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A manipulação consciente e inteligente de

hábitos organizados e opiniões das massas é um

importante elemento na sociedade democrática.

Aqueles que manipulam esse mecanismo oculto

da sociedade constituem um governo invisível

que é o verdadeiro poder vigente de nosso país.

Nós somos governados, nossas mentes moldadas

nossos gostos formados, nossas ideias sugeridas,

majoritariamente por homens que nunca ouvimos falar

em quase cada ação do

nosso cotidiano, seja na esfera

da política ou negócios, na nossa conduta social

ou nosso pensamento ético, somos

dominados por um número relativamente pequeno de pessoas

que entendem os processos mentais e padrões sociais

das massas.

São eles quem

movem os fios que controlam a mente pública,

que controlam antigas forças sociais e forjam

novas maneiras de formar e guiar o mundo.

Esse trecho foi escrito por Edward Bernays

o sobrinho de Sigmund Freud e um

pioneiro nas áreas de marketing, propaganda

e no campo de relações públicas

A influência de Bernays foi enorme

baseando-se principalmente nas descobertas de seu tio

ele desenvolveu ótimas técnicas de manipulação

as quais são usadas ainda hoje

Não somente por empresas para vender seus produtos a consumidores

mas também pelos poderes que, nas palavras de Bernays


controlam e regem as massas.

Neste vídeo serão exploradas as ideias mais intrigantes

de Bernays

focando principalmente em suas descobertas em como Psicologia das Massas

pode ser usada para controlar e manipular

as massas.

Na obra clássica "Psicologia das Massas e a Análise do Eu"

Sigmund Freud descreve

Psicologia das Massas como sendo interessada

"pelo indivíduo como membro

de uma raça, de uma nação, de uma casta, de uma profissão

de uma instituição, ou como parte componente

de uma multidão de pessoas que se organizaram

em grupo numa ocasião deteminada

para um intuito definido."

Em outras palavras, Psicologia das Massas visa entender

como o comportamento, pensamentos e emoções de um indivíduo

mudam quando tornando-se parte de um grupo.

A tendência de seres humanos de

formar grupos foi desenvolvida no nosso passado evolutivo

devido às vantagens de sobrevivência oferecidas

Antigos seres humanos que se organizavam em tribos

tinham mais chances de sobreviver e se reproduzir

nos ambientes árduos em que viviam

Entretanto, com a ajuda da tecnologia moderna, humanos hoje

transformaram a natureza

de forma que tornaram o valor de sobrevivência em organizações tribais obsoleto

Mas com isso dito

o antigo e instintivo modo de organização tribal


ainda permeia nas vidas da maioria.

Com muitas pessoas hoje identificando

e, portanto, estereotipando

ambos a si mesmos e a outros

baseando-se em coisas como raça, classe, gênero, nacionalidade, religião

ou partido e ideologia política à que aderem

Essa tendência contínua

de associar-se em identificação por grupos é

de acordo com Bernays

um mecanismo da ampla noção de valor próprio que indivíduos

derivam de se identificarem com uma massa potencialmente poderosa

Assim como

"Uma alcateia é muito mais forte

que a força combinada de seus membros individuais"

o indivíduo também sente o poder potencial do grupo.

E deriva sentimentos de empoderamento ao identificar-se com ele

Começando no final do século XIX

alguns pensadores

sendo os principais Freud e Gustave Le Bon

tentaram entender porque as pessoas aderem à identificação por grupos

e como ela afeta a mente e o comportamento

Como Bernays percebeu

as descobertas que surgiram desse estudo

capturou a atenção daqueles em posição de poder

que queriam expandir o controle sobre as sociedades

Essas pessoas viram o potencial de

usar as descobertas teóricas da Psicologia das Massas

e transformá-las em métodos práticos

que poderiam ser usados para manipular as massas

fora dos olhos públicos.


Uma tarefa que formou a base do trabalho de Bernays em relações públicas

Como Bernays explica em seu livro "Propaganda"

"O estudo sistemático de Psicologia das Massas revelou

as potencialidades do governo invisível da sociedade

manipulando os motivos pelos quais

o homem atua no grupo

Esses estudos estabeleceram que o grupo tem

características mentais distintas das do indivíduo

e é motivada por impulsos e emoções que

que não podem ser explicadas com base

do que nós conhecemos da psicologia individual

Então a pergunta surgiu naturalmente:

Se nós conhecermos o mecanismo e motivações

da mente do grupo, será que não é possível

controlar e reger as massas

de acordo com a nossa vontade, sem que eles saibam?"

O grande potencial de usar as descobertas

da Psicologia das Massas para controlar as massas

é parcialmente uma função do fato de que indivíduos

podem ser influenciados por um grupo ou multidão

mesmo quando fisicamente isolados.

Como Bernays apontou no livro "Cristalizando a Opinião Pública"

Uma multidão "não significa meramente

uma agregação de um número de pessoas

a multidão é na verdade um estado de consciência."

Enquanto alguém associar-se em um grupo

sua mente e comportamento será transformado

pela constante influência da Psicologia das Massas

mesmo com nenhum outro membro do grupo


fisicamente presente.

Para entender como a tendência humana

de se associar a identificação por grupos

torna as massa manipuláveis

devemos nos voltar para uma das ideias de Freud

que muito influenciou as técnicas de manipulação

desenvolvidas por Bernays

Em seu livro "Propaganda"

publicado em 1928

Bernays explicou:

"É principalmente os psicólogos

da escola de Freud que apontaram

que os pensamentos e ações do homem

são substitutos compensatórios

para os desejos que ele foi obrigado

a reprimir.

Algo deve ser desejado não por seu

valor intrínseco ou utilidade

mas porque ele incoscientemente acaba vendo naquilo

um símbolo de outro algo

o desejo que ele tem vergonha de admitir

para si mesmo.

Um homem comprando um carro pode pensar

que o quer para o intuito de locomoção

ele pode na verdade querê-lo por ser um símbolo

de posição social

uma evidência de que é bem sucedido

ou uma forma de satisfazer a esposa."

O que Freud sugeriu é que

geralmente há um divórcio entre


os pensamentos conscientes

e sentimentos e desejos

os quais não se encaixam com a imagem própria

que são, portanto, reprimidos

Esse fato, Bernays reconheceu,

torna seres humanos manipuláveis

Para o que isso implica

é que se alguém consegue criar

propaganda ou operação psicológica

que ultrapassam as faculdades conscientes e racionais

do indivíduo

atingindo emoções reprimidas

e desejos escondidos

é possível mover pessoas a adotarem

crenças e comportamentos

sem que percebam as motivações ocultas

que os guia.

Como Bernays explicou:

"... homens são largamente influenciados

por motivos os quais eles escondem de si mesmos

É evidente que um propagandista de sucesso

deve entender os verdadeiros motivos

e não se contentar em aceitar as razões as quais

os homens dão para o que fazem."

É possível

apesar de muitas vezes difícil

um indivíduo tornar-se consciente

dos motivos ocultos

guiando suas crenças e ações


por meio de uma análise introspectiva

crítica e honesta

Entretanto, assim que alguém

sucumbe aos efeitos da identificação por grupos

essa introspecção crítica se torna quase impossível.

"Um grupo é extraordinariamente

crédulo e aberto a influência", escreveu Freud

"não possue nenhuma faculdade crítica."

Ao identificar-se com um grupo

o indivíduo subordina a auto análise

e a busca pela verdade

em favor de manter os interesses e a coesão do grupo

E com as capacidades críticas enfraquecidas

pela influência da Psicologia das Massas

eles se tornam altamente susceptíveis à operações psicológicas

desenhadas para atingir aqueles desejos e emoções

reprimidos ou inconscientes

Atualmente

aparentemente existem forças operando

através da mídia mainstream e da cultura popular

que estão tentando aumentar a propensão do indivíduo

a aderir a certos tipos de identificação por grupos

sendo estas identificações

que dividem a população em grupos de conflito.

Esse fenômeno tem potencialmente

consequências horríveis para ambas

a estabilidade e liberdade de uma sociedade

já que permite que os poderosos

possam instituir a antiga tática de

"dividir e conquistar".
Em seu livro

"Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio"

Maquiavel notou que aqueles que exercem poder

sobre uma população há muito perceberam

que uma população unida é sempre mais forte

que aqueles que a governam

e portanto voltando para tempos antigos

governantes buscaram "dividir a maioria

e enfraquecer a força que era uma vez forte

enquanto era unida."

"Pelo uso dos métodos

que promovem divisão."

Dividindo uma população pelas linhas de

raça, classe, religião, gênero

ou preferência política

ou em outras palavras

em grupos que naturalmente tendem a se enfrentar

Os efeitos da Psicologia das Massas torna o discurso racional

e debates entre indivíduos dos diferentes grupos

extremamente improvável

"Cada grupo", Bernays escreveu

consideram os próprios padrões como supremos

e indiscutíveis

e tende a rejeitar qualquer padrão contrário ou diferente

como indefensável."

Inviabilizados de resolver diferentes opiniões

através do discurso racional

Grupos cujas estruturas de crenças se enfrentam tendem

a utilizar meios mais destrutivos


nas suas tentativas de derrotar aqueles que consideram perigosos

Uma sociedade dominada por esses grupos

é portanto facilmente dividida em crescentes

conflitos hostis, e como resultado

não só a população como um todo se torna

enfraquecida, como Maquiavel apontou

mas seus olhos são afastados das ações

daqueles que agem por trás das câmeras

que constituiem, nas palavras de Bernays

o "governo invisível que controla o destino de milhões."

Enquanto não há nada de errado em derivar um senso

de pertencimento baseado nas semelhanças

que compartilhamos com os outros

é errôneo basear a nossa identidade pessoal

primariamente na nossa associação a um grupo

Na questão da nossa história evolutiva

foi apenas recentemente que desenvolvemos

a habilidade de tornar-nos conscientes

de nós mesmos como indivíduos

separados de qualquer grupo ou tribo

Isso foi um desenvolvimento crucial da consciência

já que a existência de uma sociedade baseada

em direitos individuais e liberdades pessoais

é dependente de uma população que desenvolveu

essa capacidade de consciência individual

ou em outras palavras

de uma sociedade de indivíduos

que compreendem a si mesmos

e tratam os outros sumariamente como indivíduos

Como Erich Neumann apontou em seu clássico


"História da origem da consciência"

anterior ao desenvolvimento dessa capacidade

de consciência individual:

"... o grupo e a consciência de grupo eram dominantes

o indivíduo não era uma entidade

autônoma e individualizada

com um conhecimento, moralidade, vontades e atividade próprios

funcionava unicamente como parte do grupo

e o grupo, com seu poder superior

era o único sujeito real."

À luz disso

a tendência atual de indivíduos

de aderir à identificação por grupos

não é somente perigoso para a liberdade

e estabilidade de uma sociedade

mas é também uma Regressão da Consciência

de volta para um estado psicológico mais primitivo

e portanto do ponto de vista da modernidade

uma tendência patológica que precisa ser superada

Ou como Sigmund Freud colocou:

"Cada indivíduo partilha de numerosas mentes grupais

as de sua raça, classe, credo, nacionalidade etc.

podendo também elevar-se sobre elas

na medida em que possui um fragmento de independência e originalidade."

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