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A economia/gestão e as ciências sociais

• Os dicionários referem Social – como pertencente ou respeitante a


sociedade; sociável, referente a sociedade comercial e industrial, diz-
se dos problemas que visam à organização e à satisfação das
necessidades dos indivíduos em sociedade, etc.
• Inicialmente socius designava o camarada, o companheiro de armas
ou de ofício. O adjetivo socialis refere-se aos membros de um Estado
ou de um povo, quando este é ainda pequeno.
• No século XVIII, Rousseau ao escrever o “Contrato Social” (1762),
engloba todos os homens num conjunto vivo. A palavra social passa a
aplicar-se à sociedade humana considerada na sua totalidade.
• Em 1897, Emile Durkheim refere o fenómeno social que define como
todo o processo de agir estabelecido antecipadamente ou não, e
passível de exercer uma coação exterior sobre o indivíduo.
• No século XIX, o adjetivo social surge com um sentido restritivo, pois já
não diz respeito ao conjunto de indivíduos que vivem em sociedade,
mas apenas ao conjunto menos favorecido da sociedade. Social
significa, então, tudo o que se refere à situação material dos pobres ou
desfavorecidos, a favor dos quais são feitas obras sociais.
• Os conflitos sociais registavam-se, essencialmente, entre operários e
patrões. A questão social, estava restrita aos assalariados, no século
XIX.
• Em síntese, de acordo com Pierre Jaccard, a palavra social designava
inicialmente o camarada, o companheiro; depois e já no século XVIII,
passa a aplicar-se à sociedade humana, como um todo e, finalmente,
em virtude do agravamento das desigualdades sociais ocorrida no
período da revolução industrial, passa a atribuir-se à palavra social o
significado do que se refere à situação dos pobres e desfavorecidos.
• Um outro sentido que hoje se atribui à palavra social é o de equivalente
a sociável, agradável, culto, cortês, refinado. Assim, a imprensa fala em
acontecimentos sociais.
• Max Weber considera uma situação como social quando as pessoas
orientam as suas ações umas para as outras
• O Homem e a sua natureza social
• Desde o nascimento fazemos parte de uma família; depois vem a
escola, a igreja, o clube, o trabalho, o partido político e muitas outras
associações.
• A natureza humana é essencialmente aquilo que adquirimos na vida
em grupo, por meio de um longo processo de socialização.
• O ser humano é um ser social capaz de criar e transmitir uma cultura
bem como de fazer parte de um grupo humano, ou seja a sociedade
onde vive.
• A multidão é um agrupamento temporário de pessoas que atuam em
conjunto. O comportamento da multidão pode caraterizar-se por:
• Anonimato;
• Impessoalidade;
• Sugestionabilidade;
• Contágio social.
• Na multidão, os indivíduos não se solidarizam. O grupo não é a soma
dos indivíduos. O que confere força a cada grupo é o motivo comum.
• Os fatores de coesão de um grupo são:
• - pertinência dos objetivos
• - clareza dos objetivos
• - aceitação dos objetivos por parte dos membros.

• O homem integra-se em diversos grupos: étnicos, linguísticos, religiosos, familiares, etc.


• A história da evolução de uma pessoa é, antes de mais, o relato das suas acomodações
aos padrões e tradições vigentes. O maior instrumento de socialização é o controlo
social. Este tem por finalidade obrigar cada indivíduo a um comportamento social
adequado. Assim, dentro de cada grupo social há processos de controlo social que
impedem os desvios às regras do grupo para assim se manterem as regras estabelecidas.
• Nas sociedades primitivas, o controlo social exercia-se por meio de
normas feitas de forma tradicional, muitas vezes de feição mítico-
religiosa.
• Nas sociedades civilizadas e complexas o controlo social é
institucionalizado, isto é, existem órgãos ou instituições encarregadas
desta tarefa. A primeira das instituições de controlo social nas nossas
sociedades é a família. Ao longo da história, os mecanismos de
controlo social tem sido contestados.
• Os factos sociais
• O comportamento humano de qualquer pessoa, é um facto
individual. Os factos sociais quando são numerosos e da mesma
espécie tornam-se factos de massa.
• Além dos factos individuais e dos factos de massa, existem outros
resultantes da conveniência humana que se designam por factos
sociais.
• Para Durkheim o facto social é “todo o modo de ação mais ou menos
estabelecido suscetível de exercer sobre cada indivíduo uma coação
externa”.
• A guerra, os preconceitos, a economia, a gestão, a política, o direito, a
moral, a educação, são factos sociais porque só existem como
produtos da convivência humana.
• O papel social é o conjunto de comportamentos que está ligado à
posição de cada pessoa na rede de relações sociais.
• Os factos sociais podem ser:
• Coletivos, coercivos, transcendentes, e causam repercussão.
• São coletivos porque resultam da convivência humana.
• São coercivos porque exercem repressão sobre as pessoas.
• As sanções objetivas podem ser místicas (excomunhão), jurídicas
(multas), morais, e sanções subjetivas, impondo-se, de certa maneira,
à nossa consciência.
• Os factos sociais também são transcendentes porque estão acima e,
para além, do próprio indivíduo. Todos nós ao nascer já encontramos a
organização social, a língua, as leis, as instituições, etc.
• Os factos sociais causam repercussão. Atente-se nas guerras mundiais.
• Os factos sociais podem assumir a caraterística de factos económicos,
empresariais, linguísticos, estéticos, religiosos, morais, jurídicos,
políticos, etc.
• Na sociedade, os seres humanos encontram-se em interdependência e
inter-relação. Desta caraterística, surgem os processos sociais, em
virtude das pressões e interações que se verificam nos grupos.
• Costumam agrupar-se os processos sociais em:
• - processos sociais associativos (englobam a cooperação, a
acomodação e a assimilação); e
• - processos sociais dissociativos (onde se incluem o conflito, a oposição
e a competição)
• A competição é um processo social em que os indivíduos pretendem
alcançar o mesmo objetivo, conduzindo a agirem uns contra os outros.
• A cooperação é mais intensa e contínua em grupos pequenos do que
em associações estruturadas e burocratizadas.
• Nas sociedades há divisão do trabalho. Além disso, há uma divisão de
trabalho natural determinada pelas aptidões inatas e específicas de
cada um.
• A divisão técnica do trabalho ocorre quando cada pessoa se
especializa na produção de um único tipo de bens.
• A divisão técnica do trabalho conduziu à divisão social do trabalho,
que consiste em certas pessoas exercerem tarefas dirigentes
enquanto outros tem tarefas de execução.
• O conflito é uma forma de interação em que dois ou mais indivíduos ou
grupos tentam excluir-se mutuamente. Os conflitos surgem em três
áreas distintas: o homem e a natureza, com vista à sobrevivência da
espécie; o homem e os seus semelhantes devido à ambição e grandeza;
e o homem consigo mesmo.
• A acomodação é o processo que se verifica quando se ultrapassou o
conflito, e os que se mantém aprendem a ajustar-se e a adaptar-se uns
aos outros.
• A assimilação é o processo que se observa quando determinadas
populações tendem a adaptar-se e a apropriar-se dos valores culturais
de outras.
• A ecologia social é o conjunto de fenómenos decorrentes dos processos
sociais, que envolvem mecanismos de competição e de cooperação entre os
homens e os grupos.
• De acordo com José Eduardo Carvalho as ciências sociais são,
fundamentalmente, impossíveis ou difíceis de reproduzir dado que cada
situação é quase única e determinada por circunstâncias históricas e sociais
únicas. Por isso, em geral, as ciências sociais não permitem uma
compreensão do comportamento humano como a que nos é proporcionada
pelas ciências “naturais”. Segundo ele, as leis da sociedade e da história não
tornam os cientistas sociais aptos a prever guerras e revoluções com a
mesma precisão com que os cientistas naturais preveem a aceleração da
queda de um corpo vazio ao nível do mar.
• Com efeito, os fenómenos sociais não se fundamentam da mesma
maneira que os fenómenos naturais em virtude de as caraterísticas
sociais serem, em parte, determinadas pelas atitudes que os atores
sociais tomam em relação aos fenómenos que observam.
• O que carateriza as ciências sociais (e humanas) é a de que a
realidade que elas estudam é a própria “condição humana”, tornada
objeto de um método específico (Gurvitch, in Nunes, 1987).
• Segundo Sedas Nunes (1987). Podem considerar-se quatro níveis na forma
como as ciências socias de distinguem umas das outras:
• - Os “fins ou objetivos” que comandam a investigação, isto é, o que
“interessa” aos pesquisadores analisar, explicar, compreender;
• - A natureza condicionada por esses fins, dos “problemas de investigação”
acerca dos quais a pesquisa deve incidir;
• - Os critérios utilizados pelos investigadores para escolherem as “variáveis
relevantes” para a análise desses problemas;
• - Os “métodos e técnicas” de investigação empírica para analisar as
variáveis selecionadas, resolver os problemas de pesquisa e alcançar os fins
pretendidos.
• Cada ciência representa uma maneira de “interpretar “ o real, diferente do senso
comum. A ciência pressupõe uma rutura com as “evidências” do senso comum.
Deste modo, o objeto científico de uma dada disciplina é constituído pelo conjunto
conceitual construído com o fim de englobar uma multiplicidade de objetos reais
que, por hipótese, esta ciência pretende analisar (Castells, in Nunes, 1987).
• Podemos dizer que as diversas ciências sociais distinguem-se, essencialmente,
umas das outras por :
• - as problemáticas teóricas que elaboram;
• -as “perguntas” a que sujeitam a realidade;
• - os “objetos científicos” que em relação a si constroem;
• - os “códigos de leitura” que nos propõem, para descobrir o real concreto.
• Como o objeto da economia /gestão respeita apenas a certos aspetos do
comportamento humano, a economia vai intercetar a sociologia. A
possibilidade de conflito é pois frequente. E tal acontece não só quanto ao
objeto, mas também quanto ao método.
• É natural que a sociologia se tenha afastado da economia/gestão pela
posição que nesta ocupa o individualismo metodológico. Emile Durkheim
situa a sociologia nos antípodas do racionalismo individual. Os sociólogos
sempre tomaram as motivações, as preferências e os comportamentos
como determinados em contextos sociais. A própria racionalidade
individual é um produto social. Pelo contrário, os economistas/gestores têm
tendência para tomar aqueles elementos como abstrações independentes
do tempo e do contexto social
• O afastamento entre economistas/gestores e sociólogos tem a ver
sobretudo com as suas raízes baseadas em diferentes metodologias.
Enquanto o economista/ gestor, no ensino e na investigação, procura um
discurso de natureza formal, baseado num raciocínio hipotético-dedutivo,
sobre agentes que tomam decisões consideradas racionais, o sociólogo
preocupa-se mais com a permanente reconciliação de valores sociais com
comportamentos individuais.
• “A economia/gestão, sociologia, psicologia e a ciência política devem ser
então o que fazem os economistas, gestores, sociólogos, psicólogos ou
cientistas políticos, ou em vez disso o que fazem melhor. Mas isto deve ser
definitivamente determinado antes que cada disciplina tenha tentado
resolver o problema em causa.”
• Mas os economistas/gestores não têm apenas "desentendimentos" com
os sociólogos, não é raro encontrar referências a disputas entre
economistas como sendo o reflexo do seu fraco entendimento interno.
• O principal problema epistemológico da economia/gestão reside na
delineação do estudo formal, dedutivo, lógico-normativo do processo de
tomada de decisão relativo à produção e distribuição de recursos
escassos, bens e serviços, por meio do estudo empírico do mesmo tema.
Por outro lado, a Sociologia diz respeito à reconciliação do aspecto dual
do seu estudo-sujeito: a dimensão dos valores, as normas e os
significados culturais e a dimensão externa dos temas experimentais.
• Um dos problemas com o entendimento, ou desentendimento, entre
economistas deriva do facto das grandes controvérsias em economia
terem também envolvido questões de metodologia o que complica
bastante uma avaliação final dos argumentos envolvidos e a perceção
do entendimento ou desentendimento entre economistas.
• Como já dissemos, por diferentes razões a economia faz transpirar a
ideia que os economistas não se entendem, ou pelo menos essa ideia
foi bastante popularizada.
• Verificando-se ainda que o consenso continuava a ser superior no campo da
microeconomia que no campo da macroeconomia e maior no campo da
economia positiva que no campo normativo. Parece perfeitamente natural
que existam fortes desentendimentos ao nível normativo, uma vez que as
diferenças de valores éticos dos economistas são, por vezes, consideráveis.
• Algumas das divergências entre os economistas/gestores também acabam
por ser motivadas pelas diferenças de mercados dos economistas nos
Estados Unidos e na Europa e pelas exigências que lhes são feitas. É por
exemplo notório o papel que os economistas europeus acabam por dar às
intervenções dos governos, contrariamente ao que acontece com os seus
colegas norte-americanos.
• Em suma, as divergências entre economistas, felizmente existem, mas não
devemos exagerar a falta de entendimento entre estes.
• A especificidade da ciência económica /gestão
• As ciências sociais tratam, em geral, de diversos aspetos de intencionalidade.
No que diz respeito à ciência económica- trata da produção e distribuição de
bens e serviços. Isto pressupõe que os empresários tentam obter benefícios
e que os consumidores adquirem os bens, para satisfazer necessidades,
tendo em conta uma certa relação quantidade- preço. Depois, as “leis da
economia” mostram os resultados ou as consequências de tais suposições.
• A economia, enquanto ciência, admite determinados factos históricos acerca
das pessoas e das sociedades que, em si mesmas, são parte da economia.
• Historicamente, a economia conseguiu obter o estatuto de ciência no final
do século XIX, quando passou a incorporar a linguagem matemática. A
matemática entrou na economia, de uma forma não intencional, através do
economista britânico Alfred Marshall (1842-1924). Com efeito, na sua obra
“Principles of Economics” (1890), apresentou os argumentos em prosa e
depois completou cada capítulo com um apêndice onde descrevia os
argumentos expostos sob a forma matemática. Assim, com a formulação
matemática, o método experimental, instrumento de progresso das ciências
da natureza, deixava de estar vedado à economia.
• Com o intuito de formalizar a sua área de estudo, os economistas
começaram por modelos simples, que mostrassem o comportamento das
variáveis económicas fundamentais.
• Como uma multiplicidade de efeitos pode influenciar um fenómeno, esses modelos
simples colocaram a hipótese “ceteris paribus”, ou seja, o pressuposto de que todas as
circunstâncias envolventes se mantinham constantes exceto as variáveis em análise. Por
exemplo, para analisar os efeitos da variação dos preços na procura de um bem, os
economistas formalizavam um modelo em que apenas o preço desse bem variava.
• A estatística forneceu aos economistas/gestores um substituto para o método
experimental. A estatística aplicada à economia, que se veio a designar econometria,
trabalha com grandes volumes de dados em que se verificam variações em todos os
sentidos das diversas variáveis. Contudo, essas variações podem compensar-se
mutuamente, pelo que é possível isolar os efeitos de algumas variáveis em relação a
outras. Assim, para a econometria trata-se de achar o “comportamento médio” das
variáveis económicas, que deste modo indicam a sua trajetória em condições de
“ceteris paribus”.
• Em meados do século XX, a econometria começou a efetuar o estudo
probabilístico dos dados estatísticos. A evolução da disciplina tem
mostrado que, apesar de carecer de uma formação mínima em
matemática, também existem outras disciplinas fundamentais para a
formação em economia como sejam a Filosofia, a História, a Biologia
e o Direito, entre outras.

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