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TOLFO - capítulo 8 saúde mental

trabalhador
“A saúde mental do trabalhador destina-se a prevenir o adoecimento mental e promover
e/ou restabelecer a saúde mental do indivíduo”

conceito de saúde mental - possíveis definições:

● condição do sujeito que perpassa questões sociais (socius) ,

-estado (momentâneo) ,

-área do conhecimento,

-campo de aplicação,

-complexa rede de saberes.

historicamente saúde mental está ligada a adoecimento mental, assim como no modelo
médico , ao invés de focar em promoção de saúde.

ausência de definição teórica da saúde mental, ausência de indicadores de saúde mental, e


de instrumentos relacionados.

Por muito tempo, saúde mental foi considerada apenas como tratamento de
psicopatologias, por conta compreensão do sofrimento mental associado à loucura e à
institucionalização.

Pensar a Saúde Mental é, também, pensar saúde-doença como um contínuo.

conceito ampliado de saúde (aquele do SUS, dos fatores condicionantes e determinantes)

[ conceito amplicado de saúde: leva em consideração diversos determinantes da vida


humana, sobretudo o trabalho, no caso de adultos. Fatores psicossociais tendem a ser
preditores da saúde e da doença, e estas são articuladas com aspectos econômicos,
sociais, políticos e culturais.]

“Os fatores psicossociais no trabalho interligam questões do trabalho (ambiente, satisfação,


condições) com a capacidade do trabalhador (Organização Internacional do Trabalho, 1984)
e podem constituir-se em preditores tanto de adoecimento quanto de saúde. O trabalho
como fator de proteção à saúde mental dos trabalhadores pode ser fonte de sentido, prazer
e realização na vida das pessoas (Morin, 2001).”

O psicólogo deve ter um olhar para as questões que envolvem a saúde mental do
trabalhador, em qualquer serviço ou área de atuação. É importante estar atento à
possibilidade de que as queixas do indivíduo estejam relacionadas ao trabalho.

estatísticas dos transtornos mentais relacionados ao trabalho (TMRT):


● segundo dados da Organização Mundial da saúde (Organização Mundial da Saúde,
1997), os números são entre 5 e 30%;
● e no Brasil, de acordo com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), os TMRT
são a terceira causa de concessão de auxílio-doença.

Marcos Legais

diversos avanços que reconhecem a necessidade de acompanhamento de trabalhadores


com doenças, inclusive as mentais.

-Portaria n. 1.339 do Ministério da Saúde de 1999 - regulamenta a lista de doenças


profissionais relacionadas ao trabalho e traz os princípios que norteiam o diagnóstico de
tais doenças no Brasil.

-Lei n. 10.216 de 2001 reconheceu que toda pessoa em sofrimento mental tem direito a
acessar serviços para recuperação de sua saúde mental, inclusive transtornos mentais
relacionados ao trabalho.

-Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (2012) - busca-se um


rompimento com modelo biomédico tradicional (que tem foco na doença) e busca-se um
entendimento sistêmico de entender a saúde, com múltiplos determinantes.

TEORIAS - SAÚDE MENTAL DO TRABALHADOR

4 teorias principais:

1- Teorias sobre estresse


2- Psicodinâmica do Trabalho

3- Modelo Epidemiológico

4- Subjetividade e Trabalho.

O que tem em comum entre as 4 teorias:

O é o olhar para os aspectos psicossociais relacionados ao trabalho, isto é, o


reconhecimento da multicausalidade no processo saúde-doença

1- Teorias sobre estresse

-estresse como um contínuo

-diferentes fases do estresse, para que seja considerado prejuízo (lipp)

-distresse (-)

-eustress (+)

2- Psicodinâmica do Trabalho

“A perspectiva da psicodinâmica do trabalho data do século XX e partiu da tentativa de seu


pioneiro, Christophe Dejours, em identificar psicopatologias do trabalho.

A teoria compreende que o trabalho pode ser fonte de prazer, de atribuição de sentidos
singulares, mas também de sofrimento, o qual, porém, pode ser criativo ou patogênico.

O sofrimento é criativo quando o trabalho é reconhecido e o investimento pessoal


demandado adquire um sentido. Tal dinâmica permite ressignificar o sofrimento e a vivência
de prazer.

Quanto menor a possibilidade do uso do potencial criativo e de sentido nas tarefas,


aliados à rigidez na divisão do trabalho e no modo de gestão, aumentam os riscos
psicossociais e a possibilidade de ocorrência do sofrimento patogênico (Facas,
2013)”.

Saúde é uma busca contínua por equilíbrio.

-o trabalho se relaciona com os aspectos constitutivos do sujeito (Dejours, 2007)

-o trabalho é operador essencial na construção do indivíduo e mediador entre inconsciente


e campo social.

3- Modelo Epidemiológico

● visa descrever e analisar pontos em comum entre processos desenvolvidos entre


grupos de trabalho/trabalhadores.
● multicausalidade do processo saúde-doença
● olha para os aspectos psicossociais relacionados ao trabalho
● compreende o trabalho como fator intrinsecamente ligado à vida humana
● o trabalho pode interferir no processo saúde-doença
● Epidemiologia - SUS - vigilância - multidisciplinar
● uma maneira de multidisciplinar de responder de modo efetivo ás demandas do
campo da saúde do trabalhador.

4- Teoria de Subjetividade (década de 80)

● não pressupõe a realização de diagnósticos clínicos

● considera os aspectos macro que interferem nas ações dos trabalhadores e revela
os aspectos psicológicos envolvidos

● centra sua importância na subjetividade do trabalhador

● “o trabalho é eixo norteador de aspectos sociais, culturais e subjetivos,

● por esse motivo interessa saber, por meio da fala do trabalhador, sobre as vivências
de sofrimento, as relações, as atividades e o ambiente de trabalho”.

INTERVENÇÕES EM SAÚDE MENTAL NO TRABALHO

-geralmente feitas por equipe multi (psicólogos, médicos, técnicos e engenheiros de


segurança)

-área de tradição da medicina

● DSM e CID direcionam as intervenções

das doenças relacionadas ao trabalho, tem destaque:

● transtornos de somatização
● episódios depressivos
● transtornos de ansiedade
● síndrome do pânico
● síndrome de estresse
● síndrome de burnout

Atuação do psicólogo - tem as funções de :

● diagnóstico
● prevenção
● assistência
● reabilitação

“o mais importante é que exista coerência entre objetivos, quadro teórico, desenho
metodológico, definição adequada da população/amostra e/ou dos sujeitos, procedimentos
de acesso às informações e técnicas de análises de resultados”.

DIAGNÓSTICO

● identificar a existência ou não de determinada situação/problema

● diferentes abordagens → diferentes focos de investigação

● Abordagens individualistas : avaliação de aspectos afetivos e cognitivos do


indivíduo.

● Abordagens sociológicas: foco nas condições internas e externas ao trabalho

● Técnicas: entrevistas e testes

A investigação para o diagnóstico em saúde mental do trabalhador inclui:

(a) identificar a presença de quadros nosológicos de transtornos psíquicos;

(b) compreender o sofrimento do outro;

(c) avaliar uma situação de maneira contextualizada e consubstanciada;

(d) refletir sobre a tendência de evolução do quadro. (Nesse processo, é necessário


considerar o nexo entre saúde mental e trabalho

Instrumentos mais utilizados:

● questionário WHOQOL-bref
● Self Report Questionnaire (SRQ- 20)
● inventários de depressão e de estresse

Quais aspectos devem ser avaliados em um diagnóstico de adoecimento do trabalhador?

Na entrevista com o trabalhador, identificar:

● os aspectos da organização do trabalho


● exigências físicas e mentais

● a percepção do trabalhador sobre os riscos envolvidos em seu trabalho

● Observações sobre o posto de trabalho, sobre o processo de trabalho e as


condições ambientais

● a atuação do psicólogo deve ser pautada na complexidade e na multicausalidade


dos fenômenos psicológicos inerentes às organizações e ao trabalho, ao invés de
meramente buscar uma relação de causa e efeito, como tem sido demandados

● De acordo com Borges, Guimarães e Silva (2013), o diagnóstico pode ser realizado
em níveis de abrangência distintos, que são: individual, organizacional e
ocupacional.

● No nível individual, analisa-se o processo de saúde-adoecimento do trabalhador


em relação à categoria ocupacional na qual está inserido.

● Em nível organizacional, a investigação é realizada para identificar a prevalência


de determinados transtornos mentais em toda a organização ou em uma área
específica.

● No nível ocupacional, avalia-se a prevalência de determinados transtornos nas


respectivas ocupações.

“No nível individual, o diagnóstico é importante para fundamentar a realização da


assistência e a reabilitação individualizadas e para o desenvolvimento de laudos
psicológicos que podem ser utilizados em meios legais.

Os diagnósticos em níveis organizacional e ocupacional estão relacionados a uma


perspectiva epidemiológica, importante para embasar ações de prevenção e promoção de
saúde mental do trabalhador, assistência e reabilitação”.
Promoção, prevenção e saúde

“A promoção e a prevenção devem ser planejadas e operacionalizadas levando em


consideração as singularidades de cada território, como questões econômico-produtivas e
socioculturais, ou com a participação dos sindicatos, dado que o controle social orienta a
política de saúde do trabalhador (CREPOP, 2008)”

práticas de intervenção, que podem ser:

● estudos para identificar e contextualizar fatores ergonômicos e psicossociais que


levam ao surgimento de doenças no trabalho
● atuação interdisciplinar que visa prevenir patologias
● sessões de discussão e grupos focais com integrantes da organização, para
esclarecer e resolver conflitos
● intervenções em diferentes grupos ocupacionais, para facilitar mudanças de
comportamentos e percepções sobre o trabalho e, assim, preparar os trabalhadores
para o gerenciamento de suas atividades (Mendes, 2003).

Prevenção primária:

● antes do surgimento da doença.


● evitar problemas de saúde, atuando em fontes de risco;
● gerar saúde e Qualidade de vida,
● hábitos, atuação nos determinantes de saúde e na satisfação no trabalho.
● ações de educação para a saúde.
● promoção da saúde

Prevenção secundária:

● início da doença, impossibilitar avanço da doença


● diminuir prevalência da doença
● direcionado aos trabalhadores com sinais e sintomas (saúde psicológica)
● uso de diversas ténicas
● explicação e conscientização de indivíduos e grupos sobre sua conduta

Prevenção terciária:

● lida com casos crônicos e limitações;


● redução de agravos,
● aproveitar a capacidade funcional remanescente
● reinserção social
● reintegração e reabilitação

“no nível de prevenção terciária, a Fisioterapia, a reeducação, a terapia ocupacional e a


readaptação à vida normal são as ações mais utilizadas.”

Ainda se foca a prática da recuperação (tratamento e na reabilitação), por conta do modelo


biomédico
“A maior parte das patologias apresentadas pelos trabalhadores são relacionadas ao
isolamento e à solidão e, por isso, é necessário que o indivíduo seja removido desse
contexto ou que o contexto seja alterado.”

As autoras defendem uma mudança cultural para que foque mais na promoção da saúde e
na prevenção, para que diminua o número de pessoas adoecidas.

“Além disso, indica-se que, quando possível, as intervenções do psicólogo considerem


outros níveis de atuação além do individual, isto é, intervenções que considerem também os
aspectos laborais e sociais mais amplos e que tenham a probabilidade de se tornar mais
efetivas do ponto de vista preventivo, por exemplo, por meio de fatores psicossociais
protetivos no trabalho.”

No caso relatado no capítulo, em sua maioria, os servidores atendidos pelo projeto


apresentam melhoras significativas em seu quadro emocional, na medida em que
desenvolvem estratégias de enfrentamento mais eficazes às diversas situações de trabalho
relacionadas a seus sintomas e/ou adoecimento psíquico. Além disso, as intervenções entre
as chefias e nas condições de trabalho nos setores complementam a abordagem individual
do servidor e amplificam os resultados da ação

A intervenção psicológica, nesse projeto, inclui as seguintes etapas:

(1) acolhimento do servidor, explicitação dos objetivos e etapas do projeto e convite para
participação neste;

(2) realização da anamnese clínica e ocupacional e uso de escalas/testes diversos para


levantamento das necessidades de saúde de cada caso, como as já citadas anteriormente
no item diagnóstico;

(3) psicoterapia individual breve de apoio (média de oito sessões, sendo aplicada, no
mínimo, uma sessão semanal) associada a intervenções como treino assertivo, treino em
resolução de problemas no trabalho e manejo do estresse ocupacional;

(4) gerenciamento das dificuldades e possibilidades relacionadas aos cuidados específicos


em saúde que são executados pela rede terapêutica do servidor (aderência ao tratamento
psiquiátrico/medicamentoso, encaminhamento para outras especialidades e também para a
continuidade de psicoterapia quando há outras demandas a serem tratadas;

(5) acompanhamento da adaptação do servidor em seu retorno ao trabalho após a melhora


do quadro, considerando suas dificuldades, limitações (funcionais, psicológicas), dúvidas e
medos quanto a sua reinserção laboral/social, associados a intervenções com as chefias
dos setores quando são necessárias mudanças no ambiente, relações e processos
de trabalho;

(6) avaliação qualitativa dos ganhos e avanços obtidos com as intervenções entre o
servidor, chefias e locais de trabalho e avaliação

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