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PSICOLOGIA DAS MASSAS E ANÁLISE DO EU (1921) de FREUD

• I. Introdução:
→ Freud inicia postulando que a psicologia individual não está longe ou apartada da psicologia
social/das massas;
→ Cogita falar de um “instinto social” mas desconfia que apenas esse fator numérico possa ter um
significado tão grande e afirma que as expectativas voltam-se para duas possibilidades:
“...a de que o instinto social pode não ser primário e indivisível, e de que os primórdios da sua
formação podem ser encontrados num círculo mais estreito como o da família....” (p.15/16);
• II. A alma coletiva segundo Len Bon:
→ Freud começa referenciando o livro “Psicologia das massas” de Le Bon (na verdade, chama-se
“Psicologia das multidões” e é de 1895);
→ Existem uma “alma coletiva” na massa e alguns fenômenos só acontecem em massa:
“...o simples fato de se terem transformado em massa os torna possuidores de uma espécie de alma
coletiva. Esta alma os faz sentir, pensar e agir de uma forma bem diferente da que cada um sentiria,
pensaria e agiria isoladamente. Certas ideias, certos sentimentos aparecem ou se transformam em
atos apenas nos indivíduos em massa...” (p.17/18);
→ Como a massa modifica o indivíduo?
1) Desaparecimento das particularidades e novas características associadas ao número poderoso e ao
anônimo:

- Desaparecimento das particularidades:


“...Na massa, acredita Le Bon, as aquisições próprias dos indivíduos se desvanecem, e com isso
desaparece sua particularidade. O inconsciente próprio da raça ressalta, o heterogêneo submerge no
homogêneo. Diríamos que a superestrutura psíquica, que se desenvolveu de modo tão diverso nos
indivíduos, é desmontada, debilitada, e o fundamento inconsciente comum a todos é posto a nu
(torna-se operante)...” (p.19);
- Surgimento de novas características advindas da junção do numeroso com o anônimo:
irresponsabilidade;
“...O primeiro é que o indivíduo na massa adquire, pelo simples fato do número, um sentimento de
poder invencível que lhe permite ceder a instintos* que, estando só, ele manteria sob controle. E
cederá com tanto mais facilidade a eles, porque, sendo a massa anônima, e por conseguinte
irresponsável, desaparece por completo o sentimento de responsabilidade que sempre retém os
indivíduos...”
“...na massa o indivíduo está sujeito a condições que lhe permitem se livrar das repressões dos seus
impulsos instintivos inconscientes. As características aparentemente novas, que ele então apresenta,
são justamente as manifestações desse inconsciente, no qual se acha contido, em predisposição, tudo
de mau da alma humana...” (p.21);
2) Atuação de um contágio mental (facilidade de compartilhamento de atos e sentimentos):
O contágio é um fenômeno fácil de constatar, mas inexplicável.
Fenômenos de ordem hipnótica;
“...Numa massa todo sentimento, todo ato é contagioso, e isso a ponto de o indivíduo sacrificar
facilmente o seu interesse pessoal ao interesse coletivo. Eis uma aptidão contrária à sua natureza de
que o homem só se torna capaz enquanto parte de uma massa...” (p.21/22);
3) Sugestionabilidade (capacidade do indivíduo de receber esses sentimentos e participar desses atos,
mesmo que para isso precise sacrificar seus próprios sentimentos e códigos de conduta);
- Aspecto mais perigoso deles e do qual o contágio mental é apenas efeito;
“...Ele não é mais consciente de seus atos. Nele, como no hipnotizado, enquanto certas faculdades são
destruídas, outras podem ser levadas a um estado de exaltação extrema. A influência de uma sugestão
o levará, com irresistível impetuosidade, à realização de certos atos. Impetuosidade ainda mais
irresistível nas massas que no sujeito hipnotizado, pois a sugestão, sendo a mesma para todos os
indivíduos, exacerba-se pela reciprocidade...” (p.23);
→ Principais características do indivíduo na massa:
“...evanescimento da personalidade consciente, predominância da personalidade inconsciente,
orientação por via de sugestão e de contágio dos sentimentos e das ideias num mesmo sentido,
tendência a transformar imediatamente em atos as ideias sugeridas...” (p.23);
→ Le Bom afirma que o estado de um indivíduo na massa é hipnótico e Freud concorda;
→ Mas, para Freud, afirma que os aspectos de contágio e sugestionabilidade são diferentes:
1) contágio (efeito que os membros isolados da massa exercem uns sobre os outros, por identificação
mútua);
2) sugestionabilidade (fenômeno de influência hipnótica, ou seja, precisa da assimetria, da autoridade);

→ Características de uma massa:


“...A massa é impulsiva, volúvel e excitável. É guiada quase exclusivamente pelo inconsciente...”;
“...Nada nela é premeditado. Embora deseje as coisas apaixonadamente, nunca o faz por muito tempo,
é incapaz de uma vontade persistente. Não tolera qualquer demora entre o seu desejo e a realização
dele...”;
“...Tem o sentimento da onipotência; a noção do impossível desaparece para o indivíduo na massa...”;
“...A massa é extraordinariamente influenciável e crédula, é acrítica, o improvável não existe para
ela...”;
“...Os sentimentos (...) são sempre muito simples e muito exaltados. Ela não conhece dúvida nem
incerteza.
“...Ela vai prontamente a extremos (...) Inclinada a todos os extremos, a massa também é excitada
apenas por estímulos desmedidos...”;
“...O que ela exige de seus heróis é fortaleza, até mesmo violência. Quer ser dominada e oprimida,
quer temer os seus senhores. No fundo inteiramente conservadora, tem profunda aversão a todos os
progressos e inovações, e ilimitada reverência pela tradição...”;
“...ao se reunirem os indivíduos numa massa, todas as inibições individuais caem por terra e todos os
instintos cruéis, brutais, destrutivos, que dormitam no ser humano, como vestígios dos primórdios do
tempo, são despertados para a livre satisfação instintiva...”;
“...as massas nunca tiveram a sede da verdade. Requerem ilusões, às quais não podem renunciar.
Nelas o irreal tem primazia sobre o real, o que não é verdadeiro as influencia quase tão fortemente
quanto o verdadeiro. Elas têm a visível tendência de não fazer distinção entre os dois...” (p.29);
“...quando seres vivos se reúnem em determinado número, seja um rebanho de animais ou um
grupamento de homens, instintivamente se colocam sob a autoridade de um chefe. A massa é um
rebanho dócil, que não pode jamais viver sem um senhor. Ela tem tamanha sede de obediência, que
instintivamente se submete a qualquer um que se apresente como seu senhor...” (p.30);
“...[líder] Ele próprio tem de estar fascinado por uma forte crença (numa ideia), para despertar crença
na massa; ele tem de possuir uma vontade forte, imponente, que a massa sem vontade vai aceitar. Le
Bon discute então os diferentes tipos de líder, e os meios pelos quais atuam sobre a massa. No
conjunto, entende que os líderes adquirem importância pelas ideias de que eles mesmos são
fanáticos...” (p.30);
→ Para Le Bom, a liderança precisa assim ser vestida por um “prestígio”, este visto como “é uma
espécie de domínio que uma pessoa, uma obra ou uma ideia exerce sobre nós. Paralisa toda a nossa
capacidade crítica e nos enche de espanto e respeito. Provocaria um sentimento semelhante ao do
fascínio na hipnose” (p.30);
→ Freud discorda desse aspecto de Le Bom sobre o papel do líder e a importância do prestígio;
• III. Outras abordagens da vida anímica coletiva:
→ Apresenta uma crítica a Le Bom: “na verdade nenhuma das afirmações desse autor traz algo novo”
(p.32);
→ Já haviam sido postas a Inibição coletiva da capacidade intelectual e a Elevação da afetividade na
massa;
→ Freud convoca as afirmações de McDougall sobre as massas, principalmente sublinhando que, para
ser de fato uma massa, precisa-se de um interesse em comum e destacando como o mais notável
fenômeno da formação de massa: o aumento da afetividade provocado no indivíduo;
Para McDougall isso ocorre a partir do “princípio de indução direta da emoção por meio da resposta
simpática primitiva”, ou seja, pelo contágio de sentimentos:
“...É fato que os sinais percebidos de um estado afetivo são apropriados para despertar
automaticamente o mesmo afeto naquele que percebe. Esta coação automática torna-se tanto mais
forte quanto maior for o número de pessoas em que pode ser notado simultaneamente o mesmo afeto.
Então a crítica do indivíduo silencia e ele se deixa levar por esse afeto. Mas nisso ele aumenta a
excitação dos outros que agiram sobre ele, e assim a carga afetiva dos indivíduos se eleva por indução
recíproca. Inconfundivelmente, é algo como uma coerção que aí atua, obrigando a fazer como os
outros, a permanecer de acordo com a maioria. Os impulsos emotivos mais simples e grosseiros têm
maior perspectiva de alastrar-se desse modo numa massa...” (p.35/36);
→ A massa produz impressão de poder ilimitado e perigo indomável, rendido pelo ganho prazeroso
que se tem ao suprimir as inibições;
→ McDougall destaca 5 fatores de diferenciação entre uma massa organizada e outra desorganizada:
1) Grau de continuidade na sua existência (Organização da permanência);
2) Concepção da natureza, função, realizações e reinvindicações (Objetivo) → haja vínculo;
3) A rivalidade para com outra lógica;
4) Tradição, costumes e disposições entre os membros;
5) Divisão, especialização e diferenciação das atividades;
→ Freud lê essa abordagem como a devolução à massa das mesmas características do indivíduo
antes de estar na massa;
• IV. Sugestão e libido:
→ Maiores efeitos da massa: Intensificação do afeto e inibição do pensamento:
“...Sua afetividade é extraordinariamente intensificada, sua capacidade intelectual claramente
diminuída, ambos os processos apontando, não há dúvida, para um nivelamento com os outros
indivíduos da massa; resultado que só pode ser atingido pela supressão das inibições instintivas
próprias de cada indivíduo e pela renúncia às peculiares configurações de suas tendências...” (p.39);
→ Sugestão que gera imitação, contágio;
“...é a influência sugestiva da massa que nos leva a obedecer a esta tendência à imitação, que induz
em nós o afeto...” (p.41);
→ Ou seja, por estar em afinidade com a massa, nos tornamos vulneráveis ao afeto que circula nela;
→ Freud embarca numa perspectiva de leitura sobre a massa a partir do conceito de “libido”:
“...Libido é uma expressão proveniente da teoria da afetividade. Assim denominamos a energia,
tomada como grandeza quantitativa — embora atualmente não mensurável —, desses instintos
relacionados com tudo aquilo que pode ser abrangido pela palavra “amor” (...) a investigação
psicanalítica nos ensinou que todas essas tendências seriam expressão dos mesmos impulsos
instintuais que nas relações entre os sexos impelem à união sexual, e que em outras circunstâncias
são afastados dessa meta sexual ou impedidos de alcançá-la, mas sempre conservam bastante da sua
natureza original, o suficiente para manter sua identidade reconhecível (abnegação, busca de
aproximação)...” (p.43);
“...as relações de amor (ou, expresso de modo mais neutro, os laços de sentimento) constituem
também a essência da alma coletiva...” (p.43), ou seja, amor e sugestionabilidade estão de mãos
dadas;
→ Destaca duas reflexões sumárias:
1) A massa se mantém unida graças a algum poder de Eros;
2) A necessidade do indivíduo estar de acordo (não em oposição) “por amor a eles”;
• V. Duas massas artificiais: igreja e exército:
→ Há vários tipos de massa, mas prefere se ater na massa bastante organizada, duradoura e artificial
pois certos fatos se tornam mais reconhecíveis;
→ Freud destaca a importância de dois tipos de laços afetivos: 1) líder/ideal (maior); 2) com os demais;
→ Na tentativa de esclarecer que a essência da massa é sustentada por ligações libidinais, Freud
destaca o quanto a dissolução da massa produziria pânico e angústia;
• VI. Outras tarefas e direções de trabalho:
→ Nas relações humanas há muita ambivalência afetiva. Tendemos a tolerar muitas coisas quando se
trata de um ente amado, e tendemos a ser intolerantes para com os desconhecidos;
→ Na massa, essa intolerância sobre uma diminuída tal como nos relacionamentos amorosos:
“...Mas toda essa intolerância desaparece, temporariamente ou de maneira duradoura, por meio da
formação da massa e dentro da massa. Enquanto perdura a formação de massa, ou até onde se
estende, os indivíduos se conduzem como se fossem homogêneos, suportam a especificidade do
outro, igualam-se a ele e não sentem repulsa por ele. Segundo nossas concepções teóricas, tal
limitação do narcisismo pode ser produzida apenas por um fator, pela ligação libidinal a outras
pessoas. O amor a si encontra limite apenas no amor ao outro, amor aos objetos...” (p.58);
→ A formação da massa consiste em ligações libidinais de nova espécie, específicos da massa, a
começar por essa dimensão que está fora dos fins sexuais, ou seja, desviados de suas metas originais;
→ Aqui ele volta-se para os processos de identificação;
• VII. A identificação:
→ “...A mais antiga manifestação de uma ligação afetiva a uma outra pessoa...” (p.60) → Édipo;
→ A ambiguidade na identificação:
“...Pois desde o início a identificação é ambivalente, pode tornar-se tanto expressão de ternura como
desejo de eliminação. Comporta-se como um derivado da primeira fase, a fase oral da organização da
libido, na qual o indivíduo incorporou, comendo, o objeto desejado e estimado, e assim o aniquilou
enquanto objeto. É sabido que o canibal permanece nesse ponto; tem uma afeição devoradora por
seus inimigos, e não devora aqueles de quem não pode gostar de algum modo...” (p.61/62);
→ “...a identificação se empenha em configurar o próprio Eu à semelhança daquele tomado por
modelo...” (p.62);
→ A identificação pode aparecer, inclusive, quanto à expressão sintomática, ou seja, a pessoa pode
repetir o sintoma alheio porque está identificada com esta:
“...a identificação tomou o lugar da escolha de objeto, e a escolha de objeto regrediu à identificação.
Ouvimos que a identificação é a mais antiga e original forma de ligação afetiva; nas circunstâncias da
formação de sintomas, ou seja, da repressão, e do predomínio dos mecanismos do inconsciente,
sucede com frequência que a escolha de objeto se torne novamente identificação, ou seja, que o Eu
adote características do objeto...” (p.63);
→ Resumo sobre a identificação e a massa (p.65):
1) A identificação é a mais primordial forma de ligação afetiva a um objeto;
2) Por via regressiva ela se torna o substituto para uma ligação objetal libidinosa, como que através da
introjeção do objeto no Eu;
3) Ela pode surgir a qualquer nova percepção de algo em comum com uma pessoa que não é objeto
dos instintos sexuais. Quanto mais significativo esse algo em comum, mais bem-sucedida deverá ser
essa identificação parcial, correspondendo assim ao início de uma nova ligação;
→ Para ilustrar a força das consequências afetivas da identificação, Freud traz leituras sobre a
homossexualidade masculina e a melancolia;
• VIII. Enamoramento e hipnose:
→ Idealização como recuo das tendências sexuais e a posição de ideal de eu:
“...percebemos que o objeto é tratado como o próprio Eu, que então, no enamoramento, uma medida
maior de libido narcísica transborda para o objeto. Em não poucas formas da escolha amorosa torna-se
mesmo evidente que o objeto serve para substituir um ideal não alcançado do próprio Eu. Ele é amado
pelas perfeições a que o indivíduo aspirou para o próprio Eu, e que através desse rodeio procura obter,
para satisfação de seu narcisismo...” (p.71);
→ No enamoramento, “o objeto se colocou no lugar do ideal de eu”:
“...o Eu se torna cada vez menos exigente, mais modesto, e o objeto, cada vez mais sublime, mais
precioso; chega enfim a tomar posse do inteiro amor-próprio do Eu, de modo que o autossacrifício
deste é uma consequência natural. O objeto consumiu o Eu, por assim dizer. Traços de humildade, de
restrição do narcisismo e de self-injury estão presentes em todo caso de enamoramento...” (p.72);
→ Identificação (o Eu se enriqueceu com os atributos do objeto, introjetou) x Enamoramento (o Eu está
empobrecido, entregou-se ao objeto, colocando-o no lugar mais importante);
→ A hipnose acaba sendo uma relação de enamoramento, relação esta que é semelhante com a do
indivíduo com o líder;
→ Massa e ideal de Eu:
“...Uma massa primária desse tipo é uma quantidade de indivíduos que puseram um único objeto no
lugar de seu ideal do Eu e, em consequência, identificaram-se uns com os outros em seu Eu...” (p.76);
• IX. O instinto gregário:
→ Freud recorre à W. Trotter, que postula 4 instintos primários: autoconservação, alimentação, sexual e
gregário (frequentemente em oposição aos outros) fazendo suas críticas;
→ É necessário haver um duplo movimento no social a identificação com iguais e soberania de um:
“...O sentimento social repousa, portanto, na inversão de um sentimento hostil em um laço de tom
positivo, da natureza de uma identificação (...) o seu pressuposto é que todos sejam amados
igualmente por uma pessoa, o líder. Mas não esqueçamos que a exigência de igualdade vale apenas
para os indivíduos, não para o líder. Os indivíduos todos devem ser iguais entre si, mas todos querem
ser dominados por um só. Muitos iguais, que podem identificar-se uns com os outros, e um único,
superior a todos eles — esta é a situação que se acha realizada numa massa capaz de subsistir.
Ousemos então corrigir o enunciado de Trotter, segundo o qual o homem é um animal de rebanho,
dizendo que ele é antes um animal de horda,* membro individual de uma horda conduzida por um
chefe...” (p.83);
• X. A massa e a horda primitiva:
“...O caráter inquietante e compulsivo da formação da massa, evidenciado em seus fenômenos de
sugestão, pode então ser remontado, com justiça, à sua origem a partir da horda primeva. O líder da
massa continua a ser o temido pai primordial, a massa quer ainda ser dominada com força irrestrita,
tem ânsia extrema de autoridade, ou, nas palavras de Le Bon, sede de submissão. O pai primevo é o
ideal da massa, que domina o Eu no lugar do ideal do Eu. A hipnose tem direito a ser descrita como
uma massa a dois; para a sugestão resta a definição de ser um convencimento que não se baseia na
percepção e no trabalho do pensamento, mas na ligação erótica...” (p.91/92);
• XI. Um grau no interior do eu:
→ Freud insere aqui o conceito de Ideal do Eu:
→ As barreiras de separação entre Eu e ideal do Eu não são inflexíveis e se flexibilizam
temporariamente;
“...[a] estrutura libidinal de um grupo remonta à diferenciação entre Eu e ideal do Eu, e ao duplo tipo de
ligação por ela possibilitada — identificação e colocação do objeto no lugar do ideal do Eu...” (p.93);
“...Reparemos que o Eu entra na relação de um objeto com o ideal de Eu que a partir dele se
desenvolveu, e que possivelmente todas as influências mútuas entre o objeto externo e o Eu como um
todo, com que deparamos no estudo das neuroses, chegam a se repetir nesse novo palco dentro do
Eu...” (p.94);
• XII. Complementos:
1) A distinção entre identificação do Eu [com um objeto] e substituição do ideal do Eu por um objeto;
2) O progresso da psicologia das massas para a psicologia individual se deu a partir da criação do
mito, isto é, na instauração de ideais a serem perseguidos (encarnados ou não em uma figura);
“...o mito é o passo com que o indivíduo emerge da psicologia da massa. O primeiro mito foi
certamente o psicológico, o mito do herói...” (p.103);
3) Instintos sexuais diretos x Instintos inibidos em sua meta:
→ A importância dos instintos inibidos em sua meta (sublimação, inclusive) “prestam-se em especial
para criar ligações duradouras” (p.106), portanto, atuando de forma relevante na criação de laços num
coletivo;
4) “Os impulsos sexuais diretos são desfavoráveis à formação de grupos” (p.108);
“...a neurose age sobre o grupo com o mesmo efeito desintegrador que o enamoramento. Por outro
lado se pode ver que quando há um poderoso ímpeto à formação de grupo as neuroses podem recuar
e ao menos por algum tempo desaparecer...” (p.110);
“...Abandonado a si mesmo, o neurótico é forçado a substituir as grandes formações de grupos, das
quais está excluído, por suas formações de sintomas. Ele cria para si o seu próprio mundo de fantasia,
sua religião, seu sistema delirante, e assim repete as instituições da humanidade numa deformação
que claramente evidencia a contribuição poderosa dos impulsos sexuais direto...” (p.111);

5) Conceitos da Teoria da Libido (p.111/112):


→ Enamoramento: “se baseia na existência simultânea de impulsos sexuais diretos e inibidos em sua
meta, sendo que o objeto atrai para si uma parte da libido narcísica do Eu. Nele só há lugar para o Eu e
o objeto”;
→ Hipnose: “partilha com o enamoramento o fato de restringir-se a essas duas pessoas, mas
baseia-se completamente em impulsos sexuais inibidos na meta e põe o objeto no lugar do ideal do
Eu”;
→ Grupo: “multiplica este processo; coincide com a hipnose na natureza dos instintos que o mantêm e
na substituição do ideal do Eu pelo objeto, mas junta a isso a identificação com outros indivíduos, que
originalmente foi tornada possível talvez pela mesma relação com o objeto”;
→ Hipnose e Grupo são precipitações hereditárias oriundas da filogênese da libido humana, a hipnose
como disposição, o grupo também como vestígio direto;
→ A substituição dos impulsos sexuais diretos pelos inibidos promove em ambos a separação de Eu e
ideal do Eu, da qual no enamoramento já existe um começo.
→ Neurose: relações conflituosas entre o Eu e o seu Ideal do Eu;

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