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Sumário
META 1 ............................................................................................................................................................ 10
DIREITO PENAL: NOÇÕES INICIAIS E PRINCÍPIOS ............................................................................................. 10
1. CONCEITO, CARACTERÍSTICAS, OBJETO, FUNÇÕES E DIVISÕES DO DIREITO PENAL ................................... 10
2. ENCICLOPÉDIA DAS CIÊNCIAS PENAIS ......................................................................................................... 15
2.1 Direito Penal X Criminologia X Política Criminal ..................................................................................................... 15
2.2 Seletividade - Criminalização Primária e Secundária (Zaffaroni) ............................................................................ 16
3. DIREITO PENAL DO AUTOR E DIREITO PENAL DO FATO .............................................................................. 17
4. GARANTISMO PENAL (FERRAJOLI)............................................................................................................... 18
4.1 Conceito ................................................................................................................................................................. 18
4.2. Garantias primárias e secundárias ........................................................................................................................ 18
4.3 Máximas do garantismo ......................................................................................................................................... 18
5. DIREITO PENAL DO INIMIGO ....................................................................................................................... 20
5.1 Velocidades do Direito Penal (Jesús-Maria Silva Sánchez) ..................................................................................... 21
6. FONTES DO DIREITO PENAL ........................................................................................................................ 21
7. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL ................................................................................................................... 25
7.1 Princípios Relacionados com a Missão Fundamental do Direito Penal .................................................................. 25
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7.1.1 Princípio da Exclusiva Proteção de Bens Jurídicos ........................................................................................... 25
7.1.2 Princípio da Intervenção Mínima ..................................................................................................................... 26
7.1.3 Princípio da Insignificância ou da Bagatela ...................................................................................................... 28
7.2 Princípios Relacionados com o Fato do Agente ..................................................................................................... 42
7.2.1 Princípio da Ofensividade/Lesividade .............................................................................................................. 42
7.2.2 Princípio da Alteridade .................................................................................................................................... 43
7.2.3 Princípio da Exteriorização ou Materialização do Fato .................................................................................... 43
7.2.4 Princípio Da Legalidade Estrita Ou Reserva Legal ............................................................................................ 43
7.2.5 Princípio da Anterioridade ............................................................................................................................... 46
7.2.6 Princípio da Vedação ao Bis In Idem ................................................................................................................ 46
7.2.7 Princípio da Adequação Social ......................................................................................................................... 46
7.3 Princípios Relacionados com o Agente do Fato ..................................................................................................... 47
7.3.1 Princípio da Responsabilidade Pessoal / Da Pessoalidade / Da Intranscendência Da Pena ............................ 48
7.3.2 Princípio da Responsabilidade Subjetiva ......................................................................................................... 48
7.3.3 Princípio da Culpabilidade ............................................................................................................................... 48
7.3.4 Princípio da Proporcionalidade ........................................................................................................................ 48
7.3.5 Princípio da Limitação das Penas ou da Humanidade ..................................................................................... 49
7.2.6 Princípio da Confiança ..................................................................................................................................... 49
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL: LEI DE RACISMO ............................................................................................. 51
1. RACISMO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL ....................................................................................................... 51
2. O BEM JURÍDICO TUTELADO PELA LEI Nº 7.716/89 .................................................................................... 52
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ATENÇÃO
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Equipe DD
Prezado(a) aluno(a),
Caso possua alguma dúvida jurídica sobre o conteúdo disponibilizado no curso, pedimos que utilize a sua
área do aluno. Há um campo específico para enviar dúvidas.
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META 1
CF/88
⦁ Art. 5º, II
⦁ Art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV, XLV e XLVII
⦁ Art. 5º, XXXIX
⦁ Art. 5º, §3º
⦁ art. 7º, X
⦁ Art. 22, I e §único
⦁ art. 227, § 4º
CP
⦁ Art. 1º
⦁ Art. 59
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⦁ Art. 71
A) CONCEITO
Conjunto de normas que objetiva definir os crimes, proibindo ou impondo condutas, sob a ameaça
de imposição de pena ou medida de segurança, e a criar normas de aplicação geral. Segundo Cleber Masson
(2017, p. 3) é “o conjunto de princípios e regras destinados a combater o crime e a contravenção penal,
mediante a imposição de sanção penal”.
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Importa salientar que “sanção penal” é gênero, do qual são espécies as penas e as medidas de
segurança.
#DICA DD: Diz-se que a pena é a 1ª via do direito penal, a medida de segurança é a 2ª e a reparação do dano
é a 3ª.
B) CARACTERÍSTICAS
De acordo com Cleber Masson (2017, p. 5), o Direito Penal é uma ciência cultural, normativa,
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valorativa, finalista, de natureza predominantemente sancionatória, e fragmentária. Esquematizando:
⦁ I – Ciência: suas regras estão contidas em normas e princípios que, por sua vez, formam a dogmática
jurídico-penal;
⦁ II – Cultural: o Direito Penal é uma ciência do “dever ser”, ao contrário das ciências naturais, que
cultuam o “ser”;
⦁ III – Normativa: o objeto principal é o estudo da lei penal (Direito positivo);
⦁ IV – Valorativa: sua aplicação não está pautada em regras matemáticas de certo ou errado, mas sim
em uma escala de valores que são sopesados a partir de critérios e princípios próprios do Direito
Penal. Dessa forma, esse ramo do direito valoriza hierarquicamente as suas normas;
⦁ V – Finalista: o objetivo do direito penal é a proteção
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sua missão prática, e não simplesmente teórica;
⦁ VI – Sancionatória: o Direito Penal é predominantemente sancionador porque não cria bens
jurídicos, mas acrescenta proteção penal aos bens jurídicos disciplinados por outros ramos do
Direito. No entanto, é possível que ele seja também constitutivo, quando protege interesses não
regulados por outras áreas do Direito;
⦁ VII – Fragmentária: o Direito Penal não tutela todos os valores ou interesses, mas somente os mais
importantes para a manutenção e o desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade.
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O legislador seleciona os bens jurídicos a serem defendidos pelo Direito Penal. No entanto, NÃO se
pode falar em discricionariedade ampla e irrestrita, pois os bens jurídicos mais importantes são tratados na
Constituição. Logo, a Constituição possui a seguinte missão:
⦁ Orienta o legislador, ao eleger valores considerados indispensáveis à manutenção da sociedade;
⦁ Impede que o legislador viole direitos fundamentais atribuídos a toda pessoa humana (Visão
Garantista Do Direito Penal).
a) Missão mediata:
● Instrumento de Controle Social ou de preservação da paz pública (Papel intimidador);
● Limitação ao poder de punir estatal ou Função de Garantia – garantia dos cidadãos contra o arbítrio
estatal, vez que só podem ser punidos por atos previstos como infração penal e por pena também
determinada em lei.
✔ Para Franz Von Liszt “o Código Penal é a Magna Carta do delinquente”.
b) Missão imediata:
Aqui, é necessário lembrar do funcionalismo penal, que trará as duas correntes de mais destaque
acerca do tema (muita atenção):
● Funcionalismo teleológico (moderado) – Claus Roxin (Predomina)
⋅ A missão do Direito Penal é a proteção dos bens jurídicos mais relevantes;
⋅ Se a proteção de determinado bem jurídico não é indispensável ao indivíduo e à manutenção
da sociedade, não deve incidir o direito penal, mas outros ramos do direito;
⋅ Para Roxin, o Direito Penal não veio para
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⋅ Ele entende que essa seria a função exclusiva;
⋅ É chamado teleológico porque busca a finalidade do direito penal.
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a função do direito penal. Sua função seria a de demonstrar que a norma continua vigorando
e deve ser obedecida;
⋅ Assim, “o bem não deve ser representado como um objeto físico ou algo do gênero, e sim,
como norma, como expectativa garantida”. (Direito Penal e Funcionalismo, 2005, p.33-34);
⋅ E, ainda, entende ele que quem deliberada e reiteradamente viola a lei penal, de forma grave
e duradoura, deve ser tratado como “não-cidadão”, como inimigo da sociedade, por não
cumprir sua função no corpo social, não fazendo jus às garantias previstas pela norma a qual
tal sujeito infringe;
⋅ Ao delinquente-cidadão, seria aplicado o direito penal do cidadão, ao passo que ao
delinquente inimigo, seria aplicado o Direito Penal do Inimigo (tópico específico mais à
frente).
APROFUNDANDO: vamos a uma tabelinha com mais características das duas vertentes do
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funcionalismo para fixar as diferenças?
FUNCIONALISMO PENAL
● Finalidade
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do Direito Penal: proteção de bens
jurídicos indispensáveis. Não veio para trazer
valores éticos, morais;
● Moderado: o direito penal tem limites impostos
FUNCIONALISMO pelo próprio direito penal e demais ramos do
TELEOLÓGICO direito;
(Características: Moderado, ● Dualista: convive em harmonia com os demais
dualista, de política criminal ramos do Direito. Reconhece o sistema jurídico em
ou racional teleológico) geral;
ROXIN ● De política criminal: aplica a lei de acordo com os
anseios da sociedade. Se adapta à sociedade em que
ele se insere;
● Racional teleológico: movido pela razão e em busca
de sua finalidade.
● Finalidade do Direito Penal: é a proteção das
FUNCIONALISMO SISTÊMICO normas penais, assegurar o império da norma. É
(Características: punir. Aplicar a lei;
Radical, monista e sistêmico) ● A sociedade que deve se ajustar ao Direito Penal;
JAKOBS ● Para ele, o Direito Penal é:
Direito Penal do Inimigo - Radical: só reconhece os limites impostos por ele
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mesmo;
- Monista: é um sistema próprio de regras e de
valores que independe dos demais;
- Sistêmico: é autônomo (independe dos demais
ramos), autorreferente (todas as referências e
conceitos que precisa buscar do próprio direito
penal) e se autoproduz;
● Quem viola reiterada e deliberadamente a norma =
não-cidadão / inimigo = não tem direitos.
5. Direito Penal Geral: é o conjunto de normas penais aplicáveis em todo o território nacional. Essas
normas são produzidas privativamente pela União (art. 22, I, da CF);
6. Direito Penal Local: é o conjunto de normas penais aplicáveis somente a determinada parte do
território nacional. A existência dessas normas somente é possível se houver autorização da União
por lei complementar para que os Estados legislem sobre questões específicas de Direito Penal (art.
22, parágrafo único, da CF);
9. Direito Penal Substantivo: é o direito penal material, propriamente dito. É o que consta no Código
Penal;
10. Direito Penal Adjetivo: também chamado de “formal” (grave as nomenclaturas), é o direito
processual penal.
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O estudo do crime, do criminoso e da sanção penal é o objeto de várias ciências, tendo sido chamadas
por José Cerezo Mir de “enciclopédia de ciências penais”. A doutrina não é uníssona acerca de quantas ou
quais exatamente seriam elas, mas, para o nosso estudo, as mais importantes são a dogmática, a criminologia
e a política criminal.
I – DOGMÁTICA PENAL: tem por objetivo interpretar de forma sistemática o direito penal, entendendo o
sentido das normas e aplicando-o de forma lógico-racional (não emocional).
Obs.: Dogmática ≠ Dogmatismo: Dogmatismo é a aceitação cega de verdades tidas como absolutas e
imutáveis (deve ser desprezado). Se opõe à ideia de ciência, que admite flexibilização, na qual estaria
enquadrada a dogmática.
II – CRIMINOLOGIA: A criminologia, de acordo com Luiz Flávio Gomes e Antônio Molina, é uma ciência
empírica (estuda o que “é”, ao contrário do direito penal, que estuda o que “deve ser” – caracterizando-se
como uma ciência valorativa e normativa) e interdisciplinar
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(observa diversos fatores: econômicos, políticos,
sociais, religiosos etc.), a qual estuda o crime, a vítima, o criminoso e o controle social. Suas constatações se
dão a partir da observação daquilo que acontece na realidade social, na experiência.
III – POLÍTICA CRIMINAL: trabalha com estratégias e mecanismos de controle social da criminalidade, para
que os bens jurídicos relevantes sejam protegidos. Possui a característica de vanguarda, pois orienta a criação
e a reforma das leis, a partir de uma análise crítica acerca destas estarem ou não cumprindo os fins a que se
propõem, considerando dados obtidos por outros ramos (como a criminologia).
Funciona como “filtro” entre a letra fria da lei e a realidade social. Revela as leis que “pegam” e as que não.
O ponto mais cobrado desse tópico é, sem dúvidas, a diferença entre direito penal, criminologia e
política criminal. Esquematizando:
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contravenção.
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Ocupa-se do crime enquanto Ocupa-se do crime enquanto Ocupa-se do crime enquanto
norma. fato. valor.
Ex.: Quais fatores contribuem Ex.: Estuda como diminuir os
Ex.: Define o crime de roubo.
para o crime de roubo. casos de roubo.
“Ao menos em boa medida, o sistema penal seleciona pessoas ou ações, como
também criminaliza certas pessoas segundo sua classe e posição social. [...] Há
uma clara demonstração de que não somos todos igualmente ‘vulneráveis’ ao
sistema penal, que costuma orientar-se por ‘estereótipos’ que recolhem os
caracteres dos setores marginalizados e humildes, que a criminalização gera
fenômeno de rejeição do etiquetado como também daquele que se solidariza ou
contata com ele, de forma que a segregação se mantém na sociedade livre. A
posterior perseguição por45119parte das autoridades com rol de suspeitos
permanentes, incrementa a estigmatização social do criminalizado (ZAFFARONI;
PIERANGELI, 2011, p. 73).” (Guarda relação com o movimento do labeling
approach/ teoria da reação social / da rotulação social / do etiquetamento social –
tema que deve ser estudado de modo mais aprofundado na matéria de
criminologia).
* ATENÇÃO: Além do momento da elaboração e aplicação da norma, a seletividade também vai se mostrar
presente no momento da execução da pena.
#DICA DD: Você sabe o que é Direito Penal Subterrâneo e Direito Penal Paralelo? Referem-se aos sistemas
penais paralelos e subterrâneos. De acordo com Zaffaroni, “sistema penal é o conjunto das agências que
operam a criminalização primária e a criminalização secundária ou que convergem na sua produção”.
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Direito Penal Paralelo: Como o sistema penal formal do Estado não obtêm êxito em grande parte da
aplicação e exercício do poder punitivo, outras agências apropriam-se desse espaço e o exercem de modo
paralelo ao estado (criando sistemas penais paralelos). Ex.:médico que aprisiona doentes mentais;
institucionalização pelas autoridades assistenciais dos morados de rua etc.).
Direito Penal Subterrâneo: ocorre quando as instituições oficiais atuam com poder punitivo ilegal,
acarretando abuso de poder. Ex.: institucionalização de pena de morte (execução sem processo),
desaparecimentos, torturas, extradições mediante sequestro, grupos especiais de inteligência que atuam
fora da lei etc.
Direito Penal do Fato – Adotado pelo Ordenamento Penal Brasileiro – consiste que o direito penal
deve punir condutas, ou seja, fatos, praticados pelos indivíduos que sejam lesivas a bens jurídicos de
terceiros. Pune-se o fato. A base para esse princípio está no Estado de Direito.
Está atrelado ao Princípio da exteriorização ou materialização do fato, pelo qual o Estado só pode
incriminar condutas humanas voluntárias (fatos). Assim, ninguém pode ser castigado por seus pensamentos,
desejos ou meras cogitações ou estilo de vida. 45119
O princípio da exteriorização serviu para o legislador acabar com as infrações penais que
desconsideravam esse mandamento. Ex.: Mendicância (art. 60 L.C.P. – abolido), tal infração adotava o direito
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penal do autor.
Por sua vez, o direito Penal do autor consiste na punição do indivíduo baseada em seus
pensamentos, desejos e estilo de vida, condições pessoais, do modo de ser, grau de culpabilidade
(reprovabilidade), antecedentes do autor, está interligado ao Direito Penal do Inimigo. Aqui teríamos uma
inobservância do princípio da exteriorização do fato.
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em regra, prevalecendo-se das facilidades proporcionadas pelo livre trânsito nos centros de controle político
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e econômico.
4.1 Conceito
* ATENÇÃO: Para o garantismo de Ferrajoli, o juiz não é um mero aplicador da lei, um mero executor da
vontade do legislador ordinário. Ele é, antes de tudo, o guardião de direitos fundamentais.
● Nulla poena sine crimine: somente será possível a aplicação de pena quando houver, efetivamente, a
prática de determinada infração penal;
● Nullum crimen sine lege: a infração penal deverá sempre estar expressamente prevista na lei penal;
● Nulla lex (poenalis) sine necessitate: a lei penal somente poderá proibir ou impor determinados
comportamentos, sob a ameaça de sanção, se houver absoluta necessidade de proteger determinados
bens, tidos como fundamentais ao nosso convívio em sociedade, (direito penal mínimo);
● Nulla necessitas sine injuria: as condutas tipificadas na lei penal devem, obrigatoriamente, ultrapassar
a sua pessoa, isto é, não poderão se restringir à sua esfera pessoa, à sua intimidade, ou ao seu
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Caiu em prova Delegado PC-AM/2022 da banca FGV! Fruto da herança dos postulados iluministas, a partir
da segunda metade dos anos 1970, um novo modelo normativo de garantia aos direitos sociais, civis e
políticos é lapidado na Itália como sinônimo de Estado constitucional democrático, surgindo o garantismo.
Sobre esse modelo, é correto afirmar que: o princípio da proteção suficiente, numa perspectiva garantista
positiva, endossa a função estatal de proteção suficiente de direitos fundamentais a partir do Direito Penal.
Quando apenas o garantismo negativo é observado, surge o chamado “garantismo hiperbólico monocular”
(grave este nome). Hiperbólico: por ser aplicado de modo desproporcional e exagerado. Monocular: por
enxergar apenas um lado, opondo-se ao garantismo integral.
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a) Conceito: Aquele que viola o sistema deve ser considerado e tratado como inimigo. O
delinquente, autor de determinados
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um “cancro societário”, que deve ser extirpado (Munhoz Conde). O autor Jakobs fomenta o Direito Penal do
inimigo para o terrorista, traficante de drogas, de armas e de seres humanos e para os membros de
organizações criminosas transnacionais (vide lei n. 12.850/2013).
*ATENÇÃO: O Direito Penal do inimigo também é conhecido como a “terceira velocidade do Direito Penal”.
Isto porque se aplica a pena de prisão e também por ser extremamente célere, já que suprime direitos e
garantias.
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Segundo, Cleber Masson (2017, p. 111) a teoria das velocidades do direito penal “parte do
pressuposto de que o Direito Penal, no interior de sua unidade substancial, contém dois grandes blocos,
distintos, de ilícitos: o primeiro das infrações penais às quais são cominadas penas de prisão (direito penal
nuclear), e o segundo, daqueles que se vinculam aos gêneros diversos de sanções penais (direito penal
periférico)”.
● Primeira velocidade: Direito Penal “da prisão”, aplicando-se penas privativas de liberdade como
resposta aos crimes praticados, com a rígida observância das garantias constitucionais e processuais.
Aplicada a delitos graves.
● Segunda velocidade: Direito penal reparador. São aplicadas aqui penas alternativas à prisão, como
restritivas de direitos ou pecuniárias, de forma mais rápida, sendo admissível, para tanto, uma
flexibilização proporcional dos princípios e regras processuais. Aplicável a delitos de menor
gravidade.
●
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Terceira velocidade: Novamente temos aqui a prisão por excelência. Contudo, difere-se da primeira
por permitir a flexibilização e até a supressão de determinadas garantias. Aplicada aos delitos de
maior gravidade. Remete ao direto penal do inimigo, já explicado acima.
● Quarta velocidade: Neopunitivismo. Ligada45119ao direito internacional. É o processamento e
julgamento pelo TPI de chefes de Estado que violarem tratados e convenções internacionais de tutela
de Direitos Humanos e praticarem crimes de lesa-humanidade, de modo que, por esta razão, se
tornarão réus perante o referido tribunal e terão, dentro do contexto, suas garantias penais e
processuais penais diminuídas.
● Quinta velocidade: hodiernamente, já se fala em Direito Penal de 5ª (quinta) velocidade, que trata
de uma sociedade com maior assiduidade do controle policial, o Estado com a presença maciça de
policiais na rua, no cenário onde o Direito Penal tem o escopo de responsabilizar os autores, diante
da agressividade presente em nossa sociedade de relações complexas e, muitas vezes,
(in)compreensíveis. #PERTINÊNCIATEMÁTICA
a) Fonte Material: Diz respeito à criação do Direito Penal. Via de regra, é a União, art.22, I, da CF/88, pois
“compete privativamente à União legislar sobre direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho”.
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*Atenção: O artigo 22, parágrafo único, CF/88, prevê que “Lei Complementar poderá autorizar os Estados a
legislar sobre questões específicas relacionadas neste artigo”, o que permite entender que abarca, inclusive,
o Direito Penal. Então podemos ter uma lei complementar autorizando o estado a legislar sobre questões
específicas de direito penal. É chamada DELEGAÇÃO EM PRETO – pois essa lei complementar não pode
delegar genericamente. Têm que ser pontos específicos/questões específicas.
Segundo explica o autor Cleber Masson, "É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria relativa a
Direito Penal (CF, art. 62, § 1.º, I, alínea b), seja ela prejudicial ou mesmo favorável ao réu. Nada obstante, o
Supremo Tribunal Federal historicamente firmou jurisprudência no sentido de que as medidas provisórias
podem ser utilizadas na esfera penal, desde que benéficas ao agente". (MASSON, Cleber. Direito Penal.
Parte Geral. Volume 1. 13ª edição. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2019, p. 97).
b) Fonte Formal: Diz respeito à aplicação do Direito Penal. Esse ponto varia um pouco de doutrinador para
doutrinador.
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Mediatas: Mediatas:
● Costumes ● Doutrina
● Princípios gerais do Direito
● *Alguns colocam atos
administrativos.
Fonte informal:
● Costumes
i. Lei - É o único instrumento normativo capaz de criar infração penal e cominar sanção penal (única
fonte formal imediata incriminadora).
ii. Constituição Federal – Não cria infração penal e não comina sanção penal (nem pena, nem medida
de segurança). Contudo, a Constituição Federal fixa alguns patamares abaixo dos quais a intervenção
penal não se pode reduzir. São os chamados “mandados constitucionais de criminalização”
(patamares mínimos). Exemplos de mandados constitucionais de criminalização: Art. 5º, XLI, CF, Art.
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5º, XLII, CF, e Art.5º, XLIII, CF.
ATENÇÃO: Os tratados internacionais podem ser classificados como fonte do direito penal apenas quando
incorporados ao direito interno. Se versar sobre direitos humanos e for aprovado seguindo o rito de
emendas constitucionais, terá força normativa de emendas constitucionais (art. 5º, §3°, CF). Caso não siga
tal rito, terá força de norma supralegal.
Contudo, antes do advento das Leis 12.694/12 e 12.850/13 (que definiram, sucessivamente, organização
criminosa), o STF já havia se manifestado pela inadmissibilidade da utilização do conceito de organização
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criminosa dado pela Convenção de Palermo, trancando a ação penal que havia dado origem à impetração,
em face da atipicidade da conduta. HC nº 96.007/SP, rel. min. Marco Aurélio, 1ª Turma, j. 12/06/2012.
No REsp 1.798.903/RJ (j. 25/09/2019), o STJ decidiu que o Estatuto de Roma, que conceitua os crimes contra
a humanidade, não tem efeitos penais no Brasil, onde impera o pressuposto da lei penal em sentido estrito
para a tipificação de crimes.
iv. Jurisprudência
Não cria crime; não comina pena. Mas, na prática, às vezes, a jurisprudência
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cria o direito penal.
Ademais, revela Direito Penal podendo inclusive ter caráter vinculante. Um exemplo disso é o caso do crime
continuado, em que a jurisprudência define o que são condições de tempo e lugar para fim de definição da
continuidade delitiva. A condição de tempo é de 30 dias de intervalo entre as infrações; a condição de lugar
também é definida pela jurisprudência.
Obs.: Súmulas vinculantes – Elas também são fontes do direito penal.
a. Princípios - Não criam crime nem cominam pena. Mas vários são os julgados absolvendo ou
reduzindo pena com base em princípios. Ex.: Princípio da Insignificância – causa de atipicidade
material.
b. Atos administrativos - Fonte formal imediata 45119
quando complementam norma penal em branco. Ex.:
Lei de drogas é complementada por uma Portaria da ANVISA.
c. Doutrina: Para alguns autores, a doutrina não é fonte do direito penal por não ter força cogente, ou
seja, não ser revestida de obrigatoriedade.
d. Costumes
● Costume é a repetição de um comportamento (elemento objetivo) em face da crença na sua
obrigatoriedade (elemento subjetivo).
≠ de hábito, que consiste na mera repetição de comportamento (elemento
objetivo), mas sem a crença na sua obrigatoriedade.
● Costume não cria crime, não comina pena, só a Lei pode criar crimes e cominar penas, em razão do
princípio da legalidade (veda-se o costume incriminador).
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determinar o sentido de ato obsceno? Vai ser determinado pelo sentido compartilhado pela sociedade, de
forma reiterada. É um conceito normativo porque exige um juízo de valor, e esse juízo de valor é um juízo
temperado e contextualizado de acordo com a prática social da comunidade. Portanto, a função integrativa
dos costumes atua de forma muito mais efetiva nos elementos normativos do tipo (que exigem valoração).
● Espécies de costumes:
i. Costume secundum legem (costume interpretativo): possui a função de auxiliar o intérprete
a entender o conteúdo da lei.
ii. Costume contra legem (costume negativo): é chamado de DESUETUDO. É aquele que
contraria uma lei, mas não a revoga. Ex.: Venda de CDs piratas.
iii. Costume praeter legem (costume integrativo): é aquele usado para suprir as lacunas da lei.
É válido, mas só pode ser usado no campo das normas penais não incriminadoras e apenas
para favorecer o agente. Ex.: a circuncisão em meninos de determinadas religiões não é
considerada crime.
#DICA DD: Existe costume abolicionista? PREVALECE que não existe costume abolicionista. Enquanto não
revogada por outra lei, a norma tem plena eficácia. É a que prevalece e está de acordo com a lei de introdução
às normas do direito brasileiro. Ex.: Jogo do bicho continua
45119 tipificado como contravenção penal, sendo
aplicável no caso concreto.
* ATENÇÃO: Para aqueles que não adotam a tese do costume abolicionista, é possível o uso do costume
segundo a lei (costume interpretativo), que vai servir para aclarar o significado de uma palavra, de um texto.
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7. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL
Princípios são os valores fundamentais que inspiram a criação e a manutenção do sistema jurídico.
No caso dos princípios penais, eles vão orientar a atuação do legislador na elaboração da legislação penal e
do operador do direito em sua aplicação. A função dos princípios é limitar o poder de punir do Estado. Isso
porque, o Estado, por natureza, é arbitrário, pois invade a esfera de liberdade do indivíduo.
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Assim, não pode incriminar pensamentos ou intenções, questões morais, éticas, ideológicas,
religiosas ou finalidades políticas. Para a teoria constitucional do Direito Penal, aliás, a referida eleição de
bens jurídicos deve refletir os valores constitucionais, a exemplo do homicídio, que tutela o direito
fundamental à vida.
Dessa forma, o princípio da proteção aos bens jurídicos defende que o direito penal deve servir
apenas para proteger bens jurídicos relevantes, bens jurídicos indispensáveis ao convívio em sociedade.
Mas o que é bem jurídico?
R.: Trata-se de um tema extremamente controvertido, de modo que vamos tentar simplificá-lo de
forma objetiva para melhor compreensão:
Para Luiz Regis Prado, bem jurídico é um ente material ou imaterial, haurido do contexto social, de
titularidade individual ou metaindividual, reputado como essencial para a coexistência e o desenvolvimento
do homem em sociedade.
Por sua vez, Luis Greco e Roxin se filiam ao mesmo conceito, mas usam expressões diferentes.
● Roxin – bem jurídico será a relação real da pessoa com um valor concreto, reconhecido pela
comunidade.
● Luís Greco – bem jurídico são dados fundamentais para a realização pessoal dos indivíduos ou para
a subsistência do sistema social nos limites da ordem constitucional.
Nesse sentido, para conceituar bem jurídico, é45119
imprescindível levar 2 pontos em consideração:
1) Fundamento do bem jurídico: o conceito de bem jurídico tem que ter como ponto central,
como fundamento, a importância do bem àquela pessoa. Tem que ser um bem de
importância vital, fundamental, de modo que a existência dessa pessoa ou seu bem-estar
estejam ameaçados sem a criminalização daquela conduta.
2) Titularidade do bem jurídico: É importante saber quem é o titular desse bem jurídico. Para
quem o BJ tem essa importância fundamental? 45119
Obs. Espiritualização, desmaterialização ou liquefação dos bens jurídicos: é a inclusão no direito penal de
proteção a interesses metaindividuais e não apenas relativos ao ser humano. Por esta razão, a lei penal
passou a prever mais crimes de perigo nos últimos tempos, destinados a proteger bens metaindividuais. Ex.:
crimes ambientais (MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado - Parte Geral. 14ª Ed. São Paulo: Método,
2020, p. 52).
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45119
Obs.: Trata-se de um princípio um implícito na CF/88, que pode ser retirado, principalmente, do
princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF/88).
7.1.2.1 Fragmentariedade
O direito penal é fragmentário pois é visto como
45119 um sistema descontínuo de ilicitudes. Ou seja: o
direito penal não pode e nem tem como criminalizar todas a condutas existentes, mesmo que sejam ilícitos
do direito (não só ilícitos penais, mas ilícitos civis também).
Nesse contexto, a fragmentariedade prevê que somente devem ser tutelados pelo direito penal os
casos de relevante lesão ou perigo de lesão aos bens jurídicos fundamentais para a manutenção e o progresso
do ser humano e da sociedade.
O princípio da fragmentariedade deve ser utilizado no plano ABSTRATO, para o fim de permitir a criação de
tipos penais somente quando os demais ramos do Direito tiverem falhado na tarefa de proteção de um bem
jurídico. Refere-se, assim, à atividade legislativa.
#DICA DD: Em que consiste a fragmentariedade às avessas? Ocorre nas situações em que o direito penal
perde o interesse em uma determinada conduta, inicialmente tida por criminosa, por entendê-la
desnecessária, com a evolução da sociedade e modificação de seus valores, ocorrendo a abolitio criminis,
sem prejuízo de sua tutela pelos demais ramos do direito. É um juízo negativo, o crime existia e deixa de
existir. Ex.: Adultério, que era crime tipificado no art. 240 do CP e deixou de ser em 2005, quando a Lei nº
11.106 revogou o tipo penal.
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7.1.2.2 Subsidiariedade
A subsidiariedade é corolário da intervenção mínima e está ligada à autonomia do Direito Penal.
Somente após se constatar que outros meios de solução social dos conflitos não são aptos a dirimi-los, é que
serão utilizados modelos coercitivos de que dispõe o Direito Penal.
Assim, a intervenção penal fica condicionada ao fracasso dos demais ramos do direito, funcionando
como um soldado de reserva.
Direciona-se ao aplicador do direito, no PLANO CONCRETO, devendo ser aplicado apenas quando
todos os demais ramos se revelarem impotentes. O crime já existe, mas precisamos saber se a aplicação da
lei penal é necessária no caso concreto.
Aprofundando...
Conflito aparente de normas: Segundo Rogério Greco, o conflito aparente de normas penais é aquele
que ocorre quando duas normas aparentam incidir sobre o mesmo fato. Ele é dito aparente, pois na verdade
não existe conflito algum – efetivamente, não existe um conflito ao se aplicar a norma ao caso concreto.
Existem princípios, capazes de solucionar os conflitos aparentes de normas penais:
a) Subsidiariedade - Temos uma norma subsidiária e uma norma primária, e só se aplica a norma
subsidiária caso a norma primária não possa ser aplicada, ou seja, uma norma menos grave
(subsidiária), que descreve um crime autônomo,
45119
e uma norma mais grave (primária), que descreve
uma segunda conduta e que prevalecerá sobre aquela.
b) Especialidade - Estaremos diante de dois tipos penais, um específico e um genérico, ambos
aparentemente adequados para o caso concreto. Entretanto, pela regra da especialidade,
prevalecerá o tipo penal específico. 45119
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45119
Segundo Cleber Masson (Direito Penal Esquematizado): “Em outras palavras, o Direito Penal não
deve se ocupar de assuntos irrelevantes, incapazes de lesar o bem jurídico legalmente tutelado. Na década
de 70 do século passado, foi incorporado ao Direito Penal pelos estudos de Claus Roxin”.
Ressalta-se que o princípio da Insignificância decorre da fragmentariedade, de modo que o Direito
Penal só vai intervir nos casos de relevante lesão, quando for indispensável para a proteção de determinado
bem jurídico, e quando não houver como proteger o bem jurídico como os outros ramos do direito.
Nesse sentido, o princípio da insignificância traduz a ideia de que não há crime quando a conduta
praticada pelo agente é insignificante, não é capaz de ofender ou colocar em perigo o bem jurídico tutelado
pela norma penal.
b) Finalidade
O STF expressamente reconhece como finalidade desse princípio a “interpretação restritiva da lei
penal”, ou seja, o princípio da insignificância deve diminuir a intervenção penal, no sentido de ignorar as
condutas irrisórias que não se revelam capazes de ofender o bem jurídico tutelado pelo tipo penal.
c) Natureza Jurídica: Causa de Exclusão da tipicidade (atipicidade) material. Isto é: torna o fato atípico
por ausência de tipicidade material.
45119
TRADUZINDO:
TIPICIDADE PENAL = tipicidade formal + tipicidade material.
Tipicidade formal: juízo de adequação do fato à norma (analisa se o fato praticado na vida real, se amolda,
se encaixa ao modelo de crime descrito na lei penal). Ex.: Sujeito subtrai um iogurte de um hipermercado.
Como subtraiu coisa alheia móvel, o fato se adequa ao tipo penal de furto.
Tipicidade material: é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido.
No exemplo acima, em que pese tenha havido a tipicidade formal, o ato praticado não foi capaz de causar
lesão relevante ao bem protegido, vez que o valor de um iogurte não faria a menor diferença no patrimônio
de um hipermercado, não havendo, portanto, tipicidade material.
Mas atenção: NÃO É SÓ O VALOR que deve ser analisado para que seja reconhecida a insignificância
da conduta! Existem outros requisitos que devem ser observados, conforme jurisprudência consolidada da
Suprema Corte.
Ademais, valor insignificante e pequeno valor não são sinônimos. Por vezes, em casos de furto, por
exemplo, a questão apresenta um bem de um valor baixo, mas não irrisório/insignificante, que servirá apenas
para caracterizar a causa de diminuição de pena do furto privilegiado, mas não excluirá a tipicidade material,
seja pelo fato de o valor ser pequeno, mas não irrisório, seja por não preencher algum outro requisito.
Sobre os valores, não há nenhuma tese fixa sobre. É necessário analisar o contexto. Porém,
analisando as decisões proferidas, o STF tem aceitado como insignificantes normalmente valores que giram
em torno de 10% do salário-mínimo, com variações para mais e para menos (é só uma ideia). Já como
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pequeno valor, para o privilégio, admite-se o valor de até 1 salário-mínimo integral (raciocínio aplicável aos
demais delitos que admitem o privilégio).
Tese 7: O princípio da insignificância deve ser afastado nos casos em que o réu
faz do crime o seu MEIO DE VIDA, ainda que a coisa furtada seja de pequeno
valor.
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É possível a aplicação ao réu reincidente quando o crime anterior tutelava bem jurídico distinto patrimônio,
é o que o STF chamou de TEORIA DA REITERAÇÃO NÃO CUMULATIVA DE CONDUTAS DE GÊNEROS
DISTINTOS (*termo de prova).
Entendendo a fonte da expressão acima que foi utilizada no seguinte julgado do STF:
Ressalta-se ainda que, em 2018 e 2019, os Tribunais Superiores tinham encontrado uma espécie de
“meio termo” entre a aplicação do princípio da insignificância e a reincidência do agente.
Isso porque, no caso concreto, o juiz via que, pelo critério objetivo, o réu faria jus à insignificância,
mas que os critérios subjetivos não estariam preenchidos, em razão da reincidência. Então, considerando a
proporcionalidade, o STF criou um “meio termo”: ao invés de absolver por atipicidade material da conduta,
aplicou outros institutos mais benéficos, como a substituição da pena privativa de liberdade por pena
restritiva de direitos, como nos informativos 913 e 938.
Justificativas:
A favor da aplicação da insignificância ao reincidente/habitual: se a natureza jurídica é de causa de exclusão
de tipicidade, deve ser analisado o FATO e não os atributos do agente, sob pena de se utilizar o direito penal
do autor. O fato não poderia ser típico para uma pessoa e atípico para outra. Ou é típico ou não é. O momento
de analisar as condições pessoais do agente é apenas em eventual e futura fixação de pena.
Contra a aplicação da insignificância ao reincidente/habitual: Se o agente é infrator contumaz, com
45119
personalidade voltada a práticas delitivas, fazer uso da insignificância seria incentivá-lo ao contínuo
descumprimento da norma, fazendo do crime um meio de vida. O valor de um bem, isoladamente, até
poderia ser insignificante, mas o “todo” não seria e isso caracterizaria reprovabilidade e ofensividade. O
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intuito do princípio não é legitimar esse tipo de conduta, mas afastar do campo de incidência do direito penal,
desvios mínimos e isolados.
Caiu em prova Delegado PC-AM/2022 da banca FGV! O princípio da insignificância é compatível com o furto
praticado por clandestinidade. (Item considerado correto pela banca.)
Veja a Tese nº 6, constante da Edição nº 47 da Jurisprudência em Teses do STJ, e a analise por exclusão: "6)
A prática do delito de furto qualificado por escalada, destreza, rompimento de obstáculo ou concurso de
agentes indica a reprovabilidade do comportamento do réu, sendo inaplicável o princípio da insignificância".
▪ Tráfico de drogas – não aplicação do princípio, por se tratar de crime de perigo abstrato (perigo
presumido, de acordo com a jurisprudência do STJ), sendo irrelevante a quantidade de droga
apreendida (HC 318926, STJ – 2015).
▪ A apreensão de munições em quantidade não considerada insignificante, aliada a condenação
concomitante pelo delito de tráfico de entorpecentes, impõe o afastamento da aplicação do princípio
45119
da insignificância. REsp 1.978.284-GO, julgado em 14/06/2022.
▪ Porte de drogas para consumo pessoal – tema controvertido.
· Amplamente majoritário + jurisprudência do STJ – impossibilidade da insignificância em razão de se
tratar de crime de perigo abstrato. STJ, 6ª T, RHC 35920-DF (INFO 541)
· STF tem um precedente admitindo a aplicação da insignificância (o que não indica posição
consolidada do STF, pois O julgado foi decidido por EMPATE (2x), razão pela qual foi concedido o HC
(STF. 2ª Turma. HC 202883).
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▪ Crime de moeda falsa: Inaplicabilidade do princípio, AINDA QUE SEJA 1 ÚNICA NOTA DE PEQUENO
VALOR, uma vez que se trata de crime contra a fé pública, havendo o interesse do Estado e da
coletividade em não ter a fé pública abalada por aquela falsificação. Considerando que se trata de
um bem jurídico coletivo difuso “fé pública”, não se leva em consideração somente o aspecto
material/patrimonial do bem falsificado, mas sim um bem coletivo. Essa argumentação se aplica aos
outros crimes contra a fé pública.
Obs. EXCEPCIONALMENTE, admite-se o princípio da insignificância nos crimes contra a fé pública
(USO DE ATESTADO FALSO) em casos que o dolo do réu revela, de plano, "a mínima ofensividade da
conduta do agente, a nenhuma periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de
reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada", a demonstrar
a atipicidade material da conduta e afastar a incidência do Direito Penal, sendo suficientes as sanções
previstas na Lei trabalhista (STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1816993/B1, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik,
julgado em 16/11/2021).
▪ Crimes ambientais: Em regra, nos crimes com bem jurídico difuso/coletivo, não se aplica o princípio
da insignificância, pois a lesividade/exposição a perigo transcende o aspecto individual. No entanto,
nos crimes ambientais, essa regra é invertida, uma vez que os tribunais superiores adotam como
regra a possibilidade de aplicação do princípio
45119da insignificância em crimes ambientais, devendo
ser analisadas as circunstâncias específicas no caso concreto para verificar a atipicidade da conduta
em exame/verificar se aquela conduta não gerou efetivamente um perigo ao meio ambiente (Info
816).
Obs.: apesar de a redação utilizada no informativo original ter sido bem incisiva (“O princípio da bagatela
não se aplica ao crime previsto no art. 34, caput c/c parágrafo único, II, da Lei 9.605/98”), existem julgados
tanto do STF como do STJ aplicando, excepcionalmente, o princípio da insignificância para o delito de pesca
ilegal. Deve-se ficar atenta(o) para como isso será cobrado no enunciado da prova. 45119
Fonte: dizer o Direito
Veja as hipóteses em que a própria jurisprudência flexibiliza a exceção da pesca ilegal, como, por
exemplo:
● O STJ (Info 602 – 6ª Turma. RESP 1409051 – 2017) afirmou, de forma excepcional, pela aplicação do
princípio da insignificância no caso de pesca ilegal, na hipótese em que o indivíduo pescou 1 único
peixe e devolveu esse peixe vivo ao rio, não havendo um prejuízo efetivo ao meio ambiente.
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● Se a pessoa é flagrada sem nenhum peixe efetivamente pescado, mas portando consigo
equipamentos de pesca, em um local onde essa atividade é proibida. Nessa hipótese
pontual/casuística, temos discussão nos tribunais superiores, pois há 2 julgados da mesma turma em
sentidos opostos:
45119
Caiu em prova Delegado PC-AM/2022 da banca FGV! O princípio da insignificância é admitido na doutrina e
na jurisprudência em relação ao delito de descaminho. (Item considerado correto pela banca.)
Observações importantes:
45119
1) O valor máximo para aplicar o princípio da insignificância é de 20 mil reais (STF e STJ).
Explicação para adotar o valor de 20 mil reais: (Fonte: Dizer o Direito)
⋅ Esse valor foi fixado pela jurisprudência tendo como base a Portaria MF nº 75, de 29/03/2012, na
qual o Ministro da Fazenda determinou, em seu art. 1º, inciso II, “o não ajuizamento de execuções
fiscais de débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$
20.000,00 (vinte mil reais).”
⋅ Em outros termos, essa Portaria determina que, até o valor de 20 mil reais, os débitos inscritos como
Dívida Ativa da União não serão executados.
⋅ Com base nisso, a jurisprudência construiu o seguinte raciocínio: ora, não há sentido lógico permitir
que alguém seja processado criminalmente pela falta de recolhimento de um tributo que nem sequer
será cobrado no âmbito administrativo-tributário. Se a própria “vítima” não irá cobrar o valor, não
faz sentido aplicar o direito penal contra o autor desse fato.
⋅ Vale lembrar que o direito penal é a última ratio. Se a Administração Pública entende que, em razão
do valor, não vale a pena movimentar a máquina judiciária para cobrar a quantia, com maior razão
também não se deve iniciar uma ação penal para punir o agente.
2) O valor de 20 mil reais para aplicação do princípio da insignificância será somente aos crimes
tributários FEDERAIS!!! Não se aplica o parâmetro dos tributos federais aos crimes tributários estaduais,
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devendo ser observada a lei estadual vigente em razão da autonomia do ente federativo (STJ. 5ª Turma.
AgRg-HC 549.428-PA. Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/05/2020).
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Porém, STF e STJ admitem nos crimes contra a Administração Pública praticados por particulares, a
exemplo do descaminho, que, apesar de ser um crime tributário, topograficamente, estão inseridos no título
dos Crimes contra a Administração Pública, então cuidado em prova!
ATENÇÃO: 45119
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apropriação indébita previdenciária. STF. 1ª Turma. HC 102550, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/09/2011.
STF. 2ª Turma. RHC 132706 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/06/2016. STJ. 3ª Seção. AgRg na
RvCr 4.881/RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/05/2019.
11. Crimes ambientais:
STJ: É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais, devendo ser analisadas as
circunstâncias específicas do caso concreto para se verificar a atipicidade da conduta em exame (STJ AgRg
no AREsp 654.321/SC).
STF: Já negou em situação de pesca ilegal, a um indivíduo flagrado junto a outras três pessoas, POR TRÊS
VEZES CONSECUTIVAS, em embarcação motorizada, praticando pesca em local proibido e com redes de
arrasto de fundo (HC 137652).
- Já negou em caso de realização de pesca de 7kg de camarão em período de defeso com o uso de método
não permitido (HC 122560/SC).
- A partir do caso acima, publicou a seguinte redação no Info 901:: O princípio da bagatela não se aplica
ao crime previsto no art. 34, caput c/c parágrafo único, II, da Lei 9.605/98 (pesca ilegal).
- No entanto, existem julgados tanto do STF como 45119
do STJ aplicando, excepcionalmente, o princípio da
insignificância para este delito. Atente-se ao comando da questão!
12. É possível aplicar o princípio da insignificância para a conduta de manter rádio clandestina?
• No STJ: é pacífico que NÃO.
Súmula 606-STJ: não se aplica o princípio da insignificância aos casos de transmissão clandestina de
sinal de internet via radiofrequência que caracterizam o fato típico previsto no artigo 183 da lei
9.472/97.
• No STF: o tema ainda é controverso.
-1ª Turma do STF: é inaplicável o princípio da insignificância no crime de transmissão clandestina de
sinal de internet, por configurar o delito previsto no art. 183 da Lei nº 9.472/97, que é crime formal, e,
como tal, prescinde de comprovação de prejuízo para sua consumação. STF. 1ª Turma. HC 124795 AgR,
Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 23/08/2019.
-2ª Turma do STF: O princípio da insignificância também se aplica ao fornecimento clandestino de
internet tipificado no art. 183 da Lei nº 9.472/97 desde que (i) a conduta seja minimamente ofensiva
do agente, (ii) não haja risco social da ação, (iii) seja reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento e (iv) inexpressiva a lesão jurídica. A expressividade da lesão jurídica deve ser
verificada in concreto à luz do alcance do alcance dos aparelhos consignado em laudo da autoridade
regulatória.Ausente laudo que ateste a expressividade concreta da lesão e havendo indícios de sua
inexpressividade, deve incidir o princípio da insignificância, a autorizar a concessão da ordem. STF. 2ª
Turma. HC 161483 AgR, Rel. Edson Fachin, julgado em 07/12/2020. STF. 2ª Turma. HC 165577 AgR, Rel.
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Min. Gilmar Mendes, Rel. p/ Acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 08/09/2021.
13. STJ – Info 672/2020: Não se admite a incidência do princípio da insignificância na prática de
estelionato qualificado por médico que, no desempenho de cargo público, registra o ponto e se retira
do hospital.
Cinge-se a controvérsia a saber acerca da possibilidade do trancamento de ação
penal pelo reconhecimento de crime bagatelar no caso de médico que, no
desempenho de seu cargo público, teria registrado seu ponto e se retirado do
local, sem cumprir sua carga horária. A jurisprudência desta Corte Superior de
Justiça não tem admitido, nos casos de prática de estelionato qualificado, a
incidência do princípio da insignificância, inspirado na fragmentariedade do
Direito Penal, em razão do prejuízo aos cofres públicos, por identificar maior
reprovabilidade da conduta delitiva. Destarte, incabível o pedido de trancamento
da ação penal, sob o fundamento de inexistência de prejuízo expressivo para a
vítima, porquanto, em se tratando de hospital universitário, os pagamentos
45119 aos
médicos são provenientes de verbas federais. STJ. AgRg no HC 548.869-RS, Rel.
Min. Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 12/05/2020,
DJe 25/05/2020.
14. Juris em teses ed. 219: É inaplicável o princípio
45119 da insignificância nos crimes ou contravenções
penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas (Súmula n. 589/STJ).
15. Juris em teses ed. 219: Os delitos de porte ou posse de munição, de uso permitido ou restrito, são
crimes de mera conduta e de perigo abstrato, em que se presume a potencialidade lesiva e, por isso,
em regra, não é aplicável o princípio da insignificância.
16. Juris em teses ed. 219: É possível aplicar o princípio da insignificância aos delitos de porte ou posse
de munição de uso permitido ou restrito, desde que a quantidade apreendida seja pequena e esteja
desacompanhada de armamento apto ao disparo e as circunstâncias do caso concreto demonstrem a
ausência de lesividade da conduta.
17. Juris em teses ed. 219: Não é possível aplicar o princípio da insignificância aos delitos de porte ou
posse de munição, de uso permitido ou restrito, ainda que em pequena quantidade e desacompanhada
de armamento apto ao disparo, se a apreensão acontecer no contexto do cometimento de outro crime.
Para o STJ NÃO! Apenas o juiz pode. HC 154.949/MG. Assim, a autoridade policial estaria obrigada a
efetuar a prisão em flagrante, submetendo a questão à análise de autoridade judiciária.
No entanto, parte da doutrina, a exemplo de Cleber Masson, posiciona-se contra tal entendimento,
pelo fato de tratar a insignificância de afastamento da tipicidade do fato. E ora, se o fato não é típico para
o juiz, também não será para delegado!
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A solução para que você, caro aluno, resolva a questão, é analisar a forma como isso está sendo
questionado.
Para finalizar o estudo deste princípio, precisamos ainda fazer uma última diferenciação: BAGATELA
PRÓPRIA X BAGATELA IMPRÓPRIA, o que faremos com a ajuda do Dizer o Direito.
desnecessária.
Não tem previsão legal no direito brasileiro. Está previsto no art. 59 do CP, conforme a doutrina.
Enquanto para a infração bagatelar própria já nasce irrelevante por se tratar de conduta
materialmente atípica, “a infração bagatelar imprópria é aquela que nasce relevante para o Direito penal,
mas depois se verifica que a aplicação de qualquer pena no caso concreto apresenta-se totalmente
desnecessária” (GOMES, Luiz Flávio; Antonio Garcia-Pablos de Molina. Direito Penal Vol. 2, São Paulo: RT,
2009, p.305)”.
Segundo LFG, este instituto possui fundamento legal no direito brasileiro (porém, de forma implícita
e “genérica” – termos nossos). Trata-se do art. 59 do CP que prevê que o juiz deverá aplicar a pena “conforme
seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime”.
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Dessa forma, se a pena não for mais necessária, ela não deverá ser imposta (princípio da
desnecessidade da pena conjugado com o princípio da irrelevância penal do fato).
A bagatela imprópria foi acolhida, excepcionalmente, pela 5ª Turma do STJ, confirmando decisão da
1ª e 2ª instâncias judiciais no AgRg no AREsp 1423492 / RN (decisão publicada 29/05/2019):
SIMPLIFICANDO:
- Princípio da insignificância ou da bagatela própria – O fato já nasce atípico, por atipicidade material.
- Natureza jurídica bagatela própria: Causa Supralegal de extinção de tipicidade material, devendo ser
analisado em conexão com os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima.
- Princípio da insignificância imprópria: pressupõe uma análise do que ocorreu após a prática do crime até
o momento do julgamento. Exemplo: o réu se casou, teve filhos, tem uma empresa com mais de 50
funcionários. Nesses casos o juiz reconhece a existência do crime, mas conclui que a pena não é necessária.
Aqui não há causa supralegal de exclusão de tipicidade, há causa supralegal de extinção de punibilidade. O
Estado reconhece o crime, mas conclui pela desnecessidade da punição, ela não é mais vantajosa para a
sociedade.
A análise da pertinência da bagatela imprópria há de ser realizada, obrigatoriamente, na situação fática,
jamais no plano abstrato. Atente-se também para a necessidade de se observar que a bagatela imprópria
tem como pressuposto inafastável a não incidência do princípio da insignificância (próprio). Afinal, se o fato
não era merecedor da tutela penal em decorrência da sua atipicidade, descabe enveredar pela discussão
acerca da necessidade ou não da pena.
- Natureza jurídica bagatela imprópria: Causa supralegal de extinção de punibilidade. O estado reconhece o
crime, mas conclui pela desnecessidade da pena, a punição não é vantajosa para a sociedade.
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Crime de dano: exige efetiva lesão ao bem jurídico. (Ex.: homicídio, exige a lesão morte).
Crime de perigo: contenta-se com o risco de lesão ao bem jurídico. (Ex. abandono de incapaz/omissão de
socorro).
a. crime de perigo concreto - o risco de lesão deve ser demonstrado.
b. perigo abstrato: o risco de lesão é absolutamente presumido por lei.
Há doutrina entendendo que o crime de perigo abstrato
45119 é inconstitucional, pois o perigo não pode ser
presumido, mas comprovado. Presumir-se prévia e abstratamente o perigo, significa, em última análise, que
o perigo não existe. Para os adeptos dessa corrente, os crimes de perigo abstrato violariam o princípio da
lesividade. Essa tese, no entanto, hoje não prevalece no STF. No HC 104.410, o Supremo decidiu que a
criação de crimes de perigo abstrato não representa, por si só, comportamento inconstitucional, mas
proteção eficiente do Estado.
Ex.: Embriaguez ao volante – STF decidiu que o ébrio não precisa dirigir de forma anormal para configurar o
crime – bastando estar embriagado (crime de perigo abstrato).
Nesse sentido, considerando que o princípio da ofensividade exige que, do fato praticado, ocorra
lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado, é certo concluir que o direito penal não deve se ocupar de
questões éticas, morais, religiosas, políticas, filosóficas. Assim, em razão do princípio da lesividade, PROÍBE-
SE:
⋅ A criminalização de pensamentos e cogitações (direito à perversão);
⋅ A criminalização de condutas que não tenham caráter transcendental (vedação à autolesão);
⋅ A criminalização de meros estados existenciais (criminalização da pessoa pelo que ela é – ex:
revogação da contravenção de mendicância).
Aprofundando...
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O princípio da lesividade está diretamente ligado à ideia de bem jurídico, com a chamada teoria do bem
jurídico. Na vertente do funcionalismo teleológico e racional (Roxin), a teoria do BJ ganha um destaque muito
45119
grande em toda a sistemática penal como uma forma de limitar o poder de punir do estado, ou seja, como
uma forma de limitar a incidência de tipos penais
São de 4 ordens/ funções e garantias do princípio da lesividade:
1) Proibição de incriminar uma atitude interna – motivo pelo qual não se pune a cogitação (fase interna do
inter criminis);
2) Proibição de incriminar condutas que não excedam o âmbito do autor – motivo pelo qual não se pune a
autolesão;
3) Proibição de incriminar simples estados ou condições existenciais - tendo em vista que nosso ordenamento
Jurídico adota o direito penal do fato – e não direito penal do autor;
4) Proibição de incriminar condutas desviadas que não afetam qualquer bem jurídico - motivo pelo qual não
se pune o crime impossível e, em regra, os atos preparatórios.
de drogas porque apenas afetaria o usuário. Tipifica o porte ou similares (guardar, ter em depósito,
transportar etc.).
o Legalidade formal: corresponde à obediência aos trâmites procedimentais previstos pela CF para
que determinado diploma legal possa vir a fazer parte do ordenamento jurídico.
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o Legalidade material: pressupõe não apenas a observância das formas e procedimentos impostos
pela Constituição Federal, mas também, e principalmente, o seu conteúdo, respeitando-se as suas
proibições e imposições para a garantia dos direitos fundamentais por ela previstos.
A doutrina trabalha com uma dupla face do princípio da legalidade. Ora legitimando o Estado, ora
limitando esse poder de punir. Veja:
2) Funções de garantia (face de garantia) – busca limitar o poder de punir do estado trazendo garantias
mínimas ao cidadão perante o estado. Exclui penas ilegais, por exemplo. Nesse ponto, o princípio da
legalidade se desdobra em 4 máximas:
I. Lex scripta: A lex scripta proíbe que se utilize dos costumes como fonte incriminadora do direito
penal;
II. Lex stricta: proibição do emprego da analogia in malan partem;
III. Lex Praevia: Representa o princípio da anterioridade penal: veda a criminalização ex post facto;
IV. Lex certa (aspecto material do princípio da legalidade): A lex certa materializa a proibição de o
legislador formular tipos penais genéricos, vazios, vagos etc. (Princípio da taxatividade).
Segundo o autor Masson, o princípio da reserva legal possui dois fundamentos, quais sejam:
- Fundamento jurídico: é a taxatividade, certeza ou determinação, pois implica, por parte do legislador, a
determinação precisa, ainda que mínima, do conteúdo do tipo penal e da sanção penal a ser aplicada, bem
como da parte do juiz, na máxima vinculação ao mandamento legal. Como desdobramento lógico da
taxatividade, o Direito Penal não tolera a analogia in malam partem.
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- Fundamento político: é a proteção do ser humano em face do arbítrio do Estado no exercício do seu poder
punitivo. Enquadra-se, destarte, entre os direitos fundamentais de 1° geração (ou dimensão). (MASSON,
2017, p. 25).
* ATENÇÃO: os princípios da reserva legal (estrita legalidade) e o da legalidade são considerados como
sinônimos por parte da doutrina, enquanto outra corrente defende que se diferenciam nos seguintes
aspectos:
Exige lei em sentido estrito (no caso do Exige lei em sentido amplo (abrange qualquer
direito penal, lei ordinária) - a lei deve ser espécie normativa, ou seja, lei delegada,
criada de acordo com o processo legislativo medida provisória, decreto, etc.).
previsto na CF e deve tratar de matéria
constitucionalmente reservada à lei 45119
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#DICA DD: O que seria mandado de criminalização por omissão? Consiste na hipótese do art. 5º, XLIII da CF,
que determina que a omissão, nos casos de crimes hediondos e equiparados, deve ser punida.
Exteriorizado nos mesmos dispositivos que se pode extrair o princípio da reserva legal.
De acordo com o princípio da anterioridade, a lei penal apenas se aplica a fatos praticados após a sua
entrada em vigor.
Daí, por consequência lógica, deriva a sua irretroatividade, não se aplicando a fatos pretéritos, nem
45119
mesmo os praticados durante a vacatio legis, SALVO se benéfica ao acusado.
Nesse sentido, temos o art. 5º XL da CF, dispondo que “a lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu”.
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2. Também deve ser direcionado ao legislador. Isso porque, se a conduta está de acordo com a
sociedade, o legislador não pode criminalizar esta conduta, orientando o parlamentar a como
proceder na definição dos bens jurídicos a ser tutelados.
Há forte crítica na doutrina acerca deste princípio, pelo fato de adotar um critério impreciso, inseguro
e relativo. Importante saber que, segundo o STJ, o princípio da adequação social não afasta a tipicidade da
conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas, como se verifica do enunciado da Súmula 502 do STJ: Súmula
502 - "Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao crime previsto no art. 184, § 2°,
do CP, a conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas".
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O presente princípio apresenta uma dupla face, pois de um lado proíbe o excesso (garantismo
negativo), enquanto de outro lado não admite a proteção insuficiente (garantismo positivo).
Ressalta-se que o princípio da proporcionalidade incide no plano legislativo, judicial e no da execução
da pena. Segundo tal princípio, a sanção penal deve ser vantajosa para o corpo social, e trazer mais vantagens
do que desvantagens (proporcionalidade em sentido estrito); além disso, deve ser adequada e necessária à
finalidade do direito penal.
A Constituição da República proíbe as penas de morte (salvo em caso de guerra declarada) e as consideradas
cruéis (art. 5º, inc. XLVII, alíneas ‘a’ e ‘e’, respectivamente), além de assegurar às pessoas presas o respeito à
integridade física e moral (art. 5º, inc. XLIX). Tais preceitos constitucionais expressam o princípio penal da
HUMANIDADE 45119
Princípio da fraternidade
Com base nesse princípio, o STJ já determinou a progressão de pena (STJ HC 562.452) julgado em
23/04/2020: O princípio da Fraternidade foi usado como fundamentação para decidir pelo cômputo da pena
de maneira mais benéfica ao condenado que é mantido preso em local degradante. Pelo princípio da
fraternidade, foi considerado computar pena em dobro para os presos que estão em situação degradante.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 136.961/RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares Da Fonseca, julgado em 15/06/2021.
Esse cômputo da pena em dobro se aplica para todo e qualquer crime? NÃO. O cômputo em dobro foi vedado
para os seguintes crimes: a) crimes contra a vida; b) crimes contra a integridade física; c) crimes sexuais.
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“O Estado deverá arbitrar os meios para que, no prazo de seis meses a contar da presente decisão, se
compute em dobro cada dia de privação de liberdade cumprido no IPPSC, para todas as pessoas ali alojadas,
que não sejam acusadas de crimes contra a vida ou a integridade física, ou de crimes sexuais, ou não
tenham sido por eles condenadas, nos termos dos Considerandos 115 a 130 da presente resolução”. STJ.
5ª Turma. AgRg no RHC 136961-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 15/06/2021, DJe
21/06/2021 (Info 701).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
45119
45119
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● CF/88
⦁ Art. 3º, IV
⦁ Art. 4º, VIII
⦁ Art. 5º, XLII
⦁ Art. 109, V
É possível conceituar racismo como uma discriminação baseada em percepções sociais e diferenças
biológicas, como ocorre no racismo negro, a partir da esteriotipização de um fenótipo, e sociais.
Em virtude da aversão que tal conduta recebe do ordenamento jurídico brasileiro, a Constituição
achou por bem colocar, tanto como um dos objetivos fundamentais da República, como em um de seus
princípios regentes das relações internacionais, o repúdio ao terrorismo e racismo e, ainda, um mandado de
criminalização indicando o tratamento que deve ser dado para os crimes de racismo (art. 5°, XLI – a lei punirá
qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdade fundamentais; XLII- a prática do racismo constitui
crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei).
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Art. 1º. Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação
ou preconceito de raça, cor, 45119
etnia, religião ou procedência nacional.
a) Raça:
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Em decorrência disso, foi necessário promover uma adequação terminológica pela jurisprudência,
pois, como existe apenas uma raça, é impossível praticar o crime mediante a raça (justamente porque todos
pertencem à mesma raça: humana). No HC 82.424 do STF, julgado histórico que trata da publicação de livros
antissemitas, o STF adotou uma definição jurídica ampliativa do conceito de raça.
Já Convenção Interamericana de Combate ao Racismo, que possui status de emenda constitucional,
se aproxima de uma concepção antropológico-biológica, portanto, restritiva. Contudo, hoje, o melhor
encaminhamento em concursos é posicionar-se ao lado da compreensão ampliativa já adotada pelo STF.
b) Etnia: coletividade de indivíduos que se diferencia por sua especificidade sociocultural,
apresentando relativa homogeneidade cultural, linguística e nas maneiras de agir. Ex.: de grupo social que
apresenta homogeneidade cultural e linguística: comunidade
45119 indígena.
c) Cor: expressão cromática da pele de um indivíduo. A presente lei pune a
discriminação/preconceito fundada na cor da pele. Ex: negros – brancos - amarelos (asiáticos).
d) Religião: crença em uma existência sobrenatural ou em uma existência divina que rege o universo
e/ou as ações humanas, do ponto de vista metafísico, com manifestação por meio de rituais ou cultos. Ex:
católico, protestante etc.
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STJ: “[...] a intenção dos réus, em princípio, não era precisamente depreciar o
passageiro (a vítima), mas salientar sua humilhante condição em virtude de ser
brasileiro, i.e., a ideia foi exaltar a superioridade do povo americano em
contraposição à posição inferior do povo brasileiro, atentando-se, dessa maneira,
contra a coletividade brasileira. Assim, suas condutas, em tese, subsumem-se ao
tipo legal do art. 20, da Lei 7.716/86”.
O STF estendeu a aplicação da Lei nº 7.716 às condutas homofóbicas e transfóbicas. A decisão é objeto de
forte crítica doutrinária de alguns, em razão da flexibilização45119do princípio da legalidade em virtude da
permissão de uma analogia “in malam partem” em direito penal, mas também recebe fortes elogios de
outros, em virtude da aplicação da proporcionalidade em sua faceta de vedação a proteção ineficiente.
Conclusão: Apesar de o legislador ter previsto a punição das condutas resultantes de preconceito de
raça, cor, etnia, religião e procedência nacional, o STF estendeu o conceito de raça para realizar a tutela de
condutas perpetradas de forma preconceituosa contra homossexuais e transexuais.
g) Identidade de gênero: identificação dos indivíduos como homem, mulher ou alguma categoria
diferente do masculino e feminino (não binário). É como a pessoa se vê, é a identidade cultural daquele
indivíduo, pouco importando o seu sexo biológico.
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Para o STF é plenamente possível que a Constituição estabeleça que determinados crimes sejam
imprescritíveis. Isso porque: (i) a CF prevê tal possibilidade no rol dos direitos e garantias individuais, e (ii)
tendo em vista a tamanha a gravidade desse crime, não se pode deixar que fatos delituosos como estes
caíssem em esquecimento. Não se pode apagar da memória do povo.
Parte da doutrina defendia que a imprescritibilidade e a inafiançabilidade impostas pela CR somente
alcançariam o crime de racismo praticado em razão de raça, cor e, para alguns, de etnia. O STF, no julgamento
do HC 82.424/RS determinou que essa aplicabilidade recai sobre quaisquer das formas pelas quais o crime
de racismo seja praticado (raça, cor, etnia, religião, procedência nacional, orientação sexual e identidade de
gênero).
Importante recordar que, além do racismo, também é imprescritível a ação de grupos armados, civis
ou militares contra a ordem constitucional e estados democráticos (art.5º LXIV da CF). Segundo a maioria da
doutrina, são os crimes previstos na lei de segurança nacional, Lei nº 7.170/83.
● E os atos discriminatórios determinados pelas outras leis (pessoa com deficiência, idoso)?
São imprescritíveis? Se essas condutas forem enquadradas no conceito de racismo, serão
imprescritíveis e inafiançáveis. Não há decisão do STF nesse sentido, portanto, por ora, essas
condutas não devem ser consideradas como racismo.
45119
Em relação ao delito de racismo não é cabível a liberdade provisória com fiança. Se a pessoa foi presa
em flagrante, não cabe pagamento de fiança para a liberdade provisória. No entanto, prevalece o
entendimento de que é cabível a liberdade provisória sem fiança, cumulada ou não com as medidas
cautelares diversas da prisão. Deve-se aplicar o art. 310, III do CPP.
a) Condutas: Os verbos utilizados pelo legislador são: Obstar; Impedir; Negar; e Recusar
OBSTAR/IMPEDIR NEGAR/RECUSAR
Impedir é negar o acesso, proibir, obstruir. Negar é recusar-se a atender a pedido ou solicitação,
Obstar é criar obstáculos ou dificuldades, opor-se, ou ainda deixar de prestar serviço ou entregar bem.
causar embaraço. Recusar, igualmente, consiste em deixar de fornecer
serviço ou entregar bem.
b) Elemento subjetivo: Todos os tipos penais da lei são dolosos. Ademais, todos os tipos penais
possuem um especial fim de agir, consistente na discriminação de alguém em razão de raça, cor, etnia,
45119
religião, procedência nacional, além de orientação sexual e identidade de gênero, por força de orientação
jurisprudencial.
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Ausente o especial fim de agir, a conduta será atípica, como na hipótese de uma brincadeira feita
entre amigos, em que não há a vontade específica de discriminar.
d) Consumação: Os delitos descritos nos arts. 3º a 14 são formais, ou seja, dispensam a ocorrência do
resultado naturalístico para fins de consumação. Em outras palavras: mesmo que a vítima não se sinta
ofendida o crime estará consumado.
e) Ação penal: Todos os crimes da lei são de ação penal pública incondicionada.
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presente lei: Perda do cargo ou função pública, para o servidor público e a suspensão do funcionamento do
estabelecimento particular por prazo não superior a três meses (art. 16).
Os efeitos da Lei nº 7.716/89 não excluem a aplicação dos efeitos previstos no Código Penal, desde
que compatíveis.
OBS.1: Todos os crimes têm pena de reclusão até mesmo por mandamento constitucional (art. 5°, XLII - a
prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da
lei), com a seguinte EXCEÇÃO: “Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à comunidade,
incluindo atividades de promoção da igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra forma de
recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas
atividades não justifiquem essas exigências.”
OBS.2: Há quem defenda ser incabível a aplicação da suspensão condicional do processo, pois a motivação
da conduta seria incompatível com o benefício. Da mesma forma, defende-se a impossibilidade de aplicação
45119
do acordo de não persecução penal, pois tal medida seria inadequada e insuficiente para a repressão e
combate a esse tipo de criminalidade.
6. CRIMES EM ESPÉCIE
45119
Novo tipo penal Injúria Racial (deslocamento do conteúdo criminoso para outro tipo penal)
Foi alterado o antigo parágrafo 3° pela Lei n. 14.532/2023 que retira a injúria consistente na utilização
de elementos referente a raça, cor, etnia. Houve aplicação do princípio da continuidade normativo-
típica que significa a manutenção do caráter proibido da conduta, porém com o deslocamento do conteúdo
criminoso para outro tipo penal, ainda que topologicamente ou normativamente diverso do originário. A
intenção é que a conduta permaneça criminosa. Logo, agora é tipificado como racismo a injúria racial,
estando prevista na Lei n. 7.716/89.
Considerações:
● Alteração no quantum da pena: antes era 1 a 3 anos previsto no Código Penal, agora a pena é de
reclusão 2 a 5 anos.
● Trata-se de uma novatio legis in pejus. A Lei 14.532/23 é irretroativa, não alcançando fatos pretéritos,
em estrita obediência ao art. 1º do CP.
Não há mais dúvida, portanto, de que essa forma de injúria deve sofrer as mesmas
consequências do crime de racismo: imprescritibilidade, inafiançabilidade e incondicionalidade da ação
penal pública!!!
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E a injúria praticada por homotransfobia? Onde se situa nesse contexto? De acordo com autores
e delegados Bruno Gilaberte e Francisco Sanini, apesar da ausência de previsão expressa, cuida-se de
situação atinente ao art. 2º-A, da Lei 7.716, conclusão é inexorável, face ao decidido pelo STF na ADO 26 e
no MI 4.733.
⋅ 1ª corrente: (Victor Eduardo Rios Gonçalves + José Paulo Baltazar Jr. e Gabriel Habib): Essa corrente
entende que emprego público não está abrangido pelo art. 3º, pois seria uma analogia in malam
partem. Assim, permaneceria um crime subsidiário - art. 20, na modalidade praticar;
⋅ 2ª corrente: (Nucci): Essa segunda posição defende que o dispositivo abrange o emprego público,
far-se-á uma interpretação extensiva, porque o espírito da lei é o mesmo.
a) Art. 4º, caput - Emprego em empresa privada: obstar ou negar emprego, não abrangendo uma prestação
de serviço eventual, empreitada etc., pois exige a relação de emprego. Por “empresa privada” entende-se
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sociedade ou individual, comercial ou civil, ainda que irregular ou de fato. Inclui profissionais liberais. Não
inclui: sindicatos, cooperativas, fundações, condomínios e serviços domésticos.
b) Art. 4º, §1º, I - É crime próprio, (pessoa encarregada do fornecimento dos equipamentos indispensáveis,
e que os dispensa por critérios “racistas”). O empregador negro que deixa de fornecer equipamento ao
empregado branco, em razão de critérios de raça, cor, etnia, religião, etc., comete o delito.
c) Art. 4º, §1º, II - Um crime próprio, portanto será a pessoa que tem o poder de permitir ou não a ascensão.
d) Art. 4º, §1º, III - Não significa que é somente quanto ao salário, pode ser outro tipo de diferenciação.
É um tipo alternativo misto, pois há uma negativa de receber, servir. É um crime subsidiário em
relação aos arts. 7º-10, pois ele não especifica quais são esses estabelecimentos.
ATENÇÃO: A lei não dá preferência a grupos historicamente estigmatizados. Ela vale para todos. Logo,
também é crime impedir a entrada de um branco num estabelecimento por discriminação, por exemplo.
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Tipo alternativo misto. Ex.: A impede o acesso de B a determinado hotel. Após a resistência inicial, A
consente com o ingresso de B, mas recusa-lhe hospedagem.
Sujeitos: próprio (recusar hospedagem - quem detém poder suficiente para recusar a hospedagem.
Ex.: proprietário, gerente etc.) e comum (impedir hospedagem – pode ser praticado por qualquer pessoa).
Crime formal: O mero impedimento de acesso ou a recusa de hospedagem em hotel já configura o
tipo.
Qualquer estabelecimento similar: albergue, hostel, motel, pousada, pensionatos.
E residências alugadas para temporada, por exemplo,
45119 por meio do Booking ou Airbnb? NÃO, porque
NÃO têm as mesmas características, mas pode se enquadrar no dispositivo subsidiário (art. 20).
É um tipo alternativo misto. Ex.: A impede o acesso de B a determinado bar. Após a resistência inicial,
A consente com o ingresso de B, mas recusa-lhe atendimento.
Interpretação analógica [ex.: cafeteria, sorveteria]. Aplicável para serviços de “delivery”, “takeaway”
e “drive thru”, pois a expressão “atendimento” tem acepção mais ampla.
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Obs.: clubes sociais abertos ao público são os de livre acesso de qualquer pessoa, mediante
pagamento de ingresso.
Cuidado, pois esse crime não abrange os clubes mantidos por associações. [Ex: Associação Goiana do MP]
ou clubes sociais privados, pois a frequência somente pode ser feita por sócios previamente selecionados
(ex.: só ingressa quem for indicado por outro sócio. A seleção que pode levar em conta múltiplos critérios,
mas jamais fatores de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional. (RHC 12.809/MG, Rel. Min. Hamilton
Carvalhido, 6ªT. STJ, DJ 11/04/2005).
OBS.1: “Face control” e “dress code”: A princípio não é crime, salvo se esse controle estiver vinculado a
algum elemento racial.
45119
Cuidado 1: O art. 11 não é aplicado ao fato de uma placa ser colocada elevador social com os dizeres:
“empregadas domésticas, apenas no elevador de serviço”, pois não há ofensa à raça, cor, etnia, religião,
procedência nacional. Isso ocorre porque a lei não criminaliza o preconceito de classe social ou preconceito
profissional.
Cuidado 2: “negros, apenas no elevador de serviço”. Nesse caso temos uma segregação coletiva, de
modo que se aplica o art. 11 da Lei.
Não há crime:
✓ Restrição de acesso às entradas sociais ou uso do elevador social, com base em outros
critérios [mudanças; carrinhos de compras; animais; trajes de banho];
✓ Se for em relação a edifícios comerciais, aplica-se o art. 20.
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Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios
barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte
concedido.
Pena: reclusão de um a três anos.
OBS.1: No caso de Táxi? Haverá o crime? Sim, pois dada a autorização do poder público: “qualquer
outro meio de transporte concedido”.
OBS.2: Não incide esse crime quanto ao transporte privado, por exemplo Uber (nesse caso, aplica-se
o art. 20). Também não incide esse dispositivo quanto ao impedimento de acesso ao meio de transporte
público em razão de lotação ou de ausência de dinheiro para pagar a passagem.
Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das
Forças Armadas.
Pena: reclusão de dois a quatro anos.
serviço militar. Pode ser tanto um funcionário subalterno, encarregado da seleção, como um alto dirigente
das Forças Armadas.
Esse tipo incriminador abrange as carreiras militares (polícia militar e bombeiros) estaduais?
Sobre esse questionamento temos 2 correntes.
⋅ 1ª corrente: Não, essa corrente se fundamenta na CF, no art. 142 dizendo que as Forças Armadas,
são constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, sendo que polícia militar e bombeiro
não estão englobados. Sendo que para essas pessoas serão aplicados
45119
os art. 3º ou 20. Essa primeira
corrente é majoritária.
⋅ 2ª corrente: Sim, essa corrente se fundamenta na CF, art. 144, §6º, diz que as polícias militares e
corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, portanto engloba bombeiros
e a polícia militar.
∘ Por “Meio”: entende-se como o impedimento de frequência a casa ou a imposição de condições que
impeçam o casamento. Como exemplo o não consentimento em razão de o sujeito ser negro.
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∘ “Forma”: entende-se a ação praticada mediante violência ou ameaça, coação, fraude e, mesmo,
remoção física, como no caso em que a vítima é levada por familiares a outro país, de modo a impedir
o casamento ou o convívio com pessoa de etnia diversa.
∘ “Convivência familiar”: abrange a união estável - inclusive homoafetiva.
∘ “Convivência social”: abrange qualquer forma de contato mais próximo, fora do âmbito familiar.
Exemplo, a amizade.
Atenção! Alteração no art. 20 da Lei com acréscimo da qualificadora para crimes cometidos por
intermédio de publicação em redes sociais e da rede mundial de computadores e, ainda, no contexto de
atividades esportivas, religiosas, artísticas ou culturais destinadas ao público.
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Alteração do parágrafo 2º
Parágrafo 2° 45119
Parágrafo 2°
ANTES DA LEI DEPOIS DA LEI
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é § 2º Se qualquer dos crimes previstos neste artigo
cometido por intermédio dos meios de for cometido por intermédio dos meios de
comunicação social ou publicação de qualquer comunicação social, de publicação em redes
natureza: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de sociais, da rede mundial de computadores ou de
15/05/97) publicação de qualquer natureza:
45119 (Redação dada
pela Lei nº 14.532, de 2023)
O § 2º do art. 20 já existia antes mesmo da Lei 14.532/2023. A partir da novidade legislativa da Lei
14.532/2023 o que houve foi um acréscimo de elementos na qualificadora (especificamente): “de publicação
em redes sociais, da rede mundial de computadores”.
Para uma parcela da doutrina esse artigo 20 é inócuo, motivo pelo qual ele fere o princípio da
taxatividade. Apesar dessa crítica, esse dispositivo é majoritariamente aceito e aplicado com alguma
frequência, pois é tido como um TIPO SUBSIDIÁRIO.
Ou seja: deve ser utilizado quando a conduta não se subsumir a nenhum dos tipos penais
anteriores, mas ainda assim caracterizar crime de preconceito)
Note que os verbos “induzir” e “incitar (instigar)” são crimes autônomos. Assim, se A induz B a
impedir o acesso de alguém a ônibus público, em virtude da cor de sua pele (art. 12), A será autor do delito
do art. 20, em vez de partícipe no crime de B.
Art. 20- A e Art.20-B: Novas de causas de aumento em contexto ou com intuito de descontração, diversão
ou recreação ou praticados por funcionário público
NOVIDADE LEGISLATIVA!
Art. 20-A. Os crimes previstos nesta Lei terão as penas aumentadas de 1/3
(um terço) até a metade, quando ocorrerem em contexto ou com intuito de
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Considerações:
● Nova causa de aumento do art. 20-A dispõe: “os crimes previstos nesta lei...”. Isso quer dizer
que inclusive na injúria racial tal causa de aumento pode ser aplicável. Não se trata de causa
de aumento específica do art. 20, mas sim de toda Lei do Crime Racial (Lei 7.716/1989).
● Os crimes previstos nos arts. 2º-A (injúria racial) e 20 (racismo – tipo genérico) desta Lei terão
as penas aumentadas de 1/3 (um terço) até a metade (1/2), quando praticados por
funcionário público, conforme definição prevista no Código Penal (ou seja, conforme o art.
327 do CP), no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las.
Atenção! Contexto ou intuito de brincadeira: Animus Jocandi está tipificado na Lei do Crime Racial
(Lei 7.716/1989)? SIM, inclusive com causa de aumento!
45119 Antes existia uma divergência.
Art. 20-C e art. 20- D: Interpretação da lei e obrigatoriedade de advogado ou defensor público nos atos
processuais cíveis e criminais para as vítimas de crimes de racismo
NOVIDADE LEGISLATIVA!
45119
Por fim, a Lei nº 14.532 que modificou a lei 7.716 entra em vigor na data de sua publicação, qual
seja, 11.01.2023.
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META 2
Olá pessoal, antes de começar o estudo do material, é importante destacar que, em 2023, o STF
julgou as ADIs 6298, 6299, 6300 e 6305 que questionavam alterações no Código de Processo Penal (CPP)
pelo Pacote Anticrime (Lei 13.964/2019).
1) Implantação do juiz das garantias cuja competência será limitada até o OFERECIMENTO da denúncia,
sendo o juiz INVESTIDO na função e cabendo-lhe determinar a realização de diligências suplementares,
para o fim de dirimir dúvida relevante no julgamento do mérito, NÃO se aplicando aos processos de
competência originária dos tribunais, tribunal do júri, violência doméstica e infrações de menor
potencial ofensivo (art. 3ª-A, 3ºB, 3º-C, art. 3º-E);
2) Controle judicial dos atos praticados pelo Ministério Público, sob pena de nulidade (art. 3º-B), incluindo
a submissão do arquivamento à análise da autoridade45119
judicial, que poderá submeter à revisão da instância
ministerial em caso de patente ilegalidade (art. 28 e art. 28-A);
3) Videoconferência poderá ser utilizada de forma excepcional para realização da audiência de custódia
(art. 3º-B e art. 310);
4) Prorrogação do inquérito policial, mediante decisão judicial, mesmo estando o investigado preso,
sendo que a inobservância dos prazos, não implica na revogação automática da prisão (art. 3º-B, §2º);
6) NÃO haverá alteração do juiz sentenciante que conheceu de prova declarada inadmissível (art. 157,
§5º).
O Processo Penal Brasileiro deve observância às normas previstas na Carta Magna. Devem as normas
processuais serem interpretadas a partir de uma filtragem constitucional. Nesse sentido, é possível falar em
algumas características decorrentes da constitucionalização:
● O juiz não pode requisitar provas, depois da manifestação pelo arquivamento feita pelo MP (STF);
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● O juiz não pode substituir o MP em sua função probatória, em que pese, certa liberdade de produção
conferida ao juiz pelo CPP;
● O interrogatório do réu deve perder a sua característica de prova, passando a ser fundamentalmente
meio de defesa.
2. PRETENSÃO PUNITIVA
● Conceito: No momento em que alguém pratica a conduta delituosa prevista no tipo penal,
este direito de punir desce do plano abstrato e se transforma no jus puniendi in concreto. O Estado, que até
então tinha um poder abstrato, genérico e impessoal, passa a ter a pretensão concreta de punir o suposto
autor do fato delituoso.
Surge então a pretensão punitiva: que é o poder do Estado de exigir de quem comete um delito a
submissão à sanção penal, tornando efetivo o ius puniendi.
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Ex.: art. 121, CP → pena de 6 a 20 anos (direito de punir em abstrato).
A partir do momento que alguém pratica o delito, o direito de punir deixa o plano abstrato e entra
no plano concreto, de modo que surge para o Estado o direito de punir o indivíduo. Nasce a pretensão
punitiva.
Infrações penais de menor potencial ofensivo: o fato de ser admitida transação penal, com a imediata
aplicação de penas restritivas de direito ou multas não quer dizer uma imposição direta da pena. Trata-se de
uma forma distinta da tradicional para a resolução da causa, sendo admitida a solução consensual com
supervisão jurisdicional – privilegiando a vontade das partes.
● Função do Processo Penal: É o instrumento que se vale o Estado para a imposição de sanção penal
ao possível autor do fato delituoso.
- Finalidades do Processo Penal:
⋅ Pacificação social obtida com a solução do conflito;
⋅ Viabilizar a aplicação do direito penal;
⋅ Garantir ao acusado, presumidamente inocente, meios de defesa diante de uma
acusação. 45119
De modo geral, a doutrina costuma separar o sistema processual inquisitório do acusatório pela
titularidade atribuída ao órgão da acusação: inquisitorial seria o sistema em que as funções de acusação e de
julgamento estariam reunidas em uma só pessoa (ou órgão), enquanto o acusatório seria aquele em que tais
papéis estariam reservados a pessoas (ou órgãos) distintos.
Características:
i. As funções de acusar, defender e julgar se encontram concentradas em uma única pessoa, o
chamado de juiz inquisidor;
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ii. Não há que se falar em contraditório, o qual nem sequer seria concebível em virtude da falta de
contraposição entre acusação e defesa;
iii. O juiz inquisidor é dotado de ampla iniciativa probatória, de modo que possui liberdade para
determinar, de ofício, a colheita de provas, seja no curso das investigações, seja no curso do processo
45119
penal, independentemente de sua proposição pela acusação ou pela defesa, de modo que a gestão
das provas compete ao juiz que, a partir da prova do fato e tomando como parâmetro a lei, podia
chegar à conclusão que desejasse;
iv. Vigora o princípio da verdade real/material e, em decorrência dele, o acusado não era considerado
sujeito de direito, sendo tratado, em verdade, como mero objeto do processo, daí por que se admitia,
inclusive, a tortura como meio de se obter a verdade absoluta.
Na atualidade, a concentração de poderes nas mãos do juiz e a iniciativa probatória dela decorrente
é incompatível com a ordem constitucional e convencional, notadamente ao sistema acusatório (CF, art. 129,
I) e à garantia da imparcialidade (CADH, art. 8º, n. 1). Com a reforma (Lei 13.964/19), o STF, por maioria,
decidiu dar INTERPRETAÇÃO CONFORME ao art. 3º-A do CPP para assentar que o juiz, pontualmente, nos
limites autorizados, pode determinar a realização de diligências suplementares, para o fim de dirimir dúvida
relevante no julgamento do mérito (ADIs 6298, 6299, 6300 e 6305).
45119
b) SISTEMA ACUSATÓRIO: As funções serão exercidas por partes distintas. As funções de acusar,
defender e julgar são atribuídas a pessoas diversas. No referido sistema haverá respeito ao contraditório.
O acusado deixa de ser considerado mero objeto e passa a configurar como sujeito de direitos.
A gestão da prova cabe às partes e, em um sistema acusatório puro, o juiz não poderia produzir
qualquer prova de ofício. Porém, parte da doutrina aduz que o juiz pode produzir prova de ofício, restrito a
fase processual e de forma residual, não sendo permitida a produção, contudo, na fase investigatória.
São características, ainda, a prevalência do caráter público e oral da instrução processual.
Características:
i. Caracteriza-se pela presença de partes distintas, contrapondo-se acusação e defesa em igualdade de
condições e ambas se sobrepondo um juiz, de maneira equidistante e imparcial. Aqui, há uma
separação das funções de acusar, defender e julgar. O processo caracteriza-se, assim, como legítimo
actum trium personarum.
ii. A gestão da prova recai precipuamente sobre as partes. Na fase investigatória, o juiz só deve intervir
quando provocado.
Obs. O STF declarou, por maioria, a CONSTITUCIONALIDADE do caput do art. 3º-B, e, por unanimidade, fixou
o prazo de 12 (doze) meses, a contar da data da publicação da ata do julgamento, para que sejam adotadas
as medidas legislativas e administrativas necessárias à adequação das diferentes leis de organização
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judiciária, à efetiva implantação e ao efetivo funcionamento do juiz das garantias em todo o país, conforme
diretrizes do CNJ.
Em outras palavras: O magistrado não será o protagonista na produção de provas, sua atuação deve
ter caráter complementar e subsidiário. Nesse sentido, o art. 212 do CPP:
No entanto, o Pacote Anticrime retirou do juiz a iniciativa probatória (Art.3º-A do CPP), entregando
ao juiz de garantias a competência para decidir sobre a produção de provas cautelares durante a
investigação.
CPP. Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do
juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de
acusação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)
45119
Contudo, no julgamento das ADIs 6298, 6299, 6300 e 6305, o STF conferiu interpretação conforme
ao dispositivo, para assentar que o juiz, pontualmente, nos limites autorizados, pode determinar a realização
de diligências suplementares, para o fim de dirimir dúvida relevante no julgamento do mérito.
iv. O princípio da verdade real é substituído pelo princípio da busca da verdade, devendo a prova ser
produzida com fiel observância ao contraditório e a ampla defesa;
v. A separação das funções e a iniciativa probatória residual à fase judicial preserva a equidistância que
o magistrado deve tomar quanto ao interesse das partes, sendo compatível com a garantia da
imparcialidade e com o princípio do devido processo legal;
vi. O sistema acusatório é o adotado pela Constituição Federal e pelo CPP.
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A função de acusar nas ações penais públicas é do Ministério Público, materializando assim o sistema
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acusatório, haja vista que a própria CF outorgou a titularidade da persecução penal ao referido órgão, por
excelência.
Como se admite o princípio da verdade real, o O princípio da verdade real é substituído pelo princípio
acusado não é sujeito de direitos, sendo tratado da busca da verdade, devendo a prova ser produzida
como mero objeto do processo, daí por que se admite com fiel observância ao contraditório e à ampla defesa.
inclusive a tortura como meio de se obter a verdade 45119
absoluta.
O juiz inquisidor é dotado de ampla iniciativa A gestão da prova recai precipuamente sobre as partes.
acusatória e probatória, tendo liberdade para Na fase investigatória, o juiz só deve intervir quando
determinar de ofício a colheita de elementos provocado, e desde que haja necessidade de intervenção
informativos e de provas, seja no curso das judicial.
investigações, seja no curso da instrução processual.
Durante a instrução processual, o juiz tem iniciativa A separação das funções e a iniciativa probatória residual
probatória, podendo determinar a produção de restrita à fase judicial preserva a equidistância que o juiz
provas de ofício. Há disparidade de poderes entre deve tomar quanto ao interesse das partes, sendo
acusação e defesa e verifica-se o caráter escrito e compatível com a CF/88. Além disso, deve ser
secreto da instrução. assegurada a paridade entre acusação e defesa.
c) SISTEMA MISTO, ACUSATÓRIO FORMAL OU FRANCÊS: É uma fusão dos dois modelos anteriores.
Segundo Renato Brasileiro, é chamado de sistema misto porquanto o processo se desdobra em duas
fases distintas: a primeira fase é tipicamente inquisitorial, com instrução escrita e secreta, sem acusação e,
por isso, sem contraditório. Nesta, objetiva-se apurar a materialidade e a autoria do fato delituoso. Na
segunda fase, de caráter acusatório, o órgão acusador apresenta a acusação, o réu se defende e o juiz julga,
vigorando, em regra, a publicidade e a oralidade.
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#DICA DD: Quando o CPP entrou em vigor, havia o entendimento de que ele era misto, sendo o inquérito
policial a primeira fase. Porém, com o advento da CF/88 e do Pacote Anticrime deixou de maneira expressa
o sistema acusatório, além da separação das funções de acusar, defender e julgar, assegurando o
contraditório e a ampla defesa, e o princípio da presunção de não culpabilidade, trata-se de um sistema
acusatório.
a) Previsão legal: art. 5°, LVII, CF/88 e art. 8°, §2°, CADH.
Observações:
● CADH possui status normativo supralegal, ou seja, está abaixo da CF, mas acima da legislação
infraconstitucional; 45119
● Sempre que se faz uma leitura da legislação infraconstitucional, deve-se sujeitá-la tanto ao controle
de constitucionalidade quanto ao controle de convencionalidade;
● Ao contrário da CF/88, a Convenção Americana fala em presunção de inocência, e o faz de maneira
45119
#DICA DD: Há quem utilize como sinônimos as expressões: presunção de inocência, presunção de não
culpabilidade e estado de inocência.
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Assim, fazer declarações públicas, sem os devidos cuidados, sobre processos penais, gera na
sociedade a crença sobre a culpabilidade do acusado.
Atenção! A nova decisão do STF é vinculante? SIM. A decisão do STF foi proferida em ADC, que declarou a
constitucionalidade do art. 283 do CPP.
Para o STF, é possível o início do cumprimento da pena caso somente reste o julgamento de recurso sem
efeito suspensivo (ex.: só falta julgar Resp ou RE)? É possível a execução provisória da pena?
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da inocência.
• O recurso especial e o recurso extraordinário não
possuem efeito suspensivo (art. 637 do CPP). Isso
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Tabela via @dizerodireito para facilitar a compreensão sobre evolução jurisprudencial deste tema.
As partes devem ter em juízo as mesmas oportunidades de atuação no processo e devem ser tratadas
de forma igualitária, na medida da sua igualdade. Segundo Norberto Avena (2017, p. 53): “Tal princípio
constitui desdobramento da garantia constitucional assegurada no art. 5.º, caput, da Constituição Federal,
ao dispor que todas as pessoas serão iguais perante a lei em direitos e obrigações. Não obstante o sistema
constitucional vigente seja proibitivo de discriminações, em determinadas hipóteses é flexibilizado o
princípio da igualdade”.
de que privilegia o interesse do acusado, todavia, sob o enfoque publicístico, no qual prepondera o interesse
geral de um processo justo, é vista como garantia.
A ampla defesa divide-se em autodefesa e defesa técnica:
45119
1. Direito de audiência: É o direito de ser ouvido no processo. Ou seja: é o momento que o acusado
tem para apresentar a sua versão dos fatos e tentar formar a convicção do magistrado quanto a sua
inocência.
Obs.: Quando estudarmos o interrogatório judicial, veremos que, hoje, na visão da doutrina, o interrogatório
judicial tem natureza jurídica de meio de defesa. Isso porque, no interrogatório, ele tem o direito de ficar em
silêncio.
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E se o acusado estiver preso em outra unidade da federação. Ainda assim ele tem assegurado o
direito de presença? R.: SIM! O direito de presença é universal. O direito não deixa de valer só porque o
acusado está preso em outro lugar.
45119
Atualmente, o art. 185, §2°, CPP, permite a realização de audiência mediante videoconferência.
Assim, a videoconferência preserva o direito de presença, ao mesmo tempo que evita o deslocamento do
preso.
Ressalta-se que, embora a doutrina garantista entenda que a inobservância deste direito deveria
acarretar nulidade absoluta, a jurisprudência vem entendendo que se trata de nulidade relativa, devendo-se
comprovar o prejuízo.
Obs.: O direito de presença tem natureza relativa. Ou seja, há situações em que o direito de presença pode
causar constrangimento à vítima ou às testemunhas. Nesse caso, se não for possível realizar a audiência
mediante videoconferência, o acusado será retirado da audiência. Se for essa a decisão do magistrado, deve
haver fundamentação, e essa fundamentação deve constar da ata da audiência para evitar futura nulidade.
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● Positivo: representa a efetiva utilização dos instrumentos, dos meios e modos de produção,
esclarecimento ou confrontação de elementos de prova relacionados à materialidade da infração
criminal e à autoria;
● Negativo: impede a produção de elementos probatórios de elevado risco ou com potencialidade
danosa à defesa do réu.
Há possibilidade de o acusado exercer sua própria defesa técnica? R.: Desde que o acusado seja
profissional da advocacia, ou seja, desde que esteja regularmente inscrito nos quadros da OAB.
É possível o patrocínio da defesa técnica de dois ou mais acusados pelo mesmo defensor. Em outras
palavras: Um único advogado pode defender 2 ou mais acusados? R.: SIM! Mas desde que não haja
colidência de teses pessoais. Ex.: A e B estão sendo acusados do mesmo crime. Um único advogado pode
defendê-los, mas desde que as teses de defesa sejam semelhantes. Se A ou B negarem ser autor do delito,
há colidência de interesses pessoais. Obs.: Cabe ao juiz e ao MP fiscalizarem isso.
45119
Envolve regra de tratamento que milita em favor do acusado. O juiz só pode proferir decreto
condenatório se não existirem dúvidas acerca da autoria e materialidade do delito, sendo indispensável um
juízo de certeza para a condenação.
Se houver dúvida na interpretação de determinado artigo de lei processual penal, deve ser
privilegiada a interpretação que beneficie o réu.
- STJ: NÃO. Haverá violação ao art. 155 do CPP. Além disso, muito embora a
análise aprofundada seja feita somente pelo Júri, não se pode admitir, em um
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-STJ: SIM. Na pronúncia opera o princípio in dubio pro societate, porque é a favor
da sociedade que se resolvem as dúvidas quanto à prova, pelo Juízo natural da
causa. Constitui a pronúncia, portanto, juízo fundado de suspeita, que apenas e
tão somente admite a acusação. Não profere juízo de certeza, necessário para a
condenação,
45119 motivo pelo qual a vedação expressa do art. 155 do CPP não se aplica
à referida decisão. STJ. 5ª Turma. AgRg no AgRg no AREsp 1702743/GO, Rel. Min.
Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/12/2020. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp
1609833/RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 06/10/2020.
Para o professor Renato Brasileiro, deve ser adotado o primeiro posicionamento (LIMA, Renato
Brasileiro de. Manual de Processo Penal: volume único. 8ª ed. rev. atual. e ampl. Editora JusPodivm. Salvador.
2020. p. 1471): 45119
Esquematizando
STJ. 5ª Turma. HC 560.552/RS, Rel. Min. STJ. 5ª Turma. AgRg no AgRg no AREsp
Ribeiro Dantas, julgado em 23/02/2021. 1702743/GO, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik,
STJ. 6ª Turma. HC 589.270, Rel. Min. julgado em 15/12/2020.
Sebastião Reis Júnior, julgado em STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1609833/RS,
23/02/2021 (Info 638). Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
06/10/2020.
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Na fase de pronúncia deve-se adotar a teoria RACIONALISTA da prova, na qual não deve haver critérios de
valoração das provas rigidamente definidos na lei, no entanto, por outro lado, o juízo sobre os fatos deve
ser pautado por critérios de lógica e racionalidade, podendo ser controlado em âmbito recursal ordinário.
Para a pronúncia, não se exige uma certeza além da dúvida razoável, necessária para a condenação.
Contudo, a submissão de um acusado ao julgamento pelo Tribunal do Júri pressupõe a existência de um
lastro probatório consistente no sentido da tese acusatória. Ou seja, requer-se um standard probatório
um pouco inferior, mas ainda assim dependente de uma preponderância de provas incriminatórias. STF.
2ª Turma. ARE 1067392/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 26/3/2019 (Info 935).
Art. 5º, LV, da CF: “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios
e recursos a ela inerentes”.
Elementos: 45119
● Direito à informação – parte adversa deve estar ciente da existência da demanda ou dos argumentos
da parte contrária.
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Nesse sentido, a parte tem direito à informação (por isso a grande importância dos atos de
comunicação, citação, intimação e notificação) e o direito à participação (a parte precisa ter o direito de
contrariar). Portanto, o contraditório seria a necessária informação às partes e a possível reação a atos
desfavoráveis.
Espécies:
● Contraditório para a prova (contraditório real): É o contraditório realizado na formação do elemento
de prova, sendo indispensável que sua produção ocorra na presença do órgão julgador e das partes.
⋅ Ex.: Prova testemunhal. A prova testemunhal é produzida em contraditório real, pois ambas
as partes estarão presente para acompanhar a produção da prova, podendo questionar as
testemunhas, não apenas quanto a sua credibilidade, mas também quanto aos fatos.
● Contraditório sobre a prova (contraditório diferido/postergado): É a atuação do contraditório após
a formação da prova.
⋅ Ex.: Interceptação telefônica. É claro 45119
que o acusado e seu advogado jamais podem tomar
ciência antecipada quanto a uma interceptação telefônica em curso. Nesse caso, o
contraditório será conferido quando concluída a interceptação. Portanto, concluída a
interceptação, a mídia será juntada aos autos, assim como eventual relatório e laudo de
gravação. É nesse momento que a defesa poderá exercer o contraditório.
Trata-se de um princípio claramente ligado ao caráter democrático do processo penal. Isso porque,
a partir do momento que se assegura o princípio da publicidade, a ideia é de que a publicidade vai
proporcionar o controle da sociedade sobre a atividade jurisdicional.
Alguns doutrinadores dizem que o princípio da publicidade funciona como uma garantia de segundo
grau ou garantia de garantia (Ferrajoli). Garantia de segundo grau porque, na verdade, a publicidade
proporciona o controle sobre outras garantias. Assim, a partir do momento em que se dá publicidade ao
processo, analisa-se se as outras garantias também foram respeitadas (ex.: juiz natural, contraditório, ampla
defesa, etc.).
45119
● Previsão legal: art. 93, IX, CF/88, art. 5°, LX, CF/88, art. 8°, 5, CADH, art. 792, CPP.
● Regra: Publicidade ampla, permitindo a todos o acesso ao processo e não apenas às partes e aos
procuradores.
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#DICA DD: Súmula vinculante N. 14- STF: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso
amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão
com competência de polícia judiciária, que digam respeito
45119 ao exercício do direito de defesa.
Art. 7º, XIV, EOAB. É direito do advogado (...) XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por
conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza,
findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos,
em meio físico ou digital.
§ 10. Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para o exercício dos direitos de que
trata o inciso XIV.
§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos
elementos de prova relacionados a diligências em andamento45119
e ainda não documentados nos autos, quando
houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências.
● Exceção: Publicidade restrita, com fundamento na própria CF/88 que prevê, em algumas situações,
a possibilidade de restrição da publicidade. Será uma publicidade restrita apenas às partes e a seus
advogados ou, apenas, a seus advogados. Pois, vez ou outra, o direito à intimidade deve prevalecer
sobre o direito à informação.
Atenção! Na visão dos Tribunais Superiores o segredo de justiça está dentro da cláusula de reserva de
jurisdição (STF: MS 27.483/DF), ou seja, quando o segredo de justiça for decretado pelo juiz, somente o
próprio juiz ou uma autoridade jurisdicional superior poderá remover esse segredo de justiça.
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Ex.: CPI dos grampos. A CPI quis ter acesso a todos os processos que tinham interceptação telefônica. O STF
não deixou, pois, se há interceptação telefônica, é uma hipótese de publicidade restrita, então somente uma
autoridade jurisdicional pode remover o segredo de justiça.
Art. 5º, LVI, da CF: São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos. 45119
O reconhecimento da prova ilícita ou da prova ilegítima que enseja a nulidade absoluta tem como
consequência imediata o desentranhamento dos autos e sua inutilização, para que não se possa influenciar
indevidamente o convencimento do magistrado.
Caiu em prova Delegado PC-RN/2021 da banca FGV! No curso da instrução processual penal, verifica-se que
uma das provas colhidas fora obtida de forma ilegal. Essa ilegalidade é alegada pela defesa, e o Ministério
Público manifesta-se concordando com a ilegalidade apontada. O juízo reconhece a ilegalidade da prova em
decisão fundamentada. Com base no exposto, é correto afirmar que o juízo: deverá determinar o
desentranhamento da prova ilícita, assim como aquelas direta e exclusivamente decorrentes dela e, uma vez
preclusa a decisão, determinar a destruição das provas, prosseguindo nos demais atos processuais. (Item
considerado correto pela banca).
#DICA DD: Aproveitando a temática, no julgamento das quatro Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs
6298, 6299, 6300 e 6305) que questionavam alterações no Código de Processo Penal (CPP) pelo Pacote
Anticrime (Lei n. 13.964/2019), entre elas a criação do juiz das garantias, o STF declarou o art. 157 do CP
INCONSTITUCIONAL por maioria: § 5º do art. 157 do CPP, incluído pela Lei n. 13.964/2019.
Obs.: vencido, em parte, o Ministro Cristiano Zanin, que propunha interpretação conforme ao dispositivo.
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Cuidado! O que deve ser desentranhado dos autos é a PROVA, e não os autos processuais que fazem
menção à prova ilícita. Assim já decidiu o STF:
As peças processuais que fazem referência à prova declarada ilícita não devem
ser desentranhadas do processo. Se determinada prova é considerada ilícita, ela
deverá ser desentranhada do processo. Por outro lado, as peças do processo que
fazem referência a essa prova (exs.: denúncia, pronúncia etc.) não devem ser
desentranhadas e substituídas. A denúncia, a sentença de pronúncia e as demais
peças judiciais não são "provas" do crime e, por essa razão, estão fora da regra que
determina a exclusão das provas obtidas por meios ilícitos prevista art. 157 do CPP.
Assim, a legislação, ao tratar das provas ilícitas e derivadas, não determina a
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exclusão de "peças processuais" que a elas façam referência. STF. 2ª Turma. RHC
137368/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 29/11/2016 (Info 849).
Obs.: O STF começou a admitir, excepcionalmente, a utilização da prova ilícita em benefício do réu inocente
que produziu prova para a sua absolvição.
Trata-se do princípio que ensejou a edição da EC 45/04, responsável por introduzir a razoável
duração do processo enquanto direito fundamental no art. 5, LXXVII, CF.
Assim, a duração razoável do processo corresponde à busca pelo equilíbrio: o processo não pode ser
moroso ao ponto de ensejar a impunidade, mas também não tão célere de modo a inobservar as garantias
do acusado.
Apresenta algumas consequências:
● As prisões cautelares devem persistir por tempo razoável, enquanto presentes as necessidades;
● Possibilidade de utilizar a carta precatória itinerante;
● A suspensão do processo, havendo questão prejudicial, só deve ser feita quando há caso de difícil
solução.
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RETA FINAL
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Art. 5, LIV, da CF - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal.
Subdividido em:
45119
● Aspecto material ou substancial: Ninguém será processado, senão por crime previsto em lei;
● Aspecto processual ou procedimental: Atrelado à possibilidade de produzir provas.
b) Conceito: Consiste no direito que cada cidadão possui de conhecer antecipadamente a autoridade
jurisdicional que o processará e o julgará. A ideia do juiz natural está relacionada com a imparcialidade. Isso
porque, a partir do momento em que a competência é estabelecida de maneira prévia e abstrata, de certa
forma é possível proteger a imparcialidade daquele magistrado.
c) Regras de Proteção que derivam do Juiz Natural: Do princípio do juiz natural derivam 3 regras
fundamentais:
● Só podem exercer jurisdição os órgãos instituídos pela Constituição;
● Ninguém pode ser julgado por órgão instituído após o fato;
● Entre os juízes pré-constituídos vigoram regras de competência que excluem qualquer tipo de
discricionariedade.
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RETA FINAL
Obs.1: Convocação de juízes de 1º grau para substituir desembargadores não viola o princípio do juiz
natural desde que observadas as diretrizes legais federais ou estaduais, conforme o caso (STJ, 5ª Turma, HC
111.919/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 18/11/2008, Dje 02/02/2009).
Obs.2: Julgamento por turma (ou câmara) composta, em sua maioria, por juízes convocados não viola o
princípio do juiz natural (STF, Pleno, HC 96.821/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 08/04/2010).
O tema será aprofundado na temática de Competência, tendo em vista que são assuntos
diretamente ligados entre si.
4.2.1 Princípio do Nemo Tenetur Se Detegere (Princípio De Que Ninguém Está Obrigado A Produzir Prova
Contra Si Mesmo)
a) Conceito: A garantia da não autoincriminação consiste no direito de não produzir prova contra si
próprio, essa garantia vem sendo muito cobrada em prova no termo em latim “nemo tenetur se detegere”
que está positivado no artigo 8º, “g”, do Pacto de São45119
José da Costa Rica, garantindo à pessoa o “direito de
não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada”.
b) Previsão Normativa:
Na CF/88 (art. 5º, LXIII), através da menção ao direito ao silêncio, que é um dos desdobramentos do
princípio do nemo tenetur se detegere:
Artigo 8º, item 2, CADH – (...) durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena
igualdade, às seguintes garantias mínimas:(...) g) direito de não ser obrigado a
depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada; e
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Caiu em prova Delegado PC-RN/2021 da banca FGV! O direito processual penal é regido por diversos
princípios, dentre os quais o do nemo tenetur se detegere, pelo qual ninguém será obrigado a produzir prova
contra si mesmo.
45119
Com base no princípio em questão e na jurisprudência dos Tribunais Superiores: apenas o
preso poderá valer-se do direito ao silêncio, não se estendendo tal proteção aos investigados.(Item
considerado incorreto pela banca).
● A testemunha tem a obrigação de dizer a verdade, sob pena de responder pelo crime de falso
testemunho. Entretanto, se das perguntas a ela formuladas puder resultar uma autoincriminação,
também poderá invocar este princípio (Info 754 STF).
● O imputado deve ser advertido acerca do direito de não produzir prova contra si mesmo, sob pena
de ilicitude das provas obtidas.
Art. 5º, LXIII, da CF - O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado.
3) Direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-lo: Consiste no
direito de não adotar comportamentos ativos que colaborem com a atividade persecutória do
Estado.
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Por comportamento ativo, entende-se um “fazer” por parte do acusado, a exemplo do fornecimento
do padrão vocal para realização de exame de espectrograma; fornecimento de material escrito para exame
grafotécnico; exame de bafômetro.
Caiu em prova Delegado PC-RN/2021 da banca FGV! O direito processual penal é regido por diversos
princípios, dentre os quais o do nemo tenetur se detegere, pelo qual ninguém será obrigado a produzir prova
45119
contra si mesmo. Com base no princípio em questão e na jurisprudência dos Tribunais Superiores: as provas
que exijam comportamento passivo do investigado não poderão ser produzidas sem sua concordância; (Item
considerado incorreto pela banca).
Atualmente, há teste de bafômetro ativo (não é obrigado a realizar, pois pode acarretar
autoincriminação) e teste de bafômetro passivo, em que é colocado um objeto próximo ao agente, capaz de
captar, por meio da respiração, o teor alcoólico. Este último, por não demandar qualquer comportamento
do agente, pode ser realizado, mesmo contra sua vontade.
Tratando-se de comportamentos passivos, em que o agente se sujeita a prova, não há proteção do
referido princípio, a exemplo do reconhecimento de pessoas e coisas.
O STF entendeu que o direito a não autoincriminação não assegura ao acusado o direito de ocultar ou falsear
a sua identidade (1ªT, RE n2 561.704, Rel. Min. Ricardo45119
Lewandowski, DJe 64 02/04/2009).
No mesmo sentido, o STJ, possui entendimento sumulado. SUM 522: A conduta de atribuir-se falsa
identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa.
Caiu em prova Delegado PC-RN/2021 da banca FGV! O direito processual penal é regido por diversos
princípios, dentre os quais o do nemo tenetur se detegere, pelo qual ninguém será obrigado a produzir prova
contra si mesmo. Com base no princípio em questão e na jurisprudência dos Tribunais Superiores: atribuição
de falsa identidade pelo suspeito ou investigado, ainda que em situação de autodefesa, configura fato típico.
(Item considerado correto pela banca).
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Ocorre que, para que a prova seja considerada lícita, deve-se observar a forma de coleta da mesma:
invasiva ou não invasiva à luz do direito de não produzir prova contra si mesmo.
● Invasivas: são as intervenções corporais que pressupõem penetração no organismo humano, por
instrumentos ou substâncias, em cavidades naturais ou não, implicando na utilização (ou extração)
de alguma parte dele ou na invasão física do corpo humano, tais como os exames de sangue, o exame
ginecológico, a identificação dentária, a endoscopia (usada para localização de droga no corpo
45119
Desta forma, conclui-se que a prova não invasiva (inspeções ou verificações corporais), mesmo que
o agente não concorde com a produção da prova, esta poderá ser realizada normalmente, desde que não
implique colaboração ativa por parte do acusado, observando-se, assim, o nemo tenetur se detegere.
Caso Glória Trevi: O caso da Gloria de los Angeles Treviño Ruiz que chegou ao STF gerou polêmica
pela seguinte indagação: poderia ter sido a placenta coletada
45119 para realização do exame de DNA? O STF, na
ocasião, confirmou a legalidade da determinação de coleta da placenta no procedimento médico do parto
da cantora mexicana visando dirimir a dúvida quanto a quem era o pai da criança.
Conforme o professor Renato Brasileiro de Lima, “nessa situação, a intervenção médica era
necessária e não houve a coleta à força da placenta, uma vez que esta é expelida do corpo humano como
consequência natural do processo de parto.”
Outro exemplo trazido pelo doutrinador de admissibilidade em caso de repercussão:
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Ressalta-se que o raio-x, segundo o STJ (HC 149.146/SP), é considerado prova não invasiva. Logo,
poderá ser realizado mesmo contra a vontade do indivíduo.
Nesse sentido, Renato Brasileiro explica que no caso das chamadas “mulas”, que transportam drogas
no organismo humano, não é possível obrigar a pessoa a realizar uma cirurgia para retirada ou que ela
consuma algum tipo de remédio para expelir o conteúdo da droga. É possível, no entanto, a realização de um
raio-x, que é modalidade de prova não invasiva.
45119
erro o juiz ou o perito: Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal,
ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em dobro.
Foi o que aconteceu no caso do Casal Nardoni, acusado e condenado por fraude processual. A defesa,
no caso deste crime específico (alteração da cena do crime), alegou o princípio do nemo tenetur se detegere,
afirmando que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Entretanto, tal princípio não dá
direito à pessoa de cometer outras infrações para se eximir da anterior.
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(...) “A regra que prevê o crime do art. 305 do CTB é constitucional posto não
infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e as
hipóteses de exclusão de tipicidade e de antijuridicidade”. À semelhança do que
já fora decidido pelo Supremo no julgamento do RE 640.139, quando se afirmou
que o princípio constitucional da autoincriminação não alcança aquele que atribui
falsa identidade perante autoridade policial com o intuito de ocultar maus
antecedentes, prevaleceu o entendimento de que não há direitos absolutos e que,
no sistema de ponderação de valores, há de ser admitida certa mitigação, até
mesmo do princípio da não 45119
autoincriminação. Na visão da Corte, a exigência de
permanência no local do acidente e de identificação perante a autoridade de
trânsito não obriga o condutor a assumir expressamente sua responsabilidade civil
ou penal e tampouco enseja que seja aplicada contra ele qualquer penalidade caso
assim não o proceda. Na verdade, a depender do caso concreto, a sua permanência
no local pode até constituir um meio de autodefesa, na medida em que terá a
oportunidade de esclarecer, de imediato, eventuais circunstâncias do acidente que
lhe sejam favoráveis. (STF, Pleno, RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 14/11/2018).
Obs1.: O Aviso de Miranda é uma construção do direito norte-americano, segundo o qual, o policial, no
momento da prisão, deve relatar para o preso os seus direitos, sob pena de invalidação do que por ele for
dito. Conforme leciona Renato Brasileiro (2017, p. 71), os “Miranda Warnings” têm origem no julgamento
Miranda V. Arizona, em que a Suprema Corte americana firmou o entendimento de que nenhuma validade
pode ser conferida às declarações feitas pela pessoa à polícia, a não ser que antes tenha sido claramente
informada de:
I- Que tem o direito de não responder;
II- Que tudo o que disser pode vir a ser utilizado contra ela;
III- Que tem o direito à assistência de defensor escolhido ou nomeado.
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Obs2.: O art. 2º, §6º, da Lei nº 7.960/89 (prisão temporária) prevê que, efetuada a prisão, a autoridade
policial informará o preso dos direitos previstos no art. 5º da Constituição Federal, por meio de uma nota de
ciência.
É vedada a propositura de ação penal pelo magistrado, reservando-se essa iniciativa apenas à parte.
Em conformidade com o sistema acusatório, o juiz não pode iniciar um processo penal sem provocação
anterior (nemo judex actore ou ne procedat judex ex officio).
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Entretanto, a doutrina aponta duas exceções ao princípio da iniciativa das partes. O juiz pode agir de
ofício:
a) Quando a situação disser respeito ao direito de liberdade do agente, o que se verifica na expedição
de habeas corpus de ofício (art. 654, § 2º, CPP); e
b) Quando se tratar do início da execução penal (art. 195, Lei 7.210/84).
NÃO é 45119
princípio constitucional expresso, embora exista doutrina que defenda ser decorrência da
ampla defesa. Além disso, decorre de direitos previstos em tratados de direitos humanos, como o já
mencionado Pacto de São José da Costa Rica que, em seu art. 8.2, h, dispõe que: “(...) durante o processo,
toda pessoa tem, em plena igualdade, o direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.”
A atividade de persecução criminal deve ocorrer por órgão oficial. Aplicável à ação penal pública.
Cuidado! NÃO confunda os princípios da oficialidade e oficiosidade, visto que, apesar da denominação
similar, possuem conceituações distintas conforme apontado acima.
● Princípio da Concentração: Toda a colheita de prova e julgamento devem ocorrer em uma única
audiência.
● Princípio da Imediaticidade: O magistrado deve ter contato direto com a prova produzida.
● Princípio da Identidade Física do Juiz: O juiz que instrui o processo deve julgá-lo.
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NÃO pode o ofendido escolher contra qual agente ofertará a ação penal privada.
Atenção! Para o STF, a ação penal pública é divisível, pois o MP pode, até sentença final, incluir novos agentes
por aditamento à denúncia ou oferecer nova ação penal, caso já prolatada sentença no feito. Todavia, para
doutrina majoritária, prevalece a indivisibilidade.
Será aprofundado
45119 no tema Ação Penal.
Uma vez produzida, a prova não pertence mais à parte que a produziu, mas ao processo. Nesse
sentido, o magistrado pode valer-se de uma prova produzida pela parte para proferir decisão em seu
desfavor, de acordo com o seu livre convencimento motivado.
45119
5.4 Impulso Oficial
É o estudo do direito intertemporal, ou seja, o direito que regula a sucessão de leis no tempo.
a) Normas de Direito Penal: Princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa, do qual deriva o
princípio da ultratividade da lei penal mais benéfica. A lei nova só vai valer para os crimes praticados
a partir daquele momento.
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Art. 5, XL, da CF – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
b) Normas de Direito Processual Penal: Existem duas espécies de normas de Direito Processual Penal.
● Norma genuinamente processual;
● Norma processual material, mista ou híbrida.
Dependendo da espécie de norma processual penal os critérios de aplicação serão diferentes.
1) Norma genuinamente processual - São aquelas que cuidam de procedimentos, atos processuais,
técnicas do processo. Ou seja, não dizem respeito a pretensão punitiva. Nesse caso, o critério a ser
aplicado é o previsto no art. 2°, CPP (princípio da aplicação imediata).
45119
Art. 2º. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos
atos realizados sob a vigência da lei anterior.
Pelo princípio do efeito imediato, a lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da
validade dos atos praticados sob a vigência da lei anterior. Como consequência, a lei processual penal será
aplicada de imediato, seja benéfica ou maléfica (não se aplica o princípio da retroatividade da lei benéfica,
como ocorre no Direito Penal). 45119
2) Norma processual material (mista ou híbrida) - São aquelas que possuem caráter dúplice, de direito
penal e de processo penal.
Norma processual material (mista) = norma de direito penal + norma de direito processual penal.
● Normas Penais - São aquelas que cuidam do crime, da pena, da medida de segurança, dos efeitos da
condenação e do direito de punir do Estado. Ex.: causas extintivas da punibilidade.
● Normas Processuais Penais - São aquelas que versam sobre o processo desde o seu início até o final
da execução ou extinção da punibilidade.
Assim, se um dispositivo legal, embora inserido em lei processual, versa sobre regra penal, de direito
material, a ele serão aplicáveis os princípios que regem a lei penal, de ultratividade e retroatividade da lei
mais benigna.
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RETA FINAL
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Conclusão: Quando se tratar de norma processual mista, o critério a ser aplicado é o critério do
direito penal, ou seja, irretroatividade da lei mais grave e ultratividade da lei mais benigna.
● Se o aspecto penal for benéfico: prevalece o aspecto penal, e a lei retroage por completo;
● Se o aspecto penal for maléfico: a lei NÃO retroage.
Atenção! Normas heterotópicas são aquelas em que, apesar de seu conteúdo conferir-lhe uma determinada
natureza, encontra-se prevista em diploma de natureza distinta. Ou seja, é uma norma penal colocada no
CPP, ou então norma processual penal colocada no CP.
“Ao contrário do que ocorre no Direito Penal, onde se trava longa e complexa
discussão sobre a extraterritorialidade da lei penal, no processo penal a situação é
mais simples. Aqui vige o princípio da territorialidade. As normas processuais
penais brasileiras só se aplicam no território nacional, não tendo qualquer
possibilidade de eficácia extraterritorial” (LOPES, 2018. p. 72).
APROFUNDANDO:
Parte da doutrina sustenta a relativização da lex fori (aplicação da lei local) em matéria processual penal,
permitindo a aplicação da lei pátria fora do território nacional, nas hipóteses de:
1) Terra de ninguém (território nullius);
2) Estado onde será praticado o ato processual autorizar a aplicação de lei diversa (território estrangeiro);
3) Em casos de guerra (território ocupado).
Conforme art. 1º, do CPP, é possível que sejam instituídas imunidades da lei processual penal, seja
em virtude de tratados internacionais (imunidade diplomáticas e de chefes de governos estrangeiros) ou por
regras constitucionais (imunidades e regras de competência).
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RETA FINAL
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I. Imunidades Diplomáticas: Objetivam garantir o livre exercício dos representantes diplomáticos, e são
atribuídas em função do cargo, e não da pessoa. O Tratado de Viena assegura a imunidade de jurisdição penal
do diplomata e seus familiares, para que se sujeitem à jurisdição do Estado que representa.
Abrangência:
● Chefes de governo ou Estado estrangeiro, sua família e membros de sua comitiva;
● Embaixador e família: Imunidade absoluta;
● Funcionários das organizações internacionais (ONU) quando em serviço;
● Agentes consulares, apenas quanto aos crimes relacionados com a sua função (Cuidado!).
ATENÇÃO:
1. A imunidade não subtrai o diplomata da investigação, mas do processo e julgamento em território
brasileiro.
2. As embaixadas NÃO são extensão do território que representam, mas são invioláveis.
3. É possível o país renunciar à imunidade do agente
45119
diplomático, mas o agente não pode renunciar
por iniciativa pessoal, já que a imunidade se fundamenta no interesse da função.
● Imunidade absoluta (material, substancial, real, inviolabilidade ou indenidade): Prevê o art. 53, da
CF/88, que deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas
opiniões, palavras e votos.
1. Para o STF, a imunidade é causa de atipicidade.
2. A abrangência dessa imunidade deve ser analisada:
∘ Se ofensa proferida nas dependências da casa legislativa, o nexo funcional é
presumido, há imunidade1;
∘ Se a ofensa é proferida fora das dependências da casa legislativa, o nexo funcional NÃO
é presumido, deve ter relação com o exercício do mandato e o ofendido deve
comprovar a inexistência de nexo com o mandato.
1
Sobre a presunção da imunidade por palavras e expressões proferidas dentro da Casa Parlamentar, o STF, no Inq
3932/DF e Pet 5243/DF, de Relatoria do Min. Luiz Fux, julgado em 21/06/2016 (INF 831), recebeu denúncia contra o
Dep. Jair Bolsonaro, pela incitação ao crime, ao pronunciar, em acalorada discussão no plenário, que a também Dep.
Federal Maria do Rosário “não merecia ser estuprada”. Para melhor compreensão de interessante julgado, sugerimos a
leitura:
http://www.dizerodireito.com.br/2016/07/entenda-decisao-do-stf-que-recebeu.html
99
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(1) Para a prisão: Relacionada à prisão dos parlamentares e ao processo. Os parlamentares passam a ter
imunidade formal para a prisão a partir do momento em que são diplomados pela Justiça Eleitoral
(antes da posse), configurando o termo inicial para a atribuição de imunidade formal para a prisão.
∘ Os parlamentares só poderão ser cautelarmente presos nas hipóteses de flagrante de crime
inafiançável (“estado de relativa incoercibilidade pessoal dos congressistas” – Celso de Melo)
→ Nesse caso, os autos deverão ser encaminhados à Casa Parlamentar respectiva, no prazo
de 24h para que, pelo voto (aberto) da maioria absoluta de seus membros, resolva sobre a
prisão.
∘ Nota-se que a aprovação pela Casa é condição necessária para a manutenção da prisão em
flagrante delito de crime inafiançável. Logo, há duas hipóteses:
1) Se a Casa decidir pela não manutenção do cárcere, a prisão deverá ser
45119
imediatamente relaxada;
2) Se a Casa mantiver a prisão em flagrante, os autos deverão ser encaminhados, no
prazo de 24h, ao STF.
(2) Para o processo: Oferecida denúncia, o Ministro do STF poderá recebê-la sem prévia licença da Casa
Parlamentar. Após o recebimento da denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido
após a diplomação, o STF dará ciência à Casa 45119
respectiva que, por iniciativa de partido político nela
representado e pelo voto da maioria absoluta de seus membros, decidirá sustar o andamento da
ação.
O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de 45 dias do seu
recebimento pela mesa diretora, e a sustação do processo suspende a prescrição enquanto durar o
mandato.
Obs.: NÃO há mais imunidade formal para crimes praticados ANTES DA DIPLOMAÇÃO.
● Prerrogativa de foro: Desde a expedição de diploma, deputados e senadores serão julgados pelo STF
pela prática de qualquer tipo de crime. Casos:
i. Infração cometida durante o exercício da função parlamentar: A competência será do STF,
sendo desnecessário pedir autorização a Casa respectiva, bastando dar ciência ao Legislativo,
que poderá sustar o andamento da ação.
SEMANA 01/12
O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante
o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas. STF. Plenário. AP
937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018.
fraude processual inaceitável, frustrando a atuação jurisdicional do Estado, razão pela qual NÃO haveria a
problema em ser julgado pelo STF. A prorrogação do foro, nesse contexto, visa evitar a denominada Ciranda
de Processos.
A CF/88 não previu foro por prerrogativa de função aos Vereadores e aos Vice-
prefeitos. O foro por prerrogativa de função foi previsto apenas para os prefeitos
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Ex.: hipóteses de cabimento do RESE do art. 581, CPP. Essas hipóteses, hoje, estão desatualizadas.
Então as hipóteses de cabimento do RESE devem ser interpretadas de maneira extensiva para abranger
outras situações.
d) Progressiva - Busca adaptar o texto da lei à realidade social vigente naquele determinado momento.
102
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O art. 68, CPP prevê que o MP pode promover a ação civil ex delito em favor de vítima pobre. Quando
a CF/88 entrou em vigor, houve quem dissesse que esse artigo era inconstitucional, pois o MP não poderia
pleitear interesses individuais disponíveis.
O STF entendeu que o artigo estaria sujeito a uma inconstitucionalidade progressiva. Logo, enquanto
não houver defensoria pública em todos os estados, o artigo continua válido.
(3) Analogia
A analogia está no art. 3°, CPP na expressão: “aplicação analógica”. Assim, no âmbito processual
penal a analogia é admitida. Então, quando se trata de uma norma genuinamente processual penal, a
analogia pode ser usada, independentemente de ser em bonam partem ou em malam partem (≠ direito
penal, em que só é admitida a analogia in bonam partem).
Art. 15, CPC - Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas
ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e
subsidiariamente.
Obs.: Só pode aplicar o CPC no processo Penal quando houver lacuna. Pois é diante da omissão que se pode
valer da analogia com o CPC. Assim, se houver disposição legal expressa no CPP, não é possível aplicar o
CPC!
8. FONTES
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As fontes materiais dizem respeito ao órgão responsável pela criação de normas jurídicas sobre
determinada matéria. Conforme estabelecido no art. 22, I, CF compete privativamente à União legislar sobre
Processo Penal. Contudo, nos termos do art. 22, §único, CF, lei complementar federal pode autorizar Estados
e o Distrito Federal a legislar sobre questões específicas.
A União, os Estados e o Distrito Federal possuem competência concorrente para legislar sobre
procedimentos em matéria processual, conforme preconiza o art. 24, XI, CF.
Autonomia do Direito
45119Processual Penal
O primeiro passo para compreender a autonomia científica do direito processual penal é deixar de
denominá-lo, irregularmente, como direito adjetivo ou direito secundário, dentre outros nomes, buscando
apontar como o direito substantivo ou direito principal o corpo de normas, que dele necessita para fazer
valer a lei: o direito penal, no tocante ao processo penal; o direito civil, no tocante ao processo civil. Não há
nenhum direito adjetivo, termo de nítido conteúdo voltado a inferiorizá-lo. O processo penal é tão
substantivo quanto o direito penal, porém atua sob outros princípios e busca diversos objetivos. (NUCCI,
2020, p. 89).
45119
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TODOS OS ARTIGOS
⦁ Lei 9296/96
⦁ Art. 5º, XII, CF/88
⦁
45119
Art. 3º-A, CPP
⦁ Art. 13-A e 13-B, CPP
⦁ Art. 15, lei 12850/2013
ARTIGOS MAIS IMPORTANTES – NÃO DEIXE DE LER!
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RETA FINAL
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Link com o Processo Penal: Destaca-se pelo fato de não possuir previsão específica no rol de provas previstas
no Código de Processo Penal (Título VII), os resultados obtidos legalmente pelas interceptações de
comunicações telefônicas, de informática, telemática e proveniente de captação ambiental, serão exemplos
de provas inominadas.
Esquematizando:
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA ESCUTA TELEFÔNICA GRAVAÇÃO TELEFÔNICA
Ocorre quando um terceiro Ocorre quando um terceiro Ocorre quando o diálogo telefônico travado
capta o diálogo telefônico capta o diálogo telefônico entre duas pessoas é gravado por um dos
travado entre duas pessoas, travado entre duas pessoas, próprios interlocutores, sem o
sem que nenhum dos sendo que um dos consentimento ou a ciência do outro.
interlocutores saibam. interlocutores sabe que está Também é chamada de GRAVAÇÃO
sendo realizada a escuta. CLANDESTINA (obs.: a palavra
Há o consentimento deste “clandestina” está empregada no sentido
interlocutor de “feito às ocultas”, não na acepção de
“ilícito”, mas sim).
Ex.: polícia, com autorização Ex.: polícia grava a conversa Ex.: mulher grava a conversa telefônica no
judicial, grampeia os telefones telefônica que o pai
45119
mantém qual o ex-marido ameaça matá-la.
dos membros de uma quadrilha com o sequestrador de seu
e grava os diálogos mantidos filho.
entre eles.
Para que a interceptação seja Para que seja realizada é A gravação telefônica é válida mesmo que
válida é indispensável a indispensável a autorização tenha sido realizada SEM autorização
autorização judicial judicial (posição majoritária). judicial.
(entendimento pacífico). A única exceção em que haveria ilicitude se
dá no caso em que a conversa era
amparada por sigilo (ex.: advogados e
45119
clientes, padres e fiéis).
Em relação à ESCUTA TELEFÔNICA, é importante notar que o consentimento dado por um dos
interlocutores não pode estar viciado. Em se tratando de consentimento viciado, envolvendo suposto
consentimento de um suspeito e gravação de conversas telefônicas por viva-voz, o STJ entendeu que o
consentimento não foi válido e declarou a ilicitude da prova (STJ, Info 603).
À luz do entendimento do STJ, no Info 543, quando um dos interlocutores é absolutamente incapaz,
o consentimento para a interceptação (escuta) será dado por seu representante (Info 543).
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RETA FINAL
SEMANA 01/12
A expressão “comunicação telefônica” não deve se restringir às comunicações por telefone, mas deve
também abranger a transmissão, emissão ou recepção de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons
ou informações de qualquer natureza, por meio de telefonia, estática ou móvel. Entretanto, os tribunais
superiores divergem quanto à aplicação da Lei n°. 9.296/1996 em algumas hipóteses:
✓ STJ – Conversas realizadas em salas de bate-papo da Internet não estão amparadas pelo sigilo das
comunicações, tendo em vista que o ambiente virtual é de acesso irrestrito e destinado a conversas
informais. (RHC 18116)
✓ STJ - As informações obtidas por monitoramento de e-mail corporativo de servidor público não
configuram prova ilícita quando relacionadas com aspectos "não pessoais" e de interesse da
Administração Pública e da própria coletividade,
45119 especialmente quando exista, nas disposições
normativas acerca do seu uso. (RMS 48.665)
✓ STJ – É ilícita a devassa de dados, bem como das conversas de whatsapp, obtidas diretamente pela
polícia em celular apreendido
45119
no flagrante, sem prévia autorização judicial. Recurso ordinário em
habeas corpus provido, para declarar a nulidade das provas obtidas no celular do paciente sem
autorização judicial, cujo produto deve ser desentranhado dos autos. (RHC 51531)
✓ STJ - Não há ilegalidade na perícia de aparelho de telefonia celular pela polícia, sem prévia
autorização judicial, na hipótese em que seu proprietário - a vítima - foi morto, tendo o referido
telefone sido entregue à autoridade policial por sua esposa. STJ. 6ª Turma. RHC 86076-MT, Rel.
Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 19/10/2017 (Info 617).
Cuidado para não confundir: Sem prévia autorização judicial, são nulas as provas obtidas pela
polícia por meio da extração de dados e de conversas registradas no Whatsapp presentes no celular
do suposto autor de fato delituoso, ainda que o aparelho tenha sido apreendido no momento da
prisão em flagrante. STJ. 5ª Turma. RHC 67379-RN, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/10/2016
(Info 593). STJ. 6ª Turma. RHC 51531-RO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/4/2016 (Info 583).
✓ O acesso ao chip telefônico descartado pelo acusado em via pública não se qualifica como quebra
de sigilo telefônico. STJ, 5ª Turma, HC 720.605, julgado em 09.08.2022.
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RETA FINAL
SEMANA 01/12
A interceptação das comunicações telefônicas NÃO se confunde com a quebra de sigilo de dados
telefônicos:
● A interceptação de comunicação telefônica diz respeito a algo que está acontecendo.
● A quebra do sigilo de dados telefônicos está relacionada aos registros documentados e armazenados
pelas companhias telefônicas, tais como data da chamada telefônica, horário da ligação, número do
telefone chamado, duração do uso, ou seja, se refere a registros pretéritos.
Esquematizando:
● Tanto o sigilo de dados telefônicos como o sigilo das comunicações telefônica exigem a autorização
judicial, mas baseadas em fundamentos diversos.
● O sigilo de dados telefônicos não se confunde com dados cadastrais, os quais o delegado de polícia
e o ministério público podem ter acesso, independentemente de autorização judicial.
OBS.: Cuidado para não confundir o registro de ligações armazenado pelas empresas de telefonia, cujo
acesso depende da autorização judicial, com o registro de ligações presentes no próprio celular do indivíduo
preso em flagrante. Nessa hipótese, os Tribunais consideram lícita a prova obtida através do acesso às últimas
chamadas efetuadas e recebidas, bem como à agenda telefônica do indivíduo. Confira:
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usuários. Assim, deve ser reconhecida como válida a prova produzida com o
acesso à agenda telefônica do recorrido, com o restabelecimento da sentença
condenatória, determinando-se que a Corte a quo continue a apreciar a apelação
(Resp. 178.2386).
STJ - O fato de ter sido verificado o registro das últimas chamadas efetuadas e
recebidas pelos dois celulares apreendidos em poder do co-réu, cujos registros se
encontravam gravados nos próprios aparelhos, não configura quebra do sigilo
telefônico, pois não houve requerimento à empresa responsável pelas linhas
telefônicas, no tocante à lista geral das chamadas originadas e recebidas, tampouco
conhecimento do conteúdo das conversas efetuadas por meio destas linhas. É
dever da Autoridade policial apreender os objetos que tiverem relação com o fato,
o que, no presente caso, significava saber se os dados constantes da agenda dos
aparelhos celulares teriam alguma relação com a ocorrência investigada (HC
66.368).
45119
Por meio da estação rádio base (ERB), é possível saber a localização aproximada de qualquer aparelho
celular ligado, desde que este esteja em uso, seja enviando ou recebendo uma mensagem, seja efetuando
ou recebendo uma ligação, e, consequentemente, de seu usuário. Note, portanto, que essa quebra não
permite acesso ao conteúdo da comunicação, mas somente o local aproximado onde se encontra
determinado aparelho.
Há divergência acerca da necessidade ou não de autorização judicial para obter o acesso a tais dados.
● 1ª C (STJ) – Dispensa prévia autorização judicial. Não se pode confundir a interceptação das
comunicações telefônicas com a obtenção de informações quanto ao posicionamento das ERBs,
verdadeira espécie de dados telefônicos. O STJ tem precedente afirmando ser desnecessária a
autorização judicial para quebra de ERB. (HC 247331)
● 2ª C (Doutrina + CPP) – Depende de autorização judicial. A obtenção das informações colhidas pela
quebra da ERB permite obter informações acerca da localização aproximada de uma pessoa, fato que
guarda relação e tangencia o direito à intimidade e à vida privada:
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● Curso da Instrução Processual Penal (medida cautelar incidental): é a fase no processo penal com
objetivo de colher provas, iniciando-se a partir do oferecimento da peça acusatória e findando-se
45119
com eventual pedido de diligências cuja necessidade tenha surgido a partir de circunstâncias ou fatos
apurados na fase de instrução (art. 402 do CPP).
Apesar de a decretação da interceptação telefônica ser mais comum durante a fase investigatória, é
perfeitamente possível o deferimento da medida durante a instrução processual penal. Com efeito, podem
surgir, no curso do processo, circunstâncias novas, desconhecidas, que recomendem a realização imediata
da interceptação telefônica. 45119
Como a Constituição Federal e a Lei n° 9.296/96 dispõem que a interceptação telefônica só pode ser
autorizada para fins de investigação criminal ou instrução processual penal -cláusula de reserva de jurisdição
qualificada-, não é possível que essa medida seja determinada no curso de um processo de natureza cível,
comercial, trabalhista, administrativa etc.
Apesar de haver precedentes de Tribunais Estaduais em sentido contrário, uma vez decretada a
realização de uma interceptação telefônica para fins de investigação criminal ou instrução processual penal,
nada impede que os elementos probatórios aí obtidos sejam utilizados em outro processo, a título de prova
emprestada.
A jurisprudência dos tribunais superiores entende que dados obtidos em interceptação de
comunicações telefônicas e em escutas ambientais, judicialmente autorizadas para produção de prova em
investigação criminal ou em instrução processual penal, podem ser usados em procedimento administrativo
disciplinar, contra a mesma ou as mesmas pessoas em relação às quais foram colhidos, ou contra outros
servidores cujos supostos ilícitos teriam despontado à colheita dessa prova.
Caiu em prova Delegado PC-RN/2021 da banca FGV! Tramita no âmbito interno da Polícia Civil do Estado do
Rio Grande do Norte processo administrativo disciplinar (PAD) que apura eventual falta funcional praticada
por certo delegado de polícia. Durante a instrução do PAD, foi verificada pela autoridade competente que o
conduz a necessidade de obtenção de prova emprestada, consistente em interceptação telefônica realizada
no bojo de processo criminal. De acordo com a jurisprudência dos Tribunais Superiores, o compartilhamento
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de prova pretendido é: VIÁVEL o uso de interceptação telefônica como prova emprestada é possível, desde
que tenha advindo de processo penal, com a devida autorização judicial e respeitado o contraditório e a
ampla defesa.
Veja a súmula 591 do STJ: “Súmula 591-STJ: É permitida a “prova emprestada" no processo administrativo
disciplinar, desde que devidamente autorizada pelo juízo competente e respeitados o contraditório e a
ampla defesa."
Ressalta-se que, em 2019, a 6ª Turma do STJ, no informativo 648, entendeu que é dever do Estado
disponibilizar a integralidade das conversas avindas nos autos de forma emprestada (prova emprestada).
Veja: A defesa deve ter acesso à integralidade das conversas advindas nos autos de forma emprestada,
sendo inadmissível que as autoridades de persecução façam a seleção dos trechos que ficarão no processo
e daqueles que serão extraídos.
7. DA NECESSIDADE DE CONTRADITÓRIO
Em regra, haverá o que a doutrina convencionou chamar de “contraditório diferido”, ante a própria
natureza da interceptação telefônica como medida cautelar inaudita, ora, avisar ao investigado
45119 que seu
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Não é possível interceptação telefônica para verificar se uma determinada pessoa, contra a qual
inexiste qualquer indício, está ou não cometendo algum crime. É absolutamente proibida a chamada
INTERCEPTAÇÃO DE PROSPECÇÃO, desconectada da realização de um fato delituoso, sobre o qual ainda não
se conta com indícios suficientes.
B) QUANDO A PROVA NÃO PUDER SER FEITA POR OUTROS MEIOS DISPONÍVEIS:
A interceptação telefônica deve ser utilizada como medida de última ratio, sob pena de ilicitude da
prova, sendo inegável o caráter subsidiário esta possui como meio de prova.
Ou seja, a medida é exceção, e não regra, só podendo ser manejada quando não houver outro meio
para apurar o fato, nesse sentido;
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Considerando seu caráter subsidiário, uma vez que a interceptação telefônica somente deve ser
utilizada diante da insuficiência dos meios de obtenção de prova tradicionais, é certo que não deve ser
adotada, de imediato, pela autoridade policial, ao receber uma denúncia anônima.
É necessário, como em qualquer hipótese de “denúncia anônima” (noticia criminis inqualificada),
que o delegado de polícia proceda à verificação das informações para analisar a plausibilidade e veracidade
das informações obtidas.
Assim, se após a denúncia anônima houver a investigação preliminar, poderá ser decretada a
interceptação telefônica. Nesse sentido, Info 855: “O STJ e o STF entenderam que a decisão do magistrado
foi correta considerando que a decretação da interceptação telefônica não foi feita com base unicamente
na "denúncia anônima" e sim após a realização de diligências investigativas por parte do Ministério Público
e a constatação de que a interceptação era indispensável neste caso.” STJ. 6ª Turma. RHC 38566/ES, Rel.
Min. Ericson Maranho (Des. Conv. do TJ/SP), julgado em 19/11/2015. STF. 2ª Turma. HC 133148/ES, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, julgado em 21/2/2017.
Aqui o legislador limitou o uso da interceptação telefônica em razão da natureza da pena, só sendo
possível manejá-la caso o crime seja punido com pena de reclusão, estando os crimes punidos com detenção,
e as contravenções, que são punidas com prisão simples, excluídas das hipóteses de incidência de
interceptação telefônica.
Uma questão interessante se dá quanto à possibilidade Interceptação telefônica e crimes de
responsabilidade: Na medida em que o art. 2°, inciso III, da Lei n° 9.296/96, demanda que a infração penal
seja punida com pena de reclusão, depreende-se que não é possível a decretação de interceptação
telefônica para investigar crimes de responsabilidade em sentido estrito (Lei n° 1.079/50 e Decreto-Lei n°
201/67). Afinal, tais crimes não têm natureza jurídica de infração penal, mas sim de infração político-
administrativa, passível de sanções político-administrativas, aplicadas por órgãos jurisdicionais políticos
(normalmente órgãos mistos, compostos por parlamentares ou por parlamentares
45119
e magistrados).
Logicamente, se ao crime de responsabilidade corresponder uma infração penal comum, punida com pena
de reclusão, não haverá qualquer óbice à autorização para a interceptação telefônica, respeitada a
competência legalmente atribuída para o deferimento da medida cautelar.
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OBS.1: DELIMITAÇÃO DO OBJETO DA INVESTIGAÇÃO: será sempre obrigatória a descrição com clareza da
situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo
impossibilidade manifesta, devidamente justificada.
OBS.2: ORDEM JUDICIAL DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA: O deferimento da interceptação é matéria afeta
à reserva de jurisdição, onde o judiciário tem a última e a primeira palavra, uma vez que o tema tem proteção
diferenciada por ser direito fundamental, conforme se depreende do artigo 5°XII, CF/88.
O entendimento do STJ é no sentido de que eventual consentimento posterior de um dos
interlocutores não supre a falta de autorização judicial prévia (STJ. 5ª Turma. HC 161053-SP, Rel. Min. Jorge
Mussi, julgado em 27/11/2012).
Considerações importantes:
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De acordo com a doutrina majoritária, o magistrado NÃO pode atuar de ofício na fase pré-processual,
por caracterizar ofensa ao Sistema Acusatório (consagrado expressamente no art. 3ª-A, CPP). Logo, em tese,
não pode decretar de ofício a interceptação telefônica fora da instrução processual. No entanto, uma vez em
curso o processo, a autoridade judiciária passaria a deter poderes inerentes ao próprio exercício da função
jurisdicional, podendo determinar a interceptação telefônica de ofício.
Ressalta-se que a atuação de ofício do magistrado na fase processual não foge às diversas críticas
doutrinárias, uma vez que o juiz deixa de estar em posição equidistante das partes, atuando como
interessado na instrução processual, o que acabaria ferindo o processo penal contraditório, maculando-o
com traços de inquisitoriedade.
STF - O art. 1º da Lei nº 9.296/96 não fixa regra de competência, mas sim reserva
de jurisdição para quebra do sigilo das comunicações. Em outras palavras, ele não
trata sobre qual juízo é competente, mas apenas quer dizer que a interceptação
deve ser decretada pelo magistrado (Poder Judiciário). Segundo o entendimento
do STF, admite-se a divisão de tarefas entre juízes que atuam na fase de inquérito
45119
e na fase da ação penal. Assim, um juiz pode atuar na fase pré-processual
decretando medidas que dependam da intervenção do Poder Judiciário, como a
interceptação telefônica, mesmo que ele não seja o competente para julgar a
ação penal que será proposta posteriormente (STF. 2ª Turma. HC 126536/ES)
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A conversa pessoal e reservada entre advogado e cliente tem toda a proteção da lei, porquanto,
entre outras reconhecidas garantias do advogado, está a inviolabilidade de suas comunicações. Como estão
proibidas de depor as pessoas que, em razão de profissão, devem guardar segredo, é inviolável a
comunicação entre advogado e cliente.
No entanto, o STJ já decidiu que o simples fato de o advogado do investigado ter sido interceptado
não é causa, por si só, para gerar a anulação do processo
A anulação do processo e da condenação imposta ao réu só ocorrerá se for indevida e violar as
prerrogativas da defesa, podendo gerar consequências processuais distintas:
● Cassação ou invalidação do ato judicial que determinou a interceptação;
● Invalidação dos atos processuais subsequentes ao ato atentatório com ele relacionado;
● Afastamento do magistrado caso de demonstre que, ao agir assim, atuava de forma parcial.
As conversas entre investigado e seu advogado, obtidas mediante interceptação telefônica judicialmente
autorizada, seria válida ou a prova deverá ser considerada ilícita?
- Advogado como autor, coautor ou partícipe de crime: O sigilo profissional do advogado não poderá ser
invocado como uma espécie de blindagem indiscriminada capaz de imunizá-lo da prática de crimes. Dessa
forma, se o advogado estiver envolvido na prática de crimes autorizadores da medida excepcional da
interceptação telefônica, eventuais conversas gravadas nesse contexto poderão ser utilizadas como prova
de crime.
A decisão deixa claro, que em respeito ao princípio do “pas nullité sans grief”, não haverá nulidade
sem prejuízo, logo, se o próprio juiz, ao perceber que o advogado do investigado foi indevidamente
“grampeado”, anula as gravações envolvendo o professional e, na sentença, não utiliza nenhuma dessas
conversas nem qualquer prova derivada delas, não há motivo para se anular a condenação imposta.
Se o próprio juiz, ao perceber que o advogado do investigado foi indevidamente "grampeado",
anula as gravações envolvendo o profissional e, na sentença, não utiliza nenhuma dessas conversas nem
45119
qualquer prova derivada delas, não há motivo para se anular a condenação imposta. STF. 2ª Turma. HC
129706/PR
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No mesmo sentido se posiciona o Supremo Tribunal Federal, que vai além ao considerar a prova
lícita, ainda que o “crime achado” não tenha relação de conexão com o delito que estava sendo investigado,
desde que respeitados os requisitos legais para a interceptação, e que não tenha havido fraude ou desvio de
finalidade:
STF - O réu estava sendo investigado pela prática do crime de tráfico de drogas.
Presentes45119os requisitos constitucionais e legais, o juiz autorizou a interceptação
telefônica para apurar o tráfico. Por meio dos diálogos, descobriu-se que o
acusado foi o autor de um homicídio. A prova obtida a respeito da prática do
homicídio é LÍCITA, mesmo a interceptação telefônica tendo sido decretada para
investigar outro delito que não tinha relação com o crime contra a vida. Na
presente situação, tem-se “crime achado”, ou seja, uma infração penal
desconhecida e não investigada até o momento em que, apurando-se outro fato,
descobriu-se esse novo delito. (STF. 1ª Turma. HC 129678/SP)
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É indispensável que o magistrado aponte, de maneira concreta, as circunstâncias fáticas que indicam
a adoção da medida cautelar, sob pena de manifesta ilegalidade da decisão e, por consequência, ilicitude da
prova assim obtida.
Requisitos da decisão judicial:
● Quais são os concretos indícios de autoria ou de
45119participação (art. 2., I);
● Quais são as provas existentes a respeito da infração penal (materialidade) (art. 2º, I);
● Que se trata de infração punida com reclusão (art. 2°, III);
● Que a interceptação é necessária em virtude da inexistência de outros meios disponíveis para a
obtenção da prova (art. 2°, II, e art. 4°);
● A descrição com clareza da situação objeto da investigação (delimitação fática da medida, isto é, qual
é o crime, onde está ocorrendo, desde quando vem ocorrendo etc.) (art. 2., parágrafo único); f)
indicação e, se possível, a qualificação do sujeito passivo da medida (identificação do investigado ou
dos investigados (art. 2°, parágrafo único);
● A individualização da linha telefônica que servirá de fonte para a captação da comunicação;
● Quais meios serão empregados para a execução da medida (quais recursos tecnológicos, quais
operações serão feitas etc.) (art. 4°);
● Qual será a forma de execução da diligência — recursos próprios da polícia, recursos da
concessionária, técnicos da concessionária etc. (art. 5°);
● Qual é a duração da medida (o prazo não pode exceder quinze dias);
● Qual é a intensidade da medida (captação
45119de todas as comunicações ou só das chamadas feitas ou
só das chamadas recebidas, ou ambas, apenas constatação das chamadas sem importar o conteúdo
etc.);
● Que a interceptação é proporcional no caso concreto, em razão da gravidade da infração, da
necessidade da prova, dos interesses afetados etc.;
● Que tudo deve ser feito "sob segredo de justiça" (art. 10).
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Em regra, a execução da diligência não pode ultrapassar o limite de 15 (quinze) dias, a partir do dia
em que a medida é efetivada.
Havendo necessidade de renovação do prazo da interceptação, esta deve se dar antes do decurso do
prazo fixado na decisão originária, mediante decisão judicial motivada, evitando-se uma solução de
continuidade na captação das comunicações telefônicas.
Atenção RE 625.263 – Plenário STF – julgado em 17.03.2022!
São lícitas as sucessivas renovações de interceptações telefônicas desde que:
i) verificados os requisitos do art.2 da Lei 9296/96;
ii) demonstrada a necessidade da medida diante de elementos concretos e a complexidade da
investigação, a decisão judicial inicial e as prorrogações sejam devidamente motivadas, com justificativa
legítima, ainda que sucinta, a embasar a continuidade das investigações.
Em 2018 o STJ considerou inconstitucional parte da Resolução do CNJ (Resolução nº 59/2008), que
proibia o juiz de prorrogar a interceptação telefônica durante o plantão judiciário ou durante o recesso do
fim de ano (Info 899).
OBS.1: Em 15.09.2020, o45119STJ, no bojo do AgRg no AREsp 1.861.383, entendeu que a captação de
áudio em interceptação telefônica fora do período autorizado resulta na nulidade apenas da gravação
realizada no dia excedente, e não na nulidade de toda a gravação!
OBS.2: A limitação temporal somente é necessária para o fluxo das comunicações, não sendo
requisito indispensável quando se tratar de quebra de sigilo que envolva dados estáticos/já armazenados.
→ Como visto acima, a interceptação pode ser prorrogada sucessivas vezes, desde que fundamentada a
decisão. Desse modo, tanto o deferimento como a prorrogação precisam ser fundamentadas, dito isto,
questiona-se:
ATENÇÃO! O que é fundamentação per relationem? Trata-se de uma forma de motivação por meio da qual
se faz remissão ou referência às alegações de uma das partes, a precedente ou a decisão anterior nos autos
do mesmo processo. É chamada pela doutrina e jurisprudência de motivação ou fundamentação per
relationem ou aliunde. Também é denominada de motivação referenciada, por referência ou por remissão.
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É válida a decisão judicial que se utiliza de fundamentação per relationem para decretar a interceptação
telefônica? Sim! Admite-se o uso da motivação per relationem para justificar a quebra do sigilo das
comunicações telefônicas. No entanto, as decisões que deferem a interceptação telefônica e respectiva
prorrogação devem prever, expressamente, os fundamentos da representação que deram suporte à decisão
– o que constituiria meio apto a promover a formal incorporação, ao ato decisório, da motivação reportada
como razão de decidir – sob pena de ausência de fundamento idôneo para deferir a medida cautelar. STJ. 6ª
Turma. HC 654131-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 16/11/2021 (Info 723).
Caiu em prova Delegado PC-RN/2021 da banca FGV! Quanto ao uso da fundamentação per relationem, na
jurisprudência do STJ, na interceptação telefônica é correto
45119 afirmar que: a utilização da técnica, seja para fim
de reafirmar a fundamentação de decisões anteriores, seja para incorporar à nova decisão os termos de
manifestação ministerial anterior, não implica vício de fundamentação. (Item considerado correto pela
45119
banca).
Segundo o STJ (RHC 80.773/2020), o artigo 6º, ao atribuir à autoridade policial a competência para
conduzir a interceptação, não pode ser interpretado de forma totalmente estrita. Isso porque admite-se a
legitimidade de órgão da Secretaria de Segurança Pública para conduzir o trabalho de interceptação.
Ademais, há desnecessidade de degravação integral das conversas efetuadas desde que
assegurado às partes o acesso à integralidade dos registros. Não há na lei qualquer exigência no sentido de
que a degravação seja submetida à perícia. Além disso, é desnecessário que a transcrição das gravações
resultantes da interceptação telefônica seja feita por peritos oficiais: cuidando-se de tarefa que não exige
conhecimentos técnicos especializados, pode ser realizada pelos próprios policiais que atuaram na
investigação.
Por fim, a conversão do conteúdo das interceptações telefônicas em formato escolhido pela defesa
não é ônus atribuído ao Estado (Info 731).
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É importante frisar que a ausência de autos apartados configura mera irregularidade, sem o condão
de macular a prova, uma vez que, dessa ausência, não se pode auferir prejuízo em concreto à nenhuma das
partes.
a) Momento: O incidente de inutilização das conversas telefônicas que poderá ser instaurado ao longo
de toda a persecução penal, inclusive após a instrução processual, mas até a prolação da sentença,
já que exaurido a sua competência, não podendo reconhecer esse incidente. O terceiro pode
requerer o desarquivamento da condenação ao juízo da condenação originária sendo um exemplo
de jurisdição voluntária. Isso pode ocorrer quando um terceiro vê sua vida exposta.
45119
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O entendimento do STJ é pacífico no sentido de que, na hipótese de o interceptado manter contato
telefônico com autoridade detentora de foro por prerrogativa de função, sendo a interceptação deferida por
juízo de 1ª instância, a gravação dessas conversas NÃO é nula por violação ao foro por prerrogativa de
função, considerando que não era a autoridade quem estava sendo interceptada.
No entanto, é importante ressaltar que a gravação não será nula se a presença da autoridade
detentora de foro for descoberta fortuitamente, hipótese em que a autoridade judicial não deve demorar a
declinar a competência. Assim, a partir do momento em que surgem indícios de participação de detentor de
prerrogativa de foro nos fatos apurados, cumpre à autoridade judicial declinar da competência, e não
persistir na prática de atos objetivando aprofundar a investigação.
A par da interceptação das comunicações telefônicas, a Lei n°. 9296/96 também disciplina a
interceptação das comunicações ambientais, que já era disciplinada pela doutrina brasileira. Note que, com
o advento do Pacote Anticrime, a captação ambiental passou a ser tratada expressamente na Lei n°.
9296/96.
● Até o advento da Lei 13.964/2019 (PAC), a captação ambiental era um meio de obtenção de prova
nominado atípico: 45119
∘ Nominado - estava previsto na Lei 12.850/2013 como um dos meios de obtenção de provas
disponíveis para a persecução penal de tais delitos;
∘ Atípico - não existia diploma normativo que dispusesse, expressamente, acerca dos seus
requisitos. Aplicava-se por analogia, então, o procedimento descrito na Lei 9296/96 acerca da
interceptação telefônica.
● Com a inserção do art. 8º-A, a captação ambiental se tornou um meio de obtenção de prova
nominado e típico.
Vejamos os conceitos:
a) Comunicação ambiental: De acordo com Renato Brasileiro, “é aquela realizada diretamente no
meio ambiente, sem transmissão e recepção por meios físicos, artificiais, como fios elétricos, cabos óticos
etc. Enfim, trata-se de conversa mantida entre duas ou mais pessoas sem a utilização do telefone, em
qualquer recinto, privado ou público”.
b) Interceptação ambiental: é a captação sub-reptícia de uma comunicação no próprio ambiente
dela, por um terceiro, sem conhecimento dos comunicadores. Não difere, substancialmente, da
interceptação em sentido estrito, pois, em ambas as hipóteses, ocorre violação do direito à intimidade,
porém, no caso da interceptação ambiental, a comunicação não é telefônica. A título de exemplo, suponha-
se que, no curso de investigação relativa ao crime de tráfico de drogas, a autoridade policial realize a
filmagem de indivíduos comercializando drogas em uma determinada praça, sem que os traficantes tenham
ciência de que esse registro está sendo efetuado.
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c) Escuta ambiental: é a captação de uma comunicação, no ambiente dela, feita por terceiro, com o
consentimento de um dos comunicadores. Por exemplo, imagine-se a hipótese de cidadão vítima de
concussão que, com o auxílio da autoridade policial, efetue o registro audiovisual do exato momento em que
funcionário público exige vantagem indevida para si em razão de sua função.
d) Gravação ambiental: é a captação no ambiente da comunicação feita por um dos
comunicadores (ex. gravador, câmeras ocultas etc.).
Muito sempre se questionou a respeito da possibilidade de a comunicação ambiental ser objeto de
escuta e de servir ou não como prova para fins de persecução penal. A doutrina e jurisprudência admitiam a
captação ambiental como meio de obtenção de prova, normalmente, acompanhada de autorização judicial,
essencialmente, naqueles casos em que houvesse qualquer tipo de sigilo ou restrição em relação às
conversas travadas.
É justamente nesse sentido que as alterações implementadas pelo PACOTE ANTICRIME operam,
buscam trazer regulamentação para que ocorra a interceptação de comunicações ambientais e estas sejam
utilizadas de forma legítima à instrução processual penal. Vejamos abaixo as novidades trazidas pela Lei
13.964/2019:
Foi incluído o artigo 8-A na Lei 9.296/96, nos seguintes termos:
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Desse modo, a partir da entrada em vigor da Lei 13.964/2019, passa-se a exigir autorização judicial,
com o objetivo de investigação ou instrução criminal, para a captação ambiental de sinais eletromagnéticos,
ópticos ou acústicos.
À semelhança do art. 1º da Lei 9.296/96, que abrange tanto a interceptação telefônica em sentido
estrito quanto a escuta telefônica, o art. 8º faz uso da expressão “captação ambiental” em sentido amplo,
englobando a interceptação ambiental em sentido estrito e a escuta ambiental, pois ambas consistem em
processos de captação da conversa alheia.
Ressalta-se ainda que a doutrina e jurisprudência
45119 apontam que a interceptação ambiental está
tutelada no inciso X do art. 5º da CF/88 – garantia constitucional da intimidade e vida privada.
Inicialmente, observa-se que se trata de hipótese sujeita à cláusula de reserva de jurisdição. Assim,
será decretada judicialmente a captação ambiental para fins de investigação criminal ou instrução processual
penal.
É interessante observar que a captação ambiental não poderá ser decretada de ofício, nem mesmo
na fase processual, já que exige:
(a) Representação da autoridade policial (curso da investigação);
(b) Requerimento do membro do Ministério Público (curso da investigação ou no curso do processo).
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2 - Elementos probatórios razoáveis de autoria ou participação em infrações penais cuja pena seja
superior a 04 anos ou em infrações penais conexas cuja soma das penas sejam superiores a esse
quantitativo (O critério é quantitativo, de modo que pode ser crime apenado com detenção ou
reclusão).
3 - Descrição circunstanciada do local e da forma que o dispositivo de captação ambiental será instalado.
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A captação promovida por um dos interlocutores, mesmo sem o conhecimento dos demais, não depende
de autorização judicial, sendo, portanto, fato atípico (conclusão reforçada pelo §i» do art. 10-A da Lei n°
9.296/96).
- A captação promovida em lugares públicos também independe de autorização judicial. Sendo assim, se
colocada em prática não haverá crime e a prova obtida será considerada lícita.
O legislador foi cuidadoso a ponto de estabelecer conduta criminosa específica na hipótese de:
1) Captação ambiental sem autorização judicial, quando ela for exigida.
2) Funcionário público descumprir a determinação de sigilo das investigações que envolvam
captação ambiental ou revelar o conteúdo das gravações enquanto mantido o sigilo judicial.
Não haverá enquadramento no referido delito se a captação for realizada por um dos interlocutores.
Dessa forma, podemos observar que o referido dispositivo legal somente se adequa aquelas situações em
que a captação ambiental é realizada por terceiro, não participante das conversas realizadas.
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RETA FINAL
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META 3
CF/88
⦁ Art. 1º, III
⦁ Art. 3º
⦁ Arts. 4º, 5º, 6º e 7º
⦁ Art. 8º a 11º
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1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
São decididos antes da elaboração do texto, no momento de construção das normas. Têm natureza
de vetores interpretativos que imprimem coesão, harmonia e unidade ao sistema.
Subdividem-se em:
a) princípios constitucionais sensíveis: aqueles expressos na Constituição, também denominados
princípios apontados/enumerados;
b) estabelecidos/organizatórios: limitam, vedam ou proíbem que o Poder Constituinte decorrente
atue de forma indiscriminada e podem ser extraídos a partir da interpretação do conjunto de normas
centrais, dispersas no texto constitucional;
c) extensíveis: de acordo com Bulos, são aqueles que integram a estrutura da federação brasileira,
relacionando-se, por exemplo, com a forma de investidura dos cargos eletivos, o processo legislativo,
orçamentos e preceitos ligados 45119
à Administração Pública.
45119
O preâmbulo é a parte precedente da CF. Segundo o STF, adotando a tese da irrelevância jurídica, é mero
vetor interpretativo do que se acha inscrito no texto constitucional. Não possui força normativa, logo, não
pode ser parâmetro nem objeto de controle de constitucionalidade.
a) Dignidade da pessoa humana: Define Luís Roberto Barroso que o “princípio da dignidade humana
expressa um conjunto de valores civilizatórios que se pode considerar incorporado ao patrimônio da
humanidade. Dele se extrai o sentido mais nuclear dos direitos fundamentais, para tutela do mínimo
existencial e da personalidade humana, tanto na dimensão física como na moral”. Decorre do aludido
130
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princípio, por exemplo, a impenhorabilidade do bem de família e a união estável entre pessoas do mesmo
sexo. É considerado um “super-princípio”.
b) Legalidade: o princípio da legalidade significa que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo
que não esteja previamente estabelecido na própria CF/88 e nas normas jurídicas dela derivadas. O princípio
da legalidade, desta forma, se converte em princípio da constitucionalidade (Canotilho), subordinando toda
atividade estatal e privada à força da Constituição. No direito brasileiro encontra-se previsto nos arts. 5º, II;
37; e 84, IV, da CF/88. 45119
I. Legalidade x Reserva Legal: o princípio da reserva legal é um desdobramento da legalidade, que impõe e
vincula a regulação de determinadas matérias constantes na constituição à fonte formal do tipo lei.
1) Para particulares: somente a lei pode criar obrigações, de forma que a inexistência de lei proibitiva
de determinada conduta implica ser ela permitida. Vigora a autonomia da vontade.
2) Para a Administração Pública: O Estado se sujeita às leis, e deve atuar em conformidade à previsão
legal. O administrador público só poderá agir dentro daquilo que é previsto e autorizado por lei. Obs.
Sob esta acepção, o princípio da legalidade vem sofrendo uma releitura pela doutrina moderna, que
defende a necessidade de conformação da atividade do administrador ao Direito (e não apenas à lei).
Assim, fala-se atualmente em princípio da juridicidade (o assunto é aprofundado em Direito
Administrativo).
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A jurisprudência vem admitindo algumas hipóteses de discriminação, podendo ocorrer em relação à idade,
sexo, altura, etc., desde que sejam observados dois requisitos:
1) Previsão legal anterior definindo os critérios de admissão para o cargo; e
2) Razoabilidade da exigência, decorrente da natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.
AÇÕES AFIRMATIVAS
45119
A Carta Magna busca a igualdade material. Para aplicação do princípio da isonomia, são necessárias as ações
afirmativas, também denominadas discriminações positivas, cuja finalidade é proteger certos grupos sociais
que demandam tratamento diverso. Tais ações consideram a realidade histórica de marginalização ou
hipossuficiência e, assim, funcionam como medidas de compensação com o fim de concretizar uma
igualdade de oportunidades. A exemplo, podemos citar: mercado de trabalho da mulher, cotas de vagas sem
serviços públicos, cotas em universidades (PROUNI), cotas, Lei Maria da Penha.
2
Para aprofundamento no assunto, consultar:
http://www.stf.jus.br/repositorio/cms/portaltvjustica/portaltvjusticanoticia/anexo/joao_trindadade__teoria_geral_d
os_direitos_fundamentais.pdf
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- Partidos políticos.
● Direitos: são normas de conteúdo declaratório da existência de um interesse, de uma vantagem, isto
é, imprimem a existência legal. Ex.: direito à vida, à propriedade;
● Garantias: normas de conteúdo assecuratório, que servem para assegurar o direito declarado. As
garantias são estabelecidas pelo texto constitucional como instrumento45119
de proteção dos direitos
fundamentais e writs constitucionais. São também chamadas de instrumentos de tutela das
liberdades e ações constitucionais.
● Remédios Constitucionais: embora todo remédio constitucional seja uma garantia, nem toda
garantia é um remédio constitucional, porque este é um instrumento processual que tem por
objetivo assegurar o exercício de um direito. Ex.: Habeas Corpus, Mandado de Segurança. Pode-se
dizer que os remédios constitucionais são espécies do gênero garantia.
ATENÇÃO: alguns dispositivos constitucionais contêm direitos e garantias no mesmo enunciado. O art. 5º, X,
estabelece a inviolabilidade do direito à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, assegurando,
em seguida, o direito à indenização em caso de dano material ou moral provocado pela sua violação.
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Pela classificação de José Afonso da Silva e considerando não haver direito fundamental absoluto, as normas
podem possuir eficácia plena, e podem apresentar, conforme a hipótese, eficácia contida (ou restringível)
ou limitada.
O que significa os efeitos negativo e positivo das normas constitucionais de direitos fundamentais? O efeito
positivo diz respeito ao fato de que, pelo simples fato de surgir uma nova Constituição, ela revoga tudo do
ordenamento anterior que for contrário a ela. As normas constitucionais têm, assim, efeitos positivos, no
sentido de proativo, pois revogam (não recepcionam) tudo do ordenamento anterior que for contrário a elas.
Já o efeito negativo, por sua vez, tem o sentido de vedar/negar ao legislador ordinário a possibilidade de
produzir normas infraconstitucionais contrárias a ela (norma constitucional); e, acaso o poder legiferante
fizer, o judiciário, entendendo que houve contrariedade, extirpa a norma do ordenamento jurídico por
intermédio do controle de constitucionalidade.
direitos foi baseada também nos tratados internacionais celebrados pelo Brasil. Dessa forma, ela introduziu
o mais extenso rol de direitos de diversas espécies, incluindo direitos civis, políticos, econômicos, sociais e
culturais, além de prever várias garantias constitucionais.
Ademais, o art. 5°, §2°, da CRFB/88 prevê o princípio da não exaustividade dos direitos
fundamentais, ou seja, que o rol desses direitos não é taxativo, ao afirmar que os direitos e garantias
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expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes: i) do regime e dos princípios por ela adotados
e ii) dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
As dimensões ou gerações dos direitos humanos são cobrados com frequência nos Concursos
Públicos. O tema foi apresentado pela primeira vez por Karel Vasak, em sua forma clássica chamada de
Gerações dos Direitos Humanos, desdobrando-se em 1ª, 2ª e 3ª gerações.
Trata-se de classificação dos direitos fundamentais
45119 que tem como critério o contexto histórico em
Direitos fundamentais são indivisíveis. Possuem relação entre si de fortalecimento mútuo e não de
exclusão mútua. O surgimento de uma nova geração de direitos tem o viés de fortalecer a geração já
existente. Ex.: direito à educação fortalece o direito de liberdade de expressão.
Estão relacionados à luta pela liberdade e segurança diante do Estado. Trata-se de impor ao Estado
obrigações de não-fazer (absenteísmo estatal) e se relacionam às pessoas, individualmente. Ex: propriedade,
igualdade formal (perante a lei), liberdade de crença, de manifestação de pensamento, direito à vida etc.
Obs.1: são chamados também de direitos negativos ou direitos de defesa.
Obs.2: o fundamento dos direitos de 1ª geração/dimensão é a IGUALDADE FORMAL.
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São os direitos de grupos sociais menos favorecidos, e que impõem ao Estado uma obrigação de
fazer, de prestar (por isso são chamados de direitos prestacionais). Buscam viabilizar, através do Estado, a
satisfação das necessidades básicas dos indivíduos como forma de lhes proporcionar uma vida digna. Ex.:
saúde, educação, moradia, segurança pública.
Observação: A teoria da reserva do possível é uma limitação fática e jurídica oponível à realização dos direitos
fundamentais, sobretudo os de cunho prestacional. Como é cediço, o Estado não possui recursos materiais
ilimitados, o que leva os administradores a realizarem45119
escolhas trágicas, alocando esses recursos em ações
prioritárias. O limite da reserva do possível é o mínimo existencial, núcleo da dignidade da pessoa humana.
Nesse contexto, a reserva do possível deve ser analisada sob três aspectos:
Contudo, conforme reiterada jurisprudência do STF, o fundamento da reserva do possível pelo Estado não
é tese apta a fundamentar a não execução de políticas públicas. Com efeito, prepondera-se a tese do
mínimo existencial. A exemplo, é a ADPF de n° 347 que, em seu bojo, aplicou a tese do estado de coisas
inconstitucional em razão da massiva violação de direitos fundamentais em seu sentido objetivo.
Inclusive, o STF no tema 365 da repercussão geral fixou a seguinte tese: “Considerando que é dever do
Estado, imposto pelo sistema normativo, manter em seus presídios os padrões mínimos de humanidade
previsto no ordenamento jurídico, é de sua responsabilidade, nos termos do art. 37, §6°, da Constituição
Federal, a obrigação de ressarcir os danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos detentos em
decorrência da falta de ou insuficiência das condições legais de encarceramento” (RE 580.252, 16.02.2017).
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Assim, a Corte entendeu que não sendo assegurado o mínimo existencial, não se poderia sustentar a
aplicação da cláusula de reserva financeira do possível para o Estado deixar de indenizar.
de vida dos cidadãos. São direitos transindividuais, isto é, direitos que são de várias pessoas, mas não
pertencem a ninguém isoladamente. Transcendem o indivíduo isoladamente considerado. Necessidade de
preservacionismo ambiental e as dificuldades para proteção dos consumidores. Possuem caráter indivisível
e são titularizados por toda a coletividade. Ex.: direito ao meio ambiente.
São também conhecidos como:
● DIREITOS DE FRATERNIDADE
● Direitos metaindividuais (estão além do indivíduo)
● Direitos supraindividuais (estão acima do indivíduo isoladamente considerado).
Vamos esquematizar?
Direitos de 1ª Direitos de 2ª Direitos de 3ª
GERAÇÃO/DIMENSÃO GERAÇÃO/DIMENSÃO GERAÇÃO/DIMENSÃO
Surgem com revoluções Surgem no final do século XIX e 2ª metade do séc. XX, no pós 2ª
CONTEXTO liberais, burguesas, diante do início do século XX, diante do Guerra, ligados aos
HISTÓRICO nascimento do fenômeno do movimentos de melhoria da
constitucionalismo liberal. – constitucionalismo social. qualidade de vida dos cidadãos
Séc. XIX.
137
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Há ainda quem aponte outras gerações apesar de crítica de parcela da doutrina (Ingo Salert), pois
seriam direitos já existentes aplicados, hoje, a um novo contexto social, diante da evolução da sociedade.
Ex.: questões de bioética trabalham com direitos básicos como direito à integridade, ao próprio corpo e
dignidade.
Contudo, veja o quadro sinóptico – Segundo Paulo Bonavides:
138
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(Mazzuoli, 2018)
● Historicidade: o que se entende por direitos fundamentais varia de acordo com o momento histórico,
45119
não são conceitos herméticos e fechados, variando no tempo e no espaço. Emergem progressivamente
das lutas que o homem trava por sua própria emancipação.
● Inalienabilidade: são direitos sem conteúdo econômico patrimonial, não podem ser comercializados ou
permutados.
● Imprescritibilidade:
45119 são sempre exigíveis, ainda que não exercidos.
● Irrenunciabilidade: o indivíduo pode não exercer os seus direitos, mas não pode renunciá-los, de modo
geral. OBS: O STF admite, excepcionalmente, a renúncia temporária aos direitos que não ferem o núcleo
da dignidade da pessoa humana, como no caso de participação em reality show.
● Relatividade: não são direitos absolutos. Se houver um choque entre os direitos fundamentais, serão
resolvidos por um juízo de ponderação à luz da razoabilidade e da concordância prática ou harmonização
levando em consideração a regra da máxima observância dos direitos fundamentais envolvidos
conjugando-a com a sua mínima restrição (limitabilidade).
139
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- Proporcionalidade;
- Generalidade e abstração;
- Proteção do núcleo essencial.
A teoria dos limites dos limites (Schranhen- Schranken), ou seja, limites (com base em determinados
parâmetros) para a limitação (restrição) dos direitos fundamentais adota, portanto, critérios (limites) para
que tais limitações ocorram foram estabelecidos”.
45119
Por fim, os direitos fundamentais podem ser restringidos, em primeiro lugar, pela própria Constituição,
seja em nome de outros direitos fundamentais (a liberdade de expressão não inclui o direito de caluniar
alguém – cf. art. 5º, IV e X) seja para promover valores e interesses coletivos (a liberdade de ir e vir pode ser
limitada no estado de sítio – art. 139, I). Podem ser restringidos, também, pela lei, tanto em hipóteses nas
quais a Constituição expressamente preveja a limitação (a inviolabilidade das comunicações telefônicas pode
ser excepcionada por lei para fins de investigação criminal ou instrução processual penal – art. 5º, XII –, e a
liberdade de trabalho pode estar sujeita a qualificações impostas por lei) quanto com base nos limites
imanentes.
Obs. Embora haja alguns desses direitos que não necessariamente possam ser exercidos por todas as
pessoas. Os direitos políticos, por exemplo, em alguns casos pressupõem a condição de nacionalidade de um
país, de modo que estrangeiros não podem exercê-los plenamente.
140
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● Proibição de retrocesso: não se pode retroceder nos avanços históricos conquistados. Destaca-se que
há várias manifestações no STF sobre esse princípio, especialmente do Min. Celso de Mello, para quem
“o princípio da proibição do retrocesso impede, em tema de direitos fundamentais de caráter social,
que sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo cidadão ou pela formação social em que ele
vive.” (STF, ARE n.º 639.337 AgR/SP, 2.ª Turma, Rel. Min. Celso de Mello, j. 23.08.2011, DJe 15.09.2011.).
a) Dimensão subjetiva: os direitos fundamentais conferem aos seus titulares o poder de exigir algo, seja
ação ou omissão.
Ex.: omissão - respeitar a autonomia da vontade, sem interferir na religião, política, etc.
Ex.: ação - exigir do Estado uma atuação comissiva, exigir ações para garantir educação, saúde, etc.
b) Dimensão objetiva: os direitos fundamentais encarnam valores que permeiam toda a ordem jurídica,
condicionam e inspiram a interpretação e aplicação de outras normas (EFICÁCIA IRRADIANTE) e criam
dever geral de proteção sobre os bens salvaguardados. Assim, a dimensão objetiva dos direitos
fundamentais consiste em atribuir a estes importância máxima dentro do ordenamento jurídico: eles
são a base, o eixo axiológico de todo o ordenamento
45119 jurídico.
A dimensão objetiva atribui força aos direitos fundamentais, que passam a ser a diretriz para a
aplicação e interpretação das normas:
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· RE 160.222 – Entendeu que constitui constrangimento ilegal a revista íntima em mulheres em fábrica
de lingerie.
· RE 175.161 – Contrato de consórcio que prevê devolução nominal de valor já pago em caso de
desistência viola o devido processo legal substantivo - proporcionalidade e razoabilidade.
· RE 158.215 – Violação ao princípio do devido processo legal na hipótese de exclusão de associado de
cooperativa sem direito à defesa.
· RE 639.138 – É inconstitucional, por violação ao princípio da isonomia (art. 5º, I, da Constituição da
República), cláusula de contrato de previdência complementar que, ao prever regras distintas entre
homens e mulheres para cálculo e concessão de complementação de aposentadoria, estabelece
valor inferior do benefício para as mulheres, tendo em conta o seu menor tempo de contribuição.
· ADI 2572 – Constitucionalidade da reserva de vagas para pessoas obesas – O STF entendeu que não
há inconstitucionalidade material, tendo em vista que se trata de política inclusiva que não afronta
a liberdade de iniciativa, principalmente se considerada a eficácia horizontal dos direitos
fundamentais.
45119
● Diagonal: teoria desenvolvida por Sérgio Gamonal, e consiste na incidência e observância dos
direitos fundamentais nas relações privadas marcadas por desigualdade de forças, ante a
vulnerabilidade de uma das partes. Na hipótese, embora as partes teoricamente estejam em posição
equivalente (PARTICULAR X PARTICULAR), na prática há império do poder econômico, por exemplo,
nas relações envolvendo crianças, pessoas com deficiência, trabalhadores, consumidores etc. O TST
já adotou a eficácia diagonal em alguns julgados, inclusive.
142
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● Explícitos: são aqueles previstos expressamente no texto da Constituição Federal. Como exemplo,
os contidos no art. 5° da CF/88 e seus incisos, em especial os previstos no caput do mencionado
artigo, como a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
● Implícitos: o reconhecimento decorre de interpretação
45119
do 45119
texto da Lei. Isto se evidencia pela leitura
do art. 5º, § 2º, da CF/88, que reconhece a existência de outros direitos individuais "decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais de que a República
Federativa do Brasil seja parte".
● Eventual novo direito individual criado por meio de emenda constitucional é considerado cláusula
pétrea?
NÃO. Segundo Gilmar Mendes, deve-se ter em mente que as cláusulas pétreas “se fundamentam na
superioridade do poder constituinte originário sobre o de reforma”, de maneira que somente o primeiro
pode criar obstáculos à atuação do segundo. Não faz sentido, do ponto de vista lógico, permitir que o poder
reformador crie limites invencíveis a si mesmo.
Assim, conclui Gilmar Mendes que “não é cabível que o poder de reforma crie cláusulas pétreas.
Apenas o poder constituinte originário pode fazê-lo”. Caso EC crie um novo direito fundamental, este não
será cláusula pétrea.
É preciso distinguir, contudo, a situação em que uma EC apenas especifica, detalha ou incrementa
um direito fundamental já criado, sem inovar no rol de direitos. Nesse caso, ainda que introduzida por EC, a
novidade é considerada cláusula pétrea. Para Gilmar Mendes “é o que se deu, por exemplo, com o direito à
prestação jurisdicional célere somado ao rol do art. 5º da Constituição pela EC 45/04. Esse direito já existia,
como elemento necessário do direito de acesso à justiça – que há de ser ágil para ser efetiva – e do princípio
do devido processo legal, ambos assentados pelo constituinte originário”.
143
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2.7 Destinatários
Os destinatários das normas dos direitos individuais, que são os direitos fundamentais, são os seres
humanos, os indivíduos. Isso porque os direitos fundamentais surgiram com o intuito de proteção do
indivíduo em face das arbitrariedades do Estado. Segundo dispõe o art. 5º, caput, da CF/88 são: os brasileiros
e os estrangeiros residentes no Brasil.
● E os estrangeiros não residentes no Brasil que apenas se encontram em trânsito no solo nacional?
R.: Para a doutrina, os estrangeiros não residentes no Brasil também são destinatários de direitos
fundamentais conforme interpretação sistemática/ extensiva. Há, portanto, direitos que se asseguram a
todos, independentemente da nacionalidade do indivíduo, porquanto são considerados emanações
necessárias do princípio da dignidade da pessoa humana.
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Atenção (1): existem direitos fundamentais catalogados na CF que são concebidos especificamente
para as pessoas jurídicas. – art. 5º, XIX, XXI, etc.
Atenção (2): pessoas jurídicas de direito público, apesar de integrarem o Estado (polo passivo dos
direitos fundamentais), gozam de direitos fundamentais, desde que compatíveis com a sua condição.
Obs.1: princípio da indivisibilidade - os direitos das diferentes gerações não se excluem, na verdade,
se interpenetram, sofrendo influência mútua. Ou seja, uma geração fortalece o advento da outra. Isto porque
compõem um conjunto único de direitos que se relacionam entre si de forma harmônica. De acordo
45119
com
este princípio, todos os direitos humanos devem contar com a mesma proteção jurídica.
Obs.2: não há hierarquia entre os direitos fundamentais, pois a Constituição brasileira não permite
hierarquização prévia e abstrata entre os direitos fundamentais.
45119
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Conforme ensina André de Carvalho Ramos, a abertura dos direitos humanos pode se dar de forma
nacional ou internacional. A abertura internacional ocorre quando são editados novos tratados ou mesmo
com os avanços na proteção internacional dos direitos humanos. Por sua vez, a abertura nacional ocorre
através da inclusão de novos direitos fundamentais em nosso ordenamento e também com a interpretação
evolutiva e ampliativa dos tribunais nacionais.
A cláusula materialmente aberta prevista no §2º do art. 5º da CF/88 decorre do reconhecimento da
dignidade da pessoa humana como fundamento do Estado (art. 1º, III). A consequência disso é que o rol de
direitos fundamentais é meramente exemplificativo.
45119
O art. 5º, §3º da CF/88 foi introduzido pela EC 45/2004 (conhecida como reforma do Poder
Judiciário).
Esse dispositivo prevê que os tratados internacionais sobre direitos humanos que observarem o
procedimento de incorporação análogo ao das Emendas Constitucionais terão paridade normativa, isto é:
terão status normativo de emendas constitucionais.
Que procedimento de incorporação é esse? 45119
RESUMINDO:
Tratado internacional SOBRE DIREITOS
HUMANOS, aprovado pelo mesmo rito da
Emenda Constitucional (art. 5º, §3º) Status normativo de emenda constitucional.
146
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45119
A. DIREITO À VIDA:
CRFB, Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
Está relacionado à existência física de um ser humano. O art. 5º, caput, da CF assegura a
inviolabilidade do direito à vida em relação ao Estado e em relação aos demais indivíduos.
147
RETA FINAL
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1. Direito à integridade física: direito à saúde, vedação de pena de morte, proibição do aborto,
etc.;
2. Direito a condições materiais e espirituais mínimas necessárias a uma existência digna.
1. Acepção positiva: está associada ao direito à existência digna, que assegura o acesso a bens
e utilidades indispensáveis para isso. Ela não se limita ao mínimo existencial, pois garante
também pretensões de caráter material e jurídico, de modo que os poderes públicos devem
adotar medidas positivas de proteção da vida, de amparo material e de emissão de normas
protetivas;
2. Acepção negativa: é o direito assegurado a todo e qualquer ser humano de permanecer vivo.
É um direito de defesa e um pressuposto
45119 elementar para o exercício de todos os demais
direitos. Uma decorrência dessa acepção é a proibição da pena de morte (art. 5º, XLVII, “a”,
da CF).
A ponderação de direitos depende de uma análise no caso concreto (nunca em abstrato) que deve
sempre levar em consideração o princípio pro homine (pro persona), em que o intérprete prefira a
interpretação dos direitos humanos que seja mais favorável à pessoa e a máxima efetividade, de modo que
se alcance o maior proveito possível para o titular, com o menor sacrifício aos titulares dos demais direitos.
Contudo, considerando-se que são inevitáveis algumas colisões de direitos fundamentais, é possível
que estes sofram limitações diante de outros que sejam igualmente relevantes. Assim, de forma excepcional,
pode haver a restrição ou mesmo a derrogação de alguns direitos. Exemplo de que o direito à vida não é um
direito absoluto: existência da pena de morte no ordenamento jurídico brasileiro.
Obs. vale ressaltar que nem mesmo o poder constituinte originário poderia ampliar as
hipóteses de pena de morte diante da observância do princípio da continuidade e proibição do retrocesso.
Segundo o professor Pedro Lenza: Desacordos morais razoáveis surgem em razão de inexistência de consenso
em relação a temas polêmicos e com entendimentos antagônicos e diametralmente opostos e que se fundam
em conclusão racional, como, por exemplo, a interrupção da gravidez. Assumir uma das posições significa
148
RETA FINAL
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negar a outra, e essa realidade é marca de uma sociedade plural, característica das democracias modernas
(posições religiosas, morais, filosóficas etc.).
Nessas matérias, como regra geral, o papel do direito e do Estado deve ser o de assegurar que cada pessoa
possa viver sua autonomia da vontade e suas crenças. Exemplos: interrupção de gestação, pesquisas com
células-tronco embrionárias, eutanásia/ortotanásia, uniões homoafetivas, etc.
órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento depois da morte desde que se
constate a morte encefálica. Logo, para a lei, o fim da vida dar-se-ia com a morte cerebral, razão pela qual é
nessa linha que o conceito de vida está ligado ao surgimento do cérebro).
Conclusão: O art. 5° da Lei nº 11.105/2005 (Lei de Biossegurança) é plenamente constitucional, não
havendo qualquer violação ao direito à vida. Isso porque o art. 5° toma os cuidados necessários, usa
efetivamente as pesquisas científicas para fins terapêuticos, etc., sem trazer nenhum efeito deletério ou
coisificante para a pessoa que forneceu o material biológico.
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126 e 128, I e II, todos do Código Penal. Em outras palavras: o STF excluiu qualquer interpretação no sentido
de que a interrupção da gestação de feto anencéfalo pudesse ser catalogada como aborto. Justamente por
isso fala-se que não se trata de aborto, mas sim de uma interrupção da gestação em razão da inexistência
de uma vida possível. Os fundamentos foram, dentre outros, direito à dignidade da pessoa humana, à
liberdade no campo sexual, à autonomia, à privacidade, à integridade física, psicológica e moral e à saúde.
Distanásia: também chamada de obstinação terapêutica ou medical futility, trata-se de conduta onde
não se prolonga a vida propriamente dita, mas o processo de morrer. No Brasil, a exposição de motivos da
45119
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RETA FINAL
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Acrescente-se que a eutanásia ativa não se confunde com a eutanásia passiva. Esta última consiste
na omissão de um tratamento que poderia garantir a continuidade da vida ao passo que a primeira é a ação
deliberada de matar (seja ministrando medicamento ou suprimindo tratamento já iniciado).
Suicídio assistido: em algumas situações, a pessoa doente em estágio terminal quer pôr fim ao seu
sofrimento, contudo, em virtude das suas debilidades, não tem condições de o fazer sem auxílio.
Ortotanásia: é uma prática sensível ao processo de humanização da morte, consistindo em uma
aceitação desta, permitindo que ela siga seu curso. Visa aliviar as dores sem incorrer em prolongamentos
abusivos que imponham sofrimentos adicionais. Para a doutrina, seria uma forma de eutanásia ativa indireta
em que os mecanismos de sustentação artificial da vida são retirados ou de eutanásia passiva, onde não se
inicia uma ação médica. De acordo com Ingo Sarlet: “A ideia de bom senso, prudência e razoabilidade deve
ser considerada, deixando claro não haver, ao menos explicitamente, qualquer vedação constitucional ao
dito ‘direito de morrer com dignidade’ (...).”
B. DIREITO À IGUALDADE:
a) Concepções da igualdade:
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Certo é que, no atual Estado Democrático de Direito, deve-se buscar, não somente a igualdade formal
(consagrada no liberalismo clássico), mas, principalmente, a igualdade material. Isso porque, no Estado social
45119
ativo, efetivador dos direitos humanos, imagina-se uma igualdade mais real perante os bens da vida, diversa
daquela apenas formalizada em face da lei.
Vejamos alguns exemplos de ações afirmativas (discriminações positivas/medidas de compensação)
reconhecidas pelo STF:
◘ Cotas raciais:
O STF, na ADPF 186, considerou constitucional a política de cotas étnico-raciais para seleção de
estudantes da Universidade de Brasília (UnB). Além
45119 disso, o STF declarou o reconhecimento da
proclamação na Constituição da igualdade material, sendo que, para assegurá-la, “o Estado poderia lançar
mão de políticas de cunho universalista — a abranger número indeterminado de indivíduos — mediante
ações de natureza estrutural; ou de ações afirmativas — a atingir grupos sociais determinados — por meio
da atribuição de certas vantagens, por tempo limitado, para permitir a suplantação de desigualdades
ocasionadas por situações históricas particulares.
Ainda, o STF declarou que “é constitucional a reserva de 20% das vagas oferecidas nos concursos
públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública
direta e indireta. É legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de
heteroidentificação, desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditório e a
ampla defesa”. STF. Plenário. ADC 41/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/6/2017 (Info 868).
152
RETA FINAL
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O STF julgou procedente a ADC 19, para declarar a constitucionalidade dos arts. 1.º, 33 e 41 da Lei n.
11.340/2006 (Lei Maria da Penha), tendo por fundamento o princípio da igualdade, bem como o combate ao
desprezo às famílias, sendo considerada a mulher a sua célula básica.
Na mesma assentada, por maioria e nos termos do voto do Relator, o STF julgou procedente a ADI
4.424, para, dando interpretação conforme os arts. 12, I, e 16, ambos da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da
Penha), declarar a natureza incondicionada da ação penal em caso de crime de lesão, pouco importando a
extensão desta, praticado contra a mulher no ambiente doméstico.
Análise pelo STF em ADPF (PSOL X União e Estados) – Concessão parcial de liminar para:
● Obrigar a União a liberar o saldo acumulado no FUNPEN;
● Implementação pelos juízes e Tribunais da audiência de custódia, no máximo em 90 (noventa) dias.
● 45119
3
Para aprofundamento do julgado: http://www.dizerodireito.com.br/2015/09/entenda-decisao-do-stf-sobre-
o-sistema.html
153
RETA FINAL
SEMANA 01/12
Ainda sobre a violação de direitos humanos e o estado de coisas inconstitucional, o STF decidiu (ADPF
976 MC-Ref./DF, Info 1105), em relação à população em situação de rua, que: estão presentes os
pressupostos necessários para a concessão da medida cautelar (fumaça do bom direito e perigo da demora
na efetivação de uma decisão judicial), eis que: (i) a discussão acerca das condições precárias de vida da
população em situação de rua no Brasil demanda uma reestruturação institucional que decorre de um quadro
grave e urgente de desrespeito a direitos humanos fundamentais; e (ii) a violação maciça de direitos humanos
— a indicar um potencial estado de coisas inconstitucional — impele o Poder Judiciário a intervir, mediar e
promover esforços para estabelecer uma estrutura adequada de enfrentamento.
Nesse sentido, a Corte afirmou que atenção à população em situação de rua deve ser realizada com
o intuito de: (i) evitar a entrada nas ruas; (ii) garantir direitos enquanto o indivíduo está em situação de rua;
e (iii) promover condições para a saída das ruas.
No âmbito da medida cautelar em análise, também se consideraram, entre outros fatores: (i) os
desafios do retorno da população em situação de rua à educação escolar, que vão além da falta de acesso a
programas; (ii) os obstáculos relacionados à reinserção no mercado de trabalho; (iii) a “aporofobia”,
entendida como violadora dos objetivos fundamentais, em especial o relacionado ao combate a todas as
formas de discriminação (CF/1988, art. 3º, IV); (iv) o direito à identidade além do mero registro; (v) o
acolhimento institucional e o direito fundamental à moradia; (vi) a presença de atos comissivos e omissivos,
imputados a agentes públicos e pessoas privadas, que atentam flagrantemente contra a dignidade dessa
45119
população; (vii) a necessidade de medidas paliativas que impulsionem a construção de respostas estatais
duradouras; e (viii) a necessidade de elaboração de um estudo capaz de delinear todas as nuances que
permeiam o problema crônico social em debate, para evitar políticas desassociadas do espaço e do tempo
de aplicação.
Nesse contexto, os estados, o Distrito Federal e os municípios devem, de modo imediato, observar,
45119
Sistema prisional brasileiro: estado de coisas inconstitucional decorrente da violação grave e massiva
de direitos fundamentais - ADPF 347/DF (Info 1111, STF)
154
RETA FINAL
SEMANA 01/12
Ainda de acordo com o que decidiu a Corte, o CNJ realizará estudo e regulará a criação de número
de varas de execução penal proporcional ao número de varas criminais e ao quantitativo de presos.
A situação de grave violação em massa de direitos fundamentais dos presos enseja o reconhecimento
de um estado de coisas inconstitucional do sistema prisional brasileiro. A superação desse problema de
natureza estrutural exige do Poder Público a elaboração de um plano nacional e de planos locais que
prevejam um conjunto de medidas e a participação de diversas autoridades e entidades da sociedade.
Conforme ressaltou a Corte, a proteção dos direitos fundamentais é inerente à condição humana.
Assim, tem-se que tanto as normas constitucionais como os tratados internacionais de direitos humanos
de que o Brasil é parte proíbem a existência de penas cruéis, garantem ao preso o respeito à sua integridade
física e moral, bem como preveem que a pena será cumprida em estabelecimentos distintos de acordo com
a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado.
A LEP estabelece, em seus arts. 40, 41 e 126, devem ser asseguradas ao condenado assistência
material, jurídica, educacional, social, religiosa, além do acesso à saúde, aos alojamentos com ocupação e
dimensões adequadas, ao trabalho e ao estudo.
Assim, considerando que a superlotação dos presídios, o descontrole na entrada e as condições da
saída do sistema prisional, e a má qualidade das vagas disponibilizadas impedem a prestação de serviços
45119
bens essenciais que integram o mínimo existencial comprometem a capacidade do sistema em cumprir
seus fins de ressocialização e de funcionar a favor45119da segurança pública, a ADPF 347/DF foi julgada
parcialmente procedente para reconhecer o estado de coisas inconstitucional do sistema carcerário
brasileiro e determinar outras medidas, como a realização (preferencialmente presencial) das audiências
de custódia de modo a viabilizar o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária em até 24
horas contadas do momento da prisão; que seja fundamentada a não aplicação de medidas cautelares e
penas alternativas à prisão, sempre que possível, tendo em conta o quadro dramático do sistema
carcerário; a liberação e o não contingenciamento dos recursos do FUNPEN; e a elaboração de plano
nacional e de planos estaduais e distrital para a superação do estado de coisas inconstitucional, com
indicadores que permitam acompanhar sua implementação.
IMPORTANTE: Transexuais e travestis com identificação com gênero feminino poderão optar por cumprir
pena em presídio feminino ou masculino. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF)
527: De acordo com Barroso, e mencionando os Princípios de Yogyakarta (número 9), no Brasil, o direito
das transexuais femininas e travestis ao cumprimento de pena em condições compatíveis com a sua
identidade de gênero decorre, em especial, dos princípios constitucionais do direito à dignidade humana,
à autonomia, à liberdade, à igualdade, à saúde, e da vedação à tortura e ao tratamento degradante e
desumano. Decorre também da jurisprudência consolidada no STF no sentido de reconhecer o direito desses
grupos a viver de acordo com a sua identidade de gênero e a obter tratamento social compatível com ela.
Fonte: Site do STF
D. DIREITO À SAÚDE
155
RETA FINAL
SEMANA 01/12
A saúde é direito de todos e dever do Estado (art. 196 da CF/88), sendo assegurada por meio de
políticas sociais e econômicas que busquem:
● A redução do risco de doença e de outros agravos; e
● O acesso universal e igualitário às ações e serviços voltados à sua promoção, proteção e
recuperação.
Quando se fala na dimensão objetiva do direito à saúde, isso significa que, independentemente de
um caso concreto, existe um dever jurídico geral do Poder Público de concretizar medidas para garantir as
políticas públicas de saúde.
De acordo com o autor Lenza, assim como os demais direitos sociais, tal direito possui duas vertentes.
Uma positiva, onde se fomenta um Estado prestacionista para implementar o direito social; e outra negativa,
onde o Estado ou particular devem se abster da prática de atos que sejam prejudiciais a terceiros.
Cuidar da saúde da população é uma competência COMUM que deve ser exercida por todos os entes
federados (CRFB, Art. 23, II) de forma que abrange, obviamente, adotar medidas para salvar vidas e garantir
a higidez física das pessoas ameaçadas ou acometidas pelo novo coronavírus (Covid-19).
Nesse sentido, considerando a imensa relevância sobre o tema, é importantíssimo ficar atento às
jurisprudências pertinentes:
◘ São atípicas as condutas de submeter-se à vacinação
45119 contra covid-19 em local diverso do agendado
e/ou com aplicação de imunizante diverso do reservado e/ou de submeter-se à vacinação sem a
realização de agendamento. STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 160.947-CE, Rel. Min. João Otávio de Noronha,
julgado em 27/09/2022 (Info 752) - (Caso Wesley Safadão)
◘ Em ação que pretende o fornecimento de medicamento registrado na ANVISA, ainda que não
incorporado em atos normativos do SUS, é prescindível a inclusão da União no polo passivo da
demanda. STJ. RMS 68.602-GO, Rel. Min. Assusete Magalhães, Segunda Turma, por unanimidade,
julgado em 26/04/2022, DJe 29/04/2022. (Info 734)
◘ Não se pode utilizar verbas do Fundeb para combater à pandemia da Covid-19. STF. Plenário. ADI
45119
6490/PI, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 18/2/2022 (Info 1044).
SEMANA 01/12
◘ Poder Público pode determinar a vacinação compulsória contra a Covid-19 (o que é diferente de
vacinação forçada) 45119
A tese fixada foi a seguinte: (A) A vacinação compulsória não significa vacinação
forçada, por exigir sempre o consentimento do usuário, podendo, contudo, ser
implementada por meio de medidas indiretas, as quais compreendem, dentre
outras, a restrição ao exercício de certas atividades ou à frequência de
determinados lugares, desde que previstas em lei, ou dela decorrentes, e (i) tenham
como base evidências científicas e análises estratégicas pertinentes, (ii) venham
acompanhadas de ampla informação sobre a eficácia, segurança e contraindicações
dos imunizantes, (iii) respeitem a dignidade humana e os direitos fundamentais das
pessoas; (iv) atendam aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade, e (v)
sejam as vacinas distribuídas45119
universal e gratuitamente; e (B) tais medidas, com as
limitações acima expostas, podem ser implementadas tanto pela União como pelos
Estados, Distrito Federal e Municípios, respeitadas as respectivas esferas de
competência. STF. Plenário. ADI 6586, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
17/12/2020.
◘ É ilegítima a recusa dos pais à vacinação compulsória de filho menor por motivo de convicção filosófica
◘ STF determinou que governo deveria detalhar a ordem de preferência na vacinação dentro dos grupos
prioritários (quem deveria ser vacinado primeiro dentro do grupo prioritário). STF. Plenário. ADPF 754
TPI-segunda-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 27/2/2021 (Info 1007).
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RETA FINAL
SEMANA 01/12
45119
◘ É dever do Poder Público elaborar e implementar plano para o enfrentamento da pandemia COVID-
19 nas comunidades quilombolas. STF. Plenário. ADPF 742/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do
acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 24/2/2021 (Info 1006).
◘ STF determina que governo federal adote medidas para conter o avanço da Covid-19 entre indígenas.
STF. Plenário. ADPF 709 Ref-MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3 e 5/8/2020 (Info 985).
Ademais, o Poder Judiciário pode determinar, ante injustificável inércia estatal, que o Poder
Executivo adote medidas necessárias à concretização de direitos constitucionais dos indígenas: Não
procede o argumento de ingerência indevida do Poder Judiciário nas diretrizes de políticas públicas,
notadamente quando se cuida de reconhecer a omissão estatal na adoção de providências específicas (arts.
26 e 27 da Lei n. 6.001/1973) para a concretização de direitos constitucionais dos indígenas (art. 231 da
CF/1988). Com efeito, segundo a jurisprudência do STJ, quando configurada hipótese de injustificável inércia
estatal e não houver comprovação objetiva da incapacidade econômico-financeira do ente público, o Poder
Judiciário pode determinar que o Poder Executivo adote medidas necessárias ao cumprimento dos direitos
e garantias fundamentais, nos termos previstos no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal. STJ. REsp
1.623.873-SE, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 26/04/2022, DJe
28/04/2022. (Info 734) 45119
E. DIREITO À INTEGRIDADE
A Carta Magna proíbe a prática de lesões, psíquica e moral (provocação de dor interna e sofrimento).
Ademais, veda a prática da tortura, bem como qualquer tipo de comercialização de órgãos, tecidos e
substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento (art. 199, §4º).
F. PROIBIÇÃO DA TORTURA
● Não esquecer que parcela da doutrina defende que o direito de não ser torturado é um exemplo de
direito fundamental absoluto, sendo uma exceção à característica da relatividade dos direitos
fundamentais.
● Uso de algemas e a Súmula Vinculante 11: “o uso legítimo de algemas não é arbitrário, sendo de
natureza excepcional, a ser adotado nos casos e com as finalidades de impedir, prevenir ou dificultar a
fuga ou reação indevida do preso, desde que haja fundada suspeita ou justificado receio de que tanto
venha a ocorrer, e para evitar agressão do preso contra os próprios policiais, contra terceiros ou contra
si mesmo. O emprego dessa medida tem como balizamento jurídico necessário os princípios da
158
RETA FINAL
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Art. 5°, X, da CRFB - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação;
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● Privacidade e sigilo bancário e fiscal: o STF admite a quebra do sigilo pelo Judiciário ou por CPI (federal
ou estadual, mas não municipal), mas resiste a que o MP possa requisitá-la diretamente, por falta de
autorização legal específica, salvo a hipótese de existir procedimento administrativo investigando
utilização indevida de patrimônio público.
45119 Dados obtidos com a quebra de sigilo bancário não podem ser divulgados
abertamente em site oficial. Os dados obtidos por meio da quebra dos sigilos
bancário, telefônico e fiscal devem ser mantidos sob reserva. Assim, a página do
Senado Federal na internet não pode divulgar os dados obtidos por meio da quebra
de sigilo determinada por comissão parlamentar de inquérito (CPI). STF. Plenário.
MS 25940, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/4/2018 (Info 899).
SEMANA 01/12
H. INVIOLABILIDADE DE DOMICÍLIO:
Art. 5°, XI, da CRFB - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial
STF - “Para os fins da proteção jurídica a que se refere o art. 5.º, XI, da Constituição
45119
Caiu em prova DISCURSIVA Delegado PC-RN/2021 da banca FGV! O Delegado de Polícia da Circunscrição XX
recebeu uma informação anônima, desacompanhada de qualquer elemento probatório, no sentido de que
um crime de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes estava sendo praticado no interior do escritório de
um profissional liberal.
Com base exclusiva nessa informação, compareceu ao local, arrombou a porta e constatou a existência de
uma grande quantidade de substâncias
45119
entorpecentes no escritório, bem como que o seu proprietário estava
vendendo parte desse entorpecente a um terceiro. Em razão desses fatos, prendeu ambos.
À luz do direito fundamental à inviolabilidade do domicílio, esclareça se foi correta a ação do delegado de
polícia, abordando os seguintes tópicos:
1 - O conceito constitucional de casa é extensivo a um escritório profissional?
2 - O ingresso na casa, sem consentimento do morador ou ordem judicial, é justificado com a só descoberta,
após esse ingresso, de uma situação de flagrante delito?
161
RETA FINAL
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Obs. A temática será abordada pelo DD em profundidade em estudo específico no tema prisões.
▪ O estabelecimento industrial
▪ Clube recreativo
▪ Quarto de hotel
▪ Quarto de motel
▪ Automóveis quando usados para fins de moradia
▪ Barcos quando usados para fins de moradia.
Atenção:
O STJ possui jurisprudência entendendo que a habitação em prédio abandonado
de escola municipal pode caracterizar
45119 o conceito de domicílio em que incide a
proteção disposta no art. 5º, inciso XI da Constituição Federal (AgRg no HC 712.529-
SE).
▪ Bens públicos de uso especial não abertos ao público como gabinetes de prefeitos, gabinete do
delegado de polícia
45119
Inf. 549 do STJ (2014): Afirmou que o gabinete do delegado de polícia encontra-se
inserido no conceito de “casa” previsto no inciso III do §4º do art. 150 do CP. Logo,
invasão ao seu gabinete constitui crime de violação de domicílio.
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C) Direito às Liberdades
163
RETA FINAL
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● “Hate speech” (discurso de ódio) – a liberdade de expressão não é absoluta. O modelo, portanto, de
solução é a ponderação, pautada pelo princípio da proporcionalidade. O STF, embora adote a tese
preferencial pela liberdade de expressão, certo é que não se trata de direito absolutamente infenso a
limites e restrições, desde que eventual restrição tenha caráter excepcional, seja promovido por lei e/ou
decisão judicial e tenha por fundamento a salvaguarda da dignidade da pessoa humana (que aqui se
opera como limite e aos limites de direitos fundamentais) e de direitos e bens jurídicos-constitucionais
individuais e coletivos fundamentais observados o critério da proporcionalidade e da preservação do
núcleo essencial dos direitos em conflito - LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, pg. 1183.
● Marcha da Maconha (ADPF 187) – as marchas da maconha vinham sendo reprimidas pela polícia, sob a
ótica de que elas geravam apologia ao crime, vez que o uso de maconha é criminalizado. Este
entendimento viola a liberdade de expressão, porque não se confunde a apologia à droga e o seu uso
45119
● Delação anônima (Inq. 1957) – o STF já decidiu não ser possível a utilização da denúncia anônima, pura
e simples, para a instauração de procedimento investigatório, por violar a vedação ao anonimato,
prevista no art. 5.º, IV, da CRFB. Nada impede, contudo, que o Poder Público provocado por delação
anônima adote medidas informais - com prudência e discrição - destinadas a apurar, previamente, em
averiguação sumária, a possível ocorrência de eventual situação de ilicitude penal, desde que o faça com
o objetivo de conferir a verossimilhança dos fatos nela denunciados, em ordem a promover, então, em
caso positivo, a formal instauração da persecutio criminis, mantendo-se, assim, completa desvinculação
desse procedimento estatal em relação às peças apócrifas”.
Tema 838 da repercussão geral, fixou as seguintes teses: “(i) os requisitos do edital
para o ingresso em cargo, emprego ou função pública devem ter por fundamento
lei em sentido formal e material; (ii) os editais de concurso público não podem
164
RETA FINAL
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● A liberdade de expressão existe para a manifestação de opiniões contrárias, jocosas, satíricas e até
mesmo errôneas, mas não para opiniões criminosas, discurso de ódio ou atentados contra o Estado
Democrático de Direito e a democracia. STF. AP 1044/DF, relator Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 20.4.2022 (Info 1051).
45119
Obs.: o art. 5º, VII, da CF/88 também assegura, nos termos da lei, a prestação de assistência
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva.
165
RETA FINAL
SEMANA 01/12
A incitação de ódio público feita por líder religioso contra outras religiões pode
configurar o crime de racismo, pois não está protegida pela cláusula constitucional
que assegura a liberdade de expressão. STF. 2ª Turma. RHC 146303/RJ, rel. Min.
Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/3/2018 (Info 893).
#DICA DD: Não confundir- o STF entendeu que a CF/88 não proíbe que sejam
oferecidas aulas de uma religião específica, que ensine os dogmas ou valores
daquela religião. Não há qualquer problema nisso, desde que se garanta
oportunidade a todas as doutrinas religiosas. STF. Plenário. ADI 4439/DF, rel. orig.
Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
27/9/2017 (Info 879). Lembre-se que a “neutralidade do ensino religioso não
existe. O que deve existir é o respeito às diferenças”.
166
RETA FINAL
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- Dignidade como heteronomia: envolve a imposição de padrões sociais externos ao indivíduo, o que,
no caso concreto, significa a proteção objetiva da vida humana, mesmo contra a vontade do titular
do direito.
As acepções se complementam, mas é possível afirmar a prevalência da dignidade
45119 como
autonomia, o que significa dizer que devem prevalecer as escolhas individuais (LENZA, Pedro. Direito
constitucional esquematizado, pg. 1195). Assim, a escolha da pessoa - e aqui inclui a recusa pela transfusão
de sangue - é válida desde que o consentimento seja dado pelo titular do direito, manifestado de forma
válida e inequívoca por pessoa capaz e com discernimento, ou seja, consentimento inequívoco,
personalíssimo, expresso e atual. Ademais, deverá também ser livre e informado.
Apesar do tema ser polêmico, acerca de necessidade de transfusão de sangue em menores com risco
de vida, como não se pode exigir que exprimem consentimento, o médico deverá realizar todos os
tratamentos médicos alternativos sem sangue e, se mesmo assim não resolver, diante da vida ou morte do
menor, poderá então realizar a transfusão de sangue não respondendo o médico por constrangimento ilegal.
III. LIBERDADE DE ATIVIDADE INTELECTUAL, ARTÍSTICA, CIENTÍFICA OU DE COMUNICAÇÃO – ART. 5º, IX,
CF/88
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Cuidado - a jurisprudência do STF admite a regulamentação por lei de atividades que possam trazer danos a
terceiros, atividades profissionais cuja falta de técnica traga o risco de “atingir negativamente a esfera pública
de outros indivíduos ou de valores ou interesses da própria sociedade” (ADI 3.870, 2019). Nessas situações,
a lei poderá disciplinar, restritivamente, impondo regras ao exercício da profissão.
45119
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STF determina que Ministério da Saúde faça a divulgação integral de dados sobre
Covid-19. STF. Plenário. ADPF 690 MC-Ref/DF, ADPF 691 MC-Ref/DF e ADPF 692
MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2020 (Info 1000).
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Mesmo sentido: Cabe reclamação contra decisão judicial que determina retirada
de matéria jornalística de blog. STF. 1ª Turma. Rcl 28747/PR, Rel. Min. Alexandre
de Moraes, red. p/ ac. Min. Luiz Fux, julgado em 5/6/2018 (Info 905). Sobre o
mesmo tema: STF. 1ª Turma. Rcl 22328/RJ, Rel. Min.
45119Roberto Barroso, julgado em
SEMANA 01/12
direito ao esquecimento sempre dependeu da análise do caso concreto e da ponderação dos interesses
envolvidos.
Vale ressaltar, ainda, que o STJ possui o entendimento no sentido de que, quando os registros da
folha de antecedentes do réu são muito antigos, admite-se o afastamento de sua análise desfavorável, em
aplicação à teoria do direito ao esquecimento. Isso porque não se pode tornar perpétua a valoração negativa
dos antecedentes, nem perenizar o estigma de criminoso para fins de aplicação da reprimenda, pois a
transitoriedade é consectário natural da ordem das coisas. STJ. 6ª Turma. HC 452.570/PR, Rel. Min. Antonio
Saldanha Palheiro, julgado em 02/02/2021.
No entanto, o tema passou por uma EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL. Isso porque o STJ passou a
relativizar o direito ao esquecimento, ao passo que o STF passou a entender pela sua incompatibilidade
com a Constituição Federal. Confira: 45119
Também importante:
45119
Jurisprudências pertinentes:
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◘ Viola a liberdade de expressão a decisão de retirar da Netflix o especial de Natal do Porta dos Fundos
porque seu conteúdo satiriza crenças e valores do cristianismo: não encontra fundamento em uma
sociedade democrática e pluralista como a brasileira. STF. 2ª Turma. Rcl 38782/RJ, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 3/11/2020 (Info 998).
◘ A proibição da entrevista com Adélio Bispo, autor da facada contra Jair Bolsonaro, não significou
censura nem restrição indevida à liberdade de imprensa: A decisão judicial impediu a entrevista com o
objetivo de proteger as investigações e evitar possíveis prejuízos processuais, inclusive quanto ao direito
ao silêncio do investigado. Além disso, a decisão teve como finalidade proteger o próprio custodiado,
que autorizou a entrevista, mas cuja sanidade mental era discutível na época, tendo sido,
posteriormente, declarado inimputável em razão de “transtorno delirante persistente”. STF. 1ª Turma.
Rcl 32052 AgR/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
45119 em 14/4/2020 (Info 973).
45119
◘ Biografias não autorizadas: O STF entendeu na ADI 4815 que, para ser publicada uma biografia, NÃO é
necessária autorização prévia do indivíduo biografado, das demais pessoas retratadas, nem de seus
familiares, porque a autorização prévia seria uma forma de censura, incompatível com a liberdade de
expressão consagrada pela CF/88.
* ATENÇÃO: Embora exista a liberdade artística, o Poder Público poderá estabelecer faixas etárias
recomendadas, locais e horários para a apresentação. Ao mesmo tempo, lei federal deverá estabelecer meios
para que qualquer pessoa ou família possa defender-se de programações de rádio e televisão que atentem
contra os valores éticos vigentes (art. 220, §3º, I e II).
V. LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO:
É o direito de ir e vir, amparado por habeas corpus. A liberdade de locomoção no território nacional é
livre NOS TEMPOS DE PAZ.
Existem 4 hipóteses de exceção a liberdade de locomoção:
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RETA FINAL
SEMANA 01/12
(1) Em caso de prisão em flagrante ou prisão por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar (art. 5º, LXI,
CF/88);
(2) Durante o estado de defesa (art. 136, 3º, I, CF/88) o decreto poderá estabelecer restrição ao direito
de reunião, ainda que exercida no seio das associações;
(3) Durante o estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I,CF/88, poderão ser tomadas
contra as pessoas as medidas de obrigação de permanência em localidade determinada (art. 139, I,
CF/88); detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns (art. 139,
II, CF/88); suspensão da liberdade de reunião (art. 139, IV, CF/88);
(4) Declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira (hipóteses de
decretação de estado de sítio – art. 137, II, CF/88), a liberdade de locomoção também poderá ser
restringida ou suspensa (art. 138, caput, CF/88).
✓ Sem armas
✓ Em locais abertos ao público
✓ Dispensa autorização, mas deve haver aviso prévio aviso à autoridade competente
✓ Não pode frustrar outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local
O que se entende por aviso prévio para os fins do direito de reunião do art. 5º,
XVI, da CF/88? O STF fixou a seguinte tese: A exigência constitucional de aviso
45119
prévio relativamente ao direito de reunião é satisfeita com a veiculação de
informação que permita ao poder público zelar para que seu exercício se dê de
forma pacífica ou para que não frustre outra reunião no mesmo local. STF.
Plenário. RE 806339, Rel. para acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 14/12/2020
(Repercussão Geral – Tema 855).
O entendimento foi fixado porque não se pode exigir o aviso prévio como condicionante ao exercício
do direito de reunião.
SEMANA 01/12
∘ Desligar-se da associação;
∘ Autodissolução das associações.
Atenção (2):
● Associações são criadas independentemente de autorização, já as cooperativas devem ser criadas na
forma da lei, mas independem de autorização;
Atenção (3): A CF/88 veda qualquer interferência estatal no funcionamento das associações e cooperativas.
SEMANA 01/12
É garantido pela Constituição, mas não é absoluto, uma vez que a propriedade poderá ser
desapropriada. É necessário também que a propriedade cumpra sua função social, atendendo aos interesses
da coletividade e não apenas do proprietário.
● É garantido o direito de propriedade (art. 5º, XXII).
● A propriedade atenderá a sua função social (art. 5º, XXIII).
● A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por
interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos na
Constituição (art. 5º, XXIV).
● No caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular,
assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano (art. 5º, XXV).
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Caso o pedido de certidão não seja atendido, o remédio constitucional cabível será o mandado de
segurança e não o habeas data. O direito de certidão não é absoluto, pois pode ser negado em caso de o
sigilo ser imprescindível à segurança da sociedade ou do Estado.
X. INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO
A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito (art.
5º, XXXV, CF/88).
Não se confunde com o direito de petição, já que este consiste em um direito de participação política
que não demanda a demonstração de interesse processual ou lesão a direito pessoal.
Exceção à regra da inafastabilidade da jurisdição: O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à
disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em
lei (art. 217, §1º, da CF).
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1) Dimensão negativa: impede que sanções de natureza penal extrapolem o âmbito estritamente
pessoal do infrator, vedando a imposição de pena a terceiros;
2) Dimensão positiva: impõe o dever de expor circunstancialmente as condutas responsáveis pelo
ilícito, bem como de narrar com clareza o grau de participação dos acusados.
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● Plano legislativo: dirige-se ao legislador no momento da fixação dos limites mínimos e máximos da pena,
do regime de cumprimento e dos benefícios que podem ser concedidos ao infrator.
● Plano judicial: o magistrado, ao aplicar a pena, deve definir, fundamentadamente, a sua quantidade
conforme os parâmetros legais, o regime inicial e os benefícios aplicáveis;
● Plano executório: no momento da execução penal, deverá ser definido o estabelecimento prisional de
cumprimento da pena, tendo em conta a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado (art. 5º, XLVIII,
CF/88).
* Obs.: Súmula Vinculante nº 56: A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do
condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados
no RE 641.320/RS.
3. DIREITOS SOCIAIS
São direitos de 2ª geração/dimensão. A Constituição define no art. 6º quais são os direitos sociais:
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◘ STF determinou que governo deveria detalhar a ordem de preferência na vacinação dentro dos grupos
prioritários (quem deveria ser vacinado primeiro dentro do grupo prioritário). STF. Plenário. ADPF 754
TPI-segunda-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 27/2/2021 (Info 1007).
◘ Judiciário pode determinar a realização de obras emergenciais em estabelecimento prisional para dar
efetividade ao postulado da dignidade da pessoa humana e assegurar aos detentos o respeito à sua
integridade física e moral, nos termos do que preceitua o art. 5º, XLIX, da CF, não sendo oponível à
decisão o argumento da reserva do possível nem o princípio da separação dos poderes. STF. Plenário.
RE 592581/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 13/8/2015 (repercussão geral) (Info 794).
◘ Implementação de políticas públicas pelo Poder Judiciário para garantir o direito à saúde
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▪ Organização sindical: o art. 8º, CF/88, institui ampla autonomia coletiva para a fundação e direção
desse ente associativo, não podendo o Estado intervir ou condicionar o exercício desse direito. Pode,
contudo, ser exigida a inscrição do sindicato em órgão próprio (Ministério do Trabalho), bem como
admite-se que a lei disponha genericamente sobre regras básicas de organização sindical.
O art. 522 da CLT, que prevê um número máximo de empregados que podem ser
dirigentes sindicais, é compatível com a CF/88 e não viola a garantia da liberdade
sindical. A liberdade sindical tem previsão constitucional, mas não possui caráter
absoluto. A previsão legal de número máximo de dirigentes sindicais dotados de
estabilidade de emprego não esvazia a liberdade sindical. Essa garantia
constitucional existe para que possa assegurar a autonomia da entidade sindical,
mas não serve para criar situações de estabilidade genérica e ilimitada que violem
a razoabilidade e a finalidade da norma constitucional garantidora do direito. Logo,
o art. 522 da CLT foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988. STF. Plenário.
ADPF 276, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 15/05/2020.
▪ Greve: previsto no art. 9º, cabe aos trabalhadores decidir a oportunidade de exercê-lo e os interesses
que devam por meio dele defender. Outrossim, prevê que a lei definirá os serviços ou atividades
essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, inclusive
responsabilizando os abusos cometidos.
ATENÇÃO - Para servidores públicos civis: como não existe lei específica sobre o assunto para servidores
45119
públicos civis, o STF conferiu efeitos concretos aos Mandados de Injunção ajuizados pelos Sindicatos de
Servidores Civis. Por maioria, conheceu dos mandados de injunção e propôs a solução para a omissão
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legislativa com a aplicação, no que couber, da Lei nº 7.783/89, que dispõe sobre o exercício do direito de
greve na iniciativa privada.
IMPORTANTE:
O estudo da jurisprudência acerca do tema: “Direitos Fundamentais” é imprescindível, diante da elevada
cobrança em provas. Nesse sentido, abaixo algumas jurisprudências cuja leitura é importantíssima!
ES, Rel. Ministra Regina Helena Costa, Primeira Turma, por unanimidade, julgado
em 13/3/2023, DJe 16/3/2023.
Cota de tela para filmes nacionais nos cinemas é constitucional porque a norma
é um mecanismo que protege a indústria nacional do audiovisual e amplia o
acesso à cultura. RE 627432 e RE 1070522, com repercussão geral (Temas 704 e
1013).
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por objetivo proteger as crianças e adolescentes. STF. Plenário. ADI 2096/DF, Rel.
Min. Celso de Mello, julgado em 9/10/2020 (Info 994).
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META 4
CRFB/88
⦁ Art. 5º, X, XXXIII e LX
⦁ Art. 5º, LV
⦁ Art. 37, caput e §1º 45119
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ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta em qualquer
dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante
designações recíprocas, viola a Constituição Federal.
Súmula 473-STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam
ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
Súmula 346-STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.
Súmula 6-STF: A revogação ou anulação, pelo Poder Executivo, de aposentadoria, ou qualquer outro ato
aprovado pelo Tribunal de Contas, não produz efeitos antes de aprovada por aquele tribunal, ressalvada a
competência revisora do judiciário.
O Direito Administrativo compõe o ramo do Direito Público, pois tem como características e
princípios marcantes a supremacia do interesse público (relações jurídicas verticalizadas), a
indisponibilidade do interesse público e a legalidade.
Rafael Carvalho aponta que o nascimento do Direito Administrativo se relaciona diretamente à
consagração dos ideais da Revolução Francesa de 1789
45119e ao surgimento do Estado de Direito. A partir dos
45119
ideais liberais revolucionários da burguesia (separação de poderes, princípio da legalidade e Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão), o poder estatal é limitado e o Direito Administrativo é concebido como
ramo especial do Direito, ao lado do Direito Privado, regulador das relações envolvendo o Estado e o exercício
das atividades administrativas.
Nesse sentido, o Estado é pessoa jurídica de direito público, ainda quando atue na seara do direito
privado. Logo, o Estado pode atuar tanto no direito público quanto no direito privado, no entanto, sempre
ostenta a qualidade de PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO.
O Direito Administrativo tem por objeto as relações por ele disciplinadas, a saber:
a) relações internas entre órgãos e entidades administrativas;
b) relações entre a administração e seus agentes;
c) relações entre a administração e os seus administrados;
d) atividades administrativas exercidas por prestadores de serviços públicos.
● Administração Patrimonialista: Não havia diferença entre os interesses pessoais dos agentes
públicos e os interesses da própria administração.
● Administração Burocrática: Superou o patrimonialismo ao adotar o princípio da impessoalidade.
Foram criados rígidos controles sobre a atuação dos agentes públicos. Formou-se a burocracia, em
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que os agentes públicos devem obedecer aos procedimentos determinados, à rígida hierarquia e à
separação de funções.
● Administração Gerencial: É o modelo adotado na Administração moderna. Busca superar o modelo
burocrático por meio da adoção do princípio da eficiência, que tem as seguintes consequências
principais:
∘ Utilização do controle de resultados substituindo o controle de meios;
∘ Maior autonomia dos agentes/órgãos/entidades públicas;
∘ Serviço orientado para o cidadão;
∘ Utilização de indicadores de desempenho.
Administração Pública Dialógica: Segundo Ronny Charles, Administração pública dialógica é uma tendência
identificada em algumas atividades administrativas, notadamente na prestação de serviços públicos e
contratações de grandes empreendimentos, que consiste na abertura de diálogo com os administrados,
permitindo que eles colaborem para o aperfeiçoamento ou a legitimação da atividade administrativa.
● Direito alemão - o direito administrativo brasileiro herdou a inspiração para aplicação do princípio da
segurança jurídica, especialmente sob o aspecto subjetivo da proteção à confiança.
● Direito francês - herdou o conceito de serviço público, a teoria dos atos administrativos com o atributo
da executoriedade, as teorias sobre responsabilidade civil do Estado, o princípio da legalidade, a teoria
dos contratos administrativos, as formas de delegação da execução de serviços públicos, a ideia de que
a Administração Pública se submete a um regime jurídico de direito público, derrogatório e exorbitante
do direito comum, que abrange o binômio autoridade/liberdade.
● Direito italiano - recebeu o conceito de mérito, o de autarquia e entidade paraestatal (dois vocábulos
criados no direito italiano). Os autores italianos (ao lado dos alemães) também contribuíram para a
adoção de um método técnico-científico.
● Direito inglês (sistema da common law) - o direito administrativo brasileiro herdou o princípio da
unidade de jurisdição, o mandado de segurança e o mandado de injunção, o princípio do devido
processo legal, inclusive, mais recentemente, em sua feição substantiva, e que praticamente se
confunde com o princípio da razoabilidade. No fim do século XX, também herdou do sistema common
law o fenômeno da agencificação e a própria ideia de regulação.
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4. CRITÉRIOS DA ADMINISTRAÇÃO
O direito administrativo é ramo jurídico, e como tal, se dedica ao estudo das regras e normas, sendo
caracterizada como ciência normativa e impositiva, que define os limites dentro dos quais a gestão pública
pode ser executada. Várias foram as correntes/teorias que buscaram definir o direito administrativo. Nessa
linha, vejamos as principais delas:
Crítica: A grande crítica do critério legalista foi desconsiderar a carga normativa dos princípios. Dessa forma,
só era valorado o que estivesse em lei.
45119
Crítica: O Direito Administrativo não se resume à disciplina do Poder Executivo, afinal, todos os Poderes
administram, embora, para alguns, isso constitua missão atípica. E mais: no Poder Executivo, nem tudo é
objeto do Direito Administrativo, a exemplo das funções de governo, regidas pelo Direito Constitucional.
c) Critério das Relações Jurídicas: O Direito Administrativo é a disciplina das relações jurídicas entre a
Administração e o particular. Assim, todas as relações entre o Estado e o administrado seriam função
administrativa.
Crítica: Outros ramos do direito, de igual modo, regulam a relação jurídica entre particular e Estado, por
exemplo, os contratos privados pactuados que são regidos pelo direito civil.
d) Critério do Serviço Público (França): O Direito Administrativo teria por objetivo a disciplina jurídica dos
serviços públicos. Ou seja, a função administrativa seria a instituição, organização e prestação do serviço
público. → Escola do Serviço Público (Leon Duguit).
● Sentido amplo (Leon Duguit): Inclui todas as atividades do Estado;
● Sentido estrito (Gaston Jeze): Inclui apenas atividades materiais (leia-se: aquelas de dentro para
fora, com a finalidade de satisfação das necessidades coletivas).
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Crítica: O referido conceito é bastante restrito, porque, na atualidade, a ideia de prestação de serviço público
vem sofrendo restrições, de modo que a administração pública não se limita tão somente à execução dessa
prestação. O Estado faz muitas atividades além da mera prestação do serviço público, sendo este último
apenas uma das facetas. Por exemplo, atua na exploração de atividade econômica na busca do interesse
público.
e) Critério Teleológico ou Finalístico: O Direito Administrativo é sistema de princípios jurídicos que regula
as atividades do Estado para o cumprimento dos seus fins. Assim, o Direito Administrativo deve ser
conceituado como toda atuação do Estado com finalidade pública.
Crítica: Essa posição apresenta-se como a mais correta, porém não consegue abranger integralmente o
conceito da matéria, de forma que não é adotada de forma majoritária.
f) Critério Negativista: Esse critério surgiu da dificuldade de identificar o objeto do Direito Administrativo.
Assim, o Direito Administrativo seria conceituado por exclusão, abrangendo tudo que não era função
legislativa e jurisdicional.
45119
Crítica: Não é adequado definir algo pelo que ele não é. Embora não tenha um erro grosseiro, este critério
não pode ser usado como forma de conceituação do direito administrativo
g) Critério Funcional: O Direito Administrativo é ramo jurídico que estuda e analisa a disciplina da função
administrativa, esteja ela sendo exercida pelo Executivo, Legislativo, Judiciário ou por delegação estatal.
Segundo Hely Lopes Meirelles, o direito administrativo pode ser definido como conjunto harmônico
de princípios que regem os órgãos, os agentes e a atividade pública para realização dos fins desejados pelo
Estado de forma DIRETA, CONCRETA e IMEDIATA.
● Direta: Não se confunde com a função jurisdicional, que é indireta por depender de provocação.
Desse modo, ao se falar que a atuação é direta, quer-se dizer que ela atua de ofício, não dependendo
de provocação. Reitero: NÃO depende de provocação para que haja atuação administrativa, ela é
DIRETA.
● Concreta: Diferente da legislativa, que é geral e abstrata (não atinge pessoas específicas), a função
administrativa é concreta porque se materializa em casos concretos.
● Imediata: Realiza os fins do Estado (necessidades do Estado). Quem define os fins do Estado, por sua
vez, é o Direito Constitucional.
5. SENTIDOS DA ADMINISTRAÇÃO
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A expressão Administração Pública pode ser analisada sob seu aspecto formal/subjetivo/orgânico ou
sob seu aspecto material/objetivo/funcional.
Resumindo...
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM SENTIDO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM SENTIDO
FORMAL, ORGÂNICO OU SUBJETIVO 45119 MATERIAL, FUNCIONAL OU OBJETIVO
Conjunto de órgãos e agentes no exercício da É a própria atividade administrativa
função administrativa. desempenhada pelo Estado.
O autor Diogo de Figueiredo Moreira Neto diferencia esses termos da seguinte forma:
I- Administração Introversa: corresponde à atividade-meio da Administração. É instrumental, atende
ao interesse público secundário e não atinge diretamente os cidadãos. Logo, envolve as relações entre a
Administração e seus agentes. Também é atribuída a todos os órgãos administrativos;
II- Administração Extroversa: corresponde à atividade-fim da Administração. É finalística, atende ao
interesse público primário e atinge diretamente os cidadãos. Logo, envolve as relações entre a Administração
e os particulares. É atribuída apenas aos entes políticos. Exemplo: poder de polícia.
Para o professor Rafael Oliveira (2018, p. 58), o Direito Administrativo tem sofrido profundas
transformações, cabendo destacar as seguintes mutações e tendências:
a) Constitucionalização e aplicação do princípio da juridicidade (vinculação positiva do administrador à
Constituição e ao ordenamento como um todo e não somente à lei);
190
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5.3 Transadministrativismo
O autor Diogo de Figueiredo Moreira Neto adota a tese de que existe um novo ramo do Direito
Administrativo denominado transadministrativismo que é a disciplina jurídica das relações assimétricas de
poder que se institucionaliza consensualmente fora e além do Estado.
Trata-se de um direito administrativo transnacional, fenômeno semelhante ao
transconstitucionalismo.
Para o referido doutrinador, o direito administrativo global é um gênero, do qual o direito
administrativo transestatal (transadministrativismo)45119é espécie. O transadministrativismo refere-se
exclusivamente ao produto normativo desses centros de poder transestatais: aqueles que se originam de
necessidades ordinatórias das diversas sociedades, que não são providas pelos Estados.
A doutrina costuma apontar a existência de cinco fontes principais deste ramo do Direito, quais
sejam: a lei, a jurisprudência, a doutrina, os princípios gerais e os costumes.
191
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▪ DOUTRINA – Fonte Secundária – forma o sistema teórico de princípio aplicável ao Direito Positivo.
· É fonte secundária. Refere-se à lição dos mestres e estudiosos da matéria, ensejando a
formação de arcabouço teórico. É fonte interpretativa. Expõe uma interpretação sobre
determinada matéria ou lei, ao estabelecer o que provavelmente buscava, ou seja, sua
razão/sentido.
▪ PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO – estão na base da disciplina (alicerce). Ex..: Ninguém pode causar
dano a outrem. É vedado o enriquecimento ilícito. Ninguém pode se beneficiar da própria torpeza.
▪ COSTUMES – Práticas reiteradas da autoridade administrativa. Lembre-se que o costume não cria e
nem exime obrigação. 45119
· Elementos do costume:
- Elemento objetivo: repetição de condutas;
- Elemento subjetivo: convicção de sua obrigatoriedade.
45119
· Espécies de costumes:
- Secundum legem: previstos ou admitidos pela lei;
- Praeter legem: preenchem as lacunas normativas, possuindo caráter subsidiário;
- Contra legem: se opõem à norma legal.
Obs.: Para o autor Rafael Carvalho, “ressalvado o costume contra legem, o costume é fonte
autônoma do Direito Administrativo. A releitura do princípio da legalidade, com a superação do positivismo,
a textura aberta de algumas normas jurídicas e a necessidade de consideração da realidade social na
aplicação do Direito demonstram que os costumes devem ser considerados como fontes do Direito
Administrativo”, pg. 25.
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relevante do Direito Administrativo, tendo em gerar direitos para os administrados, em razão dos
vista a deficiência legislativa na matéria”. princípios da lealdade, boa-fé, moralidade
administrativa, entre outros”.
Resumindo...
FONTE PRIMÁRIA 1) Lei - em sentido material/amplo: qualquer espécie normativa
1) Jurisprudência
FONTES 2) Doutrina
SECUNDÁRIAS 3) Costumes - secundum legem e praeter legem
45119
1) Constituição
FONTES FORMAIS 2) Lei 45119
(1) Desigualdade entre a administração e o particular (desigualdade jurídica) - Toda vez que se
interpreta uma norma do direito administrativo, deve-se recordar que existe uma desigualdade
jurídica, visto que a Administração atua com supremacia em face ao particular (princípio da
supremacia do interesse público sobre o privado).
(2) Presunção de legitimidade dos atos praticados pela Administração - Os atos praticados pela
Administração são presumivelmente legítimos, ou seja, presume-se que foram praticados em
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Obs.: A analogia NÃO pode ser utilizada para fundamentar a aplicação de sanções ou gravames aos
particulares, especialmente no campo do poder de polícia e do poder disciplinar.
● Sistema adotado pelo Brasil (princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, art. 5º, XXXV, da
CF/88). Obs. Já houve a previsão do tribunal constitucional de contencioso no Brasil na EC 7/77, mas
nunca foi implementado.
9. REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO
É o conjunto de regras e princípios que regem a Administração Pública. O autor Celso Antônio
Bandeira de Mello defende a existência de verdadeiras “PEDRAS DE TOQUE” no Direito Administrativo, quais
sejam:
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fundamentais. A partir dessa distinção, a doutrina tradicional sempre apontou para a superioridade do
interesse público primário (e não do secundário) sobre o interesse privado. Atualmente, no entanto, com a
relativização da dicotomia público x privado, a democratização da defesa do interesse público e a
complexidade (heterogeneidade) da sociedade atual, entre outros fatores, vem ganhando força a ideia de
“desconstrução” do princípio da supremacia do interesse público em abstrato. Portanto, não existe um
interesse público único, estático e abstrato, mas sim finalidades públicas normativamente elencadas que não
estão necessariamente em confronto com os interesses privados, razão pela qual seria mais adequado falar
em “princípio da finalidade pública”, em vez do tradicional “princípio da supremacia do interesse público”,
o que reforça a ideia de que a atuação estatal deve sempre estar apoiada em finalidades públicas, não
egoístas, estabelecidas no ordenamento jurídico. A atuação do Poder Público não pode ser pautada pela
supremacia do interesse público, mas, sim, pela ponderação e máxima realização dos interesses envolvidos.
45119
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b) Regras:
· Direcionam-se a situações determinadas.
· O conflito de regras é resolvido na dimensão da validade (“tudo ou nada”), ou seja, a regra é
válida ou inválida, a partir45119
dos critérios de especialidade, hierarquia e cronológico (Dworkin).
· Em alguns casos, o conflito entre regras pode ser resolvido pela dimensão do peso e, não
necessariamente, pelo critério de validade. Ex: vedação à concessão de liminar contra a
Fazenda que esgote o objeto do litígio.
Obs.: Além dos princípios expressos pelo Direito Administrativo, existem princípios implícitos extraídos pela
interpretação sistemática e reconhecidos pela jurisprudência e doutrina.
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Pelo princípio da legalidade, a atuação da administração pública subordina-se à lei, de modo que o
agente público somente poderá fazer o que proclama a lei. Assim, não havendo previsão legal, está proibida
a atuação do ente público e qualquer conduta praticada de forma arbitrária por ele.
Ressalta-se que a legalidade no âmbito do direito administrativo não se confunde com a legalidade
privada em que é permitido fazer tudo que não é proibido (autonomia privada). Ex.: O princípio da legalidade
veda à administração a prática de atos inominados, embora estes sejam permitidos aos particulares.
Note a flagrante diferença entre os regimes jurídicos de direito público e direito privado, uma vez
que, neste último, é possível realizar tudo o que a lei não proíbe, ao passo que, no primeiro, o administrador
somente pode atuar mediante prévia autorização legal.
O princípio da legalidade comporta dois desdobramentos:
(1) Supremacia da lei: A lei prevalece e tem preferência
45119 sobre os atos da Administração.
· Relaciona-se com a doutrina da NEGATIVE BINDUNG (VINCULAÇÃO NEGATIVA), segundo a
qual a lei representa uma limitação à vontade do Administrador.
(2) Reserva de lei: o tratamento de certas matérias deve ser formalizado necessariamente pela
legislação.
· Relaciona-se com a POSITIVE BINDUNG (VINCULAÇÃO POSITIVA), que condiciona a validade
da atuação dos agentes45119
públicos à prévia autorização legal.
Atualmente, prevalece a ideia da vinculação positiva da Administração à lei, ou seja, a atuação do
administrador depende de prévia habilitação legal para ser legítima.
Considerações importantes:
● A legalidade deve ser reinterpretada a partir da constitucionalização do Direito Administrativo.
● Por ser submissa ao princípio da legalidade, a Administração não pode levar a termo interpretação
extensiva ou restritiva de direitos, quando a lei assim não o prever de modo expresso.
● A legalidade encontra-se inserida no denominado PRINCÍPIO DA JURIDICIDADE, que exige a
submissão da atuação administrativa à lei e ao Direito → Exige-se compatibilidade com o BLOCO DE
LEGALIDADE. Pelo princípio da juridicidade, deve-se respeitar, inclusive, a noção de legitimidade do
Direito.
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III) Legitimidade: É o ato que observa não só as formalidades prescritas ou não defesas em lei, mas se há
adequação aos princípios da boa administração, dentro de padrões razoáveis e morais, e aos princípios
constitucionalmente reconhecidos.
IV) Economicidade: Foco no binômio custo/ benefício em face do meio utilizado para satisfação social, junto
ao controle de eficiência da gestão financeira, para atingir melhor índice de resultado.
ii. Proibição de promoção pessoal: Vedação do exercício da máquina pública para atingir interesses
particulares. Veja o art. 37, §1º da CF/88 (Atenção! Esse artigo despenca em prova!):
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Caiu em prova Delegado PC-RN/2021 da banca FGV! A Lei Orgânica da Polícia Civil do Estado Alfa foi alterada
pela Assembleia Legislativa, de maneira que foi inserido um artigo dispondo que é vedado ao servidor público
ocupante de cargo efetivo ou comissionado servir sob a direção imediata de cônjuge ou parente até segundo
grau civil. De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a norma mencionada é:
inconstitucional em relação aos ocupantes de cargos efetivos eis que normas inibitórias do nepotismo não
têm como campo próprio de incidência os cargos efetivos sob pena de violação ao concurso público.
45119
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R.: Para o exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda, de função gratificada na Administração
Pública direta e indireta, em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
municípios.
Vamos relembrar...
CARGO EM COMISSÃO CARGO EM CONFIANÇA ou FUNÇÃO DE
CONFIANÇA
Cargo baseado na confiança, de livre Cargo também baseado na confiança,
nomeação e livre exoneração para atividades de direção, chefia e
(exoneração ad nutum), para assessoramento. No entanto, somente
atividades de direção, chefia e quem ocupa cargo efetivo pode ser
assessoramento. Pode ser ocupado por nomeado.
qualquer pessoa, mas deve ser
guardado um percentual para quem já
é de carreira.
A Lei nº 14.230/2021 passou a prever expressamente que a prática do nepotismo configura ato de
improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública.
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Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios
da administração pública a ação ou omissão dolosa que viole os deveres de
honestidade, de imparcialidade e de legalidade, caracterizada por uma das
seguintes condutas: (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
(...)
XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por
afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da
mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento,
para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função
gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste
mediante designações recíprocas; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
● Art. 5º, X (são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas). O
administrador não pode, com fundamento na publicidade, violar tais valores, sob pena de indenizar
os lesados.
X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;
202
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● Art. 5º, LX (processos que correm em sigilo). Em processos tanto judiciais quanto administrativos.
Ex. Em processo administrativo no âmbito do CRM sobre erro médico, só há publicação quando se
tem o resultado.
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa
da intimidade ou o interesse social o exigirem;
Frise-se que a Lei nº 12.527/11 (Lei de Acesso à informação) prevê a possibilidade de restrição ao
fornecimento de informações, se imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado.
Caiu em prova Delegado PC-AM/2022 da banca FGV! João, brasileiro com vinte anos de idade e que jamais
solicitara o seu alistamento
45119
eleitoral, requereu, à Secretaria de Estado de Segurança Pública do Estado Alfa,
informações a respeito de auditoria realizada pelo órgão competente de controle interno nas contratações
realizadas pelo órgão. Acresça-se que, no bojo desse requerimento, João não indicou a finalidade em que
essas informações seriam utilizadas.
#DICA DD: O art. 10 da Lei nº 12.527/2011 informa que: “Qualquer interessado poderá apresentar pedido
de acesso a informações aos órgãos e entidades referidos no art. 1º desta Lei, por qualquer meio legítimo,
devendo o pedido conter a identificação do requerente e a especificação da informação requerida".
É nulo — por violar o princípio da publicidade, bem como por restringir o direito
à informação — ato público que estabelece, genericamente e sem
fundamentação válida e específica, que todos os processos do Sistema Eletrônico
de Informações da Polícia Federal (SEI-PF) sejam cadastrados com nível de acesso
restrito. STF. ADPF 872/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual
finalizado em 14.8.2023. (Info 1103)
O princípio da eficiência foi inserido pela EC 19/98 para substituir a Administração Pública burocrática
pela gerencial, tendo em vista a necessidade de efetivação célere das finalidades públicas elencadas no
ordenamento jurídico.
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Nesse sentido, o princípio da eficiência exige que a atividade administrativa seja exercida com
presteza, perfeição e rendimento funcional. Sua aplicação orienta e serve de fundamento para a construção
de uma concepção de Administração Pública Gerencial. 45119
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ATENÇÃO!
O princípio da proporcionalidade é, ainda, um limite à discricionariedade do legislador, que, muitas vezes,
ultrapassa uma linha tênue e se torna arbitrariedade (a qual é vedada no ordenamento jurídico brasileiro).
Assim, mesmo que se trate de um ato administrativo discricionário, se tal ato não obedecer ao princípio da
proporcionalidade/razoabilidade, será possível a interferência do Poder Judiciário sem que isso acarrete
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violação à Separação de Poderes. Isso porque tais princípios, embora implícitos, são princípios
constitucionais que decorrem do devido processo legal. Nesse caso, o Poder Judiciário realiza o controle de
legalidade em sentido amplo, isto é, o controle do ato em relação a leis infraconstitucionais e à própria CF.
Por esse motivo, a doutrina trata desses princípios como limitadores da liberdade e discricionariedade do
administrador.
11.2 Princípio da Supremacia do Interesse Público Sobre o Privado (Princípio da Finalidade Pública)
ii. Interesse público secundário: É o interesse do próprio Estado, enquanto sujeito de direitos e
obrigações, ligando-se à noção de interesse do erário. É o interesse do Estado com si próprio, como
pessoa jurídica de direito público que é.
Assim, pelo princípio, há uma primazia de soluções e decisões que atendam ao interesse coletivo, em
detrimento do interesse de um único indivíduo ou grupo
45119 seleto de indivíduos.
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Art. 53 da Lei 9.784/99: A Administração deve anular seus próprios atos, quando
45119
Súmula 346 STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus
próprios atos.
Súmula 473 STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados
de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-
los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
● Autotutela: Designa o poder-dever de corrigir ilegalidades e de garantir o interesse público dos atos
editados pela própria Administração;
● Autoexecutoriedade: Prerrogativa de imposição da vontade administrativa, independentemente de
recurso ao Poder Judiciário.
A Administração Pública deve observar algum requisito quando for anular atos ilegais?
O STF possui entendimento no sentido de que, a despeito deste poder-dever de anular os atos ilegais,
se a invalidação do ato administrativo repercutir no campo de interesses individuais, faz-se necessária a
instauração de processo administrativo que assegure o devido processo legal e a ampla defesa (Informativo
763 do STF).
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Além disso, o art. 54 da lei 9.784/99 estipula que o direito da Administração de anular os atos
administrativos de que decorram efeitos favoráveis aos destinatários decai em 5 anos, contados da data em
45119
que foram praticados, salvo comprovada má fé.
Trata-se, portanto, de um prazo para o exercício da autotutela. Ressalta-se que, em princípio, a Lei
nº 9.784/99 deveria regular apenas e unicamente o processo administrativo no âmbito da Administração
Federal direta e indireta. O processo administrativo na esfera dos Estados e dos Municípios deve ser tratado
por meio de legislação a ser editada por cada um desses entes, em virtude da autonomia legislativa que
gozam para regular a matéria em seus territórios.
No entanto, o STJ entende que, se o Estado ou o Município não possuir em sua legislação previsão
de prazo decadencial para a anulação dos atos administrativos, deve-se aplicar, por analogia integrativa, o
art. 54 da Lei nº 9.784/99. Essa conclusão é baseada nos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.
O entendimento acima resultou na edição da Súmula 633 do STJ:
Súmula 633 STJ: A Lei 9.784/99, especialmente no que diz respeito ao prazo
decadencial para revisão de atos administrativos no âmbito da administração
pública federal, pode ser aplicada de forma subsidiária aos Estados e Municípios se
inexistente norma local e específica regulando a matéria.
45119
Há, contudo, julgados que mitigam esse prazo decadencial de 5 anos, a exemplo:
Ademais, o prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado
afronta diretamente a Constituição Federal. Veja:
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Além disso, o STF decidiu que, em regra, o prazo decadencial para que a Administração anule atos
administrativos inválidos é de 5 anos, aplicável a todos os entes federativos, por força do princípio da
isonomia, ou seja:
Por fim, em decisão na qual se evidencie não acarretar lesão ao interesse público nem prejuízo a
terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria
Administração.
A atuação administrativa, buscando atender da melhor forma o interesse público, preconiza que a
atividade do Estado deve ser prestada de forma contínua,
45119 ou seja, sem interrupções, motivo pelo qual o
princípio da continuidade veda a interrupção na prestação dos serviços públicos.
Está expressamente previsto no art. 6º, § 1º, da Lei n. 8.987/95 (Lei de Serviços Públicos), e seu
fundamento reside no fato de a prestação de serviços públicos ser um dever constitucionalmente
45119
estabelecido (art. 175 da CF/88), localizando-se, portanto, acima da vontade da Administração Pública, que
não tem escolha entre realizar ou não a prestação.
Entretanto, o art. 6º, § 3º, da Lei n. 8.987/95, de acordo com o entendimento doutrinário majoritário
e da jurisprudência do STJ, autoriza o corte no fornecimento do serviço em caso de emergência ou, após
prévio aviso, nas hipóteses de:
a) razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e
b) inadimplemento do usuário.
Obs.: O aviso prévio dado através de comunicado em rádio de amplo alcance satisfaz as condições de aviso
prévio, haja vista se tratar de um dos meios mais populares e o de maior alcance público, motivo pelo qual
há de se reconhecer a validade e eficácia do ato administrativo. Veja a jurisprudência do STJ nesse sentido:
Em regra, o serviço público deverá ser prestado de forma contínua, ou seja, sem
interrupções (princípio da continuidade do serviço público). Excepcionalmente,
será possível a interrupção do serviço público nas seguintes hipóteses previstas
no art. 6º, § 3º da Lei n.º 8.987/95: a) Em caso de emergência (mesmo sem aviso
prévio); b) Por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações, desde que
o usuário seja previamente avisado; c) Por causa de inadimplemento do usuário,
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Obs.: A interrupção por inadimplemento do usuário não pode paralisar serviços essenciais, como, por
exemplo, corte de energia elétrica do hospital público/iluminação pública. Nos chamados “serviços
essenciais”, mantém-se o serviço e prossegue com a cobrança paralelamente.
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Impõe à Administração Pública o dever de indicação dos pressupostos de fato e de direito que
determinaram a prática do ato (art. 2º, parágrafo único, VII, da Lei n. 9.784/99). Assim, a validade do ato
administrativo está condicionada à apresentação por escrito dos fundamentos fáticos e jurídicos
justificadores da decisão adotada.
Trata-se de um mecanismo de controle sobre a legalidade e legitimidade das decisões da
Administração Pública.
Está previsto no art. 93, X, da CF/88 e no art. 50 da Lei 9.784/99.
45119 Apesar de haver divergência, a
corrente majoritária defende que a motivação é obrigatória tanto nos atos vinculados quanto nos atos
discricionários.
A motivação deve ser apresentada simultaneamente ou no instante seguinte à prática do ato.
Motivação intempestiva (posterior) ou extemporânea (anterior) causa nulidade do ato administrativo. Ainda,
a motivação deve ser explícita, clara e congruente. 45119
Observações importantes:
● Motivação aliunde ou per relationem – É aquela indicada fora do ato, consistente em concordância com
fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas. Ocorre todas as vezes que
a motivação de um determinado ato remete à motivação de ato anterior que embasa sua edição. Ex.:
parecer opina pela possibilidade de prática de ato de demissão de servidor; ao demitir o servidor, a
autoridade não precisa repetir os fundamentos explicitados pelo parecer, bastando, na fundamentação
do ato de demissão, declarar a concordância com os argumentos expedidos no ato opinativo.
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Por força do princípio do contraditório, as decisões administrativas devem ser tomadas considerando
a manifestação dos interessados. Para isso, é necessário dar oportunidade para que os afetados pela decisão
sejam ouvidos antes do resultado final do processo.
O princípio da ampla defesa assegura aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, a
utilização dos meios de prova, dos recursos e dos instrumentos necessários para defesa de seus interesses
perante o Judiciário e a Administração.
Ao garantir o direito à ampla defesa “com os meios e recursos a ela inerentes”, o art. 5º, LV, da
Constituição Federal incluiu, no bojo do dispositivo, o princípio do duplo grau, verdadeiro desdobramento da
ampla defesa.
Sobre os princípios do contraditório e da ampla defesa, foi editada a Súmula Vinculante 3 do STF:
45119
Segundo a autora Maria Di Pietro, o direito administrativo brasileiro herdou do direito alemão a
inspiração para aplicação do princípio da segurança jurídica, especialmente sob o aspecto subjetivo da
proteção à confiança.
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A noção de proteção da confiança legítima aparece como uma reação à utilização abusiva de normas
jurídicas ou atos administrativos que surpreendam bruscamente o seu destinatário. Um exemplo de
aplicação do princípio da legítima confiança diz respeito à impossibilidade de devolução de valores recebidos
de boa-fé por servidores públicos, em virtude de errônea interpretação da lei pela Administração.
● Quando existir mera expectativa de direitos pelo interessado (ex. concessão de liminar, de caráter
precário, que possa ser revista).
O princípio da intranscendência subjetiva significa que não podem ser impostas sanções e restrições
que superem a dimensão estritamente pessoal do infrator e atinjam pessoas que não tenham sido as
causadoras do ato ilícito.
Na jurisprudência do STF, há dois exemplos de aplicação desse princípio em casos envolvendo
inscrição de 45119
Estados e Municípios nos cadastros de inadimplentes da União:
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anteriores. Nesse sentido: STF. 1ª Turma. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgados
em 23/6/2015 (Info 791).
O STJ comunga também desse entendimento, exigindo sempre que a gestão sucessora tenha tomado
as providências cabíveis à reparação dos danos eventualmente cometidos. Por isso, editou a súmula 615.
Vejamos:
Súmula 615 STJ: Não pode ocorrer ou permanecer a inscrição do município em
cadastros restritivos fundada em irregularidades na gestão anterior quando, na
gestão sucessora, são tomadas as providências cabíveis à reparação dos danos
eventualmente cometidos.
● 2ª acepção: quando a irregularidade foi praticada por uma entidade do Estado/Município ou pelos
outros Poderes que não o Executivo
Além do caso acima explicado, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções pode ser
45119
aplicado também nas situações em que uma entidade estadual/municipal (ex.: uma autarquia) descumpriu
as regras do convênio e a União inscreve não apenas essa entidade, como também o próprio ente
(Estado/Município) nos cadastros restritivos: Poder Executivo não pode ser incluído nos cadastros de
inadimplentes da União por irregularidades praticadas pelos outros Poderes ou órgãos autônomos. (Info
991 – STF). 45119
Referências bibliográficas:
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CF/88
⦁ Art. 33
⦁ Art. 37, XIX, XX e XXI
⦁ Art. 37, §§ 6º, 8º
⦁ Art. 48, XI
⦁ Arts. 51, IV e 52, XIII, da CF
⦁ Art. 61 § 1º, II, "e"
⦁ Art. 84, IV, VI, "a"
⦁ Arts. 173, §1º e §2º e 174
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● Coordenação: vinculada diretamente à hierarquia, visa a garantir uma maior eficiência na execução
das atividades públicas;
● Descentralização administrativa: consiste na transferência da prestação de serviços do ente
federativo para outras pessoas jurídicas especializadas na execução dessas atividades;
● Delegação de competência: extensão de uma competência administrativa entre agentes públicos,
dentro de uma mesma estrutura hierárquica de forma expressa e transitória;
● Controle: exercido em todos os níveis e órgãos do governo.
2. DESCENTRALIZAÇÃO X DESCONCENTRAÇÃO
É importante relembrar que Administração Pública é uma expressão plurissignificativa. Possui dois
sentidos:
● Subjetivo / Formal / Orgânico: conjunto de órgãos e entidades que integram a estrutura do Estado
e tem como função satisfazer o interesse público, a vontade política governamental. Nesse sentido,
é grafada com letras maiúsculas, pois se refere aos sujeitos.
● Objetivo / Material / Funcional: é o conjunto de atividades que esses órgãos e entidades
desempenham. Nesse sentido, é grafada com
45119letras minúsculas, pois se refere às funções. Ex.:
Assim, o exercício das atividades administrativas pode se dar tanto de forma centralizada quanto de
forma descentralizada.
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Características da Descentralização:
● Deslocamento para uma nova pessoa (física ou jurídica);
● Transferência para pessoa da Administração indireta ou particulares;
● NÃO existe hierarquia, mas há controle e fiscalização (relação de vinculação, mas NÃO de
subordinação).
STF: É dispensável a autorização legislativa para a criação de empresas subsidiárias, desde que haja previsão
para esse fim na própria lei que instituiu a empresa estatal, visto que a lei criadora é a própria medida
autorizadora. É dispensável a autorização legislativa para a alienação de controle acionário de empresas
subsidiárias, pois a lei que autoriza a criação da empresa estatal matriz é suficiente para viabilizar a criação
de empresas controladas e subsidiárias, não havendo
45119 se falar em necessidade de autorização legal
específica para essa finalidade. ADPF 794/DF, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em
21.5.2021.
OBS.: A centralização consiste na execução das tarefas administrativas pelo próprio Estado, por meio
de órgãos internos integrantes da administração direta.
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Vamos esquematizar?
DESCENTRALIZAÇÃO DESCONCENTRAÇÃO
Transferência da atividade administrativa para Distribuição interna de atividade dentro de uma
outra pessoa, física ou jurídica, integrante ou não do mesma pessoa jurídica, resultando na criação de
aparelho estatal. centros de competências, denominados órgãos
públicos, dentro de uma mesma estrutura
hierárquica.
Há mais de uma pessoa jurídica. Ocorre dentro da mesma pessoa jurídica.
Não há hierarquia, apenas controle e fiscalização. Há hierarquia e decorre do Poder Hierárquico.
Há uma relação de vinculação. Há uma relação de subordinação.
Pode ser: Dá origem aos órgãos públicos.
1) Descentralização por outorga, que dá origem às
entidades da Administração Indireta;
2) Descentralização por colaboração, na qual há
delegação à pessoa já existente, através de
concessão ou permissão.
Órgãos públicos são centros de atribuições que resultam da desconcentração administrativa. Sua
criação se justifica pela necessidade de especializar as funções, com o intuito de tornar a atuação estatal mais
eficiente. A principal característica dos órgãos é que eles NÃO possuem personalidade jurídica própria.
Outras características:
● Órgãos são centros especializados de competências.
● Criação e extinção devem ser feitas por meio de lei.
● Competência do órgão é intransferível e irrenunciável, mas pode ser delegada ou avocada.
● Presentes tanto na Administração direta como na Administração indireta.
● NÃO possuem patrimônio próprio.
● NÃO podem ser sujeitos de direitos ou de obrigações (uma vez que não possuem personalidade
jurídica). Ex.: uma morte ocorrida dentro de escola pública municipal será de responsabilidade
do Município, pois a escola e a prefeitura são órgãos públicos e, portanto, não são sujeitos de
obrigações.
● NÃO celebram contrato, contudo, o órgão realiza licitação, gestão e exercício do contrato,
ficando a cargo do ente personalizado a celebração do contrato.
45119
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💣 ATENÇÃO: Em regra, os órgãos, por NÃO terem personalidade jurídica, NÃO têm capacidade
processual, ou seja, não podem figurar em juízo por si próprios, mas sim por meio do ente a que se
subordinam.
Exceções:
1) Previsão legal. Ex.: Órgão público na defesa dos consumidores (art. 82, inc. III, CDC).
2) Órgãos titulares de direitos subjetivos, o que lhes confere capacidade processual para a defesa
das prerrogativas, bem como competências para defesa de atribuições institucionais. Ex:
Órgãos independentes e autônomos podem figurar em juízo, desde que (i) sejam órgãos de
cúpula de hierarquia administrativa; (ii) atuem na defesa de suas prerrogativas institucionais.
1. Teoria do Mandato: O agente público é mandatário da pessoa jurídica, sendo a relação construída
em função de um contrato de mandato.
Crítica: NÃO se admite que um Estado que NÃO tem vontade própria e nem tem como exteriorizá-la
possa assinar um contrato, instrumento que depende da autonomia da vontade. Ademais, essa teoria
permitiria a irresponsabilidade estatal pelos atos praticados pelos agentes com abuso de poder.
2. Teoria
45119
da Representação: O agente público seria representante do Estado por força de lei,
equiparando-se ao tutor ou curador, representando os incapazes.
Crítica: A pessoa jurídica ficaria equiparada a um incapaz, sendo absurda a ideia de que o incapaz
confere representante de si mesmo. Além disso, o incapaz NÃO pode ser civilmente responsabilizado, o que
NÃO ocorre com o Estado.
3. Teoria do Órgão (Teoria da Imputação Volitiva) – Otto Von Gierke – Por essa teoria, a manifestação
do órgão público é atribuída à pessoa jurídica ao qual ele pertence. Ou seja: quando um agente
público, integrante de um órgão público, manifesta a sua vontade, na realidade, é a própria pessoa
estatal que está agindo. Por esse motivo, é possível imputar, ao Estado, os danos causados por seus
agentes.
Explica a teoria do funcionário de fato putativo, que é aquele cuja investidura foi irregular ou viciada,
mas cuja situação tem aparência de legalidade. Para a Teoria, consideram-se válidos os atos praticados por
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um funcionário de fato putativo, em nome da boa-fé dos administrados, segurança jurídica e legalidade dos
atos, pois o ato é do órgão (e, consequentemente, da pessoa jurídica ao qual pertence), não do agente.
A regra é que os órgãos públicos sejam criados e extintos por lei ordinária. E, em regra, a lei será de
iniciativa do chefe do Executivo. Existem algumas exceções em relação à iniciativa da lei. Vejamos:
1) Iniciativa do Congresso Nacional (art. 48, XI).
2) Para a criação de órgãos no Poder Judiciário, a iniciativa será do presidente do próprio TJ (art. 96,
II, “c” e “d”).
3) No âmbito do MP, a iniciativa para a criação de órgãos será do chefe da instituição, ou seja, PGJ ou
PGR (art. 127, §2º).
É possível criar órgãos por ato administrativo? R.: Parte da doutrina (Carvalho Filho, Rafael Oliveira,
Fernando Barbalho) entende que a CF/88 admite, excepcionalmente, no âmbito do Senado Federal e Câmara
dos Deputados (art. 51, IV, e art. 52, XIII, da CF), que a própria casa disponha sobre a sua organização
administrativa, como a criação de órgãos. Em outras palavras: a criação de órgãos dentro da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal pode ser feita mediante
45119 resolução das respectivas casas, não se exigindo a
sanção presidencial, pois não se trata de lei. Por simetria, isso pode ser levado para os Estados e Municípios.
a) Quanto à hierarquia:
▪ Independentes: NÃO estão hierarquicamente subordinados a nenhum outro órgão, se
sujeitando apenas ao controle dos poderes estruturais do Estado (sistema de freios e
contrapesos). Têm origem na CF e ocupam o comando de cada um dos Poderes. Ex.: Presidência
da República, Congresso Nacional, STF.
▪ Autônomos: órgãos imediatamente subordinados aos órgãos independentes. São órgãos
diretivos que desempenham funções de coordenação, planejamento, supervisão e controle.
Possuem ampla autonomia administrativa, financeira e técnica (NÃO possuem autonomia
política). Ex.: Ministério da Fazenda, Secretaria do Estado, AGU.
▪ Superiores: NÃO possuem autonomia e independência, embora conservem o poder de decisão
e controle sobre assuntos específicos de sua competência. Ex.: Secretaria da Receita Federal,
Polícias, Procuradorias.
▪ Subalternos: órgãos com reduzido poder de decisão, destinados à mera execução de atividades
45119
administrativas. Ex.: zeladoria, almoxarifado etc.
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▪ Singular: atua pela manifestação de vontade de um único agente. Ex.: Prefeitura, juízo de 1º
grau, presidência.
▪ Colegiado (ou pluripessoal): a tomada de decisão é feita de forma coletiva. Ex.: casas
legislativas, STF.
c) Quanto à estrutura:
▪ Simples (ou unitário): atua sozinho (um único centro de competência), sem subdivisões em seu
interior. Ex.: Gabinete.
▪ Composto: há mais de um órgão atuando em sua estrutura, mais de um centro de competência.
Ex.: Congresso Nacional é formado pela Câmara dos Deputados e Senado Federal.
d) Quanto às funções:
▪ Ativos: execução de atividades administrativas.
▪ Consultivos: assessoramento (pareceres).
▪ De controle: fiscalização dos demais órgãos e agentes públicos.
45119
4. DESCENTRALIZAÇÃO
a) Descentralização Política: Feita pela CF, ao dividir a competência entre os entes federativos;
b) Descentralização Administrativa: Feita aos entes da administração indireta (descentralização por
outorga) e a particulares (descentralização por delegação).
5. ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
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● Devem ter finalidade pública. NÃO poderão ter finalidade lucrativa, mas o lucro poderá ser uma
consequência da atividade.
● Sujeitas à supervisão ministerial (e NÃO ao poder hierárquico). Forma de controle que pode ocorrer por
meio de 3 hipóteses:
1) Controle Finalístico: deve-se assegurar que as entidades da Administração Indireta não estão
se desviando dos fins previstos nas leis instituidoras;
2) Controle Político: a Administração Direta pode nomear e exonerar livremente os dirigentes das
entidades administrativas. Exceção: dirigentes das agências reguladoras;
3) Controle Financeiro: exercido pelo Poder Legislativo com auxílio do TCU. Para a doutrina, além
das autarquias e fundações públicas, as estatais também se submetem ao controle financeiro,
desde que prestem serviço público.
● Necessidade de lei específica para criação das autarquias e autorização para criação dos demais entes da
administração indireta, neste caso, sendo imprescindível o registro dos atos constitutivos no cartório de
pessoas jurídicas ou na junta comercial para empresas estatais.
45119
5.2.1 Autarquias
a) Conceito: São pessoas jurídicas de direito público interno, pertencentes à Administração Indireta,
criadas por lei específica para o exercício de atividades típicas, próprias do Estado (ou seja: atividades que
só podem ser desempenhadas por pessoas jurídicas de direito público). Possuem regime muito semelhante
ao dos entes da Administração Direta. Ex.: INSS, INCRA, conselhos de classe, Universidades Federais, IBAMA,
Banco Central, autarquias territoriais, agências reguladoras, associações públicas de regime público (lei
11.107/05).
b) Características:
● NÃO possuem autonomia política, mas possuem autonomia financeira e de autorregulação.
● Possuem regime jurídico de Direito Público.
● São CRIADAS por lei específica (competência do chefe do Poder Executivo), através da
descentralização por outorga ou descentralização legal. (art. 37, XIX da CF).
● Possuem personalidade jurídica própria.
● Possuem patrimônio próprio.
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RETA FINAL
a) Origem: De inspiração norte-americana, foram instituídas no Brasil a partir da década de 90, para
estabelecer novo modelo regulatório brasileiro.
b) Definição: São autarquias em regime jurídico especial, dotadas de autonomia reforçada em relação
ao ente central, com base em dois fundamentos:
● Despolitização (desgovernamentalização): busca retirar do âmbito político e conferir um
tratamento técnico ao setor regulado (o que acarreta, consequentemente, maior segurança
jurídica).
● Necessidade de celeridade na regulação de determinadas atividades técnicas: teoricamente,
a agência reguladora, quando baixa normas para o setor, teria maior velocidade para se
adaptar à realidade econômica e tecnológica, que muda rapidamente.
d) Características:
✔ AUTONOMIA ADMINISTRATIVA:
∘ Nomeação diferenciada dos dirigentes – Nomeados pelo Presidente da República após
aprovação prévia do Senado para cumprir mandato certo (demais autarquias: demissíveis
ad nutum e comissionados);
▪ Obs.1: NÃO é possível exigir a aprovação prévia do Senado para a exoneração dos
dirigentes.
▪ Obs.2: NÃO se submetem à exoneração ad nutum.
∘ Período de quarentena dos dirigentes (art. 8º da Lei 9986/2000, com redação dada pela
Lei 13.848/2019) – Durante o prazo de 6 meses ficam impedidos de exercer atividade no
setor regulado, contados da exoneração ou término do mandato, sendo assegurada
remuneração compensatória.
▪ Lei específica pode estabelecer prazo diferenciado. Ex.: 1 ano para ANEEL, ANS,
ANP. Nesse período, ficará o antigo dirigente vinculado à agência, fazendo jus à
remuneração compensatória equivalente à do cargo que exerceu.
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▪ Obs.: Antes da Lei 13.848/2019, que alterou a redação do art. 6º da Lei 9986, o
mandato dos dirigentes não poderia ultrapassar o mandato do presidente. Com
a novel lei, o mandato passou a ter prazo certo de 5 anos, não coincidindo mais
com o mandato presidencial, justamente para conferir maior autonomia técnica
à agência.
✔ AUTONOMIA DECISÓRIA:
∘ Impossibilidade de manejar recurso hierárquico impróprio - O objetivo é assegurar que
a decisão final na esfera administrativa seja da autarquia, em razão da sua autonomia
decisória. Ressalta-se que a impossibilidade de manejar recurso hierárquico impróprio
não afasta a apreciação pelo Poder Judiciário.
✔ AUTONOMIA FINANCEIRA:
∘ Possuem recursos próprios e recebem dotações orçamentárias:
▪ Recursos próprios - Podem instituir as taxas regulatórias;
▪ Recebimento de dotações orçamentárias - Enviam proposta orçamentária ao
Ministério ao qual estão vinculadas, para receber recursos que serão geridos pela
própria agência reguladora.
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RETA FINAL
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É a retirada, pelo próprio legislador, de certas matérias do domínio da lei, passando-as ao domínio do
regulamento.
Com a deslegalização, opera-se uma degradação da hierarquia normativa de determinada matéria que, por
opção do legislador, deixa de ser regulada por lei e passa para a seara do ato administrativo normativo.
A lei deslegalizadora NÃO chega a determinar o conteúdo material da futura normatização administrativa,
limitando-se a estabelecer standards e princípios a serem respeitados na atividade administrativo-
normativa.
Limites constitucionais à deslegalização:
a) Casos de reserva legislativa específica previstos na CF, que devem ser veiculados por lei formal;
b) Matérias a serem reguladas por lei complementar NÃO admitem deslegalização, pois são reservas
legislativas específicas.
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A "captura" descreve a situação em que o ente regulador passa a atuar sem imparcialidade, favorecendo
sistematicamente uma das partes envolvidas com a atividade regulada ou passa a ser uma estrutura
inoperante, meramente figurativa. Pode significar o risco de concussão (corrupção dos dirigentes), como
também a captura por contaminação de interesses, em que o órgão regulador assume os valores e interesses
do regulado como se fossem interesses da coletividade, a captura por insuficiência de meios, que ocorre
quando a atuação do agente regulador é inviabilizada pela ausência ou má qualidade de seus recursos e a
captura pelo poder político, situação que ocorre quando não existem os instrumentos legais capazes de
assegurar a efetiva autonomia da agência reguladora e ela passa a ser um mero agente dos interesses
político-partidários dos governantes.
a) Conceito: É uma autarquia ou fundação que recebeu esta qualificação por ter celebrado um contrato
de gestão com a Administração Pública (art. 37, §8º, CF/88) e por possuir um plano de reestruturação
(art. 51 da Lei nº 9.649/98). 45119
Há muitas autarquias e fundações ineficientes, de modo que o contrato de gestão é uma tentativa
de modernização. São exemplos de agências executivas: INMETRO e SUDENE.
b) Requisitos:
i. Autarquia ou fundação ter plano estratégico de reestruturação e desenvolvimento em
andamento;
ii. Celebração de contrato de gestão com Ministério Supervisor com periodicidade mínima de 01
ano.
45119
c) Características
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● Gozam de dispensa de licitação para celebração de contratos, cujos limites de valor são
duplicados em relação aos do art. 75, I e II, da Lei 14133/21, cf. §2º do mesmo artigo.
ATENÇÃO! Os valores do artigo 75, I e II, da Lei 14133/21 foram atualizados pelo Decreto 11317, que entrou
em vigor em 1º/01/2023:
a) Art. 75, caput, inciso I - R$ 114.416,65 (cento e quatorze mil quatrocentos e dezesseis reais e sessenta e
cinco centavos) – obras e serviços de engenharia ou serviços de manutenção de veículos automotores;
b) Art. 75, caput, inciso II - R$ 57.208,33 (cinquenta e sete mil duzentos e oito reais e trinta e três centavos)
– outros serviços e compras.
a) Definição: Pessoas jurídicas sem fins lucrativos, cujo elemento essencial é a utilização do patrimônio
para a satisfação de objetivos sociais, definidos pelo instituidor.
b) Criação:
● Fundações públicas de direito público - são criadas por lei ordinária específica, mas seu objeto
de atuação deve ser definido por lei complementar.
● Fundações públicas de direito privado - a criação é autorizada por lei ordinária específica, sendo
criadas após o registro no cartório competente, mas seu objeto de atuação deve ser definido
por lei complementar.
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d) Atividade:
● Fundação Pública de Direito Público: atividades típicas de Estado;
● Fundação Pública de Direito Privado:45119
atividades de conteúdo econômico passíveis de
delegação.
e) Patrimônio:
● Fundação Pública de Direito Público: bens públicos;
● Fundação Pública de Direito Privado: bens privados (em regra).
Obs.: Bens privados afetados ao serviço público, ou seja, empregados diretamente na
prestação de serviços públicos, sujeitam-se às regras de direito público.
f) Regime de pessoal:
● Fundação Pública de Direito Público: Estatutário;
● Fundação Pública de Direito Privado: Celetista.
Obs.: Ambas se sujeitam à vedação ao acúmulo de cargos; necessidade de realizar concurso público;
teto remuneratório previsto na CF/88.
Observações importantes:
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▪ Tanto as fundações públicas de direito público quanto as de direito privado possuem imunidade
tributária de impostos sobre rendas, bens ou serviços, conforme dispõe o artigo 150, inciso VI, alínea
“a” e §2º, da Constituição Federal.
▪ Somente as fundações públicas de direito público:
· Possuem prerrogativas processuais;
· Submetem-se ao regime de precatório.
▪ As fundações estatais NÃO se submetem ao controle do MP, pois a previsão do art. 66 do CC se refere,
exclusivamente, às fundações privadas, instituídas por particulares, bem como o DL 200/67 afasta a
aplicação do CC às fundações estatais.
a) Conceito
As Empresas Públicas (EP) e Sociedades de Economia Mista (SEM) são pessoas jurídicas de direito
privado integrantes da Administração Pública Indireta.
45119
São regidas por um regime predominantemente privado, chamado por alguns de regime híbrido, sui
generis. Isso porque, por mais que sejam influenciadas pelo regime privado, possuem características do
regime de direito público. 45119
Obs.: NÃO serão titulares de serviço público, recebendo apenas sua descentralização para a execução (NÃO
há outorga do serviço).
A Lei 13.303/16 estabelece o estatuto jurídico das empresas estatais (empresas públicas, SEM e suas
subsidiárias e demais empresas privadas controladas pelo Estado). O diploma normativo regulamenta o art.
173, §1º, da CRFB/88, que impõe a fixação, por meio de estatuto (lei ordinária), de regras sobre licitações e
contratos, questões societárias, função social das estatais e sua fiscalização pelo poder público e pela
sociedade civil, além da aplicação das mesmas normas de direito privado às empresas estatais, no que
couber. Assim, foi editada a Lei 13.303/16.
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Contudo, o que significa “neste último caso”? Parte da doutrina entendia que essa ressalva apenas
se aplicaria às fundações e outros entendiam que a lei complementar também definiria a área de atuação
das empresas estatais, além das fundações.
A tese majoritária sempre foi no sentido que a expressão “neste último caso” apenas se refere às
fundações (Rafael Oliveira). Logo, a própria lei ordinária que autoriza a criação da estatal já deve definir qual
vai ser a sua área de atuação, não necessitando de lei complementar. A própria Lei 13.303/16 não exige lei
complementar, apenas lei.
Ressalta-se que, quanto às empresas subsidiárias, o STF entende pacificamente que não seria
necessária uma lei específica autorizando a criação de cada subsidiária, bastando uma autorização legal
genérica. Vale lembrar, contudo, que é necessária uma lei específica para a criação de cada estatal
(“empresa-mãe”). 45119
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d) Capital:
● Empresas Públicas: capital 100% público;
● Sociedade de Economia Mista: capital misto (maior parte público).
e) Forma Societária:
● Empresas Públicas: Qualquer forma societária. Há a possibilidade, inclusive, de empresas públicas
com um único sócio, a exemplo da CEF, assim como na forma de sociedade anônima.
● Sociedade de Economia Mista: Somente sociedade anônima.
f) Competência:
● Empresa Pública Federal: Justiça Federal; 45119
Súmula 517 STF: As sociedades de economia mista só têm foro na justiça federal,
quando a União intervém como assistente ou opoente.
Súmula 556 STF: É competente a Justiça Comum para julgar as causas em que é
parte sociedade de economia mista.
g) Regime de pessoal: Celetista (CLT), mas, por possuírem um regime jurídico híbrido, se sujeitam a
algumas prerrogativas e regras da Administração Pública:
45119
● Concurso público (art. 37, II, da CF);
● Teto remuneratório (art. 37, XI e §9º, da CF);
● Regras de cumulação de empregos públicos (art. 37, XVI, da CF);
● Lei de improbidade administrativa (Lei 8.429/92);
● Obediência aos princípios administrativos (art. 37, caput, da CF).
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OBS.1: O regime varia de acordo com a finalidade da empresa estatal. Se presta serviço público, o regime se
aproxima mais daqueles das pessoas jurídicas de direito público. Se for exploradora de atividade econômica,
se aproxima das empresas privadas que estão fora da Administração.
OBS.2: Se as empresas estatais e subsidiárias NÃO receberem recursos dos entes federativos para custeio e
manutenção de pessoal, pode haver pagamentos acima do teto remuneratório.
OBS.3: É necessário motivar a dispensa de seus empregados.
i) Patrimônio: Bens privados, mas sofre modulações de direito público, especificamente no tocante à
alienação, que depende do cumprimento das exigências do art. 49 da Lei 13303/16, com redação dada
pela Lei 14.002/20.
j) Controle: 45119
Sujeição ao controle do Tribunal de Contas. O STF entendeu existir esse controle, pois na instituição
das empresas estatais haveria contribuição do erário (patrimônio público).
Se há empresas estatais com mais de um Ente Federado participando, o controle será exercido
apenas pelo Tribunal de Contas responsável pelo controle das contas do ente federado administrador da
45119
estatal, conforme decidiu o STF.
k) Licitação e contratos:
A Lei das Estatais passou a disciplinar a realização de licitações e contratos no âmbito das empresas
públicas e sociedades de economia mista, independentemente da natureza da atividade desempenhada
(prestadora de serviço ou exploradora de atividade econômica).
Nesse sentido, a Lei 8.666/93 deixou de ser aplicada a essas entidades, salvo nos casos
expressamente descritos na própria Lei 13.303/16 (normas penais e parte dos critérios de desempate). Além
disso, com o advento da Lei 14.133/21, que revogou a Lei 8.666/93 (art. 193, Lei 14.133/21), a disciplina
especial da Lei 13.303/16 permanece em vigor.
Os contratos terão prazo máximo de 5 anos, salvo:
i. Projetos contemplados no plano de negócios e investimentos;
ii. Prática rotineira de mercado e a imposição desse prazo inviabilize ou onere excessivamente o
negócio.
l) Imunidade tributária:
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ATENÇÃO: O art. 173, §2º, da CF assim dispõe: § 2º As empresas públicas e as sociedades de economia mista
não poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor privado.
Entretanto, segundo a doutrina majoritária, em que pese não haver menção expressa ou distinção entre
as empresas públicas e sociedades de economia mista exploradoras de atividades econômicas e
prestadoras de serviços públicos, tal vedação se aplica somente às empresas públicas e sociedades de
economia mista exploradoras de atividades econômicas.
Vejamos o que diz Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo sobre o tema: “(...) é amplamente majoritário o
45119
entendimento de que a vedação alcança somente as empresas públicas e sociedades de economia mista
exploradoras de atividades econômicas – e não as prestadoras de serviço públicos.” (Direito Administrativo
Descomplicado. 24ª Edição. Pág. 87).
Ressalta-se, por fim, que essa concessão de benefício fiscal exclusivo deve obedecer a natural observância
dos princípios constitucionais pertinentes.
Obs.: NÃO configura irregularidade a transferência de atividades auxiliares da atividade postal. Ex.: Entrega
de encomendas e impressos podem ser delegados, por NÃO serem considerados serviços postais
propriamente ditos.
m) Precatório: Somente as empresas públicas e sociedades de economia mista que prestam serviços
públicos submetem-se ao regime de precatórios.
n) Falência: A lei de falências exclui as estatais (art. 2º, I, da Lei 11101/05), mas a doutrina é divergente:
1ª Corrente: Sujeitam-se à falência, tendo em vista o disposto no art. 173, §1º, II da CF, sendo
inconstitucional o dispositivo da lei de falências.
2ª Corrente: Interpretação conforme a Constituição, para compatibilizar a lei de falências com o art.
173 da CF, de modo que apenas empresas estatais prestadoras de serviços públicos são afastadas
da falência. Celso Antônio, José dos Santos, Diógenes Gasparini e Di Pietro.
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GOLDEN SHARE: Prevista expressamente na lei do Programa Nacional de Desestatização (art. 8º da Lei
9491/97) – sempre que houver razões que justifiquem, a União deterá, direta ou indiretamente, ação de
classe especial do capital social da empresa ou instituição financeira objeto de desestatização, que lhe
confira poderes especiais em determinadas matérias, as quais deverão ser caracterizadas nos seus
estatutos sociais. Ex.: EMBRAER e VALE.
Em direito administrativo, além da clássica divisão entre Administração direta e indireta, os autores
dividem o Estado em setores:
a) Primeiro setor: composto pela administração direta e indireta;
b) Segundo setor: para a professora Di Pietro, seria
45119
o mercado, o qual é formado pelas concessionárias
e permissionárias de serviço público;
c) Terceiro setor: composto pelo que a doutrina chama de particulares em colaboração com o Estado.
● Fundações de apoio.
a) Introdução:
As entidades do 3º Setor são particulares em colaboração, sem fins lucrativos, que atuam ao lado do
Estado na prestação de serviços públicos e atividades de interesse social, mediante vínculo formal de parceria
com o Estado. Em outras palavras: são entidades privadas que não integram a estrutura da Administração
Pública Direta ou Indireta!
Tais entidades recebem incentivos do Poder Público, mediante dotação orçamentária, cessão de
bens públicos, e se submetem, consequentemente, às restrições de controle impostas ao ente estatal,
sujeitos ao controle do Tribunais de Contas.
Características principais:
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Principais consequências por serem entidades privadas (pessoa jurídica de direito privado):
● Bens privados;
● Regime CLT;
● NÃO exige concurso público;
● NÃO possuem prerrogativas processuais;
● NÃO se submetem a precatórios;
● NÃO se submetem ao teto remuneratório previsto na CF/88;
● NÃO precisam fazer licitação (doutrina majoritária);
45119
b) Espécies:
1) Sistema S - Serviço Social Autônomo;
2) Sistema OS - Organização Social
3) Sistema OSCIP - Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público;
4) Sistema OSC - Organizações da Sociedade Civil;
5) Fundações de apoio.
45119
c) Foro processual:
● É a Justiça Estadual, inclusive para as entidades que formalizam parcerias com a União.
● Serviços sociais autônomos que recebem recursos federais: Justiça Estadual (Súm. 516 STF).
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g) Licitação
● Licitação entre o Estado e as entidades do 3º setor: Embora haja divergência, a doutrina majoritária
entende que não há necessidade de licitação. Isso porque os contratos de gestão e termos de
parceria firmados entre o 3º Setor e a Administração possuem natureza jurídica de convênio (que
busca o interesse comum entre os partícipes), e não de contrato administrativo que exige licitação.
● Licitação entre o 3º setor e a contratação com terceiros utilizado dinheiro público: Há forte
divergência doutrinária sobre o tema. Veja:
1ªC (José dos Santos): Exige a licitação, tendo em vista que a hipótese se subsome à
expressão “demais entidades controladas direta ou indiretamente pelo Poder Público”,
45119
constante do art. 1º, p.ú, da Lei 8666 c.c. art. 1º, II, da Lei 14133/21.
2ª C (Diogo Moreira): Não exige licitação, pois não é possível ampliar, mediante lei ordinária,
o rol de destinatários da licitação previsto no art. 37, XXI, da CF/88. Haveria, no caso, uma
inconstitucionalidade por vício formal.
3ª C (Rafael Oliveira e TCU): Não exige licitação, mas é necessário um procedimento
simplificado e objetivo para as contratações realizadas com dinheiro público, de modo a
atender aos princípios constitucionais, sobretudo o da impessoalidade. Ressalta-se que essa
foi a posição adotada pelas leis da OS (art. 17) e OSCIP (art. 14).
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h) Responsabilidade civil das entidades do 3º setor: Trata-se de tema com grande divergência doutrinária,
de modo que é importante atentar-se às 3 posições para eventual prova discursiva:
1ª C (Cristiana Fortini): Haverá responsabilidade objetiva das entidades do 3º setor, pois as
atividades sociais por elas desenvolvidas podem ser qualificadas como serviços públicos, atraindo a
incidência do art. 37, §6º, da CF/88.
2ª C (José dos Santos): Depende da parceria. Em se tratando dos sistemas sociais autônomos
(Sistema “S”), que desempenham atividades de caráter meramente social e podem ser qualificadas
como serviços públicos, a responsabilidade será objetiva, na forma do art. 37, §6º, da CF/88. Por
outro lado, em se tratando de organizações sociais (“OS”) ou organizações sociais da sociedade civil
de interesse público (“OSCIP”), a responsabilidade será subjetiva, pois tais entidades exercem
parceria meramente desinteressada.
3ª C (Rafael Oliveira e Villela Souto): Trata-se de responsabilidade subjetiva, em razão da inexistência
de serviço público. Embora tenham relevância social, são atividades privadas prestadas em nome
próprio, motivo pelo qual devem seguir o regramento da legislação civil. E, segundo a lei civil,
somente haverá responsabilidade objetiva em casos previstos expressamente por lei, ou quando a
natureza da atividade desempenhada implicar risco para as pessoas, na forma do art. 927 do CC.
☞ Para essa 3ª corrente, haverá ainda responsabilidade subsidiária do Estado pelos danos
causados pelo 3º setor no desempenho das atividades que são objeto de parceria.
45119
São entidades criadas mediante autorização legal para a realização da atividade de fomento, auxílio
45119
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O regime de pessoal se submete à CLT e NÃO dependem de concurso público para ingresso em suas
atividades. No entanto, os empregados são considerados agentes públicos (conceito mais amplo) e se
submetem à LIA (Lei 8.429/92).
Por constituírem pessoas jurídicas privadas, NÃO se submetem ao regime de precatório em relação
ao pagamento de seus débitos oriundos de sentença judicial, conforme decidiu o STF (ADI 1.923-DF).
Serviços sociais autônomos NÃO devem figurar no polo passivo de ação proposta
pelo contribuinte discutindo a exigibilidade das contribuições sociais. (Info 646,
STJ).
As entidades ou fundações de apoio são instituídas por servidores públicos, em nome próprio, sob a
forma de fundação, associação ou cooperativa, sempre sem finalidade lucrativa, para prestação, em caráter
privado, de serviços sociais não exclusivos do Estado.
As fundações de apoio são instituídas por particulares com o objetivo de auxiliar a Administração
Pública, por meio da elaboração de convênios ou contratos, não se confundindo com a entidade estatal.
Atuam, em especial, ao lado de hospitais e universidades Públicas, auxiliando no exercício da
atividade destas entidades, através da realização de programas de pesquisa e extensão.
O vínculo com o poder público decorre da assinatura de convênio, que lhe garante a destinação de
valores públicos, com dotação orçamentária específica, além da possibilidade de cessão de bens públicos e,
até mesmo, a cessão de servidores.
Possuem personalidade jurídica de direito privado, com patrimônio e administração próprios, NÃO
fazendo parte da Administração Indireta, sendo suas demandas julgadas pela Justiça Estadual.
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45119
As entidades de apoio, quando tiverem natureza jurídica de fundação, deverão estar constituídas sob
a forma de fundações de direito privado, sem fins lucrativos, regidas pelo Código Civil.
Essas fundações se sujeitam à fiscalização do MP, à legislação trabalhista e ao prévio registro e
credenciamento no Ministério da Educação, e no Ministério da Ciência e tecnologia, renovável bienalmente.
Na execução dos vínculos jurídicos (convênios, contratos, acordos e/ou ajustes), que envolvam a
aplicação de recursos públicos, as fundações de apoio sujeitam-se às seguintes obrigações:
● Observância da legislação de licitações e contratos administrativos;
● Prestação de contas de recursos aplicados aos órgãos públicos financiadores;
● Submissão ao controle finalístico e de gestão pelo órgão máximo da Instituição Federal de ensino;
● Fiscalização da execução dos contratos pelo TCU e órgão de controle interno competente.
Podem se utilizar de servidores públicos federais, que NÃO possuirão vínculo empregatício com a
fundação e poderão receber bolsas de ensino, pesquisa e extensão, respeitadas condições e limites fixados
no regulamento.
São entidades privadas, sem fins lucrativos, qualificadas na forma da Lei 9.637/98, que celebram
contrato de gestão com o Estado para o cumprimento de
45119metas de desempenho e recebimento de benefícios
públicos, através da prestação de serviços públicos NÃO exclusivos de estado, como ensino, pesquisa
científica, desenvolvimento tecnológico, proteção e preservação do meio ambiente etc.
É importante lembrar que tais entidades NÃO integram a estrutura da administração, de modo que
sua criação independe de lei. No entanto, por executarem atividades de interesse social, sem escopo de
lucro, e receberem auxílio do ente estatal de diversas formas, sujeitam-se a algumas restrições impostas à
Fazenda Pública.
b) Contrato de gestão
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O vínculo da OS com o Poder Público ocorre pelo contrato de gestão, instrumento firmado que visa
ao fomento e à execução de atividades relacionadas ao estudo, pesquisa, desenvolvimento tecnológico,
cultura, meio ambiente e saúde.
c) Remuneração e fiscalização
Durante a execução do contrato de gestão, a OS receberá sua contraprestação em função do
atingimento da meta de desempenho fixada, e NÃO das atividades realizadas.
Para os servidores estatais cedidos, o pagamento de sua remuneração será feito pelos cofres
públicos e NÃO será incorporado aos vencimentos 45119
de origem do servidor cedido qualquer vantagem
pecuniária que vier a ser paga pela organização social, com recursos provenientes do contrato de gestão.
Ante os benefícios concedidos, estas entidades se submetem a controle, efetivado pelo Ministério
supervisor daquela atividade executada, e pelo TCU, com submissão à Lei de Improbidade Administrativa
(NÃO há fiscalização por agência reguladora).
Os resultados atingidos com a execução do contrato de gestão devem ser analisados,
45119
periodicamente, por comissão de avaliação, indicada por autoridade supervisora. Além disso, as OS devem
ter um Conselho de Administração, nos moldes da Lei, com participação obrigatória de representantes do
povo e do poder público, nos percentuais estipulados em lei.
Primeiramente, perceba que a OSCIP não é uma pessoa jurídica, mas sim uma qualificação especial
concedida pelo Estado às entidades privadas sem fins lucrativos, em funcionamento há pelo menos 3 anos,
e criadas para a prestação de serviços públicos não exclusivos do Estado, a exemplo de:
● Promoção de assistência social;
● Cultura;
● Defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;
● Educação;
● Saúde;
● Segurança alimentar e nutricional;
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b) Termo de parceria
O vínculo firmado entre a OSCIP e o Poder Público ocorre mediante a celebração de termo de
parceria, que, além de estabelecer metas de desempenho, discriminará direitos, responsabilidades e
obrigações das partes signatárias.
O termo de parceria permite a destinação de valores públicos às instituições privadas, mediante
dotação orçamentária, com liberação destes recursos em conta bancária específica. Ou seja: após a
celebração do termo de parceria, as entidades estarão aptas a receber recursos orçamentários do Estado.
O termo de parceria deve conter as seguintes 45119
cláusulas:
● Objeto;
● Definição de metas;
● Critérios objetivos de avaliação de desempenho;
● Previsão de receitas e despesas;
● As obrigações da OSCIP;
● Obrigatoriedade de publicação na imprensa oficial do Município, Estado ou União, de extrato
de termo de parceria e de demonstrativo de execução física e financeira.
Para a celebração de termo de parceria, NÃO há a necessidade de realizar licitação, ante o vínculo
de convênio. No entanto, caso haja mais de um interessado na celebração do termo de parceria, e todos
cumpram os requisitos legais, a Administração deverá realizar procedimento simplificado que justifique a
escolha de uma entidade em detrimento de outra.
c) Fiscalização
As entidades se sujeitam ao controle financeiro e orçamentário exercido pelo Tribunal de Contas,
além do acompanhamento e fiscalização do termo de parceria por órgão do Poder Público.
As OSCIP devem constituir Conselho Fiscal ou órgão equivalente, dotado de competência para opinar
sobre os relatórios de desempenho financeiro e contábil e sobre as operações patrimoniais realizadas.
Servidores Públicos podem participar da composição do conselho de uma OSCIP, sendo vedada a
percepção de remuneração ou subsídio a qualquer título.
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A Lei 13.019/14 foi um novo marco regulatório para as parcerias formalizadas entre a Administração
Pública e as Organizações da Sociedade Civil, que são entidades privadas sem fins lucrativos e que
desempenham atividades socialmente relevantes.
Nesse sentido, a Lei busca regular, em âmbito nacional, o regime jurídico das parcerias voluntárias,
envolvendo ou não a transferência de recursos financeiros, firmados entre a Administração e as
organizações da sociedade civil sem fins lucrativos.
OBS.: Para a doutrina majoritária, trata-se de norma NACIONAL (e não federal), que estabelece normas gerais
aplicadas a todos os entes federativos (e não apenas à União).
a) entidade privada sem fins lucrativos que não distribua entre os seus sócios ou
associados, conselheiros, diretores, empregados, doadores ou terceiros eventuais
resultados, sobras, excedentes operacionais, brutos ou líquidos, dividendos,
isenções de qualquer natureza, participações ou parcelas do seu patrimônio,
auferidos mediante o exercício de suas atividades, e que os aplique integralmente
na consecução do respectivo objeto social, de forma imediata ou por meio da
constituição de fundo patrimonial ou fundo de reserva;
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Entenda: o excesso de arrecadação é superávit e a lei diz que ele tem que ser
reinvestido na própria atividade da entidade.
b) Formas de seleção das organizações: A Lei 13.019/14 estabelece, como regra geral, o procedimento
de chamamento público. Assim, quando a Administração Pública for celebrar parceria com uma OSC, ela
deve fazer um procedimento objetivo com regras impessoais para a escolha da entidade privada que vai se
beneficiar da parceria. Note que não há necessidade de licitação, mas sim de um procedimento
administrativo com regras simplificadas que garantam uma escolha impessoal da entidade privada.
Além do chamamento público, a lei também menciona o Procedimento de Manifestação de
Interesse Social (PMIS), cuja definição está prevista pelo art. 18:
O chamamento público busca selecionar, de forma objetiva e impessoal, a entidade que firmará
termo de fomento ou termo de colaboração com o Poder Público.
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ATENÇÃO! Só há necessidade de chamamento público quando o vínculo com o Estado for celebrado
mediante termo de fomento ou termo de colaboração. Isso porque, como no acordo de cooperação NÃO há
transferência de recursos públicos, não há necessidade de realizar o chamamento público.
O PMIS, por sua vez, visa selecionar um projeto para eventual chamamento público futuro. Ou seja:
após o procedimento de manifestação de interesse social (PMIS), o projeto poderá ser selecionado e, caso
efetivamente seja, deve o Estado realizar o chamamento público. Fala-se em “poderá”, pois a apresentação
do projeto pela entidade NÃO vincula o Estado, que está livre para realizar ou não o chamamento público.
Em outras palavras: o PMIS NÃO visa selecionar a entidade que irá firmar a parceria, mas sim avaliar
os projetos apresentados pelas entidades interessadas. Tanto é que:
(i) O PMIS é facultativo, não vincula o Estado e nem dispensa a necessidade de realizar o futuro
chamamento público. Na realidade, o PMIS precede o chamamento público. Após o PMIS, o
Estado poderá realizar ou não o chamamento público, sem direito à indenização caso não o faça.
(ii) A entidade que apresentou o projeto eventualmente selecionado no PMIS ou que dele participou
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Depois de realizado o chamamento público, o poder público vai selecionar a entidade privada
interessada que apresentou a melhor proposta e com ela vai celebrar o vínculo jurídico (a parceria). A Lei
13.019/14 traz 03 parcerias distintas: termo de colaboração, termo de fomento e acordo de colaboração. O
art. 2º da Lei 13.019/14 define cada um desses instrumentos.
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Por fim, segundo a lei, os instrumentos só passam a produzir efeitos jurídicos após a publicação em
meio oficial de publicidade (diário oficial).
f) Contratações
A doutrina majoritária sempre defendeu que a entidade privada do 3º setor não precisa fazer uma
licitação formal, bastando um processo objetivo com regras impessoais, garantindo a observância dos
princípios constitucionais.
Portanto, as contratações de bens e serviços realizadas pelas entidades da sociedade com recursos
públicos devem observar procedimento que atenda aos princípios da Administração Pública.
A seleção da equipe de trabalho deve ser precedida de processo seletivo, com regras transparentes,
impessoais e objetivas para a seleção dos empregados. A remuneração NÃO gera vínculo com a
Administração.
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h) Responsabilidade e sanções
A OSC possui responsabilidade exclusiva pelos encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e
comerciais relativos ao funcionamento da instituição e ao adimplemento do termo de colaboração ou de
fomento, inexistindo responsabilidade solidária ou subsidiária da Administração na hipótese de
inadimplemento.
Ou seja: aqui, a lei estabelece que o Estado NÃO terá qualquer responsabilidade pela parceria, seja
solidária, seja subsidiária.
CRÍTICA DA DOUTRINA: Essa ausência de responsabilidade parece ser inconstitucional porque se o Estado
formaliza uma parceria, ele não pode abrir mão de suas obrigações. E ele tem a obrigação de fiscalizar a
parceria. Então, se o Estado é omisso, é razoável se falar em responsabilidade (seja subsidiária, como é a
regra, seja solidária, como se opera nos encargos previdenciários).
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Para uma prova de concurso, deve-se observar a letra da lei: o Estado não tem qualquer
responsabilidade.
Art. 73. Pela execução da parceria em desacordo com o plano de trabalho e com
as normas desta Lei e da legislação específica, a administração pública poderá,
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● No que toca à inidoneidade – a sanção valeria em todas as esferas de governo. Uma entidade
declarada inidônea por um Estado não poderia ser participante de chamamento
45119 e parcerias não
apenas com o Estado que sancionou, mas também com nenhum outro ente federativo. Assim,
é mais grave que a suspensão.
Para prova de concurso público, vale a letra da lei!
252
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45119
META 5
CPP
⦁ Arts. 312 e 313, III
⦁ Art. 322
⦁ Art. 581, V
CP 45119
Lei 11.340/06
⦁ Art. 5º e Art. 7º
⦁ Art. 8º, §4º
⦁ Art. 9º, §4º a §8º
⦁ Art. 10-A (importantíssimo)
⦁ Arts. 11, 12 e 12-C (importantíssimos)
⦁ Art. 14-A
⦁ Arts. 16 e 17 (importantíssimos)
⦁ Arts. 18 e 19
⦁ Art. 20
⦁ Art. 22, VI e VII
253
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CPP
⦁ Arts. 312 e 313, III, CPP
⦁ Art. 322, CPP
Súmula 536-STJ: A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de
delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha. 45119
Súmula 542-STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra
a mulher é pública incondicionada.
1. FINALIDADES DA NORMA
A Lei Maria da Penha possui natureza multidisciplinar, pois, além do caráter penal material e
procedimental, cria também mecanismos de natureza civil, de proteção à mulher, e trata até mesmo temas
afetos às políticas públicas. Ou seja, cuida-se de diploma direcionado à proteção da mulher frente a diversas
áreas do direito.
São quatro as finalidades da lei:
✓ Prevenir e coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher;
✓ Estabelecimento de medidas de assistência;
✓ Estabelecimento de medidas de proteção;
✓ Criação de Juizados Especiais de violência doméstica e familiar contra a mulher.
254
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Art. 226 – A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. (...)
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a
integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.
A Lei nº 11.340/06 foi criada, não apenas para atender ao disposto no art. 226, §8°, da Constituição
Federal, que considerou ser dever do Estado assegurar a igualdade substancial nas relações domésticas, em
razão da necessidade de proteção específica e da continuada relação de submissão experimentada pelas
mulheres, mas também para dar cumprimento a diversos tratados internacionais ratificados pela República
Federativa do Brasil.
Nesse sentido, é dever do Estado, por meio de prestações positivas (ações afirmativas), extirpar a
desigualdade histórica que existe entre homens e mulheres, construindo uma igualdade para além da
meramente formal, estabelecida no art.5º, I, da CRFB, ou seja, uma igualdade materialmente perceptível no
âmbito das relações sociais.
Ressalta-se que esses programas de ações afirmativas não se colocam em rota de colisão com o
princípio da igualdade, potencializando, pelo contrário, expectativas compensatórias e de inserção social de
255
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parcelas historicamente marginalizadas. Não violam o princípio da igualdade, pois há uma discriminação
positiva e não negativa.
Inf. 654 do STF - Não há violação do princípio constitucional da igualdade no fato
de a Lei n. 11.340/06 ser voltada apenas à proteção das mulheres.
45119
Art. 4º - Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se
destina e, especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de
violência doméstica e familiar.
Cuida o dispositivo da famigerada “interpretação teleológica”, aquela que parte das finalidades da
norma.
Segundo o art. 4º, a interpretação da Lei deve levar em conta os fins sociais a que se destina, ou seja,
deve tutelar a mulher que se encontra em uma situação de vulnerabilidade no âmbito de uma relação
doméstica, familiar ou íntima de afeto.
O conceito de violência doméstica e familiar contra a mulher é extraído do art. 5º, conjugado com o
art. 7º, ambos da Lei 11.340/06.
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a
mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: (Vide Lei
complementar nº 150, de 2015)
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por
afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de
orientação sexual.
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
256
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SEMANA 01/12
I – A violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade
ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano
emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos,
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem,
violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir
e vir45119
ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à
autodeterminação; (Redação dada pela Lei nº 13.772, de 2018)
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a
utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite
ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV – A violência patrimonial,
45119entendida como qualquer conduta que configure
De forma genérica, são exigidos três requisitos para a configuração de violência doméstica:
SEMANA 01/12
2.3. Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido
com a ofendida, independentemente de coabitação.
Atenção à súmula 600 do STJ, segundo a qual a configuração da violência familiar não exige a
coabitação entre autor e vítima. Tal entendimento visa estender o grau de proteção da norma de modo a
abarcar um conjunto de relações fluídas, percebidas em grande parte na sociedade brasileira.
Caiu em prova Delegado PC-AM/2022 da banca FGV! Após conturbada e conflitiva separação, um casal com
filhos de 15 e 10 anos de idade, realizou divórcio judicial, oportunidade em que, dentre outros temas, foi
fixada a questão da pensão a ser paga para os filhos que ficariam sob os cuidados maternos.
Sem que a relação marital fosse retomada em qualquer momento, quando o filho mais velho completou 21
anos, o genitor informou à ex-esposa que ingressaria com o pedido de exclusão do dever alimentar, o que
gerou novo atrito.
A genitora afirmou que o préstimo de alimentos deveria prosseguir, pois o filho estava tentando o ingresso
no ensino superior. O genitor, então, respondeu de forma agressiva, que o filho não teria futuro, pois seguia
o modelo materno de incapacidade laboral e cognitiva, sendo fadado, portanto, a ser um “zé ninguém”, tal
qual a ex-esposa era. Acrescentou que ela ficava infantilizando os filhos, não permitindo que ganhassem
independência e ela que se virasse para bancar aquela45119
situação vergonhosa.
Sobre a possibilidade de configuração de ilícito penal, assinale a afirmativa correta: Embora o relacionamento
entre os dois tenha se encerrado, as agressões verbais decorreram da relação havida.
3) Produção de forma de violência prevista nos incisos do art. 7º, Lei 11.340/06:
a. Violência física
b. Violência patrimonial
c. Violência sexual
d. Violência moral
e. Violência psicológica
Obs.: A Lei nº 13.772/2018 promoveu uma mudança na Lei nº 11.340/2006 para deixar expresso que a
violação da intimidade da mulher é uma forma de violência doméstica, classificada como violência
psicológica.
Considerações importantes:
(1) Não há necessidade de habitualidade. O art. 5º, caput refere-se apenas à ação ou omissão.
45119
(2) É indispensável que ocorra uma violência de gênero, tal qual expresso no caput do art.5º. Ausente
esta violência de gênero, não se aplica a Lei Maria da Penha. Segundo o professor Renato Brasileiro:
258
RETA FINAL
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(3) Para o STJ há presunção legal da hipossuficiência da mulher vítima de violência doméstica:
O fato de a vítima ser figura pública renomada não afasta a competência do Juizado
de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher para processar e julgar o delito.
Isso porque a situação de vulnerabilidade e de hipossuficiência da mulher,
envolvida em relacionamento íntimo de afeto, revela-se ipso facto, sendo
irrelevante a sua condição pessoal para a aplicação da Lei Maria da Penha. Trata-se
de uma presunção da Lei. STJ. 5ª Turma. REsp 1416580-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz,
julgado em 1º/4/2014 (Info 539).
259
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“A nosso ver, não há como se afastar a aplicação da Lei Maria da Penha às hipóteses de violência doméstica
e familiar perpetrada por um homem contra a mulher. Nesse caso, parece haver verdadeira presunção
absoluta de vulnerabilidade. Em tais situações, a desigualdade entre os gêneros feminino e masculino que
justifica o tratamento desigual contemplado pela Lei Maria da Penha pode ser facilmente constatada, seja
pela maior força física do homem, seja pela posição de superioridade que geralmente ocupa no seio familiar
e social. Todavia, quando esta mesma violência é perpetrada por uma mulher contra outra no seio de uma
relação doméstica, familiar ou íntima de afeto, não há falar em presunção absoluta de vulnerabilidade do
gênero feminino. Cuida-se, na verdade, de presunção relativa. A título de exemplo, possamos pensar numa
violência física praticada por uma irmã contra a outra. Como o sujeito ativo de tal crime não se apresenta
supostamente mais forte, ameaçador e dominante que a vítima, não há nenhum critério razoável capaz de
justificar a aplicação dos ditames gravosos da Lei nº 11.340/06. Afinal, o objetivo da Lei Maria da Penha não
foi o de conferir uma proteção indiscriminada a toda e qualquer mulher, mas apenas àquelas que
efetivamente se encontrarem em uma situação de vulnerabilidade”.
5. SUJEITO PASSIVO
(...) A Lei n. 11.340/2006 nada mais objetiva do que proteger vítimas, contra quem
os abusos aconteceram no ambiente doméstico e decorreram da distorção sobre a
relação familiar decorrente do pátrio poder, em que se pressupõe intimidade de
afeto, além do fato essencial de ela ser mulher (de qualquer idade), elementos
suficientes para atrair a competência da vara especializada em violência doméstica.
A prevalecer o entendimento em sentido contrário, crianças e adolescentes vítimas
de violência doméstica - segmento especial e prioritariamente protegido pela
Constituição da República (art. 227) - passariam a ter um âmbito de proteção
menos efetivo do que mulheres adultas. (Legislação Criminal Especial Comentada,
pg. 1275).
Ressalta-se, novamente, que, para a doutrina majoritária e os Tribunais Superiores, é possível que os
transgêneros e transexuais sejam vítimas no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher.
45119
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2ª Corrente: É possível conferir a proteção da Lei Maria da Penha, mesmo sem realizar a cirurgia de
transgenitalização. A Lei Maria da Penha não distingue orientação sexual e identidade de gênero das vítimas
mulheres. O fato de a ofendida ser transexual feminina não afasta a proteção legal, tampouco a competência
do Juizado de Violência Doméstica e Familiar. Nesse sentido posicionou-se o STJ:
RECURSO ESPECIAL. MULHER TRANS. VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. APLICAÇÃO DA LEI N. 11.340/2006,
LEI MARIA DA PENHA. CRITÉRIO EXCLUSIVAMENTE BIOLÓGICO. AFASTAMENTO. DISTINÇÃO ENTRE SEXO E
45119
GÊNERO. IDENTIDADE. VIOLÊNCIA NO AMBIENTE DOMÉSTICO. RELAÇÃO DE PODER E MODUS OPERANDI.
ALCANCE TELEOLÓGICO DA LEI. MEDIDAS PROTETIVAS. NECESSIDADE. RECURSO PROVIDO.
1. A aplicação da Lei Maria da Penha não reclama considerações sobre a motivação da conduta do agressor,
mas tão somente que a vítima seja mulher e que a violência seja cometida em ambiente doméstico, familiar
ou em relação de intimidade ou afeto entre agressor e agredida.
3. A vulnerabilidade de uma categoria de seres humanos não pode ser resumida tão somente à objetividade
de uma ciência exata. As existências e as relações humanas são complexas e o Direito não se deve alicerçar
em argumentos simplistas e reducionistas.
4. Para alicerçar a discussão referente à aplicação do art. 5º da Lei Maria da Penha à espécie, necessária é a
diferenciação entre os conceitos de gênero e sexo, assim como breves noções de termos transexuais,
transgêneros, cisgêneros e travestis, com a compreensão
45119 voltada para a inclusão dessas categorias no abrigo
da Lei em comento, tendo em vista a relação dessas minorias com a lógica da violência doméstica contra a
mulher.
5. A balizada doutrina sobre o tema leva à conclusão de que as relações de gênero podem ser estudadas
com base nas identidades feminina e masculina. Gênero é questão cultural, social, e significa interações
entre homens e mulheres. Uma análise de gênero pode se limitar a descrever essas dinâmicas. O
feminismo vai além, ao mostrar que essas relações são de poder e que produzem injustiça no contexto do
patriarcado. Por outro lado, sexo refere-se às características biológicas dos aparelhos reprodutores
feminino e masculino, bem como o seu funcionamento, de modo que o conceito de sexo, como visto, não
define a identidade de gênero. Em uma perspectiva não meramente biológica, portanto, mulher trans
mulher é. STJ, REsp 1.977.124/SP, Sexta Turma, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, DJE 22/04/2022).
Atenção: O homem pode ser vítima de violência doméstica e familiar, porém sem a possibilidade de
aplicação da Lei Maria da Penha. Isso porque a Lei Maria da Penha exige uma qualidade especial, qual seja,
ser mulher.
Se a violência doméstica sofrida pelo sujeito do sexo masculino qualificar o crime de lesão corporal,
aplica-se art.129, §9º, do CP.
No tocante à possibilidade de aplicação das medidas protetivas de urgência a vítimas homens, em
que pese homem vítima de violência doméstica não poder figurar como sujeito passivo da Lei Maria da
Penha, bem como o art. 22 da lei protetiva fazer referência à adoção de tais medidas apenas quando
constatada violência contra a mulher, diante da nova redação conferida no art. 313, inciso III, do CPP (pela
261
RETA FINAL
SEMANA 01/12
Lei n°12.403/2011) há parcela da doutrina que admite a aplicação de medidas protetivas de urgência à vítima
do sexo masculino, pois a expressão textual é de que tais medidas também podem ser concedidas de modo
a coibir a violência doméstica e familiar contra a criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com
deficiência (LIMA, Renato Brasileiro. Legislação Criminal Especial Comentada, pg. 1301).
Note que, por exemplo, inobstante o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto do idoso,
preverem medidas de natureza cautelar a favor das vítimas, essas não possuem a mesma eficácia das
Medidas Protetivas, pois seu descumprimento não acarreta sanções ao agressor, bem como o ECA determina
o acolhimento da vítima, quando a medidas recomendada seria o afastamento do agressor tal como previsto
pela Lei Maria da Penha. Desta forma, tendo em vista a vulnerabilidade da criança, do adolescente e do idoso,
do gênero masculino, vítima de crime de violência doméstica, é possível a aplicação subsidiária das medidas
protetivas de urgência aos mesmos.
Contudo, outra parte da doutrina aponta que, em se tratando de vítima do sexo masculino,
inaplicável a Lei Maria da Penha, podendo a vítima requerer a decretação de medidas cautelares diversas da
prisão, especialmente aquelas arroladas nos incisos II e III do art. 319 do Código de Processo Penal.
45119
6. SUJEITO ATIVO
Pode ser tanto o homem quanto a mulher (art. 5º, parágrafo único, Lei 11.340/06).
Logo, a violência doméstica baseada em razão de gênero havida entre companheiras se submete à
Lei Maria da Penha, não sendo o fato de se tratar de relação homoafetiva suficiente para afastar sua
aplicação. Também é possível que em um conflito percebido mãe e filha, irmãs, ou mesmo sogra e nora esteja
sujeito à aplicação da Lei 11.340/06.
SEMANA 01/12
Vamos esquematizar?
7. ELEMENTO SUBJETIVO
Para a doutrina amplamente majoritária: apenas crimes dolosos podem atrair a aplicação da Lei
Maria da Penha.
Deve-se frisar que, no que tange à modalidade de culpa consciente, aplica-se a incidência da Lei nº
11.340/06. Isso porque, na culpa consciente, existe vontade
45119
e nítido liame subjetivo entre o agente e o
resultado, na medida em que o sujeito reconhece que ultrapassa os limites do risco autorizado, ou seja, ele
tem ciência de que está lesando um dever de cuidado por meio de sua conduta. Isso é: Quando atua com
culpa consciente, o agente prevê a ocorrência do resultado penalmente relevante, em que pese acreditar,
firmemente, que não irá se verificar.
Já no tocante à culpa inconsciente, a doutrina entende não ser possível aplicar a Lei Maria da Penha
para os crimes culposos (nos casos em que a culpa é inconsciente, o agente não possui conhecimento de que
infringe um dever de cuidado, tampouco prevê a ocorrência do45119
resultado danoso, razão pela qual sua
ação/omissão não poderá ter qualquer base no gênero, implicando o afastamento do artigo 5º da Lei Maria
da Penha).
Cuidado! Apesar de o Supremo não ter enfrentado diretamente a questão por ocasião do julgamento
da ADI 4.424/DF (Rei. Min. Marco Aurélio, j. 09/02/ 2012), o Plenário do Supremo concluiu que o crime de
lesão corporal praticada contra a mulher em âmbito doméstico será de ação penal pública incondicionada,
mesmo que de natureza leve ou culposa. Logo, por via oblíqua as infrações penais culposas também se
sujeitam à incidência da Lei Maria da Penha. O mesmo se aplica no caso da contravenção penal de vias de
fato:
263
RETA FINAL
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Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a
mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
A ação ou omissão da qual resulta a violência doméstica não precisa ser necessariamente uma
infração penal, ações que não são típicas, ou são praticadas no bojo de alguma excludente de ilicitude ou
culpabilidade, podem ser consideradas violência doméstica, mesmo não sendo punidas criminalmente.
A lei é clara no sentido de que não se exige o vínculo familiar para a caracterização do âmbito de
unidade doméstica, sendo necessário apenas que o espaço seja de convivência permanente incluindo-se as
pessoas agregadas esporadicamente.
Nesse sentido, é possível aplicar a Lei Maria da Penha em relações de amigos que moram juntos, ou,
ainda, em violência perpetrada contra empregada doméstica,
45119 desde que presentes os demais requisitos,
sobretudo a situação de vulnerabilidade.
II - No âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
Nesta hipótese, sim, o determinante é a existência de vínculo familiar, de origem biológica ou não. A
violência não precisa ser praticada no âmbito da unidade doméstica, podendo ocorrer dentro ou fora do
espaço habitado pelos familiares.
Lembrando que não basta a relação de parentesco, sendo imprescindível a presença dos requisitos:
motivação de gênero e situação de vulnerabilidade.
Obs.: Vínculo de natureza familiar é jurídico. Logo, pode ser um vínculo conjugal, vínculo de parentesco ou
um vínculo por vontade expressa (adoção).
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação.
A Lei nº 11.340/2006, denominada Lei Maria da Penha, em seu art. 5.º, inc. III, caracteriza como
violência doméstica aquela em que o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação (STJ, CC 100654).
264
RETA FINAL
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STJ: “(...) AMEAÇA. SOGRA E NORA. (...) A incidência da Lei n.º 11.340/2006 reclama
situação de violência praticada contra a mulher, em contexto caracterizado por
relação de poder e submissão, praticada por homem ou mulher sobre mulher em
situação de vulnerabilidade. Precedentes. No caso não se revela a presença dos
requisitos cumulativos para a incidência da Lei nº 11.340/06, a relação íntima de
afeto, a motivação de gênero e a situação de vulnerabilidade. Concessão da
ordem. Ordem não conhecida. Habeas corpus concedido de ofício, para declarar
competente para processar e julgar o feito o Juizado Especial Criminal da Comarca
de Santa Maria/RS”. (STJ, 5ª Turma, HC 175.816/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Belizze,
j. 20/06/2013, DJe 28/06/2013).
Vamos esquematizar?
ÂMBITO
45119DA UNIDADE ÂMBITO DA FAMÍLIA QUALQUER RELAÇÃO ÍNTIMA DE
DOMÉSTICA AFETO
265
RETA FINAL
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#DICA DD: foi editada a lei 14.550/2023 que altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 e garante que a
Lei Maria da Penha seja aplicada em todos os casos de violência doméstica e familiar “independentemente
da causa ou da motivação” e da condição do agressor ou da vítima.
Note que o art. 40-A determina que a Lei será aplicada a todas as situações previstas no seu art. 5º
(Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão
baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento
45119
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial).
Conclui-se, portanto, que a lei continuou, acertadamente, delimitando a aplicação nas hipóteses de
violência de gênero definidas pelo art. 5°.
● Violência física– Entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal
● Violência psicológica – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuição da autoestima, lhe prejudique o pleno desenvolvimento, ou que
vise degradar ou controlar suas ações de maneira geral
266
RETA FINAL
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Lei 13.772/2018: acrescenta um novo crime ao Código Penal - Crime de registro não
autorizado da intimidade sexual (art. 216-B).4
Promoveu ainda uma pequena mudança na Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) para
deixar expresso que a violação da intimidade da mulher é uma forma de violência
doméstica, classificada como violência psicológica.
● Violência sexual - entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou
a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da
força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a
impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao
aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite
ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
● Violência patrimonial - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure
retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho,
documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a
satisfazer suas necessidades
45119
Há divergência doutrinária se há a aplicação das escusas absolutórias, das imunidades absoluta e relativa
previstas no CP nos casos de violência patrimonial no âmbito doméstico e familiar.
1ª posição – Maria Berenice Dias: NÃO. Defendem a inaplicabilidade das escusas absolutórias por ser uma
medida de política criminal incompatível com a mens legis da Lei Maria da Penha. Permitir a incidência das
imunidades é enfraquecer a proteção (que deveria ser mais intensa) à mulher vítima de violência patrimonial
no seio das relações domésticas, familiares e íntimas de afeto.
2ª posição- Nucci e Renato Brasileiro: SIM. Diante do silêncio da Lei, o ideal é concluir pela aplicação das
escusas absolutórias no caso de crimes patrimoniais perpetrados no contexto da violência doméstica e
familiar contra a mulher. Estender a vedação expressa presente no estatuto do idoso constitui verdadeira
analogia in malam partem, colocando-se em rota de colisão com o princípio da legalidade.
● Violência moral - entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou
injúria. 45119
4
https://www.dizerodireito.com.br/2018/12/lei-137722018-crime-de-registro-nao.html
267
RETA FINAL
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Logo, é importante perceber que as agressões da qual a lei protege não são necessariamente físicas,
podendo ser objeto do procedimento previsto na Lei 11.340 atos de disposição ilegítima
45119 de patrimônio e
crimes contra a honra, caso presentes das hipóteses já estudadas no art. 5°.
Art. 8o A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a
mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-governamentais,
tendo por diretrizes:
I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da
Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, assistência social, saúde,
educação, trabalho e habitação;
II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras informações
relevantes, com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia, concernentes às causas,
às consequências e à frequência da violência doméstica e familiar contra a mulher,
para a sistematização de dados, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação
periódica dos resultados das 45119
medidas adotadas;
III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da
pessoa e da família, de forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou
exacerbem a violência doméstica e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso
III do art. 1o, no inciso IV do art. 3o e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal;
SEMANA 01/12
45119
#DICA DD: foi editada a Lei nº 14.541/2023, dispondo sobre a criação e funcionamento ininterrupto de
Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deam).
De acordo com o referido diploma, além das funções de atendimento policial especializado para as
mulheres e de polícia judiciária, o Poder Público deverá prestar, por meio da Deam, e mediante convênio
com a Defensoria Pública, os órgãos do Sistema Único de Assistência Social e os Juizados de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher ou varas criminais
45119 competentes, a assistência psicológica e jurídica à
269
RETA FINAL
SEMANA 01/12
● Manutenção do vínculo trabalhista pelo prazo de até seis meses quando necessário o afastamento
da vítima de seu local de trabalho.
Obs.: Segundo o STJ, o INSS deverá arcar com a subsistência das mulheres que precisaram se afastar
do trabalho para se proteger de violência doméstica. Para o colegiado, tais situações ofendem a integridade
física ou psicológica da vítima, o que justifica o direito ao “auxílio-doença”:
● Encaminhamento à assistência judiciária, quando for o caso, inclusive para eventual ajuizamento
da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união
estável perante o juízo competente.
A Lei nº 13.894/2019 acrescentou um novo inciso ao § 2º do art. 9º prevendo que, se a vítima e o agressor
forem casados ou viverem em união estável, a mulher
45119
deverá ser encaminhada à assistência judiciária
para que possa ter a oportunidade de, assim desejando, desvincular-se formalmente do
marido/companheiro agressor por meio da ação judicial própria.
45119
A Lei nº 13.894/2019 acrescentou o § 4º e §5º e 6º do art. 9º prevendo que o autor de violência doméstica
praticada contra mulher terá que ressarcir os custos relacionados com:
• os serviços de saúde prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) às vítimas de violência doméstica e
familiar: Quando se fala em ressarcir todos os danos causados, isso significa que o agressor tem o dever,
inclusive, de pagar ao Sistema Único de Saúde (SUS) as despesas que foram realizadas com os serviços de
saúde prestados para o total tratamento da vítima em situação de violência doméstica e familiar. Ex: custos
com cirurgia, com medicamentos, com atendimento de psicóloga etc. Assim, mesmo o SUS sendo um
serviço oferecido gratuitamente à população, o agressor tem o dever de ressarcir os gastos que o poder
público teve com isso.
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• com os dispositivos de segurança utilizados pelas vítimas para evitar nova violência: como por exemplo:
“Botão do Pânico”5; tornozeleira eletrônica com dispositivo de aproximação que fica com a mulher.
● Prioridade para matricular seus dependentes em instituição de educação básica mais próxima de
seu domicílio, ou transferi-los para essa instituição, mediante a apresentação dos documentos
comprobatórios do registro da ocorrência policial.
A Lei nº 13.882/2019 amplia esse rol de assistência e prevê que a mulher vítima da violência doméstica terá
prioridade para matricular ou para transferir seus filhos ou outros dependentes para escolas próximas de seu
domicílio. E se não houver vaga na escola próxima, ainda assim, o dependente da vítima terá direito de ser
matriculado como um excedente, ou seja, mesmo fora do número de vagas. É nesse sentido a previsão da
45119
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas: V – “determinar a matrícula dos
dependentes da ofendida em instituição de educação básica mais próxima do seu domicílio, ou a
transferência deles para essa instituição, independentemente da existência de vaga.”
Obs.: a informação de que o aluno foi transferido ou matriculado por conta de violência doméstica sofrida
por sua mãe deverá ficar em sigilo, sendo de conhecimento apenas do juiz, do MP e dos órgãos competentes
do poder público (ex.: diretora da escola).
● Concessão de auxílio-aluguel, com valor fixado em função de sua situação de vulnerabilidade social
e econômica, por período não superior a 6 (seis) meses (art. 23, VI, LMP, incluído pela Lei nº 14.674,
de 2023).
5
http://www.tjes.jus.br/botao-do-panico-dispositivo-de-seguranca-que-ajuda-a-proteger-mulheres-vitimas-de-violencia-
domestica-completa-6-anos/
271
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Trata-se de tema rotineiramente abordado em prova de carreiras policiais, uma vez que é direito da
mulher ser atendida de forma especializada, ininterrupta e preferencialmente, por servidoras do sexo
feminino. Como se depreende do texto legal, não há uma necessidade absoluta de que o atendimento seja
realizado por Mulher:
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Em linhas gerais, busca-se por meio do estabelecimento de diretrizes especiais à polícia judiciária
evitar a vitimização secundária, bem como a heterovitimização, impedindo que a vítima seja objeto de
sucessivas inquirições e procedimentos que possam potencializar as sequelas das violências sofridas.
Os arts. 11 e 12 da Lei Maria da Penha tratam das providências que devem ser tomadas pela
autoridade policial que tenha atuação na Delegacia especializada no atendimento à mulher vítima de
violência doméstica e familiar contra a mulher, ou da Delegacia de Polícia comum, nos locais em que não
houver delegacia especializada.
Algumas providências são de caráter obrigatório, como, por exemplo, a oitiva da vítima, lavratura do
boletim de ocorrência, atermação da representação e a verificação se o agressor possui registro de porte ou
posse de arma de fogo; outras, no entanto, têm sua realização condicionada à discricionariedade da
autoridade policial, que deve determinar sua realização de acordo com as peculiaridades do caso concreto.
III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local
seguro, quando houver risco de vida;
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Aqui é importante ficar atento, pois se trata de dispositivo diretamente voltado à autoridade policial,
em especial para o dever de remessa dos autos para o magistrado no prazo de 48 horas, bem como para a
inovação legislativa que orienta a verificação do registro de posse ou porte de arma de fogo por parte do
agressor.
Note que a autoridade policial não tem legitimidade para aplicar diretamente a medida protetiva ou
representar por ela. O delegado apenas encaminha ao juiz, em 48 horas, quando há pedido da ofendida!
Não há que se falar em representação pelos procedimentos legais.
O inciso VI determina que a autoridade policial deve fazer juntar aos autos do procedimento
investigatório a folha de antecedentes criminais do agressor, indicando a existência de mandado de prisão
ou registro de outras ocorrências policiais contra ele. Nessa toada, é igualmente importante que o delegado
verifique se há, no banco de dados criado pela Lei n. 13.829/19 (que inseriu o art. 38-A na Lei), eventual
registro de medida protetiva de urgência anteriormente determinada em detrimento do agressor.
45119
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De forma semelhante com o que ocorre na Lei 9.099/95, há possibilidade de utilização de laudos e
boletins de atendimentos médicos fornecidos fora do Instituto Médico Legal. Essa possibilidade consiste em
uma espécie de mitigação da obrigatoriedade do exame de corpo de delito, porquanto laudos ou
prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde poderiam ser utilizados para embasar a
denúncia e, até mesmo, eventual condenação. Nas palavras de Renato Brasileiro:
“Ora, se a própria Lei Maria da Penha faz referência a tais documentos como
verdadeiros meios de prova, ou seja, a um instrumento por meio do qual as fontes
de prova são introduzidas no processo, é evidente que, nos mesmos moldes do que
ocorre no âmbito dos Juizados Especiais Criminais (Lei nº 9.099/95, art. 77, § 1 °),
os laudos ou prontuários médicos também podem ser utilizados na sentença
condenatória para a formação do convencimento do juiz acerca da materialidade
de uma violência doméstica e familiar contra a mulher, e não apenas para fins de
oferecimento da peça acusatória ou decretação de medidas cautelares.”
Atenção à jurisprudência:
Outra inovação ocorreu no §1º, inciso IV. A Lei 13.836/2019 estabeleceu que uma das providências
do Delegado de Polícia é informar à autoridade judicial caso a mulher vítima da violência seja pessoa com
deficiência.
Por questões didáticas, analisaremos o art. 12-C juntamente com
o estudo acerca das medidas protetivas de urgência, no tópico
abaixo
Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no prazo
de 48 (quarenta e oito) horas:
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas de
urgência;
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Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a
requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.
§ 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato,
independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério
Público, devendo este ser prontamente comunicado.
§ 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou
cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de
maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou
violados.
§ 3º Poderá o juiz, a requerimento
45119 do Ministério Público ou a pedido da ofendida,
conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se
entender necessário à proteção da ofendida, de seus familiares e de seu
patrimônio, ouvido o Ministério Público.
⮚ Lei 14.550/2023:
§ 4º As medidas protetivas de urgência serão concedidas em juízo de cognição
sumária a partir do depoimento da ofendida perante a autoridade policial ou da
45119
apresentação de suas alegações escritas e poderão ser indeferidas no caso de
avaliação pela autoridade de inexistência de risco à integridade física, psicológica,
sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de seus dependentes.
§ 5º As medidas protetivas de urgência serão concedidas independentemente da
tipificação penal da violência, do ajuizamento de ação penal ou cível, da existência
de inquérito policial ou do registro de boletim de ocorrência.
§ 6º As medidas protetivas de urgência vigorarão enquanto persistir risco à
integridade física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de seus
dependentes.” (NR)
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Entendia o STJ que deveria ser aplicado às medidas protetivas de urgência o regramento previsto
pelo Código de Processo Penal no que tange às medidas cautelares. Dessa forma, não caberia falar em
instauração de processo próprio, com citação do requerido, tampouco com a possibilidade de decretação de
sua revelia em caso de não apresentação de contestação
45119 no prazo de cinco dias.
Contudo, em reação legislativa, a partir da Lei 14.550/2023, que alterou a lei Maria da Penha, as
medidas protetivas de urgência serão concedidas independentemente da tipificação penal da violência, do
ajuizamento de ação penal ou cível, da existência de inquérito policial ou do registro de boletim de
ocorrência. Isso significa que, visando uma maior proteção à vítima, ou seja, desvinculando a aplicação das
medidas protetivas de qualquer procedimento ou ação penal, A LEGISLAÇÃO DEFINE A NATUREZA
AUTÔNOMA das medidas protetivas.
No entanto, O ENTENDIMENTO MAIS RECENTE DA SEXTA TURMA DO STJ passou a afirmar que a
natureza jurídica das medidas protetivas de urgência previstas na Lei Maria da Penha é de tutela inibitória
e não cautelar, inexistindo prazo geral para que ocorra a reavaliação de tais medidas, sendo necessário que,
para sua eventual revogação ou modificação, o Juízo se certifique, mediante contraditório, de que houve
alteração do contexto fático e jurídico (STJ. REsp 2.036.072-MG, Rel. Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma,
julgado em 22/8/2023, DJe 30/8/2023, Info 789).
Portanto, as medidas protetivas ostentam natureza de tutela inibitória, são autônomas, ou seja, não
dependem de um processo principal, possuindo, desse modo, conteúdo satisfativo.
A tutela inibitória tem a definitividade como característica. Além disso, decorre de cognição judicial
exauriente, a partir da análise das circunstâncias fáticas e das provas produzidas mediante a instauração de
processo de conhecimento.
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1. As medidas protetivas de urgência previstas na Lei Maria da Penha buscam preservar a integridade
física e psíquica da vítima, prescindindo, assim, da existência de ação judicial ou inquérito policial.
2. As medidas protetivas têm validade enquanto perdurar a situação de perigo. A decisão judicial que
as impõe submete-se à cláusula rebus sic stantibus, ou seja, para sua eventual revogação ou
modificação, mister se faz que o Juízo se certifique de que houve a alteração do contexto fático e
jurídico.
3. Torna-se imperiosa a instauração do contraditório antes de se decidir pela manutenção ou revogação
do referido instrumento protetivo, em obediência ao princípio do contraditório (art. 5.º, inciso LV,
da Constituição da República).
4. Não pode ser admitida a fixação de um prazo determinado para a vigência das medidas aplicadas
(revogação automática), sem qualquer averiguação acerca da manutenção daquela situação de risco
que justificou a imposição das medidas protetivas, expondo a mulher a novos ataques.
5. A fim de evitar a inadequada perenização das medidas, nada impede que o juiz, caso entenda
prudente, revise periodicamente a necessidade de manutenção das medidas protetivas impostas,
garantida, sempre, a prévia manifestação das partes.
6. É descabida, no entanto, a fixação de um prazo geral para que essa reavaliação das medidas ocorra,
devendo ser afastada a analogia com o prazo de
4511990 dias para revisão das prisões preventivas.
#DICA DD: de acordo com o STJ, “é necessária a oitiva da mulher vítima de violência doméstica para a
revogação da medida protetiva de urgência anteriormente concedida”. STJ, REsp 1775341, julgado em
12/04/2023 (Informativo 770).
A partir da Lei 14.550/2023, que alterou a lei Maria da Penha, as medidas protetivas de urgência
serão concedidas independentemente da tipificação penal da violência, do ajuizamento de ação penal ou
cível, da existência de inquérito policial ou do registro de boletim de ocorrência.
✓ da tipificação penal da violência;
✓ do ajuizamento de ação penal ou cível;
✓ da existência de inquérito policial;
✓ de registro de boletim de ocorrência.
45119
Isso significa que, visando uma maior proteção à vítima, ou seja, desvinculando a aplicação das
medidas protetivas de qualquer procedimento ou ação penal, a legislação define a natureza autônoma das
medidas protetivas. Neste sentido, o STJ tem posicionamento publicado na edição n° 205 da Jurisprudência
em Teses com a seguinte redação:
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De encontro ao que prevê a Lei 14.550/2023, conforme visto acima, as medidas protetivas possuem
natureza de tutela inibitória, não dependem de um processo principal (são autônomas) e possuem conteúdo
satisfativo. Diante disso, ainda que ausente inquérito policial ou processo penal em curso, é possível a
concessão, manutenção ou revogação das medidas protetivas de urgência. Neste sentido, o STJ tem
45119
posicionamento publicado na edição n° 205 da Jurisprudência em Teses com a seguinte redação:
As medidas protetivas de urgência poderão ser INDEFERIDAS no caso de avaliação pela autoridade
de inexistência de risco à integridade física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de
seus dependentes!
A mudança na legislação também garante que a Lei Maria da Penha seja aplicada em todos os casos
de violência doméstica e familiar “independentemente da causa ou da motivação” e da condição do agressor
ou da vítima.
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Além disso, as medidas protetivas de urgência poderão ser aplicadas em conjunto com as medidas
cautelares do CPP. Ex: determinação para que o agressor se afaste do lar (inciso II do art. 22 da LMP) e que
compareça periodicamente em juízo (inciso I do art. 319 do CPP).
As medidas protetivas de urgência, em regra, são concedidas pela autoridade judicial (Juiz ou
Desembargador), após requerimento do Ministério Público ou da ofendida – cujo pedido é formulado
perante a autoridade policial.
Note, portanto, que as medidas protetivas de urgências não podem ser objeto de representação
pela autoridade policial. Como vimos na análise do art. 12, §1º, o que o delegado de polícia pode fazer é
apenas tomar a termo a declaração da ofendida pela concessão das medidas protetivas, ou seja, somente
pode transcrever esse pedido e encaminhá-lo ao Poder Judiciário.
Ressalta-se que, até a edição
45119 da Lei nº 13.827/2019, a regra que exigia cláusula de reserva de
jurisdição não possuía exceções. A referida Lei, no entanto, inovou e trouxe uma hipótese em que uma das
medidas protetivas de urgência poderia ser concedida pelo Delegado de polícia, ou até mesmo pelo policial,
em determinadas situações.
O art. 12-C, inserido pela Lei nº 13.827/2019 e posteriormente atualizado pela Lei 14.188/2021,
permite que a medida protetiva de AFASTAMENTO DO LAR seja concedida pelo Delegado de Polícia, se o
Município não for sede de comarca ou até mesmo pelo policial, caso também não haja Delegado de Polícia
no momento, devendo o juiz ser comunicado no prazo máximo de 24 horas.
💣 Cuidado para não confundir com o prazo de 48 horas previsto no art. 12, III e
art. 18!
281
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Se a medida for concedida por Delegado ou por policial (situações 2 e 3), o Juiz será comunicado no
prazo máximo de 24 horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida
aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público concomitantemente!
O Supremo Tribunal Federal (STF) considerou válida a alteração promovida pela Lei nº 13.827/19,
que passou a permitir que, em casos excepcionais, a autoridade policial afaste o suposto agressor do
domicílio ou do lugar de convivência quando for verificado risco à vida ou à integridade da mulher, mesmo
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sem autorização judicial prévia. A decisão foi proferida no bojo da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)
6138: STF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, Julgado em 23/03/2022.
CONCLUSÃO: Em regra, as medidas protetivas de urgência somente podem ser concedidas pela
autoridade judiciária, por se tratar de medida submetida à cláusula de reserva de jurisdição, após o
requerimento do MP ou da ofendida. No entanto, em havendo risco à vida ou integridade física ou
psicológica da ofendida ou de seus dependentes, poderá o Delegado de Polícia ou o próprio policial
determinarem o AFASTAMENTO IMEDIATO DO LAR, nas hipóteses previstas em lei!
PEGADINHA DE PROVA:
* REGRA: O delegado tem 48 horas para enviar a representação da vítima ao juiz (art. 12, III), e o juiz
também possui 48 horas para tomar as devidas providências (art. 18, caput)
* EXCEÇÃO: Em caso de medida protetiva de afastamento do lar concedida pelo Delegado de Polícia ou
pelo Policial, nas hipóteses previstas em lei, a comunicação ao juiz deve ser feita em 24 horas, tendo este
o mesmo prazo de 24 horas para decidir sobre ela. (Art. 12-C, §1º).
⮚ Obs.: há quem defenda que, nas hipóteses de afastamento imediato do lar (art. 12-C, inc.
I) ou decretação da prisão preventiva, o juiz poderia agir de ofício, tendo em vista que há
autorização expressa na Lei nesse sentido, devendo-se invocar, para tanto, o princípio da
especialidade. (Tema extremamente controverso que será analisado adiante)
● 2ª C – SIM! Apesar de o dispositivo não prever expressamente, seria possível que as medidas
protetivas fossem concedidas pelo Juiz de ofício. Isso porque o juiz, ao conceder medidas protetivas
de urgência de ofício, não estaria promovendo a persecução penal contra o acusado, mas apenas
tomando medidas que visam a beneficiar a vítima de violência doméstica. Inclusive, o próprio
parágrafo primeiro determina que as medidas devem ser concedidas de imediato,
independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, confirmando
a possibilidade de o Juiz poder concedê-las de ofício.
45119
CUIDADO! Embora o art. 19, §1º autorize o juiz a apreciar as medidas protetivas sem a prévia oitiva do MP,
o mesmo não ocorre nas hipóteses de alteração ou reforço das medidas já concedidas, em que se exigirá a
prévia oitiva do MP, à luz do art. 19, §3º.
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Atenção à jurisprudência:
45119
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos
termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou
separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão
competente, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite
mínimo de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de
comunicação;
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e
psicológica da ofendida;
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Atenção à jurisprudência:
Além disso, sobre a duração da medida protetiva, vale destacar a jurisprudência do STJ (informativo
770, de 18/04/2023):
Independentemente da extinção de punibilidade do autor, a vítima de violência
doméstica deve ser ouvida para que se verifique a necessidade de
prorrogação/concessão das medidas protetivas. (...) Assim, antes do
encerramento da cautelar protetiva, a defesa deve ser ouvida, notadamente para
que a situação fática seja devidamente apresentada ao Juízo competente, que,
diante da relevância da palavra da vítima, verifique a necessidade de
prorrogação/concessão das medidas, independentemente da extinção de
punibilidade do autor. STJ. REsp 1.775.341-SP, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior,
Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 12/4/2023, DJe 14/04/2023.
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Decisão que fixa alimentos em razão da prática de violência doméstica pode ser
executada sob o rito da prisão civil. A decisão proferida em processo penal que fixa
alimentos provisórios ou provisionais em favor da companheira e da filha, em razão
da prática de violência doméstica, constitui título hábil para imediata cobrança e,
em caso de inadimplemento, passível de decretação de prisão civil. STJ. 3ª Turma.
RHC 100446-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 27/11/2018 (Info
640).
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário
de proteção ou de atendimento;
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo
domicílio, após afastamento do agressor;
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos
relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;
IV - determinar a separação de corpos.
V - determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em instituição de
educação básica mais próxima do seu domicílio, ou a transferência deles para essa
instituição, independentemente da existência de vaga. (Incluído pela Lei nº
13.882, de 2019)
VI – conceder à ofendida auxílio-aluguel, com valor fixado em função de sua
situação de vulnerabilidade social e econômica, por período não superior a 6
(seis) meses. (Incluído pela Lei nº 14.674, de 2023)
A Lei 13.882/2019 garante a matrícula dos dependentes da mulher vítima de violência doméstica e
familiar em instituição de educação básica mais próxima de seu domicílio. Mesmo se não houver vaga na
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escola próxima, ainda assim, o dependente da vítima terá direito de ser matriculado como um excedente, ou
seja, mesmo fora do número de vagas (já explicado acima).
Sobre a concessão do auxílio-aluguel, importa destacar que a medida foi inserida pela Lei
14.674/2023, sendo pertinente destacar que as despesas com o pagamento do auxílio-aluguel poderão ser
custeadas com recursos oriundos de dotações
45119 orçamentárias do Sistema Único de Assistência Social a serem
consignados pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios para os benefícios eventuais da
assistência social.
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles
de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as
seguintes medidas, entre outras:
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;
II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e
locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;
III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos
materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a
ofendida. 45119
Quais as consequências caso o indivíduo descumpra a decisão judicial que impôs a medida
protetiva de urgência?
● É possível a execução da multa imposta;
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● É possível a decretação de sua prisão preventiva (art. 313, III, do CPP) – caso presentes também os
indícios do art. 312, CPP (analisaremos adiante)
● O agente responderá pelo crime do art. 24-A da Lei nº 11.340/2006:
Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência
previstas nesta Lei:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos
§ 1º A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do juiz
que deferiu as medidas.
§ 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá
conceder fiança.
§ 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções cabíveis.
O art. 24-A, inserido pela Lei 13.641/2018, é o único delito tipificado na Lei nº 11.340/2006.
Em verdade, trata-se de um delito de desobediência, em que o agressor, ao descumprir a medida
restritiva imposta pelo juízo a título de medida protetiva, está violando a administração da justiça por conta
de seu desprezo à decisão judicial. Portanto, é sujeito ativo do delito, o agressor destinatário da medida. Já
o sujeito passivo é a administração da justiça e, secundariamente, a vítima.
a) Sujeito ativo: Comete este delito a pessoa que descumpre a medida protetiva de urgência imposta
com base na Lei Maria da Penha.
● Homem ou mulher: aqui cabe uma interessante observação: ao contrário do que muitos
imaginam, o autor da violência doméstica não precisa ser necessariamente um homem. Assim,
existem casos de violência doméstica praticados por mulheres. Ex: filha contra mãe (STJ HC
277.561/AL). A exigência é de que a vítima seja mulher, mas o agressor pode ser homem ou
mulher. Isso significa que o sujeito ativo do crime do art. 24-A da Lei Maria da Penha pode ser
homem ou mulher. É o caso, por exemplo, da nora que agride a sogra. Se o juiz impuser que a
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nora não se aproxime da sogra e a nora descumprir essa ordem, responderá prelo crime do
art. 24-A.
● Partícipes: o indivíduo poderá responder por este delito, na qualidade de partícipe, mesmo
sem ser o autor da violência doméstica. Ex.: o juiz determina que João mantenha distância
mínima de 500 metros de Maria (sua ex-esposa) e não tente nenhum contato com ela por
qualquer meio de comunicação (art. 22, III, “a” e “b”). O irmão de João, mesmo sabendo dessa
proibição, envia para Maria, pelo seu número do whatsapp, um áudio do agressor no qual ele
tenta a reconciliação com a vítima.
c) Tipo objetivo:
● Descumprir: consiste em desobedecer, ou seja, não atender, não cumprir a decisão judicial.
● Ação ou omissão: vale ressaltar que esse crime poderá ser praticado mediante conduta
comissiva (ex.: aproximar-se da vítima mesmo
45119
havendo uma proibição) ou omissiva (ex: não
pagar os alimentos provisórios fixados pelo juiz como medida protetiva).
● Decisão judicial: deve-se entender em sentido amplo, abrangendo tanto decisões
interlocutórias como eventualmente uma sentença ou acórdão no qual seja fixada a medida
45119
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Obs.1: Não se exige violência ou grave ameaça: o crime do art. 24-A pode se consumar mesmo que
o sujeito ativo não tenha agido com violência ou grave ameaça. Ex.: o juiz determinou que João, acusado de
violência doméstica, não se aproxime menos que 500m da ex-mulher. O autor do fato, arrependido, procura
a vítima chorando e com um buquê de rosas. Ele terá cometido o crime do art. 24-A. Se houver violência ou
grave ameaça, o agente poderá responder pelo delito do art. 24-A em concurso com outros delitos. Ex.: se o
agente, que estava proibido de se aproximar da ex-mulher, procura-a e a ameaça de morte, ele responderá
pelo delito do art. 24-A da Lei nº 11.340/2006 em concurso com o art. 147 do Código Penal.
Muita ATENÇÃO! De acordo com o STJ (Info 785), a aproximação do réu com o consentimento da
vítima torna atípica a conduta de descumprir medida protetiva de urgência.
Obs.2: Inexigibilidade de conduta diversa: uma das medidas protetivas de urgência previstas na Lei
é a “prestação de alimentos provisionais ou provisórios” à mulher (art. 22, V). Se o agente não cumpre essa
medida em virtude de impossibilidade econômica, não poderá ser punido pelo crime do art. 24-A,
considerando que se trata de hipótese de inexigibilidade de conduta diversa, que consiste em causa
excludente de culpabilidade.
O dolo, no caso, consiste na vontade livre e consciente de descumprir decisão judicial que defere
medida protetiva de urgência baseada na Lei Maria da Penha. Obviamente, para que haja o crime, é
indispensável que o agente saiba da existência da decisão judicial deferindo a medida protetiva.
Não há crime se o sujeito age com culpa. Ex: vai a uma festa de aniversário de amigos em comum e
ali encontra a ex-mulher sendo que havia uma ordem de não aproximação.
e) Consumação e tentativa: a medida protetiva pode consistir em uma ordem para que o agente faça
alguma coisa ou para que não faça (não adote determinado comportamento).
Desse modo, o crime se consuma no momento em que o agente faz45119
a conduta proibida na decisão
judicial (ex.: entra em contato com a ex-mulher, mesmo isso tendo sido proibido) ou, então, no instante em
que termina o prazo que havia sido fixado para que o sujeito adotasse determinado comportamento (ex: juiz
fixou o prazo de 24h para que o agressor deixasse a casa; após isso, sem cumprimento, o crime já terá se
consumado).
A tentativa, em tese, é possível na modalidade comissiva. Ex: o ex-marido, mesmo estando proibido
de entrar em contato com a ex-mulher, envia-lhe uma carta, que é interceptada pela sogra.
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Observações importantes:
● § 1º: A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do juiz que deferiu as
medidas: as medidas protetivas de urgência da Lei nº 11.340/2006 não são exclusivas do processo
penal. Isso significa que podem ser aplicadas em processos cíveis, independentemente da existência
de inquérito policial ou processo criminal contra o suposto agressor.
● § 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder fiança: a Lei
nº 13.641/2018, ao incluir esse § 2º, criou uma exceção à regra do art. 322 do CPP. Isso porque o §
2º proíbe que o Delegado de Polícia conceda fiança para o crime do art. 24-A, a despeito desse delito
ter pena máxima de 2 anos.
45119 45119
CUIDADO! Veda-se a concessão de fiança pela autoridade policial somente no delito do art. 24-A! Caso seja
praticado outro delito, com pena máxima de 4 anos, ainda que no âmbito da Lei Maria da Penha, será
possível a concessão da fiança, nos moldes do art. 322 do CPP! Em outras palavras: o mero fato de o crime
ter sido praticado no âmbito da violência doméstica e familiar contra a mulher, por si só, não afasta a
concessão da fiança!
O autor Renato Brasileiro explica:
“(...) Se o art. 322 do CPP dispõe que a autoridade policial poderá conceder fiança às infrações penais cuja
pena máxima não seja superior a 4 (quatro) anos, não se pode estabelecer qualquer outro requisito para a
concessão do referido benefício, sob pena de indevida violação ao princípio da legalidade. De mais a mais, o
simples fato de um crime estar sujeito à decretação da prisão preventiva não é óbice à concessão da fiança
pela autoridade policial.”
● § 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções cabíveis: descumprimento de
medida protetiva pode ensejar a execução da multa eventualmente imposta e a decretação da prisão
preventiva do autor. O que este § 3º explicita é que tais consequências continuam acontecendo
mesmo agora com a existência de um tipo penal específico para essa conduta.
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A pena máxima do art. 24-A não ultrapassa dois anos, razão pela qual parte da doutrina entende que
se trata de infração de menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei nº 9.099/95) 6. Diante disso, indaga-se a
possibilidade da transação penal, da suspensão condicional do processo e dos demais benefícios da Lei nº
9.099/95 para o autor do crime do art. 24-A da Lei 45119
nº 11.340/2006.
A jurisprudência é extremamente refratária à aplicação de qualquer medida despenalizadora em se
tratando de delitos que envolvam violência doméstica. Nesse sentido, a título de exemplo, as súmulas 536,
542 e 588, todas do STJ:
NÃO CONFUNDA: Em se tratando de crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher
NÃO SE APLICA A SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO, ENTRETANTO É POSSÍVEL A CONCESSÃO DA
SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA (Código Penal).
A prisão preventiva na Lei Maria da Penha é um tema bastante controvertido na doutrina. Isso porque
a Lei prevê a possibilidade de decretação da cautelar, pelo juiz, de ofício, em qualquer fase da persecução
penal, o que, para a doutrina amplamente majoritária, violaria do Sistema Acusatório. Na realidade, antes
mesmo do advento do Pacote Anticrime, que veio para reforçar a imparcialidade do juiz, já havia acirrada
discussão sobre o tema.
⦁ Prova objetiva – Verificar se a assertiva contempla a letra da lei ou a jurisprudência do STJ.
Pois na lei admite a possibilidade de o juiz decretar a prisão preventiva de ofício, seja em
fase de inquérito policial ou instrução penal. Já em decisão do STJ, não cabe preventiva de
ofício.
ATENÇÃO! STJ decidiu que NÃO cabe decretação de prisão de ofício nem no rito da Lei Maria da Penha:
6
Renato Brasileiro discorda e afirma que, a despeito de a pena máxima cominada não ser superior a 2 anos, o art. 24-A é crime
comum, de competência do juízo comum, aplicando-se o procedimento comum sumário.
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Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da
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retratar trazida aos autos antes do recebimento da denúncia. STJ. 5ª turma. AgRg
no REsp 1.946.824-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, por
unanimidade, julgado em 14/06/2022, DJe 17/06/2022. (Info 743) e REsp
1.977.547-MG, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Terceira Seção, por
unanimidade, julgado em 8/3/2023. (Info 766 e Tema 1167).
Percebe-se aqui que há uma exceção à regra geral trazida pelo Código de Processo Penal, podendo
haver retratação da representação após oferecimento da denúncia.
A retratação poderá ocorrer até o oferecimento da A retratação poderá ocorrer antes do recebimento
denúncia (art. 25) da denúncia (art. 16)
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audiência para ouvir a ofendida e o MP, não podendo rejeitar a denúncia sem cumprir esse procedimento.
STJ. 5ª Turma. HC 138143-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 03/09/2019 (Info 656).
Caiu em prova Delegado PC-RN/2021 da banca FGV! Noeli compareceu à delegacia de polícia para registrar
boletim de ocorrência contra seu companheiro Erson pelo crime de ameaça. Após chegar em casa, Noeli ouve
pedido de desculpa de seu companheiro e apelos para que desista da representação. Considerando o
disposto na legislação aplicável, quanto à possibilidade de retratação da representação apresentada, Noeli:
poderá se retratar perante o juiz, em audiência especial, até o recebimento da denúncia.
16.1 Vedação à pena de cesta básica, prestação pecuniária ou pagamento isolado da multa
Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a
mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a
substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa.
45119
Tal vedação se presta a não atribuição de um caráter meramente patrimonial à punição do agressor,
o que de certa forma incentivaria um processo discriminatório em que agressores abastados financeiramente
se eximiriam de sua responsabilidade com o mero pagamento de indenizações e prestações pecuniárias.
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Alguns doutrinadores começaram a sustentar a tese de que o art. 17, ao proibir apenas esses tipos
de penas, teria, a contrario sensu, permitido que fossem aplicadas outras espécies de penas restritivas de
direitos.
Essa interpretação foi aceita pela jurisprudência? É possível a aplicação de penas restritivas de
direito para os crimes cometidos contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico?
R.: NÃO. A jurisprudência entende que não cabe a substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos nos crimes cometidos contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente
doméstico. O STJ editou a súmula 588 para espelhar essa sua posição consolidada:
Por outro lado, em caso de CONTRAVENÇÕES PENAIS praticadas contra a mulher com violência ou
grave ameaça no ambiente doméstico há uma discordância. Ex.: imagine que o marido pratica vias de fato
(art. 21 da Lei de Contravenções Penais) contra a sua esposa; ele poderá ser beneficiado com pena restritiva
de direitos?
● STJ e 1ª Turma do STF: NÃO. Não é possível a substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos tanto no caso de crime como contravenção penal praticados contra a
mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico. É o teor da Súmula 588-STJ. A
7
Explicação via Dizer o Direito.
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1ª Turma do STF também comunga do mesmo entendimento: HC 137888/MS, Rel. Min. Rosa
Weber, julgado em 31/10/2017.
● 2ª Turma STF: SIM. Afirma que é possível a conversão da pena privativa de liberdade por
restritiva de direito, nos moldes previstos no art. 17 da Lei Maria da Penha, aos condenados pela
prática de contravenção penal. Isso porque a contravenção penal não está na proibição contida
no inciso I do art. 44 do CP, que fala apenas em crime. Logo, não existe proibição no
ordenamento jurídico para a aplicação de pena restritiva de direitos em caso de contravenções.
Nesse sentido: STF. 2ª Turma. HC 131160, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 18/10/2016.
Relembre o que diz o inciso I do Código Penal:
#DICA DD! Em concursos, se o enunciado não estiver fazendo qualquer distinção, fiquem com a posição
exposta na súmula e que também é adotada pela 1ª Turma do STF.
Não se aplica o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a
mulher no âmbito das relações domésticas. Os delitos praticados com violência contra a mulher, devido à
expressiva ofensividade, periculosidade social, reprovabilidade
45119
do comportamento e lesão jurídica causada,
perdem a característica da bagatela e devem submeter-se ao direito penal.
Assim, o STJ e o STF não admitem a aplicação dos princípios da insignificância aos crimes e
contravenções praticados com violência ou grave ameaça contra a mulher, no âmbito das relações
domésticas, dada a relevância penal da conduta.
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No mesmo sentido: STJ. 6ª Turma. AgInt no HC 369.673/MS, Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz, julgado em 14/02/2017.
Inicialmente, cumpre salientar que não são todos os crimes praticados no contexto de violência
doméstica e familiar contra a mulher que são de ação penal pública incondicionada. Veja: a regra prevista
pelo Código Penal é que os crimes serão de ação penal pública incondicionada, inclusive quando não houver
previsão expressa nesse sentido. Ou seja: quando o Código não falar nada, o crime será de ação penal pública
incondicionada (essa regra vale para todos os crimes!). Assim, para que o crime seja de ação penal privada
ou pública condicionada, deve haver disposição expressa nesse sentido.
Ocorre que havia divergência doutrinária sobre o crime de LESÃO CORPORAL LEVE e LESÃO
CORPORAL CULPOSA no âmbito da Lei Maria da Penha. Isso porque, por um lado, a Lei 9.099/95 afirma que
os crimes de lesão corporal culposa e leve são de ação penal pública condicionada à representação (art. 88),
enquanto, por outro lado, o art. 41 da Lei Maria da Penha expressamente afasta a incidência da Lei 9.099/95
aos crimes cometidos no âmbito da Violência Doméstica e familiar contra a mulher.
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Assim surgiu a seguinte divergência: aplica-se o disposto na Lei 9099/95, que prevê a ação penal
pública condicionada à representação para as lesões corporais leves e culposas, ou se aplica o disposto na
Lei 11.340/06, que veda a aplicação da Lei 9099/95 aos crimes da Lei?
A doutrina e jurisprudência dominantes são no sentido de que deve prevalecer o art. 41 da Lei Maria
da Penha, em razão do princípio da especialidade. Assim, embora a regra geral seja de que as lesões
corporais leves e culposas dependam de representação, SE OCORREREM NO ÂMBITO DA LEI MARIA DA
PENHA, SERÃO CRIMES DE AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA. Não porque a Lei 11.340/06 dispõe
dessa forma, mas sim porque veda a aplicação da Lei 9.099/95.
Portanto, o queremos dizer é:
∘ Se o crime praticado no âmbito de violência doméstica e familiar contra a mulher estiver
previsto no CÓDIGO PENAL como um crime condicionado à representação, como é o caso
da ameaça,
45119assim será. As ameaças no contexto de violência doméstica precisarão de
representação da ofendida pois esta é a regra geral do Código Penal - e a Lei Maria da Penha
não afasta a incidência do Código Penal.
∘ Por outro lado, se o crime praticado no âmbito de violência doméstica e familiar contra a
mulher estiver previsto NA LEI DE JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS como um crime
condicionado à representação, como é o caso da lesão corporal leve e culposa, essa regra
não será aplicada aos crimes praticados
45119 no contexto de violência doméstica pois a própria
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 1995.
Informativo 654 do STF - Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar
contra a mulher não se aplica a Lei dos Juizados Especiais (Lei n. 9.099/95), mesmo
que a pena seja menor que 2 anos.
Súmula 542 - STJ: a ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de
violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.
Veja a explicação do professor Renato Brasileiro sobre o tema (2020, Pg. 1281):
"Lado outro, o art. 41 da Lei nº 9.099/95 dispõe que, aos crimes praticados com
violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena
prevista, não se aplica a Lei nº 9.099/95. Ora, se a Lei dos Juizados não é aplicável
às situações de violência doméstica e familiar contra a mulher, e se é a Lei nº
9.099/95 que dispõe que os crimes de lesão corporal leve e de lesão corporal
culposa são de ação penal pública condicionada à representação (art. 88), conclui-
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Primeiramente, vale destacar que o STF atribuiu INTERPRETAÇÃO CONFORME, por unanimidade, à
primeira parte do art. 3º-C do CPP, para esclarecer que as normas relativas ao juiz das garantias não se
aplicam aos casos de violência doméstica e familiar.
Em que pese a redação original do dispositivo excetuar apenas as infrações de menor potencial
ofensivo, a Corte entendeu que a nova sistemática implementada pelo denominado “Pacote Anticrime” não
seria aplicável também aos casos de violência doméstica e familiar, pois a violência doméstica é um
fenômeno dinâmico, caracterizado por uma linha temporal que inicia com a comunicação da agressão.
Depois dessa comunicação, sucede-se, no decorrer do tempo, ou a minoração ou o agravamento do quadro.
Uma cisão rígida entre as fases de investigação e de instrução/julgamento impediria que o juiz conhecesse
toda a dinâmica do contexto de agressão.
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Portanto, pela sua natureza, os casos de violência doméstica e familiar exigem disciplina processual
penal específica, que traduza um procedimento mais dinâmico, apto a promover o pronto e efetivo amparo
e proteção de violência doméstica.
b) Execução penal:
Embora, o artigo 13 aluda à execução, a competência para tanto continua sendo regida pelo artigo
65 da Lei 7210/84 (lei de execuções penais). Não se aplica ao pé da letra o artigo 13 da lei 11.340, sendo a
competência da execução penal regida pelo referido art. 65 da LEP.
LEP. Art. 65. A execução penal competirá ao Juiz indicado na lei local de
organização judiciária e, na sua ausência, ao da sentença.
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Inf. 550 do STJ - Juizado da Violência Doméstica possui competência para executar
alimentos por ele fixados. O Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher tem competência para julgar a execução de alimentos que tenham sido
fixados a título de medida protetiva de urgência fundada na Lei Maria da Penha em
favor de filho do casal em conflito.
Inf. 572 do STJ - Competência para julgar ação de divórcio advinda de violência
suportada por mulher no âmbito familiar e doméstico. A extinção de medida
protetiva de urgência diante da homologação de acordo entre as partes não afasta
a competência da Vara Especializada de Violência
45119 Doméstica ou Familiar contra a
Mulher para julgar ação de divórcio fundada na mesma situação de agressividade
vivenciada pela vítima e que fora distribuída por dependência à medida extinta.
Obs.: Quem julga o crime de estupro de vulnerável praticado por pai contra filha de 4 anos: vara
criminal “comum” ou vara de violência doméstica e familiar contra a mulher?
Se o fator determinante que ensejou a prática do crime foi a tenra idade da vítima fica afastada a
vara de violência doméstica e familiar? Ex: estupro de vulnerável praticado por pai contra a filha, de 4 anos.
● SIM. Posição da 5ª Turma do STJ: Se o fato de a vítima ser do sexo feminino não foi determinante
para a caracterização do crime de estupro de vulnerável, mas sim a tenra idade da ofendida, que
residia sobre o mesmo teto do réu, que com ela manteve relações sexuais, não há que se falar
em competência do Juizado Especial de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. STJ. 5ª
Turma. AgRg no AREsp 1020280/DF, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 23/08/2018.
● NÃO. Julgado recente da 6ª Turma do STJ: A idade da vítima é irrelevante para afastar a
competência da vara especializada em violência doméstica e familiar contra a mulher e as
normas protetivas da Lei Maria da Penha. STJ. 6ª Turma. RHC 121813-RJ, Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz, julgado em 20/10/2020 (Info 682).
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d) Crimes dolosos contra a vida praticados no contexto da violência doméstica e familiar contra a
mulher
Em um primeiro momento cumpre recordarmos que o Tribunal do júri é composto por duas fases,
uma primeira chamada de Iudicium Accusationis, a segunda conhecida como Iudicium Causae.
Na primeira fase temos a participação apenas do Juiz Sumariante, que pode pronunciar,
impronunciar, absolver sumariamente ou desclassificar. Apenas na segunda fase é que entra a atuação do
Júri sendo composto pelo Juiz Presidente e por mais 25 jurados, 7 dos quais irão compor o Conselho de
sentença.
Em alguns Estados essa primeira fase do Tribunal do Júri vem tramitando nos Juizados de violência
doméstica e familiar contra a Mulher, enquanto que, em outros, a primeira fase tramita nas varas privativas
do júri. Isso é possível, dependendo da Lei de Organização judiciária local, pois o que a Constituição
45119
Federal
obriga é o Julgamento propriamente dito do crime doloso contra a vida pelo Tribunal do Júri.
Nesse sentido, contemplamos que a Constituição Federal exige que o julgamento ocorra no Tribunal
do Júri, de forma que nada impede que a Lei de Organização Judiciária delegue a primeira fase a outro juízo,
como por exemplo, ao Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.
Obs.: Em caso de ameaça por redes sociais ou pelo Whatsapp, o juízo competente para deferir as medidas
protetivas é aquele no qual a mulher tomou conhecimento das intimidações.
Em caso de ameaça proferida contra a mulher por meio de redes sociais (ex:
Facebook) ou por aplicativos como o WhatsApp, o juízo competente para deferir as
medidas protetivas é aquele onde a vítima tomou conhecimento das intimidações,
por ser este o local de consumação do crime previsto pelo art. 147 do Código
Penal. O art. 147 do CP é crime formal, de modo que se consuma no momento em
que a vítima toma conhecimento da ameaça. Segundo o art. 70, primeira parte, do
CPP, "a competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a
infração". Ex: o ex-marido, residente em Curitiba, ameaçou a vítima por meio de
mensagens no Facebook e no Whatsapp. Quando a vítima recebeu as mensagens
já estava morando em Naviraí (MS). Diante disso, a competência para julgar as
medidas protetivas em favor da mulher é o juízo da comarca de Naviraí (MS). STJ.
3ª Seção. CC 156.284/PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 28/02/2018.
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A sentença penal condenatória, depois de transitada em julgado, produz diversos efeitos. Um deles
é que a condenação gera a obrigação do réu de reparar o dano causado. Inclusive, à luz do CPC (art. 515), a
sentença condenatória constitui-se em título executivo judicial:
CPC. Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo
com os artigos previstos neste Título: VI - a sentença penal condenatória transitada
em julgado;
Assim, a vítima (ou seus sucessores), na posse da sentença que condenou o réu, após o seu trânsito
em julgado, dispõe de um título que poderá ser executado no juízo cível para cobrar o ressarcimento
45119 pelos
prejuízos sofridos em decorrência do crime.
O art. 387, IV, do CPP prevê que o juiz, ao condenar
45119 o réu, já estabeleça na sentença um valor mínimo
que o condenado estará obrigado a pagar a título de reparação dos danos causados. Veja:
Art. 387.O juiz, ao proferir sentença condenatória: IV — fixará valor mínimo para
reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos
pelo ofendido; (Redação dada pela Lei nº 11.719/2008)
304
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Vimos que, embora a Lei Maria da Penha não possa ser aplicada aos homens, ainda que em situação
de vulnerabilidade, é possível aplicar a eles as medidas protetivas de urgência.
Nesse sentido, e considerando que, durante a pandemia do Covid-19, verificou-se que o
confinamento social gerou um aumento no número de casos de violência doméstica e familiar contra as
45119
mulheres, crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência, foi editada a Lei nº 14.022/2020, que
prevê medidas para enfrentamento da violência doméstica e familiar contra essas pessoas durante o período
de pandemia.
Por se tratar de um tema extremamente recente, aconselhamos a leitura detalhada da lei!
Veja, abaixo, um resumo das mudanças efetuadas8.
8
Dizer o Direito
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O § 8º do art. 3º faz, contudo, uma ressalva e afirma que essas medidas previstas nos incisos, quando
adotadas, deverão resguardar o exercício e o funcionamento de serviços públicos e atividades essenciais.
A Lei nº 14.022/2020 acrescenta um novo parágrafo ao art. 3º da Lei nº 13.979/2020 afirmando que
são essenciais os serviços e atividades voltados ao atendimento de:
⦁ Mulheres em situação de violência doméstica e familiar;
⦁ Crianças e adolescentes vítimas de crimes previstos no ECA ou no CP;
⦁ Pessoas idosas vítimas de crimes previstos no Estatuto do Idoso ou no CP;
⦁ Pessoas com deficiência vítimas de crimes previstos no Estatuto da Pessoa com Deficiência ou no CP.
Para garantir que esse serviço essencial seja mantido, foi acrescentado o art. 5º-A à Lei nº
13.979/2020 prevendo que:
⦁ Os prazos processuais, a apreciação de matérias, o atendimento às partes e a concessão de medidas
protetivas devem continuar normalmente;
⦁ O registro de ocorrências relacionadas com essas infrações penais poderá ser feito por telefone ou
meio eletrônico.
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Parágrafo único. Os processos de que trata o inciso I do caput deste artigo serão
considerados de natureza urgente.
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Nos casos de crimes de natureza sexual, se houver a adoção de medidas pelo poder público que
45119
restrinjam a circulação de pessoas, os órgãos de segurança deverão estabelecer equipes móveis para
realização do exame de corpo de delito no local em que se encontrar a vítima.
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10) Vigência
A Lei nº 14.022/2020 entrou em vigor na data de sua publicação (08/07/2020).
No ano de 2021 foi editada a Lei 14.232, que cria a Política Nacional de Dados e Informações
relacionadas à Violência contra as Mulheres (PNAINFO), com a finalidade de reunir, organizar, sistematizar
e disponibilizar dados e informações atinentes a todos os tipos de violência contra as mulheres.
As diretrizes da PNAINFO são:
● a integração das bases de dados dos órgãos de atendimento à mulher em situação
de violência no âmbito dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário;
● a produção e gestão transparente das informações sobre a situação de violência
contra as mulheres no País;
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RETA FINAL
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Vale dizer que, para o alcance de tais objetivos, o poder público deverá instituir, por meio eletrônico
e na forma de regulamento, o Registro Unificado de Dados e Informações sobre Violência contra as Mulheres.
O registro deverá conter informações e dados sobre os registros administrativos referentes ao tema, sobre
os serviços especializados de atendimento às mulheres em situação de violência e sobre as políticas públicas
de enfrentamento à violência contra as mulheres.
No cadastro do Registro Unificado de Dados e Informações sobre Violência contra as Mulheres
deverão conter, no mínimo:
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Ainda de acordo com a Lei, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão aderir à PNAINFO
mediante instrumento de cooperação federativa, conforme dispuser o regulamento, sendo certo que as
despesas decorrentes da execução do disposto nesta Lei correrão por conta das dotações orçamentárias de
cada órgão que aderir à PNAINFO.
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