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De acordo com “A Psicologia das Multidões”, de Gustave Le Bon, muitas vezes temos a

sensação de que fazemos parte da multidão sem consciência. Observa-se na literatura atual
que a aceleração do crescimento populacional e tecnológico tem causados problemas sociais
a serem estudados sob as óticas positivas e negativas das manifestações dos indivíduos
diante de grupos de pessoas. Assim sendo, as ideias do autor permitem uma analise do
comportamento do ser humano em seu meio diante dos eventos sociais.

PRIMEIRO LIVRO — ALMA DAS MULTIDÕES:


CAPÍTULO I — CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS MULTIDÕES
LEI PSICOLÓGICA DE SUA UNIDADE MENTAL
O autor detalha a palavra "multidão" que se refere a um grupo psicológico especial. Trata-se
de um grupo de pessoas unidas por um determinado evento, discurso, paixão, medo, amor
ou ódio. Devemos enfatizar aqui que essas pessoas se juntam em multidões devido a esse
estímulo e influência. Suas ideias e sentimentos(multidão) interagem e se direcionam na
mesma direção, transformando-se em uma tendência coletiva para agir, diferentemente de
uma pessoa sozinha.

CAPÍTULO II — SENTIMENTOS E MORALIDADE DAS MULTIDÕES


O autor ressalta as características específicas das multidões — são igualmente intrínsecas
desde os primórdios, de forma imitativa por natureza, como o selvagem e a criança. A
multidão é conduzida quase exclusivamente pelo inconsciente. Nesse sentido, o indivíduo
isolado possui a capacidade de dominar seus reflexos, enquanto que inserido na multidão
estaria desprovida dela. Nas pessoas sugestionáveis, a ideia tende a se transformar em ato,
consequência do contágio que altera a natureza isolada para um sentimento simples e
exagerados da coletividade. Na multidão, a razão pela qual os sentimentos das multidões
são simples é porque só veem as coisas como um todo e não conseguem ver os processos de
desenvolvimento e mudança das coisas. A razão pela qual os sentimentos das multidões são
exagerados é porque esses sentimentos são acentuados por outros fatores. As multidões
aceitam opiniões, ideias e crenças inteiramente ou as rejeitam por completo, podendo até
considerá-las como falsidades. Elas não aceitam opiniões transitórias ou neutras e não
permitem contradições e discussões. Portanto, as multidões parecem ser dominadoras e
intolerantes. Nesse aspecto, se a multidão é capaz de assassinar, incendiar e de praticar toda
espécie de crimes, também o é de atos de sacrifício e de desinteresse muito mais elevados
que aqueles de que é capaz o indivíduo isolado.

CAPÍTULO III — IDEIAS, RACIOCÍNIOS E IMAGINAÇÃO DAS MULTIDÕES


As ideias, para se tornarem popular, têm de sofrer as mais completas transformações: elas
têm que ser sempre redutoras e simplificadoras. “Conhecer a arte de impressionar a
imaginação das multidões é conhecer a arte de governá-las”.

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CAPÍTULO IV — FORMAS RELIGIOSAS DE QUE SE REVESTEM TODAS AS CONVICÇÕES DAS
MULTIDÕES
Esse sentimento tem características muito simples: A intolerância e o fanatismo são o
acompanhamento ordinário de um sentimento religioso. Fato que as convicções religiosas
nos últimos anos chegaram ao extremo da secção dos seres em comunidades isoladas de
acordo com as ideologias de seus líderes.

SEGUNDO LIVRO — AS OPINIÕES E CRENÇAS DAS MULTIDÕES

CAPÍTULO I — FATORES LONGÍNQUOS DAS CRENÇAS E OPINIÕES DA MULTIDÕES


As opiniões e crenças nascem e se estabelecem segundo duas ordens: fatores longínquos e
fatores imediatos. Os fatores longínquos tornam as multidões capazes de adotar algumas
convicções e inaptas para se deixar penetrar por outras. Os fatores imediatos são aqueles
que, sobrepostos a esse longo trabalho, sem o qual não poderiam agir, provocam a
persuasão ativa das multidões. Existem cinco tipos de fatores remotos: raça, tradição,
tempo, instituições políticas e sociais e educação. O contexto das mudanças está
diretamente correlacionado com as quebras de paradigmas, consequência da penetração de
ideologias, crenças e novas opiniões.

CAPÍTULO II — FATORES IMEDIATOS DAS OPINIÕES DAS MULTIDÕES


A multidão é influenciada pelas imagens. Quando não se têm essas imagens, pode-se evocá-
las pelas palavras e fórmulas conduzindo pelo poder da persuasão ou comoção ao erro.
Quem sabe iludi uma multidão torna-se seu mestre; quem tentar desiludi-las é sempre sua
vítima. Dessa forma, a experiência é praticamente o único procedimento eficaz para
estabelecer solidamente uma verdade na alma das multidões e destruir ilusões que se
tornaram perigosas demais.

CAPÍTULO II — OS CONDUTORES DAS MULTIDÕES E SEUS MEIOS DE PERSUASÃO


A história determina a necessidade da figura do líder. Sua vontade (na afirmação, repetição e
contágio) são os núcleos em torno do qual se formam e se identificam as opiniões, porque a
fé no líder é primordial para arrastar multidões a um propósito qualquer, é preciso agir
sobre ela por meio de sugestões rápidas. Assim, o prestígio (valor social) dos condutores
comunicam uma espécie de fascínio que um indivíduo, uma obra ou uma doutrina exerce
sobre nosso espírito.

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TERCEIRO LIVRO — CLASSIFICAÇÃO E DESCRIÇÃO DAS DIVERSAS CATEGORIAS DE
MULTIDÕES

CAPÍTULO I — CLASSIFICAÇÃO DAS MULTIDÕES


São dois tipos de multidões: heterogêneas e homogêneas. Quanto às heterogêneas, divide-
as em anônimas (multidões das ruas, por exemplo) e não anônimas (júris, assembleias
parlamentares etc.). Em se tratando das homogêneas, divide-as em seitas (seitas políticas,
seitas religiosas etc.), castas (casta militar, casta sacerdotal, casta operária etc.) e classes
(classe burguesa, classe camponesa etc.)
CAPÍTULO II — AS MULTIDÕES DITAS CRIMINOSAS
Os crimes das multidões geralmente decorrem de uma poderosa sugestão, e os indivíduos
que deles tomam parte convencem-se em seguida de ter cumprido um dever. Aqui a forma
da multidão criminosa não pode ser medida quando os indivíduos são tomados pela falta de
parâmetros morais e sociais.
CAPÍTULO III — OS JURADOS DO TRIBUNAL DE JÚRI
Os jurados proporcionam, em primeiro lugar, uma prova da pouca importância que tem, do
ponto de vista das decisões, o nível mental dos diversos indivíduos que compõem a
multidão. Leva-se em conta os padrões instituídos pelas leis e o grau de reprovação social.
CAPÍTULO IV — AS MULTIDÕES ELEITORAIS
A primeira qualidade que o candidato deve possuir é o prestígio. O prestígio pessoal só pode
ser substituído pelo da fortuna. O talento, o próprio gênio não são elementos de sucesso. O
processo constituído da liberdade democrática permite o posicionamento e convicções
ideológicas dentro dos partidos políticos que com seus princípios arregimenta seus
partidários como principais defensores.
CAPÍTULO V — AS ASSEMBLEIAS PARLAMENTARES
Encontramos nas assembleias parlamentares as características gerais das multidões:
simplismo das ideias, irritabilidade, sugestionabilidade, exagero dos sentimentos, influência
preponderante dos líderes.

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2. Escolha um trecho do livro e correlacione com a atividade policial militar.

Pág. 11, §4º: “O fato de muitos indivíduos se encontrarem ocasionalmente lado a lado não
lhes confere os caracteres de uma multidão organizada. Efetivamente, mil indivíduos
reunidos ao acaso numa praça pública, sem qualquer fim determinado, não constituem de
modo algum uma multidão psicológica. Para adquirirem caracteres específicos é necessária
a influência de certos excitantes cuja natureza iremos determinar.”

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Pág. 11, §2º, segunda parte: ”A multidão é sempre dominada pelo inconsciente. —
Desaparecimento da vida cerebral e predominância da vida medular. — Diminuição da
inteligência e transformação completa dos sentimentos. — Os sentimentos transformados
podem ser melhores ou piores do que os dos indivíduos que constituem a multidão. — A
multidão toma-se tão facilmente heroica como criminosa.”

Com base nos fragmentos do livro acima, podemos perceber que um ajuntamento
pacífico de pessoas de boa índole pode, em determinado momento, influenciada por alguma
situação que mexa com a emoção do grupo, se transformar em um bloco único, com
unidade de desígnios, apta a cometer, inclusive, atos de cunho criminoso.
Trazendo essa informação para atividade policial militar, é de suma importância que,
em especial a Polícia Militar, que a despeito de ser uma polícia ostensiva e preventiva, foque
sobremaneira no planejamento do emprego do seu efetivo, com o fim de evitar, por exemplo,
que um evento, a princípio, com fins totalmente pacíficos ou meramente cultural, tome
rumos desastrosos.
Poderíamos dar alguns exemplos em que a falta de previsibilidade pode
desencadear uma situação que fuja ao controle.

 Exemplo 1: Imagine um show musical do artista do momento trazido pelo


prefeito da cidade X, que, pelo grande sucesso, tem atraído muito público.
Para esse fim, foi destinado policiamento para as imediações do local do
evento para evitar roubos e furtos, e montado linha de revista na entrada do
local. Ocorre que o show que estava marcado para as 22h, até as 00h não
havia começado, o que já gerava uma certa excitação negativa no público
presente. Para agravar a situação, 01h da madrugada chega a informação
que o artista não compareceria ao evento. Ato contínuo, a plateia, formada
majoritariamente por pessoas de bem e trabalhadoras, influenciada por um
sentimento de revolta coletiva, começa a arremessar cadeiras, garrafas e
tudo mais que foi possível no palco. Com o acirramento dos ânimos, os
poucos policiais da linha de revista intervieram, o que fez com que parte do
público corresse ao mesmo tempo em direção às saídas. Ocorre que, no
evento, havia crianças e velhos, que na correria foram pisoteados, alguns se
perderam. Enfim, um evento, a princípio, totalmente pacífico, tornou-se um
desastre de consequências inimagináveis.

 Exemplo 2: com um breve e segundo exemplo posso citar uma manifestação


pacífica de profissionais da saúde e educação, que ao tomarem
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conhecimento que não seriam recebidos pelas autoridades, revoltam-se, e
avançam sobre os poucos policiais que ali havia, e passam a invadir e
depredar prédios públicos.

Pelo sucintamente exposto, levando em conta o conhecimento trazido pela presente


obra, em especial os destaques aqui enfocados, em virtude da imprevisibilidade das
multidões, por mais pacíficas que, a princípio, pareçam ser, cabe às forças policiais, ao
planejar o emprego de efetivo em grandes aglomerações, levar em consideração o efeito
das massas sobre o indivíduo isolado, sempre se preparando para desdobramentos
possivelmente desastrosos, com o fim de evitar um agravamento desnecessário da
situação.
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3. Com base no texto, cite ao menos 3 características das multidões.

Segundo a teoria de Gustave Le Bon contida na presente obra, as multidões


possuem as seguintes características:

I. Anonimato: Indivíduos na multidão muitas vezes se sentem anônimos, o que pode


levar a comportamentos que não ocorreriam isoladamente.
II. Sugestionabilidade: As multidões são altamente suscetíveis à influência e
sugestão, o que pode levar a mudanças rápidas e extremas no comportamento
coletivo.
III. Emoções Exacerbadas: As emoções individuais se intensificam na multidão,
contribuindo para comportamentos impulsivos e fervorosos.
IV. Mentalidade Coletiva (alma coletiva): Surge uma mentalidade única na multidão,
frequentemente simplificada e emotiva, que pode prevalecer sobre o pensamento
crítico individual.
V. Contágio Social: Comportamentos e emoções se propagam rapidamente na
multidão, criando um ambiente onde as ações individuais podem se espalhar como
"contágio".
VI. Perda de Responsabilidade Individual: A responsabilidade individual tende a
diminuir na multidão, levando a comportamentos que os indivíduos evitariam
isoladamente.

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

BON, Gustave Le. Psicologia das Multidões. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2018.
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