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A relação entre a dialética, a política e a fenomenologia, é complexa e multifacetada, mas ainda sim,

passível de ligações em seus conceitos.

Na fenomenologia, a experiência subjetiva é o centro de sua análise. Ela busca descrever como os
fenômenos se manifestam para a consciência, sem pressupor conceitos ou teorias preexistentes.
Nesse contexto, a fenomenologia destaca a importância da subjetividade, da percepção e da
consciência na compreensão da realidade.
A dialética, por sua vez, pode ser vista como uma ferramenta para ajudar a analisar as contradições e
conflitos inerentes à experiência humana. Pode ser usada para investigar as tensões e as
contradições na sociedade, na política e nas estruturas de poder.

Como Jean-Paul Sartre registra em sua filosofia: ¨A fenomenologia é o estudo da estrutura da


consciência. A dialética, então, é o estudo do que é 'outro' para a consciência". Neste sentido da
Existência, o ser político é formado por sua essência, partindo de seu grau de autenticidade.
É considerado um ser autêntico dentro deste âmbito da existência, o indivíduo que possui a
liberdade e a reconhece para que faça escolhas significativas em sua vida política, este reconhece
que ações geram consequências e assume em parte sua responsabilidade por elas. Não existe a
construção de uma "máscara" para que suas decisões sejam definidas, já na visão de inautenticidade
do indivíduo, a liberdade o é negada, o que torna o ser passível a ter suas decisões ditadas por
forças externas - seja a opinião popular, a pressão ou expectativas da sociedade. Este evita assumir a
responsabilidade de suas ações.

Este ser por si só, não está preparado ou se colocaria em criação de Tese e antítese, dado o fato que
apenas está ignorando sua real essência, a partir deste pensamento, o ser inautêntico não apenas se
encontra como alguém longe de executar a dialética em seu dia a dia como na verdade, pode ser
visto como um indivíduo com a ausência da vida, assim, um ser em desconexão com sua essência, já
está experienciando sua morte.

A realidade do sujeito inautêntico no âmbito político pode ser visto e citado de diversas formas em
alguns momentos políticos históricos do Brasil, um exemplo disto, é a por determinada parte, o
Regime populista liberal (1945-1964) pois, mesmo que a democracia houvesse sido restaurada pelo
fator da volta das urnas e voto secreto, ainda sim não significava que o indivíduo pudesse estar em
concordância a sua essência em sua totalidade. Nesse regime, em um aspecto teórico, (SOUSA, R. G.)
o governante populista fundamentava seu discurso em fazer de tudo para que sua natureza
individual fosse descartada e mascarada pelo conceito do indivíduo de tornar-se apenas a
representação do povo, tudo para que fosse construída ” a imagem do indivíduo que desaparecia em
prol de causas coletivas".(SOUSA, R. G.). Pois esta era uma forma de trazer ao povo, confiança para
sua posse, mesmo que a falta da autenticidade do ser pudesse trazer disfuncionalidades em seu
governo.

Em contraponto a esta visão existencialista, temos a visão humanista do ser político dentro da
dialética,que, como colocado por Carl Rogers, é inerente a capacidade do indivíduo de auto
realização e autonomia individual. O mesmo em seu pensamento político defendia a democracia e
acreditava no poder da psicologia para contribuir para a democratização da sociedade.
Partindo deste viés, em sua vinda ao Brasil (1977), à convite do Psicólogo Eduardo Bandeira, Rogers
trouxe para nós mais do conceito que já se acentuava em nosso país, com o Livro em destaque
¨Tornar-se pessoa¨ a sua abordagem psicológica chamada: ACP - Abordagem Centrada na Pessoa
que :
(...) baseia-se na premissa de que o ser humano é basicamente um organismo digno de
confiança, capaz de avaliar a situação externa e interna, compreendendo a si mesmo no seu
contexto, fazendo escolhas construtivas quanto aos próximos passos da vida e agindo a partir
dessas escolhas. Uma pessoa facilitadora pode ajudar na libertação dessas capacidades (...).
Quando essa abordagem é dirigida a um indivíduo ou a um grupo, (...) as escolhas feitas, as
direções seguidas, as ações empreendidas são pessoalmente cada vez mais construtivas e
tendem para uma harmonia social mais realística com os outros (p. 16, 17).
No contexto histórico, a vinda de Rogers, além de sua abordagem, seus pensamentos trouxeram à
tona a visão do indivíduo a sua liberdade de ser através da democracia. Para ele:
O ser humano, como todos os organismos, tende a crescer e a se atualizar. É claro que todos
os fatores sociais, econômicos e familiares podem interromper esse crescimento, mas a
tendência fundamental é em direção ao crescimento, ao seu próprio preenchimento ou
satisfação. (...) A pedra fundamental da psicologia humanista pelo menos como eu vejo, é,
portanto, essa crença de que o ser humano tem um organismo positivo e construtivo
(Revista VEJA, 1977).
Este pensamento, foram utilizados para além do estudo do ser de maneira individual, Carl Rogers se
tornou a pessoa que propagou seus princípios do desejo de auto atualização e da visão do "Ser no
mundo" de maneira social.
Dentro dos seus conceitos da abordagem ACP, a dialética ativa tornou-se um movimento político,
com intuito de levar o ser à transcendência, estes princípios foram utilizados para a criação de
políticas públicas dentro da saúde mental, como:
A criação da PNH (Política Nacional de Humanização) baseada na teoria de Carl Rogers; A
Reforma Sanitária, criada por Sergio Arouca; a Reforma Psiquiátrica de Franco Basaglia, que
revolucionou a partir da década de 1960, as abordagens e terapias no tratamento de
pessoas com transtornos mentais; o deputado Paulo Delgado (PT-MG) apresentou um
projeto de lei ao Congresso Nacional, no ano de 1987, que propunha uma mudança radical
no que se referia à assistência em saúde mental; A Clínica Escola que surge na USP, em 1969,
pela professora Rachel Rosenberg (SAP) se baseado na Psicologia Centrada na Pessoa
(Rogers) e Aconselhamento Psicológico. (Introdução, Pag. 4)
Em resumo, a dialética ativa de Carl Rogers desempenha um papel crucial nas políticas
públicas de saúde mental, promovendo uma abordagem centrada no indivíduo que valoriza
a autonomia, a liberdade e o respeito pelo interior do sujeito e este conceito vem sendo
refletido no resultado da dialética, de maneira positiva.

Em suma, a fenomenologia humanista existencial, oferece uma lente poderosa através da


qual podemos examinar a essência autêntica e inautêntica do ser político. Ela nos desafia a
reconhecer nossa liberdade, assumir a responsabilidade por nossas ações e viver de
acordo com nossos próprios valores e convicções.
Referências bibliográficas:

RENNÓ, Pedro (Canal Parabólica).REPÚBLICA POPULISTA PARA O ENEM. YouTube, data da


publicação 14 Setembro, 2017. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=G9ub4tL2HOM. Acesso em 01 de novembro de 2023.

SOUSA, Rainer Gonçalves. "O regime liberal populista"; Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/historiab/o-regime-liberal-populista.htm. Acesso em 01 de
novembro de 2023.

FEITOSA, Ellen Araújo Lima; BRANCO, Paulo Coelho Castelo; VIEIRA, Emanuel Meireles.
Notas sobre a visita de Carl Rogers ao Brasil: uma revolução silenciosa. Estud. pesqui.
psicol., Rio de Janeiro , v. 17, n. 2, p. 777-795, maio 2017 . Disponível em
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812017000200020&ln
g=pt&nrm=iso. acessos em 01 nov. 2023

Revista Veja. (1977). Entrevista Carl Rogers. Acessado em 01 de novembro, 2023, em


http://www.encontroacp.psc.br/site/entrevista-carl-rogers/.

Rogers, C. (2001). Sobre o poder pessoal (W. Penteado, Trad.). São Paulo: Marins Fontes
(original publicado em 1977). Acessado em 01 de novembro, 2023 em
https://gmeaps.files.wordpress.com/2016/10/carl-rogers-sobre-o-poder-pessoal.pdf

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