a norma =
não-cidadão / inimigo = não tem direitos.

Outras funções do Direito Penal (Masson):


● Função criadora ou modificadora de costumes. Disseminação ético-social de valores. Efeito
“moralizador”. Visa garantir o mínimo ético que deve existir em toda coletividade:
⋅ É uma função educativa, que visa estimular os cidadãos a se conscientizarem e protegerem
bens que ainda não foram tidos pela sociedade como fundamentais (ex.: crimes contra o
meio ambiente).
⋅ Esta função é bastante discutida, pelo fato de a doutrina divergir se o estado deveria ou não
se utilizar do direito penal como meio de educação. Há quem entenda que tal objetivo deve
ser alcançado pela interação social e não por coação.

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

● Simbólica – não produz efeitos externos, mas somente na mente dos cidadãos e governantes, sendo
uma função inerente a todas as leis, não apenas ao Direito Penal;
⋅ Enquanto os governados pensam que a contenção da criminalidade e as medidas necessárias
para tanto estão sob o controle das autoridades, os governantes ficam com a sensação de
terem feito algo e adiam a efetiva resolução do problema, retirando, ao longo do tempo, a
credibilidade do direito penal.
⋅ Geralmente é manifestada pelo “direito penal do terror”, que se apresenta de duas formas:
* Inflação legislativa (direito penal de emergência) – em que são criados tipos penais
desnecessários para dar resposta a qualquer tipo de problema;
* Hipertrofia do Direito Penal – aumentando desproporcional e injustificadamente as
penas em casos pontuais, como se isso, por si só, fosse impedir a prática do crime.

● Motivadora de comportamento conforme a norma – a ameaça de imposição de sanções motiva os


indivíduos a se comportarem de acordo com a lei, para que não sofram suas penalidades;
● Redução da violência estatal – pois, embora legítima e necessária, a pena não deixa de ser uma
agressão ao indivíduo, devendo, portanto, restringir-se aos casos necessários e legais.
● Promocional de transformação social – auxiliando em mudanças que garantirão a evolução da
comunidade.

B) CLASSIFICAÇÕES DO DIREITO PENAL


1. Direito Penal Fundamental (Primário): é o conjunto de normas e princípios do Direito Penal
aplicáveis genericamente, inclusive às leis penais especiais. É composto pelas normas da Parte Geral
do Código Penal e, excepcionalmente, algumas normas de amplo conteúdo previstas na Parte
Especial, como os conceitos de domicílio (art. 150, §§ 4º e 5º) e funcionário público (art. 327);
2. Direito Penal Complementar (Secundário): corresponde à legislação penal extravagante;

3. Direito Penal Comum: é o conjunto de normas penais aplicável indistintamente a todas as pessoas,
como o Código Penal;
4. Direito Penal Especial: é o conjunto de normas penais aplicável apenas a pessoas determinadas que
preencham certas condições legais. São exemplos o Código Penal Militar e o Decreto-lei nº 201/1967
(crimes de responsabilidade dos prefeitos);

5. Direito Penal Geral: é o conjunto de normas penais aplicáveis em todo o território nacional. Essas
normas são produzidas privativamente pela União (art. 22, I, da CF);
6. Direito Penal Local: é o conjunto de normas penais aplicáveis somente a determinada parte do
território nacional. A existência dessas normas somente é possível se houver autorização da União
por lei complementar para que os Estados legislem sobre questões específicas de Direito Penal (art.
22, parágrafo único, da CF);

7. Direito Penal Objetivo: é o conjunto de leis penais em vigor;

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8. Direito Penal Subjetivo: é o direito de punir (ius puniendi), que pertence exclusivamente ao Estado
e nasce quando uma lei penal é violada;

9. Direito Penal Substantivo: é o direito penal material, propriamente dito. É o que consta no Código
Penal;
10. Direito Penal Adjetivo: também chamado de “formal” (grave as nomenclaturas), é o direito
processual penal.

DICA DD: Direito Penal de Intervenção


Abordado por HASSEMER. Segundo ele, o direito penal deve se preocupar apenas com os bens jurídicos
individuais, tais como a vida, patrimônio, propriedade etc., bem como de infrações penais que causem perigo
concreto. Por outro lado, se o intuito da previsão da infração é proteger apenas bem jurídico difuso, coletivo
ou de natureza abstrata, não deveria ser considerada uma infração penal. Deveria ser regulada por um
sistema jurídico diverso, com sanções mais brandas que as do direito penal, sem risco de privação da
liberdade do infrator, mas aplicadas também por uma autoridade judiciária, de forma mais célere e ampla,
podendo ser até mais efetiva, para não tornar o direito penal inócuo e simbólico. Exemplo no BR: Lei 8.429/92
(Lei de improbidade administrativa). Este seria o direito de intervenção.
O direito de intervenção estaria acima do direito administrativo, mas abaixo do direito penal.
Para o autor, de um lado, o Direito Penal, dada sua gravidade, não pode ser utilizado para a tutela de bens
jurídicos difusos, coletivos, transindividuais, etc. Por outro lado, sabe-se que as autoridades administrativas
não possuem a independência necessária para a aplicação das penalidades. Por isso, propõe o Direito de
Intervenção.
Há críticas acerca de tal posicionamento na doutrina, pela dúvida de como seria a legitimidade e como atuaria
o direito de intervenção, bem como se tais sanções seriam suficientes para tutelar bens importantes que se
caracterizam como coletivos, difusos ou de natureza abstrata.

2. ENCICLOPÉDIA DAS CIÊNCIAS PENAIS

O estudo do crime, do criminoso e da sanção penal é o objeto de várias ciências, tendo sido chamado
por José Cerezo Mir de “enciclopédia de ciências penais”.
A doutrina não é uníssona acerca de quantas ou quais exatamente seriam elas, mas, para o nosso
estudo, as mais importantes são a dogmática, a criminologia e a política criminal.

I – DOGMÁTICA PENAL: tem por objetivo interpretar de forma sistemática o direito penal, entendendo o
sentido das normas e aplicando-o de forma lógico-racional (não emocional).

Obs.: Dogmática ≠ Dogmatismo: Dogmatismo é a aceitação cega de verdades tidas como absolutas e
imutáveis (deve ser desprezado). Se opõe à ideia de ciência, que admite flexibilização, na qual estaria
enquadrada a dogmática.

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II – CRIMINOLOGIA: A criminologia, de acordo com Luiz Flávio Gomes e Antônio Molina, é uma ciência
empírica (estuda o que “é”, ao contrário do direito penal, que estuda o que “deve ser” – caracterizando-se
como uma ciência valorativa e normativa) e interdisciplinar (observa diversos fatores: econômicos, políticos,
sociais, religiosos etc.), a qual estuda o crime, a vítima, o criminoso e o controle social. Suas constatações se
dão a partir da observação daquilo que acontece na realidade social, na experiência.

III – POLÍTICA CRIMINAL: trabalha com estratégias e mecanismos de controle social da criminalidade, para
que os bens jurídicos relevantes sejam protegidos. Possui a característica de vanguarda, pois orienta a criação
e a reforma das leis, a partir de uma análise crítica acerca destas estarem ou não cumprindo os fins a que se
propõem, considerando dados obtidos por outros ramos (como a criminologia).
Funciona como “filtro” entre a letra fria da lei e a realidade social. Revela as leis que “pegam” e as que não.

2.1 Direito Penal X Criminologia X Política Criminal

O ponto mais cobrado desse tópico é, sem dúvidas, a diferença entre direito penal, criminologia e
política criminal. Esquematizando:

DIREITO PENAL CRIMINOLOGIA POLÍTICA CRIMINAL

Ciência normativa e valorativa, que


Ciência empírica e
analisa os fatos humanos Trabalha as estratégias e meios
interdisciplinar, que estuda o
indesejados e define quais devem de controle social da
crime, o criminoso, a vítima e o
ser tipificados como crime ou criminalidade.
controle social.
contravenção.

Ocupa-se do crime enquanto Ocupa-se do crime enquanto


Ocupa-se do crime enquanto fato.
norma. valor.

Ex.: Quais fatores contribuem Ex.: Estuda como diminuir os


Ex.: Define o crime de roubo.
para o crime de roubo. casos de roubo.

VAMOS LEMBRAR:
Vitimologia: é o estudo da vítima em seus diversos planos. Inicialmente, a análise era quanto às formas de
contribuição da vítima para a prática dos crimes. Modernamente, tal estudo preocupa-se também com a
proteção destas no momento posterior à prática do crime, como por exemplo com a sua reinserção na
sociedade. No direito brasileiro, temos o exemplo da composição dos danos civis (art. 74, parágrafo único,
Lei 9.099/95) - TERCEIRA VIA
Ademais, uma das circunstâncias judiciais que deve ser considerada na fixação da pena base é o
comportamento da vítima (art. 59, CP).

2.2 Seletividade - Criminalização Primária e Secundária (Zaffaroni)

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Sobre a seletividade, define Zaffaroni:

“Ao menos em boa medida, o sistema penal seleciona pessoas ou ações, como
também criminaliza certas pessoas segundo sua classe e posição social. [...] Há
uma clara demonstração de que não somos todos igualmente ‘vulneráveis’ ao
sistema penal, que costuma orientar-se por ‘estereótipos’ que recolhem os
caracteres dos setores marginalizados e humildes, que a criminalização gera
fenômeno de rejeição do etiquetado como também daquele que se solidariza ou
contata com ele, de forma que a segregação se mantém na sociedade livre. A
posterior perseguição por parte das autoridades com rol de suspeitos
permanentes, incrementa a estigmatização social do criminalizado (ZAFFARONI;
PIERANGELI, 2011, p. 73).” (Guarda relação com o movimento do labeling approach
/ teoria da reação social / da rotulação social / do etiquetamento social – tema que
deve ser estudado de modo mais aprofundado na matéria de criminologia)

Nesse contexto, o processo de criminalização pode ser dividido em dois:


a) Criminalização primária: É a elaboração e sanção das leis penais, introduzindo formalmente no
ordenamento jurídico a tipificação de determinadas condutas.
b) Criminalização secundária: É a ação punitiva que recai sobre pessoas concretas. Quando recai sobre
o indivíduo a persecução penal após ser a ele atribuída a prática de um ato primariamente
criminalizado. É praticada pela Polícia e Poder Judiciário.

* ATENÇÃO: Além do momento da elaboração e aplicação da norma, a seletividade também vai se mostrar
presente no momento da execução da pena.

#DICA DD: Você sabe o que é Direito Penal Subterrâneo e Direito Penal Paralelo? Referem-se aos sistemas
penais paralelos e subterrâneos.
De acordo com Zaffaroni, “sistema penal é o conjunto das agências que operam a criminalização primária e
a criminalização secundária ou que convergem na sua produção”.
Direito Penal Paralelo: Como o sistema penal formal do Estado não obtêm êxito em grande parte da
aplicação e exercício do poder punitivo, outras agências apropriam-se desse espaço e o exercem de modo
paralelo ao estado (criando sistemas penais paralelos). Ex.: médico que aprisiona doentes mentais;
institucionalização pelas autoridades assistenciais dos morados de rua etc.
Direito Penal Subterrâneo: ocorre quando as instituições oficiais atuam com poder punitivo ilegal,
acarretando abuso de poder. Ex.: institucionalização de pena de morte (execução sem processo),
desaparecimentos, torturas, extradições mediante sequestro, grupos especiais de inteligência que atuam
fora da lei, etc.

3. DIREITO PENAL DO AUTOR E DIREITO PENAL DO FATO

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Direito Penal do Fato – Adotado pelo Ordenamento Penal Brasileiro – consiste que o direito penal
deve punir condutas, ou seja, fatos, praticados pelos indivíduos que sejam lesivas a bens jurídicos de
terceiros. Pune-se o fato. A base para esse princípio está no Estado de Direito.
Está atrelado ao Princípio da exteriorização ou materialização do fato, pelo qual o Estado só pode
incriminar condutas humanas voluntárias (fatos). Assim, ninguém pode ser castigado por seus pensamentos,
desejos ou meras cogitações ou estilo de vida.
O princípio da exteriorização serviu para o legislador acabar com as infrações penais que
desconsideravam esse mandamento. Ex.: Mendicância (art. 60 L.C.P. – abolido), tal infração adotava o direito
penal do autor.
Por sua vez, o direito Penal do autor consiste na punição do indivíduo baseada em seus
pensamentos, desejos e estilo de vida, condições pessoais, do modo de ser, grau de culpabilidade
(reprovabilidade), antecedentes do autor, está interligado ao Direito Penal do Inimigo. Aqui teríamos uma
inobservância do princípio da exteriorização do fato.

Obs.: Coculpabilidade e coculpabilidade às avessas (Zaffaroni)


Coculpabilidade é corresponsabilidade do Estado no cometimento de determinados delitos, praticados por
cidadãos que possuem menor âmbito de autodeterminação diante das circunstâncias do caso concreto,
principalmente no que se refere a condições sociais e econômicas do agente, o que enseja menor reprovação
social. Segundo o princípio da coculpabilidade, o Estado-juiz haveria de considerar como atenuante as
condições socioeconômicas do réu no momento na aplicação da pena. Veja que o artigo 66 do Código Penal
autoriza ao Juiz esse postulado, através da, chamada pela doutrina, atenuante inominada.
A outra face da teoria da coculpabilidade pode ser identificada como a coculpabilidade às avessas, por meio
da qual defende-se a possibilidade de reprovação penal mais severa no tocante aos crimes praticados por
pessoas dotadas de elevado poder econômico, e que abusam desta vantagem para a execução de delitos,
em regra, prevalecendo-se das facilidades proporcionadas pelo livre trânsito nos centros de controle político
e econômico.

4. GARANTISMO PENAL (FERRAJOLI)

4.1 Conceito

Para Ferrajoli, “o garantismo é entendido no sentido do ESTADO CONSTITUCIONAL DE DIREITO, isto


é, aquele conjunto de vínculos e de regras racionais imposto a todos os poderes na tutela dos direitos de
todos, representa o único remédio para os poderes selvagens”.

4.2. Garantias primárias e secundárias

O autor distingue as garantias em duas grandes classes: as garantias primárias e as garantias


secundárias:
● Garantias primárias – limites e vínculos normativos: Consistem nas proibições e obrigações, formais
e substanciais, impostos na tutela dos direitos, ao exercício de qualquer poder;
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● Garantias secundárias – diversas formas de reparação: Subsequentes às violações das garantias


primárias, diz respeito à anulabilidade dos atos inválidos e a responsabilidade pelos atos ilícitos.
- Ex.: a CF prevê como garantia primária que não haverá pena de banimento. O legislador não a
observa e comina tal pena a determinado crime. Neste caso, será utilizado o controle de
constitucionalidade, previsto na própria constituição como garantia secundária, julgando a nomra
inconstitucional e o ato nulo.

* ATENÇÃO: Para o garantismo de Ferrajoli, o juiz não é um mero aplicador da lei, um mero executor da
vontade do legislador ordinário. Ele é, antes de tudo, o guardião dos direitos fundamentais.

4.3 Máximas do garantismo

☠ Questão cobrada na 2ª fase do concurso para o cargo de Delegado do Estado do


Mato Grosso do Sul em 2017
● Nulla poena sine crimine: somente será possível a aplicação de pena quando houver, efetivamente,
a prática de determinada infração penal;
● Nullum crimen sine lege: a infração penal deverá sempre estar expressamente prevista na lei penal;
● Nulla lex (poenalis) sine necessitate: a lei penal somente poderá proibir ou impor determinados
comportamentos, sob a ameaça de sanção, se houver absoluta necessidade de proteger
determinados bens, tidos como fundamentais ao nosso convívio em sociedade, (direito penal
mínimo);
● Nulla necessitas sine injuria: as condutas tipificadas na lei penal devem, obrigatoriamente,
ultrapassar a sua pessoa, isto é, não poderão se restringir à sua esfera pessoa, à sua intimidade,
ou ao seu particular modo de ser, somente havendo possibilidade de proibição de
comportamentos quando estes vierem a atingir bens de terceiros;
● Nulla injuria sine actione: as condutas tipificadas só podem ser exteriorizadas mediante a ação do
agente, ou omissão, quando previsto em lei;
● Nulla actio sine culpa: somente as ações culpáveis podem ser reprovadas;
● Nulla culpa sine judicio: é necessária a adoção de um sistema nitidamente acusatório, com a
presença de um juiz imparcial e competente para o julgamento da causa;
● Nullum judicium sine accusatione: o juiz que julga não pode ser responsável pela acusação;
● Nulla accusatio sine probatione: fica a cargo do acusador todo o ônus probatório, que não poderá
ser transferido para o acusado da prática de determinada infração penal;
● Nulla probatio sine defensione: deve ser assegurada ao acusado a ampla defesa, com todos os
recursos a ela inerentes.

ATENÇÃO! Em que consiste o GARANTISMO PENAL INTEGRAL?


O Direito penal deve se prestar a garantir não somente os direitos e garantias dos acusados, mas todos os
direitos e deveres previstos na Constituição. Em que pese não se possa tolerar violações arbitrárias e

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desproporcionais aos direitos daquele sob o qual recai o jus puniendi estatal, não se pode também deixar de
proteger outros bens que também são juridicamente relevantes para a sociedade.
Tudo isso deve passar pelo crivo da proporcionalidade.
Desse modo, o garantismo divide-se em:
a) Garantismo negativo: visa limitar a função punitiva do Estado, que deve ser aplicada estritamente aos
casos necessários e em medida adequada, consistindo na proibição de excesso.
b) Garantismo positivo: busca evitar a impunidade e garantir que os bens jurídicos relevantes à sociedade
sejam efetivamente protegidos, caracterizando-se pela proibição da proteção insuficiente.
Quando apenas o garantismo negativo é observado, surge o chamado “garantismo hiperbólico monocular”
(grave este nome). Hiperbólico: por ser aplicado de modo desproporcional e exagerado. Monocular: por
enxergar apenas um lado, opondo-se ao garantismo integral.

Caiu em prova Delegado PE/2016! Da sentença penal se extraem diversas consequências jurídicas e, quando
for condenatória, emergem-se os efeitos penais e extrapenais. Acerca dos efeitos da condenação penal,
assinale a opção correta: A condenação por crime de racismo cometido por proprietário de estabelecimento
comercial sujeita o condenado à suspensão do funcionamento de seu estabelecimento, pelo prazo de até
três meses, devendo esse efeito ser motivadamente declarado na sentença penal condenatória.

5. DIREITO PENAL DO INIMIGO

a) Conceito: Aquele que viola o sistema deve ser considerado e tratado como inimigo. O delinquente,
autor de determinados crimes, não é ou não deve ser considerado como cidadão, mas como um “cancro
societário”, que deve ser extirpado (Munhoz Conde).
Jakobs fomenta o Direito Penal do inimigo para o terrorista, traficante de drogas, de armas e de
seres humanos e para os membros de organizações criminosas transnacionais (vide lei n° 12.850/2013).
Destaque-se que nem todo criminoso é inimigo, apenas uma parcela reduzida de criminosos é que
entra no rol.

b) Características do direito penal do inimigo:


● Antecipação da punibilidade com a tipificação de atos preparatórios: O legislador é impaciente, não
aguarda o início da execução para punir o agente);
● É um direito penal prospectivo e não retrospectivo, na medida em que se pune o inimigo pelo que
ele poderá fazer, em razão do perigo que representa;
● O inimigo não é visto como um sujeito de direitos, pois perdeu seu status de cidadão;
● Pune-se o inimigo pela sua periculosidade e não pela sua culpabilidade, como é no direito penal
comum;
● Criação de tipos de mera conduta;
● Previsão de crimes de perigo abstrato: normalmente, pode haver crimes de perigo abstrato, mas
sem abusos, flexibilização do princípio da lesividade;
● As garantias processuais aplicadas ao inimigo são relativizadas ou até mesmo suprimidas;

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● Flexibilização do Princípio da Legalidade: é a descrição vaga dos crimes e das penas. A descrição
genérica de um crime permite a punição de mais condutas/comportamentos;
● Inobservância dos Princípios da Ofensividade: relação com a criação de crimes de perigo abstrato e
da Exteriorização do Fato (relação com o direito penal do autor);
● Preponderância do Direito Penal do autor: Flexibilização do princípio da exteriorização do fato;
● Desproporcionalidade das penas;
● Surgimento das chamadas “leis de luta ou de combate”: Exemplo - Lei n. 8.072/90 e Lei n.
12.850/2013. Alguns doutrinadores sustentam que tais leis têm predicados de direito penal do
inimigo;
● Endurecimento da Execução Penal: O regime disciplinar diferenciado é um resquício do direito penal
do inimigo;

Caiu em prova Delegado PA/2021! De acordo com o autor alemão Jakobs, o direito penal do inimigo pode
ser caracterizado por quais elementos? Punição prospectiva; desproporcionalidade das penas; e relativização
ou supressão de garantias processuais.

*ATENÇÃO: O Direito Penal do inimigo também é conhecido como a “terceira velocidade do Direito Penal”.
Isto porque se aplica a pena de prisão e também por ser extremamente célere, já que suprime direitos e
garantias.

5.1 Velocidades do Direito Penal (Jesús-Maria Silva Sánchez)

Segundo o autor Cleber Masson (2017, p. 111) a teoria das velocidades do direito penal “parte do
pressuposto de que o Direito Penal, no interior de sua unidade substancial, contém dois grandes blocos,
distintos, de ilícitos: o primeiro das infrações penais às quais são cominadas penas de prisão (direito penal
nuclear), e o segundo, daqueles que se vinculam aos gêneros diversos de sanções penais (direito penal
periférico)”.
● Primeira velocidade: Direito Penal “da prisão”, aplicando-se penas privativas de liberdade como
resposta aos crimes praticados, com a rígida observância das garantias constitucionais e processuais.
Aplicada a delitos graves.
● Segunda velocidade: Direito penal reparador. São aplicadas aqui penas alternativas à prisão, como
restritivas de direitos ou pecuniárias, de forma mais rápida, sendo admissível, para tanto, uma
flexibilização proporcional dos princípios e regras processuais. Aplicável a delitos de menor
gravidade.
☠ Foi tema da prova discursiva do concurso de Delegado do Espírito Santo em 2019!
● Terceira velocidade: Novamente temos aqui a prisão por excelência. Contudo, difere-se da primeira
por permitir a flexibilização e até a supressão de determinadas garantias. Aplicada aos delitos de
maior gravidade. Remete ao direito penal do inimigo, já explicado acima.
Também poderiam constituir como exemplos a Lei de Crimes Hediondos e a Lei de Organizações
Criminosas na legislação pátria.
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● Quarta velocidade: Neopunitivismo. Ligada ao direito internacional. É o processamento e


julgamento pelo TPI de chefes de Estado que violarem tratados e convenções internacionais de tutela
de Direitos Humanos e praticarem crimes de lesa-humanidade, de modo que, por esta razão, se
tornarão réus perante o referido tribunal e terão, dentro do contexto, suas garantias penais e
processuais penais diminuídas.
● Quinta velocidade: hodiernamente, já se fala em Direito Penal de 5ª (quinta) velocidade, que trata
de uma sociedade com maior assiduidade do controle policial, o Estado com a presença maciça de
policiais na rua, no cenário onde o Direito Penal tem o escopo de responsabilizar os autores, diante
da agressividade presente em nossa sociedade de relações complexas e, muitas vezes,
(in)compreensíveis.

6. FONTES DO DIREITO PENAL

☠ Foi tema de prova oral do concurso de Delegado de Polícia de Minas Gerais em


2018

São as formas pelas quais o direito penal é criado e, posteriormente, manifestado.


a) Fonte Material: Diz respeito à criação do Direito Penal. Via de regra, é a União, art.22, I, da CF/88, pois
“compete privativamente à União legislar sobre direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho”.

*Atenção: O artigo 22, parágrafo único, CF/88, prevê que “Lei Complementar poderá autorizar os Estados a
legislar sobre questões específicas relacionadas neste artigo”, o que permite entender que abarca, inclusive,
o Direito Penal. Então pode-se ter uma lei complementar autorizando o estado a legislar sobre questões
específicas de direito penal. É a chamada DELEGAÇÃO EM PRETO – pois essa lei complementar não pode
delegar genericamente. Têm que ser pontos específicos/questões específicas.

Obs.: Medida provisória pode versar sobre direito penal?


R.: A EC 32/01 inseriu dispositivo expresso na CF/88 vedando a edição de medida provisória versando
sobre direito penal. Até 2001 não existia regra expressa na CF/88 vedando a edição de medida provisória
sobre matéria penal. Tanto que o próprio STF, antes dessa EC 32, apreciou o RE 254.818/PR – 2000,
especificando que MP não poderia versar sobre direito penal, exceto se favorável ao réu.

Esse julgado (2000), anterior à EC 32/2001, que estabeleceu ser possível a edição de medida
provisória quando favorável ao réu, subsistiria após a EC 32/01, considerando que, com essa EC, passou-se a
vedar, de forma abstrata, a edição de medida provisória sobre matéria penal?
R.: A doutrina e a jurisprudência são pacíficas no sentido de que é possível a edição de medida
provisória versando sobre direito penal quando favorável ao réu, de modo que o entendimento exarado no
bojo do RE 254.818 subsistiria após a edição da EC 32/01.

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Segundo explica o autor Cleber Masson, "É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria relativa a
Direito Penal (CF, art. 62, § 1.º, I, alínea b), seja ela prejudicial ou mesmo favorável ao réu. Nada obstante, o
Supremo Tribunal Federal historicamente firmou jurisprudência no sentido de que as medidas provisórias
podem ser utilizadas na esfera penal, desde que benéficas ao agente". (MASSON, Cleber. Direito Penal.
Parte Geral. Volume 1. 13ª edição. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2019, p. 97).

Caiu em prova Delegado PA/2021! No tocante ao Direito Penal, assinale a alternativa correta: É vedada a
edição de medidas provisórias sobre matéria relativa a Direito Penal (art. 62, §1º, I, alínea b, CF). Nada
obstante, o STF firmou jurisprudência no sentido de que as medidas provisórias podem ser utilizadas na
esfera penal, desde que benéficas ao agente.

STF no RE 254818/PR:
I. Medida provisória: sua inadmissibilidade em matéria penal - extraída pela doutrina consensual - da
interpretação sistemática da Constituição -, não compreende a de normas penais benéficas, assim, as que
abolirem crimes ou lhes restringem o alcance, extingam ou abrandem penas ou ampliam os casos de isenção
de pena ou de extinção de punibilidade. II. Medida provisória: conversão em lei após sucessivas reedições,
com cláusula de "convalidação" dos efeitos produzidos anteriormente: alcance por esta de normas não
reproduzidas a partir de uma das sucessivas reedições. III. MPr 1571-6/97, art. 7º, § 7º, reiterado na reedição
subsequente (MPr 1571-7, art. 7º, § 6º), mas não reproduzido a partir da reedição seguinte (MPr 1571-8 /97):
sua aplicação aos fatos ocorridos na vigência das edições que o continham, por força da cláusula de
"convalidação" inserida na lei de conversão, com eficácia de decreto-legislativo.(STF - RE: 254818 PR, Relator:
SEPÚLVEDA PERTENCE, Data de Julgamento: 08/11/2000, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 19-12-2002
PP-00081 EMENT VOL-02096-07 PP-01480 RTJ VOL-00184-01 PP-00301).

b) Fonte Formal: Diz respeito à aplicação do Direito Penal. Esse ponto varia um pouco de doutrinador para
doutrinador.

DOUTRINA CLÁSSICA DOUTRINA MODERNA


Imediata: Imediata:
● Lei (Desdobramento do princípio da ● Lei
reserva legal, que prevê a criação de ● Constituição Federal
crime e cominação de penas como ● Tratados Internacionais de Direitos Humanos
um monopólio da lei. Aqui, estamos ● Jurisprudência
falando em lei ordinária). ● Princípios
● Atos administrativos (complementos de normas
penais em branco).

*Porém, até mesmo aqui, a única fonte formal que pode


criar tipos penais e culminar penas é a lei (reserva legal).
O restante é fonte não-incriminadora.

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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Mediatas: Mediatas:
● Costumes ● Doutrina
● Princípios gerais do Direito
● *Alguns colocam atos
administrativos.
Fonte informal:
● Costumes

Obs. Um acordo internacional versando sobre direitos humanos, celebrado por escrito entre Estados e regido
pelo direito internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos,
deve obrigatoriamente ser seguido, pois tem caráter vinculante (“hard law”), seja aprovado pelo Congresso
Nacional com quórum de emenda, caso em que tem status constitucional (art. 5º, §3º, CF/88), seja aprovado
com quórum simples, figurando, então, com o status de norma infraconstitucional, porém supralegal (art.
5º, § 2º, CF/88). Diante desse quadro, os tratados, convenções e regras de direito internacional sobre direitos
humanos devem ser encarados como fonte formal imediata do Direito Penal.
Mas veja que é necessária a edição de lei em sentido formal para a tipificação do crime contra a
humanidade trazida pelo Estatuto de Roma, mesmo se cuidando de Tratado internalizado. O disposto na
Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes contra a Humanidade não torna
inaplicável o art. 107, inciso IV, do Código Penal. STJ. 3ª Seção. REsp 1.798.903-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares
da Fonseca, julgado em 25/09/2019. (Info 659)

i. Lei - É o único instrumento normativo capaz de criar infração penal e cominar sanção penal (única
fonte formal imediata incriminadora).
ii. Constituição Federal – Não cria infração penal e não comina sanção penal (nem pena, nem medida
de segurança).

☞ Pergunta – Se a lei pode criar crimes e cominar penas, por que a CF, que é uma norma superior à lei,
não pode fazer isso (afinal, quem pode o mais pode o menos)? R. A CF não pode criar crime e nem
alterar pena, pois o seu processo de alteração é super rígido e incompatível com as necessidades do
direito penal.

☞ CUIDADO! A Constituição Federal, porém, fixa alguns patamares abaixo dos quais a intervenção penal
não se pode reduzir. São os chamados “mandados constitucionais de criminalização” (patamares
mínimos). Exemplos de mandados constitucionais de criminalização:

Art. 5º, XLI, CF – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e
liberdades fundamentais.
Art. 5º, XLII, CF – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível,
sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei. (Observe que o constituinte disse que

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quem vai criar o crime de racismo é a lei, mas quando esse crime for criado, a lei
deve puni-lo com, no mínimo, reclusão, qualquer que seja a pena).
Art.5º, XLIII, CF – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou
anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

☞ Pergunta de Concurso: Existe mandado constitucional de criminalização implícito ou tácito?


R: De acordo com a maioria, existem mandados constitucionais de criminalização implícitos, com a
finalidade de evitar a intervenção insuficiente do Estado (imperativo de tutela). Por exemplo, a Constituição,
ao garantir o direito à vida, está, implicitamente, determinando a criminalização do homicídio (se todos
têm direito à vida, não se pode permitir que o homicídio não seja crime).

iii. Tratados Internacionais de Direitos Humanos (TIDH)


Como é sabido, os TIDH entram no ordenamento interno podendo ostentar 02 status:
⦁ Se recepcionados com quórum de emenda constitucional, têm status de emenda;
⦁ Se o TIDH for recepcionado com quórum comum, terá status infraconstitucional, porém supralegal.

ATENÇÃO: Os tratados internacionais podem ser classificados como fonte do direito penal apenas quando
incorporados ao direito interno. Se versar sobre direitos humanos e for aprovado seguindo o rito de
emendas constitucionais, terá força normativa de emendas constitucionais (art. 5º, §3°, CF). Caso não siga
tal rito, terá força de norma supralegal. Contudo, antes do advento das Leis 12.694/12 e 12.850/13 (que
definiram, sucessivamente, organização criminosa), o STF já havia se manifestado pela inadmissibilidade da
utilização do conceito de organização criminosa dado pela Convenção de Palermo, trancando a ação penal
que havia dado origem à impetração, em face da atipicidade da conduta. HC nº 96.007/SP, rel. min. Marco
Aurélio, 1ª Turma, j. 12/06/2012. No REsp 1.798.903/RJ (j. 25/09/2019), o STJ decidiu que o Estatuto de
Roma, que conceitua os crimes contra a humanidade, não tem efeitos penais no Brasil, onde impera o
pressuposto da lei penal em sentido estrito para a tipificação de crimes.
Caiu em prova Delegado PA/2021! Em relação ao Direito Penal, assinale a alternativa correta: Em
homenagem ao princípio da reserva legal (art. 5º, XXXIX, CF), os tratados e as convenções internacionais não
podem criar crimes nem cominar penas, ainda que já tenham sido internalizados pelo Brasil.

iv. Jurisprudência
Não cria crime; não comina pena. Mas, na prática, às vezes, a jurisprudência cria o direito penal.
Ademais, revela Direito Penal podendo inclusive ter caráter vinculante. Um exemplo disso é o caso do crime
continuado, em que a jurisprudência define o que são condições de tempo e lugar para fim de definição da
continuidade delitiva. A condição de tempo é de 30 dias de intervalo entre as infrações; a condição de lugar
também é definida pela jurisprudência.

Art. 71, CP – Quando o agente, mediante mais de uma ação e omissão, pratica 2 ou
mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como


continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou
a mais grave, se diversas, aumentada em qualquer caso, de 1/6 a 2/3.

Obs.: Súmulas vinculantes – Elas também são fontes do direito penal.

a. Princípios - Não criam crime nem cominam pena. Mas vários são os julgados absolvendo ou
reduzindo pena com fundamento em princípios. Ex.: Princípio da Insignificância – causa de
atipicidade material.
b. Atos administrativos - Fonte formal imediata quando complementam norma penal em branco. Ex.:
Lei de drogas é complementada por uma Portaria da ANVISA.
c. Doutrina: Para alguns autores, a doutrina não é fonte do direito penal por não ter força cogente, ou
seja, não ser revestida de obrigatoriedade.
● Costumes: é a repetição de um comportamento (elemento objetivo) em face da crença na sua
obrigatoriedade (elemento subjetivo).
≠ de hábito, que consiste na mera repetição de comportamento (elemento objetivo), mas sem
a crença na sua obrigatoriedade.
● Costume não cria crime, não comina pena, só a Lei pode criar crimes e cominar penas, em razão do
princípio da legalidade (veda-se o costume incriminador).

Princípio da Legalidade x Costumes: A lex scripta, uma das funções de garantia do princípio da legalidade –
como veremos adiante - proíbe que se utilize dos costumes como fonte incriminadora do direito penal
(impossibilidade de utilizar costumes para incriminar condutas ou cominar penas). Portanto, os costumes
não têm o condão de criminalizar condutas e nem cominar penas.
Qual a função dos costumes no direito penal?
De acordo com Nilo Batista e Zaffaroni, os costumes têm uma função integrativa ou integradora. Isso quer
dizer que os costumes desempenham a função de integrar a atribuição de sentidos de determinadas
expressões do tipo penal, em especial os elementos normativos do tipo. Trata-se de uma função
interpretativa/hermenêutica. Por exemplo: Art. 233, CPP – crime de ato obsceno. Quem vai determinar o
sentido de ato obsceno? Vai ser determinado pelo sentido compartilhado pela sociedade, de forma reiterada.
É um conceito normativo porque exige um juízo de valor, e esse juízo de valor é um juízo temperado e
contextualizado de acordo com a prática social da comunidade. Portanto, a função integrativa dos costumes
atua de forma muito mais efetiva nos elementos normativos do tipo (que exigem valoração).

● Espécies de costumes:
i. Costume secundum legem (costume interpretativo): possui a função de auxiliar o intérprete
a entender o conteúdo da lei. Por exemplo, ato obsceno (art. 233 do CP). Vai depender do
ambiente em que o ato foi praticado e dos costumes locais para que ele seja assim
considerado ou não.

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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ii. Costume contra legem (costume negativo): é chamado de DESUETUDO. É aquele que
contraria uma lei, mas não a revoga. Ex.: Venda de CDs piratas.
iii. Costume praeter legem (costume integrativo): é aquele usado para suprir as lacunas da lei.
É válido, mas só pode ser usado no campo das normas penais não incriminadoras e apenas
para favorecer o agente. Ex.: a circuncisão em meninos de determinadas religiões não é
considerada crime.
Essa proteção dá-se por meio de lei, ou seja, a fonte formal ou de cognição do direito penal é só a
lei. Com isso, reafirma-se tanto a proibição de utilização dos costumes para a definição dos delitos e das
penas ou para seu agravamento como a proibição da analogia incriminadora.

#DICA DD: Existe costume abolicionista?


▪ 1ª Corrente: Admite-se o costume abolicionista, aplicado nos casos em que a infração penal não mais
contraria o interesse social. Defende a função derrogatória dos costumes. Ex. Para esta corrente, o
jogo do bicho não é mais contravenção penal.
▪ 2ª Corrente: Diz que não existe costume abolicionista. Quando o fato já não é mais indesejado pela
sociedade, o juiz não deve aplicar a lei. Ex.: Para esta corrente, o jogo do bicho permanece
formalmente típico, porém não aplicável, sem eficácia social (não tem tipicidade material).
▪ 3ª Corrente (PREVALECE): Entende que não existe costume abolicionista. Enquanto não revogada
por outra lei, a norma tem plena eficácia. É a que prevalece e está de acordo com a lei de introdução
às normas do direito brasileiro. Ex.: Jogo do bicho continua tipificado como contravenção penal,
sendo aplicável no caso concreto.

* ATENÇÃO: Para aqueles que não adotam a tese do costume abolicionista, é possível o uso do costume
segundo a lei (costume interpretativo), que vai servir para aclarar o significado de uma palavra, de um texto.

7. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL

Princípios são os valores fundamentais que inspiram a criação e a manutenção do sistema jurídico.
No caso dos princípios penais, eles vão orientar a atuação do legislador na elaboração da legislação penal e
do operador do direito em sua aplicação.
A função dos princípios é limitar o poder de punir do Estado. Isso porque, o Estado, por natureza, é
arbitrário, pois invade a esfera de liberdade do indivíduo. Então o Direito Penal é visto como instrumento de
contenção do Estado, que vai tolher o Estado ao máximo visando garantir a liberdade do sujeito, garantias
mínimas para que se possa desenvolver direitos de 1ª geração.
Por fim, vale relembrar que a maioria dos princípios está constitucionalizada, seja implícita ou
explicitamente, de modo que é possível utilizar tais princípios para efetuar controle de constitucionalidade.

💣 Além das questões de concursos que tratam diretamente dos princípios, o simples fato de entender
os valores que eles trazem nos orientam muito no raciocínio necessário para a solução de muitas outras, por
isso é um tema que não pode ser negligenciado, ok?

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7.1 Princípios Relacionados com a Missão Fundamental do Direito Penal

7.1.1 Princípio da Exclusiva Proteção de Bens Jurídicos

O Direito Penal deve servir apenas e tão somente para proteger bens jurídicos relevantes (Roxin).
Ademais, nenhuma criminalização é legítima se não busca evitar a lesão ou o perigo de lesão a um bem
juridicamente determinado. Impede que o Estado utilize o Direito Penal para a proteção de bens ilegítimos.
Assim, não pode incriminar pensamentos ou intenções, questões morais, éticas, ideológicas,
religiosas ou finalidades políticas. Para a teoria constitucional do Direito Penal, aliás, a referida eleição de
bens jurídicos deve refletir os valores constitucionais, a exemplo do homicídio, que tutela o direito
fundamental à vida.
Dessa forma, o princípio da proteção aos bens jurídicos defende que o direito penal deve servir
apenas para proteger bens jurídicos relevantes, bens jurídicos indispensáveis ao convívio em sociedade.
Mas o que é bem jurídico?
R.: Trata-se de um tema extremamente controvertido, de modo que vamos tentar simplificá-lo de
forma objetiva para melhor compreensão:
Para o autor Luiz Regis Prado, bem jurídico é um ente material ou imaterial, haurido do contexto
social, de titularidade individual ou metaindividual, reputado como essencial para a coexistência e o
desenvolvimento do homem em sociedade.
Por sua vez, Luís Greco e Roxin se filiam ao mesmo conceito, mas usam expressões diferentes.
● Roxin – bem jurídico será a relação real da pessoa com um valor concreto, reconhecido pela
comunidade.
● Luís Greco – bem jurídico são dados fundamentais para a realização pessoal dos indivíduos ou para
a subsistência do sistema social nos limites da ordem constitucional.
Nesse sentido, para conceituar bem jurídico, é imprescindível levar 2 pontos em consideração:
1) Fundamento do bem jurídico: o conceito de bem jurídico tem que ter como ponto central,
como fundamento, a importância do bem àquela pessoa. Tem que ser um bem de
importância vital, fundamental, de modo que a existência dessa pessoa ou seu bem-estar
estejam ameaçados sem a criminalização daquela conduta.
2) Titularidade do bem jurídico: É importante saber quem é o titular desse bem jurídico. Para
quem o BJ tem essa importância fundamental?

* ATENÇÃO: A espiritualização dos bens jurídicos no Direito Penal (Roxin) revela uma evolução quanto à
proteção dos bens jurídicos dentro do Direito Penal. Em um momento inicial, apenas os crimes de dano
contra bens jurídicos individuais possuíam relevância no âmbito penal. Modernamente, o Direito Penal
antecipou a tutela, assumindo um papel preventivo, passando a punir os crimes de perigo contra bens
supraindividuais (como por exemplo, a tipificação de crimes ambientais).
- Parcela da doutrina critica essa expansão da tutela penal na proteção de bens jurídicos de caráter difuso ou
coletivo. Argumenta-se que tais bens são formulados de modo vago e impreciso, bem como, que não seria

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esse o papel do direito penal, que deve ser utilizado apenas como última ratio, havendo outras searas que
poderiam solucionar tais questões, em razão dos princípios que estudaremos a seguir.

Atenção! Temática “bem jurídico” tem sido a “modinha” dos certames e, por isso, deve o candidato estar
atento às nuances.
De acordo com os autores João Paulo Martinelli e Leonardo Schmitt de Bem, na obra "Direito Penal - Lições
Fundamentais", da Editora D'Plácido, na página 171, “A noção de ‘bem jurídico aparente’ identifica-se com
as hipóteses nas quais, por meio do uso reificante da linguagem e da adoção de uma perspectiva distanciada,
acaba-se por ocultar a ausência de um efetivo bem jurídico tutelado pela norma.”
Explicam ainda os autores:
"... protege-se um somatório de integridades físicas individuais (...) no que tange à incolumidade pública
como um bem jurídico coletivo apenas na aparência significa dizer que a proteção desses bens jurídicos não
poderá ser realizada independentemente dos particulares, mas deverá ser instrumental ou dirigir-se à
realização dos interesses individuais de todos os membros sociais. Por outro lado, o meio ambiente, a
administração estatal da Justiça, a ordem econômica e a autenticidades das moedas são considerados
verdadeiros bens jurídicos coletivos, pois não podem ser fracionados em bens individuais somados. Em
síntese, é impossível, por exemplo, conceber o meio ambiente como a soma de vários bens
jurídicos individuais."

Caiu em prova Delegado AM/2022! Assinale a opção que corresponde a bem jurídico coletivo aparente:
Incolumidade pública.

7.1.2 Princípio da Intervenção Mínima

a) Origem histórica: Declaração dos direitos do homem e do cidadão (1789)


No art. 8º desse diploma, tem-se a imposição de que o direito penal deve estabelecer penas estrita
e evidentemente necessárias. Isso, de certa forma, traz a ideia originária do princípio da intervenção mínima,
pois o Direito Penal só deve intervir quando for estrita e evidentemente necessária.

b) Introdução: O direito penal só deve ser aplicado quando a criminalização de um fato é estritamente
necessária à proteção de determinado bem ou interesse, não sendo suficientemente tutelado por outras
searas do direito. O direito penal é o último grau de proteção jurídica.
Em outras palavras: O direito penal em um Estado Democrático de Direito atua como última
ratio/última razão/última saída. Isso porque o direito penal só deve atuar quando os outros ramos do direito
já tenham fracassado na tentativa de solucionar aquele conflito. Não pode ser usado como prima ratio.

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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ILÍCITOS EM GERAL

ILÍCITOS
PENAIS

Como na figura, nem tudo o que é ilícito caracteriza um ilícito penal, mas apenas uma pequena
parcela. Porém, todo ilícito penal será também ilícito perante as demais searas do direito.
Ex.: se um funcionário público pratica crime, isso sempre configurará também uma infração
administrativa. Porém, a recíproca não é verdadeira. Nem toda infração administrativa encontrará uma
correspondente tipificação penal.
Obs.: Trata-se de um princípio um implícito na CF/88, que pode ser retirado, principalmente, do
princípio da dignidade da pessoa humana. (art. 1º, III, CF/88).

c) Destinatários de finalidade: dois são os destinatários do referido princípio:


● Legislador (no plano abstrato);
● Aplicador do direito (no plano concreto).
Nessa linha, temos que a intervenção mínima deve ser observada tanto pelo legislador, no momento
de selecionar as condutas que passaram a ser tuteladas pelo Direito Penal, como também, deve ser
observado pelo aplicador do direito no caso em concreto.

d) Finalidade do princípio da intervenção mínima: trata-se de um reforço ao princípio da reserva legal,


posto que não é suficiente que tenha lei prevendo aquela conduta como criminosa, é necessário
ainda que a intervenção penal cominada pela lei seja efetivamente necessária.

Rogério Sanches argumenta que “o princípio da intervenção mínima tem duas faces: orienta quando e onde
o direito penal deve intervir (neocriminalização); por outro lado, também orienta quando e onde o direito
penal deve deixar de intervir (abolitio criminis)”. A abolitio criminis é fenômeno verificado sempre que o
legislador, atento às mutações sociais (e ao princípio da intervenção mínima), resolve não mais incriminar
determinada conduta, retirando do ordenamento jurídico-penal a infração que a previa, julgando que o
Direito Penal não mais se faz necessário à proteção de determinado bem jurídico.

Do princípio da intervenção mínima decorrem dois outros princípios:

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7.1.2.1 Fragmentariedade

O direito penal é fragmentário pois é visto como um sistema descontínuo de ilicitudes. Ou seja: o
direito penal não pode e nem tem como criminalizar todas as condutas existentes, mesmo que sejam ilícitos
do direito (não só ilícitos penais, mas ilícitos civis também).
Nesse contexto, a fragmentariedade prevê que somente devem ser tutelados pelo direito penal os
casos de relevante lesão ou perigo de lesão aos bens jurídicos fundamentais para a manutenção e o progresso
do ser humano e da sociedade.

O princípio da fragmentariedade deve ser utilizado no plano ABSTRATO, para o fim de permitir a criação de
tipos penais somente quando os demais ramos do Direito tiverem falhado na tarefa de proteção de um bem
jurídico. Refere-se, assim, à atividade legislativa.

Já caiu em prova essa passagem do FERRAJOLLI:


“A intervenção mínima tem como ponto de partida a característica da fragmentariedade do direito penal.
Este [fragmentariedade] se apresenta por meio de pequenos flashs, que são pontos de luz na escuridão do
universo. Trata-se de um gigantesco oceano de irrelevância, ponteado por ilhas de tipicidade, enquanto o
crime é um náufrago à deriva, procurando uma porção de terra na qual se possa achegar”.

#DICA DD: Em que consiste a fragmentariedade às avessas? Ocorre nas situações em que o direito penal
perde o interesse em uma determinada conduta, inicialmente tida por criminosa, por entendê-la
desnecessária, com a evolução da sociedade e modificação de seus valores, ocorrendo a abolitio criminis,
sem prejuízo de sua tutela pelos demais ramos do direito. É um juízo negativo, o crime existia e deixa de
existir. Ex.: Adultério, que era crime tipificado no art. 240 do CP e deixou de ser em 2005, quando a Lei nº
11.106 revogou o tipo penal.

7.1.2.2 Subsidiariedade

A subsidiariedade é corolário da intervenção mínima e está ligada à autonomia do Direito Penal.


Somente após se constatar que outros meios de solução social dos conflitos não são aptos a dirimi-los, é que
serão utilizados modelos coercitivos de que dispõe o Direito Penal.
Assim, a intervenção penal fica condicionada ao fracasso dos demais ramos do direito, funcionando
como um soldado de reserva.
Direciona-se ao aplicador do direito, no plano concreto, devendo ser aplicado apenas quando todos
os demais ramos se revelarem impotentes. O crime já existe, mas precisamos saber se a aplicação da lei penal
é necessária no caso concreto.
Nas palavras do professor Cleber Masson:

A atuação do Direito Penal é cabível unicamente quando os outros ramos do Direito


e os demais meios estatais de controle social tiverem se revelado impotentes para

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o controle da ordem pública. Projeta-se no plano concreto – em sua atuação prática


o Direito Penal somente se legitima quando os demais meios disponíveis já tiverem
sido empregados, sem sucesso, para proteção do bem jurídico. Guarda relação com
a tarefa de aplicação da lei penal.

Conceitos atrelados à subsidiariedade:


⦁ Roxin – direito penal seria o remédio sancionador extremo. Ou seja: o direito penal só deve atuar
após os outros ramos do direito. Quando os demais ramos atuam e não resolvem o conflito, seria
legítimo ao Direito Penal atuar sobre a característica da subsidiariedade, uma das faces da
intervenção mínima.
⦁ Muñoz Conde – direito penal é aplicável unicamente quando fracassam as demais barreiras
protetoras do bem jurídico pré-dispostas por outros ramos do direito.

STJ (HC 197.601/RJ) O Direito Penal deve ser encarado de acordo com a principiologia constitucional. Dentre
os princípios constitucionais implícitos figura o da subsidiariedade, por meio do qual a intervenção penal
somente é admissível quando os demais ramos do direito não conseguem bem equacionar os conflitos
sociais.

Aprofundando para uma discursiva...


Conflito aparente de normas: Segundo Rogério Greco, o conflito aparente de normas penais é aquele
que ocorre quando duas normas aparentam incidir sobre o mesmo fato. Ele é dito aparente, pois na verdade
não existe conflito algum – efetivamente, não existe um conflito ao se aplicar a norma ao caso concreto.
Existem princípios, capazes de solucionar os conflitos aparentes de normas penais:
a) Subsidiariedade - Temos uma norma subsidiária e uma norma primária, e só se aplica a norma
subsidiária caso a norma primária não possa ser aplicada, ou seja, uma norma menos grave
(subsidiária), que descreve um crime autônomo, e uma norma mais grave (primária), que descreve
uma segunda conduta e que prevalecerá sobre aquela.
Caiu em prova - Delegado - PC-RO (2022) da BANCA CESPE: Assinale a opção correta, no que diz respeito
às contravenções penais: O princípio da subsidiariedade é aplicável às contravenções penais. (item
considerado correto).
b) Especialidade - Estaremos diante de dois tipos penais, um específico e um genérico, ambos
aparentemente adequados para o caso concreto. Entretanto, pela regra da especialidade,
prevalecerá o tipo penal específico.
c) Consunção - O princípio da consunção está diretamente relacionado com a absorção de um delito
por outro. Ou seja, existe uma relação de fins e meios (um delito é o meio para que se chegue ao
outro) ou mesmo de necessidade (um crime é uma fase para o outro, sendo necessária sua execução
para que se pratique o segundo tipo penal).
Caiu em prova - Delegado - PC-RO (2022): O cotejo se dá entre fatos concretos, de modo que o mais
completo, o inteiro, prevalece sobre a fração. Não há um único fato buscando se abrigar em uma ou
outra lei penal caracterizada por notas especializantes, mas uma sucessão de fatos, todos penalmente

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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tipificados, na qual o mais amplo consome o menos amplo, evitando-se que este seja duplamente
punido, como parte de um todo e como crime autônomo.
Cleber Masson (com adaptações).
No conflito aparente de normas, o trecho apresentado explica o princípio da consunção. (item
considerado correto).

Caiu em prova Delegado MS/2021! Para evitar a dupla punição por fato único, a doutrina e a jurisprudência
admitem determinados princípios que foram elencados para resolver conflito de normas penais
aparentemente aplicáveis à mesma hipótese. Com relação a esses princípios, assinale a alternativa correta:
O princípio da consunção pode ser aplicado exemplificativamente para hipóteses de crime progressivo,
progressão criminosa, antefato impunível e pós-fato impunível.

d) Alternatividade - Temos o chamado princípio da alternatividade, que, por sua vez, é bastante
simples. Aqui temos um tipo penal chamado de misto alternativo (cuja conduta possui várias formas,
ou seja, vários verbos). Nesses casos, mesmo que o agente pratique vários dos núcleos em um
mesmo contexto, responderá por apenas um crime.

7.1.3 Princípio da Insignificância ou da Bagatela


☠ Caiu na prova de Delegado de Polícia do Mato Grosso do Sul em 2017

a) Introdução, Origem e Conceito


Inicialmente, cumpre destacarmos que o referido princípio não encontra previsão na
legislação, mas pacificamente admitido pela Jurisprudência do STF e do STJ.
Surge no Direito Romano. “De minimus nun curat praetor”. Os juízes e os tribunais não cuidam do
que é mínimo, insignificante. Porém no direito romano só era utilizado no tocante ao direito privado. No
direito penal é incorporado apenas na década de 1970, através dos estudos de Claus Roxin. Segundo Cleber
Masson (Direito Penal Esquematizado): “Em outras palavras, o Direito Penal não deve se ocupar de assuntos
irrelevantes, incapazes de lesar o bem jurídico legalmente tutelado. Na década de 70 do século passado, foi
incorporado ao Direito Penal pelos estudos de Claus Roxin”.
Ressalta-se que o princípio da Insignificância decorre da fragmentariedade e da intervenção mínima,
de modo que o Direito Penal só vai intervir nos casos de relevante lesão, quando for indispensável para a
proteção de determinado bem jurídico, e quando não houver como proteger o bem jurídico como os outros
ramos do direito.
Nesse sentido, o princípio da insignificância traduz a ideia de que não há crime quando a conduta
praticada pelo agente é insignificante, não é capaz de ofender ou colocar em perigo o bem jurídico tutelado
pela norma penal.

b) Finalidade
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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O STF expressamente reconhece como finalidade desse princípio a “interpretação restritiva da lei
penal”, ou seja, o princípio da insignificância deve diminuir a intervenção penal, no sentido de ignorar as
condutas irrisórias que não se revelam capazes de ofender o bem jurídico tutelado pelo tipo penal.

c) Natureza Jurídica: Causa de Exclusão da tipicidade (atipicidade) material. Isto é: torna o fato atípico
por ausência de tipicidade material.

TRADUZINDO:
TIPICIDADE PENAL = tipicidade formal + tipicidade material.
Tipicidade formal: juízo de adequação do fato à norma (analisa se o fato praticado, na vida real, se amolda,
se encaixa ao modelo de crime descrito na lei penal). Ex.: Sujeito subtrai um iogurte de um hipermercado.
Como subtraiu coisa alheia móvel, o fato se adequa ao tipo penal de furto.
Tipicidade material: é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido.
No exemplo acima, em que pese tenha havido a tipicidade formal, o ato praticado não foi capaz de causar
lesão relevante ao bem protegido, vez que o valor de um iogurte não faria a menor diferença no patrimônio
de um hipermercado, não havendo, portanto, tipicidade material.

Mas atenção: NÃO É SÓ O VALOR que deve ser analisado para que seja reconhecida a insignificância
da conduta! Existem outros requisitos que devem ser observados, conforme jurisprudência consolidada da
Suprema Corte.
Ademais, valor insignificante e pequeno valor não são sinônimos. Por vezes, em casos de furto, por
exemplo, a questão apresenta um bem de um valor baixo, mas não irrisório/insignificante, que servirá apenas
para caracterizar a causa de diminuição de pena do furto privilegiado, mas não excluirá a tipicidade material,
seja pelo fato de o valor ser pequeno, mas não irrisório, seja por não preencher algum outro requisito.
Sobre os valores, não há nenhuma tese fixa sobre. É necessário analisar o contexto. Porém,
analisando as decisões proferidas, o STF tem aceitado como insignificantes normalmente valores que giram
em torno de 10% do salário-mínimo, com variações para mais e para menos (é só uma ideia). Já como
pequeno valor, para o privilégio, admite-se o valor de até 1 salário-mínimo integral (raciocínio aplicável aos
demais delitos que admitem o privilégio).

É inviável a aplicação do princípio da insignificância ao furto praticado quando,


para além do valor da res furtiva exceder o limite de 10% do valor do salário-
mínimo vigente à época dos fatos, o acusado é multirreincidente, ostentando
diversas condenações anteriores por crimes contra o patrimônio. Processo sob
segredo de justiça. Rel. Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, por unanimidade,
julgado em 14/11/2022, DJe 22/11/2022.

Caiu em prova Delegado PR/2021! Se uma conduta não representa uma ofensa relevante ao bem jurídico
contemplado no tipo penal, entende-se que ela é materialmente atípica em razão do princípio da
insignificância. Um exemplo de situação que poderia ser abrangida pelo princípio seria a subtração de um

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

pacote de batatas de um supermercado. São requisitos estabelecidos pela jurisprudência do Supremo


Tribunal Federal para a incidência do princípio da insignificância, EXCETO:
a) mínima ofensividade da conduta do agente.
b) nenhuma periculosidade social da ação.
c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento.
d) inexpressividade da lesão jurídica provocada.
e) ausência de interesse da vítima na persecução penal.
Gabarito: Letra E

ATENÇÃO! JURISPRUDÊNCIA EM TESES – EDIÇÃO nº 219 - PRINCÍPIO DA


INSIGNIFICÂNCIA A aplicação do princípio da insignificância requer a presença
cumulativa das seguintes condições objetivas:
a) mínima ofensividade da conduta do agente;
b) nenhuma periculosidade social da ação;
c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento do agente;
d) inexpressividade da lesão jurídica provocada.

Vejamos algumas casuísticas importantes em relação ao princípio da insignificância:

a) PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA x AGENTE REINCIDENTE


Em regra, o STF e o STJ afastam a aplicação do princípio da insignificância aos acusados reincidentes
ou de habitualidade delitiva comprovada. Vale ressaltar, no entanto, que há julgados em que afirmam que
a reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da conduta, à
luz dos elementos do caso concreto.
Ao criminoso habitual, tanto o STF como o STJ, costumam negar a aplicação. Vale ressaltar, no
entanto, que há julgados em que afirmam que é aplicável o referido princípio se, analisando as
peculiaridades do caso concreto, entender que a medida é socialmente recomendável.
Assim, de acordo com o caso concreto, é possível sim aplicar a insignificância mesmo para réus
reincidentes ou criminosos habituais.
Vale o conhecimento da jurisprudência em Teses edição nº 47 (STJ):

Tese 7: O princípio da insignificância deve ser afastado nos casos em que o réu
faz do crime o seu MEIO DE VIDA, ainda que a coisa furtada seja de pequeno
valor.

Ainda, na edição nº 219 - Jurisprudência em teses (STJ):


Tese 2: A reiteração delitiva, a reincidência e os antecedentes, em regra, afastam a
aplicação do princípio da insignificância, por ausência de reduzido grau de
reprovabilidade do comportamento do agente.
Tese 3: É possível aplicar, excepcionalmente, o princípio da insignificância,
inclusive nas hipóteses de reiteração delitiva, reincidência ou antecedentes, se as
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peculiaridades do caso concreto evidenciarem inexpressividade da lesão jurídica


provocada e reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento do agente.

Pergunta: e ao multirreincidente, é possível aplicação do princípio da insignificância? Em regra, NÃO.

A multirreincidência específica somada ao fato de o acusado estar em prisão


domiciliar durante as reiterações criminosas são circunstâncias que inviabilizam
a aplicação do princípio da insignificância. REsp 1.957.218-M, G Rel. Min. Olindo
Menezes. Sexta Turma, por maioria, julgado em 23/08/2022. É certo que há
precedentes do Supremo Tribunal Federal em que se afasta a tipicidade material
da conduta criminosa quando o furto é praticado para subtrair objeto de valor
irrelevante, ainda que o paciente seja reincidente na prática delitiva. Entretanto, a
Corte também tem precedentes que apontam a relevância da análise da
reincidência delitiva para afastar a tipicidade da conduta, conforme se verifica no
julgamento do Habeas Corpus 123.108/MG, da Relatoria do Ministro Roberto
Barroso, no qual, o Plenário do STF decidiu, por maioria de votos, que a "aplicação
do princípio da insignificância envolve um juízo amplo (conglobante), que vai
além da simples aferição do resultado material da conduta, abrangendo também
a reincidência ou contumácia do agente, elementos que, embora não
determinantes, devem ser considerados". Após a análise dos precedentes desta
Corte Superior e do STF, é razoável concluir que a reincidência não impede, por si
só, que se reconheça a insignificância penal da conduta à luz dos elementos do caso
concreto, mas pode ser um dos elementos que justificam a tipicidade material da
conduta. Informativo 746 (29/08/2022).

Mas há julgado do STJ permitindo excepcionalmente (19/05/22):

1. A multirreincidência específica, via de regra, afasta a aplicação do princípio


da insignificância no crime de furto. Entretanto, em casos excepcionais, nos quais
é reduzidíssimo o grau de reprovabilidade da conduta, tem esta Corte Superior
admitido a incidência do referido princípio, ainda que existentes outras
condenações.
2. O furto simples, em um supermercado, de quatro barras de chocolate, avaliadas
em R$26,92 – quantia que corresponde a 2,77% do salário-mínimo vigente à época
-, restituídas à Vítima, traz excepcionalidade que autoriza o reconhecimento da
atipicidade material da conduta.3. Agravo regimental da Defesa provido para,
conhecendo do agravo, negar provimento ao recurso especial do Ministério
Público. (AgRg no AREsp 1899839/MG, Rel. Ministro OLINDO MENEZES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), Rel. p/ Acórdão Ministra
LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 19/04/2022, DJe 19/05/2022)

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É possível a aplicação ao réu reincidente quando o crime anterior tutelava bem jurídico distinto patrimônio,
é o que o STF chamou de TEORIA DA REITERAÇÃO NÃO CUMULATIVA DE CONDUTAS DE GÊNEROS
DISTINTOS (*termo de prova).

Entendendo a fonte da expressão acima que foi utilizada no seguinte julgado do STF:

TURMA HABEAS CORPUS 114.723, MINAS GERAIS


RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
FURTO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INCIDÊNCIA. VALOR DOS BENS
SUBTRAÍDOS. INEXPRESSIVIDADE DA LESÃO. CONTUMÁCIA DE INFRAÇÕES
PENAIS CUJO BEM JURÍDICO TUTELADO NÃO É O PATRIMÔNIO.
DESCONSIDERAÇÃO. ORDEM CONCEDIDA. 1. (...). 2. Nesse sentido, a aferição da
insignificância como requisito negativo da tipicidade envolve um juízo de tipicidade
conglobante, muito mais abrangente que a simples expressão do resultado da
conduta (...). 4. À luz da teoria da reiteração não cumulativa de condutas de
gêneros distintos, a contumácia de infrações penais que não têm o patrimônio
como bem jurídico tutelado pela norma penal não pode ser valorada, porque
ausente a séria lesão à propriedade alheia (socialmente considerada), como fator
impeditivo do princípio da insignificância. 5. Ordem concedida para restabelecer
a sentença de primeiro grau, na parte em que reconheceu a aplicação do princípio
da insignificância e absolveu o paciente pelo delito de furto.

Ressalta-se ainda que, em 2018 e 2019, os Tribunais Superiores tinham encontrado uma espécie de
“meio termo” entre a aplicação do princípio da insignificância e a reincidência do agente.
Isso porque, no caso concreto, o juiz via que, pelo critério objetivo, o réu faria jus à insignificância,
mas que os critérios subjetivos não estariam preenchidos, em razão da reincidência. Então, considerando a
proporcionalidade, o STF criou um “meio termo”: ao invés de absolver por atipicidade material da conduta,
aplicou outros institutos mais benéficos, como a substituição da pena privativa de liberdade por pena
restritiva de direitos. Vejamos os julgados em que os Tribunais Superiores aplicaram esse entendimento:

Possibilidade de aplicar o regime inicial aberto ao condenado por furto, mesmo


ele sendo reincidente, desde que seja insignificante o bem subtraído. A
reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância
penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto. No entanto, com base no
caso concreto, o juiz pode entender que a absolvição com base nesse princípio é
penal ou socialmente indesejável. Nesta hipótese, o magistrado condena o réu, mas
utiliza a circunstância de o bem furtado ser insignificante para fins de fixar o regime
inicial aberto. Desse modo, o juiz não absolve o réu, mas utiliza a insignificância
para criar uma exceção jurisprudencial à regra do art. 33, § 2º, “c”, do CP, com base
no princípio da proporcionalidade STF. 1ª Turma. HC 135164/MT, Rel. Min. Marco
Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 23/4/2019 (Info 938).
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STF reconheceu que o valor econômico do bem furtado era muito pequeno, mas,
como o réu era reincidente, em vez de absolvê-lo aplicando o princípio da
insignificância, o Tribunal utilizou esse reconhecimento para conceder a pena
restritiva de direitos Em regra, o reconhecimento do princípio da insignificância
gera a absolvição do réu pela atipicidade material. Em outras palavras, o agente
não responde por nada. Em um caso concreto, contudo, o STF reconheceu a
insignificância do bem subtraído, mas, como o réu era reincidente em crime
patrimonial, em vez de absolvê-lo, o Tribunal utilizou esse reconhecimento para
conceder a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Em
razão da reincidência, o STF entendeu que não era o caso de absolver o condenado,
mas, em compensação, determinou que a pena privativa de liberdade fosse
substituída por restritiva de direitos. STF. 1ª Turma. HC 137217/MG, Rel. Min.
Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/8/2018 (Info
913).

O STJ também foi questionado se no caso houver restituição do bem:

A restituição imediata e integral do bem furtado não constitui, por si só, motivo
suficiente para a incidência do princípio da insignificância. Assim, para afastar
liminarmente a tipicidade material nos delitos de furto, não basta a imediata e
integral restituição do bem. Deve-se perquirir, diante das circunstâncias concretas,
além da extensão da lesão produzida, a gravidade da ação, o reduzido valor do bem
tutelado e a favorabilidade das circunstâncias em que foi cometido o fato
criminoso, além de suas consequências jurídicas e sociais. STJ. RMS 68.504-SC, Rel.
Ministra Regina Helena Costa, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em
10/10/2023, DJe 16/10/2023. (Tema 1208) (Info 792)

DISCURSIVA - Justificativas
A favor da aplicação da insignificância ao reincidente/habitual: se a natureza jurídica é de causa de exclusão
de tipicidade, deve ser analisado o FATO e não os atributos do agente, sob pena de se utilizar o direito penal
do autor. O fato não poderia ser típico para uma pessoa e atípico para outra. Ou é típico ou não é. O momento
de analisar as condições pessoais do agente é apenas em eventual e futura fixação de pena.
Contra a aplicação da insignificância ao reincidente/habitual: Se o agente é infrator contumaz, com
personalidade voltada a práticas delitivas, fazer uso da insignificância seria incentivá-lo ao contínuo
descumprimento da norma, fazendo do crime um meio de vida. O valor de um bem, isoladamente, até
poderia ser insignificante, mas o “todo” não seria e isso caracterizaria reprovabilidade e ofensividade. O
intuito do princípio não é legitimar esse tipo de conduta, mas afastar do campo de incidência do direito penal,
desvios mínimos e isolados.

b) INSIGNIFICÂNCIA x FURTO QUALIFICADO


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STF/STJ: Via de regra, entendem não ser possível a aplicação do princípio da insignificância no furto
qualificado, pois falta o requisito do reduzido grau de reprovabilidade do comportamento. No entanto, o
Plenário do STF analisou a questão e entendeu que não há como fixar tese sobre isso, que também deve ser
analisado caso a caso. (STF-HC 123108/MG).
Ressalta-se que, em um julgado, o STJ entendeu pela aplicação do referido princípio, à luz da análise
do caso concreto. Veja:

Em regra, não se aplica o princípio da insignificância ao furto qualificado, salvo


quando presentes circunstâncias excepcionais que recomendam a medida. STJ. 5ª
Turma. HC 553872-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
11/02/2020 (Info 665).

Incabível a aplicação do princípio da insignificância quando constatada a


multirreincidência específica na prática de crimes contra o patrimônio, o que
evidencia a acentuada reprovabilidade do comportamento. A prática de furto
qualificado por escalada, arrombamento ou rompimento de obstáculo, em
concurso de pessoas e durante o repouso noturno, indica a especial
reprovabilidade da conduta, razão suficiente para afastar a aplicação do princípio
da insignificância. (AgRg no AREsp n. 1.991.173/DF, relator Ministro João Otávio
de Noronha, Quinta Turma, DJe de 26/5/2022.)

CASO CONCRETO JULGADO PELO STJ


(Situação hipotética) - Adriana e Janaína, em concurso de pessoas, subtraíram dois
pacotes de linguiça, um litro de vinho, uma lata de refrigerante e quatro salgados
de um supermercado. Os bens subtraídos foram avaliados em R$ 69,23. As duas
foram presas no estacionamento do supermercado e não houve prejuízo para o
estabelecimento.
Como regra, a aplicação do princípio da insignificância tem sido rechaçada nas
hipóteses de furto qualificado, tendo em vista que tal circunstância denota, em
tese, maior ofensividade e reprovabilidade da conduta. Deve-se, todavia,
considerar as circunstâncias peculiares de cada caso concreto, de maneira a
verificar se, diante do quadro completo do delito, a conduta do agente representa
maior reprovabilidade a desautorizar a aplicação do princípio da insignificância.
No caso concreto, a 5ª Turma do STJ aplicou o princípio da insignificância e absolveu
as acusadas. Afirmou-se que “muito embora a presença da qualificadora possa, à
primeira vista, impedir o reconhecimento da atipicidade material da conduta, a
análise conjunta das circunstâncias demonstra a ausência de lesividade do fato
imputado, recomendando a aplicação do princípio da insignificância.”

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Obs.: Esses dois casos ilustram como os tribunais superiores analisam as peculiaridades de cada situação para
tomar decisões. A interpretação do princípio da insignificância pode variar dependendo das circunstâncias
específicas de cada caso, e os tribunais superiores têm a função de avaliar essas circunstâncias para chegar
a uma decisão fundamentada no direito. É importante destacar que esses julgados não são vinculativos para
todos os casos, mas podem servir como precedentes jurisprudenciais que orientam as decisões futuras.

c) INSIGNIFICÂNCIA x BENS JURÍDICOS DIFUSOS/COLETIVOS


Em regra, se o bem jurídico é difuso ou coletivo, os tribunais superiores vêm entendendo pela NÃO
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA, pois se estaria atingindo a coletividade e, portanto, não
caberia a insignificância da lesão.
Além disso, normalmente os crimes contra bens jurídicos difusos/coletivos são crimes de perigo
abstrato, motivo pelo qual, de “perigo presumido” pelo legislador.

▪ Tráfico de drogas – não aplicação do princípio, por se tratar de crime de perigo abstrato (perigo
presumido, de acordo com a jurisprudência do STJ), sendo irrelevante a quantidade de droga
apreendida. HC 318926, STJ – 2015
▪ A apreensão de munições em quantidade não considerada insignificante, aliada a condenação
concomitante pelo delito de tráfico de entorpecentes, impõe o afastamento da aplicação do princípio
da insignificância. REsp 1.978.284-GO, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Quinta Turma, por
unanimidade, julgado em 14/06/2022, DJe 17/06/2022.

Caiu em prova - Delegado - PC-ES (2019) Foi considerada correta a seguinte afirmativa: “ainda que com
pouca quantidade de droga o princípio da insignificância não incide no crime de tráfico de drogas, não sendo
fundamento para recomendação de arquivamento do inquérito policial por atipicidade”.

▪ Porte de drogas para consumo pessoal – tema controvertido.


Amplamente majoritário + jurisprudência do STJ – impossibilidade da insignificância em razão de se
tratar de crime de perigo abstrato. STJ, 6ª T, RHC 35920-DF (INFO 541)
STF tem um precedente admitindo a aplicação da insignificância (o que não indica posição
consolidada do STF, pois no julgado foi decidido por EMPATE (2x), razão pela qual foi concedido o
HC. STF. 2ª Turma. HC 202883)

▪ Crime de moeda falsa: Inaplicabilidade do princípio, AINDA QUE SEJA 1 ÚNICA NOTA DE PEQUENO
VALOR, uma vez que se trata de crime contra a fé pública, havendo o interesse do Estado e da
coletividade em não ter a fé pública abalada por aquela falsificação. Considerando que se trata de
um bem jurídico coletivo difuso “fé pública”, não se leva em consideração somente o aspecto
material/patrimonial do bem falsificado, mas sim um bem coletivo. Essa argumentação se aplica aos
outros crimes contra a fé pública.
Obs. EXCEPCIONALMENTE, admite-se o princípio da insignificância nos crimes contra a fé pública
(USO DE ATESTADO FALSO) em casos que o dolo do réu revela, de plano, "a mínima ofensividade da

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conduta do agente, a nenhuma periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de


reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada", a demonstrar
a atipicidade material da conduta e afastar a incidência do Direito Penal, sendo suficientes as sanções
previstas na Lei trabalhista:

A decisão agravada está pautada na excepcionalidade ao entendimento desta Corte


no sentido da impossibilidade de aplicação do princípio da bagatela aos crimes
contra a fé pública. 2. No caso, o dolo da recorrente, em apresentar atestado
médico falso para afastamento do trabalho por 8 dias, revela, de plano, a mínima
ofensividade da conduta do agente, a nenhuma periculosidade social da ação, o
reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da
lesão jurídica provocada, a demonstrar a atipicidade material da conduta e afastar
a incidência do direito penal, sendo suficientes as sanções previstas na Lei
trabalhista. Precedentes. 3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no AREsp
1816993/BA, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
16/11/2021, DJe 19/11/2021)

▪ Crimes ambientais: Em regra, nos crimes com bem jurídico difuso/coletivo, não se aplica o princípio
da insignificância, pois a lesividade/exposição a perigo transcende o aspecto individual. No entanto,
nos crimes ambientais, essa regra é invertida, uma vez que os tribunais superiores adotam como
regra a possibilidade de aplicação do princípio da insignificância em crimes ambientais, devendo
ser analisadas as circunstâncias específicas no caso concreto para verificar a atipicidade da conduta
em exame/verificar se aquela conduta não gerou efetivamente um perigo ao meio ambiente (Info
816).
É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais,
devendo ser analisadas as circunstâncias específicas do caso concreto para se
verificar a atipicidade da conduta em exame. STJ. 5° Turma. AgRg no AREsp
654.321/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/06/2015.
É possível aplicar o princípio da insignificância para crimes ambientais. STF. 2ª
Turma. Inq 3788/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 1°/3/2016 (Info 816).

· Exceção à regra específica dos crimes ambientais: pela jurisprudência amplamente


dominante, não se pode aplicar o princípio da insignificância ao crime de pesca ilegal – STF,
1ª TURMA, HC 122560/SC (2018) – Info 901.

O princípio da bagatela não se aplica ao crime previsto no art. 34, caput c/c
parágrafo único, II, da Lei 9.605/98: Art. 34. Pescar em período no qual a pesca
seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente: Pena - detenção
de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo
único. Incorre nas mesmas penas quem: II - pesca quantidades superiores às
permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos
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não permitidos; Caso concreto: realização de pesca de 7kg de camarão em período


de defeso com o uso de método não permitido. STF. 1ª Turma. HC 122560/SC, Rel.
Min. Marco Aurélio, julgado em 8/5/2018 (Info 901).
Outro caso concreto: realização de pesca com rede de oitocentos metros e
apreensão de oito quilos de pescados. STF. 2ª Turma. HC-AgR 163.907-RJ. Relª Min.
Cármen Lúcia, julgado em 17/03/2020.

Obs.: apesar de a redação utilizada no informativo original ter sido bem


incisiva (“O princípio da bagatela não se aplica ao crime previsto no art. 34,
caput c/c parágrafo único, II, da Lei 9.605/98”), existem julgados tanto do STF
como do STJ aplicando, excepcionalmente, o princípio da insignificância para
o delito de pesca ilegal. Deve-se ficar atenta(o) para como isso será cobrado
no enunciado da prova. Fonte: dizer o Direito

Veja as hipóteses em que a própria jurisprudência flexibiliza a exceção da pesca ilegal, como, por
exemplo:

● O STJ (Info 602 – 6ª Turma. RESP 1409051 – 2017) afirmou, de forma excepcional, pela aplicação do
princípio da insignificância no caso de pesca ilegal, na hipótese em que o indivíduo pescou 1 único
peixe e devolveu esse peixe vivo ao rio, não havendo um prejuízo efetivo ao meio ambiente.
● Se a pessoa é flagrada sem nenhum peixe efetivamente pescado, mas portando consigo
equipamentos de pesca, em um local onde essa atividade é proibida. Nessa hipótese
pontual/casuística, temos discussão nos tribunais superiores, pois há 2 julgados da mesma turma em
sentidos opostos:
· SIM (possibilidade de aplicação da insignificância) - STF (Info 816).
· NÃO (não pode aplicar) - STF (Info 845).

Embora sejam julgados anteriores ao informativo 901, pode ser interessante abordar em uma prova
discursiva/oral.

d) INSIGNIFICÂNCIA x CRIMES TRIBUTÁRIOS E DESCAMINHO

Em regra, o princípio da insignificância se aplica aos crimes tributários federais e de descaminho


[também é um crime tributário] quando o crédito tributário não ultrapassar o limite de 20.000 reais, a teor
do disposto no art. 20 da Lei 10.522/02 com as atualizações efetivadas pelas portarias nº 75 e 130 do
Ministério da Fazenda.
Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho
quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00
(vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com as
atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério da

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Fazenda. STJ. 3ª Seção. REsp 1.709.029/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado
em 28/02/2018 (recurso repetitivo).

Caiu em prova Delegado AM/2022! O princípio da insignificância é admitido na doutrina e na jurisprudência


em relação ao delito de descaminho.

Observações importantes:

1) O valor máximo para aplicar o princípio da insignificância é de 20 mil reais (STF - STJ).
Explicação para adotar o valor de 20 mil reais: (Fonte: Dizer o Direito)
⋅ Esse valor foi fixado pela jurisprudência tendo como base a Portaria MF nº 75, de 29/03/2012, na
qual o Ministro da Fazenda determinou, em seu art. 1º, inciso II, “o não ajuizamento de execuções
fiscais de débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$
20.000,00 (vinte mil reais).”
⋅ Em outros termos, essa Portaria determina que, até o valor de 20 mil reais, os débitos inscritos como
Dívida Ativa da União não serão executados.
⋅ Com base nisso, a jurisprudência construiu o seguinte raciocínio: ora, não há sentido lógico permitir
que alguém seja processado criminalmente pela falta de recolhimento de um tributo que nem sequer
será cobrado no âmbito administrativo-tributário. Se a própria “vítima” não irá cobrar o valor, não
faz sentido aplicar o direito penal contra o autor desse fato.
⋅ Vale lembrar que o direito penal é a última ratio. Se a Administração Pública entende que, em razão
do valor, não vale a pena movimentar a máquina judiciária para cobrar a quantia, com maior razão
também não se deve iniciar uma ação penal para punir o agente.

2) O valor de 20 mil reais para aplicação do princípio da insignificância será somente aos crimes
tributários FEDERAIS!!! Não se aplica o parâmetro dos tributos federais aos crimes tributários estaduais,
devendo ser observada a lei estadual vigente em razão da autonomia do ente federativo!!!

Não pode ser aplicado para fins de incidência do princípio da insignificância nos
crimes tributários estaduais o parâmetro de R$ 20.000,00 (vinte mil reais),
estabelecido no art. 20 da Lei 10.522/2002, devendo ser observada a lei estadual
vigente em razão da autonomia do ente federativo. STJ. 5ª Turma. AgRg-HC
549.428-PA. Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/05/2020.

Atenção! Edição 219º - Jurisprudência em teses (STJ):


Tese 5: Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando o débito
tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20
da Lei n. 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério da
Fazenda (Tese revisada sob o rito do art. 1.046 do CPC/2015 - TEMA 157).

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Tese 6: É possível aplicar o parâmetro estabelecido no Tema n. 157/STJ, para fins de incidência do princípio
da insignificância no patamar estabelecido pela União aos tributos dos demais entes federados, quando
existir lei local no mesmo sentido da lei federal.

3) Em regra, não se aplica o princípio da insignificância ao crime de contrabando! (Aplica-se ao crime


de descaminho)
Não se aplica, em regra, porque o objeto sobre o qual recai a conduta proibida no crime de
contrabando é “mercadoria proibida”, e não a mera sonegação. Assim, o bem jurídico tutelado não é apenas
a questão financeira do ente estatal, mas também a saúde pública/incolumidade pública, uma vez que o
estado, por motivos de saúde pública/incolumidade pública, proíbe a importação ou exportação de
determinada mercadoria. (Crime pluriofensivo):

Em regra, é inaplicável o princípio da insignificância ao crime de contrabando, uma


vez que o bem juridicamente tutelado vai além do mero valor pecuniário do
imposto elidido, alcançando também o interesse estatal de impedir a entrada e a
comercialização de produtos proibidos em território nacional. Trata-se, assim, de
um delito pluriofensivo. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1744739/RS, Rel. Min. Joel
Ilan Paciornik, julgado em 02/10/2018

ATENÇÃO! Existem exceções:


· O princípio da insignificância é aplicável ao crime de contrabando de cigarros quando a quantidade
apreendida não ultrapassar 1.000 (mil) maços, seja pela diminuta reprovabilidade da conduta, seja
pela necessidade de se dar efetividade à repressão a o contrabando de vulto, excetuada a hipótese de
reiteração da conduta, circunstância apta a indicar maior reprovabilidade e periculosidade social da
ação. STJ. REsp 1.977.652-SP, Rel. Ministro Joel Ilan Paciornik, Rel. para acórdão Ministro Sebastião Reis
Junior, Terceira Seção, por maioria, julgado em 13/9/2023, DJe 19/9/2023 Tema 1143. (Info 787)
· Somente em situações excepcionais, como no caso da importação de medicamentos em pequena
quantidade e para uso pessoal, o tribunal admite a insignificância: Jurisprudências em teses (STJ) ed. 221
– Princípio da insignificância - 10) É possível, excepcionalmente, aplicar o princípio da insignificância aos
casos de importação não autorizada de pequena quantidade de medicamento para consumo próprio.

A importação de pequena quantidade de medicamento destinada a uso próprio


denota a mínima ofensividade da conduta do agente, a ausência de periculosidade
social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a
inexpressividade da lesão jurídica provocada, tudo a autorizar a excepcional
aplicação do princípio da insignificância STJ. 5ª Turma. EDcl no AgRg no REsp
1708371/PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 24/04/2018.

INSIGNIFICÂNCIA x CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


● STF - Antes não admitia, mas possui decisões recentes admitindo, como por exemplo, em caso de
peculato.
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● STJ – Possui entendimento sumulado negando a aplicação (súmula 599).


Súmula 599-STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração
pública.

Porém, STF e STJ admitem nos crimes contra a Administração Pública praticados por particulares, a
exemplo do descaminho, que, apesar de ser um crime tributário, topograficamente, estão inseridos no título
dos Crimes contra a Administração Pública, então cuidado em prova!
ATENÇÃO:

Informativo 742 (01/08/2022) - Admite-se, excepcionalmente, a aplicação do


princípio da insignificância a crime praticado em prejuízo da administração pública
quando for ínfima a lesão ao bem jurídico tutelado. RHC 153.480-SP, Rel. Min.
Laurita Vaz, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 24/05/2022, DJe
31/05/2022. Logo, em determinadas hipóteses, nas quais for ínfima a lesão ao bem
jurídico tutelado - como na espécie -, admite-se afastar a aplicação do
entendimento sedimentado na Súmula n. 599/STJ, pois "a subsidiariedade do
direito penal não permite tornar o processo criminal instrumento de repressão
moral, de condutas típicas que não produzam efetivo dano".

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – PRINCIPAIS ENTENDIMENTOS JURISPRUDENCIAIS:


1. STF/STJ: para aplicação do princípio da insignificância, considera-se a capacidade econômica da vítima
(STJ-Resp. 1.224.795).
2. STF/STJ: admitem a aplicação a atos infracionais.
Caiu em prova Delegado MS/2021! Sobre as hipóteses de aplicação do princípio da insignificância pelas
Cortes Superiores, assinale a alternativa correta.
A-O princípio da insignificância pode ser aplicado para atos infracionais.
3. STF: O princípio da insignificância pode ser reconhecido mesmo após o trânsito em julgado da
sentença condenatória (STF-HC 95570).
4. “Flanelinha” e exercício da profissão sem registro competente: STF admite a aplicação (Info. 699).
5. STF/STJ NÃO admitem o princípio da insignificância nos crimes contra a fé pública, mais precisamente,
nos crimes de moeda falsa (STF-HC105.829).
6. STF/STJ: Não se aplica o princípio da insignificância aos delitos praticados em situação de violência
doméstica (STJ-HC 33195/MS; STF-RHC 133043/MT).
7. STF/STJ: Ao Tráfico internacional de armas e munições não se aplica o princípio da insignificância (STF-
HC 97777), de igual modo é inaplicável aos crimes de posse e porte de arma de fogo (STJ-HC
338153/RS). Obs.: É atípica a conduta daquele que porta, na forma de pingente, munição
desacompanhada de arma. (STF - HC 133984/MG)
8. Crimes contra a vida, lesões corporais, crimes praticados com violência ou grave ameaça à pessoa,
crimes sexuais, tráfico de drogas – nenhum admite.
9. Porte de drogas para uso (art. 28 da LD) – Majoritariamente, o STF e o STJ não aplicam a

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insignificância, nem mesmo em se tratando de quantidades ínfimas, pelo fato de ser crime de perigo
presumido e o bem tutelado ser a saúde pública. No entanto, há julgado isolado do STF permitindo a
aplicação.
10. Violação de direito autoral – não se aplica. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1380149/RS.
11. Apropriação indébita previdenciária:
ANTES: havia divergência entre o STJ e o STJ.
AGORA: tanto o STF como o STJ afirmam que é inaplicável o princípio da insignificância ao crime de
apropriação indébita previdenciária.
Não se aplica o princípio da insignificância para o crime de apropriação indébita
previdenciária. Não é possível a aplicação do princípio da insignificância aos
crimes de apropriação indébita previdenciária e de sonegação de contribuição
previdenciária, independentemente do valor do ilícito, pois esses tipos penais
protegem a própria subsistência da Previdência Social, de modo que é elevado o
grau de reprovabilidade da conduta do agente que atenta contra este bem
jurídico supraindividual. O bem jurídico tutelado pelo delito de apropriação
indébita previdenciária é a subsistência financeira da Previdência Social. Logo,
não há como afirmar-se que a reprovabilidade da conduta atribuída ao paciente
é de grau reduzido, considerando que esta conduta causa prejuízo à arrecadação
já deficitária da Previdência Social, configurando nítida lesão a bem jurídico
supraindividual. O reconhecimento da atipicidade material nesses casos
implicaria ignorar esse preocupante quadro. STF. 1ª Turma. HC 102550, Rel. Min.
Luiz Fux, julgado em 20/09/2011. STF. 2ª Turma. RHC 132706 AgR, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 21/06/2016. STJ. 3ª Seção. AgRg na RvCr 4.881/RJ,
Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/05/2019.
12. Crimes ambientais:
STJ: É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais, devendo ser analisadas as
circunstâncias específicas do caso concreto para se verificar a atipicidade da conduta em exame (STJ AgRg
no AREsp 654.321/SC).
STF: Já negou em situação de pesca ilegal, a um indivíduo flagrado junto a outras três pessoas, POR TRÊS
VEZES CONSECUTIVAS, em embarcação motorizada, praticando pesca em local proibido e com redes de
arrasto de fundo (HC 137652).
- Já negou em caso de realização de pesca de 7kg de camarão em período de defeso com o uso de método
não permitido (HC 122560/SC).
- A partir do caso acima, publicou a seguinte redação no Info 901:: O princípio da bagatela não se aplica
ao crime previsto no art. 34, caput c/c parágrafo único, II, da Lei 9.605/98 (pesca ilegal).
- No entanto, existem julgados tanto do STF como do STJ aplicando, excepcionalmente, o princípio da
insignificância para este delito. Atente-se ao comando da questão!
13. É possível aplicar o princípio da insignificância para a conduta de manter rádio clandestina?
• No STJ: é pacífico que NÃO.
Súmula 606-STJ: não se aplica o princípio da insignificância aos casos de transmissão clandestina de

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sinal de internet via radiofrequência que caracterizam o fato típico previsto no artigo 183 da lei
9.472/97.
• No STF: o tema ainda é controverso.
-1ª Turma do STF: é inaplicável o princípio da insignificância no crime de transmissão clandestina de
sinal de internet, por configurar o delito previsto no art. 183 da Lei nº 9.472/97, que é crime formal, e,
como tal, prescinde de comprovação de prejuízo para sua consumação. STF. 1ª Turma. HC 124795 AgR,
Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 23/08/2019.
-2ª Turma do STF: O princípio da insignificância também se aplica ao fornecimento clandestino de
internet tipificado no art. 183 da Lei nº 9.472/97 desde que (i) a conduta seja minimamente ofensiva
do agente, (ii) não haja risco social da ação, (iii) seja reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento e (iv) inexpressiva a lesão jurídica. A expressividade da lesão jurídica deve ser
verificada in concreto à luz do alcance do alcance dos aparelhos consignado em laudo da autoridade
regulatória.Ausente laudo que ateste a expressividade concreta da lesão e havendo indícios de sua
inexpressividade, deve incidir o princípio da insignificância, a autorizar a concessão da ordem. STF. 2ª
Turma. HC 161483 AgR, Rel. Edson Fachin, julgado em 07/12/2020. STF. 2ª Turma. HC 165577 AgR, Rel.
Min. Gilmar Mendes, Rel. p/ Acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 08/09/2021.
14. STJ – Info 672/2020: Não se admite a incidência do princípio da insignificância na prática de
estelionato qualificado por médico que, no desempenho de cargo público, registra o ponto e se retira
do hospital.
Cinge-se a controvérsia a saber acerca da possibilidade do trancamento de ação
penal pelo reconhecimento de crime bagatelar no caso de médico que, no
desempenho de seu cargo público, teria registrado seu ponto e se retirado do
local, sem cumprir sua carga horária. A jurisprudência desta Corte Superior de
Justiça não tem admitido, nos casos de prática de estelionato qualificado, a
incidência do princípio da insignificância, inspirado na fragmentariedade do
Direito Penal, em razão do prejuízo aos cofres públicos, por identificar maior
reprovabilidade da conduta delitiva. Destarte, incabível o pedido de trancamento
da ação penal, sob o fundamento de inexistência de prejuízo expressivo para a
vítima, porquanto, em se tratando de hospital universitário, os pagamentos aos
médicos são provenientes de verbas federais. STJ. AgRg no HC 548.869-RS, Rel.
Min. Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 12/05/2020,
DJe 25/05/2020.
15. Juris em teses ed. 219: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais
praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas (Súmula n. 589/STJ).
16. Juris em teses ed. 219:Os delitos de porte ou posse de munição, de uso permitido ou restrito, são
crimes de mera conduta e de perigo abstrato, em que se presume a potencialidade lesiva e, por isso, em
regra, não é aplicável o princípio da insignificância.
17. Juris em teses ed. 219:É possível aplicar o princípio da insignificância aos delitos de porte ou posse de
munição de uso permitido ou restrito, desde que a quantidade apreendida seja pequena e esteja
desacompanhada de armamento apto ao disparo e as circunstâncias do caso concreto demonstrem a
ausência de lesividade da conduta.
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18. Juris em teses ed. 219:Não é possível aplicar o princípio da insignificância aos delitos de porte ou
posse de munição, de uso permitido ou restrito, ainda que em pequena quantidade e desacompanhada
de armamento apto ao disparo, se a apreensão acontecer no contexto do cometimento de outro crime.

#ATENÇÃO: Delegado pode aplicar o princípio da insignificância?


Para o STJ NÃO! Apenas o juiz pode. HC 154.949/MG. Assim, a autoridade policial estaria obrigada a
efetuar a prisão em flagrante, submetendo a questão à análise de autoridade judiciária.
No entanto, parte da doutrina, a exemplo de Cleber Masson, posiciona-se contra tal entendimento,
pelo fato de tratar a insignificância de afastamento da tipicidade do fato. E ora, se o fato não é típico para
o juiz, também não será para delegado!
Para esta segunda corrente, principalmente na análise da legalidade da prisão em flagrante, o
delegado não só poderia, como DEVERIA analisar a presença dos elementos que traduzem a insignificância,
vez que não seria razoável ratificar a prisão de quem subtraiu um pão de queijo de uma padaria, por exemplo,
sob pena de inobservância de vários princípios, como lesividade, proporcionalidade, subsidiariedade,
intervenção mínima.
No estado de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, no Seminário Integrado de Polícia Judiciária,
foram aprovadas súmulas que orientam a atuação dos delegados nesse sentido. O estado do Paraná, embora
não possuam súmulas, utilizam as do Rio de Janeiro, de modo que os delegados de polícia lá aplicam o
princípio da insignificância!
A solução para que você, caro aluno, resolva a questão, é analisar a forma como isso está sendo
questionado. Se a pergunta for sobre o STJ, delegado não pode. Se a questão afirmar de forma mais próxima
ao entendimento doutrinário, for de um estado como o de São Paulo que já se posicionou sobre o tema ou
for silente sobre a fonte e essa opção “parecer a mais certa”, tome partido da carreira e marque a que
permite a análise pelo delegado.
Para finalizar o estudo deste princípio, precisamos ainda fazer uma última diferenciação: BAGATELA
PRÓPRIA X BAGATELA IMPRÓPRIA1, o que faremos com a ajuda do Dizer o Direito.

INFRAÇÃO BAGATELAR PRÓPRIA INFRAÇÃO BAGATELAR IMPRÓPRIA


= PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA = PRINCÍPIO DA IRRELEVÂNCIA PENAL DO FATO

A situação nasce penalmente relevante. O fato é


A situação já nasce atípica. típico do ponto vista formal e material.
O fato é atípico por atipicidade material. Em virtude de circunstâncias envolvendo o fato e o
seu autor, consta-se que a pena se tornou
desnecessária.

O agente não deveria nem mesmo ser processado


O agente tem que ser processado (a ação penal
já que o fato é atípico.
deve ser iniciada) e somente após a análise das

1
Fonte: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2015/01/ebook-princc3adpio-da-insignificc3a2ncia-vf.pdf

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peculiaridades do caso concreto, o juiz poderia


reconhecer a desnecessidade da pena.

Não tem previsão legal no direito brasileiro. Está previsto no art. 59 do CP, conforme a doutrina.

Enquanto para a infração bagatelar própria já nasce irrelevante por se tratar de conduta
materialmente atípica, “a infração bagatelar imprópria é aquela que nasce relevante para o Direito penal,
mas depois se verifica que a aplicação de qualquer pena no caso concreto apresenta-se totalmente
desnecessária” (GOMES, Luiz Flávio; Antonio Garcia-Pablos de Molina. Direito Penal Vol. 2, São Paulo: RT,
2009, p. 305)”.
Em outras palavras, o fato é típico, tanto do ponto de vista formal como material. No entanto, em
um momento posterior à sua prática, percebe-se que não é necessária a aplicação da pena. Logo, a
reprimenda não deve ser imposta, deve ser relevada (assemelhando-se ao perdão judicial).
Porém, ao contrário do instituto mencionado, as situações em que a bagatela imprópria é aplicável
não estão expressamente previstas.
Segundo LFG, este instituto possui fundamento legal no direito brasileiro (porém, de forma implícita
e “genérica” – termos nossos). Trata-se do art. 59 do CP que prevê que o juiz deverá aplicar a pena “conforme
seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime”.
Dessa forma, se a pena não for mais necessária, ela não deverá ser imposta (princípio da
desnecessidade da pena conjugado com o princípio da irrelevância penal do fato).
A bagatela imprópria foi acolhida, excepcionalmente, pela 5ª Turma do STJ, confirmando decisão da
1ª e 2ª instâncias judiciais no AgRg no AREsp 1423492 / RN (decisão publicada 29/05/2019):

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. POSSE ILEGAL


DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. CRIME SEM
VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA. DELITO COMETIDO HÁ MAIS DE 12 ANOS.
INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA BAGATELA IMPRÓPRIA. REQUISITOS PREENCHIDOS.
DESNECESSIDADE DA PENA. REEXAME DO CONJUNTO PROBATÓRIO. APLICAÇÃO
DA SÚMULA N. 7 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – STJ. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO. 1. Entendo as instâncias ordinárias ser desnecessária a punição do
acusado, porque presentes os requisitos para a aplicação do princípio da bagatela
imprópria, para se concluir de forma diversa, seria imprescindível o reexame do
conjunto probatório dos autos, o que não é viável em recurso especial. Incidente a
Súmula n. 7/STJ. 2. Agravo regimental desprovido.

SIMPLIFICANDO:
- Princípio da insignificância ou da bagatela própria – O fato já nasce atípico, por atipicidade material.
- Natureza jurídica bagatela própria: Causa Supralegal de extinção de tipicidade material, devendo ser
analisado em conexão com os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima.

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- Princípio da insignificância imprópria: pressupõe uma análise do que ocorreu após a prática do crime até
o momento do julgamento. Exemplo: o réu se casou, teve filhos, tem uma empresa com mais de 50
funcionários. Nesses casos o juiz reconhece a existência do crime, mas conclui que a pena não é necessária.
Aqui não há causa supralegal de exclusão de tipicidade, há causa supralegal de extinção de punibilidade. O
Estado reconhece o crime, mas conclui pela desnecessidade da punição, ela não é mais vantajosa para a
sociedade.
A análise da pertinência da bagatela imprópria há de ser realizada, obrigatoriamente, na situação fática,
jamais no plano abstrato. Atente-se também para a necessidade de se observar que a bagatela imprópria
tem como pressuposto inafastável a não incidência do princípio da insignificância (próprio). Afinal, se o fato
não era merecedor da tutela penal em decorrência da sua atipicidade, descabe enveredar pela discussão
acerca da necessidade ou não da pena.
- Natureza jurídica bagatela imprópria: Causa supralegal de extinção de punibilidade. O estado reconhece o
crime, mas conclui pela desnecessidade da pena, a punição não é vantajosa para a sociedade.

Caiu na prova Delegado MS/2021! Apesar de serem conceituadas de maneira diferente, a bagatela própria
e a imprópria, sob o ponto de vista pragmático, geram a mesma consequência, que é a exclusão da tipicidade
material. (Item incorreto)
Como mencionado acima, bagatela própria é causa de exclusão de tipicidade material e bagatela imprópria
causa da exclusão da punibilidade.

7.2 Princípios Relacionados com o Fato do Agente

7.2.1 Princípio da Ofensividade/Lesividade

Não pode haver crime sem que haja conteúdo ofensivo a bens jurídicos. A doutrina mais
especializada aponta uma fundamentação implícita ao princípio da lesividade na ideia de dignidade da
pessoa humana, no sentido de que não se pode instrumentalizar ou objetificar o homem. Então, quando o
Estado criminaliza condutas sem que haja ofensa ou ao menos perigo de ofensa a um bem jurídico tutelado,
está colocando o homem (que está recebendo aquela reprimenda) como instrumento para a consecução de
outra finalidade que não a proteção do próprio homem (ex.: um controle social que não é legítimo).
Nesse contexto, para que ocorra o delito, é imprescindível a efetiva lesão ou perigo de lesão ao bem
jurídico tutelado.

Crime de dano: exige efetiva lesão ao bem jurídico. (Ex.: homicídio, exige a lesão morte).
Crime de perigo: contenta-se com o risco de lesão ao bem jurídico. (Ex. abandono de incapaz/omissão de
socorro).
a. crime de perigo concreto - o risco de lesão deve ser demonstrado.
b. perigo abstrato: o risco de lesão é absolutamente presumido por lei.
Há doutrina entendendo que o crime de perigo abstrato é inconstitucional, pois o perigo não pode ser
presumido, mas comprovado. Presumir-se prévia e abstratamente o perigo, significa, em última análise, que

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o perigo não existe. Para os adeptos dessa corrente, os crimes de perigo abstrato violariam o princípio da
lesividade. Essa tese, no entanto, hoje não prevalece no STF. No HC 104.410, o Supremo decidiu que a
criação de crimes de perigo abstrato não representa, por si só, comportamento inconstitucional, mas
proteção eficiente do Estado.
Ex.: Embriaguez ao volante – STF decidiu que o ébrio não precisa dirigir de forma anormal para configurar o
crime – bastando estar embriagado (crime de perigo abstrato).

Nesse sentido, considerando que o princípio da ofensividade exige que, do fato praticado, ocorra
lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado, é certo concluir que o direito penal não deve se ocupar de
questões éticas, morais, religiosas, políticas, filosóficas. Assim, em razão do princípio da lesividade, PROÍBE-
SE:
⋅ A criminalização de pensamentos e cogitações (direito à perversão);
⋅ A criminalização de condutas que não tenham caráter transcendental (vedação à autolesão);
⋅ A criminalização de meros estados existenciais (criminalização da pessoa pelo que ela é – ex.:
revogação da contravenção de mendicância).

Aprofundando...

O princípio da lesividade está diretamente ligado à ideia de bem jurídico, com a chamada teoria do bem
jurídico. Na vertente do funcionalismo teleológico e racional (Roxin), a teoria do BJ ganha um destaque muito
grande em toda a sistemática penal como uma forma de limitar o poder de punir do estado, ou seja, como
uma forma de limitar a incidência de tipos penais
São de 4 ordens/ funções e garantias do princípio da lesividade:
1) Proibição de incriminar uma atitude interna – motivo pelo qual não se pune a cogitação (fase interna do
inter criminis);
2) Proibição de incriminar condutas que não excedam o âmbito do autor – motivo pelo qual não se pune a
autolesão;
3) Proibição de incriminar simples estados ou condições existenciais - tendo em vista que nosso ordenamento
Jurídico adota o direito penal do fato – e não direito penal do autor;
4) Proibição de incriminar condutas desviadas que não afetam qualquer bem jurídico - motivo pelo qual não
se pune o crime impossível e, em regra, os atos preparatórios.

7.2.2 Princípio da Alteridade

Subprincípio do princípio da lesividade. Dispõe que a conduta deve necessariamente atingir, ou


ameaçar atingir, bem jurídico de terceiro para ser criminalizada. Deve transcender a esfera do próprio
agente. Por isso, o direito penal não pune a autolesão. Ex.: o artigo 28 da Lei 11.343/06 NÃO tipifica o USO
de drogas porque apenas afetaria o usuário. Tipifica o porte ou similares (guardar, ter em depósito,
transportar etc.).

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7.2.3 Princípio da Exteriorização ou Materialização do Fato

O Estado só pode incriminar condutas humanas voluntárias, fatos, atos lesivos. Ninguém pode ser
castigado por seus pensamentos, desejos ou meras cogitações ou estilo de vida. Esse princípio busca impedir
o direito penal do autor. Decorrência do princípio da lesividade.

7.2.4 Princípio Da Legalidade Estrita Ou Reserva Legal

Encontra previsão no art. 5º, XXXIX da CFRB/88 e no art. 1º do CP: “Não há crime sem lei anterior
que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. Assim, a lei em sentido estrito tem o monopólio na
criação de crimes e cominação de penas – que só serão aplicados a condutas posteriores à sua vigência, não
podendo haver criação de crimes e penas por costumes ou analogias, tampouco tipificação de condutas
genéricas.
Ademais, a lei precisa ser anterior, escrita, estrita, certa (taxativa) e necessária.
A legalidade subdivide-se em:

o Legalidade formal: corresponde à obediência aos trâmites procedimentais previstos pela CF para
que determinado diploma legal possa vir a fazer parte do ordenamento jurídico.
o Legalidade material: pressupõe não apenas a observância das formas e procedimentos impostos
pela Constituição Federal, mas também, e principalmente, o seu conteúdo, respeitando-se as suas
proibições e imposições para a garantia dos direitos fundamentais por ela previstos.

A doutrina trabalha com uma dupla face do princípio da legalidade. Ora legitimando o Estado, ora
limitando esse poder de punir. Veja:

1) Funções constitutivas - em que se garante ao Estado a possibilidade de criminalizar condutas e


cominar penas. Aqui trabalha-se com o plano da legalidade no sentido de legitimar o Estado a exercer
seu direito de punir através da criminalização de conduta e cominação de penas.
Quando se fala em legalidade na função constitutiva, abrange a legalidade não só na pena cominada,
mas na pena aplicada e pena executada também.
● Princípio da legalidade direcionado ao legislador – ao cominar as penas;
● Princípio da legalidade direcionado ao aplicador do direito – quando o juiz veda que se aplique um
regime de cumprimento de pena mais severo do que o previsto pelo legislador, por exemplo;
● Princípio da legalidade direcionado à Administração Penitenciária - Os órgãos não podem executar
pena diversa daquela prevista em lei e aplicada pelo juiz.

Enunciado da I Jornada de Direito Penal e Processo Penal CJF/STJ


Enunciado 13: O princípio da legalidade impõe que se observe, quando da soma
das penas, o cálculo diferenciado para fins de progressão de regime.

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2) Funções de garantia (face de garantia) – busca limitar o poder de punir do estado trazendo garantias
mínimas ao cidadão perante o estado. Exclui penas ilegais, por exemplo. Nesse ponto, o princípio da
legalidade se desdobra em 4 máximas:
I. Lex scripta: A lex scripta proíbe que se utilize dos costumes como fonte incriminadora do direito
penal;
II. Lex stricta: proibição do emprego da analogia in malan partem;
III. Lex Praevia: Representa o princípio da anterioridade penal: veda a criminalização ex post facto;
IV. Lex certa (aspecto material do princípio da legalidade): A lex certa materializa a proibição de o
legislador formular tipos penais genéricos, vazios, vagos etc. (Princípio da taxatividade).

Fundamentos do princípio da legalidade:


o Político: vinculação do executivo e do judiciário às leis, o que impede o exercício do poder punitivo
com base no livre arbítrio.
o Democrático: o parlamento, escolhido pelo povo, que é responsável pela criação dos tipos
definidores dos crimes.
o Jurídico: a lei deve ser prévia e clara, pois produz efeito intimidativo.

Segundo o autor Masson, o princípio da reserva legal possui dois fundamentos, quais sejam:
- Fundamento jurídico: é a taxatividade, certeza ou determinação, pois implica, por parte do legislador, a
determinação precisa, ainda que mínima, do conteúdo do tipo penal e da sanção penal a ser aplicada, bem
como da parte do juiz, na máxima vinculação ao mandamento legal. Como desdobramento lógico da
taxatividade, o Direito Penal não tolera a analogia in malam partem.
- Fundamento político: é a proteção do ser humano em face do arbítrio do Estado no exercício do seu poder
punitivo. Enquadra-se, destarte, entre os direitos fundamentais de 1° geração (ou dimensão). (MASSON,
2017, p. 25).

* ATENÇÃO: os princípios da reserva legal (estrita legalidade) e o da legalidade são considerados como
sinônimos por parte da doutrina, enquanto outra corrente defende que se diferenciam nos seguintes
aspectos:

RESERVA LEGAL (estrita legalidade) LEGALIDADE


Art. 5°, XXXIX, CF, “não há crime sem lei Art. 5, II, CF, “ninguém será obrigado a fazer
anterior que o defina, nem pena sem prévia ou deixar de fazer alguma coisa senão em
cominação legal”. virtude de lei”.

Exige lei em sentido estrito (no caso do Exige lei em sentido amplo (abrange qualquer
direito penal, lei ordinária) - a lei deve ser espécie normativa, ou seja, lei delegada,
criada de acordo com o processo legislativo medida provisória, decreto, etc.).
previsto na CF e deve tratar de matéria
constitucionalmente reservada à lei.

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7.2.4.1 Mandados de Criminalização e Reserva Legal

Em que pese a criação de crimes e cominação de penas seja exclusiva da lei em sentido estrito, a
Constituição Federal estabelece mandados explícitos e implícitos de criminalização, ou seja, situações em
que é obrigatória a intervenção do legislador penal.
Conforme já afirmado pelo STF, “A Constituição de 1988 contém significativo elenco de normas que,
em princípio, não outorgam direitos, mas que, antes, determinam a criminalização de condutas (CF, art. 5º,
XLI, XLII, XLIII, XLIV; art. 7º, X; art. 227, § 4º)” (HC 102.087/MG).
Podem ser de duas espécies:

MANDADOS DE CRIMINALIZAÇÃO EXPRESSOS MANDADOS DE CRIMINALIZAÇÃO


IMPLÍCITOS/TÁCITOS
A ordem está explícita no texto constitucional. A ordem está implícita no texto constitucional. É
retirada da do “espírito” do texto da CF, de sua
interpretação sistemática.
Ex.: Art. 5º, XLII: “a prática do racismo constitui Ex.: combate à corrupção no poder público.
crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena Embora a CF não tenha determinado
de reclusão, nos termos da lei”. expressamente a criminalização dessa conduta,
isso pode ser extraído dos valores que ela traz,
como por exemplo, do artigo 1º (por ser República,
que significa “coisa pública”) e do art. 37, dos
princípios da Adm. Pública (LIMPE).

# DICA DD: O que seria mandado de criminalização por omissão? Consiste na hipótese do art. 5º, XLIII da
CF, que determina que a omissão, nos casos de crimes hediondos e equiparados, deve ser punida.

A título de conhecimento, há ainda os “mandados internacionais de criminalização”, que também podem


ser expressos, quando essa “ordem” está presente em tratados de direitos humanos ratificados pelo Brasil,
e implícitos, quando advém de uma decisão/sentença de tribunal internacional.

7.2.5 Princípio da Anterioridade

Exteriorizado nos mesmos dispositivos que se pode extrair o princípio da reserva legal.
De acordo com o princípio da anterioridade, a lei penal apenas se aplica a fatos praticados após a sua
entrada em vigor.
Daí, por consequência lógica, deriva a sua irretroatividade, não se aplicando a fatos pretéritos, nem
mesmo os praticados durante a vacatio legis, SALVO se benéfica ao acusado.
Nesse sentido, temos o art. 5º XL da CF, dispondo que “a lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu”.

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7.2.6 Princípio da Vedação ao Bis In Idem

Tem previsão no art. 8º, 4 do Pacto de São José da Costa Rica, incorporado ao nosso ordenamento
jurídico pelo Dec. 678/1992.
Proíbe que o agente seja punido duas vezes pelo mesmo fato, inclusive sopesando a mesma situação
ou circunstância para agravar a pena em mais de um momento da dosimetria. Como exemplo, temos a
Súmula 241 do STJ que proíbe o uso de uma única reincidência como circunstância judicial desfavorável e
como agravante, pois haveria violação a este princípio.

Caiu em prova Delegado SC/2024! Acerca dos princípios penais, assinale a afirmativa correta. O princípio do
ne bis in idem indica que uma mesma circunstância não pode ser valorada em desfavor do suposto autor do
fato mais de uma vez. (item correto).

7.2.7 Princípio da Adequação Social

Idealizado por Hans Welzel, este princípio traz a ideia de que as condutas tidas por socialmente
adequadas não poderiam constituir delitos, pois o tipo penal implica em uma seleção de comportamentos
reprováveis cuja sociedade realiza um desvalor da ação e do resultado. Dessa forma, não caberia a
criminalização de comportamentos nos quais não há esse desvalor.
Comporta duas vertentes, reduzindo a abrangência do tipo penal.
1. Se o fato está de acordo com a norma, mas não está de acordo com o interesse social, a conduta
deverá ser tida como atípica.
2. Também deve ser direcionado ao legislador. Isso porque, se a conduta está de acordo com a
sociedade, o legislador não pode criminalizar esta conduta, orientando o parlamentar a como
proceder na definição dos bens jurídicos a ser tutelados.

Há 3 correntes sobre a natureza jurídica do princípio da adequação social:

1. Excludente da tipicidade (doutrina majoritária): A adequação social exclui a tipicidade material


da conduta, não seria crime uma vez que a conduta não é socialmente reprovável/é socialmente
adequada. De acordo com Toledo, "a adequação social exclui desde logo a conduta em exame
do âmbito de incidência do tipo, situando-a entre os comportamentos normalmente permitidos,
isto é, materialmente atípicos". O autor cita o exemplo de lesões corporais causadas por um
pontapé em partidas de futebol.

Caiu em prova Delegado MG/2021! O princípio da adequação social funciona como causa supralegal de
exclusão da tipicidade, não podendo ser considerado criminoso o comportamento humano socialmente
aceito e adequado, que, embora tipificado em lei, não afronte o sentimento social de justiça. (item correto).

2. Excludente da ilicitude - Há doutrinadores minoritários dizendo que seria uma excludente da


ilicitude (no plano da ilicitude material). O problema é que hoje não se divide mais ilicitude
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material e ilicitude formal. Então a tipicidade material da conduta acaba antecipando algumas
análises que seriam feitas na ilicitude.
3. Regra geral de hermenêutica/princípio geral de interpretação: A jurisprudência caminha de
forma tranquila e dominante no sentido de que a adequação social deve sofrer uma aplicação
restritiva no direito penal, comportando 2 vertentes:
● 1ª vertente – voltada ao legislador (função seletiva) – vertente meramente
orientadora, pois busca orientar o legislador para que esse não selecione condutas
socialmente adequadas para serem criminalizadas.
● 2ª vertente – voltada ao intérprete (função interpretativa limitadora) – traduz uma
regra geral de hermenêutica/ princípio geral de interpretação. Assim, em havendo várias
interpretações possíveis, pela adequação social, exclui a incidência do tipo penal das
hipóteses que são socialmente adequadas.

APROFUNDANDO PARA PROVA DISCURSIVA:


Crítica da doutrina: Essa aplicação restritiva (solução dada pela jurisprudência) acaba esvaziando a própria
força normativa dos princípios em geral e, sobretudo, do princípio da adequação social. E uma vez esvaziando
a força normativa do princípio da adequação social, deixa-se de utilizar um princípio (mesmo implícito na
CF/88) como parâmetro para controle de constitucionalidade.

Há forte crítica na doutrina acerca deste princípio, pelo fato de adotar um critério impreciso, inseguro
e relativo. Importante saber que, segundo o STJ, o princípio da adequação social não afasta a tipicidade da
conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas, como se verifica do enunciado da Súmula 502 do STJ: Súmula
502 - "Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao crime previsto no art. 184, § 2°,
do CP, a conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas".

CESPE/2018 - A fim de garantir o sustento de sua família, Pedro adquiriu 500 CDs e DVDs piratas para
posteriormente revendê-los. Certo dia, enquanto expunha os produtos para venda em determinada praça
pública de uma cidade brasileira, Pedro foi surpreendido por policiais, que apreenderam a mercadoria e o
conduziram coercitivamente até a delegacia. Com referência a essa situação hipotética, julgue o item
subsequente. O princípio da adequação social se aplica à conduta de Pedro, de modo que se revoga o tipo
penal incriminador em razão de se tratar de comportamento socialmente aceito. (Item incorreto)

7.3 Princípios Relacionados com o Agente do Fato

7.3.1 Princípio da Responsabilidade Pessoal / Da Pessoalidade / Da Intranscendência Da Pena

De acordo com esse princípio, a responsabilidade penal é sempre uma responsabilidade pessoal, que
não pode ultrapassar a pessoa do autor do crime, motivo pelo qual se proíbe o castigo penal pelo fato de
outrem. Somente o condenado é que terá de se submeter à sanção que lhe foi aplicada pelo Estado.

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No entanto, os efeitos secundários extrapenais da sentença penal condenatória (obrigação de


reparar o dano e decretação de perdimento de bens), podem se estender aos sucessores até o limite da
herança.

Art. 5º, XLV da CF – “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a


obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos
da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido”.

Desse princípio decorre:


● OBRIGATORIEDADE DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA ACUSAÇÃO: É proibida a denúncia genérica, vaga ou
evasiva, embora nos Crimes Societários, os Tribunais flexibilizam essa obrigatoriedade;
● OBRIGATORIEDADE DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA.

7.3.2 Princípio da Responsabilidade Subjetiva

Não basta que o fato seja materialmente causado pelo agente, o agente somente pode ser
responsabilizado se o fato tiver sido querido, assumido ou previsto. Não há responsabilidade penal sem dolo
ou culpa.

Questão: Polícia Civil do DF – Concurso Delegado Civil 2ª Fase – temos doutrina anunciado dois CASOS de
responsabilidade penal objetiva (autorizados por lei):

● 1ª Embriaguez voluntária - Crítica: A teoria da actio libera in causa que permite a punição do agente
completamente embriagado, não sendo a embriaguez acidental, exige não somente uma análise
pretérita da imputabilidade, mas também da consciência e vontade do agente. Exige
responsabilidade subjetiva.
● 2ª Rixa qualificada. *qualificado pela lesão grave e morte. Independentemente de quem tenha
causado a lesão ou morte, todos responderão pela rixa qualificada. Crítica: só responde pelo
resultado agravador, isto é, o crime de lesão, quem atuou com dolo, evitando-se responsabilidade
penal objetiva.

7.3.3 Princípio da Culpabilidade

Só pode o Estado impor sanção penal ao agente imputável (penalmente capaz), com potencial
consciência da ilicitude (possibilidade de conhecer o caráter ilícito do comportamento), quando dele exigível
conduta diversa (podendo agir de outra forma).

7.3.4 Princípio da Proporcionalidade

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Exige que se faça um juízo de ponderação sobre a relação existente entre o bem que é lesionado ou
posto em perigo (gravidade do fato) e o bem de que alguém pode ser privado (gravidade da pena). Toda vez
que, nessa relação, houver um desequilíbrio acentuado, haverá desproporção. Ou seja, a pena deve ser
proporcional à gravidade do fato.
O presente princípio apresenta uma dupla face, pois de um lado proíbe o excesso (garantismo
negativo), enquanto de outro lado não admite a proteção insuficiente (garantismo positivo) – já estudamos
também no tópico do garantismo.

STJ (AI no HC 239.363/PR): A intervenção estatal por meio do Direito Penal deve
ser sempre guiada pelo princípio da proporcionalidade, incumbindo também ao
legislador o dever de observar esse princípio como proibição de excesso e como
proibição de proteção insuficiente.

Ressalta-se que o princípio da proporcionalidade incide no plano legislativo, judicial e no da execução


da pena. Segundo tal princípio, a sanção penal deve ser vantajosa para o corpo social, e trazer mais vantagens
do que desvantagens (proporcionalidade em sentido estrito); além disso, deve ser adequada e necessária à
finalidade do direito penal.

Caiu na prova Delegado MS/2017! Com relação aos princípios de Direito Penal e à interpretação da lei penal,
assinale a alternativa correta.
a) A interpretação autêntica contextual visa a dirimir a incerteza ou obscuridade da lei anterior.
b) Não se aplica o princípio da individualização da pena na fase da execução penal.
c) A interpretação quanto ao resultado busca o significado legal de acordo com o progresso da ciência.
d) O princípio da proporcionalidade tem apenas o judiciário como destinatário cujas penas impostas ao autor
do delito devem ser proporcionais à concreta gravidade.
e) A interpretação teleológica busca alcançar a finalidade da lei, aquilo que ela se destina a regular.
Gab. E. No tocante a assertiva D, o equívoco da questão consiste em afirmar que tem como destinatário
apenas o judiciário. Em verdade, o princípio da proporcionalidade tem como destinatário o legislativo,
judiciário e o juízo da execução da pena

7.3.5 Princípio da Limitação das Penas ou da Humanidade

Princípio da humanidade ou princípio da humanidade das penas, nada mais é do que o princípio da
dignidade da pessoa humana no Direito Constitucional. Este princípio é transportado para o Direito Penal, e
ganha uma nomenclatura diferente: humanidade.
Assim, a CF prevê, em seu art. 5º, XLVII, que não haverá penas de morte (salvo em caso de guerra
declarada), de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento ou cruéis.

Caiu em prova Delegado PR/2021! A Constituição da República proíbe as penas de morte (salvo em caso de
guerra declarada) e as consideradas cruéis (art. 5º, inc. XLVII, alíneas ‘a’ e ‘e’, respectivamente), além de

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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assegurar às pessoas presas o respeito à integridade física e moral (art. 5º, inc. XLIX). Tais preceitos
constitucionais expressam o princípio penal da: humanidade.

A Constituição da República proíbe as penas de morte (salvo em caso de guerra declarada) e as consideradas
cruéis (art. 5º, inc. XLVII, alíneas ‘a’ e ‘e’, respectivamente), além de assegurar às pessoas presas o respeito à
integridade física e moral (art. 5º, inc. XLIX). Tais preceitos constitucionais expressam o princípio penal da
HUMANIDADE.

Segundo o autor Bitencourt (2018), “o princípio de humanidade do Direito Penal é o maior entrave para a
adoção da pena capital e da prisão perpétua. Esse princípio sustenta que o poder punitivo estatal não pode
aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que lesionem a constituição físico-psíquica
dos condenados”.

Caiu na Prova Delegado RR/2022 - (aplicação 25/09/22) O princípio da dignidade da pessoa humana, no
âmbito penal, implica vedação de tratamento degradante e cruel, servindo de fundamento, na jurisprudência
dos tribunais superiores, à concessão de prisão domiciliar a preso em estado terminal. (item correto)

7.2.6 Princípio da Confiança

O princípio da confiança, abordado por parte da doutrina, surgiu na Espanha, com aplicação inicial
aos crimes de trânsito. Segundo este princípio, quem atua observando as regras de trânsito, possui o direito
acreditar que as demais pessoas irão agir também de acordo com as normas. Assim, quando aquele que
continua avançando no sinal verde e acaba colidindo com outro veículo que avançou no sinal vermelho, agiu
amparado pelo princípio da confiança, não tendo culpa, já que dirigia na expectativa de que os demais
respeitariam as regras de sinalização.
Atualmente é aplicado no Brasil para os crimes em geral.

Princípio da fraternidade
O princípio da fraternidade é uma categoria jurídica e não pertence apenas às religiões ou a moral.
sua redescoberta apresenta-se como um fator de fundamental importância, tendo em vista a complexidade
dos problemas sociais, jurídicos e estruturais ainda hoje enfrentados pelas democracias. A fraternidade não
exclui o direito e vice-versa, mesmo porque a fraternidade enquanto valor vem sendo proclamada por
diversas constituições modernas, ao lado de outros historicamente consagrados como a liberdade e a
igualdade. O princípio da fraternidade é um macroprincípio dos direitos humanos e passa a ter uma nova
leitura prática, diante do constitucionalismo fraternal prometido na Constituição federal de 88. O princípio
da fraternidade é possível de ser concretizado também no âmbito penal, através da chamada justiça
Restaurativa, do respeito aos direitos humanos e da humanização da aplicação do próprio direito penal e do
correspondente processo penal.
Com base nesse princípio, o STJ já determinou a progressão de pena (STJ HC 562.452) julgado em
23/04/2020:

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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O princípio da Fraternidade foi usado como fundamentação para decidir pelo cômputo da pena de
maneira mais benéfica ao condenado que é mantido preso em local degradante. Pelo princípio da
fraternidade, foi considerado computar pena em dobro para os presos que estão em situação degradante.
Em maio de 2021, o ministro Reynaldo Soares da Fonseca do STJ concedeu habeas corpus para que fosse
contado em dobro todo o período em que um homem esteve preso no Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho,
no Complexo Penitenciário de Bangu, localizado na Zona Oeste do Rio de Janeiro: “Não se mostra possível
que a determinação de cômputo em dobro tenha seus efeitos modulados como se o recorrente tivesse
cumprido parte da pena em condições aceitáveis até a notificação e a partir de então tal estado de fato
tivesse se modificado. Em realidade, o substrato fático que deu origem ao reconhecimento da situação
degradante já perdurara anteriormente, até para que pudesse ser objeto de reconhecimento, devendo, por
tal razão, incidir sobre todo o período de cumprimento da pena. STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 136.961/RJ,
Rel. Min. Reynaldo Soares Da Fonseca, julgado em 15/06/2021.
Esse cômputo da pena em dobro se aplica para todo e qualquer crime? NÃO. O cômputo em dobro foi vedado
para os seguintes crimes: a) crimes contra a vida; b) crimes contra a integridade física; c) crimes sexuais.
“O Estado deverá arbitrar os meios para que, no prazo de seis meses a contar da presente decisão, se
compute em dobro cada dia de privação de liberdade cumprido no IPPSC, para todas as pessoas ali alojadas,
que não sejam acusadas de crimes contra a vida ou a integridade física, ou de crimes sexuais, ou não
tenham sido por eles condenadas, nos termos dos Considerandos 115 a 130 da presente resolução”. STJ.
5ª Turma. AgRg no RHC 136961-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 15/06/2021, DJe
21/06/2021 (Info 701).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

- Direito Penal – Parte Geral – Volume 1 – 13ª edição – Cleber Masson;


- Sinopse nº1 – Direito Penal – Parte geral – 7ª edição – Alexandre Salim e Marcelo André de Azevedo;
- Aulas do módulo do professor Delegado de Polícia Marcus Montez
- Dizer o Direito (https://www.dizerodireito.com.br/);

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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META 2

DIREITO PROCESSUAL PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS

Olá pessoal, antes de começar o estudo do material, é importante destacar que, em 2023, o STF julgou as
ADIs 6298, 6299, 6300 e 6305 que questionavam alterações no Código de Processo Penal (CPP) pelo Pacote
Anticrime (Lei 13.964/2019).
No julgamento, a Corte estabeleceu:
1) Implantação do juiz das garantias cuja competência será limitada até o OFERECIMENTO da denúncia,
sendo o juiz INVESTIDO na função e cabendo-lhe determinar a realização de diligências suplementares,
para o fim de dirimir dúvida relevante no julgamento do mérito, NÃO se aplicando aos processos de
competência originária dos tribunais, tribunal do júri, violência doméstica e infrações de menor
potencial ofensivo (art. 3ª-A, 3ºB, 3º-C, art. 3º-E);
2) Controle judicial dos atos praticados pelo Ministério Público, sob pena de nulidade (art. 3º-B), incluindo
a submissão do arquivamento à análise da autoridade judicial, que poderá submeter à revisão da instância
ministerial em caso de patente ilegalidade (art. 28 e art. 28-A);
3) Videoconferência poderá ser utilizada de forma excepcional para realização da audiência de custódia
(art. 3º-B e art. 310);
4) Prorrogação do inquérito policial, mediante decisão judicial, mesmo estando o investigado preso,
sendo que a inobservância dos prazos, não implica na revogação automática da prisão (art. 3º-B, §2º);
5) Encaminhamento dos autos ao juiz da instrução (art. 3º-D);
6) NÃO haverá alteração do juiz sentenciante que conheceu de prova declarada inadmissível (art. 157,
§5º).

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, XL
⦁ Art. 5º, LIII, LV, LVI e LVII
⦁ Art. 5º, LX e LXIII
⦁ Art. 5º, XXXVIII, “a”
⦁ Art. 5°, XXXVII
⦁ Art. 53
⦁ Art. 93, IX
⦁ Art. 129, I

CPP
⦁ Art. 1º e 2º
⦁ Art. 3º, 3ª-A e 3º-B
⦁ Art. 185, §2º
⦁ Art. 212 e 217

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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⦁ Art. 260 e 261


⦁ Art. 283
⦁ Art. 792

Outros Diplomas Legais


⦁ Art. 8°, itens 2 e 5, CADH
⦁ Art. 347, CP
⦁ Art. 305, CTB

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

⦁ Art. 5º, LIII, LV, LVI e LVII, CF/88


⦁ Art. 5º, LX e LXIII, CF/88
⦁ Art. 93, IX, CF/88
⦁ Art. 1º e 2º, CPP
⦁ Art. 3º, 3ª-A e 3º-B, CPP

1. PROCESSO PENAL CONSTITUCIONAL

O Processo Penal Brasileiro deve observância às normas previstas na Carta Magna. Devem as normas
processuais serem interpretadas a partir de uma filtragem constitucional. Interessante apontar a reflexão
de Daniel Sarmento e Claudio Pereira de Souza Neto sobre a constitucionalização do Direito:

A constitucionalização do Direito envolve dois fenômenos distintos, que podemos


chamar de ‘constitucionalização inclusão’ e de ‘constitucionalização releitura’. [...]
A constitucionalização releitura liga-se a impregnação de todo o ordenamento
pelos valores constitucionais. Trata-se de uma consequência de propensão dos
princípios constitucionais de projetarem uma eficácia irradiante, passando a
nortear a interpretação da totalidade da ordem jurídica. Assim, os preceitos legais,
os conceitos e institutos dos mais variados ramos do ordenamento, submetem-se
a uma filtragem constitucional: passam a ser lidos a partir da ótica constitucional,
o que muitas vezes impõe significativas mudanças na sua compreensão e aplicação
concretas. (SOUZA NETO, Cláudio Pereira; SARMENTO, Daniel. Direito
Constitucional: Teoria, História e Métodos de Trabalho. Belo Horizonte: Fórum,
2017. p. 44)

Nesse sentido, é possível falar em algumas características decorrentes da constitucionalização:


● O juiz não pode requisitar provas, depois da manifestação pelo arquivamento feita pelo MP (STF);
● O juiz não pode substituir o MP em sua função probatória, em que pese, certa liberdade de produção
conferida ao juiz pelo CPP;

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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● O interrogatório do réu deve perder a sua característica de prova, passando a ser fundamentalmente
meio de defesa.

Se a perspectiva teórica do Código de Processo Penal era nitidamente autoritária, prevalecendo


sempre a preocupação com a segurança pública, como se o Direito Penal constituísse verdadeira política
pública, a Constituição da República de 1988 caminhou em direção diametralmente oposta.
Enquanto a legislação codificada pautava-se pelo princípio da culpabilidade e da periculosidade do
agente, o texto constitucional instituiu um sistema de amplas garantias individuais, a começar pela afirmação
da situação jurídica de quem ainda não tiver reconhecida a sua responsabilidade penal por sentença
condenatória passada em julgado: "Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória” (art. 5º, LVII, CF).
Nesse sentido, a constituição deve passar a ser a pré-compreensão valorativa do intérprete o dever
ser normativo do mundo real, que é o ser. Nesta direção é o que o professor Rubens Casara propõe a
interpretação prospectiva do processo penal, ou seja, toda a interpretação deve ter por objetivo a
construção do projeto constitucional, deve buscar a radical e incansavelmente, a realização de valores
consagrados na constituição.
Como decorrência da interpretação prospectiva do processo penal, há uma preocupação com a
tutela de direitos fundamentais, o que dá espaço ao garantismo penal. Ressalta-se que o autor Ferrajoli é o
ícone do garantismo. Princípios do sistema garantista:
● Jurisdicionalidade (nulla poena, nulla culpa sine iudicio): representa a exclusividade do poder
jurisdicional, direito ao juiz natural, independência da magistratura e exclusiva submissão à lei.
● Inderrogabilidade do juízo: no sentido de infungibilidade e indeclinabilidade da jurisdição.
● Separação das atividades de julgar e acusar (nullum iudicium sine accusatione);

Caiu em prova Delegado MS/2021! Em relação aos sistemas processuais penais e o processo penal na
dimensão dos direitos fundamentais, assinale a alternativa correta.
O princípio acusatório ou da separação entre juiz e acusação está entre os axiomas de Luigi Ferrajoli.

● Presunção de inocência;
● Contraditório (nulla probatio sine defensione): é um método de confrontação da prova e
comprovação da verdade entre acusação e defesa.

2. PRETENSÃO PUNITIVA

● Conceito: No momento em que alguém pratica a conduta delituosa prevista no tipo penal, este
direito de punir desce do plano abstrato e se transforma no jus puniendi in concreto. O Estado, que
até então tinha um poder abstrato, genérico e impessoal, passa a ter a pretensão concreta de punir
o suposto autor do fato delituoso.

Surge então a pretensão punitiva: que é o poder do Estado de exigir de quem comete um delito a
submissão à sanção penal, tornando efetivo o ius puniendi.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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Segundo Gustavo Badaró consiste no poder do Estado de exigir, de quem comete um delito, a
submissão à sanção penal. Através da pretensão punitiva, o Estado procura tornar efetivo o direito de punir
(ius puniendi), exigindo do autor do crime, que está obrigado a sujeitar-se à sanção penal, o cumprimento
dessa obrigação, que consiste em sofrer as consequências do crime e se concretiza no dever de abster-se de
qualquer resistência contra os órgãos estatais aos quais cumpre executar a pena. Porém, tal pretensão não
poderá ser voluntariamente resolvida sem um processo, não podendo nem o Estado impor a sanção penal,
nem o infrator submeter-se à pena.
Assim sendo, tal pretensão já nasce insatisfeita. É necessário um processo.
Ex.: art. 121, CP → pena de 6 a 20 anos (direito de punir em abstrato).
A partir do momento que alguém pratica o delito, o direito de punir deixa o plano abstrato e entra
no plano concreto, de modo que surge para o Estado o direito de punir o indivíduo. Nasce a pretensão
punitiva.

Infrações penais de menor potencial ofensivo: o fato de ser admitida transação penal, com a imediata
aplicação de penas restritivas de direito ou multas não quer dizer uma imposição direta da pena. Trata-se de
uma forma distinta da tradicional para a resolução da causa, sendo admitida a solução consensual com
supervisão jurisdicional – privilegiando a vontade das partes.

● Função do Processo Penal: É o instrumento que se vale o Estado para a imposição de sanção penal
ao possível autor do fato delituoso.
- Finalidades do Processo Penal:
⋅ Pacificação social obtida com a solução do conflito;
⋅ Viabilizar a aplicação do direito penal;
⋅ Garantir ao acusado, presumidamente inocente, meios de defesa diante de uma acusação.

3. SISTEMAS DO PROCESSO PENAL

“A estrutura do processo penal variou ao longo dos séculos, conforme o predomínio


da ideologia punitiva ou libertária. Goldschmidt afirma que a estrutura do processo
penal de um país funciona como um termômetro dos elementos democráticos ou
autoritários de sua Constituição” (LOPES, 2018, p. 27).

De modo geral, a doutrina costuma separar o sistema processual inquisitório do acusatório pela
titularidade atribuída ao órgão da acusação: inquisitorial seria o sistema em que as funções de acusação e de
julgamento estariam reunidas em uma só pessoa (ou órgão), enquanto o acusatório seria aquele em que tais
papéis estariam reservados a pessoas (ou órgãos) distintos.

a) SISTEMA INQUISITÓRIO:
As funções de acusar e julgar estão concentradas em um mesmo sujeito processual.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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Nesse sistema há a perda da imparcialidade do magistrado, o qual, simultaneamente exerce todas


as funções (acusa, defende e julga). Além disso, verifica-se o risco de eventual abuso de poder (crítica).
Ademais, no sistema inquisitório a gestão da prova cabe ao juiz, podendo fazê-lo tanto na fase
inquisitorial quanto na fase do processo. Nesse sentido, verifica-se a inexistência do contraditório.
São características, ainda, o caráter escrito e sigiloso da instrução processual.

Características:
i. As funções de acusar, defender e julgar se encontram concentradas em uma única pessoa, o
chamado de juiz inquisidor;
ii. Não há que se falar em contraditório, o qual nem sequer seria concebível em virtude da falta de
contraposição entre acusação e defesa;
iii. O juiz inquisidor é dotado de ampla iniciativa probatória, de modo que possui liberdade para
determinar, de ofício, a colheita de provas, seja no curso das investigações, seja no curso do processo
penal, independentemente de sua proposição pela acusação ou pela defesa, de modo que a gestão
das provas compete ao juiz que, a partir da prova do fato e tomando como parâmetro a lei, podia
chegar à conclusão que desejasse;
iv. Vigora o princípio da verdade real/material e, em decorrência dele, o acusado não era considerado
sujeito de direito, sendo tratado, em verdade, como mero objeto do processo, daí por que se admitia,
inclusive, a tortura como meio de se obter a verdade absoluta.

Na atualidade, a concentração de poderes nas mãos do juiz e a iniciativa probatória dela decorrente
é incompatível com a ordem constitucional e convencional, notadamente ao sistema acusatório (CF, art. 129,
I) e à garantia da imparcialidade (CADH, art. 8º, n. 1).

b) SISTEMA ACUSATÓRIO:
As funções serão exercidas por partes distintas. As funções de acusar, defender e julgar são
atribuídas a pessoas diversas. No referido sistema haverá respeito ao contraditório.
O acusado deixa de ser considerado mero objeto e passa a configurar como sujeito de direitos.
A gestão da prova cabe as partes e, em um sistema acusatório puro, o juiz não poderia produzir
prova de ofício. Porém, parte da doutrina aduz que o juiz pode produzir prova de ofício, restrito a fase
processual e de forma residual, não sendo permitida a produção, contudo, na fase investigatória.
São características, ainda, a prevalência do caráter público e oral da instrução processual.

Características:
i. Caracteriza-se pela presença de partes distintas, contrapondo-se acusação e defesa em igualdade de
condições e ambas se sobrepondo um juiz, de maneira equidistante e imparcial. Aqui, há uma
separação das funções de acusar, defender e julgar. O processo caracteriza-se, assim, como legítimo
actum trium personarum.
ii. A gestão da prova recai precipuamente sobre as partes. Na fase investigatória, o juiz só deve intervir
quando provocado.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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iii. Oralidade, publicidade, aplicação do princípio da presunção de inocência, atividade probatória


pertence às partes, separação rígida entre juiz e acusação, paridade entre acusação e defesa.

Antes do advento da Lei 13.964/19, havia divergência na doutrina:


● Geraldo Prado - afirma que, em um sistema acusatório puro, o juiz não pode produzir provas de ofício
de maneira nenhuma, independentemente de ser na fase investigatória ou na fase processual.
● Eugênio Paccelli, Gustavo Badaró (posição majoritária e Jurisprudência) - juiz pode produzir prova de
ofício, mas apenas na fase processual e desde que de forma residual.

Em outras palavras: O magistrado não será o protagonista na produção de provas, sua atuação deve
ter caráter complementar e subsidiário. Nesse sentido, o art. 212 do CPP:

Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha,


não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação
com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida. Parágrafo único.
Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a inquirição.

No entanto, o Pacote Anticrime retirou do juiz a iniciativa probatória (Art.3º-A do CPP), entregando
ao juiz de garantias a competência para decidir sobre a produção de provas cautelares durante a
investigação.

CPP. Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do
juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de
acusação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)

Contudo, no julgamento das ADIs 6298, 6299, 6300 e 6305, o STF conferiu interpretação conforme
ao dispositivo, para assentar que o juiz, pontualmente, nos limites autorizados, pode determinar a realização
de diligências suplementares, para o fim de dirimir dúvida relevante no julgamento do mérito.

iv. O princípio da verdade real é substituído pelo princípio da busca da verdade, devendo a prova ser
produzida com fiel observância ao contraditório e a ampla defesa;
v. A separação das funções e a iniciativa probatória residual à fase judicial preserva a equidistância que
o magistrado deve tomar quanto ao interesse das partes, sendo compatível com a garantia da
imparcialidade e com o princípio do devido processo legal;
vi. O sistema acusatório é o adotado pela Constituição Federal e pelo CPP:

CF - Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:


I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

A função de acusar nas ações penais públicas é do Ministério Público, materializando assim o sistema
acusatório, haja vista que a própria CF outorgou a titularidade da persecução penal ao referido órgão, por
excelência.

Caiu em prova Delegado MG/2021! Em relação às características do sistema acusatório, analise as


afirmativas:
I. Gestão da prova na mão das partes e não do juiz, clara distinção entre as atividades de acusar e julgar, juiz
como terceiro imparcial e publicidade dos atos processuais.
II. Ausência de uma tarifa probatória, igualdade de oportunidades às partes no processo e procedimento é,
em regra, oral (itens considerados corretos).

SISTEMA INQUISITÓRIO SISTEMA ACUSATÓRIO


Não há separação das funções de acusar, defender e Separação das funções de acusar, defender e julgar. Por
julgar, que estão concentradas em uma única pessoa, consequência, caracteriza-se pela presença de partes
que assume as vestes de um juiz inquisidor. distintas (actum trium personarum), contrapondo-se
acusação e defesa em igualdade de condições,
sobrepondo-se a ambas um juiz, de maneira
equidistante e imparcial.

Como se admite o princípio da verdade real, o O princípio da verdade real é substituído pelo princípio
acusado não é sujeito de direitos, sendo tratado da busca da verdade, devendo a prova ser produzida
como mero objeto do processo, daí por que se admite com fiel observância ao contraditório e à ampla defesa.
inclusive a tortura como meio de se obter a verdade
absoluta.

O juiz inquisidor é dotado de ampla iniciativa A gestão da prova recai precipuamente sobre as partes.
acusatória e probatória, tendo liberdade para Na fase investigatória, o juiz só deve intervir quando
determinar de ofício a colheita de elementos provocado, e desde que haja necessidade de intervenção
informativos e de provas, seja no curso das judicial.
investigações, seja no curso da instrução processual.

Durante a instrução processual, o juiz tem iniciativa A separação das funções e a iniciativa probatória residual
probatória, podendo determinar a produção de restrita à fase judicial preserva a equidistância que o juiz
provas de ofício. Há disparidade de poderes entre deve tomar quanto ao interesse das partes, sendo
acusação e defesa e verifica-se o caráter escrito e compatível com a CF/88. Além disso, deve ser
secreto da instrução. assegurada a paridade entre acusação e defesa.

Caiu em prova Delegado MG/2021! Em relação às características do sistema acusatório, analise as


afirmativas:

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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I. Gestão da prova na mão das partes e não do juiz, clara distinção entre as atividades de acusar e julgar, juiz
como terceiro imparcial e publicidade dos atos processuais.
II. Ausência de uma tarifa probatória, igualdade de oportunidades às partes no processo e procedimento é,
em regra, oral.
III. O processo é um fim em si mesmo e o acusado é tratado como mero objeto, imparcialidade do juiz e
prevalência da confissão do réu como meio de prova.
IV. Celeridade do processo e busca da verdade real, o que faculta ao juiz determinar de ofício a produção de
prova.

Itens considerados corretos: I e II.

Caiu em prova Delegado SP/2023! O sistema processual penal acusatório antagoniza o sistema inquisitivo,
entre outras razões, por vedar a substituição probatória do órgão de acusação pelo juiz. (item considerado
correto)

c) SISTEMA MISTO, ACUSATÓRIO FORMAL OU FRANCÊS:


É uma fusão dos dois modelos anteriores.
Para este sistema, há duas fases distintas: uma primeira fase inquisitorial, destinada à investigação
preliminar e, em seguida, teria uma segunda fase, que se aproxima mais ao sistema acusatório.
● Investigação preliminar: polícia judiciária;
● Instrução preparatória: juiz de instrução;
● Julgamento: apenas nesta última fase há contraditório e ampla defesa.

Segundo o autor Renato Brasileiro, é chamado de sistema misto porquanto o processo se desdobra
em duas fases distintas: a primeira fase é tipicamente inquisitorial, com instrução escrita e secreta, sem
acusação e, por isso, sem contraditório. Nesta, objetiva-se apurar a materialidade e a autoria do fato
delituoso. Na segunda fase, de caráter acusatório, o órgão acusador apresenta a acusação, o réu se defende
e o juiz julga, vigorando, em regra, a publicidade e a oralidade.

#DICA DD: Quando o CPP entrou em vigor, havia o entendimento de que ele era misto, sendo o inquérito
policial a primeira fase. Porém, com o advento da CF/88 e do Pacote Anticrime deixou de maneira expressa
o sistema acusatório, além da separação das funções de acusar, defender e julgar, assegurando o
contraditório e a ampla defesa, e o princípio da presunção de não culpabilidade, trata-se de um sistema
acusatório.

Caiu em prova Delegado PE/2024!


O sistema inquisitivo é caracterizado pela concentração de poder nas mãos do julgador, que exerce, também,
a função de acusador. (item correto)
No sistema inquisitivo, a confissão do réu é considerada a rainha das provas. (item correto)

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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No sistema misto, o processo se divide em duas grandes fases: na fase de instrução preliminar, com os
elementos do sistema inquisitivo, predomina a procedimento secreto, escrito e sem contraditório; enquanto,
na fase de julgamento, com a predominância do sistema acusatório, presentes se fazem a oralidade, a
publicidade, o contraditório, a concentração dos atos processuais, a intervenção de juízes populares e a livre
apreciação das provas. (item correto)

4. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO PENAL

4.1 Princípios Constitucionais Explícitos

4.1.1 Princípio da Presunção da Inocência

a) Previsão legal: art. 5°, LVII, CF/88 e art. 8°, §2°, CADH.

Art. 5°, LVII, CF/88 – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado
de sentença penal condenatória → presunção de não culpabilidade.

Art. 8°, §2°, CADH – Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma
sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa → presunção
de inocência.

Observações:
● CADH possui status normativo supralegal, ou seja, está abaixo da CF, mas acima da legislação
infraconstitucional;
● Sempre que se faz uma leitura da legislação infraconstitucional, deve-se sujeitá-la tanto ao controle
de constitucionalidade quanto ao controle de convencionalidade;
● Ao contrário da CF/88, a Convenção Americana fala em presunção de inocência, e o faz de maneira
muito semelhante aos outros tratados internacionais de direitos humanos.

#DICA DD: Há quem utilize como sinônimos as expressões: presunção de inocência, presunção de não
culpabilidade e estado de inocência.

b) Conceito: Segundo o professor Renato Brasileiro, o princípio da presunção de inocência: “consiste


no direito de não ser declarado culpado, senão após o trânsito em julgado de sentença penal condenatória,
ao término do devido processo legal, em que o acusado tenha se utilizado de todos os meios de prova
pertinentes para a sua defesa (ampla defesa) e para a destruição da credibilidade das provas apresentadas
pela acusação (contraditório)”.
Segue explicando o doutrinador: “No ordenamento pátrio, até a entrada em vigor da CF 88, esse
princípio somente existia de forma implícita, como decorrência da cláusula do devido processo legal. Com a
CF 88, o princípio da presunção de não culpabilidade passou a constar expressamente do inciso LVII do art.
5º” (LIMA, 2017, p. 43).
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c) Dimensões: O princípio da presunção de inocência (ou presunção de não culpabilidade) compreende


duas regras fundamentais:

1. Dimensão INTERNA ao processo: O princípio da presunção de inocência se manifestando dentro do


processo.
I- Regra probatória (in dubio pro reo): A parte acusadora tem o ônus de demonstrar a
culpabilidade do acusado além de qualquer dúvida razoável, logo, não é o acusado que deve
comprovar sua inocência;
II- Regra de tratamento: o Poder Público está impedido de agir e de se comportar em relação
ao acusado como se ele já houvesse sido condenado.

2. Dimensão EXTERNA ao processo: O princípio da presunção de inocência se manifestando fora do


processo. Essa dimensão é especialmente destacada no tratamento dado pela imprensa. O princípio
da presunção de inocência e as garantias constitucionais da imagem, dignidade e privacidade
demandam uma proteção contra a publicidade abusiva e a estigmatização do acusado, funcionando
como limites democráticos à abusiva exploração midiática em torno do fato criminoso e do próprio
processo judicial.

Caso J. vs. Peru

Esse caso foi decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Nesse, a Corte responsabilizou
o Peru por violação ao estado de inocência, previsto no art. 8.2 da CADH.
A Sra. J. foi presa durante o cumprimento de medida de busca e apreensão residencial. Foi
processada por terrorismo e associação ao terrorismo, em virtude de suposta vinculação com o grupo
armado Sendero Luminoso. Foi absolvida em junho de 1993. Logo após ser solta, deixou o território peruano.
Em dezembro do mesmo ano, a Corte Suprema Peruana cassou a sentença absolutória, determinou um novo
julgado e decretou sua prisão.
Para a CIDH, os distintos pronunciamentos públicos das autoridades estatais, sobre a culpabilidade
de J. violaram o estado de inocência, princípio determinante que o Estado não condene, nem mesmo
informalmente, emitindo juízo perante a sociedade e contribuindo para formar a opinião pública, enquanto
não existir decisão judicial condenatória.
Para a Corte, a apresentação da imagem da acusada para a imprensa, escrita e televisiva, ocorreu
quando ela estava sob absoluto controle do Estado, além de as entrevistas posteriores também terem sido
levadas a cabo sob conhecimento e controle do Estado, por meio de seus funcionários. A Corte acentuou não
impedir o estado de inocência que as autoridades mantenham a sociedade informada sobre investigações
criminais, mas requer que isso seja feito com a discrição e a contextualização necessárias, de tal modo a
garantir o estado de inocência.
Assim, fazer declarações públicas, sem os devidos cuidados, sobre processos penais, gera na
sociedade a crença sobre a culpabilidade do acusado.

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SEMANA 01/21

Consequências de tais regras:


● Ônus da prova: em regra da acusação.
● Prisões cautelares: a privação cautelar da liberdade de locomoção somente se justifica em hipóteses
estritas, ou seja, a regra é que o acusado permaneça em liberdade durante o processo, enquanto
que a imposição de medidas cautelares pessoais é a exceção.

d) Limite temporal
Até quando o sujeito é presumidamente inocente?
Em 2016, no bojo do HC 126.292, o Plenário do STF entendeu que, a partir do momento que um
acórdão condenatório fosse proferido por um Tribunal de 2ª Instância, a pena já poderia ser executada,
mesmo na pendência de REsp ou RE. Essa prisão a que o indivíduo estaria sendo submetido seria uma prisão
penal, e não prisão cautelar.
Ou seja, o STF passou a defender que a execução provisória da pena após a confirmação da sentença
em segundo grau não ofende o princípio constitucional da presunção de inocência. Isso porque a
manutenção da sentença condenatória pela segunda instância encerra a análise de fatos e provas que
assentaram a culpa do condenado, o que autoriza o início da execução da pena, até mesmo porque os
recursos extraordinários ao STF e ao STJ comportam exclusivamente discussão acerca de matéria de direito.
A decisão do STF acima foi muito criticada pela doutrina, tendo em vista que a CF é clara ao prever
“ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado (...)”, não havendo margens para outra
interpretação.
Em 2019 houve overruling e o STF decidiu que o cumprimento da pena somente pode ter início com
o esgotamento de todos os recursos. Portanto, atualmente, é proibida a execução provisória da pena.
Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do trânsito em julgado (antes do esgotamento
de todos os recursos), no entanto, para isso, é necessário que seja proferida uma decisão judicial
individualmente fundamentada, na qual o magistrado demonstre que estão presentes os requisitos para a
prisão preventiva previstos no art. 312 e art. 313 do CPP.
Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do trânsito em julgado, mas cautelarmente
(preventivamente), e não como execução provisória da pena.

Ao julgar as ações declaratórias de constitucionalidade 43, 44 e 54, em 7/11/2019,


o Plenário do STF firmou o entendimento de que não cabe a execução provisória
da pena. A 1ª Turma do STF aplicou esse entendimento em um caso concreto no
qual o réu estava preso unicamente pelo fato de o Tribunal de Justiça ter
confirmado a sua condenação em 1ª instância, não tendo havido, contudo, ainda,
o trânsito em julgado. Logo, o STF, afastando a possibilidade de execução provisória
da pena, concedeu a liberdade ao condenado até que haja o esgotamento de todos
os recursos. STF. 1ª Turma. HC 169727/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
26/11/2019 (Info 961).

A nova decisão do STF é vinculante? SIM. A decisão do STF foi proferida em ADC, que declarou a
constitucionalidade do art. 283 do CPP.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

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SEMANA 01/21

Para o STF, é possível o início do cumprimento da pena caso somente reste o julgamento de recurso sem
efeito suspensivo (ex: só falta julgar Resp ou RE)? É possível a execução provisória da pena?

Até fevereiro de 2009, o STF entendia que era possível


a execução provisória da pena.
1ª PERÍODO Assim, se o réu estivesse condenado e interpusesse
ATÉ FEV/2009: recurso especial ou recurso extraordinário, teria que
SIM iniciar o cumprimento provisório da pena enquanto
É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA aguardava o julgamento.

No dia 05/02/2009, o STF, ao julgar o HC 84078


(Rel. Min. Eros Grau), mudou de posição e passou a
entender que não era possível a execução provisória da
pena.
Obs.: o condenado poderia até aguardar o julgamento
do REsp ou do RE preso, mas desde que estivessem
previstos os pressupostos necessários para a prisão
2ª PERÍODO preventiva (art. 312 do CPP).
DE FEV/2009 A FEV/2016: Dessa forma, ele poderia ficar preso, mas
NÃO cautelarmente (preventivamente), e não como
NÃO É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA execução provisória da pena.
PENA Principais argumentos:
• A prisão antes do trânsito em julgado da condenação
somente pode ser decretada a título cautelar.
• A execução da sentença após o julgamento do recurso
de apelação significa restrição do direito de defesa.
• A antecipação da execução penal é incompatível com
o texto da Constituição.
Esse entendimento durou até fevereiro de 2016.

No dia 17/02/2016, o STF, ao julgar o HC 126292 (Rel.


Min. Teori Zavascki), retornou para a sua primeira
posição e voltou a dizer que era possível a execução
provisória da pena.
Principais argumentos:
• É possível o início da execução da pena condenatória
após a prolação de acórdão condenatório em 2º grau e
isso não ofende o princípio constitucional da presunção
da inocência.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

• O recurso especial e o recurso extraordinário não


possuem efeito suspensivo (art. 637 do CPP). Isso
significa que, mesmo a parte tendo interposto algum
desses recursos, a decisão recorrida continua
3º PERÍODO: produzindo efeitos. Logo, é possível a execução
DE FEV/2016 A NOV/2019: provisória da decisão recorrida enquanto se aguarda o
SIM julgamento do recurso.
É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA • Até que seja prolatada a sentença penal, confirmada
em 2º grau, deve-se presumir a inocência do réu. Mas,
após esse momento, exaure-se o princípio da não
culpabilidade, até porque os recursos cabíveis da
decisão de segundo grau ao STJ ou STF não se prestam
a discutir fatos e provas, mas apenas matéria de direito.
• É possível o estabelecimento de determinados limites
ao princípio da presunção de não culpabilidade. Assim,
a presunção da inocência não impede que, mesmo
antes do trânsito em julgado, o acórdão condenatório
produza efeitos contra o acusado.
• A execução da pena na pendência de recursos de
natureza extraordinária não compromete o núcleo
essencial do pressuposto da não culpabilidade, desde
que o acusado tenha sido tratado como inocente no
curso de todo o processo ordinário criminal,
observados os direitos e as garantias a ele inerentes,
bem como respeitadas as regras probatórias e o
modelo acusatório atual.
• É necessário equilibrar o princípio da presunção de
inocência com a efetividade da função jurisdicional
penal. Neste equilíbrio, deve-se atender não apenas os
interesses dos acusados, como também da sociedade,
diante da realidade do intrincado e complexo sistema
de justiça criminal brasileiro.
• “Em país nenhum do mundo, depois de observado o
duplo grau de jurisdição, a execução de uma
condenação fica suspensa aguardando referendo da
Suprema Corte”.

No dia 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54


(Rel. Min. Marco Aurélio), retornou para a sua segunda
posição e afirmou que o cumprimento da pena somente
4º PERÍODO:
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

pode ter início com o esgotamento de todos os


ENTENDIMENTO ATUAL: recursos.
NÃO Assim, é proibida a execução provisória da pena.
NÃO É POSSÍVEL A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes
PENA do trânsito em julgado (antes do esgotamento de todos
os recursos), no entanto, para isso, é necessário que
seja proferida uma decisão judicial individualmente
fundamentada na qual o magistrado demonstre que
estão presentes os requisitos para a prisão preventiva
previstos no art. 312 do CPP.
Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do
trânsito em julgado, mas cautelarmente
(preventivamente), e não como execução provisória da
pena.
Principais argumentos:
• O art. 283 do CPP, com redação dada pela Lei nº
12.403/2011, prevê que “ninguém poderá ser preso
senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente,
em decorrência de sentença condenatória transitada
em julgado ou, no curso da investigação ou do
processo, em virtude de prisão temporária ou prisão
preventiva.”. Esse artigo é plenamente compatível com
a Constituição em vigor.
• O inciso LVII do art. 5º da CF/88, segundo o qual
“ninguém será considerado culpado até o trânsito em
julgado de sentença penal condenatória”, não deixa
margem a dúvidas ou a controvérsias de interpretação.
• É infundada a interpretação de que a defesa do
princípio da presunção de inocência pode obstruir as
atividades investigatórias e persecutórias do Estado. A
repressão a crimes não pode desrespeitar e transgredir
a ordem jurídica e os direitos e garantias fundamentais
dos investigados.
• A Constituição não pode se submeter à vontade dos
poderes constituídos nem o Poder Judiciário embasar
suas decisões no clamor público.

Tabela via @dizerodireito para facilitar a compreensão sobre evolução jurisprudencial deste tema.

Sobre o tema, confira a dica do Professor Matheus de Palma:


73
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

https://youtu.be/-a3S31gN6p4

4.1.2 Princípio da Igualdade Processual ou Paridade de Armas

As partes devem ter em juízo as mesmas oportunidades de atuação no processo e devem ser tratadas
de forma igualitária, na medida da sua igualdade. Segundo Norberto Avena (2017, p. 53): “As partes, em
juízo, devem contar com as mesmas oportunidades e ser tratadas de forma igualitária. Tal princípio constitui
desdobramento da garantia constitucional assegurada no art. 5.º, caput, da Constituição Federal, ao dispor
que todas as pessoas serão iguais perante a lei em direitos e obrigações. Não obstante o sistema
constitucional vigente seja proibitivo de discriminações, em determinadas hipóteses é flexibilizado o
princípio da igualdade”.

4.1.3 Princípio da Ampla Defesa

Segundo Renato Brasileiro (2017, p. 54), a ampla defesa pode ser vista como um direito sob a ótica
de que privilegia o interesse do acusado, todavia, sob o enfoque publicístico, no qual prepondera o interesse
geral de um processo justo, é vista como garantia.

Art. 5º, LV, da CF: “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios
e recursos a ela inerentes”.

“O direito de defesa está ligado diretamente ao princípio do contraditório. A defesa


garante o contraditório e por ele se manifesta” (LIMA, 2017, p. 54).

A ampla defesa divide-se em autodefesa e defesa técnica:

● AUTODEFESA: é aquela exercida pelo próprio acusado, em momentos cruciais do processo.


Compreende:
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

1. Direito de audiência;
2. Direito de presença;
3. Capacidade postulatória autônoma.

1. Direito de audiência: É o direito de ser ouvido no processo. Ou seja: é o momento que o acusado
tem para apresentar a sua versão dos fatos e tentar formar a convicção do magistrado quanto a sua
inocência.

Obs.: Quando estudarmos o interrogatório judicial, veremos que, hoje, na visão da doutrina, o interrogatório
judicial tem natureza jurídica de meio de defesa. Isso porque, no interrogatório, ele tem o direito de ficar em
silêncio.

2. Direito de presença: Direito de estar presente/acompanhar os atos processuais.


E se o acusado estiver preso em outra unidade da federação. Ainda assim ele tem assegurado o
direito de presença? R.: SIM! O direito de presença é universal. O direito não deixa de valer só porque o
acusado está preso em outro lugar.
Atualmente, o art. 185, §2°, CPP, permite a realização de audiência mediante videoconferência.
Assim, a videoconferência preserva o direito de presença, ao mesmo tempo que evita o deslocamento do
preso.
Ressalta-se que, embora a doutrina garantista entenda que a inobservância deste direito deveria
acarretar nulidade absoluta, a jurisprudência vem entendendo que se trata de nulidade relativa, devendo-se
comprovar o prejuízo.

Obs.: O direito de presença tem natureza relativa. Ou seja, há situações em que o direito de presença pode
causar constrangimento à vítima ou às testemunhas. Nesse caso, se não for possível realizar a audiência
mediante videoconferência, o acusado será retirado da audiência. Se for essa a decisão do magistrado, deve
haver fundamentação, e essa fundamentação deve constar da ata da audiência para evitar futura nulidade.

Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor,
ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique
a verdade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na
impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na
inquirição, com a presença do seu defensor. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de
2008).

Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas no caput deste artigo
deverá constar do termo, assim como os motivos que a determinaram. (Incluído
pela Lei nº 11.690, de 2008).

Revela-se lícita a retirada dos acusados da sala de audiências, se as testemunhas


de acusação demonstram temor e receio em depor na presença dos réus. Se o
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

patrono do paciente não apresentou nenhuma irresignação quanto aos termos da


assentada, havendo assinado e concordado com seu conteúdo, resulta preclusa a
arguição de qualquer vício a macular o ato de ouvida das testemunhas de acusação.
Ordem denegada”. (STF, 1ª Turma, HC 86.572/PE, Rel. Min. Carlos Britto, j.
06/12/2005, DJ 30/03/2008)

3. Capacidade postulatória autônoma do acusado: Devido à importância da liberdade de locomoção,


o ordenamento jurídico confere ao acusado uma capacidade postulatória autônoma para praticar
certos atos processuais, ainda que ele não seja profissional da advocacia. Ou seja: mesmo que o
acusado não seja advogado, ele pode praticar alguns atos processuais.
Ex.: o acusado pode interpor recursos; provocar incidentes da execução (livramento condicional,
progressão de regime, etc.); impetrar habeas corpus.

● DEFESA TÉCNICA: Direito de ser representado por advogado.


A defesa técnica é indisponível e irrenunciável. Mesmo que o acusado, desprovido de capacidade
postulatória, queira ser processado sem defesa técnica, e ainda que seja revel, deve o juiz providenciar a
nomeação de defensor.

Art. 261 do CPP: Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado
ou julgado sem defensor.

Súmula 523, STF: no processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta,
mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.

Súmula 707, STF: constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para


oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a
suprindo a nomeação do defensor dativo.

Súmula 708, STF: é nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos
autos da renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado para
constituir outro.

STF: A ausência de defensor, devidamente intimado, à sessão de julgamento não


implica, por si só, nulidade processual. STF. 1ª Turma. HC 165534/RJ, rel. orig. Min.
Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 3/9/2019 (Info 950).

Aspectos da ampla defesa:


● Positivo: representa a efetiva utilização dos instrumentos, dos meios e modos de produção,
esclarecimento ou confrontação de elementos de prova relacionados à materialidade da infração
criminal e à autoria;

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

● Negativo: impede a produção de elementos probatórios de elevado risco ou com potencialidade


danosa à defesa do réu.

Consequências da ampla defesa:


● Apenas o réu tem direito à revisão criminal, nunca a sociedade;
● O juiz deve sempre fiscalizar a eficiência da defesa do réu.

Há possibilidade de o acusado exercer sua própria defesa técnica? R.: Desde que o acusado seja
profissional da advocacia, ou seja, desde que esteja regularmente inscrito nos quadros da OAB.

Nas ações penais originárias, a defesa preliminar (L. 8.038/90, art. 4º), é atividade
privativa dos advogados. Os membros do Ministério Público estão impedidos de
exercer advocacia, mesmo em causa própria. São atividades incompatíveis (L.
8.906/94, art. 28). Nulidade decretada. (STF, 2ª Turma, HC 76.671/RJ, Rel. Min.
Nelson Jobim, j. 09/06/1998, DJ 10/08/2000).

É possível o patrocínio da defesa técnica de dois ou mais acusados pelo mesmo defensor. Em outras
palavras: Um único advogado pode defender 2 ou mais acusados? R.: SIM! Mas desde que não haja
colidência de teses pessoais. Ex.: A e B estão sendo acusados do mesmo crime. Um único advogado pode
defendê-los, mas desde que as teses de defesa sejam semelhantes. Se A ou B negarem ser autor do delito,
há colidência de interesses pessoais. Obs.: Cabe ao juiz e ao MP fiscalizarem isso.

Hipótese em que o paciente e seu filho foram acusados de tráfico de drogas, sendo
que o filho imputava a responsabilidade penal a seu pai e ambos foram
patrocinados pelo mesmo advogado. O defensor apresentou alegações finais
defendendo apenas o filho e acusando o pai. Havendo teses defensivas
conflitantes, fica clara a impossibilidade de que pai e filho fossem patrocinados pelo
mesmo advogado. É evidente, assim, o conflito de interesses e a colidência de
defesa, que provocou prejuízo ao paciente, haja vista a condenação à reprimenda
de 12 (doze) anos de reclusão”. (STJ, 6ª Turma, HC 86.392/PA, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, j. 25/05/2010)

4.1.4 Princípio da Plenitude da Defesa

Aplicado especificamente ao Tribunal do Júri.


● A atenção do juiz com a efetividade da defesa do réu deve ser ainda maior;
● É possível apresentar nova tese na tréplica;
● Ampliação do tempo de defesa nos debates sem que igual direito seja concedido ao MP.

4.1.5 Princípio do In Dubio Pro Reo

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Envolve regra de tratamento que milita em favor do acusado. O juiz só pode proferir decreto
condenatório se não existirem dúvidas acerca da autoria e materialidade do delito, sendo indispensável um
juízo de certeza para a condenação.
Se houver dúvida na interpretação de determinado artigo de lei processual penal, deve ser
privilegiada a interpretação que beneficie o réu.

É possível a pronúncia do acusado baseada exclusivamente em elementos informativos obtidos na


fase inquisitorial?

- STJ: NÃO. Haverá violação ao art. 155 do CPP. Além disso, muito embora a
análise aprofundada seja feita somente pelo Júri, não se pode admitir, em um
Estado Democrático de Direito, a pronúncia sem qualquer lastro probatório
colhido sob o contraditório judicial, fundada exclusivamente em elementos
informativos obtidos na fase inquisitorial. STJ. 5ª Turma. HC 560.552/RS, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, julgado em 23/02/2021. STJ. 6ª Turma. HC 589.270, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/02/2021 (Info 638).

-STJ: SIM. Na pronúncia opera o princípio in dubio pro societate, porque é a favor
da sociedade que se resolvem as dúvidas quanto à prova, pelo Juízo natural da
causa. Constitui a pronúncia, portanto, juízo fundado de suspeita, que apenas e
tão somente admite a acusação. Não profere juízo de certeza, necessário para a
condenação, motivo pelo qual a vedação expressa do art. 155 do CPP não se aplica
à referida decisão. STJ. 5ª Turma. AgRg no AgRg no AREsp 1702743/GO, Rel. Min.
Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/12/2020. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp
1609833/RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 06/10/2020.

Para o professor Renato Brasileiro, deve ser adotado o primeiro posicionamento (LIMA, Renato
Brasileiro de. Manual de Processo Penal: volume único. 8ª ed. rev. atual. e ampl. Editora JusPodivm. Salvador.
2020. p. 1471):
Destarte, a nosso ver, havendo dúvidas quanto à existência do crime ou quanto à
presença de indícios suficientes, deve o juiz sumariante impronunciar o acusado,
aplicando o in dubio pro reo. Nesse contexto, como já se pronunciou o Supremo, o
aforismo in dubio pro societate jamais vigorou no tocante à existência do próprio
crime, em relação à qual se reclama esteja o juiz convencido. Por isso, diante da
conclusão dúbia de laudo pericial, que concluiu pela impossibilidade de se
determinar a causa da morte investigada, somada à contradição entre a versão
apresentada pelo acusado e a da irmã da vítima, concluiu o Supremo que, diante
da dúvida do juiz sumariante acerca da existência de homicídio, não seria possível
que o acusado fosse pronunciado sob o pálio do in dubio pro societate.

Esquematizando
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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STJ. 5ª Turma. HC 560.552/RS, Rel. Min. STJ. 5ª Turma. AgRg no AgRg no AREsp
Ribeiro Dantas, julgado em 23/02/2021. STJ. 1702743/GO, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik,
6ª Turma. HC 589.270, Rel. Min. Sebastião julgado em 15/12/2020.
Reis Júnior, julgado em 23/02/2021 (Info 638). STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1609833/RS,
Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
06/10/2020.
NÃO: É ilegal a sentença de pronúncia SIM. É possível admitir a pronúncia do
fundamentada exclusivamente em elementos acusado com base em indícios derivados do
colhidos no inquérito policial. inquérito policial, sem que isso represente
afronta ao art. 155.

#DICA DD:
Na fase de pronúncia deve-se adotar a teoria RACIONALISTA da prova, na qual
não deve haver critérios de valoração das provas rigidamente definidos na lei, no
entanto, por outro lado, o juízo sobre os fatos deve ser pautado por critérios de
lógica e racionalidade, podendo ser controlado em âmbito recursal ordinário.
Para a pronúncia, não se exige uma certeza além da dúvida razoável, necessária
para a condenação. Contudo, a submissão de um acusado ao julgamento pelo
Tribunal do Júri pressupõe a existência de um lastro probatório consistente no
sentido da tese acusatória. Ou seja, requer-se um standard probatório um pouco
inferior, mas ainda assim dependente de uma preponderância de provas
incriminatórias. STF. 2ª Turma. ARE 1067392/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 26/3/2019 (Info 935).

Atenção! Não se afirma que o STF abandonou a aplicação do princípio do in dubio pro societate na fase de
pronúncia. Ocorre que, nesse julgado em análise, segundo o voto do Min. Gilmar Mendes, as testemunhas
que incriminavam o réu eram apenas testemunhas de “ouvir dizer”. A jurisprudência entende que a
testemunha de “ouvir dizer” – conhecida no direito norte-americano como hearsayrule – não produz um
depoimento confiável e, portanto, não serve como indício de autoria.

O testemunho por ouvir dizer (hearsayrule), produzido somente na fase


inquisitorial, não serve como fundamento exclusivo da decisão de pronúncia, que
submete o réu a julgamento pelo Tribunal do Júri. STJ. 6ª Turma. REsp 1373356-
BA, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/4/2017 (Info 603).

4.1.6 Princípio do Contraditório ou Bilateralidade da Audiência

É o direito de ser intimado e se manifestar sobre fatos e provas.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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Art. 5º, LV, da CF: “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios
e recursos a ela inerentes”.

Elementos:
● Direito à informação – parte adversa deve estar ciente da existência da demanda ou dos argumentos
da parte contrária.
● Direito de participação – possibilidade de a parte oferecer reação, manifestação ou contrariedade à
pretensão da parte contrária.
● Direito e obrigatoriedade de assistência técnica de um defensor

Nesse sentido, a parte tem direito à informação (por isso a grande importância dos atos de
comunicação, citação, intimação e notificação) e o direito à participação (a parte precisa ter o direito de
contrariar). Portanto, o contraditório seria a necessária informação às partes e a possível reação a atos
desfavoráveis.

Espécies:
● Contraditório para a prova (contraditório real): É o contraditório realizado na formação do elemento
de prova, sendo indispensável que sua produção ocorra na presença do órgão julgador e das partes.
⋅ Ex.: Prova testemunhal. A prova testemunhal é produzida em contraditório real, pois ambas
as partes estarão presente para acompanhar a produção da prova, podendo questionar as
testemunhas, não apenas quanto a sua credibilidade, mas também quanto aos fatos.
● Contraditório sobre a prova (contraditório diferido/postergado): É a atuação do contraditório após
a formação da prova.
⋅ Ex.: Interceptação telefônica. É claro que o acusado e seu advogado jamais podem tomar
ciência antecipada quanto a uma interceptação telefônica em curso. Nesse caso, o
contraditório será conferido quando concluída a interceptação. Portanto, concluída a
interceptação, a mídia será juntada aos autos, assim como eventual relatório e laudo de
gravação. É nesse momento que a defesa poderá exercer o contraditório.

Sobre o tema, confira a dica do Professor Matheus de Palma:

https://www.youtube.com/watch?v=wXROI0TN6Wo

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Obs.: Se o promotor oferece uma denúncia e essa denúncia é rejeitada pelo juiz, é quase que intuitivo que a
acusação irá recorrer (RESE no âmbito do CPP e apelação no âmbito dos juizados especiais).

O acusado precisa ser intimado quanto a esse recurso? R.: SIM! Na condição de acusado, ele tem o interesse
de que a decisão de rejeição de denúncia seja mantida pelo tribunal. Por isso dele deve ser intimado para
que constitua um defensor para apresentar contrarrazões.

Nesse sentido, entendimento sumulado do STF.


SÚMULA 707 do STF: Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões
ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo.

4.1.7 Princípio da Publicidade

Trata-se de um princípio claramente ligado ao caráter democrático do processo penal. Isso porque,
a partir do momento que se assegura o princípio da publicidade, a ideia é de que a publicidade vai
proporcionar o controle da sociedade sobre a atividade jurisdicional.
Alguns doutrinadores dizem que o princípio da publicidade funciona como uma garantia de segundo
grau ou garantia de garantia (Ferrajoli). Garantia de segundo grau porque, na verdade, a publicidade
proporciona o controle sobre outras garantias. Assim, a partir do momento em que se dá publicidade ao
processo, analisa-se se as outras garantias também foram respeitadas (ex.: juiz natural, contraditório, ampla
defesa, etc.).

● Previsão legal: art. 93, IX, CF/88, art. 5°, LX, CF/88, art. 8°, 5, CADH, art. 792, CPP.

Art. 93, IX, da CF - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei
limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados,
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do


interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;

Art. 5º, LX, da CF - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais
quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

A requerimento do MP, o juiz deferiu que fossem oficiadas as companhias aéreas,


telefônicas e instituições bancárias para requisição de informações sobre viagens
feitas pelo réu e sobre os locais onde foram utilizados os seus cartões de crédito e
telefones celulares. O magistrado autorizou tais medidas sem qualquer
fundamentação. O STJ reconheceu que a decisão foi nula por ausência de
motivação. Embora não sejam absolutas as restrições de acesso à privacidade e
aos dados pessoais do cidadão, é imprescindível que qualquer decisão judicial
explicite os seus motivos (art. 93, IX, da CF). As diligências invasivas de acesso a
dados (bancários, telefônicos e de empresa de transporte aéreo), para serem
deferidas, precisam ser motivadas com a menção à necessidade e
proporcionalidade das diligências. STJ. 6ª Turma. REsp 1133877-PR, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, julgado em 19/8/2014 (Info 545).

● Regra: Publicidade ampla, permitindo a todos o acesso ao processo e não apenas às partes e aos
procuradores.
Dessa publicidade ampla se extrai 3 direitos:
1) Direito de assistência à realização dos atos processuais: o público, as partes e os advogados
podem acompanhar os atos processuais;
2) Direito de narração dos atos processuais: da mesma forma que pode assistir, pode descrever
os atos processuais;
3) Consulta dos autos: qualquer pessoa pode acessar os autos.

● Exceção: Publicidade restrita, com fundamento na própria CF/88 que prevê, em algumas situações,
a possibilidade de restrição da publicidade. Será uma publicidade restrita apenas às partes e a seus
advogados ou, apenas, a seus advogados. Pois, vez ou outra, o direito à intimidade deve prevalecer
sobre o direito à informação.

Art. 8º, item 5, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos – “O processo


penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar os interesses da
justiça”;

Art. 792 do CPP - As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra,


públicos e se realizarão nas sedes dos juízos e tribunais, com assistência dos
escrivães, do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora
certos, ou previamente designados.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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§1° Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar


escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o
tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do
Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando
o número de pessoas que possam estar presentes.
§2o As audiências, as sessões e os atos processuais, em caso de necessidade,
poderão realizar-se na residência do juiz, ou em outra casa por ele especialmente
designada. (regra caiu em desuso).

Art. 234-B do CP - Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título


[crimes sexuais] correrão em segredo de justiça.

No caso de processo penal que tramita sob segredo de justiça em razão da


qualidade da vítima (criança ou adolescente), o nome completo do acusado e a
tipificação legal do delito podem constar entre os dados básicos do processo
disponibilizados para consulta livre no sítio eletrônico do Tribunal, ainda que os
crimes apurados se relacionem com pornografia infantil. Muito embora o delito de
divulgação de pornografia infantil possa causar repulsa à sociedade, não constitui
violação ao direito de intimidade do réu a indicação, no site da Justiça, do nome de
acusado maior de idade e da tipificação do delito pelo qual responde em ação
penal, ainda que o processo tramite sob segredo de justiça. STJ. 5ª Turma. RMS
49920-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 2/8/2016 (Info 587).

ATENÇÃO: Na visão dos Tribunais Superiores o segredo de justiça está dentro da cláusula de reserva de
jurisdição (STF: MS 27.483/DF). Ou seja, quando o segredo de justiça for decretado pelo juiz, somente o
próprio juiz ou uma autoridade jurisdicional superior poderá remover esse segredo de justiça.

Ex.: CPI dos grampos. A CPI quis ter acesso a todos os processos que tinham interceptação telefônica. O STF
não deixou, pois, se há interceptação telefônica, é uma hipótese de publicidade restrita, então somente uma
autoridade jurisdicional pode remover o segredo de justiça.

STF - MS 27.483/DF: “Comissão Parlamentar de Inquérito não tem poder jurídico


de, mediante requisição, a operadoras de telefonia, de cópias de decisão nem de
mandado judicial de interceptação telefônica, quebrar sigilo imposto a processo
sujeito a segredo de justiça. Este é oponível a Comissão Parlamentar de Inquérito,
representando expressiva limitação aos seus poderes constitucionais”. (STF,
Tribunal Pleno, MS 27.483/DF, Rel. Min. Cezar Peluso, DJe 192 09/10/2008).

4.1.8 Princípio da Vedação das Provas Ilícitas

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

É vedado o uso de provas ilícitas no processo.

Art. 5º, LVI, da CF: São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos.

O reconhecimento da prova ilícita ou da prova ilegítima que enseja a nulidade absoluta tem como
consequência imediata o desentranhamento dos autos e sua inutilização, para que não se possa influenciar
indevidamente o convencimento do magistrado.
Cuidado! O que deve ser desentranhado dos autos é a PROVA, e não os autos processuais que fazem
menção à prova ilícita. Assim já decidiu o STF:

As peças processuais que fazem referência à prova declarada ilícita não devem
ser desentranhadas do processo. Se determinada prova é considerada ilícita, ela
deverá ser desentranhada do processo. Por outro lado, as peças do processo que
fazem referência a essa prova (exs: denúncia, pronúncia etc.) não devem ser
desentranhadas e substituídas. A denúncia, a sentença de pronúncia e as demais
peças judiciais não são "provas" do crime e, por essa razão, estão fora da regra que
determina a exclusão das provas obtidas por meios ilícitos prevista art. 157 do CPP.
Assim, a legislação, ao tratar das provas ilícitas e derivadas, não determina a
exclusão de "peças processuais" que a elas façam referência. STF. 2ª Turma. RHC
137368/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 29/11/2016 (Info 849).

Contudo, a prova ilícita NÃO será inutilizada quando:


1) Pertencer licitamente a alguém;
2) Prova ilícita consistir no próprio corpo de delito em relação àquele que praticou um crime para obtê-
la.

Obs.: O STF começou a admitir, excepcionalmente, a utilização da prova ilícita em benefício do réu inocente
que produziu prova para a sua absolvição.

A temática será aprofundada quando tratarmos da Teoria Geral das Provas.

4.1.9 Princípio da Economia Processual, Celeridade Processual e Duração Razoável Do Processo

Trata-se do princípio que ensejou a edição da EC 45/04, responsável por introduzir a razoável
duração do processo enquanto direito fundamental no art. 5, LXXVIII, CF.
Assim, a duração razoável do processo corresponde à busca pelo equilíbrio: o processo não pode ser
moroso ao ponto de ensejar a impunidade, mas também não tão célere de modo a inobservar as garantias
do acusado.
Apresenta algumas consequências:
● As prisões cautelares devem persistir por tempo razoável, enquanto presentes as necessidades;
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

● Possibilidade de utilizar a carta precatória itinerante;


● A suspensão do processo, havendo questão prejudicial, só deve ser feita quando há caso de difícil
solução.

4.1.10 Princípio do Devido Processo Legal

É um princípio expressamente previsto na Constituição Federal.

Art. 5, LIV, da CF - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal.

“O devido processo legal é o estabelecido em lei, devendo traduzir-se em sinônimo


de garantia, atendendo assim aos ditames constitucionais. Com isto, consagra-se a
necessidade do processo tipificado, sem a supressão e/ou desvirtuamento de atos
essenciais” (TÁVORA, 2017, p. 68).

Subdividido em:
● Aspecto material ou substancial: Ninguém será processado, senão por crime previsto em lei;
● Aspecto processual ou procedimental: Atrelado à possibilidade de produzir provas.

Caiu em prova Delegado PE/2024! O princípio do devido processo legal tem suas raízes no princípio da
legalidade e garante que o indivíduo somente seja processado e punido se houver lei penal anterior definindo
determinada conduta como crime, cominando-lhe pena. (item correto)

4.1.11 Juiz Imparcial ou Natural

a) Previsão constitucional: art. 5°, XXXVII e LIII, CF/88.

Art. 5º, XXXVII, da CF: não haverá juízo ou tribunal de exceção;


Art. 5º, LIII, da CF: ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente;

b) Conceito: Consiste no direito que cada cidadão possui de conhecer antecipadamente a autoridade
jurisdicional que o processará e o julgará. A ideia do juiz natural está relacionada com a imparcialidade. Isso
porque, a partir do momento em que a competência é estabelecida de maneira prévia e abstrata, de certa
forma é possível proteger a imparcialidade daquele magistrado.

c) Regras de Proteção que derivam do Juiz Natural: Do princípio do juiz natural derivam 3 regras
fundamentais:
● Só podem exercer jurisdição os órgãos instituídos pela Constituição;
● Ninguém pode ser julgado por órgão instituído após o fato;
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

● Entre os juízes pré-constituídos vigoram regras de competência que excluem qualquer tipo de
discricionariedade.

Obs.1: Convocação de juízes de 1º grau para substituir desembargadores não viola o princípio do juiz
natural.

Não ofende o princípio do juiz natural à convocação de juízes de primeiro grau


para, nos casos de afastamento eventual do desembargador titular, compor o
órgão julgador do respectivo Tribunal, desde que observadas as diretrizes legais
federais ou estaduais, conforme o caso. Precedentes do STF e do STJ. Na hipótese
em tela, o Tribunal de Justiça paulista procedeu a convocações de juízes de primeiro
grau para formação de Câmaras Julgadoras, valendo-se de um sistema de
voluntariado, sem a observância da regra legal instituída (Lei Complementar n.º
646/90 do Estado de São Paulo), qual seja, a de realização de concurso de remoção,
tornando nula a atuação do magistrado de primeiro grau convocado nessas
circunstâncias. Ordem concedida para anular o julgamento do recurso de apelação,
determinando a sua renovação por Turma Julgadora, com a observância da lei de
regência. (STJ, 5ª Turma, HC 111.919/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 18/11/2008, Dje
02/02/2009).

Obs.2: Julgamento por turma (ou câmara) composta, em sua maioria, por juízes convocados não viola o
princípio do juiz natural.

Esta Corte já firmou entendimento no sentido da constitucionalidade da Lei


Complementar 646/1990, do Estado de São Paulo, que disciplinou a convocação de
juízes de primeiro grau para substituição de desembargadores do TJ/SP. Da mesma
forma, não viola o postulado constitucional do juiz natural o julgamento de
apelação por órgão composto majoritariamente por juízes convocados na forma
de edital publicado na imprensa oficial. Colegiados constituídos por magistrados
togados, que os integram mediante inscrição voluntária e a quem a distribuição de
processos é feita aleatoriamente. Julgamentos realizados com estrita observância
do princípio da publicidade, bem como do direito ao devido processo legal, à ampla
defesa e ao contraditório. Ordem denegada. (STF, Pleno, HC 96.821/SP, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, j. 08/04/2010).

É pacífico o entendimento deste Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal


Federal no sentido de ser perfeitamente possível a convocação de juízes de
primeiro grau para substituírem desembargadores nos Tribunais, quando, em
conformidade com a legislação de regência, não há qualquer ofensa à Constituição
Federal. O caso em apreço não se amolda à hipótese acima, tendo em vista tratar-
se de ação penal originária, porquanto, em última análise, refere-se às
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

prerrogativas dos membros do Ministério Público que, por expressa previsão


constitucional (art. 96, inciso III), possuem foro privilegiado por prerrogativa de
função. Prevendo o Regimento Interno do Tribunal de Justiça Estadual, vigente à
época do julgamento do paciente, de que era necessária a presença de pelo menos
dois terços de seus membros na sessão de julgamento, viola o princípio do juiz
natural quando o referido quórum é completado com juízes de primeiro grau
convocados. (STJ, 6ª Turma, HC 88.739/BA, Rel. Min. Haroldo Rodrigues, j.
15/06/2010).

O tema será aprofundado na temática de Competência, tendo em vista que são assuntos diretamente
ligados entre si.

4.2 Princípios Constitucionais Implícitos

4.2.1 Princípio do Nemo Tenetur Se Detegere (Princípio De Que Ninguém Está Obrigado A Produzir Prova
Contra Si Mesmo)

a) Conceito: A garantia da não autoincriminação consiste no direito de não produzir prova contra si
próprio, essa garantia vem sendo muito cobrada em prova no termo em latim “nemo tenetur se detegere”
que está positivado no artigo 8º, “g”, do Pacto de São José da Costa Rica, garantindo à pessoa o “direito de
não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada”.

b) Previsão Normativa:

Na CF/88 (art. 5º, LXIII), através da menção ao direito ao silêncio, que é um dos desdobramentos do
princípio do nemo tenetur se detegere:

Art.5º, LXIII, CF - O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de


permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

Na CADH (art.8º, item 2, alínea “g”):

Artigo 8º, item 2, CADH – (...) durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena
igualdade, às seguintes garantias mínimas:(...) g) direito de não ser obrigado a
depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada; e

c) Titularidade: A CF faz referência ao preso, mas como se trata de um direito fundamental, a


interpretação deve ser feita de maneira extensiva. Desta forma, o titular é o indivíduo suspeito, investigado,
indiciado pela autoridade policial bem como o acusado pelo MP, pouco importa se está preso ou solto.
● Abrange o suspeito, investigado, indiciado ou o acusado.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

● A testemunha tem a obrigação de dizer a verdade, sob pena de responder pelo crime de falso
testemunho. Entretanto, se das perguntas a ela formuladas puder resultar uma autoincriminação,
também poderá invocar este princípio (Info 754 STF).

Caiu em prova Delegado RN/2021! No curso de inquérito, a autoridade policial intimou Pedro a, na qualidade
de testemunha, prestar informações sobre determinado fato delituoso. Na condição de testemunha, Pedro:
estará obrigado a comparecer à delegacia, mas não precisará responder às perguntas formuladas que
puderem resultar em autoincriminação.

● O imputado deve ser advertido acerca do direito de não produzir prova contra si mesmo, sob pena
de ilicitude das provas obtidas.

Art. 5º, LXIII, da CF - O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado.

O exercício do direito ao silêncio não pode servir de fundamento para


descredibilizar o acusado nem para presumir a veracidade das versões
sustentadas por policiais, sendo imprescindível a superação do standard
probatório próprio do processo penal a respaldá-las. STJ. REsp 2.037.491-SP, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 6/6/2023.
(Info 780)

Só há nulidade pela falta de cientificação do acusado sobre o seu direito de


permanecer em silêncio, em fase de inquérito policial, caso demonstrado o
efetivo prejuízo. STJ. CC 188.135-GO, Rel. Ministra Laurita Vaz, Rel. para acórdão
Ministro Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, por maioria, julgado em 8/2/2023,
DJe 23/2/2023. (Info 791)

d) Desdobramentos do Princípio da Não Autoincriminação

1) Direito ao silêncio: Consiste no direito de não responder às perguntas formuladas pela


autoridade, funcionando como espécie de manifestação passiva de defesa. É uma forma de se
exercer a autodefesa.

2) Inexigibilidade de dizer a verdade ou direito de mentir: Cuidado! Mentiras defensivas são


toleradas pelo ordenamento jurídico, porém mentiras agressivas, incriminadoras de terceiro
NÃO estão sob o manto do direito de defesa.

3) Direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-lo: Consiste no
direito de não adotar comportamentos ativos que colaborem com a atividade persecutória do
Estado.
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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Por comportamento ativo, entende-se um “fazer” por parte do acusado, a exemplo do fornecimento
do padrão vocal para realização de exame de espectrograma; fornecimento de material escrito para exame
grafotécnico; exame de bafômetro.
Nesse sentido a jurisprudência:

(...) O privilégio contra a autoincriminação, garantia constitucional, permite ao


paciente o exercício do direito de silêncio, não estando, por essa razão, obrigado a
fornecer os padrões vocais necessários a subsidiar prova pericial que entende lhe
ser desfavorável. Ordem deferida, em parte, apenas para, confirmando a medida
liminar, assegurar ao paciente o exercício do direito de silêncio, do qual deverá ser
formalmente advertido e documentado pela autoridade designada para a
realização da perícia. (STF, 2ª Turma, HC 83.096/RJ, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ
12/12/2003 p. 89).

Acerca da recusa ao teste do bafômetro, nas palavras de Renato Brasileiro de Lima:

O fato de o art. 277, § 3º, do CTB, prever a aplicação de penalidades e medidas


administrativas ao condutor que não se sujeitar a qualquer dos procedimentos
previstos no caput do referido artigo é perfeitamente constitucional. Ao contrário
do que ocorre no âmbito criminal, em que, por força do princípio da presunção de
inocência, não se admite eventual inversão do ônus da prova em virtude de recusa
do acusado em se submeter a uma prova invasiva, no âmbito administrativo, o
agente também não é obrigado a produzir prova contra si mesmo, porém, como
não se aplica a regra probatória que deriva do princípio da presunção de inocência,
a controvérsia pode ser resolvida com base na regra do ônus da prova, sendo que
a recusa do agente em se submeter ao exame pode ser interpretada em seu
prejuízo, no contexto do conjunto probatório, com a consequente imposição das
penalidades e das medidas administrativas previstas no art. 165 do CTB. (LIMA,
Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 81-
82).

Atualmente, há teste de bafômetro ativo (não é obrigado a realizar, pois pode acarretar
autoincriminação) e teste de bafômetro passivo, em que é colocado um objeto próximo ao agente, capaz de
captar, por meio da respiração, o teor alcoólico. Este último, por não demandar qualquer comportamento
do agente, pode ser realizado, mesmo contra sua vontade.
Tratando-se de comportamentos passivos, em que o agente se sujeita a prova, não há proteção do
referido princípio, a exemplo do reconhecimento de pessoas e coisas.

O STF entendeu que o direito a não autoincriminação não assegura ao acusado o direito de ocultar ou falsear
a sua identidade (1ªT, RE n2 561.704, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe 64 02/04/2009).

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No mesmo sentido, o STJ, possui entendimento sumulado. SUM 522: A conduta de atribuir-se falsa
identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa.

Caiu em prova Delegado RN/2021! O direito processual penal é regido por diversos princípios, dentre os
quais o do nemo tenetur se detegere, pelo qual ninguém será obrigado a produzir prova contra si mesmo.
Com base no princípio em questão e na jurisprudência dos Tribunais Superiores: a atribuição de falsa
identidade pelo suspeito ou investigado, ainda que em situação de autodefesa, configura fato típico.

4) Direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva: O direito de não se


autoincriminar (nemo tenetur se detegere) é garantia fundamental de um Estado Democrático de Direito e
deve ser observado de forma que, caso violado, a prova obtida será considerada ilícita. As intervenções
corporais (investigação corporal ou ingerência humana) são medidas de investigação que se realizam sobre
o corpo das pessoas, sem a necessidade do consentimento destas.
Os exemplos de intervenções corporais são diversos, como exame de sangue, ginecológico,
identificação dentária, endoscopia, exame do reto, entre outras tantas perícias como o exame de matérias
fecais, de urina, de saliva, exames de DNA usando fios de cabelo, identificações datiloscópicas de impressões
dos pés, unhas e palmar e também a radiografia.
Ocorre que, para que a prova seja considerada lícita, deve-se observar a forma de coleta da mesma:
invasiva ou não invasiva à luz do direito de não produzir prova contra si mesmo.
· Invasivas: são as intervenções corporais que pressupõem penetração no organismo humano, por
instrumentos ou substâncias, em cavidades naturais ou não, implicando na utilização (ou extração) de
alguma parte dele ou na invasão física do corpo humano, tais como os exames de sangue, o exame
ginecológico, a identificação dentária, a endoscopia (usada para localização de droga no corpo humano)
e o exame do reto.
· Já as provas não invasivas consistem numa inspeção ou verificação corporal. São aquelas em que
não há penetração no corpo humano, nem implicam a extração de parte dele, como as perícias de
exames de materiais fecais, os exames de DNA realizados a partir de fios de cabelo encontrados no chão,
etc.
Desta forma, conclui-se que a prova não invasiva (inspeções ou verificações corporais), mesmo que
o agente não concorde com a produção da prova, esta poderá ser realizada normalmente, desde que não
implique colaboração ativa por parte do acusado, observando-se, assim, o nemo tenetur se detegere.
Caso Glória Trevi: O caso da Gloria de los Angeles Treviño Ruiz que chegou ao STF gerou polêmica
pela seguinte indagação: poderia ter sido a placenta coletada para realização do exame de DNA? O STF, na
ocasião, confirmou a legalidade da determinação de coleta da placenta no procedimento médico do parto
da cantora mexicana visando dirimir a dúvida quanto a quem era o pai da criança.
Conforme o professor Renato Brasileiro de Lima, “nessa situação, a intervenção médica era
necessária e não houve a coleta à força da placenta, uma vez que esta é expelida do corpo humano como
consequência natural do processo de parto.”
Outro exemplo trazido pelo doutrinador de admissibilidade em caso de repercussão:

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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“Situação semelhante ocorreu em caso envolvendo a descoberta do episódio em


que uma criança recém-nascida foi retirada do berçário da maternidade por uma
mulher que passou a assumir perante todos ser a verdadeira mãe. Como a suposta
mãe não aceitou submeter-se à coleta de material genético, esperou-se uma
oportunidade para arrecadar uma ponta de cigarro descartada pela filha, contendo
partículas das glândulas salivares, o que permitiu, após a análise do DNA, ter-se a
certeza de que ela, de fato, não era filha da investigada. Essa prova foi considerada
válida, porquanto o que torna a prova ilícita é a coação por parte do Estado,
obrigando o suspeito a produzir prova contra si mesmo. Como a prova foi produzida
de maneira involuntária pela suposta filha, a prova então obtida foi considerada
lícita."
Ressalta-se que o raio-x, segundo o STJ (HC 149.146/SP), é considerado prova não invasiva. Logo,
poderá ser realizado mesmo contra a vontade do indivíduo.
Nesse sentido, Renato Brasileiro explica que no caso das chamadas “mulas”, que transportam drogas
no organismo humano, não é possível obrigar a pessoa a realizar uma cirurgia para retirada ou que ela
consuma algum tipo de remédio para expelir o conteúdo da droga. É possível, no entanto, a realização de um
raio-x, que é modalidade de prova não invasiva.

(...) A Constituição Federal, na esteira da Convenção Americana de Direitos


Humanos e do Pacto de São José da Costa Rica, consagrou, em seu art. 5º, inciso
LXIII, o princípio de que ninguém pode ser compelido a produzir prova contra si.
Não há, nos autos, qualquer comprovação de que tenha havido abuso por parte
dos policiais na obtenção da prova que ora se impugna. Ao contrário, verifica-se
que os pacientes assumiram a ingestão da droga, narrando, inclusive, detalhes da
ação que culminaria no tráfico internacional da cocaína apreendida para a Angola,
o que denota cooperação com a atividade policial, refutando qualquer alegação de
coação na colheita da prova. Ademais, é sabido que a ingestão de cápsulas de
cocaína causa risco de morte, motivo pelo qual a constatação do transporte da
droga no organismo humano, com o posterior procedimento apto a expeli-la,
traduz em verdadeira intervenção estatal em favor da integridade física e, mais
ainda, da vida, bens jurídicos estes largamente tutelados pelo ordenamento.
Mesmo não fossem realizadas as radiografias abdominais, o próprio organismo, se
o pior não ocorresse, expeliria naturalmente as cápsulas ingeridas, de forma a
permitir a comprovação da ocorrência do crime de tráfico de entorpecentes. (...)
Ordem denegada. (STJ, 6ª Turma, HC 149.146/SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado
em 05/04/2011).

ATENÇÃO! Nemo tenetur se detegere e a prática de outros ilícitos.


O princípio nemo tenetur se detegere não tem natureza absoluta, podendo constituir conduta
criminosa, determinados comportamentos empregados a pretexto de estarem amparados pelo referido
princípio. Assim, apesar de ninguém ser obrigado a produzir provas contra si mesmo, nenhum direito pode
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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ser usado como escudo protetor para a realização de atividades ilícitas. Nesse sentido, vejamos alguns
exemplos.

Ex1.: Crime de Fraude Processual (art. 347, CP).

Fraude processual Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil


ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a
erro o juiz ou o perito: Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal,
ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em dobro.

Foi o que aconteceu no caso do Casal Nardoni, acusado e condenado por fraude processual. A defesa,
no caso deste crime específico (alteração da cena do crime), alegou o princípio do nemo tenetur se detegere,
afirmando que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Entretanto, tal princípio não dá
direito à pessoa de cometer outras infrações para se eximir da anterior.

O Superior Tribunal de Justiça assim se pronunciou no habeas corpus impetrado em


favor de A. N. e A. C. J, denunciados pelo homicídio triplamente qualificado de
Isabela Nardoni, e também por fraude processual, em decorrência da alteração do
local do crime: (...) O direito à não auto-incriminação não abrange a possibilidade
de os acusados alterarem a cena do crime, inovando o estado de lugar, de coisa ou
de pessoa, para, criando artificiosamente outra realidade, levar peritos ou o próprio
Juiz a erro de avaliação relevante (...). (STJ, 5 Turma, HC 137.206/SP, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, j. 01/12/2009, DJe 01/02/2010).

Ex2.: Fuga do local de ocorrência de trânsito (art. 305 do CTB).

Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à


responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída: Penas - detenção, de
seis meses a um ano, ou multa.

No caso de crimes de trânsito, o afastamento do condutor do local do acidente enseja algumas


divergências. Alguns doutrinadores consideram que tal crime seria inconstitucional. Entretanto, no fim de
2018, o STF considerou este crime constitucional, afirmando que o condutor tem o dever de permanecer no
local, mas não é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Vejamos:

(...) “A regra que prevê o crime do art. 305 do CTB é constitucional posto não
infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e as
hipóteses de exclusão de tipicidade e de antijuridicidade”. À semelhança do que já
fora decidido pelo Supremo no julgamento do RE 640.139, quando se afirmou que
o princípio constitucional da autoincriminação não alcança aquele que atribui falsa
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identidade perante autoridade policial com o intuito de ocultar maus antecedentes,


prevaleceu o entendimento de que não há direitos absolutos e que, no sistema de
ponderação de valores, há de ser admitida certa mitigação, até mesmo do princípio
da não autoincriminação. Na visão da Corte, a exigência de permanência no local
do acidente e de identificação perante a autoridade de trânsito não obriga o
condutor a assumir expressamente sua responsabilidade civil ou penal e tampouco
enseja que seja aplicada contra ele qualquer penalidade caso assim não o proceda.
Na verdade, a depender do caso concreto, a sua permanência no local pode até
constituir um meio de autodefesa, na medida em que terá a oportunidade de
esclarecer, de imediato, eventuais circunstâncias do acidente que lhe sejam
favoráveis. (STF, Pleno, RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 14/11/2018).

O tema será aprofundado na temática de Teoria Geral da Prova.

Obs1.: O Aviso de Miranda é uma construção do direito norte-americano, segundo o qual, o policial, no
momento da prisão, deve relatar para o preso os seus direitos, sob pena de invalidação do que por ele for
dito. Conforme leciona Renato Brasileiro (2017, p. 71), os “Miranda Warnings” têm origem no julgamento
Miranda V. Arizona, em que a Suprema Corte americana firmou o entendimento de que nenhuma validade
pode ser conferida às declarações feitas pela pessoa à polícia, a não ser que antes tenha sido claramente
informada de:
I- Que tem o direito de não responder;
II- Que tudo o que disser pode vir a ser utilizado contra ela;
III- Que tem o direito à assistência de defensor escolhido ou nomeado.

Não se admite condenação baseada exclusivamente em declarações informais


prestadas a policiais no momento da prisão em flagrante.
Esse alerta sobre o direito ao silêncio deve ser feito não apenas pelo Delegado,
durante o interrogatório formal, mas também pelos policiais responsáveis pela voz
de prisão em flagrante. Isso porque a todos os órgãos estatais impõe-se o dever de
zelar pelos direitos fundamentais. A falta da advertência quanto ao direito ao
silêncio torna ilícita a prova obtida a partir dessa confissão. STF. 2ª Turma. RHC
170843 AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/5/2021 (Info 1016).

Obs2.: O art. 2º, §6º, da Lei nº 7.960/89 (prisão temporária) prevê que, efetuada a prisão, a autoridade
policial informará o preso dos direitos previstos no art. 5º da Constituição Federal, por meio de uma nota de
ciência.

Aprofundando sobre o assunto: Há na jurisprudência diversas manifestações acerca do dever de


advertência. Como exemplo, os casos em que policiais gravaram conversa informal com o preso, sem que
lhe fosse avisado acerca do seu direito ao silêncio.

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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(...) Gravação clandestina de “conversa informal” do indiciado com policiais.


Ilicitude decorrente - quando não da evidência de estar o suspeito, na ocasião,
ilegalmente preso ou da falta de prova idônea do seu assentimento à gravação
ambiental - de constituir, dita “conversa informal”, modalidade de “interrogatório”
sub-reptício, o qual - além de realizar-se sem as formalidades legais do
interrogatório no inquérito policial (CPP, art. 6º, V) -, se faz sem que o indiciado seja
advertido do seu direito ao silêncio. O privilégio contra a autoincriminação - nemo
tenetur se detegere -, erigido em garantia fundamental pela Constituição - além da
inconstitucionalidade superveniente da parte final do art. 186 CPP. - Importou
compelir o inquiridor, na polícia ou em juízo, ao dever de advertir o interrogado do
seu direito ao silêncio: a falta da advertência - e da sua documentação formal - faz
ilícita a prova que, contra si mesmo, forneça o indiciado ou acusado no
interrogatório formal e, com mais razão, em “conversa informal” gravada,
clandestinamente ou não. (...). (STF, 1ª Turma, HC 80.949/RJ, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, DJ 14/12/2001).

Ilicitude de gravação ambiental sem o conhecimento do preso.


PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. INVESTIGAÇÃO
POLICIAL. EXERCÍCIO DO DIREITO DE PERMANECER CALADO MANIFESTADO
EXPRESSAMENTE PELO INDICIADO (ART. 5º, LXIII, DA CF). GRAVAÇÃO DE CONVERSA
INFORMAL REALIZADA PELOS POLICIAIS QUE EFETUARAM A PRISÃO EM
FLAGRANTE. ELEMENTO DE INFORMAÇÃO CONSIDERADO ILÍCITO. VULNERAÇÃO
DE DIREITO CONSTITUCIONALMENTE ASSEGURADO. INAPLICABILIDADE DO
ENTENDIMENTO NO SENTIDO DA LICITUDE DA PROVA COLETADA QUANDO UM
DOS INTERLOCUTORES TEM CIÊNCIA DA GRAVAÇÃO DO DIÁLOGO. SITUAÇÃO
DIVERSA.
DIREITO À NÃO AUTOINCRIMINAÇÃO QUE DEVE PREVALECER SOBRE O DEVER-
PODER DO ESTADO DE REALIZAR A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL. (HC 244.977/SC, Rel.
Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 25/09/2012, DJe
09/10/2012)

Em relação à imprensa, há duas correntes:


▪ 1ªC: Há doutrinadores que afirmam que este dever de advertência vale para todos, inclusive
para os particulares, seria a aplicação da eficácia horizontal dos direitos fundamentais.
Portanto, a imprensa teria a obrigação de advertir o agente acerca do seu direito de
permanecer calado.
▪ 2ºC: STF, no entanto, não adota tal posicionamento. Assim, o dever de advertência vale
apenas para o Estado. Nesse sentido:

(...) Alegação de ilicitude da prova, consistente em entrevista concedida pelo


paciente ao jornal “A Tribuna”, na qual narra o modus operandi de dois homicídios
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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perpetrados no Estado do Espírito Santo, na medida em que não teria sido


advertido do direito de permanecer calado. Entrevista concedida de forma
espontânea. Constrangimento ilegal não caracterizado. Ordem denegada. (STF, 2ª
Turma, HC 99.558/ES, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 14/12/2010).

4.2.2 Princípio da Iniciativa das Partes

É vedada a propositura de ação penal pelo magistrado, reservando-se essa iniciativa apenas à parte.
Em conformidade com o sistema acusatório, o juiz não pode iniciar um processo penal sem provocação
anterior (nemo judex actore ou ne procedat judex ex officio).
Entretanto, a doutrina aponta duas exceções ao princípio da iniciativa das partes. O juiz pode agir de
ofício:
a) Quando a situação disser respeito ao direito de liberdade do agente, o que se verifica na expedição
de habeas corpus de ofício (art. 654, § 2º, CPP); e
b) Quando se tratar do início da execução penal (art. 195, Lei 7.210/84).

4.2.3 Duplo Grau de Jurisdição

NÃO é princípio constitucional expresso, embora exista doutrina que defenda ser decorrência da
ampla defesa. Além disso, decorre de direitos previstos em tratados de direitos humanos, como o já
mencionado Pacto de São José da Costa Rica que, em seu art. 8.2, h, dispõe que: “(...) durante o processo,
toda pessoa tem, em plena igualdade, o direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.”

4.2.4 Princípio da Oficialidade

A atividade de persecução criminal deve ocorrer por órgão oficial. Aplicável à ação penal pública.

4.2.5 Princípio da Oficiosidade

As autoridades incumbidas da persecução penal devem agir de ofício, ou seja, independentemente


de provocação, salvo exceções. Ex.: crimes de ação penal condicionada ou de ação penal de iniciativa privada.

Será aprofundado no tema Ação Penal.

Cuidado! NÃO confunda os princípios da oficialidade e oficiosidade, visto que, apesar da denominação
similar, possuem conceituações distintas conforme apontado acima.

Caiu em prova Delegado RJ/2022! O inquérito policial é atividade investigatória realizada por órgãos oficiais,
não podendo ficar a cargo do particular, ainda que a titularidade do exercício da ação penal pelo crime
investigado seja atribuída ao ofendido.

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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Considerando-se as características do inquérito policial, é correto afirmar que o texto anterior discorre sobre
a oficialidade do inquérito policial (item considerado correto).

5. OUTROS PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL

5.1 Princípio da Oralidade

A prova oral prevalece sobre a escrita. Desse princípio decorrem:

● Princípio da Concentração: Toda a colheita de prova e julgamento devem ocorrer em uma única
audiência.
● Princípio da Imediaticidade: O magistrado deve ter contato direto com a prova produzida.
● Princípio da Identidade Física do Juiz: O juiz que instrui o processo deve julgá-lo.

5.2 Indivisibilidade da Ação Penal Privada

NÃO pode o ofendido escolher contra qual agente ofertará a ação penal privada.

Atenção! Para o STF, a ação penal pública é divisível, pois o MP pode, até sentença final, incluir novos agentes
por aditamento à denúncia ou oferecer nova ação penal, caso já prolatada sentença no feito. Todavia, para
doutrina majoritária, prevalece a indivisibilidade.

Será aprofundado no tema Ação Penal.

5.3 Comunhão da Prova

Uma vez produzida, a prova não pertence mais à parte que a produziu, mas ao processo. Nesse
sentido, o magistrado pode valer-se de uma prova produzida pela parte para proferir decisão em seu
desfavor, de acordo com o seu livre convencimento motivado.

5.4 Impulso Oficial

Atrelado aos princípios da obrigatoriedade e indeclinabilidade da ação penal.


Uma vez iniciado, o processo tem curso por impulso oficial, ou seja, o juiz, de ofício, dará andamento
ao processo até o seu fim, objetivando a prolação de uma decisão final. Assim, não é possível a paralisação
do procedimento pela inércia ou omissão das partes, caminhando-se para a resolução do litígio de forma
definitiva, enquanto objetivo do processo.

6. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL

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6.1 Aplicação da Lei Processual no Tempo

É o estudo do direito intertemporal, ou seja, o direito que regula a sucessão de leis no tempo.

a) Normas de Direito Penal: Princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa, do qual deriva o
princípio da ultratividade da lei penal mais benéfica. A lei nova só vai valer para os crimes praticados
a partir daquele momento.

Art. 5, XL, da CF – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

b) Normas de Direito Processual Penal: Existem duas espécies de normas de Direito Processual Penal.
● Norma genuinamente processual;
● Norma processual material, mista ou híbrida.
Dependendo da espécie de norma processual penal os critérios de aplicação serão diferentes.

1) Norma genuinamente processual - São aquelas que cuidam de procedimentos, atos processuais,
técnicas do processo. Ou seja, não dizem respeito a pretensão punitiva. Nesse caso, o critério a ser
aplicado é o previsto no art. 2°, CPP (princípio da aplicação imediata).

Art. 2º. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos
atos realizados sob a vigência da lei anterior.

Pelo princípio do efeito imediato, a lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da
validade dos atos praticados sob a vigência da lei anterior. Como consequência, a lei processual penal será
aplicada de imediato, seja benéfica ou maléfica (não se aplica o princípio da retroatividade da lei benéfica,
como ocorre no Direito Penal).

Caiu em prova Delegado BA/2018! Aplicar-se-á a lei processual penal, nos estritos termos dos arts. 1o , 2o e
3o do CPP, desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.

Portanto, do princípio da aplicação imediata derivam 2 regras fundamentais:


1ª - A lei genuinamente processual tem aplicação imediata;
2ª - A vigência dessa nova lei não invalida os atos processuais anteriores. Se o ato processual
já foi praticado e foi em consonância com a lei processual vigente, significa que o ato é válido,
não devendo ser anulado só porque houve a superveniência de uma nova lei.
Assim, o ordenamento jurídico brasileiro adota o sistema do isolamento dos atos do processo
(tempus regit actum), segundo o qual a lei será aplicada unicamente em relação ao ato processual e, uma
vez praticado este, a nova lei processual já poderá ter incidência sobre os atos futuros.

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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2) Norma processual material (mista ou híbrida) - São aquelas que possuem caráter dúplice, de direito
penal e de processo penal.
Norma processual material (mista) = norma de direito penal + norma de direito processual penal.
● Normas Penais - São aquelas que cuidam do crime, da pena, da medida de segurança, dos efeitos da
condenação e do direito de punir do Estado. Ex.: causas extintivas da punibilidade.
● Normas Processuais Penais - São aquelas que versam sobre o processo desde o seu início até o final
da execução ou extinção da punibilidade.
Assim, se um dispositivo legal, embora inserido em lei processual, versa sobre regra penal, de direito
material, a ele serão aplicáveis os princípios que regem a lei penal, de ultratividade e retroatividade da lei
mais benigna.

Caiu em prova Delegado MS/2021! O Direito Processual Penal possui regramento específico para resolver
questões sobre qual lei será aplicada no tempo e/ou no espaço. Sobre o tema, marque a assertiva correta:
As normas híbridas ou mistas devem retroagir para beneficiar o réu, constituindo exceção à regra prevista
no art. 2º, caput, do Código de Processo Penal.

Conclusão: Quando se tratar de norma processual mista, o critério a ser aplicado é o critério do
direito penal, ou seja, irretroatividade da lei mais grave e ultratividade da lei mais benigna.
● Se o aspecto penal for benéfico: prevalece o aspecto penal, e a lei retroage por completo;
● Se o aspecto penal for maléfico: a lei NÃO retroage.

Atenção! Normas heterotópicas são aquelas em que, apesar de seu conteúdo conferir-lhe uma determinada
natureza, encontra-se prevista em diploma de natureza distinta. Ou seja, é uma norma penal colocada no
CPP, ou então norma processual penal colocada no CP.

Nas palavras de Noberto Avena: Há determinadas regras que, não obstante previstas em diplomas
processuais penais, possuem conteúdo material, devendo, pois, retroagir para beneficiar o acusado. Outras,
no entanto, inseridas em leis materiais, são dotadas de conteúdo processual, a elas sendo aplicável o critério
da aplicação imediata (tempus regit actum). É aí que surge o fenômeno denominado de heterotopia, ou seja,
situação em que, apesar de o conteúdo da norma conferir-lhe uma determinada natureza, ela se encontra
prevista em diploma de natureza distinta. Tais normas não se confundem com as normas processuais
materiais. Enquanto a heterotópica possui uma determinada natureza (material ou processual), em que pese
estar incorporada à diploma de caráter distinto, a norma processual mista ou híbrida apresenta dupla
natureza, vale dizer, material em uma determinada parte e processual em outra. Ex.: o direito ao silêncio do
acusado em interrogatório apesar de estar previsto no Código de Processo Penal possui conteúdo material.

6.2 Aplicação da Lei Processual no Espaço:

“Ao contrário do que ocorre no Direito Penal, onde se trava longa e complexa
discussão sobre a extraterritorialidade da lei penal, no processo penal a situação é

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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mais simples. Aqui vige o princípio da territorialidade. As normas processuais


penais brasileiras só se aplicam no território nacional, não tendo qualquer
possibilidade de eficácia extraterritorial” (LOPES, 2018. p. 72).

Pelo art. 1º, CPP, há o princípio da territorialidade absoluta, decorrência da soberania, razão pela
qual o CPP vale em todo território nacional, SALVO nas hipóteses excludentes da jurisdição criminal brasileira,
casos em que o CPP possui aplicação subsidiária.

Art. 1º - O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este


Código, ressalvados:
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de
Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do
Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade;
III - os processos da competência da Justiça Militar;
IV - os processos da competência do tribunal especial;
V - os processos por crimes de imprensa.
Parágrafo único - Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos
nºs. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo
diverso.

Caiu em prova Delegado BA/2022! Adotado o critério territorial, real ou por extensão, com determinadas
exceções e particularidades, como manifestação da soberania nacional, aplica-se o Código de Processo Penal
em todo o território brasileiro, o que envolve o espaço aéreo, as águas interiores, o mar territorial e a
plataforma continental (item considerado correto).

APROFUNDANDO:

Parte da doutrina sustenta a relativização da lex fori (aplicação da lei local) em matéria processual penal,
permitindo a aplicação da lei pátria fora do território nacional, nas hipóteses de:
1) Terra de ninguém (território nullius);
2) Estado onde será praticado o ato processual autorizar a aplicação de lei diversa (território estrangeiro);
3) Em casos de guerra (território ocupado).

6.3 Aplicação da Lei Processual em Relação às Pessoas

Conforme art. 1º, do CPP, é possível que sejam instituídas imunidades da lei processual penal, seja
em virtude de tratados internacionais (imunidade diplomáticas e de chefes de governos estrangeiros) ou por
regras constitucionais (imunidades e regras de competência).

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

I. Imunidades Diplomáticas: Objetivam garantir o livre exercício dos representantes diplomáticos, e são
atribuídas em função do cargo, e não da pessoa. O Tratado de Viena assegura a imunidade de jurisdição penal
do diplomata e seus familiares, para que se sujeitem à jurisdição do Estado que representa.

Abrangência:
● Chefes de governo ou Estado estrangeiro, sua família e membros de sua comitiva;
● Embaixador e família: Imunidade absoluta;
● Funcionários das organizações internacionais (ONU) quando em serviço;
● Agentes consulares, apenas quanto aos crimes relacionados com a sua função (Cuidado!).

ATENÇÃO:
1. A imunidade não subtrai o diplomata da investigação, mas do processo e julgamento em território
brasileiro.
2. As embaixadas NÃO são extensão do território que representam, mas são invioláveis.
3. É possível o país renunciar à imunidade do agente diplomático, mas o agente não pode renunciar
por iniciativa pessoal, já que a imunidade se fundamenta no interesse da função.

II. Imunidades Parlamentares: É uma prerrogativa para o desempenho das funções de deputados e
senadores de legislar e fiscalizar o Poder Executivo. Podem ser absolutas ou relativas.

● Imunidade absoluta (material, substancial, real, inviolabilidade ou indenidade): Prevê o art. 53, da
CF/88, que deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas
opiniões, palavras e votos.
1. Para o STF, a imunidade é causa de atipicidade.
2. A abrangência dessa imunidade deve ser analisada:
∘ Se ofensa proferida nas dependências da casa legislativa, o nexo funcional é
presumido, há imunidade2;
∘ Se a ofensa é proferida fora das dependências da casa legislativa, o nexo funcional NÃO
é presumido, deve ter relação com o exercício do mandato e o ofendido deve
comprovar a inexistência de nexo com o mandato.

● Imunidade relativa (formal): É possível subdividi-la:

2
Sobre a presunção da imunidade por palavras e expressões proferidas dentro da Casa Parlamentar, o STF, no Inq
3932/DF e Pet 5243/DF, de Relatoria do Min. Luiz Fux, julgado em 21/06/2016 (INF 831), recebeu denúncia contra o
Dep. Jair Bolsonaro, pela incitação ao crime, ao pronunciar, em acalorada discussão no plenário, que a também Dep.
Federal Maria do Rosário “não merecia ser estuprada”. Para melhor compreensão de interessante julgado, sugerimos a
leitura:
http://www.dizerodireito.com.br/2016/07/entenda-decisao-do-stf-que-recebeu.html
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SEMANA 01/21

(1) Para a prisão: Relacionada à prisão dos parlamentares e ao processo. Os parlamentares passam a ter
imunidade formal para a prisão a partir do momento em que são diplomados pela Justiça Eleitoral
(antes da posse), configurando o termo inicial para a atribuição de imunidade formal para a prisão.
∘ Os parlamentares só poderão ser cautelarmente presos nas hipóteses de flagrante de crime
inafiançável (“estado de relativa incoercibilidade pessoal dos congressistas” – Celso de Melo)
→ Nesse caso, os autos deverão ser encaminhados à Casa Parlamentar respectiva, no prazo
de 24h para que, pelo voto (aberto) da maioria absoluta de seus membros, resolva sobre a
prisão.
∘ Nota-se que a aprovação pela Casa é condição necessária para a manutenção da prisão em
flagrante delito de crime inafiançável. Logo, há duas hipóteses:
1) Se a Casa decidir pela não manutenção do cárcere, a prisão deverá ser
imediatamente relaxada;
2) Se a Casa mantiver a prisão em flagrante, os autos deverão ser encaminhados, no
prazo de 24h, ao STF.

(2) Para o processo: Oferecida denúncia, o Ministro do STF poderá recebê-la sem prévia licença da Casa
Parlamentar. Após o recebimento da denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido
após a diplomação, o STF dará ciência à Casa respectiva que, por iniciativa de partido político nela
representado e pelo voto da maioria absoluta de seus membros, decidirá sustar o andamento da
ação.
O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de 45 dias do seu
recebimento pela mesa diretora, e a sustação do processo suspende a prescrição enquanto durar o
mandato.
Obs.: NÃO há mais imunidade formal para crimes praticados ANTES DA DIPLOMAÇÃO.

● Prerrogativa de foro: Desde a expedição de diploma, deputados e senadores serão julgados pelo STF
pela prática de qualquer tipo de crime. Casos:
i. Infração cometida durante o exercício da função parlamentar: A competência será do STF,
sendo desnecessário pedir autorização à Casa respectiva, bastando dar ciência ao Legislativo,
que poderá sustar o andamento da ação.

Se os fatos criminosos que teriam sido supostamente cometidos pelo Deputado


Federal não se relacionam ao exercício do mandato, a competência para julgá-los
não é do STF, mas sim do juízo de 1ª instância. Isso porque o foro por prerrogativa
de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e
relacionados às funções desempenhadas (STF AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 03/05/2018). STF. 1ª Turma. Inq 4619 AgR-segundo/DF, Rel.
Min. Luiz Fux, julgado em 19/2/2019 (Info 931).

ii. Infração cometida antes ou após o encerramento do mandato: NÃO há foro por prerrogativa
de função.
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As normas da Constituição de 1988 que estabelecem as hipóteses de foro por prerrogativa de função
devem ser interpretadas restritivamente, aplicando-se apenas aos crimes que tenham sido praticados
durante o exercício do cargo e em razão dele.
Assim, por exemplo, se o crime foi praticado antes de o indivíduo ser diplomado como Deputado
Federal, não se justifica a competência do STF, devendo ele ser julgado pela 1ª instância mesmo ocupando o
cargo de parlamentar federal.
Além disso, mesmo que o crime tenha sido cometido após a investidura no mandato, se o delito não
apresentar relação direta com as funções exercidas, também não haverá foro privilegiado.
Foi fixada, portanto, a seguinte tese:

O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante
o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas. STF. Plenário. AP
937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018.

ATENÇÃO! No caso de Natan Donadon, entendeu-se que a renúncia ao cargo, para que haja prescrição, seria
fraude processual inaceitável, frustrando a atuação jurisdicional do Estado, razão pela qual NÃO haveria
problema em ser julgado pelo STF. A prorrogação do foro, nesse contexto, visa evitar a denominada Ciranda
de Processos.

O assunto será aprofundado em competência.

ESQUEMA SOBRE IMUNIDADES:

PARLAMENTAR IMUNIDADE JULGAMENTO

Deputados Federais e Imunidade absoluta e Julgados pelo STF, inclusive


Senadores relativa. nos crimes dolosos contra a
vida.
Deputados estaduais Imunidade absoluta e Julgados pelo TJ, inclusive nos
relativa. crimes dolosos contra a vida.

Caiu em prova Delegado BA/2022! A Constituição Federal determina que são aplicáveis aos Deputados
Estaduais as regras constitucionais sobre imunidades, e nessa linha de orientação as Constituições Estaduais
outorgam identidade de tratamento em relação a eles no que tange à imunidade parlamentar.

Atenção!!! Não existe foro de prerrogativa para vereadores e vice-prefeitos:

A CF/88 não previu foro por prerrogativa de função aos Vereadores e aos Vice-
prefeitos. O foro por prerrogativa de função foi previsto apenas para os prefeitos
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

(art. 29, X, da CF/88). Diante disso, é inconstitucional norma de Constituição


Estadual que crie foro por prerrogativa de função para Vereadores ou Vice-
Prefeitos. A CF/88, apenas excepcionalmente, conferiu prerrogativa de foro para
as autoridades federais, estaduais e municipais. Assim, não se pode permitir que
os Estados possam, livremente, criar novas hipóteses de foro por prerrogativa de
função. STF. Plenário. ADI 558/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/04/2021.

7. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL

● Previsão legal: art. 3°, CPP

Art. 3° do CPP - A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação


analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.

● Considerações importantes sobre o art. 3°, CPP:

(1) O que é interpretar?


R.: É buscar o sentido da lei, é descobrir o seu significado. Não interessa a vontade do legislador, mas
sim o sentido da lei.

(2) Interpretação quanto ao resultado


Quanto ao resultado, trabalha-se com ao menos 4 (quatro) espécies de interpretação:
a) Declaratória - O intérprete não amplia e nem restringe o significado da lei, ou seja, o significado da
lei corresponde à sua literalidade.
b) Restritiva - Conclui-se que a lei disse mais do que pretendia dizer, por isso ela deve sofrer uma
restrição na hora de sua interpretação.
c) Extensiva - A lei disse menos do que pretendia dizer, por isso ela deve ser interpretada
extensivamente para abranger outras situações (art. 3, CPP).

Art. 3o - A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação


analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.

Ex.: hipóteses de cabimento do RESE do art. 581, CPP. Essas hipóteses, hoje, estão desatualizadas.
Então as hipóteses de cabimento do RESE devem ser interpretadas de maneira extensiva para abranger
outras situações.

d) Progressiva - Busca adaptar o texto da lei à realidade social vigente naquele determinado momento.
O art. 68, CPP prevê que o MP pode promover a ação civil ex delito em favor de vítima pobre. Quando
a CF/88 entrou em vigor, houve quem dissesse que esse artigo era inconstitucional, pois o MP não poderia
pleitear interesses individuais disponíveis.

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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O STF decidiu que o artigo estaria sujeito a uma inconstitucionalidade progressiva. Logo, enquanto
não houver defensoria pública em todos os estados, o artigo continua válido.

(3) Analogia
A analogia está no art. 3°, CPP na expressão: “aplicação analógica”. Assim, no âmbito processual
penal a analogia é admitida. Então, quando se trata de uma norma genuinamente processual penal, a
analogia pode ser usada, independentemente de ser em bonam partem ou em malam partem (≠ direito
penal, em que só é admitida a analogia in bonam partem).

Obs.: Analogia ≠ Interpretação Extensiva.


● Analogia - É um método de integração (busca suprir lacunas);
● Interpretação extensiva - É um método de interpretação.
Na analogia, há uma lacuna na norma. Por isso, busca-se suprir tal lacuna valendo-se de um
dispositivo pensado para um caso semelhante. Enquanto na interpretação extensiva existe norma legal, que,
no entanto, será interpretada de norma extensiva.

Caiu em prova Delegado BA/2022! Na interpretação analógica, que é método interpretativo, hermenêutico,
a lei indica uma fórmula casuística seguida de expressões genéricas (item considerado correto).

Caiu em prova Delegado SP/2022! No que concerne à interpretação e aplicação da Lei Processual Penal, é
correto afirmar que o Código de Processo Penal: admite a aplicação analógica (item considerado correto).

(4) Aplicação supletiva e subsidiária do novo CPC ao processo penal.


O CPC 2015 pode ser aplicado no Processo Penal? R.: SIM.
O art. 15 do CPC diz que, na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou
administrativas, aplica-se o CPC. Porém, o CPC não fez menção à possibilidade de utilizá-lo no processo penal.
Entretanto, o art. 15 pode ser objeto de interpretação extensiva, para que possamos entender que
o NCPC pode ser aplicado supletiva e subsidiariamente aos processos criminais.

Art. 15, CPC - Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas
ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e
subsidiariamente.

Obs.: Só pode aplicar o CPC no processo Penal quando houver lacuna. Pois é diante da omissão que se pode
valer da analogia com o CPC. Assim, se houver disposição legal expressa no CPP, não é possível aplicar o
CPC!

CAIU EM PROVA:

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(Delegado de PCRJ 2022): Após o advento do neoconstitucionalismo e como seu consequente reflexo, os
princípios adquiriram força normativa no ordenamento jurídico brasileiro, e a eficácia objetiva dos direitos
fundamentais deu novos contornos ao direito processual penal. A respeito desse assunto, assinale a opção
correta à luz do Código de Processo Penal.

No que diz respeito à interpretação extensiva, admitida no Código de Processo Penal, existe uma norma que
regula o caso concreto, porém sua eficácia é limitada a outra hipótese, razão por que é necessário ampliar
seu alcance, e sua aplicação não viola o princípio constitucional do devido processo legal (item considerado
correto).

8. FONTES

As fontes correspondem à origem do direito processual penal, que se dividem em espécies.

8.1 Fonte Material, Substancial ou de Produção

As fontes materiais dizem respeito ao órgão responsável pela criação de normas jurídicas sobre
determinada matéria. Conforme estabelecido no art. 22, I, CF compete privativamente à União legislar sobre
Processo Penal. Contudo, nos termos do art. 22, §único, CF, lei complementar federal pode autorizar Estados
e o Distrito Federal a legislar sobre questões específicas.

Caiu em prova Delegado MS/2021! Sobre conceito, finalidade e fontes do processo penal, assinale a
alternativa correta: É possível que os Estados legislem sobre questões específicas de direito processual penal,
desde que autorizados por lei complementar editada pela União.

A União, os Estados e o Distrito Federal possuem competência concorrente para legislar sobre
procedimentos em matéria processual, conforme preconiza o art. 24, XI, CF.

8.2 Fonte Formal, Cognitiva ou de Cognição

As fontes formais dizem respeito ao instrumento de exteriorização da regulamentação de


determinada matéria. Nesse sentido, no âmbito do processo penal, podem ser:
● Imediata ou Direta: Constituição Federal, leis infraconstitucionais e os tratados, convenções e regras
de direito internacional.

Caiu em prova Delegado BA/2022! As fontes formais imediatas ou diretas do Direito Processual Penal são as
espécies normativas: lei ordinária; lei complementar e emenda à Constituição. Aqui também se inserem os
tratados e as convenções de que o Brasil é signatário (item considerado correto).

● Mediata ou Indireta: analogia, costumes e princípios gerais de direitos (art. 3, CPP).

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SEMANA 01/21

Caiu em prova Delegado SP/2022! É correto afirmar que o Direito Processual Penal possui como uma de suas
fontes formais mediatas: os costumes (item considerado correto).

Autonomia do Direito Processual Penal


ATENÇÃO: Tema cobrado na Prova Oral da PCMG 2021.
O primeiro passo para compreender a autonomia científica do direito processual penal é deixar de
denominá-lo, irregularmente, como direito adjetivo ou direito secundário, dentre outros nomes, buscando
apontar como o direito substantivo ou direito principal o corpo de normas, que dele necessita para fazer
valer a lei: o direito penal, no tocante ao processo penal; o direito civil, no tocante ao processo civil. Não há
nenhum direito adjetivo, termo de nítido conteúdo voltado a inferiorizá-lo. O processo penal é tão
substantivo quanto o direito penal, porém atua sob outros princípios e busca diversos objetivos. (NUCCI,
2020, p. 89).

CAIU EM PROVA:
(Delegado de PCBA 2022): As fontes formais imediatas ou diretas do Direito Processual Penal são as espécies
normativas: lei ordinária; lei complementar e emenda à Constituição. Aqui também se inserem os tratados e
as convenções de que o Brasil é signatário (item considerado correto).

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META 3

DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS (PARTE I)

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 1º, III
⦁ Art. 3º
⦁ Art. 4º, 5º, 6º e 7º
⦁ Art. 8º a 11º

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Lei nº 9.296/96 (Lei de interceptação telefônica)
⦁ Lei nº 9.455/97 (Lei de tortura)
⦁ Lei nº 7.716/90 (Lei de racismo)
⦁ Lei nº 12.037/2009 (Lei de Identificação criminal)
⦁ Lei nº 12.016/2009 (Lei do mandado de segurança)
⦁ Lei nº 13.300/2016 (Lei do mandado de injunção)
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

PRINCIPAIS INCISOS DO ART. 5º, CF/88:


⦁ Inc. I, II, IV
⦁ Inc. III e XLII (leitura conjunta com a Lei nº 7.716/90)
⦁ Inc. VIII (leitura conjunta com o art. 15, IV, CF/88)
⦁ Inc. XI (leitura conjunta com os arts. 3-B, XI; 240, §1º e 243 do CPP)
⦁ Inc. XII (leitura conjunta com a Lei nº 9.296/96)
⦁ Inc. XVI a XXI (muito cobrados em prova objetiva!)
⦁ Inc. XXXIII a XXXV
⦁ Inc. XXXVII (leitura conjunta com o inc. LIII – princípio do juiz natural)
⦁ Inc. XXXIX e XL (leitura conjunta com o art. 1º e 2º do CP)
⦁ Inc. XLIII a LV (leitura obrigatória!)
⦁ Inc. LVI (leitura conjunta com o art. 157, CPP)
⦁ Inc. LVII e LX
⦁ Inc. LVIII (leitura conjunta com o art. 3º, 4º e 5º da Lei nº 12.037/2009)
⦁ Inc. LXI a LXVII (leitura conjunta com os art. 301 a 310, CPP)
⦁ Inc. LXVIII
⦁ Inc. LXIX e LXX (leitura conjunta com a Lei nº 12.016/2009)
⦁ Inc. LXXI (leitura conjunta com a Lei nº 13.300/2016)
⦁ Inc. LXXII a LXXVIII
⦁ §§1º e 3º

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SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 444-STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-
base.
Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem
de pessoa com fins econômicos ou comerciais.
Súmula 2-STJ: Não cabe o habeas data (CF, art. 5º, LXXII, letra "a") se não houver recusa de informações
por parte da autoridade administrativa.
Súmula vinculante 1-STF: Ofende a garantia constitucional do ato jurídico perfeito a decisão que, sem
ponderar as circunstâncias do caso concreto, desconsidera a validez e a eficácia de acordo constante do
termo de adesão instituído pela Lei Complementar nº 110/2001.
Súmula 654-STF: A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 5º, XXXVI, da Constituição da
República, não é invocável pela entidade estatal que a tenha editado.
Súmula 280-STJ: O art. 35 do Decreto-Lei n° 7.661, de 1945, que estabelece a prisão administrativa, foi
revogado pelos incisos LXI e LXVII do art. 5° da Constituição Federal de 1988.
Súmula vinculante 25-STF: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do
depósito.
Súmula 419-STJ: Descabe a prisão civil do depositário infiel.

1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

Partindo-se da compreensão de que a Constituição consiste num sistema aberto de regras e


princípios e que a Constituição é uma norma principiológica por natureza, é preciso identificar parâmetros
sérios para a boa compreensão dos princípios e, consequentemente, das normas constitucionais como um
todo. Em síntese e recorrendo às lições de Eduardo dos Santos (MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL, pg.
200 ss):

Princípios como valores supremos de um ordenamento jurídico: segundo essa compreensão,


princípios não são normas jurídicas, mas sim "valores" éticos metajurídicos referentes à justiça e à moral,
que orientam a ordenação, a construção, a interpretação e a aplicação do direito positivo.
Princípios como normas jurídicas superiores (de hierarquia superior): aqui os princípios são
concebidos como normas jurídicas hierarquicamente superior às demais normas do ordenamento jurídico,
são o núcleo fundamental do sistema, a base normativa que deve guiar e harmonizar a ordenação, a
construção, a interpretação e a aplicação do direito positivo.
Princípios como normas jurídicas de alto grau de generalidade semântica: para os defensores dessa
compreensão, princípios são normas de alto grau de generalidade, sendo impossível sua aplicação imediata
a casos concretos.
Princípios como normas de normas: para essa concepção, princípios são normas implícitas que
precedem a elaboração das demais normas do ordenamento jurídico, consistindo na razão de ser das normas
do sistema (razão legislativa). São o fundamento jurídico das regras, são o ponto de partida de elaboração
das regras, sua matriz normativa.
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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Princípios como normas sobre normas: segundo essa forma de entender, os princípios ligam-se a
hermenêutica jurídica, sendo normas (jurídicas ou não) que se destinam a interpretar e aplicar as demais
normas do sistema jurídico.
Princípios como elementos epistemológicos jurídicos: segundo essa compreensão, os princípios
consistem nos "elementos básicos e estruturantes da ciência do direito, seus fundamentos teóricos e
principais institutos".
É importante saber, ainda conforme os ensinamentos do autor Eduardo, que há uma importante
releitura dos princípios jurídicos, que passam a ser compreendidos como normas jurídicas aplicáveis
diretamente na resolução de casos concretos.
Nesse sentido, conforme Dworkin, os princípios são normas jurídicas que, em que pese não tragam
em si soluções prontas e acabadas para os casos concretos, direcionam a decisão dos juízes a soluções justas
que respeitem a equidade das relações jurídicas e a integridade do sistema jurídico. Já para Alexy, num
sentido próximo, mas não idêntico ao de Dworkin, os princípios são normas jurídicas que estabelecem
mandamentos de otimização, isto é, normas que determinam que algo seja realizado na maior medida
possível em face das possibilidades fático-jurídicas.

O QUE É O PREÂMBULO E QUAL A SUA NATUREZA JURÍDICA?

O preâmbulo é a parte precedente da CF. Segundo o STF, adotando a tese da irrelevância jurídica, é mero
vetor interpretativo do que se acha inscrito no texto constitucional. Não possui força normativa, logo, não
pode ser parâmetro nem objeto de controle de constitucionalidade.

“Preâmbulo da Constituição: não constitui norma central. Invocação da proteção de Deus: não se trata de
norma de reprodução obrigatória na Constituição estadual, não tendo força normativa.” (ADI 2.076, Rel. Min.
Carlos Velloso, julgamento em 15-8-2002, Plenário, DJ de 8-8-2003.)

No preâmbulo da CF/88 foi instituído um Estado Democrático, destinado a assegurar os seguintes valores
supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e
comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias: 1. o exercício dos
direitos sociais e individuais; 2. a liberdade; 3. a segurança; 4. o bem-estar; 5. o desenvolvimento; 6. a
igualdade; 7. a justiça.
Na doutrina constitucional há uma relevante discussão sobre qual é a natureza jurídica do preâmbulo,
destacando-se três correntes doutrinárias:
1) Natureza Ideológica (Tese da irrelevância jurídica). Essa corrente doutrinária, encabeçada por
doutrinadores de peso, como Hans Kelsen e Paulo Bonavides, defende que o preâmbulo não é norma jurídica
e não possui qualquer relevância jurídica, sendo mera expressão política.
2) Natureza Jurídica Hermenêutica (Tese da relevância jurídica indireta). Para os defensores dessa corrente,
o preâmbulo não possui força normativa, não sendo norma jurídica constitucional, contudo é um elemento
hermenêutico-constitucional, cumprindo função na interpretação e integração do texto constitucional. Essa
tem sido a posição adotada pelo Supremo Tribunal Federal (ADI 2.076/2002), em que pese vozes dissonantes
na jurisprudência da Corte.
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SEMANA 01/21

3) Natureza Jurídica Normativa (Tese da relevância jurídica direta e imediata). Essa corrente, de tradição
francesa, defendida pela doutrina constitucional majoritária,66 defende que o preâmbulo possui força
normativa, sendo norma constitucional integrante da Constituição, tendo a mesma hierarquia das normas
da parte dogmática e servindo, inclusive, como parâmetro de controle de constitucionalidade. (Manual de
Direito Constitucional / Eduardo Rodrigues dos Santos - 3.ed., rev. atual e ampl. - São Paulo: Editora
JusPodivm, 2023, pg. 86).
Para o doutrinador Bernardo Gonçalves (Curso de Direito Constitucional, 12ª Edição, 2020, Páginas:
121/122), em sentido oposto ao declarado pelo STF, o preâmbulo é dotado de força normativa e relevância
jurídica direta e imediata e deve ser obedecido como qualquer outra nor[1]ma presente na Constituição,
até mesmo porque ele, de forma precedente, acaba por ser a síntese da normatividade constitucional
posteriormente desenvolvida explicitando princípios dotados de inerente normatividade.
Já para os autores (Curso de Direito Constitucional / Gilmar Ferreira Mendes, Paulo Gustavo Gonet Branco.
– 18. ed. – São Paulo: SaraivaJur, 2023. (Série IDP – Linha Doutrina): Não se pode recusar ao Preâmbulo um
relevante papel, todavia, no âmbito da interpretação e aplicação do direito constitucional. Ao desvendar as
linhas estruturantes da Constituição, os objetivos que movem a sua concepção, o Preâmbulo se torna de
préstimo singular para a descoberta do conteúdo dos direitos inscritos na Carta e para que se descortinem
as finalidade dos institutos e instituições a que ela se refere; orienta, enfim, os afazeres hermenêuticos do
constitucionalista.
Inclusive, atenção! Apesar do julgado na ADI 2.076/AC, mais recente, a Ministra CÁRMEN LÚCIA na ADI n°
2.649 deixou assente que o preâmbulo deve ser dotado de relevância jurídica.
O PREÂMBULO DA CF/88:
'Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um
Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e in[1]dividuais, a liberdade, a
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade
fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e
internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.’

Como o tema foi cobrado (CESPE/2022/PC-RJ/Delegado de Polícia):


Conforme expressamente previsto no art. 1.º da Constituição Federal de 1988, “A República Federativa do
Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito”. Além de elencar os princípios republicano e federativo, o referido dispositivo
constitucional aponta como um dos princípios fundamentais da Lei Maior o denominado princípio do Estado
democrático de direito. Considerando os princípios que fundamentam o Estado brasileiro e aspectos
relacionados a esse assunto, assinale a opção correta.
A Com o surgimento do liberalismo, os Estados passaram a ser criados por meio de constituições escritas,
com fixação de mecanismos de repartição e limitação do poder estatal, dando-se especial atenção à proteção
do indivíduo contra eventuais arbitrariedades; passou a ser comum aos Estados modernos a edição de
normas estabelecidas tanto pela constituição quanto pelos diplomas infraconstitucionais, não apenas para
reger as relações entre os particulares, mas também para vincular a atuação dos agentes públicos. Assim, é
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

correto afirmar que o Estado de direito pode ser conceituado, sinteticamente, como aquele que se mantém
baseado no império das leis

* ATENÇÃO – PRINCÍPIOS QUE REGEM AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS (ART. 4º):

CRFB, Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações


internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica,
política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma
comunidade latino-americana de nações.

OUTROS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

Os Princípios Constitucionais estão presentes não só no art. 5º, mas em diversos dispositivos, a
exemplo dos princípios tributários, previstos no art. 150, e dos princípios expressos da Administração Pública
(art. 37, caput). Assim, atente-se brevemente aos princípios da dignidade da pessoa humana, legalidade e
isonomia, sem prejuízo dos demais que se inserem na Carta Magna – e serão tratados nas matérias
específicas:

a) Dignidade da pessoa humana: Define Luís Roberto Barroso que o “princípio da dignidade humana
expressa um conjunto de valores civilizatórios que se pode considerar incorporado ao
patrimônio da humanidade. Dele se extrai o sentido mais nuclear dos direitos fundamentais, para tutela
do mínimo existencial e da personalidade humana, tanto na dimensão física como na moral”. Pode-se
acrescentar também que a dignidade humana possui um enfoque moral, consistente na máxima de Kant
segundo a qual o homem é um fim em si mesmo, e um enfoque material, relativo à manutenção do mínimo
existencial. Decorre do aludido princípio, por exemplo, a impenhorabilidade do bem de família e a união
estável entre pessoas do mesmo sexo. É considerado um “super-princípio”.
CESPE, Oral RO/2023 (espelho): O fato de a dignidade humana ser positivada na Constituição como
princípio fundamental da República confere-lhe a natureza de norma jurídica, seja como princípio ou como
regra, mas, de todo modo, como norma. A dignidade não é ali referida apenas como uma declaração retórica,
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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apenas como enunciado de importante conteúdo ético. Ela é também um valor constitucional relevante. Isso
significa que ela passa a ter ao menos eficácia negativa contra normas infraconstitucionais e contra atos que
se contraponham à dignidade humana, isto é, tais normas e atos podem ser reconhecidos como inválidos
(antijurídicos), no que forem contrários a ela. Além disso, como princípio fundamental da República, a
dignidade deve ser considerada na interpretação das demais normas do ordenamento jurídico, uma vez que
é também objetivo a ser alcançado na atuação do Estado brasileiro. A dignidade humana tem sido
frequentemente adotada com essas funções pelo Supremo Tribunal Federal, na interpretação do direito.

A dignidade da pessoa humana consiste no princípio jurídico-axiológico fonte dos direitos e garantias
fundamentais do homem, que visa à proteção e à promoção do ser humano no maior grau possível. Isto é, a
dignidade é a matriz jurídica dos direitos constitucionais da pessoa humana.
Tal entendimento é o aplicado pelo Constituinte de 1988 ao consagrar a dignidade da pessoa humana
enquanto princípio fundamental da Constituição (Título I) e fundamento da República Federativa do Brasil (art. 1
°), sendo, portanto, a matriz jurídico-axiológica basilar de toda a ordem jurídico-positiva (em especial dos direitos
da pessoa humana). (Manual de Direito Constitucional / Eduardo Rodrigues dos Santos - 3.ed., rev. atual e ampl. -
São Paulo: Editora JusPodivm, 2023, pg. 310).
Nesse sentido, a dignidade da pessoa humana, enquanto princípio fundamental da República Federativa
do Brasil e consagrado no art. 1°, III, da CF/88, consiste na principal fonte jurídico-axiológica de nosso sistema,
sendo, portanto, princípio-matriz de todos os direitos fundamentais.

b) Legalidade: o princípio da legalidade significa que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo
que não esteja previamente estabelecido na própria CF/88 e nas normas jurídicas dela derivadas. O princípio
da legalidade, desta forma, se converte em princípio da constitucionalidade (Canotilho), subordinando toda
atividade estatal e privada à força da Constituição. No direito brasileiro encontra-se previsto nos arts. 5º, II;
37; e 84, IV, da CF/88.

I. Legalidade x Reserva Legal: o princípio da reserva legal é um desdobramento da legalidade, que impõe e
vincula a regulação de determinadas matérias constantes na constituição à fonte formal do tipo lei.

II. Acepções do princípio da legalidade:

1) Para particulares: somente a lei pode criar obrigações, de forma que a inexistência de lei proibitiva
de determinada conduta implica ser ela permitida. Vigora a autonomia da vontade.
2) Para a Administração Pública: O Estado se sujeita às leis, e deve atuar em conformidade à previsão
legal. O administrador público só poderá agir dentro daquilo que é previsto e autorizado por lei. Obs.
Sob esta acepção, o princípio da legalidade vem sofrendo uma releitura pela doutrina moderna, que
defende a necessidade de conformação da atividade do administrador ao Direito (e não apenas à
lei). Assim, fala-se atualmente em princípio da juridicidade (o assunto é aprofundado em Direito
Administrativo).

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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Atenção: de acordo com a doutrina, trata-se de princípio não absoluto, que pode sofrer algumas
restrições/mitigações, a exemplo das medidas provisórias, estado de defesa e estado de sítio.

c) Isonomia: Segundo bem definiu Rui Barbosa, “a regra da igualdade não consiste senão em quinhoar
desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à
desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade (...). Tratar com desigualdade a iguais, ou a
desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real”.

O princípio da igualdade compreende a igualdade formal e igualdade material, a


primeira abrange a igualdade na lei, isto é, que nas normas jurídicas não pode
haver distinções que não sejam autorizadas pela Constituição e que tem por
destinatário o legislador e a igualdade perante a lei tem como destinatário os
aplicadores da lei, segundo o qual deve se aplicar igualmente a lei, ainda que crie
uma desigualdade. (JUNIOR, 2020, p.p. 620/621)

Logo, é possível extrair:


● Isonomia formal: igualdade perante a lei;
● Isonomia material: tratar os desiguais na medida de sua desigualdade.

STF – São inconstitucionais as normas que proíbem homossexuais de doar sangue.


Viola o direito à igualdade e não discriminação proibir que homossexuais doem
sangue. Com esse entendimento, o Plenário do Supremo Tribunal Federal declarou
a inconstitucionalidade de normas com esse teor. (ADI. 5.543/2020)

STF - A lei que veda o exercício da atividade de advocacia por aqueles que
desempenham, direta ou indiretamente, atividade policial, não afronta o princípio
da isonomia. STF. Plenário. (ADI 3541/2014)

Como o tema foi cobrado (CESPE/2022/PC-RJ/Delegado de Polícia):


O estudo dos princípios que regem a interpretação constitucional, em especial os da razoabilidade e da
proporcionalidade, estabelece que as normas da Constituição Federal de 1988 devem ser analisadas e
aplicadas de modo a permitir que os meios utilizados estejam adequados aos fins pretendidos, devendo o
intérprete buscar conceder aos bens jurídicos tutelados uma aplicação justa. Considerando isso, assinale a
opção correta: Em razão do que preceitua o princípio da concordância prática, pode-se dizer que, na
ocorrência de conflito entre bens jurídicos garantidos por normas constitucionais, o intérprete deve priorizar
a decisão que melhor os harmonize, de forma a conceder a cada um dos direitos a maior amplitude possível,
sem que um deles acabe por impor a supressão do outro.

É POSSÍVEL ESTABELECER CRITÉRIOS DIFERENCIADORES PARA ADMISSÃO DE CANDIDATO EM


CONCURSOS PÚBLICOS?
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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A jurisprudência vem admitindo algumas hipóteses de discriminação, podendo ocorrer em relação à idade,
sexo, altura, etc., desde que sejam observados dois requisitos:
1) Previsão legal anterior definindo os critérios de admissão para o cargo; e
2) Razoabilidade da exigência, decorrente da natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.

É constitucional a remarcação do teste de aptidão física de candidata que esteja grávida à época de sua
realização, independentemente da previsão expressa em edital do concurso público. STF. Plenário. RE
1058333/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/11/2018 (repercussão geral).

AÇÕES AFIRMATIVAS

A Carta Magna busca a igualdade material. Para aplicação do princípio da isonomia, são necessárias as ações
afirmativas, também denominadas discriminações positivas, cuja finalidade é proteger certos grupos sociais
que demandam tratamento diverso. Tais ações consideram a realidade histórica de marginalização ou
hipossuficiência e, assim, funcionam como medidas de compensação com o fim de concretizar uma
igualdade de oportunidades. A exemplo, podemos citar: mercado de trabalho da mulher, cotas de vagas sem
serviços públicos, cotas em universidades (PROUNI), cotas, Lei Maria da Penha.

Segundo Dirley da Cunha Júnior:

As ações afirmativas, portanto, são medidas especiais e concretas para assegurar o desenvolvimento ou a
proteção de certos grupos, com o fito de garantir-lhes, em condições de igualdade, o pleno exercício dos
direitos do homem e das liberdades fundamentais. (...) A própria Constituição já determina algumas ações
afirmativas, que não podem ser negligenciadas pelo legislador ordinário, como, por exemplo, a proteção do
mercador de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos (art.7º, XX) e a determinação de reserva
de percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência (art.37, VIII). (2020,
p. 623)
Curiosidade: Ações afirmativas têm origem nos Estados Unidos da América, do qual se originou inclusive a
nomenclatura: affirmative actions.

Atenção ao julgado: Info. 1088 do STF – CANDIDATO ESTRANGEIRO


O candidato estrangeiro tem direito líquido e certo à nomeação em concurso público para provimento de
cargos de professor, técnico e cientista em universidades e instituições de pesquisa científica e tecnológica
federais, nos termos do art. 207, § 1º, da Constituição Federal, salvo se a restrição da nacionalidade estiver
expressa no edital do certame com o exclusivo objetivo de preservar o interesse público e desde que, sem
prejuízo de controle judicial, devidamente justificada. É inconstitucional — por violar o princípio da isonomia
(CF/1988, art. 5º, “caput”) e a norma que estabelece às universidades e instituições de pesquisa científica e
tecnológica a possibilidade de prover seus cargos com professores, técnicos e cientistas estrangeiros
(CF/1988, art. 207, § 1º) — a negativa de nomeação de aprovado em concurso público para cargo de

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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professor em instituto federal, fundada apenas em motivo de nacionalidade.RE 1.177.699/SC, relator


Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 24.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

Atenção ao julgado: Info. 1069 do STF – RESERVA DE VAGAS PARA IRMÃOS


É constitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que determina a reserva de vagas, no mesmo
estabelecimento de ensino, para irmãos que frequentam a mesma etapa ou ciclo escolar, pois disciplina
medida que visa consolidar políticas públicas de acesso ao sistema educacional e do maior convívio familiar
possível. STF. Plenário. ADI 7149/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 23/9/2022 (Info 1069).

Atenção ao julgado: Info. 1113 do STF - SISTEMA DE COTAS EM UNIVERSIDADE PÚBLICA ESTADUAL
É inconstitucional — por violar a garantia de tratamento igualitário a todos os cidadãos brasileiros, que veda
a criação de distinções ou preferências entre si (CF/1988, art. 19, III) — lei estadual que assegura, de forma
infundada e/ou desproporcional, percentual das vagas oferecidas para a universidade pública local a
candidatos que cursaram integralmente o ensino médio em instituições públicas ou privadas da mesma
unidade federativa.

Atenção ao julgado: Info. 973 do STF - PRINCÍPIO DA IGUALDADE E SISTEMA DE COTAS


É inconstitucional lei distrital que preveja percentual de vagas nas universidades públicas reservadas para
alunos que estudaram nas escolas públicas do Distrito Federal, excluindo, portanto, alunos de escolas
públicas de outros Estados da Federação. Veja que o STF não proibiu o sistema de cotas para alunos de escolas
públicas, mas sim para alunos somente do DF (determinada localidade) violando a isonomia. No mesmo
sentido: STF. Plenário. ADI 4868, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.

Atenção ao julgado: Info 985 do STF – ISONOMIA E BENEFÍCIO DO BOLSA FAMÍLIA


O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda, voltado a famílias de todo o País, de modo
a fazer frente à situação de pobreza e vulnerabilidade; logo, não se pode fazer restrição em relação à região
ou ao Estado do beneficiário. Os Estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio
Grande do Norte ajuizaram ação cível originária, em face da União, com pedido de tutela provisória,
questionando a redução de recursos do Programa Bolsa Família destinados à Região Nordeste. O Min. Marco
Aurélio (relator) deferiu medida cautelar determinando que: a) a União disponibilize dados que justifiquem
a concentração de cortes de benefícios do Programa Bolsa Família na Região Nordeste, bem assim dispense
aos inscritos nos Estados autores tratamento isonômico em relação aos beneficiários dos demais entes da
Federação. b) não haja cortes no Programa enquanto perdurar o estado de calamidade pública; c) a liberação
de recursos para novas inscrições seja uniforme considerados os Estados da Federação. O Plenário do STF
referendou a medida cautelar concedida. STF. Plenário. ACO 3359 Ref-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 5/8/2020 (Info 985).

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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2. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS3

A CF/88 no Título II classifica o gênero direitos e garantias fundamentais em importantes grupos.


Veja:
- Direitos e Deveres individuais e coletivos;
- Direitos sociais;
- Direitos de nacionalidade;
- Direitos políticos;
- Partidos políticos.

2.1 Direitos x Garantias x Remédios Constitucionais

● Direitos: são normas de conteúdo declaratório da existência de um interesse, de uma vantagem, isto
é, imprimem a existência legal. Ex: direito à vida, à propriedade;
● Garantias: normas de conteúdo assecuratório, que servem para assegurar o direito declarado. As
garantias são estabelecidas pelo texto constitucional como instrumento de proteção dos direitos
fundamentais e writs constitucionais. São também chamadas de instrumentos de tutela das
liberdades e ações constitucionais.

DIREITOS FUNDAMENTAIS GARANTIAS FUNDAMENTAIS


NORMAS QUE PROTEGEM os bens jurídicos INSTRUMENTOS que buscam proteger os
fundamentais de uma sociedade direitos fundamentais
Tem valor intrínseco, nele mesmo Tem valor instrumental

Direitos são bens e vantagens prescritos na norma enquanto garantias são os instrumentos através
dos quais se assegura esse exercício.
Ilustrando: é inviolável a liberdade de consciência e de crença (direito), garantindo-se na forma da
lei a proteção aos locais de culto e suas liturgias (garantia).

● Remédios Constitucionais: embora todo remédio constitucional seja uma garantia, nem toda
garantia é um remédio constitucional, porque este é um instrumento processual que tem por
objetivo assegurar o exercício de um direito. Ex: Habeas Corpus, Mandado de Segurança. Pode-se
dizer que os remédios constitucionais são espécies do gênero garantia.

ATENÇÃO: alguns dispositivos constitucionais contêm direitos e garantias no mesmo enunciado. O art. 5º, X,
estabelece a inviolabilidade do direito à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, assegurando,
em seguida, o direito à indenização em caso de dano material ou moral provocado pela sua violação.

3
Para aprofundamento no assunto, consultar:
http://www.stf.jus.br/repositorio/cms/portaltvjustica/portaltvjusticanoticia/anexo/joao_trindadade__teoria_geral_d
os_direitos_fundamentais.pdf

116
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Súmula 647-STJ: São imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais e materiais decorrentes de
atos de perseguição política com violação de direitos fundamentais ocorridos durante o regime militar. STJ.
1ª Seção. Aprovada em 10/03/2021.
Obs.: de acordo com o STJ (Info 799), a imprescritibilidade não se aplica às ações em que se pretende a
responsabilização direta do agente público que praticou ato de tortura durante o regime militar.

2.2 Direitos Fundamentais x Direitos Humanos

Embora materialmente ambos objetivem a proteção e a promoção da dignidade da pessoa humana,


não se confundem. Assim, convém destacar que a doutrina estabelece duas distinções entre os direitos
humanos e os direitos fundamentais. A primeira delas relaciona-se ao locus de previsão, de modo que os
direitos humanos – intrinsecamente ligados ao Direito Internacional Público – estão previstos em normas
internacionais. Os direitos fundamentais, por sua vez, estão reconhecidos e positivados pelo Direito interno
de um Estado determinado.
A segunda distinção apontada se relaciona com a exigibilidade. Assim, os direitos humanos nem
sempre seriam exigíveis internamente enquanto os direitos fundamentais, uma vez positivados no
ordenamento interno (matriz constitucional) podem ser cobrados judicialmente.
● Direitos Humanos: são direitos reconhecidos no âmbito internacional; nem sempre exigíveis
internamente.
● Direitos fundamentais: são direitos reconhecidos no plano interno de um determinado Estado.
Preferencialmente, positivados na CF; passíveis de cobrança judicial.

DIREITOS FUNDAMENTAIS DIREITOS HUMANOS


FORMAL Encontram previsão formal Encontram fundamento
FUNDAMENTO DE nas constituições nos Tratados
VALIDADE/JURÍDICO Internacionais;
Exemplo: Declaração
Universal dos Direitos
Humanos da ONU

MATERIAL Estabelecem o conjunto de Buscam a proteção da


LIGADA AO CONTEÚDO bens jurídicos básicos, pessoa humana
FINALIDADE DE CADA UM DOS essenciais de uma (exclusivamente).
INSTITUTOS sociedade, não se limitando Não há que se falar em
à proteção da pessoa física direito

Como se classificam as normas constitucionais de direitos fundamentais quanto à eficácia e aplicabilidade?

117
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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Pela classificação de José Afonso da Silva e considerando não haver direito fundamental absoluto, as
normas podem possuir eficácia plena, e podem apresentar, conforme a hipótese, eficácia contida (ou
restringível) ou limitada.

O que significa os efeitos negativo e positivo das normas constitucionais de direitos fundamentais?
O efeito positivo diz respeito ao fato de que, pelo simples fato de surgir uma nova Constituição, ela
revoga tudo do ordenamento anterior que for contrário a ela. As normas constitucionais têm, assim, efeitos
positivos, no sentido de proativo, pois revogam (não recepcionam) tudo do ordenamento anterior que for
contrário a elas. Já o efeito negativo, por sua vez, tem o sentido de vedar/negar ao legislador ordinário a
possibilidade de produzir normas infraconstitucionais contrárias a ela (norma constitucional); e, acaso o
poder legiferante fizer, o judiciário, entendendo que houve contrariedade, extirpa a norma do ordenamento
jurídico por intermédio do controle de constitucionalidade.
A Carta Magna de 1988 é um marco na história constitucional brasileira, pois a sua abertura aos
direitos foi baseada também nos tratados internacionais celebrados pelo Brasil. Dessa forma, ela introduziu
o mais extenso rol de direitos de diversas espécies, incluindo direitos civis, políticos, econômicos, sociais e
culturais, além de prever várias garantias constitucionais.
Ademais, o art. 5°, §2°, da CRFB/88 prevê o princípio da não exaustividade dos direitos
fundamentais, ou seja, que o rol desses direitos não é taxativo, ao afirmar que os direitos e garantias
expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes: i) do regime e dos princípios por ela adotados
e ii) dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

Caiu em prova Delegado RJ/2022! A fundamentalidade material dos direitos fundamentais decorre da
circunstância de serem os direitos fundamentais elemento constitutivo da Constituição material, contendo
decisões fundamentais sobre a estrutura básica do Estado e da sociedade (item correto).

A fundamentalidade material dos direitos fundamentais decorre da abertura da Constituição a


outros direitos fundamentais não expressamente constitucionalizados. O aspecto material dos
direitos fundamentais nasce da essência do seu conteúdo substancial normativo. CANOTILHO, José Joaquim
Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição . 4º ed. Coimbra: Almedina.

2.3 Geração dos direitos fundamentais

As dimensões ou gerações dos direitos humanos são cobrados com frequência nos Concursos
Públicos. O tema foi apresentado pela primeira vez por Karel Vasak, em sua forma clássica chamada de
Gerações dos Direitos Humanos, desdobrando-se em 1ª, 2ª e 3ª gerações. Em provas objetivas, a tendência
é que se cobre essas gerações, tendo em vista que não há controvérsias relevantes sobre elas.
Trata-se de classificação dos direitos fundamentais que tem como critério o contexto histórico em
que surgiram, a ordem cronológica de reconhecimento e afirmação dos direitos fundamentais.

#DICA DD: Classificar os direitos em gerações sugere a ideia de superação de que


as gerações mais novas suplantam as anteriores. Assim, e visando afastar essa
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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concepção substitutiva de uma geração sobre a outra bem como a impressão de


que existe uma relação de antiguidade ou posteridade dos direitos, a doutrina
moderna entende que o mais adequado é falar em dimensões, uma vez que
inexiste cronologia nesses direitos.

Cespe, Oral RO, 2023 (espelho): Não existe sucessão cronológica precisa e definida na evolução dos
direitos individuais e coletivos, de modo que não é o mais correto falar em gerações de direitos fundamentais
ou direitos humanos. Por essa razão, muitos doutrinadores preferem falar em dimensões dos direitos
fundamentais e não em gerações. Esses direitos evoluem de forma cumulativa e somam-se à evolução dos
direitos precedentes. O termo “dimensão” dos direitos fundamentais dá uma noção mais clara dos valores
prevalecentes em cada uma dessas classificações de direitos, mas não de sucessividade ou de estanqueidade
entre eles.
Direitos fundamentais são indivisíveis. Possuem relação entre si de fortalecimento mútuo e não de
exclusão mútua. O surgimento de uma nova geração de direitos tem o viés de fortalecer a geração já
existente. Ex.: direito à educação fortalece o direito de liberdade de expressão.

1) DIREITOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO OU PRIMEIRA DIMENSÃO (individuais ou negativos):


Surgem no contexto histórico das revoluções liberais, burguesas, diante do nascimento do
constitucionalismo liberal – Séc. XIX. Marcam a passagem de um Estado autoritário para um Estado de
Direito. Grandes Marcos dos direitos de 1ª dimensão:
· Inglaterra – 1.215 – Magna Carta, assinada pelo Rei “João Sem Terra”
· EUA – 1.776 – Declaração de Independência Americana
· EUA – 1.787 – Constituição Americana
· França – 1.789 – Revolução Francesa
· França – 1.791 – Constituição Francesa

Estão relacionados à luta pela liberdade e segurança diante do Estado. Trata-se de impor ao Estado
obrigações de não-fazer (absenteísmo estatal) e se relacionam às pessoas, individualmente. Ex.: propriedade,
igualdade formal (perante a lei), liberdade de crença, de manifestação de pensamento, direito à vida etc.
Obs.1: são chamados também de direitos negativos ou direitos de defesa.
Obs.2: o fundamento dos direitos de 1ª geração/dimensão é a IGUALDADE FORMAL.

2) DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇÃO OU SEGUNDA DIMENSÃO (sociais, econômicos e culturais ou


direitos positivos):
Surgem no final do século XIX e início do século XX, diante do fenômeno do constitucionalismo social
(ligado ao movimento do socialismo). Grandes Marcos:
· Constituição Mexicana de 1917
· Constituição Alemã de Weimar de 1919
· Tratado de Versalhes, de 1919 (OIT)
· Rússia – 1.917/18 – Declaração do Povo Oprimido e Trabalhador – Revolução Russa
· Constituição Brasileira de 1934.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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São os direitos de grupos sociais menos favorecidos, e que impõem ao Estado uma obrigação de
fazer, de prestar (por isso são chamados de direitos prestacionais). Buscam viabilizar, através do Estado, a
satisfação das necessidades básicas dos indivíduos como forma de lhes proporcionar uma vida digna. Ex:
saúde, educação, moradia, segurança pública.
Os direitos sociais elencados no art. 6º da CF/88 são exemplos clássicos de direitos de 2ª
geração/dimensão:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a


moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.
DICA DD: O direito a transporte foi incluído no rol pela EC. 90/2015.

Observação: A teoria da reserva do possível é uma limitação fática e jurídica oponível à realização dos direitos
fundamentais, sobretudo os de cunho prestacional. Como é cediço, o Estado não possui recursos materiais
ilimitados, o que leva os administradores a realizarem escolhas trágicas, alocando esses recursos em ações
prioritárias. O limite da reserva do possível é o mínimo existencial, núcleo da dignidade da pessoa humana.
Nesse contexto, a reserva do possível deve ser analisada sob três aspectos:

I - Disponibilidade fática dos recursos para efetivação dos direitos fundamentais.


II - Disponibilidade jurídica dos recursos, mediante autorização orçamentária.
III - Razoabilidade e proporcionalidade da prestação, levando-se em consideração a universalização da
demanda, não apenas o indivíduo. Nesse sentido, não se pode exigir judicialmente do Estado uma prestação
que não possa ser concedida a todos os indivíduos que se encontrem em situação idêntica, sob pena de
violação do princípio da isonomia.

Contudo, conforme reiterada jurisprudência do STF, o fundamento da reserva do possível pelo Estado não é
tese apta a fundamentar a não execução de políticas públicas. Com efeito, prepondera-se a tese do mínimo
existencial. De forma atípica o Poder Judiciário atua, autorizado pela jurisprudência atual, com proatividade
intervindo nas políticas públicas não executadas pelo ente subnacional. A exemplo, é a ADPF de n° 347 que,
em seu bojo, aplicou a tese do estado de coisas inconstitucional em razão da massiva violação de direitos
fundamentais em seu sentido objetivo.

Inclusive, o STF no tema 365 da repercussão geral fixou a seguinte tese: “Considerando que é dever do
Estado, imposto pelo sistema normativo, manter em seus presídios os padrões mínimos de humanidade
previsto no ordenamento jurídico, é de sua responsabilidade, nos termos do art. 37, §6°, da Constituição
Federal, a obrigação de ressarcir os danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos detentos em
decorrência da falta de ou insuficiência das condições legais de encarceramento” (RE 580.252, 16.02.2017)

120
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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Assim, a Corte entendeu que não sendo assegurado o mínimo existencial, não se poderia sustentar a
aplicação da cláusula de reserva financeira do possível para o Estado deixar de indenizar.

Obs.1: o fundamento dos direitos de 2ª dimensão é a IGUALDADE MATERIAL.

Obs.2: o efeito bipolar dos direitos de 2ª dimensão e princípio da vedação ao retrocesso:


Os direitos de 2ª dimensão (direitos sociais) não possuem apenas um viés positivo, mas também um
viés negativo.

● Viés negativo – Fruto da vedação ao retrocesso (efeito cliquet) → Uma vez implementado o direito
de 2ª dimensão por medida estatal, o próprio Estado passa a ter o dever de se abster de retornar ao
status quo de quando o direito ainda não tinha efetividade. O indivíduo também tem o direito de
exigir um não fazer estatal com o intuito de preservar o direito fundamental já efetivado. Em outras
palavras: não pode promover um retrocesso social, revogar ou enfraquecer normas que já
alcançaram o grau de densidade normativo adequado. Ex.: 13º salário.
● Viés positivo – Aqui a ideia não é só manter o status quo, mas também implementar/desenvolver
novos direitos sociais. E, enquanto não for implementado, o indivíduo possui o direito de exigir um
atuar do Estado com o intuito de realizá-lo (ideia de direitos prestacionais).

3) DIREITOS DE TERCEIRA GERAÇÃO OU TERCEIRA DIMENSÃO (difusos e coletivos):

Surgem na 2º metade do séc. XX, no pós 2ª Guerra, ligados aos movimentos de melhoria da qualidade
de vida dos cidadãos. São direitos transindividuais, isto é, direitos que são de várias pessoas, mas não
pertencem a ninguém isoladamente. Transcendem o indivíduo isoladamente considerado. Necessidade de
preservacionismo ambiental e as dificuldades para proteção dos consumidores. Possuem caráter indivisível
e são titularizados por toda a coletividade. Ex.: direito ao meio ambiente.
São também conhecidos como:
● DIREITOS DE FRATERNIDADE
● Direitos metaindividuais (estão além do indivíduo)
● Direitos supraindividuais (estão acima do indivíduo isoladamente considerado).

Vamos esquematizar?
Direitos de 1ª Direitos de 2ª Direitos de 3ª
GERAÇÃO/DIMENSÃO GERAÇÃO/DIMENSÃO GERAÇÃO/DIMENSÃO
Surgem com revoluções Surgem no final do século XIX e 2ª metade do séc. XX, no pós 2ª
CONTEXTO liberais, burguesas, diante do início do século XX, diante do Guerra, ligados aos
HISTÓRICO nascimento do fenômeno do movimentos de melhoria da
constitucionalismo liberal. – constitucionalismo social. qualidade de vida dos cidadãos
Séc. XIX.

121
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

MARCOS Inglaterra – 1.215 – Magna Constituição Mexicana de 1917


Carta Constituição Alemã de Weimar
EUA – 1.776 – Declaração de de 1919
Independência Americana Rússia – 1.917/18 – Declaração
EUA – 1.787 – Constituição do Povo Oprimido e
Americana Trabalhador – Revolução Russa
França – 1.789 – Revolução Constituição Brasileira de
Francesa 1934.
França – 1.791 – Constituição
Francesa
SINÔNIMOS direitos negativos, direitos de direitos sociais, econômicos e difusos e coletivos
abstenção. culturais direitos metaindividuais
direitos positivos, direitos direitos supraindividuais
prestacionais
FUNDAMENTO Igualdade FORMAL Igualdade MATERIAL FRATERNIDADE
CONCEITO Buscam limitar o poder estatal, São direitos que impõem ao São direitos transindividuais,
impondo ao Estado obrigações Estado uma obrigação de fazer, isto é, titularizados por toda a
de não-fazer e se relacionam às de prestar. coletividade, não pertencendo
pessoas, individualmente. Buscam viabilizar, através do a uma pessoa isoladamente.
Estado, a satisfação das
necessidades básicas dos Possuem caráter indivisível.
indivíduos como forma de lhes
proporcionar uma vida digna.
EXEMPLOS Propriedade, igualdade formal Saúde, educação, moradia, Direito ao meio ambiente,
(perante a lei), liberdade de segurança pública. direito ao desenvolvimento,
crença, de manifestação de direito de propriedade sobre o
pensamento, direito à vida, patrimônio da humanidade,
direito de locomoção direito de comunicação

NOVAS GERAÇÕES/DIMENSÕES DE DIREITOS FUNDAMENTAIS:

4) DIREITOS DE QUARTA GERAÇÃO OU QUARTA DIMENSÃO

Há autores que se referem a essa categoria, mas ainda não há consenso na doutrina sobre qual o
conteúdo desse tipo de direitos.
Segundo o autor Paulo Bonavides os direitos de quarta dimensão seriam fruto do processo de
globalização dos direitos fundamentais, no sentido de uma universalização desses direitos no plano
institucional, o que corresponde à última fase da institucionalização do Estado Social, de forma a sacramentar

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

a evolução democrática e social alcançada até então, ou seja, democracia (direta), informação e pluralismo 4.
Assim, para Bonavides, os direitos de 4a dimensão decorrem da globalização dos direitos fundamentais, o
que significa universalizá-los no campo institucional. Para Bobbio, essa dimensão está ligada aos avanços no
campo da engenharia genética.

● Direito à democracia participativa – A democracia participativa ou semidireta é uma democracia


indireta, mas que conta com instrumentos de participação direta do povo no processo político. Esses
mecanismos de participação direta integrariam o rol dos direitos de quarta dimensão:
· Plebiscito; Referendo; Iniciativa popular de lei; Ação popular, etc.

● Direito à informação - consequência do próprio regime democrático, conjugado com a forma


republicana de governo. Garante o direito à transparência e, consequentemente, o direito à
informação (exemplo: lei de acesso à informação; art. 5º, XXXIII, CF/88)

● Direitos ligados às questões de bioética.

● Direitos ao pluralismo (art. 1º, CF/88)

5) DIREITOS DE QUINTA GERAÇÃO OU DIMENSÃO: direito à paz para Bonavides (para Karel Vasak a paz
está na 3a dimensão) .

Quadro sinóptico – Segundo Paulo Bonavides:

(Mazzuoli, 2018)

4
O Estado Social ou Estado do Bem-estar Social (Welfare State) surgiu como forma de reação à crise do Estado liberal,
notadamente em razão das desigualdades sociais vivenciadas à época. Os direitos sociais e econômicos passam a ser
contemplados de modo mais amplo, como corolários da igualdade material, sendo, posteriormente classificados como
direitos fundamentais de segunda geração.

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SEMANA 01/21

Obs.: Crítica doutrinária às “novas dimensões” de direitos fundamentais


Parcela da doutrina critica a classificação de outras dimensões de direito, pois seriam direitos já
existentes aplicados, hoje, a um novo contexto social, diante da evolução da sociedade.

Ingo Salert – “trazer novas dimensões é dar destaque ao direito, não trata o direito
como um mero desdobramento de um outro direito que já está nas 3 dimensões
anteriores, de modo a facilitar a sua efetivação e proteção. Ex.: questões de bioética
trabalham com direitos básicos como direito à integridade, ao próprio corpo e
dignidade.”

2.4 Características dos direitos fundamentais

● Historicidade: o que se entende por direitos fundamentais varia de acordo com o momento histórico,
não são conceitos herméticos e fechados, variando no tempo e no espaço. Emergem progressivamente
das lutas que o homem trava por sua própria emancipação.
● Inalienabilidade: são direitos sem conteúdo econômico patrimonial, não podem ser comercializados ou
permutados.
● Imprescritibilidade: são sempre exigíveis, ainda que não exercidos.
● Irrenunciabilidade: o indivíduo pode não exercer os seus direitos, mas não pode renunciá-los, de modo
geral. OBS: O STF admite, excepcionalmente, a renúncia temporária aos direitos que não ferem o núcleo
da dignidade da pessoa humana, como no caso de participação em reality show.
● Relatividade: não são direitos absolutos. Se houver um choque entre os direitos fundamentais, serão
resolvidos por um juízo de ponderação à luz da razoabilidade e da concordância prática ou harmonização
levando em consideração a regra da máxima observância dos direitos fundamentais envolvidos
conjugando-a com a sua mínima restrição (limitabilidade).

Caiu em prova Delegado RJ/2022! O método de solução de conflitos entre direitos fundamentais
constitucionalmente previstos, em caso de colisão, é a ponderação de interesses; o legislador, contudo, por
força do princípio democrático, pode resolver conflitos por meio da lei, efetuando a ponderação em
abstrato.

Técnica de Robert Alexy: a ponderação de interesses é considerada um método de solução de conflitos em


caso de colisão entre direitos fundamentais constitucionalmente previstos. Ademais, a CRFB assegura ao
Poder Legislativo a prerrogativa de estabelecer regras jurídicas em abstrato, como forma de resolver
conflitos por meio da lei, efetuando a ponderação em abstrato.

Não confunda com a teoria dos direitos imanentes: “A doutrina da imanência busca justificar
dogmaticamente o reconhecimento de limites não expressamente previstos no texto da Constituição,
tendo sido elaborada com base em duas premissas genericamente aceitas no pensamento jurídico: i) a ideia
de que os direitos fundamentais não são absolutos nem podem ser invocados em todas as situações; e ii) a

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noção de que os direitos das pessoas devem ser harmonizados entre si”. Jane Reis Gonçalves Pereira,
Interpretação constitucional e direitos fundamentais, 2006, p. 182.
Para Canotilho: "(...) os chamados ‘limites imanentes' são o resultado de uma ponderação de princípios
jurídico-constitucionais conducente ao afastamento definitivo, num caso concreto, de uma dimensão que
prima facie, cabia no âmbito prospectivo de um direito, liberdade e garantia." Nesse ponto, adota-se as
definições (e descrições) teóricas de Virgílio Afonso da Silva. In: SILVA, Virgílio Afonso. Direitos
Fundamentais, conteúdo essencial, restrições e eficácia, p. 166. Para o autor, em termos rigorosos, os
limites imanentes não se relacionam com a possibilidade de restrições aos direitos fundamentais e, com
isso a ponderação mediante a regra da proporcionalidade.

Apesar da limitabilidade inerente à natureza dos direitos humanos, a doutrina contemporânea


sustenta que existem 2 exceções a essa regra, as quais seriam direitos considerados absolutos: a vedação à
tortura (art. 5° da DUDH) e a vedação à escravidão (art. 4° da DUDH).
De acordo com o Professor Bruno Pinheiro, parte da doutrina aponta que existem Direitos
Fundamentais Absolutos:
a) Direito a Não Tortura (apontado por Norberto Bobbio)
b) Direito a Não Escravidão
c) Direito a Não Extradição do Brasileiro Nato (art. 5º, LI, CF/88) → apontado por Carlos Ayres Britto.

TEORIA DA RESTRIÇÃO DAS RESTRIÇÕES (= LIMITAÇÃO DAS LIMITAÇÕES)


- É teoria alemã, adotada no Brasil pelo STF;
- Uma das características dos direitos fundamentais é que eles são relativos, ou seja, podem sofrer limitações.
Porém, essas restrições devem ser feitas com critérios e de forma excepcional a não esvaziar o seu núcleo
essencial. Conclusão: Pode haver restrições aos direitos fundamentais, mas essas restrições devem ser
limitadas, não atingindo seu núcleo essencial.
- Só podem ser impostas restrições se obedecerem aos seguintes requisitos:
Requisito formal: os direitos fundamentais só podem ser restringidos em caráter geral por meio de normas
elaboradas por órgãos dotados de atribuição legiferante conferido pela CF/88. A restrição deve estar
expressa ou implicitamente autorizada.
Requisitos materiais: para a restrição ser válida, deve observar aos seguintes princípios:
- Não retroatividade;
- Proporcionalidade;
- Generalidade e abstração;
- Proteção do núcleo essencial.

A teoria dos limites dos limites (Schranhen- Schranken), ou seja, limites (com base em determinados
parâmetros) para a limitação (restrição) dos direitos fundamentais adota, portanto, critérios (limites) para
que tais limitações ocorram foram estabelecidos”.

Por fim, os direitos fundamentais podem ser restringidos, em primeiro lugar, pela própria Constituição, seja
em nome de outros direitos fundamentais (a liberdade de expressão não inclui o direito de caluniar alguém
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

– cf. art. 5º, IV e X) seja para promover valores e interesses coletivos (a liberdade de ir e vir pode ser limitada
no estado de sítio – art. 139, I). Podem ser restringidos, também, pela lei, tanto em hipóteses nas quais a
Constituição expressamente preveja a limitação (a inviolabilidade das comunicações telefônicas pode ser
excepcionada por lei para fins de investigação criminal ou instrução processual penal – art. 5º, XII –, e a
liberdade de trabalho pode estar sujeita a qualificações impostas por lei) quanto com base nos limites
imanentes.

● Personalidade: não se transmitem.


● Concorrência e cumulatividade: são direitos que podem ser exercidos ao mesmo tempo.
● Universalidade: são universais, destinando-se a todos os seres humanos, indiscriminadamente.
Independentemente de as nações serem signatárias da declaração universal dos direitos humanos,
devem ser reconhecidos em todo o planeta, independentemente, da cultura, política e sociedade.

De acordo com o Professor Bruno Pinheiro, é a característica da Universalidade que


fundamenta a interpretação extensiva e sistemática do art. 5º, caput da CF/88,
permitindo a aplicação dos direitos fundamentais aos apátridas, e aos estrangeiros
não residentes no país.
“Todo e qualquer ser humano é sujeito ativo desses direitos, podendo pleiteá-los
em qualquer foro nacional ou internacional (parágrafo 5° da Declaração e Programa
de Ação de Viena de 1993);”

Cespe, Oral RO/2023 (espelho): A universalidade dos direitos fundamentais significa que todo ser
humano os detém, apenas por sua condição humana, embora haja alguns desses direitos que não
necessariamente possam ser exercidos por todas as pessoas. Os direitos políticos, por exemplo, em alguns
casos pressupõem a condição de nacionalidade de um país, de modo que estrangeiros não podem exercê-
los plenamente.

● Proibição de retrocesso: não se pode retroceder nos avanços históricos conquistados. Os direitos
fundamentais são o resultado de um processo evolutivo, marcado por lutas e conquistas em prol da
afirmação de posições jurídicas concretizadoras da dignidade da pessoa humana e, por isso, uma vez
reconhecidos, não podem ser suprimidos, abolidos ou enfraquecidos. Destaca-se que há várias
manifestações no STF sobre esse princípio, especialmente do Min. Celso de Mello, para quem “o
princípio da proibição do retrocesso impede, em tema de direitos fundamentais de caráter social, que
sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo cidadão ou pela formação social em que ele
vive.” (STF, ARE n.º 639.337 AgR/SP, 2.ª Turma, Rel. Min. Celso de Mello, j. 23.08.2011, DJe 15.09.2011.).

2.5 Dimensão dos Direitos Fundamentais

a) Dimensão subjetiva: os direitos fundamentais conferem aos seus titulares o poder de exigir algo, seja
ação ou omissão.
Ex.: omissão - respeitar a autonomia da vontade, sem interferir na religião, política, etc.
126
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Ex.: ação - exigir do Estado uma atuação comissiva, exigir ações para garantir educação, saúde, etc.

b) Dimensão objetiva: os direitos fundamentais encarnam valores que permeiam toda a ordem jurídica,
condicionam e inspiram a interpretação e aplicação de outras normas (EFICÁCIA IRRADIANTE) e criam
dever geral de proteção sobre os bens salvaguardados. Assim, a dimensão objetiva dos direitos
fundamentais consiste em atribuir a estes importância máxima dentro do ordenamento jurídico: eles
são a base, o eixo axiológico de todo o ordenamento jurídico.

Caiu na prova Delegado SP/2023! A dimensão objetiva dos direitos fundamentais está ligada ao
reconhecimento de que tais direitos implicam deveres de proteção do Estado. (ITEM CORRETO)

2.5.1 Desdobramentos da dimensão objetiva dos Direitos Fundamentais

A dimensão objetiva atribui força aos direitos fundamentais, que passam a ser a diretriz para a
aplicação e interpretação das normas:

1) Eficácia interpretativa dos direitos fundamentais


Com a dimensão objetiva, os direitos fundamentais ganham um reforço na sua juridicidade,
ganhando força no ordenamento jurídico e, além disso, se tornam normas de eficácia irradiante, que, tendo
como base o princípio da dignidade da pessoa humana, se espalham para todo o ordenamento jurídico,
vinculando os 3 Poderes do Estado, seja para o Legislativo ao elaborar a lei, seja para a Administração
Pública ao “governar”, seja para o Judiciário ao resolver eventuais conflitos.
Valores morais incorporados nos princípios constitucionais que devem irradiar por todo o
ordenamento jurídico.
Gera o dever do intérprete de promover a filtragem constitucional

2) Eficácia horizontal dos direitos fundamentais:


Com a evolução da teoria dos direitos fundamentais, atualmente é reconhecida a incidência também
na relação entre particulares, em igualdade de armas. Logo, pode se definir a incidência e necessidade de
observância de todos os direitos fundamentais nas relações privadas (PARTICULAR X PARTICULAR). O STF já
reconheceu a aludida eficácia.
Em outras palavras: a eficácia horizontal dos direitos fundamentais consiste na possibilidade de
aplicação dos direitos fundamentais nas relações jurídicas estritamente privadas.
Em relação à eficácia horizontal dos direitos fundamentais, pode-se destacar 2 teorias:

1) Eficácia indireta ou mediata: os direitos fundamentais são aplicados de maneira reflexa, tanto em
uma dimensão proibitiva e voltada para o legislador, que não poderá editar lei que viole direitos
fundamentais, como, ainda, positiva, voltada para que o legislador implemente os direitos
fundamentais, ponderando quais devem aplicar-se às relações privadas;
2) Eficácia direta ou imediata: alguns direitos fundamentais podem ser aplicados às relações privadas
sem que haja a necessidade de “intermediação legislativa” para a sua concretização.
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Precedentes em que o STF reconheceu a eficácia horizontal dos direitos fundamentais:

· RE 160.222 – Entendeu que constitui constrangimento ilegal a revista íntima em mulheres em fábrica
de lingerie.
· RE 175.161 – Contrato de consórcio que prevê devolução nominal de valor já pago em caso de
desistência viola o devido processo legal substantivo - proporcionalidade e razoabilidade.
· RE 158.215 – Violação ao princípio do devido processo legal na hipótese de exclusão de associado de
cooperativa sem direito à defesa.
· RE 639.138 – É inconstitucional, por violação ao princípio da isonomia (art. 5º, I, da Constituição da
República), cláusula de contrato de previdência complementar que, ao prever regras distintas entre
homens e mulheres para cálculo e concessão de complementação de aposentadoria, estabelece
valor inferior do benefício para as mulheres, tendo em conta o seu menor tempo de contribuição.
· ADI 2572 – Constitucionalidade da reserva de vagas para pessoas obesas – O STF entendeu que não
há inconstitucionalidade material, tendo em vista que se trata de política inclusiva que não afronta
a liberdade de iniciativa, principalmente se considerada a eficácia horizontal dos direitos
fundamentais.

A eficácia dos direitos fundamentais pode também pode ser:

● Vertical: aplica-se à tradicional ideia de limitação de poder do Estado e respeito aos direitos dos
indivíduos, conferindo direitos básicos e garantias aos indivíduos. Há um poder superior (Estado), em
face do indivíduo, em posições diferentes (ESTADO X PARTICULAR);

TEORIA DOS QUATRO STATUS DE JELLINEK


São as possíveis relações do indivíduo com o Estado:
● Passivo ou “subjectionis”: o indivíduo encontra-se em posição de subordinação com relação aos
poderes públicos;
● Ativo (direitos políticos): é o poder do indivíduo de interferir na formação da vontade do Estado,
sobretudo através do voto;
● Negativo: o indivíduo pode agir livre da atuação do Estado, podendo autodeterminar-se sem
ingerência estatal (abstenção estatal);
● Positivo ou “civitatis”: é a possibilidade de o indivíduo exigir atuações positivas do Estado em seu
favor.

● Diagonal: teoria desenvolvida por Sérgio Gamonal, e consiste na incidência e observância dos
direitos fundamentais nas relações privadas marcadas por desigualdade de forças, ante a
vulnerabilidade de uma das partes. Na hipótese, embora as partes teoricamente estejam em posição
equivalente (PARTICULAR X PARTICULAR), na prática há império do poder econômico, por exemplo,
nas relações envolvendo crianças, pessoas com deficiência, trabalhadores, consumidores etc. O TST
já adotou a eficácia diagonal em alguns julgados, inclusive.
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

EFICÁCIA VERTICAL EFICÁCIA HORIZONTAL EFICÁCIA DIAGONAL

A aplicação dos direitos A aplicação dos direitos Há hipossuficiência de uma


fundamentais às relações entre fundamentais às relações das partes. É uma relação
Estado e particulares, a relação entre os próprios entre particulares onde não há
de subordinação que o particular particulares. uma igualdade fática.
tem com o Estado.

2.6 Direitos individuais implícitos e explícitos

Os direitos individuais podem ser explícitos ou implícitos.

● Explícitos: são aqueles previstos expressamente no texto da Constituição Federal. Como exemplo,
os contidos no art. 5° da CF/88 e seus incisos, em especial os previstos no caput do mencionado
artigo, como a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

● Implícitos: o reconhecimento decorre de interpretação do texto da Lei. Isto se evidencia pela leitura
do art. 5º, § 2º, da CF/88, que reconhece a existência de outros direitos individuais "decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais de que a República
Federativa do Brasil seja parte".

● Eventual novo direito individual criado por meio de emenda constitucional é considerado cláusula
pétrea?
NÃO. Segundo Gilmar Mendes, deve-se ter em mente que as cláusulas pétreas “se fundamentam na
superioridade do poder constituinte originário sobre o de reforma”, de maneira que somente o primeiro
pode criar obstáculos à atuação do segundo. Não faz sentido, do ponto de vista lógico, permitir que o poder
reformador crie limites invencíveis a si mesmo.
Assim, conclui Gilmar Mendes que “não é cabível que o poder de reforma crie cláusulas pétreas.
Apenas o poder constituinte originário pode fazê-lo”. Caso EC crie um novo direito fundamental, este não
será cláusula pétrea.
É preciso distinguir, contudo, a situação em que uma EC apenas especifica, detalha ou incrementa
um direito fundamental já criado, sem inovar no rol de direitos. Nesse caso, ainda que introduzida por EC, a
novidade é considerada cláusula pétrea. Para Gilmar Mendes “é o que se deu, por exemplo, com o direito à
prestação jurisdicional célere somado ao rol do art. 5º da Constituição pela EC 45/04. Esse direito já existia,
como elemento necessário do direito de acesso à justiça – que há de ser ágil para ser efetiva – e do princípio
do devido processo legal, ambos assentados pelo constituinte originário”.

Classificação dos direitos fundamentais explícitos:

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SEMANA 01/21

● Direitos individuais e coletivos: direitos ligados ao conceito de pessoa humana e sua própria
personalidade, com, por exemplo, vida, dignidade da pessoa humana, honra, liberdade, etc. Estão
espalhados pela CF/88, mas uma grande parte concentra no art. 5º;
● Direitos sociais: caracterizam-se como verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória
em um Estado Social de Direito, tendo por finalidade a melhoria das condições de vida aos
hipossuficientes;
● Direitos de nacionalidade: nacionalidade é o vínculo jurídico-político que visa ligar um indivíduo a
certo e determinado Estado fazendo deste indivíduo um componente do povo, da dimensão pessoal
deste Estado, capacitando-o a exigir sua proteção e sujeitando-o ao cumprimento de deveres
impostos;
● Direitos políticos: conjunto de regras que disciplina as formas de atuação da soberania popular. São
direitos públicos subjetivos que permitem ao indivíduo o exercício concreto da liberdade de
participação nos negócios políticos do Estado;
● Direitos relacionados à existência, organização e participação em partidos políticos: a Constituição
Federal regulamentou os partidos políticos como instrumentos necessários e importantes para
preservação do Estado Democrático de Direito, assegurando-lhes autonomia e plena liberdade de
atuação, para concretizar o sistema representativo.

Caiu em prova Delegado GO/2020!


- Os nascidos no estrangeiro são considerados brasileiros natos, desde que o pai brasileiro ou a mãe brasileira
esteja a serviço da República Federativa do Brasil.

- Aos partidos políticos é garantido o acesso, de forma gratuita, ao rádio e à televisão, na forma da lei, desde
que atenda a condições estabelecidas na constituição, sendo uma delas a de que tenham eleito em seus
quadros pelo menos quinze Deputados Federais distribuídos em pelo menos um terço das unidades da
Federação.

- Todo brasileiro em situação de vulnerabilidade social terá direito a uma renda básica familiar, garantida
pelo poder público em programa permanente de transferência de renda, na forma da lei.

- Os partidos políticos, que adquirem personalidade jurídica na forma da lei civil, devem registrar seus
respectivos estatutos perante o Tribunal Superior Eleitoral.

(Todos os itens corretos)

2.7 Destinatários

Os destinatários das normas dos direitos individuais, que são os direitos fundamentais, são os seres
humanos, os indivíduos. Isso porque os direitos fundamentais surgiram com o intuito de proteção do
indivíduo em face das arbitrariedades do Estado.

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SEMANA 01/21

Segundo dispõe o art. 5º, caput, da CF/88, os destinatários dos direitos fundamentais elencados na
Carta Maior são: os brasileiros e os estrangeiros residentes no Brasil.

CF/88 Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

● E os estrangeiros não residentes no Brasil que apenas se encontram em trânsito no solo nacional?
R.: Para a doutrina, os estrangeiros não residentes no Brasil também são destinatários de direitos
fundamentais conforme interpretação sistemática. Veja:

Dirley da Cunha - “O artigo 5º, caput deve ser interpretado a partir da unidade da
Constituição, para se entender que todas as pessoas, físicas ou jurídicas, nacionais
ou estrangeiras, com residência ou não no Brasil, são destinatárias dos direitos e
garantias fundamentais previstas na CF, salvo quando a própria Carta Maior excluir
algumas delas”.

Professor Bruno Pinheiro - A característica da universalidade dos direitos


fundamentais fundamenta a interpretação extensiva do art. 5º, caput, da CF/88,
permitindo a aplicação dos direitos fundamentais aos apátridas, aos estrangeiros
não residentes no país.

Caiu em prova Delegado RJ/2022! Com relação ao direito à igualdade, expressamente previsto no art. 5.º da
Constituição Federal de 1988, assinale a opção correta: Analisando-se o princípio da igualdade com relação
ao particular, verifica-se que este não poderá tratar os demais membros da sociedade de maneira
discriminatória, atingindo direitos fundamentais por meio de condutas preconceituosas, sob pena de
responsabilização civil e até mesmo criminal, quando o ato for tipificado como crime. Assim, é vedado ao
particular, na contratação de empregados, por exemplo, utilizar qualquer critério discriminatório com
relação a sexo, idade, origem, raça, cor, religião ou estado civil.

Há, portanto, direitos que se asseguram a todos, independentemente da nacionalidade do


indivíduo, porquanto são considerados emanações necessárias do princípio da dignidade da pessoa
humana. Alguns direitos, porém, são dirigidos ao indivíduo enquanto cidadão, tendo em conta a situação
peculiar que o liga ao País. Assim, os direitos políticos pressupõem exatamente a nacionalidade brasileira.
Direitos sociais, como o direito ao trabalho, tendem a ser também não inclusivos dos estrangeiros sem
residência no País (MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet.
Curso de Direito Constitucional, 5ª ed., pg.350-351. São Paulo: Saraiva, 2010).

● Pessoas jurídicas são titulares de direitos fundamentais?

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

R.: Para a maioria da doutrina e para o STF, SIM! Pessoa Jurídica de Direito Privado e Pessoa Jurídica
de Direito Público podem ser titulares, bastando analisar casuisticamente quais direitos fundamentais se
compatibilizam com a condição de pessoa jurídica.
Naturalmente que o direito fundamental deve estar em harmonia com a natureza jurídica da pessoa
jurídica. Ex. podem sofrer dano moral (súmula 227 do STJ), mas não podem ser pacientes de HC.
Atenção (1): existem direitos fundamentais catalogados na CF que são concebidos especificamente
para as pessoas jurídicas. – art. 5º, XIX, XXI, etc.

XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas


atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito
em julgado;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm
legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

Atenção (2): pessoas jurídicas de direito público, apesar de integrarem o Estado (polo passivo dos
direitos fundamentais), gozam de direitos fundamentais, desde que compatíveis com a sua condição.

2.8 Os Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988

A CF de 88 estabeleceu um rol compromissório de direitos fundamentais que condensa diversas


ideologias consagradas em direitos de 1º, 2ª e 3ª dimensões. Aproximou-se do denominado liberalismo
igualitário, que busca se equilibrar entre a proteção das liberdades civis e a redução das desigualdades
sociais.

Obs.1: princípio da indivisibilidade - os direitos das diferentes gerações não se excluem, na verdade,
se interpenetram, sofrendo influência mútua. Ou seja, uma geração fortalece o advento da outra. Isto porque
compõem um conjunto único de direitos que se relacionam entre si de forma harmônica. De acordo com
este princípio, todos os direitos humanos devem contar com a mesma proteção jurídica.
Obs.2: não há hierarquia entre os direitos fundamentais, pois a Constituição brasileira não permite
hierarquização prévia e abstrata entre os direitos fundamentais.

2.8.1. Não taxatividade dos direitos fundamentais e tratados de direitos humanos

O ordenamento jurídico brasileiro adotou um sistema aberto de direitos fundamentais, não se


podendo considerar taxativo o rol do seu artigo 5º.

Art. 5º, § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem


outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

Ingo Sarlet faz a seguinte divisão:


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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

a) Direitos formalmente constitucionais → os incluídos pelo Poder Constituinte originário no catálogo


de direitos fundamentais (estão presentes no art. 5º ou no título II da CF/88).
b) Direitos materialmente constitucionais → direitos que não se encontram no rol formal da CF/88,
mas possuem status de fundamentais haja vista seu conteúdo jusfundamental (não importando o
local de positivação). A baliza para saber qual conteúdo confere à norma status de direito
fundamental é a dignidade da pessoa humana (princípio-matriz de todos os direitos fundamentais
e fundamento da República Federativa do Brasil). A fundamentalidade material dos direitos
fundamentais decorre da abertura da Constituição a outros direitos fundamentais não
expressamente constitucionalizados. O aspecto material dos direitos fundamentais nasce da
essência do seu conteúdo substancial normativo. CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito
constitucional e teoria da constituição. 4º ed. Coimbra: Almedina.

Conforme ensina André de Carvalho Ramos, a abertura dos direitos humanos pode se dar de
forma nacional ou internacional. A abertura internacional ocorre quando são editados novos tratados ou
mesmo com os avanços na proteção internacional dos direitos humanos. Por sua vez, a abertura nacional
ocorre através da inclusão de novos direitos fundamentais em nosso ordenamento e também com a
interpretação evolutiva e ampliativa dos tribunais nacionais.
A cláusula materialmente aberta prevista no §2º do art. 5º da CF/88 decorre do reconhecimento da
dignidade da pessoa humana como fundamento do Estado (art. 1º, III). A consequência disso é que o rol de
direitos fundamentais é meramente exemplificativo.

2.8.2. Hierarquia dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos

O art. 5º, §3º da CF/88 foi introduzido pela EC 45/2004 (conhecida como reforma do Poder
Judiciário).
Esse dispositivo prevê que os tratados internacionais sobre direitos humanos que observarem o
procedimento de incorporação análogo ao das Emendas Constitucionais terão paridade normativa, isto é:
terão status normativo de emendas constitucionais.
Que procedimento de incorporação é esse?
● Aprovação em cada Casa do Congresso Nacional;
● Em 2 turnos de votação;
● Com pelo menos 3/5 dos votos dos respectivos membros.

● E os tratados internacionais de direitos humanos que não observarem o procedimento especial do


art. 5º, §3º da CF, não sendo aprovados pelo quórum constitucional?
R.: Segundo a doutrina majoritária e o Supremo Tribunal Federal, os Tratados Internacionais de
Direitos Humanos internalizados sem a observância do procedimento estabelecido no art. 5, §3º, da CF/88
terão hierarquia normativa supralegal: acima das leis e abaixo da Constituição.
Esse status normativo de supralegalidade tem o efeito de bloquear a legislação infraconstitucional
que com eles seja incompatível, análise de compatibilidade que é chamado de controle de convencionalidade
pela doutrina especializada.
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Por fim, os Tratados Internacionais que não versam sobre direitos humanos terão hierarquia
infraconstitucional, com status normativo equivalente à lei ordinária.

RESUMINDO:
Tratado internacional SOBRE DIREITOS
HUMANOS, aprovado pelo mesmo rito da
Emenda Constitucional (art. 5º, §3º) Status normativo de emenda constitucional.

Tratado internacional SOBRE DIREITOS


HUMANOS, aprovado com quórum Status normativo de supralegalidade: superior
diverso das emendas constitucionais às leis e inferior à Constituição.

Tratados Internacionais QUE NÃO Independente do procedimento e quórum de


VERSAM SOBRE DIREITOS HUMANOS votação terão status normativo de leis
ordinária.

2.9 Deveres Fundamentais

Além de direitos fundamentais, há os deveres fundamentais. A doutrina é vasta em discorrer sobre


os direitos fundamentais, porém, pouca atenção se dá aos deveres fundamentais. Conforme o professor
Pedro Lenza “diante da vida em sociedade, devemos pensar, também, a necessidade de serem observados
os deveres, pois muitas vezes o direito de um indivíduo depende do dever do outro em não violar ou impedir
a concretização do referido direito” (LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, pg. 1154).
Conforme o autor Bernardo Gonçalves

Porém, em detrimento dessa conduta, o Estado Social e o constitucionalismo social,


bem como o Estado Democrático de Direito e atual constitucionalismo do Estado
Democrático de Direito, vão buscar inspiração na tutela dos interesses da
comunidade (e não só do indivíduo considerado isoladamente). Esses ditos valores
sociais, que convivem (ou devem conviver em equilíbrio em uma democracia) com
os projetos e concepções individuais (de vida), devem ser respeitados e tutelados
pelo Estado e também pelos particulares. Nesses termos, "O reconhecimento de
deveres fundamentais diz respeito à participação ativa dos cidadãos na vida pública
e implica em um empenho solidário (de responsabilidade social) de todos na
transformação das estruturas sociais”. Surge, então, daí a noção de deveres
fundamentais.

Pode-se esquematizar alguns deveres fundamentais:


-Dever de efetivação dos direitos fundamentais Estado prestacionista;
-Deveres específicos do Estado diante dos indivíduos - ex. dever de indenizar o condenado por erro
judiciário;
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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-Deveres de criminalização do Estado - ex. art. 5°, XLIII, da CRFB;


- Deveres dos cidadãos e da sociedade - ex. serviço militar obrigatório;
- Dever de exercício do direito de forma solidária e levando em consideração os interesses da
sociedade - ex. direito de propriedade que se leva em consideração o exercício conforme a sua função social;
- Deveres implícitos - o direito de uma pessoa pressupõe o dever de todas as demais.

2.10 Alguns direitos individuais – rol do art. 5º da CF/88

A. DIREITO À VIDA:

CRFB, Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

Está relacionado à existência física de um ser humano. O art. 5º, caput, da CF assegura a
inviolabilidade do direito à vida em relação ao Estado e em relação aos demais indivíduos.
Inviolabilidade difere de irrenunciabilidade: a inviolabilidade diz respeito à proteção de um direito
em face de outras pessoas, enquanto que a irrenunciabilidade diz respeito à proteção de um direito em face
do próprio titular.
O direito à vida compreende o direito ao mínimo necessário a uma existência digna, que abrange:

1. Direito à integridade física: direito à saúde, vedação de pena de morte, proibição do aborto,
etc;
2. Direito a condições materiais e espirituais mínimas necessárias a uma existência digna.

● Dupla acepção do direito à vida (NOVELINO, 2017, p. 325):

1. Acepção positiva: está associada ao direito à existência digna, que assegura o acesso a bens
e utilidades indispensáveis para isso. Ela não se limita ao mínimo existencial, pois garante
também pretensões de caráter material e jurídico, de modo que os poderes públicos devem
adotar medidas positivas de proteção da vida, de amparo material e de emissão de normas
protetivas;

2. Acepção negativa: é o direito assegurado a todo e qualquer ser humano de permanecer vivo.
É um direito de defesa e um pressuposto elementar para o exercício de todos os demais
direitos. Uma decorrência dessa acepção é a proibição da pena de morte (art. 5º, XLVII, “a”,
da CF).

Atenção! Não existe direito fundamental absoluto, todos são relativos, de modo que nenhum direito
fundamental está hierarquicamente em superioridade em relação a outro. Ora, se não existe direito
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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fundamental absoluto e se todos eles são relativos, não se pode admitir que o direito à vida esteja
hierarquicamente superior a qualquer outro, pelo simples fato de ser direito à vida.
A ponderação de direitos depende de uma análise no caso concreto (nunca em abstrato) que deve
sempre levar em consideração o princípio pro homine (pro persona), em que o intérprete prefira a
interpretação dos direitos humanos que seja mais favorável à pessoa e a máxima efetividade, de modo que
se alcance o maior proveito possível para o titular, com o menor sacrifício aos titulares dos demais direitos.
Contudo, considerando-se que são inevitáveis algumas colisões de direitos fundamentais, é possível
que estes sofram limitações diante de outros que sejam igualmente relevantes. Assim, de forma excepcional,
pode haver a restrição ou mesmo a derrogação de alguns direitos. Exemplo de que o direito à vida não é um
direito absoluto: existência da pena de morte no ordenamento jurídico brasileiro.
Obs. Vale ressaltar que nem mesmo o poder constituinte originário poderia ampliar as
hipóteses de pena de morte diante da observância do princípio da continuidade e proibição do retrocesso.

DESACORDOS MORAIS RAZOÁVEIS

Segundo o professor Pedro Lenza: Desacordos morais razoáveis surgem em razão de inexistência de consenso
em relação a temas polêmicos e com entendimentos antagônicos e diametralmente opostos e que se fundam
em conclusão racional, como, por exemplo, a interrupção da gravidez. Assumir uma das posições significa
negar a outra, e essa realidade é marca de uma sociedade plural, característica das democracias modernas
(posições religiosas, morais, filosóficas etc.).
Nessas matérias, como regra geral, o papel do direito e do Estado deve ser o de assegurar que cada pessoa
possa viver sua autonomia da vontade e suas crenças.
Exemplos: interrupção de gestação, pesquisas com células-tronco embrionárias, eutanásia/ortotanásia,
uniões homoafetivas, etc.

JURISPRUDÊNCIA SOBRE DIREITO À VIDA:

1) ADI 3510 – Pesquisa em Células Tronco Embrionárias


O art. 5º da Lei de Biossegurança autoriza a utilização do material biológico para fins de pesquisa,
terapia, etc., desde que sejam embriões inviáveis, ou, ainda que embriões viáveis, com mais de três anos de
armazenamento. Veja:

Art. 5o É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco


embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e
não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições:
I - sejam embriões inviáveis; ou
II - sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta
Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem
3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento.
§ 1o Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.

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§ 2o Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia


com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à
apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa.
§ 3o É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este artigo e
sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei no 9.434, de 4 de fevereiro
de 1997.

O art.5º foi impugnado na sua constitucionalidade porque se chegou a cogitar eventual violação da
dignidade da pessoa humana, por considerar que o ser humano estaria sendo tratado como coisa.
Decisão do STF: o STF concluiu, por votação bastante apertada, que as pesquisas com célula-tronco
embrionária, nos termos da lei, não violam o direito à vida. A constatação de que a vida começa com a
existência do cérebro (segundo o STF e sem apresentar qualquer análise axiológica ou filosófica) estaria
estabelecida, também, no art. 3.º da Lei de Transplantes, que prevê a possibilidade de retirada de tecidos,
órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento depois da morte desde que se
constate a morte encefálica. Logo, para a lei, o fim da vida dar-se-ia com a morte cerebral, razão pela qual é
nessa linha que o conceito de vida está ligado (surgimento do cérebro).
Conclusão: O art. 5° da Lei nº 11.105/2005 (Lei de Biossegurança) é plenamente constitucional, não
havendo qualquer violação ao direito à vida. Isso porque o art. 5° toma os cuidados necessários, usa
efetivamente as pesquisas científicas para fins terapêuticos, etc., sem trazer nenhum efeito deletério ou
coisificante para a pessoa que forneceu o material biológico.

2) ADPF 54 – Aborto de Feto Anencéfalo


Desconsiderando os aspectos moral, ético ou religioso, tecnicamente, em relação à interrupção da
gravidez de feto anencéfalo, desde que se comprove, por laudos médicos, com 100% de certeza, que o feto
não tem cérebro e não há perspectiva de sobrevida.
Nessa linha de desenvolvimento, o STF, para seguir a lógica do julgamento anterior (célula-tronco),
teria de autorizar a possibilidade de antecipação terapêutica do parto. A imposição estatal da manutenção
de gravidez cujo resultado final será irremediavelmente a morte do feto vai de encontro aos princípios
basilares do sistema constitucional, mais precisamente à dignidade da pessoa humana, à liberdade, à
autodeterminação, à saúde, ao direito de privacidade, ao reconhecimento pleno dos direitos sexuais e
reprodutivos de milhares de mulheres.
Conforme o Ministro MArco Aurélio, “o ato de obrigar a mulher a manter a gestação, colocando-a
em uma espécie de cárcere privado em seu próprio corpo, desprovida de um mínimo essencial de
autodeterminação e liberdade, assemelha-se à tortura ou a um sacrifício que não pode ser pedido a qualquer
pessoa ou dela exigido.”
O STF, então, julgou procedente o pedido formulado para declarar a inconstitucionalidade de
interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo é conduta tipificada nos arts. 124,
126 e 128, I e II, todos do Código Penal. Assim, enalteceu o direito à dignidade da pessoa humana, à liberdade
no campo sexual, à autonomia, à privacidade, à integridade física, psicológica e moral e à saúde. Em outras
palavras: o STF excluiu qualquer interpretação no sentido de que a interrupção da gestação de feto
anencéfalo pudesse ser catalogada como aborto. Justamente por isso fala-se que não se trata de aborto, mas
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sim de uma interrupção da gestação em razão da inexistência de uma vida possível. Os fundamentos foram,
dentre outros, direito à dignidade da pessoa humana, à liberdade no campo sexual, à autonomia, à
privacidade, à integridade física, psicológica e moral e à saúde.

Caiu em prova Delegado RR/2022! A decisão do Supremo Tribunal Federal, prolatada na ADPF no 54, que
autoriza a realização voluntária do aborto de feto anencefálico teve como um dos seus expressos
fundamentos: intepretação constitucional sem redução de texto (item correto).

Caiu em prova Delegado BA/2022! A Constituição Federal de 1988 dispõe que todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Com relação aos
direitos fundamentais e o entendimento jurisprudencial dos Tribunais Superiores, assinale a alternativa
correta: É possível a interrupção da gravidez quando houver diagnóstico de anencefalia do feto.

3) HC 124.306 - Interrupção voluntária da gestação no primeiro trimestre


O STF conferiu interpretação conforme à Constituição aos arts. 124 a 126 do Código Penal para excluir
do seu âmbito de incidência a interrupção voluntária da gestação efetivada no primeiro trimestre. Os
Ministros entenderam que a criminalização, nessa hipótese, viola diversos direitos fundamentais da mulher,
bem como o princípio da proporcionalidade, nos termos do voto do Min. Barroso (HC 124.306, j. 29.11.2016,
DJE de 17.03.2017). Os fundamentos também foram, dentre outros, direito à dignidade da pessoa humana,
à liberdade no campo sexual, à autonomia, à integridade física, psicológica e moral e à saúde.
Mas atenção, diante do exposto, a interrupção da gravidez no primeiro trimestre não deixou de ser
considerada crime, já que a questão decidida pela 1 a Turma do STF foi na concessão de HC e, portanto, sem
caráter vinculante.

4) Distanásia, eutanásia, suicídio assistido e ortotanásia


Distanásia: também chamada de obstinação terapêutica ou medical futility, trata-se de conduta onde
não se prolonga a vida propriamente dita, mas o processo de morrer. No Brasil, a exposição de motivos da
Resolução nº 1.805/2006 do Conselho Federal de Medicina permite ao médico limitar ou suspender
procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente em fase terminal, de enfermidade grave e
incurável, respeitada a vontade da pessoa ou de seu representante legal. De acordo com Jean Robert Debray,
são procedimentos terapêuticos cujos efeitos são mais nocivos do que o próprio mal a ser curado e acabam
por negar a dignidade da vida humana.
Eutanásia: conhecida como “morte serena”, “morte doce” ou “boa morte”, tem o fim de abreviar a
vida do doente terminal. É uma ação médica intencional com exclusiva finalidade benevolente de pessoa que
se encontre em situação irreversível e incurável, padecendo de intensos sofrimentos físicos e psíquicos. De
acordo com Lenza:
“Atualmente, não tendo ainda o STF apreciado a matéria, a eutanásia enseja a
prática do crime previsto no art. 121, § 1.º, CP, qual seja, homicídio privilegiado, já
que praticado por motivo de relevante valor moral e, por esse motivo, a prescrição

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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normativa da causa de diminuição de pena. Alguns autores o denominam


‘homicídio por piedade’.”

Acrescente-se que a eutanásia ativa não se confunde com a eutanásia passiva. Esta última consiste
na omissão de um tratamento que poderia garantir a continuidade da vida ao passo que a primeira é a ação
deliberada de matar (seja ministrando medicamento ou suprimindo tratamento já iniciado).
Suicídio assistido: em algumas situações, a pessoa doente em estágio terminal quer pôr fim ao seu
sofrimento, contudo, em virtude das suas debilidades, não tem condições de o fazer sem auxílio.
Ortotanásia: é uma prática sensível ao processo de humanização da morte, consistindo em uma
aceitação desta, permitindo que ela siga seu curso. Visa aliviar as dores sem incorrer em prolongamentos
abusivos que imponham sofrimentos adicionais. Para a doutrina, seria uma forma de eutanásia ativa indireta
em que os mecanismos de sustentação artificial da vida são retirados ou de eutanásia passiva, onde não se
inicia uma ação médica. De acordo com Ingo Sarlet: “A ideia de bom senso, prudência e razoabilidade deve
ser considerada, deixando claro não haver, ao menos explicitamente, qualquer vedação constitucional ao
dito ‘direito de morrer com dignidade’ (...).”

B. DIREITO À IGUALDADE:

Está previsto no art. 5º, caput e inciso I, da CF/88:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...).

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta


Constituição;

a) Concepções da igualdade:
● Concepção formal: é a igualdade perante a lei e perante o Estado. Por essa concepção, a igualdade
impede que os indivíduos sejam tratados pelos poderes públicos de maneira diversa. Trata-se de
uma concepção estática e negativa, insuficiente para solucionar as desigualdades sociais;
● Concepção material: representa o tratamento igual dos iguais e o tratamento desigual daqueles em
situações desiguais. Por essa concepção, a igualdade deve adotar critérios distintivos justos e
razoáveis, de modo que os poderes públicos devem adotar medidas concretas para reduzir ou
compensar desigualdades.

IGUALDADE FORMAL IGUALDADE MATERIAL


É a igualdade perante a lei e perante o É o tratamento igual dos iguais e o
Estado, impedindo que os indivíduos sejam tratamento desigual aos desiguais na medida
tratados pelos poderes públicos de maneira em que se desigualam.
diversa
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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Deve adotar critérios distintivos justos e


razoáveis, de modo que os poderes públicos
devem adotar medidas concretas para
reduzir ou compensar desigualdades

Confira a dica da Professora Thaianne:

https://youtu.be/f6uK8WsoSnM

b) Dimensões da igualdade (NOVELINO, 2017, p. 340):

● Dimensão objetiva: é a igualdade compreendida como princípio material estruturante do Estado


brasileiro que impõe o tratamento igual para os iguais e desigual para os desiguais, bem como ações
voltadas à redução das desigualdades sociais e regionais;
● Dimensão subjetiva: confere a indivíduos e grupos posições jurídicas de caráter negativo (proteção
contra diferenciações ou igualizações arbitrárias) e de caráter positivo (direito a exigir determinadas
prestações materiais e jurídicas destinadas à redução de desigualdades).

Certo é que, no atual Estado Democrático de Direito, deve-se buscar, não somente a igualdade formal
(consagrada no liberalismo clássico), mas, principalmente, a igualdade material. Isso porque, no Estado social
ativo, efetivador dos direitos humanos, imagina-se uma igualdade mais real perante os bens da vida, diversa
daquela apenas formalizada em face da lei.
Vejamos alguns exemplos de ações afirmativas (discriminações positivas/medidas de compensação)
reconhecidas pelo STF:

◘ Cotas raciais:
O STF, na ADPF 186, considerou constitucional a política de cotas étnico-raciais para seleção de
estudantes da Universidade de Brasília (UnB). Além disso, o STF declarou o reconhecimento da
proclamação na Constituição da igualdade material, sendo que, para assegurá-la, “o Estado poderia lançar
mão de políticas de cunho universalista — a abranger número indeterminado de indivíduos — mediante
ações de natureza estrutural; ou de ações afirmativas — a atingir grupos sociais determinados — por meio

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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da atribuição de certas vantagens, por tempo limitado, para permitir a suplantação de desigualdades
ocasionadas por situações históricas particulares.
Ainda, o STF declarou que “é constitucional a reserva de 20% das vagas oferecidas nos concursos
públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública direta
e indireta. É legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de heteroidentificação,
desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditório e a ampla defesa”. STF.
Plenário. ADC 41/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/6/2017 (Info 868).

◘ PROUNI – Programa Universidade para Todos:


O STF julgou constitucional o PROUNI, como importante fator de inserção social e cumprimento do
art. 205 da CF/88, que estabeleceu ser a educação direito de todos e dever do Estado e da família. Ainda, o
programa encontra-se em sintonia com diversos dispositivos da Constituição que estabelecem a redução de
desigualdades sociais.

◘ Lei Maria da Penha:


O STF julgou procedente a ADC 19, para declarar a constitucionalidade dos arts. 1.º, 33 e 41 da Lei n.
11.340/2006 (Lei Maria da Penha), tendo por fundamento o princípio da igualdade, bem como o combate ao
desprezo às famílias, sendo considerada a mulher a sua célula básica.
Na mesma assentada, por maioria e nos termos do voto do Relator, o STF julgou procedente a ADI
4.424, para, dando interpretação conforme os arts. 12, I, e 16, ambos da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da
Penha), declarar a natureza incondicionada da ação penal em caso de crime de lesão, pouco importando a
extensão desta, praticado contra a mulher no ambiente doméstico.

C. DIREITO À DIGNIDADE HUMANA:


É um valor, um princípio, servindo como parâmetro para a definição dos direitos formal e
materialmente fundamentais.

ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL5


- Inspiração: Corte Constitucional Colombiana.
- Definição: Quadro insuportável de violação massiva de direitos fundamentais, agravado pela inércia
continuada das autoridades.
- Pressupostos:
● Violação generalizada e sistemática de direitos fundamentais;
● Inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a
conjuntura;
● Situação que exige a atuação de uma pluralidade de autoridades públicas.

5
Para aprofundamento do julgado: http://www.dizerodireito.com.br/2015/09/entenda-decisao-do-stf-sobre-
o-sistema.html
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Caiu na prova Delegado RJ/2022! A respeito da figura denominada Estado de coisas inconstitucional, é
correto afirmar que: encontra fundamento nos casos de inadimplemento reiterado de direitos
fundamentais pelos poderes do Estado, sem que haja possibilidade de remédio para vias tradicionais,
ocasião em que o tribunal assume o papel de coordenador de políticas públicas por meio da denominada
tutela estruturante.

Análise pelo STF em ADPF (PSOL X União e Estados) – Concessão parcial de liminar para:
● Obrigar a União a liberar o saldo acumulado no FUNPEN;
● Implementação pelos juízes e Tribunais da audiência de custódia, no máximo em 90 (noventa) dias;

● Responsabilidade dos três poderes e de todos os entes Federativos.
● No julgado, entendeu-se que incumbiria ao STF retirar os demais poderes da inércia, coordenando ações
para resolver os problemas e monitorar resultados. Porém, NÃO cabe ao Judiciário definir o conteúdo
dessas políticas públicas (ex: medidas judiciais para abater o tempo de prisão).

Por unanimidade dos votos, o Plenário do STF reconheceu a existência de um cenário de violação massiva de
direitos fundamentais no sistema prisional brasileiro, em que são negados aos presos, por exemplo, os
direitos à integridade física, alimentação, higiene, saúde, estudo e trabalho. Afirmou-se que a atual situação
das prisões compromete a capacidade do sistema de cumprir os fins de garantir a segurança pública e
ressocializar os presos. Com o objetivo de superar tal situação, o STF determinou um conjunto de medidas a
serem adotadas pelo Poder Público. Entre tais medidas, fixou-se prazo para que a União, Estados e Distrito
Federal, com participação do CNJ, elaborem (em até 6 meses) e executem (em até 3 anos) planos para
resolver a situação em suas respectivas unidades. Os prazos para os Estados e o Distrito Federal correrão
após a aprovação do plano federal. Tais planos devem tratar dos três problemas principais do sistema, a
saber: (1) vagas insuficientes e de má qualidade, (2) entrada excessiva de presos (em casos em que a prisão
não é necessária) e (3) saída atrasada de presos (com cumprimento da pena por tempo maior do que a
condenação). Os planos deverão ser aprovados pelo STF e terão sua execução monitorada pelo CNJ, também
com a supervisão do STF. ADPF 347 julgada em 04/10/2023.

Ainda sobre a violação de direitos humanos e o estado de coisas inconstitucional, o STF decidiu (ADPF
976 MC-Ref/DF, Info 1105), em relação à população em situação de rua, que: estão presentes os
pressupostos necessários para a concessão da medida cautelar (fumaça do bom direito e perigo da demora
na efetivação de uma decisão judicial), eis que: (i) a discussão acerca das condições precárias de vida da
população em situação de rua no Brasil demanda uma reestruturação institucional que decorre de um quadro
grave e urgente de desrespeito a direitos humanos fundamentais; e (ii) a violação maciça de direitos humanos
— a indicar um potencial estado de coisas inconstitucional — impele o Poder Judiciário a intervir, mediar e
promover esforços para estabelecer uma estrutura adequada de enfrentamento.
Nesse sentido, a Corte afirmou que atenção à população em situação de rua deve ser realizada com
o intuito de: (i) evitar a entrada nas ruas; (ii) garantir direitos enquanto o indivíduo está em situação de rua;
e (iii) promover condições para a saída das ruas.

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

No âmbito da medida cautelar em análise, também se consideraram, entre outros fatores: (i) os
desafios do retorno da população em situação de rua à educação escolar, que vão além da falta de acesso a
programas; (ii) os obstáculos relacionados à reinserção no mercado de trabalho; (iii) a “aporofobia”,
entendida como violadora dos objetivos fundamentais, em especial o relacionado ao combate a todas as
formas de discriminação (CF/1988, art. 3º, IV); (iv) o direito à identidade além do mero registro; (v) o
acolhimento institucional e o direito fundamental à moradia; (vi) a presença de atos comissivos e omissivos,
imputados a agentes públicos e pessoas privadas, que atentam flagrantemente contra a dignidade dessa
população; (vii) a necessidade de medidas paliativas que impulsionem a construção de respostas estatais
duradouras; e (viii) a necessidade de elaboração de um estudo capaz de delinear todas as nuances que
permeiam o problema crônico social em debate, para evitar políticas desassociadas do espaço e do tempo
de aplicação.
Nesse contexto, os estados, o Distrito Federal e os municípios devem, de modo imediato, observar,
obrigatoriamente e independentemente de adesão formal, as diretrizes contidas no Decreto federal
7.053/2009, que institui a Política Nacional para a População em Situação de Rua, em conjunto e nos moldes
das determinações estabelecidas na decisão da Corte.

Sistema prisional brasileiro: estado de coisas inconstitucional decorrente da violação grave e massiva
de direitos fundamentais - ADPF 347/DF (Info 1111, STF)

De acordo com o STF, há um estado de coisas inconstitucional no sistema carcerário brasileiro,


responsável pela violação massiva de direitos fundamentais dos presos. Tal estado de coisas demanda a
atuação cooperativa das diversas autoridades, instituições e comunidade para a construção de uma solução
satisfatória. Diante disso, União, Estados e Distrito Federal, em conjunto com o Departamento de
Monitoramento e Fiscalização do Conselho Nacional de Justiça (DMF/CNJ), deverão elaborar planos a serem
submetidos à homologação do Supremo Tribunal Federal, especialmente voltados para o controle da
superlotação carcerária, da má qualidade das vagas existentes e da entrada e saída dos presos.
Ainda de acordo com o que decidiu a Corte, o CNJ realizará estudo e regulará a criação de número
de varas de execução penal proporcional ao número de varas criminais e ao quantitativo de presos.
A situação de grave violação em massa de direitos fundamentais dos presos enseja o reconhecimento
de um estado de coisas inconstitucional do sistema prisional brasileiro. A superação desse problema de
natureza estrutural exige do Poder Público a elaboração de um plano nacional e de planos locais que
prevejam um conjunto de medidas e a participação de diversas autoridades e entidades da sociedade.
Conforme ressaltou a Corte, a proteção dos direitos fundamentais é inerente à condição humana.
Assim, tem-se que tanto as normas constitucionais como os tratados internacionais de direitos humanos
de que o Brasil é parte proíbem a existência de penas cruéis, garantem ao preso o respeito à sua integridade
física e moral, bem como preveem que a pena será cumprida em estabelecimentos distintos de acordo com
a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado.
A LEP estabelece, em seus arts. 40, 41 e 126, devem ser asseguradas ao condenado assistência
material, jurídica, educacional, social, religiosa, além do acesso à saúde, aos alojamentos com ocupação e
dimensões adequadas, ao trabalho e ao estudo.

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Assim, considerando que a superlotação dos presídios, o descontrole na entrada e as condições da


saída do sistema prisional, e a má qualidade das vagas disponibilizadas impedem a prestação de serviços
bens essenciais que integram o mínimo existencial comprometem a capacidade do sistema em cumprir
seus fins de ressocialização e de funcionar a favor da segurança pública, a ADPF 347/DF foi julgada
parcialmente procedente para:

a. reconhecer o estado de coisas inconstitucional do sistema carcerário brasileiro;

b. determinar que juízes e tribunais:


(b.1) realizem audiências de custódia, preferencialmente de forma presencial, de modo a viabilizar o
comparecimento do preso perante a autoridade judiciária em até 24 horas contadas do momento da prisão;
(b.2) fundamentem a não aplicação de medidas cautelares e penas alternativas à prisão, sempre que
possíveis, tendo em conta o quadro dramático do sistema carcerário;

c. ordenar a liberação e o não contingenciamento dos recursos do FUNPEN;

d. determinar a elaboração de plano nacional e de planos estaduais e distrital para a superação do estado
de coisas inconstitucional, com indicadores que permitam acompanhar sua implementação;

e. estabelecer que o prazo para apresentação do plano nacional será de até 6 (seis) meses, a contar da
publicação desta decisão, e de até 3 anos, contados da homologação, para a sua implementação, conforme
cronograma de execução a ser indicado no próprio plano;

f. estabelecer que o prazo para apresentação dos planos estaduais e distrital será de 6 meses, a contar da
publicação da decisão de homologação do plano nacional pelo STF, e implementado em até 3 anos,
conforme cronograma de execução a ser indicado no próprio plano local;

g. prever que a elaboração do plano nacional deverá ser efetuada, conjuntamente, pelo DMF/CNJ e pela
União, em diálogo com instituições e órgãos competentes e entidades da sociedade civil, nos termos
explicitados acima e observada a importância de não alongar excessivamente o feito;

h. explicitar que a elaboração dos planos estaduais e distrital se dará pelas respectivas unidades da
federação, em respeito à sua autonomia, observado, todavia, o diálogo com o DMF, a União, instituições e
órgãos competentes e entidades da sociedade civil, nos moldes e em simetria ao diálogo estabelecido no
plano nacional;

i. prever que, em caso de impasse ou divergência na elaboração dos planos, a matéria será submetida ao
STF para decisão complementar;

j. estabelecer que todos os planos deverão ser levados à homologação do Supremo Tribunal Federal, de
forma a que se possa assegurar o respeito à sua decisão de mérito;
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

k. determinar que o monitoramento da execução dos planos seja efetuado pelo DMF/CNJ, com a supervisão
necessária do STF, cabendo ao órgão provocar o tribunal, em caso de descumprimento ou de obstáculos
institucionais insuperáveis que demandem decisões específicas de sua parte; e

l. estipular que os planos devem prever, entre outras, as medidas examinadas neste voto, observadas as
diretrizes gerais dele constantes, sendo exequíveis aquelas que vierem a ser objeto de homologação final
pelo STF em segunda etapa.

IMPORTANTE: Transexuais e travestis com identificação com gênero feminino poderão optar por cumprir
pena em presídio feminino ou masculino.
Em 19.03.2021, o ministro Luís Roberto Barroso ajustou os termos de medida cautelar deferida em
junho de 2019, na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 527, de modo a determinar
que presas transexuais e travestis com identidade de gênero feminino podem optar por cumprir penas em
estabelecimento prisional feminino ou masculino. Nesse último caso, elas devem ser mantidas em área
reservada, como garantia de segurança.
De acordo com Barroso, e mencionando os Princípios de Yogyakarta (número 9), no Brasil, o direito
das transexuais femininas e travestis ao cumprimento de pena em condições compatíveis com a sua
identidade de gênero decorre, em especial, dos princípios constitucionais do direito à dignidade humana,
à autonomia, à liberdade, à igualdade, à saúde, e da vedação à tortura e ao tratamento degradante e
desumano. Decorre também da jurisprudência consolidada no STF no sentido de reconhecer o direito desses
grupos a viver de acordo com a sua identidade de gênero e a obter tratamento social compatível com ela.
Fonte: Site do STF

D. DIREITO À SAÚDE
A saúde é direito de todos e dever do Estado (art. 196 da CF/88), sendo assegurada por meio de
políticas sociais e econômicas que busquem:
● A redução do risco de doença e de outros agravos; e
● O acesso universal e igualitário às ações e serviços voltados à sua promoção, proteção e
recuperação.

Quando se fala na dimensão objetiva do direito à saúde, isso significa que, independentemente de
um caso concreto, existe um dever jurídico geral do Poder Público de concretizar medidas para garantir as
políticas públicas de saúde.
De acordo com Lenza, assim como os demais direitos sociais, tal direito possui duas vertentes. Uma
positiva, onde se fomenta um Estado prestacionista para implementar o direito social; e outra negativa, onde
o Estado ou particular devem se abster da prática de atos que sejam prejudiciais a terceiros.
Cuidar da saúde da população é uma competência COMUM que deve ser exercida por todos os entes
federados.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

CRFB, Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios:
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas
portadoras de deficiência;

Quando se fala em “cuidar da saúde” isso abrange, obviamente, adotar medidas para salvar vidas e
garantir a higidez física das pessoas ameaçadas ou acometidas pelo novo coronavírus (Covid-19). Vale
relembrar que, no plano administrativo, esse dever é materializado por meio do Sistema Único de Saúde –
SUS, previsto no art. 198, da CF/88:

Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as
seguintes diretrizes:
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem
prejuízo dos serviços assistenciais;
III - participação da comunidade.

O SUS é compatível com o federalismo cooperativo, adotado pelo Brasil, segundo o qual existe um
entrelaçamento de competências e atribuições dos diferentes níveis governamentais. Veja a explicação do
Professor Márcio Cavalcante:

A União tem o papel de coordenar as atividades do setor: A União exerce aquilo que a doutrina
denomina de “competência de cooperação” e que consiste na obrigação constitucional de “planejar e
promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações”
(art. 21, XVIII, CF/88). Assim, compete à União assumir a coordenação das atividades do setor, incumbindo-
lhe, em especial, “executar ações de vigilância epidemiológica e sanitária em circunstâncias especiais, como
na ocorrência de agravos inusitados à saúde, que possam escapar do controle da direção estadual do SUS ou
que representem risco de disseminação nacional”, conforme estabelece o disposto no art. 16, III, “a”, e
parágrafo único, da Lei nº 8.080/90 (Lei Orgânica da Saúde).

Estados-membros, DF e Municípios também podem atuar para suprir lacunas ou omissões: Não
obstante constitua incumbência do Ministério da Saúde coordenar o PNI, tal atribuição não exclui a
competência dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios de também atuarem porque se trata,
conforme já explicado, de competência comum (art. 23, II, da CF/88). O ideal é que todas as vacinas seguras
e eficazes sejam incluídas no PNI e que a União coordene nacionalmente o programa, de maneira a imunizar
uniforme e tempestivamente toda a população. No entanto, o STF entende que é possível a atuação conjunta
das autoridades estaduais e locais para o enfrentamento da covid, especialmente para suprir lacunas ou
omissões do governo federal.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Nesse sentido, considerando a imensa relevância sobre o tema, é importantíssimo ficar atento às
jurisprudências pertinentes:
◘ São atípicas as condutas de submeter-se à vacinação contra covid-19 em local diverso do
agendado e/ou com aplicação de imunizante diverso do reservado e/ou de submeter-se à
vacinação sem a realização de agendamento.

(Caso Wesley Safadão)


No caso, o Tribunal de origem considerou que as condutas de submeter-se à
vacinação contra covid-19 em local diverso do agendado, com aplicação de
imunizante diverso do reservado e sem a realização de agendamento subsumir-se-
iam, em tese, aos tipos penais previstos nos arts. 312 (peculato) e 317, § 2º
(corrupção passiva), do Código Penal.
Essas condutas não se amoldam aos tipos em questão, em especial porque
ausentes os elementos objetivos (verbos nucleares) contidos no art. 312 do Código
Penal. Não houve apropriação, tampouco desvio de doses de vacina contra a covid-
19, já que destinadas à população em geral, grupo em que se enquadram os
pacientes, uma vez que tinham o direito de ser vacinados (embora em local ou
momento diverso). A saúde é um direito de todos, direito social que é assegurado
pelo art. 6º da Carta Constitucional.
De igual forma, é atípica a conduta de corrupção passiva na forma do § 2º
(modalidade privilegiada) do art. 317 do Código Penal, porquanto, na modalidade
privilegiada do tipo em questão, criminaliza-se, de maneira mais branda, a conduta
do agente que pratica ato de ofício, com violação de dever funcional a pedido de
alguém que exerce algum tipo de influência sobre sua atuação, sem solicitação ou
recebimento de vantagem ilícita. STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 160.947-CE, Rel. Min.
João Otávio de Noronha, julgado em 27/09/2022 (Info 752)

◘ Em ação que pretende o fornecimento de medicamento registrado na ANVISA, ainda que não
incorporado em atos normativos do SUS, é prescindível a inclusão da União no polo passivo da
demanda.

O Supremo Tribunal Federal, ao apreciar o Tema 793 da Repercussão Geral, fixou


tese no sentido de que "os entes da federação, em decorrência da competência
comum, são solidariamente responsáveis nas demandas prestacionais na área da
saúde, e diante dos critérios constitucionais de descentralização e hierarquização,
compete à autoridade judicial direcionar o cumprimento conforme as regras de
repartição de competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o ônus
financeiro" (STF, EDcl no RE 855.178/SE, Rel. p/ acórdão Ministro Edson Fachin,
Pleno, DJe 16/04/2020).
STJ. RMS 68.602-GO, Rel. Min. Assusete Magalhães, Segunda Turma, por
unanimidade, julgado em 26/04/2022, DJe 29/04/2022.(Info 734)
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

◘ Não se pode utilizar verbas do Fundeb para combater a pandemia da Covid-19.


Ainda que se reconheça a gravidade da pandemia da Covid-19 e os seus impactos
na economia e nas finanças públicas, nada justifica o emprego de verba
constitucionalmente vinculada à manutenção e desenvolvimento do ensino básico
para fins diversos da que ela se destina. STF. Plenário. ADI 6490/PI, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 18/2/2022 (Info 1044).

◘ Estados, Distrito Federal e Municípios podem importar vacinas?

Nas exatas palavras do STF: os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no caso


de descumprimento do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra
a Covid-19 ou na hipótese de cobertura imunológica intempestiva e insuficiente,
poderão dispensar às respectivas populações: a) vacinas das quais disponham,
previamente aprovadas pela Anvisa; e b) no caso não expedição da autorização
competente, no prazo de 72 horas, vacinas registradas por pelo menos uma das
autoridades sanitárias estrangeiras e liberadas para distribuição comercial nos
respectivos países, bem como quaisquer outras que vierem a ser aprovadas, em
caráter emergencial. STF. Plenário. ADPF 770 MC-Ref/DF e ACO 3451 MC-Ref/MA,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/2/2021 (Info 1006).

◘ Poder Público pode determinar a vacinação compulsória contra a Covid-19 (o que é diferente de
vacinação forçada)

A tese fixada foi a seguinte: (A) A vacinação compulsória não significa vacinação
forçada, por exigir sempre o consentimento do usuário, podendo, contudo, ser
implementada por meio de medidas indiretas, as quais compreendem, dentre
outras, a restrição ao exercício de certas atividades ou à frequência de
determinados lugares, desde que previstas em lei, ou dela decorrentes, e (i) tenham
como base evidências científicas e análises estratégicas pertinentes, (ii) venham
acompanhadas de ampla informação sobre a eficácia, segurança e contraindicações
dos imunizantes, (iii) respeitem a dignidade humana e os direitos fundamentais das
pessoas; (iv) atendam aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade, e (v)
sejam as vacinas distribuídas universal e gratuitamente; e (B) tais medidas, com as
limitações acima expostas, podem ser implementadas tanto pela União como pelos
Estados, Distrito Federal e Municípios, respeitadas as respectivas esferas de
competência. STF. Plenário. ADI 6586, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
17/12/2020.

◘ É ilegítima a recusa dos pais à vacinação compulsória de filho menor por motivo de convicção filosófica

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

É constitucional a obrigatoriedade de imunização por meio de vacina que,


registrada em órgão de vigilância sanitária, (i) tenha sido incluída no Programa
Nacional de Imunizações ou (ii) tenha sua aplicação obrigatória determinada em lei
ou (iii) seja objeto de determinação da União, estado, Distrito Federal ou município,
com base em consenso médico-científico. Em tais casos, não se caracteriza violação
à liberdade de consciência e de convicção filosófica dos pais ou responsáveis, nem
tampouco ao poder familiar. STF. Plenário. ARE 1267879/SP, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 16 e 17/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 1103) (Info 1003).

◘ União não pode requisitar seringas e agulhas que já foram contratadas pelo Estado-membro para o
plano estadual de imunização e que ainda estão na indústria, apesar de já terem sido empenhados

É incabível a requisição administrativa, pela União, de bens insumos contratados


por unidade federativa e destinados à execução do plano local de imunização, cujos
pagamentos já foram empenhados. A requisição administrativa não pode se voltar
contra bem ou serviço de outro ente federativo. Isso para que não haja indevida
interferência na autonomia de um sobre outro. STF. Plenário. ACO 3463 MC-Ref/SP,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 8/3/2021 (Info 1008).

◘ STF determinou que governo deveria detalhar a ordem de preferência na vacinação dentro dos grupos
prioritários (quem deveria ser vacinado primeiro dentro do grupo prioritário)

A pretensão de que sejam editados e publicados critérios e subcritérios de


vacinação por classes e subclasses no Plano de Vacinação, assim como a ordem de
preferência dentro de cada classe e subclasse, encontra arrimo: • nos princípios da
publicidade e da eficiência que regem a Administração Pública (art. 37, da CF/88);
• no direito à informação que assiste aos cidadãos em geral (art. 5º, XXXIII, e art.
37, § 2º, II); • na obrigação da União de “planejar e promover a defesa permanente
contra as calamidades públicas” (art. 21, XVII); • no dever incontornável cometido
ao Estado de assegurar a inviolabilidade do direito à vida (art. 5º, caput), traduzida
por uma “existência digna” (art. 170); e • no direito à saúde (art. 6º e art. 196). STF.
Plenário. ADPF 754 TPI-segunda-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 27/2/2021 (Info 1007).

◘ É dever do Poder Público elaborar e implementar plano para o enfrentamento da pandemia COVID-
19 nas comunidades quilombolas

O STF determinou que a União elaborasse plano de combate à Covid-19 para


população quilombola, com a participação de representantes da Coordenação
Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – Conaq.
Além disso, o STF deferiu pedido para suspender os processos judiciais,
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

notadamente ações possessórias, reivindicatórias de propriedade, imissões na


posse, anulatórias de processos administrativos de titulação, bem como os recursos
vinculados a essas ações, sem prejuízo dos direitos territoriais das comunidades
quilombolas até o término da pandemia. STF. Plenário. ADPF 742/DF, Rel. Min.
Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 24/2/2021 (Info
1006).

◘ STF determina que governo federal adote medidas para conter o avanço da Covid-19 entre indígenas

O Min. Roberto Barroso (relator) deferiu parcialmente a medida cautelar para que
a União implemente, em resumo, as seguintes providências: Quanto aos povos
indígenas em isolamento ou povos indígenas de recente contato: 1. Criação de
barreiras sanitárias, que impeçam o ingresso de terceiros em seus territórios; 2.
Criação de Sala de Situação, para gestão de ações de combate à pandemia quanto
aos Povos Indígenas em Isolamento e de Contato Recente. Quanto aos povos
indígenas em geral: 1. Inclusão de medida emergencial de contenção e isolamento
dos invasores em relação às comunidades indígenas ou providência alternativa,
apta a evitar o contato. 2. Imediata extensão dos serviços do Subsistema Indígena
de Saúde. 3. Elaboração e monitoramento de um Plano de Enfrentamento da
COVID-19 para os Povos Indígenas Brasileiros pela União. O Plenário do STF
referendou a medida cautelar concedida. STF. Plenário. ADPF 709 Ref-MC/DF, Rel.
Min. Roberto Barroso, julgado em 3 e 5/8/2020 (Info 985).

Ademais, o Poder Judiciário pode determinar, ante injustificável inércia estatal, que o Poder
Executivo adote medidas necessárias à concretização de direitos constitucionais dos indígenas: Não
procede o argumento de ingerência indevida do Poder Judiciário nas diretrizes de políticas públicas,
notadamente quando se cuida de reconhecer a omissão estatal na adoção de providências específicas (arts.
26 e 27 da Lei n. 6.001/1973) para a concretização de direitos constitucionais dos indígenas (art. 231 da
CF/1988). Com efeito, segundo a jurisprudência do STJ, quando configurada hipótese de injustificável inércia
estatal e não houver comprovação objetiva da incapacidade econômico-financeira do ente público, o Poder
Judiciário pode determinar que o Poder Executivo adote medidas necessárias ao cumprimento dos direitos
e garantias fundamentais, nos termos previstos no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal. STJ. REsp
1.623.873-SE, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 26/04/2022, DJe
28/04/2022. (Info 734)

Ainda sobre a possibilidade de intervenção do Poder Judiciário em políticas públicas voltadas à saúde:

A intervenção do Poder Judiciário em políticas públicas voltadas à realização de


direitos fundamentais, em caso de ausência ou deficiência grave do serviço, não
viola o princípio da separação dos Poderes. 2. A decisão judicial, como regra, em
lugar de determinar medidas pontuais, deve apontar as finalidades a serem
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

alcançadas e determinar à Administração Pública que apresente um plano e/ou os


meios adequados para alcançar o resultado; 3. No caso de serviços de saúde, o
déficit de profissionais pode ser suprido por concurso público ou, por exemplo, pelo
remanejamento de recursos humanos e pela contratação de organizações sociais
(OS) e organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP). RE 684.612/RJ,
relator Ministro Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Ministro Roberto
Barroso, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023. (Info 1101, STF)

E. DIREITO À INTEGRIDADE

A Carta Magna proíbe a prática de lesões, psíquica e moral (provocação de dor interna e sofrimento).
Ademais, veda a prática da tortura, bem como qualquer tipo de comercialização de órgãos, tecidos e
substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento (art. 199, §4º).

F. PROIBIÇÃO DA TORTURA
Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante
(art. 5º, III, da CF/88).

● Não esquecer que parcela da doutrina defende que o direito de não ser torturado é um exemplo de
direito fundamental absoluto, sendo uma exceção à característica da relatividade dos direitos
fundamentais.

● Uso de algemas e a Súmula Vinculante 11: “o uso legítimo de algemas não é arbitrário, sendo de
natureza excepcional, a ser adotado nos casos e com as finalidades de impedir, prevenir ou dificultar a
fuga ou reação indevida do preso, desde que haja fundada suspeita ou justificado receio de que tanto
venha a ocorrer, e para evitar agressão do preso contra os próprios policiais, contra terceiros ou contra
si mesmo. O emprego dessa medida tem como balizamento jurídico necessário os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade” (HC 89.429, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 22.08.2006, DJ de
02.02.2007).

Súmula Vinculante nº 11: Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de


fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte
do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade
da prisão ou do ato processo a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil
do Estado.

G. DIREITO À PRIVACIDADE – DIMENSÕES

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Art. 5°, X, da CRFB - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação;

● Intimidade: é o direito de estar só (right to be alone) e o direito de ser deixado em paz.


● Vida privada: é o direito do indivíduo de ser do modo que quiser, sem a intervenção de outrem.
● Honra: ligada à honra objetiva (visão da sociedade) e honra subjetiva (visão da própria pessoa).
● Imagem: é a representação da pessoa, por meio de desenhos, fotografias.

É incompatível com a Constituição a ideia de um direito ao esquecimento, assim


entendido como o poder de obstar, em razão da passagem do tempo, a divulgação
de fatos ou dados verídicos e licitamente obtidos e publicados em meios de
comunicação social analógicos ou digitais. Eventuais excessos ou abusos no
exercício da liberdade de expressão e de informação devem ser analisados caso a
caso, a partir dos parâmetros constitucionais – especialmente os relativos à
proteção da honra, da imagem, da privacidade e da personalidade em geral – e as
expressas e específicas previsões legais nos âmbitos penal e cível. STF. Plenário. RE
1010606/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/2/2021 (Repercussão Geral –
Tema 786) (Info 1005).

O direito à retratação e ao esclarecimento da verdade possui previsão na


Constituição da República e na Lei Civil, não tendo sido afastado pelo Supremo
Tribunal Federal no julgamento da ADPF 130/DF. O princípio da reparação integral
(arts. 927 e 944 do CC) possibilita o pagamento da indenização em pecúnia e in
natura, a fim de se dar efetividade ao instituto da responsabilidade civil. Dessa
forma, é possível que o magistrado condene o autor da ofensa a divulgar a sentença
condenatória nos mesmos veículos de comunicação em que foi cometida a ofensa
à honra, desde que fundamentada em dispositivos legais diversos da Lei de
Imprensa. STJ. 3ª Turma. REsp 1771866-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 12/02/2019 (Info 642). Fonte: Dizer o Direito

É legítimo, desde que observados alguns parâmetros, o compartilhamento de


dados pessoais entre órgãos e entidades da Administração Pública federal, sem
qualquer prejuízo da irrestrita observância dos princípios gerais e mecanismos de
proteção elencados na Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei nº
13.709/2018) e dos direitos constitucionais à privacidade e proteção de dados. STF.
Plenário. ADI 6649/DF e ADPF 695/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em
15/9/2022 (Info 1068).

● Privacidade e sigilo bancário e fiscal: o STF admite a quebra do sigilo pelo Judiciário ou por CPI (federal
ou estadual, mas não municipal), mas resiste a que o MP possa requisitá-la diretamente, por falta de
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

autorização legal específica, salvo a hipótese de existir procedimento administrativo investigando


utilização indevida de patrimônio público.

LC 105/2001 E QUEBRA DE SIGILO PELA ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA6


- A Lei Complementar n.º 105/2001 atribui a agentes tributários, no exercício do poder de fiscalização, o
poder de requisitar informações referentes à operação e serviços das instituições financeiras,
independente de autorização judicial. Inicialmente, nos autos do RE 389808, o STF entendeu NÃO ser
possível o afastamento do sigilo.

- O STF entendeu possível o repasse das informações dos bancos para o Fisco, pelos seguintes argumentos,
pois as informações são remetidas ao Fisco em caráter sigiloso e permanecem de forma sigilosa na
Administração Tributária, inacessível a terceiros, não pode ser considerado violação do sigilo.

É constitucional a requisição, sem prévia autorização judicial, de dados bancários


e fiscais considerados imprescindíveis pelo Corregedor Nacional de Justiça para
apurar infração de sujeito determinado, desde que em processo regularmente
instaurado mediante decisão fundamentada e baseada em indícios concretos da
prática do ato. STF. Plenário. ADI 4709/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em
27/5/2022 (Info 1056).

Dados obtidos com a quebra de sigilo bancário não podem ser divulgados
abertamente em site oficial.
Os dados obtidos por meio da quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal devem
ser mantidos sob reserva. Assim, a página do Senado Federal na internet não pode
divulgar os dados obtidos por meio da quebra de sigilo determinada por comissão
parlamentar de inquérito (CPI). STF. Plenário. MS 25940, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 26/4/2018 (Info 899).

● Privacidade, produção de relatórios de inteligência e vinculação ao interesse público – ADPF


722/DF:

Os órgãos do Sistema Brasileiro de Inteligência, conquanto necessários para a


segurança pública, segurança nacional e garantia de cumprimento eficiente dos
deveres do Estado, devem operar com estrita vinculação ao interesse público,
observância aos valores democráticos e respeito aos direitos e garantias
fundamentais. Nesse contexto, caracterizam desvio de finalidade e abuso de poder
a colheita, a produção e o compartilhamento de dados, informações e
conhecimentos específicos para satisfazer interesse privado de órgão ou de agente

6
Para aprofundamento, sugerimos leitura do julgado comentado pelo Dizer o Direito:
http://www.dizerodireito.com.br/2016/02/a-receita-pode-requisitar-das.html
153
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

público Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou


procedente o pedido para confirmar a medida cautelar e declarar inconstitucionais
atos do Ministério da Justiça e Segurança Pública de produção ou
compartilhamento de informações sobre a vida pessoal, as escolhas pessoais e
políticas, e as práticas cívicas de cidadãos, servidores públicos federais, estaduais e
municipais identificados como integrantes de movimento político, professores
universitários e quaisquer outros que, atuando nos limites da legalidade, exerçam
seus direitos de livremente expressar-se, reunir-se e associar-se. STF, ADPF 722,
Plenário, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento 13.5.2022.

H. INVIOLABILIDADE DE DOMICÍLIO:

Art. 5°, XI, da CRFB - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial

● A casa é asilo inviolável. Qual é o conceito de casa?


R.: Segundo o STF e doutrina, casa abrange não só o domicílio como também todo lugar privativo,
ocupado por alguém, com direito próprio e de maneira exclusiva, mesmo sem caráter definitivo ou habitual.

STF - “Para os fins da proteção jurídica a que se refere o art. 5.º, XI, da Constituição
da República, o conceito normativo de ‘casa’ revela-se abrangente e, por estender-
se a qualquer aposento de habitação coletiva, desde que ocupado (CP, art. 150, §
4.º, II), compreende, observada essa específica limitação espacial, os quartos de
hotel (...)” (RHC 90.376)
A abrangência do conceito alcança:
▪ O escritório de trabalho
▪ O estabelecimento industrial
▪ Clube recreativo
▪ Quarto de hotel

É lícita a entrada de policiais, sem autorização judicial e sem o consentimento do


hóspede, em quarto de hotel, desde que presentes fundadas razões da ocorrência
de flagrante delito.
O STJ afirmou que, embora o quarto de hotel regularmente ocupado seja,
juridicamente, qualificado como “casa” para fins de tutela constitucional da
inviolabilidade domiciliar (art. 5º, XI), a exigência, em termos de standard
probatório, para que policiais ingressem em um quarto de hotel sem mandado
judicial não pode ser igual às fundadas razões exigidas para o ingresso em uma
residência propriamente dita, a não ser que se trate (o quarto de hotel) de um local

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

de moradia permanente do suspeito. STJ. 6ª Turma. HC 659.527-SP, Rel. Min.


Rogerio Schietti Cruz, julgado em 19/10/2021 (Info 715).

▪ Quarto de motel
▪ Automóveis quando usados para fins de moradia
▪ Barcos quando usados para fins de moradia.

Atenção:
O STJ possui jurisprudência entendendo que a habitação em prédio abandonado
de escola municipal pode caracterizar o conceito de domicílio em que incide a
proteção disposta no art. 5º, inciso XI da Constituição Federal (AgRg no HC 712.529-
SE).

STJ: A abordagem policial em estabelecimento comercial, ainda que a diligência


tenha ocorrido quando não havia mais clientes, é hipótese de local aberto ao
público, que não recebe a proteção constitucional da inviolabilidade do domicílio.
Consoante decidido no RE 603.616/RO, pelo Supremo Tribunal Federal, "a entrada
forçada em domicílio sem mandado judicial é lícita, mesmo em período noturno,
quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori,
que indiquem que, dentro da casa, ocorre situação de flagrante delito, sob pena
de responsabilidade disciplinar, civil, e penal do agente ou da autoridade e de
nulidade dos atos praticados". Todavia, no caso, verifica-se que os policiais
afirmaram que "havia uma investigação em andamento relativa a um roubo de
carga, tendo sido veiculada denúncia anônima dando conta de que parte do
carregamento subtraído estava nas dependências da borracharia pertencente ao
réu, diante do que procederam à diligência local".Desse modo, como se trata de
estabelecimento comercial - em funcionamento e aberto ao público - não pode
receber a proteção que a Constituição Federal confere à casa. Assim, não há
violação à garantia constitucional da inviolabilidade do domicílio, a caracterizar a
ocorrência de constrangimento ilegal (HC 754.789-RS, Rel. Ministro Olindo
Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região), Sexta Turma, por
unanimidade, julgado em 6/12/2022).

Caiu em prova Delegado RO/2022! Assinale a opção que contempla o entendimento do STF e do STJ acerca
da inviolabilidade de domicílio: A entrada forçada em residência, quando não justificada, sujeita o agente
policial à responsabilidade disciplinar, civil e penal (item correto).

▪ Bens públicos de uso especial não abertos ao público como gabinetes de prefeitos, gabinete do
delegado de polícia

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Inf. 549 do STJ (2014): Afirmou que o gabinete do delegado de polícia encontra-se
inserido no conceito de “casa” previsto no inciso III do §4º do art. 150 do CP. Logo,
invasão ao seu gabinete constitui crime de violação de domicílio.

CP, Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a


vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas
dependências:
§ 4º - A expressão "casa" compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou
atividade

* ATENÇÃO - Exceções ao direito à inviolabilidade do domicílio:


(1) Em caso de flagrante delito, a qualquer momento;
(2) Em caso de desastre ou para prestar socorro;
(3) Através de autorização judicial, durante o dia.

Fique atento à jurisprudência:

O ingresso regular da polícia no domicílio, sem autorização judicial, em caso de


flagrante delito, para que seja válido, necessita que haja fundadas razões (justa
causa) que sinalizem a ocorrência de crime no interior da residência. A mera
intuição acerca de eventual traficância praticada pelo agente, embora pudesse
autorizar abordagem policial, em via pública, para averiguação, não configura, por
si só, justa causa a autorizar o ingresso em seu domicílio, sem o seu consentimento
e sem determinação judicial. STJ. 6ª Turma. REsp 1574681-RS, Rel. Min. Rogério
Schietti Cruz, julgado em 20/4/2017 (Info 606).

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

META 4

DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS (PARTE II)

C) Direito às Liberdades

Abrange as liberdades física, de pensamento, de locomoção.

I. LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO – Art. 5º, IV e V, da CRFB

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;


V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização
por dano material, moral ou à imagem;

A Constituição assegurou a liberdade de manifestação do pensamento, vedando o anonimato. Se


durante a manifestação do pensamento se causar dano material, moral ou à imagem, assegura-se o direito
de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização.
Conforme salienta o autor Pedro Lenza, o inciso IV estabelece uma espécie de “cláusula geral” que,
em conjunto com outros dispositivos, asseguram a liberdade de expressão nas suas diversas manifestações:
a) liberdade de manifestação do pensamento (incluindo a liberdade de opinião);
b) liberdade de expressão artística;
c) liberdade de ensino e pesquisa;
d) liberdade de comunicação e de informação (liberdade de “imprensa”);
e) liberdade de expressão religiosa.

● “Hate speech” (discurso de ódio)– a liberdade de expressão não é absoluta. O modelo, portanto, de
solução é a ponderação, pautada pelo princípio da proporcionalidade. O STF, embora adote a tese
preferencial pela liberdade de expressão, certo é que não se trata de direito absolutamente infenso a
limites e restrições, desde que eventual restrição tenha caráter excepcional, seja promovido por lei e/ou
decisão judicial e tenha por fundamento a salvaguarda da dignidade da pessoa humana (que aqui se
opera como limite e aos limites de direitos fundamentais) e de direitos e bens jurídicos-constitucionais
individuais e coletivos fundamentais observados o critério da proporcionalidade e da preservação do
núcleo essencial dos direitos em conflito - LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, pg. 1183.

Caiu em prova Delegado MS/2021! O discurso de ódio (hate speech) configura abuso do direito fundamental
à liberdade de expressão, e o STF entende que a imunidade parlamentar material não pode ser utilizada para
atentar frontalmente contra a manutenção do Estado Democrático de Direito (item correto).

● Marcha da Maconha (ADPF 187) – as marchas da maconha vinham sendo reprimidas pela polícia, sob a
ótica de que elas geravam apologia ao crime, vez que o uso de maconha é criminalizado. Este
entendimento viola a liberdade de expressão, porque não se confunde a apologia à droga e o seu uso
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

com a defesa da descriminalização ou ainda da inconstitucionalidade da criminalização. Em um Estado


Democrático de Direito se entender que o povo não possa se manifestar pela descriminalização de
uma conduta, evidentemente é se viver em um Estado que não pode ser chamado de Democrático de
Direito. Em um regime que preza pela liberdade de expressão tem que dar a opção da população se
manifestar pela descriminalização de determinada conduta. Fundamentos trazidos pelo STF: livre
manifestação de pensamento, reunião e direito das minorias. Ademais, nas garantias dos direitos à
informação e de liberdade de expressão, viabilizados pelo direito de reunião e como emanação da
dignidade da pessoa humana, da democracia e da cidadania.

● Delação anônima (Inq. 1957) – o STF já decidiu não ser possível a utilização da denúncia anônima, pura
e simples, para a instauração de procedimento investigatório, por violar a vedação ao anonimato,
prevista no art. 5.º, IV, da CRFB. Nada impede, contudo, que o Poder Público provocado por delação
anônima adote medidas informais - com prudência e discrição - destinadas a apurar, previamente, em
averiguação sumária, a possível ocorrência de eventual situação de ilicitude penal, desde que o faça com
o objetivo de conferir a verossimilhança dos fatos nela denunciados, em ordem a promover, então, em
caso positivo, a formal instauração da persecutio criminis, mantendo-se, assim, completa desvinculação
desse procedimento estatal em relação às peças apócrifas”.

● Tatuagem e o concurso público – “as pigmentações de caráter permanente inseridas voluntariamente


em partes dos corpos dos cidadãos configuram instrumentos de exteriorização da liberdade de
manifestação do pensamento e de expressão, valores amplamente tutelados pelo ordenamento jurídico
brasileiro (CRFB/88, art. 5.°, IV e IX)”. Assim, “o Estado não pode desempenhar o papel de adversário da
liberdade de expressão, incumbindo-lhe, ao revés, assegurar que minorias possam se manifestar
livremente”.

Tema 838 da repercussão geral, fixou as seguintes teses: “(i) os requisitos do edital
para o ingresso em cargo, emprego ou função pública devem ter por fundamento
lei em sentido formal e material; (ii) os editais de concurso público não podem
estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo situações excepcionais em
razão de conteúdo que viole valores constitucionais” (RE 898.450, Plenário, Rel.
Min. Luiz Fux, j. 17.08.2016, DJE de 31.05.2017).

● Liberdade de expressão e imunidade parlamentar – Ressalta-se que os direitos fundamentais não


possuem caráter absoluto. A Segunda Turma do STF reafirmou esse entendimento ao entender que
a liberdade de expressão não alcança a prática de discursos dolosos, com intuito manifestamente
difamatório ou injurioso:

A liberdade de expressão não alcança a prática de discursos dolosos, com intuito


manifestamente difamatório, de juízos depreciativos de mero valor, de injúrias
em razão da forma ou de críticas aviltantes. É possível vislumbrar restrições à livre
manifestação de ideias, inclusive mediante a aplicação da lei penal, em atos,
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

discursos ou ações que envolvam, por exemplo, a pedofilia, nos casos de discursos
que incitem a violência ou quando se tratar de discurso com intuito
manifestamente difamatório. A garantia da imunidade parlamentar não alcança
os atos praticados sem claro nexo de vinculação recíproca entre o discurso e o
desempenho das funções parlamentares. Isso porque as garantias dos membros
do Parlamento são vislumbradas sob uma perspectiva funcional, ou seja, de
proteção apenas das funções consideradas essenciais aos integrantes do Poder
Legislativo, independentemente de onde elas sejam exercidas. No caso, os
discursos proferidos pelo querelado teriam sido proferidos com nítido caráter
injurioso e difamatório, de forma manifestamente dolosa, sem qualquer hipótese
de prévia provocação ou retorsão imediata capaz de excluir a tipificação, em tese,
dos atos descritos nas queixas-crimes. Com base nesses entendimentos, a Segunda
Turma, por maioria, ao dar provimento a agravos regimentais, recebeu queixas-
crimes pelos delitos dos arts. 139 e 140 do Código Penal. Pet 8242 AgR/DF, Pet 8259
AgR/DF, Pet 8262 AgR/DF, Pet 8263 AgR/DF, Pet 8267 AgR/DF e Pet 8366 AgR/DF,
relator Min. Celso de Mello, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, julgamento
em 3.5.2022.

● A liberdade de expressão existe para a manifestação de opiniões contrárias, jocosas, satíricas e até
mesmo errôneas, mas não para opiniões criminosas, discurso de ódio ou atentados contra o Estado
Democrático de Direito e a democracia. STF. AP 1044/DF, relator Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 20.4.2022 (Info 1051).

II. LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA, CRENÇA E CULTO – ART 5º, VI a VIII, da CRFB)

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre


exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de
culto e a suas liturgias;

VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas


entidades civis e militares de internação coletiva;

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de


convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal
a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Assegura-se a inviolabilidade da liberdade de consciência e de crença, sendo garantido o livre


exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

▪ Liberdade de crença: é a liberdade de pensamento de foro íntimo em questões de natureza


religiosa, incluindo o direito de professar ou não uma religião, de acreditar ou não na existência
de um, em nenhum ou em vários deuses (art. 5º, VI); e
▪ Liberdade de consciência em sentido estrito: é a liberdade de pensamento de foro íntimo em
questões não religiosas.

Obs.: o art. 5º, VII, da CF/88 também assegura, nos termos da lei, a prestação de assistência
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva.

É constitucional a instituição, por lei municipal, de feriado local para a


comemoração do Dia da Consciência Negra, a ser celebrado em 20 de novembro,
em especial porque a data representa um símbolo de resistência cultural e
configura ação afirmativa contra o preconceito racial. ADPF 634/SP, relatora
Ministra Cármen Lúcia, julgamento finalizado em 30.11.2022

É inconstitucional norma que proíbe proselitismo em rádios comunitárias


É inconstitucional o § 1º do art. 4º da Lei nº 9.612/98. Esse dispositivo proíbe, no
âmbito da programação das emissoras de radiodifusão comunitária, a prática de
proselitismo, ou seja, a transmissão de conteúdo tendente a converter pessoas a
uma doutrina, sistema, religião, seita ou ideologia.
O STF entendeu que essa proibição afronta os arts. 5º, IV, VI e IX, e 220, da
Constituição Federal. A liberdade de pensamento inclui o discurso persuasivo, o uso
de argumentos críticos, o consenso e o debate público informado e pressupõe a
livre troca de ideias e não apenas a divulgação de informações.
STF. Plenário. ADI 2566/DF, rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min.
Edson Fachin, julgado em 16/5/2018 (Info 902).

A incitação de ódio público feita por líder religioso contra outras religiões pode
configurar o crime de racismo
A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus
seguidores não está protegida pela cláusula constitucional que assegura a liberdade
de expressão.
STF. 2ª Turma. RHC 146303/RJ, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli,
julgado em 6/3/2018 (Info 893).

É inconstitucional lei estadual que obriga que as escolas e bibliotecas públicas


tenham um exemplar da Bíblia. No Amazonas, foi editada lei estadual obrigando
as escolas e bibliotecas públicas a terem pelo menos uma Bíblia disponível para
consulta. Esta lei é inconstitucional. Isso porque o art. 19, I, da CF/88 prevê a
laicidade estatal. STF. Plenário. ADI 5258/AM, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
12/4/2021. (Info 1012)
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade


religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em cultos de religiões de matriz
africana. RE 494601/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson
Fachin, julgado em 28/3/2019. (Info 935)

# DICA DD: Não confundir- o STF entendeu que a CF/88 não proíbe que sejam
oferecidas aulas de uma religião específica, que ensine os dogmas ou valores
daquela religião. Não há qualquer problema nisso, desde que se garanta
oportunidade a todas as doutrinas religiosas. STF. Plenário. ADI 4439/DF, rel. orig.
Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
27/9/2017 (Info 879). Lembre-se que a “neutralidade do ensino religioso não
existe. O que deve existir é o respeito às diferenças”.

Cespe, oral RO/2023 (espelho): A liberdade de culto e de crença, como a quase totalidade dos direitos
fundamentais, não é ilimitada. Portanto, alguns limites estatais podem ser impostos, alguns sem grande
polêmica, como a necessidade de observância a limites de produção de ruído definidos por autoridades
municipais e a outras posturas municipais (como alvarás para construção e funcionamento de templos).
Outros limites mais delicados também podem ser impostos, como ocorreu durante a pandemia de covid-19,
causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), quando o Supremo Tribunal Federal considerou constitucional
a restrição a atos religiosos presenciais, por motivos sanitários.
Por outro lado, a liberdade de culto e de crença não autoriza as pessoas a cometer delitos e outros
atos juridicamente inválidos, embora cada ato deva ser examinado de forma cuidadosa, exatamente para
não anular a liberdade de culto nem outras garantias, como a liberdade de expressão. A liberdade de culto e
de crença não autoriza, por exemplo, prática de ofensa a minorias ou a grupos sociais vulneráveis nem
propagação de discurso de ódio. Portanto, praticantes de determinada religião, incluindo padres, pastores e
outros sacerdotes e membros do grupo religioso, podem ser punidos por atos ligados à prática da religião.

Transfusão de sangue nas Testemunhas de Jeová


Tema que gera muita discussão. O Ministro Barroso sustenta que a dignidade da pessoa humana
apresenta duas acepções:
- Dignidade como autonomia: tutela a capacidade de autodeterminação e a responsabilidade moral
do indivíduo por suas escolhas, notadamente as de catéter existencial, dentre as quais se inclui a
liberdade religiosa;
- Dignidade como heteronomia: envolve a imposição de padrões sociais externos ao indivíduo, o que,
no caso concreto, significa a proteção objetiva da vida humana, mesmo contra a vontade do titular
do direito.
As acepções se complementam, mas é possível afirmar a prevalência da dignidade como autonomia,
o que significa dizer que devem prevalecer as escolhas individuais (LENZA, Pedro. Direito constitucional
esquematizado, pg. 1195). Assim, a escolha da pessoa - e aqui inclui a recusa pela transfusão de sangue - é
válida desde que o consentimento seja dado pelo titular do direito, manifestado de forma válida e inequívoca
161
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

por pessoa capaz e com discernimento, ou seja, consentimento inequívoco, personalíssimo, expresso e atual.
Ademais, deverá também ser livre e informado.
Apesar do tema ser polêmico, acerca de necessidade de transfusão de sangue em menores com risco
de vida, como não se pode exigir que exprimem consentimento, o médico deverá realizar todos os
tratamentos médicos alternativos sem sangue e, se mesmo assim não resolver, diante da vida ou morte do
menor, poderá então realizar a transfusão de sangue não respondendo o médico por constrangimento ilegal.

III. LIBERDADE DE ATIVIDADE INTELECTUAL, ARTÍSTICA, CIENTÍFICA OU DE COMUNICAÇÃO – ART. 5º, IX,
CF/88

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,


independentemente de censura ou licença;

É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,


independentemente de censura ou licença.
Veda-se a censura de natureza política, ideológica e artística (art. 220, § 2.º), porém, apesar da
liberdade de expressão acima garantida, lei federal deverá regular as diversões e os espetáculos públicos,
cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais
e horários em que sua apresentação se mostre inadequada.

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação,


sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição,
observado o disposto nesta Constituição.
§ 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.
§ 3º Compete à lei federal:
I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar
sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários
em que sua apresentação se mostre inadequada;
II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de
se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem
o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços
que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.

IV. LIBERDADE DE PROFISSÃO – ART. 5º, XIII da CRFB

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as


qualificações profissionais que a lei estabelecer;

Assegura a liberdade do exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as


qualificações profissionais que a lei estabelecer. Trata-se de norma constitucional de eficácia contida,

162
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

podendo a legislação infraconstitucional limitar o seu alcance, fixando condições ou requisitos para o pleno
exercício da profissão.

O STF entendeu desnecessária a exigência de diploma de jornalista (RE 70563), bem


como a exigência de inscrição em Conselho Profissional, como condição ao
exercício de profissão artística de músico (RE 635023).

A exigência de que o leiloeiro preste caução para o exercício da profissão é


compatível com a Constituição, não havendo ofensa ao art. 5º, XIII, tendo em
vista que a garantia é necessária para resguardar eventuais danos ao patrimônio
de terceiros. A exigência de garantia para o exercício da profissão de leiloeiro,
prevista nos arts. 6º a 8º do Decreto 21.981/1932, é compatível com o art. 5º, XIII,
da Constituição Federal de 1988. Isso porque o leiloeiro lida diariamente com o
patrimônio de terceiros, de forma que a prestação de fiança como condição para o
exercício de sua profissão busca reduzir o risco de dano ao proprietário, o que
reforça o interesse social da norma protetiva, bem como justifica a limitação para
o exercício da profissão. STF. Plenário. RE 1263641/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio,
red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral
– Tema 455) (Info 994).

A restrição imposta pela Lei 13.021/2014, no sentido de que apenas


farmacêuticos legalmente habilitados podem figurar como responsáveis técnicos
de farmácias e drogarias, não é incompatível com o 5º XIII, da Constituição
Federal
Surgem constitucionais os artigos 5º e 6º, inciso I, da Lei nº 13.021/2014, no que
previsto ser do farmacêutico a responsabilidade técnica por drogaria. STF.
Plenário.RE 1156197, Rel. Marco Aurélio, julgado em 24/08/2020 (Repercussão
Geral – Tema 505) (Info 991 – clipping).

Cuidado - a jurisprudência do STF admite a regulamentação por lei de atividades que possam trazer
danos a terceiros, atividades profissionais cuja falta de técnica traga o risco de “atingir negativamente a
esfera pública de outros indivíduos ou de valores ou interesses da própria sociedade” (ADI 3.870, 2019).
Nessas situações, a lei poderá disciplinar, restritivamente, impondo regras ao exercício da profissão.

E) LIBERDADE DE INFORMAÇÃO – ART. 5º, XIV e XXXIII da CRFB

XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte,


quando necessário ao exercício profissional;

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à


segurança da sociedade e do Estado;

Caiu na prova Delegado SC/2024 (ADAPTADA): Diretor de determinado órgão policial do Estado edita a
Portaria XXX/2021 que determina que todos os processos do Sistema Eletrônico de Informações do órgão
sejam cadastrados com nível de acesso restrito ou sigiloso e, com isso, impedindo o acesso público. Com base
na situação hipotética descrita e na ordem constitucional vigente, é correto afirmar que:
- A Portaria XXX/2021 viola a liberdade de informação do Art. 5º, inciso XXXIII, da CF/88, que estabelece como
regra a publicidade das informações mantidas por órgãos do Estado. (ITEM CORRETO)
- O ato de qualquer órgão do Estado restritivo à publicidade das informações deve ser justificado objetiva,
específica e formalmente. (ITEM CORRETO)

▪ Liberdade de informação jornalística:


A CF/88 consagrou expressamente o princípio da publicidade como um dos vetores imprescindíveis
à Administração Pública, conferindo-lhe absoluta prioridade na gestão administrativa e garantindo pleno
acesso às informações a toda a sociedade.
A consagração constitucional de publicidade e transparência corresponde à obrigatoriedade do
Estado em fornecer as informações necessárias à sociedade. O acesso às informações consubstancia-se em
verdadeira garantia instrumental ao pleno exercício do princípio democrático.
Assim, salvo situações excepcionais, a Administração Pública tem o dever de absoluta transparência
na condução dos negócios públicos, sob pena de desrespeito aos arts. 37, caput, e 5º, XXXIII e LXXII,CF/88,
pois “o modelo político-jurídico, plasmado na nova ordem constitucional, rejeita o poder que oculta e o poder
que se oculta”.

1. A plena proteção constitucional à liberdade de imprensa é consagrada pelo


binômio liberdade com responsabilidade, vedada qualquer espécie de censura
prévia. Admite-se a possibilidade posterior de análise e responsabilização,
inclusive com remoção de conteúdo, por informações comprovadamente
injuriosas, difamantes, caluniosas, mentirosas, e em relação a eventuais danos
materiais e morais. Isso porque os direitos à honra, intimidade, vida privada e à
própria imagem formam a proteção constitucional à dignidade da pessoa
humana, salvaguardando um espaço íntimo intransponível por intromissões
ilícitas externas.
2. Na hipótese de publicação de entrevista em que o entrevistado imputa
falsamente prática de crime a terceiro, a empresa jornalística somente poderá ser
responsabilizada civilmente se: (i) à época da divulgação, havia indícios concretos
da falsidade da imputação; e (ii) o veículo deixou de observar o dever de cuidado
na verificação da veracidade dos fatos e na divulgação da existência de tais
indícios”. STF. RE 1.075.412/PE, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão
Ministro Edson Fachin, julgamento finalizado em 29.11.2023. (Info. 1120)

164
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

A irresponsabilidade da imprensa ao exibir, em rede nacional, programa que


veicule matéria ofensiva à honra e à dignidade de cidadão enseja dano moral
indenizável e este deve ser suficiente para reparar o dano, servir de sanção da
conduta praticada e coibir novos abusos. STJ. Processo em segredo de justiça, Rel.
Ministro Antonio Carlos Ferreira, Rel. para acórdão Ministro João Otávio de
Noronha, Quarta Turma, por maioria, julgado em 22/11/2022, DJe 2/2/2023. (Info
762).

É necessária a manutenção da divulgação integral dos dados epidemiológicos


relativos à pandemia da Covid-19. A interrupção abrupta da coleta e divulgação de
importantes dados epidemiológicos, imprescindíveis para a análise da série
histórica de evolução da pandemia (Covid-19), caracteriza ofensa a preceitos
fundamentais da Constituição Federal, nomeadamente o acesso à informação, os
princípios da publicidade e da transparência da Administração Pública e o direito à
saúde. STF. Plenário. ADPF 690/DF, ADPF 691/DF e ADPF 692 /DF, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, julgados em 13/03/2021 (Info 1009).

STF determina que Ministério da Saúde faça a divulgação integral de dados sobre
Covid-19 A redução da transparência dos dados referentes à pandemia de COVID-
19 representa violação a preceitos fundamentais da Constituição Federal,
nomeadamente o acesso à informação, os princípios da publicidade e transparência
da Administração Pública e o direito à saúde. STF. Plenário. ADPF 690 MC-Ref/DF,
ADPF 691 MC-Ref/DF e ADPF 692 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 20/11/2020 (Info 1000).

É inconstitucional o art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pela MP 928/2020,


porque ele impõe uma série de restrições ao livre acesso do cidadão a
informações
É inconstitucional o art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pela MP 928/2020,
porque ele impõe uma série de restrições ao livre acesso do cidadão a informações.
O art. 6º-B não estabelece situações excepcionais e concretas impeditivas de acesso
à informação. Pelo contrário, transforma a regra constitucional de publicidade e
transparência em exceção, invertendo a finalidade da proteção constitucional ao
livre acesso de informações a toda sociedade. STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF,
ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgados em 30/4/2020 (Info 975).

A liberdade de informação jornalística não legitima a utilização de informações


sigilosas obtidas por meios ilícitos. 8. Agravo regimental interposto por Infoglobo
Comunicações Ltda. do qual não se conhece. 9 Agravo regimental interposto por
Globo Comunicação e Participações S/A ao qual se nega provimento. (RE 638360
165
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

AgR-segundo, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 27/04/2020,


ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-131 DIVULG 27-05-2020 PUBLIC 28-05-2020
REPUBLICAÇÃO: DJe-161 DIVULG 25-06-2020 PUBLIC 26-06-2020)

Violam a CF/88 os atos de busca e apreensão de materiais de cunho eleitoral e a


suspensão de atividades de divulgação de ideias em universidades públicas e
privadas. São inconstitucionais os atos judiciais ou administrativos que determinem
ou promovam:
• o ingresso de agentes públicos em universidades públicas e privadas;
• o recolhimento de documentos (ex: panfletos);
• a interrupção de aulas, debates ou manifestações de docentes e discentes
universitários;
• a realização de atividade disciplinar docente e discente e a coleta irregular de
depoimentos desses cidadãos pela prática de manifestação livre de ideias e
divulgação do pensamento nos ambientes universitários ou em equipamentos sob
a administração de universidades públicas e privadas.
STF. Plenário. ADPF 548 MC-Ref/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
31/10/2018 (Info 922).

Cabe reclamação contra decisão judicial que determina retirada de matéria


jornalística de site
A retirada de matéria de circulação configura censura em qualquer hipótese, o que
se admite apenas em situações extremas.
Assim, em regra, a colisão da liberdade de expressão com os direitos da
personalidade deve ser resolvida pela retificação, pelo direito de resposta ou pela
reparação civil.
Diante disso, se uma decisão judicial determina que se retire do site de uma revista
determinada matéria jornalística, esta decisão viola a orientação do STF, cabendo
reclamação. STF. 1ª Turma. Rcl 22328/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
6/3/2018 (Info 893).

Cabe reclamação contra decisão judicial que determina retirada de matéria


jornalística de blog
A ADPF 130/DF pode ser utilizada como parâmetro para ajuizamento de reclamação
que verse sobre conflito entre a liberdade de expressão e de informação e a tutela
das garantias individuais relativas aos direitos de personalidade.
A determinação de retirada de matéria jornalística afronta a liberdade de expressão
e de informação, além de constituir censura prévia. Essas liberdades ostentam
preferência em relação ao direito à intimidade, ainda que a matéria tenha sido
redigida em tom crítico.

166
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

O Supremo assumiu, mediante reclamação, papel relevante em favor da liberdade


de expressão, para derrotar uma cultura censória e autoritária que começava a se
projetar no Judiciário.
STF. 1ª Turma. Rcl 28747/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ ac. Min. Luiz
Fux, julgado em 5/6/2018 (Info 905).
Sobre o mesmo tema: STF. 1ª Turma. Rcl 22328/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgado em 6/3/2018 (Info 893).

Jornal poderá acessar dados sobre mortes registradas em ocorrências policiais


De acordo com o STJ, não cabe à administração pública ou ao Poder Judiciário
discutir o uso que se pretende dar à informação de natureza pública. A informação,
por ser pública, deve estar disponível ao público, independentemente de
justificações ou considerações quanto aos interesses a que se destina. Não se pode
vedar o exercício de um direito – acessar a informação pública – pelo mero receio
do abuso no exercício de um outro e distinto direito – o de livre comunicar. Em
suma: veículo de imprensa jornalística possui direito líquido e certo de obter dados
públicos sobre óbitos relacionados a ocorrências policiais. STJ. 2ª Turma. REsp
1852629-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 06/10/2020 (Info 682).

▪ Liberdade de informação x direito ao esquecimento


O direito ao esquecimento é o direito que uma pessoa possui de não permitir que um fato, ainda que
verídico, ocorrido em determinado momento de sua vida, seja exposto ao público em geral, causando-lhe
sofrimento ou transtornos. Veja a definição dada por Anderson Schreiber:

“(...) o direito ao esquecimento é, portanto, um direito (a) exercido


necessariamente por uma pessoa humana; (b) em face de agentes públicos ou
privados que tenham a aptidão fática de promover representações daquela pessoa
sobre a esfera pública (opinião social); incluindo veículos de imprensa, emissoras
de TV, fornecedores de serviços de busca na internet etc.; (c) em oposição a uma
recordação opressiva dos fatos, assim entendida a recordação que se caracteriza, a
um só tempo, por ser desatual e recair sobre aspecto sensível da personalidade,
comprometendo a plena realização da identidade daquela pessoa humana, ao
apresentá-la sob falsas luzes à sociedade.” (Anderson SCHREIBER. Direito
ao esquecimento e proteção de dados pessoais na Lei 13.709/2018. In: TEPEDINO,
G; FRAZÃO, A; OLIVA, M.D. Lei geral de proteção de dados pessoais e suas
repercussões no direito brasileiro. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019, p.
376).

A discussão quanto ao direito ao esquecimento envolve um conflito aparente entre a liberdade de


expressão/informação e atributos individuais da pessoa humana, como a intimidade, privacidade e honra,
passando por recente evolução jurisprudencial. Veja:
167
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

O STJ reconheceu o direito ao esquecimento em dois julgados principais: O caso “Aída Curi” (REsp
1.335.153-RJ) e a situação da “chacina da Candelária” (REsp 1.334.097-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgados em 28/5/2013), hipótese em que entendeu que tal direito que deveria ser exercido de forma
compatível com a intimidade e da honra das pessoas. Ressalta-se, contudo, que o deferimento ou não do
direito ao esquecimento sempre dependeu da análise do caso concreto e da ponderação dos interesses
envolvidos.

O direito ao esquecimento, também é chamado de “direito de ser deixado em paz”


ou o “direito de estar só”. Nos EUA, é conhecido como the right to be let alone e,
em países de língua espanhola, é alcunhado de derecho al olvido. É o caso, por
exemplo, da apresentadora Xuxa que, no passado fez um determinado filme do
qual se arrepende e que ela não mais deseja que seja exibido ou rememorado por
lhe causar prejuízos profissionais e transtornos pessoais. Sem dúvida nenhuma, o
principal ponto de conflito quanto à aceitação do direito ao esquecimento reside
justamente em como conciliar esse direito com a liberdade de expressão e de
imprensa e com o direito à informação.

Em março de 2013, na VI Jornada de Direito Civil do CJF/STJ, foi aprovado um


enunciado defendendo a existência do direito ao esquecimento como uma
expressão da dignidade da pessoa humana. Veja: “Enunciado 531: A tutela da
dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao
esquecimento”.

Vale ressaltar, ainda, que o STJ possui o entendimento no sentido de que, quando os registros da
folha de antecedentes do réu são muito antigos, admite-se o afastamento de sua análise desfavorável, em
aplicação à teoria do direito ao esquecimento. Isso porque não se pode tornar perpétua a valoração negativa
dos antecedentes, nem perenizar o estigma de criminoso para fins de aplicação da reprimenda, pois a
transitoriedade é consectário natural da ordem das coisas. STJ. 6ª Turma. HC 452.570/PR, Rel. Min. Antonio
Saldanha Palheiro, julgado em 02/02/2021.

No entanto, o tema passou por uma EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL. Isso porque o STJ passou a
relativizar o direito ao esquecimento, ao passo que o STF passou a entender pela sua incompatibilidade
com a Constituição Federal. Confira:

O chamado direito ao esquecimento, apesar de ser reconhecido pela


jurisprudência, não possui caráter absoluto.
Em caso de evidente interesse social no cultivo à memória histórica e coletiva de
delito notório, não se pode proibir a veiculação de matérias jornalísticas
relacionados com o fato criminoso, sob pena de configuração de censura prévia,
vedada pelo ordenamento jurídico pátrio. Em tal situação, não se aplica o direito

168
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

ao esquecimento. STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.803-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 28/04/2020 (Info 670).

Também importante:

O direito ao esquecimento não justifica a exclusão de matéria jornalística


O direito ao esquecimento é considerado incompatível com o ordenamento
jurídico brasileiro. Logo, não é capaz de justificar a atribuição da obrigação de
excluir a publicação relativa a fatos verídicos. STJ. 3ª Turma. REsp 1961581-MS, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 07/12/2021 (Info 723).

Jurisprudências pertinentes:

◘ É inconstitucional a resolução do Conselho Federal de Psicologia que proíbe a comercialização e o uso


dos testes psicológicos para indivíduos que não sejam psicólogos

Ao restringirem a comercialização e o uso de testes psicológicos aos profissionais


regularmente inscritos no Conselho Federal de Psicologia (CFP), o inciso III e os §§
1º e 2º do art. 18 da Resolução 2/2003-CFP acabaram por instituir disciplina
desproporcional e ofensiva aos postulados constitucionais relativos à liberdade de
manifestação do pensamento (art. art. 5º, IV, IX e XIV, da CF/88) e de liberdade de
acesso à informação (art. 220, da CF/88). STF. Plenário. ADI 3481/DF, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 6/3/2021 (Info 1008).

◘ Viola a liberdade de expressão a decisão de retirar da Netflix o especial de Natal do Porta dos Fundos
porque seu conteúdo satiriza crenças e valores do cristianismo

Retirar de circulação produto audiovisual disponibilizado em plataforma de


“streaming” apenas porque seu conteúdo desagrada parcela da população, ainda
que majoritária, não encontra fundamento em uma sociedade democrática e
pluralista como a brasileira. STF. 2ª Turma. Rcl 38782/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 3/11/2020 (Info 998).

◘ A proibição da entrevista com Adélio Bispo, autor da facada contra Jair Bolsonaro, não significou
censura nem restrição indevida à liberdade de imprensa

A decisão judicial que proibiu a realização de entrevista com Adélio Bispo, autor da
facada contra Jair Bolsonaro, não significa restrição indevida à liberdade de
imprensa nem representa censura prévia. Logo, essa decisão não configura ofensa
ao entendimento firmado pelo STF na ADPF 130, que julgou não recepcionada a Lei
de Imprensa (Lei nº 5.250/67). A decisão judicial impediu a entrevista com o
169
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

objetivo de proteger as investigações e evitar possíveis prejuízos processuais,


inclusive quanto ao direito ao silêncio do investigado. Além disso, a decisão teve
como finalidade proteger o próprio custodiado, que autorizou a entrevista, mas
cuja sanidade mental era discutível na época, tendo sido, posteriormente,
declarado inimputável em razão de “transtorno delirante persistente”. STF. 1ª
Turma. Rcl 32052 AgR/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/4/2020 (Info
973).

◘ Biografias não autorizadas

O STF entendeu na ADI 4815 que, para ser publicada uma biografia, NÃO é
necessária autorização prévia do indivíduo biografado, das demais pessoas
retratadas, nem de seus familiares, porque a autorização prévia seria uma forma
de censura, incompatível com a liberdade de expressão consagrada pela CF/88.
Se o biografado ou qualquer outra pessoa retratada entenda ter os seus direitos
violados, terá direito à reparação, não apenas por meio de indenização pecuniária,
mas também por outras formas, a exemplo da publicação de ressalva, de nova
edição com correção, de direito de resposta etc.

▪ Liberdade artística e os veículos de comunicação social: É ampla liberdade na produção da arte.

* ATENÇÃO: Embora exista a liberdade artística, o Poder Público poderá estabelecer faixas etárias
recomendadas, locais e horários para a apresentação. Ao mesmo tempo, lei federal deverá estabelecer meios
para que qualquer pessoa ou família possa defender-se de programações de rádio e televisão que atentem
contra os valores éticos vigentes (art. 220, §3º, I e II).

V. LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO:

É o direito de ir e vir, amparado por habeas corpus

XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer


pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

Perceba que a liberdade de locomoção no território nacional é livre NOS TEMPOS DE PAZ.

Existem 4 hipóteses de exceção a liberdade de locomoção:

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

(1) Em caso de prisão em flagrante ou prisão por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar (art. 5º, LXI,
CF/88)
(2) Durante o estado de defesa (art. 136, 3º, I, CF/88) o decreto poderá estabelecer restrição ao direito
de reunião, ainda que exercida no seio das associações.
(3) Durante o estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I,CF/88, poderão ser tomadas
contra as pessoas as medidas de obrigação de permanência em localidade determinada (art. 139, I,
CF/88); detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns (art. 139,
II, CF/88); suspensão da liberdade de reunião (art. 139, IV, CF/88).
(4) Declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira (hipóteses de
decretação de estado de sítio – art. 137, II, CF/88), a liberdade de locomoção também poderá ser
restringida ou suspensa (art. 138, caput, CF/88).

VI. LIBERDADE DE REUNIÃO:

Art. 5°, XVI, CRFB - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais
abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem
outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido
prévio aviso à autoridade competente;

É o agrupamento organizado de pessoas de caráter transitório, com uma determinada finalidade.


O exercício válido do direito de reunião deve satisfazer os requisitos constitucionais, a saber:
✔ Reunião pacífica
✔ Sem armas
✔ Em locais abertos ao público
✔ Dispensa autorização, mas deve haver aviso prévio aviso à autoridade competente
✔ Não pode frustrar outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local
O que se entende por aviso prévio para os fins do direito de reunião do art. 5º,
XVI, da CF/88?
O STF fixou a seguinte tese: A exigência constitucional de aviso prévio
relativamente ao direito de reunião é satisfeita com a veiculação de informação
que permita ao poder público zelar para que seu exercício se dê de forma pacífica
ou para que não frustre outra reunião no mesmo local. STF. Plenário. RE 806339,
Rel. para acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 14/12/2020 (Repercussão Geral –
Tema 855).

O entendimento foi fixado porque não se pode exigir o aviso prévio como condicionante ao exercício
do direito de reunião.

VII. LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO:

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Agrupamento de pessoas, organizado e permanente, para fins lícitos. Abrange:


∘ Direito de associar-se a outras pessoas para a formação de uma entidade;
∘ Aderir a uma associação já formada;
∘ Desligar-se da associação;
∘ Autodissolução das associações.

Atenção (1): o direito de associação somente é livre se:


● For para fins lícitos
● Não tiver caráter paramilitar.

Art. 5°, XVII, CRFB - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de
caráter paramilitar;

Atenção (2):
● Associações são criadas independentemente de autorização, já as cooperativas devem ser criadas na
forma da lei, mas independem de autorização;

XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem


de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

Atenção (3): A CF/88 veda qualquer interferência estatal no funcionamento das associações e cooperativas.

XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem


de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

Atenção (4): As associações:


● Podem ser dissolvidas de forma compulsória por decisão judicial, mas apenas após o trânsito em
julgado.
● Podem ter suas atividades suspensas por decisão judicial, não sendo exigido o trânsito em julgado.

XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas


atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito
em julgado;

XX - Ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;


XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus
filiados judicial ou extrajudicialmente;

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Obs.: É inconstitucional o condicionamento da desfiliação de associado à quitação de débito referente a


benefício obtido por intermédio da associação ou ao pagamento de multa. STF. Plenário. RE 820823/DF, Rel.
Min. Dias Toffoli, julgado em 30/9/2022 (Repercussão Geral – Tema 922) (Info 1070).

VIII. DIREITO DE PROPRIEDADE

XXII - é garantido o direito de propriedade;


XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

É garantido pela Constituição, mas não é absoluto, uma vez que a propriedade poderá ser
desapropriada. É necessário também que a propriedade cumpra sua função social, atendendo aos interesses
da coletividade e não apenas do proprietário.
● É garantido o direito de propriedade (art. 5º, XXII).
● A propriedade atenderá a sua função social (art. 5º, XXIII).
● A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por
interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos na
Constituição (art. 5º, XXIV).
● No caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular,
assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano (art. 5º, XXV).

Obs.: Impenhorabilidade da pequena propriedade rural.


Dispõe o art. 5º, XXVI da CRFB que “a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que
trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua
atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento”.
Quanto ao tema, decidiu o STJ que a pequena propriedade rural é impenhorável mesmo que o imóvel
não sirva de moradia ao executado e a sua família. Ou seja, o devedor não precisa morar lá, bastando que
sua família ali labore. Tal impenhorabilidade se presta não apenas a garantir o direito à moradia, mas também
tem por objetivo assegurar o direito fundamental de acesso aos meios geradores de renda, porquanto a
pequena propriedade.
Ademais, também entendeu-se que a pequena propriedade é impenhorável, mesmo que a dívida
executada não seja oriunda da atividade produtiva do imóvel. Se o sujeito usar o dinheiro para comprar um
carro ou financiar outra atividade, ainda assim permanece a impenhorabilidade. Entendeu o Tribunal que,
por se tratar de direito fundamental, deve ser dada a interpretação que garanta a máxima efetividade do
direito discutido. Se a CF não permite a penhora para dívidas oriundas da própria atividade produtiva, com
mais razão também será impenhorável com débitos de outra natureza (REsp 1.591.298/RJ – 2015).

IX. DIREITO DE PETIÇÃO E DE OBTENÇÃO DE CERTIDÕES

XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:


a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade
ou abuso de poder;
173
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e


esclarecimento de situações de interesse pessoal;

Caso o pedido de certidão não seja atendido, o remédio constitucional cabível será o mandado de
segurança e não o habeas data.
O direito de certidão não é absoluto, pois pode ser negado em caso de o sigilo ser imprescindível à
segurança da sociedade ou do Estado.

X. INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO

A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito (art.
5º, XXXV, CF/88).

Não se confunde com o direito de petição, já que este consiste em um direito de participação política
que não demanda a demonstração de interesse processual ou lesão a direito pessoal.
Exceção à regra da inafastabilidade da jurisdição: O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à
disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em
lei (art. 217, §1º, da CF).

XI. IRRETROATIVIDADE DA LEI

A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada
(art. 5º, XXXVI,CF/88).

Conceitos (art. 6º da LINDB):


I- Direito adquirido: direito que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aquele cujo
começo do exercício tenha termo prefixo ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem;
II- Ato jurídico perfeito: ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou;
III- Coisa julgada: decisão judicial de que não caiba mais recurso.

Súmula 654-STF: A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 5º, XXXVI, da


Constituição da República, não é invocável pela entidade estatal que a tenha
editado.

XII. PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE

Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a


decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido (art. 5º XLV, CF/88).

O princípio da pessoalidade tem duas dimensões:


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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

1) Dimensão negativa: impede que sanções de natureza penal extrapolem o âmbito estritamente
pessoal do infrator, vedando a imposição de pena a terceiros;
2) Dimensão positiva: impõe o dever de expor circunstancialmente as condutas responsáveis pelo
ilícito, bem como de narrar com clareza o grau de participação dos acusados.

A veiculação de matéria jornalística sobre delito histórico que expõe a vida


cotidiana de terceiros não envolvidos no fato criminoso, em especial de criança e
de adolescente, representa ofensa ao princípio da intranscendência
Matéria jornalística que, sob o pretexto de noticiar crime histórico, expõe a
intimidade do atual marido e dos filhos da condenada, pessoas que não têm relação
direta com o fato, ofende o princípio da intranscendência ou da pessoalidade da
pena, descrito no art. 5º, XLV, da CF/88 e no art. 13 do Código Penal. Isso porque,
ao expor publicamente a intimidade dos referidos familiares em razão do crime
ocorrido, a reportagem compartilhou dimensões evitáveis e indesejáveis dos
efeitos da condenação então estendidas à atual família da ex-condenada.
Especificamente quanto aos filhos, menores de idade, ressalta-se a Opinião
Consultiva n. 17, de 28 de agosto de 2002 da Corte Interamericana de Direitos
Humanos, que entende que o melhor interesse das crianças e dos adolescentes é
reconhecido como critério regente na aplicação de normas em todos os aspectos
da vida dos denominados “sujeitos em desenvolvimento”. STJ. 3ª Turma. REsp
1736803-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 28/04/2020 (Info 670).

É inconstitucional lei estadual que proíba a Administração Pública de contratar


empresa que tenha tido empregado condenado por crime ou contravenção
relacionados com a prática de atos discriminatórios
É inconstitucional lei estadual que proíba que a Administração Pública contrate
empresa cujo diretor, gerente ou empregado tenha sido condenado por crime ou
contravenção relacionados com a prática de atos discriminatórios. Essa lei viola os
princípios da intransmissibilidade da pena, da responsabilidade pessoal e do devido
processo legal. STF. Plenário. ADI 3092, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020
(Info 987 – clipping).

XIII. PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA:

XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:


a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

A aplicação do princípio ocorre em três âmbitos:

● Plano legislativo: dirige-se ao legislador no momento da fixação dos limites mínimos e máximos da pena,
do regime de cumprimento e dos benefícios que podem ser concedidos ao infrator.
● Plano judicial: o magistrado, ao aplicar a pena, deve definir, fundamentadamente, a sua quantidade
conforme os parâmetros legais, o regime inicial e os benefícios aplicáveis;
● Plano executório: no momento da execução penal, deverá ser definido o estabelecimento prisional de
cumprimento da pena, tendo em conta a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado (art. 5º, XLVIII,
CF/88).

* Obs.: Súmula Vinculante nº 56: A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do
condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados
no RE 641.320/RS.

3. DIREITOS SOCIAIS

São direitos de 2ª geração/dimensão. A Constituição define no art. 6º quais são os direitos sociais:

CRFB, Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a


moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.

● Direitos dos trabalhadores


Direitos dos trabalhadores nas suas relações individuais de trabalho: são os direitos dos trabalhadores do
art. 7º da CF, cujo dispositivo deve ser lido atentamente. Dentre esses direitos, destaca-se:
· Direito ao trabalho: infere-se do valor social do trabalho como fundamento da República
(art. 2º) e demais dispositivos constitucionais;
· Garantia do emprego: é a proteção da relação de emprego contra despedida arbitrária ou
sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória,
entre outros direitos, impedindo-se, dessa forma, a dispensa injustificada, sem motivo
socialmente relevante.

ATENÇÃO: A EC 72/2013 ampliou os direitos dos empregados domésticos!

● É possível a efetivação de direitos sociais pelo poder judiciário?


R.: Embora seja prerrogativa dos Poderes Legislativo e Executivo formular e executar políticas
públicas, o STF entende possível a efetivação de direitos sociais via Poder Judiciário, excepcionalmente,
sobretudo nas hipóteses de políticas públicas definidas pela própria Constituição.

Vejamos algumas jurisprudências (importantíssimas) sobre o tema:


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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

◘ STF determinou que governo deveria detalhar a ordem de preferência na vacinação dentro dos grupos
prioritários (quem deveria ser vacinado primeiro dentro do grupo prioritário)

O Poder Judiciário, em situações excepcionais, pode determinar que a Administração Pública adote
medidas concretas, assecuratórias de direitos constitucionalmente reconhecidos como essenciais, como é o
caso da saúde.
A pretensão de que sejam editados e publicados critérios e subcritérios de
vacinação por classes e subclasses no Plano de Vacinação, assim como a ordem de
preferência dentro de cada classe e subclasse, encontra arrimo: • nos princípios da
publicidade e da eficiência que regem a Administração Pública (art. 37, da CF/88);
• no direito à informação que assiste aos cidadãos em geral (art. 5º, XXXIII, e art.
37, § 2º, II); • na obrigação da União de “planejar e promover a defesa permanente
contra as calamidades públicas” (art. 21, XVII); • no dever incontornável cometido
ao Estado de assegurar a inviolabilidade do direito à vida (art. 5º, caput), traduzida
por uma “existência digna” (art. 170); e • no direito à saúde (art. 6º e art. 196). STF.
Plenário. ADPF 754 TPI-segunda-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 27/2/2021 (Info 1007).

◘ Judiciário pode determinar a realização de obras de acessibilidade em prédios públicos

O Poder Judiciário pode condenar universidade pública a adequar seus prédios às


normas de acessibilidade a fim de permitir a sua utilização por pessoas com
deficiência. No campo dos direitos individuais e sociais de absoluta prioridade, o
juiz não deve se impressionar nem se sensibilizar com alegações de conveniência e
oportunidade trazidas pelo administrador relapso. Se um direito é qualificado pelo
legislador como absoluta prioridade, deixa de integrar o universo de incidência da
reserva do possível, já que a sua possibilidade é obrigatoriamente, fixada pela
Constituição ou pela lei. STJ. 2ª Turma. REsp 1607472-PE, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 592).

◘ Judiciário pode determinar a realização de obras emergenciais em estabelecimento prisional

É lícito ao Poder Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer,


consistente na promoção de medidas ou na execução de obras emergenciais em
estabelecimentos prisionais para dar efetividade ao postulado da dignidade da
pessoa humana e assegurar aos detentos o respeito à sua integridade física e moral,
nos termos do que preceitua o art. 5º, XLIX, da CF, não sendo oponível à decisão o
argumento da reserva do possível nem o princípio da separação dos poderes. STF.
Plenário. RE 592581/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 13/8/2015
(repercussão geral) (Info 794).
177
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

◘ Judiciário pode obrigar administração pública a manter quantidade mínima de medicamento em


estoque

A Administração Pública pode ser obrigada, por decisão do Poder Judiciário, a


manter estoque mínimo de determinado medicamento utilizado no combate a
certa doença grave, de modo a evitar novas interrupções no tratamento. Não há
violação ao princípio da separação dos poderes no caso. Isso porque com essa
decisão o Poder Judiciário não está determinando metas nem prioridades do
Estado, nem tampouco interferindo na gestão de suas verbas. O que se está
fazendo é controlar os atos e serviços da Administração Pública que, neste caso, se
mostraram ilegais ou abusivos já que, mesmo o Poder Público se comprometendo
a adquirir os medicamentos, há falta em seu estoque, ocasionando graves prejuízos
aos pacientes. Assim, não tendo a Administração adquirido o medicamento em
tempo hábil a dar continuidade ao tratamento dos pacientes, atuou de forma
ilegítima, violando o direito à saúde daqueles pacientes, o que autoriza a ingerência
do Poder Judiciário. STF. 1ª Turma. RE 429903/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 25/6/2014 (Info 752).

◘ Implementação de políticas públicas pelo Poder Judiciário para garantir o direito à saúde

“1. A intervenção do Poder Judiciário em políticas públicas voltadas à realização


de direitos fundamentais, em caso de ausência ou deficiência grave do serviço,
não viola o princípio da separação dos Poderes. 2. A decisão judicial, como regra,
em lugar de determinar medidas pontuais, deve apontar as finalidades a serem
alcançadas e determinar à Administração Pública que apresente um plano e/ou os
meios adequados para alcançar o resultado; 3. No caso de serviços de saúde, o
déficit de profissionais pode ser suprido por concurso público ou, por exemplo, pelo
remanejamento de recursos humanos e pela contratação de organizações sociais
(OS) e organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP)”. RE 684.612/RJ,
relator Ministro Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Ministro Roberto
Barroso, julgamento virtual finalizado em 30.6.2023 (sexta-feira), às 23:59 – Info
1101, STF

PRAZO PRESCRICIONAL PARA COBRANÇA EM JUÍZO DO FGTS


- A jurisprudência entendia que o prazo prescricional era de 30 anos, conforme súmula 362 do TST:
Súmula 362-TST: É trintenária a prescrição do direito de reclamar contra o não-recolhimento da contribuição
para o FGTS, observado o prazo de 2 (dois) anos após o término do contrato de trabalho.
- No entanto, em 2014, o STF alterou o seu posicionamento e passou a adotar o prazo prescricional de 05
(cinco) anos, ao reconhecer a natureza trabalhista da verba, pelo art. 7º, XXIX, CF/88:

178
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição
social:
(...)
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de CINCO anos
para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de DOIS anos após a extinção do contrato de trabalho.

DIREITOS COLETIVOS DOS TRABALHADORES: Exercidos pelos trabalhadores coletivamente ou no interesse


de uma coletividade deles, previstos nos arts. 8-11. Destacamos:

▪ Organização sindical: o art. 8º, CF/88, institui ampla autonomia coletiva para a fundação e direção
desse ente associativo, não podendo o Estado intervir ou condicionar o exercício desse direito. Pode,
contudo, ser exigida a inscrição do sindicato em órgão próprio (Ministério do Trabalho), bem como
admite-se que a lei disponha genericamente sobre regras básicas de organização sindical.

O art. 522 da CLT, que prevê um número máximo de empregados que podem ser
dirigentes sindicais, é compatível com a CF/88 e não viola a garantia da liberdade
sindical
O art. 8º, VIII, da CF/88 prevê que os dirigentes sindicais não podem ser demitidos,
salvo se cometerem falta grave. O art. 522 da CLT prevê um número máximo de
empregados que podem ser dirigentes sindicais. Assim que a CF/88 foi promulgada,
alguns doutrinadores começaram a sustentar a tese de que o art. 522 da CLT não
teria sido recepcionado pela Carta Constitucional. Isso porque o inciso I do art. 8º
da Constituição prevê que a liberdade sindical, ou seja, proíbe que o poder público
interfira na organização dos sindicatos. O TST e o STF não concordaram com essa
tese. A liberdade sindical tem previsão constitucional, mas não possui caráter
absoluto. A previsão legal de número máximo de dirigentes sindicais dotados de
estabilidade de emprego não esvazia a liberdade sindical. Essa garantia
constitucional existe para que possa assegurar a autonomia da entidade sindical,
mas não serve para criar situações de estabilidade genérica e ilimitada que violem
a razoabilidade e a finalidade da norma constitucional garantidora do direito. Logo,
o art. 522 da CLT foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988. STF. Plenário.
ADPF 276, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 15/05/2020.

▪ Direito de substituição processual: a CF/88 previu a possibilidade de os sindicatos ingressarem em


juízo na defesa de direitos e interesses coletivos e individuais da categoria, em hipótese de
substituição processual, pois o sindicato ingressa em nome próprio na defesa de interesses alheios.

▪ Greve: previsto no art. 9º, cabe aos trabalhadores decidir a oportunidade de exercê-lo e os interesses
que devam por meio dele defender. Outrossim, prevê que a lei definirá os serviços ou atividades
essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, inclusive
responsabilizando os abusos cometidos.
179
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Cuidado! Policial não pode fazer greve!!!


O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é vedado aos
policiais civis e a todos os servidores públicos que atuem diretamente na área de
segurança pública. É obrigatória a participação do Poder Público em mediação
instaurada pelos órgãos classistas das carreiras de segurança pública, nos termos
do art. 165 do CPC, para vocalização dos interesses da categoria.
STF. Plenário. ARE 654432/GO, Rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 5/4/2017 (repercussão geral) (Info 860).

ATENÇÃO - Para servidores públicos civis: como não existe lei específica sobre o assunto para servidores
públicos civis, o STF conferiu efeitos concretos aos Mandados de Injunção ajuizados pelos Sindicatos de
Servidores Civis. Por maioria, conheceu dos mandados de injunção e propôs a solução para a omissão
legislativa com a aplicação, no que couber, da Lei nº 7.783/89, que dispõe sobre o exercício do direito de
greve na iniciativa privada.

São inconstitucionais dispositivos da “Lei dos Caminhoneiros” (Lei 13.103/2015)


que desrespeitam os direitos socias e as normas de proteção ao trabalhador
(CF/1988, art. 7º), tais como os que preveem (a) a redução e/ou o fracionamento
dos intervalos intrajornadas e do descanso semanal remunerado; e (b) a hipótese
de descanso de motorista com o veículo em movimento; e aquele que (c) exclui do
cômputo da jornada diária de trabalho do motorista profissional o tempo decorrido
durante a carga ou a descarga do veículo, ou, ainda, a fiscalização da mercadoria.
ADI 5.322/DF, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado
em 30.6.2023 (Info 1.102 STF).

IMPORTANTE:
O estudo da jurisprudência acerca do tema: “Direitos Fundamentais” é imprescindível, diante da
elevada cobrança em provas. Nesse sentido, abaixo algumas jurisprudências cuja leitura é importantíssima!

Informativo 163 do STF: não há, no sistema constitucional brasileiro, direitos ou


garantias que se revistam de caráter absoluto, mesmo porque razões de relevante
interesse público ou exigências derivadas do princípio de convivência das
liberdades legitimam, ainda que excepcionalmente, a adoção, por parte dos órgãos
estatais, de medidas restritivas das prerrogativas individuais ou coletivas, desde
que respeitados os termos estabelecidos pela própria Constituição.

O art. 5º, XL, da Constituição da República prevê a possibilidade de retroatividade


da lei penal, sendo cabível extrair-se do dispositivo constitucional princípio
implícito do Direito Sancionatório, segundo o qual a lei mais benéfica retroage no
180
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

caso de sanções menos graves, como a administrativa. AgInt no REsp 2.024.133-


ES, Rel. Ministra Regina Helena Costa, Primeira Turma, por unanimidade, julgado
em 13/3/2023, DJe 16/3/2023

Cota de tela para filmes nacionais nos cinemas é constitucional


O Plenário do STF entendeu que a norma é um mecanismo que protege a indústria
nacional do audiovisual e amplia o acesso à cultura. Por maioria de votos, o Plenário
do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou constitucionais as normas que reservam
um número mínimo de dias para a exibição de filmes nacionais nos cinemas
brasileiros, a chamada “cota de tela”, e a regra que determina que 5% dos
programas culturais, artísticos e jornalísticos sejam produzidos no município para
o qual foram outorgados os serviços de radiodifusão. RE 627432 e RE 1070522, com
repercussão geral (Temas 704 e 1013).

Não é possível atrelar-se ao salário mínimo o valor alusivo a benefício social e os


respectivos critérios de admissão
Lei estadual criou um benefício assistencial e previu que seu valor seria o do salário
mínimo vigente. Tal previsão, em princípio, viola o art. 7º, IV, da CF/88, que proíbe
que o salário mínimo seja utilizado como referência (parâmetro) para outras
finalidades que não sejam a remuneração do trabalho. No entanto, o STF afirmou
que seria possível conferir interpretação conforme a Constituição e dizer que o
dispositivo previu que o valor do benefício seria igual ao salário mínimo vigente na
época em que a lei foi editada (R$ 545). Após isso, mesmo o salário mínimo
aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício não pode acompanhar
automaticamente os reajustes realizados sobre o salário mínimo, considerando que
ele não pode servir como indexador. STF. Plenário. ADI 4726/AP, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 10/11/2020 (Info 998).

A EC 20/98 ampliou a proibição do trabalho infantil ao elevar de 14 para 16 anos


a idade mínima permitida para o trabalho; essa alteração é constitucional e tem
por objetivo proteger as crianças e adolescentes
A norma fundada no art. 7º, XXXIII, da Constituição Federal, na alteração que lhe
deu a Emenda Constitucional 20/1998, tem plena validade constitucional. Logo, é
vedado “qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de
aprendiz, a partir de quatorze anos”. STF. Plenário. ADI 2096/DF, Rel. Min. Celso de
Mello, julgado em 9/10/2020 (Info 994).

É inconstitucional lei municipal que proíba a divulgação de material com


referência a “ideologia de gênero” nas escolas municipais
Compete privativamente à União legislar sobre diretrizes e bases da educação
nacional (art. 22, XXIV, da CF), de modo que os Municípios não têm competência
181
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

para editar lei proibindo a divulgação de material com referência a “ideologia de


gênero” nas escolas municipais. Existe inconstitucionalidade formal. Há também
inconstitucionalidade material nessa lei. Lei municipal proibindo essa divulgação
viola: • a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte
e o saber (art. 206, II, CF/88); e • o pluralismo de ideias e de concepções
pedagógicas (art. 206, III). Essa lei contraria ainda um dos objetivos fundamentais
da República Federativa do Brasil, que é a promoção do bem de todos sem
preconceitos (art. 3º, IV, CF/88). Por fim, essa lei não cumpre com o dever estatal
de promover políticas de inclusão e de igualdade, contribuindo para a manutenção
da discriminação com base na orientação sexual e identidade de gênero. STF.
Plenário. ADPF 457, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 27/04/2020.

Essa jurisprudência foi cobrada na prova de Delegado de Polícia do Paraná:

Caiu em prova Delegado PR/2021! Atendendo ao interesse local, os municípios podem editar lei que proíba
a divulgação de materiais com menção à ideologia de gênero nas escolas municipais. (item incorreto).

A educação básica em todas as suas fases — educação infantil, ensino


fundamental e ensino médio — constitui direito fundamental de todas as crianças
e jovens, assegurado por normas constitucionais de eficácia plena e aplicabilidade
direta e imediata. A educação infantil compreende creche (de zero a 3 anos) e a
pré-escola (de 4 a 5 anos). Sua oferta pelo Poder Público pode ser exigida
individualmente, como no caso examinado neste processo. O Poder Público tem o
dever jurídico de dar efetividade integral às normas constitucionais sobre acesso à
educação básica. STF. Plenário. RE 1008166/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
22/9/2022 (Repercussão Geral – Tema 548) (Info 1069).

Se o indivíduo possui contra si uma condenação criminal transitada em julgado,


ele não poderá ser vigilante, mesmo que já tenha cumprido a pena há mais de 5
anos
Viola o princípio da presunção de inocência o impedimento de participação ou
registro de curso de formação ou reciclagem de vigilante, por ter sido verificada a
existência de inquérito ou ação penal não transitada em julgado. Assim, não
havendo sentença condenatória transitada em julgado, o simples fato de existir um
processo penal em andamento não pode ser considerado antecedente criminal
para o fim de impedir que o vigilante se matricule no curso de reciclagem. STJ. 2ª
Turma. REsp 1597088/PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/08/2017. A
existência de condenação criminal transitada em julgado impede o exercício da
atividade profissional de vigilante por ausência de idoneidade moral. STJ. 2ª Turma.
REsp 1666294-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/09/2019 (Info 658).

182
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Quando o delito imputado envolve o emprego de violência contra a pessoa ou


demonstre comportamento agressivo incompatível com as funções de vigilante,
é válida a recusa de pedido de inscrição em curso de reciclagem para vigilantes
profissionais, porquanto configurada, em regra, a ausência de idoneidade do
indivíduo. STJ. 1ª Turma.REsp 1952439-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em
26/04/2022 (Info 734).
A existência de condenação criminal transitada em julgado impede o exercício da
atividade profissional de vigilante por ausência de idoneidade moral, mesmo que
tenha cumprido a pena há mais de 5 anos.
Nota: É válida a recusa pela Polícia Federal de pedido de inscrição em curso de
reciclagem para vigilantes profissionais, quando configurada a ausência de
idoneidade do indivíduo em razão da prática de delito que envolve o emprego de
violência contra a pessoa ou da demonstração de comportamento agressivo
incompatível com as funções do cargo. REsp 1.952.439-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina,
Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 26/04/2022, DJe 28/04/2022.
O STJ, através da sua 2° Turma – informativo de n° 666 – decidiu que: “A omissão
injustificada da Administração em providenciar a disponibilização de banho
quente nos estabelecimentos prisionais fere a dignidade de presos sob sua
custódia.”

O fornecimento recíproco de dados investigatórios e o intercâmbio de


informações entre a Polícia Federal e as polícias estaduais são medidas que se
legitimam em face do modelo constitucional de federalismo cooperativo.
A razão disso encontra-se na forma de distribuição de competência dentro de uma
forma de estado federalista cooperativa. Isto é, há um ponto convergente entre a
União e os entes estaduais sobretudo em suas atividades investigativas (polícia civil
e federal).
Neste sentido, informativo de n° 755 do STF: “Cabe salientar que a mútua
cooperação entre organismos policiais, o intercâmbio de informações, o
fornecimento recíproco de dados investigatórios e a assistência técnica entre a
Polícia Federal e as Polícias Estaduais, com o propósito comum de viabilizar a mais
completa apuração de fatos delituosos gravíssimos, notadamente naqueles casos
em que se alega o envolvimento de policiais militares na formação de grupos de
extermínio, encontram fundamento, segundo penso, no próprio modelo
constitucional de federalismo cooperativo (RHC 116.000/GO, Rel. Min. CELSO DE
MELLO), cuja institucionalização surge, em caráter inovador, no plano de nosso
ordenamento constitucional positivo, na Constituição Federal de 1934, que se
afastou da fórmula do federalismo dualista inaugurada pela Constituição
republicana de 1891, que impunha, por efeito da outorga de competências
estanques, rígida separação entre as atribuições federais e estaduais.”

183
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Caiu em prova Delegado BA/2022! A Constituição Federal de 1988 dispõe que todos são iguais perante a
lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Com relação aos
direitos fundamentais e o entendimento jurisprudencial dos Tribunais Superiores, assinale a alternativa
correta: É possível a interrupção da gravidez quando houver diagnóstico de anencefalia do feto.

Caiu em prova Delegado BA/2022! O direito à liberdade, previsto como direito fundamental no caput do art.
5º da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada no dia 05 de outubro de 1988, está
presente também no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069, de 13/07/1990 - ECA), que em seu
art. 16, dispõe que o direito à liberdade compreende os determinados aspectos. Considerando os a liberdade
garantida às crianças e aos adolescentes pelo referido estatuto, analise as afirmativas abaixo:

I. brincar, praticar esportes e divertir-se; participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação.
II. ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais.
III. opinião e expressão; crença e culto religioso.
IV. participar da vida política, na forma da lei; buscar refúgio, auxílio e orientação.

Estão corretas as afirmativas:

a) I, II, III e IV
b) I, III e IV apenas
c) II, III e IV apenas
d) III e IV apenas
e) I, II e IV apenas

Resposta: Alternativa ‘A’

Caiu em prova Delegado ES/2022! Assinale a opção correta a respeito dos direitos e garantias fundamentais:
A omissão injustificada da administração pública em providenciar a disponibilização de banho quente nos
estabelecimentos prisionais fere a dignidade dos presos sob sua custódia (item considerado correto).

Caiu em prova Delegado ES/2022! Com base no disposto na Constituição Federal de 1988 (CF/88) e no
entendimento do Supremo Tribunal Federal, assinale a opção correta acerca dos direitos sociais: O servidor
público que seja pai monoparental faz jus à licença maternidade e ao salário maternidade pelo prazo de 180
dias (item considerado correto).

Referência Bibliográficas:

184
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Pedro Lenza. Direito Constitucional Esquematizado.


Marcelo Novelino. Curso de Direito Constitucional.
Dirley da Cunha Junior. Curso de Direito Constitucional.
Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino. Direitos Constitucional Descomplicado
Bruno Del Preti e Paulo Lépore. Manual de Direitos Humanos
João Trindade. Teoria Geral dos Direitos Fundamentais. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/repositorio/cms/portaltvjustica/portaltvjusticanoticia/anexo/joao_trindadade__teori
a_geral_dos_direitos_fundamentais.pdf
Julgados comentados do site Dizer o Direito. http://www.dizerodireito.com.br/

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

DIREITOS HUMANOS: INTRODUÇÃO E TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS

1. INTRODUÇÃO E TEORIA GERAL

1.1 Conceito

O conceito de direitos humanos, segundo Gregorio Robles, não é pacífico, pois sofre influência de
pontos de vista de cunhos político e ideológico. Entretanto, de acordo com a definição dada pelos
doutrinadores brasileiros, há um ponto em comum: a concretização da dignidade da pessoa humana a todos
os seres humanos.

Para Paulo Henrique Gonçalves Portela, os direitos humanos são aqueles direitos
essenciais para que o ser humano seja tratado com a dignidade que lhe é inerente
e aos quais fazem jus todos os membros da espécie humana, sem distinções.
Para André de Carvalho Ramos, os direitos humanos consistem em um conjunto
de direitos considerado indispensável para uma vida humana pautada na liberdade,
igualdade e dignidade. Os direitos humanos são, em suma, todos os direitos
essenciais e indispensáveis à vida digna, não havendo um rol predefinido e taxativo.

A dignidade da pessoa humana, como princípio fundamental da República Federativa do Brasil,


conforme o preceituado no art. 1°, inciso III, da CRFB/88, é um valor central de todo o ordenamento jurídico,
sendo, de acordo com José Afonso da Silva, o epicentro axiológico do nosso ordenamento constitucional,
indispensável para o intérprete do Direito. Ou seja, a dignidade da pessoa humana é o elemento valorativo
de todo o ordenamento jurídico brasileiro.

Os direitos humanos podem, ainda, ser caracterizados de acordo com a corrente a ser considerada:
1°) Jusnaturalista: os direitos humanos são naturais, inerentes às pessoas, a qualquer tempo e em
qualquer lugar. Não precisam estar positivados.
2°) Universalista: os direitos humanos são direitos universais, ou seja, de todas as pessoas, em
qualquer lugar, sendo protegidos pelo Direito Internacional dos Direitos Humanos.
3°) Constitucionalista: os direitos humanos são aqueles reconhecidos pela Constituição de
determinado Estado, ou seja, aqueles direitos constitucionais positivados internamente.

Para André de Carvalho Ramos, os direitos humanos têm estrutura variada, podendo ser interpretados
como:
a) Direito-pretensão: consistente na busca de algo, gerando a contrapartida de outrem do dever
de prestar. Exemplo: O direito à educação fundamental, que gera o dever do Estado de prestá-la
gratuitamente (art. 208, inciso I, CRFB/88).
b) Direito-liberdade: consistente na faculdade de agir, que gera a ausência de direito de qualquer
outro ente ou pessoa. Exemplo: Liberdade de credo (art. 5°, inciso VI, CRFB/88), não possuindo
o Estado o direito de exigir que as pessoas tenham determinada religião.
186
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

c) Direito-poder: consistente na relação de poder exigir determinada sujeição do Estado ou de


outra pessoa. Exemplo: O poder de uma pessoa, ao ser presa, requerer a assistência de um
advogado (art. 5°, inciso LXIII, CRFB/88), o que sujeita à autoridade pública a prestá-lo.
d) Direito-imunidade: consistente na autorização dada por uma norma a determinada pessoa
impedindo que outra interfira de qualquer modo. Exemplo: A imunidade à prisão prevista no art.
5°, inciso LXI, CRFB/88 prevê que: ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei, o que impede que outros agentes públicos
possam alterar a posição da pessoa em relação à prisão.

1.2 Direitos Humanos X Direitos do Homem X Direitos Fundamentais

Ao se referir aos direitos essenciais à pessoa humana, pode-se deparar com diversas nomenclaturas que,
entretanto, não são sinônimas:

● Direitos Humanos – são aqueles direitos indispensáveis à uma vida digna, previstos em normas
internacionais de proteção dos direitos humanos.
● Direitos do Homem – referem-se aos direitos naturais, aqueles inatos ao homem, que não
dependem de previsão na ordem jurídica positiva, e que decorrem da razão divina ou da razão
humana (estão relacionados com o jusnaturalismo).
● Direitos fundamentais – materializam a dignidade humana no plano interno. Ou seja: são aqueles
positivados nas Constituições dos Estados (ex: artigo 5º da CF/88).

2. FONTES DOS DIREITOS HUMANOS

As fontes se dividem em duas classes:

FONTES MATERIAIS FONTES FORMAIS

São iguais às fontes do DIP7 (tratados, costumes,


São os fatos sociais e ideias políticas.
jurisprudência, doutrina, resoluções, soft law, etc.).

3. FUNDAMENTAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Os direitos humanos ganharam importância e relevância no século XX, já estando incorporados ao


pensamento jurídico do século XXI. Os doutrinadores sustentam que o fundamento e a justificativa dos
direitos humanos estariam ligados ao positivismo ou ao jusnaturalismo (Almeida, 2009).
Há 2 correntes principais acerca dos fundamentos dos Direitos Humanos:
1) Corrente Jusnaturalista; e

7
Vide material de Direito Internacional.
187
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

2) Corrente Juspositivista.

3.1 Jusnaturalismo

É a primeira das teorias fundamentadoras dos Direitos Humanos. O jusnaturalismo é uma corrente
que defende a existência de um conjunto de normas vinculantes anterior e superior ao sistema de normas
fixadas pelo Estado – direito posto. Existem duas bases para o jusnaturalismo: (i) teológica; e (ii) racional.

∙Teológica: A teoria jusnaturalista teológica existe desde a antiguidade clássica, com o pensamento
judaico-cristão. Para essa teoria, as pessoas possuem direitos naturais de origem divina, que lhes foram
conferidos porque são filhos de Deus.

∙ Racional: Hugo Grotius diz que, mesmo se Deus não existisse, o ser humano teria direitos pelo
simples fato de ser humano. No estado de natureza, o ser humano tem direitos. É o pensamento dos
iluministas do século XVIII (Locke, Rousseau, Montesquieu). O jusnaturalismo racional moveu o nascimento
dos direitos humanos na modernidade.

Para o Jusnaturalismo, as ideias precursoras de limitação ao poder e de emancipação da pessoa


humana como titular de direitos inerentes, resultaram na concepção de que a Pessoa Humana é fundamento
absoluto, atemporal e global desses direitos.
A pessoa é a mesma em todos os lugares e, considerando as diversidades culturais, deve ser tratada
igualmente, de forma justa e solidária. Ressalta-se a dignidade inerente a todo e qualquer ser humano como
a razão máxima do Direito e da Sociedade, devendo ser resguardada e cultivada por estes.
Os direitos humanos seriam, assim, o conjunto de condições, garantias e comportamentos, capazes
de assegurar a característica essencial do homem, a sua dignidade, de forma a conceder a todos, sempre, o
cumprimento das necessidades inseridas em sua condição de pessoa humana.
Dessa forma, esses direitos não são criados pelos homens ou pelos Estados, eles são preexistentes
ao Direito, restando a estes apenas “declará-los”, nunca constituí-los.

3.2 Positivismo

Para a Escola Positivista, o fundamento dos direitos humanos consiste na existência de norma posta,
cujo pressuposto de validade está em sua edição conforme as regras estabelecidas na Constituição.
A ideia positivista sobre direitos humanos, apresentada por Norberto Bobbio, afirma a inexistência
de um direito absoluto.
Bobbio explica que a dogmática jurídica se caracteriza pela historicidade, o que significa dizer que o
Direito é passível de constantes modificações, advindas das mudanças sociais. Para o autor, não se pode dar
um fundamento eterno para algo que necessariamente sofrerá modificações.
Um preceito só pode ser considerado jurídico quando nele estiver presente o caráter repressivo, que
lhe concede eficácia, como bem ressaltava Hans Kelsen. Se a Ordem Jurídica nada pode fazer para assegurar

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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o cumprimento desses preceitos, eles não podem ser denominados “direito”, pois são meras expectativas de
conduta, meras expressões de boas intenções que orientam a ação para um futuro indeterminado, incerto.
Portanto, para os positivistas, a ausência de coercibilidade dos direitos naturais lhe retira a própria
natureza de “direitos”, devendo os direitos humanos passar por um processo de positivação.
Atualmente, porém, há uma tendência à “positivação” dos direitos humanos, de forma a inseri-los
nas Constituições Estatais, através da criação de novos mecanismos para garanti-los, além da difusão de sua
regulação por meio de mecanismos internacionais, como os Tratados e Convenções Internacionais de
Direitos Humanos.
Com isso, já se pode falar num conceito positivo de direitos humanos, que seriam os direitos
fundamentais, assegurados ao indivíduo, através da regulamentação e aplicação desses direitos, tanto no
campo estatal como no campo supraestatal.

3.3 Jusinternacionalista

Parte da doutrina defende existir ainda uma 3ª corrente acerca dos fundamentos dos direitos
humanos: o Jusinternacionalismo. A corrente Jusinternacionalista afirma que o fundamento dos direitos
humanos é o próprio Direito Internacional.
Para essa corrente, se o direito estiver previsto na ordem internacional, já pode ser caracterizado
como uma norma de direitos humanos, não havendo necessidade de estar positivado na ordem jurídica
interna do Estado.

TEORIA JUSNATURALISTA TEORIA POSITIVISTA TEORIA


(PRINCIPAL) JUSINTERNACIONALISTA
Os direitos humanos se Alicerça tais direitos na ordem o fundamento dos direitos
fundamentam em uma jurídica posta, pelo que humanos é o próprio Direito
ordem superior, universal, somente seriam reconhecidos Internacional.
imutável e inderrogável. como direitos humanos
aqueles positivados.

4. MARCOS FUNDAMENTAIS DOS DIREITOS HUMANOS

Conforme leciona o Professor André de Carvalho Ramos:

“A contar dos primeiros escritos das comunidades humanas ainda no século VIII
a.C. até o século XX d.C., são mais de vinte e oito séculos rumo à afirmação universal
dos direitos humanos, que tem como marco a Declaração Universal dos Direitos
Humanos de 1948”.

A evolução histórica dos direitos humanos pode ser assim esquematizada:

Fase pré-Estado Constitucional


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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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⋅ Antiguidade oriental e o esboço da construção de direitos (séculos VIII e II a.C.). Destacam-


se Zaratustra na Pérsia, Buda na Índia, Confúcio na China e o Dêutero-Isaías em Israel. Dentre
os documentos relevantes, menciona-se a codificação de Menes (Antigo Egito), o Código de
Hammurabi (considerado o primeiro código de normas de condutas), a Lei do Talião e o
“Cilindro de Ciro”.
⋅ A doutrina destaca que a visão grega foi fundamental na consolidação dos direitos humanos.
Conforme ensina André de Carvalho Ramos, “Platão, em sua obra A República (400 a.C.),
defendeu a igualdade e a noção do bem comum. Aristóteles, na Ética a Nicômaco, salientou
a importância do agir com justiça, para o bem de todos da pólis, mesmo em face de leis
injustas”.
⋅ O Direito romano também contribuiu para a proteção dos Direitos Humanos. Foi aqui que o
princípio da legalidade se consolidou, uma vez que a Lei das Doze Tábuas estipulou que a
“lex scripta” deveria reger as condutas. Foi também no Direito romano que se consagraram
alguns direitos, como liberdade, propriedade e personalidade jurídica.
⋅ Destacam-se, também, a Torah (cinco livros de Moisés), onde são defendidas a solidariedade
e a preocupação com o bem-estar de todos; o Antigo Testamento; o cristianismo também
teve a sua contribuição, ao pregar igualdade e solidariedade; por fim, merece ser citado São
Tomás de Aquino (Suma Teológica).

A crise da Idade Média, início da Idade Moderna e os primeiros diplomas de direitos humanos
Mesmo com o poder dos governantes limitado, uma vez que era baseado na vontade divina, nota-se
o surgimento de alguns movimentos de reivindicação da liberdade, como:
⋅ Declaração das Cortes de Leão (Península Ibérica, 1188)
⋅ Magna Carta Inglesa (1215), que trazia direitos dos indivíduos contra o Estado.
O Renascimento e a Reforma Protestante deram lugar ao surgimento dos Estados Nacionais
absolutistas europeus, quando verificou-se uma forte centralização de poder na figura do rei. No século XVII
o Estado Absolutista começa a ser duramente questionado, especialmente na Inglaterra. Destacam-se, aqui:
⋅ “Petition of right”, de 1628 – dever do rei de não cobrar impostos sem autorização do
Parlamento; “nenhum homem livre podia ser detido ou preso ou privado dos seus bens, das
suas liberdades e franquias, ou posto fora da lei e exilado ou de qualquer modo molestado,
a não ser por virtude de sentença legal dos seus pares ou da lei do país”.
⋅ “Habeas Corpus Act”, de 1679 – formalizou a proteção judicial aos injustamente presos.
⋅ “Bill of Rights”, de 1689 – reduzindo o poder dos reis ingleses de forma definitiva. Afirma a
vontade da lei sobre a vontade do rei.
⋅ “Act of Settlement”, de 1701 – fixou a linha sucessória da coroa inglesa e reafirmou o poder
do Parlamento em detrimento do poder dos monarcas.

Caiu na prova Delegado SP/2018! Esse documento histórico de remota conquista dos direitos humanos foi
editado com o escopo de assegurar a Supremacia do Parlamento sobre a vontade do Rei, controlando e
reduzindo os abusos cometidos pela nobreza em relação aos seus súditos, em especial declarando, dentre

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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outras conquistas, o direito de petição, eleições livres e a proibição de fianças exorbitantes e de penas
severas: The Bill of Rights, de 1689. (ITEM CORRETO)

O debate das ideias e os iluministas


No Iluminismo foi ressaltada a razão, o espírito crítico e a fé na ciência. Esse movimento procurou
compreender a essência das coisas e das pessoas, observar o homem natural e, desse modo, chegar às
origens da humanidade. São pensadores renomados de tal período: John Locke (Tratado sobre o governo -
1689), Jean-Jacques Rousseau (Contrato social - 1762), Thomas Hobbes (O Leviatã - 1651) e Charles-Louis de
Secondat - Montesquieu (O espírito das leis - 1748).
Impulsionadas pelo Iluminismo, foram elaboradas as primeiras declarações de direitos humanos,
destacando-se a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 26 de agosto de 1789, redigida após a
Revolução Francesa, a qual teve como marco histórico a queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789.
Immanuel Kant (Crítica da razão pura - 1781, A doutrina do direito, A doutrina da virtude e seu Ensaio
filosófico sobre a paz perpétua - 1795), por meio do racionalismo, delineou o Estado como um instrumento
de produção de leis, por meio de seus cidadãos, sendo a liberdade o principal fundamento para se
estabelecer e valorizar a figura da pessoa humana, devendo-se atentar para a moralidade, a dignidade e a
paz perpétua.
Conforme ensina o Professor André de Carvalho Ramos, as revoluções liberais inglesa, americana e
francesa e suas respectivas Declarações de Direitos marcaram a primeira clara afirmação histórica dos
direitos humanos.
Conforme já mencionado, a Revolução Inglesa foi a grande precursora; a Revolução Americana é a
responsável pela criação da primeira Constituição do mundo (Constituição norte-Americana de 1787).
Apesar da inovação, o referido documento não contava com um rol de direitos, que somente veio a ser
inserido em 1791, com a aprovação de 10 Emendas.
A Revolução Francesa fez nascer os ideais representativos dos direitos humanos, quais sejam a
igualdade, a liberdade e a fraternidade. Aqui foi editada a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do
Cidadão, adotada pela Assembleia Nacional Constituinte francesa em 1789. A Declaração, composta por 17
artigos, foi concebida como preâmbulo da Constituição Francesa de 1791.
Também em 1791 foi elaborado o projeto de Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã,
reivindicando a igualdade de direitos de gênero.

Adentra-se, então, na fase do socialismo e do constitucionalismo social.


Em 1793 foi editada uma nova Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do cidadão, pleiteando
igualdade e reconhecendo o direito à educação.
De acordo com André de Carvalho Ramos:

“No plano do constitucionalismo, houve a introdução dos chamados direitos sociais


– que pretendiam assegurar condições materiais mínimas de existência – em
diversas Constituições, tendo sido pioneiras a Constituição do México (1917), da
República da Alemanha (também chamada de República de Weimar, 1919) e, no
Brasil, a Constituição de 1934.
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No plano do Direito Internacional, consagrou-se, pela primeira vez, uma


organização internacional voltada à melhoria das condições dos trabalhadores, que
foi a Organização Internacional do Trabalho, criada em 1919 pelo próprio Tratado
de Versailles que pôs fim à Primeira Guerra Mundial”.

Por fim, com o final da II Guerra Mundial, os homens se conscientizaram da necessidade de não se
permitir que seres humanos novamente sofressem aquelas atrocidades cometidas pelos nazistas. A barbárie
do totalitarismo significou a ruptura do paradigma dos direitos humanos, por meio da negação do valor da
pessoa humana como valor-fonte do direito. (Piovesan, 2019). Houve uma mudança de paradigma em que
não mais seguia-se a lei de forma cega, com uma reaproximação entre direito e moral.

Caiu na prova Delegado SP/2018! No tocante à temática dos direitos humanos, considerando seu surgimento
e sua evolução histórica, assinale a alternativa que contempla correta e cronologicamente seus marcos
históricos fundamentais.
E) O iluminismo, a Revolução Francesa e o fim da Segunda Guerra Mundial. (ITEM CORRETO)

Posteriormente houve a criação da Organização das Nações Unidas e a declaração de inúmeros


tratados internacionais de direitos humanos, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos, entre outros.
De acordo com a doutrina, a criação do Direito Internacional dos Direitos Humanos está relacionada
ao pós Segunda Guerra Mundial e a nova organização da sociedade internacional. Um dos grandes marcos
foi a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 1945, na Conferência de São Francisco.
O tratado institutivo da ONU foi denominado “Carta de São Francisco”.
A Carta das Nações Unidas foi assinada em São Francisco, em 26 de junho de 1945, após o término
da Conferência das Nações Unidas sobre Organização Internacional, entrando em vigor em 24 de outubro
daquele mesmo ano.
De acordo com o Preâmbulo da Carta das Nações Unidas:

“NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS a preservar as gerações


vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe
sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais
do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos
homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a
estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes
de tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a
promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade
ampla.
E PARA TAIS FINS, praticar a tolerância e viver em paz, uns com os outros, como
bons vizinhos, e unir as nossas forças para manter a paz e a segurança
internacionais, e a garantir, pela aceitação de princípios e a instituição dos
métodos, que a força armada não será usada a não ser no interesse comum, a
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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empregar um mecanismo internacional para promover o progresso econômico e


social de todos os povos”.

Além disso, a Carta traz os propósitos e princípios da ONU, a saber:

PROPÓSITOS E PRINCÍPIOS
ARTIGO 1 - Os propósitos das Nações unidas são:
1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar,
coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de
agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de
conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste
ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da
paz;
2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao
princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras
medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal;
3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas
internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para
promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades
fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; e
4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução
desses objetivos comuns.
ARTIGO 2 - A Organização e seus Membros, para a realização dos propósitos
mencionados no Artigo 1, agirão de acordo com os seguintes Princípios:
1. A Organização é baseada no princípio da igualdade de todos os seus Membros.
2. Todos os Membros, a fim de assegurarem para todos em geral os direitos e
vantagens resultantes de sua qualidade de Membros, deverão cumprir de boa fé as
obrigações por eles assumidas de acordo com a presente Carta.
3. Todos os Membros deverão resolver suas controvérsias internacionais por meios
pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a justiça
internacionais.
4. Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou
o uso da força contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer
Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas.
5. Todos os Membros darão às Nações toda assistência em qualquer ação a que
elas recorrerem de acordo com a presente Carta e se absterão de dar auxílio a qual
Estado contra o qual as Nações Unidas agirem de modo preventivo ou coercitivo.
6. A Organização fará com que os Estados que não são Membros das Nações Unidas
ajam de acordo com esses Princípios em tudo quanto for necessário à manutenção
da paz e da segurança internacionais.

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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7. Nenhum dispositivo da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervirem


em assuntos que dependam essencialmente da jurisdição de qualquer Estado ou
obrigará os Membros a submeterem tais assuntos a uma solução, nos termos da
presente Carta; este princípio, porém, não prejudicará a aplicação das medidas
coercitivas constantes do Capitulo VII.
Caiu na prova Delegado CE/2015! Assinale a alternativa correta no que diz respeito à Organização das Nações
Unidas.
E) A Organização é baseada no princípio da igualdade de todos os seus Membros. (ITEM CORRETO)

Vale destacar que a Carta da ONU não listou o rol de direitos essenciais. Apenas em 1948 foi
aprovada, sob a forma de Resolução da Assembleia Geral da ONU, a Declaração Universal dos Direitos
Humanos (“Declaração de Paris”), explicitando o rol de direitos humanos aceitos internacionalmente.

ATENÇÃO! Como a Carta de São Francisco (ou Carta da ONU) não listou o rol de direitos considerados
humanos e fez-se necessária a edição da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) – art. 1° ao 21,
os direitos civis e políticos; e nos arts. 22 ao 27, os direitos econômicos, sociais e culturais –, a doutrina
majoritária entende que a DUDH é o verdadeiro marco da internacionalização e da universalização do Direito
Internacional dos Direito Humanos (para André de Carvalho Ramos o marco foi a Carta da ONU).

Verifica-se o desenvolvimento do sistema internacional de proteção dos direitos humanos, que é o


maior legado da chamada "era dos direitos" (Piovesan, 2019). Em uma visão contemporânea, José Joaquim
Gomes Canotilho afirma:

"Os direitos humanos articulados com o relevante papel das organizações


internacionais fornecem um enquadramento razoável para o constitucionalismo
global. O constitucionalismo global compreende não apenas o clássico paradigma
das relações horizontais entre Estados, mas o novo paradigma centrado nas
relações Estado/povo, na emergência de um Direito Internacional dos Direitos
Humanos e na tendencial elevação da dignidade humana a pressuposto
ineliminável de todos os constitucionalismos. Por isso, o Poder Constituinte dos
Estados e, consequentemente, das respectivas Constituições nacionais está hoje
cada vez mais vinculado a princípios e regras de direito internacional. É como se o
Direito Internacional fosse transformado em parâmetro de validade das próprias
Constituições nacionais (cujas normas passam a ser consideradas nulas se
violadoras das normas do jus cogens internacional). O Poder Constituinte soberano
criador de Constituições está hoje longe de ser um sistema autónomo que gravita
em torno da soberania do Estado" (Direito constitucional e teoria da constituição,
p. 1.217).

5. INTERNACIONALIZAÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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No que tange ao contexto histórico da internacionalização e da universalização do Direito


Internacional dos Direito Humanos, verifica-se que não há um rol mínimo de direitos assim considerados,
variando de acordo com a demanda relativa ao contexto histórico, sendo importante apontar os seus
precedentes históricos até a sua concretização.
De acordo com Flávia Piovesan, são 3 os precedentes históricos à internacionalização dos direitos
humanos:
1°) Direito Humanitário: é o direito que se aplica a conflitos armados, com o condão de limitar a
liberdade e a autonomia dos Estado, uma vez que se impõe uma regulamentação jurídica nesses
casos.
2°) Liga da Nações: criada após a Primeira Guerra Mundial, flexibilizou a autonomia dos Estados para
que se pudesse promover a cooperação, a paz e a segurança internacional, respeitando-se os direitos
humanos.
3°) Organização Internacional do Trabalho (OIT): criada após a Primeira Guerra Mundial, tratava-se
de um mecanismo institucionalizado de proteção aos direitos humanos nas relações de trabalho.

6. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS

6.1 Historicidade

A proteção dos direitos humanos são fruto de uma evolução histórica, fruto de uma emancipação
evolutiva, que foi ganhando espaço com a mudança de perspectiva da sociedade, ou seja, a sociedade foi
acrescentando novas necessidades à ideia de direito mínimo para uma vida com dignidade. Dessa forma,
essas conquistas foram paulatinas na história da humanidade, sendo os direitos humanos fruto das
demandas sociais de determinados momentos históricos.

6.2 Universalidade

“Todo e qualquer ser humano é sujeito ativo desses direitos, podendo pleiteá-los
em qualquer foro nacional ou internacional (parágrafo 5° da Declaração e Programa
de Ação de Viena de 1993);”

Os direitos humanos são oponíveis a todos, independentemente de quaisquer condições (exs: etnia,
raça, gênero, procedência nacional). Dessa forma, são universais, representando a possibilidade de o
indivíduo pleitear seus interesses perante instâncias internacionais em caso de insatisfação em relação às
instâncias nacionais. Requisitos devem ser cumpridos para tanto.
Vale dizer que “todos os direitos humanos são universais, indivisíveis e inter-relacionados, devendo
a comunidade internacional considerá-los, globalmente, de forma justa e equitativa, no mesmo pé e com
igual ênfase” (André de Carvalho Ramos).

Caiu na prova Delegado BA/2022 (reaplicação)!


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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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Os Direitos Humanos são fruto do desenvolvimento histórico e social dos povos. São direitos considerados
universais, tendo em vista não ser possível eleger categorias de indivíduos a serem merecedores da tutela
desses direitos. Eles são, pois, inerentes à condição de pessoa humana. (ITEM CORRETO)

Os Direitos Humanos são unos e indivisíveis. Não há que falar em hierarquia entre os direitos, todos
conjuntamente compõem um conjunto de direitos essenciais à efetividade da dignidade da pessoa humana.
(ITEM CORRETO)

Caiu na prova Delegado PR/2021! As Conferências Mundiais de Direitos Humanos desempenharam um papel
importante na construção histórica dos direitos humanos. Os conceitos de universalidade, indivisibilidade e
interdepêndencia dos direitos humanos foram consolidados nas conferências de Teerã e Viena. (ITEM
CORRETO)

6.3 Limitabilidade ou Relatividade

Os direitos fundamentais não são absolutos: isso quer dizer que, por vezes, dois direitos
fundamentais podem chocar-se. Chama-se conflito positivo. Nesse caso, devem os direitos serem sopesados
no caso concreto, de acordo com o Supremo Tribunal Federal.
Apesar da limitabilidade inerente à natureza dos direitos humanos, a doutrina contemporânea
sustenta que existem 2 exceções a essa regra, as quais seriam direitos considerados absolutos: a vedação à
tortura (art. 5° da DUDH) e a vedação à escravidão (art. 4° da DUDH).

6.4 Irrenunciabilidade

Diferentemente do que ocorre com os direitos subjetivos em geral, os direitos humanos têm como
característica básica a irrenunciabilidade, que se traduz na ideia de que a autorização de seu titular não
justifica ou convalida qualquer violação do seu conteúdo.

OBS: O STF admite, excepcionalmente, a renúncia temporária aos direitos que não ferem o núcleo da
dignidade da pessoa humana, como no caso de participação em reality show.

6.5 Inalienabilidade ou Indisponibilidade

Os direitos humanos são inalienáveis, na medida em que não permitem a sua desinvestidura por
parte do titular, não podendo ser transferidos ou cedidos (onerosa ou gratuitamente) a outrem, ainda que
com o consentimento do agente, tendo em vista que não são passíveis de valoração econômica. Por isso, são
indisponíveis e inegociáveis.

6.6 Imprescritibilidade

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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São os direitos humanos imprescritíveis, não se esgotando com o passar do tempo e podendo ser a
qualquer tempo vindicados, não se justificando a perda do seu exercício pelo advento da prescrição.
Em outras palavras, os direitos humanos não se perdem ou divagam no tempo, salvo as limitações
expressamente impostas por tratados internacionais que preveem procedimentos perante cortes ou
instâncias internacionais.

6.7 Vedação ao retrocesso

Os tratados internacionais de direitos humanos, da mesma forma que as leis internas, não podem
impor restrições que diminuam ou nulifiquem direitos já anteriormente assegurados, tanto no plano interno
quanto na própria órbita internacional. Assim, se uma norma posterior revoga ou nulifica uma norma anterior
mais benéfica, essa norma posterior é inválida por violar o princípio internacional da vedação do retrocesso
(igualmente conhecido como princípio da “proibição de regresso”, do “não retorno” ou “efeito cliquet”).
Nesse sentido, vários tratados de direitos humanos já contêm cláusulas a prever que nenhuma de
suas disposições “pode ser interpretada no sentido de limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou
liberdade que possam ser reconhecidos em virtude de leis de qualquer dos Estados-partes ou em virtude de
Convenções em que seja parte um dos referidos Estados”, tal como faz o art. 29, “b”, da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos de 1969.
Destaque-se que há várias manifestações no STF sobre esse princípio, especialmente do Min. Celso
de Mello, para quem “o princípio da proibição do retrocesso impede, em tema de direitos fundamentais de
caráter social, que sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo cidadão ou pela formação social
em que ele vive.” (STF, ARE n.º 639.337 AgR/SP, 2.ª Turma, Rel. Min. Celso de Mello, j. 23.08.2011, DJe
15.09.2011.).
Quadro sinóptico com a diferenciação dos seguintes institutos:

“EFEITO CLIQUET” OU Consiste na vedação da eliminação da concretização já alcançada na


PRINCÍPIO DO NÃO proteção de algum direito, admitindo-se somente aprimoramentos e
RETORNO DA acréscimos.
CONCRETIZAÇÃO
Consiste na preservação do mínimo já concretizado dos direitos
fundamentais, impedindo o retrocesso, que poderia ser realizado pela
ENTRECHMENT OU supressão normativa ou ainda pelo amesquiamento ou diminuição de suas
ENTRINCHEIRAMENTO prestações à coletividade.
Este é proibido por ofensa ao ato jurídico perfeito, à coisa julgada e ao direito
PROTEÇÃO CONTRA adquirido. Difere da vedação do retrocesso, que proíbe a supressão ou
EFEITOS RETROATIVOS diminuição da satisfação de um dos direitos humanos.
FUNDAMENTOS DA 1. Estado Democrático de Direito;
CONSTITUIÇÃO 2. Dignidade da pessoa humana;
BRASILEIRA PARA A 3. Aplicabilidade imediata das normas definidoras de direitos
PROIBIÇÃO AO fundamentais;
RETROCESSO 4. Proteção da confiança e segurança jurídica;
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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5. Cláusula pétrea prevista no art. 60, §4º, IV.


CONDIÇÕES PARA QUE
EVENTUAL DIMINUIÇÃO 1. Que haja justificativa também de estatura jusfundamental;
NA PROTEÇÃO 2. Que tal diminuição supere o crivo da proporcionalidade;
NORMATIVA OU FÁTICA 3. Que seja preservado o núcleo essencial do direito envolvido.
DE UM DIREITO SEJA
PERMITIDA

6.8 Essencialidade

Os direitos humanos são essenciais por natureza, tendo por conteúdo os valores supremos do ser
humano e a prevalência da dignidade humana (conteúdo material), revelando-se essenciais, também, pela
sua especial posição normativa (conteúdo formal), permitindo-se a revelação de outros direitos
fundamentais fora do rol de direitos expresso nos textos constitucionais.

Caiu na prova Delegado MS 2021! Os Direitos Humanos são essenciais por natureza, tendo por conteúdo os
valores supremos do ser humano e a prevalência da dignidade humana (conteúdo material), relevando-se
essenciais, também, pela sua especial posição normativa (conteúdo formal), permitindo-se a revelação de
outros direitos fundamentais fora do rol de direitos expresso nos textos constitucionais. (ITEM CORRETO)

6.9 Inerência ou Essencialidade

Os direitos humanos pertencem a todos os indivíduos pela simples circunstância de serem pessoas
humanas. Em suma, basta a condição de ser pessoa humana. É a qualidade de pertencimento desses direitos
a todos os membros da espécie humana, sem qualquer distinção
Ou seja: Os direitos humanos são inerentes ou inatos (naturalmente ligados) aos seres humanos.

Lembrando: Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948: marco da universalidade e inerência dos
direitos humanos.

6.10 Interdependência ou Inter-relação ou Complementariedade

Todos os direitos humanos contribuem para a garantia da dignidade da pessoa humana, interagindo-
se entre si, sendo que uma geração de direitos humanos complementa outra geração de direitos humanos.
(Ex: primeira geração complementa a segunda geração e ambas complementam a terceira geração de
direitos humanos).
De acordo com André de Carvalho Ramos:

“A interdependência ou inter-relação consiste no reconhecimento de que todos os


direitos humanos contribuem para a realização da dignidade humana, interagindo

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

para a satisfação das necessidades essenciais do indivíduo, o que exige, novamente,


a atenção integral a todos os direitos humanos, sem exclusão. O conteúdo de um
direito pode se vincular ao conteúdo de outro, demonstrando a interação e a
complementaridade entre eles, bem como que certos direitos são desdobramentos
de outros”.

Caiu na prova Delegado SP/2021! O Princípio da interrelacionariedade dispõe que os direitos humanos e os
sistemas de proteção se inter-relacionam, permitindo às pessoas escolher entre os mecanismos de proteção
global ou regional, pois não há hierarquia entre eles. (ITEM CORRETO)

6.11 Inexauribilidade

Os direitos humanos são inexauríveis, inesgotáveis, tendo em vista que sempre haverá a
possibilidade de se expandir o rol de direitos a serem protegidos, não podendo, ao contrário, diminuir-se
esses direitos, em vedação ao efeito cliquet.

7. UNIVERSALISMO CULTURAL X RELATIVISMO CULTURAL (PIOVESAN, 2019)

Um debate muito importante é discutir até que ponto os direitos humanos devem ser universais,
visto que o direito que está ligado ao essencial para uma vida digna pode variar a depender da cultura de um
povo. Daí surge o debate entre o universalismo (universalidade dos direitos humanos independem da cultura
local) e o relativismo cultural (limitação cultural ao universalismo).
O debate entre os universalistas e os relativistas culturais retoma o dilema a respeito dos
fundamentos dos direitos humanos: por que temos direitos? As normas de direitos humanos podem ter um
sentido universal ou são culturalmente relativas?

● Para os universalistas – os direitos humanos decorrem da dignidade humana, na qualidade de valor


intrínseco à condição humana. Defende-se, nessa perspectiva, o mínimo ético irredutível — ainda
que se possa discutir o alcance desse “mínimo ético” e dos direitos nele compreendidos.
● Para os relativistas – a noção de direitos está estritamente relacionada ao sistema político,
econômico, cultural, social e moral vigente em determinada sociedade.

Cada cultura possui seu próprio discurso acerca dos direitos fundamentais, que está relacionado às
específicas circunstâncias culturais e históricas de cada sociedade. Não há moral universal, já que a história
do mundo é a história de uma pluralidade de culturas. Há uma pluralidade de culturas no mundo e essas
culturas produzem seus próprios valores. Na crítica dos relativistas, os universalistas invocam a visão
hegemônica da cultura eurocêntrica ocidental, na prática de um canibalismo cultural. Já para os
universalistas, os relativistas, em nome da cultura, buscam acobertar graves violações a direitos humanos.
Ademais, complementam, as culturas não são homogêneas, tampouco compõem uma unidade coerente;
mas são complexas, variáveis, múltiplas, fluidas e não estáticas. São criações humanas e não destino.

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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Para Jack Donnelly, há diversas correntes relativistas: “No extremo, há o que nós denominamos de
relativismo cultural radical, que concebe a cultura como a única fonte de validade de um direito ou regra
moral. (...) Um forte relativismo cultural acredita que a cultura é a principal fonte de validade de um direito
ou regra moral. (...) Um relativismo cultural fraco, por sua vez, sustenta que a cultura pode ser uma
importante fonte de validade de um direito ou regra moral”.
Para dialogar com Jack Donnelly, poder-se-ia sustentar a existência de diversos graus de
universalismos, a depender do alcance do “mínimo ético irredutível”. No entanto, a defesa, por si só, desse
mínimo ético, independentemente de seu alcance, apontará à corrente universalista — seja a um
universalismo radical, forte ou fraco.
Neste debate, destaca-se a visão de Boaventura de Souza Santos, em defesa de uma concepção
multicultural de direitos humanos, inspirada no diálogo entre as culturas, a compor um multiculturalismo
emancipatório. Para Boaventura, “os direitos humanos têm que ser reconceptualizados como multiculturais.
O multiculturalismo, tal como eu o entendo, é precondição de uma relação equilibrada e mutuamente
potenciadora entre a competência global e a legitimidade local, que constituem os dois atributos de uma
política contra-hegemônica de direitos humanos no nosso tempo”. Prossegue o autor defendendo a
necessidade de superar o debate sobre universalismo e relativismo cultural, a partir da transformação
cosmopolita dos direitos humanos. Na medida em que todas as culturas possuem concepções distintas de
dignidade humana, mas são incompletas, haver-se-ia que aumentar a consciência dessas incompletudes
culturais mútuas, como pressuposto para um diálogo intercultural. A construção de uma concepção
multicultural dos direitos humanos decorreria desse diálogo intercultural.
No mesmo sentido, Joaquín Herrera Flores sustenta um universalismo de confluência, ou seja, um
universalismo de ponto de chegada e não de ponto de partida. Em suas palavras: “nossa visão complexa dos
direitos baseia-se em uma racionalidade de resistência. Uma racionalidade que não nega que é possível
chegar a uma síntese universal das diferentes opções relativas a direitos. (...) O que negamos é considerar o
universal como um ponto de partida ou um campo de desencontros. Ao universal há que se chegar —
universalismo de chegada ou de confluência — depois (não antes de) um processo conflitivo, discursivo de
diálogo (...). Falamos de entrecruzamento e não de uma mera superposição de propostas”.
Em direção similar, Bhikhu Parekh defende um universalismo pluralista, não etnocêntrico, baseado
no diálogo intercultural. Afirma o autor: “O objetivo de um diálogo intercultural é alcançar um catálogo de
valores que tenha a concordância de todos os participantes. A preocupação não deve ser descobrir valores,
uma vez que os mesmos não têm fundamento objetivo, mas sim buscar um consenso em torno deles. (...)
Valores dependem de decisão coletiva. Como não podem ser racionalmente demonstrados, devem ser
objeto de um consenso racionalmente defensável. (...) É possível e necessário desenvolver um catálogo de
valores universais não etnocêntricos, por meio de um diálogo intercultural aberto, no qual os participantes
decidam quais os valores a serem respeitados. (...) Essa posição poderia ser classificada como um
universalismo pluralista”.
A respeito do diálogo entre as culturas, merecem menção as reflexões de Amartya Sen sobre direitos
humanos e valores asiáticos, particularmente pela crítica feita a interpretações autoritárias desses valores e
pela defesa de que as culturas asiáticas (com destaque ao Budismo) enfatizam a importância da liberdade e
da tolerância. Menção também há que ser feita às reflexões de Abdullah Ahmed An-na’im, ao tratar dos
direitos humanos no mundo islâmico com base em uma nova interpretação do islamismo e da sharia.
200
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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Acredita-se, de igual modo, que a abertura do diálogo entre as culturas, com respeito à diversidade
e com base no reconhecimento do outro, como ser pleno de dignidade e direitos, é condição para a
celebração de uma cultura dos direitos humanos, inspirada pela observância do “mínimo ético irredutível”,
alcançado por um universalismo de confluência. Para tanto, essencial é o potencial emancipatório e
transformador do diálogo, em que o vértice não seja mais marcado pela ideia do choque entre civilizações
(“clashof civilizations”), mas pela ideia do diálogo entre civilizações (“dialogue Among civilizations”).
Confira a dica do Professor Rafael de Lazari:

https://youtu.be/WkmAI8uAuPY

8. DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS

8.1 Introdução

As dimensões ou gerações dos direitos humanos são cobrados com frequência nos Concursos
Públicos. O tema foi apresentado pela primeira vez por Karel Vasak, em sua forma clássica chamada de
Gerações dos Direitos Humanos, desdobrando-se em 1ª, 2ª e 3ª gerações. Em provas objetivas, a tendência
é que se cobre essas gerações, tendo em vista que não há controvérsias relevantes sobre elas.
No tocante à terminologia, contemporaneamente é preferível adotar a expressão “dimensões”, em
detrimento da expressão “gerações”, afastando a ideia de substituição de uns direitos pelos outros.
Entretanto, a doutrina moderna amplificou tais dimensões, apresentando outras mais. Essas, por
serem controvertidas em alguns pontos, se cobradas em provas objetivas, devem ser específicas em relação
a seu autor e suas características, sob pena de anulação.
Ademais, existe uma corrente doutrinária que afirma que não faz sentido haver demais dimensões,
uma vez que se tratam de mero desdobramento das 1ª, 2ª e 3ª dimensões, sendo possível a inclusão dos
direitos caracterizados naquelas dimensões dentro dessas últimas dimensões.
Cumpre destacar que se trata de uma divisão meramente acadêmica, pois os direitos dos seres
humanos não devem ser divididos em gerações ou dimensões estanques. Tais gerações apenas retratam a
valorização de determinados direitos em momentos históricos distintos.

8.2 1ª Dimensão (Liberdade)

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Em decorrência da passagem dos Estado Absolutista para o Estado Liberal, com origem nas
revoluções liberais, como as Revoluções Inglesas, a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, o indivíduo
pleiteou o absenteísmo estatal, ou seja, um não fazer estatal, para garantir seus direitos civis e políticos,
como o direito à vida, à liberdade, à expressão, ao voto e à igualdade formal.

Documentos externos mais importantes:


● Bill of Rights (Inglaterra - 1689).
● Declaração do Bom Povo do Estado da Virgínia (EUA - 1776).
● Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão (França – 1789).

No Brasil:
● Constituição do Império (1824).
● Constituição da República (1891).

8.3 2ª Dimensão (Igualdade)

No início do século XX, em decorrência dos excessos da Revolução Industrial, os indivíduos sentiram
a necessidade de prestações positivas do Estado, ou seja, um fazer estatal, para que fossem satisfeitos os
seus direitos sociais, econômicos e culturais, como o direito ao trabalho, ao seguro social, à subsistência,
amparo à doença, à velhice, lazer, entre outros.

Documentos externos mais importantes:


● Constituição Mexicana (1917).
● Constituição Alemã ou Constituição de Weimar (1919).
● Criação da Organização Internacional do Trabalho (1919).
● Tratado de Versalhes (1919).

No Brasil:
● Constituição da Era Vargas (1934)

Apesar dos direitos sociais possuírem, em regra, uma natureza positiva, alguns direitos sociais
possuem natureza negativa, como o direito de greve. Portanto, cuidado na prova.

Caiu na prova Delegado SP/2023! Os documentos históricos da Constituição de Weimar (Alemanha) e


Tratado de Versalhes marcam a segunda geração dos Direitos Humanos. (ITEM CORRETO)

8.4 3ª Dimensão (Fraternidade ou Solidariedade)

Com o fim da 2ª Guerra Mundial, com criação da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1945 e
com a internacionalização dos direitos humanos, busca-se proteger direitos difusos, coletivos e
transindividuais, como a paz, o meio ambiente equilibrado, o direito do consumidor, a autodeterminação
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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dos povos, entre outros. Desse modo busca-se proteger um número indeterminado e indeterminável de
pessoas.
Documentos externos importantes:
● Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948).

No Brasil:
● Constituição de 1946.
● Constituição de 1988.

8.5 4ª Dimensão

Tratando-se de uma classificação contemporânea, a 4ª dimensão de direitos humanos resulta, de


acordo com Paulo Bonavides, na globalização política, como a democracia (direta), a informação e o
pluralismo.
Segundo Norberto Bobbio, a bioética também se incluiria nessa geração.

8.6 5ª Dimensão

Também se tratando de uma classificação contemporânea, a 5ª dimensão de direitos humanos


funda-se na concepção da paz universal, conforme Paulo Bonavides.
Entretanto, segundo a teoria clássica de Karel Vasak, a paz universal estaria configurada na 3ª
dimensão de direitos humanos.

Exemplos de Direitos de 5ª Geração:


● Direito à paz
● Segurança Internacional

8.7 6ª Dimensão

Apesar de as classificações dos estudiosos contemporâneos não se esgotarem na 6ª dimensão, tendo


doutrinadores apresentando 7ª e 8ª, para Concursos Públicos basta o estudo até essa classificação, a qual
caracteriza-se pelo direito à água potável.

8.8 Quadro sinóptico – Segundo Paulo Bonavides

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(Mazzuoli, 2018)

9. A TEORIA DOS QUATRO STATUS DE JELLINEK

A Teoria dos 4 Status de Jellinek trata-se de uma classificação dos direitos humanos, desenvolvida no
final do século XIX, por Georg Jellinek, a qual afirma que o indivíduo pode ser encontrado em 4 situações
diante do Estado. Os 4 status são:
1°) Status Passivo (status subjectionis): o indivíduo encontra-se em um estado de submissão para
com o Estado, podendo este exigir determinadas condutas ou impor limitações àquele.
2°) Status Negativo (status libertatis): o indivíduo exige uma prestação negativa do Estado, a fim de
assegurar o pleno exercício de seus direitos na vida privada. Exemplo: não prender sem o devido
processo legal. Direito de propriedade.
3°) Status Positivo (status civitatis): o indivíduo exige uma prestação positiva do Estado, emergindo-
se direitos às prestações sociais. Exemplo: direito à igualdade material.
4°) Status Ativo (Status Activus): direito de o indivíduo participar da formação da vontade estatal de
forma ativa. Exemplo: exercícios dos direitos políticos.

O STF invocou o status ativo no caso do direito de nomeação de aprovado em concurso público
classificado entre o número disponível de vagas previsto no Edital.

Bibliografia

Almeida, G. A. (2009). Direitos Humanos. São Paulo : Atlas.


Castilho, R. (2011). Direitos Humanos (coleção sinopses jurídicas). São Paulo : Saraiva.
Comparato, F. K. (2017). A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva.
Mazzuoli, V. d. (2018). Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Método.
Piovesan, F. (2019). Direitos Humanos e Justiça Internacional. São Paulo : Saraiva.

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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Ramos, A. d. (2018). Curso de Direitos Humanos. São Paulo : Saraiva.

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META 5

DIREITO ADMINISTRATIVO: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CRFB/88
⦁ Art. 5º, X, XXXIII e LX
⦁ Art. 5º, LV
⦁ Art. 37, caput e §1º
⦁ Art. 37, VII
⦁ Art. 93, IX
⦁ Art. 41
⦁ Art. 169, §3º

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 11, IV, Lei 8429/92
⦁ Art. 6º, 32 e 37 da lei 8987/95
⦁ Art. 3º e 58, da Lei 8666/93 c.c. art. 5º e 104 da Lei 14133/21
⦁ Art. 2º, 50, 53 e 54 da Lei 9784/99
⦁ Lei 12.527/11 (Lei de Acesso à Informação)
⦁ Lei 14.129/21 (princípios, regras e instrumentos para aumento da eficiência pública)

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!


⦁ Art. 37, caput e §1º, CF/88 (importantíssimo!)
⦁ Art. 5º, LV e LX
⦁ Art. 6º, §1º e §3º lei 8987/95
⦁ Art. 2º, caput da Lei 9784/99 (análise comparativa com o art. 37, caput, da CF/88 e art. 3º da Lei
8666/93 c.c. art. 5º da Lei 14133/21)
⦁ Art. 53 da Lei 9784/99

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 633-STJ: A Lei nº 9.784/99, especialmente no que diz respeito ao prazo decadencial para a revisão
de atos administrativos no âmbito da Administração Pública federal, pode ser aplicada, de forma
subsidiária, aos Estados e municípios, se inexistente norma local e específica que regule a matéria.
Súmula vinculante 13-STF: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou
por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa
jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão
ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta em qualquer
dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante
designações recíprocas, viola a Constituição Federal.

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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Súmula 473-STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam
ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
Súmula 346-STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.
Súmula 6-STF: A revogação ou anulação, pelo Poder Executivo, de aposentadoria, ou qualquer outro ato
aprovado pelo Tribunal de Contas, não produz efeitos antes de aprovada por aquele tribunal, ressalvada a
competência revisora do judiciário.

1. ORIGEM, NATUREZA JURÍDICA E OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

O Direito Administrativo compõe o ramo do Direito Público, pois tem como características e
princípios marcantes a supremacia do interesse público (relações jurídicas verticalizadas), a
indisponibilidade do interesse público e a legalidade.
Segundo a autora Maria Sylvia Zanella di Pietro, o Direito Administrativo nasceu no fim do século
XVIII e início do século XIX, não significando que inexistia, anteriormente, normas administrativas, uma vez
que, onde quer que exista o Estado, há órgãos encarregados do exercício de funções administrativas.
Rafael Carvalho aponta que o nascimento do Direito Administrativo se relaciona diretamente à
consagração dos ideais da Revolução Francesa de 1789 e ao surgimento do Estado de Direito. A partir dos
ideais liberais revolucionários da burguesia (separação de poderes, princípio da legalidade e Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão), o poder estatal é limitado e o Direito Administrativo é concebido como
ramo especial do Direito, ao lado do Direito Privado, regulador das relações envolvendo o Estado e o exercício
das atividades administrativas.
Nesse sentido, o Estado é pessoa jurídica de direito público, ainda quando atue na seara do direito
privado. Logo, o Estado pode atuar tanto no direito público quanto no direito privado, no entanto, sempre
ostenta a qualidade de PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO.
O Direito Administrativo tem por objeto as relações por ele disciplinadas, a saber:
a) relações internas entre órgãos e entidades administrativas;
b) relações entre a administração e seus agentes;
c) relações entre a administração e os seus administrados;
d) atividades administrativas exercidas por prestadores de serviços públicos.

2. EVOLUÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

● Administração Patrimonialista: Não havia diferença entre os interesses pessoais dos agentes
públicos e os interesses da própria administração.
● Administração Burocrática: Superou o patrimonialismo ao adotar o princípio da impessoalidade.
Foram criados rígidos controles sobre a atuação dos agentes públicos. Formou-se a burocracia, em
que os agentes públicos devem obedecer aos procedimentos determinados, à rígida hierarquia e à
separação de funções.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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● Administração Gerencial: É o modelo adotado na Administração moderna. Busca superar o modelo


burocrático por meio da adoção do princípio da eficiência, que tem as seguintes consequências
principais:
∘ Utilização do controle de resultados substituindo o controle de meios;
∘ Maior autonomia dos agentes/órgãos/entidades públicas;
∘ Serviço orientado para o cidadão;
∘ Utilização de indicadores de desempenho.

Administração Pública Dialógica: Segundo Ronny Charles, Administração pública dialógica é uma tendência
identificada em algumas atividades administrativas, notadamente na prestação de serviços públicos e
contratações de grandes empreendimentos, que consiste na abertura de diálogo com os administrados,
permitindo que eles colaborem para o aperfeiçoamento ou a legitimação da atividade administrativa.

3. INFLUÊNCIAS DO DIREITO ESTRANGEIRO

Como é um tema que, às vezes cai em prova e ajuda a resolver determinadas questões, é importante
abrir um tópico rápido acerca das influências do direito estrangeiro no direito administrativo brasileiro.

● Direito alemão - o direito administrativo brasileiro herdou a inspiração para aplicação do princípio da
segurança jurídica, especialmente sob o aspecto subjetivo da proteção à confiança.

● Direito francês - herdou o conceito de serviço público, a teoria dos atos administrativos com o atributo
da executoriedade, as teorias sobre responsabilidade civil do Estado, o princípio da legalidade, a teoria
dos contratos administrativos, as formas de delegação da execução de serviços públicos, a ideia de que
a Administração Pública se submete a um regime jurídico de direito público, derrogatório e exorbitante
do direito comum, que abrange o binômio autoridade/liberdade.

● Direito italiano - recebeu o conceito de mérito, o de autarquia e entidade paraestatal (dois vocábulos
criados no direito italiano). Os autores italianos (ao lado dos alemães) também contribuíram para a
adoção de um método técnico-científico.

● Direito inglês (sistema da common law) - o direito administrativo brasileiro herdou o princípio da
unidade de jurisdição, o mandado de segurança e o mandado de injunção, o princípio do devido
processo legal, inclusive, mais recentemente, em sua feição substantiva, e que praticamente se
confunde com o princípio da razoabilidade. No fim do século XX, também herdou do sistema common
law o fenômeno da agencificação e a própria ideia de regulação.

4. CRITÉRIOS DA ADMINISTRAÇÃO

O direito administrativo é ramo jurídico, e como tal, se dedica ao estudo das regras e normas, sendo
caracterizada como ciência normativa e impositiva, que define os limites dentro dos quais a gestão pública
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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pode ser executada. Várias foram as correntes/teorias que buscaram definir o direito administrativo. Nessa
linha, vejamos as principais delas:

a) Corrente Legalista/Exegética/Empírica: O direito administrativo seria o conjunto da legislação


administrativa existente no país. Limitava-se a fazer compilação de leis que tratassem da função
administrativa e desconsiderava doutrina e jurisprudência.

Crítica: A grande crítica do critério legalista foi desconsiderar a carga normativa dos princípios. Dessa forma,
só era valorado o que estivesse em lei.

b) Critério do Poder Executivo/Italiano/Subjetivista: O Direito Administrativo seria um complexo de leis


disciplinadoras da atuação do poder executivo. Assim, o objeto do direito administrativo seria toda
atuação do Poder Executivo.

Crítica: O Direito Administrativo não se resume à disciplina do Poder Executivo, afinal, todos os Poderes
administram, embora, para alguns, isso constitua missão atípica. E mais: no Poder Executivo, nem tudo é
objeto do Direito Administrativo, a exemplo das funções de governo, regidas pelo Direito Constitucional.

c) Critério das Relações Jurídicas: O Direito Administrativo é a disciplina das relações jurídicas entre a
Administração e o particular. Assim, todas as relações entre o Estado e o administrado seriam função
administrativa.

Crítica: Outros ramos do direito, de igual modo, regulam a relação jurídica entre particular e Estado, por
exemplo, os contratos privados pactuados que são regidos pelo direito civil.

d) Critério do Serviço Público (França): O Direito Administrativo teria por objetivo a disciplina jurídica dos
serviços públicos. Ou seja, a função administrativa seria a instituição, organização e prestação do serviço
público. → Escola do Serviço Público (Leon Duguit).
● Sentido amplo (Leon Duguit): Inclui todas as atividades do Estado;
● Sentido estrito (Gaston Jeze): Inclui apenas atividades materiais (leia-se: aquelas de dentro para
fora, com a finalidade de satisfação das necessidades coletivas).

Crítica: O referido conceito é bastante restrito, porque, na atualidade, a ideia de prestação de serviço público
vem sofrendo restrições, de modo que a administração pública não se limita tão somente à execução dessa
prestação. O Estado faz muitas atividades além da mera prestação do serviço público, sendo este último
apenas uma das facetas. Por exemplo, atua na exploração de atividade econômica na busca do interesse
público.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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e) Critério Teleológico ou Finalístico: O Direito Administrativo é sistema de princípios jurídicos que regula
as atividades do Estado para o cumprimento dos seus fins. Assim, o Direito Administrativo deve ser
conceituado como toda atuação do Estado com finalidade pública.

Crítica: Essa posição apresenta-se como a mais correta, porém não consegue abranger integralmente o
conceito da matéria, de forma que não é adotada de forma majoritária.

f) Critério Negativista: Esse critério surgiu da dificuldade de identificar o objeto do Direito Administrativo.
Assim, o Direito Administrativo seria conceituado por exclusão, abrangendo tudo que não era função
legislativa e jurisdicional.

Crítica: Não é adequado definir algo pelo que ele não é. Embora não tenha um erro grosseiro, este critério
não pode ser usado como forma de conceituação do direito administrativo

g) Critério Funcional: O Direito Administrativo é ramo jurídico que estuda e analisa a disciplina da função
administrativa, esteja ela sendo exercida pelo Executivo, Legislativo, Judiciário ou por delegação estatal.

Segundo Hely Lopes Meirelles, o direito administrativo pode ser definido como conjunto harmônico
de princípios que regem os órgãos, os agentes e a atividade pública para realização dos fins desejados pelo
Estado de forma DIRETA, CONCRETA e IMEDIATA.
● Direta: Não se confunde com a função jurisdicional, que é indireta por depender de provocação.
Desse modo, ao se falar que a atuação é direta, quer-se dizer que ela atua de ofício, não dependendo
de provocação. Reitero: NÃO depende de provocação para que haja atuação administrativa, ela é
DIRETA.
● Concreta: Diferente da legislativa, que é geral e abstrata (não atinge pessoas específicas), a função
administrativa é concreta porque se materializa em casos concretos.
● Imediata: Realiza os fins do Estado (necessidades do Estado). Quem define os fins do Estado, por sua
vez, é o Direito Constitucional.

5. SENTIDOS DA ADMINISTRAÇÃO

A expressão Administração Pública pode ser analisada sob seu aspecto formal/subjetivo/orgânico ou
sob seu aspecto material/objetivo/funcional.

a) Formal, Orgânico ou Subjetivo: É o conjunto de órgãos, agentes públicos e pessoas jurídicas no


exercício da função administrativa. Importa apenas quem realiza a atividade, sendo irrelevante qual
a atividade por eles desempenhada. É a máquina administrativa.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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b) Material, Funcional ou Objetivo: Se confunde com função administrativa, sendo a atividade


administrativa exercida pelo Estado, designando a atividade consistente na defesa concreta do
interesse público.

● A Administração Pública, em sentido amplo, objetivamente considerada, compreende a função


política + função administrativa. Já em sentido estrito, envolve tão somente a função administrativa
propriamente dita.

TAREFAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:


➢ Prestação de serviços públicos;
➢ Exercício do Poder de Polícia;
➢ Regulação de atividades de interesse público (fomento);
➢ Intervenção no domínio econômico e controle da atuação do Estado.

Resumindo...
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM SENTIDO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM SENTIDO
FORMAL, ORGÂNICO OU SUBJETIVO MATERIAL, FUNCIONAL OU OBJETIVO
Conjunto de órgãos e agentes no exercício da É a própria atividade administrativa
função administrativa. desempenhada pelo Estado.

Caiu em prova Delegado SP/2018! O conceito de Administração Pública possui vários sentidos, sendo correto
afirmar que: sob o sentido material, a Administração Pública deve ser entendida como a atividade
administrativa exercida pelo Estado (item considerado correto).

5.1 Administração Pública Extroversa e Introversa

O autor Diogo de Figueiredo Moreira Neto diferencia esses termos da seguinte forma:
I- Administração Introversa: corresponde à atividade-meio da Administração. É instrumental, atende
ao interesse público secundário e não atinge diretamente os cidadãos. Logo, envolve as relações entre a
Administração e seus agentes. Também é atribuída a todos os órgãos administrativos;
II- Administração Extroversa: corresponde à atividade-fim da Administração. É finalística, atende ao
interesse público primário e atinge diretamente os cidadãos. Logo, envolve as relações entre a Administração
e os particulares. É atribuída apenas aos entes políticos. Exemplo: poder de polícia.

5.2 Tendências atuais do Direito Administrativo

Para o professor Rafael Oliveira (2018, p. 58), o Direito Administrativo tem sofrido profundas
transformações, cabendo destacar as seguintes mutações e tendências:

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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a) Constitucionalização e aplicação do princípio da juridicidade (vinculação positiva do administrador à


Constituição e ao ordenamento como um todo e não somente à lei);
b) Relativização de formalidades e ênfase nos resultados (ideia de substituição da Administração
burocrática pela Administração Gerencial);
c) Elasticidade do Direito Administrativo, mediante o diálogo com outras disciplinas;
d) Consensualidade e participação (busca pela legitimidade democrática da Administração, com
instrumentos de participação dos cidadãos na tomada de decisões administrativas);
e) Processualização e contratualização da atividade administrativa;
f) Publicização do Direito Civil e privatização do Direito Administrativo; e
g) Aproximação entre a Civil Law e a Common Law.

5.3 Transadministrativismo

O autor Diogo de Figueiredo Moreira Neto adota a tese de que existe um novo ramo do Direito
Administrativo denominado transadministrativismo que é a disciplina jurídica das relações assimétricas de
poder que se institucionaliza consensualmente fora e além do Estado.
Trata-se de um direito administrativo transnacional, fenômeno semelhante ao
transconstitucionalismo.
Para o referido doutrinador, o direito administrativo global é um gênero, do qual o direito
administrativo transestatal (transadministrativismo) é espécie. O transadministrativismo refere-se
exclusivamente ao produto normativo desses centros de poder transestatais: aqueles que se originam de
necessidades ordinatórias das diversas sociedades, que não são providas pelos Estados.

6. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO

A doutrina costuma apontar a existência de cinco fontes principais deste ramo do Direito, quais
sejam: a lei, a jurisprudência, a doutrina, os princípios gerais e os costumes.

▪ LEI – Fonte Primária – qualquer espécie normativa (lei em sentido amplo);


· A lei é a fonte primária do direito administrativo, pois inova no ordenamento jurídico. A
atuação administrativa tem que ser pautada pela lei, pois só existe a atuação do
administrador se houver permissivo legal nesse sentido (princípio da legalidade).
· Em se tratando de Direito Administrativo, a lei deve ser interpretada em sentido amplo, de
modo a abarcar não só a lei em sentido estrito, mas também as normas constitucionais, os
regulamentos administrativos e os tratados internacionais. O administrador público deve
obediência à lei e ao Direito (princípio da juridicidade).

▪ JURISPRUDÊNCIA – Fonte Secundária – julgamentos reiterados no mesmo sentido. Súmula é a


consolidação da jurisprudência.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

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· A jurisprudência se traduz na reiteração de julgados dos órgãos do judiciário, travando uma


orientação acerca de determinada matéria. Trata-se de fonte secundária do Direito
Administrativo, de grande influência na construção e consolidação desse ramo.

▪ DOUTRINA – Fonte Secundária – forma o sistema teórico de princípio aplicável ao Direito Positivo.
· É fonte secundária. Refere-se à lição dos mestres e estudiosos da matéria, ensejando a
formação de arcabouço teórico. É fonte interpretativa. Expõe uma interpretação sobre
determinada matéria ou lei, ao estabelecer o que provavelmente buscava, ou seja, sua
razão/sentido.

▪ PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO – estão na base da disciplina (alicerce). Ex..: Ninguém pode causar
dano a outrem. É vedado o enriquecimento ilícito. Ninguém pode se beneficiar da própria torpeza.

▪ COSTUMES – Práticas reiteradas da autoridade administrativa. Lembre-se que o costume não cria e
nem exime obrigação.
· Elementos do costume:
- Elemento objetivo: repetição de condutas;
- Elemento subjetivo: convicção de sua obrigatoriedade.
· Espécies de costumes:
- Secundum legem: previstos ou admitidos pela lei;
- Praeter legem: preenchem as lacunas normativas, possuindo caráter subsidiário;
- Contra legem: se opõem à norma legal.

Obs.: Para o autor Rafael Carvalho, “ressalvado o costume contra legem, o costume é fonte
autônoma do Direito Administrativo. A releitura do princípio da legalidade, com a superação do positivismo,
a textura aberta de algumas normas jurídicas e a necessidade de consideração da realidade social na
aplicação do Direito demonstram que os costumes devem ser considerados como fontes do Direito
Administrativo”, pg. 25.

COSTUME SOCIAL COSTUME ADMINISTRATIVO


De acordo com o autor Matheus Carvalho, “os Na dicção do autor Matheus Carvalho: “o costume
costumes sociais se apresentam como um administrativo é caracterizado como prática
conjunto de regras não escritas, que são, reiteradamente observada pelos agentes
todavia, observadas de modo uniforme por administrativos diante de determinada situação
determinada sociedade, que as considera concreta. A prática comum na Administração Pública é
obrigatórias. Ainda considera-se fonte admitida em casos de lacuna normativa e funciona como
relevante do Direito Administrativo, tendo em fonte secundária de Direito Administrativo, podendo
vista a deficiência legislativa na matéria”. gerar direitos para os administrados, em razão dos
princípios da lealdade, boa-fé, moralidade
administrativa, entre outros”.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

▪ PRECEDENTES ADMINISTRATIVOS – Pressupõem a prática reiterada e uniforme de atos


administrativos em situações similares. A teoria dos precedentes administrativos é aplicada em
relações jurídicas que, apesar de distintas, apresentam identidade subjetiva e objetiva.

A força vinculante do precedente administrativo decorre da segurança jurídica, e pode ser afastada
pela Administração em duas situações em que se pode aplicar a TEORIA DO PROSPECTIVE OVERRULING:
● Quando o ato invocado pelo precedente for ilegal;
● Quando o interesse público, devidamente motivado, justificar a alteração do entendimento
administrativo.
O precedente administrativo, em princípio, só é exigível quando estiver em compatibilidade com a
legislação. Porém, excepcionalmente, mesmo em relação a atos ilegais, os precedentes administrativos
retiram a sua força vinculante dos princípios da legítima confiança, segurança jurídica e boa-fé.
Importante mencionar, quanto aos precedentes administrativos, o disposto no art. 30 da LINDB, com
a redação dada pela Lei 13.655/2018:

Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica
na aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas
administrativas e respostas a consultas.
Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter
vinculante em relação ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão.

Resumindo...
FONTE PRIMÁRIA 1) Lei - em sentido material/amplo: qualquer espécie normativa
1) Jurisprudência
FONTES 2) Doutrina
SECUNDÁRIAS 3) Costumes - secundum legem e praeter legem
4) Princípios Gerais do Direito

1) Constituição
FONTES FORMAIS 2) Lei
3) Regulamento e outros atos normativos da Administração
Pública
5) Jurisprudência (sem efeito vinculante)
FONTES MATERIAIS 6) Doutrina
7) Costumes - secundum legem e praeter legem
8) Princípios Gerais do Direito

7. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

A interpretação do Direito Administrativo deve se pautar em 3 (três) pressupostos básicos, quais


sejam:
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

(1) Desigualdade entre a administração e o particular (desigualdade jurídica) - Toda vez que se
interpreta uma norma do direito administrativo, deve-se recordar que existe uma desigualdade
jurídica, visto que a Administração atua com supremacia em face ao particular (princípio da
supremacia do interesse público sobre o privado).
(2) Presunção de legitimidade dos atos praticados pela Administração - Os atos praticados pela
Administração são presumivelmente legítimos, ou seja, presume-se que foram praticados em
conformidade com o ordenamento jurídico (lembre-se: a presunção de legitimidade e veracidade é
atributo do ato administrativo). Trata-se de presunção relativa.
(3) Necessidade de discricionariedade – A discricionariedade é indispensável para que o administrador
possa concretizar a norma geral e abstrata prevista. Contudo, é uma discricionariedade
regrada/mitigada, pois exercida dentro dos limites da lei.

Obs.: A analogia NÃO pode ser utilizada para fundamentar a aplicação de sanções ou gravames aos
particulares, especialmente no campo do poder de polícia e do poder disciplinar.
* Para Diogo de Figueiredo Moreira Neto, a analogia não é permitida no Direito Administrativo, em razão do
princípio da legalidade. Admitir a analogia seria permitir que a Administração impusesse uma obrigação não
prescrita em lei.
* Para Alexandre Santos de Aragão, é possível a utilização da analogia no Direito Administrativo quando a
aplicação da regra com base na analogia for suficiente para regular determinado caso concreto e ao mesmo
tempo atender às finalidades da Constituição. No entanto, a analogia com base em outra disciplina jurídica
não é possível, tendo em vista o princípio da legalidade.

8. SISTEMAS DE CONTROLE DA ATUAÇÃO ADMINISTRATIVA

a) Sistema Francês (contencioso administrativo)


● Dualidade de jurisdição;
● Proíbe o conhecimento, pelo Poder Judiciário, de atos ilícitos praticados pela Administração, ficando
os atos sujeitos à jurisdição especial do contencioso administrativo.

b) Sistema Inglês (jurisdição única)


● Todos os litígios podem ser resolvidos na justiça comum;
● Sistema adotado pelo Brasil (princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, art. 5º, XXXV, da
CF/88). Obs. Já houve a previsão do tribunal constitucional de contencioso no Brasil na EC 7/77, mas
nunca foi implementado.

9. REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO

É o conjunto de regras e princípios que regem a Administração Pública. O autor Celso Antônio
Bandeira de Mello defende a existência de verdadeiras “PEDRAS DE TOQUE” no Direito Administrativo, quais
sejam:
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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

● Princípio da supremacia do interesse público sobre o privado: Os interesses coletivos devem


prevalecer ao interesse particular;
● Princípio da indisponibilidade do interesse público: O interesse público não se encontra à livre
disposição do administrador.

Caiu em prova Delegado MS/2017! De acordo com o texto a seguir o direito público tem como objetivo
primordial o atendimento ao bem-estar coletivo.
[...] em primeiro lugar, as normas de direito público, embora protejam reflexamente o interesse individual,
têm o objetivo primordial de atender ao interesse público, ao bem-estar coletivo. Além disso, pode-se dizer
que o direito público somente começou a se desenvolver quando, depois de superados o primado do Direito
Civil (que durou muitos séculos) e o individualismo que tomou conta dos vários setores da ciência, inclusive
a do Direito, substituiu-se a ideia do homem como fim único do direito (própria do individualismo) pelo
princípio que hoje serve de fundamento para todo o direito público e que vincula a Administração em todas
as suas decisões [...].
Dl PIETRO, Maria Sylvia Zaretla. Direito Administrativo. 30.ed. Sao Paulo: Atlas, 2017, p 96.
Diante disso, as "pedras de toque" do regime jurídico-administrativo são: a supremacia do interesse público
sobre o interesse privado e a indisponibilidade do interesse público (item considerado correto).

Vamos aprofundar um pouco?


Conforme o doutrinador Rafael Carvalho, o fenômeno da constitucionalização do ordenamento jurídico
abalou alguns dos mais tradicionais dogmas do Direito Administrativo, a saber a redefinição da ideia de
supremacia do interesse público sobre o privado e a ascensão do princípio da ponderação de direitos
fundamentais. A partir dessa distinção, a doutrina tradicional sempre apontou para a superioridade do
interesse público primário (e não do secundário) sobre o interesse privado. Atualmente, no entanto, com a
relativização da dicotomia público x privado, a democratização da defesa do interesse público e a
complexidade (heterogeneidade) da sociedade atual, entre outros fatores, vem ganhando força a ideia de
“desconstrução” do princípio da supremacia do interesse público em abstrato. Portanto, não existe um
interesse público único, estático e abstrato, mas sim finalidades públicas normativamente elencadas que não
estão necessariamente em confronto com os interesses privados, razão pela qual seria mais adequado falar
em “princípio da finalidade pública”, em vez do tradicional “princípio da supremacia do interesse público”,
o que reforça a ideia de que a atuação estatal deve sempre estar apoiada em finalidades públicas, não
egoístas, estabelecidas no ordenamento jurídico. A atuação do Poder Público não pode ser pautada pela
supremacia do interesse público, mas, sim, pela ponderação e máxima realização dos interesses envolvidos.

Interesse público primário x Interesse público secundário


O interesse público primário é aquele relacionado à satisfação das necessidades coletivas (justiça,
segurança, bem comum do grupo social etc.), perseguido pelo exercício das atividades-fim do Poder Público,
enquanto o interesse público secundário corresponde ao interesse individual do próprio Estado, estando

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

relacionado à manutenção das receitas públicas e à defesa do patrimônio público, operacionalizadas


mediante exercício de atividades-meio do Poder Público (Ricardo Alexandre, 2018).

9.1 Princípios x Regras

a) Princípios: Hoje são considerados normas jurídicas primárias.


· Possuem grau de abstração maior do que as regras, pois admitem uma série indefinida de
aplicações.
· São mandamentos de otimização, que determinam a realização de algo na maior medida
possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes, admitindo aplicação
gradativa.
· Colisão de princípios: ponderação de interesses no caso concreto.
· Condensam os valores fundamentais da ordem jurídica e se irradiam sobre todo o sistema
jurídico, garantindo-lhe harmonia e coerência.
· Categorias:
✔ Princípios fundamentais: Representam decisões políticas estruturais do Estado,
servindo de matriz para todas as demais normas constitucionais.
✔ Princípios gerais: Em regra, são importantes especificações dos princípios
fundamentais, possuindo menor grau de abstração e irradiando-se sobre todo
ordenamento jurídico. Ex.: Princípio da isonomia e da legalidade.
✔ Princípios setoriais ou especiais: Aplicam-se a determinado tema, capítulo ou título
da Constituição. Ex: L.I.M.P.E – Art. 37 CF (princípios explícitos da Constituição/88).
b) Regras:
· Direcionam-se a situações determinadas.
· O conflito de regras é resolvido na dimensão da validade (“tudo ou nada”), ou seja, a regra é
válida ou inválida, a partir dos critérios de especialidade, hierarquia e cronológico (Dworkin).
· Em alguns casos, o conflito entre regras pode ser resolvido pela dimensão do peso e, não
necessariamente, pelo critério de validade. Ex: vedação à concessão de liminar contra a
Fazenda que esgote o objeto do litígio.

9.2 Princípios Explícitos do Direito Administrativo

São denominados de princípios explícitos do Direito Administrativo aqueles que constam


expressamente no art. 37 da CF/88. São eles: [LIMPE]
● Legalidade
● Impessoalidade
● Moralidade
● Publicidade
● Eficiência

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Caiu em prova Delegado ES/2019! Legalidade, publicidade, impessoalidade, moralidade e eficiência são
classificadas, pela doutrina, como princípios expressos da administração pública por possuírem previsão
normativa inserta no texto da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 com aplicação direta
ao campo do direito administrativo. Item correto.

Obs.: Além dos princípios expressos pelo Direito Administrativo, existem princípios implícitos extraídos pela
interpretação sistemática e reconhecidos pela jurisprudência e doutrina.

PRINCÍPIOS EXPRESSOS PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS


● Legalidade ● Princípio da Razoabilidade e Proporcionalidade
● Impessoalidade ● Princípio da Supremacia do Interesse Público Sobre o
● Moralidade Privado (Princípio da Finalidade Pública)
● Publicidade ● Princípio da Autotutela ou Sindicabilidade
● Eficiência ● Princípio Da Continuidade Do Serviço Público
● Princípio da Motivação
● Princípio da Ampla Defesa e Contraditório
● Princípio da Segurança Jurídica e Legítima Confiança
● Princípio da Intranscendência Subjetiva das Sanções

10. PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO

10.1 Legalidade (Juridicidade)

Pelo princípio da legalidade, a atuação da administração pública subordina-se à lei, de modo que o
agente público somente poderá fazer o que proclama a lei. Assim, não havendo previsão legal, está proibida
a atuação do ente público e qualquer conduta praticada de forma arbitrária por ele.
Ressalta-se que a legalidade no âmbito do direito administrativo não se confunde com a legalidade
privada em que é permitido fazer tudo que não é proibido (autonomia privada). Ex.: O princípio da legalidade
veda à administração a prática de atos inominados, embora estes sejam permitidos aos particulares.

LEGALIDADE ADMINISTRATIVA LEGALIDADE PRIVADA


A atuação da administração pública subordina- Vigora a autonomia privada. Por isso, o particular
se à lei, de modo que o agente público somente pode fazer tudo aquilo que a lei não proibir. Só deve
poderá fazer o que proclama a lei. deixar de fazer se estiver expressamente proibido
em lei.

Note a flagrante diferença entre os regimes jurídicos de direito público e direito privado, uma vez
que, neste último, é possível realizar tudo o que a lei não proíbe, ao passo que, no primeiro, o administrador
somente pode atuar mediante prévia autorização legal.
O princípio da legalidade comporta dois desdobramentos:

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DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

(1) Supremacia da lei: A lei prevalece e tem preferência sobre os atos da Administração.
· Relaciona-se com a doutrina da NEGATIVE BINDUNG (VINCULAÇÃO NEGATIVA), segundo a
qual a lei representa uma limitação à vontade do Administrador.
(2) Reserva de lei: o tratamento de certas matérias deve ser formalizado necessariamente pela
legislação.
· Relaciona-se com a POSITIVE BINDUNG (VINCULAÇÃO POSITIVA), que condiciona a validade
da atuação dos agentes públicos à prévia autorização legal.
Atualmente, prevalece a ideia da vinculação positiva da Administração à lei, ou seja, a atuação do
administrador depende de prévia habilitação legal para ser legítima.

Caiu em prova Delegado RJ/2022! Os princípios constitucionais do direito administrativo não se limitam à
lista do art. 37 da CF, embora impliquem, ontologicamente, comandos genéricos incapazes de vincular
positivamente a ação administrativa (item considerado incorreto).

Considerações importantes:
● A legalidade deve ser reinterpretada a partir da constitucionalização do Direito Administrativo.
● Por ser submissa ao princípio da legalidade, a Administração não pode levar a termo interpretação
extensiva ou restritiva de direitos, quando a lei assim não o prever de modo expresso.
● A legalidade encontra-se inserida no denominado PRINCÍPIO DA JURIDICIDADE, que exige a
submissão da atuação administrativa à lei e ao Direito → Exige-se compatibilidade com o BLOCO DE
LEGALIDADE. Pelo princípio da juridicidade, deve-se respeitar, inclusive, a noção de legitimidade do
Direito.

ATENÇÃO AOS CONCEITOS:

I) Juridicidade: Compatibilidade com todo ordenamento jurídico;


II) Legalidade: Compatibilidade com as exigências formais ou padrões materiais da lei;
III) Legitimidade: É o ato que observa não só as formalidades prescritas ou não defesas em lei, mas se há
adequação aos princípios da boa administração, dentro de padrões razoáveis e morais, e aos princípios
constitucionalmente reconhecidos.
IV) Economicidade: Foco no binômio custo/ benefício em face do meio utilizado para satisfação social, junto
ao controle de eficiência da gestão financeira, para atingir melhor índice de resultado.

O que é o PRINCÍPIO DA RESPONSIVIDADE?


Consoante entendimento do autor Diogo de Figueiredo, a responsividade é um dos princípios modernos
que norteia a atuação da Administração Pública. Determina que, ao atuar, a Administração não obedeça
apenas à legalidade, mas também à legitimidade e ao princípio democrático, ou seja, que atue de modo a
atender os anseios da população. É, então, inegavelmente, um dever jurídico autônomo dos agentes do
Poder Público para, ao perfazerem suas escolhas discricionárias, observarem as demandas da sociedade.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Há exceções ao princípio da legalidade administrativa?


Segundo o Prof. Celso Antônio Bandeira de Melo (Curso de Direito Administrativo, 26ª Ed., pág. 105
e 126-136), é possível apontar três restrições excepcionais ao princípio da legalidade:
a) Estado de defesa;
b) Estado de sítio e
c) Medida provisória.
Nesses três casos, deve a Administração atuar, mesmo que não haja lei regulamentando sua atuação,
o que revela a mitigação da obrigatoriedade do princípio da legalidade.

Caiu em prova Delegado RJ/2022! Os princípios constitucionais do direito administrativo podem justificar
decisões administrativas sem a intermediação da lei, tal como aconteceu com a interpretação feita pelo
Conselho Nacional de Justiça acerca de nepotismo (item considerado correto).

10.2 Princípio Da Impessoalidade

Pelo princípio da impessoalidade, a atuação da administração pública deve ser imparcial, não visando
beneficiar ou prejudicar pessoa determinada, tendo em vista que a sua atuação está voltada à busca do
interesse público em geral.

Obs.: Para o professor Hely Lopes Meirelles (doutrina minoritária), o princípio da impessoalidade nada mais
é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao administrador público que só pratique o ato para
atingir o objetivo indicado expressa ou virtualmente pela norma de direito, de forma impessoal. Cuidado!
Em que pese não ser a doutrina que prevalece atualmente, visto que a doutrina moderna entende que os
princípios da impessoalidade e da finalidade não se confundem (são autônomos), tal questão já foi cobrada
para prova de Delegado de Polícia, motivo pelo qual devemos ficar atentos.

O princípio da impessoalidade possui duas acepções:

i. Igualdade ou Isonomia: A Administração deve dispensar tratamento impessoal e isonômico aos


particulares para atender a finalidade pública, vedada a discriminação odiosa ou desproporcional.
Ex.: realização de concurso público é uma forma de observar o princípio da igualdade ou isonomia e
o princípio republicano*.

*APROFUNDANDO: Desde a edição da Constituição da República Federativa do Brasil, efetivou-se, dentro da


ordem constitucional jurídica vigente, o princípio republicano, que, no âmbito do concurso público, consagra
a igualdade de acesso aos cargos e empregos públicos a todos os brasileiros natos e naturalizados, bem como
aos estrangeiros na forma da lei, conforme dicção do art. 37, I, da CRFB.

ii. Proibição de promoção pessoal: Vedação do exercício da máquina pública para atingir interesses
particulares. Veja o art. 37, §1º da CF/88 (Atenção! Esse artigo despenca em prova!):

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

“A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos


públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não
podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção
pessoal de autoridades ou serviços públicos”.

Sobre o tema, destaca-se a jurisprudência do STF:

O § 1º do art. 37 da CF/88 não admite flexibilização por norma infraconstitucional


ou regulamentar. Está em desconformidade com a Constituição Federal a previsão
contida na Lei Orgânica do Distrito Federal que autoriza que cada Poder defina, por
norma interna, as hipóteses pelas quais a divulgação de ato, programa, obra ou
serviço públicos não constituirá promoção pessoal. Essa delegação conferida viola
o § 1º do art. 37 da CF/88, que não admite flexibilização por norma
infraconstitucional ou regulamentar. É de se conferir interpretação conforme a
Constituição ao § 6º do art. 22 da Lei Orgânica do Distrito Federal para que a
divulgação de atos e iniciativas de parlamentares seja tida como legítima apenas
quando efetuada nos ambientes de divulgação do mandatário ou do partido
político, não se havendo de confundi-la com a publicidade do órgão público ou
entidade. STF. Plenário. ADI 6522/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
14/5/2021 (Info 1017).

Obs.: Segundo Odete Medauar, os princípios da impessoalidade, moralidade e publicidade têm ligação
profunda. Mais que isso, há uma instrumentalização recíproca. Dessa forma, a impessoalidade é considerada
um meio para atuações dentro da moralidade, enquanto a publicidade vai dificultar medidas contrárias à
moralidade e impessoalidade, além de a moralidade administrativa implicar observância da impessoalidade
e da publicidade.

10.3 Princípio da Moralidade

O princípio da moralidade traduz a ideia de honestidade, obediência a princípios éticos, boa-fé,


lealdade, boa administração, correção de atitudes. É diferente da moralidade comum (certo e errado do
convívio social) por ser mais rígida, exigindo a correção de atitudes e a boa administração. Trata-se, portanto,
da atuação segundo padrões éticos de probidade e decoro.
Nessa esteira, segundo o professor Matheus Carvalho (Manual de D. Administrativo, 2014), “trata-se
de princípio que exige a honestidade, legalidade, boa-fé de conduta no exercício da função administrativa,
ou seja, a atuação não corrupta dos gestores públicos, ao tratar com a coisa de titularidade do Estado”.

A prática do nepotismo na Administração Pública viola o princípio da moralidade?


R.: De acordo com o STF, o nepotismo é vedado em qualquer dos Poderes da República por força dos
princípios constitucionais da impessoalidade, eficiência, igualdade e moralidade, independentemente de
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

previsão expressa em diploma legislativo. Assim, o nepotismo não exige a edição de uma lei formal proibindo
a sua prática, uma vez que tal vedação decorre diretamente dos princípios contidos no art. 37, caput, da
CF/88 (STF Rcl 6.702/PR-MC-Ag).
No entanto, o STF tem afastado a aplicação da SV 13 (que veda o nepotismo) a cargos públicos de
natureza política. Assim, a jurisprudência do STF, em regra, tem excepcionado a regra sumulada e garantido
a permanência de parentes de autoridades públicas em cargos políticos, sob o fundamento de que tal prática
não configura nepotismo. Exceção: poderá ficar caracterizado o nepotismo, mesmo em se tratando de cargo
político, em 2 casos:
1) Caso fique demonstrada a inequívoca falta de razoabilidade na nomeação por manifesta ausência de
qualificação técnica ou inidoneidade moral do nomeado. STF. 1ª Turma. Rcl 28024 AgR, Rel. Min.
Roberto Barroso, julgado em 29/05/2018.
2) Em casos de fraude à lei.

Caiu em prova Delegado AC/2017! O Supremo Tribunal Federal já possui pacífica jurisprudência no sentido
de que o Chefe do Poder Executivo Estadual pode nomear parentes em linha reta, a exemplo de uma filha,
para o cargo de Secretária de Estado, porque se trata de uma escolha política e o fato do cargo de Secretário
de Estado ser de natureza política torna esta nomeação insuscetível de controle. Item considerado incorreto.
O fato de afastar a aplicação da SV 13 a cargos de natureza política não significa a insindicabilidade da referida
nomeação pelo Poder Judiciário.

Súmula vinculante 13-STF: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em


linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade
nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção,
chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança
ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta em
qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios,
compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição
Federal. (MUITO IMPORTANTE!)

Dissecando a Súmula Vinculante 13 para facilitar a memorização:

Quem não pode ser nomeado?


R: Cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive,
da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em cargo de direção, chefia ou
assessoramento.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Caiu em prova Delegado SP/2018! Os princípios administrativos podem ser utilizados para fins de controle
de constitucionalidade dos atos administrativos pelo Poder Judiciário, sendo o que se observa na alternativa
a seguir: a nomeação de cônjuge da autoridade nomeante para o exercício de cargo em comissão ou de
confiança na Administração Pública do Estado viola a Constituição Federal. (item considerado correto).

Não haverá nepotismo se a pessoa nomeada possuir um parente no órgão, mas


sem influência hierárquica sobre a nomeação. A incompatibilidade da prática
enunciada na SV 13 com o art. 37 da CF/88 não decorre diretamente da existência
de relação de parentesco entre pessoa designada e agente político ou servidor
público, mas de presunção de que a escolha para ocupar cargo de direção, chefia
ou assessoramento tenha sido direcionado à pessoa com relação de parentesco
com quem tenha potencial de interferir no processo de seleção. STF. 2ª Turma. Rcl
18564/SP, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado
em 23/2/2016 (Info 815).

Caiu em prova Delegado RN/2021! A Lei Orgânica da Polícia Civil do Estado Alfa foi alterada pela Assembleia
Legislativa, de maneira que foi inserido um artigo dispondo que é vedado ao servidor público ocupante de
cargo efetivo ou comissionado servir sob a direção imediata de cônjuge ou parente até segundo grau civil.
De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a norma mencionada é inconstitucional em
relação aos ocupantes de cargos efetivos, eis que normas inibitórias do nepotismo não têm como campo
próprio de incidência os cargos efetivos, sob pena de violação ao concurso público (item considerado
correto).

Não pode ser nomeado para o quê?


R.: Para o exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda, de função gratificada na Administração
Pública direta e indireta, em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
municípios.

Vamos relembrar...
CARGO EM COMISSÃO CARGO EM CONFIANÇA ou FUNÇÃO DE
CONFIANÇA
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Cargo baseado na confiança, de livre Cargo também baseado na confiança,


nomeação e livre exoneração para atividades de direção, chefia e
(exoneração ad nutum), para assessoramento. No entanto, somente
atividades de direção, chefia e quem ocupa cargo efetivo pode ser
assessoramento. Pode ser ocupado por nomeado.
qualquer pessoa, mas deve ser
guardado um percentual para quem já
é de carreira.

CF, Art. 37, V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores


ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por
servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei,
destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

E o nepotismo cruzado? Também é vedado?


A parte final da súmula proíbe o nepotismo no ajuste mediante designações recíprocas. Não pode
na mesma pessoa jurídica, mas também não pode trocar de parentes, não pode nepotismo cruzado. A União
concede um cargo comissionado para um primo do governador, e o governador para um irmão do
presidente. Designações recíprocas é o nepotismo cruzado, o que é vedado.
O STF tem afastado a aplicação da SV 13 a cargos públicos de natureza política,
como são os cargos de Secretário Estadual e Municipal. Mesmo em caso de cargos
políticos, será possível considerar a nomeação indevida nas hipóteses de
nepotismo cruzado; fraude à lei e inequívoca falta de razoabilidade da indicação,
por manifesta ausência de qualificação técnica ou por inidoneidade moral do
nomeado. STF. 1ª Turma. Rcl 29033 AgR/RJ, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
17/9/2019. (Info 952)
A Lei nº 14.230/2021 passou a prever expressamente que a prática do nepotismo configura ato de
improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios
da administração pública a ação ou omissão dolosa que viole os deveres de
honestidade, de imparcialidade e de legalidade, caracterizada por uma das
seguintes condutas: (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
(...)
XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por
afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da
mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento,
para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função
gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste


mediante designações recíprocas; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)

10.4 Princípio da Publicidade

O princípio da publicidade impõe a divulgação e exteriorização dos atos do poder público,


guardando relação com o princípio democrático, ao possibilitar o controle social sobre os atos públicos. Em
outras palavras: a atuação da Administração pública deve ser sempre o mais transparente possível.
Ressalta-se, ainda, que a publicidade também representa condição de eficácia dos atos
administrativos, de modo que estes só começam a produzir efeitos a partir de sua publicidade. Assim,
enquanto o ato não é publicado, o particular não toma conhecimento deste, e sem tomar ciência, não pode
praticar e/ou observá-lo. Daí porque se fala que a publicidade é um pressuposto de eficácia.

Requisito de eficácia dos atos administrativos = capacidade de produção de seus efeitos

Excepcionalmente, é possível restringir a publicidade em determinados casos, conforme preceitua o


art. 5º da CF/88:
● Art. 5º, X (são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas). O
administrador não pode, com fundamento na publicidade, violar tais valores, sob pena de indenizar
os lesados.
X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;

● Art. 5º, XXXIII (segurança do Estado ou da sociedade).


XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo
da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

● Art. 5º, LX (processos que correm em sigilo). Em processos tanto judiciais quanto administrativos.
Ex. Em processo administrativo no âmbito do CRM sobre erro médico, só há publicação quando se
tem o resultado.
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa
da intimidade ou o interesse social o exigirem;

Frise-se que a Lei nº 12.527/11 (Lei de Acesso à informação) prevê a possibilidade de restrição ao
fornecimento de informações, se imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado.
Com fundamento no princípio da publicidade, o STF decidiu ser legítima a possibilidade de divulgação
de vencimentos dos servidores públicos com relação nominal. Veja:

225
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

STF (Info 782): É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela
Administração Pública, dos nomes de seus servidores e do valor dos
correspondentes vencimentos e vantagens pecuniárias. A divulgação dos
vencimentos dos servidores, a ser realizada oficialmente, constitui informação de
interesse público que não viola a intimidade e a segurança deles, uma vez que esses
dados dizem respeito a agentes públicos em exercício nessa qualidade.

Enunciado 15 da I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ: A administração


pública promoverá a publicidade das arbitragens da qual seja parte, nos termos da
Lei de Acesso à Informação.

O autor Mazza afirma que a publicidade dos atos administrativos tem a finalidade de: exteriorizar a
vontade da Administração Pública, divulgando seu conteúdo para conhecimento público; presumir o
conhecimento do ato pelos interessados; tornar exigível o conteúdo do ato; desencadear a produção de
efeitos do ato administrativo; dar início ao prazo para interposição de recursos; indicar a fluência dos prazos
de prescrição e decadência; impedir a alegação de ignorância quanto ao conteúdo do ato, e; permitir o
controle de legalidade do comportamento.
O STF decidiu que:
É nulo — por violar o princípio da publicidade, bem como por restringir o direito
à informação — ato público que estabelece, genericamente e sem
fundamentação válida e específica, que todos os processos do Sistema Eletrônico
de Informações da Polícia Federal (SEI-PF) sejam cadastrados com nível de acesso
restrito. STF. ADPF 872/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual
finalizado em 14.8.2023. (Info 1103)
Lei nº 12.527/11 (Lei de Acesso à informação): possibilita o controle social e contribui na melhoria
da gestão pública, regulamentando o art. 5, XXXIII da CF/88.
O acesso às informações ocorre por meio da criação de serviço de informações ao cidadão nos
órgãos e entidades do poder público e realização de audiências ou consultas públicas (art. 9).
No acesso à informação devem ser observadas algumas diretrizes (art. 3):

I- observância da publicidade como preceito geral e do sigilo como exceção;

Destaca-se que a informação sigilosa possui caráter temporário, quando


imprescindível para a segurança da sociedade e do Estado.

II- divulgação de informações de interesse público, independentemente de


solicitações;

Art. 8º É dever dos órgãos e entidades públicas promover, independentemente de


requerimentos, a divulgação em local de fácil acesso, no âmbito de suas

226
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

competências, de informações de interesse coletivo ou geral por eles produzidas


ou custodiadas.
Obrigatoriedade da divulgação em sítios oficiais da rede mundial de computadores
(§2º), salvo na hipótese de Municípios com população de até 10 mil habitantes
(§4º).

III- utilização de meios de comunicação viabilizados pela tecnologia da informação;

IV- fomento ao desenvolvimento da cultura de transparência na administração


pública;

V- desenvolvimento do controle social da administração pública.

O acesso à informação se dá a pedido de qualquer interessado, contendo identificação do


requerente e especificação da informação requerida (art. 10). É vedada qualquer exigência relativa aos
motivos determinantes da solicitação de informações de interesse público (§3º). Em regra, o órgão ou
entidade deve autorizar ou conceder o acesso imediato à informação, salvo no caso de impossibilidade,
hipótese na qual o pedido deverá ser respondido em até 20 dias, prorrogável por mais 10. Além disso, a
informação pode ser fornecida diretamente ou indiretamente, fornecendo ou indicando os meios para que
o requerente tenha acesso.

Lei nº 14.129, de 2021:


Art. 12. O serviço de busca e de fornecimento de informação é gratuito.
§ 1º O órgão ou a entidade poderá cobrar exclusivamente o valor necessário ao
ressarcimento dos custos dos serviços e dos materiais utilizados, quando o serviço
de busca e de fornecimento da informação exigir reprodução de documentos pelo
órgão ou pela entidade pública consultada.
§ 2º Estará isento de ressarcir os custos previstos no § 1º deste artigo aquele cuja
situação econômica não lhe permita fazê-lo sem prejuízo do sustento próprio ou da
família, declarada nos termos da Lei nº 7.115, de 29 de agosto de 1983.

Pode ser conferido acesso apenas a cópia certificada quando a informação se referir a documento
cuja manipulação possa prejudicar sua integridade (art. 13). Em caso de negativa é possível a interposição de
recurso pelo requerente (art. 15).
NÃO é admitida a negativa de acesso à informação necessária à tutela judicial ou administrativa de
direitos fundamentais (art. 21).
As informações são classificadas em:

● Sigilosa (art. 23): classificação quanto ao prazo máximo do sigilo em i) ultrassecreta: prazo máximo
de 25 anos, ii) secreta: prazo máximo de 15 anos, iii) reservada: prazo máximo de 5 anos.

227
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

● Pessoais (art. 31): acesso restrito pelo prazo máximo de 100 anos a contar da data de produção,
independente da classificação do sigilo, salvo consentimento da pessoa a que se referir.

Contudo, a divulgação dispensa consentimento no caso de: I- prevenção e diagnóstico médico,


quando a pessoa estiver física ou legalmente incapaz, e para utilização única e exclusivamente para o
tratamento médico; II- realização de estatísticas e pesquisas científicas de evidente interesse público ou
geral, previstos em lei, sendo vedada a identificação da pessoa a que as informações se referirem; III-
cumprimento de ordem judicial; IV- defesa de direitos humanos; ou V- proteção do interesse público e geral
preponderante.
O acesso à informações em desconformidade com a lei, sujeita os responsáveis a sanções. No caso
de agente público, as violações são consideradas infrações administrativas que devem ser apenadas, no
mínimo, com suspensão, sem prejuízo da responsabilização por ato de improbidade (art. 32).
Já na hipótese de ilegalidade cometida por particulares, há sujeição às sanções de I- advertência; II-
multa; III- rescisão do vínculo com o poder público; IV- suspensão temporária de participar em licitação e
impedimento de contratar com a administração pública por prazo não superior a 2 anos; e V- declaração de
inidoneidade para licitar ou contratar com a administração pública, até que seja promovida a reabilitação
perante a própria autoridade que aplicou a penalidade (art. 33).
Por fim, órgãos e entidades sujeitam-se a responsabilidade objetiva pelos danos, assegurado o
direito de regresso, nos casos de dolo ou culpa do agente (art. 34).

Caiu em prova Delegado RJ/2022! Determinada empresa de mídia solicita que o governo do Estado do Rio
de Janeiro forneça informações relacionadas a mortes registradas pela polícia em boletins de ocorrência. No
entanto, o governador do RJ se recusa a compartilhar as informações. Além disso, a companhia de jornal
informa que irá cobrir determinada manifestação a ser realizada em prol de maior transparência e
publicidade na administração pública. Acerca dessa situação hipotética, assinale a opção correta. Resposta:
Não cabe à administração pública analisar o uso que se pretende dar à informação de natureza pública; a
censura prévia inviabiliza até mesmo a apuração jornalística. Assim sendo, a recusa do governador não se
justifica. Fundamento: STJ. 2ª Turma. REsp 1.852.629-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 06/10/2020
(Info 682).

10.5 Princípio da Eficiência

O princípio da eficiência foi inserido pela EC 19/98 para substituir a Administração Pública burocrática
pela gerencial, tendo em vista a necessidade de efetivação célere das finalidades públicas elencadas no
ordenamento jurídico.
Nesse sentido, o princípio da eficiência exige que a atividade administrativa seja exercida com
presteza, perfeição e rendimento funcional. Sua aplicação orienta e serve de fundamento para a construção
de uma concepção de Administração Pública Gerencial.
A eficiência ganhou roupagem de direito expresso, mas ela já era exigida como princípio implícito e
já existia de forma expressa no art. 6º da Lei 8987/95, que trata de serviço público. Esse art. 6º traz o conceito
de serviço adequado, exigindo a sua eficiência. Vejamos:
228
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Art. 6º - Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado


ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas
pertinentes e no respectivo contrato.
§1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade,
eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e
modicidade das tarifas.

A concretização dos resultados deve ser realizada por:


(1) Planejamento: plano de ação, orçamento e prioridades;
(2) Execução: medidas concretas para satisfação dos resultados;
(3) Controle: órgãos controladores não devem se restringir à legalidade formal na análise da juridicidade
da ação administrativa, devendo levar em conta os demais princípios e alcance dos resultados.
Obs: trata-se de norma de aplicabilidade imediata.

Exemplos de aplicação determinando a observância da aplicação da eficiência: O art. 41 da CF


demonstra a exigência da eficiência na atividade administrativa, ao exigir avaliação especial de desempenho,
assim como a avalição periódica, que depende de regulamentação por lei, pendente ainda.
- avaliação especial de desempenho (art. 41, §4º): “como condição para aquisição da estabilidade, é
obrigatória a avaliação especial de desempenho por comissão instituída para esse fim”.
- avaliação periódica de desempenho (art. 41, III, da CF): “mediante procedimento de avaliação
periódica de desempenho, na forma da lei complementar, assegurada ampla defesa”.
- regra limitadora com gastos de pessoal (art. 169 da CF).

A concretização dos resultados, na medida do possível, deve ser realizada por meio de processo
político-participativo. A implementação da eficiência administrativa depende, por exemplo, da adoção de
medidas de desburocratização, de inovação, de transformação digital e da participação do cidadão, na forma
indicada na Lei 14.129/2021 que dispõe princípios, regras e instrumentos para o Governo Digital e para o
aumento da eficiência pública.

Lei nº 14.129/21: dispõe sobre princípios, regras e instrumentos para o aumento da eficiência da
administração pública, especialmente por meio da desburocratização, da inovação, da transformação digital
e da participação do cidadão.

Trata-se de legislação federal aplicável às administrações direta e indireta das três esferas da
federação, bem como os três poderes, incluindo Tribunal de Contas e Ministério Público. Não se aplica a
empresas públicas e sociedades de economia mista, suas subsidiárias e controladas, que não prestem serviço
público.
São princípios e diretrizes do Governo Digital e da eficiência pública, entre outros (art. 3):

229
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

I - a desburocratização, a modernização, o fortalecimento e a simplificação da


relação do poder público com a sociedade, mediante serviços digitais, acessíveis
inclusive por dispositivos móveis;
II - a disponibilização em plataforma única do acesso às informações e aos serviços
públicos, observadas as restrições legalmente previstas e sem prejuízo, quando
indispensável, da prestação de caráter presencial;
III - a possibilidade aos cidadãos, às pessoas jurídicas e aos outros entes públicos de
demandar e de acessar serviços públicos por meio digital, sem necessidade de
solicitação presencial;
IV - a transparência na execução dos serviços públicos e o monitoramento da
qualidade desses serviços;
(...)
VIII - o uso da tecnologia para otimizar processos de trabalho da administração
pública;
(...)
X - a simplificação dos procedimentos de solicitação, oferta e acompanhamento
dos serviços públicos, com foco na universalização do acesso e no autosserviço;
XI - a eliminação de formalidades e de exigências cujo custo econômico ou social
seja superior ao risco envolvido;
(...)
XIV - a interoperabilidade de sistemas e a promoção de dados abertos;
(...)
XXVI - a promoção do desenvolvimento tecnológico e da inovação no setor
público.

A lei estabelece como dado acessível ao público todo aquele dado gerado ou acumulado pelos entes
públicos que não esteja sob sigilo ou restrição nos termos da Lei de Acesso à Informação.
A legislação estabelece os procedimentos de digitalização da Administração e prestação digital de
serviços públicos, materializando o denominado Governo Digital. Destaca-se que o serviço público prestado
de forma digital deve ocorrer por meio de tecnologias de amplo acesso pela população, inclusive pela de
baixa renda ou residente em áreas rurais e isoladas, sem prejuízo do direito do cidadão a atendimento
presencial (art. 14). Esse é o maior desafio do processo de modernização, notadamente devido a extensão
territorial e diversidade cultural do Brasil.
São componentes do Governo Digital: a Base Nacional de Serviços Públicos, a Cartas de Serviços ao
Usuário e as Plataformas de Governo Digital (art. 18). Além disso, para facilitar a participação e disseminação
de conhecimentos, o Poder Executivo federal poderá criar redes de conhecimento (art. 17). Os entes públicos
poderão instituir laboratórios de inovação, abertos à participação e à colaboração da sociedade para o
desenvolvimento e a experimentação de conceitos, de ferramentas e de métodos inovadores (art. 44).
São direitos do usuário da prestação digital de serviços públicos, entre outros, a gratuidade no
acesso às Plataformas de Governo Digital; padronização de procedimentos referentes à utilização de
formulários, de guias e de outros documentos congêneres, incluídos os de formato digital; recebimento de
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

protocolo, físico ou digital, das solicitações apresentadas (art. 27). Fica estabelecido o número de inscrição
no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) como número
suficiente para identificação do cidadão ou da pessoa jurídica.
Devem ser implementados mecanismos de governança, gestão de riscos, controle e auditoria (art.
47).
Por fim, destaca-se que o acesso e a conexão para o uso de serviços públicos poderão ser garantidos
total ou parcialmente pelo governo, com o objetivo de promover o acesso universal à prestação digital dos
serviços públicos e a redução de custos aos usuários (art. 50).

11. OUTROS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS

11.1 Princípio da Razoabilidade e Proporcionalidade

O princípio da razoabilidade surgiu no direito norte-americano a partir da evolução jurisprudencial


da cláusula do devido processo legal, a qual deixou de lado seu caráter apenas procedimental (procedural
due process of law – garantias processuais do contraditório, ampla defesa etc.) para incluir seu caráter
substantivo (substantive due process of law – proteção das liberdades e direitos dos indivíduos contra abusos
do Estado).
A razoabilidade é a coerência, lógica, congruência, equilíbrio, tendo sempre por base o padrão do
homem médio. O administrador tem que agir com bom senso, com equilíbrio. Ela proíbe os excessos, mas
também veda a proteção deficiente.
Para os administrativistas, o princípio da proporcionalidade está embutido no princípio da
razoabilidade, pois prevalece a tese de fungibilidade dos princípios.

Obs.: Não se esqueça que estamos diante de um princípio implícito, muito embora, em âmbito federal,
constem do art. 2º da Lei 9.784/99 (regula o processo administrativo federal).

A proporcionalidade subdivide-se em 03 subprincípios:


i. Adequação ou idoneidade: o ato estatal deverá contribuir para a realização do resultado pretendido.
ii. Necessidade ou exigibilidade: caso existam duas medidas adequadas para alcançar o fim perseguido,
o Poder Público deve adotar a medida menos gravosa aos direitos fundamentais (ex. invalidade da
sanção de demissão ao servidor que pratica infração leve).
iii. Proporcionalidade em sentido estrito: é a ponderação, no caso concreto, entre o ônus imposto pela
atuação estatal e o benefício por ela produzido, razão pela qual a restrição ao direito fundamental
deve ser justificada pela importância do princípio ou direito que se quer efetivar.

ATENÇÃO!
O princípio da proporcionalidade é, ainda, um limite à discricionariedade do legislador, que, muitas vezes,
ultrapassa uma linha tênue e se torna arbitrariedade (a qual é vedada no ordenamento jurídico brasileiro).
Assim, mesmo que se trate de um ato administrativo discricionário, se tal ato não obedecer ao princípio da
proporcionalidade/razoabilidade, será possível a interferência do Poder Judiciário sem que isso acarrete
231
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

violação à Separação de Poderes. Isso porque tais princípios, embora implícitos, são princípios
constitucionais que decorrem do devido processo legal. Nesse caso, o Poder Judiciário realiza o controle de
legalidade em sentido amplo, isto é, o controle do ato em relação a leis infraconstitucionais e à própria CF.
Por esse motivo, a doutrina trata desses princípios como limitadores da liberdade e discricionariedade do
administrador.

11.2 Princípio da Supremacia do Interesse Público Sobre o Privado (Princípio da Finalidade Pública)

O interesse público divide-se em (doutrina italiana):

i. Interesse público primário: Necessidade de satisfação das necessidades coletivas. É o interesse em


dar cabo às necessidades sociais;
ii. Interesse público secundário: É o interesse do próprio Estado, enquanto sujeito de direitos e
obrigações, ligando-se à noção de interesse do erário. É o interesse do Estado com si próprio, como
pessoa jurídica de direito público que é.

Assim, pelo princípio, há uma primazia de soluções e decisões que atendam ao interesse coletivo, em
detrimento do interesse de um único indivíduo ou grupo seleto de indivíduos.
Parcela da doutrina sustenta a desconstrução do referido princípio pelos seguintes fundamentos: a)
a CF, em diversas passagens, protege a esfera individual (art. 1º, III), não sendo lícito afirmar que o interesse
público irá sempre prevalecer sobre o privado; b) “interesse público” é conceito indeterminado e abstrato;
c) o interesse público é indissociável do interesse privado, sendo ambos consagrados pela CF e incluídos nas
finalidades do Estado; d) incompatibilidade da supremacia do interesse público com postulados normativos
como o da proporcionalidade e o da concordância prática; e) não há um confronto dicotômico entre interesse
público e privado. A ponderação deve, portanto, ser sempre efetuada em concreto.

Caiu em prova Delegado MG/2018! Sobre os princípios da Administração Pública, é CORRETO afirmar que:
o princípio da supremacia do interesse público não se radica em dispositivo específico da CR/88, ainda que
inúmeros aludam ou impliquem manifestações concretas dele. (item considerado correto).

Caiu em prova Delegado SP/2023! A respeito do princípio da supremacia do interesse público sobre o
interesse privado, assinale a alternativa correta: A decisão administrativa tomada com base no princípio deve
levar em consideração as suas consequências práticas e a sua motivação comprovar a observância do
princípio da proporcionalidade.

11.3 Princípio da Autotutela ou Sindicabilidade

Pelo princípio da autotutela, também denominado de sindicabilidade, a administração pública tem a


prerrogativa de rever os seus próprios atos independentemente de provocação, seja para revogá-los ou para
anulá-los. Este controle pode ser de legalidade ou de mérito. Quando ilegal, o ato será anulado; quando
inoportuno ou inconveniente, será revogado.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Ressalta-se que o princípio da autotutela não afasta a possibilidade de controle de legalidade pelo
Poder Judiciário, em razão do Sistema de Jurisdição Una.

- Ato ilegal → ANULAÇÃO → efeitos ex tunc;


- Ato inconveniente/inoportuno → REVOGAÇÃO → efeitos ex nunc;

Art. 53 da Lei 9.784/99: A Administração deve anular seus próprios atos, quando
eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.

Súmula 346 STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus
próprios atos.

Súmula 473 STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados
de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-
los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.

Enunciado 20 da I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ: O exercício da


autotutela administrativa, para o desfazimento do ato administrativo que produza
efeitos concretos favoráveis aos seus destinatários, está condicionado à prévia
intimação e oportunidade de contraditório aos beneficiários do ato.

Caiu em prova:
Delegado RO/2022! A administração pode anular seus próprios atos quando eivados de vícios que os tornam
ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial. O princípio da
administração pública apresentado anteriormente, referente à Súmula n.º 473 do Supremo Tribunal Federal
(STF), é o da: autotutela (resposta correta).
Delegado PE/2024! A prerrogativa da administração pública de invalidar atos administrativos ilegítimos e
revogar atos administrativos inoportunos caracteriza a aplicação do princípio administrativo da autotutela
(resposta correta).

Cuidado (1): Não confundir autotutela com autoexecutoriedade!


● Autotutela: Designa o poder-dever de corrigir ilegalidades e de garantir o interesse público dos atos
editados pela própria Administração;
● Autoexecutoriedade: Prerrogativa de imposição da vontade administrativa, independentemente de
recurso ao Poder Judiciário.

Cuidado (2): Não confundir autotutela com tutela!


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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

● Autotutela: o princípio da autotutela autoriza a administração a realizar controle dos seus atos,
podendo anular os ilegais e revogar os inconvenientes ou inoportunos, independentemente de
decisão do Poder Judiciário.
● Tutela: pelo princípio da tutela, a administração exerce controle sobre pessoa jurídica por ela
instituída, com o objetivo de garantir a observância de suas finalidades institucionais. (= supervisão
ministerial = controle finalístico).

A Administração Pública deve observar algum requisito quando for anular atos ilegais?
O STF possui entendimento no sentido de que, a despeito deste poder-dever de anular os atos ilegais,
se a invalidação do ato administrativo repercutir no campo de interesses individuais, faz-se necessária a
instauração de processo administrativo que assegure o devido processo legal e a ampla defesa (Informativo
763 do STF).

A Administração Pública pode anular seus próprios atos quando estes forem
ilegais. No entanto, se a invalidação do ato administrativo repercute no campo
de interesses individuais, faz-se necessária a instauração de procedimento
administrativo que assegure o devido processo legal e a ampla defesa. Assim, a
prerrogativa de a Administração Pública controlar seus próprios atos não
dispensa a observância do contraditório e ampla defesa prévios em âmbito
administrativo. STF. 2ª Turma. RMS 31661/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 10/12/2013 (Info 732). STF. Plenário. MS 25399/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 15/10/2014 (Info 763).

Além disso, o art. 54 da lei 9.784/99 estipula que o direito da Administração de anular os atos
administrativos de que decorram efeitos favoráveis aos destinatários decai em 5 anos, contados da data em
que foram praticados, salvo comprovada má fé.

Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que


decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da
data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.

Trata-se, portanto, de um prazo para o exercício da autotutela. Ressalta-se que, em princípio, a Lei
nº 9.784/99 deveria regular apenas e unicamente o processo administrativo no âmbito da Administração
Federal direta e indireta. O processo administrativo na esfera dos Estados e dos Municípios deve ser tratado
por meio de legislação a ser editada por cada um desses entes, em virtude da autonomia legislativa que
gozam para regular a matéria em seus territórios.
No entanto, o STJ entende que, se o Estado ou o Município não possuir em sua legislação previsão
de prazo decadencial para a anulação dos atos administrativos, deve-se aplicar, por analogia integrativa, o
art. 54 da Lei nº 9.784/99. Essa conclusão é baseada nos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.
O entendimento acima resultou na edição da Súmula 633 do STJ. Vejamos:

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Súmula 633 STJ: A Lei 9.784/99, especialmente no que diz respeito ao prazo
decadencial para revisão de atos administrativos no âmbito da administração
pública federal, pode ser aplicada de forma subsidiária aos Estados e Municípios se
inexistente norma local e específica regulando a matéria.

Há, contudo, julgados que mitigam esse prazo decadencial de 5 anos, a exemplo:

Mesmo depois de terem se passado mais de 5 anos, a Administração Pública pode


anular a anistia política concedida quando se comprovar a ausência de
perseguição política, desde que respeitado o devido processo legal e assegurada
a não devolução das verbas já recebidas.
No exercício do seu poder de autotutela, poderá a Administração Pública rever os
atos de concessão de anistia a cabos da Aeronáutica com fundamento na Portaria
1.104/1964, quando se comprovar a ausência de ato com motivação
exclusivamente política, assegurando-se ao anistiado, em procedimento
administrativo, o devido processo legal e a não devolução das verbas já recebidas.
Ex: 2003, João, ex-militar da Aeronáutica, recebeu anistia política, concedida por
meio de portaria do Ministro da Justiça. Em 2006, a AGU emitiu nota técnica
fazendo alguns questionamentos sobre a forma indevida pela qual estavam sendo
concedidas anistias políticas, dentre elas a que foi outorgada a João. Em 2011, o
Ministro da Justiça determinou que fossem revistas as concessões de anistia de
inúmeros militares, inclusive a de João. Em 2012, foi aberto processo administrativo
para examinar a situação de João e, ao final, determinou-se a anulação da anistia
política. Mesmo tendo-se passado mais de 5 anos, a anulação do ato foi possível,
seja por força da parte final do art. 54 da Lei nº 9.784/99, seja porque o prazo
decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado
afronta diretamente a Constituição Federal. STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min.
Dias Toffoli, julgado em 16/10/2019 (repercussão geral – Tema 839) (Info 956). É
possível a anulação do ato de anistia pela Administração Pública, evidenciada a
violação direta do art. 8º do ADCT, mesmo quando decorrido o prazo decadencial
contido na Lei nº 9.784/99. STJ. 1ª Seção. MS 19070-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado em 12/02/2020 (Info 668).

Ademais, o prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado
afronta diretamente a Constituição Federal. Veja:

Não existe direito adquirido à efetivação na titularidade de cartório quando a


vacância do cargo ocorre na vigência da CF/88, que exige a submissão a concurso
público (art. 236, § 3º). O prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se
aplica quando o ato a ser anulado afronta diretamente a Constituição Federal. O
art. 236, § 3º, da CF é uma norma constitucional autoaplicável. Logo, mesmo antes
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

da edição da Lei 8.935/1994, ela já tinha plena eficácia e o concurso público era
obrigatório como condição para o ingresso na atividade notarial e de registro. STF.
Plenário. MS 26860/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 2/4/2014 (Info 741).

Além disso, o STF decidiu que, em regra, o prazo decadencial para que a Administração anule atos
administrativos inválidos é de 5 anos, aplicável a todos os entes federativos, por força do princípio da
isonomia, ou seja:

É inconstitucional lei estadual que estabeleça prazo decadencial de 10 (dez) anos


para anulação de atos administrativos reputados inválidos pela Administração
Pública estadual. STF. Plenário. ADI 6019/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do
acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 12/4/2021 (Info 1012).

Por fim, em decisão na qual se evidencie não acarretar lesão ao interesse público nem prejuízo a
terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria
Administração.

ATENÇÃO! Em 13/12/2023 o STJ aprovou o enunciado da súmula 665, que disciplina a extensão do
controle judicial, restringindo a análise da legalidade e impedindo a incidência sobre o mérito administrativo:

SUM 665: O controle jurisdicional do processo administrativo disciplinar restringe-


se ao exame da regularidade do procedimento e da legalidade do ato, à luz dos
princípios do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal, não sendo
possível incursão no mérito administrativo, ressalvadas as hipóteses de flagrante
ilegalidade, teratologia ou manifesta desproporcionalidade da sanção aplicada.

11.4 Princípio Da Continuidade Do Serviço Público

A atuação administrativa, buscando atender da melhor forma o interesse público, preconiza que a
atividade do Estado deve ser prestada de forma contínua, ou seja, sem interrupções, motivo pelo qual o
princípio da continuidade veda a interrupção na prestação dos serviços públicos.
Está expressamente previsto no art. 6º, § 1º, da Lei n. 8.987/95 (Lei de Serviços Públicos), e seu
fundamento reside no fato de a prestação de serviços públicos ser um dever constitucionalmente
estabelecido (art. 175 da CF/88), localizando-se, portanto, acima da vontade da Administração Pública, que
não tem escolha entre realizar ou não a prestação.

Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado


ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas
pertinentes e no respectivo contrato.

236
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

§ 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade,


eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e
modicidade das tarifas.

CF, Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime
de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços
públicos.

Entretanto, o art. 6º, § 3º, da Lei n. 8.987/95, de acordo com o entendimento doutrinário majoritário
e da jurisprudência do STJ, autoriza o corte no fornecimento do serviço em caso de emergência ou, após
prévio aviso, nas hipóteses de:
a) razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e
b) inadimplemento do usuário.

§3º Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em


situação de emergência ou após prévio aviso, quando:
I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e,
II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.

§4º A interrupção do serviço na hipótese prevista no inciso II do § 3º deste artigo


não poderá iniciar-se na sexta-feira, no sábado ou no domingo, nem em feriado ou
no dia anterior a feriado. (Incluído pela Lei nº 14.015, de 2020)

Obs.: O aviso prévio dado através de comunicado em rádio de amplo alcance satisfaz as condições de aviso
prévio, haja vista se tratar de um dos meios mais populares e o de maior alcance público, motivo pelo qual
há de se reconhecer a validade e eficácia do ato administrativo. Veja a jurisprudência do STJ nesse sentido:

Em regra, o serviço público deverá ser prestado de forma contínua, ou seja, sem
interrupções (princípio da continuidade do serviço público). Excepcionalmente,
será possível a interrupção do serviço público nas seguintes hipóteses previstas
no art. 6º, § 3º da Lei n.º 8.987/95: a) Em caso de emergência (mesmo sem aviso
prévio); b) Por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações, desde que
o usuário seja previamente avisado; c) Por causa de inadimplemento do usuário,
desde que ele seja previamente avisado. Se a concessionária de energia elétrica
divulga, por meio de aviso nas emissoras de rádio do Município, que haverá, daqui
a alguns dias, a interrupção do fornecimento de energia elétrica por algumas horas
em virtude de razões de ordem técnica, este aviso atende a exigência da Lei nº
8.987/95? SIM. A divulgação da suspensão no fornecimento de serviço de energia
elétrica por meio de emissoras de rádio, dias antes da interrupção, satisfaz a
exigência de aviso prévio, prevista no art. 6º, § 3º, da Lei nº 8.987/95. STJ. 1ª

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Turma. REsp 1270339-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 15/12/2016 (Info
598).

Obs.: A interrupção por inadimplemento do usuário não pode paralisar serviços essenciais, como, por
exemplo, corte de energia elétrica do hospital público/iluminação pública. Nos chamados “serviços
essenciais”, mantém-se o serviço e prossegue com a cobrança paralelamente.

Nesse sentido, vale destacar que, o STJ entendeu que é possível o corte de energia elétrica por
fraude no medidor, DESDE que sejam observados alguns requisitos.

Na hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo por fraude no


aparelho medidor atribuída ao consumidor, desde que apurado em observância aos
princípios do contraditório e da ampla defesa, é possível o corte administrativo do
fornecimento do serviço de energia elétrica, mediante prévio aviso ao consumidor,
pelo inadimplemento do consumo recuperado correspondente ao período de 90
(noventa) dias anterior à constatação da fraude, contanto que executado o corte
em até 90 (noventa) dias após o vencimento do débito, sem prejuízo do direito de
a concessionária utilizar os meios judiciais ordinários de cobrança da dívida,
inclusive antecedente aos mencionados 90 (noventa) dias de retroação. STJ. 1ª
Seção. REsp 1412433-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/04/2018
(recurso repetitivo) (Info 634).

Podem ser apontados diversos desdobramentos normativos decorrentes do princípio da


continuidade dos serviços públicos, dentre os quais:

a. O direito de greve dos servidores públicos será exercido nos termos e nos limites definidos em lei
específica (art. 37, VII, da CF). Lembre-se que o policial civil não pode fazer greve!

Policias civis são proibidos de fazer greve. O exercício do direito de greve, sob
qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e a todos os
servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública. STF.
Plenário. ARE 654432/GO, Rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre
de Moraes, julgado em 5/4/2017 (repercussão geral) (Info 860).

Explicação via Dizer o Direito (muito importante para fundamentar em uma prova discursiva!)

Direito de greve é incompatível com a carreira policial


Não é possível compatibilizar que o braço armado do Estado faça greve porque isso
colocaria em risco a segurança pública, a ordem e a paz social. Os integrantes das
carreiras policiais possuem o dever de fazer intervenções e prisões em flagrante,
sendo isso inconciliável com o exercício da greve. Como já afirmado, não há
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

possibilidade de nenhum outro órgão da iniciativa privada suprir a atividade


policial. Se esta entra em greve, não há como sua função ser substituída.
Vale ressaltar que a atividade policial, além de ser importantíssima por si só, se for
paralisada, afetará também as atribuições do Ministério Público e do próprio Poder
Judiciário.

Greve não é direito absoluto


A greve não é um direito absoluto e, neste caso, deverá ser feito um balanceamento
entre o direito de greve e o direito de toda a sociedade à segurança pública e à
manutenção da ordem pública e paz social.
Neste caso, há a prevalência do interesse público e do interesse social sobre o
interesse individual de uma categoria. Por essa razão, em nome da segurança
pública, os policiais não podem fazer greve.
Importante destacar que a ponderação de interesses aqui não envolve direito de
greve X continuidade do serviço público. A greve dos policiais é proibida não por
causa do princípio da continuidade do serviço público (o que seria muito pouco),
mas sim por conta do direito de toda a sociedade à garantia da segurança pública,
à garantia da ordem pública e da paz social.

b. Restrição à aplicabilidade da exceptio non adimpleti contractus, pois o contratado só pode


interromper a execução do contrato após atraso superior a 2 (dois) meses, contado da emissão da
nota fiscal, dos pagamentos ou de parcelas de pagamentos devidos pela Administração por despesas
de obras, serviços ou fornecimentos (art. 137, §2º, IV, da Lei n. 14.133/2021);

c. Possibilidade de intervenção na concessionária para garantia de continuidade na prestação do serviço


(art. 32 da Lei n. 8.987/95);

Art. 32. O poder concedente poderá intervir na concessão, com o fim de assegurar
a adequação na prestação do serviço, bem como o fiel cumprimento das normas
contratuais, regulamentares e legais pertinentes.
Parágrafo único. A intervenção far-se-á por decreto do poder concedente, que
conterá a designação do interventor, o prazo da intervenção e os objetivos e limites
da medida

d. Ocupar provisoriamente bens móveis e imóveis e utilizar pessoal e serviços vinculados ao objeto do
contrato nas hipóteses de: i) risco à prestação de serviços essenciais; ii) necessidade de acautelar
apuração administrativa de faltas contratuais pelo contratado, inclusive após extinção do contrato.
(art. 104, V, da Lei n. 14.133/2021);

Art. 104. O regime jurídico dos contratos instituído por esta Lei confere à
Administração, em relação a eles, as prerrogativas de:
239
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

V - ocupar provisoriamente bens móveis e imóveis e utilizar pessoal e serviços


vinculados ao objeto do contrato nas hipóteses de:
a) risco à prestação de serviços essenciais;
b) necessidade de acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo
contratado, inclusive após extinção do contrato.

e. Reversão de bens do concessionário indispensáveis à continuidade do serviço (art. 36 da Lei n.


8.987/95);

Art. 36. A reversão no advento do termo contratual far-se-á com a indenização das
parcelas dos investimentos vinculados a bens reversíveis, ainda não amortizados
ou depreciados, que tenham sido realizados com o objetivo de garantir a
continuidade e atualidade do serviço concedido

f. Encampação do contrato de concessão mediante a retomada do serviço pelo concedente (art. 37 da


Lei n. 8.987/95);

Art. 37. Considera-se encampação a retomada do serviço pelo poder concedente


durante o prazo da concessão, por motivo de interesse público, mediante lei
autorizativa específica e após prévio pagamento da indenização, na forma do artigo
anterior.

g. Necessidade de institutos como a suplência, a delegação e a substituição para preencher as funções


públicas temporariamente vagas.

JURISPRUDÊNCIA EM TESE – STJ

É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando


inadimplente o usuário, desde que precedido de notificação.

É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais por razões de


ordem técnica ou de segurança das instalações, desde que precedido de
notificação.

É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica quando puder afetar o


direito à saúde e à integridade física do usuário.

É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando


inadimplente pessoa jurídica de direito público, desde que precedido de notificação
e a interrupção não atinja as unidades prestadoras de serviços indispensáveis à
população.
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando


inadimplente unidade de saúde, uma vez que prevalecem os interesses de proteção
à vida e à saúde.

É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando a


inadimplência do usuário decorrer de débitos pretéritos, uma vez que a interrupção
pressupõe o inadimplemento de conta regular, relativa ao mês do consumo.

É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais por débitos de


usuário anterior, em razão da natureza pessoal da dívida.

É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica em razão de débito irrisório,


por configurar abuso de direito e ofensa aos princípios da proporcionalidade e
razoabilidade, sendo cabível a indenização ao consumidor por danos morais.

É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando o débito


decorrer de irregularidade no hidrômetro ou no medidor de energia elétrica,
apurada unilateralmente pela concessionária.

O corte no fornecimento de energia elétrica somente pode recair sobre o imóvel


que originou o débito, e não sobre outra unidade de consumo do usuário
inadimplente.

11.5 Princípio da Motivação

Impõe à Administração Pública o dever de indicação dos pressupostos de fato e de direito que
determinaram a prática do ato (art. 2º, parágrafo único, VII, da Lei n. 9.784/99). Assim, a validade do ato
administrativo está condicionada à apresentação por escrito dos fundamentos fáticos e jurídicos
justificadores da decisão adotada.

Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da


legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade,
ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os
critérios de:
VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão;

Trata-se de um mecanismo de controle sobre a legalidade e legitimidade das decisões da


Administração Pública.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Está previsto no art. 93, X, da CF/88 e no art. 50 da Lei 9.784/99. Apesar de haver divergência, a
corrente majoritária defende que a motivação é obrigatória tanto nos atos vinculados quanto nos atos
discricionários.
A motivação deve ser apresentada simultaneamente ou no instante seguinte à prática do ato.
Motivação intempestiva (posterior) ou extemporânea (anterior) causa nulidade do ato administrativo. Ainda,
a motivação deve ser explícita, clara e congruente.
O princípio da motivação comporta exceção, por exemplo, nomeação ou exoneração (exoneração
"ad nutum") de cargos comissionados. A exoneração "ad nutum" refere-se àquela aplicável aos ocupantes
de cargo em comissão, e prescinde (abstrai/não precisa) de motivação da Administração.
No entanto, se mesmo essa motivação sendo “desnecessária”, a Administração optar por motivá-la,
estará vinculada aos motivos que explicitou no ato, em decorrência da chamada: TEORIA DOS MOTIVOS
DETERMINANTES. Isso porque os motivos vinculam todo o ato, e se não forem respeitados, o ato torna-se
nulo.

Observações importantes:
● Motivação aliunde ou per relationem – É aquela indicada fora do ato, consistente em concordância com
fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas. Ocorre todas as vezes que
a motivação de um determinado ato remete à motivação de ato anterior que embasa sua edição. Ex.:
parecer opina pela possibilidade de prática de ato de demissão de servidor; ao demitir o servidor, a
autoridade não precisa repetir os fundamentos explicitados pelo parecer, bastando, na fundamentação
do ato de demissão, declarar a concordância com os argumentos expedidos no ato opinativo.

● Motivação x Motivo x Móvel:


· Motivo = fato que autoriza a realização do ato administrativo;
· Motivação = exigência de enunciação dos motivos.
· Móvel = intenção declarada pelo agente como justificativa para a prática do ato.

11.6 Princípio da Ampla Defesa e Contraditório

Por força do princípio do contraditório, as decisões administrativas devem ser tomadas considerando
a manifestação dos interessados. Para isso, é necessário dar oportunidade para que os afetados pela decisão
sejam ouvidos antes do resultado final do processo.
O princípio da ampla defesa assegura aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, a
utilização dos meios de prova, dos recursos e dos instrumentos necessários para defesa de seus interesses
perante o Judiciário e a Administração.

Art. 5º, LV, CF.: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios
e recursos a ela inerentes.

242
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Ao garantir o direito à ampla defesa “com os meios e recursos a ela inerentes”, o art. 5º, LV, da
Constituição Federal incluiu, no bojo do dispositivo, o princípio do duplo grau, verdadeiro desdobramento da
ampla defesa.
Sobre os princípios do contraditório e da ampla defesa, foi editada a Súmula Vinculante 3 do STF:

“Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o


contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou
revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a
apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e
pensão”.

Veja a jurisprudência sobre o tema:

Em caso de irregularidades do Estado-membro em convênio federal, a União


somente poderá inscrever o ente no SIAFI, no CADIN e no CAUC após o término
do processo de prestação de contas especial, observados os princípios
constitucionais da ampla defesa e do contraditório
O cadastro restritivo não deve ser feito de forma unilateral e sem acesso à ampla
defesa e ao contraditório. Isso porque, muitas vezes, a inscrição pode ter, além de
motivação meramente financeira, razões políticas. Assim, ao poder central (União)
é possível suspender imediatamente o repasse de verbas ou a execução de
convênios, mas o cadastro deve ser feito nos termos da lei, ou seja, mediante a
verificação da veracidade das irregularidades apontadas. Isso porque o cadastro
tem consequências, como a impossibilidade da repartição constitucional de verbas
das receitas voluntárias. A tomada de contas especial, procedimento por meio do
qual se alcança o reconhecimento definitivo das irregularidades, com a devida
observância do contraditório e da ampla defesa, tem suas regras definidas em lei.
Ao final, é possível tornar o dano ao erário dívida líquida e certa, e a decisão tem
eficácia de título executivo extrajudicial. STF. Plenário. ACO 2892 AgR/DF, rel. orig.
Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/9/2019
(Info 951).

11.7 Princípio da Segurança Jurídica e Legítima Confiança

Segundo a autora Maria Di Pietro, o direito administrativo brasileiro herdou do direito alemão (já
caiu em prova) a inspiração para aplicação do princípio da segurança jurídica, especialmente sob o aspecto
subjetivo da proteção à confiança.

● Segurança jurídica: abarca dois sentidos:


· Objetivo: estabilização do ordenamento jurídico (proteção à coisa julgada, ao direito
adquirido e ao ato jurídico perfeito).
243
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

· Subjetivo: proteção à confiança das pessoas em relação às expectativas geradas por


promessas e atos estatais. É princípio autônomo.

● Segurança jurídica x Legítima confiança


· Segurança jurídica: possui caráter amplo, aplicado às relações públicas e privadas;
· Legítima confiança: tutela apenas a esfera jurídica do particular, protegendo-o da atuação
arbitrária do Estado.

A noção de proteção da confiança legítima aparece como uma reação à utilização abusiva de normas
jurídicas ou atos administrativos que surpreendam bruscamente o seu destinatário. Um exemplo de
aplicação do princípio da legítima confiança diz respeito à impossibilidade de devolução de valores recebidos
de boa-fé por servidores públicos, em virtude de errônea interpretação de lei pela Administração:

STJ (Info 579): Os herdeiros devem restituir os proventos que, por erro operacional
da Administração Pública, continuaram sendo depositados em conta de servidor
público após o seu falecimento. Não se analisa aqui se o herdeiro estava ou não de
boa-fé. O herdeiro é obrigado a devolver porque ele não tem qualquer razão
jurídica para ficar com aquele dinheiro em prejuízo da Administração Pública. Não
havia nenhuma relação jurídica entre o herdeiro e o Estado. O fundamento aqui é
o princípio que veda o enriquecimento sem causa (art. 884 do CC).

Requisitos para configurar a confiança legítima:


● Ato da administração suficientemente conclusivo para gerar no administrado confiança:
· De que a Administração atuou corretamente;
· De que a conduta do afetado é lícita na relação jurídica que mantém com a Administração;
· De que as suas expectativas são razoáveis.
● Presença de signos externos que orientam o cidadão a adotar determinada conduta;
● Ato da administração que reconhece ou constitui uma situação jurídica individualizada, cuja
durabilidade é confiável;
● Causa idônea para provocar a confiança do afetado;
● Cumprimento, pelo interessado, dos seus deveres e obrigações no caso.

Quando NÃO se aplica o princípio da confiança legítima:


● Hipóteses de má-fé do administrado;
● Quando existir mera expectativa de direitos pelo interessado (ex. concessão de liminar, de caráter
precário, que possa ser revista).

11.8 Princípio da Intranscendência Subjetiva das Sanções

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

O princípio da intranscendência subjetiva significa que não podem ser impostas sanções e restrições
que superem a dimensão estritamente pessoal do infrator e atinjam pessoas que não tenham sido as
causadoras do ato ilícito.
Na jurisprudência do STF, encontramos dois exemplos de aplicação desse princípio em casos
envolvendo inscrição de Estados e Municípios nos cadastros de inadimplentes da União:

● 1ª acepção: quando a irregularidade foi praticada pela gestão anterior.


Existem julgados do STF afirmando que se a irregularidade no convênio foi praticada pelo gestor
anterior e a gestão atual, depois que assumiu, tomou todas as medidas para ressarcir o erário e corrigir as
falhas (ex: apresentou todos os documentos ao órgão fiscalizador, ajuizou ações de ressarcimento contra o
antigo gestor etc.), neste caso, o ente (Estado ou Município) não poderá ser incluído nos cadastros de
inadimplentes da União.
Assim, segundo esta acepção, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe a
aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por administrações
anteriores.
Segundo o Min. Luiz Fux, “não se pode inviabilizar a administração de quem foi eleito
democraticamente e não foi responsável diretamente pelas dificuldades financeiras que acarretaram a
inscrição combatida”. Logo, deve-se aplicar o princípio da intranscendência subjetiva das sanções, impedindo
que a Administração atual seja punida com a restrição na celebração de novos convênios ou recebimento de
repasses federais. Nesse sentido: STF. 1ª Turma. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux,
julgados em 23/6/2015 (Info 791).
O STJ comunga também desse entendimento, exigindo sempre que a gestão sucessora tenha tomado
as providências cabíveis à reparação dos danos eventualmente cometidos. Por isso, editou a súmula 615.
Vejamos:
Súmula 615 STJ: Não pode ocorrer ou permanecer a inscrição do município em
cadastros restritivos fundada em irregularidades na gestão anterior quando, na
gestão sucessora, são tomadas as providências cabíveis à reparação dos danos
eventualmente cometidos.

● 2ª acepção: quando a irregularidade foi praticada por uma entidade do Estado/Município ou pelos
outros Poderes que não o Executivo
Além do caso acima explicado, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções pode ser
aplicado também nas situações em que uma entidade estadual/municipal (ex: uma autarquia) descumpriu
as regras do convênio e a União inscreve não apenas essa entidade, como também o próprio ente
(Estado/Município) nos cadastros restritivos.
Nesse sentido: (...) O postulado da intranscendência impede que sanções e restrições de ordem
jurídica superem a dimensão estritamente pessoal do infrator. Em virtude desse princípio, as limitações
jurídicas que derivam da inscrição, em cadastros públicos de inadimplentes, das autarquias, das empresas
governamentais ou das entidades paraestatais não podem atingir os Estados-membros, projetando, sobre
estes, consequências jurídicas desfavoráveis e gravosas, pois o inadimplemento obrigacional – por revelar-

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

se unicamente imputável aos entes menores integrantes da administração descentralizada – só a estes pode
afetar.

Os Estados-membros e o Distrito Federal, em consequência, não podem sofrer


limitações em sua esfera jurídica, motivadas pelo só fato de se acharem
administrativamente vinculadas a eles as autarquias, as entidades paraestatais, as
sociedades sujeitas a seu poder de controle e as empresas governamentais
alegadamente inadimplentes e que, por tal motivo, hajam sido incluídas em
cadastros federais (CAUC, SIAFI, CADIN, v.g.). (...) STF. Plenário. ACO 1848 AgR, Rel.
Min. Celso de Mello, julgado em 06/11/2014.

Poder Executivo não pode ser incluído nos cadastros de inadimplentes da União
por irregularidades praticadas pelos outros Poderes ou órgãos autônomos
A imposição de sanções ao Poder Executivo estadual em virtude de pendências de
órgãos dotados de autonomia institucional e orgânico-administrativa, tais como o
Ministério Público estadual, constitui violação do princípio da intranscendência, na
medida em que o Governo do Estado não tem competência para intervir na esfera
orgânica dessa instituição autônoma. O Poder Executivo não pode ser impedido de
contratar operações de crédito em razão do descumprimento dos limites setoriais
de despesa com pessoal por outros poderes e órgãos autônomos (art. 20, II, e 23, §
3º, da Lei de Responsabilidade Fiscal). STF. Plenário. ACO 3072, Rel. Ricardo
Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991 – clipping).

A União é parte legítima para figurar no polo passivo das ações em que Estado-
membro impugna inscrição em cadastros federais desabonadores e/ou de
restrição de crédito
Caso concreto: O Estado do Amapá possui débitos com o INCRA e com o IBAMA,
duas autarquias federais. Em razão desses débitos, o Estado foi inserido no SIAFI,
no CADIN e no CAUC, cadastros de inadimplência mantidos pela União. Tanto o
INCRA como o IBAMA ajuizaram execução fiscal para cobrar os débitos e o Estado
expediu precatórios, que, no entanto, ainda estão pendentes de pagamento. O
Estado do Amapá ajuizou ação cível originária contra a União pedindo a exclusão
do Estado dos cadastros restritivos. Legitimidade da União para figurar no polo
passivo A União é parte legítima para figurar no polo passivo das ações em que
Estado-membro impugna inscrição em cadastros federais desabonadores e/ou de
restrição de crédito, mesmo que os débitos sejam decorrentes de dívidas com
entidades federais (e não com a administração direta). Isso porque os Sistemas
SIAFI/CAUC/CADIN são organizados e mantidos pela União, conforme suas leis de
regência, do que decorre a legitimidade desta para figurar no polo passivo.
Manutenção nos cadastros viola o princípio da razoabilidade É indevida a inscrição
do Estado-membro nos cadastros desabonadores em decorrência de pendências
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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

administrativas relativas a débitos já submetidos a pagamento por precatório. Isso


porque a CF/88 já previu que, em caso de descumprimento do pagamento do
precatório, existe a possibilidade de intervenção federal no ente inadimplente.
Logo, é incompatível com o postulado da razoabilidade onerar duplamente o
Estado-membro, tanto com a possibilidade de intervenção federal quanto com a
sua inscrição em cadastros desabonadores. STF. Plenário. ACO 3083, Rel. Ricardo
Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991 – clipping).

Referências bibliográficas:

- Rafael Carvalho Resende Oliveira. Curso de Direito Administrativo.


- Matheus Carvalho: Manual de Direito Administrativo.
- José Santos Carvalho Filho. Curso de Direito Administrativo.

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PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

META 6 – REVISÃO SEMANAL

DIREITO PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, II
⦁ Art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV, XLV e XLVII
⦁ Art. 5º, XXXIX
⦁ Art. 5º, §3º
⦁ art. 7º, X
⦁ Art. 22, I e §único
⦁ art. 227, § 4º

CP
⦁ Art. 1º
⦁ Art. 59
⦁ Art. 71

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 8°, itens 2 e 5, CADH
⦁ Art. 8º, item 4 do Pacto de São José da Costa Rica

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

⦁ Art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV, XLV e XLVII, CF/88


⦁ Art. 5º, XXXIX, CF/88
⦁ Art. 22, I e §único, CF/88
⦁ Art. 1º, CP

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 599-STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública.

248
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

DIREITO PROCESSUAL PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, XL
⦁ Art. 5º, LIII, LV, LVI e LVII
⦁ Art. 5º, LX e LXIII
⦁ Art. 5º, XXXVIII, “a”
⦁ Art. 5°, XXXVII
⦁ Art. 53
⦁ Art. 93, IX
⦁ Art. 129, I

CPP
⦁ Art. 1º e 2º
⦁ Art. 3º, 3ª-A e 3º-B
⦁ Art. 185, §2º
⦁ Art. 212 e 217
⦁ Art. 260 e 261
⦁ Art. 283
⦁ Art. 792

Outros Diplomas Legais


⦁ Art. 8°, itens 2 e 5, CADH
⦁ Art. 347, CP
⦁ Art. 305, CTB

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

⦁ Art. 5º, LIII, LV, LVI e LVII, CF/88


⦁ Art. 5º, LX e LXIII, CF/88
⦁ Art. 93, IX, CF/88
⦁ Art. 1º e 2º, CPP
⦁ Art. 3º, 3ª-A e 3º-B, CPP

249
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

DIREITO CONSTITUCIONAL: DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 1º, III
⦁ Art. 3º
⦁ Art. 4º, 5º, 6º e 7º
⦁ Art. 8º a 11º

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Lei nº 9.296/96 (Lei de interceptação telefônica)
⦁ Lei nº 9.455/97 (Lei de tortura)
⦁ Lei nº 7.716/90 (Lei de racismo)
⦁ Lei nº 12.037/2009 (Lei de Identificação criminal)
⦁ Lei nº 12.016/2009 (Lei do mandado de segurança)
⦁ Lei nº 13.300/2016 (Lei do mandado de injunção)
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!

PRINCIPAIS INCISOS DO ART. 5º, CF/88:


⦁ Inc. I, II, IV
⦁ Inc. III e XLII (leitura conjunta com a Lei nº 7.716/90)
⦁ Inc. VIII (leitura conjunta com o art. 15, IV, CF/88)
⦁ Inc. XI (leitura conjunta com os arts. 3-B, XI; 240, §1º e 243 do CPP)
⦁ Inc. XII (leitura conjunta com a Lei nº 9.296/96)
⦁ Inc. XVI a XXI (muito cobrados em prova objetiva!)
⦁ Inc. XXXIII a XXXV
⦁ Inc. XXXVII (leitura conjunta com o inc. LIII – princípio do juiz natural)
⦁ Inc. XXXIX e XL (leitura conjunta com o art. 1º e 2º do CP)
⦁ Inc. XLIII a LV (leitura obrigatória!)
⦁ Inc. LVI (leitura conjunta com o art. 157, CPP)
⦁ Inc. LVII e LX
⦁ Inc. LVIII (leitura conjunta com o art. 3º, 4º e 5º da Lei nº 12.037/2009)
⦁ Inc. LXI a LXVII (leitura conjunta com os art. 301 a 310, CPP)
⦁ Inc. LXVIII
⦁ Inc. LXIX e LXX (leitura conjunta com a Lei nº 12.016/2009)
⦁ Inc. LXXI (leitura conjunta com a Lei nº 13.300/2016)
⦁ Inc. LXXII a LXXVIII
⦁ §§1º e 3º

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA

250
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Súmula 444-STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-
base.
Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem
de pessoa com fins econômicos ou comerciais.
Súmula 2-STJ: Não cabe o habeas data (CF, art. 5º, LXXII, letra "a") se não houver recusa de informações
por parte da autoridade administrativa.
Súmula vinculante 1-STF: Ofende a garantia constitucional do ato jurídico perfeito a decisão que, sem
ponderar as circunstâncias do caso concreto, desconsidera a validez e a eficácia de acordo constante do
termo de adesão instituído pela Lei Complementar nº 110/2001.
Súmula 654-STF: A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 5º, XXXVI, da Constituição da
República, não é invocável pela entidade estatal que a tenha editado.
Súmula 280-STJ: O art. 35 do Decreto-Lei n° 7.661, de 1945, que estabelece a prisão administrativa, foi
revogado pelos incisos LXI e LXVII do art. 5° da Constituição Federal de 1988.
Súmula vinculante 25-STF: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do
depósito.
Súmula 419-STJ: Descabe a prisão civil do depositário infiel.

251
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

DIREITO ADMINISTRATIVO: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CRFB/88
⦁ Art. 5º, X, XXXIII e LX
⦁ Art. 5º, LV
⦁ Art. 37, caput e §1º
⦁ Art. 37, VII
⦁ Art. 93, IX
⦁ Art. 41
⦁ Art. 169, §3º

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 11, IV, Lei 8429/92
⦁ Art. 6º, 32 e 37 da lei 8987/95
⦁ Art. 3º e 58, da Lei 8666/93 c.c. art. 5º e 104 da Lei 14133/21
⦁ Art. 2º, 50, 53 e 54 da Lei 9784/99
⦁ Lei 12.527/11 (Lei de Acesso à Informação)
⦁ Lei 14.129/21 (princípios, regras e instrumentos para aumento da eficiência pública)

ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!


⦁ Art. 37, caput e §1º, CF/88 (importantíssimo!)
⦁ Art. 5º, LV e LX
⦁ Art. 6º, §1º e §3º lei 8987/95
⦁ Art. 2º, caput da Lei 9784/99 (análise comparativa com o art. 37, caput, da CF/88 e art. 3º da Lei
8666/93 c.c. art. 5º da Lei 14133/21)
⦁ Art. 53 da Lei 9784/99

SÚMULAS RELACIONADAS AO TEMA


Súmula 633-STJ: A Lei nº 9.784/99, especialmente no que diz respeito ao prazo decadencial para a revisão
de atos administrativos no âmbito da Administração Pública federal, pode ser aplicada, de forma
subsidiária, aos Estados e municípios, se inexistente norma local e específica que regule a matéria.
Súmula vinculante 13-STF: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou
por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa
jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão
ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta em qualquer
dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante
designações recíprocas, viola a Constituição Federal.

252
PREPARAÇÃO PRÉ EDITAL

DELEGADO MINAS GERAIS – TURMA 4

SEMANA 01/21

Súmula 473-STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam
ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
Súmula 346-STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.
Súmula 6-STF: A revogação ou anulação, pelo Poder Executivo, de aposentadoria, ou qualquer outro ato
aprovado pelo Tribunal de Contas, não produz efeitos antes de aprovada por aquele tribunal, ressalvada a
competência revisora do judiciário.

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