Sob a perspectiva piagetiana, o crescimento físico e o desenvolvimento
cognitivo não são iguais, mas podem ser comparados, na medida em que ambos se direcionam ao equilíbrio (PIAGET, 1974, p. 13 apud OLIVEIRA et al., 2013, p. 3). O último é um processo que ocorre espontaneamente e que estabelece uma relação de continuidade com a embriogênese, ocorrendo em quatro grandes períodos – sensório- motor, pré-operatório, operatório-concreto e operatório-formal – e sendo acompanhado pelo desenvolvimento social do indivíduo. O crescimento físico, apesar de ser também espontâneo e já existente na embriogênese, diz respeito a um processo ligado mais especificamente à evolução corporal do organismo ao decorrer do tempo. Isso significa que é simultâneo ao desenvolvimento cognitivo, mas com ele não se confunde: não compreende as particularidades e processos do conhecer, os quais são trabalhados por Piaget nos quatro períodos acima citados.
Nesse sentido, há quem considere a teoria de Jean Piaget como maturacionista,
na medida em que atribui grande importância ao desenvolvimento em seu aspecto biológico, considerando-o condição de possibilidade para a aprendizagem (RABELLO, E. T.; PASSOS, J. S., 2013, p. 5). Deve-se destacar, contudo, que as ideias piagetianas são mais devidamente associadas ao construtivismo: um conjunto de referências que nos permite interpretar o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem a partir de um referencial epistemológico interpretativista, o qual considera uma contribuição relacional tanto do indivíduo, quanto do objeto. Isso significa que, para o autor, o desenvolvimento não deve ser entendido de um ponto de vista puramente biológico, tampouco de uma perspectiva inteiramente ambientalista. Esse processo, na verdade, haveria de ser compreendido em termos de interações entre a biologia humana e o meio no qual o indivíduo se insere.
Assim, é talvez na noção de interação que se possa reconhecer a ideia de
construção do conhecimento proposta por Piaget. Ao sugerir que “o ser humano não é; ele se faz” (BECKER, 2010, p. 35), o epistemólogo se desprende de amarras inatistas que consideram o indivíduo como já dotado, ao nascer, de todos os mecanismos necessários ao desenvolvimento. No entanto, também não deposita no ambiente toda a responsabilidade por fazer do sujeito aquilo que é. Em que pese as capacidades humanas, por exemplo, não as herdarímos em si, mas herdarímos a capacidade de construí-las. Desse modo, em uma ótica piagetiana, o conhecimento é construído pois não é nos dado de modo inato e nem encontrado ao acaso no ambiente, mas é fruto de uma interação entre o biológico e o ambiental.
É sobretudo em função de seu construtivismo, portanto, que Piaget se opõe a
outras correntes psicológicas. Vale realçar, contudo, que outra particularidade que o diferencia de outras psicologias é a construção de sua própria epistemologia. Nomeada por ele de genética, tomou como tarefa a descoberta da gênese do conhecimento, isto é, de suas origens. Daí a atenção direcionada ao desenvolvimento e ao processo de ensino- aprendizagem em crianças.
REFERÊNCIAS:
BECKER, F. Jean Piaget: principais teses. In: Revista Educação – Jean Piaget. Publicação especial. Editora Segmento, p. 22-35, 2010. (Coleção História da Pedagogia, n. 1).
OLIVEIRA, M. R. et al. As contribuições da teoria piagetiana para o processo de
ensino-aprendizagem. In: FÓRUM INTERNACIONAL DE PSICOLOGIA, V, 2013, Vitória da Conquista. Anais [...] Vitória da Conquista: Editora Realize, 2013.
RABELLO, E. T.; PASSOS, J. S. Vygotsky e o desenvolvimento humano. Disponível
em: https://josesilveira.com/wp-content/uploads/2018/07/Artigo-Vygotsky-e-o- desenvolvimento-humano.pdf. Acesso em: 11 de agosto de 2022.