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HISTORIA DAS DOCIEDADES

TEMA DE DEBATE:

1. O Facto Social, a Unicidade do social e a Politicidade do social

Faça uma reflexão sobre o tema, tendo como base a seguinte citação: “As aldeias, as
regiões, os grupos étnicos, as nacionalidades, os grupos religiosos, todos têm culturas
distintas em diferentes níveis de heterogeneidade cultural” (Huntington, 1996, p. 47).

1.1. Definição de Facto social

Segundo E. Durkheim é facto social toda a maneira de fazer, fixada ou não, susceptível
de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, que é geral na extensão de uma
sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações
individuais que possam ter (1966:12).

Em Lakatos, p. 42, são os modos de pensar e agir de um grupo social; embora existam
na mente do indivíduo, são exteriores a ele e exercem sobre ele um poder coercivo,
exemplo: usar uniforme escolar, içar a bandeira em sentido, etc.

Um facto social reconhece-se “pelo poder de coerção externa que exerce ou é


susceptível de exercer sobre os indivíduos; e a presença desse poder reconhece-se, por
sua vez, pela existência de uma sanção determinada ou pela resistência que o facto opõe
a qualquer iniciativa individual que tende a violá-lo”.

2. Características do facto social

a) Exterioridade – em relação as consciências individuais;

b) Coercitividade – a coerção que o facto social exerce ou susceptível de exercer sobre


os indivíduos;

c) Generalidade – generalidade – em virtude de ser comum ao grupo ou a sociedade.


O conceito de exterioridade dos factos sociais baseia-se na concepção Durkheimiana
da consciência colectiva por ele definida como conjunto das maneiras de agir, de
pensar e de sentir com um à medida dos membros de determinada sociedade e que
compõe a herança própria dessa sociedade. Essa herança persiste no tempo
transcendendo de geração para geração. As maneiras de agir, pensar e de sentir são
exteriores às pessoas porque as precedem, transcendem e a elas sobrevivem. Exemplo,
quando desempenhamos o nosso papel de cidadãos, de filhos, de adeptos de
determinadas regiões ou de comerciantes, estamos participando em deveres definidos
fora de nós e de nossos hábitos individuais no direito e nos costumes.

É como cumprir deveres para com o estado que é anterior e independente da nossa
existência particular. Com a nossa morte essas instituições continuarão a existir. Essas
características de anterioridade e posterioridade levam à conclusão de que os factos
sociais transcendem os indivíduos e estão acima e fora deles sendo, portanto
independentes do indivíduo em particular.

Coercitividade – as normas de conduta ou de pensamento são além de externas aos


indivíduos dotados de poder coercitivo (ou coercivo) porque se impõe aos indivíduos
independentemente de suas vontades (usando medidas punitivas em certos casos).

Generalidade – A consciência colectiva, isto é, o conjunto das maneiras de agir, de


pensar e de sentir, é característica geral de determinado grupo ou sociedade; dará feição
particular a uma sociedade e permitirá distinguir, por exemplo, um brasileiro de um
boliviano, um moçambicano de um zimbabweano; De acordo com a pessoa, essa
consciência individual pode ser mais desenvolvida.

Entretanto, o que interessa ao analisar a característica da generalidade do facto social é


que a consciências colectiva que é geral, pode impor-se as pessoas com maior ou menor
força. Isto é, deixando as consciências individuais com variados graus de autonomia.
Nas sociedades primitivas a generalidade do facto social é vista com maior clareza, em
virtude da homogeneidade dos seus grupos componentes e do facto da consciência
colectiva dominar quase totalmente as consciências individuais.

3. Diferença entre a socialização da politicidade


A sociabilidade é a propensão do Homem para viver junto com os outros e comunicar-
se com eles, torná-los participantes das próprias experiências e dos próprios desejos,
conviver com as mesmas emoções e os mesmos bens. Com efeito, a sociedade actual, o
processo de socialização nunca está acabado e mesmo aqueles que a sociedade
considera adultos vivem vários processos de socialização. Muitos dos adultos actuais
foram educados para uma sociedade que, entretanto evoluiu muito, o que os obriga a
viver outros tantos processos de socialização para poderem sobreviver no seio destas
mudanças.

Podemos assim dizer que existe socialização desde que existem comunidades humanas,
apesar da evolução que essa socialização foi revestindo. Com efeito, o processo através
do qual o ser humano vai tendo acesso a etapas sucessivas da sua autonomia é
fortemente marcado pelas características culturais da sociedade em que vive (Erickson,
1972).

Assim, podemos dizer que a socialização é um processo universalmente experimentado


com as particularidades de cada contexto.

A politicidade é o conjunto de relações que o indivíduo mantém com os outros


enquanto parte de um grupo.

A sociabilidade e a politicidade são, então dois aspectos correlativos de um único


fenómeno. Homem é sociável e, por isso, tende a entrar em contacto com os seus
semelhantes e a formar com eles certas associações estáveis.

Acontece, porém, que ao fazer parte de grupos organizados o ser humano torna-se um
ser político, ou seja, membro de uma Polis de uma cidade, de um estado, de uma nação,
adquirindo certos direitos e assumindo certos deveres. Assim, o fundamento da própria
sociedade é a sociabilidade do ser humano. Já dizia Aristóteles que “O Homem é, por
natureza, um animal político (e então também sociável) ”. Aquele que por natureza não
possui estado é superior ou inferior ao homem, quer dizer, ou um Deus ou mesmo um
animal.

4. As implicações Antropológicas da Sociabilidade do ser Humano


Podemos resumir as implicações antropológicas da sociabilidade do ser humano no
seguinte:

a) O fenómeno da sociabilidade é inato no ser humano e não uma manifestação causal


e passageira. Assim, os que queriam fazer do ser humano um ser auto-suficiente e
impermeável não conseguiram sustento para as suas ideias.

b) A sociabilidade nos distingue dos animais que no máximo se agrupam por instinto.
A sociabilidade humana supera infinitamente a dos animais pela sua capacidade
cognitiva, afectiva, linguística. O ser humano organiza instituições.

c) Pela sociabilidade o ser humano se enriquece dependendo da sociedade para


sobreviver. Por outro lado a sociedade não constitui uma realidade superior ao
indivíduo, mas está ao seu serviço para que cada qual se realize plenamente. “A pessoa
como tal é um todo. Dizer que a sociedade é um todo composto de pessoas quer dizer
que a sociedade é um todo composto de muitos todos”.

d) O fenómeno da sociabilidade torna evidente autotranscendência. Este é um aspecto


essencialmente conexo a sociabilidade, significa expansão em direcção ao outro,
comunicação, associação (com a natureza e com outro).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MÚSICA, J. (s/d). Manual de História das Sociedades I: Cultura, da origem das


sociedades Pré-clássicas até ao século XV. Universidade Catolica de Mocambique.
Beira.

OLIVEIRA, Maria da Luz e outros (1989), Sociologia, texto Editora.

TITIEV, M. (2002). Introdução à Antropologia Cultural. 9ª edição Fundação Calouste


Gulbenkian. Lisboa.

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